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CINÁBRIO – HgS

O cinábrio é um sulfeto relativamente comum e é o mais comum minério de mercúrio.


É trimorfo com metacinábrio e hipercinábrio. Uma variedade é o “cinábrio hepático”, uma mistura de
cinábrio com matéria bituminosa e terrosa que ocorre nas minas de Idrija, na Eslovênia. Quando o cinábrio
hepático apresenta-se em cristais lamelares curvos é denominado de “corallinerz”.
Quimicamente o cinábrio normalmente é muito puro, mas impurezas incorporadas durante o processo
de preparação da amostra podem simular teores anômalos de outros elementos. Cristais de cinábrio contendo
traços de cloro escurecem quando expostos à luz solar.
Mercúrio é tóxico, por isso a mineração de cinábrio deve ser conduzida com medidas de segurança
dobrados. Apesar do cinábrio ser relativamente insolúvel e a toxicidade do material puro ser baixa, sempre
lave as mãos após manuseá-lo. Não inale a poeira quando quebrar o mineral. Nunca lambe ou ingira. Não
aqueça em ambientes mal ventilados, pois cinábrio libera vapores tóxicos de mercúrio. Amostras com cinábrio
podem conter microgotículas de mercúrio nativo, que é facilmente absorvido pela pele, por isso use luvas
descartáveis ao manuseá-las.

1. Características:
Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem
Trigonal Tons intensos de vários Granular, maciço, {10-10} perfeita
trapezoédrico. vermelhos diferentes, lamelar, prismático curto
Tenacidade vermelho-marrom, a longo, incrustações,
cinza-chumbo. cristais tabulares ou
Quebradiço, algo
romboédricos até 10 cm.
séctil
Maclas Fratura Dureza Mohs Partição
Comuns, de contato Subconchoidal 2 – 2,5 não
simples, por (0001). a desigual.
Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)
Vermelho intenso a Adamantino intenso, Transparente 8,0 – 8,2
marrom-vermelho. metálico e fosco.

2. Geologia e depósitos:
Cinábrio é um mineral hidrotermal de baixa temperatura (~100ºC), depositado por soluções aquosas
epitermais ascendentes ou mesmo fontes quentes alcalinas. Geralmente as ocorrências de cinábrio se
localizam em áreas orogênicas ativas ou recentes no tempo geológico.
As deposições podem se dar em rochas sedimentares, ígneas ou metamórficas. Nos limites de
temperatura de formação do cinábrio as deposições de soluções ígneas e vulcânicas se superpõem e não há
como traçar um limite preciso entre elas. Como estas deposições de cinábrio ocorrem longe dos magmas
portadores de metais, frequentemente é impossível determinar a fonte do mercúrio.

3. Associações Minerais:
Associa-se a sílica (quartzo, opala, calcedônia), carbonatos (calcita, dolomita, siderita), barita,
mercúrio nativo, ouro nativo, prata nativa, cassiterita, ouropigmento e muitos sulfetos como pirita, marcassita,
arsenopirita, calcopirita, bornita, calcocita, covellita, enargita, galena, realgar, famatinita, esfalerita, estibnita,
metacinábrio, berthierita e chalcostibita.
4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:
Índices de refração: nω: 2,905 nε: 3, 256

ND Cor / pleocroísmo:

Relevo: muito alto.

Clivagem: {10-10} perfeita

Hábitos: Granular, maciço, lamelar, prismático curto a longo, incrustações, cristais


tabulares ou romboédricos.

NC Birrefringência e cores birrefringência de 0,351: cores de altas ordens, lembram aquelas dos
de interferência: carbonatos.

Extinção: provavelmente paralela.

Sinal de Elongação: sem informações.

Maclas: comuns, de contato.

Zonação: sem informações.

LC Caráter: U(+) Ângulo 2V: não

Alterações: a metacinábrio e livingstonita.

Pode ser confundida com: outros minerais vermelhos e transparentes.


Cuprita geralmente se associa a cobre nativo.
Realgar é mais amarelado que o cinábrio.
Piemontita possui paragêneses e hábitos diferentes.
Goethita mostra hábitos diferentes, semelhantes à calcedônia.
5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:
Preparação da amostra: devido à baixa dureza, é difícil obter um bom polimento no cinábrio e a seção
sempre terá muitos sulcos de polimento. A dureza ao polimento é maior que as durezas de antimônio nativo,
arsênio nativo e realgar. É aproximadamente a mesma dureza de estibnita, mas menor que a dureza da
galena e muito menor que a dureza da cuprita.
A qualidade da seção polida depende muito dos minerais vizinhos. Quando o cinábrio contém uma
“poeira” de grãos de pirita, a confecção de uma boa seção polida é muito difícil. Quando acompanhado de
calcita ou estibnita é possível obter seções excelentes. O polimento nas seções (10-10) é melhor que aquela
em (0001): as seções (0001) ainda continuam com aparência porosa quando as seções (10-10) já estão com
excelente polimento.

ND Cor de reflexão: Branca até branco-azulada (pode ser levemente esverdeada), mas as
tonalidades azuis só são percebidas na presença de minerais vizinhos
brancos.
Comparada com a cor da galena, a cor do cinábrio é azulada e mais escura.

Pleocroísmo: Distinto a fraco, visível no contato entre grãos adjacentes de orientação


diferente.
Em uma orientação há um leve tom de rosa, na orientação oposta há um
leve tom para amarelo.

Refletividade: 27,61 – 28,41% Birreflectância: Não.

NC Isotropia / Anisotropia: Anisotropia muito forte, variando entre cores cinza-esverdeadas claras a
cinza-azul e tons verdes.
A anisotropia é mascarada pelas reflexões internas extremamente intensas.

Reflexões internas: Extremamente intensas em vários tons de vermelho. As reflexões internas


estão especialmente bem desenvolvidas nas seções basais. Devido à
elevada dupla refração as reflexões internas sempre estão duplicadas, mas
este fato é fácil de passar despercebido por um observador pouco treinado.

Pode ser confundido com: poucos outros minerais, porque a baixa dureza e as intensas reflexões em
vermelho são muito típicas.
Proustita é esverdeada a NC.
Pirargirita é mais azul e possui maclas polisintéticas.
Cuprita é muito mais dura, mais azulada e sempre contém inclusões de cobre nativo.
Hematita pode ser muito parecida macroscopicamente, mas tem outra cor de reflexão, outro hábito e é
muito mais dura.
Alguns sulfoarsenietos muito raros também podem ser confundidos com cinábrio.

Forma dos grãos: o cinábrio tende a formar cristais idiomórficos, normalmente muito pequenos
(<0,5mm). Os cristais podem ser arredondados, de tamanhos muito diversos, pouco intercrescidos entre si.
Ou então formam intercrescimentos complicados. Em calcários, como impregnação, frequentemente
euédricos em romboedros. Podem formar agregados granulares, podem ser grosseiramente radiais ou em
crostas rítmicas. Pode formar filmes superficiais e como preenchimento de fraturas de blocos fraturados da
ganga.
Sulcos de polimento são frequentes em função da baixa dureza e das dificuldades de polimento.
Clivagem paralela a (10-10) raramente é visível.
Maclas são comuns macroscopicamente, mas microscopicamente não são reconhecíveis. Outras
literaturas informam que maclas simples e polisintéticas podem estar presentes.
Zonação ainda não foi constatada devido à falta de uma substância para ataque químico.
Inclusões extremamente finas (“poeira”) de pirita podem estar disseminadas por todo o mineral.
Pseudomorfoses de cinábrio sobre o (instável) metacinábrio pode ocorrer, seguindo as maclas
polisintéticas do metacinábrio. Também ocorrem pseudomorfoses sobre estibnita.
Substituições 1: o cinábrio pode substituir estibnita, pirita, calcopirita, tennantita-tetraedrita, quartzo
e metacinábrio..
Substituições 2: o cinábrio pode ser substituído por calcopirita e marcassita.

A cor vermelha do cinábrio é muito forte


e se destaca na seção polida observada
a olho desarmado.
Se houver cristais incolores como
quartzo misturados com cristais de
cinábrio, a cor vermelha de cristais
situados abaixo dos cristais de quartzo
incolores continua sendo muito visível, é
algo muito conspícuo.

Veio preenchido por cinábrio a ND (esquerda) e a NC (direita), em calcita. A calcita a ND apresenta


pleocroísmo forte e a NC reflexões internas incolores a brancas. O cinábrio a ND possui uma cor muito
clara (não chega ao branco da galena) e a NC as típicas e intensas reflexões internas vermelhas.
Esquerda: aqui é possível perceber o fraco pleocroísmo do cinábrio a ND porque os cristais são
grandes. Em uma posição há uma fraca tonalidade de rosa, na outra uma fraca tonalidade de amarelado.
Direita: a NC a forte anisotropia em cores cinza-esverdeadas fica evidente, apesar das reflexões
internas vermelhas. Agregado de cristais pequenos não permitem ver esta anisotropia.

Mesmo quantidades pequenas de cinábio, são muito evidentes a NC (direita) devido às intensas reflexões
vermelhas. Veios finíssimos se tornam fáceis de detectar em função desta característica.

A NC, cristais idiomórficos de cinábrio com reflexões vermelhas apenas nas bordas.

Versão de março de 2021

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