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ABSTRACT
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Suellem Santiago Silvestrini Fidencio é profissional na área da educação e acadêmica do 8° período do Curso
Superior de Pedagogia na Universidade de Tecnologia de Curitiba, em Curitiba-Pr.
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Talia Gomes de Freitas é profissional na área da educação e acadêmica do 8° período do Curso Superior de
Pedagogia na Universidade de Tecnologia de Curitiba, em Curitiba-Pr.
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1 INTRODUÇÃO
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O presente artigo está relacionado a primeira infância sendo oportuno a
pesquisa bibliográfica, sendo essencial para dar continuidade a uma pesquisa
exploratória, pois para Fonseca (2002):
[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e
publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-
se com uma pesquisa bibliográfica [...]. (FONSECA, 2002, p. 32).
Portanto é importante conhecer e analisar o tema abordado para se
aprofundar e fazer uma análise qualitativa em cima dos dados levantados.
Para o trabalho acadêmico será abordado uma pesquisa de caráter
exploratório, segundo o pesquisador e professor Antônio Joaquim Severino:
A pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre
um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho,
mapeando as condições de manifestações desse
objeto[...] (SEVERINO, 2016, p.132)
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Fonte: Elaboração Própria.
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Mantemos o anonimato para preservar a identidade dos educadores, vale
ressaltar que todos os entrevistados concordaram em responder o questionário,
havendo consciência de que era para objeto de pesquisa.
O estudo qualitativo foi realizado perguntas abertas para que possamos
compreender a complexidade de cada resposta, compostas por questões de
múltiplas escolhas para que entendamos a realidade de cada educador. O principal
objetivo que norteou tais levantamentos foi verificar se os professores conhecem a
escuta ativa, se praticam e quais as formas de linguagens mais utilizadas
diariamente dentro da sala de aula.
O presente artigo obteve respostas de sessenta e dois professores, sendo
que apenas dois nunca atuaram na EI. Foi questionado aos docentes em qual setor
eles trabalhavam (público ou privado), essa pergunta pode nos revelar inúmeras
respostas e reflexões, pois faz com que entendamos um pouco a realidade de cada
professor, em função de que, são cenários diferentes para cada setor, podendo
identificar que as vivências da educação infantil são múltiplas e dependem
diretamente dos espaços onde ocorrem, sobretudo no aspecto da infraestrutura,
como também número de alunos dentro de sala de aula.
Os dados coletados revelaram que 34 profissionais trabalham no setor
privado e 28 no setor público. Esse resultado será analisado individualmente para
que possamos refletir qual o cenário de cada docente.
Quando falamos sobre a prática da escuta ativa, não estamos falando sobre o
audível, aquele que se pode ouvir, mas sim aquele que verdadeiramente ouve,
entende e aceita o que lhe é dito. Dessa maneira a escuta é a capacidade do adulto
conseguir responder e traduzir no cotidiano pedagógico a necessidade da criança, é
entrar no mundo da criança, conseguir entender o que ela quer transmitir através de
suas atitudes, falas ou expressões.
Para que possamos entender um pouco mais sobre a importância do ouvir,
Francesco Tonucci que é um grande pensador da educação e tem uma das vozes
mais ativas do mundo, expressa que o desafio em fazer a leitura integral da criança:
Para que as crianças possam se expressar e tem o desejo de fazê-
lo, é preciso que os adultos saibam ouvir. Isso não significa apenas
ouvi-las, mas procurar compreender, dar valor às palavras, às
intenções verdadeiras de quem fala. Toda criança fala, mas nem
sempre os adultos são capazes de perceber a mensagem [...]
Tonucci (2005, p.18)
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GRÁFICO 02: VOCÊ PRATICA A ESCUTA ATIVA?
Do total dos entrevistados, 93% afirmaram que praticam a escuta ativa, mas
para nos aprofundarmos mais sobre a prática e como os professores entendem
sobre a escuta ativa, foi realizado a seguinte pergunta “o que é escuta ativa para
você?”. Essa pergunta aberta é qualitativa, pois tem o intuito de esquadrinhar,
hipotetizando se realmente conhecem o que é escuta ativa e entendem o que é, ou
se supostamente sabem, pois, esse exercício só emerge de um adulto capaz de se
abrir ao mundo da criança, sendo que para isso o educador deve ser
suficientemente conhecedor de teorias que ajudem a ler e entender o mundo da
criança.
Realizamos um gráfico para afunilar as respostas dos entrevistados
separadas de acordo com a proximidade da mesma. O intuito é de podermos
analisarmos o que o professor entende sobre escuta ativa, como também ter uma
percepção do que cada um dos entrevistados respondeu:
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Para ilustração iremos explorar e selecionar algumas das respostas obtidas, o
motivo seria pela aproximação de resposta, como ressaltamos no gráfico acima.
O entrevistado nº 51, mulher, 35 anos, rede pública, especialista cita que
"Estar (abaixar) na altura e olhar nos olhos da criança, prestando atenção exclusiva
ao que ela comunica, não apenas verbalmente, mas de uma maneira geral (gestos,
posição corporal, movimentos do corpo e rosto, posições das mãos)." Podemos
observar que essa resposta se encaixa no gráfico que relata que é “ouvir e observar
a criança em diferentes contextos” onde contém quatro respostas iguais ou
próximos. Pois descreve que ouve e observa a criança, mas em nenhuma das
respostas aponta que compreende ou medeia.
O entrevistado n°1 é professor da rede privada, graduado em Pedagogia e
atua na área da educação há doze anos. Ao ser questionado sobre o que é escuta
ativa respondeu que:
É uma prática que demanda sensibilidade e empatia. É se dispor a
ouvir o outro e realmente atentar-se ao que foi dito, fazendo dessas
palavras algo realmente significativo. É olhar nos olhos, ouvir com
atenção, disponibilizar o seu tempo, sua atenção e seu afeto. Essa
prática na sala de aula é de grande valia, pois permite que a criança
se sinta confiante em suas opiniões, se expresse com clareza e
consiga se relacionar melhor socialmente. Os professores precisam
aprender a ouvir seus alunos, pois as crianças trazem consigo muitos
conhecimentos adquiridos de maneiras variadas e experiências
inusitadas que podem ser aproveitadas para conhecimentos
posteriores.
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Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica.
A criança precisa ter autonomia, o professor deve ser o mediador, ser a ponte
entre o conhecimento e a aprendizagem. Respeitando o ser que ela é, um ser
capaz, produtor de cultura. Compreender que é um sujeito detentor de seus próprios
pontos de vista, de suas ideias, que é capaz de criar, recriar, inventar onde
demonstra as suas vontades. Entender que o aluno é capaz de pensar por si só e de
deixá-la participar de tomadas de decisões, assegura o protagonismo infantil.
O protagonismo infantil, dá a autonomia para ela se conhecer. Como
conhecer seus próprios limites, criará também confiança em si mesmo, terá mais
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consciência sobre suas atitudes e com isso, poderá estruturar suas decisões com
mais assertividade. Como afirma a BNCC,
Essa concepção de criança como ser que observa, questiona,
levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que
constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado
por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não
deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo
de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a
necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas
pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-
escola. (BNCC, 2017)
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Devendo elaborar o planejamento de acordo com as necessidades das
crianças, sendo assim, colocar em prática a pedagogia da escuta. Organizando
propostas que dialoguem com os desejos e necessidades das crianças. Planejar em
conformidade com as habilidades exigidas pela BNCC, contemplando os objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento, levando em conta o dia-a-dia. Havendo
flexibilidade ao preparar a aula, organizando o espaço pensando na criança,
Promover o ensino de acordo com contexto vivido, observar a curiosidade da criança
e suas nuances, complementando a importância da observação Weffort (1995) cita
que "a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar
sensível e pensante”.
O professor deve aprofundar-se no conhecimento do assunto, ser um
pesquisador, necessitando estudar, elaborar e planejar de maneira que haja
coerência. Conforme cita Egidio Francisco Schmitz
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conseguiu em parte se expressar o que talvez seria para ele: “Não sei o que é,
porém pela palavra dá a entender que é quando você escuta os seus alunos e
atende o desejo deles nas aulas, procurando dar o conteúdo que mais interessa a
eles”. Percebendo-se que o entrevistado n° 3 afirma não saber o que é escuta ativa,
mas conseguiu em parte responder à pergunta explicando o que é, pois, a escuta
ativa é estar aberto ao inesperado, dar voz às curiosidades das crianças, pois o que
nos move é a curiosidade e quando perguntam o “por que?” Estão querendo
desenvolver teorias, entendendo o mundo que os cerca, interpretando o mundo da
sua maneira.
Quando praticamos o escutar e o olhar sensível estamos dispostos a sair da
nossa zona de conforto, propiciando ao aluno autonomia e participação. É
reconhecer o ponto de vista do outro, é tentar ver o mundo sobre outras
perspectivas, é estar aberto ao mundo da criança, dando valor ao modo como o
outro olha, quando nos colocamos no lugar do outro podemos enxergar o mundo de
novas maneiras.
Não há como falar sobre o ato de planejar sem citar um aliado essencial que
é a documentação pedagógica. A documentação pode ser vista como uma escuta
visível, sendo um amplo conjunto de documentações (vídeos, fotos, gravações,
notas escritas, atividades, etc.). O professor através da documentação pedagógica
garante o ouvir e ser ouvido pelos outros, além disso é uma forma do educador
refletir, intervir, diagnosticar, além de oferecer apoio e mediação para as crianças.
Rinaldi afirma que:
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crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos),
é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período
observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de
crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”,
“maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para
reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de
aprendizagem de todas as crianças.
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O escutar promove perguntas e não respostas, portanto, o professor deve
estar atento sobre suas curiosidades e seus sinais de linguagens.
O questionário sobre a escuta ativa, teve o intuito de analisar se os
professores praticam a escuta ativa, bem como analisar se compreendem o que isso
significa efetivamente. Notou-se que apenas quatro educadores dentre sessenta e
dois relataram não saber o que é, porém muito dos entrevistados quando lhes foi
perguntado grande parte foi obtido respostas incompletas ou sem sentido. Para
aprender de fato, praticar e entender o que é a escuta ativa requer curiosidade,
tempo, atenção e disponibilidade, afirmar que sabe o que na verdade desconhece,
ou que sabe pouco resulta em uma vivência limitada tanto para os alunos quanto
para o educador.
A escuta é sensível e refinada, exige de nós, um repertório gigantesco, amplo
e diversificado. Escuta requer paciência, não havendo pressa em concluir, pois o
importante é o processo que ocorre, escutar é tentar ver o mundo em outras
perspectivas, devendo-se deslocar e tentar ver de outra maneira, pois não há uma
“verdade”, mas sim diversas formas de entender o mundo. Cabe aqui destacar que o
professor deve conhecer a teoria para conseguir compreender melhor o mundo da
criança. Como também querer entender o mundo da criança, o modo de interpretar
que um adulto possui é diferente do modo em que a criança enxerga, por isso
devemos procurar entender sua maneira de ler o mundo, pois cada um tem suas
próprias vivências.
Quanto mais o educador exerce o ouvir, mais disposto fica, no sentido
criativo, de disponibilidade ao observar, a entender entrelinhas o que o aluno está
querendo que de fato ele entenda, fazendo com que tenha um novo olhar para a
prática docente, percebendo que as crianças são de fato os protagonistas do
processo aprendizagem. O exercício da escuta ativa é uma ferramenta no ensino
aprendizado, pois elas se tornam mais interessadas pela aula, sendo um momento
mais dinâmico, envolvente ampliando a capacidade de aprendizado dos alunos.
Para que aprenda a escutar o educador também deve ser escutado. Nesse
sentido, Taís Romero (2022) especialista em coordenação pedagógica citou que
“todo professor deveria ter alguém para escutá-lo. Ser escutado com respeito para
mim, é o jeito mais bonito de aprender a escutar” assim como as crianças os
professores também querem ser ouvidos verdadeiramente buscando empatia pelos
demais. Desta forma o professor deve ter apoio pedagógico, para que consiga
refletir sobre suas ações, se necessário realinhar o percurso, para que consiga se
desconstruir para que seja construído novamente de uma forma em que o afeto e
infância seja a prioridade na prática docente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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mudanças. O professor por sua vez deve seguir esse ritmo, ter preparações antes
de ir para a sala de aula, havendo um embasamento teórico que se alinhe com a
prática, haja vista a sala de aula está repleta de olhares curiosos que buscam
respostas a todo momento.
Uma parte significativa dos entrevistados expôs que praticam a escuta ativa,
mas no momento em que lhe foi pedido para explicar o que era, não souberam
responder ou deixaram incompleta, demonstrando que ainda possuem pouco
conhecimento efetivo sobre a prática da escuta ativa, nos levando a entender que
não sabem de fato o que é e que provavelmente não praticam a escuta ativa com
seus alunos, sendo que o ato de ouvir requer que o professor queira escutar de
verdade, pois ela exige tempo, exercício, observação e afeto. O escutar é respeitar a
criança, querer entendê-la como também aprecia-la. O educador que pratica tal ato
valoriza e estimula as crianças a serem protagonistas de sua própria aprendizagem,
respeitando-as como indivíduos. Abrindo mão do seu autoritarismo, deixando a
criança direcionar o caminho a ser seguido, levando-a em conta, deixando-a como
protagonista de seu próprio conhecimento.
Fazendo uma análise crítica podemos concretizar que o professor para
praticar a escuta ativa deve saber de fato o que é, ter consciência sobre as
percepções e métodos, ter compreensão que a prática requer determinação. Sendo
articulada com uma formação contínua que irá aperfeiçoar sua prática pedagógica e
beneficiar as relações com os educandos. Tudo isso é necessário pelo motivo que o
docente deve ser um agente da transformação no processo educativo.
REFERÊNCIAS
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preliminar. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 15 mar. 2022.
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EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. (Org.) As cem linguagens da criança.
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Acesso em: 22 jun. 2022.
TONUCCI, Francesco. Quando as crianças dizem: agora chega! Porto Alegre:
Artmed, 2005.
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