Você está na página 1de 16

O SUCESSO ESCOLAR DOS ALUNOS NO ENSINO BÁSICO: PERCEPÇÕES DE

PROFESSORES E ALUNOS DA EPC DE NAPAI, CIDADE DE MONTEPUEZ

Elson Francisco Mugabe1

Resumo

Este artigo tem como objectivo O Sucesso Escolar dos alunos no Ensino Básico: Percepções de
professores e alunos da EPC de Napai na Cidade Montepuez.
Napai Cidade de Montepuez, tem como objectivo compreenderem o sucesso escolar dos alunos.
O estudo é de enfoque qualitativo e descritivo e, envolveu 19 participantes (Onze professores e
oito alunos) escolhidos por saturação empírica. O tratamento dos dados colectados foi feito por
meio da técnica de análise de conteúdo. Os resultados revelam que os interlocutores atribuem
ao sucesso escolar a causas em externas (o incentivo da família e a dedicação do professor) e
internas (esforço do próprio aluno). E para o insucesso escolar é associado à causas externas
nomeadamente: à incapacidade do professor em motivar e transmitir conhecimentos aplicando
metodologias diversificadas e, a fraca colaboração dos pais e encarregados de educação na vida
escolar dos seus educandos, dificuldades no domínio da leitura e escrita, ocupação dos alunos
na prática das actividades agrícolas e casamentos prematuros. Há que se de desenvolver um
plano de acção para modificações no padrão atribucional dos alunos, através de um trabalho
conjunto entre professores e gestores escolares, em busca de desenvolvimento de crenças
compatíveis com a motivação para a aprendizagem e sucesso escolar.

Palavra-chave: Sucesso, Fracasso, Aprendizagem, Desempenho escolar, Ensino básico.

Abstract

This article has as theme School Success of Students in Basic Education: Perceptions of teachers
and students of the EPC of, City of Montepuez, aims to understand the causal attributions of
school success and failure. The study has a qualitative and descriptive focus and involved 19
participants (eleven teachers and eight students) chosen by empirical saturation. The treatment
of the collected data was done by means of the technique of content analysis. The results reveal
that the interlocutors attribute the school success to external (the encouragement of the family
and the dedication of the teacher) and internal (effort of the student himself) causes. And for
school failure it is associated with external causes namely: the inability of the teacher to
motivate and transmit knowledge by applying diversified methodologies and, the weak
collaboration of parents and guardians in the school life of their students, difficulties in the field
of reading and writing, occupation of students in the practice of agricultural activities and
premature marriages. It is necessary to develop an action plan for changes in the attribution
pattern of students, through a joint work between teachers and school managers, in search of
developing beliefs compatible with the motivation for learning and school success.

Keyword: Success, Failure, Learning, School performance, Basic education


2

INTRODUÇÃO

O sucesso e insucesso escolar são fenómenos que podem ser causados por variados factores.
Entretanto, mesmo com a existência de teorias e justificativas acerca das causas do sucesso e
insucesso escolar, muitos profissionais ainda actuam de forma excludente frente as expressões
individuais de seus alunos, visto que se espera um comportamento e um aprendizado uniforme.

As atribuições causais que os alunos e os professores processam a respeito do sucesso ou do


insucesso escolar consistem em factores determinantes das suas expectativas relativas às suas
capacidades e ao seu desempenho. Este trabalho versa sobre O Sucesso Escolar dos alunos do
Ensino Básico: Percepções de professores e alunos da EPC de Napai, Cidade de Montepuez. O
estudo contou com a participação de 19 sujeitos, sendo onze professores e oito alunos. Trata-se
de um estudo de caso, com uma abordagem qualitativa com recurso a entrevistas
semiestruturadas. Os dados foram analisados qualitativamente, utilizando-se da técnica de
análise de conteúdo.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________

1
Elson Francisco Mugabe, Licenciado ensino de Filosofia e Ética Geral, Bacharel em Ensino de Filosofia,
Mestrando em Psicopedagogia na Academia Militar "Marchal Samora Machel". /email:
elsonmugabe5@gmail.com.

1. METODOLÓGIAS

O procedimento metodológico deste artigo, constitui a fase da pesquisa em que reunimos dados
através de técnicas específicas, cujo objectivo é obter informações do campo em estudo. Nessa
etapa, definimos onde e como foi realizada, o tipo de pesquisa, participantes do estudo, a técnica
de colecta de dados e a forma como pretendemos e analisar os dados obtidos.

1.1.Tipo de Pesquisa

1.1.1. Quanto à abordagem

Nesta pesquisa, foi adoptada uma abordagem qualitativa. A escolha por essa abordagem, deve-
se por um lado, ao facto de que as questões foram estudadas no ambiente em que elas se
apresentam, sem qualquer manipulação das variáveis em estudo. Além do mais, a utilização
desse tipo de abordagem difere da abordagem quantitativa pelo facto de não utilizar dados
3

estatísticos como o centro do processo de análise de um problema, não tendo, portanto, a


prioridade de numerar ou medir unidades.

Os dados colectados nessas pesquisas são descritivos através das entrevistas que serão
submetidos aos professores, retractando o maior número possível de elementos existentes na
realidade estudada. Na análise dos dados colectados, não há preocupação em comprovar
hipóteses previamente estabelecidas, porém estas não eliminam a existência de um quadro
teórico que direccione a colecta, a análise e a interpretação dos dados.

1.1.2. Quanto aos objectivos

O estudo desenrolado neste trabalho, é do tipo descritivo. A pesquisa descritiva possui


planeamento flexível, o que permite o estudo do tema sob diversos ângulos e aspectos. Em
geral, envolve: levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências
práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.

1.1.3. Quanto aos Procedimentos

Quanto aos procedimentos, a pesquisa é de campo. Nesta senda, a pesquisa de campo é um


procedimento metodológico que consiste em colectar dados directamente na fonte, ou seja, no
local onde ocorre o fenómeno ou a situação que se deseja estudar.

Segundo Reis (2010) a pesquisa de campo “permite ao pesquisador ter um contacto directo e
pessoal com o objecto de estudo, observando, entrevistando, questionando e interagindo com
os sujeitos envolvidos na pesquisa” (p.16).

Para PRODANOV e Freitas (2013) entendem que a pesquisa de campo “possibilita ao


pesquisador obter informações mais ricas, profundas e autênticas sobre a realidade estudada,
bem como captar aspectos subjectivos, simbólicos e culturais que não seriam possíveis por
outros meios” (p.24).

A pesquisa de campo é adequada para os trabalhos académicos que têm como objectivo
descrever, compreender, interpretar ou explicar fenómenos ou situações complexas, dinâmicas
e multifacetadas, que exigem uma abordagem mais qualitativa e holística (Viera, 2009, p. 7).
4

1.2.Técnica de recolha de dados

Para a presente pesquisa foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada. Segundo Marconi
e Lakatos (2017), a entrevista semiestruturada é um instrumento de colecta de dados mais
utilizados no âmbito das ciências pedagógicas. Enquanto técnica, a entrevista é bastante
utilizada em pesquisa qualitativa com o propósito de obter informações dos respondentes com
as próprias palavras, assim como obter descrição das situações e elucidar detalhes. A entrevista
consiste num diálogo com objectivo de colher de determinada fonte, de determinada pessoa ou
informante dado relevante para a pesquisa em andamento (Reis, 2010, p. 17).

Para a realização desta pesquisa, foram elaborados dois guiões de entrevistas semiestruturadas,
sendo o primeiro dirigido aos professores e a Direcção da escola (ver Apêndice A, na página
75), e o segundo, foi submetido aos alunos (ver Apêndice B, na página 76). As entrevistas foram
realizadas no recinto escolar, no período de recreio e no tempo final das aulas, para que não
interrompesse as actividades normais da escola, foram gravadas e tiveram a duração máxima
de 40 minutos.

Com esta técnica pretendeu-se obter as opiniões dos interlocutores em relação a temática,
através perguntas pré-elaboradas para exprimir os seus sentimentos que se julgam serem
importantes no esclarecimento das perguntas levantadas. Com base em perguntas abertas foi
possível dar maior liberdade na expressão e evitar reservas por parte dos entrevistados. Neste
sentido, Bogdan e Biklen, (1994) afirmam que para existir confiança entre o investigador e o
objecto de estudo, “deve-se negociar a autorização para efectuar um estudo. O investigador
deve, ainda, ser claro e explícito com todos os intervenientes relativamente aos termos do
acordo e respeitá-los até à conclusão” (p.37).

1.3.Técnicas de análise de dados

Para análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, um conjunto de técnicas
de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição
do conteúdo das mensagens (Bardin, 2009). Neste contexto, foi feita a descrição das entrevistas
e agrupadas em categorias de acordo com a aproximação das respostas dadas respeitando-se a
originalidade e finalmente fez-se a inferência e as respectivas conclusões.
5

A análise de conteúdo foi feita tendo em conta as três etapas fundamentais, a pré-análise, a
exploração do material e o tratamento dos resultados:

A pré-análise: nesta fase fez - se a organização do material obtido com o objectivo de torná-lo
operacional, sistematizando as ideias iniciais.

A exploração do material: nesta fase, os registos obtidos por meio de entrevistas e observação
indirecta foram seleccionados minuciosamente para constarem do texto escrito tendo em conta
os objectivos estabelecidos para o trabalho. É nesta fase em que as respostas dadas pelos
entrevistados foram organizadas consoante as perguntas de pesquisa de modo a facilitar a
análise das mesmas.

Tratamento dos resultados e interpretação: Nesta etapa foi dedicada ao tratamento dos
resultados e por fim a análise reflexiva e crítica.

Todos os participantes foram atribuídos um código que visava garantir o seu anonimato. Para
os Professores foi-lhes atribuído os códigos P1, P2, P3, P4, P5…P10, e aos alunos os códigos
A1, A2, A3, A4, A5 e A6. Da análise das entrevistas emergiram quatro categorias,
nomeadamente:

 Visão dos participantes sobre o conceito do sucesso e insucesso escolar;

 Visão sobre as causas do sucesso e insucesso escolar;

 Visão sobre as consequências do insucesso escolar

 Visão sobre a proposta de acções para promoção do sucesso escolar.

2. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2.1.Visão dos participantes sobre o conceito do sucesso e insucesso escolar

Neste ponto teve-se como objectivo apurar as opiniões dos Professores (P) e dos alunos (A)
sobre o sucesso e insucesso escolar. Em vista disso, um grupo de professores entrevistados,
afirma o seguinte: “o sucesso escolar tem a ver com alto desempenho escolar de alunos que
adquirem conhecimentos aceitáveis” (P1). Neste sentido, P2 explica que “o insucesso esta
relacionado ao baixo desempenho escolar por parte dos alunos. Os alunos não atingem e não
6

demostram mínimos conhecimentos de competências aceitáveis pelos objectivos da aula,


provas e da Escola demostrando uma evidência do insucesso”.

Para outros professores entrevistados, como o P3 considera que “o sucesso escolar, trata-se de
situações em que o aluno tem a capacidade de captar e aprender os conteúdos transmitidos pelo
professor e demostrar o seu aprendizado quando for avaliado”. P4, explica que “o insucesso
escolar do aluno é quando mesmo a escola tendo disponibilizado os meios para facilitar o
processo de aprendizagem este não ocorre como esperado”. “o sucesso e o insucesso escolar
estão inevitavelmente ligados. Tudo começa mesmo através do comportamento e de como nós
vivemos e com quem convivemos” (P5).

Para P6 afirma que se nós temos um bom comportamento e estamos dispostos a dar o nosso
melhor em prol dos estudos, claramente teremos bons sucessos, mas se nos temos um mau
comportamento, não nos empenharmos nos estudos. Já o P7 afirma que os professores, assim
como os alunos podem fracassar no Processo de Ensino e Aprendizagem, recaindo a um
insucesso escolar se não dedicarem como deve ser para que haja bons resultados” (P8). “Bom
sucesso escolar é o processo pelo qual os alunos percorrem os anos escolares ou meses,
trimestres escolares em progressão crescente, desenvolvendo aprendizagens significativas
relativas ao conhecimento (P9). “O insucesso escolar é o fraco ou mau êxito na escola durante
o processo de ensino e aprendizagem” (P10).

Reforçando essas ideias, o aluno entrevistado A1 entende por sucesso escolar “quando o aluno
estuda, realiza provas em diferentes disciplinas sem cabular e consegue nota positiva”.

Já o outro aluno entrevistado, A2 explica que o “sucesso escolar é quando o professor explica
bem a aula e o aluno entende a matéria da aula. A3 considera o “sucesso escolar quando no
final de cada trimestre ou ano, o aluno apresenta bom aproveitamento passa”. “o sucesso da

Escola tem como melhoramento dos alunos para que possa ter o futuro melhor… o sucesso
escolar é sempre com os alunos inteligentes, interessados e espertos” (A4). “o sucesso escolar
é muito importante para os alunos e se isso acontecer ele vai ter o seu futuro nas mãos” (A5).
“Insucesso escolar tem como Hoje em dia, os alunos não ficam preocupados, interessados em
estudar…isso é um problema muito grave e deixa tristes os encarregados e desesperados.
Também acontece nas escolas esse insucesso escolar porque os professores não ficam tão
focados em dar aula aos alunos” (A6).
7

As afirmações dos participantes, remete-nos a perceber que o sucesso e o insucesso escolar são
conceitos intimamente ligados ao desempenho dos alunos no seu processo de ensino e
aprendizagem. O sucesso escolar geralmente se relaciona com o alcance de metas e objectivos
académicos que os alunos, professores, a direcção da escola, o Ministério de educação e
Desenvolvimento Humano e outras entidades da Sociedade civil, bem como parceiros ONG´s
traçam sobre o Processo de Ensino e Aprendizagem, bem como com o desenvolvimento de
habilidades e conhecimentos relevantes dos alunos. Já o insucesso escolar ocorre quando um
aluno não atinge essas expectativas ou enfrenta dificuldades significativas no seu desempenho
académico.

Nas percepções é possível constatar ainda que, o sucesso escolar é visto como o resultado
positivo do processo educativo, que se traduz na aquisição de conhecimentos e habilidades pelos
alunos e acima de tudo o aluno tem de demostrar esse conhecimento e competência através de
avaliações que podem ser feitas durante ou no final de cada aula, final da unidade temática
como ACS (Avaliações Contínuas Sistemáticas), no final do trimestre como APT (Avaliações
Periódicas Trimestrais) ou ainda no final do ano como um exame. Já o insucesso escolar pode
ser entendido como a incapacidade do aluno atingir os objectivos propostos para aula ou
unidade temática. Outrossim, o insucesso é necessariamente falar de alunos que, ano após ano,
não conseguem transitar para a classe seguinte ou, mesmo que o consigam, têm um
aproveitamento baixo, deixando lacunas de aprendizado em algumas disciplinas. Esta situação
conduz a um prolongamento da frequência ou seja, repetência da classe por parte do aluno,
chegando mesmo a situações extremas de desistências ou transferências para uma outra escola
antes do término do ano.

Sobre o sucesso e o insucesso escolar, Santos (2001) entende como representações construídas
pelo sistema escolar segundo os seus próprios critérios e procedimentos de avaliação. As
apreciações de sucesso ou insucesso reflectem normas de excelência com um currículo em que
o conteúdo influencia directamente a natureza e a extensão das desigualdades.

A dificuldade de pesquisar o fracasso (insucesso) escolar é evidenciada na definição de seu


próprio conceito, pois não há consenso entre os autores. Como referido por Pezzi e Martin
(2017), o termo fracasso escolar é utilizado nos mais diferentes contextos, para distintas
situações. Dentre os estudos avaliados, os principais conceitos utilizados são apontados como
8

a reprovação, dificuldades de aprendizagem e obtido numa determinadas avaliações de


desempenho.

Entretanto, ressalta-se que estes, normalmente, avaliavam aptidões específicas de leitura,


ortografia e matemática, desconsiderando outras habilidades também importantes. Também se
questiona sobre o quanto o fracasso escolar pode trazer prejuízos para as pessoas que o
vivenciam. A ideia que costuma prevalecer é a de que alguém fracassa e, na grande maioria dos
casos, se entende que esse alguém é o aluno, como fica evidenciado nos resultados dos estudos
(Pezzi & Marin, 2017).

Contudo, o insucesso do aluno é também o insucesso da escola onde a construção joga-se na


contradição, entre a intenção de ensinar e a impotência relativa da organização pedagógica em
alcançar esse fim. Portanto, um aluno tem sucesso, porque a escola assim o declara e ele
reprova, porque a escola assim o determina segundo os critérios estabelecidos.

Tanto o sucesso como o insucesso são representações construídas pela escola, mais
concretamente pelos professores e outros agentes envolvidos. São o produto da avaliação como
prática regular da organização escolar e dos seus agentes, prática essa que está de acordo com
procedimentos mais ou menos codificados, subentendidos por normas de excelência e de níveis
de exigência institucionalmente definidos. Para que haja insucesso escolar basta que a
instituição assim o declare.

O sucesso escolar pode ser avaliado sob várias maneiras, como por exemplo pelas notas dos
testes realizados pêlos alunos, resultados de exames, conclusão de cursos ou programas de
estudo, participação activa em actividades extracurriculares e envolvimento positivo na
comunidade escolar. Quando um aluno alcança esses marcos e demonstra um bom desempenho
académico, isso geralmente é considerado um sucesso escolar. No entanto, o sucesso escolar
não se limita apenas às conquistas académicas, também está relacionado ao desenvolvimento
de habilidades sócio emocionais, como por exemplo as habilidades de comunicação com os
outros, colaboração, pensamento crítico e resolução de problemas. Os alunos que conseguem
se destacar nessas áreas também são considerados bem-sucedidos na escola.

2.2.Visão sobre as causas do sucesso escolar


9

Procurou-se perceber dos Professores e Alunos quais as causas que concorrem para o sucesso
escolar dos alunos. Nesse sentido, um professor refere que “o sucesso escolar é atribuído
basicamente pelo empenho e a capacidade do próprio aluno, a dedicação do professor e a
participação do encarregado de educação na vida escolar do seu educando, que com eles passa
a maior parte do seu tempo, pois a base de tudo é a educação que o aluno recebe no seio familiar
o que torna mais importantes na motivação do sucesso escolar do aluno” (P1). E para o
participante P3 entende que “o sucesso escolar dos alunos, especialmente a 5 principais factores
que são considerados a saber: família, professores e a escola competente, força de vontade em
aprender, saúde geral do aluno e recursos económicos”.

Embora existam alguns factores relacionados com a família e sociedade, dentre as principais
razões do sucesso escolar estão as características individuais dos alunos como por exemplo
primeiro é a atitude positiva em relação aos estudos (P4).

Segundo P5 refere que é verdade que talvez nem todos os conteúdos do currículo escolar
pareçam importantes pelo menos agora, mas mesmo assim, quando os alunos procuram ver os
possíveis benefícios, eles conseguem desenvolver alguma sabedoria e compreensão e essas
habilidades serão úteis para a resolução de seus problemas em vez de sempre depender de
outros, tornando-lhes estudantes bem-sucedidos.

Para P6 afirma que o aproveitamento máximo a cada aula, ou seja, estar presente as aulas é
importante, mas é melhor quando os alunos fazem tudo que podem, para aproveitar do máximo
cada aula, fazer bons apontamentos, evitar distracções, seguir a linha de raciocínio do professor,
e sempre que possível fazer perguntas durante as aulas. Nessa linha de pensamento,

P7 afirma que “pois deste modo o professor acaba por explicar melhor a matéria quando souber
que um aluno não está entender”.

Outro professor entrevistado atribui o sucesso a todos os intervenientes do processo educativo,


não só, mas também a factores externos a estes processos, tais como os factores
socioeconómicos, do ambiente e nutricionais (P8). “É preciso muita dedicação da parte do
professor e os alunos, acima de tudo a existência de material didáctico e as condições de
trabalho acessíveis param ocorrência desse processo” (P9). Concordando com essa ideia, o P10
explica que “o sucesso dos alunos nessa escola advém de maior engajamento dos professores
10

se a direcção da escola apoiar com capacitações e formações contínuas, planificação e


colaboração dos Pais e encarregados de educação”.

Já para os alunos entrevistados, A1 refere que “para ter sucesso nas avaliações e passar de classe
no final do ano, tem que estudar muito as aulas dadas pelos professores, fazer TPC e

tirar nota positiva em todas as disciplinas”. O aluno, A2 considera que para ter sucesso “o
professor deve explicar bem as matérias e quando não percebidas apresentam dúvidas, e se
assim persistir, recorrem a explicação das mesmas no seio familiar ou através de um explicador
particular”. Já A3 diz que “o sucesso de um aluno na aprendizagem vem de uma boa
concentração nos estudos”. O aluno A5 afirma que o “sucesso escolar é atribuído o sucesso de
um aluno na aprendizagem e que ele ganha mais conhecimento e é bem visto com os professores
por honra da sua preocupação e desempenho escolar”.

O sucesso escolar dos alunos pode ser atribuído a uma combinação de factores, que incluem
tanto factores internos como externos. Nesta ordem de ideias, percebemos que foram vários os
factores apontados pelos professores e alunos entrevistados como importantes influências na
vida de um estudante para levá-la ao sucesso escolar. Nenhum entrevistado citou um factor
isolado como determinante, mas sempre a combinação de factores. Fica claro, também, que a
ausência de um deles não determina que não se alcance o sucesso ou fracasso escolar. Para uma
melhor compreensão, agrupamos as causas apontadas em três (3) categorias que são: família,
dedicação do professor, o interesse do próprio aluno.

a). Família

Nas percepções dos participantes é possível verificar a grande maioria dos entrevistados
apontou, como fundamental para o alcance do sucesso, que o aluno tenha uma boa base familiar
com pais ou algum parente próximo, que o incentive na busca dos estudos. Outro ponto
fundamental para os professores foi a importância dos valores transmitidos por esta família.
Nessa base de ideias a família ou pais e encarregados de educação têm que olhar o dever de
casa do aluno, verificar os cadernos e livros e sobretudo a matéria estudada pelo seu educando,
mostrar que ele não está indo à escola só porque tem que ir, mas sim na busca de uma
prosperidade de conhecimentos que agregam valores na sociedade.
11

Na verdade o sucesso escolar depende de um conjunto alargado de aprendizagens, em termos


pessoais, de interacções sociais e envolvimento na comunidade para que os alunos se sintam
bem na escola, descubram vocações e que a escola faça sentido. Contudo, o apoio e a orientação
dos pais e mães são fundamentais. Não têm de ser professores, mas devem procurar estar
próximos da escola e das actividades dos filhos, procurando identificar problemas educacionais
dos seus educando para que o processo de ensino e aprendizagem tenha êxitos aceitáveis.

O posicionamento da família como influência do sucesso escolar é também defendida por Sousa
e Sarmento (2010, p.11) que consideram o “envolvimento das famílias está positivamente
relacionado com os resultados escolares dos alunos. Deste modo, as escolas são mais eficazes
quando desenvolvem esforços para trabalharem com as famílias das crianças e quando as
famílias participam de forma activa, permite-se que se adquirem melhores resultados e a escola
torna-se num lugar melhor para todos”.
No entanto, a participação familiar no desempenho dos alunos reforça-se como uma das
orientações ministeriais. De acordo com o artigo 5 do número 3 da lei 6/92 de 6 de Maio do
Sistema Nacional de Educação em Moçambique, os pais, a família, os órgãos locais do poder e
as instituições económicas e sociais contribuem para o sucesso da escolaridade obrigatória,
promovendo a inscrição das crianças em idade escolar, apoiando nos estudos, evitando as
desistências particularmente antes de completar as sete classes do ensino primário.

Ainda Lahire (1997), referindo-se às formas familiares da cultura escrita, fala sobre como as
pequenas práticas do cotidiano familiar auxiliam na formação de hábitos, na organização do
tempo etc. Por exemplo, no uso de agendas, organização de fotografias por datas de eventos e
os lugares, uso do calendário, lista de compras ou de coisas a fazer, registro dos recursos
financeiros. Tais práticas levam a criança a se organizar, ter regularidade, saber planejar o que
a auxilia nos momentos escolares em que precisará dessas habilidades. Para esse mesmo autor
refere ainda que “a precisão, regularidade, interiorização, calma, autonomia, ordem, clareza e
minúcia, essas são as qualidades indissociavelmente comportamentais e organizacionais que
sobressaem de todo um conjunto de elementos em relação ao contexto da entrevista, o estilo do
discurso mais do que seu conteúdo” (p. 294).

b). A dedicação dos professores

O segundo aspecto mencionado pelos entrevistados diz respeito à escola e os seus professores.
Nele, estão implícitos os factores advindos de uma direcção comprometida com seus alunos e
12

professores competentes e actualizados, que sempre recebem formações contínuas,


capacitações, o que reflecte numa troca de experiencias entre os colegas da escola e da ZIP para
sanar algumas dificuldades encontradas no PEA. É mencionada também pêlos gestores da EPC
de Napai, a necessidade de um controle contínuo do plano de diário de aula, pontualidade dos
alunos e professores.

Alunos que têm acesso a recursos de qualidade têm mais oportunidades de aprendizado e
desenvolvimento. Contudo, o papel dos professores e da qualidade do ensino não pode ser
subestimado. Professores competentes, bem treinados e que ensinam os alunos com muito
gosto, têm o poder de inspirar e motivar os alunos, além de fornecer métodos de ensino eficazes
e relevantes.

A representação do professor como uma figura emblemática na vida do aluno pode ser muito
marcante, chegando até mesmo a influenciar suas escolhas profissionais. É comum ouvirmos
relatos de pessoas que testemunham serem os professores que marcaram suas vidas, não
necessariamente os que mais tinham conhecimento dos conteúdos a serem administrados, mas
aqueles que as perceberam como um ser único, uma pessoa.

c). O interesse do aluno em aprender

Outro factor essencial para o sucesso de um aluno, é o seu próprio interesse em aprender, sua
força de vontade. Além da família e da escola, o próprio aluno tem um importante papel no seu
sucesso escolar. Para vários dos entrevistados, em primeiro lugar, ele precisa acreditar nele
mesmo e depois, o sucesso virá de uma consciência da importância de estudar. Um aluno
dedicado, quando é dado trabalho de casa, se preocupa em resolver e não tendo êxitos de como
resolver, ele procura ajuda com um dos membros da sua família, não tendo como é dai que a
família vai percebendo quais dificuldades nas matérias o seu educando apresenta.

Concordando com a ideia, Lahire (1997) percebe que algumas crianças que apresentam sucesso
escolar interiorizam certas regras em forma de necessidades pessoais. Esse autor realça a
necessidade de se desenvolver a autonomia do aluno, ou seja, que ele aprenda a se virar sozinho,
buscando entender suas deficiências para poder saná-las, procurar fazer uso dos recursos que
estão à sua disposição como dicionários, mapas etc. Portanto, fica o entendimento que o
comprometimento e o esforço individual dos alunos desempenham um papel fundamental no
seu sucesso escolar.
13

2.3.Caracterização do local de estudo

A Escola Primária de Napai é uma instituição de ensino, localizados arredores da Cidade de


Montepuez, concretamente no Bairro com o mesmo nome. Ela foi fundada durante o período
colonial português, como uma escola para os filhos dos colonos e dos assimilados, ou seja, os
africanos que adoptavam a cultura e a língua portuguesas. A escola era dirigida por professores
formados nas Escolas Normais Primárias ou nas Escolas do Magistério Primário, que eram as
instituições responsáveis pela formação de professores para o ensino primário em Portugal.

Após a independência de Moçambique, em 1975, a escola primária de Napai passou a seguir o


Currículo definido pelo Ministério da Educação e Cultura, que tinha como objectivo promover
a alfabetização, a identidade nacional e o desenvolvimento social e económico do país. A escola
também passou a receber alunos de diferentes origens étnicas, culturais e religiosas das
comunidades circunvizinhas e além, buscando uma educação mais inclusiva e democrática.

Actualmente, a escola primária de Napai continua funcionando como uma instituição pública
de ensino, atendendo cerca de 1200 alunos da primeira a sétima classe. A escola primária de
Napai é um exemplo de uma instituição que acompanhou as mudanças históricas e sociais de
Moçambique e que continua contribuindo para a formação das novas gerações.

A Comunidade de Napai, local onde se pretende efectuar este estudo, esta situada a Noroeste
da Cidade de Montepuez. A Este e a Norte faz fronteira com o Bairro de Nacate, a Oeste e a
Sul limita-se com algumas comunidades pertencentes ao vizinho Distrito de Balama.

Outro dado não menos importante referente às características daquela zona é que apesar de nos
últimos tempos estar a se registar um aumento de número de “moradores funcionários”
advindos da expansão da urbanização do bairro e das instituições públicas, Napai é habitado
por uma população que na sua maioria sobrevive com base na prática da agricultura de
subsistência, ou seja, a actividade económica mais abrangente na comunidade local é a
agricultura de subsistência, para além de pequenas vendas informais. Podemos perceber ainda,
que a organização familiar é fundamental para o sucesso de uma criança, deixando claro que,
quando se fala em organização familiar, não se refere necessariamente a ter um modelo de
família tradicional, mas à qualidade das relações que se estabelecem entre seus membros.

2.4.Visão sobre as causas do insucesso escolar


14

Pretendia-se com este ponto colher dos entrevistados as causas do insucesso escolar. Alguns
entrevistados como P1, aponta que uma das causas do insucesso escolar é a falta do livro escolar
tanto para os alunos, assim como para os professores. Nessa lógica, o entrevistado P3 entende
que “o insucesso escolar pode ser atribuído primeiras as condições ou meios de aprendizagem
aliado ao empenho do próprio aluno”. No mesmo sentido, P4 afirmou: “o insucesso escolar dos
alunos tem também os principais factores ou causas que são por exemplo a carência de material
didáctico, a carência na estrutura física e psicológica, a falta de professores qualificados, a má
qualidade de ensino, a falta de enfatização familiar ao aluno e recursos económicos”.

Na sequencia, P5 exprimiu o se pensamento nos seguintes termos: “eu penso que o insucesso
escolar de estudante é também insucesso do professor. Se o estudante fracassou numa
determinada disciplina, naturalmente, o professor também fracassou. É natural, que ele se
mostre pré disposto a outras técnicas para que ajudem no aluno a alcançar o sucesso escolar.

É importante ressaltar que o fracasso escolar não é necessariamente atribuído exclusivamente


aos alunos. Factores sistémicos, como políticas educacionais inadequadas, falta de recursos,
falta de apoio aos professores e currículos desactualizados, também podem contribuir para o
fracasso escolar em larga escala. Portanto, foi necessário adoptar uma abordagem abrangente
para abordar esses desafios e ajudar os alunos a superarem o insucesso escolar, na qual pode
ser visto das seguintes formas:

O fracasso escolar como problema psíquico, o que leva à culpabilização das crianças e de seus
pais: o fracasso escolar é visto como o resultado de prejuízos da capacidade intelectual dos
alunos, decorrentes de problemas emocionais gerados em ambientes familiares supostamente
patológicos. Para essa categoria de explicação a escola é vista como um lugar harmónico, no
qual cada criança encontra as condições necessárias para o seu desenvolvimento (Cossa &
Zímico, 2018).

As causas do insucesso escolar são desvinculadas das questões que afectam a sociedade como
um todo e focalizadas somente num determinado professor, método ou estabelecimento de
ensino. Reproduz-se, também, nessa visão, uma ideologia que apresenta o professor como o
salvador; como aquele que compreende e resolve as dificuldades pessoais e/ou emocionais dos
alunos (Angelucci et al, 2004). Deste modo, a escola também está a serviço da produção de
desigualdades e da exclusão social (Cornachione & Edgard, 2010).

Conclusões
15

Este estudo visou compreender O sucesso escolar dos alunos do ensino básico. Do estudo,
conclui-se que as causas atribucionais para o sucesso escolar variam entre internas (esforço do
próprio aluno) e externas (o incentivo da família, a dedicação do professor), e para o insucesso
escolar são exclusivamente externas (incapacidade do professor em motivar e transmitir
conhecimentos aplicando metodologias diversificadas, fraca colaboração dos pais e
encarregados de educação na vida escolar dos seus educandos, dificuldades de leitura e escrita,
ocupação dos alunos na prática das actividades agrícolas e casamentos prematuros). Diante dos
resultados apresentados, o sucesso ou insucesso escolar afectam a forma como os alunos e os
professores se sentem, se motivam e se relacionam. Por exemplo, se um aluno atribui o seu
fracasso a causas internas, estáveis e incontroláveis, como a falta de inteligência, ele pode se
sentir desanimado, frustrado e impotente para mudar a sua situação. Por outro lado, se ele atribui
o seu sucesso a causas internas, instáveis e controláveis, como o esforço, ele pode se sentir
confiante, satisfeito e capaz de melhorar a sua aprendizagem.

Referencias Bibliográficas

ANGELUCCI, Carla Biancha; Kalmus, Jaqueline; Paparelli, Renata, & Patto, Maria Helena
Sousa. (2004). O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): Um estudo
introdutório. Educação e Pesquisa. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

BARDIN, Laurence. (2009). Análise de Conteúdos. Edições (7ª ed). Lisboa: Portugal. Asa.

BOGDAN, Robert & Biklen, Sari Knopp. (1994). Investigação qualitativa em educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. Porto: Portugal. Porto Editora.

CORNACHIONE, Júnior & Edgard, Bruno. (2010). O bom é meu, o ruim é seu: perspectivas
da teoria da atribuição sobre o desempenho académico de alunos da graduação em Ciências
Contábeis. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 21, n. 53.

COSSA, José de Inocêncio Narciso & Zimbico, Octávio José. (2018). Influência do Apoio dos
Pais e Encarregados de Educação no Desempenho Escolar dos Educandos em Moçambique.
Educação em Revista.

LAHIRE, Bernard. (1997). Sucesso escolar nos meios populares: a razão do improvável. São
Paulo: Ática.
16

MARCONI, Maria de Andrade & Lakatos, Eva Maria. (2017). Fundamentos de Metodologia
Científica. (8ª ed.). São Paulo: Brasil. Atlas.

PEZZI, Fernanda Aparecida Szareski & Marin, Angela Helena. (2017). Fracasso escolar na
educação básica: revisão sistemática da literatura. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São
Leopoldo - RS. Versão impressa ISSN 1413-389X

PRODANOV, Cleber Cristian & Freitas, Ernani César. (2013). Metodologia do trabalho
científico: Métodos e Técnicas da pesquisa e do Trabalho. (2ª ed.). Universidade Feevala.

Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul – Brasil.


REIS, Marília Freitas de Campos. (2010). Metodologia da Pesquisa. (2ª ed.) Curitiba: Brasil.
IESDE Brasil S.A.

SANTOS, Luísa. (2001). Adaptação Académica e Rendimento Escolar: estudo com alunos
universitários do 1º ano, Braga, Grupo de Missão para a Qualidade do Ensino Aprendizagem.
Universidade do Minho.

SOUSA, Maria Martins de, & Sarmento, Teresa. (2010). Escola – família - comunidade: uma
relação para o sucesso educativo. Gestão E Desenvolvimento, (17-18), 141-156.
https://doi.org/10.7559/gestaoedesenvolvimento.2010.133

VIERA, Jorge. (2009). Pesquisa qualitativa como método para organização da pesquisa, v. 24.
Brasília: Brasil.

Você também pode gostar