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Jornalismo é espaço de assédio e

desvalorização feminina, expõe mestrado em


Comunicação

Dissertação defendida na Metodista por Jéssica Collado foi debatida pela Cátedra UNESCO/UMESP

29/04/2019 18h20

Dissertação de Jéssica Collado na Metodista: cenário desfavorável às mulheres

Boris Casoy na Rede TV!, Celso Freitas na Record e William Bonner na Globo têm em
comum o fato de serem âncoras dos maiores telejornais nacionais e estarem
próximos ou terem ultrapassado a faixa dos sessentões grisalhos, rugas aparentes e
até dobrinhas abdominais, além de experientes. Essas “virtudes”, entretanto, só
valem para homens no Brasil. Às mulheres as exigências passam por ser (bem)
jovem, pele clara e esticada, cabelos lisos, delicadas, magérrimas e, por fim,
competentes.

Esse é apenas um dos vários cenários adversos que a mulher jornalista brasileira
encontra no exercício profissional, nada diferente de outras carreiras femininas, mas
que surpreende por ocorrer em um ambiente que lida com informação,
conhecimento, divulgação das lutas contra preconceitos e outras conquistas de
gênero. Além da cultura machista e de assédio que sobrevive aos séculos, a
:
jornalista brasileira segue a sina de colegas de outras profissões na desvalorização
da capacidade e dos salários frente aos homens.

“Pelo menos 89% delas sofrem algum tipo de assédio moral ou sexual por parte de
chefias e colegas, 76% tiveram a autoridade questionada ou seus trabalhos
diminuídos por serem mulheres e 80% acreditam que são a parte mais frágil em
caso de demissões provocadas pela tecnologia e pela juvenização da carreira
(chegada em massa de jovens formandos)”, afirma Jéssica Collado, mestre em
Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, cuja dissertação
defendida em março último trata sobre “Jornalismo contemporâneo e a mulher
jornalista: um estudo de gênero da profissão no Estado de São Paulo”.

Mesmo representando dois-terços (62%) da profissão, as jornalistas surgem na


pesquisa de Jéssica Collado como menos produtivas e mais assalariadas. Das 102
entrevistadas, 79% afirmam receber menos que os colegas homens nas mesmas
funções, o que é vetado pela lei no 9.799, e 61% ganham até 3,3 salários mínimos.
As 25% que ocupam posição de chefia não estão nas redações, mas atuando como
autônomas (PJ) ou à frente da própria empresa de comunicação.

“O emprego feminino tornou-se espaço de assédio e desvalorização. Além do local


de trabalho, a jornalista é assediada nas redes sociais e no local da matéria. Tem
repórter que não trabalha nas ruas no Carnaval porque é agarrada”, apurou a
mestre pela Metodista, que apresentou sua pesquisa na tarde de 24 de abril no
Workshop Unescom, iniciativa da Cátedra Unesco de Comunicação da Universidade
Metodista de São Paulo.

2º salário

Segundo conclusões do trabalho, a própria mulher acaba se depreciando ao ter


consciência da precarização da atividade e aceitar a cultura de que é o 2º salário da
família, mesmo tendo tripla jornada como profissional, mãe e dona de casa. Sem
falar na obrigação de atender à exigência de estar 24 horas por dia conectada com
os acontecimentos a partir das ferramentas da internet e ser multitarefa
(entrevistar, escrever, gravar, filmar, tirar fotos, revisar, editar e dominar
:
plataformas on e off-line, entre outros).

“Não só os chefes devem mudar, mas a própria mulher precisar ser firme na postura
e vista como liderança por sua competência e profissionalismo”, afirma Jéssica, que
pretende seguir com o tema em seu doutorado. Algumas saídas para ambientes
sexistas e machistas no trabalho ela aponta por meio de compliance (regras de
responsabilidade social) e criação de canais internos de denúncia nas empresas, já
que assédio sexual é previsto no artigo 216-A do Código Penal desde 2001,
enquanto a lei trabalhista 13.288 de 2002, no artigo 1º, parágrafo único, discorre
sobre situações de assédio moral.

Leia também: Assédio sexual e moral está presente em quase 100% do


ambiente de comunicação

Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.


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