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FICHAMENTO "Os Anões apoiam-se em ombros de gigantes"

Tema baseado na obra de:


ECO, Humberto. Como se faz uma tese. Editora Perspectiva, 1977.

Com destaque para:

>Introdução;
>Cap. 1 Que é uma Tese e para que serve;
>Cap. 2 A Escolha do Tema.

Equipe: JAYME AUGUSTO RIBEIRO DE OLIVEIRA MATOS,

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INTRODUÇÃO:

> Antigamente, a universidade era uma universidade de elite. Apenas os filhos dos formados tinham acesso a
ela. (p. 1)

> A universidade italiana é, hoje, uma universidade de massa. (p.1)

> O livro sugere ao menos duas coisas:

A - Pode-se preparar uma tese digna mesmo que se esteja numa situação difícil, que se ressente de
discriminações remotas ou recentes;

B - Pode-se utilizar a ocasião da tese (mesmo se o resto do curso universitário foi decepcionante, ou frustrante)
para:

a) recuperar o sentido positivo e progressivo do estudo,


b) elaboração crítica de uma experiência,
c) aquisição de uma capacidade (útil para o futuro) de
d) identificar os problemas, encará-los com método e expô-los segundo certas técnicas de comunicação.
(p.2)

> O livro não pretende explicar "como se faz pesquisa científica". (p.2)

> O livro diz apenas:

(1) o que se entende por tese;

(2) como escolher o tema e organizar o tempo de trabalho;

(3) como levar a cabo uma pesquisa bibliográfica;

(4) como dispor o material selecionado;

(5) como dispor a redação do trabalho: E a parte mais precisa é justamente a última, embora possa parecer a
menos importante: porque é a única para a qual existem regras bastante precisas. (p.3)

> O tipo de tese a que nos referimos neste livro é o que se efetua nas faculdades de ciências humanas. (p.3)

1 Que é uma Tese e para que Serve:

1.1. POR QUE SE DEVE FAZER UMA TESE E O QUE ELA É:

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> Destaca-se que o autor compreende tese ao nível de PhD, tese de doutorado, e constitui um trabalho original
de pesquisa no tempo longo. (p.6)

> O estudioso deve produzir um trabalho que diga algo novo sobre determinado assunto ao ponto de não ser
ignorado. (p.6)

> Faz uma crítica à tese das universidades italianas: há elaboração de verdadeiras teses de PhD, e outras que
não chegam a esse nível. Contudo, há boas teses que não são de pesquisa, mas de compilação. (p.6)

> Adverte: pode-se fazer:

1 - Tese de compilação: longa e cansativa: exige menor tempo e menor risco. Tese de pesquisa: longa, fatigante
e absorvente: exige menor tempo e menor risco. Feitas às pressas, são de má qualidade, e podem irritar o
leitor e em nada beneficiam quem as elabora. Há os fatores: maturidade e capacidade de trabalho do
candidato. Há fatores econômicos: o estudante que trabalha dispõe de menos tempo, energia e até dinheiro
para se dedicar a longas pesquisas. (p.7)

2 - Tese de Licenciatura; 3 - Tese de PhD. (p.7)

1.2. A QUEM INTERESSA ESTE LIVRO:

> O livro não é para estudantes que desejam preparar uma Tese em um mês. (p.8)

> O livro destina-se àqueles que possui uma razoável possibilidade de dedicar algumas horas diárias ao estudo,
e querem preparar uma tese que lhes dê certa satisfação intelectual e lhes sirva também depois da formatura.
(p.8)

1.3. COMO UMA TESE PODE SERVIR TAMBÉM APÓS A FORMATURA:

> Há duas maneiras de fazer uma tese que se torne útil também após a formatura:

A) A primeira é fazer dela o início de uma pesquisa mais ampla;

B) A segunda é elaborar uma tese da seguinte forma:

1) identificar um tema preciso; (2) recolher documentação sobre ele; (3) pôr em ordem estes documentos; (4)
reexaminar em primeira mão o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma orgânica a todas as
reflexões precedentes; (6) empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer e possa, se for o
caso, recorrer à mesma documentação a fim de retomar o tema por conta própria. (p.9)

> Não importa tanto o tema da tese quanto a experiência de trabalho que ela comporta. (p.9)

> Não existe tema que seja verdadeiramente estúpido. Conclusões úteis podem ser extraídas de um tema
aparentemente remoto ou periférico. Ex.: A tese de Marx não foi sobre economia política, mas sobre dois
filósofos gregos, Epicuro e Demócrito. (p.9)

1.4. QUATRO REGRAS ÓBVIAS PARA A ESCOLHA DO TEMA:

> São quatro:

1) Que o tema responda aos interesses do candidato (ligado tanto ao tipo de exame quanto às suas leituras,
sua atitude política, cultural ou religiosa).

2) Que as fontes de consulta sejam acessíveis, isto é, estejam ao alcance material do candidato;

3) Que as fontes de consulta sejam manejáveis, ou seja, estejam ao alcance cultural do candidato;

4) Que o quadro metodológico da pesquisa esteja ao alcance da experiência do candidato. (p.10)

> "quem quer fazer uma tese deve fazer uma tese que esteja à altura de fazer". (p.10)
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2 A Escolha do Tema
2.1. TESE MONOGRÁFICA OU TESE PANORÂMICA:
> A primeira tentação do estudante é fazer uma tese que fale de muitas coisas. Ex.: Literatura Hoje, A Literatura
Italiana do Pós-guerra aos Anos Sessenta, O Símbolo no Pensamento Contemporâneo: Teses desse tipo são
perigosíssimas. (p.11)
> Recomenda-se a escolha de um tema mais modesto. (p.12)
> Com uma tese panorâmica sobre a literatura de quatro décadas, o estudante se expõe a toda sorte de
contestações possíveis [...] que farão sua tese parecer um conglomerado de coisas dispersas. (p.12)
> Uma monografia é a abordagem de um só tema, como tal se opondo a uma "história de", a um manual, a
uma enciclopédia. (p.14)
> Fazer uma tese rigorosamente monográfica não significa perder de vista o panorama. (p.14)
> Princípio fundamental: quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha. Uma
tese monográfica é preferível a uma tese panorâmica: é melhor que a tese se assemelhe a um ensaio do que
a uma história ou a uma enciclopédia. (p.14)

2.2. TESE HISTÓRICA OU TESE TEÓRICA:


> Uma tese teórica é aquela que se propõe atacar um problema abstrato, que pode já ter sido ou não objeto
de outras reflexões: natureza da vontade humana, o conceito de liberdade, a noção de papel social, a
existência de Deus, o código genético. (p.15)
> Estudantes que escolhem temas do gênero acabam por fazer teses brevíssimas, destituídas de apreciável
organização interna, mais próximas de um poema lírico que de um estudo científico. (p.15)
> Grande equívoco: geralmente, quando na tese o discurso está demasiado personalizado, genérico, informal,
privado de verificações historiográficas e citações. (p.15)
> Nada há de humilhante em realizar uma tese partindo de um autor, pois isto não significa fetichizá-lo, adorá-
lo, ou reproduzir sem crítica as suas afirmações; pode-se partir de um autor para demonstrar seus erros e
limitações. Ponto de apoio.
> Máxima: “Os medievais, com seu exagerado respeito pela autoridade dos autores antigos, diziam que os
modernos, embora ao seu lado fossem ‘anões’, apoiando-se neles tornavam-se "anões em ombros de
gigantes", e, deste modo, viam mais além do que seus predecessores.” (p.16)
> Uma tese de caráter experimental não pode ser feita com recursos inteiramente próprios, nem o método
pode ser inventado. (p.16)

2.3. TEMAS ANTIGOS OU TEMAS CONTEMPORÂNEOS:


> Autor antigo: apresenta esquemas interpretativos seguros. Autor moderno: as opiniões sobre ele ainda são
vagas e contraditórias. (p.17)
> É fora de dúvida que o autor antigo impõe uma leitura mais fatigante, uma pesquisa bibliográfica mais
atenta. Mas os títulos são menos dispersos e existem quadros bibliográficos já completos. (p.17)
> Conselho: trabalhe sobre um tema contemporâneo como se fosse um antigo, e vice- -versa. Será mais
agradável e você fará um trabalho mais sério. (p.18)

2.4. QUANTO TEMPO É REQUERIDO PARA SE FAZER UMA TESE:


> Conforme a realidade do autor (Anos 70): não mais de três anos e não menos de seis meses. (p.18)
> Do contrário:
1) Escolheu-se a tese errada, superior às nossas forças;
2) O tipo incontentável, que deseja dizer tudo, e continuamos a martelar a tese por vinte anos, ao passo que
um estudioso hábil deve ser capaz de ater-se a certos limites;
3) fomos vítimas da "neurose da tese": irrealizados, entramos num estado de depressão. (p.18)
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> Não menos de seis meses: por certo, um estudioso mais maduro consegue escrever um ensaio em tempo
menor: mas conta com uma retaguarda de anos e anos de leitura e conhecimentos, que o estudante precisa
edificar do nada. (p.18)
> O ideal seria escolher a tese (com o auxílio do respectivo orientador) por volta do final do segundo ano de
estudos. (p.18)
> Escolhendo a tese aí pelo fim do segundo ano do curso, tem-se um bom prazo para dedicar à pesquisa. (p.19)
> Quando isto é possível escolher em tempo uma tese, sem contorcionismos dialéticos ou truques pueris, o
aluno preparar um exame "motivado" e orientado, em vez de um exame casual, forçado, sem paixão. (p.19)
> Uma boa tese deve ser discutida passo a passo com o orientador, nos limites do possível. (p.19)
> Uma tese de última hora = resultados bem desagradáveis. (p.19)
> Deduz-se que a tese de seis meses, mesmo admitida a título de mal menor, não representa de forma alguma
o optimum. (p.19)
> É possível ter uma boa tese de seis meses. Seus requisitos são:
I) o tema deve ser circunscrito;
2) o tema deve ser, se possível, atual, não exigindo bibliografia que remonte aos gregos; ou deve ser tema
marginal, sobre o qual pouca coisa foi escrita;
3) todos os documentos devem estar disponíveis num local determinado, onde a consulta seja fácil. (p.20)

2.5. É NECESSÁRIO SABER LÍNGUAS ESTRANGEIRAS:


> Há sempre a necessidade de ler um livro escrito em outra língua. (p.21)
> Se sobre um dado assunto existe apenas um livro em alemão e o candidato não sabe alemão, o problema
poderá ser resolvido pedindo-se a alguém que o saiba para ler alguns capítulos. (p.21)
> Elementos imprescindíveis:
1) Não se pode fazer uma tese sobre um autor estrangeiro se este não for lido no original;
2) Não se pode fazer uma tese sobre determinado assunto se as obras mais importantes a seu respeito foram
escritas numa língua que ignoramos;
3) Não se pode fazer uma tese sobre um autor ou sobre um tema lendo apenas as obras escritas nas línguas
que conhecemos. (p.22)
> Conclui-se: antes de estabelecer o tema de uma tese é preciso dar uma olhada na bibliografia existente e
avaliar se não existem dificuldades linguísticas significativas. (p.23)
> A tese deve ser entendida como uma ocasião única para fazer alguns exercícios que nos servirão por toda a
vida. (p.23)

2.6. TESE "CIENTÍFICA" OU TESE POLÍTICA:


> O título faz pensar que uma tese "política" não é "científica". (p.24)
> Fala-se frequentemente nas UNIVERSIDADES em: ciência, cientificismo, pesquisa científica, valor científico
de um trabalho - semelhantes termos podem ensejar equívocos involuntários, seja por mistificação ou por
suspeitas ilícitas de mumificação da cultura. (p.24-25)

2.6.1. QUE É A CIENTIFICIDADE?


> Tentemos definir a que título um trabalho merece chamar-se CIENTÍFICO EM SENTIDO LATO. (p.25)
> Um estudo é científico quando responde aos seguintes REQUISITOS:
I) O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja reconhecível
igualmente pelos outros:
A) Definir o objeto significa apontar as condições sob as quais podemos falar, com base em certas regras que
estabelecemos ou que outros estabeleceram antes de nós;
B) Para constituirmos um objeto viável de discurso, deveremos coletar provas. (p.25-26)

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2) O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma óptica diferente o que já se
disse. Ex.: um trabalho de compilação só tem utilidade científica se ainda não existir nada de parecido naquele
campo. (p.26)

3) O estudo deve ser útil aos demais:


A) Um trabalho é científico se acrescentar algo ao que a comunidade já sabia, e se todos os futuros trabalhos
sobre o mesmo tema tiverem que levá-lo em conta, ao menos em teoria. (p.26)

4) O estudo deve fornecer elementos para a verificação e a contestação das hipóteses apresentadas:
A) Fornecer provas;
B) Contar como procedeu para achar o fragmento;
C) Informar como se deve fazer para achar outros fragmentos;
D) Não só fornecer as provas para hipótese, mas permitir que outros continuem a pesquisar, para contestá-la
ou confirmá-la;
E) Apresentar hipótese, provas e procedimentos de confirmação e contestação. (p.27-28)
> REQUISITOS DE CIENTIFICIDADE podem aplicar-se a qualquer tipo de pesquisa. (p.28)
> Tudo o que se disse nos reporta à ARTIFICIOSA OPOSIÇÃO ENTRE TESE "CIENTÍFICA" E TESE "POLÍTICA". Pode-
se fazer uma tese política observando todas as regras de cientificidade necessária. (p.28)
> Uma hipótese científica ser refutada significa ter feito algo positivo sob o impulso de uma proposta anterior.
Se minha tese serviu para estimular alguém a começar novos experimentos de contrainformação entre
operários: foi útil. (p.28)
> NÃO EXISTE OPOSIÇÃO ENTRE TESE CIENTÍFICA E TESE POLÍTICA. Um trabalho científico se contribui para o
desenvolvimento do conhecimento geral tem um valor político positivo. (p.28)

2.6.2. TEMAS HISTÓRICO-TEÓRICOS OU EXPERIÊNCIAS "QUENTES"?


> Será mais útil fazer uma TESE DE ERUDIÇÃO OU UMA TESE LIGADA A EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS, a empenhos
sociais diretos? (p.29)
> CADA UM FAZ AQUILO QUE LHE AGRADA: se um estudante passou quatro anos debruçado sobre filologia
românica, ninguém pode pretender que passe a se ocupar com outro tema. (p.29)
> A experiência de pesquisa imposta por uma tese serve sempre para nossa vida futura (profissional ou
política, tanto faz), e não tanto pelo tema escolhido quanto pela preparação que isso impõe. (p.29)
> Aconselha-se: ESTUDANTE QUE SE DEDICOU ÀS ATIVIDADES POLÍTICAS E SOCIAIS – não faça um relato de
suas próprias experiências. A tese será a derradeira ocasião para obter: conhecimentos históricos, teóricos e
técnicos, aprender sistemas de documentação. (p.30)
> Problemas:
A) O estudante atulha uma centena de páginas com: registro de folhetos, atas de discussões, listas de
atividades, estatísticas tomadas de empréstimo a trabalhos precedentes, e apresenta o resultado como "tese
política”. (p.30)
B) Pode-se prestar um péssimo serviço à causa política elaborando uma tese política destituída dos requisitos
científicos. (p.30)
C) Apresentar uma pseudopesquisa forjando dados "objetivos", que na verdade expressam as suas próprias .
opiniões. (p.31)
D) Risco de superficialidade em teses políticas:
1) Numa tese histórica ou filológica existem métodos tradicionais de pesquisa a que o autor não pode se
subtrair;
2) Metodologia da pesquisa social "à americana" fetichizou os métodos estatístico-quantitativos que reduz a
compreensão dos fenômenos reais. Consequência: jovens politizados desconfiam dessa sociologia:
"sociometria” que serviria a uma ideologia;
3) Reação a esse tipo de pesquisa leva-se a não se fazer pesquisa alguma. Tese = panfletos, apelos ou
assertivas meramente teóricas. (p.31)
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> Como EVITAR ESSES RISCOS?
1) Analisar estudos "sérios" sobre temas semelhantes;
2) Não se meter em trabalho de pesquisa social sem pelo menos ter acompanhado a atividade de um grupo
com alguma experiência;
3) Munir-se de métodos de coleta e análise de dados;
4) Não presumir fazer em poucas semanas trabalhos de pesquisa que comumente são longos e difíceis. (p.31)

2.6.3. COMO TRANSFORMAR UM ASSUNTO DE ATUALIDADE EM TEMA CIENTÍFICO?


> Exemplo: TEMA "MERAMENTE JORNALÍSTICO": O FENÔMENO DAS ESTAÇÕES DE RÁDIO INDEPENDENTES:

1) Delimitar com precisão o âmbito geográfico e cronológico do meu estudo. Ex.: As Estações de Rádio Livres
de 1975 a 1976;
2) Estabelecer os critérios de escolha da amostra. Ex.: se escolher uma amostra de 30 estações: 29 são
políticas e de esquerda (ou vice-versa) = resultado = a imagem que se dá ao fenômeno refletirá os desejos ou
temores do estudante, e não a situação real.
3) Poderá ainda decidir renunciar ao estudo sobre as emissoras tais quais são e propor, ao contrário, um
projeto de emissora livre ideal:
- Caberá fazer:

A) Tornar públicos os parâmetros de definição de "rádio livre", ou seja, tornar publicamente identificável o
objeto do estudo.
B) Definir o conceito de “rádio livre”: apenas como uma rádio de esquerda? Ou uma rádio montada por um
pequeno grupo em situação semilegal no país?
C) Explicar os critérios e por que excluir certos fenômenos do campo de pesquisa.
D) Descrever a estrutura de uma “rádio livre” sob o aspecto organizacional, econômico, jurídico.
E) Deverar indagar se todos os tipos de “rádio livre” possuem características comuns que sirvam para definir
um modelo abstrato de rádio independente, ou se o termo "rádio livre" cobre uma série multiforme de
experiências muito diferentes.
F) Orientar parâmetros das rádios: presença de operadores profissionais, proporção música-fala, presença de
publicidade e caracterização ideológica.
G) Autor sugeriu as fontes para pesquisar as rádios: dados oficiais, declarações dos interessados e boletins de
escuta:
- Dados oficiais: sempre mais seguros. No caso de rádios independentes: bastante raros.
-Declarações dos interessados: são interrogados os responsáveis pelas emissoras. Tudo o que disserem
constitui dados objetivos: recorrer aos elementos significativos; comparar os programas das emissoras
monopolistas com os das rádios independentes: proporção música-fala, proporção notícia-entretenimento,
proporção programas-publicidade, etc.
H) Admitindo-se que todo esse trabalho tenha sido bem feito, que restará por fazer? Vejamos:
- Estabelecer índices de audiência;
- Registrar a polêmica na imprensa e os eventuais juízos sobre cada emissora;
- Documentar as posições relativas dos diversos partidos;
- Tentar estabelecer tabelas comparativas dos custos publicitários;
- Fixar um evento-amostra (eleições);
- Analisar o estilo linguístico das diversas emissoras
- Analisar a maneira como certas transmissões das grandes rádios foram influenciadas pelas transmissões das
rádios livres;
- Recolher organicamente opiniões sobre rádios livres por parte de juristas, líderes políticos etc;
- Coleta de toda a bibliografia existente sobre o assunto, desde livros e artigos sobre experiências análogas em
outros países.

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> CONCLUSÃO:

1) Convém deixar claro que você não deve fazer todas essas coisas. Apenas uma, desde que BEM FEITA E
COMPLETA, já constitui um tema para uma tese.

2) Delineou-se alguns exemplos para mostrar como até sobre um TEMA TÃO POUCO "ERUDITO" E POBRE EM
LITERATURA CRÍTICA SE PODE EXECUTAR UM TRABALHO CIENTÍFICO, útil aos outros, inserível numa pesquisa
mais ampla e indispensável a quem queira aprofundar o tema, sem impressionismo, observações casuais ou
extrapolações arriscadas.

3) Tese científica ou tese política? DILEMA FALSO.

- É tão científico fazer uma tese sobre a doutrina das Ideias em Platão como sobre a política da Lotta Continua
(movimento estudantil) na Itália entre 1974 e 1976.

- Para Eco: a segunda tese - política da Lotta Continua - é sem dúvida mais difícil que a primeira tese. Razão:
A) Requer maior maturidade científica; B) Não terá uma biblioteca em que se apoiar; C) Se for a primeira tese,
“doutrina das Ideias em Platão”: pelo menos terá uma biblioteca para organizar. (p.28-36)

2.7. COMO EVITAR SER EXPLORADO PELO ORIENTADOR:


> Ao sugerirem temas, os professores podem seguir DOIS CRITÉRIOS diferentes:

1) Indicar um assunto que conheçam bem e onde não terão dificuldades em acompanhar o aluno;

2) Ou recomendar um tema que conhecem pouco e querem conhecer mais.

> Há casos específicos em que o professor está fazendo uma PESQUISA DE GRANDE FÔLEGO, para a qual são
necessários inúmeros dados, e decide valer-se dos candidatos como membros de sua equipe de trabalho: ele
orienta as teses numa direção específica:

1) Critério é legítimo e cientificamente útil: o trabalho de tese contribui para uma pesquisa mais ampla, feita
no interesse coletivo.

2) Critério útil didaticamente porque o candidato poderá valer-se de conselhos do professor muito bem
informado sobre o assunto, e utilizar como material de fundo e de comparação as teses já elaboradas por
outros estudantes sobre temas afins.

> Alguns INCONVENIENTES possíveis:

1) Estudante torna-se, nesse caso, um carregador de água que se limita a recolher penosamente material que
depois outros irão interpretar.

2) Professor é desonesto, pondo os estudantes a trabalhar, aprova-os e utiliza desabusadamente o trabalho


deles como se fosse seu.

> Como EVITAR TAIS INCONVENIENTES?

1) O estudante, ao abordar um professor, deverá: a) ouvir falar dele; b) entrar em contato com diplomados
anteriores e conhecer sua lisura no trabalho; c) ler seus livros e saber se o autor costuma mencionar ou não
seus colaboradores.

2) Buscar se cercar do fator da estima e da confiança.

3) Evitar a atitude neurótica julgando-nos plagiados sempre que alguém falar de temas semelhantes aos da
nossa tese.

4) Compreender que:

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- Por ROUBO DE TRABALHO CIENTÍFICO entende-se:

a) a utilização de dados experimentais que só podiam ter sido recolhidos fazendo essa dada experiência;

b) a apropriação da transcrição de manuscritos raros que nunca tivessem sido transcritos antes de você;

c) a utilização de dados estatísticos que ninguém havia coletado antes de você, sem menção da fonte;

d) a utilização de traduções, que você fez, de textos que não tinham sido traduzidos.

> O estudante deve verificar se, ao aceitar um tema de tese, está se inserindo ou não num TRABALHO
COLETIVO. (p.37-38)

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