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Meu Sonho- Álvares de Azevedo

EU Onde vais pelas trevas impuras,


Cavaleiro das armas escuras, Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras Macilento qual morto na tumba?...
Com a espada sanguenta na mão? Tu escutas.... Na longa montanha
Porque brilham teus olhos ardentes Um tropel teu galope acompanha?
E gemidos nos lábios frementes E um clamor de vingança retumba?
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Cavaleiro, quem és? o remorso? Quem te força da morte no império
Do corcel te debruças no dorso.... Pela noite assombrada a vagar?
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras O FANTASMA
Não escutas gritar as caveiras Sou o sonho de tua esperança,
E morder-te o fantasma nos pés? Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

Entendendo o poema:

1- O poema apresenta um diálogo. Quem são os interlocutores desse diálogo?

O eu lírico, apresentado como “eu” e um “fantasma”, que responde nos três últimos versos.

2- Em que ambiente ocorre o diálogo? Justifique com elementos do texto.

Num ambiente campestre, durante a noite. Há um cavaleiro a galope, numa longa montanha, e
referências ao ambiente noturno – escuridão, treva, noite.

3- O Romantismo, em especial o ultrarromantismo, valorizava o mistério, o sinistro. De que modo o


ambiente identificado na resposta anterior contribui para a atmosfera de mistério que predomina
no poema?

As imagens noturnas estão associadas, no poema de Álvares de Azevedo, ao mistério, como se


comprova pelo uso de termos como: remorso, caveiras, morto, vingança, assombrada, febre, delírio, etc.

4- Ao lado das imagens que se referem ao mistério e ao sinistro, há palavras / imagens no poema
que fazem referência ao sentimento amoroso erótico. Identifique-as no texto.

O contexto geral do poema, associado ao ritmo, faz com que algumas imagens adquiram conotação
erótica: olhos ardentes, gemidos, lábios frementes, fogo do teu coração.

5- Escrever a paráfrase de um texto consiste em recontar o texto usando suas próprias palavras.
Mesmo quando se trata de poemas, as paráfrases são feitas em parágrafos, não em versos. Esse
procedimento auxilia bastante na compreensão de textos mais simbólicos, em que pode ser difícil
apreender as ideias numa primeira leitura. Com o objetivo de compreender melhor o poema lido,
faça a paráfrase dele.

O sujeito poético parece ser seguido por um cavaleiro que tem nas mãos uma espada suja de
sangue. Esse cavaleiro tem olhos ardentes, lábios frementes, ou seja, vibrantes. Ele não consegue
identificar quem é o cavaleiro e estabelece hipóteses: seria ele o remorso, galopando no vale, por trevas
impuras, pálido como um morto na tumba? Pode ser também alguém que busca vingança, alguém
misterioso, que assombra o sujeito poético. O fantasma responde que é o sonho da esperança do sujeito
poético, uma febre que nunca descansa, um delírio que irá causar a morte do eu lírico.

6- Retome o título do poema. Em sua opinião, ele é adequado? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se dizer que sim, pois o poema apresenta uma
atmosfera fantasiosa, uma situação que foge aos padrões da realidade, ou seja, uma atmosfera onírica,
isto é, de sonho. Por outro lado, é possível responder que a atmosfera se aproxima à de um pesadelo, já
que as sensações angustiosas são as que predominam ao longo do poema.

7- Um dos temas centrais do ultrarromantismo é a conjugação de amor e morte, numa abordagem


muitas vezes erótica. É possível inferir que esse tema é trabalhado no poema? Justifique sua
resposta.

Sim. A partir do diálogo entre o “Eu” e o “Fantasma”, é possível inferir que o temor do cavaleiro vem
do medo de amar, de seu erotismo, marcados pela febre, pela angústia. Embora a ideia de morte esteja
muito mais presente no poema que a ideia de amor, que vem subentendida, é possível inferir que é o
amor e a culpa pela ideia de amar, pela descoberta do sexo, representada pela “impureza”, que fazem
com que o “Eu” se sinta delirante, febril.

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