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MATERIAIS DE MUDANÇA DE FASE INCORPORADOS EM MATERIAIS

LIGNOCELULÓSICOS POROSOS: UMA NOVA ABORDAGEM PARA A


CONSTRUÇÃO E MATERIAIS RENOVAVEIS
PHASE CHANGE MATERIALS INCORPORATED INTO POROUS LIGNOCELLULOSIC
MATERIALS: A NEW APPROACH FOR ECO FRIENDLY CONSTRUCTION AND
BUILDING MATERIALS

Leonardo Seibert Kuhn (1); Túlio Caetano Guimarães (1); Fabrício Rezende Fontenelle (1)(3);
Saulo Rocha Ferreira (2) Andréa Aparecida Ribeiro Corrêa (2) – (máximo 6 autores)

(1) Doutorando, Universidade Federal de Lavras


(2) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil
(3) Professor Mestre, Departamento de projeto, representação e Tecnologia de arquitetura e
urbanismo
Leonardo.s.kuhn@gmail.com

Resumo
O objetivo deste trabalho é investigar a capacidade da biomassa em reter materiais de mudança de fase
(PCM) para a construção civil e promover eficiência energética. Para este fim, foram utilizadas três
biomassas: partículas de madeira, tecido de juta e colmos de bambu; um PCM comercial, Crodatherm 24;
para revestimento da biomassa foram utilizados um copolímero de estireno butadieno carboxilado ou
resina de óleo de mamona; cimento CPV-ARI. A impregnação foi feita por imersão, para as partículas de
madeira e o bambu foi também utilizado um sistema de vácuo. Para evitar vazamento, as partículas de
madeira e o tecido de juta foram revestidos com copolímero de estireno-butadieno carboxilado, já o bambu
foi revestido com resina de óleo de mamona. O tecido de juta foi aplicado em um concreto reforçado com
têxtil, as partículas de madeira foram incorporadas em matriz cimentícia como agregado, e o bambu foi
utilizado como telhas. Imagens microscópicas foram obtidas e análises térmicas foram realizadas por
hotbox nas telhas de bambu e no compósito de juta, para matriz de cimentícia com partículas de madeira
foi realizada a análise dynamische kugel kalorimetrie.
Palavra-Chave: Biomassa, Eficiência energética, Construção civil, Armazenamento de energia térmica, PCM

Abstract

The objective of this work is to investigate the capacity of biomass to retain phase change materials (PCM)
for civil construction and building applications and to promote energy efficiency. For this purpose, three
biomasses were used: wood particles, jute fabric and bamboo stalks; a commercial PCM, Crodatherm 24;
to coat the biomass, a copolymer of carboxylated styrene butadiene or castor oil resin were used; CPV-ARI
cement. Impregnation was done by immersion, for wood and bamboo particles a vacuum system was also
employed. In order to prevent leakage, the wood particles and the jute fabric were coated with carboxylated
styrene-butadiene copolymer, while the bamboo was coated with castor oil resin. Jute fabric was applied to
textile-reinforced concrete, wood particles were incorporated into a cementitious matrix as an aggregate,
and bamboo was utilized as roof tiles. Microscopic images were obtained and thermal analyzes were
performed via hotbox on the bamboo tiles and on the jute composite, for the cementitious matrix with wood
particles the dynamische kugel kalorimetrie analysis was performed.
Keywords: Biomass, Energy efficiency, Buildings, Thermal energy storage, PCM

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1 Introdução
O setor da construção civil é responsável pelo uso de 40% da energia global, 25% do
uso de água, 40% dos recursos e 30% das emissões de gases do efeito estufa (Miller et
al., 2021). Atualmente uma tecnologia desenvolvida para a redução do consumo
energético é o uso de materiais de mudança de fase (PCM, phase change materials),
uma das áreas é o desenvolvimento de aplicação desses materiais, o qual visa o
conforto térmico, diminuindo o consumo de energia para equipamentos de controle
térmico, como aquecedores e ar condicionado.
Na construção civil, algumas formas de aplicação já foram avaliadas, como a produção
de tijolos contendo micropartículas de PCM e uso de agregados reciclados da
construção civil para contenção de PCM. Além da construção civil, esses materiais são
utilizados em diferentes áreas, como sistemas de resfriamento, embalagens de alimento,
tecidos, entre outros, os quais mostram a eficiência do uso de PCM (Nazir et al., 2019).
Os PCMs são utilizados para armazenamento de energia térmica, controlando a
temperatura do sistema que estão inseridos. Isso ocorre devido a mudança de estado
físico do material, como, por exemplo, do sólido para o liquido ou o contrário, e para isso
o material absorve ou libera considerável quantidade de energia, sendo esta
denominada de calor latente, mantendo a temperatura constante durante esse processo.
Essa temperatura de mudança de estado do material determinará sua aplicação (Huang
et al., 2019).
Devido à variação de volume durante sua mudança de estado, estes materiais são
usualmente encapsulados a fim de se evitar perdas por escoamento, forças capilares e
ação da gravidade. Contudo, essa encapsulação deve apresentar algumas
características, como ser compatível com o PCM utilizado e o ambiente que será
inserido e resistir a rupturas, oxidações, tempo de uso, e a variação de pressão causada
pela alteração volumétrica do material durante os ciclos de variação entre os estados
que se encontrarão durante as variações de temperatura (Liao et al., 2018).
Também são utilizados materiais porosos para conter PCM e aprimorar sua utilização,
como promover resistência mecânica e condutividade térmica, esses materiais porosos
podem ser espumas metálicas, rochas porosas, nanotubos de carbono, aerogéis, entre
outros (Hattan et al., 2021).
Visto que a biomassa consiste, em geral, em materiais porosos, e o Brasil possuindo
grande potencial de produção de biomassa e diversas pesquisas apresentam o potencial
de biomassa em matriz cimentícia para produção de concretos leves ou reforço fibroso,
a biomassa tem potencial para conter PCMs e aplicá-los à construção civil.
Com isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a capacidade de incorporação de PCM em
diferentes tipos de biomassa para a construção civil, sendo partículas de madeira, tecido
de juta e bambu. Além disso, foi realizada avaliação térmica dos materiais após a
incorporação de PCM.

.
2 Metodologia
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As seguintes biomassas foram utilizadas neste trabalho: partículas de madeira de
pinus, tecido de juta, adquirido de Companhia Têxtil Castanhal, com abertura de 3
cordões/cm na direção transversal e 3,5 cordões/cm na direção longitudinal, e bambu. O
PCM utilizado foi um produto comercial obtido comercial da empresa Croda, Crodatherm
24, um óleo de origem vegetal com temperatura de fusão de 24 ºC. Para revestimento
das biomasssas foram utilizados borracha de estireno butadieno carboxilada (XSBR) da
Nitriflex, e resina poliuretana a base de mamona. Também foi utilizado Cimento CPV –
ARI para aplicação das biomassas em matriz cimenticia.

Figura 1 – Imagem das biomassas utilizadas para incorporação de PCM

As partículas de madeira foram saturadas por imersão, sob condições de vácuo, por 24
horas. Após a saturação, a encapsulação das partículas foi realizada em sala
climatizada a 18ºC, para manter o PCM em estado sólido. O processo se deu da
seguinte maneira: as partículas de madeira contendo PCM foram imersas no XSBR e
logo retiradas e acondicionadas separadamente em uma superfície para secagem do
XSBR, esse processo foi refeito 3 vezes, sendo denominado de bioagregados.
Para sua aplicação foi calculado para 50% do volume do compósito, sendo o restante de
massa cimentícia na proporção de 1:0,4 de cimento e água, a amostra foi feita em um
molde esférico para análise térmica conforme Mankel et al. (2020).
O tecido de juta foi imerso em PCM líquido durante 2 minutos, de forma a se obter 80%
de saturação, e então retirado e deixado por algum tempo para que o excedente de
PCM escorresse. Em seguida, o tecido foi imerso no XSBR por 50 minutos e então
retirado e seco ao ar livre por 72 horas. Para sua aplicação em matriz cimentícia, foi
preparada uma argamassa e produzido um laminado denominado concreto reforçado
com têxtil (CRT), contendo 7 camadas alternadas, sendo 4 de cimento e 3 de tecido de
juta contendo PCM. A produção do compósito foi realizada de acordo com a metodologia
de Fidelis et al. (2014).
O bambu foi utilizado como telha, sendo saturado por imersão em condições de vácuo
por 24 horas, após a saturação as amostras foram submetidas em freezer -5ºC para
solidificação do PCM, após a solidificação as amostras foram encapsuladas com a
resina de mamona utilizando uma pistola de ar comprimido, pulverizando sobre as
amostras uma cada de revestimento.
A análise térmica do CRT de juta e do bambu foi realizada conforme Guimarães et al.
(2023), consistindo da avaliação da evolução da temperatura em diferentes regiões de

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duas câmaras termicamente isoladas, submetidas a um ciclo de aquecimento e
resfriamento.

3 Resultados
A incorporação de PCM na biomassa foi realizada sucesso, as diferentes
biomassas apresentaram diferentes teores de saturação de PCM sendo de 59% para as
partículas de madeira, 102% para o tecido de juta e 12% para o bambu. Esses
diferentes valores podem estar associados as diferentes caracteristicas anatômicas das
espécies, assim como a porosidade de cada uma.
Na figura 2, podemos observar as imagens de microscópio ótico para a biomassa
avaliada, a partícula de madeira apresenta algumas características encontradas nas
propriedades anatômicas da madeira na seção transversal, apresentando um poro,
oriundo de elemento de vaso, as fibras e os raios, também pode ser observado a
caracteristica de oleosidade e brilho proporcionado pelo PCM e o XSBR, sendo a
camada branca entorno da madeira
O tecido de juta apresenta as fibras e o XSBR recobrindo as fibras, já o bambu
apresenta a estrutura anatomica de sua estrutura na seção transversal, podendo ser
observado o metaxilema, floema, fibras e parenquima, e pequena faixa oriunda da
camada de revestimento por poliuretano.

Figura 2 – Imagens de microscópio ótico das biomassas contendo PCM e encapsuladas.

Na Figura 3, podemos observar os materiais produzidos para analise térmica.

Figura 3– corpos de prova para análises térmicas: compósitos cimentícios com partículas de madeira e
tecido de juta; telhas de bambu.

Os diferentes materiais avaliados termicamente mostraram eficiência energética,


a analise térmica com os bioagregados pode ser observada na figura 4, onde o efeito do
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PCM se mostra como esperado, atrasando em aproximadamente uma hora o
aquecimento em relação à referência, também mostra que o atraso acontece com um
maior efeito na temperatura de mudança de fase do PCM, próximo aos 24ºC.

Figura 4 – Analise térmica dos compósitos, com partículas de madeira contendo PCM (linha pontilhada,
azul) e referência (linha tracejada, laranja) contendo somente argamassa.

Os resultados dos testes com o CRT de juta e as telhas de bambu podem ser
observados nas Figura 5 e 6. Cada cor representa a média das medições de um par de
termopares, posicionados simultaneamente em diferentes regiões, a saber: ar da
câmara superior (simulando o ar externo), superfície superior da amostra, superfície
inferior da amostra e o ar da câmara inferior (simulando o ar interno).
Quando o CRT atinge 20–24 °C, o PCM começa a se fundir, atrasando o aumento da
temperatura. Enquanto a superfície inferior do material de referência leva cerca de 25
min para atingir 24 °C, a placa impregnada com PCM leva 34 min para atingir a mesma
temperatura.

Figura 5 – Analise térmica dos CRTs de juta contendo PCM (linhas pontilhadas) e referência (linhas
contínuas).
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Os resultados da analise térmica com as telhas de bambu mostrou o mesmo efeito
esperado e observado com o CRT. Pode ser observado na figura 6 os resultados, no
mesmo sentido, quando o PCM começa a derreter a temperatura das superfícies da
telha se mantem a mesma, atrasando o aquecimento da telha e do ar interior.

Figura 6 – Analise térmica da telha de bambu contendo PCM.

4 Conclusão
Por meio dessa pesquisa foi possível concluir que a biomassa tem capacidade de
retenção de PCM, e assim como os resultados observados das análises térmica dos
materiais desenvolvidos é possível observar a eficiência gerada pela incorporação do
PCM nos materiais, de modo que a temperatura de aquecimento foi atrasada em relação
aos materiais sem PCM.
Também é necessário maior desenvolvimento científico com essa temática, o que
está sendo proporcionado por nossa equipe, buscando maiores conhecimentos com
esses materiais desenvolvidos.

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3 Referências
FIDELIS, M.E.A.; De Andrade Silva, F.; Toledo Filho, R.D. The Influence of fiber
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Mater., v. 600, p.469–474, 2014.

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HATTAN, Hamed Abbasi; MADHKHAN, Mortaza; MARANI, Afshin. Thermal and


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Building Materials, v. 270, p. 121385, 2021.

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mortars made with PCM-recycled brick aggregates. Materials, v. 13, n. 5, p. 1064,
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NAZIR, Hassan et al. Recent developments in phase change materials for energy
storage applications: A review. International Journal of Heat and Mass Transfer, v.
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