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Se Deus é bom, por que existe o mal?

Por Fabiano Paiva Dias


E-mail: paivadias.instrutor@gmail.com

Existem muitas perguntas acerca da existência do mal, como por exemplo: Se Deus é
bom, por que existem tantos problemas no mundo? Se Deus sendo tão bom, por que permite o
mal, já que ele é tão bom e é todo poderoso? Esses questionamentos fazem parte das dúvidas
que várias pessoas têm acerca de Deus. Hoje, existem tantos problemas difíceis de serem
enfrentados, pelas pessoas, até porque, muitas delas quando levantam esses questionamentos,
por que existe o mal, não buscam uma resposta filosófica intelectual concreta, buscam respostas
superficiais, que trazem ainda mais dúvidas a está questão.

Quando uma pessoa perde um filho ou ente querido para o câncer, por exemplo, ela se
questiona por que Deus permitiu. Nesses casos, em questão, cabe aos cristãos terem
sensibilidade, para que a resposta a ser dada, não seja de forma intelectual, mas dentro de uma
abordagem pastoral. Essa experiência da perda de um ente querido, leva a pessoa não entender
por que Deus se diz bom, mas permitiu que acontecesse isso com ela. Nesses momentos às
vezes, o que a pessoa mais precisa, não é uma resposta intelectual.

A resposta intelectual existe e deve ser respondida em outras situações, mas devemos
ter o discernimento de buscando no Espírito Santo a resposta certa, no caso da pessoa que
perdeu seu ente querido, o que ela precisa mesmo é de uma aproximação pastoral e não
efetivamente de uma resposta intelectual.

A resposta Intelectual deve ser apresentada para as questões levantadas pelo ateísmo,
quando se trata das questões morais, acerca da percepção de um mundo cruel e injusto.

Staples Lewis, que escreveu “As Crônicas de Nárnia” entre outros livros, era um ateu de
questões morais, a sua conversão ao cristianismo se deu quando ele refletiu em cima dessa
questão moral, levantando uma reflexão: “eu não posso dizer que uma linha é curva, a não ser
que eu tenha a percepção de uma linha reta”. O que ele quer nos apresentar, tem a ver com o
seguinte: para que eu entenda e afirme que esse mundo é injusto e cruel, é porque existe um
padrão moral objetivo a partir do qual eu consigo identificar crueldade e justiça no mundo. Então
a existência do mal, a existência da crueldade e da injustiça, na realidade é um indício de que
existe um valor moral objetivo, a partir do qual conseguimos identificar tanto a crueldade como
a injustiça.

Nós não conseguimos dizer se uma linha é curva, se não tivermos a percepção do que é
uma linha reta. Então, se existe a percepção do mal de fato, é porque existiu o bem absoluto.
Assim, iremos conseguir dizer que “existe o mal” no mundo, se dissermos que existe o “bem”
como referência. O mal e o bem só existirão, se existir uma lei moral objetiva a partir da qual o
mal e o bem se diferenciam. Se existe essa lei moral objetiva, é porque muito provavelmente há
um legislador moral objetivo, que é Deus.

No ponto de vista intelectual e filosófico, se percebemos o mal no mundo, na realidade


é um indício de que Deus existe. Não devemos dizer que Deus criou o mal, devemos dizer, se o
mal existe é porque existir um bem absoluto, que nos dá a capacidade de perceber o mal.

Quando vamos para a visão teológica, a pergunta que poderá surgir é: Se Deus é
poderoso, por que Ele permitiu que o mal existisse? Se Ele criou o mal, não teríamos um mundo
moralmente mais perfeito, porque o bem verdadeiramente só existe na possibilidade do mal,
em outras palavras, você só pode verdadeiramente amar a Deus se você tiver a possibilidade de
não o amar.
A moralidade perfeita pressupõe a possibilidade de irmos por outro caminho. Se não
tivéssemos a possibilidade do erro, a nossa ética seria uma ética de robôs. Não teríamos a
capacidade de ter a possibilidade de errar. Viveríamos num mundo podendo errar. Nós buscamos
sempre fazer as coisas de maneira assertiva, mas temos a possibilidade de errar. Se o mundo
fosse moralmente tão perfeito, não teríamos a possibilidade de cometer erros, teríamos apenas
a escolha de acertar.

Por isso que no livro de Gênesis, no capítulo 2, Deus colocou no Jardim a árvore do
“conhecimento do bem e do mal”, que tinha um fruto que levaria a possibilidade da
desobediência. Objetivo de Deus era que o casal, Adão e Eva (a humanidade), querendo o fruto,
pudessem ter a opção de comer ou não comer, obedecendo ou não a ordem de Deus. Se existe
a possibilidade do erro, significa que existe o amor é genuíno de Deus para o homem e mulher.
Essa liberdade de escolha, é o amor que Deus busca em cada um de nós. Temos a liberdade de
escolher, obedecer ou não a Deus, através da Sua “Lei Moral” (Êxodo 20). No cristianismo o amor
é uma peça-chave muito importante, é tão importante que o amor não é algo que Deus exerce
no cristianismo, o amor faz parte da “Constituição de Deus”.

Na primeira epístola de João no capítulo 4, verso 8, repetindo também no capítulo 4,


verso 16, que Deus é amor. Deus é Amor, então faz parte da Sua “Constituição”. Como é que nós
podemos buscar o amor genuíno de Deus, se não tivéssemos a possibilidade de escolher não
amá-lo? Com certeza, nós não podemos forçar ninguém a nos amar genuinamente. Ela tem que
ter a possibilidade de não nos amar. O pressuposto máximo da moralidade, é a possibilidade do
erro.

Então, só há de fato amor genuíno e moralidade, quando o erro e o não querer amar,
são possíveis. Por isso que esse problema, do erro e não querer amar, não é contrário existência
de Deus, mas é a favor da Sua existência. Ele nos deu a capacidade de escolher, livre arbítrio.

Deus que possui um amor genuíno é perfeito, não nos abandonou, mesmo com o erro
de Adão e Eva no Jardim. Na visão teológica, Ele nos deu a possibilidade de errar, mas elaborou
um plano com o objetivo de restabelecer essa ponte perdida, entre humanidade e o próprio
Deus, através de Seu filho, Jesus de Nazaré, o Deus encarnado. Jesus veio ao mundo sem Sua
divindade, mas ao ressuscitar e acender os céus, restabeleceu a ponte que foi perdida com o
erro dos nossos primeiros pais. O problema pessoal da existência do mal é superado quando nós
entendemos que podemos ter acesso imediato a Jesus de Nazaré. Que é por definição, o próprio
amor.

Sabemos que é um argumento complexo acerca do mal, mas esse problema é mais
delicado, quando temos a abordagem no ponto de vista apologética. Apresentamos aqui uma
forma sintética nesse tema.

É comum ouvirmos o seguinte questionamento: quanto temos crianças com doenças


graves e terminais ou estão padecendo por causa da fome, por terem nascido em algum país em
guerra, como olharmos para tudo isso e compararmos com a realidade de luxo que outras
crianças vivem em países sem guerra? Esses fatos não são problemas maiores para entendermos
a moralidade. Quando existe a comparação de crianças que possuem tudo e outras não, esse
não é o problema do sofrimento. Mesmos essas crianças que possuem tudo, através de adultos
que podem dar essa condição material, não é suficiente para que elas tenham uma vida plena
de felicidade. A propósito, não existe nada neste mundo, que possa preencher o vazio existencial
que temos. Se entendermos de uma perspectiva maior da eternidade, não é o fato de uma
pessoa nascer com várias complicações ou nascer com tudo que a vida possa proporcionar, irá
determinar a sensação de preenchimento do propósito existencial que ela possui. Não é por
acaso que doenças como ansiedade e depressão acometem com as classes, mais bem
favorecidas do ponto de vista econômico.
Existe um grande jogador de futebol americano que ganhou o Super Bowl, onde foi
considerado o jogador mais valioso. Esse jogador atingiu o ápice da carreira, qualquer jogador
de futebol nos Estados Unidos gostaria de chegar. Naquele momento no ápice da carreira dele,
durante uma entrevista, perguntaram a ele: me diga uma coisa, como é que você está se sentindo
agora? Ele foi honesto o suficiente para dizer, eu nunca me senti tão solitário! Em outras palavras,
quando ele tinha tudo que precisava, tudo aquilo que conseguiu através do seu trabalho, no
sentido material, viu que aquilo não era suficiente. O mundo em que vivemos, pode nos oferecer
no máximo, no caso do jogador, ser considerado o melhor, atingiu o ponto mais alto
profissionalmente. Agora para ele, se mostrou insuficiente para realização do sentimento de
propósito, de plenitude.

Então, uma criança que nasce ou uma pessoa de qualquer idade, com alguma situação
difícil, isso não quer dizer que ela não consiga plenitude, que não consiga viver plenamente.
Quando achamos que uma dificuldade física ou qualquer que seja o problema, é o fim do mundo,
é porque estamos falando a partir de uma mentalidade terrena. Se analisarmos de uma
mentalidade maior, de eternidade, vamos ver que a abordagem esse problema é totalmente
diferente. É como o jogador disse ao ser entrevistado, que o prêmio fez sentido numa visão de
mundo materialista.

Quando temos um pensamento maior, na perspectiva da eternidade, colocamos tudo


que temos na perspectiva correta, diante de Deus, não colocando apenas nas coisas, elas se
tornam pequenas.

Enfim, é assim que devemos abordar acerca do tema do mal existente nesse mundo.
Observamos que existem muitas pessoas com grandes problemas físicos, que tem dificuldades,
que sofrem, mas que tem vida plena, enquanto outros, que tem tudo na vida, tem uma vida
miserável.

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