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POLÍTICAS DE SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES BÁSICAS: A

PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO.


Angela Elizabeth Ferreira de Assis¹* (PGB)

1. Universidade Estadual do Ceará – Mestranda em Sociologia – Bolsista FUNCAP.

Resumo
O presente trabalho resulta da pesquisa bibliográfica que dará suporte à dissertação de mestrado
do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará. Com o
objetivo de identificar pontos de convergência entre os autores destacados, este trabalho é uma
tentativa de compreender as concepções acerca da proteção social que, a partir da emergência
da questão social, representa o conjunto de iniciativas públicas ou estatalmente reguladas para
provisão de serviços e benefícios sociais visando enfrentar situações de risco social ou privações
sociais. Através de postulações teóricas que compreendem a proteção social como resultado de
um construto social, de modo que o seu desenvolvimento consiste em diversos processos
multifacetados da sociedade em que está inserida, destacamos alguns dos principais autores que
refletem sobre a sua articulação e desenvolvimento no contexto brasileiro.
Palavras-chave: Capitalismo. Proteção Social. Seguridade Social.

Introdução
Em meio as contradições da modernização capitalista num país dito “subdesenvolvido”,
em que os problemas sociais são abordados através da “questão social”, expressão que sintetiza
as múltiplas manifestações materiais, culturais e sociais da precarização das condições de vida,
destacamos a proteção social no contexto brasileiro como uma categoria analítica que pode ser
definida, em linhas gerais, no conjunto de iniciativas públicas ou estatalmente reguladas para
provisão de serviços e benefícios sociais visando enfrentar situações de risco social ou privações
sociais. (JACCOUND, 2009, p.58).
Na medida em que uma nova ordem social institui-se no decorrer do processo de
industrialização no ocidente, a proteção antes fornecida pelo núcleo familiar e comunitário torna-
se insuficiente para lidar a questão social, passando assim a ser exigir também das instituições
modernas uma postura frente às demandas que surgiam, principalmente, no que se refere à
proteção contra situações que impediam o trabalhador de suprir a sua subsistência através do
trabalho assalariado.
Ainda de acordo com Jaccound (2009), é a partir do século XIX que de fato a proteção
social passa a ser associada às obrigações jurídicas que impõe ao Estado a responsabilidade de
prover os recursos fundamentais para a sobrevivência de seus cidadãos. Assim, a sua definição
passa a ser fortemente vinculada às ações e programas estabelecidos e executados pelo aparato
estatal, regendo diferentes instâncias da vida a fim de garantir e promover o bem estar da sua
população, desenvolvendo-se através de processos diferenciados que dependem das condições
estruturais presentes no contexto em que está situada.
Dito de outra forma, quando falamos de proteção social no Brasil, estamos nos referindo
à previdência social, ao sistema de saúde e à assistência social. No entanto, a seguridade social
nos moldes brasileiros, expressa na Constituição Federal (1988), abrange outros âmbitos, dando
um papel significativo à família, à comunidade e à sociedade civil como um todo na sua efetivação,
deixando a cargo do Estado os casos em que essas instâncias não tivessem condições de agir.
Em síntese, as responsabilidades sociais são distribuídas de maneira hierárquica estabelecendo
como principal instância de provisão a família, e em último caso o Estado, que apresenta uma
postura cada vez menos responsável por prover recursos para os seus cidadãos.
Diante desse contexto, este trabalho é uma tentativa de compreender as concepções
acerca da proteção social que, a partir da ascensão do modo da emergência da questão social,
representando o conjunto de iniciativas públicas ou estatalmente reguladas para provisão de
serviços e benefícios sociais visando enfrentar situações de risco social ou privações sociais.
Através de postulações teóricas que compreendem a proteção social como resultado de um
construto social, de modo que o seu desenvolvimento consiste em diversos processos
multifacetados da sociedade em que está inserida, estabelecemos uma reflexão sobre o seu
desenvolvimento no contexto brasileiro.

Metodologia
Nesse estudo utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, realizando leituras
sistemáticas e críticas dos autores destacados. Com isso, direcionamos nosso foco para
abordagens que discutem a concepção de proteção social a partir da ascensão do modo de
produção capitalista e a emergência da questão social no brasil, como um dos mecanismos
fundamentais para compreendermos a relação entre Estado e Sociedade.
Assim, privilegiamos as abordagens que discutem o desenvolvimento social depende,
dentre muito fatores, como daquilo que os indivíduos dessa sociedade conseguem realizar
através das suas disposições sociais. Para isso, são consideradas as circunstâncias que
pautaram as condições de vida da população brasileira, dentre elas destacamos: a escassez de
oportunidades econômicas, de liberdades políticas, dificuldade de acesso a bens e serviços que
garantam saúde, educação básica e qualidade e condições para que suas habilidades sejam
aprimoradas.
Para compreender esses aspectos, estabelecemos uma articulação entre alguns dos
principais autores que destacaram-se ao trabalhar tais questões, tais como: Ivo (2001), Jaccound
(2009), Pereira (2011), Iamamoto (2014), refletindo a respeito das concepções que permeiam a
proteção social no Brasil. Através das postulações aqui destacadas, buscamos estabelecer um
plano geral a respeito das tentativas de interpretação da formação sociocultural, econômica e
política do Brasil, pontuando resumidamente sobre como a proteção social se desenvolve no país,
na medida em que há a emergência de novas estruturas sociais.

Resultados e Discussão
Entendendo a proteção social como “um conjunto de mediações que emergem das lutas
sociais cotidianas de diferentes segmentos subalternos que vêm à esfera púbica para expressar
interesses”. A sua concepção se estabelecem entre as dimensões econômica, política e cultural,
como um processo em curso, e que a definição de proteção social depende do contexto social e
histórico específico em que ela se inserem, assim como os sentidos que são atribuídos a ela.
(IAMAMOTO, 2014, p. 611).
Ademais, o desenvolvimento de um Estado Nação, numa perspectiva mais abrangente,
envolve muito mais do que apenas o campo econômico, e inclui também elementos da política,
do social e ambiental, ele argumenta que a política social, principalmente quanto à ampliação das
habilidades, seria um elemento central para o aumento da inovação e produtividade do trabalho
e para o crescimento econômico. É nesse sentido que a formação da sociedade brasileira é
crucial para compreender sobre o que queremos dizer quando falamos de proteção social.
Pereira (2011), pontua que a proteção social brasileira é caracterizada por: ingerência
imperativa do poder executivo; seletividade dos gastos sociais e da oferta de benefícios e serviços
públicos; heterogeneidade e superposição de ações; desarticulação institucional; intermitência da
provisão; restrição e incerteza financeira. Essas característica, ao longo da formação da
sociedade, foram somadas a práticas clientelistas, populistas e paternalista que predominam nas
formas de regulação social e política.
Destacando o período de transição democrática situado entre as décadas de 1980 e 1990
e também de transição demográfica que vivenciamos, no contexto de ajustes estruturais, notamos
diversas mudanças no que se referem às relações entre o Estado e a sociedade na América
Latina como um todo, principalmente em países ditos periféricos. Nos países latino-americanos
esse momento é caracterizado pela ampliação do espaço público resultante da crescente
mobilização e participação da sociedade, mas também pela integração das economias nacionais,
à chamada globalização, que somados, esses dois aspectos dentre outros contribuem para o que
IVO (2001) denomina como crise de governabilidade.
Segundo a autora, em meio ao ritmo acelerado das transformações, o Estado encontra
dificuldades em processar os interesses sociais que emergem desse processo, não atendendo
às expectativas de conciliar o desenvolvimento econômico com o bem-estar social da população,
criando tensões e fazendo com que as instituições públicas percam progressivamente sua
legitimidade por parte do polo societário. No caso brasileiro, a buscar por adequar-se às
demandas do mercado globalizado repercute sobre a ação do Estado frente às demandas sociais
e as políticas empregadas para satisfazer aquelas que são consideradas as necessidades
básicas da população.
Conclusão
Trazendo para o contexto brasileiro, nitidamente marcado por desigualdades, a autora
destacada que os dilemas da governabilidade seriam “manter a ordem jurídica e política baseada
no princípio da igualdade básica entre cidadãos num contexto de ampliação dos direitos políticos”.
No entanto, há um esgotamento do que seria o pacto corporativo que legitima o poder político do
Estado, fazendo com que a proteção social no Brasil passe por um processo de reconversão para
acompanhar as mudanças resultantes da reestruturação produtiva e da globalização, resultando
no tratamento da questão social em termos de “medidas mitigadoras setorializadas e focalizadas
da pobreza, dentro de um modelo excludente” (IVO, 2001, p.44).
Em outras palavras, a centralidade da política com caráter redistributivo teria sido
deslocado para tratar a miséria de modo a compensar os seus efeitos, aderindo até mesmo às
soluções coercitivas e autoritárias. Segundo Mota (2007), essas postulações sobre a formação
da sociedade e do estado brasileiro demonstram que as políticas que integram a seguridade
social brasileira estão longe de formarem um amplo e articulado mecanismo de proteção, pois ao
longo desses processos, adquiriram a perversa posição de conformarem uma unidade
contraditória: enquanto a mercantilização da saúde e da previdência desarticula os mecanismos
de acesso aos benefícios sociais e serviços por um viés público, a assistência social se amplia a
partir de uma perspectiva que isenta o Estado das responsabilidades sociais.
Por fim, no esforço em demonstrar o percurso da proteção social se constituindo e
consolidando no Brasil, temos ainda o desafio de compreender o percurso da nossa própria
formação enquanto sociedade. Assim, destacamos que esses quadros políticos e administrativos
foram construídos sobre os momentos históricos que consolidaram o Estado brasileiro,
perpetuaram relações de poder que até hoje são exercidas na forma de dominação política sob
uma perspectiva patrimonialista, como ferramenta de barganha eleitoral ou atribuindo um caráter
de “favor” às responsabilidades sociais. Em outras palavras, a proteção social no Brasil se
consolida sobre a ótica de interesses privados, tendo a gestão estatal como instrumento de
interesses particulares e nem sempre tendo como prioridade atender às demandas e garantir os
direitos sociais em sua totalidade.
Mesmo com avanços nas legislações e políticas, elas ainda estão longe de assegurar de
fato os direitos sociais da população, até porque, as políticas neoliberais assumem um caráter
precarizado e privatizado que, de certa forma, também interferem nessas dinâmicas. Além disso,
outro aspecto que devemos destacar é que nas grandes cidades atuais há pouca oportunidade
espacial para a convivência de modo a permitir o exercício efetivo das relações sociais na
construção dessas políticas.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:
Senado, 2008.
IAMAMOTO, Marilda Villela. A formação acadêmico-profissional no Serviço Social
brasileiro. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 120, p. 608-639, 2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282014000400002&
lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 de jul. de 2019.
IVO, Anete Brito Leal. A destituição do ‘social’: Estado, governo e políticas sociais. Cadernos
CRH, Salvador, n. 35, p. 41-84, jul./dez. 2001.
JACCOUD, Luciana. Proteção Social no Brasil: debates e desafios. In: Concepção e gestão da
proteção social não contributiva no Brasil. Brasília, MDS/UNESCO, p. 57-86. 2009.
MOTA, A. E. Serviço Social e Seguridade Social: uma agenda recorrente e desafiante. In:
Revista Em Pauta nº 20 – Trabalho e sujeitos políticos. UERJ, 2007.
PEREIRA, P. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 5ª ed. São
Paulo: Cortez, 2011.

Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – FUNCAP, por tornar possível que o trabalho iniciado ainda na graduação tivesse
continuidade agora no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UECE. Agradeço de forma
especial ao professor Domingos Sávio Abreu por ter sido o primeiro a me orientar nesta pesquisa
e a professora Maria Sulamita de Almeida Vieira que também me orientou durante a graduação.
Por fim, agradeço a professora Liduina Farias Almeida da Costa que atualmente me orienta no
Mestrado Acadêmico em Sociologia.

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