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>Introdução;
>Cap. 1 Que é uma Tese e para que serve;
>Cap. 2 A Escolha do Tema.
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INTRODUÇÃO:
> Antigamente, a universidade era uma universidade de elite. Apenas os filhos dos formados tinham acesso a
ela. (p. 1)
A - Pode-se preparar uma tese digna mesmo que se esteja numa situação difícil, que se ressente de
discriminações remotas ou recentes;
B - Pode-se utilizar a ocasião da tese (mesmo se o resto do curso universitário foi decepcionante, ou frustrante)
para:
> O livro não pretende explicar "como se faz pesquisa científica". (p.2)
(5) como dispor a redação do trabalho: E a parte mais precisa é justamente a última, embora possa parecer a
menos importante: porque é a única para a qual existem regras bastante precisas. (p.3)
> O tipo de tese a que nos referimos neste livro é o que se efetua nas faculdades de ciências humanas. (p.3)
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> Destaca-se que o autor compreende tese ao nível de PhD, tese de doutorado, e constitui um trabalho original
de pesquisa no tempo longo. (p.6)
> O estudioso deve produzir um trabalho que diga algo novo sobre determinado assunto ao ponto de não ser
ignorado. (p.6)
> Faz uma crítica à tese das universidades italianas: há elaboração de verdadeiras teses de PhD, e outras que
não chegam a esse nível. Contudo, há boas teses que não são de pesquisa, mas de compilação. (p.6)
1 - Tese de compilação: longa e cansativa: exige menor tempo e menor risco. Tese de pesquisa: longa, fatigante
e absorvente: exige menor tempo e menor risco. Feitas às pressas, são de má qualidade, e podem irritar o
leitor e em nada beneficiam quem as elabora. Há os fatores: maturidade e capacidade de trabalho do
candidato. Há fatores econômicos: o estudante que trabalha dispõe de menos tempo, energia e até dinheiro
para se dedicar a longas pesquisas. (p.7)
> O livro não é para estudantes que desejam preparar uma Tese em um mês. (p.8)
> O livro destina-se àqueles que possui uma razoável possibilidade de dedicar algumas horas diárias ao estudo,
e querem preparar uma tese que lhes dê certa satisfação intelectual e lhes sirva também depois da formatura.
(p.8)
> Há duas maneiras de fazer uma tese que se torne útil também após a formatura:
1) identificar um tema preciso; (2) recolher documentação sobre ele; (3) pôr em ordem estes documentos; (4)
reexaminar em primeira mão o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma orgânica a todas as
reflexões precedentes; (6) empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer e possa, se for o
caso, recorrer à mesma documentação a fim de retomar o tema por conta própria. (p.9)
> Não importa tanto o tema da tese quanto a experiência de trabalho que ela comporta. (p.9)
> Não existe tema que seja verdadeiramente estúpido. Conclusões úteis podem ser extraídas de um tema
aparentemente remoto ou periférico. Ex.: A tese de Marx não foi sobre economia política, mas sobre dois
filósofos gregos, Epicuro e Demócrito. (p.9)
1) Que o tema responda aos interesses do candidato (ligado tanto ao tipo de exame quanto às suas leituras,
sua atitude política, cultural ou religiosa).
2) Que as fontes de consulta sejam acessíveis, isto é, estejam ao alcance material do candidato;
3) Que as fontes de consulta sejam manejáveis, ou seja, estejam ao alcance cultural do candidato;
> "quem quer fazer uma tese deve fazer uma tese que esteja à altura de fazer". (p.10)
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2 A Escolha do Tema
2.1. TESE MONOGRÁFICA OU TESE PANORÂMICA:
> A primeira tentação do estudante é fazer uma tese que fale de muitas coisas. Ex.: Literatura Hoje, A Literatura
Italiana do Pós-guerra aos Anos Sessenta, O Símbolo no Pensamento Contemporâneo: Teses desse tipo são
perigosíssimas. (p.11)
> Recomenda-se a escolha de um tema mais modesto. (p.12)
> Com uma tese panorâmica sobre a literatura de quatro décadas, o estudante se expõe a toda sorte de
contestações possíveis [...] que farão sua tese parecer um conglomerado de coisas dispersas. (p.12)
> Uma monografia é a abordagem de um só tema, como tal se opondo a uma "história de", a um manual, a
uma enciclopédia. (p.14)
> Fazer uma tese rigorosamente monográfica não significa perder de vista o panorama. (p.14)
> Princípio fundamental: quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha. Uma
tese monográfica é preferível a uma tese panorâmica: é melhor que a tese se assemelhe a um ensaio do que
a uma história ou a uma enciclopédia. (p.14)
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2) O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma óptica diferente o que já se
disse. Ex.: um trabalho de compilação só tem utilidade científica se ainda não existir nada de parecido naquele
campo. (p.26)
4) O estudo deve fornecer elementos para a verificação e a contestação das hipóteses apresentadas:
A) Fornecer provas;
B) Contar como procedeu para achar o fragmento;
C) Informar como se deve fazer para achar outros fragmentos;
D) Não só fornecer as provas para hipótese, mas permitir que outros continuem a pesquisar, para contestá-la
ou confirmá-la;
E) Apresentar hipótese, provas e procedimentos de confirmação e contestação. (p.27-28)
> REQUISITOS DE CIENTIFICIDADE podem aplicar-se a qualquer tipo de pesquisa. (p.28)
> Tudo o que se disse nos reporta à ARTIFICIOSA OPOSIÇÃO ENTRE TESE "CIENTÍFICA" E TESE "POLÍTICA". Pode-
se fazer uma tese política observando todas as regras de cientificidade necessária. (p.28)
> Uma hipótese científica ser refutada significa ter feito algo positivo sob o impulso de uma proposta anterior.
Se minha tese serviu para estimular alguém a começar novos experimentos de contrainformação entre
operários: foi útil. (p.28)
> NÃO EXISTE OPOSIÇÃO ENTRE TESE CIENTÍFICA E TESE POLÍTICA. Um trabalho científico se contribui para o
desenvolvimento do conhecimento geral tem um valor político positivo. (p.28)
1) Delimitar com precisão o âmbito geográfico e cronológico do meu estudo. Ex.: As Estações de Rádio Livres
de 1975 a 1976;
2) Estabelecer os critérios de escolha da amostra. Ex.: se escolher uma amostra de 30 estações: 29 são
políticas e de esquerda (ou vice-versa) = resultado = a imagem que se dá ao fenômeno refletirá os desejos ou
temores do estudante, e não a situação real.
3) Poderá ainda decidir renunciar ao estudo sobre as emissoras tais quais são e propor, ao contrário, um
projeto de emissora livre ideal:
- Caberá fazer:
A) Tornar públicos os parâmetros de definição de "rádio livre", ou seja, tornar publicamente identificável o
objeto do estudo.
B) Definir o conceito de “rádio livre”: apenas como uma rádio de esquerda? Ou uma rádio montada por um
pequeno grupo em situação semilegal no país?
C) Explicar os critérios e por que excluir certos fenômenos do campo de pesquisa.
D) Descrever a estrutura de uma “rádio livre” sob o aspecto organizacional, econômico, jurídico.
E) Deverar indagar se todos os tipos de “rádio livre” possuem características comuns que sirvam para definir
um modelo abstrato de rádio independente, ou se o termo "rádio livre" cobre uma série multiforme de
experiências muito diferentes.
F) Orientar parâmetros das rádios: presença de operadores profissionais, proporção música-fala, presença de
publicidade e caracterização ideológica.
G) Autor sugeriu as fontes para pesquisar as rádios: dados oficiais, declarações dos interessados e boletins de
escuta:
- Dados oficiais: sempre mais seguros. No caso de rádios independentes: bastante raros.
-Declarações dos interessados: são interrogados os responsáveis pelas emissoras. Tudo o que disserem
constitui dados objetivos: recorrer aos elementos significativos; comparar os programas das emissoras
monopolistas com os das rádios independentes: proporção música-fala, proporção notícia-entretenimento,
proporção programas-publicidade, etc.
H) Admitindo-se que todo esse trabalho tenha sido bem feito, que restará por fazer? Vejamos:
- Estabelecer índices de audiência;
- Registrar a polêmica na imprensa e os eventuais juízos sobre cada emissora;
- Documentar as posições relativas dos diversos partidos;
- Tentar estabelecer tabelas comparativas dos custos publicitários;
- Fixar um evento-amostra (eleições);
- Analisar o estilo linguístico das diversas emissoras
- Analisar a maneira como certas transmissões das grandes rádios foram influenciadas pelas transmissões das
rádios livres;
- Recolher organicamente opiniões sobre rádios livres por parte de juristas, líderes políticos etc;
- Coleta de toda a bibliografia existente sobre o assunto, desde livros e artigos sobre experiências análogas em
outros países.
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> CONCLUSÃO:
1) Convém deixar claro que você não deve fazer todas essas coisas. Apenas uma, desde que BEM FEITA E
COMPLETA, já constitui um tema para uma tese.
2) Delineou-se alguns exemplos para mostrar como até sobre um TEMA TÃO POUCO "ERUDITO" E POBRE EM
LITERATURA CRÍTICA SE PODE EXECUTAR UM TRABALHO CIENTÍFICO, útil aos outros, inserível numa pesquisa
mais ampla e indispensável a quem queira aprofundar o tema, sem impressionismo, observações casuais ou
extrapolações arriscadas.
- É tão científico fazer uma tese sobre a doutrina das Ideias em Platão como sobre a política da Lotta Continua
(movimento estudantil) na Itália entre 1974 e 1976.
- Para Eco: a segunda tese - política da Lotta Continua - é sem dúvida mais difícil que a primeira tese. Razão:
A) Requer maior maturidade científica; B) Não terá uma biblioteca em que se apoiar; C) Se for a primeira tese,
“doutrina das Ideias em Platão”: pelo menos terá uma biblioteca para organizar. (p.28-36)
1) Indicar um assunto que conheçam bem e onde não terão dificuldades em acompanhar o aluno;
> Há casos específicos em que o professor está fazendo uma PESQUISA DE GRANDE FÔLEGO, para a qual são
necessários inúmeros dados, e decide valer-se dos candidatos como membros de sua equipe de trabalho: ele
orienta as teses numa direção específica:
1) Critério é legítimo e cientificamente útil: o trabalho de tese contribui para uma pesquisa mais ampla, feita
no interesse coletivo.
2) Critério útil didaticamente porque o candidato poderá valer-se de conselhos do professor muito bem
informado sobre o assunto, e utilizar como material de fundo e de comparação as teses já elaboradas por
outros estudantes sobre temas afins.
1) Estudante torna-se, nesse caso, um carregador de água que se limita a recolher penosamente material que
depois outros irão interpretar.
1) O estudante, ao abordar um professor, deverá: a) ouvir falar dele; b) entrar em contato com diplomados
anteriores e conhecer sua lisura no trabalho; c) ler seus livros e saber se o autor costuma mencionar ou não
seus colaboradores.
3) Evitar a atitude neurótica julgando-nos plagiados sempre que alguém falar de temas semelhantes aos da
nossa tese.
4) Compreender que:
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- Por ROUBO DE TRABALHO CIENTÍFICO entende-se:
a) a utilização de dados experimentais que só podiam ter sido recolhidos fazendo essa dada experiência;
b) a apropriação da transcrição de manuscritos raros que nunca tivessem sido transcritos antes de você;
c) a utilização de dados estatísticos que ninguém havia coletado antes de você, sem menção da fonte;
d) a utilização de traduções, que você fez, de textos que não tinham sido traduzidos.
> O estudante deve verificar se, ao aceitar um tema de tese, está se inserindo ou não num TRABALHO
COLETIVO. (p.37-38)