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https://www.capitalreset.com/o-caso-da-natura-e-o-abismo-salarial-entre-cupula-e-
base-nas-empresas/
O caso chama ainda mais atenção porque a Natura é uma das primeiras empresas
no Brasil que vem desenvolvendo um trabalho consistente para implementar uma
política de ‘living income’, ou ‘renda digna’, para os colaboradores. No caso, para as
consultoras que vendem seus produtos e são cruciais para o modelo de negócios.
O conceito de living wage ou living income pressupõe que a renda seja suficiente
para que uma pessoa possa pagar os seus gastos com moradia, saúde, educação,
alimentação e, assim, viver dignamente – ou seja, aquilo que deveria ser o
verdadeiro ‘mínimo’.
Tudo isso mostra que até uma companhia reconhecida por liderar as melhores
práticas ESG, como é o caso da Natura no Brasil, pode deslizar na condução de
aspectos da agenda e incorrer em incoerências. A correção de rota se faz
necessária, é parte legítima do processo e é justamente o que a companhia faz
agora ao propor um corte na remuneração do C-Level e do conselho.
Afinal, a colossal diferença salarial entre a base e o topo da pirâmide das empresas
alimenta e perpetua a desigualdade social que se vê fora delas. As últimas décadas
marcaram a era dos super salários dos executivos, que cresceram
exponencialmente, enquanto a renda da base se achatou.
Nesse sentido, o universo das grandes empresas está prestes a ganhar novos
elementos no Brasil a partir de maio. Neste ano, como parte de um avanço no
reporte de fatores ESG, o formulário de referência que as companhias listadas
apresentam à CVM terá que informar, obrigatoriamente, a razão entre a maior
remuneração individual (incluindo a variável) e a mediana da remuneração individual
de todos os funcionários.
Nos Estados Unidos a divulgação desse gap salarial pelas companhias abertas já é
obrigatória e sempre gera discussões. Os últimos dados compilados, relativos a
2021, mostram que os CEOs ganharam 399 vezes a remuneração do funcionário
médio naquele ano. Um ano antes, esse múltiplo havia sido de 366 vezes. Cerca de
30 anos atrás, essa razão era inferior a 60 vezes.
Se a realidade mostra gaps de 100, 200, 600 vezes, qual deveria ser a diferença
num sistema de distribuição mais equânime da riqueza?
Renato Chaves diz que a medida da boa prática deveria ser “o que é razoável para
estimular a base sem ‘esvaziar’ o CEO”. Ou seja, o suficiente para atrair e reter um
bom executivo para liderar a empresa ao mesmo tempo em que mantém os
funcionários motivados e sem ressentimentos.
Em 2021, mais de 90% das B Corps na América Latina tinham um múltiplo salarial
de até 20 vezes.
Uma dessas B Corps, a gestora de fundos de impacto Vox criou um teto de 10 vezes
para a razão entre o maior salário, o do CEO, e a remuneração de entrada de um
analista.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a razão entre o salário dos CEOs para o
trabalhador médio das empresas estava em 354 vezes naquele ano, as pessoas
achavam que a diferença era bem menor (30 vezes) e consideravam que o justo
seria uma diferença de apenas 7 vezes. Haja distância entre expectativa e
realidade.
Questão: 30 pontos.