Você está na página 1de 50

Complementos

de Mecânica
Carla Quintão
Porquê mecânica?

Recuperação de doentes
com dificuldades motoras

Mecânica* Desempenho de atletas

Construção de próteses e
outros dispositivos

A Mecânica é o ramo da Física que estuda o movimento e


o efeito das forças no movimento.

* Tópicos úteis em várias unidades curriculares:


Mecânica, Mecânica Quântica, Biomecânica, Hemodinâmica,
Biomateriais, Anatomia, Fisiologia
2
Grandezas básicas do movimento

Grandezas básicas que caracterizam o


movimento:
 
• Deslocamento e posição r r
– Localização espacial
• Velocidade (média e  
 r  dr
instantânea) v= e v=
t dt
– A taxa de mudança de
posição com respeito ao
tempo
 
• Aceleração (média e  v  dv
a= e a=
instantânea) t dt
– A taxa de mudança de
velocidade com respeito
3
ao tempo
Forças em acção
• Uma força é qualquer acção que se exerça
num corpo e que tenda a modificar o seu
estado de movimento.

• Sendo uma grandeza vectorial, operações


com forças terão que ser vectoriais.

• Nomeadamente, o 
cálculo da força F1
total exercida num
corpo terá que ser  
uma soma  F1 + F2
vectorial.
F2
4
Leis de Newton

1ª Lei: Um corpo permanece no seu estado inicial


de repouso, ou de movimento com velocidade
uniforme, a menos que sofra a acção de uma força
resultante externa não nula.
2ª Lei (simplificada para massa constante): A
aceleração de um corpo é inversamente
proporcional à sua massa e directamente
proporcional à força resultante externa que actua
sobre ele:

  
dp 
Fres =  Fres = ma
dt 5
Leis de Newton

3ª Lei: As forças aparecem sempre aos pares. Se


um corpo A exerce uma força sobre um corpo B,
então o corpo B exerce sobre A uma força igual mas
de sentido contrário.

  
Facção = − Freacção Freacção

Facção

6
Equações do movimento
Equações do movimento uniformemente acelerado
(aceleração constante):
   1 2
s = s0 + v0t + 2 at
  
v = v0 + at
No caso particular de aceleração nula (movimento
uniforme):   
s = s 0 + v0 t
 
v = v0
É possível manipular as equações do movimento
uniformemente acelerado de modo a obter (para
simplificar, considera-se que o movimento ocorre
em linha recta):
v 2 = v02 + 2as 7
Exemplo: o salto em altura
1. Conhecendo a velocidade inicial do indivíduo,
qual a altura máxima atingida?

O movimento é uniformemente acelerado (com


aceleração negativa) e a uma dimensão,
portanto, as equações são:
h = h0 + v0t − 12 gt 2
v = v0 − gt
Como a altura máxima ocorre quando a
velocidade se anula, pode dizer-se que o
instante de altura máxima é:
v0
v = v0 − gt  0 = v0 − gt  t =
g 8
Exemplo: o salto em altura
E altura máxima virá então:
2
v0 1  v0  2
1 v0
hmáx = 0 + v0 − 2 g    hmáx = 2
g g g

2. Como se poderá calcular a velocidade inicial? De


que factores dependerá?

9
Exemplo: o salto em altura

Admita-se que o movimento de ascenção é dividido


em duas partes:
a) o intervalo de tempo em que o indivíduo
ainda se encontra com os pés no chão e
b) a partir do momento que se encontra no
ar.
Já se explorou o que acontece durante b). O que
acontecerá em a)?
Assumamos que a reacção do chão sobre o
indivíduo é constante durante a), que essa reacção
tem o valor R e que o centro de massa se eleva
durante esse período de y.
10
Exemplo: o salto em altura
As forças que estão aplicadas ao corpo são: o seu
peso, P, e a reacção, R. De modo que a aceleração
será encontrada através da 2ª lei de Newton
(simplificada para uma dimensão):
R−P
R − P = ma  a =
m
E as equações do movimento serão, então:
v
v = 0 + at  t =
a
2
 
2
v v
y = 0 + 0 + 12 at 2  y = 12 a   y = 12
a a
 v = 2ay 11
Exemplo: o salto em altura
3. Mas será correcto considerar-se que a reacção
do chão é constante durante o movimento? A que
se devem as alterações a essa reacção? A
reacção não deveria ser sempre igual e de sinal
contrário ao peso do indivíduo?

12
http://www.youtube.com/watch?v=qN3apht8zRs, consultado em: 13/09/2013
Exemplo: o salto em altura
Analisem-se os seguintes gráficos:

a b c d
13
http://www.scielo.br/img/revistas/rbcdh/v14n1/en_a05fig01.jpg e
http://wweb.uta.edu/faculty/ricard/Vertical-Jump.html, consultados em: 136/09/2013
Exemplo: o salto em altura
Analisem-se os seguintes gráficos:

a b c d
14
http://www.scielo.br/img/revistas/rbcdh/v14n1/en_a05fig01.jpg e
http://wweb.uta.edu/faculty/ricard/Vertical-Jump.html, consultados em: 136/09/2013
Exemplo: o salto em altura

15
http://www.youtube.com/watch?v=qN3apht8zRs, consultado em: 13/09/2013
Exemplo: o salto em comprimento
Um outro exemplo interessante será o do salto em
comprimento. Neste caso, a situação é um pouco mais
complicada, uma vez que o movimento será a duas
dimensões. E, portanto, a força de reacção tem
componentes segundo xx e segundo yy.

16
Forças de atrito entre sólidos

• Quando se desliza um objecto sobre outro, existe


uma resistência que dificulta esse movimento à qual
se dá o nome de Força de Atrito.

• Essa força representa-se sobre a superfície e tem


uma direcção oposta ao do movimento, ou seja, tem
sinal contrário ao da velocidade.

• A força de atrito para velocidades baixas não


depende da área de contacto.

17
Forças de atrito estático e cinético
• A força de atrito entre duas superfícies em repouso é
ligeiramente maior do que quando estas se
encontram em movimento relativo.

• Ou seja, é necessária uma força maior para pôr um


objecto em movimento do que para o manter em
movimento.

• Matematicamente, estas afirmações traduzem-se


em:

Atrito estático: Atrito cinético:


Fae,máx = e Fn Fac =  c Fn
onde :  e   c
18
Forças de atrito estático e cinético

• O atrito tanto pode ter efeitos positivos (permitir a


locomoção) como negativos (o de estar associado a
perdas energéticas no deslizamento, por exemplo).

• Tanto na natureza, como nos equipamentos


construídos pelo homem se tende a maximizar o
atrito onde este é necessário e minimizá-lo onde os
seus efeitos são prejudiciais.

• O atrito é grandemente reduzido pela introdução de


fluidos (lubrificantes) entre as duas superfícies.

• Nas articulações esse fluido é o líquido sinovial.


19
Forças de atrito estático e cinético

20
Forças de atrito nas articulações

• Uma vez que as forças aplicadas nas articulações


podem ser muito elevadas, por vezes, várias vezes o
peso do indivíduo (caso da anca), é essencial uma
boa lubrificação de forma a manter a fricção baixa.
• Com a idade, as cartilagens gastam-se e a
lubrificação diminui, implicando lesões importantes,
devido ao aumento da fricção.

• Por volta dos 70 anos, 2/3 da população tem


problemas nos joelhos e 1/3 nas ancas.

21
Alguns coeficientes de atrito

Superfícies e c

Cabedal em madeira 0.6 0.5

Borracha em cimento 0.9 0.7

Aço em gelo 0.02 0.01

Osso seco em osso 0.3

Osso na articulação 0.003

22
Movimento angular
• Para além dos movimentos translaccionais sobre os
quais já se falou, existem também os rotacionais (ou
angulares).

• As principais grandezas que caracterizam os


movimentos angulares (para além do ângulo θ) são:
• A Velocidade Angular média:

=
t

• A Aceleração Angular
média:
 f − i 
= =
t f − ti t 23
Relação entre as grandezas lineares e as
grandezas angulares

• Espaço percorrido: s = r 

• Velocidade linear: v = r 

• Aceleração linear: at = r  

24
Movimento circular uniforme
• O movimento angular mais simples é aquele em que
um objecto se move num percurso circular com uma
velocidade constante: movimento circular
uniforme.

• Para que a velocidade se altere (o módulo do seu


vector mantém-se constante, mas a sua direcção
altera-se com o tempo, é necessária a existência de
uma aceleração: a aceleração centrípeta.

• Associada a esta aceleração existe a força


centrípeta.

• E como resultado o objecto vai ‘sentir’ a força


centrífuga.
25
Força centrípeta e força centrífuga
• É possível deduzir que, nestas circunstâncias, a
aceleração centrípeta toma a expressão:
v2
ac =
r

• E, portanto, através da 2ª lei de Newton, a força


centrípeta terá o valor: 
v
2

mv Fc
Fc =
R
R

26
Força centrípeta e força centrífuga
• No referencial do objecto, existe a força
centrífuga, que é uma força com a mesma
direcção e módulo da força centrípeta, mas de
sentido contrário:
 
Fcentrípeta = − Fcentrífuga

v

Fcentrífuga

27
Exemplo: atleta numa mista circular

• Um atleta corre a 9.2 m/s numa pista


redonda. A sua aceleração centrípeta é
3.8 m/s2. Qual o raio da pista?
v2 v 2 9.2 2
ac = r= = = 22.2 m
r ac 3.8

• Qual o período do movimento?


 r 22.2  2
v = r = r  t = = = 15.1 s
t v 9.2

28
Exemplo: automóvel a circular
numa curva inclinada

Qual é a velocidade máxima que um automóvel


pode ter sem que derrape numa curva inclinada?
Considere que existe atrito entre os pneus e o
estrada.

29
Exemplo: automóvel a circular
numa curva inclinada

 
N Fa

Fc 
Fg

 Fg = Fa sin( ) + N cos( )  Fg = N sin( ) + N cos( )


  
 − Fc + N sin( ) = Fa cos( )  Fc = − N cos( ) + N sin( )
 mg = N ( sin( ) + cos( ) )  −
 2  v 2 −  cos( ) + sin( )
 v  = 
 m r = N (−  cos( ) + sin( ) )  gr  sin( ) + cos( )
 −
 ( −   +  ) gr (tan( ) −  )
 v = gr cos( ) sin( )
=
  sin( ) + cos( )  tan( ) + 1 30
Exemplo: inclinação de um corredor

• Qual a inclinação de um corredor quando se


encontra a correr numa curva?

R
Fcfg
Fcp

 Fg

31
Exemplo: inclinação de um corredor

Fcp v2
tg ( ) = =
Fg Rg

Se : v = 20km / h = 5.5m / s
R = 15m

Vem que :  = 11.6º

32
Energia e trabalho
• A energia é uma grandeza conservativa.

• A energia pode ser transformada.

• A energia não se perde, pode apenas ser


transformada de uma forma para outra.

• A energia pode ser transformada em trabalho.

▪ Energia Cinética: Ec = 12 mv2

▪ Energia Potencial: E p = mgh

▪ Trabalho (por ex.): W = F s 33


Condições de equilíbrio
CORPOS EM EQUILÍBRIO

• A primeira condição de equilíbrio de um


corpo corresponde à Primeira Lei de
Newton e escreve-se através da
expressão vectorial:

F
i
i =0

• A segunda condição depende não apenas


das forças que estão aplicadas, mas
também do ponto de aplicação das mesmas.

34
Momento da força
• A grandeza que permite estabelecer a segunda
condição de equilíbrio num corpo rígido é o
momento da força. Que é também uma grandeza
vectorial, cuja norma é dada por:

 = F .d .sen 

onde: F é o valor da força, d é a distância do ponto de


aplicação da força ao ponto de rotação e  é o ângulo
formado pela força e pelo vector que liga o ponto de
aplicação da mesma ao ponto de rotação.

35
Condições de equilíbrio
• Se pensarmos num corpo em que as únicas forças
presentes são o seu peso e a força normal ao plano
onde este se encontra. Verifica-se que, para que o
corpo se mantenha em repouso, é necessário que a
vertical que passa sobre o seu centro de massa se
encontre sobre a sua base de sustentação. Ou seja,
enquanto que na situação c) o corpo
movimentar-se-á, nas situações a) e b) os corpos
manter-se-ão em repouso.

36
2ª condição de equilíbrio
• Relação entre os momentos das forças aplicadas a
um corpo e o sentido do seu movimento de rotação.

• Assim, para que haja equilíbrio é necessário


cumprir-se também a segunda condição de
equilíbrio:

i
i =0
37
Equilíbrio do corpo humano

• Exemplos de corpos em equilíbrio:

38
Alavancas
O MECANISMO DAS ALAVANCAS

• Uma alavanca é uma máquina simples formada por


uma barra rígida que pode rodar em torno de um
ponto fixo, ao qual se chama fulcro.

• As alavancas podem ser classificadas em três


classes:

39
Amplificação mecânica
• Aplicando a segunda condição de
equilíbrio a uma alavanca verifica-se que:
Pd1
F=
d2

• Se definirmos como amplificação


mecânica a razão entre a amplitude do
peso e a força efectuada, F, obtém-se:

P d2
m  =
F d1
40
O braço como alavanca
• Aplicando a equação anterior às alavancas da classe 3
(aquela às quais o nosso braço pertence), verificamos
que a amplificação mecânica é menor que 1…!!! Então
porque utilizará o nosso corpo esta classe de
alavancas?

• Para responder a esta questão, atente-se na seguinte


figura (a letra v representa velocidade e a letra L
representa distância):

41
O braço como alavanca
• …e conclua-se que:
d1 v1
=
d 2 v2
• A título de exemplo, estude-se o caso do braço,
aplicando este formalismo.

• Verificar-se-á que a força necessária para içar um


corpo cujo peso é P é aproximadamente 10P. 42
Elasticidade e compressão
• Ir-se-á estudar a deformação de corpos sob a acção
de forças de distensão e de compressão.

• A deformação de um corpo é definida através da razão:

l

l
onde: l é o seu comprimento e Δl a variação desse
comprimento. 43
Elasticidade e compressão
• O comportamento típico de um corpo sujeito a este
tipo de forças pode ser descrito através de um gráfico
da tensão que lhe está aplicada em função da
deformação a que fica sujeito:

metal dúctil

tecido ósseo
44
Módulo de Young
• Experiência através da qual se obtêm os
gráficos apresentados anteriormente:

Vídeo
http://www.geology.um.maine.edu/user/scott_johnson/share/Animations/Misc%20Movies/stress_s.avi /

• Na região elástica, o material pode ser


caracterizado através do seu Módulo de
Young:
P
Y=

45
Módulos de Young de tecidos biológicos
• Uma discussão interessante é aquela que deriva
da análise do Módulo de Young do tecido ósseo e
das suas componentes em separado:

Módulo de Young
(1010 N m-2)
Osso compacto
tensão
Compressão Componente
osso compacto 1.02 mineral

componente mineral 0.64 Componente


componente proteica <0.001 proteica

deformação
Distensão
osso compacto 2.24
componente mineral 1.66
componente proteica 0.02

46
Módulos de Young de tecidos biológicos

• Quanto aos tecidos moles, formados


maioritariamente por moléculas que se cruzam e
que manifestam uma grande elasticidade (por este
motivo, estes tecidos são, muitas vezes,
denominados elastómeros), apresentam Módulos de
Young na ordem de 105 a 106 N m-2.

47
Forças impulsivas

• O comportamento dos tecidos face às forças que lhe


estão aplicadas depende, não apenas da intensidade
da força, como também do intervalo de tempo durante
o qual ela lhe está aplicada. As forças impulsivas são
caracterizadas por serem forças muito intensas, mas
de curta duração.

• O valor médio de uma força impulsiva relaciona-se


com a variação da quantidade de movimento de um
corpo através do teorema do impulso:

mv f − mv i
I =  p  Fmed  t = mv f − mv i  Fmed =
t
48
Exemplo: chegada ao chão
• Com base nesta expressão, porque será que os
efeitos causados por uma queda num solo mole são
muito diferentes daqueles que ocorrem quando a
queda é sobre um solo duro?

• Qual é a altura máxima a que um indivíduo se pode


atirar sem que haja fractura das pernas? (Considere
que a queda é feita no cimento - Δt = 10-2 s; que a
pressão máxima permitida pelos ossos é
P = 108 N m-2; que a área dos calcanhares é
A = 2 cm2 e que a massa do indivíduo é m = 70 kg).
(Resposta: aproximadamente 42 cm). (Sugestão: O
que acontecerá se o chão for menos duro? Pense
que, nesse caso, o tempo de colisão poderá ser
cerca de oito vezes superior…)
49
Colisão elástica e totalmente inelástica

• Nas colisões elásticas há conservação de energia


cinética.

• Nas colisões totalmente inelástica, os objectos


seguem juntos.

50

Você também pode gostar