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Marx

Manuscritos econômico-filosóficos

A propriedade privada nos deixou tão obcecados e egoístas que só


consideramos algo nosso se o possuímos de fato, tipo, se tá na nossa mão,
se é nosso capital ou se a gente consome, bebe, veste, usa no corpo, habita,
e tal. Mas, tipo assim, mesmo que a propriedade privada englobe todas essas
formas de posse como meios de sobrevivência, a vida que eles servem é a
vida da propriedade privada: trabalho e acumulação de capital.
Os sentidos físicos e espirituais, tipo, perderam espaço pra uma parada
mais simples: o desejo de ter. Essa ideia de ter passou a dominar tudo, saca?
Tipo, a essência humana foi reduzida a essa miséria total, só pra mostrar o
quanto a gente é rico por dentro, né? É como se a gente tivesse que valorizar
o que a gente tem dentro de nós, em vez de só ficar obcecado com posses
materiais. (Para saber mais sobre essa parada de ter, dá uma olhada no que
o Hess fala nas "Vinte e uma páginas de impressão").
A superação da propriedade privada é tipo a libertação total de todas as
qualidades e sentidos humanos. Só que essa liberdade rola porque esses
sentidos e propriedades se tornaram humanos, tanto na forma como a gente
sente e entende as coisas quanto na forma como as coisas interagem com a
gente. Tipo, o olho deixou de ser só um olho e passou a ser um olho humano,
e as coisas que a gente vê viraram coisas sociais, humanas, que tão ligadas
ao ser humano e às interações entre as pessoas.
Por isso, na prática, os sentidos se tornam meio que teóricos. A gente
sente a parada porque quer, mas a própria parada é uma relação objetiva
humana, tanto com a gente quanto com outros humanos. Ou seja, eu só
consigo ter uma relação humana com as coisas se elas também tiverem uma
relação humana com a gente.
Aí, a ideia de ter ou usar algo deixa de ser só egoísta ou só útil, porque a
utilidade passa a ser uma utilidade humana, saca? É tipo, a parada é útil
porque contribui pra experiência humana em geral.
Da mesma forma, os sentidos e o espírito de outra pessoa se tornam como
parte da minha própria experiência. Além disso, além desses órgãos
individuais, se desenvolvem órgãos sociais, tipo, através da interação com a
sociedade. Então, por exemplo, a atividade em conjunto com outras pessoas
se torna uma parte da minha expressão de vida e uma forma de vivenciar a
vida humana.
Entende-se que o olho humano percebe as coisas de maneira diferente do
que um olho mais básico, não humano; o mesmo vale para o ouvido humano
em comparação com um ouvido mais rudimentar, e assim por diante. A gente
saca essa parada, tipo, o ser humano só consegue se conectar
verdadeiramente com um objeto se esse objeto for humano, ou seja, se tiver
algum aspecto social ou se estiver relacionado com outros seres humanos de
alguma forma. Isso só rola quando o objeto se torna social pra ele, e ele
mesmo se torna um ser social, saca? É tipo, a sociedade se torna parte da
essência desse objeto pra ele.
Então, tipo assim, quando a gente tá na sociedade, tudo que tá a nossa
volta se torna parte de nós mesmos, saca? Tipo, tudo que a gente vê, toca,
ouve, sente, tudo isso meio que reflete quem a gente é. Os objetos se tornam
uma parte da nossa individualidade, do nosso jeito de ser. E como eles se
tornam nossos, isso depende da natureza de cada objeto e da nossa relação
com ele. É tipo, a forma como a gente se relaciona com as coisas, isso
determina como elas fazem parte da nossa vida.
Por exemplo, um objeto pode ser visto de uma maneira pelo olho e de
outra pelo ouvido, né? A forma como a gente percebe as coisas depende dos
nossos sentidos, e cada sentido tem sua própria essência, sua própria forma
de interagir com o mundo. Então, não é só no pensamento, mas é com todos
os sentidos que a gente se conecta com o mundo ao nosso redor.
Por outro lado, de um jeito mais pessoal: assim como a música mexe
primeiro com a parte musical da gente, né? Tipo, pra quem não manja de
música, a música mais incrível não faz o menor sentido, é tipo nada, porque o
que a gente considera como nosso objeto só pode confirmar uma das nossas
habilidades, sabe? Então, só faz sentido pra mim na medida em que a minha
habilidade tá ali, saca? Por isso que o sentido de um objeto pra mim vai até
onde o meu sentido vai, entende?
E é aí que os sentidos de uma pessoa social são diferentes dos de alguém
que não é social; é só com a riqueza do que a gente vivencia que a gente
consegue desenvolver sensibilidades mais humanas, tipo, um ouvido pra
música, um olho pra beleza, e por aí vai. Porque não é só os cinco sentidos,
mas também os chamados sentidos espirituais, tipo a vontade, o amor, tudo
isso faz parte da experiência humana, da humanidade dos sentidos, e isso só
rola quando a gente tem contato com objetos que são humanizados, que têm
uma essência humana.
A formação dos nossos cinco sentidos é um processo que vem rolando
desde o início da história do mundo, saca? Um sentido limitado só à
necessidade prática também é bem limitado. Tipo, pra um cara morrendo de
fome, a comida não tem forma humana, é só um negócio pra matar a fome,
entende? Pra ele, tanto faz se é algo super refinado ou bem simples, não faz
diferença, é só comida.
Um cara super ocupado com problemas não vai sacar a beleza de um
espetáculo maneiro, e um vendedor de minerais só vê o valor de mercado,
não enxerga a beleza ou a natureza única do mineral; ele não tem nenhum
entendimento mineralógico. Então, pra fazer os sentidos do ser humano
serem realmente humanos, é preciso objetivar a essência humana, tanto do
ponto de vista teórico quanto prático. Assim, a gente consegue criar um
sentido humano que corresponda à toda riqueza da experiência humana e da
natureza.
Assim como o movimento da propriedade privada, tanto em sua riqueza
quanto em sua miséria, tanto material quanto espiritual, influencia a formação
da sociedade, essa mesma sociedade também influencia a formação do ser
humano. É como se a sociedade fornecesse todo o material necessário para
a construção do ser humano em sua plenitude, tanto em riqueza quanto em
profundidade, em sua efetividade constante.
Dá pra perceber como o subjetivismo e o objetivismo, o espiritualismo e o
materialismo, a atividade e o sofrimento, deixam de ser opostos apenas
quando a gente tá no contexto social. É como se as próprias oposições só
existissem por causa desse estado social. E aí, a gente vê que resolver essas
oposições na teoria só é possível de uma forma prática, só com a energia que
a gente coloca na vida real. Por isso, resolver essas paradas não é só uma
tarefa do conhecimento, mas também uma tarefa vital, saca? A filosofia não
conseguiu resolver isso porque só encarou como uma questão teórica.
A história da indústria e a existência objetiva dela são tipo um livro aberto
sobre as forças essenciais do ser humano, a psicologia humana na prática.
Só que até agora a gente só viu essa relação com o homem de uma forma
superficial, tipo só olhando pra utilidade das coisas. Mas é porque a gente
tava meio preso nessa visão estranha, que só conseguia enxergar as forças
humanas como algo genérico, tipo religião, ou história de uma forma mais
abstrata, tipo política, arte, literatura, e tal.
Na indústria material, que a gente vê tanto como parte desse movimento
universal quanto como algo que pode ser parte da nossa própria atividade, a
gente encontra as forças essenciais do ser humano transformadas em
objetos concretos, tá ligado? Esses objetos são estranhos pra gente, mas são
úteis, fazem parte desse processo de estranhamento. É como se fosse um
livro aberto sobre a psicologia humana, mas tem gente que não consegue
enxergar isso, não consegue fazer disso uma ciência real e completa. Tipo,
como pode uma ciência ignorar uma parte tão importante do trabalho humano
e ainda assim se achar completa? Isso só mostra o quanto ela tá
desconectada da riqueza da experiência humana, só consegue ver tudo como
falta, como carência.
As ciências naturais têm se desenvolvido muito e têm estudado uma
quantidade cada vez maior de coisas. Mas, mesmo assim, a filosofia continua
sendo algo estranho pra elas, assim como elas continuam estranhas para a
filosofia. Aquela união momentânea que a gente viu foi só uma ilusão, tipo,
tinha vontade de juntar, mas faltava habilidade. Até a historiografia só dá uma
passada de leve pela ciência natural, vendo ela como algo relacionado com o
esclarecimento, com a utilidade, com grandes descobertas, e tal.
Mas quanto mais a ciência natural entra na vida prática da galera através
da indústria, remodelando e preparando o caminho para a liberdade humana,
mais ela contribui pra desumanização também. A indústria é tipo a relação
real entre a natureza, a ciência natural e o ser humano; por isso, quando a
gente enxerga ela como uma revelação das forças humanas essenciais, a
gente também entende a natureza como algo essencialmente humano, e a
ciência natural deixa de ser só sobre coisas materiais ou idealistas, passando
a ser a base da ciência humana. É como se ela se tornasse a base da vida
humana de verdade, mesmo que meio distorcida. Uma outra base pra vida,
uma outra pra ciência, isso é pura mentira. A natureza que a gente vê na
história humana, que surge através da indústria, mesmo que de um jeito
estranho, é a verdadeira natureza antropológica.
A sensibilidade, como Feuerbach aponta, deve ser a base de toda ciência.
É só quando a ciência parte da natureza, da consciência e da carência
sensíveis, que ela realmente se torna uma ciência eficaz.
A história inteira, desde o início até hoje, é basicamente uma preparação,
um desenvolvimento para que o ser humano se torne objeto da consciência
sensível e para que as necessidades humanas se tornem reais. A história é
parte integrante da história natural, da evolução da natureza até o surgimento
do ser humano. Mais adiante, tanto a ciência natural absorverá a ciência do
homem quanto a ciência do homem englobará a ciência natural, formando
uma única ciência.
O ser humano é o objeto imediato da ciência natural, porque a natureza
sensível para o ser humano é, na verdade, a sensibilidade humana, ou seja, é
como se o ser humano visse a si mesmo na natureza. Por outro lado, a
natureza é o objeto imediato da ciência do homem. O ser humano, como
primeiro objeto da ciência, é tanto natureza quanto sensibilidade, porque é na
natureza que as características humanas encontram sua expressão objetiva.
Portanto, é na ciência que estudamos a natureza que entendemos mais sobre
nós mesmos. A linguagem, que é essencial para o pensamento e para a
comunicação da vida mental, é de natureza sensível. A interação social com
a natureza e a ciência natural humana são essencialmente a mesma coisa.
Percebe-se como a posição das riquezas e misérias econômicas nacionais
é ocupada pelo homem rico e pela necessidade humana abundante. O
homem rico é, ao mesmo tempo, alguém carente de uma plenitude na
expressão da vida humana. Ele é aquele em quem sua própria realização
existe como uma necessidade interna, como uma falta. Não apenas a
riqueza, mas também a pobreza do homem, adquirem, sob o pressuposto do
socialismo, um significado humano e, portanto, social. A pobreza é o elo
passivo que faz com que o homem sinta a maior riqueza, ou seja, a
necessidade do outro homem.
A dominação da essência objetiva em mim, a irrupção da minha atividade
essencial, é a paixão, que assim se torna a atividade da minha essência.
Um ser se considera independente quando se sustenta por si mesmo, e só
se sustenta por si mesmo quando deve sua existência a si mesmo. Um
homem que depende dos favores de outro é visto como alguém dependente.
Mas eu dependo totalmente dos favores de outro quando devo a ele não
apenas minha vida, mas quando ele é a fonte da minha vida, e minha vida
tem necessariamente um fundamento externo a si mesma quando não é
minha própria criação. A ideia de criação é algo difícil de ser eliminado da
consciência das pessoas. O auto-existir da natureza e do homem é
inconcebível para elas, porque contradiz todas as experiências práticas da
vida.
A compreensão da formação da Terra sofreu um golpe significativo da
geognosia, a ciência que revela o processo de formação da Terra, seu
surgimento como um processo de autoengendramento. A teoria da geração
espontânea é a única refutação prática da teoria da criação.
É fácil dizer a um indivíduo singular o que Aristóteles já afirmava: você foi
gerado por seus pais, ou seja, a união de dois seres humanos, um ato
comum à humanidade, resultou na sua existência. Assim, física e
biologicamente, você deve sua existência à humanidade. Você não deve
apenas considerar o progresso infinito, questionando quem gerou seu pai,
quem gerou seu avô, e assim por diante. Também deve considerar o
movimento circular, evidente na procriação, onde o ser humano se repete
continuamente, mantendo-se sempre sujeito à sua própria natureza.
Tu então retrucas: "Ok, se aceitas esse ciclo contínuo, também aceita o
impulso do progresso, que me leva a questionar incessantemente: quem foi o
primeiro ser humano e como tudo começou?"
A resposta só pode ser essa: tua pergunta é uma abstração total. Deves te
perguntar como chegaste a fazer essa pergunta; questiona se ela não vem de
um ponto de vista que não tem resposta, pois é uma perspectiva invertida.
Quando indagas sobre a origem da natureza e do ser humano, estás os
abstraindo. Estás tratando-os como se não existissem e ainda assim queres
que eu os prove como reais. Deixa eu te dizer agora: se abandonares essa
abstração, também abandonarás tua pergunta. Ou, se preferes manter a
abstração, seja consistente. Se pensas que o ser humano e a natureza não
existem, então deves pensar o mesmo sobre ti mesmo, pois fazes parte disso
tudo. Não pense, não me questione, pois assim que pensas e questionas, a
tua abstração do ser da natureza e do homem perde todo o sentido. Ou és
tão egoísta que consideras tudo como nada, mas ainda assim queres existir?
Tu poderias então replicar: "Não estou sugerindo que a natureza seja nada;
estou perguntando sobre o seu surgimento, da mesma forma que um
anatomista estuda a formação dos ossos, por exemplo."
No entanto, para alguém que adote uma perspectiva socialista, toda a
chamada história mundial é vista como o resultado do trabalho humano, como
o processo de nascimento do homem por meio de suas próprias ações.
Dessa forma, ele possui uma prova intuitiva e irresistível de sua própria
geração, de sua origem através de suas próprias realizações. À medida que a
essência do ser humano e da natureza se torna algo tangível e prático,
percebida pelos sentidos, a pergunta sobre um ser superior à natureza e ao
homem — uma pergunta que sugere a inexistência de essência na natureza e
no homem — torna-se praticamente impossível de ser feita.

Resuminho
1.Transformação da Sensibilidade e da Percepção:
- A sensibilidade deve ser a base de toda ciência. Somente quando a ciência parte da
natureza, ela se torna efetiva. Para que o "homem" se torne objeto da consciência sensível
e a carência do "homem enquanto homem" se torne necessidade, toda a história é uma
preparação para o desenvolvimento. A história é parte efetiva da história natural, do devir da
natureza até o homem. A ciência natural e a ciência do homem se sobrepõem, sendo
expressões idênticas.

2. A Relação entre Riqueza e Pobreza Humana:


- O homem rico é também carente de uma manifestação completa da vida humana. A
pobreza do homem, sob o socialismo, ganha significado humano e social. Ela é o elo que
faz o homem sentir a maior riqueza, o outro homem como necessidade. A dominação da
essência objetiva é a paixão que se torna atividade essencial.

3. Questionamento sobre a Origem da Natureza e do Homem:


- Questionar sobre a origem da natureza e do homem é uma abstração. Indagar sobre o
surgimento da natureza é abstrair dela e do ser humano. Se abandonares essa abstração,
abandonarás também tua pergunta. Se pensas que o ser humano e a natureza não existem,
deves pensar o mesmo sobre ti mesmo. A abstração perde todo sentido assim que pensas
e questionas.

4. Replicação sobre o Surgimento da Natureza:


- Não sugiro que a natureza seja nada; estou perguntando sobre o seu surgimento. Para
um socialista, toda a história é vista como o resultado do trabalho humano, tornando a
pergunta sobre um ser superior à natureza e ao homem praticamente impossível.

5. Refutação da Geração Espontânea:


- A generatio aequivoca é a única refutação prática da teoria da criação. A história mundial
é vista como o engendramento do homem pelo trabalho humano, tornando a pergunta sobre
um ser superior à natureza e ao homem praticamente impossível.

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