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Espírito Rebelde

Conversas realizadas a partir da tarde de 10 de Fevereiro de 1987 até à manhã de 25 de Fevereiro de


1987

Série de Discurso Inglês

30 Capítulos

Ano de Publicação: 1987

A Meditação é a maior Caridade

Tarde de 10 de Fevereiro de 1987 no Auditório Chuang Tzu

Pergunta Número Um

Querido Osho,

Na tua perspectiva, será a Caridade parte da Religião? Se sim, o que constitui a Caridade? Seguindo
o conceito católico, a legislatura indiana especifica: 1) Amparo para os Pobres, 2) Educação, e 3)
Ajuda Médica, como sendo Caridade.

Qual é o conceito de Caridade aos olhos de Buddha?

Om Prakash, o conceito de Caridade aos olhos de alguém que acordou está fadado a ser totalmente
diferente da chamada ideia de Caridade Cristã.

A ideia cristã é aliviar os Pobres. A ideia do Buddha será: não há qualquer necessidade que haja
pobreza no Mundo. A pobreza é criado pelo Homem, e está nas nossas mãos acabar com a pobreza.
Mas todas as Religiões — e mais proeminentemente a Cristã — tem enfatizado a ajuda aos Pobres.
Ajudar os Pobres não é Caridade; não é Amor.

Porquê, em primeiro lugar, é que deve existir a pobreza? Ela existe porque também existem Pessoas
muito gananciosas. A Pobreza é um subproduto da ganância. Uma parte da Sociedade continua a
acumular; e naturalmente, a outra parte da Sociedade torna-se Pobre. E assim tem o Homem vivido
durante séculos, debaixo desta exploração. Esta exploração pode ser completamente destruída.

O que quer que a Sociedade produza, pertence a todos. E o que é mais surpreendente, é que são os
Pobres aqueles que produzem, e os ricos são aquelas Pessoas que não produzem. Aqueles que
produzem estão famintos, a morrer de fome e a morrer. Dar-lhes alívio é uma ideia muito perspicaz:
protege a exploração; protege o capitalismo. Protege aqueles que são os criminosos, e também
protege o Pobre para que ele continue a produzir e a alcançar as ambições doentias de Pessoas com
problemas patológicos.

Um Homem que acumula dinheiro, vendo claramente que vai destruir milhões de Pessoas, não pode
ser chamado de saudável. Chamá-lo de religioso é um absurdo — nem sequer é Humano. E
principalmente agora, agora que a Ciência evoluiu a um ponto que permite a todos serem
confortavelmente ricos, não existe qualquer necessidade para aliviar os Pobres.

O que é preciso é uma Revolução dos Pobres, uma compreensão intrínseca nos Pobres para que
“Não é por causa do mal que fizemos nas nossas Vidas Passadas que somos Pobres; não é o teu
Destino que te faz Pobre. São umas quantas Pessoas que são patologicamente doentes, que perderam
toda a sua compaixão, toda a sua sensibilidade, cujos Corações se tornaram inumanos — é por causa
dessas Pessoas que vocês são Pobres.” E basta haver uma grande Compreensão nos Pobres para que
haja uma Revolução no Mundo.

Não sou a favor de uma Revolução violenta. Não existe necessidade disso, porque os Pobres estão
em maioria, e os Ricos são muito poucos. Basta usar apenas meios democráticos, o poder pode ficar
nas mãos dos Pobres, e assim podemos criar uma Sociedade sem classes, aonde as necessidades de
todos podem ser saciadas.

A Ganância não é necessária. E não existe maneira de satisfazer a Ganância, ela cresce
constantemente. Apenas por causa da doença de algumas Pessoas, toda a Sociedade sofre. Mas os
Padres são servos daqueles que são ricos. Naturalmente, num Pais como a Índia, aonde há já
milhares de anos que a Pobreza existe, ainda não existiu uma única ideia filosófica de revolução, não
dizem nada sobre o facto de poder acontecer uma revolução atualmente. Nem sequer se viu um único
Filósofo a dizer que é necessário uma Revolução.

Continuem é a dar aos Pobres pequenos alívios para os manter vivos, a sobreviver. Eu não chamaria
isso de Caridade. Na realidade isso é usado apenas para os manter vivos para que eles continuem a
produzir para aqueles que são ricos possam ficar mais ricos ainda.

Neste ponto, concordo totalmente com Karl Marx, de que a Religião tem sido o Ópio dos Pobres.
Droga-os com esperanças de uma Vida melhor no futuro, depois da Morte, se para tal continuarem
contentes com a sua pobreza atual.

Naturalmente, as Pessoas ricas tem sido as protetoras dos Padres, dos Missionários. Eles fizeram
grandes Igrejas e Templos para Deus, porque compreenderam a situação, de que se a Religião
predominar na Mente das Pessoas, não existe qualquer possibilidade de haver uma Revolução. O que
vos tem sido dito sobre a Caridade, é simplesmente o suicídio de todos aqueles que são Pobres e dos
que estão a sofrer. Isso tem sido feito em nome dos Ricos; e não ao serviço dos Pobres.

Eu ensino-vos o Amor. E o Amor não é cego; o Amor vê a estrutura toda — de como é que a Pobreza
acontece. E o Amor pode trazer a Revolução; uma Revolução vinda pelo Amor, não pela Violência,
isso para é que é Caridade.

O conceito Católico também fala de “Educação”. Mas que Educação? Nos Países mais avançados,
quase todas as Pessoas são educadas, mas isso não transformou o Homem. O Homem continua tal
miserável como antes — vive uma Vida cheia de ansiedade e angústia.

Educação não é trazer Paz e Silêncio e Alegria às Pessoas. Há algo que se perde nisso; é apenas
Educação em assuntos que não tocam no interior do Ser. Podem fazer de vós Doutores, Engenheiros,
Professores, mas não vos dão a iluminação para fazer crescer dentro de vocês um Gautam Buddha. O
verdadeiro significado da palavra “Educação” é “de dentro para fora”. Mas tudo o que a vossa auto-
intitulada Educação faz é forçar. Do exterior, conhecimento emprestado é forçado nas Mentes de
Crianças Inocentes.

Na minha Visão, Educação não é nada mais do que outra forma de Meditação. Tudo o que
normalmente acontece em nome da Educação é secundário. A prioridade deve ser dada à Meditação
— Educação do interior. A não ser que te familiarizes contigo próprio, todos os teus conhecimentos
são inúteis.

Então, antes da Educação eu colocaria a Meditação. A Educação é trivial: Geografia, História,


Aritmética. É boa no que diz respeito ao Mundo mundano, mas não é boa no que concerne ao que vai
no interior do Ser. Uma Pessoa continua a acumular diplomas e por dentro está completamente vazia.
Os teus diplomas podem enganar as Pessoas, até te pode enganar a ti próprio, mas tu não podes ter a
Alegria, a Paz, o Silêncio, a Compaixão e um Gautam Buddha.

E, a não ser que a Educação tenha duas asas, não pode voar pelo céu com liberdade total. Neste
exato momento, ela apenas tem uma asa; a outra asa não está lá, está perdida. E porque é que está
perdida? Porque os Padres não querem que vocês se tornem meditadores.

Logo que estiverem em Meditação, brevemente se virão livres de todos esses ensinamentos dados
pelos Padres, pelas Igrejas e Sinagogas, Templos e Monastérios. Qual é a necessidade de se ir a uma
Igreja quando podes entrar dentro de ti — o verdadeiro Templo de Deus? Qual é a necessidade de se
ter um Padre? Qual é a necessidade de se ter um Papa, quando se pode viver Deus diretamente,
imediatamente, dentro do nosso próprio Ser?

Quando Deus se torna na tua experiência pessoal, naturalmente tu te libertarás de ser um Cristão ou
um Hindu ou um Maometano; por isso é que nenhuma Religião quer que te tornes um Meditador. Eles
querem que sejas educado em Física, em Química, em Biologia. Nenhum Universidade no Mundo tem
um Departamento para a Meditação. E sem Meditação, um Homem permanece incompleto. Esta é
uma das raízes causadoras da miséria.

Para mim, a Caridade primeiramente significa a Educação do interior; e apenas secundariamente,


significa Educação de outras coisas. “Conhece-te a ti próprio” deve ser a mais preciosa Educação, e
aí podes tornar-te familiar com tudo o resto. Um Homem que se conhece a si próprio nunca vai usar a
sua Educação para explorar outras Pessoas, criar Pobreza.

Se te conheceres a ti próprio, irás criar uma Sociedade aonde a Pobreza não existe. Todas as
Religiões falharam em criar uma Sociedade aonde não exista Pobreza. E uma das razões
fundamentais é de que nenhuma das vossas Religiões tem enfatizado a Educação do Ser interior — a
Jornada para o Ser interior.

No momento em que tu estiveres no Centro do teu Ser, irás ter uma tal claridade sobre todos os
problemas da Vida e uma coisa é certa: não irás criar qualquer tipo de problema; e outra coisa é
certa: irás espalhar a tua visão, o teu entendimento, a outras Pessoas.

Todos os problemas são criação nossa.

Na nossa ignorância para conosco próprios nós criámos esses problemas. Na nossa Consciência,
eles irão dissolver-se tal como se fossem gotas de chuva a desaparecer no Sol que se ergue.

E por último: a Caridade católica tem a ideia de “alívio médico”. Não há nada de errado no alívio
médico, mas porque é que existem tantas doenças? Olhem para os Animais selvagens e não
encontrarão um único Veado que esteja a sofrer de cancro ou de tuberculose ou de qualquer problema
psicológico. Não encontrarão um Veado a assassinar outro Veado, não encontrarão um Veado que
esteja a tentar cometer suicídio.

É estranho que o Homem, que é o clímax da existência e da consciência, sofra tanto. Talvez
estejamos apenas a remover os sintomas e acabamos por nunca remover as causas.

Por exemplo, quando eu estive na América, passaram uma lei no Texas contendo uma resolução que
dizia que a Homossexualidade era um crime, por causa do medo da SIDA. E toda a America deve ter
ficado chocada, porque um milhão de homossexuais protestou à porta da Prefeitura do Texas. O
Texas é um estado dos fundos na América. Ninguém imaginava que tivesse um milhão de
homossexuais.

Eles gritavam, “Se a homossexualidade é um crime, então iremos andar escondidos”. Ninguém pode
escrever na testa de qualquer Pessoa a dizer que tal Pessoa é Homossexual; nem existem sinais que
mostrem que certa Pessoa é Homossexual. E eles continuaram, “Agora mesmo, nós temos Clubes
Noturnos de Homossexuais, Restaurantes de Homossexuais, Sítios de Encontro para Homossexuais.
Nós continuaremos a ser o que somos, mas já não o faremos abertamente.”

Um problema torna-se mais complicado se for escondido. O melhor é saber que tal Pessoa é
Homossexual. E a Homossexualidade em si é apenas um sintoma. Mas ninguém no Mundo tem a
coragem para dizer a coisa certa — que foi o Celibato que criou a Homossexualidade. Ninguém pode
o pode dizer, porque vai contra o que dizem todas as Religiões. Ninguém quer ser condenado, tal
como eu, por todas as Pessoas no Mundo. Mas eu tenho apreciado essa condenação.

Nenhum Animal selvagem alguma vez se torna Homossexual. Porquê? — não existe necessidade
disso. Mas em Zoológicos tem-se encontrado imensas vezes Animais que se tornam Homossexuais,
porque a Fêmea não se encontra lá. O que é suposto fazeres com a tua Energia Sexual? É um
fenómeno natural. Precisa de um escape.

Todas as Religiões tem ensinado o Celibato como sendo uma das maiores qualidades religiosas, e
todas as Sociedades tem respeitado a virgindade como sendo algo espiritual — estas são as causas
que criaram a Homossexualidade e o Lesbianismo. E desta Homossexualidade veio a Doença da
SIDA, há qual os Cientistas não conseguem encontrar uma cura.

Mas mesmo assim, nenhum Padre no Mundo, nenhum Político deste Mundo, nenhum Homem que
tenha um status internacional alguma vez declarou que o Celibato deveria ser considerado um Crime,
nem a Homossexualidade.

Mas eu quero dizer isso: o Celibato é o Crime. A Homossexualidade é apenas um Sintoma.

E se tu reprimires o Sintoma, então possivelmente algo pior irá acontecer, porque a mesma Energia
que tornou a Heterosexualidade em Homossexualidade pode tornar-se em Sodomia. As Pessoas
podem começar a fazer amor… e tem vindo a fazer amor há séculos, até há descrições no ANTIGO
TESTAMENTO e outras escrituras sobre Pessoas a fazer amor com Animais, particularmente de
pastores que vivem em florestas remotas aonde não tem mais ninguém a não ser os seus Animais. E
os Animais não vão queixar-se à Polícia. Se a homossexualidade criou a SIDA, então a Sodomia —
fazer amor com Animais — pode criar algo muito pior.

O alívio médico é bom, mas é muito superficial. O Homem que tenha uma verdadeira caridade irá
tentar encontrar as causas que estão a dar origem a tantas doenças, e essas causas devem ser
removidas. E podem ser removidas!

Foi descoberto que as Pessoas que comem muito vivem apenas metade do tempo que deveriam viver.
Se iriam viver durante cerca de setenta anos, irão morrer quando chegarem apenas aos trinta e cinco.
Mas as Pessoas que comem menos irão viver mais do que é normal. O normal pode ser setenta —
poderão assim viver cem anos. Vocês não entendem uma coisa bem simples: o que quer que comas, o
teu corpo tem de o digerir… é um grande trabalho para todo o teu sistema digestivo; e se o sistema
digestivo se cansa, tu irás morrer bem depressa; e se o teu sistema digestivo permanece incansável e
novo e fresco, é claro que irás viver durante mais tempo.

E existem Pessoas que estão a viver durante mais tempo. No Cáucaso, existem milhares de Pessoas
que passaram a idade dos cento e cinquenta anos, e existem umas centenas de pessoas que chegaram
quase aos cento e oitenta anos de vida. E permanecem novas; continuam a trabalhar no campo.
Existem Cientistas que olhando para o mecanismo do corpo humano, dizem que todas as Pessoas
deveriam chegar facilmente aos trezentos anos de vida; mas existem muitas doenças que deitam por
terra tal possibilidade.

As Pessoas comem não por necessidade; as Pessoas comem apenas pelo paladar. As Pessoas não
estão a comer na proporção correta; podem estar a comer coisas que não são necessárias ao corpo e
podem assim estar a não comer algo que é absolutamente necessário. Por exemplo, os vegetarianos
não ingerem certas vitaminas que são absolutamente necessárias para a inteligência e o seu
respectivo crescimento. Não é nenhuma surpresa de que até hoje nenhum vegetariano nunca tenha
ganho um prémio Nobel. De facto, eles deveriam ter ganho mais do que os outros, porque comem as
comidas mais puras. Mas o problema é que a sua inteligência nunca cresce; precisa de certas
vitaminas que faltam na sua alimentação. Podem-se encontrar substitutos; sem ser preciso comer
carne, podem-se encontrar substitutos.
Eu sempre digo aos vegetarianos, “Comendo apenas ovos não-fertilizados, vocês estarão numa
posição muito melhor do que aqueles que comem carne; e o ovo não-fertilizado é apenas um vegetal,
não existe qualquer tipo de vida nele.”

Muito enfurecem-se comigo e dizem, “Tu andas a ensinar as Pessoas a comerem ovos.”

Eu digo, “Vocês não entendem. Eu estou a falar de ovos não-fertilizados” — mas eles não ouvem a
palavra “não-fertilizados”. Basta a palavra “ovos” para ficarem assustados.

Comida correta… A Humanidade está quase madura; não deveria viver no meio de doces. Mas
existem Pessoas… Eu próprio já vi Pessoas bem velhas com doces! As Pessoas enchem-se com
gelados e outros tipos de doces sem sentido, lixo.

A verdadeira caridade consiste em tornar as Pessoas mais educadas, aprenderem a cuidar melhor do
seu corpo, como tratar melhor o seu próprio corpo. O alívio médico deveria ser algo secundário.

Graças a este conceito católico de caridade, até mesmo a constituição indiana aceitou a ideia de
caridade descrita nas seguintes palavras: “Alívio para os pobres, educação, e alívio médico.” Ainda
mais chocante se torna quando as próprias Pessoas que fizeram a constituição indiana não estão a par
das suas próprias tradições do Leste, das suas próprias heranças. Não puseram lá nada do que é seu;
de outro modo, como é que poderiam ter-se esquecido da meditação?

O Homem que era o principal responsável para a criação da constituição indiana, era o Dr.
BAbasaheb Ambedkar. Ele converteu milhares de intocáveis para o Budismo e escreveu um grande
livro sobre o Budismo, não penso que ele saiba nada sobre Meditação. Sem Meditação, o Budismo é
apenas um corpo — sem a chama da Vida. E até mesmo o Dr. Ambedkar não acrescentou à
constituição que ajudar Pessoas a praticarem mais Meditação é a maior caridade, ajudar Pessoas a
tornarem-se mais iluminadas é a caridade mais importante.

Tem sido um problema para nós: o Governo Indiano não pode aceitar a nossa Escola misteriosa
como uma Instituição de caridade por causa da sua definição. É tão estranho que a Meditação não
esteja incluída na Caridade. O que é que pode ser mais valioso do que ser uma luz para si próprio? E
tudo o que eles incluíram foram coisas superficiais.

A Constituição precisa de uma coisa mais profunda para ser a representante do Leste. Até parece que
foi um Missionário Católico a escrevê-la; nem parece que temos Gautam Buddha, Mahavira,
Adinatha, Kabir, Nanak, Farid. Estas Pessoas não espalham Caridade; a Madre Teresa é a única
Pessoa que distribui Caridade na Índia, porque ela ajuda a crescer os órfãos. Mas é contra as
medidas conceptuais.

Se tiveres um pouco de compreensão, podes ver o ponto fulcral: se não queres órfãos, então o
controlo de natalidade deve ser a coisa mais caridosa. Espalhem a ideia do controlo de natalidade,
distribuam a pílula a quantas Pessoas for possível, para que não haja órfãos. É estranho que a
primeiramente protegem as Pessoas do controlo de natalidade, depois fazem Crianças que não podem
criar, e depois entram em cena certas Pessoas que se tornam grandes santas porque estão a fazer um
grande ato de caridade. Se usarem métodos contraceptivos, não haverá órfãos.
Se a ciência médica não estiver a trabalhar debaixo do tecto de condições religiosas e estiver livre
das religiões, muitas doenças desaparecerão.

Existem trinta milhões de Pessoas nos Estados Unidos que estão em hospitais porque comem
demasiado; ganharam tanto peso, que nem sequer se conseguem mexer. E é considerado caridade
tomar conta delas, então, milhares de médicos e enfermeiras e hospitais estão envolvidos em tomar
conta desses idiotas. E exatamente o mesmo número, trinta milhões de Pessoas, estão a morrer de
fome nas ruas.

Se esta é a situação da América, que é o País mais rico do Mundo, o que podemos dizer dos países
pobres? Trinta milhões de Pessoas não tem abrigo, não tem comida, não tem roupas, e outros trinta
milhões de Pessoas estão a ser atendidos por Médicos e Enfermeiras e Hospitais e por toda a ciência
médica porque eles comem demasiado. Não podem ser enviados para casa, porque em casa ninguém
os ajudar — irão automaticamente para o frigorífico!

Esses trinta milhões de Pessoas que estão nos Hospitais deveriam ser deixadas nas ruas, e os trinta
milhões de Pessoas que estão na rua deveriam ser colocadas nos Hospitais e deveriam então cuidar
dessas Pessoas — isso sim seria Caridade! Esses idiotas rapidamente tomavam consciência — e
estaria-se assim a salvar seis milhões de Pessoas apenas com uma pequena mudança.

O Homem precisa de entender que os nossos problemas são criação nossa, e se queremos ver-nos
livres deles, esta Caridade católica superficial não vai servir de grande ajuda. Estes missionários
caridosos e instituições existem há já milhares de anos, mas a pobreza continua a crescer, as doenças
continuam a aparecer cada vez mais, e vemos o mesmo a acontecer com a loucura. É altura de nos
apercebemos que estamos a fazer algo de fundamental erradamente.

Todas essas Pessoas ensinam alguma coisa que vai contra o teu corpo, que o corpo é um inimigo. E
se esse conceito entrar na tua mente — de que o corpo é teu inimigo — então, naturalmente não irás
tomar conta dele.

Digo-te o seguinte: O teu corpo é o teu grande Amigo. Toma conta dele. E lembra-te, tu não estás a
sofrer por causa de algum destino; não existe tal destino. E também não estás a sofrer por causa de
coisas más que fizeste em vidas passadas, porque cada ação traz o seu resultado imediatamente.

Certa vez estava a falar com um Monge Jaina, e ele constantemente insistia de que os seus armas
passados é que criaram a sua situação de pobreza. Era uma noite de Inverno nos Himalaias.
Estávamos sentados perto da lareira, então, disse ao Monge, “Coloca a tua mão no fogo.”

Ele questionou, “Porquê?”

Eu respondi-lhe, “Quero ver se tu te queimas agora ou na tua próxima vida. Isso vai ser decisivo.”

Ele disse, “Estás louco?”

Eu respondi, “Essa pergunta deve ser feita a ti.”


Cada ação está relacionada com a sua consequência. Não espera assim tanto tempo para que morras
e renasças de novo — talvez sessenta ou oitenta anos depois — tu vais sofrer porque fizeste algo de
errado. Cada ato errado traz o seu próprio sofrimento, e cada ato bondoso traz a sua própria
recompensa e alegria. Mas as Pessoas foram enganadas, e foram enganadas por aqueles em quem em
tanto acreditaram.

Resumindo, gostaria de dizer que Caridade é fazer com que os Pobres se apercebam que a Pobreza é
criada por umas poucas Pessoas que são gananciosas.

Aqueles que acumulam muita coisa deveriam estar por detrás das barras, e aqueles que produzem
deveriam ser os donos dos seus produtos. A terra deveria pertencer àquele que cuida dela, e o Jardim
àquele que lá trabalha, e a Fábrica àqueles que dedicam a sua Vida a criar coisas.

Apenas dois porcento das Pessoas na Índia podem ser chamadas de ricas, e esses dois porcento estão
a manter noventa e oito porcento das Pessoas pobres. Tu não vais acreditar, mas metade da riqueza
de toda a Índia está em Bombaim. Apenas uma única cidade tem metade da riqueza, e todo o país —
um continente de quase novecentos milhões de Pessoas — tem a outra parte. Parece que temos vivido
de tal forma, mecanizados de tal maneira, que crescemos a aceitar que aqueles que são ricos estão a
ser recompensados por causa dos seus antigos armas, as suas boas ações. Eu quero destruir toda essa
ideologia.

A Educação é extremamente necessária; mas antes da Educação, é preciso Meditação. Qualquer


Pessoa que se torne graduada — quer seja um Engenheiro ou um Doutor ou um Professor — não
deveria poder obter o seu diploma a não ser que passasse pelos exames da Meditação. Cada
Universidade e cada Colégio deveria ter aulas de Meditação para os Estudantes — e também para
Pessoas exteriores à Escola; elas poderão não ter tido chance de aprenderem Meditação durante a
sua juventude, mas agora podem aprender.

A Educação é um fenómeno vasto. Cada Hospital deveria ter um departamento aonde as Pessoas que
fossem morrer lhes deveriam ser ensinadas a meditar antes de morrerem — tal e qual as Pessoas que
vão viver… quando passam nos seus exames da Universidade, deveriam aprender a meditar — como
viver com Alegria, com Prazer, com Harmonia, sem ganância, sem ciúmes, sem fúria, sem ódio.

Então surge um outro ponto, quando uma Pessoa está a morrer. Quando os Médicos sentem que
apenas faltam uns poucos meses, deveria ser ensinada a Meditação, como se fosse uma preparação
para a Jornada eterna que está à sua frente. Brevemente sairá do seu corpo. E antes que tal aconteça,
tem de entender, compreender, que ele não é o corpo. Aí poderá morrer com Alegria.

Viver com Alegria e morrer com Alegria — se pudermos criar esta atmosfera, eu chamo-a da Grande
Caridade.

E é isso mesmo o que estamos aqui a fazer. Quer o Governo aceite isso ou não, não interessa; quer
que a Constituição continue a ser superficial… Isso vai ter de mudar. Nós apenas temos de criar
Pessoas que sejam a evidência da Educação certa. Uma Educação é completa quando é
simultaneamente interior e exterior. E nós temos de criar Pessoas que possam mudar toda esta
estrutura exploradora com Amor, Compaixão e de uma maneira democrática. Não é necessário
qualquer tipo de violência. Os pobres simplesmente tem de se tornar conscientes: Está na altura de
acordares; tudo de pertence.
Segunda Pergunta

Querido Osho,

Neste último ano, estive longe de ti durante muitos meses, vivendo no Mundo. Aprendi de como tu e
a tua mensagem se tornaram numa experiência diária em mim, independente do tempo e da distância.
De alguma forma estranha, a tua Vida tornou-se na minha Vida e a minha Vida tornou-se na tua Vida.

Estar perto de ti tornou-se extremamente delicioso. Quando falas em deixar-nos, apesar de me


surgirem imediatamente lágrimas, sei que fizeste muito bem o teu trabalho. A tua visão viverá muito
para além da altura de quando o teu corpo regressar à terra.

Eu não tenho uma pergunta, apenas um agradecimento pelo teu tremendo esforço para nos acordar.

P.S.: Por favor, pede ao Capitão do teu navio para andar de um lado para o outro mais um pouco. Ele
já esperou tanto tempo que apenas mais uns anos não farão grande diferença.

P.P.S.: Aqui vai a minha pergunta: Estarei eu a ser egoísta ao querer que tu fiques mais um pouco?

Devageet, não estás a ser egoísta de modo algum, querendo com que eu fique aqui durante mais uns
tempos. É apenas um simples desejo, pois a tua Jornada ainda não está completa. Tu entraste no
caminho e estás a crescer bem, mas ainda precisas do Jardineiro para cuidar de ti.

E não te preocupes com o Capitão do meu navio, porque ele não é meu criado; ele também é meu
discípulo. Também ele quer que permaneça por aqui mais um pouco. E não há problema nenhum
nisso. Se tu precisares de mim, eu estarei aqui até que as tuas necessidades estejam preenchidas. E
mesmo que eu me vá embora, se o teu Amor é profundo o suficiente, eu estarei presente por ti.
Sempre que fechares os olhos, irás encontrar-me mesmo ao lado do teu coração, acompanhando o seu
ritmo.

Eu cultivei as sementes. É apenas uma questão de tempo até a Primavera chegar — e ela sempre
chega. Permaneçam apenas abertos, disponíveis. Eu estarei aqui para vos ajudar. Se eu não estiver no
corpo, mesmo assim estarei aqui para vos ajudar. De facto, eu até posso ajudar mais quando estiver
livre do corpo. Então a minha consciência estará espalhada por todo o lado.

Aqueles que me amaram — serão parte de mim. Já começaram a transformar e a juntarem-se a mim.
Então a única questão que deve ser importante para ti é: não dificultar o processo da tua junção e
transformação. Quer eu esteja no corpo ou não, tu não deves esperar por amanhãs.

Hoje é o dia.

Este momento é o momento.

E esta é a minha promessa: eu tentarei vaguear por esta costa tanto quanto possível. E mesmo quando
o meu navio partir, sempre que as vossas lágrimas me chamem, ou o vosso riso, eu estarei convosco.
E sempre que estiverem a dançar e a cantar, também encontrarão a minha sombra presente.
Terceira Pergunta

Querido Osho,

Para mim, depois de estar contigo há mais de dez anos, tu és igualmente a Pessoa mais intima e mais
distante para mim. Que dor é esta causada pela distância da tua presença física que não diminui
nunca ao longo dos anos? É mesmo apenas desejo e apegamento?

Yachana, não é apenas desejo e apegamento. É o teu querer em conheceste a ti própria. Ao estares
perto de mim, o que sentes dentro de ti é um desejo de estares junto de ti mesma, porque eu não sou
nada mais do que o teu futuro; e tu não és nada mais do que o meu passado. Eu já estive na mesma
escuridão em que tu te encontras; um dia tu estarás na mesma aonde eu me encontro, tal como me
aconteceu. Nós não estamos separados. Todas as distâncias são falsas.

Tu encontraste profundamente intima comigo e mesmo assim, distante. Isto não é uma contradição,
porque o teu passado e o teu futuro, apesar de ainda se encontrarem longe, estão ligados um com o
outro. Tu sentes que eu estou intimamente ligado contigo — no teu Amor, nos teus desejos, nos teus
sonhos. Mas o facto de te encontrares tão intima, também podes ver que apenas te aproximas-te de
mim, mas ainda não te tornaste Una comigo. E o Amor deseja tornar-se Um.

Não importa o quanto intimo seja, mesmo assim ainda existe uma distância, uma distância bem vasta.
E o Amor não quer qualquer tipo de distância. A única maneira para ir além da distância é seres tu
própria, completamente despida de todos os condicionalismo, de todas as excepções, apenas
silêncio, puro e inocente — e de repente apercebeste que te tornaste Una comigo.

Este é a última etapa do discípulo. A primeira é o Estudante, aonde ele tem apenas um interesse
intelectual. Ele tem muitas perguntas e quer as respostas, e todo o seu esforço está concentrado em
acumular conhecimento. De entre milhares de Estudantes, apenas alguns conseguem tornar-se
discípulos.

Discípulos são aqueles que tomam consciência de que apenas o conhecimento não vai ajudar — uma
Pessoa precisa da transformação. O Discípulo aproxima-se do Mestre. Ele já não está interessado em
acumular conhecimento, o seu desejo mudou; ele quer ser mais autêntico, mais sincero, mais
verdadeiro, mais ele próprio.

Ainda há mais uma etapa à sua frente: o Devoto, quando o Discípulo deixa a ideia de si próprio
completamente e torna-se apenas uma presença pura. Nessa presença pura, o Devoto não se encontra
longe do Mester. Eles tornam-se Um. E apenas quando alguém se transforma no Devoto é que esta
dualidade da intimidade e distância desaparece.

Yachana, isto vai acontecer. Eu dei-te o nome de Yachana. O seu significado é bem simples: um
adeus para o final.
Quarta Pergunta

Querido Osho,

Quando estou perto de ti sinto uma doce e deliciosa experiência. Será possível que só a tua presença,
respirando a vibração do que conseguiste, sacia a minha sede da minha própria iluminação?

Devageet, este é o princípio da iluminação, quando até mesmo o desejo pela iluminação desaparece.
Essa é a última barreira — o desejo pela iluminação. O momento, também ele desaparece, não existe
qualquer tipo de resistência.

Tu és abençoada por sentires uma doce e deliciosa experiência simplesmente por estares perto de
mim. Perguntaste: “erá possível que só a tua presença, respirando a vibração do que conseguiste,
sacia a minha sede da minha própria iluminação?”

A Iluminação não é minha nem tua. Quanto mais te aproximas de mim, mais disponível te tornas para
mim, mais te apercebes que apenas existe a Iluminação; apenas existe Luz, Eterna. Não pertence a
mim, não pertence a ninguém.

Agora mesmo, parece-te que pertence ao teu Mestre. Mas quando te mesclas com o Mestre, irás
tomar consciência que nunca existiu um Mestre e nunca existiu qualquer discípulo, mas apenas um
deliciamento Eterno, uma Vida Eterna não conhece qualquer tipo de limitação.

Apenas na nossa ignorância é que existem divisões — Eu e Tu, o Mestre e o Discípulos, o Amante e
a Amada. No momento em que tu acordares, todas estas distinções irão evaporar. E é bom que o teu
desejo pela Iluminação esteja a desaparecer. Na verdade quem está a desaparecer és tu; então, como
é que prosseguir com o teu desejo pela Iluminação?

E não é a minha presença — é simplesmente a presença. Eu já desaparece há muito, muito tempo. E


também te vai acontecer o mesmo. O que tu chamas de minha “presença” é na realidade a minha
ausência e a presença sim de Deus. No momento em que tu também te tornares ausente, a presença de
Deus torna-se na tua presença.

Todos nós vivemos no mesmo oceano — só que uns poucos estão a dormir e de vez em quando
alguém acorda. Aquele que acorda sabe que é um Oceano. Aqueles que permanecem a dormir
continuam a pensar dentro dos seus sonhos, sonham em todos os tipos de separações, todos os tipos
de desejos e objetivos.

O acordar é um fogo de tal magnitude que queima tudo o que é falso, e depois apenas permanece o
Ouro puro.

AND WHEN YOU SPOKE OF TIME THAT DOES NOT MOVE, I HEARD AND SAW. MY
HEART IS FULL.
CONSIGO VER QUE ESTÁS AQUI MAS DEPOIS COMEÇO A SENTIR QUE APENAS O TEU
CORPO SE ENCONTRA PRESENTE.

Quando falas em Jesus, tornaste nele. Quando falas em Buddha, tornaste nele. Quando falas em
Mahavira, tornaste nele. Posso ver que tu és todos os mestres.

Jivan Mary, existem alturas para além das alturas. Não te sintas satisfeita: a busca espiritual é uma
satisfação eterna, mas é Doce.

Quanto mais insatisfeita estiveres por novas alturas, mais alturas, mais completa, mais prazeirosa e
significante se tornará cada respiração.

Eu apenas te posso mostrar o caminho, mas és tu que vais ter de caminhar nele, sozinho - cantando e
dançando e lembrando que não existe qualquer lugar aonde irás ter de parar para sempre. É bom ter
uma paragem nocturna e esperar pelo bonito amanhecer, e abrir as tuas asas, porque novas alturas
estão à tua espera.

O caminho sagrado é infinito.

Esta é uma das coisas mais fundamentais para compreender - porque todas as religiões tem ensinado
desde sempre que existe um fim; que existe um momento que se alcança e a partir daí não há mais
nenhum sitío aonde ir. A Vida não conhece qualquer tipo de paragem, continua e continua. Essa
suposta paragem é apenas para aqueles que não são corajosos. Então para satisfazer essas pessoas
basta um pequeno brinquedo, uma pequena luz, uma pequena canção.

Eu gostaria que o meu Povo nunca se sinta satisfeito. Estar insatisfeito com coisas do Mundo é
insignificante - com as coisas do Mundo podes sentir-te satisfeito - mas estar-se satisfeito com o
crescimento espiritual é o mesmo que se cometer suicidio. Satisfação com as coisas do Mundo e
insatisfação para com Deus é o caminho.

É verdade - se o teu Coração está a bater ao mesmo ritmo que o meu, conseguirás ouvir-me
antecipadamente

OK, Vimal? Sim Osho.

A Jornada Sagrada é infinita

Manhã de 11 de Fevereiro de 1987 no auditório de Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, abriste-me as asas para novas alturas e consigo ouvir-te antecipadamente. Eu, o que
quer que esteja a dizer, não é nada de novo: está apenas dentro de ti, adormecido dentro de ti.
Quando o teu Coração está a dançar comigo, aquilo que está adormecido dentro de ti acorda. E a
qualidade desse acordar é o mesmo, graças a isso consegues ouvir-me antes do tempo. Isso é uma
indicação bem significante de um aproximar cada vez maior do estado de devoção.

Tu dizes, “Vejo que estás aqui, depois começo a sentir que apenas que só é o teu corpo que está
presente. Quando falas em Jesus, tornaste nele. Quando falas em Buddha, tornaste nele. Quando falas
em Mahavira, tornaste nele. Posso ver que tu és todos os mestres.”

Todo o Mestre é Todos os Mestres, porque a Mensagem é a mesma. Cada Mestre é apenas um
veículo, uma Passagem, mas o que vem através dessa Passagem pertence à própria existência. Não
pode ser de outra forma. A linguagem vai ser diferente, as expressões vão ser diferentes, mas o
âmago da Mensagem é eternamente o mesmo.

Eu sinto que tenho uma tal afinidade com Buddha, Mahavira, Jesus, Zarathuustra, Bodhidharma,
Moses, que me faz sentir ter um absoluto direito de os criticar. Isso vem do meu Amor.

As Pessoas não entendem: pensam que critiquei Jesus, simplesmente o corrigi. Jesus tem dois mil
anos de idade. Em dois mil anos o próprio estilo de Vida mudou; os conceitos, as palavras, a maneira
como encaramos a Realidade mudou. Apesar de os dedos apontarem para a mesma Lua, os dedos são
diferentes. E o meu Amor por Jesus ou Buddha é tão imenso que não tenho qualquer tipo de
dificuldade em criticá-los - tal como um Amigo te pode criticar, e não um estranho.

Um Cristão tem medo de criticar Jesus porque ele é um estranho, ele não é um Amigo. Ele não sabe
que o Amor é capaz de criticar aquele que ama. De facto, quanto mais se ama, a capacidade de
criticar aumenta.

É verdade que você ouviram pela minha voz todos os Mestres do passado e também todos os Mestres
do futuro, porque não interessa que mudanças superficiais aconteçam, não faz diferença para a
religiosidade fundamental, permanece a mesma. Mas entendê-la é com certeza uma grande abertura, o
florescer do Coração, uma grande Compreensão, uma grande Luz numa casa que tem estado numa
escuridão constante.

E tu dizes, “E quando tu falas do tempo que não se move, eu ouvi e vi. O meu Coração está
completo.” Sempre que o Coração se enche por completo, tudo pára: Tempo, Mente, tudo fica
parado, tal como um Lago que se encontra tão silencioso e graças a isso já não há mais redemoinhos.
Torna-se praticamente um espelho; e pelo teu Coração preenchido, tu também és um espelho.
Conseguirás ver todo o céu refletido no espelho.

Rabindranath lembrou-se de um Homem que tinha mais ou menos a idade do seu Avô — já era muito
velho. Essa Pessoa vinha muitas vezes a casa de Rabindranath, mas Rabindranath nunca se sentia
confortável com ele porque fazia sempre perguntas muito estranhas. Se te fizerem esse tipode
perguntas esquisitas, ou tens de as responder e sabes que estás errado, ou tens de permanecer em
silêncio, o que é muito embaraçoso.

E esse Homem idoso ria-se sempre, quer Rabindranath respondesse ou não; não interessava a
resposta. E costumava dizer, “A tua resposta está errada, a tua não-resposta está errada. Tu és
conhecido como sendo um grande Poeta, és um vencedor do prémio Nobel — no entanto não sabes
nada de nada. Já escreves-te poemas tão lindos sobre Deus: alguma vez o conheceste? Alguma vez o
viste?” E o idoso e os seus olhos eram tão penetrantes que era extremamente difícil enganá-lo.

Certo dia Rabindranath dirigiu-se ao Oceano, era ali perto. Durante uma noite de Lua cheia, ele viu o
reflexo da Lua no Oceano. O reflexo ainda era mais bonito do que a Lua em si. Isto acontece muitas
vezes… a tua fotografia pode ser mais bonita do tu és na realidade. Tu podes ser fotogénico. Existem
muitas Pessoas que são fotogénicas — as suas fotos ficam muito bem, muito bonitas, mas se olharem
com atenção para essas Pessoas, elas na verdade não são assim tão bonitas.

Quando ele voltava para casa, ainda deleitado com a visão da Lua no Oceano, viu umas poças que se
encontravam num dos lados da estrada. Tinha chovido durante a manhã, fazendo assim aparecer
pequenas poças de água, sujas, mas mesmo assim a Lua era reflectida lindamente nessa água suja, da
mesma forma que o era no vasto Oceano.

Isso abriu-lhe os olhos para uma nova verdade — de que a Lua é a Lua, quer se tenha um espelho
muito bonito ou um completamente casual. A realidade da Lua permanece intocável. Pela primeira
vez, ele relaxou em relação ao Homem idoso que estava constantemente a chateá-lo. E ao invés de ir
para a sua própria casa, pela primeira vez dirigiu-se para a casa do Homem idoso. Os seus olhos
estavam preenchidos pela beleza da Lua, do Oceano, pelas pequenas poças de água. E disse ao
Homem idoso, “Vi Deus.”

O Homem idoso abraçou-o e disselhe, “Eu sei. Consigo ver isso pela tua cara, através dos teus
olhos. Posso ver isso porque é a primeira vez que vens ter comigo. Agora já não te vou incomodar
mais; já não vou ter mais contigo. Tenho-te incomodado uma e outra vez, porque sabia do teu
potencial. E ficarei muito contente se puderes contar-me de como é que descobris-te Deus.”

Rabindranath disse, “Olhei para o reflexo da Lua no Oceano, e depois olhei para os muitos reflexos
que estavam em poças de água suja. Mas a Lua não estava suja, o seu reflexo não estava sujo; era tão
bonito quanto o do Oceano. Aí lembrei-me dde ti — porque tenho estado irritado contigo, tenho sido
chateado por ti. Estava cego. Não conseguia ver Deus em ti. Só conseguia ver Deus nas Pessoas
bonitas, nas Flores, na Lua. Ms agora sei que não interessa quem tu és. Para mim, tu agora também és
um reflexo de Deus, e estou grato por tu teres-me chateado, pois empurraste-me em direção a esta
realização.”

Quando o teu Coração se encontra preenchido, torna-se num espelho, reflete a verdade. E se tu vires
e compreenderes isso, de certeza que o tempo pára. É uma grande realização.

E é verdade que eu sou apenas um corpo — disponível para tudo o que já foi descoberto e também
para aquilo que vai ser descoberto sobre o interior do Ser Humano. Eu rendime por completo à
Existência. Eu próprio não sei o que vou dizer.
Sim, tal como Almustafa, eu não estou a “falar” nada, eu também sou um ouvinte. E aquele que está a
falar, falou através de Mahavira, através de Buddha, através de Confucio, através de Lao Tzu —
através de milhões de místicos. Porque o mistério é o mesmo: de que o místico se torna num bamboo
e permite à Existência cantar as suas canções.

Jivan Mary, tu foste abençoada; e vais ser ainda mais abençoada. A porta abriu-se e um dos máximos
deu-te um desafio, e eu sei que tu és corajosa o suficiente para ired ao encontro desse desafio. Por
mais árduo que seja o caminho, ele é bonito — a sua glória é indiscrítível.
Segunda pergunta

Querido Osho, absorver tudo o que dizes nas tuas palestras, ficando totalmente abismado pela tua
graça e pela tua beleza — quando sinto a tua compaixão, surgem-me lágrimas nos olhos, e sinto-me
como se estivesses a tocar todas as feridas que tenho no meu Coração para que possam ser saradas.

Ouvir a música da tua voz, permitindo-me a mim próprio relaxar cada vez mais e mais, e de repente
as interrupções… desaparece tudo, tudo se torna suave e silencioso e luminoso. Não tenho ideia o
que seja a iluminação, mas vale a pena dar toda a minha Vida por ela.

Como é que alguma vez vou poder exprimir toda a minha gratidão a ti, o meu mais querido e amado
Mestre?

Prem Turiya, dei-te o nome de Turiya. É uma palavra muito estranha — simplesmente significa O
Quarto.

No Este, os místicos desapareceram uma vez atrás de outra na quarta. Eles descobriram que a nossa
consciência consiste em quatro estágios: o acordar, o sonhar, dormir sem sonhar e o quarto. Muito
estranho — não deram qualquer nome ao último estágio, mas sim um número; isto porque qualquer
nome carrega sempre consigo um certo significado, ficando assim limitado a algo. Mas um número
não é limitador.

Não interessa como é que vais exprimir a tua gratidão. A tua vivência no silêncio e na Meditação, a
tua vivência no Amor e na Alegria, a tua vivência ao dançar numa total alegria é mais do que
qualquer agradecimento que me possas dar.

A gratidão não pode ser expressa por palavras. Apenas pode ser expressa por todo o teu ser — os
teus olhos, as tuas mãos, o teu respirar, o teu Coração; ultrapassa-te completamente. E tal não é
possível de o colocar em palavras, então não tentes. Até hoje nunca ninguém conseguiu mostrar a sua
gratidão através de palavras. Por causa disso é que no Leste descobrimos diferentes formas de o
mostrar — o discípulo toca nos pés do Mestre. O Oeste não consegue compreender isso. Todos os
Seres Humanos são iguais — então porque é que alguém deve tocar nos pés…? Eles ainda não
descobriram muitas coisas.

Quando o discípulo toca nos pés do Mestre, o Mestre toca na sua cabeça e assim é criado um círculo
de energia; e esse círculo é a gratidão.

Basta o teu Ser estar em silêncio absoluto para ser o suficiente. Tu dizes, “absorver tudo o que dizes
nas tuas palestras, ficando totalmente abismado pela tua graça e pela tua beleza — quando sinto a tua
compaixão, surgem-me lágrimas nos olhos.” Nem a Graça é minha nem tão pouco a Beleza. Tudo
pertence — tal como as Flores e os Pássaros pertencem — à Existência. Não os comprimas numa
prisão. Deixa que a tua vivência da minha Graça ou Beleza se torne a tua experiência da
Graciosidade das Árvores e das Montanhas e da beleza do nascer e do por do Sol. Espalha isso pelo
Mundo inteiro. E sem estares alerta, continua a espalhar-se; daí as lágrimas virem aos teus olhos.

Normalmente as Pessoas pensam que as lágrimas veem aos olhos quando se está a sofrer, quando há
dor. O seu entendimento está absolutamente errado.

As lágrimas surgem nas Pessoas quando sentem dor, quando alguém morre; mas esse é apenas um dos
lados das lágrimas. O outro lado está reservado apenas aqueles poucos que vivenciam o Amor,
graciosidade e Beleza — cujo Êxtase, é tão grande que não pode ser expresso de outra forma. As
lágrimas são a expressão mais subtil.

Os teus olhos estão cheios de lágrimas, estás com uma expressão silenciosa de uma intensa Alegria.
As lágrimas expressam qualquer vivência que seja extasiante — quer seja dolorosa ou graciosa, quer
seja agonizante ou de Ecstasy.

É uma infelicidade tantos milhões de Pessoas nunca chegarem a conhecer o grandioso lado das
lágrimas. Elas apenas conhecem o lado baixo, o superficial, o comum. Ns suas mentes,
vagarosamente as lágrimas tornam-se associadas com a dor e com a miséria e com a angústia e
ansiedade, e continuam sem saber que as lágrimas também se podem tornar uma expressão de Alegria
Suprema. E a não ser que tu tenhas reconhecido as tuas lágrimas como sendo de uma Alegria extrema
e de benesse, perdes-te uma grande experiência da Vida.

As lágrimas são uma espécie de linguagem — silenciosas. Elas não vem da tua cabeça, elas vem do
teu Coração. É o Coração que se encontra cheio e não consegue conter mais o que está a sentir e vê
que a linguagem é impotente, inadequada. Então, de repente, o Coração lembra-se que tem uma
linguagem que não fala, mas mesmo assim expressa-se.

Lágrimas de Alegria são a linguagem do Coração.

E tu dizes, “É como se tu tocasses todas as feridas do meu Coração para que elas possam ser
curadas.” Sim, Turiya, as Pessoas escondem as suas feridas; tem medo da exposição. Não querem
que outras Pessoas saibam das suas feridas. Fazem de conta que não tem feridas; e quanto mais as
escondem, mais as reprimem, mais grandes ficam.

Ao seres um discípulo, estás a expor as tuas feridas, e não a esconde-las. Se conseguires expor as
tuas feridas ao Amor e à Compaixão, não há nenhum outro Milagre maior do que esse. O Amor sara.
Brevemente não encontrarás nem um traço dessas feridas, e quando estiveres completamente sarado,
a tua Vida deixa se ser um fardo, um arrastar, e torna-se numa Alegria e numa dança.

O meu ensinamento é este: dança no caminho para Deus.

As Pessoas que caminham não sabem que essa não é a forma de se chegar até Deus. Ele não entende
a linguagem do andar; ele apenas entende a linguagem da Dança e da Música e do Ecstasy. Mas se tu
estiveres cheio de feridas, como é que podes dançar e como é que te podes rir e como é que podes
criar flores a partir do teu próprio Ser?

Uma das funções principais das Escolas Ocultas é ajudar-te, encorajar-te a expor todas as tuas
feridas. E no momento em que tu as abrires ao Amor, à Compaixão, à presença do Mestre, elas saram
muito rapidamente. E uma Pessoa sem feridas pode dizer que está completa. De facto, o Homem
completo é o único Homem Santo.
Tu disseste, “Ouvir a tua voz melodiosa, permitindo-me relaxar cada vez mais, e então as
interrupções… desaparece tudo, tudo se torna tão leve e silencioso e brilhante. Não tenho ideia do
que seja a iluminação, mas vale bem a pena dar toda a minha Vida por isso.”

Tu não podes ter ideia do que é a iluminação. Mas na presença de uma Pessoa iluminada, tu ficas
infectado. Algo é transmitido, de Coração para Coração. Algo transpira no teu Ser: sem teres ideia
do que é a iluminação, começas a andar em direção à Iluminação, tal e qual um imã.

Achas que um inseto noturno sabe o que é uma chama? Mas no momento em que o inseto noturno se
apercebe da chama, começa a ir em direção a ela, sabendo perfeitamente que quanto mais perto fica
— fica cada vez mais quente e o perigo fica mais exposto — de que chegar-se muito perto significa
ser consumido pela chama.

Sim, se começares a sentir a beleza da Iluminação quer dizer que estás a ir em direção a uma chama,
aonde vais ter de sacrificar a tua Vida. Porque esta Vida não é a verdadeira Vida; esta Vida é apenas
uma etapa para a verdadeira Vida. No momento em que estiveres pronto a sacrificá-la, renascerás.

Esse é significado da Crucificação de Jesus e a sua Ressurreição. Pode não ser histórico — o mais é
provável é que não — mas é absolutamente verdade de que depois da Crucificação, o mais provável
é haver a Ressurreição. O corpo velho, a Vida velha, o antigo desaparece, o antigo egoísmo, a parte
velha da tua estrutura do teu Ser é consumido, e chegas a um sítio de que nunca tinhas sonhado antes.

Mas torno a repetir: a Música da minha voz não é a minha Música, nem tão pouco é a voz da minha
voz. Eu simplesmente estou disponível para a Existência. O que quer que ela te quer dizer, eu não a
impeço, não a altero, não adiciono nada a ela. Tal como numa mina tu encontras ouro puro, diamantes
puros — que nunca foram partidos ou polidos: da mesma forma, eu nunca polish nada. Eu nunca sei o
que te vou dizer a ti. Eu simplesmente permito à mina — a ti, apanhar todos os diamantes puros. Eles
pertencem à Existência.

E tu dizes, “Eu relaxo cada vez mais e mais e depois as interrupções…” Essas interrupções são
quase inevitáveis. Tu já podes ter ouvido muitos oradores e muitos faladores: Eu não sou um orador,
eu não sou um falador. O orador prepara o que vai falar: já está na sua mente. E não vais ver o
orador a fazer interrupções; isso é contra a arte do oratório.

Um dos meus vice-reitores, apesar de eu ter sido apenas um estudante na Universidade, pediu para
ser informado sempre que eu fosse falar. Não importava o que ele tivesse programado, ele sempre
cancelava tudo para me ir ouvir. Um dia perguntei-lhe, “Tu és um grande historiador…” Ele era
Professor de História na Universidade de Oxford, antes de se tornar vice-reitor na Índia.

Ele respondeu, “Eu adoro as tuas interrupções. Elas mostram que tu estás não estás completamente
despreparado, tu não és um orador. Tu esperas por Deus, e se ele está há espera… então o que podes
fazer? Tens de esperar em silêncio.”

As interrupções são mais importantes do que as palavras porque as palavras podem ser distorcidas
pelas mente mas as interrupções não. E se tu conseguires compreender as interrupções, então
conseguiste compreender a mensagem silenciosa, a presença silenciosa do Divino.
Mas digo-te novamente, Turiya: não te sintas agradecido a mim, sente-te agradecido sim a toda a
Existência — eu sou apenas um instrumento nas mãos da Existência. Não precisas de te sentir
agradecido em relação a mim. Sente-te antes agradecido às Árvores e aos Pássaros e ao Oceano e às
Montanhas e às Estrelas, porque na verdade elas estão a falar através de mim.
Terceira Pergunta

Querido Osho, dançar contigo, rir contigo, gozar todo o Ecstasy que tu provocas em mim, a minha
mente voa para longe, muito longe. É uma loucura deliciosa que apenas me permito na tua presença.
Por favor, fala-me de como é que eu posso dissolverme em Ecstasy e mesmo assim viver nessa outra
loucura à qual nós chamamos de Sociedade.

Devageet, é ótimo tu dançares e rires quando estás na minha presença, vivenciando assim um Ecstasy
puro — mas que eu não provoquei em ti, ele ergue-se por si quando tu sentes Amor e Silêncio na
minha presença. Parece-te que eu é que estou a procovar isso. Nenhum jardineiro consegue fazer
surgir Flores, mas ele regar as plantas, dar alimentos melhores à Planta, mais carinho. As Flores
surgem por si.

O riso que tu sentes e o Ecstasy que tu disfrutas não é provocado por mim. Para ti, parece que eu é
que estou a provocar, mas eu estou simplesmente aqui presente. Apenas porque tu me amas, as coisas
começam a acontecer dentro de ti: é uma Sincronicidade.

É uma verdade —quando se está numa disposição extasiante, a mente é deixada de lado. E também é
verdade que “é uma loucura deliciosa à qual eu apenas a permito na tua presença.” Isto é muito
sensato da tua parte: não permitas que esta loucura deliciosa ocorra no meio do mercado. As Pessoas
não vão entender, apenas vão ficar confusas. Este é um dos fatos mais profundos para se ser
recordado: de que tu não precisas de dizer os teus segredos mais profundos a toda a gente. Partilha
os teus segredos apenas com aqueles que os consigam compreender. Se forem mal entendidos, podem
até destruir algo dentro de ti, porque o desentendimento dessas Pessoas pode afetar-te. Cada Pessoa
tem de aprender a guardar segredos, tal e qual uma Mãe — que está grávida de nove meses —
mantém a Criança a crescer dentro dela, não a expondo ao Mundo exterior até que a Criança seja
madura o suficiente e que esteja pronta. Chega um dia em que está para além da tua capacidade
esconder tal facto; mas aí já não há qualquer problema, porque ninguém o consegue distorcer.

O que tu chamas de “Loucura Deliciosa” é a mais alta forma de sanidade; não a exponhas a Pessoas
comuns que vivem a sua loucura diária. Elas estão em maioria. A tua loucura parecerá tão estranha a
elas… Essas Pessoas crucificaram Jesus pelo mesmo crime, elas mataram Al Hillaj Mansoor pelo
mesmo crime. Elas não conseguem compreender a Alegria, o Ecstasy, a Divina Loucura — mantém
isso em segredo para com a Sociedade.

E assim é bom, porque tudo cresce em segredo. Plantas a semente nas profundezas da terra; não a
colocas simplesmente em cima do chão. Ali, irá crescer, precisa de privacidade para crescer.
Colocas-a bem dentro da terra aonde não chegam os raios solares, mas um dia, subitamente, vês algo
verde a sair de dentro da terra. A semente apenas cresce em segredo, com privacidade.

Quando estás comigo e com as Pessoas que me acompanham, não há problema; ninguém vai pensar
que tu estás louco. De facto, todos vão pensar: “Quando é que vai chegar esse dia maravilhoso aonde
eu também provarei o mesmo divino, do mesmo vinho, da mesma loucura?”

Mas isto é um facto psicológico: manter algo em segredo é muito difícil, a Pessoa quer contar às
outras. Diz-se que se tu queres que a tua Mulher te ouça, não fales alto nem digas diretamente a ela.
Sussurra ao ouvido de alguém mais e ela vai ouvir tudo. Se queres espalhar uma notícia pela Cidade
— verdadeira ou falsa, não interessa — fala com uma Mulher.

Existe uma antiga parábola na Índia: Uma Mulher pobre comprou uma bracelete. Ela poupou dinheiro
durante toda a sua Vida — só assim conseguiu comprar a bracelete de ouro. Mas havia um problema:
imediatamente a seguir à sua compra, ela foi pela Cidade toda a mostrar a toda a gente a sua
bracelete, mas ninguém perguntava nada pela sua bracelete. Era uma Cidade rica, e para os seus
habitantes a bracelete dela não era valiosa; porque é que se incomodariam a perguntar por isso? Ela
ficou tão desapontada que voltou para a sua pobre cada e ateou-lhe fogo. Toda a Cidade juntou-se em
frente à sua casa e ela bateu no seu peito e gritou, “Estou destruída!”

Nesse momento uma das Pessoas falou, “é realmente muito triste de que a tua casa esteja a arder, mas
a tua bracelete é muito linda.” Ela respondeu, “Se me tivesses encontrado antes, podias ter salvo a
minha casa do fogo. Era tão importante para mim que alguém me tivesse perguntado pela bracelete,
mas ninguém me ligou e eu tinha de chamar a atenção para ela de alguma forma, então pus fogo à
minha casa. Todas as Pessoas vieram, e finalmente alguém perguntou. Apesar de ter perdido a minha
casa, estou completamente liberta de uma ferida profunda: alguém apreciou a minha bracelete. Foi o
culminar de um esforço que levou toda a minha Vida para ser alcançado.”

É difícil manter segredo do teu Êxtase, da tua Alegria, da tua Loucura. Mas mantém segredo disso o
máximo de tempo possível, a não ser que se torne demasiado, e aí ficas indefeso.

Al Hillaj Mansoor costumava dizer em altos berros, “Ana’l haq! — eu sou Deus!” o seu Mestre,
Junnaid, disselhe, “Ana’l haq está corretíssimo. Eu também sei que sou Deus. Mas mantém isso em
segredo, porque as Pessoas são loucas e fanáticas; não são capazes de tolerar isso.”

Mansoor disse, “Eu vou tentar, mas existem alturas em que não sou eu que estou a gritar ‘Ana’l haq!’
Eu sou apenas um observador. Eu ouço a mim próprio gritr ‘Ana’l haq! — Eu sou Deus!’ e isso está
para além das minhas capacidades. Então vou seguir o teu conselho; mas não posso prometer que não
vou gritar e dizer essas palavras, porque há momentos em que eu não posso fazer nada — e então no
mercado, a loucura toma conta de mim! E eu tento e tento: mas quanto mais tento, mais alto eu grito
‘Ana’l haq!’ “

Junnaid disse, “Eu compreendo a tua situação, mas de qualquer forma tenta o máximo que puderes.”

Ele tentava mas não tinha sucesso. Sempre que via Pessoas a viverem miseravelmente, cheias de
dores, a arrastarem as suas Vidas de alguma forma em direção às suas sepulturas, era impossível não
gritar, “Não te preocupes! Eu sou Deus e tu também és Deus — tu estás apenas a dormir. Acorda!”

Mas as Pessoas que estão a dormir não são fáceis de acordar. Mansoor foi morto porque de acordo
com o Mohametismo, toda a Pessoa que se proclama Deus é um Kafir, um anti-religioso. Mataram a
sua melhor Flor.

Nestes 1400 anos, o Mohametismo nunca mais produziu uma Flor superior a Al Hillaj Mansoor —
tão inocente e tão belo e tão gracioso. E ele estava simplesmente a dizer a verdade.
Nestes 1400 anos o Maometísmo não produziu outra Flor que ultrapassasse Al Hillaj Mansoor — tão
inocente e tão bonito e tão gracioso. E ele dizia simplesmente a verdade. Ele dizia, “O que posso
fazer? Sinto Deus dentro de mim. A minha Vida não é nada senão Deus. Ele está a respirar, ele a
bater dentro do meu Coração, ele está a falar. Apesar do meu Mestre estar sempre a prevenir-me — e
eu respeito-o e compreendo o problema das Pessoas fanáticas, eu estou a colocar a minha Vida em
risco — mas mesmo assim, chega-se a uma altura em que o caule tem de se abrir e tornar-se numa
Flor.”

Os líquidos que fluem dentro do caule forçam-no a transformar-se numa Flor; e o Deus a dançar
dentro do teu Coração — quanto tempo é que o podes esconder? Mas tenta esconde-lo tanto quanto
possível. Ou se for muito para ti, vai para um sítio privado. Vai para um sítio isolado, grita e dança e
canta e sê louco — mas não faças isso no meio do Mercado. O Mercado é muito perigoso para as
Pessoas religiosas; e assim é também nos Templos, nos Mosteiros, nas Sinagogas — esses são os
sítios mais perigosos. Mantém-te num silêncio total. Ou ainda melhor, não vás a tais sítios. E sempre
que sintas muita vontade, tens as Florestas, as Montanhas, as Praias aonde podes ficar sozinho, e o
Oceano não vai criar nenhuma objecção, as Montanhas irão ficar muito contentes e as Árvores
dançarão contigo.

Milarepa enviou-me uma piada. É de Devageet.

Um Homem já idoso entrou numa Igreja e sentou-se no confessionário. “Pai”, disse ele solenemente,
“Estou a fazer Amor duas vezes por dia com uma Rapariga de dezasseis anos.”

“Senhor Goldstein, você é Judeu, porque é que me está a dizer isso? Eu sou um Padre católico!”

“Não estou apenas a dizer a si, Padre, estou a contar isto a toda a gente!”

Existem momentos em que não interessa se tu és Judeu e que seja proibido confessares-te a um Padre
católico. E ele não foi lá para se confessar, ele estava a contar a toda a gente!

Evita os Padres católicos e o confessionário, e evita as Pessoas todas. O teu segredo é muito maior
do que a piada de Milarepa. Deixa isso crescer. Chegará o dia em que tu não serás mais capaz de
contê-lo, e aí irá explodir. Ms deixa explodir por si; no que te diz respeito, mantém segredo disso.
Quarta Pergunta

Querido Osho, sinto-me inútil. Já não sei mais o que fazer e o que quer que faça ou que planeie fazer
acaba por ser errado ou inútil. Já não há nada mais que eu deseje alcançar, mas pelo outro lado,
quando não faço nada e passo o tempo todo a andar de um lado para o outro e a meditar, parece ser
tudo muito fácil. As coisas à minha volta simplesmente acontecem graciosamente. Parece que estão a
cuidar de mim, por vezes até me sinto mimado. Será que posso apenas relaxar na minha inutilidade?

Mas Govindo, é precisamente isso que tenho vindo a ensinar. Sê inútil, porque há milhões de Pessoas
que são úteis! Não destruas a variedade da inutilidade.

Tu dizes, “Sinto-me inútil” — achas que me sinto diferente? Tu dizes, “Já não sei mais o que fazer”
— e achas tu que eu sei? E continuas, “E o que quer que faça ou planeie acaba por ser errado ou
inútil.” Isso é ótimo! “Não há nada que eu deseje alcançar.” É isso mesmo que os Buddhas tem vindo
a ensinar: Não sejas uma Pessoa dirigida por objetivos.

Tu dizes, “Mas por outro lado, quando não faço nada e passo o tempo a andar de um lado para o
outro e a meditar, parece que tudo é fácil. As coisas á minha volta acontecem graciosamente. Parece
que estão a cuidar de mim, por vezes até me sinto mimado. Será que posso relaxar na minha
inutilidade?”

Absolutamente. E se tu relaxares absolutamente — a Natureza é muito abundante; mimou-me, e vai


mimar-te. A Iluminação não pode ser outra coisa…? Mimado, finalmente.

OK Vimal?

Sim Osho.

O que te prende é o entusiasmo ardente pela Vida que ainda não foi vivida

Manhã de 11 de Fevereiro de 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, porque é que todos os Buddhas expressaram-se contra o dinheiro e o Sexo, dizendo
que são as fontes do prazer mundano? Provavelmente tu és o primeiro Buddha que fica do lado
desses prazeres — Prazer, Alegria — o que causa muito desentendimento e oposição no teu caso.
Será que os outros Buddhas tentaram ir juntamente coma tradição e jogar pelo seguro?

Anand Maitreya, há muitas coisas que tem de ser compreendidas.

Primeiro: todos os Buddhas até hoje vieram sempre de famílias reais. Viveram o prazer do dinheiro,
experimentaram o Sexo, viveram da maneira mais luxúriosa possível; e mesmo assim sentiam um
grande vazio dentro deles. E fizeram assim da sua própria experiência um princípio fundamental para
todos os seres humanos.

A maior parte dos seres humanos não nascem em famílias reais. E assim não tem a hipótese de
experimentar o dinheiro, o Sexo, e outros prazeres do mundo exterior. Uma vez que se sentiam
frustrados — o dinheiro não os preenchia, o Sexo era superficial, todos os prazeres eram repetitivos
e tornaram-se numa rotina — acabavam por sentir-se entediados. E assim renunciaram o Mundo.

E graças à renúncia que fizeram ao Mundo — indo para as Florestas e para as Montanhas — surgiu
uma falácia, de que a não ser que se renuncie ao Mundo e aos prazeres do Mundo, não se pode
chegar á iluminação. Fizeram da sua experiência pessoal um princípio universal. É uma tendência
humana. Que ainda persiste.

Por exemplo, apenas Pessoas doentes psicologicamente iam ter com Sigmund Freud. Obviamente,
aquele que é mentalmente saudável não tem qualquer necessidade de ir ter com Sigmund Freud.
Freud apenas se cruzou com Pessoas doentes, e assim espalhou o seu princípio para toda a
Humanidade, tal como se todas as Pessoas fossem doentes. Ele apenas conhecia os sonhos das
Pessoas doentes, e ele pensava que todos os sonhos são repressivos. E assim era nas suas
experiências, mas a sua experiência não é universal.

E acontece o mesmo contigo, uma falácia humana muito básica: cruzas-te com um Maometano, e ele
engana-te, ou um Hindu, e ele engana-te — e imediatamente dizes que nenhum Hindu é credível, de
que nunca se deve confiar em nenhum Maometano. Uma única instância torna-se no indicativo do
universo.

De facto, todos os Buddhas que já passaram por este planeta concordam com a minha tese. É claro
qur eles não tinham consciência disso. O que eu estou a querer dizer é que a não ser que estejas
profundamente integrado com o mundo exterior, a não ser que tenhas sido um Zorba totalmente e
intensamente, não há qualquer possibilidade de tu te tornares num Buddha.

Foi muito fortuito o facto de Gautam Buddha ter nascido como um Príncipe. Todas as Mulheres do
reino estavam disponíveis para ele, e ele casou-se com a Mulher mais bonita. Mas quando ele tinha
apenas vinte e nove anos, sentiu-se imensamente frustrado. Ele foi inteligente o suficiente para ver
que toda a sua Vida iria ser apenas uma rotina: mais Mulheres, mais vinho, mais comida deliciosa.
Mas ele estava muito familiarizado com isso tudo.
Ele foi muito inteligente ao ver que todos os seus amanhãs já se tinham tornado ontems; não havia
futuro, ele estava completamente vazio. Ele tinha de ir à procura de algo que preenche-se o seu Ser
Interior.

A minha tese é muito simples e suportada por todas as Pessoas que acordaram no passado. Mahavira
e todos os vinte e quatro grandes Mestres Do Jainismo nasceram no seio de famílias reais. As
Pessoas nunca se perguntam: porque é que todos os vinte e quatro Mestres nasceram no meio de
riquezas e em atmosferas de luxo? Porque é que um pobre não se transformou num Buddha? E porque
é que um Homem que estava a morrer de fome não se transformou num Buddha?

Todas as encarnações Hindus de Deus pertenceram a famílias reais, até o próprio Buddha… nem um
único Homem pobre foi aceito pelos Hindus ou Jainas ou Budistas como iluminado. Isto suporta a
minha tese.

Eu tenho estado a dizer-vos que foi por causa de Gautam Buddha ter renunciado o Mundo…
Primeiro, tu tens de viver num Mundo se o quiseres renunciar. Como é que podes renunciar algo que
não tens? Tu tens de te sentir frustrado, estonteado com os prazeres exteriores de tal forma que
acabam quase por se transformar em dor, ansiedade e angústia. Só aí é que podes virar para o teu
interior.

Mas todos estes Buddhas do passado caíram na falácia humana: eles projetam a sua própria
experiência. Eles pensavam que talvez uma Pessoa esfomeada, uma Pessoa que nunca conheceu o
prazer na sua Vida, também seria capaz de os compreender. E o resultado disso foi calamitoso. O
pobre que mora no Leste permaneceu pobre, pensando, “Que sentido faz alcançar a riqueza, qual é o
sentido de se chegar à luxúria?” — e isto porque essas Pessoas viram todos esses grandes,
iluminados Mestres renunciarem à luxúria, então pensam que se calhar estão numa melhor posição: já
são pobres.

Buddha tornou-se num pobre quando renunciou o seu reino; mas achas que ele é do mesmo tipo de
pobre, que ele pode ser colocado na mesma categoria, tal como se fosse qualquer outro pobre que
nunca provou comidas deliciosas, mulheres bonitas, um palácio, todos os prazeres possíveis? Por
fora, parecem ser do mesmo; ambos tem uma taça para pedir esmolas. Mas não são iguais —
pertencem a categorias completamente diferentes.

Eu gostaria que tu pertencesses á categoria do Buddha.

Mas… primeiramente ele era um Zorba,e só depois é que se tornou num Buddha.

O outro nunca viveu uma vida fora da realidade. Ele apenas consegue reprimir o seu Sexo; não se
sente frustrado com ele.

Buddha não tem qualquer necessidade de reprimir — já o viveu, até viveu demasiado; de outro
modo, em vinte e nove anos uma Pessoa não renuncia o Mundo.

Conta-se uma história de que quando ele nasceu, todos os astrólogos do reino do seu Pai foram
chamados, porque Buddha era o único Filho e ele nasceu quando o Rei já tinha uma idade mais
avançada. Ele queria saber exatamente como é que seria a Vida de Buddha; os Astrólogos estavam
incrédulos e ninguém queria dizer nada. O Rei estava a começar a ficar desesperado: “Porque é que
não dizem nada? Mesmo que sejam más notícias, pelo menos não me deixem sem saber nada. Digam
algo.”

Então o mais novo deles falou. Ele disse, “O problema que estamos a ter é que ele não tem um
destino fixo. Existe um destino alternativo — e isso é um caso muito raro e que nós nunca antes
tínhamos cruzado. É suposto nós contarmos o que vai acontecer a ele. Mas ele tem um destino
alternativo — dois destinos: ou ele vai-se num conquistador mundial, um Chakravartin, ou então ele
vai renunciar ao Mundo. São duas polaridades com extremos completamente opostos, e nós não
fomos capazes de determinar qual delas é a mais influente; são as duas de peso igual.

“Então nós não podemos dizer nada definitivo. Tudo o que podemos dizer é que essas são as duas
alternativas: ou ele vai-se tornar no maior Imperador que o Mundo já conheceu, ou ele vai-se tornar
uma das maiores Pessoas iluminadas que o Mundo já conheceu. De qualquer forma ele vai ser uma
das Pessoas mais conhecidas no Mundo inteiro. Mas quer ele se torne um pedinte ou um Imperador
está para além do nosso entendimento e da nossa Ciência.”

O Rei também ficou intrigado; esse era apenas o seu único Filho. Ele já tinha conquistado novas
terras, tinha criado um Reino enorme — e o único sucessor tinha um destino alternativo…

Virou-se para os Astrólogos e perguntou-lhes, “Ajudem-me. Aconselhem-me para o que eu deva


fazer para que ele nunca renuncio o Mundo, mas antes conquiste-o. Esse tem sido o meu sonho
durante toda a minha Vida. Ele vai ter de cumprir esse meu sonho. Ele é o meu Filho — ele trouxe o
meu sonho dentro do seu Coração. Digam-me apenas de como é que o previno de renunciar ao
Mundo.”

Todos eles sugeriram, com a sua lógica comum… e essa lógica comum destruiu tudo. Eles disseram,
“Rodeia-o com o máximo de luxúria e conforto possíveis, para que ele nunca sinta as misérias da
Vida. Cerca-o das Mulheres mais bonitas para que ele nunca sinta falta de sexo. Constrói Palácios
exuberantes para ele em muitos locais do Reino para as diferentes épocas, para que ele nunca sinta
que seja demasiado calor ou demasiado frio ou demasiada chuva.” Eles foram de detalhe em detalhe
de como é que a Vida de Buddha deveria ser guiada: até mesmo folhas mortas deveriam ser
removidas dos jardins durante a noite — ele nunca deveria ver uma folha morta, porque se o vir,
pode começa a perguntar o que aconteceu com a folha.

“Ele nunca deverá ver uma folha a tornar-se pálida, velha, pronta para morrer. Durante a noite, todas
as flores que estejam prestes a morrer devem ser removidas. Nenhum Homem idoso, ou Mulher idosa
devem ser autorizados a entrar nos seus Palácios. E sempre que ele ande na rua, devem ser tomadas
providências para que ele nunca se cruze com um corpo morto ou com um Sannyasin.”

Todas essas preparações foram feitas, e o velho Rei conseguiu fazer tudo o que os Astrólogos
disseram. Mas a lógica comum não é a única lógica. Existe uma lógica transcendental à qual eles não
conheciam.

E não teria sugerido isso. Eu teria-lhe dito, “Deixa-o viver como um Ser Humano normal. Não lhe
entregues o conforto, deixa antes ele trabalhar para que isso aconteça. Deixa-o livre para que
naturalmente encontre uma Mulher bonita — nunca juntes Mulheres como se fossem gado para lhe
entregar de mão beijada. Deixa-o conhecer as dores do desejo e da paixão.” Assim, talvez, ele nunca
tivesse renunciado ao Mundo, porque dessa forma ele nunca tinha conhecido o Mundo na sua
Realidade tão cedo.

Esses vinte e nove anos eram talvez quase iguais a duzentos ou trezentos anos. Até mesmo durante
trezentos anos não seria possível a um Ser Humano comum toda a luxúria que foi literalmente
despejada em cima dele. E foi essa mesma a razão de ele ter renunciado ao Mundo — ele viu que era
tudo superficial e rotineiro; ao ver um Homem morto… Em vinte e nove anos ele nem sequer viu uma
folha morta. Se ele soubesse, desde a sua infância que as Pessoas morrem, teria-se acostumado a
isso. Mas durante vinte e nove anos ele nunca pensou na Morte. A própria ideia nem sequer era uma
questão para ele.

Mas durante quanto tempo é que se pode prevenir…? Certo dia aconteceu por acaso ele ver um
Homem morto, e todo o castelo de cartas que o seu Pai construiu, caiu por terra. Ele perguntou ao seu
condutor, “O que aconteceu a este Homem?”

Ele respondeu, “Mestre, não é suposto eu responder-te a essa peergunta; mas também não lhe posso
mentir. Esse Homem está morto.”

E imediatamente foi feita a pergunta que normalmente não se faz. Rapidamente ele perguntou, “É este
o destino de todos os Homens? Vou eu também morrer um dia?”

E precisamente no momento em que o condutor estava a dizer, “Não há qualquer forma de evitar a
Morte,” passou um Sannyasin. Buddha nunca tinha visto um Sannyasin vestido com um robe laranja, e
perguntou, “Que tipo de Homem é aquele? O que lhe aconteceu?”

O condutor respondeu, “Ele também tomou conhecimento da Morte, da idade velha, e renunciou o
Mundo. Ele está a ir à procura daquilo que nunca morre.”

Eles iam participar de um festival da juventude. Gautam Buddha disse ao seu Condutor, “Vira a
carroça para trás. Para mim já não há mais festivais da juventude. E estou velhi, eu edtou morto.
Leva-me apenas para casa.” e nessa mesma noite ele fugiu do Reino.

O Condutor — um Homem já idoso, um servidor muito leal ao Rei — tentou persuadi-lo. Mas
Buddha disse, “Não existe forma de me persuadires. Se tu não consegues prevenir a velhice, não me
tentes persuadir. Se tu não consegues prevenir a Morte, não te tentes persuadir. Eu vou à procura
daquilo que nunca morre.”

Isso é uma falácia dupla. Buddha renunciou e encontrou a Verdade; e ele também deve ter pensado
que foi por causa da sua renúncia que o fez encontrar a Verdade. Mas não foi essa a causa. Foi graças
á sua Vida luxuriosa que a procura começou — e uma vez que a Luxúria falhou, o dinheiro enganou-
o; os Palácios ficaram vazios, o Reino perdeu o seu significado; conquistar o Mundo inteiro já não
tinha qualquer significado. Se se vai morrer, qual é o nexo em matar milhões de Pessoas se depois no
final as tuas mãos ficam vazias? Então ele pensou que se renunciar o Reino iria ajudá-lo a encontrar
a Verdade. Só que se esqueceu de uma coisa: de que a maior parte das Pessoas não tem um Reino.

E então a falácia de Bhudda tornou-se numa falácia universal. Outras Pessoas que nunca tiveram
Reinos começaram a ir para as Montanhas, para as Florestas, para o isolamento.

Eu conheço um Homem que era reformado dos Correios. Ele era um pouco maluco, e graças a isso
nunca conseguiu casar-se. Os seus Pais tentaram de tudo, mas como ele era maluco ele fazia sempre
alguma coisa doida e estragava tudo. Ele tentava esconder a sua loucura, e nessa mesma tentativa de
esconder, algo emergia e saia errado.

Quando ele se reformou do seu posto de correios, tornou-se num Monge Jaina. Eu sabia que na sua
conta do posto de correios ele tinha exatamente trezentos e sessenta rupias; ele nunca se tinha casado,
nunca tinha conhecido nada do que chamamos de confortável — a Luxúria era uma Estrela bem
distante; nem sequer conseguia ganhar o suficiente para poder pagar a um empregado — ele próprio
cozinhava o que comia. Depois da sua renúncia, passou sete ou oito anos em Mosteiros diferentes
com Monges Jainas diferentes. Certo dia, em Calcutá, apenas por acidente, voltamo-nos a encontrar.
E as Pessoas que me o apresentaram disseram-me que tinha renunciado tudo o que tinha.

Eu digo, “Eu sei. Ele vivia numa casa arrendada, cozinhava a sua própria comida, e tinha trezentas e
sessenta rupias na sua conta dos Correios — as quais ainda estão na conta no seu nome. Ele não
renunciou a nada, nem sequer àquela conta dos Correios.”

Ele estava muito zangado, e quando ficamos sozinhos disseme, “Vindo de ti, isto não é nada bom. A
Pessoas pensam que renunciei a tudo, e tu estás a dizer-lhes que eu não renunciei a nada. Isso é
verdade, essas trezentas e sessenta rupias mantive-as no meu nome para o caso de ficar doente ou
então para quando ficar mais velho. Mas tu estás a destruir a minha relutação. Todas as Pessoas
tinham muito respeito por mim.”

Um Homem pobre pode tornar-se respeitável tornando-se um Pedinte em nome da Religião, mas
nunca ficará iluminado. Daí o meu enfâse ser: antes de entrares no Mundo interior, acaba o que tens a
fazer no Mundo exterior. A Vida é tão imensa — a tua chama da Vida deve arder para ambos os fins.
Quanto mais totalmente viveres, mais rapidamente irás perceber de que não existe muito. Apenas a
parte não viva da Vida parece ser atractiva. Se tu já viveste totalmente, então nada parece ser
atractivo. E apenas estando nesse estado é que te podes mover para dentro sem qualquer tipo de
hesitação e sem qualquer tipo de separação.

Não estou a dizer para renunciarem ao exterior. Não há necessidade disso. A renúncia vem do Medo.
E naturalmente, passaram-se vinte e cinco séculos desde Gautam Buddha… Nesses vinte e cinco
séculos não só a tecnologia científica progrediu; a Consciência espiritual e os métodos que te podem
guiar à Iluminação também foram refinados. Gautam Buddha é, depois de isto tudo, um camião
pesado Gautam Buddha. Ele não percebe nada de Rolls Royces.

Eu gostaria que as Pessoas vivessem com suavidade, conjuntamente com tudo o que está disponível
no exterior. Não sejam apressados, porque tudo o que restar que não esteja vivo, vai-te puxar
novamente. Acaba com isso. E então não haverá necessidade de fugir da tua casa ou da tua conta
bancária, porque aí já não serão um fardo para ti. Essas coisas não significam nada. Talvez tenham
uma certa utilidade, mas não há nada de errado com essas coisas.

Até mesmo um Gautam Buddha precisa de comida, mas é outra Pessoa que ganha isso. Ele precisa de
roupas e é outra Pessoa que ganha isso por ele. Tu ganhas a tua própria comida. E o melhor é ganhar
o direito ás tuas próprias roupas, ai teu próprio abrigo. Qual é o sentido de se ser entendido? — não
há nada nelas que te faz quebrar.

O que te prende é a desejo ardente pela Vida não vivida.

Então vive a Vida totalmente e deixa esse desejo ardente desaparecer.

Aí tu podes viver num Palácio da mesma forma que podes viver na casa de uma Pessoa pobre. Mas
se está disponível um Palácio, porquê torturar-se com uma casa degradante? Apenas basta e atenção
para que o Palácio não se torne numa prisão.

E graças a estas Pessoas iluminadas que consistentemente renunciaram ao Mundo, isso criou uma
Atmosfera em todo o Este de que a pobreza é algo espiritual. Isso não faz sentido nenhum. A Pobreza
não é espiritual; é feia. É uma das feridas que tem de ser curada.

Se a Pobreza fosse espiritual, então haveria milhões de Gautam Buddhas no Este. Mas nunca ninguém
ouviu falar de pobres a tornarem-se Buddhas.

A minha maneira de viver é uma descontinuidade com o Passado. Primeiramente eu ensino-te a viver
como Zorba, e a partir desse pilar é que se vai construir o Templo do teu Buddhismo. E dessa forma
nós estamos a juntar o Exterior como Interior numa única unidade. O Exterior também é teu, tanto
quanto o Interior. Não há qualquer questão de negar qualquer coisa; não há qualquer questão de se ser
contra qualquer coisa. Então eu digo-te: o Prazer pode ser o degrau mais baixo, mas faz parte da
mesma escada. O degrau mais alto pode ser a Iluminação, mas faz parte da mesma escada. E se tu
renunciares o primeiro degrau da escada, nunca chegarás ao último.

Pensa apenas nisto — estás diante do primeiro degrau da escada. Existem duas maneiras de a
renunciar: uma é ir para baixo, a outra é subir para o segundo degrau. Ambas renunciaram ao
primeiro degrau da escada, Gautam Buddha moveu-se para o segundo degrau, e tu estás a mover-te
para debaixo do primeiro.

Tu vês que ele saiu do primeiro degrau, mas não entendeste que ele deixou o primeiro degrau para ir
para o segundo. Ele irá deixar o segundo degrau para ir para o terceiro, e continuará, deixando o
terceiro e o quarto até chegar ao final. Mas tu ficaste com medo do primeiro, porque tu viste Buddhas
a deixar primeiro, então nunca chegaste a pisar o primeiro. Permaneces debaixo do primeiro.

Essas Pessoas chegaram ao ponto mais alto, e tu permaneces faminto, sedento até pelo prazer que a
mais pequena sombra te possa proporcionar.

Em segundo lugar, os Buddhas do passado não estavam preocupados com nenhuma revolução social.
Toda a sua preocupação era com o seu próprio objetivo, com o seu próprio desenvolvimento
espiritual. De uma certa forma, eles eram orientados para o seu próprio centro.
E segundo lugar, os Buddhas do passado não estavam preocupados com revoluções sociais. Toda a
sua atenção estava centrada nos seus próprios objetivos, com o seu próprio desenvolvimento
espiritual. De uma certa forma, eles eram virados para si próprios. E graças a isso o Leste não
conheceu nenhuma revolução social. Todos os génios viraram-se para dentro de si próprios, então
quem é que ia dar às massas a ideia de uma revolução? No máximo conseguiriam ensinar a Caridade
aos Pobres, mas não conseguem conceber um Mundo sem pobreza.

Eu imagino um Mundo sem pobrezas, sem classes, sem nações, sem religiões, sem qualquer tipo de
discriminação. Eu imagino um Mundo que é Um, uma Humanidade que é Uma, uma Humanidade que
partilha Tudo — tanto exterior como interior — uma união espiritual profunda… Então a minha
função não acaba simplesmente com a minha própria Iluminação. De facto, o meu trabalho começou
depois da minha Iluminação. O trabalho de Gautam Buddha chegou ao fim quando ele ficou
iluminado; eu comecei o meu trabalho depois da minha Iluminação.

Tanto quanto me é respeito, eu não preciso de viver mais um único momento, porque a Vida — seja
exterior ou interior — não me pode dar nada mais do que eu já alcancei. Mas para mim isso parece
ser egoísta. Eu gostaria que milhões de Pessoas fossem iluminadas pela mesma luz, com a mesma
visão, com o mesmo sonho.

Eu gostaria que nascesse um novo Homem, uma nova Humanidade, aonde desaparecessem
discriminações horríveis, aonde não existissem Guerras, nem bombas nucleares, nenhumas Nações,
nenhuma raça; aonde o Homem pudesse partilhar todos os Tesouros da existência e todas as
experiências do seu Ser Interior.

Eu quero que toda esta Humanidade seja um Oceano de Consciência.

O que quer que os Buddhas do passado tenham feito, foi bom, mas não foi o suficiente. Criaram para
si próprios o pico mais alto da Consciência. Eu gostaria de criar esse pico para todas as Pessoas —
pelo menos para aqueles que estão interessados nisso.

E eu não posso dizer, “Renúncia ao exterior” — porque o exterior é tão essencial quanto o interior.
Simplesmente não te agarres a ele. Como é que podes renunciar ao exterior? Podes renunciar a um
Palácio, mas como é que vais renunciar à tua própria respiração? E cada momento o ar entra dentro
de ti… Como é que podes renunciar à comida? — ela vem do exterior. Como é que podes renunciar à
água? — ela vem do exterior. Olha para ela com clareza, não existem divisões entre o exterior e o
interior, mas sim uma constante Harmonia — tal e qual a inspiração e a expiração.

Eu estou a dar-vos um novo conceito, uma nova visão, um novo sonho.

Naturalmente, Maitreya, aqueles que se prendem aos velhos Buddhas vão ficar contra mim, porque o
que eles falam é que o Mundo inteiro é um pecado e como tal tem de ser renunciado. O Prazer é
Pecado e assim tem de ser renunciado — até mesmo prazeres simples, tais como beber um chá é
Pecado.

No Ahsram de Mahatma Gandhi, as Pessoas tomavam chá, às escondidas. E de vez em quando


alguém era apanhado, e isso era tão condenável que Mahatma Gandhi fazia um jejum. Esta é uma
forma especial de torturar as Pessoas. E todo o Ashram torturava a Pessoa: se bebesses chá,
Mahatma Gandhi fazia logo um jejum até à Morte. E ele nunca dizia que isso era um castigo para ti.
Ele dizia, “É um castigo para mim próprio, porque mostra que a minha Alma não é pura o suficiente;
é isso que leva os meus discípulos a cometerem tais pecados.”

Ele tem a sua própria lógica. Ele nem sequer te dá a liberdade de tu seres tu próprio — é uma pureza
que vai ser decisiva. E ele está a jejuar para purificar a sua Alma; ele não está preocupado contigo.
Quando a sua Alma estiver purificada, então, naturalmente nenhum discípulo não poderá cometer
nenhum pecado.

Que lógica idiota, porque se fosse realmente assim, bastaria um único Buddha que fosse
verdadeiramente puro para purificar toda a Humanidade — porque apenas um Ashram? Então em
qualquer ponto da Terra, se alguém estiver a beber chá, isso significa que a tua Alma não está
completamente pura. E não é apenas chá, existem muitos pecados: chocolate, gelado — tudo isso é
proibido. De facto, o próprio ato de provar é proibido. Tu deverias comer a tua comida sem qualquer
tipo de sabor. Os melhores cozinheiros do Ashram de Mahatma Gandhi são aqueles que fazem a
comida de tal forma que tu não a consigas comer — chega ao ponto de se querer jogá-la fora. Mas
isso é espiritualidade.

Naturalmente, essas Pessoas ficarão contra mim. E eu aceito essa irritação, o facto de ficarem
chateados, porque eu sei que o futuro pertence a mim. Eles estão a lutar uma batalha já perdida.
Podem ter a maioria, mas é uma maioria que perdeu as suas raízes, uma maioria que já morreu, que
apenas vive do passado — e é um passado horrível.

Ontem mesmo recebi notícias da Palestina. Graças há criação de Israel, muitas Pessoas que não eram
Judeus deixaram a terra de Israel. Israel foi uma criada depois da Segunda Guerra Mundial. É uma
nova nação — forçada pelos políticos americanos e ingleses aos pobres Maometanos que habitavam
nessas terras, de maneira a dar de volta aos Judeus o seu país, que eles tinham perdido há muito
tempo.

Mas não havia necessidade disso. Os Judeus estavam a viver alegremente em outro sítio. Qual é a
necessidade de se ter uma nação? De facto, eles até estavam livres de todos os problemas
nacionalistas e suas consequentes dificuldades — defesa e exército. Eram perfeitamente felizes. Mas
para se criar um problema permanente para eles, forçaram a criação de Israel… costumava ser a
Palestina, mas agora apenas uma pequena parte continua a ser a Palestina, e os Maometanos fugiram
para uma pequena parte. São agora refugiados.

Ontem disseram às autoridades religiosas: “Devíamos ser autorizados a comer carne humana, porque
não temos mais nada o que comer. Uma vez que há tantos terroristas a matar Pessoas, tantas bombas a
explodir e Pessoas a morrer… porque despeerdiçar os seus corpos? Dêem-nos os seus corpos,
porque nós não temos o que comer.” E essas autoridades concordaram em dar todos os corpos dos
mortos aos refugiados a partir daquele momento.

E isto é o século vinte! Aonde um Homem tem de comer a carne de outro Homem… De um lado, um
fenómeno tão incrível; e do outro lado, biliões de dólares em comida e produtos alimentares estão a
ser jogados no Oceano, na América, na Europa, graças à produção excedentária. Como não querem
baixar os preços, toda a produção excedentária tem de ser jogada no Oceano.

Será que estamos a viver num Hospício?

Apenas há algum tempo atrás, tiveram de jogar fora tanta manteiga — montanhas de manteiga —
tanta, que o preço de a jogar fora foi de dois biliões de dólares. E logo ali ao lado, Pessoas estão a
pedir para lhes ser dada autorização para comer corpos de Pessoas mortas, corpos Humanos; e as
autoridades não tem outra solução, porque ninguém está disposto a dar comida à Palestina. E a sua
terra foi-lhes tirada para criar outra terra, Israel.

Parece que ainda estamos a viver numa época bárbara.

A Consciência Humana tem de ser transformada totalmente.

A minha preocupação não é apenas com a iluminação individual; a minha preocupação é com o
levantar coletivo da Consciência Humana. Muitos vão ficar iluminados, mas deixem também outros
chegar muito perto a esse ponto. Não que uma Pessoa se torne Gautam Buddha e outra comece a
comer carne de um corpo morto — esta diferença abismal é insustentável, intolerável.

Ao menos eu gostaria que o meu Povo lutasse por isso — pela sua própria Iluminação, e por um
levantar de toda a Humanidade. Coisas simples, que não precisam de uma grande inteligência… Tu
podes ver isso — qualquer Pessoa consegue ver isso — de que não faz sentido. Quando as Pessoas
estão esfomeadas… quando mil Pessoas morrem de fome todos os dias na Etiópia, quando a América
joga a sua comida ao Oceano, a Europa também a jogar a sua comida ao Oceano. Pelo mesmo preço,
pelos mesmos custos, poderia ser transportada para a Etiópia, e milhares de Pessoas poderiam ser
salvas.

Mas parece que nós não estamos minimamente conscientes.

Neste momento apenas há cinco países que tem armas nucleares. Há uns dias atrás disseram-me que
por volta do ano 2010, vinte e cinco outros países terão armas nucleares — inclusive a Índia e o
Paquistão — isto porque esses países estão a fazer imensos esforços para apenas uma coisa:
tornarem-se potências nucleares. Os custos são gigantescos, mas até mesmo países pobres como a
Índia e o Paquistão nem sequer estão preocupados com a sua situação de pobreza, não estão
preocupados com o facto de que o seu Povo esteja a morrer. A sua única preocupação é em fazer
armas nucleares, de como ser membro do Clube Nuclear. Neste momento apenas há cinco.
Brevemente vinte e cinco mais vão juntar-se-lhes.

Trinta países tendo poder nuclear é uma situação muito perigosa e vulnerável, porque essas armas
nucleares estarão nas mãos de políticos pigmeus. E o político está sempre há procura de se tornar no
maior Homem do Mundo — todo o político — esse é o seu grande desejo.

Adolf Hitler, na sua autobiografia, diz que se uma Pessoa se quiser tornar no maior Líder da
Humanidade, não o conseguirá sem fazer Guerra. Já alguma vez se ouviu falar de grandes líderes que
nascessem em tempos de paz? E tempos de paz, ninguém precisa da sua liderança. Quando estás com
problemas, em perigo, aí sim, precisas de lideres. Grandes guerras criam grandes líderes, e existem
muitas Pessoas doentias em todo o lado que querem tornar-se grandes líderes, mesmo que isso custe
o sacrifício de toda a Humanidade.

Então, a minha função é muito diferente da função de Gautam Buddha. A sua função é apenas uma
pequena parte da minha Filosofia. Eu quero que indivíduos se tornem iluminados, mas eu também
quero que toda a Humanidade se erguia conjuntamente com as Pessoas iluminadas. Podem não tornar-
se iluminadas, mas pelo menos ficam conscientes o suficiente ao ponto de fazerem desaparecer
Nações, Religiões, Raças, e assim possamos viver como uma única Humanidade, como uma Terra.

E isso não é difícil. Basta um pouco de compreensão…

E se a Terra for Uma, então não haverá qualquer necessidade de armas nucleares, de Guerras, de
Exércitos. Todas essas Pessoas… milhões de Pessoas no Mundo inteiro pertencem a Exércitos, às
Marinhas, às Forças Aéreas, estão a perder as suas vidas. E poderiam ser colocadas a produzir algo
realmente útil. Mas isso apenas será possível quando as Nações desaparecerem.

E, Maitreya, isto também é verdade: no passado, os Buddhas, as Pessoas iluminadas, nunca se


incomodaram em dizer nada contra a mente tradicionalista, porque estavam preocupados com a sua
própria iluminação. Não era da sua conta. Até mesmo muitos chamados de santos disseram-me,
“Estás a criar inimigos em toda a parte desnecessariamente. Se falares apenas de Meditação e
Iluminação, ninguém ficará contra ti.”

Mas não vejo o facto de milhares e milhares a falar de Meditação e Iluminação tenha ajudado muito.
Então eu estou pronto a arcar com todos os riscos, porque eu não tenho nada a perder. O que quer que
eu tenha ganho irá ficar comigo, mesmo que seja crucificado. E eu adoraria se a minha crucificação
pudesse elevar a Consciência Humana apenas mais um pouco.
Segunda pergunta

Querido Osho, tenho sido o teu Sannyasin há já uns meses, depois de ter estado muito tempo há
procura de um Mestre. Agora estou com medo que possas morras, e assim não poderei cumprir o
significado da minha Vida sem a tua presença.

Prem Felix, tu ainda estás muito preocupado como teu próprio Ego. Tu não estás preocupado com a
minha Morte; tu estás sim preocupado com a tua Iluminação — o que vai acontecer com a tua
Iluminação.

Não te estás a aperceber que isso não é Amor; isso não é confiança. Estás a tentar usar-me. E o Amor
nunca manipula.

Tu ainda não encontraste o Mestre; apenas acreditas-te que sim… Porque aqui encontraste muitas
Pessoas com um grande Amor, num grande Ecstasy, acreditas-te nelas — talvez aqui se encontre um
Mestre. Mas isso é um talvez.

Se tu realmente encontraste o teu Mestre, esquecerás tudo o que estiver relacionado com Iluminação.
Ao encontrares o Mestre, encontras ao mesmo tempo o teu caminho. Ao encontrares o Mestre, já
encontraste alguém que vai estar contigo, até mesmo depois da Morte. Isso é o significado de se ser
um Mestre.

Um Sannyasin enviou-me uma pequena história Sufi da América. Ela ficou intrigada com a história e
queria saber o seu significado. Isto também vai ajudar Felix.

A história é assim: um encontra-se está a afogar-se e grita por socorro. Alguém estende-lhe a mão. É
de noite e está completamente escuro, então ele não consegue ver de quem é a mão. Ele pergunta,
“Quem és tu?” e ouve, “Um Amigo.”

Mas ele responde, “Não, eu não quero ser salvo por um Amigo.” É uma história muito estranha.

Passados poucos instantes ele recomeça a gritar, “Socorro! Salvem-me.” E novamente a mesma mão
aparece e o Homem que está a afogar-se torna a fazer a mesma pergunta, “De quem é esta mão?” e
vem a resposta, “Eu sou Deus.” O Homem diz, “Eu não quero ser salvo por um Deus.”

E quando ele grita pela terceira vez, novamente aparece a mesma mão, e ele volta a perguntar a
mesma pergunta: “Por favor, diz-me, quem és tu?” E ouve a resposta, “Eu sou um Mestre.” E ele diz,
“Ah! OK. Posso confiar em ti.”

A história é bem estranha. Ele nem sequer confia em Deus, mas mesmo assim consegue confiar num
Mestre. Isto tem grandes implicações.

No sentido espiritual não é possível ser salvo por um Amigo, porque o Amigo está a afogar-se a si
próprio. Ele está no mesmo barco; não está num patamar da consciência mais elevado. Como é que te
ele pode salvar?

Não é um salvamento comum: alguém está a afogar-se e tu podes salvar essa Pessoa. É uma parábola.
Um Amigo é do mesmo nível de Consciência; ele não te pode salvar. Mas Deus? — o Homem que
está a afogar-se recusasse a ser salvo até mesmo por Deus, porque Deus não tem mãos, nem cara,
nem corpo. Deus é uma Consciência — como é que uma Consciência pode segurar a sua mão?

Deus não é uma Pessoa, é apenas uma presença; não é uma Flôr, apenas uma fragrância. Como é que
uma fragrância o pode salvar? Podes desfrutar da fragrância quando és salvo, mas a fragrância não te
pode salvar. Podes desfrutar de Deus, como sendo uma presença, quando és salvo, mas a presença
em si não te pode salvar.

Mas no momento em que o Mestre Sufi diz, “Eu sou um Mestre,” de imediato o Homem agarra a sua
mão e diz, “Esta é a mão certa. Apenas um Mestre me pode salvar” — porque um Mestre é ambos.
Ele é um Homem e ele é Deus. E, é claro, também é um Amigo. Um Mestre são essas três coisas
combinadas numa só. Ele é um Amigo, mas não só um Amigo. Ele é um Deus, mas não só um Deus.
Nele, Deus encarnou; nele, o Amor chegou ao seu ponto mais elevado. Ele pode ser um salvador. A
história é realmente estranha e pode espantar qualquer Pessoa. Se tu encontraste o teu Mestre, Felix,
então não te preocupes com a Morte do teu Mestre. O Mestre nunca morre. Se tu tens Amor, o teu
Mestre irá viver no teu Amor para sempre.

E deixa essa luxúria pela Iluminação, porque isso é uma barreira. Só as Pessoas que perdem o desejo
pela Iluminação é que se tornam iluminadas.

E porque é que deverias estar preocupado com o Futuro? — eu estou vivo! Em vez de estares a ser
salvo por mim neste momento, está a pedir uma marcação para o Futuro.

Encontrar o Mestre, de uma certa forma, é encontrar a tua Iluminação, porque basta apenas a
presença do Mestre para mexer com todo o teu Ser, isso dá-te uma frescura. Uma nova brisa passa
por ti, levando consigo todo o pó que foste acumulando ao longo dos séculos. De facto, existem
histórias de grandes discípulos, tais como Mahakashyapa que diziam a Gautam Buddha, “Só posso
ser teu discípulo mediante uma condição.”

Buddha respondeu, “Que condição?”

E Mahakashyapa disse, “Tu tens de me proteger da Iluminação. Logo que alcance a Iluminação,
perderei o meu Mestre, e não serei mais um discípulo. E eu não te quero perder por nada deste
Mundo. Eu posso esquecer tudo sobre a Iluminação. Tu és a minha Iluminação.”

Buddha riu estrondosamente e disse, “Mahakashyapa, tu não sabes que nesse perfeito entendimento e
Amor, tu estás a dar-me uma indicação, de que tu vais ser o primeiro discípulo a chegar à
Iluminação.”

E Mahakashyapa foi mesmo o primeiro discípulo de Bhudda a tornar-se num iluminado. Ele ficou
muito zangado e durante alguns dias nem sequer falava com Buddha. Sempre que Buddha passava
perto de si, ele fechava os olhos. Finalmente Buddha foi falar com ele, “Esquece isso, o que quer que
tenha acontecido, aconteceu. Além disso, eu não te estou a dizer para me deixares ou para ires
espalhar a minha mensagem. Eu não vou tomar nota da tua Iluminação. Podes permanecer aqui como
meu discípulo.”
Lágrimas de alegria brotaram dos olhos de Mahakashyapa, e ajoelhando-se aos pés de Buddha disse,
“Eu estava era com medo que talvez tu nunca mais me permitisses tocar nos teus pés. E eu tinha
avisado — mas ou nós não te ouvíamos ou tu não nos ouvias.”

Buddha disse, “Não está nas minhas mãos tornar-te iluminado ou impedir-te de chegares à
Iluminação. Tu chegaste com uma tal claridade, e eu fiquei preocupado que chegasses muito
rapidamente à Iluminação.”

O Homem que deseja a Iluminação e apenas usa o Mestre como um meio não consegue entender o
Amor e não entende o que é ser-se discípulo.

Um Mestre não pode ser usado.

Tu apenas podes tentar dissolver-te no seu Ser o mais profundamente possível. Um dia, sem qualquer
tipo de aviso, a Iluminação chega — repentinamente. Não é um processo gradual; não vem por
partes. Vem de repente, e desapareces. Apenas fica um essência pura.

Então não te preocupes com a minha Morte. Enquanto estiver vivo, usa esses momentos para te
dissolver. E se conseguires usar esses momentos para te dissolveres… E esqueceres a Iluminação —
de outro modo isso continuará a ser uma barreira permanente. Apenas desfrutas o fato de estares
aqui. Dança e canta. O que vais fazer com a Iluminação? Não a podes comer, não a consegues beber
— é completamente inútil. Então esperemos que não chegue muito brevemente!
Terceira Pergunta

Querido Osho, existe um ditado, “Fecha os olhos, olha para dentro, e vê a Beleza.” Mas eu adoro ter
os meus olhos abertos. Eu adoro ver as Pessoas, os sítios, as coisas, os Lagos, as Montanhas, os
Rios, as correntezas, os Animais e os Pássaros — mas acima de tudo eu adoro ver-te Osho.

É possível ir para dentro e ver a Beleza com os olhos abertos?

Anand Vimal, não há mal nenhum em ter sempre os olhos abertos. Ama o mais que puderes as
Montanhas, a Lua, o Sol, as Árvores… ama tudo o que é consistido pela Existência.

E tu queres também manter os teus olhos abertos porque adoras ver-me. Não há mal nenhum nisso,
mas tenho de te recordar que existe um sítio ainda mais bonito, estrelas ainda mais belas, muitas mais
Árvores lindas, dentro de ti, mas que não consegues ver nada disso com os olhos abertos.

E pelo que me diz respeito, com os teus olhos abertos, apenas consegues ver o meu corpo. Com os
olhos fechados consegues ver também o meu Ser, que é a própria essência de Deus.

Então, não há qualquer necessidade de teres uma fixação. E essa é a beleza dos olhos. Talvez nunca
tenhas pensado nisso. As tuas orelhas estão constantemente abertas; os teus olhos foram naturalmente
feitos de tal forma que podes fechá-los, abri-los, fechá-los, abri-los…

Então, sempre que quiseres ver as Árvores e a belezas do pôr do Sol, abre os teus olhos. E quando
quiseres ver a beleza do Mundo Interior, fecha-os. E isso também é um bom exercício! Não estás
assim a renunciar o Mundo exterior; estás sim simplesmente a desfrutar de ambos, do Interior e do
Exterior. E quando podes ter ambos, porque é que deverias ficar apenas com um? E o Interior é
qualitativo, e tremendamente superior.

De facto, sempre que vires beleza no exterior, é apenas como se estivesses a ver a Lua refletida num
Lago. O Exterior é apenas uma reflexão. O Interior é que é real — o Existencial.

Existem Pessoas que são contra olhar para fora. Existem Religiões que são contra olhar para fora.
Existem duas seitas no Jainismo: uma delas acredita que Mahavira, o seu grande Mestre, costumava
meditar com os seus olhos fechados; e existe outra seita que acredita que ele costumava meditar com
os seus olhos abertos. Esta é a única diferença entre eles. E assim tem permanecido durante vinte e
cinco séculos, em constantes discussões.

Estava eu a passar por um pequeno sítio, Dewas, e eis que vi um Templo Jaina com três grandes
fechaduras. Então disse ao meu Chofer para parar o carro e inteirar-se do que se estava a passar
nesse Templo. Fiquei a saber que o Templo já não era aberto há quase cinquenta anos. As duas
comunidades Jaina construíram o Templo conjuntamente, uma vez que o seu número era muito
reduzido nessas Vila. Nenhuma comunidade individualmente conseguiria construir o Templo. Senão
eles teriam construído os seus Templos individualmente.

Foi aí que eles concordaram em fazer um único Templo, e também chegaram a acordo sobre a
adoração a Mahavira, a estátua que estava dentro do Templo — durante a manhã até ao meio-dia,
uma das seitas tinha direito a adorar; do meio-dia ao pôr-do-sol, era a vez da outra Seita. As
primeiras Pessoas a adorar a estátua eram aquelas que acreditavam nos olhos fechados. Porque uma
estátua de mármore… ou podes fazer com os teus olhos abertos ou com os olhos fechados. Não é
como um boneco japonês que se deita e fecha os seus olhos; e quando se senta os seus olhos abrem.
Fazer isso a uma estátua de mármore é muito difícil… então a estátua foi feita com os seus olhos
fechados.

Até ao meio-dia a primeira Seita fazia a adoração; depois do meio-dia, a segunda Seita colocava
dois olhos abertos, feitos de papel, na estátua de mármore. E então tornava-se no seu Mahavira. E de
vez em quando… havia sempre lutas, porque alguém da primeira Seita ficava a adorar depois do
Meio-dia; então a segunda Seita chegava punha essas Pessoas fora do Templo, e elas gritavam,
“Vocês estão a perturbar a minha Oração, e a Oração não se pode reger pelos ponteiros do Relógio.
Vocês podem esperar mais alguns minutos.”

Mas porque é que eles haviam de esperar? O acordo era de que exatamente ao meio-dia todas as
Pessoas da primeira Seita já não deviam estar lá e depois a segunda Seita colocaria os olhos falsos
em Mahavira. Só que aí eles começavam a lutar uns com os outros… E atenção que é uma Religião
não-violenta — acredita na não-violência.

Certo dia as coisas foram longe demais. Houve um banho de sangue. As Pessoas trouxeram as suas
estacas e começaram a bater nas cabeças uns dos outros. A Polícia veio, prendeu-os a todos e fechou
o Templo. E até houver uma decisão judicial, a fechadura não pode ser aberta.

Mas, com medo que a outra Seita pudesse partir a fechadura, a primeira Seita trouxe uma outra
fechadura ainda maior. Daí haver três fechaduras, e o Tribunal ainda não tomou uma decisão. Porque
como é que eles podem decidir se Mahavira costumava meditar com os seus olhos fechados ou
abertos?

Disse ao meu Chofer, “Se conheces o Magistrado, leva-me até ele.”

Ele respondeu, “Mas porque é que te estás a envolver desnecessariamente? Estou sempre a ver-te
envolver sem necessidade nenhuma em tantas causas, e aida por cima causas impopulares… e saltas
logo para o meio delas. Nós deveríamos ir aonde estávamos a ir.”

Disselhe, “Não te preocupes. Leva-me apenas ao Magistrado.”

Cheguei ao pé do Magistrado e perguntei-lhe, “Vim ajudar-te, uma vez que não conseguiste decidir
de como Mahavira meditava.”

Ele respondeu, “Tu podes ajudar-me?”

Eu disselhe, “Certamente. Mais ninguém te pode ajudar.”

“Então diz-me o que posso fazer.”, respondeu.

E dei-lhe a solução, “Ele estava sempre a piscar os olhos.”


Tu não consegues ter os teus olhos abertos constantemente; e também não consegues manter sempre
os teus olhos fechados. Tens de piscar; isso mantém os teus olhos frescos. O ato de piscar é natural; é
tal e qual o limpa pára-brisas do teu carro. Mantém-no a andar de um lado para o outro. Os teus
olhos fechados e abertos. Eles mantém-se frescos, removendo o pó.

Então, Vimal, ambos são bons. Por vezes medita de olhos abertos, outras vezes medita com eles
fechados. Ms nunca te esqueças de piscar.

OK Vimal?

Sim Osho.

A questão do entendimento

Manhã de 12 de Fevereiro, 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, há quase oito anos atrás, durante o adeus a Darshan, eu fui chamado para falar, e tu
perguntaste-me, “Tens algo para me dizer?”

Respondi afirmativamente com a cabeça e senti que tinha de dizer algo muito forte, mas não
conseguia exprimir isso por palavras, tu disseste, “Eu ouvi-te.”

Hoje descobri o que tinha para te dizer: eu amo-te.

Ouvi-me a mim próprio.

Anand Govind, a coisa mais difícil é a própria Pessoa ouvir-se a si mesma.

A tua mente está tão cheia de tanta coisa, há tanto ruído, um tráfego tão intenso de pensamentos e
sentimentos e emoções, que a persistente e pequena voz do teu Coração fica afogada dentro dela.

A ti levou-te oito anos a ouvi-la. Mesmo assim é muito cedo. Há Pessoas que nem mesmo passados
oito anos a chegaram a ouvir; e a maior parte das Pessoas morrem sem nunca terem ouvido a voz do
seu Coração, sem terem ouvido essa permanente e pequena voz.

Lembro-me bem do momento em que te perguntei, “Tens algo a dizer-me?”, isto porque senti nos teus
olhos o excitamento do teu Coração. Mas tu não o conseguias ouvir. Tu estavas ciente que havia algo
que querias dizer — mas o que era, era muito vago, nebuloso. Mas agora tornou-se num fenómeno
condensado, e a tua Mente também se tornou mais e mais silenciosa. Já consegues ouvir o teu
Coração. Alegra-te, e dá graças à Existência, porque tu és uma Pessoa afortunada, és um abençoado.
A maior parte das Pessoas nasce com algo para dizer, algo para exprimir, algo para criar, e os seus
Corações estão continuamente a bater nas portas dos seus Corações; mas a Mente é um caos enorme,
essas batidas não são ouvidas.

Logo que comeces a ouvir essas batidas, elas mostram duas coisas: a tua Mente está a tornar-se
calma e tranquila; em segundo lugar, tu estás a tornar-te mais consciente das coisas mais profundas da
Vida.

Quando eu te digo, “Eu ouvi-te” — porque eu quase que podia ver as lágrimas nos teus olhos — o
que não era aparente para ti, para a tua Mente, mas estava visível nos teus olhos. Os olhos dizem
tanta coisa que em comparação a linguagem é muito pobre. Eu ouvi exatamente a mesma coisa que tu
agora ouviste: eu amo-te.

Este é um dos fenómenos mais difíceis: ouvir o toque do Amor — isto porque o Amor não faz
barulho; não faz qualquer tipo de som quando chega à tua mente. É uma experiência absolutamente
silenciosa. Tu nunca te apercebes dessa passagem do Coração para a mente. É uma Jornada bem
grande.

Fisicamente, o teu Coração e a tua Mente não estão muito distantes — apenas alguns centímetros —
mas existencialmente a tua Mente tem uma polaridade e o teu Coração outra. E essa distância é bem
longa. Mas o Amor caminha silenciosamente — tal como a Primavera a chegar: tu não consegues nem
ouvir esses passos, nem vê-los. E de repente chegou. Antes que possas ouvir, antes que te apercebas,
as Árvores já deram conta: e já começaram a dançar. As Flores aperceberam-se: e começaram a
cantar as suas melhores canções.

Se tu conseguiste ouvir… e eu confio no que tu dizes, porque se não tivesses ouvido tu dirias outra
coisa qualquer, mas não “Eu amo-te.” Mas também é uma coisa perigosa. É quase como andar na
beira de um precipício, porque o Amor no seu significado mais puro envolve dissolver e derreter e
desaparecer. Não é uma viagem para o Ego; está a andar em direção ao Nada, ninguém. Não vai fazer
de ti ninguém em especial; vai-te tornar numa Pessoa completamente comum, tal como o são as
Árvores e os Arbustos e os Rios e as Montanhas.

Mas tem cuidado, porque o Amor não é uma coisa sólida que possas possuir. Pelo contrário, o Amor
é uma Energia. Podes ser possuído por ela. E a maior parte das Pessoas no Mundo mataram o seu
Amor na tentativa de o possuir. No momento em que possuíres o Amor, acabas de o destruir, tornaste-
o numa coisa. Aí já poderás decorar a tua sala com uma jaula de ouro, com um pássaro do Amor lá
dentro. Se o quiseres manter vivo, tu tens de desaparecer — não podem existir simultaneamente.

Tu já ouviste, “Eu amo-te”, brevemente o “Eu” vai desaparecer, apenas o Amor restará, porque
quando o “Eu” desaparece de um dos lados, o “Te” do outro lado também desaparece. Escondido por
detrás desta mensagem há algo mais, e isso é simplesmente “Amor” — nenhum “Eu”, nenhum “Tu”.

Mas as Pessoas são muito espertas… nem podes imaginar o quanto. Um dos meus Sannyasins,
Zareen, perguntou a Swami Ajit Saraswati, quem é que tinha estado em contato comigo há cerca de
vinte anos… ele estava a fazer um intercâmbio na América, e no dia em que ele saiu dali, prometeu-
me que iria espalhar a minha mensagem.

Mas eu já estou aqui há muitos dias, e até agora ele ainda não apareceu. Zareen ficou intrigado. E
então quando falou com Ajit Saraswati perguntou-lhe, “Porque é que não vens?”. E é assim que a
Mente esperta funciona: ele respondeu, “Eu amo o Osho. Ele está no meu Coração. Não há qualquer
razão para eu ir ao Ashram para o ver.”

É esta a linguagem do Amor? É a Mente esperta que não quer aceitar a Verdade, de que Ajit
Saraswati provou ser um cobarde. Ele tem medo dos Hindus chauvinistas, e Poona está cheia deles.
Vir até mim é arriscado, perigoso. Seria mais credível se ele tivesse falado a verdade: eu sou um
cobarde, e não posso ir porque tenho medo da Sociedade. Mas ao invés de dizer isso, ele fala, “Eu
amo muito o Osho. Ele está sempre no meu Coração” — por isso é que não há qualquer razão de ir.
Então porque é que vai ter com a sua Mulher? — ele ama-a ou não? Porque é que vai ter com as suas
Crianças? — ele ama-as ou não? Porque é que vai ter com os seus Amigos? — há algum Amor ou
não? Ou serei eu a única exceção?

Um dia ele vai vir — isso vai acontecer — mas eu não o irei ver, porque eu o amo muito. Ele está no
meu Coração. Porque é que o deverei ir ver? Até mesmo Zareen ficou chocada — a maneira como
ele usou a palavra “Amor”. Palavras bonitas podem ser destruídas pela Mente esperta.

Vocês ouviram corretamente, porque eu lembro-me perfeitamente de o ouvir há oito anos atrás. Agora
eu estou a dizer que um dia vocês também ouvirão: nem “Eu”, nem “Tu” — apenas um sentimento
oceânico de Amor a preencher-te por dentro, por tudo aquilo que vive, por toda a Existência.

A não ser que o Amor se abra as suas asas em direção aos céus e cubra todas as estrelas, ele
permanece aprisionado — uma prisão esplendorosa. Não aprisiones o teu Amor, porque esse é o teu
verdadeiro espírito.

Segunda Pergunta: Querido Osho, uma vez falas-te em que as Vidas Passadas iriam tornar-se numa
experiência diária quando estivéssemos na tua Escola dos Mistérios. Aqui, os meus dias estão tão
preenchidos e as tuas danças são tão infecciosa que eu nem me importo com mais nada exceto dançar
contigo até o meu corpo ficar todo ardente. Estarei eu a perder S minhas raízes?

Devageet, em primeiro lugar tu nunca tiveste raízes. Então estás absolutamente seguro; não as podes
perder.

E mesmo que uma Pessoa tenha de perder a sua Mente, estará a perder a única barreira que a divide
da Existência. No momento em que a Mente é perdida, de repente encontraste em sintonia com a
Natureza. O que está a acontecer contigo é exatamente isso. Enquanto estás a dançar, a cantar
loucamente, estás a tornar-te consciente… das canções dos Pássaros, das danças dos Golfinhos, da
dança dos Pavões, do vôo das Águias. E estás totalmente sozinho.

Charles Darwin estava apenas parcialmente certo quando disse que o Homem descendia dos
Macacos. Mas ele deu de caras com um fragmento da Verdade. Da maneira como vejo as coisas, o
Homem contém dentro dele todos os Animais e todas as Árvores e todos os Pássaros. Quando ele
dança, o Pavão dança com ele; quando ele canta, o Rouxinol canta dentro dele; quando ele corre, um
veado corre dentro dele. Quando fica estupefato com a beleza do nascer do Sol, tornou-se numa
Árvore. Quando dança no meio da chuva, ele sente algo que se passa dentro da Alma de todas as
Árvores. Quando ele fica cheio de Luz, todas as Estrelas que estavam escondidas dentro dele
manifestam-se.

O Homem não é apenas uma das espécies dos Animais. O Homem é uma gigantesca síntese de tudo o
que é vivo — vivo, a dançar a cantar, com Alegria.

A Mente é uma treta. Quanto mais depressa a perderes melhor. Então nada te impede mais de falar
com as Árvores, de dançar com o vento, de ter diálogos com as Estrelas. É claro que o Mundo dirá
que estás louco; mas pelo menos eu estou aqui — a maioridade do Um — quem disser que tu
chegaste a casa, acabas de ficar são.
Terceira Pergunta

Querido Osho, quanto mais te tento entender, mais tu me espantas. A cada dia que passa ficas mais e
mais misterioso. Qual é que é o mistério final?

Anand Maitreya, tu falas o seguinte, “Quanto mais te tento entender, mais tu me espantas.” Pára de
tentar compreender-me. Fica apenas comigo.

A tentares compreender, estás a criar um problema. Fica presente, agora — não há qualquer
necessidade em compreender. Eu não sou um problema, nem sequer sou uma hipótese.

Eu sou uma presença viva.

Não me tentes compreender.

De outro modo, se tu me amares, ficarás espantando; se ru não me amares, tornar-te-ás meu Inimigo.
Essas são as duas hipóteses do tentar.

Se o Amigo e o Inimigo puderem ambos ficar silenciosamente comigo, o entendimento vai aparecer
por si. É o subproduto de uma Comunhão silenciosa. Tu não te tornas conhecedor, mas estás cheio de
entendimentos. Mas este é um género totalmente diferente de entendimento. Tu não fizeste nenhum
esforço; caiu em cima de ti.

Qualquer entendimento que venha através do teu esforço pode ser perdido. Talvez se te esforçares
mais possas ver as coisas através de uma forma diferente. Talvez se fizeres menos esforços percas a
necessidade de compreender as coisas. Então, existe um entendimento que deveria ser chamado de
conhecer, que vem pelo esforço; e existe um entendimento que vem, não pelo teu esforço, mas sim
quando todos os esforços são esquecidos.

Entender é como dormir. Se fizeres esforços para adormecer, torna-se muito difícil dormir. Os teus
próprios esforços são perturbadores. E depois há aquelas Pessoas, ditas Sábias, a aconselhar outros
a dizer um Mantra, a cantar, a tomar um banho de água quente — e todos esses esforços apenas te
fazem ficar mais e mais acordado.

Quando as Pessoas me perguntam o que fazer quando não conseguem adormecer, eu digo, “Vai dar
uma longa caminhada no meio da escuridão da noite, sozinho. Esquece tudo sobre o dormir. Se não
aparecer, significa que não é preciso. E depois de uma longa caminhada na Floresta, na tua solidão,
ficarás relaxado. Ou então, se não puderes dar uma longa caminhada, fecha apenas os teus olhos. Mas
não faças qualquer esforço para dormir; espera apenas por ele. Vê em que porta ele chega. E de
repente reparas que estás a acordar de manhã a dizer, ‘Meu Deus, quando é que chegou o sono e de
que porta?’ “

Quando não estás a fazer qualquer tipo de esforço, ficas relaxado. O esforço cria tensões, e tu não
consegues chegar à Compreensão através de tensões. A porta é o Relaxamento. Simplesmente relaxa
na minha presença e não haverá questões, confusões ou problemas a surgirem. Vais compreender, mas
isso não chegará através do conhecimento. Vai chegar cada vez mais e mais como Amor, o qual tu
conheces mas que no entanto não conheces.

Milhões de Pessoas já amaram, mas até agora ninguém foi capaz de o definir, porque o Amor não
pode ser traduzido para conhecimento. Ele é muito tímido.

Tu dizes, “A cada dia que passa tu ficas cada vez mais misterioso.” Isso é um bom sintoma. Significa
que aos poucos e poucos estás a chegar cada vez mais perto de mim. E quanto mais perto estiveres de
mim, mais misterioso eu ficarei para ti.

E esse momento também vai chegar, Maitreya, não só eu serei misterioso; tu também serás
misterioso. E quando dois mistérios se encontram, já não são dois. Não há uma linha demarcadora
entre dois mistérios. Dois mistérios sempre se tornam um, tal e qual dois zeros sempre se tornam um;
dois nadas sempre se tornam Um.

Estás a perguntar, “Que mistério interminável é esse?”

Isto é a Vida.

Isto é o Amor.

Isto é uma gargalhada profunda.


Quarta Pergunta

Querido Osho, tu és como todos os Rios a chegar ao Oceano, aonde o Céu parece desaparecer na
Terra — esse “aí” que é aqui. Durante o amanhecer eu banho-me na ternura do teu Amor complacente
e compreensivo, e quando o pó acenta, uma Pessoa consegue ver o vasto firmamento refletido nos
teus olhos, aonde os distantes ecos das tuas melodias inesqueciveis podem ser ouvidas no silêncio
das tuas canções.

Tu és a Verdade, tu és o Amor, tu és a Beleza. E no entanto, tudo isto, para aquele que o encontrar,
diz-se que não é mais do que nada.

Amado Mestre, perdoa-me, ao tentar agradecer à Existência por todas estas bençãos sobre a tua
presença aqui, não consegui dizer algo inteligente e pareci um Poeta sem poesia.

Só que eu já não sei mais. É tudo tão vasto que este Coração pode repetir uma vez e outra e outra:
obrigado.

Buddham sharanam gachchhami, sangam sharanam gachchhami, dhammam sharanam gachchhami.

Nivedano, não te sintas como se não tivesses conseguido dizer algo inteligente. Tudo o que é
realmente inteligente, é impossível de se dizer. E não é apenas uma coincidência de que o que quer
que digas parece ser Poesia, apesar de não seres um Poeta.

Existem Poetas e Poetas. Existem Poetas que compõem Poesia; esses são os Compositores. A sua
Poesia é oca. É apenas um jogo linguístico e gramatical. Eles sabem a técnica de como criar a falácia
de algo como sendo Poesia. E existem Poetas que nem sequer se apercebem da sua Poesia. Eles não
são compositores; mas o Coração deles está tão cheio de Amor e Beleza que o que quer que digam
torna-se Poesia. Pode ter a forma de uma prosa; mas isso não interessa.

É necessário compreender o seguinte: existem Poemas que apenas tem a forma de Poesia, mas na
verdade são prosas. E existem pedaços de Prosa que tem a forma de uma Prosa, mas na verdade são
Poesia.

Poesia e Prosa não são uma questão de forma; é sim uma questão de conteúdo. Até o silêncio pode
ser Poesia. Ouçam este silêncio… este silêncio pode derrotar qualquer Shakespeare, qualquer
Kalidas, qualquer Milton. Esses Pássaros não estão a compor Poesia. Basta o bonito Sol e as lindas
Árvores para explodir numa canção. Eles não conhecem a arte de compor peças poéticas. Pensam
vocês que os Pavões vão a uma escola para aprender a dançar — kathak? — ou os Cucos vão a uma
escola de música? O que uma Escola de música pode ensinar a um Cuco? Um Cuco já é Cuco o
suficiente.

O que quer que o teu Coração esteja a jorrar: “Tu és o confluir de todos os Rios ao chegar ao
Oceano, aonde o Céu parece que desaparece na Terra, esse “aí” é aqui. Durante a manhã eu banho-
me na ternura do teu Amor cheio de Compaixão e de Compreensão, o quando o pó assenta uma
Pessoa consegue ver o vasto firmamento refletido nos teus olhos, aonde os ecos distantes de
melodias inesquecíveis podem ser ouvidas no silêncio das Tuas canções. Tu és a Verdade, Tu és o
Amor, Tu és a Beleza. E apesar disto tudo, para aquele que o encontra, dizem que isso não é nada.”

Diz-se que não é nada porque qualquer coisa menos de nada não iria fazer justiça a todas as canções
e à Beleza e à Verdade que nascem através dela. O que é o útero da Mulher, a não ser o Nada? Mas é
através do útero que a Vida surge. E aonde é que a Vida desaparece depois da Morte? Queimasse o
corpo. A Vida move-se para o Nada para descansar.

“Um pequeno descanso no vento,” diz Almustafa a Almitra, “e outra Mulher irá pegar em mim como
uma Criança.”

O nascimento vem a partir do Nada, e a Morte leva-te de volta ao Nada. O Nada é um descanso — o
descanso absoluto. E tudo o que é Bonito no Mundo, criado pelo Homem, vio do Nada.

Quando perguntaram a Picasso… Ele estava a caminho da Praia com a sua tela e cores, com os seus
pincéis, para pintar. Uma das suas namoradas estava com ele, e ela perguntou, “O que é que vais
pintar hoje?” Ele disse, “Não sei.” A rapariga ficou intrigada. E perguntou, “Então quem é que
sabe?” Ele respondeu, “Também não sei.”

A Rapariga continuou, “Vais ou não pintar hoje?” e ele, “Porque é que me torturas
desnecessariamente? Eu vou esperar na Praia. Se Pintura vier do nada e quiser nascer, eu serei o seu
útero. Eu estou pronto a ser uma Mãe para a Pintura, mas eu não sou um pintor no sentido em que uma
pessoa tem uma certa ideia na sua mente e depois trás essa ideia para a Pintura.”

O seguinte aconteceu da seguinte maneira: um Homem comprou uma Pintura de Picasso por um
milhão de dólares. É claro que ele queria ter a certeza de que era um original autêntico, de que não
era uma pintura feita por mais alguém, uma Pintura falsa — e existem milhares de pinturas falsas em
todo o Mundo.

Mas o critico que o estava a ajudar a encontrar a melhor Pintura no Museu disselhe, “Não te
preocupes, porque quando Picasso pintou este quadro, eu estava ao lado dele. Eu sou um Amigo dele.
Fui um convidado na casa dele. E se mesmo assim não acreditares em mim, vem comigo para ir-mos
falar com ele.”

E assim foi, ele levou o comprador até Picasso. Picasso olhou para a Pintura e disse, “Não é um
original.”

O critico nem podia acreditar. E falou, “Mas o que é que estás para aí a dizer? Pintas-te este quadro
bem à minha frente.”

Até a própria secretária de Picasso disse, “Este critico está correto. Estás esquecido. É uma Pintura
tua, com a tua assinatura.”

Ele respondeu, “Eu não me esqueci de nada. Mas este quadro não é original, porque eu pintei o
mesmo quadro antes. Nessa altura, veio de dentro. Eu não tinha ideia do que estava a pintar — só
quando a Pintura continuou a crescer é que eu me apercebi do que era. E essa Pintura original está
num certo Museu, podem ir lá e ver; não encontrarão qualquer diferença entre as duas.”
“Esta segunda pintura eu tive de a fazer porque uma Pessoa estava sempre a insistir em comprar uma
Pintura, e eu não tinha nenhuma. E ninguém consegue provocar o infinito de acordo com os seus
desejos; ele vem ter contigo por si. Por vezes passam-se meses e eu não consigo pintar um único
quadro. E outras vezes passo meses e meses seguidos a pintar; o céu deixa cair uma chuva
incessante.”

“Então, uma vez que o Homem era rico e eu precisava de dinheiro, e ele queria uma Pintura, lembrei-
me desta e pintei-a. Tu estás correto quando afirmas que fui eu que a pintei. Mas ouve-me com
atenção: isto é apenas uma cópia, não é um original. Não a vou contar como sendo um original de
Picasso. Os originais de Picasso sempre vem do além — Picasso é apenas um intermediário. Nesta
Pintura, Picasso foi um técnico, não um Pintor.”

Então, toda a Beleza e toda a Verdade e todo o Silêncio e Melodias inesquecíveis que tu ouves…
confia em mim, vem tudo do Nada. Eu não falo. Eu sou apenas um ouvinte entre vós.

“Querido Mestre, perdoa-me se, na tentativa de agradecer à Existência por todas estas bençãos da tua
presença aqui, eu não consigo dizer algo inteligente o suficiente, e pareço sim um Poeta sem Poesia.”
Não te sintas culpado — sente-te sim abençoado por não teres nada inteligente a dizer, algo
intelectual. Pelo contrário, o teu Coração surge e cria Poesia.

Tu sabes muito bem que não és um Poeta profissional; mas Poesia não é um monopólio dos
profissionais. A melhor Poesia nasce não dos profissionais, mas sim daqueles amadores que andam
por aí que não sabem o que fazem.

No momento em que uma Pessoa se torna num profissional, ele não olha para o além. Ele
simplesmente continua a pintar, a criar Poesia, ou Música, ou uma Escultura através da sua própria
mente. Isso é feito pelo Homem. E a não ser que algo venha do além através do Homem, do além da
Mente — algo que é transcendental — não é Poesia.

Não te sintas culpado; antes pelo contrário, regozija-te — de que tu querias dizer algo inteligente,
mas ao invés estás a falar como um Poeta sem saber o que é Poesia. Nenhum Poeta sabe o que é
Poesia. Os Professores de Poesia sabem o que é Poesia, mas eles nunca criaram um único Poema.
Deveras, este Planeta é muito estranho, aonde os especialistas são superficiais e os Amadores tocam
nas profundezas da Existência ou nos picos mais altos dos Himalaias.

“Eu já não entendo nada.” Isso é óptimo! A Ignorância é prima da Inocência. Não existem muitas
diferenças entre elas: a Ignorância está a dormir, a Inocência está acordada. No momento em que tu
entendes que já não sabes mais, estás muito perto do Coração inocente. Basta apenas um pouco mais
de Consciência e ficarás acordado.

“É tudo tão vasto que este Coração apenas consegue repetir uma vez atrás da outra: Obrigado.” De
facto, todos os Corações em todas as suas batidas estão a fazer o mesmo para a Existência. Tu ainda
não o compreendes-te, porque não conheces a linguagem do Coração. Este é o princípio do entender
da linguagem do Coração. Cada batida não é nada mais do que um ‘Obrigado’.

Um Mestre Zen costumava gritar bem alto mal acordava, “Bokuju, ainda estás aí?” — esse era o seu
próprio nome. E os seus Discípulos ficavam muito embaraçados: “Se alguém ouvir, pensarão que
estás louco. Porque é que fazes isso?”

Ele respondeu, “De noite, quando vou dormir, eu digo, ‘Bokuju, uma Pessoa não sabe se tu amanhã
de manhã vais conseguir ver o Sol a nascer novamente… o chilrear dos Pássaros, os vastos Céus, a
dança da Vida.’ Então, quando eu acordo, a primeira coisa que quer fazer é certificar-me que Bokuju
ainda está aqui.” Então ele costumava chamar, “Bokuju, ainda estás aí?” — e depois diria, “Sim
Senhor!” Só aí é que ele sairia da cama.

Os seus Discípulos ficaram boquiabertos, “Mas isso é completamente de loucos.” Ele respondeu,
“Pode ser que sim, visto pelos vossos olhos, mas não no meu ponto de vista — porque eu não sou
Bokuju. Bokuju é o nome do meu corpo e da minha personalidade. Depois de um sono profundo eu
preciso de saber se o corpo ainda está lá ou não; de outro modo, quem é que se vai levantar? E
quando eu ouço ‘Sim Senhor!’ digo, ‘Isso é muito bom: mais um dia para viver, mais um dia para
cantar, mais um dia para amar, mais um dia para dançar.’ “

Estás correcto. Graças à pobreza da linguagem, à pobreza da Filosofia, à pobreza da Religião, uma
Pessoa não pode fazer melhor do que se tem passado à milhares de anos… Uma Pessoa não sabe
quem disse primeiro:

Buddham Sharanam Gachchhami — Eu vou aos pés do que acordou.

Sangam Sharanam Gachchhami — Eu vou aos pés da relação mais íntima do que acordou.

Dhammam Sharanam Gachchhami — Eu vou à Verdade Suprema do que acordou.

Esta é a única oração possível, porque isto não é nada mais do que agradecimento, gratidão.

OK Vimal?

Sim Osho.

Deus não tem mãos

Tarde de 12 de Fevereiro, 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, parece que tu és a única Pessoa no Mundo que nunca me desaponta, nunca me
abandona, nunca me mente, nunca me frustra. O Amor, a Alegria e o Ecstasy que por vezes sinto
dentro de mim quando estou perto de ti, parece que é q única coisa real em todo o Mundo. Porque é
que eu tenho de ficar sempre tão frustrado com o Mundo exterior antes de ficar pronto para olhar
para dentro?

Anand Tarika, para mim é muito fácil não ficar desapontado, não ficar frustrado, pela simples razão
de que tu nunca esperas-te nada de mim. O problema é este: no momento em que crias uma
expectativa, o mais provável é ficares desapontado, frustrado. Expectativa e o desapontamento estão
intimamente ligados.

Comigo, o teu Amor não é um Amor de expetativa, ou de exigir. O que quer que eu tenha, eu dou-te
— não porque o esperes, mas sim porque eu tenho muito para dar. É tão abundante em mim que eu
tenho de dar — e não interessa a quem; quem quer que esteja pronto para o receber, eu estou
disponível.

Não é algo em mim que não te desaponta; é algo em ti que não espera qualquer coisa de mim. No dia
em que não esperares nada do Mundo, não haverá qualquer tipo de frustração para ti.

Estar ao lado de um Mestre, tu apenas tens de aprender uma lição muito simples: porque é que tu
ficas tão extasiado, porque é que ficas tão Alegre. A tua Alegria, o teu Êxtase, não depende de mim;
eu não sou mais do que uma desculpa. Esses sentimentos e atitudes são teus. Porta-te da mesma forma
com o Mundo, da mesma forma com que te portas quando estás comigo, e ficarás bem surpreendido:
as mesmas Pessoas, a mesmas situações que antes eram frustrantes, desapontadoras, já não o são
mais. Antes pelo contrário, elas tornam-se numa grande fonte de alimentação.

Tudo depende de ti — e não de mim.

Isso é uma falácia, e se fores ter com os auto-intitulados Padres, Pregadores, eles dirão que estás
alegre por causa deles — por causa de Jesus Cristo, por causa de Gautam Buddha, por causa da
grande tradição a que pertences. Eles envenenam-te. É muito engrandecedor para os seus Egos que
tantas Pessoas fiquem alegres “graças” a eles. A realidade é esta — tu não ficas alegre graças a mais
alguém.

Pelo menos eu posso dizer-te que tu não estás em Êxtase graças a mim. Tu estás em Êxtase porque
não estás com expectativas em relação a mim. Aprende esta lição, e usa-a no “Mundo Exterior”, nas
tuas outras relações. Não cries expectativas, não faças exigências. Dá o máximo que possas, e nunca,
nunca penses na tua recompensa.

Até mesmo os vossos maiores Santos não estão no estado puro da Consciência; eles estão com
esperanças e com expectativas que graças às suas austeridades, por todas as suas auto-intituladas
virtudes, serão imensamente recompensados no outro Mundo.

Quero que vocês se lembrem do seguinte: todos esses Santos vão ficar muito desapontados no Outro
Mundo. Aqui, eles sofrem para que sejam recompensados no Outro Mundo; e no Outro Mundo eles
irão sofrer porque a mente que exige, a Mente que cria expectativas, nunca pode chegar à Alegria
Suprema — seja aqui neste Mundo ou em qualquer outro.

Tu dizes, “Parece que tu és a única Pessoa no Mundo inteiro que nunca me desaponta.” Eu posso ser
a única Pessoa no Mundo em quem tu não crias expectativas. Tenta apenas… e vais ver que
encontrarás muitas Pessoas que não te desapontam. As sementes do desapontamento estão nas tuas
expectativas. Até pode haver algumas Pessoas aqui mesmo que poderão estar desapontadas comigo,
se estiverem a carregar no seu Subconsciente algum tipo de desejo, algum querer que tem de ser
cumprido.

Eu não vou concretizar as expectativas de ninguém.

Eu não estou aqui para concretizar as tuas expectativas.

E tu também não estás aqui para concretizar as minhas expectativas.

Eu tenho de ser eu próprio, e tu tens de ser tu próprio.

Nós criamos pontes de expectativas, sem saber essas expectativas nunca pode tornar-se uma ponte —
sempre se torna uma parede. Quantas mais expectativas criares, mais frustrado ficas.

Não cries expectativas para nada, e de repente descobres um contentamento tremendo a crescer
dentro de ti. Isto é o âmago essencial da Religião.

Mas até mesmo um Homem como Jesus estava na expectativa de que Deus fosse fazer algum milagre,
e esse milagre não estava a acontecer. Naturalmente, ele deve ter ficado muito desapontado com o
Deus ao qual ele estava a sacrificar toda a sua Vida. E gritou para os céus, “Pai, esqueceste-te de
mim?” Esta é a linguagem da expectativa e da exigência. Aí, até mesmo Deus vai desapontar-te.

Ele deve ter sido um Homem com uma inteligência bem aguda. Ele deve ter percebido que estava a
carregar um desejo bem forte. Tu não podes exigir nada da Existência. Apenas podes dar. A
Existência retorna mil vezes mais, mas não de acordo com as tuas expectativas. Ele deve ter visto de
que ouve, no seu Subconsciente, uma exigência. E deixou cair por terra essa exigência no último
momento. Mesmo no último momento ele olhou para os céus e disse, “Pai, a tua vontade será feita,
não a minha.” E uma grande serenidade e silêncio desceu nesse Homem, mesmo estando ele a sofrer
na cruz.

De uma certa forma, todas as Pessoas estão a sofrer. A única diferença, é que no caso de Jesus a cruz
foi feita por outras Pessoas, e ele foi crucificado. No teu caso, tu és a cruz, tu és o crucificador, e tu
és o crucificado. Exceto tu, tudo o resto é irrelevante. Se queres ver-te livre das misérias, das tuas
frustrações — deixa simplesmente de criar expectativas. Quem te disse a ti que tens o direito de criar
expectativas? Mas todos nós carregamos expectativas subtis em todas as relações, e depois pequenas
coisas tornam-se em frustrações.

Tu falas, “Tu nunca me abandonas.” Eu não posso fazer isso, porque eu não te tornei meu prisioneiro
— não está nas minhas mãos aprisionar-te ou libertar-te. Tu estás aqui de livre vontade, e podes sair
a qualquer momento. Dentro de ti está a fonte que te permite estar aqui, ou ir embora. Eu nunca
abandonei ninguém, pela simples razão de que nunca dominei ninguém.

Eu não possuo ninguém.

As Pessoas tem de abandonar umas às outras porque a possessão torna-se muito pesada; o ardor fica
intolerável. É quase como — tu podes dizer, “Tu nunca te divorcias de mim.” Mesmo que eu queira
divorciar-me de ti, nenhum tribunal vai aceitar o meu caso, isto porque eu nunca me casei contigo. De
quem é que eu me estou a divorciar? O divórcio tem de ser precedido pelo Casamento, e vice-versa:
o Casamento automaticamente trás o Divórcio. Quer tu sejas corajoso o suficiente para passar pelo
processo todo ou permanecer no Limbo, vai ser um sofrimento.

Tu falas, “Tu nunca me mentis-te.” Porque é que eu deveria mentir-te? Não tenho qualquer tipo de
negócios contigo. Não te estou a pedir para me dares nada; antes pelo contrário, apenas estou a
pedir-te para receberes algo. Não sou um pedinte. Em todas as vossas relações, vocês são todos
pedintes — todas as Pessoas querem obter algo das outras.

Eu digo isto enfaticamente: Eu sou um Imperador. Eu não vos peço para me darem nada. Eu estou
disponível; se me querem tirar algo, estarei-vos grato. Lembrem-se, vocês não tem de se sentir
agradecidos para comigo, porque também isso se torna uma expectativa profunda.

Mesmo que vocês esperam que alguém diga, “Obrigado” a vocês, vocês ficam inclinados a sentirem-
se frustrados. Eu não quero qualquer tipo de gratidão. Antes pelo contrário, eu estou grato a vocês
porque foram muito generosos em receber. Vocês já ouviram falar sobre a generosidade em dar; mas
ainda não ouviram sobre a generosidade em receber.

Tarika, o Amor, a Alegria, a Alegria Suprema e o Êxtase que por vezes sentes no teu interior quando
estás perto de mim, “sinto que é a única coisa real no Mundo.” E é. A pureza do Amor é a única
coisa real no Mundo — nunca foi contaminado, nunca foi poluído por nenhum tipo de desejo. Quando
o Amor é puro, tu estás no Paraíso. O teu Paraíso está dentro de ti. Deixa simplesmente o teu Amor
ser absolutamente puro.

A estares perto de mim, saboreias um pouco da única coisa real no Mundo. Não é o seu todo, mas só
o provar é bem saboroso. Pensa nisto: naquele momento em que te tornas apenas uma chama do
Amor, tu irás conhecer a Realidade no seu Todo.
Segunda Pergunta

Querido Osho, tu apanhas-te a Eternidade com a tua rede do Silêncio e banhas-nos com os Diamantes
da tua claridade. A Iluminação e a Alegria Suprema parecem tão próximas, o Paraíso está já ali,
quando falas conosco. Então porque é que eu falo como um Gorila temperamental quando estou com
a minha namorada?

Devageet, quando se está com a namorada, todas as Pessoas se portam como se fossem Gorilas. De
outro modo, a namorada sentir-se-ia muito frustrada. Quanto mais te portares como um Gorila, mais
satisfeitas elas ficam. Observa o seguinte: quando te portas como um Gorila transformas-te num
Palhaço, nenhuma namorada vai querer perder isso. Mas se te portares como um Cavalheiro, a
namorada vai sentir-se muito frustrada.

Mas a Iluminação ainda está a um passo adiante do Gorila. Não faz qualquer diferença aonde estás, a
Iluminação está sempre a uma distância constante, a um passo à frente. Deixa simplesmente de ser um
Gorila e tornar-te-ás um Iluminado.

Por vezes é fácil sair da figura do Gorila — porque quem é que quer ser um Gorila? Isso é mais
difícil se tu fores o Presidente Ronald Reagan ou um Primeiro Ministro de um País ou o Homem mais
rico do Mundo. É mais difícil para ti sair desse papel — estes papéis andam todos juntos a actuar no
palco dramático da Vida.

A Iluminação torna-se mais fácil quando estás s desempenhar um papel que não gostes; odeias-o no
mais íntimo do teu Ser — mas graças à namorada, tens de desempenhar esse papel. A namorada
também está a tentar desempenhar o seu próprio papel — mas é muito difícil conter dois Gorilas
numa única cama; então o Homem deu um jeito para que a Rapariga fosse uma Madame, com os
olhos fechados, deitando-a quase morta, para que ele possa saltar como um Gorila em toda a cama.

Mas tu não gostas desse papel. Seria bom teres uma câmera a filmar-te quando te portas como um
Gorila. E mais tarde, quando a estivesses a vê-la, ficares bem envergonhado: O que estás a fazer?
Que espécie de idiota és tu? É bom que as Pessoas desliguem as luzes. E todas as Sociedades do
passado estiveram sempre contra as Pessoas fazerem Amor ao ar livre, nas areias das praias, ou no
parque. Todas as Sociedades no passado foram contra isso, pela simples razão de que qualquer
Pessoa que se porte como um Gorila nas areias de uma praia lembra a qualquer Homem de que, “Eu
também faço isso. Só que o faço na escuridão da noite.”

Mas, Devageet, a distância de se ser um Gorila até à Iluminação é apenas um pequeno passo de se
tornar consciente do que estás a fazer, e saltar fora do teu ato, tal e qual a Serpente faz com a sua
velha pele. Salta da cama e torna-te um Buddha. Hoje mesmo, experimenta! E quando estiveres quase
a tornar-te um Gorila, salta imediatamente da cama, fica na postura de Lótus e torna-te num Buddha!
E eu prometo-te, a tua namorada vai ficar ainda mais extasiada e mais feliz: “Finalmente ficaste com
bom senso.”

E vais descobrir um facto surpreendente, a distância é tão curta. Durante o sono tu podes tornar-te um
Gorila; no teu sono tu podes tornar-te num Presidente; no teu sono podes tornar-te no Homem mais
rico — mas isso são tudo sonhos.
De facto, quando nos teus sonhos te transformas num Gorila, isso torna-se um pesadelo. Todos os
encontros amorosos transformam-se em pesadelos. E acordar-mos do sonho parece ser muito difícil,
mas as Pessoas apenas tentam sair dos seus sonhos quando estes começam a ser pesadelos. Se o
sonho é doce, bonito — quem é que vai querer acordar?

É bom que tenhas reconhecido uma coisa — que te portas como um Gorila. Isso é um grande
entendimento. Agora, hoje, dá o primeiro passo para te tornares iluminado; e amanhã de manhã toda a
gente verá esse Devageet — que costumava ser um Gorila — e que se tornou iluminado. Os milagres
ainda acontecem.
Terceira Pergunta

Querido Osho, parece que os problemas desaparecem no ar. Eles tentam chegar constantemente, mas
não conseguem criar raízes; e se mesmo que por uns instantes um deles enraíza, rapidamente parece
ridículo, e então começa a desaparecer. Será que a Luz que tu compartilhas connosco dispersa até
mesmo o Cavaleiro das Trevas da Alma? O que é o Cavaleiro das Trevas da Alma? É realmente
verdadeiro?

Prem Shunyo, os problemas nunca são resolvidos. Eles permanecem sempre em formas diferentes; tu
continuas a resolvê-los, e eles continuam a aparecer em formas diferentes. É essa a forma da
Filosofia aonde toda a questão que foi realizada nos primórdios do pensamento humano, ainda hoje
se mantém. Já foram propostas milhões de soluções, mas o problema continua fresco e pertinente
como sempre o foi.

Nem todos os Filósofos juntos do Mundo inteiro foram capazes sequer de morder o problema — isto
porque estão a andar na direção errada. Os problemas não são para serem resolvidos; os problemas
tem de ser dissolvidos, e esse é um caminho totalmente diferente — o caminho dos Místicos.eles não
resolvem os problemas, simplesmente criam mecanismos que fazem com que os problemas
desapareçam no ar.

Um grande Filósofo chegou ao pé de Gautam Buddha. Ele era conhecido em todo o País pelos seus
grandes comentários sobre os Vedas e sobre os Upanishads e também sobre Gita. Ele tinha milhares
de seguidores. E tinha trazido consigo os seus seguidores mais instruídos. Mesmo assim, eram
imensos — fez-se acompanhar por quinhentos. Eles iam desafiar Gautam Buddha; e esse Filósofo já
tinha desafiado muitos, muitos Professores, Pessoas sábias, bem conhecedoras — e tinha-as
derrotado a todas. Isto era uma coisa rotineira na Índia — as Pessoas instruídas costumavam andar
de Cidade em Cidade, a fazer desafios; e se alguém que aceitasse o desafio fosse derrotado, teria de
juntar-se a eles. O País permaneceu durante quase quinhentos anos numa atmosfera filosófica muito
estranha.

Esse Homem chegou ao pé de Buddha e disse, “Vim aqui desafiar-te. Quero saber qual é s tua
definição da Verdade, e a partir daí podemos começar a nossa discussão. Trouxe comigo quinhentos
dos meus mais instruídos seguidores.se tu ganhares, todos nós seremos teus seguidores, mas se fores
derrotado, esta é a minha condição: tu, com todos os teus Discípulos, terão de tornar-se meus
Discípulos.”

Gautam Buddha respondeu, “Não há qualquer problema nisso. Mas antes de começarmos a
discussão, eu quero fazer uma pergunta. Não faz parte da discussão; é apenas para nos conhecer-mos
melhor. Já fizeste essa pergunta a outras Pessoas instruídas e aos chamados Sábios?”

O Filósofo disse, “Sim, já a fiz a milhares de Pessoas. Muitos deles são agora meus seguidores, pois
derrotei-os.”

“O que é que ganhas-te com isso?conheceste a Verdade discutindo-a? Conheceste a Verdade


derrotando essas Pessoas? Uma coisa é certa: pela lógica, tu és mais esperto, audaz do que essas
Pessoas. Mas isso não prova que tu saibas o que é a Verdade — e mesmo que me derrotes, não irás
saber o que é a Verdade. Queres tu conhecer a Verdade, ou simplesmente desperdiçar a tua Vida a
derrotar Pessoas?”

O Homem nunca antes tinha sido defrontado qual tal questão. Ele respondeu, “Eu realmente quero
conhecer a Verdade.”

“Então,” disse Buddha, ” discussões não te vão ajudar; porque a Verdade que eu conheço não pode
aparecer por meras palavras — e tu não sabes a Verdade. De outro modo, porque irias tu andar
milhares de quilómetros para vir ter comigo?

“Eu sugiro o seguinte: senta-te ao meu lado. Durante dois anos vais ter de permanecer em silêncio —
sem fazer perguntas, sem falar, e relaxar tão intensamente, tão vagarosamente, que até mesmo os teus
pensamentos começam a desaparecer. Quando esses dois anos acabarem, eu lembrar-te-ei que aí sim,
podemos começar uma discussão: tu podes fazer a tua pergunta.”

Nessa altura, Mahakashyapa, que estava sentado debaixo de uma Árvore, começou a rir
estrondosamente. O Homem disse, “Mas ele está louco?”

Buddha respondeu, “Costumava ser, mas agora já não o é.”

O Homem falou, “Então porque é que de repente… sem nenhuma razão aparente…? Ele está sentado
sozinho e a rir tão ruidosamente… o que é que aconteceu?”

Buddha respondeu, “Tu próprio podes perguntar isso a ele.”

E assim fez. Mahakashyapa disse, “Se tu queres mesmo fazer a pergunta, fá-lo agora. Esse Homem
engana muito bem os outros. E foi assim que me enganou. Passados dois anos, quando já todos os
pensamentos desapareceram e o Silêncio interior floresceu, tu não vais mais perguntar nada — e ele
não vai responder, é claro. Ele não me respondeu. Mas eu não posso culpá-lo disso — porque eu não
consigo fazer a pergunta. Eu sei a resposta — mas ele não me respondeu. Ele é esperto.

“Então eu riu-me: novamente um outro idiota vai cair na armadilha. E sofri… Dois anos de
Silêncio… tudo desaparece. Quem quer saber sobre perguntas? Uma vivência tão deliciosa, um
Ecstasy, uma Alegria imensa ergue-se. Quem se importa sobre conquistas em discussões… derrotar
alguém? Uma Pessoa acaba de encontrar o maior dos Tesouros, o maior dos Reinos, dentro de si
mesmo. Mas isso é contigo. Neste momento ele não irá responder. E daqui a dois anos tu não irás
perguntar.”

Buddha falou, “Tu é que decides. Se estás realmente à procura da Verdade, então senta-te em
Silêncio ao meu lado. Milhares de Pessoas virão e irão… Todo o esforço que tens de fazer é ficar em
Silêncio, e ainda mais em Silêncio.”

E o Homem ficou em Silêncio. Ele esqueceu-se até de contar os dias. Quando se passaram dois, ele
nem se deu conta. Foi o próprio Gautam Buddha que o lembrou: “Eu sei que te esqueceste do
calendário. Já se passaram dois anos. Hoje faz dois anos que chegaste aqui. Tens alguma pergunta?”
O Homem tinha lágrimas de alegria nos seus olhos, e disse, “Respondeste-me a tudo, apesar de eu
não ter feito nenhuma pergunta. Jogaste um jogo bem estranho — não discutis-te comigo, no entanto
eu fui derrotado. Não emitis-te uma única palavra — e foste vitorioso. Mas a coisa mais misteriosa é
que na tua vitória quem ganhou fui eu — porque neste Silêncio de dois anos não só os meus
pensamentos desapareceram; até mesmo a ideia que tinha de mim mesmo, a minha ideia sobre o Ego,
dissolveu-se.”

Este é o caminho do Místico: aonde os problemas se dissolvem, desaparecem no ar. Nunca são
respondidas.

Shunyo, tu estás certo quando dizes, “Parece que os problemas desaparecem no ar. Eles continuam a
tentar vir, mas não conseguem criar raízes.” São como clientes antigos; é graças ao hábito que
continuam a voltar. Mas uma vez que já não estás interessado neles — já não lhes dás atenção
(alimento) — e assim não conseguem estabelecer raízes em ti. Vem por um lado e saem pelo outro.

“E se por momentos um deles se fixa, rapidamente parece ridículo, e então começa a desvanecer.” À
exceção do Silêncio, tudo o resto parece ser ridículo… porque apenas no Silêncio é que tu te tornas
parte da imensidão da Realidade. Qualquer ideia, por mais bonita que seja, divide-te da Realidade,
corta-te e afasta-te do Todo. E essa é a miséria do Homem… tal como se uma Árvore fosse cortada
das suas raízes, rapidamente começa a morrer; não pode viver sem raízes.

Por vezes podes não estar tão alerta e alguma ideia pode fixar-se por um momento; mas no momento
em que a tua Consciência retorna, isso já parece ridículo. Não precisas de o mandar embora — a
própria compreensão de que é ridículo é o suficiente para o fazer desaparecer.

“A Luz que partilhas conosco ajuda a dispersar a escuridão da Alma?” O que achas Shunyo? A minha
Luz não consegue dispersar a escuridão que te rodeia por fora — de outro modo não terias a chance
para desfrutar as falhas elétricas. É tão lindo quando de vez em quando a eletricidade falha e temos
de esperar todos em Silêncio… uma grandiosa Paz que escapa à compreensão envolve-nos.

Certamente que a minha Luz dispersa a escuridão exterior. Para se dispersar a escuridão externa, é
necessário uma Luz exterior. A minha Luz é do interior; apenas consegue dispersar a tua escuridão
interior.

Então, mesmo que as luzes falhem, e tu estejas sentado no meio da escuridão, continuas ligado a mim
através de raios de luz muito subtis, que não são visíveis pelo olho humano; mas o teu Coração
consegue senti-los, e dança com eles. Muita Pessoas de repente tornam-se Uma… ou até melhor: de
repente muitas Pessoas desaparecem. Apenas fica o Silêncio. Eu penso que as falhas de eletricidade
devem ser geridas pela própria Existência para te dar uns vislumbres da luz interior.

Tu perguntas, “O que é a noite escura da Alma? É realmente verdadeira?” Primeiramente, a noite


escura da Alma é um estado do teu Ser aonde tu estás separado do Todo — porque a fonte da luz e da
Vida e do Riso… tudo isso vem da fonte que está por detrás de ti. Tu não és a fonte da tua própria
Vida.

E existem momentos em que estás completamente desligado. Graças aos teus ciúmes, estás rodeado
por uma nuvem venenosa, e assim estás separado do Todo — graças à tua fúria, graças à tua fúria
violenta. E existem muitas outras coisas que te cortam do Todo.

Qualquer coisa que te corte do Todo, cria uma noite escura na alma. Então pode-se dizer que estar
separado do Todo é estar na escuridão; e que ser Uno com o Todo é estar na luz. E é um fenómeno
existencial — é real.

Existem muitas poucas palavras significativas que são expressas no Mundo: entre essas poucas
palavras estão três pequenas frases dos Upanishads. Essas frases podem tornar-se numa ponte para o
Divino. Ninguém sabe quem começou a expressar essas frases. Talvez milhares de Místicos possam
ter começado a expressá-las uma vez e outra e outra — sem as repetir, mas por eles próprios — e
aos poucos e poucos ficaram condensadas.

Essas três frases são: Guia-me da escuridão para as trevas; guia-me da Morte para a não-morte…
Parece que é uma Oração, mas não são uma Oração porque os Upanishads não tem um Deus. São
evocações para a própria Existência.

Guia-me do Irreal para o Real.

Guia-me da escuridão para a Luz. E, guia-me da Morte para a não-morte.

Nestas três pequenas frases está contida toda a mensagem do Oriente, uma mensagem que nunca
ficará desatualizada — que sempre permanecerá significante, com grande sentido, para todas as
idades, em qualquer altura. Não consigo perspectivar um tempo, uma altura no futuro aonde estes três
pontos estejam deslocados no tempo, estas três frases permanecerão para sempre com um grande
significado.

Elas são muito bonitas no Sânscrito, porque o Sânscrito é uma linguagem muito poética — asto ma
sat gamaya: do Falso para o Real; mrityorma amratam gamaya: da Morte para a não-Morte…
Simplesmente dentro destas três palavras uma frase está completa.

De facto, todas estas três frases são três aspectos de uma Realidade. E não há qualquer questão de
acreditar; não há qualquer questão em se tornar parte de uma Religião organizada — e o que quer que
seja dito é o desejo da própria Alma Humana. Podes tu encontrar alguma Alma Humana que não
deseje a luz, que não deseje a Vida Eterna, que não deseje a Verdade Suprema?

A estares perti de um Mestre, existe a possibilidade que possas “apanhar” a sua Saúde e a sua
Grandiosidade. As Pessoas pensam que apenas a Doença é que pode ser contagiosa; isso é uma meia
verdade. Porque é que a grandiosidade, o bem-estar, a Alegria Suprema, o Ecstasy, não pode também
ser contagioso? Tu apenas tens de permanecer aberto, disponível, sem medos. Aí, a Verdade pode
entrar dentro de ti e acordar a tua própria Verdade, que se encontra adormecida. Aí, a Luz pode
entrar dentro de ti e acender a tua própria chama. Aí, ago do Eterno pode tocar-te e destruir o teu
medo da Morte, e pode abrir os teus olhos sobre o teu próprio Ser como sendo partir da Eternidade.

Há uns dias atrás contei-vos uma história Sufi: Um Homem estava a afogar-se e mesmo assim
recusou agarrar a mão de um Amigo, e depois recusou a mão de Deus — mas aceitou a mão do
Mestre. Há muitas implicações nesta história. A mão do Mestre é a mão do melhor Amigo que possas
encontrar; e a mão do Mestre é a mão de Deus, porque Deus não tem mãos que sejam suas — ele usa
as mãos daqueles que o realizaram.

Deus não tem mãos; o Amigo comum não é divino; o Mestre tem ambos. Ele tem um Amor que
transcende qualquer amizade, e as suas mãos não são mais suas; as suas mãos pertencem a Deus. É
realmente bonito ver que as mãos do Mestre são aceites. Qualquer Pessoa pensaria que as mãos de
Deus seriam aceites. Mas Deus não tem mãos; Deus simplesmente é uma vivência.

Quando estás perto de um Mestre, estás perto do teu maior Amor, do teu melhor Amigo; e também
estás perto da Verdade Suprema, que tem sido conhecida ao longo dos tempos como Deus. Eu chamo
isso de “Divino”, porque “Deus” dá uma ideia errada, tal como se fosse uma Pessoa. Ele é apenas
uma presença.

O Mestre, provavelmente, é a ligação mais significativa entre este Mundo e esse; entre o conhecido e
o desconhecido; entre o visível e o invisível. E estando perto do Mestre não é nada mais nada menos
do que ser consumido no seu Fogo.

O momento chega… tu desapareces, com todos os teus problemas e todas as tuas noites escuras, e
somente aquilo que é de vinte e quatro quilates dentro de ti é que permanece.

Querido Osho, aonde é que estou?

Meu Deus! Om Saraswati, tu não estás. Tu não estás em nenhum sítio. Nunca estiveste — e nunca
estarás. Om Saraswati é apenas um nome dado a uma Realidade sem nome por um propósito
utilitário. De outro modo, tu és apenas uma presença.

Toda a Criança nasce como uma presença, sem nome, sem morada. E tornar-se num Sannyasin é
nascer pela segunda vez, muito mais profundo e mais grandioso do que o primeiro nascimento. No
primeiro, pelo menos és um corpo. Podes não ter um nome, podes não ter uma morada; mas tens algo
onde habitar — no corpo.

No momento em que te tornas um Sannyasin, deixas-te cair por terra a ideia de ser um corpo também.
Agora és apenas Consciência pura — quer seja em qualquer sítio ou em nenhum. Ambas as palavras
significam a mesma coisa. Tu podes escolher. Tu podes escolher estar em qualquer sítio, ou podes
escolher em nenhum sítio. E qualquer dos casos, já não estás limitado; já não tens fronteiras, já não
consegues estar preso num sítio.

É uma pergunta muito especial… porque as Pessoas já a fizeram milhares de vezes: Quem sou eu?
Om Saraswati é um génio — ele perguntou, “Aonde é que estou?”

E nenhum sítio. Ou, se não consegues ler um palavra tão grande — ‘nenhum sítio’ (nowhere) — então
dividi-a em duas, ‘agora’, ‘aqui’ (now, here). Para mim, ambas são aceitáveis. Mas lembra-te que o
teu Ser Interior não tem limites — até mesmo o céu não é o limite. Então tudo pode estar dentro de ti
— as Estrelas distantes podem estar dentro de ti — mas tu não estás dentro de nenhuma jaula, por
maior que seja, por mais bonita que seja, por mais valiosa que seja.
Realização desta Verdade — de que sou ‘em todos os sítios’, ou ‘em nenhum sítio’ (nowhere), ou
‘agora’, ‘aqui’ (now, here) — eu chamo isso de Iluminação. E estou a dar-vos três hipóteses; nunca
antes foram dadas três hipóteses pelos Místicos. As minhas hipóteses são ‘aqui’, ‘agora’. Mas eu não
estou preso a certa opinião. ‘Em nenhum sítio’ chega. Mas se uma declaração negativa como ‘em
nenhum sítio’ faz-te ficar com medo, então ‘em todos os sítios’ chega perfeitamente.

Logo, pára de descobrir aonde estás; começa a procurar por quem tu és. O aonde não é importante; o
quem é importante — e se tu sabes quem és, saberás aonde tu estás.

Na minha modesta opinião, tu vais encontrá-la agora, aqui.


Pergunta Cinco

Querido Osho, durante toda a minha Vida, sempre pensei que amava alguém. Agora, estando aqui
pela primeira vez contigo, pergunto-me a mim próprio: será que estive alguma vez apaixonado? Será
que alguma vez fui capaz de amar? Serei eu capaz de te amar? O será que a Vida levou-me a um
ponto aonde a Alegria no Amor já não há mais?

Anand Tosha, a falácia primária que tu carregas dentro de ti é de que sempre amas-te alguém.

Esta é uma das coisas mais significantes em todos os Seres Humanos; o seu Amor é sempre para mais
alguém, está endereçado — e no momento em que tu endereças o teu Amor, destrói-o. É como se
estivesses a dizer, “Eu respiro apenas para ti — e quando não estás lá, como é que vou respirar?”

O Amor deveria ser como o respirar. Deveria ser apenas uma qualidade em ti — aonde quer que
estejas, com quem que estejas, ou mesmo se estiveres sozinho, o Amor continua a transbordar de ti.
Não é uma questão de se estar apaixonado por alguém — é uma questão de ser Amor.

As Pessoas sentem-se frustradas nas suas experiências amorosas, não porque algo esteja mal com o
Amor… elas limitam de tal maneira o Amor que chega a um ponto aonde o Oceano do Amor não
pode permanecer mais ali. Tu não podes conter o Oceano — não é um pequeno riacho; o Amor é todo
o teu Ser — o Amor é a tua divindade. Uma Pessoa deve pensar em termos de se está a amar ou não.
A questão do objeto do Amor não surge. Com a tua Mulher, tu amas a tua Mulher; com os teus Filhos,
tu amas os teus Filhos; com os teus Servos, tu amas os teus Servos; com os teus Amigos, tu amas os
teus Amigos; com as Árvores, tu amas as Árvores; com o Oceano, tu amas o Oceano.

Tu és Amor.

O Amor não está dependente do objeto, mas é uma radiação da tua subjetividade — uma radiação da
tua Alma. E quanto mais vasta for a radiação, maior é a tua Alma. Quantas mais abertas estiverem as
Asas do teu Amor, maior é o Céu do teu Ser.

Anand Tosha, tu tens vivido debaixo de uma falácia bem comum a todos os Seres Humanos. Tu
perguntas, “Serei eu capaz de te amar?” — mais uma vez, a mesma falácia.

Pergunta-te a ti próprio: Serei eu capaz de me tornar o Amor?

Quando estás na minha presença, nem sequer precisas em amar-me; de outro modo, não tinhas vindo
das tuas falácias comuns. Aqui, tens de aprender… apenas em amar. É claro que o teu Amor também
vai chegar até mim; e também vai chegar aos outros. Será uma vibração a rodear-te, a espalhar-se
por todos os lados; e se muitas Pessoas estiverem simplesmente a retransmitir o seu Amor, a sua
Música, o seu Ecstasy, todo o sítio se transforma num Templo. Não há outra forma de se fazer um
Templo. Então toda a área é preenchida com um novo tipo de energia, e ninguém fica a perder —
porque o Amor de tantas Pessoas estás a correr em ti: em cada Pessoa, o Amor de muitas Pessoas
está a cair como se fosse chuva vivificante.

Deixa a falácia cair por terra. E graças a essa falácia, uma outra questão cresce dentro de ti: “… ou
será que a Vida trouxe-me para um ponto aonde a Felicidade no Amor já não acontece mais?” A Vida
não é nada mais do que uma oportunidade para que o Amor possa florescer. Se tu estás vivo, a
oportunidade está aí — até ao último instante. Até podes ter andado perdido a Vida inteira: basta
apenas a última respiração, o último momento na Terra, se tu podes ser o Amor, não perdes-te nada
— porque um único momento de Amor é igual a toda uma Eternidade de Amor.

OK, Vimal?

Sim, Osho

A Mente não tem uma mudança para trás

Manhã de 13 de Fevereiro, 1987 no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, ontem há noite acordei com um mosquito a voar em cima do meu ouvido. Olhei para
ele e tinha a tua cara. Eu disse, “Meu Deus!” e tu respondeste, “É isso mesmo!”, eu falei, “Devo estar
a sonhar.” E tu, “É isso mesmo que eu estou sempre a dizer-te.”

Eu digo, “Osho, isto está a ir longe demais.” Tu, “Isso é verdade. Comigo, só se começa a Jornada
quando se vai longe demais.” E depois voas-te através da minha rede contra mosquitos, rindo das
minhas frágeis defesas. Já do outro lado, paraste, olhas-te novamente para mim, e disseste, “Vou-te
incomodar até acordares.” E depois desapareces-te.

Osho, isto tudo realmente aconteceu?

Devageet, realmente aconteceu. Não desconfies dos teus sonhos.

A situação é esta: todas as tuas defesas nada mais são do que redes contra mosquitos — e tu apenas
podes manter do lado de fora mosquitos que não sejam Mestres.

Um Mestre encontra sempre um caminho que passe por todas as tuas defesas para chegar ao âmago
do teu Ser. E todo o trabalho de um Mestre é acordar-te. Mas o Subconsciente do Homem é tal que
ele até pode sonhar que está acordado e continuar a dormir.

A tua Mente está tão enraizada com dúvidas, suspeitas, desconfiança, que mesmo que as coisas
venham ter contigo, a primeira ideia que aparece na tua Mente vai ser: será Verdade? As dúvidas
crescem na Mente tal como as folhas crescem nas Árvores. Tens de colocar um Stop absoluto na tua
Mente duvidosa, e assim, instantaneamente o teu Coração, que confia, retoma o seu lugar.

As qualidades são estas: a Mente duvida, o Coração confia. A Mente é Imaginação, pensamento,
alucinação. O Coração é apenas Amor. E tu consegues ver o Mundo inteiro através da Mente, menos
a ti próprio — porque tu és a Mente, e a Mente não tem uma mudança para trás. Simplesmente não
podes ir para trás. Logo, a Mente tem de ser completamente deixada de fora; só aí é que o teu
Coração, pela primeira vez, começa a funcionar na sua totalidade.

Estou a lembrar-me de um grande Rei, Prasenjita, que tinha vindo ver Gautam Buddha. Quando
estava para partir, descobriu no seu Jardim uma Flor de Lótus muito bonita. Ele pensou, “Vai ser um
bom presente para colocar aos pés de Gautam Buddha.”

Mas a sua Mulher disse, “É melhor levares algo do teu Tesouro… Tu tens o melhor Diamante no país
— uma Flor é apenas algo momentâneo. E o Amor e o Respeito para o Buddha são como os
Diamantes, para sempre.” Ele respondeu, “Então vou levar ambos.”

Em seguida, aconteceu uma das coisas mais significantes. Quando Prasenjita ofereceu a Flor a
Gautam Buddha, ele falou, “Deixa-a cair!”

Estavam presentes dez mil Sannyasins, todos num silêncio absoluto, isto porque era um grande
encontro — um encontro entre um grande Imperador e o seu Mestre. E eles não conseguiam entender
porque é que Buddha disse, “Deixa-a cair!”

Prasenjits pensou, “Talvez a minha Mulher tivesse razão. Uma Flor, no final de tudo, apenas para um
momento.” então ele deixou cair a Flor, e com a outra mão ofereceu o melhor Diamante do país,
pensando que agora o presente seria aceite.

Buddha sorriu e disse de novo, “Deixa-o cair!” Isso foi demais; mas como era o Buddha a dizer
‘Deixa-o cair’ — era o seu Diamante mais precioso — mesmo assim, como estavam Buddha e dez
mil Pessoas a olhar, ele deixou cair o Diamante no chão. Então. Ele ficou de pé com ambas as mãos
vazias, e Buddha disse pela terceira vez, “Vais-me dar ouvidos ou não? Deixa-o cair!”

Ele olhou para as suas mãos. Não tinha mais nada para deixar cair. A Flor tinha caído, o Diamante
está no chão. Um dos discípulos mais íntimos de Buddha, Mahakashyaoa disse, “Prasenjita, tu não
entendeste o que ele falou. Ele não quer saber da Flor, ele não quer saber do Diamante. O que ele
quer és tu. Deixa-te cair, solta-te.”

A não se que te deixes cair a ti próprio, nada cai. E no momento em que te deixas cair, o Ego, a ideia
do “Eu”, todas as portas da Existência abrem-se para ti.

Devageet, deixa cair a Mente e começa a funcionar com o Coração. E sempre que houver uma
questão sobre escolhas, o Coração tem de se o escolhido. A Mente é muito racional; o Coração nada
conhece sobre a Razão.mas eu estou a dizer para escolherem o Coração, porque ele está está
exatamente entre a Mente e o teu Ser. Não podes chegar ao teu próprio Centro sem passar pelo
Coração.

Então, o teu sonho traz uma mensagem para ti, de que tu não podes proteger-te a ti próprio, sejam
quais forem os tipos de defesa. O melhor é deixar cair todas as defesas; todas as defesas pertencem à
Mente. O Coração está sempre aberto; não tem defesas. E por isso é que tem a grande oportunidade
de se tornar numa porta para a tua própria Alma.
Segunda pergunta

Querido Osho, esta manhã, mais uma vez, tal como tem acontecido tantas vezes, tinha tantas questões
que decidi aplicar as tuas bonitas respostas a mim próprio. Porque é que não as pergunto a mim
próprio?

Deva Gita, primeiro vou responder por todos, apesar da pergunta ser tua, e depois responderei a ti.
Eu gostaria de responder a todos o seguinte… de que existem muitas Pessoas que estão na mesma
situação. Elas tem perguntas, mas não as fazem. A razão errada é que elas tem medo de se expor a
elas próprias.

A tua pergunta não é apenas uma questão, é aceitação da ignorância. É o abrir das tuas feridas, as
quais tu cobriste muito espertamente, não só escondes-te dos olhares dos outros, mas também de ti
próprio. Já quase as esqueceste. Elas desvaneceram-se tal como se fosse sonhos, mas ainda estão aí
— cobertas ou descobertas. De facto, cobertas elas são mais perigosas, porque não as permites sarar.
Elas precisam do vento, elas precisam do Sol, elas precisam de estar abertas à Existência. Sem essa
abertura elas não podem sarar. Ma ninguém quer aceitar um facto bem simples: Eu sou ignorante. Eu
não sei.

A tua pergunta traz a tua ignorância à superfície. Se essa é a razão porque tu não estás a fazer a
pergunta, então é uma razão errada.

No que diz respeito a Gita, ela tem estado comigo há muito tempo, e talvez esta tenha sido a primeira
vez que ela perguntou. Ela não pergunta porque quer faça a pergunta ou não, eu estou sempre a dar a
resposta enquanto estou a responder a uma questão colocada por mais alguém. E devagar,
devagarinho, uma grande confiança cresce dentro dela em que a leva a não precisar de perguntar. Se
é necessário uma resposta, será dada. A quem será dada, não importa. Se for relevante à tua pergunta,
tu recebeste a resposta.

Logo, o desejo de perguntar desaparece. Tu foste capaz de compreender um fator muito importante:
que antes fazeres a perguntar, o Mestre já sabia qual era a questão. Quer a faças ou não, não faz
grande diferença. Ele vai responder de uma outra forma ou de outra.

Segunda coisa, ao ouvires as perguntas feitas pelas outras Pessoas, apercebeste-te de que o cerne da
questão não é a resposta. O principal da questão é dissolver a própria questão. Para a resposta, tu
tens de depender de mais alguém; mas para dissolver a questão, deixá-la cair, és absolutamente
independente. Porquê carregar as questões? Deixa-as cair — porque elas são feridas na tua Alma.

E lembra-te, ao deixares cair as questões, não te tornarás ignorante, nem ficarás conhecedor. Ficarás
inocente, tal como um pilar do Silêncio — sem pensamentos a mexer na tua Paz, a perturbar o teu
Ser, sem ramificações na tua Consciência. E esta é a resposta a todas as tuas questões. Pode haver
milhões de questões, mas a resposta é uma, e essa resposta é ser sem-resposta.

Aqueles que me ouvem há já muitos anos — há muitos que nunca fizeram uma única pergunta, pela
simples razão de que eu não estou a responder a questões, eu estou a destruir questões. Esse tipo de
trabalho, tu mesmo podes fazê-lo. Mas se não fores corajoso o suficiente para as destruir, pode ser
que precises da minha ajuda. Apenas de um pouco de coragem… deixa cair as perguntas, e depois
serás a resposta. A tua Inocência é a resposta. A resposta não vem em palavras. Vem na forma do
Ecstasy, como Paz, Serenidade, um Centro, Maturidade.

E essa é a diferença entre um Professor e um Mestre. O Professor responde à tua questão; o Mestre
destrói-a. O Professor torna-te mais conhecedor; o Mestre ajuda-te a tornares-te Criança novamente
— cheia de Inocência e maravilhosidade. É isso que está a acontecer a ti, e isto é a melhor coisa na
Existência que pode acontecer a uma Pessoa: renascer nesta mesma Vida com Inocência.
Terceira Pergunta

Querido Osho, ontem há noite li esta frase de Krishnamurti: “A análise não pode conduzir ao
entendimento ou esclarecimento — observação e não análise!” Nos primeiros anos em que orientei
grupos aqui, em Poona, era praticamente tudo orientado em volta de problemas. Parecia uma grande
limpeza. De alguma forma, no rancho Rajneesh eu sabia que a terapia estava realmente finalizada,
sim, eu não sabia como trazer a Meditação para a sala de um grupo. Eu estava ainda muito focado no
lado negro e com medo para me mover em direção ao desconhecido.

A estar aqui, pela primeira vez eu tenho um vislumbre de que através da Meditação, da observação, e
da simplificação, tudo o que estiver à frente simplesmente se dissolve quando permitimos à luz fazer
o que sabe, iluminar. E sem fazermos nada, de repente dá-se o click. Tudo se torna iluminado e
gracioso, e com isso vem uma incrível sensação de preciosidade e gratitude com os quais nós
podemos estar contigo aqui e agora.

Prem turiya, J. Krishnamurti está correto. A análise não pode conduzir ao entendimento ou
esclarecimento.

Primeiro, a análise é algo como… partes um espelho em mil pedaços, mas cada pedacinho do
espelho reflete-te perfeitamente — tal como o espelho por inteiro te refletia. A invés de uma
reflexão, agora tu tens mil reflexões.

Então eu gostaria de te dizer que J. Krishnamurti não só está correto… ele está apenas metade
correto. A análise vai-te guiar a milhares de reflexões sobre o mesmo problema. E agora, so invés de
haver um problema, existem milhares deles. Tu partis-te o vidro. Ficarás ainda com mais questões do
que antes.

E segundo lugar, a análise está a ser feita por mais alguém. E a análise não é uma ciência; é apenas
um palpite. O mesmo problema… se tu fores analisado por Sigmund Freud, vais ver que a conclusão
da sua análise não irá ser a mesma que a de Carl Gustwv Jung (se fosses analisado por ele) ou a de
Alfred Adler ou de Assagioli. E agora existem milhares de escolas, e cada uma a proclamar que
descobriu a verdade absoluta. Todas elas descobriram peças do espelho.

A análise simplesmentr parte o espelho em várias partes. No que concerne a objetos, a análise é
perfeita para eles. Dissecação, análise — essas são as únicas formas de descobrir a verdade sobre
os objetos que te rodeiam. Mas tu não és um objeto.

E eu não usei a metáfora sobre o espelho sem uma razão qualquer. A tua Consciência é um espelho.
Reflete o Mundo inteiro, tal e qual os teus olhos são espelhos e refletem o Mundo. Os olhos carregam
as impressões que estão por dentro, e a tua Consciência reflete o que quer que os olhos tragam. A tua
Consciência é a tua visão interior. Nenhum especialista dos olhos irá sugerir que para se poder
entender, tem de se os dissecar em pedaços. Isso irá destrui-los.

Em Jaipur, Índia, há um Palácio que foi feito pelo mesmo Homem que criou a cidade de Jaipur,
Maharaja Jai Singh. Provavelmente Jaipur seja a única cidade na Índia que tenha sido planeada. E
toda a ideia de Jai Singh foi de criar uma cidade ainda mais bonita do que Paris. Ele estava quase a
ser bem sucedido, mas morreu no meio do processo — apenas metade da cidade ficou feita.

Mas mesmo assim ficou bem visível que se ele tivesse vivido tempo suficiente, teria derrotado Paris,
de certeza. A cidade tem uma beleza própria: estradas bem largas, que nenhuma cidade pode ter, nem
Paris, nem Londres, nem Nova Iorque — muitas estradas rectílineas que se podem ver
perfeitamente… estendem-se por quilómetros e quilómetros; e em ambos os lados da estrada todas as
casas são feitas da mesma pedra vermelha — não existem duas casas diferentes. Dá um aspecto
completamente diferente, tal como se toda a cidade fosse uma única casa.

E enquanto Jai Singh foi vivo, apenas uma cor, a cor da pedra vermelha, podia ser usada para pintar
qualquer coisa na cidade. Pelos vistos, Jaipur é a única cidade que pode ser chamada, de entre
outras, Sannyasin. E ambos os lados da estrada, no pavimento… por quilómetros afora, todos os
pavimentos são semelhantes; mas eles são todos cobertos, então, até mesmo no verão quente ou nas
estações da chuva, não é preciso trazer guarda-chuva — não há necessidade disso.

Simplicidade, toda a arquitetura é muito simples, mas é totalmente igual em toda a cidade. Foi uma
infelicidade a morte dele — e os seus sucessores estavam muito preocupados, pois achavam que ele
estava a gastar muito dinheiro para construir a cidade. O tesouro real estava quase vazio. Mas Jai
Singh era um Homem muito orgulhoso. Ele tinha pedido empréstimos no mundo inteiro a grandes
bancos, e estava decidido a completar a cidade.

Dentro do Palácio de Jai Singh existe um pequeno Templo. Esse foi o único sítio em que ele não fez
igual ao resto da cidade, porque é um Templo, e um Templo de Deus deve ser diferente das
residências do Homem. Foi feito de pequenos pedaços de espelho.

Aconteceu que, numa certa noite, quando o Padre fechou a porta, esqueceu-se de que um cão não
tinha ainda saído. Todos os fiéis já tinham saído, mas agora o cão não podia sair. O cão estava muito
intrigado, pois ele podia ver muitos cães a toda a sua volta, reflectidos em milhares de espelhos.

O Padre fechou o Templo e foi para a sua casa. O Cão latiu, lutou, bateu a sua própria cabeça contra
as paredes, pensando que estava a lutar contra outros cães. E naturalmente, quando latia, o outro Cão,
refletido no espelho, também latia. Quando se aproximava de um, esse também se aproximava dele.
Mas ele encontrava-se sozinho — cercado por milhares de Cães. Mesmo assim lutou, e pela manhã
foi encontrado morto.

O Jardineiro disse, “Lutou lá dentro durante a noite toda, mas nós não temos a chave. A chave
encontra-se com o Padre. E nós sabíamos o que se estava a passar: ele estava cercado por reflexos e
pensava que esses reflexos eram a realidade.”

A análise não traz qualquer tipo de transformação ou entendimento. Simplesmente analisa a tua
mente, pois a mente não é nada mais do que um reflector. Ao invés de encontrar um problema, dá de
caras com milhares deles; á medida que a análise progride, mais e mais problemas aparecem.

Existem Pessoas que já estão na psico-análise há mais de quinze anos contínuos, mas não existe uma
única Pessoa no Mundo inteiro que tenha sido completamente psico-analisada. De facto, nunca
haverá nenhum Ser Humano totalmente psico-analisado. Podes continuar e continuar, mas a Mente é
um refletor. A tua análise, ao invés de trazer entendimento, apenas traz mais problemas.

Não é uma coincidência o facto de que a profissão de psico-analista gera mais loucos de que
qualquer outra profissão. Quase todos os psico-analistas mais cedo ou mais tarde vão a outros psico-
analistas para serem analisados — e pensam estas Pessoas que estão a trazer entendimento á
Humanidade!

Krishnamurti está correto, essa análise não pode levar a nenhum entendimento ou esclarecimento. Se
fores ter com um Psico-analista e ele tem uma certa concepção, e vai acabar por a impor à tua Mente.
Não interessa qual o teu sonho, Sigmund Freud vai ligar isso a algo sexual. De facto, ele é obcecado
com a sexualidade, ele é doente. Ele está quase na mesma posição…

Certa vez ouvi: estava ser feita psicanálise a um Homem que estava a ficar louco. Foi trazido ao
escritório do Psicanalista. Para saber que tipo de Homem ele era, o Psicanalista desenhou uma linha
num papel e perguntou ao Homem… Mas o Homem manteve os seus olhos fechados. Ele falou, “Para
trás, não quero obscenidades.” O Psicanalista respondeu, “Obscenidades? Esta linha faz-te recordar
algo relacionado com Sexo?” Ele respondeu, “Sim, do que é que mais me pode fazer lembrar? E a
sua Mente é suja. Vim aqui há procura de ajuda. Isto é que é ajudar?”

O psicanalista disse, “Espera.” Desenhou um triângulo, e o Homem imediatamente virou a sua


cadeira para o outro lado e falou, “Isto está a ficar insuportável. Se fizeres mais alguma coisa, vou
agredir-te. Esquece tudo o que sabes sobre a análise. Tu estás louco — precisas de ser analisado.
Tornaste-te ainda mais obsceno. Primeiro foi o órgão genital do Homem, agora é o órgão genital da
Mulher. Seu idiota! — pensas que és um Psicanalista?”

O Psicanalista estava completamente perdido. Então falou, “Esquece tudo isto, olha apenas para a
janela.” Um Camelo estava a passar e ele perguntou, “O que é que este Camelo te faz lembrar?” O
Homem respondeu, “Porque é que me torturas? Os Camelos apenas me fazem recordar do Sexo e
nada mais.” O Psicanalista disse, “Isto é estranho!”

O Homem continuou, “Nada é estranho… porque tudo me faz lembrar o Sexo. Não é uma questão de
Camelo, ou Elefante, ou Homens, ou Mulheres, ou Árvores — não interessa. Tudo me faz recordar o
Sexo.”

E esta era a situação do próprio Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise. Qualquer que fosse o
sonho que fosse trazido para ele analisar, ou se fossem pensamentos, ele conseguia criar uma ligação
com uma sexualidade reprimida.

Mas se fores ter com Alfred Adler, ele não vai fazer qualquer menção ao Sexo — o mesmo sonho, o
mesmo problema. Alfred Adler era obcecado por uma outra ideia: força de vontade. Ele vai limitar o
que quer que seja para esse ponto de vista, até mesmo o Sexo… Podes contar-lhe um sonho
totalmente sexual — nem sequer é preciso um psicanalista, nem sequer é preciso uma interpretação, o
sonho é bem simples: estás a fazer Amor com uma Mulher — e mesmo assim Alfred Adler dirá que
isso é força de vontade. Isso é força de vontade porque o Homem está por cima e a Mulher por baixo
dele. E é isso o que todos os Homens querem.
Se fores ter com Carl Gustav Jung, ele não irá falar sobre força de vontade, ele não irá falar sobre
Sexo, ele irá falar sobre as tuas Vidas Passadas — de que esse sonho vem de uma experiência que
tiveste numa Vida Passada.

A Psicanálise não é uma Ciência. Estas Pessoas eram muito espertas intelectualmente, eram grandes
argumentistas, muito racionais. Conseguiam provar qualquer coisa. E o pobre do Paciente não ia para
falar de Filosofia ou para discutir se a conclusão fazia sentido ou não; ele ia para ser curado. Ele não
se importa sobre a conclusão — “Mostra-me apenas a cura.”

Mas os Psicanalistas não tem uma cura. “Traz-me mais e mais sonhos, e nós continuaremos a analizá-
los.” E finalmente, quando a análise estiver completa… E nenhum Homem chegou alguma vez ao
ponto aonde que a análise estivesse complete. Nunca poderá ficar completa, porque a Mente não é
algo que permaneça sempre igual.

Tu não sonhas o mesmo sonho constantemente. Todos os dias sonhas novos sonhos, todos os dias
reprimes desejos novos. Todos os dias sentes ciúmes desta ou daquela Pessoa; todos os dias ficas
ávido de Poder, de dinheiro, de prestígio, ou por santidade, ou por iluminação — a lista de limpeza
da tua Mente é infinita. Tem um começo, mas nunca chega ao final. E tu ficas nas mãos da outra
Pessoa que continua a impor ideias dentro de ti.

Então tudo o que a psicanálise faz é… depois de uns anos de psicanálise, tu também te tornas um
psicanalista; e começas a analisar as outras Pessoas. Não estás curado; a tua doença ainda está lá,
mas agora está escondida debaixo de um conhecimento específico. Mais três ou quatro anos e ficarás
um diploma.

Ficarás bem surpreso ao descobrir que Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise, nunca permitiu ser
analisado por quem quer que fosse — pela simples razão de que ele tinha medo de expor os seus
sonhos e o seu Mundo Interior, que não eram diferentes do mais comum dos mortais. Talvez até
fossem piores. Um Homem que passava o dia inteiro, de manhã à noite a fazer ligações de tudo com o
Sexo — podemos muito bem imaginar o que ele sonhava durante a noite, não poderia sonhar outra
coisa.

A tua noite não é nada mais do que um subproduto do teu dia. Daí, tantas vezes os seus Amigos, os
seus Discípulos perguntarem-lhe, “Será uma grande experiência para nós se te deitares no sofá e nos
contares os teus sonhos, assim poderemos analisá-los.” Ele nunca concordou em fazer isso. A sua
recusa mostra o seu medo.

Como é que os Psicanalistas podem trazer compreensão se até mesmo o seu fundador está cheio de
lixo e tem medo que alguém consiga descobrir esse lixo todo? Toda a sua profissão… e ele
estabeleceu uma grande profissão. Os Judeus são bem espertos no que respeita a empresas. Eles não
fazem negócios pequenos. Jesus era um Judeu, que criou a empresa Cristandade. Karl Marx era outro
Judeu, que fundou também um sistema: o Comunismo. Sigmund Freud era outro Judeu, que fundou a
Psicanálise. Agora, os Psicanaistas são das Pessoas mais bem pagas no Mundo — e nem fazem nada.

A observação pode trazer compreensão, mas a análise não. Na análise, tu ficas dependente da outra
Pessoa. As Pessoas tornam-se viciadas em análises particulares; elas tem de ir lá. Tal como há
viciados em álcool e drogas, também há viciados em análises. Passados dois ou três dias começam a
sentir-se ansiosos: precisam de uma análise. Alguém tem de ouvir toda a lixeira que trazem. E é claro
que quando alguém ouve a tua lixeira durante uma hora contínua, tens de pagar por isso! A
observação é um fenómeno totalmente diferente — é o que eu chamo de testemunhar, consciência.

Não te torna dependente do outro; é o teu próprio crescimento de ficar alerta. E o milagre é que
quanto mais a tua observação se torna cada vez mais e mais clara, os teus sonhos começam a
desaparecer — tal como a manhã que se aproxima, as estrelas começam a desaparecer. Quando o Sol
já apareceu na sua totalidade, já nenhuma estrela se encontra presente no céu. Quando o teu Sol da
observação e testemunho se ergue dentro de ti, todos os sonhos e todos os problemas simplesmente
desaparecem, deixando todo o céu completamente limpo.

Turiya, tu dizes, “Nos primeiros anos em que conduzi grupos aqui, em Poona, eram praticamente
todos orientados para problemas.” E tinha de ser, porque as Pessoas que chegavam não vinham para
se conhecerem a elas próprias — vinham simplesmente para se verem livres dos seus problemas, das
suas ansiedades, das suas angústias, dos seus desesperos. “Parecia ser uma grande limpeza.” E era
exatamente isso.

“No rancho Rajneesh eu sabia que de alguma forma a terapia estava realmente terminada…” Quando
falávamos mais intimamente, eu tinha terapeutas de centenas de diferentes escolas a trabalhar, eu
trabalhava para destruir todas as terapias. Os terapeutas estavam a trabalhar para destruir os nossos
problemas, e eu estava a tentar destruir as terapias e os terapistas! — porque a terapia apenas pode
ser um alívio temporário, e o terapeuta apenas pode ser uma ajuda superficial.

Tu falas, “Eu não sabia como introduzir a Meditação no seio do Grupo da sala. Eu ainda estava a
focar no lado escuro e também estava muito assustado para realmente me mover para o
desconhecido. Estando agora aqui, pela primeira vez tenho um vislumbre de que através da
Meditação, Observação, simplificação, tudo o que está a impedir-nos a passagem simplesmente se
dissolve calmamente. Ao permitir a luz incidir por dentro, e sem fazer nada, de repente surge o
clique. Tudo é luz e gozo, e com isso vem também um incrível sentimento de preciosidade e gratitude
de que todos nós podemos estar aqui contigo nesta altura.”

Agora, as Pessoas que estão aqui comigo não estão aqui para resolver qualquer tipo de problema,
estão aqui para se conhecerem a elas próprias.

Podes continuar a resolver problemas durante vidas e vidas inteiras. Falta de problemas não há. No
momento em que abres os olhos, os problemas começam a chegar. A tua mente foi condicionada de
tal forma de que até mesmo coisas triviais podem tornar-se problemas: alguém sai da cama com o pé
errado e assim o dia todo vai correr mal, e essa Pessoa diz, “Saí da cama com o pé errado.” Agora,
em relação à cama, quer o teu pé direito ou o teu pé esquerdo saiam primeiro, não interessa. Mas as
superstições…

Tu vais dar um passeio matinal e encontras um Homem que tens apenas um olho — acabou, todo o teu
dia está acabado. Agora nada pode correr bem. Que esquisito… o que é que essa pobre Pessoa tem a
haver com o resto do teu dia? Mas uma superstição, que já perdura há séculos…
Havia um pequeno rapaz na minha vizinhança que apenas tinha um olho. Quem quer que quisesse
torturar… logo de manhã levava o Rapaz e simplesmente dava-lhe chocolates, e ele ficava pronto.
Observava-o a uma certa distância: “Fica somente em frente à porta. Deixa o ignorante abrir a
porta…” E no momento em que ele abria a porta e visse o Rapaz com apenas um olho, dizia, “Meu
Deus! Outra vez? Mas porque é que vens aqui logo manhã?” Um dia ficou tão zangado que até queria
bater o Rapaz. Tive de sair do meu esconderijo, e dizer, “Não podes bater nele. Isto é uma estrada
pública, e é do direito dele estar aqui todas manhãs. Nós costumamos vir aqui de vez em quando;
mas agora queremos vir todos os dias. É contigo se abres a porta ou não.”

Ele disse, “Mas se eu não abrir porta, como é que posso ir para a minha loja?”

Respondi, “Isso é um problema teu, não nosso. Mas independentemente disso este Rapaz vai ficar
aqui.”

Ele falou, “Que estranho. Mas porquê este rapaz…? Será que não o podes levar a mais alguém? É
que… o meu vizinho é um concorrente no meu tipo negócio, e eu estou a ser constantemente
derrotado graças a este Rapaz.”

Eu respondi, “Isso é contigo. Baksheesh! — se tu deres uma rupia a este Rapaz, ele ficará em frente
ao outro portão.”

Ele disse, “Uma rupia?” Nesses dias, uma Rupia era muito valiosa, mas ele respondeu de imediato,
“Toma.”

Disselhe, “Lembra-te, se o teu vizinho der ao Rapaz duas Rupias, então ele voltará novamente para
aqui. É apenas uma questão de negócios.”

Ele retorquiu, “Vou avisar a Polícia. Eu posso…”

Interrompi-o, “Podes ir. Mas até mesmo o Inspetor da Polícia tem medo deste Rapaz. Podes dizer a
ele para escrever um relatório, mas ele não vai chamar o Rapaz para o seu escritório. Toda a gente
está com medo — até os Professores. E este Rapaz é tão precioso… então, quem quer que crie
problemas nesta cidade, eu levarei até essa Pessoa este Rapaz. Não é preciso fazer nada — basta ele
ficar em frente à porta das Pessoas.”

Os problemas estão em toda a tua volta. Então, mesmo que de alguma forma acabes com um
problema, imediatamente surge outro. E tu não consegues prevenir o surgimento de problemas. Os
problemas vão continuar a aparecer até que tu chegues a uma compreensão profunda do testemunhar.
Essa é a única chave de ouro, descoberta após séculos de introspecção no Este: de que não há
qualquer necessidade de resolver qualquer tipo de problema. Tu simplesmente o observas, e a
própria observação é o suficiente; o problema evapora-se.

Agora, as Pessoas que estão aqui, não estão aqui para resolver os seus problemas. Estão aqui para se
dissolverem. Estão aqui para conhecer o próprio segredo da sua Vida. E para isso, não é necessário
qualquer tipo de terapia. Para isso, basta apenas a Meditação — e apenas a Meditação — é o
caminho.
Quarta pergunta

Querido Osho, quando chegaste ao Auditório, a tua beleza, a tua Graça e Fragrância, são tão
grandiosas e para além de meras palavras de que eu possa pronunciar. Por dentro sinto um intenso
Fogo e um grande desejo de ser livre, solto da Mente, do Corpo, do Coração. Mas também me
apercebi que essa mesma intensidade também cria muitas tensões e que vem de um lugar de que não
se confia que essa liberdade, essa libertação, nunca vai me acontecer. Será que podias comentar
sobre isto?

Turiya, é muito humano e natural. Isso não cresce a partir da desconfiança; antes pelo contrário,
cresce a partir de uma profunda confiança porque tu amas-me, confias em mim, sentes-me de mil
maneiras diferentes no teu Coração. Naturalmente, um desejo cresce a partir dessa confiança; um
desejo: quando é que a mesma fragrância, a mesma frescura, a mesma visão, a mesma compreensão,
a mesma luz, irá acontecer a mim?

E isso é apenas uma fraqueza humana. Uma Pessoa sente: talvez seja demasiado e eu não seja capaz
de o fazer. Talvez seja demasiado longe e eu não seja capaz de fazer uma caminhada na direção do
desconhecido, sozinho, apenas por mim próprio.

Isto é absolutamente natural, não há nada para ser condenado. E ao invés de pensarem que está a
crescer a partir da desconfiança, desconfiança em ti… Não, está sim a crescer a partir da Confiança
em mim. Eu tornei-me uma tal certeza para ti de que não há qualquer tipo de dúvida de que um
espaço com esta tremenda Liberdade, Libertação, Glória e grandiosidade existe.

Viste os picos de Sol que saiam de mim e naturalmente isso fez-te sentir fraco: o pico é muito alto,
está muito longe; e é imensamente bonito — mas será possível a mim chegar ao pico a partir do meu
vale escuro? Esta é uma questão humana. Tu tens medo: eu apenas posso dar um passo de cada vez, e
a distância parece infinita.

Na China, eles tem o provérbio exacto para ti: A Jornada de milhares de Quilómetros começa como
primeiro passo. E a ninguém é dado o direito de dar dois passos de cada vez. No que concerne a
passos, todas as Pessoas são iguais. Podes dar um passo de cada vez; e uma Jornada de dez mil
quilómetros pode ser completada apenas dando pequenos passos.

Se olhares demasiado para os teus pequenos passos e para o longícuo pico, o mais provável é
sentires que isto não é para ti. Mas digo-te o seguinte: é para todas as Pessoas.

Tal como o Amor e a Confiança despertaram e cresceram dentro de ti, sobre mim, espera mais um
pouco. Irás descobrir que a mesma Confiança e o mesmo Amor a crescer dentro de ti, a partir de ti
próprio. O Mestre é apenas um agente catalisador. Ele dá início a um processo dentro de ti. Tudo o
que é preciso é um pouco de paciência, apenas um pouco de paciência. Espera com gratidão e inicia
a Jornada.

Se eu consigo chegar ao pico com os raios luminosos, então todo o Ser Humano é capaz de o
alcançar; porque eu não sou especial, eu sou apenas um no meio de todos vocês. Houve um dia em
que eu também estive no vale escuro e também estava a tremer, a olhar para o desconhecido, para os
picos distantes. Mas pensei, no máximo eu posso não estar ao alcance. De qualquer forma eu estou no
Vale — mesmo que não chegue ao pico, mesmo que só chegue a metade do caminho, com é o mal
disso? Talvez na próxima Vida eu seja capaz de completar a Jornada. Mas não faz sentido nenhum em
desperdiçar tempo, ficar sentado no vale escuro e estar sempre a lembrar-me do medo que tenho.

Comecei a caminhada — não com a certeza de que iria chegar, mas pelo menos com a certeza de que
no mínimo iria sair da escuridão do vale — e quando saí da escuridão do vale, de repente os meus
passos tornaram-se mais firmes, o meu Coração mais forte. E não era apenas eu que ai em direção ao
pico — vai ser muito difícil a ti perceber — eu vi que em todos os movimentos, o pico também
estava a mover-se em direção a mim.

Um outro provérbio árabe: Quando andas um passo em direção a Deus, ele anda mil passos em
direção a ti. Estes pequenos provérbios contém a essência de séculos de Sabedoria. E quando vês o
pico a mover-se na direção, de repente ganhas asas. Agora não há qualquer necessidade em andar —
tu podes voar. Tal iluminação vem ao teu Ser; todos os teus Medos, todas as tuas fraquezas,
desaparecem.

De repente percebes que não és só tu que precisas do pico — o pico também precisa de ti. Não eras
só tu que estavas há espera do pico — o pico também estava à tua espera. Nessa tua união, toda a
Existência vai celebrar.

OK, Vimal?

Sim, Osho.
Discutindo com o Oceano

Tarde do dia 13 de Fevereiro, 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, Paltudas diz, “Toda a Arte aparece no seu próprio tempo, então porquê ficar
impaciente? Não interessa o quanto lhe ponhas água, a Árvore apenas dá frutos no seu próprio
tempo.” Osho, por favor, fala algo sobre a impaciência no caminho espiritual. É a impaciência uma
parte essencial do crescimento humano? Por favor comenta.

É verdade que tudo se dá no seu devido tempo — mas isso é apenas uma meia-verdade.

Paltudas diz, “Toda a Arte aparece no seu próprio tempo, então porquê ficar impaciente? Não
interessa o quanto lhe ponhas água, a Árvore apenas dá frutos no seu próprio tempo.” Mas isso não
significa que não tenhas de regar a Árvore; isso não significa que não tenhas de plantar as sementes.
Também as sementes tem de ser plantadas no seu devido tempo — apenas assim é que os frutos
podem vir no seu próprio tempo.

O que Paltudas diz é apenas metade do todo. Desde a semente ao fruto é uma longa Jornada, e é
necessário uma grande Paciência da parte do Jardineiro. Mas a paciência não se pode transformar em
preguiça, porque a diferença é muito delicada e fina. A paciência deve permanecer, no seu Coração
os Corações, muito impaciente — sabendo muito bem que quando a Primavera chegar, as Flores irão
aparecer. Isso não significa que tenhas de esquecer o desejo, a vontade, para que a Primavera
apareça; rezando, esperando, a Primavera a chegar. Espera — mas a tua espera não deve ser uma
seca, deves continuar vivo e atento.

O Convidado irá chegar — e uma Pessoa nunca sabe quando é que o Convidado chega; mas espera
tal como se fosses um Amante, com as portas abertas, os olhos fixos na estrada… tal como se o
próximo momento fosse o encontro com o Convidado, com o Amigo.

No lado espiritual, coisas que normalmente parecem ser contraditórias tornam-se complementares.
Sê impaciente pacientemente, ou sê paciente impacientemente; mas ambos tem de andar juntos. Se
escolheres apenas um, há perigo. A Paciência só por si vai-se tornar preguiçosa; a impaciência, se
estiver só, vai tornar-se desnecessariamente em angústia, ansiedade. Ambas são precisas,
equilibradamente; então, a impaciência mantém-te a desejar, há espera, e a Paciência impede-te de
ficares tenso, de criar ansiedade dentro de ti. Ambas tem a sua parte a cumprir no lado espiritual.

E não é só esta contradição; acontece o mesmo em muitas outras contradições. Uma Pessoa tem de ter
as duas coisas numa Harmonia profunda. O que é que achas que isto é — o Jardineiro? Paltudas
esqueceu-se completamente de que a questão fundamental é sobre a semente, e não sobre o
Jardineiro, porque o Jardineiro vai permanecer o mesmo; não vai haver crescimento, espiritual ou
não-espiritual. O crescimento vai acontecer à semente, e se a semente for muito paciente, vai morrer;
vai perder o desejo de viver, o charme de viver.

Antes de as chuvas chegarem, tem de se passar vários meses. Se se tornar muito paciente, morre
antes de nascer. É preciso uma certa impaciência da parte da semente — um desejo gigantesco de
crescer, de florescer, de chegar à fase do fruto.

Mas mesmo que haja um tremendo desejo e vontade de crescer, vai acontecer no seu próprio tempo.
O teu desejo não consegue fazer com que a Primavera apareça um pouco mais cedo, mas consegue
manter-te acordado — para que quando a Primavera chegar, não estejas a dormir ou morto.

A semente tem de continuar a sonhar, a desejar… tem de continuar descontente com a sua forma atual,
porque esse não é o seu destino, é apenas algo potencial — de outra forma, está vazia. Tudo vai
acontecer no futuro, então, tem de ficar alerta, com esperança, com atenção ao desconhecido, ouvir
os passos da Primavera que se aproxima. E pelo outro lado, tem de ser paciente, porque não há nada
que possa fazer para trazer as chuvas ou para trazer a Primavera — elas virão no seu próprio tempo.

Então, se a semente conseguir manter um balanço entre o a paciência e a impaciência, vai permanecer
viva, e também não ficará louca. Impaciência a mais pode tornar-te louco, e paciência a mais pode
tornar-te um morto-vivo. Ambas são precisas na sua proporção devida: uma Harmonia profunda entre
as contradições, para que sejam transformadas em energias complementares.

No caminho espiritual, é necessário uma Harmonia profunda em cada passo — basta um pequeno
desequilíbrio e estarás perdido. E é isso mesmo que as Religiões te tem ensinado: elas tem ensinado
o desequilíbrio, e não o equilíbrio. Elas tem falado para escolheres entre duas contradições.

Digo-te o seguinte: Nunca escolhas.

Permanece sempre sem escolher nem um nem outro. Ambos são teus. Usa-os — usa-os de tal forma
que ambos criem uma bonita música no teu Coração. Parece algo muito estranho de se dizer, mas
nada pode ser feito em relação aos mistérios da Vida.

Eu apenas posso dizer — apesar de parecer muito contraditório — sê paciente impacientemente, ou


sê impaciente pacientemente — mas que sejas ambos.
Segunda pergunta

Querido Osho, há poucos anos atrás fiz-te uma pergunta, estava com muito medo e tremia muito:
“Osho, é inevitável eu ficar louco?” E agora querido Osho, finalmente acabou por acontecer: fiquei
louco. Obrigado Osho, obrigado.

Anand Vimal, isso é óptimo! Regozija-te na tua loucura!… porque neste Mundo, aonde toda a
Humanidade é louca, tornar-se são parece que se fica louco.

Temos de nos recordar de alguns critérios: se a tua loucura te traz Alegria, mais inteligência, mais
Silêncio, mais Paz, mais Compreensão; se a tua loucura dispersa a escuridão da tua Vida —
escuridão ou ciúme, fúria, violência, destruição; se a tua loucura se torna uma luz em si… então
todos os Buddhas no Mundo eram loucos.

E é melhor estar na companhia de um bom, louco Gautam Buddha, Lao Tzu, Kabir, Nanak, Mahavira,
do que antes ficar no meio da chamada multidão, milhões de Pessoas que pensam todas que não são
loucas. Uma Pessoa tem de ser muito clara: se Gautam Buddha está correcto, então o Mundo inteiro é
louco; e se o Mundo inteiro está correcto, então é claro que Gautam Buddha é louco.

Uma coisa é certa, os Buddhas são uma pequena minoria; então, se é uma questão de voto, eles vão
ser derrotados — qualquer Homem louco, qualquer Homem maluco, pode derrotá-los. Mas
felizmente, a ideia de que a Iluminação tem de ser decidida por votos ainda não chegou à cabeça das
Pessoas. Se estiverem duas Pessoas a candidatarem-se para a Iluminação, e se o que tiver mais votos
se torna iluminado graças à votação, então uma coisa é certa — o veerdadeiro iluminado nunca vai
ser reconhecido no Mundo, porque é impossível de conceber um Gautam Buddha competir pela
Iluminação. A própria ideia de competição é irrelevante para a Consciência de um Buddha.

Então tens de te lembrar — as Pessoas vão-te chamar de louco; não te sintas ofendido. Se ficares
ofendido, é porque algo em ti ainda está sano, algo dentro de ti ainda pertence ás massas; não estás
completamente louco.

Não te sintas ofendido; ao invés, aceita isso com gratidão, de fores abençoado pela loucura. É um
facto muito estranho de que apenas as Pessoas sãns podem aceitar que são loucas. Nenhum Homem
louco em toda a Históia da Humanidade alguma vez aceitou que fosse louco. Podes ir a qualquer
manicómio, e não irás encontrar um único Homem louco a dizer que é realmente louco.

Um dos melhores amigos de Kahlil Gibran ficou louco, e Gibran foi então vê-lo no manicómio. O seu
Amigo estava sentado num banco no meio da relva. Kahlil Gibran estava com imensa compaixão
para com ele. O louco riu-se; e disse, “Não sintas compaixão por mim.” Kahlil Gibran não conseguia
compreender porque é que o Homem tinha ficado tão zangado com a sua demonstração de
compaixão.

O Amigo disselhe, “Sinto compaixão por todas aquelas Pessoas que estão do outro lado deste muro.
O Mundo está louco. Apenas um pequeno número de Pessoas que não estão loucas é que foram
enfiadas nos manicómios, apenas por razões de segurança. Quem é que permitiu a tua entrada? Nós
não estamos loucos, e não precisamos da tua compaixão.”
Eu já visitei muitos asilos de loucos, mas nunca encontrei um único Homem que aceitasse o facto de
ser louco; porque aceitar que se é louco significa que se é são o suficiente para se poder ver a sua
própria loucura.

A pergunta que fiz a Vimal — e logo sentado ao lado está Narendra. O seu Pai tinha uma doença bem
esquisita: durante seis meses ele ficava louco e nos outros seis meses ficava são mentalmente — um
grande balanço aonde se pode desfrutar de ambos os mundos. Sempre que ficava são, ficava sempre
doente, a queixar-se constantemente. Perdia peso, e era vítima de todo o tipo de infecção; todas as
suas resistências a doenças eram perdidas. E nos seis meses em que ficava louco, era a Pessoa mais
saudável que se podia encontrar — sem doenças, sem infeções — e estava sempre contente.

A Família tinha problemas. Sempre que ele ficasse contente, a Família tinha problemas, porque a sua
felicidade era um indicador de que estava louco. Se ele não estivesse s ir aos Médicos, se ele estava
a desfrutar da sua saúde — estava louco.

Quando estava louco, levantava-se bem cedo de manhã, às quatro da madrugada, e acordava a
vizinhança toda dizendo, “O que estão a fazer? Vamos dar uma caminhada matinal, ir ao Rio, nadar
com alegria. O que é que estão a fazer na cama?”

Era uma tortura para toda a vizinhança… mas ele gostava disso. Quando ia comprar fruta e doces
costumava dizer, “Podes vir à minha loja e receber o teu dinheiro.” Naturalmente — Narendra era
muito pequeno, e os seus outros irmãos eram ainda mais pequenos — até mesmo as mais pequenas
Crianças o observavam, era nunca roubava o dinheiro. Mas quer olhassem para ele ou não, ele
continuava a distribuir frutas e doces às Pessoas e dizia, “Alegrem-se! Porque é que estão tão
tristes?” Naturalmente, ela tinham de pagar a todo o tipo de Pessoas.

Era uma situação muito estranha. As Crianças roubavam dinheiro, e os Pais, e os Avós, preveniam
isso. Na casa de Narendra, a situação era exatamente a oposta: o Pai costumava roubar o dinheiro, e
as Crianças pequenas gritavam à Mãe: “Ele está a roubar o dinheiro outra vez!”

E quando a Mão finalmente chegava, ele já tinha partido — já ia em direção o mercado para comprar
doces, frutas, ou o que quer que fosse. Ele não se preocupava com coisas pequenas — simplesmente
comprava e distribuía tudo. E toda as Pessoas o adoravam, mas ao mesmo tempo eram torturadas.

Certa vez aconteceu que ele escapou quando estava louco. Dirigiu-se à estação de comboios, e o
comboio estava lá, então sentou-se dentro dele. Uma coisa levou à outra… e chegou até Agora.

Existe um doce muito especial na Índia; o seu nome é tão especial que pode até criar problemas, e
acabou por criar problemas a ele. Ele estava com muita fome, então dirigiu-se a uma loja e perguntou
o que era aquilo, o dono respondeu, “Khaja.” Khaja em Hindú significa duas coisas: é o nome desse
doce, mas também significa, “Come-o”… então ele comeu-o.

O dono da loja nem queria acreditar. Gritou, “O que estás a fazer?”

Ele respondeu, “O que tu disseste.”


Foi arrastado para um tribunal porque, “Este Homem é estranho. Primeiro pergunta o nome do doce,
e quando eu disse ‘Khaja’, começou a comê-lo!”

Até o Magistrado se riu. E disse, “A palavra tem dois significados. Mas este Homem parece ser
louco — porque parece ser muito feliz, e muito saudável.” Até mesmo durante o julgamento ele
estava a gostar de tudo — sem medos, não mostrou nenhum sinal de medo. Foi enviado para um
manicómio durante seis meses, e ele perguntou alegremente, “Apenas seis meses?”

Foi enviado para Lahore — nesses tempos Lahore ainda fazem parte da Índia — e apenas graças a
uma grande coincidência… havia um detergente para as casas de banho; passados quatro meses
dentro do manicómio de Lahore, ele bebeu o frasco todo e deu-lhe vómitos. Durante quinze dias não
conseguis comer nada… mas limpou-lhe o corpo todo por dentro — então ficou são!

Foi aí que começou um período de grandes dificuldades para ele. Dirigiu ao supervisor e disselhe,
“Bastou-me apenas beber aquile produto, e durante quinze dias não consegui comer nada, e todo o
meu corpo foi limpo. Tornei-me são.”

O Supervisor respondeu, “Não me chateies, todos os malucos pensam que não são loucos.”

Ele bem que tentou convencê-lo, mas o Supervisor disse, “Todos os dias é a mesma coisa — todos
os loucos pensam que estão bons.”

Ele contou-me que esses dois meses foram mesmo muito problemáticos. Os primeiros meses, pelo
contrário, foram lindos: “Alguém me puxava a perna, ou então alguém cortava o meu cabelo —
estava tudo bem. Quem é que se importa? — alguém se sentava em cima de mim… e então?

“Mas quando fiquei são, e continuavam a fazer tudo da mesma maneira — agora já não conseguia
tolerar o facto de alguém se sentar em cima de mim, ou alguém a cortar o meu cabelo, ou a cortarem
metade do meu bigode…”

Eram todos loucos. E no meio de tantas Pessoas loucas, ele era o único que era são. Nunca nenhuma
Pessoa louca aceita o facto de que é louca. No momento em que aceita que é louca, a sanidade
começa a aparecer.

Anand Vimal, o facto de tu aceitares que uma grande loucura te aconteceu, é uma altura de grande
celebração para aqueles que ou já ficaram loucos ou estão no caminho de se tornarem…

There are all types of people here at different stages of craziness. But don’t be satisfied. Rejoice! —
but remember that there are still crazier states. A moment comes when you start talking with the trees,
playing with the stones, arguing with the ocean… because your very idea of being separate has
disappeared. Now this whole existence is one organic unity.

E não é como quando tu falas com uma Árvore e ela não te responde; se fores louco o suficiente, há
um diálogo. Talvez por uma vez tenhas de falar pelo teu lado; uma outra vez tenhas de falar pela
Árvore — porque a Árvore não pode falar, mas tu consegues compreender o que ela quer dizer.
Lembrem-se apenas do critério fundamental — de que a vossa felicidade, a vossa Alegria Suprema
deve continuar a crescer; a vossa inteligência, a vossa clareza deve continuar a crescer; o vosso
Amor deve continuar a ser cada vez mais e mais puro… e a vossa compreensão deve começar a dar
percepção das tuas Vidas Passadas e das tuas Vidas Futuras. Tu vais-te tornar parte da Eternidade —
espalhado desde o início ao final de tudo. Naturalmente, as Pessoas à tua volta pensarão que ficaste
maluco. Mas digo-te: para mim tornaste-te pela primeira vez são.

O Homem, no seu dia-a-dia comum, é louco.

Tudo o que ele faz — e podes observar isso… e vais descobrir que sai diretamente da loucura. A tua
loucura não é a comum insanidade da Humanidade; é a loucura de todos os Místicos, de todos os
Poetas, de todos os Criadores. É a loucura que acontece apenas aos abençoados.
Terceira pergunta

Querido Osho, flutuando no Mar de Amor que te rodeia, sinto-me a expandir constantemente… Uma
ferida profunda que se encontra dentro de mim está a sarar. Na verdade não consigo expressar o que
me está a acontecer. Parece que é quando depois de uma tempestade, o céu fica mais claro, dando
passagem a uma manhã esplendorosa de uma beleza fora do comum, que tem sido tapada por
camadas pesadas de dor, angústia e auto-martírio. Lágrimas de gratidão jorram por ti, meu Mestre,
enchem-me os olhos. Para mim, não és apenas o Mestre do Amor, mas também és um Mestre da
chama. Por favor, podes manter a minha chama a arder até chegarmos à explosão final — ou será uma
implosão? Não sei mais o que perguntar, e no entanto, para mim é a pergunta mais importante da
minha vida.

Premda, certamente é uma das perguntas mais importantes — não só da tua Vida, mas também da
Vida de todas as Pessoas.

Mas aquilo que tu procuras não pode ser expressa pela palavra “explosão”; apenas pode ser
expressa pela palavra “IMplosion”. A Realidade não está em algum sítio fora de ti; tu és a
Realidade. Então, se toda a tua energia começar a mover para dentro — tal como uma Lótus a fechar
as suas pétalas — descobrirás qual tem sido a maior procura e exploração de todos os Seres
Humanos ao longo de séculos. E esta é a única vivência que irá permanecer também no futuro — a
procura.

A Existência pode ser dividida em três categorias: o conhecido, o desconhecido, e o indecifrável. A


Ciência apenas acredita em duas categorias: o conhecido e o desconhecido. Não existem muitas
diferenças entre o conhecido e o desconhecido — apenas uma pequena diferença — porque o que é
conhecido hoje, era desconhecido ontem; e o que é desconhecido hoje pode tornar-se conhecido
amanhã. Então a diferença não é qualitativa, mas apenas quantitativa.

E como a Ciência apenas aceita duas categorias, parece certo de que o nosso mundo do conhecido
está a tornar-se cada vez maior, e o nosso mundo do desconhecido está a encolher, tornando-se algo
muito pequeno. Cada dia que passa um pedaço do desconhecido torna-se conhecido. Podemos crer
que um dia apenas haverá uma única categoria — o conhecido. Todo o desconhecido vai desaparecer
no conhecido. Isso não é um grande futuro; é até muito perigoso.

Se um dia chegarmos a um ponto aonde tudo se torna conhecido, a Existência ficará desmistificada.
Então o Sor será apenas hormonal, química. Não haverá qualquer possibilidade de haver Poesia, não
haverá qualquer possibilidade de haver Beleza — será apenas uma fachada. Não haverá nada que
possibilite qualquer indicação do misterioso, do miraculoso.

Todos os mistérios terão desaparecido, todos os milagres desaparecerão, e o Homem chegará a um


beco sem saída, aonde a Vida não terá mais desafios — nenhuma aventura, nada o que explorar,
nenhum sítio aonde ir. Não é de todo inconcebível o facto de que as Pessoas que andam sempre a
explorar, a aceitar desafios do desconhecido, queiram cometer suicídio, porque agora já não há nada
mais o que as interesse.

Mas não há necessidade de cair numa atitude triste ou pessimista, porque a Ciência ainda não cobriu
toda a Existência nas suas duas categorias. A categoria mais importante permaneceu de fora — e essa
é a categoria do indecifrável, esse é o Mundo da Religião.

Na Ciência, o conhecido cresce cada vez mais e mais, e o desconhecido vai tornando-se cada vez
mais e mais pequeno. Na pesquisa religiosa, acontece exatamente o oposto — porque a Ciência
significa ir para fora e a Religião significa ir para dentro; é uma implosão.

Há medida que te aprofundas, o indecifrável torna-se cada vez mais e mais indecifrável, o mistério
adensasse, o milagroso expande-se. Ficas envolvido por um País das Maravilhas aonde tudo é lindo
— aonde tudo pode ser vivenciado mas não pode ser convertido em conhecimento.

Premda, tu dizes que eu devo continuar a queimar-te até chegares ao ponto de implosão. No que me
diz respeito, eu prometo-te. No que te diz respeito, tens de te lembrar de não fugir — porque é uma
questão de chama, e tu estás a entrar dentro do fogo.

Para o Fogo, não há qualquer problema em prometer-te. Qualquer Fogo atrair-te, “Querido, vem!” O
problema é com a atração — de que há medida que se aproxima da chama, torna-se cada vez mais
quente e mais quente e mais quente… e há um desejo enorme em fugir, e não em se aproximar —
porque parece que te vai consumir.

Lembra-te da minha promessa — e tu também prometeste a ti próprio de que não vais escapar;
mesmo se aparecer a Morte, vais continuar. E a Morte vai aparecer — porque toda a tua
personalidade tem de morrer; mas o Ser Interior não faz parte da tua personalidade. O teu Ego tem de
morrer. Na morte do teu Ego está a ressurreição da tua Alma. No momento em que morres, Deus
nasce. A Morte é o preço que tem de ser pago.

Então, eu vou manter a minha promessa. Tu não tens de esquecer a tua promessa — dada a ti próprio,
não a mim. É uma exploração totalmente tua; estás a ir para dentro de ti. Eu continuarei a empurrar-
te. Eu continuarei a tapar todos os caminhos pelos quais possas escapar. Continuarei a partir todas as
pontes que tenhas passado, para que não possas retornar. Mas lembra-te da tua promessa: o que quer
que aconteça, a não ser que tenhas chegado ao teu Ser Interior, não pararás.

Tu nunca chegarás ao teu Ser Interior. Quando estiveres a chegar ao teu Ser Interior, irás desaparecer
— e no teu lugar encontrarás uma face totalmente nova, à qual nunca tinhas visto. Essa é a tua face
original.

Quando a personalidade morre, a tua individualidade é descoberta. Quando todas as máscaras caem,
descobres a tua face original.

É uma das perguntas mais importantes, não apenas de Premda, mas de qualquer Pessoa que queira
viajar à procura da sua própria Alma, à procura da sua própria casa.

Deus, o Pai — apenas mais um urso de peluche


Tarde de 17 de Fevereiro de 1987, no Auditório Chuang Tzu
Primeira pergunta

Querido Osho, quando o meu Pai morreu há dez anos atrás, ele era a minha última razão de viver.
Depois desta vivência bem forte, sinto-me cada vez mais sozinho a cada dia que passa. Mas quando
te conheci, foi como encontrar-me com o meu Pai novamente. Mas agora, contigo, sinto-me cada vez
mais sozinho. Querido Osho, o que posso fazer? Será a solidão o meu caminho?

Prem Matwala, a solidão não é o único para a Verdade, é o caminho de todos. É o único caminho.
Toda a forma como encaras-te, desde o início, foi errada. Primeiro, a Vida é uma razão em si. No
momento em que fazes algo mais uma razão para viver, foste para o caminho errado.

Tu dizes, “Quando o meu Pai morreu há dez anos atrás, ele era a minha última razão de viver.” Essa é
uma forma muito perigosa de se encarar as coisas, uma forma errada de se olhar e viver. O Pai de
qualquer Pessoa no Mundo vai morrer mais cedo ou mais tarde. O Pai do teu Pai já deve estar
morto… e mesmo assim ele continuou a viver.

Tu ainda não viveste por ti, sempre precisaste de mais alguém para ser a tua razão de viver. Essa
razão pode desaparecer a qualquer momento: o Pai vai morrer, a Mãe vai morrer, a Mulher pode ir-
se embora com outra Pessoa, o negócio pode ir à falência. Se tu fizeres de algo a tua razão de viver,
além do teu próprio Ser, estás a insultar-te a ti próprio, estás a humilhar-te a ti próprio — e este tipo
de humilhação está a ser suportado; o teu Pai deve tê-la suportado.

Todo o Pai quer, e toda a Mãe quer que os seus filhos vivam por eles. É uma exigência bem estranha:
se tiver de ser cumprida, então ninguém poderá viver neste Mundo. Tu tens de viver pelo teu Pai, e o
teu Pai tem de viver pelo seu Pai, mas ninguém pode viver por si próprio, e a não ser que vivas por ti
próprio, nunca poderás encontrar a Alegria, nem a Alegria Suprema. Degradas-te a tua Vida; perdes-
te a tua dignidade, o respeito por ti próprio.

O teu Pai teve de viver por ele próprio e teve de morrer por ele próprio. Tu não podes morrer pelo
teu Pai; como é que podes viver pelo teu Pai? E não é um insulto ao teu Pai o facto de viveres por ti.

Se os meus fossem realmente conscientes, ajudariam as suas Crianças a não serem dependentes
deles, para não terem nenhum tipo de fixação — fixação pelo Pai, fixação pela Mãe; todo o tipo de
fixação provém da mente patológica. Apenas a Liberdade, e vivendo por si próprio totalmente, é o
sinal de uma boa saúde espiritual.

Depois, encontraste-me e começas-te exatamente com a mesma velha história. O teu Pai morreu e tu
tiveste de viver sozinho todos os dias. Será que não conseguias encontrar um Amigo? Não poderias
encontrar uma Mulher a quem amar? Não poderias criar a tua própria Vida, focada na Música ou na
Poesia ou na Dança ou na Pintura? O Pai não ai ficar contigo para sempre… E depois, quando me
encontraste, passaste a fixação que tinahs do teu Pai para mim — sem sequer me pedires permissão.
Tinhas uma fissura e pensaste que tinhas encontrado um Pai.

Não é uma coincidência o facto de as Religiões chamarem a Deus “O Pai”. Estas são as ideias de
Pessoas doentes psicologicamente. Os Cristãos chamam os seus Padres de “Pai”. Essas Religiões
que chamam Deus de “Pai” e as Religiões que chamam os seus Padres de “Pai” — ao invés de te
ajudarem a sair da tua patologia, da tua doença — ajudam-te sim a ficar ainda mais doente, a ficares
mais patológico. Todo o seu negócio depende da tua doença.

Deverias pelo menos ter-me perguntado se eu estaria disposto a ser o teu Pai. Nesse mesmo dia eu
tentaria persuadir-te a mudares a tua direção. A Vida por si só é o suficiente. Uma Pessoa não vive
por mais alguém. Mesmo se amares mais alguém, amas por causa de ti próprio, porque te sentes
alegre. O outro é apenas uma desculpa. Se desfrutares da amizade, é uma alegria tua; os Amigos
apenas estão a ajudar-te a completar o teu desejo.

A Vida tem uma saúde, e apenas a Pessoa saudável, a Pessoa psicologicamente saudável, pode
descobrir o seu Ser Espiritual. A Pessoa doente não se pode mover, pois está muito envolvida com
os seus desejos patológicos — os quais vão permanecer incompletos, os quais vão permanecer como
se fossem feridas. De outro modo, a morte do teu teria ajudado imensamente a tornares-te consciente
de não depender de ninguém mais novamente.

Mas tu não usas-te a tua inteligência de jeito nenhum. Foi a dependência do teu Pai que criou a
tristeza, a miséria. Agora o Pai foi-se; o primeiro passo de qualquer Pessoa inteligente seria de que
isto já não voltaria a acontecer novamente. Cada Pessoa tem de aprender a estar sozinha.

Isso não significa que tenhamos de nos afastar dos nossos Amigos, da Família, das Pessoas, da
Sociedade — não. A arte de viver sozinho não significa renunciar ao Mundo; a arte de estar sozinho
simplesmente significa que tu não estás dependente de mais ninguém. Tu desfrutas das Pessoas, tu
amas as Pessoas, tu partilhas tudo com as Pessoas, mas também és capaz de estar sozinho, e no
entanto, com Alegria. Esse é o caminho da Meditação.

Chegaste aqui acidentalmente, e cometeste o mesmo erro novamente: substituís-te o teu Pai morto por
mim. Começas-te a olhar para mim como se eu fosse o teu Pai. Mas eu não sou o Pai de ninguém…
Eu nem sequer sou casado!

É realmente muito estranho que Deus, que nem sequer é casado, é chamado de “Pai”; Padres, que
nem sequer são casados, que não tem Crianças, são chamados de “Pai”. Mas eles são chamados de
“Pai” porque mais dia menos dia, toda a Pessoa vai perder o seu Pai; então eles serão o substituto.
São os Pais substitutos, mas eles são também mortais, então também podem morrer em qualquer dia.
Até mesmo o Papa pode morrer de um dia para o outro. Então os religiosos criaram um Pai Eterno —
pelo menos Deus vai permanecer ao teu para sempre; e todas as Religiões definem Deus como
estando em todo o lado — Omnipresente; Todo-Poderoso — Omnipotente; que sabe tudo —
Omnisciente.

Certa vez ouvi falar de uma Freira que costumava tomar o seu banho numa casa-de-banho com as
suas roupas vestidas. As outras Freiras aperceberam-se disso e pensaram que era algum tipo de
loucura. Perguntaram à Freira, “O que é que se passa? Porque é que não tiras as tuas roupas e tomas
um bom banho?”

Ela respondeu, “Como é que posso fazer isso? Deus está presente em todos os sítios.” Até mesmo na
casa de banho, com as portas fechadas, tu não estás sozinho. Parece que Deus é um mirone, então,
sempre que feches a porta da casa de banho, olha bem à tua volta — ele deve estar escondido em
algum canto a ver o que acontece.

A Freira tinha razão na sua lógica, porque se a hipótese de Deus ser Omnipresente for verdadeira,
então certamente ele não pode sair da casa de banho apenas porque uma Madame esteja a tomar
banho — ele não é um grande Cavalheiro. E mesmo que ele estivesse lá fora, se a Madame estivesse
a tomar banho, ele entrava na casa de banho; a Freira estava a fazer a coisa mais lógica.

Mas este Deus foi criado apenas para ajudar aquelas Pessoas que estão sempre a precisar de uma
figura paternal que as proteja, que seja uma segurança para elas, que seja a sua conta bancária. Sem
ele, elas ficarão sozinhas na vasta Existência. Tu carregas-te essa ideia até mesmo aqui. Mas eu não
posso suportar a tua patologia. Eu estou aqui para destruir todos os tipos de patologia doentias, para
te dar um bem estar espiritual.

O primeiro princípio é: Liberdade para todos: Pai ou Mãe, Marido ou Mulher. E lembrem-se, repito
novamente, Liberdade não significa que tenhas de renunciar. De facto, as Pessoas que renunciam não
são livres: elas renunciam baseadas no Medo; elas tem medo se não saírem de casa, não conseguirão
ser livres. Mas elas não podem ser livres em casa, elas não podem ser livres nem nos Himalaias. Até
podem estar sentadas sozinhas nos Himalaias, mas estarão a pensar nas suas Mulheres, nas suas
Crianças, nos seus Pais, nas suas Mães, nos seus Amigos. Uma multidão inteira estará lá.

Tens de aprender a Arte da Meditação. Toda a Arte consiste num único e simples facto: move-te para
dentro, porque aí não há Sociedade, nem Pai, nem Mãe; estás sozinho — completamente sozinho.
Move-te para dentro e encontra o teu Ser; e de repente a tua solidão irá passar por uma
transformação; a tua solidão ficará sozinha. A solidão é doentia, estar sozinho é lindo, imensamente
bonito.

Tu dizes, Matwala: “Agora, contigo, eu sinto-me cada vez mais sozinho.” Esse é o meu propósito,
fazer as Pessoas sentirem-se cada vez mais sozinhas. Mas lembra-te, sentir-se sozinho não é solidão.
A distinção é bem subtil, mas tem de ser claramente compreendida: quando te sentes sozinho, sentes a
falta de alguém; quando perdes-te o teu Pai, estavas a sentir-se só. Se não sentes falta de ninguém e
encontraste-te, então estarás sozinho mas não só.

E estar-se sozinho é lindo. Todas as penas caíram, todas as relações desapareceram, não há nada a
poluir o teu consciente. És como uma velha Árvore bem alta, sozinha os céus; quanto mais alto fores,
mais sozinho ficarás.

Então, se quando estiveres aqui te sentires cada vez mais sozinho, isso é perfeitamente bom. Mas eu
sei que tu usas-te uma palavra mal, tu querias dizer, “mais e mais sozinho”. Se te estivesses a sentir
sozinho, também sentirias uma grande Alegria a crescer dentro de ti — uma Alegria que apenas a
Liberdade pode trazer, uma Alegria Suprema que chega até ti a partir do teu âmago. E uma vez que te
estás a conhecer, sabes que não existe Morte; daí, não há necessidade de qualquer tipo de segurança,
de nenhum tipo de proteção.

A partir dessa solidão ergue-se o Amor — vais ficar surpreso quando o ouvires — porque apenas um
Homem que esteja cheio de Amor é que pode amar. Apenas um Homem que esteja a abarrotar de
Alegria Suprema é que pode partilhar, é que pode dar a mais alguém como sendo um presente. O
Amor não é nada mais do que a partilha da tua Alegria — mas primeiro tens de encontrar o centro do
teu Ser.

Matwala, tu perguntaste, “O que posso fazer? Será a solidão o meu caminho?”

É de certeza também o teu caminho, mas também é o caminho de todos. É o único caminho. Mas
lembra-te da diferença entre solidão e estar só: a solidão é uma doença e tem de ser destruída; estar
sozinho é uma revolução dantesca — Liberdade para todos, sem dependência de nada, sem asfixias.
És o suficiente para ti; nada mais é preciso.

Lembraram-me agora de quando Alexandre o Grande se encontrou com Diogenes. Diogenes


costumava viver todo nu. Fora da Índia, talvez ele tenha sido o único Homem que se possa comparar
a Mahavira.

Na Índia, tem havido muitos grandes Mestres que viveram nus, mas o Oeste apenas conhece um
Homem, Diogenes. E tem vindo a ignorá-lo, a ignorar a sua filosofia. Ele era um Homem tão raro que
até Alexandre o Grande o queria conhecer, uma vez que já tinha ouvido muitas histórias bonita acerca
desse Homem.

Certa vez disseram-lhe que Diogenes carregava uma lanterna em plena luz do dia, uma lanterna
acesa. E sempre que lhe perguntavam, “Que espécie de loucura é essa? Primeiro, andas todo nu;
depois, em plena luz do dia carregas uma lanterna acesa?” Diogenes costumava dizer, “Estou nu
porque as roupas eram uma dependência. Tinha de perguntar a mais alguém, e isso não me agrada. E
levou-me apenas alguns anos a tornar-me como os Animais a acompanhar as diferentes estações.
Agora já não sinto o Verão, já não sinto a chuva, já não sinto o Inverno; antes pelo contrário, eu
desfruto das mudanças das estações. E carrego a lanterna acesa porque ando à procura de um Homem
autêntico. Eu quero ver a cara de todas as Pessoas para ver se carregam alguma máscara ou não.”

E as Pessoas costumavam perguntar-lhe, “Já alguma vez encontraste alguém que tivesse a sua cara
original?”

Ele respondia, “Ainda não.”

Alexandre ouviu que no início, Diogenes costumava andar com uma taça a pedir — tal como
Gautamm Buddha. Certo dia, Diogenes estava a ir em direção ao Rio, pois estava com sede — com
muita sede. Era um dia de Verão bem quente, e quando estava a chegar perto do Rio, um Cão passou
a correr por ele, saltou para o Rio e começou a beber a água.

Diogenes pensou, “Isto é ótimo! Já nem preciso da taça de pedinte nem nada mais. Ele estava atrás de
mim e saltou para a minha frente. Se um Cão consegue desenvincilhar-se sem ima taça de pedinte,
está para além da minha dignidade carregar tal objeto.” Ele começou por atirar a taça para o Rio, e
depois saltou lá para dentro, tal como se fosse umCão, e bebeu. Em seguida falou, “Que Alegria”.

Alexandre ouviu muitas histórias desse tipo. Então, quando estava a chegar à Índia, disseram-lhe que
Diogenes estava muito perto dali, pois estava a morar em frente a um Rio, Alexandre parou e disse,
“Gostaria de ver tal Homem. Não quero desperdiçar esta oportunidade, ouvi falar tanto desse
Homem.”

Era de manhã, uma manhã de Inverno, e o Sol estava a erguer-se. Diogened estava deitado na praia
do Rio, a tomar um banho de Sol. Nem sequer se levantou quando Alexandre chegou ao pé dele.
Alexandre disse, “Ouvi falar muito de ti e adorei todas essas pequenas anedotas sobre a tua Vida.
Queria ver-te, e bastou ver-te para entender que és um Homem muito bonito.”

Ele tinha um corpo muito bonito, tal como se fosse uma estátua, e estava tão alegre que Alexandre
falou, “Gostaria de dar-te um presente. Basta pedires — pode ser qualquer coisa! Não te sintas com
vergonha. O que quer que peças — mesmo que peças todo o meu Império — darei-te.”

Diogenes começou a rir. E falou, “não é por causa disso que me sinto embaraçado. Vou pedir outra
coisa… por isso é que me estou a sentir embaraçado.”

Alexandre disse, “Bast disseres.”

E Diogenes falou, “Desvia-te apenas um pouco para o lado, pois estar a tapar-me o Sol e eu queria
tomar um banho de Sol, e ainda não está na hora dos encontros.” E fechou os olhos.

E foi apenas isso o que ele pediu ao Homem que era O Conquistador do Mundo. Alexandre deve ter-
se sentido como se fosse um mendigo quando comparado a Diogenes. Pois ele não se importava
minimamente com o Império que Alexandre tinha, e no entanto, sentia-se envergonhado por pedir uma
coisa tão pequena: “Desvia-te um pouco para o lado. Pois estou a tomar um banho de Sol.

Este tipo de Pessoa conheceu a beleza da solidão. Não se deixam queimar por nada. Não vos estou a
dizer que tem de andar nus, que tem de se desfazer de todas as vossas poses. De vez em quando, um
Diogenes é bom — mas estou certamente a dizer-vos, não devem ser possessivos. As possessões não
interessam; não deves se possessivo. Podes usar tudo o que foi disponibilizado para ti pela
Existência — mas não fiques agarrado a essas coisas.

Eu já fui condenado em todo o Mundo por causa dos meu noventa e três Rolls Royce — mas ninguém
se deu ao trabalho de notar de que eu não olhei para trás: o que aconteceu a esses noventa e três
Rolls Royce? Podes ter o Mundo inteiro nas tuas mãos; mas o ponto principal é: não fiques preso. Eu
nunca olhei para trás.

Alguns Sannyanos até chegaram a comprar esses Rolls Royce, pensando que se eu voltar a precisar
deles podem dar-me novamente. Escreveram-me cartas, ligaram-me: “Temos um dos carros e não
estamos a usá-lo. Estamos a guardá-lo; se o quiseres de volta…”

Eu respondi, “O que passou, passou. Usa-o; desfruta dele. Lembra-te apenas que o teu Mestre nunca
olhou para trás por nada.”

A realidade é que tu não possuis nada — simplesmente não sejas possessivo. Desfruta de tudo o que
há no Mundo — é para ti; mas desfruta disso da mesma forma que desfrutas do momento — não o
possuas. Não sejas como aqueles bêbados que estavam deitados aos pés de uma Árvore durante uma
noite de Lua cheia, eles estavam desfrutar da Lua. Um deles disse, “Por vezes penso em comprar a
Lua.” O outro respondeu, “Esquece isso, pois eu não a vou vender.” Simplesmente desfruta —
porque é que precisas de te preocupar em comprar ou em vender?

A tua Solidão é uma experiência, uma vivência bem profunda. É o experienciar da tua própria
Consciência. Nem sequer há uma sombra de miséria ou dor. É uma Alegria pura, é uma benção
absoluta, tal como se Deus te estivesse a dar um banho de chuveiro. Só quando estás sozinho é que
Deus te dá esse banhi — apenas nesse momento.

Então, Matwala, lembra-te que é o único caminho para a Alegria Suprema, para a Liberdade, para a
Verdade, para a divindade, para a Vida Eterna. Não fiques viciado em nada e não sejas fixo
psicologicamente — pelo teu Pai, pela tua Mãe, pelos teus Amigos.

Sempre que vejo Pessoas que são fixas — e são raras as Pessoas que não o são — lembro-me
sempre de Crianças pequenas nas estações de comboio, nos aeroportos, carregando os seus ursos de
Peluche — sujos, mal-cheirosos, pegajosos, quase que parecem italianos, como se estivessem
empanturrados com esparguete. Mas elas estão agarradas a eles, não conseguem dormir sem eles.
Aonde quer que vaiam, carregam os seus ursos de peluche.

Tu também tens os teus ursos de peluche, mas eles não são visíveis. Esse comportamento em
Crianças pequenas não é problema, mas as Pessoas deviam sair desse tipo de psicologia infantil; as
Pessoas deveriam tornar-se mais maduras.

Nenhum católico pode tornar-se maduro, nenhuma Pessoa religiosa pode tornar-se madura, pois há
sempre o urso de peluche lá de cima — Deus. Elas não conseguem viver sem uma falsa hipótese, uma
mentira, mas essa mentira ajuda — dá-te um certo conforto na tua miséria. Procurar esse conforto ou
consolação é permanecer retardado. Sai desse estado retardado e tornar-te maduro.
Segunda pergunta

Querido Osho, há um crescendo da minha Consciência quando eu “não sou eu”. Durante a Meditação,
quando estou na tua presença, nos bons momentos, não existe nenhum “Eu”. Amado Mestre, o que
queres dizer quando dizes, “Sê tu próprio?”

Prem Purna, foi uma das grandes afirmações proferida por Sócrates: Conhece-te a ti próprio”. Mas
eu sempre pensei que estava incompleta. A não ser que outra afirmação seja acrescentada a ela, não
será completa, e essa afirmação: “Sê tu próprio”.

Para te conheceres a ti próprio, primeiro tens de ser tu próprio; de outro modo, como é que podes
saber?

A segunda coisa: à medida que entras no misterioso Mundo interior, de ser tu próprio, de te
conheceres a ti próprio, vais chegar a um ponto aonde tomas consciência de que a palavra ‘Eu’ é
confusa — confusa no sentido de que tem dois sentidos. O seu significado real é a tua Alma; e o seu
pseudo-significado é o teu Ego. E é isso que está a criar o teu problema: sempre que usamos a
palavra ‘tu próprio’, normalmente queremos dizer o teu Ego, (your I-ness).

Quando Sócrates diz, “Conhece-te a ti próprio”, ou quando eu digo, “Sê tu próprio”, não estamos a
usar a palavra ‘tu próprio’ no sentido do Ego. Estamos a usar a palavra ‘tu próprio’ no verdadeiro
sentido da Alma — a tua Consciência. Isso explica o facto de estares intrigado e confuso.

Ficas confuso porque estás acostumado ao significado linguístico da palavra, e não à experiência
existencial dela. O teu ‘teu próprio’ como Ego estará ausente quando o ‘teu próprio’ como Alma se
torna presente em ti. Esses dois significados são muito perigosos. Tu podes ser um zego ou uma
Alma, e a palavra ‘tu próprio’ tem sido usada para ambos. Se queres conhecer-te s ti próprio, tens de
ser ausente do Ego, tal como se fosses uma entidade separada da Existência. Tens de te tornar uma
presença pura.

O Ego é a tua personalidade, o Ego é a tua Pessoa, e a Alma é a tua presença; não é uma Pessoa.

Então, quando estás aqui comigo, sentes-te como se não estivesses. “Na Meditação, e quando estou
na tua presença, nos bons momentos, não existe nenhum ‘Eu próprio’ “. Isso é absolutamente verdade.
Esse é o espaço correto, quando te podes conhecer a ti próprio — quando já não és e apenas há um
certo “am-ness”; não “Eu”, mas apenas um existencial “isness” — sem limites para ele, apenas um
sentimento oceânico.

Então não há qualquer contradição. Nos teus bons momentos, descobres que tu não és. Agora, espera
mais um pouco: vai mais profundamente nesse estado de não-ser tu próprio, e vais descobrir a
imensa profundidade do teu “isness”, do teu Ser.

Um Mestre Taoísta, Hui Hi, costumava dizer aos seus Discípulos: “Quando me vierem conhecer,
deixem a vossa personalidade lá fora.” E ele não era um desses auto-intitulados santos aos quais
vocês se acostumaram a ouvir falar. Ele costumava andar com uma vara bem grande; se um dos
Discípulos entrava com o seu Ego, levava uma grande pancada com a vara.
Então os Discípulos costumavam ter muito medo de entrar no quarto do Mestre, a não ser que a
meditação estivesse completa, a não ser que eles estivessem absolutamente claros de que agora
pudessem deixar as suas personalidades lá fora, aonde deixavam os sapatos, e podiam entrar… E
sempre que algum Discípulo entrasse sem o seu “Eu” com ele, o Mestre abraçava-o com imenso
Amor.

Prem Purnz, tu já fizeste metade do processo — que nos bons momentos, nos momentos em que sentes
uma Alegria Suprema, ao estares sentado aí, a ouvir-me, ou a meditar, não te encontras a ti próprio.
Espera apenas um pouco mais. Quando todos os traços de ti próprio já tiverem desaparecido e tu
fores apenas puro espaço, o Ser florescerá dentro de ti tal como os grandes picos surgem de repente
do fundo dos Oceanos.

Por vezes acontece que de repente surge uma ilha no meio do Oceano — há poucos instantes atrás
não estava lá e agora está. Vais ficar surpreso ao saber que as maiores Montanhas do Mundo, os
Himalaias, são as Montanhas mais jovens. No velho livro Hindu, Rig Veda, não há qualquer menção
aos Himalaias. Isso é muito estranho, pois ele foi escrito muito perto dos Himalaias. Mencionam
Rios — até mesmo um Rio, o Saraswati, que desapareceu depois desse tempo — mas não
mencionam os Himalaias. Os Himalaias são muito novos, muito jovens, muito frescos, e ainda estão a
crescer. Em cada ano que passa eles crescem um pé.

A Montanha mais velha do Mundo é o Vindhyachal. A minha aldeia, aonde nasci, fica muito perto do
Vindhyachal. É tão velha, tal como um Homem velho, não consegue ficar ereto: tal como um Homem
velho, dobrou-se.

A partir desta situação surgiu uma bela história. Um grande Mestre iluminado, Agastya, estava a ir
em direção ao Sul. E Vyndhya dobrou-se para tocar nos pés de Agastya, e o Mestre disse, “Vindhya,
continua nessa posição — pois vai sere mais fácil para mim passar por ti se continuares nessa
posição. Quando estás ereto — eu sou velho… vai ser muito difícil para mim. E brevemente voltarei.
Os meus Discípulos estão constantemente a convidar-me, e agora, vendo que a Morte se aproxima
cada vez mais, devo cumprir os seus desejos. Então vou vê-los, e voltarei brevemente — então não
voltes à tu aposição ereta.

Agastya morreu no Sul, nunca chegou a regressar; e Vindhya ainda está lá há espera, dobrado, há
espera que o Mestre volte. Já deve ter passado milhares de anos desde que o Mestre foi em direção
ao sul.

A história deve ter surgido por causa da situação de Vindhyachal. Vindhya é a montanha mais velha
do Mundo; saiu dos Oceanos nos primeiros dias deste planeta. E os Himalaias são as mais recentes,
as mais jovens — são quase uma Criança quando comparadas com Vindhyachal.

Se tu conseguires permanecer num estado de seres não-tu, não-ego, num estado sem Ego, então há a
possibilidade de um erguer repentino do pico do Himalaia do teu próprio Ser. Tu vais ser, pela
primeira vez, a tua Realidade; e ao mesmo tempo tu vais saber o que é. É Imortalidade, é Eternidade.
Está lá desde os primórdios — e vai continuar lá até ao finalissimo.
Terceira Pergunta

Querido Osho, eu pensava que tu farias assim — desde a passagem para a Índia de Walt Whitman.
Navega em frente — anda apenas por águas profundas, sem direção, ó Alma, explorando dentro de ti,
e de ti comigo, pois estamos destinados a ir aonde nenhum Marinheiro ainda não se atreveu a ir, e
arriscaremos o navio, a nós próprios e tudo. Ó minha brava Alma! Ó Pai, navega mais adiante! Ó
Alegria desafiante, mas segura! Não são elas Deusas do Mar? Ó mais adiante, mais adiante, navega
mais adiante!

Prem Turiya, Walt Whitman é talvez o único Homem em toda a história da América que se aproxima
muito de um verdadeiro Místico. De outro modo, a mente americana é muito superficial. Está
destinada a ser muito superficial porque apenas tem trezentos anos de idade. É como a mente de uma
Criança, sempre curiosa em relação a tudo: questiona isto e aquilo e mesmo antes que possas dar a
resposta, já começou a fazer outra pergunta. Não está muito interessada na resposta; está apenas
curiosa, quer saber de tudo simultaneamente. Salta de Religião em Religião, de um Mestre para
outro. Continua e continua a procurar resposta nos confins do Mundo — mas tudo permanece quase
como se fosse uma moda.

Os psicologistas descobriram que na qualquer coisa na América, não dura mais do que três anos.
Esse costuma ser o limite para qualquer moda — uma certa pasta de dentes, um certo sabonete, um
certo shampôo, um certo amaciador, um certo Guru — todos vem ao mesmo mercado.

Agora já não se houve nada sobre os Beatles. E isso foi apenas há vinte anos atrás, eles estavam no
topo; agora, já ninguém quer saber quem eles são. O que aconteceu a esses pobres coitados? Agora
houvesse falar dos Talking Heads; e a mesma coisa vai acontecer a eles. Durante esses vinte anos,
muitos Músicos e muitos dançarinos, muitos Cantores, chegaram ao topo e depois desapareceram.

Calculou-se que na América, todas as Pessoas mudam de emprego em cada três anos, trocam de
Mulher de três em três anos, mudam de Cidade em cada três anos. Três anos parece ser o tempo
suficiente: é preciso algo novo.

Walt Whitman parece ser um indivíduo raro que nasceu na América. Ele devia ter nascido em algum
sitío no Leste — e ele sempre mostrou muito interesse no Leste.

Este pequeno pedaço que Turiya mandou é do seu longo Poema, Passagem para a Índia:

Navega em diante — anda com o barco apenas em águas profundas,

destemida, ó Alma, explorando o Eu contigo, e tu comigo,

pois estamos destinados a ir aonde alguma vez nenhum se atreveu a ir,

e arriscaremos o navio, a nós próprios e a tudo.


Ele está a dizer que uma Pessoa que procura o caminho espiritual precisa de se aperceber que está a
ir em direção a águas nunca antes exploradas, aonde nenhum marinheiro se atreveu a ir. E o risco não
é pequeno porque o desafio é “Anda apenas em águas profundas”… deixa as águas baixas para
mentes pequenas. Aqueles que querem conhecer as suas próprias profundidades tem de andar em
águas profundas.

Navega em diante — anda com o barco apenas em águas profundas,

destemida, ó Alma, explorando o Eu contigo, e tu comigo,

pois estamos destinados a ir aonde alguma vez nenhum se atreveu a ir,

O nosso objetivo é ir aonde nunca ninguém se atreveu a ir. “E arriscaremos o navio” — se o pior
piorar, estamos prontos a “arriscar o navio, a nós próprios e tudo o mais.” Mas estamos
determinados a explorar o desconhecido. É um parágrafo tremendamente bonita para todo o vuscador
da Verdade, toda a Pessoa que procura pelo grande mistério da Existência: águas pequenas não serão
o suficiente.

As Pessoas querem tudo sem arriscar nada, e graças a isto, existem muitos que abusam. Eles dizem-
te, “Basta ires à Igreja ao Domingo e já não precisas de te preocupar. Acredita em Jesus Cristo, e no
Dia do Julgamento, ele vai escolher aqueles que acreditam nele. Esses vão entrar no Paraíso; e
aqueles que não forem escolhidos por Jesus vão cair no Inferno por toda a Eternidade.”

Uma solução muito barata, oca e pequena: basta apenas acreditar em Jesus Cristo. O Hindus dizem o
mesmo: “Basta acreditares em Krishna. E continuam a repetir, ‘Hare Krishna, Hare Rama.’ “

Ainda no outro dia Vi uma notícia de última hora, de que a Pessoa principal do Hare Krishna, do
movimento Hare Rama na Europa, tinha fugido com todo o dinheiro para a América — ele era
americano, apenas o seu nome era indiano. Ele deixou todos os seus seguidores esfomeados em
França. A mente americana é tão orientada para o dólar que quando chega uma altura em que à uma
escolha entre Deus e o Dólar, ela vai escolher o Dólar — porque Deus vai estar lá para sempre.
Primeiro usamos o Dólar, depois veremos sobre Deus. E, de facto, como é que se pode entrar no
Reino de Deus sem o Dólar?… vai ser preciso uma gorjeta.

E o que é que tu vais escolher? Se escolheres Deus — problemas desnecessários. Tu não consegues
viver vinte e quatro horas por dia com Deus, porque a própria ideia de Deus é de julgamento. Deus
vai julgar-te continuamente: estás a proceder mal, estás a proceder mal… isso é pecado… Vou
mandar-te para o Inferno. Penso que nenhum Homem possa conseguir permanecer são a viver vinte e
quatro horas com esse tipo de Deus. Ainda bem que até hoje ninguém teve a infelicidade de ter tal
experiência.

Walt Whitman é uma das Pessoas que não é compreendida na América — e no entanto, ele é a única
Pessoa de quem a América se pode sentir orgulhosa.

Ó minha brava Alma!

Para adiante, navega para adiante!

Que risco maravilhoso, mas seguro! Não são eles todos Mares de Deus?

Não te preocupes com a segurança. Não é esta Existência Una? Tu e a Existência são separados? Não
pertencem vocês à mesma fonte, ao mesmo Deus? Todos estes Mares são de Deus, então tu estás
salvo. Não te preocupes; tu podes “Arriscar o Navio, a vocês próprios e tudo o mais,” — e no
entanto, estás a salvo nas mãos da Existência.

Para adiante, para adiante, navega mais adiante!

Vai o mais longe possível. Não deixes nenhum sítio inexplorado.

Com estas palavras, ele não se está a referir ao Mundo exterior; ele está a dizer que esses Mundos
estão dentro de ti. Quando ele diz, “para adiante e adiante,” não o incompreendam. Ele está a falar de
todo o poema — esta parte é apenas uma passagem, uma parte — está a falar em ir para o interior e
arriscar tudo — “o Barco, a nós próprios e tudo o mais.”

E não é preciso ficar preocupado com a segurança, em ficar seguro, porque isto tudo faz parte do
Todo. Para ver toda esta Existência — do lado de fora e do lado de dentro — como Um, é uma visão
tremenda; é muito raro um Poeta subir a tais alturas.

Ele tinha algo de místico dentro dele. Apesar de ter nascido na América, ele tinha algo do Leste
dentro dele; daí, essa Passagem para a Índia. Durante séculos a Índia tem sido o símbolo da Jornada
Interior. Não é apenas uma entidade política — é um fenómeno espiritual. Tanto quanto sabemos,
muitas Pessoas tem vindo à Índia de todas as partes do Mundo à procura deles próprios. Há algo no
próprio clima, há algo na própria vibração, que ajuda.

Eu vi isso — indo à volta do Mundo, eu observei — e vou uma experiência muito intrigante. E
aqueles que estão aqui e que também estiveram na América, todos sentem isso. Tantas cartas
chegaram até mim: “É estranho… viajamos durante mais de cinco anos, mas nunca sentimos a mesma
Alegria, a mesma Música, a mesma Dança, que estamos a sentir aqui.” E eu também estava a ver o
facto de que não tem havido nenhuma herança espiritual, o ar encontra-se vazio, seco. Não tem o
sumo que alimenta a Alma.

E depois eu fui dar a volta ao Mundo e pude ver a diferença. Talvez, porque por milhares de anos os
génios do Leste tem vindo a procurar consistentemente pela Alma, possibilitou a criação de uma
certa atmosfera. Se meditares no Leste, parece que tudo ajuda: as Árvores, a Terra, o Ar. Se estiveres
a meditar na América, tens de meditar sozinho — não há ajuda a vir de qualquer sítio.

Na Espanha, em Portugal, havia toda a possibilidade de se criar uma outra comunhão, mas eu vi a
mesma coisa a acontecer. Todo o esforço gerado durante cinco anos na América foi simplesmente
destruído pelos Cristãos fanáticos — que não percebem nada de Religião — e pelos Políticos
Fascistas.

De facto, eles estavam com medo da Comunhão. Tornou-se na sua principal preocupação: o
Secretário Geral declarou, “A nossa prioridade máxima é destruir essa Comunhão,” e a Comunhão
não estava a fazer nenhum mal a ninguém.

Mas eu consigo compreender: lá no fundo, a Comunhão estava a vibrar numa onda diferente; não era
parte da América, e nunca poderia ser parte da América. A sua vibração era tão forte que não havia
maneira de a derrotar — porque a América não sabe nada sobre espiritualidade; nunca foi mais
fundo do que a pele.

E andando pelo à volta do Mundo, o que vivi foi sempre o mesmo. O Leste caiu politicamente,
economicamente, mas ainda carrega uma sombra dos seus vôos dourados. E aqueles que se procuram
a eles próprios, vão encontrar aqui, neste pobre país do terceiro Mundo, imenso alimento para as
suas Almas.

Cientificamente, tecnologicamente, não é avançado; e a pobreza cresce todos os dias, mais e mais.
Mas mesmo assim, apesar disto tudo, permanece sendo a terra mais rica do Mundo no que se refere à
procura espiritual.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

O Presente é o único Tempo que tu tens.

Manhã de 18 de Fevereiro de 1987, no Auditório de Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, é possível morrer conscientemente sem se ser iluminado?

Nirah, a Existência segue certas leis — e não há excepções. Se uma Pessoa quiser morrer
conscientemente, a única maneira é tornar-se iluminada.

A Morte é uma grande Cirurgia: a tua Alma é separada do teu corpo e mente, com os quais se
envolveu durante setenta ou oitenta anos. Até mesmo para uma pequena operação é preciso anestesia;
e esta é a maior operação em toda a Existência.

A Inconsciência não é nada mais do que a Natureza a dar-te uma Anestesia. A não ser que estejas
completamente não-identificado com o teu corpo e a tua mente, não podes morrer conscientemente —
e uma Morte que não é consciente é uma grande oportunidade desperdiçada.

A Iluminação é uma necessidade imperativa.

A Iluminação apenas significa que todo o teu Ser é consciente: não há nenhum restante canto escuro
dentro de ti. Morrer em tal corpo consciente, o corpo, a Mente, o Cérebro podem ser retirados de ti,
porque agora sabes — não é apenas uma teoria, é uma experiência autêntica — há qual tu sempre
estiveste separado. O envolvimento com o corpo foi rompido no dia em que te tornaste iluminado.

Nas antigas escrituras budistas, a Iluminação é chamada de “Grande Morte” — não que vás morrer,
mas a Morte é grande porque vais poder vê-la acontecer, vais ser uma testemunha. Agora já não estás
preso ao corpo, e tornaste-te consciente da tua Imortalidade.

Apenas podes morrer conscientemente quando sabes que és Imortal, de que pertences à Eternidade, e
não ao Tempo; de que dentro de ti está a começo da Existência e o fim da Existência — se houver um
princípio ou se houver um fim. De fato, não há nenhum princípio e nenhum fim; sempre estiveste aqui,
e sempre estarás aqui.

Uma Morte consciente é um dos milagres da Vida, porque depois disso tu não nascerás sobre
nenhuma outra forma — como um Homem, como um Pássaro, como uma Árvore. Permanecerás na
Consciência Eterna do Universo, espalhado por todos os Oceanos. Daí, ter-se chamado “Grande
Morte”.

Mas não há excepções. A Existência segue leis absolutas definitivas, e esta é uma lei da ordem mais
alta, porque diz respeito à tua Consciência, à tua Vida, à tua Morte.
Segunda Pergunta

Querido Osho, sento-me aqui a sentir a quietude do Universo, ouço um Pássaro a cantar a sua doce
canção — e maravilho-me. Depois, ouço novamente a tua visão para a Humanidade, e penso que se
calhar eu sou as tuas mãos e os teus pés — de que talvez eu deveria estar lá fora. Será que esta
Pessoa frágil está pronta o suficiente, talvez precise de mais ar doce e de luz do Sol…

Jivan Mary, tu dizes, “Sento-me aqui a sentir a quietude do Universo, ouço um Pássaro a cantar a sua
doce canção — e maravilho-me. Depois, ouço novamente a tua visão para a Humanidade, e penso
que se calhar eu sou as tuas mãos e os teus pés.” E és.

Todo o Sannyasin é a minha mão, os meus olhos, a minha Alma.

Eu não te estou a dar uma lição, estou a dar-te a mim próprio.

Mas isso não significa que tenhas de ir a algum outro lado. Para transformar a Consciência humana,
tu apenas precisas de elevar cada vez mais a tua Consciência — não tens de ir a sítio nenhum.

Tu dizes, “Talvez eu devesse estar lá fora.” Não há nenhum “lá fora”; tudo é “aqui”. Não percam um
único momento com preocupações. Para mim, se tu estás salvo, toda a Humanidade está salva.

Não é uma questão de se andar pelo Mundo a tentar elevar a Consciência das Pessoas — é mais uma
possibilidade que a multidão de Pessoas esteja a dormir seja demasiado, e tu possas sentir-te
sonolento. A não ser que sejas iluminado, é perigoso tentar transformar as Pessoas. Agora mesmo,
vocês são o Mundo inteiro. Sejam apenas completos neste Silêncio, sejam intensos neste Ecstasy, e
vocês estão a trabalhar por toda a Humanidade — porque tu és parte dela. Se te tornares iluminado,
esse é o começo da Humanidade a tornar-se iluminada.

Há uma bonita história de Mulla Nasruddin. Ele costumava roubar frutas e doces no mercado, se
tivesse oportunidade para isso. Um vendedor de fruta tinha um Cão especialmente para cuidar de
Mulla Nasruddin. O Cão era muito inteligente. O Vendedor disse ao Cão, “Vou sair um pouco para
lanchar; tens de ficar aqui a cuidar da loja. Senta-te, e lembra-te daquele Homem, Mulla Nasruddin.
Se ele vier aqui, observa-o atentamente.” O pobre Cão disse que sim com a cabeça.

O Homem foi tomar o seu lanche na sua casa, e essa era a altura… Mulla Nasruddin estava à espera
logo ali ao lado. Ele tinha ouvido o que foi dito ao Cão; sentou-se em frente à loja, fechou os seus
olhos, e fingiu estar a dormir. Vendo-o a dormir — o sono é contagioso — o pobre Cão também
fechou os seus olhos e adormeceu. E então Mulla pode levar o que lhe apeteceu da loja.

Quando o lojista voltou, deparou-se com o Cão a dormir, e notou que faltavam certas coisas.
Acordou o Cão e disse, “O que se passa contigo? Dissete para ficares atento a tudo o que ele
fizesse.”

Enquanto isso, Mulla Nasruddin já tinha colocado as frutas na sua casa, e estava de volta à loja para
ver o que se iria acontecer entre o Cão e o lojista. Ele estava do lado de fora da loja.
O Cão sentia-se muito miserável; lágrimas começaram a jorrar dos seus olhos. Mulla Nasruddin,
cheio de compaixão, veio à porta e disse ao lojista, “Isto é demais. O teu Cão seguiu as tuas
instruções tal como tu lhas deste. Dormir também é uma atividade — e quando eu adormeci, o pobre
Cão não conseguiu resistir à tentação de adormecer. Não te chateies com ele.”

“E quando eu estava a dormir, ele pensou, ‘Ele agora não vai conseguir roubar’ — nunca ninguém
ouviu falar de Pessoas a dormir a roubar frutas do mercado. Pois apesar de tudo, ele é apenas um
Cão; ele não consegue fazer uma distinção entre um dormir real ou a fingir.”

“Não te zangues com ele. Da próxima vez que lhe deres instruções, diz-lhe claramente, ‘Se alguém
dormir em frente à loja, essa é a altura de te manteres ainda mais acordado — porque se tu
adormeceres, essa Pessoa vai roubar a loja.’ “

E concluiu, “Não te preocupes, eu encontrarei outra forma de roubar.”

Ainda não é a altura certa para ir pelo Mundo. Um dia, eu próprio vos direi para irem pelo Mundo,
quando eu me certificar de que a psicologia da multidão não vos possa afetar mais; de que a vossa
Consciência irá permanecer a mesma; de que o vosso Silêncio irá permanecer o mesmo; de que o
vosso Ecstasy possa ir mais profundamente.

Jivan Mary, estás correto quando dizes, “Será que esta Pessoa frágil está pronta o suficiente, talvez
precise de mais ar doce e de luz do Sol…” Não é necessário “uma pequena luz do Sol” — é preciso
muita; não apenas “mais ar doce” — é preciso muito.

Mas tu estás no caminho, e para se estar no caminho é quase metade da peregrinação.

A semente brevemente se tornará numa Flor, dançando no vento e ao Sol e no meio da Chuva. Então,
quer vás ou não, a tua fragrância chegará a todos os cantos do Mundo — e essa fragrância irá
despertar mais Pessoas.

Usando a minha própria experiência, quando tu tentas despertar alguém diretamente, essa Pessoa
começa a defender-se. A invés de se tornar consciente, ela fecha-se ainda mais. É como se sofresse
um ataque no seu próprio território — e é um ataque; tu estás a destruir todo o seu passado, o seu
estilo de Vida, a sua maneira de pensar. Estás a destruir a sua própria mente — apesar de estares a
destruir isso tudo para que a Realidade venha ao de cima. A tua destruição não tem intenção de
destruir; está sim ao serviço da maior criação que há no Mundo.

Falando por experiência própria, é muito mais fácil fazer isso de uma forma indireta. Por exemplo,
quando estou a responder a Jivan Mary, outras Pessoas estão a ouvir mais abertamente, pois não foi
uma pergunta feita por elas; logo, não ficam defensivas de forma alguma. Quando eu estou a
responder à pergunta de alguém, é muito possível de que as Pessoas que estão a ouvir se beneficiem
mais do que a que perguntou — porque o que perguntou fica de alguma maneira tenso; é uma
pergunta, ele está envolvido. As outras Pessoas estão relaxadas; não é um problema delas — no
entanto, é um problema de todos. A Jivan Mary é apenas uma desculpa; ela perguntou como sendo a
porta-voz de todos os que estão aqui presentes, e todos os meus Sannyasins que não estão aqui
presentes também ouvirão.
Todas as Pessoas sentem que quando a Alegria chega, querem partilhá-la; quando a Consciência
surge neles, querem tornar os outros conscientes.

Um dos grandes Filósofos alemães, Immanuel Kant, tinha uma abordagem muito particular em relação
ao tempo — de facto, era quase obcecado em relação a isso; era uma coisa de certa maneira insana.
Certo dia, ele encaminhava-se para a Universidade. Tinha acabado de chover, a estrada encontrava-
se enlameada e um dos seus sapatos ficou preso na lama. Mas ele estava tão compenetrado em chegar
à sua sala de aula a horas, que foi para lá com apenas um sapato nos seus pés, e o outro sapato ficou
na lama. “Quando voltar eu apanho-o; se tentar apanhá-lo agora vou chegar uns minutos atrasado.”

Dizia-se que as Pessoas costumavam acertar os seus relógios quando viam Immanuel Kant a fazer
uma caminhada matinal. Podia estar a chover, podia estar a nevar, podia estar qualquer tipo de tempo
— mas a hora era sempre a mesma. Quando ele chegava à Universidade, todos os outros Professores
faziam algo em uníssono, acertavam os seus relógios para a hora certa.

Era um eterno solteirão, que dependia de um empregado — demasiado dependente. Kant pagava-lhe
o dobro do salário que ele pudesse receber em qualquer outro lugar. Mas esse empregado também
sabia que Kant não podia viver sem ele. Os candidatos a empregado dele nem duravam um dia — as
suas exigências em relação ao tempo e pontualidade era tão difíceis de se cumprir para os
empregados novos.

O antigo empregado nunca dizia, “Meu Senhor, está na hora do Almoço.” Ele costumava chegar e
dizer, “Senhor, é uma hora”; ou há hora do Jantar, “Senhor, são nove da noite”; ou na hora de dormir,
ele chegava e dizia, “São agora dez da noite.” Era-lhe dito as horas.

Certo dia, Kant estava a receber um Convidado, e estava tão envolvido num complicada discussão
filosófica de que se esqueceu de olhar para o relógio. O empregado apareceu, interrompeu-o e disse,
“Meu senhor, são dez da noite.” Kant deu um salto — sapatos, chapéu, e tudo o mais — mandou-se
para a cama e cobriu-se com os lençóis. O Convidado nem queria acreditar no que tinha visto.
Questionou o empregado e este respondeu, “Está na hora de ele dormir.”

O Convidado disse, “Mas ele podia ao menos ter-me dito ‘Boa Noite’.” O Empregado respondeu-
lhe, “Ele não desperdiça um único instante. Pode ver os seus sapato e o chapéu… nem sequer chegou
a tirá-los, pois isso levaria tempo.”

Ele costumava levantar-se às três da manhã; e isso o mais difícil, aonde todos os Empregados
falhavam. Apenas este Empregado, que esteve com Kant praticamente durante toda a sua Vida… De
vez em quando ele pedia mais dinheiro, e se não o obtivesse, ia-se embora — sabendo muito bem de
que amanhã seria chamado de volta. Novos Empregados eram contratados, porque Kant também se
cansava do antigo Empregado — pois pedia sempre por mais dinheiro, um salário maior — mas
nenhum outro Empregado chegava sequer aos calcanhares do antigo.

O problema é que às três da manhã, bem cedinho… Kant costumava explicar aos seus Empregados,
“Ás três da manhã, aconteça o que acontecer, tem de me tirar da cama. Vou dar-vos luta — posso até
bater-vos. Vocês tem de me bater. Tem de lutar comigo, o que quero que aconteça, porque eu estou a
dormir e quero dormir naquele momento. Mas essa é a minha vida quotidiana; às três da manhã tenho
de me levantar.”

Naturalmente, nenhum Empregado conseguia bater no Mestre. Mas o Empregado antigo era mesmo
muito bom. Batia nele força, tirava-o da cama pelas pernas — e Kant gritava, abusava dele, mas o
Empregado não lhe dava ouvidos. Havia alturas em que dava-lhe chapadas: “Acorde! São três da
manhã. Não crie confusão nem barulho, pois os vizinhos podem ouvir e eles não querem acordar às
três da manhã.”

Ele quase teve de lutar com ele. Era uma rotina diária — três da manhã, uma luta livre. Kant
escorregava para debaixo dos seus cobertores e o Empregado puxava-os.

O Mundo pode estar atraído pela ideia do acordar, mas o Sono tem a sua própria suavidade. Então,
quando estás a falar com outras Pessoas sobre Consciência, podem até ouvir — elas podem até
pensar que vão tentar — mas permanecer inconsciente é muito consolador. E quando tu te encontras
rodeado por milhões de Pessoas adormecidas, o seu Sono vai afetar-te, a não ser que tenhas chegado
ao ponto mais alto da Consciência — de onde não há retorno possível.

Jivan Mary, eu consigo ver a tua frágil estrutura, e também consigo ver o teu enorme desejo em
ajudar Pessoas; mas isso pode ser feito aqui e agora, e não lá e depois. Tu tornaste mais e mais
madura. Quando eu vir que tu estás numa posição pela qual nenhuma inconsciência vinda da multidão
pode te penetrar, aí sim, eu gostaria que fosses pelo Mundo.

Mas tu podes ajudar as Pessoas a partir daqui; e podes ajudar as Pessoas a partir daqui mais do que
poderias se estivesses lá, porque aqui não estás sozinha. Juntamente contigo, há centenas das minhas
Pessoas — todo o meu Jardim, em diferentes estágios de crescimento. Todas essas Pessoas são um
suporte para ti; todas elas são um tremendo nutriente para ti. Não irás encontrar estas Árvores em
qualquer outro lugar, porque estas Árvores tem vindo a absorver o Silêncio, Paz, Alegria, Ecstasy.

Há poucos dias atrás, o Governador de Poona veio ao meu quarto. Ele não estava a conseguir conter-
se; tocou nos meus pés. E quando estava a sair, disse a Neelam, “Nunca antes estive num quarto tão
silencioso, tão fresco, tão bom — é realmente um Templo. Estou espantado pela Atmosfera do
quarto.”

Qualquer Pessoa que venha aqui vai ficar espantada. Estas Árvores já não são “normais” — são
Sannyasins. Até o próprio Ar tem uma vibração diferente: mesmo depois de te ires embora, o teu
Som, a tua Dança, a tua Alegria continua aqui a vibrar. É assim que um Templo é criado. Um Templo
não é feito de tijolos, não é feito de estátuas; um Templo é feito de uma vibração diferente — a
vibração do Silêncio, da Paz, da Alegria, da Alegria Suprema.

Vamos debruçar-nos mais um pouco neste campo de Buddha. Quando estiver maduro, vais saber por
ti próprio. Aí já não haverá nenhum problema: ou podes ficar aqui e continuares a crescer — o teu
crescimento vai ser uma tremenda ajuda para o crescimento da Humanidade — ou então podes ir
para qualquer outro lugar.

Mas aqui — uma vez que estás em Comunhão, uma Sangha — não estás sozinho; então muitas
Pessoas (pouring) a sua Consciência, torna-se quase um pilar de Fogo.
Eu nunca saio do meu quarto; só venho para aqui de manhã e de noite para estar convosco. Mas
permanecendo no meu quarto, apenas estando sentado silenciosamente, eu sei que estou a fazer tudo o
que pode ser feito para salvar a Humanidade.
Terceira pergunta

Querido Osho, é realmente possível estar no “Aqui e Agora” constantemente? Parece que quase todo
o meu tempo é desperdiçado em planeamentos, ou preocupações com o Futuro.

Nitin, quer tu saibas ou não, tu não consegues estar em nenhum outro sítio do que o Aqui e o Agora.
Aonde quer que estejas, vai ser Aqui e Agora.

É te dado apenas um único momento no Tempo — e tu perdes esse momento em planeamentos e


preocupações sobre o Futuro; e o Futuro nunca chega. O que vem está sempre aqui, agora: é uma
série de ‘Agoras’ — um Agora, outro Agora — mas tu estás sempre a viver no Agora.

Não existe nenhum Futuro — como é que te podes preocupar com o Futuro?

É por causa deste tipo de preocupação e planeamento para o Futuro que um certo tipo de provérbio
existe em todas as linguagens do Mundo: O Homem deseja, planeia, preocupasse com o Futuro — e
Deus continua a desapontá-lo.

Não existe nenhum Deus para te desapontar. Nos teus próprios planos, estás a semear as sementes do
desapontamento. Nas tuas próprias preocupações com o Futuro, estás a desperdiçar o Presente; e
vagorosamente torna-se na tua segunda natureza, preocupar com o Futuro. Então, quando o Futuro
chega, chega como sendo o Presente; e por causa do teu hábito de te preocupares com o Futuro, vais
também desperdiçar esse momento com preocupações.

Vais continuar a preocupar-te com o Futuro durante toda a tua Vida. Apenas páras quando chega a
Morte e leva com ela todas as possibilidades de Futuro. Perdes-te toda a tua Vida: que poderias ter
vivido — mas apenas planeaste.

Vive intensamente e totalmente agora, porque o próximo momento tu irás nascer deste momento; e se
tu o viveste totalmente e alegremente, podes ter a certeza de que o próximo momento irá trazer mais
bençãos, mais Alegria.

Certa vez ouvi: três Professores de Filosofia estavam a ter uma discussão numa Estação de
Comboios. O Comboio já estava na plataforma. Faltavam apenas alguns minutos para partir, mas eles
envolveram-se de tal maneira com a discussão de que o Comboio partiu sem eles — só aí é que eles
se derem conta disso, e correram… na última carruagem, apenas podiam entrar dois Professores; o
terceiro ficou na plataforma. O Comboio afastava-se e escorriam-lhe lágrimas pelos olhos.

Um funcionário estava mesmo ali ao lado. Vendo a cena toda, falou, “Porque é que está a chorar?
Pelo menos dois dos seus Amigos apanharam o Comboio.” Ele respondeu, “O problema é mesmo
esse. Eles tinham vindo ver-me a partir.” Eles também devem estar a chorar, dentro do Comboio.

A Existência por vezes também prega partidas às Pessoas.

Nitin, pára com esse hábito de planear. Pára de te preocupares com o Futuro. Se o amanhã chegar, tu
vais estar lá; e se tu souberes como viver, se tu souberes como viver alegremente e dançando, o teu
amanhã também será cheio de danças e Alegria.

É o Homem miserável que planeia o Futuro, porque o seu Presente é tão miserável que ele quer
evitá-lo, ele não quer vê-lo. Ele pensa sobre dois amanhãs: dias bons vão chegar. Ele é
completamente impotente para transformar este Momento num bom Momento. Ele tem um longo
hábito de transferir tudo para ao Futuro, adiar, vivendo o Futuro, isso tira a Vida toda das suas mãos.
Não há outra forma.

Tu perguntas, “É realmente possível estar no “Aqui e Agora” constantemente?” Essa é a única


possibilidade. Tu não consegues estar em qualquer outro lugar. Tenta: tenta estar no amanhã. Até
agora nunca ninguém o conseguiu — tu não podes estar no minuto que vem a seguir. Achas que podes
saltar e alcançar o Futuro, saltar do dia de hoje e alcançar o amanhã? Mesmo que estejas planear o
amanhã, isso também está a ser feito no Aqui-Agora; mesmo que estejas a preocupar-te com o Futuro,
isso também está a ser feito no Aqui-Agora. Não podes estar em nenhum outro sítio; o que quer que
faças, a Existência apenas permite este espaço do Aqui e do Agora.

Posso dizer-te que eu estou a viver Aqui e Agora. Também eu já tentei de alguma forma ir para o
Futuro — mas não há nenhuma outra forma. Tu não podes ir para o Passado, tu não podes ir a frente
do Tempo, para o Futuro. Nas tuas mãos está sempre o Presente; de facto, o Presente é o único Tempo
que tu tens.

E ‘Agora’ é uma palavra tão significativa, porque essa é a toda a tua Vida — um ‘Agora’ esticado
desde o teu nascimento até há tua Morte. Mas é sempre Agora… e Aqui é o único lugar. Não podes
estar em nenhum outro lugar senão Aqui; aonde quer que estejas, esse sítio vai tornar-se no Aqui.

Sê claro sobre isso, de outro modo a Vida vai continuar a escorregar pelas tuas mãos, tal como se
fosse água. Brevemente ficarás de mãos vazias; e dar de caras com a Morte de mãos vazias é um
falhanço estrondoso. Encontra a tua Morte pleno de Alegria, Silêncio e Serenidade.

Encontra a Morte com as tuas mãos cheias de Ecstasy.

Nesse Ecstasy, a própria Morte morre. Tu nunca morres… o teu Aqui-Agora continua para todo o
Sempre.
Quarta Pergunta

Querido Osho, sentado no meio desta conversa, fechando os meus olhos, encontro-me completamente
sozinho com a tua voz e a música dos Pássaros, tocando no Espaço aonde tudo é Uno. É uma
experiência de Silêncio, Claridade e Paz Eterna. Até mesmo o Sono, Guerra ou destruição parecem
ser expressões divinas da Vida. Retornando ao Mundo das formas, vejo Pessoas, conflito,
dualidades, em todo o sítio. A Existência torna-se num ponto de exclamação, e eu tenho Medo de que
este Planeta possa ser destruído, e que toda a sua Beleza possa desaparecer. Lá no fundo, sinto que
sou ambos e ambos são um. Querido Mestre, é a Consciência um Barco a atravessar para a outra
margem, e o Amor uma ponte para voltar — unindo os dois bancos do Rio e da Vida?

Dhyananand, o que estás a dizer é absolutamente verdade, “A Consciência um Barco a atravessar


para a outra margem, e o Amor uma ponte para voltar — unindo os dois bancos do Rio e da Vida.”

É uma proclamação muito significativa. Os teus “Santos” apenas foram até metade do caminho.
Podem ter conseguido uma certa cristalização, uma certa Consciência, mas não são capazes de voltar
para a a antiga margem com um banho de Amor. Um Santo que não tem Amor cresceu apenas pela
metade.

Um Amante que nada sabe sobre Consciência está também a viver apenas pela metade. Os teus
Santos estão a reprimir o seu Amor; os teus Amantes estão a reprimir a sua Consciência. Eu quero
que sejas ambos simultaneamente — Consciência e Amor. Só apenas aí é que o Círculo da Vida se
completa.

Zorba é Amor, Buddha é Consciência. E quando tu és Zorba o Buddha, chegaste ao ponto mais alto
que é possível na Existência.

Mas, infelizmente, o Homem tem vivido durante séculos dividido. Os Zorbas pensam que são contra
Buddhas, e os Buddhas pensam que são contra Zorbas. E graças a esta ideia antagonista, o Zorba está
a reprimir o seu Buddha: ele é bonito no seu Amor, na sua Música, na sua dança — mas a sua
Consciência é zero. O Buddha reprimiu o seu Zorba: a sua Consciência é muito clara, mas muito
seca. Não há nenhum sumo; é como se fosse um deserto, aonde nenhuma Rosa brota, aonde não se
consegue ver nenhum verde.

Um Buddha sem Zorba é apenas um Deserto.

Eu estou a ser condenado por ambos os lados: os Comunistas, os Socialistas, e outros tipos e marcas
de materialistas condenam-me porque falo de crescimento espiritual, Consciência, Iluminação. De
acordo com eles, o Homem é apenas o corpo, e deve viver como um corpo. E sou condenado pelo
outro lado, os Buddhistas, porque estou a trazer materialismo para a sua espiritualidade; estou a
poluir a pureza espiritual deles.

O Embaixador do Sri Lanka na América escreveu-me uma cartas: “Chamas aos teus Restaurantes,
Zorba o Buddha. Isso vai ferir os sentimentos de todos os Buddhistas no Mumdo inteiro — então
gostaria que reconsiderasses e mudasses esse nome. Zorba não deve estar junto a Buddha.”
Escrevi-lhe uma carta: “Não é apenas uma questão de os meus Restaurantes se chamarem Zorba o
Buddha — eu estou a criar Seres Humanos que são Zorba o Buddha. Todo o esforço da minha Vida,
toda a minha dedicação é em fazer com que Zorba e Buddha andem de mão dada, dançando numa
festa.

Ambos vivem deprivados: o Zorba vive uma Vida inconsciente; o Buddha vive uma Vida sem Amor.
A junção de ambos vai criar um Homem inteiro — e o Homem inteiro é o único Homem sagrado.
Quinta Pergunta

Querido Osho, por favor, fala-nos do conforto do Amor.

Dhyan Amiyo, ficaste muito acostumado a cachorros-quentes! A Paixão é ardente, mas Paixão não é
Amor. Paixão é um esforço para usar o outro para satisfazeres as tuas próprias necessidades
biológicas e sexuais. E o Homem que renuncia a Paixão torna-se frio — congelado, quase morto.

O Amor encontra-se no meio desses dois extremos, cachorros-quentes e santos frígidos. Devias
começar a vender cachorros-quentes e santos frígidos no teu Restaurante — eles são dois extremos.
Mesmo no meio deles está o conforto do Amor.

O Amor não é frio e o Amor não é quente; é uma brisa confortável, uma brisa fresca, uma brisa
matinal. Quando chega até ti, quase te sentes jovem novamente, novamente fresco, como se de repente
tivesses tomado um duche.

A Paixão usa o outro; por isso é que a Paixão é uma luta contínua — porque os chamados amantes
ardentes estão ambos a tentar usar o outro. O Amor não usa o outro; dá o seu próprio Coração ao
outro. Não é um desejo para conseguir algo, mas uma vontade para partilhar algo. Uma Pessoa
encontra-se cheia de Paz e Silêncio e Alegria, e quer partilhar com aqueles que estão próximos.
Podem ser Amigos, podem ser Maridos, Esposas, Filhos, Pai, Mãe — qualquer Pessoa.

O Amor tem nele próprio um imenso conforto. Ms muitas poucas Pessoas conseguiram chegar a tal
conforto. O são quentes a apaixonadas, ou quando ficam cansadas e entediadas com esse calor,
viram-se para o oposto — tornam-se num santo frígido, congeladas.

A mente tem uma maneira de se mover como um pêndulo, de um extremo ao outro. É assim que o
relógio funciona, com o pêndulo a mover-se de um extremo ao outro. Se o pêndulo para no meio, será
aí o conforto do Amor; e se o pêndulo parar no meio, o relógio também irá parar.

Posso dizer isso de outra forma: nos momentos em que o Amor é um conforto, tu sentes o Tempo a
parar; não há movimento — tudo parou. O Silêncio é tanto que nem sequer há uma única ondulação
no Lago da tua Consciência.

O que pretendo é preencher este Mundo inteiro com o conforto do Amor; e com o conforto do Amor
podemos fazer nascer um Novo Homem, uma Nova Humanidade — com o qual precisamos
urgentemente. E esperamos que o Homem tenha inteligência suficiente para não escolher a Morte,
para que ele possa escolher um diferente estilo de Vida — sem conflitos, sem guerras, cheio de Paz e
com uma grande Compreensão.

Espero que o Homem não seja tão retardado que chegue ao ponto de se destruir a ele próprio. A
maior coisa que pode acontecer para se salvar a Humanidade é o conforto do Amor — Amizade sem
limites. A Paixão consome-te, e da mesma forma, o Santo frígido já está morto.

O Amor mantém-te vivo, e o Conforto mantém-te jovem e fresco. O Homem pode ter um Planeta tão
Bonito e uma Humanidade tão bela. Apenas é preciso um pouco de entendimento, e eu penso que o
entendimento está a crescer, devagar mas constantemente.

Se tu me consegues entender, então qualquer Pessoa no Mundo me consegue entender. Talvez vá levar
mais um pouco de Tempo para eles, mas nunca houve um Tempo em que fosse preciso mais
compreensão do que agora. Não é algo pequeno, porque agora o entendimento é equivalente à Vida.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

A Criança ainda está dentro de ti

Tarde de 18 de Fevereiro de 1987 no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, será que podias falar sobre a brincadeira total? Pergunto isso porque existe um
pequeno Rapaz dentro de mim, ao qual eu tenho negligenciado há já muito tempo. Este pequeno
Rapaz é brincalhão, curioso e cheio de êxtase — mas a maior parte do tempo eu não o permito
perder o controle. Por favor comenta.

Anand Gogo, a Brincadeira Total é uma das partes mais reprimidas dos Seres Humanos. Todas as
Sociedades, Culturas, Civilizações, tem sido contra a Brincadeira Total porque a Pessoa brincalhona
nunca é séria. E a não ser que a Pessoa seja séria, ela não pode ser dominada, ela não pode ser
levada a ser ambiciosa, ela não pode ser levada a querer o Poder, o Dinheiro, o Prestígio.

A Criança nunca morre, em ninguém. Não é que a Criança morra quando tu cresces, a Criança
permanece. Tudo o que foste ainda está dentro de ti, e vai permanecer dentro de ti até ao teu último
fôlego.

Mas a Sociedade está sempre com medo das Pessoas que não são sérias. As Pessoas não sérias não
serão ambiciosas pelo Dinheiro, ou por Poder político; elas preferem desfrutar da Existência. Mas
desfrutar da Existência não te traz Prestígio, não te pode fazer Poderoso, não pode preencher o teu
Ego; e o Mundo inteiro do Homem anda à volta do Ego. A Brincadeira Total é contra o teu Ego —
podes tentar e ver com os teus próprios olhos. Se apenas brincares com Crianças, vais ver o teu Ego
a começar a desaparecer, vais descobrir que te tornaste novamente uma Criança. E isso não é só
verdade em relação, mas também a todas as Pessoas.

Uma vez que a Criança dentro de ti foi reprimida, tu vais reprimir as tuas Crianças. Ninguém permite
às suas Crianças dançar e cantar e gritar e saltar. Por razões triviais — talvez algo se possa partir,
talvez elas possam ficar com as suas roupas molhadas na chuva se forem brincar lá para fora — por
causa dessas pequenas coisas, uma grande qualidade espiritual, a Brincadeira Total, é completamente
destruída.

A Criança que é obediente é enaltecida pelos seus Pais, pelos seus Professores, por toda a gente; e a
Criança brincalhona é condenada. As suas brincadeiras podem até ser completamente inofensivas,
mas ela é condenada porque há um potencial perigo de rebelião. Se a Criança continuar a crescer
com Liberdade total para ser brincalhona, ela vai-se tornar rebelde. Não vai ser facilmente
escravizada; ela não vai ser facilmente colocada em exércitos para destruir Pessoas, ou para ser
destruída.

A Criança Rebelde vai acabar por ter uma juventude rebelde. Aí, não vai ser possível forçar-lhe o
Casamento; aí não vai ser possível forçar-lhe um trabalho em específico; aí a Criança não pode ser
forçada a fazer os desejos incumpridos e vontades caprichosas dos seus Pais. A Juventude Rebelde
vai seguir o seu próprio caminho. Ela vai viver a sua Vida de acordo com os seus desejos intrínsecos
— e não de acordo com os ideais de mais alguém.

A Rebelião é basicamente natural. A Criança obediente está quase morta; daí os Pais estarem muito
contentes, porque ela está sempre debaixo de controle.
O Homem tem uma doença muito estranha: ele quer controlar Pessoas — ao controlar Pessoas, o teu
Ego é saciado, és alguém especial — e ele próprio quer ser controlado, porque ao ser controlado tu
já não és mais responsável.

Por todas essas razões, a Brincadeira Total é reprimida, esmagada logo no início.

Tu perguntas, “Existe um pequeno Rapaz dentro de mim, ao qual eu tenho negligenciado há já muito
tempo. Este pequeno Rapaz é brincalhão, curioso e cheio de êxtase — mas a maior parte do tempo eu
não o permito perder o controle.” O que é o Medo? O Medo é implementado por outros: fica sempre
com o controle das coisas, fica sempre disciplinado, respeita sempre aqueles que são mais velhos
que tu. Segue sempre o Padre, os Pais, os Professores — eles sabem o que é melhor para ti. Não é
permitida à tua Natureza dizer o que quer.

Devagarinho, devagarinho, começas a carregar uma Criança morta dentro de ti. Essa Criança morta
que está dentro de ti, destrói o teu senso se Humor: não podes rir usando todo o teu Coração, não
podes brincar, não podes desfrutar das pequenas coisas da Vida. Tornaste tão sério, de que ao invés
de te expandires, começas a encolher.

Sempre me interroguei porque é que o Cristianismo se tornou a maior Religião em todo o Mundo.
Uma vez atrás de outra chego à conclusão de que é por causa da Cruz e do Cristo crucificado — tão
triste, tão sério; naturalmente… não podes esperar que Jesus esteja a sorrir na Cruz. E milhões de
Pessoas encontraram uma semelhança entre elas e o Cristo na Cruz.

É seriedade, é tristeza, isso tem sido a razão da expansão da Cristandade, graças a isso espalhou-se
muito mais do que qualquer outra Religião.

Eu gostaria que as nossas Igrejas e Templos, os nossos Mosteiros, a nossas Sinagogas se tornassem
livres De tanta seriedade, que ficassem mais ligados à Brincadeira, cheios de risos e Alegria. Isso
traria à Humanidade uma Alma mais saudável, íntegra, integrada.

Mas tu estás aqui… Pelo menos, uma vez que és um Sannyasin meu, não precisas de carregar a tua
cruz aos ombros. Deixa cair a Cruz. Eu ensino-te a dançar, a cantar, a brincar.

A Vida deve ser, a cada momento, uma criatividade preciosa. O que tu crias não importa — pode ser
castelos de areia á beira-mar — mas o que quer que faças, deve vir da tua Brincadeira e Alegria.

Não se pode permitir a Morte à tua Criança. Alimenta-a, e não fiques com Medo que fique fora de
controle. Aonde é que pode ir? E mesmo que fique fora de controle — e daí? O que é que podes
fazer fora de controle? Podes dançar como uma Pessoa louca, rir como um louco; podes saltar e
correr como um louco… as Pessoas podem pensar que estás louco, mas isso é um problema delas. Se
estás a gostar disso, se a tua Vida é alimentada por isso, então não interessa, mesmo se se tornar num
problema para o resto do Mundo.

Nos meus tempos do colégio, costumava ir dar uma caminhada matinal muito cedo, três, quatro da
manhã. Logo ao lado da minha casa, estava uma pequena estrada com muitos Bamboos, era muito
escura… E essa era o melhor sítio, porque era muito raro encontrar alguém ali… apenas um vigilante
de uma casa pertencente a uma Pessoa rica é que me costumava ver.

Mas certo dia — isto é o que talvez tu chamas de perder o controle — estava a andar pela estrada e
de repente lembrei-me de que seria bom se começasse a andar de costas. Existe na Índia uma
superstição de que os Fantasmas andam de costas, só que eu tinha-me esquecido totalmente disso, e
de qualquer forma, não havia ninguém na estrada… então comecei a andar de costas. Estava a gostar
imenso, e era uma manhã muito amena.

Só que o Homem que entrega o leite viu-me… As Pessoas costumavam trazer leite vindo de aldeias
pequenas, e ele tinha vindo um pouco mais cedo do que era habitual, então ele nunca me tinha visto
antes. Ao carregar os seus baldes de leite, ele viu-me de repente. Eu devia estar na sombra dos
Bamboos, e quando ele se aproximou da sombra aonde havia um pequeno facho da luz da Lua, nessa
altura eu saí das sombras, a andar de costas. Ele gritou, “Meu Deus!”, deixou cair ambos os baldes e
fugiu a correr desenfreadamente.

Mesmo assim, eu não me apercebi que ele ficou com medo de mim, pensei que ele tivesse ficado com
medo de outra coisa qualquer. Então apanhei ambos os baldes, apesar de o leite já se ter entornado…
pensei que pelo menos deveria devolver-lhe os baldes, então corri atrás dele. A ver-me a correr
atrás dele… nunca tinha visto ninguém correr tão depressa! Ele podia ser um Campeão do Mundo em
qualquer corrida. Eu fiquei muito surpreendido. E gritava, “Espera!”, ele olhou para trás, e sem dizer
nada…

Todo o desenrolar da situação foi visto pelo guarda do Homem rico. Ele disseme, “Vais matá-lo.”

Eu respondi, “Eu só vou devolver-lhe os baldes.”

Ele disse, “Deixa os baldes comigo; quando o Sol se levantar, ele voltarás. Mas não faças essas
coisas — por vezes também me metes medo, mas como eu sei… Há já muitos anos que te vejo a
fazer todo o tipo de coisas estranhas nesta rua, mas às vezes fico com medo; pois penso: quem saberá
se és mesmo tu ou um Fantasma a andar de costas a vir na minha direção? Por vezes fecho os portões
e vou para dentro; mantenho sempre a minha arma pronta a disparar graças a ti!”

E eu falei, “Tens de entender uma coisa, se eu fosse um Fantasma, a tua arma seria inútil — não
podes matar um Fantasma com uma bala. Então nunca a uses, porque um Fantasma não será afetado
por ela; mas se estiver um Homem de carne e osso ali, podes ser preso como sendo um assassino.”

Ele, “Isso é verdade. Nunca pensei nisso, de que os Fantasmas…” E ali mesmo à minha frente, tirou
todas as suas balas e continuou, “Às vezes o Medo é tão grande… que posso mesmo disparar sobre
alguém e matar essa Pessoa.”

E eu, “Olha para mim: primeiro, tens de ter a certeza se eu sou uma Pessoa de carne e osso ou um
Fantasma. Estás a tirar as tuas balas, e eu posso ser apenas um Fantasma a enganar-te!”

Ele exclamou, “O quê…?” E começou a recolocar as balas na arma.

Eu continuei, “Fica tu com estes dois baldes.” Eu permaneci por quase seis meses nessa parte da
cidade, e todos os dias perguntava ao guarda, “Aquele Homem já voltou?”

E ele respondia, “Ainda não voltou. Estes dois baldes ainda estão à espera dele, e agora já penso que
nunca irá voltar. Ou se foi para sempre, ou então tem tanto medo deste sítio que nunca mais quer cá
voltar. Eu tenho estado de vigia e quando o meu colega troca comigo, digo-lhe que se alguém
voltar… e continuamos a ter estes dois baldes em frente ao portão, para que ele possa ver que os
seus baldes estão aqui. Mas já se passaram seis meses, e não há nenhum sinal dele.”

E eu, “Que coisa mais estranha.”

Ele retorquiu, “Não há nada de estranho nisso. Tu podias ter morto saindo de repente da escuridão tal
como fizeste. Porque é que estavas a andar de costas? Muitas Pessoas correm, mas andar de
costas…”

E eu respondi, “Eu também já corri, e fiquei entediado por andar sempre para a frente; experimentei
andar para trás só para variar um pouco. Nunca pensei que logo naquele dia esse idiota viria —
nunca ninguém vem para esta rua. Esse Homem deve ter espalhado um rumor — e os rumores
espalham-se como se fossem fogo num floresta. Até mesmo o dono da casa aonde estou a viver ouviu
falar disto…”

Ele disseme, “Não vás dar a tua caminhada tão cedo; vai só quando o Sol já tiver nascido, isto
porque houve um Homem que viu um Fantasma.”

E eu perguntei-lhe, “Quem é que te disse isso?”

Ele respondeu, “A minha Mulher contou-me, e toda a vizinhança já está informada disso; depois das
oito da noite, toda a rua fica vazia.”

E eu disselhe, “Podes não acreditar, mas na verdade não havia nenhum Fantasma. De facto, era eu
que estava a andar de costas…”

E ele, ‘Não me tentes enganar.’

E eu, “Podes vir comigo confirmar isso. Às três da manhã não há lá ninguém.”

E ele, “Porque é que devia arriscar? Mas uma coisa é certa: se não parares de fazer isso, então vais
ter de deixar a minha casa. Não poderás mais viver aqui.”

E eu, “Isto é muito esquisito. Mesmo que a rua esteja cheia de Fantasmas, porque é que devias
insistir para que eu abandonasse a tua casa? Não me podes forçar. Eu pago a renda… tu já me deste
uma fatura. E num Tribunal não podes dizer que é por causa de uma Pessoa andar numa rua é que os
Fantasmas aparecem — acho que nenhum Tribunal vai aceitar essa explicação.”

E ele, “Quer dizer que vais-me arrastar para os Tribunais? Se tu és assim tão insistente, podes
continuar a viver nesta casa. Vou vender-ta. Vou deixar esta casa.”

“Mas,” Exclamei eu, “Eu não sou um Fantasma.”


E ele, “Disso sei eu — mas misturas com Fantasmas? Algum dia destes algum Fantasma pode seguir-
te para dentro de casa — e eu sou um Homem com Esposa e Filhos. Não me quero arriscar.”

Aqui, não precisas de ter medo: podes andar de costas, e se até fores um Fantasma real, ninguém vai
reparar em ti. Se não consegues exprimir a tua Brincadeira Total aqui, então não serás capaz de a
expressar em nenhum outro lado do Mundo. Permite-a totalmente — deixa-a sair fora de controle; e
quando a tua criança estiver realmente viva e a dançar contigo, vai mudar o próprio sabor da tua
Vida. Vai dar-te um senso de humor, um bonito sorriso, e vai destruir toda a tua casmurrice. Vai
tornar-te um Homem que faz tudo com o Coração.

O Homem que vive na sua cabeça, na verdade não vive. Apenas o Homem que vive no seu Coração,
e que canta canções que não são entendidas pela cabeça, danças que não são de maneira nenhuma
relevantes a nenhum contexto fora de ti… apenas fora da tua abundância, fora da tua afluência: tu tens
tanta energia que gostarias de dançar e cantar e gritar… então fá-lo!

Vai-te fazer ficar mais vivo; vai dar-te uma chance para saborear o que a Vida é. O Homem sério está
morto antes da sua Morte. Muito antes da sua Morte, ele permanece quase como sendo apenas um
corpo.

A Vida é uma oportunidade valiosa, não deve ser desperdiçada com a seriedade. Guarda a
seriosidade para o túmulo. Deixa a seriosidade cair no túmulo; há espera do último dia do
Julgamento, sê sério. Mas não te tornes numa múmia antes do túmulo.

Lembro-me agora de Confúcio. Um dos seus Discípulos perguntou-lhe uma pergunta tipicamente feita
por milhares de Pessoas: “Vais-me dizer algo a mim sobre o que acontece depois da Morte?”

Confúcio disse, “Todos esses pensamentos sobre a Morte, podes contemplá-los no teu túmulo depois
de morreres. Mas agora, vive!”

Existe uma altura para viver, e existe uma altura para morrer. Não os mistures, senão vais perder
ambos. Agora mesmo, vive totalmente e intensamente; e quando morreres, então morre totalmente.
Não morras parcialmente: um olho morre, e o outro olho continuar a olhar; uma mão morre, e a outra
mão continua à procura da Verdade. Quando morres, morre totalmente… e contempla o que é a
Morte. Mas agora mesmo, não desperdices tempo a contemplar coisas que estão muito distantes: vive
este momento. A Criança sabe como viver intensamente e totalmente, e sem qualquer tipo de Medo de
que vai ficar fora de controlo.

Neste Templo, é-te permitido seres tu próprio sem qualquer tipo de inibições. Eu gostaria que isto
acontecesse o Mundo inteiro. Isto é apenas o princípio. Aqui, começa viver momento a momento
totalmente e intensamente, com Alegria e Brincadeira — e vais ver que nada sai fora de controle; que
a tua inteligência torna-se melhor; que tu te tornas mais jovem; que o teu Amor se torna mais
profundo. E quando fores pelo Mundo, aonde quer que vás, espalha a Vida, a Brincadeira, a Alegria,
tanto quanto possível — a cada canto da Terra.

Se o Mundo inteiro começar a rir e brincar e a desfrutar, aí irá acontecer uma grande revolução. A
Guerra é criada por Pessoas sérias; o assassinato é feito por Pessoas sérias; o suicídio é feito por
Pessoas sérias — os manicómios estão cheios de Pessoas sérias. Repara no mal que a seriedade já
causou aos Seres Humanos e sairás imediatamente da tua seriedade, e permitirás à tua Criança, que
está há espera dentro de ti, para brincar e cantar e dançar.

A minha Religião consiste na Brincadeira Plena.

Esta Existência é a nossa casa: estas Árvores e Estrelas são os nossos Irmãos e Irmãs; estes Oceanos
e Rios e Montanhas são nossos Amigos. Neste imenso e amistoso Universo, tu estás sentado nele
como se fosses um Buddha de pedra — mas eu não falo do Buddha de pedra; pois eu quero que
vocês sejam um Buddha dançante.

Os seguidores de Buddha não vão gostar, mas a mim não me interessa o que as outras Pessoas
pensam. Eu simplesmente me preocupo com a Verdade. Se uma Verdade não sabe como dançar, está
coxa; se um Buddha não é capaz de rir, algo está a faltar; se um Buddha não consegue misturar-se
com Crianças e brincar com elas, ele chegou perto do teto de Buddha, mas ainda não está totalmente
acordado. Algo está a dormir.

No Japão há um conjunto de nove imagens e essas imagens são tremendamente significativas. Na


primeira imagem um Homem perdeu o seu Touro. Ele procura em todo o lado — há Árvores e
Florestas densas… mas nenhum sinal do Touro.

Na segunda, ele encontra as pegadas do Touro.

Na terceira, parece que o Touro se está a esconder atrás das Árvores; só se consegue ver a parte de
trás do Touro.

Na quarta, ele quase que alcançou o Touro, e consegue-se ver o Touro por inteiro.

Na quinta, ele conseguiu apanhar o Touro pelos cornos.

Na sexta, ele luta com o Touro.

Na sétima, ele conquistou o Touro. E está sentado em cima dele.

Na oitava, eles estão a ir para trás, para casa.

Na nona, o Touro encontra-se no seu estábulo, e o Homem está a tocar a sua flauta.

Mas falta uma imagem nessas nove — elas vêem da China, e o conjunto chinês tem dez imagens.
Quando foram trazidas para o Japão, a décima foi deixada de lado, pois foi considerada muito
provocante — e a décima é o meu Buddha.

Na décima imagem, o Touro encontra-se no estábulo e o Buddha dirige-se ao mercado com uma
garrafa de vinho na sua mão. A mentalidade japonesa pensou que isto seria demais: o que as Pessoas
pensariam de Buddha se o vissem com uma garrafa de vinho na mão? Isto é um insulto à mentalidade
religiosa comum, mas para mim é a imagem mais importante de todas elas. Sem ela o conjunto fica
incompleto.
Quando uma Pessoa chega ao nível de Buddha, aí deve tornar-se num Ser Humano comum. Ir ao
mercado com uma garrafa de vinho na mão é simbólico: simplesmente significa que já não há
necessidade para se sentar a meditar, a Meditação já está no Coração; agora já não é preciso ser-se
sério. Acabou de encontrar o que queria; agora é altura de ficar alegre. Essa garrafa de vinho é um
símbolo de Alegria — agora é altura de celebrar!

E aonde é que se pode celebrar senão no Mercado? Para fazer Meditação, pode-se ir para a Floresta,
para as Montanhas, mas para celebrar, tem de se ir ao Mercado. Aonde é que se vai encontrar uma
Discoteca…?

Lembra-te sempre da décima imagem. Não pares na nona — a nona é bem bonita, mas incompleta.
Apenas mais um passo… tocar na flauta não é o suficiente. Embebeda-te! … e dança loucamente!

E, Gogo, tu tens um nome muito bonito — o que quer que faças, vai encaixar bem com Gogo.
Segunda Pergunta

Querido Osho, quando me encontrei contigo pela primeira vez, há treze anos e meio em Woodlands,
acabou quando sentado aos teus pés, levantei-me e fui, não pela porta fora, mas sim para o teu
armário! Tem sido uma batalha montanha acima desde essa altura. Osho, o que é que se está a passar?

Rama Prem, isso não só aconteceu contigo, aconteceu também com muitas outras Pessoas, porque em
Woodlands, aonde eu costumava viver, a porta para o meu quarto e a porta para o meu armário eram
exatamente as mesmas. Era natural a qualquer Pessoa que entrasse lá pela primeira vez — as chances
eram de cinquenta-cinquenta, então, quase cinquenta porcento das Pessoas iam para ao armário — e
eu ria-me imenso com isso! Eu tinha ao meu lado um controle remoto elétrico que controlava a
abertura e o fecho de ambas as portas. Logo que uma Pessoa entrasse no meu armário, trancava-o.

Talvez tu ainda estejas dentro do armário — por isso é que estás a dizer, “Tem sido uma batalha
montanha acima desde essa altura.” Ainda não saíste de lá, e eu já não moro mais em Woodlands.

Era muito divertido, pois as Pessoas saiam do armário completamente embaraçadas, tão chateadas…
o armário era bem grande, então andavam por todos os lados, e havia tantos roupões… e iam há volta
deles todos, e finalmente saíam, muito chocadas. O que é que tinha acontecido? — tinham entrado
pela mesma porta, ou assim pensavam.

E quando finalmente saíam, apercebiam-se que havia outra porta logo ali ao lado, e era praticamente
igual, pintada da mesma cor.

Havia também uma terceira porta, que dava para a minha casa de banho. De vez em quando — e isso
não te aconteceu, Rama Prem — alguém saia do armário a correr, e — tal como a mente é, vai para
os extremos — não via a segunda e ia logo para a terceira porta, que levava à casa de banho.
Aqueles que entravam na casa de banho demoravam mais a sair, porque a partir da minha casa de
banho, havia outra porta, que dava para a minha sauna.

Saindo de todas essas portas, elas sentiam-se tão embaraçadas que perguntavam, “O que é que
aconteceu à porta pela qual eu entrei?” E eu dizia, “Lembra-te sempre do significado de ouro, o do
meio.”

E isso não é só verdade em relação aquelas portas: mas também na tua Vida, nunca vás até aos
extremos. Encontra sempre a do meio, o significado de ouro. Nos extremos, a Verdade é sempre
meia-verdade; apenas no meio é que é completa, é toda.

Mas não há qualquer problema. Tu pensas que a tua Vida tem sido uma luta constante desde essa
altura. Nós próprios é que fazemos as nossas próprias Vidas, nós somos os criadores das nossas
Vidas — tudo depende de ti. Se estás a tentar alcançar algo muito distante, se estás a tentar alcançar
algo que não é natural, então a Vida transforma-se numa luta constante. Se não estás a tentar conseguir
algo que não seja natural, então a Vida torna-se numa fluidez, aí começas a fluir na corrente da Vida.

Lao Tzu chamava isso de “O Curso de Água da Vida”, e eu penso que esse é o conceito correto para
qualquer Pessoa que deseje viver uma Existência relaxada, silenciosa e alegre. Tu simplesmente te
vais cansar — e quanto mais cansado ficares, mais a Vida ficará fosca, escura, sem significado…
deixa simplesmente o Rio levar-te aonde quer que ele vá.

Um Homem que tem um objetivo para alcançar, tem uma grande tendência a ficar angustiado e
ansioso. A minha visão em relação a isso é que o próprio Rio da Vida vai em direção ao Oceano; e tu
simplesmente flutuas nele. Aonde quer que ele te leve, essa é a tua casa. E enquanto flutuas pelo Rio,
podes desfrutar do Sol, das Árvores que estão à beira do Rio, dos Pássaros e das suas melodias, das
Estrelas à noite e da Lua. De toda a Existência — tudo está disponível para ti porque toda a tua
Energia está solta, não está presa em algum sítio, é livre.

Rama Prem, segue simplesmente o Curso da Água. Sê relaxado, e permite à Vida levar-te aonde quer
que ela vá. Não te chateies quando ela não te levar a algum objetivo em específico; pois ela não tem
nenhum objetivo em específico. Vai simplesmente dançando com o Rio, cantando com o Rio. Tu
fizeste dele um campo de batalha, lutas com o Rio, e aí aparecem os problemas. Tu nunca sairás
vencedor, e nunca serás capaz de desfrutar um único instante, porque todas as partículas do teu Ser
estão a lutar. Não lutes com a Vida.

Mas todas as Religiões ensinaram-te a lutar contra a Vida, para seres anti-Vida. E assim criaram uma
Humanidade muito pobre, que se esqueceu do sorriso, esqueceu-se da dança, esqueceu-se do canto;
uma Humanidade que apenas conhece uma coisa: lutar.

Pára de lutar. Todo o Rio chega ao Oceano — e sem precisar de um Mapa, sem um Guia, sem um
Guru. Está na própria natureza do Rio, fluir, e como não está a ir para cima, não há lutas. Está a ir
para baixo, então, sempre que encontra um sítio mais baixo, vai nessa direção — e o Oceano está no
nível mais baixo, então nenhum Rio consegue evitar o Oceano. O Oceano é o teu Objetivo; o Oceano
É DEUS.

Se permitires a ti próprio deixar-te levar pela Vida sem lutares, vais chegar até Deus — nada pode
ser um impedimento ou uma barreira para ti. Então, se sentes que algo se tornou uma batalha, ninguém
mais é responsável senão tu. E está nas tuas mãos mudar a tua direção instantaneamente. Não lutes…
e ser derrotado pela Vida, não é uma derrota; é a tua Vida:

ser derrotado por ela é a tua vitória.

No momento em que tu compreenderes esta afirmação estranha — de que ser derrotado pela Vida é a
tua vitória — acabaste de encontrar o segredo de todo o sucesso, de todas as bençãos.
Terceira Pergunta

Querido Osho, no outrto dia ouvi-te dizer que tínhamos de dar um salto do Conhecido para o
Desconhecido. Inicialmente o que eu te queria perguntar era o seguinte: o que é que está a prender as
minhas pernas e a impedir-me de abrir as minhas asas para dar o salto e voar? Ainda esta manhã,
quando partis-te para Chuang Tzu, perto da porta, viraste-te para mim e algo aconteceu entre tu e eu
que foi para além da Mente e do Coração. Senti o meu corpo a mover-se de uma forma que nunca há
qual o poderia ter feito deliberadamente. Durante uns instantes, tudo parou, não tinha controle de
nada. Era um morrer delicioso e sem medos. Uns tempos depois, sentia-me embriagado, fraco e forte
ao mesmo tempo. Não sei o que realmente aconteceu. Será que dei um salto pequeno demais, ou será
que nem sequer cheguei a dar um salto? A única certeza que tenho agora é de que agora já não
consigo saltar. Querido Mestre, por favor comenta.

Premda, eu sei que te aconteceu algo. Foi um salto, e não foi pequeno. Mas foi um salto de
consciência — por isso é que te sentes assim. E quando isso acontece à Consciência, o corpo tem
reações estranhas, reações que deliberadamente não as podias fazer, mesmo se o quisesses. O salto
da Consciência não foi deliberado. Aqui, o que quer que aconteça, nunca é deliberado.

Qualquer coisa que seja deliberada, vai ser muito pequena, vai ser mais pequena do que tu. Qualquer
coisa que aconteça sem que haja uma intenção da tua parte — tu ficas como sendo apenas um
observador, e quando acontece… tu apenas estás de lado, apenas a observar, e não a fazer: então
algo maior que tu acontece.

Mais tarde, sentes-te simultaneamente fraco e forte. Isso deve ter-te intrigado — e vai intrigar outras
Pessoas — mas é uma consequência certa e absoluta, porque aconteceu algo que está para além do
teu controle. O teu Ego não estava a controlar as coisas, daí a fraqueza. O teu Ego sentiu-se
ameaçado; chegaste muito perto do ponto aonde o Ego simplesmente desaparece.

E ao mesmo tempo sentiste-te forte. A tua Consciência sentiu-se forte porque pela primeira vez,
durante uns breves instantes, não estava a ser controlada pelo Ego. Pela primeira vez, durante uns
breves instantes, tinha as suas próprias asas, não estava acorrentada e presa pelo Ego. Então a tua
Alma sentiu-se forte e o teu Ego sentiu-se fraco.

É um bom sinal. O princípio da morte do Ego, o princípio do fim do Ego, e o princípio da tua entrada
no Mundo da Consciência.

Mas mais tarde, o teu Ego deve ter tomado a sua antiga posição, a sua antiga dominação sobre a tua
Consciência; e aí tu escreves-te: “A única certeza que eu tenho agora é que já não consigo saltar.”
Isso não é uma certeza tua, isso é o Ego, que voltou a ficar com o poder em suas mãos. Durante uns
instantes a Consciência conseguiu escapar.

Tu não precisas de tentar saltar deliberadamente, isso não vai acontecer, porque quem é que vai
tentar deliberadamente? Vai ser o teu Ego. Tu ainda não tens qualquer acesso à tua consciência. O
que aconteceu foi que quando eu me voltei e olhei para ti, esqueceste-te completamente o teu Ego —
e saltas-te. Esquecer o seu próprio Ego é o único salto que pode trazer-te de volta a ti próprio. Mas
nunca o tentes deliberadamente. Permite que tal aconteça apenas como aconteceu esta manhã, por si
próprio. Não faças qualquer tipo de esforço. Quando acontecer, vive-o totalmente, não o detenhas, e
não te sintas fraco. A fraqueza não é tua, quem se está a sentir fraco é o teu Ego — o teu Eu falso que
está a fingir ser a tua Alma real.

Pela primeira vez a tua verdadeira Alma sentiu-se forte. Dá-lhe mais oportunidades. E devagarinho,
devagarinho, irá ser capaz de sair das amarras por si própria. O Ego não o consegue segurar; é
apenas uma espécie de condição hipnótica, porque desde a infância que o teu Ego tem sido suportado
por todas as Pessoas. O alimento tem ido todo para o Ego enquanto que a tua Alma passa por uma
seca. Tu esqueceste-te de tudo sobre a Alma.

Ao estares aqui comigo, isso vai acontecer cada vez mais frequentemente. Agora que aconteceu uma
vez, essa possibilidade vai crescer cada vez mais. Vai acontecer de repente, primeiro na minha
presença e depois sem eu estar presente. Ao estares sentado silenciosamente na tua sala, irás
descobrir uma força imensa a crescer dentro de ti. E ao mesmo tempo algo estará a morrer — algo
que não és tu; algo que sempre esteve a fingir que és tu. Esse fingido tem de morrer, esse falso tem de
desaparecer, para que o verdadeiro possa tomar o seu lugar.

E logo que o verdadeiro tome o seu lugar, toda a tua Vida torna-se autêntica. Todo o acto leva em si
uma beleza e graça enormes; cada palavra vem da parte mais funda do teu Ser, cheio de fragrância —
essa fragrância não consegues encontrar em nenhum outro sítio do Mundo.

Certa vez, um Místico Sufi veio ver-me. Um dos meus Amigos fez-me um bonito auditório para que
eu pudesse usar para dar aulas de Meditação e também para que fosse a minha biblioteca. Ele estava
rodeado por um belo Jardim. Durante o dia estava tudo vazio: apenas há noite é que vinham Pessoas
para meditar. Esse Sufi veio de tarde, e queria ver o Auditório, então levei-o lá. Fiquei pasmado —
foi a primeira vez que eu vi alguém a fazer tal coisa… Ele foi à volta do Auditório, e cheirou todos
os cantos, parecia um Cão de Polícia, cheirando este canto, aquele canto… e o Auditório era feito de
mármore puro, nada mais; não havia nada no Auditório.

Eu sempre gostei de sítios vazios. E lá estava eu, ali de pé a olhar para ele — um Homem velho; ele
cheirou tudo e mais alguma coisa, e estava todo contente. E disseme, “O que quer que tenha
acontecido aqui, foi bom, pois eu consigo cheirar o mesmo aroma de quando estou a fazer
Meditação.”

Ele primeiramente deu-me a ideia de que a Meditação pode se cheirada. Talvez para os Sufis isso
seja mais fácil, porque durante séculos eles tem vindo a usar perfume, certos perfumes que são algo
similares de um longínquo eco das suas próprias fragrâncias. Eles são as únicas Pessoas que no
Mundo inteiro trabalharam durante centenas de anos na procura — no Mundo exterior — de uma
espécie similar de cheiro.

Nesse dia comecei a pensar, talvez se alguém começasse a pesquisar o sabor?… A Meditação pode
dar-te um novo sabor — porque há escrituras que dizem que quem medita começa a ter um sabor
adocicado na sua boca. Talvez todos os cinco sentidos tenham algo a dizer sobre a Meditação.

Os Olhos — sempre se soube que eles expressam o estado meditativo; a energia que salta de uma
Pessoa para a outra salta dos teus olhos para os olhos da outra Pessoa. Os Olhos são a parte mais
sensível do teu corpo; eles são capazes de captar a parte mais subtil da vibração da luz,
naturalmente, e também da profundidade e do Amor.

Todos sabem que quando se está apaixonado, os Olhos não são os mesmos. Quando um Amante olha
para a sua Amada, os seus olhos não são os mesmos — apesar de serem os mesmos Olhos, mas algo
dentro dos Olhos muda, uma nova Energia começa a fluir através dos Olhos.

A Meditação é um fenómeno ainda maior que o Amor.

Premda, tu deste um bom salto, mas não o tentes fazer deliberadamente, pois irás falhar. Sê
simplesmente grata por ter acontecido, e espera num Silêncio desperto, não com esperanças mas sim
disponível; se acontecer, vais ficar tremendamente grata.

Não o exijas, porque estas coisas são de tal forma delicadas que expectativas, exigências podem
destrui-las. Simplesmente espera, com um Coração atento, e irá acontecer uma e outra vez, e vai
começar a acontecer sem mim — eu só sou uma desculpa. E depois, devagarinho, devagarinho já não
precisa de acontecer mais… o Ego desaparece; a tua Alma estabeleceu-se no sítio correto. Saiu do
lugar graças à Sociedade, foi substituída por um falso substituto. O falso tem de morrer para que a
Verdade, para que o real possa afirmar-se. O falso estava a sentir-se fraco, e a Verdade dentro de ti
sentiu-se forte. Alimenta essa força, e deixa essa fraca parte de ti passar fome, e deixa-a morrer.

A Morte do Ego é o nascimento do Deus que há em ti. É o teu verdadeiro nascimento. A partir desse
nascimento, um novo tipo de Vida totalmente diferente, uma Vida de Celebração, começa

OK, Vimal?

Sim, Osho

Tu és o espelho!

Manhã de 19 de Fevereiro de 1987 no Auditório de Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, quando eu olho os momentos de quando estou separado de ti, do meu Amor e do resto
da Existência, normalmente são as sombras da comparação e do ciúme; e quando vou mais
profundamente, normalmente toco numa insegurança profunda e o sentimento de ser inferior. Será que
me podes guiar para encontrar a solução para levantar estas sombras e como me sentir livre delas?

Latifa, tu sofres de uma doença chamada “Alemanha”. Foi graças a esta doença que duas Guerras
Mundiais aconteceram. Não foi a superioridade da raça que foi a causa das Guerras, foi sim um
sentimento profundo de inferioridade. Para o tapar, eles tentaram harduamente serem superiores.

Apenas a Pessoa que tenta ser superior é que sofre, necessariamente, de um complexo de
inferioridade; Apenas a Nação que tenta ser superior às outras, sofre como um Todo desse sentimento
profundo de inferioridade.

É um dos factos mais surpreendentes, de que a Índia nunca invadiu nenhum País. Em mais de dez mil
anos de História, nunca houve uma invasão, e a razão é, a Índia nunca sofreu de um complexo de
inferioridade. Vieram invasores e conquistaram a Índia. Pequenos grupos de Pessoas muito
primitivas vieram e conquistaram uma terra tão vasta sem muitas dificuldades, e por uma razão muito
simples — porque a Consciência indiana não tinha medo nem sequer da escravatura. Nem sequer a
escravatura a conseguia inferiorizar; a sua superioridade tinha algo a haver com o seu crescimento
interno, a evolução da sua Consciência.

Não foi por qualquer outra razão de que por mais de dois mil anos a Índia permaneceu um País
escravizado, quer fosse de uma terra ou de outra; e eles eram todos grupos pequenos, pequenas
tribos, que poderiam ser facilmente esmagadas por este continente sem qualquer dificuldade. Não foi
cobardice: foi simplesmente — se tu não estás a sofrer de um complexo de inferioridade, o desejo de
lutar, o desejo de provar que és superior, não está lá.

Porque é que aconteceu na Alemanha? — A razão foi que a Alemanha tinha uma população de
milhões de Judeus, que há muito pensavam que eram uma raça superior, a raça escolhida por Deus. E
eles tem qualidades… são mais inteligentes, facilmente ficam ricos… e os alemães sempre se
compararam com os seus vizinhos que eram os Judeus. Eles eram ricos, eles eram inteligentes; eles
estavam a ficar com quarenta porcento dos prémios Nobel, e o resto do Mundo ficava com os
restantes sessenta porcento.

Os três grandes Homens deste século, que predominam na mente das Pessoas, são todos Judeus: Karl
Marx era Judeu, Sigmund Freud era Judeu, Slbert Einstein rea Judeu.

Como estavam na sombra dos Judeus, os germânicos sentiam-se inferiores. E quando se começa se
sentir inferior, não se consegue continuar com essa inferioridade; é uma dor constante, é uma
lembrança constante de que existem Pessoas que são superiores. Nesse caso, os germânicos tinham
de provar de alguma maneira que eram superiores aos Judeus.

Esta foi a razão de porque um louco como Hitler conseguiu fazer com que até grandes intelectuais
germânicos o seguissem — porque ele prometeu a eles que se livraria de todos os Judeus. Isso era
apenas simbólico. Ao livrarem-se dos Judeus, não restaria ninguém que os fizesse lembrar da sua
inferioridade; e ao livrarem-se da raça escolhida por Deus, certamente provariam ao Mundo inteiro
que eles eram de facto a raça escolhida por Deus, os Arianos Nórdicos Germânicos.

Ninguém chegou a aprofundar a psicologia destas duas Guerras, mas uma das coisas fundamentais é
esta: os germânicos estavam a tentar livrar-se do seu complexo de inferioridade. E todo o Mundo as
Pessoas interrogavam-se, como é que Adolf Hitler conseguiu convencer os germânicos que foi por
causa dos Judeus que eles perderam a Primeira Guerra. Parece que não existe nenhum tipo de
relação.

Realmente é uma ideia absurda, até mesmo uma Pessoa atrasada mentalmente entende que não há
nenhuma razão real para que os Judeus sejam a causa… Eles não traíram o País; eles lutaram
juntamente com os Germânicos contra o inimigo; eles produziram as armas de destruição; eles deram
os seus melhores Cientistas para a Guerra, os seus Filhos e Soldados — porque é que de repente
Adolf Hitler começou a dizer, “Os Judeus são a razão da nossa derrota, e a não ser que sejam
totalmente eliminados da Alemanha, a Alemanha nunca poderá ganhar!”

Olhando superficialmente parece não haver qualquer relevância, nenhuma razão de ser; até parece
que ele disse, “Nós fomos derrotados na Primeira Guerra Mundial porque as Pessoas usam pasta de
dentes.” Os Judeus tem exatamente a mesma relevância para a derrota alemã.

Mas olhando mais profundamente psicologicamente, Adolf Hitler tem razão. Foi graças aos Judeus
que eles permaneceram sempre inferiorizados. Eles nunca ficaram agressivos — pois como é que
uma Pessoa inferior pode ser agressiva? Eles nunca acreditaram neles próprios — pois como é que
uma Pessoa inferior pode acreditar nela própria? Eles sabiam de antemão que seriam derrotados;
eles são Pessoas inferiores. Adolf Hitler queria provar: “Nós somos superiores.” E a única maneira
de provar isso era matar seis milhões de Judeus. Ele matou seis milhões de Judeus e muitos outros
milhões de Pessoas em outros Países. Isso deu uma grande força no Ego germânico; agora ninguém
podia dizer, “Nós somos inferiores.”

Latifa, esse problema não é só teu; é um problema que a Alemanha tem carregado às costas ao longo
de séculos. Já quase se tornou parte do subconsciente coletivo; mas não se pode ver livre disto
matando Judeus ou outras Pessoas.

Tu podes fingir ser superior; até podes acreditar ser superior. Até podes provar ao Mundo inteiro que
és superior; mas mesmo lá no fundo tu sabes perfeitamente bem que não és superior.

Todas essas camadas de disfarces não vão ajudar. Então, quando vieres ter comigo e começares a
meditar, aos poucos e poucos essas camadas começam a desaparecer, porque elas são criadas pela
mente; e depois surge a muito enraizada condição de inferioridade.

A única maneira de se ver livre disto é apenas observar — deixa emergir, não a suprimas. Se a
suprimires, vais ter de viver com ela. Deixa-a emergir, e permanece sendo um observador: deixa
essa ideia de inferioridade der apenas um pensamento, e de que tu não és a mente que pensa.

Tu és o Ser que observa.


O teu Ser não é nem superior nem inferior.

Simplesmente é; não tem comparação.

Os Judeus tem sofrido desnecessariamente porque Moisés deu-lhes esta ideia de que eles eram os
escolhidos por Deus. Ele tinha de fazer isso; eu compreendo a sua necessidade na altura. Os Judeus
estavam no Egito, como escravos, e Moisés estava a tentar fazer com que eles se revoltassem contra
a escravatura.

Nestes tempos, as Pessoas que tem permanecido escravas durante séculos não conseguem nem
imaginar que se podem revoltar contra os seus Mestres; só a própria ideia é assustadora. Esses
Mestres batem neles, matam-nos — tratamo-nos como se fossem Animais — durante tanto tempo. A
questão que se colocou a Moisés foi, “Como é que vou incutir a ideia de que os Judeus se podem
rebelar?”

Ele inventou uma bela ideia: de que eles eram os escolhidos por Deus; e as Pessoas que sofriam com
a escravatura, que eram violentadas fisicamente, mortas, aceitaram essa ideia imediatamente. Era
uma enorme consolação. Mas ninguém perguntou, se eles eram o povo escolhido por Deus, então
porque é que eram escravos? A ideia era tão contraditória; mas era tão consoladora que conseguiram
reunir a coragem suficiente mal aceitaram essa ideia. Primeiro Moisés deu um jeito para eles
aceitarem essa ideia: “Vocês são o Povo escolhido por Deus;” depois disselhes, “Para vocês a
Revolução é muito fácil — ninguém vos pode impedir.”

A sua inferioridade foi tapada por “o Povo escolhido por Deus;” e agora, a desculpa de “o Povo
escolhido por Deus” foi usada como bade para fazer a Revolução contra os Egipcíos. Nesse aspecto
foi uma boa estratégia. Os Judeus revoltaram-se — deixaram a terra do Egito.

Depois Moisés deu-lhes outra ideia, “Deus fez-vos um terra especial para vocês, Israel; então vamos
para Israel.” Eu penso que ele não tinha qualquer ideia para onde iam, pois demorou quarenta anos a
andar pelo Deserto, à procura da terra “Israel”. Nenhum estava pronto a dar-lhes abrigo. Um pequeno
País ao qual eles começaram a chamar de “Israel” não era nada de especial — era um Deserto.

Se isso é o que Deus cria para i seu próprio Povo, então ele parece ser um pouco louco. Mas Moisés
tinha de dizer em algum sítio, “Encontrámos!”… Três quartos das Pessoas que originalmente tinham
começado a viagem já tinham morrido pelo caminho, de fome — e Deus nem se importava… O seu
Povo tinha ido há procura da terra que ele tinha criado para eles e essa mesma terra não era boa. As
Pessoas que conseguiram chegar a Israel eram quase da terceira, quarta geração. Os seus tetra-avós
tinham começado no Egito, e a terceira ou quarta geração é que conseguiu chegar.

O fosso para a primeira geração foi sentido por Moisés: estas não eram as Pessoas que ele tinha
convencido a revoltarem-se. Ele era já quase Ancião, talvez já tivesse cem anos; cansado, marcado,
ele só disse, “Esta é a terra” — para de alguma forma assentar o seu Povo. Mas as Pessoas ficaram
surpreendidas, pois a terra era um deserto puro. Começou outra época de dificuldades vinda daquele
deserto improdutivo; e Moisés já estava tão cansado, e também tinha perdido a sua destreza jovial.
Ele deixou os Judeus em Israel dizendo, “Cuidem da terra. Uns quantos Judeus, uma Tribo de Judeus,
perdeu-se algures no deserto e eu vou há procura deles.”
Essa Tibo chegou até Kashmir, na Índia. E Moisés chegou também até Kashmir, mas não viveu muito
mais tempo — talvez mais um ano ou dois — e lá morreu. Se ele tivesse trazido toda a sua Tribo
para Kashmir, isso sim teria sido ótimo, mostrando-lhes: “Deus criou isto para vocês.” Kashmir é tão
bela, talvez a parte mais bonita de toda a Terra; e por isso é que uma Tribo que tinha vagueado de um
lado para o outro, por engano chegaram até Kashmir e pensaram: Isto deve ser Israel, os outros
também devem vir para aqui — então ficaram lá.

Agora, o Povo que está em Kashmir são todos Mohammedianos. Eles foram convertidos há força por
Mohammedianos, de Judeus para Mohammedianos. Mas podem ver as suas faces, a sua cor, os seus
narizes — e podem certificar-se que de certeza que pertencem aos Judeus. Eles não são… os Judeus
tem uma personalidade própria, tal como cada raça tem uma personalidade própria. Moisés morreu
em Kashmir.

Israel era um lugar tão inóspito, não havia qualquer oportunidade ou desafios para a inteligência —
os Judeus foram durante séculos escravos. Daí, nunca terem chegado a conhecer o que era
inteligência.

A Mente é algo como a terra. Se, durante séculos nada cresceu na terra, torna-se cada vez mais
poderosa, e se semeares nessa terra, vai dar-te as melhores colheitas possíveis, pois a sua energia
nunca chegou a ser usada. No início, os Judeus eram escravos, a sua inteligência nunca chegou a ser
usada, permaneceu sendo um potencial. Então, em Israel, não houve oportunidades de a usar —
depois começaram a espalhar-se por toda a Europa, sempre que houvesse oportunidade.

Eles provaram ser superiores a todos os outros, pois tinham um grande potencial, que nunca fora
usado durante séculos. Tornaram-se na raça mais rica do Planeta. Não é que eles fossem os
escolhidos por Deus, isso foi apenas uma invenção de uma mente revolucionária — Moisés devia ser
descrito como sendo o primeiro revolucionário de sempre.

Dentro de um certo contexto, isso é perfeitamente certo; mas os tempos mudam, aquilo mesmo que
ajudou os Judeus a tornarem-se ricos, mais inteligentes que os outros, tornou-se uma maldição:
porque todas as Pessoas os odiavam, todas as Pessoas tinham inveja deles; ciúmes da inteligência
deles, inveja das suas riquezas, inveja das suas posses.

Hitler convenceu facilmente toda a Alemanha, de que “São os Judeus. Só a sua presença está a
causar-nos desgraça.” E um Homem como Heidegger, um filósofo alemão que venceu o Prémio
Nobel, e talvez o filósofo mais difícil que o Mundo alguma vez conheceu… Ele nunca escreveu
chegou a escrever um livro completo; ele começava um livro; e publicava o primeiro volume, mas
nessa altura — ele tinha uma tal inteligência — que começava a fazer outra coisa qualquer.

Não era o suficiente completar o livro — ele é o único Homem tem todos os seus livros incompletos.
Ele vai até uma parte, e de repente tem uma grande ideia… esquece o que estava a fazer, e começa
um novo projeto. Mas até mesmo os seus livros incompletos são prova da sua enorme genialidade.

Há filósofos que se perguntam a eles próprios do qual seria o resultado se ele tivesse acabado as
suas obras, porque ele estava sempre a ir para novas dimensões, nunca tocou; aonde nunca nenhum
marinheiro foi — costas virgens, às quais nenhum filósofo nunca se incomodou. E a sua perspectiva é
tão profunda, que para o entender, é preciso ter uma inteligência muito sofisticada; de outro modo não
se consegue entender o que ele fala.

Mas até mesmo Martin Heidegger tornou-se seguidor de Adolf Hitler, por causa dessa inferioridade
germânica. E Adolf Hitler prometeu, e geriu a promessa — por quase cinco anos ele continuou a
conquistar, continuou a convencer os germânicos de que “de certeza que nós somos a raça escolhida;
nós simplesmente não sabíamos disso: Adolf Hitler fez-nos ver isso.” Só que uns anos depois a
Alemanha foi novamente derrotada, e o complexo de inferioridade ressurgiu de novo.

Latifa, não é apenas um problema teu, é um problema de toda a raça germânica; e a maneira de se
sair dela é não se sentir identificado com ela.

Ninguém é superior.

Ninguém é inferior.

Todos são únicos.

Porque não há duas Pessoas iguais, não se pode comparar Malmequeres com Rosas: são dois tipos
de Flores diferentes. Não se pode comparar dois Seres Humanos, eles são dois tipos de Flores
diferentes. Mas isto não é uma questão de convicção intelectual, é sim uma questão de se estar
desperto, e de destruir a identificação.

Não tentes ser superior, tenta ser apenas tu. Não és inferior, mas, lembra-te: ninguém é inferior. Tu
não és superior.

Aristóteles criou um problema para os Seres Humanos. Ele criou um dos pilares que mais problemas
dá há mente humana, porque ele apenas conhecia: ou és superior, ou és inferior. Em tudo era, ou: ou
és branco ou és preto; ou és um Santo ou és um Pecador.

Ele nunca se proporcionou a olhar para o arco-íris, e para toda gama de cores que há entre o branco
e o preto. E cada cor tem a sua beleza própria, a sua própria dança, tem o seu próprio lugar na
Existência, há qual nenhuma outra cor a pode substituir.

A visão em relação a isso é que cada indivíduo é único; eu quero destruir a própria ideia de
comparação. Tu és tu próprio, eu sou eu próprio; não sou superior nem sou inferior a ti.
Simplesmente acontece que eu sou assim; e que tu és da maneira que és. Mas isso tem de vir a partir
das tuas meditações. O que eu estou a dizer é a minha meditação, não tens de acreditar nela — tens
sim de experimentá-la. E nesse dia vais ver — tu és apenas tu.

Por exemplo, Latifa, pensa no seguinte: todas as Pessoas morrem na Terceira Guerra Mundial, menos
a Latifa… Será que ela ainda vai continuar a pensar que é inferior? Inferior a quem? Será que ela vai
pensar que é superior? Mas superior a quem? Apenas há corpos de Pessoas mortas em todo o lado;
não se consegue ser inferior ou superior a corpos de Pessoas mortas.

E em verdade, nós estamos mesmo sozinhos; tal como a Latifa está sozinha se o Mundo todo vosso
destruído. Até mesmo neste momento, todas as Pessoas estão sozinhas, apenas restaram elas
próprias. Basta apenas tomar consciência e aceitar-se a si próprio tal como é, isso é o suficiente para
que todo o problema desapareça. De outro modo, isso vai torturar-te, e vai ficar uma ferida para o
resto da tua vida.

Tu dizes, “Quando eu olho os momentos de quando estou separado de ti, do meu Amor e do resto da
Existência, normalmente são as sombras da comparação e do ciúme; e quando vou mais
profundamente, normalmente toco numa insegurança profunda e o sentimento de ser inferior.”

É muito bom aprofundares os teus sentimentos. Mas lembra-te de uma coisa: aquele que vai mais
profundamente, aquele que ultrapassa a inferioridade, a insegurança, os ciúmes, está separado deles.
Não pode ser uno com eles, de outro modo, como é que se poderia sentir inferior, inseguro e com
ciúmes?

Tu és a testemunha; então, há medida que fores mais profundo, vais-te deparar com muitas coisas que
suprimis-te; ou talvez por milhares de anos toda a tua raça tem sido suprimida; ou talvez toda a
Humanidade tem sido suprimida… Mas tu és puro como um espelho.

Quando estás a ir mais profundamente, o espelho reflete ciúmes, mas o espelho não é ciumento; o
espelho reflete insegurança, mas o espelho não é inseguro; o espelho reflete inferioridade, mas o
espelho não é inferior. O espelho não de identifica com nada daquilo que reflete — o espelho apenas
está vazio, silencioso, limpo. Tu és o espelho.

Na Meditação, tu tomas consciência que tu és o espelho. Todas as outras coisas são refletidas em ti,
mas o espelho não se transforma num Búfalo, porque um Búfalo olha para o espelho. Quando o
Búfalo se vai embora, o espelho encontra-se novamente vazio, até mesmo quando o Búfalo estava a
olhar para o espelho, o espelho encontrava-se vazio. Um espelho tão pequeno não pode conter um
animal tão grande quanto o Búfalo.

Já deves ter visto quando Crianças pequenas olham para um espelho a primeira vez. Crianças
pequenas que ainda estão a aprender a gatinhar… coloquem-lhes um espelho há frente delas, e elas
ficarão muito surpresas, ao verem outra Criança. Olharão com admiração, e de certeza que irão para
trás do espelho, para a encontrarem — aonde se escondeu. Podem até tocar no espelho, e ficarão
surpresas ao verem que a outra Criança também está a tocar; então a única forma de descobrir é ir
para trás do espelho. Toda a Criança vai para trás do espelho para procurar a Criança que se
encontra lá escondida.

Um espelho é apenas um fenómeno da reflexão; e tu também. Sê um espelho, e depois todos esses


problemas, quais quer que sejam, começarão a desaparecer — eles são apenas reflexos. Não
precisas de tentar desembaraçar-te deles. Só a própria ideia de que tens de te ver livre deles, que te
tens de te libertar deles, é uma aceitação de que são realidades do teu Ser.

O espelho não quer saber se o Búfalo está a olhar para ele ou não, ou mesmo se fosse um burro. Não
lhe interessa; isso não muda a qualidade do espelho de forma alguma. O maior génio do Mundo pode
olhar para ele, e o maior idiota pode também olhar para ele: o espelho permanece o mesmo. As
reflexões não mudam a sua qualidade, o seu Ser.
Tu és um espelho.

Descobre esse espelho e não te incomodes a ver-te livre dos ciúmes, da insegurança, da
inferioridade. Existem milhares de problemas; se começares a tentar ver-te livre deles, vais precisar
de muitas vidas… Foi por causa de tantos problemas que o Leste começou a acreditar em muitas
Vidas, pois uma só Vida não é o suficiente. Não tens assim tanto tempo.

Metade da tua Vida, se fizeres as contas, é usada a dormir, a comer, a tomar banho, a tirar a barba
duas vezes por dia… O somatório disso tudo em setenta anos vai ser uma soma bem grande. Ir para
algum emprego idiota, ver filmes, jogar futebol, discutir com a tua esposa, preocupar com mil e uma
coisas que nunca acontecerão, lembrar de todas as coisas do passado — e agora já não há qualquer
sentido em lembrar delas. Faz essas contas e ficarás surpreendido se em setenta anos consegues ter
apenas sete minutos de Meditação.

Naturalmente, o Leste de inventar a história em que não se podia resolver todos os problemas numa
única Vida, tu não tens tempo, precisas de muitas Vidas. Mas ninguém aprofundou isso, de que numa
Vida tu não podes resolver problemas, mas vais sim criar muitos problemas. E assim a segunda Vida
ficará ainda mais cheia de problemas: os problemas da primeira Vida e os problemas da segunda —
e para a Meditação, novamente aqueles sete minutos. Visto dessa maneira, mesmo que tenhas
milhares de Vidas, nunca te vais ver livre deles. Eles continuarão a surgir um atrás de outro, ficarão
cada mais maiores, e mais densos, vais ficar à mercê deles… Isso é uma atitude errada.

Com isto não estou a querer dizer que não há Vidas futuras. Apenas estou a dizer que a ideia agradou
às Pessoas porque elas precisavam de tempo. A ideia está correta, mas não deve ser aceite porque tu
precisas de tempo para resolver os teus problemas. Os teus problemas podem ser resolvidos neste
momento, não há qualquer necessidade de se esperar pelo amanhã.

Então, a partir deste momento, Latifa, tu és um espelho alemão. Eu não estou a dizer um espelho
indiano, porque não se pode confiar num espelho indiano — não se pode confiar em nada que tenha
sido feito na Índia. As Pessoas fazem coisas na Índia e escrevem nelas, “Feito nos EUA.”

Certa vez mostraram-me um relógio em Bombain. Olhei para o relógio; parecia ter sido feito na
Índia, mas na parte de trás dele estava rscrito, “Feito nos EUA”. Então perguntei à Pessoa que o
mostrou, “Tens a certeza que ele foi feito nos EUA?”

Ele riu-se e disse, “EUA (USA) significa Ulhasnagar Sindhi Association, é apenas um sítio perto de
Poona.”

Os Sindhis são Pessoas muito espertas; eles inventaram o nome Ulhasnagar Sindhi Association…
USA (EUA); feito nos EUA.

Já me deparei com muitas coisas em que está escrito… se não prestares a devida atenção, verás;
“Feito na Alemanha.” Mas se olhares atentamente, não está lá escrito “Feito na Alemanha” (Made in
Germany), mas sim “Feito como na Alemanha” (Made as Germany”. Eles mudaram o “na” (in) para
“como na” (as). Mas “Feito como na Alemanha” — o que isso significa?
Por isso é que eu digo, tu és um espelho alemão. Concentra-te apenas cada vez mais na qualidade do
teu espelho e todas as doenças que tu falas tem tendência a desaparecer num segundo.

Eu acredito em tais milagres.


Segunda pergunta

Querido Osho, parece que sempre que vivencio um sentimento de bem-estar dentro de mim, é sempre
seguido por uma onda de auto-condenação. E quanto mais intenso e profundo for o riso e a
celebração, mais intensa e profunda é a condenação que se segue. Sinto-me como se estivesse a ser
estrangulado por isso. Será que vou chegar a um altura aonde essa sensação vai desaparecer ou vai
ser sempre uma sombra da minha Alegria?

Surabhi, é a condição que tens contra tudo o que é agradável. O Prazer foi já condenado tantas vezes
que te esqueceste que é uma das grandes mentiras. Tu dizes, “Parece que sempre que vivencio um
sentimento de bem-estar dentro de mim, é sempre seguido por uma onda de auto-condenação.”

Essa onda de auto-condenação vem ter contigo proveniente da tua condição, provavelmente do
condicionalismo Cristão ou Católico. Condenam tudo — e quando se começa a condenar as coisas
quando se é Criança, elas não tem a capacidade de as rebater. Elas confiam nos seus Pais e se eles
condenam, elas aprendem a arte de condenar a elas próprias.

Mas a Natureza dá-te momentos de bem-estar, de Prazer; e a isso também não consegues resistir.
Estás sentado em dois barcos: um é feito das tuas condições; e o outro é o teu Barco natural, que
trouxeste contigo — a tua Vida. Não podes deixar os prazeres completamente, mas podes fazer uma
coisa — e isso é que fazem todos — ter o Coração dividido.

Quando estão a sentir algo com prazer, tentam conter-se ao máximo; estão numa posição muito
estranha. Por isso é que te sentes como se estivesses a ser estrangulado… é como se fosse uma
tensão. O teu condicionalismo está a dizer-te, “Não vás por aí”, e toda a tua Natureza está a ir por aí.
Lá no fundo tu queres ir por esse caminho porque é muito agradável, tão bonito. Mas a tua mente
continua a dizer-te, “Olha, não vás por aí, isso é pecado, vais sofrer por causa disso. Apenas por um
bocado de prazer vais ser enviado para o Inferno durante toda a Eternidade. Pensa nisso, espera.”

Então estás constantemente a saltar de um lado para o outro, entre o Prazer e a atitude do Anti-Prazer.
É esse estado que te dá a sensação de estares a ser estrangulado.

Existem algumas Pessoas que deixaram por completo todos os seus condicionamentos e vivem o seu
curso natural da Vida. Elas são Pessoas alegres, dançam e cantam — desfrutam. As Pessoas
religiosas condenam-nas: são pecadoras; comem, bebem, estão sempre felizes e contentes, essa é a
sua única Religião. Elas sofrerão imenso.

Existem Pessoas, muito poucas, que deixaram completamente de lado os seus desejos naturais, e
focaram-se nos seus condicionalismos sociais. Não sentem qualquer tipo de prazer, as suas canções
de Vida estão perdidas. Elas sentem-se amputadas; não conseguem dançar. Elas apenas conseguem
fazer uma coisa; toda a sua Energia, a qual se devia ter dividido por muitas Dimensões, ficou
concentrada apenas numa coisa: condenar aqueles que são Alegres.

Essas Pessoas são chamadas de Santos. O seu único trabalho de manhã à noite é condenar. Aos
poucos e poucos a condenação torna-se no seu único Prazer. Quanto mais condenam, mais se sentem
santos, superiores, divinos, espirituais; e os outros tornam-se materialistas. Apenas há uma
consolação para eles, de que depois da Morte estarão no Paraíso, a desfrutar de tudo o que não
puderam desfrutar aqui. E todas essas Pessoas que estão a andar atrás de prazeres momentâneos
sofrerão no Inferno durante toda a Eternidade.

Até mesmo Professores como Jesus deram suporte a estas ideias. Lázarus perguntou a Jesus, “Tu
dizes, ‘Abençoados sejam os Pobres, porque a eles pertence o Reino de Deus’, mas como é que
posso acreditar em ti? Aqui estamos nós a morrer à fome; o Verão é quente e as chuvas não vieram há
mais de dois ou três anos. Os poços secaram; até mesmo arranjar água tornou-se difícil.”

Jesus respondeu a Lázarus, “Não te preocupes, Lázarus; brevemente verás, depois da Morte estarás
sentado ao colo de Deus. E este Homem rico, que está hoje a dar uma Festa a outras Pessoas
igualmente ricas e poderosas da Cidade, passarão fome e sede no Inferno. E dirão a partir de lá,
‘Lázarus, dá-nos algo para comer; também estamos com sede.’ E esse vai ser o seu destino eterno.
Mesmo que queiras dar algo a eles, não o poderás fazer — pois nada passa do do Céu para o Inferno.
Tu terás todos os prazeres, e eles terão todos os sofrimentos. Então, trata-se apenas de uma questão
de alguns anos. Vale a pena sofrer durante alguns anos, e depois desfrutar de toda a Eternidade.

Para consolar os Pobres… e os Pobres sempre estiveram em maioria, eles é que são os verdadeiros
Clientes de todas as Religiões. As Religiões tem de os consolar, e descobriram — todas as Religiões
do Mundo — o mesmo tipo de consolação, depois da Morte…

O problema é que a Natureza é muito poderosa; os condicionamentos não a conseguem destruir


completamente, apenas a podem envenenar. E isto, Surabhi, é o que estás a sofrer: envenenamento
por condicionalismo.

Sempre que sentes um certo bem-estar, isso é seguido por uma onda de auto-condenação. Qual é o
mal em sentirmo-nos bem? Não se está a aleijar ninguém. O bem-estar não é algo quantitativo que tu
tenhas apanhado, para que os outros não o possam sentir. Não o escondes-te de ninguém. De facto, ao
estares bem, poderás até despertar o bem-estar de outras Pessoas.

Ao estarmos junto a uma Pessoa que se sinta totalmente bem, ela irradia uma certa Alegria que é
contagiosa. Porque é que devias sentir auto-condenação? Não fizeste nada de errado. Ocupa apenas
em deixar cair os teus condicionalismos — e isso é possível de se fazer, pois não fazem parte da tua
Natureza, eles foram-te impostos pela Sociedade. Eles são arbitrários. E quanto mais profunda e
intensa for o riso e a celebração, mais profunda e intensa será a condenação que surge a seguir.

A tua dança, a tua celebração, o teu canto não prejudica ninguém. Até pode sarar alguém, mas nunca
poderá aleijar nada. Estes Pássaros estão a cantar e não sentem qualquer tipo de condenação. Eles
não vão há Igreja católica confessar os seus pecados aos Padres todos os Domingos “Pai, perdoa-me.
Eu cantei novamente nesta semana. Não pude resistir — quando o Sol se levanta e as Flores soltam a
sua fragrância… Eu tento arduamente, mas sou um impotente, pequeno Pássaro, com pouca força,
então estive a cantar durante a semana toda. Agora, perdoa-me, e pede a Deus para me perdoar.”

Estas Árvores não vão ao Padre; elas dançam, elas desfrutam do Sol, do Vento, da Chuva — elas
desfrutam de vocês. Elas devem estar há espera de vocês todas as manhãs, todas as noites, porque
nós estamos todos ligados uns com os outros. Elas devem estar há espera: está na hora, tu deves estar
a chegar. E quando tu cantas e quando bates palmas, achas que essas Árvores se importam? Elas
desfrutam disso.

O Homem é o único Animal idiota no Mundo, e os Padres encontraram a tua fraqueza. A tua fraqueza
é que a tua Mente pode ser enchida de lixo, quer tu queiras ou não. As Pessoas estão constantemente
a por lixo na Mente de umas das outras — não vais encontrar Pessoas sentadas em silêncio.

Eu costumava viajar muito e era um problema ter um Passageiro ao meu lado. Eu sempre escolhia a
opção de ar-condicionado, para que apenas tivesse no máximo um outro Passageiro; a maior parte
das vezes não tinha ninguém. Mas até mesmo um único Passageiro é o suficiente. E eu viajava o ano
inteiro constantemente; e houve tantos incidentes…

Eu entrava no compartimento e o meu companheiro de viagem começava a sorrir — isso significa


que está a aproximar-se — e eu punha um dos meus dedos nos lábios, e ele olhava para mim muito
desapontado. Mas mesmo assim perguntava, “Está em silêncio?” Em seguida ele ficava impaciente,
isso era muito engraçado. Ele abria a mala, fechava-a, pegava num livro, olhava para ele, guardava-
o, folheava o jornal que já tinha lido durante todo o dia, e guardava-o novamente… e eu apenas
olhava para ele! E finalmente dizia, “Pode ficar em silêncio, mas não olhe sempre para mim, pois
estou a sentir-me nervoso.” Porque é que ele devia sentir-se nervoso? Ele ia para a casa de banho,
voltava, ia outra vez, e voltava de novo — apenas para se manter ocupado. As Pessoas não
conseguem ficar sentadas em silêncio.

De vez em quando acontecia o seguinte — eu tinha muitas maneiras de lidar com estas Pessoas —
quando entrava e a Pessoa olhasse para mim, dizia-lhe, “Este é o meu nome, este é o nome do meu
Pai, este é o nome do Pai do meu Pai. Eu tenho muitos Tios, muitos Irmãos, muitas Irmãs.

Ele respondia, “Mas eu não perguntei nada!”

Eu respondia, “Mas vais perguntar, então é melhor acabar isto depressa!… Todos os meus Tios são
casados, e deles tem duas Crianças.”

E ele, “Mas eu nem sequer disse uma única palavra — porque é que estás a dizer essas coisas
todas?”

Eu dizia, “Eu sei que muito brevemente vais perguntar o meu nome, o nome do meu Pai, aonde é que
vivo, para onde estou a ir, o que é que faço. Estou já a dizer-te tudo de uma vez, para que não reste
nada. Se falta alguma coisa diz-me já, pois quero acabar com isto nos próximos cinco minutos; e
depois, durante as próximas quarenta e oito horas quero estar em silêncio, e aí não me perguntes
nada.”

No início ele ficou chocado, mas entendeu que mais cedo ou mais ele iria fazer essas perguntas. É
isso o que as Pessoas estão a perguntar umas às outras — aonde moram, o que fazem. O que isso te
interessa? O que te interessa saber aonde vou ou de onde venho? — e esperasse que eu faça essas
mesmas perguntas.

Então eu costumava dizer às Pessoas, “Em cinco minutos eu direi-te tudo e mais alguma coisa, de
uma forma resumida; e vou dar-te cinco minutos — podes dizer em cinco minutos todas as coisas que
possam ser perguntadas a ti — e depois, durante quarenta e oito horas ambos ficaremos em silêncio.”

As Pessoas pensavam que este Homem parecia um louco! E durante quarenta e oito horas era um
verdadeiro Circo, digno de se ver: ele chamava o Empregado e comia demasiado, e eu vi-a que ele
comia uma vez atrás de outra, e pedia cafés e bebidas geladas. Eu simplesmente olhava para ele, não
fazia nada.

Algum tempo depois ele acabava por ficar muito tenso e chamava o revisor, “Eu quero sair daqui.
Ponha-me noutro compartimento”

E eu dizia ao Revisor, “Eu irei continuar com ele.”

O Revisor respondia, “Mas isto é muito estranho.”

E eu respondi, “Nada disso, nós somos companheiros. Apresentei-me, e ele apresentou-se. Agora é
um contrato de quarenta e oito horas, mude-o apenas se tiver dois lugares.”

O mid provável é que ele não tinha dois lugares vazios, e mesmo que tivesse, esse Homem recusaria:
“Eu não quero ir — não há razão para isso. Se eu tenho de passar quarenta e oito horas com esta
Pessoa noutro compartimento, então este também é bom.”

Todos os Revisores conheciam-me, então, quando eu saía, eles diziam, “Não o tortures. Essa pobre
Pessoa está em choque, tal como se estivesse a viajar com um Fantasma ou algo parecido.”

As Pessoas falam constantemente; largando todo o seu lixo na tua cabeça e convidando-te a pores o
teu lixo na cabeça deles. E todo esse lixo torna-se parte da tua mente.

De outro modo, Surabbhi, será que não podes ver que a tua maneira de ser não prejudica ninguém?
Porque é que deves sentir auto-condenação? Isso é apenas o lixo que os teus Pais e os Padres
forçaram em ti. O teu cantar, o teu riso, as tuas celebrações — se puder fazer algo, será algo bom.
Porque é que deves sentir uma condenação vinda daí? Estes são os teus Padres mortos; séculos de
Pessoas mortas que estão a desfrutar dos seus túmulos, a descansar, a relaxar; e foram eles que te
deram essas ideias. Basta apenas um pouco de Consciência, e não encontrarás nenhum conteúdo
nessas condenações.

Eu posso compreender se estiveres a magoar alguém, se estiveres a ser violento com alguém, se tu
estiveres zangado com alguém e aparece uma condenação — é compreensível, é razoável. Não te
portaste bem e a tua Consciência está a tentar dizer-te, “Não faças isso de novo.”

Mas isto não pode ser verdade sobre a Celebração e sobre o cantar e sobre o dançar e bem-estar —
então, observa apenas. E quando sentires a condenação a chegar, dança ainda mais. Transforma a
Energia da Condenação numa Celebração mais intensa. Torna bem claro à tua Mente condicionada de
que se interfere contigo, vais fazer a mesma coisa ainda mais.

Se depois de rires sentires Condenação, então ri-te durante horas até essa estúpida condenação se
sentir cansada, dizendo, “Esta Mulher não vale a pena, deveria escolher uma outra católica!”

Tu perguntas-me, “Será que vai vai chegar a uma altura aonde vai desaparecer, ou irá permanecer
uma sombra da minha Alegria?”

Depende de ti. Pode desaparecer neste preciso momento; mas se tu escolheres, pode permanecer. É
um convidado teu. Manda fora o Convidado com todas as suas bagagens e diz-lhe adeus para sempre!

Torna isso bem claro. Não olhes para trás, “Vai para outro lugar — há por aí muitos Cristãos; entra
na cabeça de outra Pessoa. Já se acabou tudo entre nos dois!”

Tenta isso! Junta todas as malas, tudo, e manda-as para fora da janela. Foi uma decisão tua o facto de
aceitares esse Convidado. Lembra-te que és o Anfitrião e que o Convidado é apenas o Convidado, e
apenas pode permanecer com a tua permissão. E que Convidado tão feio, quando podes ter
Convidados tão lindos… Sê um pouco mais seletivo.

Os Convidados que tens vindo a carregar na tua cabeça até agora são as tuas doenças; estão a fazer-te
doente. Elas não te permitem rir, elas não te permitem dançar, elas não te permitem celebrar. O que é
que elas permitem? Apenas em seres sério e triste — miserável. Repara no seguinte: quando és
miserável, não há auto-condenação.

Esta é a Conspiração que foi feita pelos Religiosos contra ti. Ser-se miserável é razoável, ser-se
triste é perfeitamente bem; a tua religião não diz nada sobre isso. Mas rir, desfrutar, estar-se bêbado
com moderação, com Ecstasy — e imediatamente todas as Religiões te condenam.

As Religiões transformaram a Terra num Inferno virtual. Se fosses deixado sozinho, sem qualquer
tipo de interferência das tuas Religiões, esta mesma Terra poderia ser um Paraíso. Pelo menos nesta
Casa de Deus tu deves lembrar-te de que estás no Paraíso; e aqui a disciplina é bem diferente. Se és
miserável, condena isso; se estás a celebrar algo, aprecia isso — dá um Presente a ti próprio.

Quando vires alguém a celebrar, aprecia isso — basta apenas o brotar de uma Rosa; dá-lhe um
Presente. Talvez assim, desta maneira aprendas que a Celebração pode ser apreciada. Não há
qualquer necessidade em condenar algo tão belo.

Surabhi, o teu problema é muito simples, é um problema arbitrário criado por outros. Não é um
problema teu, não vem do teu Ser naturalmente. Então, hoje mesmo, quando chegar a hora de cantar e
dançar, lembra-te, se essa auto-condenação chegar, manda-a embora. E a melhor maneira de mandá-
la embora é saltar e desfrutar! Mata-a com a tua Alegria.

Está a matar a tua Alegria Suprema. Tu tens todo o direito de a matar com a tua Alegria — com o teu
Ecstasy.

OK, Vimal?

Sim, Osho!
Os segredos e os mistérios da Existência são infinitos

Tarde de 19 de Fevereiro de 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, há sete anos atrás eu tomei Sannyas. Falaste sobre ser-se Observador e ver com
atenção. Quando acabaste, e antes que eu pudesse sair, paraste-me e disseste-me, “E tu és um bom
Homem.” O teu Amor e a tua Graça tem estado comigo durante estes sete anos, querido Mestre.
Ainda estou deslumbrado: o que é um bom Homem?

Veet Mano, eu lembro-me de ter-te dito, “Tu és um bom Homem”, porque eu dei-te o nome, Veet
Mano. Veet Mano significa ir para além do Homem bom.

A Moralidade preocupa-se com as boas qualidades e com as más qualidades. O Homem é bom — de
acordo com Moralidade — quem é Honesto, verdadeiro, autêntico, de confiança. Mas a Moralidade
não é uma Religião; até mesmo um Ateu pode ser um Bom Homem, porque todas estas qualidades do
Homem Bom não incluem santidade.

Eu já te disse, tu és um Bom Homem; então, o teu trabalho não é só ser bom, mas também transcender
a dualidade do Bom e do Mau. O Homem religioso não é só um Bom Homem, ele é muito mais do
que isso. Para o Homem Bom, a santidade é tudo; para o Homem religioso, a santidade é apenas um
excedente. O Homem religioso é uma Pessoa que se conhece a si própria, é uma Pessoa que é
consciente do seu próprio ser. E no momento em que tu tomas consciência do teu próprio Ser, a
santidade segue-te como se fosse a tua sombra. Logo, não há qualquer necessidade de se fazer
qualquer esforço para se ser bom; a santidade torna-se a tua Natureza. Tal como as Árvores são
verdes, o Homem religioso é bom.

Mas o Homem bom não é necessariamente religioso. A sua santidade vem através de um grande
esforço, ele luta contra as más qualidades — mentira ou roubo, inverdades, desonestidade, violência.
Está tudo presente no Homem bom, apenas estão reprimidas — e podem eclodir a qualquer momento.

O Homem bom pode transformar-se no Homem mau a qualquer momento, sem qualquer tipo de
esforço — isto porque todas essas más qualidades estão lá, apenas estão adormecidas, reprimidas
com esforço. Se tu removeres o esforço, elas rebentarão imediatamente na tua Vida. E as tuas boas
qualidades são apenas cultivadas, não são naturais: tentas-te arduamente ser honesto, ser sincero, não
mentir — mas isso foi tudo um esforço, e cansativo.

O Homem Bom está sempre sério, porque ele tem medo de todas as más qualidades que reprimiu; e
ele é sério porque lá no fundo ele deseja ser venerado pela sua santidade, deseja ser recompensado.
O seu desejo mais profundo é ser respeitado. Os vossos chamados Santos são apenas Homens Bons.

Eu já te dei o nome: transcende o Homem Bom — e apenas há uma forma de transcender o Homem
Bom, trazer mais Consciência ao teu Ser.

A Consciência não é algo para ser cultivado; já está lá, apenas tem de ser desperta. Quando estás
totalmente acordado, o que quer que faças é bom, e o que quer que não faças, é mau. O Homem Bom
tem de fazer imensos esforços para fazer o Bem e para evitar o Mal. O Mal é uma tentação constante
para ele. É uma escolha: em todo o momento ele tem de escolher o Bem, e não escolher o Mal.
Por exemplo, um Homem como Mahatma Gandhi: ele é um Homem Bom; ele sempre tentou
arduamente durante toda a sua Vida em estar no lado Bom. Mas até mesmo quando tinha setenta anos
ele tinha sonhos sexuais — e sentia-se angustiado: “No que concerne às minhas horas em que estou
acordado, eu consigo manter-me livre do Sexo. Mas o que é que posso fazer quando durmo? Tudo o
que eu reprimo durante o dia aparece-me de noite.”

Isso mostra uma coisa: que não foi para nenhum lado; sempre ficou dentro de ti, estava simplesmente
há espera. E no exato momento em que tu relaxas, no momento em que removes o esforço de ser Bom
— todas as más qualidades que tens vindo a reprimir começam a ser os teus sonhos.

Os teus sonhos são os teus desejos reprimidos.

O Homem Bom está num conflito constante. A sua Vida não é de Alegria; ele não pode rir com todo o
seu Coração, ele não consegue cantar, ele não consegue dançar. Ee faz julgamentos contínuos em
tudo. A sua mente encontra-se cheia de condenações e de julgamentos; e porque ele está a tentar
harduamente ser Bom, ele também julga os outros com os mesmos critérios. Ee não consegue aceitar-
te tal como és; ele consegue sim aceitar-te se tu preencheres as suas exigências de se ser bom. E
como ele não consegue aceitar as Pessoas tal como elas são, ele condena-as. Todos os teus Santos
condenam toda a gente: vocês são todos Pecadores.

Estas não são as qualidades de um autêntico Homem religioso. O Homem religioso não condena, não
faz julgamentos. Ele apenas sabe de uma coisa: de que nenhum acto é Bom, nenhum ato é Mau; a
Consciência é boa e a Consciência é má. Até podes fazer algo — inconscientemente — que parece
ser bom para o Mundo inteiro, mas para o Homem religioso isso não é bom. E podes fazer algo mau,
e seres condenado por todas as Pessoas — exceto pelo Homem religioso. Ele não te consegue
condenar, porque tu és inconsciente. Precisas de compaixão, e não de julgamento, nem de condenação
— tu não mereces o Inferno, ninguém merece o Inferno.

Há medida que a tua meditação se aprofunda, o que testemunhas torna-se cada vez maior. É isso o
que eu te estava a dizer sobre testemunhar e observar quando tomavas Sannyas há sete anos atrás.
Esquecime de te dizer que para não pensares que testemunhar e observar nada mais são do que boas
qualidades. Por isso é que quando estavas a sair, parei-te novamente e dissete que tu já eras um Bom
Homem.

Então, algo mais está implicado na transcendência da dualidade do Bom e do Mau. Chegar ao ponto
da Consciência absoluta, não há qualquer questão de escolha — tu simplesmente fazes aquilo que é
Bom, seja o que for. Fazes isso inocentemente, tal como a tua sombra a perseguir-te, sem qualquer
tipo de esforço. Se correres, a tua sombra corre; se parares, a sombra pára — mas não há qualquer
tipo de esforço da parte da sombra.

O Homem Consciente não é igual ao Homem Bom. Ele é bom, mas de uma forma bem diferente, de
um outro ângulo. Ele não é bom porque está a tentar ser bom; ele é bom porque ele está consciente —
e na Consciência, o Mal, o mau, todas essas palavras condenatórias desaparecem tal como a
escuridão desaparece na luz.

As Religiões decidiram tornarem-se apenas morais. São códigos de ética; são úteis para a
Sociedade, mas não são úteis para ti, não são úteis para o indivíduo. São conveniências criadas pela
Sociedade. Naturalmente, se todas as Pessoas começarem a roubar, a Vida tornar-se-á impossível; se
todas as Pessoas começarem a mentir, a Vida tornar-se-á impossível; se todas as Pessoas forem
desonestas, não podes existir de forma alguma. Então, no seu nível mais baixo, a moralidade é
imprescindível à Sociedade; é um utensílio social, mas não é uma revolução religiosa.

Não fiques satisfeito só em seres bom.

Lembra-te, tens de chegar a um ponto em que não seja nem necessário pensares sobre o que é Bom ou
Mau. A tua própria Consciência, simplesmente leva-te em direção àquilo que é Bom — não há
qualquer tipo de repressão. Eu não chamaria Mahatma Gandhi de Homem religioso, apenas de
Homem Bom — e ele bem que tentou ser Bom, eu não suspeito das suas intenções, mas ele era
obcecado pelo lado Bom.

Um Homem religioso não é obcecado por nada — ele não tem obsessões. Ele é apenas relaxado,
calmo e quieto, silencioso e sereno. Tudo o que brotar do seu Silêncio é Bom. É sempre Bom — ele
vive numa consciência cheia de escolhas.

Esse é o significado do teu nome, Veet Mano: Vai para além do conceito casual do Homem Bom. Tu
não serás Bom, não serás Mau. Simplesmente serás alerta, consciente, desperto, e aí, o que quer que
venha, irá ser bom. De uma forma diferente eu posso dizer que na tua Consciência total, tu chegas a
um nível sagrado — e o Bem é apenas um pequeno subproduto do sagrado.

As Religiões tem ensinado a seres Bom, para que um dia possas encontrar Deus. Tak não é possível;
jamais nenhum Homem Bom encontrou Deus. Eu estou apenas a ensinar exatamente o inverso:
encontra o que é sagrado e o Bem vai chegar automaticamente. E quando o Bem chegar por si, tem
uma beleza, uma graça, uma simplicidade, uma humildade. Não pede por nenhuma recompensa aqui
ou ali. É a sua própria recompensa.
Segunda Pergunta

Querido Osho, há cerca de quatro anos atrás, eu encontrava-me num espaço ao qual eu vou sempre
lembrar-me como “O Paraíso na Terra”. Parecia que tinha chegado a casa. Estando em tal profundo e
delicioso relaxamento e Amor, sentime como que se tivesse mergulhado dentro de mim. Querido
Osho, porque é que é tão difícil para mim deixar-me ir, soltar-me dessa forma novamente?

Sadhan,a tua própria memória impede-te de voltar para o mesmo estado de novo. Lembra-te de uma
coisa: na Vida, nada se repete. E no momento em que tu ficas fixo numa ideia, uma certa memória,
estás assim a viver o passado — que já está morto — e estás sempre a comparar tudo o que está a
acontecer agora, com uma memória do Passado. Tu queres que ela aconteça de novo, mas esqueceste-
te de uma coisa. Quando aconteceu, tu não estavas desejoso que ela acontecesse; aconteceu sem a
desejares, sem o teu querer, aconteceu e nem sequer tinhas consciência que ia acontecer. Vinda de
sítio nenhum, e de repente apareceu há tua frente.

Tu já não estás nesse estado. Tu desejas-o, pedes para que aconteça novamente, exisge-o — e
ninguém pode fazer exigências há Existência. Quanto mais exigires, mais miserável serás. Esquece o
que aconteceu, porque assim melhores acontecimentos ficarão disponíveis. Nunca mais peças para o
que aconteceu antes suceda de novo, porque será no máximo uma repetição — e uma repetição nunca
te poderá dar a mesma Alegria.

Eu tenho uma bela história sobre Mulla Nasruddin: Ele foi escolhido para ser um Consultor do Rei.
No primeiro dia, o Rei e Mulla Nasruddin estavam ambos sentados na mesa de jantar a comer. O
Cozinheiro tinha preparado Bindhis estufados, e o Rei gostou imenso deles.

Quando Mulla Nasruddin ouviu o Rei a glorificar o Cozinheiro, ele começou a glorificar os Bindhis.
Ele disse, “Nas antigas escrituras está escrito que o Bindhi é o Vegetal que dá mais vida. Mantém-te
mais jovem do que as outras Pessoas, a idade velha nunca chega — e começamos a esquecer que as
doenças existem. É quase como um néctar na terra.”

O Cozinheiro tinha ouvido a última parte da conversa, então no dia seguinte ele fez novamente
Bindhis estufados. O Rei comeu-as, mas nada disse. Mulla Nasruddin voltou a enaltecer os vegetais.
E foi assim foi nos sete dias seguintes, e no sétimo dia o Rei ficou tão farto de Bindhis estufados que
mandou o prato para trás e disse ao Cozinheiro, “Estás louco ou quê? — Bindhis estufados, Bindhis
estufados…”

Mulla Nasruddin viu que as coisas tinham mudado, então disse, “Este Cozinheiro parece que é idiota.
Os Sábios dizem que não se deve comer Bindhis todos os dias; é perigoso para a saúde. Ficasse
velho para a idade que se tem, e aí a Morte não andará longe.”

O Rei continuou, “Mulla Nasruddin, durante sete dias tu tens só falado coisas boas sobre Bindhis, e
agora, de repente, mudas de ideias. As tuas escrituras e quotes e frases de Sábios, tudo mudou.”

Mulla Nasruddin disse, “Mestre, eu sou um servo vosso, eu não sou servo de Bindhis. Qual quer que
seja a vossa opinião, será a minha opinião — eu nada sei de Bindhis. Mas como os louvas-te, como é
que eu poderia ficar calado? Agora que os condenas, também eu os condeno. Quem me dá o salário é
a Vossa Majestade, e não os Bindhis. E no que concerne ás escrituras antigas e aos Sábios, eu nada
sei sobre ambos. Quem quer saber de escrituras antigas e Sábios? Se eles sabem que os Bindhis são
Néctar, eles estariam vivos agora mesmo. O Bindhi não consegue tornar ninguém imortal, isso é uma
certeza. Ainda bem que parou de comer Bindhis, pois também eu estava prestes a morrer — estava
quase a tornar-me num Bindhi estufado! Todos os dias era Bindhi… Eu estava a ficar preocupado em
como é que havia de parar este Homem louco!”

O Rei disse, “Estás a dizer-me que eu sou louco?”

Mulla respondeu, “Tu começas-te a louvar os Bindhis… Eu su apenas um servo. Qualquer coisa —
por mais bela que seja, por mais deliciosa que seja — vai criar tédio se for repetida continuamente.”

Sadhan, pensa simplesmente nisto: se o espaço que tu pensas que é o Paraíso é repetido todos os
dias, isso tornar-se-á num Inferno. Aí vais perguntar-me como é que te livras desse espaço.

Não peças para que algo se repita na tua Vida, porque existem sempre coisas mais grandiosas.
Porque desperdiçar a tua Vida com qualquer coisa que seja de um nível inferior? Pede sempre por
coisas grandiosas, pelo melhor. E, é claro, tu não sabes o que é grandioso ou de nível superior;
novamente estás há espera do Desconhecido. Tal como o Desconhecido te deu um Presente no
Passado, vai dar-te muitos, muitos Presentes; mas tu tens de ter o mesmo Coração Inocente de uma
Criança — esperando e desejando, mas não com um pensamento definitivo em relação ao que pedes.

Confia apenas na Existência, e encontrarás espaços melhores. Não há escassez de Paraísos —


existem Paraísos para além dos Paraísos — basta apenas ser Inocente e não ficar agarrado a nada. Tu
estás agarrado a uma certa vivência, e esse mesmo agarrar está a tornar-se numa barreira que impede
o aparecimento de outras experiências.

Se algo de grande acontece, que te dá a ideia de que chegaste a casa, de que é o Paraíso — então
esquece isso tudo. O Futuro contém muitas mais coisas. O Passado está morto e o Futuro está vivo, e
todo o teu Futuro não foi exaurido pelo teu Passado. Sê aberto e disponível, e encontrarás espaços
gigantes — mais preciosos.

Logo que aprendas a arte de esperar sem exigir, apenas confiando, a Natureza vai cada vez mais
dando mais Presentes. Tem de dar, uma vez que os tem em abundância. Não os consegue conter
dentro de si — tem de os partilhar.

Mas tu impedes a Existência de te dar tudo. Estás a pedir algo que já te foi dado; e a Natureza não te
quer incomodar ao dar-te o mesmo Paraíso, a mesma Casa todas as vezes. Imagina quantas vezes te
levaria a ficares saturado com isso. Uma vez que ainda não aconteceu de novo, tu carregas uma
memória de ouro dela.

Deixa cair por terra essa memória. Sê agradecido à Existência, pois ela deu-te, e espera. O Futuro é
vasto, e os segredos e os mistérios da Existência são infinitos.
Terceira Pergunta

Querido Osho, este Poema de ‘Gitanjali’ por Rabindranath Tagore bate no meu Coração: Estou aqui
para te cantar canções. Nesta entrada tua eu tenho um canto aonde me sentar. No teu Mundo eu não
tenho nenhum trabalho para fazer: a minha Vida inútil apenas se pode dividir em tons sem propósito.
A canção que vim cantar permanece em silêncio até este dia. Passei os meus dias a afinar o meu
instrumento. O tempo ainda não apareceu. As palavras ainda não foram colocadas corretamente.
Apenas há a agonia do querer, no meu Coração. O florescimento ainda não aconteceu: apenas se
sente a brisa do Vento.

Milarepa, é o destino daqueles que nasceram génios. Um Génio nunca encontra uma altura em que
tenha criado o suficiente. Ele está sempre descontente. Ele continua a criar mais e mais coisas
bonitas, mas nada o deixa satisfeito; ele sabe que ainda tem muito para dar. O seu Coração ainda tem
de criar mais Cancões, mais pinturas, mais Música. Ele sabe que o que quer que faça será sempre
pouco; o seu objetivo é aquela estrela longínqua.

Não é apenas sobre Rabindranath Tagore — estas palavras são também empregues a qualquer Génio
em qualquer parte do Mundo, a qualquer altura, em qualquer idade. Estas palavras são a própria
essência do descontentamento — porque o Pintor sente no seu sonho que ele pode pintar algo único
que nunca antes foi feito. É tão claro nos seus sonhos, mas no instante em que ele começa a traduzir o
seu sonho para a tela, ele começa a sentir que o que está a acontecer na tela é apenas um eco distante.

Coleridge, um dos grandes Poetas de Inglaterra, deixou quarenta mil Poemas inacabados quando
morreu. Durante a sua Vida, foi-lhe perguntado uma vez e outrs, “Porque não os completas? É um
Poema tão lindo — apenas faltam duas linhas e é finalizado.

Ele sempre respondeu, “Isso refletiu algo que estava a pairar no meu Ser; mas quando o traduzi para
palavras, não era a mesma coisa. Para outros pode parecer muito bonito, pois não tem nada a quem o
comparar. Mas para mim… Eu sei o verdadeiro Poema que está dentro de mim, ainda a tentar
encontrar novas palavras.”

O próprio Rabindranath costumava escrever o mesmo Poema muitas vezes. O seu Pai era muito
talentoso, apesar de não ser um Génio; o seu Avô era um Homem muito talentoso, mas também não
era um Génio. Ambos tentaram convencê-lo, “Tu és louco. Estás sempre a destruir… Continuas a
fazer Poemas bonitos e depois destrói-os. Porque é que os destrói-os?”

Rabindranath respondeu, “Porque eles não são representações autênticas da minha vivência. Eu
queria fazer algo, e algo mais aconteceu. Pode parecer bonito para vocês, mas para mim é um
falhanço, e eu não quero deixar nenhum falhanço para trás. Por isso é que o vou destruir.”

O Pai de Rabindranath escreveu, “Ele destruiu Poemas tão bonitos… nós nem sequer conseguimos
imaginar o quanto podiam ser mais bonitos. Ele parece ser louco…” E quando escrevia Poemas,
fechava as suas portas e informava a casa toda que não deveria ser perturbado seja por que razão
fosse — nem mesmo por comida. Por vezes passavam-se dias — dois dias, três dias — e a Família
toda ficava preocupada… ele escrevia e destruía constantemente. Até que chegava a um ponto aonde
algo da sua visão tinha sido apanhado pela de de palavras, ele não abria as portas.
Neste livro, Gitanjali — ‘Gitanjali’ significa ‘Oferecer Canções’, é uma oferta a Deus —
Rabindranath diz, “Eu nã tenho nada mais. Eu apenas posso oferecer o meu mais profundo e sentido
sonho, que eu trouxe para os meus Poemas.” Daí ele ter dado o nome Gitanjali - ‘Oferecer Canções’.
Esses são os poucos Poemas que ele não destruiu. Eles são imensamente bonitos. Mas ele não estava
satisfeito com esses Poemas, apesar de ter ganho um Prémio Nobel por esse livro.

O orginal foi feito em Bengali, que é uma linguagem muito poética — exatamente o oposto do
Marathi que se ouve em Poona. Se dois ou três Maharashtrians estão a ter uma conversa, pensarão
que brevemente irá haver uma luta. As palavras são duras e afiadas — a linguagem parece ser muito
boa para lutar, mas para nenhum outro propósito mais.

Bengali é a polaridade oposta. Dois Bengalis podem até estar a lutar, mas tu pensarás que eles estão
a ter uma conversa suave, a linguagem é muito doce. A palavras de Marathi tem cantos; Bengali é
cheia de círculos — sem cantos. Até mesmo a prosa em Bengali soa a Poesia; tem uma certa Música
que nenhuma outra linguagem indiana tem.

Rabindranath escreveu Gitanjali primeiramente em Bengali, e durante dez anos o Mundo permaneceu
ignorante da sua existência. Um dia, casualmente um Amigo dele sugeriu: “Porque é que não o
traduzes para inglês?” — e ele lá tentou.

Ele estava insatisfeito com o original em Bengali,mas ficou ainda mais insatisfeito com a tradução.
Isto porque existem nuances em todas as linguagens que não são possíveis de serem traduzidas.
Particularmente uma linguagem como Bengali que é quase impossível de se traduzir palavra por
palavra. Pode-se traduzir, mas a pureza, o doce, a qualidade da Música em cada palavra… de onde é
que se pode trazer? Mesmo assim ele recebeu o Prémio Nobel pela tradução. O seu Amigo disse,
“Agora deves estar satisfeito.”

Ele respondeu, “Estou mais insatisfeito do que nunca. Isto mostra que a Humanidade não está madura
o suficiente para que consiga compreender a Poesia. Estes são os meus falhanços, estes Poemas de
Gitanjali. Eu guardei-os depois de muitos, muitos esforços. Fiquei cansado, e senti que talvez algo
que está o meu Coração não pode ser traduzido em palavras. O melhor que pude fazer fi-lo, mas para
os meus olhos foi um falhanço, no melhor, um bom falhanço. Pode enganar todas as outras Pessoas,
mas não me pode enganar.”

Esta é a vivência de todos os grandes Génios — em todas as direções, em todas as dimensões. O


Pintor holandês Vincent van Gogh pintou durante um ano seguido apenas um quadro — uma vez atrás
da outra atrás da outra. O esforço foi tão árduo, e o que ele estava a pintar era tão difícil: ele queria
capturar o Sol el toda a sua glória e beleza, com a canção dos Pássaros… Agora, nenhuma pode
cantar mas não se pode discutir com os Génios.

Ele estava em pé num campo o dia todo, da manhã à noite — apenas olhando o Sol em todas as suas
fases, com todas as cores que a manhã trás, ou que a noite trás. Durante um ano inteiro ele pintou e
destruiu constantemente, e passou um ano com o Sol quente a incidir na sua cabeça, durante o dia
todo… ele ficou louco. Foi colocado num manicómio pelo seu Irmão mais novo. No manicómio ele
continuou a pintar o Sol, mas nada se aproximou da sua visão.
Ele ficou um ano no manicómio. O Mundo pode chamá-lo de louco, mas eu não — porque as pinturas
que ele fez no manicómio estão tão cheias de inteligência, tão sanas, que o Pintor é tudo menos louco,
não pode ser insano. E quando ele foi solto do manicómio, ele foi novamente para o campo para
começar a sua pintura do Sol. E no dia em que essa pintura foi completada, no dia em que se sentiu
um pouco satisfeito, cometeu suicídio.

Ele escreveu uma pequena carta ao seu Irmão: “O meu trabalho está feito. Tudo o que eu quis durante
a minha Vida toda foi pintar o Sol em toda a sua glória total. Não posso dizer que tenha sucedido
totalmente, mas posso certamente dizer que tive sucesso mais do que qualquer outra Pessoa em toda a
História do Homem.”

Nunca ninguém tentou tanto — quase dois anos e meio concentrado em apenas um assunto. Ele disse,
“Agora já nem sequer tenho o desejo de pintar, então já não é preciso existir. A minha Existência
chegou a um ponto extremo de contentamento e de missão cumprida. Eu estou a morrer, não por me
sentir descontente ou me sentir um falhado, eu estou a morrer porque fui vitorioso, então agora já não
há qualquer sentido em continuar a viver.”

Parece que ninguém nunca cometeu suicídio de tal forma — por causa de uma vitória, por causa do
Sucesso. Mesmo assim, ele mencionou na sua carta que não é um porcento, mas mais do que isso,
talvez, não seja possível.

Essas palavras de Rabindranath merecem a pena serem recordadas: “Estou aqui para te cantar
Canções.” Toda a sua Vida foi devotada a apenas uma coisa: criar Canções; a cantar Canções. A
Índia estava sobre controle do Império Britânico e Mahatma Gandhi e outros lutadores da paz diziam
a Rabindranath, “Esta não é a altura de escrever Poemas; agora é altura de lutar. A Liberdade é o
único objetivo nestes momentos.”

Ele disse, “Eu compreendo os teus sentimentos” — e a sua participação no movimento da Liberdade
teria sido de uma importância bem grande, pois ele era um vencedor do Prémio Nobel, uma figura
internacional. Os seus livros foram traduzidos para quase todas as línguas do Mundo. Se ele também
lutasse pela Liberdade, seria de uma ajuda preciosa, mas ele disse, “Eu estou aqui para cantar
canções. Eu compreendo-vos, e eu amo a Liberdade, mas não é esse o desejo do meu Coração.
Liberdade ou sem Liberdade — eu procurei dentro de mim e encontrei apenas uma coisa: de que o
meu Destino é cantar. Se eu fizer outra coisa qualquer, isso vai ser contra a minha natureza.”

Eu tenho muito mais respeito por Rabindranath do que por Mahatma Gandhi, porque ele nunca foi
contra a sua natureza; ele era um dos Homens mais relaxados que podias encontrar — imensamente
feliz a cantar, em criar mais Canções, mais melodias.

Ele está a falar com Deus.

Nesta tua entrada eu tenho um canto aonde me sentar.

Eu não tenho nenhum trabalho a fazer no teu Mundo.

A minha Vida inútil apenas se pode quebrar em tons


sem propósito

Todos diziam, “Tu não és bom para nada. Quando o País todo está em polvorosa com a ideia da
Liberdade, tu que és um dos grandes filhos deste País, estás envolvido apenas com coisas pequenas:
cantar, a tocar instrumentos. És completamente inútil.”

Ele aceita isso: “Eu sou inútil… a minha Vida é inútil; apenas se pode quebrar em tons sem
propósito. Eu sou tão inútil que até as minhas Canções não tem nenhum propósito — tal como o
Pássaro canta, tal como as Flores florescem sem nenhum propósito. A Canção que vim cantar ainda
não foi tocada.”

Isto foi escrito quando ele estava a envelhecer. Mas mesmo no seu leito da Morte as suas últimas
palavras foram, “A Canção que vim cantar permanece sem ser tocada. Toda a minha Vida tentei
cantá-la de diferentes maneiras, em tons diferentes, com instrumentos diferentes. As Pessoas
adoraram-na, as Pessoas apreciaram-na — mas bem no fundo eu tenho uma ferida: Eu não fui capaz
de cantar a Canção que vim cantar.”

E é assim que vivem todos os grandes místicos, todos os grandes Poetas, todos os grandes Pintores.
É intrínseca à grandeza ter este sentimento. Apenas coisas pequenas podem ser completadas, e
apenas pequenos desejos é que podem ser alcançados. Quanto maior for o desejo, mais profundo será
o querer desse desejo — tu estás sempre a aproximar-te dele, mas nunca lá chegas. A distância entre
ti e o objetivo permanece quase o mesmo tal como no dia em que começaste a tua caminhada.

“A Canção que vim cantar permanece sem ser cantada até este dia”… então o que estive a fazer
durante toda a minha Vida? “Passei os meus dias a afinar e a desafinar os meus instrumentos”…
apenas a tentar encontrar o instrumento certo, o tom certo para o instrumento — mas tal não
aconteceu.

“A altura não surgiu. As palavras não foram bem determinadas. Apenas há a agonia do desejo no meu
Coração.” Eu vou com uma profunda ferida e agonia no meu Coração.

“O florescer não aconteceu: apenas o vento sopra.” Estas palavras são imensamente importantes,
porque elas não só descrevem apenas a experiência interior de Rabindranath Tagore, elas também
descrevem a experiência de milhares de Génios há volta do Mundo.

Um Génio tem tanto para dizer e tanto para partilhar que não existem palavras capazes de descrever,
nem existem Pessoas para as receber.

Certa vez, um estranho fez a seguinte pergunta ao Místico Sufi, Bayazid, “O que é que tu fazes?” Ele
não sabia que Bayazid era um Místico; e os Sufis vivem como a Pessoa comum. A não ser que
alguém te dê a conhecer o círculo interno, tu nunca saberás que um Homem é um Sufi. Quando lhe
perguntaram o que ele fazia, Bayazid disse, “O que faço? Eu vendo óculos numa Cidade de cegos.”

O Homem olhou para ele: “O que é que ele está a dizer? O que é que os cegos vão fazer com os
óculos?”
Bayazid respondeu, “Esse não é um problema meu; isso é um problema deles. O meu problema é
arranjar uma forma de persuadi-los a comprar um par; quer eles consigam ou não ver através deles,
nem sei se eles são capazes de fazer isso ou não.

O Homem continuou, “Tu pareces um louco.”

Bayazid, “Isso é verdade.”

Mas isso será dito por todos os Místicos — de que eles estão a vender óculos numa Cidade de
cegos, ou de que estão a cantar Canções numa Cidade de Surdos, ou de que estão a ensinar danças
numa Cidade de Pessoas amputadas. Naturalmente, de um lado eles tem um grande Ecstasy, que
querem expressar; e pelo outro lado eles tem uma agonia profunda — que o que querem exprimir
permanece sempre inespressável.

Se conseguires compreender esta expressão de Rabindranath, vai-te ajudar imensamente a


compreender a angústia de todos os Místicos, de todos os grandes Poetas. E também te vai ajudar a
compreender porque é que tantos Místicos permaneceram em silêncio. Como vêem que não vão ter
hipótese de serem bem sucedidos, apenas alguns Místicos decidiram falar. Eles falaram, não porque
pensam que consigam expressar o que vivenciaram; eles falaram porque talvez se se escutassem a
eles próprios, algo possa acordar no Coração dos seus ouvintes — que algo possa ser tocado. Não
que as suas palavras vaiam revelar a Verdade, mas que o seu esforço constante possa acordar algo
que dentro de ti está a dormir. Se não for as suas palavras, talvez a sua presença, talvez o seu
Silêncio, talvez a profundidade dos seus olhos ou a graça que os rodeia… esperançando contra a
esperança de que entre milhões, pelo menos possa haver uma Pessoa que possa acordar.

Daí eles não ficarem desapontados se ninguém os ouvir. Eles não ficam desapontados se as Pessoas
os abandonarem. Eles nem sequer ficam desapontados se as Pessoas os traírem. Tudo isso é
esperado. O Milagre dá-se é se algumas Pessoas não os traírem, que algumas Pessoas continuem com
ele num profundo Amor e Confiança.

As suas mentes podem não conseguir entender o misticismo, mas os seus Corações ouviram o
chamado, o desafio.

É com esta esperança que tenho vindo a falar continuamente durante trinta anos. Mesmo se algumas
Pessoas são transformadas em Deuses, eu ficarei totalmente completo. Eu não morrerei com a mesma
agonia de Rabindranath Tagore.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

Esquece tudo sobre a Iluminação

Manhã de 29 de Fevereiro ded 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, sinto-me no meu elemento quando estou extrovertido e em ação. Quando estou quieto,
e esta ocupada vespa não sente que tem de zumbir, isso torna-se muito inconfortável. Estará o
“servidor” em mim a morrer? Será que alguma vez será capaz de relaxar em ação e em Silêncio?

Shantam Lani, tu levantas-te uma questão bem importante. É muito importante que todos
compreendam que as pesquisas mais modernas feitas na Mente Humana dividiram a Humanidade em
duas partes: os extrovertidos e os introvertidos.

Os Extrovertidos são os que fazem, os Exploradores, os Aventureiros — Objetivos, o Amor


passeando no Mundo; sozinhos, eles sentem-se completamente perdidos. Os Introvertidos são
exatamente o oposto dos Extrovertidos: eles sentem-se tranquilos e relaxados consigo próprios
quando não estão a fazer nada — quando os seus olhos estão fechados, quando silenciosamente
mergulham no seu próprio interior.

Esta divisão é boa até onde vai, mas apenas vai aos limites da Mente. Tu tens uma Mente
extrovertida, por isso é que dizes, “Sinto-me no meu elemento quando estou extrovertido e em ação.
Quando estou quieto, e esta ocupada vespa não sente que tem de zumbir, isso torna-se muito
inconfortável.”

A Meditação é uma Dimensão totalmente diferente da Mente. Os Psicólogos ficam muito confusos
quando se fala na Meditação, uma vez que nada sabem sobre ela; eles pensam que a Pessoa que
medita é apenas mais um introvertido — isso não é verdade. Aquele que medita é uma Pessoa que
pode ter Consciência da sua Mente extrovertida e também da sua Mente introvertida — lá bem
distante, em cima dos montes; observando todos os jogos da Mente.

Tu está muito preso à parte extrovertida da tua Mente — e qualquer Pessoa que esteja presa a metade
da sua Mente vai ficar em sarilhos, porque a outra metade também está lá, negligenciada, ignorada,
humilhada. Ela vai ter a sua vingança. E há muitas Pessoas que são introvertidas. Pensam que são
Meditadores, mas não o são. Elas apenas escolheram outra parte da Mente e identificaram-se com
essa parte. O verdadeiro Meditador está para além da Mente — para além da extroversão e para
além da introversão.

Então, tens de sair por ti próprio da tua Obsessão, com ação, com extroversão, porque isso é ser uma
espécie de alcoolismo — chamam a isso de “Workaholic”. Se houver ação, estás envolvido nela, e
consegues esquecer tudo sobre ti: todos os teus problemas e todas as tuas ansiedades já não estão lá
— pelo menos não na tua consciência. Mas eles ainda estão lá; e sempre que encontrares um
momento em que não estiveres a não fazer nada — e não consegues fazer isso durante vinte e quatro
horas por dia; também tens de relaxar, também tens de descansar — nesses momentos de descanso, as
reprimidas e negligenciadas mentes introvertidas tentam possuir-te.

E na mente introvertida tu colocas-te todos os tipos de lixo com os quais não te puderes identificar. A
tua Mente extrovertida está limpa — pensas que és tu, e a Mente introvertida não és tu, então podes
continuar a mandar todo o tipo de lixo para ela, mas ela irá vir há superfície. Sempre que estás a
descansar, ela não te vai permitir descansares, vai-te fazer ficar impaciente.
A minha sugestão é, Lani, sair fora da Mente extrovertida — e não vás parar na Mente Introvertida.
Elas são dois lados da mesma Moeda. Aprende um novo segredo: o segredo do Observador, que nem
não está a fazer algo, nem deliberadamente a não fazer algo. O Observador é apenas um espelho —
ele reflete o que quer que esteja a acontecer. Ir para além da Mente é o ponto mais alto da Saúde e o
maior bem-estar possível para a Humanidade. Isso não significa que não podes usar a tua Mente; de
facto, só aí é que podes usar a tua Mente. Agora mesmo a Mente está a usar-te; tu és um escravo da
Mente Extrovertida.

Há muitos que foram aos Monastérios, às Montanhas. São Pessoas introvertidas — e para elas a
introversão parece que é uma Meditação. Isso também não é Meditação — elas apenas escolheram a
outra face da Moeda, e sempre que há uma chance, de imediato a Mente Extrovertida vai começar a
criar Desejos e Paixões e todo o tipo de coisas — Alucinações.

E todas as escrituras indianas, os Sábios chegaram a um ponto… Esta História é contada por muitos
Santos e Sábios — e não é apenas uma História, é uma facto psicológico muito significante: quando
um Santo chega ao Pico da sua Consciência, a mitologia indiana diz que o trono do Deus Indra, que
está no Céu, começa a estremecer. Ele fica com Medo — porque se esse Homem tem sucesso ao
alcançar o Pico mais alto da Consciência, vai-se tornar Indra, e Indra tornar-se-á num Deus comum.

Então a sua estratégia é enviar Mulheres bonitas do Céu para distrair o Sábio, e logo que esteja
distraído, ele é distraído. Ele perde a sua Consciência; os desejos começam a aparecer, a Luxúria
apodera-se dele — sensualidade, sexualidade, tudo isso brota e cresce na sua cabeça.

Não há nenhum Indra, e não há ninguém a enviar coisas para te distrair — é a tua própria Mente.
Quando a Mente introvertida chega ao seu Pico, a Mente extrovertida torna-se imediatamente
vingativa — está a ser derrotada… Cria imediatamente alucinações — e estado sentado nas grutas
dos Himalaias ou num Monastério, aí é muito fácil alucinar.

Todas essas belas Mulheres não existem; são apenas ilusões da tua Mente Extrovertida, que está a
dizer, “O que é que estás aqui a fazer sentado quando há tantas belas Mulheres a dançar à tua volta?
No que concerne à tua santidade, podes apanhá-la novamente; mas saberá alguém se essas Mulheres
estarão aí ou não…?” Isto é a tua própria Mente a fazer jogos.

O Extrovertido está contente quando está em ação, no meio de uma multidão, com as Pessoas; mas
fica exausto e cansado muito rapidamente, chateado, e começa a pensar em relaxar. Isso é a Mente
Introvertida a meter o nariz na tua extroversão… e assim o jogo continua sem fim há vista. Não estás
fora dele — mas sentes-te identificado com eles.

A minha sugestão, Lani, é a seguinte: este é o lugar aonde tu podes ficar desentificado com a tua
Mente. Então, quando é preciso agir, age — mas não deixes isso ser uma obsessão; e quando é
preciso relaxar, relaxa — e isso também não deve ser uma obsessão. Quando ages, fica alerta para
não seres a Mente, e quando estiveres a relaxar, lembra-te que também não és a Mente.

Tu és aquele que observa.

Devagar, devagarinho, a observação torna-se mais e mais cristalizada; torna-se o teu próprio Ser, e
aí estarás livre da Mente — e livre para a usares da maneira que quiseres. Mas aí vai ser numa
qualidade completamente diferente: as tuas ações não serão algo completamente insano, fazendo-as
não porque as tens que as fazer — como se estivesses numa espécie de possessão, e a Mente está a
forçar-te a fazer algo. Então as Pessoas estão a fazer todas as coisas possíveis e imaginárias que não
são necessárias.

Uma vez que o Observador está limpo e separado da Mente, chegas a uma nova terra, um novo
espaço — o espaço da testemunha — e essa é a tua verdadeira Alma. Ela não é nem ativa nem
inativa, ela apenas reflete, ela és tu. Esta é a maior das mutações.

Aqueles que morreram sem esta transformação viveram em vão, porque se podes observar a tua
Mente em ação, em inação, também podes observar o teu corpo — com saúde, doente — mas tu estás
separado. Tu até podes ver a Morte a acontecer ao teu Corpo e à tua Mente, porque estás separado —
simplesmente refletes o que quer que acontece.

Por isso é que um Homem que realmente é um Meditador pode morrer com Alegria, porque ele não
está a morrer; apenas os reflexos no espelho é que estão a desaparecer. E eu penso que nunca te vais
deparar com um espelho que tenha lágrimas nos seus olhos quando alguma reflexão desaparece, ou
até mesmo uma lembrança do passado, ou um desejo de que a mesma face possa aparecer nele outra
vez. Nenhum Passado, nenhum Futuro… o Espelho está sempre no Presente; o que quer que aconteça,
simplesmente reflete.

Há um Templo na China em que, ao invés de ter uma estátua de Buddha, apenas há um Espelho. Todo
o Templo está vazio. As Pessoas que criaram o Templo devem ter sido grandes meditadores: o
Espelho é para te lembrar do teu Ser Interior.

E então estás tranquilo em ação, estás tranquilo no relaxamento. De facto, começas a usar ambos —
tal como as duas asas de um Pássaro. E quando ambas as asas estão a funcionar simultaneamente,
tens toda a Liberdade do Céu à tua frente. É teu: todas as Estrelas e a Lua e Sol e todas as direções…
estás fora da prisão.

Então não tentes mudar a tua Mente Extrovertida para uma Mente Introvertida. Tens de sair de ambas.
Faz apenas um pequeni esforço: quando estás ativo, observa também isso. Eu consigo mover a minha
mão, e mesmo assim consigo observá-la. E este é o milagre —quando consegues ver a tua ação, a tua
ação torna-se muito graciosa, muito bela; se conseguires ver o teu corpo, o teu corpo começa a
irradiar uma certa graciosidade, uma certa aura.

Viste o Mundo inteiro através dos teus olhos. Tu consegues ver por dentro dos teus olhos, os teus
olhos começarão a ter uma profundidade, que nem nos teus sonhos mais profundos imaginas-te. A
Vida Real é muito mais bonita do que qualquer sonho, muito mais inconcebível do que qualquer
imaginação.

Mas sai da Mente.

A Mente é a tua prisão.


E aqui tu podes fazer o que quer que queiras — mas lembra-te de estar atento. Ao andares, fica
também a ver que estás a andar. Não é que tenhas de repetir estas palavras dentro de ti, “Estou a
andar”… apenas a sensação de que estou sentado, de que estou a fazer algo, de que não estou a fazer
algo, é o suficiente.

E brevemente o teu observador vai sair de toda a espécie de penas. É o teu aprisionamento
esplendoroso.
Segunda Pergunta

Querido Osho, no outro dia disseste-me que o meu Gorila transformou-se numa Flor de Lótus — um
Buddha. Eu sei que estavas a brincar e quiseste realmente dizer isso, tal como todos os teus
Sannyasins, eu sou um Buddha, mas estou adormecido. Mas quando tu disseste isso, despoletas-te
algo. O meu Gorila realmente saiu do seu fato peludo, e alguém está verde como uma pêra apanhada
antes do tempo e novo como a manhã a olhar para mim, provocando-me para confiar no que está a
acontecer. Osho, até as tuas brincadeiras são nucleares — ou será que estou a simplificar
demasiado?

Devageet, as minhas brincadeiras não são brincadeiras; elas são o método que uso para apanhar
aquelas coisas que não tens consciência. Quando estás a ouvir a piada, estás com a atenção focada
em não perder o significado dela… e essa é uma grande oportunidade que tenho para fazer a minha
operação.

O teu Gorila está morto. Não era um fato peludo; era algo que estava no teu Coração — mas já saiu.
Estás livre dele.

Por vezes, coisas simples podem-te levar a grandes vivências — pois a Existência não faz qualquer
diferenciação entre o simples e o grandioso. As piadas nunca foram usadas para o crescimento
espiritual. Foram usados todos os tipos de métodos, mas nunca ninguém ousou usar piadas como um
método… com medo de aue a piada pudesse tornar tudo menos sério.

Eu posso usar as piadas como um método, pois para mim, ser sério não quer dizer que se seja
espiritual — é apenas ser-se psicologicamente doente. Ser alegre, sorridente, contente… quando te
desmanchas a rir, o teu Ego desaparece. Uma piada mata o Ego sem qualquer tipo de assassinato, sem
precisar de haver sangue. Basta apenas rir, e sentes-te fresco; todo o pó que se acumulou em ti acaba
finalmente por sair.

Perguntava-me a mim mesmo se a operação tinha sido bem sucedida ou não, pois Devageet tem
estado em silêncio há uns dias. Os Gorilas não conseguem ficar em silêncio tanto tempo; eles nem
sequer conseguem ficar sentados num sítio durante uns momentos. Eles são realmente Pessoas muito
ativas… mas Devageet está agora livre do seu Gorila.

E chegar ao expoente máximo do budismo não é uma meta, é apenas libertação do Gorila, e nada
mais. O Animal em ti desaparece… e o Deus em ti é descoberto. É difícil de acreditar, Devageet,
mas quer acredites ou não, assim foi. Eu sou responsável por ter matado esse pobre Gorila. Não
havia nada de errado com o Gorila, mas impedia-te de chegar ao expoente máximo do budismo e ao
seu crescimento. O Gorila tinha de ser removido.

Com grande Amor, fiz isso com uma simples piada. Agora tens de estar um pouco alerta, pois o
Mundo está cheio de Gorilas. Eu apanhei um; mas outro pode entrar dentro de ti. Muitos Gorilas
estão há procura de lugar, de um abrigo, e tu és o abrigo perfeito… e o posto está livre — então fica
alerta! Mantém as portas fechadas. Escreve na porta: “Já não é permitido a entrada a Gorilas.”

Aconteceu-te algo de muito lindo. A explosão espiritual acontece sempre como sendo um fenómeno
bem simples. É o egoísta que trm vindo a tentar provar ao Mundo de que ser-se espiritual é algo
muito grandioso, árduo, uma tarefa dantesca; que demora vidas e vidas a alcançar-se. Mas não é
assim.

Todos vocês nasceram Buddhas — cobertos com algo que tem de ser removido, e que não faz parte
da vossa natureza. É a Sociedade há vossa volta que não quer que sejam um Buddha. Se fores um
Gorila, é perfeitamente aceitável; ninguém se preocupa contigo. Um Gorila não é perigoso — no
máximo é um bom passatempo — mas um Buddha é muito perigoso. Só a sua presença é um Fogo
contendo uma força magnética poderosa. Atrai Pessoas até ao ponto de serem consumidas pelo Fogo.

O Buddha é a Pessoa mais perigosa do Mundo.

Por isso é que o Mundo ou mata os Buddhas ou venera-os. Isso são sinónimos: matá-los é uma forma
de ver-se livre deles; venerando-os também é uma forma de ver-se livres deles.

Quando veneras um Buddha, estás a dizer, “Tu nasceste um Buddha; nós somos apenas pobres Seres
Humanos. No máximo dos máximos conseguimos pôr flores aos teus pés. Deixa-nos apenas em paz…
temos tantas outras coisas para fazer.” Esta é também uma forma muito cultural de criar distância. Por
isso é que, em todas as culturas, ou mataram tais Pessoas ou começaram a dizer que são encarnações
de Deus. “É fácil para eles. Nós somos Seres Humanos, com todo o tipo de fragilidades, fraquezas;
não conseguimos fazer tais coisas.”

Apenas para criar distância, foram inventadas tantas histórias — e eu tenho-me perguntado
constantemente porque é que nunca nenhum Psicólogo teve a coragem de aprofundar essas histórias e
expor o que está escondido por detrás delas. Por exemplo, Gautam Buddha nasceu quando a sua Mãe
estava em pé debaixo de uma Árvore. Mas até agora, nenhuma outra Mulher deu há luz em pé. Talvez
tivesse sido um acidente, um tipo de aborto; mas a história diz que Buddha também nasceu de pé.
Quando ele saiu do ventre, tocou na Terra, e a primeira coisa que fez foi andar sete passos — um
bébé que tinha acabado de nascer, e depois disse, “Eu sou o maior Buddha no Mundo”…

Agora, as Pessoas que inventaram essas histórias estavam a tentar criar uma distância entre elas
próprias e essas Pessoas que despertaram. Elas não estavam preparadas para aceitá-las como sendo
Seres Humanos, tal como eles mesmos, senão, aí surge uma grande responsabilidade: se um Ser
Humano pode tornar-se um Buddha, então o que estás a fazer? Então será um grande peso no peito; o
melhor é colocar esses Buddhas o mais longe possível.

Se forem a um Templo Jaina, verão uma coisa muito estranha: há vinte e quatro Jaina Tirthankaras,
Deuses Jainas; todas as suas orelhas são gigantes, os lóbulos são tão compridos, que chegam até aos
ombros. Isso é um dos sinais de que um Homem é um Tirthankara. Tu não consegues encontrar
ninguém que tenha uns lóbulos tão compridos a não ser que seja submetido a uma cirurgia plástica ou
a alguma massagem continuamente — tal como se estivesse a mungir uma Vaca.

Mas porque é que este tipo de coisas acontecem? Apenas para te diferenciar deles. Mahavira vivia
nu no meio do quente Sol de Bihar, mas ele nunca transpirava. Ele não transpira. Isso apenas é
possível se ele tiver plástico em ligar da pele: o plástico não transpira, um Ser Humano tem de
transpirar, porque todos os poros no corpo está a respirar. Não é apenas o teu nariz que respira — se
todos os poros do teu corpo estiverem tapados com tinta espessa, e apenas o teu nariz fica
descoberto, não viverás mais do que três horas.

Cada poro tem a sua própria maneira de respirar — e se há poros, a transpiração não é algo mau, é
simplesmente uma maneira natural de te manter há mesma temperatura, é uma proteção. Quando está
muito calor e transpiras… compreendes o que isso significa? Quer dizer que o teu corpo está a fazer
sair água da tua pele, para que o calor possa evaporar a água, e é destruída ao evaporá-la, e assim a
tua temperatura permanece a mesma. Se não conseguires transpirar, a tua temperatura sobe muito… e
tu não consegues alcançar temperaturas muito extremas: bastam apenas cento e dez graus, e ficarás
estendido no meio do chão, morto.

A transpiração mantém-te constantemente na temperatura normal: noventa e oito graus. Por isso é que
quando te sentes com frio, começas a tremer. Achas que é o frio que te faz tremer? É o mecanismo do
teu corpo: ao tremeres, estás a criar calor. Os teus dentes começam a bater — dessa forma crias
calor. Qualquer movimento, e é gerado calor, e esse calor protege. Mas como Mahavira não
transpira, ele não precisa de tomar banho. Ele nunca tomou banho — nunca houve necessidade para
isso. Isso é para Seres Humanos comuns — tomar banho, limparem-se; Mahavira estava sempre
limpo.

Estarão essas Pessoas a falar sobre um Ser Humano real ou estarão a falar sobre uma estátua de
mármore? Mas tiveram de inventar todas essas ideias fictícias para criar a maior distância possível
entre ti e aqueles que conseguiram chegar à iluminação, para que te possas tranquilizar, sem qualquer
tipo de tensão, para que o que quer que sejas, não possas ir para além disso.

Mas eu digo-te: Todas essas Histórias são fictícias. E posso dizer-te com certeza absoluta que se
Mahavira viveu, ele transpirou; apenas as Pessoas mortas é que não transpiram. Buddha não era
apenas uma ficção mas sim uma realidade, então não conseguiria levantar-se logo que nasceu e dar
sete passos e declarar, “Eu sou o maior Buddha — Passado, Presente e Futuro.”
Terceira Pergunta

Querido Osho, o Ecstasy que sinto ao estar na tua presença… O entusiasmo do teu Amor, o teu riso, a
tua dança, o teu Silêncio… A agonia que sinto ao me aperceber que a transformação ainda não se deu
em mim. Querido Mestre, ainda está muito longe?

Satgyana, a distância entre a Agonia e o Ecstasy, entre as Trevas e a Luz, é tão pequena que pode ser
medida em centímetros. Qual é a distância entre a tua cabeça e o teu Coração? Talvez uns 20
centímetros — e isso é apenas a distância: tu tens de descer da cabeça para o Coração. Nem sequer é
preciso subir; apenas tens de descer, rolar para baixo, em direção ao Coração. E eu não sinto
qualquer Agonia — a Agonia também é algo da sombra do Ego.

Por um lado, tu dizes, “O Ecstasy que sinto ao estar na tua presença… O entusiasmo do teu Amor, o
teu riso, a tua dança, o teu Silêncio” — se isso é verdade, porque é que estás preocupada com a tua
própria transformação? Deixa essa linda presença, esta dança, este Silêncio, este Ecstasy, apoderar-
se de ti. Mas tu permaneces reticente, e estás a pensar na tua própria transformação: isso cria Agonia.

“A Agonia que sinto ao me aperceber que a transformação ainda não aconteceu em mim”… para ti, a
transformação nunca irá acontecer. Tu tens de desaparecer, e irás descobrir que a transformação está
aí. Nunca irás precisar da transformação: ou tu, ou a transformação — podes escolher.

Por isso é que eu digo que quando há Dança e Ecstasy e uma bela Comunhão, deixa-te levar. Não
fiques apenas num canto; torna-te parte do riso, parte do Ecstasy, parte do Mistério que é criado pelo
Silêncio das muitas Pessoas que aqui estão.

Por uns breves momentos coloca de lado as preocupações que tens para contigo, e depois não os
deixes voltar novamente. Porque tu és a agonia, e a tua ausência é o Ecstasy. E todo o trabalho aqui
feito é para te persuadir de alguma forma a não seres o Ego, mas apenas uma presença silenciosa sem
qualquer menção ao “Eu”.

A distância é muito pequena… Eu não te estou a dizer para fazeres uma peregrinação de milhares de
quilómetros — apenas alguns centímetros, da tua Cabeça para o teu Coração. E é tão fácil, porque
estás a ir para baixo: apenas páras de ficar agarrado à Cabeça, aonde o Ego reside, e imediatamente
dás-te conta que estás a escorregar para Paraíso totalmente novo o qual podes vê-lo daqui, mas que
não te está a acontecer.

Para ti, tal não te pode acontecer. Apenas está a acontecer aqueles que já não estão preocupados com
eles próprios, que já não estão preocupados em conseguir, que já não estão preocupados com a
transformação, que já não estão preocupados com a Iluminação.

Esta contradição tem de ser compreendida: a não ser que esqueças tudo sobre a Iluminação, ela não
vai acontecer a ti, porque não é um objetivo. Todos os objetivos tem a sua origem no Ego: são
decorações do Ego, e o Ego está interessado em decorar-se também com a Iluminação.

Existe uma bela História na vida de Mahavira. Prasenjita, um dos grandes Reis dessa altura, tinha já
conquistado quase o Mundo todo, e ele estava muito satisfeito e também muito egoísta. Mas a sua
Mulher estava profundamente interessada em Mahavira e nos seus ensinamentos.

Certa noite ela disse a Prasenjita, “Amanhã de manhã Mahavira vem à cidade. Eu vou vê-lo e ouvi-
lo.”

Prasenjita respondeu, “Mas o que é que ele tem que eu não tenho? Ele é apenas um pobre, nu, e eu
sou um conquistador do Mundo, um Chakravartin.”

A sua Mulher riu e disse, “Tu tens tudo; e no entanto não tens nada, porque não tens aquela qualidade
de Meditação que é o verdadeiro tesouro. Todo este Reino vai desaparecer, vai ser-te tirado pela
Morte; apenas há uma coisa que a Morte não pode destruir, e essa coisa é a Meditação. Tu não tens
isso.”

Ele não conseguiu dormir durante a noite toda. De manhã disse há sua Mulher, “Vou contigo. Vou
comprar a sua Meditação, qualquer que seja o seu custo.”

Sua Mulher respondeu, “Comprar…?”

Ele, “Se não der, vou conquistar.” Essas eram as palavras que ele compreendia: tudo pode ser
comprado com dinheiro; tudo pode ser conquistado através do Poder.

A sua mulher respondeu, “O melhor é vires ver Mahavira.”

E assim foi, e mais uma vez ele a mesma pergunta, mas desta vez a Mahavira: “Eu vim aqui… Dá-me
a tua Meditação, e eu estou pronto para te dar o que quer que queiras — podes ficar com o meu
Reino todo. A minha Mulher despedaçou o meu Ego, ao dizer-me que tu tens algo que eu não tenho.”

Mahavira riu, e falou, “Não era preciso vir de tão longe para me ver. Basta procurares na tua cidade,
pois lá há um Homem pobre, que é meu discípulo, e ele tem o que me pedes. E ele é tão pobre…
talvez ele possa vender-te.” Era uma brincadeira.

Prasenjita falou, “Eu conheço tal Homem — não há qualquer problema.” Ele virou a sua carroça em
direção à casa desse Homem pobre. A sua carroça nunca antes tinha estado nessa parte da cidade,
então começou a juntar-se uma enorme multidão. O Homem pobre saiu da sua casa e disse, “O que
posso fazer por ti?”

Prasenjita falou, “Não precisas de fazer nada. Dá-me apenas a Meditação e o que quer que queiras
ser-te-á dado dez vezes mais. Diz apenas o teu preço.”

O Homem pobre tinha lágrimas nos seus olhos, e respondeu, “Eu estou a chorar por causa da tua
pobreza. Pois tu nem sequer consegues compreender que há coisas que não podem ser compradas. Eu
posso dar-te a minha vida, mas no que concerne há Meditação, como é que te posso dar-ta? Não que
eu não queira… mas é uma qualidade que não tem Ego, e tu queres-a apenas para decorar o teu
próprio Ego — porque a tua Mulher magoou o teu Ego dizendo-te que Mahavira tinha algo que tu não
tens.”

A Meditação é algo que tens de fazê-la crescer dentro de ti. A única condição para fazê-la crescer é
deixar cair o Ego. Apenas desfruta do que quer que a Existência te proporcionou aqui. Dança-a,
canta-a, ri com ela, ama-a — e esquece tudo sobre ti. E vai acontecer; não a ti — mas vai acontecer
quando a tua ideia de ti próprio estiver ausente.
Quarta pergunta

Querido Osho, sempre que vais para um novo sítio, esse sítio torna-se ainda mais bonito. Sempre que
o teu trabalho vai alcança uma nova fase, torna-se mais intenso. Todas as noites, todas as tuas
palavras e o teu Silêncio são ainda mais ricos do que aquelas da noite passada. E acima de tudo,
todas as danças que fazes conosco faz-me sentir cada vez mais grandioso. Não sei o que estás a
construir, ou aonde vamos, mas a cada momento que passa, sinto-o aproximar — estou tão excitado!
Querido Osho, o que andas agora a preparar desta vez?

Disha, tenho andado a preparar a mesma coisa a minha vida toda. Apenas se vai tornando cada mais
maior e maior. E eu tenho de andar de um lado para o outro porque quando se torna muito grande,
tenho de encontrar um novo lugar, um novo espaço, novas Pessoas que possam participar — mas é
sempre a mesma coisa. Eu quero destruir-te, para que Deus possa nascer em ti.

Eu quero a tua morte, para que tu possas ressuscitar numa vida que é eterna.

OK, Vimal?

Sim Osho.

A atenção é invisível à nutrição.

Tarde de 20 de Fevereiro de 1987, no auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, porque é que gostas tanto de nos fazer rir muito? Nesses momentos parece que
estamos todos a partilhar uma taça de champanhe divino, e nessa celebração todos nós soltamo-nos e
chegamo-nos mais perto de ti.

Prem Vishva, o riso nunca foi aceite por nenhuma Religião neste Mundo como sendo uma qualidade
espiritual. No que me respeita, é uma das mais importantes qualidades espirituais pela simples razão
de que quando uma Pessoa ri imenso, o Ego desaparece. Quando o riso surge: tu não estás lá.

E se isso não é ser espiritual, então nada mais o pode ser. É por causa disto que quando rimos em
conjunto, derretemo-nos uns nos outros, e vocês derretam-se comigo.

Pequenos Egos desaparecem tal como acontece com as gotas de água quando o Sol nasce pela manhã.

A Mente nunca foi capaz de se rir: é série por nascença; nasceu patológica. No momento em que ris,
de repente já não estás a partir do centro da Mente, começas sim a funcionar a partir do Centro do
Coração. E se o riso é mesmo total podes ir ainda mais fundo do que o Coração: podes atingir o
próprio Centro do teu Ser. Pode dar-te um vislumbre da Verdade, da Beleza, da Existência a celebrar.
Por isso é que eu adoro ver-vos rir muito.

E tu estás correto: “Nesses momentos parece que estamos todos a partilhar uma taça de champanhe
divino.” Não é “Parece que”… vocês estão realmente a partilhar uma taça de champanhe divino. “E
nessa celebração todos nós soltamo-nos e chegamo-nos mais perto de ti” — não apenas perto, vocês
podem tornar-se Uno comigo.

Estar perto também é estar distante; estar perto também é estar separado. O Amor nunca é completo
apenas por se estar perto; é completo apenas quando as fronteira desaparecem, e o juntar e o mesclar
acontecem.

Prem Vishva, vou contar esta piada especialmente para ti. Um Guerreiro Zulu muito famoso foi ter
com o Rei Zululand para lhe pedir a mão da sua Filha em casamento. O Rei respondeu, “Nenhum
Homem pode casar com a minha Filha a não ser que faça estas três tarefas que engendrei.”

O Guerreiro disse, “Basta dizer-me quais são, Ó Rei, e eu farei-as imediatamente.”

O Rei, “Foram colocadas ali três tendas. Na primeira tenda está um grande barril de álcool: deves
beber tudo de uma só vez. Depois deves ir imediatamente para a segunda tenda, aonde estará um
Gorila dos grandes e louco graças a uma dor de dentes; tens de encontrar o seu dente mau e tirá-lo
com as tuas próprias mãos. Na terceira tenda, à qual tens de ir lá logo em seguida, está uma Senhora
Inglesa que foi especialmente treinada para não ter um orgasmo. Tens de a satisfazer totalmente.”

“Sim, meu Rei.”, disse o Guerreiro. Foi para dentro da primeira tenda e bebeu o barril todo com
álcool num único esforço grandioso. Veio cá para fora e foi imediatamente para a próxima tenda,
aonde estava o Gorial enraivecido. Ouve uma luta dantesca, a tenda abanou e o ar encheu-se de
gritos, ouve largos pedaços de pelo a voar pela porta fora, bem como uma orelha humana.
Os rugidos e os gritos continuaram durante mais de vinte minutos. Depois, o Guerreiro, já coberto de
sangue arrastou-se para fora da tenda, ergueu-se e disse, “OK, meu Rei, agora mostra-me aonde está
a Senhora Inglesa com a dor de dentes.”
Segunda pergunta

Querido Osho, sinto-me cozinhado pela metade! Por um lado estou satisfeito, mais alegre e contente,
a amar e a ser amado mais do nunca — e estou tão entusiasmado com isso. Mas pelo outro lado, os
meus velhos amigos — cheios de inveja, super competitivos, a necessidade de se sentirem
importantes, especiais — eles continuam por aí, exatamente no mesmo sítio. Eu danço e celebro com
alegria e leveza, e quando os flashes da escuridão vêem, eu relaxo e aceito isso tanto quanto posso e
tento permanecer atento. Osho, já que supostamente eu sou simultaneamente o Cozinheiro e o
cozinhado, será que preciso de aumentar a intensidade do fogo? Ou o teu conselho é para que
continue a cozinhar devagarinho? De alguma forma, parece que cozinhar devagar não parece ser a
nossa maneira…

Prem Arup, cozinhar devagar não é de certeza a nossa maneira. E tu estás errado quando sentes que
és o Cozinheiro e o cozido: Eu sou o Cozinheiro, tu és o cozido. Então deixa isso comigo; fica apenas
relaxado e deixa-te ser cozido.

Tu dizes: “Sinto-me cozinhado pela metade! Por um lado estou satisfeito, mais alegre e contente, a
amar e a ser amado mais do nunca — e estou tão entusiasmado com isso. Mas pelo outro lado, os
meus velhos amigos — cheios de inveja, super competitivos, a necessidade de se sentirem
importantes, especiais — eles continuam por aí.”

Não te preocupes com eles, não os leves a sério. Quanto mais os levares a sério, mais os alimentas.
Deixa-os andar por aí: sê apenas alegre com eles. A tua Alegria, o facto de seres mais amoroso e
seres mais amado vai tratar de tudo o resto.

Qualidades como a Inveja apenas existem quando já não és amado, quando já não és capaz de amar.
Competitividade, a necessidade de se ser importante, especial, são tudo partes do mesmo fenómeno:
ciúmes. Não são coisas separadas, aspectos separados. E se tu te estás a sentir alegre, contente,
amado e a amar, então não há qualquer necessidade em sentires-te preocupado: se tens luz, a
escuridão vai desaparecer por si.

Eles são os teus velhos Amigos, então, devido ao hábito eles ainda te vem ver. Sê cortês; não te
zangues com eles, e não tentes empurrá-los para fora. Apenas observa — mas vê com alegria. A tua
observação também se pode tornar sério, e isso é um grande problema: deve permanecer parte da tua
alegria… e não pode existir ciúmes.

E quando estás alegre, quem quer saber em ser-se importante? — tu és importante. E quando és
amado e amas, quem quer saber em ser especial? Esses desejos crescem em Pessoas que não tem
qualquer gosto em alegria, qualquer gosto em Amor.

É verdade que estás apenas cozinhado pela metade — porque há coisas que ainda estão a chegar;
mas mesmo estando cozinhado apenas pela metade já é um grande fenómeno. O resto vai acabar por
acontecer. E essa não é uma responsabilidade tua: aqui, eu sou o Cozinheiro, e eu já cozinhei tantas
Pessoas que podes confiar totalmente em mim, Arup.
Terceira pergunta

Querido Osho, olhando para trás, neste último ano e meio, desde que te conheci, parece que estou a
voar fora de controle. As Pessoas pensam que estou louco, mas eu riu-me quando jogo para fora os
pedaços da minha antiga Vida. E tu disseste-me que isso é apenas o início. As minhas Meditações
são árduas… Eu estou tão excitado e contente em quase todas as alturas. Talvez me possas dar
alguma pista de como acalmar este Coração acelerado. Amado Mestre, consegui chegar tão longe e
desisti de tanta coisa para estar aqui e agora, para tomar os Sannyas e render-me — e agora?

Rich Frank, agora podes reformar-te. Fizeste a última coisa — render-te. Agora já não estás aqui.
Agora diz-me respeito a mim — és completamente livre, porque para além da rendição, não há nada
mais a ser feito.

Render significa que deixas-te cair por terra o Ego; e agora “Estás a voar fora de controle.” Parece
que estás fora de controle porque sempre permaneces-te controlado. Agora deixa esse controle;
agora já não és o piloto; rendeste-te. E o céu é vasto — já não há o Medo de poderes cair do céu.

Dizes que as Pessoas pensam que és louco. E és! Eu apenas atraiu Pessoas loucas. Os auto-
intitulados Santos permanecem sempre longe de mim.

Quando estudava na Universidade, um dos meus Professores disseme que seria um grande ato de
Compaixão para com ele se eu não fosse às suas aulas: “No que se refere ao teu registro de presença,
vou dar-te cem porcento.”

Eu respondi, “Mas o que se passa? Eu quis juntar-me a esta aula, eu paguei o valor correspondente
para estar nela.”

Ele, “Podes ficar com esse dinheiro, mas só a ideia de te ter na minha aula durante dois anos deixa-
me louco. No instante em que ponho os olhos em ti, algo dentro de mim começa a tremer.” E ele era
uma Pessoa muito sã, mas a sanidade das Pessoas é superficial: basta apenas um pequeno arranhão e
ficarão loucas.

Eu não quero que tu sejas superficialmente são: quero que deixes todas as sanidades superficiais.
Todas as Pessoas pensarão que és louco, mas estás simplesmente a ser natural; e a Natureza não é
louca. Ser-se natural é a autêntica sanidade: quanto mais natural ficares, maior será a distância com a
Sociedade artificial e com as Pessoas artificiais — mas tu ficarás mais e mais são.

Quando chegares ao âmago do teu Ser, chegaste à sanidade absoluta; mas aos olhos das outras
Pessoas parecerás um louco varrido. As Pessoas criaram o seu próprio jogo de sanidade, e se
quebrares as suas regras, classificam-te imediatamente como sendo louco. Eu não estou aqui para te
condenar, mas sim para te transformar. A tua loucura é o começo da tua verdadeira sanidade.

Não te preocupes com o que as Pessoas dizem; lembra-te apenas de como te sentes. Se te sentes
alegre, embriagado de contentamento, não é preciso qualquer tipo de controle. O controle é perigoso,
uma vez que significa que não estás a permitir a tua Natureza fluir. Controlar significa que estás a
cortar… tentares forçar-te a ser de uma determinada maneira, da maneira que os outros esperam que
tu sejas. As Pessoas prestam respeito e honram aqueles que estão a seguir as regras do seu jogo; elas
não respeitam nem honram aquelas Pessoas que não seguem as regras do seu jogo. Mas ser-se louco
e natural é tão valioso que esses falsos valores de honra, respeito, reputação,não tem qualquer tipo
de significado.

Tu não consegues voar fora de controle; simplesmente tal não é possível. O que acontece é que tu
sempre viveste controlado, então, ao relaxares apenas um pouco ficas com Medo.

O que vou contar agora, aconteceu numa aula em uma pequena Escola: A Professora disse aos Alunos
para desenharem, de acordo com eles, o seu conceito de Deus. Ela tinha estado a explicar a eles o
conceito cristão de Deus.

O Bispo tinha vindo ver como é que estava a correr a aula, e ela queria mostrar algo dos pequenos
rapazes e raparigas dessa aula.

Todos tinham desenhado imagens, e um pequeno rapaz tinha desenhado uma imagem de um avião com
quatro janelas. Até o Bispo ficou de boca aberta: que tipo de ideia sobre Deus tem este rapaz? E em
cada janela estava algo como um Ser Humano…?

A Professora perguntou, “O que é isto? É esta a tua ideia de Deus?”

O rapaz respondeu, “Tu disseste-nos que Deus é uma trindade: o primeiro é Deus, o Pai — como está
aqui… com uma barba bem velha. Na segunda janela está o Filho — até dá para ver a cruz — Jesus
Cristo. Na terceira não se vê nenhuma cara porque é o Fantasma sagrado — apenas está algo como
um redemoinho.”

O Bispo e a Professora perguntaram-me simultaneamente, “E a quarta? De onde é que veio a quarta?”

O rapaz, “A quarta?… Pontius, o Piloto. Sem ele o Avião ficava fora de controle.”

Não te preocupes; a Natureza em si trata de ti. Relaxa… esse é o significado da rendição: que tu
relaxas e permites a Natureza levar-te aonde quer que ela quer. Não tens quaisquer planos, nenhum
guia, nenhum objetivo, não tens nenhum desejo de querer chegar a um sítio; aonde quer que a
Natureza te leve, isso será a tua casa, será o teu Destino.

Também estás preocupado que, “As minhas Meditações são árduas… Eu estou tão excitado e
contente em quase todas as alturas. Talvez me possas dar alguma pista de como acalmar este Coração
acelerado.” Não há qualquer pista; deixa-o bater tanto quanto quer e puder. E tu estás excitado a
maior parte do tempo: desfruta disso. Ninguém consegue ficar excitado para sempre — e quanto mais
excitado estiveres, mais depressa ficarás relaxado.

E agora mesmo — quando estás excitado, com um Coração saltitantes — se tentares meditar, estás
apenas a tentar algo que é contra a tua própria Natureza neste momento. Esquece a Meditação por
enquanto. A Meditação irá chegar; primeiro fica cansado.

Quando estás calmo, verás que a Meditação começa a acontecer. O Coração já não está aos pulos; já
não estás excitado; estendido na Terra… e assim a Meditação começa. Mas em primeiro lugar, deixa
essa Energia toda ser exaurida.

Certa vez vivi com um Amigo durante uns dias. Ele tinha um Filho pequeno cheio de Energia, que era
impossível ter uma conversa. Ele saltava para cima de tudo, mandava coisas pelo ar, ligava o rádio.
O meu Amigo disse: “O que faço com este rapaz? Ele tem tanta Energia…”

E eu, “Não te preocupes.” Fui falar com o Rapaz, “Dá quantas voltas conseguires à casa. Depois
disso podes pedir-me qualquer coisa.”

Ele, “Isso é uma promessa?”

Eu, “Prometo.” Ele apenas conseguiu dar sete voltas à casa e depois caiu estendido no chão.

Eu disse, “O que estás a fazer?”

Ele respondeu, “Acabei!”

E eu, “Então e a tua recompensa?”

Ele, “Mais tarde penso nela. Agora não me perturbes.”

O seu Pai disse, “Estranho… Eu estou sempre a dizer-lhe, não me perturbes! É a primeira vez que é
ele a dizer isso!”

E eu, “Ele entrou em Meditação!”

Tu também vais entrar em Meditação. Todas as Pessoas aqui estão vão entrar em Meditação, mas em
primeiro lugar, brinca e salta o máximo que puderes, deixa o teu Coração saltar… e não te
preocupes: quando a Energia está aos saltos, tu não consegues relaxar.

Muitas Pessoas perguntam-me porque é que não conseguem dormir — e já tentaram muitos outros
métodos: Mantras, cantar, ouvir Música, mas nada disso ajuda.

Eu digo, “Essas coisas não ajudam. Vai correr e saltar durante uns cinco quilómetros.”

Elas respondem, “O quê? Mas isso vai-nos fazer ficar ainda mais despertos.”

Eu respondo, “Vocês não percebem as dicotomias da Vida: passados cinco quilómetros, verão que é
difícil voltar para casa; começarão a sentir-se ensonados e cansados. Então não se preocupem: eu
vou chegar com meu carro e dou-vos uma boleia; mas apenas vos dou essa boleia se realmente eu vir
que vocês não conseguem chegar a casa andando. Adormecerão em qualquer sítio da rua — numa
Meditação profunda.”

Tu és novo por aqui. Então isso vai demorar um pouco mais… mas brevemente verás que dia a dia a
Meditação se torna cada vez mais fácil. A Energia apenas tem de ser exaurida. Com tanta Energia,
tentar meditar nestas condições é tentar fazer algo que é impossível. Então a pista é simples: deixa
essa Energia ter a sua Dança — porque quando já tiver passado, então perguntar-me-ás, “E agora,
como é que danço, como é que canto?”

Então, enquanto estiver lá, usa-o criativamente. A Meditação pode esperar um pouco. E aqui ninguém
vai pensar que és louco, uma vez que aqui há Pessoas ainda mais loucas — tu és apenas um iniciante.

Certa vez ouvi: numa Prisão, um Homem entrou numa cela aonde já estava um outro Homem
encostado à parede, a descansar. Esse Homem perguntou, “Quanto tempo é que vais ficar aqui?” O
novato disse, “Tenho uma sentença de quinze anos.”

O outro, “Então fica perto da porta, pois vais sair primeiro do que eu. Eu fui sentenciado a trinta
anos. Não vale a pena dares-te ao trabalho de vires aqui para o fundo. Fica aí, perto da porta.
Apenas quinze anos…?

Tu és um novato, mas vieste para o sítio certo. Aqui, ninguém vai pensar que és louco se começares a
saltar e a dançar e a cantar por ti próprio. Ninguém vai pensar que és louco — és apenas um iniciante
— ainda estás no Jardim de Infância.

Gasta essa Energia toda; e depois não irás perguntar-me de como é que se medita: vais-te encontrar
estendido no chão e verás que a Meditação começou.

Por vezes as Pessoas começam a pensar que talvez os seus Corações pararam, ou que a sua
respiração congelou: a Energia foi tão usada que sobrou muita pouca Energia até para respirar ou
para o Coração bater. É nessas alturas que a Meditação é a coisa mais fácil de se fazer no Mundo.
Espera sempre pela altura certa, pelo momento correto.
Quarta pergunta

Querido Osho, qual é a diferença entre “Deixar fluir”, “Confiar para que tudo siga o seu rumo” e
“Vai em frente”, ou “Vai com toda a tua Energia”? A maior parte do tempo encontro-me entre
situações de não poder confiar e incapaz de ir em frente. O que devo fazer?

Anand Virag… permanece no meio. Não faças nada. Se vês que te encontras no meio dessas duas
polaridades — uma é “deixar ir”, outra é “vai em frente” — e descobres que estás no meio de algo
que ainda é melhor do que essas duas. Descobriste o significado de ouro. Permanece simplesmente
aí, não faças nada; e tudo o que terá que te acontecer irá suceder por si próprio.

É uma questão muito rara. As Pessoas percebem que é muito fácil ir em frente, com esforço, com
vontade, com poder; ou deixarem-se ir, renderem-se, confiarem e relaxarem. Mas quando
descobrimos que estamos no meio dessas duas situações, isso é muito melhor. Não é preciso fazer
nada; não é preciso escolher entre os dois; permanece simplesmente no meio, em silêncio, e observa
o que acontece. A Natureza, ou a Existência, ou Deus — qualquer nome serve — vai cuidar de ti.

Se fizeres algo, isso será forçado, reprime o outro, e é escolher um contra o outro. A parte reprimida
irá permanecer contigo; e o que quer que tenhas escolhido é apenas uma metade: e haverá momentos
em que começarás a pensar, talvez eu tenha escolhido mal, talvez a outra coisa estivesse certa.

Então, o que quer que escolhas, se é apenas metade, vais sempre arrepender-te, porque a metade
nunca pode dar-te uma satisfação plena. A outra metade irá sempre picar-te, vai vingar-se, não te vai
permitir escolher tão facilmente o seu oposto. Depende de diferentes Pessoas.

Para ti não é uma questão de escolha: tu já compreendes que estás exatamente no meio. E estás a
perguntar-me pela minha sugestão, o que escolher. Eu nunca estou a favor de escolher nada.
Permanece sem escolher nada; e ainda quer que estejas, relaxa nesse estágio, nessa etapa, nesse
espaço… e permanece um Observador. No momento em que escolheres, tornaste um fazedor — e
todo o meu esforço é que de alguma forma martelar-te na cabeça de que tu não és um fazedor.

Duas velhas amigas foram ao Jardim Zoológico. Aproximaram-se da jaula de um perigoso Gorila.
Quando a Pessoa que cuidava do Gorila abriu a porta da jaula, o Gorila conseguiu escapar e agarrar
numa das amigas, saltou novamente para a jaula e atacou-a selvaticamente. O alarme soou e
conseguiram resgatar a senhora das garras do Gorila. Foi levada para o Hospital, aonde se recuperou
lentamente. Passadas várias semanas, a sua Amiga foi visitá-la e consolá-la, dizendo-lhe que estava
na altura de esquecer o que tinha acontecido e recomeçar a sua Vida.

“Ooohhh,” gemeu a velha senhora, “mas ele nunca escreve, ele nunca me liga.”

Com o Coração pela metade… talvez alguém a puxou pela primeira vez em toda a sua Vida. Deve ter
sido uma Freira católica.

Não escolhas. Deixa a tua Vida continuar a ser uma Liberdade, sem escolhas. Uma Liberdade sem
escolhas e Consciência é a própria essência de todo o crescimento espiritual.
Quinta Pergunta

Querido Osho, estás a segurar a minha mão ou a puxar a minha perna?

Devaprem, se sou eu, devo estar a puxar a tua perna. Segurar a tua mão não vai ajudar — porque tu
não deves ser tirado de algo; tu tens de ser completamente afogado.

Este sítio não é para nos elevar-mos, este sítio é para ir mais fundo. E para te levar mais fundo,
naturalmente, tenho de puxar a tua perna. Tu estás a tentar de todas as formas possíveis manter-te
agarrado a algo, mas não há nada aonde te possas agarrar. Eu certifico-me que não haja nada aonde te
possas agarrar — e depois empurro-te. Mas não me satisfaço com isso, começo a empurrar a tua
perna.

Um dia vais-me agradecer por todas as difíceis tarefas que te coloquei há frente.
Sexta pergunta

Querido Osho, em tempos de Alegria, o Amor, o Silêncio. E outras alturas parece que tenho um
Hospício de lunáticos dentro da minha cabeça. Osho, o que devo fazer?

Satgyana, torna-te Amigo do lunático que se encontra na tua cabeça. Eu sou contra o criar qualquer
tipo de antagonismo dentro de ti, qualquer tipo de separação, qualquer tipo de esquizofrenia.

Tu dizes, “Em tempos de Alegria, o Amor, o Silêncio. E outras alturas parece que tenho um Hospício
de loucos dentro da minha cabeça.” Todas as Pessoas tem esse Hospício de lunáticos — essa é a tua
herança. Os teus Pais deram-te isso, os teus Padres deram-te isso; os teus Líderes, os teus
Professores, toda a tua Cultura deu-te apenas uma coisa como Herança — e isso é, um Hospício de
Lunáticos dentro da tua cabeça.

Mas os responsáveis não são eles. O mesmo foi feito a eles: todas as gerações dão todo o tipo de
tensões e doenças, superstições, loucuras, para a nova geração. Eles não tem nada mais o que dar.
Mas tu és um afortunado quando dizes que uma parte da tua Mente ainda sente Alegria às vezes, e
Amor, e Silêncio. Essas forças são de tal forma poderosas e potentes que nem precisas de prestar
qualquer atenção ao Hospício de Lunáticos.

Lembra-te que dar atenção é dar alimento. Ignora o Hospício de Lunáticos. Coloca toda a nutrição na
tua Alegria e no teu Amor e no teu Silêncio. Não deixes nada para os Lunáticos que estão na tua
cabeça. Eles começarão a desertar-te; eles começarão a entrar na Mente de outra Pessoa. Haverá
sempre Pessoas que são muito receptivas; elas apenas são receptivas ás coisas lunáticas… então não
te preocupes com o facto de eles poderem morrer à fome. Eles encontrarão o seu caminho.

Deves ignorá-los completamente. Deixa-os estar lá, mas comporta-te como se não estivessem, e
concentra toda a tua Energia — sem guardar nada — na Alegria, no Amor, no Silêncio. Então a parte
lunática da tua Mente irá começar a encolher por si só, irá morrer.

É esta a diferença entre a psicologia Ocidental e a Exploração do Leste no interior do Ser do


Homem. A psicologia Ocidental presta muita atenção ao Hospício de Lunáticos — e isso alimenta-
os. Vocês não verão Sigmund Freud a falar sobre a Alegria ou o Amor ou o Silêncio ou a Paz. E toda
a sua literatura de psicologia não irão encontrar essas palavras alguma vez mencionadas. Eles tem o
seu próprio vocabulário… esquizofrenia, neurose, psicose.

Sempre que um psicanalista olha para ti, ele está a olhar para um lunático; ele não está há procura
por algo de são em ti. Ele traz cada vez mais coisa ao de cima, escava e escava cada vez mais na
parte lunática da tua Mente. Ele convence-te que tu és completamente louco.

A aproximação do Leste é totalmente diferente, e tão saudável, que não encontrarás neuroses,
psicoses, esquizofrenias, personalidades divididas… todas essas palavras e as suas definições
complexas… e não há muita diferença entre elas — mas eles dão tanta importância a essas coisas.

Certa vez ouvi: alguém perguntou a um grande Psicanalista, “Qual é a diferença entre uma Psicose e
uma Neurose?” O Grande Psicanalista disse, “A diferença é muito subtil mas muito grande. O
Psicótico pensa que dois mais dois são cinco; e o Neurótico pensa que dois mais dois são quatro mas
não se sente confortável com isso.” A diferença é muito subtil, mas eles fazem muito barulho sobre
isso.

O Leste enfatizou que a parte saudável em ti, a parte da Alegria em ti, a parte espiritual em ti. A
minha experiência diz-me que o que quer que prestes atenção, começa a crescer. A atenção nutre; e o
que quer que comeces a ignorar, começa a morrer.

Numa pequena experiência, um Psicanalista estava a tentar descobrir se dar atenção a alguém ou
ignorá-la fazia alguma diferença. O conceito do Leste é que isso faz uma grande diferença. Então ele
cuidou de dois pequenos macacos durante uns tempos. A ambos foi dado comida suficiente, cuidados
médicos, tudo o que era necessário. Ms um foi ignorado: ninguém lhe fez nem festas, ninguém o
abraçou, ninguém tocou na sua cabeça com Amor — foi uma experiência deliberada. A outro Macaco
foi dada muita atenção: toda a Pessoa que passasse dizia “Olá” a ele, ou fazia-lhe uma festa ou
abraçava-o.

Foi uma revelação muito constrangedora para o Psicanalista que estava a trabalhar com ele, que o
Macaco a quem não foi dada qualquer tipo de atenção começou a encolher, e o Macaco a quem foi
dado Amor, atenção e amizade, estava a crescer perfeitamente bem. O Macaco ignorado morreu
passados três meses, e o outro viveu um a Vida inteira. Essa experiência foi feita muitas vezes em
diferentes laboratórios, mas o resultado é sempre o mesmo.

A atenção é o nutriente invisível: quando olhas para alguém com Amor, com Alegria, com
Compaixão, estás a dar algo a essa Pessoa que não pode ser comprado, algo que a faz sentir-se
necessária, algo que a faz sentir-se digna de existir. Quando a Pessoa é ignorada, aos poucos e
poucos a Pessoa começa sentir-se, “Eu não sou precisa; ninguém nem sequer nota em mim. Então
porque é que devo continuar a viver?” Começa a perder interesse em ficar viva. E no momento em
que se começa a parar o interesse de se estar vivo, não viverás muito mais tempo, mesmo se todas as
necessidades físicas forem realizadas.

Mas existe uma necessidade espiritual. Eu chamo-a de a necessidade de ser necessário. Alguém
precisa de ti e de repente sentes uma nova fonte de Energia. O meditador começa a sentir-se preciso
por toda a Existência: a Árvores precisam dele, as Montanhas precisam dele, os Rios precisam dele.
A Vida extasiante do misticismo é baseada nesta vivência, de que é preciso até pelas Estrelas mais
distantes, que quando a Rosa floresce, precisa de alguém para a apreciar.

Certa vez tive um Jardineiro, não tinha educação nenhuma, era completamente iliterado. Mas ele
sabia algo que até grandes botânicos não sabem. Ele era um Homem pobre, mas todos os anos as suas
Flores venciam todas as competições realizadas na Cidade. Perguntei-lhe, “Qual é o teu segredo?”

Ele era o meu Jardineiro, então cuidava das minhas plantas. Sentiu-se um pouco embaraçado e
respondeu, “Eu estaria melhor se não me tivesses feito essa pergunta.” Ele era muito tímido.

Eu disse, “Não te preocupes, que quer que seja, podes dizer-me.”

Durante anos nunca ninguém conseguiu… e havia muita boa competição na Cidade, mas esse
Jardineiro pobre ficava sempre em primeiro com as suas Flores. As suas Rosas eram tão grandes e
deliciosas, tão vermelhas, com uma fragrância tão forte… Ele continuou, “Eu sou uma Pessoa sem
qualquer tipo de educação; eu nada sei. Tudo o que sei é que amo as minhas Plantas e, quando não há
ninguém por perto, eu falo com elas.”

Depois perguntou-me, “Não diga a ninguém; as Pessoas pensarão que sou louco. Eu falo com as
Rosas, sento-me ao pé delas e digo-lhes, ‘Vocês tem de ganhar a Competição — trata-se do meu
prestígio: tenho vindo a ganhar durante anos e anos; não me desiludam.’ E elas nunca me falharam.
Sempre me deram ouvidos; e elas sempre se lembram que a Competição tem de ser vencida para este
Homem pobre, que as ama tanto.

Ele nunca tinha encontrado em toda a sua Vida um Jardim aonde lhe fora dado tanta liberdade. Ele
estava tão contente comigo que me escrevia constantemente, “… aonde quer que vá, chame-me, eu
não peço nada, apenas comida, se for só uma vez por dia será o suficiente, e eu farei crescer as suas
Rosas.”

E não eram apenas as Rosas, ele fazia crescer todo o tipo de Flores. Ele tinha uma Planta que penso
que não exista no Oeste. É chamada de “Rainha da Noite”: desabrocha durante a noite, com flores
muito pequenas, mas com milhares delas. Quando desabrocha, não se consegue ver as folhas, apenas
as Flores, apenas Flores brancas e pequenas.

A sua Rainha da Noite emitia uma fragrância tão intensa que até os Vizinhos se começaram a queixar,
“Nós não conseguimos dormir por causa do perfume. Tem de tirar essa Planta daqui. O perfume é tão
forte que nos mantém acordados. É muito bonita, mas nós também precisamos de descansar durante a
noite.” Eu já vi milhares de Rainhas da Noite em muitos sítios, mas nunca soube que tal fragrância
poderia vir de uma única Planta e chegar ao ponto de incomodar toda a vizinhança.

Eu respondi-lhes, “Tal não é possível. Vocês podem mover-se, podem ir ao Inferno, mas essa Planta
não pode ser removida, porque o meu Jardineiro não trata as Plantas como Plantas, mas sim como
Pessoas. Ele deu-lhes nomes, ele chama-as pelos seus nomes.” Aos poucos e poucos o meu
Jardineiro apercebeu-se que eu não o achava louco. Então, mesmo eu estando por perto, ele falava
com as Plantas — trabalhando, regando e falando.

Agora, até mesmo os Cientistas descobriram isso, de que as Plantas compreendem os nossos
sentimentos. Elas compreendem a tua Alegria, elas compreendem também a tua Tristeza. E também
compreendem se as estás a ignorar. Se isto é verdade sobre as Plantas, então a Mente humana é muito
mais sensível do que se pensa.

Então lembra-te apenas de uma coisa, ignora o Hospício para lunáticos que tens na tua cabeça. Todas
as Pessoas tem um, então isso não é nada de especial. Fica sempre de costas voltadas para ele. E
coloca toda a tua Energia na Alegria e no Amor e no Silêncio e na Paz, na Compaixão, na Amizade.

Ficarás surpreso quando toda a tua Energia é transformada nessas qualidades positivas, e as
qualidades negativas começam a desaparecer tal como se fossem escuridão. Uma Pessoa nunca deve
entender as qualidades negativas como um problema, isso é o princípio de uma Jornada pelo caminho
errado. Se tu tens algo que sentes que não deveria estar aí, só isso já é dar atenção a mais, de que não
deveria estar aí.

Quando eu digo, “Ignora!” Estou simplesmente a dizer, “Comporta-te como se não estivesse aí — e
coloca toda a tua Energia no Mundo positivo, em todos esses bonitos valores, que te faz não só um
Ser Humano, mas pode-te ajudar a transcender a humanidade e tornares-te um Gautam Buddha.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

O trabalho pode produzir, o Silêncio pode criar.

Manhã de 21 de Fevereiro de 1987, no Auditório Chuang Tzu.


Primeira Pergunta

Querido Osho, ao andar na solidão, em tal Silêncio, Paz e Alegria, de repente apercebi-me que
estava ao mesmo tempo a aproximar-me cada vez mais de ti. Dançando com o teu Amor, nunca antes
estive em tal espaço — finalmente voltando a casa. Mas brevemente tenho de ir, e tenho tanto medo
de perder isso. Sinto-me tão frágil, tão vulnerável. Como é que posso cuidar deste Tesouro, ajudá-lo
a crescer e partilhá-lo ao mesmo tempo ali?

Prem Visha, a Alegria, o Amor, o sentimento de se chegar a casa — se isso é verdade, não precisas
de te preocupar em perder isso. A Verdade apenas pode ser encontrada; não pode ser perdida. Aquilo
que pode ser perdido foi apenas tua imaginação. Em qualquer caso, indo embora ser-te-á de uma
ajuda tremenda para te compreenderes a ti próprio.

Ou descobrirás que o que quer que estivesses a sentir aqui estás a sentir aonde quer que estejas, ou
descobrirás que voltando atrás para o teu próprio Mundo, toda essa Alegria e todo esse Amor
desaparece. Então foi apenas imaginação tua. Só o facto de entenderes isso já é bom, então, da
próxima vez em que vieres aqui podes evitar de cair na armadilha da imaginação. Tanto quanto posso
ver, chegaste a um espaço em que não te podes perder, mesmo que queiras. E a única maneira de
crescer ainda mais profundamente nele é partilhá-lo com as Pessoas.

A Vida precisa de um crescimento constante. No momento em que parares de crescer, começa a


morrer. Então vai para o Mundo cheio de Canções, cheio de Danças e de Amor em abundância, e dá-
lo incondicionalmente, sem qualquer tipo de julgamento, a qualquer Pessoa que esteja receptiva — e
assim continuarás a crescer em experiência tanto em profundidade como em altura.

Algo aconteceu — isso posso dizer-te. Agora depende de ti deixar isso crescer ou não o deixar
crescer. E a maneira de crescer é muito simples: partilha-a. Mas a partilha não deve ser feita baseada
em julgamentos da tua parte; a partilha não deve ser feita com aquelas que a merecem. O Amor não
conhece qualquer tipo de discriminação entre os que merecem e os que não merecem. O Amor tem
prazer quando se dá — não interessa a quem. E o Milagre do Amor é de quem for que tu o dês, e
torna-se assim merecedor.
Segunda Pergunta

Querido Osho, tenho uma pergunta a fazer sobre Culpa. Não a posso ver, ou saboreá-la, ou tocá-la,
mas de alguma maneira ela está sempre presente — especialmente quando não estou a fazer nada.
Apenas desaparece quando estou a trabalhar, e retorna instantaneamente mal penso em dançar, em
cantar, ou meditar. Qual é o mecanismo da Culpa e será que alguma vez me verei livre dela?

Prem Prasado, o mecanismo da Culpa é muito simples. Tu foste condicionado desde a tua infância a
acreditar que fazer algo é melhor do que não fazer nada — e a Meditação é um caminho para esse
nada. Essa ideia foi-te imposta há tanto tempo que criou raízes na tua Mente. Mas porque a ideia é na
sua base falsa, pode ser deixada de lado.

Primeiro tens de compreender que não há Culpa em nenhuma parte da Existência; podem haver erros,
mas nenhuma Culpa. A Culpa é um subproduto da ideia do Pecado: de que estás a cometer algo
pecaminoso. O Mundo quer que sejas extrovertido — viciado em trabalho, quer que tu trabalhes e
trabalhes e trabalhes. O Mundo não tem qualquer necessidade, pelo menos aparentemente, daqueles
que se sentam silenciosamente, a fazer nada. Esses também são precisos — imensamente precisos —
mas para ver isso é preciso um grande entendimento.

Um Homem de Silêncio, um Homem que se pode sentar sem fazer qualquer tipo de movimento nem
do seu Corpo nem da sua Mente, cria uma certa vibração em toda a sua volta e ela é muito infeciosa.
Ajuda as Pessoas a serem silenciosas, a serem relaxadas. Ele é quase como sendo um Oásis num
Deserto. Mas uma vez que não é visível, o Mundo nunca se apercebeu dele.

Tu sempre te sentes culpado quando não estás a fazer nada — e essa é a maior virtude do Mundo, não
só no teu Corpo, mas até mesmo na tua Mente. Tudo pára: tu és simplesmente uma presença.

Então tens de deixar cair por terra essa ideia, que te foi implantada por outros. Eles querem que tu
trabalhes porque o trabalho é produtivo. Eles não conseguiram entender que não fazer nada, estar em
Silêncio, tem a sua própria maneira de criar uma certa atmosfera — que é muito mais valiosa do que
qualquer tipo de produção.

O trabalho pode produzir, o Silêncio pode criar.

Mas é muito difícil, porque o Mundo que está em toda a tua volta insiste para que faças algo. Não
sejas apenas inútil. Lembra-te das palavras de Rabindranath que estávamos a falar ainda no outro
dia: “Eu sou um inútil; eu apenas posso cantar, e as minhas Canções não tem qualquer propósito.”
Mas Rabindranath enriqueceu este País mais do que nenhum outro indivíduo neste século. As Flores
não tem propósito, mas um Mundo sem Flores iria ser um Mundo mundo mundano.

As Rosas trazem algo do além para este Mundo — a Beleza, a Fragância. Nenhuma delas tem um
propósito. Mas o propósito não é a única coisa viva. O propósito é preciso para a sobrevivência,
mas sobreviver não é viver. A Vida precisa de Canções e Danças e Amor e Paz.

A Flores mostram que a Existência é tão abundante com Cores e Fragância, que continua a partilhar.
Um Mundi sem Flores, sem Poesia, sem Música, sem Pinturas, não seria merecedor de se viver. Mas
durante séculos as Pessoas erradas tem reinado em toda a Humanidade. No Ashram de Mahatma
Gandhi não eram permitidas Rosas. Até mesmo nos potes de Flores o Trigo era plantado — porque o
Trigo tem um propósito. As Rosas não tem nenhum propósito. As Rosas não tem nenhum propósito.
Mahatma Gandhi tinha a Mente de um Homem de negócios.

Jesus dizia, “Não se consegue viver apenas de pão; algo mais é necessário.” É claro que ele quer
dizer que Deus é necessário — mas se tu nem consegues desfrutar de uma Rosa, Deus está muito
longe de ti. Já alguma vez pensaste qual é o propósito de Deus? Há alguma utilidade em Deus?
Mesmo que o encontres, o que é que vais fazer com ele? Decorar a tua sala de estar?

A Vida precisa de trabalho para sobreviver, e para celebrar — Silêncio, Canções, Música. Esses são
valores mais elevados. Tu queres viver para eles — o trabalho é para tu sobreviveres. Ms tu queres
sobreviver porque há Rosas, e há Canções, e há Meditações, e há Mundos desconhecidos e cheios de
desafios a serem explorados.

Então, eu não estou a dizer para não se trabalhar. Mas o trabalho é o minímo da Vida, e o estado que
se está quando não se está a fazer nada e apenas se está em Silêncio, a ser uma piscina de Energia é
um dos pontos máximos da Vida, porque é desta Piscina de Energia que tudo o que é bonito surge.
Terceira Pergunta

Querido Osho, finalmente reuni coragem para me expor. Socorro! Estou a desfacer-me! A minha
cabeça quer uma coisa, o meu Coração outra coisa bem diferente. Quando estou a tomar decisões em
questões do dia a dia, elas não estão sintonizadas umas com as outras. A minha cabeça, Mente,
Coração, Ser e Corpo nunca estão de acordo em uma única coisa. Então, querido Mestre, quando eu
não posso estar em Harmonia comigo próprio, como é que posso estar em Harmonia contigo e com a
Existência? Osho, por favor, harmoniza-me!

Yoga Pragya, eu consigo compreender porque é que o teu Corpo, a tua Mente e o teu Coração não
estão em Harmonia. Mas o teu Ser — tu apenas ouviste a palavra; não sabes nada sobre ela. Se tu
conhecesses o teu Ser, tudo teria sido harmonizado imediatamente.

Ser é um poder tão grande que nem o Coração pode ir contra ele, nem a Cabeça, nem o Corpo. Então
deixa o Ser de parte — porque essa é a solução. Tu tens de encontrar o teu Ser, e o encontrar do Ser
vai harmonizar a tua Existência.

Agora mesmo, quando encontrares o teu Corpo, Mente e Coração em desarmonia, primeiro ouve o
corpo. Nenhum dos auto-intitulados Santos vai dizer-te isto. Primeiro ouve o teu Corpo. O Corpo tem
uma Sabedoria própria, e o Corpo é incorruptível pelos Padres; o Corpo está despoluído pelos teus
Professores, pela tua Educação, pelos teus Pais. Começa pelo Corpo, porque neste momento o Corpo
é a coisa mais pura em ti. Então, se o Coração e a Mente vão contra ele, deixa-os ir. Segue o Corpo.
O Corpo é a primeira Harmonia e o Ser é a última.

A luta é sempre o Coração e a Cabeça. O Corpo e o Ser nunca estão em conflito — são ambos
naturais. O Corpo é a natureza visível e o Ser a natureza invisível, mas ambos fazem parte do mesmo
fenómeno.

A Mente e o Coração estão em conflito, porque a Mente pode ser poluída, corrompida — e isso é o
que todas as Religiões e todas as Culturas tem vindo a fazer: a corromper a tua Mente. Elas não
conseguem corromper o teu Coração. Mas conseguiram arranjar uma técnica diferente para o
Coração: passaram à frente dele, ignoraram-no. Não o alimentaram; tentaram de todas as formas
enfraquecê-lo, condenaram-no.

Então, o que tu tens, de facto, é a tua Cabeça, que vai contra o teu Corpo — porque todas as Culturas
são contra o teu Corpo — e o Corpo é a tua Casa. O teu Coração é parte do Corpo, e a tua Cabeça
também faz parte do teu Corpo — mas a Cabeça pode ser influenciada, condicionada. O Coração
está para além do alcance de outras Pessoas; apenas tu podes chegar até ele.

Então começa com o Corpo — primeiro segue o Corpo. O Corpo nunca te vai desviar, podes confiar
nele — e podes confiar nele totalmente. Tudo o que vai contra o Corpo é forçado em ti pelos outros.
Esse é um bom critério para descobrir o que te foi forçado. O que quer que vá contra o Corpo foi
forçado em ti, é algo de fora. Deves mandar isso embora.

A tua Mente está cheia de elementos estrangeiros; a tua Mente não está no seu estado natural. Também
pode chegar ao estado natural — e então não estará mais contra o Corpo, estará em sintonia com ele.
Então começa pelo Corpo e usa-o como um critério.

É um processo muito simples; segue o Corpo. Devagar, devagarinho a Mente começa a deixar cair
por terra tudo o que não é natural ao Corpo. E tem de o fazer. Não é a sua Natureza, está a carregá-lo
com esforço. São coisas que a Humanidade já morta te deixou como herança.

A seguires o Corpo, ficarás surpreso que pela primeira vez podes notar duas coisas a acontecer:
primeiro a Cabeça começa a deixar os condicionamentos, e em segundo lugar, há medida que a
Cabeça começa a deixar os condicionamentos, ouves pela primeira vez a constante e pequena voz do
teu Coração, que estava afogada pela tua Cabeça estridente. Uma vez que a Cabeça está a tornar-se
um pouco mais calma, um pouco mais silenciosa, podes assim ouvir o Coração.

Primeiro ouve o Corpo, para que tudo o que está a mais na tua Mente possa cair, e aí vais começar a
ouvir o teu Coração, não há nenhuma aproximação do exterior para o Coração. Vais ficar espantado
ao reparares que o teu Coração e o teu Corpo estão em Harmonia. E quando essa Harmonia acontece,
a Cabeça está completamente acabada, não tem qualquer poder sobre ti. Agora conheces um novo
poder, mais puro, mais natural, mais autêntico; e a Cabeça até deixa cair o seu condicionamento
subtil.

No dia em que também a Cabeça fica em silêncio e em sintonia com o Coração e o Corpo, nesse dia
descobrirás o teu Ser — e não antes disso. E quando descobres o teu Ser, não precisas de tentar
harmonizar nada. A própria presença do teu Ser harmoniza tudo. A própria experiência é tão vasta
que o teu Corpo, o teu Coração, a tua Mente, todos eles perdem a sua identidade na vastidão do teu
Ser.

Mas começa com o Corpo. Todas as Religiões dizem exatamente o contrário: opõe-te ao Corpo, não
sigas o Corpo, o Corpo é o inimigo. Essa é a estratégia usada por eles para te destruir, porque eles
tiraram-te o elemento mais básico de onde poderia fazer-te crescer em direção à Harmonia. Irás
permanecer sempre em discórdia, sem Harmonia. Nunca chegarás a conhecer o teu Ser, e toda a tua
Vida será apenas angústia, ansiedade — milhares de tensões diferentes.

As Religiões já te deram uma pista de como elas te destruíram: fazendo a tua Mente funcionar contra
o Corpo tem sido a sua estratégia. Digo-te isto: começa com o Corpo. É a tua casa. Ama-o, aceita-o,
e nesse mesmo Amor, nessa própria aceitação, estás a crescer em direção à Harmonia. Essa
Harmonia vai-te guiar ao Ser. E quando o Ser for descoberto, então estarás livre de todo o Esforço.
A Harmonia torna-se simplesmente na tua Natureza — uma voz, uma unidade orgânica.
Quarta Pergunta

Amado Osho, como é que se pode estar com o Trabalho e com o Silêncio, com a Amizade e com a
Solidão, com a Excitação e a Calma ao mesmo tempo?

Deva Majnu, tu nunca perguntas como é que se pode estar junto com os teus dois olhos, de como estar
simultaneamente com as tuas duas mãos, ou as tuas pernas. Certamente o mesmo é verdade sobre as
coisas mais profundas da Vida: Trabalho e Silêncio ao mesmo tempo. Qual é o problema? Podes
cortar lenha — é claro que haverá o som da madeira a ser cortada, mas tu podes permanecer em
Silêncio. O teu Silêncio não tem nada a haver com isso. Não é perturbado pelo cortar da madeira. De
facto, se toda a tua Energia estiver envolvida no cortar da madeira, descobrirás que estás em
Silêncio. Por isso é que eu insisto: Sê Todo quando estás a fazer algo. Nesse Todo vais descobrir
simultaneamente o teu Silêncio.

Tu perguntas como é que se pode estar sozinho e amigável ao mesmo tempo. Já alguma vez viste
aquela aberração da Natureza, duas Crianças nascidas com os seus Corpos juntos? O seu único uso é
serem exibidas em Museus, em Carnavais. De outro modo a sua Vida não é uma Vida — elas foram
juntas muito proximamente. É preciso uma certa aproximação na amizade e também uma distância; de
facto, numa relação viva tu estás sempre a aproximar-te e afastar-te, a aproximar-te e a afastar-te —
sem destruir a individualidade um do outro.

O estar sozinho é uma individualidade. E apenas indivíduos é que podem ser Amigos. Tu não podes
ser Amigo de alguém com quem te identificas-te, isso não é uma Amizade. Ou és dominado pelo
outro ou dominas o outro. Isso é uma relação entre dono e dominado, do que possui e do possuído.

Os Amigos nunca possuem um ao outro. O que é mais fundamental entre a Amizade é dar Liberdade
ao outro de ser ele próprio. Existe uma Confiança, não há qualquer necessidade em dominar o outro;
não há qualquer necessidade de o acorrentar — através de condições — para o amanhã. Entre dois
Amigos apenas existe uma coisa que os liga, e isso é a Confiança; mas não os acorrenta.

A tua pergunta não tem sentido. Tu não compreendes o que perguntas. Talvez seja isso o que esteja a
acontecer no Mundo; até mesmo as Amizades transformam-se em Casamentos — expetativas,
exigências…

Na Idade Média, as Pessoas das Classes mais altas da Europa estavam tão preocupadas com a
Castidade das suas Mulheres qeu inventaram uma fechadura; para que se ausentassem durante uns
dias da Cidade, pudessem trancar os órgãos sexuais das suas Mulheres. Ela conseguia urinar, mas
não conseguia fazer Amor. Essas fechaduras ainda estão em exibição em vários Museus na Europa —
uma grande invenção!

Um Guerreira ia a caminho da Guerra e estava muito preocupado. Finalmente acabou por decidir
trancar a sua Mulher. Era como um cinto, que tornava impossível a qualquer Homem fazer Amor com
a sua Mulher. E então ele começou a pensar que na Guerra poderia perder a chave, então foi ter com
o seu melhor Amigo e disselhe, “Vou para a Guerra, pode demorar dois ou três meses até que eu
regresse. Eu confio em ti — guarda-me esta chave. Tranquei a minha Mulher para que não possa
fazer Amor com ninguém. Quando regressar, virei buscar a chave.”
E assim sentiu-se com o Coração mais leve, isso agora já não seria um problema. Quando estava a
sair da Cidade, ouviu os passos de um Cavalo a segui-lo, então olhou para trás. O seu Amigo
galopava rapidamente ao seu encontro e gritou, “Espera! Deste-me a chave errada!” Apenas se
tinham passado cinco minutos…! Este é o tipo de Amizade que existe no Mundo.

Muitas poucas Pessoas conhecem as Alegrias da Amizade. Não fazem exigências, não esperam nada
— e então não há problemas: podes estar sozinho e podes estar cheio de amizade. É uma das
melhores experiências espirituais.

Tu também perguntaste como é que se pode estar excitado e calmo ao mesmo tempo. Podes tentar
fazer isso de duas formas: ou estar excitadamente calmo ou calmamente excitado. Não vejo qualquer
problema nisso, já tentei isso dessas duas maneiras — funciona. Achas que não estou excitado
contigo, com o teu Futuro, o teu potencial, o teu crescimento? Eu estou tão excitado quanto qualquer
Jardineiro o está com as suas Plantas — mas isso não perturba a minha Calma.

São como duas asas num Pássaro: parecem ser opostas uma à outra, mas ambas são necessárias para
o vôo do Pássaro. E para conhecer este segredo de transformar contradições em complementos é um
dos mistérios mais importantes dos alquimistas.

Então, sempre que vires duas coisas que são contraditórias e queres ambas, apenas tens de encontrar
uma ligação que as transforme de contradições em complementos.

E ficarás surpreso que não há contradições na Existência; apenas há complementos — mas para nós
parecem-nos contradições. A Árvore cresce em altura, mas as suas raízes em profundidade. Se a
Árvore também fosse filósofa, ficaria intrigada: como é que posso manter esta contradição de crescer
para as alturas e para as profundidades simultaneamente? Mas como as Árvores não são filosóficas,
são Pessoas muito simples, elas continuam a crescer cada vez mais alto e também continuam a
crescer em profundidade simultaneamente.
Quinta Pergunta

Querido Osho, será que podias falar das diferenças entre o querer, o desejar e o esperar?

Prem Purna, no dicionário, essas três palavras significam a mesma coisa, mas não o seu significado
existencial. O significado existencial é tão diferente umas das outras que realmente é espantoso o que
estes linguístas, especialistas da linguagem e gramática estão a fazer.

Querer implica uma ideia muito clara sobre algo: o que tu queres. Não é uma coisa vaga. Tu queres
uma Casa, tu queres uma Esposa, tu queres uma Criança — o objeto do querer é muito claro.

O desejar é vago: o objeto do desejo não é claro. Tu queres poder — tu desejas respeitabilidade,
honra; tu desejas ser o maior Homem do Mundo.

O esperar é simples, e existe uma possibilidade que sejas capaz de o alcançar — porque não é uma
tarefa impossível ter uma Casa, uma Mulher, Crianças. De facto, é impossível não as ter.

Mas o desejar é vago: respeitabilidade não é um objeto, é apenas uma ideia; hinra não é um objeto,
mas apenas uma ideia; ser-se o maior Homem não é um objeto, apenas uma ideia. E até mesmo as
maiores Pessoas — o Mundo pode pensar que são grandes — são infelizes por dentro.

Por exemplo, o fundador da Revolução Russa, Lenin, pode certamente ser chamado de um grande
Homem; até mesmo os seus inimigos concordariam com isso. Mas ele estava constantemente
preocupado, embaraçado, porque as suas pernas eram pequenas, e o a parte superior do seu Corpo
era bem maior; não eram proporcionais. Quando se sentava numa cadeira, as suas pernas ficavam no
ar, não conseguiam chegar ao chão. Então ele escondia sempre as suas pernas, sentava-se muito perto
da mesa. As suas mesas estavam sempre cobertas por panos, para que ninguém visse as suas pernas a
abanar no ar. Mas quer alguém as visse ou não, ele sabia…

Não penso que isso seria um problema — mas assim permaneceu na sua mente como um profundo
complexo de inferioridade. Talvez tenha sido esse complexo de inferioridade que o levou a ser um
grande revolucionário no Mundo: se ele tivesse umas pernas normais, talvez não tivesse sido um
revolucionário.

O desejar é vago; e o esperar é totalmente diferente do querer e do desejar. Querer e desejar são
ambos da Cabeça: um é para um objeto claro, o outro para ideias vagas. O esperar é do Coração, não
da Mente. É o Coração que espera, e sente a dor do esperar. O Coração não tem qualquer relação
com o dinheiro ou com o poder; o esperar do Coração é apenas para o Amor… e no final para Deus,
que é a forma mais pura do Amor, e anda mais. É um bom exercício contemplar as diferenças entre
palavras que parecem ser similares. Vai dar-te claridade.

O esperar é apenas uma sede, e é bem bonito.

O desejar é feio, porque é sempre competitivo — com ciúmes daqueles que o tem, quando não o tens.
É feio porque pode fazer qualquer tipo de mal a qualquer Pessoa de forma a consegui-lo. É violento.
O querer é comum — da classe média.
Sexta Pergunta

Querido Osho, quando nos dissolvemos na Consciência Universal, e no entanto mantemos a nossa
individualidade, seremos ainda capazes de reconhecer os nossos Amigos? Será que eu serei capaz de
te reconhecer? É que há Pessoas que eu não me quero afastar.

Prem Arup, as Pessoas que tu não te queres afastar não serão capazes de te encontrar porque elas
também precisam de Liberdade.

Na Consciência Universal tu apenas podes reconhecer a tua Liberdade, vinda de um Amor puro. A
própria ideia de não os deixar ir é anti-liberdade. Tu queres manter essa posse nas tuas mãos até
mesmo na Consciência Universal, aonde as individualidades já se dissolveram. Essas serão as
primeiras Pessoas a desaparecer. Elas escaparão da tua mão.

No que me diz respeito, não existe qualquer problema. Serás capaz de me reconhecer, porque entre
eu e tu não há qualquer questão de posse. Quanto mais não-possessiva for a tua amizade, maior será a
possibilidade de sentires e reconheceres o âmago essencial do indivíduo, porque todas as outras
formas irão desaparecer, já não estarão lá; apenas permanecerá o âmago essencial, sem qualquer tipo
de corpo. Apenas através da Liberdade, do Amor, existe a possibilidade de reconhecimento.

Tu perguntas, “Será que serei capaz de reconhecer os meus Amigos?” Tu não tens Consciência:
alguém é teu Amigo hoje, amanhã torna-se no teu Inimigo; alguém era teu Inimigo ontem e hoje torna-
se em teu Amigo. Os Amigos tornam-se Inimigos; Inimigos tornam-se em Amigos. A não ser que
tenhas uma Amizade que já é Eterna, aqui — agora, não serás capaz de os reconhecer.

O que quer que possam tornar eterno, aqui — agora, serás capaz de reconhecer mais tarde.

E isso é bom. Certa vez ouvi falar de um Homem que se casou oito vezes. Agora ser-se reconhecido
por oito Mulheres simultaneamente na Consciência Universal… esse Homem tentará de alguma forma
ir para trás, para o Mundo! Ele não quererá uma coisa como a Consciência Universal, aonde oito
Mulheres o estão a torturar.

O que quer que seja puro aqui, permanecerá puro em qualquer Mundo que estejas. Então pensa sobre
o facto de fazeres Amigos Eternos, completamente livre de impurezas; pensa sobre o Amor como
sendo apenas uma gratidão, e não uma exigência. Todas as exigências de relações, todas as
expetativas sobre relações serão dissolvidas. Apenas as relações puras — apenas o prazer puro na
individualidade do outro — será recordado e reconhecido. E isso é bom… porque tu viveste muitas
vidas: tiveste tantos Maridos, tantas Mulheres, tantos Amigos, tantos Inimigos… foi difícil lidar com
tantas Pessoas separadamente. Milhares de vidas, e as suas relações, na Consciência Universal iria
esmagar-te, destruir-te.

Até mesmo os teólogos cristãos ficaram cada vez mais preocupados com o Dia do Julgamento Final.
Bertrand Russel começou com a pergunta quando escreveu o livro, “Porque é que não sou um
Cristão”. Ele apontou o dedo a todas as falácias da teologia Cristã — e uma dessas falácias é o Dia
do Julgamento Final.
Bertrand Russel era um matemático. Ele não conseguia entender como é que milhões e milhões e
milhões de Pessoas poderiam ser julgadas em apenas um dia. E metade dessas Pessoas seriam
Mulheres, a gritar e a tentar encontrar os seus Maridos… e todas essas Pessoas tiveram muitos
Maridos em muitas Vidas e muitas Mulheres em muitas Vidas e elas todas estariam aos encontrões e
a lutar umas com as outras… deixariam Deus louco. Bertrand Russel diz, “Por isso é que o Dia do
Julgamento Final é constantemente adiado. Nunca vai acontecer.”

Todas as Pessoas que estão nas suas sepulturas… e não são um número pequeno: aonde quer que
estejas sentado há pelo menos oito Pessoas debaixo de ti, nas suas sepulturas. E Deus vai acordar
todas essas Pessoas das suas sepulturas? Em primeiro lugar, acordar todas essas Pessoas das suas
sepulturas vai demorar muito tempo; só um dia não chega. E as Pessoas que já dormem há séculos…
só o facto de acordar qualquer Pessoa de manhã que tenha estado a dormir há apenas seis ou oito
horas já é uma tarefa difícil. E as Pessoas que já estão a dormir há milhões de anos — acordá-las
não vai ser fácil!

E depois, toda essa reunião de Pessoas vai ser tão grande, vai ser uma verdadeira congregação. E
todas as Pessoas irão estar apressadas, há procura… porque em mil Vidas tu tiveste mil Mulheres, e
cada uma das tuas Mulheres teve mil Maridos — não foste apenas tu. Vai ser um dia tão confuso que
ninguém se vai lembrar com o Julgamento. E como é que Deus vai gerir isso tudo?

Eu concordo com o Bertrand Russell quando ele diz que o Dia do Julgamento Final não irá acontecer,
apenas por ser matematicamente impossível.

É bom que os esqueças a todos; apenas os puros serão lembrados — e tu não tens muito que seja
puro. Então não esperes pelo além; se querer reconhecer alguém, purifica as tuas relações com essa
Pessoa. Dá-lhe Liberdade absoluta — e não te deixes também ser dominado por ela. Permanece
absolutamente livre. Apenas duas liberdades, duas solidões, dois meditadores, encontrando-se por
nenhuma razão mais do que a pureza da Alegria, serão capazes de se reconhecerem um ao outro.

Mas Aruo, podes ter a certeza de uma coisa sobre mim: quer me reconheças ou não, eu vou
reconhecer-te.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

Os Milagres são na sua maior parte ficção

Tarde de 21 de Fevereiro dde 1987 no Suditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, já nos falas-te de Lázarus e de quando ele se ergueu, e dos Milagres de Jesus ao andar
em cima da água. Ms e do Milagre que és tu? Tu transformas-te Tigres em Carneiros, Gorilas em
Buddhas, Preocupados e Pensadores em Pessoas sem Mente, e criaste um Oásis a partir de um
Deserto. Por favor Osho, fala-nos do Milagre dos Milagres que és tu.

Zareen, eu não acredito em Milagres, mas mesmo assim os Milagres acontecem. E uma vez que não
acredito neles, não os posso reclamar como sendo o seu dono. No máximo eu sou um Observador.

Os Milagres que Jesus fazia são triviais: caminhar em cima da Águs, ou transformar Água em Vinho,
ou trazer Lázarus dos Mortos de volta à Vida. Para mim isso não são Milagres.

Lembro-me agora de um dos maiores Místicos que esta terra já produziu: Ramakrishna. Ele era um
Homem dos mais simples que pode haver. Certo dia, um grande Santo que era bem conhecido pelos
seus Milagres veio vê-lo. Ramakrishna estava sentado no leito do rio em Dakshineshwar, perto de
Calcutá, aonde o Ganges se torna tão grande e tão lindo. O Santo sentia-se muito orgulhoso dos
Milagres que costumava fazer. E ele tinha vindo com o propósito específico de mostrar a
Ramakrishna de que a sua religiosidade valia a pena.

Ele falou com grande orgulho e com o Ego no seu ponto máximo, “O que é que estás a fazer sentado
debaixo de uma Árvore? Vamos fazer uma caminhada no Ganges, pelas águas.”

Ramakrishna respondeu, “Vieste de muito longe. Descansa apenas um pouco e depois podemos dar
uma caminhada pelo Ganges.”

O Homem sentou-se e Ramakrishna disse, “Posso pedir uma coisa: quanto tempo é que te levou para
aprender a arte de andar em cima da Água?”

O Homem, “Quase trinta e seis anos.”

Ramakrishna riu e em seguida falou, “Quando eu quero ir à outra margem — apenas me custa dois
Paises, e mesmo isso, nem sequer o Homem do Barco me cobra, pis vê que eu sou um Homem pobre.
Desperdiças-te trinta e seis anos numa arte que apenas vale dois Paise. Deves ser um idiota.”

Mesmo que possas caminhar em cima da Água, isso não faz de ti espiritual, não te dá um vislumbre
do Divino. Pelo contrário, ainda te afasta mais de Deus. Tornaste mais egoísta, porque podes fazer
algo que os outros não podem.

Jesus trouxe Lázarus de volta à Vida. Naturalmente que parece ser um grande Milagre — mas não é,
porque Lázarus não foi transformado, e viveu mais uns anos, a repetir a mesma rotina ded sempre, ele
tinha de morrer. O seu Ser, depois de ter retornado há Vida não lhe foi dado nada do Eterno. A
mesma história se repete na Vida de Gautam Buddha, e aí se pode ver a diferença entre um
verdadeiro Milagre e um pseudo Milagre.

Um jovem Filho morreu, e esse Filho era a única esperança da sua Mãe. O Pai tinha morrido, os seus
outros Irmãos e Irmãs tinham morrido e a Mãe apenas vivia para o seu Rapaz. E até mesmo esse
Rapaz também morreu. A Mãe quase que ficou louca. Ela chorava e lamuriava-se por todos os lados
e perguntava a todas as Pessoas, “Digam-me a morada de algum Médico que possa trazer de volta o
meu Rapaz, pois assim não posso viver, não tenho mais nenhuma razão para viver. Tenho andado a
carregar tantas feridas: todas as minhas outras Crianças morreram, o meu Marido morreu. Mas tenho-
me mantido controlada, apenas por causa deste pequeno e lindo Rapaz, e agora ele também se foi.”

Alguém disse, “Não te preocupes, Gautam Buddha veio precisamente hoje há Cidade. Ele ficou fora
da Cidade na plantação de Mangas. Leva o Rapaz a Gautam Buddha.

A Mulher, cheia de esperanças foi ter com Gautam Buddha, levando o corpo do Rapaz morto.
Colocou o Corpo morto aos pés de Gautam Buddha e disse, “Se és mesmo espiritual, se tens
Consciência, então dá a Vida de volta à minha Criança.”

Gautam Buddha respondeu, “Isso não é difícil. Apenas te peço uma pequena condição.”

A Mulher, “Faço qualquer coisa.”

E ele, “Não é uma condição dantesca. Sei que toda a tua Aldeia faz sementei-a sementes de mostarda.
Vai e traz-me de algumas casas apenas uma mão cheia de sementes de mostarda.”

A Mulher começou a correr; e disse, “Voltarei dentro de alguns minutos.”

Buddha gritou, “Não ouviste toda a condição. A condição é: as sementes de mostarda ddevem vir de
famílias aonde nunca ninguém tenha morrido.”

A Mulher num tal estado que não conseguiu compreender. Foi a correr de uma casa para outra.

E as Pessoas diziam, “Podemos dar-te quantas sementes de mostarda quiseres. Podemos até trazer
todas as sementes de mostarda da Aldeia toda, se isso fizer com que o teu Filho retorne de novo há
Vida. Mas as nossas sementes de mostarda não te irão ajudar, porque morreram muitas Pessoas na
nossa Família, e não encontrarás uma única Família aonde ninguém tenha morrido.”

O número de Pessoas mortas em todas as Famílias é mais do que o número de Pessoas vivas. Os teus
Pais morreram, os teus Avós morreram, e assim por diante — desde os tempos de Adão e Eva que as
Pessoas não tem feito outra coisa senão morrer. A fila é tão vasta por detrás de cada Pessoa — de
Pessoas mortas.

Mas ela foi de casa em casa e aos poucos e poucos, ao chegar a noite ela tomou consciência. As suas
lágrimas secaram; e voltou para junto de Gautam Buddha, tocou nos seus pés, e disse, “Esquece o
Rapaz, neste Mundo todas as Pessoas tem de morrer. Não interessa quando é que uma Pessoa morre.
Tu iniciaste-me como um Sannyasin, para que eu pudesse experienciar algo de imortal, algo do
Eterno que vive para sempre.”

O Buddha respondeu, “Tu és inteligente e compreendes-te o meu ponto de vista.”

A Mulher tornou-se um Sannyasin, e não um comum Sannyasin. Ela tornou-se iluminada antes de
Buddha morrer. Ela foi a primeira discípula Mulher a ficar iluminada, o seu nome era Kisha Gautami.
A isto eu chamo de Milagre.

Aparentemente, assim parece, trazer Lázarus de volta à Vida é um Milagre. Mas qual é o sentido
disso? Ele vai morrer novamente; não lhe foi dado o sabor da imortalidade. Os verdadeiros milagres
são invisíveis ás mentes comuns. Eu não acredito nesses milagres, porque eles simplesmente não o
são.

Zareen, tu falas do meu Milagre. Eu nunca fiz nada deliberadamente, porque fazer qualquer coisa
deliberadamente é ir contra o fluxo natural da Existência. Eu estou num deixar acontecer total. Sim,
coisas tem acontecido há minha volta. Não posso ficar com o crédito dessas coisas, porque eu nada
fiz.

As Pessoas souberam pela primeira vez dos Mistérios do Amor, dos Mistérios da Vida. As Pessoas
entraram na sua própria interioridade, na sua subjetividade, aonde o Ser se encontra a ele próprio.

E esse é o maior Milagre do Mundo, encontrar-se a si próprio.

As Pessoas tornaram-se silenciosas, serenas, calmas e quietas. As Pessoas tornaram-se uma unidade
orgânica. Tal Harmonia profunda aconteceu a elas que toda a sua Vida é envolvida por Música e
Poesia.

Eu vi os amputados, e quase todas as Pessoas estão amputadas pelas Sociedade, a ganhar força e a
dançar no abandono. Dançando ao ponto que o dançarino desaparece e apenas a dança permanece.
Cantando ao ponto aonde o cantor desaparece e apenas a canção permanece.

Estes são os momentos que abrem as portas para o Divino. Estes são os momentos em que tu não és
mais um Ser comum, tornaste parte do máximo dos máximos, do Ser Universal.

Estes são os milagres. Transformar Água em Vinho é um ato marginal, e não um Milagre. Mas sem a
Água eu vi o meu Povo tão bêbado; e foi nesse estado que eles se aperceberam da sua divindade.
Mas eu não tenho andado a fazer nada. Eu não tenho estado por aqui há já muitos anos. No dia em que
desapareci, começaram a acontecer Milagres há minha volta. O Amor floresceu, muitas Pessoas
acordaram do seu Sono muitas Vidas.

Ms tu não podes atribuir isso a mim. No máximo a minha presença é apenas um agente catalisador.
Talvez desperte algo em ti; transforme-te, traz-te novos Sonhos, e novas Realidades, e novos
Espaços. Mas lembra-te, não te deves sentir grato a mim. Deves sentir-te grato há própria Existência,
qeu te deu a oportunidade.

As Pessoas por feitos de Milagres não são Pessoas religiosas. Não conhecem sequer chegam a
provar a espiritualidade.

A Pessoa espiritual está ausente como Pessoa e Presente apenas como uma Presença — apenas uma
Luz. Tudo depende de ti para te incendiares a partir dessa Luz ou não te incendiares. Essa Luz está
disponível, podes usá-la e tornares-te a própria Luz; é uma decisão tua. Daí, se queres ver um
Milagre, podes vê-lo a acontecer na tua própria Vida. Todos os outros Milagres são na sua maior
parte ficção. Nunca ninguém andou em cima da Água. Não é só sobre Jesus — é sobre qualquer
Pessoa; Mahavira, ou Buddha, ou Bodhidharma, ou Zarathustra, já lhes foram atribuídos muitos
Milagres — e esses Milagres são tão triviais. Os verdadeiros Milagres permanecem invisíveis, não
são lembrados pela História porque apenas a Pessoa que passa pelo processo do Milagre é que sabe,
e mesma ela não o pode provar, não pode dar nenhuma evidência sobre ele.

Eu tenho sido um Observador por aqui. Tenho visto vocês a mudarem da Morte para a Vida, tenho
visto vocês a mudarem da Escuridão para a Luz, tenho visto vocês a mudarem de uma Vida de
mentiras para a Verdade glorificante.

Mas eu sou um Observador, não sou um fazedor, todo o crédito vai para a Existência em si.
Segunda Pergunta

Querido Osho,

Eu pensei que tu eras como este Poema de Rumi.

Nós somos o Espelho bem como a Face que lá aparece,

Nós estamos a provar o sabor deste minuto da Eternidade,

Nós somos a Dor e o que cura a Dor simultaneamente,

Nós somos a doce Água fria e o Jarro que a deixa escorrer.

Prem Prasado, Jalaluddin Rumi é um dos grandes Místicos Sufis. Ele é o único Místico a quem os
Sufis chamavam de Mevlana. Mevlana significa, o nosso querido Mestre.

eu amo imensamente certas Pessoas. Mevlana Jalaluddin Rumi é uma delas, e a razão de o amar tanto
é que ele não era negativo em relação há Vida, mas sim afirmativo. E a Meditação que ele encontrou
e que continuou por setecentos anos entre um pequeno curso de Místicos era a Meditação de um certo
tipo de dança. Os seus seguidores eram chamados de Sufis giratórios.

Vocês já devem ter visto Crianças pequenas — elas gostam de girar; e todas as Pessoas param-nas,
porque o Medo dos Pais é de que a Criança possa cair, que possam ter fratura, que se possam aleijar.
Ms apesar de todas as proibições, as Crianças adoram girar. E nunca ninguém se perguntou porque é
que as Crianças adoram, em todo o Mundo, independentemente da Raça, Nação, Religião, porque é
que as Crianças adoram girar.

Jalaluddin Rumi, ao ver as Crianças a girar, pensando que deve haver algo que as Crianças sentem
mas não conseguem exprimir, e talvez elas nem sequer se apercebem completamente do que é. Então
ele começou a girar, e ele espantado ao descobrir que se girar-mos muito, chega uma altura em que o
Centro do Ser permanece estático e o Corpo todo, Mente, Cérebro, tudo, gira.

E aquele Centro que não gira, és tu, o Centro do Ciclone. O redemoinho é quase igual a um Ciclone,
mas exatamente no Centro do Ciclone encontra-se um ponto que não se moveu nada. Todas as rodas
precisam um Centro, no qual rodam, e esse Centro tem de permanecer imóvel. Pode-se ver isso nas
Bicicletas, nos carrinhos de puxar, aonde quer que haja uma Roda, há algo no Centro que é imóvel.

Quando Jalaluddin se apercebeu que se pode encontrar o Centro imóvel do Ser, ele tentou durante
trinta e seis horas seguidas, sem comer, sem beber — ele estava determinado a girar até atingir o seu
máximo, sem resguardar nada… a não ser que caísse, ele não pararia. Durante trinta e seis horas ele
girou, e uma grande multidão observava-o. A multidão mudava; as Pessoas iam comer e depois
voltavam novamente. As Pessoas tinham de trabalhar e depois voltavam de novo; trinta e seis horas é
um período longo. E passadas trinta e seis horas ele caiu estendido no chão. E as Pessoas ouviram
uma grande gargalhada.

Jalaluddin estava a rir estrondosamente, e disse, “Vocês pensam que me viram cair, eu também me vi
a cair. Nestas trinta e seis horas eu não me movi um único centímetro. Agora não tenho de ir a Mecca
há procura de Deus, já o encontrei. No Centro imóvel do meu Ser, aqui está ele.”

Os seguidores de Rumi não tem grandes escrituras, não tem qualquer tipo de ritual, à exceção dos
redemoinhos, e uns poucos Poemas de Jalaluddin Rumi, que ele costumava cantar depois de rodar e
cair. Ele levantava-se e estava tão bêbado — nesse estado ele cantava uma canção, e essas canções
foram guardadas. Essas são as únicas literaturas que os seguidores tem.

Essas linhas também são de um dos Poemas de Rumi. Cada frase é impecável — não só é verdade,
mas também completamente bonita.

Nós somos o Espelho, isso é o que vos venho a dizer uma vez atrás da outra; que nós não somos o
que faz, nós somos apenas o Espelho. Não te identifiques com o que fazes, com as tuas ações;
permanece sendo uma Testemunha, apenas um Observador. Mas não nos ensinam as coisas mais
essenciais da Vida, ensinam-nos todo o tipo de coisas idiotas.

O mais essencial é a arte da observação.

Certa vez ouvi, um bêbado chegou a casa de noite, bem tarde. E não importa o quanto bêbado estejas,
quanto mais perto de casa estás, há medida que te vais recordando da tua Mulher, quase que começas
a ficar sóbrio… apenas com essa lembrança. E esse dia era especial, porque a Mulher tinha ficado
muito cansada… ele chegava todas as noites já bem tarde, e ela tinha de se levantar e abrir a porta, e
depois vinha a luta… Então, nesse dia ela tinha-lhe dado a chave e disselhe, “Agora comporta-te!
Quando chegares a casa faz o máximo de silêncio possível.”

Então ele movia-se muito silenciosamente — e um Polícia observava-o. Ele pensou, “Que estranho, é
a sua própria casa, e ele comporta-se como se fosse um ladrão.” Finalmente o bêbado tentou
encontrou a fechadura com alguma força. De alguma forma ele conseguiu, segurando a fechadura com
uma mão e a chave com a outra, mas não conseguia fazer com que a chave entrasse. Ambas as mãos
estavam a tremer. E disse, “Isto é estranho. Alguém me pode ajudar? A casa está a abanar.”

O Polícia chegou-se mais perto e falou, “O que é que se passa?”

Ele, “Segure a casa só por uns instantes, para que eu possa abrir a fechadura.”

O Polícia riu. E disse, “Dê-me só a chave e eu abrirei a fechadura.” Então a Polícia abriu a
fechadura.

O bêbado não queria arranjar problemas nesse dia. A Mulher tinha sido muito generosa ao dar-lhe a
chave. Mas quando caminhava para a sua casa, ele tinha-se envolvido numa luta com outro bêbado, e
tinha sido arranhado, havia sangue a escorrer em muitas zonas da sua cara. Então, logo que entrou em
casa, muito cautelosamente — mas tropeçou, e a sua Mulher gritou, “Quem está aí?”

De repente lembrou-se do Cão da sua Mulher, então aproximou-se da cama, e começou a roçar o seu
nariz e a sua língua nos pés dela. E ela pensou que era o Cão, virou-se e voltou a adormecer. Ele foi
então para a Casa de Banho, olhou para o espelho e disse, “Meu Deus, ela vai descobrir de manhã;
sangue a sair por tantos sítios, aonde aquele meu Amigo me arranhou…” Então ele pegou numa
pomada que estava na casa de banho e esfregou-a em todas as suas feridas, cobrindo-as
completamente, para que de manhã a sua Mulher não as pudesse ver.

De manhã, a sua Mulher foi à casa de banho, e deu um berro, “Seu idiota! Vem já aqui. Quem é que
destruiu o meu Espelho? Quem é que o pintou com pomada?” Tinha sido ele. Ao ver a sua face no
Espelho, naturalmente ele colocou a pomada na face que estava no Espelho.

Tu não és um bêbado, mas espiritualmente estás a dormir. E a não ser que te tornes um Observador
das tuas próprias ações, dos teus Sonhos, dos teus Pensamentos, dos teus Desejos — não há qualquer
hipótese de transformação, de poderes acordar, de deixar essa cova de Sono em que tens andado
durante tantas Vidas.

Rumi está certo quando diz, “Nós somos o Espelho, tal como a face nele.”

Nós somos o Observador e o observado. Não há qualquer tipo de separação entre nós e a Existência.
Nós fazemos parte de Um Todo, tal como as minhas mãos são parte de uma unidade orgânica única.
Eu posso fazer com que elas lutem entre si. Eu posso fazer com que elas sejam Amigas, Harmoniosas
entre elas. Posso atingir uma mão com a outra e feri-la.

Quando estás a ver a Árvore, ou a Lua, ou o Rio, ou o Oceano, tu és o Espelho e o espelhado


também. É uma Existência Una.

Esta é a conclusão básica de todos os Místicos, de que toda a Existência é uma única Entidade, não
existe nenhuma dualidade. Toda a dualidade, lá bem no fundo junta-se em uma Existência.

Nós somos o Espelho bem como a Face que lá aparece.

Nós estamos a provar o sabor deste minuto da Eternidade.

Fica atento durante este minuto. Neste Silêncio estás a provar algo que está para além do Tempo.

Nós estamos a saborear o sabor deste minuto da Eternidade. Nós somos dor, e o que cura a dor,
ambos. Nós somos agonia e somos Ecstasy. Nós somos Inferno e somos Céu, porque não existem
contradições na Existência. Todas elas são juntas. Nós somos a doce água fria e a jarra que é
esvaziado.

Vocês podem encontrar muitas contradições na Vida. E também podem descobrir que tudo isso é
complementar.

É algo muito estranho, de que todos os Místicos, quer eles tenham nascido há milhares de anos atrás,
ou que tenham vivido nos dias de hoje, todos concordam plenamente nos pontos essenciais do
crescimento da espiritualidade e realização.

Por exemplo: o Silêncio, neste minuto, não te dá uma explicação — mas dá-te uma vivência.

Dançando e cantando, permite-te ficar totalmente preenchido que nada é deixado para trás. E tu
entraste no Templo de Deus, aonde és o Espelho, e és a face que é espelhada nele; aonde é o que
procura e és o procurado; aonde és o discípulo e o Deus aos pés do qual estás a oferecer a ti próprio.

Aconteceu o seguinte na Vida de Ramakrishna… um incidente muito estranho. Um certo grande Pintor
queria pintar a figura de Ramakrishna. Depois de muita persuasão, Ramakrishna concordou. Quando
a pintura ficou completa, trouxe-a para a oferecer a Ramakrishna. Quando ele a deu a Ramakrishna…
Ramakrishna tocou nos pés da pintura com a sua cabeça. O Pintor nem queria acreditar. Ele tinha
ouvido dizer que o Homem era louco, mas agora não havia quaisquer dúvidas: ele é mesmo louco,
tocar os seus próprios pés com a sua cabeça!

Até os seus discípulos ficaram embaraçados. E criou-se um grande Silêncio. Finalmente um


discípulo perguntou, “É o teu próprio retrato — e estás a tocar os seus pés com a tua cabeça? Aos
fazeres tais coisas… as Pessoas pensarão que és louco, e estás a dar-lhes muitas provas disso. Até
mesmo nós ficamos embaraçados quando as Pessoas nos perguntam, ‘Porque é que seguem o
Ramakrishna? Não conseguem encontrar ninguém que seja sano?’ “

Ramakrishna respondeu, “Fiz algo de errado? Eu não toquei nos meus próprios pés. Eu toquei os pés
— porque a pintura é de alguém que está num profundo Silêncio, em Samadhi, em sintonia com Deus.
Tu estás certo, eu devo estar louco, porque agora reconheço que é a minha própria Pintura. Mas
naquele momento apenas senti que o Pintor fez um grande trabalho. Ele não só soube apanhar o
Corpo da Pessoa, mas também mo seu Espírito.” E Ramakrishna ficou com essa pintura toda a sua
Vida, logo por detrás da sua cama. E ainda está lá.

Enquanto a sua Mulher viveu, ela costumava fazer a cama todos os dias, mesmo depois de ele morrer.
Ela costumava trazer comida para o seu quarto. Ela costumava cozinhar todas aquelas coisas
deliciosas que Ramakrishna gostava.

As Pessoas começaram a dizer, “Morreu um louco, agora esta Mulher enlouquece…” Chamava-se
Sharda. Até mesmo alguns Discípulos de Ramakrishna costumavam perguntarem-lhe, “Uma vez que
ele está morto, qual é o sentido em fazer-lhe comida duas vezes por dia, todas as noites, e fazer a sua
cama?”

Ela dizia, “Será que devo acreditar em vocês, ou será que devo acreditar neles? Porque quando ele
estava a morrer, eu perguntei, ‘Estás realmente a morrer?’ E ele respondia, ‘Ninguém morre. E tu não
precisas de mudar o teu vestido.’ ” Este é o costume entre os Hindus, de que a Viúva não pode usar
cores coloridas, que não pode usar ornamentos, e que tem de rapar a sua cabeça.

Ramakrishna disse, “Tu não deves fazer nada, porque eu não vou morrer, eu estou apenas a deixar o
Corpo, mas estarei aqui, agora, e sempre.”

“Então em quem é que devo acreditar?” Assim costumava dizer Sharda. “E se ele está sempre aqui,
eu não consigo resistir há tentação de preparar coisas que ele gostava. Posso não conseguir vê-lo, e
isso é que é importante — não que o possa ver, mas que ele está a observar. E toda a sua Vida os
seus ensinamentos eram em torno de uma única palavra: observar.

Nós somos o Espelho e também a face nele.


Terceira Pergunta

Querido Osho, eu consigo ver a tua jogada: estás a dar-me corda suficiente para me enforcar. Farei
isso com prazer, mas não consigo encontrar o meu pescoço. Ms não te vais livrar de mim assim tão
facilmente. Eu nada sei sobre isso de ‘Ser um Buddha’, mas sei o que é o riso que destrói mentes e
também sei sobre as danças de ser um Sannyasin teu… Meu Deus, é a mesma coisa!

Devageet, é a mesma coisa. Não precisas de saber nada sobre o Buddha. Se consegues dançar
totalmente, se consegues rir totalmente, se consegues render-te há Existência — isso é o que quero
dizer com Sannyasin: o que se rende. Então nada mais há para fazer. Isso é o que te faz divino, isso é
o que te faz ser Buddha.

Tu dizes, “Eu consigo ver a tua jogada.”

Apenas um pouco. Se tivesses visto o jogo todo, não terias feito essa pergunta. Dizes que estou a dar-
te corda o suficiente para te enforcares, e estás pronto a fazê-lo com prazer — mas não consegues
encontrar o teu pescoço. Devageet, tu já te enforcaste. Como é que poderás encontrar o teu pescoço?
Já se foi. Agora apenas tens a corda.

Também dizes, “Não te vias livrar de mim tão facilmente.” Por isso é que eu digo, tu apenas estás a
ver um bocadinho do jogo. Tu já não estás ali. Ao rir, ao dançar, ao cantar, enforcaste-te a ti próprio,
e agora não há qualquer tipo de questão no que concerne ver-me livre de ti.

O problema surge apenas com aquelas Pessoas que dançam com metade do seu coração. Que se
enforcam, mas também se enforcam com metade do Coração.

Eu ouvi a história de Mulla Nasruddin em que ele ia cometer suicídio. Ele sempre me consulta
quando tem problemas graves, e ele disse, “Eu vou cometer suicídio.”

Eu respondi, “Isso é muito bom, porque com um Homem a menos — o Mundo fica melhor. E de
qualquer forma, tu já viveste tempo suficiente, esta é a altura.”

Ele, “Tens alguma sugestão?”

Eu, “Não arrisques. Pega numa corda, vai para um Rio, de certeza que conheces penhascos altos…
vai para um penhasco alto aonde haja uma grande Árvore. Então enforca-te na Árvore. O mais
provável é conseguires, mas como não foste um grande sucesso na Vida, aliás, sempre foste um
falhado, então leva também uma lata de óleo de querosene. Enforca-te primeiro, depois rega-te com o
óleo. E precisamente hoje ofereceram-me algo: um isqueiro, pega neste isqueiro e pega fogo a ti
próprio. E não te esqueças de levar a tua pistola. Se tudo o resto falhar, dá um tiro a ti próprio na
cabeça.”

Ele disse, “Isso não é nada bom. Agora não há hipóteses de falhar.”

Eu, “Apenas basta um método, e eu venho por detrás de ti, se for preciso. Eu ajudar-te-ei.”

Ele, “És um grande amigo. Porque perguntei a outros Amigos meus e todos disseram, ‘Não fales de
tais coisas, nunca penses em suicídio’, e tu estás a sugerir todas essas coisas. Ofereceste-me um
bonito isqueiro.”

Então fui com ele, e apenas disse, “Vai, tenta.”

Ele colocou a corda há volta do seu pescoço, mas com apenas metade do seu Coração. Ele tinha de o
fazer, porque eu estava ali a observar tudo o que acontecia. Depois regou-se com o óleo ded
querosene; e olhou novamente para mim, e incendiou-se… Depois disparou, mas não na sua cabeça,
acertou na corda — então caiu no Rio. O Fogo apagou-se, por causa do Rio. E eu gritei, “Não te
preocupes, afoga-te!”

E ele, “Não posso fazer isso, pois sei nadar.” E saiu das águas.

Eu, “És realmente único. Quando querias morrer, porque é que começas-te a nadar?”

Ele, “Nunca tentas-te tal coisa, eu fiz de tudo, por causa de ti! E quando tive a hipótese para nadar
para fora do Rio, não desperdicei essa oportunidade. Aqui está o teu isqueiro, fica com ele. Pode
ajudar mais alguém.”

Mas eu disse, “E então e o suicídio?”

Ele, “Quem é que se quer suicidar?”

E eu, “Tu vieste perguntar-me sobre isso.”

Ele, “Eu queria ser informado de uma coisa… uma Pessoa nunca sabe. Toda a Pessoa deve recolher
todo o tipo de informação. Mas tu és uma tal personagem, insististe tanto comigo, que ao invés de me
dares essa informação, forçaste-me a vivê-la!”

E eu, “Essa é a minha fraqueza. As Pessoas pedem-me explicações, e eu tento dar vivências.”

Devageet, tu estás acabado. Tu nem sequer consegues nadar para fora do meu Oceano de dançantes,
de cantores, de músicos, e dos meus Sannyasins. Não há qualquer tipo de esperança.

Então relaxa e esquece a corda, ela agora é inútil. Pode ser útil para mais alguém, pois novas
Pessoas estão a chegar todos os dias.
Quarta pergunta

Querido Osho, sinto-me cada vez mais tonto… ao tentar seguir-te aos picos do Sol, saltar, e de
repente flutuar Rio abaixo. E antes que me afogue no Oceano, tu arrastas-me para a dança até que o
dançarino se vá embora. Se alguma vez pararmos para respirar, será que devo verificar se a relva
está ainda a crescer por si própria?

Anand Dhiren, não precisas de te preocupar com isso, eu cuido dessa parte.

A relva está a crescer por si própria perfeitamente bem. Não te preocupes com a relva, dança apenas
com todo o teu ser.

É assim que pequenas coisas se tornam distúrbios. Preocupação com a Relva, se ela cresce ou não,
vai causar distúrbios na tua dança, e na tua Meditação. Deixa isso comigo.

Então para que é que eu estou aqui sentado? Apenas para manter um olho na relva para que ela
continue a crescer. E eu coloquei uma rede em toda a sua volta… achas que é para impedir os
mosquitos de entrarem? Estás errado. É para prevenir os dançarinos de saírem e destruir a relva!

OK, Vimal?

Sim, Osho.

Eu nada mais sou do que puré de champagne

Manhã de 22 de Fevereiro de 1987 no Suditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, cheguei a Poona há poucos dias atrás com tantas atitudes fixas de cinismo numa mão,
e com tantas esperanças na outra. Todas as expetativas e negatividades desapareceram, e sinto que
estou livre delas todas menos de uma grande tristeza. Eu fui tocado pelo teu grande Amor e pela
compaixão dos teus Sannyasins, mas mesmo assim continuo a lutar uma vez atrás da outra. Eu sinto o
meu Coração a fechar-se e a tornar-se feio, e sinto-me isolado dos meus Amigos. O que posso fazer
para ser merecedor do teu Amor e daqueles que estão há minha volta?

Helen, isso acontece com quase todas as Pessoas que aqui chegam; uma Pessoa vem com ideias fixas,
expetativas. E essas ideias e preconceitos são dadas pelo Mundo; são todas baseadas em mentiras.
Tu ficarias muito contente se todos os teus preconceitos e ideias fossem concretizados. Se tivesses
achado este sítio tal e qual o tivesses espetato, não teria havido tristeza. A tristeza está a crescer
dentro de ti porque toda a tua negatividade tem de desaparecer.

Este não é o tipo de sítio que… No Mundo inteiro, Religiões, Governos e os Media estão a conspirar
contra nós. Estão a espalhar todo o tipo de mentiras sem qualquer tipo de fundamento — este sítio é
exatamente o oposto do que eles estão a propagar. Mas são eles que tem o poder. Nós apenas temos
Amor.

É uma luta entre Poder e Amor. No final o Amor vai ganhar, mas no caminho, o Poder pode ganhar
algumas batalhas — mas uma batalha não é decisiva. Aqueles que nunca chegaram até aqui, aqueles
que nunca entraram em contato comigo ou com os que me seguem, podem continuar a viver com os
seus preconceitos. E os seus preconceitos não irão fazê-los felizes ou alegres; os seus preconceitos
não os irão fazer corar, cantar e dançar e desfrutar de todas as frutas que Deus oferece.

Eles estão todos contra mim pela simples razão de que eu sou por Deus, e não pelos Padres. O Padre
é inimigo de Deus, porque ele vende Deus no Mercado — e Deus não está à venda. Tu podes render-
te a Deus e ele será teu para sempre, mas tu não podes possuir Deus — essa é a forma de o matar.

Quando uso a palavra “Deus”, estou a referir-me há Vida, há Existência. Eu não sou um teólogo e não
acredito em nenhum Deus sendo uma Pessoa sentada nos céus a criar o Mundo. Olhem bem para este
Mundo: olhem para a loucura da Humanidade. Em três mil anos lutaram cinco mil batalhas. Se Deus
criou esta Humanidade então ele deve ser louco, porque uma Árvore é reconhecida pelo seu fruto. Tu
podes saber tudo sobre Deus conhecendo o maior despertar e o que brota da Consciência Humana.

Mas os Padres não estão preocupados com a Vida ou com a Existência; eles são profissionais. Todo
o seu esforço está em fazer-te sentir mais e mais culpado, como te fazer sentir mais e mais
degradado, humilhado; como te provar que és um Pecador, que nasceste a partir do Pecado. Quanto
mais orgulho e dignidade te forem tirados, mais vulnerável ficas para que eles possam explorar isso
ainda mais.

Tu dizes, “Cheguei aqui há poucos dias atrás com tantas atitudes fixas de cinismo numa mão, e com
tantas esperanças na outra. Todas as expetativas e negatividades desapareceram, e sinto que estou
livre delas todas menos de uma grande tristeza.”
Essa tristeza é muito significativa. É uma das coisas mais importantes para compreender na
Psicologia Humana, que mesmo que a miséria desapareça, a Pessoa sente tristeza. É que as Pessoas
acostumaram-se tanto com a Miséria, foi uma companheira tão boa durante tantos anos, que as
Pessoas sentem-se vazias porque a velha Miséria foi-se embora — a antiga dor, a antiga Angústia já
não está lá. Continuas-te agarrado ao teu miserável Passado. De repente dás conta que estás vazio, e
há uma Tristeza… a mesma Tristeza que sentes quando um Amigo se afasta de ti.

Uma vez que compreendas isto, podes iniciar uma transformação. Este não é um momento para se
sentir vazio; este é o momento para se sentir com espaço — e é a isso que tu estás a chamar de vazio.
Os antigos Amigos já se foram, antigos preconceitos, antigas negatividades, velhas ideias fixas… tu
tens imenso espaço, e sentir tanto espaço é uma sensação um pouco estranha no início. Mas há
medida que ficas acostumado a isso, o espaço torna-se no Templo de Deus. Não chames isso de
vazio; as palavras carregam muitos significados, e o que quer que chames a isso, irás começar a
sentir dessa forma.

O seguinte aconteceu nos Himalaias há uns anos atrás: Existe um bonito Animal que se parece com a
Vaca; é chamado de Vaca Azuk porque tem uma cor azulada. É um Animal selvagem, e a sua
população cresceu tanto que ouve uma altura que já não havia pastagem suficiente para que o Animal
pudesse continuar nas Montanhas. Começou a ir para os Campos e para os Jardins das Planícies aos
milhares, e o problema para os Hindus era que eles não os podiam matar porque o seu nome era Vaca
Azul.

Não é uma Vaca; mas parece ser uma Vaca. Mas a própria palavra Vaca para a Mente Hindu significa
“A Mãe”. Eles tem vindo a adorar a Vaca há já milhares de anos e o preconceito já ficou tão
entranhado — podem matar o Touro, que é logicamente o Pai, se a Vaca for a Mãe… Eles matam os
Touros; apenas deixam viver uns quantos para que possam criar mais e mais Vacas e mais Touros. Os
Touros não tem qualquer tipo de utilidade; eles são selvagens e muito fortes… eles castram os seus
próprios Pais, e então o Touro torna-se apenas um tourozinho.

Houve uma granded controvéria no Parlamento indiano; algo tinha de ser decidido. Aquelas Vacas
Azuis estavam a vir aos milhares e destruíam as plantações das Pessoas, e por toda a Índia os Hindus
escreviam slogans a dizer que elas não podiam ser mortas. Jawaharlal Nahru, o Primeiro Primeiro-
Ministro, era um Homem muito inteligente; ele simplesmente mudou o nome desses Animais. Foi
passado no Parlamento uma lei que dizia que os “Cavalos Azuis” deveriam ser mortos — e nenhum
Hindu se insurgiu contra essa lei. Se é um Cavalo, então o que interessa? É o mesmo pobre Animal; e
o Animal nada sabe se é uma Vaca Azul ou um Cavalo Azul — esses nomes são dados por nós. O
Parlamento indiano passou essa lei, nenhum Hindu lhe fez frente, e milhares de Vacas Azuis foram
mortas. Mas se o nome tivesse ficado como sendo Vaca Azul, então teria havido revoluções no País
inteiro, e milhares de Pessoas teriam sido massacradas.

As nossas Mentes funcionam através de palavras. Lembrem-se sempre de usar as palavras corretas.
Vazio não é a palavra correta — tem uma conotação negativa dentro dela, e chamar-lhe de espaço
muda completamente toda a atitude. Espaço carrega um sentimento positivo: o Céu não está vazio; é
espaçoso. A palavra “vazio” faz-te ficar triste.

A palavra “espaço” vai fazer-te ficar com Alegria, pois finalmente mandaste fora a mobília estragada
que estava na tua Mente — agora já podes organizar a tua Casa interior. E, de facto, o Espaço tem um
Silêncio — naturalmente, porque não há nada que crie barulho. O Silêncio pode ser mal interpretado
como sendo tristeza… Existem muitas linhas delicadas que cada Pessoa tem de entender. A
linguagem pode ser um grande problema.

O Silêncio e a Tristeza tem algo em comum — a Profundidade, a Paz — mas a Tristeza é oca, e o
Silêncio tem espaço; e para se ter espaço é um grande feito. Porque agora podes convidar o
Convidado, o Desconhecido: tu tornaste-te num Templo.

Há um Templo no Japão que está totalmente vazio — nem sequer há lá uma única estátua de Buddha.
Mas o vazio no budismo não tem uma conotação negativa; é um espaço virgem. Esse Templo atrai
peregrinos de milhares de quilómetros de distância, e não há nada no Templo. Mas apenas ao sentar
nesse espaço virgem ajuda-te a tornares-te parte dele — torna-se numa Meditação.

Então muda as tuas palavras. Não lhe chames de uma grande Tristeza; chama-lhe de Espaço virgem.
Porque da primeira vez em que tu entras no teu Céu interior; essas barreiras de Preconceitos e
negatividades desaparecem todas.

Tu dizes, “Eu fui tocado pelo teu grande Amor e pela Compaixão dos teus Sannyasins.” Não te fiques
apenas pelo tocar, afoga-te nele! Nada vais perder ao afogares-te no Amor, e na Compaixão, e na
Alegria, e na Canção e na Dança. O teu Espaço virgem vai ficar bem vivo.

Tu dizes, “Mas mesmo assim eu continuo a lutar uma vez atrás da outra.” Não lutes, porque se lutas,
estás a dar Energia ao Inimigo. Jesus está correto quando diz, “Ama os teus Inimigos” — esse é um
grande segredo alquimista. Se não lutares, não alimentas o Inimigo. Se lutares, acontecem duas
coisas: alimentas o Inimigo, e desces-te ao mesmo nível do Inimigo.

Eu tenho vindo a dizer às Pessoas: Podes ser Amigo de qualquer Pessoa, mas se queres ter Inimigos,
escolhe muito bem. Escolhe um Inimigo que esteja num nível superior ao teu, que seja melhor que tu,
mais sagrado que tu. Só ao tornares-te seu Inimigo, alcanças-te todas essas qualidades — porque não
se consegue lutar com um Inimigo que está no topo de uma casa, enquanto tu rastejas pelo chão; vais
ter de subir ao mesmo nível dele.

Mas eu entendo o teu problema, Helen. Não é um problema pessoal teu; é um problema da Mente em
si. Se fores miserável, a Mente tem uma função, mas se fores Alegre, a Mente não tem qualquer tipo
de função. A Mente tem uma função se estiveres cheio de atitudes negativas, mas se estiveres cheio
de afirmações, Confiança, Amor, Ecstasy, a Mente não tem funções.

Basicamente, a Mente é a fonte de todas as tuas negatividades. Quando as negatividades


desaparecem, a Mente também desaparece, aí a Pessoa fica com Medo. A Mente tenta arduamente
ficar na sua posição; tem sido o teu Mestre há já tanto tempo que não é fácil a ela deixar-te só. Vai
voltar uma e outra vez; e se lutares contra ela, ainda lhe estás a dar atenção, energia.

Deixa-a vir… e ignora-a. Essa é a chave para te veres livre dela: ignora-a. Deixa-a vir, não lhe dês
energia; não a alimentes dando-lhe atenção. E logo que a Mente se apercebe que tu ficaste
completamente insensível a ela, aos poucos e poucos, uma parte de cada vez, começa a desaparecer.
O maior momento na Vida vem quando a Mente se vai para sempre. Esse estado em que ficas sem
Mente traz-te ao Ser Interior. A Mente mantinha-te focado nela e não te permitia entrar na tua
interioridade. Ela está sempre com Medo do momento em que tu vais mais profundamente dentro de
ti, e aí eoa se torna inútil.

Quando ia a Calcutá, costumava ficar na casa do Chefe de Justiça do Tribunal de Calcutá. A sua
Mulher disseme duas coisas, “Eu não posso dizer estas coisas a qualquer Pessoa. Mas o meu Marido
gosta tanto de si, e respeita-te tanto, que talvez ele te ouça.”

E eu, “Não precisas de te sentires embaraçada; podes dizer-me, não interessa o quão grave seja.”

Ela, “O problema é que até mesmo na cama ele continua a ser o Chefe de Justiça. É bom que ele seja
o Chefe de Justiça no Tribunal, mas até as Crianças estão agora com medo dele. No momento em que
o Carro dele passa pelo portão, cai uma Tristeza na casa inteira. As Crianças — que apenas estavam
a rir, a desfrutar da Vida, a dançar — param; Eu própria fico com Medo, porque ele trata todas as
Pessoas como se fossem criminosos. Ele não consegue esquecer que é o Chefe de Justiça. Por favor,
faz alguma coisa, porque toda a nossa Família é torturada pelo facto de ele ser o Chefe de Justiça.”

Então fui falar com ele. No início ficou muito ofendido pelo facto da sua Mulher ter-me dito tudo
aquilo, mas eu interrompi, “Não te sintas ofendido, pois ela sabe que tu gostas muito de mim, e que
conseguirias ouvir-me. O facto de seres Chefe de Justiça tornou-se uma doença para toda a Família.
As Crianças não podem rir, ninguém pode falar, as Pessoas começam a sussurar; até mesmo a tua
Mulher disse isso na cama, enquanto faziam Amor, ela não faz Amor com o seu Marido — ela faz
Amor com o Chefe de Justiça do Tribunal Supremo de Calcutá!”

Ele ficou muito chocado. Até chegou a dizer ao Chofer para ir informar o Tribunal que naquele dia
ele não iria. Fomos juntos para o Jardim, sentamo-nos lá, sempre em silêncio e finalmente ele disse,
“Estás certo. E próprio também não estou a gostar, pois nunca vejo a minha Mulher feliz, nunca vejo
os meus Filhos a brincar. No momento em que entro dentro de casa parece que a Morte também
entrou; de repente tudo se torna triste. E eu sei que isso não é a verdade, porque os vizinhos
disseram-me que logo quando eu saio da casa, a Alegria volta. As Crianças dançam, cantam,
brincam; a minha Mulher é uma boa Cantora e Poeta — ela toca muitos instrumentos musicais — mas
na minha presença ela transforma-se quase numa múmia. E eu fico intrigado: não estou a fazer nada a
ninguém, então qual é o problema? Peço desculpa por ter ficado ofendido, mas acabaste por me
mostrar aonde estava o problema.”

Eu disse, “Vem comigo para a casa. Pede desculpa a toda a gente — aos empregados, ao Chofer, ao
Jardineiro, às Crianças, à tua Mulher, aos teus Pais — a um de cada vez. Diz-lhes que a partir de
hoje tu apenas serás o Chefe de Justiça apenas no Tribunal Supremo, e que deixarás a tua justiça no
Tribunal quando regressares a casa.”

Ele disse, “Isso é mesmo necessário? Não posso simplesmente mudar silenciosamente?”

E eu, “Eles não vão entender; irão continuar com a velha referência. Tens de fazer algo. Magoaste-os;
tens vindo a feri-los constantemente durante anos. Deves a eles pelo menos uma desculpa.”
E assim ele foi comigo. Com lágrimas nos olhos, ele tocou nos pés da sua Mãe e do seu Pai, e
perguntou, “Perdoem-me. Eu esquecime completamente que ser Chefe de Justiça é apenas a minha
função, não é o meu Ser. É apenas o trabalho que faço — eu não preciso de continuar tenso na minha
casa. Não são só vocês que estão a sofrer, também eu estou a sofrer. Eu quase que me tornei um
estranho para a minha própria Família; até mesmo os meus próprios Filhos tremem diante de mim. E
agora, olhando para trás, pergunto-me porque é que me agarrei tanto a isto de ser Chefe de Justiça.”

Deu-te uma mestria. E quando provaste o veneno de ser um Mestre, torna-se muito difícil de deixar
para trás esse conceito. Por isso é que lutas uma vez atrás da outra… e contra quem? É a tua Mente
que continua a voltar — os teus preconceitos, as tuas negatividades, o teu cinismo, as tuas
espetativas. Diz adeus a elas para sempre, pois elas não vão mais dar-te qualquer tipo de significado,
qualquer celebração.

O seguinte tem de ser sempre o vosso critério: Tudo o que te faça ficar contente, tudo o que dê azo a
uma celebração, tudo o que te faça dançar e cantar de tal forma que te faça desaparecer na tua dança,
no teu cantar, na tua celebração… é a única verdadeira Religião que eu conheço. Não é preciso
nenhum Deus, não é preciso nenhum Inferno nem nenhum Céu. Tudo o que é preciso é uma simples
compreensão de que a Mente é a fonte de todas as negatividades — porque essas negatividades
tornam-se num Mestre, e tu tornaste num escravo. E quando a Mente chega ao trono e durante tantos
anos — talvez até por muitas Vidas — é algo muito natural que deva voltar uma vez e outra e outra.

Certa vez ouvi o seguinte: tinha morrido Cão de um Homem; ela gostava muito do Cão — e o Cão era
muito compreensivo, muito amável e muito bonito. Ele não conseguia viver sem esse Cão; a morte do
Cão tinha deixado um vazio dentro dele. Aí, ele foi comprar outro Cão, e disse ao dono da loja,
“Quero algo especial.”

O dono da loja disse, “Tenho aqui um Cão muito especial; e o que é estranho é que ele é o Cão mais
barato que tenho.”

O Homem, “Isso é estranho. Gostava de ver esse Cão.”

O dono da loja levou-o para dentro da casa; tinha colocado o Cão num sítio especial. O Cão era
realmente maravilhoso… e o Homem disse, “Porque está a vendê-lo tão barato?”

O dono, “Amanhã saberá.”

O Homem não conseguiu entender que tipo de intriga seria aquela. Havia muitos Cães — e custosos
— que nem sequer se comparavam com este bonito Cão. Comprou-o e foi para casa.

No dia seguinte descobriu porque é que o Cão tinha sido vendido a um preço tão baixo. O Cão tinha
desaparecido! Ele voltou à loja de animais, e disse, “O Cão desapareceu!”

O dono da loja disse, “Compreende agora porque é que o vendo a um preço tão baixo? Ele volta
sempre para aqui. Já o vendi milhares de vezes, mas ele é um Cão tão inteligente, que encontra
sempre uma forma de voltar. Pode levá-lo de novo se quiser!”
O Homem, “Mas o que é que isso vale se ele vai voltar outra vez amanhã? Posso perguntar porque é
que ele está sempre a voltar para aqui?”

O dono, “Eu dei-lhe um quarto especial, e dei-lhe a comida mais deliciosa que há, a melhor carne.
Tenho dois empregados para cuidar dele. Ninguém consegue suportar todo este conforto e luxurias —
e ninguém sequer imagina que ele precisa de todos estes confortos e luxúrias. Mal ele vê que os seus
confortos e luxurias desapareceram, ele foge, e volta para aqui. Esse Cão já me fez crescer tanto o
negócio que basta-me ter um como ele: mesmo que não venda nada, não há problema nenhum.”

A tua Mente viveu contigo como sendo um Mestre. Tu prestaste-lhe todo o respeito possível; ouviste-
a em vez de ouvires o teu Coração; seguiste-a contra a vontade da tua natureza. É perfeitamente
natural que ela continue a voltar. Tens de aprender a arte de a ignorar.

E sempre que vires algo como o Amor, Alegria, Ecstasy, então não fiques de parte — fica no meio
daqueles que estão a dançar. É contagioso. Podes não ter dançado, podes não ter cantado, podes não
ter ficado muito contente; não fiques apenas pelo toque, mas dá antes um grande mergulho na piscina
de energia que tantos Sannyasins criaram. Então já não te sentirás isolado quando estiveres entre
Amigos; sentirás que és um deles, sentirás uma comunhão de Coração para Coração com eles.

Ninguém é um estranho se tu permitires uma comunhão de Coração a Coração; de outro modo, se tu


permaneceres fixado na tua cabeça e ele também permanecer fixado na sua cabeça, todos são
estranhos.

As vossas cabeças fazem-vos muitos.

Os vossos Corações fazem-vos Uno.

Tragam toda a vossa Energia para o Coração.

Toda esta dança e cantar, e meditações e Silêncio nada mais são do que simples estratégias para
trazerem a vossa Energia da Cabeça para o Coração. E uma vez que o Coração comece a bater com
Alegria, teres um rejuvenescimento, uma ressurreição — e então a Mente nunca mais te incomodará.
Uma vez que a Mente saiba que tu encontraste o Coração, ela não voltará.

Tu perguntas-me, “O que mais posso fazer para aceitar mais o teu Amor, e daqueles que estão à
minha volta?”

Não tens de fazer muita coisa. Salta apenas na atmosfera do ecstasy. Existe um dizer: Pensa antes de
saltares… Eu mudei-o; eu digo, salta antes de pensares — porque o pensar vem da cabeça, e vai-te
impedir de saltar. Salta primeiro! Se tantas Pessoas não se afogam, e estão tão bêbadas… tu não és
diferente dessas Pessoas.

Então, salta primeiro, e depois disso podes pensar o quanto quiseres — de facto, depois ninguém
pensa.

Bebe o vinho que está disponível aqui.


Eu nada mais sou do que champagne puro.
Segunda pergunta

Querido Osho, um Sutta do Shrimad Bhagavadgita sempre evitou partilhar isto contigo: “Quando um
Homem chega a um estado aonde ele pára de ser contra qualquer Ser vivo, ela alcança uma visão
pura. Nesse estado, todas as direções no Mundo tornam-se um prazer para ele.” Eu não posso falar
pelos outros, mas no que me diz respeito, este Sutra parece estar a dizer a verdade. Eu não posso
negar que eu estou contra todos os seres vivos. E é exatamente por causa disso que eu tenho evitado
perguntar-te isto: porque eu estremeço só de pensar que vou-me expor a ti, apesar de eu ter um vago
sentimento que tu conheces-me muito melhor do que eu próprio me conheço a mim. Será que podes
comentar?

Anand Maitreya, estás totalmente correto: eu conheço-te melhor do que tu te conheces a ti próprio.
Por exemplo, até mesmo essa ideia de que estás contra tudo o que existe não está certo.

Talves estejas contra algumas Pessoas — de entre cinco biliões — mas não vejo que estejas contra
contra tudo o que esteja vivo. Cinco biliões de Seres Humanos… e todas as coisas vivas? Os
Pássaros e os Animais e os Insetos… existem milhares de espécies de Seres vivos, e a sua população
é muito maior do que a do Ser Humano. Por exemplo, facilmente se encontra cinco biliões de
Mosquitos em Poona — então nunca te gabes sobre a tua população… pois apenas tens uma
população de cinco biliões.

O Uno é apenas celebração… É estranho, por um lado estamos a condenar o crescimento da


população, e por outro lado, o Uno vai ter uma dia de celebração porque a Humanidade passou o
marco dos cinco biliões, pela primeira vez na história. É um dia de celebração , ou é para chorar e
lamuriar? E se é um dia de celebração, então quando se chegar aos seis biliões — mais celebrações;
sete biliões — mais celebrações. As vossas celebrações vão conduzir a um suicídio global. Que tipo
de idiotas é que se juntaram no Uno? Deviam declarar esse dia como sendo um dia de tristeza,
porque é o início da Morte deste Planeta. Mas a Mente humana funciona da seguinte maneira: por um
lado estão a tentar impedir o crescimento da população; pelo outro lado estão a celebrar esse mesmo
crescimento.

Tu estás a fazer a citação de Shrimad Bhagavadgita. Que foi dito por Krishna — e é bem bonito:
“Quando um Homem chega a um estado aonde ele pára de ser contra qualquer Ser vivo, ela alcança
uma visão pura. Nesse estado, todas as direções no Mundo tornam-se um prazer para ele.”

Tu estás preocupado, e pensas que te estás a expor quando dizes, “Eu não posso negar que eu estou
contra todos os seres vivos.” Impossível — tu nem sequer conheces todos os seres vivos.

Mas antes, tenta entender o Sutra…

Lembro-me agora de uma História de Gautam Buddha.

Ele costumava dizer aos seus Discípulos — e dez mil Sannyasins costumavam andar atrás dele, fosse
aonde fosse — nunca se esqueçam de uma coisa: depois da meditação, quando estiverem a sentir o
Silêncio, a Serenidade e a Alegria, banhem o Mundo inteiro com as vossas bençãos. Não retenham
isso dentro de vocês. E depois de banharemm o Mundo inteiro, sem qualquer tipo de discriminação,
só aí é que a vossa meditação estará completa.

Um certo Homem veio ter com Buddha e disse, “Posso seguir o teu caminho e deixar-me guiar pela
tua meditação, mas eu quero apenas uma pequena exceção: eu posso partilhar a minha Alegria, o meu
viver com o Mundo inteiro, mas não posso fazer isso com o meu Vizinho. Tal coisa é impossível.”

Buddha disse, “Até mesmo uma única exceção irá destruir toda a tua Meditação. De facto, o teu
Vizinho merece mais do que outra Pessoa qualquer: partilha primeiro com o teu Vizinho e só depois é
que podes partilhar com o resto do Mundo.”

Os Vizinhos são difíceis. Até Jesus teve de fazer duas declarações: ama o teu Inimigo como a ti
próprio, e ama o teu Vizinho como a ti próprio. Declarações muito estranhas… mas tanto quanto as
consigo entender, são as mesmas Pessoas — os Vizinhos e os Inimigos.

A questão não é que tu não gostes de algumas Pessoas. A questão é: és capaz de recusar Água a um
Inimigo que esteja com sede e a morrer? É o teu sentimento mais importante do que a sede dele e a
sua Morte? O que é que ele te fez, para que tenhas tanta raiva contra ele? Talvez ele enervou-te;
talvez ele enganou-te; talvez ele foi desonesto contigo, mentiu-te — mas isso são coisas muito
pequenas. Se puderes partilhar a tua Compaixão e o teu Amor… são como inundações — levam todo
o lixo que se reuniu e que se acumulou há tua volta.

E Krishna está preocupado contigo; e não com os teus Inimigos, ou com as Pessoas com quem tenhas
uma relação de ódio. Mesmo que tenhas apenas um só Inimigo, o teu Coração não poderá jamais
florescer em todo o seu potencial. Pelo menos uma pétala ficará a faltar.

Então o cerne da questão não é sobre o objeto do ódio; a verdadeira questão é o teu crescimento. Isto
é uma idiotice completa — destruir o teu crescimento apenas porque há umas Pessoas que te
enganaram, ou que te insultaram, ou que tem sido arrasadoras para contigo.

E tu estás a arrasar contigo mais do que ninguém, porque não estás a permitir a tua própria Lótus
florescer em todo o seu potencial. Não há ninguém que possa ser teu Inimigo, a não ser tu próprio.
Eles podem machucar o teu corpo, mas não podem machucar a tua Alma. Mas tu sim, podes machucar
a tua Alma.

Krishna está a dizer que se sentires fúria, ou ciúmes, ou qualquer tipo de ódio, isso impede o teu
crescimento espiritual.

Não encontrarás qualquer outro Homem no Mundo que tenha sido mais condenado, criticado,
assediado, de todas as maneiras possíveis e imaginárias, do que eu. Mas estranhamente — por vezes
também eu me espanto — eu não tenho qualquer tipo de ódio para com ninguém. O Mundo inteiro
pode pensar que eu sou o seu Inimigo, mas o que quer que eu esteja a fazer, o que quer que eu esteja a
dizer, é apenas para os ajudar a sair do seu Sono profundo. E se no seu Sonho eles gritarem, e
ficarem furiosos, isso é compreensível. Não se pode esperar que não fiquem zangados contigo,
principalmente quando estão a ter sonhos bonitos e tu acabaste de os acordar.

Uma certa noite, Mulla Nasruddin disse há sua Mulher, “Depressa, traz-me os meus óculos — e não
faças qualquer tipo de pergunta. Amanhã de manhã explico-te.”

A Mulher respondeu-lhe, “Estranho… o que é que vais fazer com os teus óculos no meio da noite?”

Ele, “Não percas tempo! Traz-me os óculos, imediatamente.” Então a sua Mulher trouxe-lhe os
óculos, e ele colocou-os. E disse, “Estava a ver uma Mulher muito bonita, mas como não ando a ver
bem dos meus olhos…” E já com os seus óculos, tentou várias vezes persuadir essa Mulher, “Volta
outra vez. Não te preocupes, não há cá ninguém; a minha Mulher foi dormir novamente, ela está a
ressonar…” Mas ninguém veio.

Uma vez que sonho é interrompido, é muito difícil — quase impossível — continuá-lo. Não é como
um livro: aonde podes interromper a leitura e no dia seguinte continuas a ler aonde paraste.

Mas se alguém está a sonhar com uma Mulher bonits, ou com um Homem bonito, ou com um grande
Tesouro; ou que está a sonhar que chegou ao Paraíso, e acordas essa Pessoa — naturalmente ela vai-
te rogar pragas.

Já tentaram acabar com a minha Vida; já fui ameaçado, encarcerado, tratado como se fosse um
assassino; quase todos os Países do Mundo inteiro já deliberaram nos seus Parlamentos que eu não
posso entrar nas suas terras. Mesmo assim, eu apenas dou uma enorme gargalhada a toda a loucura da
Humanidade — mas nada de ódio. Todas essas Pessoas precisam de Compaixão, de Amor, de toda a
Simpatia que podem ter.

Basicamente é uma questão de entendimento: se alguém te insultou, é um problema dessa Pessoa, e


não teu. Foi a língua dessa Pessoa que proferiu o insulto, as suas palavras, o seu corpo. E ele é livre
de as usar, porque é que deves ficar preocupado?

Há um história que eu tenho vindo a contar constantemente, para que ela se mantenha fresca: Gautam
Buddha estava de passagem por uma Aldeia, e os seus habitantes estavam contra ele — o que já se
esperava. Juntaram-se todos há volta dele e começaram a abusar dele, usando palavras de quatro
letras. Até mesmo os seus Seguidores mais silenciosos ficaram cheios de raiva, mas como Buddha
estava presente eles não disseram nada.

Buddha ouviu sem nada dizer, muito pacientemente, e depois falou, “Se já acabaram de falar, está na
altura de me ir embora — pois tenho de ir para outra Aldeia, aonde deve haver Pessoas há minha
espera. Mas se ainda não acabaram, voltarei pelo mesmo sítio, e aí já terei mais tempo para vocês.”

Um dos Homens disse, “Mas achas tu que isto foi uma conversa?”

Buddha respondeu, “Sim. Vocês expressaram os vossos sentimentos, mostraram quem são; nunca
pensei que as Pessoas desta Aldeia confiassem tanto em mim ao ponto de exporem os seus Corações
sem terem medo de ser tão feio. Eu voltarei; e se faltou alguma coisa, podem acabar. E antes de ir,
quero apenas fazer uma pergunta: na Aldeia que vim, as Pessoas vieram ter comigo com doces e
Flores, mas nós já tínhamos comido — e nós apenas comemos uma vez por dia, e não carregamos
nenhuma conosco -— então dissemos, ‘Pedimos desculpa, estamos agradecidos por terem vindo com
uma comida tão bonita.’ A minha pergunta é a seguinte, o que é que eles deveriam ter feito com a
comida, os doces e as Flores?

Alguém na multidão respondeu, “O quê!? Deveriam tê-la distribuído pela Aldeia. Toda a gente teria
desfrutado disso.”

Buddha, “És muito inteligente. Faz simplesmente o mesmo: Eu não aceito o que quer que me tragam
— comida ou palavras de quatro letras; respeito ou insultos. Vocês chegaram um pouco tarde;
deveriam ter-me conhecido há dez anos atrás — eu teria cortado as vossas cabeças. Mas nessa altura
eu estava a dormir, e agora estou desperto.

“Eu posso compreender que no vosso sonho vocês estejam a gritar, a chorar, a dizer coisas; mas
essas coisas não me ofendem, a não ser que eu as aceite. Podem continuar a gritar, e essas coisas
voltarão-se contra vocês. Então, voltem de novo para a vossa Aldeia, e distribuam tudo isso pelos
vossos Amigos, Mulheres, Crianças.”

E Buddha seguiu o seu caminho.

O seu principal Discípulo, Ananda, disselhe, “Isto foi demais” — todos eles vinham de uma raça
guerreira — e continuou, “Eu esquecime completamente que sou um Sannyasin. Se não estivesses há
minha frente, eu próprio teria morto alguns deles. Eles exageraram muito.”

Buddha respondeu-lhe, “Ao ouvi-los, senti Compaixão; mas ao ouvir-te, sinto-me triste. Não
esperava isso de ti; tu estás no caminho do despertar. Essas Pessoas são pobres, dormem
profundamente.”

Anand Maitreya, primeiro, tu não estás com ódio por tudo o que vive — isso é impossível. Uma
Pessoa morreria se estivesse assim com tanto ódio; isso significaria que estaria cheia de veneno. E
tu, certamente, não és um Homem que tenhas muitos Inimigos; tu tens um Coração tão adorável e
bonito.

Eu dei-te o nome de Anand Maitreya, que significa grandioso Amigo — e eu não dou nomes por
acaso. Nunca te vi furioso, violento; nunca vi uma palavra feia a sair da tua boca — e tu já estás
comigo há mais de vinte anos; és um dos Sannyasins mais avançados neste campus.

Então, há apenas uma coisa correta na tua pergunta: que eu sei mais de ti do que tu sobre tu próprio.
Terceira pergunta

Querido Osho, ao dançar contigo em Chuang Tzu, consigo agora descobrir, todos os dias, que sou
cada vez mais louco. Mesmo assim, na maior parte do tempo, consigo ver claramente uma linha subtil
dentro de mim que me detém. Osho, que medo é este de me soltar?

Prem Azima, isso é natural. O medo de se perder o controle já tens centenas de anos, e também há a
hipótese de não haver volta. Há um medo muito escondido da loucura; mas não é essa loucura que tu
tens receio. Isso é a loucura divina. Não é que estejas há beira de uma depressão: é uma viragem na
tua Vida e não um fim.

Mas todas as Pessoas sentem medo. É como aprender a nadar. Não se pode saltar logo para águas
profundas — primeiro tem de se aprender em águas em que se tenha pé, numa piscina. E quando se
aprende a nadar, que não é nada de difícil…

De facto, os peritos dizem que todas as Crianças nascem com a arte de nadar; e um grande perito
japonês tem experimentado isso há já muitos anos. Primeiro começou por ensinar bébés de seis
meses a nadar; depois passou para bébés de três meses. Toda a gente sabe que se uma Pessoa morre
dentro de água, o seu corpo começa a flutuar.

Se tu estás vivo e tens medo de morrer afogado: o Homem que está morto já não tem medo — ele
flutua na água. Ele sabe algo mais do que tu sabes.

Tu morres afogado porque lutas contra a água. Apenas leva um pouco de tempo, dois dias ou três, a
ganhar uma Harmonia entre a água e o teu corpo.

No início, tens de começar aonde tens a certeza que não te podes afogar, aonde tens pé. Logo que
aprendas, podes ir… não interessa a profundidade da água, pois estás sempre na parte de cima dela.
Até pode ser os sete quilómetros de profundidade do Oceano Pacífico — não interessa. Sete metros
ou sete quilómetros, é tudo igual; estás sempre na superfície.

Mulla Nasruddin também queria aprender a nadar. Foi ter com um Professor, que costumava ensinar
os Rapazes da Escola a nadar. Ele dizia, “Apesar de eu não ser um Rapazola… sempre tive medo da
água, e antes de morrer, quero aprender a nadar para que possa perder este medo.

Ele disse, “Não vai ser difícil. Vem ter comigo junto ao Rio.” Ele ficou com medo, devia estar a
tremer por dentro… e quando chegaram ao Rio, escorregou, no chão; estava enlameado e assim ele
escorregou. Rapidamente se levantou e correu para a sua casa.

O Professor gritou, “O que estás a fazer Mulla Nasruddin? Não queres aprender a nadar?”

E ele, “E irei, mas primeiro tenho de praticar.”

O Professor, “E aonde é que vais praticar?”

Mulla, “Primeiro vou praticar na minha cama: vou estender as minhas mãos e as minhas pernas… e
aí poderei fazer tudo. Quando ficar um entendido no assunto voltarei; de outro modo, não me vou
aproximar da água — é muito perigosa.”

Não se pode aprender a nadar na cama. Inclusive, se tentares muitas vezes, até podes ficar com
fraturas ou outras coisas, mas não irás aprender a nadar.

Estás perfeitamente correto quando dizes, “Ao dançar contigo em Chuang Tzu todos os dias, descobri
que estou a ficar cada vez mais louco.” Estás a ir muito devagar. Mas há Pessoas… Algumas Pessoas
estão acostumadas a comprar em retalho, e umas poucas Pessoas compram por atacado — por
atacado é mais barato e melhor. Não vás devagar, cada vez mais louco — milímetro por milímetro.
Eu asseguro-te: Fica totalmente louco, porque em trinta anos, eu empurrei milhares de Pessoas para a
loucura total; e elas nunca voltaram para se queixar, então não precisas de te preocupar.

De outro modo, irás continuar com esse medo: “Mesmo assim, na maior parte do tempo consigo ver
claramente uma linha subtil dentro de mim que me detém.” Todas as Pessoas tem medo de ficar
loucas. O dirão as outras Pessoas? Mas aqui, aqui há uma Comunhão de Pessoas loucas. Aqui, se
andares devagar, as Pessoas rir-se-ão. “Olhem para aquele idiota, ele está a ir devagar.”

Aqui não estás no Mundo comum. Aqui, as coisas são feitas totalmente e integralmente. Então hoje,
saltas essa linha — e assim a linha desaparecerá, e tu desaparecerás. E não voltarás para te queixar
— isso eu posso assegurar-te — porque nunca ninguém se queixou, “Osho, eu fiquei completamente
louco.”

Esses lentinhos — são o tipo de Pessoa que constantemente fazem perguntas sobre o medo, sobre
uma linha que tem de cruzar. Simplesmente fecha os teus olhos e salta; isso nunca faz mal a ninguém.

O que parece ser insanidade, descobrirás que é maior sanidade no Mundo inteiro, porque é a loucura
divina — essa totalidade e intensidade no dançar, no cantar e no rezar que te faz ficar absolutamente
vivo. O Ego desaparece, a Mente desaparece, e tudo o que é lixo dentro de ti é queimado. Apenas o
Ouro puro, Ouro de vinte e quatro quilates, fica. Esse é o teu Ser autêntico, e esse é apenas o teu
único presente que podes levar para oferecer a Deus.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

O Silêncio é sempre mais estridente do que qualquer grito

Tarde de 22 de Fevereiro no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho,

Dirias que isto não é Amor?

Por detrás das lágrimas da ausência

É uma memória serena

Como sendo uma presença constante no meu Centro

Do meu Coração, dos meus Pés,

Todas as direções da terra,

As Palavras e os Silêncios,

Tudo o que envolve e as Canções,


Mas acima de tudo

No Centro do meu Sorriso triste

Por vezes cravejado pela raiva.

Então dizes tu que isto não é Amor?

Porque eu grito: “Seus bastardos!”

Pois eu não consigo

Então dirias tu que isto não é Amor?

Porque eu grito: “Seus bastardos!”

Pois eu não posso aceitar em Silêncio nem com Alegria

Que eles tapem a tua boca

E atem os teus pés.

Não dirás tu que isto não é Amor?

A Fúria Divina que grita dentro de mim

Cantando a sua furiosa canção

Pelos milhares e milhares de Corações

Que adorariam conhecer-te

Mas sentem-se limitados pelas fronteiras do Medo,

Pela Burocracia, passaportes e atitudes falsas.

Dirás tu se eu te perguntar
A minha pergunta eterna

Que eu não te amo?

Porque sinto que tenho de criar para eles

Que te amo, eu amo-te,

E porque eu quero que todos eles te amem,


Que sejam livres

Amar-te e conhecer-te

Debaixo de cada Árvore,

Em todos os Países,

Em todas as ruas da Terra,

E porque eu desejo por todas as Pessoas pobres de Coração

Tu podes estender a tua mão

Ou o teu silêncio infinito.

Por essa altura já estarei morto

Esquecido de mim próprio

Se não te tivesse conhecido.

Então choro por todos aqueles

Que morreram no meio do esquecimento

Das suas próprias Almas

Sem te terem conhecido.

E mais uma vez grito:

“Seus Bastardos!”

Mesmo na frente da cara daqueles

Que te tentam prender perto de ti


Para te manterem

Longe dos sedentos e dos perdidos.

Então dirás tu que isto não é Amor?

Pois o grito continua a ser bem alto

Do que o Silêncio.

Pois o Coração está a contorcer-se e a fúria

Aguça a inteligência

Tal como uma espada a cortar as correntes,

Cortar a cabeça dos parasitas,


E abrir uma porta

Para que a intuição possa entrar.

Eu não consigo suportar isto mais,

O Medo e desprezo daqueles que decidem

Do que é certo e do que é errado

Nem o Medo daqueles que estão com Medo.

Das Canções,

Das Danças,

Da Música que daí transpira


Quando um Ser vivente

Te encontra.

Então, ó meu Amor, dirias tu

Que isto não é Amor?

Sarjano, lembro-me agora de uma bonita estátua de Gautam Buddha, que me foi enviada por um
Amigo do Japão. Não era uma estátua normal; era o conceito samurai de Gautam Buddha. Numa das
mãos estava uma tocha ardente e na outra mão estava uma espada nua. E a beleza e o misterioso
dessa estátua era esta: que metade da sua face estava iluminada pela tocha — serena, silenciosa,
pacífica; e o outro lado da sua face era bem definido e distinto tal como a espada que estava a
segurar.

O Silêncio também pode ser uma Canção.

O Amor também pode ser uma espada.

Estas grandes experiências de Vida — Silêncio ou Amor ou Alegria Total — não são limitadas a
apenas um significado. Eles incluem todo o espectro do Arco-Íris: todas as cores entre o preto e o
branco também pertencem a eles. O Amor pode ser tão suave quanto uma Rosa, e o Amor pode ser
duro como uma bala — estes são todos os seus aspetos. Uma Pessoa apenas tem de se lembrar de
uma coisa: que eles vem de um sítio cheio de Amor. A tua Revolução tem de vir de um sítio cheio de
Amor; a tua Rebelião te de ter o condimento do Amor. Aí será um fenômeno completamente
diferente: já não é político, e começa a entrar numa dimensão espiritual.

Sarjano, eu consigo compreender que tu me ames muito. Tu não consegues suportar ver o que as
Religiões, as Igrejas organizadas pelo Mundo fora estão a fazer-me. Não consegues tolerar isso; é
impossível ao teu Amor tolerar o que os Políticos e os Burocratas tem-me vindo a fazer.

Eu tenho vindo a ensinar apenas o Silêncio e o Amor para com as Pessoas, e tenho sido tratado como
se fosse um Assassino!

O Secretário Geral da América disse o seguinte numa Conferência de Imprensa, “Nós não
conseguimos por o Osho na Prisão porque não temos qualquer tipo de evidência que ele tenha
cometido algum crime.” E essa mesma Pessoa, no Tribunal Federal, inventou uma enorme lista de
crimes, subornou os meus Advogados, ameaçou-os. Eles vieram ver-me na Prisão, tinham lágrimas
nos seus olhos — e eram Advogados profissionais, eles não estavam preocupados comigo da mesma
forma que vocês estão preocupados comigo.

Mas esses doze dias que estive preso na América… Prenderam-me sem qualquer tipo de mandato. E
a maneira como os Juízes se comportaram… nem sequer me deixaram informar os meus Advogados
que tinha sido preso. O primeiro Magistrado ao qual tive de comparecer era uma Mulher. Durante
três dias contínuos o Advogado dos Estados Unidos argumentaram mas não conseguiu provar nada
contra mim. Ele teve de aceitar, ele próprio — no seu discurso final, no terceiro dia — que “Eu
falhei em provar qualquer tipo de crime contra Osho, e não tenho nada mais a acrescentar.” Mesmo
assim a Magistrada não me permitiu ser solto com fiança.

Até mesmo o Polícia da prisão não queria acreditar no que estava a acontecer. Ele até chegou a trazer
os meus pertences a pensar que eu seria solto. Eles não tinham qualquer tipo de mandato, não tinham
um caso para mostrar; ele tinha ouvido tudo durante três dias e não havia um único ponto aonde eu
pudesse ser culpado ou considerado um criminoso.

Quando a fiança foi recusada, ele disse, “Nunca durante toda a minha Vida assisti a tamanha
injustiça. A razão porque a sua fiança foi recusada é algo que nunca ninguém irá saber.” A razão foi
porque o Governo tinha ameaçado a Magistrada, “Se deres uma fiança a Osho, ficarás para sempre
sendo Magistrada estatal; nunca conseguirás ir para a posição de Juiz Federal. E se não deres a
fiança, brevemente serás promovida a Juíza Federal.” E passadas três semanas foi promovida.

Os meus Advogados viram isto tudo a desenvolver-se, e o mais incrível de tudo é que no final o
próprio Advogado de acusação nem sequer queria o Julgamento. Ele disselhes, “Nós sabemos e
vocês sabem que não há caso nenhum — vocês vão ganhar. Mas está nas nossas mãos a questão da
fiança, e nós não vamos dar a fiança, vamos prolongar este caso durante durante dez anos ou vinte…
então vão ter de escolher. Se insistirem no Julgamento, então não nos responsabilizem. Vocês irão
ganhar, mas Osho pode ficar encarcerado durante vinte anos. Se querem que ele seja solto sem haver
julgamento então vão ter de aceitar pelo menos dois crimes. A escolha é muito clara.”

Durante vinte dias os meus Advogados correram de uma prisão para outra — pois eles estavam a
levar-me de uma prisão para outra, todos os dias, e tentavam encontrar alguma forma indireta de me
matar.

Puseram-me numa cela aonde tinha um Homem que estava a morrer por causa da Sida. A cela dava
para duas Pessoas, mas durante seis meses ninguém a tinha partilhado com essa Pessoa, pois o
Médico tinha dito para que ele permanecesse sozinho. E eles colocaram-me nessa cela. E isso
aconteceu quando o Médico, o guarda e o Advogado estavam presentes, ao me colocarem lá, esse
Homem — que estava quase a contar os seus últimos momentos de Vida — disseme, “Osho, tu não
me conheces, mas eu tenho estado a ver-te na Televisão, e eu apaixonei-me por ti.

Não venhas para aqui; fica ali perto da porta, pois eu sofro de Sida e estou a morrer. E eles mesmo
sabendo disso puseram-te aqui — pois durante seis meses nunca puseram ninguém comigo. Tudo o
que está nesta cela está contaminado. Fica perto da porta e bate nela até alguém te ouvir, porque vai
demorar horas até vir alguém.”

Demorou mais de uma hora até que o Guarda chegasse. Eu perguntei-lhe, “Durante seis meses nunca
ninguém veio para esta cela. Tu sabes muito bem que este Homem está a morrer… porque é que me
colocas-te aqui?”

Fui transferido para outra cela imediatamente. E não me responderam nada. Perguntei ao Doutor,
“Fizeste o juramento que todos os Médicos fazem, o de salvar Vidas Humanas. Se tens alguma
vergonha, alguma dignidade… Tu estavas lá — até chegaste a impedir assassinos de compartilharem
aquela cela — e mesmo assim nada disseste.”

Ele respondeu-me, “Nada podemos fazer. Recebemos ordens lá de cima a dizer que temos de usar
qualquer tipo de método indireto — para que se a Pessoa morrer, nós não podermos ser
responsabilizados.”

Ao entrar noutra prisão, no meio da noite, o Xerife americano queria que eu assina-se o meu nome
como ‘David Washington’. Mas eu disse, “Mas esse não é o meu nome.”

E ele, “Não sei nada disso. Estas foram as ordens que recebemos vindas de cima: não podes
escrever o teu nome no formulário. Na prisão serás conhecido como David Washington.”

Eu respondi, “Eu vi que no teu casaco está escrito em letras muito bonitas ‘Departamento de Justiça
dos U.S.’ Ao menos tira esse casaco. Que tipo de justiça é esta? — e pensas tu que eu sou idiota e
não consiga ver a tua jogada? — se eu assinar com o nome ‘David Washington’ tu podes matar-me, e
ninguém será capaz de encontrar o meu rasto, pois eu nunca terei entrado na tua prisão.”

E continuei, “Eu não vou escrever o nome de outra Pessoa. Mas se estás cansado — já estamos no
meio da noite, e estiveste a trabalhar durante o dia todo… já deves estar cansado — podes deixar-me
aqui no escritório, neste banco. Eu esperarei. O podes fazer outra coisa: podes preencher o
formulário e eu assinarei.”

Ele nem sequer conseguia entender uma simples estratégia. Ele preencheu o formulário como sendo
David Washington e tudo o resto, tal como queria. Era tudo inventado: o nome do meu Pai era
inventado, a minha morada era inventada — mas mesmo assim eu assinei com a minha assinatura. Ele
olhou para a minha assinatura e disse, “O que significa isto?”

Eu respondi, “Deve significar ‘David Washington’. E amanhã tu poderás vê-la nos Jornais e na
Televisão… a minha assinatura é conhecida pelo Mundo inteiro.”

Os meus Advogados seguiam-me constantemente, correndo de Cidade em Cidade, de uma Prisão


para outra. Eles estavam muito preocupados comigo porque se eu não aceitasse ser culpado de pelo
menos dois crimes, o Julgamento significaria a minha tortura e talvez a minha morte. E se eu tivesse
que viver durante vinte anos numa Prisão, qual é assim o significado de ganhar? Eles vieram ter
comigo cheios de lágrimas nos olhos e disseram-me, “Vamos pedir-te algo que nunca te iríamos
pedir. Nós estamos aqui para defender a ti e à tua inocência, mas o Governo está a fazer chantagem
conosco.” E disseram-me que essa fora a sua estratégia.

O mesmo procurador geral tornou isso muito claro, “Se vocês querem que o Osho viva, tem de
aceitar imediatamente dois crimes… e ele tem de deixar a América passados quinze minutos.”

Ao ver as suas lágrimas, e pensando nos milhões de Pessoas há volta do Mundo, que estavam a
telefonar e a mandar tantas cartas e telegramas e flores, tantas que encheram todas as prisões por
onde passei… Os Guardas perguntavam-me, “O que fazemos com estas Flores? Aonde as
guardamos? — é que já não temos mais espaço.”
Eu disselhes, “Não se preocupem; Eu sou uma Pessoa não-séria. Eu posso aceitar qualquer tipo de
crime que eles quiserem. Fora do Tribunal, toda a Media está há espera, e fora do Tribunal eu direi,
“Eu fiz um juramento para não mentir, e menti. O Governo forçou-me a mentir.” Por um lado eles
forçam a Pessoa a fazer o Juramento para não mentir, e por outro lado eles fazem chantagem para que
se minta.

Então eu disse, “Não se preocupem,” — Eu aceitarei, sem mesmo me preocupar que crimes são. Eles
nem sequer disseram que se eu aceitasse esses crimes, iria haver uma multa enorme — quatrocentos
mil dólares, que é cerva de sessenta rupias lakj — e que durante cinco anos eu não poderia entrar na
América. E quinze anos de pena suspensa — assim, mesmo que passe cinco anos, ao entrar na
América e o Governo pense que eu estou a cometer algum Crime, eu terei de ir para a Prisão durante
dez anos, e não haverá Julgamento nem perguntas sobre isso.

Essas são as suas proteções, então eu não posso ir a um Tribunal de alta instância e apelar: essa é a
chantagem. Então na verdade eles conseguiram impedir-me de entrar na América durante quinze anos.

E os meus Advogados estavam totalmente certos: mal saí da Prisão encontraram uma bomba debaixo
da minha cama. Era uma bomba relógio. Ninguém consegue colocar uma bomba dentro de uma Prisão
a não ser as próprias autoridades da Prisão, exceto o Governo.

O caso foi encerrado em quinze minutos, uma vez que eu o aceitei — não houve nem perguntas nem
argumentação, e eu disse, “Todos os Crimes que eles disserem… Eu cometi-os. Não é preciso
desperdiçar o tempo de Tribunal. Dêem simplesmente a vossa sentença.” As Pessoas que estavam
juntas a mim arranjaram imediatamente quatrocentos mil dólares, e passados dez minutos eu estava
fora da Prisão. O meu Avião já estava pronto, para que nos próximos quinze minutos pudesse deixar
a América.

Eu questionava-me do porque de estarem com tanta pressa, porque quinze minutos? Os meus
Advogados esclareceram-me, “Eles estavam preocupados que se te deixassem ficar aqui mais dois
ou três dias, podias ir a um Tribunal da Alta Instância e apelar, dizendo que foste chantageado —
então, tens de deixar a América imediatamente.”

E estes são Governos democráticos. Estas são as Pessoas que estão sempre a dizer que os seus ideais
são a democracia, a Liberdade, Liberdade de Expressão, Liberdade para que o Indivíduo seja ele
mesmo. Aí sim, eu consigo compreender se chamaram esses Políticos, esses Papas, esses
Shankaracharyas, “Os Bastardos”. É que simplesmente o vosso Amor para comigo é muito e o vosso
Amor pela Liberdade, pela Individualidade, e respeito pela Vida é muito grande.

Todos os meus ensinamentos podem ser reduzidos a um simples conceito: referência pela Vida e pela
Liberdade.

Então Sarjano, não precisas de te preocupar. Deves estar a sentir que eu poso estar a dizer isto sem
Amor. Isto também não é Amor — Amor em chamas. E o Amor tem de aprender em não só ser apenas
uma Rosa. Tem de saber que se chegar a altura, pode tornar-se numa Espada.

Tu perguntas-me, “Dirás tu que isto não é Amor?” Não, eu não diria isso.
Por detrás das lágrimas da ausência

É uma memória serena

Como sendo uma presença constante no meu Centro

Do meu Coração, dos meus Pés,

Todas as direções da terra,

As Palavras e os Silêncios,

Tudo o que envolve e as Canções,


Mas acima de tudo

No Centro do meu Sorriso triste

Por vezes cravejado pela raiva.

O Amor sabe rugir também como um Leão.

O Amor não é só Poesia bonita.

Se o Amor fosse apenas Poesia doce, não conseguiria existir neste Mundo insano. Tem de ser forte o
suficiente — mais forte que o ódio, mais forte que a Fúria — tem de ter a força do rugido do Leão.

“Então dirás tu que isto não é Amor?” Não Sarjano, isto é o Amor em toda a sua Pureza, no seu mais
profunda genuinidade, na sua autenticidade absoluta.

“Porque eu grito: “Seus bastardos!”

Pois eu não posso aceitar em Silêncio nem com Alegria

Que eles tapem a tua boca

E atem os teus pés.

Não dirão vocês que isto não é Amor?”

Eu bati há porta de vinte e dois Países, mas nenhum deles foi corajoso o suficiente para me darem
nem sequer um cartão de turista para três ou quatro semanas.

Na Grécia deram-me um Visa de quatro semanas, mas o Grande Bispo da Grécia começou a protestar
sobre isso, mandou telegramas para o Presidente e para o Primeiro Ministro, escreveu cartas
ameaçadoras ao dono da casa aonde eu estava instalado, dizendo que se ele quisesse conservar a sua
casa, deveria colocar-me fora dela. Porque se tal não fosse feito nas próximas trinta e seis horas, ele
próprio poria fogo na casa com todas as Pessoas lá dentro; queimar-las-ia vivas. E este é um Grande
Bispo da mais antiga Igreja Cristã. Ele representa Jesus Cristo!

O Governo ficou com Medo. E não tinham razão para isso… pois eu nem sequer saí da casa em duas
semanas. Eu estava a dormir quando no meio da tarde a Polícia chegou. A minha Secretária, Anando,
estava a dizer aos agentes, “Sentem-se, sirvam-se de algum chá, e eu vou acordá-lo.” Mas eles
mandaram-na para o chão de uma varanda de dois metros, e arrastaram-na pela relva até ao jipe, e
levaram-na para a Estação da Polícia: ela estava a tentar impedir a atuação governamental.

E eu fui acordado por John, ouvi um barulho, tal como se fosse dinamite a explodir. A Polícia
começou a mandar rochas contra a casa de todas as direções, destruindo todas as antigas e bonitas
janelas e portas… e também tinham dinamite. Eles disseram, “Tens de acordá-lo agora mesmo, de
outro eles dinamitarão a Casa.”

Sem mandato de captura… sem qualquer razão de ficarem furiosos… apenas porque o Grande Bispo
disse ao Governo que se me deixassem ficar na Grécia, a Moralidade, a Religião, a Cultura, tudo
ficaria em perigo. Em apenas duas semanas eu corromperia as mentes dos Jovens. Eu nem sequer saí
da casa, e nem sequer cheguei a encontrar-me com ninguém. As Pessoas que se encontraram comigo
vieram todas fora da Grécia.

Mas eu questiono: eles construíram esta moralidade e esta Religião e esta Cultura durante dois mil
anos… que tipo de Cultura e que tipo de moralidade é essa que pode ser destruída em duas semanas
por um único indivíduo? Se é assim tão frágil, tão impotente, então não merece existir.

O Governo Americano tem andado a dizer a todos os Governos do Mundo que eu não deveria ser
autorizado, até mesmo como um Turista, a entrar nos seus Países. Um pequeno país, o Uruguai, que
fica na América do Sul, ficou muito contente quando lá fui, pois o Presidente desse País leu alguns
livros meus, e ele nunca sonhou que eu fosse até ao Uruguai. Então ele falou, “Faremos todos os
esforços para te darmos terra, para que cries uma Comunidade. Pois a tua não só será enriquecedora
para nós e para os teus Discípulos, mas também virão milhares de peregrinos; e nós somos um País
pobre — irá ser também um ganho financeiro.” E ele de imediato tratou de arranjar um visto de
residência para mim.

Mas quando o Presidente Americano, Ronald Reagan, soube disso — o Embaixador Americano no
Uruguai informou-me — ele ameaçou o Presidente do Uruguai: “Osho deve sair do País dentro de
trinta e seis horas. Senão vocês devem devolver todos os empréstimos que vos fornecemos até agora,
e todos os empréstimos — biliões de dólares — que vos íamos dar nos próximos dois anos e assim
já não o faremos. Agora escolham.”

Agora, o Uruguai não pode consegue arranjar uma forma de devolver o dinheiro e não se pode dar ao
luxo de não receber esses biliões de dólares nos próximos dois anos, pois todo o planeamento foi
assente nesse dinheiro. Toda a economia do País iria colapsar. O Presidente tinha lágrimas nos olhos
quando me disse isto, “Pelo menos a tua vinda ao nosso País fez-me aperceber de uma coisa: que não
somos independentes. Temos vivido uma ilusão.”

“Vais ter de ir embora, é ilegal — porque tens um visto de residência válido por um ano; e não
cometeste nenhum Crime — essa é a única razão de se cancelar um visto de residência.” E eu apenas
estive lá um mês. E ele disse, “É uma pena eu ter de fazer isto. Estou a a fazê-lo contra a minha
própria Consciência.”

Mas o Presidente Americano não me queria dar o mínimo de espaço, ele queria mais: eu não deveria
simplesmente deixar o País. O meu Avião estava no Aeroporto… Eu disse, “Não há problema; eu
posso deixar o País. Não porei o teu País em perigo.”

Ele respondeu, “O Presidente Americano insistiu que fosses deportado; que não deverias sair do País
sem ser deportado. Eu sou forçado a cometer Crimes: primeiro ao dizer-te para deixares o País sem
razão nenhuma. Tu nada fizeste para que isso acontecesse. Segundo, deportar-te. Mas eu estou de
mãos atadas. Mesmo assim eu quero uma coisa: que no teu Passaporte não haja nenhum carimbo de
deportação do Uruguai. Nós temos um pequeno Aeroporto — então manda para lá o teu Avião, e sai
do País durante a noite sem nos informar; para que possamos dizer, ‘Ele saiu do País sem nos
informar. Não houve tempo de o deportar.’ “

Mas ele estava errado. Quando o meu Avião chegou ao pequeno Aeroporto — o Embaixador
Americano devia estar a observar tudo — o próprio Embaixador já estava lá com todos os carimbos
e com um Oficial que deporta as Pessoas. Lá, fizeram-me esperar até que preenchessem todos os
formulários, quando estava a sair do País, disse, “Não faz mal…” De facto, o meu Passaporte tornou-
se um documento histórico: pois fui deportado de muitos Países sem razão alguma.

Quando deixei o Uruguai, o Presidente foi convidado a ir à América logo em seguida, e Ronald
Reagan deu-lhe trinta e seis milhões de dólares num “gesto de amizade”. Isso foi uma recompensa,
pois eu fui mandado embora dentro de trinta e seis horas: exatamente trinta e seis milhões de dólares,
um milhão por hora! De facto, eu deveria começar a pedir a esses Governos a minha percentagem:
pois ganham bilhões de dólares graças a mim — eu deveria receber pelo menos dois porcento.

A América tem vindo a falar com todos os Governos sobre mim… Eu próprio vi os documentos que
estão a ser enviados a todos os Governos. Todos esses documentos dizem: “Este Homem é perigoso.
Ele consegue corromper a moralidade de um País, a Cultura de um País; ele consegue corromper a
Juventude de um País. Ele consegue destruir a Religião de um País.”

Realmente este Mundo é muito estranho. Certo dia o Parlamento Germânico decidiu que eu não
deveria entrar jamais na Alemanha — não só eu não poderia entrar na Alemanha, mas também o meu
Avião não deveria receber autorização para aterrar em qualquer Aeroporto, até mesmo se fosse
apenas para reabastecer. Eu não consigo entender como é que eu consigo corromper as suas
moralidades, ficando apenas sentado no meu Avião durante quinze minutos.

Em Inglaterra não me foi permitido ficar no Terminal do Aeroporto por apenas seis horas, durante a
noite — e que era do meu direito. É um Aeroporto Internacional, e os meus Pilotos tinham acabado
de fazer as suas horas de vôo e assim não podiam guiar o Avião até terem descansado — isso teria
sido contra a lei.

E para o caso de eles recusarem, dizendo que não era para Aviões privados, mas apenas para vôos
comerciais, compramos também dois bilhetes. Apenas para lhes mostrar, “Se isso é um problema,
também temos bilhetes para um vôo comercial que é amanhã de manhã.”

Mas o Oficial do Aeroporto tinha instruções, e qualquer coisa que não soubesse ligava para o
Primeiro Ministro, “O que devo dizer agora? O que devo dizer?” — pois isto era algo que ele nunca
tinha feito antes. Dizer a alguém “A sua estadia no Terminal vai corromper a Moralidade do País” é
tudo menos razoável. Finalmente ele acabou por dizer, “Não vale a pena discutir. Eles decidiram que
apenas pode ficar se for para a Prisão durante o tempo que aqui estiver. Não iremos permitir que
fique em qualquer outro lugar.” Então, apesar de não ter cometido qualquer crime, tive de ficar
emprisionado em Inglaterra.

O Secretário Geral dos US tem dito uma vez atrás da outra ans Conferências de Imprensa, “Não
quero voltar a ouvir o nome do Osho outra vez, não quero que os Media falem das suas ideias. Quero
que ele seja silenciado completamente.”

É essa a estratégia que usam para me silenciar: que eu não devo receber autorização para entrar em
qualquer País; e nenhum Sannyasim deve ser permitido na Índia. Por isso é que vos tirei as vossas
roupas; de outro modo não vos seria permitido entrar na Índia. Agora eles já não conseguem
distinguir quem é um Sannyasin e quem não é. Agora o Mundo inteiro é um Sannyasin meu.

“A Fúria Divina que grita dentro de mim

Cantando a sua furiosa canção

Pelos milhares e milhares de Corações

Que adorariam conhecer-te

Mas sentem-se limitados pelas fronteiras do Medo,

Pela Burocracia, passaportes e atitudes falsas.”

Sarjano compreende isso perfeitamente — ele é de Itália. Ele e outros Sannyasins italianos tentaram
continuamente durante um ano arranjar-me um Passaporte de turista de três semanas para mim, e o
Governo italiano sempre disse que era para a semana… e passou-se um ano. Isto porque o Papa pôs
um embargo ao Governo: Osho não deve entrar em Itália de forma alguma. Esses Cobardes são os
vossos líderes religiosos. E agora mesmo, Sarjano foi lá perguntar-lhe novamente, daqui a quantas
semanas? E eles responderam, “Uma vez que passou um ano, o pedido foi invalidado; façam um novo
pedido.” Então ele fez um novo pedido, e penso que isso vai demorar mais um ano — antes que se
torne inválido novamente.

Quando o Papa esteve na Índia, toda a gente esteve contra ele: Hindus, Mohammeds, Jainas, Budistas
— aonde quer que ele fosse, lá estavam Pessoas contra ele. Eu fui a única Pessoa em todo o País que
se opôs aos opositores do Papa, e disselhes, “Isto é muito feio e apenas mostra fraqueza. Recebam-
no bem: convidem-no para uma discussão pública e aberta. Em todas as Cidades em que ele vá, ele
deveria ser convidados a comparecer numa discussão pública sobre os fundamentos da Religião;
isso será realmente algo útil e de valor. Veremos o que ele entende sobre os fundamentos da
Religião.

Durante mais de dez mil anos este País tem vindo a colocar toda a sua genialidade em experiências
religiosas. Não existe outro local no Mundo aonde a Religião tenha sido tão intensamente e
insistentemente explorada. A Cristandade parece ser uma brincadeira de Crianças quando comparada
com o Budismo que sendo assim nem sequer é preciso criar uma oposição ao Papa. Até é uma boa
oportunidade ele próprio ter vindo aqui; e se ele tivesse lidado com discussões intelectuais em todo
o País, penso que nunca mais retornaria.
“Mas sentem-se limitados pelas fronteiras do Medo,

Pela Burocracia, passaportes e atitudes falsas.

Dirás tu se eu te perguntar
A minha pergunta eterna

Que eu não te amo?

Porque sinto que tenho de criar para eles

Que te amo, eu amo-te,

E porque eu quero que todos eles te amem,


Que sejam livres

Amar-te e conhecer-te

Debaixo de cada Árvore,

Em todos os Países,

Em todas as ruas da Terra,

E porque eu desejo por todas as Pessoas pobres de Coração

Tu podes estender a tua mão

Ou o teu silêncio infinito.

Por essa altura já estarei morto

Esquecido de mim próprio

Se não te tivesse conhecido.

Então choro por todos aqueles

Que morreram no meio do esquecimento

Das suas próprias Almas

Sem te terem conhecido.

E mais uma vez grito:

“Seus Bastardos!”

Mesmo na frente da cara daqueles

Que te tentam prender perto de ti


Para te manterem

Longe dos sedentos e dos perdidos.

Então dirás tu que isto não é Amor?

Pois o grito continua a ser bem alto

Do que o Silêncio.”

Sarjano, aqui não concordo contigo. O Silêncio é sempre mais estridente do que qualquer grito. Um
grito tem um início e um fim; o Silêncio é eterno.

O Silêncio é o grito de toda a Existência.

Mas eu não te impeço de gritares, porque as Pessoas a quem tu gritas são tão surdas que acaba por
ser compaixão para com elas gritar o máximo possível; e elas são tão loucas que nem sequer
conseguem compreender o Silêncio.

O Silêncio apenas pode ser compreendido por aqueles que sabem o que é o Silêncio, que
experimentaram o Silêncio. Talvez o teu grito possa chegar às mentes insanas dos Políticos e dos
Burocratas e dos Teólogos e dos Líderes Religiosos — porque eles próprios estão cheios de ruídos.
Eles não sabem o que é o Silêncio. Se eles conhecessem o Silêncio, eu teria sido bem recebido por
eles.

A primeira Pessoa, que mora fora da América, que protestou contra o meu encarceramento foi um
Mestre Zen do Japão. Ele ligou de imediato para Ronald Reagan e depois ligou-me, “Eu liguei para
Ronald Reagan, e disselhe que estava a cometer um grande Pecado, e que iria sofrer com isso.” Ele
nunca se tinha encontrado comigo, mas no seu Monastério os meus livros são lidos como se fossem
escrituras — os seus Discípulos sabem coisas do Zen a partir dos meus livros. O Zen nasceu no
Japão, mas ele encontrou uma melhor expressão, um conhecimento mais profundo nas minhas
palavras; então, ao invés de ensinar através das escrituras japonesas, ele ensina com a ajuda dos
meus livros.

Pelo telefone, respondi-lhe, “Fico agradecido por teres protestado, mas não havia necessidade em
dizer-lhe que deveria ter-se arrependido, que estava a cometer um Pecado.”

Ele, “Eu estou furioso. Eu sou um Homem do Silêncio. Em toda a minha Vida apenas tenho meditado
e nada feito. Mas ao ver-te na televisão, acorrentado, com algemas, sendo tratado como se fosses um
assassino, não consegui ficar em Silêncio.” E o que esse velho Monge Zen previu tornou-se
realidade. Ronald Reagan e o Secretário Geral da América, o Senhor Meese, estão ambos a
afundarem-se. O Irangate vai acabar completamente com eles.

E justamente hoje, Neelam trouxe-me uma notícia da Casa Branca, a Filha de Ronald Reagan e o seu
Marido viram um Fantasma — eles pensam que é o Fantasma de Lincoln. Mas porque é que Lincoln
estaria a usar roupa vermelha? Agora, até mesmo Ronald Reagan está com medo de estar na Casa
Branca — uma vez que muitas Pessoas viram o mesmo, até mesmo o Cão deles começa a latir
quando outras Pessoas vêem o Fantasma. Parece que algum velho Sannyasin está apenas a pregar uma
partida!… Brevemente a Casa Branca será uma Casa Fantasma; ninguém conseguirá viver nela.
Apenas Sannyasins mortos é que gostarão de viver na Casa Branca.

Mas Ronald Reagan e esse Senhor estão totalmente acabados; eles não tem nenhum futuro há frente
deles. Não se sintam furiosos. Mesmo se gritarem, o vosso grito deve vir do vosso Amor, da vossa
Compaixão — para que assim os surdos possam ouvir e que os cegos consigam ver.

“Pois o Coração está a contorcer-se e a fúria

Aguça a inteligência

Tal como uma espada a cortar as correntes,

Cortar a cabeça dos parasitas,


E abrir uma porta

Para que a intuição possa entrar.

Eu não consigo suportar isto mais,

O Medo e desprezo daqueles que decidem

Do que é certo e do que é errado

Nem o Medo daqueles que estão com Medo.

Das Canções,

Das Danças,

Da Música que daí transpira


Quando um Ser vivente

Te encontra.

Então, ó meu Amor, dirias tu

Que isto não é Amor?”

Repito, Sarjano: Isto é Amor em demasia.

Não te esqueças apenas que na tua fúria e raiva que é o Amor que está a rugir como um Leão.
Basicamente é Amor. O que quer que tenham feito, e o que quer que estejam a fazer, vem apenas da
inconsciência. Tu não consegues ficar assim tão zangado com eles: eles precisam de mais
misericórdia e Compaixão.

Agora, o que vai acontecer, vai acontecer em todos os sítios… Nós temos esta propriedade desde
1974 — nós comprámo-la. Mas o Governo ainda não a transferiu para o nosso nome. Então pagamos
o dinheiro, mas o proprietário continua a ser o dono original. O município continua a pedir-nos as
taxas, e nós pagamos essas taxas.

Como eu fui para a América durante cinco anos, uma das estruturas foi demolida por Pessoas ligadas
a nós — pois já não tinha uso. Um átrio foi o suficiente. Quando eu estava cá, costumavam vir cá dez
mil Pessoas. E muito em breve voltarão a vir… então começamos a erguer a estrutura de novo. É uma
estrutura velhA — nós simplesmente estamos a ergue-la de novo — mas o Comissário Municipal
ficou tão furioso que ameaçou vir aqui no dia vinte e oito de Fevereiro com máquinas para destruir a
estrutura. E o Templo é nosso.

Então, o dia vinte e oito vai ser um dia de festa! Vocês tem de se deitar em toda a largura da estrada,
com todos os Músicos a cantar e os Dançarinos a dançar, e dizer-lhes “Primeiro tem de nos mandar
abaixo, e só depois é que podem mandar abaixo toda a propriedade — porque nós não estaremos
aqui, não será para nada. Mas a não ser que mandem abaixo todas as Pessoas que aqui estão, não
podem mexer num único centímetro da terra de Ashram.” Agora veremos com o que é feito o
Comissário Municipal.

Nós não seremos violentos; cantaremos Canções de Amor, dançaremos com Alegria. Deixem o
Mundo inteiro saber que ser-se alegre, pacífico, amoroso, não-violento, contente é criminoso. Talvez
isto faça despertar toda a Consciência da Humanidade.

Então vocês tem de estar prontos para a vossa grande celebração. E, Sarjano, vai ser uma boa
oportunidade, para que eu te possa ensinar que podes morrer pela Verdade — até mesmo a dançar e a
cantar; com Alegria, sem Fúria, apenas Amor e Compaixão.
Segunda Pergunta

Querido Osho, não sei como é que o fazes! Num momento penso que estou mergulhado numa tristeza
enorme, um nevoeiro cerrado de desespero, um ponto negro no meio de uma paisagem, um erro
enorme feito pela Existência. O minuto seguinte apareces tu a dançar na minha direção, e surge um
enorme sorriso dentro de mim, e estou novamente enamorado pelo Mundo — pelo menos até há
minha próxima crise pré-menstrual. O que me espanta ainda mais é que ainda fico admirado sempre
que tu fazes algo assim, até mesmo depois de dez anos. Será que alguma vez serei capaz de aprender?

Nunca!

Anando, há coisas que nunca se devem aprender. Ficar espantado uma vez atrás da outra, ficar aberto
ao espanto, é uma das mais importantes qualidades espirituais.

Sei bem que isso não é só uma questão tua; talvez seja uma pergunta de todas as Pessoas aqui
presentes hoje. Num dado momento estás, “mergulhado numa tristeza enorme, um nevoeiro cerrado
de desespero, um ponto negro no meio de uma paisagem, um erro enorme feito pela Existência. O
minuto seguinte apareces tu a dançar na minha direção, e surge um enorme sorriso dentro de mim, e
estou novamente enamorado pelo Mundo. Não sei como é que o fazes.” Nem sequer eu sei. Eu apenas
vejo isso acontecer.

Eu apenas sei uma coisa: que nunca estou triste, nunca estou em sítios sombrios, nunca me sinto
miserável, nunca me sinto deprimido. O que quer que aconteça, eu permaneço intocável por isso.
Talvez seja essa a razão que quando até mesmo quando estás num estado de tristeza e eu vejo a
dançar na tua direção, a tua Tristeza desaparece e todo o teu ser se torna um Sorriso. É apenas uma
questão de entrar em contato com alguém que esteja a transbordar de Alegria. A tua escuridão
desaparece tal e qual qualquer escuridão desaparece quando chega a luz. Basta apenas um pequeno
raio de luz e a escuridão desaparece, basta apenas uma pequena vela com a sua chama e a escuridão
desaparece.

Eu sempre gostei muito desta história: Logo no início, quando Deus fez a Terra, certo dia a escuridão
aproximou-se de Deus e falou-lhe, “Tens de fazer alguma coisa. O teu Sol tem vindo a perturbar-me
constantemente; desde a manhã até há noite, está sempre a vir atrás de mim. Eu nem sequer consigo
descansar um pouco antes de ele vir outra vez atrás de mim outra vez. E eu nunca lhe fiz nada de mal.
Mesmo assim, por alguma razão desconhecida, ele está a ser muito antagonista para comigo. Tens de
lhe dizer alguma coisa. Isto tem de acabar.”

Deus respondeu, “Que estranho; porque razão fará ele tal coisa? Chama já o Sol.” O Sol foi chamado
e Deus disselhe, “Porque é que andas a torturar a escuridão?”

O Sol, “A Escuridão? Nunca a vi. Como é que posso torturar alguém que nunca conheci, nunca vi? É
a primeira vez que ouço falar de algo como a Escuridão.”

Deus, “Mas a própria Escuridão se queixou de ti.”

O Sol, “Eu estou pronto a pedir desculpas, pedir-lhe perdão. Chama-a!”


Então Deus mandou Mensageiros atrás de Mensageiros, mas a Escuridão não vinha. Quando o Sol se
foi embora, a Escuridão finalmente veio, e Deus disse, “Tão tarde…? Ambos tem de estar presentes;
só assim é que conseguiremos resolver este assunto.”

E ainda hoje o assunto está por resolver, pois ambos nunca estiveram presentes simultaneamente. A
queixa da Escuridão ainda está registrada nos arquivos de Deus. Ms desde essa altura que a
Escuridão não voltou para se queixar, pois aí vai aparecer novamente a mesma questão, de que
ambos devem estar presentes diante Deus. Só aí é que poderá haver uma decisão.

A Escuridão não pode estar presente quando a Luz se manifesta. Porquê? — porque a Escuridão não
existe por si; é apenas uma ausência de Luz. A Luz tem em si uma existência positiva; a Escuridão é
apenas uma ausência. Quando a Luz não está lá, a Escuridão surge; quando a Luz está lá, a Escuridão
desaparece.

Anando, talvez o mesmo esteja a acontecer-te. Quando eu venho a dançar para junto de ti, de repente,
a tua Tristeza, a tua Miséria, desaparece. A Miséria também nada mais é do que uma ausência — uma
Ausência de Alegria. A Tristeza nada mais é do que uma ausência de Alegria. E quando eu venho
com uma torrente de Alegria, de repente reparas que estás a rir, que estás a dançar — esqueceste
completamente essa grande Tristeza profunda.

Eu não o faço. Se estás disponível e aberto para mim, isso vai acontecer. É um acontecimento e não é
propositado, então não posso receber os parabéns por isso. Os parabéns vão todos para a Existência.

Tu realçaste um ponto: “Eu estou totalmente apaixonado pelo Mundo novamente — pelo menos até há
minha próxima crise pré-menstrual.” Dantes pensava-se que apenas as Mulheres é que tinham crises
pré-menstruais. Isso é errado. Descobriu-se recentemente que os Homens também as tem. Durante
séculos ninguém reparou nisso, pois não tem uma expressão física. Mas se os queres descobrir, anota
simplesmente no teu Diário ou no teu Calendário todos os dias durante três meses, quer tenhas estado
Triste ou não. Ficarás surpreso quando descobrires que todos os vinte e oito dias, durante quatro ou
cinco dias sentes-te Triste ou Melancólico. Mas como não há uma expressão física, a Humanidade
nunca reparou nisso.

Apenas recentemente é que os Psicólogos aperceberam-se que não é possível que os Homens não
tenham um Ciclo paralelo ao da Mulher. E ao explorarem isso, descobriram o seguinte: depois de
passadas exatamente quatro semanas, durante quatro ou cinco dias, todos os Homens entram em
depressão. E é muito bom saber quais os dias que sofrerás do teu período mensal — quer sejas um
Homem ou uma Mulher — porque quando alguém está a sofrer do seu período menstrual, temos de
ter mais Compaixão e transmitir mais Amor para essa Pessoa. Pois ela não está no seu normal.

E se tu te lembras que a tua Mulher está a passar o seu período, não lutes contra ela. Tem apenas a
certeza que ela ficará furiosa, irritada por tudo e por nada, que pratos vão voar, que ela vai rasgar as
almofadas, ela vai-te fazer coisas bem más a ti. Tudo o que tens de fazer é saíres da frente dela; e
desfrutar — porque o que é que a pobre Mulher pode fazer? Ela está a sofrer do seu período; ela está
sobre as influências das suas hormonas. Não é ela que está a fazer essas coisas — são essas
hormonas matreiras que estão a fazer essas coisas a ela!
E se tu conseguires ser Paciente, Amoroso, então ela também vai ter de se lembrar que quando o seu
Marido sofrer do seu Período, ela não deve pôr-se há frente dele. Ele vai conduzir mais depressa,
vai buzinar furiosamente, quer seja necessário ou não — vai pôr a música do carro em altos berros.
Não fiques é á frente dele. Deixa-o fazer o que quer que esteja a fazer: ele vai desmontar e reparar a
vossa televisão (que estava a funcionar perfeitamente bem)… O pobre Rapaz está a passar por uma
crise. Mas isso é químico; ninguém pode fazer nada contra isso.

A única coisa que tem de se lembrar é que ambos tem crises menstruais na mesma altura, então um de
vocês tem de ir em lua-de-mel — apenas um. Podem trocar de mês em mês — no mês seguinte o
outro pode ir em lua-de-mel. Mas não fiquem juntos, pois isso proporcionará uma situação explosiva.

O Homem tem vivido durante milhares de anos sem se aperceber desse facto, simplesmente porque
não tem uma expressão física. Mas ambos passam pela mesma mudança psicológica.

A não ser que te tornes num Observador, a não ser que te tornes numa Testemunha dos teus estados
mentais… É isto a que chamo de Meditação. E são grandes oportunidades: quando te estás a sentir
Triste, simplesmente observa isso. É química… tu estás consciente. Não te deixes confundir pela
química; não te sintas identificado com a Química; é apenas fisiologia, é Química, é Biologia — tu és
consciente, um Observador.

Devagar, devagarinho, até mesmo quando toda a tua Química está em ebulição, ficarás centrado, com
os pés bem assentes na terra, sem ser afetado — e isso é verdade para ambos, Homem ou Mulher.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

A tua Existência é apenas uma cópia exata

Manhã de 23 de Fevereiro, 1987, Auditório de Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, existe o Amor entre o Homem e a Mulher — ativo, sensual e brincalhão; e o Amor
entre o Mestre e o Discípulo — passivo, frio e silencioso; e existe a possibilidade de simplesmente
estar sempre com Amor em todos os momentos. É o Amor algo que está sempre a mudar, a vir e a ir,
mudando de sabor e de cor, ou é o Amor simplesmente tudo o que é e todo o momento que é?

Anand Sadhyo, o Amor que vem e vai é apenas uma reflexão do verdadeiro Amor. Uma Lua Cheia
refletida num Lago parecesse exatamente como a Lua, mas a reflexão pode ser distorcida muito
facilmente pelo mais pequeno vento. Despedaça-a em milhares de pequenos pedaços de prata
espalhados pelo Lago todo, e há medida que o Lago volta ao seu estado natural novamente surge a
Lua.

Mas a verdadeira Lua no Ceú não é perturbada pelos Ventos, pelas Estações, por nada. Até mesmo
durante o dia ela está lá, apesar de não a conseguires ver, pois a luz do Sol é muito brilhante.

O Amor está exatamente na mesma situação. O verdadeiro Amor é apenas Amor; não é um
relacionamento, é o estado do teu Ser. Não tem nada a haver com ninguém, tu estás simplesmente
cheio de Amor. Muitos podem partilhá-lo; aqueles que tem sede pode saciar a sua sede.

Este estado de se estar com Amor é o ponto mais alto da Consciência, chamado de estado acordado
do estágio iluminado, o estado de um Gautam Buddha. Ele não ama — ele é Amor. Ele nada faz —
basta a sua presença para irradiar Amor. Esse Amor não é dirigido para ninguém em particular, tal
como os Raios de Sol não são destinados para nenhuma Flor em particular, ou a uma Árvore
específica. Chega a todos aqueles que estejam recetivos a receber.

O Amor como sendo um estado de ser é apenas uma disponibilidade. Tu podes ter tanto o quanto
podes conter; é abundante, transborda. Uma Pessoa neste estado, mesmo que esteja sentado sozinho,
começa a irradiar Amor. Esse Amor é refletido em muitas formas de Amor, mas são apenas
reflexões.

“O Amor entre o Homem e a Mulher — ativo, sensual e brincalhão; e o Amor entre o Mestre e o
Discípulo — passivo, frio e silencioso”; o Amor entre Amigos: pode ter muitas manifestações, mas
elas estão sempre a mudar. Elas tem de mudar, porque apenas são reflexões, sombras, e ao
acordarem elas trazem muita Miséria.

Quando a Lua é refletida no Lago, há Alegria, existe Beleza; e quando é despedaçada pelo Vento, ou
por uma pequena pedra arremessada para o Lago, desaparecer tudo — despedaçasse. E tu sabes pela
tua experiência que o teu Amor se relaciona com os Amigos, com os Maridos, com as Esposas, com
os Mestres, são todas muito frágeis. Basta uma pequena coisa e todo o Amor desaparece. Não só
desaparece, mas transforma-se no seu oposto. Os Amigos tornam-se Inimigos; Marido e Mulher não
precisam de se tornar Inimigos porque já o são; Discípulos traem os seus Mestres. Há sempre Judas
prontos a vender os seus Mestres.

Estamos envolvidos com todos esses Amores; são todos condicionais. Até mesmo o Amor dos Pais
para com os seus Filhos é condicional: se os obedeceres, se não fores um Rebelde, se te tornares no
que eles querem que tu sejas, serás amado; mas se seguires o teu próprio caminho — os Pais chegam
ao ponto de até abandonar os seus Filhos, abandonam os seus próprios Filhos.

Mas essas reflexões indicam que deve haver uma Realidade que é refletida. Sem algo real, não pode
haver qualquer tipo de reflexão.

No Homem iluminado, o Amor torna-se a sua própria natureza, o seu próprio respirar, o seu palpitar
do Coração. Ande quer que esteja, ele continua a espalhar o seu Amor. É incondicional — não te
pede nada, daí não poder ser incomodado. E a não ser que conheças este Amor, apenas tens sonhado
com o Amor. Todas essas reflexões nada mais são do que sonhos, e eles trazem uma grande Miséria,
Ansiedade, Angústia. No meio disso eles dão alguns momentos de Alegria — esses momentos nada
mais são do que consolações.

O Amor autêntico é um tremendo contentamento dentro de ti; é um encarrilar das tuas Energias no
Centro do teu Ser. Esse centramento traz uma mudança química às tuas Energias. Então, aonde quer
que estejas — com as Árvores, com o Oceano, com as Montanhas, com as Estrelas, com as Pessoas,
com os Animais, com os Pássaros — nada podes fazer, o Amor simplesmente irradia de ti. É a tua
própria Vida. Não o podes prevenir. Se prevenires estás a cometer suicídio.

Aprende apenas uma coisa desses quase amores: que deve de haver algo autêntico e real e eterno que
seja refletido nos espelhos das tuas relações. A não ser que conheças esse Amor, vais sofrer muito, e
nada vais ganhar. E pode ser conhecido porque é uma capacidade tua intrínseca; tu nasceste com a
semente. Apenas tens de ter um pouco de cuidado com ela, e ela irá começar a crescer. Brevemente
ficarás cheio de Flores — a Primavera chegou. E uma vez que chegue, nunca mais se irá embora.
Permanece lá até ao último momento.

Esta história de Gautam Buddha é muito bonita. Ele informou os seus Discípulos que num certo dia,
no dia da Lua Cheia, ele iria morrer. Quando a Lua Cheia desaparecesse, ele também desapareceria.

Foi uma coincidência muito rara o facto de Gautam Buddha ter nascido numa noite de Lua Cheia, o
facto de ficar iluminado numa noite de Lua Cheia, e de ter morrido numa noite de Lua Cheia.

Milhares dos seus Discípulos apressaram-se a vir de todos os sítios apenas para o ver pela última
vez. Havia uma grande Tristeza, mas as Pessoas continham as suas lágrimas, para não tornar mais
difícil a sua partida. E Buddha perguntou, “Se tiverem alguma pergunta — pois amanhã já não estarei
aqui — se no teu Coração houver alguma pergunta que ainda não a tenhas feito, pergunta-me. Antes
de ir quero que os meus Discípulos estejam totalmente despertos, sem qualquer tipo de dúvidas.
Quero que os meus Discípulos se tornam respostas, e não perguntas.”

Ninguém disse nada. Apenas Ananda falou, “Tu respondeste-nos durante quarenta e dois nos
seguidos, dia sim, dia não — nós não temos perguntas. Apenas queremos estar ao teu lado quando te
dissolveres na Consciência Universal.

“Ouvimos dizer desde os tempos antigos que, sempre que um Ser Iluminado morre, quando deixa o
seu corpo, a sua Consciência espalha-se por todo o Universo. Nós queremos estar junto a ti apenas
para saborear-mos a tua Consciência.
E nesse momento Buddha disse, “OK, então digo-vos adeus. Eu morrerei em quatro etapas. Primeiro
vou deixar o meu corpo; depois deixarei a minha Mente; depois deixarei o meu Coração; e na quarta
etapa, o Turiya, dissolverme-ei no Oceano da Existência.

Ele fechou os seus olhos, e nesse preciso momento surgiu um Homem a correr e gritou, “Tenho de
fazer uma pergunta. Tenho adiado fazê-la durante mais de trinta anos. Buddha foi há minha Cidade
muitas vezes nestes últimos trinta anos, e sempre tive a intenção de ir ter com ele e fazer-lhe a minha
pergunta. Mas acontecia sempre alguma coisa ou outra… e assim estive sempre a adiar. Foi apenas
estupidez humana — ou chegava um Convidado, ou estava ocupado com Clientes, ou havia uma
cerimónia de casamento em que tinha de participar. E continuei a adiar, pensando que não tinha
pressa, que da próxima vez em que ele viesse poderia fazer-lhe a pergunta. Mas outras vezes a minha
Mulher estava doente, às vezes era eu que estava doente… e assim passaram-se trinta anos. E agora
acabei de ouvir que Buddha vai morrer. Agora já não posso adiar. Não há razão nenhuma que me
possa impedir.”

Mas Ananda disse, “Chegaste um pouco tarde. Ele já começou a sua Jornada Interior; ele já deu dois
passos: podemos ver que o seu Corpo está totalmente silencioso, e no que concerne há Mente… é
agora apenas uma Mente vazia, já a deve ter deixado. Pode demorar mais um pouco para deixar o
Coração, pois ele estava a usar o Coração constantemente para irradiar o seu Amor, a sua Alegria, o
seu Silêncio. Não é correto perturbá-lo nesta altura. Ele falou durante quarenta e dois anos; é
responsabilidade tua se durante trinta anos não conseguiste arranjar tempo para lhe fazer essa
pergunta — é uma questão tua.”

Mas Buddha retornou. A sua respiração, que tinha desaparecido, voltou, o seu Coração começou de
novo a bater. Ele abriu os olhos e falou, “Ananda, queres que as próximas Gerações se lembrem do
Amor de Buddha como sendo tão pequeno a tal ponto que nem conseguia dar dois passos atrás
quando lhe surgia uma Pessoa com sede? E eu ainda estou vivo — eu seria condenado para sempre.
Não o impeças, deixa-o fazer a pergunta.”

O Homem estava a ver Buddha pela primeira vez, e numa situação muito estranha: estavam lá
sentadas milhares de Pessoas, silenciosamente, dos seus olhos saiam lágrimas. E Buddha estava
quase morto: ele tinha dado dois passos; apenas mais dois e seria parte do Oceano da consciência.

Mas um Homem que é Amor até mesmo em tais ocasiões irradiam Amor. Ananda e todos os
Discípulos nem queriam acreditar que apenas por um Homem comum, que nem sequer era um
Discípulo, que adiou a sua vinda durante trinta anos… Mas o Amor de Buddha e a sua Compaixão
são infinitos — ele perguntou ao Homem… só que ele ficou tão abismado com aquela situação toda
que se esqueceu da pergunta que tinha.

E disse, “Sinto-me completo o suficiente. Chegou apenas o teu Amor para responder a todas as
minhas perguntas. Já estavas meio morto e mesmo assim voltaste apenas para me responder, eu que
sou apenas uma Pessoa comum e que te tenho evitado durante trinta anos, sempre a encontrar
desculpas diferentes.” Tocou nos pés de Buddha e disse, “Deixa-me ser o teu último Discípulo;
iniciame. Vim fazer-te uma pergunta, mas agora essa pergunta já não existe — diante do teu Amor,
todas as perguntas se dissipam. E eu não quero perder esta oportunidade para ser iniciado por ti.”
Buddha iniciou esse Homem. E perguntou de novo, “Há alguém ainda tenha alguma pergunta? Porque
vai ser muito difícil para mim… quando passar o terceiro estágio, se eu deixar o Coração e for para
a Consciência plena, o quarto estágio, vai ser muito difícil para mim — mesmo que queira regressar.
Então, por favor, se tem mais alguma pergunta, não se acanhem — façam-nas.”

Eles responderam, “Nós já nos sentimos muito tristes e pedimos desculpa pelo incómodo que este
Homem te causou desnecessariamente. Este não é o momento para te perturbar, este é um momento
para o Silêncio — para um Silêncio tão profundo que quando te dissolveres a tua Consciência, uma
parte dela vai-se tornar parte de nós também.” Ele disse adeus mais uma vez e assim entrou no quarto
estágio.

Esta história é muito simbólica… Chegando ao ponto de ser absolutamente histórica. Mas é tradição
no Este que o que não pode ser contado de uma forma comum, pode ser contado como sendo uma
parábola, em histórias. A história é a seguinte:

Quando Buddha morreu, as Árvores que estavam a morrer, as Árvores cujas Folhas se tinham tornado
pálidas, de repente ficaram verdes; fora da sua época, arbustos e Plantas e Árvores explodiram com
Flores. Houve um impacto tremendo quando ocorreu a sua Morte — Pessoas que tinham estado com
ele durante décadas e não chegaram à Iluminação, tornaram-se iluminadas.

Imediatamente a ter deixado o seu Corpo e quando a sua Consciência ficou livre, espalhou-se por
todo o lado. Quem quer que estivesse receptivo, de acordo com o que falava de receção, ficou cheio
dessa Consciência. Nem as Árvores ficaram de fora. Quando estava a morrer, os Pássaros estavam
silenciosos, e quando morreu, eles começaram a cantar as suas canções de alegria.

Sempre que uma Pessoa Iluminada morre, o Mundo inteiro sente uma torrente de Amor, de
Consciência, de Pura Alegria, de Paz.

Não desperdices o teu Tempo apenas em reflexões. Essas reflexões são tão boas quanto dedos a
apontarem para uma Lua real. Usa essas reflexões para descobrir o que realmente está a ser refletido,
e vais chegar a casa partindo desta estranha terra com Pessoas tão loucas.
Segunda Pergunta

Querido Osho, fico abismado quando na tua presença sinto uma linda ausência, não no sentido de
vazio, mas antes uma qualidade de abundância. Podes dizer algo sobre este sentimento de ausência?

Deva Nartan, não precisas de ficar abismado sobre isso, pois estás a sentir algo que é totalmente
verdade.

Eu estou ausente, como Pessoa. Eu tenho estado ausente há já muito tempo. E no momento em que eu
fico ausente — a Pessoa desaparece — acontece um Milagre. O desaparecimento da Pessoa não cria
um Vazio. Antes pelo contrário, quando a Pessoa estava lá eu estava Vazio; logo que a Pessoa
desaparece eu tornei-me totalmente preenchido, uma presença.

Quando eu estava presente, Deus não se encontrava lá. Quando evaporei, nesse mesmo espaço surgiu
uma nova qualidade — eu chamo isso de Deus — uma nova presença, uma nova Luz, um novo Amor,
que pertencia à Eternidade, aos poucos e poucos tornou-se mais claro para mim.

Eu costumava ser uma Casa; agora sou um Templo.

Tudo o que estava no exterior permaneceu o mesmo, mas por dentro o Sagrado desceu.

Então o que estás a sentir é absolutamente verdade. Por um lado eu estou ausente, por outro lado eu
estou demasiado presente. Se permitires a ti próprio apenas um pouco de espaço, a minha presença
vai entrar dentro de ti. Mas tu estás tão cheio de ti próprio que não há nenhuma forma de Deus poder
entrar dentro de ti, e tu manténs todas as tuas janelas e portas fechadas com medo de que algo dentro
de ti possa cair, possa desaparecer, possa ser roubado; e nada mais há do que lixo.

A Revolução espiritual pode ser reduzida a uma máxima simples:

Desaparece e deixar Deus surgir.

Tu não consegues encontrar Deus. Tu e Deus coexistem. Se tu existires, preenches o espaço todo — e
tu és uma entidade falsa. O teu nome é falso, quaisquer que sejam as opiniões que tenhas recolhido
sobre ti próprio, são apenas opiniões de Pessoas que elas próprias estão adormecidas.

Quando deixei a Universidade, fui ter com o Ministro da Educação e disselhe, “As minhas
qualificações são estas: fui o primeiro nas cadeiras que participei em toda a Universidade; preciso
uma entrevista para a Universidade.”

Ele respondeu, “Que estranho. Nem sequer tens um Currículo, nada — vieste apenas ter diretamente
comigo.”

Eu, “Pelo papel não conseguirias sentir-me. Eu vim porque as minhas qualificações foram adquiridas
no exterior, não são inatas. Eu quero que tu vejas as minhas qualidades inatas.”

Fez-se um momento de silêncio. Finalmente, ele falou, “Consigo ver e consigo compreender; mas
mesmo assim as formalidades tem de ser cumpridas.”
Então respondi-lhe, “Dá-me um pedaço de papel e eu escreverei o formulário.”

Ele, “Só preencher o formulário não chega; vais ter de adicionar um certificado de caráter.
Trouxeste-o?”

Eu, “Isso vai seer muito difícil de arranjar, pois eu nunca me cruzei com um Homem a quem eu possa
entregar um certificado de caráter; como é que lhe posso pedir um certificado de caráter?

Ele respondeu, “Isto está a tornar-se difícil, mas sem um certificado de caráter, não vamos conseguir
cumprir todas as formalidades.”

E eu, “E próprio posso escrever um certificado de caráter, porque quem é que me conhece melhor do
que eu próprio? O meu Vice-Governador estava para me entregar um certificado de caráter, recusei
porque o conheço — ele não tem qualquer tipo de carácter. E que razão há em ter um certificado de
caráter de um Homem que não tem caráter?

“É claro que eu pedi a uma dos meus Professores um certificado de caráter, mas ele recusou-se. Ele
disseme, ‘É impossível descrever-te, pois eu conheço-te há já dois anos… e tu não te encaixas em
nenhuma categoria, e eu não sei o que dizer de ti. Eu adorava dar-te um certificdo de caráter, e tentei
muitas vezes fazê-lo, mas não consegui escrever nada que fosse adequado a ti. E então deixei isso de
lado.’ “

O Ministro da Educação disse, “Mas um certificado de caráter feito pela própria pessoa é uma coisa
esquisita.”

Eu, “Vou fazê-lo corretamente. Tu aceitas isto como sendo um certificado de caráter genuíno, e eu
obterei o mesmo do meu Professor — então será uma cópia fidedigna do original; o original entrego-
te. Não o vou assinar, vou colocar a assinatura do meu Professor, e como eu adorava a sua escrita à
mão, até mesmo ele próprio não conseguia distinguir uma da outra.”

E ele, “OK, acaba isso.”

Então assinei o certificado de caráter em nome do meu Professor, Dr. S. S. Roy, fiz uma cópia, e
depois fui ter com o S. S. Roy e disselhe, “Dei o original ao Ministro da Educação. Agora dá-me
uma cópia exata dele.”

Ele, “O que queres dizer com isso? Eu sempre ouvi dizer que o original tinha de ser assinado por
mim.”

Respondi-lhe, “Eu assinei por ti. Só que não pode haver dois originais; por isso é que te estou a
pedir para me dares uma cópia igual, para ficar como prova.”

Ditei-lhe, e ele assinou, e disseme, “Em toda a minha Vida, penso que isto nunca mais irá acontecer
novamente: que alguém escreva o seu próprio certificado de caráter, e assine-o com a minha
assinatura na presença do Minisro da Educação. Ele está a cometer um Crime…”

Eu respondi-lhe, “Não te preocupes; se vires ambos os certificados, verás que a tua assinatura não é
assim tão boa.”

E ele, “Nisso posso acreditar, pois eu vi… tu assinas-te com o meu nome em muitos sítios. Antes
mesmo de eu poder chegar ao Departamento de Filosofia, tu já tinhas assinado o Livro de Registro e
quando vi isso pela primeira vez nem queria acreditar no que tinha acontecido. Eu tinha acabado de
chegar e a minha assinatura já lá estava! E eu não conseguia encontrar qualquer falha nela. Perguntei-
me, ‘Quem é que assinou por mim?’ “

Eu disse, “Fui eu que assinei, pois já estava a ficar tarde, e tinha de ser assinado a tempo. Para te
salvar de dizeres uma mentira eu arranjei maneira de assinar por ti. Agora já não precisas de te
preocupar; podes vir a qualquer hora, eu assinarei exatamente na hora que seja preciso assinar — na
hora que entras no departamento. E mesmo que não venhas, não importa; a assinatura vai lá estar.”

A tua Existência é apenas uma cópia exata e tu estás a agarrar-te a ela. A não ser que a deixes, o
Original, a verdadeira face do teu Ser, não irá aparecer. E isto é uma das coisas mais importantes
para te lembrares: que se conseguires deixar cair o teu Ego, a tua Personalidade, e permitires à
Existência assumir o seu lugar, todas as melhores e mais bonitas qualidades seguirão por si só.

Não terás de ser Bom, irás descobrir que és Bom.

Não terás de ser Amoroso, irás descobrir que és Amor.

Não terás de entrar em meditação, irás descobrir que tu és a Meditação.

Simplesmente diz adeus ao teu Ego, que nada mais é do que opiniões das outras Pessoas — press
clippings, às quais estás agarrado como se fossem a tua Alma. Deixa-as cair! E ficarás
instantaneamente tão limpo, tão puro, com tanto espaço, que Deus não vai resistir a entrar dentro de
ti. Irás tornar-te num Templo.

Todo o esforço que estou aqui a fazer é para te transformar de uma Casa comum num Templo
Sagrado. Quando há a possibilidade de te tornares num residente do divino, porque continuar
opiniões em segunda mão de Pessoas que são elas próprias apenas cópias?

Saber o que é a Realidade é uma tal benção que uma Pessoa sente em cada respiração nada mais do
que uma Oração — sem qualquer tipo de palavra, mas cheio de Gratidão.

Fica ausente daquilo que és, para que Deus possa estar presente em ti com toda a sua Fragrância,
com toda a sua Beleza, com toda a sua Glória, com toda a sua Eternidade.
Terceira Pergunta

Querido Osho, que desejo é este de querer estar sentado perto de ti, de querer descansar a minha
cabeça aos teus pés, de querer dançar tão loucamente que chega a parar Rolls Royces, de querer
tocar a Guitarra e cantar estrondosamente, de querer olhar para os teus Olhos e mergulhar dentro
deles, de querer parar de respirar quando mexes a tua mão? Que puxão irresistível para estar junto de
ti fisicamente é este?

Anand Masta, quando e aonde quer que sintas a presença do Divino, podes não ser capaz de o
entender intelectualmente — podes até ser um Ateu que não acredita que o Divino exista — mas tu
estás aberto, disponível, tu serás puxado por uma força magnética e esse puxão vai ser expressado
nesses desejos todos.

Tu perguntas, “Que desejo é este de querer estar junto de ti?” Fazendo uma tradução exata, é o desejo
de se querer estar junto de ti próprio.

Eu nada mais sou do que um espelho. Tu vês algo da tua originalidade refletida, algo da tua beleza
refletida, algo que te escapa, e que te escapa muito profundamente. É como se estivesses com uma
ferida. E tu queres que ela seja tratada, e sabes que se te aproximas mais, ela vai ser curada. Não é
algo que se possa aprender através de livros, é a tua sabedoria intrínseca.

É quase como isto: as Moths não conseguem resistir a aproximarem-se sempre que vêem uma bonita
chama, apesar de saberem que ao aproximarem-se da chama irão ser consumidas. Mas elas não são
céticas, não duvidam — elas confiam nos seus desejos. Sabendo que a sua Morte é certa, também
sabem que em algum lugar profundo dentro da sua Consciência que depois da Morte é a ressurreição.
Ninguém lhes disse nada.

Esse desejo de querer estar junto de mim é o desejo da Moth de querer estar junto da chama.

“De querer descansar a minha Cabeça nos teus pés” — isto é algo muito estranho, e que o Oeste não
tem a miníma ideia. O Leste, durante milhares de anos, compreendeu o desejar; é um fenómeno
energético.

O Mestre é quase como um Rio que vem a descer pelas montanhas, com toda a calma, com todas as
canções da Floresta, com toda a beleza dos animais selvagens.

O Leste compreendeu isso, de que se puseres a tua cabeça nos pés do Mestre, a sua Energia irá
começar a fluir para ti. Apenas pode fluir a partir dos seus pés.

A Energia não pode ir para cima. Segue exatamente a mesma lei que a água: vai para baixo.

Friedrich Nietzsche, na sua obra-prima “Assim falou Zarathustra”, começa o livro da seguinte forma:
Foi assim que começou a descida de Zarathustra. Ele vivia nas montanhas há já muito tempo, aonde
Pássaros raros faziam os seus ninhos. Não é possível chegar a tais alturas.

Ele vivia nas alturas e já estava tão cheio de Silêncio, de Amor, de Bençãos, que se dá início a uma
descida fluida. É uma declaração muito simbólica: Então Zarathustra começou a descer; tal como um
Rio, porque essa é a única forma de se chegar às Pessoas que moram nos Vales.

Masta, o teu desejo de querer descansar a tua Cabeça nos pés vem de uma profunda fonte de
sabedoria e entendimento. E eu dei-te o nome de Anand Masta. No dia em que te iniciei, podia ver
nos teus olhos a possibilidade da Loucura Divina: Masta significa “mad” (loucura), Anand Masta
significa “blissfully mad” (totalmente louco). E agora parece que a Primavera chegou e as Flores
começaram a florescer.

“Que desejo é este de querer estar sentado perto de ti, de querer descansar a minha cabeça aos teus
pés, de querer dançar tão loucamente que chega a parar Rolls Royces, de querer tocar a Guitarra e
cantar estrondosamente, de querer olhar para os teus Olhos e mergulhar dentro deles, de querer parar
de respirar quando mexes a tua mão? Que puxão irresistível para estar junto de ti fisicamente é este?

É apenas um desejo natural, vindo de todos os Discípulos, pois desejam mergulhar nessa Energia
maravilhosa e amorosa, nesse Ecstasy do Mestre. E para se mergulhar no Ecstasy do Mestre, cada
Pessoa tem de dançar loucamente para que o Ego desapareça e apenas permaneça a dança — porque
o Ego não se consegue dissolver no Mestre, mas a Dança pode dissolver-se. Tem de cantar
estrondosamente e loucamente para que o Cantor desapareça; apenas aí a Canção se pode dissolver
no Mestre.

E como tu ainda não te apercebeste de todo o fenómeno, pensas que é “um puxão para estar
fisicamente perto de ti.” Aí vê-se que tu ainda nã estás a entender o teu desejo claramente, apenas
muito vagamente. Não é uma questão de aproximação física, é uma questão de aproximação
espiritual. Mas como tu apenas te conheces como um Corpo, estás totalmente desapercebido em
relação aos tesouros da tua Alma.

O Corpo está aí hoje, mas amanhã pode não estar; mas a tua Alma é eterna. Essa vontade irresistível
é para que deixes a tua Alma, a tua Consciência, se torne Una com o Mestre. Eu chamo a esse estado,
o estado de um devotado.

O Estudante apenas está intelectualmente interessado; o Discípulo aproxima-se mais — ele não está
apenas interessado intelectualmente, não é somente a sua curiosidade de saber mais e mais — o
Discípulo quer ser mais e mais. Mas chega a um limite, quando o Discípulo já não consegue resistir à
vontade de ser Uno com o Mestre, de ser Um com o adorado. Isso é uma vontade espiritual.

Mas todas as Pessoas sentem isso como se fosse uma vontade de se estar fisicamente perto. A minha
intuição estava perfeitamente correta quando eu te dei o nome “Totalmente Louco”. Agora chegou a
altura, o tempo da maturidade. E quando a tua loucura amadurece, vai da arte de se ser discípulo para
um patamar mais elevado da devoção.

No Oeste o seguinte é mal interpretado: que as Pessoas toquem os pés dos seus anciãos, das suas
Mães, dos seus Pais, dos seus Mestres. Eles pensam que isso é humilhante. Mas não é.

Se tu amas-te e se ao tocar os pés do teu Mestre nada mais é do que uma expressão da tua devoção, tu
não te sentirás humilhado. Antes pelo contrário, subirás há mais alta consciência que és capaz.
Anand Masta, tu és afortunado, tu és abençoado. Deixa esse desejo crescer numa dor doce. Deixa ir
mais profundamente. Não fiques com Medo. E descobrirás aquilo que vieste encontrar. Em toda essa
Humildade e devoção amorosa, tu estás a aproximar-te cada vez mais do Divino.

E há um antigo, muito antigo dizer que parece ser muito significante, que se dás um passo em direção
a Deus, ele dá mil passos na tua direção.
Quarta Pergunta

Querido Osho, quando estou sentado contigo, o meu Coração começa-me a doer, mas é uma dor tão
prazeirosa e doce que apenas me posso regozijar com ela. Por favor, diz-me que tão prazeirosa é esta
que me surge quando estou sentado ao pé de ti?

Sadhan, tu estás apenas um pouco há frente de Anand Masta.

O teu desejo de ser Uno com o Mestre, de ser Uno com o amado, perfurou ainda mais. Por isso é que
sentes dores no teu Coração, mas é uma dor doce.

Quando a dor é muito doce e prazeirosa, que chega ao ponto de te regozijares com ela, a dor não é
deste Mundo. Quem é que consegue tirar prazer da dor? Essa dor é de uma qualidade totalmente
diferente da dor comum. Por isso é que é tão doce, tão prazeirosa, e tu sentes vontade de te
regozijares com ela.

Desfruta dela! Deixa essa doce dor tornar-se numa Canção, numa Dança. Deixa essa doce dor afogar-
te completamente — desaparece no meio dela. E o teu desaparecimento é a maior coisa que pode
acontecer a uma Pessoa, porque o teu desaparecimento é o começo do encontro com o Divino.

OK, Vimal?

Sim Osho.

O Silêncio tem a sua própria Fragrância

Tarde de 23 de Fevereiro, 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, no ano passado, em Bombain, que desde que te conheci nunca houve um não dentro de
mim. Sim Osho, isso é verdade. E no entanto, na última noite, a minha Cabeça abanou num profundo
não em relação às tuas palavras. Quando tu dizes que eu amo-te demasiado, eu sinto pela primeira
vez um não dentro de mim, tão grande, tão profundo. Por uns instantes ouvi o meu Coração a cantar,
não, não, não — mas não é muito, ainda há espaço no meu Ser para amar-te muito mais. Então penso
que estavas a brincar, ou a usar alguma Poesia, ou uma metáfora. Não gosto de te dizer não, mas se
ousares repetir que eu amo-te demasiado, começarei a rir e direi, “Não, Osho, não”, uma vez atrás da
outra, “Não, Osho”.

Sarjano, palavras como o “Sim” e “Não” são muito flexíveis. Elas não são opostas, são dois
extremos de uma só Energia. Daí por vezes acontecer um fenómeno muito estranho. Diz-se que
quando as Mulheres dizem não, elas querem dizer sim — a flexibilidade é tão grande — e quando tu
estás a dizer não, queres dizer que sim.

E entendo porque o Não floresceu dentro de ti, porque o Amor não tem limites. Para aqueles que
amam, até muito Amor é muito pouco. Tu querias dizer Não porque és capaz de Amar ainda mais.
Mas essa capacidade é infinita: O Amor nunca chega a um ponto aonde sente que chegou a um ponto
aonde não pode ir mais adiante — existem sempre possibilidades, potencialidades e espaço
disponível para se crescer ainda mais. O teu Não não é um Não, é apenas uma preparação para um
Sim ainda mais grandioso.

Então quero dizer-te o seguinte: Sarjano, tu amas-me muito. E mesmo que digas que não, isso não
interessa. Simplesmente significa que até mesmo o muito é muito pouco — e tu sabes que podes amar
ainda mais. O muito não é o final, então o teu Não é um Sim, de uma forma disfarçada, nada mais do
que Sim. Tu não consegues enganar-me com palavras.

Tu dizes, “No ano passado em Bombain, tu dizes que desde que te conheci, nunca houve um Não
dentro de mim.” E ainda digo isso. Mas sentes-te intrigado, porque sentes, “Sim Osho, isso é
verdade. No entanto, na noite passada reparei que a minha cabeça abanava num profundo Não quando
dizias certas coisas.” É porque o teu Amor é maior do que se pode exprimir em palavras. Mas o teu
Não não é uma negativa, é uma outra forma de dizer Sim.

“Quando dizes que te amo muito, senti pela primeira vez um Não dentro de mim, tão grande, tão
profundo. Por uns momentos ouvi o meu Coração a cantar, Não, Não, Não — não é muito…” Tu não
estavas a dizer Não a mim, apenas estavas a dizer Não ao que tinha dito sobre tu amares-me muito.

De repente apercebeste que és capaz de amar ainda mais — e mesmo assim não é muito. Eu concordo
contigo: tu és capaz de amar ainda mais. Mesmo assim, não é demasiado. Irá ficar ainda mais vasto,
mais profundo, ainda maior; mas isso não vai fazer mudar o que disse. E tu entendeste-te a ti próprio,
sem sequer tomares plena consciência disso, quando dizes, “Não é demasiado. Há espaço no meu Ser
para te amar ainda mais. Então deduzo que estejas a brincar, ou a usar alguma forma de poesia, ou
uma metáfora.”

Não, eu não estava nem a brincar, nem a usar metáforas, nem qualquer tipo de poesia. Apenas estava
a descrever o simples facto que o teu Amor é muito para mim. Mas para ti, pode parecer muito
pouco. Essa é a experiência perpétua de todos os Amantes. O amado sente que é muito, mas o que
ama sente que não é nada: “Eu ainda não coloquei todo o meu Ser nisso.”

“Eu não gosto de dizer que Não a ti…” Tu nunca me disseste Não a mim. Até mesmo quando, ontem,
o Não estava a crescer dentro de ti, não estava a fazer nada mais do que a preparar-se para um
grande Sim.

Tu desafias-me, quando “Se te atreveres a dizer que eu amo-te muito, começarei a rir e direi, ‘Não
Osho, não!’ Uma vez atrás da outra, ‘Não Osho!’ “

Tu podes rir-te, e podes continuar a dizer, “Não Osho, não.” Mas apenas significará, “Sim Osho,
sim.” E eu repetirei uma vez atrás da outra que tu me amas muito, Sarjano. A linguagem é um assunto
muito escorregadio.

Lembraram-me agora de um pequeno incidente. Num certo Monastério, davam apenas uma hora aos
Monges que lá viviam para passearem no Jardim. Mas chamavam a isso uma hora de oração ao ar
livre, debaixo do Céu. Dois Amigos estavam incomodados por uma coisa — ambos eram fumadores,
e desde que entraram no Monastério ainda não tinham fumado: pois era proibido.

Um deles disse para o outro, “Talvez seja proibido dentro do Monastério, mas e no Jardim…? Acho
que devemos perguntar ao nosso superior, o Monge Chefe.” Ambos concordaram nisso, e no dia
seguinte, um deles saíu todo furioso, humilhado, insultado, pois o seu superior tinha recusado o seu
pedido. Ele tinha usado as seguintes palavras, “de maneira nenhuma”. Ao sair, ainda ficou mais
furioso, pois viu o seu companheiro sentado debaixo de uma Árvore a fumar com enorme prazer. Ele
nem queria acreditar no que via.

E disse, “Perguntaste, ou estás a fumar sem ter perguntado?” O outro, “E perguntei — mas porque é
que estás tão furiosamente vermelho?” E ele, “Que estranho: ele concordou?” O Monge que fumava
respondeu, “Sim — ele disse, ‘Sim, claro que sim!’ ” Ficou estupefato, “Pelos vistos o superior deve
ser louco. A mim ele disseme, ‘Não, de maneira nenhuma!’ “

Mesmo assim o outro Homem começou a rir e disse, “Acalma-te, senta-te, e diz-me o que lhe
perguntaste.” E ele, “Eu simplesmente perguntei, ‘Quando estiver lá fora, no Jardim, posso fumar?’ E
ele respondeu-me, ‘De maneira nenhuma!’ ” O que fumava continuou, “Agora tudo está claro. Fizeste
a pergunta errada. Eu perguntei, ‘Posso rezar enquanto fumo?’ E ele respondeu-me, ‘Sim, claro que
sim!’ “

O teu Não, Sarjano, nada mais é do que um Sim. Não estás muito satisfeito com isso, queres mais. E
agora não consegues rir, e não consegues dizer, “Não Osho, não” — vais ter de dizer, “Sim Osho,
sim”.

Até mesmo quando estavas a dizer Não, estavas a dizer Sim — apenas não estavas a aperceber-te do
porquê esse Não estar a crescer dentro de ti.
Segunda Pergunta

Querido Osho, nos discursos, depois de teres dançado conosco e deixado o auditório, parece que
algo fica no ar, que não é como a fragrância de uma Flor rara, efémera, e no entanto tão tangível aos
sentidos. Por vezes o Silêncio é tão profundo que se os meus olhos estivessem fechados eu nunca me
aperceberia que tu já não estavas fisicamente entre nós. Será que poderias dizer algo sobre esse
fenómeno?

Milarepa, parece ser absurdo para a Mente Lógica, mas o facto é que a Alegria Total tem o seu
próprio Perfume, o Silêncio tem a sua própria fragância, tal como o Amor tem o seu próprio gosto, a
sua doçura. Apesar de não se poder comer o Amor nem prová-lo, sabes perfeitamente bem que o
Amor tem uma doçura.

O Silêncio também tem as suas próprias Flores, a sua própria Fragância. E a Consciência iluminada
do Homem pode ser alcançada através de qualquer um dos sentidos do Homem. Pode-se ver pela sua
presença, pela sua Graça, pelos seus Olhos; pelos seus gestos pode-se cheirar isso. Pode-se ouvir, é
apenas um pequeno som, tal como se fosse uma brisa a passar pelas Árvores — subtil, mas
completamente certo. Pode-se saborear.

Na Noite em que Jesus se despediu dos seus Discípulos — todos se devem lembrar da última
refeição — ele falou-lhes pela última vez. E o que ele disse parece ser muito estranho. Ele falou,
“vocês tem de me comer e de me beber. E a não ser que me comam e me bebam e me digiram, a não
ser que eu me transforme no vosso Sangue, nos vossos Ossos, nos vossos Tecidos, vocês não serão
capazes de me encontrar.” É claro que ele não estava a falar com Canibais. Ele estava a falar sim
desse fenómeno subtil que está disponível apenas para os Discípulos e os devotos.

Quando saio, tu já passaste por uma grande chuveirada de Amor, Paz, Silêncio, Música e Dança.
Todo o teu Corpo é limpo. Tu sentes a frescura, tu sentes a profundidade, é tão tangível que se os teus
olhos ficarem fechados irás pensar que eu ainda estou presente — mas de uma certa forma, nada
muda, apenas o meu Corpo se vai daqui.

Eu estou sempre presente — aonde quer que o Aor anseie por mim e um Coração bata por mim,
aonde quer que uma Consciência me procure, eu estarei disponível aí.

Tanto Gautam Buddha como Mahavira, os maiores Mestres que a tradição indiana já produziu,
criaram uma regra aonde os seus Sannyasins deveriam andar em grupos de cinco. No princípio não
consegui entender isso — porquê cinco? E durante vinte e cinco séculos os Monges Jainas e Budistas
andaram assim… o Grupo não pode ser inferior a cinco — pode até ser mais. Mas agora isso já é
uma tradição morta: eles seguem isso, mas não sabem o seu significado. Perguntei a muitos Monges
Jainas, a muitos Budistas; eles dizem, “Nós estamos apenas a seguir as escrituras.”

Mas há medida que me apercebi que uma Consciência Iluminada tem todas as qualidades às quais os
cinco sentidos podem vivenciar, então tive uma pista. O próprio Buddha, e o próprio Mahavira
também, costumavam fazer os Grupos de cinco Sannyasins — para andarem, para espalharem a
palavra. Não era aleatório, não eram quaisquer cinco, apenas por serem Amigos. Eles eram
escolhidos pelos próprios Gautam Buddha e Mahavira.
E pela minha própria experiência, eles eram escolhidos por esta simples razão: um era tão sensível
quanto os seus olhos conseguiam ver, outro era tão sensível quanto as suas orelhas conseguiam ouvir,
e outro era tão sensível tanto quanto o seu paladar era apurado. Essas cinco Pessoas eram quase
como os cinco sentidos, eram os mais sensíveis, então, sempre que meditavam em silêncio, era mais
fácil à Consciência de Gautam Buddha ou d Mahavira estar presente entre eles.

Os seus sentidos tornaram-se portas. É muito difícil encontrar uma Pessoa que tenha todos os seus
sentidos a funcionar no máximo. Nós sabemos isso perfeitamente bem: há Pessoas que não
conseguem cheirar nada, o seu nariz encontra-se morto; há Pessoas que são chamadas de
“colorblind” (não conseguem ver as cores).

Por exemplo, George Bernard Shaw apenas quando tinha sessenta anos de idade que não conseguia
ver as cores. Foi penas pura coincidência o facto que no seu aniversário dos sessenta anos, um
Amigo enviou-lhe um fato como Presente, mas tinha-se esquecido de juntar uma gravata que
condissesse. E Bernard Shaw gostou muito desse fato. Ele queria usá-lo na Festa do seu Aniversário,
quando todos os seus Amigos estariam lá. Então perguntou à sua Secretária, uma Jovem Mulher, para
ir com ele comprar uma gravata que condissesse.

A Secretária ficou intrigada, pois o fato era verde e Bernard Shaw escolheu uma gravata amarela.

Ela não pensava que era uma boa escolha; pois ficaria muito esquisito e fora do sítio. Até mesmo o
vendedor disse, “Meu Senhor, esta gravata não condiz com o fato.” Bernard Shaw respondeu,
“Porque não? São os dois da mesma cor.”

Nesse dia ele apercebeu-se que não conseguia fazer qualquer distinção entre o vrde e o amarelo. Ele
era cego em relação à cor amarela: parecia verde. Vocês ficarão surpresos ao saber que quase dez
porcento as Pessoas são cegas a alguma cor. Não é uma percentagem pequena: de entre dez Pessoas,
uma delas é cega a alguma cor. E essa Pessoa pode desconhecer esse facto durante toda a sua Vida
— e os olhos são um dos fatores mais importantes.

Os Músicos sabem muito bem que há Pessoas que tem um bom ouvido para a Música; nem todas as
Pessoas tem essa capacidade. De um modo factual, toda a gente tem uma orelha, mas ter um bom
ouvido para a Música é uma coisa completamente diferente. É preciso uma sensibilidade profunda
sobre a Música e sobre o Silêncio.

Há muitas Pessoas que não tem um grande paladar, ou toque. Já devem ter cruzado com este tipo de
Pessoa… ao cumprimentarem com a mão, parece que estão a tocar num ramo de uma Árvore morta:
não se sente qualquer tipo de energia, nenhum calor, nenhum Amor a ser transferido. E com outras
Pessoas, quando se as cumprimenta comas mãos, sabe-se que se estabeleceu um diálogo: as vossas
mãos falaram uma com a outra coisas que não se conseguem dizer.

Buddha e Mahavira estavam ambos muito concentrados a escolher Pessoas para se criarem pequenos
grupos de cinco; cada um era perfeito em pelo menos um dos sentidos. Os cinco juntos eram perfeitos
em todos os cinco sentidos. Buddha prometeu aos seus Discípulos, “Aonde quer que cinco de vocês
estiverem juntos em Silêncio e Meditação profundos, o sexto também irás estar presente — eu sou o
Sexto.
Então, se és sensível — e a Meditação torna-te cada vez mais sensível — se até mesmo eu tiver
partido e é apenas o meu corpo físico que já não se encontra aqui, a tua sensibilidade não deixará a
minha Consciência ir-se embora tão facilmente. Eu irei permanecer com vocês por mais um pouco
tempo.

Entre vocês, existem muitos que não querem ir embora de Chuang Tzu imediatamente, porque é uma
experiência em si — na minha ausência, vocês ainda sentem a minha presença. Então as Pessoas
ficam mais um pouco, a rir, a dançar, ou por vezes até a cantar, outras vezes apenas sentadas,
envolvidas por uma energia desconhecida, uma Energia sem nome… mas de alguma maneira familiar.

Tudo depende do teu Amor, do quanto tu amas. O Amor destrói a distância, e se o Amor for
completo. Então, mesmo que estejas sozinho — não precisas de cinco Pessoas — vais-me sentir
dentro de ti.

Hoje mesmo recebi uma carta de Emerson. Emerson é o filho de Hasya; Hasya é o meu Secretário
Internacional. Eu estava a sentir que algo de estranho estava destinado a acontecer a Emerson, pois
Hasya estava a ligar constantemente a muitos Amigos que aqui se encontram, e dando-lhes sempre a
mesma mensagem, que Emerson estava a

chegar e para que cuidassem dele. Isso é perfeitamente normal, pois Hasya é uma Mãe judia: apesar
de Emerson ter trinta anos, durante cerca de duas semanas ela tem telefonado continuamente e não só
a uma Pessoa… e são sempre as mesmas instruções a muitas Pessoas diferentes: “Tomem atenção. O
Emerson está a chegar.”

Quando ouvi o que estava a acontecer — que muitas Pessoas recebiam a mesma mensagem — disse,
“Que idade ele tem?” E quando soube que ele tinha trinta anos, disse, “Meu Deus!” Eu pensava que
Hasya tinha ido para além da mentalidade judia. Ela deixou tudo o que era Judaísmo — isso é uma
coisa — mas deixar de ser uma Mãe judia… isso sim é difícil. Há Mães e Mães no Mundo, mas
nenhuma Mãe se aproxima da Mãe Judia.

Agora, um filho de trinta anos de idade — e também, ela chega passados apenas três dias para cuidar
dele. Ontem mesmo vi-o e senti muita pena por ele e pela sua Mãe. Lá mesmo no fundo Hasya queria
que ele me entendesse, mas ele estava tão morto, tão insensível. Hoje mesmo ele escreveu-me uma
carta. Ele está apaixonado por Kendra, uma das minhas Sannyasins. A carta era bem comprida, mas a
parte principal era, “Osho, eu odeio-te.” A razão deste Ódio é que, em primeiro lugar, eu tinha-lhe
tirado a sua Mãe. E agora ele estava apaixonado por Kendra, e continuou, “Eu sei perfeitamente bem
que Kendra coloca-te como sendo a sua primeira prioridade. Eu nem sequer sou a sua segunda
prioridade… a sua segunda prioridade é outro Sannyasin.” — penso que ele se esteja a referir a John
— “Eu sou a terceira prioridade: e isso dói.” E ele queria que eu dissese à Kendra que ela deveria
considerar Emerson como a sua primeira prioridade.

E respondi-lhe dizendo-lhe que todos os meus Sannyasins vivem em Liberdade absoluta. Eu não digo
a ninguém para fazer isto ou aquilo. Se Kendra quer estar aqui, então é uma decisão dela; se ela quer
estar com John, é uma escolha dela; se ela quer ir ter contigo, isso é uma escolha dela. O que quer
que ela escolha, eu doualhe a minha benção. No que se refere a ti, eu não te posso dizer nada, porque
um Homem que diz, “Eu odeio-te”, não será capaz de compreender nada. O Ódio é a barreira mais
difícil para o entendimento, tal como o Amor é a maior abertura para se chegar a um entendimento.

Ele ficou espantado — porque é muito rico, um bilionário — da razão de Kendra querer ficar aqui,
até mesmo quando ela tem de lavar o chão, e fazer outros trabalhos manuais. Está para além da sua
compreensão — porque ele pensa que o dinheiro pode comprar tudo, e que ele pode dar a Kendra
tudo o que ela desejar. Mas mesmo assim será um grande problema: até mesmo se Kendra for com
ele apenas por Compaixão, lá no fundo ele sabe que ele é o terceiro na lista das limpezas. Quanto
tempo é que vai conseguir aguentar Kendra? Ele vai-se vingar. Mesmo agora ele será muito
persuasivo — mas não a conseguirá perdoar por ela o ter colocado em terceiro lugar.

E ele fica intrigado, do porque de haver Pessoas aqui. Ele perguntou ao meu Médico pessoal,
Amrito, “Porque é que estão todos aqui? Não consigo entender.” Uma Pessoa tem de estar num sítio
ou em outro. A mesma pergunta pode ser formulada, “Porque estás em Hollywood? Porque estás em
L.A.?” Uma Pessoa tem de estar num sítio ou em outro.

Eu queria contar-lhe uma História: certa vez Mulla Nasruddin foi apanhado no armário do quarto de
um dos seus Amigos. O seu Amigo ficou muito furioso, mas Mulla é um Homem que tem a sua
própria lógica. O Homem estava muito furioso, e ele conseguia ver isso… pois ele tinha saído da
casa e tinha deixado Mulla com a sua Mulher, e quando voltou, encontrou Mulla escondido dentro do
armário. Ms ele não conseguis fazer a pergunta correta, apenas perguntava, “Porque estás aqui?”
Mulla respondeu, “Que pergunta estranha — uma Pessoa tem sempre de estar em algum sítio! Queres
que eu esteja em nenhum sítio? — estás a fazer uma pergunta absurda. Uma Pessoa pode perguntar-
me em qualquer sítio, ‘Porque estás aqui?’ “

Mas Emerson deve ser muito insensível. Ele não conseguia ver a tua Alegria, ele não conseguia ver
as tuas Canções, ele não conseguia ver o teu Silêncio, ele não conseguia ver o teu Amor, ele não
conseguia ver nada: ele simplesmente perguntava, “O que estas Pessoas estão aqui a fazer?” E o que
ele está a fazer em Hollywood? A ganhar ainda mais dinheiro?

Essas Pessoas de certeza que não estão a ganhar mais dinheiro; elas estão a ganhar o Ser, a ganhar
mais Amor, elas estão a ganhar mais sensibilidade, elas estão a ganhar mais crescimento espiritual,
elas estão a ganhar mais Vida — e finalmente, elas estão a ganhar Deus.

Elas tem mil e uma razões para ficarem aqui, e para se estar em Hollywood há apenas uma razão:
ganhar mais dinheiro. Mas o que é que vais fazer com o dinheiro? Ainda só te trinta anos e já está
morto como se tivesse noventa; todos os seus sentidos se foram. Talvez ele apenas esteja disponível
para receber dinheiro e mais dinheiro. E se ele pensa que tendo cada vez mais dinheiri, ele poderá
ter Amor, que possa comprar Amor, a Verdade, Virtude… Tudo o que for realmente valioso não pode
ser comercializado, tudo o que for valioso não te preço e tudo o que tiver um preço, é apenas para
mentes muito medíocres.

Para aqueles que não conhecem o vôo da Águia porque apenas podem dar saltos no chão, surge a
seguinte pergunta, “O que é que aquela Águia está ali a fazer tão alto no céu?” Andar aqui aos saltos
na terra é o suficiente para essas Pessoas; voar de um ponto para outro, e ainda para outro, e ir mais
além do horizonte, e desaparecer no céu, está para além da imaginação e dos sonhos dessas Pessoas.
Olhando para ele, temi por Kendra, porque se se vive com alguém que esteja morto há tanto tempo,
acaba-se por morrer. Nunca fiques na companhia de Pessoas mortas! Procura a companhia de
Pessoas mais Alegres, mais dançantes, mais vivas — porque a Vida é contagiante, tal como a Morte
o é.

Fiquei contente ao saber que ele não conseguiu afetar a Kendra; ela continua a dançar e a cantar,
sempre com Alegria. Kendra vai ajudá-lo. Ele não está completamente morto, mas vai ficar
brevemente — porque os trinta é a idade em que as Pessoas começam a morre. Ele quase que morreu
antes do seu tempo. E eu estou preocupado com Hasya. Ela vai vir aqui, e ela é muito viva, muito
Alegre — um Ser Humano muito alegre. Parece que Emerson está a copiar o seu Pai. Hasya teve de
deixar o seu Marido… agora já sei qual deve ter sido a causa; esse Homem deve ter sido um peso
morto na sua Alma. Ela precisa de um Parceiro dançante, e não um peso morto ou uma cruz de ouro
pendurada no seu pescoço.

Emerson escolheu estar com o seu Pai, e não com a sua Mãe, porque o Pai é muito rico, e todo o seu
dinheiro vai parar às suas mãos. Ele vai-se tornar num dos Homens mais ricos da América quando o
seu Pai morrer. Mas eu estou preocupado com o Filho; o Filho vai morrer antes do Pai.

Se ele puder estar aqui apenas por alguns meses, talvez vendo tantas Pessoas vivas, vivendo nesta
vibração dançante, na presença de todos estes meditadores, algo que esteja adormecido dentro dele
possa começar a crescer. Ele pode nascer de novo. Este sítio pode tornar-se no seu renascimento —
mas para isso ele vai ter de ser um pouco corajoso, e Kendra vai ter de ser um pouco mais forte. Se
ela o conseguir manter aqui, eu transformarei o Ódio que sente por mim em Amor. Isso não é um
problema, de facto é uma coisa bem simples, porque o Ódio é a mesma Energia.ele odeia-me porque
lhe retirei a sua mãe e agora estou a tirar-lhe a sua Namorada. Mas ao estar aqui ele pode ter tanto a
sua Namorada como a sua Mãe, e mais importante do que isso, ele pode salvar-se a si próprio da
Morte.

O dinheiro mata as Pessoas, torna-se num peso nos seus Corações. Não estou a dizer que as Pessoas
não devam ter dinheiro. Simplesmente que devem sempre lembrar-se que existem valores mais
elevados que o dinheiro. Usa o dinheiro para chegar a valores mais elevados; torna o dinheiro numa
alavanca. Ele não pode comprar esses valores, mas pode tornar-se numa alavanca.
Terceira Pergunta

Querido Osho, há alguns anos atrás, a minha Mulher viu uma fotografia tua e disse, “Aqui está um
Homem iluminado.” Eu respondi-lhe, “Eles são todos falsos, e o sistema de castas da Índia e a sua
pobreza são uma evidência disso.” Eu sou um Sannyasin já com quatro anos e ela não. O que
aconteceu?

Antar Rituraj, a tua Mulher reconheceu-me cedo demais. A ver a fotografia, ela disse, “Aqui está um
Homem iluminado.” E foi aí onde ela parou. Ela não se incomodou em compreender o que é a
Iluminação. Se ela reconheceu alguém como iluminado, então ela deveria ter ido encontrar-se com
essa Pessoa, pelo menos uma vez. Mas ela parece ser muito conhecedora.

Tu foste muito crítico, disseste, “São todos falsos” — e estás 99,9% correto — “e o sistema de
castas e a pobreza da Índia são uma evidência disso,” — também isso está cem por cento correto. E
agora perguntas, “Eu sou um Sannyasin há quatro anos e ela não. O que aconteceu?” Fizeste uma
declaração que se tornou numa interrogação dentro do teu Ser. A declaração dela tornou-se numa
travagem brusca: “Aqui está um Homem iluminado,” — e as coisas estão terminadas. Mas tu foste
crítico “São todos falsos, e o sistema de castas e a pobreza da Índia são uma evidência disso.”

Isso tornou-se numa questão dentro de ti, porque estavas a dar dizer algo muito cínico, muito céptico
e muito negativo. Tu querias vir e ver se o que disseste sobre mim era verdade ou não. A tua
interrogação trouxe-te aqui; ela não tinha qualquer dúvida. Ao chegares ao pé de mim, constataste
que a possibilidade de 0,1 por cento sobre um Homem Iluminado, de um Homem que tem uma
Consciência desperta, e que não é a causa do sistema de castas e da pobreza da Índia, mas que está a
lutar contra isso tudo, e que sofre por causa dessa luta.

Tu não estás desperto, quantas e quantas chamadas de quantos e quantos Tribunais continuam a
chegar… de que os sentimentos religiosos de alguém foram feridos, e que eu tenho de me apresentar
no Tribunal de Bengal, no Norte da Índia, em Himachal Pradesh. Em todos estes trinta anos e as
mesmas Pessoas — as quais eu tento acordar: Tu estás a sofrer desnecessariamente por causa do
sistema de castas, rebela-te contra ele! — essas mesmas Pessoas já me tentaram matar diversas
vezes. Criaram confusão nas minhas Palestras, mandaram-me pedras, até chegaram a parar um
comboio aonde eu seguia viagem. Não permitiram o comboio seguir em frente a não ser que me
pussesem fora dele.

Essas mesmas pobres Pessoas estão tão condicionadas… Elas estão a sofrer do seu
condicionamento, e eu estou a lutar contra esse condicionamento, e elas pensam que eu estou a lutar
contra elas! Eu estou a lutar por elas contra o seu condicionamento, mas elas estão tão identificadas
com o seu condicionamento que é quase impossível fazê-las a ver essa distinção: que o
condicionamento não és tu. E por nascença, ninguém é um Brahmin.

Estou agora a lembrar-me de uma História antiga e bem bonita: Um dos grandes Sábios dos
Upanishads é Uddalak. O seu Pai mandou-o para uma Universidade aonde todos os Professores eram
Sábios, e a Meditação era um ensinamento primordial. E quando Uddalak retornou a casa passados
uns dez ou doze anos, o seu Pai — que era um grande universitário, bem respeitado e bem conhecido
— viu-o a chegar e fugiu pela porta dos fundos.
A sua Mulher perguntou-lhe, “Para onde estás a ir? O teu Filho está a chegar.” Ele respondeu, “Não
consigo encará-lo; e ainda pior, não o posso permitir tocar nos pés; vai parecer muito estranho. Ele
tornou-se realmente num Brahmin. E que tornou-se num Brahmin porque ele conheceu o Brahma.”
Brahma é a fonte de Vida suprema. “Eu sou apenas um Brahmin por nascimento; ele, conseguiu
merecê-lo. Se ele não tocar nos meus pés, irá parecer esquisito, se eu tocar nos seus pés isso também
parecerá esquisito. É melhor que eu fuja. Eu não estou a deixar-te sozinha — o teu Filho está de
volta. Eu voltarei para casa apenas quando chegarei a Brahmin, e não apenas por nascimento, mas
pela vivência, pelos meus próprios meios.

Ninguém nasce sendo Brahmin, e ninguém nasce guerreiro, e ninguém nasce como sendo Sudra, e
intocável.

A Pobreza neste País existe porque as Religiões daqui tem vindo a consolar os Pobres, tal como o
tem vindo a fazer o mesmo nos outros Países. As suas explicações podem ser diferentes, mas o
resultado final é consolar: a Pobreza não é algo mau; se a Pessoa conseguir passar por esse teste de
fogo, na Vida depois da Morte será recompensada um milhão de vezes mais.

Então, quando vieste ter comigo, encontraste um Homem iluminado que não encaixa na tua definição.
Não podes dizer que eu sou responsável pelo sistema de castas da Índia, não podes dizer que eu sou
responsável pela pobreza que há na Índia. Vais ter de mudar as tuas definições. A tua pergunta vai
tornar-se numa Procura. Vais-te tornar num Sannyasinm, um Peregrino, para descobrir a Verdade de
como ser iluminado.

A tua Mulher irá permanecer na escuridão, na inconsciência. Agora é da tua responsabilidade e do


teu Amor que a tua Mulher também se torne numa Pessoa que procura. Só em ver uma foto e dizer,
“Aqui está uma Pessoa iluminada”, não será o suficiente para a ajudar. Mas ela tem uma certa
sensibilidade, uma certa consciência — por mais pequena que seja. Se tua a amas, não vás por esse
caminho sozinho: ajuda-a também a seguir o seu caminho. E isso também te vai ajudar. Sempre que o
teu Amor seja grande, tu também vais querer que a Pessoa que amas conheça a Alegria Suprema e a
bendição. Pode ser a tua Esposa, pode ser o teu Filho, pode ser a tua Filha, pode ser o teu Marido,
quem quer que ames. O teu Amor é apenas uma palavra… o que mais podes dar se não puderes dar
um empurrão pela Verdade?

Convida a tua Mulher. Se ela conseguiu reconhecer-me pela foto, quase de certeza que ela vai
conseguir reconhecer-me quando me olhar nos olhos. Não fiques com ciúmes dela — ela vai
apaixonar-se; e tu vais ficar como sendo uma prioridade secundária.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

Quando os Buddhas fazem uma rebelião

Manhã de 24 de Fevereiro de 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, primeiramente fui atraído para ti através da Mente. Eu adorava o que tu dizias. Já se
passaram quase dez anos quando tu me deste Sannyas e eu temo que ainda esteja ligado através da
Mente.

Nestes anos apenas houve alguns instantes aonde eu pude saborear os sentimentos do Amor, da
Confiança e da Entrega. A minha Mente simplesmente vem e acaba nesses momentos. Eu gosto de me
esconder por detrás das palavras da antiga canção Sufi — “Eu amo-te quere queira quer não.” Vês
alguma possibilidade para mim em saltar da minha Mente para o meu Coração e ali ficar? Será
possível para mim conhecer o Amor?

Nitin, a tua Jornada para chegares até mim nunca foi boa desde o início. Aqueles que vem até mim
através do intelecto apenas pensam que vieram até mim; eles nunca chegaram.

Tu foste atraído porque estavas convencido intelectualmente das coisas que eu dizia.

Tu nunca sentiste Aor por mim, apenas pelas palavras, pelos argumentos. E as palavras e os
argumentos não fazem parte do meu Ser. Graças a isso, já se passaram dez anos , mas tu ainda não
progrediste um milímetro.

Tu pensas que há momentos da Verdade, do Amor e de Abertura; isso é imaginação tua, porque nunca
há momentos de Confiança. Quando a Confiança chega, ela nunca se vai. Não há momentos de Amor
— quando o Amor chega, ele fica, para todo o Sempre.

Não existem momentos de Abertura — e se tu conheceste um único momento de Abertura, nunca mais
te fecharás novamente. Pois se estiveres fechado, ficarás no meio da escuridão, cortado da Existência
e cortado de tudo o que é valioso. Porque é que deverias ficar fechado? Tu podes ficar fechado se
não conheceste nenhum momento de Abertura. Uma vez saboreado o momento de Abertura, é
impossível voltar atrás.

Então, a primeira coisa que dizes é: “Primeiramente fui atraído para ti através da Mente.” E ainda
estás atraído pela Mente. E a Mente nunca cria pontes; quando és atraído pela Mente, estás a
apaixonar-te pela tua própria Mente. Estás a usar-me como suporte para os teus próprios argumentos,
para a tua própria Filosofia, para a tua própria Religião, e estás a enganar-te a ti próprio quando
dizes que estás atraído por mim.

A Mente nunca se apaixona; é o Inimigo mortal do Amor. É tão egocêntrica que vai sempre ficar com
qualquer coisa que a apoie, que a nutre.

Durante estes dez anos tenho observado a vocês todos, e tenho ficado muito surpreso. Tu és um de
entre muitos — tu vês a sua Alegria, tu vês as suas Canções, tu vês as suas danças, tu ouves os seus
risos — mas nada se abana dentro de ti, porque vai tudo parar à tua cabeça. E a cabeça é a coisa
mais superficial que tens no teu Ser.

Logo, não é que “no início” foste atraído pela Mente; eu temo que até mesmo que no final tu vais
permanecer atraído através da Mente. É bom ter consciência dela, porque aí será possível haver uma
mudança.

Tu dizes, “Eu amei o que tu disseste.” Isso poderia ser ouvido através de um leitor de cassetes.
Achas que te vais apaixonar pelo leitor de cassetes? Tu estás tão apaixonado pelo teu próprio Ego
que andas de um lado para o outro a tentar juntar tudo o que o possa suportar, tudo o que o possa
alimentar, que o torne ainda mais forte — e este sítio aqui não é para tornares o teu Ego mais forte!
Este sítio é para que possas perder o teu Ego, e esperemos que não o possas encontrar de novo.

Essa aproximação a mim orientada pela Cabeça tem-te sido destrutiva ao longo destes dez anos;
pode destruir as tuas dez Vidas. Tu dizes, “Já fez quase dez anos desde que me deste Sannyas.” Eu
nunca dou Sannyas a ninguém — tu é que os tiraste. Vejam bem o quanto a Mente é esperta: tu tiraste
os Sannyas, eu não te os dei. E podes deixá-los a qualquer momento porque foste tu que os tiraste. Se
tivesse sido eu a dar-tos, então só eu os poderia tirar de ti; tu não os poderias deixar.

Eu não fui tocar à tua porta a dizer, “Nitin, por favor, torna-te um Sannyasin.” Tu é que vieste ter
comigo. Tu é que perguntaste pelos Sannyas. Foi apenas num ato de compaixão que eu dei-te os
Sannyas, sabendo perfeitamente bem que isso não irás alterar nada em ti. Tu viste aqui atrás da tua
Mulher — ela sim é uma Sannya autêntica; ela não está apaixonada pelas minhas palavras.

Quando tu me amas, não interessa o que eu digo. Para o Coração que ama, as palavras nada
significam; mas a presença da Pessoa, o seu Amor, a sua abundante prontidão para partilhar a sua
Alegria constante — esta forma de se estar é totalmente diferente.

Mas eu conheço teu problema: és um pobre contabilista. Os contabilistas não são conhecidos pelo
seu Amor, e os Amantes nunca contam. A tua Mente está cheia de contas: quanto é que ganhas. Deves
ter guardado dentro de ti todos os teus registros. Ms essa não é a forma como o Amor age. Então, em
primeiro lugar tens de deixar de lado essas ideias falsas. Uma Pessoa é, que no início a Pessoa veio
através da Mente. Volto a insistir: tu continuas aqui por causa da Mente. Tu tens uma Mente treinada.

Em segundo lugar, tu dizes, “Tu deste-me Sannyas.” Aí estás a responsabilizar-me


desnecessariamente. Tu tiraste Sannyas; pediste por elas. Se essas falsas ideias desaparecerem —
então talvez haja uma possibilidade de transformação. E tu também sabes inconscientemente o que eu
estou a dizer, pois dizes, “E eu tenho Medo de ainda estar ligado através da Mente.”

A Mente nunca se liga; ela desliga-se.

Se estás inteiramente aqui, fechado nas tuas Mente, então há quinhentas Pessoas. Ms se estás aqui, a
cantar e a dançar e a celebrar atrqvés do Coração, então apenas há uma Consciência.

A Mente divide; e principalmente a Mente de um Contabilista. Foste estragado pela tua


contabilidade. Tu és um bom Contabilista, tens uma boa Mente, um intelecto astuto — mas isso não
tem qualquer utilidade para os Sannyas. Estas agarrado a eles, e estás comigo porque sentes que eu
concordo contigo. Vis ter de mudar tudo: vais ter de concordar comigo; eu não tenho de estar em
concordância contigo. E quando digo que tens de concordar comigo, e o acordo não vai ser da Mente,
mas apenas do Coração. Quando o teu Coração concorda comigo, há uma Harmonia e uma Ponte e as
coisas começam a sofrer mudanças misteriosas e miraculosas.

Tu dizes, “Nestes anos todos houve poucas alturas em que pude conhecer o sentimento que é o Amor,
da Confiança e da Abertura.” Totalmente errado! Estás a tentar consolar-te; porque as Pessoas estão
a viver aqui num ambiente de Confiança, de Amor, de Abertura, e tu não queres dar a impressão que
és um completo pedinte que ainda não conheceu nenhum momento de Amor, de Confiança, ou de
Abertura.

Porque o princípio básico do Amor, da Confiança ou da Abertura é: eles chegam e nunca se vão
embora. Porque é que uma Pessoa deveria deixar a Alegria do Amor e cair na miséria do não-amor?
Porque é que alguém, depois de conhecer a Beleza da Confiança, dar um passo atrás e voltar para a
sua Mente, para a sua matemática e contabilidade?

Não estou a dizer que devas deixar a Contabilidade. A Mente pode fazer isso, mas através disso não
te podes ligar a mim. Se conseguires deixar essas ideias, tal será um grande choque para ti — que
não conheceste nenhum momento de Amor, nenhum momento de Confiança, nenhum momento de
Abertura — mas esse choque vai-te ser extremamente valioso. Vai-te curar. Esse choque vai-te
acordar.

Tu dizes, “Normalmente a minha Mente surge e acaba com esses momentos.” A Mente não tem o
poder de acabar com o Amor; isto simplesmente mostra que ainda não conheceste nada sobre o Amor
ou Confiança. Quando as Pessoas se apaixonam, por maior que seja a sua Mente, o Amor vai sair
vitorioso, e não a Mente.

A Mente não é escorredia, é um osso seco. É um bio-computador; não é a tua Alma. E a não ser que
comeces a partir do Coração, tu não consegues chegar ao Ser: o Coração é o portão do Ser. A Mente
não te permite sair de ti próprio — apenas fora do Medo que tu podes dar de caras com o Coração,
que é muito escorregadio, e tão bonito, tão encantador, que ao conhecer o Coração, a Mente não tem
qualquer forma de te puxar para trás.

Tu podes usar a Mente como se fosse um instrumento, mas ela não pode permanecer sendo o teu
Mestre; e, Nitin, ainda é o teu Mestre. Estás a mencionar um Sufi a dizer algo que não consegues
entender. A única Pessoa em toda a Terra que consegue entender isso é Ajit Saraswati. Ele estava na
mesma armadilha em que tu te encontras — ele aproximou-se a mim também através da sua Mente.
Porque eu estava dizer coisas que ele não tinha coragem de falar, ou então não era articulado o
suficiente para o dizer, ele aproximou-se de mim, e há medida que foi ficando cada vez mais
articulado, ouvindo, perguntou-me, “Muitos Rotary Clubs, Lions Club pediram-me para falar de ti —
será que deveria ir?”

Eu nunca previno as Pessoas; eu sabia que isso seria o seu desastre. Eu respondi, “Se eles te estão a
convidar, podes ir.” E então ele começou a ir a Rotary Clubs em Poona e Kholapur e Sholapur — em
sítios diferentes. Ele também veio comigo à América, e quando descobriu que conseguia dizer as
mesmas palavras, que conseguia argumentar da mesma forma, voltou para Poona.

Houve uma celebração no Ashram e todas as Pessoas pensavam que ele tinha vindo diretamente de
uma comunhão, e que tinha trazido algum condimento com ele — então pediram-lhe para falar. Mais
tarde informaram-me: “Foi uma surpresa muito grande quando vimos que ele não estava a falar de ti,
mas estava antes a falar dele próprio — e ele nada sabe.”

E desde que eu voltei, ele ainda não veio ao Ashram, ele não veio a nenhum encontro, nem sequer
veio para me ver uma única vez — e ele já se relaciona comigo há quase vinte anos. Mas essa
relação era a mesma que a nossa relação: era da Mente. Agora ele tornou-se um papagaio. Orienta
pequenos Cursos aonde ele ensina — e nem sequer menciona o meu nome; ele ensina tal como se o
tivesse vivido.

Zareen perguntou-lhe, “Não vieste ver o Osho?”

Ele disse, “E amo-o muito. Ele está no meu Coração; eu não preciso de o ir ver.” Conseguem ver a
esperteza da Mente? Significa que Amantes deviam parar de se ver, porque qual seria o sentido? “Eu
amo-te muito. Tu estás no meu Coração; não há qualquer necessidade em ver-te.”

Tornou-se uma piada no Ashram — se alguém quer evitar outra Pessoa, ela diz, “Eu amo-te muito. Tu
estás no meu Coração; não precisamos de nos ver. Não há qualquer necessidade disso.” Essa é uma
grande forma!

Anado estava a contar-me que um Sannyasin estava interessado nela, mas ela estava a sentir-se
enojada pelo Homem, então disselhe, “Eu amo-te muito. Estás dentro do meu Coração; então não
precisamos de nos ver mais.”

Estás a fazer menção a uma Canção Sufi quando dizes, “Eu amo-te quer eu o saiba ou não.” É uma
declaração muito misteriosa, e apenas um Místico a pode proferir — e não tu, Nitin; tu nem sequer a
consegues compreender o seu significado. O Místico Sufi está a dizer, “Eu amo-te quer eu o saiba ou
não.” Ele está a exprimir aquela ideia que quer as Árvores saibam ou não das suas raízes, essas
raízes são a sua própria Vida; sem elas as Árvores não conseguem existir de forma alguma. O
Místico Sufi diz sobre Deus, “Eu devo estar a amar-te, de outro modo, porque é que estou vivo? Sem
o teu Amor a nutrir-me continuamente, a Vida é impossível.”

Mas ele é um Homem modesto. Ele diz, “Não interessa se eu o sei ou não, mas uma coisa é certa: o
Amor deve estar a acontecer, porque eu ainda estou vivo. Não só eu devo estar apaixonado por ti, tu
também estás apaixonado por mim — quer eu o saiba ou não.”

Aqueles que o sabem tornam-se iluminados. Aqueles que não o sabem — também são nutridos pela
mesma fonte como qualquer Gautam Buddha; mas tu não podes dizer isso a mim.

Eu não sou um Deus invisível e o Amor não é algo que vem pela porta das traseiras, por vezes sabes
isso e por vezes não o sabes. O Amor vem pela porta da frente e vem como se fosse uma inundação.
Afoga-te: como é podes evitar de o saber?

O Amor é a única coisa, talvez, que não faz qualquer tipo de som, não fala, mas memso assim é
ouvido. Não se torna um conhecimento teu, mas mesmo assim há uma sabedoria muito além do
conhecimento. O teu Amor por mim é por causa das palavras que eu te digo. Nessas palavras tu
ouves ecos das tuas próprias ideias, mas na verdade o teu amor é para com as tuas próprias ideias.
Porque eu também as estou a exprimir — talvez tu não tenhas sido tão claro, as coisas eram vagas, as
minhas declarações tornaram-te clRo — tu pensas que me deves o teu Amor, a tua Confiança, a tua
Abertura. Mas isso é tudo um jogo da Mente. Que fique bem claro que tu nunca amas-te ninguém a
não ser a ti próprio.

“Vês alguma possibilidade para mim de saltar da minha Mente para o meu coração e ficar lá? Será
possível para mim conhecer o Amor?” É um direito de nascença para qualquer Pessoa — mas a
própria Pessoa tem de o reclamar. E o Amor é tão precioso, a não ser que o reclames, vais ter
saudades dele.. Existem todas as possibilidades para ti de mudares a tua Energia da cabeça para o
Coração, e eu gostaria de também acrescentar, do Coração para o ser — porque o coração é apenas
uma Estação intermédia. Tu podes fazer uma pequena paragem, mudar de comboio; podes tomar o
pequeno-almoço, e descansar um pouco antes do comboio que vai para o Ser partir.

O objetivo não é o Coração: o Coração é apenas um meio para se chegar ao Ser. Tudo isto é possível
para ti, Nitin, tal como o é para qualquer outra Pessoa; mas tu tens de colocar os teus conceitos na
ordem correta. Pode doer, pode ser — todas as cirurgias são dolorosas — mas se fores corajoso o
suficiente, podes ir mais além da cirurgia e vais sair dela mais curado, com mais saúde e mais
completo.

Tu vieste porque a tua Mulher veio; tu simplesmente seguiste-a. E tentas-te, lá no fundo do teu
subconsciente, competir com ela — mas a Cabeça não pode ganhar em nenhuma competição que
tenha com o Coração. Mas nada está perdido; mesmo após dez anos tu reconheças a Realidade, a
mudança vai começar a acontecer.

O maior problema da Vida é viver com falsas noções. Então tu ficas com tantas falsas noções que a
Verdade fica sem espaço nenhum para ela. Primeiro começa por destruir as falsas noções. Cria um
espaço para o Convidado, e quando teu espaço estiver pronto — o teu Silêncio, a tua Paz, a tua
Serenidade — o Convidado entra imediatamente. Ele está em pé logo ao sair da porta. Ele tem
estado há espera há já muitas Vidas para que tu abras as tuas portas e deixes o Sol e o Vento e a
Chuva entrar, porque Deus vem com o Sol, com a Chuva, com o Vento. E manda fora todo o lixo que
reuniste dentro de ti.

No momento em que fiques com espaço, não tens de fazer nada mais — esse espaço vai ser
preenchido com a presença do Divino. E aí vais saber o que é o Amor, o que é a Confiança, o que é a
Abertura: os maiores Tesouros da Vida.
Segunda pergunta

Querido Osho, eu ainda estou muito no fazer. Para mim, fazer é muito mais natural do que ser, e desta
forma eu sinto que tenho de exprimir o meu Amor e Devoção a ti. Mas será este o verdadeiro Amor?
Há muitos anos atrás dissete que sinto-me como se fosse um Guerreiro no Oeste. Também agora sinto
esse mesmo sentimento. Significa isso que eu não estou a andar muito no caminho de me tornar um
Meditador?

Deva Majid, eu estou bem consciente que tu ainda “estás muito no fazer”, e estás a exprimir-te e a
exporte muito autenticamente. Estás a dizer-me, “Fazer é muito mais natural do que ser.” Há apenas
uma coisa que tu ainda não te apercebeste: apenas podes comparar duas coisas se conheceres ambas.

Tu conheces o fazer, mas não conheces o ser; logo, por favor não faças comparações. Ser é apenas
uma palavra oca para ti — fazer é cheio de excitação. Mas é assim que as Pessoas vivem: em
decepções.

Fazer pode dar-te excitação.

Ser pode dar-te Ecstasy.

O Excitamento é muito mundano, muito comum — qualquer idiota o pode fazer. Tu não és um idiota,
tu é um ser inteligente. Então, em primeiro lugar, não estou a dizer que tu tens de mudar do fazer para
o ser; estou a dizer, começa pelo menos a provar nem que seja só um pouco do ser, e aí vais ficar
livre para escolher. Eu tenho a certeza que nunca ninguém escolheu o fazer, logo que tenha conhecido
o Ser.

Isto não quer dizer que o Homem do Ser se torne inútil, que ele tenha de parar de fazer coisas. Não; o
Homem do Ser faz as coisas de uma forma mais bonita, mais graciosa, mais estética. O Homem do
Ser transforma o que faz a partir da sua qualidade mundana para algo mais sagrado. Então não há
qualquer tipo de oposição; não é uma questão de escolha — não é uma questão de se ser ou não ser.

Quando tu apenas conheces o Fazer, não tens consciência do grande potencial que tens. Eu quero que
tu também conheças o Ser. E isso não vai fazer com que destrua o teu Fazer, simplesmente vai
embelezá-lo; vai tornar cada ato uma Oração, cada ato uma Arte, cada ato um objetivo conseguido
completo. O Ser vai fluir pelo teu Fazer; vai tornar a tua Vida mais colorida. De outro modo,
brevemente vais ficar farto com o teu Fazer, pois eles são iguais um a seguir ao outro, uma vez atrás
de outra — quanto tempo é que podes ficar excitado com eles? Mas se o teu Fazer fluí do teu Ser,
então cada Fazer tem um sabor diferente, uma individualidade diferente, uma Fragrância diferente.

Tu dizes, Majid, “Para mim, Fazer é muito mais natural do que Ser” — porque o Fazer é superficial.
E a Sociedade inteira ensina-te a ser um Fazedor, ninguém está preocupado com o teu Ser. Pelo outro
lado, o Ser é a tua Natureza mais profunda. Não há qualquer tipo de antagonismo entre o Fazer e o
Ser, apenas que o Ser irá trazer-te profundidade, significância, para o teu Fazer.

Então, se queres mesmo ser um Fazedor, tens de entrar na Dimensão do Ser. Tu dizes, “E desta forma
sinto que tenho de exprimir o meu Amor e Devoção para contigo.” É verdade: através do que fazes tu
expressas o teu Amor e a Devoção que tens para comigo — mas tu não sabes que há coisas bem
maiores dentro de ti.

Os mesmos atos do Amor, da Devoção, terão tal profundidade, tal Eternidade, que ficarás espantado
pelo quanto ficavas satisfeito apenas com a superfície e que nunca mergulhas-te profundamente na
água. Mas sem mergulhares profundamente nas águas, não poderás encontrar as pérolas. Na
superfície podes encontrar a espuma branca que se encontra na parte de cima das ondas, a brilharem
ao Sol, e parecem ser bonitas — mas nada mais são do que bolhas de ar. Se pegares na espuma com
a tua mão, repararás que elas desaparecem, deixando a tua mão molhada.

Tu perguntas-me, “Mas o que é o verdadeiro Amor?” É. Mas o Amor tem muitas, muitas
profundidades. É apenas o começo, o primeiro degrau da escada. Quando tu és capaz de chegar ao
último degrau, porque ficar satisfeito com um estado mais pobre da tua Consciência?

Eu sei que tu és um Rebelde — e é com isso que tu estás excitado, atos de rebelião — mas a tua
rebelião nada mais pode ser do que um pequeno excitamento; não te pode transformar, e não pode
transformar a Sociedade. Se queres realmente ser um Rebelde, primeiro tens de encontrar o teu Ser.
Então, cada um dos teus atos não só vai ser um ato de Amor e Devoção, mas também vai ser um ato
de uma Revolução enorme — na tua Vida e na Vida de outras Pessoas. O teu Amor é verdadeiro, mas
é muito pequeno.

Eu quero que o teu Amor se torne o maior possível — maior que o Céu. Ele não deve ter limites. E
desse Amor nasce o verdadeiro Rebelde, a verdadeira Rebelião.

Toda a História da Humanidade está cheia de falhanços de revoluções; e a razão para o seu falhanço
é que elas não originaram a partir do Ser — elas apenas vinham do Fazer. Nem Karl Marx tinha uma
pequena ideia do Ser, nem Lenin, nem Mao Tse-tung. Todos esses grandes revolucionários fizeram
muita coisa. Mas como eles próprios eram muito superficiais, as suas revoluções permanecerem
superficiais, apenas foram uma pequena limpeza — e não uma Revolução que vem da própria raiz.

Os meus Sannyasins irão ser Rebeldes, mas não Rebeldes no sentido comum da palavra. Antes de se
tornarem Rebeldes eles terão de se tornar Buddhas. Apenas aí é que o Mundo poderá conhecer a
verdadeira revolução — quando os Buddhas se rebelarem.

Em Hindi, nós temos uma palavra muito linda; tens as mesmas raízes de ‘Buddha’ — é ‘BUDDHU’.
‘BUDDHU’ significa o idiota, e ‘Buddha’ significa o ponto mais alto da Consciência. Que Pessoas
estranhas! A mesma raíz — a mesma palavra — torna-se ‘Buddha’, e a mesma raiz torna-se a palavra
‘buddhus’. Todas as revoluções que aconteceram no Mundo foram originadas por ‘buddhus’. Eu
gostaria que as revoluções se originassem pelo âmago mais profundo dos ‘buddhas’. Eu não vos
tirarei o vosso Fazer; eu apenas quero enriquecê-lo, intensificá-lo, transformá-lo de excitamento para
Ecstasy.

Tu dizes, “Há muitos anos atrás, eu dissete que sinto que tenho de me tornar um Guerreiro do Oeste.
Agora mesmo estou a ter o mesmo sentimento. Significa isto que eu não estou a andar pelo caminho
para me tornar um Meditador?” Tu não estás a entender; eu não sou contra o Guerreiro — eu quero
que vocês todos se tornem Guerreiros. Mas antes que te tornes um Guerreiro, tu tens de Ser.
Quem é que se vai tornar um Guerreiro? Tu nem sequer sabes quem tu és. Essa ignorância é o
Centro… e queres tornar-te um Guerreiro? Então naturalmente, se te tornares um Guerreiro vai-te
tornar destrutivo, e não criativo. É um crescimento vindo da ignorância. Eu gostaria que vocês
fossem Guerreiros que se originassem a partir do Silêncio, da Pureza, da Inocência.

Mas tu tens uma ideia fixa, Majid, tal como se o Meditador e o Guerreiro fossem duas partes
diferentes. Isso tem de ser visto no passado, porque o passado não foi capaz de criar um Homem por
inteiro. O meu esforço é dar-te essa inteireza em todas as dimensões possíveis.

Sê um meditador, e então, o que quer que faças — podes ser um Rebelde, podes ser um Guerreiro —
o Mundo não vai ser aleijado por ti, o Mundo vai ser sim embelezado por ti. E essa é a única
gratidão que nós podemos mostrar à Existência. Quando deixares o Mundo, deixa-o um pouco melhor
de quando entraste nele — apenas um pouco melhor, apenas um pouco mais bonito, um pouco mais
humano, um pouco mais amoroso, um pouco mais colorido, um pouco mais sagrado.

Para mim não há nenhum tipo de contradição entre um Meditador e um Guerreiro, mas a prioridade é
para o Meditador. Apenas se pode confiar num Meditador — de que a Espada que está na sua mão
não é para destruir mas sim para salvar; de que o Poder que sentiu através da Meditação vai ser uma
Energia criativa, para que o que quer que toque vai-se tornar ouro.

Eu quero que vocês todos se tornem mágicos — mágicos no sentido que a vossa meditação possa
transformar tudo o que tocam.

Sem Meditação, o que quer que façam é fútil.

OK, Vimal?

Sim, Osho.

Gravidez com Iluminação

Tarde de 24 de Fevereiro, 1987, no Auditório Chuang Tzu


Primeira Pergunta

Querido Osho, aconteceu-me algo — um sentimento de totalidade, riqueza, e expansão surgiu na


parte de cima do meu corpo. E está a empurrar a minha garganta. Não me está a ofegar, está a
abraçar-me, e também todos e tudo o que me rodeia. Não sei se eles o conseguem sentir, mas eu sim.
É um toque que não é físico, tal como um belo Olá, que não é endereçado a ninguém nem a nada —
mas sim para todos e para tudo. E segue-me silenciosamente, aonde quer que eu vá. Como é que eu
poderia? Eu sou um Homem. O que é isto, Osho? Será que os Homens podem engravidar? Será que tu
andaste a visitar-me esta noite, Osho?

Dhyan John, o Homem também engravida — não da mesma forma como a Mulher; a sua gravidez é
muito superior. A Mulher pode produzir mais Seres Humanos, mas quando o Homem engravida, ele
produz ou Música, pintura, escultura, Poesia — tudo isso faz a Vida valer a pena e valor a tudo o que
dá Vida.

Mas muitas poucas Pessoas sentem este tipo de gravidez. Elas estão tão envolvidas nos seus afazeres
diários — no Dinheiro, no Poder, no Prestígio — que nunca se importam de que elas também podem
produzir algo que pode transcender a sua Vida atual.

O Filho da Mulher vai ter uma vida de uns setenta ou oitenta anos, mas e sobre a Poesia dos
Upanishads? Já dura há cinco mil anos, e mesmo assim continua a ser vibrante e bem vivo — e as
Pessoas que dão há luz a ele não conseguiam evitar de se sentir grávidas. Todo o grande Poeta sabe
que quando alguma Poesia está a nascer ele sente-se mais feminino, tal como se fosse um casulo em
que a Poesia está a tomar forma e a crescer.

O mesmo é verdade para as Artes Criativas; mas é mais verdade para aqueles que estão a meditar,
porque eles estão grávidos com um Gautam Buddha. Eles vão dar há luz a eles próprios. É um
fenómeno muito misterioso, mas muito parecido com a gravidez da Mulher.

Tu dizes, “Algo está a acontecer-me — um sentimento de preenchimento, riqueza, e expansão.” Esses


são os sintomas que a tua Velha Vida vai desaparecer e uma nova Vida está a formar-se dentro de ti.
Aonde havia vazio, agora está preenchido. Aonde havia Pobreza… porque tudo o que o Homem
deseja, quer, apenas prova uma coisa: que ele é pobre. E tu não consegues encontrar até mesmo o
Homem mais rico que não seja pobre em si mesmo, ele pode ter tudo, mas mesmo assim ele deseja
mais. Ele é um rico pobre Homem, um pedinte rico. A tua pobreza está a desaparecer e no seu lugar
está a surgir uma riqueza.

Todas as Pessoas vivem uma Vida fechada. Que vem do Medo — o Medo de serem expostas, o Medo
de ficarem vulneráveis, o Medo de ficarem nuas — cada Pessoa esconde-se, cria paredes e mais
paredes há sua volta. Mas há medida que começa a meditar, essas paredes começam a cair, porque a
Consciência precisa de se expandir. Não pode ficar confinada num espaço pequeno — até mesmo o
Céu inteiro é muito pequeno para ela.

Tu estás a passar por uma grande transformação. É por causa desse tipo de transformação que todos
estão aqui. Tu dizes, “Está a abraçar-me, e também todos e tudo o que me rodeia. Não sei se eles o
conseguem sentir, mas eu sim. É um toque que não é físico, tal como um belo Olá, que não é
endereçado a ninguém nem a nada — mas sim para todos e para tudo. E segue-me silenciosamente,
aonde quer que eu vá. Isto é como uma gravidez estranha, da qual eu nada sei.”

Agora tu saberás mais e mais sobre isso. Apenas evita o aborto! E no que concerne ao Homem, e há
sua Criatividade, não é preciso contraceptivos. Mais e mais Pessoas tem de estar nesse mesmo
estado de criatividade.

Tu interrogas-te, “Como é que eu o poderia? Eu sou um Homem.” Por isso mesmo é que o podes ser
— porque tu és um Homem. Há uma profunda psicologia por detrás disso, que tem de ser entendida.
O Homem sempre se sentiu inferior em comparação com a Mulher, porque a Mulher pode dar há luz
enquanto que o Homem não. A Mulher pode-se tornar numa Mãe — o início de uma nova Vida; o
Homem não pode fazer isso. Para substituir isso o Homem começou a descobrir de que maneiras ele
poderia também ser criativo e produtivo. Era uma necessidade espiritual profunda que precisava
para poder destruir essa inferioridade.

Ele deu há luz grandes pinturas, a grandes Poesias, a grandes danças, a grandes Músicas — é tudo
substitutos. Por isso é que as Mulheres não se incomodaram em criar Poesia, Música, Literatura.
Vocês ficarão surpresos ao saber que as Mulheres nem sequer são as melhores cozinheiras do
Mundo; e nem sequer escreveram um Livro sobre a Arte de Cozinhar. Os melhores cozinheiros em
todos os grandes hotéis do Mundo são Homens. Realmente é muito estranho…

A Mulher sente-se satisfeita — ela sabe que pode dar luz à Vida. T podes dar luz a uma bonita
estátua, mas mesmo assim ela não tem vida. Tu podes criar grandes Músicas, mas isso é efêmero;
vem e vai vai embora tal como o Vento. Tu podes criar grandes danças, mas isso não pode ser uma
Criança viva, o sorriso de uma Criança — uma Criança que vê maravilhas, que respira, cujo
Coração bate.

Toda a tua Arte e toda a tua Criatividade parecem ser um pobre substituto para a Mulher. Já me
perguntaram diversas vezes porque é que as Mulheres não são grandes Poetisas, grandes Músicas,
grandes pintoras, grandes Escultoras. A razão disso é porque elas podem dar luz à Vida, elas não
sentem qualquer necessidade para criar nada mais.

Apenas num único ponto, num único sítio, é que os Homens e as Mulheres se encontram, e a isso eu
chamo o Espaço da Meditação — aonde o Homem e a Mulher são realmente iguais, porque ambos
podem dar à luz a eles próprios. Eles podem renascer; ambos podem engravidar com Iluminação.

A não ser no Espaço da Meditação, o Homem e a Mulher são duas espécies diferentes. Eles apenas
se encontram quando estão numa Meditação profunda. E a não ser que toda a Humanidade seja
meditativa, o Homem e a Mulher continuarão a lutar um contra o outro. O seuAmor está sempre a ir
para cima e para baixo — existem momentos de Beleza, e existem momentos Feios; existem
momentos de Alegria, e existem momentos de Miséria.

Mas na Meditação — se dois meditadores partilharem as suas Energias — o Amor è um fenómeno


constante, ele não muda. Ele tem a qualidade da Eternidade; ele torna-se Divino.

O encontro entre o Amor e a Meditação é a melhor experiência que se pode ter na Vida.
Ter Amor sem Meditação é viver num estado muito perturbado, com ansiedade — na Angústia,
sempre em ebulição. Existem momentos de Silêncio, mas esse Silêncio nada mais é do que uma
Guerra Fria — uma preparação para outra Guerra, e isso é tudo. Obviamente, para se preparar para
outra Guerra, por uns dias, por uns momentos, tem de se estar em Silêncio.

Ms isso não tem sido possível até agora, porque todas as Religiões decidiram ir por um caminho
errado. Elas decidiram separar o Homem e a Mulher; decidiram torná-los inimigos. E elas estão
todas contra mim porque eu estou a tentar fazer uma única coisa: que no que concerne à Meditação,
ela não é monopólio de ninguém — nem do Homem nem da Mulher. É o único ponto de encontro,
aonde o Homem já não é mais Homem, nem uma Mulher é Mulher; ambos são apenas Seres
Humanos, potenciais Deuses, sementes da Divindade.

Nem o Amor consegue fazer isso — porque dá muito trabalho — nem a Meditação sozinha o
consegue, porque sem Amor, a Meditação fica muito parecida com o Silêncio de um Cemitério, ou de
um Túmulo. Já não dança, já não floresce. Sim, há Paz, mas a Paz é de morte — não se encontra viva.
A Paz já não respira, a Paz já não palpita.

Toda a minha Vida tem sido devotada a apenas um único programa: como trazer o Amor e Meditação
juntos — porque apenas através desse encontro é que se torna possível realizar uma Nova
Humanidade. E apenas juntando o Amor e a Meditação, a dualidade do Homem e da Mulher — as
diferenças entre o Homem e a Mulher — desaparecem.

O Movimento de Libertação da Mulher não consegue entregar o que é importante. Eu não estou
preocupado diretamente com a Libertação das Mulheres, eu estou preocupado com a Libertação de
todos — porque se a Mulher não for libertada, o Homem também não é libertado. Eles funcionam
entre si como sendo o carcereiro e o encerrado; eles estão atados um no outro. Nem o Homem está
libertado, nem a Mulher — ambos estão a viver uma escravidão imposta um pelo outro na esperança
de que talvez se escravizarem o outro, eles serão livres. Mas o outro tem a sua própria maneira de te
escravizar.

Apenas na Meditação, no Silêncio, aonde o Amor floresce, há — sem qualquer tipo de luta — uma
Harmonia natural, equalidade, um equilíbrio natural. E quando é natural, tem uma Beleza em si
mesmo.

Dhyan John, tu perguntas, “Será que o Homem pode engravidar?” Todas as culturas, tudo o que é
Civilização, nada mais é do que o resultado de alguns Homens a engravidarem. Todo o Homem tem a
capacidade de engravidar; mas muitas poucas Pessoas aceitam esse desafio, poucos percorrem esse
árduo caminho. A gravidez da Mulher é apenas biológica. O Homem não pode ficar grávido
biológicamente, mas espiritualmente ele pode. E a Mulher pode também engravidar espiritualmente,
tal como biologicamente.

E também perguntas, “Tens-me visitado durante a noite, Osho?” Dhyan John, pensas tu que eu sou um
Fantasma sagrado, tornado virgens as Raparigas grávidas — e agora, cansando-me de Raparigas, eu
comecei a fazer os Homens, Homens virgens como Dhyan John, grávidos? Eu não sou um Fantasma
Sagrado — eu nem sequer sou Cristão. Mas é verdade, tu estás grávido. Sente-te abençoado, rejubila
com isso! E permite-te nutrir o máximo possível. Vai dar há luz a ti — um novo tu!
Segunda Pergunta,

Querido Osho, eu sinto que tu nunca falas de certos mistérios. Será que temos de vir de noite tirá-
los? Ou será que alguns mistérios só são revelados quando estamos no meio deles? Querido, querido
Osho, o que é que o entendimento significa?

Devageet, é verdade, há mistérios que eu ainda não cheguei a falar. Não que eu não queira falar
deles, mas a natureza deles é — eles não podem ser falados. Vocês terão de ouvi-los quando eu estou
em silêncio. Vocês terão de ouvi-los entre os espaços das minhas palavras. Apenas precisam da
mneira correta de os ouvir — tal e qual quando entendem uma linguagem quando a aprendem.

O Silêncio também é uma linguagem, a linguagem da Existência.

As Árvores usam-na, as Estrelas usam-na, e as Montanhas usam-na, e os Místicos usam-na. Eu estou


a dizer aquilo que pode ser falado; também estou a dizer, através do Silêncio, aquilo que não pode
ser dito. Agora depende de ti conseguir degredar silenciosamente, e permiti-lo entrar no mais
profundo do teu Ser — porque apenas aí todo o seu significado real te será revelado. A tua Mente é
incapaz, inadequada. A Mente não tem qualquer forma de entender o Silêncio, apenas consegue
perceber a linguagem, apenas palavras; mas o que não tem palavras…

Tu não te podes queixar da Mente — está para além da sua capacidade. É tal e qual — os meus olhos
podem ver a Luz, as minhas orelhas não conseguem. Isso não significa que eu deva queixara-me das
minhas orelhas: “Porque é que não consegues ver a Luz?” Elas não foram feitas para isso. Elas
conseguem ouvir Música — os Olhos não conseguem ouvir Música. A Mente consegue compreender
as Palavras. Se tu queres compreender aquilo que está para além das palavras, então a Mente tem de
se transcender; tu tens de entrar naquele espaço chamado Não-Mente. Está logo acima da tua Mente,
para além da tua Mente. A Não-Mente apenas compreende o Silêncio; as palavras não chegam até
aqui.

Tu dizes, “Será que temos de vir de noite e tirá-los?” Não é uma questão de vires de noite ou de dia e
tirá-los, porque eu não estou a esconde-los; estou sim a mandá-los constantemente para ti todos os
dias, todas as noites. Mas tu só apanhas as palavras, e continuas a deixar de lado aquilo que não tem
palavras — o intermédio.

Apenas no Sufismo é que existe um Livro que eu posso chamar de Sagrado. Eu não posso chamar a
Bíblia de sagrada, e não posso chamar o GITA de sagrado. Mas o Livro dos Sufis posso sim chamar
de sagrado — por uma razão muito simples: porque nada está escrito nele. Está vazio. Tem sido
passado há quase mil anos do Mestre para o Discípulo; e apenas é dado quando o Discípulo está tão
preparado que ele consegue ler aquilo que não está escrito.

Quando foi dado pela primeira vez por um Místico… Ele estava a morrer, e durante toda a sua Vida
foi um mistério para os seus Discípulos; toda a sua Biblioteca estava disponível para todas as
Pessoas, mas ele punha um certo Livro debaixo da sua almofada. Ele apenas o lia quando fechava
todas as portas, trancava todas as janelas, olhava bem no seu quarto para confirmar que estava
mesmo sozinho; e então ele tirava o Livro da sua cama e lia-o durante horas. Naturalmente havia uma
grande curiosidade. As Pessoas chegavam até a esconder-se no telhado para verem, e tiravam
algumas telhas, para verem o que estava a acontecer. Mas não conseguiam descobrir — que tipo de
Livro era aquele.

Perguntavam-lhe uma vez atrás da outra, e ele sempre dizia, “Quando chegar a altura certa, dar-vos-
ei o Livro.” E chegou o dia em que ele estava a morrer, e todos os Discípulos juntaram-se, mais
alguns instantes e ele morreria. Eles sentiam-se um pouco embaraçados por perguntar pelo Livro,
“Agora que estás a morrer, pelo menos diz-nos algo sobre o Livro.” Fazer uma pergunta dessas a um
Mestre que está a morrer não era correto.

Mas um deles reuniu coragem suficiente e disse, “Mestre, esqueceste-te de uma coisa, aquele Livro!”
Ele respondeu, “Eu não me esqueci. Está debaixo da minha almofada, e antes de eu dar a minha
última respiração, darei o Livro ao meu sucessor.”

E assim chamou um dos seus Discípulos — nunca ninguém suspeitou que aquele Homem fosse ser o
sucessor do Mestre. Era deveras uma Pessoa muito estranha, estava sempre em Silêncio. Não tinha
Amigos, nunca participava nas orações em conjunto, nunca ia à Biblioteca ler as escrituras sagradas;
passava muito tempo sentado debaixo das Árvores junto ao Rio. Por vezes passava a noite inteira
deitado na relva a olhar para as Estrelas. Toda a gente pensava que ele era um pouco louco. Nunca
perguntava uma única pergunta ao Mestre.

Havia Discípulos doutorados, e até sabiam mais do que o próprio Mestre, estavam muito
familiarizados com as Escrituras Sagradas; mas mesmo assim o Mestre chamou esse Homem
estranho, aquele que olhava para as Estrelas, o silencioso — aquele que não tinha Amigos, que
estava sozinho no meio de tantos Discípulos, mas que tinha os Olhos de uma Criança inocente, e o
seu Coração cheio de canções por cantar.

Ele tirou o Livro e deu-o ao Discípulo e disse, “Este Livro é apenas simbólico. Quem quer que o
possua, vai ser o meu sucessor, então lembra-te, tem muito cuidado, não deixes ninguém lê-lo. Podes
lê-lo, e antes de morreres podes dá-lo à Pessoa certa, que possa ser capaz de o ler.”

E desta forma, durante cerca de mil anos o Livro tem passado de uma mão para outra — e o Livro
encontra-se totalmente vazio. Quando pela primeira vez, há apenas cinquenta anos atrás, o Místico
que era agora o sucessor, quis publicá-lo, não conseguiu encontrar uma Editora — porque a quem
quer que ele o mostrasse, essa Pessoa olhava para ele e dizia, “Mas não há nada para publicar nele.
É apenas um Livro com folhas em branco, não tem nada escrito nele.” Mas agora sim, foi publicado;
um editor corajoso em Inglaterra publicou-o.

O LIVRO DO NADA.

Mas destruíram-no um pouco porque colocaram uma introdução nele: toda a História do Livro — em
mil anos, quantos Místicos o possuíram, e como foi passado de um Professor para outro, e esta foi a
primeira vez em que foi publicado. Isso foi uma idiotice — aquele Livro não precisa de qualquer
introdução. Mas é assim que a Mente do Homem funciona — todo o Livro precisa de uma introdução,
então esse Livro também precisava de uma; e lá dentro não há nada — mil páginas, vazias.
E quando o publicaram destruíram-no, porque agora as Pessoas estão a usá-lo como um Livro de
notas, estão a escrever coisas nele. Ele não foi criado para esse propósito. Era sim para que o
Mestre o desse a um Discípulo quando este fosse capaz de entender aquilo que está entre as linhas;
quando as palavras e as linhas se tornassem sem qualquer tipo de significado, daí o papel sem
nada… Bastava olhar para ele, e tu também ficavas vazio. Bastava olhar profundamente para ele, ias
da Mente para a Não-Mente — e de repente essa página vazia torna-se numa porta para os mistérios
da Vida.

Devageet, tentar ouvir os meus Silêncios. Não encontrarás em todo o Mundo um orador a falar da
maneira como eu falo. Existe algo mesmo no meio das frases. Isso é deliberado, e significante, tem
um significado maior do que todas as palavras. De facto, eu uso todas as palavras para que possa
criar isso. De outro modo, como é que o podia criar?

Ouçam a isso, ouçam o meu Silêncio, ouçam o Silêncio das Árvores e das Estrelas — porque o
Silêncio não é monopolizado por ninguém, não é Hindu, nem Maometano, nem Cristão; é a única
coisa que não é monopolizada por ninguém — e começarão a descobrir os mistérios que vos falo.
Mas apenas palavras não serão capazes de expressar o que quero dizer.

E por fim, vocês perguntam, “Osho, o que significa ‘compreender’?” Essa palavra inglesa
“compreender” é um pouco estranha, mas muito significativa. Sempre que sabes algo, estás por cima
disso, e o que quer que saibas está debaixo. Tu subiste mais alto. Dizendo isso por outras palavras:
há medida que a tua Consciência começa a ir mais para cima, mais e mais coisas ficam por baixo. As
coisas que estão debaixo, já as entendeste. As coisas que estão por cima de ti, ainda vais ter de subir
mais — apenas o que estiver mais alto pode entender o que está debaixo de si, o que está debaixo
não pode entender o que está por cima.

Então o que é normal é ir o mais alto possível na tua Consciência. E a Consciência continua a ficar
mais alta há medida que fores deixando conhecimentos desnecessários, que são um peso. Tudo o que
é emprestado é um peso, um problema. Tu tens de ser muito leve para te tornares numa Águia para
que possas voar pelo Céu infinito.

O primeiro Homem que andou na Lua — quando ele voltou, perguntaram-lhe qual foi a sua primeira
ideia? Estando de pé na Lua, ao olhar o Céu, ao olhar a Terra, qual foi a sua primeira ideia? E o que
ele disse foi muito interessante.

Ele respondeu, “A minha primeira ideia foi, a minha querida Terra! Pela primeira vez entendi que
não existe nenhuma América, não existe nenhuma Rússia, não existe nenhuma China, não existe
nenhuma Índia — é uma Terra, a minha Terra. Não há linhas, nenhuma divisão, é tudo criado pelo
Homem. E a coisa mais estranha que vi foi que a Terra parecia-se com a Lua, a irradiar Luz.” É oito
vez maior que a Lua, ver a Lua oito vezes maior, oito vezes com mais Luz… E a Lua em si parecia
ser apenas um deserto, sem sequer uma única gota de água cair em cima dela, nem sequer crescia
uma única erva nela — não havia Vida em sítio nenhum, um Silêncio profundo. E a esse Silêncio eu
chamo de Silêncio Mortal.

A nossa Terra também é silenciosa, mas o Vento passa por entre as Árvores… e há Vida… e os
Pássaros cantam, e há Luz, e profundamente no meio da Noite quando está tudo em silêncio, uma
Coruja começa a cantar — acham que isso perturba o Silêncio? Não, aprofunda-o ainda mais, torna-o
mais musical; e há medida que a Coruja fica silenciosa, a Noite fica ainda mais profundamente
silenciosa do que antes era. Isso é um Silêncio vivo. Lembrem-se sempre, qualquer qualidade que
não tenha Vida em si, não vale a pena ter. A não ser que um Santo também possa dançar, ele não é um
Santo; é apenas um fóssil.

Quando começas a ver que até a Verdade, a Meditação, a Beleza ou a Virtude — todas elas tem a sua
Canção, cantadas ou por cantar, aí vais começar a ir em direção aos Mistérios. A Morte não tem
qualquer tipo de Mistério, a Morte é um beco sem saída. A Vida é um processo que está sempre em
andamento, constantemente para Sempre. Eleva a tua Consciência e o teu entendimento será cada vez
mais abrangente e maior; quando a tua Consciência chegar ao ponto mais alto, tudo vai ficar debaixo
dela. Esse é precisamente o significado do entendimento. Agora tu entendes.
Terceira Pergunta

Querido Osho, será possível que eu esteja a conhecer-me cada vez menos?

Prem Pradeepa, não só é possível que tu te estejas a conhecer cada menos: quanto mais estiveres
aqui, mais próximo ficarás de mim, e cada vez mais o teu conhecimento se irá evaporar; e ficarás
cada vez mais Inocente, sem conhecimento, mas cheio de admiração— tal e qual uma pequena
Criança fica admirada com cada coisa. Isto é Liberdade e libertação Absoluta da Mente.

Dizem que Sócrates falou, “Quando era novo pensava que sabia tudo; quando ficou um pouco mais
maduro também me apercebi que ainda havia muito que eu não sabia. Quando fiquei ainda mais velho
fiquei intrigado porque costumava saber mais quando era mais jovem — e agora sei cada vez menos,
a cada dia que passa. E finalmente, antes de ele ter morrido, disse, ‘Nada sei.’ “

No dia em que ele disse, “Eu não sei nada.” … Na antiga Grécia havia um Templo em Delphi, e
havia um Oráculo no Templo que costumava prever muitas coisas quando entrava em trance. No dia
em que Sócrates disse, “Nada sei”, nesse mesmo dia, nesse exato instante, em Delphi, o Oráculo
declarou que Sócrates era o Homem mais sábio do Mundo.

As Pessoas que vieram de Atenas para ouvir o Oráculo correram a avisar Sócrates, porque nunca
antes tal honra tinha sido dada a ninguém pelo Oráculo — o Homem mais sábio do Mundo. E quando
reportaram a Sócrates, ele riu; e disse, “Eu antigamente era, quando era muito jovem, quando era
muito arrogante, quando era muito egoísta. Agora nada sei.”

Mas as Pessoas responderam, “O Oráculo nunca antes se enganou.” Retornaram a Delphi e relataram
o sucedido, “Desta vez tu erraste, porque o próprio Sócrates negou o que disseste; ele disse, ‘Eu
nada sei’ “.

O Oráculo riu e respondeu, “É por causa disso mesmo que eu o declarei como sendo o Homem mais
Sábio em todo o Mundo. Apenas o Homem mais sábio do Mundo tem a coragem e a Inocência e a
Humildade para dizer ‘Nada sei’ “

Pradeepa, aqui estás tu sem saberes mais e mais, mas para conhecer cada vez menos. O meu trabalho
não é para te carregar com cada vez mais conhecimento; o meu trabalho é para te tirar essa carga,
tirar esse peso de cima de ti, fazer-te tão leve para que consigas voar. Então, o que está a acontecer é
exatamente a coisa certa que é esperado acontecer. Esta é uma Escola de Mistérios; aqueles que
entrarem pelos seus muros sem portões desta Escola de mistérios devem vir com um entendimento
muito claro que quando voltam, voltam renascidos mais uma vez como Crianças, sem nada saberem.

Mas não saber nada é o começo de se conhecer a si próprio. Tu sabes tantas coisas que te esqueceste
por completo de quem tu és. Quando nada sabes, toda a tua capacidade para conhecer volta-te contra
ela própria; e conhecer-se a si próprio é a única sabedoria autêntica que há, uma sabedoria que
liberta, uma sabedoria que te faz ficar consciente da tua imortalidade, uma sabedoria que te faz ficar
consciente que tu não és uma ilha, mas sim parte de um Todo.
Quarta pergunta

Querido Osho, aconteceu-me algo há alguns dias atrás, e tu deves saber disso; aquela Pessoa que
encontrava para descrever qualquer coisa agora não as encontra para podeer descrever esta
experiência. Eu apenas digo o que não é: não havia Anjos a tocarem as suas trompetas, não havia
qualquer tipo de Música celestial, nem cheiros nem incensos, nem Flores, nem Cores de milhares de
Arco-Íris…

Essa vivência veio de trás, veio com pés de veludo, tal e qual um ladrão, tão desconhecido e tão
familiar…

Os meus braços ergueram-se aos céus há procura da tua mão enquanto os meus pés caminharam por
si próprios em direção ao portão de Lao Tzu, e o meu Ser era apenas um murmúrio de um Rio,
dizendo, “Osho, Osho, Osho”. Mas a tua mão não se encontrava lá, ou então era eu que não a
conseguia ver, ou que não a conseguia sentir?

Ó Osho, meu querido Oceano, não me prometeste tu que me segurarias pela mão?

Sarjano, eu prometi-te, e tenho andado a cumprir a minha promessa. Mas eu não segurarei a tua mão a
partir do exterior, eu segurarei a tua mão a partir do interior — a tua mão será a minha mão. Isso é
que é um verdadeiro segurar; pelo exterior é muito superficial, mas pelo interior, é tão profundo tanto
quanto possível. E quem é que tu achas que te estava a seguir com pés de veludo? Os pés nunca são
feitos de veludo mas os meus sapatos sim. Mas no meio da noite é bem possível haver alguma
confusão.

Tu dizes, “Aconteceu a alguns dias atrás e tu deves saber disso.” Sim, eu sei disso. “Aquele que
consegue encontrar palavras para tudo agora não tem palavras para descrever o que acabou de viver.
Eu apenas digo o que não foi.” Mas esta é a única forma de descrever umas certas experiências.
Todas as grandes vivências tem de ser descritas negativamente — o que não é. Há uma certa beleza
numa descrição negativa… A descrição positiva confina, a descrição negativa apenas indica — e não
confina. Então é totalmente correto descrever isso pelo que não é.

“Não havia Anjos a tocar as suas trompetas.” Não existem Anjos em sítio nenhum; e de qualquer
forma, nos dias de hoje as trompetas são muito caras… Esqueçam esses antigos dias do Velho
Testamento, quando foi dado a todos os Anjos Trompetas e Harpas — até mesmo as Pessoas que
chegaram ao céu por engano.

Certa vez ouvi o seguinte de um Homem de Munique, na Alemanha. Ele era porteiro de uma estação,
e por algum engano, os Anjos levaram-no para o Céu. Ele tentou diversas vezes, “Vocês devem ter-se
enganado, eu sou apenas um porteiro, eu não sou um Santo; porque é que me arrastam para os céus?
Esta na minha de ir par ao Bar, e digo-vos francamente, eu sou um Pecador, não me chateiem.” Mas
lá prosseguiram eles com as suas Trompetas e Harpas, e ninguém deu ouvidos ao pobre porteiro. Ele
perguntou-se, “Isto é muito estranho.” Passado uns instantes foi presente ao Chefe dos Anjos, e foi-
lhe dado uma Harpa, ele questionou, “O quê? O que querem que faça com isto?”

Foi-lhe dito, “Não tens de fazer nada, senta-te apenas em qualquer nuvem e toca essa Harpa.”
Ele respondeu, “Eu sou um Porteiro, nunca toquei tal instrumento.”

E eles, “Não te preocupes, no início todos os Santos dizem isso.”

Ele retorquiu, “Mas eu não sou um Santo! E estou a ficar preocupado, pois o Bar pode fechar! No
meio desta fantochada toda, acham mesmo que eu sou idiota o suficiente para ficar aqui sentado numa
nuvem a tocar uma Harpa enquanto o tempo passa o Bar se fechar?”

Disseram-lhe, “Tens de te comportar, pois brevemente Deus virá aqui. Ele sempre vem aqui quando
há alguém que chega ao Paraíso.”

E ele, “Meu Deus, isso significa que hoje não vou poder ir ao Bar?”

Eles, “Pára de falar sobre o Bar.”

Então ele teve de se sentar numa nuvem. Sentiu-se muito embaraçado, pois achava que ali não seria
um sítio para se sentar; mas viu que havia Anjos e Santos sentados em todas as nuvens e tocavam as
suas Harpas, “Aleluia, Aleluia”. Só que ele estava sempre a lembrar-se do Bar.

Deus estava sentado no seu trono de ouro, em cima de uma grande nuvem branca. Muito baixinho o
Porteiro dizia, “Grande sacana, aleluia, aleluia.”

Ele pensava que Deus não conseguia ouvir o que murmurava, mas Deus ouviu. E perguntou aos outros
Anjos, “Porque é que estão a torturar o porteiro? O que aconteceu foi um incidente, não é suposto ele
estar aqui, além disso está muito infeliz, olhem pRa a cara dele. Ele está a dizer, ‘Aleluia, Aleluia’,
mas por dentro está a dizer algo que apenas eu posso escutar! Mandem-no de volta, deixem-no ir ao
seu Bar.”

Então mandaram-no de volta para a Terra. Apesar de ter batido com força no chão, bradou, “Pelo
menos ainda vou a tempo! Todos aqueles idiotas sentados nas nuvens, pareciam palhaços, e durante
toda a Eternidade apenas tem de tocar a Harpa e cantar, ‘Aleluia, Aleluia’.”

Ele levantou-se e foi a correr para o Bar, lá as Pessoas exclamaram, “Estás atrasado”.

E ele, “Meti-me em sarilhos. Uns Pessoas enganaram-se e levaram-me para ao Céu. Foi apenas o
meu velho hábito de dizer asneiras às Pessoas que me safou. Quando Deus ouviu isso, pensou que o
melhor seria mandar-me embora; de outro modo poderia corromper os outros Anjos.”

Em tempos antigos isso estava bem, Sarjano. Mas nos dias de hoje “não há Anjos, Trompetas, nem
Música celestial nem cheiros de incenso, nem Flores, nem cores de milhared de Arco-Íris…” Os
místicos sempre falaram sobre essas coisas porque não conseguiam encontrar palavras para relatar a
experiência vivida, tal como tu não o consegues.

Há certas maneiras de descrever o que quer que seja; milhares de Flores de Lótus, milhares de Arco-
Íris, milhares de sóis a erguerem-se por todo o lado — são indicações que a linguagem simplesmente
falhou. E o que eles querem realmente dizer, não o podem, mas há uma grande vontade para o dizer.
Então ficam encurralados num dilema. Eles não o conseguem dizer mas também não resistem a não
dizê-lo. Então algo tem de ser dito.

Um grande pensador germânico — talvez um dos maiores pensadores deste Século — Ludwig
Wittgenstein, num dos seus raros livros: Logico Tractus Philosophicus, tem uma declaração. Ele não
escreve da mesma forma que as Pessoas comuns o fazem, ele apenas escreve exponentes máximos.
Mas numera cada um deles, Um, Dois, Três. Cada um deles tem um impacto enorme e está embutido
com um grande significado; ele condensou parágrafos, páginas ou talvez até livros numa única frase.

Uma das suas frases neste Tractatus é: “Aquilo que não pode ser dito, não deve ser dito.” Eu escrevi-
lhe uma carta, “Tu não seguiste o que escreves-te. Disseste algo sobre isso. ‘Aquilo que não pode ser
dito, não deve ser dito.’ Tu disseste algo sobre isso.”

E recebi uma carta de um dos seus Amigos; Wittgenstein tinha morrido. Eu não sabia que isso tinha
acontecido — eu era apenas um estudante universitário. O seu Amigo escreveu, “Wittgenstein está
morto. Tenho pena que ele não tenha podido ler a sua carta, pois ele era um Homem muito Hinesto e
Sincero, ele até poderia ter removido o que escreveu do seu Livro — porque o que vocês disse está
totalmente correto. Se nada deve ser dito sobre aquilo que não pode sere dito, até mesmo esta frase
não deve ser colocada ali — e sim apenas um espaço em branco.”

“A experiência veio pela parte de trás.” Quase sempre vem da parte de trás. Porque qualquer coisa
vinda de frente pode fazer-te ficar tenso, fechar-te, por-te na defensiva. Todas as grandes
experiências vem de trás, porque detrás… até que tenham rodeado, não tens consciência delas e não
podes ficar na defensiva. E quando finalmente tens consciência disso, já é tarde demais — já nada
podes fazer. Estás possuído.

“… com pés de veludo, tal como um Ladrão.” No Hindu, um dos nomes de Deus é “Hari”, e “Hari”
significa Ladrão. A Índia tem uma longa experiência no que concerne ao misterioso, mais do que
qualquer outro País no Mundo. Até chegou a escolher nomes com uma grande consciência em que não
deveriam ser apenas nomes, mas também deveriam conter a experiência.

A experiência veio por trás, tal como se fosse um ladrão, tão desconhecida e tão familiar.” Sempre
que algum de vocês se deparar com algo do desconhecido, encontrarão sempre ambos; o
Desconhecido num dos lados, e tão familiar — tal como já o conhecessem desde sempre. E é ambos.
Porque não é algo que está a vir do exterior. É algo que está realmente a crescer dentro de ti. É algo
que dentro da tua inconsciência sempre sentiste, mas a tua Consciência nunca se apercebeu disso, e
agora sim, a Consciência começa a aperceber-se. Então, tens dois argumentos contraditórios juntos,
“desconhecido” e “tão familiar”.

“Os meus braços esgravatam o Céu há procura da tua mão.” Sarjano, foi aí que não foste muito claro.
Tu estavas há procura da minha mão como se algo do exterior. Mas aos poucos e poucos, há medida
que mais e mais experiências deste tipo se tornaram disponíveis para ti, viste que estavas a ver
através dos meus olhos; e tu estás a tentar procurar — e não é a tua mão mas sim a minha. Existe um
estado de uma Harmonia imensa, quando o Mestre não está no exterior mas sim no teu interior.

Tu não és tão pequeno quanto aparentas. Tu não estás limitado ao corpo. Tu és tão vasto que podes
conter tudo. A tua capacidade para conter é oceânica.
“Enquanto que os meus pés caminharam por si em direção ao portão de Lao Tzu e o meu Ser era
apenas um murmúrio do Rio: ‘Osho, Osho, Osho…’ Mas as tuas mãos não se encontravam ali”. Elas
estavam lá. E da próxima vez que algo semelhante acontecer, olha simplesmente para a tua mão e não
encontrarás a tua própria mão — mas encontrarás a minha mão.

“Ou então eu não a vi; será que não a senti?” Não, era apenas a tua primeira experiência. E tu estavas
a olhar, muito naturalmente, pelo exterior. Tu já deves ter visto uma das grandes pinturas de Miguel
Ângelo em que Deus está a criar o Mundo e a sua Mão está a tocar a mão de Adão. Ele está
pendurado nos céus, de cabeça para baixo, e Adão está na Terra. É uma das suas pinturas mais
bonitas.

Mas Miguel Ângelo não tem experiência — essa mão de Deus não pode vir do exterior, e tudo o que
vem do exterior não é de Deus. Deus apenas pode florir a partir do teu Ser interior mais profundo.
Ele pode ver através dos teus olhos e pode espalhar a sua mão pela tua mão. Ele pode andar com os
teus pés e ele pode respirar com os teus pulmões, e pode também usar o teu Coração.

Nunca penses de Deus como sendo algo do exterior. É sempre do teu interior, a tua experiência
subjetiva.

“Ó Osho! Meu querido Osho! Não me prometeste tu que segurarias na minha mão?”

Sim, eu prometi-te, Sarjano; e eu estava a segurá-la.

OK, Vimal?

Sim, Osho.
Deixa passar tudo

Manhã de 25 de Fevereiro no Auditório Chuang Tzu


Primeira pergunta

Querido Osho, no ‘The Symposium’ de Plato, Sócrated diz que, “O Homem que pratica os mistérios
do Amor estará em contato não com uma reflexão, mas com a Verdade em si. Conhecer esta benção
da Natureza Humana, uma Pessoa não pode encontrar maior ajuda do que o Amor.” Por favor,
comenta.

Milarepa, todos os meus comentários, durante toda a minha Vida tem sido baseados no Amor, em
milhares de formas diferentes. Mas a mensagem é sempre a mesma. Apenas tem de ser lembrada uma
coisa: não é o Amor que tu pensas que é o Amor. Nem o Sócrates fala sobre isso, nem eu falo sobre
isso.

O Amor que tu conheces nada mais é do que uma necessidade biológica, depende da tua química e
das tuas hormonas. Pode ser mudado muito facilmente, bastando fazer apenas uma pequena mudança
na tua química — e o Amor que tu pensavas que era a Verdade Suprema irá simplesmente
desaparecer.

Chama-se ao Desejo, Amor. Esta distinção deve ser lembrada. Sócrates diz, “Um Homem que
pratique os Mistérios do Amor…” O Desejo não tem mistérios, é simplesmente um jogo biológico.
Todo o Animal, todo o Pássaro, toda a Árvore sabe isso. Certamente que o Amor que tem Mistérios
irá ser totalmente diferente do Amor com que tu estás tão familiarizado. “Um Homem que pratique os
Mistérios do Amor estará em contato não com uma reflexão, mas com a Verdade em si.”

Este Amor que se pode tornar num contato com a Verdade em si surge apenas da tua Consciência; não
do teu Corpo, mas sim vindo do teu Ser mais profundo.

O Desejo surge do teu Corpo. O Amor surge da tua Consciência. Mas as Pessoas não conhecessem a
sua própria Consciência e assim esse engano perpetuasse — o Amor é confundido pelo seu Desejo
corporal.

Muitas Pessoas no Mundo inteiro conhecem o Amor. Essas Pessoas tornaram-se silenciosas, muito
pacíficas… e é a partir desse Silêncio e Paz que entram em contato com o Seu Ser mais profundo, a
sua Alma. Uma vez que estejas em contato com a tua Alma, o teu Amor deixa de ser um
relacionamento, torna-se simplesmente numa sombra. Aonde quer que vás, com quem quere que vás,
estás a amar.

Agora mesmo, o que tu chamas de Amor está endereçado a mais alguém, e limitado a alguém; e o
Amor não é um fenómeno que possa ser limitado. Podes tê-lo nas tuas mãos quando estão abertas,
mas não o consegues ter quando cerras o punho. No momento em que as tuas mãos se fecham — elas
ficam vazias. No momento em que se abrem — toda a Existência fica à tua disponibilidade.

Sócrates está correto: aquele que conhece o Amor também conhece a Verdade, porque eles são
apenas dois nomes de uma única vivência. E se tu não conheces a Verdade, lembra-te que também
não conheceste o Amor. “Para se viver esta benção da Natureza Humana, uma Pessoa não pode ter
uma ajuda melhor do que o Amor.”
Apenas há uma coisa que vos gostaria de dizer sobre Sócrates: toda a sua abordagem era lógica e
argumentativa. O seu método é conhecido como o diálogo socratiano. É um processo muito lento, tal
como a psicanálise. Ele vai discutir e discutir, e destruir todos os teus argumentos e ideias falsas.
Esta era a sua contenção, a qual tinha uma certa verdade: Quando todas as ideias falsas são
demolidas, aquilo que permanece atrás e que não pode ser discutido, é o teu Ser. E a partir desse Ser
nasce a Fragrância do Amor.

Mas Sócrates nada sabia de Meditação. Ele veio a saber a Verdade através da longa e desnecessária
rota dos argumentos. Ele era um dos melhores argumentistas que o Mundo já produziu; não há igual.
Mas o que ele fazia usando a argumentação não se pode tornar num fenómeno universal; o caminho é
longo, e desnecessariamente longo.

O falso pode desaparecer se tu te sentares silenciosamente, sempre que tenhas tempo, e fica alerta
aos teus pensamentos. Não precisas de argumentar, não precisas de lutar, não precisas de os
empurrar, simplesmente observa — tal como se estivesses a ver televisão.

O Leste conheceu um milagre maior do que Sócrates. Sócrates não tinha uma ligação com o Leste de
forma alguma. E as razões óbvias eram: ele tinha encontrado o Amor, ele tinha encontrado a Verdade
— e ele nunca pensou que poderia haver um atalho. O seu processo era tortuoso. Se leres os diálogos
de Sócrates vais sentir que o Processo é longo, e que cada argumento cria novos problemas — novos
problemas criam novos argumentos… ele luta contra sombras.

Mas isso não era culpa dele. No seu tempo, Atenas era uma das mais sofisticas e intelectuais cidades
do Mundo. Ele desconhecia que exatamente na mesma altura, Buddha ensinava a Meditação na Índia,
Lao Tzu ensinava Meditação na China, Mahavira também ensinava Meditação… Foi exatamente na
mesma altura, há vinte e cinco séculos atrás.

Sócrates herdou a sua lógica das gerações passadas; a Grécia estava cheia de Sofistas. Os Sofistas
eram Pessoas estranhas, a sua Filosofia era que não havia a Verdade, não havia a inverdade — tudo
depende de quem melhor argumentava. Se tu conseguias argumentar melhor do que o teu oponente,
então tu estavas certo. E se te deparasses com outra Pessoa que argumentasse melhor do que tu, então
tu estavas errado.

Então Sócrates herdou apenas a ginástica da argumentação. Ele mudou o processo todo: a Sofistria
tornou-se na Filosofia. A palavra “Filo” significa Amor, e “Sofia” significa Sabedoria. A Sofistria
era simplesmente argumentativa. Ele fez um grande trabalho, mas acontecia quase sempre o mesmo
— as Pessoas com quem tu lutavas, mesmo sendo tu o vitorioso, deixavam um grande impacto em ti.

Ao lutares com elas, tinhas de usar os seus próprios métodos; de outro modo não conseguirias lutar.
Se um País começa a acumular armas nucleares, então aqueles que lutam contra ele tem de começar a
também acumular armas nucleares. Uma vez que Sócrates estava sempre a lutar contra os Sofistas…
Ele queria destruir a ideia que o melhor argumento é tudo, de que não há a Verdade nem a inverdade
— e ele conseguiu isso. Ele era uma descontinuidade com o seu Passado. Mas as Pessoas com quem
ele tinha lutado, ele tinha de lutar com argumentos. Então, apesar de os Sofistas terem sido
derrotados, os argumentistas ficaram com o próprio Sócrates.
Ele usou isso de uma forma melhor. Ele usou isso para descobrir a Verdade. Mas ele desconhecia
completamente que em outra parte do Mundo, no Leste, na China, as Pessoas tinham uma herança
diferente: há quase dez mil anos que se sentavam silenciosamente e nada faziam.

E quando o Silêncio desce em ti, quando os Pensamentos começam a sair, e todas as perturbações
desaparecem, e o Lago da tua Consciência se torna quase um Espelho:

Tu sabes que tu és a Verdade;

Tu sabes que tu és Amor;

Tu sabes que és Divino.

Numa única etapa — da Menta para a não-mente — todos os Tesouros, todos os mistérios do Amor, a
Vida, a Verdade, a Alegria Suprema, abrem as suas portas. Não há qualquer necessidade para
argumentar contra o Falso.

A minha contenção é: até mesmo argumentar contra o Falso é dar algum crédito ao Falso, e isso tem
sido a contenção do Leste durante milhares de anos. Tu não discutes com a tua sombra: Não venhas
comigo hoje, eu não gosto de ti, quando eu não te quero, porque é que continuas a seguir-me? Tu não
foges da tua própria sombra — porque a sombra também vai correr atrás.

Uma história sufista: “Um Homem tinha medo da sua própria sombra, pois tinha lido num Livro que a
Morte era quase como uma sombra — que quando chega, torna-se quase como uma sombra. E isso
tornou-se numa obsessão na sua Mente, tão grande que ele começou a ficar com medo de qualquer
tipo de sombras.

Ele corria, ele fazia qualquer coisa… tentava lutar contra elas — e ele era um Guerreiro! Mas até
mesmo a tua espada não pode causar danos a uma sombra — a sombra não existe. Ele estava tão
cansado de toda a situação que perguntou a um Místico, “O que faço com a sombra? Fiz tudo o que
era possível fazer, mas nada acontece. Parti a minha espada. Tenho corrido tanto para evitá-la que os
meus pés já estão cheios de feridas.”

O Místico riu-se, e disse, “Faz apenas uma coisa. Senta-te debaixo daquela Árvore, e depois diz-me
aonde está tua sombra.” Havia muitas sombras debaixo da Árvore. Para se ter uma sombra é
necessário o Sol, a Luz. Mas quando ele foi para debaixo da Árvore e se sentou lá, olhou há sua volta
e reparou que não conseguia ver a sua sombra. E exclamou, “Que milagre que fizeste! Nem sequer
saíste do mesmo sítio e a minha sombra foi-se.” O Místico, “A tua maneira de ver as coisas é
desnecessária. Lutar contra o Falso é dar credibilidade ao Falso. Na tua luta aceitas-te que o Falso
também tem alguma realidade.”

O Leste nunca lutou contra a Mente; encontrou um método totalmente diferente. Esse método consiste
em ser apenas um Observador nas colinas.

Deixa passar tudo.


Não julgues, não condenes, não faças juízos de valor.

Tu és um espelho; essas não são funções tuas. Tu apenas refletes — e todas elas passarão. Se não
tomares nota delas, podes ignorá-las, elas pararão de vir ter contigo; elas não querem ser convidados
que não chegaram a ser convidados. Talvez por causa do hábito, elas continuarão a vir durante mais
uns dias; mas poderás reparar que o tráfico será cada vez menos; de outro modo será um vai-e-vem
vinte e quatro horas por dia.

Uma vez que a Mente esteja silenciada, vazia, com muito espaço, vais encontrar a Chave de Ouro, a
Chave Mestra, que abre todos os mistérios do Amor, da Verdade, da Vida Eterna.

A ideia de Sócrates, no seu cerne, está correta, mas eu não concordo é com o seu método. É um
método desnecessário. Se tu vais para casa, porque é que é necessário andar quilómetros para ir e
voltar? Já estás lá. Fecha apenas os teus olhos e fica em Silêncio, e relaxa. Mas a conclusão é
correta: “Um Homem que pratica os Mistérios do Amor estará em contato, não com uma reflexão,
mas sim com a Verdade em si. Para conhecer esta benção da Natureza Humana, uma Pessoa não
consegue encontrar uma maior ajuda do que o Amor.

Ou podes começar a aumentar o teu Amor, a expandir o teu Amor… mas para onde é que o vais
expandir? A tua Mente está erguida tal como se fosse a Muralha da China à tua volta. Primeiramente
a Muralha da China tem de desaparecer — e essa é a função da Meditação.

Sócrates poderia ter sido o Gautam Buddha do Oeste, e toda a história do Oeste teria sido totalmente
diferente. Ele criou o caminho mais básico para mentalidade Ocidental: o Argumento. E aos poucos e
poucos o Argumento, ao invés de descobrir o Amor, descobriu as Bombas Atómicas, as Armas
Nucleares, a Ciência, a tecnologia.

O Leste nunca conseguiu descobrir essas coisas porque nunca deu qualquer tipo de crédito à
argumentação, à Razão. Tem estado concentrado em expandir a Consciência — e para dar-lhe
espaço, tem de ser ver livre da Mente. Uma vez que a Mente não esteja lá, não se tem qualquer tipo
de problemas com fronteiras, aquilo que cresce a partir do Centro do teu Ser, é a Verdade.

Mas, Milarepa, Sócrates não está na Califórnia a falar. Ele não está a falar com os chamados amantes
do Mundo inteiro. Ele está sim a falar com uns poucos Discípulos que vieram em busca da Verdade.
Ele ajudou algumas Pessoas; não pode ajudar muitas, pela simples razão de que com todas as
Pessoas o Processo é muito longo.

Mas o Leste tem sido afortunado em descobrir uma peregrinação com uma única etapa: da Mente
para a Mente — e já está, chegaste a Casa.

Tu sempre estiveste lá. Tu nunca chegaste a sair durante um único momento! Simplesmente a tua
Mente tem andado a pairar por todo o Mundo, mas tu nunca estiveste em nenhum outro sítio; tu estás
exatamente aonde deverias estar.

Se o pairar da mente parar, de repente — dá-se a revelação.


Segunda pergunta

Querido Osho, tenho agora trinta e sete anos e parece que estou a começar uma nova Vida. Sem nada
saber, nada sofisticada e infantil, os meus sonhos e ambições estão em frangalhos, e o Futuro é
completamente desconhecido. Sinto que me estás a despir; és tu que estás a fazer isso?

Ram Fakeer, esse é o meu trabalho: tirar-te tudo o que é falso.

Eu não te posso dar nada, apenas te posso tirar — porque aquilo que tu precisas, tu já o tens. Mas
está coberto com tantas mentiras, tantas falsidades, tantas crenças, que apesar da minha atitude ser
criativa, noventa e nove porcento do meu trabalho é destrutivo.

Criar algo que tu já tens — fazer-te tomar consciência disso — tudo o que é falso tem de ser
removido. E tu tens tanto lixo! A tua Mente está tão cheia de mobília podre…

Eu costumava ficar num certo sítio na Índia, Sagar, na casa da Pessoa mais rica dessa Cidade. Ele
colecionava muitas coisas. Tudo o que aparecia no Mercado, quer ele precisasse disso ou não, tinha
de estar na sua Casa. A sua Casa estava tão cheia de coisas totalmente inúteis, antigas,
desnecessárias, que era até difícil andar de um lado para o outro.

O quarto aonde eu costumava ficar estava cheio de mobília! Mobília que era de épocas bem distintas,
Vitoriana… Rádios e Televisões ainda não tinham chegado a essa Cidade — mas no seu quarto havia
um aparelho de Televisão.

Eu perguntei-lhe, “Qual é o propósito desse aparelho de Televisão?”

Ele, “Algum dia, a Televisão vai chegar.”

Eu, “Já alguma vez pensaste no seguinte, de que no quarto aonde eu fico — tu colocas-me no quarto
que tem todos os teus grandes Tesouros — para se andar por lá tem de se ter muito cuidado para não
derrubar-mos nada, até mesmo com muita luminosidade.” E continuei, “Tu destruíste este quarto.”

Ele, “O que estás a dizer? Eu decorei-o.”

E eu, “A tua decoração nada mais é do que destruição.”

A palavra inglesa “Quarto” (Room) é muito interessante. Simplesmente significa “Com espaço”
(spaciousness). Quantas mais coisas se coloca no quarto, mais o destróis. Então deixa de ser um
quarto, torna-se num armazém.

Perguntei-lhe, “Tens outro quarto na tua casa?”

Ele, “Este é o melhor. Se tu chamas a isto de armazém, então ainda vais ficar mais insatisfeito com os
outros quartos. Eles estão ainda mais cheios. Neste quarto apenas coloco as últimas coisas; este é o
meu quarto de convidados.”

Eu, “Que grande quarto de convidados criaste!”


A tua Mente lembra-me sempre desse quarto de convidados — tanta coisa inútil, lixo, há mobília que
não deixa espaço nem para ti.

A Vida da Meditação é esta: criar um Quarto dentro de ti, criar espaço dentro de ti. Mandar embora
todas as tolices que os outros te deram. Apenas vais tomar consciência de ti próprio quando a tua
Mente estiver completamente vazia. Por um lado, vai ficar vazia; pelo outro lado, vai ficar cheia de
ti, do teu Ser Puro.

O crescimento precisa de espaço. A tua Consciência está faminta. Dá-lhe um Céu para onde ela possa
voar — e está nas tuas mãos, porque o que quer tu tenhas na tua Mente, foste tu que colecionaste isso.
Agora tu não sabes como te veres livre disso. A Meditação é apenas uma técnica para te veres livre
disso. O melhor dia da tua Vida vai ser quando o Silêncio Profundo te abafar.

Sim, Ram Fakeer, a tua observação é verdadeira: “Tenho agora trinta e sete anos e parece que estou a
começar uma Vida Nova.” Tu estás a começar uma Vida Nova — mas não penses que antes tu tinhas
uma Vida antiga também. Tu estás morto. Porque o que dizes pode implicar o facto de que a Vida
antiga está acabada, e que começa a nova.

Eu quero dizer-te: a Vida é sempre nova, apenas a Morte é velha. Tu estavas morto, e eu tenho estado
a chamar-te, “Lazarus, sai da tua sepultura.” E não é tarde, trinta e sete anos não é tarde. Apenas
desperdiças-te metade da tua Vida; ainda resta outra metade. E essa metade pode ser vivida tão
intensamente e tão completamente que o que não foi vivido não vai ser recordado.

Até mesmo um pequeno momento, vivido na sua totalidade e intensamente, é igual à Eternidade. De
outro modo, podes continuar a vegetar durante toda a Eternidade; tu não tens qualquer tipo de sabor
na Vida, e do néctar da Vida. É um começo. Diga-mos que, Ram Fakeer, tu nasceste agora.

Há uma história bem bonita na vida de Gautam Buddha: um dos grandes Imperadores do seu tempo,
Prasenjita, veio vê-lo. Naturalmente ele queria ter uma conversa privada, porque as Pessoas que são
ricas, as Pessoas que estão no poder, estão sempre com medo de se exporem. Se as Pessoas
soubessem que elas também são humanas tal como tu, com todas as suas fragilidades, com todas as
suas fraquezas, isso seria humilhante.

Então Buddha concedeu-lhe uma audiência privada. Quando estava a falar com o Imperador, um
velho Sannyasin, que deveria ter uns setenta ou setenta e cinco anos, chegou-se ao pé deles e disse,
“Perdoem-me. Não quero perturbar a vossa conversa, apenas quero tocar nos pés de Gautam Buddha
e ir-me embora. Eu não direi uma única palavra. Vou começar uma longa jornada, espalhar a
mensagem do meu Mestre; e tenho de começar agora, pois antes do Sol se pôr tenho de chegar à
próxima Vila. Quando o Sol se põe, os Monges Budistas não viajam, então isto é compulsório; por
favor perdoem-me.” E tocou nos pés de Buddha.

Buddha fez uma pergunta muito estranha — pelo menos parecia estranha para Prasenjita, “Bikkhu (é
uma palavra de Buddha que significa Sannyasin), quantos anos tens?” E o velho Homem respondeu,
“Não me embaraces perante o Imperador, porque eu apenas tenho quatro anos de idade.”

O Imperador não queria acreditar; olhou de novo para o Homem. Um Homem com este aspeto tem
quatro anos? É possível que tenha setenta, setenta e cinco ou oitenta — tal diferença é possível; mas
quatro anos de idade é absolutamente inacreditável. Ele disse a Buddha, “Não deveria interferir, mas
não consigo resistir. Este Homem mente descaradamente e tu nem sequer dizes nada sobre isso.
Achas mesmo que ele tem quatro anos de idade?”

Gautam Buddha respondeu, “Sim, mas tu estás em dúvida porque não sabes como é que ele conta a
sua idade. Quando uma Pessoa começa a viver a sua Vida autenticamente, uma Vida de Amor e
Silêncio e Meditação, quando começa a sua iniciação nos Mistérios da Existência — a Vida começa
a ser contada a partir desse dia. Fisicamente este Homem tem setenta e cinco anos de idade, mas foi
apenas há quatro anos atrás que ele encontrou a porta da Morte para a Vida.”

Ram Fakeer, esquece esses trinta e sete anos da mesma forma que esqueces os sonhos e os pesadelos
da noite quando acordas de manhã. Não que não os tenhas vivido; quando eles estavam presentes,
eram reais como qualquer coisa. Começa fresco.

Tu dizes, “Sinto-me como se estivesse a começar uma nova Vida.” Tu estás a começar a tua primeira
Vida. “Sem nada saber.” — esse é um grande começo, o melhor começo possível — porque quando
nada sabes, quer dizer que puseste a Mente de lado; nada saber significa que o Ego foi deixado de
lado; nada saber significa que os teus Olhos estão novamente frescos, inocentes, cheios de
maravilhas. Podes perceber de novo as Canções dos Pássaros, podes ver novamente claramente as
cores psicadélicas das Flores, podes novamente correr atrás das Borboletas, podes novamente
apanhar conchas nas Praias.

Um Homem que saiu da sua sepultura acha toda a Existência tão fascinante, tão linda, tão atrativa,
que não há qualquer razão para encontrar qualquer Deus. Pois ele encontrou Deus nas Flores, nos
Pássaros, nas Árvores, nas Pessoas. De facto, não há outro Deus exceto esta Vida que canta, esta
Vida que dança, esta folhagem verde, estas flores coloridas.

Deus não é um criador — Deus é a criatividade; e toda a Existência está continuamente envolvida em
Criatividade. Essa velha ideia que Deus criou o Mundo em seis dias e depois ficou cansado, e no
sétimo dia descansou, e ainda está a descansar… O seu Domingo ainda não acabou, eu não acho que
a Segunda-Feira irá alguma vez começar… tudo isso é uma ideia idiota. Toda esta bonita Existência
não pode ser criada em seis dias.

Eu costumava ter um costureiro, um velho e bonito Mohammedeano. Eu ia ter uma longa viagem,
então perguntei-lhe, “Quero as minhas roupas preparadas para Sábado há noite, ainda faltam seis
dias, então não te ponhas com brincadeiras!” Porque no Mundo inteiro, por alguma razão, não se
pode confiar nos costureiros. Isso faz parte da sua profissão.

Ele retorquiu, “Se tu quiseres, farei-as em seis dias. Mas antes que perguntes, olha para o Mundo.”

Eu, “O que queres dizer?”

Ele, “Estou a falar de Deus, que criou o Mundo em seis dias — e que confusão! Então não me venhas
dizer que as mangas estão longas, ou que o casaco está curto, ou que o pescoço está muito apertado
— vai ser uma confusão. Se nem mesmo Deus foi capaz — e eu sou apenas um pobre Homem.”
Então disselhe, “OK, leva o tempo que precisares, mas as minhas roupas tem de ficar bem. Eu posso
adiar a viagem.”

Mas essa ideia de que Deus criou o Mundo não é assente em qualquer tipo de evidência. Não há uma
única testemunha. Pela própria natureza do caso não pode haver testemunhas, porque se uma
testemunha estivesse lá, significaria que o Mundo já lá estava. E isso também é estúpido, porque os
Cristãos pensam que Deus criou o Mundo há exatamente quatro mil anos e quatro dias antes de Jesus
ter nascido. De certeza que ele começou no primeiro dia de Janeiro, numa segunda-feira. Mas uma
Pessoa interroga-se o que ele fazia antes disso… em toda a Eternidade passada.

Que tipo de Deus é esse, que tipo de Criador é esse? E se ele esperou tanto tempo, qual seria a
necessidade de criar agora, e fazer as Pessoas miseráveis desnecessariamente? Ele poderia ter
esperado mais tempo. As Pessoas que acreditam nessa história — e tem de acreditar, pois está
escrito nas suas escrituras sagradas — não conseguem arranjar uma única razão do porque ele ter
decidido de repente criar o Mundo. E se a causa da criação do Mundo veio do exterior, quer dizer
que o Mundo já existia. Deve ter vindo do seu interior; daí eu querer mudar toda a estrutura dessa
história.

Para mim Deus é a própria criação: sempre esteve aqui, e sempre vai estar. Deus não é uma Pessoa
separada da Existência; Deus é toda a Partícula, toda a Célula, todo o Átomo da Existência. Ele é a
nossa Existência, a nossa Vida, o nosso Amor, a nossa Verdade.

Ram Fakeer, tu começaste em grande, sem nada saber. Nada pode ser maior do que isso. Nesse não-
saber, muitas, muitas Flores irão florescer; nesse não-saber uma humildade autêntica irá crescer;
nesse não-saber tu encontrarás uma gratitude gigantesca. De que tu estás aqui, neste momento… A
Pessoa que conhece está coberto com tanto pó — e do sujo. O seu espelho está coberto com tantas
camadas de conhecimento que acaba por deixar de refletir.

Não saber significa que todo o pó foi removido, o teu espelho encontra-se limpo. Agora podes
refletir o brilho das Estrelas mais longínquas.

“Nada saber, sem qualquer tipo de sofisticação e como uma Criança, Sonhos e Ambições estão a ser
esfrangalhados e o Futuro é completamente desconhecido.”

Essa é a beleza do Futuro. Se fosse conhecido, seria muito feio. Se soubesses que amanhã a tua
Mulher te beijaria… O Beijo em si é uma tortura bem grande, mas sabê-lo de antemão — não
poderias dormir durante a noite inteira porque a manhã estaria a aproximar-se.

Se soubesses o Futuro, a Vida perderia toda a Aventura, todo o seu Ecstasy, todo o seu Mistério. É o
Desconhecido que, a todo o momento, mantém-te surpreso uma vez atrás da outra. O Homem que
sabe tudo sobre o Futuro — pensem só na sua Miséria. Ele sabe que naquela data concreta, passados
trinta anos, “Eu vou morrer.” Ele sabe que naquela data concreta, com uma certa Mulher, “Eu vou-me
casar.” Ele sabe o que vai acontecer depois do Casamento… todos os dias vai haver confusão, todos
os dias uma luta.

Mesmo assim as Pessoas são estranhas; vão aos Astrólogos, às Pessoas que lêem as palmas das mãos
para saberem sobre o Futuro. Elas não estão satisfeitas em saber o Passado. O Passado já as torturou
muito, já sofreram muito — mesmo assim querem mais sofrimento.

Certa vez trouxeram-me um Astrólogo à minha presença, em Calcutá; ele era muito famoso nessa
parte do País. Eu estava com um Homem muito bonito — raramente as pessoas cruzam com um
Homem assim — o seu nome era Sohanlal Dugar. Nós tinhamo-nos conhecido num encontro bem
estranho em Jaipur. Eu estava a falar com uma multidão e ele estava presente. Eu não tinha a mínima
ideia de quem ele era — era um dos Homens mais ricos do País, e de certeza o mais rico de Calcutá.

Depois de me ouvir, aproximou-se de mim com um grande maço de notas, tocou nos meus pés, e
colocou as notas mesmo ao lado dos meus pés. Eu disse, “Aceito o teu Amor, o teu respeito, mas das
notas não preciso. Se alguma vez precisar de dinheiro… podes deixar a tua morada comigo.”

Quando eu recusei — ele tinha quase setenta e cinco anos de idade — lágrimas, grandes lágrimas
começaram a sair dos seus olhos. Eu disse, “Magoei-te?”

Ele, “Tu não entendes a minha Miséria e Pobreza. Eu sou um dos Homens mais ricos do País, mas eu
apenas tenho dinheiro e nada mais. Então, quando alguém recusa o meu dinheiro, recusou-me. Eu
nada mais tenho para te dar. Podes aceitá-lo e queimá-lo à minha frente — isso é contigo. Quando o
aceitas, o que fazes com ele não me diz respeito, mas não o podes rejeitar. Eu sou um Homem muito
pobre, porque não tenho nada mais do que dinheiro.”

Foi muito difícil; eu aceitei o dinheiro e dei-o à Organização que tinha preparado as Conferências
para mim, mas o velho Homem tornou-se num grande Amigo meu. A diferença de idades que
tínhamos nessa altura era muito grande.

Ele falou, “Se tu realmente aceitas-te o dinheiro, sempre que venhas a Calcutá tens de ficar na minha
casa.”

Eu, “Não há problema, eu ficarei na tua casa.”

Ele era realmente uma grande Alma. Toda a sua Casa tinha ar-condicionado centralizado; era um
Palácio. Quando Calcutá era a capital da Índia, antes de passar a ser Nova Delí, costumava ser o
Palácio do Governador. Não havia Mosquitos, nem Moscas — mesmo assim, enquanto eu comia, ele
sentava-se há minha frente, da velha forma indiana, com um pequeno leque na sua mão, e punha-o a
abanar. Eu dizia, “Não há Moscas, nem Mosquitos, e a Casa tem Ar-Condicionado centralizado, é
bem fresca; o teu abanar do leque é completamente desnecessário, senta-te apenas ao meu lado.”

E ele, “Não, porque eu sou um apostador. Hoje sou o Homem mais rico, mas amanhã posso não o ser.
Este Palácio pode desaparecer, este Ar-Condicionado pode desaparecer. Mas tu prometeste que irias
ficar na minha Casa, então não preciso deste Ar-Condicionado nem deste Palácio. Aí, apenas este
leque irá estar aí para te dar um pouco de frescura e para afugentar os Mosquitos.”

Eu, “Isso é ter muita preocupação com o Futuro. Se tal acontecer, então podes fazê-lo; mas agora?”

Ele, “Eu vivo de acordo com o que me dizem as palmas da minha mão, e a Astrologia — e eu chamei
o meu melhor Astrólogo para ver o gráfico do teu nascimento e a tua mão.”

Eu não conseguia ferir os sentimentos do velho Homem, então disselhe, “OK, quando ele chegar…”
O Astrólogo chegou e eu disselhe, “Eu não acredito em Astrologia. Mesmo que seja verdade, eu
quero que sejam destruídas as Ciências que permitam ver o Futuro. O Futuro deve permanecer
desconhecido. Mas não há qualquer necessidade de destruir, pois é uma Ciência fraudulenta, e eu vou
provar-te isso.”

Ele, “Tu não sabes… eu sou o maior Astrólogo de Bengali. Vamos ver como é que podes provar
isso.” Ele disse muitas coisas sobre o meu Futuro e depois pediu para ser pago. Queria cobrar mil
rupia, e eu disse a Sohanlal Dugar, “Tu não lhe vais pagar. Eu tratarei deste assunto.”

Então o velho Homem ficou em silêncio. O Astrólogo perguntou novamente pelo seu pagamento. Eu
disselhe, “Tu deverias saber que este Homem não te iria pagar. Tu nem sequer sabes o Futuro daquilo
que está tão próximo — dentro de cinco minutos este Homem vai recusar… e tu falas da minha Vida
toda. Tu nem sequer sabes sobre a tua própria Vida: que mil rupias foram à vida. Esta é a minha
prova de que isto é uma Pseudo-Ciência. Tu consegues enganar as Pessoas porque elas estão muito
interessadas em conhecer o seu Futuro. Elas não entendem que se o soubessem, a Vida perderia todo
o seu sumo. Quando nasces, poderias trazer contigo um pequeno cartão, com tudo o que vai
acontecer, escrito nele. E achas que assim a Vida valeria a pena ser vivida?”

A Vida tem Excitação e Ecstasy porque o Futuro é desconhecido. O não se saber do Futuro é um
fenómeno mais bonito; uma Pessoa não sabe o que vai acontecer no instante a seguir.

Ram Fakeer, tu dizes, “Sinto que me estás a despir. És tu mesmo que está a fazer isso?”

Volto a repetir, Sim, esse é o meu trabalho. No momento em que ficas totalmente nu, acabas de chegar
a Casa. Todas as falsidades se foram, todas as Máscaras, és simplesmente tu, uma Consciência nua.

Sim, essa é a minha profissão.

OK, Vimal?

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