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DIÁRIO DE CAMPO - ESTÁGIO BÁSICO I

Nome: Camilla Kelly Alves dos Santos


Data: 07/08/2019 Hora de início: 08:00 Hora de término: 12:00
Local: Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

● Descrição das atividades

No primeiro dia de estágio cheguei ao HCTP (Hospital de Custódia e Tratamento


Psiquiátrico) às 08:00 horas da manhã, acompanhada de outra estagiária e colega de curso. Na
entrada há um grande muro branco e rosa, com a pintura bastante gasta, um portão de ferro
também branco, e uma campainha ao lado do portão. Ao tocar a campainha fui recebida por um
senhor idoso que aparentava ter mais de 60 anos, perguntei pela Psicóloga e ele informou que
ela ainda não havia chegado, então nos encaminhou para a sala da Assistente Social onde
deveríamos aguardar.
Na sala da Assistente Social fomos recebidas por um funcionário que trabalha no setor
de Cartório (mas estava realizando atividades de um outro setor porque sua colega de trabalho
ainda não havia chegado). Haviam algumas pessoas na sala que eram familiares de internos do
hospital e estavam assinando a documentação necessária para que o interno pudesse sair
temporariamente (um período de mais ou menos 7 dias). Como este processo envolvia tirar
diversas xérox e preencher fichas, o funcionário solicitou a nossa ajuda.
Conforme os familiares iam chegando na sala, eu realizava as seguintes tarefas: recolhia
o RG e o comprovante de residência da pessoa legalmente responsável pelo interno, preenchia
com os dados dela 2 termos de compromisso, tirava xerox dos documentos pessoais do
responsável e da receita de remédios do interno. Em seguida o familiar assinava os dois termos
preenchidos e era entregue a ele uma via do termo assinado, junto com um saquinho plástico
contendo a receita original e os medicamentos necessários. Por fim as xérox tiradas e a outra
via do termo de compromisso eram ser anexadas à pasta do interno e esta era colocada sobre a
mesa.
Enquanto eu realizava as tarefas descritas acima alguns familiares se queixavam da
situação dos internos, questionando quando eles poderiam sair definitivamente, e lamentando
pelo tempo em que estavam ali. Alguns também pediam para que objetos pessoais do interno,
como a televisão e o ventilador, pudessem ser guardados em um local seguro para não serem
danificados durante a ausência do dono; a solicitação era aceita desde que o próprio interno se
encarregasse de levar os aparelhos para o local adequado.
Houve também neste dia a desinternação de uma paciente. Ela era uma senhora com
alguns cabelos brancos, que se demonstrava bastante preocupada com a própria aparência, e
estava saindo do HCTP acompanhada de uma irmã. Ela não estava empolgada com a saída e,
segundo a psicóloga, já havia chorado muito falando que não queria sair. Houve um momento
de riso no qual um funcionário respondeu uma pergunta da ex-interna e ela prontamente
respondeu “não confio em homens”. A psicóloga o tempo todo manteve um diálogo com ela
em tom de amizade, fazendo brincadeiras e criando um clima descontraído.
Tive ainda uma conversa com o funcionário do cartório acerca da instituição. Ele falou
que já havia trabalhado em presídios durante uma boa parte de sua vida e que não via muita
diferença entre o HCTP e um presídio convencional. Falou também sobre a reforma psiquiátrica
e que, para ele, a mudança de “Manicômio Judiciário” para “Hospital de Custódia” alterou
apenas a nomenclatura. Disse que muitas vezes os delinquentes eram internados ali sem antes
passar por um processo de psicodiagnóstico, sujeitos apenas à decisão do juiz, e que por isso
muitos internos não eram verdadeiramente inimputáveis. Ainda mencionou a negligência do
estado em relação à instituição e lamentou a falta de estrutura que possibilite uma verdadeiro
tratamento e não apenas o isolamento dos internos.
Finalizei o dia com uma conversa com a psicóloga acerca dos horários e dias em que ela
está no HCTP e sobre como ficariam os meus horários de estágio.

● Análise das observações

Este primeiro dia de estágio possibilitou um contato direto com diversos profissionais
da instituição, e também com os familiares e alguns internos. Foi possível notar que os
funcionários possuem uma boa interação entre si, criando um ambiente agradável no qual há
diálogo e troca de opiniões. Há também uma boa relação no contato com os familiares e
internos, principalmente a Psicóloga que demonstrou conhecer bem cada um deles.
Algumas informações obtidas durante a conversa com o funcionário do cartório
contrastaram com o conhecimento prévio que eu tinha acerca do funcionamento do HCTP. Por
exemplo, a entrada de internos que não passaram por um processo psicodiagnóstico, algo que
seria imprescindível para que ele seja considerado inimputável e designado a cumprir medida
de segurança. Só nisso já é possível perceber uma falha no cumprimento da lei, algo que leva a
questionar qual será realmente a função desta instituição, se é um lugar para tratar problemas
psíquicos ou apenas para conter e isolar indivíduos que fogem das regras sejam eles conscientes
ou não de seus atos.

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