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Como se faz uma

tese
Umberto Eco, 1977
22ª ed., EDITORA PERSPECTIVA

Emília Santos
2022
Objetivos dessas aulas
• Não substituir orientador/a
• Não pretende criar objeto de
investigação pelo aluno
• Não soluciona crises dos alunos
• Não tem obrigação de ser agradável ou
gerar ansiedade
• Reconhece a singularidade de cada
aluno
PhD
Doutor em Filosofia
• Tese de doutorado – trabalho ORIGINAL de
pesquisa, o candidato deve demonstrar
ser um estudioso capaz de fazer avançar
a disciplina a que se dedica.
– Mais velho
• Conhecer a fundo tudo o que já foi dito
sobre o assunto pelos demais.
– Descoberta
Dizer algo novo sobre o assunto.
Licenciatura
• Encaminha o estudante para o
exercício da profissão
• Mestrado e PhD encaminham para
atividade acadêmica
• Vocação para o estudo e a pesquisa –
estudar
Como preparar uma tese em um mês

• Tirar uma nota qualquer e sair da


universidade
• Pagar para alguém fazer (sic)
• Copiar
– Ilegais!
Elaborar uma tese
• Identificar um tema preciso
• Recolher documentação sobre ele
• Reexaminar em primeira mão o tema à luz
da documentação recolhida
• Dar forma orgânica a todas as reflexões
precedentes
Empenhar-se para que o leitor compreenda o
que se quis dizer e possa, se for o
caso, recorrer à mesma documentação.
Fazer uma tese significa
• Aprender a por ordem nas próprias ideias e
ordenar dados
• Construir um ‘objeto’ que possa ser servir
aos outros
• Não importa tanto o tema da tese, senão que
a experiência de trabalho que ela comporta.
Elaborar uma tese é como exercitar a memória:
“temo-la boa quando velhos se a exercitamos
desde a meninice”.
4 Regras óbvias
(Evitar temas impostos pelo professor)

• Tema seja do interesses do candidato


• Fontes acessíves
• Fontes manejáveis
• Metodologia da pesquisa esteja ao
alcance da experiência do candidato
“Quem quer fazer uma tese deve fazer
uma tese que esteja à altura de
fazer”
Escolha do tema
• Tema panorâmico ou
monográfico?
• Evitar temas panorâmicos, gerais:
muita exposição, arriscado
• Monografia: abordagem de um só tema
Quanto mais se restringe o campo,
melhor e com mais segurança se
trabalha.
Humildade científica
• Tese teórica x tese histórica
• Tese experimental não pode ser feita
com recursos inteiramente próprios,
nem o método pode ser inventado.
Anão inteligente – subir nos ombros de
um gigante qualquer – haverá sempre
oportunidade de caminhar por si
mesmo, mais tarde.
Tempo para se fazer a tese
Não mais de 3 anos:
1. Escolha de tese superior às nossas forças;
2. Somos do tipo incontestável, que quer
dizer tudo, ao passo que um estudioso hábil
deve ser capaz de ater-se a certos limites,
embora modestos, e dentro deles produzir
algo de definitivo;
3. Fomos vítimas da ‘neurose da tese’:
deixamo-la de lado, retomamo-la, sentimo-
nos irrealizados, depressão, valemo-nos da
tese como álibi para muitas covardias, não
nos formamos nunca.
Não menos de 6 meses
Para que serve uma tese?
Ensinar a coordenar idéias,
independente do tema tratado
Desenho do estudo
• Relação temporal – período – when?
• Espacial – local – where?
• Pessoal – who?
Desenvolvimento do trabalho em si:

– Why? Justificativa
– Who? Casuística
– When? Período (mês, ano) – desenho do
estudo
– Where? Onde – local(is)
– How? Como - metodologia
Passos
• Escolha do tema, com ajuda do orientador –
algo que faça seu coração vibrar, que tenha
paixão.
• Tese: exercício de comunicação que presume um
público:
– orientador é a única amostra de público competente
à disposição do aluno no curso do seu trabalho.
• Orientador não deve ler na última hora,
quando estiver toda pronta...
– Na banca, será desfavorável
Requisitos da tese
• Tema circunscrito
• Atual
• Documentos disponíveis para consulta
(referências bibliográficas e dados
primários)
• Língua estrangeira: necessário saber
ler e interpretar artigos – inglês,
alemão, francês, depende.
Introdução
• Será muito mais exigido o núcleo do que a periferia

Núcleo Periferia
Que é a cientificidade?
• Estudo científico:
1. Objeto reconhecível pelos
outros
2. Deve dizer sobre o objeto algo que não
foi dito, ou rever sob uma ótica
diferente do que já se disse
3. Deve ser útil aos demais
4. Fornecer elementos para verificação e
contestação das hipóteses apresentadas
Como evitar ser explorado pelo
orientador
• Professor está com pesquisa maior, precisa de
muitos dados: legítimo, se o aluno também se
interessa por aquele tema. Se não, o prof
violenta o aluno, usando apenas partes do
material recolhido, e nem citando a aluno, por
vezes.
• Professor desonesto: estudantes trabalham, mestre
sugere ideias, depois não distingue sua
contribuição da do estudante, não conseguimos
mais recordar quais idéias que tínhamos no início
e quais as que assumimos por estímulo alheio.
Como evitar?
– Conhecer o professor
– Ver suas publicações
– Estima e confiança
Roubo de trabalho científico: utilização de dados
experimentais que só podiam ser recolhidos fazendo
essa dada experiência da sua tese/trabalho.

O estudante deve verificar ao aceitar um tema de


tese, se esse tema está inserido num trabalho
coletivo, se é um trabalho internacional, que
envolva grandes laboratórios, saber onde está
amarrando seu burro.
Fontes do trabalho científico:
acessibilidade
• Primeira e segunda mão:
• Napoleão morreu em 05/05/1821 – livros de hist ória –
fonte de segunda mão.
• Documentos da época: fontes de primeira mão.
• Fulano disse..., verificar a fonte,o que o fulano
escreveu, para ter certeza da fonte.
• Citar referências que consultou, realmente. N ão citar
aquilo que não leu, para ‘enfeitar’, pode passar
apuros...kkkk. M
• uitas vezes, os autores citam outros, e seus estudos ou
conclusões não são interpretados literalmente por aqueles
que citam. Por isso, procurar as fontes originais.
Fontes de primeira mão
• Ex.: reação dos camponeses de uma
dada região aos telejornais:
entrevistas com camponeses são a
fonte, in loco.
• Jamais usar uma entrevista feita por
outros, em outro tempo.
Pesquisa bibliográfica
• Busca em bibliotecas – bibliotecário pode
auxiliar.
• Busca em sites de busca de publicações
científicas: Pubmed, Scielo, Bireme:
– Busca por assunto – palavras-chave.
– Busca por autor, quando já se sabe quais os
autores chave no tema.
A experiência deve ser enquadrada numa
discussão da literatura científica
precedente,inclusive livros, se for o caso.
Plano de Trabalho
• Plano de Trabalho
– Título – em geral provisório, pode ser modificado. Um bom título já é um projeto.
• Não falo o título registrado na secretaria, e sim, do título real, aquele que ainda está se revelando.
• O título inicial delimita o tema.
– Introdução: Para a Introdução/Estado da Arte/Revisão da Literatura: artigos sobre o
assunto/fato/objeto, os escritos/notícias sobre, análise do quantitativo e qualitativo do conteúdo
das notícias/escritos sobre
– Índice provisório – plano de trabalho ou roteiro – pode ser feito à lápis numa folha grande, cujos
títulos de capítulos podem ir sendo substituídos, controlando assim as várias fases do andamento do
trabalho.

• Para cada capítulo, faça um resumo – esclarecer para si mesmo o que tem em mente
– Projeto compreensível ao orientador

• Idéias são claras?


“Pode-se ter idéias claras sobre o ponto de partida e de chegada, mas se verificará que
não se sabe muito bem como se chegará de um ao outro e o que haverá entre esses dois
pontos.”
Plano de Trabalho
• Título
• Introdução
• Índice provisório
• Para cada capítulo, faça um resumo
Núcleo da tese
1. 1ª coisa a fazer: revisão
bibliográfica
2. Quanto tempo?
1. Uma semana ou menos – internet, não mais
biblioteca, pedir artigos, etc.

3. Fontes: Pubmed, Bireme, Cochrane,


4. Palavras-chave
Plano de Tese
• Tese plano espacial: “A distribuição da
infecção por COVID-19 por setor”
• Comparativa: “Uso de tal procedimento...”
• Tese cronológica:
– Ex.: “Ano de 2020 na história do HGV - COVID-19 e
seus impactos”

• Tese de causa e efeito:


– Ex.: A COVID-19 e complicações cirúrgicas na
apendicectomia”
Natureza da Tese
• Caráter experimental:
– Indutivo: parte de algumas provas para a
proposição de uma teoria.
• Caráter lógico-matemático:
• Dedutivo: aparece primeiro a
proposição teórica e depois suas
possíveis aplicações a exemplos
concretos
Literatura crítica
• Comparar os vários autores e ver quem
responde melhor às exigências do problema
formulado no título ‘secreto’ da tese.
• Problema central
– Subproblema principal
– Subproblema secundário
• Desenvolvimento do problema central
– Primeira ramificação
– Segunda ramificação
Árvore

Problema
Objeto Central

Desenvolvimento
Subproblema Subproblema
principalDesenvolvimento
do problema
secundário
central

Primeira Segunda
Sem prejudicar a organização geral do trabalho, sem fugir ao temaramificação
ramificação
Esboço da Introdução
• Com o presente trabalho, pretendemos demonstrar uma determinada
tese. Os estudos precedentes não dão conta de esclarecer tal
ponto, e os dados existentes atualmente não são suficientes para
esgotar o tema da rebinboca da parafuseta.
• No primeiro capítulo, tentaremos estabelecer o ponto x; no
segundo, abordaremos o problema y.
• Concluindo, tentaremos provar o tal e coisa.
• Tendo em mente, que fixamos tal limite para a rebimboca da
parafuseta, não serão todos os parafusos, apenas os tais e
quais.

Permitirá a fixação de idéias ao longo de uma diretriz que não


será alterada. Exceto às custas de uma reestruturação CONSCIENTE
do índice.
Esboço da Introdução
• Serve para controlar os desvios e impulsos!
• Mostrar que tem as idéias em ordem, sabe o que se tem de
fazer
– A pessoa faz muita redação até o EM. Na universidade, pouco escreve.
Presume-se que se saiba escrever... Ops!
– Nos EUA, em vez de exames, escreve papers, pequenas teses sobre
determinado assunto do assunto
• Aprender a escrever depressa!Upa! Ufa!
• Se ainda não escreveu a introdução, prefácio, não ainda é a
SUA tese.
• ≠ esboço e última introdução: nesta, vc promete muito menos
que na primeira, vc é mais cauteloso. Seu objetivo é
introduzir o leitor a penetrar na tese, mas nada de prometer
aquilo que não vai cumprir.
Referência Interna

• Quando se cita a mesma referência


várias vezes no texto.
• Um mesmo conceito pode ser válido sob
dois pontos de vista, um mesmo exemplo
demonstra dois diferentes argumentos,
que tudo o que se disse com um sentido
geral se aplica também à análise de um
determinado ponto em particular...
Da bibliografia
leitura e escrita
• Juntar toda a bibliografia primeiro para ler
depois?
• E então fichar uma de cada vez?
• E os livros?
• Quais são as fontes?
– Livros, artigos, POPs, bulas de kits, legislação...
• Primeiro deve-se ler os livros: o que a literatura
consolidada fala a respeito do assunto – fichar
cada um deles – o que diz de relevante com o seu
trabalho
• Depois, os artigos
Fontes
• Primárias e secundárias
• Primárias:
– Livro: informação chave
– Artigo: não a citação de alguém, e sim o próprio trabalho.
– Ideal tê-las á mão
• Secundárias:
– meta-análise, réplica, atualização sobre o tema.

Humildade científica: todos podem nos ensinar alguma coisa.


“Precisamos ouvir com respeito a todos, sem por isso deixar de
exprimir juízos de valor ou saber que aquele autor pensa de
modo diferente do nosso e está ideologicamente distante de
nós.”
Para quem escrevemos
a Tese?
• À banca?
• Aos estudiosos que poderão
consultá-la depois?
• Ao público?
– Livro na mão de milhares de leitores?
– Comunicação erudita a uma academia
científica?
Como vou expor o trabalho – nível de
clareza
Para quem escrevemos?
• Os textos escrevem de modo prolixo,
‘tecnicês’: será que seus autores são
escondem (às vezes de si mesmos, até), uma
certa insegurança?
• Os grandes cientistas são sempre claros e
explicam bem as coisas.

A tese se dirige pontualmente ao examinador,


afinal, vai ser submetida ao crivo da banca.
Todavia, ela se dirige à humanidade.
Como escrever?
• Evitar períodos longos, excesso de pronomes e subordinadas.
• A linguagem da TESE é uma metalinguagem, linguagem que fala de outras linguagens: um
psiquiatra que fala de doentes mentais não se exprime como os doentes mentais.
• Linguagem crítica compreensível a todos.
– Não se faz uma tese sobre poesia em forma de poesia.
• Marx escrevia, não como um operário, e sim como um filósofo da época.
– Todavia, quando escreveu, junto com Engels, o Manifesto, em 1848, empregou um estilo jornalístico
provocatório.Em O Capital, destinava-se a economistas e políticos, usou outro estilo.
• Escreva o que lhe vier à cabeça – na fase do rascunho, apenas. Depois veja se não
afastou do núcleo do tema. A finalidade da tese é demonstrar uma hipótese, e não
provar que se sabe tudo.
• Peça ao orientador para ler: cobaia, ou então amigo, se o orientador for muito
ocupado ou preguiçoso. Veja se qualquer pessoa entendeu o que escreveu.
– Gênio solitário???
• Reticências, pontos de exclamação, ironias, não cabem.
• Linguagem referencial: todas as coisas são chamadas pelo nome mais comum, bem
delimitados e inequívocos, reconhecível a todos.
• Linguagem figurada: metáforas, evitar!
• Definir sempre um termo ao introduzi-lo pela primeira vez.
• Procure fornecer todos os dados necessários com precisão sobre o objeto. Imagine que
é uma pessoa... Onde nasceu, quando, nome, filiação, sexo, profissão, enfim.
Armadilhas
• Evitar pronome pessoal – evitar personalizar o
discurso científico. Ex.: “cabe, pois, concluir
que”. Evitar:“o artigo que citei anteriormente”. E
sim: “ o artigo citado anteriormente”.
• Nunca use artigo diante de nome próprio. “O
Einstein”, e sim, “Einstein (ano), relata que...”
• Nunca se traduz nome próprio. Nunca traduza, por
exemplo, “João Paulo Sartre”, sic. Atribuir a um
autor uma ideia que ele apresenta como de outro: pode
ser que ele nem esteja de acordo, apenas relata a
ideia.
• Evite fontes de segunda mão.
Agradecimentos
• Cuidado, de não colocar desafetos do
orientador
• Deus, família, esposa/o, enfim, uma
fila incontável de pessoas.
• Orientador: era seu trabalho...
Apêndices
• Tabelas, gráficos, quadros, diagramas
dados estatísticos
– Podem ir no texto, se forem breves,
passíveis de estar no texto.
• Todos os dados e textos que tornem o
texto pesado e de difícil leitura.
Índice
• Deve registrar todos os capítulos,
subcapítulos do texto
• Com a mesma numeração
• Mesma página
• Mesmas palavras
ATENÇÃO
CONCLUSÃO
“...tese é como PORCO,
Nada se desperdiça”
• Fazer uma tese
é... divertir-se.
• Fazer com
gosto!???
SÉRIO???
Só sei que nada sei
Game ?
Tortura?
• Tema: vc escolheu
• Desafio:
• 1º a pergunta que vc não sabia responder
• 2º encontrar a solução num número infinito de lances
• A resposta não vem fácil...
• Puzzle: vc dispõe de todas as peças, cumpre colocá-las em seus
lugares... Para nós, da área biomédica, é bem isso, ordenar os
resultados, olhá-los e pensar...
• Arrancar dali a discussão, o que aqueles resultados te falam sobre
a tua pergunta
• Se jogar a partida com gosto pela contenda... Fará uma boa tese.
• Se fizer como um ritual apenas para o título, sem importância para
vc (o tema), estará derrotado na saída. “Não sabe jogar, não
desce pro play!”
Pensando nas férias...
• A tese ativou seu metabolismo intelectual
– Chaplin em Tempos Modernos: continuava a apertar
parafusos depois do trabalho
• Pode descobrir uma vocação para a pesquisa...

– Um ou vários artigos científicos, ou um livro


• Ela ficará como o primeiro amor, (ou ódio) ser-
lhe-á difícil esquecer
Será a primeira vez que você fez um trabalho
científico rigoroso e sério, isto não é de
somenos importância, não é pouco não.

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