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COVELLITA – CuS

A covellita, também conhecida como “covellina”, é um sulfeto bastante frequente, um minério de Cu.
Pode ser o principal mineral de minério de Cu da jazida, mas normalmente é de importância subordinada,
ocorrendo em quantidades pequenas como material de alteração.
Macroscopicamente pode ser reconhecida por sua cor azul profunda, quase preta. Entretanto,
raramente forma cristais maiores; geralmente é maciça e ocorre em lamelas muito pequenas, microscópicas.
Na maioria dos casos é relativamente pura, apenas com Cu e S. Possui como variedades a covellita-Ag e a
covellita-Se. Também pode conter Pb e Fe. Pode substituir vários outros minerais pseudomorficamente.

1. Características:

Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem


Hexagonal, Azul índigo escuro a Normalmente maciço, granular {0001} perfeita,
dihexagonal preto, embaçando e foliado. Lamelas são {10-10} indistinta.
bipiramidal. fortemente para roxo, comuns. Forma cristais
Tenacidade púrpuro e vermelho. tabulares hexagonais em
rosetas. Cristais até 10 cm.
Flexível.
Maclas Fratura Dureza Mohs Partição
Não Irregular 1,5 - 2 Não
Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)
Cinza a preto, com Submetálico a resinoso, Opaco. Em lamelas muito 4,6
brilho metálico. fosco quando maciça. finas verde translúcido.

2. Geologia e Depósitos:
Covellita forma-se como mineral secundário na zona de oxidação de depósitos de minérios sulfetados
de cobre, pela alteração de calcopirita, bornita, calcocita e outros. Dificilmente um minério de Cu não mostra
covellita. A covellita pode formar uma camada superficial de embaçamento nos outros minerais.
Nos depósitos de cobre pórfiro é um produto comum de alteração supergênica, participando da
assembleia de minerais secundários que se desenvolve ali. Nos depósitos de cobre do tipo “red-beds” a
covellita associa-se à calcocita. Covellita também é encontrada em depósitos do tipo IOCG (“iron oxide copper
gold ore deposits”), onde se desenvolve a partir da calcopirita, que é o principal mineral de cobre primário.
Raramente ocorre como mineral primário em depósitos hidrotermais de alta temperatura. Muito
raramente ocorre em sublimados vulcânicos, onde foi reconhecida, tanto assim que a localidade-tipo é o
vulcão Vesúvio, na Itália.

3. Associações Minerais:
Associa-se a muitos outros minerais de cobre, primários ou secundários. Nos primários os mais
importantes são bornita, calcocita, calcopirita, djurleita, digenita, enargita, luzonita e tetraedrita-tennantita.
Entre os secundários há pelo menos uma dezena de minerais verdes (malaquita, pseudomalaquita,
dioptásio, antlerita, atacamita, paratacamita, libethenita, calcantita, brochantita e crisocola), pelos menos
cinco minerais azuis (azurita, plancheita, linarita, crisocola e calcantita), dois vermelhos (cobre nativo e
cuprita) e um preto (tenorita); vários outros são possíveis.
Também associa-se a quartzo, calcita, outros sulfetos (pirita, marcassita, linnaeita, etc.), óxidos
(magnetita, hematita), enxofre nativo, prata nativa, goethita (limonita) e outros.
4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:
A covellita ao microscópio de Luz Transmitida é completamente opaca, não mostra a cor azul nem se
percebe flocos finos translúcidos em verde, conforme consta na literatura.
Seus índices de refração são nε = 2.620 e nω = 1.450. Possui birrefringência máxima de 1,170 e relevo
extremamente alto. É uniaxial positivo.

5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:


Preparação da amostra:
A dureza ao polimento é muito baixa, um pouco menor que aquelas de galena e calcopirita. É similar
àquela da calcocita: seções basais um pouco menos duras que calcocita e seções prismáticas um pouco
mais duras que calcocita. A dureza é maior que aquela da acanthita e cerargirita. Apesar desta dureza baixa,
covellita adquire um excelente polimento com facilidade.
Como em todos os minerais de dureza baixa (grafita, molibdenita, etc.), durante o desbaste e o
polimento deve-se evitar de pressionar a amostra fortemente e é aconselhável realizar o polimento com um
abrasivo mais fino e com mais água que o normal para reduzir a quantidade de sulcos de polimento.

ND Cor de reflexão: Azul profundo a branco-azulado; o tom de azul depende da seção em que
o grão foi seccionado.

Pleocroísmo: Forte entre azul intenso ou violeta suave com branco-azul.


É o pleocroísmo mais notável e diagnóstico de todos os minerais de
minério. Seções basais mostram cores em azul indigo e não mostram
pleocroísmo porque constituem seções de isotropia.

Refletividade: 3,4 - 19.1%. Birreflectância: forte.

NC Isotropia / Anisotropia extremamente forte em tons de laranja intenso luminoso a marrom, menos
Anisotropia: comumente marrom avermelhado. Efeitos de cor desta intensidade são conhecidos
em pouquíssimos minerais de minério.
Quando as “covellitas” apresentam, a NC, cores azuis ao invés de laranja ou então
tons laranja muito mais fracos e menos luminosos, trata-se de spionkopita (Cu39S28)
e/ou yarrowita (Cu9S8), uma mistura que na literatura antiga foi designada como
variedade de covellita e denominada de “blaubleibender Covellin” (em alemão,
“covellita que continua azul”).

Reflexões Não apresenta.


internas: Quando a seção é muito oblíqua à clivagem podem ocorrer algumas reflexões, mas
são apenas listras coloridas estreitas que não mostram a cor verde que covellita
apresenta em flocos extremamente finos.

Pode ser confundida com: nenhum outro mineral em função das características ópticas marcantes.
A ND há vários outros minerais de cobre azuis, como digenita e djurleita que, entretanto, possuem
características ópticas muito diversas.

Forma dos grãos: covellita normalmente é idiomórfica, apesar de ser produto de alteração que se
formou depois dos minerais de minério associados. Os cristais são lamelares, normalmente finos, micáceos.
O tamanho dos cristais varia muito (submicroscópico a centimétrico) e pode se apresentar em agregados
radiais. Rosetas e agregados podem ocorrer.
Cores anômalas em covellita podem ser de dois tipos. (i) Há covellitas que mostram cores azuis mais
fracas e que estão dispostas quase sempre como pequenas lamelas paralelas a {0001} em calcocita. Podem
ocorrer junto com covellitas “normais” na mesma seção. (ii) Um outro caso são “covellitas” que mostram, a
NC, as mesmas cores que a ND (cinza-azul ao invés dos tons laranja luminosos das covellitas “normais”) ou
então cores laranjas muito mais fracas e menos luminosas. Trata-se de spionkopita (Cu39S28) com yarrowita
(Cu9S8), uma mistura que na literatura antiga foi designada como variedade de covellita e denominada de
“blaubleibender Covellin” (em alemão, “covellita que continua azul”). São produtos de alteração que se formam
a partir da calcocita ou da digenita. Podem substituir calcopirita, bornita ou digenita.
Clivagem paralela a {0001} somente pode ser visível se os cristais forem grandes.
Sulcos de polimento muito finos muitas vezes são visíveis, especialmente em cristais maiores e a NC.
Maclas não ocorrem.
Zonação não ocorre.
Deformações são possíveis, mas como a covellita é um mineral de formação tardia, deformações
devidas a tectonismo raramente são visíveis. Lamelas deformadas, por outro lado, ocorrem.
Intercrescimentos, frequentemente orientados, ocorrem com muitos outros sulfetos (esfalerita,
calcopirita, calcocita, digenita, bornita, galena, marcassita, pirita, cuprita e aikinita). Muitos desses
intercrescimentos podem ser texturas formadas por substituições.
Substituições são extremamente comuns, visto que covellita é um produto da oxidação que ocorre
na zona de oxidação como fase inicial de alteração ou como mineral de cimentação.
Substituições 1: a covellita substitui a calcopirita, podendo formar pseudomorfoses completas. Esta
substituição pode ser (i) completamente irregular em relação às formas da calcopirita ou (ii) a covellita pode
estar com a clivagem (0001) disposta paralelamente às faces do esfenóide principal da calcopirita. (iii) Em
casos isolados a calcopirita está toda ou quase toda substituída, apenas a disposição das lamelas de covellita
informa sua origem a partir da calcopirita. (iv) Em casos raros a alteração da calcopirita forma uma mistura
de covellita e marcassita, que estão intercrescidos de maneira orientada. (v) Em depósitos subvulcânicos a
calcopirita, com a adição de S, é substituída por pirita e covellita.
Substituições 2: covellita pode substituir, parcialmente ou integralmente (pseudomorfos) uma série de
minerais, incluindo enargita, tennantita-tetraedrita, bornita, calcocita, stromeyerita, emplectita, estannita,
esfalerita, galena e pirita.
Substituições 3: covellita desenvolve-se seletivamente em desmisturas com bornita. Quando bornita
está desmisturada na calcopirita, covellita desenvolve-se muito mais na bornita. Quando bornita está
desmisturada (mirmequitos) na calcocita, covellita desenvolve-se muito mais na calcocita.
Substituições 4: em minerais de minério que não contém cobre também pode ocorrer covellita,
penetrando pelos planos de clivagem. Este processo se verifica na esfalerita e na galena. Na esfalerita a
covellita pode ocupar grandes porções. Na galena pode ocorres substituição por calcocita, que altera para
covellita, sendo que a disposição dos flocos de covellita mostra a clivagem original da galena. Originam-se,
desta forma, pseudomorfos de covellita sobre galena. A formação de covellita em mirmequitos de galena com
sulfetos de cobre gera texturas que simulam mirmequitos de covellita na galena.
Substituições 5: pirita é substituída por covellita, mas são casos raros.
Substituições 6: a substituição de covellita por outros minerais é rara, desconsiderando processos de
oxidação. Pode ocorrer substituição da covellita por calcocita, bornita, digenita e calcopirita. Em alguns casos
a covellita é coberta por calcocita e acanthita durante processos de cimentação.
Covellita com seu inconfundível pleocroísmo entre azul e branco a ND (esquerda) e com sua inconfundível
cor laranja viva brilhante a NC (direita). O pleocroísmo forte em azul e a anisotropia forte em laranja são
extremamente característicos e permitem reconhecer o mineral mesmo em flocos finíssimos.

Pirita (amarela, relevo alto), ganga (cinza Bornita (rosa) alterando para covellita (azul) em
escuro) e covellita (vários tons de azul) a ND. A meio a ganga (cinza escuro), a ND.
associação de pirita e covellita é muito comum.

A ND, covellita (pleocroísmo entre


azul e quase branco) em meio a
minerais secundários de cobre
(cinza esverdeado). Em preto, uma
cavidade.
A NC a covellita adquire um cor
laranja muito brilhante e os minerais
secundários ao seu redor possuem
reflexões internas em verde, azul e
amarelo.
6. MICROSCOPIA DE LUZ OBLÍQUA:

Desligando a luz do microscópio e iluminando a lâmina delgada obliquamente por cima com
uma luz LED forte, observa-se, ao longo dos sulcos de polimento, em alguns sulcos a cor original azul e em
outros sulcos alguns fenômenos óticos de anisotropia anômala, que geram cores laranja, típicos da covellita.
Isso apenas se os cristais forem grandes e se houver irregularidades no desbaste e eventual polimento da
lâmina.

Ilustração da técnica de Luz Oblíqua.


A luz LED precisa ser forte.

Covellita sob Luz Oblíqua. Ao longo dos sulcos de polimento surgem efeitos de anisotropia
com cores laranjas, assim como há algumas cores azuis associadas.

Versão de novembro de 2021

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