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Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar a tese de doutorado intitulada
“A situação social de desenvolvimento na Primeira Infância: um estudo sob o enfoque
histórico – cultural” que teve como motivação a observação das crianças nas escolas de
Educação Infantil, na qual, detectou-se uma pobreza de experiências em seus fazeres e
uma visão biologizante dos educadores quanto ao desenvolvimento infantil. O estudo
parte do pressuposto de que a situação social de desenvolvimento das crianças é
condicionada por suas condições de vida e educação e, quando são intencionalmente
organizadas, promovem vivências que conduzam ao máximo desenvolvimento psíquico.
A pesquisa tem com como objetivo compreender as condições da atividade das crianças
de dois a três anos na escola de Educação Infantil e como promovem o seu
desenvolvimento psíquico, assim como, compreender como acontece a intervenção
intencional do professor. A hipótese inicial é de que as atividades das crianças na escola
de Educação Infantil podem ser potencializadas quando se foca na observação de seus
fazeres, na sua situação social de desenvolvimento e nas funções psíquicas superiores em
formação. A metodologia consistiu em observação e filmagem da rotina de uma turma de
crianças de dois a três anos de um Centro de Educação Infantil. A pesquisa revela que a
intervenção intencional do professor é condição fundamental para criar as condições
adequadas ao desenvolvimento infantil, assim como, a sua potencialização.
1 - Introdução
Este artigo tem como objetivo fazer uma breve apresentação da minha tese de
doutorado, intitulada “A situação social de desenvolvimento na Primeira Infância: um
estudo sob o enfoque histórico – cultural” a qual, encontra-se em processo de
qualificação.
Diante dos meus estudos referentes a teoria histórico – cultural e a educação das
crianças pequenas e da minha presença no ambiente escolar, sinto-me impactada com a
pobreza de experiências e atividades que são realizadas pelas crianças na escola de
Educação Infantil, ficando muito aquém do que poderiam de fato fazer, e com o
predomínio da concepção biologizante do desenvolvimento, considerado como
dependente apenas dos fatores biológicos. Por isso, procurei na pesquisa, observar como
se apresenta a atividade das crianças de zero a três anos nas escolas de Educação Infantil
e como ela pode vir a ser realizada a partir do referencial da teoria histórico – cultural.
Nesse caso, compreender as atividades das crianças implica olhar para o
conjunto de elementos que a determinam como: a cultura presente na escola, a
organização do tempo e do espaço, as intervenções realizadas no processo de
aprendizagem e desenvolvimento e a forma como se estruturam as relações entre as
crianças, crianças/cultura/ e criança/professora, visto que, para a teoria histórico –
cultural, esses elementos constituem as condições materiais concretas essenciais para
promover o desenvolvimento infantil. Por isso não basta olhar, isoladamente, para a
criança, mas sim para o contexto social, na qual ela está inserida, ou seja, para as suas
condições de vida e educação.
Parto do pressuposto de que são as condições de vida e educação das crianças na
escola de Educação infantil que condicionam a sua situação social de desenvolvimento e,
quando são intencionalmente organizadas, podem promover vivências que conduzam ao
máximo desenvolvimento. Adotar o conceito de situação social de desenvolvimento
significa considerar o desenvolvimento infantil como fruto das vivências que são
realizadas pelas crianças na escola da infância, a partir das condições concretas criadas
pelo educador como: acesso à cultura, realização de atividades, relação de parceria entre
crianças e educadores e intervenções adequadas.
Assim, a tese visa demonstrar que a intervenção intencional do professor é
fundamental para criar a zona de desenvolvimento eminente e potencializar o máximo
desenvolvimento das funções psíquicas superiores das crianças. Nesse caso, a intervenção
tem uma qualidade que promove a relação da criança com a cultura e as pessoas e permite
a sua atividade autônoma, colocando ambos os sujeitos - criança e professora - como
protagonistas do processo educativo. Dessa forma, a intervenção deve ser planejada no
sentido do professor criar as condições adequadas à atividade autônoma das crianças, a
exploração dos bens culturais, a criação da zona de desenvolvimento eminente,
ampliando as experiências e vivências das crianças na escola da infância.
A pesquisa teve como objetivo compreender as condições da atividade das
crianças de dois a três anos na escola de Educação Infantil e como promovem o seu
desenvolvimento psíquico, assim como compreender como acontece a intervenção
intencional do professor, considerando que tal intervenção deve potencializar o
desenvolvimento infantil.
A hipótese inicial é de que as atividades das crianças realizadas na escola da
infância podem ser potencializadas quando se foca na observação da atividade da criança,
na sua situação social de desenvolvimento e nas funções psíquicas em processo de
formação.
Sendo assim, a pesquisa buscou não apenas fazer a crítica quanto ao trabalho
que é realizado hoje nas escolas de Educação Infantil, mas a partir da teoria histórico –
cultural, apresentar possibilidades de uma educação desenvolvente, no sentido de
promover o avanço no desenvolvimento das crianças.
Desse modo, a relevância da pesquisa está em oferecer elementos para ampliar
as reflexões sobre a educação das crianças de zero a três anos à luz da teoria histórico-
cultural e em esclarecer o lugar do professor nessa relação com a criança.
A pesquisa foi realizada numa Instituição de Educação Infantil, localizada numa
cidade do interior do estado de São Paulo, a qual atendia crianças de quatro meses a cinco
anos, no período das 7:00hs às 17:00hs. Durante a coleta de dados, a Instituição estava
atendendo um total de cento e trinta e nove crianças que se dividiam em várias turmas:
berçário, maternal I, maternal II, nível I e nível II. A turma selecionada para a pesquisa
foi a do maternal I, composta por vinte crianças com idade entre dois a três anos que
ficavam sob a responsabilidade de duas professoras. Todas as crianças da turma
frequentavam a Instituição por um período de dez horas e residiam nos bairros adjacentes
ao Centro de Educação Infantil. Antes do início da coleta, todos os pais foram
comunicados sobre a realização da pesquisa e foram unânimes em autorizar a participação
das crianças. As duas professoras responsáveis pela turma também consentiram em
recepcionar a coleta em sua sala.
A identificação dos sujeitos na pesquisa não seguiu o mesmo critério para as
crianças e as professoras. No caso das professoras, foi dada a oportunidade de escolherem
o nome, pela qual, elas gostariam de ser chamadas na pesquisa, em relação às crianças, a
opção foi chamá-las pela inicial do nome de cada uma, visto que, elas mantinham uma
forte relação com o nome, enquanto marca de sua individualidade.
Diante do objetivo da pesquisa, o procedimento metodológico adotado para a
coleta de dados foi a filmagem, considerada como o instrumento mais adequado para
captar os diversos elementos que compunham as situações vivenciadas pelas crianças na
escola da infância. Assim, as crianças eram observadas em sua forma viva de se expressar
e se relacionar com as pessoas e a cultura.
Conforme Francisco e Rocha (2008, p. 309), a filmagem
[...]perpetua de maneira plena gestos, olhares, silêncios, sons,
sentimento, diálogos e movimento das situações selecionadas pelo
investigador ao ajustar o foco de seu olhar através da lente da câmera
filmadora” (FRANCISCO; ROCHA, 2008, p. 309).
2- Desenvolvimento
A pesquisa fundamenta-se na teoria histórico – cultural, que tem Vigotski como
seu principal representante. Tal teoria considera que as características humanas não são
determinadas apenas por fatores biológicos, mas dependem, essencialmente, das
condições de vida e educação do sujeito.
Conforme Leontiev (1978, p. 267):
1
No original: “es todo aquello que há construido el ser humano, como ya señalé, lo que no se encuentra
de forma natural en la naturaleza, sino que el hombre, lo tuvo que construir para poder adptarse al medio,
adaptando el medio a sus posibilidades”.
possuem relação com dada personalidade, como aquilo que é retirado
da personalidade todos os traços de seu caráter, traços constitutivos que
possuem relação com dado acontecimento.
Por isso, nem todas as atividades realizadas pelas crianças na escola da infância
podem ser consideradas como atividade, mas apenas aquelas que respondem às suas
necessidades de aprendizagem. Assim, podemos dizer, que quando a criança encontra no
meio os elementos que atendem as suas necessidades e, de alguma forma, sente-se afetada
por eles, pode realizar vivências/atividades que promovam o seu desenvolvimento.
Desta forma, cada vez que a criança sente-se afetada pelo meio e coloca-se em
atividade, há possibilidade de que sua vivência promova um avanço em seu
desenvolvimento, resultando em uma nova situação social de desenvolvimento.
3- Considerações Finais
A pesquisa, mesmo estando em fase de conclusão, revela que embora na sala não
houvesse muitos materiais diversificados e disponíveis às crianças, elas em vários
momentos se colocavam em atividade com os objetos que lhes eram apresentados e
disponibilizados. Quando a professora oferecia algum brinquedo ou objeto novo, o
interesse das crianças era geral, todos queriam ver e experimentar tal novidade.
Em muitas situações as crianças brincavam, livremente, sem nenhuma
intervenção do professor, e nesses casos, realizavam o que já eram capazes de fazer de
maneira autônoma, não avançando no desenvolvimento. Às vezes, por não conseguirem
finalizar a atividade, as crianças a abandonavam.
Outro dado apontado pela análise demonstra que mesmo a professora não
interferindo nas brincadeiras das crianças, algumas vezes, elas próprias sentiam-se
afetadas pelo fazer dos amigos, colocando-se em novas atividades.
Nas poucas vezes, em que a professora envolveu-se na brincadeira das crianças,
houve grande participação das mesmas, o que demonstra o interesse delas pela atividade
conjunta com a professora. Nesses momentos, a professora, enquanto sujeito mais
experiente, possibilitava às crianças ampliar seus referenciais, criava nelas novas
necessidades e realizava intervenções sobre os processos psíquicos em desenvolvimento
como: a atenção, a memória, o pensamento e a linguagem.
Nas várias atividades realizadas pelas crianças, durante a coleta, foi possível
perceber as funções psíquicas que eram exigidas pelas mesmas e o quanto a intervenção
da professora era fundamental para promover a sua potencialização.
Enfim, a pesquisa demonstrou que as condições da atividade das crianças
impactam a sua situação social de desenvolvimento e a intervenção intencional do
professor é fundamental para promover uma educação desenvolvente, que promova a
potencialização do desenvolvimento infantil.
Referências Bibliográficas