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CASSITERITA – SnO2

A cassiterita é um óxido relativamente raro que constitui o principal minério de estanho.


É classificada no Grupo do Rutilo e pode conter Fe, Nb, Ta, Zn, W, Mn, Sc, Ge, In e Ga. Raramente
forma massas botrioidais, chamadas de estanho-madeira, que é uma das quatro variedades que se reconhece
para cassiterita. Pode ser epitaxial sobre quartzo e sobre nordenskiöldina.
Maclas são muito comuns na cassiterita, por {011}. Podem ser maclas simples de contato ou maclas
de interpenetração. Também ocorrem maclas lamelares. Típicas são as maclas em joelho, quando dois
cristais formam uma macla em um ângulo de aproximadamente 60º. Maclas cíclicas com cinco indivíduos
(“fivelings”) podem ocorrer.

1. Características:
Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem
Tetragonal, Preto, castanho-preto, Prismático, piramidal, {110} indistinta,
bipiramidal marrom-avermelhado, estalagtítico, botrioidal, {100} imperfeita.
ditetragonal. vermelho, cinza, concrescionário,
Tenacidade amarelo, raramente granular fino a grosseiro,
incolor. maciço.
Muito quebradiça.
Pode ser zonada. Cristais até 10 cm.
Maclas Fratura Dureza Mohs Partição
ver acima Subconchoidal/irregular. 6-7 Distinta em {111} ou {011}
Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)
Cinza-claro, branco, Metálico a adamantino, Transparente. 6,8 – 7,1
castanho-claro. gorduroso em fraturas.

2. Geologia e depósitos:
Os jazimentos primários da cassiterita são quase exclusivamente ocorrências associadas a intrusões
graníticas: veios hidrotermais e depósitos pegmatíticos-pneumatolíticos como veios, diques, “pipes”,
“stockworks” e jazidas de impregnação do tipo greisen; sempre jazimentos de média a alta temperatura.
Ocorre na forma de estanho-madeira preenchendo finas fraturas em riolitos. Pode precipitar a partir
de gases vulcânicos, a temperaturas entre 240 e 550ºC.
Ocorre em rochas de contato (cornubianitos) com rochas carbonáticos, associada a sulfetos.
Os jazimentos secundários são placers aluviais, de onde provém a quase totalidade da cassiterita
minerada.

3. Associações Minerais:
Associa-se aos minerais típicos de veios hidrotermais e alta temperatura e greisen associados a
granitos: quartzo, feldspatos (ortoclásio, albita), micas (muscovita, flogopita, lepidolita), turmalina, topázio,
fluorita, apatita, wolframita, columbita e outros.
Associa-se a muitos sulfetos como pirita, pirrotita, marcassita, arsenopirita, molibdenita, esfalerita,
tetraedrita-tennantita, galena, jamesonita, bournonita, estibnita, estannita e bismutinita.
Também a sulfossais de Ag, sulfossais de Pb-Sb, scheelita, siderita, wurtzita, nordenskiöldina,
andorita, niquelina e cobaltita.
4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:
Índices de refração: nω: 1,990 – 2,010 nε: 2,093 – 2,100

ND Cor / pleocroísmo: geralmente amarela, avermelhada a amarronzada, pode ser laranja ou verde.
Raramente incolor a cinza.
Pleocroísmo forte a ausente, mas normalmente fraco em amarelo, verde,
vermelho a marrom, com distribuição irregular de cores em manchas.

Relevo: muito alto.

Clivagem: {110} indistinta e {100} imperfeita, geralmente não visíveis ao microscópio, mas
podem estar presentes como traços muito discretos.

Hábitos: cristais prismáticos e granulares são comuns, muito raramente acicular ou


botrioidal (estanho-madeira). Cataclase é muito frequente. Pode gerar halos
pleocróicos em minerais vizinhos.

NC Birrefringência e cores birrefringência máxima de 0,103: cores de interferência muito altas, sempre
de interferência: mascaradas se o mineral possuir cor própria forte.

Extinção: tende a paralela.

Sinal de Elongação: SE(+).

Maclas: maclas simples segundo (101) são comuns, fáceis de reconhecer.


Raramente apresenta maclas de pressão lamelares (polisintéticas).

Zonação: frequente, reconhecida pela distribuição de cores, de poros ou corpos de


desmistura.

LC Caráter: U(+), pode ser biaxial anômalo. Em função das cores próprias Ângulo 2V: se biaxial
fortes da cassiterita, a determinação do sinal ótico é bem difícil. anômalo, 2V de 0 – 38º

Alterações: não altera. É muito resistente frente aos processos intempéricos.

Pode ser confundida com: rutilo possui cor mais clara, relevo e birrefringências mais altas e um
pleocroísmo mais forte. Allanita é B(+) ou B(-) e pode estar metamicta.

Cassiterita com quartzo e muscovita a ND (à esquerda) e a NC (à direita). A ND percebe-se muito bem


a distribuição irregular da cor marrom nos grãos, com manchas mais claras e manchas mais escuras. O
pleocroísmo não é forte, mas distinto o suficiente para ser percebido com facilidade nas porções de cores
fortes. A NC, as cores de interferência são ofuscadas pela cor própria do mineral.
Cassiterita a ND mostrando suas cores marrons com distribuição de cores algo irregular, seu pleocroísmo
em manchas, mas relativamente forte e seu relevo alto. Ao seu redor, quartzo e muscovita, principalmente.

Cassiterita maclada: a macla já é visível a ND, mas


A NC, as cores de birrefringência intensas da
a NC como aqui fica muito bem visível (um lado da
cassiterita são mascaradas pela forte cor própria do
macla está em posição de extinção). Ao redor do
mineral.
grão de cassiterita há quartzo e muscovita.

A NC, cassiterita idiomórfica com muscovita A NC, cassiterita na diagonal da imagem, quase na
ao seu redor. Grãos bem formados são posição de extinção, mostrando duas maclas lamelares
comuns na cassiterita. (barras paralelas avermelhadas).
5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

Preparação da amostra: a cassiterita é um dos piores minerais para polimento devido à sua alta dureza
associada à grande fragilidade, pois é muito quebradiço. O desbaste deve ser feito apenas com abrasivo fino;
seções polidas de boa qualidade exigem um tempo muito superior ao usual. Impregnação pode ser
necessária. Sempre haverá um relevo alto e incômodo em relação a outros minerais vizinhos. Seções com
orientações diferentes apresentam dureza ao polimento bastante contrastantes.

ND Cor de reflexão: Cinza médio, bem mais claro que quartzo e feldspatos.

Pleocroísmo: Muito fraco, apenas visível nos contatos intergranulares e nas maclas.

Refletividade: 10,86 – 12% Birreflectância: Fraca a forte.

NC Isotropia / Anisotropia: Anisotropia forte em tons de cinza, que pode ser observada mesmo com as
reflexões internas típicas.

Reflexões internas: Brancas, amarelas e amarelo-marrons, muito comuns. Mesmo nas


cassiteritas quase pretas as reflexões são abundantes.

Pode ser confundida com: típicos para cassiterita são o polimento de baixa qualidade, a anisotropia forte,
as reflexões internas amarelas a castanhas e grande quantidade de maclas simples.
Esfalerita pode se apresentar muito parecida, principalmente se o polimento é de boa qualidade.
Rutilo é mais claro e geralmente tem maclas lamelares, que na cassiterita são mais raras.
Titanita e zircão podem ser semelhantes, mas ocorrem em outras paragêneses.

Forma dos grãos: a cassiterita apresenta forte tendência à idiomorfia. As formas geralmente refletem
seu ambiente de formação – pegmatitos, minérios pneumatolíticos de alta ou de baixa temperatura ou
jazimentos formados a temperaturas muito baixas. A união entre grãos adjacentes é muito fraca.
Tamanhos de grãos são muito variados, grosseiramente correspondendo à temperatura de formação:
altas temperaturas geram cristais grandes, baixas temperaturas geram cristais pequenos. A alteração de
cassiterita e teallita – (Pb,Sn)SnS2 - forma massas
A variedade estanho-madeira (cassiterita botrioidal estalagtítica) mostra bandamento com camadas
sucessivas formadas por cristais aciculares criptocristalinos orientados perpendicularmente à banda; lembra
muito a estrutura da calcedônia.
Maclas são muito comuns e fáceis de reconhecer na maioria dos casos. Apenas estão ausentes na
variedade estanho-madeira e em algumas ocorrências de estanho acicular. As maclas normalmente são
maclas simples de crescimento. Relativamente raras são maclas de pressão, que se apresentam lamelares
muito finas.
Clivagem se observa apenas raramente.
Zonação, muitas vezes muito bem desenvolvida, pode ser reconhecida em muitos casos através da
distribuição de poros ou de corpos de desmistura. Também as reflexões internas permitem em muitos casos
visualizar as zonas.
Desmisturas de tapiolita (Fe, Mn)(Ta,Nb)2O6 ocorre em algumas cassiteritas de cores profundas ou
em algumas zonas destas. Podem formar agulhas extremamente finas orientadas ou não. Em granitos a
cassiterita pode exsolver columbita ou tantalita na forma de pequenos grãos arredondados.
Precipitação rítmica ocorreu no “estanho-madeira”, formando estruturas muito bem desenvolvidas.
Em ocorrências hidrotermais de alta temperatura a cassiterita pode mostrar texturas com tamanhos de grão
gradacionais ou então estruturas bandadas, alternando bandas com cassiterita, pirita ou quartzo.
Cataclase é muito frequente, já que a cassiterita é um dos primeiros minerais a se formar, sofrendo
todas as solicitações tectônicas pelas quais o minério passou posteriormente. Cataclase é especialmente
comum nos minérios onde cassiterita se associa a minérios sulfetados. Mesmo em alguns pegmatitos as
cassiterita estão tão cataclasadas que geram problemas no processamento.
Estruturas radiais, vermelho escuras com cores rítmicas, podem ocorrer em alguns jazimentos.
Mirmequitos de cassiterita são raros, mas podem ocorrer com quartzo, calcita e pirita. Alteração de
estannita produz mirmequitos entre cassiterita e calcopirita.
Intercrescimentos por exsolução podem ocorrer com columbita e tantalita. Intercrescimentos que
lembram a textura gráfica podem se formar com galena, boulangerita e franckeita.
Inclusões DE cassiterita podem ocorrer em esfalerita, arsenopirita e galena.
Inclusões NA cassiterita podem ser de magnetita, hematita, ilmenita, columbita, tantalita, rutilo,
tapiolita, wolframita, bismuto nativo, oxistannomicrolita e wodginita.
Magnetismo em cassiterita ocorre em função do intercrescimento ou inclusões de magnetita ou pela
presença de exsoluções de columbita e tapiolita, que podem estar dispersas ou aglutinadas.
Cassiterita É SUBSTITUÍDA por sulfetos em alguns casos, como pirita, arsenopirita, pirrotita,
estannita, esfalerita e calcopirita.
Cassiterita SUBSTITUI vários minerais como quartzo, feldspato, topázio, turmalina, estannita, pirita,
arsenopirita, esfalerita, frankeita, teallita, cilindrita e bismutinita.

Grãos de cassiterita aluvionar montado em resina, a ND, mostrando maclas, que são uma feição muito
comum em cassiterita.
A cassiterita a ND (esquerda) apresenta-se com uma cor cinza pouco diagnóstica e baixa refletividade.
Buracos (pontos pretos) são muito comuns em função da dificuldade de polimento. A NC (direita)
apresenta reflexões internas marrom-amareladas (a mesma cor que apresenta sob Luz Transmitida a
ND) e maclas. Anisotropia é visível em graus variáveis.

Cassiterita formando cristais piramidais (cinza mais claro), ganga (cinza escuro) e pirita (amarela).
Imagem da esquerda a ND, imagem da direita a NC+2º. A NC, fica evidente a anisotropia em cinza da
cassiterita bem como as reflexões amarelas a douradas.

Esquerda: a ND, pirita (amarela, à esquerda em baixo), ganga (cinza bem escuro) e cassiterita (cinza
mais claro com buracos pretos) em grãos prismáticos e bipiramidais.
Direita: a mesma situação a NC. Pirita (isótropa, mal polida), ganga com reflexões internas leitosas e
cassiterita mostrando sua anisotropia em cinza e suas reflexões internas em amarelo a dourado.

Versão de outubro de 2021

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