TEXTO:

BRAUDEL, Fernand. O peso do número. in: Civilização Material, Economia e Capitalismo, Séculos XV a XVIII. São
Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 1. p.19-57

RESUMO:
Braudel discute a dinâmica populacional histórica e as mudanças demográficas, acima de tudo na Europa e na China,
entre os séculos XIV e XVIII. Enfatiza a importância do tamanho da população na avaliação da existência diária das
sociedades e dos indicadores externos de progresso e desafios. O autor explora os fatores complexos que influenciam o
crescimento populacional, tais como flutuações demográficas, progresso econômico e o impacto de doenças e epidemias. O
texto também aborda os desafios e limitações da estimativa desses números históricos, especialmente para regiões fora da
Europa e da China.
O autor fornece informações sobre o impacto de acontecimentos históricos, como a Peste Negra e a colonização das
Américas, no crescimento e declínio populacional. Também discute o impacto dos desastres naturais, como secas e pragas de
gafanhotos, na dinâmica populacional na China e na Europa. O autor compara diferentes estimativas e discute os métodos
utilizados para chegar a esses números, destacando as incertezas e a necessidade de cautela na interpretação de dados
históricos da população.
Por fim, é abordado o conceito de “civilizações” e a coexistência das sociedades humanas com ambientes selvagens e
primitivos. Examinando o impacto do crescimento populacional no meio ambiente e os desafios que ele representa para o
sustento das sociedades humanas.

FICHAMENTO:
Citações: Pág.: Comentários:
[...] em suma, tudo aquilo de que o homem se 19 A avaliação da existência cotidiana deve levar em
serve, não é a única maneira de avaliar sua consideração uma variedade de fatores, incluindo aspectos
existência cotidiana. não materiais, como relações sociais, valores culturais, e
experiências emocionais e psicológicas. O trecho sugere que
a avaliação da existência cotidiana é complexa e
multifacetada, e não pode ser reduzida apenas aos bens
materiais e recursos que o homem utiliza em sua vida diária.
A população do mundo: números por inventar

Ora benéficos, ora maléficos. 21 Com relação aos surtos demográficos.

O aumento da população pode ter efeitos positivos e

Embora o terreno não disponha de solidez a toda
prova, não é perigoso nos arriscarmos por lá.
negativos, dependendo do contexto e das circunstâncias. Por
um lado, o crescimento populacional pode impulsionar o
progresso econômico, o desenvolvimento de culturas e
manufaturas, e o aumento da produção e trocas.
Por outro lado, o aumento da população também pode levar a
desafios como escassez de alimentos, pressão sobre os
recursos naturais, conflitos, e aumento das doenças e
epidemias, resultado da ultrapassagem das possibilidades de
sustento das sociedades (comum aos “bums” populacionais
anteriores ao século XVIII).
“[...] o seu próprio progresso será um fardo e recriar a sua
miséria”p.22
22 Apesar das limitações ou desafios do terreno, a sugestão é de
que é possível se fazer estimativas com um nível aceitável de
segurança.
A existência de dados que possam ser utilizados para
construção dessas estimativas entre os sec. XIV e XVIII são
mais facilmente encontrados na Europa e na China.
Sobre os possíveis métodos:
“Para Angel Rosenblat, só há um método, o regressivo
partindo dos números atuais, calcular andando para

O que é absolutamente garantido é que a América
teve, com a conquista européia, uma derrocada
biológica colossal [...]
[...] esta extensão até os Urais equilibra melhor os
dois pratos da balança, Europa ampliada de um
lado, China do outro, verificando-se a igualdade
até o século XIX, uma vez que temos números,
quando não seguros, pelo menos aceitáveis.
Quando George Staunton, secretário do
embaixador inglês, pergunta aos chineses, em
1793, qual a população do Império [China], eles
lhe respondem com orgulho, e talvez com
franqueza: 353 milhões.
Resta o problema assinalado de início: o aumento
geral de população no mundo. De qualquer
maneira, o aumento na China é tão marcado e
indiscutível como na Europa, o que obriga a rever
as velhas explicações.
Em suma, cada população poderia ter tido a sua
maneira de aumentar. Mas por que todos os
aumentos se verificam na mesma altura ou quase?
[...] esta possibilidade de uma coerência física do
mundo e da generalização de uma certa história
trás.”p.23.
“[...] "Escola de Berkeley" entregaram-se a uma série de
cálculos e de interpelações a partir de números parciais da
época [...]”p.24.
24 Impacto da chegada dos europeus à América no século XV e
XVI. Declínio massivo na população indígena devido a
doenças trazidas pelos europeus, para as quais os nativos não
tinham imunidade, como varíola, rubéola, gripe, lepra, peste
e outras doenças. A febre amarela, possivelmente originária
da África, foi uma que afetou ambos.
Este evento é considerado um marco importante na história
demográfica e biológica da América devido à escala e ao
impacto duradouro que teve sobre as populações nativas.
26 Documentos que corroboram as estimativas são mais
facilmente encontrados na Europa e na China. No entanto, é
válido lembrar que esses dados são provenientes de
fiscalização, logo, são passíveis de fraudes, ilusões ou as
duas coisas ao mesmo tempo.
A relação entre esses espaços não se limita a isso, as suas
populações eram também de semelhante volume.
“Lançando estes números num gráfico, a igualdade apenas se
estabelece aproximadamente, entre uma Europa estendida até
os Urais e uma China limitada ao território essencial das suas
províncias.”p.28.
33 Valor que se aproxima do estipulado: 300 milhões.
34 Isso indica a necessidade de revisar as antigas explicações
sobre o crescimento demográfico, uma vez que as teorias
anteriores, que se concentravam principalmente nos avanços
ocidentais em higiene, medicina e queda da mortalidade
urbana, não podem explicar completamente o aumento
populacional observado na China.
“Mas seria necessário que, de uma maneira ou de outra,
encontrássemos fora do Ocidente explicações análogas, ou
com o mesmo peso.”p.34.
35 É intrigante que todos os aumentos populacionais tenham
ocorrido simultaneamente ou em momentos próximos. A
resposta para essa questão pode estar relacionada a fatores
globais, como mudanças ambientais, avanços tecnológicos,
migrações e interações entre diferentes sociedades. Além
disso, a expansão demográfica em uma região pode ter
influenciado e desencadeado aumentos populacionais em
outras áreas, criando um efeito de propagação.
“Todos os países do mundo se colonizaram então a si
próprios, povoando as suas terras vazias ou meio
vazias.”p.35.
“Só podemos imaginar uma resposta geral para este uníssono
mais ou menos perfeito. Hoje em dia, ela já não faz sorrir os
eruditos: as alterações do clima.”p.36.
37 Isso implica que, mesmo antes dos avanços tecnológicos e
das mudanças econômicas significativas, a história biológica
biológica com as dimensões da humanidade
teriam dado ao globo a sua primitiva unidade,
muito antes das grandes descobertas, da
Revolução Industrial e da interpenetração das
economias.
Uma escala de referência
[...] observa Peter Laslett, para concluir que "o
volume minúsculo das comunidades humanas é
[...] uma característica deste mundo que perdemos.
Posto isso, certas proezas ganham novo valor, para
além dos números que, para nós, poderiam de
início despromove-las.
Esses pormenores indicam uma emigração
abundante, permanente, socialmente variada. É
um sinal evidente de sobrepopulação na França.
Com efeito, a superpopulação é função ao mesmo
tempo do número de pessoas e dos recursos de
que elas dispõem.
É aí que temos de imaginar o livro dos homens e
dos animais selvagens, ou o livro de ouro das
velhas agriculturas dos camponeses de enxada,
paraíso aos olhos dos civilizados, pois lhes dá
ocasião de se libertarem facilmente das suas
tensões.
e as dimensões da humanidade já estavam interligadas de
forma coerente, contribuindo para a unidade global. Essa
unidade primitiva pode ser atribuída à interdependência das
populações humanas com o ambiente físico, incluindo fatores
como o clima, a geografia e a disponibilidade de recursos
naturais. Além disso, sugere que a história biológica da
humanidade e as condições físicas do mundo
desempenharam um papel fundamental na formação de uma
unidade global, mesmo antes dos eventos históricos mais
conhecidos, como as grandes descobertas e a Revolução
Industrial, o que pode explicar o crescimento populacional
generalizado no mundo.
40 Os números que envolvem o passado são pequenos se
comparados aos atuais. O autor usou o exemplo de guerras
como Long Marston Moor e a batalha de Lepanto, que se
olhadas numericamente podem de início parecer
despromovê-las.
Em comparação com o presente, as comunidades humanas
eram muito menores, e essa mudança é vista como uma
perda em termos de conexões sociais, relações comunitárias e
interações mais próximas entre as pessoas.
43 O sinal evidente de sobrepopulação na França é a emigração
abundante e permanente para outros países, como a Espanha.
A presença de um grande número de franceses em terras
estrangeiras, especialmente em áreas urbanas e na indústria
da construção civil, indica que a França estava já
superpovoada (diferente da Inglaterra e Alemanha, por
exemplo) e não conseguiu sustentar sua população
internamente. Além disso, a falta de uma política
centralizada e a necessidade de emigrar para escapar das
condições precárias também são chamadas de
superpopulação na França.
48 A superpopulação é influenciada tanto pelo número de
pessoas quanto pelos recursos disponíveis. O número de
pessoas em uma determinada área afeta diretamente a
densidade populacional e a pressão sobre os recursos
disponíveis. Quanto maior o número de pessoas, maior a
procura por alimentos, água, energia, moradia e outros
recursos essenciais. Se uma população excede a capacidade
de suporte do ambiente, ocorre uma superpopulação, o que
pode levar à escassez de recursos, gestão ambiental, conflitos
e desigualdades sociais. Por outro lado, se a população
estiver equilibrada com os recursos disponíveis, é possível
alcançar um desenvolvimento sustentável e uma melhor
qualidade de vida.
51 Com relação à “Humanidade Selvagem”, grupos de pessoas
que vivem em regiões remotas e pouco habitadas, afastadas
das civilizações urbanas. Essas populações geralmente têm
um estilo de vida mais tradicional e estão mais conectadas
com a natureza, dependendo da caça, pesca, coleta de
alimentos e agricultura de subsistência para sobreviver. Eles
podem ter culturas e costumes diferentes e muitas vezes são
considerados "selvagens" devido à sua falta de contato com a
sociedade moderna. Essas comunidades podem ocorrer em
diferentes partes do mundo, como em áreas rurais isoladas,
florestas tropicais, montanhas remotas e regiões árticas.
Naturalmente, quanto maior é a terra vazia, mais a
vida animal pulula à vontade.
54 A vida animal tende a prosperar em áreas com maior
disponibilidade de terras vazias devido à disponibilidade de
recursos naturais, como alimentos e abrigo. Além disso, a
ausência de atividades humanas, como agricultura intensiva e
urbanização, pode criar um ambiente mais favorável para a
vida selvagem. A presença de terras vazias também pode
permitir que a população de animais seja expandida e
reproduzida com mais facilidade.