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cadernos de desenho
aline dias
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de pistas para pensar os seus trabalhos, as suas experiências e
outras tantas coisas. depois disso, contei pra julia como estava
sendo intenso esse processo. e pedi para ver os cadernos dela
também. ela aceitou. acho que não aceitaria se eu não fosse sua
amiga. fui escrevendo emails e conversando com os outros ar-
tistas. eles aceitaram. no inal do ano passado, quando o livro já
estava em processo, apareceram os cadernos do bil, mostrados
para o diego. eu perguntei se eu podia ver também. ele disse
que sim.
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o lindote faz muitos desenhos. joga fora muitos desenhos. dese-
nha inúmeras vezes a mesma forma. usa cadernos comuns e blo-
cos promocionais. projeta a proporção das formas no espaço de
uma instalação. repete a mesma forma com pequenas variações,
obsessivamente. desenhos de estudos. às vezes, inevitavelmen-
te, aparece outra coisa.
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zé me emprestou é de 1993. muitos cadernos ele perdeu ou não
sabe onde estão. ele fotografou e enviou por email algumas pági-
nas, de portugal. o augusto faz os cadernos da mesma forma. a5,
sem pauta. mas tem também cadernos grandes, que parecem
de colégio, pautados. os cadernos da raquel costumam ser pau-
tados, bem pequenos. os meus cadernos diicilmente possuem
pautas. às vezes são quadriculados.
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os cadernos têm muitas listas: coisas para fazer, para pensar,
para levar, para trazer, para não esquecer. levar dinheiro de ver-
dade, o piu-piu e o roberto carlos. a raquel escreve anotações
para possíveis trabalhos. orçamentos de equipamentos de som.
o augusto tem a receita de um quentão. como aiar uma ferra-
menta. o zé descreve os gastos mensais no que parece ser um
projeto de gastar só $3,90 por dia. roupas que precisa com-
prar ou lavar ou tingir ou reformar. nos cadernos tem telefones,
datas, compromissos, preços, horários. nas bordas, nos cantos,
no verso e no meio mesmo. nos cadernos não tem um espaço
organizado, hierarquizado ou privilegiado. está tudo misturado.
tem contas, dados de um vôo. uma conissão. o nome de uma
pessoa riscado. a descrição de um sonho, de vários sonhos. no
caderno do augusto tinha uma árvore no alto de uma montanha.
e ele me disse que tem vergonha de desenhar paisagens. é uma
aquarela marrom lindíssima. eu desenhei um precipício e anotei
que a adélia prado acredita que tem rede embaixo.
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nar um tema ao caderno, sempre há vazamentos, perfurações e
toda sorte de interferências e invasões. uma frase ouvida numa
palestra, uma notícia na tv, um recorte, uma foto, uma seta. nada
parece querer ser unido com coesão. tudo se fragmenta e dis-
persa. as coisas aparecem e poderiam desaparecer. os cader-
nos não têm capítulos, não têm seções, não têm divisórias. os
lembretes urgentes da vida prática estão ao lado de cuidadosos
desenhos de observação. no mesmo caderno, na mesma página.
e icam ali, existindo. sem demarcações. o caderno é bagunçado.
tem páginas marcadas com post-its, tem começos, pedaços de
trabalhos que serão feitos depois. tem coisas que se repetem.
tem obsessões. o caderno não é planejado. não é organizado.
não tem uma hierarquia dos bons e dos maus desenhos. no
caderno tem muita rasura. muito comentário. o zé escreve: não
posso esconder nada. posso sim, escreve depois, na mesma pá-
gina, com outra caneta. e tem uma frase riscada junto. não dá
pra ler. posso sim, ele diz. o caderno pode. ele não é destinado
a ninguém. corresponde a pouca ou nenhuma expectativa. pode
anotar rápido. no escuro, no ônibus, na cama, no colo, na rua.
pode riscar porque não era assim. ou não é mais. o desenho
pode não render, pode não icar bom. pode arrancar a folha.
pode aparecer uma observação muito íntima. um comentário
irônico, a voz de outra pessoa. às vezes, as coisas se perdem nos
cadernos. às vezes, icam mesmo perdidas.
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tantes. comer menos sal. emagrecer. o diego fazia desenhos de
observação de esculturas feitas de guardanapo em mesas de
bar. eu reconhecia nos cadernos do zé algumas frases dos pro-
fessores do mestrado. o augusto e a julia estavam numa mesma
palestra e desenharam o mesmo trabalho do waltércio caldas. o
diego viu um desenho do zé e lembrou do hamster que morreu.
o caderno se faz como uma espécie de pensamento em pro-
cesso. são as sobras que icam ali. não uma relexão posterior.
o caderno não é uma obra de arte, a julia escreveu. a obra é
resíduo, o acabamento é a embalagem, o zé escreveu. e é chato
ser artista porque estamos condicionados a certas embalagens.
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diário, o caderno não é um espaço de exposição. talvez por não
ser pensado para ser publicado num livro nem exibido numa
exposição, é no caderno que o artista se expõe.
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sonho com uma grande baleia. o bil me contou de um sonho
com uma grande girafa. no meu caderno tem um desenho de
uma baleia com uma linha bem ininha e uma anotação dizendo
que as baleias podem morrer fora da água com o peso dos pró-
prios órgãos internos. o diego me disse isso. o bil escreve vários
sonhos. alguns bem assustadores. num deles, ele desenhou uma
boca sem alguns dos dentes, a gengiva vazia. noutro, a posição
de uma janela, como era no sonho e como é realmente. esse
detalhe não me pareceu muito importante no contexto do so-
nho. mas ele desenhou. a palavra como apoio para aquilo que
não se consegue desenhar. o desenho como apoio para aquilo
que não se consegue escrever. a maíra sonhou que do seu cuspe
saíam lacraias. outro dia tinha uma lacraia na banheira da irene
e eu lembrei dela.
dos diários, ico sempre com uma sensação difusa. perco os de-
talhes. talvez pelo acúmulo deles. os desejos, as fragilidades, o
cansaço. ico tocada pelos cadernos. a maíra escreveu que quer
ser artista. o zé escreveu que ser artista é uma merda. e que
ser artista é bastante divertido. às vezes, tenho vontade de icar
mais tempo com os cadernos. mas eu preciso devolver. sei que
os cadernos servem para ser usados. a maioria dos artistas revê
os cadernos, várias vezes, com intervalos irregulares. precisam
deles. às vezes tento pensar num arquivo de cadernos, num mu-
seu dedicado a arquivos, cadernos, estudos, projetos. não só
registros de obras feitas, mas dos desejos de fazê-las. mesmo as
que não foram feitas. às vezes penso num arquivo de cadernos
dos artistas que já morreram. pedir que eles deixem os cader-
nos de herança, nos seus inventários. para eu só morrer depois
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deles. às vezes penso em uma outra forma de editar este livro,
sem nenhum processo de digitalização. fazer um caderno dos
cadernos dos outros artistas só com desenhos meus, anotando
e copiando. às vezes eu queria olhar devagar e não posso. às
vezes eu fotografo para olhar depois. às vezes ico com medo
de expor demais os artistas. penso na agnes varda que diz que é
preciso se expor quando se expõe o outro. ela fala de existir nos
outros. assumir a fala do outro. faço desenhos das coisas que
vejo nos outros cadernos. nos outros, lembro de coisas que já
desenhei. penso nos outros nos meus cadernos. lembro de mim
nos outros cadernos. e tem rasuras nesse processo.
o bil escreve frases que escuta no ônibus. eu, nas novelas, nos
vizinhos. o augusto ri de si mesmo, das palestras. os objetos dele
falam. o bil escreve: deus me ajuda a achar uma casa. deus me
dê paciência, deus me dê dinheiro, deus me dê humor, deus me
dê sossego. eu escrevo: deus me ajuda a icar mais leve, mais
serena, depois escrevo que parece propaganda de absorvente
íntimo. o zé instituiu o dia do queijo, da formiga, do pobre. o bil,
o dia mais improdutivo. o zé gosta de umas formas escultóricas
que desenha incontáveis vezes, quando está pensando em outra
coisa. ele escreve em outro caderno: vontade de arrancar essa
folha. a maíra conta do mergulho com o leão-marinho, iguanas,
tubarões que tinham o tamanho dela. o caderno esteve com ela
em galápagos. me encanta ler a palavra galápagos. escrevo que
o diego se surpreende que eu goste de animais gordos, lustro-
sos e que vivem na água. no caderno do zé tinha o telefone do
diego quando ele morava no bom abrigo. e também o da raquel,
do asp e o endereço do lindote nos ingleses. o zé fala do meu
trabalho: lembrar do balão da aline.
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daços de narrativas, de poemas. no da julia uma lista de datas,
entre elas, o dia em que ela se separou. no do zé o dia que a
graziele nasceu. que morreu o juca.
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dentro. fazendo desenhos coloridos na água. a vida é um io ino.
a prima que no sonho estava bonita de vestido branco. desenhar
iguras, desenhar legendas, desenhar superfícies. hoje uma traça
minúscula na minha calça. ter um ilho é como estar apaixonado
sempre. não ver o abismo. o abissal no i ching. o bil sente sau-
dade das vitaminas de maçã com neston. nos desenhos só tem
besteira, disse o zé, achei que ia encontrar coisas mais legais,
ele disse também. queria riscar esse desenho mas não quero
arruinar a caneta. como a raquel, começo a riscar os dias que
passam. nos cadernos do bil, como nos da bisavó, a data e uma
frase sobre o dia. sei o nome dos médicos mas não sei quem ela
foi ver em itu. o zé faz pequenos quadrados em volta de algumas
frases. acho que era a letra da maíra em um caderno do bil. uma
legenda indica em um quadrado a cor azul. muitas coisas anota-
das no cadernos do diego eu sei quando aconteceram, algumas
eu estava junto. tem a minha letra às vezes. eu escrevo que
ele coloca os mosquitos na teia da aranha na janela do quarto
da irene. ainda vivo, tem que ser, ele disse. meu nome aparece
no caderno dele. livro primo, livro quente. o vazio é a vida do
amigo r.. o asp tem um caderno quase todo em branco mas
todas as páginas estão numeradas na margem inferior esquerda.
cuaderno del viaje. poltrona com braços, lençol azul estampado.
nature peace no dormitório. fragmentos de cada um. me esca-
pam coisas sempre. cielo nublado / mar gris / espuma blanco /
rocas negras / arena oscura / vegetacion verde o/y amarilla. uma
linha sobre a outra: uma paisagem do asp. frases empilhadas.
pilhas de please. pilhas de roupas para passar num poema antigo
da raquel. pilhas de nuvens, era o trabalho que a maíra queria.
pilha de pedras. pedras que voam. pedras que esmagam. pilhas
de lajotas. lajotas e balões. pessoas balões. criança com balão
de cara de pessoa. pessoa com máscara dela mesma. fantasmas.
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gina. a folha acabou e as últimas letras icaram apertadas. a gente
viu o que ia acontecer. que não ia caber. adoro as legendas. as
setas que apontam para fora do caderno. um desenho de muito
tempo madrugada a dentro. coração peludo não é uma coisa
boa para o bil. uma lembrança boa me visitou hoje. os cadernos
do diego têm muitos desenhos. desenhos de criaturas bizarras.
e textos ilegíveis e intermináveis. coisas que eu não faço a menor
idéia do que se tratam. a letra da raquel é bonita. nos cadernos
da maíra muitas tarefas. nos da julia muitos desenhos. preciso
me bagunçar. não quero perder o siso. dizer que, como e quan-
to amo. planos de viagens, resoluções, medidas, desabafos. as
horas. os dias. os números.
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na parede. vira panleto, múltiplo. vira uma experiência com fu-
maça verde na cidade. e o caderno ica sendo o lugar de onde
o desenho veio. e foi para outro lugar. porque o desenho não
precisa morar só no caderno. ele se desprende dele. o caderno
também serve para pensar como isso vai acontecer.
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uma tiragem do i ching de um artista, de outro. sem dizer de
quem. uma frase do zé: lembrar de godard. depois uma citação
de godard, escrita pela raquel. gostei de confundir os cader-
nos, os donos dos cadernos. comecei a afastar o que se parecia.
tentar estabelecer proximidades entre coisas que estavam em
cadernos diferentes, de artistas diferentes. e que se juntavam no
livro. em quem lesse o livro. o desejo de criar narrativas, de dizer
a verdade e de iccionalizar as autorias. não usar caixas é difícil.
eu estabeleci novas regras: não separar os desenhos segundo as
categorias convencionais de projeto, obra, anotação, como se
fossem formas de desenhar diferentes. não pensar em seqüên-
cia. não ser didática. assumir o deslocamento dos desenhos dos
cadernos para o livro e estabelecer novas relações de cor, escala
e contexto, sem me prender muito aos originais. não dizer de
forma ostensivamente clara de quem é cada desenho.
dos cadernos, tem coisas que eu não quis mostrar. que eu es-
queci. coisas que os donos dos cadernos já não lembram. coisas
que eles talvez não gostem de ver que eu vi ou que vieram parar
aqui. a julia se desenha nos cadernos, mas não tem auto-retrato
nenhum. eu disse: nos cadernos que eu vi, tinha desenhos à toa,
desenhos lindos, desenhos ruins, trabalhos, relexões sobre arte,
projetos, idéias tomando forma, coisas do cotidiano, listas, notas,
essas coisas todas. e ele me perguntou: tinha coisas realmente
íntimas?
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ruim de quem não quer perder o luxo de um pensamento que
é mais rápido que a mão. eu achei os cadernos todos muito
bonitos, com desenhos e textos, os textos pensando-se como
imagem. num desenho gostoso a maíra diz: eu realmente não sei
o que acontece aqui. e eu queria desenhar bonito.
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e tensa a cordinha que nos mantém de pé. não tem cordinha
nenhuma, eu anotei. nós é que fazemos muita força para icar
de pé. vila-matas diz que quem escreve com o sentido do risco
anda sobre um io e, além de andar sobre ele, tem de tecer um
io próprio embaixo de seus pés.
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chatas. gosto de fazer trabalhos monótonos, sem graça, depois
me ressinto da mais absoluta falta de sucesso. não estou gostan-
do dessa letra legível, não parece meu caderno. trabalho para
estar à toa / sem culpa / um trabalho emocional. a culpa que
nos arranca da cama. sempre tive o zé como um exemplo. mas
nunca contei pra ele.
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é a do diário. que não é a do projeto. que não é a da exposição.
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Desenho como bruxaria
Diego Rayck
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coisas, pode igualmente ser visto como imagem desta busca.
Assumindo o desenho como um projeto positivo ou, de forma
oposta, uma ambulação aventurosa, permanece em ambos os
casos o desejo de saber, de descobrir ou conirmar, ainda que
seja casualmente, ainda que seja disfarçado de humildade. Desta
maneira, desenhar, este ato cujas qualidades são tão destacadas
nos discursos atuais, contém uma parcela de vaidade, de entrega
a uma sedução.
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diferente da linha descrita em uma trajetória, o espaço traçado
passa a ser dois, e entre eles a linha se torna um abismo ou a
passagem sombria de um não-espaço. Desenhar como bruxaria
permite evocar estes não-espaços, partir mundos ao meio, fazer
saltos entre realidades pelo traço de uma porta.
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metamorfoses, profecias. Mas desenhar como bruxaria não
acontece simplesmente para que o desenho obtenha algo, para
que realize milagres: o próprio desenho é a bruxaria e seu re-
sultado. Quem desenha como bruxaria não o faz para que o
desenho realize algo senão ele mesmo, uma evocação feita às
escuras para se descobrir a quem está evocando e na qual o
evocado e evocação se confundem.
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plágio
havia um homem que considerava plágio tudo que fazia. se es-
crevia um conto, outro izera, ele apenas havia copiado; se fez
um ilho, era de outro, se traía a esposa, outro o fazia. comia
miolos frescos nas refeições
campo
extensão a ser ocupada. ocupação pode ou não gerar demarca-
ção, cerca, fronteira. estender o campo é operação litigiosa ou
amorosa. depende
dobra
caixa: dá corpo ao vazio; abrir a caixa: tirar a pele do vazio; es-
tender a caixa, torná-la plana: adquirir uma pele. superfícies das
peles variam: rugas, texturas, asperezas e lisuras; cada inscrição
e cada ferida registram-se de modo diferente
avareza
o desejo: registrar tudo, conter o tempo num pedaço de papel
num caderno numa caixa numa casa. recolher o assovio do pás-
saro e o passo de gato, um suspiro e um silêncio
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mentira
conter três quatro cinco dimensões a consciência o inconsciente
e o terror em duas dimensões apenas. o papel aceita quase tudo
e o nada.
litoral
o desenho faz maré cheia e maré baixa = uma linha litorânea
ixa no mapa
rabisca e rasura: outro país. só me interessa o que não é meu
o apagado da borracha deixa rastro. de toda contenda resta
sangue
tempo
o desenho é a desonra do tempo. não tem agenda nem relógio.
retoca a linha de vinte anos antes. rabisca a frase de amor de
ontem. o lápis corrige o que a vida não pode
sobreposição
todos deveriam ter uma falsa identidade. apenas por precaução
diário
o diário não é todo dia. é no dia que precisa
lista
a lista é ilha do dever. quem deve, teme e quem não deve teme
também
na lista cabe tudo: israelitas, palestinos e ingredientes de quen-
tão
utopia
o coelho põe medo na raposa
o cordeiro veste pele de raposa
o rato come o cordeiro
e o passarinho morreu
rir
desenho gargalha de si mesmo. e dos outros. adora segredos de
liquidiicador
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poison
desenho envenena. não tem antídoto
projeto
there is always a machine project
press the button
put yourself on your feet
don’t scare
and go
amar-go
Post Scriptum:
Plagiar, passar-se por outro, ocupar o lugar alheio, falsiicar uma identidade.
A cópia – exercício freqüente imposto aos matriculados nas escolas de
belas artes a im de apreenderem o ofício dos mestres – foi ampla e in-
sistentemente criticada pelos modernistas como algo destituído de valor
na medida em que submetia a criação a modelos de representação es-
tabelecidos e tradicionais. A antinomia se constituiu então entre cópia e
expressão; onde há cópia somente se produz repetição de um mesmo
contaminado pelos poderes opressores do estado e da religião (ainda
que os modernistas vissem no Barroco produzido no Brasil um alto valor
plástico, consideravam-no originário justamente da forma não acadêmica
de aprendizagem).
Entretanto, experimento pensar a cópia como crítica de arte, tanto como
aproximação artiiciosa, empatia com o processo alheio (como penso que
deveria acontecer com os pintores acadêmicos ao copiarem as obras pri-
mas de seus mestres), quanto uma distância, um espaçamento, uma dife-
rença que se produz justamente na impossibilidade de assumir integral-
mente essa alteridade.
Desde que a crítica de arte se abstém, como penso que deve e necessita,
dos julgamentos valorativos de bom e ruim que deságuam sempre nos
valorativos monetários, outra forma de relação entre crítica e arte urge
ser pensada.
Copiar uma obra a qual se adiciona comentários escritos; planejar a
execução de um trabalho; fazer uma anotação rápida de um pensamen-
to, de uma imagem, rasurar e refazer, fracassar, rir de si, contar-se suas
próprias histórias, fazer-se (em linhas e contornos e rabiscos e rasuras, em
desenho). Nos cadernos de desenho os artistas pensam a arte no próprio
ato de desenhar. Copiar passa por tentativas – sempre fracassadas – de
reproduzir um processo que se presume ser aquele do autor. A alternância
entre contato e espaçamento produz faísca, pensamento, crítica; essa é a
esperança e o gozo e o goro.
Ana Lucia Vilela
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créditos, icha técnica e agradecimentos
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trabalhos que apareceram das conversas ou antes
nesta parte do livro estão os trabalhos que foram referências para a pes-
quisa, que estavam presentes quando pensávamos no desenho desses
artistas, que serviram de propulsores para o projeto ou que foram desen-
volvidos durante o próprio processo de conversa com os artistas.
: desenho desanimado
este trabalho do yiftah apareceu no encontro, na tela do computador,
como uma possibilidade de diálogo com o projeto cadernos de desenho.
é uma fotograia, que tem desenho no título e que pensa o desenho ani-
mado, a repetição e também a apropriação. páginas 32-33.
: instrução ilha
esse trabalho foi uma proposta do yiftah para a publicação. uma forma de
pensar desenho, intervenção e performance. nos dois casos, as imagens
foram fornecidas pelo artista, de seu arquivo. página 35.
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: artesanato decorativo e o papel das paredes
as imagens das páginas 37-39 registram a exposição do zé, realizada no
museu de arte de santa catarina, em 2002. foi quando eu vi os cadernos
do zé pela primeira vez: fotocópias das páginas coladas nas paredes do
museu. o zé disse que tinha umas nove mil folhas diferentes, mas apenas
uma porcentagem foi utilizada. nestas folhas, uma profusão de anotações e
desenhos, cobrindo quase toda a superfície da parede, do chão até o teto.
as fotos são do zé e agradeço a nilza, mãe do zé, que enviou as fotos de
jundiaí pelo correio.
livro-cadernos
aqui está o livro-cadernos propriamente dito. fragmentos dos cadernos
dos artistas, misturados, bagunçados, reordenados. a leitura dos cadernos,
edição, projeto gráico, digitalização e tratamento das imagens foram fei-
tos, obsessivamente, por mim - apesar das inúmeras tentativas do diego de
me dissuadir do excesso de meticulosidade na tarefa. os desenhos foram
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levemente alterados, perderam a cor quando havia, mudaram um pouco a
escala e, sobretudo, a relação com o contexto original.
ica aqui registrado os meus mais honestos agradecimentos aos artistas
que me emprestaram esses pequenos e potentes e lindos cadernos, uni-
versos preciosos.
aproveito para agradecer, também, às pessoas que conversaram comi-
go sobre o livro (ou simplesmente escutaram meu entusiasmo e/ou
hesitação), diego, ana (que me ajudou a pensar a relação do livro com os
diários, como outra forma de contato com a experiência cotidiana, e pela
referência do texto do foucault), julia, fernando garcia, caetano gotardo, bil
lühmann. agradeço a raquel pelas conversas por email e pela oportunidade
de apresentar o projeto e o livro (mesmo ainda em processo) no seminário
“publicações de artista”, em novembro de 2010, no centro de artes da uni-
versidade do estado de santa catarina.
cadernos de raquel stolf nas páginas 47, 48, 52, 54, 55, 56, 59, 72, 75, 76, 78, 82,
86, 91, 92, 97, 100, 104, 108, 111, 117, 118, 121, 122, 123, 127, 141, 142, 153, 159,
160, 162, 164, 169, 170, 175.
cadernos de maíra dietrich nas páginas 52, 53, 73, 77, 83, 87, 94, 99, 119, 122,
124, 125, 154, 155, 171, 172.
cadernos de julia amaral nas páginas 53, 59, 63, 67, 72, 74, 75, 78, 80, 91, 93, 96,
98, 106, 107, 111, 116, 121, 127, 128, 132, 133, 134, 135, 138, 141, 143, 147, 151,
152, 155, 157, 160, 162, 164, 171, 172, 177 e 2a orelha.
cadernos de josé antonio lacerda nas páginas 46, 47, 52, 57, 58, 61, 62, 63, 64,
66, 70, 71, 76, 79, 81, 82, 84, 85, 93, 94, 95, 97, 98, 101, 102, 104, 105, 106, 107,
109, 110, 112, 113, 114, 115, 117, 118, 120, 123, 124, 126, 127, 129, 130, 132, 133,
134, 135, 137, 138, 139, 140, 142, 143, 146, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 156,
157, 159, 161, 163, 166, 167, 168, 169, 174, 175, 176, 177, 178.
cadernos de diego rayck nas páginas 49, 50, 51, 66, 69, 86, 92, 94, 96, 102, 110,
112, 114, 124, 128, 130, 133, 135, 137, 141, 148, 156, 163, 171, 174.
cadernos de carlos asp nas páginas 45, 144, 165, 225, 226.
cadernos de bil lühmann nas páginas 46, 48, 64, 68, 69, 70, 72, 77, 81, 104, 106,
124, 128, 136, 140, 147, 151, 158, 166, 168 e 1a orelha.
cadernos de augusto benetti nas páginas 60, 64, 65, 72, 79, 84, 86, 88, 89, 90,
95, 100, 101, 106, 111, 115, 116, 121, 123, 126, 131, 133, 136, 142, 145, 149, 162,
169, 170, 172, 173, 176, 280 e capa.
cadernos de aline dias nas páginas 67, 68, 69, 70, 80, 91, 94, 103, 105, 106, 107,
108, 116, 121, 124, 126, 129, 130, 135, 140, 148, 152, 155, 157, 158, 159, 160,
166, 174, 177.
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textos
os textos foram escritos por mim, ana e diego. agradecemos a leticia bauer,
pela revisão e a william santos pela ajuda com o indesign.
222
diretora de patrimônio da prefeitura pela liberação do uso da chaminé e a
daniele zacarão pela ajuda na produção da intervenção.
julia amaral
: meninas elefante, 2010, desenho. páginas 254, 261, 264, 265, 270, 271.
a menina-elefante esmagada por um menir foi desenhada diretamente so-
bre a parede, ganhando escala a cada nova montagem. a pedra também foi
icando mais pesada.
: sem título, 2010, lambe-lambe. páginas 272, 274, 275.
em lorianópolis, joinville, criciúma e curitiba, a julia também fez uma inter-
venção urbana com lambe-lambe. o trabalho contou com a ajuda da ana e
do cleverson salvaro, em curitiba.
fernando lindote
: sem título, 1998, esferográica sobre papel, desenho em pequeno formato
(que apelidamos de monstro). página 229.
: sem título, 2009, graite sobre papel, um grande e minucioso desenho de
observação de pequenas folhas de cajueiro. página 231.
: caminho do bem, 2005-2009, gibi impresso em off set e exposto sobre
uma mesa (em criciúma, o trabalho contou também com um sofá). páginas
232, 233, 245, 255, 259.
na exposição, optamos por criar uma relação entre 3 trabalhos diferentes
do lindote, explorando um pouco dos contrapontos e disparidades entre
os diversos desenhos na produção do artista e de seus vários campos
de referências (ligados ao próprio circuito de arte, hqs, um desenho mais
virtuoso, os projetos de instalações, a repetição e a procura das formas
exploradas em outras linguagens, etc).
carlos asp
: sem título, 2006, lápis dermatográico sobre caixa de papelão. página 240.
: sem título, 2007, lápis dermatográico sobre caixa de papelão. página 241.
: this land is nobody’s land, 2005, lápis e lápis dermatográico sobre caixa de
papelão. página 260.
: sem título, s/data, lápis dermatográico sobre caixa de papelão. página 260.
: canção, 2010, lápis dermatográico sobre caixa de papelão. página 266.
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: sem título, 2005, lápis dermatográico e carimbo sobre bula. página 267.
: sem título, 2010, lápis dermatográico sobre caixa de papelão. página 268.
: paisagem humana triste, 2010, lápis dermatográico sobre caixa de pa-
pelão. página 269.
: um lugar aqui, 2009, graite e lápis dermatográico sobre caixa de papelão.
página 278.
na exposição, a julia e a ana experimentaram diferentes formas de mon-
tagem: em lorianópolis e criciúma os desenhos estavam dispersos,
espalhados pelo espaço entre os outros artistas, nas demais montagens os
desenhos estavam mais concentrados, em curitiba foram expostos mui-
tos desenhos, agrupados de forma mais ou menos irregular numa mesma
parede.
: yiftah peled, sem título, 2003-2009, instalação com foto e furos na parede.
página 249. na página 277, uma foto mostra o molde fornecido pelo artista
para fazer o registro da posição dos furos nas montagens.
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05-31 conversas, o espaço de trabalho dos artistas
(e/ou o espaço da casa onde os artistas trabalham)
e a forma como mostraram seus cadernos
raquel stolf, yiftah peled, fernando lindote,
josé antonio lacerda, carlos asp e julia amaral
44-180 livro-cadernos
fragmentos dos cadernos de desenho de
raquel stolf, diego rayck, bil lühmann,
josé antonio lacerda, maíra dietrich, aline dias,
augusto benetti, carlos asp, julia amaral
181-217 textos
cadernos de desenho
aline dias
desenho como bruxaria
diego rayck
crítica de arte como falsidade ideológica
ana lucia vilela
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D541c Dias, Aline
Cadernos de desenho / textos Aline Dias, Diego Rayck e Ana
Lucia Vilela; org. Aline Dias. – Florianópolis : Corpo Editorial,
2011.
280p. : il.
CDU: 7
http://corpoeditorial.blogspot.com
corpoeditorial@gmail.com