Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ECO, Umberto. A escolha do tema. In: ___________. Como se faz uma tese em Ciências
Humanas. 13ª ed. Lisboa: Editorial Presença, 2007.
“Uma tese teórica é uma tese que se propõe encarar um problema abstracto que pode já ter
sido ou não objecto de outras reflexões [...].” (p. 39)
“Nas mãos de um estudante com uma experiência científica necessariamente limitada, estes
temas podem dar origem a duas soluções. A primeira (que é ainda a menos trágica) leva a
fazer a tese definida (no parágrafo anterior) como «panorâmica». Trata-se do conceito de
função social, mas numa série de autores. E a este respeito aplicam-se as observações já
feitas. A segunda solução é mais preocupante, dado que o candidato presume poder resolver,
em poucas páginas, o problema de Deus e da definição de liberdade.” (p. 40)
“[...] o único conselho que verdadeiramente poderei dar é o seguinte: trabalhai sobre um
contemporâneo como se fosse um antigo e sobre um antigo como se fosse um contemporâneo.
Ser-vos-á mais agradável e fareis um trabalho mais sério.” (p. 43)
II. 4. Quanto tempo é preciso para fazer uma tese?
“Digamo-lo desde logo: não mais de três anos, nem menos de seis meses. Não mais de três
anos, porque se em três anos de trabalho não se conseguiu circunscrever o tema e encontrar a
documentação necessária, isso só pode significar três coisas:
1) escolheu-se uma tese errada, superior às nossas forças;
2) é-se um eterno descontente que quer dizer tudo, e continua-se a trabalhar na tese
durante vinte anos enquanto um estudioso hábil deve ser capaz de fixar a si mesmo
limites, mesmo modestos, e produzir algo de definitivo dentro desses limites;
3) teve início a neurose da tese. ela é abandonada, retomada, sentimo-nos falhados,
entramos num estado de depressão, utilizamos a tese como álibi de muitas cobardias.
nunca viremos a licenciar-nos.” (p. 43)
“Não menos de seis meses, porque mesmo que se queira fazer o equivalente a um bom artigo
de revista, que não tenha mais de sessenta páginas, entre o estudo da organização do trabalho,
a procura de bibliografia, a elaboração de fichas e a redacção do texto passam facilmente seis
meses.” (p. 43)
“Quando se fala de seis meses ou três anos, pensa-se, evidentemente, não no tempo da
redacção definitiva, que pode levar um mês ou quinze dias. consoante o método com que se
trabalhou: pensa -se no lapso de tempo que medeia entre a formação da primeira idéia da tese
e a entrega final do trabalho.” (p. 44)
“[...] uma tese serve sobretudo para aprender a coordenar ideias, independentemente do seu
tema.” (p. 44)
“1) Não se pode fazer uma tese sobre um autor estrangeiro se este autor não for lido no
original.” (p. 48)
“2) Não se pode fazer uma tese sobre um tema se as obras mais importantes sobre ele estão
escritas numa língua que não conhecemos.” (p. 48)
“3) Não se pode fazer uma tese sobre um autor ou sobre um tema lendo apenas as obras
escritas nas línguas que conhecemos.” (p. 48)
“Assim, antes de estabelecer o tema de uma tese, é necessário ter a prudência de dar uma vista
de olhos pela bibliografia existente para ter a certeza de que não há dificuldades linguísticas
significativas.” (p. 49)
“[...] se não se sabe línguas estrangeiras e se não se pode aproveitar a preciosa ocasião da tese
para começar a aprendê-las, a solução mais razoável é a lese sobre um lema especificamente
italiano em que as referências à literatura estrangeira possam ser eliminadas ou resolvidas
recorrendo a alguns textos já traduzidos.” (p. 51)
“Após a contestação estudantil de 1968, manifestou-se a opinião de que não se deveriam fazer
teses de temas «culturais» ou livrescos, mas sim ligadas a determinados interesses políticos e
sociais. Se é ela a questão, então o título do presente capítulo é provocatório e enganador,
porque faz pensar que uma tese «política» não é «científica». Ora, na universidade fala-se
frequentemente da ciência, da cientificidade, da investigação científica, do valor científico de
um trabalho, e este termo pode dar lugar quer a equívocos involuntários, quer a mistificações
ou a suspeitas ilícitas de embalsamamento da cultura.” (p. 51)
“ Uma pesquisa é científica quando responde aos seguintes requisitos:” (p. 52)
“1) A pesquisa debruça-se sobre um objecto reconhecível e definido de tal modo que seja
igualmente reconhecível pelos outros.” (p. 52)
“2) A pesquisa deve dizer sobre ele objecto coisas que não tenham já sido ditas ou rever com
uma óptica diferente coisas que já foram ditas.” (p. 53)
“4) A pesquisa deve fornecer os elementos para a confirmação e para a rejeição das
hipóteses que apresenta e, portanto, deve fornecer os elementos para uma possível
continuação pública.” (p. 54-55)
“Tudo o que acabei de dizer refere-se à oposição artificial entre tese «científica» e tese
«política». Pode fazer-se uma tese política observando todas as regras de cientificidade
necessárias.” (p. 55-56)
“[...] pode fazer-se uma tese «científica» mesmo sem utilizar os logaritmos ou as provetas.”
(p. 56)
“[...] será mais útil fazer uma tese em que se fale de autores célebres ou de textos antigos, ou
uma tese que me imponha uma intervenção direta na contemporaneidade, seja esta
intervenção de ordem teórica [...] ou de ordem prática [...]”? (P. 56)
“Pode, assim, fazer-se de uma forma científica uma tese que outros definiram, quanto ao
lema, como puramente «jornalística». E pode fazer-se de um modo puramente jornalístico
uma tese que, a avaliar pelo título, teria todos os atributos para parecer científica.” (p. 66)
“1. O docente está muito ligado ao seu tema e força o candidato, por seu lado, não tem
nenhum interesse naquela direcção [...].” (p. 68)
“De qualquer modo, e sem desenvolver síndromas paranóicos, o estudante deve verificar se.
ao aceitar um tema de tese, fica ou não integrado num trabalho colectivo, e pensar se vale a
pena fazê-lo.” (p. 68)