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Fichamento

ECO, Umberto. A escolha do tema. In: ___________. Como se faz uma tese em Ciências
Humanas. 13ª ed. Lisboa: Editorial Presença, 2007.

II. 1. Tese monográfica ou tese panorâmica?


“[...] quanto mais se restringe o campo, melhor se trabalha e com maior segurança. Uma tese
monográfica é preferível a uma tese panorâmica. É melhor que a tese se assemelhe mais a um
ensaio do que a uma história ou a uma enciclopédia.” (p. 39)

II. 2. Tese histórica ou tese teórica?


“Esta alternativa só tem sentido para certas matérias. [...] há outras matérias, como filosofia
teórica, sociologia, antropologia cultural, estética, filosofia do direito, pedagogia ou direito
internacional, em que se podem fazer teses de dois tipos.” (p. 39)

“Uma tese teórica é uma tese que se propõe encarar um problema abstracto que pode já ter
sido ou não objecto de outras reflexões [...].” (p. 39)

“Nas mãos de um estudante com uma experiência científica necessariamente limitada, estes
temas podem dar origem a duas soluções. A primeira (que é ainda a menos trágica) leva a
fazer a tese definida (no parágrafo anterior) como «panorâmica». Trata-se do conceito de
função social, mas numa série de autores. E a este respeito aplicam-se as observações já
feitas. A segunda solução é mais preocupante, dado que o candidato presume poder resolver,
em poucas páginas, o problema de Deus e da definição de liberdade.” (p. 40)

“[...] ponhamos a hipótese de o estudante estar consciente de ter compreendido um problema


importante; dado que nada nasce do nada, ele terá elaborado os seus pensamentos sob a
influência de outro autor qualquer. Transformou então a sua tese, de teórica em
historiográfica, ou seja. não tratou o problema do ser. a noção de liberdade ou o conceito de
acção social, mas desenvolveu temas como o problema do ser no jovem Heidegger, a noção
de liberdade em Kant ou o conceito de acção social em Parsons.” (p. 40)

II. 3. Temas antigos ou temas contemporâneos?

“[...] o único conselho que verdadeiramente poderei dar é o seguinte: trabalhai sobre um
contemporâneo como se fosse um antigo e sobre um antigo como se fosse um contemporâneo.
Ser-vos-á mais agradável e fareis um trabalho mais sério.” (p. 43)
II. 4. Quanto tempo é preciso para fazer uma tese?

“Digamo-lo desde logo: não mais de três anos, nem menos de seis meses. Não mais de três
anos, porque se em três anos de trabalho não se conseguiu circunscrever o tema e encontrar a
documentação necessária, isso só pode significar três coisas:
1) escolheu-se uma tese errada, superior às nossas forças;
2) é-se um eterno descontente que quer dizer tudo, e continua-se a trabalhar na tese
durante vinte anos enquanto um estudioso hábil deve ser capaz de fixar a si mesmo
limites, mesmo modestos, e produzir algo de definitivo dentro desses limites;
3) teve início a neurose da tese. ela é abandonada, retomada, sentimo-nos falhados,
entramos num estado de depressão, utilizamos a tese como álibi de muitas cobardias.
nunca viremos a licenciar-nos.” (p. 43)

“Não menos de seis meses, porque mesmo que se queira fazer o equivalente a um bom artigo
de revista, que não tenha mais de sessenta páginas, entre o estudo da organização do trabalho,
a procura de bibliografia, a elaboração de fichas e a redacção do texto passam facilmente seis
meses.” (p. 43)

“Quando se fala de seis meses ou três anos, pensa-se, evidentemente, não no tempo da
redacção definitiva, que pode levar um mês ou quinze dias. consoante o método com que se
trabalhou: pensa -se no lapso de tempo que medeia entre a formação da primeira idéia da tese
e a entrega final do trabalho.” (p. 44)

“[...] uma tese serve sobretudo para aprender a coordenar ideias, independentemente do seu
tema.” (p. 44)

“Os requisitos da tese de seis meses são os seguintes:


1) o tema deve ser circunscrito;
2) o tema deve ser tanto quanto possível contemporâneo, para não ter de se procurar
uma bibliografia que remonte aos gregos: ou então deve ser um tema marginal, sobre o
qual se tenha escrito muito pouco;
3) os documentos de todos os tipos devem encontrar-se disponíveis numa área restrita
e poderem ser facilmente consultados.” (p. 45-46)

II. 5. É necessário saber línguas estrangeiras?


“[...] preciso de escolher uma tese que não implique o conhecimento de línguas que não sei
ou que não estou disposto a aprender.”(p. 48)

“1) Não se pode fazer uma tese sobre um autor estrangeiro se este autor não for lido no
original.” (p. 48)

“2) Não se pode fazer uma tese sobre um tema se as obras mais importantes sobre ele estão
escritas numa língua que não conhecemos.” (p. 48)

“3) Não se pode fazer uma tese sobre um autor ou sobre um tema lendo apenas as obras
escritas nas línguas que conhecemos.” (p. 48)

“Assim, antes de estabelecer o tema de uma tese, é necessário ter a prudência de dar uma vista
de olhos pela bibliografia existente para ter a certeza de que não há dificuldades linguísticas
significativas.” (p. 49)

“[...] se não se sabe línguas estrangeiras e se não se pode aproveitar a preciosa ocasião da tese
para começar a aprendê-las, a solução mais razoável é a lese sobre um lema especificamente
italiano em que as referências à literatura estrangeira possam ser eliminadas ou resolvidas
recorrendo a alguns textos já traduzidos.” (p. 51)

II. 6. Tese «científica» ou tese política?

“Após a contestação estudantil de 1968, manifestou-se a opinião de que não se deveriam fazer
teses de temas «culturais» ou livrescos, mas sim ligadas a determinados interesses políticos e
sociais. Se é ela a questão, então o título do presente capítulo é provocatório e enganador,
porque faz pensar que uma tese «política» não é «científica». Ora, na universidade fala-se
frequentemente da ciência, da cientificidade, da investigação científica, do valor científico de
um trabalho, e este termo pode dar lugar quer a equívocos involuntários, quer a mistificações
ou a suspeitas ilícitas de embalsamamento da cultura.” (p. 51)

T.6.1. Que é a cientificidade?

“ Uma pesquisa é científica quando responde aos seguintes requisitos:” (p. 52)

“1) A pesquisa debruça-se sobre um objecto reconhecível e definido de tal modo que seja
igualmente reconhecível pelos outros.” (p. 52)
“2) A pesquisa deve dizer sobre ele objecto coisas que não tenham já sido ditas ou rever com
uma óptica diferente coisas que já foram ditas.” (p. 53)

“3) A pesquisa deve ser útil aos outros.” (p. 53)

“4) A pesquisa deve fornecer os elementos para a confirmação e para a rejeição das
hipóteses que apresenta e, portanto, deve fornecer os elementos para uma possível
continuação pública.” (p. 54-55)

“Tudo o que acabei de dizer refere-se à oposição artificial entre tese «científica» e tese
«política». Pode fazer-se uma tese política observando todas as regras de cientificidade
necessárias.” (p. 55-56)

“[...] pode fazer-se uma tese «científica» mesmo sem utilizar os logaritmos ou as provetas.”
(p. 56)

II.6.2. Temas histórico-teóricos ou experiências «quentes»?

“[...] será mais útil fazer uma tese em que se fale de autores célebres ou de textos antigos, ou
uma tese que me imponha uma intervenção direta na contemporaneidade, seja esta
intervenção de ordem teórica [...] ou de ordem prática [...]”? (P. 56)

II.6.3. Como transformar um assunto da atualidade em tema científico?


“Terei pois, antes de mais, de definir com exactidão o âmbito geográfico e temporal do meu
estudo.” (p. 60)
“Portanto, para concluir: tese científica ou tese política? Falsa questão. É tão científico fazer
uma tese sobre a doutrina das idéias em Platão como sobre a política da Lotta Continua de
1974 a 1976. Se é uma pessoa que quer trabalhar seriamente, reflita antes de escolher, porque
a segunda tese é indubitavelmente mais difícil do que a primeira e exige maior maturidade
científica. Quanto mais não seja, porque não terá bibliotecas em que se apoiar, mas antes uma
biblioteca para organizar.” (p. 66)

“Pode, assim, fazer-se de uma forma científica uma tese que outros definiram, quanto ao
lema, como puramente «jornalística». E pode fazer-se de um modo puramente jornalístico
uma tese que, a avaliar pelo título, teria todos os atributos para parecer científica.” (p. 66)

II. 7. Como evitar deixar-se explorar pelo orientador


“Por vezes, o estudante escolhe um tema de acordo com os seus interesses. Outras vezes, pelo
contrário, aceita a sugestão do professor a quem pede que oriente a tese.” (p. 66)

“Há, porém, alguns inconvenientes possíveis:” (p. 68)

“1. O docente está muito ligado ao seu tema e força o candidato, por seu lado, não tem
nenhum interesse naquela direcção [...].” (p. 68)

“2. O docente é desonesto, faz trabalhar os estudantes, licencia-os e utiliza desabusadamente o


seu trabalho como se fosse dele [...].” (p. 68)

“Como evitar estes inconvenientes? O estudante, ao abordar um determinado docente, já terá


ouvido falar dele aos seus amigos, terá contactado licenciados anteriores e terá feito uma ideia
da sua correção. Terá lido livros seus e terá reparado se ele cita frequentemente os seus
colaboradores ou não. Quanto ao resto, intervém fatores imponderáveis de estima e
confiança.” (p. 68)

“De qualquer modo, e sem desenvolver síndromas paranóicos, o estudante deve verificar se.
ao aceitar um tema de tese, fica ou não integrado num trabalho colectivo, e pensar se vale a
pena fazê-lo.” (p. 68)

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