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RESUMO: Neste trabalho é feita uma análise de risco do estaqueamento em estacas metálicas
empregadas como solução de fundação de um empreendimento com duas torres de vinte e duas lajes.
Para o desenvolvimento do projeto de fundações foram realizados nove ensaios de campo do tipo
SPT, permitindo obter uma matriz geotécnica média representativa da região que é formada por uma
camada de aproximadamente 7,0 m de areia medianamente compacta a compacta, 18,0 m de argila
marinha pouco arenosa, muito mole a mole (sedimento flúvio lagunar - SFL), 7,0 m de argila marinha
siltosa, mole (provável argila transicional - AT), 9,0 m de silte arenoso micáceo, medianamente
compacto, 4,0 m de silte arenoso, muito compacto, 7,0 m de areia fina, siltosa, com fragmentos de
rocha, muito compacta e 4,5 m de biotita gnaisse (topo rochoso). O nível de água encontrava-se a 1,2
m de profundidade. Os comprimentos variaram entre 40 m e 48 m a partir da cota do subsolo, sendo
utilizados perfil HP 310 x 93 e HP 310 x 79. Para avaliação dos parâmetros adotados em projeto foi
realizada uma prova de carga prévia e outras duas durante a execução para a verificação do
desempenho. Tendo em vista a obtenção da carga de ruptura no ensaio, foram empregados os métodos
de Van der Veen, Van der Veen (modificado por Aoki), Chin e Décourt (Rigidez), para avaliação e
estimativa da carga de ruptura. Com base nos resultados, foi possível fazer uma avaliação do risco do
estaqueamento, avaliando a probabilidade de ruina.
1 INTRODUÇÃO R ult
R adm (1)
Para o desenvolvimento de um projeto de
FSg
fundações há necessidade de se conhecer os
esforços atuantes nas fundações, advindos dos A referida norma também permite o emprego
carregamentos que a estrutura estará sujeita nas da metodologia de cálculo por meio de valores
mais variadas formas, de permanente a variáveis. de projeto, em que as cargas ou tensões de
Normalmente os projetos utilizam o conceito de ruptura são divididas por coeficiente de
fator de segurança global, por meio da aplicação minoração das resistências e as ações são
de um coeficiente único, não inferior a dois, que multiplicadas por fatores de majoração (Eq. 2).
reduz as resistências (Eq. 1), que em geral são
determinadas por meio da aplicação de métodos R ult
de previsão da capacidade de carga Rd ,Ad A k f (2)
m
semiempíricos propostos por vários autores. No
caso do emprego de provas de carga estática
previa, este fator de segurança pode ser reduzido O emprego da metodologia de projeto com
para 1,6 conforme a NBR 6122 (2010). base nos valores admissíveis não considera nos
cálculos a variabilidade do solo, dificultando
sobremaneira a obtenção da probabilidade de
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p f FR ( s ) fs( S ) ds (4)
0
Ms R S (7)
Figura 3. Curva de resistência e solicitação. Desta forma, pode-se afirmar que, se a o valor
de Ms for igual a zero ou negatigo, haverá ruína.
Analisando a Figura 3, pode-se verificar a Por outro lado, se o valor for positivo a fundação
dispersão dos dados, que no caso de um projeto está em condição de segurança.
de fundações podem ser traduzidos nas cargas O desvio padrão da margem (Ms) pode ser
que as estacas estarão sendo solicitadas (S) e determinado com sendo a média geométrica dos
suas resistências (R), obtidas, por exemplo, por dos desvio padrões da solicitação e resistência
meio da realização de provas de carga. (Eq. 8).
O fator de segurança (FS) da fundação pode
ser obtido de forma simplificada, por meio da
Eq. (5). M S2 R2 (8)
( R ,S )
CV( R ,S ) (6)
S, R Figura 4. Variação da probabilidade de ruina e o indice de
Em que: (R,S) é o desvio padrão das resistências confiabilidade.
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da estrutura, alvenaria, acabamento e até seis constatando-se tratar de biotita gnaisse com
meses após a entrega do empreendimento. recuperação de 95 % a 100 %. Verificou-se que
Todas essas informações foram utilizadas na no início do topo rochoso, 1 ou 2 m de rocha bem
elaboração desse trabalho conforme será alterada com 0 % de recuperação, seguido de
apresentado na sequência. pelo menos 3 m em rocha com recuperação
acima de 90%. Como era de se esperar nessa
3.1 Sequência Executiva região, o nível d’água foi encontrado a 1,5 m de
profundidade.
A sequência executiva da obra foi planejada
iniciando com a cravação das estacas da prova de 5 SOLICITAÇÕES e RESISTÊNCIAS
carga prévia que foi locada em uma região da
obra onde não seria necessária a escavação, ou 5.1 Cargas nas estacas
seja, fora do subsolo.
Enquanto se aguardava o período de “set up” O sistema estrutural do prédio composto de
da estaca a ser ensaiada e os preparativos da vigas, pilares e lajes, resultou em 38 blocos de
prova de carga, montagem, bloco de coroamento coroamento, o que totalizou 304 estacas. As
etc, as estacas metálicas de contenção junto à análises foram feitas considerando duas
única divisa do terreno foram sendo cravadas. situações obtidas na tabela de combinações das
Após a cravação dessas estacas foi feita a ações de um total de 12. Dentre elas optou-se por
prova de carga para subsidiar a elaboração do escolher a combinação genérica, ou seja,
projeto. Enquanto a obra era escavada para a cota envolvendo carga permanente + momento, e
de implantação do subsolo e execução da cortina, outra, que envolvesse o vento e/ou a
o projeto da fundação da torre foi sendo excentricidade. A escolha desta segunda
elaborado. consideração foi feita por meio da análise da
variabilidade, ou seja, foi escolhida a
4 PERFIL GEOTÉCNICO combinação que resultasse o maior coeficente de
variação (CV) na distribuição dos esforços
O perfil geotécnico da Baixada Santista é bem unitários nas estacas. Após análise verificou-se
conhecido e estudado no meio geotécnico. Nessa que a combinação vento na direção y, foi a que
área em questão, a partir do subsolo enocntra-se resultou maior valor de CV. A Tabela 2 mostra
uma camada de areia fina, pouco siltosa, com 4 os valores das análises das distribuições das
a 6 m de espessura, medianamente compacta. solicitações nas estacas de acordo com a
Sob essa areia, segue 15 a 20 m de argila marinha combinação.
siltosa ou arenosa, muito mole, provável
sedimento fluvio-lagunar (SFL) e depois de 16 a Tabela 2. Dados da análise estatísticas das combinações.
20 m de argila marinha siltosa, muito mole a Permanente
Vento (Vy)
+ momento
mole, provável argila transicional (AT). Em
alguns pontos entre as duas argilas há uma Média ( S ) 1634 kN 1634 kN
camada de areia com espessura entre 6 e 8 m, Desvio Padrão (R) 369 kN 485 kN
Coef. Variação (CV) 23 % 30 %
medianamente compacta a compacta.
Solicitação mínima 828 kN 50 kN
Sob essa camada de argila marinha, verifica- Solicitação máxima 2130 kN 2469 kN
se entre as profundidades de 38 e 42 m há
ocorrência de solo residual, constituído de areia 5.2 Análise das resistências
muito compacta ou silte arenoso compacto, que
segue até 51 a 55 m de profundidade, atingindo 5.2.1 Métodos semiempíricos
nesse ponto o topo rochoso. Em três pontos de Para o desenvolvimento do projeto,
sondagem, a investigação prosseguiu além do determinou-se a carga de trabalho das estacas
topo rochoso, por meio de sondagem rotativa, por meios do emprego de métodos
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semiempíricos com base nos resultados do SPT. Veen (1953) modificado por Aoki (1976)
Foram utilizados os seguintes métodos: Aoki e (Tabela 4).
Velloso (1975), Décourt e Quaresma (1978,
2016), Pedro Paulo Veloso (1981) e Falconi e Tabela 4. Resultados das análises da carga última.
Perez (2007). Foram utilizados dados de nove
Rigidez
Chin
mostrados os resultados obtidos com a aplicação
dos métodos para cada sondagem realizada.
Falconi-
Velloso
Aoki-
Perez
Média ( R ) (kN) 3868 3856 3674 3714
Desvio Padrão (R) (kN) 92 27 164 228
Coef.Variação (CV) (%) 2 1 4 6
Média ( S ) 4379 kN 4838 kN 6341 kN 3635 kN Média - Geral ( R ) (kN) 3778
Desvio Padrão (S) 1076 kN 898 kN 1008 kN 415 kN Desvio Padrão -Geral (R) (kN) 171
Coef. Variação (CV) 23 % 19 % 16 % 11 % Coef.Variação - Geral(CV) (%) 5
8%
0,30%
Foi realizada uma segunda análise com base
6%
0,20%
nos valores obtidos com as médias individuais
4% obtidas em cada método de extrapolação
0,10%
2%
(Critério 2). Como número de provas de carga é
pequeno (3) em relação ao total de estacas
0,00% 0%
0 1000 2000 3000 4000 5000 analisadas (301), para a estimativa do desvio
Carga (kN) padrão das resistências foi utilizado o método de
Figura 7. Curvas de distribuição das solicitações e Tippet (1925), que é proposto para quando o
resistência ( Critério 1).
tamanho da amostra é pequeno, e é aplicável para
o caso de distribuição normal. Neste método
A Figura 7 mostra que a distribuição das
considera-se que o número de desvios padrão
cargas quando se considera o vento, neste caso o
dentro do intervalo entre o valor máximo e
Vy, indicou uma dispersão dos resultados
mínimo da amostra depende do número de dados
superior à situação em que se consideraram
amostrados, e o valor médio do parâmetro
somente as cargas permanentes + momento. A
amostrado é a soma do valor máximo com o
Tabela 5 mostram os resultados das análises
valor mínimo do intervalo dividido por dois.
(Critério 1).
Neste caso, o desvio padrão é calculado por (Eq.
8):
x max x min (8)
N
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Em que: xmax é o valor máximo do parâmetro Os resultados obtidos por meio das análises
amostrado, xmin é o valor mínimo do parâmetro do Critério 2 foram próximos ao obtido pelo
amostrado e N é o número de desvios padrão no Critério 1. Para a situação em que se utilizou a
intervalo para n dados normalmente distribuídos combinação carga permanente + momento,
(N = 1,69257 para n=3, como mostrado em mostrou em sua maior parte um risco
Tippett, 1925). Improvável, enquanto para o caso da
combinação vento, obtiveram-se três situações
Para a presente análise, os valores medidos de de risco (Remoto, Muito Remoto e Improvável).
capacidade de carga usados são apresentados nas Mesmo reduzindo a condição de risco, a
Tabela 6 e 7, dependendo da combinação probabilidade ainda é pequena, ou seja, a pior
utilizada. condição é da ordem de 1:7.000 (1:7E+3).
Cabe ressaltar que os Índices de
Tabela 6. Resultados da análise de confiabilidade da Confiabilidade β obtidos são superiores ao valor
fundação – carga permanete +momento (Critério 2). mínimo recomendado (Ahmad et al., 2003). O
menor valor de β obtido foi para o caso da análise
Rigidez
Aoki)
VDV
VDV
(mod
Chin
Aoki)
VDV
VDV
(mod
Chin
Critério de
interpretação fornecidos pelas sondagens.
- Os métodos que mais se adequaram ao tipo de
estaca empregado e às características do subsolo
S (kN) 1634
foram os de Aoki e Veloso e Falconi e Perez, se
S (kN) 485
situando dentro do intervalo de 20 % da carga
CVS (%) 30
última média obtida pelos métodos de
R (kN) 3868 3856 3674 3714
interpretação das curvas carga vs recalque.
R (kN) 123 38 224 307
CVR (%) 3 1 6 8
- A combinação resultado do vento mostrou
FS 2,37 2,36 2,25 2,27 maior variabilidade nos resultados, mostrando
β 4,46 4,57 3,82 3,62 dessa forma a importância nas análises de risco
pF 1:2E+5 1:4E+5 1:1E+4 1:7E+3 de fundação.
Muito - Os métodos de interpretação da curva carga vs
Risco Remoto
Improvável Remoto Remoto
Obs: R = Desvio padrão da resistência estimado (Tippet, recalque mostraram, quando analisados
1925) conjuntamente (Critério 1), uma variabiliadade
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reduzida (CV = 4%), indicando que, para este carga de estacas isoladas. Curso de Extensão
caso, independentemente do método empregado, Universitária em Engenharia de Fundações.
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro. 44 p.
os resultados apresentariam pouca influência na Aoki, N (2005) Segurança e confiabilidade nas fundações
carga última adotada. profundas. In: Congresso de Pontes e Estruturas,
- Com relação à análise individualizada dos ABPE, Anais...Rio de Janeiro, v.1, p1-15.
métodos e das combinações (Critério 2), Aoki, N.; Tsuha, C.H.C. (2012) Reliability analysis of pile
observou-se que o risco mantevesse dentro dos foundations according to the new Brazilian standard
for foundations design. In: 9th International Conference
níveis de segurança, ou seja, na condição mais on Testing and Design Methods for Deep Foundations,
desfavorável, ainda apresentou um risco Remoto Kanazawa. Proceedings… Testing and Design
de ruína. Methods for Deep Foundations. Kanazawa: Kanazawa
- Observa-se ainda que apesar da variação do e-Publishing Co., Ltd., 2012. p. 675-680
nível de risco no projeto, em função das Bauduin, C. (2003). Assessment of model factors and
reliability index for ULS design of pile foundations. In:
considerações adotadas, os Fatores de Segurança Bored and Auger Piles - BAP IV, Proceedings…
pouco se alteraram da ordem de 2,31, com uma Ghent, Van Impe (ed.).p.119-135.
variabilidade de 2 %. Cabral, E.; Albuquerque, P.J.R.; Tsuha. C.H.C. (2016)
- As leituras de recalque dos pilares, indicam que Avaliação do Risco das Fundações de uma Obra
o comportamneto da estrutura está dentro do Executada em Estaca Hélice Contínua na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. In: Congresso
previsto e o ELS (estado limite de serviço) foi Brasileiro de Mecânica dos Solos e Fundações, 18,
atendido bem como o ELU (estado limite ABMS, Belo Horizonte, 8p. doi:10.20906/CPS/CB-
último). 04-0053
- A análise da probabilidade de ruína em um Chin, F.K. (1970) Estimation of the ultimate load of piles
projeto deve ser introduzida na prática da not carried to failure. In: Southeast Asia Conference on
Soil Engineering, Proceedings… Southeast Asia, v.2.,.
engenharia de fundações, pois possibilita obter p.81-90.
informações mais condizentes com as incertezas Clemens P.L. (1982) Combinatorial Failure Probability
decorrentes das solicitações e das resistências. Analysis Using MIL-STD 882 – Notice - February
Décourt, L.; Quaresma, A. R. (1978) Capacidade de carga
AGRADECIMENTOS de estacas a partir de valores de SPT. In: Congreso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Fundações VI,
Cobramseg, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
Os autores agradecem a ZF & Engenheiros ABMS, 1978. v. 1, p. 45-54.
Associados e a Fundamenta Engenharia de Décourt, L. (2008) Provas de carga em estacas podem
Fundações pela disponibilidade de todas às dizer muito mais do que tem dito. In: Seminário de
informações necessárias para o desenvolvimento Engenharia de Fundações Especiais, 6., São Paulo.
Anais... São Paulo: ABEF/ABMS, CD-ROM.
deste trabalho. Falconi, F.F. e Perez, W. (2007) Estacas metálicas com
seção variável ao longo da profundidade. In: IX
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Geotécnica do Rio Grande do Sul. Anais…Ijuí, RS,
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010) NBR Brasil,. 14p, CD-ROM.
6122. Projeto e Execução de Fundações Fellenius, B. H. (2001) What capacity value to choose
Ahmad, A.R., Madiai, C., and Vannucchi, G. (2003). from the results a static loading test. We have
Reliability of different methods in estimating bearing determined the capacity, then what? Deep Foundation
capacity and stiffness of single piles. In: BGA Institute, Winter 2001, p. 19-22.
International Conference on Foundation Innovations, https://www.fellenius.net/papers/230%20&%20240%
Observations, Design and Practice. Proceedings… 20Analysis%20of%20Pile%20Capacity-DFI.pdf.
p.71-80. Acesso em 28/04/2018
Aoki, N.; Velloso, D. A. (1975) An aproximate method to Foye, K. C., Abou-Jaoude, G., and Salgado, R. (2004).
estimate the bearing capacity of piles. In: Congreso Limit States Design (LSD) for Shallow and Deep
Panamericano de Mecanica de Suelos y Foundations. Report, Joint Transportation Research
Cimentaciones, 5., Buenos Aires. Anais... Buenos Program, Report No. FHWA/IN/JTRP-2004/21.
Aires: Sociedad Argentina de Mecánica de Suelos e Silva, J.L. (2004) Metodologia de prejeto de fundações por
Ingeniería de Fundaciones, p. 367-376. estacas incluindo probabilidade de ruína. Dissertação
Aoki, N. (1976) Considerações sobre a capacidade de de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
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