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Prefeitura Municipal de Serra/ES

Professor MAPA - Séries Iniciais

Língua Portuguesa
Compreensão e interpretação de texto. ..........................................................................................................................1
Tipologia e gêneros textuais. .............................................................................................................................................6
Figuras de linguagem. ...................................................................................................................................................... 16
Significação de palavras e expressões.Relações de sinonímia e de antonímia. ..................................................... 20
Ortografia............................................................................................................................................................................ 26
Acentuação gráfica. ........................................................................................................................................................... 33
Uso da crase. ...................................................................................................................................................................... 39
Fonética e Fonologia: som e fonema, encontros vocálicos e consonantais e dígrafos. ........................................ 38
Morfologia: classes de palavras variáveis e invariáveis e seus empregos no texto. Locuções verbais (perífrases
verbais). ............................................................................................................................................................................. 41
Funções do “que” e do “se”. ............................................................................................................................................. 62
Formação de palavras. ..................................................................................................................................................... 64
Elementos de comunicação. ........................................................................................................................................... 66
Sintaxe: relações sintático-semânticas estabelecidas entre orações, períodos ou parágrafos (período simples
e período composto por coordenação e subordinação). ........................................................................................... 69
Concordância verbal e nominal. .................................................................................................................................... 80
Regência verbal e nominal. ............................................................................................................................................. 83
Colocação pronominal. .................................................................................................................................................... 87
Emprego dos sinais de pontuação e sua função no texto. ......................................................................................... 88
Elementos de coesão. Função textual dos vocábulos. ................................................................................................ 93
Variação linguística. ........................................................................................................................................................101

Raciocínio Lógico e Matemático


Resolução de problemas envolvendo frações, conjuntos, porcentagens, sequências (com números, com figuras,
de palavras). .........................................................................................................................................................................1
Raciocínio lógico-matemático: proposições, conectivos, equivalência e implicação lógica, argumentos
válidos. ................................................................................................................................................................................ 19

Conhecimentos Pedagógicos
Currículo, cultura, subjetividades e processos educativos; .........................................................................................1
Educação, trabalho e sociedade; ..................................................................................................................................... 22
História da Educação; ...................................................................................................................................................... 34
Processo ensino-aprendizagem ..................................................................................................................................... 45
Gestão pedagógica; ........................................................................................................................................................... 51
Avaliação da aprendizagem escolar; ............................................................................................................................. 57
Projeto político-pedagógico ........................................................................................................................................... 67
Planejamento de ensino; ................................................................................................................................................. 74
Teorias e tendências e pedagógicas. ............................................................................................................................. 83
Conhecimentos Específicos
Práticas de linguagem: oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise
linguística/semiótica ...........................................................................................................................................................1
Alfabetização ...................................................................................................................................................................... 14
Currículo; Avaliação do/no processo de alfabetização .............................................................................................. 18
Conceito de Ensino e Aprendizagem ............................................................................................................................. 27
Noções de Planejamento de Ensino: Objetivos, Conteúdos, Estratégias, Recursos e Avaliação; ........................ 34
Didática e Metodologia do Ensino em Anos Iniciais.................................................................................................... 43
As inovações tecnológicas e sua utilização no processo de ensino-aprendizagem ............................................... 50
Educação integral e educação em tempo Integral ....................................................................................................... 57
Números e operações: uso do sistema numérico, números naturais, análise, interpretação e resolução de
situações-problema, compreendendo a soma, a subtração, a multiplicação e a divisão. ..................................... 68
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LÍNGUA PORTUGUESA
APOSTILAS OPÇÃO

de coesão, a melhor atitude é ler atentamente o seu texto,


procurando estabelecer as possíveis relações entre palavras
que formam a oração e as orações que formam o período e,
finalmente, entre os vários períodos que formam o texto. Um
texto bem trabalhado sintática e semanticamente resulta num
texto coeso.

Compreensão e interpretação Coerência


de texto.
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de
estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é que faz com
COMPREENSÃO DO TEXTO que o texto tenha sentido para quem lê. Na avaliação da
coerência será levado em conta o tipo de texto. Em um texto
Há duas operações diferentes no entendimento de um dissertativo, será avaliada a capacidade de relacionar os
texto. A primeira é a apreensão, que é a captação das relações argumentos e de organizá-los de forma a extrair deles
que cada parte mantém com as outras no interior do texto. No conclusões apropriadas; num texto narrativo, será avaliada
entanto, ela não é suficiente para entender o sentido integral. sua capacidade de construir personagens e de relacionar ações
Uma pessoa que conhecesse todas as palavras do texto, mas e motivações.
não conhecesse o universo dos discursos, não entenderia o
significado do mesmo. Por isso, é preciso colocar o texto Tipos de Composição
dentro do universo discursivo a que ele pertence e no interior
do qual ganha sentido. Alguns teóricos chamam o universo Descrição: é representar verbalmente um objeto, uma
discursivo de “conhecimento de mundo”, mas chamaremos essa pessoa, um lugar, mediante a indicação de aspectos
operação de compreensão. característicos, de pormenores individualizantes. Requer
E assim teremos: observação cuidadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito
um modelo inconfundível. Não se trata de enumerar uma série
Apreensão + Compreensão = Entendimento do texto de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir
uma impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é
Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis muito mais que fotografar. É pintar, é criar. Por isso, impõe-se
de leitura, sendo a primeira a informativa e a segunda à de o uso de palavras específicas, exatas.
reconhecimento.
A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais
primeiro contato com o texto, extraindo-se informações e se ou imaginários. São seus elementos constitutivos:
preparando para a leitura interpretativa. Durante a personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o incidente,
interpretação grife palavras-chave, passagens importantes; o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de
tente ligar uma palavra à ideia central de cada parágrafo. personagens atuantes, que estão quase sempre em conflito. A
A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas narração envolve:
e opções de respostas. Marque palavras como não, exceto, - Quem? Personagem;
respectivamente, etc., pois fazem diferença na escolha - Quê? Fatos, enredo;
adequada. - Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos;
Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. - Onde? O lugar da ocorrência;
Leia a frase anterior e posterior para ter ideia do sentido global - Como? O modo como se desenvolveram os
proposto pelo autor. acontecimentos;
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias - Por quê? A causa dos acontecimentos;
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto
pela ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a Dissertação: é apresentar ideias, analisá-las, é estabelecer
conclusão do texto. um ponto de vista baseado em argumentos lógicos; é
A alusão histórica serve para dividir o texto em pontos estabelecer relações de causa e efeito. Aqui não basta expor,
menores, tendo em vista os diversos enfoques. narrar ou descrever, é necessário explanar e explicar. O
Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da raciocínio é que deve imperar neste tipo de composição, e
mudança de linha e um espaçamento da margem esquerda. quanto maior a fundamentação argumentativa, mais brilhante
Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico será o desempenho.
frasal, ou seja, a ideia central extraída de maneira clara e
resumida. Sentidos Próprio e Figurado
Atentando-se para a ideia principal de cada parágrafo,
asseguramos um caminho que nos levará à compreensão do Comumente afirma-se que certas ocorrências de discurso
texto. têm sentido próprio e sentido figurado. Geralmente os
Produzir um texto é semelhante à arte de produzir um exemplos de tais ocorrências são metáforas. Assim, em “Maria
tecido, o fio deve ser trabalhado com muito cuidado para que é uma flor” diz-se que “flor” tem um sentido próprio e um
o trabalho não se perca. Por isso se faz necessária a sentido figurado. O sentido próprio é o mesmo do enunciado:
compressão da coesão e coerência. “parte do vegetal que gera a semente”. O sentido figurado é o
mesmo de “Maria, mulher bela, etc.” O sentido próprio, na
Coesão acepção tradicional não é próprio ao contexto, mas ao termo.
O sentido tradicionalmente dito próprio sempre
É a amarração entre as várias partes do texto. Os principais corresponde ao que definimos aqui como sentido imediato do
elementos de coesão são os conectivos e vocábulos enunciado. Além disso, alguns autores o julgam como sendo o
gramaticais, que estabelecem conexão entre palavras ou sentido preferencial, o que comumente ocorre.
partes de uma frase. O texto deve ser organizado por nexos O sentido dito figurado é o do enunciado que substitui a
adequados, com sequência de ideias encadeadas logicamente, metáfora, e que em leitura imediata leva à mesma mensagem
evitando frases e períodos desconexos. Para perceber a falta que se obtém pela decifração da metáfora.

Língua Portuguesa 1
APOSTILAS OPÇÃO

O conceito de sentido próprio nasce do mito da existência Na verdade, não existe o leitor absolutamente ingênuo, que
da leitura ingênua, que ocorre esporadicamente, é verdade, se comporte como uma máquina de ler, o que faz do conceito
mas nunca mais que esporadicamente. de leitura imediata apenas um pressuposto metodológico. O
Não há muito que criticar na adoção dos conceitos de que existe são ocorrências eventuais que se aproximam de
sentido próprio e sentido figurado, pois ela abre um caminho uma leitura imediata, como quando alguém toma o sentido
de abordagem do fenômeno da metáfora. O que é passível de literal pelo figurado, quando não capta uma ironia ou fica
crítica é a atribuição de status diferenciado para cada uma das perplexo diante de um oximoro.
categorias. Tradicionalmente o sentido próprio carrega uma Há quem chame o discurso que admite leitura imediata de
conotação de sentido “natural”, sentido “primeiro”. grau zero da escritura, identificando-a como uma forma mais
Invertendo a perspectiva, com os mesmos argumentos, primitiva de expressão. Esse grau zero não tem realidade, é
poderíamos afirmar que “natural”, “primeiro” é o sentido apenas um pressuposto. Os recursos de Retórica são
figurado, afinal, é o sentido figurado que possibilita a correta anteriores a ele.
interpretação do enunciado e não o sentido próprio. Se o
sentido figurado é o “verdadeiro” para o enunciado, por que Sentido Preferencial
não chamá-lo de “natural”, “primeiro”? Para compreender o sentido preferencial é preciso
Pela lógica da Retórica tradicional, essa inversão de conceber o enunciado descontextualizado ou em contexto de
perspectiva não é possível, pois o sentido figurado está dicionário. Quando um enunciado é realizado em contexto
impregnado de uma conotação desfavorável. O sentido muito rarefeito, como é o contexto em que se encontra uma
figurado é visto como anormal e o sentido próprio, não. Ele palavra no dicionário, dizemos que ela está
carrega uma conotação positiva, logo, é natural, primeiro. descontextualizada. Nesta situação, o sentido preferencial é o
A Retórica tradicional é impregnada de moralismo e que, na média, primeiro se impõe para o enunciado. Óbvio, o
estetização e até a geração de categorias se ressente disso. sentido que primeiro se impõe para um receptor pode não ser
Essa tendência para atribuir status às categorias é uma o mesmo para outro. Por isso a definição tem de considerar o
constante do pensamento antigo, cuja índole era resultado médio, o que não impede que pela necessidade
hierarquizante, sempre buscando uma estrutura piramidal momentânea consideremos o significado preferencial para
para o conhecimento, o que se estende até hoje em algumas dado indivíduo.
teorias modernas. Algumas regularidades podem ser observadas nos
Ainda hoje, apesar da imparcialidade típica e necessária ao significados preferenciais. Por exemplo: o sentido preferencial
conhecimento científico, vemos conotações de valor sendo da palavra porco costuma ser: “animal criado em granja para
atribuídas a categorias retóricas a partir de considerações abate”, e nunca o de “indivíduo sem higiene”. Em outras
totalmente externas a ela. Um exemplo: o retórico que tenha palavras, geralmente o sentido que admite leitura imediata se
para si a convicção de que a qualidade de qualquer discurso se impõe sobre o que teve origem em processos metafóricos,
fundamenta na sua novidade, originalidade, imprevisibilidade, alegóricos, metonímicos. Mas esta regra não é geral. Vejamos
tenderá a descrever os recursos retóricos como “desvios da o seguinte exemplo: “Um caminhão de cimento”. O sentido
normalidade”, pois o que lhe interessa é pôr esses recursos preferencial para a frase dada é o mesmo de “caminhão
retóricos a serviço de sua concepção estética. carregado com cimento” e não o de “caminhão construído com
cimento”. Neste caso o sentido preferencial é o metonímico, o
Sentido Imediato que contrapõe a tese que diz que o sentido “figurado” não é o
“primeiro significado da palavra”. Também é comum o sentido
Sentido imediato é o que resulta de uma leitura imediata mais usado se impor sobre o menos usado.
que, com certa reserva, poderia ser chamada de leitura Para certos termos é difícil estabelecer o sentido
ingênua ou leitura de máquina de ler. preferencial. Um exemplo: Qual o sentido preferencial de
Uma leitura imediata é aquela em que se supõe a existência manga? O de fruto ou de uma parte da roupa?
de uma série de premissas que restringem a decodificação tais
como: Questões
- As frases seguem modelos completos de oração da língua.
- O discurso é lógico. 01. (SEDS/PE - Sargento Polícia Militar -
- Se a forma usada no discurso é a mesma usada para MS/CONCURSOS) O preenchimento adequado da manchete:
estabelecer identidades lógicas ou atribuições, então, tem-se, “Pelé afirma que a seleção está bem, ______Portugal e Espanha
respectivamente, identidade lógica e atribuição. também estão bem preparadas.” faz parte de um recurso de:
- Os significados são os encontrados no dicionário.
- Existe concordância entre termos sintáticos. (A) Adequação vocabular.
- Abstrai-se a conotação. (B) Falta de coesão.
- Supõe-se que não há anomalias linguísticas. (C) Incoerência.
- Abstrai-se o gestual, o entoativo e editorial enquanto (D) Coesão.
modificadores do código linguístico. (E) Coerência.
- Supõe-se pertinência ao contexto.
- Abstrai-se iconias. 02. (SEDUC/PI - Professor - NUCEP) O sentido da frase:
- Abstrai-se alegorias, ironias, paráfrases, trocadilhos, etc. Equivale dizer, ainda, que nós somos sujeitos de nossa história
- Não se concebe a existência de locuções e frases feitas. e de nossa realidade, considerando-se a palavra destacada,
- Supõe-se que o uso do discurso é comunicativo. Abstrai- continuará inalterado, em:
se o uso expressivo, cerimonial.
(A) Equivale dizer, talvez, que nós somos sujeitos de nossa
Admitindo essas premissas, o discurso será indecifrável, história e de nossa realidade.
ininteligível ou compreendido parcialmente toda vez que nele (B) Equivale dizer, por outro lado, que nós somos sujeitos
surgirem elipses, metáforas, metonímias, oximoros, ironias, de nossa história e de nossa realidade.
alegorias, anomalias, etc. Também passam despercebidas as (C) Equivale dizer, preferencialmente, que nós somos
conotações, as iconias, os modificadores gestuais, entoativos, sujeitos de nossa história e de nossa realidade.
editoriais, etc. (D) Equivale dizer, novamente, que nós somos sujeitos de
nossa história e de nossa realidade.

Língua Portuguesa 2
APOSTILAS OPÇÃO

(E) Equivale dizer, também, que nós somos sujeitos de O termo gavião, destacado em sua última ocorrência no
nossa história e de nossa realidade. texto – … pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em
outro homem. –, é empregado com sentido:
03. (TJ/SP - Agente de Fiscalização Judiciária -
VUNESP) (A) próprio, equivalendo a inspiração.
(B) próprio, equivalendo a conquistador.
No fim da década de 90, atormentado pelos chás de cadeira (C) figurado, equivalendo a ave de rapina.
que enfrentou no Brasil, Levine resolveu fazer um (D) figurado, equivalendo a alimento.
levantamento em grandes cidades de 31 países para descobrir (E) figurado, equivalendo a predador.
como diferentes culturas lidam com a questão do tempo. A
conclusão foi que os brasileiros estão entre os povos mais Gabarito
atrasados - do ponto de vista temporal, bem entendido - do 01. D / 02. E / 03. D / 04. E
mundo. Foram analisadas a velocidade com que as pessoas
percorrem determinada distância a pé no centro da cidade, o INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
número de relógios corretamente ajustados e a eficiência dos
correios. Os brasileiros pontuaram muito mal nos dois A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
primeiros quesitos. No ranking geral, os suíços ocupam o conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
primeiro lugar. O país dos relógios é, portanto, o que tem o apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade, é
povo mais pontual. Já as oito últimas posições no ranking são dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
ocupadas por países pobres. qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo,
O estudo de Robert Levine associa a administração do narrativo, possibilidades que se misturam e as tornam
tempo aos traços culturais de um país. "Nos Estados Unidos, infinitas. É preciso, para uma boa leitura, exercitar-se na arte
por exemplo, a ideia de que tempo é dinheiro tem um alto valor de pensar, de captar ideias, de investigar as palavras… Para
cultural. Os brasileiros, em comparação, dão mais importância isso, devemos entender, primeiro, algumas definições
às relações sociais e são mais dispostos a perdoar atrasos", diz importantes:
o psicólogo. Uma série de entrevistas com cariocas, por
exemplo, revelou que a maioria considera aceitável que um Texto
convidado chegue mais de duas horas depois do combinado a O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
uma festa de aniversário. Pode-se argumentar que os organização e transmissão de ideias, conceitos e informações
brasileiros são obrigados a ser mais flexíveis com os horários de modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro,
porque a infraestrutura não ajuda. Como ser pontual se o um símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma
trânsito é um pesadelo e não se pode confiar no transporte novela de televisão também são formas textuais.
público?
(Veja, 2009.)
Interlocutor
Há emprego do sentido figurado das palavras em: É a pessoa a quem o texto se dirige.
(A) ... os brasileiros estão entre os povos mais atrasados...
(B) No ranking geral, os suíços ocupam o primeiro lugar. Texto-modelo
(C) Os brasileiros ... dão mais importância às relações “Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
sociais... uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
(D) Como ser pontual se o trânsito é um pesadelo... Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
(E) ... não se pode confiar no serviço público? Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado
com outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê?
04. (UNESP - Assistente Administrativo - (…)
VUNESP/2016) É normal você querer o máximo de atenção do seu
namorado, das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte
O gavião mais importante da sua vida.”
(Revista Capricho)
Gente olhando para o céu: não é mais disco voador. Disco
voador perdeu o cartaz com tanto satélite beirando o sol e a Modelo de Perguntas
lua. Olhamos todos para o céu em busca de algo mais 1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar
sensacional e comovente – o gavião malvado, que mata quem é o seu interlocutor preferencial?
pombas. Um leitor jovem.
O centro da cidade do Rio de Janeiro retorna assim à
contemplação de um drama bem antigo, e há o partido das 2) Quais são as informações (explícitas ou não) que
pombas e o partido do gavião. Os pombistas ou pombeiros permitem a você identificar o interlocutor preferencial do
(qualquer palavra é melhor que “columbófilo”) querem matar texto?
o gavião. Os amigos deste dizem que ele não é malvado tal; na Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
verdade come a sua pombinha com a mesma inocência com preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
que a pomba come seu grão de milho. acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista
Não tomarei partido; admiro a túrgida inocência das Capricho tem como público-alvo preferencial: meninas
pombas e também o lance magnífico em que o gavião se adolescentes.
despenca sobre uma delas. Comer pombas é, como diria Saint- A linguagem informal típica dos adolescentes.
Exupéry, “a verdade do gavião”, mas matar um gavião no ar
com um belo tiro pode também ser a verdade do caçador. 09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE
Que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente TEXTOS
o gavião; ao homem, se não houver outro bicho que o mate, 01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro assunto;
homem. 02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa
(Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana, 1999) a leitura;
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto

Língua Portuguesa 3
APOSTILAS OPÇÃO

pelo menos duas vezes; calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
04) Inferir; considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; prioridade sobre os automotores.
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à
autor; bicicleta no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade,
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor pois as bikes não emitem gases nocivos ao ambiente, não
compreensão; consomem petróleo e produzem muito menos sucata de
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada metais, plásticos e borracha; a diminuição dos
questão; congestionamentos por excesso de veículos motorizados, que
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las; atingem principalmente as grandes cidades; o favorecimento
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para- da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito bom; e a
melhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas/ economia no combustível, na manutenção, no seguro e, claro,
nos impostos.
Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar No Brasil, está sendo implantado o sistema de
inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O exemplo, o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da
mundo moderno cobra de nós inúmeras competências, uma Prefeitura, em parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA,
delas é a proficiência na língua, e isso não se refere apenas a com quase um ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São
uma boa comunicação verbal, mas também à capacidade de Paulo, Santos, Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país
entender aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional aderirem a esse sistema, mais duas capitais já estão com o
está relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas projeto pronto em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do
do código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura compartilhamento é semelhante em todas as cidades. Em
interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e Porto Alegre, os usuários devem fazer um cadastro pelo site. O
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise valor do passe mensal é R$ 10 e o do passe diário, R$ 5,
de textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar podendo-se utilizar o sistema durante todo o dia, das 6h às
suas dúvidas. 22h, nas duas modalidades. Em todas as cidades que já
Uma interpretação de texto competente depende de aderiram ao projeto, as bicicletas estão espalhadas em pontos
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar estratégicos.
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção não
vezes, apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não sabem
em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz que a bicicleta já é considerada um meio de transporte, ou
suficiente, o que não é verdade. Interpretar demanda paciência desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de um
e, por isso, sempre releia, pois uma segunda leitura pode trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas,
apresentar aspectos surpreendentes que não foram ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas
observados anteriormente. Para auxiliar na busca de sentidos vezes, discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
do texto, você pode também retirar dele os tópicos frasais Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
apreensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso é
parágrafos não estão organizados, pelo menos em um bom tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
texto, de maneira aleatória, se estão no lugar que estão, é maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
porque ali se fazem necessários, estabelecendo uma relação caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos e
supracitadas ou apresentando novos conceitos. deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para
costumam conceder espaço para divagações ou hipóteses, poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro,
supostamente contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com
ideias do autor, isso não quer dizer que você precise ficar preso campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e
na superfície do texto, mas é fundamental que não criemos, à nos pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo.
revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com (Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado)
cuidado certamente incorre menos no risco de tornar-se um
analfabeto funcional e ler com atenção é um exercício que deve 01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de
ser praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de locomoção nas metrópoles brasileiras
nós leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece (A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra
nossas dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos! devido à falta de regulamentação.
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa- (B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido
interpretacao-texto.html incentivado em várias cidades.
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela
Questões maioria dos moradores.
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os
O uso da bicicleta no Brasil demais meios de transporte.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil arriscada e pouco salutar.
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta 02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez objetivos centrais do texto é
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa (A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que ciclista.
oferecem mais vantagens. (B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas e mais seguro do que dirigir um carro.
a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais na

Língua Portuguesa 4
APOSTILAS OPÇÃO

(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
no Brasil. E com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir, mas
de locomoção se consolidou no Brasil. também se engajam num comportamento de risco – algumas
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista até agem especificamente para irritar o outro motorista ou
deve dar prioridade ao pedestre. impedir que este chegue onde precisa.
Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá ter
03. Considere o cartum de Evandro Alves. antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando um
motorista a tomar decisões irracionais.
Afogado no Trânsito Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocionante.
Para muitos de nós, os carros são a extensão de nossa
personalidade e podem ser o bem mais valioso que possuímos.
Dirigir pode ser a expressão de liberdade para alguns, mas
também é uma atividade que tende a aumentar os níveis de
estresse, mesmo que não tenhamos consciência disso no
momento.
Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez que
entra no trânsito, você se junta a uma comunidade de outros
motoristas, todos com seus objetivos, medos e habilidades ao
volante. Os psicólogos Leon James e Diane Nahl dizem que um
dos fatores da ira de trânsito é a tendência de nos
concentrarmos em nós mesmos, descartando o aspecto
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br)
comunitário do ato de dirigir.
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito, o Dr.
Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto James acredita que a causa principal da ira de trânsito não são
concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum os congestionamentos ou mais motoristas nas ruas, e sim
é como nossa cultura visualiza a direção agressiva. As crianças
(A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas. aprendem que as regras normais em relação ao
(B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas. comportamento e à civilidade não se aplicam quando
(C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas. dirigimos um carro. Elas podem ver seus pais envolvidos em
(D) o número excessivo de automóveis nas ruas. comportamentos de disputa ao volante, mudando de faixa
(E) o uso de novas tecnologias no transporte público. continuamente ou dirigindo em alta velocidade, sempre com
pressa para chegar ao destino.
04. Considere o cartum de Douglas Vieira. Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos
sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era
Televisão descarregar a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a
descarga de frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma
situação de ira de trânsito, a descarga de frustrações pode
transformar um incidente em uma violenta briga.
Com isso em mente, não é surpresa que brigas violentas
aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas está
predisposta a apresentar um comportamento irracional
quando dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a maior
parte das pessoas fica emocionalmente incapacitada quando
dirige. O que deve ser feito, dizem os psicólogos, é estar ciente
de seu estado emocional e fazer as escolhas corretas, mesmo
quando estiver tentado a agir só com a emoção.
(Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.uol.com.br/furia-no-
transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013. Adaptado)
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br. Adaptado)
05. Tomando por base as informações contidas no texto, é
É correto concluir que, de acordo com o cartum , correto afirmar que
(A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro (A) os comportamentos de disputa ao volante acontecem à
ou pela TV são equivalentes. medida que os motoristas se envolvem em decisões
(B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma conscientes.
imaginação mais ativa. (B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são causadas
(C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém pela constante preocupação dos motoristas com o aspecto
que não sabe se distrair. comunitário do ato de dirigir.
(D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto (C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas é o
assistir a um programa de televisão. principal motivo que provoca, nos motoristas, uma direção
(E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo agressiva.
idêntico, embora ler seja mais prazeroso. (D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de
experiências e atividades não só individuais como também
Leia o texto para responder às questões: sociais.
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle das
Propensão à ira de trânsito emoções positivas por parte dos motoristas.

Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente Gabarito


perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como 1. B / 2. A / 3. D / 4. B / 5. D

Língua Portuguesa 5
APOSTILAS OPÇÃO

primeiro lugar e ler o texto do fim para o começo: O mestre era


Tipologia e gêneros mais severo com ele do que conosco. Entrava na escola depois
textuais. do pai e retirava-se antes...

Estrutura
TIPOS TEXTUAIS
Introdução: Primeiramente é feita a identificação do ser
É a forma como um texto se apresenta. É importante que ou objeto que será descrito, de modo a que o leitor foque sua
não se confunda tipo textual com gênero textual. atenção nesse ser ou objeto.
Existe uma variedade enorme de entendimentos sobre a Desenvolvimento: Ocorre então a descrição do objeto ou
forma correta de definir os tipos de texto. Embora haja uma ser em foco, apresentando seus aspectos mais gerais e mais
discordância entre várias fontes sobre a quantidade exata de pormenorizados, havendo caracterizações mais objetivas e
tipos textuais, vamos trabalhar aqui com 5 tipos essenciais: outras mais subjetivas.
- Texto Descritivo; Conclusão: A descrição está concluída quando a
- Texto Narrativo; caracterização do objeto ou ser estiver terminada.
- Texto Dissertativo;
- Texto Injuntivo; Características
- Texto Expositivo.
O texto descritivo não se encontra limitado por noções
Texto Descritivo temporais ou relações espaciais, visto descrever algo estático,
sem ordem fixa para a realização da descrição. Há uma notória
É a representação com palavras de um objeto, lugar, predominância de substantivos, adjetivos e locuções adjetivas,
situação ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais em detrimento de verbos, sendo maioritariamente necessária
particulares ou individuais do que se descreve. É qualquer a utilização de verbos de estado, como ser, estar, parecer,
elemento que seja apreendido pelos sentidos e transformado, permanecer, ficar, continuar, tornar-se, andar...
com palavras, em imagens. O uso de uma linguagem clara e dinâmica, com vocabulário
Não é, por norma, um tipo de texto autônomo, rico e variado, bem como o uso de enumerações e
encontrando-se presente em outros textos, como o texto comparações, ou outras figuras de linguagem, servem para
narrativo. Passagens descritivas ocorrem no meio da narração melhor apresentar o objeto ou ser em descrição, enriquecendo
quando há uma pausa no desenrolar dos acontecimentos para o texto e tornando-o mais interessante para o leitor.
caracterizar pormenorizadamente um objeto, um lugar ou A descrição pode ser mais objetiva, focalizando aspectos
uma pessoa, sendo um recurso útil e importante para capturar físicos, ou mais subjetiva, focalizando aspectos emocionais e
a atenção do leitor. psicológicos. Nas melhores descrições, há um equilíbrio entre
os dois tipos de descrição, sendo o objeto ou ser descrito
Exemplo: apresentado nas suas diversas vertentes.
Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, Na descrição de pessoas, há a descrição de aspectos físicos,
inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter ou seja, aquilo que pode ser observado e a descrição de
aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; aspectos psicológicos e comportamentais, como o caráter,
vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. personalidade, humor…, apreendidos pelo convívio com a
Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, pessoa e pela observação de suas atitudes. Na descrição de
cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois lugares ocorre tanto a descrição de aspectos físicos, como a
do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do descrição do ambiente social, econômico, político... Na
que conosco. descrição de objetos, embora predomine a descrição de
(Machado de Assis. "Conto de escola". Contos. 3ed. São Paulo, Ática, 1974) aspectos físicos, pode ocorrer uma descrição sensorial, que
estimule os sentidos do leitor.
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor
da escola que o escritor frequentava. A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É
Deve-se notar: uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais
- que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao predominam. Porque toda técnica descritiva implica
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os contemplação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o
outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha redator, ao descrever, precisa possuir certo grau de
grande medo ao pai); sensibilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas
considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola
é cronologicamente anterior a retirar-se dela; no nível do Texto Narrativo
relato, porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente:
o que o escritor quer é explicitar uma característica do menino, O texto narrativo é caracterizado por narrar uma história,
e não traçar a cronologia de suas ações); ou seja, contar uma história através de uma sequência de
- ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), várias ações reais ou imaginárias. Essa sucessão de
todas elas estão no pretérito imperfeito, que indica acontecimentos é contada por um narrador e está estruturada
concomitância em relação a um marco temporal instalado no em introdução, desenvolvimento e conclusão.1
texto (no caso, o ano de 1840, em que o escritor frequentava a Ao longo dessa estrutura narrativa são apresentados os
escola da Rua da Costa) e, portanto, não denota nenhuma principais elementos da narração: espaço, tempo,
transformação de estado; personagem, enredo e narrador.
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o
correríamos o risco de alterar nenhuma relação narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com
cronológica - poderíamos mesmo colocar o último período em quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração

1 https://www.normaculta.com.br/texto-narrativo/

Língua Portuguesa 6
APOSTILAS OPÇÃO

predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; modificando no decorrer da ação (personagem plana). Há
assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de ainda personagens que representam um grupo específico
texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem (personagem-tipo).
o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo
de texto recebe o nome de enredo. Enredo: Também chamado de intriga, trama ou ação, o
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas enredo é composto pelos acontecimentos que ocorrem num
personagens, que são justamente as pessoas envolvidas no determinado tempo e espaço e são vivenciados pelas
episódio que está sendo contado. As personagens são personagens. As ações seguem-se umas às outras por
identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos encadeamento, encaixe e alternância.
substantivos próprios.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo Existem ações principais e ações secundárias, mediante a
sem querer) ele acaba contando "onde" (em que lugar) as importância que apresentam na narração. Além disso, o
ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar enredo pode estar fechado, estando definido e conhecido o
onde ocorre uma ação ou ações é chamado de espaço, final da história, ou aberto, não havendo um final definitivo e
representado no texto pelos advérbios de lugar. conhecido para a narrativa.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer
"quando" ocorreram as ações da história. Esse elemento da Narrador: O narrador é o responsável pela narração, ou
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através seja, é quem conta a história. Existem vários tipos de narrador:
dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de Narrador onisciente e onipresente: Conhece
tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele intimamente as personagens e a totalidade do enredo, de
que indica ao leitor "como" o fato narrado aconteceu. forma pormenorizada. Utiliza maioritariamente a narração na
A história contada, por isso, passa por uma introdução 3.ª pessoa, mas pode narrar na 1.ª pessoa, em discurso indireto
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo livre, tendo sua voz confundida com a voz das personagens, tal
desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, é o seu conhecimento e intimidade com a narrativa.
o meio, o "miolo" da narrativa, também chamada de trama) e Narrador personagem, participante ou presente: Conta
termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). a história na 1.ª pessoa, do ponto de vista da personagem que
Aquele que conta a história é o narrador, que pode ser é. Apenas conhece seus próprios pensamentos e as ações que
pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª se vão desenrolando, nas quais também participa. Tem
pessoa: Ele). conhecimentos limitados sobre as restantes personagens e
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos sobre a totalidade do enredo. Este tipo de narração é mais
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e subjetivo, transmitindo o ponto de vista e as emoções do
pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os narrador.
agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações Narrador observador, não participante ou ausente:
expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história Limita-se a contar a história, sem se envolver nela. Embora
contada. tenha conhecimento das ações, não conhece o íntimo das
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta personagens, mantendo uma narrativa imparcial e objetiva.
a história. Utiliza a narração na 3.ª pessoa.
Nos textos narrativos, é através da voz do narrador que
Principais elementos da narrativa conhecemos o desenrolar da história e as ações das
Os principais elementos da narrativa, também chamados personagens, mas é através da voz das personagens que
de elementos da narração, são: conhecemos as suas ideias, opiniões e sentimentos. A forma
Espaço: O espaço se refere ao local onde se desenrola a como a voz das personagens é introduzida na voz do narrador
ação. Pode ser físico (no colégio, no Brasil, na praça,…), social é chamada de discurso.
(características do ambiente social) e psicológico (vivências,
pensamento e sentimentos do sujeito,…). Através de uma correta utilização dos tipos de discurso, a
Tempo: O tempo se refere à duração da ação e ao narrativa poderá assumir um caráter mais ou menos dinâmico,
desenrolar dos acontecimentos. O tempo cronológico indica a mais ou menos natural, mais ou menos interessante, mais ou
sucessão cronológica dos fatos, pelas horas, dias, anos,… O menos objetivo,… Existem três tipos de discurso, ou seja, três
tempo psicológico se refere às lembranças e vivências das formas de introdução das falas das personagens na narrativa:
personagens, sendo subjetivo e influenciado pelo estado de - O discurso direto é caracterizado por ser uma
espírito das personagens em cada momento. transcrição exata da fala das personagens, sem participação do
Personagens: São caracterizadas através de qualidades narrador.
físicas e psicológicas, podendo essa caracterização ser feita de - O discurso indireto é caracterizado por ser uma
modo direto (explicitada pelo narrador ou por outras intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas
personagens, através de autocaracterização ou próprias palavras para reproduzir as falas das personagens.
heterocaracterização) ou de modo indireto (feita com base nas - O discurso indireto livre é caracterizado por permitir
atitudes e comportamento das personagens). que os acontecimentos sejam narrados em simultâneo,
estando as falas das personagens direta e integralmente
As personagens possuem diferentes importâncias na inseridas dentro do discurso do narrador.
narração, havendo personagens principais e personagens
secundárias. As personagens principais desempenham papéis Exemplo - Personagens
essenciais no enredo, podendo ser protagonistas (que deseja,
tenta, consegue) ou antagonistas (que dificulta, atrapalha, "Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
impede). As personagens secundárias desempenham papéis Amâncio não viu a mulher chegar.
menores e podem ser coadjuvantes (ajudam as personagens - Não quer que se carpa o quintal, moço?
principais em ações secundárias) ou figurantes (ajudam na Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face
caracterização de um espaço social). escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do
Podem ser dinâmicas, apresentando diferentes passado, os olhos)."
comportamentos ao longo da narração (personagem (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre:
modelada ou redonda), bem como estáticas, não se Mercado Aberto)

Língua Portuguesa 7
APOSTILAS OPÇÃO

Exemplo - Espaço Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na


matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro.”
Considerarei longamente meu pequeno deserto, a (J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
redondeza escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de
algum rio. Não havia, em todo o caso, como negar-lhe a - Em 3ª pessoa:
insipidez."
(Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira
Alegre: Movimento, 1981) pessoa. Exemplo:

Exemplo - Tempo “Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a


fantasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu
“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-se: a à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de
mulher lhe pediu que a chamasse cedo." vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais
(Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados) ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar o
sentimento impreciso de ridículo.”
Estrutura: (Ilka Laurito. Sal do Lírico)
- Apresentação: é a parte do texto em que são
apresentados alguns personagens e expostas algumas Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como
circunstâncias da história, como o momento e o lugar onde a sendo vista por uma câmara ou filmadora.
ação se desenvolverá.
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia Sequência Narrativa
propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias:
conduzindo ao clímax. uma coordena-se a outra, uma implica a outra, uma
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu subordina-se a outra. A narrativa típica tem quatro mudanças
momento crítico, tornando o desfecho inevitável. de situação:
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou
dos personagens. um dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
- uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma
Tipos de Personagens: competência para fazer algo);
Os personagens têm muita importância na construção de - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou
um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
principais ou secundários, conforme o papel que - uma em que se constata que uma transformação se deu e
desempenham no enredo, podem ser apresentados direta ou em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens
indiretamente. (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os
A apresentação direta acontece quando o personagem maus).
aparece de forma clara no texto, retratando suas
características físicas e/ou psicológicas, já a apresentação Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se
indireta se dá quando os personagens aparecem aos poucos e pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a
o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela
enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e efetua-se porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve
do modo como vai fazendo. fazê-la.
Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um
- Em 1ª pessoa: apartamento: quando se assina a escritura, realiza-se o ato de
compra; para isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta ou dever comprar (respectivamente, querer deixar de pagar
a história e é o protagonista. Exemplo: aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido despejado,
por exemplo).
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o Algumas mudanças são necessárias para que outras se
coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar
atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei um bambu ou outro instrumento para derrubá-la. Para ter um
a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e carro, é preciso antes conseguir o dinheiro.
andava outra vez e estacava.”
(Machado de Assis. Dom Casmurro) Narrativa e Narração
Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode narratividade é um componente narrativo que pode existir
acreditar, eu estava lá e vi. Exemplo: em textos que não são narrações. A narrativa é a
transformação de situações. Por exemplo, quando se diz
“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do “Depois da abolição, incentivou-se a imigração de europeus”,
Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta um
que fez cancha nos banhados do Brocai. componente narrativo, pois contém uma mudança de situação:
Esse gaúcho desamotinado levou a existência inteira a do não incentivo ao incentivo da imigração europeia.
cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de
Lua, na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; texto, o que é narração?
ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três
por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca características:
desandou cruzada! ... - é um conjunto de transformações de situação;
(...) - é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e
Aqui há poucos - coitado! - pousei no arranchamento dele. fatos concretos;
Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não nos víamos desde muito
tempo. (...)

Língua Portuguesa 8
APOSTILAS OPÇÃO

- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência,
que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente
posterioridade. identificada pela população brasileira.”
- Proposição: o autor explicita seus objetivos.
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre - Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma
pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear coisa apresentada no texto. Ex.: Você quer estar “na sua”? Quer
da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo
romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, cano! Faça parte desse time de vencedores desde a escolha
quando o narrador começa contando sua morte para em desse momento!
seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. - Contestação: contestar uma ideia ou uma situação. Ex.:
No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações “É importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não
de anterioridade e de posterioridade. é a solução no combate à insegurança.”
- Características: caracterização de espaços ou aspectos.
Texto Dissertativo - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex.: “Em
1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com
O texto dissertativo tem-se a intenção de explicar, provar, televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de
analisar, expor ideias e/ou discutir determinado assunto.2 aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem
Na dissertação, o escritor geralmente defende uma tese ou no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas)
expõe uma série de fatos e ideias que levam a uma constatação. e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais
O texto dissertativo é impessoal e utiliza-se de estruturas recebidos). (...)”
lógicas para se sustentar. Existem duas subdivisões na - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
tipologia dissertativa: a dissertação expositiva (exposição) e a - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto
dissertação argumentativa (argumentação). do texto. Ex.: “A principal característica do déspota encontra-
se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das
Características regras que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre
temático; exclusivamente de sua vontade, de seu prazer e de suas
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; necessidades.”
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm compõem o texto.
maior importância - o que importa são suas relações lógicas: - Interrogação: questionamento. Ex.: “Volta e meia se faz a
analogia, pertinência, causalidade, coexistência, pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo
correspondência, implicação, etc. futebol não é uma prova de alienação?”
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de - Suspense: alguma informação que faça aumentar a
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem curiosidade do leitor.
características próprias a cada tipo de texto. - Comparação: social e geográfica.
- Enumeração: enumerar as informações. Ex.: “Ação à
Dissertação Expositiva e Argumentativa distância, velocidade, comunicação, linha de montagem,
A dissertação expositiva é voltada para aqueles fatos que triunfo das massas, holocausto: através das metáforas e das
estão sendo focados e discutidos pela grande mídia. É um tipo realidades que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a
de acontecimento inquestionável, mesmo porque todos os verdadeira doença do século...”
detalhes já foram expostos na televisão, rádio e novas mídias. - Narração: narrar um fato.
Já o texto dissertativo argumentativo vai fazer uma
reflexão maior sobre os temas. Os pontos de vista devem ser Deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
declarados em terceira pessoa, há interações entre os fatos que (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por
se aborda. Tais fatos precisam ser esclarecidos para que o isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para
leitor se sinta convencido por tal escrita. Quem escreve uma dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do
dissertação argumentativa deve saber persuadir a partir de desenvolvimento. Contém a proposição do tema, seus limites,
sua crítica de determinado assunto. A linguagem jamais ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser defendida.
poderá deixar de ser objetiva, com fatos reais, evidências e
concretudes. Desenvolvimento
É a argumentação da ideia inicial, de forma organizada e
São partes da dissertação: Introdução / progressiva. É a parte maior e mais importante do texto.
Desenvolvimento / Conclusão. Podem ser desenvolvidas de várias formas:
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com
Introdução este tipo de abordagem.
Em que se apresenta o assunto; se apresenta a ideia - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a
principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. ideia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a
Tipos: definição.
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem distintas.
discutidos. Ex.: “Cada criatura humana traz duas almas - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta
consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de pontos favoráveis e desfavoráveis.
fora para dentro...” - Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um descrever uma cena.
fato presente. Ex.: “A crise econômica que teve início no - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados
começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices de estatísticos.
inflação que a década colecionou, agravou vários dos

2 https://segredosdeconcurso.com.br/tipologia-textual/

Língua Portuguesa 9
APOSTILAS OPÇÃO

- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para impunidade, mas a falta de ação do Estado. Ao contrário do que
prováveis resultados. muitos pensam, hoje em dia os adolescentes infratores são
- Interrogação: toda sucessão de interrogações deve punidos com muito mais rigor do que os adultos.
apresentar questionamento e reflexão. Apresentar propostas legislativas visando à redução da
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, menoridade penal com a modificação do disposto no artigo
valores, juízos. 228 da Constituição Federal constitui uma grande falácia, pois
- Causa e Consequência: estruturar o texto através dos o artigo 60, § 4º, inciso IV de nossa Carta Magna não admite
porquês de uma determinada situação. que sejam objeto de deliberação de emenda à Constituição os
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética. direitos e garantias individuais, pois se trata de cláusula
- Exemplificação: dar exemplos. pétrea.
A prevenção à criminalidade está diretamente associada à
Exposição de elementos que vão fundamentar a ideia existência de políticas sociais básicas e não à repressão, pois
principal que pode vir especificada através da argumentação, não é a severidade da pena que previne a criminalidade, mas
de pormenores, da ilustração, da causa e da consequência, das sim a certeza de sua aplicação e sua capacidade de inclusão
definições, dos dados estatísticos, da ordenação cronológica, social.
da interrogação e da citação. No desenvolvimento são usados Dalio Zippin Filho é advogado criminalista. 10/06/2013
Texto publicado na edição impressa de 10 de junho de 2013
tantos parágrafos quantos forem necessários para a completa
exposição da ideia.
É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar
sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos
Conclusão
recursos que permite uma segurança maior no momento de
É uma avaliação final do assunto, um fechamento
dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são
integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem
atitudes que favorecem o senso crítico, essencial no
todas as ideias anteriormente desenvolvidas.
desenvolvimento de um texto dissertativo.
- Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
Ainda temos:
- Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o
pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de
assunto que vai ser abordado.
quem lê.
Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo
discutido.
É a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer
Argumentação: é um conjunto de procedimentos
de forma muito mais convincente, uma vez que já foi
linguísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas
fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação (um
opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer
parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo
argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma
proposto na instrução, a confirmação da hipótese ou da tese,
determinada tese.
acrescida da argumentação básica empregada no
desenvolvimento.
Pontos Essenciais
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade
Exemplo:
de pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
Redução da maioridade penal, grande falácia
- a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
- impõem-se sempre o raciocínio lógico;
O advogado criminalista Dalio Zippin Filho explica por que
- a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer
é contrário à mudança na maioridade penal.
ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração
Diuturnamente o Brasil é abalado com a notícia de que um
do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original,
crime bárbaro foi praticado por um adolescente, penalmente
nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser
irresponsável nos termos do que dispõe os artigos 27 do CP,
impessoal (evitar-se o uso da primeira pessoa).
104 do ECA e 228 da CF. A sociedade clama por maior
segurança. Pede pela redução da maioridade penal, mas logo
Texto Injuntivo
descobrirá que a criminalidade continuará a existir, e haverá
mais discussão, para reduzir para 14 ou 12 anos. Analisando a
Os textos injuntivos estão presentes em nossa vida nas
legislação de 57 países, constatou-se que apenas 17% adotam
mais variadas situações, como por exemplo quando
idade menor de 18 anos como definição legal de adulto.
adquirimos um aparelho eletrônico e temos que verificar
Se aceitarmos punir os adolescentes da mesma forma
manual de instruções para o funcionamento, ou quando vamos
como fazemos com os adultos, estamos admitindo que eles
fazer um bolo utilizando uma receita, ou ainda quando lemos
devem pagar pela ineficácia do Estado, que não cumpriu a lei e
a bula de um remédio ou a receita médica que nos foi prescrita.
não lhes deu a proteção constitucional que é seu direito. A
Os textos injuntivos são aqueles textos que nos orientam, nos
prisão é hipócrita, afirmando que retira o indivíduo infrator da
ditam normas, nos instruem.3
sociedade com a intenção de ressocializá-lo, segregando-o, 4Os textos explicativos podem ser injuntivos ou
para depois reintegrá-lo. Com a redução da menoridade penal,
prescritivos. Os textos explicativos injuntivos possibilitam
o nosso sistema penitenciário entrará em colapso.
alguma liberdade de atuação ao leitor, enquanto os textos
Cerca de 85% dos menores em conflito com a lei praticam
explicativos prescritivos exigem que o leitor proceda de uma
delitos contra o patrimônio ou por atuarem no tráfico de
determinada forma.
drogas, e somente 15% estão internados por atentarem contra
a vida. Afirmar que os adolescentes não são punidos ou
responsabilizados é permitir que a mentira, tantas vezes dita,
transforme-se em verdade, pois não é o ECA que provoca a

3 http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portugues/tipologia- 4 https://bit.ly/313UjEP.
textual

Língua Portuguesa 10
APOSTILAS OPÇÃO

Regras gramaticais para este tipo de texto (Injunção): Fechamento


Como são textos que expressão ordem, normas, instruções — Adeus, porta-te bem.
tem como característica principal a utilização de verbos no — Até à próxima.
imperativo. Pode ser classificado de duas formas: — Obrigado. Passe bem.

-Instrucional: O texto apresenta apenas um conselho, uma Sequência Dialogal


indicação e não uma ordem. Trata-se da mais comum das sequências textuais, pois se
constitui como a “espinha dorsal” de diversos gêneros orais do
-Prescrição: O texto apresenta uma ordem, a orientação dia a dia, como a entrevista, a conversa informal e o debate.
dada no texto é uma imposição. Também aparece na forma escrita, em contos, romances,
piadas, etc.
Exemplos: A sequência dialogal possui uma estrutura. Em sua forma
completa, há três partes:
Manual de instruções de um computador - sequência fática inicial;
- sequência transacional;
“[...] Não instale nem use o computador em locais muito - sequência fática final.
quentes, frios, empoeirados, úmidos ou que estejam sujeitos a
vibrações. Não exponha o computador a choques, pancadas ou 6O diálogo é o elemento presente em toda sequência
vibrações, e evite que ele caia, para não prejudicar as peças dialogal, sendo assim, supõe-se que, antes de iniciá-lo, os
internas [...]”. interlocutores abram o canal de comunicação por meio de um
cumprimento, aí eles passam a tratar do assunto devido e, ao
Exemplos de texto explicativo prescritivo final, se cumprimentam de novo.
- leis; No início e final, as expressões fáticas típicas aparecem. No
- cláusulas contratuais; início, por exemplo, como “olá”, “oi”, “bom dia”; no final, como
- edital de concursos públicos. “tchau”, “boa noite”, até mais”. Entre essas saudações iniciais e
finais, os interlocutores trocam falas.
Texto Expositivo
Ex:
Aqueles textos que nos levam a uma explicação sobre
determinado assunto, informa e esclarece sem a emissão de
qualquer opinião a respeito, é um texto expositivo.

Regras gramaticas para este tipo textual (Exposição)

Neste tipo de texto são apresentadas informações sobre:


- Assuntos e fatos específicos;
- Expõe ideias;
- Explica;
- Avalia;
- Reflete.

Tudo isso sem que haja interferência do autor, sem que


haja sua opinião a respeito. Faz uso de linguagem clara,
objetiva e impessoal. A maioria dos verbos está no presente do
indicativo.

Exemplos: Notícias Jornalísticas.

Texto Dialogal

5Uma das especificidades do texto dialogal é o fato de ser Quando se pretende escrever uma sequência dialogal, é
um texto cogerido. Sua produção acontece por, ao menos, dois preciso conhecer e saber utilizar os sinais de pontuação, como
locutores: o que um locutor diz, tem a ver com aquilo que o reticências, pontos de interrogação e exclamação (que dão
outro disse; nesse diálogo, os interlocutores podem concordar, vida ao diálogo), e o travessão (que demarca as mudanças de
discordar, concluir, exemplificar, etc. fala de interlocutor, além de separar a voz do narrador das dos
Esse tipo de texto parece muito em entrevistas, debates, personagens).
reuniões de trabalho, etc. Uma narrativa, por exemplo, pode É difícil encontrar uma sequência dialogal completa em
ser composta por sequências narrativas e por sequências forma escrita. As sequências fáticas são comumente omitidas,
dialogais. ou somente uma delas aparece. Ademais, é comum encontrar
Outra característica do texto dialogal é a integração de a sequência dialogal subordinada à sequência narrativa.
turnos de índole fática (turnos de abertura e de fechamento).
Ex.:

Abertura
— Olá!
— Então, tudo bem?
— Boa tarde.
— Por favor.

5 https://bit.ly/2OzHq2I. 6 OLIVEIRA, F. C. de. Texto teórico 2: sequência dialoga. IFRN, 2012.

Língua Portuguesa 11
APOSTILAS OPÇÃO

Questões isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande


caldeirão. Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e
01. (IF Sertão/PE - Técnico em Laboratório de meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e
Informática - IF Sertão/PE/2016) quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no
pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando
Texto V "bruxa, bruxa!".
A borboleta e a chama Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A
quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo
Uma borboleta multicor voava na escuridão da noite descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O
quando viu, ao longe, uma luz. Imediatamente voou naquela que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela
direção e ao se aproximar da chama pôs-se a rodeá-la, manhã, e talvez por esquecimento, ela deixará aberta a janela
olhando-a maravilhada. Como era bonita! da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder,
Não satisfeita em admirá-la, a borboleta resolveu levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com
aproximar-se mais da chama. Afastou-se e em seguida voou em muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-
direção à chama passando rente a ela. Viu-se subitamente lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.
caída, estonteada pela luz e muito surpresa por verificar que - Vamos logo - gritava o João Pedro -, antes que a bruxa
as pontas de suas asas estavam chamuscadas. apareça. E ela apareceu. No momento exato em que,
— Que aconteceu comigo? - pensou ela. Mas não conseguiu finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a
entender. Era impossível crer que uma coisa tão bonita quanto porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo
à chama pudesse causar-lhe algum mal. E assim, depois de de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o
juntar um pouco de forças, sacudiu as asas e levantou voo último.
novamente. E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e
Rodou em círculo e mais uma vez dirigiu-se para a chama, caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive
pretendendo pousar sobre ela. E imediatamente caiu dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas
queimada, no óleo que alimentava a brilhante e pequenina não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas
chama. com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura
— Maldita luz - murmurou a borboleta agonizante - pensei a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher
que ia encontrar em você a felicidade e em vez disso encontrei sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.
a morte. Arrependo-me desse tolo desejo, pois compreendi, Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de
tarde demais, para minha infelicidade, o quanto você é raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou.
perigosa. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma
— Pobre borboleta - respondeu a chama - eu não sou o Sol, habilidade surpreendente.
como você tolamente pensou. Sou apenas uma luz. E aqueles - Está quebrada - disse por fim. - Mas podemos dar um jeito.
que não conseguem aproximar-se de mim com cautela são Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos,
queimados. trabalhei em hospital. Confie em mim.
Leonardo Da Vinci Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e
com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me
Analise as proposições do texto em relação à tipologia e a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha
gênero textual: casa. "Chame uma ambulância", disse a mulher à minha mãe.
1. A Fábula é uma Tipologia textual e não um gênero de Sorriu.
texto; Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico
2. O gênero textual fábula pertence à tipologia narrativa; engessou minha perna e em poucas semanas eu estava
3. O Gênero e a tipologia textual se definem igualmente recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E
4. São características que definem a fábula: os animais que tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em
falam e uma linguagem erudita minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana
Custódio.
Assinale a alternativa correta: (SCLIAR, Moacyr. In: revista Nova Escola, seção Era uma vez. São Paulo:
(A) 1 e 2 Abril, agosto de 2004).
(B) 1, 2 e 3
(C) 2 e 4 Este texto “Bruxas não existem”, se encaixa na tipologia
(D) Apenas 2 textual de:
(E) Todas estão corretas (A) Descrição.
(B) Narração.
02. (Pref. de Lauro Muller/SC - Professor de Pedagogia (C) Dissertação.
- Pref. de Lauro Muller/SC/2016) Este texto é referente à (D) Nenhuma das alternativas.
questão.
03. (Câmara Santa Rosa/RS - Procurador Jurídico -
BRUXAS NÃO EXISTEM INST.EXCELENCIA/2017)

Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres Retrato


malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas Eu não tinha este rosto de hoje,
perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A assim calmo, assim triste, assim magro,
prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona nem estes olhos tão vazios,
que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa nem o lábio amargo.
rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de
“bruxa”. Eu não tinha estas mãos sem força,
Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam tão paradas e frias e mortas;
palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no eu não tinha este coração
queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos que nem se mostra.
entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos
Eu não dei por esta mudança,

Língua Portuguesa 12
APOSTILAS OPÇÃO

tão simples, tão certa, tão fácil: GÊNEROS TEXTUAIS


- Em que espelho ficou perdida
a minha face? Os gêneros textuais são classificados conforme as
MEIRELES, Cecília. Obra Poética de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: José características comuns que os textos apresentam em relação à
Aguilar, 1958.
linguagem e ao conteúdo.
Existem muitos gêneros textuais, os quais promovem uma
Para expressar as mudanças físicas de seu corpo e como o
interação entre os interlocutores (emissor e receptor) de
mesmo se encontra depois delas, o eu lírico utiliza
determinado discurso.
predominantemente os recursos da:
São exemplos resenha crítica jornalística, publicidade,
(A) Narração.
receita de bolo, menu do restaurante, bilhete ou lista de
(B) Descrição.
supermercado.
(C) Dissertação.
É importante considerar seu contexto, função e finalidade,
(D) Nenhuma das alternativas.
pois o gênero textual pode conter mais de um tipo textual. Isso,
por exemplo, quer dizer que uma receita de bolo apresenta a
04. (Pref. Cruzeiro/SP - Professor Língua Portuguesa -
lista de ingredientes necessários (texto descritivo) e o modo
INST.EXCELENCIA/2016) São várias as situações
de preparo (texto injuntivo).7
comunicativas cotidianas, sejam elas orais ou escritas. O
dinamismo da comunicação é responsável pela criação dos
Distinguindo
diversos gêneros textuais, mas, antes deles, existem os tipos
textuais, estruturas nas quais os gêneros se apoiam. Os
É essencial saber distinguir o que é gênero textual, gênero
aspectos constitutivos de um texto divergem mediante a
literário e tipo textual. Cada uma dessas classificações é
finalidade do texto: contar, descrever, argumentar, informar,
referente aos textos, porém é preciso ter atenção, cada uma
etc. Um único texto pode apresentar passagens de vários tipos
possui um significado totalmente diferente da outra. Veja uma
de texto. A tipologia textual apresenta características
breve descrição do que é um gênero literário e um tipo textual:
intrínsecas, como vocabulário, relações lógicas, tempos
Gênero Literário - é classificado de acordo com a sua
verbais, construções frasais e outras peculiaridades inscritas
forma, podendo ser do gênero líricos, dramático, épico,
em, basicamente, cinco tipos.
narrativo e etc.
Tipo Textual - este é a forma como o texto se apresenta,
Assinale a alternativa CORRETA.
podendo ser classificado como narrativo, argumentativo,
(A) Narração; Dissertação; Descrição; Exposição; Injunção.
dissertativo, descritivo, informativo ou injuntivo. Cada uma
(B) Conjunção; Dissertação; Descrição; Exposição;
dessas classificações varia de acordo como o texto se
Comunicação.
apresenta e com a finalidade para o qual foi escrito.
(C) Comunicação; Conjunção; Dissertação; Descrição;
Exposição.
Tipos de Gêneros Textuais
(D) Narração; Descrição; Injunção; Exposição; Coesão;
Dissertação.
Cada texto possuiu uma linguagem e estrutura. Note que
existem inúmeros gêneros textuais dentro das categorias
05. (João Pessoa/PB - Técnico Controle Interno -
tipológicas de texto. Em outras palavras, gêneros textuais são
CESPE/2018)
estruturas textuais peculiares que surgem dos tipos de textos:
narrativo, descritivo, dissertativo-argumentativo, expositivo e
injuntivo.

Texto Narrativo
Os textos narrativos apresentam ações de personagens no
tempo e no espaço. A estrutura da narração é dividida em:
apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.

Alguns exemplos de gêneros textuais narrativos:


• Romance
• Novela
• Crônica
• Contos de Fada
• Fábula
• Lendas

Texto Descritivo
Os textos descritivos se ocupam de relatar e expor
determinada pessoa, objeto, lugar, acontecimento. Dessa
forma, são textos repletos de adjetivos, os quais descrevem ou
apresentam imagens a partir das percepções sensoriais do
Acerca das propriedades linguísticas do texto precedente, locutor (emissor).
julgue o item subsequente.
O texto apresentado combina elementos das tipologias São exemplos de gêneros textuais descritivos:
expositiva e injuntiva. • Diário
( ) Certo ( ) Errado • Relatos (viagens, históricos, etc.)
• Biografia e autobiografia
Gabarito • Notícia
01. D / 2. B / 3.B / 04.A / 05.CERTO • Currículo

7 https://www.todamateria.com.br/generos-textuais/

Língua Portuguesa 13
APOSTILAS OPÇÃO

• Lista de compras produto da propaganda. O texto pode conter algum tipo de


• Cardápio descrição e sempre é claro e objetivo.
• Anúncios de classificados
Notícia
Texto Dissertativo-Argumentativo Este é um dos tipos de texto que é mais fácil de identificar.
Os textos dissertativos são aqueles encarregados de expor Sua linguagem é narrativa e descritiva e o objetivo desse texto
um tema ou assunto por meio de argumentações. São é informar algo que aconteceu.
marcados pela defesa de um ponto de vista, ao mesmo tempo A notícia é um dos principais tipos de textos jornalísticos
que tentam persuadir o leitor. Sua estrutura textual é dividida existentes e tem como intenção nos informar acerca de
em três partes: tese (apresentação), antítese determinada ocorrência. Bastante recorrente nos meios de
(desenvolvimento), nova tese (conclusão). comunicação em geral, seja na televisão, em sites pela internet
ou impresso em jornais ou revistas.
Exemplos de gêneros textuais dissertativos: Caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples,
• Editorial Jornalístico clara, objetiva e precisa, pautando-se no relato de fatos que
• Carta de opinião interessam ao público em geral. A linguagem é clara, precisa e
• Resenha objetiva, uma vez que se trata de uma informação.
• Artigo
• Ensaio Editorial
• Monografia, dissertação de mestrado e tese de doutorado O editorial é um tipo de texto jornalístico que geralmente
aparece no início das colunas. Diferente dos outros textos que
Texto Expositivo compõem um jornal, de caráter informativo, os editoriais são
Os textos expositivos possuem a função de expor textos opinativos.
determinada ideia, por meio de recursos como: definição, Embora sejam textos de caráter subjetivo, podem
conceituação, informação, descrição e comparação. apresentar certa objetividade. Isso porque são os editoriais
que apresentam os assuntos que serão abordados em cada
Alguns exemplos de gêneros textuais expositivos: seção do jornal, ou seja, Política, Economia, Cultura, Esporte,
• Seminários Turismo, País, Cidade, Classificados, entre outros.
• Palestras Os textos são organizados pelos editorialistas, que
• Conferências expressam as opiniões da equipe e, por isso, não recebem a
• Entrevistas assinatura do autor. No geral, eles apresentam a opinião do
• Trabalhos acadêmicos meio de comunicação (revista, jornal, rádio, etc.).
• Enciclopédia Tanto nos jornais como nas revistas podemos encontrar os
• Verbetes de dicionários editoriais intitulados como “Carta ao Leitor” ou “Carta do
Editor”.
Texto Injuntivo Em relação ao discurso apresentado, esse costuma se
O texto injuntivo, também chamado de texto instrucional, apoiar em fatos polêmicos ligados ao cotidiano social. E
é aquele que indica uma ordem, de modo que o locutor quando falamos em discurso, logo nos atemos à questão da
(emissor) objetiva orientar e persuadir o interlocutor linguagem que, mesmo em se tratando de impressões
(receptor). Por isso, apresentam, na maioria dos casos, verbos pessoais, o predomínio do padrão formal, fazendo com que
no imperativo. prevaleça o emprego da 3ª pessoa do singular, ocupa lugar de
destaque.
Alguns exemplos de gêneros textuais injuntivos:
• Propaganda Reportagem
• Receita culinária Reportagem é um texto jornalístico amplamente divulgado
• Bula de remédio nos meios de comunicação de massa. A reportagem informa,
• Manual de instruções de modo mais aprofundado, fatos de interesse público. Ela
• Regulamento situa-se no questionamento de causa e efeito, na interpretação
• Textos prescritivos e no impacto, somando as diferentes versões de um mesmo
acontecimento.
Outros Exemplos A reportagem não possui uma estrutura rígida, mas
geralmente costuma estabelecer conexões com o fato central,
Carta anunciado no que chamamos de lead. A partir daí, desenvolve-
Esta, dependendo do destinatário pode ser informal, se a narrativa do fato principal, ampliada e composta por meio
quando é destinada a algum amigo ou pessoa com quem se tem de citações, trechos de entrevistas, depoimentos, dados
intimidade. E formal quando destinada a alguém mais culto ou estatísticos, pequenos resumos, dentre outros recursos. É
que não se tenha intimidade. sempre iniciada por um título, como todo texto jornalístico.
Dependendo do objetivo da carta a mesma terá diferentes O objetivo de uma reportagem é apresentar ao leitor várias
estilos de escrita, podendo ser dissertativa, narrativa ou versões para um mesmo fato, informando-o, orientando-o e
descritiva. As cartas se iniciam com a data, em seguida vem a contribuindo para formar sua opinião.
saudação, o corpo da carta e para finalizar a despedida. A linguagem utilizada nesse tipo de texto é objetiva,
dinâmica e clara, ajustada ao padrão linguístico divulgado nos
Propaganda meios de comunicação de massa, que se caracteriza como uma
Este gênero geralmente aparece na forma oral, diferente linguagem acessível a todos os públicos, mas pode variar de
da maioria dos outros gêneros. Suas principais características formal para mais informal dependendo do público a que se
são a linguagem argumentativa e expositiva, pois a intenção da destina. Embora seja impessoal, às vezes é possível perceber a
propaganda é fazer com que o destinatário se interesse pelo opinião do repórter sobre os fatos ou sua interpretação.8

8 CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação.

São Paulo, Atual Editora, 2000

Língua Portuguesa 14
APOSTILAS OPÇÃO

Gêneros Textuais e Gêneros Literários Uma das mais primitivas manifestações poéticas, são
cantigas de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão
Conforme o próprio nome indica, os gêneros textuais se vocal que se destinam à dança.
referem a qualquer tipo de texto, enquanto os gêneros
literários se referem apenas aos textos literários. Canção (ou Cantiga, Trova)
Os gêneros literários são divisões feitas segundo Poema oral com acompanhamento musical.
características formais comuns em obras literárias,
agrupando-as conforme critérios estruturais, contextuais e Gazal (ou Gazel)
semânticos, entre outros. Poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente
- Gênero lírico; médio.
- Gênero épico ou narrativo;
- Gênero dramático. Soneto
É um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois
Gênero Lírico quartetos e dois tercetos.
É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no
poema e que nem sempre corresponde à do autor) exprime Vilancete
suas emoções, ideias e impressões em face do mundo exterior. São as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de
Normalmente os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e escárnio e de maldizer); satíricas, portanto.
há o predomínio da função emotiva da linguagem.
Gênero Épico ou Narrativo
Elegia Na Antiguidade Clássica, os padrões literários
Um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com
morte é elevada como o ponto máximo do texto. O emissor o passar dos anos, o gênero épico passou a ser considerado
expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. apenas uma variante do gênero literário narrativo, devido ao
É um poema melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e surgimento de concepções de prosa com características
Yufa, de William Shakespeare. diferentes: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula.

Epitalâmia Épico (ou Epopeia)


Um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias
românticas com poemas e cantigas. Um bom exemplo de de um povo ou de uma nação, envolvem aventuras, guerras,
epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais. viagens, gestos heroicos, etc. Normalmente apresentam um
tom de exaltação, isto é, de valorização de seus heróis e seus
Ode (ou hino) feitos. Dois exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões,
É o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à e Odisseia, de Homero.
pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada,
ou a alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com Ensaio
acompanhamento musical. É um texto literário breve, situado entre o poético e o
didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e
Idílio (ou écloga) filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais
Poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem flexível que o tratado.
à natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e
poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político,
tais belezas e riquezas ao lado da amada (pastora), que social, cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute
enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. em formalidades como documentos ou provas empíricas ou
A écloga é um idílio com diálogos (muito rara). dedutivas de caráter científico. Exemplo: Ensaio sobre a
tolerância, de John Locke.
Sátira
É o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém Gênero Dramático
ou a algo, em tom sério ou irônico. Tem um forte sarcasmo, Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro.
pode abordar críticas sociais, a costumes de determinada Nesse tipo de texto, não há um narrador contando a história.
época, assuntos políticos, ou pessoas de relevância social. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que
assumem os papéis das personagens nas cenas.
Acalanto
Canção de ninar. Tragédia
É a representação de um fato trágico, suscetível de
Acróstico provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a
Composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma
formam uma palavra ou frase. Ex.: extensão e completa, em linguagem figurada, com atores
agindo, não narrando, inspirando dó e terror". Ex.: Romeu e
Amigos são Julieta, de Shakespeare.
Muitas vezes os
Irmãos que escolhemos. Farsa
Zelosos, eles nos A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego
Ajudam e de processos como o absurdo, as incongruências, os equívocos,
Dedicam-se por nós, para que nossa relação seja verdadeira a caricatura, o humor primário, as situações ridículas e, em
e especial, o engano.
Eterna
https://www.todamateria.com.br/acrostico/ Comédia

Balada

Língua Portuguesa 15
APOSTILAS OPÇÃO

É a representação de um fato inspirado na vida e no (B) o domínio de um conhecimento.


sentimento comum, de riso fácil. Sua origem grega está ligada (C) a necessidade de expressão de uma emoção.
às festas populares. (D) a condição de prever conhecimentos futuros.
(E) o objetivo de ensinar procedimentos.
Tragicomédia
Modalidade em que se misturam elementos trágicos e 04 (IF/PA - Professor - Letras - IF/PA/2015) A inserção
cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o dos gêneros textuais no ensino vem mudando a dinâmica da
imaginário. educação em língua portuguesa no Brasil. É importante
trabalhar a língua em uso, através de textos e dos gêneros nos
Poesia de cordel quais eles se manifestam isso tem mobilizado professores e
Texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte educadores, que procuram adaptar‐ se a essas novas
apelo linguístico e cultural nordestinos, fatos diversos da perspectivas. De acordo com os estudos sobre os gêneros
sociedade e da realidade vivida por este povo. textuais podemos afirmar que os exemplos de textos como,
receita culinária, tutorial, manual de instruções, guia
Questões rodoviário tem em comum por possuírem um caráter:
(A) injuntivo.
01. (Pref. Teresina/PI - Professor de Língua (B) prescritivo.
Portuguesa - NUCEPE/2016) Ainda sobre gênero, é correto (C) descritivo.
afirmar que uma característica predominante nos gêneros (D) expositivo.
textuais é a: (E) dissertativo.
(A) forma linguística.
(B) clareza das ideias. 05. (FGV - Professor de Ensino Fundamental II e Médio
(C) função sociocomunicativa. - SME/SP/2016) Os diversos textos a serem interpretados em
(D) assunto temático. um livro didático devem ser distribuídos segundo o seguinte
(E) correção gramatical. critério:
(A) textos literários e não literários.
02. (MPE/GO - Secretário Auxiliar - 2018) (B) textos de épocas variadas.
(C) textos de gêneros textuais variados.
A Outra Noite (D) textos de vários gêneros literários.
(E) textos de linguagem formal e informal.
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite
de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para Gabarito
casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e
contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar 01.C / 02.A / 03.B / 04.A / 05.C
lindo, de Lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade
eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas,
uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer
Figuras de linguagem.
aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
– O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua
conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima? FIGURAS DE LINGUAGEM9
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e
torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda. Também chamadas de Figuras de Estilo. Podemos
– Mas, que coisa... classificá-las em quatro tipos:
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu - Figuras de Palavras (ou tropos);
fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. - Figuras de Harmonia;
Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa. - Figuras de Construção (ou de sintaxe);
– Ora, sim senhor... - Figuras de Pensamento.
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa
noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão Figuras de Palavra
veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
(Rubem Braga, Ai, Copacabana, disponível em
http://biscoitocafeenovela.blogspot.com.br/2014/09/sessao-leitura-outra-noite- São as que dependem do uso de determinada palavra com
rubembraga.html. Acesso em 14/01/2018) sentido novo ou com sentido incomum. Vejamos:

Quanto ao gênero, o texto sob análise apresenta Metáfora: é um tipo de comparação (mental) sem uso de
características de: conectivos comparativos, com utilização de verbo de ligação
(A) Uma crônica. explícito na frase. Exemplo:
(B) Uma fábula. “Sua boca era um pássaro escarlate.” (Castro Alves)
(C) Um artigo.
(D) Um ensaio. Catacrese: consiste em transferir a uma palavra o sentido
(E) Nenhuma das alternativas. próprio de outra, utilizando-se formas já incorporadas aos
usos da língua. Se a metáfora surpreende pela originalidade da
03. (SEE/PE - Professor - FGV/2016) Os diversos associação de ideias, o mesmo não ocorre com a catacrese, que
gêneros textuais destacam uma qualificação predominante já não chama a atenção por ser tão repetidamente usada.
para cada enunciador; em um texto informativo, por exemplo,
o enunciador tem como marca específica
(A) o interesse de convencimento.

9 SCHICAIR. Nelson M. Gramática do Português Instrumental. 2ª. ed Niterói:

Impetus, 2007.

Língua Portuguesa 16
APOSTILAS OPÇÃO

Exemplos: Exemplo: O mundo é violento. (= os homens)


Batata da perna Azulejo vermelho
Pé da mesa Cabeça de alho Perífrase: é a substituição de um nome por uma expressão
que facilita a sua identificação.
Comparação ou Símile: é a comparação entre dois Exemplo: O país do futebol acredita no seu povo. (país do
elementos comuns; semelhantes. Normalmente se emprega futebol = Brasil)
uma conjunção comparativa: como, tal qual, assim como, que
nem. Exemplo: Figuras de Harmonia
“Como um anjo caído, fiz questão de esquecer...” (Legião
Urbana) São as que reproduzem os efeitos de repetição de sons,
ou ainda quando se busca representa-los. São elas:
Sinestesia: é a fusão de no mínimo dois dos cinco sentidos
físicos. Exemplos: Aliteração: repetição consonantal fonética (som da letra)
“De amargo e então salgado ficou doce, - Paladar geralmente no início da palavra.
Assim que teu cheiro forte e lento - Olfato Exemplo: “Sonhei que estava sonhando um sonho
Fez casa nos meus braços e ainda leve - Tato sonhado...” (Martinho da Vila)
E forte e cego e tenso fez saber - Visão
Que ainda era muito e muito pouco.” (Legião Urbana) Assonância: repetição da mesma vogal no decorrer de um
verso ou poema. Exemplo:
Antonomásia: quando substituímos um nome próprio “Sou Ana, da cama
pela qualidade ou característica que o distingue. Exemplos: Da cana, fulana bacana
O Águia de Haia (= Rui Barbosa) Sou Ana de Amsterdã.” (Chico Buarque)
O Pai da Aviação (= Santos Dumont)
Paronomásia: reprodução de sons semelhantes através
Metonímia: troca-se uma palavra por outra com a qual ela de palavras de significados diferentes. Exemplos:
se relaciona. Ocorre a metonímia quando substituímos: “Berro pelo aterro pelo desterro
- O autor ou criador pela obra. Exemplo: Gosto de ler Berro por seu berro pelo seu erro
Jorge Amado (observe que o nome do autor está sendo usado Quero que você ganhe que você me apanhe
no lugar de suas obras). Sou o bezerro gritando mamãe...”
(Caetano Veloso)
- O efeito pela causa e vice-versa. Exemplo: Ganho a vida
com o suor do meu rosto. (o suor é o efeito ou resultado e está Figuras de Construção
sendo usado no lugar da causa, ou seja, o “trabalho”).
Dizem respeito aos desvios de padrão de concordância
- O continente pelo conteúdo. Exemplo: Ela comeu uma quer quanto à ordem, omissões ou excessos. Dividem-se em:
caixa de doces. (= doces).
Omissão
- O abstrato pelo concreto e vice-versa. Exemplo: A Assíndeto: ocorre por falta ou supressão de conectivos.
velhice deve ser respeitada. (= pessoas velhas). Exemplos:
"Saí, bebi, enfim, vivi." (Nel de Moraes)
- O instrumento pela pessoa que o utiliza. Exemplo: Ele "Vim, vi e venci." (Júlio César)
é bom volante. (= piloto ou motorista).
- O lugar pelo produto. Exemplo: Gosto muito de tomar Elipse: supressão de vocábulo(s) que são facilmente
um Porto. (= a vinho da cidade do Porto). identificável(is). Exemplos:
"(Eu) Queria ser um pássaro dentro da noite."
- O símbolo ou sinal pela coisa significada. Exemplo: Os "No céu, (há) estrelas que brilham indômitas."
revolucionários queriam o trono. (= império, o poder).
Zeugma: elipse especial que consiste na supressão de um
- A parte pelo todo. Exemplo: Não há teto para os termo já, anteriormente, expresso no contexto. Exemplos:
necessitados. (= a casa). "Nós nos desejamos e (nós) não nos possuímos."
"Foi saqueada a vila, e (foram) assassinados os partidários
- O indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: Ele foi o dos Filipes." (Camilo Castelo Branco)
judas do grupo. (= espécie dos homens traidores).
Repetição
- O singular pelo plural. Exemplo: O homem é um animal Anáfora: é a repetição intencional de palavras, no início de
racional. (o singular homem está sendo usado no lugar do um período, frase ou verso. Exemplos:
plural homens). “Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
- O gênero ou a qualidade pela espécie. Exemplo: Nós Eu quase não consigo
mortais, somos imperfeitos. (= seres humanos). Ficar na cidade sem viver contrariado."
(Gilberto Gil)

- A matéria pelo objeto. Exemplo: Ele não tem um níquel. Polissíndeto: repetição enfática de conjunções
(= moeda). coordenativas (geralmente e). Exemplos:
"E saber, e crescer, e ser, e haver
Observação: os últimos 5 casos recebem também o nome E perder, e sofrer, e ter horror."
de Sinédoque. (Vinícius de Morais)

Sinédoque: significa a troca que ocorre por relação de Pleonasmo: repetição da ideia, isto é, redundância
compreensão e que consiste no uso do todo, pela parte do semântica e sintática, divide-se em:
plural pelo singular, do gênero pela espécie, ou vice-versa.

Língua Portuguesa 17
APOSTILAS OPÇÃO

a) Gramatical: com objetos direto ou indireto redundantes, gramatical rígida que impõe que adjetivos concordem em
chamam-nos pleonásticos. Exemplos: gênero com o substantivo, não em sexo.
"Perdoo-te a ti, meu amor."
"O carro velho, eu o vendi ontem." b) De Número: singular e plural não concordam entre si.
Ex.: "O esquadrão sobrevoaram o céu azul daquela manhã
b) Vicioso: deve ser evitado por não acrescentar de verão."
informação nova ao que já havia sido dito anteriormente. Ocorre algo semelhante na silepse de número, apenas se
Exemplos: subir para cima; descer para baixo; repetir de novo; ressalve que nesses casos o 'desprezo' se dá quanto à
hemorragia sanguínea; protagonista principal; monopólio concordância verbal, afinal, esquadrão é palavra de natureza
exclusivo. coletiva (coletivo de aviões) e, mais uma vez por questões
estilísticas, o autor preferiu à regra, na qual se baseia a
Ruptura Gramática Normativa, o livre voar de suas ideias.
Anacoluto: a construção do período deixa um ou mais
termos sem função sintática. Dê atenção especial porque o c) De Pessoa: sujeito e verbo não concordam entre si. Ex.:
anacoluto é parecido com o pleonasmo, ou melhor, na “A gente não sabemos escolher presidente.”
tentativa de um pleonasmo sintático, muitas vezes, acaba-se “A gente não sabemos tomar conta da gente."
por criar a ruptura. Exemplo: (Ultraje a Rigor)
"Os meus vizinhos, não confio mais neles." - a função Nos casos de silepse de pessoa há, por parte do autor, uma
sintática de os meus vizinhos é nula, não há; entretanto, se clara intromissão, característica do discurso indireto livre,
houvesse preposição (Nos meus vizinhos, não confio mais quando, ao informar, o emissor se coloca como parte da ação.
neles), o termo seria objeto indireto, enquanto neles seria o
objeto indireto pleonástico. Figuras de Pensamento

Inversão São recursos de linguagem que se referem ao aspecto


Anástrofe: inversão sintática leve. Exemplos: semântico, ou seja, ao significado dentro de um contexto.
"Tão leve estou que já nem sombra tenho." (ordem
inversa) (Mário Quintana) Antítese: é a aproximação de palavras de sentidos
"Estou tão leve que já não tenho sombra." (ordem direta) contrários, antagônicos. Exemplos:
"Onde queres prazer, sou o que dói
Hipálage: inversão de um adjetivo (uma qualidade que E onde queres tortura, mansidão
pertence a um é atribuída a outro substantivo). Exemplos: Onde, queres um lar, Revolução
“A mulher degustava lânguida cigarrilha.” E onde queres bandido, sou herói."
(Caetano Veloso)
Lânguida = sensual, portanto lânguida é a mulher, e não a
cigarrilha como faz supor.
Paradoxo ou Oximoro: é mais que a aproximação
"Em cada olho um grito castanho de ódio." (Dalton Trevisan)
antitética; é a própria ideia que se contradiz. Exemplos:
Castanhos são os olhos, e não o grito.
"O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)
"Mas tão certo quanto o erro de seu barco a motor é insistir
Hipérbato: inversão complexa de termos da frase.
em usar remos."
Exemplos: (Legião Urbana)
"Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas
cabeças pôr de rosas." (Camões) Apóstrofe: é a evocação, o chamamento. Identifica-se
“Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de facilmente na função sintática do VOCATIVO. Exemplos:
rosas na cabeça.” "Ó lindo mar verdejante,
Sínquise: há uma inversão violenta de distantes partes da tuas ondas entoam cantos,
oração. É um hipérbato "hiperbólico". Exemplos: és tu o dono reinante
“...entre vinhedo e sebe das brancas marés espumantes..."
corre uma linfa e ele no seu de faia (Nel de Moraes)
de ao pé do Alfeu Tarro escultado bebe.”
(Alberto de Oliveira) Perífrase: designação dos objetos, acidentes geográficos,
“Uma linfa corre entre vinhedo e sebe, e ele bebe no seu indivíduos e outros que não queremos simplesmente nomear.
Tarro escultado, de faia, ao pé do Alfeu.” Exemplos:
"Última Flor do Lácio10, inculta e bela,
Quiasmo: inversão de palavras que se repetem. Exemplos: és a um tempo esplendor e sepultura."
"Tinha uma pedra no meio do meu caminho. / No meio do meu (Olavo Bilac)
caminho tinha uma pedra." Cidade Luz [z: Paris)
(G. D. Andrade) Veneza Brasileira (= Recife)
Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro)
Concordância Ideológica Rei dos Animais (= leão)
Silepse: é a concordância feita pela ideia, e não através das
prerrogativas das classes das palavras. São três: Gradação: é uma sequência de palavras ou ideias que
servem de intensificação numa sequência temporal. Ex.:
a) De Gênero: masculino e feminino não concordam. Ex.: "Dissecou-a a tal ponto, e com tal arte, que ela, rota, baça,
"A vítima era lindo e o carrasco estava temerosa quanto à nojenta, vil."
reação da população." (Raimundo Corrêa)
Perceba que vítima e carrasco não receberam de seus
adjetivos lindo e temerosa a 'atenção' devida, por quê? Isso se Ironia: consiste em dizer o oposto do que se pensa, com
deve à ideia de que os substantivos sobrecomuns designam intenção sarcástica ou depreciativa. Exemplos:
ambos os sexos, e não ambos os gêneros, portanto, por
questões estilísticas, o autor do texto preferiu a ideia à regra

10 Flor do Lácio (= Língua Portuguesa)

Língua Portuguesa 18
APOSTILAS OPÇÃO

"A excelente Dona lnácia era mestra na arte de judiar de (B) eufemismo.
criança." (Monteiro Lobato) (C) ironia
"Dona Clotilde, o arcanjo do seu filho quebrou minhas (D) metáfora
vidraças." (E) silepse.

Hipérbole: é a figura do exagero, a fim de proporcionar 03. (Pref. de Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem
uma imagem chocante ou emocionante. Exemplos: - IDHTEC/2016)
"Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac)
"Existem mil maneiras de preparar Neston." MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)

Eufemismo: Figura que atenua ideias desagradáveis ou Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama
penosas. Exemplos: de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
"E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da
Deus lhe pague." (Chico Buarque) ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia
Paz derradeira = morte de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias
"Aquele homem de índole duvidosa apropriou-se (ladrão) semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a
indevidamente dos meus pertences." (roubou) enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos
teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-
Disfemismo: expressão grosseira em lugar de outra, posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo! ...) mas
suave, branda. Exemplo: vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende
“Você não passa de um porco ... um pobretão.” demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente
firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando,
Personificação ou Prosopopeia: Consiste em dar vida a formando, anunciando - o dia da humanidade.
seres inanimados. Exemplos: (Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
"O vento beija meus cabelos
As ondas lambem minhas pernas O poema, Mamã Negra:
O sol abraça o meu corpo." (A) É uma metáfora para a pátria sendo referência de um
(Lulu Santos - Nelson Motta) país africano que foi colonizado e teve sua população
escravizada.
"Sob o sol respira o mar, (B) É um vocativo e clama pelos efeitos negativos da
dedilhando as ondas, belo olhar. escravização dos povos africanos.
Faiscando espumas, lágrimas (C) É a referência resumida a todo o povo que compõe um
saúdam sereias amantes: país libertado depois de séculos de escravidão.
Te escutam, te amam, te lambem." (D) É o sofrimento que acometeu todo o povo que ficou na
(Nel de Moraes) terra e teve seus filhos levados pelo colonizador.
(E) É a figura do colonizador que mesmo exercendo o
Reificação: consiste em 'coisificar' os seres humanos. poder por meio da opressão foi “ninado “ela Mamã Negra.
Exemplo: "Tia, já botei os candidatos na lista."
04. (Pref. de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala -
Lítotes: consiste em negar por afirmação ou vice-versa. FEPESE/2016) Analise as frases abaixo:
Exemplos:
"Ela até que não é feia." -logo, é bonita! 1. “Calções negros corriam, pulavam durante o jogo.”
"Você está exagerando. Não subestime a sua inteligência." 2. A mulher conquistou o seu lugar!
- porque ela é inteligente. 3. Todo cais é uma saudade de pedra.
4. Os microfones foram implacáveis com os novos artistas.
Questões
Assinale a alternativa que corresponde correta e
01. (IF/PA - Assistente em Administração - sequencialmente às figuras de linguagem apresentadas:
FUNRIO/2016) “Quero um poema ainda não pensado, / que (A) metáfora, metonímia, metáfora, metonímia
inquiete as marés de silêncio da palavra ainda não escrita nem (B) metonímia, metonímia, metáfora, metáfora
pronunciada, / que vergue o ferruginoso canto do oceano / e (C) metonímia, metonímia, metáfora, metonímia
reviva a ruína que são as poças d’água. / Quero um poema para (D) metonímia, metáfora, metonímia, metáfora
vingar minha insônia.” (Olga Savary, “Insônia”) (E) metáfora, metáfora, metonímia, metáfora

Nesses versos finais do poema, encontramos as seguintes 05. (COMLURB - Técnico de Segurança do Trabalho -
figuras de linguagem: IBFC/2016) Leia o poema abaixo e assinale a alternativa que
(A) silepse e zeugma indica a figura de linguagem presente no texto:
(B) eufemismo e ironia.
(C) prosopopeia e metáfora. Amor é fogo que arde sem se ver
(D) aliteração e polissíndeto. Amor é fogo que arde sem se ver;
(E) anástrofe e aposiopese. É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
02. (IF/PA - Auxiliar em Administração - É dor que desatina sem doer;
FUNRIO/2016) “Eu sou de lá / Onde o Brasil verdeja a alma e (Camões)
o rio é mar / Eu sou de lá / Terra morena que eu amo tanto,
meu Pará.” (Pe. Fábio de Melo, “Eu Sou de Lá”) (A) Onomatopeia
(B) Metáfora
Nesse trecho da canção gravada por Fafá de Belém, (C) Personificação
encontramos a seguinte figura de linguagem: (D) Pleonasmo
(A) antítese.

Língua Portuguesa 19
APOSTILAS OPÇÃO

Respostas - Soberba e humildade.


01.C / 02.D / 03.A / 04.C / 05.B - Louvar e censurar.
- Mal e bem.

Significação de palavras e A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido


oposto ou negativo.
expressões. Relações de Exemplos:
sinonímia e de antonímia. - bendizer/maldizer
- simpático/antipático
- progredir/regredir
- concórdia/discórdia
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS - explícito/implícito
- ativo/inativo
O significado das palavras11 é estudado pela semântica, a - esperar/desesperar
parte da gramática que estuda não só o sentido das palavras
como as relações de sentido que as palavras estabelecem entre Questões
si: relações de sinonímia, antonímia, paronímia, homonímia...
Compreender essas relações nos proporciona o 01. (MPE/SP – Biólogo – VUNESP) McLuhan já alertava
alargamento do nosso universo semântico, contribuindo para que a aldeia global resultante das mídias eletrônicas não
uma maior diversidade vocabular e maior adequação aos implica necessariamente harmonia, implica, sim, que cada
diversos contextos e intenções comunicativas. participante das novas mídias terá um envolvimento
gigantesco na vida dos demais membros, que terá a chance de
Sinônimos meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que quiser das
informações que conseguir. A aclamada transparência da coisa
Trata12 de palavras diferentes na forma, mas com sentidos pública carrega consigo o risco de fim da privacidade e a
iguais ou aproximados. Tudo depende do contexto e da superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas
intenção do falante. morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos
Vale lembrar também que muitas palavras são sinônimas, participar.
se levarmos em conta as variações geográficas (aipim = Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais,
macaxeira; mexerica = tangerina; pipa = papagaio; aipo = apenas em número de atualizações nas páginas e na
salsão...). capacidade dos usuários de distinguir essas variações como
Exemplos de sinônimos: relevantes no conjunto virtualmente infinito das
- Brado, grito, clamor. possibilidades das redes. Para achar o fio de Ariadne no
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. labirinto das redes sociais, os usuários precisam ter a
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. habilidade de identificar e estimar parâmetros, aprender a
extrair informações relevantes de um conjunto finito de
Na maioria das vezes não tem diferença usar um sinônimo observações e reconhecer a organização geral da rede de que
ou outro. Embora tenham sentido comum, os sinônimos participam.
diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por nuances de O fluxo de informação que percorre as artérias das redes
significação e certas propriedades que o escritor não pode sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos
desconhecer. recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens
Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem
restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios da fala conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
corrente, vulgar, outros, ao invés, pertencem à esfera da sentimento de pânico experimentados por um número
linguagem culta, literária, científica ou poética (orador e crescente de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo
tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). móvel ou quando ficam sem conexão com a Internet. Essa
Exemplos: informação, como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir
- Adversário e antagonista. os poros da sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto
- Translúcido e diáfano. um veneno para o espírito.
- Semicírculo e hemiciclo. (Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes.
- Contraveneno e antídoto. Revista USP, no 92. Adaptado)
- Moral e ética.
- Colóquio e diálogo. As expressões destacadas nos trechos – meter o bedelho
- Transformação e metamorfose. / estimar parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
- Oposição e antítese. adequados respectivamente em:
(A) procurar / gostar de / ilustrar
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se (B) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer
sinonímia, palavra que também designa o emprego de (C) interferir / propor / embrutecer
sinônimos. (D) intrometer-se / prezar / esclarecer
(E) contrapor-se / consolidar / iluminar
Antônimos
02. (Pref. Itaquitinga/PE – Psicólogo – IDHTEC) A
Trata de palavras, expressões ou frases diferentes na entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os combatentes
forma e com significações opostas, excludentes. Normalmente contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se;
ocorre por meio de palavras de radicais diferentes, com comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante,
prefixo negativo ou com prefixos de significação contrária. naquele armistício transitório, uma legião desarmada,
Exemplos: mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o
- Ordem e anarquia.

11 https://www.normaculta.com.br/significacao-das-palavras/ 12 Pestana, Fernando. A gramática para concursos públicos / Fernando

Pestana. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Língua Portuguesa 20
APOSTILAS OPÇÃO

das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar
bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os (acelerar).
rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e - Censo (recenseamento) e senso (juízo).
escalavros – a vitória tão longamente apetecida decaía de - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com - Paço (palácio) e passo (andar).
efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos - Hera (trepadeira), era (época), era (verbo).
de combates, de reveses e de milhares de vidas, o apresamento - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
daquela caqueirada humana – do mesmo passo angulhenta e anular).
sinistra, entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos, - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
num longo enxurro de carcaças e molambos... (tempo de uma reunião ou espetáculo).
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma
arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças pronúncia.
envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando; - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
(CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Parônimos
Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
São palavras parecidas na escrita e na pronúncia:
Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de - coro e couro,
sinônimos? - cesta e sesta,
(A) Armistício – destruição - eminente e iminente,
(B) Claudicante – manco - degradar e degredar,
(C) Reveses – infortúnios - cético e séptico,
(D) Fealdade – feiura - prescrever e proscrever,
(E) Opilados – desnutridos - descrição e discrição,
- infligir (aplicar) e infringir (transgredir),
Gabarito - sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder),
- comprimento e cumprimento,
01.B / 02.A - deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
divergir, adiar),
Homônimos - ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto, corrigir),
- vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
Trata de palavras iguais na pronúncia e/ou na grafia, mas vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
com significados diferentes. Exemplos:
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Heteronímia13
- Aço (substantivo) e asso (verbo). Ocorre quando palavras diferentes apontam para cada um
dos sexos:
Só o contexto é que determina a significação dos - homem/mulher
homônimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, - boi/vaca
por isso é considerada uma deficiência dos idiomas. - frade/freira
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto - pai/mãe
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: - padrinho/madrinha

Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes Questões


no timbre ou na intensidade das vogais.
- Rego (substantivo) e rego (verbo). 01. (Pref. Lauro Muller/SC – Auxiliar Administrativo –
- Colher (verbo) e colher (substantivo). FAEPESUL) Atento ao emprego dos Homônimos, analise as
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). palavras sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA:
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). (A) Ainda vivemos no Brasil a descriminação racial. Isso é
- Para (verbo parar) e para (preposição). crime!
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). (B) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente.
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de (C) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão
per+o). agora expiar seus crimes.
(D) Em todos os momentos, para agir corretamente, é
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e preciso o bom censo.
diferentes na escrita. (E) Prefiro macarronada com molho, mas sem estrato de
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). tomate.
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de
consertar).

13 BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2009.

Língua Portuguesa 21
APOSTILAS OPÇÃO

02. (Pref. Cruzeiro/SP – Instrutor de Desenho Técnico (A) hiperônimos.


e Mecânico – Instituto Excelência) Assinale a alternativa em (B) hipônimos.
que as palavras podem servir de exemplos de parônimos: (C) cognatos.
(A) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem (D) polissêmicos.
gentil). (E) parônimos.
(B) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo).
(C) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se 02. “O caminhão atravessou a pista e bateu na mureta de
senta). proteção, o veículo ficou totalmente destruído”. Na frase acima
(D) Nenhuma das alternativas. a palavra “veículo” representa um caso de:
(A) polissemia;
03. (Prefeitura de Salvador/BA – Técnico de (B) antonímia;
Enfermagem do Trabalho – FGV) Assinale a opção que (C) hiponímia;
mostra a frase cuja lacuna deve ser preenchida com a primeira (D) hiperonímia;
das formas entre parênteses. (E) heteronímia.
(A) “__________ é um homem que jamais bate numa mulher
sem primeiro tirar o chapéu”. (cavaleiro / cavalheiro) Gabarito
(B) “A indústria do __________ se beneficia do sexo, ou você
acha que as pessoas andariam com os jeans apertados desse 01.B / 02.D
jeito se não fosse pela conotação sexual?”.
(vestiário/vestuário) Polissemia
(C) “A diminuição __________ do nível da água dos
reservatórios trazia preocupação aos governadores de A palavra polissêmica é aquela que, dependendo do
Estado”. (eminente/iminente) contexto, muda de sentido (mas não muda de classe
(D) “As mudanças no Código Penal incluem possibilidades gramatical!). Por exemplo, veja os sentidos de “peça”: “peça de
de __________ penas mais duras aos criminosos”. automóvel”, “peça de teatro”, “peça de bronze”, “és uma boa
(infligir/infringir) peça”, “uma peça de carne” etc.
(E) “As novas medidas presidenciais vieram __________ o Agora, observe mais estes exemplos:
acerto das votações no Congresso Nacional”. (retificar / Desculpe o bolo que te dei ontem.
ratificar) Comemos um bolo delicioso na casa da Jéssica.
Tenho um bolo de revistas lá em casa.16
Gabarito
Monossemia é o oposto de polissemia, ou seja, quando a
01.C / 02.A / 03.D palavra tem um único significado.

Hiperonímia e Hiponímia É possível perceber que alguns desses contextos passaram


a fazer sentido por questões sociais, culturais ou históricas
Partindo do princípio de que as palavras estabelecem adquiridas ao longo do tempo. Vale ressaltar, no entanto, que
entre si uma relação de significado, observe este enunciado14: o sentido original descrito no dicionário é o que prevalece,
Fomos à feira e compramos maçã, banana, abacaxi, melão... sendo os demais atribuídos pela analise contextual.
Nossa! Como estavam baratas, pois são frutas da estação.
Atenção aos vocábulos “maçã”, “banana”, “abacaxi”, Polissemia e Homonímia
“melão” e também “frutas”, perguntamo-nos: existe alguma Não confunda polissemia e homonímia. Polissemia remete
relação entre eles? Toda, não é verdade? Desse modo, ao a uma palavra que apresenta diversos significados que se
observar o conceito de hiperonímia e hiponímia, chegaremos encaixam em diversos contextos, enquanto homonímia refere-
à conclusão pretendida. Note: se as duas ou mais palavras que apresentam origens e
significados distintos, mas possuem grafia e fonologia
Hiperonímia15 - como o próprio prefixo já nos indica, esta idênticas.
palavra confere-nos uma ideia de um todo, sendo que deste Por exemplo, “manga” é uma palavra que representa um
todo se originam outras ramificações, como é o caso de frutas. caso de homonímia. O termo designa tanto uma fruta quanto
Palavras e expressões de sentido mais geral. uma parte da camisa. Não se trata de uma polissemia por que
os dois significados são próprios da palavra e têm origens
Hiponímia - demarcando o oposto do conceito da palavra diferentes. Por esse motivo, muitos especialistas defendem
anterior, podemos afirmar que ela representa cada parte, cada que a palavra “manga” deveria possuir duas entradas distintas
item de um todo, no caso: maçã, banana, abacaxi, melão. Sim, no dicionário.
essas são palavras hipônimas. Palavras e expressões com
sentido mais restrito, mas estão associadas ao conjunto maior Polissemia e Ambiguidade
que são as frutas. Tanto a polissemia quanto a ambiguidade são elementos
da linguagem que podem provocar confusões na interpretação
Questões de frases. No caso da ambiguidade, geralmente, o enunciado
apresenta uma construção de palavras que permite mais de
01. Os vocábulos destacados em “Na banca da feira da uma interpretação para a frase em questão.
vinte e cinco, havia cupuaçu, bacuri, taperebá e outras frutas Nem sempre se trata de uma palavra que tenha mais de um
regionais.”, têm relação entre si por possuírem o mesmo significado, mas de como as palavras estão dispostas na frase,
campo semântico, isto é, todos são frutas inclusive típicas da permitindo que as informações sejam interpretadas de mais
Amazônia. de uma maneira. Ex. Jorge criticou severamente a prima de sua
Tais termos destacados, em relação à palavra “fruta”, são amiga, que frequentava o mesmo clube que ele. Nesse caso, o
designados como: pronome que pode estar referindo-se a amiga ou a prima.

14https://portugues.uol.com.br/gramatica/hiperonimia-hiponimia.html 16 PESTANA, Fernando. A gramática para concursos. Elsevier. 2013.


15 https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/hiperonimia-
hiponimia.htm

Língua Portuguesa 22
APOSTILAS OPÇÃO

Já no caso da polissemia, por uma mesma palavra possuir O efeito de humor, na tirinha, é explorado pelo recurso
mais de um significado, ela pode fazer com que as pessoas não semântico da:
compreendam o sentido usado no primeiro contato com a (A) Sinonímia.
frase e interpretem o enunciado de uma maneira diferente do (B) Polissemia
que ele era intencionado. Neste caso, para que isso não ocorra, (C) Contradição.
é importante que fique claro qual é o contexto em que a (D) Antonímia.
palavra foi usada. (E) Ambiguidade.

Questão 03. (SAMAE de Caxias do Sul/RS - Assistente de


Planejamento - OBJETIVA/2017)
01. (SANEAGO/GO - Agente de Saneamento - CS/2018)

Predestinação

Tinha no nome seu destino líquido: mar, rio e lago.


Pois chamava-se Mário Lago.
Viu a luz sob o signo de Piscis.
Brilhava no céu a constelação de Aquário.
Veio morar no Rio.
Quando discutia, sempre levava um banho.
Pois era um temperamento transbordante.
Sua arte preferida: água-forte.
Seu provérbio predileto: "Quem tem capa, escapa".
Sua piada favorita: "Ser como o rio:
seguir o curso sem deixar o leito".
Pois estudava: engenharia hidráulica. Considerando-se a representação semântica da palavra
Quando conheceu uma moça de primeira água. “vendo” no contexto da tirinha abaixo, é CORRETO afirmar
Foi na onda. que ocorre:
Teve que desistir dos estudos quando (A) Denotação.
já estava na bica para se formar. (B) Conotação.
Então arranjou um emprego em Ribeirão das Lajes. (C) Homonímia.
Donde desceu até ser leiteiro. (D) Homofonia.
Encarregado de pôr água no leite. (E) Sinonímia.
Ficou noivo e deu à moça uma água-marinha.
Mas ela o traiu com um escafandrista. 04. (Pref. Videira/SC - Agente Administrativo -
E fugiu sem dizer água vai. ASSCONPP/2016) Observe as frases abaixo:
Foi aquela água. I. A mãe vela pelo sono do filho doente.
Desde então ele só vivia na chuva II. O barco à vela foi movido pelo vento.
Virou pau de água.
Portanto, com hidrofobia. A palavra vela presenta vários sentidos, esta propriedade
Foi morar numa água-furtada. das palavras é denominada:
Deu-lhe água no pulmão. (A) Homonímia;
Rim flutuante. (B) Polissemia;
Água no joelho. (C) Sinonímia;
Hidropsia. (D) Antonímia;
Bolha d’água. (E) Nenhuma das alternativas anteriores.
Gota.
Catarata. 05. (Pref. Fronteira/MG - Contador - MÁXIMA/2016)
Morreu afogado.
FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. Editora
Círculo do Livro: São Paulo, 1975.

O humor do texto é construído por meio do jogo entre


palavras denotativas e conotativas. O principal recurso de
sentido usado, portanto, foi a:
(A) polissemia.
(B) ironia. A mensagem dessa tirinha apoia-se no duplo sentido de
(C) intertextualidade. uma palavra através de um recurso:
(D) ambiguidade. (A) Vida - homonímia;
(B) Balanço - polissemia;
02. (SEDUC/PI - Professor Temporário - Língua (C) Balanço - sinonímia;
Portuguesa - NUCEPE/2018) (D) Vida - polissemia.

Gabarito

01.D / 02.B / 03.C / 04.B / 05.B

Língua Portuguesa 23
APOSTILAS OPÇÃO

Sentido Próprio e Sentido Figurado para designar apenas um tipo de flor que tem a propriedade
de acompanhar o movimento do Sol.
As palavras podem ser empregadas no sentido próprio ou Há certas palavras que, além do significado explícito,
no sentido figurado. Exemplos: contêm outros implícitos (ou pressupostos). Os exemplos são
- Construí um muro de pedra. (Sentido próprio). muitos. É o caso do adjetivo outro, por exemplo, que indica
- Ênio tem um coração de pedra. (Sentido figurado). certa pessoa ou coisa, pressupondo necessariamente a
- As águas pingavam da torneira. (Sentido próprio). existência de ao menos uma além daquela indicada.
- As horas iam pingando lentamente. (Sentido figurado). Prova disso é que não faz sentido, para um escritor que
nunca lançou um livro, dizer que ele estará autografando seu
Denotação e Conotação outro livro. O uso de outro pressupõe necessariamente ao
Denotação é o sentido da palavra interpretada ao pé da menos um livro além daquele que está sendo autografado.
letra, isto é, de acordo com o sentido geral que ela tem na
maioria dos contextos em que ocorre. É o sentido próprio da Questões
palavra, aquele encontrado no dicionário. Exemplo: “Uma
pedra no meio da rua foi a causa do acidente.” 01. (PC/CE – Delegado de Polícia Civil – VUNESP)
A palavra “pedra” aqui está usada em sentido literal, ou
seja, o objeto mesmo. A morte do narrador
Recentemente recebi um e-mail de uma leitora
Conotação é o sentido da palavra desviado do usual, isto é, perguntando a razão de eu ter, segundo ela, uma visão tão dura
aquele que se distancia do sentido próprio e costumeiro. para com os idosos. O motivo da sua pergunta era eu ter dito,
Exemplo: “As pedras atiradas pela boca ferem mais do que as em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais
atiradas pela mão.” vovôs e vovós, porque estavam todos na academia querendo
“Pedras”, nesse contexto, não está indicando o que parecer com seus netos.
usualmente significa, mas um insulto, uma ofensa produzida Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter
pelas palavras. me entendido mal, o que acontece com frequência quando se
discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque o
Ampliação de Sentido próprio termo “velhice" já pede sinônimos politicamente
Fala-se em ampliação de sentido quando a palavra passa a corretos, como “terceira idade", “melhor idade", “maturidade",
designar uma quantidade mais ampla de significado do que o entre outros.
seu original. Uma característica do politicamente correto é que, quando
“Embarcar”, por exemplo, que originariamente era usada ele se manifesta num uso linguístico específico, é porque esse
para designar o ato de viajar em um barco, ampliou uso se refere a um conceito já considerado como algo ruim. A
consideravelmente o sentido e passou a designar a ação de marca essencial do politicamente correto é a hipocrisia
viajar em outros veículos. Hoje se diz, por ampliação de articulada como gesto falso, ideias bem comportadas.
sentido, que um passageiro: Voltando à velhice. Minha leitora entendeu que eu dizia
- embarcou em um trem. que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no
- embarcou no ônibus das dez. abandono, e não procurar ser felizes. Mas, quando eu dizia que
- embarcou no avião da força aérea. eles estão fugindo da condição de avós, usava isso como
- embarcou num transatlântico. metáfora da mentira (politicamente correta) quanto ao medo
que temos de afundar na doença, antes de tudo psicológica,
“Alpinista”, na origem, era usado para indicar aquele que devido ao abandono e à solidão, típicos do mundo
escala os Alpes (cadeia montanhosa europeia). Depois, por contemporâneo. Minha crítica era à nossa cultura, e não às
ampliação de sentido, passou a designar qualquer tipo de vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está
praticante de escalar montanhas. intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e
da morte. Sua opção é pela “negação", traço de um dos
Restrição de Sentido sintomas neuróticos descritos por Freud.
Ao lado da ampliação de sentido, existe o movimento Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que
inverso, isto é, uma palavra passa a designar uma quantidade na modernidade o narrador da vida desapareceu. Isso quer
mais restrita de objetos ou noções do que originariamente. É o dizer que as pessoas encarregadas, antigamente, de narrar a
caso, por exemplo, das palavras que saem da língua geral e vida e propor sentido para ela perderam esse lugar. Hoje os
passam a ser usadas com sentido determinado, dentro de um mais velhos querem “aprender" com os mais jovens (aprender
universo restrito do conhecimento. a amar, se relacionar, comprar, vestir, viajar, estar nas redes
A palavra aglutinação, por exemplo, na nomenclatura sociais). Esse fenômeno, além de cruel com o envelhecimento,
gramatical, é bom exemplo de especialização de sentido. Na é também desorganizador da própria juventude. Ouço
língua geral, ela significa qualquer junção de elementos para cotidianamente, na sala de aula, os alunos demonstrarem seu
formar um todo, porém em Gramática designa apenas um tipo desprezo por pais e mães que querem aprender a viver com
de formação de palavras por composição em que a junção dos eles.
elementos acarreta alteração de pronúncia, como é o caso de Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a
pernilongo (perna + longa). combater essa desvalorização dos mais velhos. As ferramentas
Se não houver alteração de pronúncia, já não se diz mais de informação, normalmente mais acessíveis aos jovens,
aglutinação, mas justaposição. A palavra Pernalonga, por aumentam a percepção negativa dos mais velhos diante do
exemplo, que designa uma personagem de desenhos acúmulo de conhecimento posto a serviço dos consumidores,
animados, não se formou por aglutinação, mas por que questionam as “verdades constituídas do passado". A
justaposição. própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna
Em linguagem científica é muito comum restringir-se o – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a
significado das palavras para dar precisão à comunicação. invisibilidade dos mais velhos. Em termos humanos, o passado
A palavra girassol, formada de gira (do verbo girar) + sol, (que “nada" serve ao mundo do progresso) tem um nome:
não pode ser usada para designar, por exemplo, um astro que idoso. Enfim, resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou
gira em torno do Sol, seu sentido sofreu restrição, e ela serve para as redes sociais.
(Luiz Felipe Pondé, Somma, agosto 2014, p. 31. Adaptado)

Língua Portuguesa 24
APOSTILAS OPÇÃO

O termo empregado com sentido figurado está em 03. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VUNESP)
destaque na seguinte passagem do texto: Leia o texto para responder a questão.
(A) Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece
com frequência quando se discute o tema da velhice… Um pé de milho
(segundo parágrafo).
(B) O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra
minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um
vovós… (primeiro parágrafo). pé de capim – mas descobri que era um pé de milho.
(C) Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa.
que na modernidade o narrador da vida desapareceu. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele
(Penúltimo parágrafo). reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um
(D) A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era
moderna – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e
invisibilidade dos mais velhos. (Último parágrafo). afirmou que era cana.
(E) Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu
se afundar na doença, na solidão e no abandono… (quarto tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas
parágrafo). folhas além do muro – e é um esplêndido pé de milho. Já viu o
leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto
02. (PC/CE – Escrivão de Polícia Civil – VUNESP) centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho
sozinho, em um anteiro, espremido, junto do portão, numa
Ficção universitária esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo
Os dados do Ranking Universitário publicados em e independente. Suas raízes roxas se agarra mão chão e suas
setembro de 2013 trazem elementos para que tentemos folhas longas e verdes nunca estão imóveis.
desfazer o mito, que consta da Constituição, de que pesquisa e Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos
ensino são indissociáveis. É claro que universidades que fazem encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou.
pesquisa tendem a reunir a nata dos especialistas, produzir Há muitas flores belas no mundo, e a flor do meu pé de milho
mais inovação e atrair os alunos mais qualificados, tornando- não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical,
se assim instituições que se destacam também no ensino. beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho
O Ranking Universitário mostra essa correlação de forma vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. É alguma
cristalina: das 20 universidades mais bem avaliadas em coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de
termos de ensino, 15 lideram no quesito pesquisa (e as demais milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre
estão relativamente bem posicionadas). Das 20 que saem à homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou
frente em inovação, 15 encabeçam também a pesquisa. Daí não um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
decorre que só quem pesquisa, atividade estupidamente cara, (Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas, 2001)
seja capaz de ensinar. Assinale a alternativa em que, nas duas passagens, há
O gasto médio anual por aluno numa das três termos empregados em sentido figurado.
universidades estaduais paulistas, aí embutidas todas as (A) ... beijado pelo vento do mar... (3º §) / Meu pé de milho
despesas que contribuem direta e indiretamente para a boa é um belo gesto da terra. (3º §)
pesquisa, incluindo inativos e aportes de Fapesp, CNPq e (B) Mas ele reagiu. (1º §) / ... na verdade aquilo era capim.
Capes, é de R$ 46 mil (dados de 2008). Ora, um aluno do (1º §)
ProUni custa ao governo algo em torno de R$ 1.000 por ano em (C) Secaram as pequenas folhas... (1º §) / Sou um
renúncias fiscais. ignorante... (2º §)
Não é preciso ser um gênio da aritmética para perceber (D) Ele cresceu, está com dois metros... (2º §) / Tinha visto
que o país não dispõe de recursos para colocar os quase sete centenas de milharais... (2º §)
milhões de universitários em instituições com o padrão de (E) ... lança as suas folhas além do muro... (2º §) / Há muitas
investimento das estaduais paulistas. E o Brasil precisa flores belas no mundo... (3º §)
aumentar rapidamente sua população universitária. Nossa
taxa bruta de escolarização no nível superior beira os 30%, 04. (IF/SC – Técnico de Laboratório)
contra 59% do Chile e 63% do Uruguai. Assinale a opção em que NÃO há palavra usada em sentido
Isso para não mencionar países desenvolvidos como EUA conotativo.
(89%) e Finlândia (92%). Em vez de insistir na ficção (A) Tuas atitudes são o espelho do teu caráter.
constitucional de que todas as universidades do país precisam (B) Regras podem ser estabelecidas para uma convivência
dedicar-se à pesquisa, faria mais sentido aceitar o mundo pacífica.
como ele é e distinguir entre instituições de elite voltadas para (C) Pipocavam palavras no texto, como se fossem rabiscos
a produção de conhecimento e as que se destinam a difundi-lo. coloridos do próprio pensamento
O Brasil tem necessidade de ambas. (D) Choviam risadas naquela peça de humor.
(Hélio Schwartsman,: http://www1.folha.uol.com.br, 2013.) (E) A sabedoria abre as portas do conhecimento.

Assinale a alternativa em que a expressão destacada é 05. (FAPESE - Assistente em Administração -


empregada em sentido figurado. UFS/2018) No período “Tomara que a revolta que eu e muitos
(A) ... universidades que fazem pesquisa tendem a reunir a sentiram não morra nas redes sociais”, a forma verbal “morra”
nata dos especialistas... (do verbo morrer) é:
(B) Os dados do Ranking Universitário publicados em (A) usada em sentido denotativo;
setembro de 2013... (B) 3ª. pessoa do singular do pretérito perfeito, do modo
(C) Não é preciso ser um gênio da aritmética para perceber indicativo;
que o país não dispõe de recursos... (C) uma flexão regular da 3ª. pessoa do singular, do
(D) ... das 20 universidades mais bem avaliadas em termos pretérito imperfeito, do modo subjuntivo;
de ensino... (D) a flexão de 3ª. pessoa do singular, do futuro do
(E) ... todas as despesas que contribuem direta e pretérito, do modo indicativo;
indiretamente para a boa pesquisa... (E) usada em sentido conotativo.

Língua Portuguesa 25
APOSTILAS OPÇÃO

Gabarito 2) Palavras terminadas em: -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio.


Exemplos: estágio, privilégio, prestígio, relógio, refúgio.
01.D / 02.A / 03.A / 04.B / 05.E
3) Em palavras derivadas de outras que já apresentam “G”.
Exemplos: engessar (de gesso), massagista (de massagem),
vertiginoso (de vertigem).
Ortografia.
Observação - também se emprega com a letra “G” os
seguintes vocábulos: algema, auge, bege, estrangeiro, geada,
gengiva, gibi, gilete, hegemonia, herege, megera, monge,
ORTOGRAFIA
rabugento, vagem.
Alfabeto
Emprego do J
Para representar o fonema “j’ na forma escrita, a grafia
O alfabeto da língua portuguesa é formado por 26 letras. A –
considerada correta é aquela que ocorre de acordo com a
B–C–D–E–F–G–H–I–J–K–L–M–N–O–P–Q–R–S–
origem da palavra, como por exemplo no caso da na palavra jipe
T – U – V – W – X – Y – Z.
que origina-se do inglês jeep. Porém também se empregará o “J”
nas seguintes situações:
Observação: emprega-se também o “ç”, que representa o
fonema /s/ diante das letras: a, o, e u em determinadas palavras.
1) Em verbos terminados em -jar ou -jear. Exemplos:
Arranjar: arranjo, arranje, arranjem
Emprego das Letras e Fonemas
Despejar: despejo, despeje, despejem
Viajar: viajo, viaje, viajem
Emprego das letras K, W e Y
Utilizam-se nos seguintes casos:
2) Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica.
1) Em antropônimos originários de outras línguas e seus
Exemplos: biju, jiboia, canjica, pajé, jerico, manjericão, Moji.
derivados. Exemplos: Kant, kantismo; Darwin, darwinismo;
Taylor, taylorista.
3) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam “J”.
Exemplos: laranja –laranjeira / loja – lojista / lisonja –
2) Em topônimos originários de outras línguas e seus
lisonjeador / nojo – nojeira / cereja – cerejeira / varejo –
derivados. Exemplos: Kuwait, kuwaitiano.
varejista / rijo – enrijecer / jeito – ajeitar.
3) Em siglas, símbolos, e mesmo em palavras adotadas como
Observação - também se emprega com a letra “J” os
unidades de medida de curso internacional. Exemplos: K
seguintes vocábulos: berinjela, cafajeste, jeca, jegue, majestade,
(Potássio), W (West), kg (quilograma), km (quilômetro), Watt.
jeito, jejum, laje, traje, pegajento.
Emprego do X
Emprego do S
Se empregará o “X” nas seguintes situações:
Utiliza-se “S” nos seguintes casos:
1) Após ditongos.
1) Palavras derivadas de outras que já apresentam “S” no
Exemplos: caixa, frouxo, peixe.
radical. Exemplos: análise – analisar / catálise – catalisador /
Exceção: recauchutar e seus derivados.
casa – casinha ou casebre / liso – alisar.
2) Após a sílaba inicial “en”.
2) Nos sufixos -ês e -esa, ao indicarem nacionalidade, título
Exemplos: enxame, enxada, enxaqueca.
ou origem. Exemplos: burguês – burguesa / inglês – inglesa /
Exceção: palavras iniciadas por “ch” que recebem o prefixo
chinês – chinesa / milanês – milanesa.
“en-”. Ex.: encharcar (de charco), enchiqueirar (de chiqueiro),
encher e seus derivados (enchente, enchimento, preencher...)
3) Nos sufixos formadores de adjetivos -ense, -oso e –osa.
Exemplos: catarinense / palmeirense / gostoso – gostosa /
3) Após a sílaba inicial “me-”.
amoroso – amorosa / gasoso – gasosa / teimoso – teimosa.
Exemplos: mexer, mexerica, mexicano, mexilhão.
Exceção: mecha.
4) Nos sufixos gregos -ese, -isa, -osa.
Exemplos: catequese, diocese, poetisa, profetisa,
4) Se empregará o “X” em vocábulos de origem indígena ou
sacerdotisa, glicose, metamorfose, virose.
africana e em palavras inglesas aportuguesadas.
Exemplos: abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu,
5) Após ditongos.
bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar,
Exemplos: coisa, pouso, lousa, náusea.
rixa, oxalá, praxe, roxo, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara,
xale, xingar, etc.
6) Nas formas dos verbos pôr e querer, bem como em seus
derivados.
Emprego do Ch
Exemplos: pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse,
Se empregará o “Ch” nos seguintes vocábulos: bochecha,
puséssemos, quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera,
bucha, cachimbo, chalé, charque, chimarrão, chuchu, chute,
quiséssemos, repus, repusera, repusesse, repuséssemos.
cochilo, debochar, fachada, fantoche, ficha, flecha, mochila,
pechincha, salsicha, tchau, etc.
7) Em nomes próprios personativos.
Exemplos: Baltasar, Heloísa, Inês, Isabel, Luís, Luísa,
Emprego do G
Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás.
Se empregará o “G” em:
1) Substantivos terminados em: -agem, -igem, -ugem.
Observação - também se emprega com a letra “S” os
Exemplos: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem.
seguintes vocábulos: abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa,
Exceção: pajem.
cortesia, decisão, despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena,

Língua Portuguesa 26
APOSTILAS OPÇÃO

mesada, paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio, 6) Emprega-se Ss: nos substantivos derivados de verbos
querosene, raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo, terminados em -gredir, -mitir, -ceder e -cutir.
visita, etc. Exemplos: agredir – agressão / demitir – demissão / ceder –
cessão / discutir – discussão/ progredir – progressão /
Emprego do Z transmitir – transmissão / exceder – excesso / repercutir –
Se empregará o “Z” nos seguintes casos: repercussão.
1) Palavras derivadas de outras que já apresentam Z no
radical. 7) Emprega-se o Xc e o Xs: em dígrafos que soam como Ss.
Exemplos: deslize – deslizar / razão – razoável / vazio – Exemplos: exceção, excêntrico, excedente, excepcional,
esvaziar / raiz – enraizar /cruz – cruzeiro. exsudar.

2) Nos sufixos -ez, -eza, ao formarem substantivos abstratos Atenção - não se esqueça que uso da letra X apresenta
a partir de adjetivos. algumas variações. Observe:
Exemplos: inválido – invalidez / limpo – limpeza / macio – 1) O “X” pode representar os seguintes fonemas:
maciez / rígido – rigidez / frio – frieza / nobre – nobreza / pobre “ch” - xarope, vexame;
– pobreza / surdo – surdez. “cs” - axila, nexo;
“z” - exame, exílio;
3) Nos sufixos -izar, ao formar verbos e -ização, ao formar “ss” - máximo, próximo;
substantivos. “s” - texto, extenso.
Exemplos: civilizar – civilização / hospitalizar –
hospitalização / colonizar – colonização / realizar – realização. 2) Não soa nos grupos internos -xce- e -xci-
Exemplos: excelente, excitar.
4) Nos derivados em -zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita.
Exemplos: cafezal, cafezeiro, cafezinho, arvorezinha, cãozito, Emprego do E
avezita. Se empregará o “E” nas seguintes situações:
1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -oar, -uar
5) Nos seguintes vocábulos: azar, azeite, azedo, amizade, Exemplos: magoar - magoe, magoes / continuar- continue,
buzina, bazar, catequizar, chafariz, cicatriz, coalizão, cuscuz, continues.
proeza, vizinho, xadrez, verniz, etc.
2) Em palavras formadas com o prefixo ante- (antes,
6) Em vocábulos homófonos, estabelecendo distinção no anterior).
contraste entre o S e o Z. Exemplos: Exemplos: antebraço, antecipar.
Cozer (cozinhar) e coser (costurar);
Prezar (ter em consideração) e presar (prender); 3) Nos seguintes vocábulos: cadeado, confete, disenteria,
Traz (forma do verbo trazer) e trás (parte posterior). empecilho, irrequieto, mexerico, orquídea, etc.

Observação: em muitas palavras, a letra X soa como Z. Emprego do I


Como por exemplo: exame, exato, exausto, exemplo, existir, Se empregará o “I” nas seguintes situações:
exótico, inexorável. 1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -air, -oer, -uir.
Exemplos:
Emprego do Fonema S Cair- cai
Existem diversas formas para a representação do fonema “S” Doer- dói
no qual podem ser: s, ç, x e dos dígrafos sc, sç, ss, xc, xs. Assim Influir- influi
vajamos algumas situações:
2) Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra).
1) Emprega-se o S: nos substantivos derivados de verbos Exemplos: anticristo, antitetânico.
terminados em -andir, -ender, -verter e -pelir.
Exemplos: expandir – expansão / pretender – pretensão / 3) Nos seguintes vocábulos: aborígine, artimanha, chefiar,
verter – versão / expelir – expulsão / estender – extensão / digladiar, penicilina, privilégio, etc.
suspender – suspensão / converter – conversão / repelir –
repulsão. Emprego do O/U
A oposição o/u é responsável pela diferença de significado
2) Emprega-se Ç: nos substantivos derivados dos verbos ter de algumas palavras. Veja os exemplos: comprimento
e torcer. (extensão) e cumprimento (saudação, realização) soar (emitir
Exemplos: ater – atenção / torcer – torção / deter – detenção som) e suar (transpirar).
/ distorcer – distorção / manter – manutenção / contorcer – - Grafam-se com a letra “O”: bolacha, bússola, costume,
contorção. moleque.
- Grafam-se com a letra “U”: camundongo, jabuti, Manuel,
3) Emprega-se o X: em casos que a letra X soa como Ss. tábua.
Exemplos: auxílio, expectativa, experto, extroversão, sexta,
sintaxe, texto, trouxe. Emprego do H
Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor
4) Emprega-se Sc: nos termos eruditos. fonético. Conservou-se apenas como símbolo, por força da
Exemplos: acréscimo, ascensorista, consciência, descender, etimologia e da tradição escrita. A palavra hoje, por exemplo,
discente, fascículo, fascínio, imprescindível, miscigenação, grafa-se desta forma devido a sua origem na forma latina hodie.
miscível, plebiscito, rescisão, seiscentos, transcender, etc. Assim vejamos o seu emprego:

5) Emprega-se Sç: na conjugação de alguns verbos. 1) Inicial, quando etimológico.


Exemplos: nascer - nasço, nasça / crescer - cresço, cresça / Exemplos: hábito, hesitar, homologar, Horácio.
Descer - desço, desça.

Língua Portuguesa 27
APOSTILAS OPÇÃO

2) Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh, nh. falam e são tratados como crianças. Pelo jeito, infância e vida
Exemplos: flecha, telha, companhia. adulta têm hoje pouco a ver com idade cronológica.
Não é preciso muito para observar sinais dessa troca: basta
3) Final e inicial, em certas interjeições. olhar as pessoas no espaço público. É corriqueiro vermos
Exemplos: ah!, ih!, eh!, oh!, hem?, hum!, etc. meninas vestidas com roupas de adultos, inclusive sensuais:
blusas e saias curtas, calças apertadas, meia-calça e sapatos de
4) Em compostos unidos por hífen, no início do segundo salto. E pensar que elas precisam é de roupa folgada para
elemento, se etimológico. deixar o corpo explodir em movimentos que devem ser
Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, super-homem, etc. experimentados... Mas sempre há um traço que trai a idade:
um brinquedo pendurado, um exagero de enfeites, um excesso
Observações: de maquiagem, etc.
1) No substantivo Bahia, o “h” sobrevive por tradição. Note Se olharmos as adultas, vestidas com o mesmo tipo de
que nos substantivos derivados como baiano, baianada ou roupa das meninas descritas acima, vemos também
baianinha ele não é utilizado. brinquedos, carregados como enfeites ou amuletos: nos
chaveiros, nas bolsas, nos telefones celulares, nos carros. Isso
2) Os vocábulos erva, Espanha e inverno não iniciam com a sem falar nas mesas de trabalho, enfeitadas com ícones do
letra “h”. No entanto, seus derivados eruditos sempre são mundo infantil.
grafados com h, como por exemplo: herbívoro, hispânico, Criança pequena adora ter amigo imaginário, mas essa
hibernal. maravilhosa possibilidade tem sido destruída, pouco a pouco,
pelo massacre da realidade do mundo adulto, que tem
Questões colaborado muito para desfazer a fantasia e o faz-de-conta.
Mas os legítimos representantes desse mundo, por sua vez,
01. (Prefeitura de Maracanã/PA - Auxiliar de Serviços não hesitam em ter o seu. Ultimamente, ele tem sido comum e
Gerais - CETAP/2019) ganhou o nome de deus. Não me refiro ao Deus das religiões e
alvo da fé. A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu,
SONHO à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião
nenhuma.
Não quero nem ma referir aqui do sonho onírico, aquele O amigo imaginário dos adultos chamado de deus é aquele
que vem quando estamos dormindo, e que cumpre uma função com quem eles conversam animadamente, a quem chamam
biológica e psicológica demasíadarnente importante para o nos momentos de estresse, a quem recorrem sempre que
nosso bem-estar. Falo eu de sonho como sendo o nosso desejo, enfrentam dificuldades, precisam tomar uma decisão ou
o que queremos realizar, construir. Como Martin Luther King, anseiam por algo e, principalmente, para contornar a solidão.
ao falar de uma sociedade sem diferenças. Ou Mahatma Nada como ter um amigo invisível, já que ele não exige
Gandhl, ao lutar pela independência da índia e expressar o lealdade, dedicação nem cobra nada, não é?
sonho de sem violência alguma, haver um povo que tivesse E o que dizer, então, das brincadeiras infantis que muitos
autodeterminação. adultos são obrigados a enfrentar quando fazem cursos,
Quando dizemos “eu sonho ter uma casa" ou ‘eu sonho que frequentam seminários ou assistem a aulas? É um tal de
meus filhos se formem” ou ‘eu sonho ter um casamento que assoprar bexigas, abraçar quem está ao lado, acender fósforo
perdure bastante tempo", o sonho é aquilo que nos para expressar uma ideia, carregar uma pedra para ter a
Impulsiona. É um desejo que colocando no futuro, procuramos palavra no grupo, escolher um bicho como imagem de
buscar. identificação, usar canetas coloridas para fazer trabalhos, etc.
Isso nada tem a ver com delírio. Delírio é um desejo que Mas, se existe uma manifestação comum a crianças e
não tem factibilidade, que não tem como se realizar. Sonho adultos para expressar alegria, contentamento, comemoração
precisa se factível, realizável. e afins, ela tem sido o grito. Que as crianças gritem porque
Por exemplo não basta eu dizer: ‘Sonho ser o maior jogador ainda não descobriram outras maneiras de expressar
de futebol da Fifa 2016". Isso não é sonho é delírio. Eu não emoções, dá para entender. Aliás, é bom lembrar que os
tenho mais idade, não teria como entrar no circuito do futebol. educadores não têm colaborado para que elas aprendam a
“E se eu rezar muito?" Lamento, não vai acontecer. “E se eu ler desenvolver outros tipos de expressão. Mas os adultos
muitos livros de autoajuda?" Também não vai adiantar. gritarem desesperada e estridentemente para manifestar
Sonho não é delírio, é o desejo com factibilidade, que pode emoção é constrangedor. Com tamanha confusão, fica a
ser realizado. Delírio é um desejo marcado pela incapacidade impressão de que roubamos a infância das crianças porque a
de realização. queremos para nós, não?
(CORTELLA, Mário Sárglo- Pensar bem nos faz bem! Vozes, p.138.) SAYÃO, Rosely. “As melhores crônicas do Brasil”. In
cronicasbrasil.blogspot.com.
A letra “x" representa vários sons como em "exemploVz/.
Assinale a alternativa com som diferente: O vocábulo “impressão”, sublinhado no fragmento “fica a
(A) exato. impressão de que roubamos a infância das crianças” (7º §), é
(B) exame. grafado com “ss” em razão de uma regra ortográfica segundo a
(C) expressar. qual grafam-se com o dígrafo “ss” os nomes relacionados aos
(D) exaurir. verbos com radical em “prim”, como imprimir / impressão,
comprimir/compressão, etc. Abaixo estão relacionadas outras
02. (Prefeitura de Porto Velho/RO - Especialista em regras ortográficas, com os respectivos exemplos. A regra em
Educação - IBADE/2019) que um dos exemplos NÃO se enquadra nela é:
(A) grafam-se com Z os sufixos -izar, -ização: civilizar,
Queremos a infância para nós humanizar, catalizar, colonização.
(B) grafa-se com Ç a correlação T – Ç: absorção, ação,
O mundo anda bem atrapalhado: de um lado, temos assunção, exceção.
crianças que se comportam, se vestem, falam e são tratadas (C) grafa-se com SS a correlação CED - CESS: cessão,
como adultos. Do outro, adultos que se comportam, se vestem, intercessão, acessível, concessão.
(D) grafam-se com S os sufixos -esa, -ês, -esia, quando o
radical é um substantivo: freguês, burguesa, maresia, pedrês.

Língua Portuguesa 28
APOSTILAS OPÇÃO

(E) grafam-se com Z os sufixos -ez, -eza, quando o radical é


um adjetivo: pobreza, grandeza, acidez, realeza. Observação: esses nomes escrevem-se com inicial
minúscula quando são empregados em sentido geral ou
03. (Prefeitura de Timbó/SC - Engenheiro Civil - indeterminado.
FURB/2019) Assim como o verbo “autorizar”, assinale a Exemplo: Todos amam sua pátria.
alternativa que contenha outro exemplo de verbo terminado
em IZAR: Emprego Facultativo da Letra Maiúscula
(A) avi___ar. 1) No início dos versos que não abrem período, é facultativo
(B) ali___ar. o uso da letra maiúscula, como por exemplo:
(C) pesqui___ar.
(D) tranquili___ar. “Aqui, sim, no meu cantinho,
(E) preci___ar. vendo rir-me o candeeiro,
gozo o bem de estar sozinho
04. (Prefeitura de Timbó/SC - Engenheiro Civil - e esquecer o mundo inteiro.”
FURB/2019) A exemplo de “crescimento”, escrito
corretamente com SC, assinale a alternativa cuja lacuna 2) Nos nomes de logradouros públicos, templos e edifícios.
também deve ser preenchida com SC: Exemplos: Rua da Liberdade ou rua da Liberdade / Igreja do
(A) e___eção. Rosário ou igreja do Rosário / Edifício Azevedo ou edifício
(B) do___ente. Azevedo.
(C) anoite___er.
(D) ace___ível. Inicial Minúscula
(E) di____ente. Utiliza-se inicial minúscula nos seguintes casos:
1) Em todos os vocábulos correntes da língua portuguesa.
05. (MPE-GO - Secretário Auxiliar - MPE-GO/2019) Exemplos: carro, flor, boneca, menino, porta, etc.
Assinale a alternativa em que NÃO há erro de grafia nas
palavras descritas: 2) Depois de dois-pontos, não se tratando de citação direta,
(A) aprasível, chafariz, puxar. usa-se letra minúscula.
(B) pecha, cochichar, piche. Exemplo: “Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas:
(C) poetiza, encharcada, exdrúxulo. ouro, incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)
(D) expetacular, exceção, objeção.
(E) estiagem, expulsão, enxuto. 3) Nos nomes de meses, estações do ano e dias da semana.
Exemplos: janeiro, julho, dezembro, etc. / segunda, sexta,
Gabarito domingo, etc. / primavera, verão, outono, inverno.

01. C / 02. A / 03. D / 04. E / 05. B 4) Nos pontos cardeais.


Exemplos: “Percorri o país de norte a sul e de leste a oeste.”
Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas / “Estes são os pontos colaterais: nordeste, noroeste, sudeste,
sudoeste.”
Inicial Maiúscula
Utiliza-se inicial maiúscula nos seguintes casos: Observação: quando empregados em sua forma absoluta,
1) No começo de um período, verso ou citação direta. os pontos cardeais são grafados com letra maiúscula.
Exemplos: Nordeste (região do Brasil) / Ocidente (europeu)
Disse o Padre Antônio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer /Oriente (asiático).
lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.”
Emprego Facultativo da Letra Minúscula
“Auriverde pendão de minha terra, 1) Nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica.
Que a brisa do Brasil beija e balança, Exemplos:
Estandarte que à luz do sol encerra Crime e Castigo ou Crime e castigo
As promessas divinas da Esperança…” Grande Sertão: Veredas ou Grande sertão: veredas
(Castro Alves) Em Busca do Tempo Perdido ou Em busca do tempo perdido

2) Nos antropônimos, reais ou fictícios. 2) Nas formas de tratamento e reverência, bem como em
Exemplos: Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote. nomes sagrados e que designam crenças religiosas.
Exemplos:
3) Nos topônimos, reais ou fictícios. Governador Mário Covas ou governador Mário Covas
Exemplos: Rio de Janeiro, Rússia, Macondo. Papa João Paulo II ou papa João Paulo II
Excelentíssimo Senhor Reitor ou excelentíssimo senhor
4) Nos nomes mitológicos. reitor
Exemplos: Dionísio, Netuno. Santa Maria ou santa Maria

5) Nos nomes de festas e festividades. c) Nos nomes que designam domínios de saber, cursos e
Exemplos: Natal, Páscoa, Ramadã. disciplinas.
Exemplos:
6) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais. Português ou português
Exemplos: ONU, Sr., V. Ex.ª. Línguas e Literaturas Modernas ou línguas e literaturas
modernas
7) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos, História do Brasil ou história do Brasil
políticos ou nacionalistas. Arquitetura ou arquitetura
Exemplos: Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Estado,
Nação, Pátria, União, etc.

Língua Portuguesa 29
APOSTILAS OPÇÃO

Questões cima, o segurança do banco faz-me esvaziar os bolsos antes de


entrar na porta giratória, enfrento a fila do caixa, não aceitam
01. (MPE/SC - Promotor de Justiça - MPE/SC/2019) meus cheques para pagar contas em nome de minha mulher,
saio mal-humorado do banco, atravesso a avenida arriscando
Excerto 6 a vida entre bólidos3 , um caminhão joga-me água suja de uma
poça, o elevador continua preso lá em cima, subo a pé, entro no
“[...] O jurídico aparece sempre na forma de linguagem apartamento, sento-me ao computador e ponho-me de novo a
textual, mais precisamente, na maneira verbal escrita, o que sonhar com gentilezas.
outorga maior estabilidade às relações deônticas entre os
sujeitos das relações. Como tal, as Ciências da Linguagem, Vocabulário:
particularmente a Semiótica, desempenham papel decisivo 1 bairro Jardim Paulista, um dos mais requintados de São
para a investigação do objeto Direito. E, se pensarmos também Paulo
na afirmação de Flusser, segundo a qual a língua é constitutiva 2 funcionário que coordena agendamentos entre outras
da realidade, ficaremos autorizados a dizer que a linguagem coisas nos restaurantes
(língua) do Direito cria, forma e propaga a realidade jurídica. 3 carros muito velozes
[...]”
CARVALHO, Paulo Barros. O legislador como poeta: alguns apontamentos Em “nas ruas dos Jardins1" (4º§), a palavra em destaque
sobre a teoria flusseriana aplicados ao Direito. IN: PINTO, Rosalice; CABRAL, Ana
Lúcia Tinoco;
foi escrita com letra maiúscula por se tratar de:
RODRIGUES, Maria das Graças Soares (Orgs.). Linguagem e direito: (A) um erro de grafia.
perspectivas teóricas e práticas. São Paulo: Contexto, 2019. p. 25. [fragmento] (B) um destaque do autor
(C) um substantivo próprio.
As palavras Semiótica e Direito estão grafadas com letra (D) um substantivo coletivo.
inicial maiúscula, pois se referem a domínios do saber. De
acordo com a norma ortográfica vigente, também poderiam 03. (IF/PB - Assistente em Administração -
ser grafadas com letra inicial minúscula. IDECAN/2019)
Certo ( ) Errado ( )
ONG confirma segunda morte em conflitos na
02. (MGS – Todos os Cargos de Nível Fundamental Venezuela
Completo - IBFC/2017)
Segunda vítima é mulher que foi baleada na cabeça,
Estranhas Gentilezas informa o Observatório Venezuelano de Conflito Social
(Ivan Angelo) (OVCS). País enfrenta onda de protestos pró e contra Maduro.
Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/05/02/ong-
Estão acontecendo coisas estranhas. Sabe-se que as relata-morte-de-mais-uma-pessoa-durante-protestos-na-venezuela.ghtml
pessoas nas grandes cidades não têm o hábito da gentileza.
Não é por ruindade, é falta de tempo. Gastam a paciência nos No texto, no que concerne à grafia, as iniciais maiúsculas
ônibus, no trânsito, nas filas, nos mercados, nas salas de em “Observatório Venezuelano de Conflito Social” são
espera, nos embates familiares, e depois economizam com a gramaticalmente
gente. (A) inadequadas, pois se trata de um substantivo comum,
Comigo dá-se o contrário, é o que estou notando de uns em razão de formação por sigla.
dias para cá. Tratam-me com inquietante delicadeza. Já (B) inadequadas, pois se trata de um adjetivo ligado à
captava aqui e ali sinais suspeitos, imprecisos, ventinho de Venezuela.
asas de borboleta, quase nada. A impressão de que há algo (C) inadequadas, pois, no gênero textual notícia, deve
estranho tomou meu corpo mesmo foi na semana passada. Um haver a ausência de iniciais maiúsculas.
vizinho que já fora meu amigo telefonou-me desfazendo o (D) adequadas, pois se trata de um substantivo próprio.
engano que nos afastava, intriga de pessoa que nem conheço e (E) adequadas, pois o gênero notícia exige este tipo de
que afinal resolvera esclarecer tudo. Difícil reconstruir a grafia para convencer ao leitor.
amizade, mas a inimizade morria ali.
Como disse, eu vinha desconfiando tenuemente de Gabarito
algumas amabilidades. O episódio do vizinho fez surgir em
meu espírito a hipótese de uma trama, que já mobilizava até 01. Certo / 02.C / 03. D
pessoas distantes. E as próximas?
Tenho reparado. As próximas telefonam amáveis, sem Palavras ou Expressões que geram dificuldades
motivo. Durante o telefonema fico aguardando o assunto que
estaria embrulhado nos enfeites da conversa, e ele não sai. Um Algumas palavras ou expressões costumam apresentar
número inesperado de pessoas me cumprimenta na rua, com dificuldades colocando em maus lençóis quem pretende falar
acenos de cabeça. Mulheres, antes esquivas, sorriem ou redigir português culto. Esta é uma oportunidade para você
transitáveis nas ruas dos Jardins1. Num restaurante caro, o aperfeiçoar seu desempenho. Preste atenção e tente
maître2, com uma piscadela, fura a demorada fila de incorporar tais palavras certas em situações apropriadas.
executivos à espera e me arruma rapidinho uma mesa para
dois. Um homem de pasta que parecia impaciente à minha A anos: Daqui a um ano iremos à Europa. (a indica tempo
frente me cede o último lugar no elevador. O jornaleiro larga futuro)
sua banca na avenida Sumaré e vem ao prédio avisar-me que o Há anos: Não o vejo há meses. (há indica tempo passado)
jornal chegou. Os vizinhos de cima silenciam depois das dez da Atenção: Há muito tempo já indica passado. Não há
noite. necessidade de usar atrás, isto é um pleonasmo.
[...]
Que significa isso? Que querem comigo? Que complô é Acerca de: Falávamos acerca de uma solução melhor. (a
este? Que vão pedir em troca de tanta gentileza? respeito de)
Aguardo, meio apreensivo, meio feliz. A cerca de: dessa forma, separado, tem o significado de
Interrompo a crônica nesse ponto, saio para ir ao banco, “perto de”, “próximo de”, “aproximadamente”. (A mulher foi
desço pelas escadas porque alguém segura o elevador lá em encontrada a cerca de 15 metros de sua casa.)

Língua Portuguesa 30
APOSTILAS OPÇÃO

Há cerca de: Há cerca de dias resolvemos este caso. (faz Discrição: Você foi muito discreto. (reservado)
tempo)
Entrega em domicílio: Fiz a entrega em domicílio. (lugar)
Ao encontro de: Sua atitude vai ao encontro da verdade. Entrega a domicílio: Enviou as compras a domicílio. (com
(estar a favor de) verbos de movimento)
De encontro a: Minhas opiniões vão de encontro às suas.
(oposição, choque) Espectador: Os espectadores se fartaram da apresentação.
(aquele que vê, assiste)
A fim de: Vou a fim de visitá-la. (finalidade) Expectador: O expectador aguardava o momento da
Afim: Somos almas afins. (igual, semelhante) chamada. (que espera alguma coisa)

Ao invés de: Ao invés de falar começou a chorar. (oposição, Estada: A estada dela aqui foi gratificante. (tempo em algum
ao contrário de) lugar)
Em vez de: Em vez de acompanhar-me, ficou só. (no lugar Estadia: A estadia do carro foi prolongada por mais
de) algumas semanas. (prazo concedido para carga e descarga)

A par: Estamos a par das boas notícias. (bem informado, Fosforescente: Este material é fosforescente. (que brilha
ciente) no escuro)
Ao par: O dólar e o euro estão ao par. (de igualdade ou Fluorescente: A luz branca do carro era fluorescente.
equivalência entre valores financeiros – câmbio) (determinado tipo de luminosidade)

Aprender: O menino aprendeu a lição. (tomar Haja: É preciso que não haja descuido. (verbo haver – 1ª
conhecimento de) pessoa singular do presente do subjuntivo)
Apreender: O fiscal apreendeu a carteirinha do menino. Aja: Aja com cuidado, Carlinhos. (verbo agir – 1ª pessoa
(prender) singular do presente do subjuntivo)

Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços Houve: Houve um grande incêndio no centro de São
funcionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos Paulo. (verbo haver - 3ª pessoa do singular do pretérito
supermercados. Vamos comemorar, pessoal! perfeito)
Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os postos Ouve: A mãe disse: ninguém me ouve. (verbo ouvir - 3ª
(sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto direto) pessoa singular do presente do indicativo)
da gasolina.
Mal: Dormi mal. (oposto de bem)
Bebedor: Tornei-me um grande bebedor de vinho. (pessoa Mau: Você é um mau exemplo. (oposto de bom)
que bebe)
Bebedouro: Este bebedouro está funcionando bem. Mas: Telefonei-lhe mas ela não atendeu. (ideia contrária)
(aparelho que fornece água) Mais: Há mais flores perfumadas no campo. (opõe-se a
menos)
Bem-Vindo: Você é sempre bem-vindo aqui, jovem.
(adjetivo composto) Nem um: Nem um filho de Deus apareceu para ajudá-la.
Benvindo: Benvindo é meu colega de classe. (nome (equivale a nem um sequer)
próprio) Nenhum: Nenhum jornal divulgou o resultado do concurso.
(oposto de algum)
Câmara: Ficaram todos reunidos na Câmara Municipal.
(local de trabalho) Onde: Onde fica a farmácia mais próxima? (lugar em que se
Câmera: Comprei uma câmera japonesa. (aparelho que está)
fotografa) Aonde: Aonde vão com tanta pressa? (ideia de movimento)

Champanha/Champanhe (do francês): O Por ora: Por ora chega de trabalhar. (por este momento)
champanha/champanhe está bem gelado. Por hora: Você deve cobrar por hora. (cada sessenta
minutos)
Cessão: Foi confirmada a cessão do terreno. (ato de doar)
Sessão: A sessão do filme durou duas horas. (intervalo de Senão: Não fazia coisa nenhuma senão criticar. (caso
tempo) contrário)
Seção/Secção: Visitei hoje a seção de esportes. (repartição Se não: Se não houver homens honestos, o país não sairá
pública, departamento) desta situação crítica. (se por acaso não)

Demais: Vocês falam demais, caras! (advérbio de Tampouco: Não compareceu, tampouco apresentou
intensidade) qualquer justificativa. (Também não)
Demais: Chamaram mais dez candidatos, os demais devem Tão pouco: Encontramo-nos tão pouco esta semana.
aguardar. (equivale a “os outros”) (intensidade)
De mais: Não vejo nada de mais em sua decisão. (opõe-se a
“de menos”) Trás ou Atrás: O menino estava atrás da árvore. (lugar)
Traz: Ele traz consigo muita felicidade. (verbo trazer)
Descriminar: O réu foi descriminado; pra sorte dele.
(inocentar, absolver de crime) Vultoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui. (volumoso)
Discriminar: Era impossível discriminar os caracteres do Vultuoso: Sua face está vultuosa e deformada. (congestão
documento. (diferençar, distinguir, separar) no rosto)
Descrição: A descrição sobre o jogador foi perfeita.
(descrever) Há menos de= Quando há a ideia de passado, tempo

Língua Portuguesa 31
APOSTILAS OPÇÃO

transcorrido. Pode ser substituído por "aproximadamente" ou 03. (Prefeitura de Mauriti/CE - Procurador -
"mais ou menos". Ou ainda "faz" (do verbo fazer). CEV/URCA/2019) Dada sequência a seguir, marque a opção
Exemplo: Ele saiu de casa há menos de dois anos. que não apresenta desvio na grafia das palavras:
Samuel terminou a obra da casa há menos de seis meses. (A) Transgressão; distorsão; consessão; expulsão;
contorção;
A Menos De17= Locução prepositiva. Indica tempo futuro ou (B) Transgreção; distorção; concessão; expulção;
distância aproximada. contorsão;
Exemplo: Passou a menos de um metro do muro. (C) Transgressão; distorção; conseção; expulsão;
A menos de um mês estarei de férias. contorção;
(D) Transgreção; distorsão; consessão; expulção;
Bastante ou Bastantes?18 contorsão;
Está aí uma palavra-encrenca. O uso de “bastante” depende (E) Transgressão; distorção; concessão; expulsão;
muito de qual função ele está assumindo na frase, podendo ser contorção.
três: adjetivo, advérbio e pronome indefinido. Vejamos os três
casos. Gabarito
Como advérbio
01. A / 02. E / 03. E
O uso mais comum é usar “bastante” como advérbio, no
sentido de “muito”. Nesse caso, a palavra está relacionada ao Emprego do Porquê
verbo, então não sofre flexão e deve ficar sempre no singular.
Veja exemplo: Orações Interrogativas Exemplo:
(pode ser substituído Por que devemos nos
– O frio é bastante intenso por aqui em julho. por: por qual motivo, por preocupar com o meio
– As questões formuladas estão bastante ruins. qual razão) ambiente?
– Você já comeu bastante por hoje. Por
Que
Exemplo:
Como adjetivo Equivalendo a “pelo Os motivos por que não
qual” respondeu são
Quando usado como adjetivo, “bastante” assume significado desconhecidos.
de “suficiente”, devendo ser flexionado de acordo com o
substantivo que o acompanha. Veja: Exemplos:
Você ainda tem coragem de
– Há motivos bastantes para o divórcio. Por Final de frases e seguidos
perguntar por quê?
– Os salgados e as bebidas não serão bastantes para a festa. Quê de pontuação
Você não vai? Por quê?
– O álibi foi bastante para retirar as acusações. Não sei por quê!

Como pronome indefinido Exemplos:


A situação agravou-se porque
Conjunção que indica
ninguém reclamou.
Se “bastante” assume a função de pronome, ele deverá explicação ou causa
Ninguém mais o espera,
expressar qualidades ou quantidades não especificadas. Essa Porque porque ele sempre se atrasa.
função é menos usada na nossa língua.
Conjunção de Finalidade Exemplos:
– Bastantes empresas fecharam as portas este mês. – equivale a “para que”, Não julgues porque não te
– Camila tem bastantes amigos na escola. “a fim de que”. julguem.
– Encontrei bastantes produtos como os que você pediu
Exemplos:
Função de substantivo –
Questão Não é fácil encontrar o
vem acompanhado de
Porquê porquê de toda confusão.
artigo ou pronome
Dê-me um porquê de sua
01. (Prefeitura de Resende/RJ - Agente Comunitário de saída.
Saúde - CONSULPAM/2019) Marque abaixo o item onde
todas as palavras estão escritas de forma CORRETA:
(A) Tragédia, empréstimo, arcabouço. 1. Por que (pergunta);
(B) Próximo, esfoço, estrupo. 2. Porque (resposta);
(C) Cabide, retrospequitiva, análogo. 3. Por quê (fim de frase: motivo);
(D) Barcaça, palhero, aeroporto. 4. O Porquê (substantivo).

02. (UTFPR - Engenheiro Civil - UTFPR/2019) Assinale Questões


a alternativa cujo texto apresenta erro ortográfico.
(A) Paralisia do governo dos EUA já começa a afetar dia a 01. (IPREMM - Psicólogo Clínico e Organizacional -
dia de americanos. VUNESP/2019)
(B) Tomara que eles viajem juntos. Membro da equipe curatorial do Brooklyn Museum desde
(C) SP: falta saúde, educação e o problema é a pichação. 1998, Edward Bleiberg é especialista em arqueologia e em arte
(D) As perdas do semestre serão compensadas no próximo. egípcias. Ele é o autor de uma pesquisa que busca
(E) O país interviu em várias guerras. compreender por que as estátuas egípcias têm não só o nariz
quebrado, mas outras partes do corpo, como as mãos.
Em entrevista, Bleiberg afirmou que partes quebradas não
são comuns apenas em se tratando de protuberâncias de

17 https://luconcursos.blogspot.com/2016/03/ha-menos-de-ou-menos- 18 https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/duvidas-
de.html portugues/bastante-ou-bastantes

Língua Portuguesa 32
APOSTILAS OPÇÃO

estátuas, mas também em baixos-relevos, como entalhes em Na oração em (b), o uso de por que está errado, pois nesse
placas de pedra, por exemplo. contexto o correto seria por quê.
Isso indica que não se trata apenas de eventual acidente Certo ( ) Errado ( )
ou desgaste em razão do tempo, mas sugere que ele é
proposital. 05. (Prefeitura de Porto de Moz/PA - Psicólogo -
Os egípcios acreditavam que a essência de uma deidade ou FUNRIO/2019) Acerca do emprego do “por que", assinale a
parte da alma de um ser humano morto podiam habitar alternativa correta:
estátuas que os representassem. (A) Você sabe o porquê ele foi grosseiro comigo?
Em tumbas e templos, estátuas e relevos em pedra tinham (B) Sou uma pessoa muito feliz por que tenho minha
propósitos ritualísticos e eram um ponto de encontro entre o família por perto.
mundo sobrenatural e o mundo natural. (C) Você não foi ao baile. Porque?
Na crença do Egito Antigo, estátuas em uma tumba tinham (D) Por quê temos que agir dessa forma?
o propósito de alimentar a pessoa morta com a comida deixada (E) Porque você quer me irritar?
como oferenda.
Segundo a explicação encontrada por Bleiberg, o Gabarito
vandalismo tinha, portanto, o objetivo de “desativar a força da
imagem”. 01. E / 02. D / 03. C / 04. Certo / 05. A
Quando um nariz era quebrado, a estátua não podia mais
respirar, o que impedia que ela recebesse oferendas ou as
retransmitisse para deuses ou poderosos mortos.
Normalmente, as oferendas eram transmitidas com a mão Acentuação gráfica.
esquerda. Por isso, muitas estátuas dedicadas à transmissão de
oferendas tinham os braços esquerdos depredados. Por outro
lado, estátuas que recebiam as oferendas tinham as mãos
ACENTUAÇÃO
direitas depredadas.
Posteriormente, durante o período cristão, entre os
Acentuação Tônica
séculos 1 e 3 depois de Cristo, as estátuas eram vistas como
demônios pagãos e, também, acabavam atacadas.
(André Cabette Fábio. Por que tantas estátuas egípcias têm os narizes Implica na intensidade com que são pronunciadas as
quebrados. www.nexojornal.com.br, 06.04.2019. Adaptado) sílabas das palavras. Aquela que se dá de forma mais
acentuada, mais forte, conceitua-se como sílaba tônica. As
A exemplo do que acontece no primeiro parágrafo, a demais, pronunciadas com menor intensidade, são
expressão por que foi usada conforme a norma-padrão na denominadas átonas.
frase: De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas
(A) Muitos que olham para as estátuas egípcias hoje não como oxítona, paroxítona e proparoxítonas, independente de
entendem o por que de elas não terem nariz. levar acento gráfico:
(B) Por que muitas deidades tinham a função de transmitir
oferendas com a mão esquerda, essa era a mão vandalizada. Oxítonas: São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a
(C) Partes da estátua eram quebradas, por que assim a última sílaba. Ex.: café – escritor – cajá – atum – anel – papel
força da imagem supostamente seria desativada.
(D) A explicação do por que de apenas algumas partes Paroxítonas: São aquelas em que a sílaba tônica se
estarem danificadas não estava apenas no fator tempo. evidencia na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque
(E) Não se sabia por que certas partes em baixo-relevo das – retrato – passível
estátuas também estavam danificadas.
Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica se
02. (Prefeitura de Porto Nacional/TO - Assistente evidencia na antepenúltima sílaba. Todas as proparoxítonas
Administrativo - COPESE/2019) Assinale a alternativa que são acentuadas. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano – médico –
preenche CORRETAMENTE a lacuna da oração: “______ o ônibus
jornalista não compareceu ao evento?”.
(A) Porquê Como podemos observar, mediante todos os exemplos
(B) Por quê mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba,
(C) Porque entretanto, em nossa língua existem aqueles com somente
(D) Por que uma sílaba, conhecidos como monossílabos, que, quando
pronunciados, apresentam certa diferenciação quanto à
03. (CONSED/GO - Engenheiro Civil - IDCAP/2019) intensidade.
Analise o trecho e assinale a alternativa que completa Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos
corretamente a lacuna: em uma dada sequência de palavras. Assim como podemos
“Certamente há um _________ para eles terem discutido.”. observar no exemplo a seguir:
(A) Porque.
(B) Por que. “Sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor.”
(C) Porquê.
(D) Por quê. Os monossílabos em destaque classificam-se como
(E) Para que. tônicos; os demais, como átonos (que, em e de).

04. (MPE/SC - Promotor de Justiça - MPE/SC/2019) Acentos Gráficos


Considere as duas orações em (a) e (b) para responder a
Questão. Acento agudo (´) – colocado sobre as letras “a”, “i”, “u”, “e”
(a) Você chegou atrasado e gostaria de saber o porquê. e sobre o “e” do grupo “em” - indica que estas letras
(b) Você chegou atrasado e gostaria de saber por que. representam as vogais tônicas de palavras como Amapá, caí,
público, parabéns.

Língua Portuguesa 33
APOSTILAS OPÇÃO

Acento circunflexo (^) – colocado sobre as vogais Observação importante: Não serão mais acentuados “i” e
fechadas “a”, “e” e “o” e sobre as vogais nasais que aparecem “u” tônicos, formando hiato quando vierem depois de
nos dígrafos “âm”, “ân”, “êm”, “ên’, “ôm” e “ôn”. Indica, além da ditongo. Ex.:
tonicidade, timbre fechado. Ex.: tâmara – Atlântico – pêssego
– supôs Antes Agora
bocaiúva bocaiuva
Acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com feiúra feiura
artigos e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quando
Trema (¨) – de acordo com o Novo Acordo Ortográfico, foi seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z: Ra-ul, ru-im, con-
totalmente abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz
em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.:
mülleriano (de Müller) Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estiverem
seguidas do dígrafo nh: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
Til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais
nasais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba.
Regras Fundamentais
Após o Novo Acordo Ortográfico, as seguintes duplas
Palavras oxítonas: acentuam-se todas as oxítonas perderam o Acento Diferencial:
terminadas em: “a(s)”, “e(s)”, “o(s)”, “em(ns)”, seguidas ou não
do plural(s): Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s). Antes Depois
As oxítonas que terminam com os ditongos tônicos abertos pára para
“éi”, “éu”, “ói” recebem acento agudo: papéis, chapéu, Ilhéus. péla(s) pela(s)
Nas palavras oxítonas, as vogais tônicas “i(s)” e “u(s)” pólo(s) polo(s)
levam acento agudo quando estiverem depois de um ditongo: pêlo(s) pelo(s)
tuiuiú, teiús. pêra pera
Monossílabos tônicos: terminados em “a(s)”, “e(s)”,
“o(s)”, seguidos ou não de “s”. Ex.: pá(s) – pé(s) – dó – há As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz,
com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i”
Formas verbais: terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, não serão mais acentuadas. Ex.:
seguidas de lo, la, los, las. Ex.: respeitá-lo – percebê-lo – compô-
lo Antes Agora
apazigúe (apaziguar) apazigue
Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas argúi (arguir) argui
terminadas em:
- i, is O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido.
táxi – lápis – júri Ex.:
- us, um, uns Antes Agora
vírus – álbuns – fórum crêem creem
- l, n, r, x, ps vôo voo
automóvel – elétron - cadáver – tórax – fórceps
- ã, ãs, ão, ãos on, ons - Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos
ímã – ímãs – órfão – órgãos – próton –prótons que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER.
Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que essa
palavra apresenta as terminações das paroxítonas que são Repare:
acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará 1) O menino crê em você
mais fácil a memorização! Os meninos creem em você.
2) Elza lê bem!
Ditongo oral: Nas palavras paroxítonas terminadas em Todas leem bem!
ditongo oral, a vogal da sílaba tônica é acentuada: ágeis, 3) Espero que ele dê o recado à sala.
imundície, lírio, túneis, jóquei, história. Esperamos que os dados deem efeito!
4) Rubens vê tudo!
Regras Especiais Eles veem tudo!

Os ditongos abertos “ei”, “oi”, que antes eram acentuados Cuidado! Há o verbo vir:
em palavras paroxítonas, perderam o acento após o Novo Ele vem à tarde!
Acordo Ortográfico. Eles vêm à tarde!

Antes Agora Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do


assembléia assembleia plural de:
idéia ideia ele tem – eles têm
jibóia jiboia ele vem – eles vêm (verbo vir)
apóia (verbo apoia
apoiar) A regra prevalece também para os verbos conter, obter,
reter, deter, abster.
Quando a segunda vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, ele contém – eles contêm
acompanhados ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca ele obtém – eles obtêm
– baú – país – Luís ele retém – eles retêm

Língua Portuguesa 34
APOSTILAS OPÇÃO

ele convém – eles convêm

Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes


Uso da crase.
eram acentuadas para diferenciá-las de outras semelhantes
(regra do acento diferencial). Apenas em algumas exceções,
como: CRASE
Pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do
indicativo). É de grande importância a crase da preposição “a” com o
Pode (terceira pessoa do singular do presente do artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos pronomes
indicativo). Ex.: aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a qual (as
Ela pode fazer isso agora. quais).
Elvis não pôde participar porque sua mãe não deixou. Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a
crase. O uso apropriado do acento grave depende da
O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental
preposição por. Ex.: também, para o entendimento da crase, dominar a regência
Faço isso por você. dos verbos e nomes que exigem a preposição “a”.
Posso pôr (colocar) meus livros aqui? Aprender a usar a crase, portanto, consiste em aprender a
verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e um
Questões artigo ou pronome.19 Observe:
Vou a + a igreja.
01. “Cadáver” é paroxítona, pois: Vou à igreja.
(A) Tem a última sílaba como tônica.
(B) Tem a penúltima sílaba como tônica. No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição “a”,
(C) Tem a antepenúltima sílaba como tônica. exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo
(D) Não tem sílaba tônica. “a” que está determinando o substantivo feminino igreja.
Quando ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem,
02. Indique a alternativa em que todas as palavras devem a união delas é indicada pelo acento grave. Observe outros
receber acento. exemplos:
(A) virus, torax, ma. Conheço a aluna.
(B) caju, paleto, miosotis. Refiro-me à aluna.
(C) refem, rainha, orgão.
(D) papeis, ideia, latex. No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
(E) lotus, juiz, virus. algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto
03. Em “O resultado da experiência foi, literalmente, (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição “a”.
aterrador.” a palavra destacada encontra-se acentuada pelo Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja
mesmo motivo que: feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes
(A) túnel já especificados.
(B) voluntário
(C) até Casos em que a crase NÃO ocorre
(D) insólito
(E) rótulos 1) Diante de substantivos masculinos:
Andamos a cavalo.
04. Analise atentamente a presença ou a ausência de Fomos a pé.
acento gráfico nas palavras abaixo e indique a alternativa em
que não há erro: 2) Diante de verbos no infinitivo:
(A) ruím - termômetro - táxi – talvez. A criança começou a falar.
(B) flôres - econômia - biquíni - globo. Ela não tem nada a dizer.
(C) bambu - através - sozinho - juiz
(D) econômico - gíz - juízes - cajú. Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos
(E) portuguêses - princesa - faísca. exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
05. Todas as palavras abaixo são hiatos, EXCETO: 3) Diante da maioria dos pronomes e das expressões de
(A) saúde tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e
(B) cooperar dona:
(C) ruim Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
(D) creem Entreguei a todos os documentos necessários.
(E) pouco Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
Gabarito Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes
1.B / 2.A / 3.B / 4.C / 5.E podem ser identificados pelo método: troque a palavra
feminina por uma masculina, caso na nova construção surgir a
forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo:
Refiro-me à mesma pessoa.
(Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
Informei o ocorrido à senhora.
(Informei o ocorrido ao senhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo.

19 www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint76.php

Língua Portuguesa 35
APOSTILAS OPÇÃO

(Peça ao próprio Cláudio para sair mais cedo.) Crase diante dos Pronomes Demonstrativos (Aquele (s),
Aquela (s), Aquilo)
4) Diante de numerais cardinais: Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo
Chegou a duzentos o número de feridos regente exigir a preposição “a”. Por exemplo:
Daqui a uma semana começa o campeonato.
Refiro-me a + aquele atentado.
Casos em que a crase SEMPRE ocorre
Preposição Pronome
1) Diante de palavras femininas:
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão. Refiro-me àquele atentado.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores. O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo
indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige
2) Diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de” preposição, portanto, ocorre a crase.
(mesmo que a expressão moda de fique subentendida:
Observe este outro exemplo:
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.
Aluguei aquela casa.
Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.
3) Na indicação de horas:
Crase com os Pronomes Relativos (A Qual, As Quais)
Acordei às sete horas da manhã.
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e
Elas chegaram às dez horas.
as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses
Foram dormir à meia-noite.
pronomes exigir a preposição a, haverá crase.
4) Em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de É possível detectar a ocorrência da crase nesses casos
que participam palavras femininas. Por exemplo: utilizando a substituição do termo regido feminino por um
termo regido masculino. Por exemplo:
à tarde às ocultas às pressas à medida que
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
à noite às claras às escondidas à força O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade

à vontade à beça à larga à escuta Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a
crase. Veja outros exemplos:
às avessas à revelia à exceção de à imitação de São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
à esquerda às turras às vezes à chave

à direita à procura à deriva à toa Crase com o Pronome Demonstrativo (a)


A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a”
à luz à sombra de à frente de à proporção que também pode ser detectada através da substituição do termo
regente feminino por um termo regido masculino. Veja:
à semelhança de às ordens à beira de Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país.
Crase diante de Nomes de Lugar As orações são semelhantes às de antes.
Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do
artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo de modo que Crase com a Palavra Distância
diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a - Se a palavra distância estiver especificada ou
preposição “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não determinada, a crase deve ocorrer. Por exemplo:
a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (A palavra está
termo regente por um verbo que peça a preposição “de” ou determinada)
“em”. A ocorrência da contração “da” ou “na” prova que esse Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A
nome de lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Por palavra está especificada.)
exemplo:
- Se a palavra distância não estiver especificada, a crase
Vou à França. (Vim da[ de+a] França. Estou na[ em+a] não pode ocorrer. Por exemplo:
França.) Os militares ficaram a distância.
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.) Gostava de fotografar a distância.
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália) Ensinou a distância.
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto
Alegre.) Observação: por motivo de clareza, para evitar
ambiguidade, pode-se usar a crase. Veja:
- Minha dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou Gostava de fotografar à distância.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Ensinou à distância.
Ex.: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. Dizem que aquele médico cura à distância.
Vou à praia. = Volto da praia.
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja: 1) Diante de nomes próprios femininos: é facultativo o uso
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que, da crase porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”. Paula é muito bonita; ou A Paula é muito bonita.

Língua Portuguesa 36
APOSTILAS OPÇÃO

Laura é minha amiga; ou A Laura é minha amiga. (D) à - àqueles - a - a


(E) a - aqueles - à - há
Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos 04. Leia o texto a seguir.
escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Entreguei o cartão a Paula; ou Entreguei o cartão à Paula. Comunicação
Entreguei o cartão a Roberto; ou Entreguei o cartão ao
Roberto. O público ledor (existe mesmo!) é sensorial: quer ter um
autor ao vivo, em carne e osso. Quando este morre, há uma
2) Diante de pronome possessivo feminino: é facultativo o queda de popularidade em termos de venda. Ou, quando
uso da crase porque é facultativo o uso do artigo. Observe: teatrólogo, em termos de espetáculo. Um exemplo: G. B. Shaw.
Minha avó tem setenta anos; ou A minha avó tem setenta E, entre nós, o suave fantasma de Cecília Meireles recém está
anos. se materializando, tantos anos depois.
Minha irmã está esperando por você; ou A minha irmã está Isto apenas vem provar que a leitura é um remédio para a
esperando por você. solidão em que vive cada um de nós neste formigueiro. Claro
que não me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de e efervescente.
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as Porque o autor escreve, antes de tudo, para expressar-se.
frases abaixo das seguintes formas: Sua comunicação com o leitor decorre unicamente daí. Por
Cedi o lugar a minha avó; ou Cedi o lugar à minha avó. afinidades. É como, na vida, se faz um amigo.
Cedi o lugar a meu avô; ou Cedi o lugar ao meu avô. E o sonho do escritor, do poeta, é individualizar cada
formiga num formigueiro, cada ovelha num rebanho - para que
3) Depois da preposição até: sejamos humanos e não uma infinidade de xerox infinitamente
Fui até a praia; ou Fui até à praia. reproduzidos uns dos outros.
Acompanhe-o até a porta; ou Acompanhe-o até à porta. Mas acontece que há também autores xerox, que nos
A palestra vai até as cinco horas da tarde; ou A palestra vai invadem com aqueles seus best-sellers...
até às cinco horas da tarde. Será tudo isto uma causa ou um efeito?
Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já
Questões foi civilizado.

01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar- (Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1. ed.,
2005.)
se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas
consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades e
Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação
estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo
festiva e efervescente.
questões de saúde pública como programas de esclarecimento
O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se
e prevenção, de tratamento para dependentes e de
o segmento grifado for substituído por:
reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome
(A) leitura apressada e sem profundidade.
de um médico ou clínica ____quem tentar encaminhar um
(B) cada um de nós neste formigueiro.
drogado da nossa própria família?
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo, 2012) (C) exemplo de obras publicadas recentemente.
(D) uma comunicação festiva e virtual.
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e (E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
respectivamente, com:
(A) aos … à … a … a 05. O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP)
(B) aos … a … à … a também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
(C) a … a … à … à ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-
(D) à … à … à … à lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em
(E) a … a … a … a liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma
vida digna.
(www.metropolitana.com.br. 2012)
02. Leia o texto a seguir.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
Assinale a alternativa que preenche, correta e
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
respectivamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
padrão da língua portuguesa.
lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
(A) à … à … à
que fez.
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de Janeiro: Globo, (B) a … a … à
1997,) (C) a … à … à
(D) à … à ... a
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na (E) a … à … a
ordem dada:
(A) à – a – a Gabarito
(B) a – a – à
(C) à – a – à 1.B / 2.A / 3.B / 4.A / 5.D
(D) à – à – a
(E) a – à – à

03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas


já expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
(A) à - àqueles - a - há
(B) a - àqueles - a - há
(C) a - aqueles - à - a

Língua Portuguesa 37
APOSTILAS OPÇÃO

Transcrição Fonética:
Fonética e Fonologia: som e
As transcrições fonéticas são feitas entre colchetes [...] e
fonema, encontros vocálicos e para fazê-las, os linguistas recorrem ao Quadro Fonético
consonantais e dígrafos. Internacional. Nesse quadro há para cada fone um símbolo
fonético específico.
Segue abaixo uma versão adaptada do quadro:
FONÉTICA

A fonética, de acordo com Paula Perin dos Santos, estuda


os sons como entidades físico-articulatórias isoladas
(aparelho fonador). Cabe a ela descrever os sons da linguagem
e analisar suas particularidades acústicas e perceptivas. Ela
fundamenta-se em estudar os sons da voz humana,
examinando suas propriedades físicas independentemente do
seu “papel lingüístico de construir as formas da língua”. Sua
unidade mínima de estudo é o som da fala, ou seja, o fone.20
A Fonética se diferencia da Fonologia por considerar os
sons independentes das oposições paradigmáticas e
combinações sintagmáticas. Observe no esquema: www.fonologia.org/fonetica_articulatoria.php
1. Oposições paradigmáticas: aquelas cuja presença ou
ausência implica em mudança de sentido. Ex. Exemplos de transcrições fonéticas de palavras:
/p/ata /b/ata /m/ata
Oclusiva Oclusiva Oclusiva
Bilabial Bilabial Bilabial
Surda Sonora Surda
Oral Oral Nasal

2. Combinações Sintagmáticas: arranjos e disposições


lineares no contínuo sonoro. Troca na posição dos fonemas
entre si. Ex.

Roma, amor, mora, ramo

A Fonética e a Fonologia são duas disciplinas Questões


interdependentes, uma vez que, para qualquer estudo de
natureza fonológica, é imprescindível partir do conteúdo 01. (Pref. de Cruzeiro/SP - Instrutor -
fonético, articulatório e/ou acústico, para determinar as INST.EXCELÊNCIA/2016) Sobre fonologia e fonética, observe
unidades distintivas de cada língua. Desta forma, a Fonética e as afirmativas a seguir:
a Fonologia não são dicotômicas, pois a Fonética trata da
substância da expressão, enquanto a Fonologia trata da forma I - A fonética se diferencia da Fonologia por considerar os
da expressão, constituindo, as duas ciências, dentro de um sons independentes das oposições paradigmáticas e
mesmo plano de expressão. combinações sintagmáticas.
O termo ‘Fonética’ pode significar tanto o estudo de II - A fonética estuda os sons como entidades físico-
qualquer som produzido pelos seres humanos, quando o articulatórias associadas. É a parte da Gramática que estuda de
estudo da articulação, da acústica e da percepção dos sons forma geral os fonemas, ou seja, os sons que as letras emitem.
utilizados em línguas específicas. No primeiro tipo de III - À fonologia cabe estudar as diferenças fônicas
investigação, torna-se evidente a autonomia da Fonética em intencionais, distintivas, isto é, que se unem a diferenças de
relação à Fonologia. No segundo tipo de investigação, porém, significação; estabelecer a relação entre os elementos de
as relações entre as duas ciências se tornam patentes. diferenciação e quais as condições em que se combinam uns
com os outros para formar morfemas, palavras e frases.
VOGAIS
Assinale a alternativa CORRETA:
(A) As afirmativas I e II estão corretas.
(B) As afirmativas II e III estão corretas.
(C) As afirmativas I e III estão corretas.
(D) Nenhuma das alternativas.

02. (Pref. de Cruzeiro/SP - Professor Língua


Portuguesa - INST.EXCELÊNCIA/2016)

Qualquer comunicação realizada com sucesso pressupõe


alguns requisitos básicos para os interlocutores: um
funcionamento físico adequado do cérebro, dos pulmões, da
laringe, do ouvido, dentre outros órgãos, responsáveis pela
produção e audição (percepção) dos sons da fala. Além desses,
deve haver o reconhecimento da pronúncia de cada um dos
interlocutores, pois, mesmo que tivessem os órgãos da fala e

20 www.infoescola.com/portugues/distincao-entre-fonetica-e-fonologia/

Língua Portuguesa 38
APOSTILAS OPÇÃO

da audição em perfeito estado, essa comunicação poderia não C + A + M + A = CAMA. Quatro fonemas (sons) se
ter sucesso se um deles não compreendesse a língua falada combinaram e formaram uma palavra. Se substituirmos agora
pelo outro. Sobre fonética e fonologia, assinale a alternativa o som M por N, haverá uma nova palavra, CANA.
CORRETA.
I - Podemos estudar a fala a partir da sua fisiologia, ou seja, A combinação de diferentes fonemas permite a formação
a partir dos órgãos que a produzem, tais como a língua, de novas palavras com diferentes sentidos. Portanto, os
responsável pela articulação da maior parte dos sons da fala; e fonemas de uma língua têm duas funções bem importantes:
a laringe, responsável principalmente pela produção de “voz” formar palavras e distinguir uma palavra da outra.
que leva à distinção entre sons vozeados (sonoros) e não
vozeados (surdos). Ex.: mim / sim / gim...
II - A fala tem como principal objetivo o aporte de
significado, mas, para isso, deve se constituir em uma atividade Letra
sistematicamente organizada. A letra é um símbolo que representa um som, é a
III - A fala pode ser descrita sob diferentes aspectos, uns representação gráfica dos fonemas da fala. É bom saber dois
mais próximos do que se convenciona chamar de Fonética, aspectos da letra: pode representar mais de um fonema ou
outros mais próximos do que se convenciona chamar de pode simplesmente ajudar na pronúncia de um fonema.
Fonética. Por exemplo, a letra X pode representar os sons X
IV - Tanto a fonética quanto a fonologia investigam como (enxame), Z (exame), S (têxtil) e KS (sexo; neste caso a letra X
os seres humanos produzem e ouvem os sons da fala. representa dois fonemas – K e S = KS). Ou seja, uma letra pode
V - A Fonética pode ser vista como a organização da fala representar mais de um fonema.
focalizando línguas específicas. Às vezes a letra é chamada de diacrítica, pois vem à direita
de outra letra para representar um fonema só. Por exemplo, na
(A) Somente a alternativa I está correta. palavra cachaça, a letra H não representa som algum, mas,
(B) As alternativas I, II e IV estão corretas. nesta situação, ajuda-nos a perceber que CH tem som de X,
(C) Somente as alternativas II e IV estão corretas. como em xaveco.
(D) As alternativas III e V estão corretas. Vale a pena dizer que nem sempre as palavras apresentam
número idêntico de letras e fonemas.
03. (IF/SC - Professor Português - IF/SC)
Ex.: bola > 4 letras, 4 fonemas
Durante uma aula de Português, enquanto os alunos de guia > 4 letras, 3 fonemas
uma turma do Ensino Técnico Integrado fazem algumas
atividades, uma das estudantes chama a professora e propõe- Os fonemas classificam-se em vogais, semivogais e
lhe o seguinte desafio: “Professora, quero só ver se consegue consoantes.
pronunciar a palavra ‘bebê’ sem encostar os lábios.” Apesar de
não fazer parte do assunto da aula, a professora decide Vogais
explicar à aluna os motivos de sua dificuldade em pronunciar São fonemas produzidos livremente, sem obstrução da
a referida palavra sem encostar os lábios. No momento da passagem do ar. São mais tônicos, ou seja, têm a pronúncia
explicação, a professora modaliza a fala, mas menciona, a título mais forte que as semivogais. São o centro de toda sílaba.
de curiosidade, que [b], de acordo com a tabela fonética Podem ser orais (timbre aberto ou fechado) ou nasais
consonantal, recebe uma determinada classificação. (indicadas pelo ~, m, n). As vogais são A, E, I, O, U, que podem
ser representadas pelas letras abaixo. Veja:
Assinale a alternativa que apresenta CORRETAMENTE
essa classificação. A: brasa (oral), lama (nasal)
(A)Consoante oclusiva dental/alveolar surda/desvozeada. E: sério (oral), entrada (oral, timbre fechado), dentro
(B) Consoante oclusiva bilabial surda/desvozeada. (nasal)
(C) Consoante oclusiva velar surda/desvozeada. I: antigo (oral), índio (nasal)
(D) Consoante oclusiva dental/alveolar sonora/vozeada. O: poste (oral), molho (oral, timbre fechado), longe (nasal)
(E) Consoante oclusiva bilabial sonora/vozeada. U: saúde (oral), juntar (nasal)
Y: hobby (oral)
Gabarito
01.C / 02.B / 03.E Observação: As vogais ainda podem ser tônicas ou átonas.
Tônica aquela pronunciada com maior intensidade. Ex.:
FONOLOGIA – ESTRUTURA FONÉTICA café, bola, vidro.
Átona aquela pronunciada com menor intensidade. Ex.:
Fonologia café, bola, vidro.
Fonologia21 é o ramo da linguística que estuda o sistema
sonoro de um idioma. Ao estudar a maneira como os fones ou Semivogais
fonemas (sons) se organizam dentro de uma língua, classifica- São as letras “e”, “i”, “o”, “u”, representadas pelos fonemas
os em unidades capazes de distinguir significados. (e, y, o, w), quando formam sílaba com uma vogal. Ex.: No
A Fonologia estuda o ponto de vista funcional dos vocábulo “história” a sílaba “ria” apresenta a vogal “a” e a
Fonemas. semivogal “i”.

Estrutura Fonética Os fonemas semivocálicos (ou semivogais) têm o som de I


Fonema e U (apoiados em uma vogal, na mesma sílaba). São menos
O fonema22 é a menor unidade sonora da palavra e exerce tônicos (mais fracos na pronúncia) que as vogais. São
duas funções: formar palavras e distinguir uma palavra da representados pelas letras I, U, E, O, M, N, W, Y. Veja:
outra. Veja o exemplo:

21http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/ 22 PESTANA, Fernando. A gramática para concursos públicos. – 1. ed. – Rio de

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/fonologia.htm. Janeiro: Elsevier, 2013.

Língua Portuguesa 39
APOSTILAS OPÇÃO

- pai: a letra I representa uma semivogal, pois está apoiada Tritongo


em uma vogal, na mesma sílaba. O tritongo é a união de SV + V + SV na mesma sílaba; pode
- mouro: a letra U representa uma semivogal, pois está ser oral ou nasal. Ex.: saguão (nasal), Paraguai (oral),
apoiada em uma vogal, na mesma sílaba. enxáguem (nasal), averiguou (oral), deságuam (nasal), aguei
- mãe: a letra E representa uma semivogal, pois tem som (oral).
de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.
- pão: a letra O representa uma semivogal, pois tem som de Encontros Consonantais
U e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.
- cantam: a letra M representa uma semivogal, pois tem Ocorre quando há um grupo de consoantes sem vogal
som de U e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= intermediária. Ex.: flor, grade, digno.
cantãu).
- dancem: a letra M representa uma semivogal, pois tem Dígrafos: duas letras representadas por um único fonema.
som de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= Ex.: passo, chave, telha, guincho, aquilo.
dancẽi).
- hífen: a letra N representa uma semivogal, pois tem som Os dígrafos podem ser consonantais e vocálicos.
de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= hífẽi). - Consonantais: ch (chuva), sc (nascer), ss (osso), sç
- glutens: a letra N representa uma semivogal, pois tem (desça), lh (filho), xc (excelente), qu (quente), nh (vinho), rr
som de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= (ferro), gu (guerra).
glutẽis). - Vocálicos: am, an (tampa, canto), em, en (tempo, vento),
- windsurf: a letra W representa uma semivogal, pois tem im, in (limpo, cinto), om, on (comprar, tonto), um, un (tumba,
som de U e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba. mundo).
- office boy: a letra Y representa uma semivogal, pois tem
som de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba. Lembre-se: nos dígrafos, as duas letras representam um
só fonema; nos encontros consonantais, cada letra representa
Quadro de vogais e semivogais um fonema.
Fonemas Regras
A Apenas VOGAL Questões
VOGAIS, exceto quando está com A ou
quando estão juntas 01. A palavra que apresenta tantos fonemas quantas são as
E-O letras que a compõem é:
(Neste caso a segunda é semivogal)
SEMIVOGAIS, exceto quando formam um (A) importância
hiato ou quando estão juntas (B) milhares
I-U (C) sequer
(Neste caso a letra “I” é vogal)
Quando aparece no final da palavra é (D) técnica
AM SEMIVOGAL. (E) adolescente
Ex.: Dançam
Quando aparecem no final de palavras são 02. Em qual das palavras abaixo a letra x apresenta não
EM - EN SEMIVOGAIS. um, mas dois fonemas?
Ex.: Montem / Pólen (A) exemplo
(B) complexo
Consoantes (C) próximos
São fonemas produzidos com interferência de um ou mais (D) executivo
órgãos da boca (dentes, língua, lábios). Todas as demais letras (E) luxo
do alfabeto representam, na escrita, os fonemas consonantais:
B, C, D, F, G, H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, W (com som de V, 03. (Pref. Caucaia/CE - Agente de Suporte a
Wagner), X, Z. Fiscalização - CETREDE/2016) Assinale a opção em que o x
de todos os vocábulos não tem o som de /ks/.
Encontros Vocálicos (A) tóxico – axila – táxi.
(B) táxi – êxtase – exame.
Como o nome sugere, é o contato entre fonemas vocálicos. (C) exportar – prolixo – nexo.
Há três tipos: (D) tóxico – prolixo – nexo.
(E) exército – êxodo – exportar.
Hiato
Ocorre hiato quando há o encontro de duas vogais, que 04. Indique a alternativa cuja sequência de vocábulos
acabam ficando em sílabas separadas (Vogal – Vogal), porque apresenta, na mesma ordem, o seguinte: ditongo, hiato, hiato,
só pode haver uma vogal por sílaba. ditongo.
Ex.: sa-í-da, ra-i-nha, ba-ús, ca-ís-te, tu-cu-mã-í, su-cu-u- (A) jamais / Deus / luar / daí
ba, ru-im, jú-ni-or. (B) joias / fluir / jesuíta / fogaréu
(C) ódio / saguão / leal / poeira
Ditongo (D) quais / fugiu / caiu / história
Existem dois tipos: crescente ou decrescente (oral ou
nasal). 05. (Pref. João Pessoa/PB - Enfermeiro - AOCP/2018)
Assinale a alternativa em que todas as palavras apresentam
Crescente (SV + V, na mesma sílaba). Ex.: magistério dígrafos.
(oral), série (oral), várzea (oral), quota (oral), quatorze (oral), (A) crescente - investir - interesse.
enquanto (nasal), cinquenta (nasal), quinquênio (nasal). (B) estabelecimento - naquela - misterioso.
(C) dinheiro - criada - naquela.
Decrescente (V + SV, na mesma sílaba). Ex.: item (nasal), (D) crescente - estabelecimento - misterioso.
amam (nasal), sêmen (nasal), cãibra (nasal), caule (oral),
ouro (oral), veia (oral), fluido (oral), vaidade (oral).

Língua Portuguesa 40
APOSTILAS OPÇÃO

Gabarito - antes de nomes próprios de pessoas: Você já visitou


01.D / 02.B / 03.E / 04.B / 05.A Luciana / a Luciana?
- “Daqui para a frente, tudo vai ser diferente.” (Para a
frente: exige a preposição)
Morfologia: classes de
Formas combinadas do artigo definido: Preposição + o = ao
palavras variáveis e / de + o, a = do, da / em + o, a = no, na / por + o, a = pelo, pela.
invariáveis e seus empregos
no texto. Locuções verbais Usa-se o artigo indefinido:
- para indicar aproximação numérica: Nicole devia ter uns
(perífrases verbais). oito anos.
- antes dos nomes de partes do corpo ou de objetos em
pares: Usava umas calças largas e umas botas longas.
CLASSES DE PALAVRAS - em linguagem coloquial, com valor intensivo: Rafaela é
Em Classes de Palavras, estudaremos artigo, substantivo, uma meiguice só.
adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, - para comparar alguém com um personagem célebre: Luís
interjeição e conjunção. E dentro de cada uma, abordaremos August é um Rui Barbosa.
seu emprego e quando houver, sua flexão.
O artigo indefinido não é usado:
Artigo - em expressões de quantidade: pessoa, porção, parte,
gente, quantidade. Ex.: Reservou para todos boa parte do lucro.
É a palavra que acompanha o substantivo, indicando-lhe o - com adjetivos como: escasso, excessivo, suficiente. Ex.:
gênero e o número, determinando-o ou generalizando-o. Os Não há suficiente espaço para todos.
artigos podem ser: - com substantivo que denota espécie. Ex.: Cão que ladra
Definidos: o, a, os, as; determinam os substantivos, trata de não morde.
um ser já conhecido; denota familiaridade: “A grande reforma
do ensino superior é a reforma do ensino fundamental e do Formas combinadas do artigo indefinido: Preposição de e
médio.” em + um, uma = num, numa, dum, duma.
Indefinidos: um, uma, uns, umas; Trata-se de um ser
desconhecido, dá ao substantivo valor vago: “...foi chegando O artigo (o, a, um, uma) anteposto a qualquer palavra
um caboclinho magro, com uma taquara na mão.” (A. Lima) transforma-a em substantivo. O ato literário é o conjunto do
ler e do escrever.
Usa-se o artigo definido:
- com a palavra ambos: falou-nos que ambos os culpados Questões
foram punidos.
- com nomes próprios geográficos de estado, país, oceano, 01. (Banestes - Analista Econômico Financeiro - Gestão
montanha, rio, lago: o Brasil, o rio Amazonas, a Argentina, o Contábil - FGV/2018) A frase abaixo em que o emprego do
oceano Pacífico. Ex.: Conheço o Canadá mas não conheço artigo mostra inadequação é:
Brasília. (A) Todas as coisas que hoje se creem antiquíssimas já
- depois de todos/todas + numeral + substantivo: Todos foram novas;
os vinte atletas participarão do campeonato. (B) Cuidado com todas as coisas que requeiram roupas
- com o superlativo relativo: Mariane escolheu as mais novas;
lindas flores da floricultura. (C) Todos os bons pensamentos estão presentes no
- com a palavra outro, com sentido determinado: Marcelo mundo, só falta aplicá-los;
tem dois amigos: Rui é alto e lindo, o outro é atlético e (D) Em toda a separação existe uma imagem da morte;
simpático. (E) Alegria de amor dura apenas um instante, mas
- antes dos nomes das quatro estações do ano: Depois da sofrimento de amor dura toda a vida.
primavera vem o verão.
- com expressões de peso e medida: O álcool custa um real 02. (IF/AP – Auxiliar em Administração –
o litro. (=cada litro) FUNIVERSA/2016)

Não se usa o artigo definido:


- antes de pronomes de tratamento iniciados por
possessivos: Vossa Excelência, Vossa Senhoria. Ex.: Vossa
Alteza estará presente ao debate?
- antes de nomes de meses: O campeonato aconteceu em
maio de 2002.
- alguns nomes de países, como Espanha, França,
Inglaterra, Itália podem ser construídos sem o artigo,
principalmente quando regidos de preposição. Ex.: “Viveu
muito tempo em Espanha.”
- antes de todos / todas + numeral: Eles são, todos
quatro, amigos de João Luís e Laurinha.
- antes de palavras que designam matéria de estudo,
empregadas com os verbos: aprender, estudar, cursar,
ensinar. Ex.: Estudo Inglês e Cristiane estuda Francês.

O uso do artigo é facultativo:


Internet: <http://educacaoepraxis.blogspot.com.br>.
- antes do pronome possessivo: Sua / A sua incompetência
é irritante.

Língua Portuguesa 41
APOSTILAS OPÇÃO

No segundo quadrinho, correspondem, respectivamente, a sentimentos, ações, estados dos seres: dor, doença, amor, fé,
substantivo, pronome, artigo e advérbio: beijo, abraço, juventude, covardia. Ex.: É necessário alguém ser
(A) “guerra”, “o”, “a” e “por que”. ou estar triste para a tristeza manifestar-se.
(B) “mundo”, “a”, “o” e “lá”.
(C) “quando”, “por que”, “e” e “lá”. Formação
(D) “por que”, “não”, “a” e “quando”. - Simples: são aqueles formados por apenas um radical:
(E) “guerra”, “quando”, “a” e “não”. chuva, tempo, sol, guarda.
- Compostos: são os que são formados por mais de dois
03. (SESAP/RN - Técnico em Enfermagem - radicais: guarda-chuva, girassol, água-de-colônia.
COMPERVE/2018) - Primitivos: são os que não derivam de outras palavras;
vieram primeiro, deram origem a outras palavras. Ex.: ferro,
Nas décadas subsequentes, vários estudos Pedro, mês, queijo.
correlacionaram os hábitos dos pacientes como fatores de - Derivados: são formados de outra palavra já existente;
risco para doenças cardiovasculares. Sedentarismo, vieram depois. Ex.: ferradura, pedreiro, mesada, requeijão.
tabagismo, obesidade, entre outros, aumentam drasticamente - Coletivos: os substantivos comuns que, mesmo no
as chances de enfarte. singular, designam um conjunto de seres de uma mesma
espécie. Ex.:
Com relação à quantidade de artigos no trecho, há
(A) cinco. Álbum de fotografias Colmeia de abelhas
(B) três. de bispos em
Alcateia de lobos Concílio
(C) quatro. assembleia
de textos
(D) dois. Antologia Conclave de cardeais
escolhidos
Arquipélago ilhas Cordilheira de montanhas
04. (Prefeitura Tanguá/RJ - Técnico de Enfermagem -
MS Concursos/2017) Considere as afirmações sobre artigo e Reflexão do Substantivo
numeral e assinale a alternativa correta: Os substantivos apresentam variações ou flexões de gênero
I - Algumas palavras que atendem o substantivo, como um, (masculino/feminino), de número (plural/singular) e de grau
em “um dia”, podem modificar-lhe o sentido. Podemos (aumentativo/diminutivo).
entender a expressão como “um dia qualquer” e também como
“um único dia.” Na primeira situação, a palavra um é artigo; na Gênero (masculino/feminino)
segunda, um é numeral. Na língua portuguesa há dois gêneros: masculino e
II - Artigo é a palavra que antecede o substantivo, feminino. A regra para a flexão do gênero é a troca de o por a,
definindo-o ou indefinindo-o. Numeral é a palavra que ou o acréscimo da vogal a, no final da palavra: mestre, mestra.
expressa quantidade exata de pessoas ou coisas, ou lugar que
elas ocupam numa determinada sequência. Formação do Feminino
III - Os numerais classificam-se em: cardinais (designam O feminino se realiza de três modos:
uma quantidade de seres); ordinais (indicam série, ordem, - Flexionando-se o substantivo masculino: filho, filha /
posição); multiplicativos (expressam aumento proporcional a mestre, mestra / leão, leoa;
um múltiplo da unidade); fracionários (denotam diminuição - Acrescentando-se ao masculino a desinência “a” ou um
proporcional a divisões, frações da unidade). sufixo feminino: autor, autora / deus, deusa / cônsul,
IV - O numeral pode referir-se a um substantivo ou consulesa / cantor, cantora / reitor, reitora.
substituí-lo; no primeiro caso, é numeral substantivo; no - Utilizando-se uma palavra feminina com radical
segundo, numeral adjetivo. diferente: pai, mãe / homem, mulher / boi, vaca / carneiro,
ovelha / cavalo, égua.
(A) Apenas II, III e IV estão corretas.
(B) Apenas I, III e IV estão corretas. Substantivos Uniformes
(C) Apenas I, II e III estão corretas. - Epicenos: designam certos animais e têm um só gênero,
(D) Apenas I, II e IV estão corretas. quer se refiram ao macho ou à fêmea. – jacaré macho ou fêmea
/ a cobra macho ou fêmea.
Gabarito - Comuns de dois gêneros: apenas uma forma e designam
indivíduos dos dois sexos. São masculinos ou femininos. A
01.D / 02.E / 03.C / 04.C indicação do sexo é feita com uso do artigo masculino ou
feminino: o, a intérprete / o, a colega / o, a médium / o, a
Substantivo pianista.
- Sobrecomuns: designam pessoas e têm um só gênero
É a palavra que dá nomes aos seres. Inclui os nomes de para homem ou a mulher: a criança (menino, menina) / a
pessoas, de lugares, coisas, entes de natureza espiritual ou testemunha (homem, mulher) / o cônjuge (marido, mulher).
mitológica: vegetação, sereia, cidade, anjo, árvore, respeito,
criança. Alguns substantivos que mudam de sentido, quando se
troca o gênero:
Classificação o lotação (veículo) - a lotação (efeito de lotar);
- Comuns: nomeiam os seres da mesma espécie. Ex.: o capital (dinheiro) - a capital (cidade);
menina, piano, estrela, rio, animal, árvore. o cabeça (chefe, líder) - a cabeça (parte do corpo);
- Próprios: referem-se a um ser em particular. Ex.: Brasil, o guia (acompanhante) - a guia (documentação).
América do Norte, Deus, Paulo, Lucélia.
- Concretos: são aqueles que têm existência própria; são São masculinos: o eclipse, o dó, o dengue (manha), o
independentes; reais ou imaginários. Ex.: mãe, mar, água, anjo, champanha, o soprano, o clã, o alvará, o sanduíche, o clarinete,
alma, Deus, vento, saci. o Hosana, o espécime, o guaraná, o diabete ou diabetes, o tapa,
- Abstrato: são os que não têm existência própria; depende o lança-perfume, o praça (soldado raso), o pernoite, o
sempre de um ser para existir. Designam qualidades,

Língua Portuguesa 42
APOSTILAS OPÇÃO

formicida, o herpes, o sósia, o telefonema, o saca-rolha, o Plural dos Substantivos Compostos


plasma, o estigma.
Somente o segundo (ou último) elemento vai para o plural:
São femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a aluvião, a
análise, a cal, a gênese, a entorse, a faringe, a cólera (doença), - palavra unida sem hífen: pontapé = pontapés / girassol
a cataplasma, a pane, a mascote, a libido (desejo sexual), a rês, = girassóis / autopeça = autopeças.
a sentinela, a sucuri, a usucapião, a omelete, a hortelã, a fama, - verbo + substantivo: saca-rolha = saca-rolhas / arranha-
a Xerox, a aguardente. céu = arranha-céus / bate-bola = bate-bolas / guarda-roupa =
guarda-roupas / guarda-sol = guarda-sóis / vale-refeição =
Número (plural/singular) vale-refeições.
Acrescentam-se: - elemento invariável + palavra variável: sempre-viva =
- S – aos substantivos terminados em vogal ou ditongo: sempre-vivas / abaixo-assinado = abaixo-assinados / recém-
povo, povos / feira, feiras / série, séries. nascido = recém-nascidos / ex-marido = ex-maridos / auto-
- S – aos substantivos terminados em N: líquen, liquens / escola = auto-escolas.
abdômen, abdomens / hífen, hífens. Também: líquenes, - palavras repetidas: o reco-reco = os reco-recos / o tico-
abdômenes, hífenes. tico = os tico-ticos / o corre-corre = os corre-corres.
- ES – aos substantivos terminados em R, S, Z: cartaz, - substantivo composto de três ou mais elementos não
cartazes / motor, motores / mês, meses. Alguns terminados em ligados por preposição: o bem-me-quer = os bem-me-queres /
R mudam sua sílaba tônica, no plural: júnior, juniores / caráter, o bem-te-vi = os bem-te-vis / o sem-terra = os sem-terra / o
caracteres / sênior, seniores. fora-da-lei = os fora-da-lei / o João-ninguém = os joões-ninguém
- IS – aos substantivos terminados em al, el, ol, ul: jornal, / o ponto-e-vírgula = os ponto e vírgulas / o bumba meu boi =
jornais / sol, sóis / túnel, túneis / mel, meles, méis. Exceções: os bumba meu bois.
mal, males / cônsul, cônsules / real, réis. - quando o primeiro elemento for: grão, grã (grande), bel:
- ÃO – aos substantivos terminados em ão, acrescenta S: grão-duque = grão-duques / grã-cruz = grã-cruzes / bel-prazer
cidadão, cidadãos / irmão, irmãos / mão, mãos. = bel-prazeres.

Trocam-se: Somente o primeiro elemento vai para o plural:


- ão por ões: botão, botões / limão, limões / portão, portões
/ mamão, mamões. - substantivo + preposição + substantivo: água de colônia
- ão por ãe: pão, pães / charlatão, charlatães / alemão, = águas-de-colônia / mula-sem-cabeça = mulas-sem-cabeça /
alemães / cão, cães. pão-de-ló = pães-de-ló / sinal-da-cruz = sinais-da-cruz.
- il por is (oxítonas): funil, funis / fuzil, fuzis / canil, canis / - quando o segundo elemento limita o primeiro ou dá
pernil, pernis. ideia de tipo, finalidade: samba-enredo = sambas-enredo /
- por eis (paroxítonas): fóssil, fósseis / réptil, répteis / pombo-correio = pombos-correio / salário-família = salários-
projétil, projéteis. família / banana-maçã = bananas-maçã / vale-refeição = vales-
- m por ns: nuvem, nuvens / som, sons / vintém, vinténs / refeição (vale = ter valor de, substantivo+especificador)
atum, atuns.
- zito, zinho - 1º coloca-se o substantivo no plural: balão, Os dois elementos ficam invariáveis quando houver:
balões. 2º elimina-se o S + zinhos.
Balão – balões – balões + zinhos: balõezinhos. - verbo + advérbio: o ganha-pouco = os ganha-pouco / o
Papel – papéis – papel + zinhos: papeizinhos. cola-tudo = os cola-tudo / o bota-fora = os bota-fora
Cão – cães - cãe + zitos: Cãezitos. - os compostos de verbos de sentido oposto: o entra-e-sai
= os entra-e-sai / o leva-e-traz = os leva-e-traz / o vai-e-volta
Alguns substantivos terminados em X são invariáveis = os vai-e-volta.
(valor fonético = cs): os tórax, os tórax / o ônix, os ônix / a fênix,
as fênix / uma Xerox, duas Xerox / um fax, dois fax. Os dois elementos, vão para o plural:

Substantivos terminados em ÃO com mais de uma forma - substantivo + substantivo: decreto-lei = decretos-leis /
no plural: abelha-mestra = abelhas-mestras / tia-avó = tias-avós /
aldeão, aldeões, aldeãos; tenente-coronel = tenentes-coronéis / redator-chefe =
verão, verões, verãos; redatores-chefes.
anão, anões, anãos; - substantivo + adjetivo: amor-perfeito = amores-
guardião, guardiões, guardiães; perfeitos / capitão-mor = capitães-mores / carro-forte =
corrimão, corrimãos, corrimões; carros-fortes / obra-prima = obras-primas / cachorro-quente
ancião, anciões, anciães, anciãos; = cachorros-quentes.
ermitão, ermitões, ermitães, ermitãos. - adjetivo + substantivo: boa-vida = boas-vidas / curta-
metragem = curtas-metragens / má-língua = más-línguas /
Metafonia - apresentam o “o” tônico fechado no singular e - numeral ordinal + substantivo: segunda-feira =
aberto no plural: caroço (ô), caroços (ó) / imposto (ô), segundas-feiras / quinta-feira = quintas-feiras.
impostos (ó).
Composto com a palavra guarda só vai para o plural se
Substantivos que mudam de sentido quando usados no for pessoa: guarda-noturno = guardas-noturnos / guarda-
plural: Fez bem a todos (alegria); Houve separação de bens. florestal = guardas-florestais / guarda-civil = guardas-civis /
(Patrimônio); Conferiu a féria do dia. (Salário); As férias foram guarda-marinha = guardas-marinha.
maravilhosas. (Descanso).
Plural dos nomes próprios personalizados: os Almeidas
Substantivos empregados somente no plural: Arredores, / os Oliveiras / os Picassos / os Mozarts / os Kennedys / os
belas-artes, bodas (ô), condolências, cócegas, costas, exéquias, Silvas.
férias, olheiras, fezes, núpcias, óculos, parabéns, pêsames,
viveres, idos, afazeres, algemas.

Língua Portuguesa 43
APOSTILAS OPÇÃO

Plural das siglas, acrescenta-se um s minúsculo: CDs / (C) champanha – dó(pena) – telefonema;
DVDs / ONGs / PMs / Ufirs. (D) estudante – cal – alface;
(E) edema – diabete – alface.
Grau (aumentativo/diminutivo)
Os substantivos podem ser modificados a fim de exprimir 05. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm
intensidade, exagero ou diminuição. A essas modificações é um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a
que damos o nome de grau do substantivo. Os graus alternativa em que há um substantivo que não corresponde ao
aumentativos e diminutivos são formados por dois processos: seu significado:
(A) O capital = dinheiro;
- Sintético: com o acréscimo de um sufixo aumentativo ou A capital = cidade principal;
diminutivo: peixe – peixão; peixe-peixinho; sufixo inho ou (B) O grama = unidade de medida;
isinho. A grama = vegetação rasteira;
(C) O rádio = aparelho transmissor;
- Analítico: formado com palavras de aumento: grande, A rádio = estação geradora;
enorme, imensa, gigantesca (obra imensa / lucro enorme / (D) O cabeça = o chefe;
carro grande / prédio gigantesco); e formado com as palavras A cabeça = parte do corpo;
de diminuição (diminuto, pequeno, minúscula, casa pequena, (E) A cura = o médico.
peça minúscula, saia diminuta). O cura = ato de curar.

- Sem falar em aumentativo e diminutivo alguns Gabarito


substantivos exprimem também desprezo, crítica, indiferença
em relação a certas pessoas e objetos: gentalha, mulherengo, 01.C / 02.E / 03.D / 04.C / 05.E
narigão, gentinha, coisinha, povinho, livreco.
- Já alguns diminutivos dão ideia de afetividade: filhinho, Adjetivo
Toninho, mãezinha.
- Em consequência do dinamismo da língua, alguns É a palavra variável em gênero, número e grau que
substantivos no grau diminutivo e aumentativo adquiriram modifica um substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade,
um significado novo: portão, cartão, fogão, cartilha, folhinha estado, ou modo de ser: laranjeira florida; céu azul; mau tempo.
(calendário). Os adjetivos classificam-se em:
- As palavras proparoxítonas e as palavras terminadas em - simples: apresentam um único radical, uma única palavra
sílabas nasal, ditongo, hiato ou vogal tônica recebem o sufixo em sua estrutura: alegre, medroso, simpático.
zinho(a): lâmpada (proparoxítona) = lampadazinha; irmão - compostos: apresentam mais de um radical, mais de duas
(sílaba nasal) = irmãozinho; herói (ditongo) = heroizinho; baú palavras em sua estrutura: estrelas azul-claras; sapatos
(hiato) = bauzinho; café (voga tônica) = cafezinho. marrom-escuros.
- As palavras terminadas em s ou z, ou em uma dessas - primitivos: são os que vieram primeiro; dão origem a
consoantes seguidas de vogal recebem o sufixo inho: país = outras palavras: atual, livre, triste, amarelo, brando.
paisinho; rapaz = rapazinho; rosa = rosinha; beleza = - derivados: são aqueles formados por derivação, vieram
belezinha. depois dos primitivos: amarelado, ilegal, infeliz,
- Há ainda aumentativos e diminutivos formados por desconfortável.
prefixação: minissaia, maxissaia, supermercado, - pátrios: indicam procedência ou nacionalidade, referem-
minicalculadora. se a cidades, estados, países. Amapá: amapaense; Amazonas:
amazonense; Anápolis: anapolino; Angra dos Reis: angrense;
Questões Aracajú: aracajuano ou aracajuense; Bahia: baiano.

01. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da Pode-se utilizar os adjetivos pátrios compostos, como:
mesma forma que “balão” e “caneta-tinteiro”: afro-brasileiro; Anglo-americano, franco-italiano, sino-
(A) vulcão, abaixo-assinado; japonês (China e Japão); Américo-francês; luso-brasileira;
(B) irmão, salário-família; nipo-argentina (Japão e Argentina); teuto-argentinos
(C) questão, manga-rosa; (alemão).
(D) bênção, papel-moeda;
(E) razão, guarda-chuva. Locução Adjetiva: é a expressão que tem o mesmo valor
de um adjetivo. É formada por preposição + um substantivo.
02. Assinale a alternativa em que está correta a formação Vejamos algumas locuções adjetivas:
do plural:
(A) cadáver – cadáveis; Angelical de anjo Etário de
(B) gavião – gaviães; idade
(C) fuzil – fuzíveis; Abdominal de Fabril de
abdômen fábrica
(D) mal – maus;
Apícola de abelha Filatélico de selos
(E) atlas – os atlas. Aquilino de águia Urbano da
cidade
03. A palavra livro é um substantivo
(A) próprio, concreto, primitivo e simples. Flexões do Adjetivo
(B) comum, abstrato, derivado e composto. Como palavra variável, sofre flexões de gênero, número e
(C) comum, abstrato, primitivo e simples. grau:
(D) comum, concreto, primitivo e simples.
Gênero
04. Assinale a alternativa em que todos os substantivos são
masculinos: - uniformes: têm forma única para o masculino e o
(A) enigma – idioma – cal; feminino. Funcionário incompetente = funcionária
(B) pianista – presidente – planta; incompetente.

Língua Portuguesa 44
APOSTILAS OPÇÃO

- biformes: troca-se a vogal “o” pela vogal “a” ou com o Analítico: advérbio de intensidade muito, intensamente,
acréscimo da vogal “a” no final da palavra: ator famoso = atriz bastante, extremamente, excepcionalmente + adjetivo (Nicola é
famosa / jogador brasileiro = jogadora brasileira. extremamente simpático).
Sintético: adjetivo + issimo, imo, ílimo, érrimo (Minha
Os adjetivos compostos recebem a flexão feminina apenas comadre Mariinha é agradabilíssima).
no segundo elemento: sociedade luso-brasileira / festa cívico-
religiosa / são – sã. - o sufixo -érrimo é restrito aos adjetivos latinos
Às vezes, os adjetivos são empregados como substantivos terminados em r; pauper (pobre) = paupérrimo; macer
ou como advérbios: Agia como um ingênuo. (adjetivo como (magro) = macérrimo;
substantivo: acompanha um artigo). A cerveja que desce - forma popular: radical do adjetivo português + íssimo
redondo. (adjetivo como advérbio: redondamente). (pobríssimo);
- adjetivos terminados em vel + bilíssimo: amável =
Número amabilíssimo;
- adjetivos terminados em eio formam o superlativo
O plural dos adjetivos simples flexiona de acordo com o apenas com i: feio = feíssimo / cheio = cheíssimo.
substantivo a que se referem: menino chorão = meninos - os adjetivos terminados em io forma o superlativo em
chorões / garota sensível = garotas sensíveis. iíssimo: sério = seriíssimo / necessário = necessariíssimo /
frio = friíssimo.
- quando os dois elementos formadores são adjetivos, só o
segundo vai para o plural: questões político-partidárias, olhos Usa-se também, no superlativo:
castanho-claros, senadores democrata-cristãos.
- composto formado de adjetivo + substantivo referindo-se - prefixos: hipermercado / ultrassonografia /
a cores, o adjetivo cor e o substantivo permanecem invariáveis, supersimpática.
não vão para o plural: terno azul-petróleo = ternos azul- - expressões: suja à beça / pra lá de sério / duro que nem
petróleo (adjetivo azul, substantivo petróleo); saia amarelo- sola / podre de rico / linda de morrer / magro de dar pena.
canário = saias amarelo-canário (adjetivo, amarelo; - adjetivos repetidos: fofinho, fofinho (=fofíssimo) /
substantivo canário). linda, linda (=lindíssima).
- as locuções adjetivas formadas de cor + de + substantivo, - diminutivo ou aumentativo: cheinha / pequenininha /
ficam invariáveis: papel cor-de-rosa = papéis cor-de-rosa / grandalhão / gostosão / bonitão.
olho cor-de-mel = olhos cor-de-mel. - linguagem informal, sufixo érrimo, em vez de íssimo:
- são invariáveis os adjetivos raios ultravioleta / alegrias chiquérrimo, chiquetérrimo, elegantérrimo.
sem-par, piadas sem-sal.
- Relativo: ressalta a qualidade de um ser entre muitos,
Grau com a mesma qualidade. Pode ser:
De Superioridade: Wilma é a mais prendada de todas as
O grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades suas amigas. (Ela é a mais de todas)
dos seres. O adjetivo apresenta duas variações de grau: De Inferioridade: Paulo César é o menos tímido dos filhos.
comparativo e superlativo.
Questões
O grau comparativo é usado para comparar uma
qualidade entre dois ou mais seres, ou duas ou mais 01. (COMPESA - Analista de Gestão - Advogado - FGV) A
qualidades de um mesmo ser. Pode ser de igualdade, de substituição da oração adjetiva por um adjetivo de valor
superioridade e de inferioridade: equivalente está feita de forma inadequada em:
(A) “Quando você elimina o impossível, o que sobra, por
- de igualdade: iguala duas coisas ou duas pessoas: Sou mais improvável que pareça, só pode ser a verdade”. / restante
tão alto quão / quanto / como você. (As duas pessoas têm a (B) “Sábio é aquele que conhece os limites da própria
mesma altura) ignorância”. / consciente dos limites da própria ignorância.
(C) “A única coisa que vem sem esforço é a idade”. /
- de superioridade: iguala duas pessoas / coisas sendo que indiferente
uma é mais do que a outra: Minha amiga Manu é mais (D) “Adoro a humanidade. O que não suporto são as
elegante do que / que eu. (Das duas, a Manu é mais) Podem pessoas”. / insuportável
ser: (E) “Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas
Analítico: mais bom / mais mau / mais grande / mais pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros”. /
pequeno: O salário é mais pequeno do que / que justo (salário falecidos
pequeno e justo). Quando comparamos duas qualidades de um
mesmo ser, podemos usar as formas: mais grande, mais mau, 02. (SEPOG/RO - Técnico em Tecnologia da Informação
mais bom, mais pequeno. e Comunicação - FGV/2018) Temos uma notícia triste: o
Sintético: bom, melhor / mau, pior / grande, maior / coração não é o órgão do amor! Ao contrário do que dizem, não
pequeno, menor: Esta sala é melhor do que / que aquela. é ali que moram os sentimentos. Puxa, para que serve ele,
afinal? Calma, não jogue o coração para escanteio, ele é
- de inferioridade: um elemento é menor do que outro: superimportante. “É um órgão vital. É dele a função de
Somos menos passivos do que / que tolerantes. bombear sangue para todas as células de nosso corpo”, explica
Sérgio Jardim, cardiologista do Hospital do Coração.
O grau superlativo apresenta característica intensificada. O coração é um músculo oco, por onde passa o sangue, e
Pode ser absoluto ou relativo: tem dois sistemas de bombeamento independentes. Com essas
“bombas” ele recebe o sangue das veias e lança para as
- Absoluto: atribuída a um só ser; de forma absoluta. Pode artérias. Para isso contrai e relaxa, diminuindo e aumentando
ser: de tamanho. E o que tem a ver com o amor? “Ele realmente
bate mais rápido quando uma pessoa está apaixonada. O corpo

Língua Portuguesa 45
APOSTILAS OPÇÃO

libera adrenalina, aumentando os batimentos cardíacos e a - Cardinal - indica número, quantidade: um, dois, três,
pressão arterial”. quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,
(O Estado de São Paulo, 09/06/2012, caderno suplementar, p. 6) catorze ou quatorze, quinze, dezesseis, vinte..., trinta..., cem...,
duzentos..., oitocentos..., novecentos..., mil.
Nas frases “ele é superimportante” e “Ele realmente bate
mais rápido quando uma pessoa está apaixonada”, há dois - Ordinal - indica ordem ou posição: primeiro, segundo,
exemplos de variação de grau. terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo,
décimo primeiro, vigésimo..., trigésimo..., quingentésimo...,
Sobre essas variações, assinale a afirmativa correta. sexcentésimo..., septingentésimo..., octingentésimo...,
(A) Apenas na primeira frase há uma variação de grau de nongentésimo..., milésimo.
adjetivo.
(B) Nas duas ocorrências ocorre o superlativo de adjetivos. - Fracionário - indica uma fração ou divisão: meia, metade,
(C) Apenas na segunda ocorrência ocorre o grau terço, quarto, décimo, onze avos, doze avos, vinte avos..., trinta
comparativo do adjetivo. avos..., centésimo..., ducentésimo..., trecentésimo..., milésimo.
(D) Na primeira ocorrência, a variação de grau ocorre por
meio de um sufixo. - Multiplicativo - indica a multiplicação de um número:
(E) Apenas na primeira frase há variação de grau. dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo,
nônuplo, décuplo, undécuplo, duodécuplo, cêntuplo.
03. (Banestes - Técnico Bancário - FGV/2018) O
adjetivo ilimitado corresponde à locução “sem limites”; a Os numerais que indicam conjunto de elementos de
locução com igual estrutura que NÃO corresponde ao adjetivo quantidade exata são os coletivos:
abaixo destacado é:
(A) Os turistas ficaram inertes durante a ação policial / BIMESTRE: período de dois meses
sem ação; CENTENÁRIO: período de cem anos
(B) O turista incauto ficou assustado com a ação policial / DECÁLOGO: conjunto de dez leis
sem cautela; DECÚRIA: período de dez anos
(C) O vocalista da banda saiu ileso do acidente / sem DEZENA: conjunto de dez coisas
LUSTRO: período de cinco anos
ferimento;
MILÊNIO: período de mil anos
(D) O presidente da Coreia passou incógnito pela França / MILHAR: conjunto de mil coisas
sem ser percebido; NOVENA: período de nove dias
(E) O novo livro do autor estava ainda inédito / sem editor. QUARENTENA: período de quarenta dias
QUINQUÊNIO: período de cinco anos
04. (Banestes - Analista Econômico Financeiro - Gestão RESMA: quinhentas folhas de papel
Contábil - FGV/2018) Na escrita, pode-se optar SEMESTRE: período de seis meses
frequentemente entre uma construção de substantivo + TRIÊNIO: período de três anos
TRINCA: conjunto de três coisas
locução adjetiva ou substantivo + adjetivo (esportes da água =
esportes aquáticos).
Algarismos
Arábicos e Romanos, respectivamente: 1-I, 2-II, 3-III, 4-IV,
O termo abaixo sublinhado que NÃO pode ser substituído
5-V, 6-VI, 7-VII, 8-VIII, 9-IX, 10-X, 11-XI, 12-XII, 13-XIII, 14-XIV,
por um adjetivo é:
15-XV, 16-XVI, 17-XVII, 18-XVIII, 19-XIX, 20-XX, 30-XXX, 40-
(A) A indústria causou a poluição do rio;
XL, 50-L, 60-LX, 70-LXX, 80-LXXX, 90-XC, 100-C, 200-CC, 300-
(B) As águas do rio ficaram poluídas;
CCC, 400-CD, 500-D, 600-DC, 700-DCC, 800-DCCC, 900-CM,
(C) As margens do rio estão cheias de lama;
1.000-M.
(D) Os turistas se encantam com a imagem do rio;
(E) Os peixes do rio são bem saborosos.
Flexão dos Numerais
Gênero
05. (Pref. Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo -
- os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de
FGV/2016) “O povo, ingênuo e sem fé das verdades, quer ao
duzentos apresentam flexão de gênero: Um menino e uma
menos crer na fábula, e pouco apreço dá às demonstrações
menina foram os vencedores. / Comprei duzentos gramas de
científicas.” (Machado de Assis)
presunto e duzentas rosquinhas.
- os numerais ordinais variam em gênero: Marcela foi a
No fragmento acima, os dois adjetivos sublinhados
nona colocada no vestibular.
possuem, respectivamente, os valores de
- os numerais multiplicativos, quando usados com o valor
(A) qualidade e estado.
de substantivos, são Invariáveis: A minha nota é o triplo da sua.
(B) estado e relação.
(Triplo – valor de substantivo)
(C) relação e característica.
- quando usados com valor de adjetivo, apresentam flexão
(D) característica e qualidade.
de gênero: Eu fiz duas apostas triplas na loto fácil. (Triplas
(E) qualidade e relação.
valor de adjetivo)
- os numerais fracionários concordam com os cardinais
Gabarito
que indicam o número das partes: Dois terços dos alunos foram
contemplados.
01.C / 02.A / 03.E / 04.A / 05.E
- o fracionário meio concorda em gênero e número com o
substantivo no qual se refere: O início do concurso será meio-
Numeral
dia e meia. (Hora) / Usou apenas meias palavras.
Os numerais exprimem quantidade, posição em uma série,
Número
multiplicação e divisão. Daí a sua classificação,
- os numerais cardinais milhão, bilhão, trilhão, e outros,
respectivamente, em:
variam em número: Venderam um milhão de ingressos para a
festa do peão. / Somos 180 milhões de brasileiros.

Língua Portuguesa 46
APOSTILAS OPÇÃO

- os numerais ordinais variam em número: As segundas (B) Ordinais.


colocadas disputarão o campeonato. (C) Cardinais.
- os numerais multiplicativos são invariáveis quando (D) Fracionários.
usados com valor de substantivo: Minha dívida é o dobro da
sua. (Valor de substantivo – invariável) 04. (Pref. Barra de Guabiraba/PE - IDHTEC) Assinale a
- os numerais multiplicativos variam quando usados como alternativa em que o numeral está escrito por extenso
adjetivos: Fizemos duas apostas triplas. (Valor de adjetivo – corretamente, de acordo com a sua aplicação na frase:
variável) (A) Os moradores do bairro Matão, em Sumaré (SP),
- os numerais fracionários variam em número, temem que suas casas desabem após uma cratera se abrir na
concordando com os cardinais que indicam números das Avenida Papa Pio X. (décima)
partes. (B) O acidente ocorreu nessa terça-feira, na BR-401
- Um quarto de litro equivale a 250 ml; três quartos (quatrocentas e uma)
equivalem a 750 ml. (C) A 22ª edição do Guia impresso traz uma matéria e teve
a sua página Classitêxtil reformulada. (vigésima segunda)
Grau (D) Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
Na linguagem coloquial é comum a flexão de grau dos ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em
numerais: Já lhe disse isso mil vezes. / Aquele quarentão é um erro, mediante artifício, ardil. (centésimo setésimo primeiro)
“gato”! / Morri com cincão para a “vaquinha”, lá da escola. (E) A Semana de Arte Moderna aconteceu no início do
século XX. (século ducentésimo)
Emprego dos Numerais
- para designar séculos, reis, papas, capítulos, cantos (na 05. (MPE/SP - Oficial de Promotoria I - VUNESP)
poesia épica), empregam-se: os ordinais até décimo: João Paulo
II (segundo), Canto X (décimo), Luís IX (nono); os cardinais O SBT fará uma homenagem digna da história de seu
para os demais: Papa Bento XVI (dezesseis), Século XXI (vinte proprietário e principal apresentador: no próximo dia 12
e um). [12.12.2015] colocará no ar um especial com 2h30 de duração
- se o numeral vier antes do substantivo, usa-se o ordinal. em homenagem a Silvio Santos. É o dia de seu aniversário de
O XX século foi de descobertas científicas. (vigésimo século) 85 anos.
- com referência ao primeiro dia do mês, usa-se o numeral (http://tvefamosos.uol.com.br/noticias)
ordinal: O pagamento do pessoal será sempre no dia primeiro.
- na enumeração de leis, decretos, artigos, circulares, As informações textuais permitem afirmar que, em
portarias e outros textos oficiais, emprega-se o numeral 12.12.2015, Sílvio Santos completou seu
ordinal até o nono: O diretor leu pausadamente a portaria 8ª (A) octogenário quinquagésimo aniversário.
(portaria oitava); emprega-se o numeral cardinal, a partir de (B) octogésimo quinto aniversário.
dez: O artigo 16 não foi justificado. (artigo dezesseis) (C) octingentésimo quinto aniversário.
- enumeração de casa, páginas, folhas, textos, (D) otogésimo quinto aniversário.
apartamentos, quartos, poltronas, emprega-se o numeral (E) oitavo quinto aniversário.
cardinal: Reservei a poltrona vinte e oito. / O texto quatro está
na página sessenta e cinco. Gabarito
- se o numeral vier antes do substantivo, emprega-se o
ordinal. Paulo César é adepto da 7ª Arte. (sétima) 01.A / 02.B / 03.A / 04.C / 05.B
- não se usa o numeral um antes de mil: Mil e duzentos
reais é muito para mim. Pronome
- o artigo e o numeral, antes dos substantivos milhão,
milhar e bilhão, devem concordar no masculino: É a palavra que acompanha ou substitui o nome,
- emprega-se, na escrita das horas, o símbolo de cada relacionando-o a uma das três pessoas do discurso. As três
unidade após o numeral que a indica, sem espaço ou ponto: pessoas do discurso são:
10h20min – dez horas, vinte minutos. 1ª pessoa: eu (singular) nós (plural): aquela que fala ou
emissor;
Questões 2ª pessoa: tu (singular) vós (plural): aquela com quem se
fala ou receptor;
01. Marque o emprego incorreto do numeral: 3ª pessoa: ele, ela (singular) eles, elas (plural): aquela de
(A) século III (três) quem se fala ou referente.
(B) página 102 (cento e dois)
(C) 80º (octogésimo) Os pronomes são classificados em: pessoais, de tratamento,
(D) capítulo XI (onze) possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e
(E) X tomo (décimo) relativos.

02. Indique o item em que os numerais estão corretamente Pronomes Pessoais


empregados: Os pronomes pessoais dividem-se em:
(A) Ao Papa Paulo seis sucedeu João Paulo primeiro. - Retos - exercem a função de sujeito da oração.
(B) após o parágrafo nono, virá o parágrafo dez. - Oblíquos - exercem a função de complemento do verbo
(C) depois do capítulo sexto, li o capítulo décimo primeiro. (objeto direto / objeto indireto). São: tônicos com preposição
(D) antes do artigo décimo vem o artigo nono. ou átonos sem preposição.
(E) o artigo vigésimo segundo foi revogado.
Pesso Retos Oblíquos
as do Áton Tônic
03. (Pref. Chapecó/SC - Procurador Municipal - IOBV)
Discurso os os
Quanto à classificação dos numerais, os que indicam o Singul 1ª eu me mim,
aumento proporcional de quantidade, podendo ter valor de ar pessoa tu te comigo
adjetivo ou substantivo são os numerais: 2ª ele/ela se, o, ti,
(A) Multiplicativos. pessoa a, lhe contigo

Língua Portuguesa 47
APOSTILAS OPÇÃO

3ª si, ele, (Nicole- sujeito, 3ª pessoa / levantou- verbo, 3ª pessoa /


pessoa consigo se- complemento, 3ª pessoa / levou- verbo, 3ª pessoa /
Plural 1ª nós nos nós, consigo- complemento, 3ª pessoa).
pessoa vós vos conosco
2ª eles/el se, vós,
pessoa as os, as, convosco Pronomes de Tratamento
3ª lhes si, São usados no trato com as pessoas. Dependendo da
pessoa eles, pessoa a quem nos dirigimos, do seu cargo, idade, título, o
consigo tratamento será familiar ou cerimonioso.

- Colocados antes do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª Vossa Alteza - V.A. - príncipes, duques;
pessoa, apresentam sempre a forma: o, a, os, as: Eu os vi saindo Vossa Eminência - V.Ema - cardeais;
do teatro. Vossa Excelência - V.Ex.a - altas autoridades, presidente,
- As palavras “só” e “todos” sempre acompanham os oficiais;
pronomes pessoais do caso reto: Eu vi só ele ontem. Vossa Magnificência - V.Mag.a - reitores de universidades;
- Colocados depois do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª Vossa Majestade - V.M. - reis, imperadores;
pessoa apresentam as formas: Vossa Santidade - V.S. - Papa;
o, a, os, as: se o verbo terminar em vogal ou ditongo oral: Vossa Senhoria -V.Sa - tratamento cerimonioso.
Encontrei-a sozinha. Vejo-os diariamente. - São também pronomes de tratamento: o senhor, a
o, a, os, as, precedidos de verbos terminados em: R/S/Z, senhora, a senhorita, dona, você.
assumem as formas: lo, Ia, los, las, perdendo, - Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico.
consequentemente, as terminações R, S, Z. Preciso pagar ao
verdureiro. (= pagá-lo); Fiz os exercícios a lápis. (= Fi-los a Nas comunicações oficiais devem ser utilizados somente
lápis) dois fechos:
lo, la, los, las: se vierem depois de: eis / nos / vos - Eis a Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive
prova do suborno. (= Ei-la); O tempo nos dirá. (= no-lo dirá). para o presidente da República.
(eis, nos, vos perdem o S) Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia
no, na, nos, nas: se o verbo terminar em ditongo nasal: m, ou de hierarquia inferior.
ão, õe: Deram-na como vencedora; Põe-nos sobre a mesa.
lhe, lhes colocados depois do verbo na 1ª pessoa do plural, - A forma Vossa (Senhoria, Excelência) é empregada
terminado em S não modificado: Nós entregamos-lhe a cópia quando se fala com a própria pessoa: Vossa Senhoria não
do contrato. (o S permanece) compareceu à reunião dos sem-terra? (falando com a pessoa)
nos: colocado depois do verbo na 1ª pessoa do plural, - A forma Sua (Senhoria, Excelência ) é empregada quando
perde o S: Sentamo-nos à mesa para um café rápido. se fala sobre a pessoa: Sua Eminência, o cardeal, viajou para
me, te, lhe, nos, vos: quando colocado com verbos um congresso. (falando a respeito do cardeal)
transitivos diretos (TD), têm sentido possessivo, equivalendo - Os pronomes de tratamento com a forma Vossa (Senhoria,
a meu, teu, seu, dele, nosso, vosso: Os anos roubaram-lhe a Excelência, Eminência, Majestade), embora indiquem a 2ª
esperança. (sua, dele, dela possessivo) pessoa (com quem se fala), exigem que outros pronomes e o
verbo sejam usados na 3ª pessoa. Vossa Excelência sabe que
Os pronomes pessoais oblíquos nos, vos, e se recebem o seus ministros o apoiarão.
nome de pronomes recíprocos quando expressam uma ação
mútua ou recíproca: Nós nos encontramos emocionados. Pronomes Possessivos
(pronome recíproco, nós mesmos). Nunca diga: Eu se apavorei. São os pronomes que indicam posse em relação às pessoas
/ Eu já se arrumei; Eu me apavorei. / Eu me arrumei. (certos) da fala.
- Os pronomes pessoais retos eu e tu serão substituídos
por mim e ti após preposição: O segredo ficará somente entre Masculino Feminino
mim e ti. Singular Plural Singular Plural
- É obrigatório o emprego dos pronomes pessoais eu e tu, meu meus minha minhas
teu teus tua tuas
quando funcionarem como sujeito: Todos pediram para eu
seu seus sua suas
relatar os fatos cuidadosamente. (pronome reto + verbo no nosso nossos nossa nossas
infinitivo). Lembre-se de que mim não fala, não escreve, não vosso vossos vossa vossas
compra, não anda. seu seus sua suas
- As formas oblíquas o, a, os, as são sempre empregadas
como complemento de verbos transitivos diretos ao passo Emprego dos Pronomes Possessivos
que as formas lhe, lhes são empregadas como complementos
de verbos transitivos indiretos: Dona Cecília, querida amiga, - O uso do pronome possessivo da 3ª pessoa pode
chamou-a. (verbo transitivo direto, VTD); Minha saudosa provocar, às vezes, a ambiguidade da frase. Ex.: João Luís disse
comadre, Nircléia, obedeceu-lhe. (verbo transitivo que Laurinha estava trabalhando em seu consultório. O
indireto,VTI) pronome seu toma o sentido ambíguo, pois pode referir-se
tanto ao consultório de João Luís como ao de Laurinha. No
- É comum, na linguagem coloquial, usar o brasileiríssimo caso, usa-se o pronome dele, dela para desfazer a ambiguidade.
a gente, substituindo o pronome pessoal nós: A gente deve - Os possessivos, às vezes, podem indicar aproximações
fazer caridade com os mais necessitados. numéricas e não posse: Cláudia e Haroldo devem ter seus
- Chamam-se pronomes pessoais reflexivos os pronomes trinta anos.
que se referem ao sujeito: Eu me feri com o canivete. (eu- 1ª - Na linguagem popular, o tratamento seu como em: Seu
pessoa- sujeito / me- pronome pessoal reflexivo) Ricardo, pode entrar!, não tem valor possessivo, pois é uma
- Os pronomes pessoais oblíquos se, si e consigo devem ser alteração fonética da palavra senhor.
empregados somente como pronomes pessoais reflexivos e - Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
funcionam como complementos de um verbo na 3ª pessoa, concorda com o mais próximo. Ex.: Trouxe-me seus livros e
cujo sujeito é também da 3ª pessoa: Nicole levantou-se com anotações.
elegância e levou consigo (com ela própria) todos os olhares.

Língua Portuguesa 48
APOSTILAS OPÇÃO

- Usam-se elegantemente certos pronomes oblíquos: me, colocados depois do substantivo: Certo dia perdi o controle da
te, lhe, nos, vos, com o valor de possessivos. Vou seguir-lhe os situação. (antes do substantivo= indefinido); Eles voltarão no
passos. (os seus passos) dia certo. (depois do substantivo=adjetivo).
- Deve-se observar as correlações entre os pronomes - Todo, toda (somente no singular) sem artigo, equivale a
pessoais e possessivos. “Sendo hoje o dia do teu aniversário, qualquer: Todo ser nasce chorando. (=qualquer ser;
apresso-me em apresentar-te os meus sinceros parabéns; indetermina, generaliza).
Peço a Deus pela tua felicidade; Abraça-te o teu amigo que te - Outrem significa outra pessoa. Ex.: Nunca se sabe o
preza.” pensamento de outrem.
- Não se emprega o pronome possessivo (seu, sua) quando - Qualquer, plural quaisquer. Ex.: Fazemos quaisquer
se trata de parte do corpo. Ex.: Um cavaleiro todo vestido de negócios.
negro, com um falcão em seu ombro esquerdo e uma espada
em sua, mão. (usa-se: no ombro; na mão) Locuções Pronominais Indefinidas: são locuções
pronominais indefinidas duas ou mais palavras que equivalem
Pronomes Demonstrativos ao pronome indefinido: cada qual / cada um / quem quer que
Indicam a posição dos seres designados em relação às seja / seja quem for / qualquer um / todo aquele que / um ou
pessoas do discurso, situando-os no espaço ou no tempo. outro / tal qual (=certo).
Apresentam-se em formas variáveis e invariáveis.
Pronomes Relativos
este, esta, isto, estes, estas São aqueles que representam, numa 2ª oração, alguma
Ex.: palavra que já apareceu na oração anterior. Essa palavra da
Não gostei deste livro aqui. oração anterior chama-se antecedente: Comprei um carro que
Neste ano, tenho realizado bons negócios.
é movido a álcool e à gasolina. É Flex Power. Percebe-se que o
Esta afirmação me deixou surpresa: gostava de química.
O homem e a mulher são massacrados pela cultura atual, pronome relativo que, substitui na 2ª oração, o carro, por isso
mas esta é mais oprimida. a palavra que é um pronome relativo. Dica: substituir que por
esse, essa, esses, essas o, a, os, as, qual / quais.
Ex.: Os pronomes relativos estão divididos em variáveis e
Não gostei desse livro que está em tuas mãos. invariáveis.
Nesse último ano, realizei bons negócios. Variáveis: o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja,
Gostava de química. Essa afirmação me deixou surpresa. cujas, quanto, quantos;
aquele, aquela, aquilo, aqueles, aquelas
Invariáveis: que, quem, quando, como, onde.
Ex.:
Não gostei daquele livro que a Roberta trouxe.
Tenho boas recordações de 1960, pois naquele ano Emprego dos Pronomes Relativos
realizei bons negócios.
O homem e a mulher são massacrados pela cultura atual, - O relativo que, por ser o mais usado, é chamado de
mas esta é mais oprimida que aquele. relativo universal. Ele pode ser empregado com referência à
pessoa ou coisa, no plural ou no singular. Ex.: Este é o CD novo
- para retomar elementos já enunciados, usamos aquele (e que acabei de comprar; João Adolfo é o cara que pedi a Deus.
variações) para o elemento que foi referido em 1º Iugar e este - O relativo que pode ter por seu antecedente o pronome
(e variações) para o que foi referido em último lugar. Ex.: Pais demonstrativo o, a, os, as. Ex.: Não entendi o que você quis
e mães vieram à festa de encerramento; aqueles, sérios e dizer. (o que = aquilo que).
orgulhosos, estas, elegantes e risonhas. - O relativo quem refere se a pessoa e vem sempre
- dependendo do contexto os demonstrativos também precedido de preposição. Ex.: Marco Aurélio é o advogado a
servem como palavras de função intensificadora ou quem eu me referi.
depreciativa. Ex.: Júlia fez o exercício com aquela calma! - O relativo cujo e suas flexões equivalem a de que, do qual,
(=expressão intensificadora). Não se preocupe; aquilo é uma de quem e estabelecem relação de posse entre o antecedente e
tranqueira! (=expressão depreciativa) o termo seguinte. (cujo, vem sempre entre dois substantivos)
- as formas nisso e nisto podem ser usadas com valor de - O pronome relativo pode vir sem antecedente claro,
então ou nesse momento. Ex.: A festa estava desanimada; nisso, explícito; é classificado, portanto, como relativo indefinido, e
a orquestra tocou um samba e todos caíram na dança. não vem precedido de preposição. Ex.: Quem casa quer casa;
- os demonstrativos esse, essa, são usados para destacar um Feliz o homem cujo objetivo é a honestidade; Estas são as
elemento anteriormente expresso. Ex.: Ninguém ligou para o pessoas de cujos nomes nunca vou me esquecer.
incidente, mas os pais, esses resolveram tirar tudo a limpo. - Só se usa o relativo cujo quando o consequente é
diferente do antecedente. Ex.: O escritor cujo livro te falei é
Pronomes Indefinidos paulista.
São aqueles que se referem à 3ª pessoa do discurso de - O pronome cujo não admite artigo nem antes nem depois
modo vago indefinido, impreciso: Alguém disse que Paulo de si.
César seria o vencedor. Alguns desses pronomes são variáveis - O relativo onde é usado para indicar lugar e equivale a:
em gênero e número; outros são invariáveis. em que, no qual. Ex.: Desconheço o lugar onde vende tudo
Variáveis: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, mais barato. (= lugar em que)
certo, vários, tanto, quanto, um, bastante, qualquer. - Quanto, quantos e quantas são relativos quando usados
Invariáveis: alguém, ninguém, tudo, outrem, algo, quem, depois de tudo, todos, tanto. Ex.: Naquele momento, a querida
nada, cada, mais, menos, demais. comadre Naldete, falou tudo quanto sabia.

Emprego dos Pronomes Indefinidos Pronomes Interrogativos


São os pronomes em frases interrogativas diretas ou
- O indefinido cada deve sempre vir acompanhado de um indiretas. Os principais interrogativos são: que, quem, qual,
substantivo ou numeral, nunca sozinho: Ganharam cem quanto:
dólares cada um. (inadequado: Ganharam cem dólares cada.) - Afinal, quem foram os prefeitos desta cidade?
- Certo, certa, certos, certas, vários, várias, são indefinidos (interrogativa direta, COM o ponto de interrogação)
quando colocados antes dos substantivos, e adjetivos quando

Língua Portuguesa 49
APOSTILAS OPÇÃO

- Gostaria de saber quem foram os prefeitos desta cidade. deixa os carros de fora. Lá só se anda a pé ou de bicicleta. As ruas
(interrogativa indireta, SEM a interrogação) são bem estreitas para que um prédio faça sombra no outro. É
perfeito para o deserto. Os revestimentos das paredes isolam o
Questões calor. E a direção dos ventos foi estudada para criar corredores
de brisa.
01. (CRP 2º Região/PE - Psicólogo Orientador - Fiscal - (Adaptado de: “Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo movido a
energia solar”. Disponível
Quadrix/2018) em:http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2016/04/abu-dhabi-constroi-
cidade-do-futuro-com-tudo-movido-energia-solar.html)

Considere as seguintes passagens do texto:


I. E foi exatamente por causa da temperatura que foi
construída em Abu Dhabi uma das maiores usinas de energia
solar do mundo. (1º parágrafo)
II. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra por
mais 100 anos pelo menos. (2º parágrafo)
III. Um traçado urbanístico ousado, que deixa os carros de
fora. (3º parágrafo)
IV. As ruas são bem estreitas para que um prédio faça
sombra no outro. (3º parágrafo)

O termo “que” é pronome e pode ser substituído por “o


qual” APENAS em
(A) I e II.
(B) II e III.
(C) I, II e IV.
(D) I e IV.
(E) III e IV.

Em "Mas ele não tinha muitas chances", as palavras 04. (Pref. Itaquitinga/PE - Assistente Administrativo -
classificam-se, morfologicamente, na ordem em que aparecem, IDHTEC)
como
(A) preposição, pronome, advérbio, ação, nome e adjetivo.
(B) conjunção, pronome, advérbio, verbo, pronome e
substantivo.
(C) interjeição, pronome, nome, verbo, artigo e adjetivo.
(D) conector, nome, adjetivo, verbo, pronome e nome.
(E) conjunção, substantivo, advérbio, verbo, advérbio e
adjetivo.

02. (IF/PA - Auxiliar em Administração - FUNRIO) O


emprego do pronome relativo está de acordo com as normas
da língua-padrão em:
(A) Finalmente aprovaram o decreto que lutamos tanto
por ele.
O emprego do pronome “aquela” na charge:
(B) Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo que tenho
(A) Dá uma conotação irônica à frase.
direito.
(B) Representa uma forma indireta de se dirigir ao casal.
(C) Eu aprovaria o texto daquele parecer que o relator
(C) Permite situar no espaço aquilo a que se refere.
apresentou ontem.
(D) Indica posse do falante.
(D) Existe um escritor brasileiro que todos os brasileiros
(E) Evita a repetição do verbo.
nos orgulhamos.
(E) Na política, às vezes acontecem traições onde mostram
05. (Pref. Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala - FEPESE)
muita sordidez.
Analise a frase abaixo:
03. (Eletrobras/Eletrosul - Técnico de Segurança do
“O professor discutiu............mesmos a respeito da
Trabalho - FCC)
desavença entre .........e ........ .
Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo
Assinale a alternativa que completa corretamente as
movido a energia solar
lacunas do texto.
(A) com nós - eu - ti
Bem no meio do deserto, há um lugar onde o calor é extremo.
(B) conosco - eu - tu
Sessenta e três graus ou até mais no verão. E foi exatamente por
(C) conosco - mim - ti
causa da temperatura que foi construída em Abu Dhabi uma das
(D) conosco - mim - tu
maiores usinas de energia solar do mundo.
(E) com nós - mim - ti
Os Emirados Árabes estão investindo em fontes energéticas
renováveis. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra
Gabarito
por mais 100 anos pelo menos. O que pretendem é diversificar e
poluir menos. Uma aposta no futuro.
01.B / 02.C / 03.B / 04.C / 05.E
A preocupação com o planeta levou Abu Dhabi a tirar do
papel a cidade sustentável de Masdar. Dez por cento do
planejado está pronto. Um traçado urbanístico ousado, que

Língua Portuguesa 50
APOSTILAS OPÇÃO

Verbo - O pronome vós aparece somente em textos literários ou


bíblicos.
É a palavra que indica ação, movimento, fenômenos da - Os pronomes: você, vocês, que levam o verbo na 3ª
natureza, estado, mudança de estado. Flexiona-se em: pessoa, é o mais usado no Brasil.
- número (singular e plural);
- pessoa (primeira, segunda e terceira); Flexão de tempo e de modo: os tempos situam o fato ou a
- modo (indicativo, subjuntivo e imperativo, formas ação verbal dentro de determinado momento; pode estar em
nominais: gerúndio, infinitivo e particípio); plena ocorrência, pode já ter ocorrido ou não. Essas três
- tempo (presente, passado e futuro); possibilidades básicas, mas não únicas, são: presente,
- e apresenta voz (ativa, passiva, reflexiva). pretérito e futuro.

De acordo com a vogal temática, os verbos estão agrupados O modo indica as diversas atitudes do falante com relação
em três conjugações: ao fato que enuncia. São três os modos:
1ª conjugação – ar: cantar, dançar, pular. - Modo Indicativo: a atitude do falante é de certeza,
2ª conjugação – er: beber, correr, entreter. precisão. O fato é ou foi uma realidade. Apresenta presente,
3ª conjugação – ir: partir, rir, abrir. pretérito perfeito, imperfeito e mais que perfeito, futuro do
presente e futuro do pretérito.
O verbo pôr e seus derivados (repor, depor, dispor, - Modo Subjuntivo: a atitude do falante é de incerteza, de
compor, impor) pertencem a 2ª conjugação devido à sua dúvida, exprime uma possibilidade. O subjuntivo expressa
origem latina poer. uma incerteza, dúvida, possibilidade, hipótese. Apresenta
presente, pretérito imperfeito e futuro. Ex: Tenha paciência,
Elementos Estruturais do Verbo Lourdes; Se tivesse dinheiro compraria um carro zero;
As formas verbais apresentam três elementos em sua Quando o vir, dê lembranças minhas.
estrutura: radical, vogal temática e tema. - Modo Imperativo: a atitude do falante é de ordem, um
Radical: elemento mórfico (morfema) que concentra o desejo, uma vontade, uma solicitação. Indica uma ordem, um
significado essencial do verbo. Observe as formas verbais da pedido, uma súplica. Apresenta imperativo afirmativo e
1ª conjugação: contar, esperar, brincar. Flexionando esses imperativo negativo.
verbos, nota-se que há uma parte que não muda, e que nela
está o significado real do verbo. Emprego dos Tempos do Indicativo
cont é o radical do verbo contar; - Presente do Indicativo: para enunciar um fato
esper é o radical do verbo esperar; momentâneo. Ex.: Estou feliz hoje. Para expressar um fato que
brinc é o radical do verbo brincar. ocorre com frequência. Ex.: Eu almoço todos os dias na casa de
minha mãe. Na indicação de ações ou estados permanentes,
Se tirarmos as terminações ar, er, ir do infinitivo dos verdades universais. Ex.: A água é incolor, inodora, insípida.
verbos, teremos o radical desses verbos. Também podemos - Pretérito Imperfeito: para expressar um fato passado,
antepor prefixos ao radical: desnutrir / reconduzir. não concluído. Ex.: Nós comíamos pastel na feira; Eu cantava
muito bem.
Vogal Temática: é o elemento mórfico que designa a qual - Pretérito Perfeito: é usado na indicação de um fato
conjugação pertence o verbo. Há três vogais temáticas: 1ª passado concluído. Ex.: Cantei, dancei, pulei, chorei, dormi...
conjugação: a; 2ª conjugação: e; 3ª conjugação: i. - Pretérito Mais-Que-Perfeito: expressa um fato passado
anterior a outro acontecimento passado. Ex.: Nós cantáramos
Tema: é o elemento constituído pelo radical mais a vogal no congresso de música.
temática. Ex.: contar - cont (radical) + a (vogal temática) = - Futuro do Presente: na indicação de um fato realizado
tema. Se não houver a vogal temática, o tema será apenas o num instante posterior ao que se fala. Ex.: Cantarei domingo
radical (contei = cont ei). no coro da igreja matriz.
- Futuro do Pretérito: para expressar um acontecimento
Desinências: são elementos que se juntam ao radical, ou posterior a um outro acontecimento passado. Ex.: Compraria
ao tema, para indicar as flexões de modo e tempo, desinências um carro se tivesse dinheiro
modo temporais e desinências número pessoais.
1ª Conjugação: -AR
Contávamos Presente: danço, danças, dança, dançamos, dançais,
Cont = radical dançam.
a = vogal temática Pretérito Perfeito: dancei, dançaste, dançou,
va = desinência modo temporal dançamos, dançastes, dançaram.
mos = desinência número pessoal Pretérito Imperfeito: dançava, dançavas, dançava,
dançávamos, dançáveis, dançavam.
Flexões Verbais Pretérito Mais-Que-Perfeito: dançara, dançaras,
Flexão de número e de pessoa: o verbo varia para indicar dançara, dançáramos, dançáreis, dançaram.
o número e a pessoa. Futuro do Presente: dançarei, dançarás, dançará,
- eu estudo – 1ª pessoa do singular; dançaremos, dançareis, dançarão.
- nós estudamos – 1ª pessoa do plural; Futuro do Pretérito: dançaria, dançarias, dançaria,
- tu estudas – 2ª pessoa do singular; dançaríamos, dançaríeis, dançariam.
- vós estudais – 2ª pessoa do plural;
- ele estuda – 3ª pessoa do singular; 2ª Conjugação: -ER
- eles estudam – 3ª pessoa do plural. Presente: como, comes, come, comemos, comeis,
comem.
- Algumas regiões do Brasil, usam o pronome tu de forma Pretérito Perfeito: comi, comeste, comeu, comemos,
diferente da fala culta, exigida pela gramática oficial, ou seja, comestes, comeram.
tu foi, tu pega, tu tem, em vez de: tu fostes, tu pegas, tu tens. Pretérito Imperfeito: comia, comias, comia, comíamos,
comíeis, comiam.

Língua Portuguesa 51
APOSTILAS OPÇÃO

Pretérito Mais-Que-Perfeito: comera, comeras, - O restante é cópia fiel do presente do subjuntivo.


comera, comêramos, comêreis, comeram.
Futuro do Presente: comerei, comerás, comerá, Presente do Indicativo: eu amo, tu amas, ele ama, nós
comeremos, comereis, comerão. amamos, vós amais, eles amam.
Futuro do Pretérito: comeria, comerias, comeria, Presente do subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele
comeríamos, comeríeis, comeriam. ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
Imperativo afirmativo: (X), ama tu, ame você, amemos
3ª Conjugação: -IR nós, amai vós, amem vocês.
Presente: parto, partes, parte, partimos, partis, partem.
Pretérito Perfeito: parti, partiste, partiu, partimos, Imperativo Negativo
partistes, partiram. - É formado através do presente do subjuntivo sem a
Pretérito Imperfeito: partia, partias, partia, partíamos, primeira pessoa do singular.
partíeis, partiam. - Não retira os “s” do tu e do vós.
Pretérito Mais-Que-Perfeito: partira, partiras, partira,
partíramos, partíreis, partiram. Presente do Subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele
Futuro do Presente: partirei, partirás, partirá, ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
partiremos, partireis, partirão. Imperativo negativo: (X), não ames tu, não ame você, não
Futuro do Pretérito: partiria, partirias, partiria, amemos nós, não ameis vós, não amem vocês.
partiríamos, partiríeis, partiriam.
Além dos três modos citados (Indicativo, Subjuntivo e
Emprego dos Tempos do Subjuntivo Imperativo), os verbos apresentam ainda as formas nominais:
- Presente: é empregado para indicar um fato incerto ou infinitivo – impessoal e pessoal, gerúndio e particípio.
duvidoso, muitas vezes ligados ao desejo, à suposição. Ex.:
Duvido de que apurem os fatos; Que surjam novos e honestos Infinitivo Impessoal23
políticos. Quando se diz que um verbo está no infinitivo impessoal,
- Pretérito Imperfeito: é empregado para indicar uma isso significa que ele apresenta sentido genérico ou indefinido,
condição ou hipótese. Ex.: Se recebesse o prêmio, voltaria à não relacionado a nenhuma pessoa, e sua forma é invariável.
universidade. Assim, considera-se apenas o processo verbal. Ex.: Amar é
- Futuro: é empregado para indicar um fato hipotético, sofrer.
pode ou não acontecer. Quando você fizer o trabalho, será Podendo ter valor e função de substantivo. Ex.: Viver é
generosamente gratificado. lutar. (= vida é luta); É indispensável combater a corrupção. (=
combate à)
1ª Conjugação –AR O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente
Presente: que eu dance, que tu dances, que ele dance, (forma simples) ou no passado (forma composta). Ex.: É
que nós dancemos, que vós danceis, que eles dancem. preciso ler este livro; Era preciso ter lido este livro.
Pretérito Imperfeito: se eu dançasse, se tu dançasses, Observe que, embora não haja desinências para a 1ª e 3ª
se ele dançasse, se nós dançássemos, se vós dançásseis, se pessoas do singular (cujas formas são iguais às do infinitivo
eles dançassem. impessoal), elas não deixam de referir-se às respectivas
Futuro: quando eu dançar, quando tu dançares, quando pessoas do discurso (o que será esclarecido apenas pelo
ele dançar, quando nós dançarmos, quando vós dançardes, contexto da frase). Ex.: Para ler melhor, eu uso estes óculos.
quando eles dançarem. (1ª pessoa); Para ler melhor, ela usa estes óculos. (3ª pessoa)

2ª Conjugação -ER O infinitivo impessoal é usado:


Presente: que eu coma, que tu comas, que ele coma, que
nós comamos, que vós comais, que eles comam. - Quando apresenta uma ideia vaga, genérica, sem se
Pretérito Imperfeito: se eu comesse, se tu comesses, se referir a um sujeito determinado. Ex. Querer é poder.
ele comesse, se nós comêssemos, se vós comêsseis, se eles Fumar prejudica a saúde. É proibido colar cartazes neste
comessem. muro.
Futuro: quando eu comer, quando tu comeres, quando - Quando tem valor de Imperativo. Ex. Soldados,
ele comer, quando nós comermos, quando vós comerdes, marchar! (= Marchai!) Esquerda, volver!
quando eles comerem. - Quando é regido de preposição (geralmente
precedido da preposição “de”) e funciona como
3ª conjugação – IR complemento de um substantivo, adjetivo ou verbo da
Presente: que eu parta, que tu partas, que ele parta, que oração anterior. Ex.: Eles não têm o direito de gritar assim.
nós partamos, que vós partais, que eles partam. As meninas foram impedidas de participar do jogo. Eu os
Pretérito Imperfeito: se eu partisse, se tu partisses, se convenci a aceitar.
ele partisse, se nós partíssemos, se vós partísseis, se eles
partissem. No entanto, na voz passiva dos verbos "contentar",
Futuro: quando eu partir, quando tu partires, quando "tomar" e "ouvir", por exemplo, o Infinitivo (verbo auxiliar)
ele partir, quando nós partirmos, quando vós partirdes, deve ser flexionado. Ex.:
quando eles partirem. Eram pessoas difíceis de serem contentadas.
Aqueles remédios são ruins de serem tomados.
Emprego do Imperativo Os jogos que você me emprestou são agradáveis de serem
Imperativo Afirmativo jogados.
- Não apresenta a primeira pessoa do singular.
- É formado pelo presente do indicativo e pelo presente do - Nas locuções verbais. Ex.: Queremos acordar bem cedo
subjuntivo. amanhã. Eles não podiam reclamar do colégio. Vamos pensar
- O Tu e o Vós saem do presente do indicativo sem o “s”. no seu caso.

23 https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf69.php

Língua Portuguesa 52
APOSTILAS OPÇÃO

- Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo da Fizemos os adversários cumprimentarem-se com


oração anterior. Ex. Eles foram condenados a pagar pesadas gentileza.
multas. Devemos sorrir ao invés de chorar. Tenho ainda alguns Mandei as meninas olharem-se no espelho.
livros por (para) publicar.
Gerúndio
Observação: quando o infinitivo preposicionado, ou não, Pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Ex.: Saindo de
preceder ou estiver distante do verbo da oração principal casa, encontrei alguns amigos. (Função de advérbio); Nas ruas,
(verbo regente), pode ser flexionado para melhor clareza do havia crianças vendendo doces. (Função adjetivo)
período e também para se enfatizar o sujeito (agente) da ação Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso;
verbal. Ex.: na forma composta, uma ação concluída. Ex.: Trabalhando,
Na esperança de sermos atendidos, muito lhe aprenderás o valor do dinheiro; Tendo trabalhado, aprendeu o
agradecemos. valor do dinheiro.
Foram dois amigos à casa de outro, a fim de jogarem
futebol. Particípio
Para estudarmos, estaremos sempre dispostos. Quando não é empregado na formação dos tempos
Antes de nascerem, já estão condenadas à fome muitas compostos, o particípio indica geralmente o resultado de uma
crianças. ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Ex.:
Terminados os exames, os candidatos saíram. Quando o
- Com os verbos causativos "deixar", "mandar" e particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação
"fazer" e seus sinônimos que não formam locução verbal temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo
com o infinitivo que os segue. Ex.: Deixei-os sair cedo hoje. (adjetivo verbal). Ex.: Ela foi a aluna escolhida para
- Com os verbos sensitivos "ver", "ouvir", "sentir" e representar a escola.
sinônimos, deve-se também deixar o infinitivo sem flexão.
Ex.: Vi-os entrar atrasados. Ouvi-as dizer que não iriam à 1ª Conjugação –AR
festa. Infinitivo Impessoal: dançar.
Infinitivo Pessoal: dançar eu, dançares tu; dançar ele,
Infinitivo Pessoal dançarmos nós, dançardes vós, dançarem eles.
É o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na Gerúndio: dançando.
1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta desinências, Particípio: dançado.
assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-
se da seguinte maneira: 2ª Conjugação –ER
2ª pessoa do singular: radical + ES. Ex.: teres (tu) Infinitivo Impessoal: comer.
1ª pessoa do plural: radical + mos. Ex.: termos (nós) Infinitivo pessoal: comer eu, comeres tu, comer ele,
2ª pessoa do plural: radical + dês. Ex.: terdes (vós) comermos nós, comerdes vós, comerem eles.
3ª pessoa do plural: radical + em. Ex.: terem (eles) Gerúndio: comendo.
Particípio: comido.
Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa
colocação. 3ª Conjugação –IR
Infinitivo Impessoal: partir.
Quando se diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso Infinitivo pessoal: partir eu, partires tu, partir ele,
significa que ele atribui um agente ao processo verbal, partirmos nós, partirdes vós, partirem eles.
flexionando-se. Gerúndio: partindo.
O infinitivo deve ser flexionado nos seguintes casos: Particípio: partido.

- Quando o sujeito da oração estiver claramente Questões


expresso. Ex.:
Se tu não perceberes isto... 01. (UNEMAT - Psicólogo - 2018)
Convém vocês irem primeiro.
O bom é sempre lembrarmos (sujeito desinencial, sujeito
implícito = nós) desta regra.

- Quando tiver sujeito diferente daquele da oração


principal. Ex.:
O professor deu um prazo de cinco dias para os alunos
estudarem bastante para a prova. Disponível
Perdoo-te por me traíres. https://www.facebook.com/tirasamandinho/photos/a.488361671209144.11396
O hotel preparou tudo para os turistas ficarem à vontade. 3.
488356901209621/1568398126538821/?type=3&theater.
O guarda fez sinal para os motoristas pararem. Acesso em: fev.2018.

- Quando se quiser indeterminar o sujeito (utilizado na Na tirinha, Fê conversa com Camilo sobre o que ela
terceira pessoa do plural). Ex.: considera ser machismo na cerimônia de casamento, enquanto
Faço isso para não me acharem inútil. Pudim diz a Armandinho que tudo aquilo que a garota
Temos de agir assim para nos promoverem. questiona é algo natural.
Ela não sai sozinha à noite a fim de não falarem mal da sua Nas falas atribuídas à menina, o verbo ter aparece em Tem
conduta. casamentos [...] (quadro 1) e em [...] essas coisas têm
significados! (quadro 2).
- Quando apresentar reciprocidade ou reflexibilidade
de ação. Ex.: Em relação a esses empregos do verbo ter, assinale a
Vi os alunos abraçarem-se alegremente. alternativa correta.
(A) Em ambos, o verbo é impessoal.

Língua Portuguesa 53
APOSTILAS OPÇÃO

(B) Ambos estão na terceira pessoa do plural do presente 04. (Pref. Itaquitinga/PE - Assistente Administrativo -
do modo indicativo. IDHTEC) Morto em 2015, o pai afirma que Jules Bianchi não
(C) Ambos estão na terceira pessoa do singular do presente __________culpa pelo acidente. Em entrevista, Philippe Bianchi
do modo indicativo. afirma que a verdade nunca vai aparecer, pois os pilotos
(D) Ambos estão no presente do modo indicativo, embora __________ medo de falar. "Um piloto não vai dizer nada se existir
o primeiro esteja na terceira pessoa do singular e o segundo na uma câmera, mas quando não existem câmeras, todos __________
terceira pessoa do plural. até mim e me dizem. Jules Bianchi bateu com seu carro em um
(E) Ambos estão no presente do modo subjuntivo, embora trator durante um GP, aquaplanou e não conseguiu
o primeiro esteja na terceira pessoa do singular e o segundo na __________para evitar o choque.
terceira pessoa do plural. (http://espn.uol.com.br/noticia/603278_pai-diz-que-pilotos-da-f-1-
temmedo-de-falar-a-verdade-sobre-o-acidente-fatal-de-bianchi)

02. (PC/SP - Escrivão de Polícia - VUNESP/2018)


Complete com a sequência de verbos que está no tempo,
modo e pessoa corretos:
O drama dos viciados em dívidas
(A) Tem – tem – vem - freiar
(B) Tem – tiveram – vieram - frear
Apesar dos sinais de recuperação da economia, o número
(C) Teve – tinham – vinham – frenar
de brasileiros endividados chegou a 61,7 milhões em fevereiro
(D) Teve – tem – veem – freiar
passado – o equivalente a 40% da população adulta. O número
(E) Teve – têm – vêm – frear
é alto porque o hábito de manter as contas em dia não é apenas
uma questão financeira decorrente do estado geral da
05. (Prefeitura Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala -
economia – pode ser uma questão comportamental. Por isso,
FEPESE) Assinale a alternativa em que está correta a
há grupos especializados que promovem reuniões semanais
correlação entre os tempos e os modos verbais nas frases
com devedores, com a finalidade de trocar experiências sobre
abaixo.
consumo impulsivo e propensão a viver no vermelho. Uma
(A) A entonação correta ao falarmos colabora com o
dessas organizações é o Devedores Anônimos (DA), que
entendimento que o outro tem do assunto tratado e reforçaria
funciona nos mesmos moldes do Alcoólicos Anônimos (AA).
a nossa persuasão.
Pertencer a uma classe social mais alta não livra ninguém
(B) Para falar bem em público, organize as ideias de acordo
do problema. As pessoas de maior renda são justamente as que
com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie sua
têm maior resistência em admitir a compulsão. Pior. É comum
apresentação.
que, diante dos apuros, como a perda do emprego, algumas
(C) A capacidade de os adolescentes virem a falar em
tentem manter o mesmo padrão de vida em lugar de cortar
público, teria dependido dos bons ensinamentos da escola.
gastos para se encaixar na nova realidade. Pedir um
(D) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os
empréstimo para quitar outra dívida é um comportamento
da geração passada, haveria de concluir que os jovens de hoje
recorrente entre os endividados.
leem muito menos.
Para sair do vermelho, aceitar o vício é o primeiro passo.
(E) O contato visual também é importante ao falar em
Uma vez que o devedor reconhece o problema, a próxima
público. Passa empatia e envolveria o outro.
etapa é se planejar.
(Felipe Machado e Tatiana Babadobulos, Veja, 04.04.2018. Adaptado)
Gabarito
Assinale a alternativa em que os verbos estão conjugados
de acordo com a norma-padrão, em substituição aos trechos 01.D / 02.C / 03.A / 04.E / 05.B
destacados na passagem – É comum que, diante dos apuros,
como a perda do emprego, algumas tentem manter o mesmo Locução Verbal
padrão de vida.
(A) Poderia acontecer que ... mantêm Uma locução verbal24 é a combinação de um verbo
(B) Pôde acontecer que ... mantessem auxiliar e um verbo principal. Esses dois verbos, aparecendo
(C) Podia acontecer que ... mantivessem juntos na oração, transmitem apenas uma ação verbal,
(D) Pôde acontecer que ... manteram desempenhando o papel de um único verbo. Exemplo:
(E) Podia acontecer que ... mantiveram - estive pensando
- quero sair
03. (PC/SP - Escrivão de Polícia - VUNESP/2018) A vida - pode ocorrer
de Dorinha Duval foi, ____ . O processo ainda não havia ido a - tem investigado
Júri quando a tese da defesa foi mudada. Não seria mais - tinha decidido
violenta emoção, mas legítima defesa. Ela não teria atirado no
marido por ter sido ___ e chamada de velha, mas ______ o marido Função dos verbos auxiliares nas locuções verbais
passou a agredi-la. De fato, o exame pericial de corpo de delito Apenas o verbo auxiliar é flexionado. Verbo auxiliar é o
realizado em Dorinha constatou a existência de _______ em seu que perdendo significado próprio, é utilizado para auxiliar na
corpo. A versão da legítima defesa era ______ . conjugação de outro, o verbo principal. Assim, o tempo, o
(Luiza Nagib Eluf, A paixão no banco dos réus. Adaptado) modo, o número, a pessoa e o aspecto da ação verbal são
indicados pelo verbo auxiliar.
As expressões verbais empregadas em tempo que exprime
a ideia de hipótese são:
(A) seria e teria.
(B) foi e seria.
(C) teria e ter sido. Os auxiliares mais comuns são: “Ter, Haver, Ser e Estar”.
(D) foi e constatou. Contudo, outros verbos também atuam como verbos auxiliares
(E) ter sido e passou. nas locuções verbais, como os verbos poder, dever, querer,
começar a, deixar de, voltar a, continuar a, entre outros.

24 https://www.conjugacao.com.br/locucao-verbal/

Língua Portuguesa 54
APOSTILAS OPÇÃO

Função dos verbos principais nas locuções verbais Qual forma verbal substituiria, sem causar alteração de
Nas locuções verbais o verbo auxiliar aparece conjugado e sentido, a locução verbal "vou ter", que aparece no primeiro
o principal numa das formas nominais: no gerúndio, no quadrinho?
infinitivo ou no particípio. (A) "terei".
(B) "teria".
Locução verbal com verbo principal no gerúndio (C) "tivera".
Ex.: Estou escrevendo (D) "tenha".
verbo auxiliar flexionado: estou (E) "tinha".
verbo principal no gerúndio: escrevendo
03. (Pref. João Pessoa/PB - Professor Língua
Locução verbal com verbo principal no infinitivo Portuguesa - FGV) Uma locução verbal é o conjunto formado
Ex.: Quero sair por um verbo auxiliar + um verbo principal, este último
verbo auxiliar flexionado: quero sempre em forma nominal. Nas frases a seguir as formas
verbo principal no infinitivo: sair verbais sublinhadas constituem uma locução verbal, à exceção
de uma. Assinale‐a.
Locução verbal com verbo principal no particípio (A) Todos podem entrar assim que chegarem.
Ex.: Tinha decidido (B) Se os grevistas querem trabalhar menos, não vou
verbo auxiliar flexionado: tinha atendê‐los.
verbo principal no particípio: decidido (C) Deixem entrar todos os atrasados.
(D) Elas não sabem cozinhar como antigamente.
Em todos os exemplos a ideia central é expressa pelo verbo (E) A plantação foi‐se expandindo para os lados
principal, os verbos auxiliares apenas indicam flexões de
tempo, modo, pessoa, número e voz. Sem os verbos principais, Gabarito
os auxiliares não teriam sentido algum.
01.C / 02.A / 03.C
Questões
Advérbio
01. (CISSUL/MG - Condutor Socorrista - IBGP/2017)
É a palavra invariável que modifica um verbo (Chegou
cedo), um outro advérbio (Falou muito bem), um adjetivo
(Estava muito bonita).

De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio


pode ser de:
Tempo: ainda, agora, antigamente, antes, amiúde
(=sempre), amanhã, breve, brevemente, cedo, diariamente,
depois, depressa, hoje, imediatamente, já, lentamente, logo,
novamente, outrora.
Lugar: aqui, acolá, atrás, acima, adiante, ali, abaixo, além,
Assinale a alternativa que contém uma locução verbal algures (=em algum lugar), aquém, alhures (= em outro lugar),
extraída do cartum. dentro, defronte, fora, longe, perto.
(A) Não terão. Modo: assim, bem, depressa, aliás (= de outro modo ),
(B) Como andar. devagar, mal, melhor, pior, e a maior parte dos advérbios que
(C) Vai chegar. termina em mente: calmamente, suavemente, rapidamente,
(D) Todos terão. tristemente.
Afirmação: certamente, decerto, deveras, efetivamente,
02. (CRQ 4ª REGIÃO/SP - Fiscal - QUADRIX) realmente, sim, seguramente.
Negação: absolutamente, de modo algum, de jeito
nenhum, nem, não, tampouco (=também não).
Intensidade: apenas, assaz, bastante, bem, demais, mais,
meio, menos, muito, quase, quanto, tão, tanto, pouco.
Dúvida: acaso, eventualmente, por ventura, quiçá,
possivelmente, talvez.

Locuções Adverbiais: são duas ou mais palavras que têm


o valor de advérbio: às cegas, às claras, às toa, às pressas, às
escondidas, à noite, à tarde, às vezes, ao acaso, de repente, de
chofre, de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de
medo, com certeza, por perto, por um triz, de vez em quando,
sem dúvida, de forma alguma, em vão, por certo, à esquerda, à
direta, a pé, a esmo, por ali, a distância.
- De repente o dia se fez noite.
- Por um triz eu não me denunciei.
- Sem dúvida você é o melhor.

Graus dos Advérbios: o advérbio não vai para o plural, são


palavras invariáveis, mas alguns admitem a flexão de grau:
comparativo e superlativo.

Língua Portuguesa 55
APOSTILAS OPÇÃO

Comparativo de: (D) Parou no meio da rua.


Igualdade - tão + advérbio + quanto, como: Sou tão feliz (E) Comprou um metro e meio.
quanto / como você.
Superioridade - Analítico: mais do que. Ex.: Raquel é mais 02. Só não há advérbio em:
elegante do que eu. (A) Não o quero.
- Sintético: melhor, pior que. Ex.: Amanhã será melhor do (B) Ali está o material.
que hoje. (C) Tudo está correto.
Inferioridade - menos do que: Falei menos do que devia. (D) Talvez ele fale.
(E) Já cheguei.
Superlativo Absoluto:
Analítico - mais, muito, pouco, menos: O candidato 03. Qual das frases abaixo possui advérbio de modo?
defendeu-se muito mal. (A) Realmente ela errou.
Sintético - íssimo, érrimo: Localizei-o rapidíssimo. (B) Antigamente era mais pacato o mundo.
(C) Lá está teu primo.
Emprego do Advérbio (D) Ela fala bem.
- Na linguagem coloquial, familiar, é comum o emprego do (E) Estava bem cansado.
sufixo diminutivo dando aos advérbios o valor de superlativo
sintético: agorinha, cedinho, pertinho, devagarinho, 04. Classifique a locução adverbial que aparece em
depressinha, rapidinho (bem rápido). Ex.: Rapidinho chegou a "Machucou-se com a lâmina".
casa; Moro pertinho da universidade. (A) modo
- Frequentemente empregamos adjetivos com valor de (B) instrumento
advérbio: A cerveja que desce redondo. (redondamente) (C) causa
- Bastante - antes de adjetivo, é advérbio, portanto, não vai (D) concessão
para o plural; equivale a muito / a: Aquelas jovens são bastante (E) fim
simpáticas e gentis.
- Bastante - antes de substantivo, é adjetivo, portanto vai 05. (PC/SP - Investigador de Polícia - VUNESP/2018)
para o plural, equivale a muitos / as: Contei bastantes estrelas Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as
no céu. ideias do fundador são institucionalizadas e defendidas por
- Não confunda mal (advérbio, oposto de bem) com mau discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não
(adjetivo, oposto de bom): Mal cheguei a casa, encontrei-a de responder às necessidades atuais da sociedade. Talvez porque
mau humor. o autor das ideias não esteja mais aqui para atualizá-las.
- Antes de verbo no particípio, diz-se mais bem, mais mal: Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia
Ficamos mais bem informados depois do noticiário noturno. as bases do comportamento. Como a tecnologia de então não
- Em frase negativa o advérbio já equivale a mais: Já não se lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a
fazem professores como antigamente. (=não se fazem mais) psicanálise. Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por
- Na locução adverbial a olhos vistos (=claramente), o suas ideias, revisando sua obra ao longo da vida. Ele chegou a
particípio permanece no masculino plural: Minha irmã Zuleide afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades
emagrecia a olhos vistos. ilimitadas do qual podemos esperar as elucidações mais
- Dois ou mais advérbios terminados em mente, apenas no surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que
último permanece mente: Educada e pacientemente, falei a respostas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que
todos. formulamos. Talvez essas respostas venham a ser tais que
- A repetição de um mesmo advérbio assume o valor farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente,
superlativo: Levantei cedo, cedo. é sua frase menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
Palavras e Locuções Denotativas: São palavras
semelhantes a advérbios e que não possuem classificação Nos trechos – … Talvez porque o autor das ideias não esteja
especial. Não se enquadram em nenhuma das dez classes de mais aqui… – ; – … nunca se apaixonou por suas ideias… – ; –
palavras. São chamadas de denotativas e exprimem: A Biologia é realmente um campo de possibilidades
Afetividade: felizmente, infelizmente, ainda bem. Ex.: Ainda ilimitadas… – e – Provavelmente, é sua frase menos citada. –,
bem que você veio. os advérbios destacados expressam, correta e
Designação, Indicação: eis. Ex.: Eis aqui o herói da turma. respectivamente, circunstância de:
Exclusão: exclusive, menos, exceto, fora, salvo, senão, (A) lugar; tempo; modo; afirmação.
sequer: Ex.: Não me disse sequer uma palavra de amor. (B) lugar; tempo; afirmação; dúvida.
Inclusão: inclusive, também, mesmo, ainda, até, além disso, (C) lugar; negação; modo; intensidade.
de mais a mais. Ex.: Também há flores no céu. (D) afirmação; negação; afirmação; afirmação.
Limitação: só, apenas, somente, unicamente. Ex.: Só Deus é (E) afirmação; negação; modo; dúvida.
perfeito.
Realce: cá, lá, é que, sobretudo, mesmo. Ex.: Sei lá o que ele Gabarito
quis dizer!
Retificação: aliás, ou melhor, isto é, ou antes. Ex.: Irei à 01.B / 02.C / 03.D / 04.B / 05.B
Bahia na próxima semana, ou melhor, no próximo mês.
Explicação: por exemplo, a saber. Ex.: Você, por exemplo, Preposição
tem bom caráter.
É a palavra invariável que liga um termo dependente a um
Questões termo principal, estabelecendo uma relação entre ambos. As
preposições podem ser: essenciais ou acidentais.
01. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio:
(A) Só quero meio quilo. As preposições essenciais atuam exclusivamente como
(B) Achei-o meio triste. preposições. São: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em,
(C) Descobri o meio de acertar.

Língua Portuguesa 56
APOSTILAS OPÇÃO

entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. Ex.: Não dê
atenção a fofocas; Perante todos disse, sim. Após (depois de): Após alguns momentos desabou num
choro arrependido.
As preposições acidentais são palavras de outras classes
que atuam eventualmente como preposições. São: como (=na Até
qualidade de), conforme (=de acordo com), consoante, exceto, (aproximação): Correu até mim.
mediante, salvo, visto, segundo, senão, tirante. Ex.: Agia Tempo: Certamente teremos o resultado do exame até a
conforme sua vontade. (= de acordo com) semana que vem.
Atenção: Se a preposição até equivaler a inclusive, será
- O artigo definido a que vem sempre acompanhado de um palavra de inclusão e não preposição. Os sonhadores amam
substantivo, é flexionado: a casa, as casas, a árvore, as árvores, até quem os despreza. (inclusive)
a estrela, as estrelas. A preposição a nunca vai para o plural e
não estabelece concordância com o substantivo. Ex.: Fiz todo o Com (companhia): Rir de alguém é falta de caridade;
percurso a pé. (não há concordância com o substantivo deve-se rir com alguém.
masculino pé) Causa: A cidade foi destruída com o temporal.
- As preposições essenciais são sempre seguidas dos Instrumento: Feriu-se com as próprias armas.
pronomes pessoais oblíquos: Despediu-se de mim Modo: Marfinha, minha comadre, veste-se sempre com
rapidamente. Não vá sem mim. elegância.

Locuções Prepositivas: é o conjunto de duas ou mais Contra


palavras que têm o valor de uma preposição. A última palavra (oposição, hostilidade): Revoltou-se contra a decisão do
é sempre uma preposição. Veja quais são: abaixo de, acerca de, tribunal.
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, dentro de, Direção a um limite: Bateu contra o muro e caiu.
embaixo de, em cima de, em frente a, em redor de, graças a,
junto a, junto de, perto de, por causa de, por cima de, por trás De (origem): Descendi de pais trabalhadores e honestos.
de, a fim de, além de, antes de, a par de, a partir de, apesar de, Lugar: Os corruptos vieram da capital.
através de, defronte de, em favor de, em lugar de, em vez de, Causa: O bebê chorava de fome.
(=no lugar de), ao invés de (=ao contrário de), para com, até a. Posse: Dizem que o dinheiro do povo sumiu.
- Não confunda locução prepositiva com locução adverbial. Assunto: Falávamos do casamento da Mariele.
Na locução adverbial, nunca há uma preposição no final, e sim Matéria: Era uma casa de sapé.
no começo: Vimos de perto o fenômeno do “tsunami”. A preposição de não deve contrair-se com o artigo, que
(locução adverbial); O acidente ocorreu perto de meu atelier. precede o sujeito de um verbo. É tempo de os alunos
(locução prepositiva) estudarem. (e não: dos alunos estudarem)
- Uma preposição ou locução prepositiva pode vir com
outra preposição: Abola passou por entre as pernas do Desde
goleiro. Mas é inadequado dizer: Proibido para menores de até (afastamento de um ponto no espaço): Essa neblina vem
18 anos; Financiamento em até 24 meses. desde São Paulo.
Tempo: Desde o ano passado quero mudar de casa.
Combinações e Contrações
Combinação: ocorre quando não há perda de fonemas: Em
a+o, os= ao, aos / a+onde = aonde. (lugar): Moramos em Lucélia há alguns anos.
Contração: ocorre quando a preposição perde fonemas: Matéria: As queridas amigas Nilceia e Nadélgia moram em
de+a, o, as, os, esta, este, isto = da, do, das, dos, desta, deste, Curitiba.
disto. Especialidade: Minha amiga Cidinha formou-se em Letras.
- em+ um, uma, uns, umas, isto, isso, aquilo, aquele, aquela, Tempo: Tudo aconteceu em doze horas.
aqueles, aquelas = num, numa, nuns, numas, nisto, nisso,
naquilo, naquele, naquela, naqueles. Entre (posição entre dois limites): Convém colocar o vidro
- de+ entre, aquele, aquela, aquilo = dentre, daquele, entre dois suportes.
daquela, daquilo.
- para+ a = pra. Para
A contração da preposição a com os artigos ou pronomes Direção: Não lhe interessava mais ir para a Europa.
demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo recebe o nome de Tempo: Pretendo vê-lo lá para o final da semana.
crase e é assinalada na escrita pelo acento grave ficando assim: Finalidade: Lute sempre para viver com dignidade.
à, às, àquele, àquela, àquilo. A preposição para indica permanência definitiva. Vou
para o litoral. (ideia de morar)
Valores das Preposições
Perante (posição anterior): Permaneceu calado perante
A todos.
(movimento=direção): Foram a Lucélia comemorar os
Anos Dourados. Por (percurso, espaço, lugar): Caminhava por ruas
Modo: Partiu às pressas. desconhecidas.
Tempo: Iremos nos ver ao entardecer. Causa: Por ser muito caro, não compramos um pendrive
A preposição a indica deslocamento rápido: Vamos à praia. novo.
(ideia de passear) Espaço: Por cima dela havia um raio de luz.

Ante Sem (ausência): Eu vou sem lenço sem documento.


(diante de): Parou ante mim sem dizer nada, tanta era a
emoção. Sob (debaixo de / situação): Prefiro cavalgar sob o luar.
Tempo (substituída por antes de): Preciso chegar ao Viveu, sob pressão dos pais.
encontro antes das quatro horas.

Língua Portuguesa 57
APOSTILAS OPÇÃO

Sobre (B) "Os relatos dos casos mostram repetidas violações dos
(em cima de, com contato): Colocou as taças de cristal direitos à moradia, a um trabalho digno, à integridade cultural,
sobre a toalha rendada. a vida e ao território."
Assunto: Conversávamos sobre política financeira. (C) “O corpo de Lucilene foi encontrado próximo à ponte
do Moa no dia 11 de maio.”
Trás (situação posterior; é preposição fora de uso. É (D) “Fifa afirma que Blatter e Valcke enriqueceram às
substituída por atrás de, depois de): Por trás desta carinha custas da entidade.”
vê-se muita falsidade. (E) “Doriva saiu e Milton Cruz fez às vezes de técnico até a
chegada de Edgardo Bauza no fim do ano passado.”
Questões
03. (TJ/AL - Analista Judiciário - Oficial de Justiça
01. (PC/SP - Papiloscopista Policial - VUNESP/2018) Avaliador - FGV/2018)

Além do celular e da carteira, cuidado com as


figurinhas da Copa
Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018

A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo


uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais afoitos
pelos cromos possam até roubá-los, muitos jornaleiros estão
levando seus estoques para casa quando termina o expediente.
Pode parecer piada, mas há até boatos sobre quadrilhas de
roubo de figurinha espalhados por mensagens de celular.

No texto aparecem três ocorrências da preposição DE.


1. “troca-troca de figurinhas”;
2. “roubo de figurinha”;
3. “mensagens de celular”.

Sobre o emprego dessa preposição nesses casos, é correto


afirmar que:
(A) os termos precedidos da preposição DE indicam
pacientes dos vocábulos anteriores;
(B) os termos precedidos da preposição DE indicam
agentes dos termos anteriores;
(C) os termos “de figurinha” e “de celular” são
No 3º quadrinho, nas três ocorrências, o sentido da complementos dos termos anteriores;
preposição “sem” e o das expressões que ela forma são, (D) os termos “de figurinhas” e “de celular” são adjuntos
respectivamente, de dos vocábulos precedentes;
(A) negação e causa. (E) os termos “de figurinhas” e “de figurinha” são
(B) adição e condição. complementos dos vocábulos precedentes.
(C) ausência e modo.
(D) falta e consequência. 04. Assinale a alternativa em que a preposição destacada
(E) exceção e intensidade. estabeleça o mesmo tipo de relação que na frase matriz:
Criaram-se a pão e água.
02. (Pref. Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem - (A) Desejo todo o bem a você.
IDHTEC/2016) (B) A julgar por esses dados, tudo está perdido.
(C) Feriram-me a pauladas.
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança) (D) Andou a colher alguns frutos do mar.
(E) Ao entardecer, estarei aí.
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama
de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! 05. (TJ/AL - Técnico Judiciário - FGV/2018)
Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da
ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia Ressentimento e Covardia
de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias Tenho comentado aqui na Folha em diversas crônicas, os
semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a usos da internet, que se ressente ainda da falta de uma
enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos legislação específica que coíba não somente os usos mas os
teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol- abusos deste importante e eficaz veículo de comunicação. A
posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas maioria dos abusos, se praticados em outros meios, seriam
vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende crimes já especificados em lei, como a da imprensa, que pune
demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente injúrias, difamações e calúnias, bem como a violação dos
firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, direitos autorais, os plágios e outros recursos de apropriação
formando, anunciando -o dia da humanidade. indébita.
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
No fundo, é um problema técnico que os avanços da
Em qual das alternativas o acento grave foi mal informática mais cedo ou mais tarde colocarão à disposição
empregado, pois não houve crase? dos usuários e das autoridades. Como digo repetidas vezes, me
(A) “Milena Nogueira foi pela primeira vez à quadra da valendo do óbvio, a comunicação virtual está em sua pré-
escola de samba Império Serrano, na Zona Norte do Rio.” história.

Língua Portuguesa 58
APOSTILAS OPÇÃO

Atualmente, apesar dos abusos e crimes cometidos na Ah, porque tudo é tão triste?
internet, no que diz respeito aos cronistas, articulistas e Ah, a beleza que existe
escritores em geral, os mais comuns são os textos atribuídos A beleza que não é só minha
ou deformados que circulam por aí e que não podem ser Que também passa sozinha." Vinícius de Moraes
desmentidos ou esclarecidos caso por caso. Um jornal ou [...]
revista é processado se publicar sem autorização do autor um
texto qualquer, ainda que em citação longa e sem aspas. Em No texto, a palavra ‘Ah’ que aparece repetida é um/uma
caso de injúria, calúnia ou difamação, também. E em caso de (A) advérbio, pois é uma palavra invariável que exprime
falsear a verdade propositadamente, é obrigado pela justiça a uma circunstância.
desmentir e dar espaço ao contraditório. (B) preposição, porque é uma palavra invariável, que liga
Nada disso, por ora, acontece na internet. Prevalece a lei do dois elementos de uma frase.
cão em nome da liberdade de expressão, que é mais expressão (C) interjeição, por ser uma palavra invariável que exprime
de ressentidos e covardes do que de liberdade, da verdadeira sentimentos, subjetividade do eu poético.
liberdade. (Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 16/05/2006 – adaptado) (D) conjunção, por ser uma palavra invariável que
estabelece conexão entre duas orações ou termos de mesma
O segmento do texto em que o emprego da preposição EM função sintática.
indica valor semântico diferente dos demais é:
(A) “Tenho comentado aqui na Folha em diversas 02. (CRF/SP - Analista de Suporte - IDECAN/2018)
crônicas”;
(B) A maioria dos abusos, se praticados em outros meios”;
(C) “... seriam crimes já especificados em lei”;
(D) “...a comunicação virtual está em sua pré-história”;
(E) “...ainda que em citação longa e sem aspas”.

Gabarito

01.C / 02.E / 03.E / 04.C / 05.D

Interjeição

É a palavra invariável que exprime emoções, sensações,


estados de espírito ou apelos.

Locução Interjetiva: é o conjunto de duas ou mais


palavras com valor de uma interjeição: Muito bem! Que pena!
Quem me dera! Puxa, que legal!

Classificação das Interjeições e Locuções Interjetivas

As interjeições e as locuções interjetivas são classificadas


de acordo com o sentido que elas expressam em determinado
contexto. Assim, uma mesma palavra ou expressão pode (In: WATTERSON, B. Os dias estão todos ocupados: as aventuras de Calvin e
exprimir emoções variadas. Haroldo. São Paulo: Conrad, 2011.)
Admiração ou Espanto: Oh!, Caramba!, Oba!, Nossa!, Meu
Deus!, Céus! Tal como utilizada no primeiro quadro, a palavra “socorro”
Advertência: Cuidado!, Atenção!, Alerta!, Calma!, Alto!, atua como uma palavra de qual classe gramatical?
Olha lá! (A) Verbo.
Alegria: Viva!, Oba!, Que bom!, Oh!, Ah!; (B) Adjetivo.
Ânimo: Avante!, Ânimo!, Vamos!, Força!, Eia!, Toca! (C) Advérbio.
Aplauso: Bravo!, Parabéns!, Muito bem! (D) Interjeição.
Chamamento: Olá!, Alô!, Psiu!, Psit!
Aversão: Droga!, Raios!, Xi!, Essa não!, lh! 03. (UFS - Assistente em Administração -
Medo: Cruzes!, Credo!, Ui!, Jesus!, Uh! Uai! FAPESE/2018) No trecho: “Mas pesquisar alguns sinônimos
Pedido de Silêncio: Quieto!, Bico fechado!, Silêncio!, não faz mal a ninguém: posse, regalia, concessão, direito. Opa,
Chega!, Basta! direito?” As palavras sublinhadas correspondem, pela ordem,
Saudação: Oi!, Olá!, Adeus!, Tchau! a:
Concordância: Claro!, Certo!, Sim!, Sem dúvida! (A) pronome possessivo, adjetivo, advérbio, interjeição;
Desejo: Oxalá!, Tomara!, Pudera!, Queira Deus! Quem me (B) pronome indefinido, advérbio, substantivo, interjeição;
dera! (C) pronome relativo, conjunção, verbo, adjetivo;
(D) conjunção, adjetivo, substantivo, pronome pessoal;
Observe na relação acima, que as interjeições muitas vezes (E) numeral, substantivo, verbo, conjunção aditiva.
são formadas por palavras de outras classes gramaticais:
Cuidado! Não beba ao dirigir! (cuidado é substantivo). 04. (Prefeitura de Dracena/SP - Psicólogo - Big Advice
Órgão/2017) A alternativa que apresenta interjeição
Questões corresponde a:
(A) Cocoricar.
01. (Prefeitura de Avelinópolis/GO - Auxiliar (B) Urrar.
Administrativo - Itame/2019) (C) Zum-zum.
[...] (D) Ui!
"Ah, porque estou tão sozinho? (E) Miau.

Língua Portuguesa 59
APOSTILAS OPÇÃO

05. (Câmara de Santa Rosa/RS - Procurador Jurídico 5. Explicativas (explicação)


Legislativo - Instituto Excelência/2017) Que
“Ah, como eu queria voltar a ser criança!” Porque
“Hum! Esse pudim estava maravilhoso!” Porquanto
“Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!” Pois (antes do verbo)
Exemplos:
As frases apresentadas indicam: Não leia no escuro, que faz mal à vista.
(A) Preposição Compre estas mercadorias, pois já estamos ficando sem.
(B) Interjeição
(C) Conjunção Conjunções Subordinativas
(D) Nenhuma das alternativas
Ligam uma oração principal a uma oração subordinativa,
Gabarito com verbo flexionado.

01.C / 02.D / 03.B / 04.D / 05.B 1. Integrantes: iniciam a oração subordinada substantiva
– Que / Se / Como
Conjunções
Exemplos:
Exercem a função de conectar as palavras dentro de uma Todos perceberam que você estava atrasado.
oração. Desta forma, elas estabelecem uma relação de Aposto como você estava nervosa.
coordenação ou subordinação e são classificadas em:
Conjunções Coordenativas e Conjunções Subordinativas. 2. Temporais (Tempo) – Quando / Enquanto / Logo que /
Assim que / Desde que
Conjunções Coordenativas Exemplos:
Logo que chegaram, a festa acabou.
1. Aditivas (Adição) Quando eu disse a verdade, ninguém acreditou.
E
Nem 3. Finais (Finalidade) – Para que / A fim de que
Não só... Mas também Exemplo:
Mas ainda Foi embora logo, a fim de que ninguém o perturbasse.
Senão
4. Proporcionais (Proporcionalidade) – À proporção que
Exemplos: / À medida que / Quanto mais ... mais / Quanto menos... menos
Viajamos e descansamos. Exemplos:
Eu não só estudo, mas também trabalho. À medida que se vive, mais se aprende.
Quanto mais se preocupa, mais se aborrece.
2. Adversativas (posição contrária)
5. Causais (Causa) – Porque / Como / Visto que / Uma vez
Mas que
Porém Exemplo: Como estivesse doente, não pôde sair.
Todavia
Entretanto 6. Condicionais (Condição) – Se / Caso / Desde que
No entanto Exemplos:
Comprarei o livro, desde que esteja disponível.
Exemplos: Se chover, não poderemos ir.
Ela era explorada, mas não se queixava.
Os alunos estudaram, no entanto não conseguiram as 7. Comparativas (Comparação) – Como / Que / Do que /
notas necessárias. Quanto / Que nem
Exemplos:
3. Alternativas (alternância) Os filhos comeram como leões.
A luz é mais veloz do que o som.
Ou, ou
8. Conformativas (Conformidade) – Como / Conforme /
Ora, ora
Segundo
Quer, quer
Exemplos:
Já, já
As coisas não são como parecem.
Farei tudo, conforme foi pedido.
Exemplos:
Ou você vem agora, ou não haverá mais ingressos.
9. Consecutivas (Consequência) – Que (precedido dos
Ora chovia, ora fazia sol.
termos: tal, tão, tanto...) / De forma que
Exemplos:
4. Conclusivas (conclusão)
A menina chorou tanto, que não conseguiu ir para a escola.
Logo Ontem estive viajando, de forma que não consegui
Portanto participar da reunião.
Por conseguinte
Pois (após o verbo) 10. Concessivas (Concessão) – Embora / Conquanto /
Ainda que / Mesmo que / Por mais que
Exemplos: Exemplos:
O caminho é perigoso; vá, pois, com cuidado! Todos gostaram, embora estivesse mal feito.
Estamos nos esforçando, logo seremos recompensados. Por mais que gritasse, ninguém o socorreu.

Língua Portuguesa 60
APOSTILAS OPÇÃO

Questões mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho


que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando
01. (PC/SP - Papiloscopista Policial - VUNESP/2018) leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo
com estes olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de
preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó
protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da
perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia
contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de
colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte
Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os
presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que
fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse
a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina.
Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre
as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os
alegres incômodos e duvidosos encantos, um vulto junto à
minha cama, senti-me estremunhado e olhei atônito para um
tipo de chiru, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e
chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda
interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma:
– Pois é! Não vê que eu sou o sereno…
E eis que, por milésimo de segundo, ou talvez mais, julguei
Na fala do personagem no segundo quadrinho “Apesar da que se tratasse do sereno noturno em pessoa. [...]
aparência, sou um homem ultramoderno!”, a expressão (Mário Quintana. Caderno H. 5. ed. São Paulo: Globo, 1989, p. 153-154.)
destacada estabelece entre as informações relação de sentido
de Após a leitura do texto e considerando seu conteúdo, pode-
(A) comparação. se afirmar quanto ao emprego da conjunção em relação à
(B) finalidade. titulação do texto que o sentido produzido indica
(C) consequência. (A) compensação de um elemento em relação ao outro.
(D) conclusão. (B) acrescentamento de um elemento em relação ao outro.
(E) concessão. (C) sobreposição do último elemento em detrimento do
primeiro.
02. (Prefeitura Trindade/GO - Auxiliar Administrativo (D) estabelecimento de uma relação de um elemento para
- FUNRIO) com o outro.

OMS recomenda ingerir menos de cinco gramas de sal 04. (IF/PE - Técnico em Enfermagem)
por dia
Crônica da cidade do Rio de Janeiro
Se você tem o hábito de pegar no saleiro e polvilhar a
comida com umas pitadas de sal, é melhor pensar duas vezes. No alto da noite do Rio de Janeiro, luminoso, generoso, o
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou esta Cristo Redentor estende os braços. Debaixo desses braços os
quinta-feira que um adulto consuma por dia menos de dois netos dos escravos encontram amparo.
gramas de sódio – ou seja, menos de cinco gramas de sal – para Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e
reduzir os níveis de pressão arterial e as doenças apontando seu fulgor, diz, muito tristemente:
cardiovasculares. - Daqui a pouco não estará mais aí. Ouvi dizer que vão tirar
Pela primeira vez, a OMS faz recomendações também para Ele daí.
as crianças com mais de dois anos de idade, para que as - Não se preocupe – tranquiliza uma vizinha. – Não se
doenças relacionadas com a alimentação não se tornem preocupe: Ele volta.
crônicas na idade adulta. Neste caso, a OMS diz que os valores A polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na
devem ainda ser mais baixos do que os dois gramas de sódio, cidade violenta soam tiros e também tambores: os atabaques,
devendo ser adaptados tendo em conta o tamanho, a idade e ansiosos de consolo e de vingança, chamam os deuses
as necessidades energéticas. africanos. Cristo sozinho não basta.
Teresa Firmino Adaptado de publico.pt/ciencia (GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM Pocket,
2009.)
Em para reduzir os níveis de pressão arterial e as
doenças cardiovasculares, a palavra para expressa o Na construção “A polícia mata muitos, e mais ainda mata a
seguinte significado: economia”, a conjunção em destaque estabelece, entre as
(A) oposição orações,
(B) finalidade (A) uma relação de adição.
(C) causalidade (B) uma relação de oposição.
(D) comparação (C) uma relação de conclusão.
(E) temporalidade (D) uma relação de explicação.
(E) uma relação de consequência.
03. (SEDUC/PA - Professor Classe I - Português -
CONSULPLAN/2018) 05. (COPASA - Analista de Saneamento - Administrador
- FUMARC/2018)
Coisas & Pessoas
Se você não corresponde ao figurino neoliberal é porque
Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. sofre de algum transtorno. As doenças estão em moda.
Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: Respiramos a cultura da medicalização. Não nos perguntamos
“Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!”. Mas eu ouvia o por que há tantas enfermidades e enfermos. Esta indagação

Língua Portuguesa 61
APOSTILAS OPÇÃO

não convém à indústria farmacêutica nem ao sistema cujo g) Conjunção Subordinativa


objetivo primordial é a apropriação privada da riqueza. - Integrante: inicia a oração subordinada substantiva.
Pode ser substituída pelo pronome “isso”.
Sobre os itens lexicais destacados no fragmento, estão Ex.: Digo que não voltarei atrás. (= digo isso)
corretas as afirmativas, EXCETO:
(A) A conjunção “nem” liga dois itens (indústria / sistema) - Causal: relação de causa e efeito. Pode ser substituída por
indicando oposição entre eles. “porque”.
(B) A conjunção “porque” introduz uma relação de Ex.: Vá devagar que está quase engasgando. (porque)
causalidade entre as partes do período de que faz a ligação.
(C) O conectivo “se” poderia ser substituído por “caso” e - Comparativa: estabelece uma comparação.
indica condicionalidade. Ex.: Os animais são mais vulneráveis que os homens.
(D) O pronome “algum” transfere sua indefinitude ao
substantivo que acompanha, “transtorno”. - Temporal: indica circunstância de tempo.
Ex.: Assim que foi interrogado, ele saiu. (quando)
Gabarito
- Consecutiva: indica uma consequência.
01.E / 02.B / 03.D / 04.B / 05.A Ex.: Dormiu tanto que perdeu a hora do trabalho.

- Concessiva: indica uma concessão, admite uma


contradição.
Funções do “que” e do “se”. Ex.: Legal que fosse, não tinha amigos.

h) Conjunção Coordenativa
- Aditiva: denota a ideia de adição. Pode ser substituída
FUNÇÕES DO "QUE" E DO "SE" pela conjunção “e”.
Ex.: Dize-me com quem andas, que te direi quem és.
Funções do “QUE”
- Explicativa: equivale a “porque”, “pois”. Uma explicação.
Funções Morfológicas Ex.: Não fale isso, que vai ficar chato. (porque)
A palavra “que” pode ser empregada em várias funções
morfológicas, assim vejamos sua classificação: - Adversativa: expressa a ideia de oposição. Pode ser
substituída por “mas”, “porém”, “contudo”.
a) Substantivo Ex.: Outra situação, que não está, deve ser avaliada.
É precedido de artigo ou outro termo que funcione como
adjunto adnominal e recebe acento. - Alternativa: expressa alternância de ideias.
Ex.: Ela tem um certo quê misterioso. Ex.: Uma vez que outra, ele trabalha.

b) Pronome Funções Sintáticas


- Interrogativo: O pronome que pode desempenhar as seguintes funções
Que livros você perdeu? (= quais) sintáticas:
A que restaurante você foi ontem? (= qual)
O que compraste na loja? (= que coisa) a) Sujeito
De que elas comentavam? (= que coisa) Ex.: As compras que estiverem dentro do prazo serão
entregues.
- Indefinido: é precedido por substantivo e equivale a
QUANTO(A). b) Objeto Direto
Ex.: Veja que horas são. (= quantas) Exemplos: A pessoa que falei é meu tio. / O carro que
comprei é veloz.
- Relativo: inicia a oração subordinada adjetiva e pode ser
substituído por: o qual, a qual, os quais, as quais. c) Objeto Indireto
Ex.: O rapaz que te assaltou foi preso. Ex.: Os copos de que preciso estão na mesa.

c) Preposição d) Predicativo
Equivalente à preposição “de”. Ex.: Admiro a grande pessoa que você é.
Ex.: Temos que viajar nas férias. (de)
e) Adjunto Adnominal
d) Advérbio de Intensidade Ex.: A que filme você assistiu ontem?
Aparece antes de adjetivos e equivale a QUÃO.
Ex.: Que delícia esta maça! (=quão) f) Complemento Nominal
Ex.: São muitas as qualidades de que o rapaz é competente.
e) Interjeição
Representa surpresa ou exprime emoção. Recebe acento e g) Adjunto adverbial
é usado com ponto de exclamação. Ex.: Esta é a empresa em que trabalhei.
Ex.: Quê! Você vai se mudar?
h) Agente da Passiva
f) Partícula Expletiva (ou de realce) Ex.: Este é o rapaz por que fui incomodado.
É uma expressão desnecessária sintaticamente. Apenas
para dar realce.
Ex.: Quase que ele foi embora.

Língua Portuguesa 62
APOSTILAS OPÇÃO

Funções do “SE” Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e


perguntou:
Funções Morfológicas − O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?
Classificação do “se” quanto suas funções morfológicas: − Três peneiras? − indagou o rapaz.
− Sim! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer
a) Conjunção Subordinativa me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, a
- Integrante: coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que seja verdade.
Ex.: Não sei se vocês já leram Guimarães Rosa. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que
você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir
- Condicional: estabelece uma condição. o caminho, a fama do próximo? Se o que você quer contar é
Ex.: Se você não realizar o trabalho, ficará sem o verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira
pagamento. peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma
coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta?
- Concessiva: indica uma concessão, admite uma Arremata Sócrates:
contradição. − Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você
Ex.: “Se não teceu o Próprio enxoval, ganhou-o, fio a fio, no e seu irmão iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e
tear.” enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o
ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do
- Causal: planeta.
Ex.: "Se não tinha capacidade técnica, não poderia ter sido (Disponível em: www.pensador.com/texto_filosofico)
contratado."
Nas cinco ocorrências de “que”, em destaque no texto,
verificam-se, respectivamente, as seguintes funções:
b) Conjunção Coordenativa Alternativa (A) pronome relativo, pronome interrogativo, pronome
Ex.: Se há lágrimas, se há risos, o amor brilha nos seus interrogativo, pronome interrogativo, pronome relativo.
lábios. (B) conjunção integrante, pronome relativo, pronome
interrogativo, pronome interrogativo, pronome relativo.
c) Pronome (ou partícula) Apassivador (C) conjunção integrante, pronome relativo, conjunção
Ex.: Alugam-se casas. / Nota-se que o projeto saiu. integrante, conjunção integrante, pronome relativo.
(D) conjunção integrante, pronome relativo, pronome
d) Partícula (ou índice) de indeterminação do sujeito interrogativo, pronome interrogativo, conjunção integrante.
Ex.: Precisa-se de secretárias. / Vive-se discutindo estas (E) pronome relativo, conjunção integrante, conjunção
questões. integrante, pronome interrogativo, conjunção integrante.
e) Parte integrante de verbo 02. “Na ata da reunião, registraram-se todas as opiniões
Ex.: Os meninos orgulharam-se ao ver a aprovação do time. dos presentes.” Assinale a alternativa que apresenta
corretamente a classificação da partícula “SE”:
f) Partícula expletiva ou de realce (junto a verbos (A) índice de indeterminação do sujeito
intransitivos) (B) pronome reflexivo (objeto direto)
Ex.: Achou melhor sentar-se ali. / Ela resolveu associar-se. (C) partícula apassivadora
(D) conjunção subordinativa integrante
g) Pronome (E) palavra de realce
- Reflexivo:
Ex.: O menino cortou-se. 03. No verso “se faz uma jangada”, o SE funciona como:
(A) pronome reflexivo
- Recíproco: (B) índice de indeterminação do sujeito
Ex.: Os noivos abraçaram-se. (C) pronome apassivador
(D) parte integrante do verbo
Funções Sintáticas (E) pronome recíproco
Como pronome, o se pode exercer as seguintes funções
sintáticas: 04. “É um processo que envolve interação profunda entre
mãe e filho...” No trecho, o vocábulo “QUE” é um(a):
a) Objeto direto (A) pronome relativo
Ex.: O menino se arrumava bem. (B) preposição acidental
(C) conjunção subordinativa causal
b) Objeto indireto (D) pronome indefinido
Ex.: Carlos se dispôs a estudar mais. (E) advérbio de intensidade

c) Sujeito (de uma oração infinitiva) 05. Assinale a opção em que “se” funciona como índice de
Ex.: Sentia-se contente com a novidade. indeterminação do sujeito:
(A) Se Tereza não for à festa, também não irei.
Questões (B) A criança machucou-se na bicicleta.
(C) Trata-se do primeiro e último fundo no Brasil (Revista
01. (TRT 2ª REGIÃO/SP - Técnico Judiciário - Veja)
FCC/2018) (D) Ele impôs-se uma disciplina rigorosa.
(E) “Ergueu-se, passou a toalha no rosto” (Lygia Fagundes
As Três Peneiras Teles)

Um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava Gabarito


contar-lhe algo sobre alguém. 01.D / 02.C / 03.C / 04.A / 05.C

Língua Portuguesa 63
APOSTILAS OPÇÃO

mar/mares;
revólver/revólveres;
Formação de palavras. cruz/cruzes.

b) Desinências verbais: em nossa língua, as desinências


verbais pertencem a dois tipos distintos. Há aqueles que
Observe as seguintes palavras:
indicam o modo e o tempo (desinências modo-temporais) e
escol-a
aquelas que indicam o número e a pessoa dos verbos
escol-ar
(desinência número-pessoais):
escol-arização
cant-á-va-mos
escol-arizar
cant-á-sse-is
sub-escol-arização
cant: radical
cant: radical
Percebemos25 que há um elemento comum a todas elas: a
-á-: vogal temática
forma escol-. Além disso, em todas há elementos destacáveis,
-á-: vogal temática
responsáveis por algum detalhe de significação. Compare, por
exemplo, escola e escolar: partindo de escola, formou-se
-va-: desinência modo-temporal(caracteriza o pretérito
escolar pelo acréscimo do elemento destacável: ar.
imperfeito do indicativo).
Por meio desse trabalho de comparação entre as diversas
-sse-: desinência modo-temporal (caracteriza o pretérito
palavras que selecionamos, podemos depreender a existência
imperfeito do subjuntivo).
de diferentes elementos formadores. Cada um desses
-mos: desinência número-pessoal (caracteriza a primeira
elementos formadores é uma unidade mínima de significação,
pessoa do plural).
um elemento significativo indecomponível, a que damos o
-is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda
nome de morfema.
pessoa do plural).
Classificação dos Morfemas
Vogal Temática: observe que, entre o radical cant- e as
desinências verbais, surge sempre o morfema– a.
Radical: há um morfema comum a todas as palavras que
Esse morfema, que liga o radical às desinências, é chamado
estamos analisando: escol-.
de vogal temática. Sua função é ligar-se ao radical,
É esse morfema comum - o radical - que faz com que as
constituindo o chamado tema. É ao tema (radical + vogal
consideremos palavras de uma mesma família de significação.
temática) que se acrescentam as desinências. Tanto os verbos
- Nos cognatos o radical é a parte da palavra responsável
como os nomes apresentam vogais temáticas.
por sua significação principal.
Vogais Temáticas Nominais: são -a, -e, e -o, quando
Afixos: como vimos, o acréscimo do morfema - ar - cria
átonas finais, como em mesa, artista, busca, perda, escola,
uma nova palavra a partir de escola. De maneira semelhante, o
triste, base, combate. Nesses casos, não poderíamos pensar que
acréscimo dos morfemas sub e arização à forma escol
essas terminações são desinências indicadoras de gênero, pois
criou subescolarização. Esses morfemas recebem o nome de
a mesa, a escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão.
afixos.
É a essas vogais temáticas que se liga a desinência indicadora
Quando são colocados antes do radical, como acontece
de plural:
com sub, os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como
mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados em vogais
arização, surgem depois do radical os afixos são chamados
tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não apresentam
de sufixos.
vogal temática.
- Prefixos e Sufixos, além de operar mudança de classe
gramatical, são capazes de introduzir modificações de
Vogais temáticas verbais: são -a, -e e- i, que caracterizam
significado no radical a que são acrescentados.
três grupos de verbos a que se dá o nome de conjugações.
Assim, os verbos cuja vogal temática é -a pertencem à primeira
Desinências: quando se conjuga o verbo amar, obtêm-se
conjugação; aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à
formas como amava, amavas, amava, amávamos, amáveis,
segunda conjugação e os que têm vogal temática -i pertencem
amavam. Essas modificações ocorrem à medida que o verbo
à terceira conjugação.
vai sendo flexionado em número (singular e plural) e pessoa
(primeira, segunda ou terceira). Também ocorrem se
primeira conj. segunda conj. terceira conj.
modificarmos o tempo e o modo do verbo (amava, amara,
govern-a-va estabelec-e-sse defin-i-ra
amasse, por exemplo).
atac-a-va cr-e-ra imped-i-sse
Assim, podemos concluir, que existem morfemas que
realiz-a-sse mex-e-rá g-i-mos
indicam as flexões das palavras. Esses morfemas sempre
surgem no fim das palavras variáveis e recebem o nome de
Vogal ou consoante de ligação: as vogais ou consoantes
desinências, no qual podem ser divididos em:
de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos,
ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a leitura de uma
a) Desinências nominais: indicam o gênero e o número
determinada palavra. Temos um exemplo de vogal de ligação
dos nomes. Para a indicação de gênero, o português costuma
na palavra escolaridade: o - i - entre os sufixos- ar- e -dade
opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/menina.
facilita a emissão vocal da palavra. Outros exemplos:
Para a indicação de número, costuma-se utilizar o
gasômetro, alvinegro, tecnocracia, paulada, cafeteira, chaleira,
morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência de
tricota.
morfema, que indica o singular: garoto/garotos;
garota/garotas; menino/meninos; menina/meninas.
No caso dos nomes terminados em –r e– z, a desinência de
plural assume a forma -es:

25 http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-formacao-de-

palavras-i.htm

Língua Portuguesa 64
APOSTILAS OPÇÃO

Processos de Formação de Palavras - Abreviação vocabular: cujo traço peculiar manifesta-se


por meio da eliminação de um segmento de uma palavra no
Composição intuito de se obter uma forma mais reduzida, geralmente
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais aquelas mais longas. Vejamos alguns exemplos:
radicais para formar nova palavra. Há dois tipos de metropolitano – metrô
composição: justaposição e aglutinação. extraordinário – extra
a) Justaposição: ocorre quando os elementos que formam otorrinolaringologista – otorrino
o composto são postos lado a lado, ou seja, justapostos. Por telefone – fone
exemplo: Corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira, girassol. pneumático – pneu

b) Aglutinação: ocorre quando os elementos que formam - Onomatopeia: consiste em criar palavras, tentando
o composto se aglutinam e pelo menos um deles perde sua imitar sons da natureza ou sons repetidos. Por exemplo: zum-
integridade sonora. Por exemplo: Aguardente (água + zum, cri-cri, tique-taque, pingue-pongue, blá-blá-blá.
ardente), planalto (plano + alto), pernalta (perna + alta),
vinagre (vinho + acre) - Siglas: as siglas são formadas pela combinação das letras
iniciais de uma sequência de palavras que constitui um nome.
Derivação por Acréscimo de Afixos Por exemplo: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
É o processo pelo qual se obtêm palavras novas Estatística); IPTU (Imposto Predial, Territorial e Urbano).
(derivadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A As siglas escrevem-se com todas as letras maiúsculas, a não
derivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética. ser que haja mais de três letras e a sigla seja
pronunciável sílaba por sílaba.
a) Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por Por exemplo: Unicamp, Petrobras.
acréscimo de prefixo.
In------ --feliz des----------leal Questões
Prefixo radical prefixo radical
01. Assinale a opção em que todas as palavras se formam
b) Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por pelo mesmo processo:
acréscimo de sufixo. A) ajoelhar / antebraço / assinatura
Feliz---- mente leal------dade B) atraso / embarque / pesca
Radical sufixo radical sufixo C) o jota / o sim / o tropeço
D) entrega / estupidez / sobreviver
c) Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo E) antepor / exportação / sanguessuga
simultâneo de prefixo e sufixo (não posso retirar o prefixo nem
o sufixo que estão ligados ao radical, pois a palavra não 02. A palavra “aguardente” formou-se por:
“existiria”). Por parassíntese formam-se principalmente A) hibridismo
verbos. B) aglutinação
En-- -----trist- ----ecer C) justaposição
Prefixo radical sufixo D) parassíntese
E) derivação regressiva
en----- ---tard--- --ecer
prefixo radical sufixo 03. Que item contém somente palavras formadas por
justaposição?
Outros Tipos de Derivação A) desagradável - complemente
Há dois casos em que a palavra derivada é formada sem B) vaga-lume - pé-de-cabra
que haja a presença de afixos. São eles: a derivação regressiva C) encruzilhada - estremeceu
e a derivação imprópria. D) supersticiosa - valiosas
E) desatarraxou - estremeceu
a) Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por
redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação 04. “Sarampo” é:
de substantivos derivados de verbos. A) forma primitiva
Por exemplo: A pesca está proibida. (pescar). Proibida a B) formado por derivação parassintética
caça. (caçar) C) formado por derivação regressiva
D) formado por derivação imprópria
b) Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é E) formado por onomatopeia
obtida pela mudança de categoria gramatical da palavra
primitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas tão 05. As palavras são formadas através de derivação
somente na classe gramatical. Por exemplo: parassintética em
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo porquê A)infelizmente, desleal, boteco, barraco.
deriva da conjunção porque) B)ajoelhar, anoitecer, entristecer, entardecer.
Seu olhar me fascina! (o verbo olhar tornou-se, aqui, C)caça, pesca, choro, combate.
substantivo) D)ajoelhar, pesca, choro, entristecer.

Outros processos de formação de palavras Gabarito


- Hibridismo: é a palavra formada com elementos 01.B / 02.B / 03.B / 04.C / 05.B
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

Língua Portuguesa 65
APOSTILAS OPÇÃO

conhecida como sendo “um-para-muitos”, possibilitando


respostas limitadas do público. Exemplos desse tipo de
Elementos de comunicação. comunicação: jornais, revistas, filmes e televisão.

- Comunicação Dirigida: é caracterizada pela seleção


prévia de públicos (ou segmentos de mercado), ou seja,
26Comunicação é uma palavra derivada do termo latino
direciona-se a um público homogêneo identificado (por
“communicare”, que significa “partilhar, participar algo, tornar exemplo, mala-direta para um grupo de gestores).
comum”.
Através da comunicação, os seres humanos e os animais - Comunicação Integrada: por meio de uma única
partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de mensagem ocorre a utilização de uma forma conjugada de
comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. todas as formas de marketing, sendo elas: Publicidade e
Desde o princípio dos tempos, a comunicação foi de Propaganda, Venda Pessoal, Promoção de Vendas, Relações
importância vital, sendo uma ferramenta de integração, Públicas, Assessoria de Imprensa, Marketing Direto e Internet.
instrução, de troca mútua e desenvolvimento. O processo de Todas essas áreas do marketing irão contribuir de forma
comunicação consiste na transmissão de informação entre um particular para o alcance dos objetivos.
emissor e um receptor que descodifica (interpreta) uma A comunicação integrada busca cercar o público-alvo em
determinada mensagem. todos os canais comunicativos existentes, por isso utilizam-se
A mensagem é codificada num sistema de sinais definidos diversos tipos de mídia ao mesmo tempo e de forma
que podem ser gestos, sons, indícios, uma língua natural conjugada.
(português, inglês, espanhol, etc.), ou outros códigos que
possuem um significado (por exemplo, as cores do semáforo), Elementos da Comunicação
e transportada até o destinatário através de um canal de
comunicação (o meio por onde circula a mensagem, seja por Todas as formas de comunicação envolvem os seguintes
carta, telefone, comunicado na televisão, etc.). elementos:
Nesse processo podem ser identificados os elementos da 1) Emissor – quem inicia o processo;
comunicação, no qual envolvem: Emissor, Receptor, Código 2) Código – sinais para se construir uma mensagem;
(sistema de sinais) e Canal de comunicação. 3) Mensagem – aquilo que se quer comunicar;
Um outro elemento presente no processo comunicativo é o 4) Canal – o veículo que leva a mensagem;
ruído, caracterizado por tudo aquilo que afeta o canal, 5) Receptor – quem recebe, decodifica e interpreta o
perturbando a perfeita captação da mensagem (por exemplo, significado.
falta de rede no celular). Sabe-se que existe hoje um sistema de comunicação
Quando a comunicação se realiza por meio de uma complexo, com transmissões de mensagens através de códigos
linguagem falada ou escrita, denomina-se comunicação verbal, variados, canais e veículos cada vez mais rápidos e eficientes.
forma de comunicação exclusiva dos seres humanos e a mais
importante nas sociedades humanas. Comunicação Humana
As outras formas de comunicação que recorrem a sistemas Na comunicação humana, o código é a linguagem, que na
de sinais não-linguísticos, como gestos, expressões faciais, conversação é complementada por elementos da comunicação
imagens, etc., são denominadas comunicação não-verbal. não-verbal (gestos, expressões faciais, movimentos dos olhos
Alguns ramos da comunicação são: a teoria da informação, e do corpo, etc.) e o canal utilizado é o ar que respiramos. No
comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal, processo de conversação, existe o feedback, representado pela
marketing, publicidade, propaganda, relações públicas, análise resposta do receptor no momento em que responde, o
do discurso, telecomunicações e Jornalismo. receptor inverte o processo e passa a ser o emissor, e aquele
O termo “comunicação” também é usado no sentido de que antes emitia passa a ser o receptor, que irá decodificar e
ligação entre dois pontos, por exemplo, os meios de transporte interpretar a nova mensagem. É esta inversão do processo que
que fazem a comunicação entre duas cidades ou os meios permite a uma pessoa saber se a outra entendeu a sua
técnicos de comunicação (telecomunicações). mensagem.

Tipos de Comunicação Linguagem


A linguagem é, ao mesmo tempo, uma função e um
É possível classificar a comunicação conforme o número de aprendizado: uma função no sentido de que todo ser humano
pessoas que estão envolvidas por ela, vejamos: normal fala e a linguagem constitui um instrumento
necessário para ele; um aprendizado, pois o sistema simbólico
- Comunicação Intrapessoal: a pessoa se comunica com linguístico, que a criança deve assimilar, é adquirido
ela mesma por meio de pensamentos, ou da escrita em diários progressivamente pelo contato com o meio. Essa aquisição
pessoais. ocorre durante toda a infância, no que o aprendizado da
linguagem difere, fundamentalmente, do aprendizado da
- Comunicação Interpessoal: refere-se à troca de marcha ou da preensão, que constituem a sequência
informações entre duas pessoas. Pode ocorrer em conversas necessária do desenvolvimento biológico; A linguagem é um
presenciais, por carta, e-mail ou telefone. aprendizado cultural e está ligada ao meio da criança.

- Comunicação em Grupo: indica o processo de Comunicação Verbal


comunicação entre três pessoas ou mais. Acontece no ensino,
em palestras, teleconferências ou discursos. Existem inúmeras formas de se trocar informações, ou
seja, de se comunicar. Uma das mais eficazes para o ser
- Comunicação de Massa: tem a pretensão de atingir um humano é a comunicação verbal, que ocorre quando um grupo
grande público não especificamente identificado, é realizada de indivíduos com interesses comuns ou correlatos se reúne.
de forma coletiva e não focalizada a uma única pessoa. É

26http://www.portaleducacao.com.br/marketing/artigos/36851/tipos-de- http://www.significados.com.br/comunicacao/
comunicacao#ixzz3zyJfUYMH http://pedagogiaaopedaletra.com/comunicacao-verbal-e-nao-verbal/

Língua Portuguesa 66
APOSTILAS OPÇÃO

A comunicação verbal se divide em: modelo postural que reflete essa tensão ou esse relaxamento.
Por exemplo, pessoas em uma determinada postura que
- Comunicação Oral: em reuniões sociais, sejam elas costumam frequentemente mexer um ou os dois pés, é um dos
formais ou informais, as informações são trocadas através da indicativos de ansiedade. Assim como a postura dos braços
comunicação oral, a mais importante para a transmissão das cruzados é um indicativo de fechamento racional.
ideias. Existe a oportunidade de aprofundar os detalhes de
maior interesse relacionados à informação oferecida, bem - Mímica: as mímicas são os “gestos do rosto”. Um
como a possibilidade de se obter a repetição ou o observador pode ver no rosto informações sobre a
detalhamento de uma informação não completamente personalidade e a história de seu interlocutor, mas isso gera
entendida. Podem também ser apresentadas observações ou também muitos erros.
pontos de vista capazes de enriquecer a informação inicial, As mímicas são específicas do meio social, da região em
tornando-a mais clara, concisa e completa. que a pessoa foi educada.
O desembaraço na conversa informal do dia a dia, pouco Por exemplo, é comum o japonês sorrir quando está
tem a ver com o desempenho na comunicação verbal, como embaraçado, enquanto no brasileiro o sorrir é uma
forma de intercambiar informações. É difícil para a maioria manifestação comum de alegria.
dos profissionais de qualquer área, utilizar adequadamente
essa potente modalidade de comunicação. Isto é consequência - Olhar: a expressão do olhar é tão variada e difícil de
do simples fato de que a formação e o treinamento das pessoas controlar que é também difícil dominar as intenções mais
são incompletos. Nós não somos ensinados a organizar e ocultas.
registrar o nosso trabalho diário, analisá-lo criticamente, tirar O olhar parece ter dupla função, pois indica a quem se
conclusões e discuti-las de forma ordenada. dirige a comunicação e constitui um indício da atenção dada.
De um modo geral, as pessoas evitam falar em público, por Não existe interação na comunicação sem troca de olhar, o
uma série de razões, como vergonha, medo de enfrentar a contato com os olhos marca a interação intensa. Um exemplo
audiência, medo de não saber responder a alguma pergunta, de interação feito com o do olhar é o do vendedor frente a seus
receio de parecer ridículo ou de dizer besteiras, etc. clientes. Ele fixa o olhar no seu cliente submetendo a este uma
Essas razões, contudo, não tem o menor fundamento; elas condição de submissão na comunicação.
apenas servem para esconder a única e real razão: a falta de
treino ou de familiaridade com a comunicação verbal. É A Voz e os Sinais Paralinguísticos
perfeitamente normal que algumas pessoas pareçam mais A voz transmite aspectos da personalidade assim como
naturais ou à vontade do que outras, ao falar em grupo. A estado de espírito da pessoa que se fala. Um indivíduo traz no
diferença, contudo, reside apenas no quanto uns conseguem seu registro e voz a marca quase irreversível de seu grupo
desligar dos falsos e infundados receios e concentrar-se na social e cultural.
comunicação. O timbre de voz, o ritmo, a fluência e a intensidade,
dependem do controle emotivo.
- Comunicação Escrita: a leitura, por mais atenta que
possa ser, não tem o poder de transmissão da informação que Concordância e Discordância entre a Comunicação
a comunicação verbal tem. Na leitura, o autor é desconhecido Verbal e a Comunicação Não-Verbal
ou distante; a sua ideia nem sempre é claramente entendida e,
mais importante, não existe a possibilidade do diálogo. A O código verbal possui o objetivo de transmitir um
transmissão da informação é passiva. A comunicação verbal, conteúdo de valor informativo. Já o código não verbal é quase
ao contrário é mais poderosa e versátil. sempre utilizado para manter a relação interpessoal.
Se houver concordância entre elas, o impacto da
Comunicação Não-Verbal mensagem é mais forte e a recepção é melhor.
Se houver discordância entre elas, ocorre uma
A comunicação verbal serve para transmitir informações desorientação do receptor, o sentido da mensagem é alterado
entre indivíduos, tendo estas informações um caráter e o conteúdo se torna preponderante.
informativo. Já a comunicação não-verbal é caracterizada pelo Exemplo: uma pessoa ao dar um abraço numa criança
uso de gestos, da mímica, do olhar, da voz e dos sinais demonstrando afeto por ela ao mesmo tempo que a chama de
paralinguísticos, da organização espacial e da localização. querida e meiga, fortalece a mensagem. O mesmo não ocorre
Estes, que são determinantes de uma relação interpessoal dos se, ao dar o abraço, a pessoa chama a criança de chata. Para a
indivíduos. criança, o abraço será mais significativo e ela fará uma
distorção da palavra chata.
- Organização espacial: é a distância que separa o emissor
do receptor e se acha determinada por um conjunto de regras Questões
que refletem a mensagem e as interações dos interlocutores. O
espaço é convencionado por todo um sistema de sinais que 01. (UFRN – Assistente em Administração –
varia conforme os grupos sociais e culturais. COMPERVE) O processo de comunicação acontece, de duas
A distância é um grau regulador de intimidade na relação formas: oral e não oral. São exemplos exclusivos de
dos interlocutores, ela exerce influência na transmissão da comunicação não oral:
informação pela utilização de diversos canais. (A) correio eletrônico, conversas “frente a frente” e
cartazes.
- Localização: a localização é um indicador do tipo de (B) SMS, chamadas telefônicas e cartas.
relação que a pessoa deseja ter com seu interlocutor, ela (C) whatsapp, contatos pessoais e mala direta.
também modula a mensagem transmitida e indica status (D) outdoor, mídias impressas e e-mail.
privilegiado. Indica também que estas pessoas gostariam ou
detém um certo prazer no grupo. 02. (Pref. de Cruzeiro/SP - Professor PEB II -
INS.EXCELENCIA/2016) Sobre os conceitos relativos à
- Gestos: os gestos precedem ou acompanham o oralidade, todas as alternativas abaixo estão corretas,
comportamento verbal. São controlados pelas normas sociais EXCETO:
e estão ligados aos modos. Cada emoção exprime-se num (A) A prosódia, a gestualidade e os movimentos dos olhos

Língua Portuguesa 67
APOSTILAS OPÇÃO

são exemplos de fenômenos característicos da oralidade. para uma sociedade grafocêntrica.


(B) A simultaneidade temporal é uma característica
restrita à comunicação oral. 05. (TRT 17ª Região - Analista Judiciário - CESPE)
(C) A fala, enquanto manifestação da prática oral é Julgue os itens que se seguem, referentes aos processos de
adquirida naturalmente em contextos informais da vida produção e comunicação da informação.
cotidiana.
(D) A oralidade é uma forma de produção textual para fins Ao contrário da cultura oral de comunicação, na cultura
comunicativos que utiliza apenas o aparato disponível no ser escrita tradicional, ou seja, a dos documentos impressos, a
humano para ser executada. prática de leitura obedece a uma ordem sequencial de ideias
no tempo e no espaço.
03. (TRE/SP - Analista Judiciário - FCC) A comunicação
tem quatro funções básicas dentro de um grupo ou de uma ( ) Certo ( ) Errado
organização:
(A) controle, motivação, expressão emocional e Gabarito
informação.
(B) comprometimento, semântica, feedback e 01.D / 02.B / 03.A / 04.A / 05.CERTO
decodificação.
(C) formal, informal, entendimento e expressão.
(D) vertical, horizontal, não verbal e oral.
(E) emissão, recepção, clareza e canal. Sintaxe: relações sintático-
04. (Pref. de Natal/RN - Professor - CONSULPLAN)
semânticas estabelecidas
entre orações, períodos ou
“Os modos orais de prova, memorial e comunicação [...] parágrafos (período simples e
não cessaram com a chegada da escrita: na verdade
influenciaram a sua adaptação. Os gregos marcavam túmulos
período composto por
bem antes de a escrita ser introduzida, e o túmulo antigo e os coordenação e subordinação).
marcos de túmulos são efetivamente tipos não-escritos de
memorial ou apoio mnemônico. A escrita foi acrescentada a
esses modos presumivelmente como um outro marco, mas o
sistema mais antigo não foi inteiramente eliminado. Junto com Oração
os túmulos e dedicatórias, o elemento escrito meramente
acrescenta uma maneira ulterior e provavelmente mais eficaz É todo enunciado linguístico dotado de sentido, porém há,
de lembrar o indivíduo ou assinalar homenagem. necessariamente, a presença do verbo. A oração encerra uma
Os métodos orais continuam a ser dignos de crédito, assim frase (ou segmento de frase), várias frases ou um período,
como a tradição oral era considerada a fonte perfeitamente completando um pensamento e concluindo o enunciado
normal para o passado, ao menos até o século IV e um pouco através de ponto final, interrogação, exclamação e, em alguns
além. Assim como os contratos, que teriam testemunhas. Como casos, através de reticências.
meios não escritos de segurança, eles eram provavelmente a Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes
parte mais importante e confiável do contrato, para o qual a elípticos - ocultos).
escrita era apenas uma salvaguarda adicional. Pode-se traçar Não têm estrutura sintática, portanto não são orações,
com razoável exatidão uma mudança gradual na Atenas do assim não podem ser analisadas sintaticamente frases como:
século IV, pela qual a parte escrita do contrato começa a ser
mais confiável, embora até as últimas décadas não tenhamos Socorro!
encontrado um contrato escrito completamente desprovido de Com licença!
testemunhas. Isso confirmaria que, anteriormente, a parte Que rapaz impertinente!
escrita do contrato era um elemento menor (ou de todo
ausente). Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como
Um orador ateniense pode apresentar queixa contra um partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos ou
acordo por escrito feito no tribunal, no qual testemunhas as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração
tenham sido tomadas apenas para certos pontos, se seus desempenha uma função sintática.
oponentes 'afirmam a validez das partes em proveito próprio,
mesmo que elas não estejam por escrito, embora neguem a Os termos da oração na língua portuguesa são classificados
validez do que vem em detrimento de seus interesses, a menos em três grandes níveis:
que esteja por escrito' (Iseu, 5.25). - Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado.
Isso destaca bem claramente, mediante a manipulação - Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal e
retórica, que um acordo foi elaborado em parte com base na Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e
memória e na garantia de testemunhas, sem parte mediante Agente da Passiva).
um documento escrito." - Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal,
(Thomas, 2005,)
Adjunto Adverbial, Aposto e Vocativo.
O texto anterior ilustra que aspecto da relação entre Termos Essenciais da Oração
oralidade e escrita? Dois termos fundamentais da oração: sujeito e predicado.
(A) O caráter de complementaridade entre oralidade e
escrita Sujeito Predicado
(B) A superioridade da linguagem escrita sobre a
linguagem oral. Felicidade é estar satisfeito.
(C) A necessidade de um documento escrito para validar Os jovens compraram os doces.
um acordo oral. Um carro forte tombou nas ruas.
(D) A passagem de uma sociedade centrada na oralidade

Língua Portuguesa 68
APOSTILAS OPÇÃO

Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de
pratica uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma oração substantiva subjetiva:
coisa. Ao fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto
semântico do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto É difícil optar por esse ou aquele doce...
estilístico (o tópico da sentença). É difícil: oração principal.
Já que o sujeito é depreendido de uma análise sintática, optar por esse ou aquele doce: oração substantiva
vamos restringir a definição apenas ao seu papel sintático na subjetiva.
sentença: aquele que estabelece concordância com o núcleo do
predicado. O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou
Quando se trata de predicado verbal, o núcleo é sempre um por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos:
verbo; sendo um predicado nominal, o núcleo é sempre um
nome. 27Tendo assim por características básicas: O sino era grande.
- Estabelecer concordância com o núcleo do predicado; Ela tem uma educação fina.
- Apresentar-se como elemento determinante em relação Vossa Excelência agiu com imparcialidade.
ao predicado;
- Constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um
ou, ainda, qualquer palavra substantivada. Exemplo: substantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer
palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas,
O banco está interditado hoje. etc.). Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham
está interditado hoje: predicado nominal. uma voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar)
interditado: nome adjetivo = núcleo do predicado.
O banco: sujeito. Classificação dos Sujeitos
Banco: núcleo do sujeito - nome masculino singular. Simples - tem um só núcleo, no singular ou plural: O
cachorro tem uma casinha linda.
No interior de uma sentença, o sujeito é o termo Composto - apresenta mais de um núcleo: O garoto e a
determinante, ao passo que o predicado é o termo menina brincavam alegremente.
determinado. Essa posição de determinante do sujeito em Expresso - está explícito, enunciado: Eu trabalharei
relação ao predicado adquire sentido com o fato de ser amanhã.
possível, na língua portuguesa, uma sentença sem sujeito, mas Oculto (ou elíptico) - está implícito, não está expresso,
nunca uma sentença sem predicado. Exemplos: funciona como algo que não está claro, porém, no texto está o
significado dele: Trabalharei amanhã. (se deduz “eu” a partir
As formigas invadiram minha casa. da desinência do verbo).
as formigas: sujeito = termo determinante. Agente - ação expressa pelo verbo da voz ativa: O garoto
invadiram minha casa: predicado = termo determinado. chutou a bola.
Paciente - recebe os efeitos da ação expressa pelo verbo
Há formigas na minha casa. passivo: A bola é chutada pelo menino. Construíram-se
há formigas na minha casa: predicado = termo açudes. (= Açudes foram construídos.)
determinado. Agente e Paciente - quando o sujeito realiza a ação
sujeito: inexistente. expressa por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe
os efeitos dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho;
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma Regina trancou-se no quarto.
nominal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse Indeterminado - quando não se indica o agente da ação
nome se refere a objetos da primeira e segunda pessoa, o verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem
sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto atropelou a senhora? Não se diz, não se sabe quem a
(eu, tu, ele, etc.). atropelou.); Come-se bem naquele restaurante (quem come).28
Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa, sua
representação pode ser feita através de um substantivo, de um Observações:
pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras, - Não confunda sujeito indeterminado com sujeito oculto.
cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo. - Sujeito formado por pronome indefinido não é
Exemplos: indeterminado, mas expresso: Ninguém lhe telefonou.
- Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o
Eu acompanho você até o guichê. verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente
eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa. já expresso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com
admiração. “De qualquer modo, foi uma judiação matarem a
Vocês disseram alguma coisa? moça”.
vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa (tu) - Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo
ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se.
Marcos tem um fã-clube no seu bairro. O pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do
Marcos: sujeito = substantivo próprio. sujeito. Pode ser omitido junto de infinitivos. Exemplos:
Aqui paga-se bem.
Ninguém entra na sala agora. Devagar se vai ao longe.
ninguém: sujeito = pronome substantivo. Quando se é jovem, a vida é vigorosa.

O andar deve ser uma atividade diária. - O verbo no infinitivo impessoal, ocorre a indeterminação
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa do sujeito. Exemplo: É legal assistir a estes filmes clássicos.
oração.
Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a
Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir posposição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa

27 www.portalsaofrancisco.com.br/portugues/sujeito 28 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.

Língua Portuguesa 69
APOSTILAS OPÇÃO

língua. Exemplo: Da casa próxima apareceu aquela moça. / É “Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da
difícil esta situação. Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe)

Sem Sujeito - são enunciados através do predicado, o Predicativo do sujeito - é o nome dado ao núcleo do
verbo não é atribuído a nenhum sujeito. Construídas com predicado nominal, é atribuído uma qualidade ou
verbos impessoais na 3ª pessoa do singular: Havia gatos na característica ao sujeito. Os verbos de ligação (ser, estar,
sala. / Choveu durante a festa. parecer, etc.) são a ligação entre o sujeito e o predicado.
Exemplo: A atriz é talentosa.
São verbos impessoais: Haver (nos sentidos de existir, Sujeito – A atriz
acontecer, realizar-se, decorrer). Verbo de ligação - é
Fazer, passar, ser e estar, com referência ao tempo. Predicativo - talentosa
Chover, ventar, nevar, gear, relampejar, amanhecer,
anoitecer e outros que exprimem fenômenos meteorológicos. Predicação verbal - tem como núcleo um verbo que
transmite ideia de ação, pode ser uma locução verbal (dois
Predicado - é a soma de todos os termos da oração, exceto verbos). Alguns verbos, por natureza, têm sentido completo,
o sujeito e o vocativo. É tudo o que se declara na oração podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos
referindo-se ao sujeito (quando há sujeito). Sempre apresenta de predicação completa denominados intransitivos.
um verbo.29 Exemplo: Exemplos: A planta nasceu. / Os meninos correm.

Victor conhece os amigos do rei. Outros verbos, que tem predicação incompleta (sentido
sujeito: Victor = termo determinante. incompleto) conhecido como transitivos (precisam de
predicado: conhece os amigos do rei = termo determinado. complemento) Exemplos: Paulo comprou cinco pães. / A casa
pertence ao Júlio.
No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um nome,
quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da oração, Observe que, sem os seus complementos, os verbos
ou um verbo (ou locução verbal). “comprou” e “pertence” não transmitiriam informações
Predicado nominal - (seu núcleo significativo é um nome, completas, pois ainda fica a dúvida: Comprou o quê? Pertence
substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por um verbo a quem?
de ligação).
Predicado verbal - (seu núcleo é um verbo, seguido, ou Os verbos de predicação completa denominam-se de
não, de complemento(s) ou termos acessórios). Quando, num intransitivos e os de predicação incompleta de transitivos.
mesmo segmento o nome e o verbo são de igual importância, Os verbos transitivos subdividem-se em: transitivos
ambos constituem o núcleo do predicado e resultam no tipo de diretos, transitivos indiretos e transitivos diretos e
predicado verbo-nominal (tem dois núcleos significativos: indiretos (bitransitivos).
um verbo e um nome). Exemplos:
Além dos verbos transitivos e intransitivos, que encerram
Victor era jogador. uma noção definida ou conteúdo significativo, ainda existem
predicado: era jogador. os de ligação, verbos que entram na formação do predicado
núcleo do predicado: jogador = atributo do sujeito. nominal, relacionando o predicativo com o sujeito.
tipo de predicado: nominal.
Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em:
A prefeitura comprou várias coisas na licitação. Intransitivos: são os que não precisam de complemento,
predicado: comprou várias coisas na licitação. pois têm sentido completo. Exemplo: “Três contos bastavam,
núcleo do predicado: comprou = nova informação sobre o insistiu ele.” (Machado de Assis)
sujeito
tipo de predicado: verbal Observações: Os verbos intransitivos podem vir
acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um
Os meninos jogavam bola contentes. predicativo (qualidade, características). Exemplos:
predicado: jogavam bola contentes.
núcleos do predicado: jogavam = nova informação sobre o Fui cedo; Passeamos pela cidade; Cheguei atrasado;
sujeito; contentes = atributo do sujeito. Entrei em casa aborrecido.
tipo de predicado: verbo-nominal.
As orações formadas com verbos intransitivos não podem
Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é “transitar” (= passar) para a voz passiva. 30
responsável também por definir os tipos de elementos que Verbos intransitivos passam, ocasionalmente, a transitivos
aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho quando construídos com o objeto direto ou indireto. Exemplo:
basta para compor o predicado (verbo intransitivo).
Em outros casos é necessário um complemento que, “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do
juntamente com o verbo, constituem a nova informação sobre Nascimento)
o sujeito. De qualquer forma, esses complementos do verbo “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís
não interferem na tipologia do predicado. Jardim)
Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo, “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves
quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por Dias)
estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos: “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo
que já morreu...” (Ciro dos Anjos)
“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes
inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer,
é depois de algozes) crescer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar,

29 PESTANA, Fernando. Gramática para concursos. Elsevier.2011. 30 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.

Língua Portuguesa 70
APOSTILAS OPÇÃO

chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc. Exemplos:


A jornalista fornece informações para os concorrentes.
Transitivos Diretos: pedem um objeto direto, ou seja, Oferecemos rosas a nossa amiga.
sempre um complemento sem preposição. Alguns verbos Ceda o carro para sua mãe.
deste grupo: julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar,
designar, considerar, declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos: De Ligação: ligam ao sujeito o predicativo, uma palavra.
Comprei um terreno e construí a casa. Esses verbos, formam o predicado nominal. Exemplos:
“Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de A casa é feia.
Maricá) A carroça está torta.
A menina anda (=está) alegre.
Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os A vizinha parecia uma mulher virtuosa.
que formam o predicado verbo nominal e se constrói com o
complemento acompanhado de predicativo. Exemplos: Observações: os verbos de ligação não servem apenas de
Consideramos a situação difícil. anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais
Fernando trazia os documentos. se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por
Em geral, os verbos transitivos diretos são usados na voz exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto
passiva. transitório. Exemplos:
Podem receber como objeto direto, os pronomes o, a, os, Ele é doente. (aspecto permanente)
as: convido-o, encontro-os, incomodo-a, conheço-as. Ele está doente. (aspecto transitório).
Podem ser construídos acidentalmente com preposição, a Muitos desses verbos passam à categoria dos intransitivos
qual lhes acrescenta novo sentido: arrancar da espada; puxar em frases como por exemplo: Era = existia) uma vez uma
da faca; pegar de uma ferramenta; tomar do lápis; cumprir princesa.;
com o dever; Eu não estava em casa. / Fiquei à sombra. / Anda com
Alguns verbos transitivos diretos: abençoar, achar, colher, dificuldades. / Parece que vai chover.31
avisar, abraçar, comprar, castigar, contrariar, convidar,
desculpar, dizer, estimar, elogiar, entristecer, encontrar, ferir, Os verbos, relativamente à predicação, não fixos. Variam
imitar, levar, perseguir, prejudicar, receber, saldar, socorrer, conforme apresentado na frase, a sua regência e sentido
ter, unir, ver, etc. podem pertencer a outro grupo. Exemplos:
O homem anda. (intransitivo)
Transitivos Indiretos: são os que reclamam um O homem anda triste. (de ligação)
complemento regido de preposição, chamado objeto indireto.
Exemplos: O cego não vê. (intransitivo)
“Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto)
adolescente.” (Ciro dos Anjos)
“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e Predicativo: expressa estado, qualidade ou condição do
neutros.” (Érico Veríssimo) ser ao qual se refere, ou seja, é um atributo. Dois predicativos
são apontados.
Observações: Entre os verbos transitivos indiretos
importa distinguir os que se constroem com os pronomes Predicativo do Sujeito: exprime um atributo, estado ou
objetivos lhe, lhes. Em geral são verbos que exigem a modo de ser do sujeito, aparece como verbo de ligação, no
preposição a: agradar-lhe, agradeço-lhe, apraz-lhe, bate-lhe, predicado nominal. Exemplos:
desagrada-lhe, desobedecem-lhe, etc. O aluno é estudioso e exemplar.
Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir os A casa era toda feita de pedras raras.
que não admitem para objeto indireto as formas oblíquas lhe,
lhes, construindo-se com os pronomes retos precedidos de Outro tipo de predicativo, aparece no predicado verbo-
preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele, nominal. Exemplos:
depender dele, investir contra ele, não ligar para ele, etc. José chegou cansado.
Os meninos chegaram cansados.
Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam
a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e O predicativo subjetivo pode estar preposicionado; E pode
pouco mais, usados também como transitivos diretos. o predicativo ser antes do sujeito e do verbo. Exemplo:
Exemplos: São horríveis essas coisas!
João paga (perdoa, obedece) o médico. Que linda estava Amélia!
O médico é pago (perdoado, obedecido) por João. Completamente feliz ninguém é.

Há verbos transitivos indiretos, como atirar, investir, Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto
contentar-se, etc., que admitem mais de uma preposição, sem de um verbo transitivo. Exemplos:
mudança de sentido. Outros mudam de sentido com a troca da As paixões tornam os homens felizes.
preposição. Exemplos: Nós julgamos o fato estranho.
Trate de sua vida. (tratar=cuidar).
É desagradável tratar com gente grosseira. (tratar=lidar). Observações: O predicativo objetivo, pode estar regido de
preposição. É facultativo, as vezes. E o predicativo objetivo em
Verbos como aspirar, assistir, dispor, servir, etc., variam de geral se refere ao objeto direto. Em casos especiais, pode
significação conforme sejam usados como transitivos diretos referir-se ao objeto indireto do verbo chamar. Exemplo:
ou indiretos. Chamavam-lhe poeta.
Podemos também antepor o predicativo a seu objeto como
Transitivos Diretos e Indiretos: utilizam com dois por exemplo: O advogado considerava indiscutíveis os
objetos: um direto, outro indireto, ao mesmo tempo. direitos da herdeira. / Julgo inoportuna essa viagem. / “E até

31 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.

Língua Portuguesa 71
APOSTILAS OPÇÃO

embriagado o vi muitas vezes.” / “Tinha estendida a seus pés desenvolvimento das suas graças.”; “Agora sabia que podia
uma planta rústica da cidade.” / “Sentia ainda muito abertos manobrar com ele, com aquele homem a quem na realidade
os ferimentos que aquele choque com o mundo me causara.” também temia, como todos ali”.
- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando
Termos Integrantes da Oração que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo
Complementam o sentido de certos verbos e nomes para construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado;
que a oração fique completa, são chamados de: “Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como
a um irmão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro?
- Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto); - Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza
- Complemento Nominal; e a eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos
- Agente da Passiva. outros.”; “As companheiras convidavam-se umas às outras.”;
“Era o abraço de duas criaturas que só tinham uma à outra”.
Objeto Direto: complementa o sentido de um verbo - Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas,
transitivo direto, não regido por preposição. Dica: faça as principalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da
perguntas “o quê?” ou “quem?”. Exemplos: eufonia da frase: Judas traiu a Cristo; Amemos a Deus sobre
O menino matou o passarinho. (o menino matou quem ?) todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O
Geraldo ama Andressa. (Geraldo ama o quê?) estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”.
- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto
Características do objeto direto: direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; Ao
- Completa a significação dos verbos transitivos diretos; médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este
- Normalmente, não vem regido de preposição; confrade conheço desde os seus mais tenros anos”.
- Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um - Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro
verbo ativo. Ex. Caim matou Abel. caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a
- Torna-se sujeito da oração na voz passiva. Ex. Abel foi ambos...”.
morto por Caim. - Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes
a pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e
O objeto direto pode ser constituído: odeias a outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes
- Por um substantivo ou expressão substantivada: O também aos outros.; A quantos a vida ilude!.
lavrador cultiva a terra; Unimos o útil ao agradável. - Em certas construções enfáticas, como puxar (ou
- Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos: arrancar) da espada, pegar da pena, cumprir com o dever,
Espero-o na estação; Estimo-os muito; Sílvia olhou-se ao atirar com os livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas
espelho; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a de aço fino...”; “Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da
tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.; agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a
“Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar coser.”; “Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando soube
quieta.”; “Vós haveis de crescer, perder-vos-ei de vista.” do caso.”
- Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na
loja; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a
plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas preposição é de rigor, nos cinco outros, facultativo; A
do livro, ela o faz com cuidado; “Que teria o homem percebido substituição do objeto direto preposicionado pelo pronome
nos meus escritos?” oblíquo átono, quando possível, se faz com as formas o(s), a(s)
e não lhe, lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo
Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos, (convencê-lo); O objeto direto preposicionado, é obvio, só
dando-se-lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da ocorre com verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três
mesma esfera semântica. Exemplos: as razões ou finalidades do emprego do objeto direto
“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.” preposicionado: a clareza da frase; a harmonia da frase; a
(Vivaldo Coaraci) ênfase ou a força da expressão.
“Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal
Machado) Objeto Direto Pleonástico: aquele que se repete na
“Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” sequência da frase. Quando queremos dar destaque ou ênfase
(Machado de Assis) à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no início da frase
Em tais construções é de rigor que o objeto venha e depois o repetimos ou reforçamos por meio do pronome
acompanhado de um adjunto.32 oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal chama-
se pleonástico, enfático ou redundante. Exemplos:
Objeto Direto Preposicionado: antecipado por preposição O pão, Paulo o trazia dentro da sacola.
não obrigatória. Exemplos: Seus cachorros, ele os cuidava em amor.
Identifiquei a vocês todos naquela foto (quem identifica,
identifica a algo, o verbo não pede preposição). Objeto Indireto: por meio de uma preposição obrigatória,
completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Dica: faça
Em certos casos, o objeto direto, vem precedido de às perguntas “para quê, em quê, de quê, ou preposição mais
preposição, e ocorrerá: quem?”
- Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico: Exemplos: Meu irmão cuidava de toda a sua casa. (cuidava
Deste modo, prejudicas a ti e a ela; “Mas dona Carolina amava de quê ?) João gosta de goiaba. (gosta do quê ?)
mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto
hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava - Transitivos Indiretos: Assisti ao filme; Assistimos à
o seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”. festa e à folia; Aludiu ao fato; Aspiro a uma casa boa.
- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro
Severiano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a - Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou
todos; deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo passiva): Dou graças a Deus; Dedicou sua vida aos doentes e

32 PESTANA, Fernando. Gramática para concursos. Elsevier.2011.

Língua Portuguesa 72
APOSTILAS OPÇÃO

aos pobres; Disse-lhe a verdade. (Disse a verdade ao moço.) preposição por, e menos frequentemente pela preposição de:
O vencedor foi escolhido pelos jurados.
O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras O menino estava cercado pelo seu pai e mãe.
categorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente
transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta; O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos
Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe ou pelos pronomes:
convém; A proposta pareceu-lhe aceitável. O cão foi atropelado pelo carro.
Este caderno foi rabiscado por mim.
Observações: Há verbos que podem construir-se com dois
objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na
Deus por nós; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para voz ativa:
ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto A menina foi penteada pela mãe. (voz passiva)
direto com o complemento nominal nem com o adjunto A mãe penteou a menina. (voz ativa)
adverbial; Em frases como “Para mim tudo eram alegrias”, Ele será acompanhado por ti. (voz passiva)
“Para ele nada é impossível”, os pronomes em destaque
podem ser considerados adjuntos adverbiais. Observações: Frase de forma passiva analítica sem
complemento agente expresso, ao passar para a ativa, terá
O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa sujeito indeterminado e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi
ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes expulso da cidade. (Expulsaram-no da cidade.); As florestas
objetivos indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. são devastadas. (Devastam as florestas.); Na passiva
Exemplos: Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. pronominal não se declara o agente: Nas ruas assobiavam-se
(=Isto pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); as canções dele pelos pedestres. (errado); Nas ruas eram
Peço-vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a assobiadas as canções dele pelos pedestres. (certo);
preposição é expressa, como característica do objeto indireto: Assobiavam-se as canções dele nas ruas. (certo)
Recorro a Deus; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com
pouco.; Ele só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Termos Acessórios da Oração
Conto com você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti São os que desempenham na oração uma função
agradou ao público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de secundária, qual seja a de caracterizar um ser, determinar os
que mais gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a substantivos, exprimir alguma circunstância. São três os
conhece.; Os obstáculos contra os quais luto são muitos.; As termos acessórios da oração: adjunto adnominal, adjunto
pessoas com quem conto são poucas. adverbial e aposto.

Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é Adjunto adnominal: é o termo (expressão) que se junta a
representado pelos substantivos (ou expressões substantivas) um nome para melhor função especificar, detalhar ou
ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: caracterizar o sentido desse nome (substantivos).34 Exemplo:
a, com, contra, de, em, para e por. Meu irmão veste roupas vistosas. (Meu determina o
substantivo irmão: é um adjunto adnominal – vistosas
Objeto Indireto Pleonástico: sempre representado por caracteriza o substantivo roupas: é também adjunto
um pronome oblíquo átono para dar ênfase a um objeto adnominal).
indireto que já tem na frase. Exemplos: O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos:
A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa a mim o água fresca, animal feroz; Pelos artigos: o mundo, as ruas;
destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões, incapazes de Pelos pronomes adjetivos: nosso tio, este lugar, pouco sal,
se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.” muitas rãs ,país cuja história conheço, que rua? Pelos
numerais: dois pés ,quinto ano; Pelas locuções ou expressões
Complemento Nominal: completa o sentido de um (nome) adjetivas que exprimem qualidade, posse, origem, fim ou outra
substantivo, de um adjetivo e um advérbio, sempre regido por especificação:
preposição. Exemplos: A defesa da pátria; “O ódio ao mal é - presente de rei (=régio): qualidade
amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino.”; “Ah, - livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença
não fosse ele surdo à minha voz!” - água da fonte, filho de fazendeiros: origem
- fio de aço, casa de madeira: matéria
Observações: O complemento nominal representa o - casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade
recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um
nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de Observações: Não confundir o adjunto adnominal
assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor de formado por locução adjetiva com complemento nominal. Este
músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas no representa o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a
objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de eleição do presidente, aviso de perigo, declaração de guerra,
complementar verbos, complementa nomes (substantivos, empréstimo de dinheiro, plantio de árvores, colheita de
adjetivos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que trigo, destruidor de matas, descoberta de petróleo, amor ao
requerem complemento nominal correspondem, geralmente, próximo, etc. O adjunto adnominal formado por locução
a verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o adjetiva representa o agente da ação, ou a origem, pertença,
próximo ;perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente qualidade de alguém ou de alguma coisa: o discurso do
aos pais, obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à presidente, aviso de amigo, declaração do ministro,
pátria; etc.33 empréstimo do banco, a casa do fazendeiro, folhas de
árvores, farinha de trigo, beleza das matas, cheiro de
Agente da Passiva: complementa um verbo na voz petróleo, amor de mãe.35
passiva. Sempre representa quem pratica a ação expressa pelo
verbo passivo. Vem regido na maioria das vezes pela Adjunto adverbial: termo que exprime uma circunstância

33 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004. 35 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.
34 AMARAL, Emília. Novas Palavras. Editora FTD.2016.

Língua Portuguesa 73
APOSTILAS OPÇÃO

(de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras palavras, que ou da preposição acidental como:
modifica o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio.
Exemplo: “Meninas numa tarde brincavam de roda na Dois países sul-americanos, isto é, a Colômbia e o Chile,
praça”. O adjunto adverbial é expresso: Pelos advérbios: não são banhados pelo mar.
Cheguei tarde; Maria é mais alta; Não durma na cabana; Ele
fala bem, fala corretamente; Talvez esteja enganado.; Pelas O aposto que se refere a objeto indireto, complemento
locuções ou expressões adverbiais: Compreendo sem nominal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição:
esforço.; Saí com meu pai.; Paulo reside em São Paulo.; O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.
Escureceu de repente. “Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das
coisas.” (Raquel Jardim)
Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes
de adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não Vocativo: termo que exprime um nome, título, apelido,
dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No usado para chamar o interlocutor.
domingo...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De
ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de “Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria
acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto de Lourdes Teixeira)
adverbial de lugar, modo, tempo, intensidade, causa, “A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado
companhia, meio, assunto, negação, etc. É importante saber de Assis)
distinguir adjunto adverbial de adjunto adnominal, de objeto “Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela)
indireto e de complemento nominal: sair do mar (ad. adv.);
água do mar (adj. adn.); gosta do mar (obj. indir.); ter medo Observação: Profere-se o vocativo com entoação
do mar (compl. nom.). exclamativa. Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo
inicial, os pontos interrogativo e exclamativo indicam um
Aposto: um termo ou expressão que associa a um nome chamado alto e prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª
anterior, e explica ou esclarece o sentido desse nome. pessoa do discurso, que pode ser uma pessoa, um animal, uma
Geralmente, separado dos outros termos da oração por dois coisa real ou entidade abstrata personificada. Podemos
pontos, travessão e vírgula. antepor-lhe uma interjeição de apelo (ó, olá, eh!):
Exemplos:
Ontem, segunda-feira, passei o dia com dor de estômago. “Tem compaixão de nós, ó Cristo!” (Alexandre Herculano)
“Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência.” “Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!”
(Carlos Drummond de Andrade) (Graciliano Ramos)
“Esconde-te, ó sol de maio ,ó alegria do mundo!” (Camilo
O núcleo do aposto pode ser expresso por um substantivo Castelo Branco)
ou por um pronome substantivo. Exemplo: O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura
Os responsáveis pelo projeto, tu e a arquiteta, não podem da oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado.36
se ausentar.
Questões
O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases
seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do 01. (MPE/SC - Promotor de Justiça - Instituto
sujeito. Ex. Consulplan/2019)
Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas.
As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de Excerto 2
cores.
“[...] Depois da aula, Hassan e eu passávamos a mão em um
Os apostos, em geral, têm pausas, indicadas, na escrita, por livro e corríamos para uma colina arredondada que ficava bem
vírgulas, dois pontos ou travessões. Não havendo pausa, não ao norte da propriedade de meu pai em Wazir Akbar Khan.
haverá vírgula, como nestes exemplos: Havia ali um velho cemitério abandonado, com várias fileiras
O romance Tróia; o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o de lápides com as inscrições apagadas e muito mato
Colégio Tiradentes, etc. impedindo a passagem pelas aleias. Anos e anos de chuva e
“Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?” neve tinham enferrujado o portão de grade e deixado a mureta
(Graciliano Ramos) de pedras claras em ruínas. Perto da entrada do cemitério
havia um pé de romã. Em um dia de verão, usei uma das facas
O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às de cozinha de Ali para gravar nossos nomes naquela árvore:
vezes, está elíptico. Exemplos: “Amir e Hassan, sultões de Cabul.” Essas palavras serviram
Rapaz impulsivo, Mário não se conteve. para oficializar o fato: a árvore era nossa. Depois da aula,
Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da Hassan e eu trepávamos em seus galhos e apanhávamos as
alma humana. romãs encarnadas. Depois de comer as frutas e limpar as mãos
na grama, eu lia para Hassan. [...]”
O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos: HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. Rio de Janeiro: Nova
Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de Fronteira, 2003. p. 34. [fragmento]
tempestade iminente.
O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito. No início do excerto 2, há duas orações coordenadas cujo
sujeito é o mesmo: nós.
Um aposto refere a outro aposto, às vezes: Certo ( ) Errado ( )
“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do
velho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo)

O aposto pode vir antecedido das expressões explicativas,

36 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.

Língua Portuguesa 74
APOSTILAS OPÇÃO

02. (Prefeitura de Teresina/PI - Professor de Educação Considerando aspectos sintáticos, a oração destacada no
Básica - NUCEPE/2019) texto é
(A) complemento nominal.
(B) complemento verbal.
(C) predicativo.
(D) sujeito.
(E) aposto.

Gabarito
Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/page/73 Acesso em:
15.05.19.
Em “... é transmitida por animais contaminados e 01. Errado / 02. B / 03. D / 04. C / 05. B
comentários e postagens nas redes sociais...”, o termo
destacado tem a função sintática de Período
(A) adjunto adverbial, indica circunstância à ação verbal.
(B) agente da passiva, pratica a ação verbal na voz passiva. Toda frase com uma ou mais orações constitui um período,
(C) complemento nominal, pois completa o adjetivo que se encerra com ponto de exclamação, interrogação ou
“transmitida”. reticências.
(D) objeto indireto, completa do sentido do verbo com o O período de uma oração pode ser: simples quando só traz
auxílio da preposição. uma oração, também conhecida como oração absoluta; ou
(E) sujeito, pratica a ação de “transmitir” expressa na composto quando traz mais de uma oração. Exemplo:
oração de ordem inversa. Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração absoluta.)
Quero que você aprenda. (Período composto.)
03. (Prefeitura de Avelinópolis/GO - Psicólogo -
Itame/2019) Em: Precisa-se de técnicos em informática. O Existe uma maneira prática de saber quantas orações há
sujeito: num período, e para isso basta contar os verbos ou locuções
(A) está elíptico no contexto. verbais. Num período haverá tantas orações quantos forem os
(B) está na voz passiva sintética. verbos ou as locuções verbais neles existentes. Exemplos:
(C) trata-se de uma oração sem sujeito.
(D) é indeterminado no contexto da frase. Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração)
Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)
04. (Prefeitura de Pacujá/CE - Fiscal de Tributos - Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma
CETREDE/2019) oração)
Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas
Estátua Falsa locuções verbais, duas orações)

Só de oiro falso meus olhos se douram; Há três tipos de período composto: por coordenação, por
Sou esfinge sem mistério no poente. subordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo
A tristeza das coisas que não foram tempo (também chamada de período misto).
Na minha alma desceu veladamente.
Período Composto por Coordenação – Orações
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia, Coordenadas
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram, Considere, por exemplo, este período composto:
Como ontem para mim, hoje é distância. Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os
tempos de infância.
Já não estremeço em face de segredo; 1ª oração: Passeamos pela praia
Nada me aloira, nada me aterra 2ª oração: brincamos
A vida corre sobre mim em guerra, 3ª oração: recordamos os tempos de infância
E nem sequer um arrepio de medo! As três orações que compõem esse período têm sentido
próprio e não mantêm entre si nenhuma dependência
Sou estrela ébria que perdeu os céus, sintática: elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma
Sereia louca que deixa o mar; relação de sentido, mas, como já dissemos, uma não depende
Sou templo prestes a ruir sem deus, da outra sintaticamente.
Estátua falsa ainda erguida no ar... As orações independentes de um período são chamadas de
Mário de Sá Carneiro. orações coordenadas (OC), e o período formado só de
O sujeito de “desceu”, v. 4, é: orações coordenadas é chamado de período composto por
(A) oiro. coordenação.
(B) esfinge.
(C) tristeza. As orações coordenadas são classificadas em assindéticas
(D) alma. e sindéticas.
(E) poente. - As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando
não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
05. (Prefeitura de Porto Calvo/AL - Assistente Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram.
Administrativo - COPEVE-UFAL/2019) OCA OCA OCA
Para ser franco, declaro que esses infelizes não me
inspiram simpatia. Lastimo a situação em que se acham, “Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de
reconheço ter contribuído para isso, mas não vou além. Assis)
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo: M. Fontes, “A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.”
1970. p. 241. (Antônio Olavo Pereira)

Língua Portuguesa 75
APOSTILAS OPÇÃO

“O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.” Vamos andar depressa / que estamos atrasados.
(Coelho Neto) OCA OCS Explicativa
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção
- As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação à
vêm introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo: oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa
O homem saiu do carro / e entrou na casa. explicativa.
OCA OCS
Não comprei o carro, porque estava muito caro.
As orações coordenadas sindéticas são classificadas de Cumprimente-a, pois hoje é o seu aniversário.
acordo com o sentido expresso pelas conjunções
coordenativas que as introduzem. E podem ser: Questões

- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não 01. Relacione as orações coordenadas por meio de
só... mas também, não só... mas ainda. conjunções:
Saí da escola / e fui à lanchonete. (A) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões
OCA OCS Aditiva surgiram.
(B) Não durma sem cobertor. A noite está fria.
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (C) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.
conjunção que expressa ideia de acréscimo ou adição com
referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção 02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
coordenativa aditiva. marulhar das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de:
(A) causa
O menino comprou pães e um leite. (B) explicação
As crianças não gritavam e nem choravam. (C) conclusão
Os celulares não somente instruem mas também (D) proporção
divertem. (E) comparação

- Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, 03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração
porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto. sublinhada pode indicar uma ideia de:
(A) concessão
Estudei bastante / mas não passei no teste. (B) oposição
OCA OCS Adversativa (C) condição
(D) lugar
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (E) consequência
conjunção que expressa ideia de oposição à oração anterior, ou
seja, por uma conjunção coordenativa adversativa. 04. Assinale a sequência de conjunções que estabelecem,
entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.
O aluno é estudioso, porém, suas notas são baixas. 1. Correu demais, ... caiu.
“É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles) 2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.
3. A matéria perece, ... a alma é imortal.
- Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, 4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com
por isso, pois, logo. detalhes.
5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.
Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão.
OCA OCS Conclusiva (A) porque, todavia, portanto, logo, entretanto
(B) por isso, porque, mas, portanto, que
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (C) logo, porém, pois, porque, mas
conjunção que expressa ideia de conclusão de um fato (D) porém, pois, logo, todavia, porque
enunciado na oração anterior, ou seja, por uma conjunção (E) entretanto, que, porque, pois, portanto
coordenativa conclusiva.
05. Reúna as três orações em um período composto por
Vives mentindo; logo, não mereces fé. coordenação, usando conjunções adequadas.
Não tenho dinheiro, portanto não posso pagar.
Os dias já eram quentes.
- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou... ou, A água do mar ainda estava fria.
ora... ora, seja... seja, quer... quer. As praias permaneciam desertas.

Seja mais educado / ou retire-se da reunião! Respostas


OCA OCS Alternativa
01. Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma surgiram.
conjunção que estabelece uma relação de alternância ou Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.
escolha com referência à oração anterior, ou seja, por uma Quero desculpar-me, mas consigo encontrá-los.
conjunção coordenativa alternativa.
02. E\03. C\04. B
Cale-se agora ou nunca mais fale.
Ora colocava a luva, ora a retirava. 05. Os dias já eram quentes, mas a água do mar ainda
estava fria, por isso as praias permaneciam desertas.
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que,
porque, pois, porquanto.

Língua Portuguesa 76
APOSTILAS OPÇÃO

Período Composto por Subordinação Por mais que gritasse, não me ouviram.
Observe os termos destacados em cada uma destas
orações: - Conformativas: expressam a conformidade de um fato
Vi uma cena triste. (adjunto adnominal) com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.
Todos querem sua participação. (objeto direto) O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado.
Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de OP OSA Conformativa
causa)
O homem age conforme pensa.
Veja, agora, como podemos transformar esses termos em Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.
orações com a mesma função sintática: Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.
Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada O jornal, como sabemos, é um grande veículo de
com função de adjunto adnominal) informação.
Todos querem / que você participe. (oração subordinada
com função de objeto direto) - Temporais: acrescentam uma circunstância de tempo ao
Não pude sair / porque estava chovendo. (oração que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando,
subordinada com função de adjunto adverbial de causa) assim que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal
(=assim que).
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma Ele saiu da sala / assim que eu cheguei.
certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto, OP OSA Temporal
subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo
menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a Formiga, quando quer se perder, cria asas.
subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele “Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se
é classificado como período composto por subordinação. esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti)
As orações subordinadas são classificadas de acordo com a “Quando os tiranos caem, os povos se levantam.”
função que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas. (Marquês de Maricá)
Enquanto foi rico, todos o procuravam.
Orações Subordinadas Adverbiais (OSA)
São aquelas que exercem a função de adjunto adverbial da - Finais: expressam a finalidade ou o objetivo do que foi
oração principal (OP). São classificadas de acordo com a enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de
conjunção subordinativa que as introduz: que, porque (=para que), que.
Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar.
- Causais: expressam a causa do fato enunciado na oração OP OSA Final
principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que,
visto que. “O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.”
Não fui à escola / porque fiquei doente. (Marquês de Maricá)
OP OSA Causal Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor.
“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que =
O tambor soa porque é oco. para que)
Como não me atendessem, repreendi-os severamente. “Instara muito comigo não deixasse de frequentar as
Como ele estava armado, ninguém ousou reagir. recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse =
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de para que não deixasse)
Sousa)
- Consecutivas: expressam a consequência do que foi
- Condicionais: expressam hipóteses ou condição para a enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como
ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se, (= porque), pois que, visto que.
contanto que, a menos que, a não ser que, desde que. A chuva foi tão forte / que inundou a cidade.
Irei à sua casa / se não chover. OP OSA Consecutiva
OP OSA Condicional
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos.
Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos “A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.”
ofensores. (José J. Veiga)
Se o conhecesses, não o condenarias. De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais.
“Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond As notícias de casa eram boas, de maneira que pude
de Andrade) prolongar minha viagem.
A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência
tenha êxito. - Comparativas: expressam ideia de comparação com
referência à oração principal. Conjunções: como, assim como,
- Concessivas: expressam ideia ou fato contrário ao da tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado
oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização. com menos ou mais).
Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais Ela é bonita / como a mãe.
que, mesmo que. OP OSA Comparativa
Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
OP OSA Concessiva A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o
Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que ferro.” (Marquês de Maricá)
ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente. Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro.
Embora não possuísse informações seguras, ainda Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram.
assim arriscou uma opinião. Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à
Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo luz daquele olhar.
quando ou ainda quando ou mesmo que) todos nos
critiquem. Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam

Língua Portuguesa 77
APOSTILAS OPÇÃO

claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está Nominal: É aquela que exerce a função de complemento
subentendido o verbo ser (como a mãe é). nominal de um termo da oração principal. Observe: Estou
convencido de sua inocência. (complemento nominal)
- Proporcionais: expressam uma ideia que se relaciona Estou convencido / de que ele é inocente.
proporcionalmente ao que foi enunciado na principal. OP OSS Completiva Nominal
Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que,
quanto mais, quanto menos. Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia. dele.)
OSA Proporcional OP Estava ansioso por que voltasses.
Sê grato a quem te ensina.
À medida que se vive, mais se aprende. “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão
À proporção que avançávamos, as casas iam rareando. cedo.” (Graciliano Ramos)
O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai
diminuindo. - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: é
aquela que exerce a função de predicativo do sujeito da oração
Orações Subordinadas Substantivas principal, vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O
As orações subordinadas substantivas (OSS) são importante é sua felicidade. (predicativo)
aquelas que, num período, exercem funções sintáticas O importante é / que você seja feliz.
próprias de substantivos, geralmente são introduzidas pelas OP OSS Predicativa
conjunções integrantes que e se. Elas podem ser: Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.)
Minha esperança era que ele desistisse.
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: é Meu maior desejo agora é que me deixem em paz.
aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração Não sou quem você pensa.
principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto)
O grupo quer / que você ajude. - Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela
OP OSS Objetiva Direta que exerce a função de aposto de um termo da oração
principal. Observe: Ele tinha um sonho a união de todos em
O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O benefício do país. (aposto)
mestre exigia a presença de todos.) Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício
Mariana esperou que o marido voltasse. do país.
Ninguém pode dizer: Desta água não beberei. OP OSS Apositiva
O fiscal verificou se tudo estava em ordem.
Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: é coisa: a sua felicidade)
aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da Só lhe peço isto: honre o nosso nome.
oração principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto “Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto:
indireto) de que virias a morrer...” (Osmã Lins)
Necessito / de que você me ajude. “Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum
OP OSS Objetiva Indireta motivo oculto?” (Machado de Assis)
As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de
Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua dois-pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à
viagem.) oração principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho
Aconselha-o a que trabalhe mais. recuperasse a saúde, tornou-se realidade.
Daremos o prêmio a quem o merecer.
Lembre-se de que a vida é breve. Observação: Além das conjunções integrantes que e se, as
orações substantivas podem ser introduzidas por outros
- Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: é aquela conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos:
que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal. Não sei quando ele chegou.
Observe :É importante sua colaboração. (sujeito) Diga-me como resolver esse problema.
É importante / que você colabore.
OP OSS Subjetiva Orações Subordinadas Adjetivas
As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem a
A oração subjetiva geralmente vem: função de adjunto adnominal de algum termo da oração
- Depois de um verbo de ligação + predicativo, em principal. Observe como podemos transformar um adjunto
construções do tipo é bom ,é útil ,é certo ,é conveniente, etc. adnominal em oração subordinada adjetiva:
Ex.: É certo que ele voltará amanhã. Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal)
- Depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta- Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada
se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade. adjetiva)
- Depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir,
ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e As orações subordinadas adjetivas são sempre
seguidos das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos introduzidas por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem,
participem da reunião. etc.) e podem ser classificadas em:

É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é - Subordinadas Adjetivas Restritivas: são restritivas
necessária.) quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que
Parece que a situação melhorou. se referem. Exemplo:
Aconteceu que não o encontrei em casa. O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar.
Importa que saibas isso bem. OP OSA Restritiva

- Oração Subordinada Substantiva Completiva Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica

Língua Portuguesa 78
APOSTILAS OPÇÃO

o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não reduzida de particípio.


aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º
lugar. Exemplo: Observações:
- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de
Pedra que rola não cria limo. desenvolvimento. Há casos também de orações reduzidas
Os animais que se alimentam de carne chamam-se fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de
carnívoros. desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas cidade.
escreveram. - O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Mariano) Exemplos:
Preciso terminar este exercício.
- Subordinadas Adjetivas Explicativas: são explicativas Ele está jantando na sala.
quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se Essa casa foi construída por meu pai.
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem - Uma oração coordenada também pode vir sob a forma
restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo: reduzida. Exemplo:
O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um O homem fechou a porta, saindo depressa de casa.
novo livro. O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração
OP OSA Explicativa OP coordenada sindética aditiva)
Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de
Deus, que é nosso pai, nos salvará. gerúndio.
Valério, que nasceu rico, acabou na miséria. Qual é a diferença entre as orações coordenadas
Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho. explicativas e as orações subordinadas causais, já que ambas
Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado. podem ser iniciadas por que e porquê? Às vezes não é fácil
Observação: As explicativas são isoladas por pausas, que estabelecer a diferença entre explicativas e causais, mas como
na escrita se indicam por vírgulas.37 o próprio nome indica, as causais sempre trazem a causa de
algo que se revela na oração principal, que traz o efeito.
Orações Reduzidas Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre a
Observe que as orações subordinadas eram sempre oração explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes,
introduzidas por uma conjunção ou pronome relativo e imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal.
apresentavam o verbo na forma do indicativo ou do Essa noção de causa e efeito não existe no período
subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há composto por coordenação. Exemplo:
outras que se apresentam com o verbo numa das formas Rosa chorou porque levou uma surra. Está claro que a
nominais (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos: oração iniciada pela conjunção é causal, visto que a surra foi
sem dúvida a causa do choro, que é efeito.
Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês. Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. O
(infinitivo) período agora é composto por coordenação, pois a oração
Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio) iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se
Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário. revelou na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e
(particípio) efeito: o fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é
causa de ela ter chorado.
As orações subordinadas que apresentam o verbo numa
das formas nominais são chamadas de reduzidas. Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto.
Para classificar a oração que está sob a forma reduzida, OP OSA Comparativa OSA Condicional
devemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo:
colocamos a conjunção ou o pronome relativo adequado ao Questões
sentido e passamos o verbo para uma forma do indicativo ou
subjuntivo, conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma 01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que
classificação da oração desenvolvida. estava para ser mãe”, a oração destacada é:
(A) subordinada substantiva objetiva indireta
Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês. (B) subordinada substantiva completiva nominal
Quando entrei na escola, / encontrei o professor de (C) subordinada substantiva predicativa
inglês. (D) coordenada sindética conclusiva
OSA Temporal (E) coordenada sindética explicativa
Ao entrar na escola: oração subordinada adverbial
temporal, reduzida de infinitivo. 02. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada. Há
reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na
Precisando de ajuda, telefone-me. realidade.” A oração sublinhada é:
Se precisar de ajuda, / telefone-me. (A) adverbial conformativa
OSA Condicional (B) adjetiva
Precisando de ajuda: oração subordinada adverbial (C) adverbial consecutiva
condicional, reduzida de gerúndio. (D) adverbial proporcional
(E) adverbial causal
Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o 03. “Esses produtos podem ser encontrados nos
vestiário. supermercados com rótulos como ‘sênior’ e com
OSA Temporal características adaptadas às dificuldades para mastigar e para
Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal, engolir dos mais velhos, e preparados para se encaixar em seus

37 CEGALLA, Paschoal. Minigramática Língua Portuguesa. Nacional. 2004.

Língua Portuguesa 79
APOSTILAS OPÇÃO

hábitos de consumo”. O segmento “para se encaixar” pode ter 2- Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
sua forma verbal reduzida adequadamente desenvolvida em concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
(A) para se encaixarem. Estavam feridos o pai e os filhos. / Estava ferido o pai e os
(B) para seu encaixotamento. filhos.
(C) para que se encaixassem.
(D) para que se encaixem. c) Um substantivo e mais de um adjetivo
(E) para que se encaixariam. 1- antecede todos os adjetivos com um artigo. Falava
fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
04. A palavra “se” é conjunção integrante (por introduzir 2- coloca o substantivo no plural. Falava fluentemente as
oração subordinada substantiva objetiva direta) em qual das línguas inglesa e espanhola.
orações seguintes?
(A) Ele se mordia de ciúmes pelo patrão. d) Pronomes de tratamento
(B) A Federação arroga-se o direito de cancelar o jogo. Sempre concordam com a 3ª pessoa. Vossa Santidade
(C) O aluno fez-se passar por doutor. esteve no Brasil.
(D) Precisa-se de operários.
(E) Não sei se o vinho está bom. e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
Concordam com o substantivo a que se referem.
05. “Lembro-me de que ele só usava camisas brancas.” A As cartas estão anexas. / A bebida está inclusa.
oração sublinhada é:
(A) subordinada substantiva completiva nominal f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
(B) subordinada substantiva objetiva indireta Após essas expressões o substantivo fica sempre no
(C) subordinada substantiva predicativa singular e o adjetivo no plural.
(D) subordinada substantiva subjetiva Renato advogou um e outro caso fáceis. / Pusemos numa e
(E) subordinada substantiva objetiva direta noutra bandeja rasas o peixe.

Respostas g) É bom, é necessário, é proibido


01.B \ 02.A \ 03.D \ 04.E \ 05.B Essas expressões não variam se o sujeito não vier
precedido de artigo ou outro determinante.
É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
Concordância verbal e É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
é proibida.
nominal.
h) Muito, pouco, caro
1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
CONCORDÂNCIA NOMINAL
Comi muitas frutas durante a viagem. / Pouco arroz é
suficiente para mim.
Concordância nominal é que o ajuste que fazemos aos
demais termos da oração para que concordem em gênero e
2- Como advérbios: são invariáveis.
número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto, o
Comi muito durante a viagem. / Pouco lutei, por isso perdi
artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso, temos
a batalha.
também o verbo, que se flexionará à sua maneira.
i) Mesmo, bastante
Regra geral: o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome
1- Como advérbios: invariáveis
concordam em gênero e número com o substantivo.
Preciso mesmo da sua ajuda.
A pequena criança é uma gracinha. / O garoto que encontrei
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.
era muito gentil e simpático.
2- Como pronomes: seguem a regra geral.
Casos especiais: veremos alguns casos que fogem à regra
Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
geral mostrada acima.
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
a) Um adjetivo após vários substantivos
j) Menos, alerta
1- Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o
Em todas as ocasiões são invariáveis.
plural ou concorda com o substantivo mais próximo.
Preciso de menos comida para perder peso. / Estamos alerta
Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui. / Irmão
para com suas chamadas.
e primo recém-chegados estiveram aqui.
k) Tal Qual
2- Substantivos de gêneros diferentes: vai para o
“Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o
plural masculino ou concorda com o substantivo mais
consequente.
próximo.
As garotas são vaidosas tais qual a tia. / Os pais vieram
Ela tem pai e mãe louros. / Ela tem pai e mãe loura.
fantasiados tais quais os filhos.
3- Adjetivo funciona como predicativo: vai
l) Possível
obrigatoriamente para o plural.
Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor” ou
O homem e o menino estavam perdidos. / O homem e sua
“pior”, acompanha o artigo que precede as expressões.
esposa estiveram hospedados aqui.
A mais possível das alternativas é a que você expôs.
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa.
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da
1- Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
cidade.
próximo.
Comi delicioso almoço e sobremesa. / Provei deliciosa fruta
e suco.

Língua Portuguesa 80
APOSTILAS OPÇÃO

m) Meio parentes.
1- Como advérbio: invariável.
Estou meio (um pouco) insegura. Respostas
01.D / 02.D / 03.B / 04. a) necessária b) alerta c)
2- Como numeral: segue a regra geral. bastantes d) vazia e) meio / 05. C
Comi meia (metade) laranja pela manhã.
CONCORDÂNCIA VERBAL
n) Só
1- apenas, somente (advérbio): invariável. Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos
Só consegui comprar uma passagem. referindo à relação de dependência estabelecida entre um
termo e outro mediante um contexto oracional.
2- sozinho (adjetivo): variável.
Estiveram sós durante horas. Casos Referentes a Sujeito Simples
1) Sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo em
Questões número e pessoa: O aluno chegou atrasado.

01. Indique o uso INCORRETO da concordância verbal ou 2) O verbo concorda no singular com o sujeito coletivo do
nominal: singular, o verbo permanece na terceira pessoa do
(A) Será descontada em folha sua contribuição sindical. singular: A multidão, apavorada, saiu aos gritos.
(B) Na última reunião, ficou acordado que se realizariam Observação: no caso de o coletivo aparecer seguido de
encontros semanais com os diversos interessados no assunto. adjunto adnominal no plural, o verbo permanecerá no singular
(C) Alguma solução é necessária, e logo! ou poderá ir para o plural: Uma multidão de pessoas saiu aos
(D) Embora tenha ficado demonstrado cabalmente a gritos. / Uma multidão de pessoas saíram aos gritos.
ocorrência de simulação na transferência do imóvel, o pedido
não pode prosperar. 3) Quando o sujeito é representado por expressões
(E) A liberdade comercial da colônia, somada ao fato de D. partitivas, representadas por “a maioria de, a maior parte de, a
João VI ter também elevado sua colônia americana à condição metade de, uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode
de Reino Unido a Portugal e Algarves, possibilitou ao Brasil concordar com o núcleo dessas expressões quanto com o
obter certa autonomia econômica. substantivo que a segue: A maioria dos alunos resolveu ficar.
/ A maioria dos alunos resolveram ficar.
02. Aponte a alternativa em que NÃO ocorre silepse (de
gênero, número ou pessoa): 4) No caso de o sujeito ser representado por expressões
(A) “A gente é feito daquele tipo de talento capaz de fazer aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo
a diferença.” concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de
(B) Todos sabemos que a solução não é fácil. vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas.
(C) Essa gente trabalhadora merecia mais, pois acordam às
cinco horas para chegar ao trabalho às oito da manhã. 5) Em casos em que o sujeito é representado pela
(D) Todos os brasileiros sabem que esse problema vem de expressão “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais
longe... de um candidato se inscreveu no concurso de piadas.
(E) Senhor diretor, espero que Vossa Senhoria seja mais Observação: no caso da referida expressão aparecer
compreensivo. repetida ou associada a um verbo que exprime reciprocidade,
o verbo, necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais
03. A concordância nominal está INCORRETA em: de um aluno, mais de um professor contribuíram na campanha
(A) A mídia julgou desnecessária a campanha e o de doação de alimentos. / Mais de um formando se
envolvimento da empresa. abraçaram durante as solenidades de formatura.
(B) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa
desnecessária. 6) O sujeito for composto da expressão “um dos que”, o
(C) A mídia julgou desnecessário o envolvimento da verbo permanecerá no plural: Paulo é um dos que mais
empresa e a campanha. trabalhar.
(D) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa
desnecessárias. 7) Quanto aos relativos à concordância com locuções
pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
04. Complete os espaços com um dos nomes colocados nos quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário
parênteses. nos atermos a duas questões básicas:
(A) Será que é ____ essa confusão toda? (necessário/ - No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural,
necessária) o verbo poderá com ele concordar, como poderá também
(B) Quero que todos fiquem ____. (alerta/ alertas) concordar com o pronome pessoal: Alguns
(C) Houve ____ razões para eu não voltar lá. (bastante/ de nós o receberemos. / Alguns de nós o receberão.
bastantes) - Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso
(D) Encontrei ____ a sala e os quartos. (vazia/vazios) no singular, o verbo também permanecerá no singular: Algum
(E) A dona do imóvel ficou ____ desiludida com o inquilino. de nós o receberá.
(meio/ meia)
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo
05. Quanto à concordância nominal, verifica-se ERRO em: pronome “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do
(A) O texto fala de uma época e de um assunto polêmicos. singular ou poderá concordar com o antecedente desse
(B) Tornou-se clara para o leitor a posição do autor sobre pronome: Fomos nós quem contou toda a verdade para ela. /
o assunto. Fomos nós quem contamos toda a verdade para ela.
(C) Constata-se hoje a existência de homem, mulher e
criança viciadas. 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela
(D) Não será permitido visita de amigos, apenas a de palavra “que”, o verbo deverá concordar com o termo que

Língua Portuguesa 81
APOSTILAS OPÇÃO

antecede essa palavra: Nesta empresa somos nós Questões


que tomamos as decisões. / Em casa sou eu que decido tudo.
01. A concordância realizou-se adequadamente em qual
10) No caso de o sujeito aparecer representado por alternativa?
expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará (A) Os Estados Unidos é considerado, hoje, a maior
com o numeral ou com o substantivo a que se refere essa potência econômica do planeta, mas há quem aposte que a
porcentagem: 50% dos funcionários aprovaram a decisão da China, em breve, o ultrapassará.
diretoria. / 50% do eleitorado apoiou a decisão. (B) Em razão das fortes chuvas haverão muitos candidatos
Observações: que chegarão atrasados, tenho certeza disso.
- Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de (C) Naquela barraca vendem-se tapiocas fresquinhas, pode
porcentagem, esse deverá concordar com o numeral: comê-las sem receio!
Aprovaram a decisão da diretoria 50% dos funcionários. (D) A multidão gritaram quando a cantora apareceu na
- Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no janela do hotel!
singular: 1% dos funcionários não aprovou a decisão da
diretoria. 02. Uma pergunta
- Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os Frequentemente cabe aos detentores de cargos de
50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. responsabilidade tomar decisões difíceis, de graves
consequências. Haveria algum critério básico, essencial, para
11) Quando o sujeito estiver representado por pronomes amparar tais escolhas? Antonio Gramsci, notável pensador e
de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira político italiano, propôs que se pergunte, antes de tomar a
pessoa do singular ou do plural: Vossas decisão: - Quem sofrerá?
Majestades gostaram das homenagens. Vossas Excelência agiu Para um humanista, a dor humana é sempre prioridade a
com inteligência. se considerar.
(Salvador Nicola, inédito)
12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no
próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos singular para preencher adequadamente a lacuna da frase:
que os determinam: (A) A nenhuma de nossas escolhas ...... (poder) deixar de
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
ser, este permanece no singular, contanto que o predicativo (B) Não se ...... (poupar) os que governam de refletir sobre
também esteja no singular: Memórias póstumas de Brás o peso de suas mais graves decisões.
Cubas é uma criação de Machado de Assis. (C) Aos governantes mais responsáveis não ...... (ocorrer)
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também tomar decisões sem medir suas consequências.
permanece no plural: Os Estados Unidos são uma potência (D) A toda decisão tomada precipitadamente ......
mundial. (costumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele (E) Diante de uma escolha, ...... (ganhar) prioridade,
nem aparece, o verbo permanece no singular: Estados Unidos recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
é uma potência mundial. humana.

Casos Referentes a Sujeito Composto 03. Em um belo artigo, o físico Marcelo Gleiser, analisando
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas a constatação do satélite Kepler de que existem muitos
gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando planetas com características físicas semelhantes ao nosso,
relacionado a dois pressupostos básicos: reafirmou sua fé na hipótese da Terra rara, isto é, a tese de que
- Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as a vida complexa (animal) é um fenômeno não tão comum no
demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio. Universo.
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar na Gleiser retoma as ideias de Peter Ward expostas de modo
2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. / Tu e ele são primos. persuasivo em “Terra Rara”. Ali, o autor sugere que a vida
microbiana deve ser um fenômeno trivial, podendo pipocar até
2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer em mundos inóspitos; já o surgimento de vida multicelular na
anteposto (antes) ao verbo, este permanecerá no plural: O pai Terra dependeu de muitas outras variáveis físicas e históricas,
e seus dois filhos compareceram ao evento. o que, se não permite estimar o número de civilizações extra
terráqueas, ao menos faz com que reduzamos nossas
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto (depois) ao expectativas.
verbo, este poderá concordar com o núcleo mais próximo ou Uma questão análoga só arranhada por Ward é a da
permanecer no plural: Compareceram ao evento o pai e seus inexorabilidade da inteligência. A evolução de organismos
dois filhos. Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos. complexos leva necessariamente à consciência e à
inteligência?
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com Robert Wright diz que sim, mas seu argumento é mais
mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: matemático do que biológico: complexidade engendra
Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do complexidade, levando a uma corrida armamentista entre
mundo. espécies cujo subproduto é a inteligência.
Stephen J. Gould e Steven Pinker apostam que não. Para
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras eles, é apenas devido a uma sucessão de pré-adaptações e
sinônimas ou ordenado por elementos em gradação, o verbo coincidências que alguns animais transformaram a capacidade
poderá permanecer no singular ou ir para o plural: Minha de resolver problemas em estratégia de sobrevivência. Se
vitória, minha conquista, minha premiação são frutos de meu rebobinássemos o filme da evolução e reencenássemos o
esforço. / Minha vitória, minha conquista, minha premiação é processo mudando alguns detalhes do início, seriam grandes
fruto de meu esforço. as chances de não chegarmos a nada parecido com a
inteligência.
(Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo, 2012.)

Língua Portuguesa 82
APOSTILAS OPÇÃO

A frase em que as regras de concordância estão No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
plenamente respeitadas é: caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração
(A) Podem haver estudos que comprovem que, no passado, "Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o
as formas mais complexas de vida - cujo habitat eram oceanos lugar a que se vai, possui, no padrão culto da língua,
ricos em nutrientes - se alimentavam por osmose. sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem
(B) Cada um dos organismos simples que vivem na divergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns
natureza sobrevivem de forma quase automática, sem se verbos, e a regência culta.
valerem de criatividade e planejamento.
(C) Desde que observe cuidados básicos, como obter Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
energia por meio de alimentos, os organismos simples podem acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é
preservar a vida ao longo do tempo com relativa facilidade. um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
(D) Alguns animais tem de se adaptar a um ambiente cheio formas em frases distintas.
de dificuldades para obter a energia necessária a sua
sobrevivência e nesse processo expõe- se a inúmeras ameaças. Verbos Intransitivos
(E) A maioria dos organismos mais complexos possui um Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
sistema nervoso muito desenvolvido, capaz de se adaptar a importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
mudanças ambientais, como alterações na temperatura. aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
a) Chegar, Ir;
04. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais
a concordância verbal está correta em: de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(A) Ela não pode usar o celular e chamar um taxista, pois indicar destino ou direção são: a, para.
acabou os créditos. Fui ao teatro.
(B) Esta empresa mantêm contato com uma rede de táxis Adjunto Adverbial de Lugar
que executa diversos serviços para os clientes.
(C) À porta do aeroporto, havia muitos táxis disponíveis Ricardo foi para a Espanha.
para os passageiros que chegavam à cidade. Adjunto Adverbial de Lugar
(D) Passou anos, mas a atriz não se esqueceu das calorosas
lembranças que seu tio lhe deixou. b) Comparecer;
(E) Deve existir passageiros que aproveitam a corrida de O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
táxi para bater um papo com o motorista. por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último
Respostas jogo.
01.C / 02.C / 03.E / 04.C
Verbos Transitivos Diretos
Os verbos transitivos diretos são complementados por
objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição para
Regência verbal e nominal. o estabelecimento da relação de regência. Ao empregar esses
verbos, devemos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os,
as atuam como objetos diretos. Esses pronomes podem
assumir as formas lo, los, la, las (após formas verbais
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas
verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e lhes são,
Regência Verbal quando complementos verbais, objetos indiretos.
São verbos transitivos diretos: abandonar, abençoar,
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, adorar,
os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar,
e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). condenar, conhecer, conservar, convidar, defender, eleger,
O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar, dentre
conhecermos as diversas significações que um verbo pode outros.
assumir com a simples mudança ou retirada de uma Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como
preposição. o verbo amar:
Observe: Amo aquele rapaz. / Amo-o.
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, Amo aquela moça. / Amo-a.
contentar. Amam aquele rapaz. / Amam-no.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa "causar agrado Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
ou prazer", satisfazer.
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
"agradar a alguém". adnominais).
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
Saiba que: Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
O conhecimento do uso adequado das preposições é um Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
também nominal). As preposições são capazes de modificar Verbos Transitivos Indiretos
completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os Os verbos transitivos indiretos são complementados por
exemplos: objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma
Cheguei ao metrô. preposição para o estabelecimento da relação de regência. Os
Cheguei no metrô. pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que
podem atuar como objetos indiretos são o "lhe", o "lhes", para

Língua Portuguesa 83
APOSTILAS OPÇÃO

substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
as como complementos de verbos transitivos indiretos. Com eles)
os objetos indiretos que não representam pessoas, usam-se
pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em Obs.: a mesma regência do verbo informar é usada para os
lugar dos pronomes átonos lhe, lhes. seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
a) Consistir - tem complemento introduzido pela Comparar
preposição "em". Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para preposições "a" ou "com" para introduzir o complemento
todos. indireto.
Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma
b) Obedecer e Desobedecer - possuem seus complementos criança.
introduzidos pela preposição "a".
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Pedir
Eles desobedeceram às leis do trânsito. Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
c) Responder - tem complemento introduzido pela pessoa.
preposição "a". Esse verbo pede objeto indireto para indicar "a Pedi-lhe favores.
quem" ou "ao que" se responde. Objeto Indireto Objeto Direto
Respondi ao meu patrão.
Respondemos às perguntas. Pedi-lhe que mantivesse em silêncio.
Respondeu-lhe à altura. Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva
Objetiva Direta
Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
Saiba que:
analítica. Veja: O questionário foi respondido corretamente. /
1) A construção "pedir para", muito comum na linguagem
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
entanto, é considerada correta quando a
d) Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complementos
palavra licença estiver subentendida.
introduzidos pela preposição "com".
Antipatizo com aquela apresentadora.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam
para uma minoria privilegiada.
Observe que, nesse caso, a preposição "para" introduz uma
oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
(para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Os verbos transitivos diretos e indiretos são
acompanhados de um objeto direto e um indireto. Merecem
2) A construção "dizer para", também muito usada
destaque, nesse grupo:
popularmente, é igualmente considerada incorreta.
Agradecer, Perdoar e Pagar
Preferir
São verbos que apresentam objeto direto
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas.
indireto introduzido pela preposição "a". Por Exemplo:
Veja os exemplos:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Agradeço aos ouvintes a audiência.
Objeto Indireto Objeto Direto
Prefiro trem a ônibus.
Obs.: na língua culta, o verbo "preferir" deve ser usado
Cristo ensina que é preciso perdoar o pecado ao pecador. sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes,
Objeto Direto Objeto Indireto um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo
Paguei o débito ao cobrador. existente no próprio verbo (pre).
Objeto Direto Objeto Indireto
Mudança de Transitividade versus Mudança de
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com Significado
particular cuidado. Observe: Há verbos que, de acordo com a mudança de
Agradeci o presente. / Agradeci-o. transitividade, apresentam mudança de significado. O
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. conhecimento das diferentes regências desses verbos é um
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. recurso linguístico muito importante, pois além de permitir a
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. correta interpretação de passagens escritas, oferece
Paguei minhas contas. / Paguei-as. possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. principais, estão:

Informar Agradar
- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto - Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos,
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. acariciar.
Informe os novos preços aos clientes. Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos quando o revê.
preços) Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. /
Cláudia não perde oportunidade de agradá-lo.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja as - Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado
construções: a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento introduzido
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços. pela preposição "a".
O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.

Língua Portuguesa 84
APOSTILAS OPÇÃO

Aspirar b) Ter como consequência, trazer como consequência,


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar acarretar, provocar
(o ar), inalar. Liberdade de escolha implica amadurecimento político de
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) um povo.
- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
como ambição. - Como transitivo direto e indireto, significa comprometer,
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a envolver
elas) Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
Obs.: como o objeto direto do verbo "aspirar" não é Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
pessoa, mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas indireto e rege com preposição "com".
"lhe" e "lhes" e sim as formas tônicas "a ele (s)", " a ela (s)". Veja Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
o exemplo:
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) Proceder
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
Assistir cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar agir. Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de
assistência a, auxiliar. Por Exemplo: adjunto adverbial de modo.
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. As afirmações da testemunha procediam, não havia como
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. refutá-las.
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, Você procede muito mal.
presenciar, estar presente, caber, pertencer. - Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a
preposição" de") e fazer, executar (rege complemento
Exemplos: introduzido pela preposição "a") é transitivo indireto.
Assistimos ao documentário. O avião procede de Maceió.
Não assisti às últimas sessões. Procedeu-se aos exames.
Essa lei assiste ao inquilino. O delegado procederá ao inquérito.
Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo "assistir" é
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de Querer
lugar introduzido pela preposição "em". - Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
Assistimos numa conturbada cidade. vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Chamar Queremos um país melhor.
- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, - Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
solicitar a atenção ou a presença de. estimar, amar.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá- Quero muito aos meus amigos.
la. Ele quer bem à linda menina.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Despede-se o filho que muito lhe quer.
- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere Visar
predicativo preposicionado ou não. - Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar,
A torcida chamou o jogador mercenário. fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
A torcida chamou ao jogador mercenário. O homem visou o alvo.
A torcida chamou o jogador de mercenário. O gerente não quis visar o cheque.
A torcida chamou ao jogador de mercenário. - No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição "a".
Custar O ensino deve sempre visar ao progresso social.
- Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial. público.
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou Regência Nominal
transitivo indireto.
É o nome da relação existente entre
Muito custa viver tão longe da família. um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos
Verbo Oração Subordinada Substantiva Subjetiva regidos por esse nome. Essa relação é sempre intermediada
Intransitivo Reduzida de Infinitivo por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso
levar em conta que vários nomes apresentam exatamente o
Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime
atitude. de um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva -
Subjetiva Reduzida de Infinitivo nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos
Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que introduzidos pela preposição "a". Veja:
atribuem ao verbo "custar" um sujeito representado por Obedecer a algo/ a alguém.
pessoa. Observe o exemplo abaixo: Obediente a algo/ a alguém.
Custei para entender o problema.
Forma correta: Custou-me entender o problema. Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da
preposição ou preposições que os regem. Observe-os
Implicar atentamente e procure, sempre que possível, associar esses
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.
a) dar a entender, fazer supor, pressupor
Suas atitudes implicavam um firme propósito.

Língua Portuguesa 85
APOSTILAS OPÇÃO

Substantivos Suspeito de
Admiração a, por Desejoso de
Devoção a, para, com, por Natural de
Medo a, de Vazio de
Aversão a, para, por
Doutor em Advérbios
Obediência a - Longe de;
Atentado a, contra - Perto de.
Dúvida acerca de, em, sobre
Ojeriza a, por Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir
Bacharel em o regime dos adjetivos de que são formados: paralela à;
Horror a paralelamente a; relativa a; relativamente a.38
Proeminência sobre
Capacidade de, para Questões
Impaciência com
Respeito a, com, para com, por 01. (Administrador - FCC)
... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras
Adjetivos ciências ...
Acessível a O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o
Diferente de grifado acima está empregado em:
Necessário a (A) ...astros que ficam tão distantes...
Acostumado a, com (B) ...que a astronomia é uma das ciências...
Entendido em (C) ...que nos proporcionou um espírito...
Nocivo a (D) ...cuja importância ninguém ignora...
Afável com, para com (E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro...
Equivalente a
Paralelo a 02. (Agente de Apoio Administrativo - FCC)
Agradável a ...pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos filhos
Escasso de do sueco.
Parco em, de O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de
Alheio a, de complementos que o grifado acima está empregado em:
Essencial a, para (A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO...
Passível de (B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?
Análogo a (C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
Fácil de (D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro...
Preferível a (E) O delegado apenas olhou-a espantado com o
Ansioso de, para, por atrevimento.
Fanático por
Prejudicial a 03. (Agente de Defensoria Pública - FCC)
Apto a, para ... constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes
Favorável a desiguais...
Prestes a O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o
Ávido de grifado acima está empregado em:
Generoso com (A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a
Propício a extremos de sutileza.
Benéfico a (B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos
Grato a, por troncos mais robustos.
Próximo a (C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam,
Capaz de, para não raro, quem...
Hábil em (D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na
Relacionado com serra de Tunuí...
Compatível com (E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o
Habituado a gentio, mestre e colaborador...
Relativo a
Contemporâneo a, de 04. (Agente Técnico - FCC)
Idêntico a ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...
Satisfeito com, de, em, por O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o da
Contíguo a frase acima se encontra em:
Impróprio para (A) A palavra direito, em português, vem de directum, do
Semelhante a verbo latino dirigere...
Contrário a (B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das
Indeciso em sociedades...
Sensível a (C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela
Curioso de, por justiça.
Insensível a (D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações
Sito em da justiça...
Descontente com (E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o
Liberal com sentimento de justiça.

38 www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

Língua Portuguesa 86
APOSTILAS OPÇÃO

05. Leia a tira a seguir. 08. (Analista de Sistemas - VUNESP) Assinale a


alternativa que completa, correta e respectivamente, as
lacunas do texto, de acordo com as regras de regência.
Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já
assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem
corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que a
mídia pode exercer sobre os jovens.
(A) dos … na
(B) nos … entre a
(C) aos … para a
(D) sobre os … pela
(E) pelos … sob a

09. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças


Públicas - VUNESP) Considerando a norma-padrão da língua,
assinale a alternativa em que os trechos destacados estão
corretos quanto à regência, verbal ou nominal.
(A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais de
dez mil tomadas.
(B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver
um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
Considerando as regras de regência da norma-padrão da
(C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de criar
língua portuguesa, a frase do primeiro quadrinho está
logotipos e negociar.
corretamente reescrita, e sem alteração de sentido, em:
(D) O taxista levou o autor a indagar no número de
(A) Ter amigos ajuda contra o combate pela depressão.
tomadas do edifício.
(B) Ter amigos ajuda o combate sob a depressão.
(E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor
(C) Ter amigos ajuda do combate com a depressão.
reparasse a um prédio na marginal.
(D) Ter amigos ajuda ao combate na depressão.
(E) Ter amigos ajuda no combate à depressão.
10. (Assistente de Informática II - VUNESP) Assinale a
alternativa que substitui a expressão destacada na frase,
06. (Escrevente TJ SP - VUNESP) Assinale a alternativa
conforme as regras de regência da norma-padrão da língua e
em que o período, adaptado da revista Pesquisa Fapesp de
sem alteração de sentido.
junho de 2012, está correto quanto à regência nominal e à
Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de
pontuação.
direitos dos trabalhadores domésticos.
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
(A) da
seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais
(B) na
notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em
(C) pela
outros.
(D) sob a
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam
E) sobre a
rapidamente seu espaço na carreira científica; ainda que o
avanço seja mais notável, em alguns países, o Brasil é um
Respostas
exemplo!, do que em outros.
1.D / 2.D / 3.A / 4.A / 5.E / 6.D / 7.A / 8.C / 9.A / 10.C
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam
rapidamente seu espaço, na carreira científica, ainda que o
avanço seja mais notável, em alguns países: o Brasil é um
exemplo, do que em outros. Colocação pronominal.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam
rapidamente seu espaço na carreira científica, ainda que o
avanço seja mais notável em alguns países - o Brasil é um
exemplo - do que em outros. COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS
(E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, ÁTONOS
seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais
notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi39, a
outros. colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais
oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se
07. (Papiloscopista Policial - VUNESP) Assinale a referem.
alternativa correta quanto à regência dos termos em destaque. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe,
(A) Ele tentava convencer duas senhoras a assumir a lhes, nos e vos.
responsabilidade pelo problema. O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na
(B) A menina tinha o receio a levar uma bronca por ter se oração em relação ao verbo:
perdido. 1. Próclise: pronome antes do verbo;
(C) A garota tinha apenas a lembrança pelo desenho de 2. Ênclise: pronome depois do verbo;
um índio na porta do prédio. 3. Mesóclise: pronome no meio do verbo.
(D) A menina não tinha orgulho sob o fato de ter se
perdido de sua família. Próclise
(E) A família toda se organizou para realizar a procura à A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
garotinha. - Palavras com sentido negativo: Nada me faz querer sair

39http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php
http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal.htm

Língua Portuguesa 87
APOSTILAS OPÇÃO

dessa cama. / Não se trata de nenhuma novidade. “Basta apresentar um documento” por um pronome, de acordo
com a norma-padrão, a nova redação deveria ser
- Advérbios: Nesta casa se fala alemão. / Naquele dia me (A) Basta apresenta-lo.
falaram que a professora não veio. (B) Basta apresentar-lhe.
(C) Basta apresenta-lhe.
- Pronomes relativos: A aluna que me mostrou a tarefa não (D) Basta apresentá-la.
veio hoje. / Não vou deixar de estudar os conteúdos que me (E) Basta apresentá-lo.
falaram.
03. Em qual período, o pronome átono que substitui o
- Pronomes indefinidos: Quem me disse isso? / Todos se sintagma em destaque tem sua colocação de acordo com a
comoveram durante o discurso de despedida. norma-padrão?
(A) O porteiro não conhecia o portador do embrulho –
- Pronomes demonstrativos: Isso me deixa muito feliz! / conhecia-o
Aquilo me incentivou a mudar de atitude! (B) Meu pai tinha encontrado um marinheiro na praça
Mauá – tinha encontrado-o.
- Preposição seguida de gerúndio: Em se tratando de (C) As pessoas relatarão as suas histórias para o registro
qualidade, o Brasil Escola é o site mais indicado à pesquisa no Museu – relatá-las-ão.
escolar. (D) Quem explicou às crianças as histórias de seus
antepassados? – explicou-lhes.
- Conjunção subordinativa: Vamos estabelecer critérios, (E) Vinham perguntando às pessoas se aceitavam a ideia
conforme lhe avisaram. de um museu virtual – Lhes vinham perguntando.

Ênclise 04. De acordo com a norma-padrão e as questões


A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não gramaticais que envolvem o trecho “Frustrei-me por não ver o
aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A Escola”, é correto afirmar que
ênclise vai acontecer quando: (A) “me” poderia ser deslocado para antes do verbo que
acompanha.
- O verbo estiver no imperativo afirmativo: Amem-se uns (B) “me” deveria obrigatoriamente ser deslocado para
aos outros. / Sigam-me e não terão derrotas. antes do verbo que acompanha.
(C) a enclise em “Frustrei-me” e facultativa.
- O verbo iniciar a oração: Diga-lhe que está tudo bem. / (D) a inclusao do adverbio Nao, no inıcio da oraçao
Chamaram-me para ser sócio. “Frustrei-me”, tornaria a proclise obrigatoria.
(E) a enclise em “Frustrei-me” e obrigatoria.
- O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da
preposição “a”: Naquele instante os dois passaram a odiar-se. 05. A substituição do elemento grifado pelo pronome
/ Passaram a cumprimentar-se mutuamente. correspondente foi realizada de modo INCORRETO em:
(A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
- O verbo estiver no gerúndio: Não quis saber o que (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
aconteceu, fazendo-se de despreocupada. Despediu-se, (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
beijando-me a face. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
- Houver vírgula ou pausa antes do verbo: Se passar no
vestibular em outra cidade, mudo-me no mesmo instante. / Se Respostas
não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas. 01.D/02.E/03.C/04.D/05.D

Mesóclise
A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no Emprego dos sinais de
futuro do presente ou no futuro do pretérito:
A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela se
pontuação e sua função no
realizará). texto.
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma
proposta a você).
PONTUAÇÃO
Questões
Para a elaboração de um texto escrito deve-se considerar o
01. Considerada a norma culta escrita, há correta uso adequado dos sinais de pontuação como: espaços,
substituição de estrutura nominal por pronome em: pontos, vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, travessão,
(A) Agradeço antecipadamente sua Resposta // Agradeço- parênteses, reticências, aspas etc.
lhes antecipadamente. Tais sinais têm papéis variados no texto escrito e, se
(B) do verbo fabricar se extraiu o substantivo fábrica. // do utilizados corretamente, facilitam a compreensão e
verbo fabricar se extraiu-lhe. entendimento do texto.
(C) não faltam lexicógrafos // não faltam-os.
(D) Gostaria de conhecer suas considerações // Gostaria Vírgula
de conhecê-las.
(E) incluindo a palavra ‘aguardo’ // incluindo ela. Algumas pessoas colocam vírgulas por causa de pausas
feitas na fala.40 A vírgula, na escrita, não necessariamente é
02. Caso fosse necessário substituir o termo destacado em

40 SCHOCAIR. Nelson M. Gramática do Português Instrumental. 2ª. ed Niteroi:

Impetus, 2007.

Língua Portuguesa 88
APOSTILAS OPÇÃO

uma pausa na fala, tampouco é usada para pausar quando se lê - Antes de enumerações. Ex.: Compre três frutas hoje:
um trecho virgulado. maçã, uva e laranja.
Assim, vale dizer que o importante é, primeiro, saber em
que situações gerais não se usa a vírgula. - Iniciando citações. Ex.: “Segundo o folclórico Vicente
Mateus: ‘Quem está na chuva é para se queimar’”42.
Cuidado!
Em orações substantivas com função de sujeito iniciadas - Antes de orações que explicam o enunciado anterior.
por quem, a vírgula entre tal oração e o verbo da principal é Ex.: Não foi explicado o que deveríamos fazer: o que nos deixa
facultativa, segundo Luiz A. Sacconi: “Quem lê sabe mais.” ou insatisfeitos.
“Quem lê, sabe mais”. Os demais gramáticos nada falam sobre
isso, logo deduzimos que não pode haver vírgula entre sujeito - Depois de verbos que introduzem a fala. Ex.: “(...) e
e verbo. disse: aqui não podemos ficar!”

Não se separa por vírgula: Ponto e Vírgula


- sujeito de predicado;
- objeto de verbo; O ponto e vírgula é usado para marcar uma pausa maior do
- adjunto adnominal de nome; que a da vírgula. Seu objetivo é colaborar com a clareza do
- complemento nominal de nome; texto. Exemplos:
- oração principal da subordinada substantiva (desde que
esta não seja apositiva nem apareça na ordem inversa). Os dois rapazes estavam desesperados por dinheiro;
Ernesto não tinha dinheiro nem crédito. (pausa longa)
Aplicação da Vírgula
A vírgula marca uma breve pausa e é obrigatória nos Sonhava em comprar todos os sapatos da loja; comprei,
seguintes casos: porém, apenas um par. (separação da oração adversativa na
qual a conjunção - porém - aparece no meio da oração)
1° Inversão de Termos. Ex.: Ontem, à medida que eles
corrigiam as questões, eu me preocupava com o resultado da Enumeração com explicitação - Comprei alguns livros:
prova. de matemática, para estudar para o concurso; um romance,
para me distrair nas horas vagas; e um dicionário, para
2° Intercalações de Termos. Ex.: A distância, que tudo enriquecer meu vocabulário.
apaga, há de me fazer esquecê-lo.
Enumeração com ponto e vírgula, mas sem vírgula,
3° Inspeção de Simples Juízo. Ex.: “Esse homem é para marcar distribuição - Comprei os produtos no
suspeito”, dizia a vizinhança. supermercado: farinha para um bolo; tomates para o molho; e
pão para o café da manhã.
4° Enumerações
- sem gradação: Coleciono livros, revistas, jornais, Parênteses
discos.41
- com gradação: Não compreendo o ciúme, a saudade, a Os parênteses, muito semelhantes aos travessões e às
dor da despedida. vírgulas, são empregados para:

5° Vocativos e Apostos - Isolar datas. Ex.: Refiro-me aos soldados da Primeira


- vocativos: Queridos ouvintes, nossa programação Guerra Mundial (1914-1918).
passará por pequenas mudanças.
- apostos: É aqui, nesta querida escola, que nos - Isolar siglas. Ex.: A taxa de desemprego subiu para 5,3%
encontramos. da população economicamente ativa (PEA)...

6° Omissões de Termos - Isolar explicações ou retificações. Ex.: Eu expliquei


- elipse: A praça deserta, ninguém àquela hora na rua. uma vez (ou duas vezes) o motivo de minha preocupação.
(Omitiu-se o verbo “estava” após o vocábulo “ninguém”, ou
seja, ocorreu elipse do verbo estava)
- zeugma: Na classe, alguns alunos são interessados; Reticências
outros, (são) relapsos. (Supressão do verbo “são” antes do
vocábulo “relapsos”) As reticências são empregadas para:

7° Termos Repetidos. Ex.: Nada, nada há de me derrotar. - Indicar a interrupção de uma frase, deixando-a com
sentido incompleto. Ex.: Não consegui falar com a Laura....
8° Sequência de Adjuntos Adverbiais. Ex.: Saíram do Quem sabe se eu ligar mais tarde...
museu, ontem, por voltas das 17h.
- Sugerir prolongamento de ideias. Ex.: “Sua tez, alva e
Dois Pontos pura como um floco de algodão, tingia-se nas faces duns longes
cor-de-rosa...” (José de Alencar)
Os dois-pontos marcam uma supressão de voz em frase
ainda não concluída. Em termos práticos, este sinal é usado - Indicar dúvida ou hesitação. Ex.: Não sei... Acho que...
para: Não quero ir hoje.

41 SCHOCAIR, Nelson M. Gramática Moderna da Língua Portuguesa: Teoria e 42 SCHOCAIR, Nelson Maia. Gramática Moderna da Língua Portuguesa: Teoria

prática. 6ª ed. Rio de janeiro, 2012, p.488. e prática. 6ª ed. Rio de janeiro, 2012, p.488.

Língua Portuguesa 89
APOSTILAS OPÇÃO

- Indicar omissão de palavras ou frases no período. Ex.: Chama-se ponto parágrafo aquele que encerra um período
“Se o lindo semblante não se impregnasse constantemente, (...) e a ele se segue outro período em linha diferente. Esse último
ninguém veria nela a verdadeira fisionomia de Aurélia, e sim a ponto agora (antes do Esse) é chamado de ponto continuativo,
máscara de alguma profunda decepção.” (José de Alencar) pois a ele se segue outro período no mesmo parágrafo. Ponto
final é este que virá agora.
Travessão
Obs.: Estilisticamente, podemos usar o ponto para, em
O travessão é um sinal bastante usado na narração, na períodos curtos, empregar dinamicidade, velocidade à leitura
descrição, na dissertação e no diálogo, portanto, figura do texto: “Era um garoto pobre. Mas tinha vontade de crescer
repetida em qualquer prova; é um instrumento eficaz em uma na vida. Estudou. Subiu. Foi subindo mais. Hoje é juiz do
redação. Pode vir em dupla, se vier intercalado na frase. Veja Supremo.”. Usa-se muito em narrações em geral.
seus usos:
Ponto de Interrogação
- Nos diálogos, para marcar a fala das personagens. Ex.:
As meninas gritaram: - Venham nos buscar! O ponto de interrogação marca uma entoação ascendente
(elevação da voz) com tom questionador. Usa-se neste caso:
- No meio de sentenças, para dar ênfase em
informações. Ex.: O garçom - creio que já lhe falei - está muito - Em perguntas diretas: Como você se chama?
bem no novo serviço - é o que ouvi dizer. - Às vezes, juntamente com o ponto de exclamação:
Quem ganhou na loteria? Você. Eu?!
Ponto de Exclamação
Parágrafo
O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de
qualquer frase com entonação exclamativa, indicando Constitui cada uma das secções de frases de um escritor;
altissonância, exaltação de espírito. começa por letra maiúscula, um pouco além do ponto em que
começam as outras linhas.
- Após vocativos. Ex.: Vem, Fabiano!
Colchetes
- Após imperativos. Ex.: Corram!
Utilizados na linguagem científica.
- Após interjeição. Ex.: Ai! / Ufa!
Asterisco
- Após expressões ou frases de caráter emocional. Ex.:
Quantas pessoas! Empregado para chamar a atenção do leitor para alguma
nota (observação).
Aspas
Barra
As aspas são usadas comumente em citações, mas também
há outras funções bem interessantes. Atualmente o negrito e o Aplicada nas abreviações das datas e em algumas
itálico vêm substituindo frequentemente o uso das aspas. abreviaturas.
Resumindo, elas são empregadas:
- Isolam termos distantes da norma culta, como gírias, Hífen
neologismos, arcaísmos, expressões populares entre
outros. Ex.: Eles tocaram “flashback”, “tipo assim” anos 70 e Usado para ligar elementos de palavras compostas e para
80. Foi um verdadeiro “show”. unir pronomes átonos a verbos. Exemplo: guarda-roupa.

- Delimitam transcrições ou citações textuais. Ex.: Questões


Segundo Rui Barbosa: “A política afina o espírito.”
01. (IFTO - Auditor) Marque a alternativa em que a
- Isolam estrangeirismos. Ex.: Os restaurantes “fast food” ausência de vírgula não altera o sentido do enunciado.
têm reinado na cidade. (A) O professor espera um, sim.
(B) Recebo, obrigada.
Ponto (C) Não, vá ao estacionamento do campus.
(D) Não, quero abandonar minhas funções no trabalho.
Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o fim de (E) Hoje, podem ser adquiridas as impressoras licitadas.
uma frase declarativa de um período simples ou composto.
Pode substituir a vírgula quando o autor quer realçar, 02. (MPE/GO - Secretário Auxiliar) Assinale a alternativa
enfatizar o que vem após (evita-se isso em linguagem formal). correta quanto ao uso da pontuação.
– Posso ouvir o vento assoprar com força. Derrubando (A) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser
tudo! uma extensão de nossa personalidade.
(B) Os congestionamentos e o número de motoristas na
O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas: rua, são as principais causas da ira de trânsito.
fev. = fevereiro, hab.= habitante, rod. = rodovia, etc. = (C) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar
etecetera. os níveis de estresse em alguns motoristas.
(D) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque
O ponto do etc. termina o período, logo não pode haver você está junto; com os outros motoristas cujos
outro ponto: “..., feijão, arroz, etc..”. Absurdo também é usar etc. comportamentos, são desconhecidos.
seguido de reticências: “... feijão, arroz, etc....”. (E) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja
aliviada.

Língua Portuguesa 90
APOSTILAS OPÇÃO

03. (SEGEP/MA - Analista Ambiental - FCC) A frase 05. (MPE/AL - Analista do Ministério Público -
escrita com correção é: FGV/2018)
(A) Humberto de Campos, jornalista, critico, contista, e
memorialista nasceu, em Miritiba, hoje Humberto de Campos OPORTUNISMO À DIREITA E À ESQUERDA
no Maranhão, em 1886, e falesceu, no Rio de Janeiro em 1934.
(B) O escritor Humberto de Campos, em 1933, publicou o Numa democracia, é livre a expressão, estão garantidos o
livro que veio à ser considerado, o mais celebre de sua obra: direito de reunião e de greve, entre outros, obedecidas leis e
Memórias, crônica dos começos de sua vida. regras, lastreadas na Constituição. Em um regime de
(C) Em 1912, Humberto de Campos, transferiu-se para o liberdades, há sempre o risco de excessos, a serem
Rio de Janeiro, e entrou para O Imparcial, na fase em que ali devidamente contidos e seus responsáveis, punidos, conforme
encontrava-se um grupo de eximios escritores. estabelecido na legislação.
(D) De infância pobre e orfão de pai aos seis anos; É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos
Humberto de Campos, começou a trabalhar cedo no comércio, caminhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, da
como meio de subsistencia. ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em se
(E) Humberto de Campos publicou seu primeiro livro em beneficiar do barateamento do combustível.
1910, a coletânea de versos intitulada Poeira; em 1920, já Sempre há, também, o oportunismo político-ideológico
membro da Academia Brasileira de Letras, foi eleito deputado para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de eleição, com
federal pelo Maranhão. o objetivo de obter apoio a candidatos. Não faltam, também, os
arautos do quanto pior, melhor, para desgastar governantes e
04. (TRT 2ª Região/SP - Analista Judiciário - reforçar seus projetos de poder, por mais delirantes que sejam.
FCC/2018) Também aqui vale o que está delimitado pelo estado
democrático de direito, defendido pelos diversos
De cabeça pra baixo instrumentos institucionais de que conta o Estado – Polícia,
Justiça, Ministério Público, Forças Armadas etc.
− Esse mundo está ficando de cabeça pra baixo! A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias de
É uma conhecida frase, que sucessivas gerações vêm suprimento que mantêm o sistema produtivo funcionando, do
frequentando. Ela logo surge a propósito de qualquer coisa que qual depende a sobrevivência física da população. Isso não
se considere uma novidade despropositada, irritante: modelo pode ser esquecido e serve de alerta para que as autoridades
de roupa mais ousada, último grande sucesso musical, desenvolvam planos de contingência.
aumento milionário no salário de um jogador de futebol, a O Globo, 31/05/2018.
longa estiagem na estação chuvosa, a avalanche de crimes no
jornal... A ideia é sempre demonstrar que a vida e o mundo já “Numa democracia, (1) é livre a expressão, estão
foram muito melhores, que a passagem do tempo leva garantidos o direito de reunião e de greve, (2) entre outros,
inexoravelmente à perversão ou ao desmoronamento dos obedecidas leis e regras, (3) lastreadas na Constituição. Em um
valores autênticos, que uma geração construiu e que a seguinte regime de liberdades, (4) há sempre o risco de excessos, (5) a
apagou. serem devidamente contidos e seus responsáveis, punidos,
Parece que na história da humanidade o fenômeno é conforme estabelecido na legislação”.
comum e cíclico: as pessoas enaltecem seus hábitos passados
e condenam os presentes. “Ah, no meu tempo...” é uma Nesse segmento inicial do texto, a vírgula que tem caráter
expressão que vale um suspiro e uma acusação. Algo de muito optativo é a indicada pelo número
melhor ficou para trás e se perdeu. A missão dessa juventude (A) (1).
de hoje é desviar-se da Civilização.... (B) (2).
A ironia é que justamente nesses “desvios” e por conta (C) (3).
deles a História caminha, ainda que não se saiba para onde. (D) (4).
Fosse tudo uma repetição conservadora, nenhuma descoberta (E) (5).
jamais se daria, sem contar que os mais velhos já não teriam
do que se queixar e a quem imputar a culpa por todos os 06. (TCM/RJ - Técnico de Controle Externo - IBFC)
desassossegos que assaltam todas as gerações humanas, desde Assinale a alternativa cuja frase está corretamente pontuada.
que existimos. (A) O bolo que estava sobre a mesa, sumiu.
(Romildo Pacheco, inédito) (B) Ele, apressadamente se retirou, quando ouviu um
barulho estranho.
A supressão da vírgula altera significativamente o sentido (C) Confessou-lhe tudo; ciúme, ódio, inveja.
da seguinte frase: (D) Paulo pretende cursar Medicina; Márcia, Odontologia.
(A) Frequentemente, as pessoas enaltecem seus hábitos
passados. 07. (MPE/GO - Secretário Auxiliar – MPE/GO) O período
(B) As pessoas gostam de enaltecer seus hábitos antigos, abaixo foi escrito por Machado de Assis em seu Conto de
quase sempre sem muita discrição. Escola. A alternativa que apresenta a pontuação de acordo com
(C) Não se conhece a origem das frases feitas, nem por que a norma culta é:
adquiriram tanta força. (A) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que o
(D) O autor do texto busca mostrar-se imparcial, diante Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
desse tema controverso. pareceu útil: para escapar ao castigo do pai.
(E) Trata-se aqui das pessoas mais velhas, que se apegam (B) Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o
a seus hábitos passados. Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
pareceu útil para escapar ao castigo do pai.
(C) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que o
Raimundo não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
pareceu útil: para escapar ao castigo do pai.
(D) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que, o
Raimundo, não o tendo aprendido, recorria; a um meio que, lhe
pareceu útil, para escapar ao castigo do pai.

Língua Portuguesa 91
APOSTILAS OPÇÃO

(E) Compreende-se que: o ponto da lição era difícil e que o Estão corretos os itens:
Raimundo, não o tendo aprendido, recorria; a um meio que lhe (A) 1 e 3 apenas.
pareceu útil: para escapar ao castigo do pai. (B) 1, 2 e 4 apenas.
(C) 1, 3 e 5 apenas.
08. (UNEMAT - Técnico em Enfermagem - (D) 2, 3, 4 e 5 apenas.
UNEMAT/2018) (E) 1, 2, 3, 4 e 5.

10. (SEGEP/MA - Analista Ambiental - Pedagogo - FCC)


Será que a internet está a matar a democracia? Vyacheslav W.
Polonski, um acadêmico da Universidade de Oxford, faz essa
pergunta na revista Newsweek. E oferece argumentos a
respeito que desaguam em águas tenebrosas.
A internet oferece palco político para os mais motivados (e
despreparados). Antigamente, o cidadão revoltado podia ter
as suas opiniões sobre os assuntos do mundo. Mas, tirando o
https://oglobo.globo.com/cultura/megazine/contestador- boteco, ou o bairro, ou até o jornal do bairro, essas opiniões
armandinhoganha-fama-no-facebook-8027174 nasciam e morriam no anonimato.
Hoje, é possível arregimentar dezenas, ou centenas, ou
Em Pai, o que é “machismo”? e em Não se mete, Fê!, a milhares de "seguidores" que rapidamente espalham a
vírgula foi usada para mensagem por dezenas, ou centenas, ou milhares de novos
(A) marcar anteposição do predicativo. "seguidores". Quanto mais radical a mensagem, maior será o
(B) separar elementos de uma enumeração. sucesso cibernauta.
(C) separar o pleonasmo. Mas a internet não é apenas um paraíso para os
(D) isolar o vocativo. politicamente motivados (e despreparados). Ela tende a
(E) isolar expressões explicativas. radicalizar qualquer opinião sobre qualquer assunto.
A ideia de que as redes sociais são uma espécie de "ágora
09. (UFPR - Contador - 2018) moderna", onde existem discussões mais flexíveis e
pluralistas, não passa de uma fantasia. A internet não cria
A não menos nobre vírgula debate. Ela cria trincheiras entre exércitos inimigos.
(Adaptado de: COUTINHO, João Pereira. Disponível em:
[...] Jacob mandou esta questão: “Sempre aprendi que o http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2
advérbio deveria vir entre vírgulas, mesmo que, às vezes, a 016/08/1801611)
frase fique truncada.
Quando vi que não colocou os advérbios entre vírgulas, Atente para as afirmações abaixo a respeito do 1 o
senti que há uma esperança de me libertar dessas verdadeiras parágrafo do texto.
amarras dos tempos escolares. Como pontuar, afinal, nesses I. O ponto de interrogação pode ser excluído, sem prejuízo
casos?”. para a correção e o sentido, por se tratar de pergunta retórica.
O leitor acertou na mosca quando se referiu a “essas II. As vírgulas isolam o aposto.
verdadeiras amarras escolares”. Tomemos como exemplo o III. Na última frase do parágrafo, o pronome “que” retoma
próprio texto do leitor, que na passagem “...mesmo que, às "argumentos".
vezes, a frase fique truncada” optou por pôr entre vírgulas a IV. No contexto, o verbo “desaguar” está empregado em
expressão adverbial “às vezes”, que vem entre a locução sentido figurado.
conjuntiva “mesmo que” e “a frase”, sujeito da oração
introduzida por “mesmo que”. Está correto o que se afirma APENAS em:
Vamos lá. Teria sido perfeitamente possível deixar “livre” (A) I e II.
a expressão adverbial “às vezes”, ou seja, teria sido possível (B) II, III e IV.
não empregar as duas vírgulas (“...mesmo que às vezes a frase (C) II e III.
fique truncada”). É bom que se diga que, com as duas vírgulas, (D) I e IV.
a expressão “às vezes” ganha ênfase, o que não ocorreria se não
fossem empregadas as vírgulas. Gabarito
O que não se pode fazer de jeito nenhum nesses casos é 01.E / 02.E / 03.E / 04.E / 05.A / 06.D / 07.B / 08.D /
empregar a chamada “vírgula solteira”, que é aquela que perde 09.C / 10.B
o par no meio do caminho. Tradução: ou se escreve “...mesmo
que, às vezes, a frase fique truncada” ou se escreve “...mesmo Comentários
que às vezes a frase fique truncada”. [...]
(Pasquale Cipro Neto, publicado em: 01. Resposta: E
<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2016/11/ a) O professor espera um, sim. O prof. esta esperando um
1831039-a-nao-menos-nobre-virgula.shtml> algo, quando tiro a virgula ele fica ''esperando um sim''.
Acesso em 24/03/18. Adaptado) b) Recebo, obrigada. A pessoa recebe e diz obrigado,
quando tiro a virgula ele passa a receber é um obrigado.
As aspas ao longo texto são usadas para: c) Não, vá ao estacionamento do campus. ''Vá ao
1. Indicar a escrita de outra pessoa que não o autor do estacionamento'', quando tiro a virgula passa a ''não vá ao
texto. estacioname...''
2. Exemplificar o emprego incorreto da norma gramatical. d) Não, quero abandonar minha funções no trabalho. Eu
3. Marcar o uso de termos em sentido figurado. quero abandonar, quando tiro a virgula fica negado ''não
4. Enfatizar a gravidade do problema de mau uso da quero...''
vírgula. Todas mudaram de sentido, menos a última.
5. Indicar o uso metalinguístico (em que a língua aponta
para si mesma). 02. Resposta: E
Conferindo as demais:

Língua Portuguesa 92
APOSTILAS OPÇÃO

a) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser amarras dos tempos escolares. Como pontuar, afinal, nesses
uma extensão de nossa personalidade. casos?”
Não se separa sujeito do predicado por vírgula. 3- “vírgula solteira”
b) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua, 5- “...mesmo que, às vezes, a frase fique truncada”
são as principais causas da ira de trânsito.
Não se separa sujeito do predicado por vírgula. 10. Resposta: B
c) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar Item I = ERRADO.
os níveis de estresse em alguns motoristas. Caso o ponto de interrogação for excluído, a frase (Será que
Não se separa por vírgula verbo de seu complemento a internet está a matar a democracia?) perde o caráter de
(no caso 'ocasionar' sendo VTD e acidentes OD) pergunta, de reflexão e passa a ser uma afirmação. A correção
d) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque vai se prejudicar.
você está junto; com os outros motoristas cujos Item II = CERTO. As vírgulas isolam o aposto.
comportamentos, são desconhecidos. Aposto é um termo que se junta a outro de valor
Não se separa por vírgula verbo de seu complemento substantivo ou pronominal para explicá-lo ou especificá-lo
e) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas melhor. Vem separado dos demais termos da oração por
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja vírgula, dois-pontos ou travessão.
aliviada. (Correta) O aposto se revela na seguinte passagem: Vyacheslav W.
Polonski, um acadêmico da Universidade de Oxford, faz essa
03. Resposta: E pergunta na revista Newsweek.
a) Humberto de Campos, jornalista, critico, contista, e Item III = CERTO. Na última frase do parágrafo, o pronome
memorialista nasceu, em Miritiba, hoje Humberto de Campos “que” retoma "argumentos".
no Maranhão, em 1886, e FALECEU, no Rio de Janeiro em A finalidade do pronome relativo é evitar a repetição do
1934. termo antecedente na oração em que ocorre.
b) O escritor Humberto de Campos, em 1933, publicou o Item IV = CERTO. No contexto, o verbo “desaguar” está
livro que veio à ser considerado, o mais celebre de sua obra: empregado em sentido figurado.
Memórias, crônica DO COMEÇO de sua vida. Desaguar = Drenar, Enxugar, Lançar as águas em (falando
c) Em 1912, Humberto de Campos, transferiu-se para o Rio do curso dos rios).
de Janeiro, e entrou para O Imparcial, na fase em que ali
encontrava-se um grupo de exÍmios escritores.
d) De infância pobre e orfão de pai aos seis anos; Humberto
de Campos, começou a trabalhar cedo no comércio, como meio Elementos de coesão.
de subsistÊncia. Função textual dos vocábulos.
04. Resposta: E
Trata-se aqui das pessoas mais velhas, que se apegam a
seus hábitos passados. --> Natureza EXPLICATIVA (Oração COESÃO
Subordinada Adjetiva Explicativa) Uma das propriedades que distinguem um texto de um
Trata-se aqui das pessoas mais velhas que se apegam a amontoado de frases é a relação existente entre os elementos
seus hábitos passados. --> Natureza RESTRITIVA (Oração que os constituem. A coesão textual é a ligação entre palavras,
Subordinada Adjetiva Restritiva) expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os
05. Resposta: A componentes do texto. Observe:
Adjunto adverbial deslocado tradicional até três palavras,
vírgula opcional “O iraquiano leu sua declaração num bloquinho comum de
anotações, que segurava na mão.”
06. Resposta: D
a) A vírgula não pode separar o sujeito (o bolo...) do verbo Nesse período, o pronome relativo “que” estabelece
(sumiu). Incorreta. conexão entre as duas orações.
b) Há vírgula entre o sujeito (ele) e o verbo (retirou). Se tivermos: “O iraquiano leu sua declaração num
Incorreta. bloquinho comum de anotações e segurava na mão, retomando
c) O ponto e vírgula está separando um aposto explicativo, na segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome
quando na verdade deveria haver um sinal de dois-pontos. relativo é um elemento coesivo, e a conexão entre as duas
d) Essa é a vírgula que marca termo omitido (Zeugma). orações, um fenômeno de coesão. Leia o texto que segue:
Paulo pretende cursar Medicina; Márcia, Odontologia.
(Pretende cursar) Arroz-doce da infância

07. Resposta: B Ingredientes


A alternativa A tem dois pontos que não deveriam aparecer 1 litro de leite desnatado
na oração. 150g de arroz cru lavado
1 pitada de sal
08. Resposta: D 4 colheres (sopa) de açúcar
O vocativo é o termo que tem a função de chamar, invocar 1 colher (sobremesa) de canela em pó
ou interpelar dentro da oração.
Preparo
09. Resposta: C Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de
1- “Sempre aprendi que o advérbio deveria vir entre sal e mexa sem parar até cozinhar o arroz. Adicione o açúcar e
vírgulas, mesmo que, às vezes, a frase fique truncada. deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um recipiente,
Quando vi que não colocou os advérbios entre vírgulas, polvilhe a canela. Sirva.
senti que há uma esperança de me libertar dessas verdadeiras Cozinha Clássica Baixo Colesterol, nº4. São Paulo, InCor,
agosto de 1999,.

Língua Portuguesa 93
APOSTILAS OPÇÃO

Toda receita culinária tem duas partes: lista dos A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um
ingredientes e modo de preparar. As informações anafórico, pois não está retomando nenhuma das palavras
apresentadas na primeira são retomadas na segunda. Nesta, os citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica
nomes mencionados pela primeira vez na lista de ingredientes totalmente prejudicado: não há possibilidade de se
vêm precedidos de artigo definido, o qual exerce, entre outras depreender o sentido desse pronome.
funções, a de indicar que o termo determinado por ele se refere Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refira a
ao mesmo ser a que uma palavra idêntica já fizera menção. nenhuma palavra citada anteriormente no interior do texto,
No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adiciona mas que possa ser inferida por certos pressupostos típicos da
o açúcar, o artigo relaciona ao açúcar citado na primeira parte. cultura em que se inscreve o texto. É o caso de um exemplo
Se dissesse apenas adicione açúcar, deveria adicionar mais como este:
além do citado anteriormente, pois se trataria de outro açúcar, “O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava
diverso daquele citado no rol dos ingredientes. desesperado, porque eram 21 horas e ela não havia
Há dois tipos principais de mecanismos de coesão: comparecido.”
retomada ou antecipação de palavras, expressões ou
frases e encadeamento de segmentos. Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome
“ela” é um anafórico que só pode estar-se referindo à palavra
Retomada ou Antecipação por meio de uma palavra noiva. Num casamento, estando presente o noivo, o desespero
gramatical (pronome, verbos ou advérbios) só pode ser pelo atraso da noiva (representada por “ela” no
exemplo citado).
“No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje não há total
igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos - O artigo indefinido (um, uma, uns, umas) serve
do que aqueles em cargos equivalentes.” geralmente para introduzir informações novas ao texto.
Quando elas forem retomadas, deverão ser precedidas do
Nesse período, o pronome demonstrativo “estas” retoma o artigo definido (o, a, os, as), pois este é que tem a função de
termo mulheres, enquanto “aqueles” recupera a palavra indicar que o termo por ele determinado é idêntico, em termos
homens. de valor referencial, a um termo já mencionado.
“O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala
- Os termos que servem para retomar outros são de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito dinheiro
denominados anafóricos; os que servem para anunciar, para dentro, mas nem um documento sequer.”
antecipar outros são chamados catafóricos. No exemplo a
seguir, desta antecipa abandonar a faculdade no último ano: - Quando, em dado contexto, o anafórico pode referir-se a
“Já viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no último dois termos distintos, há uma ruptura de coesão, porque
ano?” ocorre uma ambiguidade insolúvel. É preciso que o texto seja
escrito de tal forma que o leitor possa determinar exatamente
- São anafóricos ou catafóricos os pronomes qual é a palavra retomada pelo anafórico.
demonstrativos, os pronomes relativos, certos advérbios ou
locuções adverbiais (nesse momento, então, lá), o verbo fazer, - O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à palavra
o artigo definido, os pronomes pessoais de 3ª pessoa (ele, o, a, ator quanto a diretor.
os, as, lhe, lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos: “Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por
causa da sua arrogância.”
- O pronome relativo “quem” retoma o substantivo mestre.
“Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na - Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao
cátedra de Sociologia na Universidade de São Paulo.” termo amiga ou a ex-namorado no exemplo abaixo.
Permutando o anafórico “que” por “o qual” ou “a qual”, essa
- O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas; ambiguidade seria desfeita.
o pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis. “André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que
“As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como trabalha na mesma firma.”
um descrente do amor e da amizade.”
Retomada por palavra lexical - (substantivo, adjetivo
- O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens. ou verbo)
“Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos trajando
roupa escura.” Uma palavra pode ser retomada, quer por uma repetição,
quer por uma substituição por sinônimo, hiperônimo,
- O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema. hipônimo ou antonomásia.
“Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desanimado Sinônimo: é o nome que se dá a uma palavra que possui o
com a fila.” mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado:
injúria e afronta, alegre e contente.
- A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai Hiperônimo: é um termo que mantém com outro uma
inaugurar e seu complemento. relação do tipo contém/está contido;
“O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos Hipônimo: é uma palavra que mantém com outra uma
funcionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço relação do tipo está contido/contém. O significado do termo
aos servidores.” rosa está contido no de flor e o de flor contém o de rosa, pois
toda rosa é uma flor, mas nem toda flor é uma rosa. Flor é, pois,
- Em princípio, o termo a que “o” anafórico se refere deve hiperônimo de rosa, e esta palavra é hipônimo daquela.
estar presente no texto, senão a coesão fica comprometida, Antonomásia: é a substituição de um nome próprio por
como neste exemplo: um nome comum ou de um comum por um próprio. Ela ocorre,
“André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há vários principalmente, quando uma pessoa célebre é designada por
meses.” uma característica notória ou quando o nome próprio de uma
personagem famosa é usado para designar outras pessoas que
possuam a mesma característica que a distingue:

Língua Portuguesa 94
APOSTILAS OPÇÃO

“O rei do futebol (=Pelé) só podia ser um brasileiro.” (...)


“O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
recente minissérie de tevê.”
*Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
lutado pela liberdade na Europa e na América. Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, VIII,
“Ele é um Hércules.” (=um homem muito forte).
*Referência à força física que caracteriza o herói grego Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes
Hércules. daquilo que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica
subentendido, é omitido por ser facilmente presumível.
“Um presidente da República tem uma agenda de trabalho Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que,
extremamente carregada. Deve receber ministros, no exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidido (ou
embaixadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a apagado) antes de sentiu e parou:
todo o momento tomar graves decisões que afetam a vida de
muitas pessoas; necessita acompanhar tudo o que acontece no “Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada no
Brasil e no mundo. Um presidente deve começar a trabalhar ao peito e parou.”
raiar do dia e terminar sua jornada altas horas da noite.”
Pode ocorrer também elipse por antecipação. No exemplo
A repetição do termo presidente estabelece a coesão entre que segue, aquela promoção é complemento tanto de querer
o último período e o que vem antes dele. quanto de desejar, no entanto aparece apenas depois do
segundo verbo:
“Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os astros
sempre o atraíram.” “Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preterido.
Afinal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoção.”
Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo
astros, que recupera os hipônimos estrelas, planetas, satélites. Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos que
têm regência diferente, a coesão é rompida. Por exemplo, não
“Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do se deve dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois o verbo
homem era regido por humores (fluidos orgânicos) que conhecer rege complemento não introduzido por preposição, e
percorriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade a elipse retoma o complemento inteiro, portanto teríamos uma
em nosso corpo. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma preposição indevida: “Conheço (deste livro) e gosto deste livro”.
(secreção pulmonar), a bile amarela e a bile negra. E eram Em “Implico e dispenso sem dó os estranhos palpiteiros”,
também estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos diferentemente, no complemento em elipse faltaria a
fundamentais: ao Ar (seco), à Água (úmido), ao Fogo (quente) e preposição “com” exigida pelo verbo implicar.
à Terra (frio), respectivamente.” Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável é
Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18. colocar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando
Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro sua regência, e retomá-lo após o segundo por um anafórico,
períodos se faz pela repetição da palavra humores; entre o acrescentando a preposição devida (Conheço este livro e gosto
terceiro e o segundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos. dele) ou eliminando a indevida (Implico com estranhos
É preciso manejar com muito cuidado a repetição de palpiteiros e os dispenso sem dó).
palavras, pois, se ela não for usada para criar um efeito de
sentido de intensificação, constituirá uma falha de estilo. Coesão por Conexão
No trecho transcrito a seguir por exemplo, fica claro o uso Há na língua uma série de palavras ou locuções que são
da repetição da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes, responsáveis pela concatenação ou relação entre segmentos
vicejam, viciem), com a evidente intenção de ridicularizar a do texto. Esses elementos denominam-se conectores ou
condição secundária que um provável flamenguista atribui ao operadores discursivos. Por exemplo: visto que, até, ora, no
Vasco e ao seu Vice-presidente: entanto, contudo, ou seja.
Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto:
“Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas estabelecem entre elas relações semânticas de diversos tipos,
sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, como contrariedade, causa, consequência, condição,
mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.” conclusão, etc. Essas relações exercem função argumentativa
no texto, por isso os operadores discursivos não podem ser
Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice- usados indiscriminadamente.
presidente do clube, vice-campeão carioca e bi-vice-campeão Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não
mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no alcançou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está
Carioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça adequadamente usado, pois ele liga dois segmentos com
Guanabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não orientação argumentativa contrária. Se fosse utilizado, nesse
viciem. caso, o conector “portanto”, o resultado seria um paradoxo
semântico, pois esse operador discursivo liga dois segmentos
José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 2000. com a mesma orientação argumentativa, sendo o segmento
introduzido por ele a conclusão do anterior.
A elipse é o apagamento de um segmento de frase que
pode ser facilmente recuperado pelo contexto. Também - Gradação: há operadores que marcam uma gradação
constitui um expediente de coesão, pois é o apagamento de um numa série de argumentos orientados para uma mesma
termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio deixado conclusão. Dividem-se eles, em dois subtipos: os que indicam
pelo termo apagado (=elíptico) exige, necessariamente, que se o argumento mais forte de uma série: até, mesmo, até mesmo,
faça correlação com outros termos presentes no contexto, ou inclusive, e os que subentendem uma escala com argumentos
referidos na situação em que se desenrola a fala. mais fortes: ao menos, pelo menos, no mínimo, no máximo,
Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de quando muito.
Machado de Assis:

Língua Portuguesa 95
APOSTILAS OPÇÃO

“Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é bem conseguinte, pois (o pois é conclusivo quando não encabeça a
articulado, conhece bem o assunto de que fala e é até sedutor.” oração).

Toda a série de qualidades está orientada no sentido de “Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao
comprovar que ele é bom conferencista; dentro dessa série, ser controle dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte, não é
sedutor é considerado o argumento mais forte. moralmente defensável.”

“Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à
Chegará a ser pelo menos diretor da empresa.” afirmação exposta no primeiro período.

Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo - Comparação: outros importantes operadores
sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; discursivos são os que estabelecem uma comparação de
por outro lado, subentende que há argumentos mais fortes igualdade, superioridade ou inferioridade entre dois
para comprovar que ele tem as qualidades requeridas dos que elementos, com vistas a uma conclusão contrária ou favorável
vão longe (por exemplo, ser presidente da empresa) e que se a certa ideia: tanto... quanto, tão... como, mais... (do) que.
está usando o menos forte; ao menos, pelo menos e no mínimo
ligam argumentos de valor positivo. “Os problemas de fuga de presos serão tanto mais graves
quanto maior for a corrupção entre os agentes penitenciários.”
“Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o segundo
grau.” O comparativo de igualdade tem no texto uma função
No máximo introduz um argumento orientado no mesmo argumentativa: mostrar que o problema da fuga de presos
sentido de ter muita dificuldade de aprender; supõe que há cresce à medida que aumenta a corrupção entre os agentes
uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma faculdade) penitenciários; por isso, os segmentos podem até ser
e que se está usando o argumento menos forte da escala no permutáveis do ponto de vista sintático, mas não o são do
sentido de provar a afirmação anterior; no máximo e quando ponto de vista argumentativo, pois não há igualdade
muito estabelecem ligação entre argumentos de valor argumentativa proposta:
depreciativo.
“Tanto maior será a corrupção entre os agentes
- Conjunção Argumentativa: há operadores que penitenciários quanto mais grave for o problema da fuga de
assinalam uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um presos”.
conjunto de argumentos orientados em favor de uma dada
conclusão: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto... Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a
como, além de, a par de. conclusões opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte
diálogo entre o diretor de um clube esportivo e o técnico de
“Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o diretor futebol:
da escola, é muito respeitado pelos funcionários e também é
muito querido pelos alunos.” “__Precisamos promover atletas das divisões de base para
Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o reforçar nosso time.
interlocutor quem pode tomar uma dada decisão. O último __Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quanto os
deles é introduzido por “e também”, que indica um argumento do time principal.”
final na mesma direção argumentativa dos precedentes.
Esses operadores introduzem novos argumentos; não Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da promoção,
significam, em hipótese nenhuma, a repetição do que já foi pois ele declara que qualquer atleta das divisões de base tem,
dito. Ou seja, só podem ser ligados com conectores de pelo menos, o mesmo nível dos do time principal, o que
conjunção segmentos que representam uma progressão significa que estes não primam exatamente pela excelência em
discursiva. É possível dizer “Disfarçou as lágrimas que o relação aos outros.
assaltaram e continuou seu discurso”, porque o segundo Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os
segmento indica um desenvolvimento da exposição. Não teria segmentos na sua fala:
cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois
segmentos como “Disfarçou as lágrimas que o assaltaram e “__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto os das
escondeu o choro que tomou conta dele”. divisões de base.”

- Disjunção Argumentativa: há também operadores que Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da
indicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem uma promoção, pois ele estaria declarando que os atletas do time
conexão entre segmentos que levam a conclusões opostas, que principal são tão bons quanto os das divisões de base.
têm orientação argumentativa diferente: ou, ou então, quer...
quer, seja... seja, caso contrário, ao contrário. - Explicação ou Justificativa: há operadores que
introduzem uma explicação ou uma justificativa em relação ao
“Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar a que foi dito anteriormente: porque, já que, que, pois.
briga, para que ele não apanhasse.”
“Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem
O argumento introduzido por ao contrário é diretamente autorização da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da
oposto àquele de que o falante teria agredido alguém. guerra.”

- Conclusão: existem operadores que marcam uma Já que inicia um argumento que dá uma justificativa para a
conclusão em relação ao que foi dito em dois ou mais tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o
enunciados anteriores (geralmente, uma das afirmações de custo da guerra contra o Iraque.
que decorre a conclusão fica implícita, por manifestar uma voz
geral, uma verdade universalmente aceita): logo, portanto, por - Contrajunção: os operadores discursivos que assinalam
uma relação de contrajunção, isto é, que ligam enunciados com

Língua Portuguesa 96
APOSTILAS OPÇÃO

orientação argumentativa contrária, são as conjunções foi dito antes: de fato, realmente, como aliás, também, é verdade
adversativas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, que.
porém) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de que,
conquanto, ainda que, posto que, se bem que). “O problema da erradicação da pobreza passa pela geração
Qual é a diferença entre as adversativas e as concessivas, de empregos. De fato, só o crescimento econômico leva ao
se tanto umas como outras ligam enunciados com orientação aumento de renda da população.”
argumentativa contrária?
Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento O conector introduz uma amplificação do que foi dito
introduzido pela conjunção. antes.

“O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta “Ele é um técnico retranqueiro, como aliás o são todos os que
mais decidido a vencer.” atualmente militam no nosso futebol.

Nesse caso, a primeira oração conduz a uma conclusão O conector introduz uma generalização ao que foi
negativa sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto a afirmado: não “ele”, mas todos os técnicos do nosso futebol são
começada pela conjunção “mas” leva a uma conclusão positiva. retranqueiros.
Essa segunda orientação é a mais forte.
Compare-se, por exemplo, “Ela é simpática, mas não é - Especificação ou Exemplificação: também há
bonita” com “Ela não é bonita, mas é simpática”. No primeiro operadores que marcam uma especificação ou uma
caso, o que se quer dizer é que a simpatia é suplantada pela exemplificação do que foi afirmado anteriormente: por
falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza perde exemplo, como.
relevância diante da simpatia. Quando se usam as conjunções
adversativas, introduz-se um argumento com vistas à “A violência não é um fenômeno que está disseminado
determinada conclusão, para, em seguida, apresentar um apenas entre as camadas mais pobres da população. Por
argumento decisivo para uma conclusão contrária. exemplo, é crescente o número de jovens da classe média que
Com as conjunções concessivas, a orientação estão envolvidos em toda sorte de delitos, dos menos aos mais
argumentativa que predomina é a do segmento não graves.”
introduzido pela conjunção.
Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica,
“Embora haja conexão entre saber escrever e saber exemplifica a afirmação de que a violência não é um fenômeno
gramática, trata-se de capacidades diferentes.” adstrito aos membros das “camadas mais pobres da
população”.
A oração iniciada por “embora” apresenta uma orientação
argumentativa no sentido de que saber escrever e saber - Retificação ou Correção: há ainda os que indicam uma
gramática são duas coisas interligadas; a oração principal retificação, uma correção do que foi afirmado antes: ou melhor,
conduz à direção argumentativa contrária. de fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer dizer, ou seja,
Quando se utilizam conjunções concessivas, a estratégia em outras palavras.
argumentativa é a de introduzir no texto um argumento que,
embora tido como verdadeiro, será anulado por outro mais “Vou-me casar neste final de semana. Ou melhor, vou passar
forte com orientação contrária. a viver junto com minha namorada.”
A diferença entre as adversativas e as concessivas,
portanto, é de estratégia argumentativa. Compare os seguintes O conector inicia um segmento que retifica o que foi dito
períodos: antes.
Esses operadores servem também para marcar um
“Por mais que o exército tivesse planejado a operação esclarecimento, um desenvolvimento, uma redefinição do
(argumento mais fraco), a realidade mostrou-se mais complexa conteúdo enunciado anteriormente.
(argumento mais forte).”
“O exército planejou minuciosamente a operação “A última tentativa de proibir a propaganda de cigarros nas
(argumento mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais corridas de Fórmula 1 não vingou. De fato, os interesses dos
complexa (argumento mais forte).” fabricantes mais uma vez prevaleceram sobre os da saúde.”

- Argumento Decisivo: há operadores discursivos que O conector introduz um esclarecimento sobre o que foi dito
introduzem um argumento decisivo para derrubar a antes.
argumentação contrária, mas apresentando-o como se fosse Servem ainda para assinalar uma atenuação ou um reforço
um acréscimo, como se fosse apenas algo mais numa série do conteúdo de verdade de um enunciado.
argumentativa: além do mais, além de tudo, além disso,
ademais. “Quando a atual oposição estava no comando do país, não
fez o que exige hoje que o governo faça. Ao contrário, suas
“Ele está num período muito bom da vida: começou a políticas iam na direção contrária do que prega atualmente.
namorar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empresa,
recebeu um prêmio que ambicionava havia muito tempo e, além O conector introduz um argumento que reforça o que foi
disso, ganhou uma bolada na loteria.” dito antes.

O operador discursivo introduz o que se considera a prova - Explicação: há operadores que desencadeiam uma
mais forte de que “Ele está num período muito bom da vida”; no explicação, uma confirmação, uma ilustração do que foi
entanto, essa prova é apresentada como se fosse apenas mais afirmado antes: assim, desse modo, dessa maneira.
uma.
“O exército inimigo não desejava a paz. Assim, enquanto se
- Generalização ou Amplificação: existem operadores processavam as negociações, atacou de surpresa.”
que assinalam uma generalização ou uma amplificação do que

Língua Portuguesa 97
APOSTILAS OPÇÃO

O operador introduz uma confirmação do que foi afirmado coesão, o que leva o texto a não ter sentido ou, pelo menos, a
antes. não ter o sentido desejado. Outra falha comum no que tange a
coesão é a falta de partes indispensáveis da oração ou do
Coesão por Justaposição período. Analisemos este exemplo:
É a coesão que se estabelece com base na sequência dos
enunciados, marcada ou não com sequenciadores. “As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha
de combate à fome que foi lançada pelo governo federal.”
- Sequenciadores Temporais: são os indicadores de
anterioridade, concomitância ou posterioridade: dois meses O período compõe-se de:
depois, uma semana antes, um pouco mais tarde, etc. (são - As empresas;
utilizados predominantemente nas narrações). - que anunciaram (oração subordinada adjetiva restritiva
da primeira oração);
“Uma semana antes de ser internado gravemente doente, - que apoiariam a campanha de combate à fome (oração
ele esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos para o subordinada substantiva objetiva direta da segunda oração);
futuro.” - que foi lançada pelo governo federal (oração subordinada
adjetiva restritiva da terceira oração).
- Sequenciadores Espaciais: são os indicadores de posição
relativa no espaço: à esquerda, à direita, junto de, etc. (são Observe-se que falta o predicado da primeira oração.
usados principalmente nas descrições). Quem escreveu o período começou a encadear orações
subordinadas e “esqueceu-se” de terminar a principal.
“A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, Quebras de coesão desse tipo são mais comuns em
representando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval períodos longos. No entanto, mesmo quando se elaboram
de forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento períodos curtos é preciso cuidar para que sejam
bambolins de cassa finíssima. (...) Do outro lado, há uma lareira, sintaticamente completos e para que suas partes estejam bem
não de fogo, que o dispensa nosso ameno clima fluminense, conectadas entre si.
ainda na maior força do inverno.” Para que um conjunto de frases constitua um texto, não
José de Alencar. Senhora. São Paulo, FTD, 1992, p. 77. basta que elas estejam coesas: se não tiverem unidade de
sentido, mesmo que aparentemente organizadas, elas não
- Sequenciadores de Ordem: são os que assinalam a passarão de um amontoado injustificado.
ordem dos assuntos numa exposição: primeiramente, em
segunda, a seguir, finalmente, etc. “Vivo há muitos anos em São Paulo. A cidade tem excelentes
restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Também o Rio de
“Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente, Janeiro tem favelas.”
das agruras por que passam as populações civis; em seguida,
discorrerei sobre a vida dos soldados na frente de batalha; Todas as frases são coesas. O hiperônimo cidade retoma o
finalmente, exporei suas consequências para a economia substantivo São Paulo, estabelecendo uma relação entre o
mundial e, portanto, para a vida cotidiana de todos os segundo e o primeiro períodos. O pronome “ela” recupera a
habitantes do planeta.” palavra cidade, vinculando o terceiro ao segundo período. O
operador também realiza uma conjunção argumentativa,
- Sequenciadores para Introdução: são os que, na relacionando o quarto período ao terceiro. No entanto, esse
conversação principalmente, servem para introduzir um tema conjunto não é um texto, pois não apresenta unidade de
ou mudar de assunto: a propósito, por falar nisso, mas voltando sentido, isto é, não tem coerência. A coesão, portanto, é
ao assunto, fazendo um parêntese, etc. condição necessária, mas não suficiente, para produzir um
texto.
“Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas
pessoas. A propósito, era um homem que sabia agradar às Questões
mulheres.”
01. (CRP 2º Região PE - Assistente Administrativo -
- Operadores discursivos não explicitados: se o texto for Quadrix/2018)
construído sem marcadores de sequenciação, o leitor deverá
inferir, a partir da ordem dos enunciados, os operadores
discursivos não explicitados na superfície textual. Nesses
casos, os lugares dos diferentes conectores estarão indicados,
na escrita, pelos sinais de pontuação: ponto-final, vírgula,
ponto-e-vírgula, dois-pontos.

“A reforma política é indispensável. Sem a existência da


fidelidade partidária, cada parlamentar vota segundo seus
interesses e não de acordo com um programa partidário. Assim,
não há bases governamentais sólidas.”

Esse texto contém três períodos. O segundo indica a causa


de a reforma política ser indispensável. Portanto o ponto-final
do primeiro período está no lugar de um porque.

A língua tem um grande número de conectores e


sequenciadores. Apresentamos os principais e explicamos sua
função. É preciso ficar atento aos fenômenos de coesão.
Mostramos que o uso inadequado dos conectores e a utilização
inapropriada dos anafóricos ou catafóricos geram rupturas na

Língua Portuguesa 98
APOSTILAS OPÇÃO

No terceiro quadrinho, a palavra "isso" ajuda a estabelecer, As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas até o dia 28
no texto, um processo de de outubro.
(A) coesão sequencial.
(B) coesão referencial anafórica. (www.cartaeducacao.com.br/agenda/concurso-marca-
(C) coesão referencial catafórica. 400-anos-da-morte-de-shakespeare, 2016)
(D) coesão exofórica.
(E) perda de coesão. Assinale a alternativa INCORRETA no que se refere à
coesão e/ou à coerência do texto lido.
02. (Pref. de Teresina/PI – Professor – Português – (A) No estabelecimento de coesão lexical no texto, os
NUCEPE/2016) A coerência e a coesão são mecanismo da nomes “vídeos”, “produções” e “material” são empregados em
textualidade que se estabelecem no texto a partir da: relação de sinonímia.
(A) conectividade. (B) No trecho “É essa a pergunta que embala o concurso
(B) intencionalidade. cultural Shakespeare Hoje[...]” (1º parágrafo), o pronome
(C) aceitabilidade. demonstrativo “essa” estabelece referência catafórica por se
(D) intertextualidade. referir ao substantivo “pergunta”.
(E) informatividade. (C) Em “Passados 400 anos da sua morte, por que William
Shakespeare continua atual?” (1º parágrafo), a sequência
03. (TER/PI – Analista Judiciário – CESPE/2016) formada pela preposição “por” e pelo pronome interrogativo
“que” pode ser substituída, sem prejuízo de sentido, pela
expressão “por qual motivo”.
(D) Entre as marcas de coesão referencial do texto, está o
uso dos pronomes “sua” em “Passados 400 anos da sua morte”
e “essa” em “É essa a pergunta que embala o concurso”. (1º
parágrafo)
(E) Entre as marcas de coesão lexical do texto, está o uso
de “autor” (penúltimo parágrafo) e “dramaturgo inglês”
(primeiro parágrafo) em referência a “William Shakespeare”.
(1º parágrafo).

Na história em quadrinhos, a coesão e a coerência textuais 05. (Pref. de Natal/RN – Psicólogo – IDECAN/2016)
são estabelecidas por meio
Conheça Aris, que se divide entre socorrer e
(A) da retomada do termo “informação”, no último fotografar náufragos
quadrinho. Profissional da AFP diz que a experiência de documentar o
(B) da explicitação das formas existentes no mundo que, sofrimento dos refugiados deixou-o mais rígido com as próprias
em tese, poderiam equivaler a vida. filhas.
(C) do questionamento acerca do que vem a ser vida.
(D) da resposta ao próprio questionamento do indivíduo O grego Aris Messinis é fotógrafo da agência AFP em Atenas.
do primeiro quadrinho. Cobriu guerras e os protestos da Primavera Árabe. Nos últimos
(E) das formas alfabéticas do segundo quadrinho. meses, tem se dedicado a registrar a onda de refugiados na
Europa. Ele conta em um blog da AFP, ilustrado com muitas
04. (UFMS – Assistente em Administração – fotos, como tem sido o trabalho na ilha de Lesbos, na Grécia,
UFMS/2016) onde milhares de refugiados pisam pela primeira vez em
território europeu. Mais de 700.000 refugiados e imigrantes
Concurso marca 400 anos da morte de Shakespeare clandestinos já desembarcaram no litoral grego este ano. As
Vídeos que melhor mostrarem a atualidade da obra do autoridades locais estão sendo acusadas de não dar apoio
dramaturgo inglês serão premiados com viagem ao Reino suficiente aos que chegam pelo mar, e há até a ameaça de
Unido e vale-presente suspender o país do Acordo Schengen, que permite a livre
circulação de pessoas entre os Estados-membros.
REDAÇÃO 5 de maio de 2016 Messinis diz que o mais chocante do seu trabalho é retratar,
Passados 400 anos da sua morte, por que William em território pacífico, pessoas que trazem no rosto o
Shakespeare continua atual? É essa a pergunta que embala o sofrimento da guerra. “Só de saber que você não está em uma
concurso cultural Shakespeare Hoje, promovido pelo British zona de guerra torna isso ainda mais emocional. E muito mais
Council e parte da programação “Shakespeare Lives”, que vem doloroso”, diz Messinis. Numa guerra, o fotógrafo também
celebrando por meio de uma série de eventos, que se corre perigo, então, de certa forma, está em pé de igualdade
estenderão ao longo do ano, os quatro séculos da morte do com as pessoas que protagonizam as cenas que ele documenta.
dramaturgo inglês. Em Lesbos, não é assim. Ele está em absoluta segurança. As
Destinado a professores e alunos de escolas públicas e pessoas que chegam estão lutando por suas vidas. Não são
particulares de todo o Brasil, o concurso pede para que os poucas as que morrem de hipotermia mesmo depois de pisar
participantes produzam um vídeo que mostre a importância e em terra firme, por falta de atendimento médico.
atualidade da obra shakespeariana. Exatamente por causa dessa assimetria entre o
As produções devem ter, no máximo, quatro minutos e fotojornalista e os protagonistas de suas fotos, muitas vezes
podem ser feitas em grupos de até cinco alunos que estejam Messinis deixa a câmera de lado e põe-se a ajudá-los. Ele se
cursando o Ensino Fundamental II ou Médio e com a impressiona e se preocupa muito com os bebês que chegam
coordenação de um professor. nos botes. Obviamente, são os mais vulneráveis aos perigos da
O material deve abordar textos e personagens de travessia. Messinis fotografou os cadáveres de alguns deles nas
Shakespeare e pode conter excertos de peças, adaptações ou pedras à beira-mar.
conteúdos autorais que sejam inspirados pela obra do autor. O fotógrafo grego diz que a experiência de ver o sofrimento
Os melhores vídeos serão premiados com uma viagem das crianças refugiadas deixou-o mais rígido com as próprias
para o Reino Unido e vales-presentes no valor de 1 mil reais. filhas. As maiores têm 9 e sete anos. A menor, 7 meses. Quando

Língua Portuguesa 99
APOSTILAS OPÇÃO

vê o que acontece com as crianças que chegam nos botes, acatar uma existência que contrariava regras, previsões,
Messinis pensa em como suas filhas têm sorte de estarem vivas, fatalidades? Como pôde ele, gênio das Américas, abraçar o
de terem onde morar e de viverem num país em paz. Elas não Brasil, ser sua face, soçobrar com ele e revivê-lo ao mesmo
têm do que reclamar. tempo?
(Por: Diogo Schelp 04/12/2015. 8 Fomos portugueses, espanhóis e holandeses, até sermos
Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/a-boa-e-velha-
reportagem/conheca-aris-que-se-divide-entresocorrer-e-fotografar-naufragos/.)
brasileiros. Uma grei de etnias ávidas e belas, atraída pelas
aventuras terrestres e marítimas. Inventora, cada qual, de uma
Na construção do texto, a coerência e a coesão são de nação foragida da realidade mesquinha, uma espécie de ficção
fundamental importância para que sua compreensão não seja compatível com uma fábula que nos habilite a frequentar com
comprometida. Alguns elementos são empregados de forma desenvoltura o teatro da história.
(PIÑON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008,
efetiva e explícita com tal propósito. Nos trechos a seguir p. 241-243, fragmento.)
foram destacados alguns elementos cuja função anafórica A leitura correta do texto indica que o elemento de coesão
contribui para a coesão textual, com EXCEÇÃO de: textual destacado em cada fragmento abaixo está
(A) “[...] pessoas que trazem no rosto o sofrimento da ERRONEAMENTE informado na opção:
guerra.” (2º§) (A) “justificativa lógica para SUA existência.” (2º §) /
(B) “Ele conta em um blog da AFP, ilustrado com muitas “emoções revestidas de opulenta carnalidade”.
fotos [...]” (1º§) (B) “O que a vida ALI fez brotar com abundância, excedeu
(C) “O fotógrafo grego diz que a experiência de ver o ao que eu sabia.” (3º §) / “o Brasil é o paraíso essencial da
sofrimento [...]” (4º§) minha memória.”
(D) “[...] onde milhares de refugiados pisam pela primeira (C) “Criaturas que, afinadas com a torpeza e as inquietudes
vez em território europeu.” (1º§) do SEU tempo, acomodam-se esplêndidas à sombra da
mangueira”. (5º §) / “Criaturas”.
06. (Pref. de Niterói/RJ – Administrador – (D) “CUJO determinismo falhou ao não prever a própria
COSEAC/2016) grandeza.” (7º §) / “Este Brasil”.
(E) “Como pôde ele, gênio das Américas, abraçar o Brasil,
O Brasil é minha morada ser sua face, soçobrar com ele e revivê-LO ao mesmo tempo?”
(7º §) / “o Brasil”.
1 Permita-me que lhes confesse que o Brasil é a minha
morada. O meu teto quente, a minha sopa fumegante. É casa da 07. (COMPESA – Analista de Gestão – FGV/2016) As
minha carne e do meu espírito. O alojamento provisório dos opções a seguir apresentam pensamentos em que os
meus mortos. A caixa mágica e inexplicável onde se abrigam e pronomes sublinhados estabelecem coesão com elementos
se consomem os dias essenciais da minha vida. anteriores.
2 É a terra onde nascem as bananas da minha infância e as Assinale a frase em que esse referente anterior é uma
palavras do meu sempre precário vocabulário. Neste país oração.
conheci emoções revestidas de opulenta carnalidade que nem (A) “Um diplomata é um sujeito que pensa duas vezes antes
sempre transportavam no pescoço o sinete da advertência, de não dizer nada”.
justificativa lógica para sua existência. (B) “A minha vontade é forte, mas a minha disposição de
3 Sem dúvida, o Brasil é o paraíso essencial da minha obedecer-lhe é fraca”.
memória. O que a vida ali fez brotar com abundância, excedeu (C) “Não existe assunto desinteressante, o que existe são
ao que eu sabia. Pois cada lembrança brasileira corresponde à pessoas desinteressadas”.
memória do mundo, onde esteja o universo resguardado. (D) “A dúvida é uma margarida que jamais termina de se
Portanto, ao apresentar-me aqui como brasileira, despetalar”.
automaticamente sou romana, sou egípcia, sou hebraica. Sou (E) “Se você pensa que não tem falhas, isso já é uma”.
todas as civilizações que aportaram neste acampamento
brasileiro. 08. (SEE-PE – Professor de Matemática – FGV/2016) “O
4 Nesta terra, onde plantando-se nascem a traição, a único consolo que sinto ao pensar na inevitabilidade da minha
sordidez, a banalidade, também afloram a alegria, a morte é o mesmo que se sente quando o barco está em perigo:
ingenuidade, a esperança, a generosidade, atributos encontramo-nos todos na mesma situação.”
alimentados pelo feijão bem temperado, o arroz soltinho, o (Tolstói)
bolo de milho, o bife acebolado, e tantos outros anjos feitos
com gema de ovo, que deita raízes no mundo árabe, no mundo Alguns elementos do pensamento de Tolstói se referem a
luso. termos anteriores, o que dá coesão ao texto. Assinale a opção
5 Deste país surgiram inesgotáveis sagas, narradores em que o termo cujo referente anterior está indicado
astutos, alegres mentirosos. Seres anônimos, heróis de si incorretamente.
mesmos, poetas dos sonhos e do sarcasmo, senhores de (A) “que sinto” / consolo.
máscaras venezianas, africanas, ora carnavalescas, ora (B) “o mesmo” / consolo.
mortuárias. Criaturas que, afinadas com a torpeza e as (C) “que se sente” / consolo.
inquietudes do seu tempo, acomodam-se esplêndidas à (D) “todos” / nos.
sombra da mangueira só pelo prazer de dedilhar as cordas da (E) “na mesma situação” / inevitabilidade da morte.
guitarra e do coração.
6 Neste litoral, que foi berço de heróis, de marinheiros, Gabarito
onde os saveiros da imaginação cruzavam as águas dos mares
bravios em busca de peixes, de sereias e da proteção de 01.B / 02.A / 03.A / 04.B / 05.C / 06.D / 07.E / 08.E
Iemanjá, ali se instalaram civilizações feitas das sobras de
outras tantas culturas. Cada qual fincando hábitos, expressões,
loucas demências nos nossos peitos.
7 Este Brasil que critico, examino, amo, do qual nasceu
Machado de Assis, cujo determinismo falhou ao não prever a
própria grandeza. Mas como poderia este mulato, este negro,
este branco, esta alma miscigenada, sempre pessimista e feroz,

Língua Portuguesa 100


APOSTILAS OPÇÃO

o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da


linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de
Variação linguística humaníssimo), uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima),
um carro hiperpossante (em vez de possantíssimo).
- A conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA regulares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se
ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser).
Todas as pessoas que falam uma determinada língua - A conjugação de verbos regulares pelo modelo de
conhecem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento irregulares: vareia (varia), negoceia (negocia).
podem sofrer variações devido à influência de inúmeros - Uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-
fatores. Tais variações, que às vezes são pouco perceptíveis e versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha
outras vezes bastante evidentes, recebem o nome genérico de (o champanha), tive muita dó dela (muito dó, mistura do cal /
variedades ou variações linguísticas. da cal).
Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os - A omissão do “s” como marca de plural de substantivos e
seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os
Sabe-se que, numa mesma língua, há formas distintas para livro indicado, as noite fria, os caso mais comum.
traduzir o mesmo significado dentro de um mesmo contexto. - O enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero
Suponham-se, por exemplo, os dois enunciados a seguir: que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas
eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer;
1º Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz Não é possível que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que
tempo. eu.
2º Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos.
Variações Sintáticas
Qualquer falante do português reconhecerá que os dois Dizem respeito às correlações entre as palavras da frase.
enunciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo sentido, No domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas
mas também que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que as diferenças entre uma variante e outra. Como exemplo,
o segundo é de uma pessoa mais “estudada”. podemos citar:
Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem saber - O uso de pronomes do caso reto com outra função que
dar grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem não a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua;
muitas maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos não irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu
chamam de variações linguísticas. (em vez de ti) e ele.
As variações que distinguem uma variante de outra se - O uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em
manifestam em quatro planos distintos, a saber: fônico, vez de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.
morfológico, sintático e lexical. - a ausência da preposição adequada antes do pronome
relativo em função de complemento verbal: são pessoas que
Tipos de Variações Linguísticas (em vez de: de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que
(em vez de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em
Variações Fônicas que) eu mais confio.
São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons - A substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome
constituintes da palavra. Os exemplos de variação fônica são “que” no início da frase mais a combinação da preposição “de”
abundantes e, ao lado do vocabulário, constituem os domínios com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a
em que se percebe com mais nitidez a diferença entre uma família dele (em vez de cuja família eu já conhecia).
variante e outra. Entre esses casos, podemos citar: - A mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo
- A queda do “r” final dos verbos, muito comum na quando se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero
linguagem oral no português: falá, vendê, curti (em vez de falar com você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em
curtir), compô. vez de tua) voz me irrita.
- O acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me - Ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem chegou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou
clássica, hoje frequentes na fala caipira. naquela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios.
- A queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava,
marelo (amarelo), margoso (amargoso), características na Variações Léxicas
linguagem oral coloquial. É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes do
- A redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis plano do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas
(Petrópolis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas e caracterizam com nitidez uma variante em confronto com
típicas de pessoas de baixa condição social. outra. Eis alguns, entre múltiplos exemplos possíveis de citar:
- A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das - A escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio para formar o grau superlativo dos adjetivos, características
Grande do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na da linguagem jovem de alguns centros urbanos: maior legal;
linguagem caipira): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, maior difícil; Esse amigo é um carinha maior esforçado.
pastel; faróu, farór, farol. - As diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e,
- Deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, às vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de
preguntar, estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa lado a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo
condição social. que no Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila
no Brasil, em Portugal chamam de bicha; café da manhã em
Variações Morfológicas Portugal se diz pequeno almoço; camisola em Portugal traduz
São as que ocorrem nas formas constituintes da palavra. o mesmo que chamamos de suéter, malha, camiseta.
Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são tão
numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são Designações das Variantes Lexicais
desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: - Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e, por
- O uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar isso, denunciam uma linguagem já ultrapassada e envelhecida.

Língua Portuguesa 101


APOSTILAS OPÇÃO

É o caso de reclame, em vez de anúncio publicitário; na década casamento); chufa (em vez de caçoada, troça).
de 60, o rapaz chamava a namorada de broto (hoje se diz
gatinha ou forma semelhante), e um homem bonito era um - Vulgarismo: é o contrário do preciosismo, ou seja, o uso
pão; na linguagem antiga, médico era designado pelo nome de um léxico vulgar, rasteiro, obsceno, grosseiro. É o caso de
físico; um bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de quem diz, por exemplo, de saco cheio (em vez de aborrecido),
refrigerante usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade se ferrou (em vez de se deu mal, arruinou-se), feder (em vez de
excelente, era supimpa. cheirar mal), ranho (em vez de muco, secreção do nariz).

- Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de Atenção: as variações mais importantes, para o interesse
palavras recém-criadas, muitas das quais mal ou nem do concurso público são: a sociocultural, a geográfica, a
entraram para os dicionários. A moderna linguagem da histórica e a de situação.
computação tem vários exemplos, como escanear, deletar,
Assim vejamos:
printar; outros exemplos extraídos da tecnologia moderna são
- Sociocultural: esse tipo de variação pode ser percebido
mixar (fazer a combinação de sons), robotizar, robotização.
com certa facilidade. Por exemplo, alguém diz a seguinte frase:
- Estrangeirismo: trata-se do emprego de palavras
“Tá na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.”
emprestadas de outra língua, que ainda não foram
(frase 1)
aportuguesadas, preservando a forma de origem. Nesse caso,
há muitas expressões latinas, sobretudo da linguagem jurídica,
Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos
tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas o corpo” ou,
caracterizá-la, por exemplo, pela sua profissão: um advogado?
mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto (“pelo
Um trabalhador braçal de construção civil? Um médico? Um
próprio fato de”, “por isso mesmo”), ipsis litteris (textualmente,
garimpeiro? Um repórter de televisão?
“com as mesmas letras”), grosso modo (“de modo grosseiro”,
E quem usaria a frase abaixo?
“impreciso”), sic (“assim, como está escrito”), data venia (“com
sua permissão”).
“Obviamente faltou-lhe coragem para enfrentar os ladrões.”
As palavras de origem inglesas são inúmeras: insight
(frase 2)
(compreensão repentina de algo, uma percepção súbita),
Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes
feeling (“sensibilidade”, capacidade de percepção), briefing
a grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que,
(conjunto de informações básicas), jingle (mensagem
muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou,
publicitária em forma de música).
quando muito, fizeram-no em condições não adequadas.
Do francês, hoje são poucos os estrangeirismos que ainda
Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que
não se aportuguesaram, mas há ocorrências: hors-concours
tiveram possibilidades socioeconômicas melhores e puderam,
(“fora de concurso”, sem concorrer a prêmios), tête-à-tête
por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a
(palestra particular entre duas pessoas), esprit de corps
leitura, com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa
(“espírito de corpo”, corporativismo), menu (cardápio), à la
forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.
carte (cardápio “à escolha do freguês”), physique du rôle
Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita
(aparência adequada à caracterização de um personagem).
acima está bastante simplificada, uma vez que há diversos
outros fatores que interferem na maneira como o falante
- Jargão: é o vocabulário típico de um campo profissional
escolhe as palavras e constrói as frases. Por exemplo, a
como a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. No
situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri,
jargão médico temos uso tópico (para remédios que não devem
jamais usaria a expressão “tá na cara”, mas isso não significa
ser ingeridos), apneia (interrupção da respiração), AVC ou
que ele não possa usá-la numa situação informal (conversando
acidente vascular cerebral (derrame cerebral). No jargão
com alguns amigos, por exemplo).
jornalístico chama-se de gralha, pastel ou caco o erro
Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir que
tipográfico como a troca ou inversão de uma letra. A palavra
as condições sociais influem no modo de falar dos indivíduos,
lide é o nome que se dá à abertura de uma notícia ou
gerando, assim, certas variações na maneira de usar uma
reportagem, onde se apresenta sucintamente o assunto ou se
mesma língua. A elas damos o nome de variações
destaca o fato essencial. Quando a lide é muito prolixa, é
socioculturais.
chamada de nariz-de-cera. Furo é notícia dada em primeira
mão. Quando o furo se revela falso, foi uma barriga. Entre os
- Geográfica: no Brasil pode ser considerada a mais
jornalistas é comum o uso do verbo repercutir como transitivo
abrangente e é facilmente notada. Ela se caracteriza pelo
direto: __ Vá lá repercutir a notícia de renúncia! (esse uso é
acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas
considerado errado pela gramática normativa).
do som (altura, timbre, intensidade), por isso é uma variante
cujas marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao
- Gíria: é o vocabulário especial de um grupo que não
conjunto das características da pronúncia de uma
deseja ser entendido por outros grupos ou que pretende
determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque
marcar sua identidade por meio da linguagem. Existe a gíria de
mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc. A variação
grupos marginalizados, de grupos jovens e de segmentos
geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser
sociais de contestação, sobretudo quando falam de atividades
percebida no vocabulário, em certas estruturas de frases e nos
proibidas. A lista de gírias é numerosíssima em qualquer
sentidos diferentes que algumas palavras podem assumir em
língua: ralado (no sentido de afetado por algum prejuízo ou
diferentes regiões do país.
má-sorte), ir pro brejo (ser malsucedido, fracassar, prejudicar-
Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho
se irremediavelmente), cara ou cabra (indivíduo, pessoa),
abaixo, em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, recria
bicha (homossexual masculino), levar um lero (conversar).
a fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas:
- Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico
“__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado
excessivamente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez
Mangolô!].
de corrigir); procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez
__ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não
de discordar); cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em
faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era
vez de obscurecer ou embaçar); conúbio (em vez de
moço, isso sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite,

Língua Portuguesa 102


APOSTILAS OPÇÃO

foras d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é novo, gosta Futurologia, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a
de fazer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não, estou Sudene, o Incra, a Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU.
percurando é sossego...” Estão reclamando, porque não citei a conotação, o
conglomerado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM,
- Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom, e a guitarra
Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a elétrica.
forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra
Essas alterações recebem o nome de variações históricas. tensora, vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster,
Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de filhotes de bonificação, letra imobiliária, conservacionismo,
Andrade. Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, carnet da girafa, poluição.
mostra como a língua vai mudando com o tempo. No texto I, ele Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos
fala das palavras de antigamente e, no texto II, fala das palavras fiscais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa
de hoje. microrranhuras. Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos
super congelados. Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV
Texto I Rodoviária. Argh! Pow! Click!
Não havia nada disso no Jornal do tempo de Venceslau Brás,
Antigamente ou mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas começam a
aparecer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram consumo geral. A enumeração caótica não é uma invenção
todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; completavam crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre
primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo palavras circulamos, vivemos, morremos, e palavras somos,
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas finalmente, mas com que significado?
ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa,
Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988)
remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra
freguesia. (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, - De Situação: aquelas que são provocadas pelas
saindo para tomar a fresca; e também tomava cautela de não alterações das circunstâncias em que se desenrola o ato de
apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e comunicação. Um modo de falar compatível com determinada
mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou situação é incompatível com outra.
sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se Ex.: Ô mano, ta difícil de te entendê.
metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não
admira que dessem com os burros n’agua. Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em
(...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos situação informal, não tem cabimento se o interlocutor é o
queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a professor em situação de aula.
mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a Assim, um único indivíduo não fala de maneira uniforme
tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a em todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes da
desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que linguagem culta, que servem invariavelmente de uma
seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram linguagem formal, sendo, por isso mesmo, considerados
mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da excessivamente formais ou afetados.
igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas teteias. São muitos os fatores de situação que interferem na fala de
(...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os um indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele discorre (em
meninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam princípio ninguém fala da morte ou de suas crenças religiosas
ceroulas, bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos, como falaria de um jogo de futebol ou de uma briga que tenha
mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam. presenciado), o ambiente físico em que se dá um diálogo (num
Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora. templo não se usa a mesma linguagem que numa sauna), o
grau de intimidade entre os falantes (com um superior, a
Texto II linguagem é uma, com um colega de mesmo nível, é outra), o
grau de comprometimento que a fala implica para o falante
Entre Palavras (num depoimento para um juiz no fórum escolhem-se as
palavras, num relato de uma conquista amorosa para um
Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – colega fala-se com menos preocupação).
circulamos. A maioria delas não figura nos dicionários de há As variações de acordo com a situação costumam ser
trinta anos, ou figura com outras acepções. A todo momento chamadas de níveis de fala ou, simplesmente, variações de
impõe-se tornar conhecimento de novas palavras e estilo e são classificadas em duas grandes divisões:
combinações. - Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de reflexão
Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhuma sobre o que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância.
palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem registrá-la. É na linguagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é
Amanhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu mais tenso.
avô; talvez ele não entenda o que você diz. - Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala com
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão
a chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a informática, sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e
a dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em 1940? familiar que esse estilo melhor se manifesta.
Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um
motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o antibiótico, pequeno trecho da gravação de uma conversa telefônica entre
o enfarte, a acupuntura, a biônica, o acrílico, o ta legal, a duas universitárias paulistanas de classe média, transcrito do
apartheid, o som pop, as estruturas e a infraestrutura. livro Tempos Linguísticos, de Fernando Tarallo. As reticências
Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo, indicam as pausas.
a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o bandeirinha,
o mas media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem. Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espírito, tem
Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara rachada? Fica
servomecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um artigo, lê?! Um

Língua Portuguesa 103


APOSTILAS OPÇÃO

menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, ele me, nóis ficamo
até duas hora da manhã ele me explicando toda a matéria de
economia, das nove da noite.

Como se pode notar, não há preocupação com a pronúncia


nem com a continuidade das ideias, nem com a escolha das
palavras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho da
gravação de uma aula de português de uma professora
universitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de Dinah
Callou. A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro. As
pausas são marcadas com reticências.

O que está ocorrendo com nossos alunos é uma


fragmentação do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e
fica com uma série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não
sabe vincular a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido
também para a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série...
de conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados...
mas que... na hora de serem empregados... deixam muito a
desejar...

Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau


de formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas
trata-se de um estilo bem mais formal e vigiado que a do
exemplo anterior.

Anotações

Língua Portuguesa 104


RACIOCÍNIO LÓGICO E
MATEMÁTICO
APOSTILAS OPÇÃO

Denominadores diferentes dos citados anteriormente:


Enuncia-se o numerador e, em seguida, o denominador
seguido da palavra “avos”.
Exemplos
8
𝑙ê − 𝑠𝑒 ∶ 𝑜𝑖𝑡𝑜 𝑣𝑖𝑛𝑡𝑒 𝑐𝑖𝑛𝑐𝑜 𝑎𝑣𝑜𝑠
25
2
𝑙ê − 𝑠𝑒 ∶ 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑐𝑒𝑛𝑡é𝑠𝑖𝑚𝑜𝑠
Resolução de problemas 100
envolvendo frações, conjuntos, Tipos de Frações
porcentagens, sequências
Frações Próprias: Numerador é menor que o
(com números, com figuras, de denominador.
palavras) Exemplos
1 5 3
; ; ;…
6 8 4
NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao
Quando um todo ou uma unidade é dividido em partes denominador.
iguais, uma dessas partes ou a reunião de várias, formam o que Exemplos
chamamos de fração do todo. Para se representar uma fração 6 8 4
; ; ;…
5 5 3
são, portanto, necessários dois números inteiros1.
O primeiro, para indicar em quantas partes iguais foi
Frações aparentes: Numerador é múltiplo do
dividida a unidade (ou todo) e que dá nome a cada parte e, por
denominador. As mesmas pertencem também ao grupo das
essa razão, chama-se denominador da fração;
frações impróprias.
O segundo, que indica o número de partes que foram
Exemplos
reunidas ou tomadas da unidade e, por isso, chama-se 6 8 4
numerador da fração. O numerador e o denominador ; ; ;…
1 4 2
constituem o que chamamos de termos da fração.
Observe a figura abaixo: Frações particulares: Para formamos uma fração de uma
grandeza, dividimos esta pelo denominador e multiplicamos
pelo numerador.
Exemplos
1 – Se o numerador é igual a zero, a fração é igual a zero:
0 0
= = 0.
6 5
2- Se o denominador é 1, a fração é igual ao numerador:
25 325
= 25; = 325
1 1

- Quando o denominador é zero, a fração não tem sentido,


pois a divisão por zero é impossível.
- Quando o numerador e denominador são iguais, o
resultado da divisão é sempre 1.
A primeira nota dó é 14/14 ou 1 inteiro, pois representa a
fração cheia; a ré é 12/14 e assim sucessivamente.
Números mistos: Números compostos de uma parte
inteira e outra fracionária. Podemos transformar uma fração
Nomenclaturas das Frações imprópria na forma mista e vice e versa.
Exemplos
Numerador → Indica
quantas partes
tomamos do total
que foi dividida a
unidade.

Denominador →
Indica quantas partes
iguais foi dividida a Frações equivalentes: Duas ou mais frações que
unidade. apresentam a mesma parte da unidade.
Exemplo
Na figura, lê-se: três oitavos. 4: 4 1 4: 2 2 2: 2 1
= ; 𝑜𝑢 = ; 𝑜𝑢 =
8: 4 2 8: 2 4 4: 2 2
Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços,
quartos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos. 4 2
As frações , e
1
são equivalentes.
Frações com denominadores potências de 10: décimos, 8 4 2
centésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de
milésimos, etc. Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o
denominador são primos entre si.

1
CABRAL, Luiz Claudio; NUNES, Mauro César. Matemática básica explicada passo
a passo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Raciocínio Lógico e Matemático 1


APOSTILAS OPÇÃO

Exemplo: 5/11 ; 17/29; 5/3 288: 2 144


=
10: 2 5
Comparação e simplificação de frações
Divisão: O quociente de uma fração é igual a primeira
Comparação: quando duas frações tem o mesmo fração multiplicada pelo inverso da segunda fração.
denominador, a maior será aquela que possuir o maior Exemplo
numerador.
Exemplo
5/7 >3/7
Simplificando a fração resultante:
Quando os denominadores são diferentes, devemos 168: 8 21
reduzi-lo ao mesmo denominador. 24: 8
=
3
Exemplo
7/6 e 3/7 Questões

Fazer o mmc dos denominadores → mmc(6,7) = 42 01. (Pref. Maranguape/CE – Prof. de educação básica –
Divide pelo debaixo e multiplica pelo de cima. Matemática – GR Consultoria e Assessoria) João gastou R$
7.7 3.6 49 18 23,00, equivalente a terça parte de 3/5 de sua mesada. Desse
𝑒 → 𝑒
42 42 42 42 modo, a metade do valor da mesada de João é igual a:
2º - Compararmos as frações: (A) R$ 57,50;
49/42 > 18/42. (B) R$ 115,00;
(C) R$ 172,50;
Simplificação: É dividir os termos por um mesmo número (D) R$ 68,50;
até obtermos termos menores que os iniciais. Com isso
formamos frações equivalentes a primeira. 02. (EBSERH/ HUSM – UFSM/RS – Analista
Exemplo Administrativo – Administração – AOCP) Uma revista
4: 4 1 1
= perdeu 5 dos seus 200.000 leitores.
8: 4 2
Quantos leitores essa revista perdeu?
Operações com frações (A) 40.000.
(B) 50.000.
Adição e Subtração (C) 75.000.
Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador (D) 95.000.
e soma-se ou subtrai-se os numeradores. (E) 100.000.

03. (METRÔ – Assistente Administrativo Júnior – FCC)


Dona Amélia e seus quatro filhos foram a uma doceria comer
tortas. Dona Amélia comeu 2 / 3 de uma torta. O 1º filho comeu
3 / 2 do que sua mãe havia comido. O 2º filho comeu 3 / 2 do
que o 1º filho havia comido. O 3º filho comeu 3 / 2 do que o 2º
filho havia comido e o 4º filho comeu 3 / 2 do que o 3º filho
Com denominadores diferentes: Reduz-se ao mesmo havia comido. Eles compraram a menor quantidade de tortas
denominador através do mmc entre os denominadores. inteiras necessárias para atender a todos. Assim, é possível
O processo é valido tanto para adição quanto para calcular corretamente que a fração de uma torta que sobrou
subtração. foi
(A) 5 / 6.
(B) 5 / 9.
(C) 7 / 8.
(D) 2 / 3.
(E) 5 / 24.

Comentários

01. Resposta: A
Vamos chamar de x a mesada.
Como ele gastou a terça parte 1/3 de 3/5 da mesada que
equivale a 23,00. Podemos escrever da seguinte maneira:
1 3 𝑥
. 𝑥 = = 23 → 𝑥 = 23.5 → 𝑥 = 115
3 5 5

Multiplicação e Divisão Logo a metade de 115 = 115/2 = 57,50


Multiplicação: É produto dos numerados dados e dos
denominadores dados. 02. Resposta: A
1
Exemplo Para resolver esse exercício, basta calcular 5
. 200000 =
40000, logo a resposta correta é a alternativa A.

03. Resposta: E
Vamos chamar a quantidade de tortas de (x). Assim:
Podemos ainda simplificar a fração resultante: 𝟐 𝟐
* Dona Amélia: 𝟑 . 𝟏 = 𝟑

Raciocínio Lógico e Matemático 2


APOSTILAS OPÇÃO

* 1º filho:
𝟑
.
𝟐
=𝟏 - {x | x é um número natural menor que 4 } é o mesmo que
𝟐 𝟑
{0, 1, 2, 3}
𝟑 𝟑 - {x : x em um número inteiro e x² = x } é o mesmo que {0,
* 2º filho: .𝟏 = 1}
𝟐 𝟐

* 3º filho:
𝟑
.
𝟑
=
𝟗
Pelo diagrama de Venn-Euler: O diagrama de Venn-Euler
𝟐 𝟐 𝟒
consiste em representar o conjunto através de um “círculo” de
𝟑 𝟗 𝟐𝟕 tal forma que seus elementos e somente eles estejam no
* 4º filho: . = “círculo”.
𝟐 𝟒 𝟖

𝟐 𝟑 𝟗 𝟐𝟕
+𝟏+ + + Exemplos
𝟑 𝟐 𝟒 𝟖
- Se A = {a, e, i, o, u} então
𝟏𝟔 + 𝟐𝟒 + 𝟑𝟔 + 𝟓𝟒 + 𝟖𝟏 𝟐𝟏𝟏 𝟐𝟒 𝟏𝟗 𝟏𝟗
𝟐𝟒
= 𝟐𝟒
= 𝟖 . 𝟐𝟒 + 𝟐𝟒
= 𝟖+ 𝟐𝟒

Ou seja, eles comeram 8 tortas, mais 19/24 de uma torta.


Por fim, a fração de uma torta que sobrou foi:
𝟐𝟒 𝟏𝟗 𝟓
− =
𝟐𝟒 𝟐𝟒 𝟐𝟒

CONJUNTOS - Se B = {0, 1, 2, 3 }, então

Os conceitos de conjunto, elemento e pertinência são


primitivos, ou seja, não são definidos.
Esses objetos podem ser de qualquer natureza. Podemos
falar em conjunto de casas, de alunos, de logotipos, de figuras
geométricas, de números etc.
Conjuntos, como usualmente são concebidos, têm
elementos. Um conjunto geralmente é indicado por uma letra
maiúscula do alfabeto.
Os objetos que compõem um conjunto são chamados Conjunto Vazio
elementos. Convém frisar que um conjunto pode ele mesmo Conjunto vazio é aquele que não possui elementos.
ser elemento de algum outro conjunto. Representa-se pela letra do alfabeto norueguês Ø ou,
Em geral indicaremos os conjuntos pelas letras maiúsculas simplesmente { }.
A, B, C, ..., X, e os elementos pelas letras minúsculas a, b, c, ..., x,
y, ..., embora não exista essa obrigatoriedade. Exemplos
Outro conceito fundamental é o de relação de pertinência - Ø= {x : x é um número inteiro e 3x = 1}
que nos dá um relacionamento entre um elemento e um - Ø= {x | x é um número natural e 3 – x = 4}
conjunto. - Ø= {x | x ≠ x}
Se x é um elemento de um conjunto A, escreveremos x∈A
Lê-se: x é elemento de A ou x pertence a A. Subconjunto
Se x não é um elemento de um conjunto A, escreveremos Sejam A e B dois conjuntos. Se todo elemento de A é
x∉A também elemento de B, dizemos que A é um subconjunto de B
Lê-se x não é elemento de A ou x não pertence a A. ou A é a parte de B ou, ainda, A está contido em B e indicamos
por A ⊂ B.
Como representar um conjunto
Pela designação de seus elementos: Escrevemos os Portanto, A ⊄B significa que A não é um subconjunto de B
elementos entre chaves, separando os por vírgula. ou A não é parte de B ou, ainda, A não está contido em B.
Por outro lado, A ⊄ B se, e somente se, existe, pelo menos,
Exemplos um elemento de A que não é elemento de B.
{3, 6, 7, 8} indica o conjunto formado pelos elementos 3, 6,
7 e 8. Exemplos
{a; b; m} indica o conjunto constituído pelos elementos a, - {2, 4} ⊂{2, 3, 4}, pois 2 ∈ {2, 3, 4} e 4 ∈ {2, 3, 4}
b, m. - {2, 3, 4}  {2, 4}, pois 3 ∉{2, 4}
Pela propriedade de seus elementos: Conhecida uma - {5, 6} ⊂ {5, 6}, pois 5 ∈{5, 6} e 6 ∈{5, 6}
propriedade P que caracteriza os elementos de um conjunto A,
este fica bem determinado. Inclusão e pertinência
P termo “propriedade P que caracteriza os elementos de A definição de subconjunto estabelece um relacionamento
um conjunto A” significa que, dado um elemento x qualquer entre dois conjuntos e recebe o nome de relação de inclusão
temos: (⊂).
Assim sendo, o conjunto dos elementos x que possuem a A relação de pertinência (∈) estabelece um relacionamento
propriedade P é indicado por: entre um elemento e um conjunto e, portanto, é diferente da
{x, tal que x tem a propriedade P} relação de inclusão.
Uma vez que “tal que” pode ser denotado por t.q. ou | ou
ainda :, podemos indicar o mesmo conjunto por: Exemplo
{x, t . q . x tem a propriedade P} ou, ainda, {1, 3} ⊂{1, 3, 4}
{x : x tem a propriedade P} 2 ∈ {2, 3, 4}

Exemplos
- { x, t.q. x é vogal } é o mesmo que {a, e, i, o, u}

Raciocínio Lógico e Matemático 3


APOSTILAS OPÇÃO

Igualdade Conjunto das partes


Sejam A e B dois conjuntos. Dizemos que A é igual a B e Dado um conjunto A podemos construir um novo conjunto
indicamos por A = B se, e somente se, A é subconjunto de B e B formado por todos os subconjuntos (partes) de A. Esse novo
é também subconjunto de A. conjunto chama-se conjunto dos subconjuntos (ou das partes)
Demonstrar que dois conjuntos A e B são iguais equivale, de A e é indicado por P(A).
segundo a definição, a demonstrar que A ⊂ B e B ⊂ A.
Segue da definição que dois conjuntos são iguais se, e Exemplos
somente se, possuem os mesmos elementos. a) = {2, 4, 6}
Portanto A ≠ B significa que A é diferente de B. Portanto A P(A) = {Ø, {2}, {4}, {6}, {2,4}, {2,6}, {4,6}, A}
≠ B se, e somente se, A não é subconjunto de B ou B não é
subconjunto de A. b) = {3,5}
P(B) = {Ø, {3}, {5}, B}
Exemplos
- {2, 4} = {4, 2}, pois {2, 4} ⊂ {4, 2} e {4, 2}⊂ {2, 4}. Isto nos c) = {8}
mostra que a ordem dos elementos de um conjunto não deve P(C) = {Ø, C}
ser levada em consideração. Em outras palavras, um conjunto
fica determinado pelos elementos que o mesmo possui e não d) = Ø
pela ordem em que esses elementos são descritos. P(D) = {Ø}
- {2, 2, 2, 4} = {2, 4}, pois {2, 2, 2, 4} ⊂ {2, 4} e {2, 4} ⊂ {2, 2,
2, 4}. Isto nos mostra que a repetição de elementos é Propriedades
desnecessária. Seja A um conjunto qualquer e Ø o conjunto vazio. Valem
- {a, a} = {a} as seguintes propriedades:
- {a, b} = {a} ↔ a= b
- {1, 2} = {x, y} ↔ (x = 1 e y = 2) ou (x = 2 e y = 1) Ø≠(Ø) Ø∉Ø Ø⊂Ø Ø∈{Ø}
Ø⊂A ↔ Ø ∈ P(A) A ⊂ A ↔ A ∈ P(A)
Número de Elementos da União e da Intersecção de
Conjuntos
Dados dois conjuntos A e B, como vemos na figura abaixo, Se A tem n elementos então A possui 2n subconjuntos e,
podemos estabelecer uma relação entre os respectivos portanto, P(A) possui 2n elementos.
números de elementos.
União de conjuntos
A união (ou reunião) dos conjuntos A e B é o conjunto
formado por todos os elementos que pertencem a A ou a B.
Representa-se por A∪B.
Simbolicamente: A∪B = {X | X∈A ou X∈B}

𝑛(𝐴 ∪ 𝐵) = 𝑛(𝐴) + 𝑛(𝐵) − 𝑛(𝐴 ∩ 𝐵)

Note que ao subtrairmos os elementos comuns (𝑛(𝐴 ∩ 𝐵))


evitamos que eles sejam contados duas vezes.

Observações:
a) Se os conjuntos A e B forem disjuntos ou se mesmo um
deles estiver contido no outro, ainda assim a relação dada será Exemplos
verdadeira. - {2, 3}∪{4, 5, 6}={2, 3, 4, 5, 6}
b) Podemos ampliar a relação do número de elementos - {2, 3, 4}∪{3, 4, 5}={2, 3, 4, 5}
para três ou mais conjuntos com a mesma eficiência. - {2, 3}∪{1, 2, 3, 4}={1, 2, 3, 4}
- {a, b}∪{a, b}
Observe o diagrama e comprove.
Intersecção de conjuntos
A intersecção dos conjuntos A e B é o conjunto formado por
todos os elementos que pertencem, simultaneamente, a A e a
B. Representa-se por A∩B. Simbolicamente: A∩B = {X | X∈A e
X∈B}

𝑛(𝐴 ∪ 𝐵 ∪ 𝐶) = 𝑛(𝐴) + 𝑛(𝐵) + 𝑛(𝐶) − 𝑛(𝐴 ∩ 𝐵) − Exemplos


−𝑛(𝐴 ∩ 𝐶) − 𝑛(𝐵 ∩ 𝐶) + 𝑛(𝐴 ∩ 𝐵 ∩ 𝐶) - {2, 3, 4}∩{3, 5}={3}
- {1, 2, 3}∩{2, 3, 4}={2, 3}
- {2, 3}∩{1, 2, 3, 5}={2, 3}
- {2, 4}∩{3, 5, 7}=Ø

Raciocínio Lógico e Matemático 4


APOSTILAS OPÇÃO

Observação: Se A∩B=Ø, dizemos que A e B são conjuntos Questões


disjuntos.
01. (MGS- Nível Fundamental Incompleto-IBFC) A
união entre os conjuntos A ={ 0,1,2,3,4,5} e B = {1,2,3,5,6,7,8}
é:
(A){0,1,2,3,5,6,7,8}
(B){0,1,2,3,4,5,6,7,8}
(C){1,2,3,4,5,6,7,8}
(D){0,1,2,3,4,5,6,8}
Subtração
A diferença entre os conjuntos A e B é o conjunto formado 02. (Pref. de Maria Helena/PR - Professor - Ensino
por todos os elementos que pertencem a A e não pertencem a Fundamental - FAFIPA) Considere os conjuntos A=
B. Representa-se por A – B. Simbolicamente: A – B = {X | X ∈A {3,6,11,13,21} e B= {2,3,4,6,9,11,13,19,21,23,26}. Sobre os
e X∉B} conjuntos A e B podemos afirmar que:
(A)A ⊂ B
(B)9 ∉ B
(C)17 ∈ A
(D)A ⊃ B

03. (Metrô/SP – Oficial Logística –Almoxarifado I –


FCC) O diagrama indica a distribuição de atletas da delegação
de um país nos jogos universitários por medalha conquistada.
O conjunto A – B é também chamado de conjunto Sabe-se que esse país conquistou medalhas apenas em
complementar de B em relação a A, representado por CAB. modalidades individuais. Sabe-se ainda que cada atleta da
Simbolicamente: CAB = A – B = {X | X∈A e X∉B} delegação desse país que ganhou uma ou mais medalhas não
ganhou mais de uma medalha do mesmo tipo (ouro, prata,
Exemplos bronze). De acordo com o diagrama, por exemplo, 2 atletas da
A = {0, 1, 2, 3} e B = {0, 2} delegação desse país ganharam, cada um, apenas uma medalha
CAB = A – B = {1, 3} e CBA = B – A =Ø de ouro.
A = {1, 2, 3} e B = {2, 3, 4}
CAB = A – B = {1} e CBA = B – A = {14}

A = {0, 2, 4} e B = {1 ,3 ,5}
CAB = A – B = {0, 2, 4} e CBA = B – A = {1, 3, 5}

Observações: Alguns autores preferem utilizar o conceito


de completar de B em relação a A somente nos casos em que B
⊂ A.
- Se B ⊂ A representa-se por ̅B o conjunto complementar A análise adequada do diagrama permite concluir
de B em relação a A. Simbolicamente: B ⊂ A ↔ ̅B= A – B = CAB´ corretamente que o número de medalhas conquistadas por
esse país nessa edição dos jogos universitários foi de:
(A) 15.
(B) 29.
(C) 52.
(D) 46.
(E) 40.

04. (Pref. de Camaçari/BA – Téc. Vigilância em Saúde


NM – AOCP) Qual é o número de elementos que formam o
conjunto dos múltiplos estritamente positivos do número 3,
menores que 31?
Exemplos (A) 9
Seja S = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6}. Então: (B) 10
a) A = {2, 3, 4} → A ̅ = {0, 1, 5, 6} (C) 11
b) B = {3, 4, 5, 6 } → B̅ = {0, 1, 2} (D) 12
c) C = Ø→ C ̅ =S (E) 13

Número de elementos de um conjunto 05. (Pref. de Camaçari/BA – Téc. Vigilância em Saúde


Sendo X um conjunto com um número finito de elementos, NM – AOCP) Considere dois conjuntos A e B, sabendo que 𝐴 ∩
representa-se por n(X) o número de elementos de X. Sendo, 𝐵 = {3}, 𝐴 ∪ 𝐵 = {0; 1; 2; 3; 5} 𝑒 𝐴 − 𝐵 = {1; 2}, assinale a
ainda, A e B dois conjuntos quaisquer, com número finito de alternativa que apresenta o conjunto B.
elementos temos: (A) {1;2;3}
n(A ∪ B) = n(A) + n(B) - n(A ∩ B) (B) {0;3}
A ∩ B = Ø → n(A ∪ B) = n(A) + n(B) (C) {0;1;2;3;5}
n(A - B) = n(A) - n(A ∩ B) (D) {3;5}
B ⊂ A → n(A - B) = n(A) - n(B) (E) {0;3;5}

06. (Metrô/SP – Engenheiro Segurança Do Trabalho –


FCC) Uma pesquisa, com 200 pessoas, investigou como eram
utilizadas as três linhas: A, B e C do Metrô de uma cidade.

Raciocínio Lógico e Matemático 5


APOSTILAS OPÇÃO

Verificou-se que 92 pessoas utilizam a linha A; 94 pessoas X=18


utilizam a linha B e 110 pessoas utilizam a linha C. Utilizam as
linhas A e B um total de 38 pessoas, as linhas A e C um total de PORCENTAGEM
42 pessoas e as linhas B e C um total de 60 pessoas; 26 pessoas
que não se utilizam dessas linhas. Desta maneira, conclui-se Razões de denominador 100 são chamadas de razões
corretamente que o número de entrevistados que utilizam as centesimais ou taxas percentuais ou simplesmente de
linhas A e B e C é igual a: porcentagem2. Servem para representar de uma
(A) 50. maneira prática o "quanto" de um "todo" se está
(B) 26. referenciando.
(C) 56. Costumam ser indicadas pelo numerador seguido do
(D) 10. símbolo % (Lê-se: “por cento”).
(E) 18.
𝒙
𝒙% =
Comentários 𝟏𝟎𝟎

01. Resposta: B. Exemplo:


A ={0,1,2,3,4,5} e B = {1,2,3,5,6,7,8} Em uma classe com 30 alunos, 18 são rapazes e 12 são
A união entre conjunto é juntar A e B: moças. Qual é a taxa percentual de rapazes na classe?
{0,1,2,3,4,5,6,7,8} Resolução: A razão entre o número de rapazes e o total de
18
alunos é 30 . Devemos expressar essa razão na forma
02. Resposta: A. centesimal, isto é, precisamos encontrar x tal que:
A "está contido em" B ou seja todos os números do
conjunto A estão no conjunto B. 18 𝑥
⊂ = A está contido em = ⟹ 𝑥 = 60
30 100
∉ = não pertence
∈ = Pertence E a taxa percentual de rapazes é 60%. Poderíamos ter
divido 18 por 30, obtendo:
03. Resposta: D.
Pelo diagrama verifica-se o número de atletas que 18
ganharam medalhas. = 0,60(. 100%) = 60%
30
No caso das intersecções, devemos multiplicar por 2 (por
ser 2 medalhas )e na intersecção das três medalhas Lucro e Prejuízo
(multiplica-se por 3). É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo.
Intersecções: Caso a diferença seja positiva, temos o lucro(L), caso seja
6 ∙ 2 = 12 negativa, temos prejuízo(P).
1∙2=2
4∙2=8 Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).
3∙3=9
Somando as outras: Podemos ainda escrever:
2+5+8+12+2+8+9=46 C + L = V ou L = V - C
P = C – V ou V = C - P
04. Resposta: B.
A={3,6,9,12,15,18,21,24,27,30} A forma percentual é:
10 elementos

05. Resposta: E.
Como a intersecção dos dois conjuntos, mostra que 3 é
elemento de B.
A-B são os elementos que tem em A e não em B. Exemplo
Então de AB, tiramos que B={0;3;5}. Um objeto custa R$ 75,00 e é vendido por R$ 100,00.
Determinar:
06. Resposta: E. a) a porcentagem de lucro em relação ao preço de custo;
b) a porcentagem de lucro em relação ao preço de venda.
Resolução
Preço de custo + lucro = preço de venda
75 + lucro =100
Lucro = R$ 25,00

𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 25
𝑎) . 100% ≅ ≅ 0,3333 …
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 75
≅ 33,33%

𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 25
𝑏) . 100% = = 25%
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎 100
92-38+x-x-42+x+94-38+x-x-60+x+110-42+x-x-60+x+38-
x+x+42-x+60-x+26=200 Aumento e Desconto Percentuais
X=200-182

2
IEZZI, Gelson Fundamentos da Matemática: Financeira e Estatística Descritiva.
Vol. 1. Atual, 2013.

Raciocínio Lógico e Matemático 6


APOSTILAS OPÇÃO

A) Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo descontos sucessivos de 4% e 5%, os quais correspondem a
𝒑
por (𝟏 + ).V . um desconto único de
𝟏𝟎𝟎
Logo: (A) 8,2%
𝒑 (B) 8,8%
VA = (𝟏 + ).V
𝟏𝟎𝟎 (C) 9%
(D) 9,12%
Exemplo: (E) 20%
01. Aumentar um valor V de 20%, equivale a multiplicá-lo
por 1,20, pois: 03. (PGE/PE – Analista de Procuradoria – CESPE/2019)
20
(1 + ).V = (1+0,20).V = 1,20.V No item seguinte apresenta uma situação hipotética, seguida
100
de uma assertiva a ser julgada, a respeito de
B) Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por proporcionalidade, porcentagens e descontos.
𝒑
(𝟏 − ).V. O casal Rafael e Joana investe R$ 2.000 todos os meses.
𝟏𝟎𝟎 Joana investe 50% a mais que Rafael e o valor investido por
Logo:
𝒑 cada um corresponde a 25% dos seus respectivos salários
V D = (𝟏 − 𝟏𝟎𝟎).V líquidos. Nessa situação, o salário líquido de Rafael é de R$
Exemplo 3.200.
Diminuir um valor V de 40%, equivale a multiplicá-lo por ( ) Certo ( ) Errado
0,60, pois:
40
(1 − ). V = (1-0,40). V = 0, 60.V 04. Marcos comprou um produto e pagou R$ 108,00, já
100
inclusos 20% de juros. Se tivesse comprado o produto, com
𝒑 𝒑 25% de desconto, então, Marcos pagaria o valor de:
A esse valor final de (𝟏 + ) ou (𝟏 − ), é o que
𝟏𝟎𝟎 𝟏𝟎𝟎 (A) R$ 67,50
chamamos de fator de multiplicação, muito útil para resolução (B) R$ 90,00
de cálculos de porcentagem. O mesmo pode ser um acréscimo (C) R$ 75,00
ou decréscimo no valor do produto. (D) R$ 72,50
Aumentos e Descontos Sucessivos 05. (Câm. De São José dos Campos/SP – Técnico
São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente. Legislativo – VUNESP) O departamento de Contabilidade de
Para efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos uma empresa tem 20 funcionários, sendo que 15% deles são
uso dos fatores de multiplicação. estagiários. O departamento de Recursos Humanos tem 10
funcionários, sendo 20% estagiários. Em relação ao total de
Exemplos funcionários desses dois departamentos, a fração de
01. Dois aumentos sucessivos de 10% equivalem a um estagiários é igual a
único aumento de...? (A) 1/5.
𝑝
Utilizando VA = (1 + 100).V → V. 1,1 , como são dois de 10% (B) 1/6.
temos → V. 1,1 . 1,1 → V. 1,21 Analisando o fator de (C) 2/5.
multiplicação 1,21; concluímos que esses dois aumentos (D) 2/9.
significam um único aumento de 21%. (E) 3/5.
OBSERVAÇÃO: esses dois aumentos de 10% equivalem a
21% e não a 20%. 06. Quando calculamos 15% de 1.130, obtemos, como
resultado
02. Dois descontos sucessivos de 20% equivalem a um (A) 150
único desconto de: (B) 159,50;
𝑝
Utilizando VD = (1 − ).V → V. 0,8 . 0,8 → V. 0,64. (C) 165,60;
100
Analisando o fator de multiplicação 0,64, observamos que (D) 169,50.
esse percentual não representa o valor do desconto, mas sim o
Comentários
valor pago com o desconto. Para sabermos o valor que
representa o desconto é só fazermos o seguinte cálculo:
100% - 64% = 36% 01. Resposta: C
Primeiro passo é encontrar o número de leões,
Observe que: esses dois descontos de 20% equivalem a
consequentemente encontraremos também o número de leoas
36% e não a 40%.
antes do desastre, depois precisamos calcular o novo número
Questões de animais, mas o número de leões não foi alterado, o que foi
alterado foi sua porcentagem, vamos lá!
15% de 80 = 0,15x80 = 12, portanto temos 12 leões e 80 –
01. (UTFPR – Engenheiro Civil – UTFPR/2019) Numa
12 = 68 leoas.
região de preservação ambiental, há 80 animais, entre leões e
Após o desastre os 12 leões representam 20%, assim
leoas. Desse total 15% são leões. Um desastre ambiental matou
12 -----20%
algumas leoas. Após esse fato, verificou-se que os leões agora
x ------ 100%
representam 20% do total de animais, entre leões e leoas.
12x = 1200
Assinale a alternativa que apresenta o número de leoas que
x = 1200/20 = 60
foram mortas no desastre.
Desta forma após o desastre sobraram 60 animais,
(A) 12.
consequentemente 60 – 12 = 48 leoas.
(B) 18.
Para encontrar o número de leoas que morreram devemos
(C) 20.
subtrair 68 – 48 = 20.
(D) 24.
(E) 28.
02. Resposta: B
02. (UFES – Assistente Administrativo – UFES/2019) Como foram oferecidos dois descontos sucessivos iremos
utilizar (1 – d1%)x(1 – d2%).
Sobre o preço de um certo produto, foram ofertados dois

Raciocínio Lógico e Matemático 7


APOSTILAS OPÇÃO

(1 – 0,04)x(1 – 0,05) = 0,96x0,95 0,912 = 91,2%. Logo, o Sequências Lógicas


desconto foi de 100% - 91,2% = 8,8%.
As sequências podem ser formadas por números, letras,
03. Resposta: Certo pessoas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer
O primeiro passo é descobrir quanto que cada um investe, uma sequência, o importante é que existem pelo menos três
mas vamos lá! elementos que caracterize a lógica de sua formação, entretanto
Se Rafael investe “x”, então Joana investe “1,5x”, pois ela algumas séries necessitam de mais elementos para definir sua
investe 50% a mais que Rafael, mas os dois juntos investem lógica.
2000, logo,
x + 1,5x = 2000 Sequência de Números
2,5x = 2000
x = 2000/2,5 Progressão Aritmética: Soma-se constantemente um
x = 800 mesmo número.
Rafael: 800.
Joana: 1200.
Como ele quer saber o valor do salário líquido de Rafael,
devemos fazer uma regra de três.
800 -----25%
x ----- 100% Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente
25x = 800x100 um mesmo número.
25x = 80000
x = 80000/25
x = 3200.
Assim, o salário líquido de Rafael é de R$ 3200,00.

04. Resposta: A Incremento em Progressão: O valor somado é que está em


Como o produto já está acrescido de 20% juros sobre o seu progressão.
preço original, temos que:
100% + 20% = 120%
Precisamos encontrar o preço original (100%) da
mercadoria para podermos aplicarmos o desconto.
Utilizaremos uma regra de 3 simples para encontrarmos:
R$ % Série de Fibonacci: Cada termo é igual à soma dos dois
108 ---- 120 anteriores.
X ----- 100
120x = 108.100 → 120x = 10800 → x = 10800/120 → x = 1 1 2 3 5 8 13
90,00.
O produto sem os juros, preço original, vale R$ 90,00 e Números Primos: Naturais que possuem apenas dois
representa 100%. Logo se receber um desconto de 25%, divisores naturais.
significa ele pagará 75% (100 – 25 = 75%) → 90. 0,75 = 67,50
Então Marcos pagou R$ 67,50. 2 3 5 7 11 13 17

05. Resposta: B Quadrados Perfeitos: Números naturais cujas raízes são


Vamos calcular a porcentagem dos estagiários em cada um naturais.
dos departamentos.
15 30 1 4 9 16 25 36 49
* Dep. Contabilidade: . 20 = = 3 → 3 (estagiários)
100 10
Sequência de Letras
20 200
* Dep. R.H.: . 10 = = 2 → 2 (estagiários) As sequências de letras podem estar associadas a uma
100 100
Agora vamos encontrar a fração que corresponde o série de números ou não. Em geral, devemos escrever todo o
número de estagiários em relação ao total de funcionários. alfabeto (observando se deve, ou não, contar com k, y e w) e
𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑔𝑖á𝑟𝑖𝑜𝑠 5 1 circular as letras dadas para entender a lógica proposta.
∗ 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = = =
𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 30 6
ACFJOU
06. Resposta: D
Observe que foram saltadas 1, 2, 3, 4 e 5 letras e esses
Basta encontrarmos 15% de 1130 números estão em progressão.
Que será encontrado realizando, 1130 x 0,15 ou 1130 x
15/100 → 169,50. ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTU

LÓGICA SEQUENCIAL B1 2F H4 8L N16 32R T64

Foi pelo processo do raciocínio que ocorreu o Nesse caso, associou-se letras e números (potências de 2),
desenvolvimento do método matemático, este considerado alternando a ordem. As letras saltam 1, 3, 1, 3, 1, 3 e 1 posições.
instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de
dados empíricos. Logo, resumidamente o raciocínio pode ser ABCDEFGHIJKLMNOPQRST
considerado também um dos integrantes dos mecanismos dos
processos cognitivos superiores da formação de conceitos e da Sequência de Pessoas
solução de problemas. Na série a seguir, temos sempre um homem seguido de
duas mulheres, ou seja, aqueles que estão em uma posição

Raciocínio Lógico e Matemático 8


APOSTILAS OPÇÃO

múltipla de três (3º, 6º, 9º, 12º,...) serão mulheres e a posição


dos braços sempre alterna, ficando para cima em uma posição
múltipla de dois (2º, 4º, 6º, 8º,...). Sendo assim, a sequência se
repete a cada seis termos, tornando possível determinar quem
estará em qualquer posição.

Sequência de Figuras
Esse tipo de sequência pode seguir o mesmo padrão visto
na sequência de pessoas ou simplesmente sofrer rotações,
como nos exemplos a seguir. O Partenon que foi construído em Atenas pelo célebre
arquiteto grego Fidias. A fachada principal do edifício, hoje em
ruínas, era um retângulo que continha um quadrado de lado
igual à altura. Essa forma sempre foi considerada satisfatória
do ponto de vista estético por suas proporções sendo chamada
retângulo áureo ou retângulo de ouro.

Sequência de Fibonacci
O matemático Leonardo Pisa, conhecido como Fibonacci,
propôs no século XIII, a sequência numérica: (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13,
21, 34, 55, 89, …). Essa sequência tem uma lei de formação
simples: cada elemento, a partir do terceiro, é obtido
somando-se os dois anteriores. Veja: 1 + 1 = 2, 2 + 1 = 3, 3 + 2
= 5 e assim por diante. Desde o século XIII, muitos
matemáticos, além do próprio Fibonacci, dedicaram-se ao
estudo da sequência que foi proposta, e foram encontradas
Como os dois retângulos indicados na figura são
inúmeras aplicações para ela no desenvolvimento de modelos 𝑦 𝑎
explicativos de fenômenos naturais. semelhantes temos: 𝑎 = 𝑏 (1).
Veja alguns exemplos das aplicações da sequência de
Fibonacci e entenda porque ela é conhecida como uma das Como: b = y – a (2).
maravilhas da Matemática. A partir de dois quadrados de lado Substituindo (2) em (1) temos: y2 – ay – a2 = 0.
1, podemos obter um retângulo de lados 2 e 1. Se adicionarmos Resolvendo a equação:
a esse retângulo um quadrado de lado 2, obtemos um novo
retângulo 3 x 2. Se adicionarmos agora um quadrado de lado 𝑦=
𝑎(1±√5
em que (
1−√5
< 0) não convém.
3, obtemos um retângulo 5 x 3. Observe a figura a seguir e veja 2 2

que os lados dos quadrados que adicionamos para determinar


𝑦 (1+√5
os retângulos formam a sequência de Fibonacci. Logo: = = 1,61803398875
𝑎 2

Esse número é conhecido como número de ouro e pode ser


representado por:

1 + √5
𝜃=
2

Todo retângulo e que a razão entre o maior e o menor lado


for igual a 𝜃 é chamado retângulo áureo como o caso da
fachada do Partenon.

As figuras a seguir possuem números que representam


Se utilizarmos um compasso e traçarmos o quarto de uma sequência lógica. Veja os exemplos:
circunferência inscrito em cada quadrado, encontraremos
uma espiral formada pela concordância de arcos cujos raios Exemplo 1
são os elementos da sequência de Fibonacci.

A sequência numérica proposta envolve multiplicações


por 4.
6 x 4 = 24

Raciocínio Lógico e Matemático 9


APOSTILAS OPÇÃO

24 x 4 = 96 Questões
96 x 4 = 384
384 x 4 = 1536 01. Observe atentamente a disposição das cartas em cada
linha do esquema seguinte:
Exemplo 2

A diferença entre os números vai aumentando 1 unidade.


13 – 10 = 3
17 – 13 = 4
22 – 17 = 5
28 – 22 = 6
35 – 28 = 7

Exemplo 3

A carta que está oculta é:

02. Considere que a sequência de figuras foi construída


segundo um certo critério.

Multiplicar os números sempre por 3.


1x3=3
3x3=9
9 x 3 = 27
27 x 3 = 81
81 x 3 = 243
243 x 3 = 729 Se tal critério for mantido, para obter as figuras
729 x 3 = 2187 subsequentes, o total de pontos da figura de número 15 deverá
ser:
Exemplo 4 (A) 69
(B) 67
(C) 65
(D) 63
(E) 61

03. O próximo número dessa sequência lógica é: 1000, 990,


970, 940, 900, 850, ...
(A) 800
(B) 790
(C) 780
(D) 770
A diferença entre os números vai aumentando 2 unidades.
04. Na sequência lógica de números representados nos
24 – 22 = 2
hexágonos, da figura abaixo, observa-se a ausência de um deles
28 – 24 = 4
que pode ser:
34 – 28 = 6
42 – 34 = 8
52 – 42 = 10
64 – 52 = 12
78 – 64 = 14

(A) 76

Raciocínio Lógico e Matemático 10


APOSTILAS OPÇÃO

(B) 10 (D) 200


(C) 20
(D) 78 10. Observe a sequência: 3,13, 30, ... Qual é o próximo
número?
05. Uma criança brincando com uma caixa de palitos de (A) 4
fósforo constrói uma sequência de quadrados conforme (B) 20
indicado abaixo: (C) 31
(D) 21

11. Os dois pares de palavras abaixo foram formados


segundo determinado critério.

LACRAÇÃO → cal
AMOSTRA → soma
............. LAVRAR → ?
1° 2° 3°
Segundo o mesmo critério, a palavra que deverá ocupar o
Quantos palitos ele utilizou para construir a 7ª figura? lugar do ponto de interrogação é:
(A) 20 palitos (A) alar
(B) 25 palitos (B) rala
(C) 28 palitos (C) ralar
(D) 22 palitos (D) larva
(E) arval
06. Ana fez diversas planificações de um cubo e escreveu
em cada um, números de 1 a 6. Ao montar o cubo, ela deseja 12. Observe que as figuras abaixo foram dispostas, linha a
que a soma dos números marcados nas faces opostas seja 7. A linha, segundo determinado padrão.
única alternativa cuja figura representa a planificação desse
cubo tal como deseja Ana é:

07. As figuras da sequência dada são formadas por partes


iguais de um círculo.

Segundo o padrão estabelecido, a figura que substitui


corretamente o ponto de interrogação é:
Continuando essa sequência, obtém-se exatamente 16
círculos completos na:
(A) 36ª figura
(B) 48ª figura (A) (B) (C) (D) (E)
(C) 72ª figura
(D) 80ª figura 13. Observe que na sucessão seguinte os números foram
(E) 96ª figura colocados obedecendo a uma lei de formação.

08. Analise a sequência a seguir:

Os números X e Y, obtidos segundo essa lei, são tais que X


Admitindo-se que a regra de formação das figuras + Y é igual a:
seguintes permaneça a mesma, pode-se afirmar que a figura (A) 40
que ocuparia a 277ª posição dessa sequência é: (B) 42
(C) 44
(D) 46
(E) 48

14. A figura abaixo representa algumas letras dispostas em


forma de triângulo, segundo determinado critério.

09. Observe a sequência: 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19, ... Qual é o
próximo número?
(A) 20
(B) 21
(C) 100

Raciocínio Lógico e Matemático 11


APOSTILAS OPÇÃO

Para que o mesmo critério seja mantido no triângulo da


direita, o número que deverá substituir o ponto de
interrogação é:
(A) 32
(B) 36
(C) 38
(D) 42
(E) 46

Considerando que na ordem alfabética usada são excluídas 18. Considere a seguinte sequência infinita de números: 3,
as letra “K”, “W” e “Y”, a letra que substitui corretamente o 12, 27, __, 75, 108,... O número que preenche adequadamente a
ponto de interrogação é: quarta posição dessa sequência é:
(A) P (A) 36,
(B) O (B) 40,
(C) N (C) 42,
(D) M (D) 44,
(E) L (E) 48

15. Considere que a sequência seguinte é formada pela 1 1 1 1


19. Observando a sequência (1, 2 , 6 , 12 , 20 , ...) o próximo
sucessão natural dos números inteiros e positivos, sem que os
numero será:
algarismos sejam separados. 1
(A)
24
1234567891011121314151617181920...
1
(B) 30
O algarismo que deve aparecer na 276ª posição dessa
sequência é: 1
(A) 9 (C)
36
(B) 8
1
(C) 6 (D) 40
(D) 3
(E) 1 20. Considere a sequência abaixo:
16. Em cada linha abaixo, as três figuras foram desenhadas BBB BXB XXB
de acordo com determinado padrão. XBX XBX XBX
BBB BXB BXX

O padrão que completa a sequência é:

(A) (B) (C)


XXX XXB XXX
XXX XBX XXX
XXX BXX XXB

(D) (E)
XXX XXX
XBX XBX
Segundo esse mesmo padrão, a figura que deve substituir XXX BXX
o ponto de interrogação é:
21. Na série de Fibonacci, cada termo a partir do terceiro é
igual à soma de seus dois termos precedentes. Sabendo-se que
os dois primeiros termos, por definição, são 0 e 1, o sexto
termo da série é:
(A) (B) (C) (A) 2
(B) 3
(C) 4
(D) 5
(D) (E) (E) 6

17. Observe que, na sucessão de figuras abaixo, os 22. Nosso código secreto usa o alfabeto A B C D E F G H I J L
números que foram colocados nos dois primeiros triângulos M N O P Q R S T U V X Z. Do seguinte modo: cada letra é
obedecem a um mesmo critério. substituída pela letra que ocupa a quarta posição depois dela.
Então, o “A” vira “E”, o “B” vira “F”, o “C” vira “G” e assim por
diante. O código é “circular”, de modo que o “U” vira “A” e assim
por diante. Recebi uma mensagem em código que dizia: BSA HI
EDAP. Decifrei o código e li:
(A) FAZ AS DUAS;
(B) DIA DO LOBO;
(C) RIO ME QUER;
(D) VIM DA LOJA;
(E) VOU DE AZUL.

Raciocínio Lógico e Matemático 12


APOSTILAS OPÇÃO

23. A sentença “Social está para laicos assim como 231678 28. Os nomes de quatro animais – MARÁ, PERU, TATU e
está para...” é melhor completada por: URSO – devem ser escritos nas linhas da tabela abaixo, de
(A) 326187; modo que cada uma das suas respectivas letras ocupe um
(B) 876132; quadrinho e, na diagonal sombreada, possa ser lido o nome de
(C) 286731; um novo animal.
(D) 827361;
(E) 218763.

24. A sentença “Salta está para Atlas assim como 25435 está
para...” é melhor completada pelo seguinte número:
(A) 53452;
(B) 23455; Excluídas do alfabeto as letras K, W e Y e fazendo cada letra
(C) 34552; restante corresponder ordenadamente aos números inteiros
(D) 43525; de 1 a 23 (ou seja, A = 1, B = 2, C = 3,..., Z = 23), a soma dos
(E) 53542. números que correspondem às letras que compõem o nome do
animal é:
25. Repare que com um número de 5 algarismos, (A) 37
respeitada a ordem dada, podem-se criar 4 números de dois (B) 39
algarismos. Por exemplo: de 34.712, podem-se criar o 34, o 47, (C) 45
o 71 e o 12. Procura-se um número de 5 algarismos formado (D) 49
pelos algarismos 4, 5, 6, 7 e 8, sem repetição. Veja abaixo (E) 51
alguns números desse tipo e, ao lado de cada um deles, a
quantidade de números de dois algarismos que esse número Nas questões 29 e 30, observe que há uma relação entre o
tem em comum com o número procurado. primeiro e o segundo grupos de letras. A mesma relação
deverá existir entre o terceiro grupo e um dos cinco grupos
Número Quantidade de números de 2 que aparecem nas alternativas, ou seja, aquele que substitui
dado algarismos em comum corretamente o ponto de interrogação. Considere que a ordem
48.765 1 alfabética adotada é a oficial e exclui as letras K, W e Y.
86.547 0
29. CASA: LATA: LOBO: ?
87.465 2 (A) SOCO
48.675 1 (B) TOCO
(C) TOMO
O número procurado é: (D) VOLO
(A) 87456 (E) VOTO
(B) 68745
(C) 56874 30. ABCA: DEFD: HIJH: ?
(D) 58746 (A) IJLI
(E) 46875 (B) JLMJ
(C) LMNL
26. Considere que os símbolos  e  que aparecem no (D) FGHF
quadro seguinte, substituem as operações que devem ser (E) EFGE
efetuadas em cada linha, a fim de se obter o resultado
correspondente, que se encontra na coluna da extrema direita. 31. Os termos da sucessão seguinte foram obtidos
36  4  5 = 14 considerando uma lei de formação (0, 1, 3, 4, 12, 13, ...).
Segundo essa lei, o décimo terceiro termo dessa sequência é
48  6  9 = 17 um número:
54  9  7 = ? (A) Menor que 200.
(B) Compreendido entre 200 e 400.
Para que o resultado da terceira linha seja o correto, o (C) Compreendido entre 500 e 700.
ponto de interrogação deverá ser substituído pelo número: (D) Compreendido entre 700 e 1.000.
(A) 16 (E) Maior que 1.000.
(B) 15
(C) 14 Para responder às questões de números 32 e 33, você deve
(D) 13 observar que, em cada um dos dois primeiros pares de
(E) 12 palavras dadas, a palavra da direita foi obtida da palavra da
esquerda segundo determinado critério. Você deve descobrir
27. Segundo determinado critério, foi construída a esse critério e usá-lo para encontrar a palavra que deve ser
sucessão seguinte, em que cada termo é composto de um colocada no lugar do ponto de interrogação.
número seguido de uma letra: A1 – E2 – B3 – F4 – C5 – G6 – ....
Considerando que no alfabeto usado são excluídas as letras K, 32. Ardoroso → rodo
Y e W, então, de acordo com o critério estabelecido, a letra que Dinamizar → mina
deverá anteceder o número 12 é: Maratona → ?
(A) J (A) mana
(B) L (B) toma
(C) M (C) tona
(D) N (D) tora
(E) O (E) rato

33. Arborizado → azar

Raciocínio Lógico e Matemático 13


APOSTILAS OPÇÃO

Asteróide → dias
Articular → ? Para obter 999.999.999 devemos multiplicar 12.345.679
(A) luar por quanto?
(B) arar
(C) lira 42. Esta casinha está de frente para a estrada de terra.
(D) luta Mova dois palitos e faça com que fique de frente para a estrada
(E) rara asfaltada.

34. Preste atenção nesta sequência lógica e identifique


quais os números que estão faltando: 1, 1, 2, __, 5, 8, __,21, 34,
55, __, 144, __...

35. Uma lesma encontra-se no fundo de um poço seco de


10 metros de profundidade e quer sair de lá. Durante o dia, ela
consegue subir 2 metros pela parede; mas à noite, enquanto
dorme, escorrega 1 metro. Depois de quantos dias ela
consegue chegar à saída do poço?

36. Quantas vezes você usa o algarismo 9 para numerar as 43. Remova dois palitos e deixe a figura com dois
páginas de um livro de 100 páginas?
quadrados.
37. Quantos quadrados existem na figura abaixo?

38. Retire três palitos e obtenha apenas três quadrados.


44. As cartas de um baralho foram agrupadas em pares,
segundo uma relação lógica. Qual é a carta que está faltando,
sabendo que K vale 13, Q vale 12, J vale 11 e A vale 1?

39. Qual será o próximo símbolo da sequência abaixo?

45. Mova um palito e obtenha um quadrado perfeito.

40. Reposicione dois palitos e obtenha uma figura com


cinco quadrados iguais.

46. Qual o valor da pedra que deve ser colocada em cima


de todas estas para completar a sequência abaixo?

41. Observe as multiplicações a seguir:


12.345.679 × 18 = 222.222.222
12.345.679 × 27 = 333.333.333 47. Mova três palitos nesta figura para obter cinco
... ... triângulos.
12.345.679 × 54 = 666.666.666

Raciocínio Lógico e Matemático 14


APOSTILAS OPÇÃO

Na figura 15: 16 pontos acima e abaixo → 32 pontos no


total. Incluindo o ponto central, que ainda não foi considerado,
temos para total de pontos da figura 15: Total de pontos = 30
+ 32 + 1 = 63 pontos.

03. Resposta: B.
48. Tente dispor 6 moedas em 3 fileiras de modo que em Nessa sequência, observamos que a diferença: entre 1000
cada fileira fiquem apenas 3 moedas. e 990 é 10, entre 990 e 970 é 20, entre o 970 e 940 é 30, entre
940 e 900 é 40, entre 900 e 850 é 50, portanto entre 850 e o
próximo número é 60, dessa forma concluímos que o próximo
número é 790, pois: 850 – 790 = 60.

04. Resposta: D.
Nessa sequência lógica, observamos que a diferença: entre
49. Reposicione três palitos e obtenha cinco quadrados. 24 e 22 é 2, entre 28 e 24 é 4, entre 34 e 28 é 6, entre 42 e 34 é
8, entre 52 e 42 é 10, entre 64 e 52 é 12, portanto entre o
próximo número e 64 é 14, dessa forma concluímos que o
próximo número é 78, pois: 76 – 64 = 14.

05. Resposta: D.
Observe a tabela:
Figuras 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª
N° de Palitos 4 7 10 13 16 19 22

Temos de forma direta, pela contagem, a quantidade de


50. Mude a posição de quatro palitos e obtenha cinco palitos das três primeiras figuras. Feito isto, basta perceber
triângulos. que cada figura a partir da segunda tem a quantidade de
palitos da figura anterior acrescida de 3 palitos. Desta forma,
fica fácil preencher o restante da tabela e determinar a
quantidade de palitos da 7ª figura.

06. Resposta: A.
Na figura apresentada na letra “B”, não é possível obter a
planificação de um lado, pois o 4 estaria do lado oposto ao 6,
somando 10 unidades. Na figura apresentada na letra “C”, da
mesma forma, o 5 estaria em face oposta ao 3, somando 8, não
formando um lado. Na figura da letra “D”, o 2 estaria em face
oposta ao 4, não determinando um lado. Já na figura
apresentada na letra “E”, o 1 não estaria em face oposta ao
Respostas número 6, impossibilitando, portanto, a obtenção de um lado.
Logo, podemos concluir que a planificação apresentada na
01. Resposta: A. letra “A” é a única para representar um lado.
A diferença entre os números estampados nas cartas 1 e 2,
em cada linha, tem como resultado o valor da 3ª carta e, além 07. Resposta: B.
disso, o naipe não se repete. Assim, a 3ª carta, dentro das Como na 3ª figura completou-se um círculo, para
opções dadas só pode ser a da opção (A). completar 16 círculos é suficiente multiplicar 3 por 16: 3. 16 =
48. Portanto, na 48ª figura existirão 16 círculos.
02. Resposta: D.
Observe que, tomando o eixo vertical como eixo de 08. Resposta: B.
simetria, tem-se: A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim,
Na figura 1: 01 ponto de cada lado → 02 pontos no total. continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de
Na figura 2: 02 pontos de cada lado → 04 pontos no total. número 277 ocupa, então, a mesma posição das figuras que
Na figura 3: 03 pontos de cada lado → 06 pontos no total. representam número 5n + 2, com n ∈ N. Ou seja, a 277ª figura
Na figura 4: 04 pontos de cada lado → 08 pontos no total. corresponde à 2ª figura, que é representada pela letra “B”.
Na figura n: n pontos de cada lado → 2.n pontos no total.
09. Resposta: D.
Em particular: A regularidade que obedece a sequência acima não se dá
Na figura 15: 15 pontos de cada lado → 30 pontos no total. por padrões numéricos e sim pela letra que inicia cada
número. “Dois, Dez, Doze, Dezesseis, Dezessete, Dezoito,
Agora, tomando o eixo horizontal como eixo de simetria, Dezenove, ... Enfim, o próximo só pode iniciar também com
tem-se: “D”: Duzentos.
Na figura 1: 02 pontos acima e abaixo → 04 pontos no total.
Na figura 2: 03 pontos acima e abaixo → 06 pontos no total. 10. Resposta: C.
Na figura 3: 04 pontos acima e abaixo → 08 pontos no total. Esta sequência é regida pela inicial de cada número. Três,
Na figura 4: 05 pontos acima e abaixo → 10 pontos no total. Treze, Trinta,... O próximo só pode ser o número Trinta e um,
Na figura n: (n+1) pontos acima e abaixo → 2.(n+1) pontos pois ele inicia com a letra “T”.
no total.
11. Resposta: E.
Em particular: Na 1ª linha, a palavra CAL foi retirada das 3 primeiras
letras da palavra LACRAÇÃO, mas na ordem invertida. Da

Raciocínio Lógico e Matemático 15


APOSTILAS OPÇÃO

mesma forma, na 2ª linha, a palavra SOMA é retirada da o número que está à direita e o número que está à esquerda do
palavra AMOSTRA, pelas 4 primeiras letras invertidas. Com triângulo: 40 : 5 = 21 - 13 = 8.
isso, da palavra LAVRAR, ao se retirarem as 5 primeiras letras, A mesma regra acontece no 2º triângulo: 42 ÷ 7 = 23 - 17
na ordem invertida, obtém-se ARVAL. = 6.
Assim, a mesma regra deve existir no 3º triângulo:
12. Resposta: C. ? ÷ 3 = 19 – 7
Em cada linha apresentada, as cabeças são formadas por ? ÷ 3 = 12
quadrado, triângulo e círculo. Na 3ª linha já há cabeças com ? = 12 x 3 = 36.
círculo e com triângulo. Portanto, a cabeça da figura que está
faltando é um quadrado. As mãos das figuras estão levantadas, 18. Resposta: E.
em linha reta ou abaixadas. Assim, a figura que falta deve ter Verifique os intervalos entre os números que foram
as mãos levantadas (é o que ocorre em todas as alternativas). fornecidos. Dado os números 3, 12, 27, __, 75, 108, obteve-se os
As figuras apresentam as 2 pernas ou abaixadas, ou 1 perna seguintes 9, 15, __, __, 33 intervalos. Observe que 3x3, 3x5, 3x7,
levantada para a esquerda ou 1 levantada para a direita. Nesse 3x9, 3x11. Logo 3x7 = 21 e 3x 9 = 27. Então: 21 + 27 = 48.
caso, a figura que está faltando na 3ª linha deve ter 1 perna
levantada para a esquerda. Logo, a figura tem a cabeça 19. Resposta: B.
quadrada, as mãos levantadas e a perna erguida para a Observe que o numerador é fixo, mas o denominador é
esquerda. formado pela sequência:

13. Resposta: A. Primeir Segund Terceir Quart Quint Sext


Existem duas leis distintas para a formação: uma para a o o o o o o
parte superior e outra para a parte inferior. Na parte superior, 1 1x2=2 2x3=6 3x4= 4x5= 5x6
tem-se que: do 1º termo para o 2º termo, ocorreu uma 12 20 = 30
multiplicação por 2; já do 2º termo para o 3º, houve uma
subtração de 3 unidades. Com isso, X é igual a 5 multiplicado 20. Resposta: D.
por 2, ou seja, X = 10. Na parte inferior, tem-se: do 1º termo O que de início devemos observar nesta questão é a
para o 2º termo ocorreu uma multiplicação por 3; já do 2º quantidade de B e de X em cada figura. Vejamos:
termo para o 3º, houve uma subtração de 2 unidades. Assim, Y
é igual a 10 multiplicado por 3, isto é, Y = 30. Logo, X + Y = 10 + BBB BXB XXB
30 = 40. XBX XBX XBX
BBB BXB BXX
14. Resposta: A. 7B e 2X 5B e 4X 3B e 6X
A sequência do alfabeto inicia-se na extremidade direita do
triângulo, pela letra “A”; aumenta a direita para a esquerda; Vê-se, que os “B” estão diminuindo de 2 em 2 e que os “X”
continua pela 3ª e 5ª linhas; e volta para as linhas pares na estão aumentando de 2 em 2; notem também que os “B” estão
ordem inversa – pela 4ª linha até a 2ª linha. Na 2ª linha, então, sendo retirados um na parte de cima e um na parte de baixo e
as letras são, da direita para a esquerda, “M”, “N”, “O”, e a letra os “X” da mesma forma, só que não estão sendo retirados,
que substitui corretamente o ponto de interrogação é a letra estão, sim, sendo colocados. Logo a 4ª figura é:
“P”.
XXX
15. Resposta: B. XBX
A sequência de números apresentada representa a lista XXX
dos números naturais. Mas essa lista contém todos os 1B e 8X
algarismos dos números, sem ocorrer a separação. Por
exemplo: 101112 representam os números 10, 11 e 12. Com 21. Resposta: D.
isso, do número 1 até o número 9 existem 9 algarismos. Do Montando a série de Fibonacci temos: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13,
número 10 até o número 99 existem: 2 x 90 = 180 algarismos. 21, 34... A resposta da questão é a alternativa “D”, pois como a
Do número 100 até o número 124 existem: 3 x 25 = 75 questão nos diz, cada termo a partir do terceiro é igual à soma
algarismos. E do número 124 até o número 128 existem mais de seus dois termos precedentes. 2 + 3 = 5
12 algarismos. Somando todos os valores, tem-se: 9 + 180 + 75
+ 12 = 276 algarismos. Logo, conclui-se que o algarismo que 22. Resposta: E.
ocupa a 276ª posição é o número 8, que aparece no número A questão nos informa que ao se escrever alguma
128. mensagem, cada letra será substituída pela letra que ocupa a
quarta posição, além disso, nos informa que o código é
16. Resposta: D. “circular”, de modo que a letra “U” vira “A”. Para decifrarmos,
Na 1ª linha, internamente, a 1ª figura possui 2 “orelhas”, a temos que perceber a posição do emissor e do receptor. O
2ª figura possui 1 “orelha” no lado esquerdo e a 3ª figura emissor ao escrever a mensagem conta quatro letras à frente
possui 1 “orelha” no lado direito. Esse fato acontece, também, para representar a letra que realmente deseja, enquanto que o
na 2ª linha, mas na parte de cima e na parte de baixo, receptor, deve fazer o contrário, contar quatro letras atrás
internamente em relação às figuras. Assim, na 3ª linha para decifrar cada letra do código. No caso, nos foi dada a frase
ocorrerá essa regra, mas em ordem inversa: é a 3ª figura da 3ª para ser decifrada, vê-se, pois, que, na questão, ocupamos a
linha que terá 2 “orelhas” internas, uma em cima e outra em posição de receptores. Vejamos a mensagem: BSA HI EDAP.
baixo. Como as 2 primeiras figuras da 3ª linha não possuem Cada letra da mensagem representa a quarta letra anterior de
“orelhas” externas, a 3ª figura também não terá orelhas modo que:
externas. Portanto, a figura que deve substituir o ponto de VxzaB: B na verdade é V;
interrogação é a 4ª. OpqrS: S na verdade é O;
UvxzA: A na verdade é U;
17. Resposta: B. DefgH: H na verdade é D;
No 1º triângulo, o número que está no interior do triângulo EfghI: I na verdade é E;
dividido pelo número que está abaixo é igual à diferença entre AbcdE: E na verdade é A;

Raciocínio Lógico e Matemático 16


APOSTILAS OPÇÃO

ZabcD: D na verdade é Z; 29. Resposta: B.


UvxaA: A na verdade é U; Na 1ª e na 2ª sequências, as vogais são as mesmas: letra
LmnoP: P na verdade é L; “A”. Portanto, as vogais da 4ª sequência de letras deverão ser
as mesmas da 3ª sequência de letras: “O”. A 3ª letra da 2ª
23. Resposta: B. sequência é a próxima letra do alfabeto depois da 3ª letra da
A questão nos traz duas palavras que têm relação uma com 1ª sequência de letras. Portanto, na 4ª sequência de letras, a 3ª
a outra e, em seguida, nos traz uma sequência numérica. É letra é a próxima letra depois de “B”, ou seja, a letra “C”. Em
perguntado qual sequência numérica tem a mesma ralação relação à primeira letra, tem-se uma diferença de 7 letras entre
com a sequência numérica fornecida, de maneira que, a relação a 1ª letra da 1ª sequência e a 1ª letra da 2ª sequência. Portanto,
entre as palavras e a sequência numérica é a mesma. entre a 1ª letra da 3ª sequência e a 1ª letra da 4ª sequência,
Observando as duas palavras dadas, podemos perceber deve ocorrer o mesmo fato. Com isso, a 1ª letra da 4ª sequência
facilmente que têm cada uma 6 letras e que as letras de uma se é a letra “T”. Logo, a 4ª sequência de letras é: T, O, C, O, ou seja,
repete na outra em uma ordem diferente. Tal ordem, nada TOCO.
mais é, do que a primeira palavra de trás para frente, de
maneira que SOCIAL vira LAICOS. Fazendo o mesmo com a 30. Resposta: C.
sequência numérica fornecida, temos: 231678 viram 876132, Na 1ª sequência de letras, ocorrem as 3 primeiras letras do
sendo esta a resposta. alfabeto e, em seguida, volta-se para a 1ª letra da sequência. Na
2ª sequência, continua-se da 3ª letra da sequência anterior,
24. Resposta: A. formando-se DEF, voltando-se novamente, para a 1ª letra
A questão nos traz duas palavras que têm relação uma com desta sequência: D. Com isto, na 3ª sequência, têm-se as letras
a outra, e em seguida, nos traz uma sequência numérica. Foi HIJ, voltando-se para a 1ª letra desta sequência: H. Com isto, a
perguntado qual a sequência numérica que tem relação com a 4ª sequência iniciará pela letra L, continuando por M e N,
já dada de maneira que a relação entre as palavras e a voltando para a letra L. Logo, a 4ª sequência da letra é: LMNL.
sequência numérica é a mesma. Observando as duas palavras
dadas podemos perceber facilmente que tem cada uma 6 letras 31. Resposta: E.
e que as letras de uma se repete na outra em uma ordem Do 1º termo para o 2º termo, ocorreu um acréscimo de 1
diferente. Essa ordem diferente nada mais é, do que a primeira unidade. Do 2º termo para o 3º termo, ocorreu a multiplicação
palavra de trás para frente, de maneira que SALTA vira ATLAS. do termo anterior por 3. E assim por diante, até que para o 7º
Fazendo o mesmo com a sequência numérica fornecida temos: termo temos 13 . 3 = 39. 8º termo = 39 + 1 = 40. 9º termo = 40
25435 vira 53452, sendo esta a resposta. . 3 = 120. 10º termo = 120 + 1 = 121. 11º termo = 121 . 3 = 363.
12º termo = 363 + 1 = 364. 13º termo = 364 . 3 = 1.092.
25. Resposta: E. Portanto, podemos concluir que o 13º termo da sequência é
Pelo número 86.547, tem-se que 86, 65, 54 e 47 não um número maior que 1.000.
acontecem no número procurado. Do número 48.675, as
opções 48, 86 e 67 não estão em nenhum dos números 32. Resposta: D.
apresentados nas alternativas. Portanto, nesse número a Da palavra “ardoroso”, retiram-se as sílabas “do” e “ro” e
coincidência se dá no número 75. Como o único número inverteu-se a ordem, definindo-se a palavra “rodo”. Da mesma
apresentado nas alternativas que possui a sequência 75 é forma, da palavra “dinamizar”, retiram-se as sílabas “na” e
46.875, tem-se, então, o número procurado. “mi”, definindo-se a palavra “mina”. Com isso, podemos
concluir que da palavra “maratona”. Deve-se retirar as sílabas
26. Resposta: D. “ra” e “to”, criando-se a palavra “tora”.
O primeiro símbolo representa a divisão e o 2º símbolo
representa a soma. Portanto, na 1ª linha, tem-se: 36  4 + 5 = 33. Resposta: A.
9 + 5 = 14. Na 2ª linha, tem-se: 48  6 + 9 = 8 + 9 = 17. Com isso, Na primeira sequência, a palavra “azar” é obtida pelas
na 3ª linha, ter-se-á: 54  9 + 7 = 6 + 7 = 13. Logo, podemos letras “a” e “z” em sequência, mas em ordem invertida. Já as
concluir então que o ponto de interrogação deverá ser letras “a” e “r” são as 2 primeiras letras da palavra
substituído pelo número 13. “arborizado”. A palavra “dias” foi obtida da mesma forma: As
letras “d” e “i” são obtidas em sequência, mas em ordem
27. Resposta: A. invertida. As letras “a” e “s” são as 2 primeiras letras da
As letras que acompanham os números ímpares formam a palavra “asteroides”. Com isso, para a palavras “articular”,
sequência normal do alfabeto. Já a sequência que acompanha considerando as letras “i” e “u”, que estão na ordem invertida,
os números pares inicia-se pela letra “E”, e continua de acordo e as 2 primeiras letras, obtém-se a palavra “luar”.
com a sequência normal do alfabeto: 2ª letra: E, 4ª letra: F, 6ª
letra: G, 8ª letra: H, 10ª letra: I e 12ª letra: J. 34. O nome da sequência é Sequência de Fibonacci. O
número que vem é sempre a soma dos dois números
28. Resposta: D. imediatamente atrás dele. A sequência correta é: 1, 1, 2, 3, 5, 8,
Escrevendo os nomes dos animais apresentados na lista – 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233...
MARÁ, PERU, TATU e URSO, na seguinte ordem: PERU, MARÁ,
TATU e URSO, obtém-se na tabela: 35.
Dia Subida Descida
P E R U 1º 2m 1m
M A R A 2º 3m 2m
T A T U 3º 4m 3m
U R S O 4º 5m 4m
5º 6m 5m
O nome do animal é PATO. Considerando a ordem do 6º 7m 6m
alfabeto, tem-se: P = 15, A = 1, T = 19 e 0 = 14. Somando esses
valores, obtém-se: 15 + 1 + 19 + 14 = 49. 7º 8m 7m
8º 9m 8m

Raciocínio Lógico e Matemático 17


APOSTILAS OPÇÃO

9º 10m ---- 42.

Portanto, depois de 9 dias ela chegará na saída do poço.

36. 09 – 19 – 29 – 39 – 49 – 59 – 69 – 79 – 89 – 90 – 91 –
92 – 93 – 94 – 95 – 96 – 97 – 98 – 99. Portanto, são necessários
20 algarismos.

37.

= 16 43.

= 09

44. Sendo A = 1, J = 11, Q = 12 e K = 13, a soma de cada par


de cartas é igual a 14 e o naipe de paus sempre forma par com
= 04
o naipe de espadas. Portanto, a carta que está faltando é o 6 de
espadas.

45.

=01

Portanto, há 16 + 9 + 4 + 1 = 30 quadrados.

38.

46. Observe que:

3 6 18 72 360 2160 15120


x2 x3 x4 x5 x6 x7
39. Os símbolos são como números em frente ao espelho.
Assim, o próximo símbolo será 88. Portanto, a próxima pedra terá que ter o valor: 15.120 x 8
= 120.960
40.
47.

48.

41.
12.345.679 × (2×9) = 222.222.222
12.345.679 × (3×9) = 333.333.333
... ...
12.345.679 × (6×9) = 666.666.666
Portanto, para obter 999.999.999 devemos multiplicar
12.345.679 por (9x9) = 81

Raciocínio Lógico e Matemático 18


APOSTILAS OPÇÃO

49. TOME NOTA!!!


Uma forma de identificarmos se uma frase simples é ou
não considerada frase lógica, ou sentença, ou ainda
proposição, é pela presença de:
- sujeito simples: "Carlos é médico";
- sujeito composto: "Rui e Nathan são irmãos";
- sujeito inexistente: "Choveu"
- verbo, que representa a ação praticada por esse sujeito,
e estar sujeita à apreciação de julgamento de ser verdadeira
(V) ou falsa (F), caso contrário, não será considerada
proposição.

Atenção: orações que não tem sujeito, NÃO são


50. consideradas proposições lógicas.

Princípios fundamentais da lógica


A Lógica matemática adota como regra fundamental três
princípios3 (ou axiomas):

I – PRINCÍPIO DA IDENTIDADE: uma proposição


verdadeira é verdadeira; uma proposição falsa é falsa.
Raciocínio lógico-
II – PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma
matemático: proposições, proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo
conectivos, equivalência e tempo.
implicação lógica, argumentos
III – PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda
válidos proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre
um desses casos, NUNCA existindo um terceiro caso.
ESTRUTURAS LÓGICAS
Se esses princípios acimas não puderem ser aplicados,
Em uma primeira aproximação, a lógica pode ser NÃO podemos classificar uma frase como proposição.
entendida como a ciência que estuda os princípios e o métodos
que permitem estabelecer as condições de validade e Valores lógicos das proposições
invalidade dos argumentos. Um argumento é uma parte do Chamamos de valor lógico de uma proposição a verdade,
discurso no qual localizamos um conjunto de uma ou mais se a proposição é verdadeira (V), e a falsidade, se a proposição
sentenças denominadas premissas e uma sentença é falsa (F).
denominada conclusão. Consideremos as seguintes proposições e os seus
Em diversas provas de concursos são empregados toda respectivos valores lógicos:
sorte de argumentos com os mais variados conteúdos: político, a) Brasília é a capital do Brasil. (V)
religioso, moral e etc. Pode-se pensar na lógica como o estudo b) Terra é o maior planeta do sistema Solar. (F)
da validade dos argumentos, focalizando a atenção não no
conteúdo, mas sim na sua forma ou na sua estrutura. A maioria das proposições são proposições contingenciais,
ou seja, dependem do contexto para sua análise. Assim, por
Conceito de proposição exemplo, se considerarmos a proposição simples:
Chama-se proposição a todo conjunto de palavras ou
símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de “Existe vida após a morte”, ela poderá ser verdadeira (do
sentido completo. Assim, as proposições transmitem ponto de vista da religião espírita) ou falsa (do ponto de vista
pensamentos, isto é, afirmam, declaram fatos ou exprimem da religião católica); mesmo assim, em ambos os casos, seu valor
juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou lógico é único — ou verdadeiro ou falso.
entes.
Elas devem possuir além disso: Classificação das proposições
- um sujeito e um predicado; As proposições podem ser classificadas em:
- e por último, deve sempre ser possível atribuir um valor 1) Proposições simples (ou atômicas): são formadas por
lógico: verdadeiro (V) ou falso (F). um única oração, sem conectivos, ou seja, elementos de
Preenchendo esses requisitos estamos diante de uma ligação. Representamos por letras minusculas: p, q, r,... .
proposição.
Vejamos alguns exemplos: Exemplos:
A) Terra é o maior planeta do sistema Solar O céu é azul.
B) Brasília é a capital do Brasil. Hoje é sábado.
C) Todos os músicos são românticos.
2) Proposições compostas (ou moleculares): possuem
A todas as frases podemos atribuir um valor lógico (V ou elementos de ligação (conectivos) que ligam as orações,
F). podendo ser duas, três, e assim por diante. Representamos por
letras maiusculas: P, Q, R, ... .

3 Algumas bibliografias consideram apenas dois axiomas o II e o III.

Raciocínio Lógico e Matemático 19


APOSTILAS OPÇÃO

Exemplos: 02. (IF/PA- Auxiliar de Assuntos Educacionais –


O ceu é azul ou cinza. IF/PA/2016) Qual sentença a seguir é considerada uma
Se hoje é sábado, então vou a praia. proposição?
(A) O copo de plástico.
Observação: os termos em destaque são alguns dos (B) Feliz Natal!
conectivos (termos de ligação) que utilizamos em lógica (C) Pegue suas coisas.
matemática. (D) Onde está o livro?
(E) Francisco não tomou o remédio.
3) Sentença aberta: quando não se pode atribuir um
valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a 03. (Cespe/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
proposição!), portanto, não é considerada frase lógica. São • “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
consideradas sentenças abertas: • A expressão x + y é positiva.
a) Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou • O valor de √4 + 3 = 7.
ontem? – Fez Sol ontem? • Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
b) Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso! • O que é isto?
c) Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue Há exatamente:
a televisão. (A) uma proposição;
d) Frases sem sentido lógico (expressões vagas, (B) duas proposições;
paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é verdadeira” (expressão (C) três proposições;
paradoxal) – O cavalo do meu vizinho morreu (expressão (D) quatro proposições;
ambígua) – 2 + 3 + 7 (E) todas são proposições.

4) Proposição (sentença) fechada: quando a proposição Respostas


admitir um único valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso,
nesse caso, será considerada uma frase, proposição ou 01. Resposta: D.
sentença lógica. Analisando as alternativas temos:
(A) Frases interrogativas não são consideradas
Observe os exemplos: proposições.
(B) O sujeito aqui é indeterminado, logo não podemos
Frase Sujeito Verbo Conclusão definir quem é ele.
Maria é Maria É (ser) É uma frase (C) Trata-se de uma proposição composta
baiana (simples) lógica (D) É uma frase declarativa onde podemos identificar o
Lia e Maria Lia e Maria Têm (ter) É uma frase sujeito da frase e atribuir a mesma um valor lógico.
têm dois (composto) lógica
irmãos 02. Resposta: E.
Ventou Inexistente Ventou É uma frase Analisando as alternativas temos:
hoje (ventar) lógica (A) Não é uma oração composta de sujeito e predicado.
Um lindo Um lindo Frase sem NÂO é uma (B) É uma frase imperativa/exclamativa, logo não é
livro de livro verbo frase lógica proposição.
literatura (C) É uma frase que expressa ordem, logo não é proposição.
Manobrar Frase sem Manobrar NÂO é uma (D) É uma frase interrogativa.
esse carro sujeito frase lógica (E) Composta de sujeito e predicado, é uma frase
Existe vida Vida Existir É uma frase declarativa e podemos atribuir a ela valores lógicos.
em Marte lógica
03. Resposta: B.
Sentenças representadas por variáveis Analisemos cada alternativa:
a) x + 4 > 5; (A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não
b) Se x > 1, então x + 5 < 7; podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma
c) x = 3 se, e somente se, x + y = 15. sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir
Observação: Os termos “atômicos” e “moleculares” valores lógicos, logo não é sentença lógica.
referem-se à quantidade de verbos presentes na frase. (C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois
Consideremos uma frase com apenas um verbo, então ela será podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado
dita atômica, pois se refere a apenas um único átomo (1 verbo que tenhamos
= 1 átomo); consideremos, agora, uma frase com mais de um (D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também
verbo, então ela será dita molecular, pois se refere a mais de podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando
um átomo (mais de um átomo = uma molécula). a quantidade certa de gols, apenas se podemos atribuir um
valor de V ou F a sentença).
Questões (E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir
valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
01. (Pref. Tanguá/RJ- Fiscal de Tributos – MS
CONCURSOS/2017) Qual das seguintes sentenças é CONCEITO DE TABELA VERDADE
classificada como uma proposição simples?
(A) Será que vou ser aprovado no concurso? Sabemos que tabela verdade é toda tabela que atribui,
(B) Ele é goleiro do Bangu. previamente, os possíveis valores lógicos que as proposições
(C) João fez 18 anos e não tirou carta de motorista. simples podem assumir, como sendo verdadeiras (V) ou
(D) Bashar al-Assad é presidente dos Estados Unidos. falsas (F), e, por consequência, permite definir a solução de
uma determinada fórmula (proposição composta).

Raciocínio Lógico e Matemático 20


APOSTILAS OPÇÃO

De acordo com o Princípio do Terceiro Excluído, toda 4 , para a 2ª proposição temos que os valores se alternam de 2
proposição simples “p” é verdadeira ou falsa, ou seja, possui o em 2 (metade da 1ª proposição) e para a 3ª proposição temos
valor lógico V (verdade) ou o valor lógico F (falsidade). valores que se alternam de 1 em 1(metade da 2ª proposição).
Em se tratando de uma proposição composta, a
determinação de seu valor lógico, conhecidos os valores
lógicos das proposições simples componentes, se faz com base
no seguinte princípio, vamos relembrar:

O valor lógico de qualquer proposição composta


depende UNICAMENTE dos valores lógicos das
proposições simples componentes, ficando por eles
UNIVOCAMENTE determinados.

Para determinarmos esses valores recorremos a um


dispositivo prático que é o objeto do nosso estudo: A tabela
verdade. Em que figuram todos os possíveis valores lógicos da (Fonte: http://www.colegioweb.com.br/nocoes-de-logica/tabela-verdade.html)
proposição composta (sua solução) correspondente a todas as
possíveis atribuições de valores lógicos às proposições Vejamos alguns exemplos:
simples componentes.
01. (FCC) Com relação à proposição: “Se ando e bebo,
Número de linhas de uma Tabela Verdade então caio, mas não durmo ou não bebo”. O número de linhas
O número de linhas de uma proposição composta depende da tabela-verdade da proposição composta anterior é igual a:
do número de proposições simples que a integram, sendo dado (A) 2;
pelo seguinte teorema: (B) 4;
(C) 8;
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* (D) 16;
proposições simples componentes contém 2 n linhas.” (* (E) 32.
Algumas bibliografias utilizam o “p” no lugar do “n”)
Os valores lógicos “V” e “F” se alteram de dois em dois para Vamos contar o número de verbos para termos a
a primeira proposição “p” e de um em um para a segunda quantidade de proposições simples e distintas contidas na
proposição “q”, em suas respectivas colunas, e, além disso, VV, proposição composta. Temos os verbos “andar’, “beber”, “cair”
VF, FV e FF, em cada linha, são todos os arranjos binários com e “dormir”. Aplicando a fórmula do número de linhas temos:
repetição dos dois elementos “V” e “F”, segundo ensina a Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Análise Combinatória. Resposta D.

Construção da tabela verdade de uma proposição 02. (Cespe/UnB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições
composta simples e distintas, então o número de linhas da tabela-
Para sua construção começamos contando o número de verdade da proposição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
proposições simples que a integram. Se há n proposições (A) 2;
simples componentes, então temos 2n linhas. Feito isso, (B) 4;
atribuimos a 1ª proposição simples “p1” 2n / 2 = 2n -1 valores (C) 8;
V , seguidos de 2n – 1 valores F, e assim por diante. (D) 16;
(E) 32.
Exemplos
1) Se tivermos 2 proposições temos que 2n =22 = 4 linhas e Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio
2n – 1 = 22 - 1 = 2, temos para a 1ª proposição 2 valores V e 2 acima, então teremos:
valores F se alternam de 2 em 2 , para a 2ª proposição temos Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
que os valores se alternam de 1 em 1 (ou seja metade dos Resposta D.
valores da 1ª proposição). Observe a ilustração, a primeira
parte dela corresponde a árvore de possibilidades e a segunda Estudo dos Operadores e Operações Lógicas
a tabela propriamente dita. Quando efetuamos certas operações sobre proposições
chamadas operações lógicas, efetuamos cálculos
proposicionais, semelhantes a aritmética sobre números, de
forma a determinarmos os valores das proposições.

1) Negação ( ~ ): chamamos de negação de uma


proposição representada por “não p” cujo valor lógico é
verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F) quando p é
verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de
p.
Pela tabela verdade temos:

(Fonte: http://www.colegioweb.com.br/nocoes-de-logica/tabela-verdade.html)

2) Neste caso temos 3 proposições simples, fazendo os Simbolicamente temos:


cálculos temos: 2n =23 = 8 linhas e 2n – 1 = 23 - 1 = 4, temos para ~V = F ; ~F = V
a 1ª proposição 4 valores V e 4 valores F se alternam de 4 em

Raciocínio Lógico e Matemático 21


APOSTILAS OPÇÃO

V(~p) = ~V(p) (d)


p: A neve é azul. (F)
Exemplos q: 7 é número ímpar. (V)
Proposição Negação: ~p V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ V = F
(afirmações): p
Carlos é médico Carlos NÃO é médico - O valor lógico de uma proposição simples “p” é indicado
Juliana é carioca Juliana NÃO é carioca por V(p). Assim, exprime-se que “p” é verdadeira (V),
Nicolas está de férias Nicolas NÃO está de férias escrevendo:
Norberto foi NÃO É VERDADE QUE V(p) = V
trabalhar Norberto foi trabalhar
- Analogamente, exprime-se que “p” é falsa (F),
A primeira parte da tabela todas as afirmações são escrevendo:
verdadeiras, logo ao negarmos temos passam a ter como valor V(p) = F
lógico a falsidade.
- As proposições compostas, representadas, por exemplo,
- Dupla negação (Teoria da Involução): vamos pelas letras maiúsculas “P”, “Q”, “R”, “S” e “T”, terão seus
considerar as seguintes proposições primitivas, p:” Netuno é o respectivos valores lógicos representados por:
planeta mais distante do Sol”; sendo seu valor verdadeiro ao V(P), V(Q), V(R), V(S) e V(T).
negarmos “p”, vamos obter a seguinte proposição ~p: “Netuno
NÂO é o planeta mais distante do Sol” e negando novamente a 3) Disjunção inclusiva – soma lógica – disjunção
proposição “~p” teremos ~(~p): “NÃO É VERDADE que Netuno simples (v): chama-se de disjunção inclusiva de duas
NÃO é o planeta mais distante do Sol”, sendo seu valor lógico proposições p e q a proposição representada por “p ou q”, cujo
verdadeiro (V). Logo a dupla negação equivale a termos de valor lógico é verdade (V) quando pelo menos uma das
valores lógicos a sua proposição primitiva. proposições, p e q, é verdadeira e falsidade (F) quando
ambas são falsas.
p ≡ ~(~p) Simbolicamente: “p v q” (lê-se: “p OU q”).
Pela tabela verdade temos:
Observação: O termo “equivalente” está associado aos
“valores lógicos” de duas fórmulas lógicas, sendo iguais pela
natureza de seus valores lógicos.
Exemplo:
1. Saturno é um planeta do sistema solar.
2. Sete é um número real maior que cinco.

Sabendo-se da realidade dos valores lógicos das


proposições “Saturno é um planeta do sistema solar” e “Sete é Exemplos
(a)
um número real maior que cinco”, que são ambos verdadeiros
p: A neve é branca. (V)
(V), conclui-se que essas proposições são equivalentes, em
q: 3 < 5. (V)
termos de valores lógicos, entre si.
V(p v q) = V(p) v V(q) = V v V = V
2) Conjunção – produto lógico (^): chama-se de
(b)
conjunção de duas proposições p e q a proposição
representada por “p e q”, cujo valor lógico é verdade (V) p: A neve é azul. (F)
quando as proposições, p e q, são ambas verdadeiras e q: 6 < 5. (F)
falsidade (F) nos demais casos. V(p v q) = V(p) v V(q) = F v F = F
Simbolicamente temos: “p ^ q” (lê-se: “p E q”).
Pela tabela verdade temos: (c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
V(p v q) = V(p) v V(q) = V v F = V

(d)
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número ímpar. (V)
Exemplos V(p v q) = V(p) v V(q) = F v V = V
(a)
p: A neve é branca. (V) 4) Disjunção exclusiva ( v ): chama-se disjunção
q: 3 < 5. (V) exclusiva de duas proposições p e q, cujo valor lógico é
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ V = V verdade (V) somente quando p é verdadeira ou q é
verdadeira, mas não quando p e q são ambas verdadeiras
(b) e a falsidade (F) quando p e q são ambas verdadeiras ou
p: A neve é azul. (F) ambas falsas.
q: 6 < 5. (F) Simbolicamente: “p v q” (lê-se; “OU p OU q”; “OU p OU q,
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ F = F MAS NÃO AMBOS”).
Pela tabela verdade temos:
(c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ F = F

Raciocínio Lógico e Matemático 22


APOSTILAS OPÇÃO

Pela tabela verdade temos:

Exemplos
Para entender melhor vamos analisar o exemplo. (a)
p: Nathan é médico ou professor. (Ambas podem ser p: A neve é branca. (V)
verdadeiras, ele pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, uma q: 3 < 5. (V)
condição não exclui a outra – disjunção inclusiva). V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = V ↔ V = V
Podemos escrever:
Nathan é médico ^ Nathan é professor (b)
p: A neve é azul. (F)
q: Mario é carioca ou paulista (aqui temos que se Mario é q: 6 < 5. (F)
carioca implica que ele não pode ser paulista, as duas coisas V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = F ↔ F = V
não podem acontecer ao mesmo tempo – disjunção exclusiva).
Reescrevendo: (c)
Mario é carioca v Mario é paulista. p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
Exemplos V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = V ↔ F = F
a) Plínio pula ou Lucas corre, mas não ambos.
b) Ou Plínio pula ou Lucas corre. (d)
p: A neve é azul. (F)
5) Implicação lógica ou condicional (→): chama-se q: 7 é número ímpar. (V)
proposição condicional ou apenas condicional representada V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = F ↔ V = F
por “se p então q”, cujo valor lógico é falsidade (F) no caso em
que p é verdade e q é falsa e a verdade (V) nos demais Transformação da linguagem corrente para a
casos. simbólica
Este é um dos tópicos mais vistos em diversas provas e por
Simbolicamente: “p → q” (lê-se: p é condição suficiente isso vamos aqui detalhar de forma a sermos capazes de
para q; q é condição necessária para p). resolver questões deste tipo.
p é o antecedente e q o consequente e “→” é chamado de
símbolo de implicação. Sejam as seguintes proposições simples denotadas por “p”,
Pela tabela verdade temos: “q” e “r” representadas por:
p: Luciana estuda.
q: João bebe.
r: Carlos dança.

Sejam, agora, as seguintes proposições compostas


denotadas por: “P ”, “Q ”, “R ”, “S ”, “T ”, “U ”, “V ” e “X ”
representadas por:
Exemplos P: Se Luciana estuda e João bebe, então Carlos não dança.
(a) Q: É falso que João bebe ou Carlos dança, mas Luciana não
p: A neve é branca. (V) estuda.
q: 3 < 5. (V) R: Ou Luciana estuda ou Carlos dança se, e somente se,
V(p → q) = V(p) → V(q) = V → V = V João não bebe.

(b) O primeiro passo é destacarmos os operadores lógicos


p: A neve é azul. (F) (modificadores e conectivos) e as proposições. Depois
q: 6 < 5. (F) reescrevermos de forma simbólica, vajamos:
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → F = V

(c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F) Juntando as informações temos que, P: (p ^ q) → ~r
V(p → q) = V(p) → V(q) = V → F = F
Continuando:
(d)
p: A neve é azul. (F) Q: É falso que João bebe ou Carlos dança, mas Luciana
q: 7 é número ímpar. (V) estuda.
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → V = V

6) Dupla implicação ou bicondicional (↔):chama-se


proposição bicondicional ou apenas bicondicional
representada por “p se e somente se q”, cujo valor lógico é
verdade (V) quando p e q são ambas verdadeiras ou falsas
e a falsidade (F) nos demais casos. Simbolicamente temos: Q: ~ (q v r ^ ~p).
Simbolicamente: “p ↔ q” (lê-se: p é condição necessária e
suficiente para q; q é condição necessária e suficiente para p).

Raciocínio Lógico e Matemático 23


APOSTILAS OPÇÃO

R: Ou Luciana estuda ou Carlos dança se, e somente se, “‫( ”ﬤ‬ferradura) para a condicional (→).
João não bebe.
(p v r) ↔ ~q Em síntese temos a tabela verdade das proposições que
facilitará na resolução de diversas questões
Observação: os termos “É falso que”, “Não é verdade que”,
“É mentira que” e “É uma falácia que”, quando iniciam as
frases negam, por completo, as frases subsequentes.

- O uso de parêntesis
A necessidade de usar parêntesis na simbolização das
proposições se deve a evitar qualquer tipo de ambiguidade, (Fonte: http://www laifi.com.)
assim na proposição, por exemplo, p ^ q v r, nos dá a seguinte
proposições: Exemplo
Vamos construir a tabela verdade da proposição:
(I) (p ^ q) v r - Conectivo principal é da disjunção. P(p,q) = ~ (p ^ ~q)
(II) p ^ (q v r) - Conectivo principal é da conjunção.
1ª Resolução) Vamos formar o par de colunas
As quais apresentam significados diferentes, pois os correspondentes as duas proposições simples p e q. Em
conectivos principais de cada proposição composta dá valores seguida a coluna para ~q , depois a coluna para p ^ ~q e a
lógicos diferentes como conclusão. útima contento toda a proposição ~ (p ^ ~q), atribuindo todos
Agora observe a expressão: p ^ q → r v s, dá lugar, os valores lógicos possíveis de acordo com os operadores
colocando parêntesis as seguintes proposições: lógicos.
a) ((p ^ q) → r) v s
b) p ^ ((q → r) v s) p q ~q p ^~q ~ (p ^ ~q)
c) (p ^ (q → r)) v s V V F F V
d) p ^ (q → (r v s)) V F V V F
e) (p ^ q) → (r v s) F V F F V
F F V F V
Aqui duas quaisquer delas não tem o mesmo significado.
Porém existem muitos casos que os parêntesis são suprimidos,
2ª Resolução) Vamos montar primeiro as colunas
a fim de simplificar as proposições simbolizadas, desde que,
correspondentes a proposições simples p e q , depois traçar
naturalmente, ambiguidade alguma venha a aparecer. Para
colunas para cada uma dessas proposições e para cada um dos
isso a supressão do uso de parêntesis se faz mediante a
conectivos que compõem a proposição composta.
algumas convenções, das quais duas são particularmente
p q ~ (p ^ ~ q)
importantes:
V V
1ª) A “ordem de precedência” para os conectivos é: V F
(I) ~ (negação) F V
(II) ^, v (conjunção ou disjunção têm a mesma F F
precedência, operando-se o que ocorrer primeiro, da esquerda
para direita). Depois completamos, em uma determinada ordem as
(III) → (condicional) colunas escrevendo em cada uma delas os valores lógicos.
(IV) ↔ (bicondicional) p q ~ (p ^ ~ q)
Portanto o mais “fraco” é “~” e o mais “forte” é “↔”. V V V V
V F V F
Logo: Os símbolos → e ↔ têm preferência sobre ^ e v. F V F V
F F F F
Exemplo 1 1
p → q ↔ s ^ r , é uma bicondicional e nunca uma
condicional ou uma conjunção. Para convertê-la numa p q ~ (p ^ ~ q)
condicional há que se usar parêntesis: V V V F V
p →( q ↔ s ^ r ) V F V V F
E para convertê-la em uma conjunção: F V F F V
(p → q ↔ s) ^ r F F F V F
1 2 1
2ª) Quando um mesmo conectivo aparece
sucessivamente repetido, suprimem-se os parêntesis,
p q ~ (p ^ ~ q)
fazendo-se a associação a partir da esquerda.
V V V F F V
V F V V V F
Segundo estas duas convenções, as duas seguintes
proposições se escrevem: F V F F F V
F F F F V F
Proposição Nova forma de escrever 1 3 2 1
a proposição
((~(~(p ^ q))) v (~p)) ~~ (p ^ q) v ~p p q ~ (p ^ ~ q)
((~p) → (q → (~(p v r)))) ~p→ (q → ~(p v r)) V V V V F F V
V F F V V V F
- Outros símbolos para os conectivos (operadores lógicos): F V V F F F V
“¬” (cantoneira) para negação (~). F F V F F V F
“●” e “&” para conjunção (^). 4 1 3 2 1

Raciocínio Lógico e Matemático 24


APOSTILAS OPÇÃO

3) Associativa: (p ^ q) ^ r ⇔ p ^ (q ^ r)
Observe que vamos preenchendo a tabela com os valores A tabela verdade de (p ^ q) ^ r e p ^ (q ^ r) são idênticas,
lógicos (V e F), depois resolvemos os operadores lógicos ou seja, a bicondicional (p ^ q) ^ r ↔ p ^ (q ^ r) é tautológica.
(modificadores e conectivos) e obtemos em 4 os valores
lógicos da proposição que correspondem a todas possíveis p q r p^q (p ^ q) ^ r q^r p ^ (q ^ r)
atribuições de p e q de modo que: V V V V V V V
V V F V F F F
P(V V) = V, P(V F) = F, P(F V) = V, P(F F) = V V F V F F F F
V F F F F F F
A proposição P(p,q) associa a cada um dos elementos do F V V F F V F
conjunto U – {VV, VF, FV, FF} com um ÚNICO elemento do F V F F F F F
conjunto {V,F}, isto é, P(p,q) outra coisa não é que uma função F F V F F F F
de U em {V,F}
F F F F F F F
P(p,q): U → {V,F} , cuja representação gráfica por um
4) Identidade: p ^ t ⇔ p e p ^ w ⇔ w
diagrama sagital é a seguinte:
A tabela verdade de p ^ t e p, e p ^ w e w são idênticas, ou
seja, a bicondicional p ^ t ↔ p e p ^ w ↔ w são tautológicas.

p t w p^t p^w p^t↔p p^w↔w


V V F V F V V
F V F F F V V

Estas propriedades exprimem que t e w são


respectivamente elemento neutro e elemento absorvente da
conjunção.
3ª Resolução) Resulta em suprimir a tabela verdade Propriedades da Disjunção: Sendo as proposições p, q e
anterior as duas primeiras da esquerda relativas às r simples, quaisquer que sejam t e w, proposições também
proposições simples componentes p e q. Obtermos então a simples, cujos valores lógicos respectivos são V (verdade) e
seguinte tabela verdade simplificada: F(falsidade), temos as seguintes propriedades:

~ (p ^ ~ q) 1) Idempotente: p v p ⇔ p
V V F F V A tabela verdade de p v p e p, são idênticas, ou seja, a
F V V V F bicondicional p v p ↔ p é tautológica.
V F F F V
V F F V F p pvp pvp↔p
4 1 3 2 1 V V V
F F V
Referências
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio
lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
2) Comutativa: p v q ⇔ q v p
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo: A tabela verdade de p v q e q v p são idênticas, ou seja, a
Nobel – 2002. bicondicional p v q ↔ q v p é tautológica.

ÁLGEBRA DAS PROPOSIÇÕES p q pvq qvp pvq↔qvp


V V V V V
Propriedades da Conjunção: Sendo as proposições p, q e V F V V V
r simples, quaisquer que sejam t e w, proposições também F V V V V
simples, cujos valores lógicos respectivos são V (verdade) e F F F F V
F(falsidade), temos as seguintes propriedades:
3) Associativa: (p v q) v r ⇔ p v (q v r)
1) Idempotente: p ^ p ⇔ p (o símbolo “⇔” representa A tabela verdade de (p v q) v r e p v (q v r) são idênticas, ou
equivalência).
seja, a bicondicional (p v q) v r ↔ p v (q v r) é tautológica.
A tabela verdade de p ^ p e p, são idênticas, ou seja, a
bicondicional p ^ p ↔ p é tautológica.
p q r pvq (p v q) v r qvr p v (q v r)
V V V V V V V
p p^p p^p↔p
V V F V V V V
V V V
V F V V V V V
F F V
V F F V V F V
F V V V V V V
2) Comutativa: p ^ q ⇔ q ^ p
A tabela verdade de p ^ q e q ^ p são idênticas, ou seja, a F V F V V V V
bicondicional p ^ q ↔ q ^ p é tautológica. F F V F V V V
F F F F F F F
p q p^q q^p p^q↔q^p
V V V V V 4) Identidade: p v t ⇔ t e p v w ⇔ p
A tabela verdade de p v t e p, e p v w e w são idênticas, ou
V F F F V
seja, a bicondicional p v t ↔ t e p v w ↔ p são tautológicas.
F V F F V
F F F F V
p t w pvt pvw pvt↔t pvw↔p

Raciocínio Lógico e Matemático 25


APOSTILAS OPÇÃO

V V F V V V V
F V F V F V V Questões

Estas propriedades exprimem que t e w são 01. (MEC – Conhecimentos básicos para os Postos
respectivamente elemento absorvente e elemento neutro da 9,10,11 e 16 – CESPE)
disjunção.

Propriedades da Conjunção e Disjunção: Sejam p, q e r


proposições simples quaisquer.
1) Distributiva:
- p ^ (q v r) ⇔ (p ^ q) v (p ^ r)
- p v (q ^ r) ⇔ (p v q) ^ (p v r)

A tabela verdade das proposições p ^ (q v r) e (p v q) ^ (p


v r) são idênticas, e observamos que a bicondicional p ^ (q v r)
↔ (p ^ q) v (p ^ r) é tautológica.

p q r qvr p ^ (q v p^q p^ (p ^ q) v (p ^ A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-


r) r r) verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V
V V V V V V V V e F correspondem, respectivamente, aos valores lógicos
V V F V V V F V verdadeiro e falso.
V F V V V F V V Com base nessas informações e utilizando os conectivos
V F F F F F F F lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
F V V V F F F F A última coluna da tabela-verdade referente à proposição
F V F V F F F F lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal
F F V V F F F F é igual a
F F F F F F F F

Analogamente temos ainda que a tabela verdade das


proposições p v (q ^ r) e (p v q) ^ (p v r) são idênticas e sua ( ) Certo ( ) Errado
bicondicional p v (q ^ r) ↔ (p v q) ^ (p v r) é tautológica.
02. (BRDE-Analista de Sistemas, Desenvolvimento de
A equivalência p ^ (q v r) ↔ (p ^ q) v (p ^ r), exprime que a Sistemas – FUNDATEC) Qual operação lógica descreve a
conjunção é distributiva em relação à disjunção e a tabela verdade da função Z abaixo cujo operandos são A e B?
equivalência p v (q ^ r) ↔ (p v q) ^ (p v r), exprime que a Considere que V significa Verdadeiro, e F, Falso.
disjunção é distributiva em relação à conjunção.
Exemplo:
“Carlos estuda E Jorge trabalha OU viaja” é equivalente à
seguinte proposição:
“Carlos estuda E Jorge trabalha” OU “Carlos estuda E Jorge
viaja”.

2) Absorção:
- p ^ (p v q) ⇔ p (A) Ou.
- p v (p ^ q) ⇔ p (B) E.
(C) Ou exclusivo.
A tabela verdade das proposições p ^ (p v q) e p, ou seja, a (D) Implicação (se...então).
bicondicional p ^ (p v q) ↔ p é tautológica. (E) Bicondicional (se e somente se).
p q pvq p ^ (p v q) p ^ (p v q) ↔ p 03. (EBSERH – Técnico em Citopatologia – INSTITUTO
V V V V V AOCP) Considerando a proposição composta ( p ∨ r ) , é
V F V V V correto afirmar que
F V V F V (A) a proposição composta é falsa se apenas p for falsa.
F F F F V (B) a proposição composta é falsa se apenas r for falsa.
(C) para que a proposição composta seja verdadeira é
Analogamente temos ainda que a tabela verdade das necessário que ambas, p e r sejam verdadeiras.
proposições p v (p ^ q) e p são idênticas, ou seja a bicondicional (D) para que a proposição composta seja verdadeira é
p v (p ^ q) ↔ p é tautológica. necessário que ambas, p e r sejam falsas.
(E) para que a proposição composta seja falsa é necessário
p q p^q p v (p ^ q) p v (p ^ q) ↔ p que ambas, p e r sejam falsas.
V V V V V
V F F V V 04. (CRM/DF – Assistente Administrativo –
F V F F V QUADRIX/2018) Considerando que Mário seja assistente de
F F F F V tecnologia da informação de determinado Conselho Regional
de Medicina (CRM) e a seguinte proposição a respeito das
Referências atividades de Mário no referido órgão: P: “Mário dá suporte às
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio salas de treinamento e executa scripts de atualização do banco
lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
de dados.”, julgue o item a seguir.
Nobel – 2002.

Raciocínio Lógico e Matemático 26


APOSTILAS OPÇÃO

Simbolizando-se P por A∧B, a negação da proposição P Exemplo:


será a proposição R: “Mário não dá suporte às salas de Dada as proposições “~p → q” e “p v q” verificar se elas são
treinamento nem executa scripts de atualização do banco de equivalentes.
dados.”, cuja tabela-verdade é a apresentada abaixo. Vamos montar a tabela verdade para sabermos se elas são
equivalentes.
p q ~p → q p v q

V V F V V V V V

V F F V F V V F

F V V V V F V V

F F V F F F F F

( )Certo ( )Errado
Observamos que as proposições compostas “~p → q” e “p
Respostas
∨ q” são equivalentes.
01. Resposta: Certo.
~p → q ≡ p ∨ q ou ~p → q ⇔ p ∨ q, onde “≡” e “⇔” são os
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:
símbolos que representam a equivalência entre proposições.
R Q P [P v (Q ↔ R) ]
Equivalências fundamentais
V V V V V V V V
V V F F V V V V 1 – Simetria (equivalência por simetria)
V F V V V F F V a) p ^ q ⇔ q ^ p
V F F F F F F V p q p ^ q q ^ p
F V V V V V F F
V V V V V V V V
F V F F F V F F
F F V V V F V F V F V F F F F V
F F F F V F V F
F V F F V V F F
02. Resposta: D.
F F F F F F F F
Observe novamente a tabela abaixo, considere A = p, B = q
e Z = condicional.
b) p v q ⇔ q v p
p q p v q q v p

V V V V V V V V

V F V V F F V V
03. Resposta: E.
Como já foi visto, a disjunção só é falsa quando as duas F V F V V V V F
proposições são falsas. F F F F F F F F
04. Resposta: Errado.
Temos que montar a tabela verdade de P = A∧B, assim c) p ∨ q ⇔ q ∨ p
p q p v q q v p
A B P = A∧B
V V V V V V F V V F V
V F F
F V F V F V V F F V V
F F F
F V F V V V V F
Assim a negação de P será:
~P = R F F F F F F F F
F
V
V
d) p ↔ q ⇔ q ↔ p
V
p q p ↔ q q ↔ p
EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS
V V V V V V V V
Definição: Duas ou mais proposições compostas são V F V F F F F V
equivalentes, mesmo possuindo fórmulas (ou estruturas
lógicas) diferentes, quando apresentarem a mesma solução em F V F F V V F F
suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P e Q são ambas TAUTOLOGIAS, ou F F F V F F V F
então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.
2 - Reflexiva (equivalência por reflexão)

Raciocínio Lógico e Matemático 27


APOSTILAS OPÇÃO

p→p⇔p→p b) p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)
p q r p v (q v r) (p v q) v (p v r)
p p p → p p → p
V V V V V V V V V V V V V V V
V V V V V V V V
V V F V V V V F V V V V V V F
F F F V F F V F V F V V V F V V V V F V V V V

3 – Transitiva V F F V V F F F V V F V V V F
Se P(p,q,r,...) ⇔ Q(p,q,r,...) E F V V F V V V V F V V V F V V
Q(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) ENTÃO
P(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) . F V F F V V V F F V V V F F F

Equivalências notáveis: F F V F V F V V F F F V F V V

F F F F F F F F F F F F F F F
1 - Distribuição (equivalência pela distributiva)
a) p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
3 – Idempotência
p q r p ^ (q v r) (p ^ q) v (p ^ r)
a) p ⇔ (p ∧ p)
V V V V V V V V V V V V V V V p p p ^ p
V V F V V V V F V V V V V F F V V V V V
V F V V V F V V V F F V V V V
F F F F F
V F F V F F F F V F F F V F F
b) p ⇔ (p ∨ p)
F V V F F V V V F F V F F F V
p p p v p
F V F F F V V F F F V F F F F
V V V V V
F F V F F F V V F F F F F F V
F F F F F
F F F F F F F F F F F F F F F

4 - Pela contraposição: de uma condicional gera-se outra


b) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
condicional equivalente à primeira, apenas invertendo-se e
p q r p v (q ^ r) (p v q) ^ (p v r) negando-se as proposições simples que as compõem.
V V V V V V V V V V V V V V V
1º caso – (p → q) ⇔ (~q → ~p)
V V F V V V F F V V V V V V F p q p → q ~q → ~p
V F V V V F F V V V F V V V V V V V V V F V F
V F F V V F F F V V F V V V F
V F V F F V F F
F V V F V V V V F V V V F V V
F V F V V F V V
F V F F F V F F F V V F F F F
F F F V F V V V
F F V F F F F V F F F F F V V

F F F F F F F F F F F F F F F
Exemplo:
p → q: Se André é professor, então é pobre.
2 - Associação (equivalência pela associativa) ~q → ~p: Se André não é pobre, então não é professor.
a) p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)
p q r p ^ (q ^ r) (p ^ q) ^ (p ^ r) 2º caso: (~p → q) ⇔ (~q → p)

V V V V V V V V V V V V V V V p q ~p → q ~q → p

V V F V F V F F V V V F V F F V V F V V F V V

V F V V F F F V V F F F V V V V F F V F V V V

V F F V F F F F V F F F V F F F V V V V F V F
F V V F F V V V F F V F F F V F F V F F V F F
F V F F F V F F F F V F F F F
Exemplo:
F F V F F F F V F F F F F F V ~p → q: Se André não é professor, então é pobre.
~q → p: Se André não é pobre, então é professor.
F F F F F F F F F F F F F F F
3º caso: (p → ~q) ⇔ (q → ~p)

Raciocínio Lógico e Matemático 28


APOSTILAS OPÇÃO

p q p → ~q q → ~p V V F V V V F F V F V F F

V V V F F V F F V F V V F F V V V V F V V

V F V V V F V F V F F V F F V F V V F V F

F V V F F V V V F V V V V
F V F V F V V V
F V F F F V V F F V V F F
F F F V V F V V
F F V F F F V V F V F V V
Exemplo:
F F F F F F V F F V F V F
p → ~q: Se André é professor, então não é pobre.
q → ~p: Se André é pobre, então não é professor.
Proposições Associadas a uma Condicional (se, então)
4 º Caso: (p → q) ⇔ ~p v q Chama-se proposições associadas a p → q as três
proposições condicionadas que contêm p e q:
p q p → q ~p v q – Proposições recíprocas: p → q: q → p
V V V V V F V V – Proposição contrária: p → q: ~p → ~q
– Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p
V F V F F F F F
Observe a tabela verdade dessas quatro proposições:
F V F V V V V V

F F F V F V V F

Exemplo:
p → q: Se estudo então passo no concurso. Note que:
~p v q: Não estudo ou passo no concurso.

5 - Pela bicondicional
a) (p ↔ q) ⇔ (p → q) ∧ (q → p), por definição
p q p ↔ q (p → q) ^ (q → p)

V V V V V V V V V V V V

V F V F F V F F F F V V

F V F F V F V V F V F F

F F F V F F V F V F V F

b) (p ↔ q) ⇔ (~q → ~p) ∧ (~p → ~q), aplicando-se a


contrapositiva às partes
Observamos ainda que a condicional p → q e a sua
p q p ↔ q (~q → ~p) ^ (~p → ~q) recíproca q → p ou a sua contrária ~p → ~q NÃO SÃO
EQUIVALENTES.
V V V V V F V F V F V F
Exemplos:
V F V F F V F F F F V V p → q: Se T é equilátero, então T é isósceles. (V)
q → p: Se T é isósceles, então T é equilátero. (F)
F V F F V F V V F V F F
Exemplo:
F F F V F V V V V V V V Vamos determinar:
a) A contrapositiva de p → q
c) (p ↔ q) ⇔ (p ∧ q) ∨ (~p ∧ ~q) b) A contrapositiva da recíproca de p → q
c) A contrapositiva da contrária de p → q
p q p ↔ q (p ^ q) v (~p ^ ~q)
Resolução:
V V V V V V V V V F F F a) A contrapositiva de p → q é ~q → ~p
V F V F F V F F F F F V A contrapositiva de ~q → ~p é ~~p → ~~q ⇔ p → q

F V F F V F F V F V F F b) A recíproca de p → q é q → p
A contrapositiva q → q é ~p → ~q
F F F V F F F F V V V V
c) A contrária de p → q é ~p → ~q
6 - Pela exportação-importação A contrapositiva de ~p → ~q é q → p
[(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)]
Equivalência “NENHUM” e “TODO”
p q r [(p ^ q) → r] [p → (q → r)] 1 – NENHUM A é B ⇔ TODO A é não B.
Exemplo:
V V V V V V V V V V V V V

Raciocínio Lógico e Matemático 29


APOSTILAS OPÇÃO

Nenhum médico é tenista ⇔ Todo médico é não tenista (= A tabela verdade da condicional (p ^ q) → (p ↔ q) será:
Todo médico não é tenista).
p q p^q p↔q (p ^ q) → (p ↔ q)
2 – TODO A é B ⇔ NENHUM A é não B.
Exemplo: V V V V V
Toda música é bela ⇔ Nenhuma música é não bela (=
Nenhuma música é bela). V F F F V
Referências F V F F V
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio F F F V V
lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Portanto, (p ^ q) → (p ↔ q) é uma tautologia, por isso (p ^


Questões
q) ⇒ (p ↔q).
01. (MRE – Oficial de Chancelaria – FGV) Considere a
Em particular:
sentença:
- Toda proposição implica uma Tautologia: p ⇒ p v ~p
“Corro e não fico cansado”.
Uma sentença logicamente equivalente à negação da p p v ~p
sentença dada é:
(A) Se corro então fico cansado. V V
(B) Se não corro então não fico cansado.
(C) Não corro e fico cansado. F V
(D) Corro e fico cansado.
(E) Não corro ou não fico cansado. - Somente uma contradição implica uma contradição: p ^
~p ⇒ p v ~p → p ^ ~p
02. (TCE/RN – Conhecimentos Gerais para o cargo 4 –
CESPE) Em campanha de incentivo à regularização da
documentação de imóveis, um cartório estampou um cartaz p ~p p ^ ~p p v ~p → p ^ ~p
com os seguintes dizeres: “O comprador que não escritura e
V F F F
não registra o imóvel não se torna dono desse imóvel”.
A partir dessa situação hipotética e considerando que a F V F F
proposição P: “Se o comprador não escritura o imóvel, então
ele não o registra” seja verdadeira, julgue o item seguinte.
A proposição P é logicamente equivalente à proposição “O Propriedades da Implicação Lógica
comprador escritura o imóvel, ou não o registra”. A implicação lógica goza das propriedades reflexiva e
( ) Certo ( ) Errado transitiva:

Comentários Reflexiva: P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)


Uma proposição complexa implica ela mesma.
01. Resposta: A. Transitiva: Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
A negação de P→Q é P ^ ~ Q Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
A equivalência de P-->Q é ~P v Q ou pode ser: ~Q-->~P P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R.
02. Resposta: Certo.
Relembrando temos que: Se p então q = Não p ou q. (p → q Exemplificação e Regras de Inferência
= ~p v q) Inferência é o ato de derivar conclusões lógicas de
proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em
IMPLICAÇÃO LÓGICA outras palavras :é a obtenção de novas proposições a partir de
proposições verdadeiras já existentes. Vejamos as regras de
Uma proposição P(p,q,r,...) implica logicamente ou apenas inferência obtidas da implicação lógica:
implica uma proposição Q(p,q,r,...) se Q(p,q,r,...) é verdadeira
(V) todas as vezes que P(p,q,r,...) é verdadeira (V), ou seja, a 1 – A tabela verdade das proposições p ^ q, p v q , p ↔ q
proposição P implica a proposição Q, quando a condicional P é:
→ Q for uma tautologia.
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”,
simbolicamente temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

A não ocorrência de VF na tabela verdade de P → Q, ou


ainda que o valor lógico da condicional P → Q será sempre V, A proposição “p ^ q” é verdadeira (V) somente na 1ª linha,
ou então que P → Q é uma tautologia. e também nesta linha as proposições “p v q” e “p → q” também
são. Logo a primeira proposição IMPLICA cada uma das outras
Observação: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente duas proposições.
distintos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um Então:
conectivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação p^q⇒pvq
lógica que pode ou não existir entre duas proposições. p^q⇒p→q

Exemplo: A tabela acima também demonstram as importantes


Regras de Inferência:

Raciocínio Lógico e Matemático 30


APOSTILAS OPÇÃO

Adição – p ⇒ p v q e q ⇒ p v q Observe que “~p” implica “p → q”, isto é: ~p ⇒ p → q


Simplificação – p ^ q ⇒ p e p ^ q ⇒ q
Recapitulando as Regras de Inferência aplicadas a
2 – A tabela verdade das proposições p ↔ q, p → q e q → Implicação Lógica:
p, é:
L p q p↔q p→q q→p Adição p⇒pvq
q⇒pvq
1ª V V V V V
Simplificação p^q⇒p
2ª V F F F V p^q⇒q
3ª F V F V F Silogismo disjuntivo (p v q) ^ ~p ⇒ q
(p v q) ^ ~q ⇒ p
4ª F F V V V
Modus ponens (p → q) ^ p ⇒ q
A proposição “p ↔ q” é verdadeira (V) na 1ª e 4ª linha e as
Modus tollens (p → q) ^ ~q ⇒ ~p
proposições “p → q” e “q → p” também são verdadeiras. Logo a
primeira proposição IMPLICA cada uma das outras duas
proposições. Então: Referência
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
p↔q⇒p→q e p↔q⇒q→p Nobel – 2002.

3 - Dada a proposição: (p v q) ^ ~p sua tabela verdade é: Questões

01. (TJ/PI – Analista Judiciário – Escrivão Judicial –


FGV) Renato falou a verdade quando disse:
• Corro ou faço ginástica.
• Acordo cedo ou não corro.
• Como pouco ou não faço ginástica.
Esta proposição é verdadeira somente na 3ª linha e nesta Certo dia, Renato comeu muito.
linha a proposição “q” também verdadeira, logo subsiste a
IMPLICAÇÃO LÓGICA, denominada Regra do Silogismo É correto concluir que, nesse dia, Renato:
disjuntivo. (A) correu e fez ginástica;
(p v q) ^ ~p ⇒ q (B) não fez ginástica e não correu;
(C) correu e não acordou cedo;
É válido também: (p v q) ^ ~q ⇒ p (D) acordou cedo e correu;
(E) não fez ginástica e não acordou cedo.
4 – A tabela verdade da proposição (p → q) ^ p é:
02. Dizer que “André é artista ou Bernardo não é
engenheiro” é logicamente equivalente a dizer que:
(A) André é artista se e somente Bernardo não é
engenheiro.
(B) Se André é artista, então Bernardo não é engenheiro.
(C) Se André não é artista, então Bernardo é engenheiro.
(D) Se Bernardo é engenheiro, então André é artista.
(E) André não é artista e Bernardo é engenheiro.

A proposição é verdadeira somente na 1ª linha, e nesta 03. Dizer que “Pedro não é pedreiro ou Paulo é paulista,” é
linha a proposição “q” também é verdadeira, logo subsiste a do ponto de vista lógico, o mesmo que dizer que:
IMPLICAÇÃO LÓGICA, também denominada Regra de Modus (A) Se Pedro é pedreiro, então Paulo é paulista.
ponens. (B) Se Paulo é paulista, então Pedro é pedreiro.
(C) Se Pedro não é pedreiro, então Paulo é paulista.
(p → q) ^ p ⇒ q (D) Se Pedro é pedreiro, então Paulo não é paulista.
(E) Se Pedro não é pedreiro, então Paulo não é paulista.
5 – A tabela verdade das proposições (p → q) ^ ~q e ~p
é: Resposta

01. Resposta: D.
Na disjunção, para evitarmos que elas fiquem falsas, basta
por uma das proposições simples como verdadeira, logo:
“Renato comeu muito”
Como pouco ou não faço ginástica
F V
A proposição (p → q) ^ ~q é verdadeira somente na 4º Corro ou faço ginástica
linha e nesta a proposição “~p” também é verdadeira, logo V F
subsiste a IMPLICAÇÃO LÓGICA, denominada de Regra Modus
tollens. Acordo cedo ou não corro
(p → q) ^ ~q ⇒ ~p V F

Raciocínio Lógico e Matemático 31


APOSTILAS OPÇÃO

conectivo CONJUNÇÃO e nega-se sua 2ª parte.


Portanto ele:
Comeu muito ~ (p → q) ⇔ (p ^ ~q) ⇔ ~~ p ^ ~q
Não fez ginástica
Correu, e;
Acordou cedo

02. Resposta D
Na expressão temos ~p v q  p → q  ~q → ~p. Temos
duas possibilidades de equivalência p → q: Se André não é
artista , então Bernardo não é engenheiro. Porém não temos
essa opção ~q → ~p: Se Bernardo é engenheiro, então André
é artista. Logo reposta letra d). - Negação de uma bicondicional
Ao negarmos uma bicondicional do tipo “p ↔ q” estaremos
03. Resposta: A. negando a sua formula equivalente dada por “(p → q) ∧ (q →
Na expressão temos ~p v q  p → q p → q: Se Pedro é p)”, assim, negaremos uma conjunção cujas partes são duas
pedreiro, então Paulo é paulista. Letra a). condicionais: “(p → q)” e “(q → p)”. Aplicando-se a negação de
uma conjunção a essa bicondicional, teremos:
NEGAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES COMPOSTAS ~ (p ↔ q) ⇔ ~ [(p → q) ∧ (q → p)] ⇔ [(p ∧ ~q) ∨ (q ∧ ~p)]

Para se negar uma proposição composta é necessário que


se entenda que irá gerar uma outra proposição composta
equivalente a negação de sua primitiva.
De modo geral temos que:
Sejam “♦” e “♪” conectivos lógicos quaisquer.
Temos ~ (p ♦ q) ⇔ (p ♪ q).
Obs.: O símbolo “⇔” representa equivalência entre as
proposições.

Tem-se que: “p ♪ q” é equivalente à negação de “p ♦ q” e


ainda “p ♦ q” é uma proposição oposta à “p ♪ q”.

Vejamos:
– Negação de uma disjunção exclusiva
Por definição, ao negar-se uma DISJUNÇÃO EXCLUSIVA,
gera-se uma BICONDICIONAL. DUPLA NEGAÇÃO (TEORIA DA INVOLUÇÃO)
~ (p v q) ⇔ (p ↔ q) ⇔ (p → q) ^ (q → p) – De uma proposição simples: p ⇔ ~ (~p)

- De uma condicional: p → q ⇔ ~p v q
A dupla negação de uma condicional dá-se por negar a 1ª
parte da condicional, troca-se o conectivo CONDICIONAL pela
DISJUNÇÃO e mantém-se a 2ª parte. Ao negarmos uma
proposição primitiva duas vezes consecutivas, a proposição
resultante será equivalente à sua proposição primitiva.

NEGAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES MATEMÁTICAS


Considere os seguintes símbolos matemáticos: igual (“=”);
diferente (“≠”); maior que (“>”); menor que (“<”); maior ou
igual a (“≥”) e menor ou igual (“≤”). Estes símbolos, associados
a números ou variáveis, formam as chamadas expressões
aritméticas ou algébricas.
- Negação de uma condicional Exemplo:
Ao negar-se uma condicional, conserva-se o valor lógico a) 5 + 6 = 11
de sua 1ª parte, troca-se o conectivo CONDICIONAL pelo b) 5 > 1

Raciocínio Lógico e Matemático 32


APOSTILAS OPÇÃO

c) 3 + 5 ≥ 8

Para negarmos uma sentença matemática basta negarmos


os símbolos matemáticos, assim estaremos negando toda
sentença, vejamos:

Sentença Negação Sentença


Matemática ou obtida
algébrica
Exemplo:
5 + 6 = 11 ~ (5 + 6 = 11) 5 + 6 ≠ 11
Vamos negar a proposição “É inteligente e estuda”, vemos
5–3≠4 ~ (5 – 3 ≠ 4) 5–3=4 que se trata de uma CONJUNÇÃO, pela Lei de Morgan temos
que uma CONJUNÇÃO se transforma em uma DISJUNÇÃO,
5>1 ~ (5 > 1) 5≤1 negando-se as partes, então teremos:
“Não é inteligente ou não estuda”
7< 10 ~ (7< 10) 7≥ 10
Referências
3+5≥8 ~ (3 + 5 ≥ 8) 3+5<8 ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio
y+5≤7 ~ (y + 5 ≤ 7) y+5>7 lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Questões
É comum a banca, através de uma assertiva, “induzir” os
candidatos a cometerem um erro muito comum, que é a 01. (TJ/PI – Analista Judiciário – FGV) Considere a
negação dessa assertiva pelo resultado, utilizando-se da afirmação:
operação matemática em questão para a obtenção desse “Mato a cobra e mostro o pau”
resultado, e não, como deve ser, pela negação dos símbolos A negação lógica dessa afirmação é:
matemáticos. (A) não mato a cobra ou não mostro o pau;
Exemplo: (B) não mato a cobra e não mostro o pau;
Negar a expressão “4 + 7 = 16” não é dada pela expressão (C) não mato a cobra e mostro o pau;
“4 + 7 = 11”, e sim por “4 + 7 ≠ 16” (D) mato a cobra e não mostro o pau;
(E) mato a cobra ou não mostro o pau.
NEGAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES COMPOSTAS – LEIS DE
MORGAN 02. (CODEMIG – Advogado Societário – FGV) Em uma
empresa, o diretor de um departamento percebeu que Pedro,
As Leis de Morgan demonstram que: um dos funcionários, tinha cometido alguns erros em seu
- Negar que duas dadas proposições são ao mesmo tempo trabalho e comentou:
verdadeiras equivale a afirmar que pelo menos uma é falsa “Pedro está cansado ou desatento.”
- Negar que uma pelo menos de duas proposições é A negação lógica dessa afirmação é:
verdadeira equivale a afirmar que ambas são falsas. (A) Pedro está descansado ou desatento.
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO transforma: (B) Pedro está descansado ou atento.
CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO e (C) Pedro está cansado e desatento.
DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO (D) Pedro está descansado e atento.
(E) Se Pedro está descansado então está desatento.
Vejamos:
– Negação de uma conjunção (Leis de Morgan) 03 (TJ/AP – Técnico Judiciário – FCC) Vou à academia
Para negar uma conjunção, basta negar as partes e trocar o todos os dias da semana e corro três dias na semana. Uma
conectivo CONJUNÇÃO pelo conectivo DISJUNÇÃO. afirmação que corresponde à negação lógica da afirmação
~ (p ^ q) ⇔ (~p v ~q) anterior é
(A) Não vou à academia todos os dias da semana ou não
corro três dias na semana.
(B) Vou à academia quase todos os dias da semana e corro
dois dias na semana.
(C) Nunca vou à academia durante a semana e nunca corro
durante a semana.
(D) Não vou à academia todos os dias da semana e não
corro três dias na semana.
(E) Se vou todos os dias à academia, então corro três dias
na semana.

- Negação de uma disjunção (Lei de Morgan) Respostas


Para negar uma disjunção, basta negar as partes e trocar o
conectivo DISJUNÇÃO pelo conectivo-CONJUNÇÃO. 01. Resposta: A
~ (p v q) ⇔ (~p ^ ~q) Negação do ''ou'': nega-se as duas partes e troca o
conectivo ''ou'' pelo ''e''.

02. Resposta: D
Pedro está cansado ou desatento.
O conectivo ou vira e, dai basta negar as proposições.

Raciocínio Lógico e Matemático 33


APOSTILAS OPÇÃO

Pedro não está cansado e nem está desatento, ou seja,


Pedro está descansado e atento.

03. Resposta: A
Quebrando a sentença em P e Q:
P: Vou à academia todos os dias da semana
Conectivo: ∧ (e)
Q: Corro três dias na semana
Aplicando a lei de Morgan: ~(P∧ Q) ≡ ~P ∨ ~Q
~P: Não vou à academia todos os dias da semana Todas as PREMISSAS tem uma CONCLUSÃO. Os exemplos
Conectivo: ∨ (ou) acima são considerados silogismos.
~Q: Não corro três dias na semana Um argumento de premissas P1, P2, ..., Pn e de conclusão
Logo: Não vou à academia todos os dias da semana ou não Q, indica-se por:
corro três dias na semana. P1, P2, ..., Pn |----- Q

LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO Argumentos Válidos


Um argumento é VÁLIDO (ou bem construído ou legítimo)
No estudo da Lógica Matemática, a dedução formal é a quando a conclusão é VERDADEIRA (V), sempre que as
principal ferramenta para o raciocínio válido de um premissas forem todas verdadeiras (V). Dizemos, também, que
argumento. Ela avalia de forma genérica as conclusões que a um argumento é válido quando a conclusão é uma
argumentação pode tomar, quais dessas conclusões são consequência obrigatória das verdades de suas premissas. Ou
válidas e quais são inválidas (falaciosas). Ainda na Lógica seja:
Matemática, estudam-se as formas válidas de inferência de
uma linguagem formal ou proposicional constituindo-se, A verdade das premissas é incompatível com a falsidade da
assim, a teoria da argumentação. conclusão.
Um argumento é um conjunto finito de premissas –
proposições –, sendo uma delas a consequência das demais. Um argumento válido é denominado tautologia quando
Tal premissa (proposição), que é o resultado dedutivo ou assumir, somente, valorações verdadeiras,
consequência lógica das demais, é chamada conclusão. independentemente de valorações assumidas por suas
Um argumento é uma fórmula: P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn → Q, em estruturas lógicas.
que os Pis (P1, P2, P3...) e Q são fórmulas simples ou
compostas. Nesse argumento, as fórmulas Pis (P1, P2, P3...) são Argumentos Inválidos
chamadas premissas e a fórmula Q é chamada conclusão. Um argumento é dito INVÁLIDO (ou falácia, ou ilegítimo ou
mal construído), quando as verdades das premissas são
Conceitos insuficientes para sustentar a verdade da conclusão.
Premissas (proposições): são afirmações que podem ser Caso a conclusão seja falsa, decorrente das insuficiências
verdadeiras ou falsas. Com base nelas que os argumentos são geradas pelas verdades de suas premissas, tem-se como
compostos, ou melhor, elas possibilitam que o argumento seja conclusão uma contradição (F).
aceito. Um argumento não válido diz-se um SOFISMA.

Inferência: é o processo a partir de uma ou mais - A verdade e a falsidade são propriedades das
premissas se chegar a novas proposições. Quando a inferência proposições.
é dada como válida, significa que a nova proposição foi aceita, - Já a validade e a invalidade são propriedades inerentes
podendo ela ser utilizada em outras inferências. aos argumentos.
- Uma proposição pode ser considerada verdadeira ou
Conclusão: é a proposição que contém o resultado final da falsa, mas nunca válida e inválida.
inferência e que esta alicerçada nas premissas. Para separa as - Não é possível ter uma conclusão falsa se as
premissas das conclusões utilizam-se expressões como “logo, premissas são verdadeiras.
...”, “portanto, ...”, “por isso, ...”, entre outras. - A validade de um argumento depende exclusivamente
da relação existente entre as premissas e conclusões.
Sofisma: é um raciocínio falso com aspecto de verdadeiro.

Falácia: é um argumento inválido, sem fundamento ou


tecnicamente falho na capacidade de provar aquilo que Critérios de Validade de um argumento
enuncia. Pelo teorema temos:

Silogismo: é um raciocínio composto de três proposições, Um argumento P1, P2, ..., Pn |---- Q é VÁLIDO se e somente
dispostas de tal maneira que a conclusão é verdadeira e deriva se a condicional:
(P1 ^ P2 ^ ...^ Pn) → Q é tautológica.
logicamente das duas primeiras premissas, ou seja, a
conclusão é a terceira premissa.
Métodos para testar a validade dos argumentos
Estes métodos nos permitem, por dedução (ou inferência),
O argumento é uma fórmula constituída de premissas e
atribuirmos valores lógicos as premissas de um argumento
conclusões (dois elementos fundamentais da argumentação)
para determinarmos uma conclusão verdadeira.
conforme dito no início temos:
Também podemos utilizar diagramas lógicos caso sejam
estruturas categóricas (frases formadas pelas palavras ou
quantificadores: todo, algum e nenhum).

Os métodos consistem em:


1) Atribuição de valores lógicos: o método consiste na
dedução dos valores lógicos das premissas de um

Raciocínio Lógico e Matemático 34


APOSTILAS OPÇÃO

argumento, a partir de um “ponto de referência inicial” que, P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa.
geralmente, será representado pelo valor lógico de uma
premissa formada por uma proposição simples. Lembramos
que, para que um argumento seja válido, partiremos do
pressuposto que todas as premissas que compõem esse
argumento são, na totalidade, verdadeiras.
Para dedução dos valores lógicos, utilizaremos como
auxílio a tabela-verdade dos conectivos. Sabendo-se que “Marta vai à festa” é uma proposição
simples verdadeira, então a 2ª parte da condicional da
premissa P1 será falsa (5º passo). Lembramos que, sempre
que confirmarmos como falsa a 2ª parte de uma condicional,
devemos confirmar também como falsa a 1ª parte (6º passo),
já que F → F: V.

Exemplos
01. Seja um argumento formado pelas seguintes
premissas: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. Se
Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. Nem Rita foi à Portanto, de acordo com os valores lógicos atribuídos,
festa, nem Paula ficou em casa. podemos obter as seguintes conclusões: “Ana não vai à festa”;
Sejam as seguintes premissas: “Marta vai à festa”; “Paula não fica em casa” e “Rita não foi
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. à festa”.
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa.
P3: Nem Rita foi à festa, nem Paula ficou em casa. 02. Seja um argumento formado pelas seguintes
Inicialmente, reescreveremos a última premissa “P3” na premissas: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.
forma de uma conjunção, já que a forma “nem A, nem B” pode Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista. Paulo é porteiro se, e
ser também representada por “não A e não B”. Portanto, somente se, Saulo não é síndico.
teremos: Sejam as seguintes premissas:
Então, sejam as premissas: P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. P2: Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista.
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. P3: Paulo é porteiro se, e somente se, Saulo não é síndico.
P3: Rita não foi à festa e Paula não ficou em casa.
Lembramos que, para que esse argumento seja válido,
Lembramos que, para que esse argumento seja válido, todas as premissas que o compõem deverão ser,
todas as premissas que o compõem deverão ser necessariamente, verdadeiras.
necessariamente verdadeiras. P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista: (V)
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa: (V) P2: Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista: (V)
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa: (V) P3: Paulo é porteiro se, e somente se, Saulo não é síndico:
P3: Rita não foi à festa e Paula não ficou em casa: (V) (V)
Caso o argumento não possua uma proposição simples
Nesse caso, não há um “ponto de referência”, ou seja, não (ponto de referência inicial) ou uma conjunção ou uma
temos uma proposição simples que faça parte desse disjunção exclusiva, então as deduções serão iniciadas pela
argumento; logo, tomaremos como verdade a conjunção da bicondicional, caso exista.
premissa “P3”, já que uma conjunção é considerada verdadeira Sendo P3 uma bicondicional, e sabendo-se que toda
somente quando suas partes forem verdadeiras. Assim, bicondicional assume valoração verdadeira somente
teremos a confirmação dos seguintes valores lógicos quando suas partes são verdadeiras ou falsas,
verdadeiros: “Rita não foi à festa” (1º passo) e “Paula não ficou simultaneamente, então consideraremos as duas partes da
em casa” (2º passo). bicondicional como sendo verdadeiras (1º e 2º passos), por
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. dedução.
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.

Confirmando-se a proposição simples “Saulo não é síndico”


Ao confirmar a proposição simples “Paula não fica em casa” como verdadeira, então a 1ª parte da disjunção em P2 será
como verdadeira, estaremos confirmando, também, como valorada como falsa (3º passo). Se uma das partes de uma
verdadeira a 1ª parte da condicional da premissa “P2” (3º disjunção for falsa, a outra parte “Eduardo é eletricista” deverá
passo). ser necessariamente verdadeira, para que toda a disjunção
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. assuma valoração verdadeira (4º passo).
P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.

Se a 1ª parte de uma condicional for verdadeira, logo, a 2ª


parte também deverá ser verdadeira, já que uma verdade
implica outra verdade. Assim, concluímos que “Marta vai à Ao confirmar como verdadeira a proposição simples
festa” (4º passo).

Raciocínio Lógico e Matemático 35


APOSTILAS OPÇÃO

“Eduardo é eletricista”, então a 2ª parte da condicional em P1 [(p → q) ∧ (q → ~r)] → r ou


será falsa (5º passo). Se a 2ª parte de uma condicional for
valorada como falsa, então a 1ª parte também deverá ser
considerada falsa (6º passo), para que seu valor lógico seja
considerado verdadeiro (F → F: V).
Montando a tabela verdade temos (vamos montar o passo
a passo):
P q r [(p → q) ^ (q → ~r)] → r

V V V V V V V F V

V V F V V V V V F
Portanto, de acordo com os valores lógicos atribuídos,
podemos obter as seguintes conclusões: “Pedro não é pintor”; V F V V F F F F V
“Eduardo é eletricista”; “Saulo não é síndico” e “Paulo é
porteiro”. V F F V F F F V F

Caso o argumento não possua uma proposição simples “ponto F V V F V V V F V


de referência inicial”, devem-se iniciar as deduções pela
conjunção, e, caso não exista tal conjunção, pela disjunção F V F F V V V V F
exclusiva ou pela bicondicional, caso existam.
F F V F V F F F V
2) Método da Tabela – Verdade: para resolvermos temos
que levar em considerações dois casos. F F F F V F F V F
1º caso: quando o argumento é representado por uma
fórmula argumentativa. 1º 2º 1º 1º 1º 1º

Exemplo:
A → B ~A = ~B P q r [(p → q) ^ (q → ~r)] → r
Para resolver vamos montar uma tabela dispondo todas as
proposições, as premissas e as conclusões afim de chegarmos
V V V V V V V F F V
a validade do argumento.
V V F V V V V V V F

V F V V F F F V F V

V F F V F F F V V F

F V V F V V V F F V

F V F F V V V V V F
(Fonte: http://www.marilia.unesp.br)

F F V F V F F V F V
O caso onde as premissas são verdadeiras e a conclusão
é falsa está sinalizada na tabela acima pelo asterisco. Observe
também, na linha 4, que as premissas são verdadeiras e a F F F F V F F V V F
conclusão é verdadeira. Chegamos através dessa análise que o
argumento não é valido. 1º 2º 1º 1º 3º 1º 1º

2o caso: quando o argumento é representado por uma


sequência lógica de premissas, sendo a última sua conclusão, e P q r [(p → q) ^ (q → ~r)] → r
é questionada a sua validade.
Exemplo: V V V V V V F V F F V
“Se leio, então entendo. Se entendo, então não
compreendo. Logo, compreendo.” V V F V V V V V V V F
P1: Se leio, então entendo.
P2: Se entendo, então não compreendo. V F V V F F F F V F V
C: Compreendo.
Se o argumento acima for válido, então, teremos a seguinte
V F F V F F F F V V F
estrutura lógica (fórmula) representativa desse argumento:
P1 ∧ P2 → C
F V V F V V F V F F V
Representando inicialmente as proposições primitivas
“leio”, “entendo” e “compreendo”, respectivamente, por “p”, F V F F V V V V V V F
“q” e “r”, teremos a seguinte fórmula argumentativa:
P1: p → q F F V F V F V F V F V
P2: q → ~r
C: r

Raciocínio Lógico e Matemático 36


APOSTILAS OPÇÃO

F F F F V F V F V V F 3.5 – Modus Ponens (MP)

1º 2º 1º 4º 1º 3º 1º 1º

P q r [(p → q) ^ (q → ~r)] → r 3.6 – Modus Tollens (MT)

V V V V V V F V F F V V

V V F V V V V V V V F F
3.7 – Dilema construtivo (DC)
V F V V F F F F V F V V

V F F V F F F F V V V F

F V V F V V F V F F V V
3.8 – Dilema destrutivo (DD)
F V F F V V V V V V F F

F F V F V F V F V F V V

F F F F V F V F V V F F
3.9 – Silogismo disjuntivo (SD)
1º 2º 1º 4º 1º 3º 1º 5º 1º 1º caso:

Sendo a solução (observado na 5a resolução) uma


contingência (possui valores verdadeiros e falsos), logo, esse
argumento não é válido. Podemos chamar esse argumento de 2º caso:
sofisma embora tenha premissas e conclusões verdadeiras.

Implicações tautológicas: a utilização da tabela verdade


em alguns casos torna-se muito trabalhoso, principalmente
quando o número de proposições simples que compõe o
argumento é muito grande, então vamos aqui ver outros 3.10 – Silogismo hipotético (SH)
métodos que vão ajudar a provar a validade dos argumentos.

3.1 - Método da adição (AD)

3.11 – Exportação e importação.

3.2 - Método da adição (SIMP) 1º caso: Exportação


1º caso:

2º caso: Importação
2º caso:

Produto lógico de condicionais: este produto consiste na


3.3 - Método da conjunção (CONJ) dedução de uma condicional conclusiva – que será a
1º caso: conclusão do argumento –, decorrente ou resultante de
várias outras premissas formadas por, apenas,
condicionais.
Ao efetuar o produto lógico, eliminam-se as proposições
simples iguais que se localizam em partes opostas das
2º caso: condicionais que formam a premissa do argumento,
resultando em uma condicional denominada condicional
conclusiva. Vejamos o exemplo:

3.4 - Método da absorção (ABS)

Raciocínio Lógico e Matemático 37


APOSTILAS OPÇÃO

p: Ana trabalha
q: Beto estuda
r: Carlos viaja
Montando o produto lógico teremos:

Conclusão: “Beto não estuda”.


Nós podemos aplicar a soma lógica em três casos:
3º caso - aplicam-se os procedimentos do 2o caso em,
1º caso - quando a condicional conclusiva é formada pelas
apenas, uma parte das premissas do argumento.
proposições simples que aparecem apenas uma vez no
Exemplo
conjunto das premissas do argumento.
Se Nivaldo não é corintiano, então Márcio é palmeirense.
Exemplo
Se Márcio não é palmeirense, então Pedro não é são-paulino.
Dado o argumento: Se chove, então faz frio. Se neva, então
Se Nivaldo é corintiano, Pedro é são-paulino. Se Nivaldo é
chove. Se faz frio, então há nuvens no céu .Se há nuvens no
corintiano, então Márcio não é palmeirense.
céu ,então o dia está claro.
Então as premissas que formam esse argumento são:
Temos então o argumento formado pelas seguintes
P1: Se Nivaldo não é corintiano, então Márcio é
premissas:
palmeirense.
P1: Se chove, então faz frio.
P2: Se Márcio não é palmeirense, então Pedro não é são-
P2: Se neva, então chove.
paulino.
P3: Se faz frio, então há nuvens no céu.
P3: Se Nivaldo é corintiano, Pedro é são-paulino.
P4: Se há nuvens no céu, então o dia está claro.
P4: Se Nivaldo é corintiano, então Márcio não é
palmeirense.
Vamos denotar as proposições simples:
Denotando as proposições temos:
p: chover
p: Nivaldo é corintiano
q: fazer frio
q: Márcio é palmeirense
r: nevar
r: Pedro é são paulino
s: existir nuvens no céu
Efetuando a soma lógica:
t: o dia está claro
Montando o produto lógico teremos:

Vamos aplicar o produto lógico nas 3 primeiras premissas


Conclusão: “Se neva, então o dia está claro”.
(P1,P2,P3) teremos:
Observe que: As proposições simples “nevar” e “o dia está
claro” só apareceram uma vez no conjunto de premissas do
argumento anterior.

2º caso - quando a condicional conclusiva é formada por,


Conclusão: “Márcio é palmeirense”.
apenas, uma proposição simples que aparece em ambas as
partes da condicional conclusiva, sendo uma a negação da Referências
outra. As demais proposições simples são eliminadas pelo
processo natural do produto lógico. ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
Nobel – 2002.
Neste caso, na condicional conclusiva, a 1ª parte deverá
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio
necessariamente ser FALSA, e a 2ª parte, necessariamente lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
VERDADEIRA.
Questões
Tome Nota:
Nos dois casos anteriores, pode-se utilizar o recurso de 01. (DPU – Agente Administrativo – CESPE) Considere
equivalência da contrapositiva (contraposição) de uma que as seguintes proposições sejam verdadeiras.
condicional, para que ocorram os devidos reajustes entre as • Quando chove, Maria não vai ao cinema.
proposições simples de uma determinada condicional que • Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
resulte no produto lógico desejado. • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
(p → q) ~q → ~p • Quando Fernando está estudando, não chove.
• Durante a noite, faz frio.
Exemplo Tendo como referência as proposições apresentadas,
Seja o argumento: Se Ana trabalha, então Beto não estuda. julgue o item subsecutivo.
Se Carlos não viaja, então Beto não estuda. Se Carlos viaja, Ana Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
trabalha. ( ) Certo ( ) Errado
Temos então o argumento formado pelas seguintes
premissas: 02. (STJ – Conhecimentos Gerais para o cargo 17 –
P1: Se Ana trabalha, então Beto não estuda. CESPE) Mariana é uma estudante que tem grande apreço pela
P2: Se Carlos não viaja, então Beto não estuda. matemática, apesar de achar essa uma área muito difícil.
P3: Se Carlos viaja, Ana trabalha. Sempre que tem tempo suficiente para estudar, Mariana é
Denotando as proposições simples teremos: aprovada nas disciplinas de matemática que cursa na

Raciocínio Lógico e Matemático 38


APOSTILAS OPÇÃO

faculdade. Neste semestre, Mariana está cursando a disciplina Organizando e resolvendo, temos:
chamada Introdução à Matemática Aplicada. No entanto, ela A: Mariana aprende o conteúdo de Cálculo 1
não tem tempo suficiente para estudar e não será aprovada B: Mariana aprende o conteúdo de Química Geral
nessa disciplina. C: Mariana é aprovada em Química Geral
A partir das informações apresentadas nessa situação Argumento: [(A → B) ∧ (B → C)] ⇒ C
hipotética, julgue o item a seguir, acerca das estruturas lógicas. Vamos ver se há a possibilidade de a conclusão ser falsa e
Considerando-se as seguintes proposições: p: “Se Mariana as premissas serem verdadeiras, para sabermos se o
aprende o conteúdo de Cálculo 1, então ela aprende o conteúdo argumento é válido:
de Química Geral”; q: “Se Mariana aprende o conteúdo de Testando C para falso:
Química Geral, então ela é aprovada em Química Geral”; c: (A → B) ∧ (B →C)
“Mariana foi aprovada em Química Geral”, é correto afirmar (A →B) ∧ (B → F)
que o argumento formado pelas premissas p e q e pela Para obtermos um resultado V da 2º premissa, logo B têm
conclusão c é um argumento válido. que ser F:
( ) Certo ( ) Errado (A → B) ∧ (B → F)
(A → F) ∧ (F → F)
03. (Petrobras – Técnico (a) de Exploração de Petróleo (F → F) ∧ (V)
Júnior – Informática – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma Para que a primeira premissa seja verdadeira, é preciso
fada, então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então que o “A” seja falso:
Monarca é um centauro. Se Monarca é um centauro, então (A → F) ∧ (V)
Tristeza é uma bruxa. (F → F) ∧ (V)
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo (V) ∧ (V)
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo. (V)
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um Então, é possível que o conjunto de premissas seja
centauro. verdadeiro e a conclusão seja falsa ao mesmo tempo, o que nos
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro. leva a concluir que esse argumento não é válido.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo. 03. Resposta: B.
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Tristeza
Respostas não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como
conclusão o valor lógico (V), então:
01. Resposta: Errado. (4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo
A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as (F) → V
premissas chegamos a uma conclusão. Enumerando as (3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um
premissas: centauro (F) → V
A = Chove (2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma
B = Maria vai ao cinema bruxa(F) → V
C = Cláudio fica em casa (1) Tristeza não é uma bruxa (V)
D = Faz frio Logo:
E = Fernando está estudando Temos que:
F = É noite Esmeralda não é fada(V)
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V) Bongrado não é elfo (V)
Lembramos a tabela verdade da condicional: Monarca não é um centauro (V)
Então concluímos que:
A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
falsa, utilizando isso temos:
O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então
Fernando estava estudando. // B → ~E
Iniciando temos:
4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → Anotações
~B = V – para que o argumento seja válido temos que Quando
chove tem que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema
(V). // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que
Maria vai ao cinema tem que ser V.
2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C
→ ~D = V - para que o argumento seja válido temos que Quando
Cláudio sai de casa tem que ser F.
5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove
(V). // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está
estudando pode ser V ou F.
1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria
foi ao cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou
F); pois temos dois valores lógicos para chegarmos à
conclusão (V ou F).

02. Resposta: Errado.


Se o argumento acima for válido, então, teremos a seguinte
estrutura lógica (fórmula) representativa desse argumento:
P1 ∧ P2 → C

Raciocínio Lógico e Matemático 39


APOSTILAS OPÇÃO

Raciocínio Lógico e Matemático 40


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
APOSTILAS OPÇÃO

sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade


escolar.
Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve,
dominantemente, atitudes e valores transmitidos,
subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do
cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim,
rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e
procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na
escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e
Currículo, cultura, turmas, mensagens implícitas nas falas dos(as)
professores(as) e nos livros didáticos.
subjetividades e processos
educativos São exemplos de currículo oculto:
- a forma como a escola incentiva o aluno a chamar a
professora (tia, Fulana, Professora etc.);
Concepções de Currículo - a maneira como arrumamos as carteiras na sala de aula
(em círculo ou alinhadas);
À palavra currículo associam-se distintas concepções, que - as visões de família que ainda se encontram em certos
derivam dos diversos modos de como a educação é concebida livros didáticos (restritas ou não à família tradicional de classe
historicamente, bem como das influências teóricas que a média).
afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento. Resumindo... currículo oculto é o termo usado para
denominar as influências que afetam a aprendizagem dos
Diferentes fatores socioeconômicos, políticos e culturais alunos e o trabalho dos professores. Representa tudo o que os
contribuem, assim, para que currículo venha a ser entendido alunos aprendem diariamente em meio às várias práticas,
como: atitudes, comportamentos, gestos, percepções, que vigoram no
- os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; meio social e escolar. Está oculto por que ele não aparece no
- as experiências de aprendizagem escolares a serem planejamento do professor (Moreira1; Silva2).
vividas pelos alunos; Teoria em Duas Grandes Vertentes
- os planos pedagógicos elaborados por professores,
escolas e sistemas educacionais; Como quase todos os temas educacionais, as decisões
- os objetivos a serem alcançados por meio do processo de sobre currículo envolvem diferentes concepções de mundo, de
ensino; sociedade e, principalmente, diferentes teorias sobre o que é o
- os processos de avaliação que terminam por influir nos conhecimento, como é produzido e distribuído, qual seu papel
conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes nos destinos humanos.
graus da escolarização. Pode-se agrupar essas teorias em duas grandes vertentes:
- o currículo centrado no conhecimento; e
Podemos afirmar que as discussões sobre o currículo - o currículo centrado no aluno.
incorporam, com maior ou menor ênfase, discussões sobre os
conhecimentos escolares, sobre os procedimentos e as Conhecimento - a mais antiga e remonta a tempos em que
relações sociais que conformam o cenário em que os o conhecimento não se separava da crença religiosa. O
conhecimentos se ensinam e se aprendem, sobre as currículo é entendido como fonte de um saber fixo, universal e
transformações que desejamos efetuar nos alunos e alunas, inquestionável e a escola como lugar de assimilar esse
sobre os valores que desejamos inculcar e sobre as identidades conhecimento de acordo com algumas regras.
que pretendemos construir. Os estudos começavam com aquilo que “disciplina” o
Estamos entendendo currículo como as experiências pensamento: gramática, lógica e retórica, ou seja, ensinar a
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em pensar e a expressar o pensamento de acordo com as regras da
meio a relações sociais, e que contribuem para a construção gramática. Em seguida era constituído de aritmética,
das identidades de nossos/as estudantes. geometria, música e astronomia. Esta última era o único
Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços “estudo das coisas” aceito pela academia medieval. Os estudos
pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por finalmente se completavam com a teologia.
esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer A concepção do currículo escolar centrado no
espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que explica conhecimento privilegia a apropriação do patrimônio
o uso de expressões como o currículo da mídia, o currículo da científico cultural acumulado em lugar do avanço em direção a
prisão etc. novas descobertas e fronteiras científicas. Sua didática é
Devemos, ainda, considerar que o currículo se refere a uma frontal, expositiva e fácil de observar e de aprender, motivo
realidade histórica, cultural e socialmente determinada, e se pelo qual ainda predomina em muitas salas de aula. Ao longo
reflete em procedimentos didáticos, administrativos que da história, o currículo centrado no conhecimento garantiu
condicionam sua prática e teorização. Enfim, a elaboração de que o legado das várias gerações fosse assimilado, preservado
um currículo é um processo social, no qual convivem lado a e transferido para uma nova geração.
lado os fatores lógicos, epistemológicos, intelectuais e
determinantes sociais como poder, interesses, conflitos Aluno - a vertente centrada no aluno entende que o
simbólicos e culturais, propósitos de dominação dirigidos por currículo escolar deve ser constituído do conhecimento
fatores ligados à classe, raça, etnia e gênero. reconstruído pelo aluno a partir de suas próprias referências
Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também culturais e individuais. As muitas variantes dessa vertente têm
utilizada para indicar efeitos alcançados na escola, que não em comum a concepção do conhecimento como emancipação,
estão explicitados nos planos e nas propostas, não sendo mas diferem significativamente no que diz respeito ao papel
do professor e da escola.

1 MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Currículos e programas no Brasil. 2 SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades terminais: as transformações na

Campinas: Papirus, 1990. política da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vozes, 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 1
APOSTILAS OPÇÃO

Para as mais radicais, a educação escolar deve ser abolida currículo, cujo elemento irredutível é o conhecimento. Nas
porque é apenas transmissora de ideologia (Michael Apple3) ou disciplinas acadêmicas de natureza intelectual - como língua e
de arbitrários culturais (Bourdieu & Passeron4). Já para literatura, matemática, ciências naturais, história, ciências
seguidores de teóricos como Cesar Coll5 ou Emília Ferreiro e sociais e belas artes -, se encontra o núcleo do conhecimento,
Ana Teberosky6, o conhecimento é emancipador se envolver a o conteúdo principal ou a matéria de ensino.
participação do aluno e se o professor for antes de mais nada Sua abordagem baseia-se, principalmente, na estrutura do
um facilitador da reconstrução do conhecimento. Sua didática conhecimento, como um patrimônio cultural, transmitido às
requer atividade e vínculo do aluno com o saber; em lugar de novas gerações. As disciplinas clássicas, verdades consagradas
frontal, é distribuída entre professor e alunos. pela ciência, representam ideias e valores que resistiram ao
tempo e às mudanças socioculturais. Portanto, são
O currículo é centrado no conhecimento, mas num fundamentais à construção do conhecimento.
conhecimento falível, que deve ser submetido à Segundo McNeil a finalidade da educação, segundo o
problematização. Diferentemente da concepção do currículo currículo acadêmico, é a transmissão dos conhecimentos
centrado no conhecimento, essa nova perspectiva considera a vistos pela humanidade como algo inquestionável e
apropriação sistemática do mesmo, necessária, mas não principalmente como uma verdade absoluta. À escola, cabe
suficiente porque é preciso ir além e aplicá-lo às situações que desenvolver o raciocínio dos alunos para o uso das ideias e
demandam a intervenção humana. processos mais proveitosos ao seu progresso.
Da mesma forma, diferentemente da concepção do
currículo centrado no aluno, considera insuficiente a Currículo Humanístico: o currículo humanista tem como
reconstrução do conhecimento descomprometida com a base teórica a tendência denominada Escola Nova e esta
intervenção na realidade. A didática dessa vertente propõe defende que o currículo necessita levar em consideração a
facilitar não só a reconstrução do conhecimento, como realidade dos alunos. Na ênfase humanista, segundo McNeil a
também sua mobilização para intervir em situações de atenção do conteúdo disciplinar se desloca para o indivíduo. O
diferentes graus de complexidade. De preferência, demanda aluno é visto como um ser individual, dotado de uma
que o conhecimento seja reconstruído para um projeto ou um identidade pessoal que precisa ser descoberta, construída e
objetivo o que o torna inseparável da intenção e do valor. ensinada; e o currículo tem a função de propiciar experiências
Por essa razão o currículo não é centrado nem no aluno gratificantes, de modo a desenvolver sua consciência para a
nem no conhecimento, mas na aprendizagem e no resultado, libertação e auto realização.
entendido como aquilo que o aluno é capaz de saber e fazer. A educação é um meio de liberação, cujos processos,
Por essa razão é também denominado currículo referenciado conduzidos pelos próprios alunos, estão relacionados aos
em competências. ideais de crescimento, integridade e autonomia. A auto
Essa concepção superadora da polarização é sintonizada realização constitui o cerne do currículo humanístico. Para
com as novas fronteiras de aprendizagem que vêm sendo consegui-la, o educando deverá vivenciar situações que lhe
abertas pelo uso pedagógico das tecnologias da informação e possibilitem descobrir e realizar sua própria individualidade,
comunicação. As Tecnologias da Informação e Comunicação agindo, experimentando, errando, avaliando, reordenando e
(TICs) estão se revelando um recurso pedagógico capaz de expressando. Tais situações ajudam os educandos a integrar
potencializar o ensino baseado em projetos e a organização de emoções, pensamentos e ações.
situações problema, estratégias pedagógicas pertinentes na
concepção do currículo referenciado em competências. Currículo Tecnológico: sob a perspectiva tecnológica,
ainda segundo McNeil a educação consiste na transmissão de
Abordagens do Currículo conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e
habilidades que propiciem o controle social. Sendo assim, o
Currículo Fechado currículo tecnológico tem sua base sólida na tendência
- Apresenta disciplinas isoladas; tecnicista. O comportamento e o aprendizado são moldados
- Organizadas em grade curricular; pelo externo, ou seja, ao professor, detentor do conhecimento,
- Objetivos e competências definidos; cabe planejar, programar e controlar o processo educativo; ao
- Professor limita-se a segui-los. aluno, agente passivo, compete absorver a eficiência técnica,
atingindo os objetivos propostos.
Currículo Aberto O currículo tecnológico, concebido fundamentalmente no
- Preocupa-se com a interdisciplinaridade; método, tem, como função, identificar meios eficientes,
- Objetos e competências definidos em áreas geradoras; programas e materiais com a finalidade de alcançar resultados
- Professores participam de todo o processo. pré-determinados. É expresso de variadas formas:
levantamento de necessidades, plano escolar sob o enfoque
Para entendermos melhor, as ideologias e concepções em sistêmico, instrução programada, sequências instrucionais,
relação ao currículo recorreremos ao texto de McNeil7. Neste ensino prescritivo individualmente e avaliação por
texto o autor classifica o currículo em quatro abordagens desempenho.
distintas: Acadêmico, Humanista, Tecnológico e O desenvolvimento do sistema ensino e aprendizagem
Reconstrucionista, que foram sendo construídas ao longo do segundo hierarquia de tarefas constitui o eixo central do
tempo. planejamento do ensino, proposto em termos de uma
linguagem objetiva, esquematizadora e concisa.
Currículo Acadêmico: é dentre as várias orientações
curriculares, a que possui maior tradição histórica. Para os Currículo Reconstrucionista Social: o currículo
adeptos da tendência tradicional, o núcleo da educação é o reconstrucionista tem como concepção teórica e metodológica

3 APPLE, M. Ideology and curriculum. New York: Routledge Falmer, 2004. ______. O currículo humanístico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
4 BOURDIEU, P. & PASSERON, J-C. A reprodução - elementos para uma teoria Campinas: editora, 2001.
do ensino. Petrópolis: Vozes, 2008. ______. O currículo acadêmico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
5 COLL, C. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. Campinas: editora, 2001.
6 FERREIRO, E. & TEBEROSKY, A. Psicogenese da língua escrita. Porto Alegre: ______. O currículo tecnológico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
ArtMed, 1988. Campinas: editora, 2001.
7 MCNEIL, John. O currículo reconstrucionista social. Tradução de José

Camilo dos Santos Filho. Campinas: editora, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 2
APOSTILAS OPÇÃO

a tendência histórico-crítica e tem como objetivo principal a É necessário interpretar seu conteúdo: Currículo
transformação social e a formação crítica do sujeito. De acordo Apresentado.
com McNeil o reconstrucionismo social concebe homem e
mundo de forma interativa. A sociedade injusta e alienada Por meio de manuais escolares, publicações científicas e
pode ser transformada à medida que o homem inserido em um didáticas, passando pela planificação curricular e
contexto, social, econômico, cultural, político e histórico consequentes programações pedagógico-didáticas levadas a
adquire, por meio da reflexão, consciência crítica para cabo na escola: Currículo Traduzido.
assumir-se sujeito de seu próprio destino.
Nesse prisma, a educação, é um agente social que promove Já na sala de aula, o professor realiza diversas atividades
a mudança. A visão social da educação e currículo consiste em em função dessas finalidades educativas assumidas. Currículo
provocar no indivíduo atitudes de reflexão sobre si e sobre o Trabalhado.
contexto social em que está inserido. É um processo de
promoção que objetiva a intervenção consciente e libertadora Dando significado real às decisões curriculares
sobre si e a realidade, de modo a alterar a ordem social. Na previamente assumidas, o que implica uma aprendizagem
perspectiva de reconstrução social agrupam-se as posições significativa dos alunos a diversos níveis: cognitivo, motor,
que consideram o ensino uma atividade crítica, cujo processo afetivo, moral, social, materializando-se o currículo. Currículo
de ensino e aprendizagem devam se constituírem em uma concretizado.
prática social com posturas e opções de caráter ético que Como tal, esse processo de construção do currículo implica
levem à emancipação do cidadão e à transformação da que professores interpretem, alterem e procedam à revisão e
realidade. adaptação do currículo prescrito, de acordo com as situações
Sob o norte de emancipação do indivíduo, o currículo deve concretas de suas intervenções educativas e de suas
confrontar e desafiar o educando frente aos temas sociais e perspectivas e concepções curriculares, de forma a surgir um
situações-problema vividos pela comunidade. Por currículo trabalhado adequado ao meio envolvente, à
conseguinte, não prioriza somente os objetivos e conteúdos diversidade dos alunos e com a participação de toda a
universais, sua preocupação não reside na informação e sim na comunidade educativa.
formação de sujeitos históricos, cujo conhecimento é Desse modo, afirma José Pacheco9, “o currículo é um
produzido pela articulação da reflexão e prática no processo propósito que não é neutro em termos de informação, já que
de apreensão da realidade. Enfatizando as relações sociais, esta deriva de diferentes níveis é veiculada por diversos
amplia seu âmbito de ação para além dos limites da sala de agentes curriculares dentro do contexto de vários
aula, introduzindo o educando em atividades na comunidade, condicionalismos”.
incentivando a participação e cooperação.
O currículo reconstrucionista acredita na capacidade do Currículo e Projeto Pedagógico
homem conduzir seu próprio destino na direção desejada, e na
formação de uma sociedade mais justa e equânime. Esse É viável destacar que o currículo constitui o elemento
compromisso com ideais de libertação e transformação social central do projeto pedagógico, ele viabiliza o processo de
lhe imputa certas dificuldades em uma sociedade hegemônica ensino e de aprendizagem.
e dominadora.
Sacristán10 afirma que o currículo é a ligação entre a
Professores Construtores do Currículo cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o
conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos
O currículo não surge de forma independente, há uma forte alunos; entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a
interligação com os professores, que são uma parte integral do prática possível, dadas determinadas condições.
currículo construído e transmitido às turmas, já que o modo Alguns estudos realizados sobre currículo a partir das
como é interpretado pelo professor, as decisões que toma e o décadas 1960 a 1970 destacam a existência de vários níveis de
modo como as concretiza influenciam o currículo. Currículo: formal, real e oculto. Esses níveis servem para fazer
Ele corresponde a um conjunto de valores, significados e a distinção de quanto o aluno aprendeu ou deixou de aprender.
padrões de vida e, simultaneamente, é uma fonte de O Currículo Formal refere-se ao currículo estabelecido
conhecimentos, compreensões, técnicas, destrezas e pelos sistemas de ensino, é expresso em diretrizes
estratégias necessárias para o desenvolvimento tanto pessoal curriculares, objetivos e conteúdos das áreas ou disciplina de
como social do sujeito. estudo. Este é o que traz prescrita institucionalmente os
conjuntos de diretrizes como os Parâmetros Curriculares
Nacionais.
O Currículo Real é o currículo que acontece dentro da sala
de aula com professores e alunos a cada dia em decorrência de
um projeto pedagógico e dos planos de ensino.
Assim, o currículo não é um elemento neutro de
transmissão do conhecimento social. Ele está imbricado em
relações de poder e é expressão do equilíbrio de interesses e
forças que atuam no sistema educativo em um dado momento,
tendo em seu conteúdo e formas, a opção historicamente
configurada de um determinado meio cultural, social, político
e econômico.
Mas esse processo requer uma progressão (Diogo; Vilar8), O caráter pedagógico compreende todos os aspectos
isto é, desde as decisões assumidas pela Administração Central envolvidos com as finalidades que se pretende a educação. A
do Sistema Educativo (Lei de Bases do Sistema Educativo,
decretos-lei, programas...) que constituem o instrumento
nuclear da política curricular: Currículo Prescrito

8 DIOGO, F.; VILAR, A. Gestão flexível do currículo. Porto: Edições Asa, 1998. 10 SACRISTAN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de
9 PACHECO, J. Currículo: teoria e práxis. Porto: Porto Editora, 1996. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Conhecimentos Pedagógicos 3
APOSTILAS OPÇÃO

Pedagogia, segundo Libâneo11, ocupa-se da educação - estabelecer padrões de qualidade e quantidade


intencional, que investiga os fatores que contribuem para a definitivos para o produto;
construção do ser humano como membro de uma determinada - desenvolver objetivos educacionais precisos e que
sociedade, e aos processos e aos meios dessa formação. incluam o domínio ilimitado da capacidade humana através do
Ter clara a compreensão de que Pedagogia se está falando, conhecimento de hábitos, habilidades, capacidades, formas de
para qual escola, que aluno, que ensino, ou seja, que conceitos pensamento, valores, ambições, etc., enfim, conhecer o que
fundamentam as finalidades educativas que se pretende seus membros necessitam para o desempenho de suas
alcançar, é imprescindível para “orientar a prática educativa atividades;
de modo consciente, intencional, sistemática, para finalidades - oferecer “experiências diretas” quando essas múltiplas
sociais e políticas cunhadas a partir de interesses concretos no necessidades não fossem atendidas por “experiências
seio da práxis social”. indiretas”.
Portanto, o caráter pedagógico tem fundamental e estreita
relação com a construção de um currículo que oriente a ação Da transposição dos princípios gerais da administração
educativa e determine princípios e formas de atuação. Quando científica para a administração das escolas passou-se ao
os conceitos acerca do que se pretende tratar são domínio da teoria curricular. As implicações para a prática de
apresentados, entendem-se seus “fins desejáveis” e, define-se uma escola em que a criança é o material e a escola é a escola-
assim, “uma intencionalidade educativa, implicando escolhas, fábrica e, que, portanto, deve modelá-la como um produto de
valores, compromissos éticos” (Libâneo). acordo com as especificações da sociedade, tem seus objetivos
O desenvolvimento das teorias críticas de currículo voltados para um controle de qualidade.
somam-se à preocupação com uma prática pedagógica
comprometida, porque desejam ir além do estático Kliebard13, defendia que “padrões qualitativos e
formalismo das propostas curriculares. A partir dessas quantitativos definitivos fossem estabelecidos para o
considerações, fica clara a estreita relação entre currículo e produto”, considerando esse produto como o material criança,
práticas pedagógicas. a professor deveria obter de seus alunos a maior capacidade
Os desafios da inovação curricular encontram-se que eles possuíssem para solucionar determinada tarefa em
justamente nessa articulação entre os fundamentos do caráter determinado período de tempo.
pedagógico e curriculares refletidos na ação docente, pois, A prática docente desse currículo é facilmente
segundo Libâneo é justamente nesse ponto, quando a teoria se compreendida, pois baseia-se num modelo funcional de
une à prática, que o trabalho docente é produzido, sendo que aplicação de conteúdos e atividades. Para Kliebard a
o comprometimento do professor é fundamental, pois é nesse padronização de atividades ou unidades de trabalho e dos
momento que a produção pedagógica acontece. próprios produtos (crianças), exigiu a especificação de
Estar consciente dos objetivos educacionais irá refletir em objetivos educacionais e tornou a criança, em idade escolar
sua postura diante do objeto de conhecimento em sua relação como algo a ser modelado e manipulado, produzido de modo
com a prática pedagógica, lembrando que o que define uma que se encaixasse em seu papel social predeterminado.
prática como pedagógica é o rumo que se dá às práticas Em sequência a essa concepção fabril de currículo,
educativas, em que “o caráter pedagógico é o que faz distinguir Kliebard apresenta o pensamento de Tyler, que afirma que o
os processos educativos que se manifestam em situações professor pode controlar as experiências de aprendizagem
concretas, uma vez que é a análise pedagógica que explicita a através da “manipulação do ambiente de tal forma que crie
orientação do sentido (direção) da atividade educativa”. situações estimulantes - situações que irão suscitar a espécie
Contudo, para que ocorra a concretização do currículo ele de comportamento desejado, portanto, parte do pressuposto
precisa relacionar-se com o pedagógico, as políticas de de que “a educação é um processo de mudança nos padrões de
formação e inovação curricular devem preocupar-se, comportamento das pessoas”.
especialmente com a passagem desse currículo à escola, ao
professor, ao currículo voltado para a ação, de forma que as Nesse sentido, a elaboração do currículo limitava-se a
orientações curriculares não estejam configuradas como ser uma atividade burocrática, desprovida de sentido e
meros discursos, distantes e desconexos, em que a inovação e fundamentada na concepção de que o ensino estava
a mudança tornem-se, tão-somente, em palavras de efeito, em centrado na figura do professor, que transmitia
discursos ecoando no imaginário pedagógico. conhecimentos específicos aos alunos, estes vistos apenas
como meros repetidores dos assuntos apresentados.
Teorias do Currículo
Teoria Crítica
Teoria Tradicional Quando Bobbitt (in Kliebard) concebeu esse currículo,
Kliebard12 apresenta que os fundamentos da teoria acreditamos que talvez não tenha tido a intenção de, além de
curricular de John Bobbit estão baseados na concepção de padronizar atividades, padronizar pessoas. Essa teoria
administração científica de Taylor, e que a extrapolação desses produziu uma concepção mecanizada de currículo que
princípios para a área de currículo transformou a criança no perdura até hoje, mas ela abriu espaço para o campo político e
objeto de trabalho da engrenagem burocrática da escola. econômico, conferindo ao currículo conteúdos implícitos de
Neste sentido, as finalidades do currículo eram: dominação e poder, através da ideologia dominante.
- educar o indivíduo segundo as suas potencialidades; Essa foi a percepção de Michael Apple do que vinha
- desenvolver o conteúdo do currículo de modo acontecendo com o currículo e que o tornou, segundo
suficientemente variado com o fim de satisfazer as Paraskeva14, o grande precursor da Escola de Frankfurt no
necessidades de todos os tipos de indivíduos na comunidade; campo da educação e do currículo e o primeiro a reavivar, de
- favorecer um ritmo de treinamento e de estudo que seja uma forma explícita, o cunho político do ato educativo e
suficientemente flexível; curricular, colocando a teorização crítica como a saída para a
- dar ao indivíduo somente aquilo de que ele necessita; compreensão do atual fenômeno da escolarização.

11 LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 3ª ed. São Paulo: 13 KLIEBARD, H. Os princípios de Tyler. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; BASTOS, L.

Cortez, 2000. (Orgs.) Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar, 1980.
12 KLIEBARD, H. Burocracia e teoria de currículo. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; 14 PARASKEVA, J.M. Michael Apple e os estudos [curriculares] críticos.

BASTOS, L. (Orgs.). Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar,1980.. Currículo sem Fronteiras, v.2, n. 1. 2002.

Conhecimentos Pedagógicos 4
APOSTILAS OPÇÃO

Aponta que Apple, em “Ideilogy and Curriculum”, denuncia - para Pinar, Reynolds Slattery e Taubman, como críticos à
a feliz promiscuidade entre Ideologia, Cultura e Currículo e o essa teoria, a crise resulta do ecletismo do discurso,
modo como os movimentos hegemônicos (e também contra decorrente da amplidão desmedida de seus interesses e de
hegemônicos) se [re] [des] constroem e disputam um suas categorias;
determinado conhecimento decisivo na construção e - para James Ladwig, a crise resulta de um impasse teórico,
manutenção de um dado senso comum com implicações pois são fundamentalmente qualitativos e não apresentam
diretas nas políticas sociais, em geral e educativas e evidências suficientes de suas proposições, o que os torna
curriculares, em particular. E esta obra, para muitas figuras de pouco convincentes para grande parte da comunidade
proa no campo do currículo - Huebner, McDonald, Mann, educacional tradicional;
Kliebard, Beane, McLaren, Giroux, Macedo - seria o inaugurar - para Jennifer Gore a crise é mais evidente nos trabalhos
de uma nova era no campo, em que se passava do Tylerismo ao de Giroux e Peter McLaren e são descritas em duas razões:
Appleanismo. ausência de sugestões para uma prática docente crítica e a
Paraskeva, apresenta que para Apple, a problemática do utilização de um discurso altamente abstrato e complexo,
conhecimento é considerada como pedra angular para o cujos princípios dificilmente podem ser entendidos e
estudo da escolarização como veículo de seletividade, um operacionalizados pelos professores.
conhecimento que se toma parte nas dinâmicas desiguais de Quanto ao Brasil, apresenta que Regina Celli Cunha
poder e de controle, no qual o processo de escolarização não é considera que a concepção crítica de currículo vivencia uma
inocente. crise de legitimação, por não conseguir, na prática,
Sobre a preocupação com as formas de conhecimento implementar seus princípios teóricos. Moreira revela, ainda,
difundido Apple15, considera fundamental questionar “para que a opinião dominante entre especialistas em currículo
quem é esse conhecimento”, demonstrando uma preocupação acerca da crise é de que os avanços teóricos afetam pouco a
com o que deve ser ensinado não apenas como questão prática docente e que essas discussões têm predominância no
educacional, mas, sobretudo, como questão ideológica e campo acadêmico, dificilmente alcançando a escola, não
política. contribuindo para maior renovação, e que, apesar da crise, a
Destaca a escola e o currículo porque considera “que teoria curricular crítica constitui a mais produtiva tendência
discutir sobre o que acontece, o que pode acontecer e o que do campo do currículo.
deveria acontecer em sala de aula” (...) é uma “tarefa que
merece a aplicação de nossos melhores esforços”. Fundamentos:
Nesse sentido observa que “enquanto não levarmos à sério - Crítica aos processos de convencimento, adaptação e
a intensidade do envolvimento da educação com o mundo real repressão da hegemonia dominante;
das alternativas e desiguais relações de poder, estaremos - Contraposição ao empiricismo e ao pragmatismo das
vivendo em um mundo divorciado da realidade. As teorias, teorias tradicionais;
diretrizes e práticas envolvidas na educação não são técnicas. - Crítica à razão iluminista e racionalidade técnica;
São intrinsecamente éticas e políticas, e em última análise - Busca da ruptura do status quo;
envolvem - uma vez que assim se reconheça - escolhas - Materialismo Histórico Dialético - crítica da organização
profundamente pessoais em relação ao que Marcus Raskin social pautada na propriedade privada dos meios de produção
denomina “o bem comum”. (fundamentos em Marx e Gramsci);
Quanto ao professor afirma que “queria que os educadores, - Crítica à escola como reprodutora da hegemonia
sobretudo aqueles com interesse específico no que acontece dominante e das desigualdades sociais. (Michael Apple)
nas salas de aula, examinassem criticamente as suas próprias
ideias acerca dos efeitos da educação”. Esse posicionamento Principais Fundamentos:
certamente modificaria a prática pedagógica, não no sentido
de aplicação metodológica, mas enquanto intenções - Escola Francesa: teoria da reprodução cultural - “capital
provocativas à reflexão e à emancipação. cultural”. O currículo da escola está baseado na cultura
Portanto, segundo Silva16, as teorias tradicionais dominante, na linguagem dominante, transmitido através do
pretendem ser apenas “teorias” neutras, científicas, código cultural (Bourdieu e Passeron)
desinteressadas, concentrando-se em questões técnicas e de
organização, enquanto que “as teorias críticas e as teorias pós- - Escola de Frankfurt: crítica à racionalidade técnica da
críticas argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica escola “pedagogia da possibilidade” - da resistência. Currículo
ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente implicada como emancipação e libertação. (Giroux e Freire)
em relações de poder. Não se limita a questionar “que
conhecimentos”, mas por que esse conhecimento e não outro? Assim sendo, a função do currículo, mais do que um
Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não conjunto coordenado e ordenado de matérias, seria
outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado também a de conter uma estrutura crítica que permitisse
tipo de identidade ou subjetividade e não outro?” uma perspectiva libertadora e conceitualmente crítica em
Desta forma, percebemos que as teorias críticas favorecimento das massas populares. As práticas
pretendem trazer as relações sociais e sua discussão para a curriculares, nesse sentido, eram vistas como um espaço
sala de aula: questões de raça, de religião, dominação política de defesa das lutas no campo cultural e social.
e ideológica, diferenças culturais, etc. A intenção é legítima
quanto à uma educação voltada para a redução e até mesmo, Teoria Pós-Críticas
nivelação das desigualdades. Já a teoria pós-críticas emergiu a partir das décadas de
Trazer essas intenções para a sala de aula, concretizar essa 1970 e 1980, partindo dos princípios da fenomenologia, do
teorização crítica do currículo na prática pedagógica não é pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais. Assim como a
tarefa fácil. É possível perceber essa dificuldade sobre o que teoria crítica, a perspectiva pós-crítica criticou duramente a
observamos do que Moreira17 apresenta quando a teoria teoria tradicional, mas elevaram as suas condições para além
curricular crítica é vista em crise tanto nos Estados Unidos da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o
como no Brasil, e revela as seguintes interpretações: sujeito.

15 APPLE, M. W. Repensando ideologia e currículo. In: MOREIRA, A. F.; SILVA, 16 SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do

T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
17 MOREIRA, A. F. B. A crise da teoria curricular crítica. 1999.

Conhecimentos Pedagógicos 5
APOSTILAS OPÇÃO

Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, Organização Curricular da Educação Básica
era preciso compreender também os estigmas étnicos e A Educação Básica no Brasil é composta por três etapas:
culturais, tais como a racialidade, o gênero, a orientação sexual - Educação Infantil (que atende crianças de 0 a 5 anos, em
e todos os elementos próprios das diferenças entre as pessoas. creches ou pré-escolas, geralmente mantidas pelo poder
Nesse sentido, era preciso estabelecer o combate à opressão municipal);
de grupos semanticamente marginalizados e lutar por sua - Ensino Fundamental (que atende alunos de 6 a 14 anos,
inclusão no meio social. tem caráter obrigatório, é público, gratuito e oferecido de
A teorias pós-crítica considerava que o currículo forma compartilhada pelos poderes municipal e estadual); e
tradicional atuava como o legitimador dos modus operandi dos - Ensino Médio (que atende jovens de 15 a 17 anos e é
preconceitos que se estabelecem pela sociedade. Assim, a sua oferecido basicamente pelo poder estadual).
função era a de se adaptar ao contexto específico dos No Brasil, existe um contingente ainda expressivo, embora
estudantes para que o aluno compreendesse nos costumes e decrescente, de jovens e adultos com pouca ou nenhuma
práticas do outro uma relação de diversidade e respeito. escolaridade, o que faz da Educação de Jovens e Adultos um
Além do mais, em um viés pós-estruturalista, o currículo programa especial que visa dar oportunidades educacionais
passou a considerar a ideia de que não existe um apropriadas aos brasileiros que não tiveram acesso ao ensino
conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma questão de fundamental na idade própria.
perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos No que se refere às comunidades indígenas, a
diferentes tempos e lugares. Constituição garante-lhes o direito de utilizar suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem.
Fundamentos: Relativamente à questão curricular e à qualidade da
educação, pode-se dizer que currículos compreendem a
Currículo Multiculturalista - nenhuma cultura pode ser expressão dos conhecimentos e valores que uma sociedade
julgada superior a outra. considera que devem fazer parte do percurso educativo de
Multiculturalismo - contra o currículo universitário suas crianças e jovens. Eles são traduzidos nos objetivos que
tradicional (cultura branca, masculina e europeia e se deseja atingir, nos conteúdos considerados os mais
heterossexual). adequados para promovê-los, nas metodologias adotadas e
nas formas de avaliar o trabalho desenvolvido.
- As questões de gênero são uma das questões muito A definição de quais são esses conhecimentos e valores
presentes nas teorias pós-críticas; vem sendo modificada nos últimos anos, devido às demandas
- O acesso à educação era desigual para homens e mulheres criadas pelas transformações na organização da produção e do
e dentro do currículo havia distinções de disciplinas trabalho e pela conjuntura de redemocratização do país.
masculinas e femininas; Portanto, a meta de melhoria da qualidade da educação impôs
- Assim certas carreiras eram exclusivamente masculinas o enfrentamento da questão curricular como aquilo que deve
sem que as mulheres tivessem oportunidades; nortear as ações das escolas, dando vida e significado ao seu
- A intenção era que os currículos percebessem as projeto educativo.
experiências, os interesses, os pensamentos e os É importante considerar também que, no quadro de
conhecimentos femininos dando-lhes igual importância; diversidade da realidade brasileira, existem grandes
- As questões raciais e étnicas também começaram a fazer discrepâncias em relação à possibilidade de se ter acesso aos
parte das teorias pós-críticas do currículo, tendo sido centros de produção de conhecimento, tanto das áreas
percebida a problemática da identidade étnica e racial. curriculares quanto da área pedagógica. Isto é refletido na
formação de professores e nos currículos das escolas, o que
É essencial, por meio do currículo, desconstruir o texto não favorece a existência de uma equidade na qualidade da
racial, questionar por que e como valores de certos grupos oferta de ensino das cerca de 250.000 escolas públicas
étnicos e raciais foram desconsiderados ou brasileiras dispersas nas cinco regiões do país.
menosprezados no desenvolvimento cultural e histórico da Era preciso, portanto, construir referências nacionais para
humanidade e, pela organização do currículo, impulsionar mudanças na formação dos alunos, no sentido de
proporcionar os mesmos significados e valores a todos os enfrentar antigos problemas da educação brasileira e os novos
grupos, sem supervalorização de um ou de outro. desafios colocados pela conjuntura mundial e pelas novas
características da sociedade como a urbanização crescente.
Uma Análise Comparativa Por outro lado, essas referências precisavam indicar pontos
Teorias Críticas Teorias Pós Críticas comuns do processo educativo em todas as regiões e, ao
- Conceitos e conhecimentos mesmo tempo, respeitar as diversidades regionais, culturais e
- Fim das metanarrativas;
históricos e científicos; políticas existentes.
- Concepções; - Hibridismo;
- Currículo como discurso- Políticas do Governo Federal para o Currículo no
- Teoria de currículo - conceitos;
representações;
Brasil
- Trabalho; - Cultura;
- Materialidade/objetividade; - Identidade/subjetividade;
- Realidade; - Discurso; - Uma característica marcante da política curricular no
- Gênero, raça, etnia, Brasil foi a centralização do currículo nas mãos do poder
- Classes Sociais; público.
sexualidade;
- Emancipação e libertação; - Representação e incertezas;
- Desigualdade Social; - Multiculturalismo; - Estados legislaram sobre o programa de ensino primário
- Currículo como construção de e secundário durante todo o século XIX e parte do século XX.
- Currículo como resistência;
identidades;
- Currículo oculto; - Relativismo; - Divisor de águas - a reforma do ensino de 1º e 2º graus
- Compreensão do “para quem” ocorrida em 1971 - Lei 5.692/1971, que fixava as Diretrizes e
- Definição do “o quê” e “por
se constrói o currículo - Bases para o ensino de 1° e 2º graus.
quê” se ensina;
formação de identidades.
- Noção de sujeito.
- Principais características da Lei 5. 692/71:

Conhecimentos Pedagógicos 6
APOSTILAS OPÇÃO

* 2ª LDB implantada no país foi a Lei nº 5.692/71 que - Nas Ciências: o desenvolvimento do pensamento lógico e
estabeleceu um ensino tecnicista para atender ao regime a vivência do método científico e de suas aplicações.
vigente (Ditadura Militar) voltado para a ideologia do - A organização curricular definida pela Reforma de 1971
Nacionalismo Desenvolvimentista; vogou por quase três décadas até ser revogada pela nova Lei
* Previa um núcleo comum para o currículo de 1º e 2º de Diretrizes e Bases da Educação - LDB - Lei 9.394/96, em
graus e uma parte diversificada em função das peculiaridades 1976.
locais (art. 4); - Apesar da vigência da Lei, várias reestruturações
* Inclusão da educação moral e cívica, Ed. Física, Ed. curriculares ocorreram na década de 1980, implementações
Artística e programas de saúde como matérias obrigatórias do pela ação dos governos estaduais e de alguns municípios.
currículo, além do ensino religioso facultativo (art. 7);
* Os municípios deveriam gastar 20% de seu orçamento Dessa forma, no primeiro mandato do presidente
com educação, não previa a dotação orçamentária para a União Fernando Henrique Cardoso, uma das prioridades do
ou os estados (art. 59). Ministério da Educação foi a elaboração de referências
curriculares para a educação básica, um processo inédito na
- Lei 4.024/81, contemplou a questão curricular história da educação brasileira, sistematizando ideias que já
superficialmente admitindo experiências pedagógicas, e no vinham sendo utilizadas nas reformulações curriculares de
ensino secundário, a variedade de currículos de acordo com as estados e municípios.
matérias optativas escolhidas pelo estabelecimento de ensino. Os procedimentos seguidos na elaboração dos documentos
- Nova estrutura educacional - finalidades da educação representam a manifestação do espírito democrático e
nacional concernentes ao regime político vigente. participativo que deve caracterizar a educação de base no país.
- O paradigma curricular técnico, adotado na época, Equipes de educadores (professores com larga e boa
compreendeu uma complexa articulação que envolve quatro experiência nas salas de aula, professores universitários e
aspectos: pesquisadores) elaboraram os documentos preliminares.
* A determinação dos conteúdos realçando as diferenças, Estas equipes realizaram um estudo dos currículos de
semelhanças e identidades que havia entre o núcleo comum e outros países (como Inglaterra, França, Espanha, Estados
a parte diversificada; Unidos), analisaram as propostas dos estados e de alguns dos
* O currículo pleno com as noções de atividade, áreas de municípios brasileiros, considerando os indicadores da
estudo e disciplina; educação no Brasil (como taxas de evasão e repetência,
* Em relação ao currículo pleno, o desenvolvimento das desempenho dos alunos nas avaliações sistêmicas) e
ideias de relacionamento, ordenação, sequência e a função de estudaram os marcos teóricos contemporâneos sobre
cada uma delas para a construção de um currículo orgânico e currículo, ensino, aprendizagem e avaliação.
flexível; A finalidade das referências curriculares consiste na
* A delimitação da amplitude da educação geral e formação radical transformação dos objetivos, dos conteúdos e da
especial, em torno das quais se desenvolvia toda a nova didática na educação infantil, no ensino fundamental e na
escolarização. educação de jovens e adultos. Os conteúdos estudados passam
- Outras categorias curriculares como educação geral e a ser os meios com os quais o estudante desenvolve
formação especial designavam com precisão as finalidades capacidades intelectuais, afetivas, motoras, tendo em vista as
atribuídas ao ensino de 1º e 2º graus. demandas do mundo em que vive. A formação se sobrepõe à
informação pura e simples, modificando o antigo conceito de
- A educação geral destinava-se a transmitir uma base que educação é somente transmissão de conhecimentos.
comum de conhecimentos indispensáveis a todos, tendo em A nova proposta apresentada pelo Ministério da Educação
vista a continuidade dos estudos; a parte especial tinha como aos educadores brasileiros é composta dos documentos:
objetivo a sondagem de aptidões e a indicação para o trabalho - Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação
no 1º grau, e a habilitação profissional no 2º grau. Fundamental;
- Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
- Em relação aos conteúdos, optou-se pela classificação - Referencial Curricular Nacional para a Educação
tríplice das matérias em: (Conteúdos Particulares) Indígena;
* Comunicação e Expressão; - Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos.
* Estudos Sociais;
* Ciências. Dentro das propostas já referidas, cada qual com sua
especificidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
- A Arte: Ensino Fundamental incluem, além das áreas curriculares
* Artes Plásticas; clássicas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais,
* Desenho; História, Geografia, Arte, Educação Física e Línguas
* Teatro, entre outros. Estrangeiras), o tratamento de questões da sociedade
brasileira, como aquelas ligadas a Ética, Meio Ambiente,
- Da mesma forma, programas de saúde substituem a visão Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e
higienista predominante, pela compreensão mais abrangente Consumo, ou outros temas que se mostrem relevantes.
de saúde e prevenção. Base Nacional Comum Curricular
- Assim foram definidos os objetivos das matérias.
- Em Comunicação e Expressão: o cultivo de linguagens A Base Nacional Comum Curricular é um documento de
que ensejem ao aluno o contato coerente com os seus caráter normativo que define o conjunto orgânico e
semelhantes e a manifestação harmônica de sua personalidade progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos
dos aspectos físico, psíquico e emocional, ressaltando-se a devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da
Língua Portuguesa como expressão da cultura brasileira. Educação Básica.
- Nos Estudos Sociais: o ajustamento crescente do Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da
educando ao meio cada vez amplo e complexo, em que deve Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve
apenas viver como conviver, dando-se ênfase ao conhecimento nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das
do Brasil na perspectiva atual do seu desenvolvimento. Unidades Federativas, como também as propostas
pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de

Conhecimentos Pedagógicos 7
APOSTILAS OPÇÃO

Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em Currículo e Qualidade do Ensino


todo o Brasil. Outra inquietação permeia a análise dos currículos: trata-
A Base estabelece conhecimentos, competências e se da preocupação com o rebaixamento da qualidade da
habilidades que se espera que todos os estudantes docência e da escola. A reação das escolas, dos docentes e
desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos gestores diante dos dados que informam a desigualdade
princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes escolar, em geral, é culpar os alunos, suas famílias, seu meio
Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos social, sua condição racial pelas capacidades desiguais de
propósitos que direcionam a educação brasileira para a aprender. Podemos, sim, ter outro entendimento sobre isso.
formação humana integral e para a construção de uma Há um argumento que retarda a tentativa de se criar esse
sociedade justa, democrática e inclusiva. novo entendimento: o fato de a desigualdade ser socialmente
criada. No entanto, as ciências consideram que toda mente
Currículo e Direito à Educação humana é igualmente capaz de aprender.
Embora hoje muitas escolas e coletivos docentes tenham
Sabemos o quanto a questão curricular afeta a organização essa preocupação, há muita dificuldade em superar o olhar
do trabalho na escola, constituindo-se mesmo num elemento classificatório dos alunos e o padrão de normalidade bem
estruturante do seu trabalho. sucedida na gestão dos conteúdos. Ainda são aplicados
Aspectos fundamentais do cotidiano das escolas são “remédios” para os malsucedidos, os lentos, os desacelerados,
condicionados pelo currículo: é ele que estabelece, por os fracassados. Exemplo disso é o reforço e a recuperação
exemplo, os conteúdos, seu ordenamento e sequenciação, suas paralela, agrupamentos em turmas de aceleração, dentre
hierarquias e cargas horárias. São também as decisões outros.
curriculares que fazem importante mediação dos tempos e dos Podemos encontrar iniciativas corajosas de coletivos que
espaços na organização escolar, das relações entre educadores repensam o currículo em função dessa questão da
e educandos, da diversificação que se estabelece entre os desigualdade. Assim, há estudos e propostas de revisão da
professores. A organização escolar, portanto, é inseparável da lógica que estrutura os conhecimentos dos tempos de
organização curricular. aprendizagem. Novos estudos sobre a mente humana são
buscados, como o de Gerome Bruner19, para repensar os
Miguel G. Arroyo18 é um dos autores que têm se currículos que organizam conhecimentos.
preocupado com o currículo e os sujeitos envolvidos na ação
educativa: educandos e educadores. Arroyo tem ressaltado O direito à educação e o currículo como instrumento
nesses estudos diversos aspectos, como: para viabilizar esse direito nos obrigam a desconstruir
- a importância do trabalho coletivo na educação para a crenças cristalizadas e a repensá-las à luz de critérios
construção de parâmetros de ação pedagógica; éticos.
- o fato de serem os educandos sujeitos de direito ao
conhecimento; - Para desconstruir a crença na desigualdade de
- a necessidade de se mapearem imagens e concepções dos capacidades de aprender, é preciso confrontá-la com o direito
educandos para subsidiar o debate sobre os currículos. igual de todos à educação, ao conhecimento e à cultura.
- Os avanços das ciências desconstroem nossos
Com base em discussões apresentadas por esse autor, olhares hierárquicos e classificatórios das capacidades e
veremos alguns pontos de reflexão sobre o tema: ritmos dos alunos e alunas, além de nos levarem a visões mais
respeitosas e igualitárias. Há necessidade, portanto, de
Currículo e os Sujeitos da Ação Pedagógica entender mais os processos de aprender dos currículos. A
O coletivo dos educadores planeja a execução dos seus questão central continua a ser o que ensinar, como ensinar,
currículos por área ou por ciclo. Individual e coletivamente, os como organizar os conhecimentos, tendo como parâmetro os
conteúdos curriculares são revisados. Junto com os processos de aprendizagem dos educandos em cada tempo
administradores das escolas, professores escolhem e planejam humano.
prioridades e atividades, reorganizam os conhecimentos, - À medida que essas questões vindas da visão dos alunos
intervindo na construção dos currículos. e suas aprendizagens interrogam nossos currículos, somos
O avanço dessa prática de trabalho coletivo está se levado(a)s a rever as lógicas em que estruturamos os
constituindo em uma dinâmica promissora para a conteúdos escolares.
reorientação curricular na educação básica. Esses coletivos de
profissionais terminam produzindo e selecionando Educandos como Sujeitos de Direitos
conhecimentos, material, recursos pedagógicos, de maneira Tomando os educandos como sujeitos de direito, os
que eles se tornam produtores coletivos do currículo. currículos são responsáveis pela organização de
Os educandos, sujeitos centrais da ação pedagógica, são conhecimentos, culturas, valores, artes a que todo ser humano
condicionados pelos conhecimentos que deverão aprender e tem direito. Isso significa inverter as prioridades ditadas pelo
pelas lógicas e tempos predefinidos em que terão de aprendê- mercado e definir as prioridades a partir do respeito ao direito
los. Muitos alunos têm problemas de aprendizagem, e talvez dos educandos.
muitos desses problemas resultem das lógicas temporais que Somente partindo do conhecimento dos educandos como
norteiam as aprendizagens e dos recortes com os quais são sujeitos de direitos, estaremos em condições de questionar o
organizados os conhecimentos nos currículos. Tais lógicas e trato seletivo e segmentado em que ainda se estruturam os
ordenamentos não podem ser considerados intocáveis. conteúdos.
Passo importante para os coletivos das escolas: investigar Isso exige repensar a reorganização da estrutura escolar e
os currículos a partir dos educandos. As novas sensibilidades do ordenamento curricular legitimados em valores de mérito
para com os educandos são importantes para se repensarem e e sucesso, em lógicas excludentes e seletivas, em hierarquias
reinventarem os currículos escolares. Os alunos estão de conhecimentos e de tempos, em cargas-horárias.
mudando e obrigando-nos a rever nosso olhar sobre eles e A superação das hierarquias, das segmentações e dos
sobre os conteúdos da docência. silenciamentos entre os conhecimentos e as culturas pode ser

18 ARROYO, Miguel Gonzalez. Secretaria de Educação Básica (Org.). Os 19 BRUNER, J. A cultura da educação. Porto Alegre: Artmed, 2001.
educandos, seus Direitos e o Currículo: Documento em versão preliminar. 2006.

Conhecimentos Pedagógicos 8
APOSTILAS OPÇÃO

um dos maiores desafios atuais para a organização dos Para esta abordagem, segundo o autor, deve-se modificar
currículos. Eles têm sido repensados, mas, sobretudo, em muito o currículo.
função do progresso cientifico e tecnológico. Assim, os
currículos se complexificam cada vez mais, o que não significa Em relação ao papel da escola Candau22 enfatiza que as
que os mesmos questionem os processos humanos regressivos diversidades culturais existentes nas diferentes sociedades,
que acontecem na sociedade e que cada vez mais parecem como:
precarizar a vida dos educandos. - os negros americanos;
As exigências curriculares e as condições de garantia do - os emigrantes em países desenvolvidos;
direito à educação e ao conhecimento se distanciam pela - os emigrantes no Brasil; e mais,
precarização da vida dos setores populares. - as muitas distintas culturas que variam de grupos e de
Por um lado, o direito à educação e, por outro, a vivência pessoas se fazem presentes no interior da escola.
da negação dos direitos humanos mais básicos questionam o
ordenamento curricular, a lógica sequenciada, linear, rígida, A escola neste sentido, não pode reproduzir a cultura
previsível, para sujeitos disponíveis, liberados, em tempo dominante, ela deve considerar as vivências dos educandos e
integral, sem rupturas, sem infrequências, somente ocupados contribuir para uma pedagogia libertária.
no estudo, sem fome, protegidos, com a sobrevivência Em decorrência do fracasso escolar, intensificaram-se os
garantida. estudos a respeito do multiculturalismo associado com a
A escola vem fazendo esforços para repensar-se em função Antropologia, mas também se viu a Psicologia como uma das
da vida real dos sujeitos que têm direito à educação, ao ciências importantíssima para a resolução dos problemas.
conhecimento e à cultura. A nova LDB n° 9394/96 recoloca a Candau faz referência à teoria de Paulo Freire, a qual
educação na perspectiva da formação e do desenvolvimento buscou em uma perspectiva da cultura popular, alfabetizar
humano; o direito à educação, entendido como direito à muitas pessoas em blocos divididos, os quais os educadores
formação e ao desenvolvimento humano pleno. faziam um estudo do cotidiano das pessoas para daí então,
Essa lei se afasta, no seu discurso, da visão dos educandos começar alfabetizá-los, considerando a linguagem e os termos
como mão-de-obra a ser preparada para o mercado e comuns.
reconhece que toda criança, adolescente, jovem ou adulto tem O multiculturalismo, de acordo com Candau, tem sua maior
direito à formação plena como ser humano. Reafirma que essa representatividade nos EUA, porque lá vivem negros,
é uma tarefa da gestão da escola, da docência e do currículo. mexicanos, porto-riquenhos, chineses e uma pluralidade de
raças e etnias distintas.
Currículo e Multiculturalismo Durante a década de 1960, tiveram muitas manifestações
em prol da igualdade dos negros perante aos brancos, eles
Sacristán20 afirma que a escola tem sido um mecanismo de reivindicavam direitos e participação iguais na sociedade,
normalização. O multiculturalismo na escola nada mais é do independentemente de raça, sexo, crenças e religião.
que a inclusão de todos à educação, procurando atender aos O multiculturalismo enfim, se apresenta de muitas formas,
interesses de todos, independentemente de etnias, as quais não se limitam a uma única tendência. Por isso, sua
deficiências ou diferentes grupos minoritários, geralmente abordagem educacional é muito ampla, fazendo uma reforma
excluídos e marginalizados. drástica no currículo para uma perspectiva de diversidades.
Na sua concepção o currículo educacional deve atender a Currículo e Avaliação
todas estas diversidades, pois a sociedade não é homogênea.
Para tanto, o currículo deve ser ampliado e abranger as Que tipo de ser humano queremos formar? É com esta
necessidades dos grupos minoritários, ou seja, não pode se pergunta na cabeça que devemos pensar o currículo. Não
prender apenas a cultura dominante e geral, mas sim obstante, a avaliação, também, perpassa por este viés - uma
reconhecer a singularidade dos indivíduos. avaliação que dê conta de suprir algumas de nossas
Para que aconteça a inclusão de grupos minoritários, é necessidades do cotidiano.
necessária uma discussão profunda sobre a temática, a qual É nesse contexto que as três últimas décadas registraram
deve envolver toda a comunidade escolar. O ponto de partida uma preocupação intensa com os estudos sobre avaliação. O
para o movimento inicial é o planejamento curricular, mas é processo de avaliação não está ainda bem resolvido e definido
no currículo real, ou seja, as práticas educativas, que de fato pela escola e tampouco nas cabeças dos professores.
ocorrem à desvalorização das experiências dos alunos e as Muitos estudos foram empreendidos, mas pouco se
discriminações. avançou. Teóricos têm estudado e buscado caminhos para
Para Sacristán, a cultura transmitida pela escola confronta romper com um processo tão solidificado na escola como é o
com outros significados prévios, por isso, deve-se pensar em caso da avaliação da aprendizagem.
um currículo extraescolar, para que os educadores possam Algumas críticas severas têm sido feitas em relação ao
mediar os educandos com uma perspectiva multicultural, a aluno não saber quais são os verdadeiros objetivos das
qual visa o currículo em coordenadas mais amplas. avaliações, não saber como ele será avaliado e, o mais
importante não saber o que o professor espera que ele
Para que não perca a identidade das culturas, o responda, o que o professor, verdadeiramente, quer.
planejamento curricular, de acordo com Sacristán21, deve se É preciso entender, de uma vez por todas, que temos que
pautar na seguinte estratégia: conciliar a concepção de avaliação em um currículo aberto e
- formação de professores; em construção que deve contemplar o conhecimento real dos
- planejamento de currículos; alunos.
- desenvolvimento de materiais apropriados e, Como local de conhecimento, o currículo é a expressão de
- a análise e revisão crítica das práticas vigentes. nossas concepções do que constitui conhecimento (...). Trata-
se de uma concepção do conhecimento e do currículo como
presença: presença do real e do significado no conhecimento e

20 SACRISTAN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad 22 CANDAU, Vera Maria Ferrão. (Org.). Sociedade, educação e cultura(s):

Ernani da Rosa. Porto Alegre, RGS: Artmed, 2000. Questões e propostas. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
21 SACRISTAN, José Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In SILVA,

Tomaz Tadeu da. MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs). Territórios Contestados: o


currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Conhecimentos Pedagógicos 9
APOSTILAS OPÇÃO

no currículo; presença do real e do significado para quem competência todas as etapas do processo de ensino e
transmite e para quem recebe. aprendizagem na sala de aula.
Este conceito assevera a ideia de um currículo em De acordo com Fernandes e Freitas as práticas na avaliação
constante movimento. Um currículo aberto e que serve de da aprendizagem são apresentadas de diferentes perspectivas,
passagem para o real e significativo. Um lugar perfeito para se dependendo da concepção pedagógica da escola, pois esta
processar a avaliação que se deseja em qualquer processo de incorpora diversas práticas, eliminando algumas e
aprendizagem hierarquizando outras, etc. Assim, os instrumentos de
A avaliação é um processo histórico que se propaga de avaliação como provas, trabalhos, relatórios, entre outros,
acordo com as mudanças sociais, tendo em vista os múltiplos devem ser expostos aos alunos de forma clara no que se
contextos que perpassam a vida dos sujeitos humanos. Ou seja, pretende alcançar em cada avaliação.
a avaliação está presente no cotidiano dos indivíduos, Porém, se os instrumentos forem utilizados de maneira
ocorrendo de maneira espontânea ou através do ensino inadequada podem trazer consequências ao rendimento
formal. escolar dos alunos. Nesse contexto, é importante avaliar
Na educação, a avaliação deve partir de um currículo alguns aspectos no processo de elaboração dos instrumentos
planejado, envolvendo todo o coletivo da instituição. O de avaliação, tais como:
currículo, por sua vez, tem por objetivo direcionar caminhos - A linguagem que será utilizada;
de como trabalhar as diversidades encontradas dentro da - A contextualização investigada;
escola, atribuindo juízo de valor que deve ser realizado de - O conteúdo de forma significativa;
forma ética e democrática a respeito do objetivo que se - A coerência com o propósito de ensino;
pretende alcançar, principalmente no ensino e na - E explorar a capacidade de leitura e de escrita.
aprendizagem escolar.
Nesse sentido, as práticas pedagógicas do educador podem Em relação à educação infantil, o método de avaliar
se tornar um ato classificatório, sendo que o juízo de valor se centra-se no acompanhamento do desenvolvimento e da
expressa nas suas ações diárias desenvolvidas em sala de aula. aprendizagem das crianças. E essa forma avaliativa está
Haja vista que a atividade docente requer um processo próxima da avaliação formativa por ser contínua e inclusiva.
contínuo de reflexões em torno da práxis, especialmente no De acordo com advertência feita no artigo 24 da LDB (Lei
tocante ao ato de avaliar. de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), a avaliação
Faz-se fundamental que o educador reflita as suas práticas contínua e acumulativa necessita de uma verificação sobre o
desenvolvidas no cotidiano da sala de aula, respeitando as rendimento escolar, sendo observados os critérios de
experiências que os indivíduos trazem do seu convívio em avaliação que permanecem nos processos quantitativos e
sociedade. Tendo em vista que a avaliação consiste um dos qualitativos no decorrer da aprendizagem escolar. Visto que a
aspectos do processo pedagógico, cuja prática deve colaborar avaliação se concretiza na adoção de instrumentos avaliativos,
no desenvolvimento da criticidade do indivíduo, interagindo que almejam definir os critérios de como avaliar.
os conhecimentos escolares com os contextos em que alunos O professor pode usar, enquanto instrumento de avaliação,
estão inseridos. o portfólio, que consiste um instrumento de aprendizagem em
Nesse sentido, o corpo docente não deve utilizar o ato de que os alunos podem registrar todas as construções efetivadas
avaliar apenas para medir e controlar o rendimento do nas aulas; verificando assim os seus esforços, desempenhos,
discente dentro da instituição escolar. Segundo Fernandes e dúvidas e criações. Assim, o portfólio pode consistir um
Freitas23 perpassam, na prática escolar, duas formas de procedimento de grande importância para aprendizagem do
avaliação: discente.
- a avaliação formativa que tem princípios norteadores no Outro tipo de instrumento que facilita a prática de
próprio processo educativo e avaliação formativa corresponde ao caderno de
- a avaliação somativa que apresenta a função de julgar o aprendizagem, que igualmente proporciona o registro de
resultado final, ou seja, ao término do ano letivo, sendo feito informações e dúvidas. A prática com o caderno de
uma avaliação com objetivo de somar as notas do aluno aprendizagem envolve dois momentos:
durante o período escolar. - Atividades de acompanhamento dos conteúdos escolares,
que têm como objetivo superar as dificuldades e dúvidas
“Os processos de avaliação formativa são concebidos para inerentes às atividades estudadas.
permitir ajustamentos sucessivos durante o desenvolvimento e - E os registros reflexivos, que objetivam servir de auto
a experimentação do currículo”. avaliação para os alunos.

Dessa forma, a avaliação formativa se apresenta como O memorial, por sua vez, constitui um instrumento de
processo de aprendizagem na relação professor e aluno, já que avaliação que visa à concretização da escrita do discente, visto
o docente não é o único responsável pelo desempenho do que contém o propósito de fazer com que o aluno reflita sobre
educando, embora oriente a construção do conhecimento. as suas ações e o seu compromisso durante o processo de
Para que isso aconteça, faz-se necessário, também, que o aprendizagem, contribuindo assim para o crescimento
discente conheça os conteúdos necessários à construção de individual e coletivo da turma.
sua autonomia. Nesse sentido, a avaliação formativa consiste, Outro instrumento relacionado à avaliação condiz ao
conforme Afonso, um dispositivo pedagógico adequado à conselho de classe, que consiste na troca de informações e
concretização de uma efetiva igualdade de oportunidades de experiências entre professores que trabalham com os mesmos
sucesso na escola básica. E, quando articulada à diversidade, alunos, a fim de criar uma estratégia que favoreça os processos
torna-se democrática ao desenvolver a criticidade do aluno. de aprender. Dessa forma, o conselho de classe não deve ser
Haja vista que as características processuais da avaliação entendido, simplesmente, como fechamento de notas e
têm como objetivo analisar a capacidade, habilidade e decisões acerca da aprovação ou reprovação de alunos.
desenvolvimento do aluno durante todo o ano letivo. Dessa Além da avaliação dos processos de ensino e
forma, a escola avalia se o discente desenvolveu com aprendizagem, segundo Fernandes e Freitas, faz necessária a
avaliação institucional e a avaliação do sistema educacional.

23 FERNANDES, Claudia de Oliveira. Indagações sobre currículo: currículo e Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
avaliação. Organização do documento: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Educação Básica, 2008.

Conhecimentos Pedagógicos 10
APOSTILAS OPÇÃO

- A avaliação institucional tem como apoio o Projeto 04. (TSE - Analista Pedagogia - CONSULPLAN) A
Político-Pedagógico da escola, que é elaborado coletivamente incorporação, no currículo, de questões tais como ética, saúde,
pelos os profissionais envolvidos na educação, que se articula meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural,
à comunidade local para criar e propor alternativas aos segundo os PCNs (1997) deve ser realizada a partir de
problemas. (A) uma abordagem transversal que integre todas as
- A avaliação do sistema educacional acontece fora da rede temáticas relacionadas.
avaliada, sendo a mesma elaborada pelas secretarias de (B) criação de disciplinas específicas para cada tópico
educação, envolvendo assim as escolas e os professores de específico.
forma que esta seja realizada com legitimidade técnica e (C) desenvolvimento das disciplinas de Ciências, História e
política, pois os resultados obtidos nesta avaliação são usados Geografia.
tanto na avaliação institucional como pelo educador na (D) criação de uma disciplina integradora que contemple
avaliação da aprendizagem dos alunos. ciência e cultura.
Assim, os sistemas de avaliações nacionais como SAEB,
Prova Brasil, ENEM e ENAD, que vêm sendo implementados, 05. (TSE - Analista Pedagogia - CONSULPLAN) A teoria
desde os anos 90, no Brasil, apresentam o propósito de curricular apresenta diferentes conceitos que ajudam a definir
construir uma escola de melhor qualidade, sendo os o termo currículo que tanto pode ser entendido como curso,
resultados apresentados nas avaliações debatidos nas escolas carreira, quanto designar as várias atividades educativas por
e redes de comunicação para que, de fato, a educação se torne meio das quais os conteúdos são desenvolvidos. Dentre as
um instrumento de democratização do sistema educacional possíveis definições, o termo currículo oculto significa que
brasileiro, com intuito de superar as dificuldades encontradas (A) ensina-se e aprende-se muito mais do que se supõe.
dentro da escola, visando diminuir o índice de reprovação e (B) procura-se uma identidade para o conteúdo curricular.
evasão escolar. (C) o que se ensina é o que se aprende de fato.
(D) seleciona-se mais conteúdos do que se ensina.
Questões
Gabarito
01. (SEDUC/RO - Professor História - FUNCAB)
Considere uma organização curricular por disciplinas isoladas, 01.A / 02.D / 03.Certa / 04.A
dispostas em uma grade curricular, que não foi discutida e nem
elaborada pelos professores e visa a desenvolver nos alunos CULTURA, DIVERSIDADE CULTURAL E CURRÍCULO
habilidades e destrezas desejadas pela sociedade. Este é um
currículo: 24Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja útil

(A) fechado e tecnicista. esclarecermos, inicialmente, como a estamos concebendo, já


(B) aberto e por competência. que seus sentidos têm variado ao longo dos tempos,
(C) aberto e sociocrítico. particularmente no período da transição de formações sociais
(D) fechado e escolanovista. tradicionais para a modernidade. Acreditamos que tal
(E) aberto e tradicional. esclarecimento pode subsidiar a discussão das relações entre
currículo e cultura25e26.
02. (INSS - Analista Pedagogia - FUNRIO) A Pedagogia O primeiro e mais antigo significado de cultura encontra-
tem passado por muitas inovações e mudanças no que se se na literatura do século XV, em que a palavra se refere a
refere aos processos de ensino e aprendizagem, em relação ao cultivo da terra, de plantações e de animais. É nesse sentido
que se compreende hoje sobre o que é o campo do currículo, que entendemos palavras como agricultura, floricultura,
em relação aos métodos e técnicas de ensino. suinocultura.
Algumas questões exemplificam essas afirmações: O segundo significado emerge no início do século XVI,
1. começam a ser conhecidas e praticadas as propostas de ampliando a ideia de cultivo da terra e de animais para a mente
trabalhos por projetos; humana. Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada,
2. os estudos curriculares apontam que é preciso afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, grupos
problematizar a hierarquização linear dos conteúdos; ou classes sociais apresentam mentes e maneiras cultivadas e
3. há uma reflexão sobre o uso das tecnologias em que somente algumas nações apresentam elevado padrão de
educação, ao preço da escola se distanciar da vida concreta dos cultura ou civilização. No século XVIII, consolida-se o caráter
estudantes. classista da ideia de cultura, evidente na ideia de que somente
as classes privilegiadas da sociedade europeia atingiriam o
No que se refere à hierarquização linear dos conteúdos, nível de refinamento que as caracterizaria como cultas. O
faz-se uma crítica quanto à sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem suas
(A) presença da interdisciplinaridade nos currículos. origens nessa segunda concepção: cultura, tal como as elites a
(B) presença da não disciplinaridade nos currículos. concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura,
(C) interdisciplinaridade presente nos currículos. cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não
(D) não presença da interdisciplinaridade nos currículos. encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns de
(E) disciplinaridade não presente nos currículos. nossos atuais currículos como em textos que se escrevem
sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo da literatura,
03. (TJ/DF - Analista Judiciário Pedagogia - CESPE) por exemplo, ainda tende a se restringir a escritores e livros
Julgue os item subsequente, relativo às concepções de vistos como clássicos. Para alguns estudiosos da cultura e da
currículo. educação, os grandes autores, as grandes obras e as grandes
As imagens de família presentes em determinados livros ideias deveriam constituir o núcleo central dos currículos de
didáticos são exemplos de um tipo de currículo intitulado nossas escolas.
oculto, pois não são explicitados em documentos. Já no século XX, a noção de cultura passa a incluir a cultura
( ) Certo ( ) Errado popular, hoje penetrada pelos conteúdos dos meios de

24http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf 26 CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. Reflexões obre o multiculturalismo na escola


25 BOCOCK, R. The cultural formations of modern society. In: HALL, S. e e na formação docente. In: CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. (Orgs.) Ênfases e omissões
GIEBEN, B. (Orgs.). Formations of modernity. Cambridge: Polity Press/The Open no currículo. Campinas: Papirus, 2001.
University, 1995.

Conhecimentos Pedagógicos 11
APOSTILAS OPÇÃO

comunicação de massa. Diferenças e tensões entre os práticas por meio das quais significados são produzidos e
significados de cultura elevada e de cultura popular acentuam- compartilhados em um grupo.
se, levando a um uso do termo cultura que se marca por Se entendermos o currículo, como propõe Williams27,
valorizações e avaliações. Será que algumas de nossas escolas como escolhas que se fazem em vasto leque de possibilidades,
não continuam a fechar suas portas para as manifestações ou seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo,
culturais associadas à cultura popular, contribuindo, assim, também, como conjunto de práticas que produzem
para que saberes e valores familiares a muitos (as) estudantes significados. Nesse sentido, considerações de Silva28 podem
sejam desvalorizados e abandonados na entrada da sala de ser úteis. Segundo o autor, o currículo é o espaço em que se
aula? Poderia ser diferente? Como? concentram e se desdobram as lutas em torno dos diferentes
Um terceiro sentido da palavra cultura, originado no significados sobre o social e sobre o político. É por meio do
Iluminismo, a associa a um processo secular geral de currículo que certos grupos sociais, especialmente os
desenvolvimento social. Esse significado é comum nas ciências dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto
sociais, sugerindo a crença em um processo harmônico de social, sua “verdade”. O currículo representa, assim, um
desenvolvimento da humanidade, constituído por etapas conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e
claramente definidas, pelo qual todas as sociedades o consumo de significados no espaço social e que contribuem,
inevitavelmente passam. Tal processo acaba equivalendo, por intensamente, para a construção de identidades sociais e
“coincidência”, aos rumos seguidos pelas sociedades culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
europeias, as únicas a atingirem o grau mais elevado de grande efeito no processo de construção da identidade do(a)
desenvolvimento. estudante.
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos que Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre
sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as referências currículo e cultura? Se, em uma sociedade cindida, a cultura é
se fazem, dominantemente, às histórias dos povos um terreno no qual se processam disputas pela preservação ou
“desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e dos rumos pela superação das divisões sociais, o currículo é um espaço
seguidos na maioria dos países que formam o chamado em que esse mesmo conflito se manifesta. O currículo é um
Terceiro Mundo campo em que se tenta impor tanto a definição particular de
Em um quarto sentido, a palavra “culturas” (no plural) cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O
corresponde aos diversos modos de vida, valores e currículo é um território em que se travam ferozes
significados compartilhados por diferentes grupos (nações, competições em torno dos significados. O currículo não é um
classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracionais, veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
de gênero etc) e períodos históricos. Trata-se de uma visão sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se
antropológica de cultura, em que se enfatizam os significados produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto,
que os grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. a criação, recriação, contestação e transgressão29.
Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida de um Como todos esses processos se “concretizam” no
dado grupo social, com as representações da realidade e as currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam
visões de mundo adotadas por esse grupo. A expressão dessa esforços tanto por consolidar as situações de opressão e
concepção, no currículo, poderá evidenciar-se no respeito e no discriminação a que certos grupos sociais têm sido
acolhimento das manifestações culturais dos (as) estudantes, submetidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que
por mais desprestigiadas que sejam. essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao nos
Finalmente, um quinto significado tem tido considerável lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de práticas,
impacto nas ciências sociais e nas humanidades em geral. em salas de aulas, que contribuem para cristalizar
Deriva da antropologia social e também se refere a significados preconceitos e discriminações, representações estereotipadas
compartilhados. Diferentemente da concepção anterior, e desrespeitosas de certos comportamentos, certos estudantes
porém, ressalta a dimensão simbólica, o que a cultura faz, em e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas
vez de acentuar o que a cultura é. Nessa mudança, efetua- se dessas visões, lamentavelmente, se refletem em frases como:
um movimento do que para o como. Concebe-se, assim, a “vindo de onde vem, ele não podia mesmo dar certo na
cultura como prática social, não como coisa (artes) ou estado escola!”.
de ser (civilização). Ao mesmo tempo, há inúmeros e expressivos relatos de
Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo natural existem, práticas alternativas em que professores (as) desafiam as
mas não apresentam sentidos intrínsecos: os significados são relações de poder que têm justificado e preservado privilégios
atribuídos a partir da linguagem. Quando um grupo e marginalizações, procurando contribuir para elevar a
compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de autoestima de estudantes associados a grupos
significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas subalternizados. O currículo é um campo em que se tenta
de utilização da linguagem. A palavra cultura implica, impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo
portanto, o conjunto de práticas por meio das quais quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território
significados são produzidos e compartilhados em um grupo. em que se travam ferozes competições em torno dos
São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que significados. Ou seja, no processo curricular, distintas e
passam, dominantemente, a despertar a atenção dos que complexas têm sido as respostas dadas à diversidade e à
analisam a cultura com base nessa quinta perspectiva, passível pluralidade que marcam de modo tão agudo o panorama
de ser resumida na ideia de que cultura representa um cultural contemporâneo.
conjunto de práticas significantes. Não será pertinente Cabe também ressaltar a significativa influência exercida,
considerarmos também o currículo como um conjunto de junto às crianças e aos adolescentes que povoam nossas salas
práticas em que significados são construídos, disputados, de aula, pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços
rejeitados, compartilhados? Como entender, então, as relações socioeducativos (shoppings, clubes, associações, igrejas, meios
entre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha uma de comunicação, grupos informais de convivência etc), nos
cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos, quais se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos
ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da fenômenos associáveis ao processo de globalização que hoje
linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares, os

27 WILLIAMS, R. The long revolution. Harmondsworth: Penguin Books, 1984. 29 MOREIRA, A. F. B. e SILVA, T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São
28 SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do Paulo: Cortez, 1994.
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

Conhecimentos Pedagógicos 12
APOSTILAS OPÇÃO

currículos tendem a se organizar com objetivos distintos dos O currículo como espaço de reconhecimento de nossas
currículos escolares, o que faz com que valores como identidades culturais
padronização, consumismo, individualismo, sexismo e
etnocentrismo possam entrar em acirrada competição com Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de
outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale perguntar: especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola,
Como temos, nas salas de aula, reagido a esse “confuso” promover ocasiões que favoreçam a tomada de consciência da
panorama em que a diversidade se faz tão presente? construção da identidade cultural de cada um de nós, docentes
Como temos nos esforçado para desestabilizar privilégios e e gestores, relacionando-a aos processos socioculturais do
discriminações? Como temos buscado neutralizar influências contexto em que vivemos e a história de nosso país. O que
“indesejáveis”? temos constatado é a pouca consciência que, em geral, temos
Como temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses desses processos e do cruzamento de culturas neles presente.
outros espaços? Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereotipada de
nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a identidade
Em resumo, o complexo, variado e conflituoso cenário cultural é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos
cultural em que estamos imersos se reflete no que ocorre em é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida.
nossas salas de aula, afetando sensivelmente o trabalho Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica,
pedagógico que nelas se processa. Voltamos a perguntar: contextualizada e plural das identidades culturais é
fundamental, articulando- se as dimensões pessoal e coletiva
Como as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como desses processos. Constitui um exercício fundamental
classe social, gênero, etnia, sexualidade, cultura e religião têm tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos culturais,
“contaminado” nosso currículo, tanto o currículo formal quanto dos processos em que misturam ou se silenciam determinados
o currículo oculto? pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de
Como temos considerado, no currículo, essa pluralidade, esse reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. Constitui um
caráter multicultural de nossa sociedade? exercício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos
Como articular currículo e multiculturalismo? enraizamentos culturais, dos processos em que misturam ou
Que estratégias pedagógicas podem ser selecionadas? se silenciam determinados pertencimentos culturais, bem
Temos, professores e gestores, reservado tempo e espaço como sermos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-
suficientes para que essas discussões aconteçam nas escolas? los.
Como nossos projetos político-pedagógicos têm incorporado Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
tais preocupações? exercícios podem ser propostos, buscando-se criar
Como temos atendido ao que determina a Lei nº oportunidades em que o profissional da educação se estimule
10.639/2003, que torna obrigatório, nos estabelecimentos de a falar sobre como percebe a construção de sua identidade.
ensino fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura Como vêm sendo criadas nossas identidades de gênero, raça,
afro-brasileira? sexualidade, classe social, idade, profissão? Como temos
De que modo os professores se têm inteirado das lutas e aprendido a ser quem somos, como profissionais da educação,
conquistas dos negros, das mulheres, dos homossexuais e de brasileiros (as), homens, mulheres, casados (as), solteiros (as),
outros grupos minoritários oprimidos? negros (as), brancos (as), jovens ou idosos (as)? Nesses
momentos, tem sido bastante frequente a afirmação “nunca
Sem pretender oferecer respostas prontas a serem pensei na formação da minha identidade cultural”, ou então
aplicadas em quaisquer situações, move-nos a intenção de “me considero uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão
apresentar alguns princípios que possam nortear a construção usada por uma professora jovem, querendo se referir à
coletiva, em cada escola, de currículos que visem a enfrentar dificuldade de nomear os referentes culturais configuradores
alguns dos desafios que a diversidade cultural nos tem trazido. de sua trajetória de vida.
Fundamentamo-nos, nesse propósito, em estudos, pesquisas, A socialização em pequenos grupos, entre os (as)
práticas e depoimentos de docentes comprometidos com uma educadores (as), dos relatos sobre a construção de suas
escola cada vez mais democrática. Nossa intenção é convidar o identidades culturais pode se revelar uma experiência
profissional da educação a engajar- se no instigante processo profundamente vivida, muitas vezes carregada de emoção, que
de pensar e desenvolver currículos para essa escola. dilata tanto a consciência dos próprios processos de formação
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, identitária do ponto de vista cultural, quanto a sensibilidade
intensificar a sensibilidade do (a) docente e do gestor para a para favorecer esse mesmo dinamismo nas práticas educativas
pluralidade de valores e universos culturais, para a que organizamos. Nesses processos, podemos nos dar conta da
necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de complexidade envolvida na configuração dos distintos traços
cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a identitários que coexistem, por vezes contraditoriamente, na
conveniência de resgatar manifestações culturais de construção das diferenças de que somos feitos.
determinados grupos cujas identidades se encontram
ameaçadas, para a importância da participação de todos no O currículo como espaço de questionamento de
esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a nossas representações sobre os “outros”
urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos.
O objetivo maior concentra-se, cabe destacar, na Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural,
contextualização e na compreensão do processo de construção outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às
das diferenças e das desigualdades. Nosso propósito é que os representações que construímos dos outros, daqueles que
currículos desenvolvidos tornem evidente que elas não são consideramos diferentes. As relações entre nós e os outros
naturais; são, ao contrário, “invenções/construções” históricas estão carregadas de dramaticidade e ambiguidade. Em
de homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem sociedades nas quais a consciência das diferenças se faz cada
desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou seja, o existente vez mais forte, reveste-se de especial importância
nem pode ser aceito sem questionamento nem é imutável; aprofundarmos questões como: quem incluímos na categoria
constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e nós? Quem são os outros? Quais as implicações dessas
para a formulação e a promoção de novas situações questões para o currículo? Como nossas representações dos
pedagógicas e novas relações sociais. outros se refletem nos currículos?

Conhecimentos Pedagógicos 13
APOSTILAS OPÇÃO

Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a admissão, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos, por
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na educação. princípio, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os
Nossa maneira de nos situarmos em relação aos outros tende grupos cujas marcas são comportamentos antissociais ou
a construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os opressivos, como os racistas. Que consequências a adoção
nós? Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas dessa perspectiva pode ter para a prática pedagógica?
pessoas e aqueles grupos sociais que têm referenciais Julgamos que a simples tolerância pode nos situar em uma
semelhantes aos nossos, que têm hábitos de vida, valores, posição débil, evitando que tomemos posição em relação aos
estilos e visões de mundo que se aproximam dos nossos e os valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir
reforçam. Quem são os outros? Tendem a ser os que entram que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como
em choque com nossas maneiras de nos situarmos no mundo, valor último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”,
por sua classe social, etnia, religião, valores, tradições, vendo-a como comportamentos a serem inevitavelmente
sexualidade etc. cultivados.
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar diante
Duschatzky30, principalmente de três formas distintas: o outro dos outros. No entanto, acreditamos que a tipologia proposta
como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de um por Skliar e Duschatzky31 expressa as posições mais presentes
grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. na nossa sociedade hoje, evidenciando a complexidade das
A primeira perspectiva, segundo os autores, marcou questões relacionadas à alteridade e à diferença.
predominantemente as relações sociais durante o século XX e O que desejamos destacar é que o modo como concebemos
pode se revestir de diferentes formas, desde a eliminação física a condição humana pode bloquear nossa compreensão dos
do outro, até a coação interna, mediante a regulação de outros. Portanto, é importante promovermos processos
costumes e moralidades. Nesse modo de nos situarmos diante educacionais nos quais identifiquemos e desconstruamos
do outro, assumimos uma visão binária e dicotômica. Em um nossas suposições, em geral implícitas, que não nos permitem
lado separamos os bons, os verdadeiros, os autênticos, os uma aproximação aberta e empática à realidade dos outros.
civilizados, cultos, defensores da liberdade e da paz. Em outro,
deixamos os outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os O currículo como um espaço de crítica cultural
ignorantes e os terroristas. Se nos identificamos com os
primeiros, o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar Apresentamos agora outro princípio, fortemente
ou subjugar os outros. Caso nos sintamos representados como relacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
integrantes do polo oposto, ou internalizamos a nossa conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns
maldade e nos deixamos salvar, passando para o lado dos bons, dos artefatos culturais que circundam o (a) aluno (a). A ideia é
ou nos confrontamos violentamente com eles. tornar o currículo um espaço de crítica cultural.

Como essa primeira perspectiva se traduz na escola? Como fazê-lo?


Mostra-se presente quando: Um dos caminhos é abrir as portas, na escola, a diferentes
a) atribuímos o fracasso escolar dos (as) alunos (as) às manifestações da cultura popular, além das que compõem a
suas características sociais ou étnicas; chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes,
b) diferenciamos os tipos de escolas segundo a origem programas de televisão, festas populares, anúncios,
social dos (as) estudantes, considerando que alguns têm maior brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e
potencial que outros e, para desenvolvermos uma educação de romances precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da
qualidade, não podemos misturar estudantes de diferentes mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar
potenciais; os horizontes culturais dos (as) estudantes, bem como de
c) nos situamos, como professores (as), diante dos (as) promover interações entre diferentes culturas, outras
alunos (as), com base em estereótipos e expectativas manifestações, mais associadas aos grupos dominantes,
diferenciadas segundo a origem social e as características precisam ser incluídas no currículo.
culturais dos grupos de referência; A intenção é que a cultura dos estudantes e da comunidade
d) valorizamos exclusivamente o racional e possa interagir com outras manifestações e outros espaços
desvalorizamos os aspectos afetivos presentes nos processos culturais como museus, exposições, centros culturais, música
educacionais; erudita, clássicos da literatura. Se aceitarmos a inexistência, no
e) privilegiamos somente a comunicação verbal, mundo contemporâneo, de qualquer “pureza cultural” 32, se
desconsiderando outras formas de comunicação humana, pretendermos abrir espaço na escola para a complexa
como a corporal, a artística etc. interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural,
tanto as manifestações culturais hegemônicas como as
Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de
marca cultural, estamos concebendo-o como membro de uma apreciação e crítica. Talvez fosse útil, para o desenvolvimento
dada cultura, vista como uma comunidade homogênea de do que sugerimos, que discutíssemos, na escola, com que
crenças e estilos de vida. O outro, ainda que não seja a fonte de recursos podemos contar em nossa comunidade e como fazer
todo mal, é diferente de nós, tem uma essência claramente para que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar-
definida, distinta da que nos caracteriza. Na área da educação, se familiares a nossos (as) alunos (as). Abrir as portas, na
essa visão se expressa, por exemplo, quando nos limitamos a escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das
abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em que compõem a chamada cultura erudita.
dias especiais, usualmente incluídos na lista dos festejos Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar.
escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência Ao intentarmos transformar a escola em um espaço cultural,
Negra. estamos convidando cada professor (a), como intelectual que
Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tanto é, a desempenhar o papel de crítico (a) cultural. Estamos
a admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las. Nessa considerando que a atividade intelectual implica o

30 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na 31 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na

cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel: cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
32 McCARTHY, C. The uses of culture: education and the lilmits of ethnic

affiliation. New York: Routledge, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 14
APOSTILAS OPÇÃO

questionamento do que parece inscrito na natureza das coisas, aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu
do que nos é apresentado como natural, questionamento esse planejamento. Visam, sobretudo, explicitar que tratar do povo
que visa, fundamentalmente, a mostrar que as coisas não são brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no
inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, assim, na crítica processo histórico, exige estudo e preparo cuidadoso que não
da cultura em que estamos imersos. Como se expressa essa se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
atividade na prática curricular?
Julgamos que cabe à escola, por meio de suas atividades Fundamentos Éticos
pedagógicas, mostrar ao aluno que as coisas não são
inevitáveis e que tudo que passa por natural precisa ser Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve
questionado e pode, consequentemente, ser modificado. Cabe preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes
à escola levá-lo a compreender que a ordem social em que está na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os
inserido define-se por ações sociais cujo poder não é absoluto. preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da
O que existe precisa ser visto como a condição de uma ação escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que
futura, não como seu limite. Nossos questionamentos devem, visem à superação do preconceito e da discriminação. A
então, provocar tensões e desafiar o existente. Podem não contribuição da escola na construção da democracia é a de
mudar o mundo, mas podem permitir que o aluno o promover os princípios éticos de liberdade, dignidade,
compreenda melhor. Como nos diz Bauman33, “para operar no respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no
mundo (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio
entender como o mundo opera”. constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a
A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
por exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões aos problemas gerados pela injustiça social.
estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens A diferença entre o que se tem historicamente pregado
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas como sendo fins e valores da democracia republicana e
cômicos de televisão; preconceitos contra povos não práticas sociais marcadas pela dominação, exploração e
ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens exclusão, torna imperativo o posicionamento ético da escola e
encontradas em revistas para adolescentes do sexo feminino do educador, ao mesmo tempo em que se coloca a superação
(e da classe média) que incentivam o uso de drogas, o dessa situação, no campo educacional, como um dos maiores
consumismo e o individualismo; estímulos à erotização desafios da prática pedagógica.
precoce das meninas, visíveis em brinquedos e programas Num mundo que tende cada vez mais à globalização no
infantis; presença e aceitação da violência em filmes, jogos e plano econômico, da qual é ainda desconhecido o conjunto de
brinquedos. efeitos sociais, é importante perceber o incessante processo de
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o reposição das diferenças e o ressurgimento de etnicidades. De
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta nada um lado, esse processo ensina que o fato de as culturas
têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorporam intenções viverem dinâmicas que resultam em sua modificação
de apoiar, preservar ou produzir situações que favorecem constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único,
certos grupos e outros não. Tais artefatos, como se tem e conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento
insistentemente acentuado, desempenham, junto com o dominante. De outro, apresenta com clareza a necessidade da
currículo escolar, importante papel no processo de formação construção de valores e novas práticas de relação social que
das identidades de nossas crianças e nossos adolescentes, permitam o reconhecimento e a valorização da existência das
devendo constituir- se, portanto, em elementos centrais de diferenças étnicas e culturais, e a superação da relação de
crítica em processos curriculares culturalmente orientados. dominação e exclusão - ao mesmo tempo em que se constitui a
solidariedade.
Contribuições para o estudo da pluralidade cultural no
âmbito da escola34 Conhecimentos Jurídicos

Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e Explicitada no contexto dramático do pós-guerra, quando
aprendizagem é importante esclarecer o caráter se indagou como teria sido possível ao ser humano produzir a
interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da barbárie do Holocausto e o horror de Nagasaki e Hiroshima, a
Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu como a
de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional, ponte entre o medo e a esperança. Essa ponte, apenas
conhecimentos acumulados no campo da História e da projetada ali, seria preciso ser construída.
Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da Os direitos humanos assumiram, gradativamente, a
Linguística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a importância de tema global. Assim como a preservação do
Estudos Populacionais, constituem uma base sobre a qual se meio ambiente, os Direitos Humanos colocam-se como
opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola, assunto de interesse de toda a humanidade. Se o planeta está
deve ter cunho eminentemente pedagógico. ameaçado por políticas de desenvolvimento predatórias, da
Acrescenta-se a essa evidente complexidade o fato de que mesma maneira a miséria e a intolerância em seus diversos
muitos grupos humanos, de que trata o tema Pluralidade matizes promovem no final do século a morte pela fome, a
Cultural, têm produzido um saber rico e profundo acerca de si marginalidade extrema, migrações em massa, desequilíbrios
mesmos, particularmente no âmbito de movimentos sociais e internos e, no limite, guerras entre grupos humanos que
de suas organizações comunitárias. Assim, abre-se à escola a outrora conviveram em suposta harmonia. A violência em que
possibilidade de empreender, em seu cotidiano, uma reflexão pode resultar a disputa étnica, religiosa e social, quando a
que integra, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação. intolerância e o desequilíbrio são levados ao extremo,
A seguir são apresentadas algumas indicações das expressa-se em números: sabe-se que 80% das guerras que
diferentes contribuições, a título de subsídios chave, a fim de ocorrem hoje derivam da intolerância étnica e religiosa em
balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o conflitos internos.
esgotem. São pistas que o professor poderá seguir

33BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. 34Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares

nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual / Secretaria de Educação


Fundamental.

Conhecimentos Pedagógicos 15
APOSTILAS OPÇÃO

A ONU, preocupada com a conquista da paz mundial, Os aspectos históricos e geográficos expõem uma
promoveu conferências que buscavam um programa de diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de
consenso que orientasse os países e os indivíduos quanto à vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania, de
questão dos direitos humanos. A Conferência de Viena de valorização desigual de práticas culturais. A formação
1993, de cuja declaração o Brasil é signatário, reafirmou a histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
universalidade dos direitos humanos e apresentou as processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em
condições necessárias para os Estados promoverem, diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se
controlarem e garantirem tais direitos. Sabia-se naquele ao fato de que cada grupo encontrou maneiras de preservar
momento que o tratamento adequado do tema da pluralidade sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma
etnocultural era condição para a democracia e fator primordial clandestina e precária.
do equilíbrio social e internacional. Firma-se nesse contexto a A tendência de abafar e encobrir os problemas vividos pela
responsabilidade do Estado na proteção e promoção das diversidade, enquanto se dá destaque apenas à sua
identidades étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. característica de ser um dos potenciais mais férteis,
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 tipicamente brasileiros, levou por muito tempo a acreditar que
é uma das mais avançadas quanto aos temas do respeito à o racismo era uma mazela social que o Brasil soube evitar. A
diferença e do combate à discriminação. O Brasil teve, por teoria da integração das raças, tradicionalmente divulgada na
outro lado, participação ativa nas reuniões mundiais sobre os maioria das escolas de ensino fundamental, deixou pouco ou
direitos humanos e sobre minorias. Aqui não se trata, é claro, nenhum espaço para que se encarassem as reais dificuldades
de exigir conhecimentos próprios do especialista em Direito, das diferentes etnias no contexto social brasileiro.
mas de saber como se define basicamente a cidadania. Para a compreensão da trajetória das etnias é necessário
Vale lembrar que dispositivos presentes na Seção “Da tratar de temas básicos: ocupação e conquista, escravização,
Educação”, da Constituição Federal, referentes às imigração, migração. Outro aspecto particularmente relevante
comunidades indígenas, também asseguram “a utilização de refere-se à importância do estudo dos continentes de origem
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” dos diversos grupos que compõem a população brasileira.
(art. 210, § 2º), consolidando o reconhecimento de exigências Tratar da presença indígena, desde tempos imemoriais em
historicamente apresentadas em trabalhos desenvolvidos território nacional, é valorizar sua presença e reafirmar seus
pelos povos indígenas, em cooperação notadamente com a direitos como povos nativos, como tratado na Constituição de
sociedade civil. 1988. É preciso explicitar sua ampla e variada diversidade, de
Alguns aspectos pedagógicos decorrem desse dispositivo. forma a corrigir uma visão deturpada que homogeneíza as
O estabelecimento de escolas indígenas, com proposta sociedades indígenas como se fossem de um único grupo, pela
pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias, justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
atende a uma exigência constitucional, traz enriquecimento Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto
pedagógico e introduz exigências adicionais na estruturação pela via da inclusão nos currículos de conteúdos que informem
do sistema nacional de educação. sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a
O ensino religioso nas escolas públicas é assunto que exige sociedade como um todo, quanto pela consolidação das escolas
atenção. Tema vinculado, em termos de direito, à liberdade de indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a
consciência e de crença, a presença plural das religiões no pedagogia que lhes é própria.
Brasil constitui-se fator de possibilidade de escolha. Ao Compreender a formação das sociedades europeias e das
indivíduo é dado o direito de ter religião, quando criança, por relações entre sua história, viagens de conquista,
decisão de seus pais, ou, quando adulto, por escolha pessoal; entrelaçamento de seus processos políticos com os do
de mudar de religião, por determinação voluntária ao longo da continente americano, em particular América do Sul e Brasil,
vida, sem restrições de ordem civil; e de não ter religião, como auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só
opção consciente. O que caracteriza, portanto, a inserção social de conteúdos específicos, como também da estruturação de
do cidadão, desse ponto de vista, é o respeito, a abertura e a processos de influenciação recíproca. Isso é particularmente
liberdade. importante para o momento atual, quando o quadro
De fato, a configuração laica do Estado é propiciadora internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e
dessa pluralidade, no plano social, e se caracteriza por ser variadas formas.
impeditiva de rótulos, no plano do cidadão. Ou seja, não há O estudo histórico do continente africano, com sua
uma predeterminação que vincule compulsoriamente etnias e complexidade milenar, é de extrema relevância como fator de
religiões, origem de nascimento e percursos de vida. informação e de formação voltada para a valorização dos
É nesse sentido que se define a postura laica da escola descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história
pública como imperativo no cumprimento do dever do Estado mais ampla, na qual os processos de mercantilização da
referente ao estabelecimento pleno de uma educação escravidão foram um momento, que não pode ser amplificado
democrática, voltada para o aprimoramento e a consolidação a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O
de liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana. conhecimento desse processo pode significar o
Não se trata, é claro, de mostrar um Brasil perfeito e irreal, dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético,
mas as possibilidades que se abrem com trabalho, embates e da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que
entendimentos, mediante a colocação em prática de os povos africanos enfrentam por isso.
instrumentos jurídicos já disponíveis. Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui
para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no
Conhecimentos Históricos e Geográficos que se refere às tradições quanto em relação aos processos
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as
O estudo da ocupação do território nacional e da Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes
constituição da população pode ser empreendido por momentos históricos. É relevante, também, o estudo do
intermédio da trajetória das etnias no Brasil. Tarefa complexa, Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição
esse estudo traz tanto a compreensão da produção das da civilização ocidental.
riquezas, da miséria e da injustiça quanto de aspectos que Esses conhecimentos são subsídios para que se possa
tornaram o Brasil internacionalmente reconhecido como compreender o processo de surgimento de tendências, ideias,
hospitaleiro. crenças, sistemas de pensamento, seu percurso por diversos
territórios nacionais e continentais, e a ampliação da

Conhecimentos Pedagógicos 16
APOSTILAS OPÇÃO

influência cultural; perceber a criação e recriação constante de psicológicos. São exemplos, a relação do ser humano com a
tradições, a complexidade da convivência da diversidade em organização de seu grupo, com o sagrado, o mágico, o
um mesmo território, nem sempre harmonizada, assim como sobrenatural, a relação com o patrimônio cultural, tudo o que
processos internacionais de pressão, e desenvolvimento de o precede e sucede. Trata-se de fatos que caracterizam a
processos regionais de construção da paz. existência da cultura, especificidade exclusiva da vida humana.
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente A Antropologia caracteriza-se como o estudo das
conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor
de aula. É claro, contudo, que alguns desenvolvimentos inerente a cada cultura, por se tratar daquilo que é
conceituais mais elaborados poderão ser deixados para as exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo
quintas a oitavas séries, enquanto nas séries iniciais se poderá grupo, em certo momento, em certo lugar. Nesse sentido, cada
veicular informações mais simples e promover aproximações cultura tem sua história, condicionantes, características, não
conceituais que favorecerão uma futura ampliação em cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em
abrangência e profundidade. detrimento de outra.
A variabilidade interna presente em cada cultura também
Conhecimentos Sociológicos é objeto de estudo da Antropologia, tornando possível
compreender variáveis formas de organização humana,
Toda seleção curricular é marcada por determinantes e convivendo dentro de visões de mundo semelhantes.
fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados É também nos conhecimentos antropológicos que se
de forma isolada, para efeito de estudo, mas que se encontram encontram subsídios para entender algumas das questões
amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são mais difíceis de nosso tempo, que vai ao encontro do terceiro
indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas milênio. Em particular, a temática étnica, cada vez mais
possibilidades que abrem de compreensão de processos presente em um mundo que se complexifica de maneira
complexos, onde se dão interações entre fenômenos de crescente, sob aparência de homogeneização, assim como o
diferentes naturezas. estudo das mutações culturais, que se apresentam com ritmos
Atuando em campo social marcado historicamente pela distintos, em diferentes grupos.
exclusão de grandes contingentes da população, a escola pode Assim, falar de cultura é tratar de permanências e
fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos mudanças, de manifestações patentes, que expressam, com
problemas presentes na estrutura socioeconômica, de como se frequência, o latente - atuante, embora nem sempre
dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado perceptível em termos objetivos.
pelo universo cultural nesse processo. É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais
Embora tenha sido muito salientado o papel de usual do termo cultura, empregado para definir certo saber,
reprodutora de mecanismos de dominação e exclusão, ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico
atribuído historicamente à escola, cabe lembrar que do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no
potencializar suas possibilidades de resistência e contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura,
transformação depende também, ainda que não mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se se
exclusivamente, das opções e das práticas dos educadores. pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não
Nesse sentido, além das diversas contribuições da Sociologia, sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do
aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm grupo que o gerou.
sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis
da Educação, Sociologia do Currículo. Nesses estudos, os pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da
vínculos entre escola e democracia, escola e cidadania, e sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância,
democracia e currículo são analisados, permitindo uma aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde
reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como
sala de aula, no que se refere a esses assuntos. cada grupo social as concebe.
Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão A cultura, como código simbólico, apresenta-se como
acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo
não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando
classes sociais, assim como das formas como ambas se valores. O grupo social transforma e reformula
retroalimentam. constantemente esses códigos, adaptando seu acervo
A desatenção à questão da diferença cultural tem sido tradicional às novas condições historicamente construídas
instrumento que reforça e mantém a desigualdade social, pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o
levando a escola a atuar, frequentemente, como mera sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o
transmissora de ideologias. Por outro lado, a injustiça estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua
socioeconômica se apoia em preconceitos e discriminações de identidade.
caráter etnocultural de tal forma que, muitas vezes, não é Entretanto, o processo de mudança intrínseco a qualquer
possível saber se a discriminação vem pelo fato étnico, pelo cultura já foi entendida como desfiguração da cultura
socioeconômico, ou por ambos. tradicional, desvio e perda, o que, do ponto de vista aqui
A discussão sociológica colabora para a escola e o colocado, é uma ideia incorreta. É preciso compreender esse
professor enfrentarem o desafio que lhes está colocado, qual caráter intrínseco da mudança, do ponto de vista dos grupos
seja, o de ser parte de certa realidade social injusta, dela sofrer culturais, diferente de intromissões de elementos externos
influências, e, ainda assim, garantir a possibilidade de educar que sugerem ou impõem fatores estranhos à cultura, ou até de
o aluno como cidadão em formação, de forma que atue como transplantes culturais.
sujeito sociocultural, voltado para mudanças, para a busca de A cultura pode assumir um sentido de sobrevivência,
caminhos de transformação social. estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como
parte indispensável das identidades individuais e sociais,
Conhecimentos Antropológicos apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida
democrática. Por isso, fortalecer a cultura própria de cada
Há relações presentes em diferentes grupos e sociedades grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade
humanas que não se explicam exclusivamente pelo brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e
socioeconômico, nem se reduzem a estados afetivos e

Conhecimentos Pedagógicos 17
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a sua compreensão no campo educacional, como fator de
liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. integração e expressão do aluno, respeitando suas origens.
Alguns temas, conceitos e termos da temática da Tratando especificamente da temática das línguas, abrem-
Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de se muitas possibilidades de transversalização com Língua
conhecimentos antropológicos, por referirem-se diretamente Portuguesa, por exemplo, pela valorização de diferentes
à organização humana, na qual se coloca a diversidade. formas de linguagem oral e escrita, pelo respeito às
Assim, o termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no manifestações regionais, pela possibilidade de contato e
cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências integração com a diversidade de línguas e de linguagens
sociais pelos maus usos a que se prestou. presentes na vida de crianças e adolescentes no Brasil.
Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes
cujos membros mostram com frequência um certo número de da Língua Portuguesa, idioma oficial, significa não só
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos ampliação de horizontes, como também compreensão da
cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato complexidade do País. A escola tem a possibilidade de
do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à
transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, existência, estrutura e uso dessas centenas de línguas. Pode,
assenta-se em um conteúdo biológico, e foi utilizado na com isso, promover não só a reflexão metalinguística, como
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de também a compreensão de como se constituem identidades e
superioridade/inferioridade entre grupos humanos. singularidades de diferentes povos e etnias.
A diversidade das sociedades humanas não se explica pela Saber da existência de diferentes formas de bilinguismos e
diferença genética - a variação dos caracteres genéticos multilinguíssimos, presentes em diferentes regiões - assim
internos de qualquer grupo é muito grande -, mas sim pela como ver-se reconhecida e presente neste tema transversal,
cultura. A divisão biológica da espécie humana não implica aberto às suas próprias singularidades regionais, étnicas e
hierarquia, ainda que diferentes visões de mundo expliquem culturais - será extremamente relevante na construção desse
de múltiplas formas a diversidade humana. Do ponto de vista conhecimento e na valorização do que é a pluralidade cultural
de dignidade, de Direitos Universais, há uma só humanidade. brasileira. São exemplos de tais bilinguismos e
Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso multilinguíssimos as vivências de escolas indígenas, escolas de
comum é ainda muito difundido, variando da ideia de regiões de fronteiras geopolíticas do Brasil, escolas vinculadas
reafirmação étnica, de forma a distinguir singularidades de a grupos étnicos, existentes em particular em grandes centros
potencial e demanda, como aquele que é feito comumente por urbanos, regionalismos na fala cotidiana de tantas escolas
movimentos sociais, a usos ostensivamente pejorativos, que espalhadas pelo País.
alimentam racismo e discriminação. Por outro lado, o desenvolvimento de outras linguagens
Cabe, aqui, introduzir o conceito de etnia, que substitui será muito importante, permitindo transversalizar, em
com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural. particular, com Educação Física e Arte. A música, a dança, as
“Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos e a
diferencia de outros por sua especificidade cultural. composições regionais típicas, são manifestações culturais que
Atualmente o conceito de etnia se estende a todas as minorias a criança e o adolescente poderão conhecer e vivenciar. Dessa
que mantêm modos de ser distintos e formações que se forma enriquecerão seu conhecimento sobre a diversidade
distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio
uma etnia partilham de uma mesma visão de mundo, de uma potencial expressivo.
organização social própria, apresentam manifestações
culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição Conhecimentos Populacionais
de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de
um grupo étnico, que frequentemente se autodenomina Embora estejam presentes ao longo da discussão referente
comunidade. Já o “etnocentrismo” - tendência de alguém à trajetória das etnias no Brasil, os conhecimentos
tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de populacionais precisam ser aqui lembrados, por constituírem
pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios fonte de informação relevante, sobretudo a partir do segundo
valores e categorias - muitas vezes dificulta um diálogo ciclo.
intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado Dados estatísticos sobre a população brasileira conforme
que as diversas culturas oferecem. distribuição regional, densidade demográfica, em relação com
Por isso, é errado, conceitual e eticamente, sustentar dados como renda per capita, PIB per capita, fornecem um
argumentos de ordem racial/étnica para justificar quadro informativo de como se vive no Brasil. Cotejado com
desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso, informações provenientes de levantamentos feitos pelos
exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no próprios alunos (via correspondência, imprensa, etc.),
Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas significarão a possibilidade de um conhecimento mais
contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes, adequado sobre o Brasil e oportunidade, nas séries finais, de
da barbárie da escravidão a formas contemporâneas de discussão, de debates acerca de políticas públicas alternativas
discriminação e exclusão, desses e outros grupos étnicos e que beneficiem a vida da população.
culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve Da mesma forma, História e Geografia, Ciências Naturais,
posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante Orientação Sexual e Saúde possibilitam discutir dados
informações corretas, cooperando no esforço histórico de referentes à mortalidade infantil, abortos e esterilizações, com
superação do racismo e da discriminação. as consequências daí advindas. Um tratamento enriquecedor
da temática dos direitos reprodutivos propicia também a
Linguagens e Representações análise da relação com questões de raça/etnia.
A escolha dos conteúdos e abordagens pode nortear-se por
Trata-se, aqui, de trabalhar diferentes linguagens que questões como: quais características são relevantes quanto à
ampliam as possibilidades de expressão para além da verbal, relação entre composição populacional, aspectos culturais,
forma predominante de comunicação na maioria das distribuição de renda, qualidade de vida e o papel da
sociedades. Integrada aos conhecimentos antropológicos, educação? Que relações perversas se estabeleceram,
permitirá o entendimento da importância de diferentes historicamente, entre exclusão socioeconômica e
códigos linguísticos, de diferentes manifestações culturais e determinados grupos, que estão exigindo ações específicas?

Conhecimentos Pedagógicos 18
APOSTILAS OPÇÃO

Que dados são relevantes para uma compreensão integrada de de violência, ainda que em sua forma simbólica. Tal violência
áreas sociais, como educação e saúde, por exemplo? provoca o medo da eliminação, seja de forma extrema, seja
Esses conhecimentos poderão, assim, oferecer subsídios manifestada como exclusão. Assim, é decisivo propiciar
preliminares que permitam construir a compreensão do elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão
entrelaçamento de componentes sociais, culturais e social, por meio sobretudo da prática cotidiana de
populacionais na definição da qualidade de vida, além de procedimentos voltados para o princípio da equidade.
possíveis formas de ação voltadas para a melhoria dessa
qualidade. Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Pluralidade
Cultural
Conhecimentos Psicológicos e Pedagógicos
O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas e
Alguns aspectos presentes na escola, ligados à questão da transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e
expectativa, da estigmatização, da autoestima, da conduta na inconstitucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca
atividade educativa, com a necessária reciprocidade entre das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território
educador e educando, fazem do tema Pluralidade Cultural fim nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a eliminação
e meio. de causas de sofrimento, de constrangimento e, no limite, de
Do ponto de vista psicopedagógico, conhecimentos que exclusão social da criança e do adolescente. Além disso, o tema
tragam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso traz oportunidades pedagogicamente muito interessantes,
que se apresentam como sendo mais da escola e de sua motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e
atividade didática, e não só dos alunos, levam à redefinição de sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito
procedimentos em sala de aula. cosmopolita e vice-versa, colocando-se assim,
Evitar atitudes que “produzam” o fracasso escolar é uma simultaneamente, como objetivo e como meio do processo
possibilidade aberta ao professor. Um dos aspectos mais educacional.
complexos quanto ao atendimento adequado à criança e ao Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece
adolescente refere-se às expectativas de homogeneização. oportunidades de conhecimento de suas origens como
Várias contribuições se apresentam para a conduta brasileiro e como participante de grupos culturais específicos.
pedagógica, sendo, porém, a mais decisiva aquela que Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil,
intervém nas situações de discriminação, seja qual for o propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor,
motivo. promovendo sua autoestima como ser humano pleno de
Com relação à discriminação, sabe-se que um de seus dignidade, cooperando na formação de autodefesas a
fundamentos psicológicos é o medo. Falar sobre isso expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por
explicitamente, como um dos muitos e complexos motivos que meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e
levam à discriminação, permite que se possa tratar o medo vivências que cooperam para que se apure sua percepção de
como o que é de fato: manifestação da insegurança, muitas injustiças e manifestações de preconceito e discriminação que
vezes plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar - e para
revertida apenas quando encarada e trabalhada. que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas.
É preciso esclarecer, também, que a discriminação ocorre No âmbito instrumental, o tema permite a explicitação dos
como uma relação em que há dois polos. No polo que direitos da criança e do adolescente referentes ao respeito e à
discrimina, o medo se apresenta como reação ao valorização de suas origens culturais, sem qualquer
desconhecido, visto como ameaçador. Quem tem a cor da pele discriminação. Exige do professor atitudes compatíveis com
diferente, ou fala de tradições - étnicas, religiosas, culturais - uma postura ética que valoriza a dignidade, a justiça, a
desconhecidas, confronta seu interlocutor com sua própria igualdade e a liberdade. Exige, também, a compreensão de que
ignorância de mundos diferentes do seu. É a figura do o pleno exercício da cidadania envolve direitos e
“estranho”, do “estrangeiro”, que, por escapar da apreensão responsabilidades de cada um para consigo mesmo e para com
comum, pode ser rotulado de “esquisito”. os demais, assim como direitos e deveres coletivos. Traz, para
Esse medo se alimenta de si mesmo, ou seja, quanto mais os conteúdos relevantes no conhecimento do Brasil, aquilo que
medo, mais se busca distância do objeto do medo. Há estudos diz respeito à complexidade da sociedade brasileira: sua
que demonstram que nos conflitos inter-étnicos, quanto maior riqueza cultural e suas contradições sociais.
o medo, maior a violência presente nas reações. Ao mostrar as diversas formas de organização social
Uma forma de trabalhar e superar esse tipo de medo é com desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e
informação. Trata-se, portanto, de buscar conhecer aquele que diferentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de
atemoriza. Esse conhecimento se dá por intermédio de textos, fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido
fitas de vídeo, jornais e boletins informativos de grupos social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo
organizados pelas diferentes comunidades. Contudo, a fonte entrelaçamento das diversas formas de organização social de
mais importante de conhecimento desse “desconhecido que diferentes grupos.
atemoriza” é ele mesmo. Assim, trata-se de, potencializando ao Esse tema necessita, portanto, que a escola, como
máximo a prática da transversalidade, oferecer informações, instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais e ao
nas diversas áreas, que permitam esse conhecimento mútuo, afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em análise
tanto dos alunos entre si, quanto em relação a concidadãos, suas relações, suas práticas, as informações e os valores que
brasileiros de diferentes origens socioculturais. Trata-se veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cultural contribuirá
também de recuperar, de forma não-depreciativa, para a vinculação efetiva da escola a uma sociedade
conhecimentos que os grupos étnicos e sociais têm, democrática.
permitindo, ainda, que se evidencie o saber emergente, aquele
que está em elaboração como parte do processo social de Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade
conscientização e afirmação de identidades e singularidades. Cultural?
No polo em que se encontra aquele que é discriminado, o
medo se apresenta como ameaça permanente, na qual a Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a
discriminação se dirige à sua forma extrema, aquela na qual se discriminação manifestada em gestos, comportamentos e
busca eliminar fisicamente quem é discriminado. É importante palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo, ao
observar que a discriminação se reveste sempre de conteúdos mesmo tempo em que não se aceita que permaneça a atual

Conhecimentos Pedagógicos 19
APOSTILAS OPÇÃO

situação, em que a escola é cúmplice, ainda que só por omissão, à sua expressão; de valorização, pela incorporação das
não se pode esquecer que esses problemas não são contribuições que venha a trazer.
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é idêntico
das relações sociais, e como elas têm história e permanência. ao que se apresenta para o professor e demais funcionários da
O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se constituir escola: uma organização escolar que saiba estar atenta às
um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas singularidades dos profissionais que ali atuam, respeitando
de relação social e interpessoal mediante a interação entre o suas características próprias, entendendo que esse respeito é
trabalho educativo escolar e as questões sociais, a base para a atuação profissional, e tal respeito não é
posicionando-se crítica e responsavelmente perante elas. incompatível com o respeito às normas institucionais, embora
Assim, cabe à escola buscar construir relações de confiança possa, às vezes, exigir flexibilidade em sua aplicação (por
para que a criança possa perceber-se e viver, antes de mais exemplo, os feriados religiosos).
nada, como ser em formação, e para que a manifestação de Tal atuação não é simples e exige por parte do professor a
características culturais que partilhe com seu grupo de origem consciência de que ele mesmo estará aprendendo, uma vez que
possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de nessa área a prática do acobertamento é muito mais frequente
vida, que não seja impeditiva do desenvolvimento de suas que a prática do desvelamento.
potencialidades pessoais. A prática do acobertamento é a mais usual, porque assim
É possível identificar no cotidiano as muitas manifestações se estabeleceu no campo social. Vive-se numa realidade na
que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fatos da qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma
comunidade ou comunidades do entorno escolar, as notícias vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que
de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, estratégias de no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito
intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de da democracia racial”). Mais ainda, muitas vezes a ideia de
diferentes municípios de um mesmo Estado. aceitar que o preconceito existe gera tanto o medo de ser
A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. Assim, acusado de ser preconceituoso como o medo de ser vítima de
quando se fala de alguma comunidade, é preciso ter certeza de preconceito. Essa atitude é o que se chama, popularmente, de
que se referem a conhecimentos reconhecidos por essas “política de avestruz”, na qual, por se fazer de conta que um
comunidades como verdadeiros. Então, como conseguir problema não existe, tem-se a expectativa de que ele deixe, de
informações? Nesse sentido, a prática de intercâmbio escolar fato, de existir.
e da consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se
das próprias comunidades, é instrumento pedagógico procura diluir as evidências de comportamento
privilegiado. Com isso, será possível transformar a discriminatório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um
possibilidade de obter informações das comunidades em fator professor pode ter tratado um aluno mal “porque estava
de corresponsabilização social pelos rumos da discussão, da nervoso”, ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada
formação de crianças e adolescentes. como se fosse um simples descuido, uma distração.
É importante abrir espaço para que a criança e o A prática do desvelamento, que é decisiva na superação da
adolescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é discriminação, exige do professor informação, discernimento
experiência pessoal e intransferível, que permite um oportuno diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sentimento
e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o do outro e intencionalidade definida na direção de colaborar
exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de na superação do preconceito e da discriminação.
informações sobre vivências culturais e esclarecimentos A informação deverá permitir um repertório básico
acerca de eventuais preconceitos e estereótipos é componente referente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar
fortalecedor do convívio democrático. o que é relevante para a situação escolar como para buscar
O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da outras informações que se façam necessárias.
criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade. O discernimento é indispensável, de maneira particular,
Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a quando ocorrem situações de discriminação no cotidiano da
constatação de que são todos diferentes traz a consciência de escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, significa tanto
que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade, não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de
insubstituível. acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de
O simples fato de os alunos serem provenientes de maneira ambígua, estará reforçando o problema social; se
diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressentimento. Assim,
professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a ação
auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual, discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como
diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência de se pratica a solidariedade, buscando alguma atividade que
interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e cada possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus
um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a alunos.
cada momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro.
e o outro, talvez, despreze. Compreender que aquele que é alvo da discriminação sofre de
Aprender a posicionar-se de forma a compreender a fato, e de maneira profunda, é condição para que o professor,
relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é em sala de aula, possa escutar até mesmo o que não foi dito.
aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas, Como a história do preconceito é muito antiga, muitos dos
histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a grupos vítimas de discriminação desenvolveram um medo
conhecer. profundo e uma cautela permanente como reação. O professor
Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas precisa saber que a dor do grito silenciado é mais forte do que
características, ter disponível a abertura para que possa dar- a dor pronunciada. Poder expressar o que sentiu diante da
se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares discriminação significa a chance de ser resgatado da
suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou
para partilhar com seus colegas a vivência que tenha fora do seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo,
mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como num gesto que pode transformar o significado do sofrimento,
contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo, ao fazer da ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, aqui,
trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um exige a atenção para a reação que a criança esteja
ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar

Conhecimentos Pedagógicos 20
APOSTILAS OPÇÃO

do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação e gênero. Nessa perspectiva, o papel do pedagogo na
posterior. instituição de ensino deve ser o de:
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma (A) Premiar os docentes que cumpram o cronograma
reflexão que permita ao professor perceber o papel que estabelecido.
desempenha nessa questão. É também a capacidade de (B) Separar os alunos pelas diferenças no seu ritmo de
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o aprendizagem.
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da (C) Treinar os professores segundo aulas-padrão.
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a (D) Incrementar a competição entre as diferentes
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença disciplinas do currículo.
entre o reforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir (E) Promover a discussão docente sobre o significado dos
novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade. conteúdos do currículo.
A prática do desvelamento exige perspicácia para
responder adequadamente a diferentes situações que serão, 03. Segundo SILVA (1999), o currículo é o espaço em que
na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa os diferentes significados sobre o social e político fazem
imprevisibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é sentido. Isso só é possível mediante a um currículo...
preparando-se com leituras, buscando informações e (A) que tem como cerne os elementos do processo de
vivências, estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando ensino e aprendizagem, principalmente a didática e a
valores, refletindo coletivamente na equipe de professores. avaliação.
Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar entender (B) no qual possamos identificar grupos prioritários,
a complexidade da vida e do comportamento humano. evidenciando o potencial de um todo.
Essa informação deve ser buscada de maneira intencional (C) que determinados grupos sociais, expressam sua visão
e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os cantos, as de mundo, seu projeto social, na qual sua representação se dá
lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma criança através de um conjunto de práticas que favorecem a produção,
pode ensinar a outra aquilo que é característico do grupo evidenciando a construção de identidades sociais e culturais.
humano do qual participa. (D) onde é possível torná-lo em um espaço de crítica
Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que verbal. cultural, abrindo as portas, na escola, às diferentes
Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como a manifestações da cultura popular.
possibilidade de o aluno assumir o papel de educador naquilo (E) cuja organização e gestão, as abordagens disciplinares,
que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor deverá pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar possuem
cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o restante da papel secundário.
classe. Observe-se que essa vivência, em si, será extremamente
importante, por trazer para o aluno a possibilidade de 04. (ESAF - MF - Pedagogo) Do ponto de vista cultural, a
constatar que a sociedade se apresenta, em sua complexidade, diversidade pode ser entendida como a construção histórica,
como um constante objeto de estudo e aprendizagem, onde cultural e social das diferenças. As diferenças são também
todos sempre têm a aprender. construídas pelos sujeitos sociais ao longo do processo
Assim, a problemática que envolve a discriminação étnica, histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e
cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma zona de da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder.
sombra que leva à proliferação da ambiguidade nas falas e nas Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que
atitudes, alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento,
à luz, como elemento de aprendizagem e crescimento do grupo só passaram a ser percebidos dessa forma, porque nós, seres
escolar como um todo. humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os
nomeamos e identificamos.
Ensinar a Pluralidade ou Viver a Pluralidade? Em relação ao conceito de diversidade e sua relação com o
currículo, assinale a opção incorreta.
Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É (A) A diversidade é permitida na Lei de Diretrizes e Bases
trabalho de construção, no qual o envolvimento de todos se dá da Educação Nacional - LDB n. 9.394/96 em função da
pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro, possibilidade de intervenção das regiões e suas
nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação especificidades na criação do currículo escolar.
fornece. (B) Conviver com as diferenças é construir relações de
respeito e de interpelações que irão contribuir para um espaço
Questões hierarquicamente diferenciado entre os participantes.
(C) A presença da parte diversificada no currículo das
01. (Prefeitura de Itaquitinga - Pedagogo IDHTEC) A Lei escolas acaba por ocupar lugar menor na relação hierárquica
nº 10.639/2003, torna obrigatório o estudo da História e com os demais conhecimentos.
Cultura Afro Brasileira e Africana: (D) A diversidade, presente em boa parte dos currículos,
(A) Nos estabelecimentos oficiais de ensino e nas aparece nos documentos como um tema, deixando de ser um
comunidades indígenas e quilombolas. eixo central de orientação curricular.
(B) Na Educação infantil e ensino fundamental de escolas (E) A forma como a diversidade é colocada na LDB, apesar
públicas. de importante, ainda é insuficiente em relação às necessidades
(C) Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, do tema e sua relevância social.
públicos e privados.
(D) Nas escolas confessionais e de movimentos populares. 05. (IF/PE - Assistente de Alunos) Temos, no Brasil, uma
(E) Em todos os níveis e modalidades de ensino através da grande diversidade cultural e racial. Descendentes de povos
criação de uma nova disciplina curricular. africanos e de índios brasileiros, de imigrantes europeus,
asiáticos e latino-americanos compõem o cenário brasileiro.
02. (UNIRIO - Pedagogo - CESGRANRIO) Os currículos Por conta disso, podemos que afirmar que:
têm uma estreita relação com a história e a sociedade, (A) atualmente, o termo “pluralidade cultural” não se
refletindo questões sociais de um determinado momento. Os aplica ao Brasil por causa da Globalização.
currículos são produtores de sujeitos dotados de classe, etnia (B) a mistura de todas estas raças e etnias não caracteriza
a identidade do povo brasileiro.

Conhecimentos Pedagógicos 21
APOSTILAS OPÇÃO

(C) o Brasil é um país dotado de uma ampla “pluralidade totalmente biológico e totalmente cultural", apresentamos
cultural”, ou seja, diferentes culturas foram e são produzidas nossa concepção de homem e, em consequência, as aspirações
pelos grupos sociais que fazem parte da nossa história. pretendidas em relação ao cidadão que queremos formar.
(D) a diversidade cultural e racial não interfere nas formas Entendendo o sujeito tanto biológico como social, temos por
com que os habitantes do Brasil organizaram sua vida social e objetivo desenvolver no aluno a consciência e o sentimento de
política. pertencer ao mundo, de modo que possa compreender a
(E) ações racistas e discriminatórias não existem na interdependência entre os fenômenos e seja capaz de interagir
sociedade brasileira por causa da grande diversidade cultural de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural
e racial do país. e social.
Alguns desafios são fundamentais no que se refere à
Gabarito formação do sujeito, desenvolver competências para
01.C / 02.E / 03.C / 04.B / 05.C / 06.E contextualizar e integrar, para situar qualquer informação em
seu contexto, para colocar e tratar os problemas, ou seja, o
grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar
Educação, trabalho e realidades cada vez mais complexas. Assim, acreditamos na
possibilidade de formar um cidadão mais indignado com as
sociedade manifestações e acontecimentos da vida cotidiana, um cidadão
que saiba mediar conflitos e propor soluções criativas e
adequadas a favor da coletividade, que tenha liberdade de
Concepção de Sociedade pensamento e atitudes autônomas para buscar informações
nos diferentes contextos, organizá-las e transformá-las em
Vivemos num mundo onde a informação é diversificada e conhecimentos aplicáveis.
atualizada rapidamente, o mundo mudou, as pessoas Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser um
mudaram e, ao constatar a velocidade com que ocorrem sujeito social, quando estabelece contato com outros homens,
transformações em nossa vida cotidiana, podemos afirmar que com o mundo e com o contexto de realidade que os determina
estamos diante de um novo tempo, uma outra realidade que geográfica, histórica e culturalmente, é nessa perspectiva que
nos envolve e nos desafia. a escola se torna um dos espaços privilegiados para a formação
A forma com que compreendíamos a vida e tudo que do homem.
acontecia, já não parece ser o que prevalece hoje. Vivemos uma
nova era, onde o conhecimento que tínhamos como Concepção de Escola
entendimento de se estar no mundo (algo pronto e acabado),
não é mais aceito e absorvido pela maioria das instituições, A Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento
como também pelo processo que configura a produção do das relações sociais e, é nesse ambiente que a criança e o jovem
conhecimento. interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de
Isto significa que a sociedade atual exige uma prática convivência, além de desenvolverem habilidades e
pedagógica que assegure a construção da cidadania, fundada competências para continuar seu processo de aprendizagem.
na criatividade, criticidade, nas responsabilidades advindas Sabemos que os modos de vida também são vivenciados
das relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Essas pela escola. São variantes de diversos matizes, que se
reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos multiplicam a cada dia e esses acontecimentos não podem ser
permitem o questionamento: o que tem a educação a refletir desprezados. As ações educativas vinculadas às práticas
sobre as relações e transformações em curso e a formação do sociais compõem o rol de compromissos da educação formal.
homem? Por isso, o cotidiano escolar exerce um papel expressivo na
A educação e a escola, por sua importância política, formação cognitiva, afetiva, social, política e cultural dos
merecem um papel de destaque numa proposta de sociedade. alunos que passam parte de suas vidas nesse ambiente
Neste esforço de reorganização da vida social e política, velhas pedagógico e educativo.
instituições e antigos conceitos são redefinidos de acordo com Sendo assim, a Escola é um espaço privilegiado para o
essa lógica. Portanto, “o que está em jogo não é apenas uma desenvolvimento das relações sociais. É nesse ambiente que a
reestruturação das esferas econômicas, sociais e políticas, mas criança e o jovem interagem com grupos de sua idade, criam
uma reelaboração e redefinição das próprias formas de vínculos e laços de convivência, além de desenvolverem
representação e significação social”. habilidades e competências para continuar seu processo de
A escola tem muito que refletir sobre sua organização aprendizagem.
curricular, a começar pela compreensão de que a sua ação
passa a ser uma intervenção singular no processo de formação Concepção de Educação
do homem na sociedade atual. Nesse paradigma, o professor já
não pode ser considerado como único detentor de um saber O caráter eminentemente pedagógico da Educação no
que simplesmente lhe basta transmitir, mas deve ser um contexto escolar fundamenta-se numa perspectiva de
mediador do saber coletivo, com competência para situar-se considerar que a criança está inserida em determinado
como agente do processo de mudança. contexto social e, portanto, deve ser respeitada em sua história
Assim, concebemos que a educação, a escola e o objeto de de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é
conhecimento constituem os elementos essenciais para o vista como espaço para a construção coletiva de novos
processo de formação de homens e mulheres que contribuirão conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua proposta
para a organização da sociedade. pedagógica permite a permanente articulação dos
conteúdos escolares com as vivências e as indagações da
Concepção de Homem criança e do jovem sobre a realidade em que vivem.
Podemos considerar os processos interativos, a
Partindo do que diz Morin35 ao se referir sobre a cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a imaginação, a
complexidade do ser humano: "ser, ao mesmo tempo, brincadeira, a mediação do professor e a construção do

35 MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 22
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimento em rede como eixos do trabalho pedagógico aceitar até as suas últimas consequências o princípio de que
voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando tudo o que pode ser aprendido pelas crianças e jovens podem
à constituição do sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico e devem ser ensinado pelos professores.
e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar
sua realidade social e pessoal. A) Conteúdos relacionados a fatos, conceitos e
O processo de desenvolvimento, na perspectiva princípios - correspondem ao compromisso científico da
histórico-cultural, é compreendido como o processo por educação: transmitir o conhecimento socialmente produzido.
meio do qual o sujeito internaliza os modos culturalmente B) Conteúdos relacionados a procedimentos - que são
construídos de pensar e agir no mundo. Este processo se os objetivos, resultados e meios para alcançá-los, articulados
dá nas relações com o outro, indo do social para o por ações, passos ou procedimentos a serem implementados e
individual. aprendidos.
O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e C) Conteúdos relacionados a atitudes, normas e
deste até o objeto passa através de uma outra pessoa. Essa valores - correspondem ao compromisso filosófico da
estrutura humana complexa é o produto de um processo de educação: promover aspectos que nos completam como seres
desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre humanos, que dão uma dimensão maior, que dão razão e
história individual e história social. sentido para o conhecimento científico.
Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos
processos de aprendizagem e desenvolvimento, os ambientes Sociedade Contemporânea
educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas
experiências e se desenvolver nas diferentes dimensões O sociólogo e filosofo polonês Bauman36 apresenta a
humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica, sociedade caracterizando-a como modernidade líquida, utiliza
estética, criativa, expressiva e linguística. assim está metáfora para explanar o advento de uma
As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e sociedade mais leve em detrimento da chamada modernidade
conceitos, mas também aos procedimentos, atitudes, valores e sólida. Atualmente o que se vivencia difere de tempos
normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis passados, que ganham novas formas. Portanto, a modernidade
no mesmo nível que os fatos e conceitos. sólida possui características contrárias aos novos tempos.
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida que
Concepção de Ensino e Aprendizagem é marcada pela instantaneidade e pela liquidez. O conceito de
liquidez utilizado pelo teórico destaca uma sociedade que não
O caráter eminentemente pedagógico da Educação no mantém sua forma, não é estável, mas é marcada por
contexto escolar fundamenta-se numa perspectiva de transformações, desestabilidades, construções e
considerar que a criança está inserida em determinado desconstruções, imprevisibilidade, não se atendo a um só
contexto social e, portanto, deve ser respeitada em sua história formato, ao contrário de solidez que se refere à metáfora das
de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é marcas da modernidade, adjetivado por aspectos de
vista como espaço para a construção coletiva de novos durabilidade, de controle, de estabilidade.
conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua proposta A esse respeito, afirma: “Se o sociólogo empregou a
pedagógica permite a permanente articulação dos conteúdos metáfora da solidez como marca característica da
escolares com as vivências e as indagações da criança e do modernidade nas primeiras décadas do século XX (destruir a
jovem sobre a realidade em que vivem. tradição e colocar outra, potencialmente superior e mais
Podemos considerar os processos interativos, a sólida, em seu lugar), na transição para o século XXI ele
cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a imaginação, a destacará o novo aspecto da condição moderna, desta vez
brincadeira, a mediação do professor e a construção do baseado na metáfora da liquidez. Por isso a modernidade
conhecimento em rede como eixos do trabalho pedagógico líquida passou a ser a denominação preferencial de Bauman
voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando para referir-se ao contemporâneo. É essa oposição entre
à constituição do sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico solidez e liquidez que permite a ele explicar a distinção entre
e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar o nosso modo de vida moderno e aquele vivido por nossos
sua realidade social e pessoal. antepassados”.
O processo de desenvolvimento, na perspectiva histórico- Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido,
cultural, é compreendido como o processo por meio do qual o apresentados por Bauman, é importante considerar aquilo que
sujeito internaliza os modos culturalmente construídos de Berman, enfatiza como conceito de solidez. Ao contrário de
pensar e agir no mundo. Este processo se dá nas relações com Bauman, assinala que o sólido também pode sofrer alterações.
o outro, indo do social para o individual. O conceito de sólido tratado por Berman difere da definição
O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e criada por Bauman na medida em que, para o primeiro, as
deste até o objeto passa através de uma outra pessoa. Essa bases sólidas, os valores fundados na sociedade moderna são
estrutura humana complexa é o produto de um processo de permanentes e imutáveis, já na pós-modernidade, difundiram-
desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre se, sofreram alterações marcadas pelos novos pressupostos da
história individual e história social. vida moderna. Para Bauman, somente a metáfora da liquidez
Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos se compara a esse processo de transformação. Percebe-se,
processos de aprendizagem e desenvolvimento, os ambientes entretanto, que, referindo-se às características gerais da
educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas modernidade, os autores compartilham as mesmas definições,
experiências e se desenvolver nas diferentes dimensões apresentando o mesmo painel sobre os tempos modernos.
humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica, O sentido da modernidade apresentada por Berman é o
estética, criativa, expressiva e linguística. mesmo em comparação ao que apresenta Bauman, na medida
As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e em ambos ressaltam que esta modernidade é passível de
conceitos, mas também aos procedimentos, atitudes, valores e transformações, de mudanças, de desintegração de ambientes,
normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis de construção de novas formas de vida. Destacam-se, nesse
no mesmo nível que os fatos e conceitos. Isto [...] pressupõe movimento, algumas características, como: crescente explosão

36 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,


2001.

Conhecimentos Pedagógicos 23
APOSTILAS OPÇÃO

demográfica, grandes descobertas nas ciências, crescimento Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o
acelerado da tecnologia e dos sistemas de comunicação de progresso, sendo visualizado como um caminho sem fim, que
massa e expansão do mercado capitalista mundial. Esses deve ser alcançado constantemente, através do esforço do
fatores, por sua vez, influenciam a vida das pessoas e geram homem. Para o alcance do progresso, novos valores passam a
novas formas de adaptação, de movimento, de poder e de permear as relações de trabalho: a competição e a
sobrevivência. Em tempos como esses, “o indivíduo ousa individualização que concorrem, simultaneamente, para o
individualizar-se”. De outro lado, esse ousado indivíduo alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o
precisa desesperadamente “de um conjunto de leis próprias, modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável
precisa de habilidades e astúcias, necessárias à por encontrar meios para o alcance de melhores condições de
autopreservação, à autoimposição, à autoafirmação, à vida.
autolibertação.”
Retornando às características subjacentes à modernidade Bauman destaca: [...] são homens e mulheres individuais que
líquida de Bauman, o tempo é um fator que assinala esta às suas próprias custas deverão usar, individualmente, seu
modernidade, marcada fortemente por fatos instantâneos. próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma
condição mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto
[...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão de sua condição presente de que se ressintam.
constantemente prontos e propensos a mudá-la; assim, para
eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma
ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um virtude, sendo fundamental para a vida nos tempos modernos
momento”. para alcançar status. Capital e trabalho eram
interdependentes. Os trabalhadores dependiam do emprego
As pessoas que comandam o mundo são aquelas que agem para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para
com maior rapidez, que mais se aproximam do momentâneo. seu crescimento. Com o trabalho, o trabalhador comandava
A instantaneidade auxilia a dominação, no sentido de que o seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador
indivíduo que domina é aquele que tem capacidade para iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando
adaptar-se a novas formas de vida, novos lugares, que “preso” em seu lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na
consegue decidir rapidamente e agir aceleradamente. Nesse contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida,
sentido, sobre a instantaneidade associada à flexibilidade, uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim como,
Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer e não significa estabilidade, como nos tempos passados. “Neste
tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito uma vez por todas mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte
- e o que quer que aconteça chega sem se anunciar e vai-se lenta, uma vez que nosso sentido de progresso e crescimento
embora sem aviso”. é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que
Para o autor, compreende-se que a modernidade líquida estamos vivos”.
demarca uma grande transformação nos âmbitos social, Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que,
político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de
o passado, ou seja, aquilo que significava importante nas ações computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram
dos indivíduos e agora acaba perdendo seu efeito. As rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas
possibilidades de criar novas formas de vida são aceitas e o manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica
mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É o reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas
mundo do imediatismo, das coisas descartáveis. A diferença da mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos
modernidade sólida para a modernidade líquida é a duração encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de
da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, em curto sustentação da economia do mercado é excludente e busca
prazo. eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros.
Ainda, tomando-se em consideração os novos formatos e Deve-se executar o ofício de separar e eliminar o refugo, o
relações estabelecidas pelas novas tecnologias, surgem novas descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do
relações oferecidas pela internet. Esse recurso oferece meios padrão de vida e consumo.
de conexão com o mundo todo, levando os indivíduos a Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum,
estarem constantemente em movimento, mesmo reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade que
permanecendo no lugar onde se encontra. A internet também marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de
favorece novas formas de relações entre as pessoas, sendo que, trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas são
a comunicação ocorre por intermédio de meios eletrônicos, a marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações.
qualquer tempo, descartando outras formas de contato. A Não há, neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no
mídia, assim como a internet, possibilita também repassar sentido de permanecer nele a vida toda.
informações em um curto espaço de tempo em uma grande Os conceitos de emancipação e individualidade ganham
velocidade, permitindo a sensação de mobilidade. “O espaço um peso maior nesta sociedade, sendo que o coletivo e a
deixou de ser um obstáculo - basta uma fração de segundo para comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem
conquistá-lo”. Com esse aspecto de instantaneidade, Berman depois das escolhas individuais. A solidariedade é um valor
destaca que é preciso adaptar-se às novas transformações, que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de
considerando-as como novos processos que necessitam ser decidir sobre as ações e fins.
imbuídos na vida pessoal e social: Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar
essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa
Homens e mulheres modernos precisam aprender a aspirar capacidade poderia melhor servir - isto é, com a máxima
à mudança: não apenas estar aptos a mudanças em sua vida satisfação concebível.
pessoal e social, mas ir efetivamente em busca das mudanças, Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As
procurá-las de maneira ativa, levando-as adiante. Precisam oportunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade de
aprender a não lamentar com muita nostalgia as “relações fixas, escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas.
imobilizadas” de um passado real ou de fantasia, mas a se O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a
deliciar na mobilidade, a se empenhar na renovação, a olhar situações de consumo. “O consumo é um investimento em tudo
sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”.
condições de vida e em suas relações com outros seres humanos. Neste sentido, o consumismo passa a ser algo de desejo

Conhecimentos Pedagógicos 24
APOSTILAS OPÇÃO

imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer retóricos desafios à lei”. Reagem de maneira selvagem, furiosa,
desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo alucinada e aturdida [...].
privilegia não só aquisição de bens e produtos, mas a busca Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um
incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos grande número de excluídos socialmente, pois os empregos
exemplos, novas habilidades, novas competências em tomaram novas configurações, não sendo possível projetar
detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para uma vida em longo prazo, com projetos e planejamentos.
aparentar uma imagem, mostrar aos outros aquilo que não é, De acordo com estas características, Bauman destaca que
para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O aqueles que não possuem emprego não são considerados
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das como “desempregados”, mas sim como consumidores falhos,
necessidades, mas serve para satisfazer os desejos insaciáveis. pois não desempenham a função ativa de consumir e, portanto,
As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado não são aptos de usufruir dos bens e serviços que o mercado
pela fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos. pode oferecer, sendo definidos como os “pobres” da sociedade
Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer atual. Ele enfatiza a esse respeito.
estar adaptado aos novos padrões do mercado. Consumir é Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as pessoas
estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como que são “problemas” para as outras) são “não-
símbolo de comodidade, de autoafirmação, de conforto, de consumidores”, e não “desempregados”. São definidos em
emancipação dos indivíduos. primeiro lugar por serem consumidores falhos, já que o mais
Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores que crucial dos deveres sociais que eles não desempenham é o de
auxiliam a compreender a configuração da nova sociedade. ser comprador ativo e efetivo dos bens e serviços que o
Ressalta que a comunidade como defensora do direito à vida mercado oferece. Nos livros de contabilidade de uma
decente transformou este projeto em promover o mercado sociedade de consumo, os pobres entram na coluna dos
como garantia de auto enriquecimento, gerando maiores débitos, e nem por exagero da imaginação poderiam ser
sofrimentos entre aqueles que não podem consumir como o registrados na coluna dos ativos, sejam estes presentes ou
mercado demanda. Ele completa essa ideia, enfatizando que, futuros.
na sociedade pós-moderna nenhum emprego é garantido, Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca
nenhuma posição é segura. Além disso, ressalta: pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios passaram a
Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por
consigo a aquisição do direito a um emprego, por mais que exemplo, que, em outros tempos, residia no dever ético e na
bem desempenhado, ou - de um modo mais geral - o direito ao preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação
cuidado e à consideração por causa de méritos passados. Meio a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como
de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e único responsável por seus atos e deveres, excluindo a
merecimento da autoestima podem todos desvanecer-se responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do
simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber. outro.
Bauman37 enfatiza que as relações entre as pessoas Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa
também se dão de forma diferente, dependendo da situação ambiguidade em torno da vida responsável, pois surgem
econômica das mesmas, do usufruto de bens e da posição de reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do
conforto que possuem. Noutras palavras, dependendo da respeito à natureza, à sustentabilidade. Enquanto se afirma
posição que se ocupa, as pessoas são consideradas como que o indivíduo se preocupa com si mesmo, ao mesmo tempo,
“estranhos”, pois não ocupam a mesma posição social e servem surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se
apenas para oferecer serviços e bens para o consumo, que há uma evolução para a possibilidade de construção de
conforme afirma uma vida responsável.
Para alguns moradores da cidade moderna, seguros em O panorama apresentado até aqui, certamente, não
suas casas à prova de ladrões em bairros bem arborizados, em contempla todos os aspectos referentes à sociedade
escritórios fortificados no mundo dos negócios fortemente contemporânea, mas apresenta definições importantes que
policiado, e nos carros cobertos de engenhocas de segurança levam a analisar e refletir sobre a configuração subjacente aos
para levá-los das casas para os escritórios e de volta, o tempos atuais e que podem instigar a questão referente à
“estranho” é tão agradável quanto a praia da rebentação [...]. tarefa da escola frente a tais aspectos presentes na sociedade
Os estranhos dirigem restaurantes, prometendo experiências atual.
insólitas e excitantes para as papilas gustativas, vendem Desse modo, é urgente compreender sua missão como
objetos de aspecto esquisito e misterioso, [...], oferecem instituição educativa que, assim como outras instâncias,
serviços que outras pessoas não se rebaixariam ou se desempenha um papel importante na formação dos sujeitos.
dignariam a oferecer, acenam com guloseimas de sensatez,
revigorantemente diversas da rotina e da chateação. A Tarefa da Escola
O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos.
Aquelas pessoas que não possuem certa posição de conforto Compreender a missão da escola perante as novas
na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de configurações da sociedade, torna-se essencial para avaliar a
escolha de consumo, acabam muitas vezes demonstrando sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de
revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao suas implicações no processo educativo atual.
que se assiste nos novos tempos. Desse modo, diante dos processos sociais que se
Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões que se
escolha, moeda corrente na sociedade do consumidor, estão referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da
escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas, escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos
elas precisam recorrer aos únicos recursos que possuem em da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá
quantidade suficientemente grande para impressionar. Elas conta de compreender esses processos de transformação?
defendem o território sitiado através de “rituais, vestindo-se Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira
estranhamente, inventando atitudes bizarras, quebrando missão da escola frente aos processos de mudança e ao
normas, quebrando garrafas, janelas, cabeças, e lançando contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das

37 BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar,


1998.

Conhecimentos Pedagógicos 25
APOSTILAS OPÇÃO

mudanças, passando a adquirir novos pressupostos, novos para formar os alunos. “Em tais circunstâncias, preparar para
objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a toda a vida, essa invariável e perene tarefa da educação na
realidade, a educação é vista como um meio indispensável na modernidade sólida, vai adquirir um novo significado diante
constituição da sociedade e passa a ocupar um papel das atuais circunstâncias sociais.” O conhecimento não será
fundamental. mais considerado como um produto conservado, pronto e
Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza acabado para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter
acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitando inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento passa a
assim o emprego, despertando as mentes e as consciências ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade,
diante dos novos desafios, facilitando o acesso à cultura e competitividade, habilidades básicas para o mundo do
reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em
social. informação que logo será substituída, por considerar que
Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e rapidamente estará ultrapassado.
tendências, o cientificismo positivista impôs a fragmentação A escola então, transmissora deste conhecimento, passa
do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da agora a não ser a detentora do saber, pois as novas tecnologias
modernidade. Atualmente, não se pode mais conceber que esta oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no
fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na qual todos têm acesso ao “conhecimento”. Os professores
nova ordem social vigente. Como se vê, muitas transformações perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A
têm surgido ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as nova dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo
comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a sobre as formações de opiniões, verificação de valores,
produção econômica cada vez mais crescente e diversificada definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso.
com novos produtos no mercado, demandando novos cursos Os alunos passam a dar atenção àqueles que oferecem várias
de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a
mudanças as quais a escola deve acompanhar e produzir mídia - televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber
reflexões acerca destes novos elementos. viver. O professor, desse modo, não é mais aquele conselheiro
Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida,
ficar alheia às transformações sociais e culturais advindas da através de seus estudos e saberes. Nesse sentido, a não mais
sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio inquestionável autoridade do professor em orientar a lógica da
social e, por isso, sofre as influências do meio. “A escola é uma aprendizagem compete, [...], com as sedutoras e muito mais
comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente atraentes mensagens das celebridades, sejam jogadores de
estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” Nesse futebol, artistas, frequentadores de reality shows ou políticos
sentido, Bauman destaca que, muitas transformações estão oportunistas.
permeando a sociedade contemporânea e essas acabam por Diante de todos esses desafios, Almeida39 enfatiza que, ao
invadir todos os contextos, inclusive a escola. O processo mesmo tempo em que Bauman apresenta tais aspectos, o
educativo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura próprio autor também oportuniza uma solução para a escola
desenvolver um currículo que considera as mudanças e atenda poder enfrentá-los, destacando o poder da escola de facilitar a
aos novos conceitos, novos pressupostos e novas demandas. socialização entre os indivíduos e de promover uma
Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a
que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bauman, era busca de novas formas de relações em suprimento das
aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço relações individualistas. Almeida afirma:
que tinha como propósito estabelecer a ordem. A formação dos
indivíduos era responsabilidade de toda a sociedade, dos [...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as
governantes e do Estado, com vistas a formá-los para um pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a
comportamento correto e moralmente aceitável. Desse modo, individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao
somente os professores eram capazes de fornecer esta mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou verdadeiro
formação para uma integração social, destacando uma vida e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os
correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si
conhecimento era um produto duradouro e a qualidade da e da sociedade em que estão inseridos e, nesse movimento,
escola era medida pela transmissão deste conhecimento de desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim,
valor adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao intelectuais que ajudam a assegurar que a consciência moral de
mundo pela educação, entendendo que este mundo era cada geração seja diferente da geração anterior.
imutável e consideravelmente manipulável. O professor
detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno, A escola, articulada como uma instituição, em harmonia
compreendendo este conhecimento como justo e confiável. com a preparação de indivíduos adequados a habitar um
Para Pourtois e Desmet38, a escola contemporânea continua mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais.
a repetir os princípios defendidos pela escola moderna, na Configura-se hoje como um espaço destinado a dar
qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria aprender as oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos
regras da vida em sociedade e o pensamento racional, sendo excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe uma
disciplinado por meio de recompensas ou castigos, sendo que pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade,
a personalidade individual deve ser ocultada atrás da moral do respeitando diferenças e enfatizando os princípios de
dever. Para esses autores, a pedagogia moderna ainda está solidariedade.
fortemente enraizada nas práticas escolares. Nesse enredo, Gadotti40 enfatiza que esta época de rápidas
Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de transformações acaba por demandar uma nova configuração
acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola assume da educação na busca de um melhor desempenho do sistema
outras características, sendo que a ordem social, sólida e escolar:
imutável não é mais aceita na chamada modernidade líquida. Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-
O mundo é diferente daquele em que a escola estava preparada se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do

38 POURTOIS, Jean-Pierre; DESMET, Huguette. A Educação pós-moderna. São 40 GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec].
Paulo: Loyola, 1999. 2000..
39 ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan Marcelo.

Bauman e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

Conhecimentos Pedagógicos 26
APOSTILAS OPÇÃO

sistema escolar não tem dado conta da universalização da conteúdos, de elaborar alternativas e tomar decisões
educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O
teóricas não apresentam ainda a consistência global conjunto de conhecimentos adquiridos na escola só será válido
necessária para indicar caminhos realmente seguros numa se oferecer ao indivíduo um modo consciente de pensamento
época de profundas e rápidas transformações. e ação. Afirma o autor que: A formação de cidadãos autônomos,
Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu conscientes, informados e solidários requer uma escola onde
projeto educativo, relacionando-o com o contexto social e suas possa-se recriar a cultura, não uma academia para
características, sendo este um princípio da educação aprendizagens mecânicas ou aquisições irrelevantes, mas uma
contemporânea, no mesmo modo que esta educação possa escola viva e comprometida com a análise e a reconstrução das
sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a contingências sociais, onde os estudantes e os docentes
transformação social. aprendem os aspectos mais diversos da experiência humana.
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma perante a todas as transformações culturais e sociais, deve
educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem
Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais significados, de aprendizagens mecânicas, sem sentido,
voltada para a transformação social. somente para atender às influências do mercado competitivo,
Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as
apropriar-se das informações e refletir sobre elas. O contexto experiências trazidas pelas culturas e assim, construir uma
deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela
intersubjetiva em que os outros constituem uma forma de socialização e pela relação de valores indispensáveis à
mediação entre saberes existentes e os saberes de base do formação do homem.
sujeito. O ato educativo deve ter sentido no contexto social
atual e deixar transparecer seus objetivos. Educação e Sociedade no Brasil
Além disso, com as novas configurações da sociedade, a
escola passou a aceitar todas as visões de mundo que chegam Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a
até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político
diversas comunidades. Na modernidade, a construção da quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram
ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, professores grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu,
e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de
do modo correto de separar a verdade da inverdade das Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá
culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de representar, para todos nós, a globalização capitalista da
aceitar a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam economia, das comunicações e da cultura. As transformações
os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da
questionável nesse novo contexto. informação.
Almeida, parafraseando Bauman, destaca esta nova É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de
configuração da escola em detrimento de um espaço concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de
multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no intuito possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da
de compreendê-las, fortalecê-las e relacioná-las com outras educação sem certa dose de cautela. É com essa cautela que
culturas, assinalando-as como parte de um diálogo que serão examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas
enriquece os saberes educativos: atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se
Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a arte naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa
da conversação civilizada é algo que o espaço da escola perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o
necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se
tradições que chegam até ela, sem combatê-las; procurar constituir num álibi para o imobilismo.
entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mutantes; No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da
fortalecer sua própria perspectiva (a do professor, por exemplo) Humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a
com o livre recurso às experiências alheias (a dos alunos e suas educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras
culturas, por que não?). Levando isso em conta, extraímos da que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira
posição de Bauman o seguinte imperativo para a educação metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos
escolarizada na sociedade líquida: conversar ou perecer! 50, dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou
De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do
Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a Lei de século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n. soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela
9.394/96) destacam a valorização dos temas transversais, os primeira vez na história da humanidade, não por efeito de
quais possuem a intenção de responder aos novos armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial,
pressupostos e novas configurações da educação escolar. pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a
Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade.
Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apresentado, Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas
entende-se que a educação escolar deve preocupar-se com as mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia,
condutas humanas e não só com o desenvolvimento de perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com
habilidades e competências técnicas, mas referenciar valores medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então,
que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras
estão imbuídos no currículo escolar e nas relações entre os citadas por Abbagnano e Aurélio: “projeto” político-
indivíduos. pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico,
Segundo Gómez41, a função educativa da escola deve “ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”.
cumprir não só o processo de socialização, mas oferecer às Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação,
futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para

41 GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade neoliberal. Tradução:

Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 27
APOSTILAS OPÇÃO

se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não
sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com
indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles
direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital.
designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar
capturados, sistematizados e colocados em evidência. suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da
informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar
Educação Tradicional as mentes. Ainda se trabalha muito com recursos tradicionais
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem
Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação a informatização da educação sustentam que é preciso mudar
tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, profundamente os métodos de ensino para reservar ao
mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar,
escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola
nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para
Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens,
consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das inclusive a linguagem eletrônica.
ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito
de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por Paradigmas Holonômicos
exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos,
Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, despertaram interesse dos educadores os chamados
amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes.
educação do futuro. Complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas
A educação tradicional e a nova têm em comum a nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir
concepção da educação como processo de desenvolvimento as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e
individual. Todavia, o traço mais original da educação desse a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente.
século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber,
para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é do conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu
um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o
educação nos países socialistas também a testemunha. A acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído,
educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade.
verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas
países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego,
hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na
Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria
de que não há idade para se educar, de que a educação se essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade
estende pela vida e que ela não é neutra. perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os
paradigmas clássicos - identificados no positivismo e no
Educação Internacionalizada marxismo - seriam marcados pela ideologia e lidariam com
No início da segunda metade deste século, educadores e categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os
políticos imaginaram uma educação internacionalizada, paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do
confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade,
altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a
fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o
nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em
século passado, possibilitando numerosos planos de educação, que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar
que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma como fundamento da educação uma antropologia que concebe
educação internacional já existia deste 1899, quando foi o homem como um ser essencialmente contraditorial, os
fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender
Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como superar, todos os elementos da complexidade da vida.
resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os
de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma
educacionais contam com uma estrutura básica muito ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os
parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões
deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos, da vida porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema,
agora não como princípio de justiça social, mas apenas como em que tudo é função ou efeito das superestruturas
parâmetro curricular comum. socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. Para
os novos paradigmas, a história é essencialmente
Novas Tecnologias possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert
As consequências da evolução das novas tecnologias, Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos
centradas na comunicação de massa, na difusão do mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, “a
conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no imaginação está no poder”, como queriam os estudantes em
ensino - como previra McLuhan já em 1969 -, pelo menos na maio de 1968.
maioria das nações, mas a aprendizagem a distância, Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da
sobretudo a baseada na Internet, parece ter sido a grande educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia
novidade educacional nos últimos tempos. A educação opera do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes
com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive significados, essas categorias são encontradas em muitos
impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o
informática, particularmente a linguagem da Internet. A “sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a
cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso “tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul
intensivo da Internet, em particular da educação a distância Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin

Conhecimentos Pedagógicos 28
APOSTILAS OPÇÃO

Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação politicidade da educação são apenas alguns dos legados da
comunicativa”, o “mundo vivido” (Jürgen Habermas), a educação popular à pedagogia crítica universal.
“radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), a
“questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes
“cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a Teóricas
“alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as
“unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc. A educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um
Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da
enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as universalização da educação básica de qualidade; de outro, as
classificações e tipologias, no campo das ideias, são novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência
necessariamente reducionistas. Não se pode negar as global necessária para indicar caminhos realmente seguros
divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é
apontadas anteriormente indicam uma certa tendência, ou uma das preocupações do Instituto Paulo Freire, buscando, a
melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da
paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade dos Escola Cidadã”, como resposta à crise de paradigmas. A
contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos, concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do
uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa
unidade. alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de
educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do
Educação Popular mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação
O paradigma da educação popular, inspirado burocrática, sustentada na “estatolatria” (Antônio Gramsci). É
originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto
encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente - não
prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra mecânica e subordinadamente - com o mercado, o Estado e a
categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado
basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu
transformar. Nos últimos anos, os educadores que destino - isto é, para todos - estatal quanto ao financiamento e
permaneceram fiéis aos princípios da educação popular democrática e comunitária quanto à sua gestão.
atuaram principalmente em duas direções: na educação Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea
pública popular - no espaço conquistado no interior do Estado tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma
-; e na educação popular comunitária e na educação ambiental educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo
ou sustentável, predominantemente não governamentais. Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais
Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação voltada para a transformação social do que para a transmissão
popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como
apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações,
democráticas, ocorreu com a educação popular uma grande pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as
fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento
nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas de perplexidade.
políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não-
formal, dispersando-se em milhares de pequenas Sociedade da Informação e Educação
experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento.
conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos
incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e orienta os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do
a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como conhecimento, na sociedade do conhecimento, sobretudo em
o testemunha no Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em consequência da informatização e do processo de globalização
dois anos, reunindo educadores de muitos países. das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já
As práticas de educação popular também constituem-se se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo
em mecanismos de democratização, em que se refletem os admitindo que grandes massas da população estejam
valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância
alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas da difusão de dados e informações e não de conhecimentos.
de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que
Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em
entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas gigantescos volumes de informações, que são armazenadas
também como espaço de novas vivências sociais e políticas inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira
hoje consolidadas com as organizações não-governamentais muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a
(ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha
está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular. telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui
Diante desse quadro, a educação popular, como modelo apenas receptor de informações, mas também emissor de
teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas. informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do
Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas
pública. A vinculação da educação popular com o poder local e partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar
a economia popular abre, também, novas e inéditas conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas
possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos
educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou
educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma especialidade para se tornar uma dimensão de tudo,
das grandes contribuições da América Latina à teoria e à transformando profundamente a forma como a sociedade se
prática educativa em âmbito internacional. A noção de organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma
aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de Revolução da Informação, como ocorreram no passado a
ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação Revolução Agrícola e a Revolução Industrial.
como ato de conhecimento e de transformação social e a

Conhecimentos Pedagógicos 29
APOSTILAS OPÇÃO

Ladislau Dowbor42, após descrever as facilidades que as legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar,
novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o que reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem
eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem
biblioteca e com o meu salário eu não posso comprar um o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito
computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda
em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. necessidade de diplomas?
Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela
mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as organizar um movimento global de renovação cultural,
possibilidades das novas tecnologias. aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a
As novas tecnologias criaram novos espaços do empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não
conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa
espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca
Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa, importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já
acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a na educação infantil.
distância, buscar “fora” - a informação disponível nas redes de Na sociedade da informação, a escola deve servir de
computadores interligados - serviços que respondem às suas bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando
demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a
(ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma
fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos formação geral na direção de uma educação integral. O que
casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de significa servir de bússola? Significa orientar criticamente,
conhecimentos e de formação continuada. É um espaço sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação
potencializado pelas novas tecnologias, inovando que os faça crescer e não embrutecer.
constantemente nas metodologias. Novas oportunidades Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem”
parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de e da atualização de conhecimentos e muito mais além da
formação têm tudo para permitir maior democratização da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do
informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e conhecimento possui múltiplas oportunidades de
menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família,
questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate
iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a público; autonomia da escola; generalização da inovação. As
participação mais intensa e organizada da sociedade. O acesso consequências para a escola e para a educação em geral são
à informação não é apenas um direito. É um direito enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber
fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações
direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos. teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina
Na formação continuada necessita-se de maior integração para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular
entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial, etc.), o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a
visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do distância.
conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, o planeta Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à
tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O escola: amar o conhecimento como espaço de realização
ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e
lugar o tempo todo. Estar num lugar significaria estar rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser
determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e
ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente não pura receptora; produzir, construir e reconstruir
presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva
com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso
tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não
todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir
- em qualquer lugar - e o tempo de aprender é hoje e sempre. conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva
A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito
Illich), “árvores do conhecimento” (Humberto Maturana), sem pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada
hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a ao exercício da cidadania.
conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e Como diz Ladislau Dowbor, a escola deixará de ser
pessoas, articulação, contatos e vínculos, interatividade. A “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o
conectividade é a principal característica da Internet. autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser
O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é determinante sobre o desenvolvimento”. A educação tornou-
apenas o capital da transnacional que precisa dele para a se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não
inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso
todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim transformá-la profundamente.
disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer
dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos,
Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus
menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que
nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua
públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua
conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista, prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o
tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno
A educação, em particular a educação a distância, é um bem que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir
coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa
mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor

42 DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 30
APOSTILAS OPÇÃO

ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas
sentidos para o que fazer dos seus alunos. situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que
Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na
na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma formação do trabalhador, também do trabalhador em
que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa,
na sociedade a capacidade de governar e controlar o gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber
desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima
controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações
capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial.
autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra
futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas
qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão universidades. Como as profissões evoluem muito
do futuro. rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para
A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do um trabalho.
conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa
vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na Aprender a viver juntos: a viver com os outros.
escola - não só nós, professores - devemos ser felizes nela. A Compreender o outro, desenvolver a percepção da
felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica interdependência, da não-violência, administrar conflitos.
ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer
Georges Snyders no livro ‘A alegria na escola, precisamos de no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa
uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-
cultural’. O mundo de hoje é “favorável à satisfação” e a escola se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia,
também pode sê-lo. cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros
O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares
intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e e trabalho em projetos comuns.
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a
humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar Aprender a ser: desenvolvimento integral da pessoa:
num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético,
emancipadora, não só transformam a informação em responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento
conhecimento e em consciência crítica, mas também formam autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para
pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de
marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-
os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber matemática e linguística. Precisa ser integral.
(não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque Iniciou-se este texto procurando situar o que significa
constroem sentido para a vida das pessoas e para a “perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer exercício de
humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para
produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são o debate, serão apontados aqui algumas categorias em torno
imprescindíveis. da educação do futuro, que indicam o surgimento de temas
com importantes consequências para a educação.
Educação do Futuro
Jacques Delors43, coordenador do “Relatório para a Unesco As categorias “contradição”, “determinação”,
da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “necessidade”,
no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como “possibilidade” aparecem frequentemente na literatura
principal consequência da sociedade do conhecimento a pedagógica contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da
necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas
(Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno
mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação da educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A
continuada. Esses pilares podem ser tomados também como dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente
bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação. para analisar o fenômeno da educação. Pode-se e deve-se
estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente
Aprender a conhecer: prazer de compreender, descobrir, apontadas. Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito
construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser
autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe negadas ou desprezadas como categorias “ultrapassadas”.
uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos Porém, também podemos nos ocupar mais
assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro,
aprender a aprender. Aprender mais linguagens e categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e
metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem da reflexão sobre ela. Eis algumas delas a título de exemplo:
rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso a) Cidadania: o que implica também tratar do tema da
aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar autonomia da escola, de seu projeto político-pedagógico, da
pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro
pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o desta categoria, pode-se discutir particularmente o significado
pensar, pensar e reinventar o futuro. da concepção de escola cidadã e de suas diferentes práticas.
Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e
Aprender a fazer: é indissociável do aprender a conhecer. programa de muitas escolas e de sistemas educacionais.
A substituição de certas atividades humanas por máquinas b) Planetaridade: a Terra é um “novo paradigma”
acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser (Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão de mundo
puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco

43 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a

UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo:
Cortez, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 31
APOSTILAS OPÇÃO

Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da sem a reflexão sobre ela. Aqui, são indicadas apenas algumas
cidadania planetária pode ser discutido a partir desta pistas, dentro de uma visão otimista e crítica - não pessimista
categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nascimento: e ingênua - para uma análise em profundidade daqueles que se
“para que passaporte se fazemos parte de uma única nação?” interessam por uma “educação voltada para o futuro”, como
Que consequências podemos tirar para alunos, professores e dizia o grande educador polonês, o marxista Bogdan
currículos? Suchodolski.
c) Sustentabilidade: o tema da sustentabilidade originou-
se na economia (“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, A integração da Escola x Família x Comunidade
para se inserir definitivamente no campo da educação,
sintetizada no lema “uma educação sustentável para a Não há como pensarmos em educação sem o envolvimento
sobrevivência do planeta”. O que seria uma cultura da da família nesse processo. Escola e família são instituições
sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates sociais muito presentes na vida escolar do aluno, de forma que
educativos das próximas décadas. O que estamos estudando só se pode pensar em sucesso educativo se pensarmos
nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma também em trabalho conjunto. Educar é sem dúvida um papel
cultura que servem para a degradação/deterioração do que recai sobre a família e a escola. Por isso, quanto mais
planeta? estreita for essa relação, melhor será o resultado. Pais e
d) Virtualidade: esse tema implica toda a discussão atual professores têm objetivos comuns e precisam ser os mais
sobre a educação a distância e o uso dos computadores nas cordiais, coerentes e responsáveis nesse processo.
escolas (Internet). A informática, associada à telefonia, nos Não há como conceber um compartilhamento da ação
inseriu definitivamente na era da informação. Quais as educativa sem considerar os contatos entre as famílias e os
consequências para a educação, para a escola, para a formação educadores. Essa é uma questão primordial que deve ser
do professor e para a aprendizagem? Consequências da muito mais frequente na educação dos anos iniciais do que nas
obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante da outras etapas, os contatos podem ser de várias naturezas:
pluralidade dos meios de comunicação? Eles abrem os novos contatos rotineiros, reunião de pais, reuniões de, reuniões de
espaços da formação ou irão substituir a escola? conselho de escola, comemorações, trabalho do professor e
e) Globalização: o processo da globalização está mudando informações da própria criança.
a política, a economia, a cultura, a história e, portanto, também Todas as formas de contatos entre escola e família sevem
a educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários para aproximar as famílias do universo escolar e para que a
prismas. A globalização remete também ao poder local e às escola possa conhecer a dinâmica familiar daquele aluno,
consequências locais da nossa dívida externa global (e dívida quanto mais à escola conhece o aluno e sua família mais
interna também, a ela associada). O global e o local se fundem próxima estarão do sucesso na educação dele.
numa nova realidade: o “global”. O estudo desta categoria Quando falamos na necessidade da relação entre família e
remete à necessária discussão do papel dos municípios e do escola, falamos principalmente na possibilidade de
“regime de colaboração” entre União, estados, municípios e compartilhar critérios educativos para que possam minimizar
comunidade, nas perspectivas atuais da educação básica. Para as possíveis diferenças entre os dois ambientes, Para o aluno,
pensar a educação do futuro, é necessário refletir sobre o é muito mais produtivo que os ambientes tenham ideias
processo de globalização da economia, da cultura e das parecidas sobre educação. O crescimento harmonioso do
comunicações. aluno deve permear a colaboração entre as duas instâncias,
f) Transdisciplinaridade: embora com significados família e escola, de forma que possa contribuir para:
distintos, certas categorias como transculturalidade, Buscar meios para que a família possa criar o hábito de
transversalidade, multiculturalidade e outras como participar da vida escolar dos seus filhos, percebendo o quanto
complexidade e holismo também indicam uma nova tendência a família é importante no processo Ensino Aprendizagem do
na educação que será preciso analisar. Como construir aluno, através de ações previstas no Projeto Político
interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como Pedagógico, propor alteração no Projeto Político Pedagógico
relacionar multiculturalidade e currículo? É necessário com o intuito de melhorar o processo ensino aprendizagem,
realizar o debate dos PCN. Como trabalhar com os “temas despertar as famílias, fazendo com que possam perceber a
transversais”? O desafio de uma educação sem discriminação importância da participação nas atividades escolares dos
étnica, cultural, de gênero. filhos, promover atividades que permitam o envolvimento das
g) Dialogicidade, dialeticidade: não se pode negar a famílias, criar momentos de integração entre pais, alunos e
atualidade de certas categorias freireanas e marxistas, a comunidade escolar, mostrando-lhes o quanto eles são
validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O importantes na vida escolar de seus filhos.
capital, privilegiou as categorias hegelianas “determinação”,
“contradição”, “necessidade” e “possibilidade”. A Relação Escola x Comunidade
fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação Para Libâneo44 a organização de atividades que asseguram
e deverá atravessar os anos. A educação popular e a pedagogia a relação entre escola e comunidade, implica ações que
da práxis deverão continuar como paradigmas válidos para o envolvem a escola e suas relações externas, tais como os níveis
futuro que virá. superiores de gestão do sistema escolar, os pais, as
organizações políticas e comunitárias, as cidades e os
A análise dessas categorias e a identificação da sua equipamentos urbanos. O objetivo dessas atividades é buscar
presença na pedagogia contemporânea podem constituir-se, as possibilidades de cooperação e de apoio, oferecidas pelas
sem dúvida, num grande programa a ser desenvolvido hoje em diferentes instituições, que contribuam para o aprimoramento
torno das “perspectivas atuais da educação”. Não se pretende do trabalho da escola, isto é, para as atividades de ensino e de
aqui dar respostas definitivas. Com esse pequeno texto educação dos alunos. Espera-se especialmente, que os pais
introdutório, procurou-se apenas iniciar um debate sobre as atuam na gestão escolar mediante canais de participação bem
perspectivas atuais da educação, sem a intenção de, com isso, definidos.
encerrá-lo. Existem muitos outros desafios para a educação. A Assim, podemos inferir que a participação efetiva da
reflexão crítica não basta, como também não basta a prática comunidade na escola é uma responsabilidade da escola. Essa

44 LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas,

estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 32
APOSTILAS OPÇÃO

participação traz, sem dúvidas, inúmeras vantagens, porém desenvolvimento de práticas democrático é parte da
reconhece-se que há inúmeros obstáculos em relação a tal construção de um sistema que respeita os direitos individuais
participação. Mesmo assim, a escola não deve desistir, pois e coletivos de todos. Assim, é fundamental que a escola efetive
essa participação deve ser entendida como uma questão ações que concretizem a gestão democrática, entre elas, a
política, que auxilia na construção da cidadania. Um bom efetivação do Conselho da Escola e a realização de eleições
começo para efetivas mudanças no padrão de participação da diretas para direção e vice direção.
comunidade é, por exemplo, um incentivo e a implantação dos No entanto, para que a gestão democrática se concretize é
conselhos escolares que devem atuar de maneira ativa e essencial o desenvolvimento de ações pautada nos princípios
autônoma. de autonomia e interculturalismo, em processos de
Pais e mães podem participar de várias formas no participação e de cooperação na construção de uma sociedade
ambiente escolar e na própria educação dos filhos, basta que a mais justo e igualitária. Para tanto, o processo de ensino-
escola ofereça opções e dedique um tempo para que isso aprendizagem é fundamental, pois por meio de práticas
aconteça. Claro que essa não é uma tarefa fácil, uma vez que os democráticas desenvolvidas em sala de aula se vivencia e se
professores estão envolvidos emocionalmente com seus aprende o respeito às diferenças, possibilitando a resolução
alunos e famílias. Famílias e escola têm a responsabilidade de positiva de conflitos e favorecendo a realização de objetivos
educar as crianças, para isso precisam estabelecer uma relação coletiva.
de parceria, aumentando as possibilidades de compartilhar Portanto, se a escola busca desenvolver valores
critérios educativos que possam minimizar as possíveis democráticos como o respeito, a justiça, a liberdade e a
diferenças entre os dois ambientes, escola e família. solidariedade, devem necessariamente, democratizar os
Não há dúvidas que o ambiente escolar e a família métodos e os processos de ensino-aprendizagem e,
compõem o meio social no qual o aluno está inserido. Eles dois fundamentalmente, o relacionamento entre professor e aluno.
mais o local em que localiza sua residência ou sua escola, bem Professores que estabelecem relações horizontais com seus
como os laços sociais e econômicos compõem o meio social alunos, propiciando o diálogo sobre conteúdos e vivências,
com forte interferência no aprendizado e na motivação para conseguem concretizar intervenções que atendem ás questões
aprendê-lo. individuais e coletivas. Essa atitude, além de respeitar as
condições e possibilidades de cada um, proporciona o êxito do
A Educação como Responsabilidade de Todos processo de ensino-aprendizagem.
Observa-se nas últimas décadas, uma crescente
preocupação com essa inserção da comunidade na escola, A Relação Família x Escola
inclusive com programas voluntários, como os famosos Há inúmeros fatores a serem levados em conta na
“Amigos na escola”. Independentemente das questões consideração da relação família/escola. O primeiro deles, é que
ideológicas que esse tipo de participação possa suscitar a ação educativa dos pais difere, necessariamente, da escola,
sabemos que a comunidade tem um papel importante na dos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão de
construção da autonomia da escola, principalmente da escola sentimentos e emoções que estão em jogo, na natureza dos
pública porque essa correrá uma medida em que a escola se laços pessoais entre os protagonistas e, evidentemente, nas
coloca a serviço dos interesses da população que dela circunstâncias em que ocorrem.
necessita. Outra consideração refere-se ao comportamento das
Paro argumenta que a ausência da comunidade na escola famílias das diferentes camadas sociais em relação à escola
pública torna-se mais difícil a avaliação da qualidade do ensino pública, famílias de classe média desenvolvem estratégias de
ofertado. Os pais, até mesmo mais que os alunos, como co- participação, tendo em vista a criação de condições para o
usuário da escola, são capazes de apontar problemas e, muitas sucesso escolar de seus filhos, além dos mais, o nível de
vezes, sugerir ações para solução deles. Além de todos esses escolaridade e a facilidade de verbalização possibilitam a esses
aspectos é ainda importante realizar a divisão do poder na pais uma crítica que famílias das classes trabalhadoras não
escola possibilitando a comunidade participar da tomada de conseguem ou não ousam fazer.
decisões. Outro fator a ser considerado refere-se às estratégias de
A relação entre escola e comunidade precisa ser um espaço socialização escolar, se são complementares ou não às da
aberto onde favoreça e solicite a participação de toda essa escola, e isto depende muito de classe social que a família
abertura aponta para o caráter interdependente da escola. pertence. As famílias podem desenvolver práticas que venham
Essa interação entre escola e comunidade é amparada por leis facilitar a aprendizagem escolar (por exemplo: preparar para
que exigem, por exemplo, a criação dos conselhos escolares. a alfabetização) e desenvolver hábitos coerentes com os
Essas são estratégias de interação e de democratização do exigidos pela escola (por exemplo: hábitos de conversação) ou
espaço escolar e favorecem a democratização do ensino. não.
Além de estratégias de socialização, as famílias diferem
Gestão Escolar Democrática uma das outras quanto a modelos educativos. Bouchard45
A escola tem como uma de suas atribuições desenvolver distingue, de forma geral, três modelos: o “racional”, o
ações e atividades que ensinem e aprimorem o respeito ás “humanista” e o “simbiossinérgico”. No racional, os pais
diferenças entre todos. Para tanto, se faz necessário que a mantêm uma hierarquia na qual decidem e impõem suas
escola efetive ações em prol do desenvolvimento da cidadania. decisões sobre as atividades e o futuro dos filhos. Dão muita
É nesse contexto que se destaca a gestão democrática do importância à disciplina, à ordem, à submissão, à autoridade.
ensino público, princípio constitucional que traduz a Nas suas estratégias educativas, os pais distribuem ordens,
participação ativa e cidadã da comunidade escolar e local na impõem, ameaçam, criticam, controlam, proíbem, dão as
condução da escola, pois a gestão da escola é um ato político soluções para a criança. Orientam mais para um conformismo
que implica tomada de decisões que não podem ser do que para a autonomia.
individuais, mas coletivas. No modelo humanista, os pais se colocam mais como guias,
No contexto educacional, a democracia deve ser o princípio dando aos filhos o poder de decisão, numa política que
norteador da prática pedagógica, configurando-se como Bouchard chama de autogestão no poder pela criança. Entre as
fundamento das ações escolares. Desse modo, o estratégias educativas estão as seguintes: permite e estimula a

45 BOUCHARD, J. M. De I'Institution a Ia communauté: les parents et les

professionels-une relation qui se construit. In: DURNING, R Education familiale.


Vigneux: Matrice, 1988.

Conhecimentos Pedagógicos 33
APOSTILAS OPÇÃO

expressão das emoções pelos filhos, encoraja nos seus definitivamente no campo da educação, sintetizada no lema
empreendimentos, reconhece e valoriza as capacidades dos “uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta.
filhos, favorece a autonomia e a autodeterminação nos seus ( ) Certo ( ) Errado
filhos sua comunicação orienta-se necessidades dos filhos.
Os conflitos entre famílias e escolas podem advir das Gabarito
diferenças de classes sociais, valores, crenças, hábitos de
interação e comunicação subjacentes aos modelos educativos. 01.Errado / 02.Certo / 03.Certo
Tanto crianças como pai pode comportar-se segundo modelos
que não são da escola. Isto pode não ser um problema para as
famílias das camadas sócias mais altas, quem tem a
possibilidade de escolher uma escola que se assemelhe ao seu História da Educação
próprio modelo. Esta não é a realidade para as classes
trabalhadoras. Os modelos adotados pelas escolas dependem,
em geral, da disposição das diretorias e de sua orientação. Conforme o texto de Bello46, a História da Educação
Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e
A Participação dos Pais na Vida da Escola compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de
Sabe-se que em geral, os pais poucas participações serem observadas.
exercem na determinação do que acontece na escola. Algumas A primeira grande ruptura travou-se com a chegada
vezes teme-se a participação de certos pais que, sendo muito mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não
eloquentes e de temperamento forte, tentam impor sua podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram
vontade sobre procedimentos escolares e que muitas vezes um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer
funcionariam mais para “facilitar” sua própria vida, ou de seus dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam
filhos, do que para melhorar a qualidade do ensino, conforme características próprias de se fazer educação. E convém
percebido por gestores e professores. Em vista disso, muitas ressaltar que a educação que se praticava entre as populações
vezes, os dirigentes escolares não apenas deixam de ouvir os indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo
pais, como até evitam fazê-lo, e de dar espaço para a educacional europeu.
participação familiar. É possível que ajam dessa forma Num programa de entrevista na televisão, o indigenista
também por terem receio de perder espaço e autoridade. Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa
Observando a escola, podemos perceber que a maioria dos aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional
pais por terem dificuldades em estarem frequentes na escola entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia
tem nos revelado não apenas uma carência, mas nos fez alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote
perceber que estamos no caminho certo ao realizar ações que seu filho, que estava ao lado dela pegava o pote pronto e o
despertem neles o entendimento da importância dessa jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e,
participação. Porém não podemos deixar de registrar um novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o
imobilismo ou incapacidade da escola em elaborar ações que mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete
superem ou ajudam superar essas limitações, pois o que mais potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da
ouvimos a escola dizer que é muito difícil trazer os pais para a mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino
escola, isso tem caracterizado o desânimo e a falta de vontade quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que
em mudar situações. a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer".
Exemplificando esforços de mudanças dessa situação, Podemos também obter algumas noções de como era feita
decidimos assumir juntamente com os diretores a realização a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela
de trabalho para promover a superação dessas dificuldades, e extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos
tomamos a iniciativa de promover encontros, realizar ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das
reuniões e palestras com pais de alunos de nossas escolas, construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
abrindo-se para apoiar as famílias como forma de promover a Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram
integração dos mesmos ao seu trabalho. somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia;
A participação dos pais na vida da escola tem sido trouxeram também os métodos pedagógicos.
observada em pesquisas, como um dos indicadores mais Este método funcionou absoluto durante 210 anos, quando
significativos na determinação da qualidade do ensino, isto é uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a
aprendem mais os alunos cujos pais participam mais da vida expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia
da escola. alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o
que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas
Questões régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a
Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve
01. Assinale certo ou errado para a assertiva abaixo: transferir o Reino para o Novo Mundo.
Ao tratar da concepção de homem, Paulo Freire entende Na verdade não se conseguiu implantar um sistema
que o homem começa a ser sujeito social, independente do educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real
contato com outros homens. permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para
( ) Certo ( ) Errado preparar terreno para sua estadia no Brasil, D. João VI abriu
Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a
02. Com relação ao convívio família/escola, a ação Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais
educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, dos seus marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo
objetivos, dentre outros aspectos. alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa
( ) Certo ( ) Errado História passou a ter uma complexidade maior.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância
03. O tema da sustentabilidade originou-se na economia secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas
(“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, para se inserir já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia

46 BELLO, J. L. P. Educação no Brasil: a História das rupturas. Pedagogia em

Foco, Rio de Janeiro, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 34
APOSTILAS OPÇÃO

a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus.
Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura
São Paulo. histórica num processo já implantado e consolidado como
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. modelo educacional.
Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos
reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da Período Pombalino
República tentaram-se várias reformas que pudessem dar uma
nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53
não sofreu um processo de evolução que pudesse ser de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles
considerado marcante ou significativo em termos de modelo. levaram também a organização monolítica baseada no Ratio
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento Studiorum.
educacional, mas a educação continua a ter as mesmas Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no
características impostas em todos os países do mundo, que é a Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcopal, no
de manter o "status quo" para aqueles que frequentam os Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se
bancos escolares. encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e
Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio
um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente de Janeiro.
observável. E é isso que tentamos passar neste texto. Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de
Os períodos foram divididos a partir das concepções do radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da
autor em termos de importância histórica. Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o
Se considerarmos a História como um processo em eterna proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer
evolução, não podemos considerar este trabalho como Portugal da decadência em que se encontrava diante de outras
terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato potências europeias da época. Além disso, Lisboa passou por
momento em que esse texto está sendo lido. A educação um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e
brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos
direções. interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as
escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos
Período Jesuítico interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para
servir aos interesses do Estado.
A educação indígena foi interrompida com a chegada dos Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo
jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de
março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim,
quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só
elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula
Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não
tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em se articulava com as outras.
terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava
ensino e a propagação da fé religiosa. estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso
No Brasil, os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos
e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma
converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o
escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi
em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cobrado com regularidade e os professores ficavam longos
cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução
Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três vinda de Portugal.
colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). Os professores geralmente não tinham preparação para a
Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram
somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se
trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.
jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do
Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum, que tinha como objetivos século XIX, a educação brasileira estava reduzida a
de organização social e cultural, bem como de catequese praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e
baseada na “cristandade”. O ensino era essencialmente de nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para
caráter humanístico. Eles não se limitaram ao ensino das dar continuidade a um trabalho de educação.
primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos
de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Período Joanino
Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação
de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova
Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia ruptura com a situação anterior. Para atender às necessidades
estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares,
Físicas e Naturais. E quem tinha interesse em estudar Medicina Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim
ou Direito deveria ir estudar na Europa. Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil
1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma
Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que
Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de os fatos e as ideias fossem divulgados e discutidos no meio da
educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. população letrada, preparando terreno propício para as
No momento da expulsão, os jesuítas tinham 25 questões políticas que permearam o período seguinte da
residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de História do Brasil.
seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas

Conhecimentos Pedagógicos 35
APOSTILAS OPÇÃO

A educação, no entanto, continuou a ter uma importância O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as
secundária. Para Lima, "a 'abertura dos portos', além do matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando,
significado comercial da expressão, significou a permissão assim, a parte literária em detrimento da científica.
dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o
conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como
chamado civilização e cultura". simples promotor a um nível seguinte. Retomando a
orientação positivista, prega a liberdade de ensino,
Período Imperial entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que
não seja por escolas oficiais, e de frequência. Além disso, prega
D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de
Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, assistência e aproveitamento e transfere os exames de
outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados
Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira.
cidadãos". Num período complexo da História do Brasil surge a
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e
institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um Cívica com a intenção de tentar combater os protestos
aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.
(decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor. A década de vinte foi marcada por diversos fatos
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: relevantes no processo de mudança das características
Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o
Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna
todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta
professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
escolas para meninas. Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as diversas reformas de abrangência estadual, como as de
províncias passariam a ser responsáveis pela administração Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na
do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em
a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal
intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em
pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais Pernambuco, em 1928.
uma vez, obtendo resultados pífios.
Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na Período da Segunda República
cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o
objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada
secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de
organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo. capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse
Em 1872, a população brasileira era de 10 milhões de investir no mercado interno e na produção industrial. A nova
habitantes, e apenas150.000 estavam matriculados em escolas realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra
primárias. O analfabetismo era da ordem de 64%. especializada e para tal era preciso investir na educação.
Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e
nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona
D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não decretos organizando o ensino secundário e as universidades
fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram
Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi conhecidos como "Reforma Francisco Campos".
feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema Em 1932, um grupo de educadores lança à nação o
educacional. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por
O resultado do ensino no Brasil Império foi deficiente, sem Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados
uma plano nacional que lhe desse um sistema ou estrutura educadores da época.
adequada. As políticas foram sucessivas e caracterizadas pela Em 1934, a nova Constituição (a segunda da República)
falta de continuidade e articulação. dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos,
devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos.
Período da Primeira República Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando
Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A
A República proclamada adotou o modelo político primeira a ser criada e organizada segundo as normas do
americano baseado no sistema presidencialista. Na Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
organização escolar percebe-se influência da filosofia Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal,
positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no
princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de
como também a gratuidade da escola primária. Estes Educação na qual se situava o Instituto de Educação.
princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na
Constituição brasileira. Período do Estado Novo
Uma das intenções desta Reforma era transformar o
ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova
apenas preparador. Outra intenção era substituir a Constituição em 1937. A orientação político-educacional para
predominância literária pela científica. o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para
que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido, a
que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e
foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, profissional.
tornando o ensino enciclopédico.

Conhecimentos Pedagógicos 36
APOSTILAS OPÇÃO

Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam ensino no confronto com os que defendiam o monopólio
livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas estatal para a oferta da educação aos brasileiros.
públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a
Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado, muitas
primário. Também dispõe como obrigatório o ensino de iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da
trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no
secundárias. Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de
No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início
segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as a sua ideia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em
discussões sobre as questões da educação, profundamente Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima
ricas no período anterior, entrem "numa espécie de inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean
hibernação". As conquistas do movimento renovador, Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a
influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da
nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o Educação e Cultura; em 1961 tem início uma campanha de
trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo
trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos;
classes mais desfavorecidas. em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos
são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano
receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização,
compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método
Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino Paulo Freire.
profissionalizante.
O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de Período do Regime Militar
curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial,
podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se
colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as
para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a propostas eram "comunizantes e subversivas".
formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário, O Regime Militar espelhou na educação o caráter
entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o antidemocrático de sua proposta ideológica de governo:
científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial. professores foram presos e demitidos; universidades foram
invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto
Período da Nova República com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram
O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de
nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e
Constituição, na área da Educação, determina a professores.
obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá Neste período deu-se a grande expansão das universidades
competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que
educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não
o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular
princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos classificatório.
Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento
30. Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em
Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL
regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de propunha erradicar o analfabetismo no Brasil. Não conseguiu.
criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no
atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a seu lugar criou-se a Fundação Educar.
Revolução de 1930. É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de expressão popular contrária aos interesses do governo era
1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a
objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em
educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar
Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma à formação educacional um cunho profissionalizante.
para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para
o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi Período da Abertura Política
encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta
ideológica em torno das propostas apresentadas. Num No fim do Regime Militar as discussões sobre as questões
primeiro momento, as discussões estavam voltadas às educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e
interpretações contraditórias das propostas constitucionais. assumido um caráter político. Para isso contribuiu a
Num momento posterior, após a apresentação de um participação mais ativa de pensadores de outras áreas do
substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais conhecimento que passaram a falar de educação num sentido
marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de
Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e
geração de 1930, e a participação das instituições privadas de à dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em
ensino. suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar,
Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento
a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do pedagógico, passaram a assumir postos na área da educação e
anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja a concretizar discursos em nome do saber pedagógico.
Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma
nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado

Conhecimentos Pedagógicos 37
APOSTILAS OPÇÃO

Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge experiência formativa dos indivíduos e na própria reprodução
Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, (cultural, ideológica e profissional) da sociedade. As duas
o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que instituições chegaram a cobrir todo o arco da infância –
acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos adolescência, como “locais” destinados à formação das jovens
após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio. gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e
Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a definido.
fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do
economista e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Período Moderno
Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória 47A família, objeto de uma retomada como núcleo de afetos

extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho e animada pelo “sentimento da infância”, que fazia cada vez
Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e mais da criança o centro-motor da vida familiar, elaborava um
Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e sistema de cuidados e de controles da mesma criança, que
mais político. tendiam a conformá-la a um ideal, mas também a valorizá-la
Mesmo que possamos não concordar com a forma como como mito, um mito de espontaneidade e de inocência, embora
foram executados alguns programas, temos que reconhecer às vezes obscurecido por crueldade, agressividade etc. Os pais
que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir não se contentavam mais em apenas pôr filhos no mundo. A
do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos moral da época impõe que se dê a todos os filhos, não só ao
na área da educação numa só administração. primogênito, e no fim dos anos seiscentos também as filhas,
O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e uma preparação para a vida. A tarefa de assegurar tal
o seu "Provão", no qual os alunos das universidades têm que afirmação é atribuída à escola.
realizar uma prova ao fim do curso para receber seus Ao lado da família, à escola: uma escola que instruía e que
diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente formava que ensinava conhecimentos, mas também
assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma comportamentos, que se articulava em torno da didática, da
questão, é levada em consideração como avaliação das racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, e em
instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não torno da disciplina, da conformação programada e das práticas
diferencia as regiões do país. repressivas (constritivas, mas por isso produtoras de novos
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento comportamentos). Mas, sobretudo, uma escola que
educacional, mas a educação continua a ter as mesmas reorganizava suas próprias finalidades e seus meios
características impostas em todos os países do mundo, que é específicos. Uma escola não mais sem graduação na qual se
mais o de manter o "status quo", para aqueles que frequentam ensinavam as mesmas coisas a todos e segundo processos de
os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos tipo adulto, não mais caracterizada pela “promiscuidade das
básicos, para serem aproveitados pelos estudantes em suas diversas idades” e, portanto, por uma forte incapacidade
vidas práticas. educativa, por uma rebeldia endêmica por causa da ação dos
Concluindo, podemos dizer que a História da Educação maiores sobre os menores e, ainda, marcadas pela “liberdade
Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e dos estudantes”, sem disciplina interna e externa. Com a
facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, e em instituição do colégio (no século XVI), porém, teve início um
cada período determinado teve características próprias. processo de reorganização disciplinar da escola e de
A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas racionalização e controle de ensino, através da elaboração de
inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito métodos de ensino/educação – o mais célebre foi a Ratio
no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de Studiorum dos jesuítas – que fixavam um programa minucioso
todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos de estudo e de comportamento, o qual tinha ao centro a
estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos disciplina, o internato e as “classes de idade”, além da
notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da graduação do ensino/aprendizagem.
Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas Também é dessa época a descoberta da disciplina: uma
se propõem a ensinar. disciplina constante e orgânica, muito diferente da violência e
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam autoridade não respeitada. A disciplina escolar teve raízes na
sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve disciplina religiosa; era menos instrumento de exercício que
caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o de aperfeiçoamento moral e espiritual, era buscada pela sua
que se presenciou foi o caos e muitas propostas eficácia, como condição necessária do trabalho em comum,
desencontradas que pouco contribuíram para o mas também por seu valor próprio de edificação. Enfim, a
desenvolvimento da qualidade da educação oferecida. escola ritualizava o momento do exame atribuindo-lhe o papel
É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. crucial no trabalho escolar. O exame era o momento em que o
E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do sujeito era submetido ao controle máximo, mas de modo
modelo europeu de educação, criando soluções novas em impessoal: mediante o controle do seu saber. Na realidade, o
respeito às características brasileiras, como fizeram os países exame agia, sobretudo como instrumento disciplinar, de
conhecidos como Tigres Asiáticos, os quais, buscaram soluções controle do sujeito, como instrumento de conformação.
para seu desenvolvimento econômico, investindo em
educação; ou, como fez Cuba que, por decisão política de Uma Reflexão Sobre o Ponto Histórico da Educação no
governo erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe Brasil
para a sala de aula todos os cidadãos cubanos. 48A História está aí para mostrar os resultados e provar a

Assim, na evolução da História da Educação brasileira a viabilidade ou não de cada lei. A análise de Marçal49 é bastante
próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse pertinente a esta questão: “A história mostra que a educação
único e que atendesse às necessidades de nossa população e escolar no Brasil nunca foi considerada como prioridade
que fosse eficaz. nacional: ela serviu apenas a uma determinada camada social,
Duas instituições educativas, em particular, sofreram uma em detrimento das outras camadas da sociedade que
profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a permaneceram iletradas e sem acesso à escola. Mesmo com a
família e a escola, que se tornaram cada vez mais centrais na evolução histórico-econômica do país (...); mesmo tendo, ao

47 http://www.pedagogia.com.br/historia/moderno.php 49 MARÇAL RIBEIRO, P. R. Educação Escolar no Brasil: Problemas, Reflexões e


48 História da educação escolar no Brasil: notas para uma reflexão. RIBEIRO, Propostas. Coleção Textos, Vol. 4. Araraquara, UNESP, 1990.
Paulo Rennes Marçal. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 1993.

Conhecimentos Pedagógicos 38
APOSTILAS OPÇÃO

longo de cinco séculos de história, passado de uma economia de a escola pública manter o monopólio do ensino gratuito.
agrária-comercial-exportadora para uma economia baseada Sugerem que o Estado dê aos pais vales-escolas ou cheques
na industrialização e no desenvolvimento tecnológico; mesmo com o valor necessário para manter o estudo dos filhos,
com as oscilações políticas e revoluções por que passou, o cabendo ao mercado de escolas públicas e particulares
Brasil não priorizou a educação em seus investimentos disputar esses subsídios. Assim, as escolas públicas não
político-sociais e a estrutura educacional permaneceu recebe- riam recursos do Estado, mas manter-se-iam com o
substancialmente inalterada até nossos dias, continuando a recebimento desses valores em condições iguais às das
agir como transmissora da ideologia das elites e atendendo de particulares, alterando-se, assim, o conceito de instituição
forma mais ou menos satisfatória apenas a uma pequena "pública". Trata-se da implementação da política de livre
parcela da sociedade.” escolha, uma das propostas mais caras ao ideário neoliberal.
Quando se faz propostas educacionais, é necessário que se Os defensores de posições neoconservadoras alegam que
conheça toda a História percorrida até nossos dias, para que se países mais pobres, como o Brasil, devem dar primazia à
crie a partir dos resultados dos trabalhos que foram educação básica (leia-se ensino fundamental), o que significa
desenvolvidos até o presente, para que os erros cometidos não menor aporte de recursos para a educação infantil e para o
se repitam, e os aceitos de outrora sirvam de base para que se ensino médio e superior. Também, no caso do ensino superior,
amadureçam as propostas educacionais. Não se pode ignorar o Estado financiaria o aluno que não pudesse pagar seus
a bagagem educacional que o tempo nos legou, pois, se assim estudos, e este devolveria os valores do empréstimo depois de
o fizermos, estaremos regredindo historicamente. Os governos formado.
devem aproveitar as ideias e projetos que deram ou estão O estudo Primary Education, de 1996, patrocinado pelo
dando certo, aperfeiçoando cada trabalho, mesmo se forem de BM, diz que a educação escolar básica “é o pilar do crescimento
adversários políticos, pois a História nos tem mostrado que, no econômico e do desenvolvimento social e o principal meio de
Brasil, se julga uma obra ou um trabalho não pelo seu mérito promover o bem-estar das pessoas”, segundo Netz51. A média de
ou pelo benefício que está trazendo, mas sim pelo seu autor e escolaridade dos trabalhadores no Brasil é de
pela ideologia que este traz. aproximadamente 4 anos, contra 7,5 anos no Chile, 8,7 anos na
Argentina e 11 anos na França. Há a preocupação dos
A História da Estrutura e da Organização do Sistema de empresários brasileiros em ampliar essa média, não só para
Ensino no Brasil50 “promover o bem-estar das pessoas”, como diz o documento
do BM, mas também para oferecer ao mercado uma mão de
A história da estrutura e da organização do ensino no obra mais qualificada. Um fabricante de armas gaúcho
Brasil reflete as condições socioeconômicas do país, mas declarou que “os processos de produção estão cada vez mais
revela, sobretudo, o panorama político de determinados sofisticados. (...) Não podemos deixar equipamentos de 500
períodos históricos. mil, 1 milhão de dólares, nas mãos de operários sem
A partir da década de 1980, por exemplo, o panorama qualificação”, conforme Netz52.
socioeconômico brasileiro indicava uma tendência Como se pode observar, não é possível discutir educação e
neoconservadora para a minimização do Estado, que se ensino sem fazer referência a questões econômicas, políticas e
afastava de seu papel de provedor dos serviços públicos, como sociais. Daí a escolha da década de 1930, começo do processo
saúde e educação. Na década de 1990, esse modelo instalou-se de industrialização do país, para iniciarmos o estudo sobre o
e, no primeiro decênio do século XXI, ainda não foi superado. processo de organização do ensino no Brasil.
Paradoxalmente, as alterações da organização do trabalho, Os acontecimentos políticos, econômicos e sociais da
resultantes, em grande parte, dos avanços tecnológicos, década de 1930 imprimiram novo perfil à sociedade brasileira.
solicitam da escola um trabalhador mais qualificado para as A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, mergulhou o Brasil
novas funções no processo de produção e de serviços. na crise do café, mas em contrapartida encaminhou o país para
Ausentando-se o Estado de suas responsabilidades com o desenvolvimento industrial, por meio da adoção do modelo
educação pública, como e onde formar, então, o trabalhador? econômico de substituição das importações, alterando assim o
As constantes críticas ao desempenho do poder público comando da nação, que passou da elite agrária aos novos
remetem ao setor privado, apontado como o mais competente industriais.
para essa tarefa. Apresenta-se uma questão crucial para o De 1930 a 1937, motivada pela industrialização emergente
entendimento do papel social da escola: é sua função formar e pelo fortalecimento do Estado-nação, a educação ganhou
especificamente para o trabalho ou ela constitui espaço de importância e foram efetuadas ações governamentais com a
formação do cidadão participe da vida social? perspectiva de organizar, em plano nacional, a educação
O teórico Hayek, considerado o pai do neoliberalismo, escolar. A intensificação do capitalismo industrial alterou as
contrapõe-se à ingerência estatal na educação. Sua referência, aspirações sociais em relação à educação, uma vez que nele
porém, são os países em que a educação básica já foi eram exigidas condições mínimas para concorrer no mercado,
universalizada e as condições sociais são mais favoráveis, em diferentemente da estrutura oligárquica rural, na qual a
razão de anterior consolidação do Estado de bem-estar social. necessidade de instrução não era sentida nem pela população
Mas como pensar a atuação do Estado no Brasil, país nem pelos poderes constituídos (Romanelli, 1987).
considerado periférico, com grandes desigualdades sociais, A complexidade do período histórico que abrange desde a
perversa concentração de renda, baixo índice de escolaridade, década de 1930 até o momento atual e sua repercussão na
escola básica não universalizada? Certamente, para países com evolução da educação escolar no país requerem, para
estas condições socioeconômicas, a receita deveria ser outra. apropriada compreensão, a utilização de outras categorias
Organismos financiadores dos países terceiro-mundistas, além das econômicas e políticas. Vamos, pois, a partir de agora,
como o Banco Internacional de Reconstrução e analisar a história da estrutura e da organização da educação
Desenvolvimento, também chamado Banco Mundial (BM), brasileira com base em pares conceituais que acompanharam
sugerem a garantia de educação básica mantida pelo Estado, historicamente o debate da democratização do ensino no
isto é, gratuita, o que não significa, todavia, que ela seja Brasil, permeando os diferentes períodos e alternando-se em
ministrada em escolas públicas. Os neoliberais criticam o fato importância, de acordo com o momento histórico.

50LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira e TOSCHI, Mirza Seabra. 51 Apud MELO, U. A. de; CRUZ, J. S. da; SILVA, H. M. de L. História da Estrutura

Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 10ª. Ed., São Paulo: Cortez, da Organização do Sistema de Ensino no Brasil e O Trabalho Com Práticas
2012. Educativas na Educação De Alunos S.D.
52 Idem 6.

Conhecimentos Pedagógicos 39
APOSTILAS OPÇÃO

Centralização/Descentralização na Organização da A seu ver, a descentralização educacional contribuiria para a


Educação Brasileira democracia e para a sociedade industrial, moderna e
A Revolução de 1930 representou a consolidação do plenamente desenvolvida. Assim, a municipalização do ensino
capitalismo industrial no Brasil e foi determinante para o primário constituiria uma reforma política, e não mera
consequente aparecimento de novas exigências educacionais. reforma administrativa ou pedagógica. Enquanto os liberais,
Nos dez primeiros anos que se seguiram, houve um grupo em que se incluíam os escolanovistas, desejavam
desenvolvimento do ensino jamais registrado no país. Em mudanças qualitativas e quantitativas na rede pública de
vinte anos, o número de escolas primárias dobrou e o de ensino, católicos e integralistas desaprovavam alterações
secundárias quase quadruplicou. qualitativas modernizantes e democráticas. Essa situação
As escolas técnicas multiplicaram-se – de 1933 a 1945, conferia um caráter contraditório à educação escolar. Tinha
passaram de 133 para 1.368, e o número de matrículas, de 15 início, então, um sistema que – embora sofresse pressão social
mil para 65 mil. por um ensino mais democrático numérica e qualitativamente
Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde falando – estava sob o controle das elites no poder, as quais
Pública (Mesp). A reforma elaborada por Fran- cisco Campos, buscavam deter a pressão popular e manter a educação
ministro da Educação, atingiu a estrutura do ensino, levando o escolar em seu formato elitista e conservador. O resultado foi
Estado nacional a exercer ação mais objetiva sobre a educação um sistema de ensino que se expandia, mas controlado pelas
mediante o oferecimento de uma estrutura mais orgânica aos elites, com o Estado agindo mais pelas pressões do momento e
ensinos secundário, comercial e superior. de maneira improvisada do que buscando delinear uma
De 1937 a 1945 vigorou o Estado Novo, período da política nacional de educação, em que o objetivo fosse tornar
ditadura de Getúlio Vargas, em que a questão do poder se universal e gratuita a escola elementar.
tornou central. Aliás, o poder é categoria essencial para Os católicos conservadores opunham-se à política de
compreender o processo de centralização ou descentralização laicização da escola pública, conseguindo acrescentar à
na problemática da organização do ensino. O chileno Juan Constituição Federal de 1934 o ensino religioso. Por força
Casassus, ao escrever sobre o processo de descentralização em dessa mesma Constituição, o Estado passou a fiscalizar e
países da América Latina (incluindo o Brasil), observa que a regulamentar as instituições de ensino público e particular.
base de todos os enfoques da descentralização ou da As leis orgânicas editadas entre 1942 e 1946 – a chamada
centralização se encontra na questão do poder na sociedade. Reforma Capanema, que recebeu o nome do então ministro da
Diz ele: “A centralização ou descentralização tratam da forma Educação – reafirmaram a centralização da década de 1930,
pela qual se encontra organizada a sociedade, como se assegura com o Estado desobrigando-se de manter e expandir o ensino
a coesão social e como se dá o fluxo de poder na sociedade civil, público, ao mesmo tempo, porém, que decretava as reformas
na sociedade militar e no Estado, explorando aspectos como os de ensino industrial, comercial e secundário e criava, em 1942,
partidos políticos e a administração” 1995). Por tratar-se de um o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI.
processo de distribuição, redistribuição ou reordenamento do A lei orgânica do ensino primário e as do ensino normal e
poder na sociedade, no qual uns diminuem o poder em agrícola foram promulgadas em 1946, assim como a criação do
benefício de outros, a questão reflete o tipo de diálogo social Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A partir
que prevalece e o tipo de negociação que se faz para assegurar de então, as esquerdas e os partidos progressistas retomaram
a estabilidade e a coesão social – daí sua relação com o o debate pedagógico a fim de democratizar e melhorar o
processo conflituoso de democratização da educação nacional. ensino, apesar da centralização federal do sistema educacional
Os anos 1930 a 1945 no Brasil são identificados como um não só na administração, mas também no aspecto pedagógico,
período centralizador da organização da educação. Com a ao fixar currículos, programas e metodologias de ensino
Reforma Francisco Campos, iniciada em 1931, o Estado (Jardim, 1988).
organizou a educação escolar no plano nacional, O debate realizado durante a votação da primeira Lei de
especialmente nos níveis secundário e universitário e na Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), exigência da
modalidade do ensino comercial, deixando em segundo plano Constituição Federal de 1946, envolveu a sociedade civil, e a
o ensino primário e a formação dos professores. Esta atitude, lei resultante, nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, instituiu
à primeira vista voltada para a descentralização – como definia a descentralização, ao determinar que cada estado organizasse
a Constituição de 1891, ao instituir a União como responsável seu sistema de ensino. Porém, o momento democrático que o
pela educação superior e secundária e repassar aos estados a país vivia não combinava com o centralismo das ditaduras e
responsabilidade da educação elementar e profissional –, na durou pouco. Em 1964, o golpe dos militares provocou nova-
realidade revelava o desapreço pela educação elementar. mente o fortalecimento do Executivo e a centralização das
Nesse período, educadores católicos e liberais passaram a decisões no âmbito das políticas educacionais.
envolver-se na elaboração da proposta educacional da Embora a Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 (Brasil,
primeira fase do governo Vargas, sob a alegação de que o 1971), prescrevesse a transferência gradativa do ensino de 1º
governo não possuía uma proposta educacional. Tão logo, grau (ensino fundamental) para os municípios, a concentração
porém, Francisco Campos tomou posse no recém-criado dos recursos no âmbito federal assim como as medidas
Ministério da Educação e Saúde Pública, impôs a todo o país as administrativas centralizadoras tornaram estados e
diretrizes traçadas pelo Mesp. municípios extremamente dependentes das decisões da União.
Já na Constituição Federal de 1934, em meio a disputas A fragilidade do Legislativo, nesse período, impedia mais ainda
ideológicas entre católicos e liberais, foi incluí- da boa parte da a participação da sociedade, uma vez que esse poder era o mais
proposta educacional destes inscrita no Manifesto dos próximo da sociedade civil.
Pioneiros da Educação Nova (1932) por uma escola pública Conforme Casassus (1995), o processo de descentralização
única, laica, obrigatória e gratuita, fortalecendo a mobilização coincidiu com a universalização da cobertura escolar, isto é,
e as iniciativas da sociedade civil em torno da questão da iniciou-se quando se passou da preocupação quantitativa para
educação. Com a Constituição de 1937, que consolidou a a busca da qualidade na educação. Paradoxalmente, a
ditadura de Getúlio Vargas, o debate sobre pedagogia e política descentralização adveio quando o Estado se esquivou de sua
educacional passou a ser restrito à sociedade política, em clara responsabilidade com o ensino, fato que, segundo esse autor,
demonstração de que a questão do poder estava mesmo foi perceptível na América Latina a partir do fim dos anos
presente no processo de centralização ou descentralização. 1970. Há ainda, na atualidade, um discurso corrente nos meios
O escolanovista Anísio Teixeira foi ardoroso defensor da oficiais de que a questão quantitativa está resolvida,
descentralização por meio do mecanismo de municipalização. escondendo o fato de que os dados estatísticos são

Conhecimentos Pedagógicos 40
APOSTILAS OPÇÃO

frequentemente maquiados, as salas de aula estão A modernização educativa e a qualidade do ensino, nos
superlotadas e a qualidade das aprendizagens deixa a desejar. anos 1990, assumiram conotação distinta ao se vincularem à
Em contrapartida, a centralização mantém-se no que o autor proposta neoconservadora que inclui a qualidade da formação
chama de alma do processo educativo – quer dizer, a do trabalhador como exigência do mercado competitivo em
centralização, especialmente a dos currículos, tem lógica época de globalização econômica. O novo discurso da
diferente da administrativa. Com aquela se pretende garantir modernização e da qualidade, de certa forma, impõe limites ao
a integridade social almejada, o que facilitará a mobilidade dos discurso da universalização, da ampliação quantitativa do
indivíduos, tanto no território nacional como na escala social. ensino, pois traz ao debate o tema da eficiência, excluindo os
No fim da década de 1970 e início da de 1980, esgotava-se ineficientes, e adota o critério da competência.
a ditadura militar e iniciava-se um pro- cesso de retomada da A política educacional adotada com a eleição de Fernando
democracia e reconquista dos espaços políticos que a Henrique Cardoso para a Presidência da República, concebida
sociedade civil brasileira havia perdido. A reorganização e o de acordo com a proposta do neoliberalismo, assumiu
fortalecimento da sociedade civil, aliados à proposta dos dimensões tanto centralizadoras como descentralizadoras. A
partidos políticos progressistas de pedagogias e políticas descentralização, nesse caso, não apareceu como resultado de
educacionais cada vez mais sistematizadas e claras, fizeram maior participação da sociedade, uma vez que as ações
com que o Estado brasileiro reconhecesse a falência da política realizadas não foram fruto de consultas aos diversos setores
educacional, especialmente a profissionalizante, como sociais, tais como pesquisadores, professores de ensino
evidencia a promulgação da Lei nº 7.044/1982, que acabou superior e da educação básica, sindicatos, associações e outros,
com a profissionalização compulsória em nível de 2º grau mas surgiram das propostas preparadas para campanha
(ensino médio). eleitoral.
O debate acerca da qualidade, no Brasil, iniciou-se após a No primeiro ano de governo (1995), assumiu-se o ensino
ampliação da cobertura do atendimento escolar. Reconhece-se fundamental como prioridade e foram defini- dos cinco pontos
que, durante o período militar, particularmente com o para as ações: currículo nacional, livros didáticos melhores e
prolongamento da duração da escolaridade obrigatória, se distribuídos mais cedo, aparte de kits eletrônicos para as
estendeu o atendimento ao ensino de 1º grau (ensino escolas, avaliação externa, recursos financeiros enviados
fundamental), embora muito da qualidade do ensino diretamente às instituições escolares. Em 1996, considerado o
ministrado tenha sido perdido. Ano da Educação, a política incluiu a instauração da TV Escola,
Segundo Cunha53 a contenção do setor educacional público cursos para os professores de Ciências, formação para os
constituiu condição de sucesso do setor privado. Apesar disso, trabalhadores, reformas no ensino profissionalizante e a
foi possível a criação de uma rede de escolas públicas que convocação da sociedade para contribuir com a educação no
atendia, com qualidade variável, parte da sociedade, o que país. Dessas ações, a única orientada para a descentralização
levou as famílias de classe média a optar pela escola particular, foi a destinação dos recursos financeiros diretamente para as
mesmo com sacrifícios financeiros, como forma de garantir escolas - ressaltando-se que, no primeiro ano, a merenda
educação de melhor qualidade aos filhos. escolar foi garantida com eles e, em seguida, os reparos nas
O descontentamento com a deterioração da gestão das instalações físicas das instituições, com recursos do Fundo
redes públicas, o rebaixamento salarial dos professores, a Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), advindos
elevação das despesas escolares pela ampliação da do salário-educação. As demais ações caracterizaram-se por
escolaridade sem aumento dos recursos, os inúmeros casos de certo tipo de centralismo entendido até como
desvio de recursos, além de abrirem portas à iniciativa antidemocrático, uma vez que não ocorreram discussões com
privada, levaram a sociedade civil a propor soluções que se a sociedade – como as relativas à avaliação da educação básica
tornaram ações políticas concretas por ocasião das eleições de e da superior, à instauração da TV Escola e aos kits eletrônicos
1982. Foi nesse contexto que intelectuais de esquerda nas escolas – e se procurou estabelecer mecanismos de
passaram a ocupar cargos na administração pública, em vários controle do trabalho do professor. A política de escolha e de
estados brasileiros, em virtude da vitória do Partido do distribuição do livro didático poderia ter recebido preciosa
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o principal colaboração de professo- res, especialistas e pesquisadores da
partido de oposição aos militares. Embora a transição área.
democrática tenha tido início nos municípios em 1977, neles O centralismo apresentou-se mais nitidamente na
não se observaram as mudanças ocorridas nos estados. Esse formação dos parâmetros curriculares nacionais (PCN), os
fato leva Cunha a afirmar que a precedência política da quais, embora tenham contado com a participação da
democratização da educação se localiza nos níveis mais sociedade civil em um dos momentos de sua discussão,
elevados do Estado. Assim, as mudanças democráticas, para pecaram por ignorar a universidade e as pesquisas sobre
serem efetivas, devem ocorrer dos níveis federal e estadual currículo e não contemplaram, desde o início de sua
para o municipal. elaboração, o debate com a sociedade educacional. A ampla
As principais alterações realizadas pelos novos utilização da mídia no processo de adoção dos PCN trouxe
administradores oposicionistas tiveram como meta a aprovação para o governo, apesar da manutenção de uma
descentralização da administração, com formas de gestão política mais centralizadora, especialmente na alma do
democrática da escola, com participação de professores, processo educativo.
funcionários, alunos e seus pais e também com eleição direta Paiva54 (1986) observa que a questão centralização/
de diretores. Outro ponto foi a suspensão de taxas escolares, a descentralização deve ser remetida à história da própria
criação de escolas de tempo integral, a organização sindical formação social brasileira e às tendências econômico-sociais
dos professores. presentes em cada período histórico. Assim, descentralização
A retomada da discussão sobre a municipalização do e democratização da educação escolar no Brasil não podem ser
ensino com o apoio dos privatistas, aliada à busca da escola discutidas independentemente do modo pelo qual é concebido
privada por pais (em boa parte, para evitar as greves nas o exercício do poder político no país.
escolas públicas), reforçou a tese da privatização do ensino e Uma das formas de descentralização política é a
diminuiu o suporte popular à escola pública. municipalização, que consiste em atribuir aos municípios a
responsabilidade de oferecimento da educação elementar.

53 Apud OLIVEIRA, J. F. de; LIBÂNEO, J. C; TOSCHI, M. S. Educação escolar: 54 Apud OLIVEIRA, J. F. de; LIBÂNEO, J. C; TOSCHI, M. S. Educação escolar:

políticas, estrutura e organização, 2017. políticas, estrutura e organização, 2017.

Conhecimentos Pedagógicos 41
APOSTILAS OPÇÃO

Conforme já mencionado, a municipalização foi proposta por Durante o Estado Novo, regime ditatorial de Vargas que
Anísio Teixeira, na década de 1930, para o estabelecimento do durou de 1937 a 1945, oficializou-se o dualismo educacional:
ensino primário de quatro anos de duração, não como reforma ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante
administrativa, mas com o caráter de reforma política, uma vez para as classes populares. As leis orgânicas ditadas nesse
que isso significaria reconhecer a maioridade dos municípios período, por meio de exames rígidos e seletivos, tornavam o
e discutir a necessidade de democratização e de ensino antidemocrático, ao dificultarem ou impedirem o
descentralização do exercício do poder político no país. acesso das classes populares não só ao ensino propedêutico,
A Lei nº 5.692/1971, editada durante a ditadura militar, de nível médio, como também ao ensino superior.
repassou arbitrariamente a tarefa da gestão do ensino de 1º O processo de democratização do país foi retomado com a
grau (ensino fundamental) aos governos municipais, sem deposição de Vargas em 1945. A industrialização crescente,
oferecer ao menos as condições financeiras e técnicas para tal especialmente nos anos 1950 e 1960, levou à adoção da
e em uma situação constitucional que nem sequer reconhecia política de educação para o desenvolvimento, com claro
a existência administrativa dos municípios. Somente com a incentivo ao ensino técnico-profissional. O golpe de 1964
Constituição Federal de 1988 o município se legitimou como atrelou a educação ao mercado de trabalho, incentivando a
instância administrativa e a responsabilidade do ensino profissionalização na escola média a fim de conter as
fundamental lhe foi repassada prioritariamente. A aspirações ao ensino superior. A Lei nº 5.692, de 11 de agosto
Constituição ou uma lei, porém, não conseguem sozinhas e de 1971, ampliou a escolaridade mínima para oito anos
rapidamente descentralizar o ensino e fortalecer o município. (ensino de 1º grau) e tornou profissionalizante,
Essa é tarefa política de longo prazo, associada às formas de obrigatoriamente, o ensino de 2º grau. A evolução quantitativa
fazer política no país e às questões de concepção do poder. do 1º grau – 100% na primeira fase do 1º grau (1ª a 4ª séries)
Descentralização faz-se com espírito de colaboração, e a e 700% em suas últimas séries em apenas dez anos – não foi
tradição política brasileira é de competição, de medição de acompanhada de melhora qualitativa. Ao contrário, a
forças. As categorias centralizações/descentralizações estão expansão da oferta de vagas, nos diversos níveis de ensino,
vinculadas à questão do exercício do poder político, mesmo teve como consequência o comprometimento da qualidade
porque, desde o final do século XX, a descentralização vem dos serviços prestados, em razão da crescente degradação das
atrelada aos interesses neoliberais de diminuir gastos sociais condições de exercício do magistério e da desvalorização do
do Estado. Isso ficou evidente após a promulgação da Lei nº professor.
9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional “A expansão das oportunidades, nos vinte anos de ditadura
(LDB) –, que centraliza no âmbito federal as decisões sobre militar, foi feita através de um padrão perverso”, sublinha
currículo e avaliação e atribui à sociedade responsabilidades Azevedo (1994, p. 461). A ampliação das vagas deu-se pela
que deveriam ser do Estado, tal como ocorreu, por exemplo, redução da jornada escolar, pelo aumento do número de
com o trabalho voluntário na escola. Os Projetos Família na turnos, pela multiplicação de classes multisseriadas e uni
Escola e Amigos da Escola e a descentralização de docentes, pelo achatamento dos salários dos professores e
responsabilidades do ensino fundamental em direção aos pela absorção de professores leigos. O trabalho precoce e o
municípios são outros exemplos concretos de uma política que empobrecimento da população, aliados às condições precárias
centraliza o poder e descentraliza as responsabilidades de oferecimento do ensino, levaram à baixa qualidade do
processo, com altos índices de reprovação.
O Debate Qualidade/Quantidade na Educação Atualmente, o país está sendo vítima dessa política. O
Brasileira atraso técnico-científico e cultural brasileiro impede sua
O debate qualidade/quantidade na educação brasileira inserção no novo reordenamento mundial. A escolaridade
começou muito cedo. Ainda no século XIX, na transição do básica e a qualidade do ensino são necessidades da produção
Império para a República, apareceram dois movimentos flexível, e a educação básica falha constitui fator que tolhe a
sociais os quais Nagle denominaram Entusiasmo pela competitividade internacional do Brasil.
Educação e Otimismo Pedagógico. O movimento Entusiasmo Para Azevedo (1994), o problema é que as propostas
pela Educação revelava preocupação de caráter quantitativo, neoliberais e os conteúdos da ideia de qualidade esvaziam-se
ao propor a expansão da rede escolar e a alfabetização da de condicionamentos políticos e tornam-se questão técnica,
população que vivia um processo de urbanização decorrente restringindo o conceito de qualidade à eternização do
do crescimento econômico. A adoção do trabalho assalariado, desempenho do sistema e às parcerias com o setor privado no
aliada a outras questões de modernização do país, fez com que que tange às estratégias da política educacional. A qualidade
a escolarização aparecesse como fator promotor da ascensão do ensino consiste em desenvolver o espírito de iniciativa, a
social. Já o Otimismo Pedagógico caracterizou-se pela ênfase autonomia para tomar decisões, a capacidade de resolver
nos aspectos qualitativos da educação nacional, pregando a problemas com criatividade e competência crítica - visando,
melhoria das condições didáticas e pedagógicas das escolas. porém, atender aos interesses dos grandes blocos econômicos
Este movimento surgiu nos anos 1920 e alcançou o apogeu nos internacionais. A questão é, antes, ético-política, uma vez que
anos 30 do século XX. se processa na discussão dos direitos de cidadania para os
Entre 1930 e 1937, o debate político incorporava excluídos. Por isso, ensino de qualidade para todos constitui,
diferentes projetos educacionais. Os liberais, que mais do que nunca, dever do Estado em uma sociedade que se
preconizavam o desenvolvimento urbano-industrial em bases quer mais justa e democrática.
democráticas, desejavam mudanças qualitativas e Na reflexão e no debate sobre a qualidade da educação e do
quantitativas na rede de ensino público, ao proporem a escola ensino, os educadores têm caracterizado o termo "qualidade"
única fundamentada nos princípios de laicidade, gratuidade, com os adjetivos social e cidadã – isto é, qualidade social,
obrigatoriedade e coeducação. Alegando que os liberais qualidade cidadã –, para diferenciar o sentido que as políticas
destruíam os princípios da liberdade de ensino e retiravam das oficiais dão ao termo. Qualidade social da educação significa
famílias a educação dos filhos, os católicos aproximaram-se não apenas diminuição da evasão e da repetência, como
das teses dos integralistas, defensores do nazismo e do entendem os neoliberais, mas refere-se à condição de exercício
fascismo europeus, e com estes desaprovavam as alterações da cidadania que a escola deve promover. Ser cidadão significa
qualitativas modernizantes e democráticas objetivadas pelos ser partícipe da vida social e política do país, e a escola
primeiros, além de acusá-los de defender propostas constitui espaço privilegiado para esse aprendizado, e não
comunistas. apenas para ensinar a ler, escrever e contar, habilidades
importantes, mas insuficientes para a promoção da cidadania.

Conhecimentos Pedagógicos 42
APOSTILAS OPÇÃO

Além disso, a qualidade social da educação precisa considerar em uma sociedade em que mais da metade da população não
tanto os fatores externos (sociais, econômicos, culturais, tinha acesso à escolarização.
institucionais, legais) quanto os fatores interescolares, que Opondo-se a essa postura elitista, os liberais, apoiados por
afetam o processo de ensino-aprendizagem, articulados em intelectuais, estudantes e sindicalistas, iniciaram campanha
função da universalização de uma educação básica de em defesa da escola pública que culminou, em 1959, com o
qualidade para todos. Manifesto dos Educadores. Este propunha o uso dos recursos
públicos unicamente nas escolas públicas e a fiscalização
O Embate entre Defensores da Escola Pública e estatal para as escolas privadas.
Privatistas na Educação Brasileira A expansão da escola privada foi mais intensa após o golpe
Compreender a educação pública no Brasil supõe conhecer militar de 1964, que instaurou a ditadura militar e beneficiou
como se deram, historicamente, os embates entre os grandemente a iniciativa privada, especialmente no ensino
defensores da escola pública e as forças privatistas, presentes superior.
ao longo da história educacional brasileira. Durante o processo de elaboração da Constituição de 1988,
A gênese da educação brasileira ocorreu com a vinda dos verificou-se novamente o confronto entre publicitas e
jesuítas, que iniciaram a instauração, no ideário educacional, privatistas. No entanto, os privatistas apresentavam novas
dos princípios da doutrina religiosa católica, a educação feições, uma vez que passaram a ser compostos não apenas de
diferenciada pelos sexos e a responsabilidade da família com a grupos religiosos católicos, mas também de protestantes e
educação. Esses princípios, a partir da década de 1920, empresários do ensino. Ideologicamente, atacavam o ensino
chocavam-se com os princípios liberais dos escola novistas público, caracterizado como ineficiente e fracassado,
que publicaram, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da contrastando-o com a suposta excelência da iniciativa privada,
Educação Nova, propondo novas bases pedagógicas e a mas ocultando os mecanismos de apoio governamental à rede
reformulação da política educacional. privada, tais como imunidade fiscal sobre bens, serviços e
A Constituição de 1934 absorveu apenas parte dessas rendas, garantia de pagamento das mensalidades escolares e
propostas, atribuindo papel relevante ao Estado no controle e bolsas de estudo. Esses mecanismos mantiveram-se mesmo
na promoção da educação pública. Essa Constituição instituiu após a promulgação da Constituição Federal de 1988.
o ensino primário obrigatório e gratuito, criou o concurso Como que reforçando as disparidades entre uma e outra
público para o magistério, conferiu ao Estado o poder rede, o descompromisso estatal com a educação pública
fiscalizador e regulador de instituições de ensino públicas e deteriorou os salários dos professores e as condições de
particulares e fixou percentuais mínimos para a educação. trabalho, o que gerou greves e mobilizações. A preferência pela
Os católicos, porém, não foram totalmente tirados de cena. escola particular ampliou-se por sua aparência de melhor
A educação religiosa tornou-se obrigatória na escola pública, organização e eficácia. Muitas famílias fizeram sacrifícios em
contrariando o princípio liberal da laicidade, os muitos gastos para propiciar um ensino supostamente de
estabelecimentos privados foram reconhecidos e legitimou-se melhor qualidade em uma escola particular.
o papel educativo da família e a liberdade de os pais A análise de que a escola privada é superior à pública não
escolherem a melhor escola para seus filhos, o que mais tarde se sustenta, em geral, por não haver homogeneidade em
foi usado como argumento a favor da destinação de recursos nenhuma das redes – há boas e más escolas em ambas –, como
financeiros públicos também para as escolas privadas. demonstram as análises do Sistema de Avaliação da Educação
Imposta pelo Estado Novo, a Carta Constitucional de 1937 Básica (Saeb). Além disso, é nas escolas públicas que se
atenuou o dever do Estado como educador, instituindo-o como encontram os segmentos economicamente menos favorecidos
subsidiário, para preencher lacunas ou deficiências da da sociedade. Conforme o Censo Escolar da Educação Básica
educação particular. Em vez de consolidar o ensino público e de 2010 (Tabela 1 e Gráfico 1):
gratuito como tarefa do Estado, a Carta de 1937 reforçou o
dualismo educacional que provê os ricos com escolas Nos 194.939 estabelecimentos-de educação básica do país
particulares e públicas de ensino propedêutico e confere aos estão matriculados 51.549.889 alunos, sendo que 43.989.507
pobres a condição de usufruir da escola pública mediante a (85,4%) estão em escolas públicas e 7.560.382 (14,6%) em
opção pelo ensino profissionalizante. escolas da rede privada. As redes municipais são responsáveis
Com a promulgação das leis orgânicas – a chamada por quase metade das matrículas – 46,0% –, o equivalente a
Reforma Capanema – entre 1942 e 1946, foram desenvolvidos 23.722.411 alunos, seguida pela rede estadual, que atende a
empreendimentos particulares no ensino profissionalizante, 38,9% do total, o equivalente a 20.031.988. A rede federal, com
com o objetivo de preparar melhor a mão de obra em uma fase 235.108 matrículas, participa com 0,5% do total (Brasil.
de expansão da indústria, por causa das restrições às MEC/lnep, 2010, p. 3-4).
importações no período da Segunda Guerra Mundial. O Senai
foi organizado e dirigido pelos industriais, e o Senac, pelos Por esses dados, fica clara a importância da educação
comerciantes. Atualmente, essas duas instituições têm peso pública no país e para a democratização da sociedade, uma vez
significativo no ensino profissional oferecido no país, embora que ela desempenha papel significativo no processo de
em ritmo decrescente a partir do final dos anos 1980, diante inclusão social.
do crescimento do atendimento público gratuito. Nos
primeiros anos do século XXI passaram a atuar, também, em
cursos tecnológicos de nível superior e em programas de
educação a distância.
Quando o anteprojeto da primeira LDB iniciou sua
tramitação em 1948, a maioria das escolas particulares de
nível secundário estava nas mãos dos católicos, atendendo à
classe privilegiada. Alegando que o projeto determinava o
monopólio estatal da educação, os católicos defendiam a
liberdade do ensino e o direito da família de escolher o tipo de
educação a ser oferecida aos filhos. Na verdade, essa questão
impedia a democratização da educação pública, ao incorporar
no texto legal a cooperação financeira para as escolas privadas

Conhecimentos Pedagógicos 43
APOSTILAS OPÇÃO

Tabela 1- Número de matrículas na Educação Básica Colônia. No decorrer do século XVIII passa a ocorrer no
por Dependência Administrativa contexto das Reformas Pombalinas, uma forte animosidade
Brasil 2002-2010 entre a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus, que levou:
(A) ao fortalecimento da Companhia de Jesus.
(B) ao oferecimento da educação de base protestante na
Colônia.
(C) a descentralização político-administrativa do Estado
Português.
(D) ao enfraquecimento do Estado Português.
(E) a expulsão dos Jesuítas do Brasil.

Fonte: MEC/Inep/DEED
02. Por que devemos estudar sobre a história da educação
Notas: 1) Não inclui matrículas em turmas de atendimento complementar. no Brasil hoje? Pergunta um aluno ao seu professor e este
2) O mesmo aluno pode ter mais de uma matrícula. responde exemplificando com uma frase que retrata um
fenômeno iniciado no século XX: "A destruição do passado- ou
Gráfico 1 - Evolução do número de matrículas na melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossas
Educação Básica por Dependência Administrativa experiência pessoais à das gerações passadas- é um dos
Brasil - 2002 a 2010 fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século
XX.(...) Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os
outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no
fim desse segundo milênio"

Essa frase de Eric Hobsbawn explica a importância do


estudo sobre a história da educação no Brasil pois:
(A) É fundamental que os educadores e toda a sociedade
percebam que a situação na qual o trabalho educativo se
processa, suas rupturas e permanências, os problemas que os
Fonte: Brasil (2010).
educadores enfrentam são produtos de construções históricas.
A partir de meados da década de 1980, com a crise (B) Buscar recuperar os conhecimentos do passado
econômica internacional e o desemprego estrutural que evidencia as principais necessidades econômicas de uma
levaram ao arrocho salarial, a classe média, pressionada pelo sociedade.
custo de vida, buscou retirar do orçamento familiar o gasto (C) É importante apenas para o professor, único agente
com mensalidades escolares e foi à procura da escola pública. responsável pelo ensino, perceber que a educação é um
A inadimplência cresceu nas escolas particulares e nova fenômeno contínuo e imutável.
ofensiva apresentou-se: a ideia do público não estatal. Público (D) Cabe lembrar ao educador que a educação do presente
passou a ser entendido como tudo o que se faz na sociedade e não apresenta relação com o passado, devendo o professor
nela interfere. Nessa perspectiva, haveria o público estatal e o preocupar-se, sobretudo, com fenômenos cotidianos do
público privado, definindo a gratuidade do ensino apenas em presente.
estabelecimentos oficiais, como assegura o art. 206 da (E) É preciso que alunos, professores e a sociedade notem
Constituição Federal de 1988. que as determinações do passado não se relacionam com a
Essa concepção deve-se à política neoliberal, que prega o prática do ensino aprendizado, mas apenas com a
Estado mínimo, incluindo até mesmo a privatização ou a compreensão daquilo que aconteceu no passado.
minimização da oferta de serviços sociais. Na educação básica,
orientado até mesmo por organismos internacionais como o 03. O primeiro ministro Marques de Pombal procura
Banco Mundial, o Estado deveria atender o ensino público, através de uma reorganização administrativa e econômica
uma vez que esse nível de educação é considerado superar o atraso de Portugal frente às potencias europeias no
imprescindível na organização do trabalho. Tal atendimento, século XVIII. Como metas da Reforma Pombalina no Brasil
no entanto, deveria ser conduzido por parâmetros de gestão temos:
da iniciativa privada e do mercado, tais como diversificação, (A) a formação de Universidades na Colônia.
competitividade, seletividade, eficiência e qualidade. Essa (B) a criação das aulas régias avulsas em substituição da
orientação aponta, mais uma vez, o beneficiamento das forças ação educativa dos jesuítas.
privatistas na educação. (C) a possibilidade do uso da língua tupi em detrimento do
Verifica-se, no entanto, considerável esforço de segmentos ensino da gramática da língua portuguesa.
sociais no âmbito oficial e em associações e movimentos de (D) o fortalecimento da aliança do Estado Português e a
educadores, sobretudo a partir da segunda metade da década Companhia de Jesus.
de 2000, em favor da retomada do protagonizo-o do Estado na (E) o incentivo a escolas de ofícios na Colônia.
área educacional. Nesse sentido, cumpre destacar a criação do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica 04. A construção da memória histórica da educação
e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em brasileira é importante uma vez que:
2007; a Emenda Constitucional nº 59, que torna obrigatório o (A) Toda a produção historiográfica depende de sua
ensino de 4 a 17 anos; as iniciativas que visam ao aumento dos compreensão.
investimentos públicos na educação; a expansão da oferta de (B) É fundamental para a elaboração de manuais didáticos
educação superior por meio das universidades federais; a para universitários.
ampliação da educação profissional e tecnológica mediante a (C) Está ligada à preservação da memória da educação
criação de institutos federais de educação, ciência e tecnologia. brasileira.
(D) É matéria presente nos currículos de ensino
Questões fundamental I e II das escolas do Brasil.
(E) Relaciona-se apenas ao ensino da história no cotidiano
01. Os Jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e tiveram uma de sala de aula.
forte influência na formação escolar e cultural do Brasil

Conhecimentos Pedagógicos 44
APOSTILAS OPÇÃO

Respostas b) As ações ainda são centradas nos professores que


determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação
01.E / 02.A / 03.B / 04.C entre educação e instrução.

A solução para tais problemas está no aprofundamento de


Processo ensino- como os educandos aprendem e como o processo de ensinar
pode conduzir à aprendizagem, assim o processo de ensino e
aprendizagem aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de
formas diferentes, que vão desde a ênfase no papel do
professor como transmissor de conhecimento, até as
Pressupostos para o Processo de Ensino e concepções atuais que concebem o processo de ensino e
Aprendizagem aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do
educando.
Através do seu próprio interesse, o aluno busca nos Nesse último enfoque, considera-se a integração do
conteúdos apresentados pelo professor, fazer relação com sua cognitivo e do afetivo, do instrutivo e do educativo como
realidade, para assim tornar sua experiência mais rica. Dessa requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais.
forma, o novo conhecimento se apoia numa construção A concepção defendida aqui é que o processo de ensino e
cognitiva que já existe, ou o professor auxilia na construção aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o
conhecimento no qual o discente ainda não dispõe. O nível de educativo que tem como propósito essencial contribuir para a
envolvimento na aprendizagem depende do interesse e formação integral da personalidade do aluno.
disposição do aluno, além do empenho do professor no O instrutivo é um processo de formar homens capazes e
contexto da sala de aula. inteligentes. Entendendo por homem inteligente quando,
A visão da pedagogia dos conteúdos desenvolve nos alunos diante de uma situação problema ele seja capaz de enfrentar e
a capacidade de processar informações e transformar a resolver os problemas, de buscar soluções para resolver as
realidade em que vive. Assim, o professor precisa situações. Ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só
compreender seus alunos, o que eles dizem ou pensam e os será possível se ele for formado mediante a utilização de
alunos precisam fazer o mesmo em relação a ele. Essa atividades lógicas.
transferência de aprendizagem só se realiza no momento da Já o educativo, se logra com a formação de valores,
operação mental, isto é, quando o aluno supera sua visão sentimentos que identificam o homem como ser social,
parcial e confusa e adquire uma visão mais nítida e ampla. compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e
Ao fim do processo, o aluno já deve estar preparado para o outros elementos da esfera volitiva e afetiva que junto com a
mundo adulto de modo a praticar todo o aprendizado cognitiva permitem falar de um processo de ensino e
adquirido com a ajuda do professor, como a democracia, a aprendizagem que tem de pôr fim a formação multilateral da
liderança, a iniciativa e a responsabilidade, assim como ter personalidade do homem.
formação ética no sentido de pensar valores, a saber, A eficácia do processo de ensino e aprendizagem está na
competências do pensar no âmbito da educação moral da resposta em que este dá à apropriação do conhecimento, ao
tomada de decisões. desenvolvimento intelectual e físico do estudante, à formação
de sentimentos, qualidades e valores, que alcancem os
O Processo de Ensino e Aprendizagem objetivos gerais e específicos propostos em cada nível de
ensino de diferentes instituições, conduzindo a uma posição
Para Fernández55, as reflexões sobre o estado atual do transformadora, que promova as ações coletivas, a
processo ensino e aprendizagem nos permite identificar um solidariedade e o viver em comunidade.
movimento de ideias de diferentes correntes teóricas sobre a Todo ato educativo obedece determinados fins e
profundidade do binômio ensino e aprendizagem. propósitos de desenvolvimento social e econômico e em
Entre os fatores que estão provocando esse movimento consequência responde a determinados interesses sociais,
podemos apontar as contribuições da Psicologia atual em sustentam-se em uma filosofia da educação, adere a
relação à aprendizagem, que nos leva a repensar nossa prática concepções epistemológicas específicas, leva em conta os
educativa, buscando uma conceptualização do processo interesses institucionais e, depende, em grande parte, das
ensino e aprendizagem. características, interesses e possibilidades dos sujeitos
As contribuições da teoria construtivista de Piaget, sobre a participantes, alunos, professores, comunidades escolares e
construção do conhecimento e os mecanismos de influência demais fatores do processo. A visão tradicional do processo
educativa têm chamado a atenção para os processos ensino e aprendizagem é que ele é um processo neutro,
individuais, que têm lugar em um contexto interpessoal e que transparente, afastado da conjuntura de poder, história e
procuram analisar como os alunos aprendem, estabelecendo contexto social. O processo ensino e aprendizagem deve ser
uma estreita relação com os processos de ensino em que estão compreendido como uma política cultural, isto é, como um
conectados. empreendimento pedagógico que considera com seriedade as
Os mecanismos de influência educativa têm um lugar no relações de raça, classe, gênero e poder na produção e
processo de ensino e aprendizagem, como um processo onde legitimação do significado e experiência.
não se centra atenção em um dos aspectos que o Tradicionalmente, este processo tem reproduzido as
compreendem, mas em todos os envolvidos. relações capitalistas de produção e ideologias legitimadoras
Se analisarmos a situação atual da prática educativa em dominantes ao ignorarem importantes questões referentes às
nossas escolas identificaremos problemas como: relações entre conhecimento x poder e cultura x política. O
a) A grande ênfase dada a memorização, pouca produto do processo ensino e aprendizagem é o
preocupação com o desenvolvimento de habilidades para conhecimento. Partindo desse princípio, concebe-se que o
reflexão crítica e autocrítica dos conhecimentos que aprende; conhecimento é uma construção social, assim torna-se
necessário examinar a constelação de interesses econômicos,
políticos e sociais que as diferentes formas de conhecer podem

55 FERNÁNDEZ. Fátima Addine. Didática y optimización del processo de

enseñanzaaprendizaje.IN: Instituto Pedagógico Latinoamericano y Caribeño – La


Havana – Cuba,1998.

Conhecimentos Pedagógicos 45
APOSTILAS OPÇÃO

refletir. Para que o processo ensino e aprendizagem possa função da apreciação do comportamento de determinados
gerar possibilidades de emancipação é necessário que os índices que indicarão a necessidade de manutenção do
professores compreendam a razão de ser dos problemas que processo produtivo ou sua correção, mas também como
enfrentam e assuma um papel de sujeito na organização desse decorrência da necessidade de se buscarem índices de
processo. As influências sócio-político econômicas, exercem desempenho confiáveis e expressivos.
sua ação inclusive nos pequenos atos que ocorrem na sala de
aula, ainda que não sejam conscientes. Ao selecionar algum O Contexto Organizacional Atual e o Imperativo de
destes componentes para aprofundar deve-se levar em conta uma Nova Dinâmica de Aprendizagem
a unidade, os vínculos e os nexos com os outros componentes.
O componente é uma propriedade ou atributo de um De fato, as tendências do mundo atual têm influenciado as
sistema que o caracteriza; não é uma parte do sistema e sim organizações na busca da aprendizagem. A rápida
uma propriedade do mesmo, uma propriedade do processo disseminação de informações e a própria renovação do
docente-educativo como um todo. Identificamos como conhecimento, impulsionadas pelo avanço constante da
componente do processo de ensino e aprendizagem: ciência e da tecnologia, têm forçado as pessoas a renovar e a
adquirir novos conhecimentos, sob pena de se tornarem
a) Aluno - devem responder à pergunta: "quem?" obsoletas.
b) Problema - elemento que é determinado a partir da A necessidade de aquisição e renovação dos
necessidade do aprendiz. conhecimentos é percebida de modo individual e também
c) Objetivo - deve responder à pergunta: "Para que organizacional. As pessoas estão dispostas a desenvolver e
ensinar?" aumentar seus estoques de conhecimento, porque percebem
d) Conteúdo - deve responder à pergunta: "O que as potenciais ameaças do ambiente sobre a passividade
aprender?" intelectual, abalando principalmente questões de segurança
e) Métodos - deve responder à pergunta: "Como profissional.
desenvolver o processo?" As organizações precisam de capacidade criativa e de
f) Recursos - deve responder à pergunta: "Com o quê?" competências para se tornarem mais ágeis. Não só em termos
g) Avaliação - elemento regulador, sua realização oferece de capacidade de resposta às mudanças, mas também em
informação sobre a qualidade do processo de ensino termos de capacidade para estar à frente delas.
aprendizagem, sobre a efetividade dos outros componentes e Baseados na necessidade de transformar as organizações
das necessidades de ajuste, modificações que o sistema deve em organizações de aprendizagem, uma série de autores,
usufruir. recomendam diferentes práticas para a promoção do
aprendizado organizacional, todas destacando o papel da
A integração de todos os componentes forma o sistema, mudança e inovação organizacional.
neste caso o processo de ensino e aprendizagem. As reflexões Esta competência para mudar e inovar implica a
sobre o caráter sistêmico dos componentes do processo de necessidade de a organização possuir maior expertise.
ensino e aprendizagem e suas relações são importantes em Segundo Drucker “as dinâmicas do conhecimento implicam
função do caráter bilateral da comunicação entre professor- num imperativo claro: cada organização precisa embutir o
aluno; aluno-aluno, grupo-professor, professor-professor. gerenciamento das mudanças em sua própria estrutura”. É,
portanto, responsabilidade de cada organização tornar esta
O Processo De Aprendizagem Organizacional expertise disponível. Em outras palavras, além das pessoas
estarem forçosamente motivadas a aprender, é papel das
A questão da aprendizagem tem sido amplamente organizações contribuir e operacionalizar o aprendizado.
discutida, ocupando um espaço considerável em discussões
educacionais e profissionais da atualidade; porém não se trata As Abordagens do Processo de Ensino
de algo totalmente novo, nem mesmo em ambientes
organizacionais. O Conhecimento humano, dependendo dos diferentes
As empresas aprendem a operar a produção e vão referencias, é explicado diversamente em sua gênese e
melhorando os seus processos a partir de suas próprias desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de
experiências, alimentadas por informações advindas do homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de
mercado e da concorrência. De acordo com Bell (1984)56, este um mesmo referencial, é possível haver abordagens diversas,
tipo de aprendizado é passivo, automático e não implica tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do
custos adicionais, sendo porém limitado. objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos. Diferentes
Há, entretanto, outras formas de aprendizagem, que posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes
exigem determinação e postura ativa, envolvendo arranjos de situações ensino aprendizagem e diferentes ações
considerável esforço e investimento. São os processos de educativas em sala de aula, partindo-se do pressuposto de que
aprendizagem por meio da mudança, da análise do a ação educativa exercida por professores em situações
desempenho, do treinamento, da contratação e da busca, planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional.
detalhados a seguir: Subjacente a esta ação, estaria presente - implícita ou
explicitamente, de forma articulada ou não - um referencial
a) A introdução de novas tecnologias ou qualquer outro teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo,
elemento que aponte a necessidade de mudança, estrutural ou sociedade, cultura, conhecimento, etc.
processual, impele as organizações à aprendizagem. As O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas,
experiências e conhecimentos, positivos ou negativos, tendências ou abordagens, no ensino brasileiro podem
adquiridos ao longo de processos de mudança são fornecer diretrizes à ação docente, mesmo considerando que a
extremamente enriquecedores, conferindo à organização um elaboração que cada professor faz delas é individual e
plus que todos os processos de aprendizagem oferecem. intransferível. De acordo com Mizukami (1986)57, algumas
b) A análise do desempenho da organização em termos abordagens apresentam claro referencial filosófico e
produtivos também irá conduzir à aprendizagem, não só em psicológico, ao passo que outras são intuitivas ou

56 ALPERSTEDT, Cristiane. Universidades corporativas: discussão e proposta 57 MIZUKAMI, Maria da Graça. Ensino as abordagens do processo. São Paulo:

de uma definição. Rev. adm. Contemp. Curitiba, v. 5, Dec. 2001. EPU, 1986.

Conhecimentos Pedagógicos 46
APOSTILAS OPÇÃO

fundamentadas na prática, ou na imitação de modelos. A e em condições favoráveis, há uma confrontação com o


complexidade da realidade educacional deve ser considerada modelo, é indispensável uma intervenção do professor, uma
para não ser tratada de forma simplista e reducionista. orientação do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias
Nesse estudo, deve-se ter em mente seu caráter parcial e selecionadas e organizadas logicamente.
arbitrário, assim como as limitações e problemas decorrentes - Escola: a escola, é o lugar por excelência onde se realiza
da delimitação e caracterização (necessárias) de cada a educação, a qual se restringe, a um processo de transmissão
abordagem. A professora assim, não incluiu em seus estudos a de informações em sala de aula e funciona como uma agência
abordagem escola novista, introduzida no Brasil através do sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato de
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (Anísio Teixeira, aprender como uma cerimônia e acha necessário que o
Gustavo Capanema e outros), a partir da década de 1930. Ela professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola desse
justifica sua opção por considerar que essa abordagem pode tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e
ser tomada como didaticista, por suas atribuições aos aspectos programas preestabelecidos. As possibilidades de cooperação
didáticos, e por possuir diretrizes incluídas em outras entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte
abordagens. Argumenta ainda que, as demais abordagens, das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual
apresentadas por ela, apresentam justificativas teóricas ou de cada um deles.
evidências empíricas. Mas reconhece que se trata de uma - Ensino/Aprendizagem: a ênfase é dada às situações de
abordagem com possível influência na formação de sala de aula, onde os alunos são "instruídos" e "ensinados" pelo
professores no Brasil. professor. Os conteúdos e as informações têm de ser
adquiridos, os modelos imitados. Seus elementos
a) Abordagem Tradicional fundamentais são imagens estáticas que progressivamente
Trata-se de uma concepção e uma prática educacionais que serão "impressas" nos alunos, cópias de modelos do exterior
persistem no tempo, em suas diferentes formas, e que que serão gravadas nas mentes individuais. Uma das
passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as decorrências do ensino tradicional, já que a aprendizagem
demais abordagens que a ela se seguiram. Como se sabe, o consiste em aquisição de informações e demonstrações
adulto, na concepção tradicional, é considerado como homem transmitidas, é a que propicia a formação de reações
acabado, "pronto" e o aluno um "adulto em miniatura", que estereotipadas, de automatismos denominados hábitos,
precisa ser atualizado. O ensino será centrado no professor. O geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase
aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por sempre, somente às situações idênticas em que foram
autoridades exteriores. adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu"
- Homem: o homem é considerado como inserido num apresenta, com frequência, compreensão apenas parcial.
mundo que irá conhecer através de informações que lhe serão Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se
fornecidas. É um receptor passivo até que, repleto das preocupa mais com a variedade e quantidade de
informações necessárias, pode repeti-las a outros que ainda noções/conceitos/informações que com a formação do
não as possuam, assim como pode ser eficiente em sua pensamento reflexivo.
profissão, quando de posse dessas informações e conteúdos. - Professor/Aluno: o professor/aluno é vertical, sendo
- Mundo: a realidade é algo que será transmitido ao que (o professor) detém o poder decisório quanto a
indivíduo principalmente pelo processo de educação formal, metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula
além de outras agências, tais como família, Igreja. etc. O professor detém os meios coletivos de expressão. A
- Sociedade/Cultura: o objetivo educacional maior parte dos exercícios de controle e dos de exames se
normalmente se encontra intimamente relacionado aos orienta para a reiteração dos dados e informações
valores apregoados pela sociedade na qual se realiza. Os anteriormente fornecidos pelos manuais.
Programas exprimem os níveis culturais a serem adquiridos - Metodologia: se baseia na aula expositiva e nas
na trajetória da educação formal. A reprovação do aluno passa demonstrações do professor a classe, tomada quase como
a ser necessária quando o mínimo cultural para aquela faixa auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se
não foi atingido, e as provas e exames são necessários a limita exclusivamente a escutá-lo a didática profissional quase
constatação de que este mínimo exigido para cada série foi que poderia ser resumida em dar a lição e tomar a lição. No
adquirido pelo aluno. O diploma pode ser tomado como um método expositivo como atividade normal, está implícito o
instrumento de hierarquização. Dessa forma, o diploma iria relacionamento professor - aluno, o professor é o agente e o
desempenhar um papel mediador entre a formação cultural e aluno é o ouvinte. O trabalho continua mesmo sem a
o exercício de funções sociais determinadas. Pode-se afirmar compreensão do aluno somente uma verificação a posteriori é
que as tendências englobadas por esse tipo de abordagem que permitirá o professor tomar consciência deste fato.
possuem uma visão individualista do processo educacional, Quanto ao atendimento individual há dificuldades, pois, a
não possibilitando, na maioria das vezes, trabalhos de classe fica isolada e a tendência é de se tratar todos
cooperação nos quais o futuro cidadão possa experimentar a igualmente.
convergência de esforços. - Avaliação: a avaliação visa a exatidão da reprodução do
- Conhecimento: parte-se do pressuposto de que a conteúdo comunicado em sala de aula. As notas obtidas
inteligência seja uma faculdade capaz de acumular/armazenar funcionam na sociedade como níveis de aquisição do
informações. Aos alunos são apresentados somente os patrimônio cultural.
resultados desse processo, para que sejam armazenados.
Evidencia-se o caráter cumulativo do conhecimento humano, b) Abordagem Comportamentalista
adquirido pelo indivíduo por meio de transmissão, de onde se O conhecimento é uma "descoberta" e é nova para o
supõe o papel importante da educação formal e da instituição indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se
escola. Atribui-se ao sujeito um papel insignificante na encontrava presente na realidade exterior. Os
elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que comportamentalistas consideram a experiência ou a
está "adquirindo" conhecimento compete memorizar experimentação planejada como a base do conhecimento, o
definições, anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são conhecimento é o resultado direto da experiência.
oferecidos no processo de educação formal. - Homem: o homem é uma consequência das influências
- Educação: entendida como instrução, caracterizada ou forças existentes no meio ambiente a hipótese de que o
como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da homem não é livre é absolutamente necessária para se poder
escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar, aplicar um método científico no campo das ciências. O homem

Conhecimentos Pedagógicos 47
APOSTILAS OPÇÃO

dentro desse referencial é considerado como o produto de um sujeito papel central e primordial na elaboração e criação do
processo evolutivo. conhecimento. O conhecimento é inerente à atividade humana.
- Mundo: a realidade para Skinner, é um fenômeno O ser humano tem curiosidade natural para o conhecimento.
objetivo; O mundo já é construído e o homem é produto do - Educação: trata-se da educação centrada na pessoa, já
meio. O meio pode ser manipulado. O comportamento, por sua que nessa abordagem o ensino será centrado no aluno. A
vez, pode ser mudado modificando-se as condições das quais educação tem como finalidade primeira a criação de condições
ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos que facilitam a aprendizagem de forma que seja possível seu
ambientais. O meio seleciona. desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a
- Sociedade/Cultura: a sociedade ideal, para Skinner, é criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se
aquela que implicarias um planejamento social e cultural. pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeterminação
Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado de que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão
acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultura, é de solução para seus problemas servindo-se da própria
representada pelos usos e costumes dominantes, pelos existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser
comportamentos que se mantém através dos tempos. do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são
- Conhecimento: o conhecimento é o resultado direto da características desse processo.
experiência, o comportamento é estruturado indutivamente, - Escola: a escola será uma escola que respeite a criança tal
via experiência. qual é, que ofereça condições para que ela possa desenvolver-
- Educação: a educação está intimamente ligada à se em seu processo possibilitando a autonomia do aluno. O
transmissão cultural. A educação, pois, deverá transmitir princípio básico consiste na ideia da não interferência com o
conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas crescimento da criança e de nenhuma pressão sobre ela. O
sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação ensino numa abordagem como esta consiste num produto de
e controle do mundo /ambiente. personalidades únicas, respondendo as circunstâncias únicas
- Escola: a escola é considerada e aceita como uma agência num tipo especial de relacionamentos. A aprendizagem tem a
educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de qualidade de um envolvimento pessoal.
acordo com os comportamentos que pretende instalar e - Professor/Aluno: cada professor desenvolverá seu
manter. próprio repertório de uma forma única, decorrente da base
- Ensino/Aprendizagem: é uma mudança relativamente percentual de seu comportamento. O processo de ensino irá
permanente em uma tendência comportamental e ou na vida depender do caráter individual do professor, como ele se
mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada. relaciona com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de
- Professor/Aluno: aso educandos caberia o controle do facilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em contato
processo de aprendizagem, um controle científico da com problemas vitais que tenham repercussão na existência
educação, o professor teria a responsabilidade de planejar e do estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno
desenvolver o sistema de ensino aprendizagem, de forma tal tal como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
que o desempenho do aluno seja maximizado, considerando- aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a
se igualmente fatores tais como economia de tempo, esforços aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do
e custos. professor podem ser sintetizadas em autenticidade
- Metodologia: nessa abordagem, se incluem tanto a compreensão empática, aceitação e confiança no aluno.
aplicação da tecnologia educacional e estratégias de ensino, - Metodologia: não se enfatiza técnica ou método para
quanto formas de reforço no relacionamento professor-aluno. facilitar a aprendizagem. Cada educador eficiente deve
- Avaliação: decorrente do pressuposto de que o aluno elaborar a sua forma de facilitar a aprendizagem no que se
progride em seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem refere ao que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a
cometer erros, a avaliação consiste, nesta abordagem, em se relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
quando o programa foi conduzido até o final de forma - Avaliação: só o indivíduo pode conhecer realmente sua
adequada. experiência, só pode ser julgada a partir de critérios internos
do organismo. O aluno deverá assumir formas de controle de
c) Abordagem Humanista sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujeito como onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com
principal elaborador do conhecimento humano. Da ênfase ao responsabilidade. As relações verticais impostas por relações
crescimento que dela se resulta, centrado no desenvolvimento EU - TU e nunca EU - ISTO; as avaliações de acordo com
da personalidade do indivíduo na sua capacidade de atuar padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos.
como uma pessoa integrada. O professor em si não transmite Considerando-se, pois, o fato de que só o indivíduo pode
o conteúdo, dá assistência sendo facilitador da aprendizagem. conhecer realmente a sua experiência, está só pode ser julgada
O conteúdo advém das próprias experiências do aluno o a partir de critérios internos do organismo.
professor não ensina: apenas cria condições para que os
alunos aprendam. d) Abordagem Cognitivista
- Homem: é considerado como uma pessoa situada no A organização do conhecimento, processamento de
mundo. Não existem modelos prontos nem regras a seguir, informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
mas um processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
auto realização ou uso pleno de suas potencialidades e - Homem/Mundo: o homem e mundo serão analisados
capacidades o homem se apresenta como um projeto conjuntamente, já que o conhecimento é o produto da
permanente e mau acabado. interação entre eles, entre sujeito e objeto.
- Mundo: o mundo é algo produzido pelo homem diante de - Sociedade/Cultura: os fatos sociológicos, pois, tais como
si mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias regras, valores, normas, símbolos etc. De acordo com este
condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste posicionamento, variam de grupo para grupo, de acordo como
no pleno desenvolvimento do seu potencial inerente. A ênfase o nível mental médio das pessoas que constituem o grupo.
é no sujeito mais uma das condições necessárias para o - Conhecimento: o conhecimento é considerado como
desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência uma construção contínua. A passagem de um estado de
pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decorrer desenvolvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída ao

Conhecimentos Pedagógicos 48
APOSTILAS OPÇÃO

formação de novas estruturas que não existiam anteriormente - Professor/Aluno: A relação entre o professor e o aluno
no indivíduo. é horizontal. Professor empenhado na prática transformadora
- Educação: o processo educacional, consoante a teoria de procurará desmitificar e questionar, junto com o aluno.
desenvolvimento e conhecimento, tem um papel importante, - Metodologia: Os alunos recebem informações e analisam
ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o os aspectos de sua própria experiência existencial, utilizando
aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível de situações vivenciais de grupo, em forma de debate Paulo Freire
desenvolvimento em que a criança vive intensamente delineou seu método de alfabetização.
(intelectual e afetivamente) cada etapa de seu Características:
desenvolvimento. a) ser ativa
- Escola: segundo Piaget, a escola deveria começar b) criar um conteúdo pragmático próprio
ensinando a criança a observar. A verdadeira causa dos c) enfatiza o diálogo crítico
fracassos da educação formal, diz, decorre essencialmente do
fato de se principiar pela linguagem (acompanhada de As Abordagens do Processo de Ensino, Aprendizagem
desenhos, de ações fictícias ou narradas etc.) ao invés de o e o Professor
fazer pela ação real e material.
- Ensino/Aprendizagem: um ensino que procura Segundo Mizukami, a partir de análises feitas sobre as
desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do diferentes abordagens do processo ensino aprendizagem
sujeito, considerando-o inserido numa situação social. pôde-se constatar que certas linhas teóricas são mais
- Professor/Aluno: ambos os polos da relação devem ser explicativas sobre alguns aspectos em relação a outros,
compreendidos de forma diferente da convencional, no percebendo-se assim a possibilidade de articulação das
sentido de um transmissor e um receptor de informação. diversas propostas de explicação do fenômeno educacional.
Caberá ao professor criar situações, propiciando condições Ela procura fazer uma sistematização válida de conceitos do
onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e fenômeno estudado. Mesmo com teorias incompletas por
cooperação ao mesmo tempo moral e racional. estarem ainda em fase de elaboração ou reelaboração, faltando
- Metodologia: o desenvolvimento humano que traz validação empírica ou confronto com o real. Lembrando ainda
implicações para o ensino. Uma das implicações fundamentais as teorias não são as únicas fontes de resposta possíveis e
é a de que a inteligência se constrói a partir da troca do incorrigíveis, pois (...) elas são elaboradas para explicar, de
organismo como o meio, por meio das ações do indivíduo. A forma sistemática, determinados fenômenos, e os dados do
ação do indivíduo, pois, é centro do processo e o fator social ou real é que irão fornecer o critério para a sua aceitação ou não,
educativo constitui uma condição de desenvolvimento. instalando-se, assim, um processo de discussão permanente
- Avaliação: a avaliação terá de ser realizada a partir de entre teoria e prática.
parâmetros extraídos da própria teoria e implicará verificar se Mizukami ainda critica a formação de professores
o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações, colocando que o aprendido pelos professores nada tinha a ver
relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo com a prática pedagógica e seu posicionamento frente ao
como a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida. fenômeno educacional. A experiência pessoal refletiria um
comportamento coerente por parte do educador, pondo fim
e) Abordagem Sócio Cultural assim ao permanente processo de discussão entre teoria e
Pode-se situar Paulo Freire com sua obra, enfatizando prática. Uma possível solução seria repensar os cursos de
aspectos sócio-político-cultural, havendo uma grande formação de professores, voltando as atenções principalmente
preocupação com a cultura popular, sendo que tal para as disciplinas pedagógicas que analisam as abordagens
preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um aumento do processo ensino aprendizagem, procurando articulá-los à
crescente até nossos dias. prática pedagógica. Também é discutida uma forma de
- Homem/Mundo: O homem está inserido no contexto aproximar cada vez mais as opções teóricas existentes
histórico. O homem é sujeito da educação, onde a ação analisando e discutindo as vivências na prática e a partir da
educativa promove o próprio indivíduo, como sendo único prática, se pudesse discutir e criticar as opções teóricas
dentro de uma sociedade/ambiente. confrontando com a mesma prática. É tentar criar teorias
- Sociedade/Cultura: O homem alienado não se relaciona através da prática, analisando o cotidiano e questionando,
com a realidade objetivo, como um verdadeiro sujeito evitando-se assim a utilização de Receituários pedagógicos,
pensante: o pensamento é dissociado da ação. que é o que a autora chama de seguir cegamente a teoria
- Conhecimento: A elaboração e o desenvolvimento do ignorando a prática.
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização. Um curso de professores deveria possibilitar confronto
- Educação: Toda ação educativa, para que seja válida, entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus
deve, necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste e
sobre o homem como de uma análise do meio de vida desse convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro
homem concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. professor a análise do próprio fazer pedagógico, de suas
- Escola: Deve ser um local onde seja possível o implicações, pressupostos e determinantes, no sentido de que
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de ele se conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
conscientização o que indica uma escola diferente de que se interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente.
tem atualmente, coma seus currículos e prioridades. Alguns dados revelam que são preferidas pelos
- Ensino/Aprendizagem: Situação de ensino- professores as abordagens cognitivista e sociocultural
aprendizagem deverá procurar a superação da relação deixando as abordagens tradicional e comportamentalista em
opressor-oprimido. A estrutura de pensar do oprimido está segundo plano. E também que a abordagem que mais faz
condicionada pela contradição vivida na situação concreta, sucesso neste momento histórico é a cognitivista. Na
existencial em que o oprimido se forma. Resultando abordagem cognitivista piagetiana e a preferida pelos
consequências tais como: professores, desde que o aluno se encontre em um ambiente
a) ser ideal é ser mais homem. que o solicite devidamente, e que tenha sido constatada a
b) atitude fatalista ausência de distúrbios biológicos ligados
c) atitude de auto desvalia preponderantemente à atividade cerebral, ele terá condições
d) o medo da liberdade ou a submissão do oprimido. de chegar ao estágio das operações formais. Não se justificam
nem se legitimam, por esta abordagem, desigualdades

Conhecimentos Pedagógicos 49
APOSTILAS OPÇÃO

baseadas nas potencialidades de cada um, tal como poderia lógica do capital. Para Mészáros, esta modalidade utiliza-se das
decorrer dos princípios escola novistas. Estaria neste detalhe, reformas educacionais para apenas remediar os efeitos
talvez de grande importância, já que o determinismo biológico desastrosos da ordem produtiva, mas não elimina os
age mais em função de determinar desenvolvimento, do que “fundamentos causais e profundamente enraizados”. Para o
de determinar máximos de desenvolvimento para cada sujeito, autor, “limitar uma mudança educacional radical às margens
a ideia que despertaria maior interesse para um trabalho corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma
realizado por um profissional com as idiossincrasias de um só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma
educador. transformação social qualitativa”59.
De forma genérica tanto o cognitivismo, humanismo e Exemplificando: Mészáros examina a experiência de Adam
comportamentalismo apresentam aspectos escola novistas Smith, economista político, e de Roberto Owen, reformador
que os colocam contra a escola tradicional. Um outro elemento social educacional utópico. Sobre Smith, atesta que mesmo que
a ser considerado é a ligação entre o desenvolvimento este ilustre iluminista reconheça o impacto negativo do
intelectual e os ideais apregoados pelo ensino tradicional sistema sobre a classe trabalhadora, sua análise atribuindo ao
elaborado através dos séculos. Concluindo, de todas as “espírito comercial” a causa do problema é incapaz de se
abordagens analisadas obteve-se quase plenamente dirigir às causas reais, reduzindo seu esforço de expressar sua
preferência dos professores pela abordagem cognitivista por preocupação humanitária a um círculo vicioso de apontar
que esta abordagem se baseia numa teoria de apenas “os efeitos condenados”, dando assim prevalência aos
desenvolvimento em grande parte válida, e também a limites objetivos da lógica do capital. Ao tratar da posição de
abordagem sociocultural que complementa o Robert Owen, reconhece sua posição de denúncia da
desenvolvimento humano e genético com aspectos exploração e instrumentalização do empregado pelo
socioculturais e personalistas. Sendo que a abordagem empregador, mas condena no seu discurso - com marcas de
sociocultural está impregnada de aspectos humanistas parcialidade, gradualismo e circularidades - sinais de
característicos das primeiras obras de Paulo Freire. O ideário conformação aos debilitantes limites do capital.
pedagógico de alguns professores não segue nenhuma das Neste caso, Mészáros observa que Owen “não pode escapar
abordagens, e são classificados como tendência indefinida à auto-imposta camisa de força das determinações causais do
dentre as demais abordagens. capital”. Numa conclusão ao tópico, o autor lembra que “[...] o
sentido da mudança educacional radical não pode ser senão o
A Educação para além do Capital rasgar da camisa de força da lógica incorrigível do sistema”.
A persecução de estratégias de rompimento com o
A educação para além do capital é um texto publicado a controle exercido pelo capital é explicitada na segunda seção
partir da conferência pronunciada por István Mészáros58, por do texto com a defesa de que as soluções devem ser buscadas
ocasião da abertura do Fórum Mundial de Educação, realizado não apenas na dimensão formal, mas no que é essencial. O
em Junho de 2004, em Porto Alegre. autor reconhece que a educação institucionalizada serviu, nos
O texto, partindo de três epígrafes atribuídas pelo autor a últimos 150 anos para fornecer condições técnicas e humanas
Paracelso, pensador do Século XVI, a José Martí, político, poeta à expansão do capital, ao mesmo tempo em que contribuiu
e pensador cubano, e a Marx, em Teses sobre Feuerbach, traz para instalar valores que legitimam os interesses dominantes
a análise com vistas à urgente necessidade de se instituir uma e que negam alternativas possíveis a esse modelo.
mudança que nos leve para além do capital, “no sentido Distanciando-se de uma posição reprodutivista, assim advoga
genuíno e educacionalmente viável do termo”. que não basta simplesmente reformar o sistema escolar formal
O exame discute as relações íntimas entre processos estabelecido, porque isso traduziria apenas uma mudança
educacionais e processos sociais amplos de reprodução do institucional isolada. “O que precisa ser confrontado é todo o
capital em quatro aspectos básicos: Primeiro, no embate sistema de internalização, com todas as suas dimensões,
entre os parâmetros estruturais do capital - que se colocam visíveis e ocultas”. A internalização, entendida como o esforço
com uma lógica irreversível e incontestável - e a necessidade do capital em fazer com que cada indivíduo incorpore como
de romper com essa lógica para a criação de uma alternativa suas as metas de reprodução do sistema, legitimando sua
educacional diferente, mediante a natureza irreformável do posição na hierarquia social e conformando suas expectativas
capital como totalidade reguladora sistêmica; Segundo, na e sua conduta ao estipulado pela ordem estabelecida, insere-
clareza de que as possíveis soluções não podem ser formais, se como instrumento que conforma a totalidade das práticas
apenas como alterações superficiais, mas devem atingir o sociais, entre elas, a educação, ao interesse do capital.
patamar de mudança essencial, abarcando a totalidade das Romper com a lógica do capital na área de educação
práticas educacionais da sociedade e seus processos de equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e
internalização dos parâmetros reprodutivos gerais do sistema profundamente enraizadas de internalização mistificadora
do capital; Terceiro, na compreensão de que apenas uma por uma alternativa concreta abrangente60.
ampla concepção de educação pode assegurar a luta pelo A tarefa acima requerida aparece na terceira seção,
objetivo de mudança radical requerida e a aquisição de condicionada ao fortalecimento de uma concepção de
instrumentos de pressão capazes de provocar o rompimento educação ampla e mais profunda, nos moldes de Paracelso,
com a lógica mistificadora do capital; Quarto, na defesa de que vendo a “aprendizagem como nossa própria vida”.
o papel da educação é estratégico tanto para a mudança das Neste rumo, o autor se coloca, a exemplo de Gramsci,
condições objetivas de reprodução quanto para a auto contra a visão tendenciosamente elitista e estreita de educação
mudança dos indivíduos envolvidos na luta pela construção de que pleiteia o domínio da instituição educacional formal como
uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente. único espaço de educação e define a educação e a atividade
Na primeira seção do texto, evidencia-se a ideia de que as intelectual como possibilidade apenas dos que são designados
reformulações que possam acontecer na educação são para “educar” e para governar, em detrimento da maioria, à
inconcebíveis sem a transformação também no quadro social. qual é reservado o papel de objeto de manipulação. Mészáros
O autor recusa a noção de reforma que se proponha apenas a assevera a posição profundamente democrática de Gramsci
correções marginais, mantendo intactas as estruturas como o caminho mais claro para a concepção ampla de
fundamentais da sociedade e conformando-se às exigências da educação, na qual todo ser humano contribui para a formação

58 MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boi 59 Mészàros -A educação para além do capital, 2ª. ed Boitempo, 2008
Tempo Editorial, 2006. 60 Idem 5.

Conhecimentos Pedagógicos 50
APOSTILAS OPÇÃO

de uma concepção de mundo ao mesmo tempo em que pode contribuir para a formação integral da personalidade do
contribuir para manter ou mudar esta concepção. A educação, aluno”.
reconhecida, no seu entendimento amplo, é um processo ( ) Verdadeiro ( ) Falso
contínuo de aprendizagem. “Temos de reivindicar uma
educação plena para toda a vida, para que seja possível colocar 02. Sobre a abordagem comportamentalista, é correto
em perspectiva a sua parte formal, a fim de instituir, também afirmar que: “A organização do conhecimento, processamento
aí, uma reforma radical”. A reforma significa, segundo o autor, de informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
desafiar as formas atualmente dominantes de internalização comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.”.
existentes no sistema educacional formal, pôr em execução ( ) Verdadeiro ( ) Falso
urgentemente uma atividade de “contra internalização”
coerente e sustentada na direção da criação de uma alternativa 03. (CEFET/RJ - Pedagogo - CESGRANRIO) O trecho
ao que já existe. Significa que a educação formal precisa indica amplos desafios para a prática docente. “Um curso de
desatar-se do revestimento da lógica do capital e mover-se em professores deveria possibilitar confronto entre abordagens,
direção a práticas educacionais mais abrangentes O bem quaisquer que fossem elas, entre seus pressupostos e
sucedido processo de redefinição da tarefa da educação formal implicações, limites, pontos de contraste e convergência. Ao
num espírito orientado para a construção de uma alternativa mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro professor a
hegemônica à ordem existente irá contribuir para romper com análise do próprio fazer pedagógico, de suas implicações,
a lógica do capital não somente em seu campo, mas em toda a pressupostos e determinantes, no sentido de que ele se
sociedade. conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
No quarto tópico, Mészáros trata a educação como uma interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente”.
“transcendência positiva da auto alienação do trabalho”. A (MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens
análise atesta as condições desumanizantes da alienação em do processo. São Paulo: EPU, 1986. p. 109.)
que vivemos e afirma que, para a mudança dessa condição, Sobre as diferentes abordagens pedagógicas, aquela que
exige-se uma intervenção consciente em todos os domínios e considera a relação professor-aluno como não imposta, que
níveis da existência individual e social, “em toda a nossa permite que o educador se torne educando e a aprendizagem
maneira de ser”. O autor considera que estando na raiz de seja favorecida pela mediação é a:
todos os tipos de alienação a historicamente revelada (A) tradicional
alienação do trabalho, torna-se possível superar a alienação (B) humanista
com a reestruturação radical de nossas condições de vida (C) comportamentalista
estabelecida até então, já que o processo histórico se constitui (D) ambientalista
pelo próprio trabalho. Mas isso não pode ser apenas uma (E) sócio-histórico-cultural
questão de negação. Para Mészáros, “a tarefa histórica que
temos de enfrentar é incomensuravelmente maior que a Gabarito
negação do capitalismo”61. Ir para além do capital significa a
realização de uma ordem social metabólica sem nenhuma 01.Falso / 02.Falso / 03.E
relação nem ranços com a ordem anteriormente hegemônica.
Por essa razão,
O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração
de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as
Gestão pedagógica
condições objetivas de reprodução, como para a auto mudança
consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de
uma ordem social metabólica radicalmente diferente 62A gestão escolar foi criada com o intuito de diferenciar e
Para esse fim, a universalização da educação e a integralizar o contexto educacional, sua função é otimizar os
universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as processos diários e aumentar e melhorar a eficiência do ensino
quais não pode haver solução para a auto alienação do dentro da instituição. Nesse sentido, ela visa a proporcionar
trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a organização e articulação de premissas que asseguram o
igualdade verdadeira - substancial e não apenas formal - de processo educacional nas instituições de ensino e
todos os seres humanos. Apenas na perspectiva de ir além do desburocratizar atividades cotidianas.
capital essa universalização e igualdade podem ser vistas, Ela é diferente da Administração Escolar, que é a
porque a educação para além do capital almeja uma ordem responsável pelos recursos materiais e financeiros que devem
social qualitativamente diferente. garantir a qualidade de ensino. A gestão escolar é a forma de
No nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do administrar uma escola em sua totalidade, portanto o
capital global, época onde se evidencia uma condição histórica responsável por ela deve ter habilidades de gerenciamento
de transição, define-se também um espaço histórico e social que vão desde o plano pedagógico até os recursos financeiros.
aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de Seu principal objetivo é buscar o aprimoramento
planos estratégicos na direção de uma educação para além do institucional e pessoal de todos os setores da escola devendo
capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de fortalecer a liderança, motivar a equipe ao alcançar seus
transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve objetivos, aumentar a qualidade do currículo e estimular cada
ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as vez mais a participação dos pais e da comunidade na escola.
condições cambiantes e as necessidades da transformação Sempre com a ambição da excelência no processo de ensino-
social emancipadora e progressiva em curso. aprendizagem.
A gestão escolar pode englobar vários setores, dentre estes
Questões os considerados mais importantes são: Gestão Pedagógica,
01. Pode-se afirmar que: “O processo de ensino e Gestão Administrativa, Gestão Financeira, Gestão de Recursos
aprendizagem não é uma integração dialética entre o Humanos, Gestão da Comunicação, Gestão de Tempo e
instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial Eficiência de Processos.

61 RABELO, C. D. Educação Para Além do Capital. Revista Resenha: A 62 https://bit.ly/2IeXswl ; https://bit.ly/2ztIJrY


Eletrônica Arma da Crítica. N.º 4. 2012.

Conhecimentos Pedagógicos 51
APOSTILAS OPÇÃO

Assim posto, entende-se que cada instituição tem suas Gestão Financeira
peculiaridades e cabe a cada uma elaborar e aplicar sua A Gestão Financeira cuida do orçamento da instituição,
proposta pedagógica, administrar a escola como um todo, observando atentamente os gastos, as oportunidades de
zelar pela qualidade de ensino para o discente, oferecer melhoria e analisando recursos e investimentos. Entre os
condições de trabalho para o docente e sempre promover a benefícios obtidos, um sistema financeiro bem organizado
integração entre a escola e a comunidade. permite tomadas de decisões mais ágeis e garante que as
É interessante pensar na Instituição como um organismo demais áreas funcionem corretamente, sem surpresas. Assim,
vivo, onde cada setor pode representar uma funcionalidade o planejamento financeiro é fundamental para uma estratégia
vital para o sucesso da escola. Cada um desses “órgãos” tem educacional de sucesso e uso correto dos recursos.
suas diferenças, porém se trabalharem em cooperação, a Quando bem realizada, a Gestão Financeira de uma
escola trará resultados positivos muito maiores do que se instituição de ensino possibilita o controle das contas a pagar
esses setores trabalhassem independentes um do outro. e a receber, e da inadimplência dos alunos, evitando situações
mais graves. Assim sendo, a gestão financeira deve andar em
Setores da Gestão Escolar sintonia com a gestão administrativa e com o plano
pedagógico, proporcionando uma situação confortável para a
Gestão Pedagógica instituição de ensino.
Esta área é considerada a principal, está relacionada com a Para ajudar nessa tarefa, uma boa solução é o investimento
organização e com o planejamento de todo o sistema em softwares de gestão escolar para integralizar os setores na
educacional, além da elaboração e execução de projetos contínua busca pelo sucesso do planejamento educacional.
pedagógicos.
Esta gestão tem como principal foco melhorar as práticas Gestão de Recursos Humanos
educacionais e sempre explorar novas maneiras de ensinar Assim como as demais áreas, a Gestão de Recursos
mais e melhor. Os líderes educacionais são fundamentais para Humanos tem que ser uma preocupação constante, porque
que toda essa didática inovadora funcione. As ações devido à grande quantidade de interação entre os alunos,
elementares que os responsáveis por esse tipo de gestão funcionários, docentes, os pais e a comunidade ela é uma área
devem exercer, incluem: “sensível” da gestão.
- Articular as concepções, estratégias métodos e conteúdos Está área tem como papel manter o bom relacionamento
no ambiente educacional; entre todos os setores, assim como, motivar toda a equipe de
- Definir as metas necessárias para otimização dos colaboradores, mantendo sempre todos a todo vapor
processos pedagógicos; cumprindo com o que o projeto pedagógico exige. Para
- Conseguir fazer com que os profissionais de ensino e a garantir um bom entrosamento entre sua equipe, os líderes
comunidade escolar assumam esse compromisso como seu escolares devem:
próprio objetivo de melhorar a educação; - Engajar os docentes com o ensino, a proposta da
- Despertar no professor a vontade de ensinar e no aluno a instituição e os resultados;
vontade de aprender; - Saber distribuir as tarefas entre os setores e pessoas;
- Avaliar o trabalho pedagógico exercido por professores e - Investir em ferramentas que facilitem o trabalho da
praticados na instituição; equipe;
- Estabelecer formas de envolver mais os docentes na - Incentivar a formação continuada e investir no
educação; aprimoramento dos colaboradores;
- Criar um ambiente estimulante e motivador para a - Avaliar os funcionários e orientá-los sobre como corrigir
comunidade escolar. seus erros;
- Ressaltar os pontos fortes e parabenizar os colaboradores
Gestão Administrativa por seus acertos;
Como já dito, a gestão administrativa cuida dos recursos - Manter um clima de cooperação, entrosamento e respeito
físicos, financeiros e materiais da instituição. Sempre entre os colaboradores.
buscando zelar por todos os bens que serão utilizados em
função do ensino. Para que ela funcione, é necessário estar Gestão da Comunicação
atento às rotinas da secretaria, legislação educacional, Este setor está diretamente ligado ao setor de recursos
processos educacionais, manutenção patrimonial e várias humanos, indo além de apenas motivar e garantir que todos os
outras tarefas e atribuições fundamentais para que tudo flua envolvidos com a escola estejam sempre satisfeitos. Ele vai
bem e para que os professores tenham tudo o que precisam mais adiante das paredes das escolas e procurem sempre estar
para ensinar com qualidade. em contato com toda a sua comunidade participativa.
Entre as principais atribuições da gestão administrativa Uma boa comunicação garante que:
nas escolas e cursos estão: - Os professores estejam alinhados com a proposta da
- Organizar e administrar os recursos físicos, materiais e instituição;
financeiros da escola ou curso; - Os setores saibam quais são suas prioridades;
- Organizar a necessidade de compras, consertos e - Os colaboradores entendam que suas tarefas influenciam
manutenção dos bens patrimoniais; na realização do todo;
- Manter o inventário dos bens e patrimônios da instituição - Os alunos se mantenham engajados e focados no
atualizados; aprendizado;
- Manter o ambiente limpo e organizado; - Os pais entendam a importância do seu papel no processo
- Garantir a correta utilização dos materiais da instituição de ensino.
de ensino;
- Garantir o cumprimento das leis, diretrizes e estatuto do Além disso cabe a este setor mostrar para os pais, o quanto
colégio ou curso, vale a pena sempre investir e apoiar a instituição que os seus
- Utilizar as tecnologias da informação para melhorar os filhos frequentam. Por envolver e integrar todos os setores,
processos de gestão em todos os segmentos da escola. realizar uma boa gestão da comunicação ajuda escolas e cursos
a acabarem com problemas conhecidos na rotina escolar e
desenvolver a sua instituição de ensino.

Conhecimentos Pedagógicos 52
APOSTILAS OPÇÃO

Gestão de Tempo e Eficiência de Processos - Responsabilizar pessoas pela implementação das


Esta gestão é relacionada com a produtividade e como o alternativas acordadas;
nome já diz, a eficiência de cada setor e da instituição como um - Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as
todo. Os setores da escola funcionam como as engrenagens de decisões serão realizados;
um relógio e, se algo não funciona, ou funciona mal, gera - Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação
atrasos ou até a parada dos ponteiros. de todos os segmentos envolvidos;
Como os bons relojoeiros, os gestores precisam manter os - Articular interesses comuns, ideias e alternativas
olhos e ouvidos bem atentos e prestar atenção em todas as complementares, de forma a contribuir para organizar
etapas do processo para conseguir mapear e identificar quais propostas mais coletivas;
engrenagens que atrasam ou prejudicam cada setor. Esse é um - Esclarecer como a implementação das ações serão
trabalho árduo, afinal essas engrenagens podem ser tarefas, acompanhadas e supervisionadas;
processos, modo de execução e até mesmo pessoas. Mas - Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em
fazendo as perguntas certas, tudo fica mais fácil debate como também do processo de decisão.
Vamos fazer um exercício. Pense em cada setor da sua Gestão democrática implica compartilhar o poder,
instituição e pergunte-se: descentralizando-o. Como fazer isso?
- Quais são os maiores problemas da minha escola ou curso - Incentivando a participação e respeitando as pessoas e
hoje? suas opiniões;
- A quais setores esses problemas estão relacionados? - Desenvolvendo um clima de confiança entre os vários
- Quais tarefas demandam mais tempo para serem segmentos das comunidades escolar e local;
concluídas? - Ajudando a desenvolver competências básicas
- Quais tarefas envolvem muitos colaboradores? necessárias à participação (por exemplo, saber ouvir, saber
- Quais colaboradores estão envolvidos com essas tarefas? comunicar suas ideias).
- Quais tarefas trazem mais retorno para a instituição?
- Quais tarefas podem ser automatizadas? A participação proporciona mudanças significativas na
- Como posso tornar esses processos mais eficientes? vida das pessoas, na medida em que elas passam a se
interessar e se sentir responsáveis por tudo que representa
Esse é um exercício básico de reflexão que você pode interesse comum. Assumir responsabilidades, escolher e
realizar diariamente e com certeza vai ajudar muito a inventar novas formas de relações coletivas faz parte do
melhorar a sua gestão escolar. Sabemos que fazer tudo processo de participação e trazem possibilidades de mudanças
funcionar em compasso depende da boa administração de que atendam a interesses mais coletivos.
muitos fatores e que isso demanda tempo. Mas gerir com A participação social começa no interior da escola, por
excelência é se manter na busca constante pelo meio da criação de espaços nos quais professores,
desenvolvimento da equipe e pela melhoria dos processos e funcionários, alunos, pais de alunos e demais envolvidos
quanto mais você se esforçar, melhor serão os resultados da possam discutir criticamente o cotidiano escolar.
sua instituição.
Nesse sentido, a função da escola é formar indivíduos
Gestão Democrática críticos, criativos e participativos, com condições de participar
E por falar em gestão, como proceder de forma mais criticamente do mundo do trabalho e de lutar pela
democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas? 63 democratização da educação. A escola, no desempenho dessa
A participação é educativa tanto para a equipe gestora função, precisa ter clareza de que o processo de formação para
quanto para os demais membros das comunidades escolar e uma vida cidadã e, portanto, de gestão democrática passa pela
local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de construção de mecanismos de participação da comunidade
argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor escolar, como: Conselho Escolar, Associação de Pais e Mestres,
novas sugestões e alternativas. Maior participação e Grêmio Estudantil, Conselhos de Classes, etc.
envolvimento da comunidade nas escolas produzem os
seguintes resultados: Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é
- Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e necessária a efetivação de vários mecanismos de participação,
de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco, tais como:
esclarecedor e respeitoso; - O aprimoramento dos processos de escolha ao cargo de
- Formulações de alternativas, após um período de dirigente escolar;
discussões onde as divergências são expostas - A criação e a consolidação de órgãos colegiados na escola
- Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados (conselhos escolares e conselho de classe);
por toda a comunidade envolvida; - O fortalecimento da participação estudantil por meio da
- Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em criação e da consolidação de grêmios estudantis;
um espaço comum de decisões educacionais. - A construção coletiva do projeto político-pedagógico da
escola;
A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas - A redefinição das tarefas e funções da associação de pais
públicas requer a participação coletiva das comunidades e mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de
escolar e local na administração dos recursos educacionais se partilhar o poder e a decisão nas instituições.
financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na
implementação dos projetos educacionais. O processo de participação na escola produz, também,
Mas para promover a participação e deste modo efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a
implementar a gestão democrática da escola, procedimentos reconhecer o patrimônio das instituições educativas - escolas,
prévios podem ser observados: bibliotecas, equipamentos - como um bem público comum, que
- Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual
comprometimento com a alternativa de ação escolhida; oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por
algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de

63 DOURADO, L. F. Progestão: como promover, articular e envolver a ação das

pessoas no processo de gestão escolar? Brasília: CONSED - Conselho Nacional de


Secretários de Educação, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 53
APOSTILAS OPÇÃO

todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada As Concepções de Organização e Gestão Escolar,
conservação. segundo José Libâneo64

Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma O estudo da escola como organização de trabalho não é
maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das novo, há toda uma pesquisa sobre administração escolar que
comunidades local e escolar oportunidades para: remonta aos pioneiros da educação nova, nos anos 30. Esses
- Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação estudos se deram no âmbito da Administração Escolar e,
real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a frequentemente, estiveram marcados por uma concepção
ser); burocrática, funcionalista, aproximando a organização escolar
- Identificar possíveis razões para essa discrepância; da organização empresarial.
- Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar Estes estudos eram identificados com o campo de
esses problemas. conhecimentos denominado Administração e Organização
Práticas de Organização e Gestão Escolar ou, simplesmente Administração Escolar.
Nos anos 80, com as discussões sobre reforma curricular
- Em relação aos professores: boa formação profissional, dos cursos de Pedagogia e de Licenciaturas, a disciplina passou
autonomia profissional, capacidade de assumir em muitos lugares a ser denominada de Organização do
responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, Trabalho Pedagógico ou Organização do Trabalho Escolar,
condições de estabilidade profissional, formação profissional adotando um enfoque crítico, frequentemente restringido a
em serviço, disposição para aceitar inovações com base nos uma análise crítica da escola dentro da organização do
seus conhecimentos e experiências; capacidade de análise trabalho no Capitalismo. Houve pouca preocupação, com
crítico-reflexiva. algumas exceções, com os aspectos propriamente
organizacionais e técnico-administrativos da escola.
- Quanto à estrutura organizacional: sistema de É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, um
organização e gestão, plano de trabalho com metas bem enfoque científico-racional e um enfoque crítico, de cunho
definidas e expectativas elevadas; competência específica e sócio-político. Não é difícil aos futuros professores fazerem
liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação distinção entre essas duas concepções de organização e gestão
pedagógica; integração dos professores e articulação do da escola. No primeiro enfoque, a organização escolar é
trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho propício tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, que
ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão participativa; funciona racionalmente; portanto, pode ser planejada,
oportunidades de reflexão conjunta e trocas de experiências organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices
entre os professores; de eficácia e eficiência.
As escolas que operam nesse modelo dão muito peso à
- Autonomia da escola, criação de identidade própria, com estrutura organizacional: organograma de cargos e funções,
possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões sobre hierarquia de funções, normas e regulamentos, centralização
problemas específicos; planejamento compatível com as das decisões, baixo grau de participação das pessoas que
realidades locais; decisão e controle sobre uso de recursos trabalham na organização, planos de ação feitos de cima para
financeiros; planejamento participativo e gestão participativa, baixo. Este é o modelo mais comum de funcionamento da
bom relacionamento entre os professores e responsabilidades organização escolar.
assumidas em conjunto. O segundo enfoque vê a organização escolar basicamente
como um sistema que agrega pessoas, importando bastante a
- Prédios adequados e disponibilidade de condições intencionalidade e as interações sociais que acontecem entre
materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que elas, o contexto sócio-político etc.
propiciem aos alunos oportunidades concretas para aprender. A organização escolar não seria uma coisa totalmente
objetiva e funcional, um elemento neutro a ser observado, mas
- Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e uma construção social levada a efeito pelos professores,
organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens alunos, pais e integrantes da comunidade próxima. Além disso,
acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e relacionais; não seria caracterizado pelo seu papel no mercado, mas pelo
modalidades de avaliação formativa; organização do tempo interesse público. A visão crítica da escola resulta em
escolar de forma a garantir o máximo de tempo para as diferentes formas de viabilização da gestão democrática,
aprendizagens e o clima para o estudo; acompanhamento de conforme veremos em seguida.
alunos com dificuldades de aprendizagem. Com base nos estudos existentes no Brasil sobre a
organização e gestão escolar e nas experiências levadas a
- Participação dos pais nas atividades da escola; efeito nos últimos anos, é possível apresentar, de forma
investimento em formar uma imagem pública positiva da esquemática, três das concepções de organização e gestão: a
escola. técnico-científica (ou funcionalista), a autogestionária e a
democrático-participativa.
Essas características reforçam a ideia de que a qualidade
de ensino depende de mudanças no âmbito da organização Concepção Técnico-Científica
escolar, envolvendo a estrutura física, as condições de Tem como base a hierarquia de cargos e funções visando a
funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura racionalização do trabalho, a eficiência dos serviços escolares.
organizacional, as relações entre alunos, professores, Tende a seguir princípios e métodos da administração
funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a empresarial. Algumas características desse modelo são:
escola como um todo que deve responsabilizar-se pela - Prescrição detalhada de funções, acentuando-se a divisão
aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos técnica do trabalho escolar (tarefas especializadas);
problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados - Poder centralizado do diretor, destacando-se as relações
atualmente. de subordinação em que uns têm mais autoridades do que
outros;

64LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola - Teoria e Prática.

Editora Heccus. 6ª Edição. Goiânia. 2013.

Conhecimentos Pedagógicos 54
APOSTILAS OPÇÃO

- Ênfase na administração (sistema de normas, regras, Uma visão sociocrítica propõe considerar dois aspectos
procedimentos burocráticos de controle das atividades), às interligados: por um lado, compreende que a organização é
vezes descuidando-se dos objetivos específicos da instituição uma construção social, a partir da Inteligência subjetiva e
escolar; cultural das pessoas, por outro, que essa construção não é um
- Comunicação linear (de cima para baixo), baseada em processo livre e voluntário, mas mediatizado pela realidade
normas e regras; sociocultural e política mais ampla, incluindo a influência de
- Maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas; forças externas e internas marcadas por interesses de grupos
Atualmente, esta concepção também é conhecida como sociais, sempre contraditórios e às vezes conflitivas.
gestão da qualidade total. Busca relações solidárias, formas participativas, mas
também valoriza os elementos internos do processo
Concepção Autogestionária organizacional, o planejamento, a organização, a gestão, a
Baseia-se na responsabilidade coletiva, ausência de direção, a avaliação, as responsabilidades individuais dos
direção centralizada e acentuação da participação direta e por membros da equipe e a ação organizacional coordenada e
igual de todos os membros da instituição. Outras supervisionada, já que precisa atender a objetivos sociais e
características: políticos muito claros, em relação à escolarização da
- Ênfase nas inter-relações mais do que nas tarefas; população.
- Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de As concepções de gestão escolar refletem, portanto,
todas as formas de exercício de autoridade e poder; posições políticas e concepções de homem e sociedade. O
- Vínculo das formas de gestão interna com as formas de modo como uma escola se organiza e se estrutura tem um
auto-gestão social (poder coletivo na escola para preparar caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais amplos
formas de auto-gestão no plano político); sobre a relação da escola com a conservação ou a
- Ênfase na auto-organização do grupo de pessoas da transformação social.
instituição, por meio de eleições e alternância no exercício de A concepção funcionalista, por exemplo, valoriza o poder e
funções; a autoridade, exercida unilateralmente. Enfatizando relações
- Recusa a normas e sistemas de controle, acentuando-se a de subordinação, determinações rígidas de funções,
responsabilidade coletiva; hipervalorizando a racionalização do trabalho, tende a retirar
- Crença no poder instituinte da instituição. ou, ao menos, diminuir nas pessoas a faculdade de pensar e
decidir sobre seu trabalho. Com isso, o grau de envolvimento
Concepção Democrática-Participativa profissional fica enfraquecido.
Tem base na relação orgânica entre a direção e a As duas outras valorizam o trabalho coletivo, implicando a
participação do pessoal da escola. Acentua a importância da participação de todos nas decisões. Embora ambas tenham
busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma entendimentos das relações de poder dentro da escola,
forma coletiva de gestão em que as decisões são tomadas concebem a participação de todos nas decisões como
coletivamente e discutidas publicamente. Entretanto, uma vez importante ingrediente para a criação e desenvolvimento das
tomadas as decisões coletivamente, advoga que cada membro relações democráticas e solidárias. Adotamos, neste livro, a
da equipe assuma a sua parte no trabalho, admitindo-se a concepção democrático-participativa.
coordenação e avaliação sistemática da operacionalização das Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de
decisões tomada dentro de uma tal diferenciação de funções e organização interna, geralmente prevista no Regimento
saberes. Outras características desse modelo: Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal. O
- Definição explícita de objetos sócio-políticos e termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e
pedagógicos da escola, pela equipe escolar; disposição das funções que asseguram o funcionamento de um
- Articulação entre a atividade de direção e a iniciativa e todo, no caso a escola. Essa estrutura é comumente
participação das pessoas da escola e das que se relacionam representada graficamente num organograma - um tipo de
com ela; gráfico que mostra a inter-relações entre os vários setores e
- A gestão é participativa mas espera-se, também, a gestão funções de uma organização ou serviço.
da participação; Evidentemente a forma do organograma reflete a
- Qualificação e competência profissional; concepção de organização e gestão. A estrutura organizacional
- Busca de objetividade no trato das questões da de escolas se diferencia conforme a legislação dos Estados e
organização e gestão, mediante coleta de informações reais; Municípios e, obviamente, conforme as concepções de
- Acompanhamento e avaliação sistemáticos com organização e gestão adotada, mas podemos apresentar a
finalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos estrutura básica com todas as unidades e funções típicas de
trabalhos, reorientação dos rumos e ações, tomada de uma escola.
decisões; O Conselho de Escola tem atribuições consultivas,
- Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação
avaliados. estadual ou municipal e no Regimento Escolar. Essas questões,
Atualmente, o modelo democrático-participativo tem sido geralmente, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos
influenciado por uma corrente teórica que compreende a e financeiros.
organização escolar como cultura. Esta corrente afirma que a Em vários Estados o Conselho é eleito no início do ano
escola não é uma estrutura totalmente objetiva, mensurável, letivo. Sua composição tem uma certa proporcionalidade de
independente das pessoas, ao contrário, ela depende muito participação dos docentes, dos especialistas em educação, dos
das experiências subjetivas das pessoas e de suas interações funcionários, dos pais e alunos, observando-se, em princípio, a
sociais, ou seja, dos significados que as pessoas dão às coisas paridade dos integrantes da escola (50%) e usuários (50%).
enquanto significados socialmente produzidos e mantidos. Em Em alguns lugares o Conselho de Escola é chamado de
outras palavras, dizer que a organização é uma cultura “colegiado” e sua função básica é democratizar as relações de
significa que ela é construída pelos seus próprios membros. poder.
Esta maneira de ver a organização escolar não exclui a O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades
presença de elementos objetivos, tais como as ferramentas de da escola, auxiliado pelos demais componentes do corpo de
poder, a estrutura organizacional, e os próprios objetivos especialistas e técnicos-administrativos, atendendo às leis,
sociais e culturais definidos pela sociedade e pelo Estado. regulamentos e determinações dos órgãos superiores do
sistema de ensino e às decisões no âmbito da escola e pela

Conhecimentos Pedagógicos 55
APOSTILAS OPÇÃO

comunidade. O assistente de diretor desempenha as mesmas funcionar mediante uma diretoria executiva e um conselho
funções na condição de substituto eventual do diretor. deliberativo.
O setor técnico-administrativo responde pelas atividades- O Grêmio Estudantil é uma entidade representativa dos
meio que asseguram o atendimento dos objetivos e funções da alunos criada pela lei federal nº 7.398/85, que lhe confere
escola. autonomia para se organizarem em torno dos seus interesses,
A Secretaria Escolar cuida da documentação, escrituração com finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais.
e correspondência da escola, dos docentes, demais Ambas as instituições costumam ser regulamentadas no
funcionários e dos alunos. Responde também pelo Regime Escolar, variando sua composição e estrutura
atendimento ao público. Para a realização desses serviços, a organizacional. Todavia, é recomendável que tenham
escola conta com um secretário e escriturários ou auxiliares da autonomia de organização e funcionamento, evitando-se
secretaria. O setor técnico-administrativo responde, também, qualquer tutelamento por parte da Secretaria da Educação ou
pelos serviços auxiliares (Zeladoria, Vigilância e Atendimento da direção da escola.
ao público) e Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca Em algumas escolas, funciona a Caixa Escolar, em outras
etc.). um setor de assistência ao estudante, que presta assistência
A Zeladoria, responsável pelos serventes, cuida da social, econômica, alimentar, médica e odontológica aos alunos
manutenção, conservação e limpeza do prédio; da guarda das carentes.
dependências, instalações e equipamentos; da cozinha e da O Corpo docente é constituído pelo conjunto dos
preparação e distribuição da merenda escolar; da execução de professores em exercício na escola, que tem como função
pequenos consertos e outros serviços rotineiros da escola. básica realizar o objetivo prioritário da escola, o ensino. Os
A Vigilância cuida do acompanhamento dos alunos em professores de todas as disciplinas formam, junto com a
todas as dependências do edifício, menos na sala de aula, direção e os especialistas, a equipe escolar. Além do seu papel
orientando-os quanto a normas disciplinares, atendendo-os específico de docência das disciplinas, os professores também
em caso de acidente ou enfermidade, como também do têm responsabilidades de participar na elaboração do plano
atendimento às solicitações dos professores quanto a material escolar ou projeto pedagógico-curricular, na realização das
escolar, assistência e encaminhamento de alunos. atividades da escola e nas decisões dos Conselhos de Escola e
O serviço de Multimeios compreende a biblioteca, os de classe ou série, das reuniões com os pais (especialmente na
laboratórios, os equipamentos audiovisuais, a videoteca e comunicação e interpretação da avaliação), da APM e das
outros recursos didáticos. demais atividades cívicas, culturais e recreativas da
O setor pedagógico compreende as atividades de comunidade.
coordenação pedagógica e orientação educacional. As funções A gestão democrática-participativa valoriza a participação
desses especialistas variam confirme a legislação estadual e da comunidade escolar no processo de tomada de decisão,
municipal, sendo que muitos lugares suas atribuições ora são concebe à docência como trabalho interativo, aposta na
unificadas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas por construção coletiva dos objetivos e funcionamento da escola,
professores. Como são funções desses especializadas, por meio da dinâmica intersubjetiva, do diálogo, do consenso.
envolvendo habilidades bastante especiais, recomenda-se e Nos itens interiores mostramos que o processo de tomada
seus ocupantes sejam formados em cursos de Pedagogia ou de decisão inclui, também, as ações necessárias para colocá-la
adquiram formação pedagógico-didática específica. em prática. Em razão disso, faz-se necessário o emprego dos
O coordenador pedagógico ou professor coordenador elementos ou processo organizacional, tal como veremos
supervisiona, acompanha, assessora, avalia as atividades adiante.
pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar De fato, a organização e gestão, refere-se aos meios de
assistência pedagógico-didático aos professores em suas realização do trabalho escolar, isto é, à racionalização do
respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho ao trabalho e à coordenação do esforço coletivo do pessoal que
trabalho interativo com os alunos. atua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais, os
Há lugares em que a coordenação se restringe à disciplina conhecimentos e qualificações práticas do educador, as
em que o coordenador é especialista; em outros, a relações humano-interacionais, o planejamento, a
coordenação se faz em relação a todas as disciplinas. Outra administração, a formação continuada, a avaliação do trabalho
atribuição que cabe ao coordenador pedagógico é o escolar.
relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente no Tudo em função de atingir os objetivos, ou seja, como toda
que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e instituição as escolas também buscam resultados, o que
didático da escola e comunicação e interpretação da avaliação implica em uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao
dos alunos. mesmo tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende
O orientador educacional, na instituição que essa função apenas das capacidades e responsabilidades individuais, mas
existe, cuida do atendimento e do acompanhamento escolar sim de objetivos comuns e compartilhados, e de ações
dos alunos e também do relacionamento escola-pais- coordenadas e controladas pelos agentes do processo.
comunidade.
O Conselho de Classe ou Série é um órgão de natureza Questões
deliberativa quanto à avaliação escolar dos alunos, decidindo
sobre ações preventivas e corretivas em relação ao 01. (IF/PA - Educação Pedagogia - FADESP/2018) A
rendimento dos alunos, ao comportamento discente, às gestão democrática como um princípio da educação brasileira
promoções e reprovações e a outras medidas concernentes à deve ser efetivada na escola com
melhoria da qualidade da oferta dos serviços educacionais e ao (A) a existência de instância administrativa que promova a
melhor desempenho escolar dos alunos. tomada de decisões sobre as ações escolares.
Paralelamente à estrutura organizacional, muitas escolas (B) a promoção de movimentos de ampla participação da
mantêm Instituições Auxiliares tais como: a APM (Associação comunidade nos processos decisórios, desde a elaboração até
de Pais e Mestres), o Grêmio Estudantil e outras como Caixa a avaliação das ações pretendidas.
Escolar, vinculadas ao Conselho de Escola (onde este existia) (C) a elaboração de um instrumental de coleta de opiniões
ou ao Diretor. e sugestões dos pais sobre o trabalho escolar.
A APM reúne os pais de alunos, o pessoal docente e técnico- (D) a realização das eleições para o cargo de direção da
administrativo e alunos maiores de 18 anos. Costuma unidade escolar, no qual o conselho escolar escolhe aquele que
assumirá o cargo.

Conhecimentos Pedagógicos 56
APOSTILAS OPÇÃO

(E) a realização de ações definidas a priori e com o Gabarito


acompanhamento da coordenação.
01.B / 02.A / 03.C / 04.A
02. (IF/TO - Professor - 2017) No que concerne à
organização e à gestão do trabalho escolar, e de acordo com
Libâneo (2012), marque a alternativa incorreta. Avaliação da aprendizagem
(A) A organização dos sistemas de ensino não possui
influências sociais e políticas. escolar
(B) Todos os envolvidos no processo educacional educam,
não são apenas os professores.
(C) A organização e a gestão da escola correspondem à A avaliação65, tal como concebida e vivenciada na maioria
necessidade de a instituição escolar dispor das condições e dos das escolas brasileiras, tem se constituído no principal
meios para a realização de seus objetivos específicos. mecanismo de sustentação da lógica de organização do
(D) O professor participa ativamente da organização do trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso,
trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe ocupando mesmo o papel central nas relações que
de trabalho, aprendendo novos saberes e competências, assim estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e
como um modo de agir coletivo, em favor da formação dos pais.
alunos. Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço
(E) O professor está a cargo do principal objetivo da escola: relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao
o ensino e a aprendizagem dos alunos. processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto,
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; não
03. (IF/PI - Pedagogo - FUNRIO) Os estudos sobre a é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de
administração escolar não é novo, bem como a da organização avanço ou retenção em determinadas disciplinas.
do trabalho aí realizado. Para Oliveira66, devem representar as avaliações aqueles
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado
existência de duas concepções, que norteiam as análises: a efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que
científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político. forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o
Na primeira delas, que é o modelo mais comum de esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem
funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o
ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada, mais pertinente método didático adequado à disciplina - mas
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices não somente -, à medida que consideram, igualmente, o
de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as
embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra, condições individuais do aluno, sempre que possível.
técnica, que funciona racionalmente". A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de
Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as
“basicamente como um sistema que agrega pessoas, ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações
importando bastante a intencionalidade e as interações constantes.
sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa
construção social a ser construída pelos professores, alunos, Origem da Avaliação
pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo
interesse público. Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor
A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um
viabilização da... juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a
(A) administração empresarial. aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão
(B) administração escolar. do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem
(C) gestão democrática. tem sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se
(D) gestão empresarial. o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos
(E) administração colegiada. pelos alunos.
A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e
04. (IF/PB - Técnico em Assuntos Educacionais) Dentre características no campo da Psicologia, sendo que as duas
os princípios e características da gestão escolar participativa, primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo
destaca-se a autonomia como o fundamento da concepção desenvolvimento de testes padronizados para medir as
democrático-participativa de gestão escolar. Com base nessa habilidades e aptidões dos alunos.
informação, a autonomia na concepção democrático- A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos
participativa de gestão escolar está expressa em: meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e
(A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir independente face à classificação. De âmbito mais vasto e
sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação
financeiros. indispensável em qualquer sistema escolar.
(B) A organização escolar depende exclusivamente de Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem,
decisões do poder central. um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de
(C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto
pelo poder central. está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não
(D) A gestão da autonomia não implica saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio
corresponsabilidade dos membros da equipe escolar. errado.
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada
tome as decisões para que os demais membros possam um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é
participar do processo de gestão. necessária a professores e alunos.

65 KRAEMER, M. E. P.- A avaliação da aprendizagem como processo 66 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipação.

construtivo de um novo fazer. 2005. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 57
APOSTILAS OPÇÃO

A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou relação ao objetivo da avaliação, seja ele um programa, projeto,
aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do curso ou outro foco de atenção. Ela é construtivista em
ensino já atingiram num determinado ponto de percurso e que substituição ao modelo científico, que tem caracterizado, de um
dificuldades estão a revelar relativamente a outros. modo geral, as avaliações mais prestigiadas neste século.
Esta informação é necessária ao professor para procurar Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de
meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo
essas dificuldades e é necessária aos alunos para se pedagógico, informações que permitam aos agentes escolares
aperceberem delas (não podem os alunos identificar decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se
claramente as suas próprias dificuldades num campo que fizerem necessários em face do projeto educativo, definido
desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do coletivamente, e comprometido com a garantia da
professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um
uma intenção formativa. instrumento referencial e de apoio às definições de natureza
A avaliação proporciona também o apoio a um processo a pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por
decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou meio de relações partilhadas e cooperativas.
resultados de aprendizagem.
Funções do Processo Avaliativo
As avaliações a que o professor procede enquadram-se
em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação
somativa. e de apreciação.

Evolução da Avaliação 1. Função diagnóstica: a primeira abordagem, de acordo


com Miras e Solé68, contemplada pela avaliação diagnóstica
A partir do início do século XX, a avaliação vem (ou inicial), é a que proporciona informações acerca das
atravessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e capacidades do aluno antes de iniciar um processo de
Lincoln67 são elas: mensuração, descritiva, julgamento e ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e
negociação. Madaus, busca a determinação da presença ou ausência de
1. Mensuração: não distinguia avaliação e medida. Nessa habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das
fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.
instrumentos ou testes para verificação do rendimento A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do
escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e
técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispensáveis a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no
na classificação de alunos para se determinar seu progresso. sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de
resolver situações presentes.
2. Descritiva: essa geração surgiu em busca de melhor
entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os 2. Função formativa: a segunda função á a avaliação
estudiosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o formativa que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos
aluno. estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando
Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados
parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das
necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade com atividades propostas.
relação aos objetivos estabelecidos. Neste sentido o avaliador Representa o principal meio através do qual o estudante
estava muito mais concentrado em descrever padrões e passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo
critérios. Foi nessa fase que surgiu o termo “avaliação para um estudo sistemático dos conteúdos.
educacional”. Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de
avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do
3. Julgamento: a terceira geração questionava os testes professor, principalmente através de mecanismos de feedback.
padronizados e o reducionismo da noção simplista de Estes mecanismos permitem que o professor detecte e
avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocupação identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando
maior o julgamento. reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo.
Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz, Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa
incorporando, contudo, o que se havia preservado de informar o professor e o aluno sobre o rendimento da
fundamental das gerações anteriores, em termos de aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a
mensuração e descrição. localização das deficiências na organização do ensino para
Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do possibilitar correção e recuperação.
processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever, A avaliação formativa pretende determinar a posição do
era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de
objeto, inclusive sobre os próprios objetivos. identificar dificuldades e de lhes dar solução.

4. Negociação: nesta geração, a avaliação é um processo 3. Função somativa: tem como objetivo, segundo Miras e
interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de
construtivista. Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que,
enfocar e um modo construtivista de fazer. por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade
A avaliação é responsiva porque, diferentemente das da aprendizagem realizada.
alternativas anteriores que partem inicialmente de variáveis, Pode ser chamada também de função creditativa. Também
objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e desenvolve a tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período
partir de preocupações, proposições ou controvérsias em de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.

67 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Avaliação Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994. Artes Médicas, 1996.
68 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo

de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A.

Conhecimentos Pedagógicos 58
APOSTILAS OPÇÃO

A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso Tabela 1 - Comparação entre a concepção tradicional de
realizado pelo aluno no final de uma unidade de avaliação com uma mais adequada
aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos Modelo tradicional de
Modelo adequado
por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que avaliação
permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a Foco na promoção - o alvo
um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a Foco na aprendizagem - o
dos alunos é a promoção. Nas
um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos alvo do aluno deve ser a
primeiras aulas, se discutem
parcelares. aprendizagem e o que de
as regras e os modos pelos
proveitoso e prazeroso dela
quais as notas serão obtidas
Objetivos da Avaliação obtém.
para a promoção de uma série
para outra.
Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são Implicação - neste contexto, a
traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um avaliação deve ser um auxílio
Implicação - as notas vão
juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um para se saber quais objetivos
sendo observadas e
objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de foram atingidos, quais ainda
registradas. Não importa
informações úteis para tomar alguma decisão”. faltam e quais as
como elas foram obtidas, nem
Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento interferências do professor
por qual processo o aluno
maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para que podem ajudar o aluno.
passou.
este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação, Foco nas provas - são
julgamento ou valorização do que o educando revelou ter utilizadas como objeto de
aprendido durante um período de estudo ou de pressão psicológica, sob
desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem. pretexto de serem um
Para outros autores, a avaliação pode ser considerada Foco nas competências - o
'elemento motivador da
como um método de adquirir e processar evidências desenvolvimento das
aprendizagem', seguindo
necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem, competências previstas no
ainda a sugestão de Comenius
incluindo uma grande variedade de evidências que vão além projeto educacional devem
em sua Didática Magna criada
do exame usual de ‘papel e lápis’. ser a meta em comum dos
no século XVII. É comum ver
É ainda um auxílio para classificar os objetivos professores.
professores utilizando
significativos e as metas educacionais, um processo para ameaças como "Estudem!
determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo Implicação - a avaliação deixa
Caso contrário, vocês poderão
dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade, de ser somente um objeto de
se dar mal no dia da prova!"
pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo certificação da consecução de
ou "Fiquem quietos! Prestem
ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em objetivos, mas também se
atenção! O dia da prova vem aí
caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir sua torna necessária como
e vocês verão o que vai
efetividade. instrumento de diagnóstico e
acontecer..."
acompanhamento do
Modelo Tradicional de Avaliação X Modelo Mais processo de aprendizagem.
Implicação - as provas são
Adequado Neste ponto, modelos que
utilizadas como um fator
indicam passos para a
negativo de motivação. Os
Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente progressão na aprendizagem,
alunos estudam pela ameaça
e indissociável enquanto concebida como problematização, como a Taxionomia dos
da prova, não pelo que a
questionamento, reflexão, sobre a ação. Objetivos Educacionais de
aprendizagem pode lhes
Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz Benjamin Bloom, auxiliam
trazer de proveitoso e
necessária para que possamos refletir, questionar e muito a prática da avaliação e
prazeroso. Estimula o
transformar nossas ações. a orientação dos alunos.
desenvolvimento da
O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada submissão e de hábitos de
histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam comportamento físico tenso
como forma de controle e de autoritarismo por diversas (estresse).
gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o Os estabelecimentos de Estabelecimentos de ensino
mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de ensino estão centrados nos centrados na qualidade - os
auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem. resultados das provas e estabelecimentos de ensino
A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a exames - eles se preocupam devem preocupar-se com o
concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos com as notas que presente e o futuro do aluno,
alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, na demonstram o quadro global especialmente com relação à
tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional dos alunos, para a promoção sua inclusão social (percepção
de avaliação com uma mais adequada a objetivos ou reprovação. do mundo, criatividade,
contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua empregabilidade, interação,
adoção. Implicação - o processo posicionamento, criticidade).
educativo permanece oculto.
A leitura das médias tende a Implicação - o foco da escola
ser ingênua (não se buscam os passa a ser o resultado de seu
reais motivos para ensino para o aluno e não
discrepâncias em mais a média do aluno na
determinadas disciplinas). escola.
O sistema social se contenta Sistema social preocupado
com as notas - as notas são com o futuro - Já alertava o
suficientes para os quadros ex-ministro da Educação,
estatísticos. Resultados Cristóvam Buarque: "Para
dentro da normalidade são saber como será um país
bem vistos, não importando a daqui há 20 anos, é preciso

Conhecimentos Pedagógicos 59
APOSTILAS OPÇÃO

qualidade e os parâmetros olhar como está sua escola como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real,
para sua obtenção (salvo nos pública no presente". Esse é principalmente discutida coletivamente.
casos de exames como o um sinal de que a sociedade já No entanto, a prática das instituições não encontrou uma
ENEM que, de certa forma, começa a se preocupar com o forma de agir que tornasse possível essa isenção: as
avaliam e "certificam" os distanciamento educacional prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos
diferentes grupos de práticas do Brasil com o dos demais impedem as observações.
educacionais e países. É esse o caminho para A consequência mais grave é que essa arrogância não
estabelecimentos de ensino). revertermos o quadro de uma permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e
educação "domesticadora" aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da
Implicação - não há garantia para "humanizadora". aprendizagem.
sobre a qualidade, somente os O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos
resultados interessam, mas Implicação - valorização da ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias
estes são relativos. Sistemas educação de resultados há décadas, desde que as teorias da educação escolar
educacionais que rompem efetivos para o indivíduo. recolocaram a questão no âmbito da cognição.
com esse tipo de Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para
procedimento tornam-se uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de
incompatíveis com os demais, realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da
são marginalizados e, por isso, aprendizagem.
automaticamente
pressionados a agir da forma Avaliação da Aprendizagem69
tradicional.
A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a
Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode
avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos ser compreendida em função de determinada concepção de
no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti, ao conhecimento - algo que a filosofia compreende como base ou
dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e matriz epistemológica. A partir de tais concepções, podem ser
esta deverá contribuir no processo de construção do caráter, da focalizadas três possibilidades de definição de aprendizagem:
consciência e da cidadania, passando pela produção do
conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo “Aprendizagem é mudança de comportamento
em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja resultante do treino ou da experiência”
preparado para transformá-lo.
Esta seria a definição mais impregnada e dominante no
A Avaliação da Aprendizagem como Processo campo psicológico e pedagógico e, certamente, a mais
Construtivo de um Novo Fazer resistente às proposições alternativas. Funda-se na concepção
O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda empirista formulada por Locke e Hume. Realimenta-se do
não está refletido na avaliação. Para Wachowicz & positivismo de Comte, com seus ideais de objetividade
Romanowski, embora historicamente a questão tenha científica, ao final do século XIX e se encarna como corrente
evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais behaviorista, comportamentista ou de estímulo-resposta, no
comum na maioria das instituições de ensino ainda é um início do século XX. Valoriza o polo do objeto e não o do sujeito,
registro em forma de nota, procedimento este que não tem as marcando a influência do meio ou do ambiente através de
condições necessárias para revelar o processo de estímulos, sensações e associações. Reserva ao sujeito o papel
aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos de receptáculo e reprodutor de informações, através de
resultados. modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e
Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação
pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se com motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem
uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e e ensino têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira
da dinâmica da aprendizagem. é considerada decorrência linear do segundo (em outros
Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função termos: se algo foi ensinado, dentro de contingências
diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do ambientais adequadas, certamente foi apreendido...). Na
processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua perspectiva pedagógica, essa concepção encontra plena
característica pragmática, a fragmentação e a burocratização afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e bancárias -
acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia de
processo. passividade do sujeito, depositário de informações, conforme
Os dados registrados são formais e não representam a a lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação.
realidade da aprendizagem, embora apresentem
consequências importantes para a vida pessoal dos alunos, “Aprendizagem é apreensão de configurações
para a organização da instituição escolar e para a perceptuais através de insights”.
profissionalização do professor.
Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando
revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse em torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou
instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de meio. Funda-se em uma base filosófica de natureza
dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação racionalista ou apriorista, que percebe o conhecimento como
prescrita com os resultados. resultante de estruturas pré-formadas, de variáveis biológicas
A isenção advinda da necessidade de analisar a ou maturacionais e de organização perceptual de situações
aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a imediatas. A escola psicológica alemã conhecida como Gestalt,
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o responsável no início do século XX, por estudos na vertente da
professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais percepção, constitui umas das expressões mais fortes dessa
posição, tendo deixado um legado mais associado ao estudo da

69 http://crv.educacao.mg.gov.br/

Conhecimentos Pedagógicos 60
APOSTILAS OPÇÃO

“boa forma” ou das condições capazes de propiciar soluções de privilegiado para as mediações em direito a patamares
problemas por discernimento súbito (insight), em função de conceituais mais elevados.
relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere
modelo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu a aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa
estatuto de autossuficiência e autorregulação, reducionismo realidade educacional: um processo marcado por
que permanece recusando a relação ensino-aprendizagem e se contradições, conflitos, rupturas e, até mesmo, regressões -
fixando em apenas um de seus polos. necessitando, por isso mesmo, de mediações que assegurem o
espaço do reconhecimento das práticas sociais dos alunos, de
“Aprendizagem é organização de conhecimentos como seus conhecimentos prévios, dos significados e sentidos
estruturas, ou rede construídas a partir das interações pertinentes às situações de aprendizagem de cada sujeito
entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais” singular e de suas dimensões compartilhadas.
As abordagens contemporâneas da Psicologia da
Esta seria uma concepção de base construtivista ou Aprendizagem e dos estudos sobre reorientações curriculares
interacionista, comprometida com a superação dos apoiam-se nessas categorias para a necessária reorientação
reducionismos anteriores (experiência advinda dos objetos X das estratégias de aprendizagem.
pré-formação de estruturas) e identificada com modelos mais Um enfoque superficial: centrado em estratégias
abertos, fundados nas ideias de gênese ou processo. mnemônicas ou de memorização (reprodutoras em
Por esta razão, suas principais vertentes podem ser contingências de provas ou exames) ou centrado em
identificadas como “psicogenéticas” e são representadas pela passividade, isolamento, ausência de reflexão sobre
Epistemologia Genética Piagetiana e pela abordagem sócio- propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação e no
histórica dos psicólogos soviéticos (Vygotsky, Luria e acúmulo de elementos;
Leontierv, em especial). Um enfoque profundo: centrado na intenção de
compreender, na relação das novas ideias e conceitos com o
Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas conhecimento anterior, na relação dos conceitos como
vertentes: experiência cotidiana, nos componentes significativos dos
1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se conteúdos, nas inter-relações e nas condições de
identifica com adaptação ou equilibração à medida que transcendência em relação às situações e aprendizagens do
supõe a “passagem de um estado de menor conhecimento a momento.
um estado de conhecimento mais avançado” ou “uma As questões mais relevantes, a partir dessas distinções
construção sucessiva com elaborações constantes de seriam: Por que um aluno se dirige para um outro tipo de
estruturas novas, rumo a equilibrações majorantes”70 aprendizagem? O que faz com que mostre maior ou menor
(O motor para tais processos de adaptação e equilibração disposição para a realização de aprendizagens significativas?
seria o conflito cognitivo diante de novos desafios ou Por que não aprende em determinadas circunstâncias? Por
necessidades de aprendizagem, em esforços complementares que alunos modificam seu enfoque em função da tarefa ou da
de assimilação (polo do sujeito responsável por incorporações mudança de estratégias dos professores? Quais os fatores de
de elementos do mundo exterior) e acomodação (polo mediação capazes de produzir novos patamares motivacionais
modificado do estado anterior do sujeito em função das atuais e novas zonas de aprendizagem e competência?
demandas apresentadas pelo objeto de conhecimento). Essa Tais questões sinalizam para um projeto educativo
posição sugere a importância de que o meio de aprendizagem comprometido com novas práticas e relações pedagógicas,
seja alargado e pleno de significado, para que se chegue a uma uma lógica a serviço das aprendizagens e da Avaliação
congruência entre a parte do sujeito e as pressões externas, Formativa, uma concepção construtiva e propositiva sobre
entre autorregulações e regulações externas, entre sistemas erros e correção dos mesmos, uma articulação entre
pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não- dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressignifiquem o ato
aprendizagem seria resultante da ausência de congruência de aprender.
entre os sistemas envolvidos nos processos de ensino-
aprendizagem. Definindo os Tipos de Avaliação

2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus - Avaliação Classificatória


colaboradores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação
articulação fortemente estabelecida entre aprendizagem e vinculada à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível
desenvolvimento, sendo a primeiro motor do segundo, no aferir, matemática, e objetivamente, as aprendizagens
sentido que apresenta potência para projeta-lo até escolares. A noção de medida supõe a existência de padrões de
patamares mais avançados. Esta potência da rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o
aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de desempenho de um aluno será avaliado e hierarquizado. A
desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento Avaliação Classificatória é realizada através de variadas
proximal”: a primeira referindo-se às competências ou atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos,
domínios já instalados (no campo conceitual, trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é
procedimental ou atitudinal, por exemplo) e a segunda estabelecer uma classificação do aluno para fins de
entendida como campo aberto de possibilidades, em aprovação ou reprovação.
transição ou em vias de se consolidar, a partir de A centralidade da aprovação/reprovação na cultura
intervenções ou mediações de outros - professores ou pares escolar impõe algumas considerações importantes em torno
mais experientes ou competentes em determinada área, da nota e da ideia de avaliação como medida dos desempenhos
tarefa ou função.71 do aluno. Para se medir objetivamente um fenômeno, é preciso
Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino- definir uma unidade de medida. Sua operacionalização se dá
aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de através de um instrumento. No caso da avaliação escolar, este
outras concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio instrumento é produzido, aplicado e corrigido pelo professor,
que acaba sendo, ele próprio, um instrumento de medição do

70 PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad. 71 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins

Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993. Fontes,1984.

Conhecimentos Pedagógicos 61
APOSTILAS OPÇÃO

desempenho do aluno, uma vez que é ele quem atribui o valor como se os fatos começassem a ser ordenados, atribuindo
ao trabalho. Portanto, o critério de objetividade, implícito na sentido ao que se tenta entender.
ideia de avaliação como medida, perde sua confiabilidade, já Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância
que o professor é um ser humano e, como tal, impossibilitado da concepção empirista de ensino como transmissão, a
de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de mundo, as memorização era o referencial mais comum para a avaliação.
preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os afetos Nesse sentido, os instrumentos e momentos de avaliação
e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presentes traziam a característica de um espaço em que as pessoas
nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de tentavam recuperar um dado de sua memória. Um meio e
inúmeras pesquisas que apontam desacordos consideráveis realizar essa atividade por evocação (pergunta direta, com
na atribuição de valor a um mesmo trabalho ou exame resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, quando lhe
corrigido por diferentes professores. E esse valor, geralmente oferecemos pistas e apresentamos alternativas para as
registrado de forma numérica, é a referência para a respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação
classificação do aluno e o julgamento do professor ou da escola foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos
quanto à sua aprovação/reprovação. fatos nas memórias. Essa redução do entendimento do que é
No contexto escolar, e no imaginário social também, o avaliar vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos
significado da nota e sua identificação com a própria avaliação conteúdos, principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e
tornaram-se tão fortes que num dos argumentos para a sua a avaliação de conceitos. A construção conceitual demanda
manutenção costuma ser o de que, sem ela, acabou-se a compreensão e estabelecimento de relações, sendo, portanto,
avaliação e o interesse ou a motivação do aluno pelos estudos. mais complexa para ser avaliada.
Estes argumentos refletem, por um lado, a distorção da função Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação,
avaliativa na escola, que não deve confundir-se com a cada escola e cada professor precisam analisar seu alcance.
atribuição de notas: a avaliação deve servir à orientação das Pedir ao aluno que defina um significado (técnica muito
aprendizagens. Por outro lado, revelam uma compreensão do comum nas escolas), nem sempre proporciona boa medida
desempenho do aluno como decorrente exclusivamente de sua para avaliação, é uma técnica com desvantagens, pois pode
responsabilidade ou competência individual. Daí o fato da induzir a falsos erros e falsos acertos. É uma técnica que exige
avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação ou um critério de correção muito minucioso. Ele ainda propõe
punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os que, se a opção for por usar essa técnica, que se valide mais o
privilégios são justificados com base nas diferenças e que o aluno expuser com as próprias palavras do que uma
desigualdades entre os alunos. Fundamentada na meritocracia reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, o
(a ideia de que a posição dos indivíduos na sociedade é reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na
consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória armadilha da mera reprodução de uma definição previamente
passa a servir à discriminação e à injustiça social. estabelecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o
Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de que coloca esse tipo de instrumento e questão na condição de
verificação da aprendizagem. O termo verificar tem origem na insuficiente para conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra
expressão latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte- possibilidade é a da exposição temática na qual o aluno debate
se do princípio de que existe um conhecimento - uma verdade sobre um tema incluindo comparações, estabelecendo
- que dever ser assimilado pelo aluno. A avaliação consistiria relações.
na aferição do grau de aproximação entre as aprendizagens do É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não
aluno e essa verdade. está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim
Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com
qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo isso, a necessidade de se trabalhar com questões abertas.
do programa. É a partir dessa escala que os alunos serão Outra técnica, - a identificação e categorização de exemplos -
classificados, tendo em vista seu rendimento nos instrumentos por evocação (aberta) ou reconhecimento (fechada),
de avaliação, ou seja, o total de pontos adquiridos. De um modo possibilita ao professor conhecer como o aluno está
geral, as provas e os testes são os instrumentos mais utilizados entendendo aquele conceito. Na técnica de reconhecimento o
pelo professor para medir o alcance dos objetivos traçados aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a
para aprendizagem dos alunos. A sua formulação exige rigor categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento
técnico e deve estar de acordo com os conteúdos como a prova objetiva.
desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar. A dimensão Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de
diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de avaliação. conceitos seria a técnica de aplicação à solução de problemas,
deveriam ser situações abertas, nas quais os alunos fariam
- Avaliação de Conteúdos sobre a Dimensão Conceitual exposição da compreensão que têm do conceito, tentando
A dimensão conceitual do conhecimento implica que a responder à situação apresentada. Nesse caso, o instrumento
pessoa esteja estabelecendo relações entre fatos para mais adequado seria uma prova operatória, é importante, no
compreendê-los. Os fatos e dados, segundo COLL, estão num caso da avaliação de conceitos, resgatar sempre os
extremo de um contínuo de aprendizagem e a retenção da conhecimentos prévios dos alunos, para analisar o que estiver
informação simples, a aprendizagem de natureza mnemônica sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação inicial, o
ou “memorística”. São informações curtas sobre os fenômenos momento inicial da aprendizagem. A avaliação de
da vida, da natureza, da sociedade, que dão uma primeira aprendizagem de conceitos remete o professor, portanto, a
informação objetiva sobre o que é, quem fez, quando fez, o que instituir também a observação como uma técnica de
foi. Os conceitos estão no outro extremo (desse contínuo da levantamento de dados sobre a aprendizagem dos alunos,
aprendizagem) e envolvem a compreensão e o ampliando as informações sobre o que o aluno está sabendo
estabelecimento de relações. Traduzem um entendimento do para além dos momentos formais de avaliação, como
porquê daquele fenômeno ser assim como é. momentos de provas ou outros instrumentos de verificação.
As crianças, para aprenderem fatos, apenas os
memorizam. Esquecem mais rápido. Para aprenderem - Dimensão Procedimental
conceitos precisam estabelecer conexões mais complexas, de A dimensão procedimental do conhecimento implica no
aprendizagem significativa, identificada por autores como os saber fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão
citados acima. Quando elas constroem os conceitos, os fatos procedimental. O aluno precisa saber observar, saber ler,
vão tomando outras dimensões, informando o conceito. É saber registrar, saber procurar dados em várias fontes, saber

Conhecimentos Pedagógicos 62
APOSTILAS OPÇÃO

analisar e concluir a partir dos dados levantados. Nesse caso, fazer uma avaliação do que realmente pode ser considerado
são procedimentos que precisam ser desenvolvidos. Muitas aprendido.
vezes o aluno está com uma dificuldade procedimental e não Como são os alunos individualmente em grupos?
conceitual e, dependendo do instrumento usado, o professor Que grupos sociais representam?
não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a superá-la, Como se comportam e se vestem?
por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros O que apreciam?
exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento: Quais seus interesses?
saber fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um O que valorizam?
texto dissertativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o O que fazem quando não estão na escola?
professor acompanhe de perto essa aprendizagem. O melhor Como suas famílias vivem?
instrumento para isso é a observação sistemática - um O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram?
conjunto de ações que permitem ao professor conhecer até Como se organiza o espaço que compartilham fora da
que ponto seus alunos estão sabendo: dialogar, debater, escola?
trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfica, Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores,
orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades sua adesão/rejeição às normas, suas atitudes?
abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o
aluno transfere o conteúdo para a prática. Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes
importantes para a formação dos alunos na adolescência. Para
- Dimensão Atitudinal mudança de atitudes é que são feitos os projetos.
A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que - Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às
indicará os valores em construção. É mais difícil de ser pessoas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a
trabalhada porque não se desliga da formação mais ampla em solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos
outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus outros...
componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos - Atitudes são tendências relativamente estáveis das
(sentimentos e preferências) e condutais (ações e declaração pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o
de intenção). Manifesta-se mais através do comportamento grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas
referenciado em crenças e normas. Por isso, precisa ser escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados...
amplamente entendida à luz dos valores que a escola - Normas são padrões ou regras de comportamentos que a
considera formadores. A aquisição de valores é alcançada pessoas devem seguir em determinadas situações sociais.
através do desenvolvimento de atitudes de acordo com esse
sistema de valores. Depende de uma autopersuasão que está Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão
sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as dados para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação
pessoas têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em Formativa: a serviço das aprendizagens.
relação ao mundo. As atitudes e valores envolvem também as Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma
normas. reprodutiva: não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de
Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às um estado ou país, data de acontecimentos, tabela de símbolos
pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a químicos. Correspondem a uma informação verbal literal
solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos como vocabulários, nomes ou informação numérica que não
outros. Atitudes são tendências relativamente estáveis das envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso se usa a
pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o repetição, buscando mesmo a automatização da informação.
grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas Esse processo de repetição não se adequa à construção
escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados. conceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um
Normas são padrões ou regras de comportamentos que as conceito, quando o explica com suas próprias palavras. É
pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse
Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos caso, eles estão num início de processo de compreensão do
debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza conceito. Precisam trabalhar mais a situação, o que vai ajudá-
do planejamento das atividades de sala de aula. los a entender melhor, até saberem explicar com as suas
Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem palavras. Esse processo de construção conceitual não é
de atitudes são a observação e autoavaliação. estanque, ele está em permanente movimento entre o conceito
Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos, espontâneo, construído nas representações sociais e o
procedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o conceito científico.
momento da avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de
que ajudará aos professores e alunos conhecerem o processo abstração, subjacentes, à organização conceitual de uma área,
de aprendizagem. O professor deve diversificar os nem sempre explícitos. Atravessam todos os conteúdos das
instrumentos para cobrir toda a tipologia dos conhecimentos: matérias, devendo ser o objetivo maior da aprendizagem na
provas, trabalhos e observação, para avaliar fatos e conceitos, educação básica. Eles orientam a compreensão de noções
observação para concluir na avaliação da construção básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos
conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de como sociedade e cultura são princípios das áreas de humanas,
procedimentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes eles devem referenciar o trabalho nos conceitos específicos.
e conceitos. Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos
Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial como o de migração, democracia, crescimento populacional,
em todo o processo de aprendizagem, usando a prática de estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que referenciará o
datar o que está sendo registrado e propiciando ao próprio trabalho do professor, será muito importante uma revisão
aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um conteúdo conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será
novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele. preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos
como objetos de conhecimento.
Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal
Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada - Avaliação Formativa
conteúdo que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias
teorias que postulam o caráter diferenciado e singular dos

Conhecimentos Pedagógicos 63
APOSTILAS OPÇÃO

processos de formação humana, que é constituída por organiza-se o planejamento do trabalho, de forma
dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural, suficientemente flexível para incorporar, ao longo do
social, simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A processo, as adequações que se fizerem necessárias. Ao
aprendizagem é uma atividade que se insere no processo mesmo tempo, o uso de variados instrumentos e
global de formação humana, envolvendo o procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor
desenvolvimento, a socialização, a construção da compreender o processo do aluno para estabelecer novas
identidade e da subjetividade. propostas de ação.
Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries
Aprendizagem e formação humana são processos de finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos
natureza social e cultural. É nas interações que estabelece com professores. Agrupamentos de professores responsáveis por
seu meio que o ser humano vai se apropriando dos sistemas um determinado número de turmas facilita o planejamento, o
simbólicos, das práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses desenvolvimento das atividades, a relação pessoal com os
processos têm uma base orgânica, mas se efetivam na vida alunos e o trabalho coletivo.
social e cultural, e é através deles que o ser humano elabora Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com
formas de conceber e de se relacionar com o mundo físico e 5 turmas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas,
social. Esses estudos sobre a formação humana e a visando favorecer o trabalho voltado para determinado
aprendizagem trazem implicações profundas para a educação período de formação humana (infância, adolescência, etc.).
e destacam a importância do papel do professor como Este tipo de organização tende a romper com a fragmentação
mediador do processo de construção de conhecimento dos do trabalho pedagógico, facilitando a interdisciplinaridade e o
alunos. Sua ação pedagógica deve estar voltada para a desenvolvimento de uma Avaliação Formativa.
compreensão dos processos sociocognitivos dos alunos e a Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de
busca de uma articulação entre os diversos fatores que aprendizagem dos alunos, um dos aspectos importantes da
constituem esses processos - o desenvolvimento psíquico do ação docente deve ser a organização de atividades cujo nível
aluno, suas experiências sociais, suas vivências culturais, sua de abordagem seja diferenciado. Isso significa criar situações,
história de vida - e as intenções educativas que pretende levar apresentar problemas ou perguntas e propor atividades que
a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-se numa prática demandem diferentes níveis de raciocínio e de realização. A
que permite ao professor aproximar-se dos processos de diversificação das tarefas deve também possibilitar aos alunos
aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno está que realizem escolhas. As atividades devem oferecer graus
elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os variados de compreensão, diferentes níveis de utilização dos
fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao
entender o significado do desempenho: como o aluno conhecimento.
compreendeu o problema apresentado? Que tipo de Outro movimento importante rumo a uma Avaliação
elaboração fez para chegar a determinada resposta? Que Formativa deve acontecer na organização dos tempos e
dificuldades encontrou? Como tentou resolvê-las? espaços escolares. Os tempos de aula (50min, 1h, etc.) os
Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser recortes de cada disciplina, os bimestres, os semestres, as
tomado como uma evidência ou uma dificuldade de séries, os níveis de ensino são formas de estruturar o tempo
aprendizagem. E cabe ao professor interpretar o significado escolar que têm como fundamento a lógica da organização dos
desse desempenho. Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a conteúdos. Os processos de aprender e de construir
serviço das aprendizagens, da forma dos alunos. Trata-se, conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma lógica. A
portanto, de uma avaliação que tem como finalidade não o organização escolar por ciclos é uma experiência que busca
controle, mas a compreensão e a regulação dos processos dos harmonizar os tempos da escola com os tempos de
educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua trajetória escolar. aprendizagem próprios do ser humano. Os ciclos permitem
Isso significa entender que a avaliação, indo além da tomar as progressões das aprendizagens mais fluidas,
constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando evitando rupturas ao longo do processo. A flexibilização do
as necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças tempo e do trabalho pedagógico possibilita o respeito aos
no seu planejamento e no desenvolvimento das ações diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e a organização
educativas. Caracterizando-se como uma prática voltada para de uma prática pedagógica voltada para a construção do
o acompanhamento dos processos dos alunos, este tipo de conhecimento, para a pesquisa.
avaliação não comporta registros de natureza quantitativa Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno
(notas ou mesmo conceitos), já que estes são insuficientes para de projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A
revelar tais processos. Tampouco pode-se pensar, a partir estruturação do tempo é parte do planejamento pedagógico
desta concepção, na manutenção da aprovação/reprovação. semanal ou mensal, uma vez que a natureza da atividade e os
Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo ritmos de aprendizagem irão definir o tempo que será
classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e utilizado.
compreender os seus processos, e promover ações que os O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não
ajudem a avançar no seu desenvolvimento, nas suas pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma
aprendizagens. Sendo assim, a avaliação a serviço das compreensão do mundo, da realidade social e humana, de nós
aprendizagens desmistifica a ideia de seleção que está mesmos e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não
implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma se constitui exclusivamente no interior de uma sala de aula. É
avaliação que procura administrar, de forma contínua, a preciso alargar o espaço educativo no interior da escola
progressão dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão (pátios, biblioteca, salas de multimídia, laboratórios, etc.) e
Continuada. para além dela, apropriando-se dos múltiplos espaços da
A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de cidade (parques, praças, centros culturais, livrarias, fábricas,
regulação da ação pedagógica. Sua função é permitir ao outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas de exposição,
professor identificar os progressos e as dificuldades dos universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve adquirir
alunos para dar continuidade ao processo, fazendo as diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de
mediações necessárias para que as aprendizagens aconteçam. diversificação das atividades pedagógicas.
Inicialmente, é fundamental conhecer a situação do aluno, o A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que
que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas as pode potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa.
intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial, Os grupos ou classes móveis - em vez de classes fixas -

Conhecimentos Pedagógicos 64
APOSTILAS OPÇÃO

possibilitam a organização diferenciada do trabalho permite o replanejamento das atividades do professor, não
pedagógico e uma maior personalização do itinerário escolar leva a nenhum resultado útil.
do aluno, na medida em que atendem melhor às suas Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação
necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao do resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo,
agrupamento interno de uma classe ou entre classes é imprescindível a criação de uma nova cultura sobre
diferentes. Na prática, acontece conforme o objetivo da aprendizagem e avaliação, uma cultura que elimine:
atividade e as necessidades do aluno. - O vínculo a um resultado previamente determinado pelo
Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes professor;
turmas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de - O estabelecimento de parâmetros com os quais as
cinema, de teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de respostas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se
fotografia, de música, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho o ato de aprender não fosse individual;
também permitem que a turma assuma configurações - O caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação
diferentes, em momentos diferentes, de acordo com o desempenha em qualquer nível;
interesse e para atendimento às necessidades de - A lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade
aprendizagem. inexistente;
- A eleição de um determinado ritmo como ideal para a
Instrumentos de Avaliação construção da aprendizagem de todos os alunos.

As provas objetivas (mais conhecidas como provas de Numa escola onde a avaliação ainda se define pela
múltipla escolha), as provas abertas / operatórias, observação presença das características acima certamente não haverá
e autoavaliação são ferramentas para levantamento de dados lugar para a aceitação da diversidade como inerente ao ser
sobre o processo de aprendizagem. São materiais preparados humano e da aprendizagem como processo individual de
pelo professor levando em conta o que se ensina e o que se construção do conhecimento. Numa educação que parte do
quer saber sobre a aprendizagem dos alunos. Podem ter falso pressuposto da homogeneidade não há espaço para o
diferentes naturezas. Alguns, como as provas, são reconhecimento dos saberes dos alunos, que muitas vezes não
instrumentos que têm uma intenção de testagem, de se enquadram na lógica de classificação das respostas
verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele previamente definidas como certas ou erradas.
realmente estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser O que estamos querendo dizer é que todas as questões
elaborados em dois formatos: um de questões fechadas, de referentes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer
múltipla escolha ou de respostas curtas, identificado como aluno e não apenas das pessoas com deficiências. A única
prova objetiva; outro com questões abertas. Ambos são diferença que há entre as pessoas ditas normais e as pessoas
instrumentos que possibilitam tanto a avaliação de com deficiências está nos recursos de acessibilidade que
aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de conceitos, devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências
embora, em relação à construção conceitual, o professor para que possam aprender e expressar adequadamente suas
precisará inserir também instrumentos de observação. aprendizagens. Por recursos de acessibilidade podemos
Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica entender desde as atividades com letra ampliada, digitalizadas
que coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos da
observação pressupõe registros. É um bom instrumento para tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que
avaliar a construção conceitual, o desenvolvimento de é necessário para suprir necessidades impostas pelas
procedimentos e as atitudes. deficiências, sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais.
Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com
importante no desenvolvimento das habilidades deficiência ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a
metacognitivas e na avaliação de atitudes. finalidade de verificar continuamente os conhecimentos que
Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando cada aluno possui, no seu tempo, por seus caminhos, com seus
as situações escolares necessitarem de um aprofundamento recursos e que leva em conta uma ferramenta muito pouco
maior para levantamento de dados. explorada que é a coaprendizagem.
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez
Outra questão relevante ao processo de avaliação do seja o de nos convencermos de que a avaliação usada apenas
ensino e aprendizagem é Como avaliar o aluno com para medir o resultado da aprendizagem e não como parte de
deficiência? 72 um compromisso com o desenvolvimento de uma prática
pedagógica comprometida com a inclusão, e com o respeito às
A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho diferenças é de muito pouca utilidade, tanto para os alunos
docente do professor. Quando falamos em avaliação de alunos com deficiências quanto para os alunos em geral.
com deficiência, então, o problema torna-se mais complexo De qualquer modo, a avaliação como processo que
ainda. Apesar disso, discutir a avaliação como um processo contribui para investigação constante da prática pedagógica
mais amplo de reflexão sobre o fracasso escolar, dos do professor que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a
mecanismos que o constituem e das possibilidades de partir dos resultados obtidos, não é tarefa simples de ser
diminuir o violento processo de exclusão causado por ela, conseguida. Entender a verdadeira finalidade da avaliação
torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e a escolar só será possível quando tivermos professores
permanência com sucesso dos alunos com deficiência na dispostos a aceitar novos desafios, capazes de identificar nos
escola. erros pistas que os instiguem a repensar seu planejamento e
De início, importa deixar claro um ponto: alunos com as atividades desenvolvidas em sala de aula e que considerem
deficiência devem ser avaliados da mesma maneira que seus seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não
colegas. Pensar a avaliação de alunos com deficiência de se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o
maneira dissociada das concepções que temos acerca de conhecimento à capacidade de identificar respostas
aprendizagem, do papel da escola na formação integral dos previamente definidas como certas ou erradas.
alunos e das funções da avaliação como instrumento que Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação
inclusiva preconiza um ensino em que aprender não é um ato

72 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010.

Conhecimentos Pedagógicos 65
APOSTILAS OPÇÃO

linear, continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai pares, o exemplo dos professores que se traduz na qualidade
sendo tecida pelos aprendizes, em ambientes escolares que do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento
não discriminam, que não rotulam e que oferecem chances de vivenciado por toda a comunidade escolar.
sucesso para todos, dentro dos interesses, habilidades e
possibilidades de cada um. Por isso, quando apenas avaliamos Questões
o produto e desconsideramos o processo vivido pelos alunos
para chegar ao resultado final realizamos um corte totalmente 01. (TSE - Analista Judiciário - Pedagogia -
artificial no processo de aprendizagem. CONSULPLAN) Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a
Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que avaliação é um ato amoroso e dialógico que envolve sujeitos e,
queremos avaliar: produção ou reprodução. Quando como tal, a primeira fase do processo de avaliação começa
avaliamos reprodução, com muita frequência, utilizamos com:
provas que geralmente medem respostas memorizadas e (A) o acolhimento do sujeito avaliado.
comportamentos automatizados. Ao contrário, quando (B) a qualificação dos conhecimentos prévios.
optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz de produzir, a (C) o julgamento das aprendizagens avaliadas.
observação, a atenção às repostas que o aluno dá às atividades (D) o diagnóstico do perfil do sujeito.
que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que ele é
capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas 02. (Prefeitura de Uberlândia/MG - Professor
utilizadas para avaliar. Educação Básica II - Português - CONSULPLAN) A avaliação
Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso, da aprendizagem escolar é um elemento do processo de ensino
para avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do e de aprendizagem.
seu percurso escolar e a evolução de suas competências e de Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a
seus conhecimentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o aprendizagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo
professor a organizar a produção dos seus alunos e por isso professor. Numa perspectiva emancipatória, que parte dos
avaliar com eficiência é utilizar um portfólio. princípios da autoavaliação e da formação, podemos afirmar
A utilização do portfólio permite conhecer a produção que:
individual do aluno e analisar a eficiência das práticas (A) os alunos também devem participar dos critérios que
pedagógicas do professor. A partir da observação sistemática servirão de base para a avaliação de sua aprendizagem.
e diária daquilo que os alunos são capazes de produzir, os (B) os professores devem utilizar a avaliação como um
professores passam a fazer descobertas a respeito daquilo que mecanismo de seleção para o processo de ensino.
os motiva a aprenderem, como aprendem e como podem ser (C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos
efetivamente avaliados. critérios que possam classificar as aprendizagens corretas.
No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem (D) os alunos também devem registrar o processo de
facilitar a tomada de decisão sobre quais os recursos de avaliação que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula.
acessibilidade que deverão ser oferecidos e qual o grau de
sucesso que está sendo obtido com o seu uso. Eles permitem 03. (Prefeitura de Montes Claros/MG - PEB I -
que tomemos conhecimento não só das dificuldades, mas UNIMONTES) De acordo com Luckesi (1999), é importante
também das habilidades dos alunos, para que, através dos estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da
recursos necessários, estas habilidades sejam ampliadas. aprendizagem, que é de diagnóstico.
Permitem, também, que os professores das classes comuns Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de
possam contar com o auxílio do professor do atendimento decisão. Articuladas com essa função básica estão, EXCETO:
educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam (A) a função de motivar o crescimento.
esta modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam (B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
surgir a respeito da produção dos alunos. educando quanto da família.
Quando utilizamos adequadamente o portfólio no (C) a função de aprofundamento da aprendizagem.
processo de avaliação podemos: (D) a função de auxiliar a aprendizagem.
- Melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o
portfólio dos alunos para elaborar as atividades: 04. (IFC/SC - Pedagogia - Educação Infantil - IESES) No
- Evitar testes padronizados; que diz respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é
- Envolver a família no processo de avaliação; INCORRETO afirmar que:
- Não utilizar a avaliação como um instrumento de (A) A avaliação é constituída de instrumentos de
classificação; diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria
- Incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação; da aprendizagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos
- Possibilitar que o erro possa ser visto como um processo que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem.
de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo (B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz
cada aluno está organizando o seu pensamento; das crianças pode ter algumas consequências e influências
decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento.
Esta maneira de avaliar permite que o professor Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus
acompanhe o processo de aprendizagem de seus alunos e alunos tem grande influência no que diz respeito ao
descubra que cada aluno tem o seu método próprio de rendimento da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma
construir conhecimentos, o que torna absurdo um método de visão fragmentada da criança. É aconselhável concentrar
ensinar único e uma prova como recurso para avaliar como se esforços no que as crianças não sabem fazer e, não, considerar
houvesse homogeneidade de aprendizagem. as suas potencialidades.
Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de (C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e
forma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando
analisarmos com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação pontos que necessitam de maior atenção na busca de
do aluno com deficiência, na verdade serve para avaliar reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios
qualquer aluno, porque a principal exigência da inclusão para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as
escolar é que a escola seja de qualidade - para todos! E uma condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às
escola de qualidade é aquela que sabe tirar partido das necessidades colocadas pelas crianças.
diferenças oportunizando aos alunos a convivência com seus

Conhecimentos Pedagógicos 66
APOSTILAS OPÇÃO

(D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em
básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
decisões educativas e observar a evolução da criança, como educacionais como prova do cumprimento de tarefas
também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
modificar determinadas situações, relações ou atividades na momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo
sala de aula. da escola.
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
05. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - Professor de intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
Ensino Fundamental - Artes Plásticas - Prefeitura do Rio definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da
de Janeiro) Leia o fragmento abaixo: Normalmente, quando escola é, também, um projeto político por estar intimamente
nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses
buscamos compreender é até onde a criança já chegou, em reais e coletivos da população majoritária. É político no
termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela. sentido de compromisso com a formação do cidadão para um
Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e tipo de sociedade.
atividades, como por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe
amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de “A dimensão política se cumpre na medida em que ela se
diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de
realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da
já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e
pessoas. criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas
OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um e as características necessárias às escolas de cumprirem seus
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1991. Pág. 11
propósitos e sua intencionalidade.
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada
Político e pedagógico têm assim uma significação
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto
(A) a zona de desenvolvimento real
político-pedagógico como um processo permanente de
(B) a zona de desenvolvimento proximal
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de
(C) a fase potencial do pensamento formal
alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que
(D) a fase operatória do pensamento formal
“não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”.
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária
Gabarito
para a participação de todos os membros da comunidade
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado,
01.A / 02.A / 03.B / 04.B / 05.A
mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão
política e a dimensão pedagógica da escola.

Projeto político-pedagógico O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em


processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar
uma forma de organização do trabalho pedagógico que
supere os conflitos, buscando eliminar as relações
Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a
Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia
projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto que permeia as relações no interior da escola, diminuindo
Pedagógico). os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa
lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a
empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como
edificação. organização da escola num todo e como organização da
Segundo Veiga73, ao construirmos os projetos de nossas sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social
escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. imediato, procurando preservar a visão de totalidade.
Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto
possível. É antever um futuro diferente do presente. político-pedagógico busca a organização do trabalho
pedagógico da escola na sua globalidade.
Nas palavras de Gadotti74: A principal possibilidade de construção do projeto
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola,
para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto
confortável para arriscar-se, atravessar um período de significa resgatar a escola como espaço público, lugar de
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o Portanto, é preciso entender que o projeto político-
presente. Um projeto educativo pode ser tomado com a pedagógico da escola dará indicações necessárias à
promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do
visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores professor na dinâmica interna da sala de aula.
e autores. Buscar uma nova organização para a escola constitui uma
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para
Nessa perspectiva, o Projeto Político Pedagógico vai além enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial
de um simples agrupamento de planos de ensino e de que fundamente a construção do projeto político-pedagógico.

73 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da 74 GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais

escola: uma construção possível. 14ª edição Papirus, 2002. da Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 1994.

Conhecimentos Pedagógicos 67
APOSTILAS OPÇÃO

A questão é, pois, saber a qual referencial temos que Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de
recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica. mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do
social e esteja compromissada em solucionar os problemas da Estado e não uma conquista da comunidade.
educação e do ensino de nossa escola.
Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, A gestão democrática da escola implica que a
por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e
ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros
necessário, também, o domínio das bases teórico- receptores dos serviços educacionais. Os pais, alunos,
metodológicas indispensáveis à concretização das concepções professores e funcionários assumem sua parte na
assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas75 responsabilidade pelo projeto da escola.
que:
Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de de um processo de gestão democrática na escola pública:
luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às vezes 1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela
desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, deve dar o exemplo.
com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser 2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é
inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola. específico da escola, isto é, o seu ensino.

Se a escola se nutre da vivência cotidiana de cada um de A participação na gestão da escola proporcionará um


seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos
pedagógico à administração central, seja o Ministério da os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre
Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em
compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim consequência, aproximará também as necessidades dos
estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas alunos dos conteúdos ensinados pelos professores.
planejadas e organizadas pela própria escola. O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua
Em outras palavras, as escolas necessitam receber própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua
assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem
instâncias superiores do sistema de ensino. respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de de sua vida.
organização das instâncias superiores, implicando uma
mudança substancial na sua prática. Para que a construção do A autonomia e a participação - pressupostos do projeto
projeto político-pedagógico seja possível não é necessário político-pedagógico da escola, não se limitam à mera
convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a declaração de princípios consignados em alguns documentos.
trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou
propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a colegiado, mas também na escolha do livro didático, no
realizar o fazer pedagógico de forma coerente. planejamento do ensino, na organização de eventos culturais,
A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas
para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as assistir reuniões.
normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da A gestão democrática deve estar impregnada por certa
escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e atmosfera que se respira na escola, na circulação das
qualidade. informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do
O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de
rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas
processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação
trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da dos recursos humanos, etc.
sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete Então não se esqueça:
no seu interior as determinações e contradições dessa 1- O projeto político pedagógico da escola pode ser
sociedade. entendido como um processo de mudança e definição de um
Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade. rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação
Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades
de suas próprias contradições. Não existem duas escolas desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão
iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de política pedagógica pressupõe uma construção participativa
saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a
arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao própria comunidade onde a escola se insere.
diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da 2- Quando a atuação ocorre em um planejamento
história da educação da nossa época. Por isso, não deve existir participativo, as pessoas ressignificam suas experiências,
um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas. refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam
Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus
estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá- saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento,
lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos,
da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de
da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto político- convivência e indicam um horizonte de novos caminhos,
pedagógico. possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa
promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo

75 FREITAS Luiz Carlos. "Organização do trabalho pedagógico". Palestra

proferida no 11 Seminário Internacional de Alfabetização e Educação. Novo


Hamburgo, agosto de 1991.

Conhecimentos Pedagógicos 68
APOSTILAS OPÇÃO

escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
política na organização do trabalho pedagógico escolar. que a qualidade se centra no desafio de manejar os
3- Para que o projeto seja impregnado por uma instrumentos adequados para fazer a história humana. A
intencionalidade significadora, é necessário que as partes qualidade formal está relacionada com a qualidade política e
envolvidas na prática educativa de uma escola estejam esta depende da competência dos meios.
profundamente integradas na constituição e que haja vivencia A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir
estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos.
intencionalidade. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa
de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade
Processos e Princípios de Construção escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência
dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar”.
artigo 12, define claramente a incumbência da escola de O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que
elaborar o seu projeto pedagógico. exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição
Além disso, explicita uma compreensão de escola para clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins.
além da sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de
estar inserida em um contexto social e que procure atender às cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a
exigências não só dos alunos, mas de toda a sociedade. obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins
Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de e meios é essencial para a construção do projeto político-
professores, supervisores e orientadores a responsabilidade pedagógico.
de participar da elaboração desse projeto.
A construção do projeto político-pedagógico numa Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela
perspectiva emancipatória se constitui num processo de Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica,
vivência democrática à medida que todos os segmentos que administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica
compõem a comunidade escolar e acadêmica, devem na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das
participar, comprometidos com a integridade do seu questões de exclusão e reprovação e da não permanência do
planejamento, de modo que todos assumem o compromisso aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização
com a totalidade do trabalho educativo. das classes populares. Esse compromisso implica a construção
Segundo Veiga76, a abordagem do projeto político- coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação
pedagógico, como organização do trabalho da escola como um das classes populares.
todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola A gestão democrática exige a compreensão em
democrática, pública e gratuita: profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica.
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução,
Igualdade: de condições para acesso e permanência na entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar
escola. Saviani77 alerta-nos para o fato de que há uma o controle do processo e do produto do trabalho pelos
desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto educadores.
de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O Implica principalmente o repensar da estrutura de poder
autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do
educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o
democracia com a possibilidade no ponto de partida e individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da
democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula
oportunidades requer, portanto, mais que a expansão a dependência de órgãos intermediários que elaboram
quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com políticas educacionais das quais a escola é mera executora.
simultânea manutenção de qualidade. A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a
ampla participação dos representantes dos diferentes
Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias segmentos da escola nas decisões/ações administrativo-
econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques79: A
político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade participação ampla assegura a transparência das decisões,
para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o
indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo,
subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas contribui para que sejam contempladas questões que de outra
próprias. forma não entrariam em cogitação.
Neste sentido, fica claro entender que a gestão
Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de
métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita, ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na
necessariamente, a conteúdos determinados. Demo78 afirma construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão.
que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar
meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado
desafios do desenvolvimento”. à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto
de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia
Política - a qualidade política é condição imprescindível da e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria
participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia
Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios
fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
humana”.

76 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da 78 DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994.
escola: uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. 79 MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da escola". In:
77 SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande Revista Educação e Contexto. Projeto pedagógico e identidade da escola no 18.
no 3. São Paulo, 1982. ljuí, Unijuí, abr./jun. 1990.

Conhecimentos Pedagógicos 69
APOSTILAS OPÇÃO

Para Rios80, a escola tem uma autonomia relativa e a Estratégia de Planejamento


liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a Marco Referencial: é necessário definir o conjunto de
liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na ideias, de opções e teorias que orientará a prática da escola.
vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os Para tanto, é preciso analisar em que contexto a escola está
outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos na liberdade na inserida. Para assim definir e explicitar com que tipo de
escola, devemos pensá-la na relação entre administradores, sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas ela
professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte buscará formar e qual a sua intencionalidade político, social,
de responsabilidade na construção do projeto político- cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os critérios
pedagógico e na relação destes com o contexto social mais de ação para planejar como se deseja a escola no que se refere
amplo. à dimensão pedagógica, comunitária e administrativa.
A liberdade deve ser considerada, também, como É um momento que requer estudos, reflexões teóricas,
liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e análise do contexto, trabalho individual, em grupo, debates,
o saber direcionados para uma intencionalidade definida elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que
coletivamente. todos os segmentos envolvidos com a construção do projeto
político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do
Valorização do magistério: é um princípio central na contexto em que a escola se insere. É necessário partir da
discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais
ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar ampla. Então se deve analisar e discutir como vivem as pessoas
cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica, da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a
política e cultural do país relacionam-se estreitamente a compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações
formação (inicial e continuada), condições de trabalho deste trabalho, como é a vida no período da infância,
(recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta
integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula comunidade, quais são as formas de organização desta
etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à comunidade, etc.
profissionalização do magistério. A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir
O reforço à valorização dos profissionais da educação, a relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de
garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e
permanente, significa “valorizar a experiência e o da comunidade. Analisar o que tem de comum e tentar fazer
conhecimento que os professores têm a partir de sua prática relação com outros espaços, com a sociedade como um todo.
pedagógica”. Discutir como se vê a sociedade brasileira, quais são os valores
que estão presentes, como estes são manifestados, se as
A formação continuada é um direito de todos os pessoas estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de
profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela organização.
possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
qualificação e na competência dos profissionais, mas também Para delimitar o marco doutrinal do projeto político-
propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós
dos professores articulado com as escolas e seus projetos. queremos construir, com que valores, o que significa ser
A formação continuada deve estar centrada na escola e sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com
fazer parte do projeto político-pedagógico. Assim, compete à a formação deste sujeito durante a sua vida.
escola:
- proceder ao levantamento de necessidades de formação Para definirmos o marco operativo sugere-se que
continuada de seus profissionais; analisemos a concepção e os princípios para o papel que a
- elaborar seu programa de formação, contando com a escola pode desempenhar na sociedade.
participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de
do referido programa. cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que
Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação seja nossa escola, que tipo de educação precisamos
continuada, questões como cidadania, gestão democrática, desenvolver para ajudar a construir a sociedade que
avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica
tecnologias de ensino, entre outras. da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe
Inicialmente, convém alertar para o fato de que pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a
essa tomada de consciência, dos princípios do projeto político- escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela,
pedagógico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar analisando qual a importância desta relação para os sujeitos
os braços diante da atual organização da escola, que inibe a que dela participam.
participação de educadores, funcionários e alunos no processo
de gestão. Marco Diagnóstico: é o segundo passo da construção do
É preciso ter consciência de que a dominação no interior projeto e se constitui num momento importante que permite
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se uma radiografia da situação em que a escola se encontra na
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico
diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer
como por meio das formas de controle existentes no interior comparações e estabelecer necessidades para se chegar à
da organização escolar. Por outro lado, a escola é local de intencionalidade do projeto.
desenvolvimento da consciência crítica da realidade.
O documento produzido sobre o marco referencial deve
ser lido por todos. Com base neste documento deve-se
elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os

80 RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto pedagógico". In:

Série Ideias. São Paulo, FDE,1982.

Conhecimentos Pedagógicos 70
APOSTILAS OPÇÃO

elementos que aparecem no documento com a prática social As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre assim ser definidas:
escola e a comunidade, como ela trabalha com os
conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social, Cronograma de trabalho e definição da divisão de
como os conteúdos são escolhidos, como os professores tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a
planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com
se avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da que haja organização e compromisso com o trabalho de
escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem elaboração.
definido a sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se
dão as relações e a participação de alunos, professores, É importante reiterar que, quando se busca uma nova
coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
organização do trabalho pedagógico escolar. as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por calçadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
todos da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do participação coletiva, em contraposição à organização regida
diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do
pode-se definir um plano de ação e as grandes estratégias que controle hierárquico.
devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade É nesse movimento que se verifica o confronto de
assumida no marco referencial. interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de se
gestar uma nova organização deve levar em conta as condições
Propostas de Ação ou Marco da Programação: este é o concretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e é
momento em que se procura pensar estratégias, linhas de nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as
ação, normas, ações concretas permanentes e temporárias rupturas, propiciando a construção de novas formas de
para responder às necessidades apontadas a partir do relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva
diagnóstico tendo por referência sempre à intencionalidade que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os
assumida. Assim, cada problema constatado, cada necessidade diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
apontada é preciso definir uma proposta de ação. descentralização do poder.
Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes
metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes, Histórico da instituição: sua criação, ato normativo,
ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para origem de seu nome, etc.
atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada
meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos Abrangência da ação educativa referente:
necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e - Nível de ensino e suas etapas;
como será feita a avaliação. - Modalidades de educação que irá atender;
Com base nesses três momentos que devem estar - Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da
dialeticamente articulados elabora-se o projeto político- equipe pedagógica e administrativa;
pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser - À comunidade externa: entorno social.
executado, avaliado e (re)planejado.
Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela
instituição.
Resumindo, temos três marcos importantes:
- marco referencial: posicionamento político Princípios legais e norteadores da ação: a instituição
deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou
e pedagógico guiados por um ideal do que se municipal) de Educação. A partir da identificação dos
quer alcançar, as referências e a missão da princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar
escola na sociedade são discutidas e o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação.
definidas;
Currículo: identificar o paradigma curricular em
- marco diagnóstico: a busca das concordância com sua opção do método, da teoria que orienta
necessidades a partir da realidade orientada sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre
pela indagação do que nos falta para ser o que sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um
referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é
desejamos; preciso considerar alguns pontos básicos:
- marco da programação: elaboração de
uma proposta de ação estruturada a partir da 1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O
currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e
ideia do que faremos concretamente para desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar
suprir as necessidades. que a classe dominante utiliza para a manutenção de
privilégios. A determinação do conhecimento escolar,
Etapas portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da
Devemos analisar e compreender a organização do cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo
trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova expressa uma cultura.
organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho, 2º - é o de que o currículo não pode ser separado do
de sua fragmentação e do controle hierárquico. contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e
Nessa perspectiva, a construção do projeto político- culturalmente determinado.
pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de 3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a
contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido
rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do
autoritário e centralizador dos órgãos da administração conhecimento escolar.
central. 4º - refere-se a questão do controle social, já que o
currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e

Conhecimentos Pedagógicos 71
APOSTILAS OPÇÃO

recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado currículo integração que conduz a um ensino em extensão.
pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
valores dominantes são passados aos alunos no ambiente É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
escolar, no material didático e mais especificamente por conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os
“estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além
sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades da sala de aula.
socioeconômicas e culturais”.
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico:
implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa,
sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser responsáveis, cronograma.
humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários Esses são alguns elementos que devem ser abordados no
à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na projeto pedagógico.
visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a Geralmente encontram-se documentos com a seguinte
contestação e a resistência à ideologia veiculada por organização: apresentação, dados de identificação,
intermédio dos currículos escolares. organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e
metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de
Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo
e metodológicas quanto à educação infantil, ensino de formação continuada, organização e utilização do espaço
fundamental, ensino médio, educação especial, educação de físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices,
jovens e adultos, educação profissional. Mecanismos de dentre outros:
acompanhamento pedagógico, de recuperação paralela, de
avaliação: indicadores de aprendizagem, diretrizes, Finalidades
procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação. Segundo Veiga82, a escola persegue finalidades. É
Programa de formação continuada: concepção, importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza
objetivos, eixos, política e estratégia. das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se
refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com
Formas de relacionamento com a comunidade: base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As
concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e finalidades da escola referem-se aos efeitos intencionalmente
estratégias. pretendidos e almejados.
Alves83 afirma que há necessidade de saber se a escola
Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades
de atividades. e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos
- diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais. específicos. O autor enfatiza que: interessará reter se as
- estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são
comunitária. definidas no interior do território social e se são definidas por
- normas de utilização de espaços comuns da instituição. consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua,
imprecisa ou marginal.
O tempo é um dos elementos constitutivos da organização Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola
do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo: deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho
determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia,
feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
períodos para reuniões técnicas, cursos etc. os outros níveis da esfera administrativa educacional.
O horário escolar, que fixa o número de horas por semana A ideia de autonomia está ligada à concepção
e que varia em razão das disciplinas constantes na grade emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
curricular, estipula também o número de aulas por professor. pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
Tal como afirma Enguita81. definem a política da qual ela não passa de executora. Ela
(...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para
mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de
menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais. liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades
sociopolíticas e culturais da escola.
A organização do tempo do conhecimento escolar é
marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, Estrutura Organizacional
consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de
para disciplinas supostamente separadas. O controle estruturas: administrativas e pedagógicas.
hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
controlado pela administração e pelo professor. Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem
mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, parte, ainda, das estruturas administrativas todos os
elementos que têm uma forma material como, por exemplo, a

81 ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no 83 ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas.

capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. Porto Edições Asa, 1992.
82 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da

escola: uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002.

Conhecimentos Pedagógicos 72
APOSTILAS OPÇÃO

arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se Avaliação


apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
materiais didáticos, mobiliário, distribuição das dependências reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
(água, esgoto, lixo e energia elétrica). pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas
administrativas, “organizam as funções educativas para que a da existência de problemas bem como suas relações, suas
escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação
estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global,
e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
pedagógico. rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
A análise da estrutura organizacional da escola visa das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar própria organização do trabalho pedagógico.
claro que a escola é uma organização orientada por Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar
finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-
significam indagar sobre suas características, seus polos de pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos
poder, seus conflitos. educadores e dos educandos.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os O processo de avaliação envolve três momentos: a
pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola descrição e a problematização da realidade escolar, a
que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e
modificar a realidade social. Para realizar um ensino de a proposição de alternativas de ação, momento de criação
qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que coletiva.
romper com a atual forma de organização burocrática que A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
regula o trabalho pedagógico - pela conformidade às regras instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes
fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
central e pela cisão entre os que pensam e executam, que o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de
conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos
que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo
ordem e a disciplina. de avaliação diagnóstica.
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e Questões
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a
realidade escolar, estabelecendo relações, definindo 01. (FGV - Prefeitura de Salvador/BA - Professor -
finalidades comuns e configurando novas formas de organizar 2019) Assinale a opção que contém o documento que todo
as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria estabelecimento de ensino deve produzir a partir da realidade
do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende. escolar, e que se constitui como um reflexo e um produto do
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos processo de planejamento da unidade de ensino.
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade (A) Diretrizes Curriculares para a Educação Básica.
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, (B) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando (C) Plano Nacional de Educação.
consequentemente a construção de uma nova forma de (D) Projeto Político Pedagógico.
organização. (E) Parâmetros Curriculares Nacionais.

Processo de Decisão 02. (COMPERVE - Prefeitura de Parnamirim/RN –


Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas Pedagogo – 2019) Uma escola recém-inaugurada está em
das ações e principalmente das decisões é orientado por processo de elaboração do projeto Político Pedagógico (PPP).
procedimentos formalizados, prevalecendo as relações Para essa finalidade, são realizadas várias discussões com
hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e professores, famílias, comunidade, estudantes. A pedagoga da
centralizador. escola registra algumas afirmações reiteradas durante as
Uma estrutura administrativa da escola adequada à reuniões por alguns de seus participantes, dentre as quais se
realização de objetivos educacionais, de acordo com os destacam as reproduzidas abaixo.
interesses da população, deve prever mecanismos que I O PPP, sob o critério da flexibilidade curricular, não deve
estimulem a participação de todos no processo de decisão. considerar a diversidade de ritmos de desenvolvimento dos
Isto requer uma revisão das atribuições especificas e sujeitos das aprendizagens e os caminhos por eles escolhidos.
gerais, bem como da distribuição do poder e da II A curiosidade e a pesquisa, incluídas de modo cuidadoso
descentralização do processo de decisão. Para que isso seja e sistemático as chamadas referências virtuais de
possível há necessidade de se instalarem mecanismos aprendizagem que se dão em contextos digitais, devem ser
institucionais visando à participação política de todos os consideradas pelos sujeitos do processo educativo como
envolvidos com o processo educativo da escola. sendo o núcleo central das aprendizagens no PPP.
III O PPP deve contemplar programas propostos a partir
Contudo, a participação da coordenação pedagógica dos quais a escola desenvolve ações inovadoras, cujo foco
nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a valoriza a prevenção de consequências de fatores que vêm
satisfação do bom atendimento em prol de toda a ameaçando a saúde e o bem-estar dos estudantes.
instituição.

Conhecimentos Pedagógicos 73
APOSTILAS OPÇÃO

IV A padronização curricular dos espaços físicos e do Gandin85 sugere que se pense no planejamento como uma
tempo escolar devem ser explicitadas no PPP como uma ferramenta para dar eficiência à ação humana, ou seja, deve ser
necessidade da gestão democrática. utilizado para a organização na tomada de decisões. Para
Dentre as afirmações, estão corretas melhor entender precisa-se compreender alguns conceitos,
(A) I e III. tais como: planejar, planejamento e planos.
(B) II e IV.
(C) II e III. Libâneo86 diz que o planejamento do trabalho docente é
(D) I e IV. um processo de racionalização, organização e coordenação da
ação do professor, tendo as seguintes funções: explicar
03. (SEDUC-RO - Professor - História - FUNCAB) Quanto princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho; expressar
ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar que ele: os vínculos entre o posicionamento filosófico, político,
(A) deve ser democrático. pedagógico e profissional das ações do professor; assegurar a
(B) precisa ser construído coletivamente. racionalização, organização e coordenação do trabalho; prever
(C) confere identidade à escola. objetivos, conteúdos e métodos; assegurar a unidade e a
(D) explicita a intencionalidade da escola. coerência do trabalho docente; atualizar constantemente o
(E) mostra-se abrangente e imutável. conteúdo do plano; facilitar a preparação das aulas.

04. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Área de Planejamento: “É um instrumento direcional de todo o
Pedagogia - CESPE) Julgue o item a seguir, relativo a projeto processo educacional, pois estabelece e determina as grandes
político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina
considerado processo de permanente reflexão e discussão a todos os recursos e meios necessários para a consecução de
respeito dos problemas da organização, com o propósito de grandes finalidades, metas e objetivos da educação. ”
propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos
almejados. Plano Nacional de Educação: “Nele se reflete a política
Os pressupostos que norteiam o projeto político- educacional de um povo, num determinado momento histórico
pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão do país. É o de maior abrangência porque interfere nos
democrática. planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal. ”
( ) Certo ( ) Errado
Plano de Curso: “O plano de curso é a sistematização da
05. (Prefeitura de Palmas/TO - Professor - Língua proposta geral de trabalho do professor naquela determinada
Espanhola - FDC) “O projeto político-pedagógico antecipa um disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser
futuro diferente do presente. Não é algo que é construído e anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a
arquivado como prova do cumprimento de tarefas disciplina é oferecida. ”
burocráticas.” (Ilma Passos)
Segundo a autora, o projeto político-pedagógico, Plano de Aula: “É a sequência de tudo o que vai ser
comprometido com uma educação democrática e de desenvolvido em um dia letivo. (...). É a sistematização de todas
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como: as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que
(A) atividades articuladas, com temas selecionados o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino e de
semestralmente. aprendizagem. ”
(B) planejamento global, com conteúdos selecionados por
série. Plano de Ensino: “É a previsão dos objetivos e tarefas do
(C) ação intencional, com compromisso definido trabalho docente para um ano ou um semestre; é um
coletivamente. documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos
(D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores. específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico. ”
(E) instrumento técnico, com definição metodológica.
Projeto Político Pedagógico: “É o planejamento geral que
Gabarito envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a
organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da
01.D / 02.C / 03.E / 04.Errado / 05.C instituição. É um processo de organização e coordenação da
ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o
contexto social da escola. É o planejamento que define os fins
do trabalho pedagógico.”87.
Planejamento de ensino
Os conceitos apresentados têm por objetivo mostrar para
o professor a importância, a funcionalidade e principalmente
a relação íntima existente entre essas tipologias.
Para Moretto84, planejar é organizar ações (ideias e Segundo Fusari88, “Apesar de os educadores em geral
informações). Essa é uma definição simples, mas que mostra utilizarem, no cotidiano do trabalho, os termos “planejamento”
uma dimensão da importância do ato de planejar, uma vez que e “plano” como sinônimos, estes não o são.”
o planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto do Outro aspecto importante, segundo Schmitz89 é que “as
professor como do aluno. denominações variam muito. Basta que fique claro o que se
entende por cada um desses planos e como se caracterizam. ”
O que se faz necessário é estar consciente que:

84 MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o 87 MEC - Ministério da Educação e Cultura. Trabalhando com a Educação de

desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. Jovens e Adultos - Avaliação e Planejamento - Caderno 4 - SECAD - Secretaria de
85 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2006.
prática educativa. 2011. 88 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas
86LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. indagações e tentativas de respostas.1990.
89 SCHMITZ, Egídio. Fundamentos da Didática. 7ª Ed. São Leopoldo, RS:

Editora Unisinos, 2000.

Conhecimentos Pedagógicos 74
APOSTILAS OPÇÃO

“Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica
planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos para o bem-estar do homem e da sociedade.
resultados. E sendo a educação, especialmente a educação
escolar, uma atividade sistemática, uma organização da Elementos Constitutivos do Planejamento
situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de
planejamento muito sério. Não se pode improvisar a educação, Objetivos e Conteúdos de Ensino: os objetivos
seja ela qual for o seu nível. ” determinam de antemão os resultados esperados do processo
entre o professor e o aluno, determinam também a gama de
Conceito de Planejamento habilidades e hábitos a serem adquiridos. Já os conteúdos
formam a base da instrução.
O Planejamento pode ser conceituado como um processo, A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio de
considerando os seguintes aspectos: produção, pesquisa, uma ação intencional e sistemática para oferecer
finanças, recursos humanos, propósitos, objetivos, estratégias, aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais
políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos, para determinação de propósitos definidos e explícitos quanto
tempo, unidades organizacionais etc. Desenvolvido para o às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os
alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais objetivos têm pelo menos três referências fundamentais para
eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de a sua formulação.
esforços e recursos. - Os valores e ideias ditos na legislação educacional.
O Planejamento também pressupõe a necessidade de um - Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na história
processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua da humanidade.
elaboração e implementação na escola. Este processo deve - As necessidades e expectativas da maioria da sociedade.
conter ao mesmo tempo, os componentes individuais e
organizacionais, bem como a ação nesses dois níveis deve ser Métodos e Estratégias: o método por sua vez é a forma
orientada de tal maneira que garanta certa confluência de com que estes objetivos e conteúdos serão ministrados na
interesses dos diversos fatores alocados no ambiente escolar. prática ao aluno. Cabe aos métodos dinamizar as condições e
O processo de planejar envolve, portanto, um modo de modos de realização do ensino. Refere-se aos meios utilizados
pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo
indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer, com cada atividade e os resultados esperados.
como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde. As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto,
É um processo de estabelecimento de um estado futuro há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele
desejado e um delineamento dos meios efetivos de torna-lo momento com o processo de ensino e de aprendizagem. Por
realidade justifica que ele antecede à decisão e à ação. isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os
sujeitos envolvidos - professores e alunos.
Finalidade - Para que Planejar?90
Multimídia Educativa: a multimídia educativa é uma
A primeira coisa que nos vem à mente quando estratégia de ensino e de aprendizagem que pode ser utilizada
perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência. por estudantes e professores. É imperativa a importância das
Ela é a execução perfeita de uma tarefa que se realiza. O multimídias educativas com uso da informática no processo
carrasco é eficiente quando o condenado morre segundo o educativo como uma ferramenta auxiliar na educação.
previsto. A telefonista é eficiente quando atende a todos os
chamados e faz, a tempo, todas as ligações. O digitador, quando Avaliação Educacional: é uma tarefa didática necessária e
escreve rapidamente (há expectativas fixadas) e não comete permanente no trabalho do professor, deve acompanhar todos
erros. os passos do processo de ensino e de aprendizagem. É através
O planejamento e um plano ajudam a alcançar a eficiência, dela que vão sendo comparados os resultados obtidos no
isto é, elaboram-se planos, implanta-se um processo de decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos,
planejamento a fim de que seja benfeito aquilo que se faz conforme os objetivos propostos, a fim de verificar progressos,
dentro dos limites previstos para aquela execução. dificuldades e orientar o trabalho para as correções
Mas esta não é a mais importante finalidade do necessárias.
planejamento. Ele visa também a eficácia. Os dicionários não A avaliação insere-se não só nas funções didáticas, mas
fazem diferença suficiente entre eficácia e eficiência. O melhor também na própria dinâmica e estrutura do Processo de
é não se preocupar com palavras e verificar que o Ensino e de Aprendizagem.
planejamento deve alcançar não só que se faça bem as coisas
que se fazem (chamaremos isso de eficiência), mas que se Planejamento e Políticas de Educação no Brasil
façam as coisas que realmente importa fazer, porque são
socialmente desejáveis (chamaremos isso de eficácia). A formação da Educação Brasileira inicia-se com a
A eficácia é atingida quando se escolhem, entre muitas Companhia de Jesus, em 1549, com o trabalho dos Jesuítas:
ações possíveis, aqueles que, executadas, levam à consecução suas escolas de primeiras letras, colégios e seminários, até os
de um fim previamente estabelecido e condizente com aquilo dias atuais. Nesse primeiro momento, a educação não foi um
em que se crê. problema que emergisse como um assunto Nacional, no
Além destas finalidades do planejamento, Gandin91 entanto, tenha sido um dos aspectos das tensões constantes
introduz a discussão sobre uma outra, tão significativa quanto entre a Ordem dos Jesuítas e a Coroa Portuguesa, que mais
estas, e que dá ao planejamento um status obrigatório em tarde, levou à expulsão dos mesmos em 1759. A expulsão dos
todas as atividades humanas: é a compreensão do processo de jesuítas criou um vazio escolar. A insuficiência de recursos e
planejamento como um processo educativo. escassez de mestres desarticulou o trabalho educativo no País,
É evidente que esta finalidade só é alcançada quando o com repercussões que se estenderam até o período imperial.
processo de planejamento é concebido como uma prática que Com a vinda da Família Imperial, a educação brasileira
sublime a participação, a democracia, a libertação. Então o toma um novo impulso, principalmente com a criação dos

90 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo: 91 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da

Edições Loyola, 2013. prática educativa. 2011.

Conhecimentos Pedagógicos 75
APOSTILAS OPÇÃO

cursos superiores, no entanto a educação popular foi relegada No entanto, os dois primeiros artigos dos 504 que
em segundo plano. Com a reforma constitucional de 1834, as compuseram o Plano de 37, chamam atenção, no que se refere
responsabilidades da educação popular foram ao Planejamento Educacional a nível nacional, atualmente:
descentralizadas, deixando-as às províncias e reservando à
Corte a competência sobre o ensino médio e superior. Art. 1°- O Plano Nacional de Educação, código da educação
Nesse período, a situação continuou a mesma: escassez de nacional, é o conjunto de princípios e normas adotados por
escolas e de professores na educação básica. Com a educação esta lei para servirem de base à organização e funcionamento
média e superior, prevaleceram às aulas avulsas destinadas das instituições educativas, escolares e extraescolares,
apenas às classes mais abastadas. mantidas no território nacional pelos poderes públicos ou por
A Proclamação da República, também não alterou particulares.
significativamente a ordenação legal da Educação Brasileira, Art. 2°- Este Plano só poderá ser revisto após vigência de
foi preciso esperar até a década de 20 para que, o debate dez anos.
educacional ganhasse um espaço social mais amplo. Nesta
época, as questões educacionais deixaram de ser temas Nesses artigos, há três pontos os quais convém destacar,
isolados para se tornarem um problema nacional. Várias pois repercutiram e persistiram em parte, em iniciativas e leis
tentativas de reforma ocorreram em vários estados; iniciou-se posteriores:
uma efetiva profissionalização do magistério e novos modelos - O Plano de Educação identifica-se com as diretrizes da
pedagógicos começaram a ser discutidos e introduzidos na Educação Nacional;
escola. - O Plano deve ser fixado por Lei;
- O Plano só poderá ser revisto após uma vigência
Surgimento do Plano de Educação prolongada.

A primeira experiência de planejamento governamental no Segundo Kuenzer92 “o planejamento de educação também


Brasil foi executada no governo de Juscelino Kubitschek com é estabelecido a partir das regras e relações da produção
seu Plano de Metas (1956/61). Antes, os chamados planos que capitalista, herdando, portanto, as formas, os fins, as
se sucederam desde 1940, foram diagnósticos que tentavam capacidades e os domínios do capitalismo monopolista do
racionalizar o orçamento. Neste processo de planejamento Estado.”
convém distinguir três fases: Aqui no Brasil, Padilha93 explica que “Durante o regime
- A decisão de planejar; autoritário, eles foram utilizados com um sentido autocrático.
- O plano em si; e Toda decisão política era centralizada e justificada
- A implantação do plano. tecnicamente por tecnocratas à sombra do poder.” Kuenzer
complementa a citação acima explicando que “A ideologia do
A primeira e a última fase são políticas e a segunda é um Planejamento então oferecida a todos, no entanto, escondia
assunto estritamente técnico. essas determinações político-econômicas mais abrangentes e
No caso do Planejamento Educacional, essa distinção é decididas em restritos centros de poder.”
interessante, pois foi preciso um longo período de maturação O regime autoritário fez com que muitos educadores
para que se formulasse de forma explícita a necessidade criassem uma resistência com relação à elaboração de planos,
nacional de uma política de educação e de um plano para uma vez que esses planos eram supervisionados ou
programá-la. A revolução de 30 foi o desfecho das crises elaborados por técnicos que delimitavam o que o professor
políticas e econômicas que agitaram profundamente a década deveria ensinar, priorizando as necessidades do regime
de 20, compondo-se assim, um quadro histórico propício à político. “Num regime político de contenção, o planejamento
transformação da Educação no Brasil. passa a ser bandeira altamente eficaz para o controle e
Em 1932, um grupo de educadores conseguiu captar o ordenamento de todo o sistema educativo.”
anseio coletivo e lançou um manifesto ao povo e ao governo
que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Apesar de se ter claro a importância do planejamento na
Educação Nova”, que extravasava o entusiasmo pela Educação. formação, Fusari94 explica que:
O manifesto era ao mesmo tempo uma denúncia uma exigência “Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implantava a
de uma política educacional consistente e, um plano científico repressão, impedindo rapidamente que um trabalho mais crítico
para executá-la, livrando a ação educativa do empirismo e da e reflexivo, no qual as relações entre educação e sociedade
descontinuidade. O mesmo teve tanta repercussão e motivou pudessem ser problematizadas, fosse vivenciada pelos
uma campanha que repercutiu na Assembleia Constituinte de educadores, criando, assim, um “terreno” propício para o avanço
1934. daquela que foi denominada ‘tendência tecnicista’ da educação
De acordo com a Constituição de 34, o conselho Nacional escolar.”
de Educação elaborou e enviou, em maio de 37, um Mas não se pode pensar que o regime político era o único
anteprojeto do Plano de Educação Nacional, mas com a fator que influenciava no pensamento com relação à
chegada do estado Novo, o mesmo nem chegou a ser discutido. elaboração dos planos de aulas; as teorias da administração
Sendo assim, mesmo que a ideia de plano nacional de também refletiam no ato de planejar do professor, uma vez
educação fosse um fruto do manifesto e das campanhas que se que essas teorias traziam conceitos que iriam auxiliar na
seguiram, o Plano 37 era uma negação das teses defendidas definição do tipo de organização educacional que seria
pelos educadores ligados àqueles movimentos. Totalmente adotado por uma determinada instituição.
centralizador, o mesmo pretendia ordenar em minúcias toda a No início da história da humanidade, o planejamento era
educação nacional. Tudo estava regulamentado ao plano, utilizado sem que as pessoas percebessem sua importância,
desde o ensino pré-primário ao ensino superior; os currículos porém com a evolução da vida humana, principalmente no
eram estabelecidos e até mesmo o número de provas e os setor industrial e comercial, houve a necessidade de adaptá-lo
critérios de avaliação. para os diversos setores.

92 KUENZER, Acácia Zeneida, CALAZANS, M. Julieta C., GARCIA, Walter. 94 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas

Planejamento e educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. indagações e tentativas de respostas.1990.
93 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto

político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 76
APOSTILAS OPÇÃO

Nas escolas ele também era muito utilizado; a princípio, o


planejamento era uma maneira de controlar a ação dos
professores de modo a não interferir no regime político da
época. Hoje o planejamento já não tem a função reguladora
dentro das escolas, ele serve como uma ferramenta
importantíssima para organizar e subsidiar o trabalho do
professor.

Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Após o anteprojeto de Plano de 37, a ideia de um Plano


Nacional de Educação permaneceu sem efeito até 1962,
quando foi elaborado e efetivamente instituído o primeiro
Plano Nacional governamental. No entanto, no Plano de Metas A seguir, temos o planejamento Escolar e depois o
de Kubitschek, a educação era a meta número 30. Curricular, que está intimamente relacionado às prioridades
O setor de educação entrou no conjunto do Plano de metas assentadas no planejamento educacional. Sua função é
pressionado pela compreensão de que a falta de recursos traduzir, em termos mais próximos e concretos, as linhas-
humanos qualificados poderia ser um dos pontos de mestras de ação delineadas no planejamento imediatamente
estrangulamento do desenvolvimento do país. superior, através de seus objetivos e metas. Constitui o
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional esquema normativo que serve de base para definir e
(LDB) acabou surgindo com a Lei n° 4.024 de 1961, no entanto, particularizar a linha de ação proposta pela escola. Permite a
vale ressaltar a concepção do que deveria ser uma LDB. inter-relação entre a escola e a comunidade.
Segundo o Relatório Geral da Comissão: Logo após, temos o planejamento de ensino, que parte
sempre de pontos referenciais estabelecidos no planejamento
Diretriz é uma linha de orientação, norma de conduta, curricular. Temos, em essência, neste tipo de planejamento,
"Base" é a superfície de apoio, fundamento. Aquela indica a dimensões:
direção geral a seguir, não às minudências do caminho. Significa - Filosófica, que explicita os objetivos da escola;
também o alicerce do edifício, não o próprio edifício sobre o qual - Psicológica, que indica a fase de desenvolvimento do
o alicerce está construído. A lei de Diretrizes e Bases conterá aluno, suas possibilidades e interesses;
somente os preceitos genéricos e fundamentais. - Social, que expressa as características do contexto sócio-
econômico-cultural do aluno e suas exigências.
No entanto, a LDB de 61, distanciou-se muito da clareza e Este detalhamento é feito tendo em vista os processos de
da sensatez do anteprojeto original, e a lei que sucedeu e ensino e de aprendizagem. Assim, chegamos ao nível mais
substituiu em parte (Lei n° 5.692/71) agravou a situação. elementar e próximo da ação educativa. É através dele que, em
Eliminaram substancialmente qualquer possibilidade de relação ao aluno:
instituição de políticas e planos de educação como - Prevemos mudanças comportamentais e aprendizagem
instrumentos efetivos de um desenvolvimento ideal da de elementos básicos;
Educação Brasileira, pois novamente foi consagrada a ideia de - Propomos aprendizagens a partir de experiências
plano como distribuição de recursos. anteriores e de suas reais possibilidades;
Após a iniciativa pioneira de 1962 e suas revisões, - Estimulamos a integração das diversas áreas de estudo.
sucedem-se, em trinta anos, cerca de dez planos. Em um
estudo realizado nessa área até 1989, conclui-se que essa Como vemos, o planejamento tem níveis distintos de
sucessão de planos que são elaboradas, parcialmente abrangência; no entanto, cada nível tem bem definido e
executadas, revista e abandonada, refletem os males gerais da delimitado o seu universo. Sabemos que um nível particulariza
administração pública brasileira. A educação, realmente não - um ou vários - aspectos delineados no nível antecedente,
era prioritária para os governos. As coordenadas da ação especificando com maior precisão as decisões tomadas em
governamental no setor ficavam bloqueadas ou dificultadas relação a determinados eventos da ação educativa.
pela falta de uma integração ministerial. A linha de relacionamento se evidencia, então, através de
Em consequência disso e de outras razões, sobretudo escalões de complexidade decrescente, exigindo sempre um
políticas, o panorama da experiência brasileira de alto grau de coerência e subordinação na determinação dos
planejamento educacional é um quadro de descontinuidades objetivos almejados.
administrativas, que, fez dessa experiência um conjunto Vejamos cada um deles:
fragmentado de incoerentes iniciativas governamentais que
nunca foram mais do que esquemas distributivos de recursos. Planejamento Educacional
Com esta visão podemos compreender o “porquê” do caos
educacional em nosso país. Desde há muito a educação foi Planejamento educacional é aplicar à própria educação
relegada ao final das filas. O povo foi passando de governo em àquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por
governo sem perceber as perdas que lhe trariam o atraso inculcar em seus alunos: uma abordagem racional e científica
educacional. dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos
objetivos e dos recursos disponíveis, a análise das
Níveis de Planejamento consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a
escolha entre essas possibilidades, a determinação de metas
Na esfera educacional o processo de planejamento ocorre específicas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o
em diversos níveis, segundo a magnitude da ação que se tem desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantar a
em vista realizar. O planejamento educacional é o mais amplo, política escolhida.
geral e abrangente. Prevê a estruturação e o funcionamento da O planejamento educacional significa bem mais que a
totalidade do sistema educacional. Determina as diretrizes da elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de
política nacional de educação. operações interdependentes.
O Planejamento do Sistema de Educação é o de maior
abrangência (enquanto um dos níveis de planejamento na
educação escolar), correspondendo ao planejamento que é
Conhecimentos Pedagógicos 77
APOSTILAS OPÇÃO

feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e Ênfase na subjetividade e na


reflete as grandes políticas educacionais. Enfrenta os dimensão individual. O sistema é
problemas de atendimento à demanda, alocação e Interpretativa uma criação do ser humano. A
gerenciamento de recursos etc. gestão é mediadora reflexiva entre
o indivíduo e o seu meio.
Características do Planejamento Educacional Ênfase na dimensão grupal ou
Categorias Tipos Características holística e nos princípios de
1- Global ou de Dialógica totalidade, contradição, práxis e
Para todo o sistema
conjunto transformação do sistema
Níveis 2- Por setores Graus do Sistema Escolar educacional.
3- Regional Por divisões geográficas
Enfoques Características
4- Local Por escola
Por utilizar metodologia de Práticas normativas e legalistas /
Jurídico
1- Técnico análise, previsão, sistema fechado.
programação e avaliação. Predomínio dos quadros técnicos /
Enquanto Tecnocrático
Por permitir a tomada de especialistas.
Processo 2- Político
decisão. Resgate da dimensão humana:
3- Por coordenar as atividades Comportamental
ênfase psicológica.
Administrativo administrativas. Ênfase para atingir objetivos
1- Curto prazo 1 a 2 anos Desenvolvimentista
Quanto aos econômicos e sociais.
2- Médio prazo 2 a 5 anos
Prazos Ênfase nos valores culturais e
3- Longo prazo 5 a 15 anos
Com base nas demandas Sociológico políticos, contextualizados. Visão
1- Demanda interdisciplinar.
individuais de educação.
Com base nas necessidades do Fonte dos dois quadros: Padilha95
Enquanto 2- Mão-de-obra mercado, voltado para o Objetivos do Planejamento Educacional
Método desenvolvimento do país. São objetivos do planejamento educacional, segundo
Com base nos recursos Joanna Coaracy96:
3- Custo e
disponíveis visando a maiores - “Relacionar o desenvolvimento do sistema educacional
Benefício
benefícios.
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular;
Fundamentos do Planejamento Educacional - “Estabelecer as condições necessárias para o
Concepções Características aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a
Divisão pormenorizada, eficiência do sistema educacional (estrutura, administração,
hierarquizado verticalmente, com financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e
Clássica
ênfase na organização e instrumentos);
pragmático. - Alcançar maior coerência interna na determinação dos
Planejamento seguindo objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;
Transitiva procedimentos de trabalho com - Conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do
ênfase na liderança. sistema”.
Visão horizontal, com ênfase nas
relações humanas, na dinâmica É condição primordial do processo de planejamento
Mayoista
interpessoal e grupal, na delegação integral da educação que, em nenhum caso, interesses
de autoridade e na autonomia. pessoais ou de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais
Pragmática, racionalidade no que vão contribuir para a dignificação do homem e para o
Neoclássica / por processo decisório, participativo, desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
objetivos com ênfase nos resultados e
estratégia de cooperação. Requisitos do Planejamento Educacional
Tradição Características (do consenso / - Aplicação do método científico na investigação da
Funcionalista positivista / evolucionista) realidade educativa, cultural, social e econômica do país;
Cumprimento de leis e normas. Visa - Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a
à eficácia institucional do sistema. curto, médio e longo prazo;
Burocrático
Enfatiza a dimensão institucional - Apreciação realista das possibilidades de recursos
ou objetiva. humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das
Enfatiza a eficiência individual de soluções propostas;
Idiossincrático todos os que participam do sistema, - Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no
portanto, dimensão subjetiva. desenvolvimento do planejamento;
Clima organizacional pragmático. - Continuidade que assegure a ação sistemática para
Visa o equilíbrio entre eficácia alcançar os fins propostos;
Integradora institucional e eficiência individual, - Coordenação dos serviços da educação, e destes com os
com ênfase na dimensão grupal ou demais serviços do Estado, em todos os níveis da
holística. administração pública;
Tradição Características (conflito / teorias - Avaliação periódica dos planos e adaptação constante
Interacionista críticas e libertárias) destes mesmos às novas necessidades e circunstâncias;
Ênfase nas condições estruturais de - Flexibilidade que permita a adaptação do plano a
natureza econômica do sistema. situações imprevistas ou imprevisíveis;
Estruturalista Enfatiza a dimensão institucional - Trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços
ou objetiva. Orientação eficazes e coordenados;
determinista.

95 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto 96 COARACY, Joanna. O planejamento como processo. Revista Educação, Ano I,

político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. no. 4, Brasília, 1972.

Conhecimentos Pedagógicos 78
APOSTILAS OPÇÃO

- Formulação e apresentação do plano como iniciativa e realidade imediata e dos avanços técnicos, principalmente na
esforço nacionais, e não como esforço de determinadas área educacional. Constitui, por suas características, base vital
pessoas, grupos e setores”.97 do trabalho. A dinamização e integração da escola como uma
célula viva da sociedade, que palmilha determinados caminhos
Pressupostos Básicos do Planejamento Educacional conforme a linha filosófica adotada, é o pressuposto inerente a
- O delineamento da filosofia da educação do país, sua estruturação.
evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade; O planejamento curricular constitui, portanto, uma tarefa
- A aplicação da análise - sistemática e racional - ao contínua a nível de escola, em função das crescentes exigências
processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo de nosso tempo e dos processos que tentam acelerar a
mais eficiente e passível de responder com maior precisão às aprendizagem. Será sempre um desafio a todos aqueles
necessidades e objetivos da sociedade. envolvidos no processo educacional, para busca dos meios
Podemos, portanto, considerar que o planejamento mais adequados à obtenção de maiores resultados.
educacional constitui a abordagem racional e científica dos
problemas da educação, envolvendo o aprimoramento gradual Planejamento de Ensino
de conceitos e meios de análise, visando estudar a eficiência e
a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos Planejamento de ensino é o processo que envolve a
aspectos. atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho
pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações o
Planejamento Curricular tempo todo. Envolve permanentemente as interações entre os
educadores e entre os próprios educandos.
Planejamento curricular é o processo de tomada de
decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão Objetivos do Planejamento de Ensino
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. É o - Racionalizar as atividades educativas;
instrumento que orienta a educação como um processo - Assegurar um ensino efetivo e econômico;
dinâmico e integrado de todos os elementos que interagem - Conduzir os alunos ao alcance dos objetivos;
para consecução dos objetivos, tanto os dos alunos como os da - Verificar a marcha do processo educativo.
escola.
O Planejamento curricular, enquanto um dos níveis dos Requisitos do Planejamento do Ensino
planejamentos da educação escolar é a proposta geral das Por maior complexidade que envolva a organização da
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela escola, é indispensável ter sempre bem presente que a
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares. interação professor-aluno é o suporte estrutural, cuja
Enquanto um dos níveis do planejamento na educação dinâmica concretiza ao fenômeno educativo. Portanto, o
escolar, o Planejamento curricular é a proposta geral das planejamento de ensino deve ser alicerçado neste pressuposto
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela básico.
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares O professor, ao planejar o trabalho, deve estar
desde as séries iniciais até as finais. familiarizado com o que pode pôr em prática, de maneira que
A proposta curricular pode ter como referência os possa selecionar o que é melhor, adaptando tudo isso às
seguintes elementos: necessidades e interesses de seus alunos. Na maioria das
- Fundamentos da disciplina; situações, o professor dependerá de seus próprios recursos
- Área de estudo; para elaborar seus planos de trabalho. Por isso, deverá estar
- Desafios Pedagógicos; bem informado dos requisitos técnicos para que possa
- Encaminhamento Metodológico; planejar, independentemente, sem dificuldades.
- Propostas de Conteúdos; Ainda temos a considerar que as condições de trabalho
- Processos de Avaliação. diferem de escola para escola, tendo sempre que adaptar seus
projetos às circunstâncias e exigências do meio. Considerando
Objetivos do Planejamento Curricular que o ensino é o guia das situações de aprendizagem e que
- Ajudar aos membros da comunidade escolar a definir ajuda os estudantes a alcançarem os resultados desejados, a
seus objetivos; ação de planejá-lo é predominantemente importante para
- Obter maior efetividade no ensino; incrementar a eficiência da ação a ser desencadeada no âmbito
- Coordenar esforços para aperfeiçoar o processo de escolar.
ensino e de aprendizagem; O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo,
- Propiciar o estabelecimento de um clima estimulante pode organizar três tipos de planos de ensino. Por ordem de
para o desenvolvimento das tarefas educativas. abrangência:
- Plano de Curso - delinear, globalmente, toda a ação a ser
Requisitos do Planejamento Curricular empreendida;
O planejamento curricular deve refletir os melhores meios - Plano de Unidade - disciplinar partes da ação pretendida
de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo, no plano global;
sempre, todos os elementos participantes do processo. - Plano de Aula - especificar as realizações diárias para a
Seus elaboradores devem estar alertas paras novas concretização dos planos anteriores.
descobertas e para os novos meios postos ao alcance das Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à
escolas. Estes devem ser minuciosamente analisados para atividade do professor e alunos, é considerado etapa
verificar sua real validade naquele âmbito escolar. Posto isso, obrigatória de todo o trabalho docente. O planejamento tende
fica evidente a necessidade dos organizadores explorarem, a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior
aceitarem, adaptarem, enriquecerem ou mesmo rejeitarem segurança na consecução dos objetivos previstos, bem como
tais inovações. na verificação da qualidade do ensino que está sendo
O planejamento curricular é de complexa elaboração. orientado pelo mestre e pela escola.
Requer um contínuo estudo e uma constante investigação da

97 UNESCO, Seminário Interamericano sobre planejamento integral na

educação. Washington. 1958.

Conhecimentos Pedagógicos 79
APOSTILAS OPÇÃO

Planejamento Escolar O centro do processo educativo não deve ser o conteúdo


preestabelecido como se tem feito nas escolas ainda hoje.
O Planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui Qualquer professor estaria de acordo em dizer que o centro do
tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua processo não é o conteúdo, mas em sua prática, a grande
organização e coordenação em face dos objetivos propostos, maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes, isso acontece
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de até contra a sua vontade. É que há uma cultura dentro da
ensino. É um processo de racionalização, organização e escola, junto com os pais dos alunos e em todo senso comum
coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar social, de que se vai para a Escola para memorizar alguma
e a problemática do contexto social. informação, normalmente até consideradas inúteis até pelas
mesmas pessoas que as exigem.
Planejamento global da escola é o nível do planejamento O centro do processo educativo também não pode ser o
que corresponde às decisões sobre a organização, aluno. Este desastre é tão conservador como centrar o
funcionamento e proposta pedagógica da escola. É o que o que trabalho no conteúdo. E que quando centramos o processo
mais requer a participação conjunta da comunidade. educativo somente no aluno convertemos todo o processo em
um egoísmo e em um individualismo onde uns dominam os
O Planejamento da escola, enquanto outro nível do outros.
planejamento na educação escolar é o que chamamos de
“Projeto Educativo” - sendo o plano global da instituição. Planejamento e Educação Libertadora98
Compõem-se de Marco Referencial, Diagnóstico e
programação. Envolve as dimensões pedagógicas, No planejamento, é fundamental a ideia de transformação
administrativas e comunitárias da escola. da realidade. Isto quer dizer que uma instituição (um grupo)
se transforma a si mesma tendo em vista influir na
O Planejamento anual da escola consiste em elaborar a transformação da realidade global.
estratégia de ação para o prazo de um ano - conforme a Quer dizer, também, que fez sentido falar em
realidade específica de cada escola - tomando decisões sobre o planejamento, acima e além da administração, como uma
que, para que, como e com o que se vai fazer o trabalho na tarefa política, no sentido de participar na organização na
escola o período proposto levando em conta as linhas tiradas mudança das estruturas sociais existentes. Quer dizer,
no plano global. finalmente, que planejar não é preencher quadrinhos para dar
status de organização séria a um setor qualquer da atividade
Planejamento Participativo humana.
Isso nos traz à educação libertadora como proposta
O Planejamento Participativo se constitui num processo educacional apta a inspirar um processo de planejamento.
político onde há um propósito contínuo e coletivo onde se tem Porque a educação libertadora é uma proposta de mudança.
a oportunidade de discutir a construção do futuro da Essa educação libertadora Gandin fala que tem sua base na II
comunidade, na qual participe o maior número possível de Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellín,
membros de todas as categorias que a constituem. Mais do que Colômbia, 1968).
um significado técnico, o planejamento participativo é um
processo político vinculado à decisão da maioria que será em Referindo-se a educação:
benefício da maioria. - “A que converte o educando em sujeito do seu próprio
Genericamente o planejamento participativo constitui-se desenvolvimento”;
em uma estratégia de trabalho que se caracteriza pela - “O meio-chave para libertar os povos de toda a escravidão
integração de todos os setores da atividade humana social, e para fazê-los ascender de condições de vida menos humanas
dentro de um processo global para solucionar problemas a condições mais humanas”.
comuns. Há nisto uma dimensão pessoal e uma proposta social
global bem claras, no texto apresentadas de forma não
Planejamento de Aulas separada, mas como um posicionamento apenas.
Sem entrar na discussão se o termo “meio-chave” é
O Planejamento de aula é a tomada de decisões referentes exagerado e aceitando que a educação, mesmo a escolar, tem
ao trabalho específico da sala de aula: uma dimensão política realizável, pode-se ver que esta dupla
- Temas proposta leva em conta os dois grandes problemas da América
- Conteúdos Latina de então, que perduram ainda hoje: a organização
- Metodologia injusta da sociedade e a falta quase total do remédio para isso,
- Recursos didáticos a participação.
- Avaliação. Ao propor que o educando seja sujeito de seu
Antes, porém de se planejar a aula propriamente dita deve desenvolvimento, está propondo a existência do grupo, da
ser executado um planejamento de curso para o ano todo. E participação e, como consequência, a conscientização que gera
este deve ser subdividido em semestre para que possa ser a transformação. Basicamente está dando ao pedagógico a
visualizado com mais clareza e objetividade. força que ele realmente pode assumir como contribuinte de
Dentro destes Planos anuais podem ser inseridas as uma transformação social ampla em proveito do homem todo
unidades temáticas, temas transversais que ocorrerão com o e de todos os homens.
desenvolvimento do Plano bimestral ou trimestral. Estes são A partir daí a aproximação entre educação libertadora e
os marcos para que o professor e toda a equipe da escola não planejamento educacional sublinha as mesmas ideias básicas,
se percam dentro de conteúdos extensos e, deixem de de grupo, de participação, de transformação da realidade.
ministrar em cada momento a essência, o significativo para Tanto que, a partir desta dupla base de Medellín, e pensando
que o aluno possa prosseguir seu conhecimento e transformá- no que lhe é mais característico, a metodologia, pode-se definir
lo em aprendizagem. a educação libertadora assim: um grupo (sujeitos em

98 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:

Edições Loyola, 2013.

Conhecimentos Pedagógicos 80
APOSTILAS OPÇÃO

interação) na dinâmica de ação-reflexão, buscando a verdade Nossas imagens ou representações constituem um


e tendendo ao crescimento pessoal e à transformação social. elemento dinamizador da mudança e, portanto, um fator de
concretização do projeto.
Projetos Educativos
Para Vidal, Cárave e Florencio105, o projeto educativo é:
É o primeiro grande instrumento de planejamento da ação - Um meio de adequação das intenções educativas da
educativa da escola, devendo por isso, servir sociedade às características concretas de uma escola;
permanentemente de ponto de referência e orientação na - Elemento orientador do conjunto de atividades
atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em educativas de uma escola;
que a escola se insere, em prol da formação de pessoas e - Instrumento integrador das atividades educativas de uma
cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis, escola;
solidários e democraticamente comprometidos na construção - Garantia de coerência e de continuidade nas diferentes
de um destino comum e de uma sociedade melhor. atuações dos membros de uma comunidade escolar;
Um Projeto Educativo é, segundo a definição de Costa99, um - Critério para avaliar e homologar os processos;
“documento de caráter pedagógico que, elaborado com a - Documento dinâmico para definir as estruturas e
participação da comunidade educativa, estabelece a estratégias organizacionais da escola;
identidade da própria escola através da adequação do quadro - Ponto de referência para a solução dos conflitos de
legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo convivência.
geral de organização e os objetivos pretendidos pela
instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de O projeto educativo traduz o engajamento da instituição
referência orientador na coerência da ação educativa”. escolar, suas prioridades, seus princípios. Ele define o sentido
Isto é, um Projeto Educativo é um documento de de suas ações e fixa as orientações e os meios para colocá-las
orientação pedagógica que, não podendo contrariar a em prática. É formulado por um documento escrito que
legislação vigente, explicita os princípios, os valores, as metas estabelece a identidade da escola (diz o que ela é), apresenta
as estratégias através das quais a escola propõe realizar a sua seus propósitos gerais (diz o que ela quer) e descreve seu
função educativa. modelo geral de organização (diz como ela se organiza).
Barbier100 distingue dois tipos de projeto - o projeto de Concebido como um projeto de longo prazo, ele visa
situação (“representações relativas ao estado final do objeto, favorecer a continuidade e a coerência da ação da escola.
da identidade, da situação que se procura transformar ou Embora não seja um documento inalterável, não deverá estar
modificar”) e o projeto do processo (“representações relativas sujeito a profundas e constantes alterações anuais. De modo
ao processo que permite chegar a este estado final”). geral, “a sua duração dependerá fundamentalmente da
permanência em cada instituição das pessoas que o
O projeto é, por um lado, uma “antecipação” relativa a um elaboraram e da estabilidade das suas convicções”, segundo
estado, uma “representação antecipadora do estado final de Costa106..
uma realidade”, uma previsão ou prospectiva, um objetivo ou Para Vidal, Cárave e Florencio107 e para Carvalho e Diogo108,
fim a atingir, uma pequena utopia. o projeto educativo de escola é um documento de planificação
da ação educativa, de amplitude integral, de duração de longo
Seu conteúdo não é um acontecimento ou objeto prazo e de natureza geral e estratégica. Assim, é mais amplo e
pertencente ao ambiente atual ou passado, mas um fato abrangente do que o projeto pedagógico e o plano de Unidade
possível, uma imagem ou representação de uma possibilidade, Didática que são meios em relação ao projeto educativo e têm
uma ideia a se transformar em ato, um futuro a se “fazer”, uma como objeto converter as finalidades deste em ações, pois são
possibilidade a se transformar em realidade. Sua relação é com documentos de planificação operatória.
um “tempo a vir”, “um futuro de que constitui uma O projeto educativo distingue-se também de outras
antecipação, uma visão prévia” segundo Barbier101. planificações escolares, como o Plano Trienal escolar, o Plano
Por outro lado, a função do projeto não se reduz a simples anual de Escola, o Projeto curricular de turma e o Regimento
representação do futuro. Barbier102 atribui-lhe ainda um duplo interno da Escola, que estão destinados a concretizá-lo
efeito - o operatório ou pragmático e o mobilizador da relativamente a aspectos mais operacionais e, portanto, têm
atividade dos atores implicados. um caráter tático, e instrumental.
No entendimento de Boutinet103, o projeto implica um O projeto educativo é elaborado por toda a comunidade
comprometimento com o futuro. A construção de um projeto escolar. O projeto educativo da escola é um conjunto de opções
já implica na vontade de fazê-lo acontecer. Daí seu valor ideológicas, políticas, antropológicas, axiológicas e
pragmático. O projeto não age, pois, dizer não equivale pedagógicas resultantes da tensão entre o estabelecido ou
automaticamente a fazer, mas “dizer prepara o fazer”. imposto pelo Estado (projeto vertical), a prática implícita
O projeto expressa a representação da realização da ação, interna à escola (projeto ritual) e a postura utópica ou
ou seja, a imagem do resultado da ação. “No caso de uma ação intencional da comunidade escolar (projeto intencional).
coletiva[...], escreve Barbier104, é o projeto que fornece a
representação comum que permite a realização coordenada Dimensões do projeto educativo, citadas por Carvalho e
das operações de execução”. Na sua função mobilizadora, o Diogo109:
projeto apresenta, no plano afetivo, efeitos dinamizadores da O projeto deve servir a incerteza, ter em conta o
atividade dos atores implicados. indeterminado, ser capaz de infletir de direção como resultado
de uma avaliação permanente, incorporar o conflito, mas,
sobretudo, devolver a cada indivíduo o seu espaço de

99 COSTA, Adelino Jorge: "Construção de projetos educativos nas escolas: 104 BARBIER, J.-M. Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto:

traços de um percurso debilmente articulado." - Revista Portuguesa de Educação, Porto Editora.1993.


Volume 17, nº 2. 2004. 105 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. Madrid: Editorial EOS. 1992.
100 BARBIER, J.-M. Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto: 106 COSTA, J. A. Gestão escolar: Participação, autonomia, projecto educativo

Porto Editora.1993. da escola. Lisboa: Texto Editora. 1992.


101 Idem 16. 107 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. Madrid: Editorial EOS. 1992.
102 Idem 16. 108 CARVALHO, A. E DIOGO, F. Projecto educativo. Porto: Edições
103 BOUTINET, J. P.. Le concept de projet e ses niveaux. Éducation Permanente, Afrontamento. 1994.
nº 86. 1986. 109 Idem 24.

Conhecimentos Pedagógicos 81
APOSTILAS OPÇÃO

criatividade e ação de modo a que ele sinta reconhecida a sua - A contextualização;


atividade, compreenda as suas ações e as possa inscrever num - A metodicidade; e
todo significativo. - A flexibilidade.
Neste sentido, o projeto educativo deve ser coletivo, mas
favorecendo a interação; autônomo, mas não independente. Pela intencionalidade, o projeto educativo estabelece
Uma tal concepção exige do projeto educativo: direção e metas precisas e explícitas, evitando a ação educativa
- Explicitação de valores comuns; casual e extemporânea.
- Coerência de atividades; A contextualização representa a adaptação do projeto
- Busca coletiva de recursos e meios para melhorar o educacional do país à realidade sociocultural concreta de uma
ensino; escola. A intencionalidade passa a ser “historicizada”, ou seja,
- Definição de ação; contextualizada num ambiente de referência específico, o que
- Definição de um sentido para uma ação comum; permite a passagem de um projeto abstrato para um projeto
- Gestão participativa; concreto.
- Avaliação permanente, participada e interativa; A metodicidade valoriza o princípio de sistematicidade e
- Implicação do conjunto dos atores; organicidade no processo didático, mesmo reconhecendo as
- Apropriação de saberes e instrumentos de ação por parte diferenças de estilo de aprender e ensinar de alunos e
dos implicados. professores, respectivamente.
Sobre o que não deve ser e o que deve ser o projeto Finalmente, a flexibilidade assegura que o projeto
educativo de escola, Vidal, Cárave e Florencio elaboraram um educativo seja tratado como uma mera hipótese de trabalho e
quadro-síntese que ajuda a clarificar seu entendimento por isso está sujeito a retificações e revisões ao longo de sua
adequado. implementação.

Não deve ser Deve ser PPP - Projeto Político Pedagógico


Uma exposição clara, concisa
Uma enumeração O PPP nasce da necessidade de organização do trabalho
e breve das intenções
detalhada dos elementos pedagógico para os alunos, a escola é o lugar de concepção,
educativas, estruturas,
que compõem um centro: realização e avaliação dessa ação. Será um elo entre a escola e
regulamentos e organização
planos, descrições, a comunidade escolar, bem como com o sistema de ensino que
curricular de uma
professores, etc. a compõe. Essa construção faz emergir a necessidade de
comunidade escolar.
Uma adequação daqueles responsabilização de diversos atores na prática social.
Um manual de psicologia, princípios e estruturas É projeto porque significa lançar para diante. “Todo
pedagogia, sociologia, de educativas que se projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o
organização escolar, etc. consideram adequados para futuro” (Gadotti).
uma comunidade. É político, pois “a dimensão política se cumpre na medida
Um documento destinado Um documento orientador e em que ela se realiza enquanto prática especificamente
ao exercício burocrático guia de todas as atividades pedagógica" (Saviani).
da educação. educativas. É pedagógico porque traz a possibilidade de efetivação da
Um projeto dinâmico e intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão
Um produto fechado, participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo.
modificável em função da
acabado e inalterável. A partir de ações educativas. (Ilma Veiga)
prática educativa.
Um “empenho” pessoal de Uma criação coletiva do
algum membro do corpo conjunto de membros da Questões
docente ou da Associação comunidade educativa do
de Pais de Alunos. centro. 01. (CS/UFG - IFGoiano - Pedagogo - 2019) O
Uma complicação a mais Um facilitador do trabalho planejamento pedagógico é uma ação assegurada pela Lei n.
para o trabalho docente. docente. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a qual garante que os
Uma fórmula Um conjunto articulado de profissionais da escola tenham um tempo para planejar suas
paradigmática que resolve princípios, orientações e atividades. No entanto, a sua importância não se constitui
todos os problemas do sistemas que servem de apenas por ser assegurado por lei, mas pelo planejamento se
centro. Um regulamento marco às atividades constituir parte indispensável do trabalho docente, pois o
de funcionamento. educativas. planejamento docente deve ser
(A) uma ação desenvolvida pelos docentes para os
Um projeto equilibrado,
Um “panfleto” que diz discentes com vistas a organizar seus estudos e suas
produto das intenções de
coisas muito “atrevidas” avaliações.
toda a comunidade
sobre a educação. (B) um processo de elaboração de currículos e programas
educativa.
específicos desenvolvidos pelos docentes para a equipe
Um projeto resultante da
Um documento que só diretiva da escola.
tensão entre o estabelecido
expressa o que se quer (C) um processo burocrático de preenchimento de
(imposto), a prática implícita
que se conheça. formulários pelo docente para controle e arquivamento.
(ritual) e o intencional.
(D) um processo de racionalização, organização e
coordenação da ação docente, articulando atividade escolar e
Em suma, concebendo-se como uma adaptação do “projeto
o contexto social.
educacional” do país (leis e diretrizes curriculares) ao nível
específico local, como uma programação geral da escola e
02. (CS/UFG - IFGoiano - Pedagogo - 2019) O
como um instrumento de autonomia didático-pedagógica e
planejamento é um processo de sistematização, organização e
organizativa da escola, o projeto educativo da escola se
coordenação da ação docente que articula a atividade escolar
caracteriza por quatro categorias metodológicas (Baldacci110):
ao contexto social. A escola, os professores e os alunos são
- A intencionalidade;

110 BALDACCI, M. La scuola dell´autonomia: Il Progetto educativo d´Istituto.

Bari: Maria Adda Edittore. 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 82
APOSTILAS OPÇÃO

integrantes desse processo. Nesse sentido, o planejamento de por aprender é fundamental na construção de uma proposta
ensino necessita de educação, também mais aberta e dinâmica, definindo, por
(A) ser elaborado considerando a realidade externa à consequência, práticas pedagógicas transformadoras.
escola desvinculada dos programas e conhecimentos a serem À medida que a sociedade se torna cada vez mais
trabalhados em sala de aula. dependente do conhecimento, é necessário questionar e
(B) ser produzido de forma consciente e qualitativamente mudar certos pressupostos que fundamentam a educação
satisfatória, no que diz respeito aos aspectos científicos e aos atual. A aprendizagem é uma atividade contínua, iniciando-se
aspectos político-pedagógicos. nos primeiros minutos da vida e estendendo-se ao longo dela.
(C) estar vinculado diretamente aos objetivos da Isto significa expandir o conceito de aprendizagem: ele não
comunidade para a proposição das ações técnico- deve estar restrito ao período escolar e pode ocorrer, tanto na
administrativas da escola. infância, quanto na vida adulta. A escola é um - entre muitos
(D) orientar as decisões dos gestores das redes de ensino outros - ambientes em que será possível adquirir
em relação às situações relativas ao funcionamento da escola. conhecimento. Para tanto, educadores precisam incorporar os
mais recentes resultados das pesquisas sobre aprendizagem e
03. (IDECAN - AGU - Técnico em Assuntos Educacionais assumir a função de propiciar oportunidades para o aluno
- 2019) O planejamento educacional, considerado por gerar e não somente consumir conhecimento, desenvolvendo
Calazans (1990) uma ação de cunho técnico e político, capacidades internas para poder continuar a aprender ao
constitui elemento fundamental ao bom desenvolvimento dos longo da vida.
processos educativos. Em se tratando do planejamento macro A construção de uma pessoa mais autônoma, no processo
da educação brasileira, tem-se como referência o de aprender, torna-a mais autônoma no processo de viver - de
(A) PNAE. definir os rumos de sua vida. Mas, para que isso não se
(B) PDDE. transforme em uma ação individualista, é fundamental
(C) PNE. transformar a prática pedagógica em uma prática mediadora,
(D) PNAIC. comprometida, coerente, ao mesmo tempo consciente e
(E) PNAD. competente.
A ação educativa - evidenciada a partir de suas práticas -
04. (IFB - Professor Pedagogia - IFB) Em relação aos permite aos alunos avançar em saltos na aprendizagem e no
aspectos do planejamento, assinale a opção que contenha a desenvolvimento. E a ação sobre o que o adulto consegue fazer,
CORRETA sequência hierárquica do mais amplo ao mais com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo sozinho.
restrito, em relação ao planejamento: Entretanto, é princípio de toda instituição de ensino
(A) planejamento escolar; planejamento educacional; (principalmente da escola) garantir a aprendizagem a todos,
planejamento de ensino; planejamento curricular; visto que todos são capazes de aprender.
(B) planejamento curricular; planejamento educacional; Dentro de uma concepção de aprendizagem como
planejamento escolar; planejamento de ensino; construção de conhecimento, estudos na linha histórico-
(C) planejamento de ensino; planejamento curricular; cultural, como os de Vygotsky112 e de seus precursores
planejamento escolar; planejamento educacional; Oliveira, Fontana; Meier e Garcia têm sido foco de muitos
(D) planejamento de ensino; planejamento educacional; estudos, vários dos quais têm implicações diretas na área da
planejamento curricular planejamento escolar; educação, trazendo contribuições indiscutíveis para o
(E) planejamento educacional; planejamento escolar; processo ensino-aprendizagem.
planejamento curricular; planejamento de ensino. Os autores afirmam que o ser humano não é moldado por
outros seres humanos, mas modifica-se com os outros,
05. (SEDF - Professor de Educação Básica - Quadrix) trocando experiências, interagindo com o meio social em que
Quanto ao planejamento e à organização do trabalho vive. Todo esse processo de transformação ocorre vinculado
pedagógico, julgue o item subsecutivo. ao processo de mediação social.
No processo de planejamento e organização do trabalho As considerações propostas por Vygotsky113 revelam que a
pedagógico, as ações estão circunstanciadas no âmbito dos mediação possibilita a constituição de processos mentais
vários elementos que compõem o universo escolar, devendo superiores. Uma atividade é mediada quando é socialmente
ser dada importância máxima àquelas circunscritas à prática significativa, e a fonte de mediação pode ser um instrumento
pedagógica do professor e à sua formação. que regula a ação do indivíduo sobre objetos externos; um
( ) Certo ( ) Errado sistema de símbolos, que medeia processos psicológicos do
próprio ser humano; ou a interação com outros seres
Gabarito humanos.
Vygotsky114 deu especial atenção ao estudo de signos como
01.D / 02.B / 03.C / 04.E / 05.Errado mediadores, entendidos como algo que representa ideias,
situações ou objetos; o signo tem função de auxiliar a memória
humana, utilizado para lembrar, registrar ou acumular
Teorias e tendências e informações. Durante o desenvolvimento cultural da criança, o
signo e o instrumento, ambos caracterizados por sua função
pedagógicas mediadora, se inter-relacionam conforme o homem interage
com o mundo.
A teoria sobre a aprendizagem sócio histórica e a produção
A Aprendizagem na Concepção Histórico Cultural111 do conhecimento esteve, desde a origem, intimamente ligada
ao fato de o homem ser social e histórico e, ao mesmo tempo,
A aprendizagem é um dos principais objetivos de toda de ser produto e produtor de sua história e de sua cultura
prática pedagógica, e a compreensão ampla do que se entende “pela” e na interação social. Tal abordagem abre a
possibilidade de redimensionamento da teoria e da prática do

111 LEITE, C. A. R.; LEITE, E. C. R.; PRANDI, L. R. A aprendizagem na 112 Vygotsky, L. S; Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-

concepção histórico cultural. Akrópolis Umuarama, v. 17, n. 4, p. 203-210, out. / histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
dez. 2009. 113 Idem 2.
114 Idem 2.

Conhecimentos Pedagógicos 83
APOSTILAS OPÇÃO

estudo das relações entre a escolarização, atividade mental e Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solução de
desenvolvimento da criança, ao assumir a natureza mediada problemas e ocorre do total para as partes. Consiste também
da cognição: a ação do sujeito sobre o objeto é mediada na organização dos padrões de percepção. Segundo Fialho119,
socialmente, pelo outro e pelos signos. Daí a relevância e a na Gestalt há duas maneiras de se aprender a resolver
motivação para o presente estudo. problemas: pelo aprendizado conduzido ou pelo aprendizado
Desse modo, ancorada numa pesquisa bibliográfica com pelo entendimento. Isto significa que conforme a organização
enfoque na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento da situação de aprendizagem, dirigida (instrucionista) ou
humano, que considera o processo de conceitualização como autodirigida (ativa), o indivíduo aprende, entretanto, deve-se
uma prática social dialógica “mediada pela palavra”, e promover situações de aprendizagem que sejam
pedagógica “mediada pelo outro”, o presente artigo tem como suficientemente ricas para que o aprendiz possa fazer escolhas
objetivo estudar aspectos práticos da teoria de histórico- e estabelecer relações entre os elementos de uma situação.
cultural, visando aos desdobramentos que essa teoria tem no Escolher entre as quais para ele, aprendiz, conduza a uma
cotidiano do processo ensino-aprendizagem. estruturação eficaz de suas percepções e significados.
Os teóricos do Processamento da Informação ou
Principais Teorias de Aprendizagem Psicologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem
diversas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a
As principais interpretações das questões relativas à inteligência em termos de representações mentais e processos
natureza da aprendizagem remetem a um passado histórico da subjacentes ao comportamento observável. Consideram o
filosofia e da psicologia. Diversas correntes de pensamento se conhecimento como sistema de tratamento da informação.
desenvolveram, definindo paradigmas educacionais como o Segundo Misukami120, uma abordagem cognitivista implica em
empirismo, o inatismo ou nativismo, os associacionistas, os estudar cientificamente a aprendizagem como um produto
teóricos de campo e os teóricos do processamento da resultante do ambiente, das pessoas ou de fatores externos a
informação ou psicologia cognitiva. ela. Como as pessoas lidam com estímulos ambientais,
A corrente do empirismo tem como princípio organizam dados, sentem e resolvem problemas, adquirem
fundamental considerar que o ser humano, ao nascer, é como conceitos e empregam símbolos constituem, pois, o centro da
uma "tábula rasa" e tudo deve aprender, desde as capacidades investigação. Em essência, na psicologia cognitiva, as
sensoriais mais elementares aos comportamentos atividades mentais são o motor dos comportamentos.
adaptativos, mas complexos Gaonac´h e Golder115. A mente é Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos
considerada inerte, e as ideias vão sendo gravadas a partir das cognitivos preocupam-se em desvendar a "caixa preta" da
percepções. Baseado neste pressuposto, a inteligência é mente humana. A noção de representação é central nestas
concebida como uma faculdade capaz de armazenar e pesquisas. A representação é definida como toda e qualquer
acumular conhecimento. construção mental efetuada a um dado momento e em um
O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria dos certo contexto.
traços característicos de um indivíduo é fixado desde o Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolução
nascimento e que a hereditariedade permite explicar uma de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas e
grande parte das diferenças individuais físicas e psicológicas arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos de
Gaonac´h e Golder116. As formas de conhecimento estão pré- investigação da área, cujas aplicações vêm sendo utilizadas na
determinadas no sujeito que aprende. construção de modelos explícitos em formas de programas de
Para os associacionistas, o principal pressuposto consiste computador (softwares), gráficos, arquiteturas ou outras
em explicar que o comportamento complexo é a combinação esquematizações do processamento mental, em especial nos
de uma série de condutas simples. Como precursores desta sistemas de Inteligência Artificial.
corrente são de pensamento pode-se citar Edward L. Os princípios construtivistas fornecem um conjunto de
Thorndike e B.F. Skinner, Pettenger e Gooding117 e suas diretrizes a fim de auxiliar projetistas e professores na criação
respectivas teorias do comportamento reflexo ou estímulo- de meios ambientes colaboracionistas direcionados ao ensino,
resposta. que apoiem experiências autênticas, atraentes e reflexivas. Os
Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão básico estudantes podem trabalhar juntos na construção do
da aprendizagem é uma resposta mecanicista às forças entendimento e do significado através de práticas relevantes.
externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a resposta é O construtivismo é uma filosofia de aprendizagem que
recompensada, é aprendida. descreve o que significa saber alguma coisa, o que é a
Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do controle do realidade. As concepções tradicionais de aprendizagem
comportamento pelos reforços que ocorrem com a resposta ou admitem que o conhecimento é um objeto, algo que pode ser
após a mesma com o propósito de atingir metas específicas ou transmitido do professor para o aluno.
definir comportamentos manifestos. O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente
As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Campo, são do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a
representadas, na Gestalt pelos alemães Wertheimer, Koffka e pesquisa em grupo, o estimulo a dúvida e o desenvolvimento
Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e Snygg, Pettenger e do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua
Gooding118. Nestas escolas prevalece a concepção de que as ação, vai estabelecendo as propriedades dos objetos e
pessoas são capazes de pensar, perceber e de responder a uma construindo as características do mundo.
dada situação, de acordo com as suas percepções e
interpretações desta situação. Diferentemente das primeiras, A Abordagem Construtivista de Jean Piaget
em que o comportamento é sequencial, do mais simples ao
mais complexo, nesta corrente, o todo ou total é mais que a As respostas às questões sobre a natureza da
soma das partes. aprendizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia
genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a pouco, à

115 GAONAC’H, Daniel; GOLDER, Caroline. Profession Enseignant: Manual de 119 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância.

Psycolgie.pour Fenseignement. Paris: Hachette Education, 1995. UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis,
116 Idem 2. 1998. Notas de aula.
117 PETTENGER, Owene, GOODING, C. Thomas. Teorias da aprendizagem na 120 MISUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as Abordagens do Processo.

prática Educacional. São Paulo: EPU, 1977. Temas Básicos de Educação e Ensino. São Paulo: EPU, 1986.
118 Idem 4.

Conhecimentos Pedagógicos 84
APOSTILAS OPÇÃO

medida em que as estruturas mentais e cognitivas se Uma consequência deste egocentrismo é a incapacidade da
organizam, de acordo com os estágios de desenvolvimento da criança de colocar seu próprio ponto de vista como igual aos
inteligência. demais. Desconhecendo a opinião alheia, o indivíduo não sente
A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta necessidade de justificar seus raciocínios perante outros.
característica se refere ao equilíbrio entre o organismo e o
meio ambiente, que resulta de uma interação entre Operatório concreto (7-11 anos)
assimilação e acomodação. Recebe este nome, já que a criança age sobre o mundo
A assimilação e a acomodação são, pois, os motores da concreto, real e visível. Surge o declínio do egocentrismo,
aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quando há o sendo substituído pelo pensamento operatório (envolvendo
equilíbrio de ambas. vasta gama de informações externas à criança). O indivíduo
Segundo discorre Ulbritch121, a aquisição do conhecimento pode, desde já, ver as coisas a partir da perspectiva dos outros.
cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à Surge os processos de pensamento lógico, limitados,
estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação sendo capazes de serializar, ordenar e agrupar coisas em
modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação classes, com base em características comuns. Assim como a
interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as capacidade de conservação e reversibilidade através da
assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja observação real (o pensamento da criança ainda é de natureza
ruptura entre o novo e o velho. concreta).
Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas O pensamento operatório é denominado concreto, pois a
do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a criança somente pensa corretamente se os exemplos ou
incorporação de elementos do meio a si próprio. materiais que ela utiliza para apoiar o pensamento existem
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de mesmo e podem ser observados. Ela ainda não consegue
desenvolvimento modificam os esquemas existentes em pensar abstratamente, tendo como base proposições e
função das características da nova situação; juntas justificam a enunciados. Com o desenvolvimento destas habilidades
adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas notamos aparecimento de esquemas conceituais.
cognitivas. As crianças começam a desenvolver um senso moral,
No sistema cognitivo do sujeito esses processos estão juntamente com um código de valores.
normalmente em equilíbrio. A perturbação desse equilíbrio
gera um conflito ou uma lacuna diante do objeto ou evento, o Operatório formal (12 anos em diante)
que dispara mecanismos de equilibração. A partir de tais Característica essencial a distinção entre o real e o
perturbações produzem-se construções compensatórias que possível.
buscam novo equilíbrio, melhor do que o anterior. A criança se torna capaz de raciocinar logicamente, mesmo
Assim, pode-se distinguir quatro estágios de se o conteúdo do seu raciocínio é falso. Logo, surge a
desenvolvimento lógico: determinação da realidade tendo como base o caráter
hipotético-dedutivo, representando a última aquisição
Sensório Motor (0-2 anos) mental quando o adolescente se liberta do concreto. Assim o
Tratando-se da fase inicial do desenvolvimento da vida, jovem obtém a capacidade de pensar abstratamente e
este nível é caracterizado como pré-verbal constituída pela compreender o conceito de probabilidade.
organização reflexiva e pela a inteligência prática. Neste Aparecimento da reversibilidade e sua explicação
estágio a criança baseia-se em esquemas motores para mediante inversão ou negação e comparada à reciprocidade de
resolver seus problemas, que são essencialmente práticos. relações.
Além disso, o indivíduo vive o momento presente sendo
incapaz de referir-se ao futuro, ou evocar o passado. A Abordagem Sócio Construtiva do Desenvolvimento
Durante esta fase os bebês começam a desenvolver Cognitivo de Lev Vygotsky
símbolos mentais e utilizar palavras, um processo conhecido
como simbolização. O bebê relaciona tudo ao seu próprio As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da
corpo como se fosse o centro do mundo aprendizagem e a construção do conhecimento perpassavam
pela produção da cultura, como resultado das relações
Pré-operatório (2-7 anos) humanas. Por conta disso, ele procurou entender o
Este período é o que mais teve atenção de Piaget. É desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico-
caracterizado pela explosão linguística e a utilização de sociais, ou seja, buscou demonstrar que o conhecimento é
símbolos. Dada a esta capacidade da linguagem, os esquemas socialmente construído pelas e nas relações humanas.
de ação são interiorizados (esquemas representativos ou Baseado nas teses do materialismo histórico, Vygotsky
simbólicos). Nota-se ainda a ausência de esquemas destacou que as origens das formas superiores de
conceituais, assim como o predomínio da tendência lúdica. comportamento consciente deveriam ser buscadas nas
Prevalece nesta fase a transdução, modelo primitivo de relações sociais que o sujeito mantém com o mundo exterior,
raciocínio, que se orienta de particular para particular. na atividade prática. Para descobrir as fontes dos
A partir dos quatro anos o tipo dominante de raciocínio é comportamentos especificamente humanos, era preciso
o denominado intuição, fundamentado na percepção e que libertar-se dos limites do organismo e empreender estudos
desconhece a reversibilidade e a conservação. que pudessem explicar como os processos maturacionais
A criança ainda é incapaz de lidar como dilemas morais, entrelaçam-se aos processos culturalmente determinados
embora possua senso do que é bom ou mal. O indivíduo para produzir as funções psicológicas superiores típicas do
apresenta um comportamento egocêntrico, tendo um papel homem.
limitado e a impossibilidade assumir o papel de outras Dessa feita, a convivência social é fundamental para
pessoas, é rígido (não flexível) que tem como ponto de transformar o homem de ser biológico a ser humano social, e
referência a própria criança. Ainda é latente a incapacidade de a aprendizagem que advém das relações sociais ajuda a
analisar vários aspectos de uma dada situação. construir os conhecimentos que dão suporte ao
desenvolvimento.

121 ULBRICHT, Vânia Ribas. Modelagem de um Ambiente Hipermfdia de (Doutorado em Engenharia de Produção). Coordenadoria de Pós-graduação,
Construção do Conhecimento em Geometria Descritiva^ Florianópolis, 1997. Tese UFSC. p.20-25.

Conhecimentos Pedagógicos 85
APOSTILAS OPÇÃO

Para Vygotsky, o homem possui natureza social, uma vez de uma forma em outra, entrelaçando fatores internos e
que nasce em um ambiente carregado de valores culturais: na externos e processos adaptativos.
ausência do outro, o homem não se faz homem. Partindo desse
pressuposto, o autor criou uma teoria de desenvolvimento da A Abordagem de Henri Wallon
inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre
intermediado. A gênese da inteligência para Wallon é genética e
Nessa perspectiva, a criança nasce apenas com funções organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente
psicológicas elementares e, a partir do aprendizado da cultura, social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura
essas funções se transformam em funções psicológicas para se atualizar" Dantas123. Nesse sentido, a teoria do
superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de forma desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na
imediata e direta, as informações recebidas do meio social são psicogênese da pessoa completa.
intermediadas, de forma explícita ou não, pelas pessoas que O estudo de Wallon é evidenciado na criança
interagem com as crianças. É essa intermediação que dá às contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do
informações um caráter valorativo e significados sociais e desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas,
históricos. retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa
As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do profundas mudanças nas anteriores.
cérebro humano fundamentam-se em sua ideia de que as Nesse sentido, a passagem dos estágios de
funções psicológicas superiores são construídas ao longo da desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas
história social do homem. Na sua relação com o mundo, por reformulação, instalando-se no momento da passagem de
mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena
distinguem de outros animais. quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança
Vale dizer que essas informações não são interiorizadas e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura
com o mesmo teor com que são recebidas, ou seja, elas sofrem e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação
uma reelaboração interna, uma linguagem específica em cada nervosa, Galvão124. Esses conflitos são propulsores do
pessoa. Em outras palavras, cada processo de construção de desenvolvimento.
conhecimentos e desenvolvimento mental possui
características individuais e particulares. Estágio impulsivo-emocional (1°ano de vida): nesta fase
Nesse sentido, significados socioculturais, historicamente predominam nas crianças as relações emocionais com o
produzidos, são internalizados pelo homem de forma ambiente. Trata-se de uma fase de construção do sujeito, em
individual e, por isso, ganham um sentido pessoal; “a palavra, que a atividade cognitiva se acha indiferenciada da atividade
a língua, a cultura relaciona-se com a realidade, com a própria afetiva. Nesta fase vão sendo desenvolvidas as condições
vida e com os motivos de cada indivíduo”. No processo de sensório-motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão, ao
internalização, o que é interpessoal, inicialmente, transforma- longo do segundo ano de vida, intensificar a exploração
se em intrapessoal. sistemática do ambiente.
O nível de desenvolvimento real pode ser entendido Estágio sensório-motor (um a três anos,
como referente àquelas conquistas que já estão consolidadas aproximadamente): ocorre neste período uma intensa
na criança, àquelas funções ou capacidades que ela já exploração do mundo físico, em que predominam as relações
aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem cognitivas com o meio. A criança desenvolve a inteligência
assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, mãe, prática e a capacidade de simbolizar. No final do segundo ano,
professor, criança mais velha etc.). Este nível indica, assim, os a fala e a conduta representativa (função simbólica)
processos mentais da criança que já se estabeleceram; ciclos confirmam uma nova relação com o real, que emancipará a
de desenvolvimento que já se completaram. inteligência do quadro perceptivo mais imediato. Ou seja, ao
No entendimento de Vygotsky, a zona de falarmos a palavra "bola", a criança reconhecerá
desenvolvimento potencial ou mediador é toda atividade imediatamente do que se trata, sem que precisemos mostrar o
e/ou conhecimento que a criança ainda não domina, mas que objeto a ela. Dizemos então que ela já adquiriu a capacidade de
se espera que ela seja capaz de saber e/ou realizar, simbolizar, sem a necessidade de visualizar o objeto ou a
independentemente de sua etnia, religião ou cultura. É situação a qual estamos nos referindo.
justamente por isso que as relações entre desenvolvimento e
aprendizagem ocupam lugar de destaque em sua obra. Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente):
A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das
o que a criança já pode realizar sozinha e aquilo que ela interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as
somente é capaz de desenvolver com o auxílio de alguém. Na pessoas, predominando assim as relações afetivas. Há uma
zona de desenvolvimento proximal, o aspecto fundamental é a mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento,
realização de atividade com o auxílio de um mediador. Por a indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade.
isso, segundo Vygotsky, essa é a zona cooperativa do
conhecimento. O mediador ajuda a criança a concretizar o Estágio categorial (seis anos): a criança dirige seu
desenvolvimento que está próximo, ou seja, ajuda a interesse para o conhecimento e a conquista do mundo
transformar o desenvolvimento potencial em exterior, em função do progresso intelectual que conseguiu
desenvolvimento real. conquistar até então. Desta forma, ela imprime às suas
Fialho122 destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento relações com o meio uma maior visibilidade do aspecto
humano compreende um processo dialético, caracterizado cognitivo.
pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das Para Wallon, o mérito da Educação é desenvolver o
diferentes funções, metamorfose ou transformação qualitativa máximo as potencialidades de cada indivíduo. É nesse mesmo

122 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância. 123 DANTAS, Heloysa. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência

UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, segundo Wallon. In: TAILLE,Yves de la e et all. Piaget, Vigotsky, Waalon. Teorias
1998. Notas de aula. Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.
124 GALVÃO, Izabel. Henri Wallon. Uma concepção dialética do
desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes,1995.

Conhecimentos Pedagógicos 86
APOSTILAS OPÇÃO

indivíduo que devem ser buscadas as possibilidades de 05. (DPU - Técnico em Assuntos Educacionais - CESPE)
superação, compensação e equilíbrio funcionais. Acerca das teorias psicológicas que fundamentam a
aprendizagem humana, julgue o item a seguir.
Questões Jean Piaget, que estudou o desenvolvimento da mente
relacionando-o à adaptação biológica, dividiu em fases ou
01. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério estágios o desenvolvimento cognitivo da criança e denominou
I e II - CESPE/2017) Na perspectiva de Jean Piaget, em uma como estágio pré-conceitual o momento em que a criança
situação que envolva o cometimento de erro pelo aluno no reconhece um objeto sem, contudo, o diferenciar dos demais
processo de aprendizagem, o professor deve: da mesma categoria.
(A) Corrigir o aluno, dando-lhe, imediatamente, a resposta ( ) Certo ( ) Errado
correta.
(B) Punir o aluno, pois essa é a melhor forma de eliminar o Gabarito
erro. 01.C / 02.E / 03.Certo / 04.B / 05.Errado
(C) Levar o aluno a refletir sobre por que errou, dando-lhe
a oportunidade de reconstruir a compreensão do TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
conhecimento.
(D) Ignorar o erro, pois, ao longo do tempo, o aluno Genericamente, podemos dizer que a perspectiva
descobrirá, sozinho, a compreensão correta do conteúdo. redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva
(E) Fazer o aluno repetir a resposta certa quantas vezes transformadora pelas pedagogias progressistas.125
forem necessárias para que ele consiga decorá-la.
Assim vamos organizar o conjunto das pedagogias em dois
02. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério grupos:
I e II - CESPE/2017) Assinale a opção que apresenta o
processo de resolução dos conflitos cognitivos que, para Jean Pedagogia Liberal Pedagogia Progressista
Piaget, representa a construção da aprendizagem.
(A) Reforço positivo. - Tradicional - Libertadora
(B) Zona de desenvolvimento proximal. - Renovada Progressivista - Libertária
(C) Estágios do desenvolvimento sensório-motor, pré- - Renovada Não Diretiva - Crítico-Social dos
operatório, operatório concreto e formal. - Tecnicista Conteúdos
(D) Aprendizagem condicionada.
(E) Assimilação, acomodação e equilibração.
É evidente que tanto as tendências quanto suas
03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional - manifestações não são puras nem mutuamente exclusivas o
CESPE/2017) Teóricos como Piaget e Vygotsky evidenciaram que, aliás, é a limitação principal de qualquer tentativa de
que a criança se desenvolve na interação com o meio histórico- classificação. Em alguns casos as tendências se
cultural em que vive. Considerando essa informação e tendo complementam, em outros, divergem. De qualquer modo, a
em vista que a criança precisa do outro, da natureza e da inter- classificação e sua descrição poderão funcionar como um
relação possível entre esses elementos, julgue o próximo item. instrumento de análise para o professor avaliar a sua prática
Brincar é imprescindível na infância, pois é nessa ação que de sala de aula.
a criança elabora sua forma de estar no mundo, vivencia o
lúdico e desenvolve sua potência de criação. Essa experiência Pedagogia Liberal
proporciona aprendizagem e desenvolvimento.
( ) Certo ( ) Errado A Pedagogia Liberal é voltada para o sistema capitalista e
esconde a realidade das diferenças entre as classes sociais.
04. (Prefeitura de Lauro Muller/SC - Professor de Nessa pedagogia, a escola tem que preparar os indivíduos para
Pedagogia - Instituto Excelência/2017) Sobre os a sociedade, de acordo com as suas aptidões individuais, por
pensadores da educação, assinale a alternativa CORRETA isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores
sobre a teoria de Vygotsky: e às normas vigentes na sociedade de classes através do
(A) Sua teoria mostra que o indivíduo só recebe um desenvolvimento da cultura individual.
determinado conhecimento se estiver preparado para recebê- A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das
lo. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de
tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade
transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se
inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação à medida com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da
que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência; é hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada
acomodação à medida que a estrutura se modifica em função (também denominada Escola Nova ou Ativa), o que não
do meio, de suas variações. significou a substituição de uma pela outra, pois ambas
(B) Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento conviveram e convivem na prática escolar.
do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico,
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse Tendência Liberal Tradicional
desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico- Caracteriza-se por acentuar o ensino humanístico, de
social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo
interação do sujeito com o meio. próprio esforço, sua plena realização como pessoa. Os
(C) O comportamento é construído numa interação entre o conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-
meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica é caracterizada aluno não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno e
como interacionista. muito menos com as realidades sociais. É a predominância da
(D) Nenhuma das alternativas. palavra do professor, das regras impostas, do cultivo
exclusivamente intelectual.

125 LUCKESI C. Tendências Pedagógicas na Prática escolar. 2011

Conhecimentos Pedagógicos 87
APOSTILAS OPÇÃO

Papel da escola - consiste na preparação intelectual e moral individuais. A educação é a vida presente, é a parte da própria
dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O experiência humana. A escola renovada propõe um ensino que
compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais valorize a autoeducação (o aluno como sujeito do
pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela
saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. atividade; um ensino centrado no aluno e no grupo.
Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas
dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. A Tendência Liberal Renovada apresenta-se, entre nós, em
Caso não consigam, devem procurar o ensino mais duas versões distintas:
profissionalizante.
- a Renovada Progressivista, ou Pragmatista,
Conteúdos de ensino - são os conhecimentos e valores principalmente na forma difundida pelos pioneiros da
sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao educação nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira
aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o (deve-se destacar, também a influência de Montessori, Decroly
aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e e, de certa forma, Piaget);
ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da
experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo - a Renovada Não Diretiva orientada para os objetivos de
valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é auto realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações
criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica. interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano
Carl Rogers.
Métodos - baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou
demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são feitas Tendência Liberal Renovada Progressivista
pelo professor, observados os seguintes passos: Papel da escola - a finalidade da escola é adequar as
- Preparação do aluno (definição do trabalho, recordação necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve
da matéria anterior, despertar interesse); se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida.
- Apresentação (realce de pontos-chaves, demonstração); Todo ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de
- Associação (combinação do conhecimento novo com o já adaptação progressiva ao meio e de uma consequente
conhecido por comparação e abstração); integração dessas formas de adaptação no comportamento.
- Generalização (dos aspectos particulares chega-se ao Tal integração se dá por meio de experiências que devem
conceito geral, é a exposição sistematizada); satisfazer, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as
- Aplicação (explicação de fatos adicionais e/ou resoluções exigências sociais. À escola cabe suprir as experiências que
de exercícios). permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de
A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou construção e reconstrução do objeto, numa interação entre
fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente.
hábitos.
Conteúdos de ensino - como o conhecimento resulta da ação
Relacionamento professor-aluno - predomina a autoridade a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino
do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede são estabelecidos em função de experiências que o sujeito
qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O vivencia frente a desafios cognitivos e situações
professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos
absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos
mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio. organizados racionalmente. Trata-se de “aprender a
aprender”, ou seja, é mais importante o processo de aquisição
Pressupostos de aprendizagem - a ideia de que o ensino do saber do que o saber propriamente dito.
consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da
criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade Método de ensino - a ideia de “aprender fazendo” está
de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a
desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o
progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em método de solução de problemas. Embora os métodos variem,
conta as características próprias de cada idade. A as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly,
aprendizagem, assim, é receptiva e mecânica, para o que se Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas à
recorre frequentemente à coação. A retenção do material natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. Na
ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em grupo
e recapitulação da matéria. A transferência da aprendizagem não apenas como técnica, mas como condição básica do
depende do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o desenvolvimento mental. Os passos básicos do método ativo
aluno possa responder às situações novas de forma são:
semelhante às respostas dadas em situações anteriores. - Colocar o aluno numa situação de experiência que tenha
um interesse por si mesma;
Avaliação - se dá por verificações de curto prazo - O problema deve ser desafiante, como estímulo à
(interrogatórios orais, exercício de casa) e de prazo mais longo reflexão;
(provas escritas, trabalhos de casa). O esforço é, em geral, - O aluno deve dispor de informações e instruções que lhe
negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às vezes, é permitam pesquisar a descoberta de soluções;
positivo (emulação, classificações). - Soluções provisórias devem ser incentivadas e
ordenadas, com a ajuda discreta do professor;
Manifestações na prática escolar - a pedagogia liberal - Deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à
tradicional é viva e atuante em nossas escolas, predominante prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida.
em nossa história educacional.
Relacionamento professor-aluno - não há lugar privilegiado
Tendência Liberal Renovada para o professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento
A Tendência Liberal Renovada acentua, igualmente, o livre e espontâneo da criança; se intervém, é para dar forma ao
sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões raciocínio dela. A disciplina surge de uma tomada de

Conhecimentos Pedagógicos 88
APOSTILAS OPÇÃO

consciência dos limites da vida grupal; assim, aluno sentimentos de cada um possam ser expostos, sem ameaças.
disciplinado é aquele que é solidário, participante, respeitador Assim, o objetivo do trabalho escolar se esgota nos processos
das regras do grupo. Para se garantir um clima harmonioso de melhor relacionamento interpessoal, como condição para o
dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento crescimento pessoal.
positivo entre professores e alunos, uma forma de instaurar a
“vivência democrática” tal qual deve ser a vida em sociedade. Relacionamento professor-aluno - propõe uma educação
centrada no aluno, visando formar sua personalidade através
Pressupostos de aprendizagem - a motivação depende da da vivência de experiências significativas que lhe permitam
força de estimulação do problema e das disposições internas e desenvolver características inerentes à sua natureza. O
interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma atividade professor é um especialista em relações humanas, ao garantir
de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente o clima de relacionamento pessoal e autêntico. “Ausentar-se” é
apenas o meio estimulador. É retido o que se incorpora à a melhor forma de respeito e aceitação plena do aluno. Toda
atividade do aluno pela descoberta pessoal; o que é intervenção é ameaçadora, inibidora da aprendizagem.
incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser
empregado em novas situações. Pressupostos de aprendizagem - a motivação resulta do
desejo de adequação pessoal na busca da auto realização; é,
Avaliação - é fluida e tenta ser eficaz à medida que os portanto, um ato interno. A motivação aumenta, quando o
esforços e os êxitos são prontos e explicitamente reconhecidos sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de agir em
pelo professor. termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve a
valorização do “eu”. Aprender, portanto, é modificar suas
Manifestações na prática escolar - os princípios da próprias percepções; daí que apenas se aprende o que estiver
pedagogia progressivista vêm sendo difundidos, em larga significativamente relacionado com essas percepções. Resulta
escala, nos cursos de licenciatura, e muitos professores sofrem que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação
sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não ao “eu”, ou seja, o que não está envolvido com o “eu” não é
somente por falta de condições objetivas como também retido e nem transferido.
porque se choca com uma prática pedagógica basicamente
tradicional. Alguns métodos são adotados em escolas Avaliação - perde inteiramente o sentido, privilegiando-se
particulares, como o método Montessori, o método dos centros a autoavaliação.
de interesse de Decroly, o método de projetos de Dewey. O
ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga Manifestações na prática escolar - o inspirador da
aceitação na educação pré-escolar. Pertencem, também, à pedagogia não diretiva é C. Rogers, na verdade mais psicólogo
tendência progressivista muitas das escolas denominadas clínico que educador. Suas ideias influenciam um número
“experimentais”, as “escolas comunitárias” e mais expressivo de educadores e professores, principalmente
remotamente (década de 60) a “escola secundária moderna”, orientadores educacionais e psicólogos escolares que se
na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima. dedicam ao aconselhamento. Menos recentemente, podem-se
citar também tendências inspiradas na escola de Summerhill
Tendência Liberal Renovada Não Diretiva do educador inglês A. Neill.
Papel da escola - formação de atitudes, razão pela qual deve
estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que Tendência Liberal Tecnicista
com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está em A tendência Liberal Tecnicista subordina a educação à
estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do sociedade, tendo como função a preparação de “recursos
indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal às solicitações do humanos” (mão-de-obra para a indústria). A sociedade
ambiente. Rogers126 considera que o ensino é uma atividade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas
excessivamente valorizada; para ele os procedimentos econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também
didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem cientificamente) nos alunos os comportamentos de
muito pouca importância, face ao propósito de favorecer à ajustamento a essas metas.
pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, No tecnicismo acredita-se que a realidade contém em si
o que implica estar bem consigo próprio e com seus suas próprias leis, bastando aos homens descobri-las e aplicá-
semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade,
semelhante ao de uma boa terapia. mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A
tecnologia (aproveitamento ordenado de recursos, com base
Conteúdos de ensino - a ênfase que esta tendência põe nos no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a
processos de desenvolvimento das relações e da comunicação maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento
torna secundária a transmissão de conteúdos. Os processos de da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por
ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para excelência.
buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, Ela “é encarada como um instrumento capaz de promover,
são dispensáveis. sem contradição, o desenvolvimento econômico pela
qualificação da mão-de-obra, pela redistribuição da renda,
Métodos de ensino - os métodos usuais são dispensados, pela maximização da produção e, ao mesmo tempo, pelo
prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do desenvolvimento da ‘consciência política’ indispensável à
professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a manutenção do Estado autoritário”127. Utiliza-se basicamente
aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das do enfoque sistêmico, da tecnologia educacional e da análise
características do professor “facilitador”: aceitação da pessoa experimental do comportamento.
do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena
convicção na capacidade de autodesenvolvimento do Papel da escola - a escola funciona como modeladora do
estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se comportamento humano, através de técnicas específicas. À
organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os educação escolar compete organizar o processo de aquisição

126 ROGERS, Carl. Liberdade para aprender. 1969 127 KUENZER, Acácia A; MACHADO, Lucília R. S. “Pedagogia Tecnicista”, in

Guiomar N. de MELLO (org.), Escola nova, tecnicismo e educação compensatória.


2012

Conhecimentos Pedagógicos 89
APOSTILAS OPÇÃO

de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e aprendizagem como mudança de comportamento,


necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do operacionalização de objetivos, uso de procedimentos
sistema social global. Tal sistema social é regido por leis científicos (instrução programada, audiovisuais, avaliação etc.,
naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas inclusive a programação de livros didáticos).
relações funcionais observáveis entre os fenômenos da
natureza), cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A Relacionamento professor-aluno - são relações
atividade da “descoberta” é função da educação, mas deve ser estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos: o
restrita aos especialistas; a “aplicação” é competência do professor administra as condições de transmissão da matéria,
processo educacional comum. conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em
A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social termos de resultados da aprendizagem; o aluno recebe,
vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de
com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe
mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um
comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduo responsivo, não participa da elaboração do
indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, programa educacional. Ambos são espectadores frente à
transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um
e rápidas. sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia
A pesquisa científica, a tecnologia educacional, a análise da transmissão do conhecimento. Debates, discussões,
experimental do comportamento garante a objetividade da questionamentos são desnecessários, assim como pouco
prática escolar, uma vez que os objetivos instrucionais importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos
(conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem.
independem dos que a conhecem ou executam.
Pressupostos de aprendizagem - as teorias de
Conteúdos de ensino - são as informações, princípios aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem
científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa que aprender é uma questão de modificação do desempenho:
sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de o bom ensino depende de organizar eficientemente as
ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da
mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência situação de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja,
objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O o ensino é um processo de condicionamento através do uso de
material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os
nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos sistemas instrucionais visam ao controle do comportamento
audiovisuais etc. individual face objetivos preestabelecidos.
Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no
Métodos de ensino - consistem nos procedimentos e controle das condições que cercam o organismo que se
técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições comporta. O objetivo da ciência pedagógica, a partir da
ambientais que assegurem a transmissão/recepção de psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir
informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar as leis naturais que presidem as reações físicas do organismo
respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o
é conseguir o comportamento adequado pelo controle do afetam.
ensino; daí a importância da tecnologia educacional. Os componentes da aprendizagem - motivação, retenção,
transferência - decorrem da aplicação do comportamento
A Tecnologia Educacional é a “aplicação sistemática de operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é
princípios científicos comportamentais e tecnológicos a uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de
problemas educacionais, em função de resultados efetivos, reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: “Se a
utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela
abrangente”128. apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de
reforçamento é aumentada”. Entre os autores que contribuem
Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade para os estudos de aprendizagem destacam-se: Skinner,
deles) possui três componentes básicos: objetivos Gagné, Bloon e Mager.
instrucionais operacionalizados em comportamentos Manifestações na prática escolar129 - a influência da
observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e pedagogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50
avaliação. (PABAEE - Programa Brasileiro-americano de Auxílio ao
Ensino Elementar). Entretanto foi introduzida mais
As etapas básicas de um processo de ensino e de efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de adequar o
aprendizagem são: sistema educacional à orientação político-econômica do
- Estabelecimento de comportamentos terminais, através regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização
de objetivos instrucionais; do sistema de produção capitalista.
- Análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar Quando a orientação escolanovista cede lugar à tendência
sequencialmente os passos da instrução; tecnicista, pelo menos no nível de política oficial; os marcos de
- Executar o programa, reforçando gradualmente as implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e
respostas corretas correspondentes aos objetivos. 5.692/71, que reorganizam o ensino superior e o ensino de 1º
e 2º graus.
O essencial da tecnologia educacional é a programação por A despeito da máquina oficial, entretanto, não há indícios
passos sequenciais empregada na instrução programada, nas seguros de que os professores da escola pública tenham
técnicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego assimilado a pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de
da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas ideário. A aplicação da metodologia tecnicista (planejamento,
formas de: planejamento em moldes sistêmicos, concepção de livros didáticos programados, procedimentos de avaliação

128 AURICCHIO, Lígia O. Manual de tecnologia educacional, 1978. 129 FREITAG, Barbara. Escola, Estado e Sociedade; GARCIA, Laymert G. S.

Desregulagens - Educação, planejamento e tecnologia como ferramenta social;


CUNHA, Luis A. Educação e desenvolvimento social no Brasil. 1978.

Conhecimentos Pedagógicos 90
APOSTILAS OPÇÃO

etc.) não configura uma postura tecnicista do professor; antes, formal”. Entretanto, professores e educadores engajados no
o exercício profissional continua mais para uma postura ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa pedagogia.
eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas Assim, quando se fala na educação em geral, diz-se que ela é
pedagogias tradicional e renovada. uma atividade onde professores e alunos, mediatizados pela
realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo de
Pedagogia Progressista aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa mesma
realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de
“Formulação de inspiração marxista que influenciou transformação social.
diversos pedagogos brasileiros em fins de 1970. Trabalha com Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” - que
a educação na perspectiva da luta de classes, ou seja, a escola visa apenas depositar informações sobre o aluno, quanto a
pode e deve servir na luta contra o sistema capitalista, visando educação renovada - que pretenderia uma libertação
a construção do socialismo. Dessa forma, sua metodologia tem psicológica individual - são domesticadoras, pois em nada
inspiração na teoria do conhecimento marxista, pela dialética contribuem para desvelar a realidade social de opressão. A
materialista, pelo movimento de continuidade e ruptura. educação libertadora, ao contrário, questiona concretamente
Na sala de aula, parte-se da necessidade e aspirações dos a realidade das relações do homem com a natureza e com os
estudantes, com seu cotidiano, com o objetivo de estimular outros homens, visando a uma transformação - daí ser uma
rupturas, sair do imediato e chegar ao teórico e abstrato. educação crítica.
Depois desse movimento, espera-se um retorno ao real com
uma nova visão que possibilite uma nova ação sobre ele. Conteúdos de ensino - denominados “temas geradores”, são
extraídos da problematização da prática de vida dos
Foi proposta pelo educador francês Georges Snyders130 em educandos. Os conteúdos tradicionais são recusados porque
pelo menos quatro de suas obras: Pedagogia progressista, Para cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica dispõe
onde vão as pedagogias não-diretivas? Alegria na escola e em si próprio, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos
Alunos felizes. necessários dos quais se parte. O importante não é a
transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma
Opõe-se ao ensino tecnicista, de linha autoritária, adotado nova forma da relação com a experiência vivida. A transmissão
por volta de 1970, em que professores e alunos executam de conteúdos estruturados a partir de fora é considerada como
projetos elaborados em gabinetes e desvinculados do contexto “invasão cultural” ou “depósito de informação” porque não
social e político. Ou seja, a pedagogia progressista procura emerge do saber popular. Se forem necessários textos de
formar cidadãos conscientes e participativos na vida da leitura estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos
sociedade, que leve o aluno a refletir, a desenvolver o espírito com a orientação do educador.
crítico e criativo e a relacionar o aprendizado a seu contexto Em nenhum momento o inspirador e mentor da pedagogia
social.”131 libertadora Paulo Freire, deixa de mencionar o caráter
essencialmente político de sua pedagogia, o que, segundo suas
A pedagogia progressista tem-se manifestado em três próprias palavras, impede que ela seja posta em prática em
tendências: termos sistemáticos, nas instituições oficiais, antes da
- A libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo transformação da sociedade. Daí porque sua atuação se dê
Freire; mais a nível da educação extraescolar. O que não tem
- A libertária, que reúne os defensores da autogestão impedido, por outro lado, que seus pressupostos sejam
pedagógica; adotados e aplicados por numerosos professores.
- A crítico-social dos conteúdos que, diferentemente das
anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto Métodos de ensino - “Para ser um ato de conhecimento o
com as realidades sociais. processo de alfabetização de adultos demanda, entre
educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo;
As versões libertadora e libertária têm em comum o aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram
antiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como mediatizados pelo objeto a ser conhecido” (...) “O diálogo
base da relação educativa e a ideia de autogestão pedagógica. engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer:
Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendizagem educador-educando e educando-educador”.
grupal (participação em discussões, assembleias, votações) do Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o “grupo de
que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática discussão a quem cabe autogerir a aprendizagem, definindo o
educativa somente faz sentido numa prática social junto ao conteúdo e a dinâmica das atividades. O professor é um
povo, razão pela qual preferem as modalidades de educação animador que, por princípio, deve descer ao nível dos alunos,
popular “não-formal”. adaptando-se às suas características ao desenvolvimento
A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos próprio de cada grupo. Deve caminhar ‘junto’, intervir o
propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e mínimo indispensável, embora não se furte, quando
renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada.
prática social concreta. Entende a escola como mediação entre
o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a Os passos da aprendizagem - codificação-decodificação, e
transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de problematização da situação - permitirão aos educandos um
um aluno concreto (inserido num contexto de relações esforço de compreensão do “vivido”, até chegar a um nível
sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente mais crítico de conhecimento e sua realidade, sempre através
reelaborado. da troca de experiência em torno da prática social. Se nisso
consiste o conteúdo do trabalho educativo, dispensam um
Tendência Progressista Libertadora132 programa previamente estruturado, trabalhos escritos, aulas
Papel da escola - não é próprio da pedagogia libertadora expositivas assim como qualquer tipo de verificação direta da
falar em ensino escolar, já que sua marca é a atuação “não- aprendizagem, formas essas próprias da “educação bancária”,

SNYDERS, Georges. Pedagogia progressista. Lisboa, Ed. Almedina. 1974.


130 Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
131MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete http://www.educabrasil.com.br/pedagogia-progressista/
pedagogia progressista. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - 132 FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade; Pedagogia do Oprimido e

Extensão ou Comunicação?, 1978.

Conhecimentos Pedagógicos 91
APOSTILAS OPÇÃO

portanto, domesticadoras. Entretanto admite-se a avaliação da autogestionários (associações, grupos informais, escolas
prática vivenciada entre educador-educandos no processo de autogestionários). Há, portanto, um sentido expressamente
grupo e, às vezes, a auto avaliação feita em termos dos político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do
compromissos assumidos com a prática social. social e que o desenvolvimento individual somente se realiza
no coletivo.
Relacionamento professor-aluno - no diálogo, como método A autogestão é, assim, o conteúdo e o método; resume
básico, a relação é horizontal, onde educador e educandos se tanto o objetivo pedagógico quanto o político. A pedagogia
posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. O critério libertária, na sua modalidade mais conhecida entre nós, a
de bom relacionamento é a total identificação com o povo, sem “pedagogia institucional”, pretende ser uma forma de
o que a relação pedagógica perde consistência. Elimina-se, por resistência contra a burocracia como instrumento da ação
pressuposto, toda relação de autoridade, sob pena de esta dominadora do Estado, que tudo controla (professores,
inviabilizar o trabalho de conscientização, de “aproximação de programas, provas etc.), retirando a autonomia.
consciências”. Trata-se de uma “não diretividade”, mas não no
sentido do professor que se ausenta (como em Rogers), mas Conteúdos de ensino - as matérias são colocadas à
que permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço disposição do aluno, mas não são exigidas. São um
humano para “dizer sua palavra” para se exprimir sem se instrumento a mais, porque importante é o conhecimento que
neutralizar. resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a
vivência de mecanismos de participação crítica.
Pressupostos de aprendizagem - a própria designação de “Conhecimento” aqui não é a investigação cognitiva do real,
“educação problematizadora” como correlata de educação para extrair dele um sistema de representações mentais, mas
libertadora revela a força motivadora da aprendizagem. A a descoberta de respostas às necessidades e às exigências da
motivação se dá a partir da codificação de uma situação- vida social. Assim, os conteúdos propriamente ditos são os que
problema, da qual se toma distância para analisá-la resultam de necessidades e interesses manifestos pelo grupo e
criticamente. “Esta análise envolve o exercício da abstração, que não são, necessária nem indispensavelmente, as matérias
através da qual procuramos alcançar, por meio de de estudo.
representações da realidade concreta, a razão de ser dos
fatos”. Método de ensino - é na vivência grupal, na forma de
Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, autogestão, que os alunos buscarão encontrar as bases mais
isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido satisfatórias de sua própria “instituição”, graças à sua própria
se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. O que é iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de “colocar
aprendido não decorre de uma imposição ou memorização, nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da
mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo vida, as atividades e a organização do trabalho no interior da
processo de compreensão, reflexão e crítica. O que o educando escola (menos a elaboração dos programas e a decisão dos
transfere, em termos de conhecimento, é o que foi incorporado exames que não dependem nem dos docentes, nem dos
como resposta às situações de opressão - ou seja, seu alunos)”. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando
engajamento na militância política. o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades
ou das do grupo.
Manifestações na prática escolar - a pedagogia libertadora
tem como inspirador e divulgador Paulo Freire, que tem O progresso da autonomia, excluída qualquer direção de
aplicado suas ideias pessoalmente em diversos países, fora do grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente a
primeiro no Chile, depois na África. Entre nós, tem exercido oportunidade de contatos, aberturas, relações informais entre
uma influência expressiva nos movimentos populares e os alunos. Em seguida, o grupo começa a se organizar, de modo
sindicatos e, praticamente, se confunde com a maior parte das que todos possam participar de discussões, cooperativas,
experiências do que se denomina “educação popular”. Há assembleias, isto é, diversas formas de participação e
diversos grupos desta natureza que vêm atuando não somente expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa, ou
no nível da prática popular, mas também por meio de entra em acordo com o grupo, ou se retira. No terceiro
publicações, com relativa independência em relação às ideias momento, o grupo se organiza de forma mais efetiva e,
originais da pedagogia libertadora. Embora as formulações finalmente, no quarto momento, parte para a execução do
teóricas de Paulo Freire se restrinjam à educação de adultos trabalho.
ou à educação popular em geral, muitos professores vêm
tentando colocá-las em prática em todos os graus de ensino Relação professor-aluno - a pedagogia institucional visa
formal. “em primeiro lugar, transformar a relação professor-aluno no
sentido da não diretividade, isto é, considerar desde o início a
Tendência Progressista Libertária133 ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de
Papel da escola - a pedagogia libertária espera que a escola obrigações e ameaças”. Embora professor e aluno sejam
exerça uma transformação na personalidade dos alunos num desiguais e diferentes, nada impede que o professor se ponha
sentido libertário e autogestionário. A ideia básica é introduzir a serviço do aluno, sem impor suas concepções e ideias, sem
modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos transformar o aluno em “objeto”. O professor é um orientador
que, em seguida, vão “contaminando” todo o sistema. A escola e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em
instituirá, com base na participação grupal, mecanismos comum.
institucionais de mudança (assembleias, conselhos, eleições, Se os alunos são livres frente ao professor, também este o
reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez é em relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar-se a
atuando nas instituições “externas”, leve para lá tudo o que responder uma pergunta, permanecendo em silêncio).
aprendeu. Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido bastante
Outra forma de atuação da pedagogia libertária, correlata claro: se um aluno resolve não participar, o faz porque não se
a primeira, é - aproveitando a margem de liberdade do sistema sente integrado, mas o grupo tem responsabilidade sobre este
- criar grupos de pessoas com princípios educativos fato e vai se colocar a questão; quando o professor se cala

133 LOBROT, Michel. Pedagogia instotucional, la escuela hacia la autogestión.


1999.

Conhecimentos Pedagógicos 92
APOSTILAS OPÇÃO

diante de uma pergunta, seu silêncio tem um significado socialização, para uma participação organizada e ativa na
educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que o democratização da sociedade.
grupo assuma a resposta ou a situação criada. No mais, ao
professor cabe a função de “conselheiro” e, outras vezes, de Conteúdos de ensino - são os conteúdos culturais universais
instrutor-monitor à disposição do grupo. Em nenhum que se constituíram em domínios de conhecimento
momento esses papéis do professor se confundem com o de relativamente autônomos, incorporados pela humanidade,
“modelo”, pois a pedagogia libertária recusa qualquer forma mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais.
de poder ou autoridade. Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores
ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente
Pressupostos de aprendizagem - as formas burocráticas das reinventados eles não são fechados e refratários às realidades
instituições existentes, por seu traço de impessoalidade, sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados,
comprometem o crescimento pessoal. A ênfase na ainda que bem ensinados, é preciso que se liguem, de forma
aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma indissociável, à sua significação humana e social.
de repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não
mais livres. A motivação está, portanto, no interesse em estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular, ou
crescer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que o grupo espontânea, mas uma relação de continuidade em que,
devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas progressivamente, se passa da experiência imediata e
aspirações e necessidades. desorganizada ao conhecimento sistematematizado. Não que
Somente o vivido, o experimentado é incorporado e a primeira apreensão da realidade seja errada, mas é
utilizável em situações novas. Assim, o critério de relevância necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior,
do saber sistematizado é seu possível uso prático. Por isso conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção do
mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da professor.
aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo.
A postura da pedagogia “dos conteúdos” - ao admitir um
Outras tendências pedagógicas correlatas - a pedagogia conhecimento relativamente autônomo - assume o saber como
libertária abrange quase todas as tendências antiautoritárias tendo um conteúdo relativamente objetivo, mas, ao mesmo
em educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista, a dos tempo, introduz a possibilidade de uma reavaliação crítica
sociólogos, e também a dos professores progressistas. Embora frente a esse conteúdo. Como sintetiza Snyders, ao mencionar
Neill e Rogers não possam ser considerados progressistas o papel do professor, trata-se, de um lado, de obter o acesso do
(conforme entendemos aqui), não deixam de influenciar aluno aos conteúdos, ligando-os com a experiência concreta
alguns libertários, como Lobrot. Entre os estrangeiros dele - a continuidade; mas, de outro, de proporcionar
devemos citar Vasquez y Oury entre os mais recentes, Ferrer y elementos de análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar
Guardia entre os mais antigos. Particularmente significativo é a experiência, os estereótipos, as pressões difusas da ideologia
o trabalho de C. Freinet, que tem sido muito estudado entre dominante - é a ruptura.
nós, existindo inclusive algumas escolas aplicando seu método. Dessas considerações resulta claro que se pode ir do saber
Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária ao engajamento político, mas não o inverso, sob o risco de se
pode-se citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus afetar a própria especificidade do saber e até cair-se numa
trabalhos não ser propriamente pedagógica, mas de crítica das forma de pedagogia ideológica, que é o que se critica na
instituições em favor de um projeto autogestionário. pedagogia tradicional e na pedagogia nova.

Tendência Progressista “Crítico Social dos Métodos de ensino - a questão dos métodos se subordina à
Conteúdos”134 dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber,
Papel da escola - a difusão de conteúdos é a tarefa e de um saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os
primordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e, métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os
portanto, indissociáveis das realidades sociais. A valorização interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos
da escola como instrumento de apropriação do saber é o conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da
melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que realidade (prática social). Assim, nem se trata dos métodos
a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia tradicional,
social e torná-la democrática. nem da sua substituição pela descoberta, investigação ou livre
Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro expressão das opiniões, como se o saber pudesse ser
dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. inventado pela criança, na concepção da pedagogia renovada.
Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de seus
condicionantes histórico-sociais, a função da pedagogia “dos Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos
conteúdos” é dar um passo à frente no papel transformador da não partem, então, de um saber artificial, depositado a partir
escola, mas a partir das condições existentes. de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta
Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido
populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a de fora. O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos
apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham alunos com os conteúdos propostos pelo professor, momento
ressonância na vida dos alunos. Entendida nesse sentido, a em que se dará a “ruptura” em relação à experiência pouco
educação é “uma atividade mediadora no seio da prática social elaborada. Tal ruptura apenas é possível com a introdução
global”, ou seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a
intervenção do professor e por sua própria participação ativa, serem aplicados criticamente à prática do aluno.
passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada Em outras palavras, uma aula começa pela constatação da
(sincrética) a uma visão sintética, mais organizada e unificada. prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática
Em síntese, a atuação da escola consiste na preparação do no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na
aluno para, o mundo adulto e suas contradições, fornecendo- forma de um confronto entre a experiência e a explicação do
lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da professor. Vale dizer: vai-se da ação à compreensão e da

134 SAVIANI, Dermeval, Educação: do senso comum à consciência filosófica. MELLO, Guiomar N de, Magistério de 1° grau. 1982.
2013. CURY, Carlos R. J. Educação e contradição: elementos. 1985.

Conhecimentos Pedagógicos 93
APOSTILAS OPÇÃO

compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa Manifestações na prática escolar135 - o esforço de
senão a unidade entre a teoria e a prática. elaboração de uma pedagogia “dos conteúdos” está em propor
modelos de ensino voltados para a interação conteúdos-
Relação professor-aluno - se o conhecimento resulta de realidades sociais; portanto, visando avançar em termos de
trocas que se estabelecem na interação entre o meio (natural, uma articulação do político e do pedagógico, aquele como
social, cultural) e o sujeito, sendo o professor o mediador, extensão deste, ou seja, a educação “a serviço da
então a relação pedagógica consiste no provimento das transformação das relações de produção”. Ainda que a curto
condições em que professores e alunos possam colaborar para prazo se espere do professor maior conhecimento dos
fazer progredir essas trocas. O papel do adulto é insubstituível, conteúdos de sua matéria e o domínio de formas de
mas acentua-se também a participação do aluno no processo. transmissão, a fim de garantir maior competência técnica, sua
Ou seja, o aluno, com sua experiência imediata num contexto contribuição “será tanto mais eficaz quanto mais seja capaz de
cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os compreender os vínculos de sua prática com a prática social
conteúdos e modelos expressos pelo professor. global”, tendo em vista (...) “a democratização da sociedade
Mas esse esforço do professor em orientar, em abrir brasileira, o atendimento aos interesses das camadas
perspectivas a partir dos conteúdos, implica um envolvimento populares, a transformação estrutural da sociedade
com o estilo de vida dos alunos, tendo consciência inclusive brasileira”.
dos contrastes entre sua própria cultura e a do aluno. Não se
contentará, entretanto, em satisfazer apenas as necessidades e Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96136
carências; buscará despertar outras necessidades, acelerar e Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
disciplinar os métodos de estudo, exigir o esforço do aluno, n. º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e
propor conteúdos e modelos compatíveis com suas Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é o
experiências vividas, para que o aluno se mobilize para uma fato de serem interacionistas, porque concebem o
participação ativa. conhecimento como resultado da ação que se passa entre o
Evidentemente o papel de mediação exercido em torno da sujeito e um objeto. De acordo com Aranha137, o conhecimento
análise dos conteúdos exclui a não diretividade como forma de não está, então, no sujeito, como queriam os inatistas, nem no
orientação do trabalho escolar, por que o diálogo adulto-aluno objeto, como diziam os empiristas, mas resulta da interação
é desigual. O adulto tem mais experiência acerca das entre ambos.
realidades sociais, dispõe de uma formação (ao menos deve Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa
dispor) para ensinar, possui conhecimentos e a ele cabe fazer perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a
a análise dos conteúdos em confronto com as realidades possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O
sociais. processo de leitura, portanto, não é centrado no texto,
A não diretividade abandona os alunos a seus próprios ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no
desejos, como se eles tivessem uma tendência espontânea a receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas, mas
alcançar os objetivos esperados da educação. Sabemos que as ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação
tendências espontâneas e naturais não são “naturais”, antes de sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa
são tributárias das condições de vida e do meio. Não são abordagem interacionista, o receptor é retirado da sua
suficientes o amor, a aceitação, para que os filhos dos condição de mero objeto do sentido do texto, de alguém que
trabalhadores adquiram o desejo de estudar mais, de estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria,
progredir: é necessária a intervenção do professor para levar tradicionalmente, no ensino da leitura.
o aluno a acreditar nas suas possibilidades, a ir mais longe, a
prolongar a experiência vivida. As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
encontro da concepção que considera a linguagem como forma
Pressupostos de aprendizagem - por um esforço próprio, o de atuação sobre o homem e o mundo e das modernas teorias
aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais sobre os estudos do texto, como a Linguística Textual, a Análise
apresentados pelo professor; assim, pode ampliar sua própria do Discurso, a Semântica Argumentativa e a Pragmática, entre
experiência. O conhecimento novo se apoia numa estrutura outros.
cognitiva já existente, ou o professor provê a estrutura de que
o aluno ainda não dispõe. O grau de envolvimento na De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo,
aprendizagem dependa tanto da prontidão e disposição do deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a
aluno, quanto do professor e do contexto da sala de aula. tradicional, a renovada e a tecnicista, por se declararem
Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteúdos, é neutras, nunca assumiram compromisso com as
desenvolver a capacidade de processar informações e lidar transformações da sociedade, embora, na prática,
com os estímulos do ambiente, organizando os dados procurassem legitimar a ordem econômica e social do sistema
disponíveis da experiência. Em consequência, admite-se o capitalista. No ensino da língua, predominaram os métodos de
princípio da aprendizagem significativa que supõe, como base ora empirista, ora inatista, com ensino da gramática
passo inicial, verificar aquilo que o aluno já sabe. O professor tradicional, ou sob algumas as influências teóricas do
precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou fazem, estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71, da
o aluno precisa compreender o que o professor procura dizer- Reforma do Ensino.
lhes. A transferência da aprendizagem se dá a partir do
momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às
parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. liberais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista.
Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser De base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e
avaliado, não como julgamento definitivo e dogmático do marxista (com as ideias de Gramsci), essas tendências, no
professor, mas como uma comprovação para o aluno de seu ensino da língua, valorizam o texto produzido pelo aluno, a
progresso em direção a noções mais sistematizadas. partir do seu conhecimento de mundo, assim como a
possibilidade de negociação de sentido na leitura.

135 SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 1983. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola,
136 SILVA, Delcio Barros da. As Principais Tendências Pedagógicas na Prática 1990.
Escolar Brasileira e seus Pressupostos de Aprendizagem. 137 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo:

Editora Moderna, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 94
APOSTILAS OPÇÃO

A partir da LDB 9.394/96, principalmente com a difusão das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva socio-histórica,
essas teorias buscam uma aproximação com modernas correntes do ensino da língua que consideram a linguagem como forma de
atuação sobre o homem e o mundo, ou seja, como processo de interação verbal, que constitui a sua realidade fundamental.
QUADRO SÍNTESE DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Nome da
tendência Papel da escola Conteúdos Métodos Professor x Aluno Aprendizagem Manifestações
pedagógica

São conhecimentos A aprendizagem é


Preparação e valores sociais Exposição e receptiva e Nas escolas que
Autoridade do
Tendência intelectual e moral acumulados através demonstração mecânica, sem se adotam filosofias
professor que exige
Liberal dos alunos para dos tempos e verbal da matéria considerar as humanistas
atitude receptiva do
Tradicional assumir seu papel repassados aos e /ou por meio de características clássicas ou
aluno.
na sociedade. alunos como modelos. próprias de cada científicas.
verdades absolutas. idade.

Os conteúdos são
Por meio de É baseada na
A escola deve estabelecidos a Montessori,
Tendência experiências, O professor é motivação e na
adequar as partir das Decroly, Dewey,
Liberal pesquisas e auxiliador no estimulação de
necessidades experiências Piaget, Cousinet,
Renovada método de desenvolvimento problemas. O
individuais ao meio vividas pelos Lauro de Oliveira
Progressivista solução de livre da criança. aluno aprende
social. alunos frente às Lima.
problemas. fazendo.
situações problema.

Educação
centralizada no
Tendência
Baseia-se na busca aluno; o professor Aprender é
Liberal Método baseado Carl Rogers,
Formação de dos conhecimentos deve garantir um modificar as
Renovada Não na facilitação da “Sumerhill”,
atitudes. pelos próprios clima de percepções da
Diretiva (Escola aprendizagem. escola de A. Neill.
alunos. relacionamento realidade.
Nova)
pessoal e autêntico,
baseado no respeito.

Procedimentos e Relação objetiva em


É modeladora do São informações Skinner, Gagné,
Tendência técnicas para a que o professor Aprendizagem
comportamento ordenadas numa Bloon, Mager.
Liberal transmissão e transmite baseada no
humano através de sequência lógica e Leis 5.540/68 e
Tecnicista recepção de informações e o desempenho.
técnicas específicas. psicológica. 5.692/71.
informações. aluno deve fixá-las.

Não atua em escolas, Valorização da


porém visa levar experiência vivida
professores e alunos Temas geradores como base da
Tendência a atingir um nível de retirados da A relação é de igual relação educativa.
Grupos de
Progressista consciência da problematização do para igual, Codificação- Paulo Freire.
discussão.
Libertadora realidade em que cotidiano dos horizontalmente. decodificação.
vivem na busca da educandos. Resolução da
transformação situação
social. problema.

Também prima Lobrot, C.


pela valorização Freinet, Miguel
Transformação da É não diretiva, o
Tendência As matérias são Vivência grupal da vivência Gonzales,
personalidade num professor é
Progressista colocadas, mas não na forma de cotidiana. Vasquez, Oury,
sentido libertário e orientador e os
Libertária exigidas. autogestão. Aprendizagem Maurício
autogestionário. alunos livres.
informal via Tragtenberg,
grupo. Ferrer y Guardia.

O método parte
Makarenko, B.
Tendência de uma relação
Conteúdos culturais Papel do aluno como Baseadas nas Charlot,
Progressista direta da
universais que são participador e do estruturas Suchodolski,
“Crítico-social Difusão dos experiência do
incorporados pela professor como cognitivas já Manacorda, G.
dos conteúdos conteúdos. aluno
humanidade frente mediador entre o estruturadas nos Snyders
ou histórico- confrontada com
à realidade social. saber e o aluno. alunos. Demerval
crítica” o saber
Saviani.
sistematizado.

Questões

01. (SEDUC/RO - Professor de História - FUNCAB) Na tendência tradicional, a Pedagogia Liberal se caracteriza por:
(A) subordinar a educação à sociedade, tendo como função a preparação de recursos humanos por meio da profissionalização.
(B) valorizar a autoeducação, a experiência direta sobre o meio pela atividade e o ensino centrado no aluno e no grupo.
(C) acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, através do qual o aluno deve atingir pelo seu próprio esforço, sua plena
realização.
(D) considerar a educação um processo interno, que parte das necessidades e dos interesses individuais.
(E) focar no aprender a aprender, ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente.

Conhecimentos Pedagógicos 95
APOSTILAS OPÇÃO

02. (INSS - Analista - Pedagogia - FUNRIO) A ênfase em


um ensino funcional ou ativo, baseado nos interesses naturais
das crianças e no trabalho em grupo ou em comunidade, para
criar o hábito da cooperação e incentivar a relação entre a
escola e a vida. Essas são características de uma pedagogia
baseada
(A) na teoria crítico-social dos conteúdos.
(B) na naturalização das práticas pedagógicas.
(C) nos princípios escolanovistas.
(D) na utilização de técnicas motivacionais.
(E) em aprendizagens de abordagem behaviorista.

03. (TJ/DF - Analista Judiciário - Pedagogia - CESPE) A


partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte: As
experiências de alfabetização de jovens e adultos inspiradas
nas ideias do educador Paulo Freire são exemplo da concepção
liberal renovada progressista.
( ) Certo ( ) Errado

04. (TJ/DF - Analista Judiciário - Pedagogia - CESPE) A


partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte:
Manacorda é um dos autores que retratam em suas obras os
pressupostos da concepção progressista libertadora.
( ) Certo ( ) Errado

05. (TJ/DF - Analista Judiciário - Pedagogia - CESPE) A


partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte: As
escolas que utilizam o método montessoriano são
consideradas uma manifestação da concepção liberal
tradicional.
( ) Certo ( ) Errado

Gabarito

01.C / 02.C / 03.Errada / 04.Errada / 05.Errada

Anotações

Conhecimentos Pedagógicos 96
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
APOSTILAS OPÇÃO

fala egocêntrica - é marcado pela curiosidade da criança pelas


palavras, por perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que
é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário.
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a
criança progressivamente abstrai o som, adquirindo
capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Aí
estamos entrando na fase do discurso interior. Se, durante a
fase da fala egocêntrica houver alguma deficiência de
elementos e processos de interação social, qualquer fator que
Práticas de linguagem: aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu
oralidade, leitura/escuta, discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é
importante para o cotidiano dos educadores, em que eles
produção (escrita e podem detectar possíveis deficiências no processo de
multissemiótica) e análise socialização da criança.
linguística/semiótica
Discurso interior e pensamento
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica.
É quando as palavras passam a ser pensadas, sem que
CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM necessariamente sejam faladas. É um pensamento em
palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do
Conforme Rabello e Passos1, no livro, “A construção do discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver
pensamento e da linguagem”, Vygotsky estuda questões problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É
fundamentais do pensamento infantil, formula concepções algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos
inteiramente novas para a época em que o escreveu, articula verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as
seu pensamento em um bem urdido aparato conceitual e palavras certas para exprimir um pensamento.
sedimenta o processo infantil de aquisição da linguagem e do O pensamento não coincide de forma exata com os
conhecimento com um sistema de categorias bem definidas, significados das palavras. O pensamento vai além, porque
subordinando todo o seu trabalho a uma clara orientação capta as relações entre as palavras de uma forma mais
epistemológica. complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita
Para o autor A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é
sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de
Essa função comunicativa está estreitamente combinada com uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto,
o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra;
porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a
organiza o pensamento. transmissão do seu pensamento para outra pessoa.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o
fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um
denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera
surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem motivacional de nossa consciência, que abrange nossas
interior, intimamente ligada ao pensamento. inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos,
nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente
A linguagem egocêntrica na nossa fala e no nosso pensamento.
O pensamento e a fala unem-se em pensamento verbal.
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o Neste significado há um sentido cognitivo e um afetivo, que
processamento de perguntas e respostas dentro de nós sempre estão intimamente entrelaçados.
mesmos - o que estaria bem próximo ao pensamento, Para Vygotsky, a criança se inscreve desde os seus
representa a transição da função comunicativa para a função primeiros dias num sistema de comportamento social em que
intelectual. Nesta transição, surge a chamada fala egocêntrica. suas atividades adquirem significado. Sua relação com o
Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz ambiente se dá por meio da relação com outras pessoas,
baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade. Esta situação em que é oferecido a ela um conjunto de acepções, já
fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um culturalmente enraizado no grupo em que ela foi inserida. Os
instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar significados, por sua vez, são interiorizados ao longo de seu
uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a processo de desenvolvimento, culminando com o
criança está entretida. aparecimento do pensamento verbal. Assim, o pensamento
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa verbal - síntese entre a atividade prática e a fala - é uma forma
mesma, e não uma linguagem social, com funções de de comportamento que se circunscreve num processo
comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é essencial histórico-cultural e suas características e propriedades não
porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor podem ser vislumbradas nas formas naturais da fala e do
as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um pensamento.
problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do
pensamento / raciocínio. A teoria de Piaget sobre a Linguagem e o Pensamento
Uma contribuição importante de Vygotsky, descrita no das crianças
livro, é o fato de que, por volta dos dois anos de idade, o
desenvolvimento do pensamento e da linguagem - que até Piaget em seus estudos tentou descobrir as características
então eram estudados em separado - se fundem, criando uma que permeavam o pensamento das crianças, ou seja, buscou
nova forma de comportamento. mais saber sobre o que elas tinham do que o que lhes faltava.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir Preferiu fazer isso do que enumerar as deficiências do
o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se - a fase da raciocínio infantil quando em comparação com os adultos2.

1 Texto adaptado de RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. 2 Adaptado de: Vygotsky. Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem.

Conhecimentos Específicos 1
APOSTILAS OPÇÃO

Dessa forma, entendeu que a diferença entre o pensamento na linguagem não seguem trajetórias paralelas: as suas curvas
das crianças e dos adultos era mais qualitativa do que de desenvolvimento cruzam-se repetidas vezes, podem
quantitativa. aproximar-se e correr lado a lado, podem até fundir-se por
Com o uso de novos métodos e novos fatos conseguiu-se momentos, mas acabam por se afastar de novo. Isto aplica-se
chegar as situações problemas, que deram origem as mais tanto ao desenvolvimento filogenético como ao ontogenético3.
variadas teorias, embora Piaget evitasse o uso destas, pois Nos animais, o pensamento e a linguagem têm várias raízes
dava maior preferência aos fatos do que as experiências. e desenvolvem-se segundo diferentes trajetórias de
Contudo, não podemos separar totalmente a teoria dos fatos. desenvolvimento.
O egocentrismo do pensamento das crianças é que liga as Este fato é confirmado pelos estudos recentes de Koehler,
características da lógica infantil, pois demonstra todas as Yerkes e outros sobre os macacos. Koehler provou que o
outras características que foram descobertas, quais sejam, o surgimento de um intelecto embrionário nos animais - isto é, o
realismo intelectual, o sincretismo, além da dificuldade em aparecimento de pensamento no sentido próprio do termo -
compreender as relações, de modo que o egocentrismo ocupa não se encontra de maneira nenhuma relacionado com a
um lugar intermediário entre o pensamento autístico e o linguagem. As “invenções” dos macacos na execução e
pensamento orientado. utilização de instrumentos, ou no capítulo da descoberta de
Segundo Piaget, o pensamento egocêntrico é o elo entre o caminhos indiretos para a solução de determinados
autismo e a lógica, sendo que esta última aparece bem depois problemas, embora sejam sem sombra de dúvida pensamento
do autismo. embrionário, pertencem a uma fase pré-linguística do
No pensamento orientado, há uma adaptação à realidade, desenvolvimento do pensamento.
é consciente, já no autístico, trabalha-se com o subconsciente, Na opinião de Koehler, as suas investigações mostram que
quer dizer, os problemas encontrados não estão presentes no o chimpanzé evidencia um esboço de comportamento
consciente, não tem adaptação com à realidade externa, intelectual do mesmo gênero e do mesmo tipo que o do
construindo dentro de si a mesmo a própria realidade. homem. São a ausência de linguagem, “esse instrumento
As observações levaram a conclusão que todas as técnico auxiliar infinitamente valioso”, e a pobreza das
conversações das crianças podem ser classificadas em dois imagens, “esse material intelectual extremamente
grupos: o socializado e o egocêntrico. O que diferencia ambos importante”, que explicam a tremenda diferença existente
é o fato das suas funções. entre os antropoides e os homens mais primitivos “e vedam ao
Na fala egocêntrica, a criança fala apenas dela, sem se chimpanzé o mais pequeno desenvolvimento cultural”
preocupar com o interlocutor, não tenta se comunicar, nem Vigora considerável desacordo entre os psicólogos das
aguarda resposta ou sequer quer saber se alguém o escuta. diferentes escolas acerca da interpretação teórica das
Quando a criança tem sete ou oito anos de idades, a descobertas de Koehler. A massa de literatura crítica a que
vontade de trabalhar com os outros começa a manifestar-se, e estes estudos deram origem representa uma grande variedade
a fala egocêntrica ainda subsiste. Em sua descrição do discurso de pontos de vista o que torna tanto mais significativo o
egocêntrico e desenvolvimento genético, Piaget sublinha que ninguém contestar os fatos ou a dedução que mais
esse discurso não cumpre função no comportamento da particularmente nos interessa: a independência entre as ações
criança, encontrando limitação quando a criança atinge a idade do chimpanzé e a linguagem. Isto é admitido de boa mente,
escolar. mesmo pelos psicólogos que, como Thorndyke e Borovski.
Nada veem nas ações do chimpanzé para lá dos mecanismos
A teoria de Stern sobre o desenvolvimento da instintuais e da aprendizagem por “tentativas e erros”, “nada
linguagem mais, salvo o já conhecido processo de formação de hábitos”. E
pelos introspeccionistas que fogem a rebaixar o intelecto ao
O sistema de Wilhelm Stern defende a concepção nível do comportamento dos macacos, mesmo dos mais
intelectual sobre o desenvolvimento da linguagem na criança. avançados.
Para ele, há uma diferença entre a origem da linguagem: Buehler diz com muito acerto que as ações dos chimpanzés
tendência expressiva, tendência social e tendência intencional. não têm qualquer relação com a linguagem; e que, no homem,
As duas primeiras estão subjacentes aos rudimentos de o pensamento mobilizado pela utilização dos utensílios
linguagem observados nos animais, enquanto a intencional é (Werkzeugdenken) também tem uma relação muito mais
especificamente humana. tênue com a linguagem e com os conceitos do que qualquer
O que existe na mente de uma criança entre um ano e meio outra forma de pensamento.
e dois anos contrasta com a ideia segundo a qual ela poderia A questão seria bem simples se os macacos não tivessem
ser capaz de adaptar com operações intelectuais complexas. A nenhum rudimento de linguagem, não tivessem nada que se
criança descobre de modo repentino que o discurso tem assemelhasse à linguagem. Ora, acontece que encontramos no
significado. chimpanzé uma linguagem relativamente bem desenvolvida,
A linguagem expressiva e a comunicativa tem seu que, sob certos aspectos - sobretudo foneticamente - não deixa
desenvolvimento ocorrido desde os animais mais inferiores de ser semelhante à humana. Esta linguagem tem uma
até os antropoides e ao homem. Esse tipo de linguagem é característica notável: a de funcionar independentemente do
primordial e surge de uma vez, fazendo com que a criança intelecto.
descubra a função da linguagem através de uma operação Koehler, que estudou os chimpanzés durante muitos anos
puramente lógica. na Estação de Antropoides das Ilhas Canárias, ensina-nos que
A interpretação é uma das primeiras palavras das crianças, as suas expressões fonéticas denotam apenas desejos e
pois é a pedra de toque de todas as teorias da linguagem estados subjetivos; são expressões de afetos e nunca um sinal
infantil. de algo objetivo” Mas a fonética dos chimpanzés e a humana
têm tantas coisas em comum que podemos confiantemente
As raízes genéticas do pensamento e da linguagem presumir que a ausência de um discurso do gênero humano
não se deve a nenhuma causa periférica.
O fato mais importante posto a nu pelo estudo genético do O chimpanzé é um animal extremamente gregário e
pensamento e a linguagem é o fato de a relação entre ambas responde de forma muito intensa à presença doutros
passar por muitas alterações; os progressos no pensamento e exemplares da sua espécie. Koehler descreve formas

3 Adaptado de: Vygotsky. Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem.

Conhecimentos Específicos 2
APOSTILAS OPÇÃO

altamente diversificadas de “comunicação linguística” entre processos intelectuais dos chimpanzés. Mostrou também, por
chimpanzés. Em primeiro lugar vem o seu vasto repertório de meio de uma análise experimental rigorosa, que o êxito das
expressões afetivas: jogo facial, gestos, vocalização; a seguir ações dos animais dependia do fato de eles poderem ver todos
encontram-se os movimentos que exprimem as emoções os elementos da situação simultaneamente - este fator era
sociais; gestos de saudação, etc. Os macacos são capazes tanto decisivo para o seu comportamento.
de “compreender mutuamente os seus gestos” como também Se o pau que utilizavam para chegar a um fruto colocado
de “exprimir”, por meio de gestos, desejos que envolvem para lá das barras fosse ligeiramente deslocado de forma que
outros animais. o utensílio (o pau) e o objetivo (o fruto) deixassem de ser
Habitualmente, um chimpanzé executará o início de uma visíveis num só relance, a resolução do problema tornar-se-ia
ação que pretende que outro animal execute - por exemplo, muito difícil, frequentemente impossível até (especialmente
empurrá-lo-á e executará os movimentos iniciais de marcha durante as primeiras experiências). Os macacos tinham
para “convidar” o outro a segui-lo, ou agarrará o ar quando aprendido a alongar os seus utensílios, inserindo um pau no
pretende que o outro lhe dê uma banana. Todos estes gestos orifício praticado noutro pau. Se por acaso os dois paus se
são gestos relacionados diretamente com a própria ação. cruzassem nas suas mãos formando um X, tornavam-se
Koehler menciona que o experimentador é levado a utilizar incapazes de realizar a operação familiar muito praticada de
meios de comunicação elementares essencialmente alongar o utensílio. Poderiam citar-se dúzias de exemplos
semelhantes para transmitir aos macacos aquilo que espera destes extraídos das experiências de Koehler.
deles. Koehler considera que a presença real de uma situação
Estas observações confirmam sobejamente a opinião de bastante simples é condição indispensável em qualquer
Wundt segundo a qual os gestos de apontar que constituem o investigação do intelecto dos chimpanzés, condição sem a qual
primeiro estádio do desenvolvimento da linguagem humana o seu intelecto não funcionará: conclui daqui que as limitações
não aparecem ainda nos animais, mas alguns gestos dos intrínsecas da “imagética” (ou “ideação”) são uma
macacos são uma forma de transição entre o movimento de característica fundamental do comportamento intelectual do
preensão e o de apontar. Consideramos que este gesto de chimpanzé. Se aceitarmos as teses de Koehler, então a hipótese
transição é um passo muito importante da expressão afetiva de Yerkes parece mais do que duvidosa.
não adulterada para a linguagem objetiva. Em conexão com estes recentes estudos experimentais e
Não há no entanto provas factuais de que os animais observações do intelecto e da linguagem dos chimpanzés,
tenham atingido o estádio da representação objetiva de Yerkes apresenta novo material sobre o seu desenvolvimento
nenhuma das suas atividades. Os chimpanzés de Koehler linguístico e uma nova e engenhosa teoria que pretende
brincavam com barro colorido, começando por “pintar, com os explicar a sua carência de verdadeira linguagem. “As reações
lábios e a língua e passando mais tarde para pincéis a sério; orais”, afirma ele, “são muito frequentes e variadas nos
mas estes animais - que normalmente transferem para as suas chimpanzés jovens, mas a linguagem no sentido humano não
brincadeiras o uso dos utensílios e outros comportamentos existe”. O seu aparelho vocal é tão desenvolvido e funciona tão
aprendidos em atividades “sérias” (isto é, em experiências) e, bem como o do homem. O que lhe falta é a tendência para
vice-versa - nunca evidenciaram a mínima intenção de imitar sons. A sua mímica está quase totalmente dependente
representar o quer que fosse nos seus desenhos nem o mais dos estímulos óticos; eles copiam ações, mas não sons. São
leve indício de atribuírem o mais pequeno significado aos seus incapazes de fazer o que o papagaio faz com tanto êxito.
produtos. Afirma Buehler: Se as tendências imitativas do papagaio se combinassem
Certos fatos põem-nos de sobreaviso no sentido de não com o calibre intelectual das do chimpanzé, este último
sobrestimarmos as ações dos chimpanzés. Sabemos que nunca possuiria sem dúvida linguagem, já que tem um mecanismo
nenhum viajante confundiu um gorila ou um chimpanzé com vocal semelhante ao do homem, assim como um intelecto de
um homem, e que nunca ninguém observou entre eles nenhum tipo e nível que lhe permitem utilizar os sons tendo em vista o
dos utensílios ou métodos tradicionais que, nos homens, discurso oral
embora variando com as tribos, indicam a transmissão de Ontogeneticamente, a relação entre a gênese do
geração em geração das descobertas já feitas, nenhuma das pensamento e a da linguagem é muito mais intrincada e
arranhadelas que executam na areia ou no barro poderia ser obscura; mas também aqui poderemos distinguir duas linhas
confundida com desenhos que representassem alguma coisa de evolução distintas, resultantes de duas raízes genéticas
ou com decorações traçadas durante a atividade lúdica; não há diferentes.
linguagem representacional, isto é, não há sons equivalentes a A existência de uma fase pré-linguística do
nomes. Todo este conjunto de circunstâncias deve ter alguma desenvolvimento do pensamento na infância só recentemente
causa intrínseca. foi corroborada por provas objetivas. Aplicaram-se a crianças
De entre os observadores modernos dos macacos, Yerkes que ainda não tinham aprendido a falar as mesmas
deve ser o único que explica a sua carência de linguagem por experiências que Koehler levou a cabo com chimpanzés. O
outras razões que não sejam as “causas intrínsecas”. A sua próprio Koehler havia já realizado ocasionalmente essas
investigação sobre o cérebro do orangotango produziu dados experiências com crianças com o objetivo de estabelecer
muito semelhantes aos de Koehler; mas levou as suas comparações e Buehler empreendeu um estudo sistemático
conclusões mais longe, pois admite uma “inteleção mais das crianças com a mesma orientação. Os resultados foram
elevada” nos orangotangos - ao nível é certo de uma criança de semelhantes para as crianças e os chimpanzés.
três anos, pelo menos. As raízes pré-intelectuais da linguagem no
Yerkes deduz esta intelecção com base em semelhanças desenvolvimento da criança há muito que são conhecidas. O
superficiais entre o comportamento dos homens e o dos papaguear das crianças, o seu choro e inclusivamente as suas
antropoides: não apresenta nenhuma prova objetiva de que os primeiras palavras são muito claramente estádios do
orangotangos resolvam os problemas socorrendo-se da desenvolvimento da linguagem que nada têm a ver com o
intelecção, isto é, de “imagens”, ou de que sigam e discirnam os desenvolvimento do pensamento. Tem-se encarado duma
estímulos. No estudo dos animais superiores, pode-se usar a forma generalizada estas manifestações como formas de
analogia com bons resultados, dentro dos limites da comportamento predominantemente emocionais.
objetividade, mas basear uma hipótese em analogias não será Contudo, nem todas servem apenas a função de alívio de
com certeza um procedimento científico correto. uma tensão. Investigações recentes das primeiras formas de
Koehler, por outro lado, foi mais além: não se limitou a comportamento das crianças e das primeiras reações das
utilizar a simples analogia na sua investigação da natureza dos crianças à voz humana (efetuadas por Charlotte Buehler e o

Conhecimentos Específicos 3
APOSTILAS OPÇÃO

seu círculo) mostraram que a função social da linguagem já é comportamento e elaborar hipóteses de como essas
claramente evidente durante o primeiro ano de vida, quer características se desenvolveram durante a vida do indivíduo
dizer, no estádio pré-intelectual do desenvolvimento da e enfatiza três aspectos4:
linguagem de criança. - Relação entre seres humanos e o seu ambiente físico e
Observaram-se reações bem definidas à voz humana logo social.
no terceiro mês de vida e a primeira reação especificamente - Novas formas de atividade que fizeram com que o
social à voz durante o segundo mês Estas investigações trabalho fosse o meio fundamental de relacionamentos entre
também estabeleceram que as gargalhadas, os sons o homem e a natureza e as consequências psicológicas dessas
inarticulados, os movimentos etc., são meios de contato social formas de atividade.
logo durante os primeiros meses da vida das crianças. - A natureza das relações entre o uso de instrumento e
Assim, as duas funções da linguagem que observamos no desenvolvimento da linguagem.
desenvolvimento filogenético já existem e são evidentes nas
crianças com menos de um ano de idade. O estudo do desenvolvimento infantil começou a ser feita
Mas a mais importante descoberta é o fato de em por comparação à botânica, associado à maturação do
determinado momento por alturas dos dois anos de idade, as organismo como um todo. Como maturação por si só, é um
curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem, fator secundário e não explica o desenvolvimento de formas
até então separadas, se tocarem e fundirem, dando início a mais complexas do comportamento humano, a psicologia
uma nova forma de comportamento. Foi Stern quem pela moderna passou a estudar a criança a partir dos modelos
primeira vez e da melhor forma nos deu uma descrição deste zoológicos, isto é, da experimentação animal.
momentoso acontecimento. Ele mostrou como a vontade de Segundo Vygotsky, o momento de maior significado no
dominar a linguagem se segue à primeira compreensão difusa curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às
dos propósitos desta, quando a criança “faz a maior descoberta formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata,
da sua vida”, a de que “todas as coisas têm um nome” acontece quando a fala e a atividade prática estão juntas. A
criança, antes de controlar o próprio comportamento, começa
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir a controlar o ambiente com a ajuda da fala, produzindo novas
o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se, é relações com o ambiente, além de uma nova organização do
indicado por dois sintomas objetivos que não deixam lugar a próprio ambiente. A criação dessas formas
dúvidas: caracteristicamente humanas de comportamento produz o
(I) a súbita e ativa curiosidade da criança pelas palavras, as intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: à forma
suas perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que é isto?”) especificamente humana do uso de instrumento.
e, Experiências feitas por Vygotsky concluíram que a fala da
(II) o consequente enriquecimento do vocabulário que criança é tão importante quanto a ação para atingir um
progride por saltos e muito rapidamente. objetivo. Sua fala e ação fazem parte de uma mesma função
psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em
Antes do ponto de viragem, a criança reconhece (como questão. Conclui-se também que quanto mais complexa a ação
alguns animais) um pequeno número de palavras que, tal exigida pela situação e menos direta a solução, maior a
como no condicionamento, substituem objetos, pessoas, ações, importância que a fala adquire na operação como um todo.
estados, desejos. Nessa idade, a criança só conhece as palavras “Essas observações, me levam a concluir que as crianças
que lhe foram transmitidas por outras pessoas. Agora a resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como
situação altera-se: a criança sente a necessidade das palavras dos olhos e das mãos”. (Vygotsky)
e, por meio das suas perguntas, tenta ativamente aprender os A criança quando se confronta com um problema mais
signos relacionados com os objetos Parece ter descoberto a complicado, apresenta ótima variedade complexa de respostas
função simbólica das palavras. A linguagem, que no estádio que incluem tentativas diretas de atingir o objetivo, uso de
anterior era afetiva-conotativa entra agora no estádio instrumentos, fala dirigidas as pessoas ou que simplesmente
intelectual. As trajetórias do desenvolvimento da linguagem e acompanha a ação e apelos verbais direto ao objeto de atenção.
do pensamento encontraram-se. O desenvolvimento da percepção e da atenção, o uso de
instrumentos e da fala afeta várias funções psicológicas:
Em resumo, devemos concluir que: Operações sensório-motoras e atenção - cada uma das quais é
(1) No seu desenvolvimento ontogenético, o pensamento e parte de um sistema dinâmico de comportamento.
a linguagem têm raízes diferentes. Para o desenvolvimento da criança principalmente na
(2) No desenvolvimento linguístico da criança, podemos primeira infância, o que se reveste de importância primordial
estabelecer com toda a certeza uma fase pré-intelectual no são as interações com os adultos (assimétricas), portadores de
desenvolvimento linguístico da criança - e no seu todas as mensagens de cultura. Nessa interação o papel
desenvolvimento intelectual podemos estabelecer uma fase essencial corresponde aos diferentes sistemas semióticos
pré-linguística. seguida de uma função individual: começam a ser utilizado
3) A determinada altura estas duas trajetórias encontram- como instrumentos de organização e de controle do
se e, em consequência disso, o pensamento torna-se verbal e a comportamento individual. A abordagem dialética, admitindo
linguagem racional. a influência da natureza sobre o homem, afirma que o homem,
por sua vez, age sobre a natureza e cria, através das mudanças
Importante ainda traçarmos alguns pontos sobre a por ele provocadas, novas condições naturais para a sua
obra de Vygostsky, L. S. Construção Social da Mente. São existência. Essa posição representa o elemento-chave da
Paulo: Martins Fontes, 2002. abordagem de estudo e interpretação das funções psicológicas
superiores FPS, do homem e serve como base dos novos
Vygotsky, L. S. Construção Social da Mente. São Paulo: métodos de experimentação e análise.
Martins Fontes, 2002 Com relação à interação entre aprendizado e ensino - O
aprendizado é considerado um processo puramente externo
No livro Construção Social da Mente - Vygotsky tem por que não está envolvido ativamente no desenvolvimento,
objetivo caracterizar os aspectos tipicamente humanos do simplesmente se utilizará dos avanços do desenvolvimento ao

4 Texto adaptado de: Lídia Lindislay Ocanha Morale. https://bit.ly/2AASEN1

Conhecimentos Específicos 4
APOSTILAS OPÇÃO

invés de fornecer um impulso para modificar seu curso. Para 03. (Prefeitura de Tijucas/SC - Professor - Séries
Vygotsky não existe melhor maneira de descrever a educação Iniciais - FEPESE). A perspectiva histórico-cultural de
do que considerá-la como a organização dos hábitos de Vygotsky levou-o a considerar que a linguagem é um
conduta e tendências comportamentais adquiridos. O instrumento psicológico que age de forma mediada no estágio
aprendizado não altera nossa capacidade global de focalizar a precoce do pensamento (a atividade prática).
atenção, ao invés disso, desenvolve várias capacidades de Para o referido autor o resultado desse caráter mediado é:
focalizar a atenção sobre várias coisas. (A) A linguagem escrita.
Numa abordagem sobre a zona de desenvolvimento (B) A linguagem gestual.
proximal, o ponto de partida da discussão é o fato de que o (C) A escrita espontânea.
aprendizado das crianças começa muito antes delas (D) O pensamento verbal.
frequentam a escola. A zona de desenvolvimento proximal é (E) A leitura convencional.
resumidamente à distância entre o nível de desenvolvimento
real, que se costuma determinar através da solução independe Gabarito
de problemas e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob orientação 01.A / 02.D / 03.D
de um adulto. O brinquedo tem um papel marcante para
desenvolvimento, o brinquedo não é uma atividade pura e LEITURA E ESCRITA
simples de prazer a uma criança, pois há outras atividades que
dão mais prazer, como o habito de chupar chupeta, em relação O ser humano em sua interação com o meio e com o outro
aos jogos que marcam a perda e ganho com frequência e é representa por símbolos o que experiência no real, dessa
acompanhado pelo desprazer da perda. A criança em idade forma, constrói significados e acumula conhecimentos. Todo
pré-escolar envolve-se num mundo ilusório para resolver suas ensino, na escola, implica na utilização da função simbólica. As
questões e considera essencial e reconhece a enorme atividades que concorrem para a formação da função
influência do brinquedo no desenvolvimento da criança. O simbólica variam conforme o período do desenvolvimento
brinquedo não é o aspecto predominante da infância, mas um humano. Por exemplo, o desenho e a brincadeira de faz-de-
fator muito importante do desenvolvimento, demonstra o conta são atividades simbólicas próprias da criança pequena,
significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do que antecedem à escrita. Na verdade, elas criam as condições
próprio brinquedo, de uma predominância de situações internas para que a criança aprenda a ler e escrever.
imaginárias para as predominâncias de regras e mostra as Ao longo da Educação Fundamental desenvolve-se o
transformações internas das crianças que surgem em processo de escolarização. As capacidades linguísticas são
consequência do brinquedo. importantes na alfabetização e no aprendizado da língua
escrita durante o percurso da vida do educando.
Questões No processo de comunicação e expressão não basta ter o
domínio do processo do ler e do escrever (codificar e
01. (Prefeitura de Piraúba/MG - Psicólogo Clínico) Com decodificar), mas também saber fazer uso dessas habilidades
relação aos pressupostos teóricos do desenvolvimento em práticas sociais em que são necessárias. A aprendizagem
humano, analise as assertivas e assinale a alternativa da linguagem visual, oral, gestual, digital e escrita são
incorreta: elementos importantes para o ser humano ampliar suas
(A) Vygotsky não acredita que na presença de condições possibilidades de inserção e de participação nas diversas
adequadas de vida, e tendo cultura, o ser humano não se práticas sociais. Implícita nessa concepção está a ideia de que
desenvolverá intensamente, evidenciando o processo de o domínio e o uso da língua escrita trazem consequências
construção do desenvolvimento histórico-cultural do sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas,
indivíduo. linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida,
(B) O estudo da Teoria Histórico Cultural é a compreensão quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.
de como se alteram as organizações de desejos, opiniões, O desafio que se coloca para os primeiros anos da
ansiedade e habilidades presentes nas diferentes etapas do Educação Fundamental é o de conciliar os dois processos:
ciclo vital. Pois acredita que os seres humanos são pessoas alfabetização, como o processo específico e indispensável de
inteiras e todos os aspectos de desenvolvimento estão apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios
intimamente ligados, até mesmo no útero. alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever
(C) O desenvolvimento da personalidade se constitui de com autonomia; e letramento, como o processo de
maneira espontânea ainda no período da infância e, para a apropriação, inserção e participação na cultura escrita. Trata-
Teoria Histórico-Cultural, a idade pré-escolar e a adolescência se de um processo que tem início quando a criança começa a
marcam momentos fundamentais desse desenvolvimento, que conviver com as diferentes manifestações da escrita na
é um dos desenvolvimentos do ser humano. sociedade (placas, rótulos, embalagens, comerciais, revistas
(D) Vygotsky destinou seus estudos também à origem da etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente
linguagem e sua relação com o desenvolvimento do possibilidade de participação nas práticas sociais, que
pensamento a partir de uma abordagem histórica, o que o envolvem a língua escrita (leitura e redação de contratos, de
tornou o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos livros científicos, de obras literárias, por exemplo).
pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada Esta concepção considera que alfabetização e letramento
pessoa. são processos diferentes, cada um com suas especificidades,
mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis à
02. (SEPLAG/MG - Pedagogia - BFC) Para ser formação plena do cidadão.
considerada como possuidora de certa habilidade, a criança Assim, não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar;
tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa sem nenhum trata-se de alfabetizar letrando. Também não se trata de
tipo de ajuda. Denomina- se essa capacidade de realizar tarefas pensar os dois processos como sequenciais, isto é, vindo um
de forma independentes: depois do outro, como se o letramento fosse uma espécie de
(A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial. preparação para a alfabetização, ou, então, como se a
(B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal. alfabetização fosse condição indispensável para o início do
(C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade. processo de letramento.
(D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.

Conhecimentos Específicos 5
APOSTILAS OPÇÃO

Considerando-se que os alfabetizandos vivem numa Essas ideias são frutos de uma cultura distorcida,
sociedade letrada, em que a língua escrita está presente de industrializada, proveniente das castas superiores que chega
maneira visível e marcante nas atividades cotidianas, até nós, embebidas em ideologias de uma continua e
inevitavelmente eles terão contato com textos escritos e consistente melhora. É bem verdade que as pesquisas em
formularão hipóteses sobre sua utilidade, seu funcionamento, torno da educação comprovam certa melhora, nos diversos
sua configuração. Excluir essa vivência da sala de aula, por um índices que avaliam nossos alunos, mas ao passo que esta
lado, pode ter o efeito de reduzir e artificializar o objeto de caminha demorara incontáveis gerações para que alcancemos
aprendizagem que é a escrita, possibilitando que os alunos à educação preconizada por Paulo Freire.
desenvolvam concepções inadequadas e disposições negativas São inúmeros os obstáculos para que a educação abandone
a respeito desse objeto. seu caráter colonialista e se transforme em um instrumento de
Por outro lado, deixar de explorar a relação extraescolar inserção social, capaz de aplanar a enorme pirâmide existente
dos alunos com a escrita, significa perder oportunidades de em nossa sociedade. Acreditamos que um dos mais relevantes
conhecer e desenvolver experiências culturais ricas e obstáculos, para isto, encontra-se na língua.
importantes para a integração social e o exercício da cidadania. Essa que em nosso entender é a maior “descoberta” do
A linguagem escrita, materializada nas práticas que homem, além de ser, indubitavelmente, o pilar que dá
envolvem a leitura e a produção de textos, deve ser ensinada sustentabilidade a sociedade como a conhecemos. A
em contextos reais de aprendizagem, em situações que tenham linguagem, em seu atual, estágio transpassa a condição
sentido para os educandos, para que possam mobilizar o que instrumental de comunicação entre indivíduos no mesmo
sabem e aprender com os textos. espaço-temporal, possibilitando que indivíduos em épocas e
Os modos de utilização da linguagem são tão variados lugares diferentes dialoguem. Entretanto o mesmo
quanto as próprias esferas da atividade humana. As esferas instrumento que une é o que separa. São incontáveis os
sociais delimitam, historicamente, os discursos e seus conflitos históricos ocasionados pela intolerância à cultura, à
processos. As práticas de linguagem - falar, escutar, ler e religião, à linguagem do outro, o que a nosso ver isso se
escrever, cantar, desenhar, representar, pintar etc. - são configura como uma continuidade do mito da Torre se Babel.
afetadas pelas representações que se tem dos modos pelos
quais elas podem se materializar em textos orais, escritos e Como nos lembra Bagno o preconceito linguístico
não verbais. A linguagem não verbal representa 80% de nossa constitui-se em um não aceitar, da variação linguística falada
comunicação e pode ser expressa mediante gestos pelo outro, ainda na concepção do mesmo autor os chamados
espontâneos, olhar, expressão facial, expressão corporal, erros gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por
música, sinais, mímica, desenho, pintura, as Artes em geral etc. patologias de ordem cognitiva. Na concepção de Xavier6, a qual
Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e ressaltamos, a noção de correto imposta pelo ensino
produtiva é aquela que contempla a alfabetização e o tradicional da gramática normativa e o repasse incorreto do
letramento, de maneira articulada e simultânea, léxico pertencente à variação padrão da língua originam os
compreendendo que a alfabetização e o letramento acontecem preconceitos contra as variedades não padrão.
em ciclos e de forma processual e contínua dentro das Em nosso entendimento a escola deveria atuar como um
temporalidades humanas. combatente a este como a muitos outros preconceitos, mas
infelizmente, essas também como foram observadas, tornou-
Usos e Funções da Escrita e Leitura5 se uma fonte discriminatória das variações não padrão da
língua. Bagno nos lembra ainda “a vitória sobre esse
Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) afirmam que preconceito passa por um estudo mais apropriado da língua,
a “Língua Portuguesa” é composta por diversas variedades onde o aluno tenha as outras variedades, mas sempre tendo
linguísticas. Essas variedades são, frequentemente, como base em sua própria variedade”. Sobre esse prisma
estigmatizadas por se levar em conta o relativo valor social que compreendemos o papel impa desempenhado pelo pelos
se atribui aos diversos modos de falar: as variantes linguísticas PCNs, como um instrumento de prevenção e combate aos
de menor prestígio social são logo catalogadas de “inferiores” diversos estigmas que circundam a presença da oralidade
ou até mesmo, de “erradas”. dentro das salas de aula. Balizados nisso confeccionamos o
Atualmente, diversos linguistas, ressaltam a importância presente trabalho.
da variação linguística no ensino de língua materna, pois a
mesma, além de provar que nossa língua continua viva e Nosso texto pretende, apoiada na fundamentação teórica
dinâmica, desmistifica o mito da “unidade linguística”. levantada em diversas investigações existentes, oferecer
Vale lembrar que os PCN, também, incorporam essa visão subsídios para analisarmos à abordagem dos PCNs em relação
de linguagem pautada na variação linguística, deixando claro as variações linguísticas e como esta influência na aquisição da
que para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa escrita.
livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma Sem pretendemos esgotar os desafios e as possibilidades
“certa” de falar e que esta se reflete de forma perfeita na envolvidas nas temáticas em pauta, estruturamos o texto de
escrita, de que nossas salas de aulas são compostas por uma modo a discorremos sobre a sociolinguística e como esta atua
única variante linguística - a tida como Padrão - e que as dentro da sala de aula, a seguir iremos contar de forma breve,
anomalias esporádicas que surgem em alguns alunos das a história dos PCNs. Em um terceiro plano iremos discursas
castas baixas da sociedade, tem que ser concertada, para não sobre a aquisição da linguagem escrita, a seguir iremos
contamina a língua padrão e para que este indivíduo se integre analisar o trato dado pelos PCNs em relação a oralidade e como
na sociedade dialetal. este contribuem para a aquisição da escrita.

Ao nosso entendimento, essas são provavelmente filhas de Sociolinguística


outra terrível inverdade a de que a sociedade é igualitária, a Por se considerar a língua um sistema homogêneo, o
existência de classes sociais por sua vez é fruto das diferenças estudo das variações nunca havia despertado o interesse dos
de esforço individual de cada um e/ou talvez por obra do linguistas. Só em meados da década de 1960, quando muitos
acaso. desses cientistas da linguagem perceberam que não era mais

5 Texto adaptado de SILVA, A. C. da. 6 XAVIER, Diogo; et al. O preconceito linguístico na sala de aula: atitudes de

professores e alunos de 7ª a 8ª séries diante da variação linguística.

Conhecimentos Específicos 6
APOSTILAS OPÇÃO

possível estudar a língua sem considerar também a sociedade da estrutura linguística, são perfeitas e completas em si. O que
em que ela é falada, é que se começou a estudar a língua na as tornam diferentes são os valores sociais que seus membros
perspectiva da mudança e da variação em termos possuem na sociedade. Ainda segundo o autor, os dialetos de
sociolinguísticos7. uma língua, apesar de serem semelhantes entre si,
Tendo por base, pois, a heterogeneidade, a sociolinguística apresentam-se como línguas específicas, com sua gramática e
de 1960 pode ser vista como uma área que abriu caminhos usos próprios.
para o surgimento de novas correntes de estudo e pesquisas É fácil perceber que em nenhum nicho social a variação
que põem em foco, principalmente, o trato do fenômeno linguística é mais sentida do que na escola. É lá em que está,
linguístico em sua relação com o contexto social e cultural de que deveria ser uma característica positiva, acaba se
produção. Sendo que, pelo crescente interesse em estudar a transformando em um obstáculo para a aquisição de uma nova
linguagem nesse contexto social, diversos enfoques se abrigam variedade dialetal.
sob o título de sociolinguística. Em qualquer lugar onde se desenvolva o preconceito
Esta ciência, conforme afirma Mollica8, se faz presente num linguístico, este já causa sequelas enormes, mas é justamente
espaço interdisciplinar em fronteira com a língua e a na escola, local onde o caráter do indivíduo está sendo
sociedade, tendo como foco principal os empregos linguísticos formado, onde estes estigmas são mais prejudiciais à
concretos, principalmente os de caráter social heterogêneo. sociedade. Foi pensando nisso que os estudiosos abordaram
Assim, tendo em vista que todas as línguas naturais humanas, essa características na confecção dos PCNs.
de modo geral, apresentam um dinamismo inerente -
heterogeneidade -, a está ciência vem considerar para objeto Os PCNs
de estudo justamente essa dinamicidade da língua, que Em função da LDB 9.394/96, o Ministério da Educação e
pressupõe a variação, “entendo-a como um princípio geral e Desporto achou por bem elaborar uma série de documentos
universal, passível de ser descrita e analisada cientificamente” orientativos sobre a prática pedagógica, tendo em vista a
(Mollica, assim, em linhas gerais, podemos dizer que o objeto amplitude do território nacional, as diferenças de formação do
de estudo da sociolinguística é o estudo da língua falada, professorado e suas dificuldades de acesso a conteúdo
observada, descrita e analisada em seus contextos reais de uso. pedagógicos atualizados. Surgiram, assim, os PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais (também conhecidos
A sociolinguística em sala de aula como RCNs - Referenciais Curriculares Nacionais).
À medida que a criança se desenvolve e cria relações com Entretanto o processo de elaboração dos PCNs iniciou um
o meio, modifica seu modo de ver e interagir com o mundo, pouco antes como nos lembra Czapski9: O processo de
criando assim sua própria identidade linguística e cultural. Ao elaboração dos PCN começou em 1995, sendo que no fim
adentrar na escola a criança traz consigo uma gama de daquele ano já havia a versão preliminar, que foi apresentada
informações linguísticas, as quais são, na maioria das vezes, a diferentes instituições e especialistas. Em resposta, o MEC
desprezadas e/ou taxadas de erradas, em detrimentos de recebeu cerca de 700 pareceres, que foram catalogados por
outras provenientes das castas superiores da sociedade. O que áreas temáticas e embasaram a revisão do texto. Para
por sua vez se reflete em uma enorme dificuldade em completar, Delegacias do MEC promoveram reuniões com suas
apreender a variedade tida como eleita, tanto em sua variante equipes técnicas, o Conselho Federal de Educação organizou
escrita, como em sua variante falada. debates regionais e algumas universidades se mobilizaram.
Ao dar início ao seu “processo de alfabetização”, o aluno já Tudo isso subsidiou a produção da versão final dos PCN para
é um falante nativo da língua, com um certo leque de signos, o 1ª a 4ª série, que foi aprovada pelo Conselho Federal de
qual é capaz de interpretar todo o seu campo de interesse, mas Educação em 1997. Os PCNs foram transformados num
em concordância com o que pregam a maioria dos livros conjunto de dez livros, cujo lançamento ocorreu em 15 de
didáticos, estes campos são substituídos, por aspectos formais outubro de 1997, Dia do Professor, em Brasília. Depois,
de uma língua ideal, juntamente com apreciação de aspectos professores de todo país passaram a recebê-los em casa.
mecânicos no ensino da leitura e escrita, como se todos os Enquanto isso, o MEC iniciou a elaboração dos PCN para 5ª a
alunos obedecessem ao mesmo ritmo, tivessem a mesma 8ª série.
motivação e o mesmo foco de interessem. Assim estes, constituem uma coleção de documentos onde,
além de uma introdução geral: onde foi abordando a tradição
É fácil perceber que cada indivíduo tem seu ritmo e pedagógica brasileira, dados estatísticos sobre população,
interesses próprios, principalmente quando trabalhamos com alunos e professores (dados de 1990), orientações
jovens e adultos, é sensível também que estas características doutrinárias e metodológicas (o sócio construtivismo, a
se manifestam de forma mais aberta na linguagem de cada um. postura crítico-social de conteúdo, as teorias psicogenéticas) e
Foi provavelmente este um dos motivos da aceitação da sala conteúdos técnicos sobre planejamento e avaliação.
de aula e de suas relações como um dos objetos de estudo para Encontram-se listadas as exigências educacionais previstas
a sociolinguística, além é claro do combate e prevenção as pela LDB, a Base Nacional Comum (o currículo disciplinar) e a
diversas formas de preconceitos existente em sala de aula e utilização da transversalidade (Temas Transversais) como
que se origina nas diferentes linguagens que compõem o instrumento de trabalho para contextualização dos temas de
âmbito escolar. aula.
Enfatizando Souza o qual cita Cagliari, os modos diferentes Há, ainda, os objetivos gerais e específicos, além das
de falar acontecem porque a língua portuguesa, como características das áreas do conhecimento componentes da
qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, isto é, está Base Nacional Comum, a listagem dos Temas Transversais e
sempre em evolução. Pelos usos diferenciados ao longo do sua operacionalização.
tempo e nos mais diversos grupos sociais, as línguas passam a Os Parâmetros (ou Referenciais) abordam todas as
existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos, modalidades da Educação Básica no Brasil, além da Educação
todos muito semelhantes entre si, porém cada qual Especial, modalidade educativa que perpassa, de modo
apresentando suas peculiaridades com relação a alguns transversal, todos os níveis de ensino, inclusive o nível
aspectos linguísticos. Todas as variedades, do ponto de vista superior.

7 BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 9 CZAPSKI, Silvia. A Implantação da Educação Ambiental no Brasil, Ed.

linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007 MEC/Unesco, 1997 -seção "Fichário", cap "PCN"
8 MOLICA, Maria Cecília e BRAGA Maria Luiza. Introdução a Sociolinguística:

o tratamento da variação. 2ª ed. - São Paulo: Contexto, 2004.

Conhecimentos Específicos 7
APOSTILAS OPÇÃO

Ainda segundo Czapski: Os PCN são apresentados não Palavras só com dois caracteres, como alguns artigos, e as
como um currículo, e sim como subsídio para apoiar o projeto ações não são representáveis.
da escola na elaboração do seu programa curricular. Sua
grande novidade está nos Temas Transversais, que incluem o Tudo se passa como no desenho. Aí figuram dois “atores”:
Meio Ambiente. Ou seja, os PCN trazem orientações para o a pessoa que executa a ação e a ação.
ensino das disciplinas que formam a base nacional, e mais A análise destes cinco níveis mostra que a criança vai
cinco temas transversais que permeiam todas disciplinas, para relacionando a seu modo à fala e a escrita, independentemente
ajudar a escola a cumprir seu papel constitucional de de qualquer forma de ensino e que, até chegar ao nível mais
fortalecimento da cidadania. elevado, ela não espera "ler" no texto escrito o mesmo que o
adulto. Este processo construtivo resulta da atividade da
Aquisição da leitura criança (sujeito cognoscitivo) e pressupõe o contato com
A quase totalidade das crianças que adentram na escola, materiais e atividade de leitura/escrita (objeto do
ainda não sabem ler, mas já reconhecem uma estreita relação conhecimento).
entre língua falada e escrita, compreendem, mesmo que de
forma “não formal”, que uma é a representação gráfica da PCNs e a relação língua falada e escrita.
outra. Como nos complementa Bento (2008) citando Ferreiro Segundo os Paramentos Curriculares Nacionais de Língua
e Taberosky pareceu-lhes difícil admitir que a criança - que Portuguesa (1998), a língua é fundamental para a participação
aprende a falar sem ir à escola - não aprendesse nada sobre a social efetiva do indivíduo. Por isso, ao repassa-la, a escola tem
língua escrita, “[...] até ter seis anos e uma professora à sua a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso
frente.”. Do ponto de vista destas autoras, a criança, como aos saberes linguísticos necessários para o exercício da
sujeito cognoscente, não poderia ser impermeável ao contato cidadania, direito inalienável de todo cidadão.
com a língua escrita e de alguma forma ela haveria de tentar No tocante os, PCNs afirmam sobre o trabalho com a
apreender esta, relacionando-a com a língua falada. modalidade oral, a necessidades de seu uso como base para o
Ainda segundo Bento10, aos quatro anos, as crianças já desenvolvimento das outras modalidades comunicativas e por
constroem conceptualizações interessantes sobre as relações conseguinte ampliação das possibilidades discursivas do
entre a linguagem falada e o sistema de escrita. discente.
Estas elaborações sucedem-se num percurso constituído Ensinar língua oral deve significar para a escola à
por diversas fases ou níveis e permitem concluir que o possibilidade de dar acesso a usos da linguagem mais
processo de aprendizagem não consiste na aquisição de formalizados e convencionais, que exijam controle mais
elementos isolados que depois se reúnem - mas na construção consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a
de sistemas em que o valor dos elementos se vai redefinindo importância que o domínio da palavra pública tem no exercício
em função das mudanças estruturais. da cidadania. “Ensinar linguagem oral” não significa trabalhar
a capacidade de falar, pois este já é domínio pleno do discente,
Nível A - É o nível de conceptualização mais evoluído. mas significa auxiliar o desenvolver do domínio dos tipos
Todas as palavras do texto oral estão representadas no texto discursivos que vão apoiar a aprendizagem escolar de Língua
escrito. Nesta fase, a criança é capaz de estabelecer uma Portuguesa e de outras áreas e, por conseguinte serão
correspondência, termo a termo, entre as unidades aplicados na vida social no sentido mais amplo do termo.
vocabulares do enunciado oral e os segmentos do texto escrito Como já ressaltamos um aspecto importante presente no
(palavras gráficas). documento é que não se pode mais empregar somente o nível
Nível B - Todas as palavras estão escritas, exceto os artigos. mais formal de fala para todas as situações. A escola precisa se
Para estes, surgem três soluções: O texto escrito é tratado livrar da ideia - enfatiza o documento - de que a fala “correta”
como se fosse feito em linguagem de telegrama, dos 4 aos 7 é a que se aproxima da escrita.
anos, aproximadamente, os artigos, preposições, pronomes e Os Paramentos Curriculares Nacionais propõem duas
conjunções são sistematicamente, havendo uma rejeição da modalidades distintas de atividades para se trabalhar à
classe das "palavras". oralidade são elas a escuta e a produção de textos orais, ambas
Nível C - Há correspondência para os substantivos, mas não indiscutivelmente fundamentais para a aquisição da variante
para o verbo escrita e por sua vez capacitar o aluno para enfrentar as
A escrita não é vista [pela criança] como uma reprodução diversas demandas sociais de comunicação. A seguir
rigorosa de um texto oral, e sim como a representação de discorreremos sobre ambas as atividades:
alguns elementos essenciais do texto oral. Em consequência, A Escuta objetiva ampliar o conjunto dos conhecimentos
nem tudo está escrito. discursivos, semânticos, pragmáticos e gramaticais envolvidos
Nível D - Impossibilidade de estabelecer correspondência na construção dos discursos. Além disso dar-se-á ênfase aos
entre as partes do texto oral e as partes do texto escrito. A elementos não-verbais presentes na fala, como gestos
criança não consegue segmentar a frase oralizada. Por isso, as expressões faciais, postura corporal, tons de voz, etc. A
respostas são diversas e incongruentes. Quando se pergunta à utilização dos mecanismos da escrita ficou restrita a suportes,
criança onde está escreve uma palavra ou toda a frase, a além de serem empregados com o intuito de comparação a
resposta é imprevisível: pode estar em qualquer parte do texto respeitos dos mecanismos não-verbais da fala.
escrito, em todo ou apenas numa sílaba. Lembramos que a escuta de textos pode ser real ou
Nível E - Também, neste nível, a criança não consegue gravada, de autoria dos alunos (ou não). São relevantes para o
segmentar o texto oral, para que possa estabelecer processo de aprendizagem, pois as gravações conferem ao
correspondências com o texto escrito. Porém, enquanto no processo de análise um verdadeiro entendimento da relação
nível D se tentava sem êxito essa divisão, agora essa tentativa oral-escrito, uma vez que se pode transcrever os dados, voltar
já não tem lugar. A criança atribui toda a frase a um segmento a trechos que não tenham sido bem compreendidos, dar ênfase
do texto. a trechos que mostrem características típicas da fala, etc.
Nível F - A criança procura no texto escrito apenas os A Produção de Textos Orais privilegiar-se-á a produção dos
nomes, i. é, na interpretação de Emília Ferreiro e Ana diversos gêneros orais presentes no cotidiano, já que para o
Tabaroski, a escrita serve como objeto substitutivo (função documento o texto, seja este proveniente de qualquer suporte,
simbólica) dos objetos. como a unidade básica do ensino, é relevante lembramos ainda

10 BENTO, Joaquim R. A Gênese da aprendizagem da língua escrita.

Conhecimentos Específicos 8
APOSTILAS OPÇÃO

que na produção oral, não ficara presa a língua em sua variante Solé ao destacar algumas das estratégias mais empregadas
eleita, mas será permitido a comparação entre esta variante e nas aulas de leitura, destaca que, mesmo dentro das principais
as demais, permitindo assim que o aluno amplie seu léxico e estratégia mencionadas, pode-se apresentar ainda as
tenha ciência que a variante por ele falada não perde em nada seguintes variações:
para a tida como eleita. 1) Os objetivos da leituras, dependendo da situação,
Um aspecto relevante, o qual também salientamos, na podem servir para: a) obter uma informação precisa; b) obter
produção dos textos orais, é que, o documento alia o uma informação de caráter geral; c) revisar um escrito próprio
planejamento prévio da língua oral à escrita - em função da para comunicação; e) praticar em voz alta; f) verificar o que se
intencionalidade do locutor, das características do receptor, compreendeu.
das exigências da situação e dos objetivos estabelecidos -, o 2) Em relação a ativar o conhecimento prévio pode: a) ser
que reforça Magalhães citando Fávero et ali também dada uma explicação geral por parte da professora sobre o que
prescreveram: “aliar o tratamento da oralidade à escrita”. será lido; b) instigar o aluno a prestar atenção a determinados
Na visão dos PCNs, a produção textual Oral seria aquela aspectos do texto que podem ativar seu conhecimento; c)
atividade em que os alunos são orientados tanto para a incentivar os alunos a expor o que já sabem sobre o assunto
preparação prévia - elaboração de quaisquer suportes como em discussão com o grande grupo.
cartazes, esquemas, encenação, memorização de textos - 3) Estabelecer previsões sobre o texto seria formular
quanto para o uso em situações reais de interlocução - gêneros hipóteses sobre a continuidade textual. Nessa atividade,
por natureza orais como entrevistas, debates, exposições, sugere-se omitir a sequência do texto e solicitar aos alunos que
teatros, leituras expressivas. formulem hipóteses.
Assim para os PCNs estes exercícios significam colocar os 4) Incentivar os alunos a fazerem perguntas pertinentes
alunos em situações reais de interlocução, apenas ouvido, ou sobre o texto, as quais devem ser reformuladas, se necessário,
participando ativamente, com ou sem interferência, o que pelo professor. Eles devem ser instigados, paulatinamente, a
tende a proporcionar aos alunos conhecimentos teóricos e fazer seus próprios questionamentos, o que implica auto
práticos acerca da produção oral, proporcionando assim o direcionamento.
aluno apreender as capacidades comunicativas para uma
efetiva participação social. Tipos de Leitura:
Infelizmente este cuidado especial dado pelos PCNs a
produção oral, não se reflete diretamente em sala de aula, pois - Pré-Leitura:
um dos mais importantes instrumentos educacionais, o livro Como o próprio nome diz vem antes da leitura,
didático ainda não contempla de forma efetiva esta propriamente dita, é uma rápida “passada de olhos” pelo texto,
modalidade, como nos afirma Magalhães; infelizmente existe fase essa que não se fala em fixação ou plena compreensão do
divergências entre os estudiosos que avaliam e selecionam os escrito.
livros que iram integrar o PNLD (programa nacional do livro
didático) e os texto que compõe os PCN, deixando assim - Leitura Fragmentada:
lacunas para que os LDs ora contemplem a modalidade oral, Algumas pessoas, na verdade grande parte delas não
ora não. gostam de ler pelo fato de trazer-lhes fadiga ou conforme vão
lendo chegam a um ponto que não conseguem mais se
Leitura11 compreender, não prestam mais atenção e chegam ao final, em
muitos casos sem saber conta a metade da estória que deveria
A leitura é prática de interação social de linguagem. A saber.
leitura, como prática social, exige um leitor crítico que seja Esse fator se deve pela falta de disciplina e continuidade.
capaz de mobilizar seus conhecimentos prévios, quer Não ter prática, costume em ler faz com que as pessoas não
linguísticos e textuais, quer de mundo, para preencher os consigam associar determinado assunto com um todo,
vazios do texto, construindo novos significados. Esse leitor assimilam parágrafos, algumas frases soltas.
parte do já sabido/conhecido, mas, superando esse limite, Enfim, é o chamado ler sem conhecer.
incorpora, de forma reflexiva, novos significados a seu
universo de conhecimento para melhor entender a realidade - Leitura Integral:
em que vive. Aqui temos o amadurecimento da pessoa, que já exercitou
seu cérebro diversas vezes, de forma contínua, levando a uma
Algumas estratégias de Leitura: plena compreensão e interpretação do que está escrito. O
O professor como mediador e facilitador no processo leitor nesse caso consegue associar as frases e parágrafos,
ensino-aprendizagem deve promover algumas estratégias de compreendendo de modo coerente todo conteúdo, inclusive
leitura como, por exemplo, ativar o conhecimento prévio do com a condição de memorizar ou absorver algumas passagens
aluno por meio de determinadas perguntas que tenham do texto.
relação com o que vai ser lido, levar o aluno a distinguir o
essencial do que é pouco relevante, esquematizando uma - Leitura Dinâmica:
hierarquização, para construir o significado global do texto. Neste tipo de leitura são usados métodos e técnicas de
Para isso, é extremamente importante que o aluno saiba qual leitura que permitem a decifração substanciada, feitas em
é o objetivo da leitura, para poder avaliar e reformular, se blocos de um pensamento de modo integral, evitando-se a
necessário, as ideias iniciais. Além disso, o professor pode decifração de ideias de modo linear.
instigá-lo a interagir com o texto, criando expectativas ou, Essa é a típica leitura rápida, acelerada, chamada também
ainda, fazendo previsões. Esses procedimentos, a princípio, de leitura fotográfica.
devem ser feitos com o auxílio do professor, o que mais tarde,
deve tornar-se um hábito no aluno. Nesse sentido, ao ensinar - Leitura Informativa:
a ler e compreender, o professor não impõe sua própria leitura São encontradas disposições textuais em prosa, com uma
ou a do livro. linguagem de forma clara e direta, ou seja denotativa, que visa

11 Fontes: http://alb.com.br/arquivo-
http://www.ufmt.br/ufmt/unidade/userfiles/publicacoes/87371cd65b68bfbc63 morto/edicoes_anteriores/anais16/sem03pdf/sm03ss07_05.pdf
b1147f67cbaa11.pdf

Conhecimentos Específicos 9
APOSTILAS OPÇÃO

transmitir informação sobre alguma coisa, retirando a Desta forma, acreditamos que a infância é o melhor
possiblidade de interpretações duplas. momento para iniciar o processo de estímulo a leitura,
Para melhor entendermos devemos pensar em um fio motivando as crianças desde cedo a criar hábitos de ler por
condutor, em que o redator (emissor) transmite a informação prazer, utilizando como caminho as histórias infantis e
para os receptores (leitores), de forma objetiva. principalmente os textos literários devido a sua riqueza de
detalhes, que promovem o entretenimento garantindo o
Um Importante Recurso Para o Desenvolvimento do interesse contínuo pela leitura. Sendo assim, o contato com o
Prazer de Ler12 livro quanto mais cedo melhor, pois esse fator pode contribuir
para o domínio da leitura na fase da aprendizagem da escrita.
Acreditamos que o brincar para a criança possibilita a Desse modo à criança vai interagindo com o livro,
diversão o entretenimento, assim como também se torna uma formando seus conceitos sobre o mundo com a contribuição da
forma de entender o mundo. É neste contexto de construção literatura. Assim como relata Cunha “se o homem se constitui
de conhecimento que a fantasia, o faz-de-conta proporciona a a proporção de conceitos, a infância se caracteriza por ser o
criança vivenciar um mundo mágico, em que se pode brincar, momento basilar e primordial dessa constituição e a literatura
imitar, inventar, expressar sentimentos, interagir com o outro. infantil um instrumento relevante dele.”
A leitura por sua vez, também tem esse caráter, pois Mas segundo Faria15 em seu livro “Como usar a literatura
quando se é criança as histórias infantis encantam, suscitam a infantil em sala”, existem poucas iniciativas de trabalho com a
imaginação, despertam para o “mundo do faz de conta”, onde literatura infantil e também a falta de pesquisa de caráter
tudo que existe nos livros é possível, os seres inanimados as didático para utilização da literatura infantil em sala de aula,
fadas, as bruxas, os monstros, entre outros elementos que muitas vezes é utilizada como uma mera abordagem
presentes nas histórias infantis. pedagógica, quando poderia ser um valioso recurso para o
Aspecto esse totalmente importante para o estímulo à leitura prazerosa. E os poucos professores que se
desenvolvimento cognitivo, e ao mesmo tempo um processo propõe a trabalhar com a literatura infantil são
que têm implicações importantes também no desvalorizados. Essa falta de preocupação com o trabalho
desenvolvimento enquanto sujeito histórico, particularmente voltado a literatura infantil está presente até mesmo nos
naquilo que se refere à construção de significados sobre o cursos de formação de professores, raramente se encontra
mundo que a cerca. Neste momento da infância, acreditamos uma matéria que desenvolva recursos didáticos para
que esses elementos presentes na literatura apontada como utilização da literatura em sala de aula. Por outro lado, essa
arte, é muito importantes, pois conforme Coelho13 “a literatura ausência tem origens históricas que foi se constituindo ao
infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: longo da história e o professor precisa fazer um resgate à
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, literatura infantil. Desse modo, poderá ter outra postura
a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o diante do trabalho com a literatura, que não seja essa apontada
imaginário e o real, os ideais e sua possível/ impossível por Faria:
realização [...].” Além da diversão, a leitura proporciona a Esta postura, que considera a atividade menor o trabalho
criança o observar, refletir, ouvir, sensações que provocam com a literatura para crianças e jovens em geral (pesquisa,
medo, alegria, construindo gradativamente o prazer de uma análise, avaliação, usos na escola), tanto no que diz respeito à
boa leitura e entendemos que a literatura tem estímulos para literariedade desses livros como à (des) importância de sua
essa construção. leitura na escola, tem origem em diferentes causas históricas.
Notamos que o livro tem esse “poder” de encantamento,
quando utilizado como instrumento de diversão e brincadeira, Neste contexto, o livro para criança passou a existir
em que a leitura pode se tornar espaço para a aprendizagem somente no final do século 17, pois antes não existia a chamada
da imaginação e de reinvenção da realidade. infância, adultos e crianças eram vistos como iguais16. Desta
Assim, ao ouvir uma história a criança pode vivenciar um forma não se escrevia para criança, segundo Zilberman17 em
mundo imaginário viajando através das histórias, participando seu livro “A literatura Infantil na escola”, somente com a “nova
ativamente em cada cena como se fosse um dos personagens concepção de família, centrada não mais em amplas relações
do livro. Deste modo, a literatura devido ao seu caráter de de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em
ludicidade e ficção, rico em textos que constituiu um mundo de manter a privacidade”, a criança e seu mundo passam a ser
fantasia têm esse poder. percebido enquanto diferente dos adultos, e
Visando principalmente o despertar para o gosto de ler por consequentemente passa a existir uma literatura voltada para
prazer e conhecimento, uma leitura que vai além de uma o público infantil, e a escola por sua vez, se une à literatura
função somente pedagógica, uma leitura de encantamento que para trabalhar com essa faixa etária.
tem como intuito o envolvimento entre o livro e a criança. A partir daí, o aspecto do desenvolvimento intelectual da
Fazendo com que essa interação torne-se significativa e possa criança passa a ser uma preocupação dos adultos, assim como
ampliar o seu conhecimento dos diversos aspectos da a manipulação de suas emoções, conforme relata Zilberman
produção de uma obra de arte literária. A valorização da infância gerou maior união familiar, mas
Como afirma Zilberman14 : igualmente os meios de controle do desenvolvimento
Supondo este processo um intercâmbio cognitivo entre e o intelectual da criança e a manipulação de suas emoções.
texto e o leitor, verifica-se que está implicado aí o fenômeno da Literatura infantil e escola, inventadas a primeira e reformada
leitura enquanto tal. Esta não representa a absorção de uma a segunda, são convocadas para cumprir essa missão.
certa mensagem, mas antes uma convivência particular com o Essa tarefa é atribuída à escola, a qual trouxe algumas
mundo criado através do imaginário. A obra de arte literária divergências que distorcem e desvalorizam o trabalho com a
não se reduz a um determinado conteúdo reificado, mas literatura, como destaca Zilberman “a aproximação entre a
depende da assimilação individual da realidade que recria. instituição e o gênero literário não é fortuita. Sintoma disto é
que os primeiros textos para crianças são escritos por
pedagogos e professores, com marcante intuito educativo”.

12 CASSIANO, A. A. O prazer de ler :O incentivo da leitura na educação infantil. 14 ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. 8. ed. São Paulo: Global, 1987.
Londrina, 2009. 15 FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São
13 COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil! Abertura para a formação de Paulo: contexto: 2004. (Série coleção como usar na sala de aula).
uma nova mentalidade. In: ______ Literatura Infantil: teoria-análise-didática. São 16 ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. 8. ed. São Paulo: Global, 1987.

Paulo: Moderna, 2000 17 Idem Zilmerman

Conhecimentos Específicos 10
APOSTILAS OPÇÃO

Neste contexto, a literatura foi utilizada para educar as literatura infantil atinge seu estatuto de arte literária e se
crianças com intuito de dominação, uma educação que distancia de sua origem comprometida com a pedagogia,
transmitia os ideais burgueses sem a promoção da reflexão em quando apresenta textos de valor artístico a seus pequenos
torno do contexto histórico a qual estavam inseridos; pois o leitores. E não é porque estes ainda não alcançaram o status de
adulto diante do contexto histórico e ideológico da sociedade adultos que merecem uma produção literária menor.
elaborou uma concepção de infância em que a criança era um Assim trabalhar com a literatura procede de uma atuação
ser frágil, imaturo, que precisava ser educado de acordo com em que o professor utilize textos com qualidade literária que
os ideais e conceitos da época. deve ter como finalidade o conhecimento do mundo.
Torna-se evidente assim que, a literatura era utilizada para Comprometendo-se com uma literatura em que a arte literária
“veiculação de conceitos comportamentais” da época. Esse promova o gosto pela leitura e ajude o aluno na compreensão
objetivo didático estava comprometido com a dominação da da sua realidade. Segundo Faria19 “sabemos que o texto
criança, não sendo a literatura reconhecida como arte, literário oferece ao leitor a possibilidade de “experimentar
tornando-se um fato negativo entre a literatura e a educação. uma vivência simbólica” por meio da imaginação suscitada
Esquecendo-se que a sala de aula é um espaço para a pelo texto escrito e/ou pelas imagens”. Deste modo, através da
construção de bons leitores, que valorizam a leitura pelo vivência simbólica a criança pode avaliar o mundo e situar-se
simples prazer de viajar pela história, e a literatura por sua nele, obtendo um conhecimento entre a ficção e a realidade e
vez, é um importante recurso para essa formação. Assim como aos poucos aumenta e amplia o domínio da leitura mediada
relata Zilberman. pelo professor.
De um lado, o vínculo de ordem prática prejudica a Desta forma, ao escrever uma pesquisa que vise o caráter
recepção das obras: o jovem não quer ser ensinado por meio do prazer de ler, propondo um estudo sobre o incentivo à
da arte literária; e a crítica desprestigia globalmente a leitura na educação infantil, logo se tem a Literatura Infantil
produção destinada aos pequenos, antecipando a intenção como importante recurso para esse processo devido ao seu
pedagógica, sem avaliar os casos específicos. De outro, a sala caráter lúdico, onde as crianças começam a aprender uma
de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do diversidade de conhecimento sobre o universo da leitura
gosto pela leitura, assim como um importante setor de através da sua imaginação.
intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, Vemos que a criança elabora suas próprias hipóteses sobre
muito menos desmedida sua utilidade. um texto escrito, argumentando com suas ideias e ponto de
Desta forma, muitas vezes, a literatura foi utilizada pelos vista, aumentando seu vocabulário, mas também com a
pedagogos e professores, com intuito de transmitir para história, ela consegue expressar seus sentimentos, através de
criança o mundo de normas e valores da classe dominante, representações em que a criança possa se identificar com
sem analisar que esta é uma arte para ser utilizada como um algum personagem da história.
importante recurso envolvendo o estímulo à leitura prazerosa, Como se refere Bettelheim “devido esta identificação a
destacando sempre o seu lado de ficção, possibilitando a criança imagina que sofre com o herói suas provas e
criança fazer suas próprias interpretações do texto escrito de tribulações, e triunfa com ele quando sai vitoriosa. A criança
forma divertida, com ludicidade. Através de uma boa história faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e
a criança tem a possibilidade de compreender mundo a sua exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela”.
volta, assim como afirma Bettelheim18 Assim, acreditamos que a criança traz para sua realidade
Para que uma história realmente prenda a atenção da uma forma mais alegre de vivenciar a vida. A literatura devido
criança deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para ao seu caráter de ficção, onde a fantasia está presente, prende
enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a atenção da criança que por sua vez, aprende sempre algo
a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; sobre a história.
estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; Conforme Coelho (2000) “note-se, porém, que literatura
reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, infantil ocupa um lugar específico no âmbito do gênero ficção,
sugerir soluções para problemas que a perturbam. visto que ela se destina a um leitor em especial, a seres em
Entretanto, para que a literatura torne-se um recurso para formação, a seres que estão passando pelo processo de
estimular o aluno a encontrar na leitura o prazer, o livro deve aprendizagem inicial da vida”.
ter como primordial intuito estimular a imaginação da criança. Entendemos que a criança pode trazer o conteúdo da
Portanto as histórias devem ser ricas em imagens visuais que fantasia de uma história para a construção de uma relação de
despertem sua atenção. Essa literatura envolve e incita no prazer com o livro, num processo permanente que não se
aluno a fantasia, ela faz com que a criança seja transportada limite a sala de aula. Sendo que esta relação com a leitura seja
para outros mundos imaginários proporcionando assim, uma representativa no sentido de ampliar o conhecimento da
experiência inesquecível em torno da leitura, criando toda criança com uma relação criada através do imaginário num
uma expectativa em torno deste hábito. processo cognitivo entre o texto lido e o leitor, pois como
Desta forma, cabe ao professor analisar a extrema relata Zilbermam:
importância e valorização de livros que utilize a literatura
reconhecida como arte praticada de forma lúdica e prazerosa [...] ao professor cabe denotar das múltiplas visões que
para criança, ou seja, uma literatura que promova o gosto pela cada criação literária sugere, enfatizando as variadas
leitura de forma a trazer uma compreensão do mundo pela interpretações pessoais, porque estas decorrem da
criança, que por outro lado também venha suscitar no aluno a compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em
reflexão e compreensão da leitura escrita de forma crítica, pois razão de sua percepção singular do universo representado.
segundo Zilberman “isto significa por parte do professor, o
reconhecimento de que a leitura é uma atividade decisiva na Desta forma, compreendemos que a literatura infantil tem
vida dos alunos, na medida em que, como se viu, permite a eles uma forma alegre de apresentar “o mundo da leitura” para as
um discernimento do mundo e um posicionamento perante a crianças. Ela pode oferecer subsídios teóricos que contribuem
realidade”. para o incentivo à leitura na educação infantil, para tanto, os
Todavia, é necessário que o valor por excelência a guiar professores tem que elaborar todo um trabalho, que irá
esta seleção se relacione à qualidade estética. Porque a

18 BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene 19 FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São

Caetano. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. Paulo: contexto: 2004. (Série coleção como usar na sala de aula).

Conhecimentos Específicos 11
APOSTILAS OPÇÃO

oportunizar ao seu aluno uma leitura prazerosa, respeitando a Portanto é de extrema importância os professores
individualidade de cada um. saberem como utilizar a literatura em sala de aula com intuito
Ressaltamos que o educador deve reconhecer a de promover segundo Maria Alice Faria em seu livro “Como usar
importância de adequar o livro a idade da criança, a Literatura em sala de aula” “um universo lúdico, com
considerando assim as fases pertencentes à literatura. criatividade”. A autora em seu livro não tenciona reduzir a
Partindo deste pressuposto, é preciso conhecer as fases literatura infantil apenas em uma abordagem pedagógica e sim
apontadas pela literatura, pois esse é um elemento que pode capacitar os educadores para perceber toda riqueza de
contribuir para o desenvolvimento de um trabalho em que se detalhes típica dos livros para criança. Apontando elementos
respeite o limite de cada criança, experiências e ligações com básicos e trabalhos práticos para o dia-dia, utilizando da
o livro a ser utilizado, assim a historia fará mais sentido para a leitura de narrativas como “ferramentas literárias”, por outro
criança e será agradável para se ouvir. lado à ilustração, como elemento constituinte do livro em suas
De acordo com Cunha 20: diferentes funções e articulação com o texto escrito.
Para literatura Infantil, têm sido consideradas três fases: a Desta forma, Faria destaca a importância dos professores
do mito, a do conhecimento da realidade e a do pensamento lerem para as crianças numa linguagem didática e afetiva,
racional. Parecenos fundamental alertar para relatividade utilizando preferencialmente o texto literário, pois o mesmo é
dessas informações. Os limites apresentados são teóricos. Na considerado polissêmico, apresentando um mundo de
realidade, cada criança tem seu próprio limite, num conhecimento para seu aluno, estabelecendo uma
desenvolvimento peculiar definido por muitos e diferentes aprendizagem significativa. Quando a leitura torna-se uma
fatores. Mais do que conhecer as fases do desenvolvimento maneira divertida de conduzir uma aula, a brincadeira está
infantil, importa conhecer a criança, sua história, suas presente e quando a criança brinca, relaxa se solta, mistura o
experiências e ligações com o livro. real ao imaginário. Aspecto esses que são de extrema
importância para valorização de uma leitura prazerosa.
Como foi dito acima, é preciso atentar aos pequenos Já o texto literário é polissêmico, pois sua leitura provoca
detalhes que envolvem o trabalho com a literatura infantil e a no leitor reações diversas, que vão além do prazer emocional
fase é um deles, considerada como um ponto de referência ao intelectual. Além de simplesmente fornecer informações
como aponta Cunha em seu livro “A narrativa para crianças”. sobre diferentes temas históricos, sociais, existenciais e éticos,
Mas acreditamos ser um aspecto pertinente à pesquisa para por exemplo -, eles também oferecem vários outros tipos de
melhor compreensão do trabalho com a literatura infantil, pois satisfação ao leitor: adquirir conhecimentos variados, viver
é através de se conhecer pequenos detalhes e que vamos situações existenciais, entrar em contato com novas ideias etc.
atingir o fim pretendido que é o incentivo à leitura prazerosa.
Enfim, destacamos a fase do mito devido ao seu caráter de Entretanto, para trabalhar a literatura infantil em sala de
fantasia, onde se encontram os mitos, as lendas, fábulas, aula, é necessário saber narrar uma bela história com
adequadas às idades das crianças de três a quatro anos, dramatismo, em que a todo o momento apareçam fatos novos
aspecto esse que acreditamos ser importante para o trabalho e interessantes, cheios de peripécias e situações imprevistas,
na educação infantil como relata Cunha: movimentando o espírito infantil (CUNHA, 1991). Para que
Na fase do mito se encontram as crianças 3/4 a 7/8 anos. desta forma envolva a criança em momento mágico, em que a
Predomina nelas a fantasia, o animismo: tanto quanto as leitura proporcione momentos de prazer, deixando a criança
pessoas, os objetos têm para a criança, alma reações. Não com vontade, desejo de ouvir a história novamente.
existe para ela diferença entre realidade e fantasia, e a leitura Assim para envolver a criança com a história segundo
a ser feita para criança desta época é a que também não faz Abramovich21 é preciso estar atento ao aproveitamento do
distinção: a literatura de maravilhas. Os contos de fadas, as texto, criando todo um clima de envolvimento, e
lendas, os mitos e as fábulas são especialmente adequados a encantamento, respeitando pausas e intervalos para que a
essa idade. criança consiga construir e visualizar o seu cenário imaginário.
Evitar descrições cansativas e cheias de detalhes, saber
Compreendemos que esta fase interessa especialmente a trabalhar a tonalidade da voz, sussurrando, levantado a voz,
pesquisa, pois visa uma leitura voltada ao público infantil de valorizando a onomatopeias, para que o ouvinte vivencie e
três a quatro anos, como também está ligada ao mundo da tome sua posição; começando a história sempre com “senhas
fantasia. A ludicidade está presente de forma alegre, concisa, mágicas como era uma vez”, mantendo o ritmo sem ter pressa
divertida. de acabar e terminar a história de maneira especial,
Assim, os livros que tem a fantasia como foco principal irão mostrando para a criança que tudo que ouviu está impresso
envolver a criança renovando a cada leitura seu prazer de ler, num livro e ela poderá ler quantas vezes quiser.
experiências essas necessárias para desenvolver o contato Cabe ao professor despertar emoções, estimulando a
com o mundo da escrita, e sua capacidade de comunicação. E curiosidade a cada passo da história. Portanto como afirma
também por outro lado, os contos de fada presente na Faria:
literatura que destacam a fantasia, enriquecem o mundo da O professor, para elaborar seu trabalho com a leitura de
criança, e permitem a ela aprender a resolver problemas livros para as crianças, precisa ler primeiro essas obras como
interiores e lidar com eles, mesmo que esses contos foram leitor comum, deixando-se levar espontaneamente pelo texto,
inventados antes deles nascerem como afirma Bettelheim: sem pensar ainda na sua utilização em sala de aula. Em
seguida, virá à leitura analítica, reflexiva, avaliativa.
Na verdade, em um nível manifesto, os contos de fadas Neste contexto, é fundamental escolher um livro bem
ensinam pouco sobre as condições específicas da vida na acabado, bem feito que aguce os olhos das crianças, com
moderna sociedade de massa; estes contos foram inventados ilustrações interessantes. O educador aos poucos deve
muito antes que ela existisse. Mas através deles pode-se articular o texto escrito com o visual, fazendo do momento da
aprender mais sobre os problemas interiores dos seres leitura a hora mais agradável possível, onde as crianças se
humanos, e sobre as soluções corretas para seus sintam hipnotizadas, provocadas a sentir emoções de forma
predicamentos em qualquer sociedade, do que com qualquer intensa pela história.
outro tipo de estória dentro da compreensão infantil.

20 CUNHA, Maria Antonieta Antunes. A narrativa para crianças. In: ______. 21 ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:

Literatura infantil: teoria e prática. 12. ed. São Paulo: Ática. 1991. Scipione, 1997. (Série Pensamento e Ação no Magistério).

Conhecimentos Específicos 12
APOSTILAS OPÇÃO

Como afirma Abramovich: Ouvir histórias é viver um Acreditamos que os professores devem valorizar o
momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos trabalho com a literatura infantil como uma atividade
melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O enriquecedora da criatividade, e autonomia de seus alunos,
livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é construídas através de leituras prazerosas onde o professor se
(ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada, comprometa com práticas educativas que envolvam a leitura
inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a ser de forma lúdica centrando seu trabalho na criança.
resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças
ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, Cantinho da Leitura
belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa
história provoca... (desde que seja boa). O Cantinho de Leitura é um espaço, dentro da sala de aula,
Pois quando escolhemos com critérios uma boa literatura utilizado para, também, despertar nos alunos a prática da
infantil, temos a oportunidade de brincar através da leitura, leitura. Nele, os alunos terão, de pronto, acesso às leituras
tornando o contato com o livro um momento de diversão diversas do conhecimento humano. Com este privilégio, além
escolhendo uma boa trama deixando bem claro como a dos livros já disponíveis na Biblioteca da Escola, os alunos
história acontece, com seu começo, meio e fim, respeitando a poderão aproveitar, a qualquer momento em que surgir a
sequências das cenas. oportunidade, um bom momento de leitura.
Os professores precisam contar a história com
conhecimento, sem improvisações, pois o sucesso da história Os cantinhos de leitura dispostos em sala de aula
está em narrá-la com simplicidade e autenticidade estimulante contribuem para um processo de desenvolvimento e
para o seu leitor mirim. capacitação de leitores, desde os primeiros anos da escola. É
Assim como afirma Coelho: através da leitura que se trabalha com o lúdico das crianças,
Constada a importância da história como fonte de prazer garantindo assim mais participação do aluno em sala de aula,
para criança e a contribuição que oferece ao seu fazendo com que a criança aprenda a ter concentração e saiba
desenvolvimento, não se pode correr o risco de improvisar. O o que está lendo.
sucesso da narrativa depende de vários fatores que se A orientação passada por especialistas é que os
interligam, sendo fundamental a elaboração de um plano, um professores criem espaço com tapetes, almofadas, com contos
roteiro, no sentido de organizar o desempenho do narrador, de fadas, poesias, fábulas, romances. Recomenda-se variar
garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade. O esse espaço com cantinho do gibi, cantinho do jornal e cantigas
roteiro possibilita transformar o improviso em técnica, fundir de roda.
a teoria à prática. O primeiro passo consiste em escolher o que
contar. Questões

Para tanto, é necessário utilizar da literatura de uma forma 01. (Prefeitura de Jacundá/PA - Técnico em
artística, permitindo que a criança divirta-se enquanto Enfermagem - INAZ do Pará) Texto para a questão:
vivencia a história, e que de alguma forma essa história Você sabe o que está comendo?
quando bem selecionada ofereça recursos para o ouvinte A dica da vovó, o anúncio da televisão e até mesmo
refletir sobre si mesmo, trazendo de alguma forma experiência interesses políticos se misturam com pesquisas sérias e
para sua vida que seja duradoura e importante, pois segundo confundem o consumidor, ávido por receitas para emagrecer
Coelho “Aquilo que não divertir, emocionar ou interessar ao e viver mais. Essa mistura de interesses se transformou em um
pequeno leitor, não poderá também transmitir-lhe nenhuma grande refogado de mitos.
experiência duradoura ou fecunda”. Os enganos começam pela carne. E a principal vítima dos
Assim, sua relação com a leitura deve ser sempre preconceitos é a de porco. Originalmente, ela era gordurosa.
prazerosa, promovendo momentos de intensa experiência, Mas há tempos perdeu medidas. A seleção genética segue a
enriquecendo sua aprendizagem de maneira significativa, tendência light do mercado e dá preferência aos animais
porque a prática de leitura em sala de aula não pode estar magros. Antes, a capa de gordura tinha em média 5,5
ausente, principalmente os contos de fada, pois conforme centímetros - agora tem 1,5 centímetros. O bife de pernil tem
Bettelhim: hoje a metade da gordura saturada de um bife de filé mignon
Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece com o mesmo tamanho. E praticamente metade do colesterol
sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua presente na mesma medida de uma coxa de frango com pele.
personalidade. Oferece significados em tantos níveis Mas isso não significa que a gordura saturada deve ser
diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos demonizada e cortada da alimentação, pois é ela que recobre e
que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade protege as células cerebrais. Ou seja, é importante. O corpo
de contribuições que esses contos dão à vida da criança. precisa dela assim como precisa do colesterol. O problema são
Devemos refletir sempre sobre a prática educativa, as quantidades.
procurando enxergar as particularidades de cada criança, sua É o excesso que tem feito até dos sucos de frutas uma
relação com o mundo, pensando em uma proposta que vai ameaça à saúde. Mesmo sendo 100% naturais, os sucos não
além dos modelos estabelecidos pela sociedade como prontos devem ser consumidos à vontade, por serem calóricos. Sede se
e acabados, e estruturar as ações em algo que aguce o aluno a mata com água, que não tem calorias.
ir além do que lhe é proposto, isto é, com autonomia, Lia Bock. Época, 25/07/2005. Adaptado.
criatividade, sabedoria, e construir sua aprendizagem de A partir da leitura do texto infere-se que ele é:
forma significativa estabelecendo novos conceitos. (A) Descritivo, pois visa detalhar quais são os benefícios
Sendo assim, nossas intervenções, interações, mediações advindos pelo consumo da carne de porco.
com a leitura poderão ajudar na construção do conhecimento (B) Narrativo, pois existem informações associadas aos
e desenvolvimento da criança, oferecendo uma diversidade de personagens do reino animal.
possibilidades com a leitura dedicada ao mundo infantil (C) Informativo com o uso predominante da linguagem
utilizando a literatura infantil, que além de promover a denotativa.
diversão, expressão de emoções, entretenimento, permite (D) Injuntivo, pois apresenta caráter ficcional baseado em
também com a sua utilização adequada à construção de bons fatos reais.
leitores. (E) Apelativo, porque tenta convencer o leitor.

Conhecimentos Específicos 13
APOSTILAS OPÇÃO

02. (Prefeitura de Brusque/SC - Professor Séries - Anos 05. (AL/SP- Agente Técnico Legislativo Especializado -
Iniciais - FEPESE) A respeito da leitura e escrita no espaço Pedagogia - FCC) A instituição de um canto de leitura em uma
escolar, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN sala de educação infantil é interessante por propiciar
Língua Portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. (A) condições ideais de concentração para a leitura
Brasília: 1997), é correto afirmar: individual.
1. Leitura e escrita são práticas complementares, (B) apropriação da organização dos livros em bibliotecas.
fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no (C) interação entre crianças com diferentes habilidades de
processo de letramento - a escrita transforma a fala e a fala leitura.
influência a escrita. (D) prática da leitura corrente e em voz alta.
2. Leitura e escrita, além de serem práticas (E) primeiro contato com a escrita e seus registros.
complementares, permitem ao aluno construir seu
conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os Gabarito
procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los, e
sobre as circunstâncias de uso da escrita. 01.C / 02.E / 03.A / 04.B / 05.C
3. A relação que se estabelece entre leitura e escrita, entre
o papel de leitor e de escritor não é mecânica: alguém que lê
muito não é, automaticamente, alguém que escreve bem.
4. Leitura e escrita não são práticas complementares, elas Alfabetização
são totalmente independentes uma da outra.
5. O ensino da Língua Portuguesa deve ter como meta
formar leitores que sejam também capazes de produzir textos
coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos. ALFABETIZAÇÃO - LETRAMENTO
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
corretas. Alfabetização
(A) É correta apenas a afirmativa 3.
(B) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5. O termo Alfabetização, segundo Soares22,
(C) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4. etimologicamente, significa:
(D) São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5. Levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a
(E) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 5. escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a
aquisição do código alfabético e ortográfico, através do
03. (Prefeitura de Brusque/SC - Professor Séries - Anos desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.
Iniciais - FEPESE) Letramento é palavra e conceito recentes,
introduzidos na linguagem da educação e das ciências Letramento
linguísticas há pouco mais de duas décadas. Seu surgimento
pode ser interpretado como decorrência da necessidade de De acordo com Soares, a palavra letramento é de uso ainda
configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na recente e significa:
área da: “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever
(A) leitura e escrita. dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham
(B) leitura e tradução. sentido e façam parte da vida do aluno.”
(C) matemática e tecnologia.
(D) educação e política. A escola não somente influencia a sociedade, mas também
(E) ciência e didática. é por ela influenciada, ou seja, conjuntos de possíveis causas
que estão dentro e no entorno da escola, realmente, afetam o
04. (Prefeitura de Nilópolis - RJ - Professor -
ensino e a aprendizagem. Há algumas décadas, a principal
FUNCEFET/) Observe estes quadros.
causa que apontava para a baixa qualidade da alfabetização
era o ensino fundamentado na Pedagogia Tradicional.

(...só lembrando as características da Pedagogia


Tradicional...: o papel da escola é o de promover uma formação
puramente moral e intelectual; os conteúdos de ensino são
aqueles que foram ao longo do tempo acumulados e, nesse
momento, são passados como verdades absolutas, sem chance de
questionamentos ou levantamentos de dúvidas; a metodologia
de ensino é a exposição verbal por parte do professor; a relação
professor-aluno é marcada pelo autoritarismo do primeiro em
relação ao segundo; os pressupostos da aprendizagem são
fundamentados na receptividade dos conteúdos e na
mecanização de sua recepção.)
A partir da leitura desse texto, pode-se inferir que:
Atualmente, entre outros fatores que envolvem um bom
(A) o autoritarismo e o desrespeito nas relações familiares
ensino e aprendizagem, as principais causas estão ligadas à
asseguram a disciplina e a ordem social.
perda da especificidade da alfabetização, devido à
(B) a relação escola-família reflete a organização e os
compreensão equivocada de novas perspectivas teóricas e
valores da sociedade em que a escola e a família se inserem.
suas metodologias, que foram surgindo em contraposição ao
(C) o autoritarismo da família e a autoridade do professor
tradicional, e a grande abrangência que se tem dado ao termo
jamais devem ser questionados
alfabetização.
(D) a criança só adquire independência e segurança a
partir das experiências na vida escolar

22 SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho

apresentado na 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003.

Conhecimentos Específicos 14
APOSTILAS OPÇÃO

Concordando, com Magda Soares, em seu artigo Assim, como descreve Soares: entretanto, o que
Letramento e Alfabetização: as muitas facetas, a expansão do lamentavelmente parece estar ocorrendo atualmente é que a
significado de alfabetização em direção ao conceito de percepção que se começa a ter, de que, se as crianças estão
letramento, levou à perda de sua especificidade. [...] no Brasil sendo, de certa forma, letradas na escola, não estão sendo
a discussão do letramento surge sempre enraizada no conceito alfabetizadas, parece estar conduzindo à solução de um
de alfabetização, o que tem levado, apesar da diferenciação retorno à alfabetização como processo autônomo,
sempre proposta na produção acadêmica, a uma inadequada e independente do letramento e anterior a ele.
inconveniente fusão dos dois processos, com prevalência do Analisando dialeticamente a evolução humana, fica
conceito de letramento, [...] o que tem conduzido a certo explícito que o homem antes mesmo de aprender à escrita,
apagamento da alfabetização que, talvez com algum exagero, apreende o mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse
denomino desinvenção da alfabetização. imenso mundo material. Por isso, é incorreto dizer que uma
pessoa é iletrada, mesmo que ela ainda não seja alfabetizada,
Essa fusão dos dois processos, que leva à chamada pois ela desde o princípio da vida reflete sobre as coisas. O
“desinvenção da alfabetização”, aliada à interpretação letramento está intimamente ligado às práticas sociais,
equivocada das novas perspectivas teóricas acarretou na exigindo do indivíduo, uma visão do contexto social em que
prática a negação de qualquer atividade que visasse à vive. Isso faz da alfabetização uma prática centrada mais na
aquisição do sistema alfabético e ortográfico, como o ensino individualidade de cada um e do letramento uma prática mais
das relações entre letras e sons, o desenvolvimento da ampla e social.
consciência fonológica e o reconhecimento das partes Nesse sentido, destacamos o papel do professor dentro
menores das palavras, como as sílabas, pois eram vistos como desse processo. Este profissional deve acreditar e promover a
tradicionais. Passou-se a acreditar que o aluno aprenderia o construção de pensamento crítico em si próprio e em seus
sistema simplesmente pelo contato com a cultura letrada, alunos. Assim, o letramento se torna uma forma de entender a
como se ele pudesse aprender sozinho o código, sem ensino si e aos outros, desenvolvendo a capacidade de questionar com
explícito e sistemático. fundamento e discernimento, intervindo no mundo e
Atualmente, se reconhece a importância de se usar combatendo situações de opressão.
algumas práticas da escola tradicional, que são entendidas Pronto!! Agora que entendemos a diferença entre os dois
como as facetas da alfabetização segundo Soares, assim como processos... podemos chegar à qualidade, conciliando ambos
os equívocos de compreensão do construtivismo foram os procedimentos e produzindo uma prática reflexiva de
percebidos e ajustados e muitos aspectos da escola nova tidos aliança entre os dois processos.
como essenciais. Com tudo isso, não se pode negar uma prática Partindo das reflexões de Brandão24, sobre a metodologia
ou outra, só por ela estar fundamentada em uma ou em outra freiriana de se alfabetizar, é possível compreender a
concepção, mas, sim, avaliar quais são as suas contribuições e importância da indissociabilidade e simultaneidade destes
se convêm serem utilizadas para um processo de alfabetização dois processos. Em seu método de alfabetização, ele propõe
significativa. que se parta daquilo que é concreto e real para o sujeito,
tornando a aprendizagem significativa, mas utilizando
Dermeval Saviani23, apresenta que aspectos da escola também os mecanismos de alfabetização.
tradicional são importantes para a educação. Ainda argumenta Ele ainda coloca em sua obra Pedagogia da Autonomia, que
que uma pedagogia comprometida com a qualidade o sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo, mais se
educacional e voltada para a transformação social, deve liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado que já possui seus
incorporar aspectos positivos e relevantes da pedagogia conhecimentos prévios, com um determinado ponto de vista,
tradicional e da pedagogia nova, de modo que o ponto de quando alfabetizado, pode modificar seus pensamentos,
partida seja a prática social sincrética e o de chegada uma ampliando-os de forma que passa a refletir criticamente sobre
prática social transformada. a prática social. Freire acreditava ser fundamental que as
Assim, se faz necessário resgatar a significação verdadeira pessoas compreendam o seu lugar no mundo e sua função
da alfabetização e delinear corretamente o conceito de social nele.
letramento, de forma que eles não se fundam e nem se O professor, portanto, tem um papel muito importante a
confundam, apesar de, como já foi dito, necessitarem realizar, para que esse pensamento crítico se desenvolva em
acontecer de maneira inter-relacionada. Com uma prática seus alunos. Para Freire...
educativa que faça uma aliança entre alfabetização e
letramento, sem perder a especificidade de cada um dos “[...] percebe-se, assim, a importância do papel do educador,
processos, sempre fazendo relação entre conteúdo e prática e o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua
que, fundamentalmente, tenha por objetivo a melhor formação tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também
do aluno. ensinar a pensar certo.”
O letramento ganha espaço a partir da constatação de
uma problemática na educação, pois através de pesquisas, É fundamental que o educador esclarecido de uma
avaliações e análises realizadas, chegou- se à conclusão de que realidade de opressão, não torne o processo de ensino
nem sempre o ato de ler e escrever garante que o indivíduo bancário e improdutivo, mas uma educação que desvende o
compreenda o que lê e o que escreve. Entretanto, se reconhece mundo material e liberte as pessoas da opressão, como
que muito mais que isso, é realizar uma leitura crítica da defende Freire. Para isso, as práticas de alfabetização e
realidade, respondendo satisfatoriamente as demandas letramento são necessárias, cada uma com suas
sociais. especificidades, como explicita Tfouni25:

Deve-se cuidar para não privilegiar um ou outro processo “Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita
(alfabetização/letramento) e entender que eles são por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza
processos diferentes, mas, indissociáveis e simultâneos. os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito
por uma sociedade.”

23 SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, 24 BRANDÃO, C.R. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2004.
onze teses sobre a educação política. 40ªed. Campinas: Autores Associados, 2008. 25 TFOUNI, L.V. Letramento e alfabetização. São Paulo, Cortez,1995.

Conhecimentos Específicos 15
APOSTILAS OPÇÃO

Logo, o letramento vai além do ler e escrever, ele tem sua A educação, sendo uma prática social, não pode restringir-
função social, enquanto a alfabetização encarrega-se em se a ser puramente livresca, teórica, sem compromisso com a
preparar o indivíduo para a leitura e um desenvolvimento realidade local e com o mundo em que vivemos. Educar é
maior do letramento do sujeito. Nessa perspectiva, também, um ato político. É preciso resgatar o verdadeiro
alfabetização e letramento se completam e enriquecem o sentido da educação. De acordo com Freire27,
desenvolvimento do aluno.
Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias (...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante
atuais, para que se possa atingir a educação de qualidade e do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres
produzir um ensino, em que os educandos não sejam apenas humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores,
uma caixa de depósito de conhecimentos, mas que venham a transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem.
ser seres pensantes e transformadores da sociedade.
Assim, quando os alunos são o sujeito da própria
O papel do educador na formação de indivíduos aprendizagem, “seres fazedores, transformadores”, no dizer
alfabetizados e letrados de Paulo Freire, tomam consciência de que sabem e podem
transformar o já feito, construído. Deixam a passividade e a
Numa sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de alienação para se constituírem como seres políticos. Como
aprimorar a competência e melhorar o desempenho afirma Freire28,
linguístico do estudante, tendo em vista a integração e a
mobilidade sociais dos indivíduos, além de colocar o ensino “O diálogo é fundamental em qualquer prática social. O
numa perspectiva produtiva. diálogo consiste no respeito aos educandos, não somente
O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como enquanto indivíduos, mas também enquanto expressões de uma
prática de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá- prática social. (...) A grande tarefa do sujeito que pensa certo não
lo e, para, através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como
alienação. paciente de seu pensar a inteligibilidade das coisas, dos fatos,
É através da prática que desenvolvemos nossa capacidade dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é,
linguística. Conhecer diferentes tipos de textos não é, pois, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir,
decorar regras gramaticais e listas de palavras. desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica,
No rap Estudo Errado, Gabriel, o Pensador, diz com produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não
propriedade: “Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. há inteligibilidade que não seja comunicação e
Decoreba: este é o método de ensino. Eles me tratam como intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar
ameba e assim eu não raciocino”. certo por isso é dialógico e não polêmico.”
É lamentável que, no Brasil, a escola, lugar fundamental
para a pessoa desenvolver sua capacidade de linguagem, O aluno não pode ser um simples objeto nas mãos do
continue limitando-se, na maioria das vezes, a um ensino professor. É o que Freire chama de “educação bancária”, isto é,
mecânico. Na perspectiva do letramento, a leitura e a escrita o educando, ao receber passivamente os conhecimentos,
são vistas como práticas sociais. torna-se um depósito do educador. “Ensinar não é transferir
conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção
Vargas26 apresenta uma distinção entre ledores e leitores ou a sua construção”.
muito importante quando se fala de alfabetização e de Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de
letramento. Segundo a autora, discurso. Trabalhar com diferentes textos possibilita ao
professor fazer uma abordagem mais consciente das variadas
[...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais formas de uso da língua. Assim, o professor pode transformar
ledores que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os a sua sala de aula num espaço de descobertas e construção de
dois são decodificadores de discursos? A diferença está na conhecimentos.
qualidade da decodificação, no modo de sentir e de perceber o A tarefa de selecionar materiais de leitura para os alunos é
que está escrito. O leitor, diferentemente do ledor, compreende o uma das tarefas mais difíceis. Nessa escolha, são postas em
texto na sua relação dialética com o contexto, na sua relação de jogo as diferentes concepções que tem cada professor sobre a
interação com a forma. O leitor adquire através da observação aprendizagem, os processos de leitura, a compreensão, as
mais detida, da compreensão mais eficaz, uma percepção mais funções dos textos e o universo do discurso. Além disso,
crítica do que é lido, isto é, chega à política do texto. A coloca-se em jogo a representação que tem cada docente não
compreensão social da leitura dá-se na medida dessa percepção. só do desenvolvimento cognitivo e sócio afetivo dos sujeitos a
Pois bem, na medida em que ajudo meu leitor, meu aluno, a quem são dirigidos os materiais, mas também dos interesses
perceber que a leitura é fonte de conhecimento e de domínio do de leitura de tais destinatários. Assim, também intervém como
real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na decodificação variável significativa o valor que o docente atribui aos
aprofundada do texto. materiais enquanto recursos didáticos.
Trabalhar com gêneros textuais variados nos permite
O objetivo de se ensinar a ler e escrever deve estar entender que a escolha de um gênero leva em conta os
centrado em propiciar ao estudante a aquisição da língua objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes.
portuguesa, de maneira que ele possa exprimir-se Daí decorre a detecção do que é adequado ou inadequado em
corretamente, aconselhado pelo professor por meio de cada uma das práticas sociais.
estímulos à leitura de variados textos, nos quais serão Diante disso, na medida em que o educador tomar
verificadas as diferentes variações linguísticas, tornando um consciência de sua posição política, articulando conteúdos
poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior número significativos a uma prática também significativa,
de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas desvinculando-se da função tradicional de mero transmissor
diversas situações a que for submetido. de conteúdos e, consequentemente, de mero repetidor de
exercícios do livro didático estará transformando o ensino da

26 VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. 4ª ed. Rio de 28 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

Janeiro: José Olympio, 2000. educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
27 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. São Paulo: Autores Associados, 1989.

Conhecimentos Específicos 16
APOSTILAS OPÇÃO

leitura e da escrita. Um educador como mediador, partindo da 02. (EMSERH) “Para aprender a ler e escrever, a criança
observação da realidade para, em seguida, propor respostas precisa construir um conhecimento de natureza conceitual.”
diante dela estará contribuindo para a formação de pessoas (BRASIL, 2001, vol. 3, p. 122).
críticas e participativas na sociedade. Com base na citação significa defender a alfabetização
Assim, uma prática significativa depende do interesse do como:
professor em planejar as suas aulas com coerência, visando a I. Função da maturação biológica.
construção de conhecimentos com os alunos. II. Desenvolvimento de capacidades relacionadas à
É importante destacar que letrar não é apenas função de percepção, memorização e treino de um conjunto de
professor de Língua Portuguesa. Em todas as áreas de habilidades sensório-mecânicas.
conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem III. Um processo de construção de conhecimento pelas
através de práticas de leitura e de escrita: em História, em crianças por meio de práticas que têm como ponto de partida
Geografia, em Ciências, mesmo em Matemática, enfim, em e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas
todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo, interpretando práticas sociais e de escrita.
e escrevendo. IV. Aquisição de um código de transcrição da fala.
Letrar é função de todos os professores, mesmo porque, Está(ão) correto(s) apenas o(s) itens(s):
em cada área de conhecimento, a escrita e a leitura têm (A) I.
peculiaridades, que só os professores que nela atuam é que (B) II.
conhecem e dominam. (C) III.
O educador reeducando-se e transformando-se, deixará de (D) IV.
vez "suas tarefas e as funções da educação sob a ótica das elites (E) I e IV.
econômicas, culturais e políticas das classes dominantes", em
direção a uma prática libertadora. Assim, o ensino deixará de 03. (SEDUC/RO) Dadas as afirmações abaixo:
ser um martírio, para se tornar num processo de construção I. Em meados da década de 1980, surgiu no Brasil um novo
permanente de conhecimentos. O educador deve estimular no conceito: letramento - a palavra letramento está ligada ao
aluno o pensamento crítico, de modo que ele possa atuar na termo literacy, usado nos Estados Unidos e na Inglaterra no
sociedade como um indivíduo pensante, questionador. mesmo período.
Enfim, nos dias atuais, o conhecimento é uma das II. O conceito letramento busca situar os aspectos técnicos
"ferramentas" para se conquistar oportunidades de trabalho e da aquisição da escrita, pois compreende que esta ocorre
renda. Assim, aos professores, cabe a responsabilidade de através de uma consciência fonológica de correspondência
fazer com que seus alunos se interessem pela leitura e pela entre sons e palavras.
escrita. III. Alfabetizar e letrar são dois processos metodológicos
diferentes, mas que devem ser considerados indissociáveis e
Questões simultâneos.
IV. Alfabetizar e letrar são sinônimos, ambos responsáveis
01. (Prefeitura de Palhoça/SC) No que diz respeito ao pela aquisição do sistema da escrita e pelo desenvolvimento
conceito de letramento, marque V para as afirmativas das práticas sociais de leitura e escrita.
verdadeiras e F para as falsas: Estão corretas apenas as afirmações:
( ) Nos últimos anos, um conceito que vem ganhando (A) I e II.
espaço e nova dimensão no mundo da escrita é o letramento. (B) I e III.
Ele é um termo que nomeia o conhecimento do sistema (C) II e III.
alfabético ortográfico e um dos princípios que norteiam essa (D) I e IV.
perspectiva é que para que os alunos leiam e escrevam com (E) II e IV.
autonomia é necessário que eles desenvolvam muitas
atividades de escrita, utilizando principalmente o livro 04. (Prefeitura de Brusque/SC) Letramento é palavra e
didático e o caderno de caligrafia. conceito recentes, introduzidos na linguagem da educação e
( ) Letramento é um termo relativamente recente, visto das ciências linguísticas há pouco mais de duas décadas. Seu
que surgiu há cerca de 30 anos, e nomeia o conjunto de surgimento pode ser interpretado como decorrência da
práticas sociais de uso da escrita em diversos contextos necessidade de configurar e nomear comportamentos e
socioculturais. práticas sociais na área da:
( ) O conceito de letramento surgiu para dar conta da (A) Leitura e escrita.
complexidade de eventos que lidam com a escrita. Mais amplo (B) Leitura e tradução.
que o conceito restrito de alfabetização, a noção de letramento (C) Matemática e tecnologia.
inclui não só o domínio das convenções da escrita, mas (D) Educação e política.
também o impacto social que dele advém. (E) Ciência e didática.
( ) Um dos princípios que norteiam a perspectiva do
letramento é que a aquisição da escrita não se dá desvinculada Gabarito
das práticas sociais em que se inscreve: ninguém lê ou escreve
no vazio, sem propósitos comunicativos, sem interlocutores, 01.C / 02.C / 03.B / 04.A
descolado de uma situação de interação; as pessoas escrevem,
leem e interagem por meio da escrita, guiadas por propósitos
interacionais, desejando alcançar algum objetivo, inseridas em
situações de comunicação.
A sequência correta é:
(A) V, V, V, F.
(B) F, V, F, V.
(C) F, V, V, V.
(D) F, F, F, F.

Conhecimentos Específicos 17
APOSTILAS OPÇÃO

A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou


Avaliação do/no processo aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do
ensino já atingiram num determinado ponto de percurso e que
de alfabetização dificuldades estão a revelar relativamente a outros.
Esta informação é necessária ao professor para procurar
meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver
AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM essas dificuldades e é necessária aos alunos para se
aperceberem delas (não podem os alunos identificar
A avaliação29, tal como concebida e vivenciada na maioria claramente as suas próprias dificuldades num campo que
das escolas brasileiras, tem se constituído no principal desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do
mecanismo de sustentação da lógica de organização do professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem
trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso, uma intenção formativa.
ocupando mesmo o papel central nas relações que A avaliação proporciona também o apoio a um processo a
estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou
pais. resultados de aprendizagem.
Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço
relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao As avaliações a que o professor procede enquadram-se
processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto, em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; não somativa.
é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de
avanço ou retenção em determinadas disciplinas. Evolução da Avaliação
Para Oliveira30, devem representar as avaliações aqueles
instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado A partir do início do século XX, a avaliação vem
efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que atravessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e
forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o Lincoln31 são elas: mensuração, descritiva, julgamento e
esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem negociação.
de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o 1. Mensuração: não distinguia avaliação e medida. Nessa
mais pertinente método didático adequado à disciplina - mas fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de
não somente -, à medida que consideram, igualmente, o instrumentos ou testes para verificação do rendimento
contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente
condições individuais do aluno, sempre que possível. técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispensáveis
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de na classificação de alunos para se determinar seu progresso.
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as
ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações 2. Descritiva: essa geração surgiu em busca de melhor
constantes. entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os
estudiosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o
Origem da Avaliação aluno.
Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo
e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade com
juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a relação aos objetivos estabelecidos. Neste sentido o avaliador
aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão estava muito mais concentrado em descrever padrões e
do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem critérios. Foi nessa fase que surgiu o termo “avaliação
tem sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se educacional”.
o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos
pelos alunos. 3. Julgamento: a terceira geração questionava os testes
A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e padronizados e o reducionismo da noção simplista de
características no campo da Psicologia, sendo que as duas avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocupação
primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo maior o julgamento.
desenvolvimento de testes padronizados para medir as Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz,
habilidades e aptidões dos alunos. incorporando, contudo, o que se havia preservado de
A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos fundamental das gerações anteriores, em termos de
meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e mensuração e descrição.
independente face à classificação. De âmbito mais vasto e Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do
conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever,
indispensável em qualquer sistema escolar. era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do
Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem, objeto, inclusive sobre os próprios objetivos.
um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de
chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto 4. Negociação: nesta geração, a avaliação é um processo
está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma
saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio construtivista. Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de
errado. enfocar e um modo construtivista de fazer.
É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada A avaliação é responsiva porque, diferentemente das
um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é alternativas anteriores que partem inicialmente de variáveis,
necessária a professores e alunos. objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e desenvolve a
partir de preocupações, proposições ou controvérsias em

29 KRAEMER, M. E. P.- A avaliação da aprendizagem como processo 31 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Avaliação

construtivo de um novo fazer. 2005. v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994.


30 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipação.

Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

Conhecimentos Específicos 18
APOSTILAS OPÇÃO

relação ao objetivo da avaliação, seja ele um programa, projeto, A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso
curso ou outro foco de atenção. Ela é construtivista em realizado pelo aluno no final de uma unidade de
substituição ao modelo científico, que tem caracterizado, de um aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos
modo geral, as avaliações mais prestigiadas neste século. por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que
Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a
acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a
pedagógico, informações que permitam aos agentes escolares um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos
decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se parcelares.
fizerem necessários em face do projeto educativo, definido
coletivamente, e comprometido com a garantia da Objetivos da Avaliação
aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um
instrumento referencial e de apoio às definições de natureza Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são
pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um
meio de relações partilhadas e cooperativas. juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um
objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de
Funções do Processo Avaliativo informações úteis para tomar alguma decisão”.
Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para
e de apreciação. este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação,
julgamento ou valorização do que o educando revelou ter
1. Função diagnóstica: a primeira abordagem, de acordo aprendido durante um período de estudo ou de
com Miras e Solé32, contemplada pela avaliação diagnóstica desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.
(ou inicial), é a que proporciona informações acerca das Para outros autores, a avaliação pode ser considerada
capacidades do aluno antes de iniciar um processo de como um método de adquirir e processar evidências
ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem,
Madaus, busca a determinação da presença ou ausência de incluindo uma grande variedade de evidências que vão além
habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das do exame usual de ‘papel e lápis’.
causas de repetidas dificuldades na aprendizagem. É ainda um auxílio para classificar os objetivos
A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do significativos e as metas educacionais, um processo para
aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo
a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade,
sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo
resolver situações presentes. ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em
caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir sua
2. Função formativa: a segunda função á a avaliação efetividade.
formativa que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos
estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando Modelo Tradicional de Avaliação X Modelo Mais
a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados Adequado
efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das
atividades propostas. Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente
Representa o principal meio através do qual o estudante e indissociável enquanto concebida como problematização,
passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo questionamento, reflexão, sobre a ação.
para um estudo sistemático dos conteúdos. Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz
Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de necessária para que possamos refletir, questionar e
avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do transformar nossas ações.
professor, principalmente através de mecanismos de feedback. O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada
Estes mecanismos permitem que o professor detecte e histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam
identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando como forma de controle e de autoritarismo por diversas
reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo. gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o
Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de
informar o professor e o aluno sobre o rendimento da auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem.
aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a
localização das deficiências na organização do ensino para concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos
possibilitar correção e recuperação. alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, na
A avaliação formativa pretende determinar a posição do tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional
aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de de avaliação com uma mais adequada a objetivos
identificar dificuldades e de lhes dar solução. contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua
adoção.
3. Função somativa: tem como objetivo, segundo Miras e
Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de
aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que,
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade
da aprendizagem realizada.
Pode ser chamada também de função creditativa. Também
tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período
de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.

32 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Artes Médicas, 1996.

Conhecimentos Específicos 19
APOSTILAS OPÇÃO

Tabela 1 - Comparação entre a concepção tradicional de O sistema social se


avaliação com uma mais adequada contenta com as notas - as
Modelo tradicional de notas são suficientes para os
Modelo adequado
avaliação quadros estatísticos.
Foco na promoção - o alvo Resultados dentro da
Foco na aprendizagem - o Sistema social preocupado
dos alunos é a promoção. Nas normalidade são bem vistos,
alvo do aluno deve ser a com o futuro - Já alertava o ex-
primeiras aulas, se discutem não importando a qualidade
aprendizagem e o que de ministro da Educação,
as regras e os modos pelos e os parâmetros para sua
proveitoso e prazeroso dela Cristóvam Buarque: "Para
quais as notas serão obtidas obtenção (salvo nos casos de
obtém. saber como será um país daqui
para a promoção de uma exames como o ENEM que, de
há 20 anos, é preciso olhar
série para outra. certa forma, avaliam e
Implicação - neste contexto, como está sua escola pública
"certificam" os diferentes
a avaliação deve ser um auxílio no presente". Esse é um sinal
Implicação - as notas vão grupos de práticas
para se saber quais objetivos de que a sociedade já começa a
sendo observadas e educacionais e
foram atingidos, quais ainda se preocupar com o
registradas. Não importa estabelecimentos de ensino).
faltam e quais as distanciamento educacional
como elas foram obtidas, nem
interferências do professor do Brasil com o dos demais
por qual processo o aluno Implicação - não há
que podem ajudar o aluno. países. É esse o caminho para
passou. garantia sobre a qualidade,
revertermos o quadro de uma
Foco nas provas - são somente os resultados
educação "domesticadora"
utilizadas como objeto de interessam, mas estes são
para "humanizadora".
pressão psicológica, sob relativos. Sistemas
pretexto de serem um Foco nas competências - o educacionais que rompem
Implicação - valorização da
'elemento motivador da desenvolvimento das com esse tipo de
educação de resultados
aprendizagem', seguindo competências previstas no procedimento tornam-se
efetivos para o indivíduo.
ainda a sugestão de projeto educacional devem ser incompatíveis com os
Comenius em sua Didática a meta em comum dos demais, são marginalizados e,
Magna criada no século XVII. professores. por isso, automaticamente
É comum ver professores pressionados a agir da forma
utilizando ameaças como Implicação - a avaliação tradicional.
"Estudem! Caso contrário, deixa de ser somente um
vocês poderão se dar mal no objeto de certificação da Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura
dia da prova!" ou "Fiquem consecução de objetivos, mas avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos
quietos! Prestem atenção! O também se torna necessária no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti, ao
dia da prova vem aí e vocês como instrumento de dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e
verão o que vai acontecer..." diagnóstico e esta deverá contribuir no processo de construção do caráter, da
acompanhamento do processo consciência e da cidadania, passando pela produção do
Implicação - as provas são de aprendizagem. Neste ponto, conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo
utilizadas como um fator modelos que indicam passos em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja
negativo de motivação. Os para a progressão na preparado para transformá-lo.
alunos estudam pela ameaça aprendizagem, como a
da prova, não pelo que a Taxionomia dos Objetivos A Avaliação da Aprendizagem como Processo
aprendizagem pode lhes Educacionais de Benjamin Construtivo de um Novo Fazer
trazer de proveitoso e Bloom, auxiliam muito a O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda
prazeroso. Estimula o prática da avaliação e a não está refletido na avaliação. Para Wachowicz &
desenvolvimento da orientação dos alunos. Romanowski, embora historicamente a questão tenha
submissão e de hábitos de evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais
comportamento físico tenso comum na maioria das instituições de ensino ainda é um
(estresse). registro em forma de nota, procedimento este que não tem as
condições necessárias para revelar o processo de
aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos
resultados.
Os estabelecimentos de Estabelecimentos de Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido
ensino estão centrados nos ensino centrados na pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se
resultados das provas e qualidade - os uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e
exames - eles se preocupam estabelecimentos de ensino da dinâmica da aprendizagem.
com as notas que devem preocupar-se com o Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função
demonstram o quadro global presente e o futuro do aluno, diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do
dos alunos, para a promoção especialmente com relação à processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua
ou reprovação. sua inclusão social (percepção característica pragmática, a fragmentação e a burocratização
do mundo, criatividade, acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do
Implicação - o processo empregabilidade, interação, processo.
educativo permanece oculto. posicionamento, criticidade). Os dados registrados são formais e não representam a
A leitura das médias tende a realidade da aprendizagem, embora apresentem
ser ingênua (não se buscam Implicação - o foco da escola consequências importantes para a vida pessoal dos alunos,
os reais motivos para passa a ser o resultado de seu para a organização da instituição escolar e para a
discrepâncias em ensino para o aluno e não mais profissionalização do professor.
determinadas disciplinas). a média do aluno na escola. Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia
revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse
instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de

Conhecimentos Específicos 20
APOSTILAS OPÇÃO

dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação racionalista ou apriorista, que percebe o conhecimento como
prescrita com os resultados. resultante de estruturas pré-formadas, de variáveis biológicas
A isenção advinda da necessidade de analisar a ou maturacionais e de organização perceptual de situações
aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a imediatas. A escola psicológica alemã conhecida como Gestalt,
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o responsável no início do século XX, por estudos na vertente da
professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais percepção, constitui umas das expressões mais fortes dessa
como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, posição, tendo deixado um legado mais associado ao estudo da
principalmente discutida coletivamente. “boa forma” ou das condições capazes de propiciar soluções de
No entanto, a prática das instituições não encontrou uma problemas por discernimento súbito (insight), em função de
forma de agir que tornasse possível essa isenção: as relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste
prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos modelo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu
impedem as observações. estatuto de autossuficiência e autorregulação, reducionismo
A consequência mais grave é que essa arrogância não que permanece recusando a relação ensino-aprendizagem e se
permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e fixando em apenas um de seus polos.
aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da
aprendizagem. “Aprendizagem é organização de conhecimentos como
O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos estruturas, ou rede construídas a partir das interações
ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais”
há décadas, desde que as teorias da educação escolar
recolocaram a questão no âmbito da cognição. Esta seria uma concepção de base construtivista ou
Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para interacionista, comprometida com a superação dos
uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de reducionismos anteriores (experiência advinda dos objetos X
realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da pré-formação de estruturas) e identificada com modelos mais
aprendizagem. abertos, fundados nas ideias de gênese ou processo.
Por esta razão, suas principais vertentes podem ser
Avaliação da Aprendizagem33 identificadas como “psicogenéticas” e são representadas pela
Epistemologia Genética Piagetiana e pela abordagem sócio-
A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a histórica dos psicólogos soviéticos (Vygotsky, Luria e
ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode Leontierv, em especial).
ser compreendida em função de determinada concepção de
conhecimento - algo que a filosofia compreende como base ou Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas
matriz epistemológica. A partir de tais concepções, podem ser vertentes:
focalizadas três possibilidades de definição de aprendizagem: 1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se
identifica com adaptação ou equilibração à medida que
“Aprendizagem é mudança de comportamento supõe a “passagem de um estado de menor conhecimento a
resultante do treino ou da experiência” um estado de conhecimento mais avançado” ou “uma
construção sucessiva com elaborações constantes de
Esta seria a definição mais impregnada e dominante no estruturas novas, rumo a equilibrações majorantes”34
campo psicológico e pedagógico e, certamente, a mais (O motor para tais processos de adaptação e equilibração
resistente às proposições alternativas. Funda-se na concepção seria o conflito cognitivo diante de novos desafios ou
empirista formulada por Locke e Hume. Realimenta-se do necessidades de aprendizagem, em esforços complementares
positivismo de Comte, com seus ideais de objetividade de assimilação (polo do sujeito responsável por incorporações
científica, ao final do século XIX e se encarna como corrente de elementos do mundo exterior) e acomodação (polo
behaviorista, comportamentista ou de estímulo-resposta, no modificado do estado anterior do sujeito em função das atuais
início do século XX. Valoriza o polo do objeto e não o do sujeito, demandas apresentadas pelo objeto de conhecimento). Essa
marcando a influência do meio ou do ambiente através de posição sugere a importância de que o meio de aprendizagem
estímulos, sensações e associações. Reserva ao sujeito o papel seja alargado e pleno de significado, para que se chegue a uma
de receptáculo e reprodutor de informações, através de congruência entre a parte do sujeito e as pressões externas,
modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e entre autorregulações e regulações externas, entre sistemas
dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não-
com motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem aprendizagem seria resultante da ausência de congruência
e ensino têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira entre os sistemas envolvidos nos processos de ensino-
é considerada decorrência linear do segundo (em outros aprendizagem.
termos: se algo foi ensinado, dentro de contingências
ambientais adequadas, certamente foi apreendido...). Na 2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus
perspectiva pedagógica, essa concepção encontra plena colaboradores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a
afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e bancárias - articulação fortemente estabelecida entre aprendizagem e
metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia de desenvolvimento, sendo a primeiro motor do segundo, no
passividade do sujeito, depositário de informações, conforme sentido que apresenta potência para projeta-lo até
a lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação. patamares mais avançados. Esta potência da
aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de
“Aprendizagem é apreensão de configurações desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento
perceptuais através de insights”. proximal”: a primeira referindo-se às competências ou
domínios já instalados (no campo conceitual,
Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando procedimental ou atitudinal, por exemplo) e a segunda
em torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou entendida como campo aberto de possibilidades, em
meio. Funda-se em uma base filosófica de natureza transição ou em vias de se consolidar, a partir de

33 http://crv.educacao.mg.gov.br/ 34 PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad.

Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993.

Conhecimentos Específicos 21
APOSTILAS OPÇÃO

intervenções ou mediações de outros - professores ou pares da nota e da ideia de avaliação como medida dos desempenhos
mais experientes ou competentes em determinada área, do aluno. Para se medir objetivamente um fenômeno, é preciso
tarefa ou função.35 definir uma unidade de medida. Sua operacionalização se dá
Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino- através de um instrumento. No caso da avaliação escolar, este
aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de instrumento é produzido, aplicado e corrigido pelo professor,
outras concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio que acaba sendo, ele próprio, um instrumento de medição do
privilegiado para as mediações em direito a patamares desempenho do aluno, uma vez que é ele quem atribui o valor
conceituais mais elevados. ao trabalho. Portanto, o critério de objetividade, implícito na
Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere ideia de avaliação como medida, perde sua confiabilidade, já
a aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa que o professor é um ser humano e, como tal, impossibilitado
realidade educacional: um processo marcado por de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de mundo, as
contradições, conflitos, rupturas e, até mesmo, regressões - preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os afetos
necessitando, por isso mesmo, de mediações que assegurem o e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presentes
espaço do reconhecimento das práticas sociais dos alunos, de nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de
seus conhecimentos prévios, dos significados e sentidos inúmeras pesquisas que apontam desacordos consideráveis
pertinentes às situações de aprendizagem de cada sujeito na atribuição de valor a um mesmo trabalho ou exame
singular e de suas dimensões compartilhadas. corrigido por diferentes professores. E esse valor, geralmente
As abordagens contemporâneas da Psicologia da registrado de forma numérica, é a referência para a
Aprendizagem e dos estudos sobre reorientações curriculares classificação do aluno e o julgamento do professor ou da escola
apoiam-se nessas categorias para a necessária reorientação quanto à sua aprovação/reprovação.
das estratégias de aprendizagem. No contexto escolar, e no imaginário social também, o
Um enfoque superficial: centrado em estratégias significado da nota e sua identificação com a própria avaliação
mnemônicas ou de memorização (reprodutoras em tornaram-se tão fortes que num dos argumentos para a sua
contingências de provas ou exames) ou centrado em manutenção costuma ser o de que, sem ela, acabou-se a
passividade, isolamento, ausência de reflexão sobre avaliação e o interesse ou a motivação do aluno pelos estudos.
propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação e no Estes argumentos refletem, por um lado, a distorção da função
acúmulo de elementos; avaliativa na escola, que não deve confundir-se com a
Um enfoque profundo: centrado na intenção de atribuição de notas: a avaliação deve servir à orientação das
compreender, na relação das novas ideias e conceitos com o aprendizagens. Por outro lado, revelam uma compreensão do
conhecimento anterior, na relação dos conceitos como desempenho do aluno como decorrente exclusivamente de sua
experiência cotidiana, nos componentes significativos dos responsabilidade ou competência individual. Daí o fato da
conteúdos, nas inter-relações e nas condições de avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação ou
transcendência em relação às situações e aprendizagens do punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os
momento. privilégios são justificados com base nas diferenças e
As questões mais relevantes, a partir dessas distinções desigualdades entre os alunos. Fundamentada na meritocracia
seriam: Por que um aluno se dirige para um outro tipo de (a ideia de que a posição dos indivíduos na sociedade é
aprendizagem? O que faz com que mostre maior ou menor consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória
disposição para a realização de aprendizagens significativas? passa a servir à discriminação e à injustiça social.
Por que não aprende em determinadas circunstâncias? Por Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de
que alunos modificam seu enfoque em função da tarefa ou da verificação da aprendizagem. O termo verificar tem origem na
mudança de estratégias dos professores? Quais os fatores de expressão latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte-
mediação capazes de produzir novos patamares motivacionais se do princípio de que existe um conhecimento - uma verdade
e novas zonas de aprendizagem e competência? - que dever ser assimilado pelo aluno. A avaliação consistiria
Tais questões sinalizam para um projeto educativo na aferição do grau de aproximação entre as aprendizagens do
comprometido com novas práticas e relações pedagógicas, aluno e essa verdade.
uma lógica a serviço das aprendizagens e da Avaliação Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de
Formativa, uma concepção construtiva e propositiva sobre qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo
erros e correção dos mesmos, uma articulação entre do programa. É a partir dessa escala que os alunos serão
dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressignifiquem o ato classificados, tendo em vista seu rendimento nos instrumentos
de aprender. de avaliação, ou seja, o total de pontos adquiridos. De um modo
geral, as provas e os testes são os instrumentos mais utilizados
Definindo os Tipos de Avaliação pelo professor para medir o alcance dos objetivos traçados
para aprendizagem dos alunos. A sua formulação exige rigor
- Avaliação Classificatória técnico e deve estar de acordo com os conteúdos
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar. A dimensão
vinculada à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de avaliação.
aferir, matemática, e objetivamente, as aprendizagens
escolares. A noção de medida supõe a existência de padrões de - Avaliação de Conteúdos sobre a Dimensão Conceitual
rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o A dimensão conceitual do conhecimento implica que a
desempenho de um aluno será avaliado e hierarquizado. A pessoa esteja estabelecendo relações entre fatos para
Avaliação Classificatória é realizada através de variadas compreendê-los. Os fatos e dados, segundo COLL, estão num
atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos, extremo de um contínuo de aprendizagem e a retenção da
trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é informação simples, a aprendizagem de natureza mnemônica
estabelecer uma classificação do aluno para fins de ou “memorística”. São informações curtas sobre os fenômenos
aprovação ou reprovação. da vida, da natureza, da sociedade, que dão uma primeira
A centralidade da aprovação/reprovação na cultura informação objetiva sobre o que é, quem fez, quando fez, o que
escolar impõe algumas considerações importantes em torno foi. Os conceitos estão no outro extremo (desse contínuo da

35 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins

Fontes,1984.

Conhecimentos Específicos 22
APOSTILAS OPÇÃO

aprendizagem) e envolvem a compreensão e o ampliando as informações sobre o que o aluno está sabendo
estabelecimento de relações. Traduzem um entendimento do para além dos momentos formais de avaliação, como
porquê daquele fenômeno ser assim como é. momentos de provas ou outros instrumentos de verificação.
As crianças, para aprenderem fatos, apenas os
memorizam. Esquecem mais rápido. Para aprenderem - Dimensão Procedimental
conceitos precisam estabelecer conexões mais complexas, de A dimensão procedimental do conhecimento implica no
aprendizagem significativa, identificada por autores como os saber fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão
citados acima. Quando elas constroem os conceitos, os fatos procedimental. O aluno precisa saber observar, saber ler,
vão tomando outras dimensões, informando o conceito. É saber registrar, saber procurar dados em várias fontes, saber
como se os fatos começassem a ser ordenados, atribuindo analisar e concluir a partir dos dados levantados. Nesse caso,
sentido ao que se tenta entender. são procedimentos que precisam ser desenvolvidos. Muitas
Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância vezes o aluno está com uma dificuldade procedimental e não
da concepção empirista de ensino como transmissão, a conceitual e, dependendo do instrumento usado, o professor
memorização era o referencial mais comum para a avaliação. não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a superá-la,
Nesse sentido, os instrumentos e momentos de avaliação por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros
traziam a característica de um espaço em que as pessoas exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento:
tentavam recuperar um dado de sua memória. Um meio e saber fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um
realizar essa atividade por evocação (pergunta direta, com texto dissertativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o
resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, quando lhe professor acompanhe de perto essa aprendizagem. O melhor
oferecemos pistas e apresentamos alternativas para as instrumento para isso é a observação sistemática - um
respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação conjunto de ações que permitem ao professor conhecer até
foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos que ponto seus alunos estão sabendo: dialogar, debater,
fatos nas memórias. Essa redução do entendimento do que é trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfica,
avaliar vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades
conteúdos, principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o
a avaliação de conceitos. A construção conceitual demanda aluno transfere o conteúdo para a prática.
compreensão e estabelecimento de relações, sendo, portanto,
mais complexa para ser avaliada. - Dimensão Atitudinal
Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação, A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que
cada escola e cada professor precisam analisar seu alcance. indicará os valores em construção. É mais difícil de ser
Pedir ao aluno que defina um significado (técnica muito trabalhada porque não se desliga da formação mais ampla em
comum nas escolas), nem sempre proporciona boa medida outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus
para avaliação, é uma técnica com desvantagens, pois pode componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos
induzir a falsos erros e falsos acertos. É uma técnica que exige (sentimentos e preferências) e condutais (ações e declaração
um critério de correção muito minucioso. Ele ainda propõe de intenção). Manifesta-se mais através do comportamento
que, se a opção for por usar essa técnica, que se valide mais o referenciado em crenças e normas. Por isso, precisa ser
que o aluno expuser com as próprias palavras do que uma amplamente entendida à luz dos valores que a escola
reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, o considera formadores. A aquisição de valores é alcançada
reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na através do desenvolvimento de atitudes de acordo com esse
armadilha da mera reprodução de uma definição previamente sistema de valores. Depende de uma autopersuasão que está
estabelecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as
que coloca esse tipo de instrumento e questão na condição de pessoas têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em
insuficiente para conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra relação ao mundo. As atitudes e valores envolvem também as
possibilidade é a da exposição temática na qual o aluno debate normas.
sobre um tema incluindo comparações, estabelecendo Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às
relações. pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a
É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos
está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim outros. Atitudes são tendências relativamente estáveis das
usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o
isso, a necessidade de se trabalhar com questões abertas. grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas
Outra técnica, - a identificação e categorização de exemplos - escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados.
por evocação (aberta) ou reconhecimento (fechada), Normas são padrões ou regras de comportamentos que as
possibilita ao professor conhecer como o aluno está pessoas devem seguir em determinadas situações sociais.
entendendo aquele conceito. Na técnica de reconhecimento o Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos
aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza
categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento do planejamento das atividades de sala de aula.
como a prova objetiva. Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem
Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de de atitudes são a observação e autoavaliação.
conceitos seria a técnica de aplicação à solução de problemas, Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos,
deveriam ser situações abertas, nas quais os alunos fariam procedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o
exposição da compreensão que têm do conceito, tentando momento da avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico
responder à situação apresentada. Nesse caso, o instrumento que ajudará aos professores e alunos conhecerem o processo
mais adequado seria uma prova operatória, é importante, no de aprendizagem. O professor deve diversificar os
caso da avaliação de conceitos, resgatar sempre os instrumentos para cobrir toda a tipologia dos conhecimentos:
conhecimentos prévios dos alunos, para analisar o que estiver provas, trabalhos e observação, para avaliar fatos e conceitos,
sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação inicial, o observação para concluir na avaliação da construção
momento inicial da aprendizagem. A avaliação de conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de
aprendizagem de conceitos remete o professor, portanto, a procedimentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes
instituir também a observação como uma técnica de e conceitos.
levantamento de dados sobre a aprendizagem dos alunos,

Conhecimentos Específicos 23
APOSTILAS OPÇÃO

Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que referenciará o
em todo o processo de aprendizagem, usando a prática de trabalho do professor, será muito importante uma revisão
datar o que está sendo registrado e propiciando ao próprio conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será
aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um conteúdo preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos
novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele. como objetos de conhecimento.

Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal - Avaliação Formativa


Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias
conteúdo que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode teorias que postulam o caráter diferenciado e singular dos
fazer uma avaliação do que realmente pode ser considerado processos de formação humana, que é constituída por
aprendido. dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural,
Como são os alunos individualmente em grupos? social, simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A
Que grupos sociais representam? aprendizagem é uma atividade que se insere no processo
Como se comportam e se vestem? global de formação humana, envolvendo o
O que apreciam? desenvolvimento, a socialização, a construção da
Quais seus interesses? identidade e da subjetividade.
O que valorizam?
O que fazem quando não estão na escola? Aprendizagem e formação humana são processos de
Como suas famílias vivem? natureza social e cultural. É nas interações que estabelece com
O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram? seu meio que o ser humano vai se apropriando dos sistemas
Como se organiza o espaço que compartilham fora da simbólicos, das práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses
escola? processos têm uma base orgânica, mas se efetivam na vida
Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores, social e cultural, e é através deles que o ser humano elabora
sua adesão/rejeição às normas, suas atitudes? formas de conceber e de se relacionar com o mundo físico e
social. Esses estudos sobre a formação humana e a
Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes aprendizagem trazem implicações profundas para a educação
importantes para a formação dos alunos na adolescência. Para e destacam a importância do papel do professor como
mudança de atitudes é que são feitos os projetos. mediador do processo de construção de conhecimento dos
- Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às alunos. Sua ação pedagógica deve estar voltada para a
pessoas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a compreensão dos processos sociocognitivos dos alunos e a
solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos busca de uma articulação entre os diversos fatores que
outros... constituem esses processos - o desenvolvimento psíquico do
- Atitudes são tendências relativamente estáveis das aluno, suas experiências sociais, suas vivências culturais, sua
pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o história de vida - e as intenções educativas que pretende levar
grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-se numa prática
escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados... que permite ao professor aproximar-se dos processos de
- Normas são padrões ou regras de comportamentos que a aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno está
pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os
fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas
Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão entender o significado do desempenho: como o aluno
dados para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação compreendeu o problema apresentado? Que tipo de
Formativa: a serviço das aprendizagens. elaboração fez para chegar a determinada resposta? Que
Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma dificuldades encontrou? Como tentou resolvê-las?
reprodutiva: não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser
um estado ou país, data de acontecimentos, tabela de símbolos tomado como uma evidência ou uma dificuldade de
químicos. Correspondem a uma informação verbal literal aprendizagem. E cabe ao professor interpretar o significado
como vocabulários, nomes ou informação numérica que não desse desempenho. Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a
envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso se usa a serviço das aprendizagens, da forma dos alunos. Trata-se,
repetição, buscando mesmo a automatização da informação. portanto, de uma avaliação que tem como finalidade não o
Esse processo de repetição não se adequa à construção controle, mas a compreensão e a regulação dos processos dos
conceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua trajetória escolar.
conceito, quando o explica com suas próprias palavras. É Isso significa entender que a avaliação, indo além da
comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando
caso, eles estão num início de processo de compreensão do as necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças
conceito. Precisam trabalhar mais a situação, o que vai ajudá- no seu planejamento e no desenvolvimento das ações
los a entender melhor, até saberem explicar com as suas educativas. Caracterizando-se como uma prática voltada para
palavras. Esse processo de construção conceitual não é o acompanhamento dos processos dos alunos, este tipo de
estanque, ele está em permanente movimento entre o conceito avaliação não comporta registros de natureza quantitativa
espontâneo, construído nas representações sociais e o (notas ou mesmo conceitos), já que estes são insuficientes para
conceito científico. revelar tais processos. Tampouco pode-se pensar, a partir
Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de desta concepção, na manutenção da aprovação/reprovação.
abstração, subjacentes, à organização conceitual de uma área, Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo
nem sempre explícitos. Atravessam todos os conteúdos das classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e
matérias, devendo ser o objetivo maior da aprendizagem na compreender os seus processos, e promover ações que os
educação básica. Eles orientam a compreensão de noções ajudem a avançar no seu desenvolvimento, nas suas
básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos aprendizagens. Sendo assim, a avaliação a serviço das
como sociedade e cultura são princípios das áreas de humanas, aprendizagens desmistifica a ideia de seleção que está
eles devem referenciar o trabalho nos conceitos específicos. implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma
Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos avaliação que procura administrar, de forma contínua, a
como o de migração, democracia, crescimento populacional,

Conhecimentos Específicos 24
APOSTILAS OPÇÃO

progressão dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão se constitui exclusivamente no interior de uma sala de aula. É
Continuada. preciso alargar o espaço educativo no interior da escola
A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de (pátios, biblioteca, salas de multimídia, laboratórios, etc.) e
regulação da ação pedagógica. Sua função é permitir ao para além dela, apropriando-se dos múltiplos espaços da
professor identificar os progressos e as dificuldades dos cidade (parques, praças, centros culturais, livrarias, fábricas,
alunos para dar continuidade ao processo, fazendo as outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas de exposição,
mediações necessárias para que as aprendizagens aconteçam. universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve adquirir
Inicialmente, é fundamental conhecer a situação do aluno, o diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de
que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas as diversificação das atividades pedagógicas.
intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial, A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que
organiza-se o planejamento do trabalho, de forma pode potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa.
suficientemente flexível para incorporar, ao longo do Os grupos ou classes móveis - em vez de classes fixas -
processo, as adequações que se fizerem necessárias. Ao possibilitam a organização diferenciada do trabalho
mesmo tempo, o uso de variados instrumentos e pedagógico e uma maior personalização do itinerário escolar
procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor do aluno, na medida em que atendem melhor às suas
compreender o processo do aluno para estabelecer novas necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao
propostas de ação. agrupamento interno de uma classe ou entre classes
Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries diferentes. Na prática, acontece conforme o objetivo da
finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos atividade e as necessidades do aluno.
professores. Agrupamentos de professores responsáveis por Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes
um determinado número de turmas facilita o planejamento, o turmas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de
desenvolvimento das atividades, a relação pessoal com os cinema, de teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de
alunos e o trabalho coletivo. fotografia, de música, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho
Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com também permitem que a turma assuma configurações
5 turmas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas, diferentes, em momentos diferentes, de acordo com o
visando favorecer o trabalho voltado para determinado interesse e para atendimento às necessidades de
período de formação humana (infância, adolescência, etc.). aprendizagem.
Este tipo de organização tende a romper com a fragmentação
do trabalho pedagógico, facilitando a interdisciplinaridade e o Instrumentos de Avaliação
desenvolvimento de uma Avaliação Formativa.
Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de As provas objetivas (mais conhecidas como provas de
aprendizagem dos alunos, um dos aspectos importantes da múltipla escolha), as provas abertas / operatórias, observação
ação docente deve ser a organização de atividades cujo nível e autoavaliação são ferramentas para levantamento de dados
de abordagem seja diferenciado. Isso significa criar situações, sobre o processo de aprendizagem. São materiais preparados
apresentar problemas ou perguntas e propor atividades que pelo professor levando em conta o que se ensina e o que se
demandem diferentes níveis de raciocínio e de realização. A quer saber sobre a aprendizagem dos alunos. Podem ter
diversificação das tarefas deve também possibilitar aos alunos diferentes naturezas. Alguns, como as provas, são
que realizem escolhas. As atividades devem oferecer graus instrumentos que têm uma intenção de testagem, de
variados de compreensão, diferentes níveis de utilização dos verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele
conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao realmente estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser
conhecimento. elaborados em dois formatos: um de questões fechadas, de
Outro movimento importante rumo a uma Avaliação múltipla escolha ou de respostas curtas, identificado como
Formativa deve acontecer na organização dos tempos e prova objetiva; outro com questões abertas. Ambos são
espaços escolares. Os tempos de aula (50min, 1h, etc.) os instrumentos que possibilitam tanto a avaliação de
recortes de cada disciplina, os bimestres, os semestres, as aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de conceitos,
séries, os níveis de ensino são formas de estruturar o tempo embora, em relação à construção conceitual, o professor
escolar que têm como fundamento a lógica da organização dos precisará inserir também instrumentos de observação.
conteúdos. Os processos de aprender e de construir Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica
conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma lógica. A que coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda
organização escolar por ciclos é uma experiência que busca observação pressupõe registros. É um bom instrumento para
harmonizar os tempos da escola com os tempos de avaliar a construção conceitual, o desenvolvimento de
aprendizagem próprios do ser humano. Os ciclos permitem procedimentos e as atitudes.
tomar as progressões das aprendizagens mais fluidas, Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito
evitando rupturas ao longo do processo. A flexibilização do importante no desenvolvimento das habilidades
tempo e do trabalho pedagógico possibilita o respeito aos metacognitivas e na avaliação de atitudes.
diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e a organização Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando
de uma prática pedagógica voltada para a construção do as situações escolares necessitarem de um aprofundamento
conhecimento, para a pesquisa. maior para levantamento de dados.
Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno
de projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A Outra questão relevante ao processo de avaliação do
estruturação do tempo é parte do planejamento pedagógico ensino e aprendizagem é Como avaliar o aluno com
semanal ou mensal, uma vez que a natureza da atividade e os deficiência? 36
ritmos de aprendizagem irão definir o tempo que será
utilizado. A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho
O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não docente do professor. Quando falamos em avaliação de alunos
pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma com deficiência, então, o problema torna-se mais complexo
compreensão do mundo, da realidade social e humana, de nós ainda. Apesar disso, discutir a avaliação como um processo
mesmos e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não mais amplo de reflexão sobre o fracasso escolar, dos

36 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010.

Conhecimentos Específicos 25
APOSTILAS OPÇÃO

mecanismos que o constituem e das possibilidades de dispostos a aceitar novos desafios, capazes de identificar nos
diminuir o violento processo de exclusão causado por ela, erros pistas que os instiguem a repensar seu planejamento e
torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e a as atividades desenvolvidas em sala de aula e que considerem
permanência com sucesso dos alunos com deficiência na seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não
escola. se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o
De início, importa deixar claro um ponto: alunos com conhecimento à capacidade de identificar respostas
deficiência devem ser avaliados da mesma maneira que seus previamente definidas como certas ou erradas.
colegas. Pensar a avaliação de alunos com deficiência de Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação
maneira dissociada das concepções que temos acerca de inclusiva preconiza um ensino em que aprender não é um ato
aprendizagem, do papel da escola na formação integral dos linear, continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai
alunos e das funções da avaliação como instrumento que sendo tecida pelos aprendizes, em ambientes escolares que
permite o replanejamento das atividades do professor, não não discriminam, que não rotulam e que oferecem chances de
leva a nenhum resultado útil. sucesso para todos, dentro dos interesses, habilidades e
Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação possibilidades de cada um. Por isso, quando apenas avaliamos
do resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo, o produto e desconsideramos o processo vivido pelos alunos
é imprescindível a criação de uma nova cultura sobre para chegar ao resultado final realizamos um corte totalmente
aprendizagem e avaliação, uma cultura que elimine: artificial no processo de aprendizagem.
- O vínculo a um resultado previamente determinado pelo Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que
professor; queremos avaliar: produção ou reprodução. Quando
- O estabelecimento de parâmetros com os quais as avaliamos reprodução, com muita frequência, utilizamos
respostas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se provas que geralmente medem respostas memorizadas e
o ato de aprender não fosse individual; comportamentos automatizados. Ao contrário, quando
- O caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz de produzir, a
desempenha em qualquer nível; observação, a atenção às repostas que o aluno dá às atividades
- A lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que ele é
inexistente; capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas
- A eleição de um determinado ritmo como ideal para a utilizadas para avaliar.
construção da aprendizagem de todos os alunos. Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso,
para avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do
Numa escola onde a avaliação ainda se define pela seu percurso escolar e a evolução de suas competências e de
presença das características acima certamente não haverá seus conhecimentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o
lugar para a aceitação da diversidade como inerente ao ser professor a organizar a produção dos seus alunos e por isso
humano e da aprendizagem como processo individual de avaliar com eficiência é utilizar um portfólio.
construção do conhecimento. Numa educação que parte do A utilização do portfólio permite conhecer a produção
falso pressuposto da homogeneidade não há espaço para o individual do aluno e analisar a eficiência das práticas
reconhecimento dos saberes dos alunos, que muitas vezes não pedagógicas do professor. A partir da observação sistemática
se enquadram na lógica de classificação das respostas e diária daquilo que os alunos são capazes de produzir, os
previamente definidas como certas ou erradas. professores passam a fazer descobertas a respeito daquilo que
O que estamos querendo dizer é que todas as questões os motiva a aprenderem, como aprendem e como podem ser
referentes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer efetivamente avaliados.
aluno e não apenas das pessoas com deficiências. A única No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem
diferença que há entre as pessoas ditas normais e as pessoas facilitar a tomada de decisão sobre quais os recursos de
com deficiências está nos recursos de acessibilidade que acessibilidade que deverão ser oferecidos e qual o grau de
devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências sucesso que está sendo obtido com o seu uso. Eles permitem
para que possam aprender e expressar adequadamente suas que tomemos conhecimento não só das dificuldades, mas
aprendizagens. Por recursos de acessibilidade podemos também das habilidades dos alunos, para que, através dos
entender desde as atividades com letra ampliada, digitalizadas recursos necessários, estas habilidades sejam ampliadas.
em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos da Permitem, também, que os professores das classes comuns
tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que possam contar com o auxílio do professor do atendimento
é necessário para suprir necessidades impostas pelas educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam
deficiências, sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais. esta modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam
Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com surgir a respeito da produção dos alunos.
deficiência ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a Quando utilizamos adequadamente o portfólio no
finalidade de verificar continuamente os conhecimentos que processo de avaliação podemos:
cada aluno possui, no seu tempo, por seus caminhos, com seus - Melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o
recursos e que leva em conta uma ferramenta muito pouco portfólio dos alunos para elaborar as atividades:
explorada que é a coaprendizagem. - Evitar testes padronizados;
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez - Envolver a família no processo de avaliação;
seja o de nos convencermos de que a avaliação usada apenas - Não utilizar a avaliação como um instrumento de
para medir o resultado da aprendizagem e não como parte de classificação;
um compromisso com o desenvolvimento de uma prática - Incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação;
pedagógica comprometida com a inclusão, e com o respeito às - Possibilitar que o erro possa ser visto como um processo
diferenças é de muito pouca utilidade, tanto para os alunos de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo
com deficiências quanto para os alunos em geral. cada aluno está organizando o seu pensamento;
De qualquer modo, a avaliação como processo que
contribui para investigação constante da prática pedagógica Esta maneira de avaliar permite que o professor
do professor que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a acompanhe o processo de aprendizagem de seus alunos e
partir dos resultados obtidos, não é tarefa simples de ser descubra que cada aluno tem o seu método próprio de
conseguida. Entender a verdadeira finalidade da avaliação construir conhecimentos, o que torna absurdo um método de
escolar só será possível quando tivermos professores

Conhecimentos Específicos 26
APOSTILAS OPÇÃO

ensinar único e uma prova como recurso para avaliar como se esforços no que as crianças não sabem fazer e, não, considerar
houvesse homogeneidade de aprendizagem. as suas potencialidades.
Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de (C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e
forma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando
analisarmos com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação pontos que necessitam de maior atenção na busca de
do aluno com deficiência, na verdade serve para avaliar reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios
qualquer aluno, porque a principal exigência da inclusão para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as
escolar é que a escola seja de qualidade - para todos! E uma condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às
escola de qualidade é aquela que sabe tirar partido das necessidades colocadas pelas crianças.
diferenças oportunizando aos alunos a convivência com seus (D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade
pares, o exemplo dos professores que se traduz na qualidade básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de
do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento decisões educativas e observar a evolução da criança, como
vivenciado por toda a comunidade escolar. também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou
modificar determinadas situações, relações ou atividades na
Questões sala de aula.

01. (TSE - Analista Judiciário - Pedagogia - 05. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - Professor de
CONSULPLAN) Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a Ensino Fundamental - Artes Plásticas - Prefeitura do Rio
avaliação é um ato amoroso e dialógico que envolve sujeitos e, de Janeiro) Leia o fragmento abaixo: Normalmente, quando
como tal, a primeira fase do processo de avaliação começa nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que
com: buscamos compreender é até onde a criança já chegou, em
(A) o acolhimento do sujeito avaliado. termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela.
(B) a qualificação dos conhecimentos prévios. Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e
(C) o julgamento das aprendizagens avaliadas. atividades, como por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe
(D) o diagnóstico do perfil do sujeito. amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de
diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe
02. (Prefeitura de Uberlândia/MG - Professor realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de
Educação Básica II - Português - CONSULPLAN) A avaliação realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança
da aprendizagem escolar é um elemento do processo de ensino já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe
e de aprendizagem. amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras
Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a pessoas.
aprendizagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1991. Pág. 11
professor. Numa perspectiva emancipatória, que parte dos
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada
princípios da autoavaliação e da formação, podemos afirmar
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
que:
(A) a zona de desenvolvimento real
(A) os alunos também devem participar dos critérios que
(B) a zona de desenvolvimento proximal
servirão de base para a avaliação de sua aprendizagem.
(C) a fase potencial do pensamento formal
(B) os professores devem utilizar a avaliação como um
(D) a fase operatória do pensamento formal
mecanismo de seleção para o processo de ensino.
(C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos
Gabarito
critérios que possam classificar as aprendizagens corretas.
(D) os alunos também devem registrar o processo de
01.A / 02.A / 03.B / 04.B / 05.A
avaliação que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula.

03. (Prefeitura de Montes Claros/MG - PEB I -


UNIMONTES) De acordo com Luckesi (1999), é importante Conceito de Ensino e
estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da
aprendizagem, que é de diagnóstico. Aprendizagem
Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de
decisão. Articuladas com essa função básica estão, EXCETO:
(A) a função de motivar o crescimento. PROCESSOS PEDAGÓGICOS - ENSINO E APRENDIZAGEM
(B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
educando quanto da família. Pressupostos para o Processo de Ensino e
(C) a função de aprofundamento da aprendizagem. Aprendizagem
(D) a função de auxiliar a aprendizagem.
Através do seu próprio interesse, o aluno busca nos
04. (IFC/SC - Pedagogia - Educação Infantil - IESES) No conteúdos apresentados pelo professor, fazer relação com sua
que diz respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é realidade, para assim tornar sua experiência mais rica. Dessa
INCORRETO afirmar que: forma, o novo conhecimento se apoia numa construção
(A) A avaliação é constituída de instrumentos de cognitiva que já existe, ou o professor auxilia na construção
diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria conhecimento no qual o discente ainda não dispõe. O nível de
da aprendizagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos envolvimento na aprendizagem depende do interesse e
que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem. disposição do aluno, além do empenho do professor no
(B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz contexto da sala de aula.
das crianças pode ter algumas consequências e influências A visão da pedagogia dos conteúdos desenvolve nos alunos
decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento. a capacidade de processar informações e transformar a
Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus realidade em que vive. Assim, o professor precisa
alunos tem grande influência no que diz respeito ao compreender seus alunos, o que eles dizem ou pensam e os
rendimento da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma alunos precisam fazer o mesmo em relação a ele. Essa
visão fragmentada da criança. É aconselhável concentrar transferência de aprendizagem só se realiza no momento da

Conhecimentos Específicos 27
APOSTILAS OPÇÃO

operação mental, isto é, quando o aluno supera sua visão outros elementos da esfera volitiva e afetiva que junto com a
parcial e confusa e adquire uma visão mais nítida e ampla. cognitiva permitem falar de um processo de ensino e
Ao fim do processo, o aluno já deve estar preparado para o aprendizagem que tem de pôr fim a formação multilateral da
mundo adulto de modo a praticar todo o aprendizado personalidade do homem.
adquirido com a ajuda do professor, como a democracia, a A eficácia do processo de ensino e aprendizagem está na
liderança, a iniciativa e a responsabilidade, assim como ter resposta em que este dá à apropriação do conhecimento, ao
formação ética no sentido de pensar valores, a saber, desenvolvimento intelectual e físico do estudante, à formação
competências do pensar no âmbito da educação moral da de sentimentos, qualidades e valores, que alcancem os
tomada de decisões. objetivos gerais e específicos propostos em cada nível de
ensino de diferentes instituições, conduzindo a uma posição
O Processo de Ensino e Aprendizagem transformadora, que promova as ações coletivas, a
solidariedade e o viver em comunidade.
Para Fernández37, as reflexões sobre o estado atual do Todo ato educativo obedece determinados fins e
processo ensino e aprendizagem nos permite identificar um propósitos de desenvolvimento social e econômico e em
movimento de ideias de diferentes correntes teóricas sobre a consequência responde a determinados interesses sociais,
profundidade do binômio ensino e aprendizagem. sustentam-se em uma filosofia da educação, adere a
Entre os fatores que estão provocando esse movimento concepções epistemológicas específicas, leva em conta os
podemos apontar as contribuições da Psicologia atual em interesses institucionais e, depende, em grande parte, das
relação à aprendizagem, que nos leva a repensar nossa prática características, interesses e possibilidades dos sujeitos
educativa, buscando uma conceptualização do processo participantes, alunos, professores, comunidades escolares e
ensino e aprendizagem. demais fatores do processo. A visão tradicional do processo
As contribuições da teoria construtivista de Piaget, sobre a ensino e aprendizagem é que ele é um processo neutro,
construção do conhecimento e os mecanismos de influência transparente, afastado da conjuntura de poder, história e
educativa têm chamado a atenção para os processos contexto social. O processo ensino e aprendizagem deve ser
individuais, que têm lugar em um contexto interpessoal e que compreendido como uma política cultural, isto é, como um
procuram analisar como os alunos aprendem, estabelecendo empreendimento pedagógico que considera com seriedade as
uma estreita relação com os processos de ensino em que estão relações de raça, classe, gênero e poder na produção e
conectados. legitimação do significado e experiência.
Os mecanismos de influência educativa têm um lugar no Tradicionalmente, este processo tem reproduzido as
processo de ensino e aprendizagem, como um processo onde relações capitalistas de produção e ideologias legitimadoras
não se centra atenção em um dos aspectos que o dominantes ao ignorarem importantes questões referentes às
compreendem, mas em todos os envolvidos. relações entre conhecimento x poder e cultura x política. O
Se analisarmos a situação atual da prática educativa em produto do processo ensino e aprendizagem é o
nossas escolas identificaremos problemas como: conhecimento. Partindo desse princípio, concebe-se que o
a) A grande ênfase dada a memorização, pouca conhecimento é uma construção social, assim torna-se
preocupação com o desenvolvimento de habilidades para necessário examinar a constelação de interesses econômicos,
reflexão crítica e autocrítica dos conhecimentos que aprende; políticos e sociais que as diferentes formas de conhecer podem
b) As ações ainda são centradas nos professores que refletir. Para que o processo ensino e aprendizagem possa
determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação gerar possibilidades de emancipação é necessário que os
entre educação e instrução. professores compreendam a razão de ser dos problemas que
enfrentam e assuma um papel de sujeito na organização desse
A solução para tais problemas está no aprofundamento de processo. As influências sócio-político econômicas, exercem
como os educandos aprendem e como o processo de ensinar sua ação inclusive nos pequenos atos que ocorrem na sala de
pode conduzir à aprendizagem, assim o processo de ensino e aula, ainda que não sejam conscientes. Ao selecionar algum
aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de destes componentes para aprofundar deve-se levar em conta
formas diferentes, que vão desde a ênfase no papel do a unidade, os vínculos e os nexos com os outros componentes.
professor como transmissor de conhecimento, até as O componente é uma propriedade ou atributo de um
concepções atuais que concebem o processo de ensino e sistema que o caracteriza; não é uma parte do sistema e sim
aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do uma propriedade do mesmo, uma propriedade do processo
educando. docente-educativo como um todo. Identificamos como
Nesse último enfoque, considera-se a integração do componente do processo de ensino e aprendizagem:
cognitivo e do afetivo, do instrutivo e do educativo como
requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais. a) Aluno - devem responder à pergunta: "quem?"
A concepção defendida aqui é que o processo de ensino e b) Problema - elemento que é determinado a partir da
aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o necessidade do aprendiz.
educativo que tem como propósito essencial contribuir para a c) Objetivo - deve responder à pergunta: "Para que
formação integral da personalidade do aluno. ensinar?"
O instrutivo é um processo de formar homens capazes e d) Conteúdo - deve responder à pergunta: "O que
inteligentes. Entendendo por homem inteligente quando, aprender?"
diante de uma situação problema ele seja capaz de enfrentar e e) Métodos - deve responder à pergunta: "Como
resolver os problemas, de buscar soluções para resolver as desenvolver o processo?"
situações. Ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só f) Recursos - deve responder à pergunta: "Com o quê?"
será possível se ele for formado mediante a utilização de g) Avaliação - elemento regulador, sua realização oferece
atividades lógicas. informação sobre a qualidade do processo de ensino
Já o educativo, se logra com a formação de valores, aprendizagem, sobre a efetividade dos outros componentes e
sentimentos que identificam o homem como ser social, das necessidades de ajuste, modificações que o sistema deve
compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e usufruir.

37 FERNÁNDEZ. Fátima Addine. Didática y optimización del processo de

enseñanzaaprendizaje.IN: Instituto Pedagógico Latinoamericano y Caribeño – La


Havana – Cuba,1998.

Conhecimentos Específicos 28
APOSTILAS OPÇÃO

A integração de todos os componentes forma o sistema, aprendizado organizacional, todas destacando o papel da
neste caso o processo de ensino e aprendizagem. As reflexões mudança e inovação organizacional.
sobre o caráter sistêmico dos componentes do processo de Esta competência para mudar e inovar implica a
ensino e aprendizagem e suas relações são importantes em necessidade de a organização possuir maior expertise.
função do caráter bilateral da comunicação entre professor- Segundo Drucker “as dinâmicas do conhecimento implicam
aluno; aluno-aluno, grupo-professor, professor-professor. num imperativo claro: cada organização precisa embutir o
gerenciamento das mudanças em sua própria estrutura”. É,
O Processo De Aprendizagem Organizacional portanto, responsabilidade de cada organização tornar esta
expertise disponível. Em outras palavras, além das pessoas
A questão da aprendizagem tem sido amplamente estarem forçosamente motivadas a aprender, é papel das
discutida, ocupando um espaço considerável em discussões organizações contribuir e operacionalizar o aprendizado.
educacionais e profissionais da atualidade; porém não se trata
de algo totalmente novo, nem mesmo em ambientes As Abordagens do Processo de Ensino
organizacionais.
As empresas aprendem a operar a produção e vão O Conhecimento humano, dependendo dos diferentes
melhorando os seus processos a partir de suas próprias referencias, é explicado diversamente em sua gênese e
experiências, alimentadas por informações advindas do desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de
mercado e da concorrência. De acordo com Bell (1984)38, este homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de
tipo de aprendizado é passivo, automático e não implica um mesmo referencial, é possível haver abordagens diversas,
custos adicionais, sendo porém limitado. tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do
Há, entretanto, outras formas de aprendizagem, que objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos. Diferentes
exigem determinação e postura ativa, envolvendo posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes
considerável esforço e investimento. São os processos de arranjos de situações ensino aprendizagem e diferentes ações
aprendizagem por meio da mudança, da análise do educativas em sala de aula, partindo-se do pressuposto de que
desempenho, do treinamento, da contratação e da busca, a ação educativa exercida por professores em situações
detalhados a seguir: planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional.
Subjacente a esta ação, estaria presente - implícita ou
a) A introdução de novas tecnologias ou qualquer outro explicitamente, de forma articulada ou não - um referencial
elemento que aponte a necessidade de mudança, estrutural ou teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo,
processual, impele as organizações à aprendizagem. As sociedade, cultura, conhecimento, etc.
experiências e conhecimentos, positivos ou negativos, O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas,
adquiridos ao longo de processos de mudança são tendências ou abordagens, no ensino brasileiro podem
extremamente enriquecedores, conferindo à organização um fornecer diretrizes à ação docente, mesmo considerando que a
plus que todos os processos de aprendizagem oferecem. elaboração que cada professor faz delas é individual e
b) A análise do desempenho da organização em termos intransferível. De acordo com Mizukami (1986)39, algumas
produtivos também irá conduzir à aprendizagem, não só em abordagens apresentam claro referencial filosófico e
função da apreciação do comportamento de determinados psicológico, ao passo que outras são intuitivas ou
índices que indicarão a necessidade de manutenção do fundamentadas na prática, ou na imitação de modelos. A
processo produtivo ou sua correção, mas também como complexidade da realidade educacional deve ser considerada
decorrência da necessidade de se buscarem índices de para não ser tratada de forma simplista e reducionista.
desempenho confiáveis e expressivos. Nesse estudo, deve-se ter em mente seu caráter parcial e
arbitrário, assim como as limitações e problemas decorrentes
O Contexto Organizacional Atual e o Imperativo de da delimitação e caracterização (necessárias) de cada
uma Nova Dinâmica de Aprendizagem abordagem. A professora assim, não incluiu em seus estudos a
abordagem escola novista, introduzida no Brasil através do
De fato, as tendências do mundo atual têm influenciado as Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (Anísio Teixeira,
organizações na busca da aprendizagem. A rápida Gustavo Capanema e outros), a partir da década de 1930. Ela
disseminação de informações e a própria renovação do justifica sua opção por considerar que essa abordagem pode
conhecimento, impulsionadas pelo avanço constante da ser tomada como didaticista, por suas atribuições aos aspectos
ciência e da tecnologia, têm forçado as pessoas a renovar e a didáticos, e por possuir diretrizes incluídas em outras
adquirir novos conhecimentos, sob pena de se tornarem abordagens. Argumenta ainda que, as demais abordagens,
obsoletas. apresentadas por ela, apresentam justificativas teóricas ou
A necessidade de aquisição e renovação dos evidências empíricas. Mas reconhece que se trata de uma
conhecimentos é percebida de modo individual e também abordagem com possível influência na formação de
organizacional. As pessoas estão dispostas a desenvolver e professores no Brasil.
aumentar seus estoques de conhecimento, porque percebem
as potenciais ameaças do ambiente sobre a passividade a) Abordagem Tradicional
intelectual, abalando principalmente questões de segurança Trata-se de uma concepção e uma prática educacionais que
profissional. persistem no tempo, em suas diferentes formas, e que
As organizações precisam de capacidade criativa e de passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as
competências para se tornarem mais ágeis. Não só em termos demais abordagens que a ela se seguiram. Como se sabe, o
de capacidade de resposta às mudanças, mas também em adulto, na concepção tradicional, é considerado como homem
termos de capacidade para estar à frente delas. acabado, "pronto" e o aluno um "adulto em miniatura", que
Baseados na necessidade de transformar as organizações precisa ser atualizado. O ensino será centrado no professor. O
em organizações de aprendizagem, uma série de autores, aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por
recomendam diferentes práticas para a promoção do autoridades exteriores.

38 ALPERSTEDT, Cristiane. Universidades corporativas: discussão e proposta 39 MIZUKAMI, Maria da Graça. Ensino as abordagens do processo. São Paulo:

de uma definição. Rev. adm. Contemp. Curitiba, v. 5, Dec. 2001. EPU, 1986.

Conhecimentos Específicos 29
APOSTILAS OPÇÃO

- Homem: o homem é considerado como inserido num apresenta, com frequência, compreensão apenas parcial.
mundo que irá conhecer através de informações que lhe serão Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se
fornecidas. É um receptor passivo até que, repleto das preocupa mais com a variedade e quantidade de
informações necessárias, pode repeti-las a outros que ainda noções/conceitos/informações que com a formação do
não as possuam, assim como pode ser eficiente em sua pensamento reflexivo.
profissão, quando de posse dessas informações e conteúdos. - Professor/Aluno: o professor/aluno é vertical, sendo
- Mundo: a realidade é algo que será transmitido ao que (o professor) detém o poder decisório quanto a
indivíduo principalmente pelo processo de educação formal, metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula
além de outras agências, tais como família, Igreja. etc. O professor detém os meios coletivos de expressão. A
- Sociedade/Cultura: o objetivo educacional maior parte dos exercícios de controle e dos de exames se
normalmente se encontra intimamente relacionado aos orienta para a reiteração dos dados e informações
valores apregoados pela sociedade na qual se realiza. Os anteriormente fornecidos pelos manuais.
Programas exprimem os níveis culturais a serem adquiridos - Metodologia: se baseia na aula expositiva e nas
na trajetória da educação formal. A reprovação do aluno passa demonstrações do professor a classe, tomada quase como
a ser necessária quando o mínimo cultural para aquela faixa auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se
não foi atingido, e as provas e exames são necessários a limita exclusivamente a escutá-lo a didática profissional quase
constatação de que este mínimo exigido para cada série foi que poderia ser resumida em dar a lição e tomar a lição. No
adquirido pelo aluno. O diploma pode ser tomado como um método expositivo como atividade normal, está implícito o
instrumento de hierarquização. Dessa forma, o diploma iria relacionamento professor - aluno, o professor é o agente e o
desempenhar um papel mediador entre a formação cultural e aluno é o ouvinte. O trabalho continua mesmo sem a
o exercício de funções sociais determinadas. Pode-se afirmar compreensão do aluno somente uma verificação a posteriori é
que as tendências englobadas por esse tipo de abordagem que permitirá o professor tomar consciência deste fato.
possuem uma visão individualista do processo educacional, Quanto ao atendimento individual há dificuldades, pois, a
não possibilitando, na maioria das vezes, trabalhos de classe fica isolada e a tendência é de se tratar todos
cooperação nos quais o futuro cidadão possa experimentar a igualmente.
convergência de esforços. - Avaliação: a avaliação visa a exatidão da reprodução do
- Conhecimento: parte-se do pressuposto de que a conteúdo comunicado em sala de aula. As notas obtidas
inteligência seja uma faculdade capaz de acumular/armazenar funcionam na sociedade como níveis de aquisição do
informações. Aos alunos são apresentados somente os patrimônio cultural.
resultados desse processo, para que sejam armazenados.
Evidencia-se o caráter cumulativo do conhecimento humano, b) Abordagem Comportamentalista
adquirido pelo indivíduo por meio de transmissão, de onde se O conhecimento é uma "descoberta" e é nova para o
supõe o papel importante da educação formal e da instituição indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se
escola. Atribui-se ao sujeito um papel insignificante na encontrava presente na realidade exterior. Os
elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que comportamentalistas consideram a experiência ou a
está "adquirindo" conhecimento compete memorizar experimentação planejada como a base do conhecimento, o
definições, anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são conhecimento é o resultado direto da experiência.
oferecidos no processo de educação formal. - Homem: o homem é uma consequência das influências
- Educação: entendida como instrução, caracterizada ou forças existentes no meio ambiente a hipótese de que o
como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da homem não é livre é absolutamente necessária para se poder
escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar, aplicar um método científico no campo das ciências. O homem
e em condições favoráveis, há uma confrontação com o dentro desse referencial é considerado como o produto de um
modelo, é indispensável uma intervenção do professor, uma processo evolutivo.
orientação do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias - Mundo: a realidade para Skinner, é um fenômeno
selecionadas e organizadas logicamente. objetivo; O mundo já é construído e o homem é produto do
- Escola: a escola, é o lugar por excelência onde se realiza meio. O meio pode ser manipulado. O comportamento, por sua
a educação, a qual se restringe, a um processo de transmissão vez, pode ser mudado modificando-se as condições das quais
de informações em sala de aula e funciona como uma agência ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos
sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato de ambientais. O meio seleciona.
aprender como uma cerimônia e acha necessário que o - Sociedade/Cultura: a sociedade ideal, para Skinner, é
professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola desse aquela que implicarias um planejamento social e cultural.
tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado de
programas preestabelecidos. As possibilidades de cooperação acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultura, é
entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte representada pelos usos e costumes dominantes, pelos
das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual comportamentos que se mantém através dos tempos.
de cada um deles. - Conhecimento: o conhecimento é o resultado direto da
- Ensino/Aprendizagem: a ênfase é dada às situações de experiência, o comportamento é estruturado indutivamente,
sala de aula, onde os alunos são "instruídos" e "ensinados" pelo via experiência.
professor. Os conteúdos e as informações têm de ser - Educação: a educação está intimamente ligada à
adquiridos, os modelos imitados. Seus elementos transmissão cultural. A educação, pois, deverá transmitir
fundamentais são imagens estáticas que progressivamente conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas
serão "impressas" nos alunos, cópias de modelos do exterior sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação
que serão gravadas nas mentes individuais. Uma das e controle do mundo /ambiente.
decorrências do ensino tradicional, já que a aprendizagem - Escola: a escola é considerada e aceita como uma agência
consiste em aquisição de informações e demonstrações educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de
transmitidas, é a que propicia a formação de reações acordo com os comportamentos que pretende instalar e
estereotipadas, de automatismos denominados hábitos, manter.
geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase - Ensino/Aprendizagem: é uma mudança relativamente
sempre, somente às situações idênticas em que foram permanente em uma tendência comportamental e ou na vida
adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu" mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada.

Conhecimentos Específicos 30
APOSTILAS OPÇÃO

- Professor/Aluno: aso educandos caberia o controle do facilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em contato
processo de aprendizagem, um controle científico da com problemas vitais que tenham repercussão na existência
educação, o professor teria a responsabilidade de planejar e do estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno
desenvolver o sistema de ensino aprendizagem, de forma tal tal como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
que o desempenho do aluno seja maximizado, considerando- aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a
se igualmente fatores tais como economia de tempo, esforços aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do
e custos. professor podem ser sintetizadas em autenticidade
- Metodologia: nessa abordagem, se incluem tanto a compreensão empática, aceitação e confiança no aluno.
aplicação da tecnologia educacional e estratégias de ensino, - Metodologia: não se enfatiza técnica ou método para
quanto formas de reforço no relacionamento professor-aluno. facilitar a aprendizagem. Cada educador eficiente deve
- Avaliação: decorrente do pressuposto de que o aluno elaborar a sua forma de facilitar a aprendizagem no que se
progride em seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem refere ao que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a
cometer erros, a avaliação consiste, nesta abordagem, em se relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
quando o programa foi conduzido até o final de forma - Avaliação: só o indivíduo pode conhecer realmente sua
adequada. experiência, só pode ser julgada a partir de critérios internos
do organismo. O aluno deverá assumir formas de controle de
c) Abordagem Humanista sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujeito como onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com
principal elaborador do conhecimento humano. Da ênfase ao responsabilidade. As relações verticais impostas por relações
crescimento que dela se resulta, centrado no desenvolvimento EU - TU e nunca EU - ISTO; as avaliações de acordo com
da personalidade do indivíduo na sua capacidade de atuar padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos.
como uma pessoa integrada. O professor em si não transmite Considerando-se, pois, o fato de que só o indivíduo pode
o conteúdo, dá assistência sendo facilitador da aprendizagem. conhecer realmente a sua experiência, está só pode ser julgada
O conteúdo advém das próprias experiências do aluno o a partir de critérios internos do organismo.
professor não ensina: apenas cria condições para que os
alunos aprendam. d) Abordagem Cognitivista
- Homem: é considerado como uma pessoa situada no A organização do conhecimento, processamento de
mundo. Não existem modelos prontos nem regras a seguir, informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
mas um processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
auto realização ou uso pleno de suas potencialidades e - Homem/Mundo: o homem e mundo serão analisados
capacidades o homem se apresenta como um projeto conjuntamente, já que o conhecimento é o produto da
permanente e mau acabado. interação entre eles, entre sujeito e objeto.
- Mundo: o mundo é algo produzido pelo homem diante de - Sociedade/Cultura: os fatos sociológicos, pois, tais como
si mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias regras, valores, normas, símbolos etc. De acordo com este
condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste posicionamento, variam de grupo para grupo, de acordo como
no pleno desenvolvimento do seu potencial inerente. A ênfase o nível mental médio das pessoas que constituem o grupo.
é no sujeito mais uma das condições necessárias para o - Conhecimento: o conhecimento é considerado como
desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência uma construção contínua. A passagem de um estado de
pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decorrer desenvolvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída ao formação de novas estruturas que não existiam anteriormente
sujeito papel central e primordial na elaboração e criação do no indivíduo.
conhecimento. O conhecimento é inerente à atividade humana. - Educação: o processo educacional, consoante a teoria de
O ser humano tem curiosidade natural para o conhecimento. desenvolvimento e conhecimento, tem um papel importante,
- Educação: trata-se da educação centrada na pessoa, já ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o
que nessa abordagem o ensino será centrado no aluno. A aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível de
educação tem como finalidade primeira a criação de condições desenvolvimento em que a criança vive intensamente
que facilitam a aprendizagem de forma que seja possível seu (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu
desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a desenvolvimento.
criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se - Escola: segundo Piaget, a escola deveria começar
pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeterminação ensinando a criança a observar. A verdadeira causa dos
que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão fracassos da educação formal, diz, decorre essencialmente do
de solução para seus problemas servindo-se da própria fato de se principiar pela linguagem (acompanhada de
existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser desenhos, de ações fictícias ou narradas etc.) ao invés de o
do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são fazer pela ação real e material.
características desse processo. - Ensino/Aprendizagem: um ensino que procura
- Escola: a escola será uma escola que respeite a criança tal desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do
qual é, que ofereça condições para que ela possa desenvolver- sujeito, considerando-o inserido numa situação social.
se em seu processo possibilitando a autonomia do aluno. O - Professor/Aluno: ambos os polos da relação devem ser
princípio básico consiste na ideia da não interferência com o compreendidos de forma diferente da convencional, no
crescimento da criança e de nenhuma pressão sobre ela. O sentido de um transmissor e um receptor de informação.
ensino numa abordagem como esta consiste num produto de Caberá ao professor criar situações, propiciando condições
personalidades únicas, respondendo as circunstâncias únicas onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e
num tipo especial de relacionamentos. A aprendizagem tem a cooperação ao mesmo tempo moral e racional.
qualidade de um envolvimento pessoal. - Metodologia: o desenvolvimento humano que traz
- Professor/Aluno: cada professor desenvolverá seu implicações para o ensino. Uma das implicações fundamentais
próprio repertório de uma forma única, decorrente da base é a de que a inteligência se constrói a partir da troca do
percentual de seu comportamento. O processo de ensino irá organismo como o meio, por meio das ações do indivíduo. A
depender do caráter individual do professor, como ele se ação do indivíduo, pois, é centro do processo e o fator social ou
relaciona com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de educativo constitui uma condição de desenvolvimento.

Conhecimentos Específicos 31
APOSTILAS OPÇÃO

- Avaliação: a avaliação terá de ser realizada a partir de Mizukami ainda critica a formação de professores
parâmetros extraídos da própria teoria e implicará verificar se colocando que o aprendido pelos professores nada tinha a ver
o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações, com a prática pedagógica e seu posicionamento frente ao
relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo fenômeno educacional. A experiência pessoal refletiria um
como a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida. comportamento coerente por parte do educador, pondo fim
assim ao permanente processo de discussão entre teoria e
e) Abordagem Sócio Cultural prática. Uma possível solução seria repensar os cursos de
Pode-se situar Paulo Freire com sua obra, enfatizando formação de professores, voltando as atenções principalmente
aspectos sócio-político-cultural, havendo uma grande para as disciplinas pedagógicas que analisam as abordagens
preocupação com a cultura popular, sendo que tal do processo ensino aprendizagem, procurando articulá-los à
preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um aumento prática pedagógica. Também é discutida uma forma de
crescente até nossos dias. aproximar cada vez mais as opções teóricas existentes
- Homem/Mundo: O homem está inserido no contexto analisando e discutindo as vivências na prática e a partir da
histórico. O homem é sujeito da educação, onde a ação prática, se pudesse discutir e criticar as opções teóricas
educativa promove o próprio indivíduo, como sendo único confrontando com a mesma prática. É tentar criar teorias
dentro de uma sociedade/ambiente. através da prática, analisando o cotidiano e questionando,
- Sociedade/Cultura: O homem alienado não se relaciona evitando-se assim a utilização de Receituários pedagógicos,
com a realidade objetivo, como um verdadeiro sujeito que é o que a autora chama de seguir cegamente a teoria
pensante: o pensamento é dissociado da ação. ignorando a prática.
- Conhecimento: A elaboração e o desenvolvimento do Um curso de professores deveria possibilitar confronto
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização. entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus
- Educação: Toda ação educativa, para que seja válida, pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste e
deve, necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro
sobre o homem como de uma análise do meio de vida desse professor a análise do próprio fazer pedagógico, de suas
homem concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. implicações, pressupostos e determinantes, no sentido de que
- Escola: Deve ser um local onde seja possível o ele se conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente.
conscientização o que indica uma escola diferente de que se Alguns dados revelam que são preferidas pelos
tem atualmente, coma seus currículos e prioridades. professores as abordagens cognitivista e sociocultural
- Ensino/Aprendizagem: Situação de ensino- deixando as abordagens tradicional e comportamentalista em
aprendizagem deverá procurar a superação da relação segundo plano. E também que a abordagem que mais faz
opressor-oprimido. A estrutura de pensar do oprimido está sucesso neste momento histórico é a cognitivista. Na
condicionada pela contradição vivida na situação concreta, abordagem cognitivista piagetiana e a preferida pelos
existencial em que o oprimido se forma. Resultando professores, desde que o aluno se encontre em um ambiente
consequências tais como: que o solicite devidamente, e que tenha sido constatada a
a) ser ideal é ser mais homem. ausência de distúrbios biológicos ligados
b) atitude fatalista preponderantemente à atividade cerebral, ele terá condições
c) atitude de auto desvalia de chegar ao estágio das operações formais. Não se justificam
d) o medo da liberdade ou a submissão do oprimido. nem se legitimam, por esta abordagem, desigualdades
- Professor/Aluno: A relação entre o professor e o aluno baseadas nas potencialidades de cada um, tal como poderia
é horizontal. Professor empenhado na prática transformadora decorrer dos princípios escola novistas. Estaria neste detalhe,
procurará desmitificar e questionar, junto com o aluno. talvez de grande importância, já que o determinismo biológico
- Metodologia: Os alunos recebem informações e analisam age mais em função de determinar desenvolvimento, do que
os aspectos de sua própria experiência existencial, utilizando de determinar máximos de desenvolvimento para cada sujeito,
situações vivenciais de grupo, em forma de debate Paulo Freire a ideia que despertaria maior interesse para um trabalho
delineou seu método de alfabetização. realizado por um profissional com as idiossincrasias de um
Características: educador.
a) ser ativa De forma genérica tanto o cognitivismo, humanismo e
b) criar um conteúdo pragmático próprio comportamentalismo apresentam aspectos escola novistas
c) enfatiza o diálogo crítico que os colocam contra a escola tradicional. Um outro elemento
a ser considerado é a ligação entre o desenvolvimento
As Abordagens do Processo de Ensino, Aprendizagem intelectual e os ideais apregoados pelo ensino tradicional
e o Professor elaborado através dos séculos. Concluindo, de todas as
abordagens analisadas obteve-se quase plenamente
Segundo Mizukami, a partir de análises feitas sobre as preferência dos professores pela abordagem cognitivista por
diferentes abordagens do processo ensino aprendizagem que esta abordagem se baseia numa teoria de
pôde-se constatar que certas linhas teóricas são mais desenvolvimento em grande parte válida, e também a
explicativas sobre alguns aspectos em relação a outros, abordagem sociocultural que complementa o
percebendo-se assim a possibilidade de articulação das desenvolvimento humano e genético com aspectos
diversas propostas de explicação do fenômeno educacional. socioculturais e personalistas. Sendo que a abordagem
Ela procura fazer uma sistematização válida de conceitos do sociocultural está impregnada de aspectos humanistas
fenômeno estudado. Mesmo com teorias incompletas por característicos das primeiras obras de Paulo Freire. O ideário
estarem ainda em fase de elaboração ou reelaboração, faltando pedagógico de alguns professores não segue nenhuma das
validação empírica ou confronto com o real. Lembrando ainda abordagens, e são classificados como tendência indefinida
as teorias não são as únicas fontes de resposta possíveis e dentre as demais abordagens.
incorrigíveis, pois (...) elas são elaboradas para explicar, de
forma sistemática, determinados fenômenos, e os dados do
real é que irão fornecer o critério para a sua aceitação ou não,
instalando-se, assim, um processo de discussão permanente
entre teoria e prática.

Conhecimentos Específicos 32
APOSTILAS OPÇÃO

A Educação para além do Capital sentido da mudança educacional radical não pode ser senão o
rasgar da camisa de força da lógica incorrigível do sistema”.
A educação para além do capital é um texto publicado a A persecução de estratégias de rompimento com o
partir da conferência pronunciada por István Mészáros40, por controle exercido pelo capital é explicitada na segunda seção
ocasião da abertura do Fórum Mundial de Educação, realizado do texto com a defesa de que as soluções devem ser buscadas
em Junho de 2004, em Porto Alegre. não apenas na dimensão formal, mas no que é essencial. O
O texto, partindo de três epígrafes atribuídas pelo autor a autor reconhece que a educação institucionalizada serviu, nos
Paracelso, pensador do Século XVI, a José Martí, político, poeta últimos 150 anos para fornecer condições técnicas e humanas
e pensador cubano, e a Marx, em Teses sobre Feuerbach, traz à expansão do capital, ao mesmo tempo em que contribuiu
a análise com vistas à urgente necessidade de se instituir uma para instalar valores que legitimam os interesses dominantes
mudança que nos leve para além do capital, “no sentido e que negam alternativas possíveis a esse modelo.
genuíno e educacionalmente viável do termo”. Distanciando-se de uma posição reprodutivista, assim advoga
O exame discute as relações íntimas entre processos que não basta simplesmente reformar o sistema escolar formal
educacionais e processos sociais amplos de reprodução do estabelecido, porque isso traduziria apenas uma mudança
capital em quatro aspectos básicos: Primeiro, no embate institucional isolada. “O que precisa ser confrontado é todo o
entre os parâmetros estruturais do capital - que se colocam sistema de internalização, com todas as suas dimensões,
com uma lógica irreversível e incontestável - e a necessidade visíveis e ocultas”. A internalização, entendida como o esforço
de romper com essa lógica para a criação de uma alternativa do capital em fazer com que cada indivíduo incorpore como
educacional diferente, mediante a natureza irreformável do suas as metas de reprodução do sistema, legitimando sua
capital como totalidade reguladora sistêmica; Segundo, na posição na hierarquia social e conformando suas expectativas
clareza de que as possíveis soluções não podem ser formais, e sua conduta ao estipulado pela ordem estabelecida, insere-
apenas como alterações superficiais, mas devem atingir o se como instrumento que conforma a totalidade das práticas
patamar de mudança essencial, abarcando a totalidade das sociais, entre elas, a educação, ao interesse do capital.
práticas educacionais da sociedade e seus processos de Romper com a lógica do capital na área de educação
internalização dos parâmetros reprodutivos gerais do sistema equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e
do capital; Terceiro, na compreensão de que apenas uma profundamente enraizadas de internalização mistificadora
ampla concepção de educação pode assegurar a luta pelo por uma alternativa concreta abrangente42.
objetivo de mudança radical requerida e a aquisição de A tarefa acima requerida aparece na terceira seção,
instrumentos de pressão capazes de provocar o rompimento condicionada ao fortalecimento de uma concepção de
com a lógica mistificadora do capital; Quarto, na defesa de que educação ampla e mais profunda, nos moldes de Paracelso,
o papel da educação é estratégico tanto para a mudança das vendo a “aprendizagem como nossa própria vida”.
condições objetivas de reprodução quanto para a auto Neste rumo, o autor se coloca, a exemplo de Gramsci,
mudança dos indivíduos envolvidos na luta pela construção de contra a visão tendenciosamente elitista e estreita de educação
uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente. que pleiteia o domínio da instituição educacional formal como
Na primeira seção do texto, evidencia-se a ideia de que as único espaço de educação e define a educação e a atividade
reformulações que possam acontecer na educação são intelectual como possibilidade apenas dos que são designados
inconcebíveis sem a transformação também no quadro social. para “educar” e para governar, em detrimento da maioria, à
O autor recusa a noção de reforma que se proponha apenas a qual é reservado o papel de objeto de manipulação. Mészáros
correções marginais, mantendo intactas as estruturas assevera a posição profundamente democrática de Gramsci
fundamentais da sociedade e conformando-se às exigências da como o caminho mais claro para a concepção ampla de
lógica do capital. Para Mészáros, esta modalidade utiliza-se das educação, na qual todo ser humano contribui para a formação
reformas educacionais para apenas remediar os efeitos de uma concepção de mundo ao mesmo tempo em que pode
desastrosos da ordem produtiva, mas não elimina os contribuir para manter ou mudar esta concepção. A educação,
“fundamentos causais e profundamente enraizados”. Para o reconhecida, no seu entendimento amplo, é um processo
autor, “limitar uma mudança educacional radical às margens contínuo de aprendizagem. “Temos de reivindicar uma
corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma educação plena para toda a vida, para que seja possível colocar
só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma em perspectiva a sua parte formal, a fim de instituir, também
transformação social qualitativa”41. aí, uma reforma radical”. A reforma significa, segundo o autor,
Exemplificando: Mészáros examina a experiência de Adam desafiar as formas atualmente dominantes de internalização
Smith, economista político, e de Roberto Owen, reformador existentes no sistema educacional formal, pôr em execução
social educacional utópico. Sobre Smith, atesta que mesmo que urgentemente uma atividade de “contra internalização”
este ilustre iluminista reconheça o impacto negativo do coerente e sustentada na direção da criação de uma alternativa
sistema sobre a classe trabalhadora, sua análise atribuindo ao ao que já existe. Significa que a educação formal precisa
“espírito comercial” a causa do problema é incapaz de se desatar-se do revestimento da lógica do capital e mover-se em
dirigir às causas reais, reduzindo seu esforço de expressar sua direção a práticas educacionais mais abrangentes O bem
preocupação humanitária a um círculo vicioso de apontar sucedido processo de redefinição da tarefa da educação formal
apenas “os efeitos condenados”, dando assim prevalência aos num espírito orientado para a construção de uma alternativa
limites objetivos da lógica do capital. Ao tratar da posição de hegemônica à ordem existente irá contribuir para romper com
Robert Owen, reconhece sua posição de denúncia da a lógica do capital não somente em seu campo, mas em toda a
exploração e instrumentalização do empregado pelo sociedade.
empregador, mas condena no seu discurso - com marcas de No quarto tópico, Mészáros trata a educação como uma
parcialidade, gradualismo e circularidades - sinais de “transcendência positiva da auto alienação do trabalho”. A
conformação aos debilitantes limites do capital. análise atesta as condições desumanizantes da alienação em
Neste caso, Mészáros observa que Owen “não pode escapar que vivemos e afirma que, para a mudança dessa condição,
à auto-imposta camisa de força das determinações causais do exige-se uma intervenção consciente em todos os domínios e
capital”. Numa conclusão ao tópico, o autor lembra que “[...] o níveis da existência individual e social, “em toda a nossa
maneira de ser”. O autor considera que estando na raiz de

40 MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boi 41 Mészàros -A educação para além do capital, 2ª. ed Boitempo, 2008
Tempo Editorial, 2006. 42 Idem 5.

Conhecimentos Específicos 33
APOSTILAS OPÇÃO

todos os tipos de alienação a historicamente revelada permite que o educador se torne educando e a aprendizagem
alienação do trabalho, torna-se possível superar a alienação seja favorecida pela mediação é a:
com a reestruturação radical de nossas condições de vida (A) tradicional
estabelecida até então, já que o processo histórico se constitui (B) humanista
pelo próprio trabalho. Mas isso não pode ser apenas uma (C) comportamentalista
questão de negação. Para Mészáros, “a tarefa histórica que (D) ambientalista
temos de enfrentar é incomensuravelmente maior que a (E) sócio-histórico-cultural
negação do capitalismo”43. Ir para além do capital significa a
realização de uma ordem social metabólica sem nenhuma Gabarito
relação nem ranços com a ordem anteriormente hegemônica.
Por essa razão, 01.Falso / 02.Falso / 03.E
O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração
de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as
condições objetivas de reprodução, como para a auto mudança Noções de Planejamento de
consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de
uma ordem social metabólica radicalmente diferente
Ensino: Objetivos, Conteúdos,
Para esse fim, a universalização da educação e a Estratégias, Recursos e
universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as Avaliação;
quais não pode haver solução para a auto alienação do
trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a
igualdade verdadeira - substancial e não apenas formal - de
PLANEJAMENTO ESCOLAR
todos os seres humanos. Apenas na perspectiva de ir além do
capital essa universalização e igualdade podem ser vistas,
Para Moretto44, planejar é organizar ações (ideias e
porque a educação para além do capital almeja uma ordem
informações). Essa é uma definição simples, mas que mostra
social qualitativamente diferente.
uma dimensão da importância do ato de planejar, uma vez que
No nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do
o planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto do
capital global, época onde se evidencia uma condição histórica
professor como do aluno.
de transição, define-se também um espaço histórico e social
aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de
Gandin45 sugere que se pense no planejamento como uma
planos estratégicos na direção de uma educação para além do
ferramenta para dar eficiência à ação humana, ou seja, deve ser
capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de
utilizado para a organização na tomada de decisões. Para
transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve
melhor entender precisa-se compreender alguns conceitos,
ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as
tais como: planejar, planejamento e planos.
condições cambiantes e as necessidades da transformação
social emancipadora e progressiva em curso.
Libâneo46 diz que o planejamento do trabalho docente é
um processo de racionalização, organização e coordenação da
Questões
ação do professor, tendo as seguintes funções: explicar
princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho; expressar
01. Pode-se afirmar que: “O processo de ensino e
os vínculos entre o posicionamento filosófico, político,
aprendizagem não é uma integração dialética entre o
pedagógico e profissional das ações do professor; assegurar a
instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial
racionalização, organização e coordenação do trabalho; prever
contribuir para a formação integral da personalidade do
objetivos, conteúdos e métodos; assegurar a unidade e a
aluno”.
coerência do trabalho docente; atualizar constantemente o
( ) Verdadeiro ( ) Falso
conteúdo do plano; facilitar a preparação das aulas.
02. Sobre a abordagem comportamentalista, é correto
Planejamento: “É um instrumento direcional de todo o
afirmar que: “A organização do conhecimento, processamento
processo educacional, pois estabelece e determina as grandes
de informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina
comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.”.
todos os recursos e meios necessários para a consecução de
( ) Verdadeiro ( ) Falso
grandes finalidades, metas e objetivos da educação. ”
03. (CEFET/RJ - Pedagogo - CESGRANRIO) O trecho
Plano Nacional de Educação: “Nele se reflete a política
indica amplos desafios para a prática docente. “Um curso de
educacional de um povo, num determinado momento histórico
professores deveria possibilitar confronto entre abordagens,
do país. É o de maior abrangência porque interfere nos
quaisquer que fossem elas, entre seus pressupostos e
planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal. ”
implicações, limites, pontos de contraste e convergência. Ao
mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro professor a
Plano de Curso: “O plano de curso é a sistematização da
análise do próprio fazer pedagógico, de suas implicações,
proposta geral de trabalho do professor naquela determinada
pressupostos e determinantes, no sentido de que ele se
disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser
conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a
interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente”.
disciplina é oferecida. ”
(MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens
do processo. São Paulo: EPU, 1986. p. 109.)
Plano de Aula: “É a sequência de tudo o que vai ser
Sobre as diferentes abordagens pedagógicas, aquela que
desenvolvido em um dia letivo. (...). É a sistematização de todas
considera a relação professor-aluno como não imposta, que
as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que

43 RABELO, C. D. Educação Para Além do Capital. Revista Resenha: A 45 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da

Eletrônica Arma da Crítica. N.º 4. 2012. prática educativa. 2011.


44 MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o 46LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013.

desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Conhecimentos Específicos 34
APOSTILAS OPÇÃO

o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino e de Ela é a execução perfeita de uma tarefa que se realiza. O
aprendizagem. ” carrasco é eficiente quando o condenado morre segundo o
previsto. A telefonista é eficiente quando atende a todos os
Plano de Ensino: “É a previsão dos objetivos e tarefas do chamados e faz, a tempo, todas as ligações. O digitador, quando
trabalho docente para um ano ou um semestre; é um escreve rapidamente (há expectativas fixadas) e não comete
documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos erros.
específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico. ” O planejamento e um plano ajudam a alcançar a eficiência,
isto é, elaboram-se planos, implanta-se um processo de
Projeto Político Pedagógico: “É o planejamento geral que planejamento a fim de que seja benfeito aquilo que se faz
envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a dentro dos limites previstos para aquela execução.
organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da Mas esta não é a mais importante finalidade do
instituição. É um processo de organização e coordenação da planejamento. Ele visa também a eficácia. Os dicionários não
ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o fazem diferença suficiente entre eficácia e eficiência. O melhor
contexto social da escola. É o planejamento que define os fins é não se preocupar com palavras e verificar que o
do trabalho pedagógico.”47. planejamento deve alcançar não só que se faça bem as coisas
que se fazem (chamaremos isso de eficiência), mas que se
Os conceitos apresentados têm por objetivo mostrar para façam as coisas que realmente importa fazer, porque são
o professor a importância, a funcionalidade e principalmente socialmente desejáveis (chamaremos isso de eficácia).
a relação íntima existente entre essas tipologias. A eficácia é atingida quando se escolhem, entre muitas
Segundo Fusari48, “Apesar de os educadores em geral ações possíveis, aqueles que, executadas, levam à consecução
utilizarem, no cotidiano do trabalho, os termos “planejamento” de um fim previamente estabelecido e condizente com aquilo
e “plano” como sinônimos, estes não o são.” em que se crê.
Outro aspecto importante, segundo Schmitz49 é que “as Além destas finalidades do planejamento, Gandin51
denominações variam muito. Basta que fique claro o que se introduz a discussão sobre uma outra, tão significativa quanto
entende por cada um desses planos e como se caracterizam. ” estas, e que dá ao planejamento um status obrigatório em
O que se faz necessário é estar consciente que: todas as atividades humanas: é a compreensão do processo de
planejamento como um processo educativo.
“Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser É evidente que esta finalidade só é alcançada quando o
planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos processo de planejamento é concebido como uma prática que
resultados. E sendo a educação, especialmente a educação sublime a participação, a democracia, a libertação. Então o
escolar, uma atividade sistemática, uma organização da planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica
situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de para o bem-estar do homem e da sociedade.
planejamento muito sério. Não se pode improvisar a educação,
seja ela qual for o seu nível. ” Elementos Constitutivos do Planejamento

Conceito de Planejamento Objetivos e Conteúdos de Ensino: os objetivos


determinam de antemão os resultados esperados do processo
O Planejamento pode ser conceituado como um processo, entre o professor e o aluno, determinam também a gama de
considerando os seguintes aspectos: produção, pesquisa, habilidades e hábitos a serem adquiridos. Já os conteúdos
finanças, recursos humanos, propósitos, objetivos, estratégias, formam a base da instrução.
políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos, A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio de
tempo, unidades organizacionais etc. Desenvolvido para o uma ação intencional e sistemática para oferecer
alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais
eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de para determinação de propósitos definidos e explícitos quanto
esforços e recursos. às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os
O Planejamento também pressupõe a necessidade de um objetivos têm pelo menos três referências fundamentais para
processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua a sua formulação.
elaboração e implementação na escola. Este processo deve - Os valores e ideias ditos na legislação educacional.
conter ao mesmo tempo, os componentes individuais e - Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na história
organizacionais, bem como a ação nesses dois níveis deve ser da humanidade.
orientada de tal maneira que garanta certa confluência de - As necessidades e expectativas da maioria da sociedade.
interesses dos diversos fatores alocados no ambiente escolar.
O processo de planejar envolve, portanto, um modo de Métodos e Estratégias: o método por sua vez é a forma
pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e com que estes objetivos e conteúdos serão ministrados na
indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer, prática ao aluno. Cabe aos métodos dinamizar as condições e
como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde. modos de realização do ensino. Refere-se aos meios utilizados
É um processo de estabelecimento de um estado futuro pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo
desejado e um delineamento dos meios efetivos de torna-lo com cada atividade e os resultados esperados.
realidade justifica que ele antecede à decisão e à ação. As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto,
há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele
Finalidade - Para que Planejar?50 momento com o processo de ensino e de aprendizagem. Por
isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os
A primeira coisa que nos vem à mente quando sujeitos envolvidos - professores e alunos.
perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência.

47 MEC - Ministério da Educação e Cultura. Trabalhando com a Educação de 49 SCHMITZ, Egídio. Fundamentos da Didática. 7ª Ed. São Leopoldo, RS:

Jovens e Adultos - Avaliação e Planejamento - Caderno 4 - SECAD - Secretaria de Editora Unisinos, 2000.
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2006. 50 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:
48 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas Edições Loyola, 2013.
indagações e tentativas de respostas.1990. 51 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da

prática educativa. 2011.

Conhecimentos Específicos 35
APOSTILAS OPÇÃO

Multimídia Educativa: a multimídia educativa é uma No caso do Planejamento Educacional, essa distinção é
estratégia de ensino e de aprendizagem que pode ser utilizada interessante, pois foi preciso um longo período de maturação
por estudantes e professores. É imperativa a importância das para que se formulasse de forma explícita a necessidade
multimídias educativas com uso da informática no processo nacional de uma política de educação e de um plano para
educativo como uma ferramenta auxiliar na educação. programá-la. A revolução de 30 foi o desfecho das crises
políticas e econômicas que agitaram profundamente a década
Avaliação Educacional: é uma tarefa didática necessária e de 20, compondo-se assim, um quadro histórico propício à
permanente no trabalho do professor, deve acompanhar todos transformação da Educação no Brasil.
os passos do processo de ensino e de aprendizagem. É através Em 1932, um grupo de educadores conseguiu captar o
dela que vão sendo comparados os resultados obtidos no anseio coletivo e lançou um manifesto ao povo e ao governo
decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da
conforme os objetivos propostos, a fim de verificar progressos, Educação Nova”, que extravasava o entusiasmo pela Educação.
dificuldades e orientar o trabalho para as correções O manifesto era ao mesmo tempo uma denúncia uma exigência
necessárias. de uma política educacional consistente e, um plano científico
A avaliação insere-se não só nas funções didáticas, mas para executá-la, livrando a ação educativa do empirismo e da
também na própria dinâmica e estrutura do Processo de descontinuidade. O mesmo teve tanta repercussão e motivou
Ensino e de Aprendizagem. uma campanha que repercutiu na Assembleia Constituinte de
1934.
Planejamento e Políticas de Educação no Brasil De acordo com a Constituição de 34, o conselho Nacional
de Educação elaborou e enviou, em maio de 37, um
A formação da Educação Brasileira inicia-se com a anteprojeto do Plano de Educação Nacional, mas com a
Companhia de Jesus, em 1549, com o trabalho dos Jesuítas: chegada do estado Novo, o mesmo nem chegou a ser discutido.
suas escolas de primeiras letras, colégios e seminários, até os Sendo assim, mesmo que a ideia de plano nacional de
dias atuais. Nesse primeiro momento, a educação não foi um educação fosse um fruto do manifesto e das campanhas que se
problema que emergisse como um assunto Nacional, no seguiram, o Plano 37 era uma negação das teses defendidas
entanto, tenha sido um dos aspectos das tensões constantes pelos educadores ligados àqueles movimentos. Totalmente
entre a Ordem dos Jesuítas e a Coroa Portuguesa, que mais centralizador, o mesmo pretendia ordenar em minúcias toda a
tarde, levou à expulsão dos mesmos em 1759. A expulsão dos educação nacional. Tudo estava regulamentado ao plano,
jesuítas criou um vazio escolar. A insuficiência de recursos e desde o ensino pré-primário ao ensino superior; os currículos
escassez de mestres desarticulou o trabalho educativo no País, eram estabelecidos e até mesmo o número de provas e os
com repercussões que se estenderam até o período imperial. critérios de avaliação.
Com a vinda da Família Imperial, a educação brasileira
toma um novo impulso, principalmente com a criação dos No entanto, os dois primeiros artigos dos 504 que
cursos superiores, no entanto a educação popular foi relegada compuseram o Plano de 37, chamam atenção, no que se refere
em segundo plano. Com a reforma constitucional de 1834, as ao Planejamento Educacional a nível nacional, atualmente:
responsabilidades da educação popular foram
descentralizadas, deixando-as às províncias e reservando à Art. 1°- O Plano Nacional de Educação, código da educação
Corte a competência sobre o ensino médio e superior. nacional, é o conjunto de princípios e normas adotados por
Nesse período, a situação continuou a mesma: escassez de esta lei para servirem de base à organização e funcionamento
escolas e de professores na educação básica. Com a educação das instituições educativas, escolares e extraescolares,
média e superior, prevaleceram às aulas avulsas destinadas mantidas no território nacional pelos poderes públicos ou por
apenas às classes mais abastadas. particulares.
A Proclamação da República, também não alterou Art. 2°- Este Plano só poderá ser revisto após vigência de
significativamente a ordenação legal da Educação Brasileira, dez anos.
foi preciso esperar até a década de 20 para que, o debate
educacional ganhasse um espaço social mais amplo. Nesta Nesses artigos, há três pontos os quais convém destacar,
época, as questões educacionais deixaram de ser temas pois repercutiram e persistiram em parte, em iniciativas e leis
isolados para se tornarem um problema nacional. Várias posteriores:
tentativas de reforma ocorreram em vários estados; iniciou-se - O Plano de Educação identifica-se com as diretrizes da
uma efetiva profissionalização do magistério e novos modelos Educação Nacional;
pedagógicos começaram a ser discutidos e introduzidos na - O Plano deve ser fixado por Lei;
escola. - O Plano só poderá ser revisto após uma vigência
prolongada.
Surgimento do Plano de Educação
Segundo Kuenzer52 “o planejamento de educação também
A primeira experiência de planejamento governamental no é estabelecido a partir das regras e relações da produção
Brasil foi executada no governo de Juscelino Kubitschek com capitalista, herdando, portanto, as formas, os fins, as
seu Plano de Metas (1956/61). Antes, os chamados planos que capacidades e os domínios do capitalismo monopolista do
se sucederam desde 1940, foram diagnósticos que tentavam Estado.”
racionalizar o orçamento. Neste processo de planejamento Aqui no Brasil, Padilha53 explica que “Durante o regime
convém distinguir três fases: autoritário, eles foram utilizados com um sentido autocrático.
- A decisão de planejar; Toda decisão política era centralizada e justificada
- O plano em si; e tecnicamente por tecnocratas à sombra do poder.” Kuenzer
- A implantação do plano. complementa a citação acima explicando que “A ideologia do
Planejamento então oferecida a todos, no entanto, escondia
A primeira e a última fase são políticas e a segunda é um essas determinações político-econômicas mais abrangentes e
assunto estritamente técnico. decididas em restritos centros de poder.”

52 KUENZER, Acácia Zeneida, CALAZANS, M. Julieta C., GARCIA, Walter. 53 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto

Planejamento e educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Específicos 36
APOSTILAS OPÇÃO

O regime autoritário fez com que muitos educadores Educação Brasileira, pois novamente foi consagrada a ideia de
criassem uma resistência com relação à elaboração de planos, plano como distribuição de recursos.
uma vez que esses planos eram supervisionados ou Após a iniciativa pioneira de 1962 e suas revisões,
elaborados por técnicos que delimitavam o que o professor sucedem-se, em trinta anos, cerca de dez planos. Em um
deveria ensinar, priorizando as necessidades do regime estudo realizado nessa área até 1989, conclui-se que essa
político. “Num regime político de contenção, o planejamento sucessão de planos que são elaboradas, parcialmente
passa a ser bandeira altamente eficaz para o controle e executadas, revista e abandonada, refletem os males gerais da
ordenamento de todo o sistema educativo.” administração pública brasileira. A educação, realmente não
era prioritária para os governos. As coordenadas da ação
Apesar de se ter claro a importância do planejamento na governamental no setor ficavam bloqueadas ou dificultadas
formação, Fusari54 explica que: pela falta de uma integração ministerial.
“Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implantava a Em consequência disso e de outras razões, sobretudo
repressão, impedindo rapidamente que um trabalho mais crítico políticas, o panorama da experiência brasileira de
e reflexivo, no qual as relações entre educação e sociedade planejamento educacional é um quadro de descontinuidades
pudessem ser problematizadas, fosse vivenciada pelos administrativas, que, fez dessa experiência um conjunto
educadores, criando, assim, um “terreno” propício para o avanço fragmentado de incoerentes iniciativas governamentais que
daquela que foi denominada ‘tendência tecnicista’ da educação nunca foram mais do que esquemas distributivos de recursos.
escolar.” Com esta visão podemos compreender o “porquê” do caos
Mas não se pode pensar que o regime político era o único educacional em nosso país. Desde há muito a educação foi
fator que influenciava no pensamento com relação à relegada ao final das filas. O povo foi passando de governo em
elaboração dos planos de aulas; as teorias da administração governo sem perceber as perdas que lhe trariam o atraso
também refletiam no ato de planejar do professor, uma vez educacional.
que essas teorias traziam conceitos que iriam auxiliar na
definição do tipo de organização educacional que seria Níveis de Planejamento
adotado por uma determinada instituição.
No início da história da humanidade, o planejamento era Na esfera educacional o processo de planejamento ocorre
utilizado sem que as pessoas percebessem sua importância, em diversos níveis, segundo a magnitude da ação que se tem
porém com a evolução da vida humana, principalmente no em vista realizar. O planejamento educacional é o mais amplo,
setor industrial e comercial, houve a necessidade de adaptá-lo geral e abrangente. Prevê a estruturação e o funcionamento da
para os diversos setores. totalidade do sistema educacional. Determina as diretrizes da
Nas escolas ele também era muito utilizado; a princípio, o política nacional de educação.
planejamento era uma maneira de controlar a ação dos
professores de modo a não interferir no regime político da
época. Hoje o planejamento já não tem a função reguladora
dentro das escolas, ele serve como uma ferramenta
importantíssima para organizar e subsidiar o trabalho do
professor.

Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Após o anteprojeto de Plano de 37, a ideia de um Plano


Nacional de Educação permaneceu sem efeito até 1962,
quando foi elaborado e efetivamente instituído o primeiro
Plano Nacional governamental. No entanto, no Plano de Metas
de Kubitschek, a educação era a meta número 30.
O setor de educação entrou no conjunto do Plano de metas
pressionado pela compreensão de que a falta de recursos
humanos qualificados poderia ser um dos pontos de A seguir, temos o planejamento Escolar e depois o
estrangulamento do desenvolvimento do país. Curricular, que está intimamente relacionado às prioridades
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assentadas no planejamento educacional. Sua função é
(LDB) acabou surgindo com a Lei n° 4.024 de 1961, no entanto, traduzir, em termos mais próximos e concretos, as linhas-
vale ressaltar a concepção do que deveria ser uma LDB. mestras de ação delineadas no planejamento imediatamente
Segundo o Relatório Geral da Comissão: superior, através de seus objetivos e metas. Constitui o
esquema normativo que serve de base para definir e
Diretriz é uma linha de orientação, norma de conduta, particularizar a linha de ação proposta pela escola. Permite a
"Base" é a superfície de apoio, fundamento. Aquela indica a inter-relação entre a escola e a comunidade.
direção geral a seguir, não às minudências do caminho. Significa Logo após, temos o planejamento de ensino, que parte
também o alicerce do edifício, não o próprio edifício sobre o qual sempre de pontos referenciais estabelecidos no planejamento
o alicerce está construído. A lei de Diretrizes e Bases conterá curricular. Temos, em essência, neste tipo de planejamento,
somente os preceitos genéricos e fundamentais. dimensões:
- Filosófica, que explicita os objetivos da escola;
No entanto, a LDB de 61, distanciou-se muito da clareza e - Psicológica, que indica a fase de desenvolvimento do
da sensatez do anteprojeto original, e a lei que sucedeu e aluno, suas possibilidades e interesses;
substituiu em parte (Lei n° 5.692/71) agravou a situação. - Social, que expressa as características do contexto sócio-
Eliminaram substancialmente qualquer possibilidade de econômico-cultural do aluno e suas exigências.
instituição de políticas e planos de educação como Este detalhamento é feito tendo em vista os processos de
instrumentos efetivos de um desenvolvimento ideal da ensino e de aprendizagem. Assim, chegamos ao nível mais

54 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas

indagações e tentativas de respostas.1990.

Conhecimentos Específicos 37
APOSTILAS OPÇÃO

elementar e próximo da ação educativa. É através dele que, em Fundamentos do Planejamento Educacional
relação ao aluno: Concepções Características
- Prevemos mudanças comportamentais e aprendizagem Divisão pormenorizada,
de elementos básicos; hierarquizado verticalmente, com
- Propomos aprendizagens a partir de experiências Clássica
ênfase na organização e
anteriores e de suas reais possibilidades; pragmático.
- Estimulamos a integração das diversas áreas de estudo. Planejamento seguindo
Transitiva procedimentos de trabalho com
Como vemos, o planejamento tem níveis distintos de ênfase na liderança.
abrangência; no entanto, cada nível tem bem definido e Visão horizontal, com ênfase nas
delimitado o seu universo. Sabemos que um nível particulariza relações humanas, na dinâmica
- um ou vários - aspectos delineados no nível antecedente, Mayoista
interpessoal e grupal, na delegação
especificando com maior precisão as decisões tomadas em de autoridade e na autonomia.
relação a determinados eventos da ação educativa. Pragmática, racionalidade no
A linha de relacionamento se evidencia, então, através de Neoclássica / por processo decisório, participativo,
escalões de complexidade decrescente, exigindo sempre um objetivos com ênfase nos resultados e
alto grau de coerência e subordinação na determinação dos estratégia de cooperação.
objetivos almejados. Tradição Características (do consenso /
Vejamos cada um deles: Funcionalista positivista / evolucionista)
Cumprimento de leis e normas. Visa
Planejamento Educacional à eficácia institucional do sistema.
Burocrático
Enfatiza a dimensão institucional
Planejamento educacional é aplicar à própria educação ou objetiva.
àquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por Enfatiza a eficiência individual de
inculcar em seus alunos: uma abordagem racional e científica Idiossincrático todos os que participam do sistema,
dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos portanto, dimensão subjetiva.
objetivos e dos recursos disponíveis, a análise das
Clima organizacional pragmático.
consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a
Visa o equilíbrio entre eficácia
escolha entre essas possibilidades, a determinação de metas Integradora institucional e eficiência individual,
específicas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o com ênfase na dimensão grupal ou
desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantar a holística.
política escolhida.
Tradição Características (conflito / teorias
O planejamento educacional significa bem mais que a
Interacionista críticas e libertárias)
elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de
Ênfase nas condições estruturais de
operações interdependentes.
natureza econômica do sistema.
O Planejamento do Sistema de Educação é o de maior
Estruturalista Enfatiza a dimensão institucional
abrangência (enquanto um dos níveis de planejamento na
ou objetiva. Orientação
educação escolar), correspondendo ao planejamento que é
determinista.
feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e
Ênfase na subjetividade e na
reflete as grandes políticas educacionais. Enfrenta os
dimensão individual. O sistema é
problemas de atendimento à demanda, alocação e
Interpretativa uma criação do ser humano. A
gerenciamento de recursos etc.
gestão é mediadora reflexiva entre
o indivíduo e o seu meio.
Características do Planejamento Educacional
Categorias Tipos Características Ênfase na dimensão grupal ou
1- Global ou de holística e nos princípios de
Para todo o sistema Dialógica totalidade, contradição, práxis e
conjunto
Níveis 2- Por setores Graus do Sistema Escolar transformação do sistema
3- Regional Por divisões geográficas educacional.
4- Local Por escola Enfoques Características
Por utilizar metodologia de Práticas normativas e legalistas /
Jurídico
1- Técnico análise, previsão, sistema fechado.
programação e avaliação. Predomínio dos quadros técnicos /
Enquanto Tecnocrático
Por permitir a tomada de especialistas.
Processo 2- Político
decisão. Resgate da dimensão humana:
3- Por coordenar as
Comportamental
ênfase psicológica.
Administrativo atividades administrativas. Ênfase para atingir objetivos
1- Curto prazo 1 a 2 anos Desenvolvimentista
Quanto aos econômicos e sociais.
2- Médio prazo 2 a 5 anos Ênfase nos valores culturais e
Prazos
3- Longo prazo 5 a 15 anos Sociológico políticos, contextualizados. Visão
Com base nas demandas interdisciplinar.
1- Demanda
individuais de educação. Fonte dos dois quadros: Padilha55
Com base nas necessidades
Enquanto 2- Mão-de-obra do mercado, voltado para o
Objetivos do Planejamento Educacional
Método desenvolvimento do país.
São objetivos do planejamento educacional, segundo
Com base nos recursos
3- Custo e Joanna Coaracy56:
disponíveis visando a
Benefício
maiores benefícios.

55 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto 56 COARACY, Joanna. O planejamento como processo. Revista Educação, Ano I,

político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. no. 4, Brasília, 1972.

Conhecimentos Específicos 38
APOSTILAS OPÇÃO

- “Relacionar o desenvolvimento do sistema educacional O Planejamento curricular, enquanto um dos níveis dos
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural planejamentos da educação escolar é a proposta geral das
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular; experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
- “Estabelecer as condições necessárias para o escola, incorporada nos diversos componentes curriculares.
aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a Enquanto um dos níveis do planejamento na educação
eficiência do sistema educacional (estrutura, administração, escolar, o Planejamento curricular é a proposta geral das
financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
instrumentos); escola, incorporada nos diversos componentes curriculares
- Alcançar maior coerência interna na determinação dos desde as séries iniciais até as finais.
objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los; A proposta curricular pode ter como referência os
- Conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do seguintes elementos:
sistema”. - Fundamentos da disciplina;
- Área de estudo;
É condição primordial do processo de planejamento - Desafios Pedagógicos;
integral da educação que, em nenhum caso, interesses - Encaminhamento Metodológico;
pessoais ou de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais - Propostas de Conteúdos;
que vão contribuir para a dignificação do homem e para o - Processos de Avaliação.
desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
Objetivos do Planejamento Curricular
Requisitos do Planejamento Educacional - Ajudar aos membros da comunidade escolar a definir
- Aplicação do método científico na investigação da seus objetivos;
realidade educativa, cultural, social e econômica do país; - Obter maior efetividade no ensino;
- Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a - Coordenar esforços para aperfeiçoar o processo de
curto, médio e longo prazo; ensino e de aprendizagem;
- Apreciação realista das possibilidades de recursos - Propiciar o estabelecimento de um clima estimulante
humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das para o desenvolvimento das tarefas educativas.
soluções propostas;
- Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no Requisitos do Planejamento Curricular
desenvolvimento do planejamento; O planejamento curricular deve refletir os melhores meios
- Continuidade que assegure a ação sistemática para de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo,
alcançar os fins propostos; sempre, todos os elementos participantes do processo.
- Coordenação dos serviços da educação, e destes com os Seus elaboradores devem estar alertas paras novas
demais serviços do Estado, em todos os níveis da descobertas e para os novos meios postos ao alcance das
administração pública; escolas. Estes devem ser minuciosamente analisados para
- Avaliação periódica dos planos e adaptação constante verificar sua real validade naquele âmbito escolar. Posto isso,
destes mesmos às novas necessidades e circunstâncias; fica evidente a necessidade dos organizadores explorarem,
- Flexibilidade que permita a adaptação do plano a aceitarem, adaptarem, enriquecerem ou mesmo rejeitarem
situações imprevistas ou imprevisíveis; tais inovações.
- Trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços O planejamento curricular é de complexa elaboração.
eficazes e coordenados; Requer um contínuo estudo e uma constante investigação da
- Formulação e apresentação do plano como iniciativa e realidade imediata e dos avanços técnicos, principalmente na
esforço nacionais, e não como esforço de determinadas área educacional. Constitui, por suas características, base vital
pessoas, grupos e setores”.57 do trabalho. A dinamização e integração da escola como uma
célula viva da sociedade, que palmilha determinados caminhos
Pressupostos Básicos do Planejamento Educacional conforme a linha filosófica adotada, é o pressuposto inerente a
- O delineamento da filosofia da educação do país, sua estruturação.
evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade; O planejamento curricular constitui, portanto, uma tarefa
- A aplicação da análise - sistemática e racional - ao contínua a nível de escola, em função das crescentes exigências
processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo de nosso tempo e dos processos que tentam acelerar a
mais eficiente e passível de responder com maior precisão às aprendizagem. Será sempre um desafio a todos aqueles
necessidades e objetivos da sociedade. envolvidos no processo educacional, para busca dos meios
Podemos, portanto, considerar que o planejamento mais adequados à obtenção de maiores resultados.
educacional constitui a abordagem racional e científica dos
problemas da educação, envolvendo o aprimoramento gradual Planejamento de Ensino
de conceitos e meios de análise, visando estudar a eficiência e
a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos Planejamento de ensino é o processo que envolve a
aspectos. atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho
pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações o
Planejamento Curricular tempo todo. Envolve permanentemente as interações entre os
educadores e entre os próprios educandos.
Planejamento curricular é o processo de tomada de
decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão Objetivos do Planejamento de Ensino
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. É o - Racionalizar as atividades educativas;
instrumento que orienta a educação como um processo - Assegurar um ensino efetivo e econômico;
dinâmico e integrado de todos os elementos que interagem - Conduzir os alunos ao alcance dos objetivos;
para consecução dos objetivos, tanto os dos alunos como os da - Verificar a marcha do processo educativo.
escola.

57 UNESCO, Seminário Interamericano sobre planejamento integral na

educação. Washington. 1958.

Conhecimentos Específicos 39
APOSTILAS OPÇÃO

Requisitos do Planejamento do Ensino escola o período proposto levando em conta as linhas tiradas
Por maior complexidade que envolva a organização da no plano global.
escola, é indispensável ter sempre bem presente que a
interação professor-aluno é o suporte estrutural, cuja Planejamento Participativo
dinâmica concretiza ao fenômeno educativo. Portanto, o
planejamento de ensino deve ser alicerçado neste pressuposto O Planejamento Participativo se constitui num processo
básico. político onde há um propósito contínuo e coletivo onde se tem
O professor, ao planejar o trabalho, deve estar a oportunidade de discutir a construção do futuro da
familiarizado com o que pode pôr em prática, de maneira que comunidade, na qual participe o maior número possível de
possa selecionar o que é melhor, adaptando tudo isso às membros de todas as categorias que a constituem. Mais do que
necessidades e interesses de seus alunos. Na maioria das um significado técnico, o planejamento participativo é um
situações, o professor dependerá de seus próprios recursos processo político vinculado à decisão da maioria que será em
para elaborar seus planos de trabalho. Por isso, deverá estar benefício da maioria.
bem informado dos requisitos técnicos para que possa Genericamente o planejamento participativo constitui-se
planejar, independentemente, sem dificuldades. em uma estratégia de trabalho que se caracteriza pela
Ainda temos a considerar que as condições de trabalho integração de todos os setores da atividade humana social,
diferem de escola para escola, tendo sempre que adaptar seus dentro de um processo global para solucionar problemas
projetos às circunstâncias e exigências do meio. Considerando comuns.
que o ensino é o guia das situações de aprendizagem e que
ajuda os estudantes a alcançarem os resultados desejados, a Planejamento de Aulas
ação de planejá-lo é predominantemente importante para
incrementar a eficiência da ação a ser desencadeada no âmbito O Planejamento de aula é a tomada de decisões referentes
escolar. ao trabalho específico da sala de aula:
O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo, - Temas
pode organizar três tipos de planos de ensino. Por ordem de - Conteúdos
abrangência: - Metodologia
- Plano de Curso - delinear, globalmente, toda a ação a ser - Recursos didáticos
empreendida; - Avaliação.
- Plano de Unidade - disciplinar partes da ação pretendida Antes, porém de se planejar a aula propriamente dita deve
no plano global; ser executado um planejamento de curso para o ano todo. E
- Plano de Aula - especificar as realizações diárias para a este deve ser subdividido em semestre para que possa ser
concretização dos planos anteriores. visualizado com mais clareza e objetividade.
Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à Dentro destes Planos anuais podem ser inseridas as
atividade do professor e alunos, é considerado etapa unidades temáticas, temas transversais que ocorrerão com o
obrigatória de todo o trabalho docente. O planejamento tende desenvolvimento do Plano bimestral ou trimestral. Estes são
a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior os marcos para que o professor e toda a equipe da escola não
segurança na consecução dos objetivos previstos, bem como se percam dentro de conteúdos extensos e, deixem de
na verificação da qualidade do ensino que está sendo ministrar em cada momento a essência, o significativo para
orientado pelo mestre e pela escola. que o aluno possa prosseguir seu conhecimento e transformá-
lo em aprendizagem.
Planejamento Escolar O centro do processo educativo não deve ser o conteúdo
preestabelecido como se tem feito nas escolas ainda hoje.
O Planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui Qualquer professor estaria de acordo em dizer que o centro do
tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua processo não é o conteúdo, mas em sua prática, a grande
organização e coordenação em face dos objetivos propostos, maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes, isso acontece
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de até contra a sua vontade. É que há uma cultura dentro da
ensino. É um processo de racionalização, organização e escola, junto com os pais dos alunos e em todo senso comum
coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar social, de que se vai para a Escola para memorizar alguma
e a problemática do contexto social. informação, normalmente até consideradas inúteis até pelas
mesmas pessoas que as exigem.
Planejamento global da escola é o nível do planejamento O centro do processo educativo também não pode ser o
que corresponde às decisões sobre a organização, aluno. Este desastre é tão conservador como centrar o
funcionamento e proposta pedagógica da escola. É o que o que trabalho no conteúdo. E que quando centramos o processo
mais requer a participação conjunta da comunidade. educativo somente no aluno convertemos todo o processo em
um egoísmo e em um individualismo onde uns dominam os
O Planejamento da escola, enquanto outro nível do outros.
planejamento na educação escolar é o que chamamos de
“Projeto Educativo” - sendo o plano global da instituição. Planejamento e Educação Libertadora58
Compõem-se de Marco Referencial, Diagnóstico e
programação. Envolve as dimensões pedagógicas, No planejamento, é fundamental a ideia de transformação
administrativas e comunitárias da escola. da realidade. Isto quer dizer que uma instituição (um grupo)
se transforma a si mesma tendo em vista influir na
O Planejamento anual da escola consiste em elaborar a transformação da realidade global.
estratégia de ação para o prazo de um ano - conforme a Quer dizer, também, que fez sentido falar em
realidade específica de cada escola - tomando decisões sobre o planejamento, acima e além da administração, como uma
que, para que, como e com o que se vai fazer o trabalho na tarefa política, no sentido de participar na organização na
mudança das estruturas sociais existentes. Quer dizer,

58 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:

Edições Loyola, 2013.

Conhecimentos Específicos 40
APOSTILAS OPÇÃO

finalmente, que planejar não é preencher quadrinhos para dar as estratégias através das quais a escola propõe realizar a sua
status de organização séria a um setor qualquer da atividade função educativa.
humana. Barbier60 distingue dois tipos de projeto - o projeto de
Isso nos traz à educação libertadora como proposta situação (“representações relativas ao estado final do objeto,
educacional apta a inspirar um processo de planejamento. da identidade, da situação que se procura transformar ou
Porque a educação libertadora é uma proposta de mudança. modificar”) e o projeto do processo (“representações relativas
Essa educação libertadora Gandin fala que tem sua base na II ao processo que permite chegar a este estado final”).
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellín,
Colômbia, 1968). O projeto é, por um lado, uma “antecipação” relativa a um
estado, uma “representação antecipadora do estado final de
Referindo-se a educação: uma realidade”, uma previsão ou prospectiva, um objetivo ou
- “A que converte o educando em sujeito do seu próprio fim a atingir, uma pequena utopia.
desenvolvimento”;
- “O meio-chave para libertar os povos de toda a escravidão Seu conteúdo não é um acontecimento ou objeto
e para fazê-los ascender de condições de vida menos humanas pertencente ao ambiente atual ou passado, mas um fato
a condições mais humanas”. possível, uma imagem ou representação de uma possibilidade,
Há nisto uma dimensão pessoal e uma proposta social uma ideia a se transformar em ato, um futuro a se “fazer”, uma
global bem claras, no texto apresentadas de forma não possibilidade a se transformar em realidade. Sua relação é com
separada, mas como um posicionamento apenas. um “tempo a vir”, “um futuro de que constitui uma
Sem entrar na discussão se o termo “meio-chave” é antecipação, uma visão prévia” segundo Barbier61.
exagerado e aceitando que a educação, mesmo a escolar, tem Por outro lado, a função do projeto não se reduz a simples
uma dimensão política realizável, pode-se ver que esta dupla representação do futuro. Barbier62 atribui-lhe ainda um duplo
proposta leva em conta os dois grandes problemas da América efeito - o operatório ou pragmático e o mobilizador da
Latina de então, que perduram ainda hoje: a organização atividade dos atores implicados.
injusta da sociedade e a falta quase total do remédio para isso, No entendimento de Boutinet63, o projeto implica um
a participação. comprometimento com o futuro. A construção de um projeto
Ao propor que o educando seja sujeito de seu já implica na vontade de fazê-lo acontecer. Daí seu valor
desenvolvimento, está propondo a existência do grupo, da pragmático. O projeto não age, pois, dizer não equivale
participação e, como consequência, a conscientização que gera automaticamente a fazer, mas “dizer prepara o fazer”.
a transformação. Basicamente está dando ao pedagógico a O projeto expressa a representação da realização da ação,
força que ele realmente pode assumir como contribuinte de ou seja, a imagem do resultado da ação. “No caso de uma ação
uma transformação social ampla em proveito do homem todo coletiva[...], escreve Barbier64, é o projeto que fornece a
e de todos os homens. representação comum que permite a realização coordenada
A partir daí a aproximação entre educação libertadora e das operações de execução”. Na sua função mobilizadora, o
planejamento educacional sublinha as mesmas ideias básicas, projeto apresenta, no plano afetivo, efeitos dinamizadores da
de grupo, de participação, de transformação da realidade. atividade dos atores implicados.
Tanto que, a partir desta dupla base de Medellín, e pensando Nossas imagens ou representações constituem um
no que lhe é mais característico, a metodologia, pode-se definir elemento dinamizador da mudança e, portanto, um fator de
a educação libertadora assim: um grupo (sujeitos em concretização do projeto.
interação) na dinâmica de ação-reflexão, buscando a verdade
e tendendo ao crescimento pessoal e à transformação social. Para Vidal, Cárave e Florencio65, o projeto educativo é:
- Um meio de adequação das intenções educativas da
Projetos Educativos sociedade às características concretas de uma escola;
- Elemento orientador do conjunto de atividades
É o primeiro grande instrumento de planejamento da ação educativas de uma escola;
educativa da escola, devendo por isso, servir - Instrumento integrador das atividades educativas de uma
permanentemente de ponto de referência e orientação na escola;
atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em - Garantia de coerência e de continuidade nas diferentes
que a escola se insere, em prol da formação de pessoas e atuações dos membros de uma comunidade escolar;
cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis, - Critério para avaliar e homologar os processos;
solidários e democraticamente comprometidos na construção - Documento dinâmico para definir as estruturas e
de um destino comum e de uma sociedade melhor. estratégias organizacionais da escola;
Um Projeto Educativo é, segundo a definição de Costa59, um - Ponto de referência para a solução dos conflitos de
“documento de caráter pedagógico que, elaborado com a convivência.
participação da comunidade educativa, estabelece a
identidade da própria escola através da adequação do quadro O projeto educativo traduz o engajamento da instituição
legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo escolar, suas prioridades, seus princípios. Ele define o sentido
geral de organização e os objetivos pretendidos pela de suas ações e fixa as orientações e os meios para colocá-las
instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de em prática. É formulado por um documento escrito que
referência orientador na coerência da ação educativa”. estabelece a identidade da escola (diz o que ela é), apresenta
Isto é, um Projeto Educativo é um documento de seus propósitos gerais (diz o que ela quer) e descreve seu
orientação pedagógica que, não podendo contrariar a modelo geral de organização (diz como ela se organiza).
legislação vigente, explicita os princípios, os valores, as metas Concebido como um projeto de longo prazo, ele visa
favorecer a continuidade e a coerência da ação da escola.

59 COSTA, Adelino Jorge: "Construção de projetos educativos nas escolas: 62 Idem 16.
traços de um percurso debilmente articulado." - Revista Portuguesa de Educação, 63 BOUTINET, J. P.. Le concept de projet e ses niveaux. Éducation Permanente,
Volume 17, nº 2. 2004. nº 86. 1986.
60 BARBIER, J.-M. Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto: 64 BARBIER, J.-M. Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto:

Porto Editora.1993. Porto Editora.1993.


61 Idem 16. 65 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. Madrid: Editorial EOS. 1992.

Conhecimentos Específicos 41
APOSTILAS OPÇÃO

Embora não seja um documento inalterável, não deverá estar Uma adequação daqueles
Um manual de
sujeito a profundas e constantes alterações anuais. De modo princípios e estruturas
psicologia, pedagogia,
geral, “a sua duração dependerá fundamentalmente da educativas que se
sociologia, de organização
permanência em cada instituição das pessoas que o consideram adequados para
escolar, etc.
elaboraram e da estabilidade das suas convicções”, segundo uma comunidade.
Costa66.. Um documento Um documento
Para Vidal, Cárave e Florencio67 e para Carvalho e Diogo68, o destinado ao exercício orientador e guia de todas as
projeto educativo de escola é um documento de planificação burocrático da educação. atividades educativas.
da ação educativa, de amplitude integral, de duração de longo Um projeto dinâmico e
prazo e de natureza geral e estratégica. Assim, é mais amplo e Um produto fechado,
modificável em função da
abrangente do que o projeto pedagógico e o plano de Unidade acabado e inalterável.
prática educativa.
Didática que são meios em relação ao projeto educativo e têm Um “empenho”
como objeto converter as finalidades deste em ações, pois são Uma criação coletiva do
pessoal de algum membro
documentos de planificação operatória. conjunto de membros da
do corpo docente ou da
O projeto educativo distingue-se também de outras comunidade educativa do
Associação de Pais de
planificações escolares, como o Plano Trienal escolar, o Plano centro.
Alunos.
anual de Escola, o Projeto curricular de turma e o Regimento Uma complicação a
interno da Escola, que estão destinados a concretizá-lo Um facilitador do
mais para o trabalho
relativamente a aspectos mais operacionais e, portanto, têm trabalho docente.
docente.
um caráter tático, e instrumental. Uma fórmula Um conjunto articulado
O projeto educativo é elaborado por toda a comunidade paradigmática que resolve de princípios, orientações e
escolar. O projeto educativo da escola é um conjunto de opções todos os problemas do sistemas que servem de
ideológicas, políticas, antropológicas, axiológicas e centro. Um regulamento marco às atividades
pedagógicas resultantes da tensão entre o estabelecido ou de funcionamento. educativas.
imposto pelo Estado (projeto vertical), a prática implícita Um projeto equilibrado,
interna à escola (projeto ritual) e a postura utópica ou Um “panfleto” que diz
produto das intenções de
intencional da comunidade escolar (projeto intencional). coisas muito “atrevidas”
toda a comunidade
sobre a educação.
educativa.
Dimensões do projeto educativo, citadas por Carvalho e Um projeto resultante da
Diogo69: Um documento que só
tensão entre o estabelecido
O projeto deve servir a incerteza, ter em conta o expressa o que se quer
(imposto), a prática implícita
indeterminado, ser capaz de infletir de direção como resultado que se conheça.
(ritual) e o intencional.
de uma avaliação permanente, incorporar o conflito, mas,
sobretudo, devolver a cada indivíduo o seu espaço de Em suma, concebendo-se como uma adaptação do “projeto
criatividade e ação de modo a que ele sinta reconhecida a sua educacional” do país (leis e diretrizes curriculares) ao nível
atividade, compreenda as suas ações e as possa inscrever num
específico local, como uma programação geral da escola e
todo significativo.
como um instrumento de autonomia didático-pedagógica e
Neste sentido, o projeto educativo deve ser coletivo, mas
organizativa da escola, o projeto educativo da escola se
favorecendo a interação; autônomo, mas não independente.
caracteriza por quatro categorias metodológicas (Baldacci70):
Uma tal concepção exige do projeto educativo:
- A intencionalidade;
- Explicitação de valores comuns;
- A contextualização;
- Coerência de atividades;
- A metodicidade; e
- Busca coletiva de recursos e meios para melhorar o - A flexibilidade.
ensino;
- Definição de ação; Pela intencionalidade, o projeto educativo estabelece
- Definição de um sentido para uma ação comum; direção e metas precisas e explícitas, evitando a ação educativa
- Gestão participativa; casual e extemporânea.
- Avaliação permanente, participada e interativa; A contextualização representa a adaptação do projeto
- Implicação do conjunto dos atores; educacional do país à realidade sociocultural concreta de uma
- Apropriação de saberes e instrumentos de ação por parte
escola. A intencionalidade passa a ser “historicizada”, ou seja,
dos implicados.
contextualizada num ambiente de referência específico, o que
Sobre o que não deve ser e o que deve ser o projeto
permite a passagem de um projeto abstrato para um projeto
educativo de escola, Vidal, Cárave e Florencio elaboraram um
concreto.
quadro-síntese que ajuda a clarificar seu entendimento
A metodicidade valoriza o princípio de sistematicidade e
adequado.
organicidade no processo didático, mesmo reconhecendo as
diferenças de estilo de aprender e ensinar de alunos e
Não deve ser Deve ser professores, respectivamente.
Uma exposição clara, Finalmente, a flexibilidade assegura que o projeto
Uma enumeração concisa e breve das educativo seja tratado como uma mera hipótese de trabalho e
detalhada dos elementos intenções educativas, por isso está sujeito a retificações e revisões ao longo de sua
que compõem um centro: estruturas, regulamentos e implementação.
planos, descrições, organização curricular de
professores, etc. uma comunidade escolar.

66 COSTA, J. A. Gestão escolar: Participação, autonomia, projecto educativo da 69 Idem 24.


escola. Lisboa: Texto Editora. 1992. 70 BALDACCI, M. La scuola dell´autonomia: Il Progetto educativo d´Istituto.
67 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. Madrid: Editorial EOS. 1992. Bari: Maria Adda Edittore. 1996.
68 CARVALHO, A. E DIOGO, F. Projecto educativo. Porto: Edições Afrontamento.

1994.

Conhecimentos Específicos 42
APOSTILAS OPÇÃO

PPP - Projeto Político Pedagógico (D) PNAIC.


(E) PNAD.
O PPP nasce da necessidade de organização do trabalho
pedagógico para os alunos, a escola é o lugar de concepção, 04. (IFB - Professor Pedagogia - IFB) Em relação aos
realização e avaliação dessa ação. Será um elo entre a escola e aspectos do planejamento, assinale a opção que contenha a
a comunidade escolar, bem como com o sistema de ensino que CORRETA sequência hierárquica do mais amplo ao mais
a compõe. Essa construção faz emergir a necessidade de restrito, em relação ao planejamento:
responsabilização de diversos atores na prática social. (A) planejamento escolar; planejamento educacional;
É projeto porque significa lançar para diante. “Todo planejamento de ensino; planejamento curricular;
projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o (B) planejamento curricular; planejamento educacional;
futuro” (Gadotti). planejamento escolar; planejamento de ensino;
É político, pois “a dimensão política se cumpre na medida (C) planejamento de ensino; planejamento curricular;
em que ela se realiza enquanto prática especificamente planejamento escolar; planejamento educacional;
pedagógica" (Saviani). (D) planejamento de ensino; planejamento educacional;
É pedagógico porque traz a possibilidade de efetivação da planejamento curricular planejamento escolar;
intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão (E) planejamento educacional; planejamento escolar;
participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. planejamento curricular; planejamento de ensino.
A partir de ações educativas. (Ilma Veiga)
05. (SEDF - Professor de Educação Básica - Quadrix)
Questões Quanto ao planejamento e à organização do trabalho
pedagógico, julgue o item subsecutivo.
01. (CS/UFG - IFGoiano - Pedagogo - 2019) O No processo de planejamento e organização do trabalho
planejamento pedagógico é uma ação assegurada pela Lei n. pedagógico, as ações estão circunstanciadas no âmbito dos
9.394, de 20 de dezembro de 1996, a qual garante que os vários elementos que compõem o universo escolar, devendo
profissionais da escola tenham um tempo para planejar suas ser dada importância máxima àquelas circunscritas à prática
atividades. No entanto, a sua importância não se constitui pedagógica do professor e à sua formação.
apenas por ser assegurado por lei, mas pelo planejamento se ( ) Certo ( ) Errado
constituir parte indispensável do trabalho docente, pois o
planejamento docente deve ser Gabarito
(A) uma ação desenvolvida pelos docentes para os
discentes com vistas a organizar seus estudos e suas 01.D / 02.B / 03.C / 04.E / 05.Errado
avaliações.
(B) um processo de elaboração de currículos e programas
específicos desenvolvidos pelos docentes para a equipe
diretiva da escola. Didática e Metodologia do
(C) um processo burocrático de preenchimento de Ensino em Anos Iniciais
formulários pelo docente para controle e arquivamento.
(D) um processo de racionalização, organização e
coordenação da ação docente, articulando atividade escolar e
o contexto social. DIDÁTICA

02. (CS/UFG - IFGoiano - Pedagogo - 2019) O Libâneo71 pontua que os alunos costumam comentar entre
planejamento é um processo de sistematização, organização e si: “gosto desse professor porque ele tem didática”. Outros
coordenação da ação docente que articula a atividade escolar dizem: “com essa professora a gente tem mais facilidade de
ao contexto social. A escola, os professores e os alunos são aprender”. Provavelmente, o que os alunos estão querendo
integrantes desse processo. Nesse sentido, o planejamento de dizer é que esses professores têm um modo acertado de dar
ensino necessita aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, aprendem.
(A) ser elaborado considerando a realidade externa à
escola desvinculada dos programas e conhecimentos a serem Então, o que é ter didática? A didática pode ajudar os alunos
trabalhados em sala de aula. a melhorar seu aproveitamento escolar? O que um professor
(B) ser produzido de forma consciente e qualitativamente precisa conhecer de didática para que possa levar bem o seu
satisfatória, no que diz respeito aos aspectos científicos e aos trabalho em sala de aula?
aspectos político-pedagógicos. Considerando as mudanças que estão ocorrendo nas
(C) estar vinculado diretamente aos objetivos da formas de aprender e ensinar, principalmente pela forte
comunidade para a proposição das ações técnico- influência dos meios de informação e comunicação, o que
administrativas da escola. mudar na prática dos professores?
(D) orientar as decisões dos gestores das redes de ensino É certo que a maioria do professorado tem como principal
em relação às situações relativas ao funcionamento da escola. objetivo do seu trabalho conseguir que seus alunos aprendam
da melhor forma possível. Por mais limitações que um
03. (IDECAN - AGU - Técnico em Assuntos Educacionais professor possa ter (falta de tempo para preparar aulas, falta
- 2019) O planejamento educacional, considerado por de material de consulta, insuficiente domínio da matéria,
Calazans (1990) uma ação de cunho técnico e político, pouca variação nos métodos de ensino, desânimo por causa da
constitui elemento fundamental ao bom desenvolvimento dos desvalorização profissional, etc.), quando entra em classe, ele
processos educativos. Em se tratando do planejamento macro tem consciência de sua responsabilidade em proporcionar aos
da educação brasileira, tem-se como referência o alunos um bom ensino.
(A) PNAE.
(B) PDDE. Apesar disso, saberá ele fazer um bom ensino, de modo que
(C) PNE. os alunos aprendam melhor?

71 LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2010.

Conhecimentos Específicos 43
APOSTILAS OPÇÃO

É possível melhorar seu desempenho como professor? trazem mais vantagens do que aquelas do ensino tradicional.
Qual é o sentido de “mediação docente” nas aulas? Entretanto, quase sempre esses professores acabam voltando
às práticas tradicionais, por exemplo, não sabem utilizar a
Os Estilos de Professor atividade própria do aluno para eles próprios formando
conceitos.
Há diversos tipos de professores. Os mais tradicionais Com efeito, ao avaliar a aprendizagem dos alunos pedem
contentam-se em transmitir a matéria que está no livro respostas memorizadas e a repetição de definições ou
didático, por meio de aula expositiva. É o estilo professor- fórmulas. Mesmo utilizando técnicas ativas e respeitando mais
transmissor de conteúdo. Suas aulas são sempre iguais, o o aluno, as mudanças metodológicas ficam apenas na forma,
método de ensino é quase o mesmo para todas as matérias, mantendo empobrecidos os resultados da aprendizagem, ou
independentemente da idade e das características individuais aluno não forma conceitos, não aprende a pensar com
e sociais dos alunos. Pode até ser que essas práticas de passar autonomia, não interioriza ações mentais. Ou seja, sua
a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteúdo na prova, atividade mental continua pouco reflexiva.
tenham algum resultado positivo. Mesmo porque alguns Poderíamos mencionar outros estilos de professor: o
alunos aprendem “apesar do professor”. professor-técnico (preocupado pelo lado operacional,
O mais comum, no entanto, é o aluno memorizar o que o prático da sua matéria, seu objetivo é saber-fazer, não fazer-
professor fala, decorar a matéria e mecanizar fórmulas, pensar-fazer); o professor-laboratório (acha que única
definições etc. A aprendizagem que decorre desse tipo ensino forma eficaz de aprender é a pesquisa ou a demonstração
(vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) serve para experimental); o professor-comunicador (o típico professor
responder questões de uma prova, sair-se bem no vestibular de cursinhos que só sabe trabalhar o conteúdo fazendo graça,
ou num concurso, mas ela não é duradoura, ela não ajuda o não dando conta de colocar o próprio conteúdo no campo de
aluno a formar esquemas mentais próprios. O aluno que interesses e motivos do aluno).
aprende mecanicamente, na maior parte dos casos, não
desenvolve raciocínio próprio, não forma generalizações Em resumo, muitos professores não sabem como ajudar
conceituais, não é capaz de fazer relações entre um conceito e o aluno a, através de formas de mobilização de sua
outro, não sabe aplicar uma relação geral para casos atividade mental, elaborar de forma consciente e
particulares. independente o conhecimento para que possa ser utilizado
nas várias situações da vida prática. As atividades que
O professor transmissor de conteúdo não favorece uma organizam não levam os alunos a adquirir conceitos e
aprendizagem sólida porque o conteúdo que ele passa não métodos de pensamento, habilidades e capacidades
se transforma em meio de atividade subjetiva do aluno. Ou mentais, para poderem lidar de forma independente e
seja, o aluno não dá conta de explicar uma ideia, uma criativa com os conhecimentos e a realidade, tornando
definição, com suas próprias palavras, não saber aplicar o esses conceitos e métodos meios de sua atividade.
conhecimento em situações novas ou diferentes, nem na
sala de aula nem fora dela. A participação do aluno é pouco Sugerimos para quem deseja um ensino eficaz, tendo em
solicitada, e quando o professor faz uma pergunta, ele vista aprendizagens mais sólidas dos alunos, a metáfora do
próprio imediatamente a responde. professor-mediador. Quais são as características do professor
É possível que entre os professores que se utilizam mediador? O que caracteriza uma didática baseada no
desses procedimentos de ensino haja alguns que levem os princípio da mediação? Numa formulação sintética, boa
alunos a aprender os conceitos de forma mais sólida, que didática significa um tipo de trabalho na sala de aula em que o
saibam lidar de forma autônoma com os conceitos. Mas não professor atua como mediador da relação cognitiva do aluno
é o caso da maioria. O que se vê nas instituições de ensino com a matéria. Há uma condução eficaz da aula quando o
superior é um ensino meramente expositivo, empírico, professor assegura, pelo seu trabalho, o encontro bem
repetitivo, memorístico. sucedido entre o aluno e a matéria de estudo. Em outras
Os alunos desses professores não aprendem palavras, o ensino satisfatório é aquele em que o professor
solidamente, ou seja, não sabem lidar de forma põe em prática e dirige as condições e os modos que
independente com os conhecimentos, não “interiorizam” os asseguram um processo de conhecimento pelo aluno.
conceitos, o modo de pensar, raciocinar e atuar, próprios da
matéria que está sendo ensinada e, assim, os conceitos não Vejamos isso mais detalhadamente.
se transformam em instrumentos mentais para atuar com
a realidade.72 Uma pedagogia que valoriza os conteúdos e as ações
mentais correspondentes ao modo de constituição desses
O estilo professor-facilitador aplica-se a professores que se conteúdos
julgam mais atualizados nas metodologias de ensino, eles Uma boa didática, na perspectiva da mediação, é aquela
tentam variar mais os métodos e procedimentos. Alguns deles que promove e amplia o desenvolvimento das capacidades
preocupam-se, realmente, com certas características intelectuais dos alunos por meio dos conteúdos. Conforme a
individuais e sociais dos alunos, procuram saber os teoria histórico-cultural, formulada inicialmente pelo
conhecimentos prévios ou as experiências dos alunos, tentam psicólogo e pedagogo russo Lev Vygotsky, o objetivo do ensino
estabelecer diálogo ou investir mais no bom relacionamento é o desenvolvimento das capacidades mentais e da
com os alunos. Outros tentam inovar organizando trabalhos subjetividade dos alunos através da assimilação consciente e
em grupo ou estudo dirigido, utilizando recursos audiovisuais, ativa dos conteúdos, em cujo processo se leva em conta os
dando tarefas que requerem algum tipo de pesquisa. motivos dos alunos. O ensino é meio pelo qual os alunos se
Há, também, em algumas áreas de conhecimento, apropriam das capacidades humanas formadas
professores que entendem que a melhor forma de aprender é historicamente e objetivadas na cultura material e espiritual.
colocar os alunos no laboratório na crença de que, fazendo Essa apropriação se dá pela aprendizagem de conteúdos,
experiências, lidando com materiais, assimilam melhor a habilidades, atitudes, formadas pela humanidade ao longo da
matéria. Essas formas de trabalho didático, sem dúvida, história. Conforme as próprias palavras de Vygotsky:

72 LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a

teoria histórico-cultural da atividade e a contribuição de Vasili Davydov. In:


Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 27, 2004.

Conhecimentos Específicos 44
APOSTILAS OPÇÃO

A internalização de formas culturais de comportamento Para M. Castells, a tarefa das escolas e dos processos
envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo educativos é o de desenvolver em quem está aprendendo a
como base as operações com signos. (...) A internalização capacidade de aprender, em razão de exigências postas pelo
das atividades socialmente enraizadas e historicamente volume crescente de dados acessíveis na sociedade e nas redes
desenvolvidas constitui o aspecto característico da informacionais, da necessidade de lidar com um mundo
psicologia humana. diferente e, também, de educar a juventude em valores e ajudá-
la a construir personalidades flexíveis e eticamente ancoradas.
Esse processo de interiorização ou apropriação tem as Também E. Morin expressa com muita convicção a exigência
seguintes características: de se desenvolver uma inteligência geral que saiba discernir o
a) O desenvolvimento mental dos alunos depende da contexto, o global, o multidimensional, a interação complexa
transmissão-apropriação de conhecimentos, habilidades, dos elementos. Escreve esse autor:
valores, que vão sendo constituídos na história da humanidade;
b) O papel do ensino é propiciar aos alunos os meios de (...) o desenvolvimento de aptidões gerais da mente permite
domínio dos conceitos, isto é, dos modos próprios de pensar e de melhor desenvolvimento das competências particulares ou
atuar da matéria ensinada, de modo a formar capacidades especializadas. Quanto mais poderosa é a inteligência geral,
intelectuais com base nos procedimentos lógicos e investigativos maior é sua faculdade de tratar problemas especiais. A
da ciência ensinada; compreensão dos dados particulares também necessita da
c) A ação de ensinar, mais do que “passar conteúdo”, consiste ativação da inteligência geral, que opera e organiza a
em intervir no processo mental de formação de conceitos por mobilização dos conhecimentos de conjunto em cada caso
parte dos alunos, com base na matéria ensinada; particular. (...) Dessa maneira, há correlação entre a
d) As relações intersubjetivas na sala de aula implicam, mobilização dos conhecimentos de conjunto e a ativação da
necessariamente, a compreensão dos motivos dos alunos, isto é, inteligência geral.
seus objetivos e suas razões para se envolverem nas atividades
de aprendizagem. Em síntese, esses estudos destacam, nos processos do
e) A aprendizagem se consolida melhor se forem criadas ensinar a aprender e a pensar em um campo de conhecimento,
situações de interlocução, cooperação, diálogo, entre professor o papel ativo dos sujeitos na aprendizagem e, especialmente, a
e alunos e entre os alunos, em que os alunos tenham chance de necessidade dos sujeitos desenvolverem habilidades de
formular e opera com conceitos. pensamento, competências cognitivas, como meio para
compreender e atuar no mundo da profissão, da política, da
Na mesma linha teórica, Davydov afirma que o papel do cultura. Esses meios da atividade aprender são aprendidos
ensino é desenvolver nos alunos as capacidades intelectuais pelo estudante quando desenvolve as ações mentais conexas
necessárias para assimilar e utilizar com êxito os aos conteúdos, isto é, o modo próprio de pensar, pesquisar e
conhecimentos. Ele escreve: agir que corresponde à ciência, arte ou tecnologia ensinadas.
Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da
escola contemporânea não consiste em dar às crianças uma A Didática e o Trabalho dos Professores73
soma de fatos conhecidos, mas em ensiná-las a orientar-se
independentemente na informação científica e em qualquer A didática é uma disciplina que estuda o processo de
outra. Isto significa que a escola deve ensinar os alunos a ensino no qual os objetivos, os conteúdos, os métodos e as
pensar, quer dizer, desenvolver ativamente neles os formas de organização da aula se combinam entre si, de
fundamentos do pensamento contemporâneo para o qual é modo a criar as condições e os modos de garantir aos
necessário organizar um ensino que impulsione o alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o
desenvolvimento. Chamemos esse ensino de professor na direção e orientação das tarefas do ensino e
desenvolvimental. da aprendizagem, fornecendo-lhe mais segurança
Conforme Davydov, para que o ensino esteja voltado para profissional.
o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos, é
preciso que o professor conheça quais são os métodos de Em que consiste o processo de ensino e aprendizagem? O
investigação utilizados pelo cientista (em relação à matéria princípio básico que define esse processo é o seguinte: o
que ensina), pois é nesses métodos que encontrará as núcleo da atividade docente é a relação ativa do aluno com a
capacidades intelectuais a serem formadas pelos estudantes matéria de estudo, sob a direção do professor. O processo de
enquanto estudam a matéria. Em outras palavras, para ensino consiste de uma combinação adequada entre o papel de
aprender a pensar e a agir com base nos conteúdos de uma direção do professor e a atividade independente, autônoma e
matéria de ensino é preciso que os alunos dominem aquelas criativa do aluno.
ações mentais associadas a esses conteúdos, as quais são O papel do professor, portanto é o de planejar, selecionar e
encontradas nos procedimentos lógicos e investigativos organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de
próprios da ciência que dá origem a esses conteúdos. Conclui- estudo dentro da classe, incentivar os alunos para o estudo, ou
se, daí, que a um professor não basta dominar o conteúdo, é seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos
preciso que saiba mais três coisas: alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não
a) Qual é o processo de pesquisa pelo qual se chegou a esse desenvolvem suas capacidades e habilidades mentais, se não
conteúdo, ou seja, a epistemologia da ciência que ensina; assimilam pessoal e ativamente os conhecimentos ou se não
b) Por quais métodos e procedimentos ensinará seus alunos dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos
a se apropriarem dos conteúdos da ciência ensinada e, em classe, seja na prática da vida.
especialmente, das ações mentais ligadas a esses conteúdos; Podemos dizer, então, que o processo didático é o conjunto
c) Quais são as características individuais e socioculturais de atividades do professor e dos alunos sob a direção do
dos alunos e os motivos que os impulsionam, de modo a saber professor, visando à assimilação ativa pelos alunos dos
ligar os conteúdos com esses motivos. conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes,
desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais.

73 LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a

teoria histórico-cultural da atividade e a contribuição de Vasili Davydov. In:


Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 27, 2004.

Conhecimentos Específicos 45
APOSTILAS OPÇÃO

Nessa concepção de didática, os conteúdos escolares e o convertida em saber escolar, e o aluno que, para além de um
desenvolvimento mental se relacionam reciprocamente, pois o sujeito psicológico, é um sujeito portador da prática social
progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas viva. O modo adequado de realizar a mediação didática, pelo
capacidades mentais se verificam no decorrer da assimilação trabalho dos professores, é o provimento aos alunos dos meios
ativa dos conteúdos. Portanto, o ensino e a aprendizagem de aquisição de conceitos científicos e de desenvolvimento das
(estudo) se movem em torno dos conteúdos escolares visando capacidades cognitivas e operativas, dois elementos da
o desenvolvimento do pensamento. aprendizagem escolar interligados e indissociáveis.
Mas, qual é a dinâmica do processo de ensino? Como se
garante o vínculo entre o ensino (professor) e a aprendizagem O Ensino e o Desenvolvimento do Pensamento - O
efetiva decorrente do encontro cognitivo e afetivo entre o Ensino Para o Desenvolvimento Humano
aluno e a matéria?
A pesquisa mais atual sobre a didática utiliza a palavra A teoria do ensino desenvolvimental de Vasíli Davydov,
“mediação” para expressar o papel do professor no ensino, isto baseada na teoria histórico-cultural de Vygotsky, sustenta tese
é, mediar a relação entre o aluno e o objeto de conhecimento. de que o bom ensino é o que promove o desenvolvimento
Na verdade, trata-se de uma dupla mediação: primeiro, tem-se mental, isto é, as capacidades e habilidades de pensamento.
a mediação cognitiva, que liga o aluno ao objeto de Segundo Vygotsky, a aprendizagem e o ensino são formas
conhecimento; segundo, tem-se a mediação didática, que universais de desenvolvimento mental. Para Davydov, a
assegura as condições e os meios pelos quais o aluno se atividade de aprendizagem está assentada no conhecimento
relaciona com o conhecimento. Sendo assim, a especificidade teórico-científico, ou seja, no desenvolvimento do pensamento
de toda didática está em propiciar as condições ótimas de teórico e nas ações mentais que lhe correspondem.
transformação das relações que o aprendiz mantém com o É importante esclarecer que, na teoria histórico-cultural
saber. Escreve D´Ávila: elaborada entre outros por Vygotsky, Leontiev e Davydov,
A relação com o saber é, portanto, duplamente pensamento teórico ou conceito não tem o sentido de “estudar
mediatizada: uma mediação de ordem cognitiva (onde o teoria”, de lidar com o conteúdo só na teoria. Na teoria
desejo desejado é reconhecido pelo outro) e outra de natureza histórico-cultural, conceito não se refere apenas às
didática que torna o saber desejável ao sujeito. É aqui que as características e propriedades dos fenômenos em estudo, mas
condições pedagógicas e didáticas ganham contornos, no a uma ação mental peculiar pela qual se efetua uma reflexão
sentido de garantir as possibilidades de acesso ao saber por sobre um objeto que, ao mesmo tempo, é um meio de
parte do aprendiz educando. reconstrução mental desse objeto pelo pensamento.
A força impulsionadora do processo de ensino é um Nesse sentido, pensar teoricamente é desenvolver
adequado ajuste entre os objetivos/conteúdos/métodos processos mentais pelos quais chegamos aos conceitos e os
organizados pelo professor e o nível de conhecimentos, transformamos em ferramentas para fazer generalizações
experiências e motivos do aluno. O movimento permanente conceituais e aplicá-las a problemas específicos. Como escreve
que ocorre a cada aula consiste em que, por um lado, o Seth Chaiklin, conceito significa um conjunto de
professor propõe problemas, desafios, perguntas, procedimentos para deduzir relações particulares de uma
relacionados com conteúdos significativos, instigantes e relação abstrata.
acessíveis; por outro lado, os alunos, ao assimilar consciente e O ensino, portanto, propicia a apropriação da cultura e da
ativamente a matéria, mobilizam seus motivos, sua atividade ciência, e o desenvolvimento do pensamento, por meio da
mental e desenvolvem suas capacidades e habilidades. formação e operação com conceitos. São dois processos
Portanto, um bom planejamento de ensino depende da análise articulados entre si, formando uma unidade: Podemos
e organização dos conteúdos junto com a análise e expressar essa ideia de duas maneiras:
consideração dos motivos dos alunos. - À medida que o aluno forma conceitos científicos,
Essa forma de compreender o ensino é muito diferente do incorpora processos de pensamento e vice-versa.
que simplesmente passar a matéria ao aluno. É diferente, - Enquanto forma o pensamento teórico-científico, o aluno
também, de dar atividades aos alunos para que fiquem desenvolve ações mentais mediante a solução de problemas que
“ocupados” ou aprendam fazendo. O processo de ensino é um suscitam sua atividade mental.
constante vai-e-vem entre conteúdos e problemas que são
colocados e as características de desenvolvimento e Com isso, o aluno assimila o conhecimento teórico e as
aprendizagem dos alunos. É isto que caracteriza a dinâmica da capacidades e habilidades relacionadas a esse conhecimento.
situação didática, numa perspectiva histórico-cultural. Sendo assim, o papel da escola é ajudar os alunos a
Insistimos bastante na exigência didática de partir do nível desenvolver suas capacidades mentais, ao mesmo tempo em
de conhecimentos já alcançado, da capacidade atual de que se apropriam dos conteúdos. Nesse sentido, a
assimilação e do desenvolvimento mental do aluno, dos metodologia de ensino, mais do que o conjunto dos
motivos do aluno. Ou seja, não existe o aluno em geral, mas um procedimentos e técnicas de ensino, consiste em
aluno vivendo numa sociedade determinada, que faz parte de instrumentos de mediação para ajudar o aluno a pensar
um grupo social e cultural determinado, sendo que essas com os instrumentos conceituais e os processos de
circunstâncias interferem na sua capacidade de aprender, nos investigação da ciência que se ensina. Por exemplo, a boa
seus valores e atitudes, na sua linguagem e suas motivações. pedagogia da física é aquela que consegue traduzir
Ou seja, a subjetividade (os motivos) e a experiência didaticamente o modo próprio de pensar, investigar e atuar
sociocultural concreta dos alunos são o ponto de partida para da própria física. Boa pedagogia da geografia é aquela cujo
a orientação da aprendizagem. Um professor que aspira ter aluno sai das aulas pensando, raciocinando, investigando e
uma boa didática necessita aprender a cada dia como lidar com atuando como o modo próprio de pensar, raciocinar,
a subjetividade dos alunos, seus motivos, sua linguagem, suas investigar e atuar da geografia.
percepções, sua prática de vida. Sem essa disposição, será Trata-se, assim, de fazer a junção entre o conteúdo e o
incapaz de colocar problemas, desafios, perguntas, desenvolvimento das capacidades de pensar. A ideia central
relacionados com os conteúdos, condição para se conseguir contida nessa teoria é simples: ensinar é colocar o aluno numa
uma aprendizagem significativa. atividade de aprendizagem. A atividade de aprendizagem é a
Essas considerações mostram o traço mais marcante de própria aprendizagem, ou seja, com base nos conteúdos,
uma didática crítico-social na perspectiva histórico-cultural: o aprender habilidades, desenvolver capacidades e
trabalho docente como mediação entre a cultura elaborada, competências para que os alunos aprendam por si mesmos.

Conhecimentos Específicos 46
APOSTILAS OPÇÃO

É essa ideia que Davydov defende: a atividade de aprender 1º) Análise do conteúdo da matéria para identificar um
consiste em encontrar soluções gerais para problemas princípio geral, ou seja, uma relação mais geral, um
específicos, é apreender os conceitos mais gerais que dão conceito nuclear, do qual se parte para ser aplicado a
suporte a um conteúdo, para aplicá-los a situações concretas. manifestações particulares desse conteúdo.
Esse modo de ver o ensino significa dizer que o ensino mais 2º) Realizar por meio da conversação dirigida, do
compatível com o mundo da ciência, da tecnologia, dos meios diálogo com os alunos, da colocação problemas ou casos,
de comunicação, é aquele que contribui para que o aluno tarefas que possibilitem deduções do geral para o
aprenda a raciocinar com a própria cabeça, que forme particular, ou seja, aplicação do princípio geral (relação
conceitos e categorias de pensamento decorrentes da ciência geral, conceito nuclear) a problemas particulares.
que está aprendendo, para lidar praticamente com a realidade. 3º) Conseguir com que o aluno domine os
Os conceitos, nessa maneira de ver, são ferramentas mentais procedimentos lógicos do pensamento (ligados à matéria)
para lidar praticamente com problemas, situações, dilemas que têm caráter generalizante. Ao captar a essência, isto é,
práticos, etc. o princípio interno explicativo do objeto e suas relações
Explicitando essa ideia numa formulação mais completa, internas, o aluno se apropria dos métodos e estratégias
podemos dizer: o modo de lidar pedagogicamente com algo, cognitivas dos modos de atividades anteriores
depende do modo de lidar epistemologicamente com algo, desenvolvidas pelos cientistas; o aluno reproduz em sua
considerando as condições do aluno e o contexto sociocultural mente o percurso investigativo de apreensão teórica do
em que ele vive (vale dizer, as condições da realidade objeto realizado pela prática científica e social.
econômica, social, etc.). Trata-se, portanto, de unir no ensino a
lógica do processo de investigação com os produtos da Todos esses momentos devem estar conectados com os
investigação. Ou seja, o acesso aos conteúdos, a aquisição de motivos e objetivos subjetivos do aluno, ampliados com as
conceitos científicos, precisa percorrer o processo de necessidades sociais de estudar e aprender interpostos pelo
investigação, os modos de pensar e investigar da ciência professor, na sua condição de educador.
ensinada. Não basta aprender o que aconteceu na história, é
preciso pensar historicamente. Pensar matematicamente O Caminho Didático: Sugestões para Elaboração de
sobre matemática, biologicamente sobre biologia, Planos de Ensino
linguisticamente sobre português.
Essa forma de entender a atividade de ensino das Ao assumir o ensino de uma matéria, os professores
disciplinas específicas requer do professor não apenas o geralmente partem de um conteúdo já estabelecido num
domínio do conteúdo, mas, também, dos procedimentos projeto pedagógico-curricular. O procedimento da análise de
investigativos da matéria que está ensinando e das formas de conteúdo indicado na didática desenvolvimental pode levar a
pensamento, habilidades de pensamento que propiciem uma uma organização do conteúdo muito diferente da existente na
reflexão sobre a metodologia investigativa do conteúdo que se instituição, ou seja, os temas podem ser os mesmos, mas a
está aprendendo. Ensinar, portanto, é adquirir meios do sequência e a lógica de estruturação podem ser outras.
pensar, através dos conteúdos. Em outras palavras, é Os procedimentos a serem utilizados em relação à
desenvolver nos alunos o pensamento teórico, que é o formulação de conteúdos, objetivos e metodologia podem ser
processo através do qual se revela a essência e o os seguintes:
desenvolvimento dos objetos de conhecimento e com isso a a) Identificar, o núcleo conceitual da matéria (essência,
aquisição de métodos e estratégias cognoscitivas gerais de princípio geral básico) e as relações gerais básicas que a
cada ciência, em função de analisar e resolver problemas. definem e lhe dão unidade. Este núcleo conceitual contém a
Escreve a esse respeito Rubtsov: generalização esperada para que o aluno a interiorize, de
modo a poder deduzir relações particulares da relação básica
A aquisição de um método teórico geral visando à identificada.
resolução de uma série de problemas concretos e práticos, b) Construir a rede de conceitos básicos que dão suporte a
concentrando-se naquilo que eles têm em comum e não na esse núcleo conceitual, com as devidas relações e articulações
resolução específica de um entre eles, constitui-se numa (mapa conceitual).
das características mais importantes da aprendizagem. c) Estudo da gênese e dos processos investigativos do
Propor um problema de aprendizagem a um escolar é conteúdo, de modo a extrair ações mentais, habilidades
confrontá-lo com uma situação cuja solução, em todas as cognitivas gerais a formar no estudo da matéria.
suas variantes concretas, pede uma aplicação do método d) Formulação de tarefas de aprendizagem, com base em
teórico geral. situações-problema, que possibilitem a formação de
(...) Podemos definir o processo de resolução de um habilidades cognitivas gerais e específicas em relação à
problema como o da aquisição das formas de ação matéria.
características dos conteúdos teóricos. O termo “forma de e) Prever formas de avaliação para verificar se o aluno
ação geral”, também chamado de forma de ação universal, desenvolveu ou está desenvolvendo a capacidade de utilizar os
designa aquilo que é obtido como resultado ou modo de conceitos como ferramentas mentais.
funcionamento essencial para trazer soluções para os
problemas de aprendizagem; mais do que soluções, é este A Didática e as Diretrizes Curriculares para a Educação
resultado particular que constitui o objeto desses Básica
problemas.
A estrutura didática da Educação Básica instituída pela Lei
Nesses termos, o papel da didática é: a) ajudar os alunos a n°. 9.394 de 20 de dezembro de 1996 envolve escolas de
pensar teoricamente (a partir da formação de conceitos); b) diferentes níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental e
ajudar o aluno a dominar o modo de pensar, atuar e investigar Ensino Médio, além de modalidades específicas de ensino,
a ciência ensinada; c) levar em conta a atividade psicológica do como a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional
aluno (motivos) e seu contexto sociocultural e institucional. e a Educação Especial.
Para chegar à consecução desses objetivos, o professor Conforme o artigo 22 desta lei: “A educação básica tem por
precisa saber como trabalhar a matéria no sentido da finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
formação e operação com conceitos. Para isso, no trabalho com comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
os conteúdos, podem ser seguidos três momentos: lhe meios para progredir no trabalho e em estudos

Conhecimentos Específicos 47
APOSTILAS OPÇÃO

posteriores”. Essas finalidades devem ser analisadas de acordo A Educação de Jovens e de Adultos - EJA é a modalidade de
com os pressupostos filosóficos e políticos contidos na ensino prevista nos artigos 37 e 38 da LDB para jovens e
Constituição Brasileira vigente. Portanto, todas as atividades adultos concluírem o Ensino Fundamental ou Médio.
de ensino-aprendizagem devem obrigatoriamente convergir A Educação Profissional não se coloca como um nível de
para as finalidades constitucionalmente estabelecidas. ensino, mas tipo de formação que se integra ao trabalho, à
A Educação Infantil é o primeiro nível da Educação Básica ciência e à tecnologia e conduz ao permanente
e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Está
até seis anos, considerando os aspectos físico, psicológico, regulamentada nos artigos 39, 40 e 41 da LDB.
intelectual e social e completando a ação da família e da
comunidade. Segundo o artigo 30 da LDB, é oferecida em dois A Educação Especial, de acordo com o artigo 58 da LDB, é
níveis: “I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de uma modalidade de educação oferecida preferentemente na
até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de 4 rede regular de ensino, para educandos com deficiência,
(quatro) a 5 (cinco) anos de idade.”. transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação.
O Ensino Fundamental, segundo artigo 32 da
LDB, obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na Questões
escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por
objetivo a formação básica do cidadão, mediante: 01. (SEDUC/PI - Professor - Informática - NUCEPE) A
I - O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo Didática constitui disciplina essencial nos processos de
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do formação de professores, notadamente articulando o saber, o
cálculo; saber-ser e o saber-fazer. No contexto dessa análise, pode-se
II - A compreensão do ambiente natural e social, do sistema afirmar CORRETAMENTE, acerca da concepção tradicional de
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se Didática que:
fundamenta a sociedade; (A) refere-se a um conjunto de procedimentos universais
III - O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, relativos à docência;
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a (B) afirma a neutralidade científica do método, a
formação de atitudes e valores; preocupação com os meios desvinculados dos fins e do
IV - O fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de contexto;
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se (C) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de
assenta a vida social. ensino, buscando articular escola/sociedade;
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino (D) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se
fundamental em ciclos. como um conjunto de normas prescritivas centradas no
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular método;
por série podem adotar no ensino fundamental o regime de (E) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de
progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo educação desvinculados dos princípios educacionais.
de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
sistema de ensino. 02. (SEE/AL - Todos os Cargos - CESPE) Com relação à
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em didática e à sua prática histórico-social, julgue o item a seguir.
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva,
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em
aprendizagem. contraposição ao enfoque humanista.
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino ( ) Certo ( ) Errado
a distância utilizado como complementação da aprendizagem
ou em situações emergenciais. 03. (Prefeitura de Nova Friburgo/RJ - Professor -
§ 5° O currículo do ensino fundamental incluirá, EXATUS/PR) Em relação à Didática, é incorreto afirmar que
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças (A) contribui para transformar a prática pedagógica da
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 escola, ao desenvolver a compreensão articulada entre os
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do conteúdos a serem ensinados e as práticas sociais.
Adolescente, observada a produção e distribuição de material (B) não compete refletir acerca dos objetivos sócio-
didático adequado. políticos e pedagógicos, ao selecionar os conteúdos e métodos
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído de ensino.
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. (C) realiza-se por meio de ação consciente, intencional e
planejada, no processo de formação humana, estabelecendo-
O Ensino Médio, conforme o artigo 35 da LDB, é a etapa se objetivos e critérios socialmente determinados.
final da Educação Básica, com duração mínima de três anos. (D) sua finalidade é converter objetivos sócio-políticos e
Tem como finalidades: pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e
I - A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos métodos em função desses objetivos.
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos; Gabarito
II - A preparação básica para o trabalho e a cidadania do
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de 01.D / 02.Certa / 03.B
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores;
III - O aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico;
IV - A compreensão dos fundamentos científico-
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
com a prática, no ensino de cada disciplina.

Conhecimentos Específicos 48
APOSTILAS OPÇÃO

MÉTODOS DE ENSINO fonema e seu grafema correspondente por vez, evitando


confusões auditivas e visuais.
74Os métodos de ensino são as ações do professor pelas Como este aprendizado é feito de forma mecânica, através
quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para da repetição, o método sintético é tido pelos críticos como
atingir objetivos do trabalho docente em relação a um mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado
conteúdo específico. Eles regulam as formas de interação entre apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não
ensino e aprendizagem, entre o professor e os alunos, cujo cria nada, apenas age sem autonomia.
resultado é a assimilação consciente dos conhecimentos e o
desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas Método Analítico
dos alunos. O método analítico, também conhecido como “método
O método não se reduz a um conjunto de procedimentos. O olhar-e-dizer”, defende que a leitura é um ato global e
procedimento é um detalhe do método, formas específicas da audiovisual. Partindo deste princípio, os seguidores do
ação docente utilizadas em distintos métodos de ensino. Por método começam a trabalhar a partir de unidades completas
exemplo, se é utilizado o método da exposição, podem-se de linguagem para depois dividi-las em partes menores. Por
utilizar procedimentos tais como leitura de texto, exemplo, a criança parte da frase para extrair as palavras e,
demonstração de um experimento, etc. depois, dividi-las em unidades mais simples, as sílabas.
Este método pode ser divido em palavração, sentenciação
Qual é o Melhor Método? ou global. Na palavração, como o próprio nome diz, parte-se da
palavra. Primeiro, existe o contato com os vocábulos em uma
O melhor método para a alfabetização75 é uma discussão sequência que engloba todos os sons da língua e, depois da
antiga entre os especialistas no assunto e também entre os aquisição de certo número de palavras, inicia-se a formação
pais quando vão escolher uma escola para seus filhos das frases.
começaram a ler as primeiras palavras e frases. No caso Na setenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase,
brasileiro, com os elevados índices de analfabetismo e os que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os
graves problemas estruturais na rede pública de ensino, elementos mais simples: as sílabas. Já no global, também
especialistas debatem qual seria o melhor método para conhecido como conto e estória, o método é composto por
revolucionar, ou pelo menos, melhorar a educação brasileira. várias unidades de leitura que têm começo, meio e fim, sendo
Ao longo das décadas, houve uma mudança da forma de pensar ligadas por frases com sentido para formar um enredo de
a educação, que passou de ser vista da perspectiva de como o interesse da criança. Os críticos deste método dizem que a
aluno aprende e não como o professor ensina. criança não aprende a ler, apenas decora.
São muitas as formas de alfabetizar e cada uma delas
destaca um aspecto no aprendizado. Desde o método fônico, Método Alfabético
adotado na maioria dos países do mundo, que faz associação Um dos mais antigos sistemas de alfabetização, o método
entre as letras e sons, passando pelo método da linguagem alfabético, também conhecido como soletração, tem como
total, que não utiliza cartilhas, e o alfabético, que trabalha com princípio de que a leitura parte da decoração oral das letras do
o soletramento, todos contribuem de uma forma ou de outra, alfabeto, depois, todas as suas combinações silábicas e, em
para o processo de alfabetização. seguida, as palavras. A partir daí, a criança começa a ler
sentenças curtas e vai evoluindo até conhecer histórias.
Para Libâneo:76"Os métodos são determinados pela relação Por este processo, a criança vai soletrando as sílabas até
objetivos-conteúdos, e referem-se aos meios para alcançar os decodificar a palavra.
objetivos gerais e específicos do ensino, ou seja, ao 'como' do Por exemplo, a palavra casa soletra-se assim c, a, ca, s, a,
processo de ensino, englobando as ações a serem realizadas pelo sa, casa. O método Alfabético permite a utilização de
professor e pelos alunos para atingir objetivos e conteúdos." cartilhas.
As principais críticas a este método estão relacionadas à
Características dos Métodos de Alfabetização repetição dos exercícios, o que o tornaria tedioso para as
crianças, além de não respeitar os conhecimentos adquiridos
Método Sintético pelos alunos antes de eles ingressarem na escola.
O método sintético estabelece uma correspondência entre O método alfabético, apesar de não ser o indicado pelos
o som e a grafia, entre o oral e o escrito, através do Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda é muito utilizado em
aprendizado por letra por letra, ou sílaba por sílaba e palavra diversas cidades do interior do Nordeste e Norte do país, já que
por palavra. é mais simples de ser aplicado por professores leigos, através
Os métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o da repetição das Cartas de ABC, e na alfabetização doméstica.
alfabético, o fônico e o silábico. No alfabético, o estudante
aprende inicialmente as letras, depois forma as sílabas Método Fônico
juntando as consoantes com as vogais, para, depois, formar as O método fônico consiste no aprendizado através da
palavras que constroem o texto. associação entre fonemas e grafemas, ou seja, sons e letras.
No fônico, também conhecido como fonético, o aluno parte Esse método de ensino permite primeiro descobrir o princípio
do som das letras, unindo o som da consoante com o som da alfabético e, progressivamente, dominar o conhecimento
vogal, pronunciando a sílaba formada. Já no silábico, ou ortográfico próprio de sua língua, através de textos
silabação, o estudante aprende primeiro as sílabas para formar produzidos especificamente para este fim.
as palavras. O método é baseado no ensino do código alfabético de
Por este método, a aprendizagem é feita primeiro através forma dinâmica, ou seja, as relações entre sons e letras devem
de uma leitura mecânica do texto, através da decifração das ser feitas através do planejamento de atividades lúdicas para
palavras, vindo posteriormente a sua leitura com levar as crianças a aprender a codificar a fala em escrita e a
compreensão. decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento.
Neste método, as cartilhas são utilizadas para orientar os O método fônico nasceu como uma crítica ao método da
alunos e professores no aprendizado, apresentando um soletração ou alfabético. Primeiro são ensinadas as formas e os

74 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 76 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
75 VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo:Martins Fontes,
1989.

Conhecimentos Específicos 49
APOSTILAS OPÇÃO

sons das vogais. Depois são ensinadas as consoantes, sendo, organizam as atividades de ensino com o intuito de atingir
aos poucos, estabelecidas relações mais complexas. Cada letra objetivos. Considerando essa informação, assinale a
é aprendida como um fonema que, juntamente com outro, alternativa correta.
forma sílabas e palavras. São ensinadas primeiro as sílabas (A) Os métodos de ensino adotados em sala de aula
mais simples e depois as mais complexas. independem dos objetivos gerais propostos pelo Projeto
Visando aproximar os alunos de algum significado é que Político-Pedagógico (PPP) da escola.
foram criadas variações do método fônico. O que difere uma (B) O método de ensino deve corresponder à necessária
modalidade da outra é a maneira de apresentar os sons: seja a unidade: objetivos; conteúdos; métodos; e formas de
partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada organização do ensino.
à imagem e som, de um personagem associado a um fonema, (C) Os métodos de ensino independem dos conteúdos e das
de uma onomatopeia ou de uma história para dar sentido à disciplinas, por isso todos os métodos podem ser utilizados em
apresentação dos fonemas. Um exemplo deste método é o qualquer conteúdo.
professor que escreve uma letra no quadro e apresenta (D) A escolha do método a ser utilizado para o ensino de um
imagens de objetos que comecem com esta letra. Em seguida, determinado conteúdo independe da idade e do nível de
escreve várias palavras no quadro e pede para os alunos desenvolvimento dos alunos.
apontarem a letra inicialmente apresentada. A partir do (E) No PPP da escola, já estão definidos todos os métodos e
conhecimento já adquirido, o aluno pode apresentar outras todas as ações que o professor adotará em sala de aula.
palavras com esta letra.
Os especialistas dizem que este método alfabetiza crianças, 02. (Secretaria da Criança/DF - Especialista
em média, no período de quatro a seis meses. Este é o método Socioeducativo - FUNIVERSA) Assinale a alternativa que
mais recomendado nas diretrizes curriculares dos países apresenta o termo correspondente ao seguinte conceito: são
desenvolvidos que utilizam a linguagem alfabética. determinados pela relação objetivo-conteúdo e referem-se aos
A maior crítica a este método é que não serve para trabalhar meios para alcançar objetivos gerais e específicos do ensino,
com as muitas exceções da língua portuguesa. Por exemplo, englobando as ações a serem realizadas pelo professor e pelos
como explicar que cassa e caça têm a mesma pronúncia e se alunos.
escrevem de maneira diferente? (A) conteúdos de ensino
(B) planos de aulas
A Velha Cartilha Caminho Suave (C) currículos
(D) planejamentos curriculares
A grande maioria dos brasileiros alfabetizados até os anos (E) métodos de ensino
de 1970 e início dos 80 teve na cartilha Caminho Suave o seu
primeiro passo para o aprendizado das letras. Com mais de 40 Gabarito
milhões de exemplares vendidos desde a sua criação, a cartilha
idealizada pela educadora Branca Alves de Lima, que morreu 01.B / 02.E
em 2001, aos 90 anos, teve um grande sucesso devido à
simplicidade de sua técnica.
Na tentativa de facilitar a memorização das letras, vogais e As inovações tecnológicas e
consoantes, e depois das sílabas para aprender a formar as sua utilização no processo de
palavras, a então professora Branca, no final da década de 40,
criou uma série de desenhos que continham a inicial das ensino-aprendizagem
palavras: o “A” no corpo da abelha, o “F” no cabo da faca, o “G”,
no corpo do gato.
Por causa da facilidade no aprendizado por meio desta EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS
técnica, rapidamente a cartilha tornou-se o principal aliado na
78Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais.
alfabetização brasileira até o início dos anos 80, quando o
construtivismo começou a tomar forma. Em 1995, o Ministério Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos
da Educação retirou a cartilha do seu catálogo de livros. Apesar desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos
disto, estima-se que ainda são vendidas 10 mil cartilhas por temos a clara sensação de que muitas aulas convencionais estão
ano no Brasil. ultrapassadas. Mas, para onde mudar? Como ensinar e aprender
em uma sociedade mais interconectada?
Tipos de Métodos de Ensino77 Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas
previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o
1 - Método de Exposição pelo professor: exposição verbal, cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula
demonstração, ilustração, exemplificação, etc. em uma comunidade de investigação.
2 - Método de Trabalho Independente: estudo dirigido, Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade
investigação e solução de problemas, etc. espaço temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e
3 - Método de Elaboração Conjunta: conversação didática processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma
(perguntas). das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a
4 - Método de Trabalho em Grupo: debate, TPG, variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua
Tempestade Mental, GV-GO, Seminário, etc. compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados.
5 - Atividades Especiais: estudo do meio, atividades Temos informações demais e dificuldade em escolher quais
práticas, etc. são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
nossa mente e da nossa vida.
Questões A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez
menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados,
01. (IF/AP - Pedagogo - FUNIVERSA) Os métodos de imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do
ensino são as ações por meio das quais os professores

77 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 78 MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e

mediação pedagógica. Ed. Papirus.2000.

Conhecimentos Específicos 50
APOSTILAS OPÇÃO

professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar “papagaios”, que repetem o que leem e ouvem, que se deixam
esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. levar pela última moda intelectual, sem questioná-la.
Aprender depende também do aluno, de que ele esteja É importante termos educadores/pais com um
pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa amadurecimento intelectual, emocional, comunicacional e
informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, ético, que facilite todo o processo de organizar a
emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que
contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que
verdadeiramente significativa, não será aprendida a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer
verdadeiramente. formas democráticas de pesquisa e de comunicação.
Avançaremos mais pela educação positiva do que pela As mudanças na educação dependem também de termos
repressiva. É importante não começar pelos problemas, pelos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que
erros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim começar entendam todas as dimensões que estão envolvidas no
pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo apoio na processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro;
nossa capacidade de aprender e de mudar. que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o
Ajudar o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano,
que se valorize como pessoa, que se aceite plenamente em contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação,
todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em si, será intercâmbio e comunicação.
mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equilíbrio entre As mudanças na educação dependem também dos alunos.
direitos e deveres, a dimensão grupal e social. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o
processo, estimulam as melhores qualidades do professor,
As Dificuldades para Mudar na Educação tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do
professor-educador.
As mudanças demorarão mais do que alguns pensam, Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais,
porque nos encontramos em processos desiguais de ajudam o professor a ajuda-los melhor. Alunos que provêm de
aprendizagem e evolução pessoal e social. Não temos muitas famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam
instituições e pessoas que desenvolvam formas avançadas de afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes
compreensão e integração, que possam servir como culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem
referência. Predomina a média, a ênfase no intelectual, a mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.
separação entre a teoria e a prática.
Temos grandes dificuldades no gerenciamento emocional, Integrar os Meios de Comunicação na Escola
tanto no pessoal como no organizacional, o que dificulta o
aprendizado rápido. São poucos os modelos vivos de Antes da criança chegar à escola, já passou por processos
aprendizagem integradora, que junta teoria e prática, que de educação importantes: pelo familiar e pela mídia eletrônica.
aproxima o pensar do viver. No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e
A ética permanece contraditória entre a teoria e a prática. emocionalmente, a criança vai desenvolvendo as suas
Os meios de comunicação mostram com frequência como conexões cerebrais, os seus roteiros mentais, emocionais e
alguns governantes, empresários, políticos e outros grupos de suas linguagens. Os pais, principalmente a mãe, facilitam ou
elite agem impunemente. Muitos adultos falam uma coisa - complicam, com suas atitudes e formas de comunicação mais
respeitar as leis - e praticam outra, deixando confusos os ou menos maduras, o processo de aprender a aprender dos
alunos e levando-os a imitar mais tarde esses modelos. seus filhos.
O autoritarismo da maior parte das relações humanas A criança também é educada pela mídia, principalmente
interpessoais, grupais e organizacionais espelha o estágio pela televisão. Aprende a informar-se, a conhecer - os outros,
atrasado em que nos encontramos individual e coletivamente o mundo, a si mesmo - a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
de desenvolvimento humano, de equilíbrio pessoal, de ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, que lhe mostram como
amadurecimento social. E somente podemos educar para a viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia
autonomia, para a liberdade com processos eletrônica é prazerosa - ninguém obriga - é feita através da
fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa -
que respeitem as diferenças, que incentivem, que apoiem, aprendemos vendo as estórias dos outros e as estórias que os
orientados por pessoas e organizações livres. outros nos contam. Mesmo durante o período escolar a mídia
As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, mostra o mundo de outra forma - mais fácil, agradável,
de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, compacta - sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano,
pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando
e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em como contraponto à educação convencional, educa enquanto
contato, porque dele saímos enriquecidos. estamos entretidos.
O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que Os Meios de Comunicação, principalmente a televisão,
sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de
Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a nossa comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo
ignorância, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o
relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. público. A TV fala primeiro do "sentimento" - o que você
Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que sentiu", não o que você conheceu; as ideias estão embutidas na
dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.
Os grandes educadores atraem não só pelas suas ideias, Os Meios de Comunicação operam imediatamente com o
mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a sensível, o concreto, principalmente, a imagem em movimento.
atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que Combinam a dimensão espacial com a cinestésica, onde o
dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na ritmo torna-se cada vez mais alucinante (como nos
forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de videoclipes). Ao mesmo tempo utilizam a linguagem
descobertas. conceitual, falada e escrita, mais formalizada e racional.
Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não Imagem, palavra e música se integram dentro de um contexto
nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. São docentes comunicacional afetivo, de forte impacto emocional, que
facilita e predispõe a aceitar mais facilmente as mensagens.

Conhecimentos Específicos 51
APOSTILAS OPÇÃO

A eficácia de comunicação dos meios eletrônicos, em situações concretas e a generalização. Mostra dois ou três
particular da televisão, se deve também à capacidade de escândalos na família real inglesa e tirar conclusões sobre o
articulação, de superposição e de combinação de linguagens valor e a ética da realeza como um todo.
totalmente diferentes - imagens, falas, música, escrita - com Ao mesmo tempo, o não mostrar equivale a não existir, a
uma narrativa fluida, uma lógica pouco delimitada, gêneros, não acontecer. O que não se vê, perde existência. Um fato
conteúdos e limites éticos pouco precisos, o que lhe permite mostrado com imagem e palavra tem mais força que se
alto grau de entropia, de interferências por parte de somente é mostrado com palavra. Muitas situações
concessionários, produtores e consumidores. importantes do cotidiano perdem força, por não ter sido
A televisão combina imagens estáticas e dinâmicas, valorizadas pela imagem-palavra televisiva.
imagens ao vivo e gravadas, imagens de captação imediata, A educação escolar precisa compreender e incorporar
imagens referenciais (registradas diretamente com a câmara) mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar
com imagens criadas por um artista no computador. Junta as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É
imagens sem ligação referencial (não relacionadas com o real) importante educar para usos democráticos, mais progressistas
com imagens "reais" do passado (arquivo, documentários) e as e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos
mistura com imagens "reais" do presente e imagens do indivíduos. O poder público pode propiciar o acesso de todos
passado não “reais”. os alunos às tecnologias de comunicação como uma forma
A imagem na televisão, cinema e vídeo é sensorial, paliativa, mas necessária de oferecer melhores oportunidades
sensacional e tem um grande componente subliminar, isto é, aos pobres, e também para contrabalançar o poder dos grupos
passa muitas informações que não captamos claramente. empresariais e neutralizar tentativas ou projetos autoritários.
O olho nunca consegue captar toda a informação. Então Se a educação fundamental é feita pelos pais e pela mídia,
escolhe um nível que dê conta do essencial, do suficiente para urgem ações de apoio aos pais para que incentivem a
dar um sentido ao caos, de organizar a multiplicidade de aprendizagem dos filhos desde o começo das vidas deles,
sensações e dados. Foca a atenção, em alguns aspectos através do estímulo, das interações, do afeto. Quando a criança
analógicos, nas figuras destacadas, nas que se movem e com chega à escola, os processos fundamentais de aprendizagem já
isso conseguimos acompanhar uma estória. Mas deixamos de estão desenvolvidos de forma significativa. Urge também a
lado, inúmeras informações visuais e sensoriais, que não são educação para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e
percebidas conscientemente. A força da linguagem audiovisual utilizá-las da forma mais abrangente possível.
está em que consegue dizer muito mais do que captamos,
chegar simultaneamente por muitos mais caminhos do que Preparar os Professores para a Utilização do
conscientemente percebemos e encontra dentro de nós uma Computador e da Internet
repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas,
arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que se - O primeiro passo é facilitar o acesso dos professores e dos
relacionam conosco de alguma forma alunos ao computador e à Internet. Procurar de todas as
É uma comunicação poderosa, como nunca antes a tivemos formas possíveis que todos possam ter o acesso mais fácil,
na história da humanidade e as novas tecnologias de frequente e personalizado possível às novas tecnologias. Ter
multimídia e realidade virtual só estão tornando esse processo salas de aula conectadas, salas ambiente para pesquisa,
de simulação muito mais exacerbado, explorando-o até limites laboratórios bem equipados. Facilitar que os professores
inimagináveis. possam ter seus próprios computadores. Facilitar que cada
A organização da narrativa televisiva, principalmente a aluno possa ter um computador pessoal portátil. Sabemos que
visual, não se baseia somente - e muitas vezes, não esta situação no Brasil é atualmente uma utopia, mas hoje o
primordialmente- na lógica convencional, na coerência ensino de qualidade passa também necessariamente pelo
interna, na relação causa-efeito, no princípio de não- acesso rápido, contínuo e abrangente a todas as tecnologias,
contradição, mas numa lógica mais intuitiva, mais conectiva. principalmente às telemáticas.
Imagens, palavras e música vão se agrupando segundo
critérios menos rígidos, mais livres e subjetivos dos Um dos projetos políticos mais importantes é que a
produtores que pressupõem um tipo de lógica da recepção sociedade encontre formas de diminuir a distância que
também menos racional, mais intuitiva. separa no acesso à informação entre os que podem e os
Um dos critérios principais é a contiguidade a justaposição que não podem pagar por ela. As escolas públicas,
por algum tipo de analogia, de associação por semelhança ou comunidades carentes precisam ter esse acesso garantido
por oposição, por contraste. Ao colocar pedaços de imagens ou para não ficarem condenadas à segregação definitiva, ao
cenas juntas, em sequência, criam-se novas relações, novos analfabetismo tecnológico, ao ensino de quinta classe.
significados, que antes não existiam e que passam a ser
considerados aceitáveis, "naturais", "normais". Colocando, por - O segundo passo é ajudar na familiarização com o
exemplo, várias matérias em sequência, num mesmo bloco e computador, com seus aplicativos e com a Internet. Aprender
em dias sucessivos - como se fossem capítulos de uma novela a utilizá-lo no nível básico, como ferramenta. No nível mais
-, sobre o assassinato de uma atriz, o de várias crianças e avançado: dominar as ferramentas da WEB, do e-mail.
outros crimes semelhantes, acontecidos no Brasil e em outros Aprender a pesquisar nos search, a participar de listas de
países, multiplica-se a reação de indignação da população, o discussão, a construir páginas.
seu desejo de vingança. Isto favorece os defensores da pena de - O nível seguinte é auxiliar os professores na utilização
morte; o que não estava explícito em cada reportagem e nem pedagógica da Internet e dos programas multimídia. Ensiná-
talvez fosse a intenção dos produtores. los a fazer pesquisa.
A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica Começar pela pesquisa aberta, onde há liberdade de
entre mostrar e demonstrar. Mostrar é igual a demonstrar, a escolha do lugar (tema pesquisado livremente) e pesquisa
provar, a comprovar. A força da imagem é tão evidente que se dirigida, focada para um endereço específico ou um site
torna difícil não fazer essa associação comprovatória ("se uma determinado. Pesquisa nos sites de busca, nos bancos de
imagem me impressiona, é verdadeira"). Também é muito dados, nas bibliotecas virtuais, nos centros de referência.
comum a lógica de generalizar a partir de uma situação Pesquisa dos temas mais gerais para os mais específicos,
concreta. Do individual, tendemos ao geral. Uma situação pesquisa grupal e pessoal.
isolada converte-se em situação paradigmática, padrão. A - A internet pode ser utilizada em um projeto isolado de
televisão, principalmente, transita continuamente entre as uma classe, como algo complementar ou um projeto

Conhecimentos Específicos 52
APOSTILAS OPÇÃO

voluntário, com alunos se inscrevendo. A Internet pode ser um Sala de Aula Interativa
projeto entre vários colégios ou grupos, na mesma cidade, de
várias cidades ou países. O projeto pode evoluir para a Outro termo bem utilizado para usos da tecnologia é o de
interdisciplinaridade, integrando várias áreas e professores. A sala de aula interativa. Vem do iluminismo a crença na escola
Internet pode fazer parte de um projeto institucional, que como lugar destinado a formar cidadãos esclarecidos,
envolve toda a escola de forma mais colaborativa. senhores do seu próprio destino. Entretanto a sala de aula
convive tradicionalmente com um impedimento de base ao
A escola pode utilizar a Internet em uma sala especial ou seu propósito primordial de educar para a cidadania. Ela não
laboratório, onde os alunos se deslocam especialmente, em contempla a participação do aluno na construção do
períodos determinados, diferentes da sala de aula conhecimento e da própria comunicação. O grande discurso
convencional. A internet também pode ser utilizada na sala de moderno centrado na educação escolar sempre conviveu esse
aula conectada, só pelo professor, como uma tecnologia impedimento: o peso de uma tradição bem formulada por
complementar do professor ou pode ser utilizada também Pierre Lévy quando diz: “a escola é uma instituição que há
pelos alunos conectados através de notebooks na mesma sala cinco mil anos se baseia no falar-ditar do mestre”.
de aula, sem deslocamento. Nos livros Pedagogia do oprimido, Educação e mudança, e
A importância do ato de ler, Paulo Freire faz críticas à
Alguns Caminhos para Integrar as Tecnologias num transmissão como sendo o modelo mais identificado como
Ensino Inovador prática de ensino e menos habilitado a educar. Cito algumas:
“O professor ainda é um ser superior que ensina a ignorantes.
Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo Isto forma uma consciência bancária [sedentária, passiva]. O
a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-
integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o que se
grupal e o social. deposita.”; “Quem apenas fala e jamais ouve; quem ‘imobiliza’
É importante conectar sempre o ensino com a vida do o conhecimento e o transfere a estudantes, não importa se de
aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela escolas primárias ou universitárias; quem ouve o eco, apenas
experiência, pela imagem, pelo som, pela representação de suas próprias palavras, numa espécie de narcisismo oral;
(dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação (...) não tem realmente nada que ver com libertação nem
online e offline. democracia.”;
Partir de onde o aluno está. Ajuda-lo a ir do concreto ao “Ensinar não é a simples transmissão do conhecimento em
abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o torno do objeto ou do conteúdo. Transmissão que se faz muito
intelectual. Os professores, diretores, administradores terão mais através da pura descrição do conceito do objeto a ser
que estar permanentemente em processo de atualização mecanicamente memorizado pelos alunos.”
através de cursos virtuais, de grupos de discussão P. Freire não desenvolveu uma teoria da comunicação que
significativos, participando de projetos colaborativos dentro e dê conta de sua crítica à transmissão. No entanto, deixou seu
fora das instituições em que trabalham. legado que garante ao conceito de interatividade a exigência
Tanto nos cursos convencionais como nos cursos à da participação daquele que deixa o lugar da recepção para
distância teremos que aprender a lidar com a informação e o experimentar a cocriação.
conhecimento de formas novas, pesquisando muito e A sala de aula presencial e à distância segue os três
comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais fundamentos citados anteriormente. Entretanto, é preciso
rapidamente na compreensão integral dos assuntos considerar que a distinção “presencial” e “à distância” será
específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e cada vez menos pertinente quanto mais se popularizarem as
intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos tecnologias digitais. As duas modalidades coexistirão: o uso da
aprender a mudar nossas ideias, sentimentos e valores onde web, dos suportes multimídia e a sala de aula tradicional com
se fizer necessário. professor e alunos frente a frente. O aluno terá a aula na escola,
Necessitamos de muitas pessoas livres nas escolas que na universidade, e terá também o site da disciplina com
modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino - exercícios e novas proposições configurando a sala de aula
escolar e gerencial - Só pessoas livres, autônomas - ou em virtual. Porém é certo que esteja apenas iniciando a
processo de libertação - podem educar para a liberdade, proliferação do “ensino exclusivamente à distância” via
podem educar para a autonomia, podem transformar a Internet.
sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador.
Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que Para promover a sala de aula interativa o professor
fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas precisa desenvolver pelo menos cinco habilidades entre
abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para outras:
interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, 1. Pressupor a participação-intervenção dos alunos,
utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se sabendo que participar é muito mais que responder “sim” ou
somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para “não”, é muito mais que escolher uma opção dada; participar é
controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação atuar na construção do conhecimento e da comunicação;
não está fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas 2. Garantir a bidirecionalidade da emissão e recepção,
mentes. sabendo que a comunicação e a aprendizagem são produção
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se conjunta do professor e dos alunos;
mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do 3. Disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que
ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso não se propõe uma mensagem fechada, ao contrário, se oferece
contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem informações em redes de conexões permitindo ao receptor
mexer no essencial. A Internet é um novo meio de ampla liberdade de associações, de significações;
comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a 4. Engendrar a cooperação, sabendo que a comunicação e o
rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de conhecimento se constroem entre alunos e professor como
ensinar e de aprender. cocriação e não no trabalho solitário;
5. Suscitar a expressão e a confrontação das subjetividades,
sabendo que a fala livre e plural supõe lidar com as diferenças
na construção da tolerância e da democracia.

Conhecimentos Específicos 53
APOSTILAS OPÇÃO

Estas são habilidades necessárias para o professor distância poderá ajudar os participantes a equilibrar as
aproveitar ao máximo o potencial das novas tecnologias em necessidades e habilidades pessoais com a participação em
sala de aula. Contudo não se destinam somente à sala de aula grupos-presenciais e virtuais.
“inforrica”. Pois, uma vez que interatividade é conceito de
comunicação e não de informática, tais habilidades são Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem
necessárias também para o professor que quer modificar sua
postura comunicacional na sala “infopobre”. O avanço e o desenvolvimento tecnológico impulsionaram
e estão transformando a maneira de ensinar e aprender. Além
Alguns Problemas no Uso da Internet na Educação disso, o intenso ritmo do mundo globalizado e a complexidade
crescente de tarefas que envolvem informação e tecnologia
Os dados e informações são muitos, e, portanto, gera uma fazem com que o processo educativo não possa ser
certa confusão entre informação e conhecimento. considerado uma atividade primordial. Dessa forma, afirma-se
Na informação os dados organizam-se dentro de uma que a demanda educativa deixou de ser exclusivamente de
lógica, de uma estrutura determinada. uma faixa etária que frequenta as escolas para ser necessidade
Conhecimento é integrar a informação no nosso do público em geral que necessitam estar continuamente
referencial tornando-a significativa para nós. Alguns alunos atualizados para o competitivo mundo do trabalho.
estão acostumados a receber tudo pronto do professor e, Nos últimos anos, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem
portanto, não aceitam esta mudança na forma de ensinar. (AVAs) estão sendo cada vez mais utilizados no âmbito
Também há os professores que não aceitam o ensino acadêmico e corporativo como uma opção tecnológica para
multimídia, porque parece um modo de ficar brincando de atender uma demanda educacional. A partir disso, verifica-se
aula... a importância de um entendimento mais crítico sobre o
Na navegação muitos alunos se perdem pelas inúmeras conceito que orienta o desenvolvimento ou o uso desses
possibilidades de navegação e acabam se dispersando. Deve- ambientes, assim como, o tipo de estrutura humana e
se orientá-los a selecionar, comparar, sintetizar o que é mais tecnológica que oferece suporte ao processo ensino-
relevante, possibilitando um aprofundamento maior e um aprendizagem.
conhecimento significativo.
Em termos conceituais, os AVAs consistem em mídias
Mudanças no Ensino Presencial com Tecnologia que utilizam o ciberespaço para veicular conteúdos e
Muitos alunos já começam a utilizar o notebook para permitir interação entre os atores do processo educativo.
pesquisa, para solução de problemas. O professor também Dessa forma, a qualidade do processo educativo depende
acompanha esta mudança motivando os alunos através dos do envolvimento do aprendiz, da proposta pedagógica,
avanços tecnológicos. Teremos com esta atitude mais dos materiais veiculados, da estrutura e qualidade de
ambientes de pesquisa grupal e individual em cada escola; Ex.: professores, tutores, monitores e equipe técnica, assim
as bibliotecas transformam-se em espaços de integração de como das ferramentas e recursos tecnológicos utilizados
mídias e banco de dados. no ambiente.
Com isto haverá mais participação no processo de
comunicação, tornando a relação professor/aluno mais aberta Em consonância com essa evolução e realidade
e interativa, mais integração entre sociedade e a escola, entre educacional, e na tentativa de alinhar as produções de
aprendizagem e a vida. materiais didáticos que servissem como referenciais para
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? as mais variadas ofertas de cursos na modalidade em
Aprendemos e ensinamos com programas que apresentam educação a distância, o Ministério da Educação, conceitua
o melhor da educação presencial com as novas formas virtuais; Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) como:
porém há momentos que precisamos encontrar-nos programas que permitem o armazenamento, a
fisicamente, em geral no começo e no final de um assunto ou administração e a disponibilização de conteúdos no
curso. formato Web. Dentre esses, destacam-se: aulas virtuais,
objetos de aprendizagem, simuladores, fóruns, salas de
Equilibrar o Presencial e o Virtual bate-papo, conexões a materiais externos, atividades
Dificuldades no ensino presencial não serão resolvidos interativas, tarefas virtuais (webquest), modeladores,
com o virtual. Unir os dois modos de comunicação o presencial animações, textos colaborativos (Wiki).
e o virtual e valorizando o melhor de cada um é a solução.
As atividades que fazemos no presencial como Pode-se dizer que Ambiente Virtual de Aprendizagem
comunidades, criação de grupos afins. Definir objetivos, (AVA) consiste em uma excelente opção de mídia que está
conteúdos, formas de pesquisas e outras informações iniciais. sendo utilizada para mediar o processo ensino aprendizagem
A comunicação virtual permite interações espaço-temporais a distância. Segundo Mckimm, Jollie e Cantillon: consiste em
mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos novos um conjunto de ferramentas eletrônicas voltadas ao processo
contatos com pessoas semelhantes, mas distantes, maior ensino-aprendizagem. Os principais componentes incluem
liberdade de expressão à distância. sistemas que podem organizar conteúdos, acompanhar
Com o processo virtual o conceito de curso, de aula atividades e, fornecer ao estudante suporte on-line e
também muda. As crianças têm mais necessidade do contato comunicação eletrônica.
físico para ajudar na socialização, mas nos cursos médios e Sendo assim, para que o processo ensino-aprendizagem
superiores, o virtual superará o presencial. Menos salas de flua de forma significativa para as interações professor-aluno,
aulas e mais salas ambientes, de pesquisa, de encontro, pode-se dizer que o design do material consiste em um dos
interconectadas. aspectos essenciais. Fatores como tecnologia, interação,
cooperação e colaboração entre aprendizes, professores e
Tecnologias na Educação a Distância tutores contribuem para a efetividade do ensino e,
Muitas organizações estão se limitando a transpor para o consequentemente da aprendizagem.
virtual, adaptações do ensino presencial. Começamos a passar Os AVAs provêm recursos para dispor grande parte dos
dos modelos individuais para os grupais. A educação a materiais didáticos nos mais diferentes formatos, podendo ser
distância mudará de concepção, de individualista para mais elaborados na forma escrita, hipertextual, oral ou audiovisual.
grupal, de isolada para participação em grupos. Educação a Pode-se dizer que os recursos digitais e impressos adequados

Conhecimentos Específicos 54
APOSTILAS OPÇÃO

para AVAs devem ser cuidadosamente planejados pela equipe bem. Em AVAs pretende-se fomentar nos alunos, habilidades
de projeto considerando seu público-alvo. de aprendizagem autônoma, embora preferencialmente
coletiva, desenvolver habilidade de construção de
É interessante, portanto, observar algumas conhecimento, motivar a aprendizagem sem fim. Segundo
recomendações para o desenvolvimento do material didático, Maison e Rennie dão o exemplo de como se poderia usar a Wiki
entre elas: nessa direção:
- Utilizar hipertextos; 1. Desenvolver projetos de pesquisa: usando Wiki para
- Utilizar textos impressos em forma de apostilas, com documentação em andamento do trabalho;
recursos gráficos e imagens; 2. Construindo uma bibliografia anotada, colaborativa -
- Disponibilizar, previamente, um resumo auditivo do usando links para prescrever leitura e também para notas
material para ajudar na recomendação de maneira a conduzir sumariadas na leitura;
a formação de conceito; 3. Publicar recursos do curso: professores podem postar
- Não subestimar o uso de CDs e DVDs por serem material de sala de aula e os estudantes podem postar
tecnologias de mão única, pois esses possibilitam o controle comentários sobre este material para serem compartilhados
total do aprendiz, além de facilitarem o acesso e serem de com todos;
baixo custo; 4. Mapear conceitos: ideias podem ser postadas e editadas
- Fazer uso da voz humana quando possível, pois essa é para produzir uma rede conectada de recursos;
uma excelente ferramenta pedagógica; 5. Como ferramenta de apresentação: fotos, diagramas e
- Oferecer a opção de áudio junto com material textual a comentário podem ser apresentados na Wiki, e depois
fim de ativar mais de um canal sensorial no processo de subsequentemente editados para produzir versão revisada;
aprendizagem, contemplando assim, diferentes perfis de 5. Para autoria grupal: criando e editando um documento
aprendizes; único por muitos autores que represente as visões de cada
- Disponibilizar videoconferência para possibilitar a indivíduo, mas atinge um consenso.
interação de pessoas e grupos dispersos geograficamente em
tempo real; Torna-se claro que o desafio formativo é a razão maior de
- Utilizar simulações e animações de forma a facilitar o ser deste recurso. O Wiki é uma solução alternativa aos modos
ensino de conceitos abstratos e poucos conhecidos, além face a face tradicionais, com vantagem de ser assíncrona e
daqueles que necessitam de muito tempo de ensino, oferecem deixar rastro da participação dos usuários. É colaborativo,
perigo e são inacessíveis devido aos altos custos e à distância. aberto, tendo como objetivo a construção coletiva de um texto
ou produção comum, de cuja autoria todos participam, não
Segundo Ally, ainda reforçando as referenciais para a existindo propriamente uma versão final. A premissa
construção de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) e fundamental na utilização da Wiki é a crença na construção
com a finalidade de atender as quatro fases para que o compartilhada do conhecimento, algo fundamental para
aprendizado significativo aconteça, é necessário observar as aprender bem, nesse sentido a proposta é centrada no
estratégias de atenção, relevância, confiança e satisfação, como aprendiz e no seu desenvolvimento cognitivo.
descrito a seguir: Os blogs, em geral em formato de diário, com o último
- Atenção: colocar uma atividade inicial para desenvolver registro sempre posicionado no topo, permitem a divulgação
o processo ensino-aprendizagem; de textos multimodais com a possibilidade de serem
- Relevância: esclarecer a importância da lição, mostrar comentados livremente. Seu uso é muito variado, indo desde
que essa pode ser benéfica para usar em situações da vida real, apresentações pessoais e tópicas até propostas acadêmicas, o
visa contextualizar e ser mais significativa de maneira a que vai variando os comentários postados. Pode servir
manter o interesse; facilmente para expor textos à avaliação de pares, provocando
- Confiança: assegurar ao aprendiz que ele obterá êxito feedback rápido e atualizado. Uma de suas particularidades
nas atividades através da organização do material do simples mais apreciadas é estender a discussão além da sala de aula,
para o complexo, do conhecido para o desconhecido, informar na qual vale a força sem força do melhor argumento. Talvez
o que se espera da lição, manter o acompanhamento e o esse seja o seu efeito pedagógico mais notável: empurrar os
estímulo; participantes para a autoridade do argumento, já que não há
- Satisfação: fornecer feedback do desempenho, estimular como inventar autoridade indiscutível. Não se imagina chegar
a aplicação do conhecimento na vida real. um ponto indiscutível, mas um processo aberto de discussão
criativa. Todo blog interessante mantém-se atualizado, ou seja,
Para auxiliar no processo do aprendizado significativo, é renova-se periodicamente.
necessário que AVAs sejam dotados de várias mídias, como Assim como todo recurso disponível na internet, o blog
vídeo, áudio, gráficos, textos, dos quais apresentam inúmeras pode ser abusado ou inócuo. Dentre esses abusos pode-se
vantagens dentre elas, promover o desenvolvimento de divulgar banalidades ou apresentações personalistas e os
habilidade e formação de conceitos, possibilitar inúmeras comentaristas podem ser fúteis também. Mas também são
modalidades de aprendizagem, aumentar a interatividade, observáveis as virtudes desse recurso. Alguns professores
facultar a individualidade, podendo o aluno administrar o seu utilizam para debater e divulgar as suas ideias, orientar seus
tempo, permitir aos alunos maior compreensão dos alunos, participar de interações com outros colegas, informar
conteúdos, pois utiliza várias mídias e não apenas textos, a comunidade interessada nos temas debatidos. Pode-se usar
facilitar a aprendizagem por meio de palavras utilizadas o blog como lugar preferencial para testar ideias e textos, antes
simultaneamente e ajudar no aprendizado, pois utiliza de serem publicados por outras vias. O blog é um recurso
animação e narração audível que é mais consistente do que poderoso contra ideias fixas. Embora não precise substituir a
animação e texto em tela. sala de aula, a complementa bem, à medida que pode inserir
Muitas são as ferramentas disponíveis para permitir a textos e informações adicionais, motivar os alunos a
aprendizagem significativa em AVAs, das quais podemos citar: comentarem textos e produções, formar comunidades de
blogs, Wikis, podcasts, e-portfolios, social networking, social prática em torno de temas de interesse coletivo. O blog tem um
bookmarking, photo sharing, second life, online fóruns, vídeo lado mais individual, porque é conduzido pelo autor apenas,
messaging, YouTube, audiographics, dentre outras. sem interferência do público, a não ser comentar. Nesse
Dessa forma, é salutar discutir as propriedades sentido, fomenta a produção individual.
pedagógicas possíveis que favorecem o desafio de aprender

Conhecimentos Específicos 55
APOSTILAS OPÇÃO

O podcasting fundamentalmente é um arquivo de áudio Com respeito a fins educacionais, o desafio é de motivar
que pode ser baixado e escutado num aparelho de iPod ou atividades questionadoras que se inspirem na autoridade do
MP3, permitindo estudo móvel, ou num computador ou laptop argumento, em ambiente aberto, livre, mas civilizado. Não é
para estudo localizado. O podcasting pode representar fácil criar senso de comunidade, evitando-se os extremos das
oportunidade pertinente para subsidiar estudantes em termos adesões simplórias e das agressões predatórias. No entanto,
de criação multimodal de conteúdo em projetos únicos de quando se consegue esse senso de comunidade, em geral os
aprendizagem. Os estudantes atingem níveis demais elevados estudantes confirmam aprender melhor. Há outros problemas,
de participação ativa, tornando-se mais visivelmente atores de como risco de dispersão (mensagens fora do lugar) e
suas propostas. Aparecem formas mais sofisticadas de autoria, superficialidade, perdendo-se o tom de “questionamento” em
não só porque se mesclam ferramentas e dinâmicas, mas profundidade. Não há como propriamente garantir a
principalmente porque exigem-se scripts mais elaborados e qualidade, porque depende do ambiente criado favorável, sem
inteligentes. falar que a participação tende a ser díspar: alguns participam
Os estudantes podem conduzir histórias orais e criar muito (por vezes demais), enquanto outros se mantêm a
produtos que podem ser usados em seus trabalhos escolares. distância. Essas cautelas, entretanto, só fazem aumentar o
Podem envolver-se em reportagens, interpretação histórica ou interesse pedagógico por discussões bem feitas, aliando
narrativas científicas. Podem-se fazer podcast de capacidade de expressão e elaboração.
apresentações especiais de professores, não no sentido de As possibilidades disponíveis para utilização em AVAs é
gravar aulas, mas de montar cenários de registro eletrônico de numerosa. O importante é dar-se conta de suas
contribuições docentes consideradas excelentes. A potencialidades em termos de aprimorar as chances de autoria
importância do podcast é em relação a possibilidade dos e as atitudes pedagógicas dos estudantes, dos professores e
estudantes fazerem produções próprias multimodais cada vez das instituições educacionais e fazer o uso apropriado desse
mais criativas. recurso que pode proporcionar a aprendizagem significativa
O e-portfolios são coleções eletrônicas de documentos e para qualquer usuário, independentemente de idade desde
outros objetos que sustentam necessidades individuais dos que bem programado por instituições educacionais. Convém
estudantes com respeito ao que está sendo transmitido no ressaltar aqui a divisão entre comunicação assíncrona, ou seja,
curso. Em grande parte, são usados para comprovar a sem a participação simultânea ex. correio eletrônico, fórum,
trajetória de estudo e avaliação, em ritmo sempre atualizado, etc. e comunicação síncrona, ou seja, em tempo real. Ex. o chat
e como forma também pessoal em termos de curriculum vitae. e a videoconferência.
Primeiro o desafio é envolver os estudantes no sentido que
saibam manter e atualizar seus e-portfolios. Muitos são os recursos e as estratégias utilizadas para
A ideia mais produtiva parece ser a construção de tentar envolver os aprendizes em atividades
ambiente que incite o estudante a tomar conta significativas: alguns preferem a noção de aprendizagem
autonomamente de sua vida estudantil. Deve servir de por problematização, outros pela construção de hipóteses
referência sempre aberta e provocativa de recriação da vida de como funciona a realidade; outros ainda pela
acadêmica. aprendizagem situada, usando para tanto simulações
O social bookmarking tem seus efeitos no uso educacional virtuais: embora sejam simulações, podem simular a
sendo a primeira utilidade de permitir a grupos montarem realidade de tal forma que pareça mais real que o real. O
uma rede para partilhar recursos considerados relevantes que se busca principalmente na utilização desses recursos
durante a construção de algum projeto. Representa em AVAs é a autonomia para criação, a capacidade de ter
ferramenta ideal para processos de pesquisa, pois possibilita proposta própria, saber desconstruir e reconstruir
seguir pegadas de materiais e comentários online. conhecimento, argumentar e contra argumentar, saber
Em termos educacionais, Flickr contém montanhas de ler e contra ler. O que mais se busca, portanto, é
imagens interessantes para todo possível uso escolar e capacidade da construção do texto próprio, do individual
acadêmico, podendo aprimorar habilidades visuais em e ao mesmo tempo do coletivo.
particular. O desafio é não se restringir a transmissão de
conteúdos (repasse de fotos, imagens), mas optar para textos Ambientes Virtuais de Aprendizagem favorecendo o ensino-
multimodais que aliem texto impresso com imagem, aprendizagem nas variadas faixas etárias
sobretudo imagem em movimento.
O Second Life é constituído por um ambiente virtual de É uma casa muito engraçada, não tem teto, não tem nada.
multiuso em 3D. É um lugar virtual onde reside, se comunica e Ninguém pode entrar nela não, porque a escola não tem chão...
se fazem negócios. Em termos educacionais, podem-se
encontrar nessa plataforma muitas sugestões de atividades, Com a evolução da modalidade de ensino a distância, há a
como exercícios de presença virtual, trabalho cooperativo em tendência de que espaços eletrônicos sejam cada vez mais
computador, novos estudos de mídia e inserção corporativa, utilizados para facilitar a aprendizagem e promover
em particular por conta da referência expressiva ao mercado. significado no que se aprende. Esses espaços eletrônicos
O Second Life pode ser usado em complementação ao sistema servem tanto como suporte para distribuição de materiais
tradicional (aula), como meio de enriquecer as atividades para didáticos como complementos de espaços presenciais de
além das curriculares formais, possuindo característica aprendizagem.
marcante de alta qualidade de interação, muito acima dos O ambiente virtual de aprendizagem é um sistema rico que
fóruns e games online. Sua utilização tem sido motivadora, ao fornece suporte a qualquer tipo de atividade realizada pelo
proporcionar o uso de simulação em ambiente seguro para aluno, isto é, em conjunto de ferramentas que são usadas em
aprimorar a aprendizagem experiencial, praticar habilidades diferentes situações do processo de aprendizagem.
de acesso de configurações em 3D, tentar ideias novas e Analisando pela construção de conhecimento pelo aluno
aprender dos erros. por meio da concepção de ambientes virtuais de
Os fóruns são websites compostos por vários números de aprendizagem, destaca-se a natureza construtivista da
fios encadeados. Cada fio encadeia uma discussão ou conversa aprendizagem: os indivíduos são sujeitos ativos na construção
sob a forma de uma série de postagens escritas pelos dos seus próprios conhecimentos. Segundo Ferreira, existem
participantes. Tais fios ficam salvos para posterior uso e alguns pressupostos na forma como Piaget teorizou que
conferência. devem ser levados em consideração se desejarmos criar um
“ambiente virtual construtivista”.

Conhecimentos Específicos 56
APOSTILAS OPÇÃO

A primeira das exigências a serem observadas é que o (E) A avaliação da educação a distância necessita de ser
ambiente permita, e até obrigue, uma interação muito grande realizada presencialmente pelo fato de não existirem
do aprendiz com o objeto de estudo, integrando o objeto de mecanismos de avaliação virtual que sejam eficazes.
estudo a realidade do sujeito, dentro de suas condições, de
forma a estimulá-lo e a desafiá-lo, ao mesmo tempo 04. (PRF - Agente Administrativo - FUNCAB) A
permitindo que novas situações criadas possam ser adaptadas exploração dos recursos disponíveis na web vem permitindo a
às estruturas cognitivas existentes, propiciando o seu criação de ambientes virtuais ricos em estímulos para a
desenvolvimento intelectual. A interação deve abranger não só aprendizagem. Estes ambientes permitem que se aprenda de
o universo do aluno e o computador, mas, preferencialmente, forma explorativa e automotivada, num ritmo próprio movido
também o aluno e o professor, com ou sem o computador. apenas pela vontade e pela capacidade de aprender. A
Qualquer ambiente virtual de aprendizagem deve permitir flexibilidade da web cria várias situações de uso, distribuídas
diferentes estratégias de aprendizagem, não só para se no tempo e na localização dos atores envolvidos. Para a
adequar ao maior número possível de pessoas, que terão interação na relação de ensino-aprendizagem, estão
certamente estratégias diferenciadas, mas também porque as disponíveis várias ferramentas, que se apresentam
estratégias utilizadas individualmente variam de acordo com constantemente na maioria das plataformas de ensino a
fatores como interesse, familiaridade com o conteúdo, distância (EAD) com base na web. A ferramenta EAD que se
estrutura dos conteúdos, motivação e criatividade, entre caracteriza por ser um mecanismo propício aos debates, no
outros. Além disso, deve proporcionar a aprendizagem qual os assuntos são dispostos hierarquicamente, mantendo a
colaborativa, interação e autonomia. relação entre o tópico lançado, respostas e contrarrespostas, e
que é usado para a realização de debates assíncronos,
Questões exposição de ideias e divulgação de informações diversas,
denomina-se:
01. (Correios - Analista de Correios/Pedagogo - CESPE) (A) chat.
Com relação ao uso das tecnologias da informação (TICs) em (B) lista de discussão.
educação corporativa, julgue os itens a seguir. (C) mural
A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem, (D) fórum
embora intensifique a comunicação síncrona e assíncrona (E) portfólio.
entre estudantes e professores, o que torna o processo de
ensino e aprendizagem mais dinâmico e personalizado, 05. (PRF - Técnico em Assuntos Educacionais - CESPE)
dificulta o processo de gestão da informação, dada a ausência Julgue o item abaixo, relativo a educação a distância.
de recursos nesses ambientes para a organização e consulta Ações de educação a distância desenvolvem-se em espaços
das informações armazenadas. virtuais de ensino e aprendizagem, espécies de sala de aula
( ) Certo ( ) Errado virtual a que o professor e os alunos devem conectar-se
simultaneamente.
02. (DEPEN – Pedagogia - CESPE) No que diz respeito a ( ) Certo ( ) Errado
métodos, técnicas e novas tecnologias aplicadas à educação,
julgue o próximo item. Gabarito
As aulas em ambientes virtuais de aprendizagem
apresentam como limitação a impossibilidade de se criar 01.Errado / 02.Errado / 03.B / 04.D / 05.Errado
ambientes de colaboração, de cooperação e de relações de
afeto, uma vez que a Internet estabelece um distanciamento
físico entre as pessoas.
( ) Certo ( ) Errado Educação integral e
educação em tempo Integral
03. (UEG - Analista de Gestão
Administrativa/Pedagogia - FUNIVERSA) A educação a
distância (EaD) é um processo de ensino-aprendizagem
mediado por tecnologias nas quais professores e alunos estão ESCOLA PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL
separados espacial e(ou) temporalmente. Considerando essa
79A Proposição de Educação Pública Integral, no Brasil
informação, assinale a alternativa correta.
(A) Com a educação a distância, há a possibilidade de
interação on-line. Esse é um processo de mudança uniforme e O governador do estado da Bahia, Otávio Cavalcanti
fácil que depende apenas da motivação e da vontade das Mangabeira, durante sua gestão, solicitou ao professor Anísio
pessoas. Spínola Teixeira, então Secretário de Educação e Saúde do
(B) Com o avanço das tecnologias de comunicação virtual, Estado, um plano para resolver o problema da falta dos
o conceito de presencialidade se altera, mudando o conceito de serviços de saúde, de assistência familiar e social da criança
curso, de aula, que passa a existir em um tempo e em um baiana, enfim, da infância abandonada. Anísio Teixeira já era
espaço cada vez mais flexíveis. reconhecido por uma experiência de escola funcionando em
(C) Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), regime de semi-internato no Rio de Janeiro.
proporcionados pelas novas tecnologias de informação e Em 1950, Anísio Teixeira, inspirado na teoria sobre
comunicação (TIC), são os únicos meios de realização da reconstrução da experiência e no conceito de educação de John
educação a distância. Dewey, que afirmava a necessidade de criamos oportunidades
(D) Os cursos oferecidos na modalidade a distância não são para que a criança e o adolescente vivenciassem, através da
os mesmos daqueles ofertados presencialmente, porque as experiência, o modo de vida democrático para assegurarmos
aulas práticas não podem ser realizadas por meio de uma sociedade democrática, idealizou uma "pequena
ambientes virtuais. universidade infantil". As diferentes atividades seriam

79 Texto adaptado de CASTRO, Adriana de and LOPES, Roseli Esquerdo. A <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-


escola de tempo integral: desafios e possibilidades. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. 40362011000300003&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104-4036.
[online]. 2011, vol.19, n.71 [cited 2019-09-24], pp.259-282. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40362011000300003.

Conhecimentos Específicos 57
APOSTILAS OPÇÃO

distribuídas por vários prédios constituindo-se, assim, num incapazes de atender, com segurança e eficácia, seus
Centro, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR). objetivos". No Centro, além da instrução e da educação, o aluno
O Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi projetado pelos receberia merenda, uniforme, material didático, livros e
arquitetos Diógenes Rebouças e Hélio Duarte, com dois atendimento médico e dentário.
setores: o setor de instrução formado pela Escola-Classe, Em 1964, a obra contava com quatro Escolas Classe e uma
composta por um conjunto de 12 salas visando às atividades Escola Parque totalizando 11 prédios no bairro da Liberdade.
normais ou convencionais como: leitura, escrita, aritmética, ou Esse bairro foi escolhido, intencionalmente, por conter muitas
o "ensino de letras e ciências, com dependências para crianças em idade escolar e ser constituído de proletários de
administração e áreas de estar" além de "áreas cobertas, nível econômico baixo. As Escolas Classe 1, 2 e 3 atendiam
gabinetes médico e dentário, instalações para administração, crianças de 7 a 13 anos, separadas por faixa etária, e a Escola
jardins, hortas e áreas livres"; e o Setor da Educação composto Classe 4 oferecia a educação complementar e a educação
por uma Escola Parque de 7 pavilhões para "as atividades ginasial correspondendo, respectivamente, à 1ª e 2ª séries e à
socializantes, a educação artística, o trabalho manual, as artes 3ª e 4ª séries do ginásio. Ao completar 15 anos, o aluno era
industriais e a educação física". A Escola Parque estava encaminhado a um curso noturno.
localizada no meio das outras unidades do Centro. Nela os Essa experiência ofereceu os parâmetros para suas
alunos eram agrupados com base nas suas preferências e sucessoras, no âmbito da escola pública, com destaque para os
idades, em grupos de 20 a 30 alunos, para realizar diferentes Centros Integrados de Educação Pública, conhecidos como
atividades. CIEPs ou Brizolões, no Rio de Janeiro (implantados por Darcy
Os professores selecionados para trabalhar nas Escolas Ribeiro, então vice-governador, durante o governo de Leonel
Classe eram os primários comuns, e para trabalhar na Escolas de Moura Brizola, em dois períodos distintos, 1983-1986 e
Parque eram os primários especializados (em dança, música, 1991-1994), para o Programa de Formação Integral da Criança
teatro, desenho, educação física, artes industriais, biblioteca, (PROFIC), projeto do governo de Franco Montoro no estado de
recreação e jogos). São Paulo (1983-1986) e que envolvia as Secretarias de
Todo o conjunto acomodaria quatro mil alunos que se Educação, Saúde, Promoção Social, Trabalho, Cultura e
revezariam das 7h30min às 16h30min entre a Escola Classe, Esportes e Turismo e, finalmente, na esfera federal, em 1991,
por quatro horas, e a Escola Parque por mais quatro horas. no governo de Fernando Collor de Melo, para a implantação
Além desses ambientes, o projeto previa a construção da em diversas escolas, no Brasil, de ensino fundamental em
residência para abrigar 5% do total de crianças consideradas horário integral, dos Centros Integrados de Apoio à Criança
sem lar, em regime de internato. (CIACs), posteriormente, CAICs, Centros de Atenção Integral à
Com essa escola, Anísio Teixeira pretendia restituir o dia Criança e ao Adolescente.
letivo completo, os seis anos de curso e os programas de Guará, ao analisar os conceitos de educação integral mais
"aritmética e escrita e mais ciências físicas e sociais, e mais comumente utilizados, no Brasil, hoje em dia, afirma que o
artes industriais, desenho, música, dança e educação física" Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), o PROFIC, o CIEP,
para combater a simplificação ocorrida nas escolas primárias os CIACs e os CAICs, são exemplos de como a extensão da
brasileiras, nas primeiras décadas do século XX, com a defesa jornada escolar e implantação de um período integral nas
clara da necessidade de sua universalização. escolas públicas se apresentam como propostas de educação
Em 21 de outubro de 1950, é inaugurado, parcialmente, o integral. Para a autora, o objetivo principal dessas iniciativas
Centro Educacional Carneiro Ribeiro, conhecido como Escola era oferecer ao aluno "a oportunidade de uma escolarização
Parque, em Salvador, BA. Desde sua concepção, havia a formal ampliada por um conjunto de experiências esportivas,
pretensão que este Centro fosse um irradiador da experiência artísticas, recreativas ou temáticas, em complementação ao
de escola primária em tempo integral para toda a cidade de currículo escolar formal".
Salvador, além de formador do professorado baiano. Assim A autora expõe as críticas enfrentadas por essas diferentes
Anísio Teixeira se expressou no discurso de inauguração do experiências de educação integral em tempo integral, a saber:
Centro: a descontinuidade dos projetos por questões políticas, a
Tive, então oportunidade de ponderar que, entre nós, quase qualidade do atendimento nessas escolas, a não extensão dos
toda a infância, com exceção de filhos de famílias abastadas, projetos a todas as crianças, a função assistencialista que a
podia ser considerada abandonada. Pois, com efeito, se tinham escola estaria avocando em detrimento da sua finalidade
pais, não tinham lares em que pudessem ser educados e se, educativa e o problema da baixa frequência das crianças. Como
aparentemente tinham escolas, na realidade não as tinham, consenso sobre a educação, ela afirma que o tempo de
pois, as mesmas haviam passado a simples casas em que as permanência dos alunos na escola "está muito aquém do que
crianças eram recebidas por sessões de poucas horas, para um seria necessário para dar conta da formação de nossas
ensino deficiente e improvisado. No mínimo, as crianças crianças e jovens para os desafios do século XXI". Esclarece que
brasileiras, que logram frequentar escolas, estão abandonadas as mudanças sociais atribuem às escolas um papel antes de
em metade do dia. E este abandono é o bastante para desfazer o responsabilidade das famílias e que a extensão do tempo
que, por acaso, tenha feito a escola na sua sessão matinal ou escolar responde a essa demanda, assim como as escolas de
vespertina. Para remediar isso, sempre me pareceu que países desenvolvidos, que oferecem de 6 a 8 horas diárias de
deveríamos voltar à escola de tempo integral. carga horária, há escolas particulares, no Brasil, também com
período completo:
Segundo Borges, aqui já é notada a preocupação do projeto [...] ensino regular complementado por atividades de
de escola de Anísio Teixeira, em: acompanhamento pedagógico individualizado, recreação,
compensar as deficiências da educação familiar, dando à oficinas e cursos variados, atividades na área esportiva, artística
escola uma sobrecarga de tarefas que certamente não lhe e ensino de línguas, além de passeios a museus, exposições e
caberiam, e esta ideia de escola compensatória vai permanecer parques.
nos programas de educação integral desde à época da
implantação no Brasil, até os dias atuais, para justificar a A Organização do Espaço e do Tempo na Escola
jornada ampliada de permanência da criança na escola,
intencionando afastá-la dos riscos das ruas. Verificamos que a organização do espaço e do tempo não
foi alterada substancialmente. As aulas das disciplinas do
Para Anísio Teixeira, a escola deveria suprir as deficiências currículo básico e das oficinas obedeciam aos moldes de uma
das demais instituições "todas elas em estado de defensiva e aula expositiva tradicional. No ano de 2007, houve a

Conhecimentos Específicos 58
APOSTILAS OPÇÃO

possibilidade das ETIs intercalarem aulas do currículo básico um prejuízo pedagógico para o aluno com a "quebra" do
com as oficinas curriculares nos dois períodos (manhã e trabalho de construção do conhecimento.
tarde), no ciclo II, já que no ano anterior havia uma clara Contrariando essas mães, concordamos com Gramsci que
separação, pois, a maioria das aulas do currículo básico5 era o tirocínio psicofísico de se "auto impor privações e limitações
do período da manhã, e as das oficinas curriculares, à tarde. de movimento físico", é extremamente necessário à
Mesmo existindo a prescrição de que a escola 'otimizasse' aprendizagem. Não obstante, a maioria das crianças, dos
o uso de outros espaços e tempos educativos, percebemos que adolescentes e dos responsáveis achava que todo o
quase não houve alterações nesse sentido. Os alunos aprendizado devia sempre ser prazeroso, esquecendo-se de
afirmavam que o uso da biblioteca era restrito a algumas que, no início, por falta de hábito até a permanência da criança
oficinas curriculares e todas as aulas obedeciam à regra: sentada numa cadeira para estudar um pequeno texto é difícil.
caderno, lousa, giz, cadeira. Este é um dos primeiros hábitos que, gradativamente, deveria
A ausência de passeios e excursões era uma reclamação ser aprendido na escola. Aos poucos, apesar da dificuldade
constante nos depoimentos dos alunos, bem como o cansaço inicial em adquirir esses hábitos (silêncio, calma, organização,
provocado por uma rotina de 9 horas baseada em lições concentração, entre outros), eles são incorporados na vida do
escritas. aprendiz, tornam-se parte do seu ser e, também, instrumentos
Quanto à jornada de trabalho do professor, também não necessários e facilitadores de futuras aprendizagens.
houve alterações visto que ela estava constituída, muitas De acordo com o exposto pelos dados, era claro o
vezes, por trabalho em um número grande de escolas (mais de descompasso entre o exercício da disciplina pelos alunos,
5 em alguns casos), que não eram, necessariamente, do mesmo necessária aos estudos, requerida pela escola e a atuação das
município. famílias. Acreditamos que a ausência dos responsáveis pelos
Os Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs), alunos nas reuniões escolares, apesar de todos afirmarem que
segundo os professores, eram ocupados, quase sempre, pelas elas eram, ao menos, bimestrais, repercutiu na incompreensão
discussões sobre questões disciplinares. Sabemos quão que as famílias tinham acerca do processo educacional e do
importantes são esses espaços de reuniões, se forem Projeto Escola de Tempo Integral, a ponto de caracterizarem o
adequadamente planejadas para a formação docente e seu tempo parcial da escola como uma característica de boa
aprimoramento; porém, elas se transformaram num momento educação e creditarem apenas aos professores a base dessa
em que eles podiam expressar suas dúvidas ou, simplesmente, qualidade, esquecendo-se de que eles são coparticipes
desabafar, não avançando na direção de ser um instrumento responsáveis pelo processo educacional.
efetivo para a busca da qualidade do trabalho docente. É necessário que a escola esteja aberta ao diálogo com as
A ausência de articulação perpassava todo o cotidiano da famílias, não se restringindo apenas às famílias dos alunos que
escola, fosse no tocante à elaboração da Proposta Pedagógica criam maiores demandas, por serem indisciplinados ou por
para coordenar os esforços da equipe de forma sistemática e apresentarem defasagens, mas, sim, dirigindo-se a todos os
intencional, superando o individualismo e o imediatismo, até responsáveis, como parceiros fundamentais no processo
na falta de apoio dos órgãos municipais e estaduais para que o educativo formal. Por outro lado, estes precisariam ter
aluno fosse, de fato, assistido integralmente em suas condições de frequentar a escola para auxiliar na educação dos
necessidades básicas de alimentação, vestuário, moradia e filhos, não como serventes, merendeiras, "quebra-galhos", mas
saúde. como cidadãos críticos e atuantes, prontos a discutir, com a
equipe escolar, as habilidades trabalhadas, as formas de
A "Boa Educação" para Professores, Responsáveis avaliação, enfim, o processo educacional.
pelos Alunos, Alunos e Gestores
A quem serve a Escola de Tempo Integral?
Percebemos que a concepção de boa educação dos
responsáveis pelos alunos tinha como base a visão dos Paro afirma que, como resposta às reivindicações das
professores como transmissores da cultura às gerações mais classes populares por escolas, o governo implanta projetos de
novas. Entretanto, para a maioria dos professores, as escolas de tempo integral, cuja motivação é a tentativa de
características primeiras que compunham uma boa educação amenizar os problemas sociais, além dos muros escolares, das
eram: acesso à alimentação, famílias interessadas na escola e classes populares, ainda que estes problemas não tenham
respeito. Já para os alunos, sujeitos do processo educacional, "natureza propriamente pedagógica".
eles elencavam além da alimentação, os espaços adequados e O autor evidencia o fato de que a ideia de formação
os professores. integral, no Brasil antecede à própria escola pública, e tem
Para as mães a infraestrutura era secundária. Metade das origem nos internatos particulares criados para atender aos
mães entrevistadas, ao responderem as características de uma filhos das pessoas abastadas que neles procuravam preservar
boa educação, disseram que ela não seria jamais de tempo seu status quo.
integral. Percebemos que havia uma falha na comunicação da Segundo Arroyo, os internatos particulares funcionavam
escola com os responsáveis pelos alunos em relação às em espaços isolados, com tempos integrais, métodos
informações necessárias para que estes pudessem específicos e nos moldes das instituições totais que, de acordo
efetivamente tomar uma posição fundamentada quanto à com Goffman, são caracterizadas por um maior fechamento do
validade do projeto para a educação de seus filhos. que outras, ou seja,
Apesar dos professores reclamarem que os responsáveis [...] seu 'fechamento' ou seu caráter total é simbolizado pela
não tinham interesse pela vida escolar dos filhos, as mães barreira à relação social com o mundo externo e por proibições
entrevistadas afirmaram possuir esse interesse; nos à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico - por
deparamos, porém, com a seguinte situação: a grande maioria exemplo, portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos,
delas não frequentava as reuniões escolares, e as que o faziam, água, florestas ou pântanos. A tais estabelecimentos dou o nome
eram mal informadas. de instituições totais.
Ao analisar as entrevistas com os responsáveis,
verificamos que eles tinham consciência de que a dor de Com a crescente urbanização e industrialização, essas
cabeça ou o cansaço, que os filhos alegavam para não ir à escolas de elite deixaram de atender aos anseios da classe
escola, muitas vezes era "preguiça mesmo"; contudo, não mantenedora. "Dessa forma, ao invés de segregar os membros
coibiam tais práticas, já que os deixavam faltar, acarretando de suas famílias, propõem, com base no ideário liberal-cristão,
a segregação dos dominados". Essa proposta de segregação da

Conhecimentos Específicos 59
APOSTILAS OPÇÃO

"ameaça social", pode ser vista nos "reformatórios de menores Tanto a função educativa como a de guarda, do projeto
e as entidades 'filantrópicas' subvencionadas pelos órgãos Escola de Tempo Integral, são frutos de políticas públicas
oficiais" que, além de separar essa população do corpo social, sociais advindas do Estado capitalista democrático.
têm a função de reintegrá-las à sociedade. Temos nos defrontado, em vários momentos e espaços,
Em São Paulo, o maior exemplo dessa segregação é antiga com certa visão de políticas públicas, especialmente as sociais,
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM), criada que imediatamente nos remete a uma concepção de política
no ano de 1974. Esta fundação foi amplamente criticada pela 'reparadora', 'de ampliação de acesso', que interferiria no
mídia, pelos diferentes organismos e instituições de proteção campo das desigualdades e divisões sociais e cuja aplicação
aos direitos humanos, enfim, pela população em geral, por provocaria transformações sociais e criaria um mundo melhor.
abrigar muitos adolescentes em um espaço reduzido, em Propomos a definição desse conceito a partir de um
regime fechado, nos mesmos moldes de uma prisão para referencial teórico e histórico, dentro de uma concepção
adultos e com todas as suas mazelas. materialista, que parametrize o contexto geral do Estado
capitalista democrático.
Com o título "O pacote FEBEM", o editorial da Folha de S. Uma das questões centrais na análise do Estado
Paulo explica bem a situação: contemporâneo é a que se refere à compreensão da gênese das
Apesar do longo atraso, é bem-vindo o pacote anunciado políticas públicas - no nosso caso, com maior foco, das políticas
pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para sociais - a partir das estruturas econômicas e político-
reestruturar a FEBEM. Sintomaticamente, o plano veio a público institucionais existentes. No Estado capitalista, baseado na
em meio a uma onda de revoltas na instituição. Desde janeiro, valorização privada do capital e na venda do trabalho
ocorreram 20 rebeliões, com fuga de 881 internos. Para efeito de enquanto forma-mercadoria, em que essas estruturas têm
comparação, no ano passado contaram-se 28 motins e 993 intrinsecamente caráter classista, quais são as funções que
fugitivos [...]. competem àquelas políticas?
Os Estados capitalistas democráticos podem ser
Assim, diante das críticas recebidas, o governador Geraldo entendidos como formas institucionais de poder público que,
Alckmin, que pleiteava, nas eleições de 2006, alçar a em sua relação com a produção material, se caracterizam
presidência da República, optou pelo desmonte da FEBEM, basicamente por três determinações funcionais: privatização
cujo início foi dado pela demolição, no dia 29 de março de da produção, dependência estrutural do processo de
2006, do Complexo do Tatuapé, com capacidade para 1200 acumulação e legitimação democrática. Está submetido à
adolescentes. Para substituí-la, o governo inaugurou, em 27 de dupla determinação do poder político: do ponto de vista do
março de 2006, em Campinas, as duas primeiras unidades da conteúdo, é determinado pelo desenvolvimento e requisitos
Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao do processo de acumulação; já enquanto forma institucional
Adolescente (CASA), ligada à Secretaria da Justiça e da Defesa está sujeito às regras do governo democrático-representativo,
da Cidadania. através do mecanismo de eleições periódicas.
Assim, as políticas do Estado capitalista podem ser
Paro, ao analisar a função educativa dessas instituições definidas como o conjunto de estratégias mediante as quais se
assistenciais, afirma que: produzem e reproduzem constantemente o acordo e a
se as entidades assistenciais, por incapacidade de assumir o compatibilidade entre as determinações estruturais do Estado
papel de instituições educativas, não conseguiram capitalista. Entretanto, a estratégia geral de ação do Estado
"ressocializar" as crianças oriundas das classes dominadas e, consiste em criar as condições segundo as quais cada cidadão
por isso, viram-se impossibilidades de "reintegrá-las" à seja incluído nas relações de troca. Criadas essas condições,
sociedade, então cabe à escola de tempo integral, assumindo todas as determinações funcionais são igualmente
essas crianças, cumprir esse papel. consideradas. Esta definição indica a estratégia que deve
nortear a concepção daquelas políticas, para que se cumpram
Podemos, então, inferir que o projeto Escola de Tempo as determinações do Estado capitalista, até como condição da
Integral foi criado, nesse contexto, como uma outra continuidade de sua existência. Portanto, os dirigentes eleitos
possibilidade, para além da CASA, de cercear o grave problema terão que governar dentro dos limites de autopreservação do
do ato infracional cometido por adolescentes, com ações sistema.
preventivas, educativas e de tutela. Quase todos os Para muito além disso, contudo, as políticas emanadas do
entrevistados perceberam este viés da função da escola, Executivo terão que ser articuladas e 'implementadas' dentro
conforme demonstramos abaixo, com o excerto de uma e a partir do sistema de instituições políticas do Estado que,
entrevista: possuindo, em princípio, grande estabilidade temporal, é o
Por que você acha que a Escola de Tempo Integral foi criada? guardião mais interno e eficaz do status quo. Em sua estrutura
Prá sanar uma situação social, de certo abandono das crianças interna deveremos, em consequência, buscar os elementos
em certo período do dia. A criança que estudava à tarde, de que, ao exercer um poder de filtragem, impedindo a efetiva
manhã não tinha o que fazer. O pai precisava sair pra trabalhar. concretização de eventos potencialmente nocivos à
Eu creio que tenha sido isso, um problema social, que trouxe a continuidade do processo de acumulação, possam assegurar
escola de tempo integral [...] mas eu acredito que seja um que apenas serão executadas estratégias que o preservem,
problema social que está sendo, não sanado, mas existe um certo garantindo, ao mesmo tempo, o equacionamento dos seguintes
paliativo aí social com a Escola de Tempo Integral (Professora e três problemas, para tal essenciais: a integração dos interesses
Coordenadora). resultantes do processo de valorização, isto é, a conciliação das
arestas internas entre os vários setores do capital, inerentes à
Lunkes conclui que a escola de tempo integral "se localiza própria lógica de competição, com o estabelecimento de um
no extremo social oposto àquele de sua origem, tanto no que denominador comum global; a proteção do capital contra
se refere à clientela como à mantenedora", uma vez que antes interesses e conflitos anticapitalistas; a ocultação destas duas
as escolas de tempo integral eram particulares e visavam à ações, pois são necessários, nos processos de legitimação
educação das elites, sendo por elas mantidas e, agora, há, democrática, os votos dos indivíduos de todas as classes
também, escolas de tempo integral que são públicas e visam à sociais e não apenas os daqueles pertencentes à classe
educação das classes populares. dominante.
Essas considerações remetem a duas questões, conforme
nos indica Lopes:

Conhecimentos Específicos 60
APOSTILAS OPÇÃO

1. O caráter da dominação de classes do Estado capitalista. Para os responsáveis pelos alunos, a educação integral
Para nós, as classes sociais do capitalismo agem sobre um visaria à cultura geral e à educação para a convivência em
sistema de instituições políticas que delineia o universo dos sociedade, mas, conforme uma mãe entrevistada, ela "não faz
eventos potencialmente realizáveis. Em consequência, as ações isso de jeito nenhum" e continua apenas como um ideal.
dessas classes apenas delimitam, ao refletirem a resultante da Enquanto para a Secretaria de Estado da Educação a
correlação de forças entre os vários segmentos do capital e entre justificativa da criação do projeto era a melhoria da qualidade
o capital como um todo e os demais atores da sociedade do ensino, havia uma quase unanimidade, entre os diferentes
capitalista, em que região - entre as estruturalmente permitidas sujeitos entrevistados, ao afirmarem que o governo instituiu a
- se dará o equilíbrio dinâmico do sistema, em dado momento e escola "para tirar as crianças da rua, com certeza".
conjuntura. Percebe-se, nitidamente, a partir dos depoimentos, que a
2. É necessário que se conceitue a dominação de classe intenção do governo teria sido resolver paliativamente,
implícita no Estado capitalista e suas instituições políticas como problemas sociais gerados pela ausência de políticas sociais,
um sistema de regulamentação seletivo, gerador de processos de de acordo com a Resolução SE nº 89, que previa que o projeto
seleção. O capital não pode, ele próprio, realizar a síntese de seus fosse implantado preferencialmente em áreas com baixo
interesses mais gerais; é o aparelho estatal que deve apresentar Índice de Desenvolvimento Econômico. A escola, assim, além
seletividades que destilem o cerne desses interesses, neguem e da transmissão cultural, garantiria refeições para os alunos
restrinjam o espaço de concretização de eventos conflitivos de com a segurança necessária para que os pais pudessem,
natureza anticapitalista e implementem operações divergentes efetivamente, trabalhar. A Escola de Tempo Integral acaba não
que preservem a aparente neutralidade estatal. atendendo aos anseios da classe que dela faz uso.
Contrariando as mães entrevistadas, acreditamos na
Disto decorre, também, a importância da análise e da importância dos alunos permanecerem na escola por um
avaliação de políticas públicas, e dentre estas as políticas período maior de tempo, além das costumeiras 4 horas da
sociais, especialmente como instrumentos de democratização. escola de tempo parcial, porque a educação de que
A avaliação da efetividade de um determinado programa ou necessitamos não poderá ser desenvolvida por si só e num
proposta pode disponibilizar para o cidadão instrumentos que curto espaço de tempo, mas demanda um intenso e organizado
o capacitem a exercer o controle sobre a ação dos governos, trabalho escolar que unifique a aprendizagem dos
seja do uso de recursos públicos, de ações eleitoreiras, de conhecimentos formais com momentos de atividades de livre
relação entre racionalização (escassez) de recursos, universos escolha discente.
e direitos; para o gestor público, pode oferecer instrumentos
para melhor direcionar suas ações em direção às suas opções Anísio Teixeira e a Educação Integral80
políticas e também para controle das agências executoras das
políticas governamentais. Os Anos 1920 e 1930: a Educação Integral como
Para os entrevistados, a dupla função da Escola de Tempo Renovação da Escola
Integral, guarda e educação, é clara. A primeira coibiria, de As bases de uma concepção de educação escolar que
acordo com os depoimentos, a ociosidade que pode gerar alcançasse áreas mais amplas da cultura, da socialização
marginalidade das crianças e adolescentes que estão fora do primária, da preparação para o trabalho e para a cidadania
mercado de trabalho por força de lei, e a segunda serviria ao estavam presentes desde os primórdios do percurso de Anísio
mercado com a formação de futuros trabalhadores, por meio Teixeira como pensador e político. Essa concepção foi sendo
da instrução básica. desenvolvida e aperfeiçoada por toda a sua obra e envolveu
Para os alunos, a educação integral estava vinculada à diversos elementos, entre eles a sua permanente defesa do
extensão da jornada diária de permanência na escola, com o aumento da jornada escolar discente nos diferentes níveis de
"aprender mais" os conteúdos, tirando as dúvidas. Com ensino.
relação aos professores, depreende-se que a educação integral No entanto, é preciso notar que, embora a ideia de uma
não estava vinculada à extensão da jornada do discente, mas à educação escolar abrangente esteja presente em toda a obra
integração com as famílias. A tônica é a educação dos valores, de Anísio Teixeira, o autor não faz uso da expressão “educação
a socialização e, em um segundo plano, ela seria uma educação integral”, talvez por não a considerar suficientemente precisa
que integraria as habilidades cognitiva, social e emocional. e, provavelmente, para evitar qualquer identificação com os
Nas falas dos professores, percebe-se que a educação Integralistas, que, como vimos, usaram abundantemente,
integral visaria a contribuir com a criança ao fornecer-lhe a durante os anos 1930, as expressões “homem integral”,
alimentação, a educação sobre higiene e o bem comportar-se, “Estado integral” e “educação integral”.
para sua inserção na sociedade, coisas que seu meio social, Quando ainda iniciante no campo da educação, como
desprovido e hostil, lhe negaria, acarretando um diretor da Instrução Pública do Estado da Bahia, Anísio
empobrecimento da função primeira da escola: a transmissão Teixeira realizou, em 1927, sua primeira viagem aos EUA.
cultural. Nessa viagem, assistiu a cursos na Universidade de Columbia e
Essas tendências produzem reflexos nas práticas docentes. visitou instituições de ensino, lá permanecendo por sete
Os professores acreditavam que os alunos eram carentes, meses. No ano seguinte, 1928, voltou aos EUA para aprofundar
também culturalmente, e, para aprender, eles necessitavam de seus estudos, com vistas ao diploma de Master of Arts da
um conteúdo mais simples e aligeirado, avalizando assim, Universidade de Columbia. Durante o curso, Anísio Teixeira
mesmo sem consciência, o projeto político e econômico tomou contato com as obras de John Dewey e W. H. Kilpatrick,
dominante. as quais marcaram fortemente sua formação e lhe deram as
Consoante com Paro, percebemos nas falas dos bases teórico-filosóficas para a construção de um projeto de
entrevistados que a escola seria uma instituição salvadora que reforma para educação brasileira.
protegeria as crianças da sociedade, da família e da rua como Após o retorno ao Brasil, Anísio Teixeira passou a
entidades corruptoras, havendo, mesmo que subjetivamente, desenvolver, gradativamente, com base no pragmatismo
nos depoimentos, uma ligação muito forte entre a pobreza e a americano, uma concepção de educação escolar ampliada, que,
marginalidade, como causa e efeito. ainda hoje, ecoa no pensamento e nos projetos educacionais
que buscam o aprofundamento no caráter público da educação

80 Texto adaptado de CAVALIERE, Ana Maria. Anísio Teixeira e a educação <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-


integral. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2010, vol.20, n.46 [citado 2019-09- 863X2010000200012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-863X.
24], pp.249-259. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2010000200012.

Conhecimentos Específicos 61
APOSTILAS OPÇÃO

escolar. Durante todo o seu percurso como administrador e bandeira da alfabetização surgia como uma cruzada moral de
como intelectual, permaneceu fiel à visão de educação escolar salvação da nação, como a solução para todos os males. A
que procurou reinventar, tendo como referência e finalidade a compreensão da ignorância como doença, dos analfabetos
realidade educacional brasileira. como seres que “vegetavam”, a formulação “povo-criança”, a
De Onde Partiu Anísio Teixeira para essa Reinvenção? ser educado e preparado para transformar-se em “povo-
Quando de sua viagem aos EUA, já deixou em andamento uma nação”, levavam a um projeto autoritário de educação escolar.
reforma no sistema educacional da Bahia (Lei nº 1.846 / 1925) O desenvolvimento e a radicalização dessa tendência
na qual a influência de ideias renovadoras já era perceptível, autoritária conduziriam, anos mais tarde, às formulações
ainda que predominasse o sentido republicano educacionais do movimento Integralista, anteriormente aqui
democratizador. Esse sentido, eminentemente político, era referidas, mas a ilusão de que a alfabetização e a escolarização
característico da época e esteve presente nas diversas tinham algo de milagrosas em si mesmas era, na década de 20,
reformas ocorridas nos sistemas públicos estaduais de muito generalizada.
educação, a partir de 1920, tais como a de São Paulo, com Disciplina, higiene e alfabetização compunham as bases de
Sampaio Dória em 1920, a do Ceará, com Lourenço Filho, em uma visão política ainda muito indiferenciada e que
1922, a da Bahia, com Anísio Teixeira, em 1925, e a de Minas correspondia a uma primeira resposta às necessidades de uma
Gerais, com Francisco Campos em 1926. Essas reformas nova ordem econômica, modelada pela indústria e pela vida
romperam com a estagnação nas políticas educacionais da urbana.
República e se caracterizaram pela chegada à área educacional A contradição que foi se delineando, até se explicitar nos
de uma efetiva preocupação com a expansão da escolarização. anos 1930, esteve entre essa abordagem sanitária do
O discurso republicano começou a adquirir maior concretude analfabetismo e da educação e a visão que chamaremos aqui
e surgiram, nos estados, as políticas que poderiam conduzir ao de autenticamente liberal. Essa contradição apareceu de forma
processo de escolarização em massa da população brasileira. emblemática na expressão “pensar o Brasil”, cunhada por
As reformas estaduais, além da preocupação com a ampliação Vicente Licínio Cardoso, que a propôs como lema para a sua
das vagas, tenderam, no decorrer dos anos 20, a também geração e a utilizou como base em seus trabalhos durante os
incorporar uma concepção de escola com tarefas e anos 1920. Chamamos a atenção para o fato de que a expressão
responsabilidades sociais ampliadas. Nas palavras de Nagle, trazia em si um sentido dúbio, podendo o verbo “pensar” ser
deu-se entre os anos de 1920 e 1929: a ampliação da rede interpretado como “compreender” o Brasil - condição para
escolar, o melhoramento das condições de funcionamento das transformá-lo - ou como “curar” o Brasil - da doença já
instituições escolares existentes, a criação de novas instituições, diagnosticada e para a qual já se tinha o remédio.
até mesmo de caráter para escolar - com o que se estende o raio As formulações de Anísio Teixeira sobre uma nova
de ação da escola e novas funções lhe são atribuídas. concepção de escola surgiram nesse contexto, mas passaram,
logo em seguida, a ancorar-se no pensamento de Dewey. Esse
As consequências do processo de urbanização e pensamento trouxe mais substância filosófica às ideias
industrialização, a crescente, e cada vez mais visível, renovadoras e o movimento de superação da visão cívico-
desigualdade social e as mazelas dela decorrentes geraram sanitária tornou-se inevitável. A forma como o “americanismo”
nesse período, de maneira generalizada na intelectualidade e de Anísio Teixeira chocou-se com o diagnóstico de viés
na classe política, um forte apelo pela valorização e pela higienista e curativo e a repercussão que teve no pensamento
transformação da educação escolar. O ingresso de Anísio educacional da época vêm sendo tema de estudos. Carvalho
Teixeira no campo educacional foi marcado por um levanta a hipótese de que tenha sido justamente o
movimento crítico a um sistema que dava mostras evidentes americanismo de Anísio o responsável pelo deslocamento do
de inoperância, bem como pelas primeiras ideias renovadoras, modo dominante de conceber a educação e a causa
chegadas ao Brasil via diferentes áreas de estudo e diferentes educacional nesse período. Esse deslocamento se expressaria,
autores, inicialmente europeus. por exemplo, na passagem do consenso em torno da bandeira
Àquelas primeiras influências renovadoras somaram-se, da “alfabetização”, e o conteúdo moralizador que ela continha,
ao final da década de 20, a americana, tendo sido Anísio para os movimentos em favor de uma educação de caráter
Teixeira seu principal divulgador. A crítica e a renovação formativo mais amplo e efetivamente democrático.
foram, portanto, os pontos de partida de suas atividades. Os pensamentos foram se diferenciando até a ruptura com
a visão cívico-sanitária. Até ali, o conceito de educação como
Ambiguidades Históricas ajustamento estático a um ambiente fixo estava na base de
Foi ainda nos anos 20 que se delinearam ambiguidades todo o pensamento educacional brasileiro. Ao trazer,
dentro das quais caminharam, por pelo menos mais três diretamente para o campo da educação, de forma sistemática,
decênios - até a perda daquele vigoroso impulso reformista -, a filosofia pragmatista americana, Anísio Teixeira introduziu
o pensamento liberal em educação e toda uma geração de um elemento perturbador naquela lógica. O conceito
especialistas. Ambiguidades que resultavam da coexistência deweyano da educação como um processo contínuo de
contraditória entre (a) uma visão radicalmente liberal e um crescimento e desenvolvimento, tendo como finalidade a
liberalismo elitista, ainda “curativo” e “domesticador” das maior capacidade de crescimento e desenvolvimento, não
classes populares; entre (b) a escola com funções formativas e admitia a visão curativa moralizadora: não supunha um
culturais ampliadas e a escola meramente alfabetizadora; e modelo já pronto a ser alcançado. Essa concepção de educação
entre (c) a busca da qualidade na educação e a urgência da como vida e descoberta, e não como preparação ou conserto,
expansão, isto é, a urgência do crescimento quantitativo dos impôs novas maneiras de organização cotidiana da
sistemas escolares. A rigor, esses três pares antitéticos estão experiência escolar e criou a necessidade de sua diversificação
imbricados e irão orientar o caminho que seguiremos para e ampliação.
identificar a gênese e o desenvolvimento, no Brasil e,
particularmente, na obra de Anísio Teixeira, da concepção de Alfabetização e Formação Ampla
educação integral. A ideia de educação integral cresceu como uma espécie de
contraponto, no interior do processo expansionista do sistema
O Elitismo Cívico-higienista e a Visão Liberal escolar público. O desafio da expansão esteve, inicialmente,
No início dos anos 1920, predominava o espírito associado estritamente à alfabetização. Tratava-se de
higienista-educacional, que tinha em Miguel Couto seu alfabetizar em massa os brasileiros, de torná-los cidadãos
expoente. Pretendia-se “libertar o povo da ignorância”. A através do acesso à leitura e à escrita.

Conhecimentos Específicos 62
APOSTILAS OPÇÃO

A primeira grande reforma estadual do ensino - a reforma Educação Nova de 1932, documento elaborado por 26
paulista de 1920 - caracterizou o momento. Elaborada por intelectuais que propunha a renovação educacional do país.
Sampaio Dória, diretor da Instrução Pública do Estado, teve a Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral,
questão da alfabetização como central. Suas principais decorre logicamente para o Estado que o reconhece e o
medidas visavam ao crescimento rápido do número de proclama o dever de considerar a educação, na variedade de
alfabetizados no estado. seus graus e manifestações, como uma função social
Para isso, propôs a redução do ensino primário de quatro eminentemente pública, que ele é chamado a realizar, com a
para dois anos. A obrigatoriedade, bem como a gratuidade, cooperação de todas as instituições sociais.
também foram circunscritas a esses dois anos de escolaridade. O termo “educação integral” aparece três vezes no texto do
Quanto à jornada escolar, esta foi reduzida de quatro ou Manifesto, uma delas para contextualizar uma citação do poeta
cinco horas para a metade disso. A solução da redução do francês Lamartine, revolucionário de 1848 e defensor dessa
tempo foi tecnicamente justificada com base na melhor concepção de educação. A ideia de educação integral presente
qualidade do trabalho desenvolvido em tempo compacto e no documento é a do direito do indivíduo a uma educação
turmas seriadas. pública que alcance diversas dimensões de sua formação.
Na reforma paulista de 20, o pensamento predominante foi Afirma o “direito biológico de cada indivíduo à sua educação
ainda o da alfabetização como panaceia. Isso gerou inúmeras integral” e defende a necessidade de a escola aparelhar-se de
críticas dos intelectuais da educação, que perceberam o forma a “alargar os limites e o raio de ação”.
equívoco de ter a alfabetização como um fim em si mesmo, sem
um projeto de inserção educacional mais amplo e A Qualidade e o Desafio da Expansão
culturalmente consequente. Entre o grupo de profissionais da Outro enfoque necessário à compreensão da gestão e do
educação que despontava nas primeiras décadas do século XX, desenvolvimento da concepção de educação integral em
a solução de redução do número de anos e da jornada escolar Anísio Teixeira é o do embate entre a expansão e a manutenção
no ensino primário foi entendida por muitos como um da qualidade dos sistemas públicos. A formação do caminho
retrocesso para o ensino paulista da época. histórico excludente entre a qualidade e a quantidade
À exceção da reforma paulista de 1920, a primeira do esboçou-se ainda no decorrer dos anos 1920. Intelectuais e
conjunto que se seguiu, todas as demais apresentaram em suas educadores enxergaram a impossibilidade de haver uma
justificativas e regulamentos uma concepção de educação dissociação entre as duas dimensões e, em geral, recusaram a
primária bastante ampliada. Como demonstrou Carvalho, a solução de ampliar a oferta de ensino às custas da redução do
partir de meados da década de 20 o “fetichismo da tempo de escola para cada criança. A partir dos debates em
alfabetização” cedeu lugar aos movimentos em favor de uma torno da reforma paulista citada, o tema adquiriu relevância e,
concepção de educação integral. em 1926, Almeida Júnior, José Escobar e Lourenço Filho
Lourenço Filho era dos que propunham um tipo de escola questionaram, em pesquisa promovida pelo jornal O Estado de
que pretendia ir muito além da simples alfabetização. Como São Paulo, os próprios termos em que estava formulada uma
diretor-geral da Instrução Pública do Estado Ceará, entre os das questões da pesquisa “Educação integral para poucos ou
anos de 1922 e 1923, em entrevista concedida à época, educação simplificada para muitos? É válida a solução da
reproduzida por Nagle afirmava que redução do ensino primário?” Lourenço Filho respondeu
O ensino primário deve ser mais alguma coisa, as noções afirmando que a melhor solução provisória seria aquela que
mais necessárias à vida, no ambiente que a criança terá que tornasse mais fácil a execução posterior da solução definitiva,
viver. Afinal de contas, ler e escrever não adianta nem atrasa a sem perda de nenhum elemento empregado ou conflito com os
ninguém, se, na escola, não se dão outras noções que formem resultados já obtidos. A pesquisa foi posteriormente publicada
equilibradamente o espírito e informem para agir com por Fernando de Azevedo no livro Educação na Encruzilhada.
inteligência, isto é, de modo a aproveitar as forças da natureza, Entretanto, o tipo de solução preconizada por Lourenço
na produção de riqueza geral e no conforto da vida. Filho na resposta ao inquérito jornalístico do “Estado de São
Paulo” não foi o que se generalizou. A dicotomia contida na
Mais adiante, em 1927, a reforma promovida no Distrito questão se instalou. As reformas dos anos 1920, em seu
Federal por Fernando de Azevedo, apresentava no texto de seu conjunto, não puderam efetivamente contra restar o
“Regulamento do Ensino”, citado por Nagle, o seguinte trecho: movimento histórico de perda de qualidade. No campo das
A escola primária se organizará dentro desse espírito de ideias, elas tiveram um importante papel no estabelecimento
finalidade social: a) como vestíbulo do meio social, para influir do consenso em torno da necessária ampliação do tempo da
sobre ele, integrando as gerações na comunidade pela escolarização primária e da jornada diária do aluno. Seus
adaptação crescente da escola às necessidades do meio, projetos previam a reformulação dos programas, tornando-os
prolongando sobre o lar a sua ação educativa e aparelhando-se mais diversificados, criando atividades extracurriculares e
para reagir sobre o ambiente, por um programa de educação para escolares e fazendo surgir uma nova concepção de
moral que tenda ao desenvolvimento de qualidades e à reação educação escolar primária com grande responsabilidade
contra defeitos dominantes no meio social; b) como verdadeira social e grande amplitude de ação. A realização concreta das
escola de trabalho para fim educativo ou escola comunidade, em propostas teóricas e normativas, entretanto, ficou muito
que se desenvolve o sentido da ação, o gosto do trabalho manual, aquém das pretensões dos reformadores, gerando mudanças
o sentimento de cooperação e o espírito de solidariedade social; ainda bastante limitadas no sistema educacional.
c) para atrair e acolher, sem distinção alguma, crianças de todas Foi, portanto, durante as décadas de 20 e 30 que a bandeira
as proveniências e contribuir eficazmente para atenuar e da educação integral se desenvolveu, adquirindo consistência
quebrar o sentimento isolador de diferenças sociais, criadas teórica, a partir do contato com o pensamento pragmatista
pelas diferenças de situações econômicas. americano, e sentido político, com o enfrentamento ao
Em diversos momentos, Anísio Teixeira chegou a “fetichismo da alfabetização”.
considerar perniciosa a alfabetização por si mesma e afirmava
que “desacompanhado de educação, o miraculoso alfabeto, em A experiência do Distrito Federal
verdade, só produz males”. Em 1931, Anísio Teixeira voltou a assumir cargo público na
A defesa de uma escola com funções ampliadas, visível nas área educacional, tornando-se diretor da Instrução Pública do
reformas dos anos 1920, se aprofundou entre os intelectuais Distrito Federal no governo Pedro Ernesto.
reformistas e apareceu no Manifesto dos Pioneiros da Nesse período, em meio à atuação administrativa,
reafirmaram-se as mais importantes vertentes de seu

Conhecimentos Específicos 63
APOSTILAS OPÇÃO

pensamento, inclusive a concepção ampliada de educação Ao descrever as inovações implantadas ou planejadas para
escolar. A laicidade e o fortalecimento do ensino público a formação dos professores primários em nível superior,
destacam-se em seu pensamento. Anísio Teixeira destacava a necessidade da Escola de Educação
Em sua gestão no Distrito Federal, a constatação da evasão vir a formar mestres especializados nas áreas de música, artes,
escolar e o inconformismo frente a ela foi um dos motores da desenho, artes industriais e domésticas, educação física e
ação de Anísio Teixeira. O autor apresentou diversos saúde, com a participação de outras unidades da Universidade
levantamentos de dados que demonstravam o fracasso da do Distrito Federal.
escola pública brasileira de então, ou seja, a enorme Em suas previsões do horário escolar, apresentou um
quantidade de crianças que eram dela excluídas. No Rio de plano que já continha a ideia da conjugação de escolas
Janeiro, em 1932, as 39.978 crianças do 1º ano nucleares com os parques escolares, que viria a adotar, mais
transformavam-se em 4.150 no 5º ano. Esse era um de seus tarde, na Bahia e em Brasília, respectivamente nos anos 1950
principais argumentos para contestar a qualidade da escola e 1960. Nos quatro anos em que dirigiu a educação no Distrito
que se fazia no Brasil. Federal, colaborando com o governo progressista de Pedro
Afirmava, ironicamente, que a escola primária, em seus Ernesto, realizou uma gestão inovadora. Nesse período,
últimos anos, “já entra a funcionar para o doutorado”, ou seja, redigiu diversos textos, relatando suas ideias e feitos, nos
“são preparatórios para as chamadas faculdades, do mesmo quais apareceram, como veremos a seguir, inúmeras
modo porque o são os do curso secundário”. Denunciou a referências à concepção ampliada de educação escolar.
finalidade restrita da escola elementar de preparar para a
matrícula no ginásio e na faculdade e não de formar o Ideias e Ações
indivíduo. Daí o alto índice de abandono. Os trechos citados no item anterior fazem parte da obra
A proposta de mudança dessa realidade teve, em seu cerne, Educação para a Democracia, escrita entre os anos de 1931 e
as ideias de uma escola complexa e de que cabe a ela garantir 1935, no período, portanto, da gestão do educador baiano no
que a civilização “feita pelo homem não o venha esmagar e Distrito Federal. No livro, produzido em período de intensas
destruir”. Mas, afirmava o autor, tais objetivos renovadores da realizações concretas, chama atenção o fato de que os textos
escola não são alcançáveis em curto prazo. Ainda tendo o sempre terminam com uma reflexão mais profunda sobre a
“fetichismo da alfabetização” como pano de fundo, afirmava condição do ser humano aprendiz, a correlação entre
que depois de atingido o domínio da leitura, da escrita e das civilização e educação, o tipo de educação que favorece a
quatro operações, democracia e a realização da condição humana da permanente
resta toda a obra de familiarizar a criança com os aspectos aprendizagem.
fundamentais da civilização, habituá-la ao manejo de A despeito do grande encantamento com as
instrumentos mais aperfeiçoados de cultura e dar-lhes potencialidades da educação escolar, Anísio Teixeira não
segurança de inteligência e de crítica para viver em um meio de deixou de refletir e ponderar, nesse período, sobre os limites
mudança e transformação permanentes. da mesma afirmando que “representa, realmente, uma
observação superficial julgar que é a educação que produz a
Anísio Teixeira resumiu a realidade existente e justificou civilização. Confusão entre efeito e causa, conforme já
as mudanças necessárias a uma nova escola nos quatro itens acentuamos (...)”.
que se seguem: (a) porque as transformações são tão Acrescenta que, no caso das sociedades que chama “em
aceleradas que as instituições mais naturais de educação - a transição”, como a brasileira, começam a aparecer os fatores de
família e a própria sociedade - não têm elementos para servir progresso antes de os homens estarem preparados para eles,
à situação nova, tornando-se preciso que a escola amplie as resultando daí uma transformação das funções da escola, que
suas responsabilidades, assumindo funções para as quais não poderá ser apenas perpetuadora dos costumes, hábitos e
bastavam, em outros tempos, a família e a sociedade mesmas, ideias da sociedade, mas terá de ser também renovadora,
(b) porque o novo critério social de democracia exige que consolidadora e retificadora dos costumes, hábitos e ideias, que
todos se habilitem não somente para os deveres de sua tarefa se vão introduzindo na sociedade pela implantação de novos
econômica, como para participar da vida coletiva, em todos os meios de trabalho e novas formas de civilização.
sentidos, devendo cada homem ter possibilidades para vir a
ser um cidadão com plenos direitos na sociedade, (c) porque a Fica claro que a escola pensada pelo autor para a sociedade
ciência, invadindo o domínio da educação, criou a necessidade brasileira tinha perfil instituidor, o qual estaria atrelado a
de reconstrução dos velhos processos de ensino e de vetores sociais mais amplos como, por exemplo, os novos
ajustamento de novos materiais de instrução, (d) porque uma meios de trabalho e os novos costumes.
concepção nova esclareceu que educação não é simplesmente Sua forte adesão à instituição escolar também não o
preparação para a vida, mas a própria vida em permanente impedia de ver a complementaridade entre casa e escola.
desenvolvimento, de sorte que a escola deve-se transformar Sobre a educação pré-escolar e a importância desse período
em um lugar onde se vive e não apenas se prepara para viver para a vida dos indivíduos, desenvolveu longo raciocínio em
(Teixeira, 1997). que constatou o enfraquecimento da família devido à
Com base nesses quatro itens, procedeu à reorganização reconstrução social moderna. Segundo ele, a escola veio em
da Direção Geral da Instrução Pública do DF, que, pelo decreto socorro da família, cuja atuação primitiva e natural já não
nº 3763 de 1º de fevereiro de 1932, criou 13 Inspeções basta:
Especializadas, entre elas, obras sociais escolares, A escola ampliou os seus deveres até participar de todos os
periescolares e pós-escolares; educação de saúde e higiene deveres do lar, assumindo a responsabilidade de dar às crianças
escolar; educação física; música e canto orfeônicos. Criou todas as condições que lhe asseguram - ou lhe deviam assegurar
ainda a Biblioteca Central de Educação, a Filmoteca e o Museu - na família, a continuidade e a integridade de uma ação
Central de Educação. formadora completa. Educação e não instrução apenas.
A medida implantava um aparelhamento que permitisse à Condições de vida e não condições de ensino somente. Mas nem
educação escolar ampliar efetivamente seu raio de ação. No por isso a escola substitui integralmente o lar. Esse continuará
relato dessa reorganização, aparecia a grande preocupação e, para continuar, deve também ser refundido em suas bases
com o ensino de música, artes, desenho, artes industriais, intelectuais e sociais, como já o foi nas suas bases econômicas.
educação física e saúde, recreação e jogos, rompendo com a
visão estritamente utilitária da educação escolar. Ainda que os textos de Educação para a Democracia
expressem a adesão a uma concepção de educação integral e a

Conhecimentos Específicos 64
APOSTILAS OPÇÃO

superação da bandeira da alfabetização, é preciso ressaltar No texto “Educação não é privilégio”, escrito em 1953, que
que a obra carrega ainda os ecos do pensamento que integra o livro de mesmo, apresenta e desenvolve a concepção
pretendeu superar. Conforme o autor foi aprofundando sua de educação escolar não especializada, não intelectualista, isto
reflexão filosófica, a concepção de educação ampliada e as é, educação para a formação “comum” do homem. Defende a
justificativas que para ela formula também foram se escola “pública” ou escola “comum” que se liga ao trabalho, à
modificando. Podem-se encontrar, nos diversos capítulos e prática e à ciência que informa essa prática. É na
mesmo dentro de um mesmo capítulo, diferentes abordagens caracterização de uma escola que deixa de ser da elite, na
que revelam as mudanças teórico-filosóficas por que passava busca de uma nova política educacional que leve qualidade
o pensamento do autor no período. para a escola primária, que ele retoma e desenvolve sua
Barreira considera que, em Anísio Teixeira, a ampliação concepção de educação escolar ampliada e defende o horário
das funções da escola, tomando para si tarefas que até então integral.
cabiam às famílias e a outras instituições, é um movimento que Nessa retomada, o incremento do ingresso das classes
visa à equilibração social, e se encontra fundado em uma visão populares no sistema escolar causava grande impacto e suas
evolucionista, base do positivismo. propostas tentavam responder a essa realidade. As crianças
Sem desconsiderar essa interpretação, é preciso lembrar pertencentes a famílias não escolarizadas, sem intimidade com
que, segundo o mesmo autor, Anísio Teixeira trabalhava com a linguagem escrita e a cultura escolar, não poderiam inserir-
a ideia de mudança de mentalidades dos indivíduos em geral e se num modelo de escola construído para as classes média e
das elites como condição para a constituição da sociedade alta.
democrática. Ainda em “Educação não é privilégio”, afirma que a escola
A possibilidade de mudança de mentalidade está apoiada, primária, a qual tem um fim em si mesma e só
em Anísio Teixeira, no pragmatismo deweyano, isto é, numa secundariamente prepara para os níveis posteriores, não pode
pretensão de que seja possível, nas vivências cotidianas, a ser uma escola de tempo parcial, pois esta não será apenas
reconstrução da experiência, para o que o protagonismo dos uma escola de letras, mas de formação de hábitos de pensar e
indivíduos é peça fundamental. Mesmo considerando-se que de fazer, de conviver e participar em uma sociedade
Anísio Teixeira concentrou expectativas excessivas nessa democrática:
possibilidade, esse esperado protagonismo individual é não se pode conseguir essa formação em uma escola por
elemento de antítese a uma organização social equilibrada e sessões, com os curtos períodos letivos que hoje tem a escola
estável. O pragmatismo, diferentemente do pensamento brasileira. Precisamos restituir-lhe o dia integral, enriquecer-lhe
marcado pelo positivismo, considera o pensamento reflexivo o programa com atividades práticas, dar-lhe amplas
como fruto do enfrentamento com situações problemáticas e oportunidades de formação de hábitos de vida real, organizando
gerador, a cada momento, de formas momentaneamente mais a escola como miniatura da comunidade, com toda a gama de
adequadas e não padronizadas para enfrentar tais situações. suas atividades de trabalho, de estudo, de recreação e de arte.
Não haveria, portanto, uma linha de evolução necessária ou
previsível. Além da jornada escolar, a duração do ano letivo era
A dificuldade de lidar com a obra de Anísio Teixeira é motivo de atenção de Anísio Teixeira que, desde os anos 30,
justamente a sua constante espontaneidade. Essa quando a carga horária anual da educação elementar era de
espontaneidade permite que se enxergue o desenrolar de seu cerca de 640 horas, afirmava ser esse número de horas
pensamento, não apenas ao longo de sua obra, mas dentro de absolutamente insuficiente, propondo 1080 horas, isto é, 180
cada texto, com suas idas e vindas e suas contradições. dias de seis horas em média.
No mesmo capítulo acima citado, pouco adiante, observa- O tempo ampliado tornou-se uma necessidade prática
se uma clara posição de base pragmatista: imposta pela proposta educacional que defendia, ou seja, foi
A escola deve fornecer a cada indivíduo os meios para decorrência de sua concepção abrangente de educação
participar, plenamente, de acordo com as suas capacidades escolar. Segundo o autor, para uma educação primária
naturais, na vida social e econômica da civilização moderna, efetivamente pública, seria necessário (a) manter e não
aparelhando-o, simultaneamente, para compreender e orientar- reduzir o número de séries escolares; (b) prolongar e não
se dentro do ambiente em perpétua mudança que caracteriza reduzir o ano letivo; (c) enriquecer o programa com atividades
esta civilização. educativas, independentes do ensino propriamente
A tônica de todos esses textos escritos no início da década intelectual; (d) preparar um novo professor para as funções
de 1930 é a forte crença nas amplas potencialidades da mais amplas da escola:
educação escolar. Cada enfoque revela um aspecto diferente, sendo a escola primária a escola por excelência formadora,
que pode ser o papel socializador, o criador de cultura, o sobretudo porque não estamos em condições de oferecer a toda
formador de indivíduos para a democracia, e todos recaem no a população mais do que ela, está claro que, entre todas as
necessário fortalecimento e enriquecimento da instituição escolas, a primária, pelo menos, não pode ser de tempo parcial.
escolar. Somente escolas destinadas a fornecer informações ou certos
Segundo Nunes, nesse período, o cultivo entre os agentes limitados treinamentos mecânicos podem ainda admitir o serem
escolares do sentimento da escola enquanto instituição de tempo parcial.
pública, assim como a concepção de Anísio Teixeira quanto à
ampliação das elites, “incomodou a todos que, mesmo dentro Anísio Teixeira demonstrava muita clareza e segurança
das associações de educadores (...) defendiam um projeto quanto ao fato de que, ao expandirem-se, as escolas passariam
repartido de educação”. por necessárias modificações estruturais de programa, de
métodos e de processos:
Os Anos 1950 e 1960: a Escola Ampliada como Antídoto a escola já não poderia ser a escola dominantemente de
à Escola Dual instrução de antigamente, mas fazer as vezes da casa, da família,
Após um período de afastamento da vida pública, que da classe social e por fim da escola, propriamente dita,
correspondeu à ditadura Vargas, Anísio Teixeira foi chamado, oferecendo à criança oportunidades completas de vida,
em 1946, a trabalhar na UNESCO, permanecendo em Paris por compreendendo atividades de estudos, de trabalho, de vida
curto período para, logo em seguida, assumir o cargo de social e de recreação e jogos.
Secretário de Educação e Saúde da Bahia. O educador retomou
sua ação política e intelectual com a mesma convicção no
poder da escola que caracterizara sua prática nos anos 1930.

Conhecimentos Específicos 65
APOSTILAS OPÇÃO

O Centro Educacional Carneiro Ribeiro como não podia deixar de ser, todas as demais simplificações de
A solução dos prédios conjugados - as escolas-classe e as qualidade.
escolas-parque -, que garantiria a presença da criança na
escola durante os dois turnos, aparece nos textos de Anísio O projeto obteve grande destaque na imprensa baiana,
Teixeira desde a década de 1930, em seus planos para a recebendo críticas, em geral de oposicionistas, cuja tônica era
educação do Distrito Federal: a denúncia do estado precário em que se encontravam as
Haverá escolas nucleares e parques escolares, sendo demais escolas do Estado. Recebeu também elogios,
obrigada a criança a frequentar regularmente as duas principalmente aos aspectos arquitetônicos e pedagógicos,
instalações. O sistema escolar para isso funcionará em dois vindos inclusive de organismos internacionais.
turnos, para cada criança. Em dois turnos para crianças Em 1956, ocorreu, em Lima, uma reunião promovida pela
diversas de há muito vem funcionando. Daqui por diante será Organização dos Estados Americanos com os ministros da
diferente: no primeiro turno a criança receberá, em prédio educação da América Latina. Anísio identificou o início de um
adequado e econômico, o ensino propriamente dito; no segundo movimento de emancipação pela educação e lembrou que
receberá, em um parque-escola aparelhado e desenvolvido, a a despeito das vozes, muito nossas conhecidas, dos que ainda
sua educação propriamente social, a educação física, a educação julgam possível reduzir a educação popular, na América Latina,
musical, a educação sanitária, a assistência alimentar e o uso da à mistificação das escolas primárias de tempo parcial e de curtos
leitura em bibliotecas infantis e juvenis. períodos anuais - a assembleia decidiu, com a afirmação de
princípio da ‘Declaração de Lima’, por uma escola primária de
Entretanto, foi em 1950, com o Centro Educacional seis anos de cursos e dias letivos completos.
Carneiro Ribeiro, que viria a detalhar e concretizar finalmente
a ideia. Afirmou-se, na implantação do Centro, a profunda Trinta anos após seus primeiros contatos com o
relação entre o prédio escolar e a qualidade do ensino na pragmatismo americano, a escola ampliada permaneceu na
escola de horário integral. obra de Anísio Teixeira, então com um sentido político que ia
O complexo educacional idealizado por Anísio Teixeira além da ênfase no preparo adequado dos indivíduos para a
constava de quatro escolas- classe com capacidade para mil vida em sociedade. Em sua caracterização, o autor explicitava
alunos cada, em dois turnos de quinhentos alunos, e uma a concepção de escola “comum” em oposição ao dualismo
escola-parque composta dos seguintes setores: (a) pavilhão de escolar. A educação comum, que alcançaria a todos em
trabalho; (b) setor socializante; (c) pavilhão de educação física, condições de igualdade, teria sentido socializador abrangente
jogos e recreação; (d) biblioteca; (e) setor administrativo e e democratizador da vida brasileira e somente poderia se
almoxarifado; (f) teatro de arena ao ar livre e (g) setor realizar pela educação primária integral.
artístico. A escola-parque complementava de forma alternada
o horário das escolas-classe, e assim o aluno passava o dia As propostas de Anísio Teixeira para a LDB
inteiro no complexo, onde também se alimentava e tomava Em todo o processo de discussão que veio a desembocar na
banho. O Centro abrigava crianças dos sete aos 15 anos, LDB de 1961, Anísio Teixeira teve posição ativa e de destaque.
divididas por grupos a princípio organizados pela idade O Plano Nacional de Educação, dela decorrente, elaborado pelo
cronológica. Previa-se a construção de residências para 5% do Conselho Federal de Educação e aprovado em 1962, tinha
total das crianças da escola, que fossem reconhecidamente entre suas metas qualitativas a instauração do dia completo
abandonadas, e que ali viveriam. para as duas últimas séries do ensino primário (ampliado
O Centro Carneiro Ribeiro tinha capacidade para quatro então para seis anos). As 5ª e 6ª séries deveriam incluir em seu
mil alunos, que lá permaneciam de 7h30min às 16h30min. programa o ensino das artes industriais. O mesmo plano
Anísio Teixeira pretendia construir ao todo nove Centros como propunha ainda, para o ensino médio, o estudo dirigido e a
esse, que lembrariam uma universidade infantil e ofereceriam extensão do dia letivo para seis horas de atividades,
às crianças um retrato da vida em sociedade. compreendendo estudo e práticas educativas. O ensino
Na contramão da história da escola pública brasileira, que superior deveria contar com pelo menos 30% de alunos e
já percorria, àquela altura, o caminho do aligeiramento, o professores de tempo integral.
Centro era uma realização que simbolizava a posição de toda a Anísio Teixeira, que fora relator do Plano, apresentou
obra teórica e prática de Anísio Teixeira, fazendo o papel de parecer sobre as bases em que este deveria ser estabelecido.
resistir ao que ele chamava de simplificação da escola pública. Elaborou ainda sugestões para que a articulação das instâncias
A implantação do Centro Carneiro Ribeiro foi um momento federal, estadual e municipal garantisse aos serviços
de grande expectativa para o incansável espírito educacionais a necessária unidade, transformando-os nos
empreendedor de Anísio Teixeira. No discurso oficial da mais importantes serviços públicos do país. Concebeu, para
inauguração, relembrou a reforma paulista de 1920, criticando isso, um conjunto de escolas a constituírem o sistema nacional
a concessão à perda de qualidade: com as seguintes características:
Foi, com efeito, nessa época que começou a lavrar, como a) um Centro de Educação em cada vilarejo de menos de
ideia aceitável, o princípio de que, se não tínhamos recursos 500 habitantes, compreendendo a escola primária (...);
para dar a todos a educação primária essencial, deveríamos b) uma escola primária, organizada por séries em todas as
simplificá-la até o máximo, até a pura e simples alfabetização e localidades de mais de 500 até 1000 habitantes (...);
generalizá-la ao maior número. A ideia tinha a sedução de todas c) escola primária de seis séries em todas as localidades de
as simplificações. Em meio como o nosso produziu verdadeiro mais de 1000 até 2000 habitantes (...);
arrebatamento. São Paulo deu início ao que se chamou de d) centros Educacionais com escolas primárias de seis
democratização do ensino primário. Resistiram à ideia muitos séries, escolas-parque e ginásio em todas as cidades de mais
educadores. Resistiu a Bahia antes de 30. Resistiu o Rio, ainda de 2000 até 5000 habitantes;
depois da revolução. Mas a simplificação teve forças para e) escolas primárias de seis séries, escolas-parque,
congestionar as escolas primárias com os turnos sucessivos de ginásios e colégios em todas as cidades de mais de 5000
alunos, reduzindo a educação primária não só aos três anos habitantes;
escolares de Washington Luís, mas aos três anos de “meios-dias”, f) sistemas escolares completos em todas as capitais
ou seja, ano e meio, até no grande São Paulo, aos três anos de (Teixeira, 1994, p. 151).
“terços de dia”, o que equivale realmente a um ano de vida
escolar. Ao lado dessa simplificação na quantidade, seguiram-se, Segundo o Plano, portanto, as localidades a partir de dois
mil habitantes deveriam receber uma escola de tempo

Conhecimentos Específicos 66
APOSTILAS OPÇÃO

integral, por meio do sistema de escolas-classe e escolas- De formulações nas quais ainda se encontravam presentes
parque. resquícios de uma visão moralizadora da educação, voltada
No processo de debates e elaboração de propostas, a partir para os indivíduos, no sentido de adequá-los a uma sociedade
da aprovação da nova Lei, Anísio retomou a experiência que dada, o autor passou progressivamente para uma visão de
desenvolvera em Salvador, no Centro Carneiro Ribeiro e a educação integral que correspondia a uma clara definição
defesa da educação primária integral, criticando, mais uma estratégico-política de construção da sociedade democrática.
vez, os caminhos simplificadores que a escola pública Percebemos, nessa análise, que a forte adesão de Anísio
assumira: Teixeira à escola ampliada foi, provavelmente, uma adesão
E a escola primária, reduzida na sua duração e no seu prévia, isto é, doutrinária. A convicção de Anísio Teixeira sobre
programa, e isolada das demais escolas do segundo nível, entrou o poder transformador da escola passou incólume por todas as
em um processo de simplificação e de expansão de qualquer mudanças, e fracassos, que presenciou. Esses fracassos não o
modo. Como já não era a escola da classe média, mas encaminharam, por exemplo, às concepções estruturalistas e
verdadeiramente do povo, que passou a buscá-la em uma economicistas dos anos 60 que marcaram as interpretações
verdadeira explosão da matrícula, logo se fez de dois turnos, com sobre a relação entre sociedade e escola e enfraqueceram as
matrículas independentes pela manhã e pela tarde e, nas expectativas sobre o poder transformador dessa última.
cidades maiores, chegou aos três turnos e até, em alguns casos, Em Educação é um direito, publicado no emblemático ano
a quatro. de 1968, afirma que as teorias democráticas de liberdade
individual e de laissez-faire do século XIX não eram
Cabe ainda destacar que, no início dos anos 60, o sistema efetivamente suficientes para a conjuntura a que se chegara,
educacional da nova capital do país, Brasília, de cuja mas isso não o retira do marco do liberalismo igualitarista.
planificação Anísio Teixeira participou, foi organizado com Entendia por igualdade política a possibilidade de que todos
base no modelo de Salvador, e pretendia ser uma referência os indivíduos tivessem acesso aos meios de vida do mundo
para todo o país. contemporâneo, o que abriria caminho para a igualdade social.
A escola, da forma como a imaginava, viabilizaria esse
A Escola Ampliada como Doutrina processo.
Em toda a obra de Anísio Teixeira, que percorre cinco Mesmo se considerarmos que sua adesão à escola
décadas, poderíamos listar diversas passagens que ampliada era uma espécie de a priori, a trajetória intelectual
apresentam a defesa e a caracterização de uma escola de que cumpriu a reforçou ainda mais. É possível que parte de seu
educação integral. encantamento com o progressivismo deweyano fosse devido
As bases sobre as quais o autor formulou sua concepção de ao fato de que ele lhe possibilitaria permanecer e aprofundar
educação integral são, resumidamente, o entendimento de que sua elaboração apaixonada sobre uma escola fortalecida e
educação é vida e não preparação para a vida; o entendimento socialmente instituinte.
de que as demais instituições sociais perderam parte de suas Após seu afastamento da vida política, na ditadura militar
capacidades educativas, que devem então ser supridas pela iniciada em 1964, suas propostas, como o Centros
escola; e a busca da escola verdadeiramente “comum”, isto é, Educacionais, não lograram continuidade. A concepção de
democrática. educação integral esteve esquecida por cerca de 20 anos.
A concepção de educação integral de Anísio aprofundou-se Nos anos 80 e 90, o programa dos CIEPs - Centros
com base no pragmatismo, na compreensão de que o homem Integrados de Educação Pública do Rio de Janeiro se
se forma e desenvolve na ação, no fazer-se, e não por algum apresentou como uma espécie de aggiornamento da proposta
movimento exógeno de aprendizagem formal. Para além das de Anísio Teixeira. Há enormes convergências entre as duas
concepções e movimentos políticos conjunturais, o grande propostas. Embora nos textos oficiais do Programa dos CIEPs
diferencial do pensamento sobre educação escolar integral apareçam incorporações de um discurso típico do
desenvolvido por Anísio deveu-se ao aprofundamento de seus materialismo histórico, como também do pensamento de
fundamentos filosóficos, a partir, justamente, da filosofia Paulo Freire, a predominância, que se revela nos textos de
social de John Dewey. Se o otimismo pedagógico estava Darcy Ribeiro, seu idealizador, e nas proposições concretas,
difundido entre a intelectualidade brasileira das décadas de 20 segue de perto a tradição do pensamento de Anísio Teixeira.
e 30, Anísio Teixeira, em particular, se ancorava em um Foi principalmente através de Anísio Teixeira que a educação
otimismo também filosófico, isto é, na expectativa de integral adquiriu a dimensão de alternativa generalizável,
inexorabilidade do processo de integração social, presente na adequada ao mundo moderno, e não de mero treinamento
obra de Dewey (Cavaliere, 2002a). Isto lhe deu fôlego para intensivo, com vistas à adequação das populações
persistir em seu projeto reformista até o início da década de “indisciplinadas” às novas exigências do sistema industrial
1960, quando novo período autoritário retirou-o, mais uma urbano.
vez, da vida política. No Brasil do século XXI, surgiram inúmeros programas
Tanto na filosofia social de Dewey, como em todo o educacionais de governos estaduais e municipais que
pensamento de Anísio, a questão da democracia é a questão incorporam o conceito de educação integral. Em 2007, por
crucial. A “reconstrução da experiência”, ou seja, a meio da Portaria interministerial n.17, envolvendo os
possibilidade de os indivíduos viverem experiências que são, ministérios da Educação, da Cultura, do Desenvolvimento
também, pensamento, é o elemento fundamental para a Social e Combate à Fome e do Esporte, foi lançado o programa
criação do modo de vida democrático. Somente uma escola que Mais Educação, cujo objetivo é orientar recursos para
funcionasse como uma espécie de universidade para crianças “fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e
e adolescentes poderia propiciar esse tipo de experiência. jovens, por meio de atividades socioeducativas no contra
Foi a associação entre o projeto republicano de educação turno escolar”. Nesse momento em que ressurgem, nas
pública e a teoria pragmatista da educação como reconstrução políticas educacionais, a ideia e o conceito de educação
da experiência, ao lado da forte crítica ao sistema escolar integral, vale a pena revisitar a obra de Anísio Teixeira. A
vigente, que impulsionou a elaboração do projeto anisiano de forma como o autor concebeu a educação integral e a escola de
educação integral. Analisando o conjunto e o percurso das tempo integral é fonte imprescindível para uma abordagem do
referências à educação escolar ampliada, nas três obras tema que se mantenha orientada pelo sentido de
estudadas neste texto, pudemos perceber diferentes ênfases democratização da realidade educacional brasileira.
nas justificativas desenvolvidas pelo autor.

Conhecimentos Específicos 67
APOSTILAS OPÇÃO

das quantidades. O homem passou a registrá-las a partir de


Números e operações: uso grupos com pequenas quantidades (de pedras, de traços, de
do sistema numérico, nós) de forma a auxiliar na visualização e nas comparações. Foi
contando objetos com outros objetos que a humanidade
números naturais, análise, começou a construir o conceito de número. Para o homem
interpretação e resolução de primitivo, o número cinco, por exemplo, sempre estaria ligado
situações-problema, a alguma coisa concreta: cinco dedos, cinco ovelhas, cinco
peixes, cinco animais, e assim por diante. A ideia de contagem
compreendendo a soma, a estava relacionada aos dedos da mão. Assim, ao contar o
subtração, a multiplicação e a rebanho, o pastor separava as pedras em grupos de cinco. Do
mesmo modo os caçadores contavam os animais abatidos,
divisão. traçando riscos na madeira ou fazendo nós em uma corda,
também de cinco em cinco.
Ao agrupar as quantidades em pequenos grupos e registrá-
ENSINO APRENDIZAGEM - MATEMÁTICA las a partir dessa lógica, usando marcas, os homens acabaram
criando diferentes símbolos que lhes auxiliaram na percepção
Como o Conhecimento sobre esse Campo de das quantidades que representavam. Esses registros
Experiência foi Construído Historicamente contribuíram para o homem compreender e desenvolver as
noções de número, pois, ao comparar coleções de objetos
Como construção social, a Matemática possui uma história, diferentes que possuíam a mesma quantidade, começou a
que está associada à forma como o homem estabeleceu perceber que os registros dos agrupamentos eram os mesmos
relações com a natureza e com a cultura, numa tentativa de e que poderia, então, associar o mesmo símbolo a essas várias
compreender e intervir no mundo. coleções.
O homem primitivo era nômade, organizava-se em tribos e Da necessidade de estocagem dos alimentos surgiram os
vivia do extrativismo. Como os animais e alimentos foram controles de estoque com registros que possibilitaram o
ficando raros, as tribos tinham a necessidade de calcular as desenvolvimento do cálculo, os sistemas de medida, a
quantidades de animais que atenderiam as necessidades de representação com números e os sistemas de numeração.
todo o grupo. Como ainda não havia números convencionados, Centurión81 destaca cinco sistemas de numeração: o
registravam nas cavernas quantos animais a tribo tinha caçado egípcio, o babilônio, o romano, o chinês e o indo-arábico.
ou quantos deveriam caçar de forma a atender a necessidade Destes, apenas três são de base 10: o egípcio, o chinês e o indo-
da tribo. Nas cavernas encontramos registros usando arábico. O nosso sistema é o indo-arábico que foi construído a
desenhos e outras marcas que podem ser interpretados como partir das necessidades culturais dos hindus (± 300 a.c.) e
quantificação de animais. A ideia de quantidade e, difundido pelos árabes.
posteriormente, de número surgiu dessa necessidade de Esse sistema utilizava-se de um princípio posicional de
contar objetos e coisas. Em vez de apenas caçar e coletar frutos base 10, o que significa que, a cada dez símbolos iguais,
e raízes o homem passou a cultivar algumas plantas e a criar trocam-se esses símbolos por outro dez vezes maior. Uma das
animais, passando do nomadismo para o sedentarismo, o que transformações mais significativas, nesse sistema, foi a criação
provocou um aumento na variedade de alimentos dos quais o do zero, que não existia nos primeiros registros hindus. A
grupo poderia dispor. Mas como controlar a quantidade necessidade de representar o vazio para garantir o valor
plantada? Como controlar o rebanho adquirido? Como ter posicional dos algarismos dentro de um número levou os
certeza de que nenhum animal havia fugido ou sido devorado homens a criarem o zero.
por algum animal selvagem? A descoberta da agricultura e o A criação do zero possibilitou que a humanidade saísse do
aumento na produção provocaram a necessidade de novos cálculo realizado somente por meio do ábaco para o
conhecimentos. O uso de termos, como muitos, poucos, igual a, desenvolvimento de registros das contas, de forma que fosse
não se adequava às necessidades de comparação entre as possível visualizar as estratégias utilizadas para se chegar aos
várias coleções que o homem lidava no seu dia a dia, o que resultados esperados. Centurión82 destaca algumas
provocou a necessidade de ampliação do universo numérico. características desse sistema que o levam a ser aceito e
Um dos artifícios desenvolvidos, a partir dessa utilizado por quase todo o mundo:
necessidade humana de contar, de comparar coleções e obter A) Ter apenas 10 símbolos,
maior exatidão nas quantificações foi a correspondência de um B) Ser de base 10 (agrupamentos feitos de 10 em 10),
para um. Uma forma que o homem passou a utilizar para C) Ser posicional (o símbolo assume um valor 10 vezes
controlar o seu rebanho foi contar os animais com pedras. maior ou menor de acordo com a posição que ocupa no
Assim, cada animal que saía para pastar correspondia a uma número),
pedra dentro de um saquinho. No fim do dia, à medida que os D) Ser aditivo (o número é resultado da adição dos valores
animais entravam no cercado, ele ia retirando as pedras do posicionais).
saquinho. Essa simples estratégia foi um avanço, pois
possibilitou ao homem comparar se havia mais ou menos Essa construção histórica não se deu apenas em relação ao
animais no rebanho; se faltavam pedras ao retornarem, havia conceito de número e sistema de numeração, mas pode ser
mais animais; se sobravam pedras, havia menos. Esse homem observada em todos os eixos da matemática. No que se refere
jamais poderia imaginar que milhares de anos mais tarde, às grandezas e medidas, Soares83 contribui para nossas
haveria um ramo da matemática chamado cálculo, que, em reflexões ao nos fazer a seguinte proposta: imaginemos um ser
latim, quer dizer contar com pedras. que descobriu que poderia utilizar um galho de árvore para
Quando a quantidade de animais e alimentos aumentou alcançar uma fruta impossível de ser colhida sem o auxílio do
muito, a correspondência um para um não atendia mais às galho. Ele teria que, primeiro, avaliar a distância que lhe
necessidades de contagem e comparação, pois, por muitas faltava. Depois, teria de memorizar essa distância e sair em
vezes, quem comparava se perdia nas representações que fazia

81 CENTURIÓN, Marilia. Números e Operações, 2 ed. São Paulo: Scipione, 1995. 83 SOARES, Eduardo Sarquis. Múltiplas linguagens e formas de interação da
82 CENTURIÓN, Marília. Assim nasce a ciência dos números. In: CENTURIÓN, criança com o mundo natural e social, conhecimentos do mundo social e natural.
Marília. Conteúdo e metodologia da matemática: números e operações. São Paulo: 2007.
Scipione, 1994, cap. 1. (Coleção: Série Didática - Classes de Magistério).

Conhecimentos Específicos 68
APOSTILAS OPÇÃO

busca do galho apropriado. Essa atitude inteligente estaria na geométricas que transmitem mensagens, regras de trânsito
base das primeiras experiências relacionadas ao ato de medir. são sinalizadas com desenhos geométricos; telefones e placas
Para atender à necessidade humana de medir, o homem de casas e veículos são numerados; notas e moedas contêm
desenvolveu estratégias para calcular distâncias, para valores impressos; os meios de comunicação mostram preços
registrar o tempo, o volume, a área, o peso. Os primeiros e porcentagens; gráficos e tabelas que apoiam previsões,
instrumentos de medida usados foram as partes do corpo desenhos arquitetônicos; pessoas utilizam balanças e fitas
como, por exemplo, o dedo polegar (polegada), a mão métricas para diversos fins; enfim, há uma infinidade de
espalmada (palmo), a prancha do pé (pés), da ponta do nariz à informações que se expressam em linguagem matemática.
ponta do polegar com o braço estendido (jarda), a abertura de Assim, a matemática precisa ser vista e trabalhada com as
uma passada (passo), os dois braços estendidos (braça). Por crianças como uma manifestação cultural de vários povos, ao
volta de 3500 a.c., na Mesopotâmia e no Egito começaram a ser longo dos tempos, é importante mostrar que a matemática
construídos os primeiros templos, e os projetistas tiveram de estudada nas escolas é apenas uma das muitas formas
encontrar unidades mais uniformes e precisas. Adotaram a desenvolvidas pela humanidade. Outro ponto a ser discutido
longitude das partes do corpo de um único homem com as crianças é que a matemática é indispensável, em todo o
(geralmente o rei) e com essas medidas construíram réguas de mundo, por consequência do desenvolvimento científico,
madeira e metal, ou cordas com nós, que foram as primeiras tecnológico e econômico que estamos vivendo.
medidas oficiais de comprimento.
Com a evolução do comércio, não era possível uma O que é esse campo de experiência e qual o seu
negociação adequada com tantas e irregulares medidas, uma significado?85
vez que o corpo humano é variável de pessoa a pessoa. Logo,
fazia-se necessária uma uniformidade de pesos e medidas. A palavra matemática é de origem grega e significa aquilo
Para medir com eficiência tornou-se necessário o uso de que se pode aprender, é composta dos termos matema que
unidades padronizadas e universais que foram criadas a partir significa explicar, entender, conhecer, aprender para saber e
da revolução francesa e, até hoje, têm sido discutidas e fazer, e tica ligada à palavra techné, técnica, que se traduz em
refinadas, de acordo com as necessidades atuais. habilidades, artes e técnicas. A Matemática é, então, uma
Portanto, a ação de medir foi sempre praticada pela ciência que busca explicar o mundo por meio da reflexão e da
humanidade, primitivamente nas trocas de mercadorias, na observação, utilizando, para tanto, de uma linguagem
contagem de seus objetos, na astrologia e em todas as específica.
situações da vida onde as variações de grandezas se faziam Quando falamos em matemática, as primeiras imagens que
presentes. vêm à cabeça são: Números e contas. Só em segundo plano
Quanto às formas e orientações espaço-temporais é pensamos em formas geométricas; medidas de distância,
também possível remontarmos a história de como o homem comprimento, valor, capacidade, gráficos, tabelas, entre
foi construindo esses conhecimentos sobre a geometria a outros. Ao associarmos essas imagens à vivência escolar, a
partir de sua ação no mundo. A geometria tem origem provável lembrança que temos, muitas vezes, é da dificuldade de
na agrimensura ou medição de terrenos, segundo o historiador aprendermos esses conceitos, suas relações e procedimentos
grego Heródoto (séc. V a.c.). O termo “geometria” deriva do em função da falta de sentido que tinham para nossa vida. Isso
grego geometrein, que significa medição da terra (geo=terra, gerou uma imagem negativa da matemática vista como difícil,
metrein=medição). As origens da geometria, do grego medir a abstrata e distante da realidade.
terra, parecem coincidir com as necessidades do dia a dia. É considerado um dos campos de conhecimento mais
Partilhar terras férteis às margens dos rios, construir casas, aplicados em nosso cotidiano, basta um simples olhar ao nosso
observar e prever os movimentos dos astros são algumas das redor e nos certificaremos da presença da matemática nas
muitas atividades humanas que sempre dependeram de formas, nos contornos, nas medidas. As operações básicas são
operações geométricas. Documentos sobre as antigas utilizadas constantemente e cálculos complexos estão
civilizações egípcia e babilônica apresentam conhecimentos presentes no nosso dia a dia quando, por exemplo, calculamos
sobre o assunto, geralmente ligados à astrologia. Apesar a área de uma parede para ser azulejada ou quando
desses documentos, é na Grécia que a geometria ganha a forma fracionamos ingredientes em uma receita. Nosso cotidiano
que se aproxima da atualidade. consubstancia, nesse sentido, uma cultura matematizada.
Quanto ao tratamento da informação, desde a antiguidade Desde que nasce, a criança está imersa nessa cultura
vários povos já registravam o número de habitantes, de matematizada na qual, de acordo com Dias; Faria86 vivencia ou
nascimentos, de óbitos, faziam estimativas das riquezas presencia situações em que se torna necessário contar, ler
individuais e sociais, distribuíam equitativamente terras ao números, quantificar, numerar, fazer operações de soma,
povo, cobravam impostos e realizavam inquéritos subtração, multiplicação e divisão, utilizar medidas diversas
quantitativos por meio de processos que, hoje, chamaríamos de tamanho, de peso, de valor, de distância, de tempo, de
de estatística. A palavra estatística foi introduzida no século capacidade, organizar-se ou estruturar-se espacialmente, além
XVIII pelo economista alemão Gottfried Achmmel e deriva do de se utilizar de gráficos e tabelas.
latim statisticum, que significa “negócios do estado”. Pois se Nesse sentido, é fundamental pensar num trabalho com o
colhiam informações geralmente para atividades religiosas, conhecimento matemático que o torne significativo para as
bélicas ou para cobrar impostos. crianças, que considere seu modo de ser, que está intimamente
Entender essa história nos permite perceber que a ligado à sua classe social, origem étnico racial, gênero e
matemática vem se desenvolvendo, se transformando, cultura.
evoluindo e que o conhecimento matemático presente no É importante considerar, nesse contexto de construir um
cotidiano é construído por meio de práticas culturais e sociais trabalho com a matemática que seja significativo para a
dos sujeitos. De acordo com Soares84, a matemática está criança, que o conhecimento matemático não se constitua num
presente no nosso cotidiano desde o nascimento. as crianças, conjunto de fatos a serem memorizados. Aprender números,
em geral, crescem em ambientes onde as pessoas falam de por exemplo, é muito mais do que contar, muito embora a
números, de medidas, fazem operações, interpretam figuras contagem seja importante para a compreensão desse conceito,

84 Idem 86 DIAS, Fátima Regina Teixeira de Salles; FARIA, Vitória Líbia Barreto de.
85 Texto adaptado: Contagem. Minas Gerais. Prefeitura Municipal. Secretaria Como a criança constrói o conceito de número? In: Caderno AMAE, nº. 1, p. 18-25,
Municipal de Educação e Cultura. A criança e a matemática/ Prefeitura Municipal 1991.
de Contagem. - Contagem: Prefeitura Municipal de Contagem, 2012.

Conhecimentos Específicos 69
APOSTILAS OPÇÃO

assim como saber o nome de figuras geométricas não significa subjetiva, imaginária. É importante salientar que as
trabalhar com espaço e forma. experiências das crianças em relação a esses aspectos,
Especificamente em relação ao conceito de número, ocorrem prioritariamente na atividade exploratória do espaço
estudos realizados por Jean Piaget e seus colaboradores e por meio de jogos e brincadeiras.
afirmam que a criança constrói o conceito e que o fato de Considerando que o processo de aprendizagem da criança
aprender a contar verbalmente não significa apropriação acontece a partir das relações que ela estabelece com o mundo
desse conhecimento. Esse processo envolve o e com a cultura, explorar o espaço envolve organizar
amadurecimento biológico da criança, as interações sociais, a deslocamentos, traçar caminhos, estabelecer referências,
manipulação de objetos, nas várias experiências vividas. identificar posicionamentos e comparar distâncias. Ao fazer
Implica estabelecer relações, pois o conhecimento não provém isso, a criança não lida só com o espaço físico, mas também
simplesmente da manipulação de tampinhas ou botões, mas com o espaço social em que ela está inserida e com o espaço
sim da coordenação de ações em que a criança ordena, reúne, afetivo, representado por todas as relações que ela estabelece
estabelece correspondência, entre outras, possibilitando, com o outro. O conceito de espaço é, então, amplo e tem como
dessa forma, a elaboração das ideias de totalidade, de referencial inicial o corpo do próprio sujeito. As noções de
quantidade e de equivalência. corpo, espaço e tempo estão intimamente ligadas. O corpo
O estabelecimento dessas relações envolve quatro outras coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um
operações mentais básicas: classificação, seriação, espaço determinado, em função do tempo, em relação a um
correspondência biunívoca e conservação, que possuem como sistema de referência. É por essa razão que possibilitar
significado: A classificação é a operação lógica em que a experiências de orientação e estruturação espaço-temporal é
criança agrupa segundo um critério; A seriação significa fundamental para o processo de aprendizagem e
colocar em série, em ordem, materiais diversos; A desenvolvimento da criança.
correspondência biunívoca é a correspondência um a um, ou Para melhor entender as relações envolvidas na
seja, cada elemento de uma coleção deverá corresponder a um construção desses conceitos, é importante trabalhar três
e somente a um elemento de uma segunda coleção; Já a relações espaciais: as relações topológicas, projetivas e
conservação é o processo em que a criança reconhece que o euclidianas.
número de elementos de um agrupamento não varia, Chamamos de relações topológicas as que não
quaisquer que sejam as maneiras como se agrupam esses necessitam de rigor formal para serem representadas.
elementos. Envolvem as noções de dentro e fora, interior e exterior,
No processo de construção do conceito de número, a fronteira e região. Tomemos como exemplo uma sala de
criança realiza também inúmeras operações aritméticas, atividades. Uma criança pede para ir ao banheiro. Para a
apropriando-se de noções de cálculo, ao mesmo tempo em que criança que saiu ela está fora da sala de atividades e, para as
constrói esse conceito. Assim, na busca de resolver problemas outras crianças da turma que permaneceram na sala, ela
de seu cotidiano, ela junta, retira, separa, reparte quantidades, também está fora. As localizações que podemos fazer
estabelecendo várias relações mentais. utilizando estas relações não variam de acordo com o ponto de
Todas essas relações dizem respeito ao que Piaget vista do observador. As relações topológicas envolvem a
denominou de conhecimento lógico matemático. Para que construção de conceitos de vizinhança, ordem, separação,
possamos compreender melhor o que significa esse tipo de contorno e continuidade.
conhecimento, é necessário fazer a distinção entre os três tipos Já as relações projetivas admitem localizações que
de conhecimento, por ele apontados: variam de acordo com o observador. São elas as noções de
direita e esquerda, em cima, em baixo, na frente, atrás e outras.
A) Conhecimento físico: É o conhecimento das Continuando com o exemplo da sala de atividades, para uma
características do objeto. A cor e a forma são exemplos de criança colocada à frente de uma mesa, um objeto (lixeira)
propriedades físicas e podem ser conhecidas pela observação. aparece à esquerda, para uma criança colocada atrás da mesa,
A fonte desse conhecimento é externa ao indivíduo. o mesmo objeto aparece à direita. As relações projetivas são
B) Conhecimento lógico-matemático: É a coordenação de uma complexificação das topológicas. Exigem que o sujeito
relações criada mentalmente por cada indivíduo entre os conserve as posições relativas dos objetos no espaço, uns em
objetos. Por exemplo, quando comparamos duas bolas de relação aos outros e de todos estes com relação a um
tamanhos diferentes, a diferença que existe entre elas não se observador. A exploração das relações projetivas conduz à
encontra nem em uma, nem em outra, mas sim na relação que última categoria de relações: a euclidiana, esta surge a partir
criamos mentalmente entre elas. A fonte do conhecimento da articulação de duas referências: uma horizontal e uma
lógico-matemático é interna. vertical, gerando um eixo de coordenadas. As relações
C) Conhecimento social: É o conhecimento adquirido por euclidianas necessitam de medidas para realizar localizações.
meio das convenções sociais, sendo sua fonte externa ao Por exemplo, as coordenadas geográficas, que nos permitem
indivíduo. localizar um ponto qualquer no planeta, a partir dos paralelos
e dos meridianos.
A notação numérica (representação do número) e o Quanto a grandezas e medidas, uma ideia básica que lhes
sistema de numeração são conhecimentos construídos e dá sustentação é a ideia de comparação. Medir significa
convencionados historicamente pela humanidade e são comparar grandezas da mesma natureza, por exemplo,
transmitidos socialmente. No entanto, para que a criança comparar o tamanho de duas crianças ou utilizar um pedaço
compreenda e signifique o conceito de número, ela necessita de barbante ou uma fita métrica para medir uma criança. A
reconstruir esse conhecimento, pois envolve uma série de construção de noções relativas a grandezas e medidas pelas
relações mentais. crianças envolve o estabelecimento de relações, tais como
Quanto ao trabalho com as formas e as orientações ordenação, estimativa e previsão. É possível salientar três
espaço temporais, diz respeito ao desenvolvimento das aspectos fundamentais do processo de medição: escolher um
relações espaciais e da geometria. De acordo com Araújo87 as objeto para servir de unidade de medida; comparar essa
formas na geometria são todas as possibilidades de unidade com o objeto, verificando quantas unidades de
representação da realidade, seja ela uma realidade concreta, medida “cabem” no objeto; e expressar o resultado da medição
externa, real, seja uma realidade interior ao indivíduo, por meio do número ou de outro tipo de registro.

87 ARAUJO, Renato Srbek. Refletindo o Ensino de Geometria. 2008.

Conhecimentos Específicos 70
APOSTILAS OPÇÃO

Em relação às unidades de medida, as crianças devem, com experientes podem ajudar as outras a estabelecerem essas
o tempo, perceber que a escolha dessa unidade é relações, de modo informal, em situações do cotidiano e em
completamente arbitrária. Podemos comparar o peso de um brincadeiras.
estojo de lápis utilizando borrachas como unidade de medida.
Naturalmente, por razões sociais e pela necessidade de A validação do conhecimento em Matemática
comunicação entre as pessoas, no decurso da história, foi
necessário o estabelecimento de um sistema unificado de Outra característica importante do conhecimento
medidas, adotando-se uma unidade padrão. Além desse matemático está relacionada a seu método científico de
padrão, foram criados instrumentos de medida para validação. Os homens recorreram, nas atividades matemáticas,
apresentar o resultado dessas medidas com precisão. a diversos métodos para validar e organizar o conhecimento
Perpassando os eixos desse campo de experiência, temos o nesse campo do saber. Entre esses, o método axiomático-
tratamento da informação, que se refere ao trabalho com dedutivo, em especial, desde a civilização grega, predomina na
estatística, com coleta e organização de dados. Essa forma de Matemática e assume a primazia de ser o único método aceito,
tratar as informações é uma necessidade social, uma vez que na comunidade científica, para a comprovação de um fato
faz parte do nosso cotidiano, aparecendo constantemente em matemático. Os conceitos de axioma, definição, teorema e
jornais, revistas, livros, internet. Desenvolver o tratamento da demonstração são centrais nesse método e, por extensão,
informação em todos os eixos da matemática nos possibilita passaram a ser, para muitos, a face mais visível da Matemática.
coletar, organizar, interpretar e tomar decisões frente aos A esse respeito, no entanto, várias ressalvas se impõem.
dados e às situações, utilizando, para tanto, de gráficos, Primeiramente, o próprio conceito de rigor lógico nas
quadros e tabelas como formas de representar ou interpretar demonstrações mudou, no decorrer da história, mesmo no
as informações matemáticas, sejam elas numéricas, espaciais âmbito da comunidade matemática. Em segundo lugar, trata-
ou de medidas. se de um método de validação do fato matemático, muito mais
Enfim, o trabalho com a matemática na educação infantil é do que um método de descoberta ou de uso do conhecimento
rico de possibilidades, pois ela está presente na arte, na matemático. Na construção efetiva desse conhecimento, faz-se
música, nas histórias, nas brincadeiras, na dança, no mundo uso permanente da imaginação, de raciocínios indutivos,
natural e social. as crianças estão vivendo a matemática plausíveis, de conjecturas, de tentativas, de verificações
quando descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, empíricas, enfim, recorre-se a uma variedade complexa de
classificam e criam coleções, estabelecem relações, observam outros procedimentos.
os tamanhos das coisas, brincam com as formas, ocupam um Além desses aspectos, embora a validação pelo método
espaço. lógico-dedutivo seja privilegiada na Matemática, as questões
de ensino e aprendizagem, associadas a tal método, estão
Como a criança aprende, se desenvolve e torna-se longe de terem sido resolvidas. São conhecidas as dificuldades
progressivamente humana, por meio desse campo de didáticas quando se busca, gradualmente, estabelecer a
experiência? diferença entre os vários procedimentos de descoberta,
invenção e validação e, em particular, procura-se fazer o
Entender a forma como as crianças se apropriam dos estudante compreender a distinção entre uma prova lógico-
conhecimentos matemáticos significa discutir como, a partir dedutiva e uma verificação empírica, baseada na visualização
de suas especificidades, elas vão interagindo com essa de desenhos, na construção de modelos materiais ou na
matemática que está no seu cotidiano. Ou seja, como já vimos, medição de grandezas.
a criança já nasce em um mundo repleto de produções
culturais do qual o conhecimento matemático é parte Os campos de conteúdos da Matemática escolar
integrante, enquanto um objeto de uso social.
De acordo com Dias e Faria88, para que a criança se Na cultura escolar, nas duas últimas décadas, os conteúdos
aproprie desse conhecimento é fundamental que ela seja matemáticos a serem ensinados e aprendidos têm sido
incentivada a elaborar hipóteses, a estabelecer relações, a organizados em grandes campos. Embora se observem
dialogar com adultos e com outras crianças em um ambiente algumas variações, há razoável concordância entre as várias
matematizador. Nesse sentido, o trabalho com a matemática propostas de classificação desses conteúdos. Neste texto
deve possibilitar à criança vivenciar e perceber, de forma adotam-se cinco campos: números e operações; geometria;
significativa, os usos e as funções da matemática na sociedade, álgebra; grandezas e medidas; estatística, probabilidades,
por meio da interação, das brincadeiras, da imitação, da combinatória.
experimentação, da exploração que são as formas como ela Esses agrupamentos têm tido um efeito positivo ao
aprende e se desenvolve. facilitarem o trabalho pedagógico, entretanto, é indispensável
Assim, é fundamental que observemos no dia a dia como as que tais campos não sejam vistos como blocos estanques e
crianças brincam e que atividades desenvolvem, pois as autossuficientes. Além disso, é preciso considerar que a
crianças, enquanto brincam, estão experimentando sua força, aprendizagem é mais eficiente quando os conhecimentos são
tomando consciência do espaço que ocupam e das revisitados, de forma progressivamente ampliada e
possibilidades de explorar o ambiente com suas pernas e com aprofundada, durante todo o percurso escolar. Ao mesmo
todo o corpo. Além disso, vão tomando contato com as tempo, é fundamental reconhecer que a elaboração desses
capacidades dos colegas, aprendendo sobre as diferenças. conhecimentos não ocorre de maneira espontânea, mas como
Essas aprendizagens vão ajudá-las a compreender os consequência da mobilização de recursos metodológicos
processos de comparação, de medição e de representação do adequados.
espaço.
Evidentemente a criança não vai aprender o conceito de Matemática e Linguagem
número e suas relações apenas com nomeações e simbologias
(representação numérica), mas por meio das possibilidades Outro aspecto importante da Matemática é a diversidade
proporcionadas pelos seus pares ou pelos adultos de de formas simbólicas presentes em seu corpo de
estabelecer as relações necessárias para construir o conceito. conhecimento: língua natural, linguagem simbólica, desenhos,
Nesse aspecto, tanto o adulto como as crianças mais gráficos, tabelas, diagramas, ícones, entre outros, que

88 Idem

Conhecimentos Específicos 71
APOSTILAS OPÇÃO

desempenham papel central, não só para representar os currículos, as modalidades de avaliação, a organização do
conceitos, relações e procedimentos, mas na própria formação tempo e dos espaços na escola, o livro didático, entre outros.
desses conteúdos. Por exemplo, um mesmo número racional Essa prática exige, em especial, mudanças nas formações
pode ser representado por símbolos, tais como ¼, 0,25, 25%, inicial e continuada dos educadores, que exercem inegável
ou pela área de uma região plana ou, ainda, pela expressão “um papel na moldagem de suas concepções.
quarto”. Convém observar, no entanto, que interdisciplinaridade
Uma função pode ser representada, entre outras não deve implicar uma diminuição da importância das áreas
possibilidades, por uma tabela, por um gráfico cartesiano ou específicas do conhecimento. Ao contrário, uma perspectiva
por símbolos matemáticos. interdisciplinar adequada nutre-se do aprofundamento nas
várias áreas do saber.
Habilidades matemáticas mais gerais Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada área
específica contribua com saberes consistentes e
Indicar um conjunto de habilidades matemáticas mais aprofundados, que não sejam meras justaposições de
gerais a serem construídas no decorrer da formação escolar é conhecimentos superficiais, mas que favoreçam conexões
sempre uma tarefa difícil. Por isso, adverte-se que a relação significativas entre esses conhecimentos.
que se indica a seguir deve ser encarada com cautela. Seu Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um
caráter abstrato torna indispensável que sua concretização sentido, procurar interligar vários saberes; buscar temas
seja fruto de um trabalho pedagógico para que essas comuns a diferentes campos do conhecimento; tentar
habilidades sejam incorporadas, em cada situação, levando em construir modelos para situações complexas presentes na
conta as características do contexto educacional em questão, a realidade; em outro, buscar aprofundar o conhecimento
maturidade cognitiva dos estudantes e seus conhecimentos disciplinar; construir modelos para um recorte específico da
prévios. realidade. Encontrar a organização e o tempo pedagógicos
Além disso, tais habilidades não se realizam num vazio, para garantir esse conjunto de ações constitui em um dos
mas apoiadas nos conhecimentos matemáticos a que estão maiores desafios para a concretização da perspectiva
intimamente associadas e sobre os quais serão tecidas interdisciplinar na escola atual.
considerações mais adiante, neste texto. Convém mencionar que várias experiências têm sido
Assim, sem esquecer as interdependências entre elas, propostas para incorporar a interdisciplinaridade na escola,
pode-se propor a seguinte relação de habilidades gerais para a como a pedagogia de projetos, o trabalho com temas
formação matemática do estudante: integradores e com temas transversais.

A) Interpretar matematicamente situações presentes nas Metodologias de Ensino e Aprendizagem


diversas práticas sociais;
B) Estabelecer conexões entre os campos da Matemática e A) Transformações no saber a ensinar
entre esta e as outras áreas do saber; A contextualização não deve ser vista como a simples
C) Raciocinar, fazer abstrações com base em situações inserção de elementos das práticas sociais na formação
concretas, generalizar, organizar e representar; matemática, mas como instrumento que permita ao estudante
D) Comunicar-se utilizando as diversas formas de estabelecer relações entre os diferentes conhecimentos,
linguagem empregadas na Matemática; construídos historicamente, com os quais ele entrará em
E) Resolver problemas, criando estratégias próprias para contato. Mesmo tendo sua origem nas práticas e nas
sua resolução, que desenvolvam a iniciativa, a imaginação, a necessidades sociais, o conjunto de conhecimentos que servirá
criatividade e a capacidade de avaliar as soluções obtidas; de motor para as aprendizagens escolares precisará passar
F) Utilizar a argumentação matemática apoiada em vários por algumas transformações. Ele deverá ser submetido, pelo
tipos de raciocínio: dedutivo, indutivo, probabilístico, por conjunto do sistema educacional, a um processo de
analogia, plausível, entre outros; descontextualização, no qual se afasta das práticas sociais que
G) Empregar as novas tecnologias de computação e lhe deram origem. Tal processo toma corpo nos referenciais
informação (TIC). curriculares e de avaliação, nos livros didáticos, entre outras
H) Desenvolver a sensibilidade para as ligações da formas. Chegando à escola, esse conjunto de conhecimentos
Matemática com as atividades estéticas nas criações culturais deverá sofrer uma nova adaptação, para que possa ser
da humanidade; ensinado pelo professor e aprendido pelo aluno. Nesse
I) Perceber a beleza das construções matemáticas, momento, dois caminhos são possíveis.
presente na simplicidade, na harmonia e na organicidade de No primeiro, o professor apresenta para os alunos o objeto
suas construções; de conhecimento descontextualizado, tal como chegou à porta
J) Estabelecer conexões da Matemática com a dimensão da escola. No segundo, ele busca realizar uma contextualização
lúdica das atividades humanas. desse objeto de conhecimento. Em qualquer dos casos, supõe-
se que seu objetivo final é o estudante ser capaz de, ao final do
Ligações entre a Matemática e outras disciplinas: A processo de aprendizagem, reunir um conjunto de
Interdisciplinaridade conhecimentos que lhe permita desenvolver as habilidades
necessárias à resolução das situações e dos problemas que
Em anos recentes, têm se multiplicado as análises sobre a enfrentará não somente na continuidade de seus estudos, mas
maneira como as disciplinas escolares estão organizadas e o também em suas práticas sociais e cotidianas.
papel que desempenham no ensino e na aprendizagem, com
destaque para a necessária incorporação da perspectiva da B) O foco na transmissão do conhecimento
interdisciplinaridade. Nesse debate, critica-se a fragmentação O primeiro dos caminhos acima mencionados, no entanto,
do saber ensinado nas escolas, alimentada pela organização do reflete a concepção do professor como emissor do
currículo em disciplinas justapostas e estanques, que conhecimento e o aluno como receptor. Ou seja, o professor
competem por seu espaço e seus objetivos particulares, ensina, geralmente por meio de seu discurso, e o aluno deve
distanciando-se do diálogo com outras disciplinas. aprender, por meio de uma escuta atenta do discurso do
A prática da interdisciplinaridade ainda é rara. Para ser professor. Essa escolha metodológica se baseia, geralmente,
efetivamente praticada e ampliada, ela requer transformações em três etapas: a apresentação do objeto de conhecimento, a
amplas, que se estendam a todo o sistema educacional: os

Conhecimentos Específicos 72
APOSTILAS OPÇÃO

oferta de exemplos de aplicação e uma extensa bateria de E) Modelagem matemática no ensino e aprendizagem
exercícios de fixação do conteúdo estudado. Em anos recentes, os estudos em Educação Matemática
A opção por esse caminho demanda estudantes bastante têm posto em evidência a ideia de modelagem matemática: “a
motivados e com grande capacidade de concentração, o que arte de transformar problemas da realidade em problemas
não parece ser o caso na maioria de nossas escolas, matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na
particularmente com estudantes de menor idade. Na verdade, linguagem do mundo real”.
a predominância desse tipo de ensino em nosso sistema A modelagem matemática pode ser entendida como um
escolar tem sido apontada na literatura educacional como uma método de trabalho científico. Nessa perspectiva, há coerência
das causas das sérias dificuldades na aprendizagem. desse método com os pontos de vista expostos neste texto
sobre as características da matemática como fonte de modelos
C) O estudante como sujeito ativo da aprendizagem para o conhecimento dos fenômenos da natureza e da cultura.
No segundo caso, cabe ao professor promover uma No entanto, neste momento, é a modelagem matemática
recontextualização do conhecimento em jogo na relação como estratégia de ensino e aprendizagem que convém
didática, ou seja, promover uma situação de aprendizagem em destacar, pela estreita conexão dessa estratégia com ações
que o conhecimento que se deseja que o estudante aprenda envolvidas na resolução de problemas abertos e de situações-
apareça na forma de uma situação a ser enfrentada, a qual se problema.
apresenta de maneira contextualizada. É como se, em certa De fato, quando a modelagem matemática propõe uma
medida, o estudante fosse levado a ‘reconstruir’ ou ‘reinventar’ situação-problema ligada ao mundo real, com sua inerente
o conhecimento didaticamente transposto para a sala de aula. complexidade, o estudante é chamado a mobilizar um leque
Ao adotar esse caminho, os papéis docente e discente variado de conhecimentos e habilidades: selecionar variáveis
invertem-se de maneira significativa. Enquanto ao professor que serão relevantes para o modelo a construir;
cabe o papel de criar situações que levem os estudantes na problematizar, ou seja, formular um problema teórico, na
direção da aprendizagem, estes devem realizar uma espécie de linguagem do campo matemático envolvido; formular
reconstrução do objeto de conhecimento. Essa escolha hipóteses explicativas do fenômeno em causa; recorrer ao
metodológica caminha no sentido inverso à anterior: nesse conhecimento matemático acumulado para a resolução do
caso, o professor não parte da apresentação do conhecimento problema formulado (o que, muitas vezes, requer um esforço
matemático, mas de uma situação previamente elaborada para de simplificação, pelo fato de que o modelo originalmente
que, no processo de resolução, o aluno construa seu próprio pensado pode revelar-se matematicamente muito complexo);
conhecimento. Resumindo, o estudante assume, nessa validar, isto é, confrontar as conclusões teóricas com os dados
proposta metodológica, um papel essencial e ativo no empíricos existentes, o que, quase sempre, leva à necessidade
processo, que se dará por meio da vivência de situações de modificação do modelo, que é essencial para revelar o
preparadas pelo professor. aspecto dinâmico da construção do conhecimento.
O segundo caminho tem sido defendido, frequentemente, Evidencia-se, além disso, que a estratégia de modelagem
nos estudos em Educação Matemática, que têm colocado em matemática no ensino e na aprendizagem tem sido apontada
evidência três escolhas metodológicas coerentes com essa como um instrumento de formação de um estudante:
opção: a resolução de problemas, a utilização da modelagem e comprometido com problemas relevantes da natureza e da
o trabalho com projetos. cultura de seu meio; crítico e autônomo, na medida em que
toma parte ativa na construção do modelo para a situação
D) Resolução de problemas problema; envolvido com o conhecimento matemático em sua
De início, é preciso diferenciar a ideia de problema dupla dimensão de instrumento de resolução de problemas e
associada à metodologia em que se enfatiza a transmissão do de acervo de teorias abstratas acumuladas ao longo da
conhecimento daquela ligada à metodologia em que o história; que “faz Matemática”, com interesse e prazer.
estudante é colocado em situação de ator principal no
processo de aprendizagem. Na primeira escolha metodológica, Matemática na Educação Infantil
é privilegiado o problema fechado, que se caracteriza por uma
aplicação de conhecimentos já supostamente aprendidos pelo A manutenção do interesse por matemática entre alunos
estudante. Nesse caso, já de antemão, o estudante é conduzido de 4 e 5 anos vem do atendimento de suas necessidades atuais,
a identificar o conhecimento a ser utilizado em sua resolução, e não da preparação para o futuro, assim, como conseguir
sem que haja maiores estímulos à construção de despertar e manter o desejo de saber matemática?
conhecimentos e à utilização do raciocínio matemático. Um dos princípios de Piaget89 é que ensinar matemática
O uso exclusivo desse tipo de problema consegue mascarar na educação infantil vai muito além de ensinar a contar, para o
a efetiva aprendizagem, à medida que, ao antecipar o autor, os fundamentos para o desenvolvimento matemático
conhecimento em jogo na situação, o estudante atua de forma das crianças estabelecem-se nos primeiros anos. A
mecânica e, muitas vezes, sem construir significado, na aprendizagem matemática constrói-se através da curiosidade
resolução do problema. e do entusiasmo das crianças e cresce naturalmente a partir
Em contraposição ao problema fechado, estudos em das suas experiências. A vivência de experiências matemáticas
Educação Matemática têm colocado em evidência o trabalho adequadas desafia as crianças a explorarem ideias
com problemas abertos e situações-problema. Apesar de relacionadas com padrões, formas, número e espaço duma
apresentarem objetivos diferentes, estes dois últimos tipos de forma cada vez mais sofisticada.
problemas colocam o estudante, em certo sentido, em situação Consequentemente, com o intuito de proporcionar uma
análoga àquela do matemático no exercício de sua atividade. educação infantil que atenda aos princípios de Piaget ligados à
Diante deles, o estudante deve realizar tentativas de curiosidade, entusiasmo e o desafio das descobertas, O
resolução, estabelecer hipóteses, testá-las e validar seus planejamento curricular para as creches e pré-escolas busca,
resultados. hoje, romper com a histórica tradição de promover o
isolamento e o confinamento das perspectivas infantis dentro
de um campo controlado pelo adulto e com a
descontextualização das atividades que muitas vezes são

89 PIAGET, J. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro. Forense Universitária,


1976.

Conhecimentos Específicos 73
APOSTILAS OPÇÃO

propostas às crianças. O novo contexto educacional para a despertem a curiosidade e interesse das crianças para
educação infantil requer estruturas curriculares abertas e continuar conhecendo sobre as medidas.
flexíveis.
Neste sentido o Referencial Curricular Nacional para Espaço e forma:
Educação infantil90 afirma que é preciso ressaltar que esta Este bloco envolve a explicitação e/ou representação da
organização possui um caráter instrumental e didático, posição de pessoas e objetos, exploração e identificação de
devendo os professores ter consciência, em sua prática propriedades geométricas de objetos e figuras, representações
educativa, que a construção de conhecimentos se processa de bidimensionais e tridimensionais de objetos, identificação de
maneira integrada e global e que há inter-relações entre os pontos de referência e descrição de pequenos percursos e
diferentes âmbitos a serem trabalhados com as crianças. trajetos.
Dessa forma, fazer matemática é expor ideias próprias, As primeiras considerações que o homem faz da geometria
escutar a dos outros, formular e comunicar procedimentos de parecem ter sua origem em simples observações provenientes
resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar da capacidade humana de reconhecer configurações físicas,
validar seu ponto de vista, antecipar resultados de comparar formas e tamanhos. Inúmeras circunstâncias de vida
experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que devem ter levado o homem às primeiras elaborações
faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa geométricas como, por exemplo, a noção de distância, a
forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como necessidade de delimitar a terra, a construção de muros e
produtoras de conhecimento e não apenas executoras de moradias e outras. Podemos afirmar que na origem de
instruções. problemas geométricos concretos com os quais o homem se
envolve desde suas atividades práticas, está a necessidade de
A) Os conteúdos da Matemática na Educação Infantil controlar as variações de dimensões com as quais se defronta
No que diz respeito à Matemática, o Referencial Curricular ao delimitar seu espaço físico para morar e produzir.
Nacional para Educação Infantil91 destaca três blocos de
conteúdos a serem trabalhados: Matemática no Ensino Fundamental92

Números e sistema de numeração: A) Conteúdos Matemáticos no Ensino Fundamental


Este bloco envolve contagem, notação e escrita numérica e As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
as operações matemáticas, assim, contar é uma estratégia Fundamental, em discussão na comunidade educacional,
fundamental para estabelecer o valor cardinal de conjuntos de indicam, enfaticamente, a necessidade de um Ciclo de
objetos. Isso fica evidenciado quando se busca a propriedade alfabetização, destinado a crianças de 6, 7 e 8 anos de idade,
numérica dos conjuntos ou coleções em resposta à pergunta sem deixar de lado a defesa do Ensino Fundamental como um
“quantos?”. É aplicada também quando se busca a propriedade todo integrado. Nos limites deste texto, opta-se por apresentar
numérica dos objetos, respondendo à pergunta “qual?”. uma visão de conjunto da Matemática escolar que, se espera,
Nesse caso está também em questão o valor ordinal de um seja abordada do 1º ao 9º anos do Ensino Fundamental,
número, na contagem propriamente dita, ou seja, ao contar acrescida, em alguns pontos, de comentários sobre o ciclo de
objetos as crianças aprendem a distinguir o que já contaram alfabetização.
do que ainda não contaram e a não contar duas (ou mais) vezes
o mesmo objeto, descobrem que tampouco devem repetir as Números e operações:
palavras numéricas já ditas e que, se mudarem sua ordem, As atividades matemáticas no mundo atual requerem a
obterão resultados finais diferentes daqueles de seus capacidade de contar coleções, comparar e medir grandezas e
companheiros, percebem também que não importa a ordem realizar codificações, que dão significados ao conceito de
que estabelecem para contar os objetos, pois obterão sempre número natural. É também indiscutível saber que ler e
o mesmo resultado. escrever números no sistema de numeração decimal são
Podem-se propor problemas relativos à contagem de habilidades fundamentais, em particular no ciclo de
diversas formas. É desafiante, por exemplo, quando as alfabetização.
crianças contam agrupando os números de dois em dois, de Recomenda-se trabalhar, de maneira gradual e integrada,
cinco em cinco, de dez em dez, etc. os diversos significados e propriedades das operações
fundamentais de adição, subtração, multiplicação e divisão. É
Grandezas e medidas: importante dar atenção especial à aquisição progressiva e
Este bloco envolve a exploração de diferentes gradual dos algoritmos formalizados, que se beneficiam do
procedimentos de comparação de grandezas, introdução às desenvolvimento do senso numérico, das propriedades das
noções de medida de comprimento, peso, volume, marcação operações e das habilidades de cálculo mental.
do tempo e experiências com dinheiro. Após o ciclo de alfabetização, a potenciação pode ser
As medidas estão presentes em grande parte das gradualmente estudada até seu desenvolvimento mais
atividades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm completo nos últimos anos do Ensino Fundamental, com
contato com certos aspectos das medidas. O fato de que as ênfase no significado dessa operação, ou seja, na ideia de
coisas têm tamanhos, pesos, volumes, temperaturas diferentes crescimento exponencial. A radiciação de índice 2 ou 3 (raiz
e que tais diferenças frequentemente são assinaladas pelos quadrada e raiz cúbica), igualmente de forma lenta e
outros (está longe, está perto, é mais baixo, é mais alto, mais significativa, pode ser abordada a partir do 6º ano do Ensino
velho, mais novo, pesa meio quilo, mede dois metros, a Fundamental. Os conceitos de número racional e de número
velocidade é de oitenta quilômetros por hora etc.) permite que inteiro estão presentes nas atividades matemáticas em quase
as crianças informalmente estabeleçam esse contato, fazendo todas as práticas sociais. Para sua aprendizagem eficiente, as
comparações de tamanhos, estabelecendo relações, pesquisas têm indicado a necessidade de se levarem em conta
construindo algumas representações nesse campo, atribuindo seus vários significados, suas diversas representações (por
significado e fazendo uso das expressões que costumam ouvir. exemplo, as representações decimal e fracionária dos
Esses conhecimentos e experiências adquiridos no âmbito racionais) e a abordagem significativa de seus algoritmos, na
da convivência social favorecem a proposição de situações que qual desempenham papéis chave as ideias, bem

90 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais Curriculares 92 Texto adaptado de Marcelo Câmara dos SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F.

Nacionais de Educação Infantil. vol. 3. Brasília: 1998. Considerações sobre a Matemática no Ensino Fundamental.
91 Idem

Conhecimentos Específicos 74
APOSTILAS OPÇÃO

contextualizadas, das operações nos naturais e nos inteiros e o nas práticas profissionais, no mundo da tecnologia e da
conceito básico de equivalência nos racionais. ciência. Por isso, a construção desses conceitos é tão
A noção de porcentagem é extremamente importante nas importante e recomenda-se que seja iniciada desde os
práticas sociais e é um conteúdo a ser abordado primeiros anos escolares, de maneira bastante informal no
simultaneamente ao de número racional. No entanto, é preciso ciclo de alfabetização, sendo ampliada e aprofundada nos anos
cuidado na progressão desses dois últimos conceitos, que só posteriores do Ensino Fundamental. A comparação de
deveriam ser formalizados a partir do 6º ano do Ensino grandezas, que são atributos de objetos ou de fenômenos
Fundamental. O número irracional tem sua origem ligada a físicos, pode ocorrer de maneira informal e quase
problemas no âmbito da própria Matemática, que é a despercebida. São corriqueiras perguntas como: Quem está
existência de segmentos que não têm uma medida comum. mais longe? Qual é a marca mais barata? Quanto tempo
Mas, atenção! Nesse caso, trata-se da medição abstrata e não demora? Quanto pesa? Quanto custa? Qual é o mais curto?
daquela realizada com instrumentos físicos. Também surgem, Cabe ao ensino escolar, progressivamente, sistematizar e
por exemplo, nas raízes quadradas de números inteiros que aprofundar tais questões, de modo que os estudantes possam
não são quadrados perfeitos. As dificuldades conceituais construir as noções de medição e de unidade de medida
associadas aos irracionais indicam que eles só sejam (padronizada ou não) para um leque amplo de grandezas e
estudados nos anos finais do Ensino Fundamental. Em uma começar a usar instrumentos de medição. No Ensino
formação matemática sintonizada com os desafios do século Fundamental, deve-se dar muita atenção às grandezas
XXI, não se pode deixar de lado o trabalho com o cálculo mental geométricas: comprimento (perímetro), área, volume
e as estimativas. Também não podemos prescindir do uso da (capacidade) e abertura de ângulo. Mas, outras grandezas
calculadora, assunto que será mais aprofundado adiante neste podem ser estudadas, sempre em situações com significado:
texto. A respeito disso, as questões relativas ao ensino e à valor monetário (dinheiro), tempo, massa e temperatura.
aprendizagem dessas habilidades são numerosas e Grandezas determinadas pela razão de duas outras (Kwh,
desafiadoras. velocidade, densidade, etc.) podem ser construídas com
estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, bem como
Álgebra demandam alguma atenção as unidades de medida da
As tendências atuais em Educação Matemática encaram a informática: Kb, Mb, Gb, etc.
Álgebra como uma forma de pensar matematicamente,
caracterizada, entre outros aspectos, pela busca de Estatística, probabilidades e combinatória
generalizações e de regularidades. Adotado esse ponto de Muitos afirmam que uma grande inovação do
vista, é recomendável que o ensino desse conteúdo seja conhecimento na segunda metade do século XX foi o relevo
desenvolvido desde a primeira etapa do Ensino Fundamental. conquistado pelo campo da estatística, probabilidades e
Mas é importante preservar, cuidadosamente, no ciclo de combinatória, cujo desenvolvimento está muito relacionado
alfabetização, a informalidade da abordagem, bem como evitar ao advento do computador e das ciências da computação e da
reduzir, nos anos posteriores, a álgebra a simples manipulação informação. Novos conhecimentos tornaram indispensáveis
simbólica. Além disso, o trabalho com esse campo da mudanças na cultura escolar. As propostas curriculares mais
Matemática escolar, após o emprego do raciocínio algébrico de recentes têm incluído como um novo campo de conteúdos a
maneira informal, realizado nos cinco primeiros anos do estatística, por meio da qual se procuram abordar o
Ensino Fundamental, deve passar a abordar, levantamento de dados sobre determinada questão da
progressivamente, os conceitos de variável, expressão realidade física ou social, o tratamento, a organização, a
algébrica, igualdade algébrica, equações (do 1º e do 2º graus), apresentação e a interpretação desses dados (tabelas,
proporcionalidade e função. Em particular, o aprofundamento dispositivos gráficos, medidas estatísticas, etc.) e a formulação
desta última noção deve apoiar-se em situações do cotidiano de conclusões de natureza estatística. A teoria das
do estudante, evitando-se a sistematização precoce. probabilidades, em sua vertente escolar, serve como base para
a estatística e também como modelo teórico para os
Geometria fenômenos envolvendo a ideia de incerteza. As mencionadas
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em particular no propostas curriculares incluem, ainda, a combinatória, que
ciclo de alfabetização, sugere-se que o trabalho com a lida, entre outros conteúdos, com a contagem sistemática de
Geometria seja centrado na exploração do espaço que envolve conjuntos discretos. Todos esses conteúdos podem se fazer
a criança. As situações em que ela seja levada a se situar no presentes no ciclo de alfabetização, mas é preciso cuidado para
espaço que a cerca devem ser particularmente exploradas. se evitar a sua sistematização nessa fase.
Dessa maneira, em momentos iniciais, podem ser propostas
atividades que levem o estudante a compreender as ideias de Matemática e a Formação para a Cidadania
pontos de referência e deslocamentos e, gradualmente, de
direção, sentido, ângulo, paralelismo, perpendicularidade e A convivência na complexa sociedade atual tem sido
coordenadas cartesianas. marcada por graves tensões sociais, geradas por persistentes
É também no espaço que cerca a criança que ela encontra desigualdades no acesso a bens e serviços e às esferas de
as diferentes figuras geométricas, planas e espaciais, e decisão política, e pela supervalorização das ideias de mercado
identifica, de modo progressivo, suas propriedades. Os difíceis e de consumo, entre outras razões. Além disso, ainda prevalece
caminhos didáticos que favorecem a passagem gradual do no mundo uma ordem social contrária aos princípios da
mundo concreto para os entes geométricos abstratos passam solidariedade e da igualdade de oportunidades para todos.
sempre pelo emprego adequado de desenhos, de construções Essa é uma situação indesejável, que precisa ser superada, e
geométricas, de planificações, do uso de programas devemos buscar encontrar o papel da formação matemática
tecnológicos ou softwares de geometria dinâmica, de que contribua para superá-la.
ampliação e de redução de figuras. Por esses caminhos, podem Uma formação que valorize a participação efetiva do
ser abordados importantes conceitos e resultados, tais como a estudante na sua aprendizagem e que incentive a sua
semelhança e os Teoremas de Tales e de Pitágoras. autonomia, certamente, colabora para a construção da
cidadania. O estímulo ao diálogo permanente entre todos que
Grandezas e medidas atuam na sala de aula ― estudantes e professor ― e o incentivo
Os conceitos de grandeza e de medida de grandezas estão ao trabalho coletivo são outras ações que favorecem o
presentes nas múltiplas atividades das pessoas: no dia a dia, desenvolvimento da capacidade de conviver harmonicamente

Conhecimentos Específicos 75
APOSTILAS OPÇÃO

em sociedade e de respeitar as diferenças entre as pessoas. A II. A professora Cristiane afirma que usa material concreto
sala de aula de Matemática não é só um local para para ensinar matemática e depois propõe aos alunos muitos
aprendizagem dessa disciplina e para a interação entre os exercícios para que repitam muitas vezes o que ensinou,
estudantes, propiciada e mediada pelo professor; ela deve ser depois dá exercícios de fixação.
sempre uma oportunidade valiosa para o cultivo de condutas III. A professora Vera afirma que ensina os conteúdos com
coletivas importantes para a vida social. muito reforço e muitos exercícios, curtos, repetidos, cálculos
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e para que as crianças se exercitem por várias horas seguidas.
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais - As afirmações dessas professoras parecem revelar que elas
que são aptidões prévias relativamente eficientes - sem que se compartilham uma conhecida concepção de ensino e
abdique do saber matemático mais universal. aprendizagem. Qual das alternativas revela essa concepção?
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e (A) Ensinar matemática consiste em explicar, aprender
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais consiste em repetir ou exercitar o ensinado até reproduzi-lo
que são aptidões prévias relativamente eficientes. Essa fielmente.
formação deve-se abdicar do saber matemático mais (B) Ensinar matemática consiste em partir do princípio de
universal. que as crianças são capazes de aprender muitas coisas a partir
de sua experiência cotidiana.
Questões (C) Ensinar matemática de forma compartimentada evita
confusões e permite à criança aprender melhor.
01. (Prefeitura de Maria Helena/PR - Professor - (D) O ensino de matemática por meio de jogos e materiais
Educação Infantil - FAFIPA) No ensino da matemática, o concretos garante às crianças aprenderem de forma
professor pode utilizar diversos jogos para as crianças se significativa.
apropriarem do conceito de número. São jogos matemáticos (E) A Matemática não deve ser olhada de forma isolada de
apropriados a esse ensino, EXCETO: outras áreas, é questão de praticá-la, analisá-la e relacioná-la
(A) Ábaco. para que os alunos aprendam.
(B) Quebra-cabeça.
(C) Material Dourado. 05. Dentre as alternativas abaixo, qual não integra os
(D) Trilha matemática. conteúdos da matemática na Educação Infantil?
(A) Números e sistemas de numeração.
02. (SEDUC/AM - Professor de Educação Especial - (B) Espaço e forma.
FGV) A “resolução de problemas é um caminho para o ensino (C) Grandezas e medidas
de Matemática que vem sendo discutido ao longo dos últimos (D) Números e operações
anos”. (PCN - Matemática, 1997, p. 32).
A respeito da resolução de problemas, assinale a afirmativa Gabarito
incorreta.
(A) O ponto de partida da atividade matemática não é a 01.B / 02.E / 03.C / 04.A / 05.D /
definição, mas o problema.
(B) O problema certamente não é um exercício em que o
aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um
processo operatório.
(C) Aproximações sucessivas ao conceito são construídas Anotações
para resolver um certo tipo de problema.
(D) O aluno não constrói um conceito em resposta a um
problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam
sentido num campo de problemas.
(E) A resolução de problemas é uma atividade a ser
desenvolvida em paralelo ou como aplicação da
aprendizagem, não como uma orientação para esta.

03. (Prefeitura de Patos/PB - Professor de Matemática


- PaqTcPB) Dentre os objetivos gerais para o Ensino
Fundamental que constam nos PCN de Matemática,
encontram-se os seguintes itens, EXCETO
(A) fazer observações sistemáticas de aspectos
quantitativos e qualitativos da realidade.
(B) selecionar, organizar e produzir informações
relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente.
(C) verificar a presença dos conjuntos numéricos, tais
como os números complexos, na realidade da vida do aluno.
(D) estabelecer conexões entre temas matemáticos de
diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de
outras áreas curriculares.
(E) sentir-se seguro da própria capacidade de construir
conhecimentos matemáticos.

04. (SEE/SP - Professor - Ensino Básico - VUNESP)


Analise as respostas de alguns professores para a pergunta:
como ensinam matemática para as crianças?
I. A professora Adriana afirma que primeiro explica, depois
passa exercícios no caderno, depois faz a revisão para ver se
entenderam.

Conhecimentos Específicos 76

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