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Vivemos num mundo em que o sofrimento é uma constante, em que o mal existe.
Humanos e não humanos sofrem, em virtude de processos naturais (mal físico ou
natural) ou, como nos revela o excerto de Wiesel, em consequência de decisões e de
ações humanas (mal moral).
Como acreditar que um mundo que contém tanto mal, como o nosso, possa ser
controlado e ter sido criado por um ser omnisciente, omnipotente e sumamente bom?
Por que razão existe o mal? Não serão a existência de Deus e os factos do mundo
inconsistentes entre si? Este é o problema do mal e é o problema mais difícil que se
coloca à crença religiosa teísta.
Distinguem-se duas formas do problema do mal, a versão lógica e a versão indiciária.
O argumento lógico do mal pretende provar que existe uma contradição, uma
inconsistência lógica, entre as afirmações Deus existe e O mal existe. Se o mal existe,
então Deus omnisciente, omnipotente e sumamente bom não pode existir.
(P1) Se o mal existe, então Deus omnisciente, omnipotente e sumamente bom não pode
existir.
(C) Logo, Deus omnisciente, omnipotente e sumamente bom não pode existir.
A maioria dos filósofos (teístas e não teístas) concorda atualmente não existir efetiva
inconsistência entre as proposições em causa.
A versão lógica do problema do mal não parece ser assim um obstáculo sério à crença
em Deus e os teístas não têm de se preocupar grandemente com este argumento.
Os teístas podem responder, simplesmente, que é perfeitamente possível que Deus tenha
uma razão suficiente para permitir o mal. Podem também encerrar o assunto aqui,
acrescentando que é logicamente aceitável que essa razão suficiente seja inalcançável
para o entendimento humano.
Mais robusta e menos facilmente refutável para o teísmo parece ser a segunda versão do
problema do mal, o argumento indiciário do mal.
Nesta versão, sustenta-se que, mesmo que a existência de Deus e do mal não sejam
logicamente incompatíveis, as evidências do mal são, por si só, um indício ou prova da
implausibilidade da existência de Deus.
Argumento indiciário do mal
- Teodiceias
Explicações teístas que visam responder ao problema do mal. O termo (do grego, theós
– deus – e díke – justiça, literalmente, justiça de deus) foi cunhado pelo filósofo alemão
Gottfried Leibniz. Uma teodiceia é uma tentativa para explicar que propósitos pode
Deus ter para permitir a abundância de males que encontramos no nosso mundo.
Para Leibniz, Deus é sumamente bom e nada do que faz pode ter um propósito ou fim
contrário à sua perfeita bondade. Este nosso mundo, ainda que possa ser altamente
imperfeito e repleto de males, é afinal «o melhor dos *mundos possíveis».
Sendo omnipotente, estava no poder de Deus não criar qualquer mundo ou criar um
mundo sem mal, sem sofrimento, é verdade, mas esse não seria o melhor dos mundos
possíveis.
Faltar-lhe-ia o excedente de bem sobre o mal que só este, com males em abundância,
tem.
Entre todas as alternativas, esta era, pois, a melhor possível e foi por essa razão que
Deus (omnipotente, omnisciente e sumamente bom), aplicando o princípio do melhor,
escolheu criar o nosso mundo atual e não outro.
O nosso mundo atual – o melhor dos mundos possíveis, – é assim um mundo onde
existe mal em abundância, é verdade, mas é também um mundo onde os seres humanos
têm livre-arbítrio e onde há a possibilidade de aperfeiçoamento moral.
Tudo o que há no nosso mundo existe por alguma razão, diz Leibniz. A ocorrência do
mal não é exceção. É necessária como contraparte do bem e como um meio para um
bem maior que se lhe sobrepõe (a vida eterna, por exemplo).
Ao contrário de Deus, não temos a visão sobre a harmonia do todo. Não está, por isso,
no nosso poder tirar conclusões definitivas sobre os males particulares.
Não sabemos o suficiente para o fazer.
1. Leibniz não prova que o bem sem a contraparte do mal é uma impossibilidade lógica.
Leibniz, como outros teístas afirma que o livre-arbítrio está necessariamente ligado ao mal e que
é intrinsecamente valioso, um bem, sendo por si só suficiente para justificar a existência do mal.
Sem a existência do livre-arbítrio, a humanidade sofreria uma grande perda. Mas será