Trabalho decente como conceito harmonizador entre os princípios constitucionais
dignidade humana e valorização do trabalho;
Precarização do trabalho: políticas públicas e ação coletiva
Mestrando: Luís Guilherme N. de Araujo
Disciplina: Relações de Trabalho na Contemporaneidade
O texto “Precarização do trabalho: políticas públicas e ação coletiva”, de Ana
Claudia Moreira Cardoso, tem o intento de demonstrar as formas de manifestação do fenômeno da precarização e anotar suas principais características, bem como sistematizar algumas propostas para o seu combate e superação. O texto destaca a realização de uma abordagem multidimensional da situação, que, por essa natureza amalgamada de diversos fatores sociais, políticos e econômicos que recaem sobre os indivíduos, exige um olhar também interseccional para a construção de caminhos para sua superação, marcado pela classe, gênero, raça, geração e território. A autora destaca que o atual contexto brasileiro apresenta três grandes grupos de indivíduos que atravessam situação de precariedade, a saber: aqueles que se encontram já há um longo período em situações de vulnerabilidade e precariedade e, por essa razão, não possuem expectativa de uma inserção no mercado formal de trabalho; aqueles que possuem empregos formais mas encaram más condições e baixa qualidade de trabalho e aqueles que já estiveram insertos no mercado de trabalho com certa estabilidade e qualidade, mas que atualmente, em funções das novas formas de contratação e regulamentação, se viram ameaçados. Ademais, a autora trabalha com dimensões da precarização do trabalho que perpassam diferentes elementos e situações, como o desemprego, o tempo de trabalho, o rendimento, a saúde e segurança do trabalho e a representação sindical. Segundo é apontado, são fares que, ainda que analisados separadamente para fins de estudo, devem ser considerados em conjunto quando do desenvolvimento de políticas públicas e ações coletivas que visem melhorar as condições de trabalho e renda de uma considerável parte da população do país. A autora defende, ainda, que, diante da complexidade social, geográfica e cultural brasileira, as ações governamentais através das políticas públicas necessitam encarar as desigualdades que atravessam a sociedade como estruturais e não somente conjunturais, o que exige uma análise interseccional. Isto é, considerando as particularidades de classe, gênero, raça e etnia, idade e localização geográfica, vez que cada uma dessas dimensões expressa desigualdades e mecanismos de segregação ao mesmo tempo específicos e correlacionados. Por fim, para sistematizar essas ideias, entende-se que uma das, e talvez a principal, política para combater a precariedade do trabalho que atinge o Brasil contemporâneo é a complexificação das ideias de trabalho e emprego, com fins de que a proteção legislativa não proteja somente postos formais de trabalho, mas compreende indivíduos, que também são trabalhadores, que não estejam totalmente subsumidos pelas categorias jurídicas de relações de trabalho e emprego. Nesse sentido, independentemente do tipo de trabalho, de contrato, remuneração ou jornada, toda a classe que vive do trabalho deve ter acesso a direitos constitucionalmente protegidos. Já o texto intitulado “Trabalho decente como conceito harmonizador entre os princípios constitucionais dignidade humana e valorização do trabalho”, composto por Jailton Macena de Araujo e Suelen Tavares Gil, descreve o contexto socioeconômico do Brasil a partir da perspectiva do Estado de bem-estar e apresenta uma sua influência no desenvolvimento do trabalho no país, pela introdução dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho. Os autores assinalam que o contexto de desenvolvimento do Estado brasileiro se deu em meio a crises de diversas dimensões sociais, como econômicas, ideológicas e filosóficas. Apontam, ainda, a recorrência de governos populistas na história recente, o que refletiu também em prementes crises no âmbito do trabalho, a partir da flexibilização das condições de trabalho em favor de interesses privados. Nesse contexto, ganha relevo o desenvolvimento de um cenário nacional em que o mundo do trabalho possa ser positivamente considerado em termos de efeitos sociais, em que há valorização econômica dos indivíduos, condizente com o que é exigido pelo mercado na manutenção das suas necessidades e na promoção de sua sociabilidade. Simultaneamente, sinaliza-se que, quando o cenário econômico e político não se mostrar favorável, a prioridade deve ser o respeito à dignidade humana no mundo do trabalho, visto que os trabalhadores, num Estado Democrático de Direito, não podem se ver à mercê das contingências e dos interesses meramente econômicos. É sabido, pois, que uma exploração ilimitada representa riscos para a própria lógica de valorização do capital, vez que a redução da qualidade de vida dos trabalhadores em razão da baixa remuneração resulta em arrefecimento do mercado de consumo, pela diminuição do poder de compra dos salários. Nesse sentido, essa perspectiva, que advoga por condições de trabalho consoantes com o princípio constitucional da dignidade humana aponta para uma limitação das lógicas de valorização capitalistas por meio da exploração irrestrita do trabalho humano, aponta tanto para os efeitos diretos e imediatos nas condições de vida da classe trabalhadora, quanto para os efeitos indiretos no evolver do mercado e da economia interna. Os autores desenvolvem, ainda, aquilo que entendem como trabalho digno, tendo como fundamento os requisitos estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). São alguns desses parâmetros a ampliação dos direitos trabalhistas, o incentivo ao diálogo social tripartidário, isto é, o diálogo entre o Estado, os empregados e os empregadores em negociações coletivas; a promoção do emprego e a proteção social. Aduzem que a conceituação da OIT auxilia positivamente na proteção de trabalhadores que se encontram em postos formais de trabalho, mas enxergam défices nessa conceituação no que toca à subsunção e aplicabilidade dos princípios e parâmetros nas complexas realidades locais de cada país. Destacam-se, nesse sentido, as dificuldades existentes no hodierno mundo do trabalho brasileiro, que sofre com uma significativa informalização do trabalho, bem como com uma intensa onda de desregulamentação, o que reflete em desamparo social e abre espaço para o estabelecimento de condições indignas de trabalho. Quanto a isso, tem-se o papel relevante que o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, atrelado ao valor social do trabalho, pode exercer na conceituação de trabalho digno, que, por sua vez, deve ser ampliada para compreender também os milhões de trabalhadores informais, ao mesmo tempo em que tem de servir de fonte de estímulo para a regularização desses postos de trabalho e para proteção aos direitos fundamentais dos trabalhadores.
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