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A PEDAGOGIA DA ESCUTA NA 1ª INFÂNCIA - UMA ANÁLISE QUALITATIVA

DAS PRÁTICAS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

LISTENING PEDAGOGY IN EARLY CHILDHOOD - A QUALITATIVE ANALYSIS


OF SCHOOL PRACTICES IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION

SUELLEM SANTIAGO SILVESTRINI FIDENCIO1


TALIA GOMES DE FREITAS2
RESUMO

Está presente pesquisa tem o intuito de ressaltar a importância da escuta na


primeira infância (0 aos 6 anos de idade), a criança necessita ser escutada, ouvida e
acolhida.
Foi realizada uma pesquisa qualitativa para sabermos e entendermos como a
escuta ativa é vista e assimilada pelos educadores, havendo uma leitura de algumas
respostas considerando o contexto em que o educador vive. Ao longo do trabalho foi
trazido diferentes pesquisadores renomados e documentos que tem o intuito de
garantir um ensino de qualidade para todos os estudantes, para que possamos
entender a importância de considerar a criança como um sujeito histórico e de
direito.
Palavras-chave: Escuta significativa, processo infantil, protagonismo infantil.

ABSTRACT

This research aims to emphasize the importance of listening in early childhood


(0 to 6 years old), the child needs to be listened to, heard and welcomed.
A qualitative research was carried out to know and understand how active
listening is seen and assimilated by educators, with a reading of some responses
considering the context in which the educator lives. Throughout the work, different
renowned researchers and documents were brought with the aim of guaranteeing
quality education for all students, so that we can understand the importance of
considering the child as a historical and legal subject.
Keywords: Meaningful listening, child process, child protagonism.

1
Suellem Santiago Silvestrini Fidencio é profissional na área da educação e acadêmica do 8° período do Curso
Superior de Pedagogia na Universidade de Tecnologia de Curitiba, em Curitiba-Pr.
2
Talia Gomes de Freitas é profissional na área da educação e acadêmica do 8° período do Curso Superior de
Pedagogia na Universidade de Tecnologia de Curitiba, em Curitiba-Pr.

1
1 INTRODUÇÃO

A escuta na Educação Infantil nem sempre foi algo rotineiro, no entanto é


muito valioso para o processo de ensino-aprendizagem na infância, pois é através
da escuta que o professor descobre o que é preciso, quais são as dificuldades na
aprendizagem, quais marcos a criança alcançou e sua potencialidade. Dado a isso
dispomos em fazer uma análise qualitativa para entendermos e analisarmos sobre o
que verdadeiramente os professores sabem sobre a escuta na primeira infância.
Visto que é através da convivência com seus pares que ela se desenvolve e a
interação com o mundo torna-se essencial para sua formação social e intelectual.
Desse modo é importante ressaltar que a criança não se espelha apenas em um
agrupamento específico e sim em todas aquelas pessoas que não só participam
como permeiam seu círculo social, logo suas menções estão automaticamente
vinculadas a suas vivências. A escuta e o cuidado incentivam a criança a alcançar a
máxima potencialidade, sejam elas comunicações verbais e não verbais.
Um dos grandes problemas atualmente é a falta de empatia e atenção dos
professores com as crianças, por estarmos vivendo em um contexto histórico pós
pandemia, ou ainda em um contexto histórico marcado pelo esgotamento mental.
Não é dada a real importância para a falta de autonomia e relações que as crianças
estão deixando de vivenciar. Os impactos causados nas crianças durante a infância
refletem na vida adulta delas, causando males como dependência excessiva dos
pais, não saber lidar com problemas e não ter interações com seus pares. A falta de
atenção e convívio da criança com seus pares prejudica excessivamente seu
desenvolvimento, pois ela passa a ser dependente demais dos adultos, criando
medos, timidez e sentimento de insegurança. É importante incentivar o crescimento
da criança, de tal modo fazendo com que ela se relacione com outras crianças para
que desde cedo tenha um convívio social, criando laços e induzindo positivamente
para que ela alcance a máxima potencialidade.
De acordo com o pesquisador Marco Antônio Moreira (2011) os primeiros
cinco anos de uma criança são considerados uma das fases mais importantes da
vida, pois é quando ela consegue alcançar um milhão de conexões em até dois
segundos, segundo o autor para que a criança tenha um desenvolvimento saudável
há cinco tópicos que podem ser utilizados como base: a conexão, a conversação, o
brincar, ter um lar saudável e a comunidade em que ela vive.
O seguinte trabalho tem a intenção de discorrer sobre a importância da
escuta significativa na primeira infância e os aspectos que a permeiam, buscando
alertar e assegurar a importância de repensar nas práticas educativas, criando um
ambiente transformador onde provoquem reflexões, colaborando para o
desenvolvimento do coletivo. A escuta visa valorizar e potencializar os
conhecimentos das crianças com a finalidade de ter experiências lúdicas, contínuas
e significativas.
.
2 METODOLOGIA

2
O presente artigo está relacionado a primeira infância sendo oportuno a
pesquisa bibliográfica, sendo essencial para dar continuidade a uma pesquisa
exploratória, pois para Fonseca (2002):
[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e
publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-
se com uma pesquisa bibliográfica [...]. (FONSECA, 2002, p. 32).
Portanto é importante conhecer e analisar o tema abordado para se
aprofundar e fazer uma análise qualitativa em cima dos dados levantados.
Para o trabalho acadêmico será abordado uma pesquisa de caráter
exploratório, segundo o pesquisador e professor Antônio Joaquim Severino:
A pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre
um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho,
mapeando as condições de manifestações desse
objeto[...] (SEVERINO, 2016, p.132)

O procedimento utilizado na pesquisa é por meio de ferramentas on-line,


utilizando um questionário feito pelo o Google formulário com os docentes a fim de
compreender e analisar o que entendem sobre a escuta ativa, as diferentes
linguagens e toda a sua importância. Foi usada a técnica de análise de
levantamento de dados, um questionário disponível para os entrevistados. Foram
realizadas perguntas chaves para os entrevistados para um aprofundamento,
levando em consideração qual contexto se encontra. De acordo com Severino
o questionário é um
“Conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se
destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos
pesquisados, com vistas a conhecer a opinião destes sobre os
assuntos em estudos. As questões devem ser pertinentes ao objeto e
claramente formuladas, de modo a serem bem compreendida pelos
sujeitos”. (SEVERINO, 2016, p.134)
Uma pesquisa qualitativa para que possamos investigar e compreender
como atualmente a infância é compreendida pelos educadores.

A DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


A docência na educação infantil necessita de uma consciência pedagógica, já
que o professor é o agente mais responsável na relação, dado a isso, foi proposto
uma pesquisa direcionada aos docentes, especialmente aos educadores da
educação infantil. A pesquisa compõe perguntas abertas e múltiplas escolhas
direcionadas a professores da rede pública e privada, com o intuito de fazer uma
análise qualitativa.
No quadro abaixo estão os dados relevantes dos entrevistados:

3
Fonte: Elaboração Própria.

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Mantemos o anonimato para preservar a identidade dos educadores, vale
ressaltar que todos os entrevistados concordaram em responder o questionário,
havendo consciência de que era para objeto de pesquisa.
O estudo qualitativo foi realizado perguntas abertas para que possamos
compreender a complexidade de cada resposta, compostas por questões de
múltiplas escolhas para que entendamos a realidade de cada educador. O principal
objetivo que norteou tais levantamentos foi verificar se os professores conhecem a
escuta ativa, se praticam e quais as formas de linguagens mais utilizadas
diariamente dentro da sala de aula.
O presente artigo obteve respostas de sessenta e dois professores, sendo
que apenas dois nunca atuaram na EI. Foi questionado aos docentes em qual setor
eles trabalhavam (público ou privado), essa pergunta pode nos revelar inúmeras
respostas e reflexões, pois faz com que entendamos um pouco a realidade de cada
professor, em função de que, são cenários diferentes para cada setor, podendo
identificar que as vivências da educação infantil são múltiplas e dependem
diretamente dos espaços onde ocorrem, sobretudo no aspecto da infraestrutura,
como também número de alunos dentro de sala de aula.
Os dados coletados revelaram que 34 profissionais trabalham no setor
privado e 28 no setor público. Esse resultado será analisado individualmente para
que possamos refletir qual o cenário de cada docente.

PRATICANDO A ESCUTA ATIVA

Quando falamos sobre a prática da escuta ativa, não estamos falando sobre o
audível, aquele que se pode ouvir, mas sim aquele que verdadeiramente ouve,
entende e aceita o que lhe é dito. Dessa maneira a escuta é a capacidade do adulto
conseguir responder e traduzir no cotidiano pedagógico a necessidade da criança, é
entrar no mundo da criança, conseguir entender o que ela quer transmitir através de
suas atitudes, falas ou expressões.
Para que possamos entender um pouco mais sobre a importância do ouvir,
Francesco Tonucci que é um grande pensador da educação e tem uma das vozes
mais ativas do mundo, expressa que o desafio em fazer a leitura integral da criança:
Para que as crianças possam se expressar e tem o desejo de fazê-
lo, é preciso que os adultos saibam ouvir. Isso não significa apenas
ouvi-las, mas procurar compreender, dar valor às palavras, às
intenções verdadeiras de quem fala. Toda criança fala, mas nem
sempre os adultos são capazes de perceber a mensagem [...]
Tonucci (2005, p.18)

A infância é um período inicial, devendo ser vista e vivida de forma legítima e


verdadeira, repleta de vivências e experiências fundamentais para a construção de
memórias da criança, pois essas memórias serão carregadas e farão parte da vida
do indivíduo.
Dado a isso, perguntamos aos entrevistados se praticam a escuta ativa. Uma
pergunta que informa se o educador pratica a escuta ativa, sendo entrelaçada com
outra pergunta, sendo ela qualitativa que aponta se o profissional pratica a escuta
ativa.

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GRÁFICO 02: VOCÊ PRATICA A ESCUTA ATIVA?

Fonte: Elaboração Própria.

Do total dos entrevistados, 93% afirmaram que praticam a escuta ativa, mas
para nos aprofundarmos mais sobre a prática e como os professores entendem
sobre a escuta ativa, foi realizado a seguinte pergunta “o que é escuta ativa para
você?”. Essa pergunta aberta é qualitativa, pois tem o intuito de esquadrinhar,
hipotetizando se realmente conhecem o que é escuta ativa e entendem o que é, ou
se supostamente sabem, pois, esse exercício só emerge de um adulto capaz de se
abrir ao mundo da criança, sendo que para isso o educador deve ser
suficientemente conhecedor de teorias que ajudem a ler e entender o mundo da
criança.
Realizamos um gráfico para afunilar as respostas dos entrevistados
separadas de acordo com a proximidade da mesma. O intuito é de podermos
analisarmos o que o professor entende sobre escuta ativa, como também ter uma
percepção do que cada um dos entrevistados respondeu:

Fonte: Elaboração Própria.

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Para ilustração iremos explorar e selecionar algumas das respostas obtidas, o
motivo seria pela aproximação de resposta, como ressaltamos no gráfico acima.
O entrevistado nº 51, mulher, 35 anos, rede pública, especialista cita que
"Estar (abaixar) na altura e olhar nos olhos da criança, prestando atenção exclusiva
ao que ela comunica, não apenas verbalmente, mas de uma maneira geral (gestos,
posição corporal, movimentos do corpo e rosto, posições das mãos)." Podemos
observar que essa resposta se encaixa no gráfico que relata que é “ouvir e observar
a criança em diferentes contextos” onde contém quatro respostas iguais ou
próximos. Pois descreve que ouve e observa a criança, mas em nenhuma das
respostas aponta que compreende ou medeia.
O entrevistado n°1 é professor da rede privada, graduado em Pedagogia e
atua na área da educação há doze anos. Ao ser questionado sobre o que é escuta
ativa respondeu que:
É uma prática que demanda sensibilidade e empatia. É se dispor a
ouvir o outro e realmente atentar-se ao que foi dito, fazendo dessas
palavras algo realmente significativo. É olhar nos olhos, ouvir com
atenção, disponibilizar o seu tempo, sua atenção e seu afeto. Essa
prática na sala de aula é de grande valia, pois permite que a criança
se sinta confiante em suas opiniões, se expresse com clareza e
consiga se relacionar melhor socialmente. Os professores precisam
aprender a ouvir seus alunos, pois as crianças trazem consigo muitos
conhecimentos adquiridos de maneiras variadas e experiências
inusitadas que podem ser aproveitadas para conhecimentos
posteriores.

De acordo com o seu entendimento e sua vivência, podemos perceber que o


entrevistado n°1 conhece o que é a escuta ativa, muito embora não seja possível
perceber se ele realmente a prática, haja vista os limites da pesquisa, que só
usamos uma linguagem para analisar - a escrita, visto que não fomos a campo para
observar a prática de nenhuma aula. Portanto, em sua resposta podemos observar
que ele se constitui de uma base teórica.
Percebemos que o professor que trabalha em rede privada, tem uma vivência
diferente de quem trabalha na rede pública, o que nos faz cogitar e lembrar que as
escolas de rede privada possuem mais recursos, o número de alunos é bem menor
por sala e possui mais estrutura para os estudantes. Havendo mais possibilidades
do professor conseguir fazer uma escuta ativa dentro do âmbito escolar.
Há desigualdade entre os recursos de infraestrutura disponíveis nas escolas
de educação infantil, de acordo com o censo da educação básica de 2020. Os
percentuais são apresentados segundo a dependência administrativa (o total de
escolas é destacado entre parênteses ao lado do nome de cada rede). O gráfico
abaixo informa que:
RECURSOS RELACIONADOS À TECNOLOGIA E À INFRAESTRUTURA DISPONÍVEIS NAS
ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL – PARANÁ – 2020

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Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica.

Interpretando o gráfico podemos entender que no setor da rede privada há


mais recursos dentro do ambiente escolar em que a criança se situa, pois para a
criança que não tem acesso a alguns recursos faz a total diferença para o seu
ensino-aprendizagem. Uma vez que se tem uma infraestrutura adequada é oferecida
ao aluno possibilidades de uma vivência prática sendo um estimulante, aumentando
o interesse da criança ao seu redor, potencializando o aprendizado.
O que queremos aqui salientar, é que o entrevistado n°1 está inserido em um
ambiente com diferentes recursos que aprimoram sua prática docente, além disso
sua experiência de mais de uma década contribuiu para que ele possa compreender
o mundo da criança, importando-se com suas curiosidades, mudando muita das
vezes suas perspectivas para poder olhar o mundo do modo que ela olha também.
Cabe aqui destacar que para o entrevistado “os professores precisam aprender a
ouvir seus alunos”, portanto para que haja o ouvir é necessário praticar, sendo um
exercício diário.
O educador que exerce a escuta deve dar autonomia aos alunos para
poderem se expressar com clareza, Paulo Freire (1921-1997) fala a respeita da
autonomia dos educandos:
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo
ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.
Precisamente porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade da
ética e resvalar para a sua negação, por isso é imprescindível deixar
claro que a possibilidade do desvio ético não pode receber outra
designação senão a de transgressão. (Pedagogia da Autonomia.
Page, 58)

A criança precisa ter autonomia, o professor deve ser o mediador, ser a ponte
entre o conhecimento e a aprendizagem. Respeitando o ser que ela é, um ser
capaz, produtor de cultura. Compreender que é um sujeito detentor de seus próprios
pontos de vista, de suas ideias, que é capaz de criar, recriar, inventar onde
demonstra as suas vontades. Entender que o aluno é capaz de pensar por si só e de
deixá-la participar de tomadas de decisões, assegura o protagonismo infantil.
O protagonismo infantil, dá a autonomia para ela se conhecer. Como
conhecer seus próprios limites, criará também confiança em si mesmo, terá mais

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consciência sobre suas atitudes e com isso, poderá estruturar suas decisões com
mais assertividade. Como afirma a BNCC,
Essa concepção de criança como ser que observa, questiona,
levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que
constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado
por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não
deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo
de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a
necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas
pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-
escola. (BNCC, 2017)

Portanto declara que devemos ter intencionalidade, ir além do planejamento


de conteúdos, tomando decisões de forma deliberada, com objetivos e com intenção
de criar experiências nas atividades.
Nos direcionando ao entrevistado n° 2 que trabalha em rede privada há dez
anos. O educador quando lhe foi questionado se pratica a escuta ativa afirmou que
sim e quando lhe foi perguntado o que é escuta ativa, respondeu que:

Escuta ativa é além de apenas ouvir. Escutar a criança é registrar,


observar, ver, sentir, acolher, afetar, planejar... Assim, com esse
olhar sensível, podemos nos guiar pelos interesses do grupo.
Promovendo propostas com sentido e significado.

O professor entrevistado n° 2 sugere que a prática da escuta ativa é


demorada, demanda planejamento e exercício contínuo, nos fazendo refletir que
para isso o professor deve ter uma formação contínua, em virtude que a infância
está em constante mudança, para que compreenda a criança como sujeito histórico,
validando seus sentimentos e que ela seja considerada para tomada de decisões.
Podemos observar que o educador fez um conjunto do que é a escuta ativa,
citando o registrar, o afeto, o acolhimento e o ato de planejar. Todos esses
indicativos demandam tempo no exercício da escuta. Visto que para o educador o
ato de planejar é importante em razão de que para ouvir de fato é necessário criar
mecanismos. Quando citamos “mecanismos” é o fato de ter o planejamento a favor
da criança, sendo um facilitador para aprendizagem e desenvolvimento da mesma.
Para que essa escuta seja de fato realizada e efetivada. Explorando o
planejar na educação infantil, podemos afirmar que a aprendizagem só será
significativa se houver elaboração de sentido e para provocar aprendizagens, é
preciso, fazer conexões e relações entre sentimentos, ter um olhar sensível para a
criança e para o grupo. Carla Rinaldi pesquisadora da educação cita que:

(...) mas configura acima de tudo, com um processo de construção


da razão, dos porquês, dos significados, do sentido das coisas, dos
outros, da natureza, da realização, da realidade, da vida. é um
processo de auto e socioconstrução, um ato de verdadeira e própria
co-construção. (1994, p.13)

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Devendo elaborar o planejamento de acordo com as necessidades das
crianças, sendo assim, colocar em prática a pedagogia da escuta. Organizando
propostas que dialoguem com os desejos e necessidades das crianças. Planejar em
conformidade com as habilidades exigidas pela BNCC, contemplando os objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento, levando em conta o dia-a-dia. Havendo
flexibilidade ao preparar a aula, organizando o espaço pensando na criança,
Promover o ensino de acordo com contexto vivido, observar a curiosidade da criança
e suas nuances, complementando a importância da observação Weffort (1995) cita
que "a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar
sensível e pensante”.
O professor deve aprofundar-se no conhecimento do assunto, ser um
pesquisador, necessitando estudar, elaborar e planejar de maneira que haja
coerência. Conforme cita Egidio Francisco Schmitz

Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser planejada. O


planejamento é uma espécie de garantia de resultados. E sendo a
educação, especialmente a educação escolar, uma atividade
sistemática, uma organização da situação de aprendizagem, ela
necessita evidentemente de planejamento muito sério. Não se pode
improvisar a educação, seja ela qual for o seu nível. (SCHMITZ,
2000, p.101)

Não há como uma aprendizagem ser significativa quando não há organização de


espaço, quando não há planejamento, objetivos a serem alcançados. Quando não se planeja se
torna repetitivo o ensino, sem significância, não ofertando aos alunos o que eles necessitam e
tem por direito, dado a isso, a observação auxilia o educador nesse planejamento, pois é
através da vivência que consegue fazer registros para saber qual o próximo passo. José Carlos
Libâneo (1945) educador e escritor brasileiro expõe que:

[...] o planejamento é um processo de racionalização, organização,


coordenação da ação docente de modo que a previsão das ações
docentes possibilite ao professor a realização de um ensino de
qualidade, evite a improvisação e a rotina. Para que os planos sejam
efetivamente instrumentos para a ação, devem ser como um guia de
orientação (LIBÂNEO, 1994, p. 222-223).

Entendemos que o planejamento é norteador e organizador que possibilita um


ensino de qualidade para os educandos. Pois o planejamento não é ponto de
chegada, mas sim um ponto de partida para novas aprendizagens e vivências
significativas.
A escuta ativa, propõe uma pedagogia participativa, não é planejar para a
criança, mas sim planejar com a criança. Segundo a pesquisadora Júlia Oliveira-
Formosinho e João Formosinho (Pedagogia-em-participação: A Perspectiva
Educativa da Associação Criança, 2013) a pedagogia participativa é permitir que a
criança expresse seus pensamentos e estejam ativamente participando, que suas
experiências sejam reconhecidas e respeitadas.
Um dos entrevistados não soube dizer ao certo o que é escuta ativa, mas

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conseguiu em parte se expressar o que talvez seria para ele: “Não sei o que é,
porém pela palavra dá a entender que é quando você escuta os seus alunos e
atende o desejo deles nas aulas, procurando dar o conteúdo que mais interessa a
eles”. Percebendo-se que o entrevistado n° 3 afirma não saber o que é escuta ativa,
mas conseguiu em parte responder à pergunta explicando o que é, pois, a escuta
ativa é estar aberto ao inesperado, dar voz às curiosidades das crianças, pois o que
nos move é a curiosidade e quando perguntam o “por que?” Estão querendo
desenvolver teorias, entendendo o mundo que os cerca, interpretando o mundo da
sua maneira.
Quando praticamos o escutar e o olhar sensível estamos dispostos a sair da
nossa zona de conforto, propiciando ao aluno autonomia e participação. É
reconhecer o ponto de vista do outro, é tentar ver o mundo sobre outras
perspectivas, é estar aberto ao mundo da criança, dando valor ao modo como o
outro olha, quando nos colocamos no lugar do outro podemos enxergar o mundo de
novas maneiras.
Não há como falar sobre o ato de planejar sem citar um aliado essencial que
é a documentação pedagógica. A documentação pode ser vista como uma escuta
visível, sendo um amplo conjunto de documentações (vídeos, fotos, gravações,
notas escritas, atividades, etc.). O professor através da documentação pedagógica
garante o ouvir e ser ouvido pelos outros, além disso é uma forma do educador
refletir, intervir, diagnosticar, além de oferecer apoio e mediação para as crianças.
Rinaldi afirma que:

Observação, documentação e interpretação são entrelaçadas na que


o que eu definiria como movimento espiral em nenhuma dessas
ações podem ser separadas das outras. É impossível, de fato,
documentários sem observação e interpretação. Por meio da
documentação, pensamento ou a interpretação do documentador
torna-se tangível e passível de interpretação. As notas, as
gravações, os slides e as fotografias representam os fragmentos de
uma memória. (2022, n.p.)

É um conjunto que não funciona de forma efetiva quando separadas, sendo


assim uma precisa da outra, entrelaçadas, a documentação não serve após a
conclusão de experiências, para registros finais, mas sim durante o andamento,
apreciando as vivências. A documentação deve fazer parte do dia-a-dia escolar,
sendo um ato de carinho, amor e interação. As documentações pedagógicas são um
aliado para que o professor faça tais observações, podendo rever, reler e recapitular
sendo essencial para avaliação, sendo uma ferramenta para a avaliação e também
parte essencial para nossa própria experiência. Ademais a BNCC (2017) cita sobre
as documentações:

[..] é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as


aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de
cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços,
possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros,
feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas

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crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos),
é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período
observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de
crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”,
“maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para
reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de
aprendizagem de todas as crianças.

A documentação é uma ferramenta que ajuda os professores e as crianças a


refletirem sobre suas experiências, fazendo com que os educadores aprendam a se
conscientizar sobre sua própria maneira de trabalhar, a escutarem suas ideias e
teorias e serem críticos consigo mesmos, pois cabe ao professor aprimorar seu
trabalho constantemente. Nesse sentido, o diagnóstico de suas práticas
educacionais possibilita que ele possa tomar decisões sobre os caminhos de
aprendizagem futuros.
A prática da escuta ativa deve ser algo rotineira e não pode restringir-se
apenas em estar atento aos pequenos detalhes, mas sim preocupar-se com o outro.
Além disso, é um trabalho que busca alinhar a teoria com a prática, pois não basta
saber o que é escuta ativa, mas sim saber como exercê-la cotidianamente.
Necessitando um equilíbrio entre fundamentação pedagógica e afeto nas relações.
A presente pesquisa conteve diferentes respostas sobre o que é escuta ativa,
mas grande parte das respostas ficou incompleta, nos fazendo refletir que ainda há
muitos desafios na educação que precisam ser superados. O entrevistado n° 4
quando questionado se praticava escuta ativa, falou que sim, porém quando lhe foi
perguntado o que era escutava ativa respondeu que “Quando a criança capta o que
você está falando”. Interpretando o que o educador respondeu, podemos perceber
que ele não conhece de fato o que é escuta ativa.
A relação educativa precisa ser centrada na capacidade do educador escutar
e responder às necessidades das crianças, portanto não é se o aluno entende ou
não o que o professor fala, mas sim se trata de como a criança é entendida, se é
acolhida. Alfredo Hoyuelos, especialista em formação de professores cita que,
Escutar é, na realidade, uma arte para entender a cultura infantil: sua
forma de pensar, fazer, perguntar, teorizar. Escutar significa estar
atento, com todos os sentidos, para reconhecer todas as linguagens
da infância e sua relação com o mundo. A escuta possibilita o
assombro, a maravilha do inesperado e do imprevisto. (2007, p.01)

Sendo assim, a escuta é estar aberto a novas possibilidades, tornando-se um


princípio importante a ser vivido.
O entrevistado n°5 citou que escuta ativa é “E escutar o que os alunos
desejam, entender o que é importante para eles, quais gostos, o que não gostam,
suas dificuldades e seus pontos fortes”. Cabe aqui destacar que a escuta não é
apenas isso, ela vai além de conhecer a criança, a escuta é criar laços, como cita a
Rinaldi que “a escuta é emoção, é gerada por emoção, é influenciada pela emoção
dos outros e estimula emoções”. Quando as emoções estão à flor da pele gera mais
entusiasmo e perguntas, sendo um ponto alto nos contextos educativos, havendo
interações e descobertas tanto do professor quanto do aluno.

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O escutar promove perguntas e não respostas, portanto, o professor deve
estar atento sobre suas curiosidades e seus sinais de linguagens.
O questionário sobre a escuta ativa, teve o intuito de analisar se os
professores praticam a escuta ativa, bem como analisar se compreendem o que isso
significa efetivamente. Notou-se que apenas quatro educadores dentre sessenta e
dois relataram não saber o que é, porém muito dos entrevistados quando lhes foi
perguntado grande parte foi obtido respostas incompletas ou sem sentido. Para
aprender de fato, praticar e entender o que é a escuta ativa requer curiosidade,
tempo, atenção e disponibilidade, afirmar que sabe o que na verdade desconhece,
ou que sabe pouco resulta em uma vivência limitada tanto para os alunos quanto
para o educador.
A escuta é sensível e refinada, exige de nós, um repertório gigantesco, amplo
e diversificado. Escuta requer paciência, não havendo pressa em concluir, pois o
importante é o processo que ocorre, escutar é tentar ver o mundo em outras
perspectivas, devendo-se deslocar e tentar ver de outra maneira, pois não há uma
“verdade”, mas sim diversas formas de entender o mundo. Cabe aqui destacar que o
professor deve conhecer a teoria para conseguir compreender melhor o mundo da
criança. Como também querer entender o mundo da criança, o modo de interpretar
que um adulto possui é diferente do modo em que a criança enxerga, por isso
devemos procurar entender sua maneira de ler o mundo, pois cada um tem suas
próprias vivências.
Quanto mais o educador exerce o ouvir, mais disposto fica, no sentido
criativo, de disponibilidade ao observar, a entender entrelinhas o que o aluno está
querendo que de fato ele entenda, fazendo com que tenha um novo olhar para a
prática docente, percebendo que as crianças são de fato os protagonistas do
processo aprendizagem. O exercício da escuta ativa é uma ferramenta no ensino
aprendizado, pois elas se tornam mais interessadas pela aula, sendo um momento
mais dinâmico, envolvente ampliando a capacidade de aprendizado dos alunos.
Para que aprenda a escutar o educador também deve ser escutado. Nesse
sentido, Taís Romero (2022) especialista em coordenação pedagógica citou que
“todo professor deveria ter alguém para escutá-lo. Ser escutado com respeito para
mim, é o jeito mais bonito de aprender a escutar” assim como as crianças os
professores também querem ser ouvidos verdadeiramente buscando empatia pelos
demais. Desta forma o professor deve ter apoio pedagógico, para que consiga
refletir sobre suas ações, se necessário realinhar o percurso, para que consiga se
desconstruir para que seja construído novamente de uma forma em que o afeto e
infância seja a prioridade na prática docente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa demonstrou que os docentes ainda tem noções


esparsas sobre a escuta ativa, pois para focar na criança devemos focar no
educador, que por sua vez tem um papel importantíssimo na história da infância.
A pesquisa levantou inúmeras hipóteses e novas possibilidades de estudo,
que acreditamos serem um terreno fértil para a produção acadêmica, pois conforme
foram analisadas as diversas respostas dos educadores pudemos perceber que falta
uma formação continuada, pois a educação e as crianças estão em constantes

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mudanças. O professor por sua vez deve seguir esse ritmo, ter preparações antes
de ir para a sala de aula, havendo um embasamento teórico que se alinhe com a
prática, haja vista a sala de aula está repleta de olhares curiosos que buscam
respostas a todo momento.
Uma parte significativa dos entrevistados expôs que praticam a escuta ativa,
mas no momento em que lhe foi pedido para explicar o que era, não souberam
responder ou deixaram incompleta, demonstrando que ainda possuem pouco
conhecimento efetivo sobre a prática da escuta ativa, nos levando a entender que
não sabem de fato o que é e que provavelmente não praticam a escuta ativa com
seus alunos, sendo que o ato de ouvir requer que o professor queira escutar de
verdade, pois ela exige tempo, exercício, observação e afeto. O escutar é respeitar a
criança, querer entendê-la como também aprecia-la. O educador que pratica tal ato
valoriza e estimula as crianças a serem protagonistas de sua própria aprendizagem,
respeitando-as como indivíduos. Abrindo mão do seu autoritarismo, deixando a
criança direcionar o caminho a ser seguido, levando-a em conta, deixando-a como
protagonista de seu próprio conhecimento.
Fazendo uma análise crítica podemos concretizar que o professor para
praticar a escuta ativa deve saber de fato o que é, ter consciência sobre as
percepções e métodos, ter compreensão que a prática requer determinação. Sendo
articulada com uma formação contínua que irá aperfeiçoar sua prática pedagógica e
beneficiar as relações com os educandos. Tudo isso é necessário pelo motivo que o
docente deve ser um agente da transformação no processo educativo.

REFERÊNCIAS

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