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MBA MERCADO DE CAPITAIS E DERIVATIVOS – PRÉ WORK

PROFESSOR (A): ADRIANA DE ANDRADE SOLÉ

NOME : Pedro Augusto Gomes Guimarães

O caso da Natura e o abismo salarial


entre cúpula e base nas empresas
Reduzir as desigualdades sociais é um dos principais desafios econômicos atuais e
passa pela distribuição mais equânime da riqueza gerada

https://www.capitalreset.com/o-caso-da-natura-e-o-abismo-salarial-entre-cupula-e-
base-nas-empresas/

Por Vanessa Adachi


29 de março de 2023

A divulgação da informação de que o ex-chairman executivo da Natura, Roberto


Marques, tinha uma remuneração anual na casa das várias dezenas de milhões
causou indignação em muita gente e trouxe à luz a discussão sobre o abismo
salarial existente entre a cúpula e a base das empresas.

O pacote de compensação de Marques já era, há pelo menos dois anos, motivo de


queixa entre investidores atentos aos dados reportados pela fabricante de
cosméticos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Mas a companhia deu mais transparência às in formações no texto das propostas


que vai submeter à votação dos acionistas em 26 de abril, entre as quais está
justamente um corte de 32% no pacote de remuneração do alto escalão.

Segundo o documento, em 2020 Marques recebeu R$ 66 milhões entre salários,


benefícios, bônus e ações. Em 2021, ano em que a companhia já enfrentava
problemas e perdia valor em bolsa, o total foi a R$ 73 milhões.

No ano passado, mesmo com seu desligamento anunciado em junho, a


compensação total foi de R$ 150 milhões, incluído aí seu pacote de rescisão. Vale
notar que grande parte disso foi recebida em ações da Natura, que Marques só
poderá vender futuramente, mas que, pelas regras contábeis, teve que ser
reconhecida de uma só vez pela empresa.

O caso chama ainda mais atenção porque a Natura é uma das primeiras empresas
no Brasil que vem desenvolvendo um trabalho consistente para implementar uma
política de ‘living income’, ou ‘renda digna’, para os colaboradores. No caso, para as
consultoras que vendem seus produtos e são cruciais para o modelo de negócios.

O conceito de living wage ou living income pressupõe que a renda seja suficiente
para que uma pessoa possa pagar os seus gastos com moradia, saúde, educação,
alimentação e, assim, viver dignamente – ou seja, aquilo que deveria ser o
verdadeiro ‘mínimo’.

Em 2021, ano em que Marques embolsou R$ 73 milhões, a empresa calculou que


uma renda digna no Brasil corresponderia a R$ 16,13 por hora, o equivalente a mais
de duas vezes o salário mínimo no país.

A partir disso, o diagnóstico foi que as consultoras consideradas sênior conseguem


extrair uma renda que ultrapassa essa marca da renda digna. Mas a companhia
reconheceu o trabalho a ser feito para que as consultoras em estágios iniciais
também cheguem lá.

Tudo isso mostra que até uma companhia reconhecida por liderar as melhores
práticas ESG, como é o caso da Natura no Brasil, pode deslizar na condução de
aspectos da agenda e incorrer em incoerências. A correção de rota se faz
necessária, é parte legítima do processo e é justamente o que a companhia faz
agora ao propor um corte na remuneração do C-Level e do conselho.

Mas, mais do que expor uma situação em particular, a revelação é importante


por pautar uma discussão que costuma ser esquecida na agenda ESG, mas
que deveria ocupar o topo dela num país com desigualdades sociais abissais
como o Brasil.

Afinal, a colossal diferença salarial entre a base e o topo da pirâmide das empresas
alimenta e perpetua a desigualdade social que se vê fora delas. As últimas décadas
marcaram a era dos super salários dos executivos, que cresceram
exponencialmente, enquanto a renda da base se achatou.

Reduzir as desigualdades sociais é, sem dúvida, um dos principais desafios


econômicos do nosso tempo. E não há como fazer isso sem garantir que a riqueza
gerada pelas empresas beneficie as pessoas de forma mais equânime, assegurando
um padrão de vida digno para quem está nos andares de baixo.

Dentro da lógica do capitalismo de stakeholder, o acionista não deve ser o grande


protagonista do valor gerado por uma empresa, que deve ser compartilhado com os
demais stakeholders do negócio: funcionários, fornecedores e comunidade.
Mas, seguindo essa lógica, qual seria, afinal, um gap salarial aceitável? E faz
sentido falar em diferença justa quando se trata da distribuição de riqueza criada
dentro de uma empresa privada? Quais são os parâmetros para guiar essa
discussão?

Primeiro é importante um diagnóstico, ou seja, dados que mostrem onde estamos.

Nesse sentido, o universo das grandes empresas está prestes a ganhar novos
elementos no Brasil a partir de maio. Neste ano, como parte de um avanço no
reporte de fatores ESG, o formulário de referência que as companhias listadas
apresentam à CVM terá que informar, obrigatoriamente, a razão entre a maior
remuneração individual (incluindo a variável) e a mediana da remuneração individual
de todos os funcionários.

Nos Estados Unidos a divulgação desse gap salarial pelas companhias abertas já é
obrigatória e sempre gera discussões. Os últimos dados compilados, relativos a
2021, mostram que os CEOs ganharam 399 vezes a remuneração do funcionário
médio naquele ano. Um ano antes, esse múltiplo havia sido de 366 vezes. Cerca de
30 anos atrás, essa razão era inferior a 60 vezes.

Os números brasileiros também devem causar espanto. O consultor em governança


e conselheiro de empresas Renato Chaves chegou a fazer esse cálculo ‘na mão’
usando dados publicados pelas empresas em 2019 e concluiu que essa razão
chegava a um máximo de 663 vezes no caso da varejista Americanas – que está
agora no epicentro de um escândalo contábil por fraudar seus resultados e, por
consequência, inflar a remuneração variável dos executivos.

Conforme reportagem no Valor, ele analisou 70 companhias e concluiu que em 32


delas o múltiplo ficava acima de 100 e em 17 era de mais de 200 vezes o salário
médio dos funcionários. Liderando a lista estavam também nomes como Pão de
Açúcar, Magazine Luiza, Itaú, Santander e JBS.

Se a realidade mostra gaps de 100, 200, 600 vezes, qual deveria ser a diferença
num sistema de distribuição mais equânime da riqueza?

Renato Chaves diz que a medida da boa prática deveria ser “o que é razoável para
estimular a base sem ‘esvaziar’ o CEO”. Ou seja, o suficiente para atrair e reter um
bom executivo para liderar a empresa ao mesmo tempo em que mantém os
funcionários motivados e sem ressentimentos.

Num universo de empresas que seguem a cartilha do capitalismo de stakeholder e


procuram gerar benefícios à sociedade e ao meio ambiente além de dar lucro aos
acionistas, esse gap é uma fração do observado nas empresas listadas no Brasil ou
nos Estados Unidos.

Para obter o certificado de Empresa B, um dos quesitos em que as empresas são


avaliadas é o das relações com os colaboradores e, dentro desse pilar, existe uma
pergunta específica sobre o múltiplo salarial entre a maior e a menor remuneração
da empresa.

Em 2021, mais de 90% das B Corps na América Latina tinham um múltiplo salarial
de até 20 vezes.

Uma dessas B Corps, a gestora de fundos de impacto Vox criou um teto de 10 vezes
para a razão entre o maior salário, o do CEO, e a remuneração de entrada de um
analista.

Um estudo realizado por pesquisadores da Harvard Business School em 40 países


em 2014 mostra que existe um desejo por uma redução do gap salarial e que as
diferenças existentes são muito subestimadas (o que obviamente alimenta a
frustração quando os números reais são conhecidos).

Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a razão entre o salário dos CEOs para o
trabalhador médio das empresas estava em 354 vezes naquele ano, as pessoas
achavam que a diferença era bem menor (30 vezes) e consideravam que o justo
seria uma diferença de apenas 7 vezes. Haja distância entre expectativa e
realidade.

Questão: 30 pontos.

Relacione esta notícia com 3 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável


e aspectos da Agenda ESG. Justifique e qualifique bem a sua resposta.
Para que possamos abordar a reportagem de 29 de março de 2023 de Vanessa Adachi
sobre o “Caso da Natura e o Abismo salarial entre a cúpula e a base das empresas” e fazer uma
analogia mais coerente entre a notícia e suas repercussões e as novas métricas que vem sendo
adotadas pelo mercado como, a Agenda ESG e o Desenvolvimento Sustentável é de grande
importância saber o que estes dois representam no contexto atual.

A Agenda ESG que significa Ambiental, Social e Governança, refere-se a um conjunto de


estratégias, políticas e práticas que as organizações implementam para abordar essas três áreas
de sustentabilidade. O objetivo de uma agenda ESG é criar valor de longo prazo para todas as
partes interessadas, incluindo acionistas, funcionários, clientes e a sociedade em geral.
Fatores ambientais referem-se a questões relacionadas à mudança climática, poluição,
esgotamento de recursos naturais e gestão de resíduos. As empresas que priorizam a
sustentabilidade ambiental podem reduzir sua pegada de carbono, investir em energia renovável
e implementar práticas sustentáveis em suas cadeias de suprimentos.
Os fatores sociais incluem questões relacionadas a direitos humanos, normas
trabalhistas, diversidade e envolvimento da comunidade. As empresas com forte
responsabilidade social podem priorizar o bem-estar dos funcionários, apoiar as comunidades
locais e se envolver em atividades filantrópicas.
Já os fatores de governança, o qual está diretamente ligado ao ponto em questão da
reportagem que estamos trabalhando, referem-se à forma como as empresas são administradas,
incluindo questões relacionadas à composição do conselho, remuneração dos executivos e
direitos dos acionistas. As empresas que priorizam a boa governança podem ter políticas e
procedimentos transparentes, conselhos independentes e liderança ética. O que segundo
Vanessa Adachi, a Natura deixou a desejar, quando reportou ao mercado que um dos seus
executivos recebia como remuneração um valor na casa das várias dezenas de milhões e que
foge completamente da nova proposta de política de ‘living income’, ou ‘renda digna’, para os
colaboradores que a empresa deseja adotar. Vendo como esta situação gerou tanta polemica, e
fazendo um contraponto com as ideologias adotadas pelo mercado, percebemos que esta
discrepância é generalizada nas grandes organizações e que não serão mais aceitas com bons
olhos. A agenda ESG vem com a ideia de ajudar as empresas a gerenciar riscos e oportunidades
relacionados à sustentabilidade, construir confiança com as partes interessadas e criar valor de
longo prazo para todos. Está se tornando cada vez mais importante para as empresas integrar
considerações ESG em suas estratégias de negócios, pois investidores, consumidores e
reguladores estão prestando mais atenção às questões de sustentabilidade.
Para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) não é diferente, já que são uma
iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), composta por 17 objetivos e 169 metas,
estabelecidos em 2015 como parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Os
ODS têm como objetivo promover a prosperidade econômica, a inclusão social e a proteção
ambiental, de forma integrada e equilibrada, em todo o mundo.

Os 17 objetivos do Desenvolvimento Sustentável são:


- Erradicação da pobreza
- Fome zero e agricultura sustentável
- Saúde e bem-estar
- Educação de qualidade
- Igualdade de gênero
- Água limpa e saneamento
- Energia limpa e acessível
- Trabalho decente e crescimento econômico
- Indústria, inovação e infraestrutura
- Redução das desigualdades
- Cidades e comunidades sustentáveis
- Consumo e produção responsáveis
- Ação contra a mudança global do clima
- Vida na água
- Vida terrestre
- Paz, justiça e instituições eficazes
- Parcerias e meios de implementação

Dentre os 17 objetivos, percebemos que 3 deles estão diretamente relacionados com a


reportagem, são eles ‘Erradicação da pobreza’, ‘Trabalho decente e crescimento econômico’ e
‘Redução das desigualdades’. Todos ligados a um objetivo comum que é distribuição da riqueza
de forma justa e coerente, onde percebemos na reportagem que a desigualdade é tão absurda
que as pessoas da base não conseguem nem mensural a real distância entre os salários chegando
a, segundo uma pesquisa realizada na Harvard Business School em 40 países em 2014, mostrar
que existe um desejo por uma redução do gap salarial e que as diferenças existentes são muito
subestimadas frustrando a todos quando os números reais são conhecidos.
Os ODS são uma iniciativa global que busca mobilizar esforços e recursos para enfrentar
os desafios do desenvolvimento sustentável e construir um mundo mais justo, pacífico e
sustentável. As metas estabelecidas pelos ODS são ambiciosas, mas necessárias para promover
uma mudança real e transformadora em prol do bem-estar das pessoas e do planeta. Por esta
razão a reportagem deixa claro o quanto estas medidas são necessárias par que possamos,
mesmo a passos curtos, tentar alcançar um ponto de equilíbrio para que pessoas e organizações
consigam sobreviver com mais dignidade.

Pedro Augusto Gomes Guimarães

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