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DE PAGAMENTOS E DA
POSIÇÃO DE INVESTIMENTO
INTERNACIONAL
Notas metodológicas
Suplemento ao Boletim Estatístico
Outubro 2015
2
2
Estatísticas da Balança
de Pagamentos e DA
Posição de Investimento
Internacional
Notas metodológicas
Suplemento ao Boletim Estatístico 2015
Índice figuras
Figura 1 • Reconciliação entre fluxos e posições | 14
Figura 2 • Discrepâncias estatísticas – Erros e omissões | 16
Figura 3 • Exemplos de relações de investimento direto | 47
Figura 4 • Princípio ativo-passivo versus princípio direcional nas estatísticas
do investimento direto (Portugal) | 50
Figura 5 • Registo dos fluxos e posições associados à emissão e circulação de notas euro
nas estatísticas externas de Portugal | 57
Figura 6 • Estatísticas externas no domínio das contas nacionais,
por setor institucional | 59
Figura 7 • Relação entre os principais agregados das contas nacionais
e as estatísticas externas | 60
Figura 8 • Apuramento da capacidade / necessidade líquida de financiamento | 61
Índice gráficos
Gráfico 1 • Importância das SPE no investimento direto de países selecionados, 2013 | 52
Índice quadros
Quadro 1 • Desagregação dos setores institucionais residentes utilizados
na divulgação das estatísticas externas | 27
Quadro 2 • Afetação dos fundos comunitários às componentes das balanças
corrente e de capital | 45
Quadro 3 • Registo dos fundos comunitários na balança de pagamentos | 46
Quadro 4 • Relação entre os ativos financeiros e passivos da balança de pagamentos
e as contas financeiras | 61
Quadro 5 • Relação entre os instrumentos financeiros das contas nacionais
e os instrumentos e categorias funcionais das estatísticas externas | 62
Siglas e acrónimos
BCE Banco Central Europeu
BCN Banco Central Nacional
BD4 4.ª edição da Benchmark Definition of Foreign Direct Investment
BIS Bank for International Settlements
BPM5 5.ª edição do Manual da Balança de Pagamentos
BPM6 6.ª edição do Manual da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento
Internacional
cif Cost, insurance and freight
cif-fob Cost, insurance and freight – Free on board
CMVM Comissão de Mercados de Valores Mobiliários
COL Comunicação de Operações de Liquidação
COPE Comunicação de Operações e Posições com o Exterior
CSDB Centralized Securities Database
DSE Direitos de Saque Especiais
DU’s Documentos Únicos
Eurostat Serviço de Estatística das Comunidades Europeias
FDIR Framework for Direct Investment Relationships
FEADER Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural
FEAGA Fundo Europeu Agrícola de Garantia
FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEOGA Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola
FMI Fundo Monetário Internacional
FMM Fundos do Mercado Monetário
fob Free on board
FSE Fundo Social Europeu
FVC Financial Vehicle Corporation
IDE Investimento Direto do Exterior em Portugal
IES Informação Empresarial Simplificada
IFOP Instrumento Financeiro de Orientação da Pesca
IGCP Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública
INE Instituto Nacional de Estatística
Intrastat Sistema permanente de recolha estatística, instaurado com vista
ao estabelecimento das estatísticas das trocas de bens entre os Estados-
-Membros da União Europeia
IPE Investimento Direto de Portugal no Exterior
Introdução
A balança de pagamentos e a posição de inves- e os pagamentos e recebimentos associados
timento internacional integram o conjunto das a rendimento primário (ex: juros e dividendos)
contas externas de uma economia, isto é, das e a rendimento secundário (ex: transferências
estatísticas macroeconómicas que sistemati- correntes); balança de capital, que regista as
zam as relações económicas entre os residen- transferências de capital (ex: perdão de dívi-
tes e os não residentes de uma determinada da e fundos comunitários) e as transações
economia. sobre ativos não financeiros não produzidos
Em Portugal, nos termos da legislação vigen- (ex. licenças de CO2 e passes de jogadores); e
ções que ocorrem num determinado período Neste contexto, têm sido introduzidas melho-
de tempo entre residentes e não residentes rias qualitativas significativas nas estatísticas
numa determinada economia. Essas transa- externas, quer em termos metodológicos quer
melhoria das estatísticas externas, nomeada- nio das estatísticas externas, nomeadamente
1. Enquadramento concetual
1. Enquadramento concetual
Neste capítulo apresentam-se os principais • Fluxos financeiros entre residentes e não
conceitos e princípios subjacentes à balan- residentes, relacionados, por exemplo, com
ça de pagamentos e posição de investimento investimentos em ações, títulos de dívida ou
internacional de Portugal, os quais são essen- empréstimos; e
ciais para a interpretação adequada destas • Transferências, que são registos aplicados
estatísticas. às transações que não têm associado um
valor económico de contrapartida, como por
1.1. Definições exemplo a ajuda externa ou as remessas de
emigrantes / imigrantes.
stock de ativos e de passivos no final de cada empréstimos concedidos por não residentes
das sobre esses stocks entre dois períodos tos comerciais. Dito de outro modo, a dívida
consecutivos, as quais podem ser devidas a externa compreende todo o stock de passi-
transações, registadas na balança financeira, e vos do país face ao exterior com exceção do
Variações preço
Fluxos Reavaliações
Ano
Ano tt Variações cambiais
O registo nas estatísticas externas deve respei- posição de investimento internacional e sim-
tar o princípio das partidas dobradas, segundo plifica a interpretação dos resultados: uma
o qual cada transação dá origem a dois registos, variação positiva significa um aumento, quer
um a débito (saída) e outro a crédito (entrada), dos ativos quer dos passivos, enquanto uma
variação negativa reflete uma diminuição,
nas contas de cada país envolvido. Assim, na
dos ativos ou dos passivos.
balança de pagamentos de cada país o total
dos débitos deve ser igual ao total dos créditos. Concretizando com dois exemplos de registos
As contas externas de Portugal refletem os na balança de pagamentos:
registos efetuados na perspetiva dos agentes
• Um residente em Portugal vende bens a
económicos residentes em Portugal. um não residente e recebe a contrapartida
Os registos a crédito e a débito devem ser inter- monetária numa conta bancária no exterior:
pretados da seguinte forma: registo a crédito na balança de bens (expor-
tação de bens) e registo a débito na balança
• Nas balanças corrente e de capital, os regis-
financeira (aumento de um ativo de um resi-
tos a crédito refletem uma exportação de
dente num banco não residente).
bens ou serviços, um recebimento de rendi-
mentos ou de transferências, ou ainda uma • Um donativo em espécie ao exterior feito por
alienação de ativos não financeiros não pro- um residente em Portugal: registo a débito
duzidos. Por sua vez, os registos a débito são na balança corrente, pela transferência para
utilizados para importações de bens e servi- o exterior, e registo a crédito na mesma
ços, para pagamentos de rendimentos ou de balança pela exportação dos bens.
transferências, ou para aquisições de ativos
Pese embora teoricamente o total dos débitos
não financeiros não produzidos.
deva ser igual ao total dos créditos, como decor-
• Na balança financeira, os registos a débito e re do princípio das partidas dobradas, na práti-
a crédito têm diferentes interpretações con- ca tal não acontece devido, sobretudo, a imper-
soante dizem respeito a ativos ou a passivos. feições nas fontes de informação e nos sistemas
Por um lado, um crédito (entrada de dinheiro) de compilação. Por outro lado, a evolução ace-
traduz uma redução de ativos ou um aumen- lerada dos mercados económicos, financeiros
to de passivos, enquanto um débito (saída e das formas de realização dos negócios inter-
de dinheiro) traduz um aumento de ativos ou nacionais, assim como dos instrumentos finan-
uma redução de passivos. Este tipo de regis- ceiros, tem colocado dificuldades acrescidas na
to na balança financeira, que é fundamen- captação oportuna, completa e correta de todas
tal para garantir a identidade contabilística as transações internacionais.
(princípio das partidas dobradas) nas contas Os desequilíbrios entre débitos e créditos
externas, não é, porém, visível na apresenta- resultantes dos fatores expostos são designa-
ção das estatísticas da balança financeira, em dos por erros e omissões, que, integrados na
que se privilegia o registo em termos líquidos, balança de pagamentos, sintetizam as discre-
quer para os ativos quer para os passivos. pâncias estatísticas implícitas em cada ciclo de
Assim, os créditos são deduzidos dos débitos produção. Os erros e omissões, se positivos,
ocorridos no mesmo período, no caso dos refletem um total de débitos (saídas) superior
passivos, e os débitos são deduzidos dos cré- ao total de créditos (entradas), e, se negativos,
ditos no caso dos ativos. A balança financeira o contrário. Os erros e omissões resultam do
é, então, apresentada em termos de “varia- desencontro entre os saldos das principais
ção líquida de ativos” e de “variação líquida de componentes da balança de pagamentos,
passivos”. Esta convenção de registo facilita conforme ilustra a Figura 2.
16 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
Balança corrente
Bens
Serviços
Rendimento primário
Rendimento secundário
Balança de capital
Balança corrente e de capital Saldo = crédito - débito
Variação de ativos líquidos
sobre o exterior
− Erros e omissões
Saldo da balança corrente e
de capital
Var. ativos líq. exterior = Var. líq. ativos - Var. líq. passivos Balança financeira
Investimento direto
Investimento de carteira
Derivados financeiros
Outro investimento
Ativos de reserva
No caso de Portugal, a monitorização dos erros identificadas nos créditos e nos débitos, res-
e omissões por parte do Banco de Portugal petivamente, da balança corrente de Portugal.
constitui uma prática habitual no âmbito do Se, no entanto, um residente em Portugal ven-
controlo qualidade do processo de produção der e comprar títulos estrangeiros no mesmo
das estatísticas externas. Para além dos desfa- período temporal, apenas o valor líquido (ven-
samentos temporais no registo das contrapar- da líquida, se as vendas excederem as compras,
tidas, refletidos na alternância sucessiva entre ou compra líquida, se as compras excederem
sinais positivos e negativos, os erros e omis- as vendas) é evidenciado na balança financeira
sões podem também indiciar problemas de de Portugal. Em consequência, podem encon-
sobre / subavaliação ou mesmo de não-cober- trar-se registos de sinal negativo na balança
tura do sistema de compilação das estatísticas financeira, que têm a ver com a diferença de
externas. magnitude dos fluxos financeiros de entrada
e de saída. As transações e os outros fluxos
1.2.4. Registo em termos brutos e líquidos sobre ativos financeiros e passivos são regista-
dos como variações líquidas de ativos e varia-
As transações são registadas em termos brutos
ções líquidas de passivos, respetivamente. Este
nas balanças corrente e de capital, de forma a
princípio de registo é aplicado ao nível mais
expor os dois sentidos do comércio internacio-
detalhado da classificação dos instrumentos
nal de bens e de serviços e da troca de ativos
financeiros, dentro de cada componente prin-
não financeiros não produzidos. Na balança
cipal de ativos e de passivos.
financeira, as transações são apresentadas em
termos líquidos quer para a aquisição de ativos Existem, contudo, exceções às regras de registo
externos por residentes em Portugal quer para acima definidas, como por exemplo:
a aquisição por não residentes de passivos emi- • Na balança corrente, as operações de mer-
tidos por residentes em Portugal embora não chanting (também designado por comércio
se compensando ativos e passivos. triangular)2, que são apresentadas em ter-
Assim, por exemplo, se num determinado mos líquidos, do lado dos créditos, refletindo
período uma entidade residente em Portugal exportações líquidas. Se o valor das impor-
simultaneamente exportar e importar auto- tações exceder o das exportações, o valor a
móveis, essas exportações e importações são registar a crédito é negativo, traduzindo uma
registadas de forma separada, podendo ser exportação líquida negativa; e
Enquadramento concetual 17
Outras instituições financeiras Entidades depositárias Bancos, Caixas económicas, Caixas de crédito
monetárias (OIFM) exceto o banco central agrícola mútuo
Fundos do mercado
monetário (FMM)
Sociedades de seguros
e fundos de pensões (SSFP)
Sociedades não financeiras Sociedades não financeiras públicas, Sociedades não financeiras privadas
assim, consistente com a leitura dos sinais da todos os agregados da balança de pagamen-
posição de investimento internacional. tos e da posição de investimento internacional.
Por fim, destaque para algumas alterações de Contudo, não são significativos os impactos nos
nomenclaturas, nomeadamente ao nível das principais agregados.
designações de algumas rubricas. Um exemplo Por exemplo, o saldo conjunto de bens e ser-
prende-se com a rubrica de “derivados finan- viços não foi substancialmente afetado, mas
ceiros (que não reservas) e opções sobre ações os agregados de bens e de serviços foram
concedidas a empregados”, que, no essencial, consideravelmente afetados pelo BPM6. Para
inclui o conteúdo da anterior rubrica de “deriva- esses impactos concorreram, nomeadamente,
dos financeiros”. o novo tratamento das operações de merchan-
ting (exportações líquidas na balança de bens);
Alterações metodológicas os novos serviços de transformação de recur-
Embora os conceitos fundamentais da balan- sos pertencentes a terceiros, que passam a
ça de pagamentos se mantenham inalterados, registar operações anteriormente incluídas na
alguns aspetos foram substancialmente revis- balança de bens; as reparações, que passam
tos ou introduzidos na nova versão do Manual. da balança de bens para a balança de serviços;
A título de exemplo refiram-se: a introdução a aquisição / venda de patentes associadas a
do princípio da propriedade económica, que investigação e desenvolvimento, que passam
é essencial para a determinação do momento da balança de capital para a balança de servi-
do registo das transações na balança de paga- ços; e os serviços de intermediação financeira
mentos; a criação de novos ativos financeiros e indiretamente medidos (SIFIM), que passam a
passivos, como por exemplo a alocação de DSE, ser registados na balança de serviços.
que passa a ser uma responsabilidade do ban-
O rendimento primário inclui, para além dos
co central; o registo das operações de merchan-
rendimentos de investimento do BPM5, os
ting, que passa para a balança de bens (ante-
impostos sobre a produção, taxas de impor-
riormente registadas na balança de serviços), e
tação e subsídios à produção, anteriormente
a inclusão nos serviços financeiros dos serviços
registados em transferências correntes, e as
financeiros indiretamente medidos (SIFIM).
rendas. Nos rendimentos do investimento
A distinção entre fluxos da balança de paga- passam a ser registados os rendimentos cor-
mentos e outros fluxos da posição de investi- ridos de prémios de seguro imputados aos
mento internacional passa a ser mais clara: os tomadores de seguros, assim como os lucros
ativos financeiros e passivos afetos a agentes reinvestidos de fundos de investimento. Pelo
económicos que alteram a residência devem contrário, deixam de ser incluídos em rendi-
ser reclassificados nos outros ajustamentos, mento primário os super-dividendos, que pas-
em termos de posição de investimento interna-
sam a ser considerados na balança financeira
cional. Por outro lado, o rendimento do investi-
como desinvestimento em títulos de capital,
mento que é atribuído aos detentores de unida-
assim como a componente de serviços implí-
des de participação em fundos de investimento
citos nos juros (SIFIM).
passa a incluir os lucros reinvestidos, o que leva a
que alterações nas posições desse instrumento No rendimento secundário salienta-se o novo
passem a ser parcialmente explicadas pelo rein- conceito de transferências pessoais. Para além
vestimento de lucros e não por outros fluxos. das remessas de emigrantes / imigrantes, este
conceito passa também a incluir, por exemplo,
Por último, o BPM6 implicou importantes reclas-
os prémios de jogo.
sificações setoriais, em linha com as alterações
preconizadas no SEC2010, sendo de destacar a A balança de capital deixa de registar como
das holdings não financeiras, que passaram a transações as alterações de residência de
ser classificadas no setor financeiro. agentes económicos, as quais passam a ser
registadas em outros ajustamentos na posição
Impactos nos principais agregados de investimento internacional. Adicionalmente,
As alterações preconizadas no BPM6 são de as patentes e copyrights passam a ser incluí-
grande diversidade, afetando genericamente dos na balança de serviços e deixam de ser
30 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
registados na balança de capital em ativos não de pagamentos e não nos outros fluxos da
financeiros não produzidos. posição de investimento internacional, como
anteriormente.
A alteração mais importante ao nível do inves-
timento direto consiste na apresentação de A rubrica de derivados financeiros (que não
acordo com o princípio ativo-passivo e com a reservas) e opções sobre ações concedidas a
inclusão do investimento entre empresas irmãs empregados passa a incluir um novo instru-
(Caixa 6 • “Princípio ativo-passivo e princípio dire- mento financeiro designado por opções sobre
cional nas estatísticas do investimento direto”). ações concedidas a empregados.
O novo sistema de recolha de informação pelo uma fonte importante para a compilação de
Banco de Portugal teve início em abril de 2013, algumas rubricas da balança de pagamentos,
para todas as entidades exceto os bancos, mas nomeadamente as que estão relacionadas com
só entrou em pleno funcionamento em abril de a atividade de pessoas singulares, para as quais
2014, com o reporte dos bancos. Este sistema não é recolhida informação direta no domínio
carateriza-se pelo reporte direto das operações do sistema de reporte ao Banco de Portugal de
económicas e financeiras realizadas entre enti- operações e posições de entidades residentes
dades residentes e não residentes, bem como face ao exterior. Adicionalmente, as COL são
dos saldos em final de mês relativos a depósitos, uma peça importante no sistema de reporte
empréstimos e créditos comerciais face ao exte- COPE pois podem ser utilizadas pelos demais
rior. A Comunicação de Operações e Posições agentes económicos, que, para efeitos de repor-
com o Exterior (COPE) ao Banco de Portugal é te das suas operações ao Banco de Portugal,
efetuada numa base mensal pelas pessoas cole- apenas têm de proceder à classificação estatís-
tivas residentes em Portugal diretamente envol- tica das operações que lhes dizem respeito no
vidas nessas operações. Estão isentas desse âmbito das COL.
reporte ao Banco de Portugal as entidades que
O sistema COPE / COL disponibiliza informação
apresentam um total anual de operações econó-
micas e financeiras com o exterior inferior a 100 de base à compilação de um conjunto muito sig-
mil euros, considerando o total de entradas e nificativo de rubricas da balança de pagamen-
de saídas. Nas COPE, para além da classificação tos e da posição de investimento internacional.
estatística e do montante da operação inclui-se Contudo, não é a única fonte de informação das
detalhe informativo adicional, nomeadamente estatísticas externas. O Banco de Portugal tam-
sobre o país de residência da contraparte e a bém utiliza outras fontes de informação não só
moeda de denominação. Este reporte é regula- para cobrir segmentos que não são recolhidos
mentado pela Instrução do Banco de Portugal através do sistema COPE / COL, como também
n.º 27/2012, de 17 de setembro9, com as altera- para permitir complementar, corrigir e ajustar
ções subsequentes. a informação que é captada através daquele
sistema (Caixa 3 • “Principais fontes de infor-
Paralelamente à informação COPE também são
mação utilizadas na compilação das estatísticas
reportadas numa base mensal ao Banco de
externas").
Portugal, pelos bancos residentes, as liquida-
ções associadas a (i) operações com o exterior A informação reportada no âmbito das COPE
efetuadas por conta de clientes residentes em é sujeita a um processo de controlo de
Portugal e (ii) operações efetuadas em Portugal qualidade no Banco de Portugal, nomeada-
por conta de clientes não residentes. Esta infor- mente por confrontação com outras fontes.
mação, designada por COL (Comunicação de As estatísticas externas produzidas e divulgadas
Operações de Liquidação), não contém a classi- pelo Banco de Portugal baseiam-se nos dados
ficação estatística das operações mas constitui que resultam desse controlo de qualidade.
Metodologia e compilação estatística 31
Com vista a facilitar a leitura deste Capítulo, é famílias, em que os dados são comunicados
apresentada nesta Caixa uma caraterização de forma agregada). Esta informação é repor-
sumária das principais fontes de informação tada por: (i) instituições de crédito, sociedades
para compilação das estatísticas externas: financeiras de corretagem e sociedades corre-
toras; (ii) outras entidades, financeiras ou não
Comunicação de Operações e Posições com
financeiras, com títulos depositados fora do
o Exterior (COPE): Reporte direto ao Banco de
sistema financeiro residente. O SIET contém
Portugal das operações económicas e finan-
informação mensal sobre as emissões efetua-
ceiras realizadas entre entidades residentes e
das por entidades residentes em Portugal; as
não residentes, bem como dos saldos em final
carteiras de residentes em títulos nacionais e
de mês relativos a depósitos, empréstimos não
em títulos estrangeiros; e as carteiras de não
titulados e créditos comerciais face ao exterior.
residentes em títulos nacionais.
Este reporte é efetuado numa base mensal pelas
pessoas coletivas residentes em Portugal envol- Comércio Internacional: Informação prove-
vidas nessas operações. Estão isentas deste niente do INE relativa ao comércio internacio-
reporte ao Banco de Portugal as entidades que nal de bens. No que respeita ao comércio intra-
apresentem um total anual de operações eco- -comunitário de bens, a informação sobre as
nómicas e financeiras com o exterior inferior a trocas comerciais de bens entre Portugal e os
100 mil euros, considerando o total de entradas outros estados-membros da União Europeia é
e de saídas, assim como as pessoas singulares. recolhida através de um inquérito de resposta
Para além da classificação estatística e do mon- mensal (Intrastat), realizado junto de pessoas
tante da operação ou da posição com o exterior, singulares e coletivas registadas em sede de
o reporte COPE inclui detalhe informativo adi- imposto sobre o valor acrescentado (IVA), em
cional, nomeadamente sobre o país de residên- Portugal (com exclusão de particulares) cujos
cia da contraparte e a moeda de denominação. montantes anuais transacionados ultrapassem
determinados limiares (fixados anualmente
Comunicação de Operações de Liquidação
por fluxo, designados por limiares de assimila-
(COL): Reporte mensal ao Banco de Portugal,
ção). Relativamente ao comércio extra-comuni-
efetuado pelos bancos residentes, sobre as
tário de bens, as trocas comerciais com países
liquidações associadas a (i) operações com o
terceiros são apuradas com base na apro-
exterior efetuadas por conta de clientes resi-
priação de informação de caráter administra-
dentes em Portugal e (ii) operações efetuadas
tivo, decorrente da receção de Documentos
em Portugal por conta de clientes não residen-
Únicos (DU’s) vindos das alfândegas (estân-
tes. Este reporte não contém a classificação
cias aduaneiras).
estatística das operações com o exterior.
Inquérito Trimestral às Empresas Não
Informação Empresarial Simplificada (IES):
Contém informação de natureza contabilísti- Financeiras (ITENF): Inquérito trimestral sobre
ca, fiscal e estatística que as empresas repor- variáveis de índole contabilística junto de uma
tam, numa base anual, para cumprimento dos amostra de empresas não financeiras, desen-
requisitos do Ministério da Justiça, Autorida- volvido em parceria pelo INE e pelo Banco de
de Tributária, Banco de Portugal e Instituto Portugal.
Nacional de Estatística (INE). Consiste, essen-
Centralized Securities Database (CSDB): Base de
cialmente, nas contas anuais das empresas. dados do Eurosistema que contém informação
Sistema Integrado sobre Estatísticas de Títulos detalhada sobre as caraterísticas dos títulos
(SIET): É um sistema de informação do Banco (dívida e capital) que são relevantes para efei-
de Portugal baseado na comunicação de infor- tos de produção de estatísticas do Eurosistema
mação numa base “título-a-título” e “investidor- (títulos emitidos ou detidos por residentes na
-a-investidor” (exceto no caso de investido- União Europeia e títulos emitidos em euros,
res pertencentes ao setor institucional das independentemente da residência do emissor
32 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
e do detentor), conforme reportado pelos ban- derivados financeiros face a não residentes.
cos centrais nacionais da União Europeia e O reporte inclui o tipo de instrumento, o tipo
constante em algumas bases de dados comer- de cobertura, o Número de Identificação de
ciais. Inclui, nomeadamente, informação sobre Pessoa Coletiva (NIPC) da entidade residente
a moeda de denominação, país e setor do emi- responsável pela transação / posição, o país de
tente, montantes em stock, maturidade, paga- residência da entidade da contraparte, o tipo
mentos de dividendos, estrutura do cupão, de mercado e os montantes correspondentes
preços, etc. ao valor de mercado dos pagamentos / recebi-
mentos e as posições de derivados financeiros.
Inquérito sobre transações e posições de
Derivados Financeiros (QDF): reporte mensal
ao Banco de Portugal por parte dos bancos,
em nome próprio e em nome de outras enti-
dades, e dos fundos da segurança social, de
informação sobre transações e posições de
(cost, insurance and freight), o que significa exportações líquidas de bens em merchanting.
que incluem o valor do transporte e dos Incluem-se neste valor as margens do comer-
seguros até à fronteira do país de destino ciante, as menos e mais-valias, e as variações
da mercadoria. nos inventários de bens envolvidos no comér-
cio triangular. Os bens adquiridos por residen-
Assim, na balança de pagamentos de Por-
tes em operações de comércio triangular são
tugal, é retirada ao valor das importações
registados na balança de pagamentos como
de bens do comércio internacional do INE
exportações negativas, i.e. com sinal negativo
a parte relativa aos encargos com fretes e
a crédito da balança de bens. A subsequen-
seguros desde a fronteira dos países expor-
te venda em comércio triangular é registada
tadores até ao seu destino em Portugal.
como exportação positiva, também a crédi-
Esses encargos relativos ao transporte das
to da balança de bens (com sinal positivo). A
mercadorias e ao respetivo seguro implíci-
informação relativa a operações de merchan-
tos nas importações são estimados a partir
ting é obtida através das COPE.
de um rácio cif-fob (também designado por
margem cif-fob), que é apurado com base As transações sobre ouro não monetário são
nas estatísticas do comércio internacional, também incluídas na balança de bens. O ouro
por modo de entrega, e em informação do não monetário apresenta-se sob a forma de
setor segurador. Este rácio, calculado por barras, lingotes, folheado, pó ou outras formas
país, para os países da União Europeia, e por brutas ou semi-acabadas. Estas transações
continente, para os outros países, é aplicado estão incluídas nas estatísticas sobre o comér-
numa base mensal às importações por país cio internacional de bens compiladas pelo INE.
de origem, de modo a que o registo em bens A repartição geográfica da balança de bens
seja feito somente pelo valor das mercado- tem por base a repartição geográfica das esta-
rias propriamente ditas. tísticas do comércio internacional de bens do
INE, que apresenta as entradas e saídas de
O valor retirado às importações de bens do
mercadorias por país de origem e de destino,
comércio internacional do INE serve tam-
bém de base ao apuramento das importa- respetivamente.
ções de serviços de fretes de mercadorias e
de prémios brutos de seguros de transpor- 2.2. Serviços
te, incorporadas ambas na balança de servi-
Os Serviços representam as atividades produ-
ços. De referir que o valor que é retirado ao
tivas que alteram as condições das unidades
comércio internacional do INE não corres-
consumidoras, ou facilitam a troca de produ-
ponde exatamente ao que é acrescentado
tos ou de ativos financeiros. Os serviços não
à balança de serviços, em fretes e seguros,
devido à componente relativa aos serviços são normalmente itens distintos sobre os
de transportes e de seguros prestados por quais possam ser estabelecidos direitos de
residentes em Portugal, que não é regis- propriedade, e também não podem ser sepa-
tada na balança de pagamentos dado que rados da sua produção.
ambas as partes envolvidas nas transações A balança de serviços compreende uma gran-
são residentes em Portugal. de diversidade de serviços, classificados da
O merchanting corresponde, na perspetiva de seguinte forma:
Portugal, à compra de bens por um residente • Serviços de transformação de recursos
a um não residente combinada com a sub- pertencentes a terceiros: cobrem os ser-
sequente revenda dos mesmos a outro não viços de processamento, montagem, rotu-
residente, sem que os bens tenham cruzado a lagem, embalagem, etc., efetuados por um
fronteira de Portugal. agente económico que não é titular dos
O valor das operações de merchanting corres- bens em causa (não existe alteração na
ponde à diferença entre o valor da venda e o propriedade desses bens), que fica com
valor da compra dos bens envolvidos. Deste direito a um pagamento por parte do dono
modo, esta rubrica apresenta o valor das dos bens. O valor do serviço prestado não
34 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
• Outros serviços fornecidos por empresas: programas de rádio e televisão (ao vivo ou
são desagregados em (i) serviços de inves- gravados) e gravações musicais. Incluem-
tigação e desenvolvimento, (ii) serviços de -se alugueres de audiovisual e produtos
consultoria em gestão e outras áreas téc- relacionados, e acesso a canais de televisão
nicas, e (iii) serviços técnicos e relacionados encriptados (tais como serviços de cabo ou
com a empresa n.i.n.r.. satélite); produtos audiovisuais em massa,
comprados ou vendidos para uso perpétuo
–– Serviços de investigação e desenvolvi-
que são entregues por via eletrónica (des-
mento: tratam-se de serviços associa-
carregados da Internet); honorários recebi-
dos à investigação básica, investigação
dos por artistas (atores, músicos, dançari-
aplicada e desenvolvimento experimen-
nos), autores, compositores, etc. Excluem-se
tal de novos produtos e serviços. Ativida-
os encargos ou licenças de reprodução e /
des das ciências físicas, ciências sociais
ou distribuição de produtos audiovisuais, os
e humanidades estão incluídas, assim
quais são registados em “direitos cobrados
como o desenvolvimento de sistemas
pela utilização de propriedade intelectual
operacionais que representam avan-
n.i.n.r.”.
ços tecnológicos. Inclui, ainda, pesquisa
comercial relacionada com produtos • Bens e serviços das administrações públicas
eletrónicos, produtos farmacêuticos e n.i.n.r.: é uma categoria residual que cobre
biotecnologia. as transações governamentais (incluindo as
de organizações internacionais) em bens e
–– Serviços de consultoria em gestão e
serviços que não é possível classificar nou-
outras áreas técnicas: incluem (i) servi-
tras rubricas. Inclui, por exemplo, todas as
ços legais, contabilísticos, consultoria de
transações (quer de bens quer de serviços)
gestão e serviços de relações públicas;
realizadas por enclaves estrangeiros loca-
e (ii) publicidade, pesquisa de merca-
lizados em Portugal, como embaixadas,
do, e serviços de sondagem de opinião
consulados, bases militares e organizações
pública.
internacionais, com os residentes em Portu-
–– Serviços técnicos, relacionados com gal, e as transações realizadas pelos encla-
o comércio e outros serviços forneci- ves portugueses com os residentes nas eco-
dos por empresas: compreendem (i) nomias onde os mesmos estão situados.
serviços de arquitetura, de engenharia,
Regra geral, as componentes da balança de
científicos e outros serviços técnicos; (ii)
serviços são compiladas a partir da informação
serviços de tratamento de resíduos e
reportada ao Banco de Portugal pelos agen-
de despoluição, serviços de agricultura
tes económicos residentes através das COPE.
e de exploração mineira; (iii) serviços de
Contudo, existem alguns casos de natureza
leasing operacional; (iv) serviços relacio-
muito específica que são apurados a partir de
nados com o comércio; e (v) outros ser-
informação e / ou metodologia diferenciada:
viços entre empresas n.i.n.r..
• A rubrica Serviços de transformação de
• Serviços pessoais, culturais e recreativos: recursos materiais pertencentes a tercei-
incluem serviços de audiovisual e outros ros é estimada a partir da informação pro-
relacionados, e outros serviços pessoais, veniente das COPE e do comércio interna-
culturais e recreativos (por exemplo, ser- cional do INE;
viços de educação e de saúde, serviços de • Em resultado da estimativa da margem cif-
património e recreativos, e outros servi- -fob para as importações de mercadorias,
ços pessoais). Os serviços de audiovisual e é imputada às rubricas de Transportes e
outros relacionados são serviços e comis- de Serviços de seguros e pensões a parte
sões associadas à produção de imagens relativa a serviços de transporte e de segu-
em movimento (em filme ou em vídeo), ros de mercadorias que é prestada por não
Metodologia e compilação estatística 37
um ativo financeiro emitido por um não resi- de instrumento financeiro. Os derivados finan-
dente (rendimentos recebidos do exterior), ceiros e as opções sobre ações concedidas a
ou, simetricamente, da detenção por um não empregados não geram rendimentos.
residente de um ativo financeiro emitido por Os rendimentos de investimento direto
um residente (rendimentos pagos ao exterior). incluem os rendimentos que resultam das
Incluem rendimentos de capital (dividendos, posições de investimento direto entre residen-
lucros reinvestidos, rendimentos de fundos tes e não residentes. Por convenção no âmbi-
de investimento e rendimentos de quase- to do Eurosistema, a dívida entre entidades do
-sociedades) e de dívida (juros), assim como setor financeiro com relações de investimento
rendimentos de investimento de tomadores direto não é registada no investimento direto,
de seguros, fundos de pensões e regimes de logo, também os rendimentos daí resultantes
garantias estandardizadas. Ganhos e perdas não o são. Relativamente à categoria do inves-
de capital (potenciais ou realizados) não são timento direto, os rendimentos mais relevan-
classificados em rendimentos de investimento tes são os dividendos, os lucros reinvestidos
mas em reavaliações (devidas a variações de e os juros (Caixa 4 • “Tipos de rendimento de
taxa de câmbio ou de outros preços), na posi- investimento, de acordo com o ativo financei-
ção de investimento internacional. ro subjacente”). De referir que as empresas de
Nas estatísticas da balança de pagamentos investimento direto se servem muitas vezes de
de Portugal os rendimentos de investimento outras formas de distribuição de resultados,
encontram-se desagregados de acordo com ou dividendos, nomeadamente através da
a categoria funcional dos investimentos sub- prestação de bens e serviços sem contrapar-
jacentes, em conformidade com a desagrega- tida monetária ou a valores sub / sobre avalia-
ção disponibilizada na balança financeira e na dos. Contudo, estas situações raramente são
posição de investimento internacional, i.e., ren- detetadas, ocorrendo o seu registo nas rubri-
dimentos de investimento direto, rendimentos cas respetivas das balanças de bens e de ser-
de investimento de carteira, rendimentos de viços. Por fim, os rendimentos de investimen-
outro investimento e rendimentos de ativos to direto incluem também as rendas que são
de reserva. Adicionalmente, é fornecido, para devidas no âmbito do investimento imobiliário.
algumas categorias, detalhe adicional por tipo Esta informação é obtida através das COPE.
resultados obtidos pela empresa no mesmo que o rendimento associado seja registado
período, ou quando a empresa gera resultados na rubrica correspondente do rendimento de
negativos. investimento.
Dividendos
Juros
Os dividendos correspondem à parte dos resul-
Os juros correspondem ao rendimento devi-
tados distribuídos das empresas que são atri-
do aos titulares de determinado tipo de ativos
buídos aos detentores do capital. Devem ser
financeiros, concretamente instrumentos de
registados no momento em que os detentores
dívida (depósitos, títulos de dívida, emprésti-
do capital deixam de ter o direito de receber os
mos e outras contas a receber), por colocarem
dividendos (ex-dividend date), antes de quais-
esses ativos à disposição de outras entidades.
quer impostos. Na prática, contudo, os dividen-
Os rendimentos associados a DSE também
dos são normalmente registados na altura em
são considerados juros.
que são pagos. Existem alguns casos especiais
de dividendos: Os juros são registados de acordo com o
princípio contabilístico da especialização dos
• Distribuição de dividendos sob a forma de
exercícios, i.e., são registados como acrésci-
ações – não é reconhecida nas estatísticas
mos contínuos ao longo de todo o tempo de
da balança de pagamentos como dividendo,
detenção dos ativos financeiros subjacentes.
mas como lucro reinvestido;
Deste modo, o momento do registo do juro
• Ações bonificadas (novas ações que são dis- pode não coincidir com o do seu pagamento.
tribuídas aos acionistas na mesma propor-
O registo dos juros corridos é efetuado na
ção da estrutura de capital existente antes da
balança de rendimento primário e, simulta-
sua emissão) – não dão origem a qualquer
neamente, na balança financeira, na catego-
registo, uma vez que o direito do acionista
ria funcional e instrumento a que o juro diz
sobre a empresa permanece inalterado;
respeito. Quando o juro é pago, os registos
• Dividendos de liquidação (dividendos relati- ocorrem apenas na balança financeira: anu-
vos à liquidação de parte de uma empresa lação do juro corrido na categoria funcional e
ou da sua totalidade) – não são registados instrumento onde se registou anteriormente,
em rendimentos de investimento, mas em e aumento, por exemplo, de depósitos, pelo
desinvestimento na balança financeira dinheiro efetivamente recebido.
(como uma redução do investimento); e Na balança de rendimento primário apenas o
• Super-dividendos (pagamentos excecionais juro “puro” é registado, o que exclui a compo-
aos acionistas a partir da acumulação de nente SIFIM (Secção 2.2).
reservas ou da venda de ativos) – não são
registados em rendimentos de investimento,
mas em desinvestimento, na balança finan-
ceira (como uma redução do investimento).
Pela sua própria natureza, os lucros reinvesti- uma relação de investimento direto. No caso
dos não são objeto de comunicação ao Banco dos instrumentos de dívida, os rendimentos
de Portugal. Os dados são apurados a partir são também decompostos por maturidade
dos resultados das empresas de investimento dos títulos.
direto e dos dividendos comunicados através Os rendimentos relativos a investimento de
das COPE. A informação sobre os resultados carteira correspondem a:
das empresas é normalmente obtida através
• Juros corridos, no caso dos instrumentos
de um reporte de periodicidade anual, basea-
de dívida – para os juros corridos sobre
do nas contas anuais das empresas, sendo
os ativos (títulos emitidos por não residen-
que para períodos infra-anuais, são produzi-
tes na posse de residentes), os valores são
das estimativas pelo Banco de Portugal. A fon-
estimados com base no volume de títulos
te anual para este efeito é a IES, que contém,
constante no SIET e nas taxas de juro sub-
entre outras, informação sobre o balanço e a
jacentes a esses títulos, obtidas na CSDB;
demonstração dos resultados, assim como a
relativamente aos juros corridos sobre os
estrutura de participações e de participadas
passivos (títulos emitidos por residentes
das empresas residentes em Portugal.
na posse de não residentes), os valores são
Os dados relativos a investimento direto, obtidos a partir do SIET;
incluindo os seus rendimentos, são muitas
• Dividendos, para os títulos de participação
vezes sujeitos a revisões significativas devido,
no capital (exclui a participação em fun-
nomeadamente, à estimativa da componente
dos de investimento) – no caso dos títulos
de lucros reinvestidos. De facto, aquela com-
emitidos por não residentes na posse de
ponente depende fortemente do apuramen-
residentes, são utilizadas as mesmas fontes
to de resultados por parte das empresas, os
quais são normalmente conhecidos através referidas para os juros, sendo que, para as
das suas contas anuais. Para além do des- ações, é obtido na CSDB o dividendo que é
fasamento temporal na disponibilização das aplicado ao número de títulos identificado
contas anuais das empresas através da IES, no SIET; relativamente aos outros títulos de
a volatilidade deste tipo de resultados não participação no capital, os dividendos são
permite a sua antecipação com precisão, obtidos nas COPE. No caso dos títulos emi-
levando a que estes valores estejam sujeitos tidos por residentes na posse de não resi-
dentes, os dividendos de ações são obtidos,
a revisões significativas.
essencialmente, no SIET, e, relativamente
Os juros associados ao investimento direto aos outros títulos de participação no capi-
são compilados a partir da informação comu- tal, os dividendos são estimados a partir de
nicada nas COPE. taxas de referência de mercado; e
Os rendimentos de investimento de carteira • Rendimentos de unidades de participação
incluem fluxos entre residentes e não residen- (inclui dividendos e lucros reinvestidos):
tes resultantes da detenção de títulos de capi-
–– Para os ativos de investimento de cartei-
tal e de títulos de dívida que não estão classifi-
ra, parte dos rendimentos de unidades
cados em investimento direto ou em ativos de
de participação é obtida junto de um
reserva. Os rendimentos de investimento de
conjunto de países europeus que par-
carteira assumem a mesma tipologia dos ren-
tilham com o Banco de Portugal infor-
dimentos de investimento direto, i.e. podem
mação sobre os fundos de investimento
ser dividendos, lucros reinvestidos ou juros
emitidos por residentes nesses países e
(Caixa 4 • “Tipos de rendimento de investimen-
detidos por residentes em Portugal. A
to, de acordo com o ativo financeiro subjacen-
parte restante é apurada na base dos
te”). Os rendimentos do investimento em fun-
rendimentos pagos, a partir das COPE.
dos de investimento são sempre registados na
categoria dos rendimentos de investimento de –– Quanto aos passivos de investimento de
carteira, independentemente da existência de carteira, os rendimentos de unidades de
Metodologia e compilação estatística 41
com base na informação reportada nas COPE Os impostos de capital consistem em impos-
e nas COL; na informação recolhida pelo tos cobrados em intervalos irregulares e pou-
Departamento de Sistemas de Pagamentos co frequentes sobre os valores dos ativos ou
do Banco de Portugal sobre transferências de do património líquido detidos pelos agentes
fundos realizadas através de instituições de económicos, ou sobre os valores dos ati-
pagamento; nos dados sobre população imi- vos transferidos entre agentes económicos.
grante, divulgada pelo Serviço de Estrangeiros Incluem impostos sobre as sucessões e os
e Fronteiras; e nos dados sobre população impostos sobre doações que incidem sobre o
emigrante, recolhidos a partir do Observatório capital dos beneficiários.
da Emigração. As ajudas ao investimento são transferên-
cias de capital, em dinheiro ou em espécie,
2.5. Balança de capital feitas para financiar a totalidade ou parte
dos custos de aquisição de ativos fixos. No
A balança de capital compreende a aquisição /
caso das ajudas em dinheiro, os seus bene-
alienação de ativos não financeiros não produ-
ficiários são obrigados a utilizá-las para fins
zidos e as transferências de capital.
de formação bruta de capital fixo, sendo que,
em alguns casos, essas ajudas visam a con-
Aquisição / alienação de ativos não finan- cretização de projetos de investimento espe-
ceiros não produzidos cíficos, como grandes projetos de construção
Os ativos não financeiros não produzidos con- (Caixa 5 • “Tratamento estatístico dos fundos
sistem em: (a) recursos naturais (terra, direi- comunitários”).
tos sobre minérios, direitos florestais, água,
As outras transferências de capital incluem:
direitos de pesca, espaço aéreo e espetro
(i) o perdão de dívida; (ii) grandes indemni-
eletromagnético); (b) contratos, locações e
zações de seguros não-vida (por exemplo,
licenças; e (c) ativos de marketing (marcas) e
na sequência de catástrofes), (iii) garantias
goodwill. As aquisições e alienações de ativos
pontuais e outras premissas de dívida; (iv) os
não financeiros não produzidos são regista-
pagamentos de natureza não recorrente em
das separadamente, pelo valor bruto e não
indemnização por danos extensos ou prejuízos
pelo líquido. Apenas a compra / venda de tais
não cobertos por apólices de seguros; (v) gran-
ativos, e não a sua utilização, deve ser regis-
des presentes, doações e heranças (legados),
tada nesta rubrica da balança de capital. Não
incluindo para instituições sem fins lucrativos;
se incluem aqui as compras / vendas de terra
e (vi) algumas contribuições de capital para
e outros recursos naturais porque se assume
organizações internacionais ou instituições
que estes são detidos por entidades residen-
sem fins lucrativos (se não der origem a capital
tes fictícias ("nocionais"). Portanto, mudanças
próprio).
de propriedade sobre a terra (ou imóveis) são
normalmente classificadas como operações
financeiras no âmbito do investimento direto.
Transferências de capital
Ao contrário das transferências correntes,
nas transferências de capital existe uma
transferência de um ativo (outro que não
dinheiro ou géneros) entre duas partes, ou
uma ou ambas as partes adquirem ou alienam
um ativo (outro que não dinheiro ou géneros),
ou é perdoado um passivo por parte do res-
petivo credor.
As transferências de capital consistem em
impostos de capital, ajudas ao investimento e
outras transferências de capital.
45
Os fundos comunitários recebidos por agen- Cada fundo comunitário pode ser registado
tes económicos em Portugal podem ser regis- integral ou parcialmente nas balanças referi-
tados em três balanças distintas, consoante a das. No quadro a seguir apresenta-se o tipo de
natureza dos fundos: afetação de cada fundo comunitário às com-
• Em rendimento primário são registados os ponentes das balanças corrente e de capital
subsídios; (Quadro 2), nos termos definidos pelo INE
para efeitos das contas nacionais.
• Em rendimento secundário são incluídas as
outras transferências correntes; e
• As transferências de capital são registadas
na balança de capital.
Quadro 2 • Afetação dos fundos comunitários às componentes das balanças corrente e de capital
Para além de envolver várias rubricas das con- Quando as administrações públicas fazem
tas externas, outro aspeto metodológico espe- adiantamentos aos beneficiários por conta do
cífico ao tratamento dos fundos comunitários recebimento futuro de fundos comunitários,
efetuam-se os mesmos registos por ordem
tem a ver com o momento do registo nas esta-
inversa, ou seja:
tísticas externas. Normalmente, são reconheci-
dos dois momentos distintos: • Quando é efetuado o adiantamento aos
beneficiários finais dos fundos, é registado
• Quando os fundos são transferidos para
um aumento do ativo das administrações
Portugal, é efetuado um registo apenas na
públicas, por contrapartida do registo na
balança financeira, designadamente um rubrica respetiva da balança corrente e / ou
aumento do passivo das administrações da balança de capital;
públicas (que é, habitualmente, o setor rece-
• Quando os fundos são transferidos para
tor dos fundos);
Portugal, é registada a amortização do ativo
• Quando os fundos são distribuídos aos seus externo anteriormente gerado para o setor
beneficiários finais, é registado o seu valor na das administrações públicas.
balança corrente e / ou na balança de capital, Em termos esquemáticos, a transferência de
conforme a afetação apresentada no quadro fundos comunitários para Portugal dá origem
em cima, por contrapartida da redução do aos seguintes registos na balança de paga-
passivo das administrações públicas. mentos (Quadro 3).
46 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
1. No momento da transferência do fundo para Portugal (ex. transferência no valor de 10 000 €):
Crédito Débito
Outro investimento (administrações públicas) 10 000 €
Passivos: outras contas a pagar
Outro investimento (banco central ou OIFM) 10 000 €
Ativos: numerário e depósitos
Crédito Débito
Rendimento primário; Rendimento secundário ou 10 000 €
Balança de capital
Outro investimento (administrações públicas) 10 000 €
Passivos: outras contas a pagar
De referir, por último, que, em Portugal, o tra- encontra totalmente alinhado com o tratamen-
tamento conferido aos fundos comunitá- to conferido aos mesmos no âmbito das con-
rios no âmbito das estatísticas externas se tas nacionais.
A é investidor direto
na B e na C (empresas
A
de investimento direto)
Economia 1
100 %
B A controla B e tem
Economia 2 40 %
influência significativa
em C
30 % C
Economia 3
100 %
D e E são empresas
de investimento direto
D de B (investidor direto)
E e de A (controlador final),
Economia 4 via B
20 %
F é empresa de investimento
direto de C, mas não é de A
F A é controlador final de B,
Economia 5 C, D e E
controlo ou influência sobre outra quer quan- Uma vez identificadas as relações de investi-
do detém diretamente o capital que lhe confere mento direto, todos os fluxos financeiros subse-
direitos de voto sobre ela, quer quando detém quentes realizados entre empresas com relação
esses direitos de voto indiretamente, por via da de grupo residentes em diferentes economias
relação com outra(s) empresa(s): devem ser classificados em investimento dire-
to. Tomando como exemplo as relações entre
• No caso da participação direta no capital,
empresas apresentadas na Figura 3, a compi-
considera-se que existe uma relação de
lação de estatísticas de investimento direto na
investimento direto quando ela confere ao
perspetiva da Economia 1 leva à inclusão das
investidor mais de 10 % dos direitos de voto
operações financeiras estabelecidas entre a
na empresa de investimento direto; e
empresa A (Economia 1) e as empresas B, C, D e
• As relações indiretas de investimento dire- E, respetivamente das economias 2, 3 e 4.
to verificam-se quando os direitos de voto
No investimento direto excluem-se, contudo,
sobre uma empresa são exercidos através
as operações financeiras relacionadas com:
da detenção de direitos de voto sobre outra
(i) transações sobre DSE, moedas e direitos de
empresa que, por sua vez, detém direitos de
pensão relacionados, (ii) dívida entre bancos e
voto sobre aquela. No fundo, o controlo ou
outros intermediários financeiros exceto socie-
influência sobre uma empresa é exercido
dades de seguros e fundos de pensões11, que
através da cadeia de relações de investimen-
são classificadas em investimento de carteira
to direto (sob determinadas regras).
ou outro investimento, (iii) investimentos em
Quando o investidor direto detém, direta ou fundos de investimento, que, por convenção no
indiretamente, mais do que 50 % dos direitos âmbito do Eurosistema, são incluídos no inves-
de voto na empresa de investimento direto, timento de carteira, e (iv) derivados financeiros
considera-se que esta está em situação de con- e opções sobre ações concedidas a emprega-
trolo; se aquela percentagem se situar entre dos, que são classificados na categoria de deri-
10 % e 50 %, então a situação é de significativa vados financeiros (que não reservas) e opções
influência. sobre ações concedidas a empregados.
48 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
controlador for não residente, então as no exterior, e o investimento reverso por elas
transações da empresa irmã residente são realizado é subtraído ao investimento direto
de investimento do exterior. Incluindo o inves- de Portugal no exterior. Se, pelo contrário, o
timento reverso e exemplificando com o caso último controlador daquela mesma empresa
português, se o último controlador de uma for não residente, então todas as suas opera-
empresa irmã residente for também residente ções com outras empresas do mesmo grupo
em Portugal, então todas as transações reali- não residentes são consideradas investimento
zadas por essa empresa com outras do mes- direto do exterior em Portugal e o investimen-
mo grupo residentes no exterior devem ser to reverso é subtraído ao investimento direto
inscritas no investimento direto de Portugal do exterior em Portugal.
Entidades com presença física nula são criadas, (ii) uma parte significativa do seu
ou diminuta balanço encontra-se sob a forma de ativos e
As estratégias de investimento internacional passivos face a não residentes, (iii) têm poucos
passam muitas vezes pela criação de entidades ou nenhuns empregados, e (iv) têm presença
de finalidade especial em determinadas locali- física nula ou diminuta na jurisdição em que
zações, com o objetivo de servir, sobretudo, as foram estabelecidas. Algumas destas empresas
empresas do grupo e não as economias onde existem sobretudo para deter e gerir a riqueza
se encontram instaladas. de privados, deter ativos para titularização, emi-
tir dívida em nome das empresas do grupo ou
As entidades de finalidade especial (tam-
simplesmente deter participações em empre-
bém conhecidas, na designação inglesa,
sas, sem realizar uma gestão ativa das mesmas.
por Special Purpose Entities (SPE), que podem
incluir, designadamente, conduits, international Dependendo do objetivo da análise, estas
business companies, financing subsidiaries, hol- empresas podem distorcer a interpretação das
ding companies, shell companies, shelf compa- estatísticas de investimento direto, sobretudo
nies ou brass plate companies) 12
são empresas quando se quer aferir a motivação e o impac-
que se encontram registadas em economias to do investimento direto numa economia,
onde são oferecidos determinados benefícios, designadamente o grau de internacionalização
como por exemplo taxas de imposto mais conseguido através deste tipo de investimento.
baixas, maior rapidez e menores custos nos As SPE estão normalmente associadas a trans-
processos de criação de empresas, menos ferências internacionais de fundos, de mon-
barreiras legais, e confidencialidade. Embora tantes por vezes muito significativos, estando
não exista um critério objetivo definido inter- algumas economias envolvidas apenas na pas-
nacionalmente para a identificação deste tipo sagem desses fundos para o seu destino final.
de empresas, tipicamente (i) os seus detento- Nas economias onde estas empresas estão
res são não residentes nas jurisdições em que instaladas, os fluxos em causa, muitas vezes
52 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
Gráfico 1 • 100 %
Importância
das SPE no 80 %
investimento
direto de países 60 %
selecionados,
2013 40 %
Noruega
Luxemburgo
Chile
Hungria
Áustria
Espanha
Polónia
Holanda
Dinamarca
Portugal
passivos). rendimentos.
por alguns países da Área do Euro com con- disponibilização de títulos como colateral de
trapartida em Portugal, no âmbito das esta- um empréstimo ou depósito. Estas opera-
tísticas monetárias e financeiras, constituem ções podem assumir contornos distintos, mas
as fontes de informação de base aos apura- visam, no essencial, a obtenção de capital, que
mentos de depósitos (ativos) e de emprésti- é garantido através de títulos.
mos obtidos (passivos). A informação relativa Por convenção no âmbito do Eurosistema, todas
a depósitos (ativos) é complementada, em as operações deste tipo são tratadas como
momentos posteriores, com os dados do empréstimos garantidos e, nessa medida, são
Bank for International Settlements (BIS) relati- registadas no outro investimento. Este trata-
vos a estatísticas de posições externas vis-à- mento reflete de forma mais adequada a moti-
-vis Portugal; e vação subjacente: a intenção de recompra dos
• A informação relativa aos outros setores é títulos significa que a propriedade económica
obtida, principalmente, através das COPE. dos mesmos permanece com o dono origi-
Para o apuramento do instrumento de cré- nal, que assume os riscos e recebe os bene-
ditos comerciais são utilizadas, para além fícios a ela associados, ainda que possa não
das COPE, estimativas apuradas a partir dos ser, de facto, o proprietário legal dos mesmos.
dados do comércio internacional e dos prazos Adicionalmente garante-se, deste modo, total
médios de pagamentos e recebimentos face consistência com o que é preconizado no âmbi-
ao exterior estimados a partir da informa- to das outras estatísticas, nomeadamente nas
ção reportada trimestral e anualmente pelas estatísticas monetárias e financeiras.
empresas no âmbito da Central de Balanços
do Banco de Portugal (ITENF e IES). Operações intra-Eurosistema
Nesta categoria funcional, é de referir ainda Existe um conjunto significativo de transa-
que algumas estatísticas de posições são apu- ções e posições intra-Eurosistema, i.e. entre
radas por acumulação de fluxos (por exemplo os bancos centrais da Área do Euro e o BCE,
os regimes de seguros, pensões e garantias cujo tratamento estatístico foi convenciona-
estandardizadas, a partir dos fluxos das COPE), do no âmbito do Eurosistema, e que importa
e algumas estatísticas de fluxos são apuradas aqui detalhar, na perspetiva da compilação
a partir de posições (por exemplo os dados das estatísticas da balança de pagamentos e
obtidos através do reporte às estatísticas da posição de investimento internacional de
monetárias e financeiras relativos ao setor das Portugal:
outras instituições financeiras monetárias). • Transferência inicial de ativos de reserva
Aos valores de posições ativas e passivas de para o BCE: os direitos em euros sobre o
depósitos e empréstimos, apurados através BCE que resultam da transferência inicial
das fontes descritas em cima, acrescem ainda de reservas internacionais do Banco de
os juros corridos e não pagos. Esta componen- Portugal estão registados em “outro inves-
te é estimada para todos os setores exceto as timento / banco central / ativos / numerário
instituições financeiras monetárias, em que e depósitos”;
o valor é extraído da informação de balanço. • Remuneração dos ativos sobre o BCE resul-
O método utilizado baseia-se na diferença entre tantes da transferência do Banco de Portu-
o valor calculado de juros corridos registado no gal para as reservas comuns: a remunera-
rendimento primário (rendimentos do outro ção da contribuição do Banco de Portugal
investimento) e os juros efetivamente pagos, para as reservas do BCE é considerada um
que são obtidos através do reporte COPE. recebimento de rendimento intra-Euro Área
sendo registada em “balança corrente / ren-
Acordos de recompra, empréstimos de dimento primário / rendimento do investi-
títulos e outros instrumentos relacionados mento / rendimento do outro investimento”;
O direito da União Monetária Europeia pre- A emissão e circulação das notas euro dá origem
vê um sistema de pluralidade de emissores a dois tipos de registos nas estatísticas externas:
de notas de banco, ao abrigo do qual o BCE • A diferença entre o valor das notas euro
e os Bancos centrais nacionais (BCN) emitem atribuídas a cada BCN, em conformidade
notas denominadas em euros. As responsabi- com a tabela de repartição de euros, e o
lidades pela emissão do valor total das notas valor das notas euro que esse BCN coloca
de euro em circulação são repartidas pelos em circulação é considerada um saldo intra-
membros do Eurosistema de acordo com um -Eurosistema e é registada como um ativo /
critério objetivo, que consiste na aplicação passivo em "Outro investimento / Banco cen-
proporcional da participação de cada BCN tral / Numerário e depósitos";
no capital realizado do BCE prevista no Artigo
29.º – 1 dos Estatutos do Sistema Europeu de • A exportação/importação de notas euro é
Bancos Centrais (SEBC). Esta chave de reparti- registada, respetivamente, como passivo /
ativo em "Outro investimento / Banco cen-
ção é ajustada para passar a considerar o BCE
tral / Numerário e depósitos".
também como responsável por uma parte do
total emitido. Dado que não coloca em circulação notas de
A emissão de notas de euro não está sujeita a euro, o BCE é titular de créditos intra-Eurosiste-
limites quantitativos ou outros, uma vez que a ma sobre os BCN de montante correspondente
colocação de notas em circulação é efetuada à percentagem das notas de euro que lhe estão
em função da procura, sendo que o regime de atribuídas. A remuneração destes saldos intra-
emissão de notas de euro se baseia no prin- -Eurosistema produz efeitos nas posições rela-
cípio do seu não repatriamento (i.e., não se tivas dos BCN em termos de proveitos.
aplica às notas de euro a prática do repatria- Na perspetiva das estatísticas externas de
mento das notas denominadas nas unidades Portugal, os fluxos e posições associados à
monetárias nacionais para o respetivo banco emissão e circulação de notas euro são regista-
central emissor). dos da seguinte forma (Figura 5):
Figura 5 • Registo dos fluxos e posições associados à emissão e circulação de notas euro
nas estatísticas externas de Portugal
Ativo Passivo
Emissão Emissão
Valor – –
Notas colocadas em circulação Notas na posse de residentes
Figura 6 • Estatísticas externas no domínio das contas nacionais, por setor institucional
Particulares
Resto Sociedades
do mundo não financeiras
Administrações Sociedades
públicas financeiras
Estatísticas externas
60 Banco de Portugal • Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional • 2015
Deste modo, existe uma relação muito próxima Correspondência entre os principais agre-
entre as estatísticas externas e as estatísticas gados das contas nacionais e das estatísti-
das contas nacionais, refletida na equivalência cas externas
entre agregados e na utilização cruzada de • Equivalência entre os saldos das contas
resultados. Adicionalmente, porque se tratam nacionais e das estatísticas externas
de estatísticas macroeconómicas de âmbito
Os resultados apurados no âmbito das contas
diferenciado, permitem a exploração não só
nacionais podem ser traduzidos em três saldos
das interligações mas também das comple-
mentaridades entre elas, o que enriquece a principais: (i) capacidade / necessidade de finan-
análise no contexto das relações da economia ciamento da economia; (ii) poupança financeira;
com o exterior. (iii) riqueza financeira. A Figura 7 ilustra a cor-
respondência entre os saldos apurados para
A seguir ilustram-se os principais segmentos
o setor do resto do mundo e as estatísticas
de interseção e de complementaridade entre
externas.
estas estatísticas.
Capacidade / necessidade
de financiamento Saldo das balanças corrente
Transações não financeiras
e de capital
(Recursos – Empregos)
Poupança financeira
Transações financeiras Saldo da balança financeira
(Saldo ativos – Saldo passivos)
• Contributos das estatísticas externas para procura interna bruta, para o cálculo do
os agregados das contas nacionais produto interno bruto a preços de merca-
do, na perspetiva das contas nacionais;
A compilação dos agregados de contas nacio-
nais utiliza resultados apurados ao nível das • Os saldos dos rendimentos primários e das
estatísticas externas, como os que ilustra a transferências correntes com o exterior,
Figura 8. que permitem apurar, a partir do produ-
to interno bruto a preços de mercado, os
Esta análise evidencia que existem resulta- agregados de rendimento nacional bruto e
dos do lado das estatísticas externas que rendimento nacional disponível bruto.
são muito relevantes para o apuramento
Por último, destaca-se que as estatísticas
de alguns agregados das contas nacionais,
externas são fundamentais para o apura-
como por exemplo:
mento da capacidade / necessidade líquida
• O saldo da balança comercial (operações de financiamento de uma economia, sendo
com o exterior sobre bens e serviços), necessário, para o efeito, o saldo das trans-
que equivalem à procura externa líquida, ferências de capital da balança de capital.
uma componente que concorre, a par da
Relação entre as estatísticas externas e as contas nacionais 61
Poupança nacional
* Transferências em sentido lato. Inclui, no caso da balança de capital, a aquisição / alienação de ativos não
financeiros não produzidos.
Contas financeiras
• Registo de dupla entrada versus quádru- dado que as contas nacionais cobrem
pla entrada todos os agentes económicos de uma
economia (residentes e não residentes)
–– Nas estatísticas externas as transações e para cada agente envolvido numa tran-
de uma economia com o exterior são sação é aplicado o princípio do duplo
registadas de acordo com o princípio das registo. Os registos efetuados nas contas
partidas dobradas (dupla entrada), ou nacionais traduzem ambas as perspeti-
seja, a cada operação com um não resi- vas, quer a do setor originador quer a do
dente está associado um registo a crédito setor de contraparte.
e outro a débito, de igual valor, nas con-
tas do agente económico residente nessa
economia. As estatísticas externas refle-
tem, deste modo, os registos na perspeti-
va do agente económico residente.
–– Nas contas nacionais os registos respei-
tam o princípio da quádrupla entrada,
Notas 63
Notas
1. Reconhecimento contabilístico de uma redução ou anulação de valor de um ativo.
2. Corresponde, na perspetiva de Portugal, à compra e subsequente revenda de bens a não residentes, sem que os mesmos atravessem a fronteira de
Portugal.
3. Princípio contabilístico geral através do qual os proveitos e os custos de um período devem ser registados contabilisticamente no exercício a que dizem
respeito, independentemente do momento em que são pagos ou recebidos.
4. http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_IFM_listas.pdf (A.1.2 e A.1.3)
5. http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_FI_listas.pdf;
http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_OIF_listas.pdf;
http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_AF_listas.pdf;
http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_IFCP_listas.pdf
6. http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_CSFP_listas.pdf
7. http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/Publicacoes/SEC2010_AP_listas.pdf
8. Artigo 13.º da Lei Orgânica do Banco de Portugal.
9. Adicionalmente, o Manual de Procedimentos das Estatísticas de Operações e Posições com o Exterior, disponibilizado no sítio institucional do Banco de
Portugal na Internet, especifica os requisitos de reporte constantes da Instrução n.º 27/2012, contendo informação nomeadamente sobre a nomenclatura
das operações abrangidas pelo reporte, as definições genéricas, as tabelas de desagregação aplicáveis à informação a reportar, o formato dos ficheiros e
formulários a enviar, bem como os aspetos técnicos e operacionais associados à sua transmissão.
10. O critério é designado por Framework on Foreign Direct Investment Relationships (FDIR) e foi definido pela OCDE de forma consistente com o BPM6, do
FMI, e com a BD4, da OCDE.
11. Inclui sociedades de titularização envolvidas em operações de titularização (FVC – financial vehicle corporation), sociedades financeiras de corretagem,
sociedades financeiras de concessão de crédito e sociedades financeiras especializadas.
12. Por simplificação, a referência a este tipo de entidades passa a ser feita através da sigla SPE.
13. Ver também a publicação do BCE Statistical treatment of the Eurosystem’s international reserves de outubro de 2000, https://www.ecb.europa.eu/pub-
pdf/other/statintreservesen.pdf.
14. O Artigo 105.º – 2 do Tratado que cria a União Europeia e o Artigo 116.º - 3 atribuem ao Eurosistema o direito exclusivo de deter e gerir as reservas
oficiais externas dos Estados-Membros desde o início da 3.ª Fase da União Económica e Monetária.
15. O SDDS Plus compreende a um conjunto de indicadores estatísticos padronizados, correspondendo ao nível mais exigente de detalhe de difusão
estatística criado pelo FMI, com o objetivo de reforçar a transparência, integridade, atualidade e qualidade da informação estatística. Inclui informação
sobre dados macroeconómicos, política de divulgação ao público, política de revisões e metodologias subjacentes à produção da informação estatística.
ANEXOS
1. Detalhe informativo sobre estatísticas
externas publicado pelo Banco de Portugal
– Fluxos
Instrumentos de dívida
De investidores diretos em empresas de investimento direto
De empresas de investimento direto em investidores direto
Entre empresas irmãs
Investimento carteira • •
Participações de capital e de fundos de investimento •
Títulos de participações no capital
Participações em fundos de investimento
Títulos de dívida •
Derivados financeiros e opções sobre ações concedidas aos empregados • •
Outro investimento • •
Outras participações
Numerário e depósitos
Empréstimos
Regimes de seguros, pensões e garantias estandardizadas
Créditos comerciais e outras contas a receber / pagar
Direitos de saque especiais (DSE)
Ativos de Reserva •
Ouro monetário
Ouro em barra
Contas em ouro não afetado
Direitos de saque especiais (DSE)
Posição de reserva no FMI
Outros ativos de reserva
Numerário e depósitos
Títulos
Participações de capital e de fundos de investimento
Títulos de dívida •
Derivados financeiros e opções sobre ações concedidas aos empregados
Outros
Erros e Omissões
Anexos 69
Informação complementar
Balanças corrente e de capital – Séries ajustadas de sazonalidade
Balança corrente
Bens e serviços
Bens
Serviços
d.q. Transportes
d.q. Viagens e turismo
Rendimento primário
Rendimento secundário
Referências
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Balance of Payments and International Investment
Banco de Portugal, 1999, Nova Apresentação
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https://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/ 716c38e52
PublicacoesEstatisticas/Biblioteca%20de%20Tumbnails/
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Administrações Públicas
http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/
MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/LEFE/
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Websites
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e da Dívida Pública
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