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Universidade Federal do Paraná

Mikaell Coutinho e Oliveira - 1º Período - Noturno


Avaliação Final - Filosofia Geral
Prof. Rodrigo Brandão

A Causa de Deus

Minha intenção aqui é explicar distinção feita por Bayle entre razões a priori e a
posteriori e sua “defesa” do maniqueísmo realizada na nota “D” do verbete “Maniqueus” de
sua obra “Dictionnaire historique et critique” e a relação da Bondade com o Intelecto, feita por
Leibniz, e sua solução para o problema do mal.
Pierre Bayle (1647-1709), nascido na periferia da França, na região que hoje é
conhecida como Carla-Bayle, de família pobre e protestante (perseguidos pelo catolicismo no
período). Grande parte da formação de sua educação foi construída na biblioteca de seu pai,
onde leu de tudo, porém sem uma sistematização, o que ecoaria mais tarde na maneira em que
ele formularia seu pensamento.
Em 1697 é publicada sua principal obra o “Dictionnaire historique et critique”
(Dicionário Histórico e Crítico), Bayle através de quatro volumes de quase 800 páginas
apresentaria um prato cheio para aqueles dispostos a se debruçar sobre sua obra.
Em seu verbete “Manichean” (Maniqueus), na nota “D”, o autor vai mostrar como
através das razões a posteriori do maniqueísmo é possível defendê-lo, mas surge a necessidade
de se explicar o que são razões a priori e a posteriori.
Os argumentos a priori aqueles demonstrados através do uso da razão e os a posteriori
os que são provados através da experiência.
As razões a priori em discussão aqui são, segundo Pierre, “as ideias mais certas e clara
de ordem” ideias essas que nos mostram que “um ser que existe por si próprio, que é necessário,
eterno, há de ser único, infinito e todo poderoso” torna indefensável a hipótese maniqueísta
dois princípios eternos e infinitos, mas para Bayle um bom sistema se vale de dois pontos, “as
idéias precisam ser distintas e tem que conseguir dar conta das experiências”. Aqui, no segundo
ponto, que o maniqueísmo ganha força, pois tem argumentos a posteriori muito fortes, porém
tem que se tomar cuidado, essa força não vem da experiência da dualidade visível no mundo.
Bayle vai colocar que a força do argumento maniqueu vem da maldade do Homem e seu
sofrimento que é inexplicável pelo hipótese do único princípio.
“Somente o Homem, a obra prima das criações Dele entre as coisas
visíveis, eu repito, o Homem, fornece objeção contra unidade de Deus. Aqui
está o porquê: o Homem é mau e miserável.(...) Viajar apresenta lições
contínuas disto. Monumentos da miséria humana são encontrados em vários
lugares - prisões, hospitais…”

Para Bayle, o homem vai ser o principal argumento de objeção a unidade divina, pois
como poderia ser aquela que é a obra prima Dele, tão suscetível a dor, o sofrimento, a miséria
e ao mesmo tempo a felicidade, para o autor, aqui se faz forte os argumentos a posteriori dos
maniqueus, pois eles consegue dar conta de explicar essa dualidade humana com a hipótese
dos dois princípios.
Através do sofrimento humano, a hipótese dos dois princípios ganha força. Durante a
nota, Bayle nos apresenta a discussão entre Melissus e Zoroastro para exemplificar a força da
argumentação aposteriorística do maniqueísmo.
Zoroastro segue fortemente se utilizando dos argumentos aposteriorísticos, para
mostrar a capacidade do maniqueísmo de explicar as experiências e como a hipótese do
princípio único falha nesse quesito.
Ao finalizar sua defesa do maniqueísmo ele vai colocar a necessidade da separação da
fé da razão, pois aqui a razão só serve para eternizar disputas.
Vindo na contramão dessa defesa temos Leibniz, com o “discours de métaphysique” e
a “théodicée”. Aqui vamos ter um tribunal com Deus no banco dos réus, os filósofos como
promotores e Leibniz como o Advogado de Deus.
Leibniz (1649 - 1716), nascido em Leipzig, estudou matemática, direito, teologia e
filosofia. Através da sua obra o vemos advogar em favor de Deus. Aqui veremos a relação do
entendimento com a bondade e o problema do mal.
Para isso vamos até o primeiro capítulo do “Discurso de Metafísica”, aqui Leibniz vai
definir os atributos de Deus através da sua noção mais conhecida e aceita, um ser detentor de
todas as bondades e perfeito. A partir disso ele coloca o que é a perfeição.

“Eis uma marca bem segura dela, a saber: formas ou naturezas


insuscetíveis do último grau não são perfeições, como, por exemplo, a
natureza do número ou da figura; pois o número maior de todos (ou melhor,
o número dos números), bem como a maior de todas as figuras, implicam
contradição, mas a máxima ciência e onipotência não encerram qualquer
impossibilidade. Por conseguinte, o poder e a ciência são perfeições…”

Sendo Deus detentor de todo entendimento e poder, ele só pode agir de maneira boa,
pois é capaz de através do seu intelecto saber o que é bom e com seu poder é capaz de fazê-lo,
isto é, a bondade aqui não vai ser um atributo e sim um produto desses atributos divinos.
Leibniz também nos diz que aquilo que vemos como mal é a ausência de conhecimento
para compreender a realidade do evento. Sempre durante o texto do Discurso ele cria essa
relação de como a bondade depende do entendimento.
Com o discurso, Leibniz fornece uma resposta aos principais argumentos contra o
cristianismo, muitos desses argumentos podem ser vistos na nota “D” do dicionário de Bayle,
através da voz de Zoroastro.
Um ponto importante para compreensão do problema do mal, através do Leibniz, é
entender a diferença entre querer e permitir. Para isso é preciso compreender como funciona a
conduta divina. para Leibniz compreender as ações particulares de Deus, é praticamente
impossível, o que podemos é ter confiança em suas ações pois ele sempre irá agir da melhor
maneira possível. Mas é possível fazer considerações gerais sobre a conduta divina.

“Conhecer, porém, em particular, as razões que puderam movê-lo a


escolher esta ordem do universo, permitir os pecados e dispensar as suas
graças salutares de uma determinada maneira, eis o que ultrapassa as forças
de um espírito finito, mormente se ele não tiver alcançado, ainda, o gozo da
visão de Deus.”

A ação divina se dá através da simplicidade dos meios para se obter a pluralidade dos
efeitos, Deus quer o máximo da pluralidade, o bem, mas para isso isso ele precisa permitir os
males particulares. Se levarmos em conta que para Leibniz esse é o melhor dos mundos, não
por que Deus fez e sim por que fazê-lo seria algo bom, ou seja seria impossível se alcançar o
máximo da pluralidade sem esses males particulares. Deus vai permitir esses males pois sabe
que deles consegue extrair uma coisa boa. A punição, não tem o intuito de só causar o mal e
sim reabilitar o sujeito ao bem, extrair algo bom. Permitir o mal, o pecado, é uma condição
para se obter o melhor dos mundos possíveis. Deus não quer o mal, ele quer sempre o bem,
entretanto para se obter o bem ele permite o mal.
Ao conceber essa visão intelectualista de Deus, e que o mal na verdade é uma ausência
da compreensão dos motivos do Divino, Leibniz também une a razão a fé, e tece uma crítica a
ideia de separação da razão da fé, apresentada por Bayle.
Bayle nos coloca que a razão destrói, invés de edificar, que eterniza disputas, mas com
o Deus intelectualista, Leibniz nos apresenta que a Razão é de extrema importância para se
compreender a fé e as ações divinas, ações essa que são guiadas pelo intelecto divino. Ao
separar a fé da razão se torna impossível a criação da comunidade religiosa. Não é possível
compreender os mistérios fé, mas a razão torna possível explicá-los, compartilhá-los.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm - Discurso de metafísica e outros textos; apresentação


Tessa Moura Lacerda ; tradução Marilena Chaui c Alexandre da Cruz Bonilha. - São Paulo :
Martins Fontes, 2004. - (Coleção clássicos)
BAYLE, Pierre. Historical and Critical Dictionary: selections/Pierre Bayle: translated,
with an introduction and notes, by Richard H. Popkin, with assistance of Criag Brush. -
Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 1991.

LENNON, Thomas Michael. Reading Bayle. - Canada: University of Toronto Press


Incorporated, 1999.

BRANDÃO, Rodrigo. Notas sobre história filosófica do mal e o projeto de teodiceia.


São Paulo: Cadernos de História e Filosofia da Ciência v. 21 n. 1 (2011): Série 3 , 2017.

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