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Uma história contestada: a História

Medieval
na Base Nacional Comum Curricular
(2015-2017) ( Fichamento )- Felipe
Sepúlveda
-Os debates sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fizeram
sobressair posicionamentos que propõem restrições ao estudo da
antiguidade e do medievo na educação básica, postura que mobilizou
medievalistas brasileiros no intuito de justificar a permanência da área
no ensino escolar e de iniciar uma reflexão sobre o ensino de história
medieval nas escolas. A BNCC é o documento que irá nortear todos
os níveis da educação no Brasil, por isso este artigo discute a presença da
Idade Média nas três versões da BNCC e apresenta alguns apontamentos
acerca da inserção do medievo na educação escolar.

-Documento de “caráter normativo que define o conjunto orgânico e


progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades
da Educação Básica” (BRASIL, 2017b, p. 7), a Base foi apresentada,
discutida, revisada e aprovada num cenário de profunda polarização
política, que passa pelo segundo processo de
impeachment presidencial desde a redemocratização dos anos 1980, pela
reconfiguração dos partidos políticos e dos movimentos sociais, por
crescentes denúncias de corrupção envolvendo diferentes esferas
da política nacional e, no plano da educação, pelo avanço de projetos
que interferem no exercício da docência, como o projeto Escola Sem
Partido. ( p. 2 )

-Em sua primeira consulta pública(2015), a BNCC causou um embate


entre educadores que eram contra e os que eram a favor. História foi “o
último componente a ser divulgado para consulta” ( p. 2 )

- A ANPEd(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em


Educação) e a ABdC(Associação Brasileira de Currículo) acusaram a
Base como problemática e imprópria e o MEC de estar seguindo
tendências internacionais de mercantilização da Educação. Apontaram
também que o processo de criação da BNCC foi apressado e não
transparente.

-Acusações da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de


História das Américas ( ANPHLAC ): a Base não explora aa conexões
entre Europa e Américas;

-Acusação dos professores universitários do Rio de Janeiro: a Base


simplesmente esqueceu Antiguidade e Idade Média, botou pouco da
Moderna e da Contemporânea e ainda colocou a Europa moderna como
um produto das “conquistas” na América e na África

-As associações de pesquisa de História da África disseram que a Base


estava eurocêntrica e desatualizada na parte de História da África,
disseram que o documento só falava das sociedades centralizadas e
hierarquizadas, e que reduzia o continente a um espaço de exploração de
portugueses e brasileiros

- O documento até teve seus pontos positivos: dava mais espaço pra
História da África e História Indígena e se propunha a superar o
eurocentrismo

-E por isso, mesmo eles não botaram Antiguidade e Medieval como


obrigatórios. Aparentemente, eram conteúdos eurocêntricos e distantes
da vida dos estudantes, então pra quê ensiná–los?

-Na segunda versão da BNCC( a de 2016 ), repetiram um dos “defeitos”


criticados na primeira versão: poucas áreas da História contempladas ( a
grande maioria dos profissionais envolvidos era das áreas de História do
Brasil e Ensino de História ). O máximo que teve foi uma leve
diversificação na equipe de assessoramento ( grande #@$* )

-Essa segunda versão era bem mais conservadora, por mais que
recolocasse História Antiga e Medieval: indígenas e negros voltaram a
ser temas periféricos, a cronologia voltou a ser a tradicional, a história
do Brasil voltou a ter menos importância que a História geral.
-Na parte de História Medieval, essa 2º versão ainda se orienta pelas
visões de “queda do Império Romano”, a partir da qual a Idade Média
teria iniciado, “feudalismo”, “anarquia feudal” e “primazia da Igreja
Católica”, além de colocar a cidade em oposição ao campo. Em suma, se
guia por ideias já bastante criticadas pela historiografia recente, em
especial a do pós-anos 1980

-”Do mesmo modo, a Base reafirma elementos como Estado, Violência


e Igreja como eixos explicativos do período, aspectos que, para a
medievalística atual, são considerados como falsas concepções acerca da
Idade Média”( p. 10 )

-”Observa-se a manutenção das oposições recorrentes nas abordagens


sobre o medievo, como: comunidade ou coletividade/individualismo;
ruralidade/urbanidade; cultura oral/cultura escrita; opressão/liberdade;
entre outros”. ( p. 10 )

-...”culmina na redução do medievo à Europa e, em especial, aos


processos históricos ocorridos na França, Inglaterra, Alemanha e Itália”
(p. 10 )

é perceptível a redução das manifestações individuais e coletivas de


medievalistas brasileiros desde a publicação da segunda versão da
BNCC, o que pode estar relacionado ao retorno dos conteúdos de
História Medieval para a Base, quiçá o principal objetivo imediato
da mobilização;
ao cenário político nacional, marcado pelo processo de impeachment
presidencial da presidente Dilma Rousseff, ocorrido entre dezembro
de 2015 e agosto de 2016, que passou a aglutinar as atenções dos
historiadores em geral e deixou o tema da BNCC em segundo plano;
ou à própria
desmobilização dos professores em torno da questão da presença do
medievo no currículo escolar nacional, um tema de crescente
preocupação no meio acadêmico, mas que ainda ocupa um espaço
secundário nas investigações dos medievalistas brasileiros
-

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-Aí, veio a 3º versão da BNCC pra terminar de fuder tudo. A ANPEd
fez algumas críticas a essa versão( teoricamente ela veio pra
“complementar” a 2º versão ):

- A BNCC é inspirada em centralizações curriculares como a do


Chile, da Austrália e dos Estados Unidos, experiências muito
criticadas;

-O Ensino Médio não foi contemplado no documento, o que atrapalharia


a integração entre os 3 níveis da Educação básica;

- O currículo era baseado em “competências”. Segundo a


Associação, isso desconsiderar os avanços do movimento das
Diretrizes Curriculares Nacionais e colocava de forma
esquemática metas de aprendizado que deveriam ser processuais;

-Não fala de identidade de gênero nem de orientação sexual( essa versão


da BNCC );

-”A concepção redutora frente aos processos de alfabetização e o papel da


instituição escolar
na educação das crianças” (ANPEd, 2017, p. 1) ( p. 11 )

-Pereira e Rodrigues afirmam que essa versão da Base retira a parte crítica da
disciplina, pq tá pouco se fudendo pra conflitos e lutas sociais;

-Em compensação, pelo menos, essa 3ºversão aproxima a História Medieval


de suas vertentes social e cultural, e fala de coisas como: “formas de contato
entre populações”, “dinâmicas de circulação de pessoas e produtos”,
“formas de organização do trabalho e da vida social”, “o papel cultural
da religião cristã” e “os papéis sociais das mulheres”( p. 11 )

-”Buscando uma comparação entre as versões da Base, observa-se que


os conteúdos de Idade Média conheceram uma variação marcante.
Inicialmente inserida de forma lacunar em poucos itens, a História
Medieval passou a ocupar espaço de destaque nos conhecimentos
históricosesperados para o 6º ano, demarcando-se por uma abordagem
conservadora e conteudista,ao passo que na terceira e última versão,
passa-se a eixos amplos que estruturam o 6º ano do Ensino Fundamental
em torno da Antiguidade Clássica e de uma Idade Média mediterrânea
pensada por uma abordagem sociocultural”.( p. 12 )

-Primeira versão da BNCC( antieurocêntrico a ponto de retirar


Antiguidade e Medievo ), Segunda e Terceira( abordagem conteudista e
tradicional do Medievo, com a Terceira sendo um pouco mais
sociocultural

-”Como exposto, a Idade Média foi contemplada no texto da Base,


porém apenas no 6º ano do Ensino Fundamental, numa faixa etária
média entre 10 e 12 anos, sendo a maior parte da História Antiga
limitada ao Ensino Fundamental — Anos Iniciais, no 5º ano, espaço
que, tradicionalmente, não é ocupado por professores licenciados em
História” ( p. 14 )

-Cláudia Bovo fala da dificuldade de se pensar os conceitos históricos


de forma crítica em sala de aula, porque estes são muitas vezes
naturalizados pelo currículo;

-Nérie de Barros Almeida bate na tecla de que os estudos


medievalísticos devem procurar conexão com outras áreas e propõe a
reflexão sobre porque a Idade Média ficou tão associada com a Europa

-”Ademais, Almeida ressalta elementos que favorecem o estudo do


medievo a partir do Brasil, como a perspectiva distanciada, que resulta
em abordagens supranacionais e supraeuropeias do período, e a vocação
para a pluralidade, manifesta na diversificação das pesquisas no país”. (
p. 16 )

-Alguns autores, para justificar o estudo da Idade Média em terras


brasileiras, apontam as “continuidades”, a nível das mentalidades, da
cultura, ou dos elementos socioeconômicos, entre Idade Média e
contemporaneidade brasileira

-Outros, como José Rivair de Macedo, apontam que faria muito mais
sentido estudarmos História Ibérica, já que pertencemos a esse
“conjunto cultural específico”( p. 21 )

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