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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÃO

DOS PROFESSORES DE UM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE


TUBARÃO/SC1

Débora Cascaes Menegaz da Silva2


Maria Sirlene Pereira Schlickmann3

RESUMO
O presente artigo teve por objetivo compreender a percepção de professores da
Educação Infantil acerca do brincar e da brincadeira na primeira etapa da
educação básica/na Educação Infantil. Este estudo é de natureza dialética, tem
como método a abordagem qualitativa, configurando-se como de caráter
exploratório. Foi realizado por meio de uma pesquisa de campo com três
professoras em um Centro de Educação Infantil da cidade de Tubarão/SC. A
análise dos dados foi realizada à luz do referencial teórico utilizado neste estudo.
De acordo com os dados empíricos da pesquisa, foi possível verificar que todas
as entrevistadas inserem a brincadeira em seus planos pedagógicos, por
entenderem ser o ato de brincar não apenas um modo de diversão, mas uma
ferramenta de aprendizagem capaz de auxiliar na construção da identidade da
criança. Em termos de resultados, destaca-se a necessidade de constante
formação continuada para os docentes acerca das especificidades da criança,
suas singularidades e os eixos que constituem o planejamento na Educação
Infantil: a brincadeira, o brincar e as interações. É importante reiterar também
que o espaço da Educação Infantil deve ser organizado para a criança e que
esse lugar constitui o fazer pedagógico docente em todas as suas dimensões.

Palavras-chave: Educação Infantil. Ludicidade na Educação Infantil.


Organização pedagógica na Educação Infantil.

1
Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em
Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. 2022. Orientadora: Profa. Maria
Sirlene Pereira Schlickmann, Doutora em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de
Santa Catarina – UNISUL.
2
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. E-
mail: demenegaz@outlook.com
3
Pedagoga. Especialista em Educação. Mestre e Doutora em Ciências da Linguagem pela
Universidade do Sul Santa Catarina – UNISUL. Professora do Curso de Pedagogia e do
Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Unisul. E-mail: maria.
schlickmann@animaeducação.com.br.
1 INTRODUÇÃO

A Educação Infantil possui como uma de suas finalidades contribuir para


o desenvolvimento das crianças até os cinco anos de idade. Nessa etapa e por
meio do trabalho pedagógico desenvolvido, elas constroem valores,
sentimentos, costumes, desenvolvendo também o desenvolvimento de sua
autonomia, identidade e interação com outras pessoas.
O art. 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
destaca a importância da Educação Infantil:

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o


desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade (BRASIL, 1996, p. 11).

À vista disso, o brincar é uma forma de comunicação por meio do qual a


criança se desenvolve tanto no aspecto físico como social, cultural, afetivo e
emocional.
Por meio do brincar, a criança passa a desenvolver capacidades
importantes, como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação e a
criatividade. Enquanto a criança brinca, portanto, ela se prepara para a vida.
Dessa forma, o professor da Educação Infantil tem como missão instigar o
conhecimento e a interação da brincadeira nas práticas pedagógicas, tornando-
a parte do processo de ensino e de aprendizagem.
O interesse pelo presente estudo emerge após meus estudos como
acadêmica do curso de Pedagogia e, sobretudo, da minha experiência como
auxiliar de classe na Educação Infantil, cargo que exerço há 5 (cinco) anos em
uma instituição de Educação Infantil de Tubarão/SC. Ao longo desse período,
observei as estratégias pedagógicas utilizadas por minhas colegas de trabalho:
algumas utilizam a brincadeira como sua aliada; outras, não. Essa questão
sempre me chamou atenção, já que a ludicidade, o brincar, a brincadeira
constitui a criança. (VYGOTSKY, 1991). Considerando isso, definiu-se como
problema: Como os professores observam a brincadeira no processo de
desenvolvimento e qual a sua importância na Educação Infantil?
Diante disso, propõe-se, neste estudo, compreender a visão de
educadores infantis sobre o tema, ou seja, a aplicação de brincadeiras no dia a
dia escolar, assim como também busca-se discutir sua importância. Para tanto,
traçou-se como objetivos específicos: a) compreender a percepção de
professores da Educação Infantil acerca da brincadeira na Educação Infantil; e
b) conhecer a realidade e o contexto em que as brincadeiras ocorrem na
Educação Infantil.
Este estudo é de natureza dialética, tem como método a abordagem
qualitativa, configurando-se como de caráter exploratório, sendo realizado por
meio de uma pesquisa de campo realizada em um Centro de Educação Infantil
da cidade de Tubarão/SC, onde foi aplicado um questionário com as professoras
da Educação Infantil. A pesquisa, nesse sentido, visa refletir acerca de
evidências baseadas em informações que foram coletadas por meio do
questionário como instrumento de coleta de dados.
O questionário (em anexo) conteve um total de 10 (dez) questões, sendo
uma questão de identificação (nome, idade, local de nascimento) 4 e nove
discursivas. As quatro primeiras questões versavam sobre a trajetória
profissional das educadoras; e as outras 5 (cinco), sobre as visões dos
professores a respeito da importância de inserir a brincadeira em seus planos
pedagógicos.
A análise dos dados empíricos da pesquisa foi realizada à luz do
referencial teórico utilizado numa abordagem histórico-dialética. Em termos de
organização, este artigo está estruturado da seguinte maneira: inicialmente,
apresenta-se a introdução e a metodologia; em seguida, discorre-se sobre a
importância do brincar na Educação Infantil e acerca da visão dos professores a
respeito da brincadeira, verificando como ela está inclusa em seus planos
pedagógicos; em seguida, desenvolve-se a análise dos dados da pesquisa
realizada; e, por fim, apresentam-se as considerações finais.

4
As informações ficaram em sigilo para preservar a identidade das participantes.
2 EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA BRINCADEIRA

Desde a Constituição de 1988 e, posteriormente, com a Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a Educação Infantil passou a
ser a primeira etapa da educação básica e é de suma importância para o
desenvolvimento de uma criança.
É nessa fase que a criança passa a conviver com o outro, compartilha
diferentes momentos por meio das interações, brincar, fazer amizades, aprender
o que pode e o que não pode fazer, e o principal: nesse período ela também
aprende a respeitar e amar a todos, em especial seus familiares, pessoas com
quem convive diretamente e cotidianamente, amigos e professores.
Porém, ainda, não raramente, a Educação Infantil é vista por muitas pessoas
apenas como uma etapa de cuidado, não sendo valorizada, em muitos casos,
sua importância, proporcionada por meio da particularidade que pesquisadores,
profissionais e movimentos sociais do campo da Educação Infantil têm marcado
e reivindicado de forma indissociável, que é garantir que o processo educativo
das crianças pequenas seja realizado por meio da interação, da linguagem e do
brincar, que é a maneira como as crianças aprendem sobre o mundo desde a
infância nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
2009).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, orientam
a formulação de políticas. Dessa forma, frequentar creches e pré-escolas tornou-
se um direito social das crianças. Legalmente, a partir desse momento a criança
passou a ser considerada:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e
a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p. 12).

Apesar de ser um reconhecimento para a Educação Infantil, muitas


conquistas ainda foram necessárias. Com o passar do tempo, esta etapa foi
ganhando legitimidade e olhares sensíveis para ela, conquistando o
reconhecimento para a importância dos primeiros anos de vida e,
consequentemente, da Educação Infantil para todas as crianças, visto que é na
instituição que a criança interage com outras crianças, com os adultos, brinca e
se apropria de diferentes linguagens.
Em se tratando da interação do professor, este possui uma grande
responsabilidade, pois, além de ser necessário muito cuidado com as crianças,
o pedagogo deve estar atento aos acontecimentos do cotidiano, além de ter um
olhar sensível, uma escuta sensibilizada e respeitosa sobre as crianças. Ainda,
deve organizar e propiciar espaços e situações que produzam sentidos,
ampliando possibilidades para a criança de ser e estar no contexto educativo.
Por exemplo, momentos que levam as crianças a despertarem a imaginação,
seja individualmente ou por meio das interações com as demais crianças, rumo
a novas descobertas e aprendizagens.

Ao brincar, a criança prioriza o campo dos significados sobre o real. Ela cria
novas possibilidades de interpretação do cotidiano, assim como demonstra a
consciência que tem das regras e dos valores da realidade. Vivencia vários
papéis, estabelece novas regras, busca o prazer, experimenta várias sensações
como vencer os medos, ter alegrias e saborear vitórias. Ela sente-se capaz,
potente e forte (LISBOA, 2019, p. 22).

Nesse sentido, é de suma importância a inserção do brincar na Educação


Infantil, na construção do desenvolvimento da criança, de modo a facilitar e
auxiliar sua socialização e início da visão de mundo. A brincadeira e os jogos em
geral são recursos pedagógicos que contribuem, de uma forma mais divertida,
para o desenvolvimento infantil. A criança passa a agregar conhecimentos de
uma forma mais significativa, descontraída e lúdica.

As atividades lúdicas são muito mais que momentos divertidos ou


simples passatempos e, sim, momentos de descoberta, construção e
compreensão de si; estímulos à autonomia, à criatividade, à expressão
pessoal. Dessa forma, possibilitam a aquisição e o desenvolvimento de
aspectos importantes para a construção da aprendizagem.
Possibilitam, ainda, que educadores e educandos se descubram, se
integrem e encontrem novas formas de viver a educação. (PEREIRA,
2007 p. 20)

O lúdico é uma forma de despertar para o desenvolvimento da criança,


pois o brincar é uma experiência que leva a uma possibilidade de demonstrar
sua personalidade, de manifestar suas ações e imaginações, desenvolvendo
suas linguagens, seus conhecimentos, valores e também suas criatividades.
É notável que hoje em dia as crianças já nascem com brinquedos
sofisticados, caros, como tablet, celular, que geralmente ganham dos pais. Nós
que estamos na área da educação, no entanto, podemos afirmar que esses não
são elementos indispensáveis à criança. O brincar, sim, é uma etapa
fundamental. E o que mais a atrai, na maioria das vezes, são brinquedos simples,
feitos de materiais reciclados, ou até mesmo com objetos de casa. Outras
brincadeiras comuns e com as quais as crianças se divertem é pega-pega,
esconde-esconde etc.
Trabalhando com a Educação Infantil, percebo constantemente a grande
evolução ocorrida com a inserção do brincar no plano pedagógico dos
professores, os quais passaram a utilizar diferentes materiais e momentos
lúdicos para o ensino de diversos conteúdos, quebrando o famoso “tabu”. É
possível constatar o quão importante é o desenvolvimento de ações didáticas
que envolvam o lúdico na realização das atividades. No entanto, é preciso dizer
que ainda há uma minoria que gosta do “copia e cola”, desenvolvido por meio de
atividades em folha que restringem o momento da brincadeira.
As ações didáticas que envolvem o desenvolvimento infantil por meio do
eixo do brincar, do brinquedo e da brincadeira precisam ser fundantes do ato
pedagógico, pois é por meio delas que as crianças se desenvolvem em todas as
suas dimensões.

O momento lúdico não é só uma complementação, mas também se


torna um auxiliar essencial no processo educativo. É um caminho que
faz a criança, jogar, imaginar, brincar, interagir, fantasiar, dialogar,
construir, desenvolvendo e aprendendo brincadeiras que desenvolvem
objetivos reais e significantes sem que percebam. Assim, ‘as aulas
lúdicas parecem preencher uma importante lacuna: a cartase da
alegria, além do afeto mútuo envolvendo professor/criança e
crianças/crianças’. (MIRANDA, 1964, p. 83)

Na Educação Infantil, os educadores precisam desenvolver práticas


pedagógicas que sejam significativas para a criança, pensando sempre nela, por
meio de atividades que tragam resultados. O papel principal do professor, então,
é pensar e criar um ambiente aconchegante e organizado, para que as crianças
possam vivenciar interações, para que possam brincar, imaginar, criar, explorar.
Como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, de 2009,
indicam que:
As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem
ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, as quais devem ser
observadas, registradas e avaliadas (BRASIL, 2009).

Essas interações e brincadeiras são eixos do currículo na Educação


Infantil, cabe aos professores desenvolver e ampliar todo o potencial da
brincadeira e, consequentemente, das interações. Para tanto, além de garantir
diferentes espaços, com diversas materialidades, a presença de um adulto com
olhares sensíveis para observar as brincadeiras e interações e estar atento aos
indicativos das crianças é fundamental, pois ao observar como e onde as
crianças brincam, eles poderão propor novos espaços que envolvam as
crianças, nos seus interesses e nas questões que os mobilizem.

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Visando a um melhor entendimento do objeto estudado, aplicou-se um


questionário a 3 (três) professoras de um Centro de Educação Infantil, entidade
filantrópica, localizado no município de Tubarão. O questionário foi respondido
presencialmente pelas docentes. Composto por 10 (dez) questões, as perguntas
tinham como objetivo analisar a visão das professoras acerca da brincadeira
como meio pedagógico, assim como verificar sua forma de inclusão na prática
pedagógica de cada educadora, no contexto da Educação Infantil. De acordo
com Lakatos e Marconi (1991, p. 186),

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir


informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual
se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira
comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre
eles.

No que concerne às perguntas de qualificação pessoal, todas as


entrevistadas são do sexo feminino e são graduadas em Pedagogia. De três,
apenas uma possui pós-graduação. A média de tempo de atuação na área da
Educação Infantil das interrogadas é de 11 (onze) anos. Quanto à oportunidade
de realizar algum tipo de formação continuada específica sobre a Educação
Infantil, duas respostas foram positivas, com a especificação de cursos
profissionalizantes realizados sobre temas como “educação inclusiva” e
“ludicidade”.
Acerca da formação continuada, ressalta-se que, mesmo com anos de
experiência, é esperada dos professores sua constante atualização e
especialização acerca de assuntos e problemáticas que envolvem a atuação em
sala de aula, sobretudo para acompanhar as necessidades sociais
contemporâneas. Para Libânio,

[...] a Pedagogia é um campo de conhecimento teórico e de práticas


que integra e sistematiza diferentes conhecimentos e processos de
outros campos científicos visando dar unicidade à investigação e às
ações relacionadas ao seu objeto, a prática pedagógica (2006, p. 214).

Ultrapassadas as perguntas do tópico “Trajetória Profissional”, deu-se


início às opinativas. Questionadas a respeito da importância da inserção de
brincadeiras em seus planos pedagógicos na Educação Infantil, as educadoras
apresentaram as seguintes respostas:

Professora 1: Considero importante, pois é através do


lúdico, da brincadeira que a criança aprende com mais
facilidade.
Professora 2: Acho importante inserir a brincadeira nas
práticas pedagógicas, pois além de estímulos e
motivações, a mesma contribui para sua imaginação,
criatividade, experiencias emocionais, corporais,
sensoriais, expressivas e cognitivas.
Professora 3: Sim, muito. Durante a brincadeira a criança
absorve diferentes aprendizados, além de despertar ainda
mais interesse pelo conteúdo quando se aprende
brincando.

Observa-se que as respostas elaboradas pelas professoras são


semelhantes, uma vez que todas frisaram a importância da incorporação das
brincadeiras à Educação Infantil, as quais consistem em uma importante
ferramenta de aprendizagem e desenvolvimento da criança, colaborando para a
construção e identificação de suas emoções e sentimentos.
Todas as entrevistadas demonstraram ciência de que o ato de brincar não
se resume a um mero momento de diversão, mas proporciona aprendizados
fundamentais para o desenvolvimento integral da criança. Ainda, sua prática é
capaz de despertar e expandir a imaginação, a atenção, a imitação e a memória
da criança, além de instruí-la a respeitar regras e colaborar com a ampliação de
seu relacionamento social. Isso, porque em brincadeiras coletivas ela necessita
entender e conhecer o grupo no qual estará inserida, bem como cooperar para
alcançar o objetivo almejado com o ato.
Conforme Cunha (2001, p. 24):

O Brincar desenvolve as habilidades da criança de forma natural, pois


é brincando que se aprende a socializar-se com as outras crianças,
desenvolvendo a motricidade, a mente e a criatividade sem cobrança
ou medo, mas sim com prazer.

Ademais, conforme também mencionado por uma das entrevistadas, a


inserção de brincadeiras nas atividades pedagógicas propostas em sala não se
reduz ao ato em si, mas trata-se do processo como um todo. Isso se dá porque,
ao utilizar a brincadeira como meio principal de aprendizagem da criança, ela
consegue assimilar a teoria de forma facilitada e natural, na prática, captando as
informações de uma maneira mais agradável e descomplicada, o que torna o
processo de conhecimento mais prazeroso.

O brincar é como zona de desenvolvimento proximal por excelência. A


atividade lúdica é identificada como espaço privilegiado de emergência
de novas formas de entendimento do real, e que, por sua vez, instaura
espaços para o desenvolvimento em vários sentidos. Na atividade
lúdica a criança “se torna” aquilo que ainda não é, “age” com objetos
que substituem aqueles que ainda lhe são vetados, interage segundo
padrões que mantém distante do que lhe é determinado, pelo lugar que
na realidade ocupa em seu espaço social. Ultrapassa, portanto,
brincando, os limites dados concretamente para sua atividade.
(VYGOTSKY apud ROCHA, 2000, p. 67)

A respeito do envolvimento e da realização das atividades lúdicas no


plano pedagógico das professoras, obteve-se as seguintes respostas:
Entrevistada 1: Costumo utilizar a brincadeira em tudo
que passo para as crianças, pois é através do lúdico, da
brincadeira que as crianças aprendem com mais
facilidade, aprendem a se relacionar com o outro e
mostram mais interesse.
Entrevistada 2: Realizo todos os dias a prática do brincar
com meus alunos, tanto nas atividades realizadas no
plano pedagógicos, como nas horas livres.
Entrevistada 3: Sim, com brincadeiras e recreações
dirigidas ao menos 2 veze por semana, e brincadeiras
livres diariamente.

Pode-se inferir, com base nas respostas apresentadas pelas docentes,


que estas se comprometem com o desenvolvimento de suas crianças, ao
constantemente buscarem inserir novas estratégias pedagógicas em sua
atuação na Educação Infantil. Introduzir diariamente atividades que envolvam o
brincar em sala e nos momentos de parque (recreação) — nos quais
normalmente são realizadas as brincadeiras livres em que as mesmas são ações
essenciais para a evolução das crianças.
Entretanto, para que haja total aproveitamento, é indispensável que a
criança se torne protagonista de suas ações. Acerca do assunto, Macedo, Petty
e Passos (2005, p. 9) refletem que é necessário:

[...] cuidar da dimensão lúdica das tarefas escolares e possibilitar que


as crianças pudessem ser protagonistas, isto é, responsáveis por suas
ações, nos limites de suas possibilidades de desenvolvimento e dos
recursos mobilizados pelos processos de aprendizagem.

Conjuntamente, é preciso repensar e analisar o papel do educador em


torno da utilização de brinquedos e brincadeiras como instrumentos de
aprendizagem, sem olvidar o compromisso de ter a criança como o centro de
seu trabalho. É essencial, portanto, identificar quais benefícios o “brincar” é
capaz de provocar na criança, assim como definir o papel das creches e da pré-
escola nesse processo, uma vez que todo o processo de aprendizagem é,
também, resultado do trabalho conjunto de todos os agentes envolvidos, direta
ou indiretamente.
Na concepção de Oliveira (2002, p. 124):

O educador deve conhecer não só teorias sobre como cada criança


reage e modifica sua forma de sentir, pensar, falar e construir coisas,
mas também o potencial de aprendizagem presente em cada atividade
realizada na instituição de Educação Infantil. Deve também refletir
sobre o valor dessa experiência enquanto recurso necessário para o
domínio de competências consideradas básicas para todas as crianças
terem sucesso em sua inserção em uma sociedade concreta.

Como mediador, o professor deve entender que sua função não diz
respeito unicamente à interferência direta na atividade aplicada, isto é, a
brincadeira, mas também na adoção de novas ferramentas pedagógicas, assim
como com a organização do espaço e dos objetos. Como Brougère (2001)
aponta, o professor deve buscar construir um ambiente que oportunize e
estimule a brincadeira. Ao incluir a prática de jogos e brincadeiras nesse
processo, ele deve inteirar-se da finalidade da atividade lúdica no fomento da
aprendizagem e desenvolvimento pessoal da criança.
Isso, porque há a necessidade de criar um ambiente com condições e
circunstâncias aptas a desenvolver essas brincadeiras na pré-escola, uma vez
que a criança, por estar em seus anos iniciais, ainda mantém forte dependência
em relação àquilo que o ambiente sugere (MELLO, apud ELKONIN, 2015).
No questionário aplicado, houve divergência acerca da existência ou não
de preparo dos profissionais da Educação Infantil quanto à utilização de métodos
de ensino ligados ao lúdico. As seguintes respostas foram obtidas:

Entrevistada 1: Em meu ver, os professores estão


preparados para utilizarem os métodos de ensino ligados
ao lúdico com as crianças.
Entrevistada 2: Em geral, acredito que não estão
preparados, pois muitos dos professores ainda utilizam os
métodos tradicionais, não tendo as visões necessárias e
aplicando-as em seus projetos pedagógicos. Penso, que
muitas destas professoras devem buscar se qualificarem
e terem uma formação continuada.
Entrevistada 3: Sim, basta observar o interesse das
crianças, bem como suas potencialidades e dificuldades e
explorar de sua criatividade e pesquisa.

A introdução de novas estratégias pedagógicas pode ser uma tarefa


intimidadora para os profissionais da Educação Infantil que utilizam técnicas de
ensino mais tradicionais, seja em razão do lapso de tempo entre a data de sua
graduação, seja por acreditarem ser esse o método mais adequado. No entanto,
tal acomodação pessoal do educador não pode servir como justificativa para a
falta de aprimoramento profissional, visto que se trata de uma necessidade
praticamente intrínseca ao ambiente escolar, de modo que possa se atualizar
em relação às mudanças sociais e tecnológicas.
Segundo Ferreira (2006, p. 19-20):

A “formação continuada” é uma realidade no panorama educacional


brasileiro e mundial, não só como uma exigência que se faz devido aos
avanços da ciência e da tecnologia que se processaram nas últimas
décadas, mas como uma nova categoria que passou a existir no
“mercado” da formação contínua e que, por isso, necessita ser
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legitima e
digna formação humana.

No entanto, a inserção do lúdico na atividade educacional não reflete a


total supressão de mecanismos tradicionais de ensino, mas corresponde à
integração entre eles, objetivando o desenvolvimento máximo da criança.
Quanto às respostas apresentadas pelas professoras entrevistadas,
observa-se que, apesar da divergência, é possível extrair dos relatos que, por
mais que estejam preparados, os professores precisam delinear as metas e
objetivos que almejam alcançar com a atividade lúdica, observando o interesse
e necessidade da criança – fato diretamente relacionado ao protagonismo do
aluno no método lúdico.
Portanto, o preparo para a adoção dessas novas técnicas pedagógicas
está vinculado à especialização do educador, o qual deve se aprimorar,
realizando formação continuada por meio de cursos e/ou especializações na
área da educação. A partir da escolha do docente de utilizar em seu plano
pedagógico métodos lúdicos, conforme indicado pela entrevistada nº 3, ele deve
estudar o ambiente e o grupo de crianças com o qual serão aplicadas as
recreações e brincadeiras. Ao fazer isso, ele identifica as necessidades, as
potencialidades e, assim, poderá delimitar suas metas para a elaboração do
plano de ensino de acordo com a demanda necessária, sempre objetivando o
melhor desenvolvimento da criança.

[…] a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser


melhorados, compreendidos e encontrar maior espaço para ser
entendido como educação. Na medida em que os professores
compreenderem toda sua capacidade potencial de contribuir no
desenvolvimento infantil, grandes mudanças irão acontecer na
educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse processo (LIMA,
2003).

Por fim, as pedagogas deram seu parecer sobre a contribuição que os


jogos e brincadeiras traz ao contexto da Educação Infantil. Observou-se as
seguintes respostas:

Entrevistada 1: A brincadeira e jogo desenvolvem nas


crianças algumas habilidades importantes como: Atenção,
memória, imaginações, criatividade, ajudam na
cooperação, a esperar sua vez.
Entrevistada 2: A brincadeira é um estimulo positivo para
as crianças, nos quais incluem a atenção e afeto,
desenvolvendo suas habilidades cognitivas, sociais e
emocionais.
Entrevistada 3: O jogo e a brincadeira na Educação
Infantil são de extrema importância, pois é neste momento
que a criança se expressa e se desenvolve de maneira
mais espontânea e positiva, acarretando, memórias
afetivas, desenvolvendo saberes e habilidades até então
desconhecidas, e principalmente, no brincar a criança
pode e consegue exercer o que realmente ela é, e gosta
de fazer: ser criança! Brincar, em um mundo tecnológico e
“adultizado”, deve ser libertador!

Pode-se perceber, nos depoimentos das professoras, que todas


ressaltaram que os jogos e brincadeiras contribuem para o desenvolvimento
cognitivo da criança e auxiliam em sua socialização. Nesse ponto, Rizzi e Haldt
(2007, p. 15) enfatizam que:

O jogo supõe relação social, supõe interação, por isso, a participação


em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo,
solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de
responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando que a criança
aprende o valor do grupo [...].

A Entrevistada nº 3 destaca que, por meio da brincadeira, a criança se


expressa espontânea e positivamente, criando memórias afetivas dos momentos
que presenciou, assim desenvolve conhecimentos e habilidades até então
desconhecidos, tornando o ato um verdadeiro processo de autoconhecimento.
A colocação dessa professora relaciona-se com o que pontuam Craidy e
Kaercher (2001, p. 104), ao afirmarem que “[...] a brincadeira é algo de pertence
à criança, à infância. Através do brincar a criança experimenta, organiza-se,
regula-se, constrói normas para si e para o outro. Ela cria e recria a cada nova
brincadeira, o mundo que a criança”.
Entre o início e o fim da brincadeira, nos deparamos com diversos tipos
de brincar, imaginar, explorar, conviver e aprender; é durante a brincadeira que
a criança mais explora sua imaginação e criatividade, produzindo cultura.
Portanto, o fim da brincadeira já é outro bem diferente do início.
Nessa perspectiva, o jogo e a brincadeira consistem em poderosas
ferramentas para que a criança se integre ao grupo, forme pares de acordo com
suas afinidades e desenvolva suas habilidades cognitivas e sociais, assim como
desenvolva outros progressos, daí a importância de serem aplicadas como
instrumentos didáticos na Educação Infantil.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo visou abordar a importância do brincar na Educação


Infantil, bem como compreender a percepção dos professores acerca da
brincadeira nessa etapa escolar e conhecer melhor a realidade e o contexto em
que as brincadeiras ocorrem no universo da criança.
Sua elaboração permitiu compreender que a criança aprende enquanto
brinca. Ou seja, por meio da brincadeira, do brinquedo, da interação e do jogo,
a criança desenvolve a memória, a linguagem, a atenção, a percepção, a
criatividade e a habilidade para o aprendizado.
Por meio do questionário realizado com três professoras de um Centro de
Educação Infantil localizado em Tubarão, foi possível perceber que as
professoras entrevistadas se mostram interessadas em inserirem em seus
planos pedagógicos a brincadeira, tendo uma visão positiva para o ato de brincar
e sua importância para o desenvolvimento infantil, considerando que este é uma
forma divertida e prazerosa de aprender, de poder se expressar de forma
espontânea e divertida.
O educador é reconhecido por ser o responsável pela elaboração e
mediação dessas práticas; e é de suma importância que tenha uma visão mais
sensível para tudo o que a criança realiza, de modo que assim consiga avaliar a
evolução desse ser, contribuindo para seu processo de aprendizagem.
Diante do exposto, vale destacar, ao final dessas reflexões, a necessidade
de constante formação continuada para os docentes acerca das especificidades
da criança, suas singularidades e o modo como as práticas pedagógicas devem
ser desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil. É importante também
reiterar que esse lugar deve ser organizado para a criança, visto que constitui o
fazer pedagógico docente em todas as suas dimensões.
Sigamos na defesa de ações pedagógicas na Educação Infantil
organizadas a partir do eixo da ludicidade, das interações e da brincadeira.

Referências

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Anexos

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