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FACULDADE DE TEOLOGIA
Discurso de Metafísica
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de História da
Filosofia Moderna sob orientação de:
Lisboa
2021
Introdução
filósofos do Iluminismo. Juntamente com René Descartes e Espinoza, foi um dos três
lógica moderna e a filosofia analítica, mas a sua filosofia também assimila elementos da
qual desenvolve uma filosofia sobre a substância física, o movimento e a resistência dos
corpos, e o papel de Deus no universo. Nesta obra é importante denotar que Leibniz,
sendo luterano está a escrever a um católico e por isso procura um discurso mais
Deus. Leibniz não se limita simplesmente a afirmar isso, mas aprofunda o tema e
acerca de Deus. Mas o que significa ser o Ser absolutamente perfeito? O autor responde
a esta questão dizendo que Deus reúne em si o absoluto das perfeições existentes na
natureza, sendo que nesta é possível observar várias perfeições. Cada uma destas
perfeições pertencem a Deus no seu mais alto grau. É a perfeição das perfeições.
Abordando a questão da perfeição, para esta o ser, é necessário que o seu objeto seja
pois o maior número de todos implicaria uma contradição. Por outro lado, temos como
exemplo a omnipotência e a ciência. Estas duas podem chegar ao seu expoente máximo
e por isso são uma perfeição. Não contêm impossibilidade de o ser. Estas duas, em
Deus, não possuem limites. Assim sendo, Deus, possuindo a sabedoria suprema e
infinita, age sempre do modo mais perfeito, seja metafisicamente seja até moralmente.
Leibniz rebate algumas ideias que argumentavam que não existiriam regras de
bondade e natureza das coisas ou nas ideias que Deus delas tinha. Afirmavam que as
obras de Deus eram apenas boas pela razão formal de que foi Deus quem as fez. Esta
afirmação destrói o amor de Deus e toda a Sua glória. O autor argumenta que tudo o que
Deus faz, faz não apenas sendo levado pelo Seu desejo, mas com razões para o fazer.
Leibniz, salvaguardando assim a glória de Deus, afirma que é da Sua natureza divina
que a vontade seja guiada pela razão. Por isso a criação e obras de Deus não seriam boas
apenas porque Deus as fez, mas existe um princípio que as faz intrinsecamente boas, e
por isso Deus as fez, tendo em conta esse princípio. Assim, esta razão é anterior à
que Deus não criou o melhor mundo possível, Leibniz defende a glória de Deus, usando
pode fazer o que é mais perfeito. Toma ainda a Sagrada Escritura e afirma que a própria,
ao revelar que Deus é Bom, estabelece que o que Deus fez é o melhor e mais perfeito.
O autor afirma de que esta ideia de descontentamento com o mundo que existe é
semelhante à ideia dos súbditos descontentes que tendem a tornar-se rebeldes. Leibniz
compreende que o mundo é o melhor possível e que Deus tem um plano para ele, sendo
também necessária a nossa colaboração por questões de liberdade humana, que ele nos
concede.
Em seguida crê que para agir em conformidade com a vontade divina não é suposto que
sejamos pacientes à força, mas que proactivamente procuremos realizá-la. Ou seja, não
ser quietista, mas procurar discernir a vontade de Deus e realizá-la. Se assim for,
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Cfr. Gottfried Wilhelm Leibniz Freiherr von, Discurso de metafísica (Lisboa: Edições 70, 2000), n. 3.
estaremos a procurar o bem geral e tenderemos para o aperfeiçoamento, o absoluto da
agora o que o autor entende pelas regras de perfeição da conduta divina e os meios
usados para aí chegar. Leibniz dá alguns exemplos que transmitem o desejo de Deus em
relação à ordem das coisas, são eles: “Pode, pois, dizer-se que quem age perfeitamente
mais perfeito e mais rico, utilizando os meios mais simples. Para o aperfeiçoamento
Leibniz apresenta o que a princípio pode parecer uma contradição, a simplicidade. Deus
utiliza meios simples para a perfeição. Esta simplicidade existe na relação com os meios
utilizados, enquanto que a riqueza ou abundância dizem respeito aos fins. Os dois
Em seguida o autor afirma que Deus nada faz fora de ordem. Assim garante que o que
consideramos por extraordinário é-o apenas na relação com alguma ordem particular
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Cfr. Gottfried Wilhelm Leibniz Freiherr von, Discurso de metafísica (Lisboa: Edições 70, 2000), n. 5.
estabelecida entre criaturas. Deus rege-se com um princípio: Objetivos ricos, meios
simples. Por isso, para Deus, não há ações ordinárias ou extraordinárias, apenas para
Pode-se dizer que fosse qual fosse a maneira de Deus criar o mundo, fá-lo-ia sempre
com uma regra, uma ordem. Mas Deus escolheu o que é mais perfeito, ou seja, o que é
Surge uma outra questão, que consiste nos milagres realizados por Deus. Estes, não
ainda assim de acordo com essa ordem. Do mesmo modo que para Deus não se
fenómenos naturais. Deus pode, por vezes, por uma razão superior à razão que o moveu
“criar” uma lei particular segundo a qual possa intervir, para nós extraordinariamente,
pensar nelas efetivamente, pelo seu concurso ordinário no tempo em que os nossos
sentidos estão dispostos de certo modo, segunda as leis que Ele estabeleceu.”3
Quer isto dizer que possuímos o pensamento que Deus nos dá e esse
pensamento é de igual forma sustentado por Deus. A harmonia das causas só é possível
dos ângulos de refração e os meios de incidência. Mesmo que sem os ângulos uns dos
outros, há uma proporção que se mantém entre cada ângulo e cada meio.
nossas perceções assim como outras qualidades (cor, calor, etc). Deve-se reconhecer na
natureza algo que tenha relação com as almas, ainda que não altere em nada os
corpo nunca subsistiria mais do que um momento. O autor sublinha a diferença entre as
diferentes. As almas inteligentes são as únicas que conhecem as suas ações, pois têm
memória e reflexão, o que faz com que só elas estejam sujeitas ao castigo ou à
recompensa.
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Cfr. Gottfried Wilhelm Leibniz Freiherr von, Discurso de metafísica (Lisboa: Edições 70, 2000), n. 28.
A essência (também chamada de noção completa ou natureza) de uma
determinada substância individual comporta tudo o que em todo o tempo lhe pode
acontecer. Para não se pensar que não existe liberdade humana, Leibniz explica a
é de duas espécies: uma é absolutamente necessária, pelo que o seu contrário é uma
contradição, e a sua dedução faz-se nas verdades eternas como as da geometria; a outra
“Visto que Júlio César se tornará ditador (…) e suprimirá a liberdade (…), esta ação
está compreendida na sua noção, pois supomos que a natureza de tal noção perfeita de um
sujeito é tudo compreender, a fim de que o predicado nela esteja contido (…) Poderia dizer-
se que não é em virtude desta noção ou ideia que ele deve cometer esta ação, uma vez que
só lhe convém porque Deus sabe tudo. Mas insistir-se-á em que a sua natureza ou forma
corresponde a esta noção e, visto que Deus lhe impôs esta personagem, é-lhe necessário
(…) satisfazê-la.” 4
Tudo o que acontece em paralelo com estas antecipações é certo, mas não
necessário, pois não seria impossível que alguém fizesse o contrário, embora seja
tirar mais conclusões, como por exemplo os motivos para ele ter atravessado
determinado rio em vez de não o ter atravessado, ter ganho a guerra em vez de a ter
perdido, etc. Os futuros contingentes são seguros, pois Deus os prevê, mas não são
propriamente necessários. Tal demonstração relativa à vida de César, não seria tão
absoluta como a dos números, mas iria supor a sequência das coisas que Deus
livremente escolheu, apoiada no primeiro decreto livre de Deus - fazer sempre o mais
perfeito - e no decreto seguinte – o Homem fará sempre o que lhe parecer melhor. Estes
decretos não afetam a liberdade humana, sendo possível a ocorrência do menos perfeito.
algum motivo para ser de uma maneira e não de outra. A conexão do sujeito e predicado
nestas proposições tem o seu fundamento na natureza de cada um, enquanto que as
produzidas por ele, da mesma maneira que nós produzimos os nossos pensamentos, por
todas as perspetivas possíveis. O resultado de cada observação sua é uma substância que
exprime o universo, caso Deus considere tornar o seu pensamento efetivo e produzir
essa substância. Deste modo, são infinitas as substâncias individuais que dependem de
fenómenos: como várias pessoas que estão a assistir a um jogo de futebol no estádio
pensam estar a ver o mesmo, mas no fundo cada um tem a sua perspetiva. Deus, sendo o
único que vê todo o universo, é causa da correspondência dos seus fenómenos. Para que
haja conexão, faz com que o particular para um seja público para todos. Então, cada
substância particular não atua sobre outra, tendo em conta que o que acontece é uma
consequência da sua essência. Tudo o que nos possa vir a acontecer são apenas
extraordinários. É através destes, que na visão do autor são sempre conformes à lei
universal da ordem geral, que Deus pode influenciar o Homem, ainda que este continue
a tomar as suas decisões livremente. A caraterística especial dos milagres de Deus é que
não podem ser previstos pelas substâncias criadas, daí a admiração com algo que escapa
máximas mais gerais. Deste ponto de vista, o que excede as naturezas de todas as
Leibniz, à semelhança dos filósofos do seu tempo, chegou a aceitar que Deus
seu ver, é a força e não o movimento que se mantém constante no universo. Para
mostrar a diferença e tentar provar que Deus conserva sempre a mesma força, mas não a
que é necessária tanta força para elevar um corpo A de 1kg a uma altura de 4 metros,
como elevar um corpo B de 4kg à altura de 1 metro. Estes corpos ao caírem das
respetivas alturas, adquirem a mesma força, a força necessária para elevar os seus
próprios corpos. Logo, a força dos dois corpos é igual. A velocidade adquirida pelo
adquirida pelo corpo B. Um corpo que cai de determinada altura, adquire a força para aí
voltar, a menos que haja obstáculos (como a resistência do ar). Por este motivo, um
pêndulo, por exemplo, não volta ao sítio donde desceu, por perder a força adquirida na
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Cfr. Gottfried Wilhelm Leibniz Freiherr von, Discurso de metafísica (Lisboa: Edições 70, 2000), n. 46
sua descida, pelo que Leibniz conclui que se tratam de duas questões diferentes: a força
movimento, mas também para a metafísica, para melhor entender os princípios. Para
ele, o movimento não é uma coisa inteiramente real e quando muitos corpos variam a
sua posição, não é possível indicar quem esteve em movimento ou em repouso, só pelo
algo de mais real. Por este motivo Leibniz considera que os princípios gerais da
substancial, sendo muito diferentes as formas substanciais das pessoas e das coisas. As
substâncias criadas são continuamente conservadas e produzidas por Deus. Algo muito
algum acontecimento que podia até não acontecer, mas que partindo da essência da
acontecimentos "praticamente certos". O que pode parecer confuso é quando ele afirma
que não afeta a liberdade humana. De facto, não afeta, Deus sabe porque conhece as
essências de cada um. Exatamente por termos a nossa própria essência, vamos agir de
determinada forma. Outro ponto que pode ser confuso, é quando afirma que os milagres
(como entendemos) são sempre conformes à lei universal da ordem geral. O ordinário é