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Problema - De que modo pais e professores contribuem para que as crianças brinquem
livremente na natureza?
Atualmente, numa ótica de sociedade ocidental as crianças têm sido levadas a uma infância
muito especializada e distante das relações fora do contexto familiar e escolar. Espaços
públicos e principalmente os espaços naturais, já não são a primeira opção para o divertimento
e desenvolvimento de uma criança. O contacto com a natureza em muitos casos é sinónimo de
caos, medo e perigo. Existe uma conexão direta entre as relações que as pessoas desenvolvem
com a natureza no período da infância e os sentimentos de amor e compreensão a cerca dos
processos 34 de nascimento, crescimento e morte dos frutos da Terra, de forma que esta
conexão leve ao sentimento de pertencimento ao mundo natural e as atitudes fundamentadas
na sustentabilidade do planeta (Tiriba, 2018). Deste modo, compreendendo a importância do
brincar na natureza no período da infância, e o potencial destas brincadeiras para o
desenvolvimento pleno de habilidades motoras, intelectuais, emocionais e criativas, propôs-se
a questão geral de partida que norteou o presente trabalho de investigação: - De que modo
pais e professores contribuem para que as crianças brinquem livremente na natureza?
Hipóteses/objetivos/questões de investigação
Considerando que crianças são pessoas que não possuem autonomia sobre seus desejos e do
seu ir e vir e que para se desenvolverem precisam do apoio dos adultos com o qual se
relacionam, é preciso identificar a perspetiva dos pais e professores sobre o brincar livremente
na natureza e, portanto, foram delineados os seguintes objetivos específicos:
Variáveis/objetos de investigação
Variável moderada –
Variável
O presente estudo foi realizado nos distritos de Leiria, Santarém, Lisboa e Coimbra, uma vez
que tal população era mais acessível a investigadora. No distrito de Leiria foram entrevistados
11 educadores distribuídos pelos concelhos de Leiria, Batalha e Pombal No distrito de Lisboa
foram entrevistados 3 educadores distribuídos pelos concelhos de Loures e Sintra. Além de
mais 2 educadores que não disponibilizaram a informação sobre suas localizações. Referente
aos pais, foram entrevistados no distrito de Leiria 23 pais distribuídos pelos concelhos de Leiria
e Pombal. No distrito de Santarém foram entrevistados 5 pais do concelho de Alcanena. No
distrito de Lisboa foram 7 pais do concelho de Loures. E 3 pais da região de Coimbra dos
concelhos de Figueira da Foz, Paião e Penela. E ainda 3 pais que não disponibilizaram as vossas
localizações. Desta amostra 4 professores sinalizaram que a escola em que trabalham se
localiza em zona rural, 9 professores de zona urbana e 3 de zona de transição urbana-rural. Já
os pais sinalizaram que 15 estão em zona rural, 17 em zona urbana e 9 em zona de transição
urbana-rural.
Técnicas/Instrumentos
A partir dos dados obtidos tornou-se necessária a utilização das técnicas de análise de
conteúdo, pois essa se adequa as estratégias de recolha de dados apresentadas neste
trabalho. Como assegura Coutinho (2018), pode-se dizer que este conjunto de técnicas
possibilitam analisar sistematicamente um corpo de material textual, de forma a apurar e
quantificar palavras, frases e/ou temas, considerados pertinentes a comparação posterior de
modo a obter resultados contáveis
Desta forma Bardin (2011), apresenta três momentos que devem ser observados na técnica de
análise de conteúdo. São eles: a préanálise, onde foram organizadas as informações
recolhidas de forma a sistematizar as ideias conforme os objetivos do trabalho; a exploração
do material e o tratamento dos resultados, onde foi feita a leitura dos dados e a associação
com o quadro teórico do estudo; e por fim a inferência e interpretação, onde foi feito o
tratamento dos resultados. Sendo assim, foram desenvolvidas as categorias que de certa
forma correlacionaram e ordenam as informações. Podendo perceber conforme citado acima
que esta etapa organiza as ideias, reunindo o maior número de informação e condensando em
"uma representação simplificada dos dados brutos" (Bardin, 2011, p. 119). Uma vez
estabelecida essas categorias, foi possível passar a etapa de tratamento dos resultados,
conforme segue no capítulo seguinte.
Resultados
Por outro lado, ao mesmo tempo que pais e professores identificam os benefícios, revelam
não perceber que para usufruir dos mesmos, é necessário um maior despreendimento de
conceitos como risco, perigo e falta de segurança. Foi identificado neste estudo que, para os
professores, os espaços disponíveis não oferecem a segurança necessária, e para os pais, a
natureza traz muitos perigos.
Conclusões
Enquanto contributo pessoal, esta pesquisa me fez perceber que a liberdade das crianças é um
problema a nível mundial. Como brasileira, que vive na cidade do Rio de Janeiro, umas das
cidades mais violentas do mundo, percebi que as preocupações de pais e professores no Rio
de Janeiro – Brasil, são as mesmas de pais e professores no distrito de Leiria – Portugal. E
interrogo-me como isso é possível, visto que Portugal é o 4º país mais seguro do mundo?
Talvez seja a chamada globalização, ou perspetiva ocidental, ou ainda a influência dos países
europeus nos processos de desenvolvimento dos países emergentes. Contudo, de uma
reflexão mais global, parece emergir a necessidade de, com urgência, desconstruir a cultura da
segurança, ocupar espaços públicos e libertar as crianças. Com relação as limitações do estudo,
destaca-se o facto da investigadora ser aluna internacional e ter pré conceções acerca dos
países europeus. Enquanto pessoa latinoamericana tinha uma visão de que países da União
Europeia não possuíam problemas com segurança e educação. E ao vivenciar um pouco da
realidade portuguesa percebi que cada sociedade possui os seus problemas, e que estes são
relativos as suas vivências e são reais. Outra limitação sentida por vir de outro país, foi
relacionada com a legislação educativa, bases curriculares e propostas pedagógicas de
Portugal. Tive, pois, que aprender pelo menos o básico para desenvolver uma pesquisa
relacionada com a infância em Portugal e isso é quase como cursar uma Licenciatura. Outros
constrangimentos estão relacionados a situação pandémica que assolou não só Portugal, 90
mas o mundo, encerrando de forma abrupta as relações sociais, as escolas, as instituições de
ensino o que de certa forma trouxe desmotivação e também medo. E que, em termos de
pesquisa impossibilitou a realização das entrevistas de forma presencial. Como sugestão para
estudos posteriores, julga-se importante estudar a perspetiva de crianças e jovens
relativamente ao brincar livremente na natureza, visto que este estudo trabalhou somente a
perspetiva de pais e professores. Outra sugestão seria a realização de estudo similar incidindo
sobre uma amostra de pais e professores cujo número seja representativo da realidade
nacional. Para além das propostas acadêmicas, sugere-se que possam ser elaboradas e
desenvolvidas ações que possibilitem à sociedade portuguesa avançar no sentido de dar mais
liberdade para brincar e mais mobilidade às crianças. Nesse sentido podem desenvolve-se
projetos como fechar ruas ao trânsito automóvel aos fins de semana, promover a utilização de
terrenos vazios, praças e parque naturais próximos as escolas para as crianças brincarem,
flexibilizar o horário laboral para que os pais possam dedicar mais tempo aos seus filhos e
apostar em processos de formação onde haja espaço para o corpo, para o movimento e para a
educação ao ar livre.
Por fim, com o conjunto de análises referente aos objetivos específicos é possível responder à
pergunta de partida: “De que modo pais e professores contribuem para que as crianças
brinquem livremente na natureza?” Neste sentido, ao retornar ao corpo da pesquisa é possível
constatar que pais e professores contribuem para que as crianças brinquem livremente na
natureza, pois os adultos relacionados a pesquisa, compreendem a importância que o brincar
livremente na natureza exerce na formação e desenvolvimento da criança. Contribuem porque
permitem que seus filhos e alunos tenham experiências com a natureza. E contribuem, pois,
são capazes de perceber suas limitações enquanto adultos, as limitações de tempo e como
estas interferem nos processos de criação das crianças, quando estão a brincar em liberdade.
Com esta pesquisa foi possível perceber que se faz necessário um trabalho de sensibilização e
conscientização da população no geral sobre a importância dos riscos geridos para o
desenvolvimento da criança. A superproteção aqui foi o fator primordial que impede uma
vivência plena na natureza. Pais e professores têm medo que as crianças se magoem nas
brincadeiras, preferem equipamentos e espaços que trazem uma maior sensação de segurança
em detrimento das reais possibilidades de aprendizagem na e com a natureza.
Como sugestão para estudos posteriores, julga-se importante estudar a perspetiva de crianças
e jovens relativamente ao brincar livremente na natureza, visto que este estudo trabalhou
somente a perspetiva de pais e professores. Outra sugestão seria a realização de estudo similar
incidindo sobre uma amostra de pais e professores cujo número seja representativo da
realidade nacional.