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Teoria da Deriva Continental

A teoria da deriva continental foi postulada pelo meteorologista e geofísico alemão


Alfred Wegener (1880-1930), em 1912 em sua obra “A Origem dos Continentes e
Oceanos”, na qual propõe que os continentes em algum momento no passado compunham
uma só massa de terra a qual deu o nome de Pangeia.
Mas essa ideia de que os continentes se moviam é bem mais antiga. A ideia da
deriva continental surgiu pela primeira vez no final do século XVI, com o trabalho do
cartógrafo Abraham Ortelius de mapeamento, especialmente do Atlantico Sul. Na
ocasião, verificou a similaridade geométrica da costa leste sul americana e da costa oeste
africana. Na sua obra de 1956, Thesaurus Geographicus, Ortelius sugeriu que os
continentes estivessem unidos no passado, pois mesmo para os mapas relativamente
imprecisos da época, ficava evidente o possível encaixe entre os continentes. No entanto,
na época não passou de uma curiosidade que não teve repercussão.
Depois dele podemos citar Francis Bacon, filosofo inglês, que em 1630 apontava o
encaixe perfeito entre as costas africana e sul americana como um quebra cabeça.
Ainda podemos citar o geógrafo Antonio Snider-Pellegrini que desenhou o seu
mapa com os continentes encaixados em 1858. Mas como apenas apresentava apenas o
encaixe geométrico como prova, a ideia foi novamente esquecida.

Ilustração feita pelo geógrafo Antonio Snider-Pellegrini, em 1858, ilustrando a justaposição das
margens africana e americana do Oceano Atlântico. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deriva_continental
Portanto, vários pesquisadores e pensadores, desde o século XVI constataram
similaridades geométrica entre as costas dos continentes, especialmente o sul americano
e o africano e suspeitavam de que em algum momento do passado os continentes estariam
unidos em um único super-continente. No entanto, por muito tempo, as evidências eram
apenas geográficas e essa hipótese não tinha sustentação.
Posteriormente, trabalhos de outras áreas, como da paleontologia, começaram a
apresentar nova evidências. Como as apresentadas por Edward Suess, geólogo austríaco
do final do século XIX, e seus estudos com a Flora Glossopteris. Esse pesquisadora
percebeu semelhanças entre os fósseis de plantas do Permeano na Índia, Austrália, África
do Sul e América do Sul. Eram fósseis Glossopteris (do grego glossa que significa língua,
devido ao formato das folhas), gênero da extinta ordem Glossopteridales por muito tempo
considerado samambaias, atualemten incluídos entre as gimnospermas.
Essa camada estratigráfica contendo os fósseis de Glossopteris forma uma flora
única que ocorre em camadas de carvão logo acima dos depósitos glaciais nesses
continentes do sul. Portanto, na época do Permiano (cerca de 250 milhoes de anos), esses
continentes teriam um clima tropical, favorável ao estabelecimento de uma floresta
tropical suficientemente densa para originar uma camada de carvão perceptível no estrato
sedimentar.
Por isso, Suess propôs o nome de Gondwana para um supercontinente no sul do
planeta que unia todos esses continentes. Mais tarde, até na Antártida e em Madagáscar
se encontraram evidências desses fósseis.
Então, continentes hoje separados por vastos oceanos e de faixa climáticas de
latitude totalmente diferentes, no Permiano compartilharam a mesma faixa latitudinal,
mais próxima ao equador onde seria possível um clima tropical e o estabelecimento de
floresta tropical.
A flora Glossepteris é considerada um fóssil índice (se diz aos fósseis de seres que
viveram em um relativo curto período de tempo, considerando a coluna
cronoestratigráfica, e uma ampla distribuição geográfica) para as sequências gondwânicas
dos carvões permianos. Sobreviveram até o Triássico, período em que se extinguiram.

Distribuição da Flora Glossopteris pelos continentes do sul – Gondwana.


Foi Alfred Wegener, meteorologista alemão, que desenvolveu a teoria da deriva
continental apresentando em sua obra “The origin of continentes and Oceans” em 1912.
Wegener afirmava que os continentes, hoje separados por oceanos, estiveram unidos
numa única massa de terra no passado, por ele denominado de Pangeia (do grego "Terra
única"), do Carbonífero Superior, há cerca de 335 milhões de anos, ao Jurássico superior,
há cerca de 190 milhões de anos. O oceano único ao seu redor seria chamado de
Pantalassa. Dedicou boa parte de sua vida em expedições por todo o planeta reunindo
evidências morfológicas, geológicas, paleontológicas e paleoclimatológicas para apoiar a
sua hipótese, tendo inclusive, perdido a vida por hipotermia em uma de suas expedições
à Groenlândia, em 1930, com 50 anos de idade. Apesar do vasto conhecimento reunido e
das evidências múltiplas apresentadas, Wegener nunca recebeu apoio da comunidade
cientifica.
Alexander du Toit, geólogo sul-africano, foi dos poucos pesquisadores que na época
concordavam com a hipótese de Wegener, tendo desenvolvido argumentos adicionais em
seu livro “Our wandering continentes” (“Nossos continentes errantes”), publicado em
1937. Alexander confrontou os depósitos glaciais do Gondwana no Carbonífeo (cerca de
35º milhões de anos) com os depósitos de carvão da mesma idade encontrados nos
continentes do hemisfério norte. Dessa forma, para entender essa sequencia estratigráfica,
entendeu que os continentes do Gondwana nessa época estariam mais próximo do polo
sul e os continentes do norte estariam na mesma faixa climática latitudinal, próximo ao
equador. E a esse conjunto de continentes mais próximo ao equador deu o nome de
Laurásia.
O ponto vermelho representa a localização
de Londres nos períodos do Permiano
(figura acima) e do Carbonífero (figura
abaixo).

Os estratos sedimentares datados do


Permiano mostram camadas de carvão em
todos os continentes do Gondwana,
evidência de que nesse período existia um
clima apropriado para sustentar florestas
tropicais. Nesses estratos são encontrados
fósseis da Flora Glossopteris.

Os estratos sedimentares datados do


Carbonífero mostram evidências de
geleiras (tilitos e estrias) nos continentes do
Sul (Gondwana). Mas nos continentes do
Norte (Laurásia) temos camadas de carvão,
evidência de que nesse período existia um
clima apropriado para sustentar florestas
tropicais.

Gondwana (“continentes” do sul): América do Sul, África, Índia, Austrália, Antártida e


Madagáscar)
Laurásia (“Continentes” do Norte): América do Norte, Europa, Ásia (sem Índia),
Groenlândia

Podem se dividir em quatro grupos as evidências apontadas por Wegener que apoiam a
hipótese da Deriva Continental:
1. Evidências geomorfológicas: Combinação das áreas litorâneas;
2. Evidências Geológicas: aparência das sequencias da mesma rocha e cadeias de
montanhas da mesma idade em continentes agora separados;
3. Evidências paleoclimáticas: combinação dos depósitos glaciais e zonas
paleoclimáticas;
4. Evidências paleontológicas: semelhanças de muitas plantas e animais cujos
fósseis são encontrados hoje em continentes separados.

1. Evidências geomorfológicas – Ajuste continental


Wegener, como outros antes dele, ficou impressionado com a semelhança entre a
costa dos continentes opostos ao Oceano Atlântico. Mas críticos apontaram que a
configuração dos contornos das costas resulta de processos erosionais e deposicionais e
se modificam continuamente e de forma relativamente rápida considerando o tempo
geológico. Uma abordagem mais realística é ajustar os continentes ao longo do sopé
continental (talude continental), onde a erosão seria mínima.

Em 1965, Sir Edward Bullard, geofísico inglês, mostrou que a melhor combinação
entre os continentes ocorre em uma profundidade de cerca de 2 mil metros. Outras
reconstruções têm confirmado um ajuste preciso entre os continentes quando reunidos
para formar a Pangéia.
Portanto, Wegener não tinha como apoiar essa evidência geomorfológica pois na
época não se havia realizado os mapeamentos batimétricos do fundo dos oceanos com
sonares que permitiu ver que o encaixe perfeito entre os continentes ocorre ao nível da
talude continental a cerca de 2.000 m de profundidade e não ao nível da plataforma,
menos profunda e sujeita aos processos de deposição de sedimentos vindos do continente
e de erosão resultante principalmente da quebra das ondas.

2. Evidências Geológicas – Semelhança das sequencias das rochas e cadeias


de montanhas
Se os continentes estiveram reunidos uma vez, então as rochas e as cadeias de
montanhas da mesma idade em localizações adjacentes em continentes opostos deveriam
ter um ajuste próximo;
As direções das várias cadeias de montanhas também deveriam ser
complementares;
Exemplo 1: sequencias de rochas marinhas e não-marinhas e glaciais do
Pensilvaniano até o Jurássico (320 – 150 M.a) são quase idênticas em todos os 5
continentes do Gondwana
Exemplo 2: As montanhas Apalaches da América do Norte estendem-se para o
norte, através do leste dos Estados Unidos e Canadá e terminam abruptamente no litoral
de Newfoundland. Cadeias montanhosas da mesma idade e configuração deformacional
ocorrem: no leste da Groenlândia, Irlanda, Grã-Bretanha, Noruega e noroeste africano.
Orogenia Caledoniana, também conhecida como Montanhas Caledonianas é uma
etapa de formação de montanhas (orogénese) que formou as cadeias de montanhas que se
estendem do norte das Ilhas Britânicas, Alpes Escandinavos, leste da Gronelândia e partes
da Europa do Norte. A orogenia Calediniana compreende eventos ocorridos desde o
período Ordovícico até ao início do Devónico, cerca de 490-390 milhões de anos atrás.
Foi formada pelo encerramento do Oceano de Jápeto, quando os continentes e extensões
terrestres da Laurência, Báltica e Avalónia colidiram.
Exemplo 3: Cinturão do Cabo: Serra do Cabo (costa sul africana) que seria o
prolongamento da Sierra de La Ventana (Argentina).

3. Evidências Paleoclimáticas
Durante a Era Paleozóica Superior (Carbonifero 350 M.a.), os maciços glaciais
cobriam grandes áreas continentais do hemisfério sul (Gondwana). Estrias (marcas dos
arranhões no leito das rochas) e acima das estrias são evidentes camadas de tilito
(sedimentos depositados pelas geleiras).
Na mesma época, fósseis e rochas sedimentares encontrados nos continentes do
hemisfério norte (Laurásia), não indicam glaciação. Os fósseis de plantas encontrados nas
camadas de carvão dessa época e nesses continentes indicam clima tropical.
Como poderíamos explicar a evidência de geleiras nos continentes do sul se,
atualmente, todos eles exceto a Antártida estão localizados próximos ao equador sobre
climas tropicais e subtropicais? Como explicar que o mapeamento das estrias indica que
as geleiras estavam de movimentando das atuais margens oceânicas para o interior dos
continentes? Os glaciares de movimentando em direção ao Himalaia? Como explicar
fósseis de plantas tropicais em continentes atualmente localizados em zonas temperadas?
Florestas tropicais na Antártida?

A geleiras se movimentam igual aos


Marcas evidentes da passagem de
rios: seguindo o relevo, a topografia
geleiras que derivado ao seu peso
do local por gravidade. No entanto, as
deixam estrias no leito rochoso.
estrias deixadas no leito rochoso
mostram que as geleiras se
direcionavam, por exemplo, em
direção aos Himalaias e aos Andes.

Isso só faz sentido se considerarmos que os continentes se movimentaram ao longo


do tempo, que os continentes do Gondwana já estiveram reunidos em uma única massa
de terra próximo ao Pólo Sul, durante o Carbonífero e que os continentes da Laurásia na
mesma época estiveram mais próximos ao equador. E que os continentes do Gondwana,
milhares de anos depois, no Permiano, compartilharam da mesma faixa climática tropical
sustentando vastas florestas tropicais, justificando fósseis de carvão datados desse
período na Antártida.

4. Evidências paleontológicas
Fósseis da flora Glossopteris são encontrados em depósitos de carvão do Permiano
em todos os continentes do Gondwana que hoje não compartilham da mesma faixa
climática e estão separados por vastos oceanos. No entanto, suas sementes eram muito
pesadas sendo impossível sua dispersão por vento ou flutuando. Como explicar?
O Mesossaurus foi um réptil de água doce, cujos fósseis são encontrados somente
em rochas do Permiano em certas regiões do Brasil e África do Sul. A fisiologia do animal
de água doce não suportaria nadar as longas distâncias que separam hoje esses continentes
através do oceano Atlântico até achar um ambiente de água doce. Como explicar?
O Lystrossaurus e o Cynognathus eram repteis de terra firme do período Triássico,
cujos fósseis são encontrados em todos os continentes do Gondwana. Não poderiam nadas
as longas distâncias através dos oceanos que separam hoje em dia esses continentes.
Como explicar?

Wegener e outros apoiadores tentam explicar através da Hipótese da Deriva


Continental: sugerem que todos os continentes do Gondwana já estiveram unidos no
passado e compartilharam da mesma faixa climática latitudinal. No entanto, as evidências
apresentadas não eram convincentes e não apresentam um mecanismo que explicasse a
movimentação dos continentes. Por esse motivo, essa hipótese foi abandonada por muito
tempo. Até que na década de 50, novos estudos, descobertas e tecnologias trouxeram as
evidências necessárias para sustentar a teoria: estudos paleomagnéticos e os mapeamentos
dos fundos oceânicos através de sonares.

Paleomagnetismo
O paleomagnetismo é o magnetismo rochoso remanescente que registra a direção e a
intensidade do pólo magnético da Terra, no momento da formação da rocha. Quando o
magma resfria na crosta, os minerais ferríferos e magnéticos (como a hematita e
magnetita) alinham-se com o campo magnético da Terra naquele momento, registrando a
sua direção e força.
Podemos considerar 3 nortes: (1) o norte da quadrícula que é a direção que se
encontra o norte considerando um sistema de coordenadas projetado, ou seja, quando se
considera o mapa projetado num plano; (2) o norte magnético, considerando a direção
apontada pela bússola e que é determinado pelo magnetismo da Terra e (3) o norte
verdadeiro ou geográfico que é a direção que leva em conta o eixo da Terra, ou seja, a
linha imaginária entre os polos norte e sul.

Sendo assim, uma rocha recentemente criada, ou seja, magma recentemente


solidificado por resfriamento, irá demonstrar um magnetismo consistente com o atual
campo magnético da Terra. No entanto, um fluxo de lava ou magma antigo fornece um
registro da orientação e força do campo magnético terrestre no momento que esse fluxo
resfriou há milhares ou milhões de anos atrás.
Onde se encontrava o norte magnético no Siluriano? E no Permiano? Se olharmos
o magnetismo remanescente na rocha datadas dessas épocas, rochas da mesma idade, mas
em continentes separados vão apontar para locais diferentes! Por exemplo, a lava siluriana
na América do Norte demonstra que nessa época o polo norte magnético localizava-se no
Oceano Pacífico Ocidental. A lava permiana superior aponta o polo norte magnético para
o norte da Ásia. Na Europa, os minerais magnéticos dos fluxos de lava siluriana e do
permiano superior apontam para diferentes localizações do polo norte magnético em
comparação aqueles da mesma idade da América do Norte. Todos os continentes com
séries de polos magnéticos diferentes! Como explicar?
Sabendo que, só existe um único polo norte magnético e que ele se encontra sempre
próximo ao norte ou sul geográfico, só podemos explicar esse fenômeno admitindo que
os continentes se moveram!

As reversões magnéticas, o mapeamento dos fundos oceânicos e a teoria da expansão


do assoalho oceânico
Os geólogos se referem ao campo magnético atual da Terra como normal: pólos
magnéticos norte e sul localizados aproximadamente nos pólos geográficos norte e sul.
Em 1906, descobre-se que algumas rochas apresentam magnetismo reverso (a seta norte
da bússola apontaria para o sul). Estudos paleomagnéticos mostram claramente que o
campo magnético se reverteu completamente numerosas vezes.
A inversão dos polos magnéticos da Terra, também chamada de inversão
geomagnética, é a mudança de orientação do campo geomagnético terrestre de tal forma
que os polos, Norte e o Sul magnéticos, são invertidos. Essas reversões não estão
aparentemente associadas a nenhum evento de extinção na Terra e ocorrem com uma
periodicidade de cerca de 200.000 anos. A última reversão ocorreu há mais de 700.000
anos. Antes da reversão efetivamente ocorrer, ocorre um período de enfraquecimento do
campo magnético da terra registrado nas rochas.
Ao mesmo tempo de se ampliava o conhecimento paleomagnético das rochas
antigas, também se desenvolveu a tecnologia de sonar e se procedeu aos mapeamentos
das bacias oceânicas. Durante esse mapeamento descobriu-se sistemas de cadeias
montanhosas, sendo a mais conhecida a cadeia mesoatlântica que divide a bacia do
oceano Atlântico. Amostras do fundo oceânico a diversas distancias dessas cadeias e os
estudos paleomagneticos das mesmas levou Hess, em 1962 a porpor a Teoria da Expansão
do Assoalho Oceânico:
• Os continentes não se movem através da crosta oceânica, mas os continentes e a
crosta oceânica se movem em conjunto;
• O assoalho oceânico se separa na cadeia oceânica, onde uma nova crosta é
formada pelo magma ascendente
• Quando o magma resfria, a nova crosta oceânica se afasta lateralmente da cadeia
Como se vê no esquema anterior, as rochas da crosta oceânica possuem uma
sucessão de faixas de anomalias magnéticas, paralelas e simétricas com as cadeias
oceânicas e essas faixas magnéticas representam tempos de polaridade normal ou reversa.
Assim, Hess propõe como mecanismo condutor as correntes de convecção termais
do manto: o magma quente se eleva do manto, irrompe ao longo das fraturas, edificando
as cadeias mesoceânicas e, assim, forma uma nova crosta. A crosta fria é subductada de
volta ao manto em fossas oceânica, onde ela é aquecida e reciclada
A medida que me afasto da cadeia meso-oceanica (zonas de divergência de placas,
onde tem injeção de novo material vindo da astenosfera ou mesosfera) e me aproximo
dos continentes (zonas de subdução ou convergência de placas, onde elas afundam e se
reciclam) as rochas são progressivamente mais antigas.

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