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CARDIOPATIA BERIBÉRICA *

Drs. A. Q. DE MATTOS " e ADY PRATES FLORES *..

Conceito e incidência outras ligadas à absorção de vitaminas do


complexo B.
Entende-se por cardiopatia beribéri- A influência do álcool na gênese
ca o conjunto de manifestações clínicas das manifestações cardiovasculares, foi
e hemodinâmicas, e de alterações radio- objeto de estudo por parte de Bollinger,
lógicas e eletrocardiográficas decorrentes (11) que investigou as alterações anatô-
da deficiência de aneurina. (5, 15, 30, micas em corações de pessoas que inge-
33) . Sua maior incidência verifica-se no riam grande quantidade de cerveja, os
oriente, {5) mais rara no ocidente. (5, 7, chamados bebedores de cerveja de Mu-
8, 9, 10, 38) No oriente, mais frequente nich.
no Japão e Ilha de Java. {5) Nos Esta- O mesmo ocorreu com Munzingen,
dos Unidos, várias publicações têm sido (29) com os denominados bebedores de
feitas. (7, 8, 9, 10, 17, 19, 31, 37, 39, 41) vinho de Tübingen. Algum tempo depois,
Na Europa, apesar de ser menos fre- Aufrecht, (2) estudava a chamada mio-
quente, alguns casos têm sido relatados. car·dite alcoólica. Na França, as alterações
(22, 31, 42) cardiovasculares do beribéri foram deno-
No Bra':il, o coração beribérico foi es- minadas de miocardia alcoólica por Lau-
tudado por diversos autores (3, 4, 5, 6, 14, bry e Walzer, (38) Langeron c Le Dour-
26, 28, 32). neuf. (23)
No Rio Grande do Sul, o Prof. Ru- Assim, todos êsses investigadores jul-
bens Maciel, estudou as manifestacões gavam que o álcool agia diretamente sô-
cardiovasculares em alcoólatras. (25 ). bre a fibra miocárdica, comprometendo-
Em rela<;ão ao sexo, no oriente incide a em sua estrutura, com flaxidez de con-
tanto no homem como na mulher, mas trações, fácil dilatação, e, pelo esfôrço ex-
no ocidente manifesta-se preferencial- cessivo, insuficiência cardíaca.
mente no sexo masculino. (5) Do ponto de vista histológico, as
principais alterações descritas foram: dis-
Etiopatogenia sociação e fragmentação das fibras mus-
culares.
Como vimos, a cardiopatia beribérica Além dessa ação direta, haveria ou-
resulta da deficiência de vitamina Bl. tra, indireta, constituída pela pletora vas-
No oriente é ocasionada pela alimentacão cular e hipertensão arterial devido à in-
precária, sobretudo o uso de arroz poli- gestão ele grande volume líquido. (11, 29)
do. (5) Esta concepção chegou, pràticamen-
No ocidente está relacionada com a tc, até à atualidade. Foi modificada após
ingestão ele álcool, em doses excessivas e as notáveis investigações de Aalsmeer,
continuadas. (5, 7, 8, 10, 17, 39) (1) Wenckebach, (40) Weiss, (39) e
Nesta condição, o regime hipercaló- Blankenhorn. (7 ,8)
rico exige uma quota maior de vitamina Os estudos realizados por Aalsmeer
Bl, o que não acontece nos alcoólatras, (1) c Wenckcnach, (40) na ilha de Java,
pois o álcool provoca anorexia, insuficiên- definiram os limites das alterações car-
eia hepatocítica c perturbações digestivas diovasculares na deficiência de aneurina,

• Trah•tliFJ aprr";~·nl·tflo :-L Hor,l,.tfad(• dr> C:trd!oJn,·i·t dr> H. O. Rui. (·In 30 d(~ agfn;to rl(• 19G7
" 41 /\uxlli<tr d1• En~·,lno da ·t.a cadPira til' ('llUÍ<"l. n·~··d!ca •ProL fbrn~r·nto Lr·itt~ Filho•, da Faeuldade d1•
Mr>dtc!n:t d1• P/n·to /'.k!'l''· (:;a'iiolof{i·-.1.a (j(, Al(lfJ•.Ihi·J!'Ü) (lo JAPC. r•1·1 POr!.') Ali.'IUf'. A.<.:':>lstf-·ntJ; du
s~·rrlr;o de C:•.rrlinlr)1' 1.:l (:o Prqf_ H'!h:·n~; ~,f:t( 1 1'! ICÚ'edra df' r:Jintr:a propr:dbut.lc:t IÍH'dka' da Facul-
d:lr!" dr• ~ff'·.'kln:t ·_'·· p~·,rr,() Al~·~n·
C'qJabot"ador volllfil_;'tr!n da ,;.a 1',4d~>lr:\ "'' clinka !IH~d!ca. n. . rof SanJ~!·nto L•·íte Fllho I da F'aruldadf:
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132 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

decorrentes de dietas pobres, sobretudo A deficiência de vitamina Bl deter-


com arroz polido. Êstes investigadores e-
laboraram, inclusive, os critérios para mina a interrupção das reações que le-
diagnóstico de cardiopatia beribérica.
Weiss, (39) e Soldati, (37) experi- vam à desintegração do ácido pirúvico,
mentalmente, produziram alterações car-
diovasculares idênticas àquelas determi- produzindo assim um acúmulo de lacta-
nadas pela ingestão excessiva de álcool e
uso de dietas carentes em tiamina. to e piruvato nos tecidos e no plasma.
A vitamina Bl interfere no metabo-
lismo intermediário dos hidratos de car- Com isso diminui a energia utilizada pe-
bono da maneira seguinte:
lo sistema contrátil do miocárdio (miosi-
Acido lático
I na e actomiosina) .
Acido ·pirú vi co
t
Difosfotiamina (és ter do ácido piro-
fosfórico)
L
Descarboxilação (- COOH) Durant, (13) no quadro seguinte, mo-
!
Enzimas protéicos catalizadores dificado por Benchimol, (5) resume a se-
L
Oxidação do ácido pirúvico quência etiopatogênica dos distúrbios cir-
!
Aldeído acético culatórios do beribéri:

DÉFICIT DE Bl EM RELAÇÃO A QUOTA CALóRICA


FORNECIDA PELOS ALIMENTOS NÃO GORDUROSOS
--·--·---·-r-- ·--L-··----·--·-..·--··--.

Lesões degenerativas dos r-·~ic;túrbio do metabolismo intermedifu~--


plexos nervosos vasomotores 1 dos glicídios.
'---------
----,1 Acúmulo de á~i~;;;. l~tico-~----~ ~nf~nc~~-~~=~--s~~l':
pirúvico no sangue o miocárdio
I -----l •••-···- oOOO.OoOo ...... --00[-~---·-··-·-··-HO~

.
L~-s-o_d_il_a-ta-c-.ã--o-p_e_r-if_é_r-ic-a--, -~==~:::;~-c-ia--~~~~~s-tl-.- --,

l
va com débito cardíaco
Maior retô;~~~~noso ao]-· elevado.
coraçao.
·-------- ·-----
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 133

A patogenia do edema e a manuten- ou associado a outros fatores etiológicos,


ção do círculo vicioso na insuficiência parece ter sua explicação no esquema
cardíaca, determinada pelo beribéri puro proposto por Iseri e colaboradores: (21)

DEFICU:NCIA DE ANEURINA

I
t
[ Diminuição do transporte de 02 e retenção de lactato e piruvato

I
t
Aumento na osmolaridade celular I
I
t
IRetenção de sódio ,_+-___ ~ ~-~etençã_o_d_e_H_2_o-;-l---~ i Perda de potássio I
i i I
t
i I
t t
I
I ADH
II Exercíc·
10 I~
I
t
I
t
~~-~
r Rim
I EDE Intracelular

I
t
~suficiê
Diminuição da Os- 1 -
ncia cardíaca com
molaridade Celular
endimento elevado

Aldosteronismo I
t
Aumento da osmolaridade
extracel ular
I Diminuição do fluxo sanguínio renal

i
Anatomia patológica ou menos, ao quadro anatomopatológico
da cardiopatia beribérica como é compre-
As alterações macroscópicas e mi- endida atualmente. (11, 27, 29)
croscópicas descritas nos casos de alcoo- Macroscopicamente são encontrados
lismo crônico pelos autores do século pas- vários graus de hipertrofia e dilatação
sado, na Alemanha, correspondem, mais das cavidades ventriculares. O aumento
134 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

do coração direito, com dilatação, foi ci- monar e da pressão capilar pulmonar em
tado pelos que primeiro estudaram o be- muitos casos, resistência arteriolar pul-
ribéri. (1, 2, 34) monar e periférica normais, elevação da
pressão sistólica e diminuição da pressão
No entanto, também foi encontrada diastólica com consequente aumento da
hipertrofia ventricular esquerda. Seria pressão diferencial, velocidade circulató-
rara, mas poderia ocorrer diminuição do ria normal, aumentada ou diminuída,
ventrículo esquerdo. (1, 40) pressão venosa sempre elevada.

Histolàgicamente, constatou-se dege-


neração e edema inter e intracelular, de-
nominado por Mebius (27) de miodege- Formas clínicas
neração hidrópica. O comprometimento
do miocárdio era difuso ou focal, carac-
terizando-se por degeneração gorda e O beribéri não se apresenta necessà-
fragmentação das fibras com nitidez da riamente com perturbações cardiovascu-
estriação transversal. ( 18, 34) lares. Assim, os primeiros estudos, (1,
40) verificaram a existência de uma for-
Mebius, verificou acentuação da es- ma que se exteriorizava exclusivamente
triação longitudinal, sarcoplasmólise, e por manifestações nervosas, uma polineu-
vacuolização. A degeneração hidrópica rite.
seria devida à retenção aquosa no miocár-
dio como parte de um processo geral de
imbibição hídrica que afetaria, inclusive, Outra que se caracterizava pelo ede-
as fibras estriadas. ma. Uma terceira, mista, constituída por
edema e neurite, e, por fim, uma forma
No entanto, não foi encontrado au- com manifestações cardiovasculares, cons-
mento do teor aquoso no músculo cardía- tituindo a cardiopatia beribérica.
co, fazendo supor que o edema se devesse
à alterações da substância colágena. (39)
Nas fases finais, há fibrose predominan- No ocidente, (39) foi mencionada a
temente do endocárdio. (12, 35) existência de três formas clínicas de be-
ribéri, em indivíduos alcoólatras:
Benchimol, em casos necropsiados,
encontrou edema intersticial com disso-
ciação das fibras e fibrose do miocárdio. neurite e alterações eletrocardiográ-
ficas, com área cardíaca normal;

Alterações hemodinâmicas b) neurite, insuficiência cardíaca seve-


ra, alterações eletrocardiográficas c
área cardíaca normal;
A correspondência hemodinâmica do
quadro clínico como foi descrito por Aals-
meer e Wenckebach é a de uma síndro- c) acentuado aumento da área cardía-
me hipercinética. Entretanto, investiga- ca, edema, e mínimas alterações cle-
dores americanos, (7, 8, 9, 10, 39) cons- trocardiográficas, com insuficiência
tataram que nem sempre encontra-se a cardíaca, que paderia ser direta, es-
síndrome hipercinética. Estudos mais re- querda ou global.
centes, (9, 16, 21) utilizando o catete-
rismo intracardíaco, verificaram as prin-
cipais constantes fisiológicas. Por êles
constatou-se: rendimento cardíaco nor- De acôrdo com os conhecimentos a-
mal, aumentado ou diminuído, hiperten- tuais, para sistematizar podemos agru-
são diastólica e sistólica no ventrículo di- par os aspectos clínicos da cardiopatia
reito, aumento de pressão na artéria pu- beribérica, do modo seguinte:
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 135

Agudas - Shoshin
Sub-agudas

r Síndrome hipercinética e IVD


I r Típicas J Síndrome hipercinética e IVE
I I L Síndrome hipercinética e ICG
I Puras i
I
~
Sem síndrome hipercinética
Crônicas I Atípicas J e
l l Insuficiência cardíaca global
II r Associação de síndrome hi percinética e
I Mistas i Insuficiência cardíaca global com Hiper-
l l tensão Arterial ou aterosclerose.

Quadro clínico N. 0 de casos

Nas formas agudas de beribéri car- I - Sintoma inicial:


díaco o quadro sintomatológico caracte- Edema ................. 20
riza-se por severa dispnéia, cianose, in- E~ em~. e dispnéia . . . . . . . 6
quietação, agitação, sudorese abundante, D1spne1a . . . . . . . . . . . . . . . . 4
sensação de sêde, astenia, angústia, o- II - Edema . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
pressão precordial, vômitos, manifesta- III - Dispnéia . . . . . . . . . . . . . . . 27
ções de insuficiência circulatória perifé- De esfôrço . . . . . . . . . . . . . . 21
rica, hipcrtermia e até morte súbita. Ao Paroxística ............. 10
exame físico, encontra-se cianose, pele Ortopnéia . . . . . . . . . . . . . . . 9
úmida, extremidades frias, perda de re- Só dispnéia de esfôrço . . . 9
flexos, rítmo de galope, arritmias, bulhas Dispnéia de esfôrço e pa-
hipofonéticas, pulso filiforme, hipotensão roxística . . . . . . . . . . . . . . 4
arterial, hepatomegalia e edema. Dispné~~ de esfôrço e or-
topneia . . . . . . . . . . . . . . . 4
Nas formas subagudas, o quadro clí- Dispnéia de esfôrço, paro-
nico é o mesmo, porém menos intenso e xística e ortopnéia . . . . . 6
menos grave, podendo evolver num pra- Ortopnéia e dispnéia no-
zo de 7 a 10 dias, com possibilidades de turna ................ 2
recuperação. IV - Estase pulmonar . . . . . . . . 26
Nas formas crônicas, o quadro clíni- Sinais clínicos e radioló-
co, no oriente, corresponde ao tipo de in- gicos ................. 20
sificiência ventricular direita, com ede- Sinais clínicos sàmente . . . 3
ma, hepatomegalia, pressão venosa au- Sinais radiológicos sàmente 3
mentada e rítmo de galope. V - Derrame pleural . . . . . . . . . 6
VI - Ascite . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
No ocidente, sobretudo na América, VII - Hepatomegalia . . . . . . . . . . 30
o quadro clínico do coração beribérico é Persistente após o equilí-
um pouco diverso, pois além da síndrome brio circulatório . . . . . . . 4
de insuficiência ventricular direita, apre- VIII - Palpitações . . . . . . . . . . . . . 4
senta insuficiência ventricular esquerda IX - Cianose . . . . . . . . . . . . . . . . 8
ou insuficiência global do coração. A sín- X - Dor precordial . . . . . . . . . . 3
dromc hipercinética não ocorre em todos XI - Sôpro sistólico . . . . . . . . . . 22
os pacientes. Na casuística de Benchimol, XII - Sôpro diastólico de base . 5
(5) a mais ampla nêste País, a frequên- XIII - Ausência de sopros . . . . . . 8
cia dos sintomas e sinais foi a seguinte, XIV - Rítmo de galope ......... 21
em 30 pacientes: XV - Hiperfonese de P2 . . . . . . . 19
____________________________________
__,
136 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PóRTO ALEGRE

XVI - Desdobramento de P2 9 um, num total de trinta. Neste paciente


XVII - Pulso: o estudo radiológico foi realizado quatro
Mais de 90 por minuto . . . 21 dias após o início da terapêutica.
De 80 a 90 por minuto . . 6 Em dois casos, foi encontrada saliên-
De 70 a 80 por minuto . . 2 cia do arco médio, que se normalizou com
Menos de 70 por minuto . 1 a compensação circulatória. A circulação
Bradicardia transitória (50 pulmonar apresentou-se aumentada em
a 60) . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 alguns pacientes, mas normal em outros.
XVIII - Pressão arterial divergente 7 Em oito havia hipercinesía do coração.
XIX - Hipertensão de estase .... 14
XX - Sinais de circulação rápida 13 Alterações eletrocardiográficas
XXI - S í n d r o me hipercinética
franca ................ 7 A análise eletrocarcliográfica efetua-
XXII - Outras manifestacões asso- da por Wenckebach e Aalsmeer, nos ca-
ciadas: J
sos ele beribéri por êles estudados no o-
Polineurite . . . . . . . . . . . . . 25 riente, sobretudo na ilha de Java, basea-
Pelagra . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 va-se em tracados obtidos com as deriva-
Anemia . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 ções de Einthoven e a chamada IV pre-
cordial.
Êstes autores encontraram como a-
Quadro radiológico normalidades elétricas mais frequentes a
taquicardia sinusal, diminuição da dura-
Os principais achados radiológicos ção de PR, baixa voltagem de QRS com
na cardiopatia beribérica são a diminui- aumento de duração, diminuição da am-
ção da amplitude dos batimentos nos ca- plitude da onda T e mesmo inversão em
sos, em que há derrame pericárdio, e au- Dl.
mento da amplitude dos batimentos quan- Mas em certo número de casos não
do há síndrome hipercinética. A área car- apresentava alteração eletrocardiográfica
díaca no coração beribérico pode estar nenhuma. Assim, alguns investig·adores,
normal ou aumentada. notadamente Aalsmeer, chegaram a du-
Não existe concordância absoluta en- vidar de que todos os pacientes estudados
tre as descricões clássicas e os relatórios por Blanckenhorn e Weiss fossem ele be-
dos casos estudados no ocidente. No o- ribéri cardíaco, por apresentarem, na sua
riente, eram mencionados a hipertrofia e maioria, eletrocardiogramas anormais.
dilatação do ventrículo direito, com sa- O mesmo ocorreu com outros autores
liência do arco médio a custo do infun- que analizaram os traçados da mesma
díbulo do ventrículo direito e artéria pul- meneira. Sàmcntc a partir da introdução
monar. (1, 40) das derivações unipolares dos membros
A circulação pulmonar é normal, a e prccorcliais múltiplas por Wilson c sua
não ser nas formas graves e severas, mas escola é que se pôde ter uma avaliação
tem sido relatado aumento da circulacão mais correta elo eletrocardiograma na car-
pulmonar, com congestão passiva crô.ni- diopatia beribérica. (24)
ca. Assim, Blanckenhorn, estudando os
eletrocardiogramas de 12 casos de cardio-
No ocidente, além disso, e de modo patia beribérica, encontrou as seguintes
predominante, foi descrito aumento das anormalidades:
cavidades esquerdas. E' evidente que es-
tas alterações do coração podem ser en- Diminuição da amplitude de T ou QRS 7
contradas em cardiopatias de outras etio- Inversão de onda T . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
logias, não sendo, portanto, característi- Extrasístoles auriculares c ventriculares 2
cas da doenca ora estudada. Um fato Infradcsnivelamcnto do segmento ST . 2
importante, do ponto de vista radioló- Aumento de QT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
gico, é a redução e normalização dos diâ- Aumento elo espaço PR . . . . . . . . . . . . . . 2
metros cardíacos com emprêgo da tera- Bloqueio de ramo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
pêutica aneurínica. Fibrilação articular c bloqueio AV . . . . 1
Nos casos estudados no Brasil, (5) a Taquicardia sinusal ................. 6
área cardíaca estava normal em apenas Regressão à normalidade . . . . . . . . . . . . 4
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRg 137

No Brasil, Pazzanese, (32) Mourão, Portanto, reproduz quase a mesma


(28) Benchimol, (5) ~ Benchimol e .s?~­ situação eletrocardiográfica de pacientes
lesinger, (4) compartilhando da opmiao com beribéri.
de Blanci:{enhorn, mostraram que o ele- Em relação à gênese das alterações
trocardioma era anormal na quase totali- do eletrocardiograma, sobretudo da fase
dade dos pacientes. Assim, em trinta ca- de repolarização, seriam devidas exclusi-
sos, Benchimol, (5) encontrou-o normal vamente à deficiência de aneurina, com
uma única vez. o consequentc edema intracelular. (39)
Para sistematizar, podemos agrupar As curvas de hipertrofia de cavidades
as alterações do eletrocardiograma da seriam explicadas, evidentemente, pelo
seguinte maneira, na cardiopatia beribé- aumento de potencial decorrente da ma-
rica: ior espessura- das cavidades ventriculares
e auriculares.
1- Taquicardia sinusal com intercor-
rência de extrasístoles supraventri- Diagnóstico e prognóstico
culares e ventriculares;
2 - Taquicardia e fibrilação auriculares; As pri:t;I~iras tentativas para definir
3 - Diminuição da duração de PR; o quadro chmco da cardiopatia beribérica
4 - Aumento da duração da sístole elé- devem-se a médicos brasileiros. Resu-
trica; miam, assim, os requisitos essenciais pa-
5 - Curvas de hipertrofia auricular e ra diagnosticar a doença: palpitacão ta-
ventricular esquerdas; quicardia, ritmo de galope, hiperfo~ese
6 - Perturbação da condução intraven- da segunda bulha no foco pulmonar, des-
tricular, sobretudo pelo ramo es- dobramAnto de bulhas, instabilidade do
querdo; pulso e aumento do ventrículo direito.
(14, 26)
7 - Alterações da fase de repolarização
do miocárdio; Aalsmeer e Wenckebach, em seus no-
táveis trabalhos, estabeleceram as bases
8 - Desvio de AQRS para direita. mínimas para caracterizar a cardiopatia
beribérica:
Destas alterações, apenas a pertur- Edema, síndrome hipercinética, au-
bação da condução intraventricular é dis- mento da área cardíaca (ventrículo di-
cutida, pois sempre ocorre em grupos ec- tcito), rítmo de galope e duplo tom na
tários em que a incidência de atcroscle- arteria femural.
rose coronária é grande. (8)
Um fato que tem sido observado nos Blanckenhorn, (9) aplicando êste
c~itéri~ ao cs~~do de seus doze pacientes,
pacientes com cardiopatia beribérica é a
piora das alterações cletrocardiográficas pode dmr~noshcar a doenca em cinco ca-
nos primeiros dias do uso de aneurina, sos apenas. Assim, era mais do que evi-
principalmente aumento da duração da dente que o beribéri estudado na Améri-
sístole elétrica ventricular, aumento da ca, sobretudo em alcoólatras, diferia um
amplitude das ondas P, maior negativi- pouco do descrito em Java e Japão.
dade de T c desnivelamento de ST, cuja Disso resultou a elaboração de nor-
explicação não é ainda conhecida. mas mais precisas e seguras, (9) hoje
Entretanto a direção de P, QRS e aceitas pela maioria dos investigadores:
T não sofrem ~ariações importantes. 1 - Ausência de outros fatores etiológi-
Experimentalmente, em cães, com cos evidentes;
deficiência de vitamina Bl, os traçados 2 - Três ou mais meses de dieta defi-
mostram: taquicardia sinusal, aumento ciente em tiamina;
da amplitude de P, inversão das ondas 3 - Sinais de neurite ou pelagra;
T, aumento da sístóle elétrica ventricular,
reversíveis com o emprêgo da vitamina 4 - Aumento da área cardíaca, com rít-
Bl. mo sinusal;
Em algumas derivações havia desní- 5 -Edema;
veis nítidos de ST, atestando corrente de 6 - Hipertensão venosa;
lesão. A necrópsia mostrava zonas de 7 - Alterações eletrocardiográficas, so-
necrose miocárdica. (36) bretudo da onda T;
138 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PôRTO ALEGRE

8 - Melhora com diminuição da área nenhum elemento importante para elu-


cardíaca ou confirmação por autóp- cidação do caso em estudo.
sia. Exame físico: Ao ser internado apre-
sentava bom estado de nutrinção, pesan-
O prognóstico nas formas agudas é do 59,600 kg., com 1,60 m. de altura, pele
mau, quase sempre fatal; nas formas sub- com afecção dermatológica diagnostica-
agudas, reservado e nos vários graus de da no serviço de Dermatologia como pru-
cardiopatia beribérica crônica é bom, de- rigo de Besnier e líquem Nítidus, muco-
pendendo do tempo de evolução e da ade- sas coradas, tecido celular subcutâneo
quada terapêutica. com infiltração edematosa nos pés, per-
nas, coxas, parede abdominal e região sa-
Caso clínico cro-lombar, edema mole, depressível, in-
dolor, gânglios submaxilares esquerdos,
O caso clínico que iremos descrever inguinais e trocanteriano esquerdo pal-
foi apresentado à Sociedade de Cardiolo- páveis, apirético.
gia do Rio Grande do Sul, em sessão de Aparêlho respiratório: Tórax de con-
30 de agôsto do corrente ano. História figuração normal, movimentos respirató-
clínica: A.R., com 25 anos, masculino, côr rios cam amplitude diminuída nas bases,
mista, carpinteiro, brasileiro, natural de frequência respiratória de 24 movimentos
Santa Maria, Rio Grande do Sul, residen- por minuto, cap:1cidade vital 2. 500 c. c.
. e em Pôrto Alegre. Frémito tóraco-vocal diminuído nas
Doente desde fevereiro de 1957, quan- duas bases. Submacicez nos 2/3 inferio-
rlo começou a notar edema nos membros res do hemitórax esquerdo e 1/3 médio
inferiores. Em uma semana o edema ge- do hemitórax direito, maciccz no 1/3 in-
:ceralizou-se, atingindo bolsa escrota!, pa- ferior do hemitórax direito.
,·ede abdominal e região sacro-lombar. Ruído respiratório encontrava-se di-
Durante dois meses não se afastou minuído no 1/3 médio e abolido no 1/3
'; 'rabalho, embora edemaciado. inferior do hemitórax direito e diminui-
Sm abril de 1957 teve seu estado de do nos 2/3 inferiores do hematórax es-
"lúde agravado pelo aparecimento de querdo.
Í"nnéia de esfôrço, dispnéia de decúbito Estertores subcrepitantes médios no
'~aroxística noturna. 1• 3 inferior de ambos os hemitóraces. A-
· i :l.s vêzes acordou-se em sobressai- parêlho circulatório: Batimentos nas re-
. ,...Jm intensa dispnéia, sendo aliviada Giões laterais do pescoço. Ictus difuso, lo-
nela posição ortopnéica. calizado no 5. 0 intercosto esquerdo, sôbre
Não procurou recursos médicos. In- a linha hemiclavicular. Rítmo sinusal
nsificou-se o quadro clínico apresentado com frequência ventricular de 96 c.p.m. '
)2lo paciente, que o obrigou a hospitali- Bulhas hiperfonéticas no foco mitral,
•r-se no Hospital Geral da Santa Casa hipofonéticas nos focos tricúspede e aór-
de Pôrto Alegre, Enfermaria 7.a, do Dr. tico e normais no foco pulmonar.
Anthero Lisbôa, em 21 de maio de 1957. Artérias umeral, radial, femural e po-
A data de hospitalização queixava-se plitéia palpáveis. Artérias pediosa e tibial
de: anorexia, cefalalgia, dormência e for- posterior impalpáveis em virtude da acen-
migamento nas mãos, dispnéia contínua, tuada infiltracão do tecido celular sub-
edema generalizado, oligúria, nervosismo, cutâneo. ·
tremor das extremidades, sono perturba- Pulso radial tenso, amplo, com fre-
do pela dispnéia. quência igual à ventricular, sincrônico
Em seus antecedentes figuram: sa- em ambas as radiais.
rampo, catapora, varicela na infância. Pressão arterial em decúbito dorsal,
Blenorragia aos 17 anos e poradenite aos membros superiores: 156 x 92 mm. de
21. Nega antecedentes de moléstia reumá- Hg.
tismal. Artérias radiais endurecidas à apal-
Alcoólatra há três anos, ingerindo ál- pação, mas sem sinuosidade.
cool diàriamente. Alimentação precária, Não havia turgência das jugulares
sobretudo pela falta de apetite. nem varizes nos membros inferiores.
Os antecedentes familiares não têm Pressão venosa: 19 em. de H20. Velo-
ANAIS DA F L CULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 139

cidade circulatória (decholin): 10 segun- sistência normal, doloroso e bordo indefi-


dos. nido.
Aparêlho digestivo: Dentes sépticos, Demais aparêlhos e sistemas foram
falhas dentárias, mucosa da bôca corada. normais ao exame clínico.
Abdomem abaulado, distendido pela pre-
sença de líquido na cavidade peritoneal, Exames subsidiários: a) - Fluoros-
circunferência abdominal (em decúbito copia e telerradiografia do coração e gran-
dorsal): 76 em. Fígado aumentado, dois des vasos, frente e perfil, com esôfago
dedos abaixo do rebordo costal, liso, con- contrastado por bário:

Fig. 1 - Telerradiografia do coração e vasos da


base em 28-5-57.

O exame radiológico mostrou acen- cúbito dorsal, como se pode verificar pela
tuado aumento do ventrículo esquerdo, figura 2.
diâmetro transverso igual a 149 mm.
Aorta normal. Circulação pulmonar nor- A análise desses traçados revelou: ta-
mal (Fig. 1) . quicardia sinusal, encurtamento do espa-
ço PR, pert urbação da repolarização mio-
b) - Eletrocardiograma, o qual cons- cárdica, com ondas T do tipo isquênico,
tou das três derivações clássicas, as uni- acentuado desvio de AT para direita, a-
polares dos membros e seis precordiais tingindo 120 graus no eletrocardiograma
múltiplas, de V1 a V6 , na posição de de- do dia 24-5-1957, sugestivo de aumento
140 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

Fig. 2

Eleb·ocardiogramas

feitos nos dias 24 de maio,

r-- ·~v"~ j (\.. .~'r:; --~. ~ 2 de junho e 19 •!le junho

de 1957 .

.;
l.

do ventrículo esquerdo, com AQRS em no sangue - 150 miligramas por litro;


cerca de 82 graus. Não há evidência de reações para diagnóstico da lues foram
aumento de aurículas. A sístole elétrica negativas; exame qualitativo de urina -
ventricular está aumentada. densidade de 1.012, traços nítidos de pro-
c) - Fundo de ôlho: normal. teinas; exame parasitológico de fezes -
d) - Provas de laboratório: Protei- giardíase; hemossedimen tação - 4 mm.
nas totais - 65,0 gramas por litro; uréia na primeira hora; hemograma - 7 . 500
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 141

leucócitos, com 750 eosinófilos, 4.500.000 70 mm. de Hg., na posição de decúbito


eritrócitos, 80'/t, de hemoglobina, valor dorsal.
globular de 0,90.
A pressão venosa, inicialmente me-
Evolução: O paciente foi submetido diu 19 em. de H20, em 2 de julho nova
exclusivamente a repouso, restrição rela- avaliação mostrou 9,5 em. de H20.
tiva de sódio, vitamina B1, 100 mg., in-
tramuscular, diàriamente.
Houve uma elevação do pêso corpo-
Houve, como se pode verificar pelo ral. Desaparecimento da dispnéia, dos es-
quadro I, uma completa normalização da tertores das bases pulmonares, da hepa-
situação circulatória do paciente. tomegalia um mês após o começo do tra-
tamento, quando foram feitas novas de-
O emprêgo dessa conduta terapêu- terminações da pressão venosa e veloci-
tica determinou o desaparecimento da in- dade circulatória, que, como dissemos an-
filtração edematosa do tecido celular sub- teriormente, se encontravam já dentro
cutâneo em doze dias, bem como da as- dos limites normais.
cite.
Houve um acentuado aumento da ca- O paciente teve alta dois meses após
pacidade vital dez dias após o início do sua internação, com completa normaliza-
tratamento. ção da situação cardiovascular, com apre-
ciável aumento de pêso, pois à data de
A pressão arterial normalizou-se, hospitalização pesava 59,600 kg., que caí-
mais ou menos nêsse espaço de tempo, ra para 53,900 kg., elevando-se para 63
passando de 160 x 110 mm. para 120 x kg., sem reaparecimento do edema.
142 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PóRTO ALEGRE

Quadro I

Data
i
Pulso
: Pres.
Art.
i Veloc.
Cir.
Pres.
Ven.
Cap.
Vital Diu1csc
- --:---r--::-l
-~
1 Inger Abdom
I . I I
--~-~----~---~--~ ! -
160
24/5 96 X 10" Jg em. 2ô00 cc. 58.500 76 em.
110
----:
160
100 X [6.100 2600 CC. 1500 CC. 73 c:r..
100
---- ---- ;-----
130
2)/3 103 X [JiJ,OOO 1600 CC. 1000 CC.
90
. -

'
I
120
j. llG X 3}00 CC. 5~. 700 1320 CC. 1 ::.CO (_:c.
70

120
G6 1!6 X !i3,000 1:::!60 CC. 1 1 00 CC.
70

130
I! !I c X 5"·. 000 1:1ü0 CC.
7J

120
100 X :i~. 000 1C',O •;•.:. 1400 ('':;_
60

130
100 X 53,:100 JC.QO CC. i '::JC') CC.
60

1:10
22.8 100 X CO,GOO 1600 CC. HOfJ CC.
70

!lO
2 7 100 X 13" 9.S em 3f)01) CC 60,800 1·\nO cc 14()0 r·r: G9 Cl11
80

9 7 I QO 61,200 1700 rc 1:,o o ('{"

13.1
16 7 100 X 62.500 12GO c<·. 1200 <"C
65

130
23 7 100 63.000 1200 {'('
60

130
30 7 100 X fJ3.000 lGOO c(' 110() {'('
70

---------------
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 143

Comentários quadro clínico pelo uso de vitamina B1,


permitem firmar o diagnóstico de car-
O quadro clínico apresentado pelo diopatia beribérica.
nosso paciente preenche os critérios es- A sintomatologia apresentada era de
tabelecidos por Blanckenhorn, (8) e acei- uma síndrome de insuficiência cardíaca
tos pela maioria dos autores que se têm global, com aumento da velocidade circu-
ocupado dêste assunto. latória, como tem sido descrita no cora-
Sua idade, ausência de outros fato- ção beribérico no ocidente. 3, 4, 5, 6, 7, 8,
res etiológicos, uso inveterado e conti- 9, 10, 39.
nuado de álcool, alimentação precária, Em nosso caso, havia predominância
polineurite, edema, síndrome de insufi- das cavidades esquerdas, o que também
ciência cardíaca hipercinética com au- corresponde aos casos estudados pelos au-
mento da pressão venosa, alterações ele- tores mencionados. Os níveis das proteí-
trocardigráficas e regressão completa do nas plasmáticas estavam normais.

Flg. 3 - Telerradlografla do coração e vasos da


base, em 22-7-1957.

O estudo radiológico, realizado nas inversão da onda T, ondas T do tipo is-


mesmas condições do anterior, mostrou quêmico, supradesnivelamento de ST, au-
redução do diâmetro transverso do cora- mento da duração da sístole elétrica ven-
ção de cerca de 13 mm., com normaliza- tricular.
ção completa. (Fig. 3).
A análise dos traçados eletrocardio- No plano horizontal AQRS dirige-se
gráficos do paciente, objeto de nosso es- para traz e para esquerda, AT para fren-
tudo, mostra (Fig. 2): Taquicardia sinu- te e para direita.
sal, aumento da amplitude das ondas F, No plano frontal, verifica-se que ini-
144 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

cialmente ÃT situa-se a mais de 120 menta da negatividade de T, dos desní-


graus e ÃQRS a apenas 82 graus. veis de ST, da duração do QTc e dimi-
No espaço, portanto, SÃGRS dirige- nuição do intervalo PR, aumento da am-
se de cima para baixo, para traz e para plitude da onda P, com ramos ::;imétricos
esquerda, SÃT para baixo, para direita e e apiculada, sobretudo em D2 (Fig. 2,
um pouco para frente. Ecg de 2-6-57).
A situação espacial dêsses vetores é
perfeitamente compatível com o diagnós- A freqüência ventricular manteve-se
tico de isquemia anterior e aumento do a mesma, o intervalo PR passou de 0,14
ventrículo esquerdo. segundos para 0,12 segundos, o QTc de
O emprêgo da vitamina B1, nos pri- 0,520 segundos para 0,540 segundos, co-
meiros dias, aumentou a intensidade das mo se pode verificar pela análise dos tra-
·alterações eletrocardiográfica, com au- çados seriados da Fig. 2.

Fig. 4

Eletrocardiogramas reali-
zallos em 26-7 e 5-8-1957,
com as mesmas derivações
dos traçados anteriores.

O uso continuado de vitamina B1, a às posições normais como se deprende da


inspeção dos traçados da Fig. 4.
par da normalização do quadro clínico e
radiológico, normalizou também o eletro- No quadro II, resumimos as modifi-
cações de P, PR, QRS, T e QTc verifica-
cardiograma, pois ÃT e ÃQRS voltaram das no curso da evolução do paciente:
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 145

Quadro 11

I
I i AQRS AT AP
1 Data 1
'
- - -I ~--· PR QTc
I I Are a Dir. Area Dir. Are a I Di r.
I
I
---
I 24/5 6,27 820 I
2,0 I
1200 !
1,75 ! 730 i 0,14 0,540
I
--- I

2/6 5,69 I
780 I
1,2 1180 2,15 800 0,14 I 0,550
------ ------ 1-·-'
19/6 7,82 580 I
3,2 110° 1,5 500 0,12 ! 0,520
!

26/7 I
8,25 I
550 I
5,2 460 2,0 730 '
0,14 0,420
---- i
-------------
5/8 ! 10,52 470 7,2 430 1,50 620 0,16 0,420
------ I
----

Resumo Summary

Inicialmente, os autores fazem uma


revisão da literatura, acentuando os as- The authors review the literature,
pectos mais importantes da incidência, mainly, the aspects of incidence, patho-
etiopatogenia, patologia, quadro clínico, genesis, pathology, clinicai picture, diag-
diagnóstico e prognóstico. nosis e prognosis.
Realizam uma análise um pouco mais
detalhada do quadro clínico, radiológico, The clinicai, roentgenologic, electro-
eletrocardiográfico e dos diversos critérios cardiographic and the other criteria for
exigidos para o diagnóstico de coração beriberi heart diagnosis received a detai-
beribérico. led analysis. At last, a case of pure beri-
beri heart, with clinicai, roentgenologic
Por último, estudam um caso de car-
diopatia beribérica pura, com documen- and electrocardiographic observations,
tação clínica, radiológica e eletrocardio- including the eight points estabilished
gráfica, em que os oito itens estabeleci- by Blanckenhorn, was studied.
dos por Blanckenhorn foram satisfeitos.
A resposta à terapêutica pela aneurina The therapeutical response to aneu-
foi pronta c eficiente. rin was prompt and efficient.
146 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PôRTO ALEGRE

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