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A doutrina do juízo inves-

tigativo é fundamental no
adventismo. Concebida no
contexto do Grande Desa-
pontamento, ela esclareceu
o drama de 22 de outubro
de 1844 e revelou a obra
salvi'fica de Cristo no Céu.
Em vez de voltar à Terra,
Jesus estava inaugurando
uma nova fase de Seu mi-
nistério como sumo sacer-
dote no santuário celestial.

Nenhuma doutrina adven-


tistasofreutantosataquesao
Longo dos anos. Muitos críti-
cos têm se levantado e tenta-
do provar o suposto caráter
não bi'blico desse ensino dis-
tintivo da denominacão.

0 papel deste Livro é res-


ponder a cada um desses
questionamentos. com am-
pla fundamentação bíbli-
ca, apresentar a solidez da
doutrina do juízo investiga-
tivo e reveLar a importância
desse ensino para a com-
preensão do evangelho.
Nesta obra, Marvin Moore
atua como um elo entre o
denso universo acadêmico e
o Leitor. Ele mergulha profun-
damente no "oceano" teoló-
gico a respeito da doutrina
do jui'zo investigativo e faz
emergir a síntese de sua
pesquisa em teses douto-
rais, obras teológicas e de
referência sobre o tema.

Neste livro, você confere


a relação dojuízo investiga-
tivo com vários temas, entre
eles:

• A justificação peLa fé.


• 0 grande conflito.
• 0 juízo em Daniel 7 e
em Apocalipse 14.
• 0 Dia da Expiação e o
problema do mal.
• Jesus além do véu.
• EILen White.

Esta pesquisa porme-


norizada dá acesso a infor-
mações essenciais sobre o
ensino bíblico do santuário
celestial e sua importância
para nossa salvação. 0 re-
sultado é um livro indis-
pensável para quem del
seja soLidificar a fé e saber
mais sobre a doutrina do
juízo investigativo.
sÂÂE+3Ái[àNCYLE|[iÀ?ÉMbN£i[ECRE]PcpEDENsoTs?ANFÊ„.
Se os servos de Deus não entenderem ojuízo investigativo, ``ser-lhes-á
impossível exercer a fé que é essencial neste tempo" (0 Grande Conf(/.fo,
p. 4881. Porém, os críticos dessa doutrina dizem que ela não tem o apoio
das Escrituras e afirmam que seus defensores não podem ter a certeza
da salvação.
Neste livro, Marvin Moore examina as objeções dos críticos à luz dos
melhores esclarecimentos de eruditos adventistas. Assim, esta obra
pode aj.udar o leitor a compreender a doutrina do juízo investigativo e
a alcançar os benefícios espirituais que ela comunica. Tudo isso, com
sólida argumentação bíblica.

M00RE RESPONDE A PERGUNTAS COMO:


• Por que um j.uízo, se Deus sabe de tudo?
• Como podemos conciliar o juízo investigativo com a doutrina da justifi-
cação pela fé?
• Nesse j.uízo, quem examina as evidências e chega a um veredito?
• 0 que o livro de Hebreus nos diz sobre o santuário celestial?
• Qual é a base bíblica para o princípio dia-ano, para a data de 22 de ou-
tubro de 1844 como o início do juízo e para a afirmação de que Daniel
8:14 se refere ao Dia da Expiação?

Em última análise, a doutrina do i.uízo investigativo revela a justiça de


Deus e deixa claro que Ele nunca abandona Seus filhos. Ela nos fala ainda
sobre quem somos e por que estamos aqui. É imprescindível que você
seja capaz de "exercer a fé que é essencial neste tempo".

Marvin Moore foi o editor da revista S/'gns of £he r/.mes e autor de diversos
livros. Entre outras obras, escreveu Apoca(/pse 73. lançado pela Casa
Publicadora Brasileira.
MAR"MOORE

NA CORTE
CELESTIAL
" DEFESA D0 JUÍZ0 lMyEST16ATIVO

Tpadução
Delmai` F. Fpeipe

Casa,PublicadopaBpasileipa
Ta,tuí' SP
Titulo original em inglês:
THE CASE FOR THE INVESTIGATIVE JUDGMENT

Copyright © da edição em inglês: Pacific Press, Nampa, EUA.


Djreitos internacionais reservados.

Direitos de tradução e Publi[a£ão


em língua Portugue§c3 reseri)adí)S à
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www.cpb.com.br

|a edição: 3 mil
2019

Coorderia£ão Editoriail: D`Logo Ca!ÍzLlcô.r[ti


Eé7z./orjzfzz~o.. Vinícius Mendes e Wellington Barbosa
Rcy;.Jcz~o.. Jessica Manfrim, Adriana Seratto e Luciana Gruber
Pro/'eío GM¢75co G C¢jJ4.. Fábio Fernandes
J%¢gem cJ4 C4j}t¢.. Thiago Lobo

IMPRESSO NO BRASIL / Prj.#;€d /.# Brj#z;/

Dados lnternacionais de Catalogação na Publícação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Moore, Marvin, 1937 -


Na corte celestial : em defesa do juízo
jnvestigativo / Marvin Moore ; tradução Delmar F.
Freire. ~ Tatuí, SP : Casa Publicadora Brasileira,
2017.

Ti[ulo original: The case for the investigative


judgmen[
ISBN 978-85-345-25 26-8

1. Adventjs[a do Sétimo Dia -Doutrina 2. ]uízo


investigativo de 1844, A. D. (Adventis[as do Sétimo
Dia) 3. Julgamento -Aspectos religiosos -
Cris[janismo 1. Título.

17-09425 cDD-236.9

Índices para caráLogp sistemático:

1. juízo in;estigativo : Adven[istas do Sétimo Dia :


Cristianismo 236.9

Os textos bil)licos citados neste livro foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada no Brasil,
2â edição, salvo outra indicação.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,

3 -=...- :`=--_.`.-: por qualquer meio, jem Pná/;.¢ ó¢Á/}orJ.zqf#~o GJc7.J./# do autor e da Editora.

Tipologia: Bembo Std, 11,5/13,5 - 13349/39656


Agradeeimentos

V:1oasstipoe;S;::|:::::1::í::mprpeaer:s:oP:ood=Çr::a:::t::i?::pt:1:::3:à:ààae|e;pa::aésLc::s-'
ver esta obra. Além disso, eu li cada capítulo para ela à medida que os completava, e
suas perguntas sobre o que eu queria dizer contribuíram para tornar o assunto mais
compreensível para o leitor.
Vários eruditos adventistas leram partes do manuscrito. Dr. Martin Proebstle, pro-
fessor no Seminário Adventista de Bogenhofen, Áustria, disponibilizou-me sua tese
de doutorado sobre Daniel 8:9 a 14 e leu os capítulos que tratam do livro de Daniel.
Dr. Felix Cortez, professor do Departamento de Novo Testamento no Seminário
Teológico da Universidade Andrews, escreveu sua tese doutoral sobre Hebreus e a
compartilhou comigo. Ele leu os capítulos sobre Hebreus. Dr. Roy Gane, professor
do Departamento de Antigo Testamento no Seminário Teológico da Universidade
Andrews, escreveu sua tese doutoral sobre o sistema sacrifical em Levítico e tam-
bém vários livros sobre esse tema, todos lidos por inim. Ele leu os capítulos deste
livro que tratam dos rituais levíticos. Dr. Brempong Owusu-Antwi, presidente da
Universidade Adventista da África, no Quênia,1eu os capítulos sobre Daniel 9, tema
de sua tese doutoral.
Três pessoas leram todo o manuscrito antes que ele fosse publicado: Dr. Richard
Davidson, diretor do Departamento de Antigo Testamento do Seminário Teológico
da Universidade Andrews; Dr. William Shea, ex-professor de Antigo Testamento do
Seminário Teológico da Universidade Andrews e ex-diretor associado do lnstituto
de Pesquisa Bíblica da Associação Geral; e Dr. Desmond Ford, que por muitos anos
dirigiu o departamento de religião da Faculdade Avondale, na Austrália, e que, desde
então, tornou-se um crítico da doutrim adventista sobre o juízo investigativo, a dou-
trina apresentada neste livro. Meu profundo reconhecimento pelo tempo que cada
um desses teólogos dedicou, em meio a suas apertadas agendas, para ler meu manus-
crito e compartilhar seus comentários.
Finalmente, todos os escritores se beneficiam dos serviços de um bom editor, e
eu tenho sido afortunado por ter o hábil toque de DavidJarnes em vários de meus
livros. Aprendi a apreciar a editoração de David quando ele fói meu editor asso-
ciado na revista SiÉí% o/ f#c Ti'mcs. Seu trabalho cuidadoso deixou este livro ma,is
fácil de ler.Também quero dar crédito a um grupo de pessoas que, frequentemente,
não é citado: os editores de cópia e revisores de texto. Wendy Marcum, Tammie
Knauff e Amy Scoggins fizeram correções ortográficas, chamaram minha atenção
para casos de léxico inadequado e cuidaram de todos os outros detalhes necessários
para produzir um livro com o nível de precisão que você vai encontrar nas pági-
nas seguintes.
Para cada um desses especialistas, quero expressar minha sincera gratidão!
Prefácio

Este
sualivro deeMarvin
longa Moore
brilhante pode
carreira de muito bem
escritor. Eleser considerado
publicou o ponto
diversos livros,mais alto
assim de
como
muitos artigos sobre assuntos religiosos.Todavia, neste caso, Moore analisou o impor-
tante ensinamento bíblico do juízo investigativo a partir de praticamente todos os
pontos de vista.
Algumas passagens de Daniel e Apocalipse apontam para o juízo. Marvin Moore
salienta a cena do grande julgamento de Daniel 7:9 a 14. Essa é a maior fonte para o
assunto, e eu acredito que ele a avalia corretamente.
0 juízo é "investigativo" porque mostra os livros do Céu sendo abertos, e é ``pré-
advento" porque ocorre antes deJesus voltar àTem pela segunda vez. Uma vez que esse
julgamento ocorre no santuário celestial, é natural que Moore exainine os textos bíblicos
mais importantes com referência ao santuário em Levítico e seu antítipo em Hebreus.
Em tudo isso, o autor mostra que a doutrina do juízo investigativo é um ensinamento
sólido e firmemente fiindamentado na Bíblia. Outros intérpretes adventistas do sétimo
dia têm demonstrado isso antes dele, e Moore está em harmonia com esses estudiosos, o
que não o impede de, às vezes, dar sua interpretação para as evidências bíblicas.
Um tema que requer atenção especia] é a relação entpe certeza da salvação e juízo
investigativo. Como Moore demonstra, não existe conflito entre o juízo e a certeza [da
salvação]. 0 próprio evangelho clama por umjulgamento, no que tange à maneira como
cada cristão tem respondido ao chamado de Cristo. 0 juízo investigativo não muda
nenhuma das decisões queJesus tomou a respeito das pessoas. Em vez disso, revela o que a
grande verdade dajustificação pela fé tem realizado na vida dos santos em todas as épocas.
Quando eu lecionava no Seminário Teológico da Universidade Andrews, um estu-
dante fez o seguinte comentário sobre uma pesquisa que eu havia escrito em indês:
"Isso aqui é uma excelente maneira de tratar do assunto.Agora, o senhor tem que tra-
duzir para o indês! " 01ivro de Moore não precisa ser "traduzido", pois a forma como
foi escrito é muito clara; o autor não deixa o leitor em dúvida sobre o que quis dizer.
Marvin Moore produziu um estudo profiindamente significativo sobre o assunto
do juízo. A maneira com que trata o tema é compreensiva e detalhada, e as conclu-
sões que adota são teológica e exegeticamente corretas. Recomendo este livro igual-
mente a leitores eruditos e leigos que desejam estar informados sobre este importante
assunto bíblico.

William H. Shea, PhD


Ex-professor de Antigo Testamento no Seminário Teológico da Universidade Andrews
Ex-diretor associado do lnstituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia
Sumário

Capítulo 1 - 0 lnício

As Questões Mais Críticas


Capítulo 2 -Haverá um Juízo lnvestigativo?
Capítulo 3 -0 juízo lnvestigativo e a]ustificação pela Fé ..........
Capítulo 4 - 0 Juízo lnvestigativo e o Tema do Grande Conflito

A História do ]uízo lnvestigativo


Capítulo 5 -As Raízes Mileritas da Doutrina do ]uízo lnvestigativo ................ 41
Capítulo 6 - 0 Desenvolvimento da Doutrina do Juízo lnvestigativo .............. 45
Capítulo 7 - Os Críticos da Doutrina do juízo lnvestigativo ........................ 50

Questões em Daniel 7
Capítulo 8 -Princípios para a lnterpretação das Profecias de Daniel ................ 59
Capítulo 9 - Antíoco Epifânio
Capítulo 10 -A Hora do Juízo em Daniel 7
Capítulo 1 1 - 0 juízo e os Pecados dos Santos

Questões em Daniel s
Capítulo 12 -Onde Está Roma em Daniel 8? 89
Capítulo 13 -A que Santuário Daniel s se Refere? (Parte 1) 96
Capítulo 14 -A que Santuário Daniel 8 se Refére? (Parte 11) 107
Capítulo 15 -Quanto Tempo, Senhor? 115
Capítulo 16 -A Purificação do Santuário 118
Capítulo 17 -A Purificação do Santuário e os Pecados dos Santos ............... 126

0 Juízo lnvestigativo e o Santuário


Capítulo 18 -Os Serviços Diários do Sa,ntuário Terrestre
Capítulo 19 -A Transferência do Pecado Para o Santuário
Capítulo 20 -Ó Dia da Expiação e o Problema do Mal ..
Capítulo 21 -0 Dia da Expiação em Daniel 7 e 8
Capítulo.22 ~ A Remoção dos Pecados

Questões em Daniel 9
Capítulo 23 - 0 lnício dos 2.300 Dias
Capítulo 24 - 0 Propósito das 70 Semanas
Capítulo 25 - 0 Começo e o Fim das 69 Semanas
Notas Adicionais ao Capítulo 25:A Data Para o Fim das 70 Semanas ......... 201
Capítulo 26 -A Septuagésima Semana e o Destino Final de Jerusalém ............... 202
Capítulo 27 - 0 Princípio Dia-Ano 205
Questões em Hebreus
Capítulo 28 -Jesus Além dovéu
Capítulo 29 - Sentado no Trono de Deus
Capítulo 30 - 0 Tema de Hebreus
Capítulo 31 -0 Dia da Expiação em Hebreus 9 e 10 (Parte 1) ................... 237
Capítulo 32 -0 Dia da Expiação em Hebreus 9 e 10 (Parte 11)
Capítulo 33 - 0 Serviço Diário em Hebreus

Considerações Finais
Capítulo 34 -Ellenwhite e o Juízo lnvestigativo
Capítulo 35 - Colocando Tudo junto
Capítulo 36 - Que Diferença lsso Faz?

Epílogo
Bibliografia Selecionada
O INÍclo

P::voal=::1cgh6a2i::an=:heau:::npçaãs:o;:::1:a:tep:oabfes=:1:içào|fi::a:|:1od:mçs:elí::mnaa'
interpretação adventista do sétimo dia sobre Daniel 8:14 e o juízo investigativo. Ele
indicou que em Daniel 8:9 a 12 são os pecados do chifre pequeno que contaminam o
santuário; portanto, a solução para a questão existente em Daniel 8:14 deve levar em
conta os pecados do chifre pequeno. Todavia, de acordo com a interpretação adven-
tista, são os pecados do povo de Deus que são resolvidos em Daniel 8:14, e não os
pecados do perverso chifre pequeno. Naquela época, a crítica me pareceu razoável
e, de tempos em tempos, ao longo desses anos, tenho ponderado sobre isso. Desde
então, também tomei conhecimento de outras objeções acerca de nossos ensinamen-
tos sobre o juízo investigativo.
Os adventistas do sétimo dia reúnem textos encontrados em várias partes da Bíblia
para formar essa doutrina. De Levítico, os detalhes do santuário, especialmente o Dia
da Expiação, no capítulo 16; de Daniel, a cena do juízo no capítulo 7, o santuário
profanado no capítulo 8, com sua purificação após 2.300 dias/anos, e as 70 semanas
no capítulo 9, que servem de base para o cálculo que aponta o término dos 2.300
anos em 1844. Também o livro de Hebreus, que apresenta o santuário/templo no
Céu e o ministério de Cristo ali. Finalmente, usamos o princípio dia-ano, pelo qual
interpretamos as profecias relativas ao tempo em Daniel e Apocalipse.

Um ensinamento controverso
0 ensinamento adventista do sétimo dia de que Deus iniciou, em 1844, um
juízo investigativo no Céu tem sido mais controverso do que a doutrina do
sábado, do estado dos mortos e do inferno. Sem dúvida alguma, essa tem sido
nossa crença mais contestada. Em boa parte de nossa história, pessoas de den-
tro e de fora da igreja têm desafiado essa doutrina, o que tem causado mais bai-
xas do que.qualquer outra má interpretação de uma crença adventista. Mesmo
alguns membros que permanecem na igreja, que são leais observadores do sábado
e mantêm sua fé na compreensão adventista sobre o estado dos mortos e sobre o
inferno, questionam nossa compreensão acerca do juízo investigativo. Durante
o século 20, dois dos mais preeminentes questionadores foram Raymond F.
Cottrel e Desmond Ford.]
0 maior desafio que nossos críticos têm nos imposto é a alegação de que a Bíblia
não apoia o ensinamento adventista a respeito do juízo investigativo. Em vez disso,
dizem eles, essa crença está baseada nos escritos de Ellen White e nas interpreta-
ções errôneas de nossos desinformados pioneiros. Por outro lado, a autora disse:
NA CORTE CELESTIAL

``A compreensão correta do ministério do santuário celestial constitui o alicerce de


nossa ft."2 Por "ministério de Cristo", ela se referia a tudo o que estava associado
a Seu oficio no santuário celestial, inclusive o juízo investigativo, que começou
em 1844. A lgreja Adventista continua a insistir que essa doutrina é bíblica. Nossa
declaração de Crenças Fundamentais afirma isso,3 e o Tr#f4do dc TcoJogi.4 4dt/c#fí.sf¢
do Sc'fí.mo Dí.4 inclui pelo menos dois capítulos que discorrem sobre o santuário e o
j uízo investigativo.4

Por que escrwi este livro

Quando terrninei de escrever o livro 4poca/!Í%c Í3,5 decidi que era tempo de
resolver definitivamente em minha cabeça os diversos questionamentos levantados
sobre a doutrina do juízo investigativo. Meu principal interesse tem sido investigar
se os vários aspectos dessa crença fundamental podem ser defendidos com base na
Bíblia. 0 resultado é este livro, cuja produção foi, inquestionavelmente, o mais com-
plexo projeto literário em que me envolvi.
Decidi que deveria começar com o melhor e mais recente pensamento adven-
tista sobre o juízo investigativo e temas relacionados. Em março de 2007, depois
de apresentar algumas palestras no c4mp#s da Universidade Andrews, em Berrien
Springs, Michigan, decidi permanecer ali por mais dois ou três dias para con-
versar com professores do Seminário Teológico e fazer pesquisas no Centro de
Pesquisas Adventistas, na Biblioteca Tiago White.Voltei para casa com vários livros
e teses doutorais de acadêmicos adventistas, todos eles escritos nos últimos 20 anos.
Também li as partes relevantes de vários livros recentes sobre o juízo investigativo e
temas afins, incluindo a série de sete volumes sobre Daniel e Apocalipse, publicada
pelo lnstituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral.6 Depois de passar mais de
um ano pesquisando e um ano e meio escrevendo, fiquei absolutamente conven-
cido de que nosso ensinamento histórico sobre o juízo investigativo no santuário
celestial, que é o antítipo do Dia da Expiação terrestre, é inteiramente bíblico - o
Tue expüica o tí.tulo deste tiNro.. Na Corte Celestial: Em Defisa do ]uízo lnuestigatiuo.
Você pode estar se perguntando o que me qualifica a escrever sobre os diver-
sos aspectos do juízo investigativo, considerando que minha experiência profissional
e treinamento são muito mais de escritor e editor do que de professor de teologia.
Minha resposta é simples. 0 1eigo muitas vezes acha a linguagem dos acadêmicos
dificil de entender` Minha tarefa como escritor é familiarizar-me o suficiente com
essas obras eruàitas para poder fazê-las compreensíveis ao leitor. Quero fazer a ponte
entre o acadêinico e o leigo. Além disso, mesmo entre os que podem facilmente ler e
entender a linguagem dos eruditos bíblicos, existem muitos que não têm tempo para
mergulhar na literatura que trata dos variados aspectos do tema. E por isso que, neste
livro, eu reuni tudo em um só lugar.

Crescentlo no entendimento
Ao afirmar que descobri que nossa crença histórica acerca do juízo investiga-
tivo e de assuntos afins é bíblica, não quero dizer que tudo o que já dissemos sobre
ela está correto. Nós mocí%cmos alguns aspectos de nossos ensinamentos depois de
1844. No manuscrito que Desmond Ford apresentou em 1980, em Glacierview,
ele mencionou 22 aspectos de nossa doutrina sobre o juízo investigativo que foram
remodelados por nós ao longo dos anos, desde 1844. Ford considera isso um pro-
blema. Eu, não.Ao contrário, creio que era de se esperar que ocorressem modifica-
ções. Ellenwhite disse: "Não há desculpas para ninguém assumir a posição de que
[...] todas as nossas visões da Bíblia não têm qualquer erro."7 Por isso, os capítulos
s a 31 deste livro são quase que exclusivamente uma avaliação da evidência bíblica
sobre o juízo investigativo e temas relacionados.
Sei que alguns dos que sustentam diferentes interpretações sobre a evidência
bíblica discordarão de mim. Em realidade, isso ocorre com quase todas as doutrinas.
Os cristãos sempre têm extraído o que podem da Bíblia.Algumas pessoas interpre-
tam o que as Escrituras dizem sobre um assunto de certa maneira, enquanto outros
entendem a mesma evidência bíblica de outra, e todos estão absolutamente con-
vencidos de que sua interpretação é a correta. Assim é e sempre será, não somente
com a doutrina do santuário e do juízo investigativo, mas com qualquer outra
crença. Não espero convencer cada leitor - especialmente aqueles que têm criti-
cado nosso ensinamento sobre este tema - que minha compreensão sobre a evi-
dência bíblica é a correta.Todavia, espero que, depois de ler o livro, mesmo aqueles
que continuem discordando de mim concordem que apresentei uma forte argu-
mentação bíblica em favor do ensinamento adventista sobre o juízo investigativo.
Também espero que esta obra possa ajudar a resolver algumas das questões que
vêm incomodando muitos de nossos pastores e membros em geral. Desejo que ela
possa ajudá-1os a ver que nosso ensino tradicional sobre o santuário e o juízo inves-
tigativo tem, de fato, uma firme base bíblica. Além de tudo isso, se alguns críti-
cos forem persuadidos por aquilo que estou dizendo, eu me sentirei extremamente
recompensado.
Espero que os críticos deem sua resposta ao que escrevi. Ficaria desapontado se
não o fizessem, pois é a opinião acerca das diferentes maneiras de pensar que pro-
move nosso entendimento. Nós, adventistas, temos refinado nossa doutrina sobre
o juízo investigativo ao longo dos anos em grande medida por causa das críticas.
Portanto, 1erei, com muito interesse, aquilo que os analistas têm a dizer em resposta
à minha argumentação, e espero aprender com isso.

Aspectostécnicos
0 propósito das notas de fim é prover informação que, segundo me parece, seria
útil para o leitor, sem, contudo, prejudicar a fluidez do pensamento do texto princi~
pal. Essas notas dão informações sobre as fontes consultadas pelo autor e outros tipos
de informação. Elas aparecem no fim de cada seção à qual se aplicam, e eu as apre-
sento em forma abreviada.A bibliografia contém a informação bibliográfica completa
- autor, editor, etc. - sobre as fontes ou citações às quais me refiro.
Nesta edição, é utilizada a versão Almeida Revista e Atualizada, 2a edição, (ARA).8
Embora eu geralmente prefira a Novaversão lnternacional (NVI), acho que ela é um
tanto interpretativa. Identifico pela respectiva abreviação qualquer outra versão bíblica,
diferente da ARA, que eu venha a citar neste livro.
Um rápido comentário sobre transliteração. Os eruditos diferem, de alguma
forma, na maneira de transliterar palavras. A fim de manter a consistência, em geral,
adotei a transliteração dos autores que citei. Por último, quando os autores citados
usam a escrita hebraica ou grega, transliterei as palavras para facilitar a leitura e a
pronúncia.

Não deveria ser algo simples?


Uma objeção à doutrina do juízo investigativo que tenho ouvido inúmeras vezes
ao longo dos anos é que, embora o evangelho seja suficientemente simples para que
uma criança o entenda, essa é uma crença muito complexa. Concordo que o evange-
lho deva ser suficientemente simples - e ele é - para que uma criança possa enten-
der e a ele responder. Entretanto, milhares de livros que uma criança não consegue
entender têm sido escritos acerca de complexidades teológicas relacionadas com o
evangelho: a expiação, conversão, justificação e santificação. De fato, esses conceitos
estão muito além da compreensão até de muitos adultos!
0 evangelho e as doutrinas da Trindade, escatologia, inspiração, revelação e mui-
tas outras são passíveis tanto de explicações simples como de reflexão profunda.
0 mesmo é verdade sobre o juízo investigativo.Você encontrará minha explicação
simples dessa doutrina nos capítulos 2, 3 e 4.As crianças, sem dúvida, precisariam que
esses capítulos fossem adaptados a sua faixa etária, mas acredito que elas seriam capa-
zes de compreender os conceitos básicos.A maior parte do restante deste livro inves-
tiga as questões mais profundas do juízo e por que ele é bíblico. Boa parcela desse
material é técnica e será preciso que você se concentre e pense bastante. Parece-me
que objeções complexas justificam respostas complexa,s.
Sugiro duas maneiras de ler o que escrevi.Você pode simplesmente ler o livro
do início ao fim, ou pode ler apenas os capítulos que tratam das questões específi-
cas sobre o juízo investigativo que você tenha em mente. Eu intitulei os capítulos de
tal maneira que os leitores que têm fàmiliaridade com essa doutrina possam facil-
mente encontrar meus comentários sobre variadas questões. Acredito, no entanto,
que mesmo aqueles que estejam interessados em pontos específicos acharão útil 1er
o material todo.

Porquelerestelijro?
Muitas pessoas têm me agradecido pelas bênçãos espirituais recebidas por meio da
leitura de alguns dos meus livros anteriores, como T7% Crf.sÍ's o/fÃc E#ó Ti'mc [A Crise
do Tempo do Fim], Co#qwcrí.#g fhc Drflgoíz 14/lf.fã.í4 [Vencendo o Dragão lnterior] e
Forgt/cr Hí`J [Dele Para Sempre] . Infelizmente, não posso prometer o mesmo com res-
peito a cada capítulo desta obra. Como mencionei, muitas vezes se faz necessário ser
um tanto técnico, e fica um pouco dificil fazer com que uma discussão altamente
técnica seja também profundamente espiritual. Por que, então, você deveria ler este
livro? Responderei com as palavras de E11enwhite:
0 assunto do santuário e do juízo de investigação deve ser claramente
compreendido pelo povo de Deus. Todos necessitam para si mesmos de
conhecimento sobre a posição e obra de seu grande Sumo Sacerdote.Aliás,
ser-lhes-á impossível exercerem a fê que é essencial nesse tempo, ou ocupar
a posição que Deus lhes deseja confiar. [...]. É da máxima importância que
todos investiguem acuradamente esses assuntos, e possam dar resposta a
qua,lquer que lhes peça a razão da esperança que neles há.9

Por isso este livro é imporiante


Meu propósito ao escrever esta obra foi ajudar você em seu estudo sobre a doutrina
do santuário e do juízo investigativo, de modo a entendê-la claramente. Minha ora-
ção é que você seja abençoado ao aprender mais acerca da base bíblica que sustenta a
compreensão dos adventistas do sétimo dia a respeito desse tema.

] Uma vez que Desmond Ford tem sido o crítico mais desafiador e conhecido dos tempos recentes, seu
nome aparecerá com frequência neste livro, à medida que vou dando resposta a suas crítica.s.
2 E11en G.White, Et/4#ge/i.smo, p. 221.
3Ver Manual da lgreja Aduentista do Sétimo Dia.
4Ver Ángel Manuel Rodrigues, "Santuário", e Gerhard F. Hasel, "Julgamento Divino", em T/tzfado de rco/ogi.4
4dvc#fi.sf4 do Séfí.mo Di.4, p. 421-466, 904-948.
5 Marvin Moore, 4pom/ÍÍ%C lj.
6 A série D4#Í.cÍ 4#d Rct/c/4fi.o# Commi.ffee Scrt.c5 ["Série da Comissão Sobre Dairiel e Apocalipse" - DAR-

COM] é composta por:William H. Shea, v.1 : E5fwdos Sc/cci.o#4dos cm JÍ4Ícrprcf4fõo Projéfí." (Unaspress, 2007) ;
Frank 8. Holbrook (editor dos volumes 2-7), v. 2: Esfí/dos Sobrc D4#i`e/ (Unaspress, 2013) ; v. 3: Sct/cwfy Weck§,
LtJi.ft.cws, N4fwr€ o/ Propftccy [Setenta Semanas, Levítico, Natureza da Profecia] ; v. 4: 4 Lwz dc Hcbrct/s (Unas-
press, 2013); v. 5: Docfri.#c o/f#c Sa#cfw4ry..4 HÍ.£forí.c4J Swrwey [A Doutrim do Santuário: Uma lnvestigação
Histórica]; v. 6: Symposi.wm o# Rct;c/cííi.o# -Book J (Simpósio Sobre Apocalipse -Livro 1); e v. 7: Symposí'Í/Í#
o% Rcpc/4Íi.o# -Book JJ (Simpósio Sobre Arocalipse -Livro 11).
7 White, 0 O#fro Podct p. 24.
8 A versão usada no original em inglês é a New King]amesversion (NK]V).
9 Wtrite, 0 Gmnde Confiito, p. 488, 489.
AS OUESTÕES MAIS CRÍTICAS
HAVERÁ UM JUÍZ0
INVESTICATIVO?

ALÉ:nfsaLahnao:::á±ót:T:,:roap:ret::Lrdoaá:f:r:joan::ràa:LSctooTAà:eLce]ehnot=C:mq::b:::::
eu era adventista do sétimo dia e, no transcorrer de nossa conversa, perguntou se eu
teria interesse em saber qual das doutrinas de nossa igreja ele considerava a mais
sujeita a objeções. Eu respondi que gostaria que me dissesse, esperando que men-
cionasse o sábado, o estado dos mortos ou o inferno. Sua resposca me surpreendeu.
Ele disse: "0 juízo investigativo."
-Por que você acha esse ensinamento tão passível de objeções? -perguntei.
- Porque - ele disse - com uma doutrina dessas, ninguém pode ter certeza da
salvação.
Desde então, tenho visto que, por essa razão, temos sido reprovados em virtude
do ensinamento sobre o juízo investigativo, e não apenas por aqueles que professam
uma fé diferente da nossa. Até mesmo alguns adventista,s têm criticado essa doutrina
porque ela os tem deixado em um contínuo estado de ansiedade no que diz respeito
a sua situação com Deus.Afinal, a ideia de umjwí'zo Í.#tJcsf!É4f{'w sugere que o Senhor
esteja vasculhando nossa vida para poder determinar se somos dignos de ser salvos.
A esposa de Clifford Goldstein, uma adventista de longa data, dá-nos um bom
exemplo dessa ansiedade. Cliff relata o que disseram a ela:

[Ensinaram] à minha esposa [. . .] "que ojuízo está ocorrendo agora mesmo


no Céu, e que nosso nome pode aparecer a qualquer momento. Não
podemos saber quando isso vai ocorrer, mas, quando de fato acontecer,
nosso nome será apagado do livro da vida caso não sejamos absolutamente
perfeitos. Estaremos perdidos. Não saberemos nada sobre isso, e poderemos
continuar na luta para sermos perfeitos, muito embora a porta da graça já
tenha sido fechada para nós e não haja mais esperança."í

Cliff continua: ``Um ensinamento como esse não pode ser `boas-novas', nem
mesmo um quadro preciso do que acontece no juízo investigativo. No entanto, é
nisso que muitos adventistas creem, e, com uma teologia dessas, quem pode culpar as
Pessoas Por elas deixarem a igreja?"2
De fato, alguns pregadores e evangelistas adventistas têm usado o j uízo investigativo
para pressionar as pessoas a viverem a santificação. "Você nunca vai saber quando
seu nome será considerado no juízo!", advertem de modo ameaçador. "Portanto,
você precisa estar certo de que está vivendo corretamente cada momento da vida!"
Essa visão deixa as pessoas em um constante estado de incerteza sobre sua situação
NA CORTE CELESTIAL

com Deus. Entretanto, essa maneira de enxergar o juízo pode ser facilmente elimi-
nada tendo a verdade bíblica da justificação pela fê como contraponto.
Se esse conceito de nossa doutrina do juízo investigativo estiver correto, então
meu amigo da lgreja de Cristo está com a razão. Se Deus não pode ter certeza da
salvação de seus santos até que examine o registro da vida deles, então é óbvio que
nenhum de nós pode ter a certeza de nossa total aceitação por Deus, até que Ele, em
Sua mente, decida se merecemos ou não a salvação. Naturalmente, Ele não pode fazer
isso até que exalemos nosso último suspiro!
Essa é a causa de muitas das críticas sobre o juízo investigativo, tanto de parte dos
que estão fora de nossa igreja como daqueles que comungam conosco. Muitos críti-
cos adventistas, ao experimentarem essa incerteza sobre o julgamento, abandonaram
o ensinamento por completo, considerando-o como uma devastadora heresia. E do
jeito que eles compreendem essa doutrina, ela é isso mesmo!
Por causa dessa compreensão errônea, alguns adventistas passaram a dar preferên-
cia ao termo juízo pré-4Jyc#fo, o que evita algumas das infelizes dificuldades teológi-
cas que a palavra Í.#vcsfíÉ4f!'vo cria na mente de certas pessoas. Mas, isso é necessário?
Haveria algo inerentemente errado com a ideia de um/'wi'zo i'#tJcsfíÉ4fi.tm.?

Haverá um jui'zo jnyeslí.galfyo?


Proponho que o termo "investigativo", quando usado em conexão com o juízo
final descrito na Bíblia, seja o mais apropriado. Afinal, cada julgamento no mundo
livre é, por natureza, i.#tJcsfiÉ¢fi.wo. As acusações são expostas pela promotoria. A defesa,
então, apresenta provas que, espera-se, absolverão o réu ou, pelo menos, lhe possibi-
litarão uma sentença ma,is favorável. 0 júri ouve todas as evidências e se retira para
deliberar (embora aqui, eu deva observar que Deus não dá a ninguém o poder de
veto sobre suas decisões). Todo o processo constitui uma í.ÍwcsfíÉ4ÇÕo sobre as acusa-
Ções e contra-acusações com o propósito de se chegar a um veredito. Seja o caso cri-
minal ou civil, cada sessão de um tribunal é umjuízo Í'ÍzwsfiÉ4fí.vo.
A ideia de que Deus, algum dia, presidirá um j#ízo Í.wcsfíÉ4fí.vo é bíblica. Em
Eclesiastes 12:14, Salomão disse: ``Porque Deus há de trazer ajuízo todas as obras, até
as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." E ]esus disse: "Digo-vos que
de toda palavra fiívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do ]uízo;
porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado"
(Mt 12:36, 37),Assim, nossas obras, nossas palavras e até mesmo nossos pensamentos
(as coisas secretas) serão examinados por Deus no juízo final. Isso é o/.wi'zo !.#t;csfiÉ4fi't;o.
Daniel 7:9 e 10 também sugere um/.wÍ'zo í.#tJcsfíÉ4ff.wo..

Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias Se
assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a
pura lã; o Seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente.
Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares 0 ser-
viam, e miríades de miríades estavam diante Dele; assentou-se o tribunal,
e se abriram os livros.
HAyERÁ UM JÜÍZO IWESTICATIVO?

0 "Ancião de Dias" nesses versos é Deus, o Pai. É Ele quem está sentado em Seu
trono como supremo juiz. Milhões de seres estão ao redor do trono, certamente anjos
(verAp 5: 11). Daniel conclui dizendo: "assentou-se o tribunal, e se abriram os livros."
Essa é uma cena de juízo.
Note que essejulgamento inclui a abertura de ``livros". Não devemos, porém, pensa,r
nesses ``livros" como volumes em uma estante de biblioteca. Nos dias de Daniel, não
havia livros. Naquele tempo, as pessoas escreviam em rolos ou em tabletes de barro.
Atualmente, registramos eventos, transações financeiras, acordos legais e outras infor-
mações em livros, computadores ou outros recursos. Sem esses registros, seria impossível
nos lembrar de todas as informações que precisamos conhecer. Contudo, é certo que
os aparelhos de amazenagem de infomações do Céu são muito mais sofisticados do
que o mais modemo de nossos computadores. Assim, devemos pensar nos "livros" de
Daniel 7: 10 como um símbolo do método celestial de manter registros, seja ele qual for.

A razão para a existência dos livros


Por que "livros" no Céu? Deus não sabe de todas as coisas? Ele precisa de livros
para Se lembrar de algo? Claro que não! Os livros não são para o beneficio Dele,
mas para beneficio dos seres que estão ao redor de Seu trono. Note que Daniel apre-
sentou os ``1ivros" logo após sua descrição do Ancião de Dias, e por uma boa razão.
Os anjos não são oniscientes. Eles precisam de um registro daquilo que aconteceu
no passado para que se lembrem da informação, caso necessitem dela. Mesmo que
se lembrem de um evento, eles, como nós, precisam de um registro para refrescar a
i:nente quanto a.os deta:Hies. Esse é o propósito dos liuros nessa cena da corte celestial.
Que tipo de informação esses registros contêm? Cerca de 15 textos bíblicos mencio-
nam a existência de livros no Céu. Podemos chegar a várias conclusões a partir des-
ses textos: (1) os livros contêm registro dos pensamentos, palavras e ações do povo de
Deus (ver S156:8; M13:16; Fp 4:3;Ap 20:12-15; 21:27); (2) eles foram preparados a
propósito dojuízo (ver Dn 7:10;Ap 20:12-15); (3) alguns nomes serão mantidos nes-
ses livros e outros serão removidos (ver Êx 32:32, 33; S1 69:28) - um processo que
implicajulgamento.
Consideremos o significado desses livros no juízo. É razoável supor, conforme
sugeri há pouco, que Deus e±erce Seujuízo sobre nossos pensamentos, palavras e ações
no momento em que pensamos, falamos e agimos. Uma vez que Ele é onisciente,
também é razoável assumir que o Senhor não precisa. ser lembmdo das decisões que
tomou a nosso respeito. Assim, seja qual for o julgamento que venha a ocorrer antes
da segunda vinda de Cristo, ele não será para o beneficio de Deus, mas para o bene-
ficio dos anjos e de outros seres criados. É verdade, como diz a Bíblia, que Deus "há
de trazer ajuízo todas as obras" (Ec 12: 14), mas trazer algo ajuízo não significa neces-
sariamente que Ele mesmo fará o julgamento nesse ``juízo" em particular. Mesmo nos
sistemasjudiciários humanos, existe umjúri e também umjuiz, e ojuiz tem que che-
gar a uma conclusão sobre a culpa ou inocência da pessoa emjulgamento.
A objeção de que "ninguém pode ter certeza da salvação" acreditando na doutrina
do juízo investigativo presume que a teologia adventista é a única sobre o juízo final.
Entretz+nto, a. ve:ida.de é que qualquer um que acredite no ensinamento bíblico de que existe um
juízo final tem de lidar com a questão da certeza. Se Deus vai "tra:zer a. juízo todas a:s obra;s"
(Ec 12:14), se todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo (2Co 5:10),
e se o Senhor é quem vaijulgar a fim de estabelecer em Sua mente se somos merece-
dores da salvação, então, nenhum de nós pode ter a certeza da salvação até que o julga-
mento esteja concluído, independentemente de como o designamos. E isso é verdade,
seja você batista, pentecostal, católico ou adventista. Entretanto, Daiiiel 7:9 e 10 coloca
o juízo divino sob uma luz totalmente diferente. Esse/.t/Ígamc#Ío é p4m o beí%J7cí.o dos
4#jos c #ão dc Dc#s. Deus está simplesmente /et;c/4#do as razões para Suas ações e Seus
juízos no passado a fim de que eles possam entender e confirmar as decisões que Ele
tomou.Você pode se perguntar por que Deus precisa da aprovação dos anjos para Suas
decisões. Responderei a essa pergunta no capítulo 4.

Os ensinamentos oficiais adventistas


Duas das fontes de ma,ior autoridade sobre as crenças dos adventistas do sétimo
dia deixam muito claro que é assim que entendemos o juízo atualmente. 0 Trtzf4cío dc
Tco/ogí.c! 4dt;c#ÍÍ'sf4 cJo Séfí'mo D!'a diz que o "juízo investigativo [...] não informa Deus,
mas revela Sua justiça".3 A declaração oficial sobre os ensinamentos dos adventistas
são as 28 crenças fundamentais.A crença número 24 não deixa dúvida de que o pro-
pósito do juízo investigativo é revelar aos anjos a justiça de Deus ao lidar com Seu
povo. Aqui está o trecho relevante desse ensino:

0 juízo investigativo rct;c/4 4os scrcs ccJcsfí'4i.s quem dentre os mortos dorme
em Cristo, sendo, portanto, Nele, considerado digno de ter parte na pri-
meira ressurreição. Também for#¢ mmfcsfo quem, dentre os vivos, per-
manece em Cristo, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus,
estando, portanto, Nele, preparado para a trasladação ao Seu reino eterno.
Esse julgamento tJÍ.Ícd!'" 4jwsf!.f4 dc Dc#s em salvar os que creem em ]esus.
Dcc/4rtz que os que permanecerem leais a Deus receberão o reino.4

As palavras em itálico no texto acima dão uma visão dojuízo bem diferente daquela
que alguns adventistas tinham' no passado. 0 julgamento não dcc!`dc quem deve ser
salvo e quem se perderá. Ele "JctJcÍ4 aos seres celestiais" -anjos que estão ao redor do
trono de Deus ç, sem dúvida, outros seres inteligentes que Ele criou - as decisões divi-
nas sobre a salvação ou condenação de cada ser humano. Essas são decisões que Deus,
o Pai, e Cristo já tomaram. Essa revelação "vindica a justiça divina em salvar os que
creem emJesus". Satanás tem acusado Deus de ser injusto em Seus julgamentos (ver
Ap 12:10), mas o juízo investigativo mostra que todos os vereditos divinos são justos.
Paulo sugere esse conceito em Romanos 2:5, texto em que ele menciona o "dia da
ira e da mmfesf4ÇÕo do juízo de Deus" (itálico acrescentado).
Eu gostaria de poder dizer que cada adventista do sétimo dia compreende o jul-
gamento da maneira como a igreja oficialmente o ensina. Infelizmente, não posso.
Mal-entendidos teológicos parecem que dão umjeito de se perpetuar ano após ano.
HÁVERÁ ÜM JÜÍZO

A falsa teologia que foi inserida em nossa mente quando éramos jovens carrega um
componente emocional muito dificil de mudar.
De vez em quando, eu leio sobre adventistas que deixam a igreja por conta de
"ensinamentos fàlsos" sobre o juízo investigativo, e que dizem estar se regozijando
com a maravilhosa liberdade que estão experimentando em Cristo. Sempre fico
feliz por essa.s pessoas terem encontrado Jesus. Todavia, quando analiso sua descri-
ção do juízo investigativo, eu me entristeço; pois ela, nem de longe, representa a
visão do julgamento em que creio ou que a igreja ensina. Certa vez, um amigo
adventista me disse: "Eu não me importo quando as pessoas nos criticam pelo que,
dcjTczÍo, acreditamos. 0 que me incomoda é o fato de as pessoas nos criticarem por
nossas `crenças' quando, na verdade, #õo cremos nelas." Lamentavelmente, alguns dos
críticos que louvam ao Senhor por ter "escapado da lgreja Adventista" nos deixa-
ram por causa do que eles pc#scw4m que acreditávamos - sem dúvida, o que lhes foi
c#si`#4do sobre nossas crenças -mas sua percepção não é o que, cJc/#fo, 4crcd£.f4mo5
sobre o juízo investigativo.

E a promessa de Jesus?
Alguns cristãos fazem objeções ao ensinamento adventista sobre o juízo investi-
gativo porque, segundo eles, o povo de Deus não estará sujeito ao julgamento final.
Eles citam as palavras de Jesus emJoão 5:24 para provar seu argumento: "Em verdade,
em verdade vos digo: quem ouve a Minha palavra e crê Naquele que Me enviou tem
a vida eterna, #Ão c"frtz cm/.wÍ'zo, mas passou da morte para a vida" (itálicos acrescen-
tados). A paJavra grega traduzida como "juízo" nesse verso é kr!'sj.j, que pode signifi-
car "julgamento" ou "condenação". Algumas versões da Bíblia, inclusive a Almeida
Revista e Corrigida e a Nova Versão lnternacional ("não será condenado"), tra-
duzem o termo grego como ``condemção". É verdade que o povo de Deus não
entrará em co#c7cÍ24fÃo -pelo menos da parte de Deus. Satanás é "o acusador de nossos
irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus" (Ap 12:10).
Assim, o verdadeiro povo de Deus não será co#dc#4do nojuízo.Ao contrário, o Senhor
já os c{bsoJtJcw. Entretanto, seus casos serão co#sí'dc/t3dos no juízo, e o resulta,do será que
os anjos concordarão que a absolvição dada por Deus a Seu povo foi justificada.
Paulo entendeu que o povo de Deus comparecerá no juízo fmal. Ele apresenta
o mesmo assunto duas vezes em suas epístolas. Escrevendo aos cristãos em Corinto,
disse: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do
corpo" (2Co 5:10). 0 pronome ``nós" nesse verso inclui Paulo e os cristãos para
quem ele estava escrevendo. Se o apóstolo disse que é'/c, entre todas as demais pes-
soas, terá que comparecer diante do julgamento divino, então, com certeza, nem você
nem eu escaparemos!
Paulo repetiu a ideia em Romanos 14:10 a 12:

Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois
todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por
NA CORTE CELESTIÁL

Minha vida, diz o Senhor, diante de Mim se dobrará todo joelho, e toda
língua dará louvores a Deus.Assim, pois, cada um de nós dará contas de si
mesmo a Deus.

Obviamente, o conceito de que o povo de Deus comparecerá ao julgamento é


bíblico. Podemos concluir que aspectos importantes do ensinamento adventista atual
sobre o juízo são claramente bíblicos:

• Será investigativo por natureza.


• Incluirá um exame da vida do próprio povo de Deus.
• Será para o beneficio dos anjos, não de Deus, que efetuou Seu julgamento sobre
a vida dos seres humanos no tempo em que viveram.
• Não ameaça a certeza da aceitação divina, a qual o povo de Deus pode obter por
meio da jornada cristã.

Essas são as razões pelas quais insisto que, se as entendermos corretamente, o conceito
de um/.w!'zo f.#tJcsfiÉ4fí.tm no Céu anterior à segunda vinda de Cristo é totalmente bíbhco.
E desse ponto em diante? A relação do juízo com o evangelho dajustificação pela
fé e o conflito entre o bem e o mal - o grande conflito - é tão crucial que quero me
certificar de que essas questões estão absolutamente claras antes de prosseguir. É sobre
isso que £àlaremos nos dois próximos capítulos.

1 Clifrord Goldstcin, F4Jsc 84/4#cc, p.18,19.


2 Ibid., p-19.
3 Ángel Manuel Rodríguez, "Santuário", em: Tn4Í4do dc Teo/ogi.4 4d#c#fi.sÍ4 do Séfi.mo Di.4, p. 454.
4 M4#ÍMJ d4 Jgrcja, p.172, itálicos acrescentados.
0 JUÍZ0 INVESTI0ATIVO
A JUSTIFICAÇAO PELA F

Eob:r:eemup:ã:eá:J,:nàroofse:àor:dqeuetse,oõl.osgltae,.::g:::s?oEi::ea::,Í:|nnh.:Ppoassqaudeo,::
sido útil para mim ao ponderar sobre controvérsias doutrinárias. A regra é a seguinte:
nenhuma proposição teológica pode ser verdadeira se ela contradiz um ensinamento
bíblico importante. Portanto, se minha opinião sobre uma determimda questão entra
em conflito com um ensino bíblico importante, devo, então, rejeitar minha opinião
ou modificá-1a de modo que ela esteja em harmonia com aquele ensinamento.
Um exemplo disso é a popular visão do inferno como um tormento eterno.
Minha principal objeção a essa doutrina é que ela está em absoluto conflito com
o ensinamento bíblico sobre um Deus de amor, misericórdia e justiça. Alguns anos
atrás, meu amigo George Knight escreveu um artigo sobre o inferno para a revista
SíÉ#J o/fÃc TÍ.mcs intitulado "0 Hitler lnfinito''. É isso, precisamente, que Deus seria,
caso permitisse que os pecadores sofressem no inferno pelas intermináveis eras da
eternidade. Hitler ao menos permitiu que suas vítimas encontrassem, em algum
momento, paz na morte. No entanto, o deus do tormento eterno nunca dá trégua.
Ele sequer deixa que suas vítimas morram! Se condenamos Hitler como um tirano
cruel, devemos, então, adotar o mesmo julgamento para um deus que se propõe
a manter suas vítimas vivas por toda a eternidade simplesmente para conservá-las
queimando. Sem dúvida, esse não é o Deusjusto, misericordioso e amoroso descrito
na Bíblia. Essa é a razão primária pela qual eu rejeito a doutrina do tormento eterno.
Aplico esse mesmo princípio ao ponderar acerca da objeção ao ensino adventista
sobre o juízo investigativo, proposta pelo meu amigo da lgreja de Cristo, mencionado
no capítulo 2. A justificação pela fé, que dá aos cristãos a certeza da aceitação por
Cristo 4gorj3, é um desses ensinamentos fimdamentais das Escrituras em relação ao qual
cada um dos demais deve ser avaliado. Qualquer doutrim que contradiga o evangelho
tem de ser tachada como £dsa. Ou revisamos nosso entendimento sobre esse ensino de
maneira a harmonizá-lo com o evangelho ou o rejeitamos como um erro. No capí-
tulo anterior, esclareci a razão de eu acreditar que a doutrina adventista do juízo inves-
tigativo é bíblica e toquei no aspecto de sua relação com o evangelho. Neste capítulo,
explicarei o evangelho da justificação pela fé de maneira mais detalhada e sustentarei
a doutrina do juízo investigativo à altura desse padrão.

O que é justificação peb fé?


Deus tem um problema - um c#orme problema: Ele só pode deixar entrar no Céu
as pessoas que são absolutamente perfeitas. Se houver uma só filha em nossa vida,
cjf4mos/ortz! A questão é que, embora Deus nos ame e qwci'~4 que entremos em Seu
CORTE CELESTIÃL

reino, cada um de nós é imperfeito, o que nos desqualifica para entrar ali. Felizmente,
Deus tem uma solução para esse problema. Lemos sobre isso em Romanos 3:20 a 24..

Portanto, ninguém será declarado justo diante Dele baseando-se na obediên-


cia à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plemmente conscientes do
pecado. Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, indepen-
dente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas,justiça de Deus mediante
a fé em Jesus Cristo para, todos os que creem. Não há distinção, pois todos
pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuita-
mente por Sua graça, por meio da redenção que há em Cristo ]esus (NVI).

0 verso 20 diz que você e eu não podemos serjustificados (a Nvl diz que ninguém
é ``declarado justo") por nossos esforços para guardar a lei de Deus. Felizmente, o verso
21 apresenta a solução para o problema:"Mas agora [. . .] se manifestou ajustiça de Deus".
Paulo declara, no verso 20, que, por maior que seja o número de vezes que observa-
mos a lei, isso não nos qualificará para ser aceitos por Deus. Uma vez que não há em nós
nenhumajustiça para oferecer ao Senhor, Cristo nos dá ajustiça Dele. É isso que as pala-
vras "justiça de Deus" significam. É algo q#c #cm Dele pcw¢ nós (ver também Fp 3:8, 9).
Deus, naturalmente, é perfeito; Sua justiça também é. Assim, quando Ele nos dá Sua jus-
tiça, nós também nos tornamos perfeitos -não por nós mesmos, mas porque Sua justiça
passar a ser considerada como nossa.
0 Senhor pede apenas uma coisa de nós em troca de Sua justiça: fê em Jesus.
0 verso 22 diz: ``justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que
creem". Uma vez que você e eu colocamos nossa fé em Cristo como nosso Salvador,
a justiça de Deus é nossa. Nesse momento, estamos justificados, ou seja, perfeitos
diante Dele. Ainda permanecemos Íàlhos, mas o Senhor nos co#sÍ'dcm perfeitamente
justos por causa dajustiça que nos outorgou. Ellenwhite diz isso com clareza:

E Uesus] viveu sem pecar. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos
tirar os pecados e nos dar Sua justiça. Ao se entregar a Ele, aceitando-O
como seu Salvador, você, graças a Ele, será considerado justo, não importa o
quanto sua vida possa ter sido pecaminosa. 0 caráter de Cristo substituirá
seu caráter, e você será aceito diante de Deus como se não tivesse pecado.í

Note os coàceitos expressados pela autora:

• Cristo toma nossos pecados e nos dá Suajustiça.


• Ele nos considerajustos.
• 0 caráter de Cristo toma o lugar do nosso caráter.
• Deus nos aceita como se não houvéssemos pecado.

Ser aceitos por Deus como sc #w#m %o#tJésscmos pcc¢cJo é ser considerados por
Ele como se fôssemos perfeitos. Nesse ponto, nós, pecadores imperfeitos, temos a
0 JÜíZ0 lNVEST16ÀTIV0 E A JllsT]FICA

qualificação de perfeição absoluta que é necessária para a entrada no reino de Deus.


Essa perfeição não é nossa, no sentido de termos adquirido por nós mesmos. Ela é
nossa por uma dádiva de Deus. Uma vez que todo presente verdadeiramente per-
tence à pessoa que o recebe, quando o Senhor nos dá Sua justiça, ela é verdadeira-
mente nossa.
0 verso 23 e as duas primeiras palavras do verso 24 expressam uma profunda
verdade acerca dajustificação pela fé.Aqui está o que elas dizem: ``todos pecaram e
carecem da glória de Deus, sendo justificados [. . .]." Paulo faz duas declarações no
verso 23. Elas são paralelas entre si, mas cada uma tem um tempo verbal diferente:

"Todos pecaram" Tempo passado


"[Todos] carecem da glória de Deus" Tempo presente

0 tempo presente, em grego, é um "presente contínuo", forma que expressa uma


ação continuada.A fim de traduzir o tempo presente para o português de maneira a
refletir essa característica verbal, teríamos de dizer que todos ``coÍ€f!.#w¢mcítfc carece-
mos da glória de Deus".
Note o que vem depois: "sendo justificados". É importante entender que a justi-
ficação está presente em cada uma das declarações do verso 23:

"Todos pecaram" no passado ``sendo justificados"


"Todos continuam pecando" no presente "sendo justificados"

Assim, ajustificação de Deus cobre tanto os pecados do passado como está dispo-
nível para os do presente.
A]gumas pessoas têm dificuldade com a ideia de que o Senhor nos justifica ape-
sar dos pecados que cometemos no presente. Entretanto, isso nos dá uma excelente
visão sobre a natureza da justificação pela fê. Essa experiência nos coloca em uma
permanente relação comJesus, que é semelhante ao status legal do casamento ou da
adoção. Embora esposos e esposas possam romper a relação matrimonial, sua certidão
de casamento não é anulada toda vez que um deles faz algo que desagrada o outro.
Tampouco, as crianças que foram legalmente adotadas se tornam "desadotadas" toda
vez que desobedecem aos pais. Semelhantemente, embora possamos romper nosso
relacionamento com]esus, isso não ocorre toda vez que pecamos. Mesmo com nos-
sos contínuos pecados, ainda permanecemos casados com Cristo, e ainda adotados
como filhos em Sua família. 0 resultado claro é que confessaremos nossas transgres-
sões e buscaremos o perdão. Mesmo nesse ínterim, ainda somos Sua noiva, Seus filhos.
0 evangelho significa que Jesus toma nossa mão e anda ao nosso lado em nossa
jornada cristã, e Ele não solta nossa mão a cada vez que escorregamos e caímos. Ao
contrário, Ele Se inclina,1evanta-nos e continua caminhando ao nosso lado, ajudando-
nos a vencer a próxima tentação que vier.
Essa é a compreensão de Ellenwhite sobre o evangelho. Ela disse:"Se está no cora-
Ção obedecer a Deus, se são feitos esforços nesse sentido,Jesus aceita essa disposição
CELESTIAL

e esforço como o melhor serviço do homem, e supre a deficiência, com seu próprio
mérito divino."2 Apresentando a mesma ideia em pouquíssimas palavras, ela também
disse: "Quando fazemos o melhor possível, Ele Se torna nossa justiça."3
Essas declarações nos dizem que Deus nos pede que sejamos leais, ou seja, que nos
compromcf4mos a Lhe obedecer e que fc#fcmo5 Lhe obedecer. Lealdade não significa
obediência perfeita. Significa que q#c/emos obedecer e que csf4mos Í€#f¢#do fazer isso
da melhor maneira possível. Quando fi.acassamos e percebemc)s que erramos, nós nos
entristecemos e nos determinamos a fazer melhor da prórima vez. E11en White, certa
vez, fàlou sobre "os que honestamente desejam proceder com retidão".4 Quando temos
esse tipo de lealdade,Jesus, com Sua justiça, compensa esse fi.acasso instantaneamente.
Não é o mesmo que "uma vez salvo, salvo para sempre", ou seja, a ideia de que,
ao aceitarmos a Cristo, nunca mais Lhe daremos as costas. Podemos, sim, nos rebelar.
Podemos abandonar nosso relacionamento com Ele; e, infelizmente, algumas pessoas
o fazem. Contudo, enquanto mantivermos nossa lealdade e compromisso com Jesus -
enquanto desejarmos sinceramente fazer o que é certo - Ele permanecerá ao nosso
lado, mesmo quando escorregamos e caímos.
Em Romanos 5:1, Paulo disse: "justificados, pois, mediante a fé, temos paz com
Deus por meio de nosso SenhorJesus Cristo." Descobri que essas palavras são a pura
verdade. Existe grande paz interior em saber que Deus me aceita do jeito que sou,
sem exigir que eu seja algo que não sou. Existe grande paz interior em saber que
não preciso ter medo de Deus quando cometo um erro. Posso me levantar, pedir
perdão a Ele e descansar sabendo que o Senhor ainda está ao meu lado para me aju-
dar a crescer espiritualmente.]esus não me abandona quando escorrego e caio. Ele
está totalmente comprometido com meu crescimento espiritual. Ele anda ao meu
lado dia após dia, e, quando peco, Ele me ajuda a vencer na próxima vez.Também
existe grande paz interior em saber que, se eu morrer esta noite, meu lugar no reino
eterno de Deus estará garantido.
Isso é o euangelho.
E o evangelho tem tudo que ver com o juízo.

A justificação pela fé e o juízo


No capítulo anterior, mencionei o medo que muitos adventistas têm sentido
quanto a sua situação com Deus no juízo investigativo. Uma vez que seu nome pode
ser chamado a qualquer instante, eles precisam ter certeza de que estão vivendo cor-
retamente eni todo e qualquer momento. Isso tem feito com que muitos membros
se mantenham em contínuo estado de ansiedade. Entretanto, essa visão é uma nega-
ção total da justificação pela fé, a qual nos assegura, ao longo da vida, que Deus nos
dá a justiça por meio da qual nos tornamos aceitáveis perante Ele. Quando nosso
desejo sincero é obedecer a Deus e estamos comprometidos com a obediência a Ele,
podemos descansar m certeza de que Suajustiça nos cobre mesmo quando fflhamos,
e não temos que nos desesperar com relação a nosso destino eterno.
Um pouco de reflexão revelará que uma visão do juízo baseada no medo é, na
verdade, uma teologia fundamentada na justiça pelas obras, pois ela sugere que a
0 JÜÍZ0 lwEST16ATIV0 E A JÜSTIF!CA ÃO PELA FÉ

situação de um cristão perante Deus depende de ele estar ``vivendo corretamente em


todo e qualquer momento". Não estou minimizando a importância de viver correta-
mente. Deus está muito interessado em que i)ivamos corretamente! Porérn, ±sso nãa.o é a. ba.se
para que Ele nos aceite. A base da aceitâção divina é a justiça de Cristo, não a nossa.
Isso é verdade para qualquer momento de nossa vida, inclusive o juízo.
Em anos mais recentes, os adventistas acabaram percebendo isso, e o resultado tem
sido uma compreensão do juízo muito mais voltada para a graça. Isso fica evidente
em nossa crença fundamental relacionada ao assunto:

0 juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos


dorme em Cristo, sendo, porta,rLto, Nele, considerado digno de ter parte na pri-
mcí.rfl rcsswríci.fõo. Também torna manifesto qwcm, óíc#f/c os t;i.t;os, pcrm4#ccc
cm Cri.sfo, guardando os mandamentos de Deus e a fé em Jesus, estando,
portanto, Nele, preparado para a trasladação a Seu reino eterno. Esse julga-
mento vindica a justiça de Deus em salvar os 4wc crccm cm/esws.5

De acordo com essa declaração, nossa situação com Deus no juízo depende de
termos dorm!'do cm C/Í.£fo (caso morramos antes do juízo) ou de permcí#eccrmos cm
Cri.sfo (se ainda estivermos vivos).Tudo depende de cícrmos cmJc5#s, e não de termos
nos comportado bem.
0 Tlratado de rEeologia Aduentista do Sétimo Dia apresenta uma, v±s~ao semelhar\te..

Como crentes, podemos confiantemente enfientar cada aspecto do juízo.


À semelhança de Paulo, podemos afirmar: "Quem intentará acusação con-
tra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:33, 34). Nossa fê
e certeza da salvação estão em Deus, que é tanto Salvador quanto Juiz. [...].
Os fiéis são sa]vos no Senhor, que misericordiosamente lhes perdoa os peca-
dos (1Jo 1:9), o qud é nosso Mediador celestial (1Tm 2:5; Hb 9:15; 12:24),
que paga nossas dívidas (Hb 10:12-14), e em cujos méritos podemos enfien-
tar o juízo com coítLfia#f4. Por meio de nosso Senhorjesus Cristo podemos nos
achegar "confiadamente,junto ao trono da graça" (Hb 4:16), porque Ele é
nosso ``advogado junto ao Pai" (1Jo 2: 1). Nosso relacionamento com o nosso
Mediador,Advogado e Sumo Sacerdote nos faz co#Lfi4#fcs no dia do juízo.6

Note que a i)alavra co#j3mç# ou um de seus derivados ocorre qua.tro vezes nes-
ses parágrafos. Nós podemos ``co#j4#fcmc#fc enfrentar cada aspecto do juízo". Por
meio dos méritos de Cristo, podemos "enfrentar o juízo com co#¢4ÍcÇ4". ``Podemos
nos achegar `co#Lfi4d¢mcí?/c,junto ao trono da graça", e finalmente, "nosso relaciona-
mento com nosso Mediador, Advogado e Sumo Sacerdote nos faz co%j4ÍcÍcs no dia
dojuízo".
Deus quer que vejamos o juízo com confiança nos méritos de ]esus, os quais Ele
aplicou ao nosso caso, de maneira que podemos comparecer diante de Deus "como
se não [tivéssemos] pecado".7
NA CORTE CELESTIAL

E nossas obras no juízo?


Será, então, que nossas obras não serão levadas em conta no juízo? Claro que sim!
Salomão disse: "Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escon-
didas, quer sejam boas, quer sejam más" qc 12:14). ]esus disse: "toda palavra fi-ívola
que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do ]uízo" (Mt 12:36). Paulo disse:
"Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que
cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo" (2Co 5: 10).
Assim, a ideia de que nossas obras serão levadas em conta no juízo é inteiramente bíblica.
Ellenwhite fez alguns comentários muito sérios sobre nossa responsabilidade no
juízo. No livro 0 GrtJ#dc Co#JZÍ`fo, ela disse:

Todos quantos desejem que seu nome seja conservado no livro da vida
devem, agora,, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de
Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver
um exame de coração, profundo e fiel. 0 espírito leviano e frívolo, alimen-
tado por tantos cristãos professos, deve ser deixado. Há uma luta intensa
diante de todos os que dç6''ejam subjugar as más tendências que insistem no
predomínio. A obra de r}reparação é uma obra individual. Não somos sal-
vos em grupos.A pureza e devoção de um não suprirá a falta dessas qualida-
des em outro. Embora todas as nações devam passar emjuízo perante Deus,
Ele examinará o caso de cada indivíduo, com um exame tão íntimo e pro-
fundo como se não houvesse outro ser na Terra. Cada um deve ser provado
e achado "sem mancha ou ruga, ou coisa semelhante" (Ef 5:27).8

Declarações como essas podem soar assustadoras, especialmente para cristãos ima-
turos. Direi, contudo, que elas não são mais assustadoras do que algumas declarações
bastante severas que existem m Bíblia. Um pouco antes, mencionei as palavras de
Salomão,]esus e Paulo. 0 autor de Hebreus também escreveu: ``Porque, se vivermos
deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da
verdade,já não resta sacrificio pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrí-
vel de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. [...]. Horrível coisa é
cair nas mãos do Deus vivo" (Hb 10:26, 27, 31).
É essencial, ao avaliarmos declarações como essas, tanto das Escrituras como dos
escritos de E11en white, que as compreendamos à luz do evangelho da justificação
pela fé. No juízo, a situação dos que estão salvos sempre será baseada no fato de eles
estarem cobertos com ajustiça de Cristo, e nunca no próprio sucesso na obediência
às leis de Deus. Na declaração de E11enwhite que citei acima, ela disse: ``Cada um
deve ser provado `e achado' (Ef 5:27) sem mancha ou ruga, ou coisa semelhante."9
A única maneira de passar pelo julgamento "sem mancha ou ruga" é mediante o
recebimento da justiça de Cristo, que é uma dádiva. É por isso que a autora escre-
veu: "0 caráter de Cristo substituirá o vosso caráter, e sereis aceitos diante de Deus
exatamente como se não houvésseis pecado", e "quando fazemos o melhor possí-
vel, Ele Se torm nossa justiça".
Cristo, nosso mediador no juízo
Em anos recentes, alguns adventistas do sétimo dia têm enfatizado que, no juízo
investigativo, Cristo atua como nosso Mediador. Creio que é uma ênfase muito
apropriada. No livro 0 Gr##dc Co#L#Í.fo, no capítulo que aborda esse assunto, Ellen
White descreve um quadro vívido de Satanás perante Deus, no juízo, acusando o
povo de Deus de ser indigno de Seu favor:

Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os diante de
Deus como transgressores. 0 grande engamdor procurou levá-1os ao ceticismo,
fàzendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de Seu amor e violar Sua
lei.Agora aponta para o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e des-
semelhança com Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados
que ele tentou-os a cometer; e por causa disso os reclama como súditos seus.]°

Note a resposta de ]esus às satânicas acusações:

]esúí;ãolhesjustificaospecados,masapresentaseuarrependimentoefé,e,
reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas pera,nte o Pai e os san-
tos anjos, dizendo: ``Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma de Minhas
mãos. [. ..] . Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própriajustiça, para que os possa
apresentar a Seu Pai como ``igreja gloriosa, `sem mancha, nem ruga, nem
Coisa seme|hante'."11

0bserve que, no juízo,Jesus responde às acusações de Sata,nás contra o povo de


Deus dizendo que eles são justos por causa da fé.

bso é bíblico?
Vou dizer algo que pode surpreender você: não conheço nenhuma passagem bíblica
que diga que Jesus é nosso Mediador no juízo. 0 Novo Testamento identifica jesus
como um Mediador. Paulo diz em 1 Timóteo 2:5: "Porquanto há um só Deus e um
só Mediador entre Deus e os homens, Cristo jesus, homem." Outros textos descrevem
Seu ministério de mediação, embora não utilizem a palavra mcdj.4c7or. Por exemplo, 1
joão 2: 1 diz: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo pa.ra que não pequeis. Se, todavia,
alguém pecar, tepios Advogado junto ao Pai,Jesus Cristo, o ]usto." Hebreus apresenta
uma extensa descrição de Cristo como nosso sumo sacerdote Mediador no santuário
celestial (por exemplo, Hb 8:1-6). Hebreus 9:24 diz: "Porque Cristo não entrou em
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para compare-
cer, agora, por nós, diante de Deus." Entretanto, de onde tiramos a ideia de que Cristo
atua como nosso Mediador no santuário celestial dwrfl#fe o/'w'zo !'#vcsf!É¢f!.t;o?
Embora a Bíblia não diga diretamente que Ele atue dessa maneira, essa é uma
conclusão lógica, baseada no que ela dc/#fo diz sobre Cristo como nosso Mediador.
Se Ele comparece no santuário celestial como nosso Mediador em todos os outros
aspectos, então Ele também será nosso Mediador durante o juízo.
NA CORTE CELESTIAL

Mas por que seria necessário um Mediador durante o juízo? Para responder a
essa pergunta, precisamos compreender o assunto à luz do conflito entre o bem e o
mal, que tem sido travado no Universo desde que Satanás se rebelou contra Deus no
Céu. Precisamos entender o juízo investigativo à luz daquilo que os adventistas têm,
historicamente, chamado de ``o grande conflito".

t Ellen G.White, C4mí'#fto 4 Cri'sfo, p. 62.


2 White, Mc#s4gcíL§ Esco%d4s, v. 1, p. 382.
3 ibid., 368
4 White, .4fos dos Apó5foíos, p. 232.
5 Manual da lgreja Aduentista do Sétimo Dia, p.172, itálícos a,crescemtados.
ó Gerhard F. Hasel, "]ulgamento Divino", em: Trflf4do dc TcoJogi.4 4dt;cíifi.sf4 do Séfi.mo D!.4, p. 939, itálicos

acrescentados.
7 WLLite, Caminho a Cristo, p. 62.
8White, 0 Grande Conflito, p. 490.
9 Ibid.
io ibid., p. 484.
'' Ibid.
0 JUÍZ0 lNVEST16ATIV0 E 0
TEMA DO 6RANDE CONFLITO

Tnnvhe:,|rgeap,::d:oal.goon,::,l:odlont.e::Sá:,noteúno|Svecrrsíat:Ceons,::r:mb:n:eed:SC:::,m.hoaiuaíã:
pelos adventistas de "o grande conflito". Isso é até compreensível no caso de não
adventistas, uma vez que eles não dão muita ênfase ao grande conflito, para começo
de conversa. Contudo, mesmo alguns dos nossos críticos adventistas tendem, em
grande medida, a descartar alguns detalhes do juízo investigativo sem conside-
rar sua relação com o grande conflito. Desconfio que esteja aí a razão para a crí-
tica. 0 juízo investigativo deve ser entendido no contexto do grande conflito; pois,
somente assim, ele faz sentido. Neste capítulo, desenvolverei de maneira mais com-
pleta a relação do grande conflito com o juízo investigativo e também com a jus-
tificação pela fé.

0 que é o grande conftito?


Presumo que a maioria dos cristãos concorde que existe no mundo um conflito
entre o bem e o mal. Basta assistir a um ou dois blocos do noticiário para perceber
essa realidade. 0 conceito adventista a respeito do grande conflito explica a origem e
a resolução do problema do mal.
Três proposições estão por trás do tema do grande conflito: (1) Deus criou outros
seres inteligentes além dos humanos; (2) Deus criou todos os seres inteligentes com a
capacidade de fazer escolhas racionais e independentes, inclusive com a escolha de se
rebelar contra Ele.Alguns dos habitantes não humanos e inteligentes do Universo (os
anjos) escolheram se rebelar contra Deus. A totalidade da raça humana fez a mesma
escolha; e (3) Deus quer resolver essa rebelião de maneira a garantir para o Universo
que não haverá outra rebelião no futuro. Nas páginas seguintes, desenvo]verei cada
uma dessas proposições.
Existem 5eres inteligentes além dos humanos. Em Gênesis 3, lemos que utna ser-
pente falou com Eva ao ela se aproximar da árvore do conhecimento do bem e do
mal (v.1-5). Ent£e os acadêmicos mais conservadores se presume que Satanás foi o
agente inteligente que filou com Eva (ver Ap 12:9) e que ele simplesmente usou
o animal como um meio. Se isso estiver correto - e os adventistas creem que está
- então essa é a primeira referência que as Escrituras fazem a um ser inteligente
criado que não seja humano.
Ao longo de toda a Biblia, existem referências a seres inteligentes - os anjos -
aparecendo e fúando com as pessoas. Em Gênesis 16:7, por exemplo, está escrito que
um anjo do Senhor apareceu a Agar e fflou com ela, depois que ela fiigiu de Sara.
Em Gênesis 22:11 e 12, está revelado que um anjo do Senhor fflou com Abraão,
evitando que ele sacrificasse seu filho lsaque. A história de Jó fàla de um ``dia em
que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor", e Satanás estava entre
eles Oó 1:6). 0 relato continua, descrevendo uma conversa que Satanás teve com
Deus sobre o merecimento de Jó quanto ao favor divino. Uma vez que somente
seres inteligentes podem fflar, é razoável presumir que esses anjos são altamente capa-
zes. Esse conceito é fundamental para o entendimento adventista sobre o assunto do
grande conflito.
4Ígw#s 4#/'o5 sc Mcác/4Í4Í%. A segunda proposição que podemos extrair das Escrituras
é que tanto os anjos como os humanos têm a liberdade de fazer escolhas contrárias à
vontade divina, ou seja, o Senhor não forçará nem nós nem os anjos a Lhe obedecer.
A Bíblia apresenta evidências claras de que alguns dos anjos de Deus usaram essa liber-
dade para se rebelar contra Ele. Lemos sobre essa rebelião emApocalipse 12:7 a 9.

Houve peleja no Céu. Miguel e os Seus anjos pelejaram contra o dragão.


Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem
mais se achou no Céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga
serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim,
foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.

A guerra é um ato de agressão contra um governo. Então, obviamente, alguns dos


próprios anjos de Deus - seres que Ele criara - escolheram se rebelar contra Ele. Da
leitura do livro de Apocalipse, infere-se que um terço dos anjos do Céu se uniu a
Satanás em sua rebelião (ver Ap 12:1-4), e eles foram lançados para a Terra (ver v. 9).
Isso explica a presença de Satanás no Éden, na tentação de Eva.
Obtemos maiores informações sobre a insurreição de Satanás contra Deus em
Ezequiel e lsaías. Ezequiel nos diz que, antes da queda, Satanás comparecia diante de
Deus como "querubim cobridor" (Ez 28:16). Isaías sugere que Lúcifer aspirava usur-
par o trono de Deus:

Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus


exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extre-
midades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante
ao Altíssimo (Is 14:13,14).

0 texto é metafórico. Os tronos são símbolo de governo, e os governos têm


leis pelas quais mantêm a sociedade em ordem.As estrelas simbolizam os seguido-
res leais de Deus -anjos ou humanos (ver Dn 12:3).Assim, Isaías está dizendo que,
ao desejar estabelecer seu trono acima das estrelas de Deus, Lúcifer tentava usur-
par a posição de Deus como líder do Universo. Por isso, o profeta diz que Lúcifer
tentou se tornar "semelhante ao Altíssimo". Foi dessa maneira que o mais exal-
tado dos anjos do Céu se rebelou contra Deus e Suas leis, estabelecendo a plata-
forma para o grande conflito entre o bem e o mal, que tem sido travado em nosso
mundo desde então.
0 JÜIZ0 lwESTi6ÀTIV0 E 0 TEMA SO 6RANDE

Quando um subordinado se rebela contra a autoridade de outra pessoa com posi-


ção mais elevada, obviamente discorda de certas políticas ou leis do superior. Sem essa
discórdia não haveria rebelião. Podemos dizer, então, que, ao se insurgir contra Deus,
Lúcifér tinha discordâncias profunda,s com o Criador. Ele questionou decisões, leis e
regulamentos divinos. Lúcifer acreditava que Deus estava errado e que ele estava certo.
Dews q#cr rc5o/tw o probJcm4 do m4/. A terceira proposição do tema do grande con-
flito é que Deus quer resolver o problema do mal definitivamente, garantindo que ele
nunca mais se levante. 0 restante deste capítulo trata desse assunto.

A rebelião de Lúcifer
E pouco provável que os anjos que se uniram a Lúcifer em sua rebelião contra
Deus agiram assim porque foram forçados. Como todos os demais seres criados,
eles eram livres para desobedecer a Deus se assim desejassem, e um terço dos anjos
fez essa escolha. Por quê? Será que todos eles, de repente e simultaneamente, deci-
diram que iriam se rebelar contra Deus? Improvável. A ideia de se insurgir con-
tra o Senhor, provavelmente, nunca tenha ocorrido para a maioria deles até que
Lúcifer a apresentou. Também é razoável presumir que essa rebelião se desen-
volveu em um determinado período de tempo. Aqui está a maneira como Ellen
White a descreveu em seu livro Pcifr!'4rcc# c Pro/cfcLs..

Deixando seu lugar na presença imediata do Pai, Lúcifer saiu a difundir


o espírito de descontentamento entre os anjos. Ele agia em misterioso
segredo, e durante algum tempo escondeu seu propósito real sob uma apa-
rência de reverência para com Deus. Começou a insinuar dúvidas com
respeito às leis que governavam os seres celestiais, dando a entender que,
conquanto pudessem as leis ser necessárias para os habitantes dos mundos,
não necessitavam de tais restrições os anjos, mais elevados por natureza, pois
que sua sabedoria era um guia suficiente. Não eram eles seres que pudes-
sem acarretar desonra a Deus; todos os seus pensamentos eram santos; não
havia para eles maior possibilidade de errar [...]. Tais foram os erros sutis
que por meio dos ardis de Lúcifer estavam a propagar-se rapidamente nos
lugares celestiais.1

Lúcifer deve ter sido extremamente convincente para conseguir que um terço dos
anjos adotasse sua maneira de pensar, unindo-se a ele em sua rebelião contra Deus!

Deus permitiu que o ma( existisse


A existência do mal traz um dos problemas teológicos mais cruciais de todos os
tempos. Para explicá-1o, as pessoas têm proposto uma variedade de teorias:

• Deus não existe. Nós, os humanos, é que criamos os próprios problemas.


• 0 bem e o mal são forças iguais, e a luta entre essas forças é eterna.Assim como o
bem sempre existirá, também o mal e o sofiimento também existirão para sempre.
CELESTIAL

• Deus criou o mundo e a vida, mas foi só isso. Ele não está mais interessado no
que acontece em nosso planeta nem com os seus habitantes. Estamos aqui à
mercê de nós mesmos.
• 0 Universo e a vida em nosso planeta são o resultado de forças aleatórias da
natureza atuando por meio das leis da evolução, uma das quais é a do domínio
do mais forte sobre o mais fiaco. 0 mal e o sofrimento são inerentes ao avanço
na direção do que é bom.
• Um Deus de amor criou nosso mundo, e nós, humanos, escolhemos nos rebelar
contra Ele. Um dia, Ele dará fim ao reino do pecado e do sofrimento.

Estou certo de que você reconhece a última explicação do problema do mal


como a resposta cristã típica. Ela é bíblica, e os adventistas do sétimo dia concordam
com ela. Todavia, as pessoas dizem: Se Deus é mesmo um Deus de amor, por que
permitiu que o mal e o sofiimento maculassem o mundo por esses milhares de anos,
considerando que tinha o poder para pôr fim a todos esses problemas em sua origem?
Se Satanás é a causa do sofrimento do mundo, por que o Senhor simplesmente não o
destruiu,junto a. seus seguidores, imediatamente após o pecado deles?
Ao refletirem sobre a pergunta: Por que Deus não destruiu logo Lúcifer e seus
rebeldes companheiros?", os adventistas apontam para o que certamente aconteceria
caso ele tivesse agido dessa forma. Se Lúcifer foi tão persuasivo a ponto de arrastar
com ele um terço dos anjos, é bastante provável que os anjos que se mantiveram fiéis
nutriam perguntas muito sérias sobre Deus. Se o Senhor tivesse destruído Lúcifer e
seus anjos no início da rebelião, essas perguntas ficariam sem resposta. Os anjos leais
teriam medo de Deus. Temeriam que Ele os destruísse também, por causa de seus
questionamentos. Os anjos passariam a vê-Lo como um tirano e serviriam por medo
em vez de amor e respeito. Contudo, o governo de Deus é fundamentado no amor,
e Ele pode aceitar somente a lealdade estabelecida sobre a mesma, base. Um governo
no qual os cidadãos temessem o govermdor teria perpetuado o mesmo mal que Deus
estaria tentando evitar destruindo Satanás e seus anjos.
Naturalmente, o Senhor poderia ter respondido às perguntas que estavam m
mente dos anjos leais, explicando-lhes as consequências finais da rebelião de Lúcifer.
De fato, estou certo de que foi isso que Ele fez, como também tenho convicção de
que sua explicação ajudou muitos dos aiijos indecisos a se posicionarem do lado
certo. Entretapto, explicações verbais são limitadas. A fim de que os anjos leais esti-
vessem plemmente convencidos do mal que havia mquela insurreição, o Senhor teve
que permitir que eles tJi.sscm a rebelião em ação. Ele teve de dar ao Universo uma
demonstração vívida do que estava ocorrendo. Se o Universo visse o resultado final
da oposição de Satanás, ficaria claro que Deus verdadeiramente estava certo, e, para
sempre, os seres não caídos rejeitariam totalmente o inimigo e seus planos.
No entanto, estou convicto de que, a esta altura dos acontecimentos, todo o
Universo está totalmente convencido de que Satanás está errado e Deus está certo.
Por que, então, o Senhor não deu um fim à história do pecado? Qual é a necessi-
dade de umjulgamento que mostre aos anjos que o plano de Satanás de governar o
0 JUÍZ0 lwEST16ATIV0 E 0 TEMA 80 6RANDE CONFLITO

Universo é um erro trágico? É improvável que um juízo investigativo seja melhor


para esse caso do que a própria história tem sido.
Apesar disso, como vimos no capítulo 2, a Bíblia deixa muito claro que #czyc~ó #m
/.wj'zo Í.#yc5fíÉ4f!'tJo #oJ3m do5 /cmpo5. Daniel nos mostra o juízo em andamento, com os
nrilhares de anjos que estão ao redor do trono divino, examinando os livros de registro
(Dn 7:9,10). Paulo disse que o povo de Deus deve comparecer nessejulgamento para
prestar contas e "para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por
meio do corpo" (Rm 14: 12; 2Co 5: 10). É certo que haverá umjuízo no fim dos tem-
pos,justamente antes da vinda de Cristo.Também é certo que o povo de Deus com-
parecerá nesse julgamento (embora, obviamente, não em pessoa) para prestar contas.
Mas, por quê?
A resposta é muito simples. Ela tem que ver com o plano de Deus para resolver
o problema do pecado. É nesse ponto que o juízo investigativo se cruza com o tema
do grande conflito.

0 grande conflito e o fim do ma(


0 tema do grande conffito desempenha algumas funções importantes. Dentre essas,
destacarei duas. A primeira,já mencionada, é que ele explica a origem do mal. 0 ser
celestial criado que mais foi exaltado se rebelou contra seu Criador e conseguiu per-
suadir um terço dos anjos e toda a raça humana a se unir a ele em sua rebehão. 0 mal
não se originou com Deus, mas com Satanás. Não foi Deus quem introduziu o pecado
em nosso mundo; foi o diabo.
Entretanto, isso explica apenas a oríÉcm do mal. A segunda fiinção do tema do
grande conflito é demonstrar a so/#fão divina para esse problema. Como indiquei, um
aspecto da solução tem sido permitir que o mal siga seu curso. Desse modo, em vez
de Deus simplesmente dí.zcr para os seres leais do Universo que o mal é ruim, eles,por
ji' mcsmos, 4;c~Õo o desastroso resultado que ele produz e o rejeitarão por iniciativa pró-
pria. Os adventistas do sétimo dia creem que o plano de Deus é expulsar o mal do
Universo inteiro2, de modo que Sua lei de amor seja a base dos pensamentos, senti-
mentos e ações de todos os seres viventes.
A vida tem valor. De forma geral, as pessoas amam a vida e resistem à morte.Assim,
a destruição de um anjo ou de um humano é a]go muito sério. Por isso, o Senhor insti-
tuiu um plano para salvar da morte o maior número possível de seres humanos.Vamos,
então, considerar o plano de salvação feito por Deus, especialmente no que diz respeito
ao grande conflito e a solução do problema do mal
Algo drástico aconteceu na mente de Adão e Eva quando eles pecaram. Antes
que pecassem, eles eram felizes em seu lar edênico. Estavam em paz com Deus e um
com o outro. Um dos resultados psicológicos imediatos do pecado foi a introdução
do medo e da vergonha na mente do casal. Quando o Senhor os encontrou no Éden,
eles fugiram, e, ao serem questionados sobre a razão de terem fugido, Adão respon-
deu: "Tive medo" (Gn 3:10). Seu temor também envolvia a vergonha, o que fica evi-
dente no fato de terem feito roupas com folhas de figueira para se vestirem (ver v. 7).
Adão admitiu isso: "porque estava nu, tive medo, e me escondi" (v.10).
Medo e vergonha são duas características básicas do pecado. 0 fato de Adão e
Eva experimentarem essas emoções logo após terem se rebelado contra Deus con-
firma que eles haviam se contaminado com o pecado. Infelizmente, eles passaram essa
infecção para todos os seus descendentes.

0 mal será reintroduzido?


Se os seres humanos foram infectados com o pecado, como garantir que eles
não irão reintroduzi-1o no Céu ao Deus permitir que estejam ali? Nós prendemos
criminosos para proteger a sociedade de ações predatórias. De vez em quando, o
poder judiciário liberta um prisioneiro por acreditar que ele está pronto para viver
em meio à sociedade, só para descobrir, um dia ou um ano mais tarde, que essa pessoa
agrediu ou matou outra vítima inocente.Todos perguntam, então, por que foi permi-
tido que aquele criminoso voltasse ao convívio da sociedade.
Posso lhe garantir que, se temos esse tipo de preocupação enquanto vivemos em
uma sociedade pecadora aqui naTerra, os anjos do Céu estão ainda mais preocupados
com o tipo de pessoa que será admitido em sua sociedade perfeita. Os anjos leais,
sob a liderança de Miguel (Cristo), lançaram Lúcifer e seus anjos para fora do Céu há
milhares de anos porque eles se insurgiram contra Deus. Os anjos não caídos passaram
milhares de anos observando, em primeira mão, os horríveis resultados da rebelião,
e eles não querem permitir que o pecado entre outra uez em sua sociedadel. Eles nãíLo querern
permitir que entre no Céu a,lguém que possa começar outra vez o ciclo mortal. Eles
querem ter certeza de que, dentre as pessoas que entrarão no Céu, nenhuma delas
esteja trazendo consigo o risco de que o pecado seja reintroduzido no Universo.
E por isso que a questão mais importante do grande conflito, tanto para Deus
quanto para os anjos, é resolver de uma vez por todas o problema do pecado. 0 Senhor
não forçará os anjos a aceitar no Céu alguém sobre quem eles tenham dúvidas.
Francamente, você e eu não desejaríamos morar em um lugar onde se questionasse se
somos ou não bem-vindos ali.Assim, a fim de garantir que seremos bem recebidos no
Céu por todos os anjos, Deus permite que eles revisem a vida de cada ser humano que
Ele decidiu levar para Seu reino.
0 juízo iwestigatii)o é exatamente isso !
0 propósito do juízo investigativo #õo é Deus decidir quem merece ser salvo.
Ele tomou a decisão sobre o merecimento de cada, santo no tempo em que ele
ou ela viveu Ê morreu. Esse julgamento também não confere aos anjos poder de
veto sobre as decisões divinas. 0 propósito do juízo é deixar que os anjos3 vejam
em que Deus Se baseou para tomar Sua decisão acerca de cada pessoa. 0 Senhor
deseja que os anjos estejam convencidos não somente de Suajustiça, mas também
de que nem você, nem eu, nem qualquer outra pessoa que foi salva irá reintrodu-
zir o pecado e a rebelião no Universo. 0 amor -o valor mais importante do reino
de Deus - requer confiança, e esta tem como base a evidência. E por isso que,
no momento em que "assentou-se o tribunal, e se abriram os livros" (Dn 7:10),
Daniel viu milhares de milhares de anjos a ministrarem diante de Deus e miríades
de miríades perante Ele.
Ô JUIZ0 iNVEST16ÁTIV0 E 0

Sem essa visão singular que Daniel nos dá sobre a participação dos anjos no jul-
gamento, nenhuma declaração existente na Bíblia sobre o juízo final faria sentido.
Deus conhece cada detalhe da vida de cada um dos santos que viveu neste planeta.
Ele não precisa de umjulgamento final para determinar se merecemos ou não a sal-
vação. 0 beneficio que Deus tira do juízo é a certeza da parte dos anjos no que con-
cerne às decisões divinas sobre nossa salvação. Se apenas um dos anjos tiver qualquer
dúvida sobre um dos santos a quem Deus levará para o Céu, a lei do amor, sobre a
qual o Universo atua, ficaria comprometida. Deus não pode correr esse risco, e é por
isso que, antes de nos levar para o Céu, Ele deve ter certeza absoluta de que cada anjo,
de braços abertos, dará as boas-vindas a cada um dos salvos.
Essa é, precisamente, a compreensão de juízo investigativo refletida m declaração
da crença adventista do sétimo dia sobre o tema:

0 juízo investigativo rctJ€J4 4os scMt?í cc/c5fí.4Í.s quem dentre os mortos dorme em
Cristo, sendo, portanto, Nele, considerado digno de ter parte na primeira res-
suire±ção.Ta:rnbêm torna mamftsto bara os mesmos seres celestiais] quern, deritre
os vivos, permanece em Cristo, guardando os mandamentos de Deus e a fé em
Jesus, esta,ndo, portanto, Nele, preparado para a trasladação ao Seu reino eterno.
Esse julgamento i)indica a justiça de Deus em saluar os que creem em ]esus.4

0 papel de Satanás no juízo


Em Apocalipse 12:10, ocorre uma declaração que nos dá uma visão aprofundada
do juízo investigativo. Esse verso diz que Satanás é "o acusador de nossos irmãos [. . .]
que os aciisa de dia e de noite, diante do nosso Deus''. Posso assegurar que o inimigo
está fazendo todo o possível para garantir que você e eu #ão sejamos absolvidos no
julgamento. No capítulo anterior, citei uma declaração de E11enwhite que destaca o
papel de Satanás como acusador no juízo investigativo.Aqui está ela outra vez:

Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os diante de
Deus como transgressores. 0 grande enganador procurou levá-1os ao ceticismo,
fazendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de Seu amor e violar Sua
lei. Agora aponta para o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e des-
semelhança com Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados
que e.le tentou-os a cometer; e por causa disso os reclama como súditos seus.5

Essa é, simplesmente, outra maneira de dizer que Lúcifer, agora Satanás, discorda
profiindamente de Deus, não apenas sobre Suas leis e Seus regulamentos, mas também
sobre Suas decisões a respeito dos seres humanos. É desnecessário dizer que o inimigo
cstá feliz com as decisões de Deus quanto aos que estão perdidos. É o veredito divino
sobre aqueles a quem o Senhor considera dignos de serem salvos que Satanás ques-
üona.Assim, o juízo investigativo não diz respeito apenas aos seres humanos. Nessejul-
gamento, Deus, assim como nós, tarnbém está sendo julgado, pois são as decisões Dele
icerca do destino eterno dos justos que o adversário está desafiando.
CELESTIAL

0 Senhor não pede que os anjos 0 aceitem cegamente. Ele os convida, assim
como faz conosco, a arrazoarem com Ele (ver ls 1:18). Isso sigrifica que Deus quer
explicar aos anjos as decisões que toma para que eles possam entender e, por si mes-
mos, decidirem o que pensar sobre elas. Paulo diz, em Romanos 3:26, que o Senhor
quer ``[m4Í£yesf4r] Sua justiça no tempo presente, para Ele mesmo serjusto e o justifi-
cador daquele que tem fé emjesus" (itálico acrescentado) . Ele quer vindicar Seu nome
ao deixar que o julgamento manifeste Sua justiça. Assim, o juízo diz respeito tanto a
Deus e Suas decisões quanto a nós e nossa salvação.
0 mesmo Satanás que, há rnilhares de anos, foi tão persuasivo, a ponto de convencer
um terço dos anjos do Céu em sua rebelião contra Deus, ainda é capaz de apresentar
aos anjos argumentos muito convincentes sobre você e eu. E por isso que precisamos
de um Mediador no santuário celestial durante o juízo investigativo que possa comba-
ter, com a verdade, todos os argumentos enganosos do inimigo sobre nós. É exatamente
dessa maneira que Ellen white descreve o miristério mediador de Cristo no juízo:

Jesus não [...] justifica os pecados [de Seu povo], mas apresenta o [...] arre-
pendimento e fé [dos arrependidos], e, reclamando o perdão para eles,
ergue as mãos feridas perante o Pai c os s4#fos 4#jos, dizendo: ``Conheço~os
pelo nome." [...] Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que
os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem
ruga, nem coisa semelhante" Ef 5:27.6

0s que aceitam]esus como Salvador não precisam temer o juízo, pois Cristo, seu
Mediador, está respondendo a cada uma das acusações de Satanás contra eles. Quando
o julgamento terminar, cada anjo do Céu terá tido a oportunidade de ouvir tanto
as acusações do inimigo quanto as respostas de Cristo. Com pesar, em alguns casos,
jesus terá admitido que o acusador estava certo: alguns dos que professavam perten-
cer ao povo de Deus não merecem um lugar em Seu reino; os anjos concordarão com
isso. Todavia, Cristo explicará por que cada santo que verdadeiramente depositou sua
confiança Nele pode ter um lugar em Seu reino; os anjos, de novo, concordarão.
ComJesus, você e eu não precisamos temer o juízo investigativo!

E desse ponto em diante?


Neste capít.ulo, bem como nos dois anteriores, apresentei o que, para mim, é ajus-
tificativa bíblica para o ensinamento adventista sobre o juízo investigativo pré-advento.
Se essa doutrina não tivesse base bíblica, os adventistas do sétimo dia, como cristãos,
não teriam razão para sustentá-la. Por ela ter, verdadeiramente, base bíblica, tenho
plena confiança nela.
Tendo dito isso, entretanto, é importante reconhecer que existem algumas outras
peças críticas nessa história. Precisamos examinar a origem da doutrina no movi-
mento milerita e nos anos seguintes. Também precisamos analisar cuidadosamente
as profecias nas quais baseamos nosso ensino sobre o juízo investigativo, especial-
mente Daniel 7, 8 e 9, e que possuem uma relação muito próxima com Levítico 16.
0 JLIÍZO INVEST16ATIV0 E 0 TEMA D0 CRÁNDE CONFLITO

Finalmente, há o 1ivro de Hebreus, no Novo Testamento, o qual, alegam os críticos,


contradiz o ensinamento do dia da expiação celestial como um juízo investigativo.
No restante deste livro, examinarei detalhadamente cada uma dessas questões, indi-
carei os dados bíblicos que se aplicam ao caso e explicarei por que, apesar das muitas
críticas que têm sido levantadas sobre o ensinamento adventista, essa crença real-
mente faz sentido.

• Ellen G.White, P#fri.wc45 c Pro/€f4s, p. 37.


: Uma das principais razões pelas quais os adventistas rejeitam a doutrina do tormento eterno é o fato de essa
crença pressupor que o mal estará presente durante a etermdade. Embora essa doutrina, indubitavelmente,
sugira que os ímpios sofi-erão a tortura eterna isolados em um canto remoto do Universo, isso não nega o
t-ato de eles ainda serem parte do Universo e que, no pequeno lugar em que estiverem, o mal continuaria
a existir. Isso seria contrário ao propósito de Deus de purificar o Universo de qualquer vestígio do mal.
0 pecado existe m mente de seres inteligentes; por isso, o propósito de Deus poderá ser alcançado somente
qua.ndo todos os seres rebeldes e pecadores, tanto anjos quanto humanos, forem aniquilados.
:. Meu argumento a propósito do juízo é construído em termos de anjos, mas pode muito bem haver outros
seres inteligentes com o mesmo questionamento dos anjos não caídos.
• .\Ianual da lgreja Aduentista, p.172. ítálícos acrescentados.
5 Whíte, 0 Grande Conflito, p. 484.
-Ibid.. itálicos a.crescencados.
A HISTÓRIA D0 JUÍZ0 INVESTIGATIVO
AS RAÍZES MILERITAS
DA DOUTRINA DO JUÍZ0
INVESTIGATIVO

oà:sstlón.a.:à::on,a.d:àn:.sata,ed.o|:::.aT3à.:esgree.:i:í::ce:tár.eslsa.ciéo:::oe::antdo.::.Tn:
surgiu de um momento histórico particular: o movimento milerita. Se os eventos
na vida de Guilherme Miller e seus seguidores nunca tivessem ocorrido, é de se
duvidar que alguém tivesse concebido a doutrina do juízo investigativo na forma
que os adventistas a entendem atualmente.
Algumas pessoas usarão essa observação como razão para questionar a validade do
nosso ensinamento sobre o tema. Elas concordarão que essa doutrina foi desenvol-
vida como consequência do movimento milerita. Para os críticos, essa é a razão para
duvidar. Eles consideram o milerismo nada mais do que um "fenômeno colossal, psi-
cológico e resgatador de teologias" que é "4Ícfí.qw¢do, /flso c 4#c #ão Ícy4 4 #4d4".] No
entanto, meu argumento é que Deus guiou o milerismo, como também o entendi-
mento adventista sobre o juízo investigativo derivado desse movimento.
Naturalmente, é impossível demonstrar de maneira conclusiva, dentro da forma
científica de provar as coisas, que Deus estava por trás dos eventos ocorridos na última
parte da vida de Miller. A ideia de que o Senhor guiou o movimento milerita e o
estabelecimento da lgreja Adventista do Sétimo Dia é uma questão de fê.Tanto essa
história quanto o relato sobre os adventistas sabatistas dos primeiros anos após 1844
nos deixam saber como chegamos a uma compreensão do juízo investigativo. Muitos
adventistas do sétimo dia têm familiaridade com esse relato. Para beneficio dos que
não o conhecem muito bem, farei aqui uma revisão desses acontecimentos.

A história de 6uilheme Miller


Guilherme Miller viveu a maior parte de sua vida em Low Hampton, Estado de
NovaYork, quase na divisa com o Estado devermont. No início de sua fase adulta,
ele era deísta, acreditando que Deus criou o mundo e, depois, retirou-Se para ope-
rar as leis que .estabelecera, sem qualquer outra intervenção ou mesmo interesse de
Sua parte.
Contudo, em 1816, Miller se tornou cristão. Seus céticos amigos deístas desafia-
ram suas novas crenças, e ele passou a estudar a Bíblia detalhadamente, ficando espe-
cialmente fascinado pelas profecias de Daniel. Ao serem interpretadas pelo método
histórico, elas delineavam a história desde o tempo do império babilônico até o fim
do mundo.
A visão de Daniel registrada no capítulo s termina com as palavras "Até duas
mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" (v.14). Miller enten-
deu que o santuário era a Terra e que sua purificação seria a destruição do mundo
NA CORTE CELESTIAL

com fogo, na segunda vinda de Cristo. Ele concluiu, então, que a profecia predizia
o tempo aproximado da volta de Jesus. Considerando que "duas mil e trezentas tar-
des e manhãs" era uma linguagem simbólica para representar 2.300 anos literais, e
acreditando que 457 a.C. era o ponto inicial desse período de tempo, Miller dedu-
ziu que Cristo voltaria em algum momento durante o ano de 1843. Ele chegou
a essa conclusão em 1818, o que o deixou perplexo, pois isso significava, em suas
palavras, que "em aproximadamente 25 anos [...] todos os nossos atuais negócios
vão terminar".2
Então Miller ficou convencido de que deveria contar ao mundo aquilo que
Deus havia lhe revelado. Mesmo assim, ele relutou em pregar sobre suas ideias, pois
se sentia inadequado como orador público. Entretanto, aquela convicção de que
devia compartilhar suas descobertas continuou a crescer em sua mente. Finalmente,
em uma manhã de sábado de agosto de 1831, aquela impressão se tornou tão forte
que ele prometeu a Deus que passaria a pregar sobre ela, se o caminho lhe fosse
divinamente aberto. Meia hora depois, ele recebeu um convite para pregar no dia
seguinte em uma igreja batista de Dresden, NovaYork, a pouco menos de 30 km
de sua casa, em Low Hampton. Convencido de que Deus o tinha realmente cha-
mado para pregar, ele aceitou o chamado.
A congregação ficou tão impressionada com a apresentação de Miller que insis-
tiu que ele continuasse sua explicação sobre a profecia durante aquela semana.
Muitas pessoas que moravam nas vilas próximas ouviram falar de sua pregação e
fóram ouvi-lo. Ocorreu ali um reavivamento, e várias pessoas se converteram. Ao
voltar para casa, Miller encontrou uma carta convidando-o para pregar em uma
igreja próxima dali, em Poultney,Vermont. 0 resultado foi o mesmo de Dresden.
Assim começou o movimento milerita.

0 movimento milerh
Nos oito anos seguintes, Miller pregou, na maioria das vezes, em pequenas
comunidades. No entanto, em 1839,]oshuav. Himes, pastor da Chardon Street
Chapel [Capela da Rua Chardon], em Boston, o convidou para pregar em sua
igreja. Foi o começo da transformação de Miller: de um pregador de vilarejos,
para um importante evangelista público. Himes compreendeu a visão de Miller
sobre a proximidade da vinda de Cristo e sua paixão pela salvação das pessoas;
por isso, o colocou no mapa, tornando-se um incansável promotor de seus ensi-
namentos. Ele. publicou jornais, ajudou a organizar 15 "assembleias gerais" de
líderes adventistas e convocou mais de 130 reuniões campais nos estados da Nova
lnglaterra. Multidões acorriam para ouvir Miller falar. Dezenas de ministros
aceitaram suas opiniões e começaram a pregar sobre elas.A oposição se manifes-
tou, mas parecia servir apenas para pôr mais lenha na fogueira. Nada podia deter
o movimento miierita.3
Em janeiro de 1843, Miller havia refinado sua interpretação profética a ponto
de predizer que Cristo voltaria entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844.
Isso fez aumentar o entusiasmo.Todavia, o dia 21 de março de 1844 veio e se foi,
AS F{AÍZES MILERllÁS DÃ DOLITRINA D0 JÜIZ0 lNVEST]6AT]VO

e jesus não voltou. Miller e seus seguidores ficaram confusos e desapontados, mas
continuaram a crer que a vinda de Jesus estava muito próxima.
Então, nos últimos dias de agosto de 1844, chegaram notícias eletrizantes.
Samuel S. Snow, até então um pregador milerita relativamente desconhecido, pas-
sara vários dias em uma reunião campal em Exeter, New Hampshire, explicando
a relação entre a "purificação do santuário" de Daniel 8:14 e o dia da expiação de
Hebreus, que também envolvia a "purificação do santuário" (ver Lv 16). Ele disse
que Daniel 8:14 predizia o tempo em que o antítipo do dia da expiação judaico
seria cumprido, ou seja, a segunda vinda de Cristo.
Snow foi além e argumentou que a morte de Jesus cumpriu a Páscoa judaica,
pois Cristo morreu #o mcsmo dí.cz dessa festa do ano religioso judaico. 0 derrama-
mento do Espírito Santo no dia do Pentecostes (ver At 2) também ocorreu #o mesmo
d!`4 dessa celebração no calendário religioso judaico. 0 estudioso concluiu que, da
mesma maneira, o Dia de Expiação da era do Novo Testamento, com sua "purifica-
ção do santuário", deveria se cumprir Ím mcsmo di'4 do Dia da Expiação do ano reli-
gioso judaico. Em 1844, essa festa solene ocorreria em 22 de outubro.Assim, segundo
a predição de Snow.. "]esus uirá em 22 de outubro!"
A princípio, os líderes mileritas mais importantes se opuseram a essa ideia, mas
o movimento que Snow começara se espalhou como as águas turbulentas de uma
represa que se rompeu. Houve um tremendo reavivamento. Confissões foram fei-
tas. Criminosos se entregaram para ser julgados. Pessoas venderam suas proprieda-
des e doaram o dinheiro para "a causa". Joshua Himes aceitou a data e cancelou
uma viagem à Europa a fim de imprimir cópias adicionais de suas publicações tão
rápido quanto as impressoras a vapor pudessem fazê-1o. Em 6 de outubro, o pró-
prio Miller aceitou o dia proposto. As reuniões mileritas ocorreram continuamente
durante as duas semanas que antecederam 22 de outubro, e a expectativa chegou a
níveis febris. Durante a semana f. rial, comerciantes fecharam as portas e fazendei-
ros deixaram as plantações sem colheita. No dia marcado, os crentes se reuniram em
grupos por toda a Nova lnglaterra Era o dia da volta de jesus! Muito em breve eles
estariam com o Senhor!
Entretanto, o dia 22 de outubro passou, e Jesus não veio!
0 desapontamento foi tão amargo quanto fora doce a expectativa. "Nossas mais
profundas esperanças e expectativas desmoronaram", escreveu Hiram Edson, "e um
espírito de p.ranto se abateu sobre nós como nunca antes. Parecia que a perda de
todos os amigos terrestres não podia ter comparação. Choramos e choramos, até que
o dia raiou."4

0 resultado do movimento milerita


Houve uma intensa confusão nas fileira,s mileritas no dia 23 de outubro de
1844. Os céticos se regalavam zombando dos devastados crentes. A maioria dos
fiéis concluiu que aquela interpretação profética fora um erro trágico, e a maior
parte abandonou o movimento, considerando-o de caráter piedoso, mas um fiasco
infeliz. Alguns dos seguidores mantiveram a confiança nos ensinamentos básicos
NA CORTE CELESTIAL

de Miller; porém, concluíram que ele chegara à data errada. Por alguns anos, esses
mileritas continuaram a estabelecer outras datas para a volta de jesus, até que se
tornou óbvio que ninguém seria capaz de calcular o dia do retorno do Senhor ao
planetaTerra, tomando como base Daniel 8:14.A maioria dos líderes do milerismo
original estava nesse grupo.
Outro grupo emergiu do desapontamento de 1844, o qual viria a se tornar a
lgreja Adventista do Sétimo Dia. Esse grupo concluiu que a data apontada estava
correta - o c4w'mco csfczwtz #o cyc#fo ocom'do #4q#c/4 oc4s!.Õo. Pelos anos seguintes, eles
estudaram e oraram até que, finalmente, chegaram à conclusão de que o dia 22 de
outubro de 1844 marcou o início do juízo investigativo. Como eles chegaram a essa
conclusão é o assunto do próximo capítulo.

` Donald G. Barnhouse, ``Are Seventh-day Adventists Christians?", Efcr#i.fy, setembro de 1956, citado por
Ford, "Damel 8:14", p. 98, itálicos do origiml de Ford.
2 Seuenth-day Aduentist Encyclopedia, s.v. "Miner,Wmia:ir-" .
3 As estimativas sobre o número de pessoas que aceitaram os ensinamentos de Guilherme Miller até outubro
de 1844 variam entre 50 mil e 500 mil. Cem mil, provavelmente, seja um número conservador. Essa conta
representa 0,5% dos 20 milhões de habitantes dos Estados Unidos em 1844, o que, à primeira vista, parece
ser uma proporção relativamente pequena. Todavia, esse percentual foi gerado em cerca de cinco anos.
Para colocar esse número em perspectiva, um movimento semelhante nos Estados Unidos de hoje teria
gerado 1,5 milhão de adeptos em apenas cinco anos. Posso assegurar que um movimento religioso dessa
magnitude atrairia muita atenção! E assim foi com o milerismo.
4 Hiram Edson, fi-agmento de um manuscrito de "Life and Experience", citado em Sct;e#fh-d4y 4dt;c#fi.sf
E#cyc/opcdi.4, s.v. "Edson, Hiram".
0 DESENVOWIMENT0 DA
DOUTRINA DO JUÍZ0
lNVESTICATIVO

Mão.caovna?sedçaod:::d:sedsemoo::à::,uotrá:as:::ér::1:t|:aq::nt::Phçaãsoe.Eoát::ddo.çeef::n::
mentos cristãos surgiram em um momento de crise de fé por parte de uma pessoa ou
de um grupo. Um dos melhores exemplos é a morte de Cristo, a qual deixou os discí-
pulos estupefatos. Poucas semanas depois, Pedro havia compreendido o suficiente sobre
a cruz, de maneira que foi capaz de pregar um sermão no dia de Pentecostes, conquis-
tando 3 ril pessoas. E o entendimento dos crentes sobre o sacrificio de]esus continuou
aumentando ao longo do período apostólico. Semelhantemente, Lutero compreen-
deu a verdade sobre a justificação pela fé ao passar por uma crise pessoal. Durante sua
vida, ele e outros líderes protestantes continuaram a desenvolvê-1a. Atualmente, conti-
nuamos crescendo em nossa compreensão sobre esse assunto.
De igual forma, seria um erro supor que o ensinamento adventista sobre o juízo
investigativo pré-advento surgiu do nada, depois do Grande Desapontamento. No
capítulo anterior, indiquei que essa doutrina teve sua origem na interpretação de
Guilherme Miner para Daniel 8:14: ``Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o san-
tuário será purificado." Contudo, foram necessários em torno de 13 anos -de 1844
a 1857 -para que o conceito básico do tema fosse desenvolvido entre os adventis-
tas. Mesmo assim, nossa compreensão sobre essa importante crença continua a cres-
cer. Farei um resumo desse desenvolvimento neste capítulo.
Porjesus não ter vindo em outubro de 1844, uma pergunta óbvia ficou na cabeça
dos adventistas que permaneceram convencidos da precisão cronológica dos cálculos
de Mfller: uma vez que os 2.300 dias não culminaram com a volta de Cristo nas nuvens
do céu, o q#c aconteceu naquela data? Vários conceitos teológicos se mesclaram duran-
te os 13 anos seguintes, e os adventistas observadores do sábado desenvolveram esses
conceitos, fomando a doutrina do juízo investigativo. Questões e objeções têm sido
levantadas sobre cada uma dessas ideias. Tratarei delas mais tarde neste livro. Por en-
quanto, compartilharei com você quatro conceitos teológicos básicos sustentados
pelos mileritas antes de 1844 e/ou pelos adventistas sabatistas logo após 1844. Essas
quatro ideias-chave se uniriam dentro de poucos anos para formar a doutrina adven-
tista acerca do juízo investigativo pré-advento no Céu.

Conceito teológico 1: 0 santuário está no Céu


0 fato de Cristo não ter vindo em outubro de 1844 deixou óbvio que Miller e
seus seguidores estavam equivocados. Ficou claro que eles haviam compreendido
erroneamente alguma coisa sobre as palavras de Daniel 8:14. Mas o quê? Qual foi
o erro?
CELES"AL

Em 23 de outubro de 1844, Hiram Edson -o homem que chorou até o amanhecer


- partiu com um colega para visitar alguns dos demais crentes que moravam nas pro-
ximidades. Para evitar os zombadores que certamente encontrariam pela estrada, eles
seguiram em meio à plantação de milho de Edson. "De repente, Edson parou.Ao ficar
ali, de pé, uma intensa convicção 1he inundou o ser: em vez de nosso Sumo Sacerdote
fcr sc#'do do santuário celestial para vir àTem no décimo dia do sétimo mês, no fim dos
2.300 dias, mquele dia,jesus, pela primeira vez, c̀f/ow no segundo compartimento do
santuário, pois tinha uma obra a fazer no santíssimo antes de vir à Terra."í
Seria dificil dar ênfase maior ao significado da compreensão de Edson. Miller e
seus seguidores estavam tão convencidos de que o santuário representava a Terra, que
essa nova explica,Ção certamente não faria sentido pa,ra eles antes de 22 de outubro de
1844. 0 fato de Jesus não ter vindo naquela data fez com que a mente deles se abrisse
para uma nova compreensão do santuário de Daniel 8:14. 0 novo entendimento de
Edson, de que o santuário a que o verso se refere está no Céu, foi o primeiro conceito
teológico que guiaria os adventistas sabatistas para seu ensinamento sobre o juízo
investigativo iniciado em 1844.

Conceito teológico 2: Um ministério em dois compartimentos


Uma vez que os adventistas entenderam que o santuário mencionado em
Daniel 8:14 está no Céu, eles, naturalmente, procuraram uma compreensão maior
sobre essa realidade. Além disso, visto que Hebreus ensina claramente que o santuá-
rio israelita e seus serviços eram um tipo da morte de Cristo na cruz e de Seu minis-
tério como Sumo Sacerdote no santuário celestial (ver Hb 8:1-6; 9), eles foram ao
Antigo Testamento para ver o que o santuário terrestre poderia lhes ensinar sobre seu
antítipo no Céu.
Algo que esses antigos adventistas imediatamente reconheceram foi que havia
dois tipos de serviços no santuário do Antigo Testamento. Primeiro, havia os ser-
viços conduzidos pelos sacerdotes todos os dias do ano no pátio e no primeiro
compartimento - o 1ugar santo - do santuário. Esses ritos incluíam sacrificios pela
manhã e pela tarde, feitos em favor de toda a congregação e os sacrificios por peca-
dos específicos, que os israelitas podiam trazer para o santuário a qualquer momento.
Os adventistas, tipicamente, têm se referido a esses tipos de ritual como "serviços
diários" ou "ministério do primeiro compartimento" no santuário terrestre.
0 segundo tipo de serviço consistia de várias festas que ocorriam uma vez por ano.
A mais importante delas era o Dia da Expiação, na qual se requeria que um sumo sacer-
dote espargisse sangue sobre alguns itens por todo o santuário para purificá-1os, bem
como ao santuário como um todo.Ainda mais significativo, ele devia entrar no segundo
compartimento e espargir sangue sobre a arca da aliança. 0 Dia da Expiação era a única
ocasião do ano em que o sumo sacerdote ministrava dentro do segundo compartimento,
ou seja, o lugar santíssimo. Os adventistas, tipicamente, têm se referido a esse ritual como
o "serviço anual" ou "ministério do segundo compartimento" no santuário terrestre.
Da maneira como eles entenderam, Cristo começou a exercer Seu ministério diá-
rio, no primeiro compartimento, em 31 d.C., quando subiu ao Céu.A princípio, eles
DA BCÜTRINÀ D0 JUIZÜ !NVE§TICATIY0 i 47

acreditavam que Ele concluiu esse ministério em 22 de outubro de 1844. Os adven-


tistas também acreditavam que Cristo começou Seu ministério anual, no segundo
compartimento, em 22 de outubro, e que isso era o antítipo do Dia da Expiação ter-
restre. Eles ainda não associavam isso a um juízo investigativo, mas o conceito de
um ministério em dois compartimentos no santuário celestial foi um dos elementos
constitutivos que se tormriam, mais tarde, parte desse ensinamento.

Conceito teológico 3: 0 apagamento dos pecados


Logo após o Grande Desapontamento, os adventistas sabatistas começaram a ensi-
nar que uma das funções de Cristo durante o Dia da Expiação celestial era apagar os
pecados confessados dos justos. Em 1846, um jovem chamado Owen R. L. Crosier
escreveu em uma publicação chamada D¢y-Sfm [Estrela da Manhã] que "a expiação
feita pelos sacerdotes para o povo ern ligação com seu ministério diário era diferente
da que era feita no décimo dia do sétimo mês. [...] Aquela era feita para o pcMCJÕo dos
pc"cJos, esta, para 4p4gó-/os".2 Note também que Crosier entendeu claramente a distin-
ção entre serviço diário e anual.
Esse conceito de apagamento dos pecados durante o Dia da Expiação celes-
tial continua no adventismo atualmente. Por exemplo, escrevendo para o T/#f4do dc
TcoJogí.4 4dyc#f!.sf4 do Séfi'mo Di'4, Gerhard Hasel disse: "A purificação que ocorria no
Dia da Expiação terrestre queria dizer o apagamento do pecado. [...] A purificação
celestial (Hb 9:23, 24) envolve um apagamento dos pecados dos registros celestiais.''3
0 conceito de apagar pecados, 1igado ao juízo investigativo, é outra das mui-
tas ideias que contribuíram para o desenvolvimento da doutrim adventista do juízo
investigativo.

Conceito teológico 4: O julgamento


Tiago White parece ter sido a primeira pessoa a usar o termo /.#!'zo í.wcsfíÉ¢fí.w.4
Todavia, ele não foi o primeiro entre os adventistas a £riar do tema em conexão
com Daniel 8:14. Logo após o Grande Desapontamento, Guilherme Miller aparen-
temente começou a repensar o significado de Daniel 8: 14. Em uma carta escrita para
um amigo, em março de 1845, ele sugeriu que o juízo final de Deus marcava o fim
dos 2.300 dias:

Não.tenho a menor dúvida de que os números proféticos se encerraram em


1844. 0 que, então, merece ser notado e dito em resposta ao fim dos perío-
dos sob esses números que descrevem tão enfaticamente o fim? Eu res-
pondo. A primeira coisa que observarei é: "É vinda a hora do Seu juízo."
Pergunto: Existe algo nas Escrituras ou em nossa atual posição que mos-
tre que a hora tenha chegado, para mostrar que Deus não está agora em
Seu último papel como Juiz, decidindo os casos de todos os justos, para que
Cristo (fàlando como os homens) saiba a quem escolher em Sua vinda, ou
os anjos possam saber a quem reunir quando forem enviados parajuntar os
escolhidos, a quem Deus justificou nessa hora de Seu juízo?5
NA CORTE CELESTIAL

É significativo o fato de que Miller relatou especificamente o fim dos 2.300 dias
para o julgamento, pois ele concluiu que "os números proféticos [os 2.300 dias] se
encerraram em 1844", e ``a primeira coisa que observarei é: `É vinda a hora do Seu
juízo". Entretanto, os antigos adventistas sabatistas não aderiram à significativa visão
de Miller. A Sct;e#f#-d4y 4dycí3fí.sf E#cycJopcdi`4 declara: "A julgar pelos seus escritos,
os adventistas que mais tarde formaram a lgreja Adventista do Sétimo Dia não nota-
ram a sugestão de Miller relacionando o juízo de Apocalipse 14:6 e 7 à purificação
do santuário celestial de Daniel 8:14."6 Levaria mais nove anos para que ]ohn N.
Loughborough ligasse a purificação do santuário celestial de Daniel 8:14 ao juízo
de Apocalipse 14:7. No início de 1854, ele disse: ``Qual fói a obra de purificação?
Seria a obra de purificar o santuário, adequadamente a,nunciada pela mensagem do
primeiro anjo? Em outras palavras, será uma obra de julgamento? [...] Certamente
parece que [o sumo sacerdote do santuário terrestre, no Dia da Expiação] ia efetuar
a obra de julgar."7
0bserve, contudo, a maneira cautelosa com que Loughborough falou. Ele per-
guntou se a purificação do santuário em Daniel 8: 14 podcw'¢ estar relacionada com o
juízo. Segundo ele, "parece" que sim.
0 primeiro a identificar positivamente o Dia da Expiação no santuário celes-
tial em sua relação com o juízo foi Uriah Smith. Escrevendo na 4dtJc#f Rct;í.ctv 4#d
Sabb4f# Hcr4Jd, em 2 de outubro de 1855, ele foi positivo ao declarar que "a obra
de purificação do santuário terrestre foi uma obra de julgamento".8 Note como o
autor relaciona o julgamento no Céu com o a.ntítipo do Dia da Expiação terrestre.
Depois de fazer referência a Levítico 16:33, em que se diz que, no Dia da Expiação,
o sumo sacerdote fazia expiação pelo santuário e pelo povo, Smith disse: "Isso pre-
figurava um fato solene, a saber, que no grande plano de salvação, um tempo de
decisão para a raça humana se aproxima; uma obra de expiação por meio da qual,
sendo completada, o povo de Deus, o verdadeiro lsrael, deve ser absolvido e puri-
ficado de todo pecado. [...] Lemos em Daniel 7:10 que se assentou o f/í`b#ÍmJ e se
abriram os JÍ't;ros."9
Essa correlação entre o Dia da Expiação no santuário celestial e o juízo era a
última peça do quebra-cabeça, o último dos quatro conceitos teológicos sustentados
pelos mileritas antes e/ou depois do Grande Desapontamento e que foram reuni-
dos para criar uma nova doutrina: o juízo investigativo. Assim, em 1857, os adventis-
tas sabatistas haviam desenvolvido seu ensinamento básico sobre o juízo investigativo
pré-advento, a partir desses quatro conceitos.

] Set/c#f#-d4y J4dtJc%fi.sÍ EÍ%ycJopcdi.4, s.v. "Edson, Hiram", itálicos do original.


2 0. R. L. Crosier, "The Law of Moses", D4y-S/4/ E#Írzi, 7 de fevereiro de 1846, itálicos do origiml, citado

por Damsteegt, Fow#d¢ÍÍ.om5, p. 127.


3 Gerhard Hasel, "Julgamento Divino", em: Traf4do dc TGojogi.¢ 4dyc#f!.sÍ4 do Séfí.mo Di.4, p. 936.
4 Ele escreveu: "0 juízo investigativo da casa, ou igreja, de Deus ocorrerá antes da primeira ressurreição."

Oamcswhite, Aduent Rerieu) and Sabbath Herald, 29 de JaneLro de 1857, cita,ào m Seuenth-day Aduentist En-
ÇycJopcdí.4,s.v."Investigative]udgment".
0 DESEWOLVIMENT0 DA 00llTRINA D0 JÜIZO

3 Wimam Miller, carta, D4y~Sf% 8 de abril de 1845, citado na Sct;e#ÍÍ!-d4y 4dvcí£ft.sf E#q;cJopccíf'4, s.v. "Inves-

ügative]udgment."
± Seiienth-day Adventist Encyclopedia, s.v."lrNesügaüve ]udgmer\t" .
-j. N. Loughborough, 4dt;cwÍ RctJi.ct# 4wd S4Õó4fh Hcrt]ÍJ, 3 de fevereiro de 1853, citado na ScLJ€Ítf#-dqy 4dt;cm-

Íi.jí Ewçyc/opedt.4, s.v. "Investigative Judgment".


• Ur£ah Smíth, Aduent Reuiew and Sabbath Herald, 2 de outubro de.1855, citado m Seuenth-day Aduentist En~

qJc/opcdi.4, s.v. "Investigative ]udgment" .


; Ibid., itálicos do original.
OS CRÍTICOS DA
DOUTRINA DO JUÍZ0
INVESTloATIVO

M|ueiioár:redneósq::ore:;:t:;erd::sC:írtílt::Sosàséc:emnaçaáa:d:::tel::::,d:a;r:srceec:S::o:o:sooS
entendimento. Objeções à doutrina adventista do juízo investigativo têm sido levan-
tadas desde 1857. É importante entender que nossos opositores nem sempre estive-
ram errados. Em alguns casos, eles apontaram aspectos doutrinários que precisavam
ser corrigidos. Isso é especialmente verdade com respeito à relação entre o juízo e a
justificação pela fé.

Críticos adventistas
Todos os críticos que menciono nas próximas páginas foram, um dia, adventis-
tas do sétimo dia. Alguns deixaram a igreja, outros não. Na maioria das vezes, aque-
les que não nos deixaram estavam convencidos de que o movimento adventista era
guiado por Deus, mesmo estando em desacordo com o que ensinávamos sobre o
juízo investigativo.
DwcJJcy C¢Í#ÍÉftf fói evangelista e escritor adventista e, por dois anos, membro do
Comitê da Associação Geral.Várias vezes, ele se aborreceu com a igreja e deixou o
ministério, retornando posteriormente. Contudo, em fevereiro de 1887, Canright
rompeu tota,lmente sua ligação com a lgreja Adventista, foi ordenado como ministro
da lgreja Batista e se tornou um "campeão' da oposição teológica aos ensinamentos
adventistas do sétimo dia".[
Em 1889, Canright publicou o livro Sct;eítfÁ-Dczy 4dtJc#fí.sm Rc#ow#ccd [0 Adven-
tismo do Sétimo Dia Renunciado], que ainda é uma obra clássica contra a denomina-
Ção. Pelo menos a metade desse livro de 416 páginas é dedicada a argumentos contra
o sábado. No capítulo "0 Santuário", o autor não trata de nada sobre o juízo investi-
gativo. Em vez disso, suas objeções se concentram tão somente no conceito adventista
de que, desde 1844, Cristo vem efetuando um ministério singular no lugar santíssimo
do santuário cçlestial. Seu raciocínio é que, de acordo com Hebreus, ``inil e oitocentos
anos atrás, [Cristo] foi diretamente para a destra de Deus e Se sentou em Seu trono2
(Hb 8: 1). Portanto, Ele deve ter entrado no santíssimo naquela ocasião, não em 1844".3
E//cf J. W¢ggo#cr é mais conhecido no adventismo por haver chamado nossa
atenção para a verdade bíblica da justificação pela fé. Ele e Alonzo T. Jones foram
os principais oradores de um instituto ministerial que precedeu a assembleia da
Associação Geral de 1888.Waggoner fàlou sobre a lei em Gálatas, livro que foi usado
por ele para embasar uma extensa apresentação sobre a justificação pela fé. Naquele
tempo, Ellen White deu um forte apoio ao entendimento do jovem pregador sobre
o tema. Infelizmente, durante o ano de 1890,Waggoner ingressou em uma forma de
perfeccionismo extremo, afirmando que a perfeição absoluta da última geração de
santos vindicaria o caráter de Deus.4
Ele confiontou pelo menos dois aspectos do ensinamento adventista sobre o juízo
investigativo. 0 primeiro foi a ideia do pecado de uma pessoa ser transferido para o
santuário celestial. Com o argumento de que "o pecado não é uma entidade, senão
uma condição que só pode existir em uma pessoa", ele concluiu que "é impossível que
haja algo como a transferência de pecados para o santuário no Céu, contaminando,
dessa forma, aquele lugar".5 Waggoner disse ainda que "consequentemente, não
poderia haver algo como a `purificação do santuário celestial' nem em 1844, nem
em nenhum outro tempo". A partir desse pensamento, ele concluiu que 1844 "não
teve nenhum fundamento [na Bíblia]", e simplesmente descartou tudo isso.6
0utro aspecto da doutrim do juízo investigativo seriamente confiontado por
Waggoner foi nossa interpretação dos 2.300 dias em Daniel 8:14 como sendo 2.300
anos.7 0 autor argumentou que as palavras, no hebraico, queriam dizer 2.300 f4~dcs-
Íw4#hõs, não 2.300 dí.cÜ. Disse ele: "Existe uma palavra em hebraico que em todos os
lugares é traduzida como `dia', e ela é a única para `dia' em toda a Escritura em hebraico.
Nunca lhe ocorreu se perguntar por que se deveria fazer uma exceção aqui?"8
Em 1891,Waggoner havia abandonado a crença nos aspectos básicos da doutrina
do juízo investigativo,9 muito embora continuasse trabalhando para a igreja por pelo
menos mais dez anos.
A/bi'oÍc F 84JJc#gc/ foi um pastor adventista do sétimo dia na virada do século
19 para o século 20. Por algum tempo, entre 1890 e 1900, serviu como secretá-
rio da Associação Nacional de Liberdade Religiosa, que foi a precursora do atual
Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral. Em
1900, Ballenger foi chamado para servir a igreja nas llhas Britânicas, tornando-se, por
algum tempo, o superintendente da Missão lrlandesa.
Durante esse período, Ballenger desenvolveu algumas ideias sobre o santuário, as
quais eram inaceitáveis para a igreja.í° Um de seus principais argumentos era que
Cristo ministrou no primeiro compartimento do santuário celestial por milhares
de anos, antes de 31 d.C. 0 ministro também concordava com Canright que, de
acordo com Hebreus, Cristo entrou no segundo compartimento do santuário celes-
tial quando ascendeu ao Céu, não em 1844. Todavia, ele ainda acreditava em um
julgamento iniciado em 1844. Ballenger só não achava que essejulgamento estivesse
relacionado com os santos.11
Ele publicou úm livro intitulado Cc]sf Owf/oÍ Íhc Cross o/Cwsf [Banido Pela Cruz
de Cristo], e, por volta de 1914, iniciou a publicação de uma revista chamada T7!c
G4f#c#.#g C4JJ [0 Chamado Para a Reunião] , como meio de atrair a atenção da igreja
para suas ideias.A denominação publicou uma resposta a Ballenger em 1911 -o 1ivro
4 Morc Excc/Jcícf MÍ.#£.sf/y [Um Ministério de Maior Excelência], escrito pelo admi-
nistrador da igreja Elmer E. Andross.
74?14? FJcfchcr era um australiano que serviu a igreja na Austrália e no sul da Ásia
como colportor, evangelista e professor de religião por quase 30 anos. Ele deixou o
adventismo em 1930 por discordar da doutrina do santuário e do juízo investigativo.í2
i NA CORTE CELESTIÀL

Embora Fletcher não tivesse adotado as visões de Bauenger sobre o santuário, ele
concordava plenamente que Hebreus colocava Cristo no lugar santíssimo do santuá-
rio celestial em 31 d.C. Isso, dizia ele, negava o entendimento adventista de umjuízo
investigativo que começou no Céú em 1844 como o antítipo do Dia da Expiação
terrestre. Ele também entendia que o espargir do sangue sacrifical sobre o altar e
perante o véu no santuário do Antigo Testamento representava a expiação do pecado,
não sua transferência para o santuário.
Infelizmente, quando Fletcher deixou a denominação, muitos pastores e membros
da igreja na Austrália saíram com ele.
Lowi.s R. Co#rfldí. era alemão e liderou a lgreja Adventista na Europa durante os
últimos anos do século 19 e os primeiros 25 anos do século 20. Ele ficou incomo-
dado com a interpretação adventista de Daniel 8:9 a 14.]3 0s versos 10 a 12 descre-
vem o ataque do chifie pequeno ao povo de Deus e ao santuário. No verso 13, um
"santo" pergunta para outro "santo" por quanto tempo aquela situação iria continuar,
e o verso 14 dá a resposta: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário
será purificado." De acordo com a interpretação adventista, a purificação do santuá-
rio representa a maneira de Deus lidar com os pecados dos santos, mas os versos 10
a 12 indicam que são os pecados do chifre pequeno que contaminam o santuário.t4
Conradi também refutou a visão adventista de que Cristo entrou no lugar santissimo
do santuário celestial em 1844; pois, de acordo com Hebreus, Ele entrou nesse com-
partimento em Sua ascensão. Principalmente por causa de suas objeções à doutrina
adventista do santuário e ao juízo investigativo, Conradi deixou a lgreja Adventista
em 1932, unindo-se aos batistas do sétimo dia.

Dois críticos atlventistas recentes


Os críticos da doutrina do juízo investigativo que mencionei nas páginas ante-
riores viveram durante os últimos anos do século 19 e a primeira metade do século
20. Raymond F. Cottrell e Desmond Ford foram dois dos mais preeminentes críticos
desse ensinamento durante a segunda metade do século 20.
R¢ymoícd F Coffrcí/. Depois de vários anos lecionando no departamento de reli-
gião do Pacific Union College, Cottrell foi convidado para ser um dos editores asso-
ciados do Sct;c#fh-d4y 4d%c#f£.5f Bí'bJc Commcí4Í4ry [Comentário Bíblico Adventista
do Sétimo Dia]. Ele também se tornou editor associado da Rcy!.ct# c{Í3d Hcít2Jd, atual-
mente chamada <4 dycícfí.sf RctJí.ctv [Revista Adventista] .
A interpretação de Cottrell sobre as profecias de Daniel era muito diferente do
entendimento oficial da igreja. Ele não utilizava o método historicista de interpre-
tação profética adventista.í5 0 estudioso interpretava essas profecias de acordo com
o que chamava de "método histórico", que é muito diferente do método histori-
cista, embora os termos sejam semelhantes. A seguinte citação resume o método
dele: ``A fim de entender os capítulos s e 9 [de Daniel] como o Céu tencionou que
eles fossem entendidos, precisamos nos imaginar dentro das circunstâncias históricas
de Daniel e enxergá-las a partir de sua perspectiva da história da salvação."" 0 pri-
meiro princípio da interpretação histórica de Cottrell é "nos imaginar dentro das
OS CRÍTICOS DA D0lITRINA D0 JUÍZ 0 IWEST16ATWO

circunstâncias históricas de Daniel". Obviamente, quanto mais pudermos saber sobre


os tempos nos quais o autor bíblico viveu e a situação imediata sobre a qual ele está
filando, mais poderemos entender o que tanto ele quanto Deus quiseram dizer com
aquilo que o autor bíblico escreveu. Entretanto, o erudito queria dizer mais do que
isso, como veremos.
0 segundo princípio do método histórico de Cottrel é que devemos tentar
enxergar aquilo que Daniel escreveu "a partir de sua perspectiva da história da sal-
vação". 0 profeta e seus contemporâneos entendiam que, em algum momento no
fiituro, Deus restauraria a humanidade à sua perfeição edênica. Entretanto, nunca
lhes ocorreu que 2.500 anos passariam antes que isso ocorresse. Portanto, deve-
mos entender as profecias de Daniel como o profeta as entendia, à luz de sua com-
preensão sobre a vinda do Messias e o estabelecimento do reino eterno de Deus.
Cottrel acreditava que as visões de Daniel não nos forneceram nenhuma informa-
ção sobre a traj.jetória mundial depois do tempo de Cristo e do Novo Testamento.
Assim, é um sério equívoco tentar interpretar essas profecias à luz da história dos
2 mil anos passados. Ele disse:

Quando foi dada, a previsão de Daniel sobre o futuro se aplicava especifica-


mente aos judeus cativos em Babilônia, que ansiavam por retornar para Sua
terra, e aos planos [de Deus] que culminavam no estabelecimento de Seu
reino eterno dejustiça muito tempo atrás. [. . .] A pressuposição de que Daniel
8:14, ao ser dado, antecipava eventos de nosso tempo, foi a causa básica do
equívoco de 1844 e o consequente desapontamento. Desapontamentos con-
tínuos serão inevitáveis até que esse erro seja reconhecido e corrigido, c qíÁc
o princípio historicista no qual está baseado seja abandonado.L7

Cottrel assegurou que ]esus não estabeleceu Seu reino eterno quando esteve na
Terra, 2 mil anos atrás. Contudo, isso não 1he preocupava, pois acreditava que as pro-
fecias de Daniel eram condicionais a uma resposta positiva do povo judeu. Desse
modo, quando os judeus rejeitaram a Cristo, essas profecias perderam seu significado
como previsoras da história humana.
Apesar de tudo, Cottrel afirmava ter plena confiança no entendimento adven-
tista do santuário e do juízo investigativo. Ele se baseava na teoria de que Deus teria
dado uma revel?Ção especial a Seu povo em três eras: (1) de Abraão até Cristo, (2) de
Cristo até 1844, e (3) de 1844 até a segunda vinda. Cada revelação respectiva a uma
dessas eras está construída sobre os pw.m'p!.os declarados na linguagem das revela-
ções da.s eras anteriores. Os profetas de cada era, dizia Cottrel, citavam as Escrituras
das eras prévias; mas, frequentemente, interpretavam os profetas das eras prévias de
maneiras muito inconsistentes com aquilo que o texto original de fato significava
no contexto de sua situação histórica." 0 estudioso, então, argumentou que Ellen
White era a profetisa de Deus para a era adventista, e, muito embora Daniel 8:14
nada tivesse que ver com o antítipo do Dia da Expiação ou 1844, essas interpreta-
ções era:m vãlída.s pa.rav av era. a.dverLtístav simplesmente porque Ellen White assim afirmou.
Cottrel nunca chegou a deixar a lgreja Adventista; mas, durante boa parte da
segunda metade do século 20, foi um crítico dos pontos de vista, da igreja. Durante a
maior parte desse tempo, compartilhou suas opiniões apenas em círculos mais restri-
tos de teólogos denominacionais. Ele não as discutiu em público até a aposentadoria.
Cottrel fàleceu em 2003.
Dcsmo#d Fo"d foi professor no Departamento de Religião do Avondale College,
na Austrália, durante a maior parte da segunda metade do século 20. Ele escreveu
numerosos artigos sobre Daniel,juízo investigativo e assuntos afins -todos apoiando
a posição da igreja, o que se percebe também em seu livro D4#!'c/, publicado em 1978.
Ao final dos anos 70, Ford foi para o Pacific Union College (PUC), m Califórnia,
como professor em um programa de intercâmbio. Em 1979, ainda no PUC, ele fez
uma apresentação para o Fórum Adventista na qua] confrontou duramente a inter-
pretação adventista dos 2.300 dias. Como resultado, foi-1he solicitado que declinasse
de sua posição, e a Associação Geral 1he deu vários meses para que preparasse um
documento defendendo seus pontos de vista. 0 estudioso apresentou o documento
em uma reunião de teólogos e admjnistradores adventistas no acampamento de verão
Glacierview, da Associação de Rocky Mountain, em agosto de 1980. Na conclusão
do encontro, os delegados rejeitaram os pontos de vista de Ford, e a igreja revogou
suas credenciais ministeriais.
Ele permaneceu na América do Norte por vários anos após os eventos de Glacier
View, apresentando seus pontos de vista em pequenas reuniões de adventistas e
ex-adventistas. Mais tarde, porém, retornou à Austrália, onde por algum tempo lecionou
em um seminário batista. Atualmente, exerce seu pastorado no miiiistério Good News
Unlimited, em Brisbane.
Ford é, sem dúvida, o crítico mais minucioso da visão adventista a respeito do san-
tuário, do juízo investigativo e de questões afins. 0 documento que ele apresentou
em Glacierview consiste de quase 700 párinas, e o apêndice ocupa mais 300, resul-
tando em um total de quase mil páginas.í9 Ele questiona especialmente nossa inter-
pretação de Daniel 8:14, o santuário em Hebreus e o princípio dia-ano.
No capítulo 2 (de quase 120 páginas) do manuscrito de Glacier view, Ford
discute o santuário em Hebreus. Ele entende que o antitípico Dia da Expiação é
o tema básico do livro, e considera que esse evento teve início em 31 d.C., não em
1844. 0 capítulo 3 diz que os adventistas têm problemas com o livro de Daniel,
especialmentç com a interpretação dos chifres pequenos dos capítulos 7 e s e com
a explicação da purificação do santuário em Daniel 8:14. Ele considera Antíoco IV
Epifânio o principal cumprimento dos chifres. Ford também confronta duramente o
princípio dia-ano para interpretar as profecias temporais de Daniel e Apocalipse. Em
vez disso, ele propõe o que chama de "princípio apotelesmático", que declara que
as profecias de Daniel e Apocalipse têm vários cumprimentos ao longo da história.

Walter R. Martin
Mencionarei um crítico não adventista de nossa doutrina sobre o santuário:Wálter
R. Martin, que, junto a Donald G. Barnhouse, editor da revista Efc/#í'fy, contatou
OS CRÍTICOS DA DOUTRINA D0 JUÍZO

líderes adventistas da Associação Geral na metade dos anos 1950. Protestante, ele
foi um estudioso do que chamava de seitas americanas: o mormonismo, a Ciência
Cristã, as testemunhas de ]eová e os adventistas de sétimo dia. Por solicitação da edi-
tora Zondervan, Martin passou a escrever um livro sobre cada uma delas. Ele abordou
Hderes de cada grupo pedindo que discutissem todos os aspectos de suas doutrinas
com ele e que respondessem a suas perguntas. Os líderes adventistas foram os úni-
cos que não apenas aceitaram, mas também agradeceram a oportunidade. As reuniões
ocorreram ao longo de quase dois anos.2°
No tempo em que Martin contatou a liderança adventista, ele era da opinião
de que a denominação deveria ser incluída na categoria de seitas não cristãs,junto
aos mórmons, cientistas cristãos e testemunhas de ]eová. Entretanto, depois de
um cuidadoso exame de nossa literatura e uma aprofundada discussão com líderes
adventistas, ele ficou convencido de que a igreja estava em harmonia com os ensina-
mentos mais importantes do cristianismo ortodoxo: as doutrinas sobre Deus, a expia-
Ção, a justificação pela fé e assim por diante. Martin afirmou isso em um livro, T7%
rmíh 4bo#f Sct/c#fh-d4y 4dt;c#fi.sm [Averdade Sobre o Adventismo do Sétimo Dia],
publicado pela Zondervan em 1960. Seu colega, David G. Barnhouse, disse o mesmo
em um artigo para a Efcrí%.fy, que resultou, para a revista, na perda de um número
significativo de assinantes. Barnhouse declarou no prólogo do livro de Martin que
•`os adventistas do sétimo dia são um grupo verdadeiramente cristão, em vez de
uma seita anticristã", e os membros adventistas que aceitam a doutrina da igreja da
maneira apresentada pela liderança da denominação "dcyem 5cr co#sí'dc#tido5 como t;c~d4-
deiros membros do corpo de Cristo" .21
Desde então, a lgreja Adventista cada vez mais tem sido vista com respeito por
outros protestantes. Alguns adventistas têm questionado se isso seria apropriado, tal-
vez com base no pensamento de que esse apreço, de alguma forma, signifique uma
diluição das nossas doutrinas. 0 fato é que, nos aspectos básicos da fé cristã (a natu-
reza de Deus e de Cristo, a expiação e ajustificação pela fê) os adventistas do sétimo
dia são totalmente ortodoxos e não merecem ser colocados m mesma categoria de
algumas das demais organizações religiosas.

Respostas dos ailyentistas aos críticos


Durante a segunda metade do século 20, a Associação Geral indicou três comis-
sões para estudar os ensinamentos adventistas mais detalhadamente, incluindo as pro-
fecias de Daniei e Apocalipse, o juízo investigativo, o Dia da Expiação, o 1ivro de
Hebreus, o princípio dia-ano, e assim por diante. A primeira comissão, composta por
cerca de dez acadêmicos adventistas, reuniu-se no começo de 1950, mas não che-
gou a produzir nenhum documento escrito. A segunda comissão se reuniu no fim
de 1950, e sua principal realização foi a produção do livro Q#csfõcs Sobre Dowfrí.#¢,
o qual respondeu às perguntas levantadas por walter Martin. A terceira coinissão se
reuniu durante a década de 1980, em resposta à controvérsia gerada por Desmond
Ford na conferência de Glacierview, em agosto de 1980. 0 resultado do trabalho
dessa comissão foi uma coleção de sete volumes chamada T7% D4#í.cJ 4#d Rct/c/4fi.o#
NA CORTE CELESTIAL

CoÍ#mí.Ífcc Scri.cs [Série do Comitê de Daniel e Apocalipse], publicada entre 1986 e


1992 pelo lnstituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral.22
Vários livros sobre ojuízo investigativo e questões afms têm sido publicados indivi-
dualmente por alguns adventistas durante a década de 1990 e as primeiras décadas do
século 21. Um dos mais prolíficos escritores adventistas tem sido Clifford Goldstein,
que escreveu pelo menos três \±vros sobre o assunto= 1844.. Uma Explicação Simples das
Principais Proficías de Daniel, False Balances TFqu"brios Fa^hos| e Graffiti in the Holy
o/IÍoJÍ.cs [Pichação no Santíssimo].23 Naturalmente, também há o 1ivro que está em
suas maos.
Com essa introdução, está na hora de mergulhar nos ensinamentos sobre o juízo
investigativo.

\ Swenth-day Aduentist Encyclopedia, "Caniíght. Dudley MarvLn" .


2 Comentarei sobre a questão de quandoJesus entrou no lugar santíssimo do santuário celestial no capítulo 28.
' Dud]ey Canright, Scvc#fA Day4dtJc#fi'sm Rc#o#%ed, p.122
4Verwhidden, E./.17Z{ggo#c7, p. 298-304. Para meus comentários sobre a última geração, ver meu lívro HloíúJ
to Think About the End Time, p.183-190.
5 Comentarei sobre a transferência do pecado para o santuário no capítulo 19.
6 Citado porwhidden, em E./.1%ggo#c/., p. 347.
7 Tratarei do princípio dia-ano no capítulo 27.
8 Citado por Desmond Ford, em "Daniel 8:14", p. 60.
9 Ver Woodrow W. Whidden, E./. I4Z{ggoncr, p. 347.
t°Ver Ford, "Daniel 8:14", p. 61-74. Ford descreve exaustivamente as objeções de Ballenger ao santuário.
" Responderei sobre o tema do julgamento e dos pecados dos santos no capítulo 11.
'2 Ver Ford, "Daniel 8:14", p. 75-78. Ford comenta exaustivamente as objeções de Fletcher.
t3 Desmond Ford,"Daniel 8:14", p. 78-81. Ford descreve exaustivamente as objeções de Conradi ao santuário.
]4 Comentarei sobre os pecados do chifre pequeno e os pecados dos santos nos capítulos 13 a 17.
t5 Explicarei o método historicista de interpretação profética no próximo capítulo.
t6 Raymond F. Cottrel, "The `Sanctuary Doctrine' -Asset or Liability?" Esse artigo é o oitavo em uma série,
usado como contraponto à Lição da Escola Sabatina de Adultos de 2006, intitulada 0 Et;amgcJ#o, ]844 c
oJut2:o.
" Cottrel, "The `Sanctuary Doctrine", artigo 9, publicado em 9 de fevereiro de 2002, itálico acrescentado.
" Os escritores do Novo Testamento por vezes interpretavam textos do Antigo Testamento de maneira

que pareciam não se relacionar com o contexto da passagem original. Por exemplo, em Mateus 2:18, o
escritor do evangelho aplicou a profecia de jeremias 31:15, sobre o pranto de Raquel por seus filhos, à
matança dos bebês do sexo masculino efetuada por Herodes em Belém. Obviamente, ]ererias não sabia
nada sobre esse trágico evento, mas o contexto ampliado tanto de Mateus 2:18 como de ]ereinias 31:15
de fato justific? a interpretação de Mateus. Para miores informações, ver o artigo de Richard Davidson
"New Testament Use of the Old Testament", disponível em: <http://www.andrews.edu/~davidson/Pu-
bli cations/Messianic%20Prophecies/ NT_use_of_the_OTpdí. > ; ver também: Comen fári.o Bi'bJi.co .4 dt/c#fi'sÍ4
do Sétimo Dia, v. 5, p. 298, 299 .
t9 Em preparação para escrever este livro, li uma vez todo o corpo principal desse documento, e, várias vezes,
algumas partes dele.
2°Ver Questões sobre Doutrina, p. 7 , 8.
2] Walter R. Martin, 77ic r"/À Abo#f Scvc#Íhd4y 4dvc#fi.sm, p. 7, itálicos acrescentados.
22 Para uma lista desses livros, ver a nota de rodapé 6 da página 15.
23 Todos os livros de Goldstein foram publicados pela Pacific Press: Í844 il4:4dc Sf."p/c,1988; F4Jsc 84/4mccs,
1992.. Graf f iti in the Hoty of Holies, 2003.
OUESTÕES EM DANIEL 7
PRINCÍPI0S PARA A
INTERPRETAÇÃO DAS
PROFECIAS DE DANIEL

Taddoooe:uàsaanb|:Tàsosno,burdeo?:suípzrooi::|easstlã:tlE:ne|Set|á,eeEp:r.aaT|dpesemeesç:::,S:umn::=à::
de dúvida, entre as partes da Bíblia mais desafiadoras de se entender. Por essa razão,
antes de mergulhar no livro de Daniel, precisamos considerar três questões que afe-
tarão significativamente a maneira de interpretar esse livro.

1. Métodos de interpretar a profecia apocalíptjca


A primeira questão que precisamos considerar é a interpretação da profecia apoca-
líptica. A palavra "apocalipse" vem do grego 4pok4J#psi.s, que significa "divulgação da
``erdade", ``revelação".t Daniel é o principal livro apocalíptico do Antigo Testamento.
A profecia apocalíptica tem várias características importantes. Mencionarei duas.

• Ela se concentra no escopo cósmico da história, com ênfase no conflito entre o


bem e o mal e sua solução no fim da história do mundo, quando Deus estabe-
lecer Seu reino eterno.
• Ela depende fortemente de símbolos como bestas, estrelas e chifres, os quais
obviamente representam elementos que não são literalmente bestas, estrelas nem
chifres.

Os estudiosos da Bíblia desenvolveram três métodos principais de interpretação


das profécias apocalípticas: o historicismo, o preterismo e o futurismo. 0 historicismo
é fiindamental para o entendimento adventista do juízo investigativo. Discutirei esse
método com alguns detalhes e explicarei sucintamente os outros dois.
0 méfoJo Ãí.sfow.cÍ.sf4. Os intérpretes historicistas creem que as profecias de Daniel
abarcam um período histórico que vai desde o tempo de Daniel até o estabe-
lecimento do reino eterno de Deus. Esse padrão é particularmente evidente em
Daniel 2, em que a sucessão dos impérios mundiais é representada por quatro seg-
mentos metálicos de uma estátua, ou imagem. 0 profeta explicou que esses quatro
segmentos - constituídos de ouro, prata, bronze e ferro - representavam quatro rei-
nos mundiais. Explicitamence, ele disse ao rei Nabucodonosor, que sonhara com a
estátua: "tu és a cabeça de ouro" (Dn 2:38).
0 fato de que a cabeça de ouro representa Nabucodonosor e seu reino, Babilônia,
claramente amarra o ponto inicial desse sonho ao tempo do próprio Daniel. Os
outros três segmentos metálicos representam Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Os pés da
imagem, uma mistura de ferro e barro, representam o rompimento do poderoso reino
de ferro, fazendo do reino que veio depois algo "por uma parte [...] forte e, por outra,
[...] fiágil" (v. 42). Isso se cumpriu de maneira precisa quando tribos bárbaras do norte
europeu invadiram o império romano durante o 3Q, 4Q e 5Q séculos (d.C.). Essas tri-
bos se estabeleceram em vários pontos do império, e, mais tarde, vieram a fazer parte
do grupo de nações europeias atualmente conhecido.
Na cena seguinte, Nabucodonosor viu uma enorme pedra voando pelo céu, a qual
atingiu os pés da imagem, derrubando-a. A grande imagem virou pó, que foi varrido
pelo vento. A pedra se tornou uma grande montanha que cobriu toda a terra. Isso,
disse Daniel, representa o fato de que Deus um dia destruirá todos os reinos humanos
do planeta e estabelecerá seu reino eterno, o qual permanecerá para sempre (ver v. 44).
Assim, o ponto final da visão é a segunda vinda de Cristo.
Daniel 7, com a,s quatro bestas e os dez chifies da quarta besta, também cobre
a história desde a era de Babilônia até o tempo em que os reinos do mundo serão
entregues ao Filho do Homem e a Seu povo, os santos do Altíssimo (ver Dn 7:13,
14, 27). Daniel 8 começa com Medo-Pérsia, em vez de Babilônia, e se estende até o
tempo do fim, em vez da vinda de Cristo (ver Dn 8:17,19).
Com essa breve revisão, você pode ver por que esse método de interpretação
profética é chamado de ÃÍ.sfoíí.ci.sf4: ele interpreta os segmentos das visões proféticas
de Daniel (e de Apocalipse) como períodos sucessivos da história que começam no
tempo do profeta e continuam até o fim do mundo. Expliquei o método com maio-
res detalhes porque, como observei acima, o cícfc#cíÍ'mc#fo 4dt;c#fi'sf4 do séfí'mo d!'4 do
/'wi'zo !.#tJcsf!Écifi'yo csfá b4sc4do #o méfodo #í.sforí.c!'sf4. Sem o historicismo, a doutrina do
juízo investigativo, como a entendemos, não poderia existir.
0 méfodo prefcr!.sf4. Os historicistas não são os úricos que interpretam os detalhes
das visões de Daniel como portadores de um cumprimento na história. Os intérpretes
preteristas também entendem que as profecias apocalípticas da Bíblia têm um cumpri-
mento histórico - mas limitam esse período ao tempo dos próprios profetas. Assim,
john Goldingay, em seu comentário sobre Daniel, disse: "Os quatro mc/ccÃof# balavra
hebraica para "rei" ou "reino"] geralmente têm sido interpretados como quatro impé-
rios, mas Nabucodonosor, em pessoa, é a cabeça, por isso é mais natural se referir a eles
como as regiões de quatro reis, em vez de um único império destruído pela rocha."2
Na interpretação de Goldingay, a imagem do sonho de Nabucodonosor repre-
senta os reis de Babilônia desde Nabucodonosor até a queda desse império. Um
importante problema dessa interpretação é o fato óbvio de que Deus não esta-
beleceu Seu reino eterno quando o império babilônico foi derrotado. Por outro
lado, a história que vai desde os dias de Nabucodonosor até os nossos cumpre o
sonho com exatidão - embora, naturalmente, os eventos finais ainda estejam por
acontecer. Começando com Babilônia, quatro impérios importantes governaram
o Oriente Médio, a Europa e o Norte da África. Apenas Roma não foi sucedida
por um quinto império. Como observei alguns parágrafos antes, uma série de inva-
sões bárbaras procedentes do norte europeu no 3Q, 4Q e 5Q séculos d.C. dividiram
o império romano, e as nações europeias, como as conhecemos atualmente, evo-
1uíram do conglomerado que resultou dessa divisão. Isso é o cumprimento exato
do sonho de Nabucodonosor. Em contraste, a interpretação de Goldingay de que o
pRINcíplos pARA A INTERPRm ÃO DAS PROFECIAS DE 0ANIEL

sonho representa apenas os quatro reis de Babilônia não se encaixa com os pés de
í-erro misturado com barro.
0 fato de que o estabelecimento do reino eterno de Deus ainda está no fiituro e
de que os detalhes do sonho de Nabucodonosor se encaixam tão claramente na his-
[ória mundíal desde seus dias são fortes evidências de que o método historicista de
in[erpretar as profecias de Daniel é preferível ao método preterista. Seria impossível
chegar ao entendimento adventista do juízo investigativo usando o preterismo.
0 méfodo/wfíwJ.J/cz. Os futuristas também entendem que as profecias de Daniel têm
im cumprimento histórico, e, muito provavelmente, concordem com a interpreta-
Çáo de Daniel 2 dos historicistas que apresentei aqui. A diferença está em sua inter-
pretação de Daniel 7 e 8. Os futuristas aplicam os poderes perseguidores desses dois
cipítulos - os dois "chifres pequenos" -a um anticristo do tempo do fim, durante a
ribulação (a que os adventistas se referem como "o tempo de angústia"), em vez de
i um papado da era medieval.Assim, há um enorme período durante a ldade Média
sobre o qual, na opinião deles, as profecias de Daniel não fàlam nada.3 Discutirei
Dmiel 7 e s em detalhes na sequência deste livro. Por isso, não comentarei mais sobre
csscs capítulos aqui, exceto para dizer que o método futurista também descarta o
cntendimento adventista do juízo investigativo.

1 0aniel Ouem era ele e quando escreveu sLias profecias?


A segunda questão importante que precisamos discutir neste capítulo é a data-
Çio da profecia de Daniel. Por quase 2 mil anos, a maioria dos acadêmicos cristãos e
.udeus considerou que o livro de Daniel foi escrito pelo próprío profeta no tempo
dEchrado pelo livro, ou seja, durante o exílio babilônico dos judeus, no 6Q século a.C.
Contudo, a crítica acadêmica moderna data o livro no tempo da perseguição dos
judeus por um rei selêucida chamado Antíoco IV Epifânio, entre 168 e 164 a.C. Eles
o `-eem como o cumprimento dos chifres pequenos de Daniel 7 e 8. Por acreditarem
que o livro de Daniel foi escrito pouco depois do ataque de Antíoco aos judeus e ao
tmiplo de jerusalém, acham que um autor desconhecido adotou o nome de Daniel
e escreveu como se vivesse no 6Q século a.C.
Acadêmicos conservadores, inclusive entre os adventistas do sétimo dia, con-
tinuam defendendo uma autoria mais antiga. A razão para isso é que o livro está
ambientado no 6Q século a.C., durante os períodos babilônico e persa. Além disso,
uma boa parte do texto está escrito em primeira pessoa. A expressão "eu, Daniel"
ou similares aparece repetidas vezes ao longo dos seis últimos capítulos (por exem-
plo. Dn 7:15; 8:1; 9:2; 10:2; 12:5). Naturalmente, assumir a autoria de escritos era
tima prática comum na metade do 2Q século a.C. Por isso, a conclusão de que o
hTo de Daniel foi escrito nesse tempo é bastante razoável. Entretanto, existem
outros fatores que devem ser considerados na datação do livro.
£ os c4sos cJc }.mprccí.sõo cíc D4#í.c/.? Por mais de cem anos, críticos têm apontado
pam várias supostas imprecisões históricas em Daniel como evidência de que o autor
não conhecia a verdadeira história de Babilônia e dos antigos impérios persas. Mas
dcscobertas arqueológicas têm mostrado que, em muitos casos, Daniel estava certo
e os críticos, errados. Por exemplo, os críticos afirmavam que a cronologia do livro
quanto ao cativeiro babilônico está em desacordo com a de Jeremias. Atualmente,
acadêmicos têm harmonizado as duas cronologias. Os críticos também diziam que
Nabucodonosor não foi o grande construtor de Babilônia como ele declarava (ver
Dn 4:28-30). Registros cuneiformes têm mostrado que ele/o£. um grande construtor,
responsável pela expansão e renovação da cidade de Babilônia.
Uma das principais razões para aceitar o 6Q século como data de autoria de
Daniel é o fato de o livro descrever com precisão as culturas da Babilônia e Pérsia
antigas. Esses detalhes somente seriam conhecidos por alguém que tivesse vivido
naquele tempo, e não por alguém que vivesse no 2Q século a.C. Certo acadêmico
comentou: "De todos os registros não babilônicos que tratam sobre a situação no
f:irn do i:rn:pério neoba,bilôrico, o quinto capítulo de Daniel segue com precisão a litera-
tura cuneífbrme.m
A fim de colocar o assunto em perspectiva, suponha que um escritor de roman-
ces da atualidade fosse escrever uma história sobre ]amestown, a primeira colônia
inglesa permanente nos Estados Unidos. Jamestown foi fundada em 1607, cerca
de 400 anos antes de eu escrever estas palavras. É mais ou menos esse o tempo
passado entre o 6Q século a.C. e 165 a.C. Arqueólogos têm escavado e analisado
uma quantidade significativa de informações acerca de Jamestown, e assim, algumas
pesquisas cuidadosas permitem concluir que aquele escritor seja muito preciso ao
retratar a vida dessa colônia do século 17. Entretanto, a cuidadosa pesquisa arqueo-
1ógica disponível atualmente era desconhecida em 165 a.C. Simplesmente não há
meios de um escritor do 2Q século saber acerca das condições existentes em Babilônia
300 ou 400 anos antes. 0 retrato preciso de Daniel sobre aquele período anterior é
uma forte evidência que apoia o 6Q século a.C. como data de autoria do livro.
Por muitos anos, acadêmicos rejeitaram a datação do 6Q século para Daniel por-
que nenhum dos registros históricos disponíveis daquele tempo mencionava Belsazar,
que, de acordo com Daniel 5, era o rei de Babilônia no tempo em que o impe-
rador persa, Ciro, conquistou a cidade. Contudo, tabletes cuneiformes descobertos
cerca de cem anos atrás deixam muito claro que Belsazar era corregente com seu
pai, Nabonido. Um acadêmico da escola de alta crítica comentou: "Presume-se que
jamais saberemos como nosso autor [Daniel] soube [...] que Belsazar, mencionado
apenas nos registros babilônicos, em Daniel e em Baruque 1:11, que é baseado em
Daniel, atuava. como rei quando Ciro conquistou Babilônia."5 A explicação simples,
porém, é que Daniel sabia porque estava lá! 0 1ivro bíblico de Daniel é preciso por-
que o profeta o escreveu no tempo em que os eventos descritos estavam ocorrendo.
0 oposto também é verdadeiro. Poderia se esperar que, caso o livro de Daniel
tivesse sido escrito no 2Q século a.C., este conteria uma grande quantidade de
informações relativas àquele período. Os livros apócrifos 1 e 2 Macabeus descre-
vem com muita precisão os eventos relativos à profanação do templo por Antíoco
e sua restauração três anos mais tarde. No entanto, o erudito adventista Arthur
Ferch indica que "partindo da premissa de que o capítulo 11 (e muitas outras par-
tes do livro de Daniel), possivelmente, tenha sido escrito apenas poucos meses
ümüL±ff
depois que os episódios ocorreram, é incrível que [Daniel] tão pouco reflita os
e`-entos registrados em 1 e 2 Macabeus".6 Em outras palavras, o autor de Daniel
tinha bastante conhecimento sobre a vida e os tempos da Babilônia do 6g século
e nada sobre ajudeia do 2Q século. De novo, essa é uma forte evidência que apoia
o 6Q século a.C. como a data em que o livro foi escrito.
0 ycídc!dci'ro píobJcmcz. Vamos ao cerne da diferença entre os acadêmicos tradicio-
nalistas e os críticos contemporâneos na questão da data da autoria do livro de Daniel.
Podemos resumir tudo isso em duas palavras, com uma abreviação entre elas: super-
mturalismo t;eys#s naturalismo. Acadêmicos tradicionais acreditam que Deus inter-
`-ém na história humana de maneiras miraculosas, ou seja, sobrenaturais. Assim, eles
entendem que as histórias de Daniel sobre o livramento dos três hebreus da forna~
lha de fogo ardente e do profeta na cova dos leões realmente aconteceram. Eles tam-
bém creem que o relato de Daniel sobre a ascensão e queda de impérios (Babilônia,
Medo-Pérsia, Grécia e Roma) foi de fato uma questão de predição divina.
A exposição precisa de Daniel sobre sucessivos impérios força os acadêmicos crí-
dcos, que negam a possibilidade do sobrenatural e, consequentemente, do conhe-
cimento prévio divino, a concluir que o livro foi escrito em meados de 160 a.C.
Naquele tempo, Babilônia e Medo-Pérsiajá haviam emergido e caído, a Grécia estava
em declínio; e o império romano, em ascensão. Assim, na visão deles, não havia nada
de sobrenatural no profeta ao predizer a ascensão dos quatro grandes impérios, cuja
história ele conhecia (Babilônia e Medo-Pérsia) e vivenciava (Grécia e Roma).
Entretanto, não é simples ignorar a visão supermturalista. Um autor do 2Q século
a.C. poderia predizer que um quinto império tomaria o lugar de Roma, mas não
fói isso que ocorreu. Daniel profetizou que o quarto império seria esmiuçado
em muitas partes desunidas (ver especialmente Daniel 2:41-43). Essa predição foi
cumprida de forma precisa no 39, 4Q e 5Q séculos d.C. pelas várias tribos bárba-
ras vinda.s do norte europeu, que esmagaram o império romano oriental, vindo
a estabelecer as próprias nações. No capítulo 7, Daniel predisse que, após o esfa-
celamento do império romano, um poder político-religioso dominaria a política
europeia. Essa profecia foi cumprida com precisão na história do papado medie-
`-al. Simplesmente, não havia meios para que um autor do 2Q século a.C. pudesse
prever esses importantes acontecimentos sem que fosse guiado por Deus, que
conhece o futuro tão bem como o passado. Deus que pôde prever o esfacelamento
do império roimno por tribos bárbaras também pode facilmente ter predito a
ascensão e queda da Grécia e de Roma. Daniel viveu durante o império babilô-
nico e o início do império medo-persa; sendo assim, ele não precisou de orienta-
ção divina para contar sua história.
Desse modo, a conclusão dos cristãos conservadores de que o livro foi escrito
durante o 6Q século a.C. está bem apoiada pela história e pela arqueologia.

3. 0 princípio dia-ano
0 terceiro item importante ao buscarmos interpretar as profecias de Daniel é conhe-
cido como "princípio dia-ano". De acordo com esse conceito, na profecia bíblica,
um dia simbólico representa um ano literal. Daniel 7, 8 e 9 contêm um período de
tempo simbólico que os adventistas interpretam de acordo com esse princípio.

• Daniel 7:25 -Tempo, tempos e metade de um tempo cowcspoícdcíM a 1.260 dias


simbólicos, que, por sua vez, correspo#dcm a 1.260 anos literais.
• Daniel 8: 14 -2.300 tardes-manhãs cowespoíccíem a 2.300 dias simbólicos, que, por
sua vez, cowe5po#dcm a 2.300 anos literais.
• Daniel 9:24 - 70 semanas cowespoíccJem a 490 dias simbólicos, que, por sua vez,
co"cspo#d€m a 490 anos literais.

Creio que existe uma sólida base bíblica para o princípio dia-ano. Será mais Íácil
para mim, porém, comentar sobre isso depois de examinarmos os detalhes de Daniel
7, 8 e 9. Enquanto não o fazemos, interpretarei esses períodos de tempo de acordo
com o princípio dia-ano, sem tentar substanciá-lo a partir da Bíblia. Os que desejam
ver o que tenho a dizer sobre o assunto antes de ler minha explicação sobre Daniel 7
a 9 poderão ir ao capítulo 27 deste livro.

t 4pok4Jt/psi.s é a palavra grega para o livro de Apocalipse.


2 john E. Goldingay, "Dariiel", em: 14/oíd Bi.b/i'caí CommcMf4ry, v. 30, p. 49.
3 Por essa razão ê que esse método é conhecido como "a teoria do intervalo".
4 PLaymond P. Dougherty, Nabonidus and Belshazzar, p.199 , citado em.. Comentário Bíblico Aduentista do Sétimo
Df4, v. 4, p. 889.
5 R. H. Pfeiffer, Jítírodwcft.oÍ? fo fí}e O/d Tcsf¢me#Í (NovaYork: Harper & Bros.,1941), p. 758, 759, citado em:

Comentário Bíblico Adi)entista do Sétímo Dia, v. 4, p. 888.


6 Arthur ]. Ferch, "Autorship, Theology, and Purpose of Daniel", ed. F. 8. Holbrook, Symposí.#m o# D4mfcL
v. 2, p.16,17.
ANTíOC0 EPIFÂNlo

A:|aadâ:1à:Sa|tsê:ã:n:::P.rne,tearde:s:Sd:sr.oufi:|Crlanse:,ee:varnol.e#ees:aorlaasç.aiTpar:::::::smp:le::
tar atenção a uma interpretação que é largamente aceita atualmente: a de que o
chifie pequeno de Daniel 8:9 a 12 representa um rei selêucida chamado Antíoco
IV Epifânio. Esse ponto de vista foi adotado tanto por Desmond Ford como por
Raymond Cottrelt. Expositores adventistas conservadores, porém, têm interpretado
historicamente os chifres pequenos, tanto de Daniel 7 quanto de Daniel 8, como
representantes do papado. Neste capítulo, explicarei a suposta relação de Antíoco com
esses chifres e por que a rejeito.

Uma revisão sobre Daniel 8:] a 14


Daniel s inicia com o profetajunto ao rio Ulai, m cidade de Shushan (ou Susã),
onde ele recebe a visão dada por Deus. A visão começa com um carneiro que tem
dois chifies. Esse animal dá marradas para o norte, sul e oeste, e "nenhum dos [outros]
inimais lhe podiam resistir", diz Daniel, e "ele, porém, fazia segundo a sua vontade
e. assim, se engrandecia" (v. 4). 0 anjo intérprete do profeta lhe disse que o carneiro
representava o reino da Medo-Pérsia (ver v. 20).
Contudo, o carneiro tinha um adversário, pois Daniel viu um bode a correr em
direção ao carneiro, vindo do oeste. 0 bode ``tinha um chifre notável entre os olhos"
'\`-. 5), provavelmente como o chifi-e de um unicórnio, e se movia tão rapidamente que
suas patas nem tocavam o solo. Ele sobrepujou o carneiro, despedaçou seus dois chi-
fiies e o derrubou ao chão. 0 bode, diz Daniel,"se engra,ndeceu sobremaneira" (v. 8).
Entretanto, no auge de seu poder, o chifre ma,ior se quebrou, e quatro outros chifres
cresceram no lugar daquele. 0 profeta disse que os quatro chifies cresceram ``para os
quatro ventos do céu" (v. 8), significando, sem dúvida, que eles cresceram em todas as
direções da rosa dos ventos.A identidade do bode também é certa, pois o anjo intér-
prete de Daniel 1.he disse que esse animal ``é o rei da Grécia", e "o chifre grande entre
os olhos é o primeiro rei [da Grécia]" (v. 21). Pelo que sei, todos os intérpretes de
Daniel concordam que esse rei foi Alexandre, o Grande.
Alexandre era um homem incomum. Promovido a general antes dos 25 anos, ele
conquistou o império medo-persa e parte da Índia em apenas 13 anos, fato indicado
m visão de Daniel: o bode corria em direção ao carneiro tão velozmente que seus pés
nem tocavam o chão (v. 5).Alexandre morreu com pouco mais de 30 anos, sem que
manifestasse seu desejo quanto a quem deveria substituí-lo. Como resultado, quatro
de seus generais dividiram o império grego entre si. Essa divisão em quatro partes
cstá apropriadamente representada m visão de Daniel pelos quatro chifres do bode,
os quais cresceram no lugar do grande chifre que foi quebrado. A propósito, as qua-
tro cabeças do leopardo em Daniel 7 também representam a divisão do império de
Alexandre, e as quatro asas sugerem a rapidez com que ele conquistou a Medo-Pérsia.

0 "chifte pequeno
Em seguida, Daniel viu algo muito estranho: "E de uma delas", disse ele, "saiu uma
ponta mui pequena, a qual cresceu muito para o meio-dia, e para o oriente, e para a
terra formosa" (v. 9,ARC). Note que Daniel disse que esse chifie ®equeno) saiu "de
uma delas". Quem são "elas"?Vúios intérpretes entendem que esse termo é uma refe-
rência aos quatro chifies - o que significaria, naturalmente, que o ``chifie pequeno"
(ou "ponta pequena", ARC) saiu de um dos quatro chifi-es do bode.Voltaremos a essa
questão crucial no capítulo 12 deste livro.
Entretanto, o "chifre pequeno" não permaneceu pequeno por muito tempo.
Daniel disse que ele "cresceu muito". Tendo conquistado grandeza, ele se enfure-
ceu. 0 profeta disse que o chifre "cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do
exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao prín-
cipe do exército; dele tirou o sacrificio diário e o lugar do seu santuário foi deitado
abaixo" (v.10,11).
Note a quem se dirigiam os ataques do chifi.e pequeno:

• Ao exército e às estrelas
• Ao príncipe do exército
• Ao santuário
• Aos rituais do santuário

Acho que não é arriscado dizer que a maioria dos intérpretes entende que as
estrelas e o exército são uma referência ao povo de Deus, e que o chifi-e os pisoteando
significa sua ação de persegui-lo. 0 chifie também atacou o "príncipe do exército".
Algumas traduções recentes da Bíblia trazem a palavra p#'Í%ÍÍ% com "P" maiúsculo,
sugerindo a. divindade desse ser (ver, por exemplo, a NAS82 e NKjv).
Os dois últimos alvos do ataque do chifre foram o santuário e seus rituais. Isso
é muito importante porque significa que ele atacou o centro de adoração a Deus.
0 mais trágico nisso é que o chifre teve êxito -o verso 12 diz que ele "prosperou".
Esses ataques aos santos de Deus, ao príncipe e ao sistema sacrifical naturalmente
levantam a pergunta sobre quando essa terrível condição chegaria ao fim. De fato, é
isso que o verso 13 pergunta: ``Depois, ouvi um santo que fàlava; e disse outro santo
àquele que fdava: Até quando durará a visão do sacrificio diário e da transgressão
assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?"
E é dada a resposta:"Até duas riiil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será puri-
ficado" (v.14).
A pergunta é: 0 que esse chifie representa? Como a maioria dos intérpretes atuais
entende que ele representa o rei selêucida, Antíoco IV Epifânio, apresentarei um
pouco de sua história.
Ouem foi Antíoco lv Epifânio?
Antíoco reinou sobre o que é conhecido como o império selêucida, uma das qua-
tro seções em que foi dividido o império grego após a morte de Alexandre, o Grande.
Ele governou por 11 anos -de 175 a.C. até sua morte, em 164. Seu império consis-
tia em grande parte da Síria e ]udeia.
Uma das ambições de Antíoco era forçar os judeus a adotar a cultura secular grega,
ou seja, ser ``helenizados" (do termo grego Hc/J4s, nome utilizado pelos gregos para
seu império). Alguns judeus eram favoráveis à helenização, mas outros, os conserva-
dores, eram ferrenhos opositores. Antíoco apontou um homem chamado Menelau,
t-avorável à helenizaçâo, como sumo sacerdote no templo em ]erusalém. Os judeus
conservadores resistiram fortemcmte a Menelau, e, enquanto o rei estava em uma
campanha militar no Egito, eles se amotinaram e forçaram o sumo sacerdote a fugir
de ]erusalém.Ao voltar do Egito,Antíoco executou os líderes do motim, erigiu uma
imagem do deus grego Zeus no pátio do templo dejerusalém e sacrificou um porco
no altar de sacrificio.Também proibiu os judeus de oferecer seus sacrificios, baniu os
sábados e dias de festas e tornou ilegal o rito da circuncisão.A imagem de Zeus ficou
erguida por quase três anos.
Horrorizados pelo banimento de sua religião e pela profanação do templo, os
judeus se uniram sob a liderança de um homem chamado Juda,s Macabeus, que orga-
nizou um exército para lutar contra Antíoco e os selêucidas. Os livros apócrifos de
Macabeus contam a história da guerra contra os selêucidas. Os macabeus derrotaram
Antíoco e, três anos depois do dia em que Antíoco levantou a imagem de Zeus, eles
o expulsaram de ]erusalém, purificaram ritualmente o templo e restabeleceram a reli-
gião judaica conservadora. Com a derrota do rei, os judeus desfrutaram cerca de cem
anos de independência, seu único período de liberdade desde o cativeiro babilônico.
Essa condição foi interrompida pelos romanos em 63 a.C.
Atualmente, a maioria dos eruditos bíblicos, tanto liberais quanto conservadores,
entendem que o chifre pequeno de Daniel 8:9 a 12 representa Antíoco IV Epifânio.
E as semelhanças são impressionantes. 0 chifie pequeno aparenta brotar de um dos
quatro chifres que substituíram o grande chifie entre os olhos do bode, e Antíoco
era um rei do império selêucida, que era uma das quatro divisões do império de
Alexandre. A visão de Daniel também se encaixa com o ataque de Antíoco ao povo
judeu (as "estrelas" e o "exército" da visão de Daniel), seu santuário e o banimento -
a retirada - de seus sacrificios. Essa é, de longe, a interpretação mais aceita em rela-
ção ao chifie da visão do capítulo s de Daniel. Qualquer observador razoável pode
entender por que essa interpretação faz sentido para tantas pessoas. Contudo, ela tam-
bém tem problemas significativos, os quais veremos a seguir.

Problemas com a teoria de Antíoco


Embora Antíoco pareça se encaixar em algumas das especificações do chifre da
visão de Daniel, apontarei seis problemas nessa interpretação.
1.4 g/t7#dez4 c7o chfre. Daniel 8:4 diz que o carneiro da Medo-Pérsia "fazia segundo
a sua vontade e, assim, se c#gm#cJccÍ.4". 0 verso s diz que o bode "se c#gm#dccc#
CELESTIAL

soõrcmcg#e!.rtz", e o verso 9 revela que o chifre pequeno "crescc# m#Í'fo" (itálicos acres-
centados). Note a progressão: de ``se engrandecia" para "se engrandeceu sobrema-
neira" e para ``cresceu muito". A Medo-Pérsia, representada pelo carneiro, era um
grande império. A Grécia, representada pelo bode, era um império ainda maior - e
não foi por outra razão que ele conquistou a Medo-Pérsia. Entretanto, o maior de
todos os poderes era o chifre pequeno.
Antíoco simplesmente não se encaixa nessa descrição. Seu reino não era maior
do que a Medo-Pérsia e a Grécia. Ele era um rei sem muita importância, de uma das
quatro divisões do império grego de Alexandre.
2. 0 crcscí`mc#fo do cftfrc. Quando Antíoco começou seu reinado, o império selêu-
cida incluía a Síria e ajudeia. Daniel 8:9 diz que o chifre "se tornou muito forte para
o 5#/, para o or!.c#fc e para a fcrrt2 g/ort'os4" (itálicos acrescentados). A maioria dos intér-
pretes entende a expressão "terra doriosa" como uma referência à terra dos judeus,
isto é, a Judeia. No entanto, se Antíoco reinava sobre essa região no tempo em que
começou seu reinado, então seria incorreto dizer que ele c/cscc% naquela direção. Na
verdade, os macabeus reconquistaram a Judeia e expulsaram Antíoco. Assim, longe de
crcsccr naquela direção, esse rei já havia pcntí€.do esse território no tempo de sua morte!
Dariel também disse que o chifre pequeno cresceu na direção do sul e do oriente.
Antíoco, de fato, conduziu uma campanha militar contra o Egito, que está ao sul da
Síria, mas fói uma campanha muito curta. Ele retornou à Judeia, derrotado pelos
romanos, sem travar nem mesmo uma batalha! Quanto ao oriente, o império selêu-
cida havia se estendido até a Índia, mas os antecessores de Antíoco perderam o con-
trole daquela região. Antíoco tentou reconquistá-1a, mas seu êxito foi apenas parcial.
Assim, ele não cresceu nas direções mencionadas por Daniel.
3. 0 4f4q%c do c#frc cm Jc]#Í#árí.o. Da,niel 8:11 diz: "[0 chifre] tirou o sacrificio diá-
rio e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo."Antíoco, de fato, deu um fim aos
sacrificios e a outros serviços no templo de ]erusalém. Contudo, ele não "deitou
abaixo o lugar do Seu santuário". A palavra "1ugar" vem do hebraico mcíkot##, que
significa "alicerce". A fim de cumprir essa parte da predição profêtica, Antíoco teria
de destruir o próprio santuário: a estrutura, a edificação, mas ele não fez isso. No que
diz respeito ao relato histórico, o rei deixou o templo intacto.
4. Os 2.300 di'4s. Daniel 8:14 dá um tempo específico ao período de 2.300 tar-
des e manhãs, depois do qual, o santuário seria restaurado. Interpretados como 2.300
dí'cz5 1iterais, iss.o representa um período de 6,3 anos, mas a profanação do templo de
]erusalém por Antíoco durou três anos, que são apenas 1.095 dias, não 2.300.
Em um esfórço para fazer com que o número 2.300 se encaixe nos fàtos da histó-
ria, muitos intérpretes presumem que as palavras ``tardes" e "manhãs" se referem aos
sacrificios da, tarde e manhã, e contam cada sacrificio separadamente. Duas ril e tre-
zentas tardes e manhãs correspondem a 1.150 dias, o que fica mais perto do período
de tempo em que o santuário de jerusalém permaneceu profanado. Entretanto, isso
significa 55 dias a mais do que 1.095 dias.Assim, essa parte da profécia de Daniel não
se alinha com os fatos históricos do ataque de Antíoco ao templo de]erusalém. Isso é
especialmente significativo, tendo em vista que os intérpretes preteristas afirmam que
ANTÍOC0 EPIFÂNIO

o livro foi escrito em meados do 2Q século a.C. Nesse caso, um autor que escrevesse
mquele período certamente saberia a quantidade exata de tempo em que o santuá-
rio ficou desolado, e teria mencionado o tempo com maior precisão.
J. 0 c##c c o fcmpo doJ3m. Quando Gabriel intepretou a visão do capítulo 8, uma das
primeiras coisas que ele disse para Daniel é que "esta visão se refere ao tempo do fiin"
(v.17). 0 verso 19 diz: "Esta visão se refere ao tempo deterininado do fim."Assim, o anjo
disse duas vezes para o profeta que sua visão no capítulo s devia se estender até o tempo do
fim. Dificilmente, porém, os tiiês anos da profanação do templo de ]erusalém por Antíoco
se estenderiam até o tempo do fim!
6. 0 po#oít2mci compJcfo. Uma das minhas mais significativas objeções à interpreta-
ção de Antíoco Epifânio é que as visões tanto de Daniel 7 quanto de Daniel s des-
crevem o conflito universal entre o bem e o mal e sua solução, o que os adventistas
tém tradicionalmente chamado de ``o grande conflito". Isso fica evidente pelo fato de
Daniel 7 mostrar Deus efetuando o julgamento do animal terrível e espantoso e de
s€u chifre pequeno, destruindo-os e estabelecendo, no lugar deles, Seu reino eterno.
Isso descreve o processo pelo qual Deus dará fm à história do pecado. Obviamente,
Daniel 7 e s não se referem às atividades de Antíoco IV Epifânio, que era, afinal, ape-
ms um ator de menor importância nesse drama.
Os seis problemas com a interpretação Antíoco que compartilhei com você
neste capítulo estão entre as ra.zões pelas qua,is os adventistas do sétimo dia rejeitam
Antíoco IV Epifânio como o chifi.e pequeno de Daniel 8.

-Ver o capítulo 7 deste livro.


: A Bíblia New American Standard usa a palavra Comm4"Jcr (comandante) em vez de Pr!.#cc Úríncipe), mas
a palavra começa com letra maiúscula.
A HORA DO JUÍZ0
EM DANIEL 7

mente em Daniel
0entendimento 7. Os capítulos
adventista s e 9 acrescentam
do juízo investigativo informações importantes,
está fundamentado principal-
que dependem do capítulo 7 para o conceito básico dejuízo. Neste e nos próxi-
mos capítulos deste livro, discutirei várias questões que os adventistas do sétimo
dia têm levantado sobre o juízo em Daniel 7.
A primeira questão é sobre o momento em que o juízo deverá ocorrer, em
relação à segunda vinda de Cristo. Os adventistas creem que ele deverá começar
em algum momento ¢Ítícs da segunda vinda de Jesus, e Daniel 7 é uma das prin-
cipais evidências para essa conclusão. Acho que não é arriscado dizer, porém,
que a maioria dos cristãos acredita que o juízo final ocorrerá Ím segunda vinda
de Cristo, e eles fazem objeção ao nosso conceito de um juízo no Céu, ini-
ciado algum tempo 4#fcs do retorno de Jesus. Em anos recentes, Desmond Ford
tem desafiado nosso ponto de vista de um juízo investigativo no Céu anterior
ao advento.
Perto do fim deste capítulo, comentarei rapidamente sobre uma segunda ques-
tão: a objeção de que 160 anos é tempo demais para o juízo final. Ele não precisa de
tanto tempo assim para fazer o que quer fazer. Contudo, antes de entrar nessas ques-
tões, vamos dar uma rápida olhada na visão de Daniel 7.

Uma visão geral de Oaniet 7


Na visão que Daniel registrou no capítulo 7 de seu livro, ele viu quatro grandes
animais que se levantaram do mar: 1eão, urso, leopardo e um ser terrível e espan-
toso. De acordo com o método historicista de interpretação, essas bestas represen-
tam os impérios babilônico, medo-persa, grego e romano. 0 quarto animal tinha
dez chifres em sua cabeça, os quais entendemos ser a representação do esfacela-
mento do império romano pelas tribos bárbaras entre cerca de 250 e 500 d.C. Um
chifre pequei}o surgiu entre os dez e, com grande voz, falou palavras contra Deus,
perseguiu os santos e tentou mudar as leis divinas.A esse chifre pequeno foi dado
poder sobre os santos "por um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (v. 25).
Obviamente, esse poder está em rebelião contra Deus e Seu povo. Os adventistas
creem que ele representa o papado medieval.
Imediatamente após descrever o chifre pequeno, a visão de Daniel se volta dos
eventos m Terra para uma cena de julgamento no Céu. Esse juízo condenou o
chifre pequeno e vindicou os santos (ver v. 21, 22, 26). Então, um ser "como o
Filho do Homem" se aproximou do trono de Deus (v.13). Muitos intérpretes de
Daniel entendem que esse Filho do Homem é]esus, e os adventistas concordam.
A HORA DO

Ao Filho do Homem é dado domínio sobre os reinos do mundo (ver v.14). Isso,
em resumo, é a visão do capítulo 7 de Daniel.
Aqui está um esboço da visão:

Símbolo Cumt}rimento
Leão Babilónia
Urso Medo-Pérsia
Leopardo Grécia
Animal terrível e espantoso Roma
Os dez chifres Nações europeias
Chifre pequeno Papado
Juízo
Filho do Homem
Reinos do mundo dados ao
Filho do Homem

Note que os três últimos itens da lista não estão representados por símbolos. Daniel
os descreveu literalmente.

O juízo em Daniel 7
Nossa atenção está no juízo e na ação de dar os reinos do mundo para o Filho do
Homem nos versos 9 a 14. Precisamos, então, passar algum tempo examinando essa
parte da visão. Os versos 9 e 10 nos dão um retrato vívido dojulgamento:

Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias Se
assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura
lã; o Seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente. Um rio de
fogo manava e saía de diante dele; nrilhares de milhares 0 serviam, e miríades
de rniríades estavam diante Dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros.

0 verso 9 começa com Daniel vendo ``tronos", no plural, sendo postos. 0 que são
csses tronos e para que propósito servem?
Do verso 10 em diante, notamos que a cena é a de umjulgamento, e o que aparen-
temente estamo5 vendo na primeira parte do verso 9 é a preparação da corte para o
processo judicial que virá a seguir. Daniel diz que, estando preparada a corte,"o Ancião
de Dias Se assentou". Seu trono é descrito como se tivesse "rodas [de] fogo ardente".
No livro Esfwdos Sc/ccí.oÍ%d" cm J#f€rp/€f¢fõo Pro/éfí.c4,William Shea diz: "[. „] esta des-
crição realça a ideia de movimento sobre o cenário de atividade. [...] A dedução é que
foi por meio de alguma espécie de locomoção relacionada com essas rodas que, assen-
tado sobre Seu trono, Deus entrou na câmara de audiência quando Se encontrou com
Sua hoste angélica."í lsso sugere uma abertura formal de uma sessão dejúri.
Também é possível que, como nos tribunais de hoje, a hoste de anjos tenha se levan-
tado quando o Ancião de Dias entrou, pois, o verso 10 diz que os ririlhões de anjos
CELESTIÀL

estavam em pé2 diante Dele. Shea comenta que "talvez a ênfase não esteja tanto sobre
as hostes que estão diante de Deus quanto sobre seu levantamento para demonstrar sua
honra e respeito por Ele ao chegar em Seu trono-carruagem".3
0 verso 10 ainda diz que ``assentou-se o tribunal". Em outras palavias, quando o juiz
tomou seu lugar na corte, todos os demais se assentaram. Isso também ezplica a razão para
o uso do plural para os "tronos" que foram postos. Foi nesses tronos que os milhões de
anjos que estavam ao redor do Ancião de Dias se assentaram.
Agora, o verdadeiro propósito dessa sessão de júri fica aparente: os livros foram
abertos. Parece óbvio que as decisões da corte serão baseadas nas informações con-
tidas nesses livros. Terei mais a dizer sobre os livros mais tarde, neste capítulo. Nossa
primeira pergunta sobre esse julgamento é: Quando ele ocorre?

Ouando será esse julgamento?


Mencionei no início deste capítulo que muitos intérpretes entendem que ojuízo
final de Deus ocorrerá na segunda vinda de Cristo. De fato, os cristãos às vezes se
referem à segunda vinda de ]esus como "o grande dia do juízo". Os adventistas, por
sua vez, têm crido que ojulgamento descrito em Daniel 7:9 e 10 começou em 1844,
mwí'fo 4Ícfcs do retorno de Cristo.Até nos referimos a essejulgamento como o "juízo
pré-advento", mas alguns adventistas questionam essa conclusão.
Ford tem o conceito de um julgamento pré-advento, mas é bem diferente do
entendimento adventista. Ele diz:

Também é certo que, embora o grande julgamento tenha sua revelação


pública por ocasião da vinda de Cristo, os destinos estão sendo julga-
dos e selados enquanto Cristo ainda é o sumo sacerdote lá no alto. Esta
é a verdade do julgamento pré-advento. Em cada ponto de Sua interces-
são, Cristo sabe se os professos crentes estão verdadeiramente com Ele.
Enquanto eles confiam Nele como Salvador, uma confiança manifestada
por meio de lealdade e obediência, Ele os representa perante o Pai, e Seu
destino nunca é duvidoso.
Devemos sempre manter 1 Coríntios 4:4 em mente, que afirma que sere-
mos julgados por nosso Senhor em um julgamento pré-advento.4

Na citação acima, Ford diz duas coisas que clarificam seu conceito de um
juízo pré-adv.ento. Para ele, "a verdade do julgamento pré-advento" é que "desti-
nos estão sendo julgados e selados enquanto Cristo ainda é o sumo sacerdote lá
no alto". De acordo com Ford, o juízo pré-advento ocorre sempre que Jesus toma
uma decisão a respeito do destino de alguma pessoa como parte de Seu ministé-
rio como sumo sacerdote; pois, "em cada ponto de Sua intercessão, Cristo sabe se
os professos crentes estão verdadeiramente com Ele". Ford também faz referên-
cia a 1 Coríntios 4:4, que diz: "Porque de nada me argui a consciência; contudo,
nem por isso me dou porjustificado, pois quem me julga é o Senhor." Ford, então,
diz que o texto "fala de um juízo pré-advento de todos, feito por nosso Senhor."
A HORA D0 JUÍZ0 EM

Portanto, para o autor, o juízo pré-advento é efetuado por Deus durante a vida de
[odos os seres humanos.
Assim como outros cristãos, Ford também fala de um julgamento que ocorrerá
por ocasião da segunda vinda de Cristo. Ele diz: "É verdade que o julgamento sobre
o qual as Escrituras falam vindica ajustiça de Deus para com o Universo no sentido
de tornar públicas as justas decisões divinas. M4s í'sso ocorrc #4 dí.t;i'são mome#fó#c4 cJof
rivos por ocasião do aduento e nas ressurreições posteriores. ''5
Não discordo de Ford sobre o fato de Deusjulgar as pessoas durante a vida delas.
É claro que Ele faz isso! 0 juízo investigativo não tem de ser um tempo em que
Deus decide tudo. Quando ocorrer esse julgamento, Ele terá tomado Suas deci-
sões. Também não discordo de que haverá um "grande dia do juízo" por ocasião
da segunda vinda de Cristo, no sentido de que será nesse dia que as pessoas obte-
rão sua recompensa. 0 problema é que a versão de Ford sobre o juízo pré-advento
é um caso relativamente privado. Em certo sentido, ele ocorre inteiramente na
cabeça de Deus e, nesse caso, ninguém tem a oportunidade de examinar os veredi-
tos e questioná-1os, antes que o Senhor os efetue.
0 juízo investigativo pré-advento, da maneira como os adventistas o entendem,
é um evento fórmal, público, que abre aos anjos o julgamento que Deus vem efetu-
ando. Seu propósito é revelar o amor e o cuidado com que o Senhor tem conside-
ndo cada caso e ajustiça de Suas decisões.Aos anjos é dada a oportunidade de fazer
qualquer pergunta a Deus, antes que Ele conceda às pessoas vida sem fim ou, pesaro-
samente, dê-1hes a sentença de morte eterna.
Assim, a pergunta é se os adventistas estão certos em sua conclusão de que deve
haver umjulgamento público no Céu 4#fcs da segunda vinda de Cristo, ou se a forma
i-echada do julgamento por ocasí.ão do segundo advento - contemplada por Ford e
muitos outros cristãos - é que está certa. A partir de um exame cuidadoso das evi-
dências, concluí que as Escrituras apoiam em grande medida a posição adventista.
Encontro indícios escriturísticos tanto em Daniel quanto em Apocalipse, mas come-
çarei com Daniel.

0 juízo em Daniel 7
VcÍ5os ]3 c 14. Um exame cuidadoso da descrição do juízo feita por Daniel
no capítulo 7 deixa muito claro que o processo começará 4#fc5 e não #4 oc4s!.Õo da
`inda de Cristo. Paniel disse que, após o julgamento mencionado nos versos 9 e
10, ``um como o Filho do Homem" se aproximou do trono de Deus. Note que o
Filho do Homem veio "com as nuvens do Céu" (v.13). À primeira vista, somos
lembrados das descrições que existem no Novo Testamento de Jesus voltando à
Terra nas nuvens, em Sua segunda vinda (ver, por exemplo, Mt 24:30; Ap 1:7).
Todavia, a vinda que Daniel viu claramente #õo é o segundo advento de Cristo,
porque o profeta vê o Filho do Homem Se aproximar do Ancião de Dias no Céu,
não na Terra.
A Novaversão lnternacional (NVI) diz que o Filho do Homem "Se aproximou
do Ancião e foi co#d%zÍ.do à sua presença" (itálico acrescentado), e a versão New King
NA €ORTE €ELESTIAL

]ames diz: "Ele veio ao Ancião de Dias, e cJcs 0 trouxeram para perto Dele" (itálico
acrescentado). Quem são "eles" que "conduzem" o Filho do Homem até a presença de
Deus? Aparentemente, foi dado a Dariel um vislumbre de uma cerimônia formal na
qual jesus foi escoltado até a presença do Pai, possivelmente por uma comitiva de anjos
formada dentre os milhões que estão em pé diante do trono divino. 0 propósito dessa
grandiosa entrada do Filho do Homem na sala do tribunal e Sua apresentação diante do
Ancião de Dias é o seguinte:

Foi-Lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e


homens de todas as línguas 0 servissem; o Seu domínio é domínio eterno,
que não passará, e o Seu reino jamais será destruído (v.14).

Durante os anos em que fui pastor, dei muitos estudos bíblicos sobre Daniel 7, e
sempre dizia àqueles com quem estava estudando que o verso 14 era uma predição
da segunda vinda de Cristo. Entretanto, uma cuidadosa leitura do texto deixa claro
que esse não é bem o caso. 0 verso 14 tem em vista a segunda vinda de Cristo, ms
o que está ali descrito prcccdc esse evento. É dada ao Filho do Homem a autoridade
de destruir os reinos da Terra e estabelecer Seu reino eterno, mas isso ocorre 4#fcs de
Sua segunda vinda.
Vamos rever a ordem dos eventos até este ponto:

1. 0 juízo ocorre no Céu (v. 9,10).


2.Após ojulgamento, o Filho do Homem é levado até a presença de Deus (v.13).
3. É dada ao Filho do Homem autoridade para governar o mundo (v.14).

0 ponto é que o julgamento no Céu pwccdc a segunda vinda de Cristo. Uma evi-
dência disso é que os vereditos do julgamento são dados antes do retorno de jesus.
Essas sentenças incluem a condenação do animal terrível e espantoso e do chifie
pequeno (v.11, 25, 26), a vindicação dos santos (v. 21, 22) e a entrega ao Filho do
Homem e aos santos da autoridade para possuir o mundo (v.14, 21, 22). Se esses vere-
ditos são dados antes da segunda vinda de Cristo, então, obviamente, o julgamento
que os confere também tem de ocorrer antes do advento do Senhor. Seria dificil dei-
xar isso ainda mais claro do que está no capítulo 7 de Daniel.
L7c/sos 26 c 27. Encontramos a mesma ordem de eventos esboçada nos versos
26 e 2:J ..

Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir
e o consumir até ao fim. 0 reino, e o domínio, e a majestade dos reinos
debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o Seu
reino será reino eterno, e todos os domínios 0 servirão e Lhe obedecerão.

Preste muita atenção à ordem dos eventos nesses versos. 0 verso 26 começa
com o tribunal tomando assento. Seu veredito é que seja tirado do chifre pequeno
A HORÀ D0 JÜÍZ0 EM

o domínio sobre o mundo, dando-o aos santos. De novo, a segunda vinda de Cristo
está à vista, mas a,inda não ocorreu. Assim, essa passagem também apresenta o julga-
mento de Daniel 7 4Í3fcs do segundo advento de jesus, em vez de tendo lugar por occi-
_<i.õo de Sua vinda.
Vcrso 22. Outra declaração anterior em Daniel 7 nos ajuda a entender quando o
julgamento ocorrerá, em relação à segunda vinda de Cristo. 0 verso 22 diz: "Veio o
Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os san-
tos possuíram o reino." Note que, aqui, os santos de fato pos5`#cm o reino (ver tam-
bém o v.18). É claro que isso acontecerá na segunda vinda de Cristo.Assim, o verso
22 nos ajuda a determinar a relação existente entre o julgamento e a volta de ]esus,
pois menciona ambos os eventos, com o julgamento ocorrendo primeiro. As pala-
\Tas "c tJc£.o o fcmpo em que os santos possuíram o reino" sugerem a passagem de um
certo período de tempo entre o julgamento e a possessão do reino pelos santos (itá-
hcos acrescentados).
Novamente, o ponto é que o juízo não ocorre po/ oc4si.õo do segundo advento de
Cristo, mas prccccíc Sua vinda.
Os /í.y/oJ dc D4í%.cJ 7. Um fator existente em Daniel 7 contribui para a compreen-
são da relação cronológica do julgamento com a segunda vinda de Jesus. De acordo
com o verso 10, anjos e livros estão envolvidos nessejuízo. Se esse fosse o único lugar
nas Escrituras que mencionasse livros no Céu, poderíamos ficar incertos quanto
ao conteúdo deles. Entretanto, outras partes da Bíblia mencionam a existência de
h`'ros no Céu e nos dão indicações sobre o que eles contêm, ou seja, um registro
do professo povo de Deus que contém pensamentos, palavras e ações (ver Sl 56:8;
Ml 3:16; Fp 4:3;Ap 20:12-15; 21:27).Admito que esses livros também contêm um
registro da história do mundo e do envolvimento de Deus nela. Daniel nos informa
que eles serão usados no juízo e serão abertos c#4#4#fo mj./Ãõcs dc 4Íçjos rodci'4Í74 o
ír`.iw de Deus.
Livros são simplesmente um método de manter registros para referência futura.6
Uma vez que Deus é onisciente, F[e certamente não precisa de anotações a fim de
Se lembrar de algo. Assim, podemus dizer com segurança que os livros presentes na
i-ena de julgamento de Daniel são para o beneficio dos anjos que estão em volta do
trono divino.
Ford diz:"É certo que Deus efetua a obra dojuízo investigativo por causa dos anjos?
[...] Não, os próprios anjos conhecem os pensamentos e intenções de nosso coração."7
Permita-me discordar. Os anjos não são oniscientes e, portanto, não podem conhe-
cer os pensamentos e intenções do coração humano tal como Deus. Eles precisam
de registros precisos para preservar essas informações. E por isso que vemos os livros
m cena de julgamento em Daniel. 0 profeta diz especificamente que "se abriram os
livros" (v. 10). Em outras palavras, é dada aos anjos a oportunidade de examinar o
registro da conduta de Deus com o mundo e os que nele habitam.
ELs o rneu a,rgu:rnerLto.. Um exame dos registros por seres criados sugere a necessidade de
rcmpo pczm c#4mi.#ó-/os. Assim, o juízo descrito por Daniel no capítulo 7 tem de come-
çar 4Ígwm ícÍ74po 4r3fes da segunda vinda de Cristo, a fim de dar aos anjos a oportunidade
NA CORTE CELESTIAL

de rever os livros do começo ao fim. Isso não pode ocorrer "na divisão momentânea
dos vivos", quando ]esus voltar. 0 julgamento tem de preceder Seu advento, para que
os anjos tenham a oportunidade de examinar totalmente os registros.

0 jui'zo em Apocalipse
A descrição do juízo apresentada em Apocalipse também sugere que ele ocorrerá
algum tempo antes da segunda vinda de Cristo. Duas passagens são particularmente
relevantes para o conceito pré-advento sobre o tempo em que ocorre o julgamento.
4poc4/ÍÍ%c ]4..6 e 7. Essa passagem registra o que comumente os adventistas se
referem como "a mensagem do primeiro anjo" e contém uma referência significa-
tiva ao juízo: "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno
para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo,
dizendo, em grande voz:Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu
juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas."
Duas ideias nesse texto são particularmente importantes para nossa discussão.A pri-
meira é que esse anjo tem "um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre
a terra". Cla,ramente, o evangelho ainda está sendo pregado durante o tempo em que
o anjo proclama sua mensagem. Pessoas ainda estão sendo salvas para o reino de Deus.
Assim, a proclamação desse anjo precede o segundo advento, pois Cristo não virá até
que a pregação do evangelho seja terminada (ver Mt 24:14).
0 segundo ponto significativo em Apocalipse 14:6 e 7 é o anúncio do anjo de
que ``é chegada a hora do Seu juízo". Note: é chegada, não chcg4ió. Claramente, o
julgamento divino no Céu ocorre ao mesmo tempo em que o evangelho está sendo
pregado. Desse modo, ele tem de começar 4#fe5 da segunda vinda de Cristo, não por
occis!.Õo de Seu advento.
4poc4/i¢sc Í6..4 4 6. Com Apocalipse 16, aprendemos que o juízo de Deus tam-
bém sc~ó co%c/w!'do antes da segunda vinda de Cristo. Apocalipse 16 descreve as sete
pragas que devastarão o mundo imediatamente antes da volta de Jesus. Note o que
dizem os versos 5 e 6:

Tu ésjusto,Tu que és e que eras, o Santo,po!'s/.wíg4sfc csf4s co!`s4s; porquanto


derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado
a beber; são dignos disso (itálicos acrescentados).

Essas são as palavras de um anjo após o derramamento da terceira praga, e,


aqui, o julgamento é claramente um evento passado, pois o anjo diz que Deusjt/J-
go%. Uma vez que as sete últimas pra,gas ocorrem 4#fcs da segunda vinda de Cristo,
o juízo que as precede deve começar e terminar antes do advento (ver também
Ap 19:1, 2). Os adventista,s entendem que esse é o julgamento que está descrito em
Daniel 7:9 e 10.
Assim,Apocalipse também não deixa margem para dúvida de que umjuízo ocor-
rerá no Céu ¢#fcs da segunda vinda de Cristo. Com isso, concluo que o ensinamento
adventista acerca do juízo investigativo pré-advento é plenamente bíblico.
A HORÀ 1}0 JUÍZ0 EM DANIEL 7

A data do julgamento
Daniel 7 não nos dá uma data exata para o início do juízo investigativo, mas a
Éase que conclui o verso 25 apresenta uma pista sobre o tempo aproximado em
que o julgamento deve começar. Novamente, ele ocorre 4Ítfes da segunda vinda de
Cristo, não por oc4si.Õo de Seu advento. Falando do chifre pequeno, o verso 25 diz:
•-os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de
um tempo."
A palavra aramaicas traduzida como "tempo" nesse verso é `i'dd4ÍÇ. 0 mesmo
termo ocorre no capítulo 4, que narra a história do sonho de Nabucodonosor
com a grande árvore. Apenas a cepa foi deixada depois de cortarem a árvore, e
um vigilante celestial clamou que o coração do rei seria transformado em um
coração de animal, e "sete tempos" ( `Í.dd4#) ``[passariam] sobre" ele (v.16). Muitos
intérpretes entendem que `í.dd4#, nessa passagem, significa "anos''. A versão New
King ]ames e a Nova Versão lnternacional (NVI) acrescentam notas de rodapé
para a palavra fcmpoJ no verso 16, indicando "anos" como uma tradução alterna-
ti`-a.9 0s adventistas do sétimo dia têm tradicionalmente interpretado a palavra
ífnipo em Daniel 7:25 também como "ano". Em muitas versões inglesas, a forma
no plural /cwpos é, na verdade, uma tradução de uma forma dual de `Í.dd4# - isto
é...duas vezes".]° Aqui está a maneira como esse período de tempo é calculado
matematicamente:

Tempo ("ano") 360 dias


Tempos (dois tempos) 720 dias
Metade de um tempo 180 dias
Total 1.260 dias

Você pode estar se perguntando por que esses cálculos estariam baseados em
inos com 360 dias em vez dos costumeiros 365 ou 366 dias. Ocorre que isso
Está fimdamentado em uma apresentação dupla dessa profecia em Apocalipse 12.
0 `-erso 6 de Apocalipse 12 diz que "a mulher, porém, fugiu para o deserto, onde
Hie havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mí./ d#zc#fos
í .`-f_çsc#f4 cÍ{.4s" (itálicos acrescentados). Contudo, o verso 14 usa a linguagem de
Daniel 7:25 para dizer o mesmo: "E foram dadas à mulher as duas asas da grande
iguia, para qu.e voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada d#/4#fc
•" Ícmpo, fcmpos c mcf4dc cíc #m fcmpo, fora da vista da serpente" (itálicos acres-
i-entados). Podemos, então, estar certos de que o "tempo, tempos e metade de um
[€mpo" de Daniel 7:25 deve ser interpretado como três anos e meio de 360 dias
c2da um.
A próxima pergunta é: Esses três anos e meio devem ser interpretados como
tc.mpo literal ou simbólico? Com base no princípio dia-ano (o que discutiremos em
dctalhe no capítulo 27), os adventistas têm interpretado a declaração de Daniel como
s]mbólica, com um dia representando um ano de tempo literal. A profecia completa,
cntão, compreende 1.260 anos.
CELES"ÀL

A pergunta-chave, naturalmente, é quando esses 1.260 anos devem começar e


terminar. Os adventistas entendem que o período começou em 538 d.C. e teriiri-
nou em 1798. Eu dei uma explicação bastante detalhada do fundamento para essas
datas em meu livro 4poü/í'psc Íj." Farei um pequeno resumo aqui.
Tradicionalmente, os adventistas têm se referido aos 1.260 dias/anos como o
tempo da supremacia papal. Essa maneira de expressar a principal característica do
período leva à falsa concepção de que o papado conseguiu sua supremacia política
na Europa em 538, perdendo-a em 1798. É muito mais consistente dizer que 538
abriu caminho para o papadó se tornar cada vez mais influente na política euro-
peia. Ele chegou ao ápice de seu poder político entre os anos 1100 e 1300, entrando
em declínio gradual após esse período. A igreja romana perdeu o que restava de
sua influência política durante a Revolução Francesa, que foi uma violenta revolta
secular contra todas as religiões, especialmente o catolicismo. Em fevereiro de 1798.
o general francês Berthier prendeu o papa PiovI, que veio a morrer no exílio maís
ou menos um ano depois. Nos cem anos seguintes, os papas se zangaram e esbraveja-
ram por causa de seu isolamento político, mas não puderam fazer quase nada quanto
a isso. 0 autor jesuíta Malachi Martin comentou em 1990 que o Vaticano sofren
"200 anos de inatividade [que foram] impostos ao papado pelos poderes seculares
mais importantes do mundo".í2 Note que 1990 fica a menos de dez anos de intei-
rar 200 anos, desde 1798. Do ponto de vista do historicismo adventista, Martin acer-
tou em cheio.
Com 1798 estabelecido como o ponto final dos 1.260 anos, um pouquinho de
aritmética nos levará a 538 como o ponto iiiicial desse período. 0 que ocorreu em
538? Durante os mais ou menos cem anos anteriores, Roma e Constantinopla haviam
travado um cabo de guerra pela supremacia sobre as igrejas cristãs do império romanQ
Em 533, o imperador]ustiniano acabou com o debate, estabelecendo o papa como o
"cabeça de todas as igrejas santas".t3 Isso, naturalmente, ocorreu cinco anos antes de

538. Os adventistas e outros historicistas têm explicado que os ostrogodos haviam cer-
cado Roma no tempo da carta de]ustiniano e, assim, o papa não pôde exercer o poder
que a carta lhe conferia. No entanto, em 538, o exército imperial expulsou os ostm
godos de Roma, abrindo o caminho para o papa começar a exercer as prerrogativas
que lhe foram dadas pela carta.
Voltando a atenção para a profecia de Daniel, é importante notar que os 1.260
anos são o teippo dado para que o chifre pequeno exercesse seu poder. Esse númem
não estabelece a data do julgamento, mas podemos esperar que o juízo tenha come-
çado depois desse período. De fato, pelos cálculos dos adventistas, ele começou em
1844, menos de 50 anos depois.Veremos mais sobre isso nos últimos capítulos destc
livro. De novo, o ponto é que o juízo descrito em Daniel 7:9 e 10 ocorrerá 4#fcs di
segunda vinda de Cristo, não po/ ocasí.Õo de Seu advento.

Por quanto tempo o julgamento dwerá continuar?


Antes de terminar este capítulo, precisamos considerar uma objeção final que,
de vez em quando, escuto com respeito a duração do juízo investigativo. A ideia
A HCRA D0 JUIZ0 EM DANIEL

básica é que, se o juízo começou em 1844,. então ele vem acontecendo por mais
de 160 anos; certamente, nem Deus nem os anjos precisam de tanto tempo para
re\-isar os registros celestiais e entregar o reino ao Filho do Homem. Também
não é necessário tanto tempo para que os anjos revisem a vida dos santos e para
a declaração de Jesus de que eles são merecedores da salvação. Por exemplo, Ford
diz: "É dificil convencer até mesmo os neófitos em religião de que o Deus onis-
|-iente leva tanto tempo esmiuçando as evidências sobre Suas criaturas, especial-
mente quando as Escrituras afirmam tão claramente que Ele lê os pensamentos
e as intenções de cada alma, e que cada coração está aberto para Ele."" "Estamos
bem fundamentados ao concluir que, em 1844, Cristo começou uma nova forma
de ministério que continua por mais de 14 décadas antes que Seus santos vivos
POssam ver Sua face?"15
Responderei à objeção de Ford de quatro maneiras. Primeira: Deus, provavel-
mente, não desejasse. que o juízo investigativo continuasse por 160 anos. Se a igreja
ü`-esse cumprido sua inissão nos anos após 1844,Jesusjá teria voltado.
Segunda, a objeção de que 160 anos é tempo demais para o juízo divino sempre
t-oi. para mim, um tanto estranha. 0 Senhor está no Céu; nós, na Terra. Quem somos
nós para dizer a Ele quanto deve durar o processo de julgamento? Muitas vezes pode
nos parecer que o tempo de Deus é demasiadamente lento. Ele deixou 4 mil anos
passarem depois da queda de Adão e Eva para enviar o Messias. Alguns impérios da
irisão de Daniel duraram centenas de anos. 0 império romano durou pelo menos 500
anos. Por que deveríamos ficar surpresos com os mais de 160 anos de dura.ção da fase
dc juízo apresentada em Daniel 7?
Minha terceira resposta aos comentários de Ford citados acima é que, na pri-
meira citação, ele presume que o juízo beneficia Deus, dando-Lhe a oportunidade
de esiniuçar as evidências sobre Suas criaturas. No passado, muitos adventistas assu-
miram que esse era o caso, mas essa não é a compreensão da igreja hoje. Indiquei no
capítulo 4 que, atualmente, os adventistas entendem que o julgamento existe para o
beneficio dos anjos, não de Deus. 0 processo revela aos anjos as razões para as deci-
sóes de Deus sobre cada um de Seus filhos.
Quarta: a objeção de que 160 anos é tempo demais para o julgamento divino
presume que o juízo no Céu é algo contínuo. Contudo, é absolutamente plausível
que o processo ocorra em estágios, com pausas entre as sessões, que podem durar
úrios anos. Nó§ simplesmente não sabemos o suficiente sobre essejulgamento para
expressar uma opinião sobre quanto tempo ele deve durar.
Somos humanos, e é compreensível que queiramos ver 4m4##Õ o julgamento ter-
minado e ]esus de volta para nos redimir! Entretanto, Deus tem um ritmo próprio
pam deixar a história cumprir Sua vontade.

Cmduindo
A principal questão deste capítulo é se o juízo final de Deus, o qual é mencionado
úrias vezes nas Escrituras, terá lugar por oc4sÍ'ão da segunda vinda de Cristo ou algum
tempo cíÍGíe§ dela. Muitos cristãos, inclusive Desmond Ford, entendem que o julgamento
ocorrerá por oc4si`õo do retorno de Jesus, mas o ,ensinamento adventista sobre o juízo
investigativo requer que ele ocorra no Céu algum tempo cz#fcs disso. As evidências que
apresentei deixam claro que a posição adventista tem forte suporte bíblico.

\ "ÍI"arrL Shea, Estudos Selecionados em lnterpretação Profttica, v.1, p.117 .


2 Nota do editor de língua portuguesa: a expressão "em pé" é uma inferência, com base na informação dc.

que o tribund se assentou. Essa expressão não ocorre no verso em questão.


3 ibid., p.119.
4 Desmond Ford, "Daniel 8:14", p. 477.
5 ibid., p. 476, itálico acrescentado.
6 Com certeza, o método celestial de nianter registro é muito superior ao dos volumes encademados q`ic
ocupam as estantes de uma biblioteca.
7 Desmond Ford,"Daniel 8:14", p. 477.
8 Daniel 2:4b-7:28 foi escrito em aramaico.
9 A palavra /cmpos ( `!.dd4w) também ocorre nos versos 23, 25 e 32.
" 0 Comc#Íári.o Bi'b/Í.co 4dt;cwíÍ.sf4 diz: "[...] eruditos concordam que [a palavra fcmpos] deveria ser apontadl

como dual, denotando, assim, `dois tempos" (v. 4, p. 917). Na Revised Standard version, Daniel 7:25 diz
"duas vezes".
1t Ver Marvin Moore, 4poc4/Í`psc fj, p. 43-52.
L2 MaLachí Martín, The Keys of This Blood, p. 22.
\3 Cítaào em.. Comentário Bíblico Aduentista do Sétimo Dia, v. 4, p. 911.
t4 Desmond Ford, "Daniel 8: 14", p. 277.
i5 ibid., p. 293.
0 JUÍZ0 E 0S PECADOS
DOS SANTOS

Oà;gvée::lrstaa:scar:,eoTuq::oupmorí:á|::::óds:t::v:aa:sal=:no.r|traan::SmdooÉueí:so,::,voe:tlsgea:
professo povo, de modo que eles possam ver a justiça de Suas decisões sobre cada
um. Para isso, será necessário que os anjos façam uma revisão dos pecados dos santos.
DCLsmond Ford, todavia, insiste em afirmar que a principal função do julgamento de
Daniel 7 é condenar o perverso chifre pequeno, e que o processo não tem nada que
ttr com os pecados dos santos. Ele diz:

É o chifi.e pequeno que está sendo investigado, não os santos que soffem. Os
livros guardam os reãstros das transgressões intencionais dos seguidores de
Satanás, não as fàlhas dos que adoramjeová.í

Os santos nunca são o objeto da investigação divina. Se estiverem man-


tendo uma correta relação, um concerto, com Deus, a situação deles não
está, em tempo algum, aberta a questionamento.2

0s "1ivros" de Daniel 7: 10 aparentemente contêm o registro dos atos maus


da quarta besta e do chifre pequeno. Não há absolutamente nada ali sobre
os santos sendo analisados pela corte celestial. Nenhum dos se#s peca,dos é
indicado, e não há nada que indique que esses livros contenham um regis-
tro da vida deles.3

Note as palavras de Ford: "É o chifie pequeno que está sendo investigado, não os
sintos que sofiem", "os santos nunca são o objeto da investigação divim", e "não há
absolutamente mda ali sobre os santos sendo analisa,dos pela corte celestial". 0 a,utor
cri essencialmente correto quanto a Daniel 7 não cJi.zcr que o julgamento no Céu antes
da segunda vinda de Cristo vri considerar os pecados dos santos. Acrescentarei que o
capítulo também não declara diretamente que os pecados do quarto animal e do chi-
fic pequeno estão sendo investigados. Os pecados do chifie pequeno estão registrados no
t€iso 25, e a conclusão razoável é que ojuízo investigará aqueles pecados, mas Daniel nâo
diz isso. 0 ponto da visão é o embate entre o chifie pequeno e os santos, e o objetivo do
i]lgamento é a solução desse conflito, não os pecados do chifie pequeno ou dos santos.
Os pecados dos santos não são mencionados em Daniel 7 porque são os san-
tos que estão sendo atacados. Suas transgressões não são o objeto da discussão nessa
profecia em particular, mas isso não significa que o juízo não irá considerar seus
pecados, como veremos posteriormente. 0 que a profecia diz é que um veredito é
NA CORTE

proferido para ambos os lados. 0 quarto animal e seu chifre pequeno são condenados
(v. 11, 26), e ``[o Ancião de Dias] fez justiça aos santos do Altíssimo" (v. 22). Eles são
vindicados. A implicação óbvia é que o julgamento examina tanto o chifre pequeno
quanto os santos; pois, se a sentença é proferida em favor deles, então eles tiveram de
ser investigados.

0 juízo de Deus em outras paries da Biblia


Como em qualquer outro tema da Bíblia, é importante incluir todas as evidências
€scr!'f#rí'sfí.c4s. É um erro considerar o juízo em Daniel 7 de maneira isolada, sem levar
em consideração tudo o que as Escrituras dizem sobre o assunto. E as evidências em
outras partes da Bíblia deixam muito claro que os pecados dos santos scÍÕo considera-
dos no juízo final. Note os seguintes textos:

Eclesiastes 12:14 -"Porque Deus há de trazer ajuízo todas as obras, até as


que estão escondidas, q#cr scj4m bo4s, qwcr scj4m mós" (itálicos acrescentados).
Mateus 12:37 -``Porque, pela,s tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas
palavras, serás condenado."
Romanos 14:10-12 -"Pois todos compareceremos perante o tribunal de
Deus. Como está escrito: Por Minha vida, diz o Senhor, diante de Mim se
dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada
um de nós dará contas de si mesmo a Deus."
2 Coríntios 5:10 -``Porque importa que todos nós compareçamos perante
o tribunal de Cristo, para que cada um receba scgtt#do o bcm ow o maJ que
tiver feito por meio do corpo" (itálicos acrescentados).
Tiago 2:12 -"Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aque-
les que hão de serjulgados pela lei da liberdade."

Duas conclusões são muito óbvias nesses textos: (1) 0 povo de Deus comparecerá
ao juízo final, e (2) seus atos, bons ou maus, serão levados em consideração nesse
processo.Assim, embora a exposição de Daniel sobre o julgamento no capítulo 7 não
mencione os pecados dos santos, ojuízo, assim como é descrito em outros lugares da
Bíblia, Í.#cJwí. esses pecados. Daniel 12: 1 diz que, na ressurreição, ao Cristo voltar,"será
salvo o Teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro". A declaração de que
o povo de Deus será "achcido inscrito no livro" é, obviamente, uma declaração sobre o
juízo. Quando é que o povo santo será "4cÃ4do inscrito no livro"? Evidentemente, no
tempo dojulgamento mencionado em Daniel 7:9 e 10, que é o único outro lugar nos
escritos de Daniel em que os livros são mencionados no contexto do juízo.
A única maneira, de concluir que ojulgamento de Daniel 7 nada tem que ver com
os pecados dos santos é acreditar que Deus planeja conduzir doisjuízos finais: um que
está descrito em Daniel 7 e outro que é mencionado em outras partes da Bíblia. Mas
isso não faz sentido para mim. Parece mais razoável assumir que o juízo de Daniel 7
é o mesmo indicado por outros escritores bíblicos e que, ao colocarmos tudo juntq
temos um quadro mais completo do julgamento final no Céu.
0 JÜÍzO E 0S

Então podemos dizer que, embora Daniel não declare diretamente, o juízo sobre
o qual ele fala no capítulo 7 envolverá uma revisão da vida dos santos, incluindo
tanto seus atos bons quanto maus. É certo que há um sentido de dia do juízo na
maneira como as Escrituras descrevem a segunda vinda de Cristo. No entanto, não
consigo imagimr que Deus irá esperar até a volta de Jesus para trazer os pecados dos
santos ao julgamento! Se eles forem mesmo trazidos - e as Escrituras deixam claro
que serão - então é muito mais razoável concluir que serão investigados no juízo
pré-advento, em vez de algum julgamento - seja qual for - que ocorra por ocasião
do retorno de ]esus.

0 juízo investjgatiyo e o grande conflito


No capítulo 4 deste livro, indiquei que o ensinamento adventista sobre o juízo
mvestigativo faz sentido especialmente no contexto do grande conflito.Apocalipse 12
dá uma das principais evidências do grande conflito, além de estabelecer uma cone-
rio com o juízo pré-advento.
Apocalipse 12 começa com uma mulher dando à luz um menino a quem o dra-
gão tenta destruir. Deus salva o menino arrebatando-o para o Céu (v.1-6). Essa é
uma referência óbvia ao nascimento e ascensão de Cristo. Quando o dragão vê que
não consegue destruir o menino, volta-se para a mulher. Os intérpretes adventistas
entendem que, na profecia apocalíptica, mulher é um símbolo do povo de Deus, as
pessoas que professam segui-Lo. Apocalipse 12:13 afirma que o dragão perseguiu a
mulher, e o verso 14 diz que "fóram dadas à mulher as duas asas da grande águia,
para que voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo,
tc.mpos e metade de um tempo, fora da vista da serpente" (isto é, o dragão -ver v. 9).
Note que Apocalipse apresenta dois conceitos presentes em Daniel 7:25: a persegui-
ção dos santos e a duração da perseguição, que é de "um tempo, tempos e metade de
um tempo", ou 1.260 dias.
Apocalipse também contém uma terceira alusão a Daniel 7. De acordo com
Daniel 7:25, o chifre pequeno "cuidará em mudar os tempos e a lei''. Os adven-
dstas entendem isso como uma referência à mudança papal nos dez mandamentos,
et-etuada de duas maneiras: (1) a adoração de imagens, proibida pelo segundo man-
damento, e (2) a substituição do sétimo dia da semam pelo primeiro, o qual passou a
scr, para a maioria do mundo cristão, o dia de guarda, em violação ao quarto manda-
mento.Apocalipse 1.2:17 também sugere um ataque à lei de Deus: "Irou-se o dragão
contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os q#c gw4Ícíam os
m4"dcimc#fos dc Dc#s e têm o testemunho de jesus" (itálicos acrescentados). Aqui, o
dragão ataca os mandamentos de Deus na pessoa dos santos, guardadores da lei divina.
Assim, três das especificações relacionadas ao chifre pequeno de Daniel 7 reaparecem
em Apocalipse 12:

• 0 ataque ao povo de Deus


• 0 período de um tempo, tempos e metade de um tempo
• 0 ataque à lei de Deus
CELESTIAL

Isso leva a uma conclusão extremamente significativa: o chifre pequeno de Daniel 7


e o dragão de Apocalipse 12 estão relacionados. 0 dragão, naturalmente, é Satanás,
pois Apocalipse 12:9 fala do "grande dragão [...] que se chama diabo e Satanás". Não
estou sugerindo, contudo, que o chifi.e pequeno de Daniel 7 sc/.ci Satanás. Concordo
com nossa intepretação adventista historicista de que o chifre pequeno representa o
papado medieval. Entretanto, Satanás raramente aparece em pessoa para seres huma-
nos. Ele atua por meio de seus agentes. Assim, estou sugerindo que uma compara-
ção entre Daniel 7 e Apocalipse 12 deixa evidente que o chifre pequeno de Daniel é
simplesmente um agente do inimigo. 0 diabo é o poder por trás do chifre pequeno.
S4f4#ás, #osso czc#s4dor. Essa conclusão sobre o chifiie pequeno é extremamente signi-
ficativa, pois ela acrescenta outra dimensão para o ataque ao povo de Deus em Daniel 7.
Encontramos isso em Apocalipse 12:10, em que o profeta diz: "Ouvi grande voz do
céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autori-
da.de do Seu Cristo, poisjbi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia
e dc #oi.fc, d!.4#fc cío #osso Dcws" (itálicos acrescentados). Daniel 7:25 apresenta o chifie
pequeno atacando o povo de Deus, e Apocalipse 12:10 mostra o dragão -Satanás, o
poder por trás do chifre pequeno - fazendo o mesmo. Note a na.tureza do ataque do
±rimigo.. ele é o acusador do povo de Deus.
De que ele os acusa?
Dois outros textos da Bíblia mostram Satanás acusando o povo de Deus. No pri-
meiro capítulo de ]ó, o inimigo se une a outros seres celestiais para comparecer
perante o Senhor, que o desafia: "Observaste o Meu servo Jó? Porque ninguém há
na Terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do
mal" Uó 1:8). Satanás responde: ``Porventura,Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o
cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos aben-
Çoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em
tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra Ti na Tua face" (v. 9-11). A questão
é o caráter de ]ó, e a 4cwsaçõo cspec%" dc S4f4#Ás e' q#c cJc não merece o favor divino.
Vemos algo semelhante em Zaca.rias 3. 0 profeta escreve:

Deus me mostrou o sumo saceiidote Josué, o qual estava diante do Anjo do


SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o SENHOR
disse a Satanás: 0 SENHOR te repreende, ó Satanás; sim, o SENHOR, que esco-
lheu .a]erusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo? Ora,Josué,
trajado de vestes sujas, estava diante do Anjo.Tomou Este a palavra e disse aos
que estavam diante Dele:Tirai-1he as vestes sujas.Ajosué disse: Eis que tenho
feito que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes (v.1-4).

Embora o texto não diÉ4 que Satanás acusou Josué de não ser digno, isso está
implícito na passagem. Note que o diabo se opõe ao Anjo do Senhor. E qual é a
resposta do Anjo? Ele repreende o inimigo, dizendo que Josué é um tição tirado
do fogo. 0 Anjo do Senhor, então, tira as vestes sujas do sumo sacerdote, veste-lhe
com trajes finos e diz: "Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade."A visão
0 JUÍZ0 E 0S PECADOS DOS

de Zacarias é uma perfeita descrição da justificação pela fé, por meio da qual Deus
remove nossos pecados e nos veste com o manto da justiça de Cristo. Também é
uma notável representação do esforço que Satanás faz para impedir que isso ocorra.
Fica óbvio que o inimigo quer dizer que a pecaminosidade de Josué o desqualifica
para o favor de Deus.
Semelhantemente, penso que, quando Apocalipse 12: 10 chama Satanás de "acusa-
dor de nossos irmãos", as referidas acusações são as mesmas feitas contraJó e Zacarias
- o inimigo está afirmando que o povo de Deus é indigno de Seu favor. De que mais
Satanás acusaria o povo de Deus?
Aqui está o ponto: em Apocalipse 12, as acusações do diabo são um ataque direto
aos santos. Por causa da íntima relação existente entre Apocalipse 12 e Daniel 7, essa
conclusão contribui em grande medida para nosso entendimento sobre as investidas
contra os santos de Daniel 7. Embora o foco histórico de Daniel 7 esteja m persegui-
ção do povo de Deus pelo papado medieval no tempo da inquisição, Apocalipse 12 nos
mostra que o poder por detrás do chifiie pequeno é Satanás, e que seu ataque aos santos
riclui acusá-los diante do Senhor como indignos de Seu favor. Por isso, fcmos dc co#sÍ'dc-
rflr cssc cif4qwc em #oss4 4w¢/Í.cifõo dc D¢#í.c/ 7. Há duas outras evidências bíblicas que jus-
tificam plenamente essa abordagem: (1) os livros celestiais incluem um registro da vida
dos que compõem o povo de Deus, e (2) seus atos, tanto bons quanto maus, serão revis-
tos no juízo final.
Se o que eu disse está correto - e acredito que esteja - então note por qwc os
pecados dos santos são considerados. Não é porque Deus e Cristo os evocam, pois
Eles perdoaram esses pecados. Também não é porque os anjos os revelam. É porque
S4f4#ás os frt7z À foíM! Ele é o acusador do povo de Deus. Chamo sua atenção para um
parágrafo de 0 Grflítdc Co#J]í.fo, de Ellenwhite, o qual citei em um ca.pítulo anterior:

Enquanto ]esus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os
diante de Deus como transgressores. 0 grande enganador procurou levá-
los ao ceticismo, fazendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de
Seu amor e violar Sua lei. Agora aponta para o relatório de sua vida, para
os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que desonraram a seu
Redentor, para todos os pecados que ele os tentou a cometer; e por causa
disto os reclama como súditos seus.4

Isso nos traz o outro pensamento que Ford expressou em uma das citações que
compartilhei com o leitor no começo deste capítulo. Ele disse: ``Se [os santos] esti-
verem mantendo uma correta relação, um concerto, com Deus, a situação deles não
está, em tempo algum, aberta a questionamento."5 Certamente isso é correto no que
diz respeito a Deus e a Cristo. Entretanto, definitivamente não é verdade quanto a
Satanás. Ele questiona, sÍ.m, a condição dos santos. Essc é sc% p4pe` como czc#s4dor. Então,
permita-me repetir: a razão para que sejam revistos os pecados dos santos durante o
juízo final não é Deus, Cristo ou os anjos trazê-1os à tona; é porque Satanás faz isso!
Os livros de registro são a resposta divina, e, quando os anjos completarem sua revisão
NA CORTE CELESTIÀL

da vida dos santos, eles ficarão satisfeitos ao ver que o Senhor está certo e o inimigo
está errado. Ficará demonstrado que todas as alegações de Satanás contra os que são
verdadeiramente santos de Deus não têm fundamento. 0 trágico, porém, é que, em
alguns casos, as acusações são corretas - alguns dos que afirmaram estar do lado de
Deus m verdade estão do lado de Satanás (ver Mt 7:22, 23; 25:11,12), embora o
Senhor soubesse da condição espiritual dessas pessoas o tempo todo.
Assim, mesmo que Ford estivesse correto em sua afirmação de que Daniel 7 não
declara que os pecados dos santos serão considerados no juízo ao qual a passagem se
refere, a descrição desse evento em outros lugares da Bíblia deixa muito claro que
as ações do povo de Deus, tanto boas quanto más, scxõo revistas no julgamento no
tempo do fim. Isso é bíblico.

t Desmond Ford, "Daniel 8:14", p. 353. Essa citação é parte do comentário de Ford sobre Daniel 8:14, não
seu comentário sobre o juízo de Damel 7. Contudo, seu argumento em relação aos pecados dos santos é o
mesmo para ambos os capítulos de Daniel.
2 ibid., p. 355.
3 ibid., itálico do original.
4 Ellen G.Whice, 0 Grt2#dc Cowj3i'Co, p. 484.
5 Ford, "Daniel 8:14", p. 355.
OUESTÕES EM DANIEL 8
ONDE ESTÁ ROMA
EM DANIEL 8?

mançl::8d:s::s:anpcíl,:|:a,rea::|à:t:1:adaodsv;:t:::as::::ríaz|:à:V.ersítàE:tlqvuo:Teo:soasirnet.eerf|rde:
ao longo dos anos. Assim, é importante que dediquemos algum tempo para exami-
mr cuidadosamente esse assunto. Começarei com uma comparação da visão de Daniel
registrada no capítulo s com as visões dos capítulos 2 e 7.
Nos capítulos anteriores deste livro, observei a natureza paralela dos capítulos 2 e
7 de Daniel. Os quatro metais do capítulo 2 representam os mesmos poderes políti-
cos retratados pelos quatro animais do capítulo 7: Babilôiiia, Medo-Pérsia, Grécia e
Roma. Os pés de ferro mesclado com barro de Daniel 2 representam o esfacelamento
de Roma pelas tribos bárbaras, assim como os dez chifres da cabeça do quarto ani-
mal do capítulo 7. Finalmente, tanto o capítulo 2 quanto o capítulo 7 terminam com
o estabelecimento do reino eterno de Deus. A pergunta que temos de fazer sobre
Daniel s é se ele é paralelo aos capítulos 2 e 7.
Três símbolos e uma declaração do anjo Gabriel em Daniel s são claramente para-
lelos aos outros dois capítulos:

]. 0 c¢r#ci'ro. 0 anjo diz a Daniel que o carneiro do capítulo s representa


"os reis da Média e da Pérsia" (v. 20). Esse símbolo é paralelo aos braços e

peito de prata de Daniel 2 e ao urso do capítulo 7.


2. 0 bodc. Esse símbolo que o anjo diz representar a Grécia (v. 21), apresen-
tado no capítulo 8, é paralelo ao ventre e coxas de bronze do capítulo 2 e
ao leopardo com quatro cabeças e quatro asas do capítulo 7.
j. 0 c#frc pcqwcm Muitos eruditos concordam que o chifre pequeno do
capítulo s é paralelo ao chifre pequeno do capítulo 7.
4. 0 fcmpo doufim. 0 anjo intérprete de Daniel lhe diz que a visão do capí-
tulo s é sobre o tempo do fim (v.17,19), assim como o estabelecimento
do reino eterno de Deus em Daniel 2 e 7 são eventos do tempo do fim.

Entretanto, o império romano, que é tão claramente representado pelas pernas


de ferro no capítulo 2 e pelo animal terrível e espantoso, no capítulo 7, parece estar
ausente no capítulo 8. Daí a pergunta que intitula este capítulo: Onde está Roma em
Daniel 8?
Muitos intérpretes adventistas entendem que o chifre pequeno representa Roma
tanto em sua fase pagã quanto papal, e eu concordo. 0 restante deste capítulo explica
a base para essa interpretaçâo. Começarei citando os versos s e 9:
CELESTIAL

0 bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-1he o


grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os qua-
tro ventos do céu. De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou
muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa.

No capítulo 9 deste livro, indiquei que muitos eruditos entendem que o chi-
fre pequeno representa Antíoco IV Epifinio. A razão mais óbvia para essa con-
clusão é que ele foi um rei grego de uma das divisões do império de Alexandre,
e, à primeira vista, parece que o chifre sai de um dos quatro chifres do bode.
Entretanto, estudantes historicistas da profecia (incluindo adventistas) interpretam
o chifre pequeno de Daniel 8 como uma representação de Roma tanto na fase
pagã quanto na papal.

Problemas com a interpretação de Antíoco como o chifre pequeno


No capítulo 8, discuti vários dos problemas com a interpretação de Antíoco como
chifre pequeno. Começarei com um resumo deles.

• Daniel s diz que o carneiro era "grandioso", o bode era "muito gran-
dioso" e o chifre, "excessivamente grandioso" (versão KingJames). Entre-
tanto,Antíoco não foi maior do que os impérios medo-persa e grego. Ele
foi um governador irrelevante do império selêucida.
• Os territórios conquistados por Antíoco não cresceram na direção que
Daniel disse que eles cresceriam.
• Antíoco não destruiu o templo de Jerusalém, conforme foi profetizado
sobre o chifre pequeno.
• Ele também não profanou o santuário por 2.300 dias, nem mesmo por
1.150 dias.
• 0 tempo do fim não veio após o acesso de fúria de Antíoco em]erusalém.
• Antíoco não se encaixa no panorama das profecias de Daniel.

Uma razão importante pela qual os historicistas rejeitam esse rei como a interpre-
tação do chifre pequeno de Daniel s é que ele não se encaixa nas várias especifica-
Ções dadas pelo profeta para aquele símbolo.
Compar¢ÇÕ9 dos c#i/rcs. Os atos dos chifres de Daniel 7 e s são muito parecidos.
Ambos atacam a Deus, Seu povo e Sua verdade. No capítulo 7, o chifre pequeno
ataca a lei de Deus e, no capítulo 8, o santuário. Isso tem levado muitos intérpre-
tes - possivelmente a maioria - a considerar que os chifres pequenos dos capítu-
los 7 e s representam a mesma entidade maligna. Naturalmente, isso apresenta um
problema para aqueles que entendem que o chifre pequeno do capítulo s repre-
senta Antíoco porque, dessa forma, eles têm de encontrar uma maneira de fazer
com que o chifre pequeno do capítulo 7 também signifique Antíoco. Porém, no
capítulo 7, o chifre pequeno cresce no animal terrível e espantoso, que simbo-
liza Roma. Como poderia Antíoco ser retratado como um poder que cresce no
ONDE ESTÁ ROMA EM

império romano, sendo ele parte do império grego, que foi predecessor de Roma?
Os eruditos que desejam que o chifre pequeno de Daniel 7 represente Antíoco
tentam fazer com que isso funcione dividindo a Média e a Pérsia em duas entida-
des separadas. Aqui está um esboço dessa interpretação:

Le ão B a,bilô nia
Urso Média
Leopardo Pérsia
Animal terrível e espantoso Grécia
Chifre pequeno Antíoco

Existem vários problemas com essa explicação. Primeiro, ela acaba com a unidade
entre os capítulos 2 e 7. A imagem do capítulo 2 tem quatro metais que representam
Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Parece razoável que os quatro animais do
capítulo 7 se refiram àquilo que os quatro metais do capítulo 2 representam. É um
t-ato histórico que Babilônia foi sucedida pela Medo-Pérsia, pela Grécia e por Roma.
Portanto, se separarmos a Média e a Pérsia para fazer com que o chifre pequeno da
cabeça do animal terrível e espantoso represente Antíoco, acabaremos com a unidade
eristente entre os capítulos 2 e 7.
0 segundo problema é que, em Daniel 8:20, o anjo intérprete do profeta lhe disse
que um único carneiro representava a Média e a Pérsia. Se a Média e a Pérsia estão
representadas por um único animal no capítulo 8, parece razoável que elas sejam retra-
tadas por um único símbolo no capítulo 7. Também existe uma significativa seme-
mança entre o urso de Daniel 7 e o carneiro do ca,pítulo 8. 0 urso se levantou sobre
um dos seus lados, e o carneiro tinha dois chifres, um dos quais cresceu mais que o
outro. Assim, parece lógico entender o urso e o carneiro como representantes do
mesmo poder, ou seja, a Média e a Pérsia combinadas.
0 terceiro problema é que o leopardo tinha quatro cabeças, análogas aos quatro
chifi.es do bode grego do capítulo 8. Além disso, as quatro asas do leopardo sugerem
a velocidade com que Alexandre, o Grande, conquistou o império medo-persa, e elas
são paralelas ao detalhe que está no capítulo 8, ou seja, que o bode correu contra o
carneiro com tal velocidade que suas patas nem mesmo tocavam o solo.Assim, é bem
lógico pensar que o leopardo representa a Grécia, não a Pérsia.
Por essas razõçs, concluo que o urso do capítulo 7 representa tanto a Média
quanto a Pérsia, e o leopardo representa a Grécia, não a Pérsia.
Aítfi'oco e os dcz cÃfr€s. Ainda há outro problema com a interpretação de Antíoco
como chifi-e pequeno, que tem a ver com os símbolos de Daniel 2 e 7 para a der-
rocada do império romano no 3Q, 4Q e 5Q séculos d.C. Essa queda é representada em
Daniel 2 pelos pés e dedos de ferro e barro e, em Daniel 7, pelos dez chifres. De
acordo com Daniel 7:24, o chifre pequeno se levanta cJcpoÍ.s dos dez chifres. Se o ani-
mal terrível e espantoso representa a Grécia, então esses dez chifres têm de se encaixar
m história grega anterior a Antíoco, de maneira que esse rei possa surgir entre eles.
Todavia, não há como fazer isso. Os chifres só fazem sentido à luz do esfacelamento
NA CORTE CELESTIAL

do império romano, vários séculos depois de Antíoco ter saído de cena. Portanto,
o chifre pequeno de Daniel 7 não pode representá-lo.
Concluindo, os problemas associados com a identificação do chifre de Daniel 7
como Antíoco parecem incontornáveis para mim.

Problemas com a interpretação historicista


Não seria muito sincero de minha parte fingir que todos os problemas com a
interpretação do chifre pequeno de Daniel s estejam na ideia de que ele representa
Antíoco. A explicação historicista não pode ser considerada perfeita por duas razões,
pelo menos.
Por qwc ÍcÕo cíoí.s si'mboJos.? Um dos problemas é que, no capítulo 7, o império ro-
mano e o papado estão representados por símbolos separados: o quarto animal re-
presenta Roma e o chifre pequeno representa o papado. Os adventistas geralmente
entendem que o chifre pequeno do capítulo s representa tanto a Roma pagã quanto
a papal. A pergunta é: Por que o capítulo s tem apenas um símbolo para representar
tanto Roma como o papado, enquanto o capítulo 7 tem dois?
Isso nem chega a ser tão problemático como pode parecer à primeira vista.
0 chifre pequeno de Daniel 7 é, de alguma maneira, apenas um símbolo sepa-
rado do animal terrível e espantoso, pois ele cresce na cabeça dele. Assim, durante
todo o tempo de existência do chifre pequeno, ele está ali como uma parte do
animal, e o animal existe durante todo o período representado pelo chifre. Se o
chifre do capítulo 7 representa o papado, então o animal terrível e espantoso tam-
bém o representa. Existe uma boa razão para essa mescla de símbolos. Os historia-
dores reconhecem que o papado cresceu no império romano, vindo a sucedê-1o
quando o papa simplesmente tomou o lugar do imperador. Com efeito, um dos
títulos usados pelos antigos imperadores romanos era Po#ffcx M4xí'm#s, que ainda
hoje é adotado pelos papas. Assim, nem devíamos nos surpreender ao encontrar-
mos a visão do capítulo s de Daniel fornecendo um único símbolo para represen-
tar tanto a fase pagã de Roma quanto a fase papal, pois, em um sentido bem real,
eles são uma só entidade.
4 oríÉcm do cÃfre pcq#c#o. Um segundo problema com a interpretação historicista
de Daniel 8 é que o chifie parece sair de um dos quatro chifies do bode, ou seja, de
uma das divisões do império de Alexandre.Antíoco foi um rei do império selêucida,
que era uma das divisões da Grécia. Os historicistas precisam de uma boa resposta
para a ideia de que o chifi.e pequeno cresce a partir de um dos quatro chifres do bode,
por duas razões: (1) porque a identificação de Antíoco com esse símbolo parece óbvia
e (2) porque essa interpretação é largamente aceita no meio acadêmico.
É para essa resposta que vamos voltar nossa atenção agora.

Razões pekis quais o chifre pequeno se identifica com Roma


0 primeiro item a ser notado é que o hebraico em Daniel 8:9 não diz que o chifi-e
pequeno s4Í.# de um dos quatro chifi-es da cabeça do bode. Muitas de nossas versões
modernas traduzem com precisão o hebraico ao dizer que "de uma dcJ45 s4Í.w uma
ONDE ESTA ROMA EM DANIEL

ponta mui pequena" (ARC, itálicos acrescentados). As duas palavras sigrificativas são
dc/4s (de + elas) e sc#.%. Começarei comentando sobre o pronome e/cÜ.
0 cz#fcccdc#fc cÍc elas.A pergunta é: Qual é o antecedentet do termo c/4s, de onde
saiu o chifre pequeno? 0 verso s dá duas possibilidades. Citarei esse verso outra
`-ez e destacarei cada uma das possibilidades. ``E o bode se engrandeceu em grande
maneira; mas, estando na sua maior força, aquela grande ponta fói quebrada; e subi-
ram no seu lugar quatro km#f4s] também notáveis, para os quatro t;c#fos do céu."
(ARC, itálico acrescentado) . Então, Daniel disse: ``De uma dcJ4s saiu uma ponta mui
peque-[...].„
Cabe a pergunta: 0 chifre pequeno (ou ponta, na versão ARC) saiu dos quatro
chifi.es ou de um dos quatro ventos? A razão mais óbvia para concluir que o chifre
pequeno saiu de um dos quatro chifres é que os quatro chifres e o chifre pequeno
são todos cÃfres. Na vida real, os chifres não saem de ventos. Parece razoável, então,
que o chifre pequeno cresça a partir de outro chifi.e. Entretanto, os símbolos usa-
dos na profecia apocalíptica frequentemente desafiam a realidade. Leões e leopardos
não têm asas; bodes não têm chifres entre os olhos, muito menos correm sem tocar o
chão. Na vida real, chifi-es não têm olhos nem bocas, não fàlam, não tentam mudar as
leis de Deus nem atacam o santuário. Assim, embora a ideia de um chifie sair de um
dos quatro ventos pareça bizarra, tendo em vista nossa compreensão de mundo nor-
mal, ela não é mais estranha do que alguns dos outros símbolos presentes nas profe-
cias de Daniel.
A segunda consideração para determinar o antecedente da palavra c/4s é que,
nomalmente, o antecedente de um pronome é o substantivo que precede o pronome
mis de perto. Por exemplo, suponha que eu diga: "Quando João chutou a bola,
sua chuteira saiu do pé. Então, ele cg apanhou." 0 termo antecedente do pronome
Ú é ``bola" ou "chuteira"? A resposta mais natural é que o antecedente de ``a" é
•.chuteira", pois essa palavra é o substantivo que precede o pronome "a" mais de perto.
Semelhantemente, os quatro ventos estão mais próximos do pronome "a" do que as
quatro pontas, o que faz de ``ventos" o antecedente mais lógico.
4 p4/4wrfl #cbrfl!'m pcwfl "s4Í'#". De acordo com os intérpretes que aceitam o chi-
fie pequeno como símbolo de Antíoco, o chifre pequeno c/t'scc# a partir de um dos
quatro chifres da cabeça do bode. Várias palavras hebraicas estão traduzidas como
"crescer" em nossas bíblias, dependendo do matiz que o autor deseja dar. Daniel,

porém, não usou n£nhuma daquelas palavras ao descrever a origem do chifi.e pequeno.
0 termo que ele usou foi y4f54. Essa expressão ocorre mais de mil vezes no Antigo
Testamento em hebraico.2 0casionalmente, ela é traduzida como "crescer" (ver, por
exemplo,Jó 31:40), mas esse não é o significado básico. A tradução mais comum é
"sair de algum lugar". Por exemplo, Gênesis 2:10 diz "E s4Í'¢ [y4fs4] um rio do Éden

para regar o jardim" (itálico acrescentado) e, em Gênesis 15:4, Deus disse para Abraão:
•`Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sc#'r, este será o teu

herdeiro" (ACF, itálico acrescentado). Em sua tese doutoral sobre Daniel 8:9 a 14,
Martin Proebstle diz: "Na Bíblia hebraica, yczf5cz nunca é usado para o desenvolvi-
mento de chifres, e o verbo usado [para o desenvolvimento de chifres] na visão de
Daniel 8 é 4J4h (Dn 8:3, 8). Semanticamente, é dificil apoiar a ideia de que, no verso
ga, o chifre crcscc, em vez de s4Í., de um deles".3
Um dos usos mais frequentes de yafscz no Antigo Testamento se refere ao sentido
de um exército "sair" para a batalha. Por exemplo, em sua oração de dedicação do
templo, Salomão disse: "Quando o Teu povo s4í'r [y4fs4] à guerra contra o seu inirigo,
[...] ouve Tu nos Céus a sua oração" (1Rs 8:44, 45; itálico acrescentado). Números
1:20 fala dos ``filhos de Rúben, [...] todos os homens de vinte anos para cima, todos
os capazes de sc%'r [yczf5c!] à guerra" (itálico acrescentado). Por todos os 21 versos
seguintes, a mesma expressão é repetida para cada tribo. 0 uso militar da palavra yc!fscg
se encaixa com as tentativas de Antíoco para ocupar o Egito e subjugar osjudeus, mas
é especialmente apropriado para as conquistas militares dos romanos quando derrota-
ram a Grécia e assumiram o controle da região do Mediterrâneo.
Voltando a Daniel 8:9, o chifre pequeno sc#'# de algo, e as duas opções são: (1)
ele saiu de um dos quatro chifres, ou (2) ele saiu de um dos quatro ventos. 0 ponto
de vista de que o chifi.e pequeno scH'# de um dos quatro chifres da cabeça do bode
certamente é razoável. 0 significado de yczfs4 (sair) faz de "ventos" uma opção mais
plausível do que qualquer outra palavra hebraica. É mais fácil pensar em um chifre
s4í.#do de quatro ventos do que pensar nele cr€scc#do a partir de um dos quatro ventos.
]acques Doukhan, que foi criado como judeu, fhando hebraico, e que leciona
no Departamento de Antigo Testamento do Seminário Teológico da Universidade
Andrews, fez o seguinte comentário sobre a origem do chifre pequeno:

Diférentemente do chifre pequeno do capítulo 7, que surge de um dos


quatro animais, o chifre pequeno do capítulo s se ergue de um dos qua-
tro ventos do céu (Dn 8:8). Essa expressão nos leva de volta às origens
dos quatro animais do capítulo 7: o mar é agitado pelos quatro ventos do
céu (Dn 7:2). 0 chifre pequeno, então, teria surgido de um daqueles ven-
tos e não de um dos chifres, como algumas traduções parecem indicar.
[...].Gramaticalmente falando, a expressão hebraica traduzida como "de
um deles" (Dn 8:9, 8]) deve, na verdade, ser lida como "de uma [feminino]
deles [masculino]", sugerindo uma ligação com a expressão anterior: "os
quatro ventos [feminino, no original] do céu [masculino]."4

0 crcscc.mc#/o do cÃfrc pcq%c#o. 0 que significa, então, o chifre pequeno que sai de
um dos quatro ventos? A maioria dos intérpretes entende que "os quatro ventos"
se referem às quatro direções da bússola. Em relação ao chifi-e pequeno, Daniel diz:
"se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa". Isso é uma
alusão aos pontos cardeais, para os quais o chifre pequeno cresceria.
Observei no capítulo 9 que o reino de Antíoco #Õo ficou muito maior do que
quando ele iniciou seu reinado.A realidade é que sua derrota para os macabeus o dei-
xou mais fiaco do que ele já era.Assim, o reino desse rei não cresceu para o oriente
nem para o sul, como a profecia especifica. Também não cresceu na direção da "terra
gloriosa" Oudeia), porque elejá controlava aquela região no começo do seu reinado e,
ONDE ESTA ROMA EM

no fim de seu governo, veio a perdê-1a. Por outro lado, do ponto de vista dos escrito-
r€s bíblicos, o império romano veio do ocidente, se expandindo para o oriente e o
sul, subjugando a]udeia, a terra gloriosa. É absolutamente verdade que Roma se tor-
nou excepcionalmente grande em comparação com a Medo-Pérsia (o carneiro) e a
Grécia (o bode). Desse modo, Roma cumpriu as especificações de Daniel sobre a ori-
gim do chifi-e pequeno. Essa é outra razão que favorece o ponto de vista de que o chi-
fiie pequeno representa Roma, em vez de Antíoco.5
Em conclusão, nem a intepretação que considera Antíoco como o chifre pequeno
nem a interpretação que aceita Roma nesse papel são simples de entender. Ambas
tém problemas que requerem explicações. Em minha opinião, a,s dificuldades rela-
|ionadas com a primeira interpretação são significativamente maiores e mais dificeis
de resolver. As evidências que apresentei neste capítulo me deixam convencido de
que considerar o chifre pequeno como Roma faz mais sentido do que interpretá-1o
como Antíoco.

0 antecedente de um pronome é o substantivo que ele representa. Por exemplo, o verso s diz que "0 bode
se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força [...]". 0 substantivo que antecede s#4 é o bode.
Ver Frank 8. Holbrook, Symposi.wm oÍ? D4#Í.c/, p. 395.
.Matin Proebstle, "Truth and Terror", p.101.
.|acques 8. Doukhan, Scg#dos de D4Í%.c/, p.129, colchetes do original.
Alguns comentaristas adventistas consideram a gramática dos versos s e 9 - em particular os tempos dos
`-erbos - decisiva para determinar que o chifi.e pequeno tem sua origem em um dos quatro ventos (ver, por
exemplo, Gerhard Hasel,"The `Little Horn", em Symposi.#m om Dawí'c/, p. 388, 389) . Outros acham que esse
argumento é inconclusivo (ver Proebstle, "Truth a.nd Terror", p.125,126).
A OUE SANTUÁRI0
DANIEL S SE REFERE?
(PARTE 1)

Er3:v:eao:teunbt:oddoeslms|í:i|:ausa:rda?Joe:E:;oã..o4::1:,,,:mpoes:,g:nná:q.u::dnl:ta.aqp|:ui:r:
que parte da resposta viria no dia seguinte. Quando Hiram Edson caminhava em
meio a um milharal para visitar outros crentes desapontados naquela manhã de 23
de outubro, uma forte impressão caiu sobre ele: o santuário mencionado em Daniel
8:14 não era a Terra, mas o santuário celestial. Daquele dia em diante, um grupo
de adventistas têm sustentado firmemente a crença de que o santuário mencionado
em Daniel 8:14 é o celestial e não o terrestre.
Contudo, essa crença tem sido desafiada tanto por pessoas de dentro quanto de
fora de nossa igreja. Raymond Cottrell foi um dos que discordaram dessa conclusão.
Ele escreveu: "No livro de Daniel, como também por todo o Antigo Testamento, o
`santuário' é sempre, sem exceção, o Templo de Jerusalém. Para que a analogia entre
Daniel 8:14 e o livro de Hebreus seja válida, seria essencial demonstrar, a partir do
contexto, que Daniel, aqui, refere-se intencionalmente ao santuário do Céu em vez
do Templo de Jerusalém, como ele consistentemente faz em outras passagens."[

Analisando as ideias de Coftrell


Cottrell levantou duas perguntas sobre as quais comentarei. A primeira é sc
os hebreus fórmaram uma ideia de um santuário no Céu. Provavelmente, seja
correto dizer que ninguém, nos tempos do Antigo Testamento, tinha um conceito
completo e acabado de um santuário celestial, no qual o ministério ali conduzido
fosse um antítipo do ministério do santuário terrestre. Entretanto, o povo de Deus
no Antigo Testamento tinha um bom conceito de um santuário no Céu. Alguns
anos atrás, Elias Brasil de Souza fez um estudo das referências sobre o santuário/
templo no Antigo Testamento. Sua, tese doutoral concluiu que o povo hebreu do
Antigo Testamento cÍ?feítd!'4 que Deus habitava em um santuário no Céu, de ondc
provia perdão e salvação.2 Isaías, por exemplo, falou sobre ver o Senhor ``assentado
sobre um alto e sublime trono, e as abas de Suas vestes enchiam o templo" (Is 6:1}.
Com efeito, cerca de 50 passagens do Antigo Testamento fàlam de um santuário no
Céu (ver, por exemplo, Sl 11:4; 102:19, 20).
A segunda pergunta levantada por Cottrell é: Qual santuário Daniel tinha cm
mente? Na declaração que o autor fez, a qual citei acima, ele disse que, para a inter-
pretação adventista de Daniel s estar correta, seria "essencial demonstrar, denti®
do contexto, que Daniel, aqui, refere-se intencionalmente ao santuário no Céu
em vez do Templo de jerusalém". Não acho que possa ser demonstrado dentm t
do contexto, ou de qualquer outra maneira, que o próprio profeta se refri.i
À nuE SANTUÁRIO DANÍEL S SE REFERE7

intencionalmente ao santuário no Céu porque, em minha opinião, Daniel não


tinha algum tipo de pensamento como esse em sua cabeça. De fato, fica bastante
óbvio no capítulo 9 que ele entendia que o santuário desolado era o deJerusalém
Í`-er Dn 9:4-19, especialmente o v.17).
Em contrapartida, acredito que é possível demonstrar que o santuário de
Daniel 8:14 nos remete ao santuário celestial, embora o próprio profeta não
compreendesse dessa maneira. Daniel 7, por exemplo, situa o chifre pequeno em
um ponto bem específico da história: ele aparece após a ascensão das tribos bár-
baras que derrubaram a parte ocidental do império romano. Se o chifre pequeno
do capítulo s representa o mesmo poder ímpio que o chifre pequeno representa
no capítulo 7 - o que muitos eruditos acreditam ser o caso - então as atividades
do chifre no capítulo s devem ocorrer dentro do mesmo período, ou seja, come-
Çando no 6Q século d.C. Isso foi muito depois de Tito ter destruído o Templo de
.|erusalém. E por isso que os adventistas têm, historicamente, identificado o san-
tuário de Daniel 8:14 como o santuário celestial. E/c críz o ííÍ%.co q#c c#í.sf!.cz q#4#cío
i profecia fti cumprida.
Entretanto, uma vez que o santuário a ser purificado em Daniel 8:14 é o
mesmo que foi atacado nos versos 10 a 12, também precisamos demonstrar que os
`trsos 10 a 12 -o contexto a que Cottrell se refere -também falam do santuário
celestial. Introduzirei minha discussão sobre essa questão com uma pergunta:Teria
Deus dado aos profetas do Antigo Testamento uma antevisão de aspectos impor-
tantes do plano de salvação centenas de anos antes? A resposta óbvia para essa per-
gunta é sim. 0 Senhor concebeu o plano de salvação mesmo antes da criação de
nosso mundo (ver Ap 13:8) e começou a dar vislumbres desse plano no Éden (ver
Gn 3:15). Pelos milênios seguintes, Ele deu contínuas demonstrações de Seus pla-
nos referentes à salvação, com lsaías 53 apontando de maneira específica para um
Messias sofredor.
A morte de Cristo não é a única parte importante do plano de salvação. Seu
papel mediador no santuário celestial também é essencial para esse plano. 0 minis-
tério intercessório de Jesus está claramente revelado no Novo Testamento, espe-
cialmente em Hebreus e Apocalipse. A pergunta que estamos fazendo aqui é: Se
Deus deu a Seus profetas informações sobre a morte sacrifical de Cristo cente-
nas de anos antes que o evento realmente ocorresse, seria possível que Ele tam-
bém pudesse dar.vislumbres antecipados do ministério sumo sacerdotal de Cristo
no santuário celestial? Proponho um "sim" como resposta. Acredito que o Senhor
deu a Daniel indícios do ministério sacerdotal de Cristo muitos séculos antes
que essa ministração começasse. No restante deste capítulo e em todo o capítulo
seguinte, indicarei evidências em Daniel 8:10 a 12 de que o santuário nesses ver-
sos é o santuário celestial.3

DANIEL 8:10

0 verso 10 diz: "[0 chifre pequeno] cresceu até atingir o exército dos céus; a
alguns do exército e das estrelas la,nçou por terra e os pisou." Você deve se lembrar
de que o verso 9 diz que o chifre pequeno "se tornou muito forte para o sul, para
o oriente e para a terra gloriosa". Esse é um movimento horizontal, para os lados e
ao longo da superficie daTerra. É um boa descrição do desenvolvimento do impé-
rio romano, que cresceu "horizontalmente" pela Europa, Oriente Médio e norte
da África. 0 verso 10, por sua vez, mostra o chifre pequeno crescendo ``até atingir
o exército dos céus". É um movimento vertical -isto é, pma cí.m4, em vez de p4r4
os /4dos. 0 que isso representa? Um exame cuidadoso dos versos 10 a 12 sugere um
movimento em direção ao Céu.

0 qiie ou qiiem é o "exército dos céus"?


No Antigo Testamento, o termo "exército dos céus" é, muitas vezes, uma refe-
rência literal ao Sol, à Lua e às estrelas no contexto da falsa adoração a esses cor-
pos celestes (ver, por exemplo, Dt 4:19; 2Rs 17:16;Jr 19:13). Entretanto, Daniel
continua e diz que o chifre pequeno lançou por terra "alguns do exército e das
estrelas". É um tanto dificil pensar em um chifre pequeno, que vem a ser um
organização humam, tentando atacar o Sol, a Lua e as estrelas literais. Parece mais
razoável pensar que o exército e as estrelas são símbolos do povo de Deus na Terra,
especialmente porque, às vezes, é isso que eles representam na Bíblia (ver Gn 15:5;
Dn 12:2, 3). Entendidos dessa maneira, o lançamento por terra do exército e das
estrelas pelo chifre representa a perseguição ao povo santo (comparar a descrição
das atividades do chifre pequeno no capítulo 7, em que Daniel diz que ele "magoará
os santos do Altíssimo" [Dn 7:25]). Os adventistas acreditam que essa profecia teve
cumprimento com a perseguição papal ao remanescente durante a ldade Média, e
o ataque do chifre a "alguns do exército e das estrelas" em Daniel 8:10, muito pru
vavelmente, possa ser entendido assim também.
Sugiro, todavia, que também é possível entender o exército dos céus e as estre-
las de Daniel 8:10 como símbolos f¢#fo do povo de Deus naTerra qíM#fo dos anjos
no Céu. Seres celestiais é o significado de "exército dos céus" em 1 Reis 22:19, em
que o profeta Micaías disse que viu "o SENHOR assentado no Seu trono, e todo o
cxércf.fo do céw estava junto a Ele, à Sua direita e à Sua esquerda" (itálicos acrescen-
tados; ver também 2Cr 18:18). A visão de Micaías é semelhante à visão de Danid
7:9 e 10, em que Daniel viu milhares de anjos em volta do trono de Deus. A per-
gunta é: Como o chifre pequeno de Daniel 8:10, o qual temos identificado como
uma entidade.humana, pôde lançar por terra seres celestiais e pisá-los? É óbvio quc
não pôde. No entanto, essas "estrelas" podem ter outro significado.
No capítulo 11 deste livro, observei que, embora o chifre pequeno de Daniel 7
represente o papado durante a ldade Média, existe uma entidade ainda mais pervers. ;
por detrás do chifre pequeno. Isso fica muito claro em Apocalipse 12, que repctc Í
vários símbolos de Daniel 7:25 e os aplica a Satanás, o dragão.Apocalipse 12 retr]n
o dragão como o perseguidor da mulher, que simboliza a igreja (ver v. 6,13,15,17L
Ainda mais significativo para nosso propósito aqui, os versos 6 e 14 de Apoc+
lipse 12 aplicam os 1.260 dias de Daniel ao período durante o qual o dragão pci-
seguiria o povo de Deus. 0 verso 14 até mesmo usa a terminologia de Dani±
"Tempo, tempos e metade de um tempo." Não há dúvida de que Apocalipse está
expandindo nosso entendimento do chifre pequeno de Daniel ao relacioná-1o com
Satanás e o grande conflito entre ele e Cristo. Isso, porém, não significa dizer que
o chifre pequeno e Satanás são a mesma entidade. Eles são diférentes, mas Satanás
é o poder por trás do chifre.
Apocalipse 12 também toma alguns símbolos relacionados ao chifre pequeno de
Daniel s e os aplica a Satanás. Nos versos 3 e 4,João diz que viu o dragão, Satanás,
arrastar "a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou `para a terra". Essa termi-
nologia é quase idêntica à de Daniel 8: 10, em que o chifre pequeno lança por terra
"alguns do exército e das estrelas". Os versos 7 a 9 expandem essa ideia ao retratar

Satanás e seus anjos envolvendo Miguel e Seus anjos em uma batalha que resulta no
inimigo sendo "atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos" (v. 9). Assim, parece
muito razoável aplicar a ação do chifre pequeno - lançar para a terra "alguns do
exército e das estrelas" - em primeiro lugar à perseguição do papado medieval ao
povo de Deus, mas também, em um sentido secundário, a Satanás, que travou uma
guerra contra Miguel e Seus anjos. Apocalipse 12:4 diz que o dragão 1ançou um
terço das estrelas à Terra.
Em sua tese doutoral sobre Daniel 8:9 a 14, Martin Proebstle dedica 20 páginas
a um exame detalhado da gramática e sintaxe das palavras "o exército dos céus"
no verso 10. Ele conclui que, "sendo um poder humano, o chifre aparentemente
luta contra outros poderes humanos.Assim, `o exército dos céus' deve ser entendido
como uma referência ao povo de Deus. Em uma escala maior, o chifre [...] tipifica
o papel de um demônio transcendente e antidivino, que trava uma guem contra
os anjos bons e contra o próprio Deus. Semelhantemente, a expressão `o exército
dos céus' se refere à hoste de santos que está no exército de Deus na Terra, mas, ao
mesmo tempo, sugere o exército celestial que também está envolvido nesta bata-
lha cósmica''.4
Desse modo, a lição mais significativa a ser extraída do ataque do chifre pequeno
de Daniel contra o exército dos céus e as estrelas é que essa descrição se refere ao
conflito universal entre o bem e o mal - o que os adventistas, historicamente, têm
chamado de "o grande conflito". Antíoco desempenhou um pequeno papel nessa
guerra, mas a descrição de Daniel chega até o Céu!
Voltemos à pergunta do título deste capítulo: "A que santuário Daniel 8 se
refere?" Será, estritamente, ao santuário na Terra, ou o chifre pequeno estende
seu alcance ao s;ntuário no Céu? Tenho sugerido que as evidências indicam que
a expressão "o exército dos céus" inclui não somente o povo de Deus na Terra
(o significado primário da frase), mas também os anjos no Céu, a quem o chifre
pequeno, que representa Satanás e seus agentes terrestres, também ataca. De que
maneira ele poderia fazer isso? 0 inimigo certamente não poderia atacar os anjos
com algum tipo de perseguição fisica.Também não poderia combatê-1os no Céu,
ântes de ser expulso dali. Sugiro que esse ataque aos anjos tem o sentido de insultá-
los por sua lealdade a Deus e a Seu povo (ver, por exemplo, a última parte do capí-
tulo 19 deste livro).
NA CORTE CELESTIAL

A sugestão de que "o exército dos céus" no verso 10 inclui mais do que o povo
de Deus naTerra -podendo ser, em algum sentido, entendida como uma referência
aos anjos celestiais - dá a partida para a busca da solução à pergunta se o santuário
dos versos 10 e 11 está no Céu. 0 verso 11 dá a resposta final.

DANIEL 8:11

Três cláusulas nesse verso precisam de nossa atenção:

1. [0 chifre pequeno] engrandeceu-se até ao príncipe do exército;


2. dele tirou o sacrificio diário,
3. e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo.

Discutirei essas três cláusulas separadamente.

Exaltar-se até ao príncipe do exército


No hebrico, idioma no qual Daniel escreveu o capítulo 8, a expressão ``príncipe
do exército" é sw #a-ís4b4. A palavra scw significa "príncipe", "comandante'', "chefé"
e assim por diante; hci significa ``o" e fs4b4 significa "hoste" ou ``exército".
Um s€r dí.c;í.#o. Alguns dos que interpretam o chifre pequeno como Antíoco veem
a expressão "príncipe do exército" como uma representação de Onias 111, que foi
o sumo sacerdote no tempo em que o rei assumiu o poder. Se Onias é esse "prín-
cipe do exército", então, torna-se apropriado dizer que Antíoco ``engrandeceu-se
até o príncipe do exército", uma vez que ele depôs Onias da posição de sumo sacer-
dote. Contudo, seria razoável entender Onias como o "príncipe do exército" de
Daniel 8: 11 ? Note que a versão New King]ames usa o "P" maiúsculo para a palavra
"príncipe". Outras versões modernas da Bíblia também o fazem,5 o que indica que
os tradutores consideram esse príncipe como um ser divino - uma designação que
dificilmente se encaixaria no caso de Onias! De acordo com Proebstle: ``A maioria
dos exegetas concorda que o `príncipe do exército' designaYHWH Ueová]."6
Sobre que base esses tradutores e exegetas interpretam o príncipe do exér-
cito como um ser divino? As evidências são, realmente, muito fortes.Várias vezes
em Daniel a palavra ``príncipe" (sc") parece se referir claramente a um ser divino.
Em Daniel 8:25, que é uma parte da interpretação do anjo Gabriel da visão daquele
capítulo, o mensageiro fàla do ``príncipe do exército" como o ``Príncipe dos prín-
cipes" (s4r s#i.m). Daniel 12:1 afirma que "se levantará Miguel, o grande príncipe
[s4r], o defensor dos filhos do teu povo" (ver também Dn 10:13). Fica especial-
mente claro nesse verso que está em questão muito mais do que um príncipe
humano, e parece razoável concluir que isso é verdade sobre o príncipe de 8:11.
0 Com4#dci#fc do e#ércí.Ío do Sc#bor. 0 Antigo Testamento claramente usa a pala-
vra súr para se referir ao ser divino em dois outros lugares. Um deles é lsaías 9:6, que
fala do Messias como "Ma,ravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe [s4r] da Paz". 0 outro lugar,Josué 5:14 e 15, é particularmente significa-
tivo para nossa discussão.
A OÜE SANTUÁRlo BANIEL S SE REFERE?

Josué acabara de guiar os israelitas através do rio Jordão e estava, aparente-


mente, longe do acampamento, sozinho, meditando na iminente batalha por Jericó.
De repente, o "comandante do exército de Deus, o SENHOR" (NTLH) apareceu
diante dele.As palavras em hebraico são scw fs4t;4 yakwJch.Você deve ter reconhecido
as palavras w e fs4w4, sendo que y4htvc4 é a palavra que algumas versões bíblicas
traduzem como ``]eová". Assim, quem apareceu para ]osué fói o Comandante (scir)
do exército (fs4tw) do Senhor. ]osué claramente reconhece essa pessoa como um
ser divino, pois ele "se prostrou com o rosto em terra, e 0 adorou" (v.14). Então,
esse "comandante do exército de Deus; o SENHOR", ordenou que ]osué tirasse as
sandálias, porque o lugar onde ele estava era santo (v.15).A única outra ocasião na
Bíblia em que uma ordem como essa foi dada é Êxodo 3:5: o Anjo do Senhor -de
novo,]eová (ver v.14) -diz para Moisés,junto à sarça ardente, para tirar "a sandália
dos pés", porque o lugar em que estava era "terra santa". Não pode haver dúvida,
então, de que josué se encontrou com um ser divino.
A história de Josué é significativa para nosso entendimento de Daniel 8:11 por-
que, na linguagem original, as palavras traduzidas com "príncipe do exército" (em
Daniel) e "comandante do exército" (em ]osué) são as mesmas. Ambas são scw /s4tj#.
0 fato de que o Comandante do exército que apareceu para]osué era um ser divino
apoia a conclusão de que o "príncipe do exército" de Daniel 8:11 deve também ser
entendido como ta,1. Podemos assumir, portanto, que o "príncipe do exército" de
Daniel 8:11 é o Comandante dos exércitos celestiais, o que outra vez nos faz lem-
brar Apocalipse 12:7 a 9: Miguel, que é Cristo, está à frente do exército divino.
4 4#foc#4Jf4ÇÕo do c#frc pcqwe#o. Daniel disse que o chifie pequeno ``engrandeceu-se
até ao príncipe do exército" (Dn 8:11). A palavra er!grtmdcccr vem do termo hebraico
g4d4/, que sigrifica "crescer". Além disso, também pode significar "tornar-se grande
[ou importante]". A ideia por trás de g4d4J em Daniel 8: 11 parece não enfatizar tanto
o fàto de que o chifre pequeno tenha 4Í¢c4cío o príncipe do exército, mas seu engran-
decimento ¢fé ao príncipe do exército. Deus não engrandeceu o chifie pequeno. Ele
mesmo se engrandeceu. Isso nos lembra a descrição de lsaías sobre Lúcifer, que disse:
"Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono [...] e serei seme-
lhante ao Altíssimo" (Is 14:13,14).A rebelião de Satanás no Céu ocorreu vários milê-
nios antes de Daniel, mas sua atitude em relação a Cristo tem sido a mesma ao longo
da história. Assim, mais uma vez, o chifi.e pequeno de Daniel 8 pode ser entendido
como um representante tanto do demônio quanto de um ser humano. 0 que vemos
aqui é o grande conflito. 0 ponto central do ataque do chifre é o príncipe do exér-
cito, a quemjá identificamos como Cristo. E Crí'sfo csfá #o Céu. Esse é outro passo no
caminho para a identificação do santuário em Daniel 8:10 a 12.

A retirada do sacrifício diário


Daniel 8:11 diz que "[0 chifre pequeno] tirou o sacrificio diário". Nesse ponto,
Daniel 8 nos apresenta a linguagem do santuário. A terceira cláusula do verso 11,
a qual examinaremos em seguida, usa, na verdade, a palavra s¢#/#ó/£.o. Novamente,
há evidências de que o santuário está no Céu.
0 que é o "sacrificio diário"? Na fiase "dele tirou o sacrificio diário", as palavras
"cr#c!'o d!'árí'o são uma tradução do termo hebraico f4mi.cJ. 0 significado mais simples de
f4mi'd é o de atividades desempenhadas regularmente em horário fixo. Por exemplo, os
babilônios davam ao rei jeoaquim, durante seu exílio, "subsistência co#fí'##4 [f4mi'q , a
porção de cada dia no seu dia, todos os dias da sua vida" (2Rs 25:30;ARC).
Com frequência - embora nem sempre seja o caso - no Antigo Testamento,
f4mf`d se refére às atividades #o s4Ítft/áíí.o que eram desempenhadas com regularidade.
Por exemplo, Êxodo 29:42 fala de um "holocausto contínuo [fcimí.fl", e Números
4:16 cita a "contínua [Í4mç`4 oferta dos manjares".
Quanto eu saiba, todos os intérpretes entendem que /dmf.cJ, em Daniel 8:11,
refere-se às atividades do santuário. Isso é evidente pelo fato de que muitas versões
da Bíblia traduzem í¢mí.d como "sacrificio dí'ári.o" (ARA, NVI; itálicos acrescentados
nessa citação e nas seguintes), ou "sacr#cí.o contínuo" (ACF), ou "#oJoc4w5fo contí-
nuo" (AA). Uma pergunta importante é se Í4mi'd, no verso 11, refere-se às atividades
do santuário em geral ou, especificamente, aos sacrificios diários. Note que as pala-
vras J4cr#c£.o e #oJoc4#sfo foram acrescentadas pelos tradutores. 0 hebraico diz, sim-
plesmente, f4mf`cÍ, que quer dizer "regular". Os sacrificios da manhã e da tarde eram
feitos regularmente, assim como outras atividades do santuário. Se Daniel tivesse em
mente apenas os scMr#cÍ'os diários ou regulares, ele teria incluído a palavra o/4#, que
significa ``sacrificio queimado".
Outra indicação de que f4mi.d em Daniel 8:11 se refere às atividades do santuário
como um todo é que o hebreu diz h4-Í4mí.d, que significa "o f4mí.d". Proebstle indica
que toda vez que fczmí'd é usado com o artigo -"o f4mí`d" -o termo está ligado a
suas ocorrências no Pentateuco e, por isso mesmo, ao contexto do santuário.7 Isso
inclui os sacrificios diários, mas não limita o uso da palavra a esses sacrificios.
Havendo determinado que fczmí'd se refere às atividades do santuário, a pró-
xima pergunta é se essas atividades ocorrem no santuário terrestre ou no celestial.
É aqui que a tradução da preposição hebraica é crucial. A versão Almeida Revista
e Corrigida (ARC) diz: "po/ c/c [isto é, o chifre pequeno] foi tirado o contínuo
sacrificio" (itálicos acrescentados). Entretanto, do ponto de vista gramatical, a pre-
posição poderia muito bem ser traduzida como "dc/c [isto é, do príncipe do exér-
cito] tirou o sacrificio diário", como se verifica na Almeida Revista e Atualizada.
Com efeito, muitos dos eruditos de hoje preferem "dele", conforme fica eviden-
ciado pelo fatç> de que a Revised Standard e a New American Standard Bible uti-
lizam essa forma. A Nova Versão lnternacional utiliza a frase "o sacrificio diário
oferecido ao príncipe".
Ora, se o f#mí'cí é tirado cío príncipe do exército, que é um ser divino, então o ata-
que do chifre pequeno é contra o santuário do príncipe. Isso significa que o prín-
cipe do exército também é sacerdote. Proebstle conclui que "¢cz-Í¢%G`d em Daniel
8:11 a 13 desigm (1) as atividades cúlticass do sczr Á¢-f54y4 como sumo sacerdote,
e/ou (2) a contínua adoração cúltica ao sc" h4-fs4tw como um ser divino".9 Ao
tomar o f4mí.c7 do príncipe do exército, o chifre pequeno está tentando tomar as
atividades sacerdotais para si. 0 Antigo Testamento não contém nenhum registro
A 0UE SANTUARlo DANIEL

sobre algum ser divino ministrando como sacerdote no santuário terrestre. Por
outro lado, o 1ivro de Hebreus, no Novo Testamento, fala detalhadamente sobre o
ministério de Cristo no santuário celestial. Isso nos traz para mais perto da ideia de
que o santuário de Daniel s está no Céu.
Como poderia um chifre pequeno terrestre e humano alcançar o Céu e tomar
o ministério sumo sacerdotal de Cristo? Tratarei disso nos próximos capítulos.
Por enquanto, é suficiente dizer que o chifre ataca o plano de salvação - algo que
Satanás faz, tanto pessoalmente quanto por intermédio de seus agentes humanos.

0 lugar do seu santuário foi deitado abaixo


0 verso 11 termina dizendo que "o lugar do Seu [do príncipe do exército] san-
tuário foi deitado abaixo". Note, em primeiro lugar, que Daniel declara diretamente
que o príncipe do exército tem um santuário. 0 fàto de esse príncipe, um ser divino,
ter um santuário fundamenta a conclusão de que o referido local está no Céu.
A palavra hebraica traduzida como "lugar" é m4c#o# (de pronúncia m¢h-ko#c),
que significa "lugar fixo ou estabelecido", "alicerce". Proebstle indica que a palavra
"m4cÃo# no singular (encontrada 16 vezes no Antigo Testamento) designa exclusi-
vamente o lugar do santuário e/ou a presença ou habitação deYHWH".]° Mesmo
na Terra, seria impossível lançar fora, tomar ou destruir o alicerce de um edi-
ficio sem, ao mesmo tempo, destruir o próprio edificio. E a ideia de uma organiza.-
ção humana, ou o próprio Satanás, destruir qualquer parte do santuário de Cristo
no Céu é extremamente ridícula. Assim, em que sentido o chifre pequeno tenta
deitar abaixo, ou destruir, o alicerce do santuário? Proebstle dá uma sugestão:

Os eruditos que consideram o alicerce do santuário como uma referência


literal ao templo explicam que a noção verbal não é a de derrubar ou des-
truir, senão de rejeitar ou profanar. Por outro lado, o v.11c pode ser uma
alusão à derrubada do conceito ou dos princípios sobre os quais o santuá-
rio está baseado. Essa atividade não afeta,, necessariamente, a arquitetura do
santuário, mas ataca a rt3í.soÍc cí'cfrc [razão da existência] do santuário e, por-
tanto, de todo seu sistema.
As características semânticas do v.11c, bem como as considerações con-
texturis, parecem fornecer razões suficientes para se argumentar em favor
de um.a compreensão metafórica de m4choíc, [...] [uma vez que] não parece
ser possível derrubar o local do santuário, e é bastante improvável que se
possa derrubar o alicerce de um edificio/estrutura.tt

Proebstle conclui sua discussão da terceira cláusula de Daniel 8:11 com essas
palavras: "A cláusula descreve uma ação pela qual os alicerces metafóricos do san-
tuário do príncipe do exército, consistindo dos princípios sobre os quais o santuá-
rio e seu sistema cúltico estão baseados, são derrubados pelo chifre pequeno."í2 Isso
nos leva a uma compreensão de como o chifre pequeno poderia atacar o santuário
de Deus no Céu. 0 verso 12 nos conduzirá a essa conclusão.
NA CORTE CELESTIAL

DANIEL 8:12

Daniel 8:12 diz: ``0 exército lhe foi entregue, com o sacrificio diário, por causa
das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou."

Duas traduções possíveis


A primeira metade de Daniel 8:12 -a parte que diz "0 exército [fs4tJ4, "hoste'']
lhe foi entregue [...] por causa das transgressões" -pode ser traduzida de duas
maneiras. Uma delas é entender que o exército (o f54v4) é o mesmo exército que
estava sob ataque no verso 10, cujo príncipe estava sob ataque no verso 11 -em
outras palavras, o povo de Deus.A outra maneira é entender o exército do verso 12
como outro grupo diferente daquele do verso 10.A primeira vista, a segunda pers-
pectiva parece não fazer sentido, mas existem boas razões para se apoiar o segundo
ponto de vista.
0 verso 12 diz que o exército/o!. c#frcgwc ao chifre de modo que este pudesse
fazer oposição aos serviços contínuos (o f4mi'4) do santuário. No verso 10, o chi-
fre pequeno dá início a seus ataques ao povo de Deus e ao santuário. A palavra
hebraica no verso 12 está m voz passiva: "Foi entregue." Uma coisa é o chifre ini-
ciar seu ataque ao povo de Deus; outra bem diferente é alguém entregar o povo de
Deus para ser atacado.
Quem entregaria o exército de Deus para o chifre pequeno? A lista de opções
é bem limitada. Em realidade, existe apenas uma opção: Deus. Ninguém mais teria
autoridade para entregar o povo santo para o rebelde chifre pequeno. No entanto,
parece pouco provável que o Senhor entregasse o próprio povo ao chifre. 0 que
estaria, então, acontecendo aqui?
Martin Proebstle dá uma sugestão que pode nos ajudar a solucionar esse pro-
blema. Sua análise gramatical da primeira metade do verso 12 é bastante com-
plexa (65 páginas de sua tese doutoral!), e tudo que posso fornecer aqui são os
seus argumentos mais essenciais. Darei dois detalhes de gramática que ele men-
ciona. Primeiro, a palavra "exército" (fsw4 no original hebraico) no verso 12 não
tem artigo. É ``#m exército", não "o exército". Se Daniel tivesse dito "o exército",
então não haveria dúvida de que ele tinha em mente o mesmo exército que des-
creveu nos versos 10 e 11. 0 fato de que ele disse "wm exército" em vez de "o exér-
cito" sugere que o profeta tinha em mente um exército diferente.
Segundo, a palavra hebraica #c[f4Ít, "entregar", também pode significar ``orga-
nizar, arrumar, estabelecer". No verso 12, a palavra está na voz passiva, tendo sido
traduzida como "foi entregue" ou "fói arrumado". A solução de Proebstle para o
problema da identificação do exército é sugerir que, no verso 12, Daniel tinha em
mente um exército diferente daquele dos versos 10 e 11 -um exército mau, que o
próprio chifre pequeno organizou para atacar o santuário e seus serviços contínuos,
o Í4mí'd. Aqui está como Proebstle traduz a primeira metade do verso 12: ``E um
exército será organizado em rebelião contra o f4mi.d."í3 Assim, o chifre está dando
continuidade a seu ataque ao santuário; mas, no verso 12, ele engaja os serviços do
próprio exército para ajudá-|o. í4
A 0UE SANTUÁRI0 DANIEL S SE REFERE?

Rebelião contra Deus


A Nova Versão lnternacional traduz assim as quatro primeiras palavras do
verso 12: "Por causa da rebelião." A palavra hebraica para "rebelião" é pcsÃ4', a
qual é usada em outros lugares do Antigo Testamento para descrever uma rebelião
deliberada contra Deus. 0 ponto é que o ataque do chifre pequeno ao santuário,
incluído tudo o que Daniel descreve nos versos 10 e 11, é um ato supremo de rebe-
lião contra o Senhor do Céu.]5
0 problema fica ainda mais complicado. 0 verso 12 diz, na sequência, que o
chifre pequeno "deitou por terra a verdade''. Escrevendo sobre Daniel 8: 12,]acques
Doukhan fez o seguinte comentário:

A palavra [hebraica] cmcf#, aqui traduzida como ``verdade", é um sinônimo


de ``1ei" (ver S143:3; 119:43). Em hebraico, verdade é uma ação concreta
de obediência a Deus e nada tem nada a ver com nosso conceito abstrato
de verdade. É tudo o que está de acordo com a lei. [...]. Comentaristas
judeus (Ibn Ezra, Rashi) interpretaram o versículo [Daniel 8:12] signifi-
cando que "o chifie pequeno anulará a Lei [TOMó] e a observância dos man-
damentos".í6 [Compare o aviso em Daniel 7:25 de que o chifre pequeno
busca mudar a lei de Deus.]

Daniel 8:12 termina dizendo que o chifre pequeno ``prosperou" -o que signi-
fica que a rebelião realmente teve sucesso! Então Daniel 8: 10 a 12 não descreve um
problema de curta duração. Essa si.fw¢fão co#fi'Í"4„ú por 4/gwm fcmpo.
Se a análise dos versos apresentados neste capítulo estiver correta, então o pro-
blema descrito em Daniel 8:10 a 12 se estende para muito além de Antíoco e, de
t-ato, além de toda a rebelião no planeta Terra. Ele alcança o santuário de Deus no
Céu. Essa conclusão é importante para o entendimento adventista de Daniel 8:14,
pois, desde meados de 1800, temos insistido que esse verso alude ao santuário celes-
üal, onde Deus, Cristo e os anjos estão engajados em um juízo investigativo. Se o
santuário que é "purificado" no verso 14 é o celestial, então o santuário que é ata-
cado nos versos 10 a 12 deve ser o mesmo.
Continuarei a discussão dessa importa,nte questão no próximo capítulo.

-Raymond F. Cottrell, "A Hermeneutic for Daniel 8:14", p. 8.


: Elias 8. de Souza, The Heauenly Sanctuary/Tlemple Motií in the Hebrew Bible.
3 Um das fóntes primárias que utilizei em ininha análise de Dariel 8:9 a 14 (nos capítulos 12-17 e 21 deste
hvTo) é a tese doutoral de 871 págims de Martin Proebstle, intitulada "Truth andTerror", que aborda esses
`-ersos. Quando escrevi este livro, Proebstle era professor no Seminário Adventista de Bogenhofen, Áustria.
` Ibld., p.153.
= A New American Standard Bible diz "o Comandante do exército", o que também indica um ser divino.
t .Martin Proebsde, "Truth and Terror", p. 167.
-Ibid" p. 212.

t A palavra "culto" se refere a qualquer tipo de adoração ou ritual religiosos, verdadeiros ou falsos.
` .Vartin Proebstle, "Truth and Terror", p. 231.
NA cmTE cELEs"ÀL
„ Ibid., p. 235.
„ Ibid., p. 242.
i2 ibid., p. 243.
i3 ibid., p. 290.
t4 A conclusão de Proebstle de que o exército do verso 12 se refere a um exército perverso em vez do exército
do povo de Deus dos versos 10 e 11 não é compartilhada por todos os eruditos adventistas. Os argumentos de
ambos os lados são bastante téciiicos e vão além do escopo deste livro.
t5 No hebraico de Daniel 8:12, a palavra pcs#4' não inicia o verso; ela vem no final, depois da palavra f4mi.d.
É por isso que Pro€bstle traduz o verso da maneira conforme o compreende, a saber, "E um exército será
orgarizado em rebelião corLtra o tamid."
16 jacques 8. Doukhan, Segrgdos dc D4#t.c/, p.128.
A OUE SANTUÁRI0
DANIEL S SE REFERE?
(PARTE 11)

C::n:::eo::n:àsfr=sosãdoodporí:ac:;t:]éooa::enrtLuoárí]:o:àeps:L€;,::roqnudee,::e:ee=::etteunag:
Seu plano de salvar homens e mulheres do pecado. Se isso for verdade - se o santuá-
rio de Daniel 8:10 a 12 se refere de algum modo ao santuário no Céu -o que isso
significa, ou significará, no que diz respeito às atividades do chifre pequeno?
Começaremos a responder a essa pergunta considerando a relação do chifie pe-
queno com o santuário celestial. Não importa se alguém acredita que o chifi.e peque-
no representa Antíoco Epifânio ou o papado da ldade Média, todos os intérpretes o
identificam como uma organização humana e, conforme indiquei no capítulo an-
terior, seria extremamente ridículo sugerir que algo humano pudesse atacar o san-
tuário de Deus, que, provavelmente, esteja localizado a milhares, talvez a milhões
de anos-1uz do planeta Terra. Nem mesmo Satanás e seus anjos poderiam fazer isso.
Entretanto, relembrarei aqui uma sugestão de Martin Proebstle que citei no capítulo
anterior: "A cláusula [Dn 8:11c] descreve uma ação pela qual os alicerces metafóri-
i-os do santuário do príncipe do exército, consistindo dos princípios sobre os quais o
santuário e seu sistema cúltico estão baseados, são derrubados pelo chifre pequeno."í
Devemos ter em mente que o propósito do santuário celestial é salvar seres huma-
nos. Assim, embora eles não possam litera]mente alcançar o Céu e destruir o santuá-
rio, podcm distorcer os princípios de salvação sobre os quais o santuário funciona.
0 plano de salvação está baseado na pressuposição de que seres humanos entenderão
e aceitarão isso. Contudo, as pessoas podem desenvolver ensinamentos tão falsos sobre
o ministério sacerdotal no santuário celestial, a ponto de esses ensinamentos anularem
o ministério de Cristo na mente dos que neles acreditam.

O papado
Durante os últimos 150 anos, os adventistas do sétimo dia têm mantido (assim como
cr} protestantes da Refórma antes deles) que essa distorção da verdade sobre a salvação é,
de fato, exatamerite o que ocorreu com os ensinamentos do papado. Em seguida, apre-
sentaremos algumas das doutrinas católicas que contradizem essa verdade bíblica.

• 0 catolicismo leva as pessoas a orar a Maria e aos santos em vez de diri-

girem suas orações diretamente para Jesus Cristo.


• 0 papa afirma ser o vigário de Cristo, isto é, Seu representante na Terra
durante o tempo de Sua ausência, ao passo que Jesus disse que enviaria o
Espírito Santo para representá-Lo na Terra depois que retornasse ao Céu
(verjo 14:16,17).
NA CORTE CELESTIÀL

• Os sacerdotes católicos supostamente reencenam o sacrificio de Cristo


pelos pecados do homem milhares de vezes cada dia nos altares das igre-
jas em redor do mundo, mas a Bíblia ensina claramente que Cristo fez um
sacrificio válido de uma vez por todas.
• Sacerdotes humanos ouvem as confissões de pecados e oferecem absol-
vição, porém, devemos confessar nossos pecados a Deus.
• Maria é apresentada como mediadora e corredentora ao lado de Cristo,
assim, os católicos são continuamente incentivados a buscar mediação nela,
em vez de emJesus.

Esses fàlsos ensinamentos e práticas começaram a ser desenvolvidos na igreja cristã


logo após o fechamento da era neotestamentária (cerca de 100 d.C.), e, na ldade
Média, ficaram bem arraigados no catolicismo. Por mais de 150 anos, os adventistas
têm identificado o chifi.e pequeno de Daniel s como o papado medieval e têm
explicado que a profana,Ção do santuário celestial pelo chifre foi cumprida com as dis-
torções do papado à mediação celestial de Cristo, o que tornou esse ministério irre-
levante e sem efeito na mente dos católicos. Concordo com essa interpretação. Mas
isso é tudo o que o ataque do chifie pequeno representa?

0 ataque de S@tanás ao santuário


Acredito que o chifre pequeno também ataca o santuário celestial. Começarei
minha explanação sobre esse ataque chamando mais uma vez sua atenção para a
íntima relação existente entre Daniel 7 e 8, no Antigo Testamento, e Apocalipse 12 e
13, no Novo Testamento. A tabela abaixo mostra essa relação.

Daniel Apocalipse

7:25; 8:10 12:13; 13:7


0 chifie pequeno persegue os santos. 0 dragão persegue os santos.

7:25; 8:12 12:17

0 chifi.e pequeno tenta mudar a lei de Deus; ele 0 dragão persegue os que guardam os
deita por tem a verdade (a lei). inandamentos.

12:6,14; 13:5
7 ..2:5
1.260 dias; tempo, tempos e metade de um
Tempo, tempos e metade de um tempo.
tempo; 42 meses.

7:25 13:6

0 chifie pequeno fàla contra o Altíssimo. A besta que sai do mar blasfema contra Deus.

8:10 12:4
0 chifre pequeno lança parte das estrelas a.o chão. 0 dragão atira um terço das estrelas do céu à terra.
À OÜE §ANTUÁRlo DANIEL S SE REFERE?

7:1-7 13:2

Quatro bestas - um leão, um urso, um leopardo A besta que sai do mar parece com um leopardo,
e um animal terrível e espantoso - se levantam tem a boca de um leão, os pés de um urso e o
do mar. dragão 1he dá seu trono e autoridade.

13:6
8:11
A besta que sai do mar blasfema contra o
0 chifie pequeno ataca o santuário de Deus
tabernáculo de Deus e Seu santuário.

Assim, existem pelo menos sete semelhanças entre as visões relatadas em Daniel 7
e s e as visões citadas em Apocalipse 12 e 13. Portanto, o livro de Apocalipse nos dá
uma visão ampliada do mesmo conflito entre o bem e o mal que Daniel descreve nos
capítulos 7 e 8. Também é evidente que Satanás, em Apocalipse 12, e a besta que sai
do mar, em Apocalipse 13 são paralelos aos chifres pequenos de Daniel 7 e 8. Os chi-
fi.es pequenos de Daniel e o poder da besta de Apocalipse 13 são simplesmente subs-
titutos de Satanás, por intermédio de quem ele atua para conseguir seus propósitos
na Terra. Proebstle nota que "atrás da realidade simbolizada pelo chifre está nada mais
do que o arqui-inimigo, a figura satânica".2
0 4fciqwc dc Scif4#ós 4o 54#f#óÍÍ.o cm 4poc4Jí.psc f 3. Examinemos mais de perto
Apocalipse 13:6, que diz que a besta que saiu do mar "abriu a boca em blasfê-
mias contra Deus, para Lhe difamar o nome e difamar o f4bcrícácw/o, a saber, os
que habitam no céu" (itálico acrescentado). Há duas razões para considerar que
o ataque da besta ao "tabernáculo" de Deus seja uma investida contra o santuário
celestial. A primeira razão é que a palavra grega para ``tabernáculo" em Apocalipse
13:6 é 5ké#é. Em Hebreus 8:1 e 2 é dito: "possuímos tal Sumo Sacerdote, que Se
assentou à destra do trono da Majestade nos Céus, como Ministro do santuário e
do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem."Aqui, ské#é cla-
ramente se refere ao santuário celestial. 0 Novo Testamento, portanto, usa a pala-
vra nesse sentido.
A segunda razão é que eruditos bíblicos conservadores concordam que]oão escre-
veu Apocalipse em algum momento da última década do primeiro século. Isso seria
entre 20 e 30 anos após a destruição deJerusalém e do templo, e entre 60 e 70 anos
depois da morte de Jesus na cruz, a qual colocou um fim aos serviços do santuário
terrestre.3 Assim, se naquele momento João viu a besta que saiu do mar blasfemando
contra o santuário de Deus, este teria de ser o santuário celestial. 0 templo/santuário
da Terra e seus serviços não existiam mais.
Sugiro, então, que a entidade retratada em Daniel 8:11 e Apocalipse 13:6 ata-
cando o santuário celestial seja mais do que um poder humano.Apocalipse nos ajuda
a entender que o poder real por trás dos chifres pequenos de Daniel 7 e s é o pró-
prio Satanás.A besta apocalíptica que sai do mar também recebe poder e autoridade
de Satanás, o dragão (Apocalipse 13:2). Portanto, o diabo não é apenas o poder por
trás dos ataques do papado ao santuário celestial. Ele não é apenas o instigador. Sugiro
que é ele mesmo, Satanás, quem ataca o santuário celestial, e seu ataque tem muito
mais potencial de destruição do que o poder humano.
Como Satanás ataca o santuário
Como Satanás ataca o santuário? Tenha em mente que o santuário celestial é
inteiramente relacionado com o plano de Deus de salvar os seres humanos.]esus está
intercedendo por Seu povo #o s4#f#órí.o ccJcsfí'4J. Ele perdoa os pecados #o s4Ícfwó/t'o
cc/csf!'¢/. Ele cobre os crentes com Sua justiça 4 pcwf!.r do scJÍ£fí/órí'o cc/csfí.a/.Tudo isso e
muito mais é parte de Seu ministério mediador #o scz#Í#órí.o cc/csf!.4/. Assim, quando
o livro de Daniel e o de Apocalipse sugerem que Satanás está atacando o santuá-
rio celestial, o que eles realmente querem dizer é que ele está atacando o plano da
sa.+va,ç~íLo. E cori:Lo ele £az ±sso? Desempenhando seu papel de acusador do pouo de Deus.
Apocalipse 12:10 o chama, especificamente, de "o acusador de nossos irmãos, o
mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus". No capítulo 4 deste
livro, indiquei outros dois textos bíblicos que mostram Satanás acusando o povo
de Deus. Vamos relembrar.
4 cic#s4ÇÕo dc S4f4#ós co#fr#/ó, Jó 1:7 registra o início de uma conversa entre
Deus e Satanás a qual, aparentemente, foi instigada pela acusação feita pelo ini-
migo de que Deus não teria seguidores fiéis na Terra. 0 Senhor disse a Satanás:
``Observaste o Meu servo]ó? Porque ninguém há naTerra semelhante a ele, homem
íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal" (v. 8). E Satanás responde:
"Porventura,]ó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua
casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se mul-
tiplicaram na terra" (v. 9,10).
Em essência, Satanás está afirmando que Jó tinha motivos egoístas para servir a
Deus e, por isso, não era, nem de longe, fiel como o Senhor estava afirmando. No
decorrer da história, naturalmente, Deus permite que o inimigo prove Jó até o
limite, e o patriarca mantém sua lealdade a Deus. Meu objeto, no entanto, não é a
lealdade de Jó. É a altiva acusação de Satanás de que ]ó era indigno do favor de Deus.
4 4c%sc!ÇÕo dc S4f4Ícás co#frfl/os#é. Vemos uma situação semelhante em Zacarias 3,
em que o sumo sacerdote Josué "estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava
à mão direita Dele, para se Lhe opor", isto é, opor-se ao Anjo do Senhor (v. 1).
Embora o texto não diga explicitamente que o inimigo estava acusando josué de
ser indigno do favor divino, esse parece ser claramente o enfoque da narrativa. E o
que faz o Anjo do Senhor? Ele tira as roupas sujas de Josué e o veste com roupas
limpas e novas. Isso é um símbolo dajustiça de Cristo que cobre Seu povo. Saf4#ás
não gosta disso porque ele estava acusando Josué de ser indigno do j;auor de Deus!
Portanto, Satanás aparece como acusador do povo de Deus em dois lugares da
Bíblia, além do livro de Daniel. Nesses dois lugares, a acusação básica é que o
povo de Deus é indigno do favor divino. Isso é crucial para nossa compreensão
do ataque do chifre pequeno ao santuário de Daniel 8:10 a 12. Visto que é do san-
tuário celestial que ]esus administra o plano de salvação, qualquer investida contra
esse plano atinge também o santuário celestial.
No nível humano, terrestre, o ataque do chifre pequeno ao santuário celestial foi
cumprido pela distorção papal da verdade sobre o plano de salvação. Se as pessoas
viessem a ter uma compreensão errônea do plano, elas não seriam beneficiadas por
ele. Este é o propósito de Satanás: evitar que o povo venha a entender o plano de sal-
vação, de maneira que não possa se beneficiar.
No entanto, o inimigo também ataca o santuário de Deus e Seu plano de salva-
ção. Ele faz isso acusando o povo santo de ser indigno do favor divino, do perdão e
da vida eterna, razão pela qual Jesus morreu, ao passo que Cristo diz que, por meio
de Suav graça., eles são dígnos!

A quem é dirigida a acusação de Satanás?


Precisamos considerar mais um aspecto das acusações de Satanás: Para quem ele
dirige essas acusações? 0 Apocalipse não trata dessa questão, mas um pouco de refle-
xão nos colocará no rumo à resposta.
Certamente, nosso adversário não espera convencer Deus de que Seu povo é
indigno de salvação. Ele não espera convencer o Salvador disso.Jesus conhece Seu
povo (ver]o 10:14). Conhece os que são Dele e os que não são. Sugiro que os anjos
são aqueles a quem Satanás espera influenciar com suas acusações. Eles não são onis-
cientes, e é possível colocar dúvidas na mente desses anjos.
A ideia de que o diabo dirige suas a.cusações para os anjos soma-se ao fato de que
o santuário sob ataque em Daniel 8:10 a 12 não é apenas o santuário terrestre. Não
é apenas o santuário que Antíoco profanou. É o santuário de Deus no Céu, onde
Cristo está ministrando como nosso Sumo Sacerdote. E o poder por trás do chifie
pequeno é o acusador do povo de Deus, o próprio Satanás, que insiste em afirmar
quejesus está errado ao garantir perdão e vida eterna a Seu povo. Estou certo de que
ele fàz acusações contra cada um dos santos, um de cada vez. Enquanto os anjos via-
jam entre o Céu e a Terra, eles têm de escutar essas queixas maliciosas. Nenhum de
nós pode escapar de suas odiosas acusações. Felizmente, temos um Mediador alta-
mente qualificado para responder a. cada uma delas -Aquele que cobre cada um dos
salvos com Seu manto de justiça.
Embora eu pretenda que este estudo seja, em princípio, uma cuidadosa análise das
Escrituras, repetirei aqui dois parágrafos escritos por Ellen White, os quais citei no
capítulo 3.

Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os
diante de Deus como transgressores. 0 grande enganador procurou levá-
los ao. ceticismo, fazendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de
Seu amor e violar Sua lei. Agora aponta para o relatório de sua vida, para
os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que desonraram a seu
Redentor, para todos os pecados que ele tentou-os a cometer; e, por causa
disso, os reclama como súditos seus.4

Note a resposta de ]esus a essas acusações:

Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta seu arrependimento e fé


e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai e os
NA CORTE CELESTIAL

santos anjos, dizendo: ``Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma de


Minhas mãos. `Os sacrificios para Deus são o espírito quebrantado; a um
coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus!" (S151:17). E ao
acusador de Seu povo, declara: "0 SENHOR te repreende, ó Satanás; sim,
o SENHOR, que escolheujerusalém, te repreende; não é este um tição tirado
do fogo?" (Zc 3:2). Cristo vestirá Seus fiéis com Sua justiça, para que os
possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga,
nem coisa semelhante''.5

Satanás, o poder por trás do chifre pequeno, a,taca o santuário de Cristo no Céu
ao acusar, perante os anjos, o povo de Deus de ser indigno da salvação que Cristo
oferece.

A ousada rebelião
Em Daniel 8:12, o profeta escreveu que ``um exército será organizado belo chi-
fre] em rebelião contra o f4mí'd".6 Em outras palavras, o chifre pequeno organizará
um exército de seus seguidores para ir contra o ministério mediador de Cristo. Como
devemos entender isso?
Tenha em mente que Satanás não é o único anjo caído na Terra. Apocalipse
12:3 e 4 nos diz que, quando o diabo foi expulso do Céu, arrastou com ele um
terço dos anjos. Não consigo imaginar que ele, apenas, esteja acusando o povo
de Deus de ser indigno de salvação. Incansáveis, os anjos que o acompanharam
trabalham com ele dia e noite para tentar e perturbar os crentes, fazer com que
cedam à tentação e, então, acusá-los de ser indignos da graça divina. Infelizmente,
em alguns casos, eles estão certos. Alguns professos cristãos estão, em realidade,
cobertos com sua justiça própria, confiando que suas obras irão salvá-los, em vez
de depender da justiça de Cristo. Entretanto, Satanás e seus anjos não apresentam
acusações apenas contra esses em falta. Eles acusam cada um dos crentes de serem
indignos da graça de Deus.
Daniel disse que o chifre pequeno "deitou por terra a verdade". Satanás e
seus anjos não 1imitam seus esforços para enganar homens e mulheres com suas
falsidades. Para ter certeza, apontam para eles suas miras. Os anjos maus estão
fazendo todo o esforço possível para distorcer a verdade em relação aos santos de
Deus também .diante dos anjos no Céu. Eles fazem um ataque blasfemo contra o
ministério de Cristo no santuário celestial. É uma rebelião arrogante e deliberada
contra o Senhor.
Daniel 8:10 a 12 nos diz muito mais do que um antigo rei selêucida (Antíoco)
atacando os judeus em Jerusalém e na ]udeia, profanando seu santuário. Esse foi
um ato menor no drama. De fato, essa profecia se relaciona com o conflito entre o
bem e o mal que vem se desenrolando em nosso planeta - e em todo o Universo
- por pelo menos 6 mil anos. E Deus tem permitido que ele aconteça. Daniel
estava certo quando disse que o chifre pequeno "prosperou" (Dn 8:12). 0 Senhor
deu a Satanás tempo para que colocasse em ação seu plano de governar nosso
A OÜE SÁNTÜÁRlo DANIEL S SE REFERE?

mundo para ficar demonstrado o que ele faria com todo o Universo se lhe fosse
dada oportunidade.

A cronologia de Daniel 8:10 a 12

Precisamos tra,tar de mais um assunto antes de concluir este capítulo. A pergunta


é muito simples: Em que tempo Daniel previu que se cumpriria o ataque do chifre
pequeno ao povo de Deus, ao príncipe e ao santuário celestial?
Os adventistas têm sempre sustentado que esses versos predizem sobre o papado
medieval, sua perseguição ao povo de Deus e sua distorção da verdade do evange-
lho. Como você sabe, concordo com essa interpretação, pois o chifre pequeno de
Daniel 7 se levanta após as tribos bárba,ras derrotarem o império romano ociden-
tal e, da mesma forma, o chifre do capítulo 8. Demonstrei que o papado medie-
val se encaixa como uma luva na cronologia de Daniel 2, 7 e 8. Por meio de suas
falsas doutrinas, o papado também combim com a descrição do ataque do chifre
pequeno ao santuário.
No entanto, também apontei que o poder por trás do chifre pequeno é o pró-
prio Satanás. Deveríamos supor, então, que o ataque do inimigo ao ministério
mediador de Cristo - sua acusação de que o povo de Deus é indigno da graça do
Senhor -é limitado ao período medieval? Claro que não! Ele vem atacando os san-
tos de Deus desde que Adão e Eva pecaram no Éden e continuará fazendo isso até a
vinda de Jesus. Como, então, ajustar as acusações de Satanás contra o povo de Deus
m cronologia dos quatro metais e dos pés de ferro e barro de Daniel 2? Como
encaixá-los na cronologia dos quatro animais e dos dez chifres do animal terrível e
espantoso de Daniel 7?
Proponho que não o façamos.
Permita-me, por um momento,1evá-lo de volta a Daniel 7. Imediatamente após
a cena dos versos 9 e 10, o profeta diz: "Então, estive olhando, por causa da voz das
insolentes palavras que o chifre proferia; estive olhando e vi que o animal fói morto,
e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado" (v.11). 0 ponto aqui é que
o julgamento condenou o chifre e o quarto animal e os entregou à destruição. Isso
significa que o juízo dos versos 9 e 10 trata apenas do papado medieval? No capí-
tulo 2 deste livro, indiquei que a cena de julgamento na visão do capítulo 7 retrata
o mesmo evento profetizado por Salomão (Ec 12:14),]esus (Mt 12:36, 37) e Paulo
(Rml4:10-12;2Co5:10).ÉomesmojulgamentoqueJoãoprofetizouemApocalipse
(14:6, 7; 15:3, 4; 16:5: 19:2).
Assim, acredito que os chifres pequenos de Daniel 7 e s representam o papado
medieva,1. Entretanto, como disse antes, Sa,tanás é o poder por trás desses símbolos.
Embora o juízo final vá condenar o papado medieval, seu propósito mais amplo é so-
lucionar o conflito entre o bem e o mal que tem sido travado no Universo desde que
o inimigo se rebelou contra Cristo no Céu. 0 ataque do chifre pequeno aos santos,
ao príncipe e ao santuário, como retratado em Daniel 8, é simplesmente um segmen-
to importante do grande conflito que começou no Céu antes que nosso mundo fosse
criado, e só teminará no fim do milênio.
Finalmente, o propósíto primário deste capítulo e do anterior é determinar se
o santuário mencionado em Daniel 8:10 a 12 é o santuário terrestre ou o santuá-
rio celestial. A partir das evidências bíblicas e de uma análise cuidadosa dos pró-
prios versos, parece razoável entender que o santuário purificado ou restaurado no
verso 14 é o celestial.

+ Martin Proebstle, "Truth andTerror", p. 243.


2 ibid„ p. 521, 522.
3 0s judeus continuaram a oferecer seus sacrificios até a destruição de ]erusalém, em 70 d.C., mas esses
sacrificios já não tinham nenhum significado espiritual ou teológico.
4 Ellen G.White, 0 Grj2#dc Co#JJi.fo, p. 484.
5 Ibid.
ó Proebsde, "Truth and Terror", p. 290.
OUANT0 TEMPO, SENHOR?

U::v::gou:::qóubevàaon.ohs|fií::eàqu:::t:od;po:1osá:àe::s::ooSp::Ê:|:eerseosaoq?aen:ue::
rio. É o clamor angustiado "Deus, onde estás?", que vem dos lábios de milhões
de pessoas em sofrimento ao redor do mundo. Quando a vida nos traz dificulda-
des, oramos: "Ó Deus, até quando teremos de enfrentar esta dor? Quando trarás
este terrível estado de coisas a um fim?" Essa é a súplica das almas sob o altar em
Apocalipse 6:10: ``Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas,
nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?"
Encontramos essa mesma pergunta após o devastador ataque do chifre pequeno
ao povo de Deus, ao príncipe e ao santuário. "Depois, ouvi um santo que fàlava; e
disse outro santo àquele que fàlava: Até quando durará a visão do sacrificio diário e
da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de
serem pisados?" (Dn 8:13).

Os santos
Aparentemente, a pergunta "Quanto tempo?"í foi feita por um anjo. Daniel disse:
•`Depois, ouvi #m so#fo que fàlava; e disse outro s4#fo àquele que fflava" (itálicos acrescen-

tados). 0 pmfeta não nos diz quem são esses santos. Embora não forneça nomes, ele nos
dá algumas pistas. Primeiro, em Daniel 7:9 e 10, ele retrata ri]hões de anjos ao redor do
tiono de Deus, e parece muito prowável que teiiha sido um desses anjos quem fez a per-
gunta de Daniel 8: 13. Encontramos outra pista em Daniel 8: 15 e 16, em que alguém oiidena
a Gabriel que e}plique a visão ao profeta. Parece razoável concluir que Gabriel era um dos
anjos do verso 13 -pmvavelmente aquele que respondeu à pergunta "Quanto tempo?".
Em outras palavras, é provável que tenha sido Gabriel quem deu a resposta que lemos no
`-erso 14. Contudo, antes de examinarmos a resposta, precisamos analisar a pergunta mais
detalhadamente; pois, se compreendermos mal a pergunta, é possível que obtenhamos a
resposta errada ou, no míiiimo, entendamos mal a resposta que obtivermos.
Dado nosso conhecimento do terrível ataque do chifre pequeno dos versos 10 a
12, naturalmente esperaríamos que o anjo perguntasse: "Quando terminará o ataque
do chifre pequeno?" Mas não foi isso que ele disse. Em vez disso, perguntou: " [Quanto
tempo] durará a visão?" Essas duas perguntas são bem diferentes uma da outra. A fim
de assegurar que você entenda a diferença entre elas, repito-as abaixo:

"Quando terminará o ataque do chifre pequeno?" (Pergunta que pode-


ríamos esperar.)
"[Quanto tempo] durará a visão?" (Pergunta realmente feita pelo anjo.)
NA CORTE SELESTIAL

Analisando a pergunta
Duas diferenças entre essas perguntas são particularmente relevantes para nossa
discussão: (1) "Quando?" ycr5#s "Quanto tempo?" e (2) o ataque do chifi-e pequeno
vcrç#f a visão.
Qw¢Ícdo? versus Q#4#fo fcmpo.? Uma ilustração simples poderá esclarecer a pri-
meira diferença entre essas duas perguntas. Suponhamos que eu esteja programado
para sair no dia 7 de março para uma viagem de negócios. Se mjnha esposa pergun-
tasse "Quando você volta?", minha resposta seria: "No dia 14 de março." Entretanto,
se ela perguntasse "Quanto tempo você estará fora?", minha resposta seria: "Uma
semana.'' A resposta apropriada para a segunda pergunta exigiria que minha esposa
fizesse um rápido cálculo aritmético para saber quando eu retornaria. Uma rápida
olhada no calendário lhe diria que, se eu sair de viagem no dia 7 de março, minha
viagem de uma semana terininará em 14 de março.
Voltando à pergunta do anjo, note que ela foi ``Quanto tempo?", não "Quando?".
Porque a pergunta foi feita dessa maneira, precisamos conhecer tanto o ponto de par-
tida como a extensão do período para poder calcular o ponto final. 0 verso 14 nos
dá a extensão do período: 2.300 dias, o que discutirei no próximo capítulo.Vários
capítulos depois, determjnaremos o ponto de início do período envolvido, o que nos
perritirá calcular o ponto em que ele termina.
0 4faqwc do chfrc pcqwc#o versus 4 y!.íão. A pergunta que o anjo poderia ter feito,
``Quando terminará o ataque do chifi-e pequeno?", interroga apenas sobre o ponto
em que terminam as atividades destruidoras do chifre pequeno. A pergunta que ele
realmente fez, "[Quanto tempo] durará a visão?", questiona acerca da extensão do
tempo coberto por toda a visão, a qual teve início com o carneiro medo-persa.
A última parte da pergunta do anjo menciona quatro elementos que estão incluí-
dos na visão: ``[Quanto tempo] durará a visão do [1] sacrificio diário e da [2] trans-
gressão assoladora, visão na qual é entregue o [3] santuário e o [4] exército, a fim
de serem pisados?"Você notará que cada um desses itens tem que ver com o chi-
fie pequeno e seu ataque ferino. A partir disso, alguns intérpretes têm concluído
que a pergunta do anjo sobre o tempo é restrita ao período do chifre pequeno.
Entretanto, observarei mais uma vez que a pergunta do anjo foi "[quanto tempo]
durará a tJí.sÕo?"
A palavra hebraica traduzida como "visão" é ft4zoÍ?. Ela ocorre três vezes nos dois
primeiros ver.sos do capítulo 8. Daniel diz: "[1] No ano terceiro do reinado do rei
Belsazar, apareceu-me uma visão [ftcízo#], a mim, [...]. [2] E vi na visão [Í!4zoít] [...]
[3] vi, pois, na visão [h4zo#] [...]" (ARC). Nesses versos que introduzem a visão do
capítulo 8, a palavra h4zo% claramente se refere a toda a visão. No verso 17, a voz
ordena ao anjo Gabriel: "Entende, filho do homem, pois esta visão [#4zo#] se reftre
ao tempo do fim." Ele, então, começa sua explanação com o carneiro medo-persa.
o primeiro animal da visão (v. 20). Assim, outra vez a palavra #4zoít se refere a toda
a visão. Devemos entender, portanto, que a pergunta do verso 13 "[quanto tempo]
durará a visão [Ã4L2`o#]?" se refere a toda a visão e não apenas ao período do ataque
do chifre. 0 significado desse detalhe ficará evidente em um capítulo posterior.
aüÁNTO TEMPO SENHOR?

A pequena lista
Ao perguntar "Quanto tempo?", o anjo traz à tona pelo menos dois dos elementos
que os três versos anteriores haviam retratado como o ataque do chifi.e pequeno e um
possível terceiro item. Ele tinha em mente o f4mí.d (o que muitas versões bíblica.s cha-
mam de "sacrificio diário"), o exército e, possivelmente, o santuário. Digo "possivel-
mente" porque a palavra hebraica traduzida como "santuário" é qoJcs#, o significado
básico daquilo que é ``santo". A palavra hebraica para "santuário" é mí'qd4s¢, que tem
relação com qocícsh, mas não quer dizer a mesma coisa. Mí.qcícüà é usada somente no
verso 11, que diz: "o lugar do seu santuário [m!.qdash] foi deitado abaixo". No verso
13, o anjo literalmente perguntou: ``[Quanto tempo] durará a visão do sacrificio diá-
rio e da transgressão assoladora, visão na qud é entregue o [santo] [qodcs#] e o exér-
cito, a fim de serem pisados?" Ele não perguntou sobre o santuário (mi'qcJ4s#), e esse
é um ponto significativo, que discutirei em maiores detalhes no próximo capítulo.
Os versos 10 a 12 retratam o chifre pequeno atacando algumas coisas e pessoas.
Como observei acima, o verso 13 relaciona vários desses objetos do ataque do chifre
pequeno, mas deixa fora as estrelas (v.10), o príncipe do exército (v.11) e a verdade
(v.12). No entanto, o a,njo mencionou a "transgressão".
0 termo hebraico para "transgressão" usado nesse verso é pcsÁc7', o qual apareceu
pela primeira vez no verso 12: ``por causa das transgressões bcs#4'] [...]." Indiquei no
capítulo anterior que a palavra pcs#o' significa "rebelião", no sentido de uma esco-
lha aberta e deliberada de desobedecer ao Senhor. 0 ataque do chifre ao povo de
Deus, ao príncipe e ao santuário certamente pode ser qualificado como uma inves-
tida deliberada contra Deus! Trata-se de uma rebelião abominável! Na pergunta do
verso 13, o anjo chamou o ataque do chifre de "transgressão cÜso/czdom" (itálico acres-
centado). 0 termo hebraico sh4mc# quer dizer "estar desolado" ou "estar horrori-
zado". A última expressão pode estar mais próxima do significado que Daniel tinha
em mente - uma rebelião hom'vcJ. Isso destaca o sentimento de horror que devemos
ter com respeito à rebeldia do chifre pequeno.
Uma questão importante é se a lista de itens da pergunta do anjo, nos versos 10 a
12, é deliberadamente pequena. Isto é, o anjo estava perguntando apenas sobre esses
elementos específicos? A resposta razoável parece ser "não". Os quatro itens que ele
trouxe dos três versos anteriores são uma espécie de resumo. Ele rea,lmente parece
perguntar: "Quando é que focJos os terríveis problemas associados ao ataque do chi-
fie pequeno serão corrigidos?"
Assim, um. anjo perguntou ao outro a,njo: "Quanto tempo durarão o carneiro, o
bode e o rebelde chifie pequeno da visão? Quando terminarão os eventos observa-
dos nessa horrível visão?" A resposta vem no verso 14, que consideraremos no pró-
.ümo capítulo.

Nota do tradutor: A versão New King ]ames, utilizada pelo autor, usaL a expressão "Quanto tempo?" no
`-erso 13, como também é o caso da Nova Versão lntemacional, em português. Para manter a coerência do
argumento do autor, manteremos a expressão "Quanto tempo?" em colchetes, em vez de "Até quando?",
que é a expressão utilizada na versão Almeida Revista e Atualizada e na versão Almeida Revista e Corrigida.
APURIFICAÇÃO

D0 SANTUARIO

F:noa|::::;eescuhsepgaarT:ssâ4PÊ?tl:lusc::r4t'otà:tàuqeu:ol::ocuonGhuel;:ebremmee¥;llf:s:a:reeí:zirasa'
para que fique registrado, aqui está o que ela diz: "Ele me disse:Até duas mil e trezen-
tas tardes e manhãs; e o santuário será purificado."
Como observei no capítulo 5, ao longo da maior parte da carreira de Miller como
pregador, ele não fixou uma data específica para a segunda volta de Cristo. Ele acei-
tou 22 de outubro de 1844, quase duas semanas antes do Grande Desapontamento.
De qualquer maneira, a data de 22 de outubro está baseada no Dia da Expiação
judaico, não em Daniel 8:14.
Para melhor entendermos esse assunto, podemos dividir Daniel 8: 14 em três partes:

• 14a: Ele me disse:


• 14b:Até duas mil e trezentas tardes e manhãs;
• 14c: e o santuário será purificado.

A primeira parte, "Ele me disse", certamente não precisa ser comentada. Resuriiida-
mente, no verso 13, dois santos estão envolvidos em uma conversa sobre quanto tempo
durariam os eventos revelados na visão dos versos 3 a 14, e um deles dá a resposta que está
registrada no verso 14. É interessante observar que o anjo que respondeu à pergunta se
dirige diretamente a Daniel. 0 proftta relata: "Ele mc disse" (itálico acrescentado), não
"Ele disse para o owfMo `s4#fo'''. Contudo, não posso dizer se esse detalhe tem algum efei-

to em nossa interpretação do restante do verso 14. Nossa preocupação exclusiva no res-


tante deste capítulo será com a purificação do santuário e os 2.300 dias.

A PURIF[CAÇÃO D0 SANTUÁRlo

As palavras do verso 14c são particularmente cruciais pam uma compreensão correta do
texto: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o jc]#fwcíw.o será p##/rido."

Santuário
No capítulo anterior, indiquei que a palavra hebraica para "santuário" é mt.qd4Ls#,
palavra usada por Daniel quando ele escreve:``o lugar do Seu santuário [mí.qd¢sÃ] foi
deitado abaixo" (Dn 8:11). Porém, a palavra hebraica traduzida como "santuário"
tanto no verso 13 como no 14 é qocíesÁ, o significado básico daquilo que é "santo".
Qual é, então, a diferença entre qodcsft e mi.qdcü#?
A palavra hebraica qoc7cJ# é usada para designar pessoas, 1ugares e coisas santas. Ela
ocorre três vezes em Daniel 8:13.As duas primeiras vezes são quando um "j4#fo" fha
À PURIFl€A ÃO D0 SANTUÁRlo

com outro "scií£fo" (itálico acrescentado). Na terceira vez, ela é traduzida como "san-
tuário", no verso 14. A pergunta é se a frase no verso 14 talvez devesse ser traduzida
como "e o s4#fo será purificado".
Não quero sugerir que a palavra s4Ítfwórí.o nas Bíblias em português seja uma
tradução equivocada. 0 santuário é um importante tema dos versos 10 a 12. No
Antigo Testamento, a palavra qodcs# ocorre principalmente nos livros de Êxodo,
Levítico, Números e Ezequiel. Isso sugere que a palavra é usada especialmente em
relação ao santuário, uma vez que esse é o tema principal desses livros. E a maio-
ria dos comentaristas concorda que qocícs#, em Daniel 8:14, significa ``santuário", e
quase todas as versões traduzem dessa forma.
Entretanto, talvez seja significativo que o anjo tenha usado a palavra s4#fo (qodcsÃ)
em vez de s4#fwórí.o (mi.qdasÃ), tanto no verso 13 como no 14.Tenha em mente que
o verso 14 é a resposta para a pergunta do anjo sobre quanto tempo seria permi-
tido que a visão continuasse, isto é, o ataque do chifre pequeno dos versos 10 a 12.
Lembre-se também de que o santuário não é a única coisa que o chifre pequeno
atacou: ele atacou o povo de Deus (o exército e as estrelas), o Príncipe, os serviços
(Í4mí.4) do santuário de Deus e a verdade, tudo isso é santo. Houvesse Daniel usado
a palavra hebraica para "santuário" (mí'qd4s#), poderia parecer que a solução do verso
14 estivesse dirigida apenas para o santuário que foi destruído no verso 11. Em vez
disso, a palavra s¢#Ío (¢odcsb) sugere que deve haver uma solução para todas as coi-
sas santas que foram atacadas nos versos 10 a 12: o povo, o Príncipe, o santuário, os
serviços e a verdade. Proebstle conclui:

Os resultados dos estudos semânticos de qodcs# - palavra que se refere ao


santuário, mas que também está associada aos santos - reforçam a conclu-
são de que [...] Dn 8:14c abrange a solução para todos os diferentes ele-
mentos apresentados na pergunta do verso 13c. Assim, o uso particular
de [...] qocícs# em 8:14c sugere enfaticamente que a restauração do santo
inclui tanto a vindicação do santuário como do exército.t

Purificado
A palavra hebraica traduzida como ``purificado" em Daniel 8:14 (tanto na K]V
como m NKJV) é Í%`f5d4q. Essa é a fórma passiva do verbo fscid4q. Muito se tem
escrito acerca d.e fs4d4q e de %i'f5cJ4q. Assim, tudo o que podemos fazer aqui é resumir
os pontos que são especialmente relevantes para o nosso estudo.
Ts4dc[q c "pwr%"do ". Os adventistas têm associado a palavra "purificado" de Daniel
8:14 com a purificação do santuário no Dia da Expiação de Levítico 16. Muitos crí-
dcos - tanto adventistas como não adventistas - desafiam essa associação, visto que a
palavra hebraica para "purificado" em Levítico 16 é f4hc/, não fs4d4q -o significado
básico daquilo que é "correto", "direito" e ``justo". Portanto, dizem os críticos, uma
correlação direta entre Daniel 8:14 e Levítico 16 não se justifica.
No entanto, é preciso ter em mente duas outras considerações. A primeira é
que as versões remotas do Antigo Testamento em outras linguagens diferentes do
NA CORTE CELESTIAL

hebraico são quase unânimes em traduzir Í%.fsd4q como "purificado".2 Isso é espe-
cialmente significativo com respeito à Septuaginta porque ela é a tradução grega do
Antigo Testamento feita pelos judeus, que entendiam a própria língua (o hebraico)
muito bem.3
A segunda consideração é a conclusão a que chegou o Dr. Richard Davidson,
diretor do Departamento de Antigo Testamento do Seminário Teológico Adventista
do Sétimo Dia, em um artigo publicado vários anos atrás noJowr%¢/ o/ f#c 4dtJcÍ?f!.sf
T7%oíogi."/ Soci.cfy. Davidson comparou a palavra hebraica fs4d4q com outras palavras
paralelas a essa na poesia do Antigo Testamento.4 Ele concluiu que os termos usados
em paralelo com fs4d4q sugerem três significados para a palavra.

• Seu significado básico é "estar certo".


• Em alguns contextos, ela significa "estar limpo/puro" ou "limpar/purificar".
• No contexto do juízo, ela significa ``estar vindicado".5

Com respeito ao segundo item acima, Davidson indica que, em Jó 4:17 e 17:9,
fs4d4q é usada em forma paralela a fci#cr, a palavra traduzida como ``purificado" em
Levítico 16. Ts4d4q também é usada em paralelo com a palavra hebraica z4k4h, que
significa "ficar puro" (ver ]ó 15:14; 25:4; Sl 18:20). Portanto, embora "purificado"
possa não ser o significado mais básico de fs4c74q, ela pode ter esse sentido.
0 wsoj#rí'dí.co dc tsadaq.Também é significativo para a nossa discussão o fato de que o
Antigo Testamento fi-equentemente usa fs4d4q em contexto jurídico. Richard Davidson
declara que,"de acordo com uma contagem, das 117 ocorrências de fscdcq [uma forma
variante de Í54d4¢] no Antigo Testamento, 67 (ou 57%) são encontradas em um con-
texto legal". Ele conclui que "nesses ambientes legais, fica claro que fscdcq assume um
significado ampliado com a conotação de `vindicação".6 Seguem três exemplos:

• Moisés instruiu o povo: "Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo,
os juízes os julgarão, justificando [fsc!d4q] ao justo e condenando ao culpado"
(Dt 25:1).
• Em seu esforço para enfraquecer o governo de seu pai e se estabelecer como rei
de lsrael,Absalão disse ao povo: "Ah! Quem me dera serjuiz na terra, para que
viesse a inim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse
justiça [fs4.d4q]" (2Sm 15:4).
• Salomão disse: ``0 quejustifica [fs4d4q] o perverso e o que condena o justo abo-
mináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro" (Pv 17:15).

Esses textos deixam claro que, no Antigo Testamento, fs4c74q é fi.equentemente


usado no sentido de julgamento em um tribunal de justiça, quando os juízes são
chamados para vindicar o inocente e condenar o perverso.
Proebstle indica que, em certas formas hebraicas, fs¢d4q "designa uma atividade
pela qud alguém é declarado direito, justificado ou vindicado", e isso é fi-equente-
mente verdadeiro no que tange a "uma pessoa que, em virtude do contexto,já está
A PÜRIFICA ÃO D0 SANTUÁRIO

caracterizada como justa".7 Certamente, o contexto de Daiiiel 8:10 a 12 caracteriza


o povo de Deus, o príncipe e o santuário como justos. Em um tribunal de justiça,
quando um réu é declarado inocente, o júri, em essência, declara que ele sempre fói
direito. Ele é vindicado.Assim, uma tradução apropríada para Daniel 8:14 seria: "E o
santo será vÍ.#dí'c4do", e isso se aplica a todas as coisas santas que sofieram o ataque do
chifre pequeno nos versos 10 a 12, não apenas o santuário.
0 uso jurídico de fs4d4q nos fornece uma significativa relação contextual entre
Daniel 8:14 e o tema do juízo no capítulo 7. Em ambos os capítulos, um chifre
pequeno ataca Deus, os santos e a verdade, e a questão é resolvida com vindicação.
Em Daniel 7:22 lemos: "o Ancião de Dias [...] fez justiça aos santos do Altíssimo" -
o que significa que eles são vindicados. E em Daniel 8:14 lemos que os s4#fos -isto é,
todas as coisas sântas que estavam sob ataque nos versos 10 a 12 -são ".f5d4q, ou seja,
purificados. Essa é uma importante evidência para entender que a purificação ou
vindicação das coisas santas do verso 14 se refere a uma obra de julgamento.
Voz p4ssÇ.p4. A voz passiva de fs4cí4q é #!.fsd4q. Essa é a forma do verbo usada em
Daniel 8: 14.Aqui está uma rápida explicação sobre a diferença entre a voz passiva
e a voz ativa que ajudará a esclarecer o significado do uso da voz passiva no verso
14. A voz ativa requer que o sujeito da oração dê nome a quem pratica a ação, e
que um objeto direto dê nome ao recipiente da ação. Assim, a oração "]oão chu-
tou a bola" está na voz ativa porque ela contém o sujeito,/oÕo; o verbo, c##fow; e,
nesse caso, o objeto direto da ação do verbo, 4 boJ¢. Em português, a voz passiva
inverte a relação entre o sujeito e o objeto direto, colocando o objeto direto no
lugar sustentado pelo sujeito em uma oração na voz ativa. Na voz passiva, pode-se
ou não saber quem praticou a ação. Na oração ``A bola foi chutada", temos a voz
passiva. Essa é uma oração completa, muito embora não se diga quem chutou a
bola. A fim de sabermos quem chutou a bola, devemos dizer: "A bola foi chu-
ta,da por João ."
Em hebraico, a fórma do verbo indica se a oração está na voz passiva ou ativa.
0 verbo #!'fsd4q, em Daniel 8: 14, está na voz passiva do verbo Í5d4q, sua forma ativa. Ele
nos diz o qwc será purificado (o santuário), sem dizer, porém, qwcm fará a purificação.
Para que soubéssemos isso, a oração deveria dizer algo como "o santuário foi purifi-
cado po, (quem quer que tenha feito a purificação)"
É claro que quem purifica o santuário é Deus. Porém, talvez, a palavra fs4d4q
esteja na voz p.assiva em Daniel 8:14, porque Deus não é o único que estará
envolvido nessa purificação, nessa vindicação. Explorarei mais essa questão no
próximo capítulo.

OS 2.300 DIAS

Nota-se no capítulo anterior que, em Daniel 8:13, um ``santo" pergunta para o


outro: "[Q#4#fo fcwpo] durará a visão do sacrificio diário [...]" (itálico acrescentado).
0 verso 14 dá a resposta: ``Até duas mil e trezentas tardes e manhãs." (As versões KÍ.Ícg
/4mcs e Ncw Ki'#gJ4mcs trazem "dias" em lugar de ``tardes e manhãs". A maioria das
`-ersões em português traz "tardes e manhãs".)
CORTE €ELESTIAL

Essa é uma indicação clara de que os 2.300 dias constituem uma profecia tempo-
ral. E, de fato, quase todos os intérpretes de Daniel entendem os 2.300 dias como um
período na história.A questão concernente a Daniel 8:14 não é se essa é uma profe-
cia temporal, e os adventistas do sétimo dia não estão errados por entendê-la como
uma profecia temporal. A verdadeira questão é qw4#fo fcmpo o verso está indicando.
Devemos entender os 2.300 dias como literais ou simbólicos?
Os que adotam a interpretação literal aplicam esse período de tempo a dias lite-
rais durante o reinado de terror imposto aos judeus por Antíoco. Duzentos anos atrás,
muitos intérpretes de profecias entenderam que os 2.300 dias representam anos, e
vários deles afirmavam que o período terminava em 1843,1844 ou 1847.8 Contudo,
tanto quanto sabemos hoje, os adventistas do sétimo dia são os únicos a adotar o
ponto de vista de que os 2.300 dias simbolicamente representam 2.300 anos literais
que começaram no período medo-persa e se estenderam até meados de 1800. Farei
um resumo das questões básicas envolvidas em cada interpretação.

A intepretação literal
No capítulo 9, indiquei que a profànação do santuário em ]erusalém por
Antíoco Epifânio durou três anos. Porém, três anos correspondem a apenas 1.095
dias. Por outro lado, 2.300 dias correspondem a seis anos e quatro meses. Muitos
dos que adotam a interpretação de Antíoco querem deixar o número 2.300 o mais
próximo possível dos fatos históricos. Assim, eles assumem que as palavras m4Í£hõ
e fc"dc se referem aos sacrificios vespertinos e matutinos do sistema sacrifical
judaico. Então, ao interpretar a metade das unidades de 2.300 como sacrificios da
tarde e a outra metade como sacrificios da manhã, eles chegam ao total de 1.150
dias -metade dos 2.300 dias. Isso fica mais perto da extensão de tempo em que o
templo de jerusalém permaneceu profanado, mas ainda permanece com 55 dias a
mais do que os 1.095 de Antíoco. Para muitos eruditos, isso é perto o suficiente -
é o melhor que podem fazer para que os fatos se encaixem em sua interpretação.
Essa interpretação 1iteral, por mais instável que seja, é, obviamente, necessária no
caso de Daniel s representar Antíoco.Assim, a pergunta básica é: Seria esse verdadei-
ramente o caso? Nos capítulos 9 e 12, apresentei evidências de que não é.Assim, não
farei mais comentários sobre essa questão aqui.

A interpretação simbólica
A interpretação adventista dos 2.300 dias como 2.300 anos é baseada no princípio
dia-ano, no qual um dia, na simbologia profética, equivale a um ano de tempo lite-
ral. Uma vez que discutirei esse princípio em detalhes no capítulo 27, limitarei minha
discussão aqui a duas outras questões: (1) como o contexto de Daniel 8:14 influen-
cia a interpretação dos 2.300 dias e (2) o significado das palavras f4ÍcJc e m4#hã na lín-
gua hebraica.
0 co#fcxfo. A visão de Daniel termina no verso 14. Assim que a visão termi-
nou, o anjo Gabriel apareceu a Daniel (ver v.16), e Gabriel disse: "Entende, filho
do homem, pois csf4 y!.são sc re/c# 4o fcmpo dofim" (v.17; itálicos acrescentados).
Dois versos depois, Gabriel disse: "Eis que te farei saber o que há de acontecer no
último tempo da ira, porque esta visão se refere ao ícmpo cícfc/mí'#4do cJoufim" (v.19;
itálicos acrescentados). Portanto, o período de 2.300 dias supostamente se estende
até o tempo do fim.
No capítulo anterior, indiquei que o anjo perguntou: "[Quanto tempo] durará
a t/i'sÕo?", não "Quando terminará o czf4q#c cJo c#í//c pe¢we#o?" (itálicos do autor).
0 problema está no período coberto por toda a t;i.sÕo. A visão de Daniel come-
çou com o carneiro medo-persa. Isso significa que os 2.300 dias devem começar
durante o período medo-persa, e, desde aí, se estender até o tempo do fim, o qual os
adventistas e muitos outros cristãos acreditam ser o nosso tempo. Seis anos e qua-
tro meses seriam, obviamente, um espaço de tempo muito curto durante o impé-
rio medo-persa. Isso nos deixa sem opção, senão a de interpretar as 2.300 tardes e
manhãs de maneira simbólica.
As tardes e manhãs se refirem aos sacriflcios diários? Poucos pa,rãgraÂos a,cL:ma,
mencionei que muitos intérpretes entendem que as "tardes e manhãs" do verso
1+ se referem aos sacrificios das tardes e manhãs de Levítico. Isso estaria correto?
Começarei fornecendo as palavras na linguagem original que estão traduzidas como
•.tardes" e "manhãs".

A palavra hebraica para ``tarde" é erctJ, e para "manhã" é boqcr. Ambas estão no
singular no hebraico e não há conjunção entre elas. Além disso, as palavras tradu-
zidas como "duas mil e trezentas" vêm após cw boqcr. Assim, uma leitura literal
em português seria: "tarde-manhã duas mil e trezentas", não "duas mil e trezentas
urdes e manhãs".
A ordem das palavras fmdc-m4#ÃÕ é significativa. Os adventistas argumentam
contra a ideia de que em Daniel 8 essas palavras sejam linguajar do santuário. Uma
das evidências que favorecem nossa posição é que qua,ndo se fria de sacrificios diários
no Antigo Testamento, a ordem das palavras sempre é m4í4hõ-fcwdc, nunca fcí#t7c-mcz-
Íi/iõ.9 A ordem das palavras de Da,niel, f4Mdc-mcí##ã, está mais evidente no relato da
iTiação, que diz: "Houve tarde e manhã, o primeiro dia" (Gn 1:5) (ver também v. 8,
13,19, 23, 31). Com esse entendimento, a interpretação óbvia de "tarde-manhã duas
ril e trezentas" é de dias inteiros, não dias pela metade.
0 assunto da criação é importante por outra razão. 0 ataque do chifre pequeno
ao exército, ao príncipe do exército, ao f4mí.cJ, ao santuário e à verdade foi bastante
destruidor. PÇ>r isso, a restauração seria uma obra de crí.4Ção ou, ta,1vez mais correta-
mente, de rccri.4fõo. Proebstle disse: "Depois da pergunta [no versículo 13] sobre até
que ponto no tempo a situação destruidora vai continuar, o primeiro pensamento
desencadeado pela resposta é a respeito da criação. Portanto, a criação se opõe à des-
truição."í° "A noção de criação se encaixa como um oposto da destruição efetuada
pelo chifre e seu exército. Assim, a forma singular de `tarde-manhã' cria a expecta-
d\-a de um ato criativo, mas esse ato criativo virá somente depois de um período de
•2.300 tardes-manhãs'."11

Historicamente, os adventistas têm identificado a purificação do santuário de


Daniel 8:14 como uma referência ao antítipo do Dia da Expiação de Levítico 16.
NÀ CORTE CELESTIAL

Uma vez que dedicarei os capítulos 20 e 21 para uma discussão sobre o Dia da
Expiação, aqui farei apenas um comentário sobre isso. Na visão de Daniel 8, a Medo-
Pérsia é representada por um carneiro e a Grécia, por um bode. Significativamente,
nos serviços do santuário israelita, carneiros e bodes eram sacrificios comuns, e
ambos eram sacrificados no Dia da Expiação (ver Lv 16:15, 3, 24). Aqui está,
portanto, outra razão para entender o verso 14 em termos de Dia da Expiação.
Proebstle faz um comentário significativo: "Se a terminologia cúltica [do santuá-
rio] da visão de Daniel s leva à crença de que a frase `tarde-manhã' deva deno-
tar um dia que vai de uma tarde até a outra tarde e que tenha significado cúltico,
cumpre optar por uma referência ao Dia da, Expiação que explicitamente vá de
uma tarde até a outra.''12
0 ponto de Proebstle é facilmente verificado. Um importante texto com que
os adventistas provam que o sábado deve começar e teminar ao pôr do sol é
Levítico 23:32, que diz: "de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado."
0 que muita gente não percebe é que esse texto está no contexto do Dia da
Expiação. Como parte de uma passagem que dá instruções sobre a maneira de
observar o Dia da Expiação, o verso inteiro diz: ``Sábado de descanso solene [o Dia
da Expiação] vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, de uma tarde
a outra tarde, celebrareis o vosso sábado." 0 ponto é que o Dia da Expiação -
como qualquer outro dia pela contagem hebraica -começa à tarde (ao pôr do sol),
continua pela manhã e termina à tarde (ao pôr do sol). Embora a manhã não seja
mencionada nas instruções sobre como observar o Dia da Expiação, a sucessão de
períodos de tempo é, claramente, "tarde-manhã-(tarde)", assim como encontra-
mos em Daniel 8:14.
Em conclusão, intérpretes de Daniel 8:14 têm dado uma va,riedade de expli-
cações para a "purificaçâo" do ``santuário" após "tarde-manhãs duas mil e trezen-
tas".A explicação adventista difere, de várias e significativas maneiras, dessas outras.
Entendemos que o santuário está no Céu, e sua purificação significa uma vindica-
ção judicial de todas as coisas santas que o chifre pequeno atacou nos versos 10 a
12. E entendemos que as 2.300 tardes e manhãs são dí.¢s, os quais devem ser inter-
pretados como ¢#os, de acordo com o princípio dia~ano.Também entendemos que
o verso 14 se refere à obra do julgamento, que é um a.ntítipo do Dia da Expiação
no santuário terrestre. E me parece que existe uma base razoável nas Escrituras
para cada uma dessas conclusões.
Tudo isso.faz com que comecemos a entender Daniel 8:14. Contudo, há mais
coisas para considerar.

t Martin Proebstle, "Truth and Terror", p. 425.


2Ver Holbrook, ed., Symposi.t/m oÍ® D4#!.eJ, v. 2, p. 451. (Encontra-se no capítulo escrito por Gerhard F. Hasel,

intitulado "The `Little Horn,' the Heavenly Sanctuary and the Time ofthe End:A Study ofDaniel 8:9-14".) .
3 Proebstle não dá muito crédito às versões antigas. Em um comentário pessoal, ele disse: "É possível que os
tradutores, especialmente os da Septuaginta, pensassem que Daniel 8:14 se cumpriu com a purificação do
templo no tempo dos macabeus."
+ Com fi.equência, a poesia bíblica expressa o mesmo pensamento duas vezes, de uma forma ligeiramente
diferente. Isso é chamado de "paralelismo" (ver, por exemplo, Sl 5:1; 6:1; 15:1).
5 Richard Davidson, "The Meaning of Ni'Ísó4q in Daniel 8: 14", p.107-119.
6 Ibid.
T Proebstle, "Truth and Terror", p. 400, 402.
8Vcr Edwín Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, p. 404.
9Ver Nm 28:4; 2Rs 16:15; 1Cr 16:40; 2Cr 2:4; 13:11; 31:3; Ed 3:3.
" Proebstle, "Truth and Terror", p. 364, 375.
] 1 lbid., p. 394.
12 Ibid., p. 390.
A PURIFIC,AÇÃO D0
SANTUARI0 E 0S
PECADOS DOS SANTOS

P;:rTfi::saçdãeoLt::staanuor;,ç€:;dv:nídsL::;ãoos,addoves:àL::aásrLdoods:tàma:L:ía8::Faapfi:rn::dpoar:uue:
juízo investigativo que começou no Céu em 1844. 0 propósito dessejuízo investiga-
tivo é revisar a vida dos santos com o finalidade de apagar seus pecados dos livros de
registro do Céu ou, no caso dos que não forem achados dignos, reter o registro de
seus pecados. Temos dito que a purificação do santuário sobre a qual Daniel fala é o
antítipo celestial do Dia da Expiação levítico, o qual aponta para o cancelamento dos
pecados dos santos.Tratarei do serviço 1evítico, inclusive o Dia da Expiação, nos pró-
ximos quatro capítulos. Este capítulo concentra-se na purificação do santuário e nos
pecados dos santos em Daniel 8:14.
Por pelo menos cem anos, os críticos do entendimento tradicional adventista têm
apontado para um problema contextual importante em nossa interpretação de Daniel
8:14. Nos versos 10 a 12, o perverso chifre pequeno ataca o povo de Deus, a ver-
dade, o Príncipe e o santuário que pertence ao Príncipe. 0 verso 12 conclui dizendo
que o chifre pequeno teve sucesso em seu ataque. E, no verso 13, um anjo pergunta
quanto tempo vai durar a terrível devastação do povo de Deus e de Seu santuário,
mostrada nessa visão.
A resposta vern no verso 14: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o san-
tuário será purificado." Mas, se o contexto tem alguma coisa que ver com a interpre-
tação desse texto, essa purificação do santuário não parece estar relacionada com a
remoção dos pecados dos s4#fos do santuário, senão com a reversão dos atos nefastos
do c#fre j)cqwc#o. Se o santuário precisa ser purificado de algum pecado, são os peca-
dos do perverso chifre pequeno que precisam ser removidos, não os pecados dos san-
tos. Desmond Ford se manifestou sobre o assunto de maneira sucinta no manuscrito
de Glacierview:

Depois de descrever o que o perverso chifre pequeno fez contra o santuá-


rio e os que ali adoravam, o anjo interrogou quanto tempo seria permitido
que aquelas desolações continuassem. Quando o Céu interviria, punindo
o agressor? 0 verso 14 foi a resposta âquela interrogação, mas a exposição
tradicional dos adventistas nunca relaciona os dois. Em vez disso, afastamo-
nos do tema dos versos sobre os atos malignos dos poderes antagônicos a
Deus e nos concentramos nos pecados dos santos que profanam o santuá-
r±o. Que não passe desapercebido: o contexto não di2 nada sobre os crentes ultra-

jando o santuário, e sim, sobre os descrentes.`


ÃO D0 SANTÜÁRlo E 0§ PEGADOS DOS SANTOS

Lembro-me de ter tomado conhecimento desse problema lá pelos anos 1960.


Naquele tempo, eu tinha conhecimento da interpretação adventista tradicional, de
que o chifre pequeno representava o papado e que seu ataque ao santuário representava
certos ensinamentos do papado. Assim, concluí que a purificação do santuário deveria
representar a restauração das verdades que o papado havia distorcido. Deus começou
essa restauração com a Reforma, no século 16, trazendo-a para seu cumprimento final
com o estabelecimento da lgreja Adventista do Sétimo Dia em 1844.2 Durante 45
anos, esse era meu melhor entendimento sobre Daniel 8:14.
Ainda acredito que minha explicação naquela ocasião era uma forma apropriada
de compreender esse verso. Contudo, durante todo esse tempo tenho reconhecido
que essa explicação não resolve o problema contextual básico. Se Daniel 8:10 a 13
trata exclusivamente dos pecados do chifre pequeno, como podem os adventistas
dizer que o verso 14 aponta para um juízo investigativo no qual os pcc4dos cJos sci#fos
serão revistos e apagados? Esse é, obviamente, um problema crítico. Pude resolvê-1o e
fiquei satisfeito.A interpretação de Daniel 7 e s que compartilhei com você nos capí-
tulos 10 a 16 deste livro fornece o pano de fundo para minha explicação, a qual passo
a compartilhar com você a partir de agora. Duas perguntas são particularmente crí-
ticas: (1) A que santuário Daniel 8:14 se refere, e (2) o que significa sua purificação?

Oual santuário?
A primeira questão que precisamos resolver é se o santuário mencionado em
Daniel 8:14 está no Céu ou na Terra. A maioria dos intérpretes contemporâneos
aplica o santuário de Daniel 8 ao templo de jerusalém que Antíoco Epifânio ata-
cou em 168 a.C., o qual, natura,1mente, era o santuário terrestre. Guilherme Miller
achava que o santuário representava toda a Terra, e nenhum dos que esperavam a
vinda de Jesus em 22 de outubro de 1844 questionou essa interpretação até que
jesus não apareceu.Já no dia seguinte -na manhã de 23 de outubro -Hiram Edson
teve a revelação de que o santuário a ser purificado era o santuário celestial. Desde
então, os adventistas têm mantido esse ponto de vista.Tenho três razões para con-
cordar com ele.

Daniel 7 Dariel 8 Interpretação


Leão Não representado Babilôiiia

Urso Carneiro Média e Pérsia


Leopardo Bode Grécia

Animal terrível e espantoso Chifre pequeno (v. 9) Rom


Dez chifres Não representados Europa dividida
Chifie pequeno Chifie pequeno (v.10-12) Papado

Juízo Purif tação do santuário

Reino dado ao FilhodoHomem Tempo do fim Segunda vinda de Cristo


CELESTIAL

1. Os 2.300 dí.4s/c{#os. A primeira razão está baseada na interpretação dos


2.300 dias como um período de anos que começou em 457 a.C. e terminou em
1844 (discutirei a base histórica para o ano de 457 a,.C. nos capítulos 23 e 25).
Esses 2.300 anos se estendem, obviamente, até muito depois do tempo da ascen-
sâo de Cristo ao Céu, quando Ele começou Seu ministério no santuário celestial.
Os serviços do santuário celestial terminaram com a morte de Cristo, e o templo
de Jerusalém foi destruído no ano 70 d.C. e nunca mais foi reconstruído. Assim,
o único santuário a que Daniel 8:10 a 14 poderia estar se referindo como em
fúncionamento nos anos após 70 d.C. é o santuário de Cristo no Céu. Acho que
esse é um argumento bastante razoável e um forte apoio para a conclusão de que o
santuário do verso 14 está no Céu.
2. 4 comp4rt2ÇÕo c#frc D4Í%.cJ 7 c 8. A segunda razão que tenho para concluir que o
santuário de Daniel 8:14 é o do Céu está baseada na comparação entre Daniel 7 e 8.
Como já mencionei várias vezes, a maioria dos intérpretes de Daniel entende que os
chifres de ambos os capítulos representam o mesmo poder maligno. As duas inter-
pretações mais comuns para os chifres pequenos são Antíoco Epifinio e o papado.
Apresentei as dificuldades com a explicação Antíoco dos chifres pequenos no capí-
tulo 9. Neste capítulo, precisamos examinar a intepretaçãó tradicional adventista des-
ses dois chifres. A tabela da págim anterior resume essa interpretação. Preste muita
atenção às duas últimas linhas, especialmente a que está em itálico.
Note que, no capítulo 7, o j'wi'zo #o Cé# resolve a crise originada pelo chifie
pequeno, e, no capítulo 8, 4 p#wJÊmfõo do s4#f#órt'o resolve a crise originada pelo chi-
fre pequeno. Note também que a cena do juízo do capítulo 7 ocorre no mesmo
ponto da tabela em que está a purificação do santuário do capítulo 8, o que sugere
que eles são aspectos, ou visões, diferentes do mesmo processo. Em Daniel 7, o juízo
claramente ocorre no Céu, visto que inclui milhões de anjos em volta do trono de
Deus. Tudo isso confere um forte apoio para a conclusão de que o santuário que
é purificado no capítulo s é o santuário de Cristo no Céu, e que a. sua purificação
inclui um processo de julgamento.
Desmond Ford concorda com essa comparação entre Daniel 7 e 8. Em seu manus-
crito de Glacierview, ele diz: "Os adventistas nem sempre capitalizaram como deve-
riam o fato de que, nas correspondentes sequências das visões dos capítulos 7 e s de
Daniel, embora o capítulo 7 culmine sua narrativa com a cena do juízo e a vinda do
Filho do Homem, o capítulo 8, em seu clímax, faz a promessa de que `o santuário será
purificado'.Temos, assim, o paralelo que demonstra que a purificação do santuário é
idêncica aojuízo."3 Na sequência, Ford apresenta essencialmente a mesma tabela que
mostrei na página anterior.
j. 0 s4#f#óri'o dc D4#!'cÍ 8..10 ci Í2. A terceira razão que tenho para concluir que
o santuário mencionado em Daniel 8:14 é o santuário celestial de Cristo está nos
vários versos anteriores. Discuti isso em alguns detalhes nos capítulos 13 e 14, mas
uma curta revisão aqui nos será útil.
Você deve se lembrar de que, em Daniel 8:10 a 12, o chifre pequeno ataca
o príncipe do exército. Esse Príncipe do exército é, claramente, um ser divino,
A PUR!FICÀ ÃO D0 SANTUÁRlo E 0S

e várias das versões modernas da Bíblia reconhecem isso, pois usam o "P" maiús-
culo para a palavra "Príncipe" (Commdcmfc, m versão New American Standard).
0 Príncipe do exército obviamente tem um santuário, pois é dito que o chifre
pequeno lança-o por terra e lhe remove o f4mí`ó, isto é, os serviços regulares do
santuário. Portanto, o Príncipe também é um sacerdote. É bem provável que esse
Príncipe seja Cristo, visto que o Novo Testamento nos informa que Cristo é um
sacerdote, e que Ele serve no santuário celestial (ver Hb 8:1, 2). Essa é a minha
terceira razão para concluir que o santuário que é purificado em Daniel 8:14 é o
santuário de Cristo no Céu.
A pergunta é: Como o chifie pequeno "deitou abaixo" o santuário no Céu? A res-
posta, naturalmente, é que ele não o fez no sentido literal. Ih vez disso, segundo a
interpretação histórica adventista, o papado "deitou abaixo" o santuário celestial ao
atacar os princípios estabelecidos por Deus, pelos quais o santuário funciona, distor-
cendo, assim, o plano da salvação que Cristo ali está administrando. No capítulo 14,
indiquei que o papado faz isso quando induz o povo a buscar salvação por meio de
um sacerdócio humano e a substituir o ministério mediador de Cristo pela assim
chamada mediação de Maria. Com esses e outros falsos ensinamentos, o papado tem
anulado tão efetivamente a mediação de Cristo no santuário celestial que é como se
tivesse alcançado o Céu e anulado o papel sacerdotal de Cristo em nosso favor.4
Essa é uma forma de entender a purificação do santuário do verso 14. Mesmo
assim, ainda não resolvemos o problema contextual, ou seja, a purificação do santuá~
rio do verso 14 tem que ver com os peca.dos dos santos, ao passo que os versos ante-
riores parecem tratar exclusivamente dos pecados do maligno chifre pequeno. Como
indicou Ford em seu manuscrito de Glacierview: "Que não passe despercebido: o
contexto não diz nada sobre os crentes ultrajando o santuário."

Como ocorre a "purificação" do santuário celestial?


Para encontrar em Daniel 8:14 algo que indique o que essa passagem é sobre os
pecados dos santos, temos que entender esse verso à luz do conflito universal entre o
bem e o mal, o que os adventistas têm chamado, historicamente, de "o grande con-
flito''. 0 entendimento adventista do juízo investigativo não faz sentido se estiver
separado desse tema.
Como o tema do grande conflito traz os pecados dos santos para dentro de
Daniel 8: 14? Apocalipse 12 é um dos capítulos-chave da Bíblia do qual obtemos uma
compreensão do grande conflito. Apocalipse 12 e 13 repetem vários dos símbolos-
chave de Daniel 7 e 8, inclusive a perseguição dos santos, o ataque à lei de Deus, a
derrubada das estrelas ao chão, a blasfêmia contra Deus e o ataque ao santuário (ver
o capítulo 14 deste livro).
Essas semelhanças entre Daniel e Apocalipse deixam transparecer que ambos os
chifres pequenos do livro de Daniel têm um claro componente demoníaco.A história
indica que o principal cumprimento dos dois chifies pequenos do livro de Daniel é o
papado, e não tenho nenhum argumento quanto a essa conclusão.Todavia,Apocalipse
nos ajuda a entender que Satanás é o poder por trás desses dois chifres, e ele tem um
importante papel para desempenhar no cumprimento das profecias pelo poder que
os chifres representam.
0 cz/4g#c dc S4f4#ás cio s4#f#óri.o. Daniel 8:11 diz: "dele [o chifi-e pequeno] tirou o
sacrificio diário [o f¢mí'4 e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo. Encontramos
uma situação semelhante em Apocalipse, em que o poder da besta do capítulo 13
ataca o santuário de Deus (v. 6). Essa besta é, naturalmente, um substituto de Satanás,
pois Apocalipse diz que o dragão - Satanás - deu a esse anima,l ``o seu poder, o seu
trono e gra,nde autorida,de" (v. 2) . É Satanás, portanto, quem inspira o chifre pequeno
a atacar o povo de Deus, os mandamentos e o santuário.
De fato, o próprio Satanás também está envolvido nesse ataque por causa de seu
papel como ``o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante do nosso Deus" (Ap 12:10). Diante dos anjos, ele acusa o povo de Deus de
ser indigno do favor divino, ou seja, não merecedor da salvação que Jesus, com Sua
morte, proveu. Indiquei no capítulo 11 que ojuízo de Daniel 7 é o mesmo que os
juízos mencionados por]esus e Paulo, nos quais as ações do povo de Deus, tanto
boas quanto más, serão examinadas. ]esus disse: "pelas tuas palavras, serás justifi-
cado e, pelas tuas palavras, serás condenado" (Mt 12:37), e Paulo disse: ``importa
que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um
receba jcgw#do o bcm ow o m¢/ que tiver feito por meio do corpo" (2Co 5:10; itá-
licos acrescentados). Portanto, é inquestionável que os pecados dos santos virão
à tona no juízo final. Mas, outra vez, enfatizarei que não é Deus quem os traz à
tona. É Satanás quem faz isso por meio de suas acusações. Naturalmente, as acusa-
ções de Satanás não tomam Deus de surpresa. Ele as espera. 0 juízo é a resposta
divina para elas.
As acusações de Satanás contra o povo de Deus também são um ataque direto e
poderoso ao santuário celestial, pois, ao desafiar o merecimento do povo de Deus
quanto à salvação, Satanás desafia o plano da redenção que ]esus está mediando desde o
santuário celestial.A acusação de Satanás de que o povo de Deus não merece salvação
levanta sérias perguntas na mente dos anjos, perguntas que exigem respostas. 0 pFopó-
sito do juízo investigativo é dar essas respostas.
Como os pecados dos santos causam a necessidade de "puriftar" o santuário. Precisamos
entender que o santuário no Céu não precisa ser purificado dos pecados dos santos
por terem os santos cometido esses pecados, nem, tampouco, o santuário do Céu
é purificado dos pecados no juízo final, no sentido de Deus salvar Seu povo des-
ses pecados nessa ocasião. 0 santuário no Céu precisa ser purificado dos pecados dos
santos somente no sentido de que Satanás temjogado esses pecados diante de Deus e
dos anjos como prova de sua afirmação de que os santos não merecem que lhes seja
garantida a vida etema.
Estou certo de que Deus dá resposta a essas acusações no momento em que
Satanás as apresenta; eu não esperaria menos de Jesus, nosso Mediador. Mas com o
propósito de solucionar o grande conflito entre Cristo e Satanás, a resposta final de
Deus é abrir os livros de registro do Céu para que cada anjo os examine da maneira
que desejar. Os ataques de Satanás contra o povo de Deus - e especialmente sua
A PÜRIF!ÇACA0 DC SANTÜARlo E 0§ PEEÃBO§ B0S SANTCS !

desafiadora afirmação de que eles não são dignos de salvação -são resolvidos de uma
vez por todas nessaL oca,s±~a,o. Por isso é necessário hwer um juízo inuestigatiuo.
LíÍ.#cí!'c¢r os s4#fos c o sci#fwárí'o. Nas versões Almeida Revista e Corrigida e Almeida
Revista e Atualizada de Daniel 8:14, esse juízo está representado como a pt##"Çõo
do santuário.A versão inglesa Revised Standard traduz o termo como resf4#rzzr o san-
tuário a seu estado correto. Acredito que a melhor palavra seja t;Í'Ícc7Í'cm lsso se justi-
fica inteiramente considerando que a palavra hebraica traduzida como "purificado"
nas versões Revista e Corrigida e Revista e Atualizada de Daniel 8:14 é #í.fsd4q,
a forma passiva de fsc!c7czq, que, no Antigo Testamento, é comumente usada no con-
texto jurídico.
Sob a hábil direção de ]esus, os anjos do Céu vindicarão cada indivíduo pertencente
ao povo de Deus da culpa concemente a cada uma das filsas acusações de Satanás. Essa
vindicação do ministério de jesus também é uma vindicação do santuário. Esse enten-
dimento da vindicação, ou purificação, do santuário fica especialmente evidente no
juízo de Daniel 7. 0 verso 22 diz que, em resposta ao ataque do chifie pequeno con-
tra os santos, "justiça [foi feita] aos santos do Altíssimo". Em outras palavras, por meio
desse juízo eles são vindicados.
Note que os que tomam decisões nessa ocasião são os anjos,5 não Deus. Ele tomou
Sua decisão sobre o merecimento de cada ser humano ser salvo no tempo em que
aquela pessoa viveu e morreu. É no juízo investigativo que os livros são abertos para
que os anjos os examinem. Sobre isso é a cena de Daniel 7:9 e 10. Quando essejulga-
mento for concluído, cada anjo do Céu declarará que todas as decisões de Deus sobre
a salvação de Seu povo são justas. Haverá uma confirmação das decisões de Deus
tanto no que diz respeito aos que estão salvos como aos que estão perdidos.
Por 150 anos, os adventistas têm afirmado que os pecados perdoados dos santos
são mantidos nos livros de registro do Céu até o tempo do juízo. É extremamente
importante entender que os registros são mantidos ali com o único propósito de
responder aos ataques de Satanás contra os santos no juízo. Quando os anjos virem
a palavra "perdoado" escrita sobre o registro desses pecados e quando lerem os
motivos que levaram o povo de Deus a buscar o perdão, eles declararão que Deus
foi justo em cada uma das decisões que tomou.
Então o registro dos pecados dos santos será para sempre apagado dos livros do
Céu. Por causa dos pecados ali registrados, Satanás tem acusado os santos de serem
indignos do perdão de Deus. É um ataque direto ao plano de salvação e ao sa,ntuá-
rio celestial, de onde se origina a salvação. Daniel 8:10 e 11 representa isso, sim-
bolicamente, como um ataque do chifre pequeno ao povo de Deus (estrelas), o
Príncipe Uesus), o santuário e os serviços (f4mi'J).A resolução vem no verso 14, que
fala da vindicação dos santos e da remoção de seus pecados do livro de registros do
Céu. Isso "purifica" o santuário celestial dos pecados dos santos e repele o ataque
de Satanás, por meio do chifre pequeno.
Francamente, fico/c/i.z em saber que o registro dos meus pecados permanece nos
livros do Céu até o juízo porque também sei que a palavra ``perdoado" está escrita
ao lado de cada um deles. Portanto, posso estar seguro de que, quando eu entrar no
8ELESTIAL

Céu, um enorme comitê de boas-vindas estará a postos para me dar um forte abraço
e dizer o quanto eles estão felizes por me verem ali!
Se você e eu estivermos mantendo uma relação constante com jesus, não preci-
samos temer o juízo. Também não precisamos ficar apreensivos quanto ao registro
de nossos pecados que tem sido mantido nos livros do Céu. Em vez disso, devemos
louvar a Deus por ter conservado um registro preciso de todas as coisas, inclusive
do nosso arrependimento e do perdão divino. Devemos louvar a Deus porqueJesus,
nosso Mediador, fará uma apresentação justa e precisa da nossa situação quando nosso
nome for chamado no juízo. E, quando tudo isso terminar, Ele será vindicado em
cada uma de Suas decisões. E se Ele é vindicado, nós também somos.
Mal posso esperar para encontrar meu comitê de boas-vindas!

t Desmond Ford, "Daniel 8:14", p. 346; itálico acrescentado.


2A lgreja Adventista do Sétimo Dia foi orgarizada formalmente em 1863, mas suas raízes vão até o
movimento milerita e o Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844.
3 Ford, "Daniel 8:14", p. 283.
4 Felizmente, a Reforma começou a corrigir essas fdsas doutrinas, e os adventistas creem que Deus os susci-
tou para completar a restauração da verdade que foi tão distorcida pelos ensinamentos do chifre pequeno.
5 0s anjos não tomam decisões no sentido de votar contra osjuízos de Deus sobre Seus santos. Em vez disso.
suas decisões são no sentido de exaininar por si próprios as acusações que Satanás traz contra o povo dc
Deus, notar a resposta de Cristo e reconhecer que as decisões de Deus são justas.
0 JUÍZ0 lNVESTIGATIV0 E 0 SANTUÁRlo
OSSERV,lçosDIÁRIOSDO

SANTUARI0 TERRESTRE

m pequeno grupo de adventistas saiu do movimento milerita com a confiança


U=tapcet:uneonsocá:::LPoosbdáesí::rà:t#:Êesr:L:]e:oacTeàTtía:::tàuFDe::tsahca::fi:]tcoo:Lfi=ní:
coisa importante em 22 de outubro de 1844. E a compreensão de Hiram Edson
de que o santuário envolvido naquela "coisa importante" estava no Céu colocou o
grupo em um novo rumo.
Edson, com um certo Dr. Franklin 8. Hahn e um jovem chamado Owen R. L.
Crosier, ingressou em um sério estudo a respeito dos ensinamentos biblicos sobre o san-
tuário. Crosier escreveu suas conclusões no D4y-Sfw E#frzz, um extenso suplemento que
acompanhava uma publicação rnilerita. Ali, Crosier apresentou muitas das conclusões
que o adventismo tem aceitado desde então. Uma dessas conclusões foi que os serviços
do santuário terrestre eram divididos em duas partes: os que eram conduzidos a cada dia
do ano, e os do Dia da Expiação, que eram conduzidos somente uma vez por ano. Desde
aquele tempo, os adventistas têm se referido a isso como os "serviços diários" e os "ser-
viços anuais''.i
A divisão dos serviços do calendário religioso israelita é claramente apoiada no
livro de Hebreus, no Novo Testamento. Hebreus 9:6 e 7 diz que, quando a construção
do santuário do Antigo Testamento foi termjnada, "continuamente entram no pri-
meiro tabernáculo os sacerdotes, para realizar os serviços sagrados; mas, no segundo, o
sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano". Desde o tempo de Crosier até os dias
de hoje, os adventistas têm sustentado que essa divisão dos rituais do santuário israe-
lita representa duas grandes divisões do ministério de Cristo no santuário celestial.
Os serviços diários do santuário terrestre representam a obra de Cristo no santuário
celestial por quase 2 mil anos, desde Sua ascensâo em 31 d.C. até o fechamento da
porta da graça. 0 Dia da Expiação no santuário terrestre - o serviço anual - come-
Çou em 1844 e continua até o fechamento da porta da graça. Os primeiros adventis-
tas acreditavam que a parte do ministério de Cristo no Céu, que era tipificado pelos
serviços diários,. havia terminado em 1844, quando começou o Dia da Expiação
anual. Creio que estou correto ao dizer que todos os teólogos adventistas de hoje
entendem que o "serviço diário" no santuário celestial continua concomitante ao
Dia da Expiaçâo até o fechamento da porta da graça.
Neste capítulo e no próximo, examinarei os serviços diários do santuário ter-
restre. Vários livros foram escritos sobre os rituais levíticos do santuário, inclusive
três pelo Dr. Roy Gane,2 professor de Antigo Testamento do Seminário Teológico
Adventista da Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan. Meus comen-
tários e conclusões neste capítulo e no próximo são fúndamentados no trabalho de
Gane. Começarei explicando os sacrificios.
CELESTIAL

Os sacrifícios
Deus tinha um problema. Ele nos criou como seres humanos e nos ama. Ele quer
ter um relacionamento conosco. Ele quer habitar entre nós (ver Êx 25:8) . Infelizmente,
somos imperfeitos. Caímos em vários tipos de pecado, e esses pecados tornam impos-
sível que Ele tenha conosco o relacionamento que deseja ter. A fim de ter esse
relacionamento, Ele teria que descobrir uma forma de lidar com nossas imperfei-
Ções, mantendo, ao mesmo tempo, a integridade de suas leis. Sobre isso era o sistema
sacrifical israelita. Ele possibilitava que Deus tivesse um relacionamento amoroso com
Seu povo e mantivesse, ao mesmo tempo, Suajustiça quando eles violassem Suas leis.
De que consistia esse sistema sacrifical?
Cada manhã e cada tarde, o sacerdote imolava um cordeiro e oferecia o corpo do
animal sobre o altar de sacrificio. Isso era chamado de sacrificio da "manhã e tarde"
(ver lcr 16:40; 2Cr 2:4; 13:11; 31:3). Mas, não é esse o aspecto do sistema sacrifical
israelita que focalizarei neste capítulo. Nossa preocupação aqui é com os sacrificios
individuais dos israelitas.
Quando um israelita cometia um pecado, era necessário que ele trouxesse um
sacrificio animal para o santuário. Por meio desse ato, o indivíduo reconhecia ter
violado a lei de Deus. 0 sacrificio também mostrava que o pecador estava arre-
pendido, ainda que Levítico não diga nada sobre arrependimento. Dependendo de
quem fosse o pecador: um sacerdote, um líder ou uma pessoa comum, o sacri-
ficio requerido era um novilho, um bode ou um cordeiro.As pessoas que não tives-
sem meios para trazer um desses animais podiam trazer duas pombas ou, no caso
de extrema pobreza, uma oferta de fina farinha de trigo.3 No caso do novilho, do
bode ou do cordeiro, o pecador colocava a mão sobre a cabeça do animal e o imo~
lava cortando-lhe a garganta, seccionando a veia jugular. 0 sacerdote, então, derra-
mava o sangue do animal em uma vasilha. Se o pecador era uma pessoa comum ou
um líder, o sacerdote espalhava um pouco do sangue nas pontas do altar de sacri-
ficio, que ficava no pátio (ver Lv 4:25, 30). Quando um sacerdote pecava, ou no caso
de um pecado cometido por toda a congregação, o sacerdote levava um pouco do
sangue para o Lugar Santíssimo, o primeiro compartimento do santuário, o asper-
gia sete vezes diante do véu e, depois, o espalhava nas pontas do altar de incenso (ver
Lv 4:6, 7,17,18). 0 sacerdote então retirava a pele do animal e queimava algumas
partes dele sobre o altar de sacrificio (ver Lv 4:10,19, 20, entre outros).
Esse ritual parece um tanto estranho para nós. Roy Gane observa em seu livro
C%Jf 4#d Chczrflcfcr [Culto e Caráter]:

Imolar um animal, colocar seu sangue em várias partes de uma habitação e


em seus móveis e, depois, queimar o sebo e a carcaça (Lv 16:11-28), nada
disso realiza algum tipo de purificação, em termos fisicos. Ao contrário,
essas atividades criam desordem, pois deixam restos inconvenientes, além
de transformar um animal vivo e de valor em manchas de sangue, fumaça e
cinzas - nada disso tem qualquer utilidade prática. No entanto, o texto nos
informa que o objetivo de uma outra transformação é alcançado em um
OS SERvl OS DIÁRI0S D0 SANTUÁRlo TERRESTRE

nível mais elevado: a poluição não fisica, que consiste de impurezas rituais
e falhas morais, é purgada do santuário, em nome dos israelitas (v.18,19,
33). Embora as atividades, por si mesmas, não produzam esse objetivo por
meio de causa e efeito, como seria de se esperar na vida corriqueira, elas
servem como um veículo para a transformação que ocorre no aspecto do
significado simbólico.4

0 significado dos sacrifl'cios


Gane quer dizer que, por mais estranhos que os rituais dos sacrificios levíti-
cos possam nos parecer, eles tinham um importante propósito. Os pecadores vio-
lavam a lei de Deus ao pecar, colocando-se, assim, fora do alcance do favor divino.
A fim de poder continuar seu relacionamento com Deus, eles precisavam do perdão
divino. E era isso que o ritual efetuava. Falando de um pecador que trazia seu sacri-
ficio animal, Levítico 4:26 diz: "o sacerdote fará expiação por ele, no tocante ao seu
pecado, e csfc /#c scxó pcMdo¢do" (itálicos acrescentados; ver também v. 20, 31, 35; 5:10,
13,16,18). 0 animal morria em lugar do pecador. Ele tomava sobre si o pecado do
pecador e dava sua vida em lugar da do pecador. Por meio desse ritual, a transgressão
do pecador era purgada, e ele era perdoado.Assim, Deus podia continuar Seu amo-
roso relacionamento com o pecador.
0 Novo Testamento nos ajuda a entender o significado ampliado desses sacri-
ficios. Apontando para Jesus, João Batista exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo!" Uo 1:29). Em 1 Coríntios 5:7, Paulo diz: "Cristo, nosso
Cordeiro pascal, fói imolado." E em Hebreus está escrito: "Portanto, se o sangue de
bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os
santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a Si mesmo Se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa cons-
ciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb 9:13,14). Finalmente,
Apocalipse 5:6 descreve Cristo como "um Cordeiro como tendo sido morto" de pé,
no meio do trono de Deus.
Com isso, fica muito evidente que os sacrificios de animais no santuário terrestre
eram um tipo da morte de Cristo na cruz, pela qual Ele tomou nossos pecados sobre
Si mesmo, sofreu a pena de morte que devíamos ter sofi.ido e possibilitou que fôs-
semos salvos desses pecados. Portanto, Cristo conseguiu aquilo que os sacrificios do
santuário judaico pÇ)diam apenas ilustrar.
Um aspecto crucial de todo o ritual era transferir o pecado do peca,dor para o san-
tuário, o que iremos examinar no próximo capítulo.

t Havia seis dias de festa anuais no calendário israelita (ver Lv 23; Nm 28; 29); mas, quando os adventistas
f;àlam do "serviço anual", geralmente eles têm em mente apenas o Dia da Expiação.
2 Altar Cdll., Cult and Character: Purfication Qfféríngs, Day of Atonement, and Theodicy; e ljeuitícus and Numbers.
3 Uma das nossas fontes primárias de informação sobre essas ofertas sacrificais é Levítico 4 e 5.
4 F`oy Gane, Cult and Chamcter, p.17.
ATRANSFERÊNCIA
D0 PECAD0 PARA
0 SANTUÁRIO

D;saç:eo|Smppr::á:::odsod:ohslss:óeri:eanddv|e=:l:::,:ot5::sáesraênntcul:r:ooep:CJaudí:ot:=Ves:td|3a?|:oa.
Entretanto, também têm ocorrido significativos questionamentos acerca dessa ideia.
Elletj.Waggoner, um nome célebre em 1888, questionou a ideia inteira sobre a trans-
ferência de pecado. Ele disse: "0 pecado não é uma entidade, mas uma condição que
só pode existir atrelado a uma pessoa", portanto, "é impossível que possa haver algo
como a transferência de pecados para o santuário do Céu, o que poluiria o lugar".Í
No entanto, que o pecado pode ser transferido de um indivíduo para o outro fica
óbvio a partir do fato de que Cristo levou nossos pecados na cruz (ver ls 53:4-6,11;
1Pe 2:24). A ideia de transferir o pecado para o santuário, portanto, não deveria ser
tão surpreendente. Gane indica que "em um ritual, uma entidade não material (o
pecado, por exemplo) pode ser tratada como se pertencesse ao domínio material, de
modo a estar sujeita a uma interação e manipulação fisicas".2 Portanto, a questão não
é tanto sc o pecado pode ser transferido, mas o que 5íÉÍ£%" transferir.
Discutirei o significado da transferência de pecado mais tarde neste mesmo capítulo.
Por enquanto, é suficiente notar que parece bastante óbvio que os pecados dos israelitas
entraram no santuário porque, no Dia da Expiação, eles tinham de ser purificados/orfl
do santuário. Se eles tinham de ser removidos, então, de alguma maneira, eles devem ter
entrado ali. Mas como? Quando? Sob que circunstâncias?
A explicação tradicional adventista é que o pecado de um israelita era transferido
para o santuário no momento em que ele trazia o sacrificio e passava pelo ritual que
descrevi no capítulo anterior. Contudo, alguns eruditos entendem a transferência do
pecado cometido para o santuário de maneira bem diferente. Os pecados dos israe-
litas, dizem eles, não esperavam até que eles trouxessem seus sacrificios para, então,
ser transferidos para o santuário. Os pc"dos i.4m pc"fl o s4#fwórí.o #o momc#fo cm qt# o
pouo os cometia.
Então qual das posições é a correta? Seriam os pecados transferidos para o san-
tuário no moniento em que eram cometidos ou somente depois de o pecador tra-
zer seu sacrificio? Passemos a examinar tanto o ponto de vista adventista tradicional
como o de alguns eruditos.
0 ponto de uista tradicional aduentista. De acordo corn esse porLto de v±sta, a travns~
ferência do pecado para dentro do santuário era um processo com duas etapas.
Presumindo que o pecador tivesse se arrependido de seu pecado ao chegar até o
santuário com seu sacrificio, o primeiro passo era a transferência do pecado come-
tido para sua oferta, geralmente um animal. Gane diz: "A oferta material como
um todo, animal ou grãos, absorve o mal do ofertante, purificando-o." No caso de
à TRANSFERÊNÊ!A D0 PECAD0 PÀRÁ 0

um sacrificio, o animal toma sobre si a pena de morte que o pecador devia. cumprir.
Isso, naturalmente, é um tipo do grande sacrificio de Cristo por meio do qual Ele
tomou nossos pecados sobre Si e pagou a pena de morte causada por eles.
0 segundo passo, no entendimento adventista, era a transferência do pecado que
fora absorvido pelo animal para o santuário. Quando o animal era imolado, o sacer-
dote derramava um pouco do sangue em uma bacia e o espalhava nas pontas do altar
de sacrificio que estava no pátio, ou no altar de incenso, dentro do lugar santo. Os
adventistas sempre disseram que, por meio desse processo, o pecado era transferido
para o sa.ntuário. Gane disse: "Por meio [...] das ofertas de purificação desempenha-
das no santuário, a imperfeição removida dos ofertantes era transferida para o santuá-
rio deYahweh. Agora, a imperfeição, de uma forma controlada, está no `campo' Dele,
ou seja, passa a ser um problema Dele."4
Esse é o ponto de vista tradicional adventista sobre como os pecados c#frt2tJczm no
santuário. Mas como s4Í'om de lá? A resposta para essa pergunta é muito simples: no
Dia da Expiação, os sacerdotes espargiam o sangue do bode do Senhor sobre a arca
do concerto, que estava dentro do lugar santíssimo, sobre os móveis do lugar santo
e sobre o altar de sacrificio, que ficava no pátio (ver Lv 16: 15-18). Esses rituais pur-
gavam os pecados dos israelitas do santuário. Depois disso, o sumo sacerdote con-
fessava aqueles pecados sobre o bode expiatório, transferindo-os para o bode, que
era banido para o deserto longínquo, de onde não conseguia mais voltar. Assim, os
pecados dos israelitas eram para sempre removidos tanto do povo como também
do santuário.
0 poÍ€fo dc t;Í'sf4 cJc 4Ígí/#s crwdí`fos. Um ponto de vista alternativo é que os pecados
dos israelitas eram transferidos para o santuário no momento em que eram cometi-
dos.5 Desmond Ford endossa essa posição. Em seu manuscrito de Glacierview, ele diz:
"Mesmo na Terra, o santuário era contaminado pelo 4Ío de pecar, não pela sua confis-
sào."6 Em outras palavras, os pecados iam para o santuário no momento em que eram
cometidos, não mediante o sacrificio ritual.
Os eruditos que adotam esse ponto de vista o apoiam com três textos, um de Leví-
tico e dois de Números. Cito esses textos abaixo com as palavras relevantes em itálico.

• Levi'tico 20:2 e 3 - ``Também dirás aos filhos de lsrael: Qualquer dos filhos
de lsrael, ou dos estrangeiros que peregrinam em lsrael, que der de seus fflhos a
Moloque .será morto; o povo da terra o apedrejará. Voltar-Me-ei contra esse
homem, e o eliminarei do meio do seu povo, porquanto deu de seus filhos a
Moloque, contaminando, assim, o A4lcw s¢Ícfwórí'o c pro/offl4#do o Meu santo nome."
• Números 19:13 -"Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum
homem, e não se purificar, co#fczm!.#4 o fc!bcr#ócw/o cÍo SENHOR".
• Números 19:20 - "Quem estiver imundo e não se purificar, esse será eliminado
do meio da congregação, porquanto co#f4mi'#ow o s4Ícfwórí.o óo SENHOR".

As palavras em itálico nesses textos deixam bem claro que o pecado contaminava
o santuário - ele era para lá transferido - m momc#fo cm qwc crfl comcfi'do. É por isso
NA CORTE CELESTIAL

que Ford disse que "o santuário era contaminado pelo 4fo de pecar, não pela sua con-
fissão". Os textos que citei acima foram usados por ele para apoiar essa declaração.7
Assim, se o pecado era transferido para dentro do santuário no momento em que
era cometido, como ele saía de lá? Segundo a compreensão dos eruditos que adotam
esse entendimento, quando o sacerdote aplicava o sangue de um sacrificio individual
nas pontas do altar, era o altar que era purgado do pecado. Afiml, se o pecado era
transferido para o sa,ntuário ao ser cometido, então, no momento em que o pecador
trazia seu sacrificio para o santuário, era o santuário - não o pecador - que precisava
ser purgado do pecado.Jacob Milgrom, grande conhecedor dos rituais do santuário
israelita, disse: ``Ao tingir o altar com o [...] sangue, ou ao trazê-lo para dentro do san-
tuário, [...] o sacerdote pwrg4 os mc%'s s4gítzdos oíy'cfos c órc4s do s4#f#árí.o em nome da
pessoa que causou a contaminação daquelas coisas por meio de sua impureza fisica ou
ofensa inadvertida."8 É assim que alguns eruditos, inclusive Ford, interpretam a trans-
ferência do pecado pa,ra dentro e para fora do santuário.
É importante notar que, de acordo com essa teoria, o sistema levítico não purgava
o pecado do israelita que trazia o sacrificio; ele apenas removia o pecado do santuá-
rio, isto é, de Deus. Isso tem profundas implicações para a teologia cristã. A morte
de Cristo na cruz, que é o antítipo de todos os sacrificios levíticos, remove de nós os
nossos pecados, ou somente remove o pecado do santuário celestial, isto é, de Deus?
Analisemos as evidências mais detalhadamente.

Analisando as evidências
Começarei nosso exame detalhado das evidências resumindo os dois pontos
de vista:

0 ponto de vista adventista


• Quando o pecador vinha ao santuário, seu pecado ainda estava sobre ele.
• 0 animal absorvia, simbolicamente, o pecado cometido.
• A aplicação do sangue no altar transferia o pecado para o santuário.

0 ponto de vista de alguns eruditos


• 0 pecado contaminava (era transferido para) o santuário no momento em que
era cometido.
• Quando o.pecador vinha para o santuário, seu pecado já havia sido transferido.
• Portanto, o sangue aplicado no altar purgava o santuário, não o pecador, do
pecado-

Então o pecado era transferido para o santuário no momento em que foi come-
tido ou ele era transferido quando o pecador trazia seu sacrificio? A resposta é: dü
d#4s coí'sos, dependendo do tipo de pecado. A língua hebraica tem várias palavras paia
pecado, assim como ocorre na língua portuguesa. Além da própria palavra pcc¢do, às
vezes também dizemos í.#Í.qwi'dcidc, m4/ e rebcJÍ.ão.As três palavras hebraicas mais comuns
para pecado são #4ff4'f, ¢twí£ e pcs#4'. Já encontramos a palavra pcsÃ4' em capítulos
A TRÀNSFERÊNCIA D0 PECADO PARA 0 SÀNTÜÁRIO

anteriores. Pcsh4' é mais frequentemente traduzida como "transgressão" e significa


"rebelião". A palavra hebraica âffcí'f é, em regra, traduzida como "pecado". Gane

a considera como ``um termo amplo que denota um feito que viola um relaciona-
mento/parceria existente".9 4t#o# significa ``ser culpado de um erro" e é comumente
traduzida como "iniquidade".
Sabemos que esses três tipos de pecado eram transferidos para o santuário por-
que todos os três eram removidos do santuário no Dia da Expiação. Levítico 16:21
diz que, quando o sumo sacerdote punha as mãos sobre a cabeça do bode vivo, era
para confessar "todas as iniquidades dos filhos de lsrael, todas as suas transgressões e]°
todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode".
Como esses pecados cítfít3r¢m no santuário? Nenhum deles,jamais, é mencionado
por nome ao ser transferido do pecador para o santuário, mas as evidências sugerem
que os pecados pcsft4' chegavam ao santuário de uma forma, e os pecados h4ff4'f e
4w;ow, de outra. Precisamos examinar essas formas mais detalhadamente.
1. Pcc4dos Pesha'. Alguns parágrafos acima, compartilhei com você três textos que
declaram que certos pecados contaminavam o santuário no momento em que eram
cometidos. A Bíblia não usa nenhuma das três palavras hebraicas para pecado nesses
textos, mas um exame cuidadoso deixa claro que todos aqueles pecados eram peca-
dos pcs#4', uma rebelião deliberada contra Deus.tt Levítico 20:2 e 3 condena o culto
ao deus pagão Moloque, para quem os cananeus sacrificavam seus filhos. Esses sacri-
ficios seriam atos de óbvia rebelião contra o Deus do Céu. Essas ofertas seriam como
se você e eu abandonássemos a ft cristã e fôssemos para a Índia adorar um dos mui-
tos deuses hindus. Chamamos isso de apostasia, que é um ato de óbvia rebelião. Era
isso que um israelita fazia ao adorar o deus pagão Moloque.
Esse ato de apostasia maculava o santuário - e era transferido para ele - no mo-
mento em que era cometido. Frequentemente, Deus perdoava os pecadores de seus
pecados pc5ha' quando eles se arrependiam (ver, por exemplo, Êx 34:7; S132:1;
Is +3:25), mas o perdão vinha diretamente do Senhor. 0 sistema sacrifical provia per-
dão somente para os pecados ft4ff4'f e 4wo#.í2
0 outro tipo de pecado que contaminava o santuário no momento em que era
cometido era a recusa deliberada de seguir o ritual requerido para a purificação da
impureza cerimonial. Números 19:20, já citado anteriormente, diz: "Quem estiver
imundo e não se purificar, esse será eliminado do meio da congregação, porquanto
i-..Íií4mi'wow o scz#fçiárí.o do SENHOR" (itálicos acrescentados; ver também v.13). A recusa
do homem de participar de um ritual de purificação que era requerido indicava um
espírito rebelde e fàlta de vontade de se arrepender. Era uma recusa em consentir com
a condição dada por Deus para a purificação. Esse era um óbvio pecado pc5#4' de rebe-
hão contra as leis de Deus, pelo qual, de tão sério, o indivíduo tinha de ser "eliminado
do meio da congregação". Na linguagem de hoje, diríamos que o indivíduo deveria
ser cortado da igreja, ou seja, ter seu nome removido do rol de membros.]3 Não havia
sacrificio para pecados pcs#4' de rebelião, que eram a razão da contaminação do san-
tuário no momento em que eram cometidos e transferidos para o santuário. Gane diz:
-A contaminação automática do santuário quando o pecado é cometido somente é
atestada em certos tipos de pecados cúlticos sérios para os quais não há expiação sacri-
fical disponível: o sacrificio a Moloque (Lv 20:3) e a ousada recusa de ser purificado
da impureza por haver tocado em um cadáver (Nm 19:i3, 20)."í4
2. Pcc4dos hatta't c awon. 0 serviço sacrifical lidava apenas com os pecados h4ffa'f
e 4tvo#. Com efeito, o próprio sacrificio era chamado de sacrificio h4ff4'f, razão pela
qual algumas traduções para o português chamam-no de "oferta pelo pecado". Gane
indica que esses sacrificios eram ordenados também para a purificação de impure-
zas rituais que não envolviam a prática de ações errôneas (embora elas pudessem ser
consideradas como se tivessem o mesmo estado de pecaminosidade que resulta de
um ato pecaminoso) . Portanto, o/crf4 pc/o pcmcJo é um termo imdequado. Gane chama
esse sacrificio de "ofertas pela purificação"í5, porque elas purificavam tanto dos atos
pecaminosos como das impurezas fisicas rituais. Os sacrificios #4ffcz'f estão descri-
tos em Levítico 4, em que, dependendo da versão bíblica, são chamados de peca-
dos por erro (ARC), pecados por ignorância (ARA) ou pecados sem intenção (NVI)
(ver os v. 2,13, 22, 27). Parece que, embora o pecador pudesse estar ciente de seu
ato, ele não percebia que aquele ato era pecaminoso no momento em que o come-
tia. Em outras palavras, esses pecados não eram atos de rebelião contra Deus. Gane os
chama de "pecados não desafiadores".íó Os pecados Ãaffci'f e 4two#, os quais não são
atos deliberados de rebelião, são os que eram transferidos para o santuário quando o
pecador trazia seu animal e passava pelo processo sacrifical.
Levítico, porém, realmente não diz que esses pecados eram transferidos para o
santuário. Sabemos disso por conta de uma cuidadosa análise do que era purgado de
pecado quando o pecador trazia seu sacrificio para o altar. Os detalhes são bastante
técnicos, então, preste muita atenção ao que segue.í7

Purgando o pecado
A segunda metade de Levítico 4:26 declara o propósito do ritual sacrifical: ``o
sacerdote fará expiação por ele [o pecador], no tocante ao seu pecado, e este lhe será
perdoado". A palavra "expiação" vem da palavra hebraica k!¢p#r, da qual deriva o
tão conhecido dia de festa judaico, yom KÍ.Í?p#r (yom significa "dia", e, daí vem "Dia
da Expiação"). Entretanto, há uma tradução melhor para ¢íÍ)pwr, que é "purgar". Se
usarmos essa palavra, Levítico 4:26 ficará assim: "o sacerdote fará [a purgação dc seu
pecado], e este lhe será perdoado." Pelo resto do nosso estudo, usarei a palavra pwrgw
ern vez de expiqr ou expiação.
Gane dá destaque a essa crucial questão com a seguinte pergunta: "Quando o
sacerdote leva para fora o alvo de uma oferta de purificação efetuando uma purga-
ção (k!`f)j)w), o que ele purga? Ele remove o mal do altar onde aplicou o sangue ou
do ofertante que pecou?"18
Se a resposta para essa pergunta for que o ritual sacrifical purgava o pecado do altar
(ou seja, do santuário), então o pecado já tinha sido transferido para o santuário no
momento em que fói cometido e já não mais estava no pecador. Por outro lado, se o
ritual sacrifica] removia o pecado do pecador, então ele (o pecado) não teria sido trans-
ferido para o santuário ao ser cometido. Qual será o caso?
A TRAN§FERÊNC!À D0 PECAD0 PÂRÃ 0

A resposta está na segunda metade de Levítico 4:26, que citarei novamente com
as palavras relevantes em itálico: "o sacerdote fará expiação por c/c [o pecador], no
tocante ao seu pecado, e este lhe será perdoado."A palavra por nesse verso é uma tra-
dução da preposição hebraica mí.Í®, e muitas versões bíblicas a traduzem como por
(ver ARA, ARC, NVI). Contudo, mi.# também pode ser traduzida como a preposi-
Ção indicadora de procedência dc. Note a diferença de significado nas duas tradu-
Ções possíveis:

• 0 sacerdote purgará seu pecado por ele.


• 0 sacerdote purgará o pecado cíc/c (preposição cJe + pronome c/c).

A primeira tradução nada sugere sobre onde o pecado residia quando o peca-
dor trazia seu sacrificio para o santuário. Ele podia estar no pecador ou no santuá-
rio. Seja como for, o sacerdote purgava o pecado pc/o Úor + o) pecador, ou seja, em
nome dele.A segunda tradução, porém, não deixa dúvida sobre onde o pecado resi-
dia quando o pecador trazia seu sacrificio - o sacerdote purgava o pecado cJc (indi-
cando procedência) + ele (o pecador). Fica claro que, se o pecado ainda residisse
sobre, ou no, pecador quando ele trazia seu sacrificio para o santuário, então ele não
era transferido do pecador para o santuário no momento em que ele cometia o
pecado. Em vez disso, ele era transferido para o santuário por meio da participação
do pecador no ritual sacrifical.
Gane analisou detalhadamente a preposição hebraica mí.Íc em seu livro C#/f 4#d
Chcm3cfer [Culto e Caráter]. Ele preparou uma ta.bela de duas páginas mostrando
todas as ocorrências de Í#!.# ligadas à purificação do santuário.]9 Ao término de
sua análise, fez a seguinte declaração: "A análise sintática controlada. das fórmulas
[de kí.pptJr] que declaram os alvos/funções/significados dos vários tipos de ofertas de
purificação me forçou a chegar à inevitável conclusão de que [...] as ofertas de puri-
ficação [oferecidas em nome dos pecadores] [...] removem o mal de seu(s) ofertan-
te(s), em vez do sa,ntuário."2°
Se Gane estiver certo -e acredito que esteja -o pecado permanecia no pecador
até que ele trouxesse seu sacrificio. Então era transferido para o santuário por meio
do ritual sacrifical. Assim, o relato do sistema sacrifical de Levítico apoia o ponto
de vista adventista tradicional de que os sacrificios de israelita,s pecadores removiam
o pecado do pecador, não do santuário, e o pecado era transferido para o sa,ntuário
nessa ocasião, não quando era cometido.
0 que acabo de compartilhar com você pode parecer uma discussão técnica que
importa apenas para os eruditos, com pouca relevância para gente como você e eu.
Entretanto, a questão da transferência do pecado é muito relevante para o entendi-
mento adventista sobre o santuário e o juízo investigativo, como veremos agora.

0 que significa a "transferênci@ de pecado"?


Uma questão que precisamos abordar é a do significado da transferência de pecado
para o santuário. Uma declaração de Gane que citei anteriormente dá uma sugestão:
NÀ CORTE CELESTIAL

"Por meio [...] das ofertas de purificação desempenhadas no santuário, a imperfeição


removida dos ofertantes era transferida para o santuário deYahweh. A imperfeição, de
uma forma controlada, está no `campo' Dele, ou seja, passa a ser um problema Dele."2í
0 comentário de Gane nos ajuda a entender o significado da transferência de
pecado a partir da perspectiva do santuário terrestre. Ao aceitar o pecado dentro do
santuário, Deus tomou a imperfeição moral do pecador sobre Si mesmo. 0 pecador
foi perdoado, não precisando mais responder por seu erro. Deus assumiu a respon-
sabilidade pelo pecado, e essa responsabilidade permaneceu sobre Ele até o Dia da
Expiação, quando foi removida até mesmo de Deus.
Uma questão ainda mais importante que precisamos abordar agora é o significado
da transferência de pecado do pecador para o santuário cc/csf!.ci/. Indiquei anterior-
mente neste capítulo que a transferência de pecado para o santuário terrestre era um
processo de dua,s etapas. A primeira era a transferência de pecado do pecador para a
vítima sacrifical, a qual ``pagava" pelo pecado com sua vida. Isso, naturalmente, repre-
senta a transferência de nossos pecados para Cristo, que os tomou m cruz e verda-
deiramente pagou por eles com Sua morte. 0 Novo Testamento é muito claro sobre
isso. Pedro disse que Cristo "[carregou] Ele mesmo em Seu corpo, sobre o madeiro
[a cruz], os nossos pecados" (1Pe 2:24; ver também ls 53:4-6,11).
No entanto, os pecados foram transferidos da vítima sacrifical para o santuário na
Terra também. 0 que isso significava no plano divino de salvação?
Embora o Novo Testamento indique claramente que nossos pecados são transfe-
ridos para Cristo, em nenhum lugar o Novo Testamento declara o significado antití-
pico da transferência de pecado da vítima sacrifical para o santuário, ou seja, de Cristo
para o santuário celestial. Mas o livro de Hebreus deixa muito evidente que, m era do
Novo Testamento, os rituais do santuário israelita tiveram seu cumprimento antitípico
nos vários aspectos da morte e do ministério mediador de Cristo. Portanto, a trans-
ferência dos pecados, da vítima sacrifical para o santuário, deve ter algum significado
antitípico. Isto é, de alguma forma, nossos pecados têm que ser transferidos de Cristo,
a vítima sacrifical, para o santuário celestial. Mas o que isso significa? Como ocorre?
Os adventistas têm dito que a transferência de pecados para o santuário celestial
se refere ao fato de que, ao longo da história do mundo, os pecados do professo povo
de Deus têm sido escritos nos livros de registro do Céu para que estejam disponíveis
para as devidas considerações por ocasião do juízo investigativo.
Eu concordo e vou sugerir uma razão pela qual isso é necessário.Apocalipse 12:10
nos diz que Satánás é o acusador do povo de Deus, e temos exemplos narrativos disso
tanto emjó 1 como em Zacarias 3. Em ambos os casos, as evidências sugerem que
anjos estavam presentes para ouvir as acusações. A Bíblia nos diz que Satanás acusou
]ó em uma ocasião em que "os filhos de Deus" 0ó 1 :6;ARA,ARC),"os anjos" (NVI),
se reuniram para uma conferência.
Isso também fica evidente m história sobreJosué e o anjo em Zacarias 3. 0 verso 4
diz: "disse 4os q#c csf4w4m dí.c!#fc Dc/c:Tirai-1he [deJosué] as vestes sujas" (itálicos acres-
centados). Podemos razoavelmente presumir que ``os que estavam diante Dele" eram
anjos de Deus. Podemos também presumir que Satanás ainda está acusando todo o
A TRANSFERÊNCIA D0 PECADO PARA S SANTUÁRlo

povo de Deus, diante dos anjos leais, de serem indignos do favor divino. Satanás tem
feito isso ao longo dos séculos e dos milênios da história daTerra.
Pensemos agora em uma conversa imaginária entre Satanás e um anjo celestial, a
quem chamarei de Rafael. Essa "conversa" aconteceu 3 mil anos atrás.

Satanás se aproxima de Rafael, que estava pronto para voar de volta para o
Céu, e diz: "Posso falar um pouco com você, por favor?"
Rafael faz uma pausa e olha para Satanás. Faz-se um desconcertante silên-
cio. Finalmente, Rafael responde: "Está bem..."
Satanás se aproxima um pouco. Há um estranho brilho em seus olhos.
Com voz zombeteira, ele diz:"Fique sabendo que seu Mestre aceitou o rei
Davi.Aposto que você sabe do adultério dele."
"É, eu ouvi falar sobre isso."
"E seu Mestre planeja manter aquele pecador miserável como um dos que

pertencem a Ele?"
"Ele diz que Davi se arrependeu."
``Ah, sim! E/c sc cwcpc#dc# muito! Aí ele se casa com a mulher e dorme

com ela o resto da vida. 0 arrependimento de Davi teve a consistência de


uma folha de papiro molhada! Eu tenho pessoas aqui do meu lado que são
muito melhores do que esse Davi, mas, porque Davi é um protegido do
seu Mestre, ele está perdoado! Você acha isso justo?"
"Vou levar sua objeção para o meu Mestre", disse Rafael girando o corpo
e alçando voo rumo ao Céu.
Chegando à Cidade Santa, Rafael apressadamente procura Miguel, o
Arcanjo, a quem ele conhece como Jesus. Ele 0 encontra na entrada para a
sala onde está o trono celestial. Depois de se encurvar, Rafael diz: "Miguel,
acabo de chegar do planeta Terra, e Satanás me abordou reclamando sobre
o perdão para o rei Davi. Satanás desafiou o que eu disse sobre o arrepen-
dimento de Davi."
Miguel dá um sorriso e coloca a mão sobre o ombro direito de Rafael.
"Obrigado por Me contar sobre a objeção de Satanás." Ele continua: "Não
vou responder a essa objeção neste momento. Mas vai chegar um dia - e
será muitos anos terrestres no futuro - em que abrirei os livros de regis-
tro do Çéu para que você e todos os seus amigos anjos possam examiná-
1os. Nessa ocasião, darei a Satanás todo o tempo que ele precisa, para
apresentar seus argumentos mais convincentes m presença de todos os
anjos do Meu reino.Também darei a você e seus amigos todo o tempo que
precisarem para examinar os registros por vocês mesmos. Quando vocês
terminarem de revisa.r as evidências, acredito que concordarão que estou
certo quanto às decisões que tomei sobre Davi, e que Satanás está errado."
Rafael faz uma pausa para pensar sobre o que acaba.ra de ouvir. Miguel, então,
continuou: "Deste momento até o juízo, estou assumindo pessoalmente a
responsabilidade pelos pecados do Meu povo." Miguel, agora, põe a outra
mão sobre o ombro esquerdo de Rafael. 0lhando em seus olhos, Ele sorri
e diz: "Até lá, co#J3c cm M{.m. "

Gane indicou que a transferência de pecado para o santuário significa que "agora,
a imperfeição, de uma forma controlada, está no `campo' dele, ou seja, passa a ser um
problema dele". Gane está fúando do santuário terrestre, e seu ponto é que a transfe-
rência do pecado do pecador para o santuário significa que Deus assumiu a respon-
sabilidade pelo pecado até o Dia da Expiação, quando ele será removido do santuário
e transferido para o bode expiatório.
Acredito que o mesmo princípio se aplica ao santuário celestial. Diante das acusa-
Ções de Satanás contra nós, que suscitam sérias perguntas na mente dos anjos,]esus
assume a responsabilidade por nossos pecados confessados e perdoados c[fé o/.wízo.
No meu modo de entender, a transferência dos nossos pecados para o santuário
celestial significa que eles estão escritos nos livros de registro do Céu, esperando pelo
juízo. Mas, de acordo com o que índíca a crono]oãa de Daníeí 7:9 e ío, esses ]ívros de
registro não têm estado disponíveis para que os anjos os examinem ao longo da maior
parte da história do mundo. Portanto, um sigrrificado adicional da transferência de
pecados para o santuário celestial é que, até o juízo (que, segundo entendemos, está em
curso agora), Cristo tomou sobre Si a responsabilidade pelo nosso perdão. Sua resposta
para todas as acusações de Satanás e para quaisquer perguntas que essas acusações pos-
sam suscitar na mente dos anjos foi simplesmente: "Até o julgamento, confie em Mim."
É importante notar que somente pecados que foram transferidos para o santuário
por meio de sacrificio a.nimal podem ser perdoados. Como já vimos, pecados de rebe-
lião também eram transferidos para o santuário, e esses pecados pcsft4' tinham de ser
removidos do santuário no Dia da Expiação,22 mas sem o beneficio do perdão para
o pecador. Todos os pecados do professo povo de Deus estão ariotados nos livros de
registro do Céu e serão considerados nojuízo.23
Pecados de rebelião serão exibidos como prova contra aqueles que os cometeram,
e essas pessoas serão condenadas. Por outro lado, aqueles cujos pecados foram per-
doados serão considerados inocentes, visto que seu arrependimento e confissão, bem
como o perdão de Cristo, estão registrados ao lado de seus pecados. Como nosso
mediador e grande advogado de defesa, Cristo nos representará contra todas as acusa-
Ções de Satanás. E por isso que não devemos temer o juízo!
Essa discus.são foi bastante extensa e um pouco técnica, mas estou certo de que
você pôde reconhecer sua relevância para nosso estudo sobre o juízo investigativo.
Mais uma vez, demonstrei aqui que a interpretação adventista do ritual sacrifical do
Antigo Testamento com sua transferência de pecado, do pecador para o santuário, tem
forte apoio bíblico.

t Woodroww.Whidden, E.j 77Zggo#e( p. 347.


2 FLov Ga.ne, Cult and Character, p. 8.
3 ibid., p.176.
j lbid., p.177.
S jacob Milgrom, um conhecedor de Levítico, adotou esse ponto de vista; ver Roy Gane, CÍ//f dwcJ Cü4rflcfer,

p. 268-270.
6 Desmond Ford, "Daniel 8: 14", p. 348; itálico do original.Ver também p. 5 e 290 para declarações similares.
-Ibid., p. 348; itálico do original.
3 ]acob Milgrom, Sf#dí'cs t.fe Cwíf}`c T7ico/ogy 4#cJ Tcrmí'#o/ogy. Leiden: Brill,1983, p. 75, citado em: Roy Gane,

C#/f c#£d C/!4r4cfc4 p.107,108; itálicos a.crescentados.


• F`oy G&ne, Cult and Character, p. 292.
" A versão New Kingjames diz "transgressões concernentes a todos os seus pecados". Sobre a palavra "con-
cernentes", Roy Gane prefere a tradução "assim como", em vez de "concernentes". Isso é importa.nte por-
que "concernentes" faz parecer que os pecados ¢t#o# e pcsÁ4' estão resurnidos sob os pecados h4fí4'Í. Após
uma análise cuidadosa e bastante técnica (ver CwJf 4md CJi4mcfcr, p. 285-291), Gane conclui que "o bode
vivo traz três tipos diferentes de falhas morais (4t#o#, pcsft4', e Ã4#4'f)". Cw!f flíid CJ34rj3cfcr, p. 290.
-' Ibid., p. 296.

: Ibid., p. 297, 298.


•-: Para os israelita.s, todavia, "eliminar" era mais do que banir da comuridade. Era uma pena divina terminal

que podia resultar em execução, eliminação daquele indivíduo de sua linhagem genealógica e a negação
de uma futura ressurreição.
+ FLoy Gane, Cult and Character, p. 27 4.
-3 Ibid., p. 50.
-Ibid., p. 233.
- Para um discussão completa, ver Roy Gane, "Purification Offering: Purgartion of Sanctuary or Offerer?"

ern Cult dnd Character, p.106-143.


_` Ibid., p. 51.

: Ibid., p.110,111.

J lbid., p.142; ver também p. 273, item 2.


:-Ibid., p.177; ver também p. 276.
=Ver Levítico 16:16, em que a. palavra portuguesa "transgressões" é uma tradução de pcshfl'.
=: As únicas pessoas que têm o nome considerado no juízo investigativo são aquelas que fizeram uma pro-
fissão de fé em Cristo, exatamente como o Dia da Expiação lidavâ somente com os pecados dos israelitas
- não os dos estrangeiros pagãos. 0 julgamento do ímpio ocorre no fm do milênio (ver Ellen White,
0 Grande Conflito` p. 480) .
0 DIA DA EXPIAÇÃO E 0
PR0BLEMA DO MAL

D:;,:::cd:am,eêç:::s,:?Sá::ivimae::n::a,moeaedv:Sn,doods:C::o4419.,oo:oaduv:nt:àt,aísti::
do Dia da Expiação do santuário terrestre. Após o primeiro desapontamento, na pri-
mavera de 1844, alguns adventistas vieram a acreditar que havia uma relação entre
a segunda vinda de Cristo e o Dia da Expiação. A Sct;cÍ?f¢-dqy 4dyc#fí.sf E#cycJopcdi.4
[Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia] explica como era a compreensão milerita:
assim como ``no encerramento do Dia da Expiação, o sumo sacerdote saía e abençoava
a congregação que o esperava", eles também acreditavam que "Cristo sairia do santís-
simo em Sua segunda vinda para abençoar o povo que o aguardava".] Entretanto, os
mileritas também acreditavam que aTerra era o santuário a ser purificado na segunda
vinda de Cristo. A SctJc#fÁ-d4y 4cJtJc#fi.sf Ewcyc/opcdí'4 indica que "ninguém explicava
como o santíssimo [...] poderia ser o próprio Céu nem como o santuário poderia ser
a Terra, que seria purificada com fogo por ocasião da segunda vinda".2
0 significado imediato dessa atenção ao Dia da Expiação pe]os mileritas é que
os levou a estabelecer a data de 22 de outubro de 1844. Não existe, naturalmente,
nenhuma evidência bíblica direta para essa data específica. 0 estabelecimento dessa
data em particular surgiu da reflexão dos mileritas sobre os dias das festas do calen-
dário judaico e do seu cumprimento no antítipo. Samuel Snow explicou esse ponto
de vista (embora provavelmente não o tenha originado) na reunião campal de Exeter,
New Hampshire, de 12 a 17 de agosto de 1844. Snow argumentou que a Páscoa e o
Pentecostes se cumpriram no antítipo no mesmo dia em que essas festas ocorreram no
tipo. Ou seja,Jesus, a verdadeira Páscoa, foi crucificado #o mcsmo di.¢ d4 PÉsco4/.wc74Í.",
e o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes aconteceu #o mcsmo df.4 cÍ4 Fcsf4
d4s Scma#45/.wd4í.c4. Do mesmo modo, raciocinou Snow, o Dia da Expiação deveria ser
cumprido #o mcsmo cíÍ'¢ d4qwcJ4/csfa #o míc#dórí'oj.wd4i'co. 0 ano de 1844 já havia sido
estabelecido com base em Daniel 8:14. 0 que ffltava era determinar q%4#do, naquele
ano, o Dia da Expiação iria acontecer. E, de acordo com o calendário dosjudeus caraí-
tas,3 em 1844, o Dia da Expiação ocorreria em 22 de outubro. Foi desse raciocínio que
nossos pioneiros obtiveram a data de 22 de outubro de 1844.
A essa altura, todos presumiam que a purificação do santuário de Daniel 8:14 se
referia à purificação da Terra com fogo por ocasião da segunda vinda de Cristo. No
entanto, Cristo não veio em 22 de outubro de 1844. Isso levou à revelação dada a
Hiram Edson, em 23 de outubro, de que o santuário estava no Céu, e que "em vez
de nosso Sumo Sacerdote s4i'/ do santíssimo do santuário celestial [naquela data] [...]
Ele, naquele dia, c#frow pela primeira vez no segundo compartimento desse santuá-
rio".4 A única vez que o sumo sacerdote ministrava no lugar santissimo do santuário
n qH du "Í" ÃO E 0 moBLEMA DO MAL

terrestre era no Dia da Expiação, de modo que a conclusão de Edson, de que Cristo
entrou no segundo compartimento do santuário celestial em 22 de outubro, signifi-
cava que, naquele dia,]esus inaugurou Seu ministério do Dia da Expiação celestial.
Os adventistas ainda tinham muito para aprender sobre o santuário celestial e o
Dia da Expiação, como também tinham muito para desaprender. Entretanto, desde
aquele início primitivo, desenvolvemos a ideia de que o antítipo do Dia da Expiação
é um juízo investigativo que ocorrerá no Céu antes da segunda vinda de Cristo.
Assim, é necessário que examinemos mais de perto o Dia da Expiação.

0 Dia da Expiação no santuário terrestre


0 Dia da Expiação era o ponto alto do ano religioso judaico.5 Cinco anima,is
eram usados para os rituais efetuados naquele dia: um novilho, dois carneiros e dois
bodes. 0 dia começava com o sumo sacerdote banhando-se. Depois de banhar-se, ele
`-estia um calção e uma túnica, ambos de linho. Depois, colocava um cinto de linho
m cintura e um turbante também de linho na cabeça.
Então o sumo sacerdote trazia os dois bodes para a porta do tabernáculo e lançava
sorte sobre eles, escolhendo um dos bodes para o Senhor e o outro, para ser o "bode
emissário" (v. 8). Ele imolava um novilho como oferta pelo próprio pecado. Depois,
levava um incensário aceso para dentro do lugar santíssimo e nele colocava incenso,
de modo que a fumaça o protegesse da presença de Deus que era manifestada em
ciim da arca do concerto.Ao sair do santuário, ele pegava uma vasilha na qual derra-
i]mra o sangue do novilho6, entrava outra vez no lugar santíssimo e espargia o sangue
uma vez na tampa da arca e sete vezes na frente da arca.
0 sumo sacerdote, então, saía novamente do santuário e imolava o bode do Senhor.
Após recolher um pouco daquele sangue em uma vasilha, ele novamente entrava no
lugar santíssimo e aspergia o sangue uma vez sobre a arca e sete vezes na frente da
]rca. Depois saía do lugar santíssimo, misturava o sangue do bode com o do novilho
e aspergia o sangue misturado em cima e diante do altar de incenso, do mesmo jeito
que fizera com a arca do concerto. Ele também espalhava um pouco do sangue nas
pontas do altar de incenso (ver Êx 30:10).7 Quando terminava com a ma,nipulação
do sangue no lugar santo, o sumo sacerdote saía para o pátio, onde espalhava o sangue
ms pontas do altar de sacrificio e aspergia o sangue no altar sete vezes.
Na sequência, o sumo sacerdote tomava o bode vivo, colocava as duas mãos sobre
sua cabeça e, simbolicamente,1ançava sobre ele todos os pecados que haviam acabado
dc ser purgados do santuário (ver v. 21). 0 bode, então, era entregue a um homem
ridicado para levar o animal para longe, no deserto, de onde ele nunca pudesse vol-
tlr para o acampamento israelita.
Ao término do ritual do bode vivo, o sumo sacerdote novamente entrava no lugar
mto, tirava as vestes de linho e vestia as vestes normais de sumo sacerdote. Então
de saía do lugar santo, imolava dois carneiros e os sacrificava sobre o altar do pátio
como oferta queimada. Isso completava as atividades do sumo sacerdote no Dia da
E]piação.A única tarefa que restava era queimar as carcaças dos animais sacrificados,
o que era feito fora do acampamento por um homem designado para isso.
j NA £8RTE CELESTIAL

0 propósito do Bia da Expiação


Ainda mais importante do que todas as atividades do Dia da Expiação é o seu pro-
pósito. Levítico 16 menciona cinco coisas que eram cumpridas naquele dia:

• Os pecados acumulados do povo no santuário ao longo do ano eram purgados


do santuário (v.16).
• 0 santuário era purificado (v.19).
• 0 povo era purgado (v. 30).
• 0 povo era purificado (v. 30).
• Os pecados eram enviados para longe com o bode emissário (v. 21).

Examina.remos cada item em mais detalhes.


Í. 4 pwrg4ÇÕo cJo sci#fwórf.o. Levítico diz que, no Dia da Expiação, o sumo sacer-
dote aspergia o sangue do bode sobre a arca do concerto e sobre o altar de incenso.
0 propósito desse ritual era "[fazer] expiação [k€Í)pwr] pelo santuário [que cha-
mamos de lugar santíssimo] por causa das impurezas dos filhos de lsrael, e das
suas transgressões, e de todos os seus pecados. Da mesma sorte, fará pela tenda da
congregaçâo [que chamamos de lugar santo], que está com eles no meio das suas
impurezas" (Lv 16:16).
Como observamos no capítulo 19, a palavra hebraica para "expiação" é kíí)pwr,
que significa "purgar". 0 Dia da Expiação, portanto, era um dia de purgação, quando
o sumo sacerdote p%rg¢w4 os pecados dos israelitas do (ou "para fora do") santuário.
Esses pecados, que foram fít2#s/e".cíos pczm dc#fm do santuário ao longo do ano ante-
rior, eram agora rcmotJí'dos cío santuário.
2. 4 p%r%c4ÇÕo do sc#ff#órf.o. Uma ideia relacionada com esse tema é que o santuá-
rio era pw#fic4do dos pecados do povo no Dia da Expiação. 0 verso 19 diz: "Do san-
gue [o sumo sacerdote] aspergirá, com o dedo, sete vezes sobre o altar, e o pw/éficmá,
e o santificará das impurezas dos filhos de lsrael."A palavra hebraica traduzida como
"purificar" é f4hcr, que significa "deixar limpo", "1impar". Podemos dizer, portanto,

que o santuário era purgado (kí'Í)pwr) e purificado (f4#c/) dos pecados dos israelitas no
Dia da Expiação.
j. 4 pwrg4ÇÕo do povo. Um dos propósitos mais importantes do serviço do san-
tuário israelita era purgar não apenas o santuário do pecado como também o pró-
prio povo de seu pecado. A elimimção do pecado era um processo de duas etapas.
A primeira ocorria ao longo do ano. Quando as pessoas traziam seus sacrifícios ani-
mais para o santuário, seus pecados eram purgados (ki'ppwr) deles, sendo transferidos
para o santuário, ou seja, para Deus. Como resultado desse ritual, o povo era per-
doado. Entretanto, a responsabilidade por aqueles pecados não era de Deus e, por isso,
o segundo estágio da purgação ocorria no Dia da Expiação, quando o santuário era
purificado dos pecados Oá perdoados) que ali se acumularam ao longo do ano. Como
resultado, o próprio povo experimentava uma forma adicional de purgação. E por
isso que Levítico diz que, no Dia da Expiação, "[o sacerdote] fará expiaçâo por c;ój."
(v. 30; itálico acrescentado), isto é, pelo povo.
E 0 PR0BLEMA D0 MAL

Contudo, há pelo menos duas diferenças entre a purgação do pecado que ocor-
ria ao longo do a,no e a purgação que ocorria no Dia da Expiação. A primeira dife-
rença é que somente a purgação dos serviços diários provia perdão. A palavra perdoar
não ocorre sequer uma vez em Levítico 16. Ela tampouco ocorre nas outras palavras
que estabelecem os rituais para o Dia da Expiação (ver Lv 23:26-32; Nm 29:7-11).
A segunda diferença é que a purgação do Dia da Expiação era corporativa, não indi-
`idual.Todos os pecados de todas as pessoas eram removidos do santuário de uma só
`-ez. Naquele dia, o santuário era purgado até mesmo dos pecados pcsÃ4' dos israelitas
rcbeldes. A purgação não provia perdão para aqueles que haviam cometido pecados
pcsh4', pois, como já mencionei, a palavra p%cío¢r não ocorre em nenhuma das des-
crições do Dia da Expiação.
4. 4 pwr%cação do pom Vimos, anteriormente, que o santuário era purificado do
pecado no Dia da Expiação. Levítico diz que, como resultado desse ritual, as pró-
prias pessoas eram também pwr%c4d¢5 de seus pecados: ``Naquele dia, se fará expia-
ção por vós, para pwr%cw-tJos; e sereis pwr%mcJos de todos os vossos pecados, perante
o SENHOR" (16:30; itálicos acrescentados). A palavra hebraica para ambas as flexões
de "purificar" nesse verso é f4#cr, a mesma palavra usada em Levítico para dizer que
o santuário foi purificado do pecado no Dia da Expiação.A mesma palavra é usada
para descrever a purificação do povo.
Durante todo o ano, os pecados dos israelitas eram expurgados (¢i4píw/ indivi-
dualmente, e eles eram perdoados. Mesmo assim, as pessoas não eram purificadas des-
scs pecados. A palavra f4her, "purificar", não ocorre no serviço diário em conexão
com a purgação das faltas morais do povo, assim como o perdão dos pecados não era
provido pelos rituais do Dia da Expiação. E a purificação (f4#cr) do Dia da Expiação
era corporativa. As pessoas podiam, naturalmente, considerar-se purificadas de seus
pecados como indivíduos, mas o ritual de purificação era efetuado para todos ao
mesmo tempo.
Portanto, o propósito do Dia da Expiação era completar uma purgação (k!Í)pwr)
riml, corporativa do santuário, removendo dali o pecado. E o resultado dessa purga-
ção era a purificação (f4#cr) tanto do santuário como do povo.
j. 4 rcmofão dos pcc4cJos cJo czcmp4mc#ío. 0 propósito final do Dia da Expiação era
remover do santuário, do povo, como também do acampamento, os pecados cometi-
dos pelos israelitas. Essa remoção era permanente. E era o ritual do bode expiatório
que conseguia isso. Levítico diz, especificamente, que, depois de pôr as mãos sobre a
cabeça do bode, o. sumo sacerdote devia "[confessar] todas as iniquidades [4wo#] dos
filhos de lsrael, todas as suas transgressões k%s/cc!'] e todos os seus pecados [#4ffcz'f];
e os h)or] sobre a cabeça do bode" (v. 21). Note que as três palavras hebraicas para
pecado são mencionadas nesse texto. Ao longo do ano, #cifí4'f e 4t/Jo# foram transfe-
ridos para o santuário mediante os sacrificios de purificação feitos pelo povo, e os
pecados pcs#4' de israelitas rebeldes iam diretamente para o santuário no momento
cm que eram cometidos (ver capítulo 19). No Dia da Expiação, o santuário era pur-
gado (k!Í7pwÍ) de todos esses pecados, os quais eram postos no bode emissário, que
kvava esse nocivo fardo para longe do acampamento.A transferência de pecados pwfl
NA CORTE CELESTIAL

o santuário durante o ano pode não estar claramente definida em Levítico, mas sua
transferência pw4/or4 do santuário é declarada de maneira bem explícita.

0 ritual do bode emissário


A parte crucial do Dia da Expiação era o ritual do bode emissário, por meio
do qual os pecados do povo eram permanentemente removidos do acampamento
dos israelitas. 0 termo "bode emissário" é uma tradução da palavra hebraica cíz42c/.
Alguns tradutores e comentaristas entendem 4zazcJ como uma palavra composta,
visto que a palavra hebraica 4z significa "bode", e 4zc/ significa ``ir embora", "esca-
par''. É daí que vem a palavra usada nas Bíblias em inglês, sc4pcgo4f, que significa
"bode que vai embora, que escapa".8Todavia, é quase certo que isso não está correto,
como vou demonstrar na sequência.9
A questão do significado de bode einissário no antítipo tem sido particularmente
controversa. Alguns comentaristas entendem que o bode emissário representa Cristo.
Os que adotam esse ponto de vista mencionam pelo menos três razões:

• Ambos os bodes são chamados de o/cyícz pc/o pcmdo na maioria das traduções por-
tuguesas (ver v. 5. "Ritual de purificação" é uma tradução melhor porque o bode
vivo não era uma oferta para Deus; ver meus comentários abaixo).
• E%pi'4ÇÕo era feita com ambos os bodes (a respeito do bode do Senhor, ver v.15.
16; a respeito do bode emissário, ver v.10).
• 0 bode emissário devia "/caw sobre si" todas as iniquidades dos filhos de lsrael
"para terra solitária" (v. 22; itálico acrescentado).

E, naturalmente, servir como oferta e expiação pelo pecado e levar o pecado, tudo
isso era parte do papel de Cristo no plano de salvação. E por isso que alguns comen-
taristas têm chegado à conclusão de que o bode emissário representa alguns aspectos
da obra de Cristo por nossa salvação.
Outros estudiosos têm interpretado que o bode emissário é Satanás. É possível que
você saiba que os adventistas do sétimo dia têm adotado esse último ponto de vista.
E, por essa interpretação, temos enfi-entado severa condenação da parte dos críticos,
pois estes afirmam que esse ponto de vista faz de Satanás aquele que expia nossos peca-
dos, aquele que leva sobre si nosso pecado. Um dos nossos críticos mais recentes, Dale
Ratzlaff, é um ex-pastor adventista e professor de religião que promove um ministé-
rio dedicado a fazer oposição a alguns dos ensinamentos da lgreja Adventista tentando
tirar tantas pessoas quanto possível do adventismo. Em sua revista ProcJam4f!.oÍ7./, Ratzlaff
escreveu: ``Alguns ensinam que o bode emissário representa Satanás. Pessoalmente,
depois de um estudo muito detalhado, acho que isso é o cúmulo da blasfêmia.""
Assim, o bode emissário representa Cristo ou Satanás? A resposta que faz mais sen-
tido para mim é que ele não representa nenhum dos dois, embora a interpretação de
que ele representa Satanás esteja mais próxima da verdade. Explicarei a razão para issQ
Poucos parágrafos acima, mencionei que o termo em português bodc cmí.ssári'o ê
uma tradução da palavra hebraica 4z4zcJ, que alguns intérpretes consideram como
0 DIA DÁ EXPIA

uma palavra composta. 0 que parece ser mais provável é que czz4zcJ seja uma pala-
\Ta simples, o nome de alguém ou de alguma coisa diferente de bode. Isso parece
evidente pelo fàto de o verso s dizer que o sumo sacerdote ``lançará sortes sobre os
dois bodes: uma,pwt2 o SENHOR, e a outra,pwtz o bode emissário" (itálicos acrescenta-
dos). 0 hebraico diz, literalmente: ``Uma sorte paraYahweh e a outra sorte para 4z4-
zc/." Um dos bodes é pczm Yahweh Oeová), isto é, para seu uso.Visto queYahweh é
claramente um ser pessoal, parece muito lógico entender 4z4zc/ também como um
ser pessoal, e que o bode é desigmdo p4m ele - em outras palavras, para seu uso (de
Azazel). Portanto, o próprio bode não é Azazel; é pczm Azazel.
Então quem ou o que é Azazel? Levítico 16 é o único lugar em toda Bíblia em
que a palavra ocorre, e Levítico não nos diz quem ou o que é Azazel. 0 texto sim-
plesmente usa esse nome.íí Mas Levítico nos dá algumas pistas.
Durante todo o ano, quando um israelita pecava, ele trazia seu sacrificio animal
para o santuário, o imolava e o sacerdote efetuava o ritual apropriado. Indiquei no
i-apítulo 19 que esse ritual transferia o pecado da pessoa de si mesma para o animal,
e do animal, para o santuário. A transferência do pecado para o santuário significava
que Deus tomava sobre Si a responsabilidade por aquele pecado. Entretanto, não era,
de fato, um pecado de Deus. Ele estava simplesmente tomando, temporariamente, a
rcsponsabilidade por aquele pecado.
No Dia da Expiação, todos os pecados acumulados no santuário durante o ano
lnterior eram removidos não apenas do santuário, mas também da presença do pró-
prio Deus. Esses pecados eram postos no bode emissário, e o bode era banido para
tim deserto longínquo, de onde nunca pudesse voltar. 0 fato de que o bode emis-
sirio era designado p¢rw Azazel sugere que o bode era mandado para o deserto com
o propósito de entregar os pecados dos israelitas p4r# Azazel. Em outras palavras, a
m-po#s4b£./Í.d4dc por esses pecados era removida de Deus e do santuário, sendo trans-
portada para Azazel.
Mas quem é Azazel? Gane comenta:

0 fato de queYahweh é sobrenatural pode ser considerado para impli-


car que Azazel é, também, algum tipo de ser sobrenatural. [...].Visto que
Yahweh é a autoridade que ordena aos israelitas efetuar o ritual (v.1, 2),
parece que Azazel é Seu inimigo. Portanto, é provável que Azazel seja
algum tipo de demônio e que sua presença em uma região desabi-
tada [...] represente "o oposto extremo à santa presença de Deus no
santíssimo".i2
Embora Azazel seja uma figura sombria em Levítico, seu perfil geral é
claro e há apenas um ser no Universo que se encaixa nele: Satanás.t3

Assim, parece bastante razoável concluir que Azazel é Satanás, e que o bode emis-
sirio era, simplesmente, o veículo que transportava os pecados dos israelitas para ele.
Gane chama o bode emissário de "um `caminhão de lixo' ritual carregando resí-
d[ios tóxicos controlados para Azazel".]4 Ele indica que "o bode do Senhor pertencia
NA [ORTE

ao Senhor e era oferecido para o Senhor, mas também rcprcse#f4tM o Senhor. [...].
Portanto, o bode que pertencia a Azazel e era para ele enviado dcv!.4 f4mbém rcprcsc#Íw
4z4zcJ"." Quando um advogado representa alguém, ele £da em lugar daquela pes-
soa, pode assinar documentos por aquela pessoa e, em certo sentido, é aquela pessoa.
Da mesma forma, o bode que carregava os pecados dos israelitas para Azazel repre-
senta Azazel e, nesse sentido, pode ser considerado como Azazel.
Indiquei anteriormente que os adventistas têm sido severamente criticados por
identificar o bode emissário como Satanás. Em resposta, demonstrei que o bode
emissário não era imolado e oferecido como sacrificio. Gane diz que "o bode para
Azazel não é um sacrificio".í6 "Não se pode conceber [o bode vivo] como uma
oferta, mas como um veículo para carregar o pecado para longe. 0 que a comuni-
dade envia para Azazel nem é tanto o bode em si mesmo, mas o pecado que ele car-
rega." A conclusão de que Azazel é uma figura demoníaca também é sugerida em
Levítico 17:7, em que Deus adverte os judeus contra o culto aos demônios.A pala-
vra "demônios" nesse verso vem do hebraico sci'í.yr, e seu significado pode ser, den-
tre outros, "bode macho".
Na metade da década de 1950, o autor evangélico Wálter R. Martin fez uma
detalhada investigação sobre os ensinamentos adventistas. Embora discordasse da
doutrina do juízo investigativo, ele fez o seguinte comentário sobre nosso entendi-
mento em relação ao bode emissário como Satanás: "Os adventistas do sétimo dia
têm um conceito único sobre o bode emissário; mas, à luz de sua muito bem escrita
explanação, nenhum crítico pode mais, com honestidade, acusá-1os de heresia no
que diz respeito à expiação do nosso Senhor. Os adventistas têm declarado inequi-
vocamente que Jesus Cristo é a única propiciação pelo pecado e que Satanás não
tem parte alguma na expiação do pecado."ís
E a ideia de que o bode emissário ajuda a expiar os pecados dos israelitas?
Levítico diz claramente que o bode emissário ``será apresentado vivo perante o
Senhor, para/4zc/ cxp!`c]fõo por meio dele" (Lv 16:10; itálicos acrescentados). Na
teologia cristã de hoje, a palavra "expiação" se refere à atividade salvífica de Cristo
em favor de seres humanos pecadores. Sendo assim, parece uma franca heresia
sugerir que o bode emissário tem alguma parte no processo de expiação. 0 que
devemos manter em mente é que a palavra hebraica traduzida como "expiação"
é ki'ppwr, que significa "purgar", e que o bode emissário tinha, cJc/4fo, um papel
a desempenhar na purgação ou remoção do pecado do santuário, mas apenas no
sentido de que ele era o veículo que carregava os pecados do povo para longe do
acampamento. Esse é, claramente, um aspecto da purgação ou remoção do pecado,
mas não tem relação com o p4g4mc#fo pelo pecado ou com swbsfí`fwí.r pecadores.
Gane comenta: "A tradução costumeira de [kí'ppwr] como `expiar',junto à pode-
rosa associação entre `expiação' e substituição na teologia cristã, tem ofuscado o
significado do ritual do bode vivo para muitos cristãos. Mas, uma vez que perce-
bemos que [k!.ppwr] se refere à remoção do mal e não especifica substituição, que é
somente um tipo de `expiação', o ritual de purificação do bode de Azazel faz bas-
tante sentido."19
Portanto, minha conclusão é:A identificação adventista do bode emissário como
o próprio Satanás (nosso ponto de vista tradicional) ou como "pwfl Satanás" (uma
compreensão mais recente) não é "o cúmulo da blasfêmia" a que nossos críticos
têm se referido. Em vez disso, ela representa uma parte importante do processo de
remover totalmente o pecado do povo de Deus no Dia da Expiação, tanto no tipo
como no antítipo.

0 Dia da Expiação e o problema do mal


Roy Gane escreveu sua tese doutoral sobre Levítico e, depois disso, produziu três
h`-ros sobre esse tópico,2° um dos quais é intitulado C#/f 4Í3d Ch4#4cfcr.. Pwr%c4fí.o#
C#cn.#gs, Day o/4fo#cmc#f, cJ#cJ T7%odi'cy [Culto e Caráter: As Ofertas de Purificação,
o Dia da Expiação e Teodiceia].Várias vezes citei e fiz referência a. esse livro neste
|-apítulo e nos dois anteriores. Repeti o título aqui para chamar atenção para a última
palavra: fcocJÍ'ccÍ.4.
Tenho a impressão de que uma pessoa comum não tem familiaridade com a palavra
riid!.cci.4. 0 dicionário Wcéiffcr define "teodiceia" como "um sistema de teologia natu-
ral que visa vindicar a justiça divina ao esta permitir que o mal exista".2í Parece-nos
que, se fôssemos Deus, alimentaríamos todos os famintos, curaríamos todos os enfer-
mos, a.tenderíamos às necessidades de todos os pobres, também nos livraríamos de
todas as pessoas más e, como os benfeitores supremos da raça humam, ajudaríamos
todos os demais a viver para sempre.Assim, se Deus é bom e todo-poderoso, por que
Ele não realiza o que, para nós, parece uma solução 1ógica para o problema do mal?
Por que Ele permite que o mal continue a existir? A teodiceia é um esforço teoló-
.aco para explicar esse aparente enigma.
Naturalmente, quando £àlamos de Deus como um Deus de 4mor, é importante
mtender que, a fim de ser realmente amoroso, Ele deve amar cada ser humano, não
penas nós e nossos amigos. Ele deve amar até mesmo as pessoas más que existem no
mundo. Além disso, um Deus de amor gostaria de fazer mais do que apenas acertar
a5 contas e aliviar o sofrimento. 0 objetivo supremo de um Deus verdadeiramente
amoroso é livrar completamente o mundo do mal, porque, enquanto o mal existir,
o sofiimento também continuará a existir. 0 problema é que o mal existe em nós,
humanos. 0 mal existe porque #ós somos maus. E não são apenas a,s pessoas a quem
chamamos de más que são más. Toc7oJ #ós estamos infectados com tendências más.
.Uguns de nós ma.nifestamos essas tendências mais do que outros, mas todos as temos.
.lssim, a fim de acabar com o mal que há no m##do, Deus precisa acabar com o mal
que há nos scrcs h#m4#os.
Esse é, de fato, o tema de Levítico: remover o mal dos humanos. Mencionei ante-
riormente que, em Levítico, o método usado por Deus para remover o mal do povo
m`-olvia dois estágios. 0 primeiro era o serviço diário, no qual o pecador era pur-
gado do pecado cometido.A culpa era, então, colocada no animal sacrifical, que tinha
que morrer por conta dela. Isso ilustrava o fato de que Deus levou sobre Si nosso
pecado e pagou a pem de morte que cabia a nós, abrindo caminho para que fôsse-
mos perdoados. E, quando a pena de morte foi paga, o pecado foi transferido para o
8ELESTIAL

santuário, ilustrando o fato de que, em certo sentido, Deus continuava assumindo a


responsabilidade por ele. A essa altura, Deus ainda não tinha lidado de maneira plem
com o problema do mal.Tudo o que fizera fói tomá-1o sobre Si mesmo. Mas Deus
não cometeu nenhum pecado e, por isso, não merecia ser responsabilizado por ele.
Isso nos leva ao segundo estágio do processo divino da eliminação do pecado.
A cada ano, no Dia da Expiação, todos os pecados, pelos quais Deus tinha assumido a
responsabilidade durante os 12 meses anteriores, eram purgados do santuário e pos-
tos sobre um bode vivo, que os levava para um deserto longínquo, para Azazel, que
representa Satanás. Por meio desse processo, o santuário era "purificado" do pecado
do povo, o que significa que Deus os havia removido de Si mesmo, colocando-os
sobre o originador do pecado. E, conforme indicamos anteriormente, Levítico tam-
bém diz que as próprias pessoas também eram plenamente purificadas desses peca-
dos naquele dia (ver v. 30).
Citei, acima, a definição de teodiceia dada pelo dicionário JVcbsícr: ``um sistema de
teologia natural que visa vindicar a justiça divina ao esta permitir que o mal exista".
No entanto, a suprema teodiceia não pode meramente vindicar Deus por Ele permi-
tir que o mal exista.A suprema teodiceia tem de incluir a soJ#ÇÕo de Deus para o pro-
blema do mal para que ele não mais exista.Tdvez seja até desnecessário documentar
o fàto de que, de acordo com as Escrituras, a solução final de Deus para o problema
do mal terá lugar no fim do tempo com o estabelecimento de Seu reino eterno de
justiça. Assim, o Dia da Expiação tem um forte sentido escatológico porque apre-
senta a solução para o problema do mal, além de ocorrer no término do ano religioso
israelita. 0 Dia da Expiação também nos faz lembrar do tema do grande conflito, tal
como ele é entendido pelos adventistas do sétimo dia. De fato, podemos dizer quc`
teodiceia - o tema do grande conflito - é a base do ritual do santuário israelita.
No capítulo 4, indiquei que a doutrina do juízo investigativo somente faz sentido
quando ela é vista a partir da perspectiva do tema do grande conflito. 0 juízo investiga-
tivo, portanto, também é sobre teodiceia. Assim, não deveria ser uma surpresa descobrir
que existe uma relação entre o juízo investigativo e o ritual 1evítico do santuário. Mas,
para que vejamos isso, devemos voltar para o livro de Daniel. Neste capítulo, revisamos a
teodiceia como ilustrada nos rituais do santuário israelita. No prórimo capítulo, exami-
naremos a teodiceia como ilustrada nas profecias de Daniel, colocando juntas essas duas
ilustrações da teodiceia.

\ Seuenth-day Adventist Encyclopedia, s.v. "Sanctu&ry" .


2 Ibid.
3 0s mileritas escolheram esse calendário porque ele preservava a datação original por meio da tradição
continuada desde os tempos do segundo templo, ao passo que ojudaísmo rabínico havia mudado a datação.
4 Scwc#f#-d4y Ádz/g#Íi.sÍ Ericyc/opcdí'a, s.v. "Edson, Hiram" ; itálicos do original.
5 Levítico 16 é nossa fonte primária de informações sobre as atividades do Dia da Expiação.A menos que sçj.
indicado de outra forma, tudo o que se segue é encontrado nesse capítulo.
6 Na página 225 de seu livro C%Jf 4#d Ch¢fitzcfcr, Roy Gane relaciona oito atividades que deviam ocorrer m
Dia da Expiação, as quais Levítico não menciona. Uma delas é o sacerdote sair do santuário para recolhtr
o sangue do novilho.
0 DIA DA EXPIA ÃO E S PR0BLEMA D0 MAL
-Levítico 16 é vago sobre o ritual do lugar santo. Roy Gane fornece uma análise detalhada em seu livro Cw/Í

düd C#4Í4cfer, p. 76 e 77; ver também p. 225, nota 8.


+Vei F`oy Gane, Cult and Chamcter, p. 254.
` Nota do tradutor: As versões bíblicas em português Almeida Revista e Atualizada e Almeida Revista e Cor-
ngida traduzem flz4zc/ como "bode emissário". A Novaversão lnternacional mantém o termo idêntico ao
origiml hebraico, isto é, "azazel".
Dale Ratzlaft "What ls the Meaning of the Cross?", p.16.
Na página 251 de seu livro Cw/f 4#d Cb4Í4cíer, Gane diz: ``A natureza da personalidade de Azazel não é
revelada em Levítico, talvez para evitar o perigo de alguém ser tentado a adorá-1o."
= Roy Gane, Cw/f 4#d C#4r#cícr, p. 250, 251.
-= Gane, Altar Call, p. 250.
` Gane, Cult and Character, p. 247 .
-= Gane, 4/Í4y C4//, p. 250; itálicos do original.
•® Gane, Cult and Character, p. 251.
--Y. Kaufman, T7% RCJiÉt.o~ o/Jsmc/. Chicago: University of chicago Press,1960, p. 114, citado em Gane,

Cult and Character, p. 247, nota 11.


* "Íti`er FL. Martín, lhe Tlruth About Seventh-day Aduentísm, p.188.
`-Gane. Cult and Character, p. 265.
J \'er bibliografia no fim deste livro.
= l+'ebster's New TMorld Dictionary of the American IÁanguage, s.v."Theodiciy" .
r-JL

OD[fiDDAÁi|EP|A7ç#

N;ocna,paíiu::t:::s2e21àver:,ultnudblrqouàle::e4,4?:Ss=:|Seers|t:::n:::::ftearraa=:PGurra|:|::çpoesda:
santuário de Daniel 8:14 como o antítipo do Dia da Expiaçâo levítico. Os adventis-
tas do sétimo dia têm mantido esse ponto de vista desde então. Mas será que ele está
correto? 0 que Daniel 8:14 diz sobre o santuário pode ser razoavelmente interpre-
tado, a partir da própria Bíblia, como o correspondente celestial do Dia da Expiação?
Essa é a pergunta que responderemos neste capítulo.
É possível que a ideia de que o Dia da Expiação em Levítico estava relacionada
com Daniel 8:14 nunca tivesse ocorrido aos primeiros adventistas, não fósse pela
maneira peculiar com que esse verso foi traduzido na versão King]ames: "E ele me
disse: Até dois mil e trezentos dias; então o santuário será p#w/3"do" (itálico acres-
centado).] Com a mente concentrada no Dia da Expiação, esses adventistas compa-
ravam a palavra "purificado" de Daniel 8:14 com o mesm palavra encontrada em
Levítico 16:19 (ARC): "E daquele sangue espargirá sobre ele com o seu dedo sete
vezes, e o purificará das imundícias dos filhos de lsrael, e o santificará."]untando as
palavras "purificado" de Daniel 8: 14, e "purificará", de Levítico 16: 19, eles concluí-
ram que as duas deviam se referir à mesma coisa.Assim, Daniel 8: 14 era sobre a puri-
ficação do santuário celestial! Era sobre o Dia da Expiação celestial! Como é que
não perceberam isso antes!
Naturalmente, por não ter um sólido conhecimento das línguas bíblicas, eles
não sabiam que a palavra hebra.ica traduzida como "purificado" em Daniel 8:14 é
a forma passiva de fs4dciq, ao passo que a palavra hebraica traduzida como "purifi-
cará" em Levítico 16: 19 é f4ftcr. Ts4d¢q significa "ser justo", "ser direito", enquanto
f4#cr significa "ser limpo", "ser puro". As duas ideias são semelhantes, mas não são a
mesma coisa. Assim, o fato de ambas as palavras fàlarem de purificação na versão
King ]ames, como também na versão Almeida Revista e Atualizada em português,
não vem a ser., necessariamente, uma base forte sobre a qual possamos fazer uma liga-
Ção entre Daniel 8:14 e o Dia da Expiação levítico.
Os críticos da antiga interpretação adventista fóram rápidos em apontar esse pro-
blema. Ford, por exemplo, disse que fs4cí4q "não tem nenhuma conexão vital com
o f4hcr do ritual de purificação de Levítico 16. Portanto, f4#cr não é encontrado em
Daniel 8, nem s4cí4q [a maneira com que Ford translitera a palavra hebraica] é encon-
trado em Levítico |6".2
Isso significa que Daniel 8:14 não tem relação com o Dia da Expiação no san-
tuário celestial? De jeito nenhum. Mas a ligação entre as duas coisas é mais sutil
que a aparente semelhança entre as palavras "purificado" e "purificará" em Daniel
c Levítico. Começarei a apresentar o caso dessa ligação compartilhando com você o
que considero ser a mais forte evidência de que Daniel 8:14 está £dando sobre o Dia
da Expiação no santuário celestial.

Levftico. Daniel e teodiceia


No capítulo anterior, mencionei que o dicionário define fcodi'cci'4 como "um sis-
tema de teologia natural que visa vindicar a justiça divina ao esta permitir que o
mal exista".3 Entretanto, indiquei que não podemos restringir teodiceia a uma mera
explicação sobre a maneira como um Deus bom pode permitir que o mal cxi'sf4. Se
Deus é realmente bom, se Ele é verdadeiramente todo-poderoso e se Ele realmente
ama os seres humanos, então Seu objetivo supremo deve ser rcsoJtJcr o problema do
mal, para acabar com ele. Esse é o tema do grande conflito; e, para inim, é a maior
prova da relação existente entre o Dia da Expiação e Daniel 8: 14.
Levítico é um pequeno e simbólico retrato do plano divino de eliminar o mal da
`-ida de Seu povo. A cada dia do ano, os israelitas traziam seus sacrificios para o san-
tuário, e, cada vez que faziam isso, eram purgados e perdoados de seus pecados. Esses
pecados eram ritualmente transferidos para o santuário, onde Deus assumia tempora-
riamente a responsabilidade por eles. Entretanto, no Dia da Expiação, todos os pecados
do ano anterior eram purgados para fora do santuário, sendo removidos para sempre
do acampamento de lsrael. Isso era uma representação simbólica do plano de Deus de,
definitivamente, livrar o Universo do mal.
Daniel 7 mostra um chifre pequeno atacando Deus, a lei e o povo escolhido.
0 capítulo s mostra um pequeno chifre atacando o povo de Deus, o santuário, os
ritos sacerdotais e o sumo sacerdote (o príncipe do exército). Nesses dois capítu-
los, o poder do mal está vivo e bem ativo no mundo, e Deus perinite que assim seja
por algum tempo. Entretanto, em ambos os capítulos, o problema do mal está resol-
`ido. No capítulo 7, ocorre um julgamento no Céu, e o povo de Deus é vindicado,
sendo-lhe garantida a vida eterna, ao passo que o poder da besta e o chifie pequeno
são derrotados e destruídos com fogo; o reino de Deus então é passado para o Filho
do Homem e para os santos. No capítulo 8, a solução para o problema do mal é a
purificação, ou "vindicação", das coisas santas que estiveram sob ataque: o santuário,
os ritos sacerdotais, o sumo sacerdote e o povo escolhido.
Tanto Levítico como Daniel, portanto, mostram representaçõe+s simbólicas do
plano de Deus pa.ra eliminar o mal do Universo, mas a abordagem de cada um é
bastante diferente. Levítico usa rituais religiosos para nos dizer como Deus vai lidar
com o mal, ao passo que Daniel faz o mesmo por meio da profecia apocalíptica.
Entretanto, o resultado final, tanto de Levítico como em Daniel, é o mesmo: o pro~
blema do mal é resolvido. E o ponto é que, se o Dia da Expiação e também Daniel
7 e s tratam do plano de Deus para a eliminação do mal, então era de se esperar que
eles estejam de alguma maneira relacionados. Não deveríamos nos surpreender por
encontrar o Dia da Expiação refletido em Daniel.
Examinemos Daniel detalhadamente, em busca de evidências sobre o Dia da
Expiação nos capítulos 7 e 8.
NA CORTE SELESTIAL

0 0ia da Expiação em Daniel 7


À primeira vista, pode parecer forçado enxergar a visão de Daniel sobre o
Ancião de Dias sentado em Seu trono (capítulo 7) como uma cena do santuário;
que dirá da cena do Dia da Expiação. Portanto, considere a análise a seguir.
Para começar, qualquer cena de Deus sentado em Seu trono é uma cena do santuário
porque, de acordo com os escritores do Antigo Testamento, o trono de Deus estava loca-
lizado em Seu templo, ou seja, no santuário. Isaías, por exemplo, viu "o Senhor Ueová]
assentado sobre um alto e sublime fío#o, e as abas de Suas vestes enchiam o fcmp/o" (Is 6: 1;
itálicos acrescentados). E o salmista disse: "0 SENHOR está no Seu santo fcmp/o; nos céus
tem o SENHOR Seu fro#o" (S111:4; itálicos acrescentados). Esses dois textos deixam claio
que o trono de Deus está localizado no santuário, em Seu templo no Céu.
0 livro de Apocalipse demonstra o mesmo ponto. No capítulo 4, ]oão escreve
ter visto o trono de Deus no Céu, e, entre outras coisas, ele diz que viu "diante do
trono, sete tochas de fogo [ardendo], que são os sete Espíritos de Deus" (v. 5). Essas
sete tochas de fogo são, por assim dizer, a mc#ortib celestial, o candelabro com sete bra-
Ços do santuário terrestre. Em Apocalipse, essas sete tochas de fogo estão "diante do
trono". Portanto, o trono de Deus está no santuário celestial.
Apocalipse s também localiza o trono de Deus no templo celestial. No verso 3,
um anjo com um incensário de ouro está diante do altar. Esse é claramente o altar de
incenso porque ao anjo "foi-lhe dado muito incenso para oferecê-1o com as oraçõG
de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono". A presenç]
de um altar de incenso é uma clara evidência de que a cena é do santuário celestial.
e Apocalipse diz que esse altar de incenso está "diante do trono''. Portanto, não hí
dúvida de que o trono de Deus está localizado no santuário celestial.
Os adventistas têm sempre sustentado que a arca do concerto do santuário terres-
tre é um tipo do trono de Deus no Céu porque a presença visível de Deus apareceu
sobre o propiciatório, entre os anjos querubins. 0 ponto de vista de que o trono de
Deus está localizado em Seu templo, o santuário celestial, tem o suporte das evidên-
cias que acabo de apresentar. Assim, a visão de Daniel do Ancião de Dias sentado no
trono, no capítulo 7, leva-nos para dentro do lugar santíssimo do santuário celestial.
Como o Dia da Expiação é o único ritual de todo o ano religioso judaico que ocor-
ria dentro do lugar santíssimo, devemos considerar a possibilidade de que a visão de
Daniel do trono de Deus, no capítulo 7, envolve o Dia da Expiação terrestre.
Naturalmente, não podemos presumir que cada menção do Antigo Testamento
ao trono de beus no santuário celestial seja uma referência ao Dia da Expiação. Por
exemplo, eu não conheço nada que sugira que a visão que lsaías teve de Deus sentado
em Seu trono, dentro de Seu templo, deva ser entendida como uma cena do Dia da
Expiação. Entretanto, quatro fatores relacionados com a visão de Daniel do Ancião de
Dias em Seu trono endossam a conclusão de que, efetivamente, a cena é essa.
Í. Qw4#do cJ4 ocorrc. Em primeiro lugar está o fato de que a visão diz respeito ao
que ocorre no fim da história do mundo, imediatamente antes do estabelecimento
do reino eterno de Deus. No capítulo anterior, indiquei que o Dia da Expiação, com
sua solução para o problema do mal no fim do ano religioso israelita, tem um forte
DA EXPIA ÃO EM DANIEL 7 E 8

sentido escatológico. E a visão de Daniel do Ancião de Dias sentado em Seu trono


no santuário celestia,l, no fim da história do mundo, exatamente antes do estabe-
lecimento de Seu reino eterno é claramente escatológica. Ela ocorre, portanto, no
momento apropriado da história do mundo como uma cena do Dia da Expiação.
2. Uma cc#a do/.Í#'zo cc/csf!'4J. Em segundo lugar, o Dia da Expiação israelita era um
dia dejuízo. Roy Gane, em seu livro C#Jf 4Í£J C#4Ítzcfcr, intitulou uma seção de um ca-
pítulo de "0 Dia da Expiação é o Dia do ]uízo de lsrael".4 Ele afirma que "Yahweh
quer pessoas que sejam leais e permaneçam leais".5 Ao longo do ano, as pessoas de-
monstravam sua lealdade fazendo o melhor para obedecer às leis morais de Deus e
observar os rituais apropriados quando eram desobedientes. No Dia da Expiação, elas
demonstravam sua lealdade nega.ndo-se a si mesmas e se abstendo de qualquer traba-
lho. Gane conclui:

Quando o [Dia da Expiação] findava, havia somente duas classes de israe-


litas: (1) um remanescente moralmente "puro", isto é, que não tinha
nenhum empecilho em sua rela,Ção comYahweh (Lv 16:30), e (2) os que
não tinham futuro comYahweh e Seu povo (23:29, 30).Assim, vemos que,
dentro do ano cúltico israelita, o Dia da Expiação completa a determina-
Ção dos destinos em âmbito nacional e, nesse sentido, pode ser considerado
como um dia do juízo de lsrael.6

Daniel 7:9 e 10 nos mostra umjulgamento ocorrendo no Céu na presença de Deus,


o Ancião de Dias, que está sentado em Seu trono. 0 resultado é que os poderes do mal
no mundo são condenados e destruídos (v.11, 26), enquanto o povo de Deus é vindi-
cado, e lhe é dado domínio sobre o mundo (v. 21, 22, 27).Assim, novamente, o mundo
é dividido em apenas duas classes de pessoas: os que são 1eais a Deus e os que não são.
De tudo isso, concluo que o dia do juízo de lsra.el no Dia da Expiação é um tipo
do juízo final de Deus, perto do fim da história do mundo, que vemos retratado em
Daniel 7:9 e 10.
3. Os 4#jos. Os dois querubins sobre a arca do concerto diante dos quais o sumo
sacerdote ministrava no Dia da Expiação 1evítico representam os milhões de anjos ao
redor do trono de Deus de Daniel 7:9 e 10 (ver também Ap 5:11).
4. 0 "Ff.J¢o do Homcm". Há um quarto fator que apoia a conclusão de que a
cena do julgamento de Daniel 7 é a de um Dia da Expiação celestial. Na con-
clusão desse julgamento, "um como o Filho do Homem" se aproxima do Ancião
de Dias "com as nuvens do céu" (v.13). Repetidas vezes,]esus aplicou o termo
Fi./#o do Homcm para Si mesmo (ver, por exemplo, Mt 8:20; Lc 6:5). Portanto, esse
"Filho do Homem" de Daniel 7 não é outro senão o próprio ]esus. Sua entrada na

presença de Deus "com as nuvens do céu" nos faz lembrar o sumo sacerdote entrando
no lugar santíssimo no Dia da Expiação, protegido pela nuvem de fumaça que saía do
ricensário. Martin Proebsde comenta: "No contexto de um templo, a vindà de alguém
como o filho do homem `com as nuvens do céu' naturalmente traz à mente a entrada do
sumo sacerdote com a nuvem de incenso, no Dia da Expiação."7
Por essas razões, concluo que a visão de Daniel do Ancião de Dias (Dn 7:9,10)
reflete o modelo celestial do Dia da Expiação no santuário levítico. E, naturalmente,
esses versos descrevem um julgamento celestial.

0 Dia da Expiação em Daniel s


Entretanto, o texto que os adventistas têm associado com o Dia da Expiação desde
os primórdios está no capítulo 8, não no capítulo 7. Assim, a pergunta central é se
podemos achar o Dia da Expiação no capítulo 8.
A primeira coisa a ser notada é que o capítulo s está cheio de imagens sobre o san-
tuário. A visão começa com dois animais do santuário em conflito um com o outro:
um carneiro representando a Média e a Pérsia, e um bode representando a Grécia.
Os dois animais eram preeminentes nos rituais do Dia da Expiação. Sendo ainda
mais específico, o chifie pequeno de Daniel 8 ataca o santuário de Deus, as pessoas,
os rituais (o f¢mí.O e o sumo sacerdote (o "príncipe do exército"). E o santuário sob
ataque, como vimos nos capítulos 13 e 14 deste livro, é o santuário celestial de Deus.
Os adventistas têm afirmado que esse ataque foi cumprido pelo papado medieval
com as distorções que promoveu na mente das pessoas no que diz respeito ao plano
divino de salvação. Entretanto, o poder por trás dos chifres pequenos de Daniel 7 e s
não é outro senão o próprio Satanás, que ataca o povo de Deus continuamente, dizendo
que os filhos de Deus não merecem a salvação. Esse é um ataque direto sobre o santuá-
rio celestial, de onde Deus, o Pai, e o Filho estão levando a efeito o plano de salvação.
Então vem o clamor angustiado do verso 13, que indaga quando essa terrível situação
terminará. A resposta vem no verso 14, que traz a certeza de que, depois de 2.300 dias,
o problema será resolvido; o santuário será purificado, restaurado e vindicado.
Seria essa resolução uma referência ao Dia da Expiação do santuário celestial?
Mencionarei seis razões pelas quais acredito que sim.
1. 4 re/4ÇÕo c#í'sfc#fc c#frc Dcí#/.c/ 7 c D4#í`c/ 8. Tenho fornecido evidências signifi-
cativas de que a cena do tribunal celestial de Daniel 7:9 e 10 é, na verdade, um Dia da
Expiação celestial. Se isso estiver correto, então, o fato de que Daniel 8: 14 vem em um
momento idêntico na linha da história do mundo requer que vejamos esse verso tam-
bém como um retrato da cena do Dia da Expiação.
2. Tcodi'ccÍ.4. Os capítulos 7 e s de Daniel versam sobre o grande plano de Deus de
pôr fim ao pecado e removê-lo do Universo. Isso fica particularmente evidente no
capítulo 7, em que os poderes malignos do mundo são destruídos e seus reinos são
entregues para o Filho do Homem e Seus santos (Dn 7:13,14, 26). Daniel 8 mos-
tra os mesmos poderes malignos atacando o povo de Deus (as estrelas),Jesus Cristo
(o príncipe do exército), o santuário e os rituais (o Íczmj'4). Esse é um ataque con-
tra o ministério de Cristo no santuário celestial! E o verso 14 mostra que o santuá-
rio será vindicado d#rti#fc o fcmpo dofim (ver v.17,19). 0 verso retrata claramente a
solução para o ataque do chifre pequeno e do seu patrocinador, Satanás, ao ministé-
rio mediador de Cristo. Daniel 7 e Daniel 8 são retratos do conflito entre o bem e
o mal apresentado em forma de profecia. Esse é o grande tema adventista do grande
conflito, a suprema teodiceia.
0 DIA DA EXP!À ÃO EM DÀNIEL 7

0 sistema do santuário levítico que purgava pecados de maneira simbólica, tanto


de indivíduos durante o ano como de Deus e do santuário no Dia da Expiação,
também é uma representação simbólica da solução dada por Deus para o pro-
blema do mal, dessa vez, apresentada como um ritual. Portanto, esses rituais eram
a suprema teodiceia. Isso, para mim, é uma ligação poderosa entre Daniel 7 e s e o
Dia da Expiação.
3. 0 4f4q#c do c#frc..proàJcm4 c so/í/Ção.Já indiquei que o chifie pequeno de Daniel 8
ataca o povo de Deus, o santuário, os rituais do santuário e o sumo sacerdote. Isso cria
um enorme problema que precisa de uma resposta, a qual vem no verso 14. Na tradução
de muitas versões da Bíblia, esse verso menciona apenas a restauração ou vindicação do
_`-4#fwórí'o. Entretanto, se considerarmos o contexto, o verso parece ter em vista todos os
problemas causados pelo chifi-e pequeno. Isso fica especialmente evidente pelo fato de
que o texto literalmente diz:"e o s4#fo [qodesft, em hebraico] será vindicado", não "e o
!-4#f#ór!.o [mi.qdosÃ] será vindicado".A palavra ``santo" sugere que tudo o que foi atacado
pelo chifie pequeno seria restaurado ou vindicado, não apenas o santuário. Proebstle
observa que "existe apenas um ritual cúltico [do santuário] pelo qual todas essas enti-
dades retomam legitimamente seu sentido original: o Dia da Expiação. Em outras pala-
`Tas, os objetos de purificação no Dia da Expiação -o santuário e o povo de Deus -e
a vindicação do próprio Deus correspondiam conceitualmente ao objeto do ataque do
chifie de Daniel s e ao alvo pretendido, ou seja, aquilo que é restaurado a seu lugar cor-
reto em 8:14c, isto é, o santuário, o exército e o próprio Deus".8
4. 4 so/#fõo pww "fr##sgrcssõo 4sso/4dor4". Em capítulos anteriores, indiquei que a
palavra hebraica pcs#4' significa um pecado de rebelião deliberada contra Deus. Ela
é corriqueiramente traduzida como "transgressão" em português. Também já indi-
quei que nenhuma provisão foi feita em todo o ano levítico para que os pecados
pcsh4' fossem purgados e perdoados. 0 sistema sacrifical tratava somente dos peca-
dos hatta't e au/on.
Ein todo o livro de Levítico, a palavra pcsft4' ocorre apenas duas vezes, ambas em
conexão com o Dia da Expiação (Lv 16:16, 21).Você deve lembrar que os peca-
dos pcsÃ4' eram transferidos para o santuário no mesmo momento em que eram
cometidos, e que todos os pecados, inclusive os pes#4', eram expurgados do santuá-
rio no Dia da Expiação. 0 significado desse detalhe é que, em Daniel 8:13, o ata-
que do chifre é chamado de pecado pcsÃ4', a "transgressão assoladora".As atividades
do chifre eram claramente uma explícita rebelião contra o Deus do Céu, o povo
escolhido, o san.tuário e o sumo sacerdote, uma indicação de que a palavra pesh4'
é totalmente apropriada.
Agora preste atenção: Daniel 8:14 diz que todos os pcsh4' deveriam estar solucio-
nados depois de 2.300 tardes e manhãs. E, naturalmente, no santuário terrestre, era o
ritual do Dia da Expiação que removia os pecados pcsh4' como também os pecados
/i4ff4'f e 4twíG do acampamento de lsrael. Isso sugere que a purificação/restauração/
`indicação do santuário de Daniel 8:14 se refere ao processo do Dia da Expiação.
Proebstle diz: "0 santuário só pode ser purificado do pcs#4' no Dia da Expiação.
Portanto, se o pcsft4' de Daniel 8 é tratado de uma maneira cúltica [no santuário], e
CELESTIAL

o contexto realmente assim sugere, [então] pcs#4' tem que ser colocadoj t
atividade do Dia da, Expiação, o único ritual cúltico que trata do pcsÃ4'.'
J. Qodesh cm D4#i.c/ 8..14. No capítulo 16 deste livro, observei que a p
tuário" no verso 14 é uma tradução da palavra hebraica qodcs#, que signifi
"sagrado". Essa palavra ocorre várias vezes em Levítico 16, sete das qua
rências claras ao lugar santíssimo (v. 2,16,17, 20, 23, 27, 33).Além
palavra qocícsft ocorrem várias vezes em Levítico 16, como nos versos 4 e 3
ela é um adjetivo descrevendo as vestes de Arão como "vestes s4#/4j".Assi
qodcsà em Daniel 8:13 e 14 fornece o que Proebstle chama de ``conexão
gica"í° entre esses dois versos e o Dia da Expiação de Levítico 16.
6. 4 fí4cÍ#fõo grcgcz. Embora as palavras traduzidas como "purificará" e "
em Levítico 16: 19 e Daniel 8: 14 sejam diferentes no original hebraico, a S
que é a tradução original do Antigo Testamento para o grego, usa a mes
kcíf##i.zo, tanto em Levítico como em Dariel. Esse é, sem dúvida, um dos
influenciaram os tradutores da versão KingJames a usar a mesma palavra
inglesa de Daniel 8:14.`` Presume-se que os eruditos judeus, ao traduzire
Testamento para o grego, estavam bastante conscientes da diferença entre
de Levítico e Daniel, e o fato de que usaram a mesma palavra no grego
eles viram o mesmo significado tanto em Levítico como em Daniel.
Fiz uma relação de seis sugestões para entendermos que Da,niel 8:14
um processo do Dia da Expiação no santuário celestial. Aqui estão elas,
to resumido:

1. A cena do julgamento de Daniel 7:9 e 10, que ocorre no fim


ria do mundo, é a réplica celestial do Dia da Expiação terrestre
cação do santuário de Daniel 8:14 ocorre precisamente no me
da linha da história da Terra e, por isso, pode ser considerada c
aspecto do Dia da Expiação do Céu.
2. Levítico 16 e Daniel 7 e s fórnecem alguns retratos do plan
para livrar o Universo do mal, e isso é fcodí`cci.4. Portanto, Danie
bém é sobre teodiceia, o Dia da Expiação celestial.
3. Daniel 8:14 resolve todas as questões envolvidas no ataque
pequeno dos versos 10 a 12. 0 Dia da Expiação no santuário
o único "ritual cúltico pelo qual todas essas entidades retomam
mente seu sentido origina|".12
4. No sistema dos rituais levíticos, o Dia da Expiação era o úni
tava dos pecados j)csh4', não por meio do perdão, mas removen
sempre do povo israelita.
5. 0 uso da palavra qodcsh, ``santo'', em Daniel 8: 14 fornece um
entre esse verso e Levítico 16, em que qocJcs# é usado muitas vez
referência ao santuário e, especialmente, ao lugar santíssimo.
6. A Septuaginta usa a mesma palavra grega para "purificará'
cado" de Levítico 16:19 e Daniel 8:14.
ÃO EM DANIEL 7 E 8

Essas são minhas razões para concluir que Daniel 7 e 8, especialmente 8:14, são
sobre o Dia da Expiação celestial.

0 entendimento de Desmond Ford sobre Daniel 7 e s e o Dia da Expiação


Embora Desmond Ford faça objeção a aspectos significativos da interpretação
adventista de Daniel 7 e 8, o juízo investigativo e o Dia da Expiação, ele concorda
que Daniel 8:14 é sobre o Dia da Expiação celestial. No seu livro D4Í¢i'c/, publicado
pela Southern Publishing Association, Ford disse:

Se o santuário é o microcosmo do reino de Deus, então sua purificação,


vindicação e restauração devem apontar para o reestabelecimento desse
reino sobre o reino dos homens.
Além disso, deveríamos esperar encontrar algo nos serviços típicos do san-
tuário que abranja todos os conceitos até agora especificados, algo que
pudesse apontar para um fim do pecado, uma expiação, uma reconcilia-
Ção e um novo começo com alegria pelajustiça e tristeza por aqueles que
recusaram as provisões do santuário. [Note a ênfase de Ford à teodiceia.]
Havia algum ritual familiar no santuário que fàlasse sobre todas essas coisas
para o judeu? De fato, havia! 0 Dia da Expiação, o serviço crucial do sétimo
mês, era, para o judeu, um sumário da salvação. Datado para o fim do ano reli-
gioso, esse ritual apontava para o fim do tempo. Pertencia ao segundo com-
plexo de festas, cada uma das quais tinha um significado escatológico. [...].
Aqui estavam, pois, em tipo, a purificação, vindicação e restauração do
santuário. [...].
Levítico 16 é, de fato, a pista final para a exposição de [Daniel] 8:14.Apon-
tando para a grande expiação feita em nosso favor por Cristo no Calvá-
rio, o bode antitípico do Senhor [Lv 16], também prefigura a última obra
de Cristo, nosso sumo sacerdote, por nós e faz um retrato da colocação
da responsabilidade pelo pecado sobre seu verdadeiro instigador, o verda-
deiro chifre pequeno, o próprio Satanás. Dessa ma,neira, o caráter de Deus,
por tanto tempo espezinhado pelo escândalo do pecado, será vindicado.í3

0 1ivro de Ford, D4#í.cJ, foi publicado em 1978, apenas dois anos antes de ele
apresentar seu manuscrito no acampamento de verão de Glacierview, Colorado. Em
Glacierview, ele manteve sua opinião de que Daniel 8:14 aponta para um Dia da
Expiação celestial:

Embora nos dias da posição original dos adventistas sobre Daniel 8:14
muitos eruditos daquele tempo rejeitassem qualquer significado escato-
1ógico para esse texto, a última metade do século tem visto uma inversão
dessa tendência. Hoje, muitos eruditos não adventistas reconhecem Daniel
8:14 como escatológico, aplicando o estabelecimento do reino de Deus,
e sendo equivalente em significado ao retrato do juízo de Daniel 7:9 a 13.
CORTE

Em resumo, Daniel 8:14 aponta para o mesmo juízo de Daniel 7:9 a 13, um
juízo sobre poderes malignos que resulta no estabelecimento do reino de
Deus e na vindicação dos santos. Esse evento é o Dia da Expiação antitípico,
o qual, embora tenha sido cumprido na cruz, é consumado no juízo final.t4

Daniel 8: 14 de fato aponta para a purificação final do Universo, do pecado


dos pecadores, o que estava prefigurado no antigo Dia da Expiação, aquele
drama da paixão antigo que era o clímax do culto de lsrael e que, uma vez
a cada 49 anos, trazia o grande jubileu de liberdade e alegria.í5

Uma restrição que eu faria para essas declarações, especialmente para o que Ford
disse em Glacierview em 1980, é que ele entende que o Dia da Expiação começou
com a cruz, ao passo que os adventistas do sétimo dia entendem que ele começou em
1844. Ford baseia em Hebreus sua conclusão sobre o começo do Dia da Expiação
com a cruz. Examinaremos Hebreus nos capítulos 28 a 31 deste livro.

Conclusão
0 Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844 proveu uma correção
imediata e necessária para o ponto de vista de Guilherme Miller de que o santuário
de Daniel 8:14 representava a Terra, a qual seria purificada com fogo por ocasião da
segunda vinda de Cristo. Em não mais que 24 horas, Hiram Edson chegou ao enten-
dimento de que o santuário estava no Céu e que, "em vez de nosso Sumo Sacerdote
5.4f'r do santíssimo do santuário celestial para vir àTem no décimo dia do sétimo mês,
no fim dos 2.300 dias, Ele, pela primeira vez naquele dia, c#fío# no segundo compar-
timento daquele santuário"." Os primeiros adventistas juntaram pwr#mcío de Daniel
8:14 com a palavra pwr#cmó de Levítico 16:19 e concluíram que Daniel 8:14 apon-
tava para um Dia da Expiação antitípico. Desde aquele tempo até os dias de hoje, os
adventistas têm insistido que Daniel 8:14 de fato aponta para o Dia da Expiação no
santuário celestial.
Como mencionei no começo deste capítulo, estudiosos da língua hebraica têm
desafiado essa interpretação indicando que há uma diferença entre as palavras do ori-
ginal hebraico para "purificar" e "purificado" em Levítico e Daniel. Contudo, parece-
me que houve algo de providencial quanto â interpretação milerita e dos primeiros
adventistas. Ci:eio que Deus queria que nossos pioneiros adventistas fizessem a asso-
ciação entre o Dia da Expiação em Levítico e o juízo e a restauração do santuário em
Daniel. É quase certo que eles não teriam feito essa conexão na.quele tempo se a ver-
são KingJames não usasse a palavra "purificado" em Daniel 8:14. É bem possível que
a mais ampla evidência que apresentei neste capítulo nunca lhes tivesse ocorrido m
década posterior a 22 de outubro de 1844. Foi, portanto, vantajoso para eles não terem
compreendido que as palavras "purificar" e "purificado" em Daniel e Levítico vinham
de duas palavras hebraicas diferentes. Essa distinção tem sido apontada repetidas vezes
desde 1844, mas ela #õo Í.#4iti/i.cJ4 4 co#c/#sõo oríÉÍ.ffczJ. A comparação entre Levítico 16 e
Daniel 7 e s que fiz neste capítulo sustenta a validade da conclusão original.
0 DIA DÀ EXPIÃCÃO EM DÁNIEL 7

Hoje não precisamos depender exclusivamente dos termos de Daniel e Levítico


para estabelecer a conexão entre o Dia da Expiação do Antigo Testamento de
Levítico e o grandioso Dia da Expiação celestial de Daniel 7 e 8. Além disso, essa
compreensão mais ampla do Dia da Expiação 1evítico e das profecias de Daniel coin-
cide perfeitamente com o tema do grande conflito sobre o qual a teologia adven-
tista está baseada. Daniel 7 e s compartilham a teodiceia de Levítico 16, o plano de
Deus para resolver o problema do mal e restaurar Seu povo à perfeição original que
Adão e Eva possuíam.
Minha conclusão, portanto, é que há uma forte base bíblica para o posiciona-
mento adventista de que Daniel 8:14 aponta para o Dia da Expiação escatológico.

' Nota do tradutor: A versão Almeida Revista e Atualizada diz: "Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes
c manhãs; e o santuário será purificado."
2 Desmond Ford, "Daniel 8:14", p. 349.
3 Webster's Neu) TMorld Dictionary of the American l.anguage. s.v."Tbeodícy" .
+ FLoy Gane, Cult and Chamcter, p. 305-309.
s lbid., p. 306
6 ibid., p. 306, 307.
-Martin Proebstle, "Truth and Terror", p. 659.
i lbid., p. 491.
9 ibid„ p. 492, 493.
" Ibid., p. 493.
" Nota do tradutor: 0 mesmo se aplica às versões Almeida Revista e Atualizada e Almeida Revista e Cor-
rigida, em português.
i2 ibid., p. 491.
L` Ford, D4#Í`c/, p.175.
" Ford, "Daniel 8:14", p. 645.
'S ibid., p. 397.

" Sct/eí?fíí-d4y 4cJ#ewfi.sf EÍcçyc/opedi.4, s.v. "Edson, Hiram"; itálicos do original.


A REMOçÃO
DOS PECADOS

L:roqa:.ósu:aGá::dán?:::p;entê::,notojuorsa:,dev:n5s|taasdsaa:axt;Sitaa;ã:o.::eçs::àméaree:Sol:
ver os pecados confessados e perdoados do justo. Esse é um dos conceitos teológicos
básicos que eles desenvolveram para explicar o que aconteceu em 22 de outubro de
1844 (ver capítulo 6).
Os adventistas ainda sustentam a ideia de que os pecados do povo de Deus serão
removidos ao ser concluído o juízo investigativo. Dois exemplos serão suficientes.
0 primeiro ê do Tratado de Tleologia Aduentista do Sétimo Dia..

A purificação [do santuário] celestial [...] envolve um apagamento de pe-


cados dos registros celestiais. Subjetivamente, o pecador recebe perdão pessoal
a cada arrependimento e confissão diária de pecados, sendo salvo no Senhor;
ot)jetivamente, os pecados registrados e perdoados no Céu são apagados assim
que a causa do professo seguidor é apresentada no juízo pré-advento.t

]á faz mais de cem anos que E11en White escreveu seus livros e, no entanto,
visto que seus pontos de vista são autoritativos para os adventistas do sétimo dia,
aquilo que ela disse sobre a remoção dos pecados continua a ter relevância para
nós. Escrevendo no capítulo sobre o juízo investigativo no livro 0 Grflí?dc Co#L#i.fo,
ela disse: "Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido do pecado e
que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como Seu sacrificio expiató-
rio, tiveram o perdão acrescentado ao seu nome nos livros do Céu; tornando-
se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o seu caráter em
harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados e eles próprios havi-
dos por dignos da vida eterna.''2 Ela também disse: "Pecados de que não houve
arrependimento e que não foram abandonados não serão perdoados nem apa-
gados dos livros de registro, mas ali permanecerão para testificar contra o peca-
dor no dia dé Deus.„3
Que fazer com a ideia de que os pecados do povo de Deus não serão apagados até
a conclusão do juízo investigativo? Significará que, pelos milhares de anos passados
os pecados do povo de Deus ficarão registrados contra eles, aguardando uma decisão
pelo juízo investigativo? Será que a Bíblia ensina que nossos pecados são apagados no
momento em que Deus os perdoa? Que tipo de certeza da salvação o povo de Deus
pode ter, se seus pecados ainda permanecem gravados nos livros de registro do Céu
depois de terem sido confessados pelo crente, e esses terem recebido o perdão de
Deus? Indiquei no capímlo 3 que qualquer ensinamento é fàlso se ele compromete
Ã0 00S PECADOS

o evangelho da justificação pela fé e leva a uma ansiedade desnecessária de parte do


povo de Deus. Portanto, devemos entender esse assunto da remoção dos pecados à
luz do evangelho.

0 que diz a Bíblia


A Bíblia fala de nomes e de pecados sendo apagados do registro de Deus no Céu.
Por exemplo, quando lsrael adorou o bezerro de ouro no sopé do monte Sinai,
Deus disse: ``Deixa-Me que o destrua e 4p4gwc o scw #omc de debaixo dos Céus"

|(Pet:';:;1atá;1::Su:::esncaeo:t:,:,o"S-)#;:Sçé:-itnet,eá:e:|::.C::eDe:curs:;`eê,ge?,r:ipxo;si?3e2r:|0,::
lico acrescentado).4
A Bíblia também fàla de apagar (ou remover, riscar) pcc4dos. Por exemplo, ao con-
fessar sua relação adúltera com Bate-Seba, Davi orou: "Segundo a multidão das Tuas
misericórdias, 4p¢g4 4s mí.##4s frji#ígr€ssõcs. [...]. Esconde o rosto dos meus pecados e
4p4g4 fod4s 4s mí`##cÜ Í.#!.qwí.d¢dcs" (Sl 51 :1, 9; itálicos acrescentados).5
Quando é que Deus apaga os pecados de Seu povo? Em lsaías 43:25, Deus diz:
"Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim e dos teus

pecados não Me lembro." Esse texto sugere que os pecados do povo de Deus são
apagados no momento em que são confessados e perdoados. Pedro sugere o mesmo.
Em um de seus sermões para o povo de Jerusalém, ele disse: "Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do
Senhor, venham tempos de refi.igério" (At 3:19, 20). Isso implica que, assim que as
pessoas se arrependem e se convertem, seus pecados são apagados.
Comentando a declaração de Pedro, o Comc#fórí.o Bi'bJÍ.co 4dyc#fi.sf# do Séfí.mo Dí`4
diz: ``0 resultado imediato para os que aceitaram o apelo de Pedro ao arrependimento
foi o perdão dos pecados. Nesse sentido, pode-se considerar que o cancelamento dos
pecados ocorreu imediatamente. Contudo, em seu sentido final, o apagar definitivo
dos pecados ocorrerá logo antes do segundo advento de Cristo, em conexão com o
encerramento de Sua obra como sumo sacerdote."6 Isso, naturalmente, é a teologia
padrão adventista quanto à remoção dos pecados.
O /'wíg4mc#fo c os pcc4dos dos s4#Íos. Desconheço qualquer declaração explícita
na Bíblia que diga que os pecados dos santos serão mantidos nos livros de registro
do Céu até o juízo. Entretanto, essa é uma conclusão razoável extraída daqui-
lo que sabemos sobre o juízo e daquilo que sabemos sobre o Dia da Expiação.
A pergunta-chavé é: Os pecados dos santos serão trazidos para ser revistos no juízo?
Se os pecados dos santos não forem revistos no juízo, então é razoável concluir que
eles foram perdoados e apagados dos livros de registro do Céu no momento em
que foram confessa,dos. Por outro lado, se os pecados dos santos forem revistos no
juízo, é razoável concluir que eles são mantidos nos livros de registro de Céu até
o julgamento.
No capítulo 11 deste livro, apresentei evidências de que os pecados de todos os
que têm professado ser seguidores de Deus - o povo de Deus -sc~Õo revistos no juízo,
como claramente afirmam os seguintes textos:
Eclesiastes 12:14 -"Porque Deus há de trazer ajuízo todas as obras, até as
que estão escondidas, 4#cr se/.4m bo4s, q%cr scj4m mós" (itálicos acrescentados).
Mateus 12:37 -"Pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras,
serás condenado."
2 Coríntios 5:10 - "Porque importa que todos nós compareçamos
perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba scgw#cío o bcm ow o
mci/ que tiver feito por meio do corpo" (itálicos acrescentados).

Portanto, a Bíblia deixa claro que o juízo levará em conta fodos os pecados, inclu-
sive os pecados dos santos. Para que isso aconteça, naturalmente, esses pecados têm
que ser mantidos nos livros de registro do Céu até o juízo e serão apagados como
uma consequência do juízo. A Bíblia não diz se os pecados de cada pessoa serão
apagados no momento em que o nome dela fór considerado ou se os pecados
de todos os santos serão apagados de uma só vez quando o juízo for concluído.
No entanto, o ritual do Dia da Expiação sugere que a remoção será corporativa, isto
é, feita de uma só vez.
0 Dí.4 d4 Exp!`ciçõo. Nos rituais levi'ticos, a remoção completa do pecado do povo
era um processo de três etapas. As duas primeiras ocorriam todos os dias do ano.
Na primeira, o pecado era transferido do pecador para um animal, que então era imo-
lado.A segunda etapa, imediatamente após a primeira, era a transferência do pecado da
vítima sacrifical para o santuário. A terceira etapa era a remoção corporativa dos peca-
dos de todo o povo de Deus do santuário, onde esses pecados foram acumulados ao
longo do ano. Isso ocorria uma. vez por ano, no Dia da Expiação. 0 sumo sacerdote
depositava esses pecados no bode emissário, que os levava a Azazel.
A Bíblia não deixa dúvida sobre o significado da primeira etapa no antítipo.A trans-
ferência de pecado de um pecador para a vítima sacrifical representava Cristo levando
nossos pecados sobre a cruz e pagando a pena de morte por eles (ver lpe 2:24; Is 53:12).
Entretanto, a Bíblia não discute o significado antitípico da transferência do pecado
para o santuário no serviço diário, nem discute o significado antitípico da transferên-
cia de pecado do santuário para Azazel uma vez por ano, no Dia da Expiação. Mesmo
assim, as duas coisas eram partes importantes do ritual 1evítico que deviam ter algum
equivalente no plano de salvação.
Como primeiro passo na tentativa de uma explicação, é importante notar que a
transferência qe pecado da vítima sacrifical para o santuário ocorria dcpoi.s da morte
do animal. Somente pecados perdoados eram transferidos para o santuário por
meio do processo sacrifical. Portanto, não importa a maneira pela qual essa trans-
ferência de pecado da vítima sacrifical para o santuário seja cumprida no santuário
celestial, ela acontece por c4#s4 d4 morte de Cristo, e os únicos pecados que são trans-
feridos são os que foram perdoados.
No capítulo 19, compartilhei com você uma declaração de Roy Gane que é rele-
vante aqui: "Por meio [...] das ofertas de purificação desempenhadas no santuário,
a imperfeição removida dos ofertantes era transferida para o santuário de Yahweh.
Agora, a imperfeição, de uma fórma controlada, está no `campo' Dele, ou seja, passa
a ser um problema Dele." Comentando a declaração de Gane, eu disse: "Ao aceitar
o pecado dentro do santuário, Deus tomou a imperfeição moral do pecador sobre
Si mesmo. 0 pecador foi perdoado, não precisando mais responder pelo erro come-
tido. Deus assumiu a responsabilidade pelo pecado, e essa responsabilidade perma-
neceu sobre Ele até o Dia da Expiação, quando foi removida até mesmo de Deus."
Novamente, a pergunta é: Qual é o significado de tudo isso no antítipo, o santuá-
rio celestial? 0 que significa para Deus aceitar a responsabilidade por nossos peca-
dos? E o que significa a remoção desses pecados do santuário celestial durante o Dia
da Expiação do Céu?
Desde o princípio, os adventistas do sétimo dia têm dito que a transferência dos
pecados já perdoados p4rfl o santuário celestial significa o registro deles nos livros do
Céu, e a transferência do pecado pcw/orfl do santuário no Dia da Expiação repre-
senta a remoção desses pecados desses livros por ocasião do Dia da Expiação do Céu,
o juízo investigativo. Isso é uma interpretação, visto que nem o Antigo Testamento
nem o Novo Testamento realmente dizem isso. Contudo, essa me parece ser uma
±Üterpreta,ç~a,o raLzoãNel, desde que possa estar em harmonia com o euangelho.

A rcmoção dos pecados e o evangelho


A ideia de que os pecados do povo de Deus não serão removidos até o juízo sus-
cita uma pergunta muito significativa sobre o evangelho dajustificação pela fé: Como
o povo de Deus pode ter a certeza da salvação no decorrer da vida, considerando
que seus pecados não serão apagados até que seu caso tenha sido finalizado no juízo?
Note essa declaração que lsaías atribui a Deus:"Desfaço as tuas transgressões como
a névoa e os teus pecados, como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi"
(Is 44:22) . Note a última frase do verso: "Torna-te para Mim, porque Ew fc r€mí`."Algu-
mas vezes Deus fflou sobre redimir Seu povo no sentido de livrar da escravidão egíp-
cia ou do cativeiro babilônico. Entretanto, no contexto da remoção de pecados da
primeira parte desse texto, fica evidente que, quando Deus disse "Eu te reiri", Ele
tinha em mente o perdão de pecados. Mas Deus tinha, realmente, redimido lsrael
dos pecados no tempo em que lsaías escreveu essas palavras? Não. 0 ato redentor
de Cristo na cruz ainda estava várias centenas de anos no futuro. Como, então, Isaías
pôde fàlar de redenção do pecado como um fato consumado?
Sugiro duas razões. Primeira, conforme Paulo indica em Romanos 4:17, Deus
"chama à existência as coisas que não existem''. Deus Se referiu à redenção de
lsrael como um fato consumado porque Ele pode falar daquilo que é futuro como
se fosse presente.
Esse fato nos leva à segunda razão: Deus sempre dá a Seus filhos a certeza de que
eles rcccéJCMtzm todos os beneficios da salvação, mesmo se a tra,nsação legal que garan-
tirá um ou mais daqueles beneficios ainda esteja no futuro. Imagine Deus dizendo
para os israelitas do Antigo Testamento: "Sua redenção ainda não aconteceu, mas Eu
yo# /hcs redimir algum dia, no futuro." Isso seria tecnicamente correto, uma vez que
Cristo ainda não havia morrido. Mas que tipo de certeza isso teria passado para os
santos de Deus do Antigo Testamento? Deus, então, proclamou confiantemente por
NA ComE CELESTIAL

intermédio de lsaías, "Eu te remi", embora a transação legal que garantiria essa reden-
ção ainda estivesse várias centenas de anos no futuro.
Nesse mesmo sentido, proponho que Deus tenha proclamado por intermédio de
lsaías que os pecados de lsrael/`ó fí.#Ãcím 5!.do czp4gtzdos, embora, nesse caso, a transação
legal mediante a qual esses pecados seriam realmente apagados ainda estivesse mui-
tos anos no futuro.
Então por que os pecados do povo de Deus têm de ficar preservados no registro do
Céu, uma vez que já foram perdoados? Novamente, proponho que não seja porque
Deus dcscjc trazê-los outra vez à tona, mas porque Satanás os f~tzMá à tona na presença
dos anjos, no juízo investigativo pré-advento, e Deus deverá responder a essa acusação.
Entretanto, isso não precisa ser uma ameaça à certeza que o povo de Deus tem quanto a
sua aceitação por Deus. Note, mais uma vez, a declaração de Ellenwhite que citei algu-
mas páginas atrás: "Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido do pecado e
que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como seu sacrificio expiatório, tive-
ram o perdão acrescentado ao seu nome nos livros do Céu; tornando-se eles partici-
pantes dajustiça de Cristo, e verificando-se estar seu caráter em harmonia, com a lei de
Deus, seus pecados serão riscados e eles próprios havidos por dignos da vida eterna."
0 ponto importante é que os pecados apagados no juízo final são aqueles dos
quais o povo de Deus já se arrependeu e que já foram perdoados pelo sangue de
Cristo, sendo, consequentemente, registrados nos livros do Céu como perdoados. São
apagados no juízo os pecados dos indivíduos que se tornaram "participantes da jus-
tiça de Cristo", aqueles cujos caracteres estão "em harmonia com a lei de Deus".8 No
juízo, quando Satanás declara o povo de Deus como seus súditos por conta de "todos
os pecados que ele os tentou a cometer",9 os infdíveis registros do Céu mostrarão
que os filhos de Deus já se arrependeram desses pecados e já os confessaram. Nos
registros celestiais, a palavra "perdoado" já estará estampada ao lado de cada um
desses pecados, comprovando que as alegações de Satanás não têm nenhuma base.
Visto que o povo de Deus tem um Mediador no santuário celestial, eles podem ter
absoluta certeza de que as deturpações de Satanás serão totalmente expostas como
falsas, e os anjos pronunciarão a completa inocência do povo de Deus.

A remoção dos pecados e a teodiceia


Ao considerarmos o assunto da remoção de pecados, é importante manter em
mente que o propósito mais amplo de Deus ao efetuar umjuízo investigativo é a teo-
diceia, pois Ele quer resolver o problema do mal. Em última análise, Deus não quer
meramente apagar os pecados de Seu povo; Ele quer eliminar totalmente o pecado
do Universo. E11en White compreendeu isso de maneira muito clara. Em seu livro
0 Gr4Í£cíc Co#J]í.fo, ela escreveu: "Quando Cristo, pelo mérito de Seu próprio san-
gue, remover do santuário celestial os pecados de Seu povo, ao encerrar-se o Seu
ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo, deverá encarai
a pena final. 0 bode emissário era enviado para uma terra não habitada, para nunca
mais voltar à congregação de lsrael. Assim Satanás será banido para sempre da pre-
sença de Deus e de Seu povo, e c/í.mi'#4do cÍ4 cxí'síé#c!.4 na destruição final do pecado
ÃO DOS PECADOS

e dos pecadores."" Portanto, a eliminação final do pecado ocorrerá quando, no lago


de fogo, o próprio Satanás for eliminado da existência.
Sem dúvida, você sabe que os adventistas dividem o processo do juízo final em
três fases: uma fase investigativa antes da segunda vinda de Cristo, na qual é dada aos
anjos a oportunidade de revisar os registros do Céu (ver Dn 7:9,10); uma segunda
fase durante o milênio, quando é dada ao povo de Deus a oportunidade de revisar
esses registros (ver Ap 20:4) e uma terceira fase, após o milênio, quando Deus fará
com que a história do pecado naTerra seja exibida de maneira panorâmica diante dos
olhos dos ímpios." A isso se seguirá o lago de fogo, quando o pecado e os pecadores
serão destruídos (ver Ap 20), o que deixará a Terra purificada novamente. Essa será a
suprema e final remoção do pecado.
Edward Heppenstall, professor do Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia
da Universidade Andrews entre 1950 e 1960, escreveu:

A remoção do pecado envolve mais do que o perdão. Ela envolve tam-


bém o banimento do pecado e de Satanás. Por causa de Sua graça, o pro-
pósito de nosso Senhor não é o de apenas perdoar o pecado, mas triunfar
sobre ele e erradicá-1o. 0 ministério de Cristo trará o Universo de volta a
uma completa harmonia com Deus. [...]. 0 pecado e os pecadores fmal-
mente serão isolados, banidos e destruídos. [...]. 0 ministério [de Cristo]
não cessará até que o pecado seja eliminado do Universo. Se há um lugar
no santuário levítico e em seus serviços onde essa verdade é ensinada e
simbolizada, esse lugar está no Dia da Expiação.t2

A questão dos pecados do povo de Deus no juízo é crucial porque qualquer mal-
entendido pode comprometer a certeza da salvação que Deus quer que todos nós
experimentemos. Alguns adventistas do passado sustentaram sérios equívocos sobre esse
tema, e o resultado tem sido uma ansiedade no que diz respeito à aceitação deles pelo
Senhor. Isso é bastante lamentável. Entretanto, esses equívocos não são diferentes de
outros, concernentes a ensinamentos bíblicos que o povo de Deus tem mantido ao
longo de séculos, que também têm levado a uma ansiedade espiritual desnecessária.
Satanás está tentando constantemente distorcer nossa compreensão da Palavra e, com
muita fi-equência, tem obtido êxito. 0 desafio para todos os cristãos é chegar a um
entendimento correto da Palavra de Deus, de modo a poder experimentar a paz que
excede todo o ent.endimento. Às vezes, leva um pouco de tempo até que o entendi-
mento amadureça, tanto na mente das pessoas como em nossos ensinamentos corporati-
`.os. Isso tem sido verdade quanto ao ensinamento adventista sobre o juízo investigativo
e temas a ele relacionados, como a remoção dos pecados. Insisto, porém, que esses ensi-
rmmentos são biblicamente corretos quando compreendidos apropriadamente.

--FLaoul Dederen, ed. Triratado de Tleologia Adventista do Sétímo Dia, p. 936.

: EIlen G.White, 0 Grtiíidc Co#jJÍ.fo, p. 483.


3 ibid., p. 486.
4 Com referência à remoção de nomes, ver também 2Rs 14:27; S19:5; 69:28; 109:13;Ap 3:5.
5 Com referência à remoção de pecados, ver também Ne 4:5; S1109:14,. Is 43:25;]r 18:23.
6 Francis D. Nichol, ed. Comc#fórí.o Bi'b/i.co 4dt;c#ft.5f4 do Sétimo Dia, v. 6, p.149.
7 FLoy Ga.ne, Cult and Character, p.177 .
8 Para que não haja mal-entendidos, convém notar como E11en White define um caráter em harmonia com
a lei de Deus: "0 caráter de Cristo substituirá seu caráter, e você será aceito diante de Deus como se não
tivesse pecado" (C4mi.#ho 4 Cr!.sfo, p. 62). Os que possuem um caráter em harmoma com a lei de Deus são
aqueles que têm seu caráter substituído pelo caráter de Cristo. Isso não é negar a importância, por parte
do povo de Deus, de se esforçar por desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo. Isso quer dizer que a
nossa situação no juízo dependerá de termos, ou não, substituído o nosso caráter pelo de Cristo e não do
nível de desenvolvimento do caráter que tenhamos, ou não, alcançado.
9 Whíce, 0 Grande Conflito, P. 484.
t° Ibid„ p. 422; itálicos acrescentados.
11 Ver ibid. , p. 666-669 .
]2 Edward Heppenstall, Owr HiÉft P/t.csf, p. 81.
OUESTÕES S0BRE DANIEL 9
0 lNÍclo DOS
21300 DIAS

oLaedç:::ásteaàd4o5;é:i.::ed,.ea.=r:fr.::me:u:8o4S42i:à:pdo:sís::,o,seíeopcaomnecl|usí:ááá::
o juízo investigativo começou no Céu em 1844. Essa data provém da interpretação
de Daniel 8:14 e 9:24 a 27. Gerhard Hasel, professor no Seminário Teológico Ad-
ventista da Universidade Andrews, disse que Daniel 9:24 a 27 é "uma da.s [passagens]
mais controversas de todo o Antigo Testamento".t Ele citou um intérprete que cha-
mava a história da interpretação desses textos de "o Pântano Sinistro" da crítica do
AntigoTestamento".2
Portanto, é com certo receio que entro no "pântano".Apesar disso, Daniel 9:24
a 27 desempenha um importante papel na interpretação adventista de Daniel 8 e 9,
e por isso precisamos tratar desses versos. 0 que vou compartilhar com você neste
capítulo e nos três seguintes tem muito que ver com a maneira como os adventis-
tas têm entendido Daniel 9.A discussão é um tanto técnica, e isso vai requerer aten-
ção redobrada.
Começarei indicando que Daniel 8 nos dá uma ideia bastante geral de quando
os 2.300 dias começaram. No verso 13, um "santo" -muito possivelmente um anjo
-disse a outro ``santo": "Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por
esta visão?" (NVI). Sabemos que essa visão começou com o período medo-persa,
representado pelo carneiro. 0 império persa foi a principal força que permaneceu
no Oriente Médio desde 539 a.C. até 331 a.C., de modo que os 2.300 anos devem
começar em algum ponto entre essas duas datas.Ao somarmos 2.300 anos a cada uma
daquelas datas, encontramos que os 2.300 anos devem terminar em algum ponto
entre 1762 d.C. e 1970. É um longo período: 208 anos. Quando, dentro desses 208
anos, os 2.300 dias começaram e, por conseguinte, quando terminaram? Infelizmente,
Daniel 8 não nos diz. Felizmente, Daniel 9 o faz.
Examinemos agora a relação existente entre Daniel 8 e Daniel 9.

A rebção entre Daniel s e Daniel 9


Na explicação do capítulo 8, Gabriel deixou claro para Daniel que a ``visão se
refere ao tempo do fim", e que a "visão se refere ao tempo determinado do fim"
(Dn 8:17,19). Portanto, a visão de Daniel no capítulo s deve se estender até o nosso
tempo. Naturalmente, Daniel nem imaginava que milhares de anos passa.riam antes
que o "tempo deterrrinado do fim" chegasse. Em seus dias, os judeus ainda estavam
cativos em Babilônia por causa de sua rebelião contra Deus.Assim, é quase certo que
Daniel tenha entendido a profanação do santuário descrita no capítulo 8: 10 a 12 com
uma referência à destruição do templo de Salomão ocorrida anteriormente, ainda em
CELESTIAL

seus dias. 0 pronunciamento do verso 14, de que o santuário seria restaurado, deve
ter soado a ele como uma boa notícia.
Nos versos 20 a 27 do capítulo 8, Gabriel explicou para Daniel uma grande parte
da visão apresentada no capítulo. E concluiu dizendo: "A visão da tarde e da manhã
[isto é, dos 2.300 dias], que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão, porque
se refere a dias ainda mui distantes" (v. 26). Infelizmente, nesse ponto, Daniel "[enfra-
queceu] e [esteve] enfermo por alguns dias" (v. 27). Assim, a explicação de Gabriel
sobre a purificação do santuário e dos 2.300 dias foi interrompida.
Vamos nos colocar no lugar de Daniel por um momento. Ele nasceu emjerusalém
e ali viveu durante a primeira fase de suajuventude. Ele havia observado a apostasia dos
seus contemporâneos judeus e tinha ouvido as severas repreensões de jeremias con-
tra eles (ver, por exemplo,Jr 2 e 3.) Ele conhecia muito bem a predição de Jeremias
de que os babilônios invadiriam a Judeia e destruiriam jerusalém (verJr 4:5-31.) Deve
ter sido assustador para Dariiel viver durante o cumprimento dessa terrível predição.
Para piorar, os babilônios o capturaram, e a vários de seus amigos, levando a todos para
Babilônia, onde foram treinados para servir na corte real. Quando recebeu a visão do
capítulo 8, Daniel já havia servido fielmente Nabucodonosor e dois ou três outros reis
de Babilônia por várias décadas. Apesar disso, ele sempre foi led e lamentou profimda-
mente a situação de seu povo.
Daniel sabia muito bem que Jeremias previra que, depois de 70 anos de cativeiro,
os judeus recuperariam sua naçâo (ver]r 25: 11,12; 29:10) . Ele também entendia que
o tempo para isso acontecer se aproximava. Porém, Gabriel estava dizendo que 2.300
tardes e manhãs deveriam passar antes que o santuário fosse purificado. 0 enfia-
quecimento (ou desmaio, segundo a versão New King James) de Daniel sugere que
alguma coisa nesse anúncio o chocou. Entretanto, ele não disse o que o havia cho-
cado. Sabemos que Gabriel não voltou imediatamente após o enftaquecimento de
Daniel. De fato, Daniel ficou sem ouvir nada de Gabriel por 11 anos, tempo sufi-
ciente para os 70 anos quase terminarem; e Daniel estava ficando preocupado.Teria
sido a rebelião de seu povo tão terrível a ponto de Deus querer adiar a volta deles?
Daniel reagiu de duas maneiras. Primeiro, estudou as profecias de Jeremias sobre os
70 anos (Dn 9:2). Segundo, orou intensamente pedindo que Deus perdoasse os peca-
dos do povo e que levasse a nação de volta para seu território (v. 4-19). Essa é uma
boa lição para nós. Quando estivermos preocupados com alguma questão importante
da vida, precisamos fazer duas coisas que Daniel fez: procurar uma resposta na Bíblia
e pedir a Deus que nos oriente. Se assim fizermos, podemos estar certos de que o
Senhor nos guiará para a resposta correta, assim como fez com Daniel.Vejamos o quc.
Ele disse a Daniel.

A explicação de 6abriel
Em resposta à oração de Dariel, Deus novamente enviou Gabriel para perto do
proféta. Gabriel disse: "Daniel, agora, saí para fàzer-te entender o sentido. [...] consi-
dera, pois, a coisa e crifc#dc 4 tJÍ.sÕo" (v. 22, 23; itálicos acrescentados) . Nossa argumenta-
ção até aqui já deve ter deixado bem claro que a visão que Gabriel veio explicar pan
Daniel foi a do capítulo 8. Um pouco antes, indiquei que Gabriel havia explicado a
maior parte da visão logo depois que Danie] a recebeu (ver Dn 8:17-26).A única parte
que ficou sem explicação foi a dos 2.300 dias e a restauração do santuário (Dn 8:26).
Essa foi a parte da visão que Daniel achou tão chocante, a ponto de desmaiar e adoe-
cer. Foi o que,11 anos depois, o 1evou a estudar as profecias de]eremias e orar intensa-
mente para que seu povo voltasse para sua pátria. E Gabriel veio parajunto de Daniel
precisamente para aliviar a mente do profeta da preocupação com o que ele imaginava
ser uma mudança de ideia da parte de Deus quanto a permitir que os judeus voltas-
sem para aJudeia. Meu ponto aqui é: uma cuidadosa comparação entre Dairiel 8 e 9
deixa óbvio que o principal propósito da profecia das 70 semanas de Daniel 9:24 a 27
era responder à pergunta de Daniel sobre a profecia dos 2.300 dias no capítulo 8:14.
Há evidências ainda mais específicas para apoiar essa conclusão. Duas palavras
hebraicas nos capítulos s e 9 foram traduzidas como "visão" nas Bíblias em português:
h4zo# e m4r'cÃ.A língua portuguesa não tem uma palavra que seja exatamente equi-
`-alente àquelas duas palavras; porém, o uso da palavra wi.sÕo para elas até funciona para
uma leitura mais causal do texto. 0 significado específico de cada uma dessas pala-
`Tas hebraicas pode ser de grande ajuda para que compreendamos o significado pre-
ciso do que Gabriel disse no capítulo 9.
A explicação de William Shea3 sobre o significado dessas palavras pode nos aju-
dar. Ele diz:

[Mlczr'eft] vem da raiz rtz'á, que é o verbo comum usado 1.140 vezes no AT
[Antigo Testamento] para passa,r a ideia de ver. HÕzô# vem de /aõzcz e ocorre
com pouca fiequência no AT e geralmente se refere (embora não exclusiva-
mente) ao ato mais específico de ver uma visão profética. [...]. [Mlc7r'cÁ] alude
àquilo que pode ser visto com os olhos naturais. [...]. Geralmente, deve ser
notado que, nessa conexão, [m#'c#] se refere a algum aspecto da aparência de
indivíduos, ou seres pessoais.4

Note a última frase. Shea diz que ``[mcw'cÃ] [geralmente] se refere a algum aspecto
da aparência de indivíduos, ou seres pessoais". Portanto, no verso 16, em que Gabriel
recebe a ordem de "[dar] a entender a este a [mcw'cft]", ele está sendo orientado a
explicar para Daniel a conversa ocorrida entre os dois santos dos versos 13 e 14, par-
ticularmente a de.claração de um deles de que o santuário seria purificado depois de
2.300 tardes e manhãs.
Com essa compreensão de mflr'ch em mente, vejamos como essa palavra e também
/i4zoÍc são usadas em Daniel 8. Nos versos 1 e 2, Darriel disse:"No ano terceiro do rei-
nado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma yí.sÕo [#cizoíc] [...] e [nessa 7Mzo#] vi que estava
junto ao rio Ulai" (itálico acrescentado).As duas ocorrências de ft4zoít obviamente se
referem à visão inteira de Daniel no capítulo 8:3 a 14.5
A palavra portuguesa tJi.sõo ocorre em seguida, no verso 13, em que um santo diz
para o outro: "Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por esta t/Í.são
[h4zo#]?" (NVI). Novamente, h¢27oít corresponde à visão inteira.
NA CORTE CELESTIÀL

Os versos 15,16 e 17 também contêm a palavra t;Í.sÕo, embora o original hebraico


alterne #¢zo# e m4r'c#: "Havendo eu, Daniel, tido a ví.são [#4zoÍ£ -a visão inteira],
procurei entendê-la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de
homem. E ouvi uma voz de homem de entre as margens do Ulai, a qual gritou e
disse: Gabriel, dá a entender a este a tJi'são [mw'cà - a conversa entre os dois santos
sobre os 2.300 dias e o santuário].Veio, pois, para perto donde eu estava; [...] [e] me
disse: Entende, filho do homem, pois esta yj'sõo [ft42o# -a visão inteira] se refere ao
tempo do fim" (itálico acrescentado). E Gabriel passou a explicar a visão registrada
na primeira metade do capítulo.
A palavra portuguesa "visão" ocorre três vezes nos dois últimos versos do capítulo
que contém toda a visão e a reação de Daniel a ela: "Pisse Gabriel:] A yj.sÕo [m4r'c7i
-a conversa sobre os 2.300 dias e o santuário] da tarde e da manhã, que foi dita, é
verdadeira; tu, porém, preserva a wÍ'sõo [#4zo# -a visão inteira], porque se refere a dias
ainda mui distantes. Eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, me
levantei e tratei dos negócios do rei. Espantava-me com a t;i.5ão [m4r'ch, a conversa
sobre os 2.300 dias e o santuário], e não havia quem a entendesse."
Note que foi especialmente essa m4/'ch das tardes e manhãs, os 2.300 dias e o san-
tuário, que deixou o profeta tão chocado, a ponto de desmaiar e adoecer. Não é de
se admirar que os capítulos seguintes mostrem Daniel tentando compreender essa
informação relacionada com os 70 anos de ]eremias!
Finalmente, vamos ver a palavra ``visão" no capítulo 9:21 e 23. Daniel disse:"Falava
eu, digo, fflava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na
minha visão [#czzoÍG, a visão inteira] ao princípio, veio [a mim e disse:] [...] considera,
pois, a coisa e entende a visão [m¢r'c#, a conversa sobre os 2.300 dias e o santuário]."
Gabriel, que havia explicado quase toda a Ã4zo# para Daniel no capítulo 8, volta uma
vez mais para terminar sua explicação da m4r'ch, a purificação do santuário e as 2.300
tardes e manhãs, que terminou prematuramente ao Daniel desmaiar.

As 70 semanas
É interessante notar, porém, que, em sua explicação no capítulo 9:24 a 27,
Gabriel não mencionou nem os 2.300 dias nem a profecia dos 70 anos de Jeremias.
Em vez disso, ele falou sobre a principal preocupação de Daniel, o destino do povo
judeu. Em sua oração, Daniel suplicou: ``abre os olhos e olha para a nossa desola-
ção e para a cidade que é chamada pelo Teu nome [...]. Ó Senhor, ouve; ó Senhor,
perdoa; ó Sen.hor, atende-nos e age; não Te retardes, por amor de Ti mesmo, ó Deus
meu; porque a Tw4 cÍ.d4dc e o Tc# potm são chamados pelo Teu nome" (v. 18,19;
itálicos acrescentados).
Agora note as primeiras palavras da explicação de Gabriel: "Setenta semanas estão
determinadas sobre o Tct/ potJo e sobre a Tw4 s4Í?fcz cÍ.dcicJc" (v. 24; itálicos acrescenta-
dos). Gabriel começou sua explicação com o assunto que mais preocupava Danie].
Ele disse que 70 semanas tinham sido "determinadas", ou separadas, para os judeus
("Teu povo") e Jerusalém ("Tua santa cidade"). Isso bastava para Daniel. Seu povo
voltaria para a terra deles e a cidade seria reconstruída. Meu palpite é que, diante
0 INÍclo DOS 2.300 DIAS

dessa resposta, ele nunca mais passou nenhuma noite em claro se preocupando com
as 2.300 tardes e manhãs.
No entanto, o retorno dos judeus e a reconstrução de Jerusalém são história antiga
para nós. Queremos saber exatamente quando, dentro do período de 208 anos entre
1762 e 1970, esses 2.300 anos teriam terminado. Será que a resposta de Gabriel a
Daniel nos dá ess4 informação?
A resposta é sim. Ela está na palavra hebraica 7i4f¢Á:.6 Gabriel disse: "Setenta sema-
nas estão determinadas [hcif4k] sobre o Teu povo e sobre a Tua santa cidade" (v. 24).
0 que significa h4fcik? As versões em português Almeida Revista e Atualizada
e Almeida Revista e Corrigida traduzem h4f4¢ como "determinadas", enquanto a
Novaversão lnternacional a traduz como "decretadas". Os adventistas do sétimo dia,
ao longo dos anos, fóram bastante consistentes em afirmar que Ã4fak significa ``cor-
tar". É isso que Daniel 9:24 quer dizer?
A melhor maneira de saber o sigiiificado de uma palavra na Bíblia é procurá-1a
em outros lugares, especialmente na própria Bíblia, mas a palavra, h4f4k não ocorre em
nenhum outro lugar no Antigo Testamento. Assim, só nos resta procurar sua utilização
em outras fontes hebraicas antigas, como a Mishná e o Tàlmude.7 William Shea fez um
cstudo detalhado sobre h¢f4k m literatura hebraica antiga.Visto que a defiiiição dessa
palavra é crucial para o entendimento adventista sobre os 2.300 anos, citarei inteira-
mente as conclusões de Shea:

[A palavra] #¢f4k é usada mais fiequentemente em fontes inishnaicas no sentido


de "cortar" do que no sentido de "determimr''. H4fczk é usada como um verbo
em pelo menos dez passagens mishnaicas, nas quais se refere ao corte de par-
tes dos corpos de animris de acordo com as leis de dieta. Ela também é usada
em conexão como a circuncisão, para cortar a mecha, de uma lâmpada e para o
corte de minério. Em duas outras ocasiões, ela se refere aos lábios ou à boca cor-
tando palavras e ao corte de um verso das Escrituras em duas partes ao ser lido.
Como um verbo com o significado menos frequente de "decidir ou deter-
minar", âÍ4¢ é usado duas vezes para se referir à ação de umjuiz ao decidir
um caso, e uma vez ao decidir sobre questões de Estado. H4fczÁ2 ocorre como
um substantivo em fontes mishnaicas pelo menos 18 vezes com o signifi-
cado de "aquilo que é cortado fora"; ao passo que ocorre apenas uma vez
com referência à lei dada em forma de decisões. Portanto, o significado ver-
bal mais comum e o significado nominal muito comum de h4f4k na Mishná
hebraica têm que ver com a ideia de cortar.8

As palavras mudam de significado com o tempo, como bem sabe qualquer pes-
soa que tenha tentado ler obras originais de Camões.Assim, é possível que no tempo
de Daniel, #4f4k significasse algo diferente do que teria passado a significar cente-
nas de anos mais tarde, quando a Mishná foi escrita. Isso, mturalmente, é um problema
tanto para os que entendem #4f¢k como "decreto" como para os que a entendem
como "corte". Sobre esse ponto, Shea comenta:
Trabalhando com o princípio da filologia semítica de que os significados
ampliados das raízes foram desenvolvidos a partir de conceitos concretos
na direção de conceitos abstratos, devemos colocar "corte" com a conota-
ção original protossemítica de [...] Ã4Í4Á!. Portanto, do ato de cortar veio a
ideia de cortar uma decisão9 e, finalmente, somente decidir. [...].
Podemos resumir essa discussão sugerindo que h4f4Á: deriva, originalmente,
da ideia de "cortar", e essa ideia ainda predomina em seu uso na Mishná
hebraica. [...]. Podemos [também] sugerir que a ideia de "cortar" fosse,
provavelmente, ainda mais predominante no tempo de Daniel do que no
período mishnaico. í°

Shea não é o único erudito a sugerir que "cortar" é o significado original de h4f4k.
Em sua tese doutoral, T7tc CÃroffo/ogy o/D4#!.cJ 9..24-27, Brempong Owusu-Antwi
notou que vários outros eruditos afirmaram a mesma coisa." E Desmond Ford
disse: "Todos lexicógrafos declaram que [7mfczé] significa literalmente `cortar fora",t2
e, ``Cftaí#4k [a maneira de Ford transliterar #4f4k] significa `corte' ou `decreto'."

As 70 semanas e os 2.300 dias


De que modo, então, a palavra h4f¢k pode ser nosso ponto de partida para os 2.300
dias de Daniel 8:14? Note como Dairiel 9:24 ficaria quando a palavra "corte" é usada:
"Setenta semanas estão [corfad4s] sobre o Teu povo e sobre a Tua santa cidade." Desde o

tempo de Guilherme Miller até o presente, os adventistas têm dito que os 490 dias/anos
foram corf4doí do período (mais longo) de 2.300 dias/anos.[4 0 raciocírio é simples.

•A única parte da visão do capítulo s que Gabriel não havia explicado para
Daniel foi a purificação do santuário e os 2.300 dias.
• Os primeiros 19 versos do capítulo 9 tornam óbvio que a purificação do san-
tuário, os 2.300 dias e sua relação com os 70 anos da profecia de ]eremias eram
uma fónte de grande preocupação para Daniel.
• Embora, no capítulo 9, não se faça nenhuma menção de Gabriel aos 2.300 dias
quando ele veio até Daniel, ali é dito que ele contou a Daniel que viera explicar
o m¢r'cft, isto é, a parte da visão do capítulo s que trata da purificação do santu-
ário e dos 2.300 dias.
• As 70 semanas foram "cortadas", o que significa que elas foram ct7rfczdc# cíc um
todo maior, ou seja, os 2.300 dias que Gabriel viera explicar.
• Portanto, o ponto de início dos 2.300 dias é o mesmo ponto de início das
70 semanas.

Essa é a lógica da interpretação adventista de Daniel 8 e 9, os 2.300 dias e as 70


semanas. Ford, em seu manuscrito de Glacierview, disse: ``Não há meios de provar
que o corte de 490 de 2.300 é intencional."í5 Isso, naturalmente, é verdade. Darid
não disse que os 490 anos eram uma, parte dos 2.300 anos ou que era para eles serem
cortados desse período. Entretanto, os eruditos extraem muitas conclusões da Bibli.
0 INICIO

baseados em inferências razoáveis a partir das evidências fórnecidas pela Bíblia, e,


para mim, faz sentido que esse seja um desses exemplos. Aceito essa explicação por
duas razões.A primeira é que Gabriel declarou muito especificamente que viera até
Daniel com o propósito de explicar mais sobre o verso 14 do capítulo 8, isto é, os
2.300 dias e a purificação do santuário ao término daquele período.A segunda razão
é que cortar as 70 semanas do período de 2.300 dias é a única maneira de chegar a
tma data para o início e o fim da profecia dos 2.300 dias.A alternativa é um perí-
odo nebuloso de 208 anos para começar e terminar os 2.300 dias.
Essa é a base bíblica para concluir que os 2.300 dias/anos de Daniel 8:14 come-
çaram ao mesmo tempo que os 490 anos de Daniel 9:24 e 25. Entretanto, o que eu
e.tpliquei até aqui ainda nâo nos dá a data de 457 a.C. como o tempo em que as 70
semanas começaram. Por isso, devemos voltar nossa atenção para Daniel 9:24 e 25,
que é a passagem sobre a qual tratarei nos dois próximos capítulos.

Gerhard Hasel, "Interpretations of the Chronology of the Seventy Weeks", em 70 I4/ccks, Lct;i'fi.c#s, N4ftm
``.ÍProphecy,p.5.
=_|. A. Montgomery, 4 Commc#f4ry o% D4#i.e/, ICC (1927), p. 400, cita.do por Gerhard Hasel, "Inter-

pretations of the Chronology of the Seventy Weeks", em 70 T47ccÁ2s, LetJ!.fí.cwj, N4f#w o/Propftccy, p. 6.
: William Shea foi professor no Seininário Teolóãco Adventista da Universidade Andrews, em Berrien
Springs, Michigan.Também foi membro do lnstituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral.
•William Shea,"The Rela.tionship Between the Prophecies ofDaiiiel s and Darriel 9", em T7% S4#cfíMry a#cJ
Íhc Afo#c'mc#f, p. 232.
= .1 visão propriamente dita parece ter terminado no verso 12. Os versos 13 e 14 são audição, não visão; eles
são uma parte da explicação da visão que Daniel recebeu nos versos 3 a 12. Entretanto, Daniel parece ainda
continuar em um esta.do de visão ao ouvir os dois santos fdando nos versos 13 e 14.
' .1 palavra utilizada em Daniel 9:24 é Í!cftí4k, a forma passiva de ftc!f4k.
-0 Tdmud é um comentário sobre a lei, costumes e históriajudaicos escrito por antigos rabinos.A Mishnah

t-az parte do ltimud, embora com frequência se refiram a ele como se fosse um corpo de escritos separado.
Ib,d., p. 242.
` Nota do tradutor: Embora a expressão "cortar uma decisão" não faça sentido em português, ela é utiliza-
da em inglês. 0 autor, em nota de rodapé, lembra a expressão c#ffi.#g 4 c#cck, que, em português, significa
•`preencher e assinar um cheque", o que denota uma decisão de pagar o valor registrado no cheque. Outra

expressão inglesa similar é cÍ/fíi.#g 4 dccJ/, que significa "fechar um negócio", "fazer um trato", que também
denota uma decisão.
-Ibid.,p. 243
• Biempong Owusu-ALncw±, The Chroriology of Daniel 9:24-27, p. 228.
= Desmond Ford, D4#t.c/, p. 225.
:-` I=ord, "Daniel 8: 14", p. 288.
:. Guilherme Miller entendeu que as 70 semanas tinham sido "cortadas" do período (mais longo) de 2.300
dias.Ver Gerard Da:rnsteegt, Foundations of the Seuenth-day Aduentist Message and Mission, p. 36, nota de ro-
dapé 178.
:S lbid.
0 PROPÓSIT0 DAS
70 SEMANAS

V:ceênJtidt:V::mde::sm:notiev:,rgsa::1r:omne,::pl|::P:ridao;?|nT,:raezd:oucit|e|:::epxôpreàl:
sol ou ao ouvir uma sublime peça musical. Pense como o artista que pintou o pôr
do sol ou o compositor que escreveu aquela linda música deve ter se sentido no
momento em que estava pintando ou compondo! Todos nós temos, de tempos em
tempos, momentos inspiradores e, quando a inspiração está relacionada com algo para
o qual temos talento, sentimos uma alegria muito especial ao fazermos aquilo.
Daniel deve ter se sentido assim quando Gabriel veio até ele, pois foi em forma
de poesia que ele escreveu aquilo que Gabriel lhe disse. Não chega a surpreender,
pois o fato de que o povo de Daniel retornaria a sua terra e reconstruiria sua cidade
era uma excelente notícia. No capítulo anterior deste livro, exaininamos as duas pri-
meiras linhas do poema de Daniel 9:24, que era sobre as 70 semanas. No restante do
verso 24, que discutirei neste capítulo, Gabriel explicou o propósito das 70 semanas.
Visto que a passagem está em formato de poesia, será mais ficil analisá-1a verso por
verso. Numerei os versos a fim de fàcilitar a discussão.
William Shea indica que, pelo menos os seis últimos versos de Daniel 9:24, estão
divididos em três pares:í

Primeiro par
1. "Para fazer cessar a transgressão"
2. "Para dar fim aos pecados"

Segundo par
3. "Para expiar a iniquidade"
4. ``Para trazer a justiça eterna"

Terceiropar .
5. "Para selar a visão e a profécia"
6. "E para ungir o Santo dos Santos"

Nas duas primeiras linhas do verso 24, Gabriel havia acabado de dizer a Dairiel
que 70 semanas foram "postas de lado" para seu povo e sua cidade:jerusalém. Os
adventistas do sétimo dia entendem que Gabriel quis dizer que Deus estava esten-
dendo a provação da nação judaica por 70 semanas, que correspondem a 490 dias,
ou 490 anos, segundo o princípio dia-ano.2 Esse período de provação começou em
457 a.C. e terminou em 34 d.C. Explicarei os cálculos matemáticos por trás dessas
0 PROPÓSIT0 0AS 70 SEMÁNAS

datas no próximo capítulo; nossa principal preocupação neste capítulo é com aquilo
que Gabriel disse que iria ocorrer dwrfl#fc esses 490 anos. É isso que os seis últi-
mos versos da poesia encontrada em Dariel 9:24 nos contam. Na discussão a seguir,
comentarei cada um dos seis versos.

0 primeiro par
No primeiro par de versos, Gabriel apontou para ajusta sociedade que Deus que-
ria que os judeus estabelecessem durante seus 490 anos de provação.
L!`##4 Í.. ``Pcií# /flL2íc/ ccssc# 4 frtz#sgrcssõo". A palavra hebraica para "transgressão"
nessa frase é pcs#4', que, como já vimos em vários capítulos anteriores, significa pri-
mariamente "rebelião". Antes de seu cativeiro, de 605 a.C. até 586 a.C„ os judeus
dnham se rebelado contra Nabucodonosor. Contudo, sua principal rebelião foi con-
tra Deus, e isso os levou ao exílio em Babilônia. Então, Gabriel estava fflando para
Daniel que Deus daria aos judeus 490 anos para que acabassem com sua rebelião e
demonstrassem sua lealdade para com Ele. Como coloca William Shea, "a fi-ase de
abertura da [explicação de Gabriel] delimita um período de provação durante o qual
o povo de Deus é chamado para manifestar sua lealdade, e não a sua rebelião, para
com E|e".3
Lí##4 2.. "Pzwfl dc"jm 4os pcc#dos". A palavra hebraica para "dar fim" é Ã4ftzm, que sig-
nifica "selar'', "completar" ou "dar fim".4 Quase todas as traduções portuguesas da Bil)1ia
reconhecem como "dar fim" o significado da e2pressão de Gabriel.
A palavra hebraica para "pecados" nesse verso é h4ff4'f, que, como vimos nos capí-
tulos anteriores, significa pecado em geral. Essa cláusula, portanto, complementa a
anterior.]untas, elas são um incentivo aos judeus para "darem um fim a,o estado peca-
minoso de sua sociedade, [...] [e] construir uma sociedade reta".5 Tivessem feito isso,
eles ainda seriam o povo por meio do qual Deus comunicaria Seu amor e mensagem
de salvação ao mundo. No entanto, o Novo Testamento indica que, infelizmente, não
foi essa a escolha deles.

0 segundo par
0 segundo par de versos diz o que ]esus iria fazer perto do fim das 70 semanas
da provação judaica.
LÍ.#hcí 3.. "P#r¢ cxpÍ'c" 4 Í'#!.qwí'd¢dc". A palavra hebraica para "iniquidade" é 4t#o#,
que significa "ser culpado". Portanto, Daniel 9:24 inclui as três palavras hebraicas
básicas para pecadó: pcsÃ4' ("rebelião"), Ã4ff4'f ("pecado") e 4t/w ("iniquidade"). 0
úrico capítulo do Antigo Testamento em que essas três palavras ocorrem juntas é
Levítico 16, que descreve as atividades do Dia da Expiação. Assim, Daniel 9:24 tem
fortes matizes do Dia da Expiação. E, naturalmente,Jesus, por meio de Sua morte
m cruz, cumpriu todos os sacrificios do serviço do tabernáculo israelita, inclusive
os que eram oferecidos pelo sumo sacerdote no Dia da Expiação. 0 restante do Dia
da Expiação do Céu se cumpre no juízo investigativo que está sendo efetuado agora
mesmo no santuário celestial e terininará com a erradicação final do pecado no lago
de fogo, ao findar o riiilênio.
A palavra hebraica para ``reconciliação" em Daniel 9:24 é kí.ppwr. Em Levítico, essa
palavra denota o propósito dos sacrificios que os israelitas traziam para o santuário
por seus pecados ao longo do ano. Por exemplo, Levítico 4:26 diz que, como resul-
tado do sacrificio do pecador, "o sacerdote fará expiação [Á#'ppwr] por ele, no tocante
ao seu pecado, e este lhe será perdoado". Portanto, Gabriel estava contando para
Daniel que em algum ponto durante os 490 anos de provação,Jesus morreria pelos
pecados do mundo e, dessa maneira, expiaria a iniquidade.
Linha 4: "Para trazer a justiça eterna". ]á encontramos esse conceíto em Da.riel,
embora não nessas palavras. Daniel 7:27 diz que, como resultado dojuízo investigativo,
o domínio sobre o mundo será dado para o Filho do Homem e Seus santos, e "o
Seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e Lhe obedecerão".Todo
o serviço e toda a obediência do mundo prestados ao Filho do Homem no reíno
eterno de Deus significam o mesmo que "justiça eterna".
Hoje, ainda anelamos o estabelecimento do reino eterno de Deus. Então o que
Gabriel quis dizer em Daniel 9:24, quando afirmou que ajustiça eterm seria estabe-
lecida durante os 490 anos da provação judaica?
Com fi.equência,Jesus fàlava de Seu "reino" como uma realidade em Seus dias. Por
exemplo, na parábola do joio e do trigo, Ele disse: "0 reino dos céus é semelhante a
um homem que semeou boa semente no seu campo" (Mt 13:24; itálico acrescentado).
Note que o verbo "é" está no presente. A parábola não mostra o estabelecimento do
domínio de ]esus sobre o mundo até Sua segunda vinda (ver v. 41-43). No entanto, a
parábola inteira descreve "o reino dos céus" como se ele já tivesse sido estabelecido.
0 mesmo é verdade quanto à parábola das dez virgens e à dos dez talentos em Mateus
25. As duas começam com Jesus declarando como ``é" o reino de Deus, para, depois,
declarar a irissão e a condição de Seu povo no mundo antes de Sua vinda.
Nesse sentido, o reino de Deus significa a mudança que ocorre na mente e no cora~
Ção dos que aceitamJesus como salvador.A Bíblia se refere a essa mudança como "con-
versão" ou "novo nascimento" (ver Mt 18:3;Jo 3:1-8). Embora as pessoas do tempo
do Antigo Testamento experimentassem a conversão,Jesus obteve a base legal para essa
transformação por meio de Sua morte na cruz. É nesse sentido que Gabriel disse que a
"justiça eterna" seria instaurada durante os 490 anos do tempo de provação dos judeus.
A justiça eterna que experimentaremos após a segunda vinda de Cristo começa em
nossa vida quando aceitamos Jesus e experimentamos Seu poder transformador.

0 terceiro par
No terceiro par de versos, Gabriel menciona para Daniel duas coisas que iriam
acontecer no fim das 70 semanas ou 490 anos.
LÍ.##4 J.. "P#/fl scJczr 4 t;í.sÕo c ¢ pro/ccJ.4". No hebraico, essa frase consiste de três pala-
vras: 7MÍ4m, traduzida como ``selar"; h4zoít, que significa "visão"; e #cwÍ', que significa
"profeta". Exaininemos cada uma dessas palavras.
H4f4m. Muitas versões bíblicas em português traduzem essa frase como "Pzm
scJw [ft4f¢m] a visão e a profecia" (itálicos acrescentados). Traduzida dessa maneira, a
palavra h4f4m dá a entender que o cumprimento exato da profecia das 70 semanas
Ô PRÜPCS!T0 DAS 70

selaria, ou confirmaria, a validade da visão do capítulo s e a explicação de Gabriel


no capítulo 9. Afinal, somente o Deus do Céu teria esse tipo de conhecimento tão
preciso e detalhado sobre o futuro que encontramos em Daniel 9:24 e 25. Essa tem
sido uma explicação bastante comum entre os adventistas. No entanto, também é
possível traduzir essa frase como "címjm a visão e profeta". Explicarei o significado
dessa tradução depois de examinarmos as outras duas palavras da ftase.
H¢zo#. Indiquei no capítulo 23 que Ã4zoff significa "visão". Não há artigo para
/!4zo#, um detalhe que está refletido na tradução de muitas versões em inglês: "selar
visão e profecia", não "selar 4 visão e profecia".6Veremos o significado disso daqui
a POuCO.
N4t;Í`. Essa palavra significa "profeta". Muitas versões em português a traduzem
como "profecia". A Revised Standardversion, em inglês, diz "profeta", o que parece
ser uma tradução mais precisa.
Agora estamos prontos para discutir o significado dessa frase quando a traduzi-
mos como "dar fim a visão e profeta". Os adventistas do sétimo dia sempre disse-
ram que o martírio de Estêvão marcou o fim das 70 semanas, e eu concordo com
essa interpretação (explicarei a base cronológica para isso em nota adicional no fim
do próximo capítulo.) Shea indica, que o discurso de Estêvão perante o Sinédrio, que
levou a seu martírio, foi "o que é conhecido em hebraico como um ri'b ou `ação judi-
cial pactual".7 Uma "ação judicial pactual" é uma condenação profética da nação de
lsrael por violação do pacto que Deus fez com eles. Começando com Abraão, Estêvão
fez uma revisão da história de lsrael até o tempo de Salomão. Depois, repreendeu
os membros do Sinédrio: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de
ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, tam-
bém vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os
que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos torna,stes trai-
dores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardas-
tes" (At 7:51-53).
Nesse ponto, Estêvão recebeu uma visão de Deus. Ele disse: "Eis que vejo os
céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus" (v. 56). Os mem-
bros do Sinédrio entenderam muito bem que, por "Filho do Homem'', Estêvão quis
dizer ]esus. Isso os deixou enfurecidos, a ponto de arrastarem Estêvão para fora de
jerusalém e apedrejá-lo até a morte. Com esse ato, eles deram fim às 70 semana.s ou
+90 anos do período probatório de sua mção.
Shea indica que, "quando o Espírito Santo baixou sobre Estêvão, foi-1he dada
uma visão do Céu. Por definição, Estêvão se tornou um profeta nesse momento,
h)ois] é para profetas que Deus dá visões de Si mesmo, como essa".8 Estêvão, então,
instaurou a ação judicial pactual contra o Sinédrio em seu papel de profeta con-
cedido por Deus. E, quando o Sinédrio - representação oficial da nação judaica
-rejeitou a mensagem de Deus dada pelo novo profeta, eles encerraram sua expe-
riência como nação. Naturalmente, os judeus, de forma individual, ainda podiam
receber a salvação mediante a fé em ]esus, mas como nação, eles não eram mais Seu
instrumento escolhido para levar a mensagem de salvação ao mundo. Dali em diante,
€ELESTIAL

Deus atuaria por meio da igreja cristã. Esse é o pano de fundo que precisamos para
compreender as palavras de Gabriel pa,ra Daniel dizendo que parte do propósito das
70 semanas era ``dar fim a visão e proféta". Shea comentou: "Estêvão é o último pro-
feta a falar para o povojudeu como o povo escolhido de Deus. Mas sua voz foi silen-
ciada com sua morte por apedrejamento. Ao silenciá-lo, eles também silenciaram a
voz profttica a eles endereçada com um fim [...]. "No que diz respeito ao próprio
povo de Daniel, `visão' e `profeta' foram selados, ou lhes dado fim, com a rejeição
desse último profeta que lhes fora enviado, de acordo com Atos 7."9
LÍ.Í£ha 6. "Epcm ##g!.r o S4#fo dof S4#fo5". A questão-chave aqui é a identidade do
"Santo dos Santos". Durante os primeiros anos do cristianismo, intérpretes aplicaram
o termo à unção dejesus como o Messias por ocasião de Seu batismo. Entretanto, as
palavras hebraicas qodcsà qod4shí`m sugerem uma intepretação diferente. Essas palavras
ocorrem mais de 40 vezes no Antigo Testamento, à parte do livro de Daniel, sempre
se referindo ao santuário, não a pessoas.[°Tanto quanto eu saiba, todos os intérpretes
adventista,s de hoje concordam que qodcsh qocí¢sÃf.m em Daniel 9:24 se refere ao san-
tuário, não a Cristo. Uma vez que o único santuário válido ao fim das 70 semanas
era o santuário celestial, a "unção" desse santuário se refere a sua dedicação ou inau-
guração no tempo em que Cristo começou Seu ministério, após subir para o Céu.
Há cerca de dois mil e quinhentos anos, Deus apresentou um tremendo desafio
espiritual para Seu povo com a profecia das 70 semanas. Sua visão para o povo esco-
lhido atual é tão ambiciosa quanto foi no passado. Nosso desafio é, pelo poder do
Espírito Santo, cumprir essa visão hoje.

t William Shea, "The Prophecy of Daniel 9:24-27", em 70 W7geÁ:s, Lt/i.fí.cws, 4#d fhc N4f#re o/Prop#ccy, p. 79-84.
Meus comentários neste capítulo são, em grande medida, baseados na análise de Shea.
2 Discutirei o princípio dia-ano em detalhes no capítulo 27.
3 Shea, "The Prophecy of Daniel 9:24-27", em 70 74Íccks, LcvÍ.fi`cws, 4Í}d fhc N4fwre o/Prop#ccy, p. 78.
4 Ibid.
5 Ibid., p. 79.
6 Nota do tradutor: Diferentemente, a versão em português Almeida Revista e Atualizada inclui o artigo "a-
antes de "visão": "para selar a visão e a profecia".
7 Shea, p. 81.
8 Ibid.
9 Ibid., p. 82.
t° Uma possível exceção é 1 Crônicas 23:13, ainda que muitas versões traduzam qodesÁ qod4shi.m nesse verso
como "coisas sântíssimas" (NVI), ou "Santo dos Santos" (ARA), não uma pessoa santa, e Shea concoiú
(ver 70 Semanas, Ijuiticus, and the Nature of Prophecy, p. 8&) .
°DCA°sMÓEgçgEEMRFl¥

Ofaudeasçâ::lr:l,aqdualss,gl.Zoerrtfduaas?,dpoarcao:t:euuap:::,eÀqFae|a7v:ase5:"a"n„a;:inuhf:áleç:a:::ãa:
cronológica. Ela significa um período de sete dias. Se multiplicarmos 70 semanas
pelos sete dias de uma semana, chegamos a 490 dias. Como, então, devemos enten-
der essas 70 semanas ou 490 dias? Será que Gabriel tinha em mente um período lite-
ral de 490 dias, que corresponde a pouco mais de um ano e um terço? Quando esse
período deveria começar e quando deveria terminar? Sem as respostas para essas per-
guntas, o anúncio feito por Gabriel para Daniel de que 70 semanas tinham sido sepa-
radas para o seu povo não tem significado.
Felizmente, Gabriel passou a explicar de maneira muito específica quando come-
çariam e terminariam as 70 semanas. Eis o que ele disse: ``Sabe e entende: desde a
saída da ordem para restaurar e para edificar ]erusalém, até ao Ungido, ao Príncipe,
sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão,
mas em tempos angustiosos."
Note a informação bastante específica que Gabriel deu a Daniel sobre o começo e
o fim das 70 semanas:"Dcsdc a saída da ordem para restaurar e para edificar]erusalém,
4fé ao Ungido, ao Príncipe [...]" (itálicos acrescentados). No restante deste capítulo,
analisarei essas palavras pronunciadas por Gabriel ao fflar com Daniel. Começarei
compartilhando com você a interpretação tradicional adventista, esperando que este
capítulo lhe convença de que ela é inteiramente bíblica.

Como os adventistas interpretam Daniel 9:25


Gabriel disse a Daniel que, "desde a saída da ordem para restaurar e para edificar
jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe" seriam "sete semanas e sessenta e duas sema-
nas". Uma operação aritmética simples nos diz que 7 + 62 são 69. Gabriel iden-
dficou o ponto inicial e o final dessas 69 semanas de modo muito específico. Elas
começariam com uma ordem para que os judeus restaurassem e reconstruíssem
jerusalém e termiria,riam com o Príncipe-Messias. Se pudermos descobrir quando
uma ordem ou um decreto foi promulgado para que Jerusalém fosse restaurada e
rcconstruída, então outra operação aritmética simples nos levaria à data para a apa-
rição do Príncipe-Messias, a quem, pelos mais de 2 mil anos passados, os cristãos
tém identificado como jesus Cristo.] Os adventistas do sétimo dia concordam com
cssa interpretação.
Três imperadores persas promulgaram um total de quatro decretos que podem ser
qualificados com o ponto inicial dessa profecia, embora nem todos eles tenham sido
decretos formais. São eles:
• Um decreto de Ciro em 538-537 a,.C. (Ed 1:2-4)
• Um decreto de Dario em cerca de 520 a.C. (Ed 6:3-12)
• Um decreto de Artaxerxes 1 em 457 a.C. (Ed 7:12-26)
• Um "decreto" pelo mesmo Artaxerxes em 444 a.C.2 (Ne 2:1-8)

Os adventistas do sétimo dia têm sido consistentes em dizer que o decreto pro-
mulgado porArtaxerxes, em 457 a.C., é aquele a que se referiu Gabriel. 0 anjo disse
que, daquele ponto até o aparecimento de Cristo, haveria sete semanas mais sessenta
e nove semanas, ou 483 dias. Isso corresponde a 483 anos, dentro do princípio dia-
ano. Sem dúvida, você sabe que, no tempo antes de Cristo, os números pelos quais os
anos eram identificados diminuíam à medida que o tempo avançava: 457, 456, 455,
etc. Uma vez que 457 é menor que 483, temos que subtrair 457 de 483 e somar o
restante ao tempo depois de Cristo, como demonstrado abaixo:

483 (7 semanas + 62 semanas x 7 dias por semana = 483 dias/anos)


45Z (A data, antes de Cristo, da ordem para restaurar e reconstruirjerusalém)
26 (A data, depois de Cristo, para o Príncipe-Messias,]esus, aparecer)

Mesmo assim, devemos fazer um pequeno ajuste nesse cálculo. Uma vez que não
existe o ano 0 entre 1 a.C. e 1 d.C., devemos somar um ano ao nosso cálculo.Assim,
Jesus, o Messias, devia aparecer em 27 d.C.
Você deve saber que a palavra hebraica mcssí.4Ã significa "o ungido". jesus foí
ungido para Sua missão por oca.sião de Seu batismo, quando o Espírito Santo desceu
sobre Ele em forma de pomba. Acho isso extremamente sigriificativo. Os mais deta-
lhados dados cronológicos do Novo Testamento, encontrados em Lucas 3:1 a 3, dãc+
nos informações muito precisas sobre quando Jesus foi batizado. Lucas escreveu: ``No
décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da
judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da ltureia e
Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio
a palavra de Deus aJoão, filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a circunvi-
zinhança do ]ordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados."
0 décimo quinto ano do reinado de Tibério Cesar foi quase certamente 27 d.C.9
Assim, de acordo com os cálculos que apresentei acima,]esus chegou no tempo exato!
É assim que ps adventistas do sétimo dia têm tradicionalmente interpretado Daniel
9:25, mas essa interpretação não tem sido imune a desafios.

`.Destle [...] [a] ordem"

0 primeiro desafio a essa interpretação tem que ver com o significado da palaL
vra que é traduzida como offtícm m versão Almeida Revista e Atualizada: ``desde .
saída da orcícm para restaurar e para edificar Jerusalém" (itálico acrescentado). A pah-
vra hebraica para "ordem" é cí4bcm, que tem o sigrificado primário de "palavra", iiias
que, em alguns contextos, pode significar "decreto", "matéria", "coisa" e até "causa"..
Ela significa especialmente "ordem" ou "decreto" quando é usada no sentido de um
ordem dada por Deus ou um rei da Terra,. 0 anjo Gabriel usou a palavra d4b4Í quando
disse a Daniel: "No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem [dczbw] [...] " (v. 23). Nesse
`-erso, era claramente Deus quem ordenava a Gabriel que interpretasse a visão para
Daniel. Por isso, alguns intérpretes têm sugerido que a "ordem [cí4bc"] para restau-
nr e edificar]erusalém" do verso 25 era simplesmente uma parte da ordem dada por
Deus a Gabriel no verso 23. Raymond Cottrell adotou essa interpretação. Ele disse:
-Contextualmente, a `palavra' que `saiu [...] para resta,urar e edificar Jerusalém é a

mesma `palavra' que `saiu' [...] em resposta à oração de Daniel. [...]. Gabriel garante
para Daniel que o própn.o Dc#s, não algum monarca terrestre,já respondeu sua fervo-
iosa oração! Obviamente, essa `palavra' é de natureza que somente o próprio Deus
poderia emitir, e não algum rei terrestre!"5
De onde Cottrell tirou a ideia de que somente Deus poderia emitir um decreto
para restaurar e edificar Jerusalém? Quem disse que um rei humano não poderia
cmitir um decreto desses? Longe de #cgcw que um rei humano poderia fazer essa pro-
chmação, o contexto sugere que um rei humano cÍ#í.fí.ri'4 o tal decreto. Tenho que
concordar com Brempong Owusu-Antwi, que, em sua tese doutoral, T7% C#ro#oJogy
ty~D4#Í.cJ 9..24-27 [A Cronologia de Daniel 9:24-27], disse: ``0 contexto da expressão
de Daniel 9:25 envolve uma proclamação que mudaria a situação política e fisica de
jerusalém. [...]. Portanto, cronologicamente, d4bcm faz sentido no contexto de Daniel
9:24 a 28, em que é considerada como uma `palavra' histórica, isto é, um pronuncia-
mento, uma ordem e afins, que pode ser marcada concretamente em uma situação
histórica pela qua,1 ela foi emitida."6
Com "palavra' histórica [...] que pode ser marcada concretamente em uma situa-
Ção histórica", Owusu-Antwi quer dizer uma "palavra" ou "decreto" huma,no que
podemos datar em um tempo específico da história humana. Portanto, a conclusão
mais lógica é que um rei humano emitiria -e emitiu -o d4bc", ou seja, a "ordem [ou
decreto] para restaurar e para edificar Jerusalém". Embora Cottreu não esteja só em
sua interpretação de que a dcibcv do verso 25 é a mesma dczbm de Deus pa,ra Gabriel
no verso 23, acredito que estou correto ao afirmar que a maioria dos eruditos consi-
dera que essa d4b4r se refere a uma ordem dada por um rei terrestre.

0 decreto para ..restaurar e para edificar Jerusalém"


Algumas págims atrás, mencionei quatro decretos promulgados por reis per-
sas, dos quais um poderia ser considerado como aquele a quem Gabriel se referiu.
Discutirei resumidamente os dois primeiros; o terceiro e o quarto decretos apresen-
tarei com mais detalhes.
0 primeiro decreto foi promulgado por Ciro. Esse decreto está registrado em
Esdras 1 :2 a 4. Ele deu aos judeus permissão para voltar para sua tem e reconstruir o
templo, o que eles fizeram sob a liderança de Zorobabel (Ed 5:2). Entretanto, erudi-
tos adventistas, como muitos outros estudiosos, reconhecem que o decreto promul-
gado por Ciro não dizia nada sobre restaurar um tanto que fosse da independência
política dos judeus, muito menos sobre reconstruirJerusalém. Esse decreto, portanto,
não se qualifica como cumprimento da predição de Gabriel.
NA ComE CELESTIAL

0 segundo decreto foi promulgado por Dario. Quando os judeus começaram a


construção do templo deles, o govermdor da região, um homem chamado Tatenai,
os desafiou: "Quem vos deu ordem para reedificardes esta casa e restaurardes este
muro?" (v. 3). Osjudeus responderam citando o decreto de Ciro, o que não foi o sufi-
ciente para Tatenai. Ele queria tJe/ o decreto. Hoje em dia, um simples telefonema, um
e-mail ou fax seriam suficientes para verificar o decreto, mas essa tecnologia obvia-
mente não estava disponível para os judeus, e eles não tinham uma cópia do decreto
para mostrá-la a Tatenai. Este, então, escreveu uma carta para o imperador daquele
tempo, um homem chamado Dario (v. 6-17), pedindo que fosse feita uma busca nos
arquivos reais para determinar se Ciro tinha, de fato, promulgado aquele decreto.
Dario atendeu ao pedido, e o decreto foi encontrado. Dario escreveu de volta
informando a Tatenai que Ciro tinha, de fato, promulgado o decreto em questão
(Ed 6:3-12) e lhe ordenou que ficasse distante do projeto de construção do templo,
permitindo que ele progredisse (v. 6, 7). E mais: ele também ordenou que os custos do
projeto de construção fossem pagos com a receita de seus impostos! (v. 8). Contudo,
o decreto de Dario foi simplesmente uma afirmação do decreto original de Ciro para
a reconstrução do templo. Uma vez que não era um novo decreto, e uma vez que ele
novamente não dizia nada sobre a independência judaica, nem da reconstrução da
cidade de Jerusalém, os adventistas, assim como muitos outros acadêmicos, não con-
sideram esse decreto como um cumprimento da predição de Gabriel.

0 primeiro decreto de Ariaxerxes


Artaxerxes promulgou dois decretos que, segundo sugerem os eruditos, cumprem
a predição de Gabriel. Seu primeiro decreto (que veio após os de Ciro e Dario) foi
promulgado em 457 a.C.Você pode lê-lo em Esdras 7:12 a 26. Esse é o decreto que
os adventistas têm historicamente considerado como o cumprimento da predição de
Gabriel. Precisamos examinar dois desafios que têm sido feitos a essa conclusão.
4 dcif4 dc 4J7 ci.C. 0 primeiro problema tem que ver com a data de 457 a.C.
Alguns eruditos têm sugerido que Artaxerxes promulgou seu primeiro decreto em
458 em vez de 457. Entretanto, em meados do século 20, dois arqueólogos adven-
tistas, Siegfi.ied H. Horn e Lynn H. Wood, fizeram um estudo detalhado de evidên-
cias obtidas de antigas fontes, o qual relataram em um livro de 160 páginas intitulado
T7tc Chroím/ogy o/Ezr# 7 [A Cronologia de Esdras 7]. Eles concluíram que Esdras via-
jou para a Pdestina na primavera e princípio do verão de 457 a.C., e o decreto de
Artaxerxes passou a ter efeito no fim do verão e início do outono.7 0 erudito prcL
testante Wálter R. Martin investigou detalhadamente os ensinamentos adventistas em
meados da década de 1950 e, depois de estudar as evidências pela data de 457, concluiu
que ela era, ``agora, a data confirmada do decreto para a reconstrução de Jerusalém".8
Uma nota de rodapé sobre Daniel 9:24 da, Hczrpcr Sf#dy Bi'6/c diz:

0 fcrmi.Í"s 4 qtmg para o começo dessas 69 semanas é declarado como d4 promri-


gação da pala't;t';a (ou decreto) até a restauração e reconstrução de]erusalém (v. 25). lsso
pode se referir ao decreto divino ou a um de três editos históricos: (1) o decreto
0 COMEC0 E 0 FIM DÃS ó9

do rei Ciro em 538 a.C. qd 1:1-4); (2) a ordem de Artaxeixes para Esdras em
457 a.C. (que, aparentemente, envolveu autoridade para erigir os muros deJeru-
salém, conforme Ed 7:6, 7; 9:9); (3) a ordem, em 445 a.C., para Neeinias recons-
truir os muros (tarefa que Esdras não pôde cumprir). Dessas opções, a (1) deve
ser eliminada por acontecer longe do tempo do ministério de Cristo; a (3) acon-
tece demasiadamente tarde, a menos que os anos lunares sejam utilizados no
cômputo.Apenas a (2) acontece de acordo com os anos solares regulares, pois dá
o resultado de 27 d.C., ou o começo do ministério de Cristo.t°

Minha conclusão é que a datação adventista do primeiro decreto de Artaxerxes


como 457 a.C. é bastante razoável.
4/#/f4 dc mcí£Ção d4 r€co#sfrwçõo cJo fcmpío. Um segundo problema tem que ver com
o evento que deveria marcar o começo das 69 (e 70) semanas: a promulgação de um
decreto "para restaurar e para edificar Jerusalém". Lendo essas palavras em português,
temos a impressão de que as palavras rcsf4#Í4r e ccí#cw são sinônimos, pois ambas se
referem à mesma atividade - algo como dizer "chorar e prantear". Acredito que a
maioria dos estudiosos de Daniel 9 tem concordado que as palavras rcsfc"rtw e cd%c#
estão relacionadas com a reconstrução de Jerusalém.
0 problema é que o decreto de Artaxerxes, de acordo com o registro de Esdras 7,
não diz nada sobre a reconstrução de Jerusalém. As obras de construção no templo
foram completa,das mais de 55 anos antes," de modo que o decreto de Artaxerxes
não foi sobre isso. 0 decreto dele autorizou cinco coisas:

• Deu permissão a qualquerjudeu, que desejasse, para voltar aJerusalém.


• Permitiu aos judeus que estavam retornando que levassem o dinheiro de que
precisassem para comprar os animais para o sacrificio e para pagar outras despe-
sas relacionadas com o serviço do templo.
• Ordenava que os oficiais do governo persa na Palestina fornecessem aos judeus
prata, trigo, vinho, azeite e sal para o serviço do templo.
• Proibiu a tributação dos sacerdotes e outros funcionários do templo.
• Autorizou os judeus a ``[nomear] magistrados e juízes que julguem a todo o
povo que está dalém do Eufrates" (Ed 7:25).

Por não haver uma única palavra sobre a reconstrução de Jerusalém no decreto pro-
mulgado por Artaxerxes em 457 a.C., muitos eruditos têm concluído que esse decreto
não cumpriu as especificações da predição de Gabriel sobre a reconstrução de]erusalém.
Por outro lado, um decreto de Artaxerxes em 444 a.C., o qual discutiremos abaixo,
deu autorização específica para que Neemias completasse a construção dos muros de
jerusalém. É por isso que alguns eruditos enxergam esse decreto como aquele que cum-
priu a declaração de Gabriel de que as 70 semanas começariam com uma ordem para
restaurar e edificar Jerusalém.
Assim, que justificativa existe para considerar o decreto de Artaxerxes de 457 a.C.
como aquele que marcou o início das 70 semanas?
€ELE§TIÁL

Restaurando e construindo Jemsaúm


A questão básica aqui é se as palavras de Gabriel "restaurar" e "edificar" são
sinônimas, se ambas se referem à reconstrução de jerusalém, ou se elas se referem
a dois aspectos distintos do retorno dos judeus para a Palestina. Owusu-Antwi
indica que as palavras hebraicas "restaurar" e "edificar" não são sinônimos. Elas
expressam "ideias diferentes no contexto de Daniel 9:25 e se aplicam a diferen-
tes aspectos de Jerusalém"." Discutirei primeiro a palavra "restaurar" e, depois, a
palavra"edificar".
]. "Resfc"rt""/cr%4/ém. Nabucodonosor invadiu a Judeia três vezes entre 605 e
586 a.C. Duas coisas aconteceram como resultado.A primeira foi que o sistema polí-
tico judeu foi desmantelado, e os judeus deixaram de existir como nação. A segunda
foi a destruiç.ão do templo dos judeus e de sua cidade. A explicação de Gabriel pan
Daniel predisse que ambas as situações seriam revertidas.
A palavra resf4wrt" é uma tradução da palavra hebraica /'Íiczsi.b, que é a forma
infinitiva da palavra st/b. Owusu-Antwi fez uma análise detalhada de swb na Bíblii
Hebraica.t3 Ele concluiu que, no Antigo Testamento, quando a forma causativa de
s%b (chamada de Hi.p## na gramática hebraica) é usada tendo terra, cidade ou nação
como seu objeto, ela se refere à restauração do controle político de uma pessoa
sobre sua cidade ou nação, não à reconstrução das estruturas fisicas dessas cidades ou
mções. Compartilharei com você as evidências citadas por ele que são suficientcs
para deixar esse ponto claro. Note que, em cada caso, a terra ou a cidade é o obje®o
direto de st/b - isto é, a coisa a ser restaurada. (Os itálicos nas citações bíblicas foram
todos acrescentados.)

não à reconstrução.
Owusu-Antwi tira a seguinte conclusão de sua análise do uso bíblico da pala-
vra hebraica swb em Daniel 9:25: "Todas as formas H¢ÃÍ.Í de swb [usadas] com `terra',
`cidade' ou `reino' como seu objeto direto [...] evidenciam um significado de restau-

ração da propriedade ou controle (isto é, governo). Portanto, fundamentado na ana-


1ogia do uso das formas H'pfti'J de swó investigadas no Antigo Testamento, sugiro que
o infinitivo lIÍ.ph£7 ("restaurar") em Daniel 9:25 se refere à restauração do controle
e do governo de ]erusalém, antes que a reconstrução das estruturas fisicas viessem
a ocorrer."i5
Aqri está o ponto.. a restauração do goi)emo da]udeia para os judeus é mencionada no pri-
mcj'ro dccrcfo dc 4rf4#c"cs, o cJccrcfo dc 4J7 4. C. Artaxerxes disse: "Tu, Esdras, segundo a
sabedoria do teu Deus, que possuis, nomeia magistrados e juízes que julguem a todo o
povo que está dalém do Eufiates, a todos os que sabem as leis de teu Deus" (Ed 7:25).
Ao autorizar Esdras a escolher magistrados e juízes, Artaxerxes estava restaurando um
pouco da autonomia, do autogoverno, ao povo judeu. No verso 26, Artaxerxes tam-
bém autorizou a punição de quem se recusasse a observar as leis de Deus, a ponto de
mandar executá-1os! E é precisamente isso que a palavra rcsf4#w - a tradução da pala-
vra hebraica s#b - significa em Daniel 9:25. Portanto, o decreto de Artaxerxes real-
mente cumpriu a especificação rcsf4#/w da declaração de Gabriel "desde a saída da
ordem para rcsf¢#Íflr e para edificar ]erusalém" (itálicos acrescentados).
2. "E#cw"/crws4/éí7t. Mas o que dizer da parte "edificar" da declaração de Gabriel?
Mencionarei dois dos fatores que precisam ser considerados.
Primeiro, é possível que o relato de Esdras sobre o decreto de Artaxerxes não tenha
incluído todo o teor do decreto. Digo isso porque Esdras fez dois relatos sobre o primeirci
decreto de Ciro, e cada um era diferente do outro. 0 decreto de Ciro, de acordo com o que
está registrado em Esdras 1 :2 a 4, autorizava não apenas a volta dos judeus para ]erusalém
e a reconstrução de seu templo, mas também incentivava os judeus que não regressaram a
doar dinheiro para o projeto de reconstrução. Entretanto, o decreto de Ciro, registrado no
capítulo 6:3 a 5, não diz nada sobre a volta dos judeus. Ele se concentra quase que exclu-
sivamente na reconstrução do templo, a ponto de especificar suas dimensões! Ele também
autoriza a volta dos artigos de ouro e prata do templo que Nabucodonosor havia levado
pa].a Babilônia anos antes. Esses dois relatos do decreto de Ciiio não são, necessariamente,
contraditórios. 0 mais provável é que nenhum dos dois cite o decreto inteiro.
Igualmente, o decreto de Artaxerxes, registrado em Esdras 7:12 a 26, pode ter
mencionado a reconstrução da cidade, e Esdras simplesmente não citou essa parte do
decreto. Existem évidências sigrificativas de que foi esse, de fato, o caso. Acompanhe
cuidadosamente o que vou dizer a seguir, pois é um tanto complexo.As evidências são
encontradas em Esdras 4, que dividirei em quatro partes.
P#rfc 1. Os cinco primeiros versos de Esdras 4 contam como os inimigos dosjudeus
tentaram impedir que eles reconstruíssem o templo, como fóra autorizado por Ciro
e D4rí.o. Italizei DcwÍ.o porque você precisa lembrar desse nome para entender minha
explicação das partes 2, 3 e 4, especialmente a parte 4.
Pzirfc 2. Essa parte começa com os versos 6 e 7, os quais declaram que osjudeus con-
tinuavam a experimentar oposição sob os governos dos reis persas Assuero e Artaxerxes;
os versos 9 a 16 registram uma carta que os inimigos dosjudeus escreveram a Artaxerxes.
Uma parte da carta diz assim: "Seja do conhecimento do rei que osjudeus que subiram
de tí víerarn a, nós aL ]erusdié:rn. Eles estão reedificando aquela rebelde e maluada cidade e uão res-
taurando os seus muros e rçpamndo os seus ftndamentos" (v.12, ítálicos a.crescentíLdos). Note
que os inimigos dosjudeus os acusaram de reconstruir sua cidade, isto é,Jerusalém. E fize-
ram essa acusação a Artaxerxes, o rei que promulgara o decreto em 457.í6 A carta continua
e adverte Artaxerxes que ele teria "prejuízos" se permitisse que a construção deJerusalém
continuasse (ver v.13), e o encoraja a verificar os registros da rebelião passa.da dos judeus.
É significativo notar que a carta não sugere que a construção do templo era ilegal ou que
estava sendo feita sem o consentimento real. Fosse esse o caso, os inimigos dosjudeus cer-
tamente o haveriam indicado. Essa é uma evidência indireta de que Artaxerxes tinha, de
fato, autorizado a reconstrução de Jerusalém.
E tem mais.
P#rfc 3. Os versos 17 a 22 declaram que Artaxerxes seguiu as recomendações desscs
inimigos dos judeus. Ele examinou os registros mantidos nos arquivos reais e descobriu
que, nos últimos anos do reino de Judá, os judeus foram, com efeito, muito rebeldes
contra Nabucodonosor e os babilôrios. Esdras, então, cita uma carta que Artaxerxcs
escreveu em resposta aos inimigos dos judeus. 0 verso 21 diz: "Agora, pois, dai ordem
a fim de que aqueles homens [os judeus] parem o trabalho e não se edifique aqueh
cidade, a não ser com autorização minha." 0 verso 23 diz que os inimigos dos judeus
"foram [...] apressadamente a ]erusalém, aos judeus, e, de mão armada, os forçaram a

parar com a obra". No entanto, note mais uma vez que Artaxerxes nunca disse que a
reconstrução estava sendo feita sem seu consentimento. E ele não suspendeu a constru-
Ção permanentemente; ele a suspendeu temporariamente até dar a ordem de reiniciá-hL
Parece razoável concluir, então, que a reconstrução de Jerusalém h4t;i.4 sido autorizada,
e que tanto os iirimigos dosjudeus como o rei reconheceram isso.
P#rfc 4. 0 último verso do capítulo diz algo muito interessante: "Cessou, pois, a oh
da Casa de Deus, a. qual estava ern ]erusalérn., e isso até do segundo ano do reinado de Dario.
rei da Pérsia" (v. 24; itálicos acrescentados). Há duas coisas singulares nesse verso. Os 18
versos anteriores são sobre os judeus construindo a c€.d4dc sob o comando de ArtaxerxE
e, sobre a ordem do mesmo Artaxerxes eles suspenderem a construção. Mas o verso 24
se refere outra vez a Dario, que precedeu Artaxerxes como rei da Pérsia. 0 verso taim
bém diz que a obra da casa "de Deus" cessou, não que a construção da cidade. Qual ê
a explicação para essa singularidade? Um esboço resuinido das quatro partes do capí-
tulo 4 poderá ajudar a esclarecer o problema e nos levar a uma solução. Note, especiaL
mente, as duas palavras, fcmpJo e/c"s4/ém, as quais eu italizei, e note também os nomcs
dos reis, os quais eu escrevi em negrito.

1.Versos 1 a 5: Os inimigos dos judeus tentaram impedi-los de reconstruir o fcnh'


pJo durante os reimdos de ciro e Dario. ]
2.Versos 6 a 16: Os inimigos dos judeus escreveram para Artaxerxes (que reincm
pelo menos 50 anos depois de Dario) declarando que osjudeus estavam recons-
truindoJcrwsciJém e exigindo que ele os impedisse.
0 E 0 FIM BAS Ó9 SEMANAS

3.Versos 17 a 23: Artaxerxes autoriza os inimigos dosjudeus a impedir a recons-


trução de Jerusalém.
4.Verso 24:A obra do fcmp/o cessa até o segundo ano de Dario.

Note a progressão de fcmpío sob Ciro e Dario (parte 1), paraJcms4Íc'm sob Arta-
xerxes ¢artes 2 e 3), e de volta para o fcmpJo sob Dario @arte 4). Por que esse vai e
vem de Dario para Artaxerxes e de Artaxerxes para Dario? Por que essa mudança do
templo para a cidade de Jerusalém e, então, de volta para o templo?
A melhor explicação parece ser que o principal propósito de Esdras no capítulo 4
foi mostrar a oposição aos projetos de reconstrução dosjudeus, tanto do templo como
da cidade, e, por isso, ele inseriu os versos 6 a 23, sobre a reconstrução ócJc"s4Jéí7t,
em seu relato sobre a reconstrução do fcmpJo. Portanto, o relato da suspensão da obra
do templo sob Dario começa nos versos 1 a 5, faz uma pausa para, nos versos 6 a 23,
inserir um relato parentético sobre a suspensão da obra de reconstrução de ]erusalém
autorizada, anos mais tarde, por Artaxerxes, e volta, no verso 24, à suspensão da obra
do templo ocorrida anos antes sob Dario.A Novaversão lnternacional reconhece esse
problema colocando um subtítulo antes do verso 6 (no qual começam as partes 2 e 3)
que diz: "A oposição nos reinados de Xerxes e Artaxerxes".
Assim, embora a Bíblia realmente não cíiÉ4 isso, é muito provável que Artaxerxes
dcJ#fo tenha autorizado a reconstrução de Jerusalém em seu decreto de 457 a.C., e
Esdras 4 registra a reação a esse decreto pelos inimigos dosjudeus.William Shea disse:
"Por que o decreto [de restaurar e edificar]erusalém] a,parece em Esdras 7 quando a
referência à reconstrução está em Esdras 4? 0 1ivro de Esdras não está organizado em
uma ordem cronológica estrita. Isso é especialmente verdade quanto ao material do
capítulo 4. Seu propósito era registrar os contínuos esforços dos inimigos dos judeus
para impedir tanto a reconstrução do templo como da cidade."í7
Naturalmente, isso levanta a pergunta: "Por que Artaxerxes autorizaria a recons-
trução de ]erusalém em 457 apenas para rescindi-la na metade do andamento do
projeto de construção?" Shea levanta essa pergunta, e sua resposta é que Artaxerxes é
conhecido, a partir de fontes históricas, por ter sido um indivíduo instável, que podia
ser facilmente influenciado a mudar de ideia.ís Parece ter sido isso o que aconteceu
no caso de sua autorização e,1ogo, desautorização da reconstrução de ]erusalém.
Concluindo, a evidência bíblica sugere que Artaxerxes dc/#fo autorizou os judeus
a reconstruírem sua cidade no tempo de seu primeiro decreto, em 457 a.C., e o seu
decreto, como registrado em Esdras 7, simplesmente omite esse detalhe. Ele mudou
de ideia quando os inimigos dos judeus protestaram. Poucos anos depois, outra vez
mudou de ideia, permitindo que os judeus continuassem a reconstruir a cidade. Esse
foi o propósito do seu segundo "decreto", o qual passaremos a considerar agora.

0 segundo "decreto" de Anaxerxes


Neemias era umjudeu que servia como copeiro do rei Artaxerxes.]9 Certo dia, ele
recebeu notícias perturbadoras sobre alguns judeus que haviam chegado de Jerusalém:
os muros da cidade haviam sido derrubados e os portões, queimados. Neemias chorou,
CELESTIAL

jejuou e orou por vários dias. Aparentemente, o imperador era uma pessoa atenta,
pois notou a tristeza de Neeririas e lhe perguntou o que ocorrera. Quando Neeinias
lhe contou o que havia acontecido com os muros e portões de ]erusalém, o rei disse:
``Que me pedes agora?" (Ne 2:4). Neemias pediu perinissão para ir pessoalmente a

Jerusalém para supervisionar a construção dos muros e dos portões.Também pediu para
Artaxerxes escrever duas cartas: uma autorizando-o a viajar para a judeia e, a segunda,
autorizando que a madeira para o pFojeto de construção fosse retirada da floresta real.
0 imperador atendeu aos pedidos de Neemias. Ele escreveu as duas cartas e autori-
zou Neemias a tirar uma licença de seu trabalho como copeiro.Tudo isso ocorreu em
444 a.C.,13 anos depois de o mesmo rei Artaxerxes ter escrito seu primeiro decreto
autorizando a restauração do governo para os judeus e a reconstrução de jerusalém.
Muitos eruditos conservadores consideram o segundo "decreto" de Artaxerxes
como aquele que cumpriu a predição de Gabriel sobre a reconstrução de ]erusalém,
porque ele especificamente autorizava Neemjas a reconstruir os muros da cidade.
Contudo, há vários problemas com essa conclusão.
Primeiro, você deve ter notado que venho colocando a palavra "decreto" entre
aspas quando me refiro ao segundo decreto de Artaxerxes. Fiz isso porque esse assim
chamado ``decreto" era, na verdade, nada mais que duas cartas autorizando Neemias
a viajar para aJudeia, construir os muros de Jerusalém e obter material de construção
das florestas reais (Ne 2:7, 8). Não foi um decreto real como os que foram promulga-
dos por Ciro em 538, Dario em 520, e Artaxerxes em 457, chamados, cada um delcs.
de decreto (ver Ed 6:3, 8; 7:12,13). Os decretos de Ciro e Artaxerxes autorizavam
qualquerjudeu a voltar para a]udeia, se assim desejasse, e, em ambos os casos, milhares
responderam positivamente. Mas as cartas de Artaxerxes para Neemias em 444 nunca
foram chamadas de decretos. Elas simplesmente autorizavam Neemias, como indiu'-
duo, a viajar para aJudeia para conduzir a reparação dos muros deJerusalém.
Segundo, a informação sobre a derrubada dos muros e portões de ]erusalém che-
gou para Neemias como uma #ofíci'4. Essa informação certamente não seria umi
notícia para ele - que dirá #of!'ci.45 pcrf#rb4doms - de que Nabucodonosor havia des-
truído os muros deJerusalém 150 anos antes. Neemiasjá teria sabido disso desde su
infância. 0 que parece muito mais provável é que a reconstrução já tivesse come-
Çado com os muros de Jerusalém, e Neemias teria ficado chocado com a notícia diE
que os inimigos dos judeus não somente fizeram parar a reconstrução, como também
derrubaram algumas partes do muro. Teria sido essa a interferência feita pelos inimi-
gos dos judeus durante a, reconstrução de Jerusalém registrada em Esdras 4 e que jí
discuti algumas págims atrás.
Terceiro,Neemiasnãorecebeuautorizaçãoparareconstruirací'd4dcde]erusdénj
Em resposta a seu requerimento, foi-lhe dada permissão apenas para reconstruir -
mw/os da cidade.
Quarto, Neemjas e seus companheiros judeus completaram a construção dmt
muros e portões de ]erusalém em apenas 52 dias (ver Ne 6:15). Dificilmente elcS.
teriam terminado a tarefa em tão pouco tempo se estivessem reconstruindo tud®
o que Nabucodonosor destruíra 150 anos antes. Parece muito mais provável que |
FIM nAs óg

única coisa que os judeus tivessem para completar sob a liderança de Neemias fosse a
parte do muro ainda não terminada no momento em que os inimigos os obrigaram
a parar, além daquilo que esses mesmos inimigos tinham destruído.
Quinto, uma razão muito convincente para rejeitar a autorização de Artaxerxes
para Neemias como o cumprimento da predição de Gabriel é que ela não se encaixa
com a cronologia dessa predição.Você deve se lembrar de que Gabriel disse que 483
anos (69 semanas) passariam desde a promulgação do decreto para restaurar e cons-
truir ]erusalém até o Príncipe-Messias. Um pouco antes, neste capítulo, indiquei que
483 anos cobrem exatamente o tempo decorrido desde o decreto de Artaxerxes, em
457 a.C. até 27 d.C., precisamente o ano do batismo de Cristo. Quando esses mesmos
483 anos são calculados a partir da autorização de Artaxerxes para Neemias recons-
truir os muros de Jerusalém em 444 a.C., eles se estendem até 40 d.C., vários anos
depois de Cristo voltar para o Céu. 0 período de 483 anos simplesmente não fun-
ciona com a data de 444, mas se encaixa perfeitamente com a data de 457.
Portanto, evidências tanto da história secular como da Bíblia apoiam a conclusão
de que o decreto que cumpre a predição de Gabriel sobre a "ordem para restaurar e
para edificarJerusalém" como o ponto em que começam as 69 (e as 70 semanas) é
aquele promulgado por Artaxerxes 1 em 457 a.C. Por tudo isso, considero a conclu-
são adventista sobre as 70 semanas e a sua relação com os 2.300 dias de Daniel 8:14
muito razoável, a partir de uma perspectiva bíblica.
Em conclusão, devo observar que Daniel 9:25, com sua predição muito específica
sobre o tempo da primeira vinda de Cristo, dá-nos a certeza de que, verdadeiramente,
a Bíblia é divinamente inspirada, pois somente um ser que conhece o fúturo poderia
ter feito uma predição cronológica tão precisa centenas de anos antes. Estou certo de
que Daniel teria preferido que o Messias chegasse em seus dias, assim como deseja-
mos que Cristo Se apressasse e voltasse em nossos dias. Mas o nosso calendário não
é o calendário de Deus.jesus voltará "na plenitude do tempo" (Gl 4:4), assim como
veio no tempo certo, cerca de 2 mil anos atrás.
Gostaria de observar, também, que o mesmo Deus que cuidou das preocupações
de Daniel também cuida das suas e das minhas preocupações. Ele pode não enviar um
anjo em pessoa como fez com Daniel, mas nos guiará em nossa busca por respostas e
na solução para os problemas que enfrentamos.

' De fato, existem evidências de que,já em meados do 2Q século a.C., os essênios de Qumran interpretavam
Daniel 9:25 como uma referência ao esperado Messias (ver Gerhard Hasel, "Interpretation of the Chro-
nology of the Seventy Weeks", em 70147€cÁ:s, IÁ't;Í.f!.cÍ/s, N4f#% o/PropbcqJ, p. 47) . Os essênios eram uma seita
ultraconservadora de judeus que víveram em uma comunidade perto do Mar Morto chamada Qumran
por aproximadamente 200 anos, até a destruição de ]erusalém em 70 d.C. pelos romanos. Seus escribas
escreveram os Rolos do Mar Morto.
2 Todas essas datas são discutidas por Arthur]. Ferch, "Commencement Date for the 70 Week Prophecy", em
70 Til4eeks, I-euiticus, Nature of Prophecy, p. 64-7 4.
3 Digo "quase certamente" porque tem sido questionado se Lucas utilizou o método judaico ou o romano

para calcular o 15Q ano de Tibério Cesar. No artigo sobre a cronologia do Novo Testamento, o Comc#fóri.o
Bf'é}/Í'co J4dtJe#fi.5Í4 do Séfi'mo Dí.4 conclui que o "mais provável" é que ele tenha usado o método judaico, que
NA CORTE CELESTIAL

dataría o 159 ano de Tibêrío Césai corno 27 d.C. (ver Comentário Bt'blico Aduentista do Sétimo Dia, v. 5, p.
239-244, especialmente p. 244).
4Vcr Brernpong Owusu-Ant"T±, The Chronology of Daniel 9:24-27, p.128.
5 Cottrel, "The `Sanctuary Doctrine", p. 25; itálicos acrcscentados.
6 0wusu-Antw±, The Chronology of Daniel 9:24-27, p.130,131.
7 Sígfiied H. Horn e Lynn H.Wood, T7®c CÃrowo/qg}; o/Ezrti 7, p.117.
8Wüter R. Martin, 77cc Tr#fji ,4boí/f Sct/c#fh-d4y J4dtJcÍ3ft.sm, p.174. Martin cita o livro de Horn e Wood para
apoiar essa declaração. Para um resumo das evidências que dão apoio à data de 457 a.C., ver Owusu-Antwi,
The Chronology of Daniel 9:24-27, p. 295-299 .
9 Ponto de origem, ponto de partida..
]° H4rpcr Sfí/dy Bi.bíc, p.1313; itálico do original.
]' Ver Arthur J. Ferch, "Commencement Date for the 70 Week Prophecy", p. 69.
" O`wusu-ALn:C"71, The Chronology of Daniel 9:24-27, p.132.
i3 ibid., p.131-136.
" Nota do tradutor: Nessa passagem, como nas duas seguintes (e em todo o livro, exceto quando o contrário
é indicado), o autor utiliza a versão New King ]ames, em que a palavra hebraica s#b é traduzida como
``restaurar". A maioria das versões em português traduz sÍ/b como "restituir"` Para manter a coerência do

argumento do autor, optamos por traduzir as passagens, em vez de citá-las m versão em português.
" Ibid., p.135-136.
" Isso não pode se referir ao decreto de Artaxerxes de 444 a.C. porque, no caso desse decreto, os inimigos dos

judeus tentaram impedir a construção dos muros de jerusalém, mas Neemias e seus companheiros judeus
resistiram e completaram o projeto.
`7 William Shea, "The Prophecy of Daniel 9:24-27", em 70 I4Íccks, IÁ"i.fí.cws, N4Íwrc o/PropÁciq;, p. 87; ver tam-
bém Owusu-ArLtwí, "e Chronolog]! of Daniel 9:24-27, p. 294, 295.
„ Ibid., p. 88.
t9 A história está relatada em Neemias 1 e 2.
NmsÁdicionai§
aü Capítulo
A DATA PARA 0 FIM
DAS 70 SEMANAS

Sà.ã.,7i,sae:uaen:sí4d?:n=s:3àoz::çsaer.=aen:e4á7q:.eci,s:ênvtf:fi:l.ffiapt:=i:dffo:=oe:ap3í:
tulo 24, compartimei com você a base teológica para identificar o martírio de Estevão
como o ponto de término das 70 semanas.A questão aqui tem que ver com a parte cro-
nológica dessa conclusão. Existe alguma evidência bíblica para endossar 34 d.C. como o
ano da morte de Estêvão?
A resposta é sim, com base na cronologia disponível sobre a vida do apóstolo Paulo.
Devo a William Shea a explicação abaixo.
Sabemos que Paulo (que, nesse tempo, ainda se chamava Saulo) estava presente
quando Estêvão foi apedrejado, porque Atos 7:58 diz que ele ficou de guarda sobre as
roupas das testemunhas, e o capítulo 8:1 diz que "Saulo consentia na sua morte".A his-
tória relatada em Atos não fornece informação cronológica suficiente para datarmos o
martírio de Estêvão. Entretanto, é possível chegar a uma data aproximada para a conver-
são de Paulo, que deve ter ocorrido poucos meses depois da morte de Estêvão.
Durante sua segunda viagem missionária, Paulo passou um ano e meio em Corinto.
Por volta da metade de sua estadia ali, os judeus o trouxeram perante um tribunal
romano porque "[Paulo persuadia] os homens a adorar a Deus por modo contrário à
lei" (At 18:13). Um homem de nome Gálio ouviu o caso e prontamente o conside-
rou encerrado, tomando como base o fato de que esse caso estava relacionado com
a lei judaica e não com a romana. Shea indica que "o mandato de Gálio como pro-
cônsul pode ser datado de 51 a 52 d.C. com base na inscrição encontrada em Delfi, a
qual faz menção a ele".] Existem dados cronológicos suficientes, no Novo Testamento
(ver, por exemplo, G11:18; 2:1), para que, retrocedendo no tempo, desde 51 a 52 d.C.
até 34 d.C., cheguemos ao ano da conversão de Pau]o e do martírio de Estêvão. Shea
concluiu que "embora o ponto possa não ser provado cabalmente, a data mais razoá-
vel disponível para o apedrejamento de Estêvão é 34 d.C.".2

[ William Shea, ``The Prophecy of Damel 9:24-27", em 70 M/ccks, IÁ"í.Ít.c#s, N4f#re oJPop¢cqJ, p.104.
2 Ibid.
A SEPTUAGÉSIMA
SEMANA E
FINAL DE J

[snefetL:zr=oe:t:Lopqéus:L:a:Secn]:tsí::a:oqa:::à:aseLpea::rD=:Loe:.n£=3:r:çtoefÊa£±as:deoGnaebcre]se:
sários 490 anos para que Jerusalém e seu templo fossem restaurados, pouco tempo
depois de termjnado esse período, ambos seriam destruídos. A pergunta não é sc eles
seriam destruídos, mas quem seria o responsável por sua destruição. Como veremos,
a questão é a identificação do "príncipe" dos versos 26 e 27.
Esses dois versos consistem de 12 lin`has poéticas. Analisarei algumas delas mais
detalhadamente, enquanto as outras, especialmente as que são um tanto obscuras,
comentarei de forma resumida. Outra vez, dei números às linhas para facilitar a
discussão.

1. ``Depois das sessenta e duas semanas,


2. Será morto o Ungido e já não estará;
3. E o povo de um príncipe que há de vir
4. Destruirá a cidade e o santuário,
5. E o seu fim será num dilúvio,
6. E até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.
7. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana;
8. Na metade da semana,
9. Fará cessar o sacrificio e a oferta de manjares;
10. Sobre a asa das abominações virá o assolador,
11. Até que a destruição, que está deterininada,
12. Se derrame sobre ele."

I.inhas 1 e 2: "Depois das sessenta e duas semanas, / será morto o Ungido e já não estafá."
0 Ungido [Messias] desse verso é Jesus Cristo. As palavras "será morto" se referem a
Sua crucifixão.A palavra hebraica é k4rj3fh, que sugere que a morte do Messias seria vio-
lenta. K4Íflf# es.tá na voz passiva, o que significa que a morte seria infligida 4o Messias
por outros.Tudo isso é verdade quanto à morte de]esus.Além disso, o texto diz que o
Messias seria morto dcpoi.s de 62 semanasí, isto é, cJcpoi.s de Sua unção em 27 d.C. Isso
também é verdade quanto a Cristo, uma vez que Ele foi crucificado, muito provavel-
mente, em 30 d.C. ou 31.2
A versão Almeida Revista e Atualizada diz que o Messias seria morto "e já não
estará". A Novaversão lnternacional diz que "já não haverá lugar para Ele". Shea
começa sua discussão sobre essas palavras dizendo: "Seja qual for o significado dessa
declaração [...]."3 As palavras hebraicas são cÍ.# /o, que Shea traduz como "Não haverá
A SEPTUASɧlMÁ §EMANA E 0 DE§T!Nü FINAL DE

para ou por Ele".4 Essas palavras não dizem quem ou o que estaria indisponível para
o Messias. Shea argumenta que as palavras significam que Jesus não teria ninguém
disponível por Ele, isto é, estaria totalmente abandonado. Certamente, isso foi verdade
quanto a Cristo, pois até Seus amigos "deixando-O, fugiram" (Mt 26:56; ver também
Mc 14:50). Raymond Cottrell argumenta que cíÍc significa que ``o príncipe morto
não teria sucessor".5 Isso, naturalmente, também seria verdade quanto a Cristo.
Linhas 3 e 4: "E o pouo de um príncipe que há de uir / destruirá a cidade e o santuário:'
A destruição da cidade e do santuário possivelmente se refira à destruição de ]erusalém
e do templo em 70 d.C. Quem seria, então, o "príncipe que há de vir''? Uma inter-
pretação muito comum é que ele é uma pessoa muito má, pois viria destruir]erusalém
e o templo. Raymond Cottrell adotou esse ponto de vista.6 0s dispensacionalistas,
que empurram a última das 70 semanas para o tempo do fim, afirmam que esse
príncipe mau será o anticristo, por ocasião da tribulação (aquilo que os adventistas
chamam de "tempo de angústia").Visto que não há fundamento exegético para sepa-
rar a última das 70 semanas das primeiras 69, descartarei esse ponto de vista sem
mais comentários.
Entretanto, duas outras interpretações merecem nossa consideração. Uma delas
é que o príncipe do verso 26 é Tito, o general romano que liderou o ataque contra
]erusalém. Nessa interpretação, o povo desse príncipe que há de vir seriam os exérci-
tos de Tito, que, como se sabe, de fato destruíram Jerusalém. A outra interpretação é
que o príncipe nesse verso é a mesma pessoa que o Príncipe-Messias do verso 25, isto
é,jesus. Nessa interpretação, o "povo do príncipe" seriam osjudeus, que, por causa de
sua rebelião, foram a causa última da destruição da própria cidade.
Qual delas, então? Note que nada no texto do verso 26 requer que o príncipe
seja uma pessoa má. É o "povo" do príncipe que há de vir para destruir a cidade e o
templo, não o próprio príncipe. 0 verso anterior se refere ao "Ungido [Messias], o
Príncipe", a quem muitos intérpretes cristãos nos últimos 2 mil anos têm interpre-
tado como Jesus Cristo. A linha 2 do verso 26 ffla do "Messias" sendo morto depois
de 62 semanas, e a linha 3 fala do "príncipe". Em outras palavras, o verso 26 demons-
tra esses dois títulos de Jesus e usa cada um separadamente. Portanto, me parece que o
príncipe do verso 26 é ]esus.7
Línhas 5 e 6: "E o seu fim será num dilúuio, e até ao fim hauerá guerra; desolações são
dcfcrmí'#4d4s. " Os exércitos romanos de fato invadiram a ]udeia como se fosse "um
dilúvio". Quando capturaram a cidade, eles destruíram o templo e não deixaram
quase nada de pé, fazendo a palavra dcso/4Çõcs uma descrição adequada da cidade
depois da invasão.
Linha 7: "Ele firáfirme aliança com muitos, por uma semana. " Urm díis questões £un-
damentais nesta linha é a identificação de "ele". Se o príncipe da linha 3 for o gene-
ral romano Tito, então a palavra c/e se refere a Tito. Por outro lado, se o príncipe for
jesus, então a palavra "ele" se refere a]esus.
Gabriel disse que o ``ele" da linha 7 faria uma "firme aliança com muitos, por #m4
scm4#4" (itálicos acrescentados).A palavra sc#"Í" aqui é uma referência óbvia à última
das 70 semanas. Se identificarmos o "ele" como Tito, então uma, pergunta óbvia é:
NA CSRTE CELESTIAL

Como Tito teria feito uma aliança de uma semana com alguém? Não há evidência
histórica de que ele tenha feito isso. Além disso,Tito destruiuJerusalém em 70 d.C.,
muito depois de 34 d.C., quando aquela "uma semana", a septuagésima e última
semam da profécia, terminou. Por outro lado, se o ``ele" da linha 7 for o Messias, que
é jesus, e se o concerto for o mesmo que Deus fez com o antigo lsrael, então ]esus
dc/4fo tentou fazer essa aliança com osjudeus. 0 período comprobatório dos judeus
continuou após a morte deJesus, em 34 d.C., e, durante esse tempo, Deus continuou
se esforçando para fazer o povo judeu aceitar Jesus como seu Messias por meio da
pregação dos apóstolos. Infelizmente, todo o esforço foi em vão: algum tempo depois,
os judeus apedrejaram Estêvão, o último dos profetas que Deus lhes enviara, fazendo
com que fossem rejeitados como povo escolhido. É assim que os adventistas sempre
entenderam a linha 7, e eu creio que eles estejam corretos em fazê-lo.
Linhas s e 9 : "Na metade da semana, / f irá cessar o sacrif láo e a of irta de manüares. " Q:uando
interpretamos a palavra ``ele" como Jesus, é natural que consideremos que, por meio de
Sua morte,Jesus deu fim ao sistema sacrificaljudaico. Os judeus continuaram a oferecer
Seus sacrificios até a destruição do templo em 70 d.C.; mas, após a morte de Cristo, es-
ses sacrificios pararam de ter qualquer significado aos olhos de Deus. 0 véu rasgado do
templo sinalizava o fim desses sacrificios (ver Mt 27:51 ; Mc 15:38`; Lc 23:45) . Mais uma
vez: essa é uma interpretação adventista padrão, e acredito que ela seja correta.
Linhas 10 a 12: ``Sobre a asa das abominações i)irá o assolador, até que a destruição, que está
dcíc/mi.#¢dci, sc dcmzmc 5obrc cJe. " Os elementos lexicais "sobre a asa de" são, aparentemente,
uma e2pressão idiomática que significa "imediatamente depois" ou "de consequência
imediata". No verso 25, Gabriel predisse a reconstrução de Jerusalém e a restauração
de parte da autoridade política dos judeus. Entretanto, isso não duraria muito. Nas três
linhas finais do verso 27, Gabriel predisse o destino final de Jerusalém: ela seria deso-
lada, isto é, totalmente destruída. Quem causou essa desolação - o assolador - foi, natu-
ralmente, o imperador romano e suas forças.
Tristemente, o que começou como uma esperançosa predição de restauração dos
judeus termjnou com sua rebelião e destruição; não haveria mais restauração. No
entanto, os judeus se apegaram à crença de que eles são o povo escolhido de Deus.
Como é fácil pensar que se tem o favor de Deus, quando na verdade, não tem!

` Gabriel fàlou sobre "sete sermnas e sessenta e duas semams", um total de 69 semanas. Assim, a declaração
"depois das sesseiita e duas semanas" sigmfica no fim das 69 semanas.
2 0s dados disponíveis atualmente são insuficientes para determinar cabalmente o ano em que Cristo foi
crucificado. Para uma discussão detalhada sobre esse assunto, ver o Comc#fórí.o Bí'b#co 4dvcmfí.sf4 do Séfi.mo
DÍ.a, v. 5, p. 249-268; Wmiam Shea., "The Prophecy of Daniel 9:24-27", em: 7014ÍeeÁ!s, Lct/!.fi'cí/s, jrv4fwrc o/
Propftccy, p.102, 103.
3William Shea, "The Prophecy ofDaniel 9:24-27", em 70 WécÁ:s, Lct/i.fi.cws, N4j#rc o/Prop#ecy, p. 92.
4 Ibid.
5 Raymond F. Cottrell, "The `Sanctuary Doctrine", p. 25.
6 Ibid.
7 ]esus não destruiu nem jerusalém nem o templo, mas previu a destruição de ambos por causa da rebelião
dosjudeus (ver Mt 23:37 -24:2; Lc 21:20).
0 PRINCÍPI0 DIAIANO

V;:LLanscívpe]Zo:Suízd::fiàraê:::afe::a:;]onccaíL:à:]cdaL:::::sennetsat:]àvbr:L.]cE::::erduomcaon:]:;::
ral. Assim, os 1.260 dias de Daniel 7:25 e Apocalipse 12:6 e 14 representam 1.260
anos; os 2.300 dias de Daniel 8:14 representam 2.300 anos; e as 70 semanas de Daniel
9:24 a 27 representam 490 anos.
Os preteristas acham que o princípio dia-ano é fàlho. Os futuristas, também. Eu
não acho, contudo, que eles acreditem que esse princípio seja falho porque haja algo
errado com o próprio princípio. Desconfio que a principal razão para não aceita-
rem o princípio dia-ano é que ele não se encaixa no paradigma de interpretação das
profécias apocalípticas deles. A ideia de contar um dia profético como um ano lite-
ral somente faz sentido quando as profecias são interpretadas de acordo com o para-
digma historicista.
Os preteristas acreditam que as profecias de Dariel se cumpriram quase ao mesmo
tempo em que foram escritas. Eles interpretam as figuras antagônicas a Deus de
Daniel, os chifi-es pequenos de Daniel 7 e 8, como representantes de Antíoco IV
Epifanio. Portanto, os preteristas negam que essas profecias tenham qualquer relação
com os longos períodos da história durante a era cristã. Naturalmente, o princípio
dia-ano não faz sentido para eles; é tempo demais para que possa ser encaixado em
seu esquema de interpretação!
Os futuristas geralmente reconhecem que os animais ferozes de Daniel 7 repre-
sentam os reinos de Babilônia, Média e Pérsia, Grécia e Roma. Entretanto, eles iden-
tificam o chifre pequeno como um anticristo do fim do tempo que reinará durante
a tribulação, que será os sete anos finais da história da Terra. E eles interpretam o
tempo, tempos e metade de um tempo de Daniel 7:25 como os três anos e meio
literais de que consiste a primeira parte dos sete anos de tribulação. De acordo com
essa interpretação, há uma enorme lacuna em Daniel 7, entre o 5Q século d.C. e a
tribulação do fim do tempo, da qual a profecia não trata. E por isso que os futuristas
também não veém nenhuma necessidade de um princípio dia-ano.
Por outro lado, para os intérpretes historicistas de Daniel, o princípio dia-anó
é crucial.As profecias que começam em 457 a.C. e 538 d.C. e que vão até os nos-
sos dias requerem a extensão de tempo que esse princípio fornece. Neste capítulo,
examinarei as evidências bíblicas que dão suporte para o princípio dia-ano como
um método válido para interpretar os períodos de tempo da profecia apocalíptica.
Começarei com as evidências escriturísticas que os adventistas têm apresentado ao
longo de nossa história.
A expljcação adventista tradiciona[
Desde os dias de Guilherme Miller até o presente, os adventistas têm apontado
para dois textos bíblicos em apoio ao princípio dia-ano. 0 primeiro é Números
14:34. 0 capítulo inteiro é sobre a rebelião dos israelitas nas fronteiras de Canaã,
quando a maior parte do povo cedeu ao relatório pessimista dos dez espias. Deus disse
para Moisés que, por lsrael ter se recusado a atravessar o rio ]ordão e conquistar sua
nova pátria, eles teriam que vagar pelo deserto por 40 anos. "Segundo o número dos
dias em que espiastes a terra,, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis
sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do Meu desagrado."
Note as palavras "segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias,
cada dia representando um ano". Essa é a ideia por trás do princípio dia-ano.
0 segundo texto que temos usado está em Ezequiel 4. Nesse capítulo, Deus, por
intermédio de Ezequiel, dá aos rebeldes israelitas uma mensagem em forma de pará-
bola, a qual o profeta representaria como em um drama. Ezequiel deveria levar sobre
si as iniquidades do povo deitando-se sobre seu lado esquerdo por 390 dias, e no seu
lado direito, por outros quarentas dias, um dia por ano em que eles se rebelaram con-
tra Deus. 0 verso 7 diz: "Quarenta dias te dei, cada dia por um ano." Novamente,
note a ideia de um ano por um dia.]
Esses dois textos -Números 14:34 e Ezequiel 4:7 -constituem a principal evi-
dência bíblica dada pelos adventistas do sétimo dia para o princípio dia-ano de inter-
pretar os períodos de tempo de Daniel e Apocalipse.
Em séculos passados, muitos estudiosos da Bíblia interpretavam as profecias de
Daniel e Apocalipse de acordo com o princípio dia-ano. Hoje, porém, quase todos os
intérpretes -conservadores e liberais -negam a validade desse princípio.Até mesmo
alguns adventistas do sétimo dia negam o princípio dia-ano. Desmond Ford o afir-
mou, em 1978, em um extenso apêndice do seu livro D4Í%.cJ.2 Mas, no manuscrito
que apresentou dois anos depois em Glacierview, ele perguntou: "O#cíc csfcí 4 p/o#4
do princípio dia-ano? Números 14:34 e Ezequiel 4:7 e Daniel 9:24 a 27 são versos costu-
meiramente apresentados, mas eles certamente não cumprem o que lhes é exigido. (Nenhurna
dessas passagens declara ser uma regra para todas as profecias simbólicas que um dia
signifique um ano.)" E Raymond Cottrell chamou o princípio dia-ano um "pseu-
doprincípio" para o qual "não há, em absoluto, base bíblica".4
Ford e Cottrell estão certos? Começarei concordando que, em nenhum lugai, a
Bíblia dcc/wt7 diretamente o princípio dia-ano. Nenhum dos textos que citei acima
realmente dcc/c% isso. Portanto, Ford e Cottrell estão certos ao dizer que a Bíbha não
dccJ4~4 o princípio dia-ano palavra por palavra. Contudo, também devo apontar que,
em nenhum lugar, a Bíblia dccJcwfl a doutrim da trindade. Mesmo assim, muitos cristãos,
inclusive os adventistas do sétimo dia, creem que ela é um dos ensinos fundamentaís
do cristianismo. Cremos que a trindade pode ser facilmente cJc/i.t"d4 a partir do que a
Bíblia diz a respeito de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Do mesmo modo, pro-
ponho que o princípio dia-ano também pode ser dcri.t/4do a partir das Escrituras, muito
embora as Escrituras não o declarem como tal.
Então quais são as evidências bíblicas a partir das quais derivamos o princípio dia-ano?
As profecias de longo prazo de Daniel
Tenha em mente que o princípio dia-ano caminha de mãos dadas com o método
historicista de interpretar as profecias bíblicas. Os historicistas entendem que as pro-
fecias de Daniel cobrem milhares de anos da história, começando com o tempo do
próprio profeta e continuando, em um fluxo ordenado, até o fim do mundo, ou, no
caso de Daniel 8, até o tempo do fim. As declarações concernentes ao tempo de
Daniel 7 e s estão nesse contexto. Os 1.260 dias do capítulo 7:25 e os 2.300 dia,s
do capítulo 8:14, se interpretados literalmente, correspondem a 3,5 e 6,3 anos, res-
pectivamente, o que é pouquíssimo tempo para abranger os longos períodos que o
método historicista requer. Assim, é óbvio que, pelo método historicista, esses perío-
dos fc##4m de ser interpretados simbolicamente. Isso não deveria nos surpreender,
visto que Daniel 7 e s são altamente simbólicos, com seus animais e chifres represen-
tando grandes nações.
Se estivéssemos começando a interpretar esses períodos pela primeira vez, que uiri-
dade de tempo acharíamos que cada dia representa? Nós, os humanos, dividimos o
tempo de quatro maneiras primárias: horas, dias, meses e anos. As horas estão fora de
cogitação para a interpretação desses períodos de tempo, assim como os dias. Mesmo se
usássemos os meses para efeito de cálculo, ficaríamos com pouquíssimo tempo: 42 meses
para o tempo, tempos e metade de um tempo, e 76,7 meses para as 2.300 tardes e
manhãs. Assim, se os períodos de tempo simbólicos de Daniel 7 e s tiverem alguma
relevância para o método histórico-crítico de interpretar essas profecias, eles têm que
ser interpretados como anos. E, como indiquei no capítulo 10, a palavra aramaica para
"tempo" na expressão "tempo, tempos e metade de um tempo" é `Í'cíd4Í€, a mesma pala-
vra que aparece em Daniel 4:16, que muitos intérpretes entendem como "anos".
Cumpre indicar também que, quando João repetiu a profecia dos 1.260 dias de
Daniel em Apocalipse 12, ele também aplicou isso à perseguição do povo de Deus
por um longo período.A perseguição ocorreria entre a ascensão de Cristo e a crise do
tempo do fim (ver v. 6 e 14). Portanto, o contexto tanto de Daniel como de Apocalipse
deixa óbvio que três anos e meio litera.is são totalmente inadequados para cobrir o
vasto período de história envolvido.
Alguns críticos do princípio dia-ano têm objetado que nem Daniel 7:25, 8:14,
nem 9:25 usam palavras aramaicas para di.c{. Ellet J.Waggoner, conhecido pelos even-
tos de 1888, levantou esse argumento após sua saída da lgreja Adventista. Ele disse:
"Aqui [em Daniel 8:14] é-nos dito para acreditar que temos um termo para o dia
figurativo o qual nunca é usado na Bíblia para a palavra `dia.' [...]. Há uma única
palavra hebraica que em todos os lugares é traduzida corno `dia' nas Escrituras em
hebraico. Nunca terão pensado por que uma exceção deveria ser feita aqui?"
Com respeito à crítica de Waggoner, observarei que, se o anjo que fflou sobre tar-
des e rnanhãs em Daniel 8:14 tinha em mente um período de tempo, e todos os intér-
pretes concordam que ele tinha, então temos que entender que essas tardes e manhãs
compreendem 4Íg#m4 unidade de tempo. E todos parecem concordar que o significado
pretendido é df'czs. Alguns intérpretes entendem como 2.300 metades de um dia, (1.150
dias inteiros); outros, como 2.300 dias inteiros. De umjeito ou de outro, todos chegam a
NA CORTE €ELESTIAL

um período de tempo marcado por dí.4s. Sendo assim, o que há de errado com interpre-
tar "tardes e manhãs duas ril e trezentas" como 2.300 dias, como fazem os adventistas?
A própria ausência da palavra literal dí.¢ nas linguagens originais em que foram
escritas as profecias de Daniel 7, 8 e 9 é uma das melhores evidências de que a lingua-
gem é simbólica. William Shea comenta: "A utilização de unidades de tempo inco-
muns, não empregadas corriqueiramente para computar o tempo, tais como `tarde
e manhãs', `tempos' e, de certa forma, até `semanas', dá apoio à ideia de que alguma
coisa a mais do que apenas tempo literal está envolvida aqui. Unidades incomuns
como essas se encaixam melhor com tempo simbólico e provavelmente tenham sido
escolhidas para enfatizar esse ponto."6
Gerhard Pfandl, um dos diretores associados do lnstituto de Pesquisa Bíblica,7
indica que a expressão "tempo, tempos e metade de um tempo" de Daniel ocorre
outra vez em Apocalipse 12:6 como "mil duzentos e sessenta dias", em Apocalipse
12:14 como "tempo, tempos e metade de um tempo'' e em Apocalipse 13:5 como
"quarenta e dois meses". Por outro lado, ele diz, "a expressão natural `três anos e seis

meses' não é usada sequer uma vez".8 Ele, emão, cita o autor do século 19,Thomas R.
Birks, que disse: "0 Espírito Santo de alguma maneira parece exaurir todas as frases
pelas quais o intervalo poderia ser expresso, excluindo sempre aquela forma que seria
usada naturalmente em escritos ordinários, e é invariavelmente usada nas Escrituras,
em outras ocasiões, para denotar um período literal. Essa variação tem um maior sig-
nificado se aceitamos o sistema dia-ano, mas é bastante inexplicável em qualquer outro
ponto de vista."
Alguém pode objetar que não há consistência no símbolo empregado para unida-
des de tempo: tempo, tempos e metade de um tempo em Daniel 7; tardes e manhãs
em Daniel 8; e semanas em Daniel 9. Isso não deveria ser um problema, pois Daniel
representou nações no capítulo 2 como metais e barro; no capítulo 7, como arrimais
selvagens e no capítulo s como animais domésticos e chifres. Sendo assim, não nos
deveria surpreender que Da.niel tenha usado uma variedade de símbolos para repre-
sentar o tempo.

A primeira vez em que o princípio dia-ano foi reconhecido


Alguns críticos do princípio dia-ano afirmam que ele não era conhecido nos tem-
pos bíblico e que tampouco era conhecido pelos intérpretes de profecias centenas
de anos depois. da era neotestamentária. Assim, Raymond Cottrell disse: "A ideia de
um dia por um ano aplicada à profecia bíblica aparece pela primeira vez na tentativa
feita no 9Q século d.C. pelo erudito judeu caraíta Nahawendi de relacionar o cum-
primento das profecias de Daniel com os eventos de seus dias."í°
Entretanto, Wiuiam Shea encontrou evidências significativas de que o princípio
dia-ano já era entendido por intérpretes de profecias judeus pelo menos rnil anos
antes de Nahawendi. Ele diz: "Com base em recentes pesquisas efetuadas em mate-
riais judaicos do 2Q século a.C., ficou evidente que o princípio dia-ano era conhe-
cido e aplicado por intérpretes judeus durante o 2Q século e até anteriormente, no
período pós-Qumran.Já não se pode sustentar que o princípio seja um fenômeno do
0 pRINCíplo

9Q século d.C." Para apoiar sua declaração, Shea cita evidências da literatura helê-
nica, da literatura de Qumran e de intérpretes judeus pós-Qumran. Mencionarei dois
exemplos.
0 Livro dos]ubileus foi escrito entre 135 e 105 a.C., e, ali, a palavra scm4Ím ocorre
mais de 80 vezes.A partir de um exame desse livro, Shea diz:"Fica claro que essas refe-
rências a `semanas' devem ser interpretadas com base no princípio dia-ano."t2 Ele pros-
segue citando o exemplo da idade que Noé tinha no tempo de sua morte, que era 950
anos (ver Gn 7:6; 9:28). 0 Livro dos Jubileus se refere a esse período como 19 jubi-
leus, dí% scm4#4s e cinco anos. Um jubileu é igual a 49 anos. Eis aqui como fimciona
este esquema.

19jubileus 19x49 anos = 931 anos

2 seinanas 2 x 7 anos = 14 anos

5 anos 5 anos = 5 anos

Total 950 a.nosl3

Note que o primeiro e o terceiro desses elementos são mencionados em termos


de anos, mas o segundo é mencionado como "semanas" e, logo depois, como anos,
com base no princípio dia-ano. Esse é um exemplo claro do uso desse princípio pelo
menos cem anos antes do nascimento de Cristo.
01ivro de 4 Esdras, de cerca do ano 100 d.C. (o período pós-Qumran) aplica o
princípio dia-ano duas vezes. Uma delas tem que ver com um julgamento de sete
anos ocorrido antes do reino messiânico. 0 autor de 4 Esdras diz: "Sua duração será
como se fosse uma semam de anos. Esse é o meu julgamento e a ordem prescrita"
(4 Esdras 7:43, 44). Shea indica que "esse apocalipse emprega a palavra `semana' para
representar (por meio dos sete dias da semana) um período de sete anos. Assim, aqui
fica explícito o princípio dia-ano, uma vez que a `semana' está identificada com uma
`Semana de anos".14

Portanto, o princípio dia-ano não se originou com o erudito judeu Nahawendi,


no 9Q século d.C. Comenta,ristas judeus,já no 2Q século a.C., mencionaram-no de
maneira explícita!
Na verdade, esse princípio existiu mesmo antes disso.

0 uso de d/.a no Antigo Testamento com o significado de ano


Como mencionamos previamente, a palavra hebraica para "dia" é yom, como em " yom
K!ÍÍpwr" @ia da Epiação). Algumas vezes, porém, yom é usada no Antigo Testamento
com o significado óbvio de "ano''. Isso acontece até mesmo no livro de Daniel. Por
exemplo, Daniel 1 : 18 diz que, quando Daniel e seus três companheiros completaram sua
educação m "Universidade de Babilônia", eles compareceram diante do rei Nabuco-
donosor "ao fim dos cJí.cÜ" (ARC).í5 Entretanto, o verso 5 diz que a educação deles de-
veria durar três 4#os. Portanto, a palavra d!'4s no verso 18 tem que significar "anos" (ver
também Dn 4:16, 34).
A palavra para ``dias" também é usada no sentido de ``anos" em outros lugares do
Antigo Testamento. Por exemplo, Êxodo 13:10 diz que a Páscoa era para ser cele-
brada "de 4m em c!#o", mas o texto em hebraico diz, litera,lmente: "de cíí'cis em d!.cis",
com o significado de "anualmente". A expressão hebraica por trás de "o sacrificio
anual" em 1 Samuel 20:6 é, literalmente, "o sacrificio de di.4s". Igualmente, o origi-
nal hebraico de 1 Samuel 27:7 diz que Davi viveu entre os filisteus por "cíÍ`¢5 e qua-
tro meses", o que significa "um 4Ím e quatro meses". E I Reis 1:1 diz que Davi era
"já velho e entrado em cíÍ.¢5", significando que Davi já era "velho, avançado em ciíms"

(versão New King ]ames) .


Algumas vezes no Antigo Testamento, "dias" e ``anos" ocorrem de modo paralelo,
uma indicação clara de que as duas palavras querem dizer a mesma coisa. Por exem-
plo, Gênesis 5:5 diz: "Os dí.4s todos da vida de Adão foram novecentos e trinta 4#os; e
morreu." Essa fórmula é repetida dez vezes em Gênesis 5. E encontramos o mesmo
padrão m poesia do Antigo Testamento. Por exemplo,Jó 10:5 pergunta: "São os Teus
d!'4s como os dias do mortal? Ou são os Teus czÍ®os como os 4#os de um homem".í6
E Deuteronômio 32:7, que foi escrito em forma de poesia, diz: ``Lembra-te dos di.czs
da antiguidade, / atenta para os 4#os de gerações e gerações."
Finalmente, em Levítico 25:2, Deus ordenou aos israelitas: "Quando entrardes na
ferrü, que vos dou, então, a terra guardará um sób¢cío ao SENHOR" (itálicos acrescentados) .
Como poderia a fcww guardar o sóá4do? Como poderia um agricultor dar um cJi.a de
sábado para sua terra descansar? Impossível, se o "sábado" aqui significar dia semanal
de repouso. Entretanto, o texto significa que, no sétimo c[#o, o agricultor israelita devia
deixar a terra sem cultivo e suas vinhas e pomares sem poda por todo um ano (ver
Êx 23:10,11).William Shea chama isso de "o mais antigo texto bíblico em que o prin-
cípio dia-ano está refletido".t7 Ele diz: "[Assim], a relação que veio a ser estabelecida
entre os termos usados para `dia' e `ano' forma o uso linguístico geral e o padrão de pen-
samento dos quais uma relação posterior mais específica nos textos profêticos emergirá.
É evidente que o princípio dia-ano não apareceu de modo repentino, s#Í. gc%cw.s,ís na
profecia. Quando chegou a aparecer dentro da cem de ação, ele foi extraído de uma
relação mais genérica, que já era parte do pensamento hebraico."í9
Essas são apenas algumas das evidências bíblicas que Shea cita quanto ao uso no
Antigo Testamento das palavras dí`ci e di'4s, intencionalmente significando ciíms. Esses
exemplos naturalmente não declaram que o princípio dia-ano deveria ser usado para
a interpretação da profecia apocalíptica. Elas são, simplesmente, uma evidência de que a
mente hebraica pensava fiequentemente nesses termos.
Anteriormente, fiz um comentário até um tanto extenso sobre o uso tradicional
adventista de Números 14:34 e Ezequiel 4:7 como evidência do princípio dia-ano.
Esses textos também não declaram que o princípio dia-ano deva ser utilizado para
interpretar profecias apocalípticas temporais, mas são evidências adicionais de que a
mente hebraica frequentemente pensava em termos de dia-ano. 0 ponto da nossa
discussão é que não deveríamos nos surpreender ao ver nas profecias apocalípticas
temporais de Daniel e Apocalipse o mesmo modo de pensar hebraico. Os profetas
ficariam surpresos por polemizarmos sobre essa questão.
Oaniel 9:25

Uma das evidências mais fortes a favor do princípio dia-ano são as 70 semanas de
Daniel 9:24 e 25. 0 verso 24 diz: "Setenta scm4wcJs estão determinadas sobre o teu
povo e sobre a tua santa cidade", e o verso 25 fala de "sete semanas e sessenta e duas
scmci#czs" (itálico acrescentado).
William Shea observa que "todos os comentaristas de Daniel concordam que os
eventos profetizados em Daniel 9:24 a 27 poderiam não ter sido completados den-
tro de 70 semanas literais ou um ano e cinco meses.''2° Escrevendo na H4rpcr Sf#dy
Bi.é)/c, Harold Lindsell disse: "Uma conclusão parece por si só evidente. Cada scmcííicz
ou `#cpf4cJ'2í deve ser um período de sete anos ou um total de 490 anos."22
A razão pela qual os eruditos geralmente concordam em interpretar as "sema-
nas" de Daniel como anos é simples: seja você um preterista, um futurista ou um
historicista, o fato é que 69 ou 70 semanas literais simplesmente não constituem
tempo suficiente para a reconstrução do templo e da cidade de jerusalém. Portanto,
em Daniel 9, até os preteristas, que veem o principal cumprimento das profecias
de Daniel ocorrendo no 2Q século a.C., têm que lidar com a mesma questão que
os historicistas enfrentam nas profecias temporais de Daniel 7 e 8, ou seja, aplicar
uma declaração profética sobre tempo para uma realidade histórica de longo prazo.
Quando o período de tempo literal é muito curto para caber no nosso paradigma
interpretativo, então todos nós, preteristas, futuristas e historicistas, não temos escolha
senão interpretar dí.4s como um símbolo de 4#os.
Entretanto, alguns intérpretes chegaram a esses anos de Daniel 9:24 e 25 de duas
maneiras. A palavra hebraica para "semanas" nesse trecho é sh4é)#4. Alguns preteris-
tas e futuristas preferem traduzir sÃ4bw¢ como "setes" (NVI), #cpf4ds ou ÃcZ)domds
(em inglês, as duas últimas palavras significam "grupos de sete").Ao evitar a tradução
``semana", que envolve dias, eles podem interpretar "anos" como o significado /!.fcrtzí

de sh4b#4 em vez de ter que chegar a essa conclusão por meio do processo simbólico
do dia-ano. Isso acaba sendo atraente para os preteristas e futuristas porque, se eles
puderem chegar ao significado de "anos" para o termo s#4Ó#fl sem ter que interpretar
dias como um símbolo de anos, então não precisarão aplicar o princípio dia-ano para
as profecias temporais de Daniel nos capítulos 7 e 8. Shea comenta:

Uma razão para essa abordagem na tradução [traduzir shcib%4 como "setes",
bcpf4cícs. ou #cbdomc7s] é separar a profecia das 70 semanas de Daniel 9
de outras profecias do livro e colocá-1a sozinha em uma classe distinta.
0 efeito disso é embotar as implicações do princípio dia-ano defendido
pelo sistema de interpretação historicista.
Se for negada ao princípio dia-ano sua função na interpretação de Daniel
9:24 a 27, então os preteristas e também os futuristas ficam livres para
negar sua aplicação em outra,s profecias temporais. Por outro lado, se for
válido aplicar o princípio dia-ano para os "dias" das "semanas" de Daniel 9,
então será lógico aplicar o mesmo princípio para os "dias" nas profecias
temporais encontradas em outras partes do livro de Daniel.23
Então o termo sÃ46í/4, em Daniel 9:24 a 26, deveria ser traduzido como "sema-
nas" ou como "setes"?
A palavra fÃ4b#cz ocorre 13 vezes no Antigo Testamento, fora do livro de Daniel.
0 problema em traduzi-1a como "setes'', hcpf4ds ou #cõdomds em Daniel 9 é que quase
todas as versões em português traduzem sh4bw4 como "semanas" em cada uma des-
sas ocorrências. De fàto, JÃcib%4 ocorre em Daniel 10:2 e 3 e, ali, ela é traduzida como
"semanas". Sete das 13 ocorrências de sâb#ó! fora do livro de Daniel estão 1igadas à

Festa das Semanas dos israelitas (ver Êx 34:22; Nm 28:26; Dt 16:10).24 Dificilmente
faria sentido traduzir esse termo como "Festa dos Setes"!
Shea conclui que "o uso [de s#4áw4] em outros lugares de Daniel, outros lugares do
AT, no hebraico não bíbhco e nas línguas seiníticas cognatas indicam que essa palavra
deNe ser tra,duzida corrio ¢sem:zLnas' . Nenhum apoio pode ser obtido de qualquer dessas fintes
paia tmdu2ir essa pala"a de qualquer outra maneira senão `semanas" .25
Alguns críticos têm notado que a palavra sÃ4b#4 apresenta desinência masculina
em Daniel 9:24 e 25, enquanto que em outros lugares do Antigo Testamento ela
apresenta desinência feminina. 0 comentário de Shea sobre esse fàto é bastante sim-
ples: "A desinência masculim plural dessa palavra em Daniel 9, em contraste com
sua desinência feminina plural nos demais lugares do AT, tem significado apenas para
indicar que ela é um dos muitos substantivos da língua hebraica com gênero dual."26

Funciona!

Concluirei essa discussão sobre o princípio dia-ano apontando seu exato cumpri-
mento em Daniel 9:24 e 25. Expliquei isso de maneira detalhada no capítulo 25 deste
livro e aqui só resumirei a discussão.
0 decreto de Artaxerxes de "restaurar e edificarjerusalém" foi emitido em 457 a.C.
Essa data parece ser tão sólida quanto outra data qualquer na história antiga. Exatamente
69 semanas mais tarde (483 anos, no princípio dia-ano), em 27 d.C.,Jesus foi batizado.
Não existe uma profecia nas Escrituras com um cumprimento mais exato do que essa.
Isso coiffirma a validade do princípio dia-ano, dando-nos confiança para usá-1o em
outras profecias apocalípticas temporais.
Alguns críticos têm feito objeções quanto a transferir o princípio dia-ano de Daniel 9
para as profecias temporais de Daniel 7 e s tomando como base o fato de que as profe-
cias de Daiiiel 7 e s são altamente siinbólicas, enquanto o capítulo 9, incluindo os comen-
tários de Gabriel para Daniel, é bastante literal. Portanto, conforme esse argumento, é
inapropriado aplicar um princípio de interpretação de uma passagem literal para uma pas-
sagem simbólica.
Pergunto: Quem dísse isso? Por que um método de interpretação em um con-
texto literal não pode ser aplicado a um método de interpretação simbólico se aquele
nos ajuda a entender este?
Embora seja verdade que Daniel 7 e s sejam altamente simbólicos, eles não sâo
inteiramente assim. Os santos do capítulo 7 são literais, assim como o Ancião de
Dias, os anjos em volta do trono e ojuízo ao qual todos comparecem. No capítulo 8,
o príncipe do exército é literal, assim como o santuário e a verdade que é lançada
0 PRINCÍPI0 DIA-ANO

ao chão. Todas as profecias simbólicas precisam de a,lguns aspectos literais para fazer
sentido. Uma passagem profética que seja completamente simbólica pode ser extre-
mamente dificil de interpretar. Um caso desses é Apocalipse 8:6 a 12, com suas qua-
tro primeiras trombetas, as quais muitos adventistas entendem como simbólicas. Essa
passagem é, de fato, tão simbólica que é dificil encontrar dois intérpretes adventistas
que estejam de acordo quanto a seu significado.
Meu ponto é que, assim como muitas profecias simbólicas incluem alguns ter-
mos literais, também a explicação de Gabriel para Daniel no capítulo 9:24 a 27, que
é sobretudo literal, inclui alguns termos simbólicos. Quem pode dizer, então, que um
princípio de interpretação que funciona em um tipo de profécia não pode fimcionar
em outra?
Inúmeros outros argumentos têm sido apresentados tanto a favor quanto contra o
princípio dia-ano, mas tudo isso que compartilhei com você neste capítulo é suficiente
para me convencer de que ele tem um sólido fiindamento bíblico.27

: Alguns críticos objetam que, enquanto em Números um dia representa um ano literal, em Ezequiel, um
ano representa um dia literal. Contudo, a rela.ção dia-ano é a mesma em ambos os casos.
2 Desmond Ford, apêndice F em D4#Í'c/, p. 300-305.
:` Ford, "Daniel 8:14", p. 295; itálico do original.
` Raymond Cottrell, "The `Sanctuary Doctrine", p. 23.
5 Citado em: D. Ford, "Daniel 8: 14", p. 60.
bwí"a:rn She&, Selected Studies in Prophetic lnterpretation, p. 74.
- 0 lnstituto de Pesquisa Bíblica é um departamento da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.
` Gerhard Pfandl, "The Year-Day Principle", Rcj]ccfí.o#s, p.1 -3.
9 Thomas R. Birks, Fi.rsf E/cmc#f5 o/ S4cr€d Prop#ccy (London: William E. Painter,1843), p. 352, citado em:

Pfandl, "TheYear-Day Principle" , p. 2.


!" Cottrell, "The `Sanctuary Doctrine", p. 26
" Shea. Selected Studies in Prophetic lnterpretation, p.105.
'2 Ibid., p.106.
'3 Ibid.
„ Ibid., p.110-
]5 Nos textos bíblicos citados nesta seção, italizei as palavras dí.4 e 4m Elas não estão destacadas nas Bíblias

em português.
:6 Nota do tradutor: Na versão New King]ames, usada pelo autor,jó 10:5 diz:"São os seus dias como os dias
de um homem mortal? São os seus anos como os dias de um homem poderoso?"
•.-Shea, Selected Studies in Prophetic lnterpretation, p. 83.

:S lsto é, sem precedente, ou, como se diz em português, ``do nada".


`.9 Shea, Selected Studies .ín Prophetic lnterpretation, p. 81.
J_' Ibid-, p. 89.
:t Nota do tradutor:Termo grego que significa "grupo de sete".
í' H4rpcr Sf#cJy BÍ.bJc, p.132; itálico no original.
33 SheíL, Selected Studies in Prophetic lnterpretation, p. 89.
JJ Chamada de "Pentecostes" no Novo Testamento (ver At 2:1).
23 Shea. Selected Studies in Prophetic lnterpretation, p. 91., itã+icos acrescenta.dos.
-TÓ lbid., p. 90.
-T Para uma apresentação mais completa sobre as evidências a favor do princípio dia-ano, verw Shea, Sc/ccfed
Studies in Prophetic lnterpretation, p. 67 -1 LO.
OUESTÕES EM HEBREUS
JESUS ALÉM D0 VÉU

EaJdaan;1::udà2:::s,ocahàã:uf|::r:s::1;tí:ioadnaeft,g::v:tí-,.me-seguintecarta,en-
"B-Í-B-L-I-A é o 1ivro do meu Deus,

Que eu guardo no meu coração: B-Í-B-L-I-A.


Bíblia! „
Cresci cantando este corinho na Escola Sabatina. Eu acreditava nisso. Imagi-
nem meu choque quando li o livro de Hebreus. Usando o Comc#fór!.o Bt'bíi.co
4dwe#fi'sf4 do Séf!'mo Dí'4, aprendi que, quando Cristo passou para além do véu,
o "véu" scmpff' se refere ao véu que separa o lugar santo do lugar santíssimo.Í
Hebre.us ensina claramente que Ele entrou no lugar santíssimo por ocasião de
Sua ascensão. Hebreus 9 compara. e contrastaJesus com o sumo sacerdote ter-
restre, que entrava no lugar santíssimo (Hb 9:7) com sangue para fazer expia-
ção. SeJesus fez expiação com Seu sangue por ocasião de Sua ascensão qeiam
fodo o capítulo 9! E o livro inteiro!), então fcmos que concluir que Ele não
cspcro% até 1844 para entrar no lugar santíssimo no Céu!
Assim, quando a lgreja Adventista do Sétimo Dia renunciar a essa dou-
trina, que simplesmente não tem base bíblica, eu até posso voltar, embora
não esteja contando com isso! Sou [adventista] de quatro gerações e posso
ler Hebreus sozinho!

Essa carta destaca uma importante questão existente na intepretação adventista do


santuário: o livro de Hebreus parece contradizer nossa interpretação. Por mais, de cem
anos, os que contestam nossa interpretação sobre o santuário e o juízo investigativo têm
embasado uma boa parte da sua crítica no livro de Hebreus. Por isso, é muito importante
prestar cuidadosa atenção ao livro de Hebreus. Comentar cada argumento de ambos os
lados bem como su.as respostas preencheria todo este hvro. Contudo, neste capítulo e
nos cinco seguintes, trarei à tona os argumentos mais significativos de ambos os lados.
Ao concjuír, espero que você concorde com os argumentos que dâo suporte ao ponto
de vi.sta trad.ci.onaj adventista sobre o sanmário, os quai.s têm sóh.da base b]'bh.ca.
Permíta-me apresentar algumas das pessoas que fazem parte desse debate. Tenho
citado Desmond Ford com fiequência neste livro e continuarei fazendo-o em nosso
estudo sobre Hebreus. Norman Young, atualmente aposentado, foi, por muitos
anos, professor no Departamento de Teologia do Avondale College, Cooranbong,
Austrália. Como Desmond Ford, esse autor também acredita que Hebreus contradiz
muito dos ensinamentos adventistas tradicionais. Young escreveu dois significativos
CELEsl`lÀL

artigos sobre esse assunto para a 4#drcws U#í.tJcr5i.fy Scmí`#4ry Sf#dí'cs H3studos do
Seirinário da Universidade Andrews]. Richard Davidson, professor ]. N. Andrews,
escreveu dois artigos sobre Hebreus para a Í4#drcws U#!.t;cÍJi.fy Scmí.#4ry Sfwdí.cs que
considero muito úteis. Felix Cortez, que é um dos professores do Departamento
de Novo Testamento da Universidade Andrews, escreveu sua tese doutoral sobre
Hebreus na Universidade Andrews. Finalmente, Carl Cosaert, professor na Faculdade
de Teologia da Universidade Walla walla, escreveu sua dissertação de mestrado sobre
o termo f4 ft4gí'4 ("o santuário") na Septuaginta, nos pseudoepígrafos e nos escri-
tos de Filo e Josefo. Sua dissertação e também um artigo sobre o mesmo tópico que
escreveu para a 4#c7rcw;s UÍ%.vc/sí'fy Scm!.#wy Sf#dz.cj foram muito úteis. Posso não
chegar a citar esses autores diretamente, mas vou me referir a seus mais persuasivos
argumentos, comentando-os.
Passemos, então, às questões de Hebreus!

Os textos problemáticos
Hiram Edson teve a "visão do milharal" na manhã do dia 23 de outubro de 1844.
A partir dessa "visão", ele concluiu que, "em vez de nosso Sumo Sacerdote s4Í.r do
lugar santíssimo do santuário celestial para vir à Terra no décimo dia do sétimo mês,
Ele, no fim dos 2.300 dias, pela primeira vez c#f/ow naquele dia no segundo com-
partimento desse santuário".2 0s adventistas têm mantido esse ponto de vista sobre
o santuário desde então. Entretanto, os críticos de nossa interpretação têm apontado
para vários textos em Hebreus que deixam claro que jesus entrou no lugar santís-
simo do santuário celestial em 31 d.C. Considere os textos seguintes, notando espe-
cialmente as palavras que destaquei.

Hebreus 1:3 -``Uesus], que é o resplendor da dória e a e2pressão exata do Seu


[de Deus] Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, depois de
ter f;e±to a pur±f:Lcaç~ao dos peca.dos, assentou-Se à direita da Maúestade, nas alturas."
Hebreus 8:1 -"Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos
tal surno sacerdote, que Se assentou à destra do trono da Maúestade nos céus."
Hebreus 9:24 -"Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do ver-
dadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, 4gorz!, por #ós, d!'4#fc dc Dc#s."
Hebreus 10..19. 20 e 22 -"Tlendo, Í)ois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo
dos S4Í£fos, pelo sangue de]esus, pelo novo e vivo caininho que Ele nos consa-
grou. pc/o yéw, isto é, pela Sua carne, [...] aproximemo-nos, com sincero cora-
Ção, em plena certeza de fé."

Outro texto de Hebreus tem sido especialmente usado contra os ensinamentos


adventistas de que ]esus esperou até 1844 para entrar no lugar santíssimo do santuá-
rio celestial:

Hebreus 6:19 e 20 -"Temos esta esperança como âncora da alma, firme


e seg\m., a qual adentra o santuário interior, por trás do uéu, onde ]esus, que nos
JESÜS ÁLÉM DO

precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-Se Sumo Sacerdote para sempre,


segundo a ordem de Melquisedeque" (NVI).

Esse texto diz quejesus é nosso sumo sacerdote e que Ele entrou na presença de
Deus "por trás do véu". As palavras por fMós do t;éw são significativas porque o lugar
santíssimo do santuário ficava atrás de um véu ou cortina.Assim, o autor de Hebreus3
parece estar dizendo que, no momento em que ele escreveu seu documento,]esus já
havia entrado no lugar santíssimo. 0 problema fica óbvio: ao longo de sua história,
os adventistas têm sustentado que ]esus não entrou no lugar santíssimo do santuário
celestial até 1844. Por outro lado, vários textos do Novo Testamento deixam muito
claro que, mesmo na era neotestamentária,Jesus estava ou em pé ou sentado à des-
tia, de Deus, o que sugere que Ele estaua no lugar santíssímo do santuário celestial. Hebreus
6:19 chega a colocá-Lo "por frós cío tJéw"!
Desmond Ford contestou fortemente a ideia de que Jesus esperou até 1844 para
entrar no lugar santíssimo do santuário celestial. 0 capítulo 2 do manuscrito de
Glacierview consiste em mais de cem págims, nas quais ele discute seu entendi-
mento do santuário em Hebreus. No começo do capítulo, Ford declara o que con-
sidera como sua tese central: "Hebreus afirma claramente que, em cumprimento do
tipo do Dia da Expiação, Cristo, por meio do evento cruz/ressurreição/ascensão,
entrou no ministério prefigurado pelo scg##do compartimento."4 A lógica de Ford
pode ser reduzida a um simples silogismo:

• ]esus entrou no lugar santíssimo "por trás do véu" em 31 d.C.


• 0 único serviço do ano levítico quando o sacerdote entrava "por trás do
véu" era o do Dia da Expiação.
• Portanto, Hebreus 6:19 e 20 é sobre o ministério do Dia da Expiação de
Cristo no lugar santíssimo do santuário celestial, que começou em 31 d.C.
e não em 1844.

Ford cita vários textos semelhantes de outras partes do Novo Testamento que
declaram que, imediatamente após a ascensão, Cristo Se sentou com Deus em Seu
trono e/ou ficou à destra de Deus.5 Ford diz que essas declarações evidenciam de
forma clara que Jesus entrou em Seu ministério do Dia da Expiação em 31 d.C.6
Comentando especificamente Hebreus 6:19 e 20, Ford diz que essa passagem
"afirma, sem qualquer ambiguidade, que o antítipo do Dia da Expiação veio com a
morte e a ascensão de Cristo''.7Visto que Hebreus 6:19 é um dos textos frequente-
mente citados por nossos críticos, restringirei meus comentários neste capítulo em
grande medida à analise desses dois versos.

A resposta awentista
Umas das respostas dos primeiros adventistas ao problema apresentado por Hebreus
6:19 e 20 foi a de Elmer E. Andross, que por muitos anos serviu a igreja como pro-
fessor, evangelista, inissionário e administrador. Em 1911, Andross publicou um livro,
NA comE cELESTIAL

4 Morc E#ccJJc#f MÍ.#Í'sfq; [Urii Ministério Mais Excelente] , no qual tomou a posição
de que a passagem de ]esus para ``trás do véu" foi comparável à entrada de Moisés no
lugar santíssimo do santuário terrestre por ocasião da inauguração do santuário em vez
da entrada de Arão no santuário por ocasião do Dia da Expiação (ver Êx 30:22-30;
40:1-16; Lv 8:10-13; Nm 7:1-89). Disso, Andross concluiu que ``de maneira seme-
1hante, Cristo, depois de apresentar Sua oferta no Calvário, passou para `trás do véu' do
santuário celestial, ungiu a arca do testamento [concerto] e, com Seu sangue, conduziu
o serviço de coÍ#¢g#qíõo".8 Note a palavra destacada, co%¢grtzçõo. Andross defendia que
Hebreus 6:19 e 20 era sobre a consagração e inauguração do santuário efetuadas por
Cristo e não sobre Seu ministério no Dia da Expiação celestial. Ele também concluiu
que, após ter inaugurado o santuário celestial, incluindo o lugar santíssimo, Cristo saiu
desse compartimento e Se assentou com Deus em um trono, no lugar santo.9
Mais recentemente, alguns adventistas têm observado que havia três véus no san-
tuário terrestre: um na entrada para o pátio (Nm 3:26), outro entre o pátio ^e o lugar
santo (Êx 26:36) e um terceiro separando o lugar santo do lugar santíssimo (Ex 26:31,
33). Eles argumentam que o véu a que se refere Hebreus 6:19 e 20 não é, necessa-
riamente, aquele que separa o lugar santo do lugar santíssimo. 0 Trjzf4do dc Tcoíogi.4
4dt#Í£Cc'sf¢ do Séfí'mo Dí.4 diz: "0 termo em si mesmo não pode ser usado para determi-
nar qual dos véus se tem em vista."í° Depois de uma linha de raciocínio bastante com-
plexa, o Trtzf4cJo declara: "0 texto não discute o lugar específico dentro do santuário
celestial no qual Cristo entrou depois de Sua ascensão. 0 fato de haver Cristo entrado
no santuário sigiiifica que Ele tem pleno acesso a Deus.íí
Por outro lado, alguns eruditos adventistas têm concluído que, pelas palavras "atrás
do véu", o autor de Hebreus dc/#fo quis se referir ao véu entre o lugar santo e o
lugar santíssimo. Richard Davidson disse: "A referência do autor de Hebreus ao véu em
Hebreus 6: 19 e 20, seguindo o uso da LXX [Septuaginta] , muito provavelmente, tivesse
em vista o `segundo' véu, isto é, o véu antes do lugar santíssimo."í2
0s livros de Êxodo, Levítico e Números constituem nossa principal fonte de
informações sobre o santuário terrestre, seu mobiliário e seus serviços. Esses livros
mencionam somente duas ocasiões em que alguém entrou no lugar santíssimo. Uma
fói quando Moisés colocou a arca do concerto no lugar santíssimo e a dedicou com
óleo; a outra foi no Dia da Expiação anual. Portanto, Hebreus 6:19 e 20, que ffla de
]esus entrando no lugar santíssimo do sa,ntuário celestial "atrás do véu", é sobre a
inauguração .do santuário celestial ou sobre o Dia da Expiação celestial.A pergunta é:
Qual das duas coisas o autor de Hebreus tinha em mente?

0 contexto imediato de Hebreus ó:19 e 20


Por causa da nossa convicção de que o Dia da Expiação celestial não começou até
1844, os adventistas sempre têm dito que Hebreus 6:19 e 20 Í£Õo se refere ao Dia da
Exp±a.ção. 0 Timtado de Tleologia Aduentista do Sétimo Dia diz.. "Corisidera.ções corLtex-
tuais excluem a discussão do dia antitípico da expiação em Hebreus 6:19."" Acre-
dito que essa declaração do Trt2f4do esteja correta, e discordo da declaração de Ford
de que Hebreus 6:19 se refere "sem qualquer ambiguidade" ao Dia da Expiação.
JE§US ALÉM D0 VÉÜ

Ford presume que Cristo estar à destra de Deus significa #cccss4ri'4mcítfc que Ele estava
desempenhando o ministério do Dia da Expiação. Entretanto, há duas razões para
questionar essa conclusão.
A prímeira é que j;alta a linguagem do Dia da Expiação. A prL:rneLra. coi:sa a, ser nota,da
é que nada no contexto imediato de Hebreus 6:19 e 20 sugere uma interpretação
relacionada ao Dia da Epiação. Do começo ao fim, o capítulo 6 é um incentivo para
que os leitores não desaiiimem da fé em Jesus. Nos versos 1 a 8, o autor diz que é
impossível alguém renovar a ft depois de abandoná-1a. Nos versos 9 a 12, ele diz a seus
leitores que tem certeza de que eles nunca abandonarão a fé. Nos versos 13 a 18, ele
apresenta Abraão como aquele que pacientemente abraçou a fé, mesmo quando pare-
cia que Deus não havia cumprido Sua promessa. E o autor começa o capítulo 7, que é
uma sequência imediata de 6:19 e 20, com a história sobre Abraão dando o dízimo a
Melquisedeque.A partir disso, é evidente que o contexto ariterior e posterior a 6:19 e
20 não tem nenhuma relação com o Dia da Expiação, o que lança dúvida sobre os ver-
sos serem ou não sobre o miiiistério de Cristo no Dia da Expiação celestial.
A segunda razão é a presença da linguagem de inaugwação. Por outro La.do, o corLtexto
imediato apoia a conclusão de ElmerAndross de que o tema de Hebreus 6: 19 e 20 é a
inauguração do santuário celestial. Como introdução a essa linha de raciocínio, gosta-
ria de chamar sua atenção para Êxodo 40. Os versos 1 a 11 contam como Moisés colo-
cou vários móveis em seus devidos lugares e ungiu cada um com óleo; os versos 12 a
16 descrevem a ordenação de Arão e seus filhos para o sacerdócio. 0 ponto para nossa
discussão ê que a inauguração do santuário e a ordenação de Arão e seus filhos como sacerdo-
tes firam parte da mesma cerimônia.
0 raciocínio do autor de Hebreus é bastante simples. Em Hebreus 5:5 e 6 ele
disse: "Assim, também Cristo a Si mesmo não Se glorificou para se tornar sumo
sacerdote, mas o glorificou aquele que Lhe disse: [...] Tu és sacerdote para sem-
pre, segundo a ordem de Melquisedeque." 0 autor estava se referindo ao tempo em
que Deus apontou Jesus para ser sumo sacerdote. No verso 10 do mesmo capítulo,
ele disse ainda mais especificamente que Jesus foi "#omc4do por De#s s#mo s%erdofc,
segundo a ordem de Melquisedeque" (itálicos acrescentados). 0 chamado de Deus
para Jesus ser sumo sacerdote é análogo ao apontamento e ordenação de Arão como
sumo sacerdote. E, em Êxodo, a ordenação dos primeiros sacerdotes, incluindo a do
primeiro sumo sacerdote, era parte da mesma cerimônia de imuguração do santuário.
Então, note que, em Hebreus 6:19 e 20, o autor novamente fha de jesus "[Ícr-Sc]
Íor#4do sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (v. 20; itá-
hco acrescentado). Essa é uma referência sem qualquer ambiguidade ao tempo em
que Jesus começou Seu ministério sacerdotal, o qual, no santuário terrestre, coinci-
diu com o tempo em que o santuário foi inaugurado. Portanto, o contexto da decla-
ração de Hebreus 6:19 e 20 de que Jesus foi para "trás do véu" ycrcí4dc!'rflmc#fc apoia
a ideia de inauguração.
Dado o fato de que não existe, em absoluto, uma referência ao Dia da Expia-
ção em Hebreus 5, 6 ou 7, e tendo em vista as repetidas referências ao longo des-
ses capítulos ao apontamento de Jesus como sumo sacerdote "segundo a ordem de
Melquisedeque", parece muito mais razoável entender 6: 19 e 20 como um antítipo da
inauguração do santuário terrestre e a ordenação de seus sacerdotes do que como um
antítipo dos serviços do Dia da Expiação terrestre. Felix Cortez comenta: "Hebreus
6:19 a 20 [...] deveria ser entendido no contexto de uma analogia à inauguração do
santuário por Moisés e não ao ritual anual do Dia da Expiação.""
Assim, embora nem o Dia da Expiação nem a inauguração do santuário celes-
tial sejam mencionados nominalmente em Hebreus 6:19 e 20, o contexto imediato
desses versos dejlt2fo indica um evento de inauguração/ordenação celestial em vez
de um evento de Dia da Expiação celestial. Essa conclusão é apoiada por uma aná-
lise cuidadosa de Hebreus 9 e 10, a qual consideraremos em dois capítulos poste-
riores deste livro.

Moisés foi um sacerdote?


Algumas pessoas têm se oposto à explicação de Hebreus 6: 19 e 20 que eu apresen-
tei aqui. Eles dizem que Moisés dedicou o santuário, mas nunca foi ordenado como
sacerdote; mas Hebreus fala de Cristo ter Se tornado um sacerdote. Como, então,
poderia Moisés ser um tipo do sacerdócio celestial de Cristo?Vou sugerir duas razões
pelas quais isso não constitui um problema, como pode parecer à primeira vista.
Moí.sés como s4c€Mdofc, wm fiím dc Crí.sfo. Antes da ordenação de Arão e seus filhos como
sacerdotes, Moisés desempenhava as fimções sacerdotris para lsrael. Por exemplo, logo
depois de ter recebido os dez mandamentos no monte Sinai, Moisés reuiiiu o povo para
estabelecer um concerto entre eles e Deus (ver Êx 24:1-8). Ele autorizou que alguns
jovens sacrificassem novilhos como ofertas de paz (v. 5); depois de colocar um pouco
do sangue em tigelas, o espargiu sobre o altar que construíra para aquela ocasião.í5 Ele
também espargiu o sangue sobre o povo (v. 8).Todas essas eram fiinções que os sacer-
dotes desempenhavam depois de ser ordenados e o santuário, inaugurado. Nesse tempo,
porém, não havia santuárjo e não havia sacerdotes e, assim, Moisés preencheu as fim-
ções sacerdotais.
0 mesmo é verdade quanto à inauguração do santuário que está registrada em
Êxodo 40 (ver também Nm 7). Moisés colocou todos os móveis do santuário em
seus respectivos lugares (v.1-8) e ungiu cada um deles (v. 9-16). Na ocasião, portanto,
Moisés estava preenchendo o papel de um sacerdote.
Números 7 traz uma narrativa muito detalhada da inauguração do santuário.
0 verso 1 di.z que depois de Moisés levantar o santuário, ele "o consagrou e todos
os seus utensílios, bem como o altar e todos os seus pertences". 0 resto do capítulo,
89 versos! -conta como, em um período de 12 dias, representantes de cada tribo de
lsrael trouxeram presentes para o tabernáculo e sacrificaram animais como ofertas
queimadas. 0 texto não diz que Moisés procedeu o sacrificio dos animais, mas diz

g::eeàexsoudpoer4Vols:::::io::na,ao:::Çoãoú:t|::Sn::i:nmo:SÀêr::l:,sceouT:n::,suunmg:nsda::::
com óleo (ver v.12-16), o que também era uma função sacerdota].
0 autor de Hebreus reconheceu que Moisés tinha uma função sacerdotal. Em
Hebreus 3:1 e 2, ele diz: "Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial,
considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, ]esus,
o qual é fiel àquele que 0 constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de
Deus." 0 autor comparou o papel deJesus como sumo sacerdote ao de Moisés, afir-
mando, em essência, que Moisés tinha um papel sacerdotal.
Moisés como administrador-chefi, um tipo de Deus. Corno coHfiirmação a,diciona,l daL
apropriação das funções sacerdotais de Moisés com as de Cristo, note que, quando
Moisés inaugurou o santuário e ordenou seus sacerdotes, ele estava atuando dentro
de seu papel como administrador-chefé do povo israelita. Igualmente, Hebreus deixa
claro que Deus, o Adininistrador-chefe do Universo apontou Cristo como sumo
sacerdote no santuário celestial (ver capítulo 5:1-6). Portanto, podemos dizer tam-
bém que, ao ordenarArão e seus filhos como sacerdotes, Moisés estava atuando como
um tipo de Deus, que apontou Cristo como sumo sacerdote no santuário celestial.
Essa conclusão é confirmada por diversos textos de Hebreus que se referem a Jesus
como sumo sacerdote "segundo a ordem de Melquisedeque" (ver Hb 5:6, 10; 6:20;
7:11,17, 21). Melquisedeque era rei (administrador, como Moisés) e também sacer-
dote (ver Hb 7), o que faz dele uma representação perfeita de Jesus, que também era
rei (administrador) e sacerdote.
0 ponto é: não importa a maneira como escolhemos ver Moisés, seja como
tipo de Cristo, antitípico sacerdote celestial, seja como tipo de Deus, o antitípico
Administrador-chefe do Universo, o resultado final é o mesmo: Hebreus 6:19 e 20 é
sobre a imuguração do santuário celestial e a ordenação de Cristo como nosso sumo
sacerdote celestial e não sobre o Dia da Expiação celestial.
Um assunto que apenas mencionei neste capítulo é a descrição que a Bíblia faz
de ]esus em pé ao lado de Deus ou sentado ao lado Dele em Seu trono. Esse será o
tópico do próximo capítulo.

t Não é isso que c) Comentário diz. Ver Comc#fóri.o Bi'bíí`co 4dvc#fí.sf4 do Sétimo Dia, v. 7, p. 471, 472.
2 Citado em: Sct##fÃ-d4y 4dvc#ft.sf Encyc/opcdí.4, s.v. "Edson, Hiram"; itálico do original.
-` Diz a tradição que Pa.ulo escreveu Hebreus. Muitos eruditos de hoje duvidam de ser esse o caso. Em vez de
entrar nesse debate, nos meus capítulos sobre Hebreus me referirei a quem escreveu esse livro, seja quem
fór, como "o autor".
` Desmond Ford, "D4Í%.cJ 8..14", p.160; itálico do original.
Sver Mc 16:19; Lc 22:69; Rm 8:34; Ef 1:20; Cl 3:1; Hb 10:12; 12:2; 1Pe 3:22.
6 Ford, "Daniel 8: 14", p.161.
-Ibid" p. 201.

b Elmir E. Andross, 4 Morc Excc/Jcmí Mi.wÍ.sfry, p. 52; itálico acrescentado.


0 ibíd., p. 53.
" E`aoul Dederen (ed.) Tiatado de Tleologia Adventista do Sétimo Dia. p. 465.
„ Ibid., p. 466.
:2 Richard Davidson, "Inauguration or Day ofAtonement?", p. 69.
``3 E`aoul Dederen, ed. Tlmtado de Tleologia Aduentista do Sétímo Dia. p. 466.
" Felix Cortez, "The Anchor of the Soul That Enters Within the Veil", p. 34.
•.5Ver v. 4. 0 altar do santuário ainda não havia sido construído.
SENTAD0 N0
TRON0 DE DEUS

Maá:p;:ioÊnetuesrleo:Csl::1,Crlonnc:.té:t:So:::à:::::,:uaer.dae:loar.aomn.qeur:Je::ss:àt,áusáer::
terrestre era um tipo do trono de Deus no Céu. Portanto, a declaração de queJesus
está sentado no trono de Deus no Céu sugere que Ele já havia entrado no lugar san-
tíssimo do santuário celestial no tempo em que Hebreus foi escrito.
Hebreus não é o único lugar no Novo Testamento que nos diz que ]esus estava
em pé ao lado de Deus ou sentado ao lado Dele em Seu trono. Em Apocalipse 3:21,
]oão cita Jesus: "Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se Comigo no Meu trono, assim
como também Eu venci e Me sentei com Meu Pai no Seu trono." É provável que
Apocalipse tenha sido escrito na última década do lé século, mas o lugar de ]esus no
(ou ao lado do) trono de Deus tem data de poucos dias depois de Ele ascender ao
Céu. Pedro disse a seus ouvintes no Dia de Pentecostes que Jesus tinha sido "exal-
tado [...] à destra de Deus" (At 2:33). E pelo menos dez outros textos no Novo
Testamento dizem a mesma coisa.
Então como lidar com o fato óbvio de que Jesus Se sentou à destra de Deus em
Seu trono no lugar santíssimo do santuário celestial por ocasião de Sua ascensão?
Como podem os adventistas dizer que, até 1844, Ele ainda não tinha entrado no lugar
santíssimo do Céu?

Local ou status?
A título de introdução da resposta para essa pergunta, precisamos perguntar o
que significa a declaração sobre Jesus Se sentar à destra de Deus. Proponho que,
embora "à destra de Deus" pareça muito com uma declaração sobre um /wgw, a
expressão tenha muito mais que ver com status. A passagem do Antigo Testamento
que o autor de Hebreus cita em apoio a sua declaração sobre ]esus Se sentar à des-
tra de Deus é Salmo 110:1, que diz: "Disse o SENHOR ao meu senhor:Assenta-te à
minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés." Sobre esse
texto, o Comc#fá/!'o BíbJ!.co 4dtJeí€fi.sfci cJo Séfi'mo Di'4 diz: "De acordo com a afirmação
de jesus, o diálogo ocorreu entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho. Cristo está assentado
num lugar de alta honra no Universo, à destra de Seu Pai.''t Portanto, a ênfase prin-
cipal do texto não está no local. 0 ponto é o status real de Cristo.
Em outra,s partes do Antigo Testamento vemos a mesma ênfase no status como o
significado principal de se assentar à direita de alguém. Tàlvez você se lembre de que,
ao se aproximar o fim da vida de Davi, houve uma disputa para sua sucessão. 0 rei
tinha prometido a Bate-Seba que seu filho, Salomão, seria o sucessor. Mas o meio-
irmão de Salomão, Adonias, também queria ser rei e começou a conspirar para
realizar seu desejo. Quando Bate-Seba soube do esquema de Adonias, procurou Davi
e lhe disse: "Senhor meu,juraste à tua serva pelo SENHOR, teu Deus, dizendo: Salomão,
teu filho, reinará depois de mim e ele se assentará no meu trono" (1Rs 1 : 17) . Note que
as palavras "se assentará no meu trono" estão justapostas a ``reinará depois de mim".
Nesse caso, sentar no trono significa reinar.1 Reis 2:12 diz: ``Salomão assentou~se no
trono de Davi, seu pai, e o seu reino se fortificou sobremaneira." É óbvio que Salomão
deixou o trono muitas vezes; assim, vemos de novo que o principal significado de sen-
tar no trono é o status, não o local.
Essa ênfase é particularmente evidente em 2 Crônicas 6:3 e 10. 0 capítulo inteiro
é sobre a dedicação do templo de Salomão. No verso 3, Salomão, certamente em pé
sobre uma plataforma, "voltou, então, [...] o rosto, e abençoou a toda a congregação
de lsrael". Obviamente, Salomão não estava sentado em seu trono nesse momento.
No entanto, no verso 10, Salomão disse: "Assim, cumpriu o SENHOR a Sua palavra
que tinha dito, pois me levantei em lugar de Davi, meu pai, e me assentei no trono
de lsrael, como prometera o SENHOR." Uma vez que Salomão não estava literalmente
sentado no trono de lsrael quando proferiu essas palavras, a expressão ``me assentei no
trono de lsrael" tem que ser uma referência a seu status como rei de lsrael.Assentar-se
no trono era equivalente a ``ocupar o cargo de rei".
Do mesmo modo, as dec]arações do Novo Testamento, inclusive as de Hebreus,
de que, após a ascensão de Cristo, Ele "Se assentou à destra de Deus" ou ``Se assentou
com Deus em Seu trono", podem estar relacionadas com o local. Mas as evidências
do Antigo Testamento sugerem que o ponto principal é o elevado status de Cristo
como rei, não apenas o /#gw no qual Ele Se sentou.

A visão do Nwo Testamento sobre o santuário celestial


0 assunto sobre o qual estamos discutindo tanto no capítulo anterior como neste
é seJesus entrou no lugar santo ou no lugar santíssimo do santuário celestial por oca-
sião de Sua ascensão. Parece-me que, antes de podermos responder a essa questão de
forma definitiva, precisamos perguntar: 0 que é o lugar santo do santuário celestial?
0 que é o 1ugar santíssimo? Como são esses compartimentos?
Começarei minha discussão sobre essas perguntas apresentando minha conclu-
são e, depois, compartilharei com você minhas razões para ela. Minha conclusão é
que a sala do trono em que ]esus entrou por ocasião de Sua ascensão inclui o lugar
santo e o lugar santíssimo.Você pode questiona.r essa ideia, mas, por favor, leia até o
fim deste capítulo antes de rejeitá-la. Compartilharei com você quatro razões para
minha sugestão.
1. Tlodos os trés Membros da Dii)indade estão representados nos dois compartimentos do
54#fwóri.o fcr/esfrc. Deus, o Pai, está representado pela arca do concerto do lugar santís-
simo;]esus Cristo, o Pão davida, está representado pela mesa de pães asmos no lugar
santo; e o Espírito Santo está representado pelo castiçal de sete braços, também do
lugar santo. Sabemos, mturalmente, que Pai, Filho e Espírito Santo são Deus. Assim,
parece razoável concluir que Eles estão juntos no santuário celestial, sem que Se sepa-
rem por estarem em duas salas distintas. Isso fica especialmente evidente dado o fato
de que, no santuário terrestre,jesus é representado pela mesa de pães asmos em uma
sala, enquanto o Pai é representado pela arca do concerto em outra sala, mas, no Céu,
Eles estão sentados juntos no trono de Deus.
2. Nõo cxi.sfc Í;é# #o s4#fwóri.o ceJcsfi.c[/. Sem o véu do santuário terrestre, haveria ape-
nas um compartimento. Por que o véu? Seu propósito era servir de proteção para os
sacerdotes de modo que eles não entrassem diretamente na presença de Deus coti-
dianamente (ver Lv 16:3). Mas não há necessidade de Jesus, nosso sumo sacerdote,
ser protegido da presença de Deus e, por isso, não há necessidade de um véu. Essa é a
segunda razão para minha sugestão de que o santuário celestial em que ]esus entrou
após Sua ascensão consiste de uma "sala", não de duas.
Minha sugestão de que não existe véu no santuário celestial parece contradizer
Hebreus 6:19, cujo texto diz que no tempo do Novo Testamento, Cristo entrou
"além do véu". Por que o autor de. Hebreus diria que Cristo entrou "além do véu"
se não existe véu no santuário celestial? A questão aqui é se o autor tinha a inten-
ção de que seus leitores entendessem essas palavras como uma descrição 1iteral da
arquitetura do santuário celestial ou se ele estava fazendo uso do entendimento
do leitor sobre o santuário terrestre para ressaltar seu ponto sobre o ministério de
Cristo no santuário celestial. 0 ponto principal, que aparece várias vezes tanto em
Hebreus como em outras partes do Novo Testamento, é que ]esus entrou m pre-
sença de Deus imediatamente após Sua ascensão, e as palavras 4Jém do tJéw são uma
maneira de dizer isso.
3. Embora no santuário terrestre o altdr de incenso estii)esse no lugar santo, esse altar era
co#sÍ'dc#ticío como wm4 mobç'J€.ci do /ÍÁg4r s4#fi'ssÍ.mo. Com efeito, Hebreus localiza o altar de
incenso no lugar santíssimo. Hebreus 9:3 e 4 diz: "Por trás do segundo véu, se encon-
trava o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos, ao qua,l pertencia um altar de
ouro para o incenso e a arca da aliança."
Por que o autor de Hebreus diz que o altar de incenso estava no lugar santíssimo,
quando, no santuário terrestre, estava localizado no lugar santo? Ele não explica essa
aparente falta de precisão.2 Entretanto, desconfio que a razão para isso seja o fato de
que o altar era uma referência à forma do ministério sacerdotal efetuada no lugar
santíssimo. 0 santuário terrestre o localizava, no lugar santo simplesmente porque
os sacerdotes precisavam ser protegidos cotidianamente da presença visível de Deus.
Como seu ministério no a]tar era, na verdade, uma forma de ministrar típica do lugar
santíssimo, o altar estava colocado o mais próximo possível desse compartimento, sem
que, de fato, estivesse dentro dele. Digo isso por quatro razões.
Em primeiro lugar, a instrução de Deus para Moisés sugere que o alta.r de incenso
servia para uma função do lugar santíssimo. Deus disse a Moisés que ele devia "bôr]
o altar defionte do véu que está diante da arca do Testemunho, diante do propicia-
tório que está sobre o Testemunho, onde Me avistarei contigo" (Êx 30:6; ver tam-
bém 40:5). Comentando esse texto, Harold S. Camacho, em um artigo publicado m
4ndrctws UÍ%.t;crsí`fy Scmi.#c"y Sfwdí'cs, disse: "É muito significativo que o local desse
altar seja dado não em conexão com o lugar santo ou sua mobília, mas com o santís-
simo e seus artigos. [...]. Isso parece implicar que o altar de incenso tem uma relação
íntima com o lugar santíssimo e com a comunicação falada com Deus em conexão
com aquele compartimento."
Em segundo lugar, 1 Reis 6:22 diz que, ao construir o templo do Senhor, Salomão
"revestiu de ouro todo o interior do templo e também o altar que pertencia ao san-
tuário interno" (NVI). Note que o escritor de 1 Reis entendia que, embora o altar
de incenso estivesse localizado no lugar santo, ele "pertencia"4 ao lugar santíssimo. Ou
seja, a função dele era uma função do lugar santíssimo.
Em terceiro lugar, a mesma coisa é sugerida pela escolha do autor quanto às
palavras de Hebreus 9:2 a 4. Note especialmente meus destaques nos textos a
seguír. No verso 2, o autor disse: "foi preparado o tabernáculo, cuja parte anterior,
o#cJc [grego: t.# Áé] estavam o candeeiro, e a mesa, e a exposição dos pães, se chama o
Santo Lugar." Por outro lado, os versos 3 e 4 dizem: "Mas, depois do segundo véu,
estava o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos, qwc /j`##4 [grego: cc#ows4]
o incensário de ouro e a arca do concerto" (ARC). 0 grego í'# Ãé no verso 2 cla-
ramente se refere ao J#gc# dos diversos móveis, dentro do lugar santo. Entretanto,
cchowsci está mais adequadamente traduzida como "ter" (ou, como na versão ARC,
"que tinha").
Richard Davidson notou - corretamente, acredito - que "ao usar o termo
cc#ows4 (`ter'), o escritor de Hebreus parece indicar que o altar de incenso é `ade-
quadamente pertencente' ao lugar santíssimo em sua/wÍGfõo, embora não estivesse
realmente localizado no lugar santíssimo".5 A tradução de Davidson para ccho#s4 é
basicamente idêntica à tradução da Nova Versão lnternacional de 1 Reis 6:22, que
diz que o altar de incenso "pcrfc#cÍ.4 4o santuário interno".6
Finalmente, a conclusão de que o altar de incenso, embora localizado no lugar
santo do santuário terrestre, realmente pertencia ao ministério do lugar santíssimo
é apoiada por uma cena de Apocalipse, o que também introduz a quarta razão para
minha sugestão de que o santuário celestial consiste de um só compartimento,
não dois.
4.A descrição de Apocalipse do santuário celestial coloca o altar de incenso "diante do trono" .
Em Apocalipse 8:3,]oão viu um anjo oferecendo incenso ``sobre o altar de ouro que
se acha diante do trono". Note que o altar de incenso estava localizado c7!.ci#fc do fro#o
dc Dc#s, que é o antítipo da arca do concerto do santuário terrestre. Note também
que Apocalipse não dá nenhuma pista de que havia um véu entre o altar e o trono.
Eles estão todos no mesmo "compartimento", assim como em Hebreus 9:3.
Apocalipse 4:5 também dá apoio a ininha sugestão de que o santuário celes-
tial consiste de um compartimento e não dois. Em Apocalipse 4,joão nos dá a mais
completa descrição do trono de Deus que há na Bíblia. Entre outras coisas, ele diz
que "diante do trono, ardem sete tochas de fogo" (v. 5) . Essas sete tochas parecem ser,
obviamente, o antítipo celestial do castiçal de sete braços do santuário terrestre. No
santuário terrestre, esse castiçal estava localizado no lugar santo, mas no Céu, ele está
localizado "diante do trono", o antítipo celestial da arca do concerto.
Assim, em sua visão,joão viu o altar de incenso e o castiçal localizados no lugar
santíssimo do Céu -``diante do trono", em vez de no Lugar Santo. Novamente,
NA cmTE cELESTIAL

isso sugere que a sala do trono de Deus no Céu inclui tudo aquilo que estava
simbolizado pela mobília de ambos os compartimentos do santuário terrestre.
Outro fator significativo a ser considerado nessa questão sobre a existência de um
véu no santuário celestial é o fato de que, quando ]esus morreu, o véu do templo foi
rasgado em dois, de cima para baixo. Os adventistas sempre interpretaram que isso
significava que os serviços do santuário terrestre tinham chegado ao fim e o minis-
tério de ]esus como nosso sumo sacerdote no santuário celestial tinha começado. Eu
concordo com essa interpretação.
Entretanto, creio que existe um significado adicional que pode ser anexado
a esse evento. 0 véu estabelecia uma separação entre o povo e Deus. Mesmo
os sacerdotes regulares estavam proibidos de ir além do véu, sob pena de morte.
Somente o sumo sacerdote podia entrar no lugar santíssimo, e apenas uma vez por
ano. Em outras palavras, o véu representava acesso limitado a Deus. Mas a morte de
Cristo pôs fim a esse sistema.Agora, todos os crentes têm acesso ilimitado a Deus.
Sugiro que o rasgar do véu do templo é um símbolo dessa nova realidade. E é
essa, precisamente, a lição que Hebreus ensina.Visto que Cristo morreu, e agora
é nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial, cada cristão pode "[achegar-se],
com confiança, ao trono da graça" (Hb 4:16; ARC). 0 rasgar do véu do santuá-
rio terrestre simbolizava o fim daquele limitado sistema de aproximação de Deus
e o começo de um novo sistema no qual não haveria mais nenhum "véu" sepa-
rando Deus de Seu povo.
Desmond Ford mais ou menos concorda com a ideia de que o santuário celes-
tial tem uma sala e não duas. Ele diz: "Muitos comentaristas se referem à ausên-
cia de um véu no santuário celestial porque, desde a cruz, os dois compartimentos
se tornaram em um." Eu concordo com essa declaração. Entretanto, Ford também
disse que "o termo `santuário' uma vez usado para uma estrutura de duas partes,
agora se aplica para a única `sala do trono' no Céu".7 Em outras palavras, Ford vê o
santuário celestial inteiro como um antítipo somente do lugar santíssimo terrestre.
Eu, por outro lado, entendo que a remoção do véu significa que os dois compar-
timentos estão agora combinados em uma "sala", que é o antítipo tanto do lugar
santo como do lugar santíssimo.
A partir da perspectiva de Ford, o ministério que Cristo exerceu após Sua ascen-
são, em 31 d.C., deve ter sido exclusivamente um miiristério do lugar santíssimo, uma
vez que, segupdo ele entende, o santuário em que Cristo entrou era o lugar santís-
simo, nenhum outro. E uma vez que o único ministério que foi exercido no lugar
santíssimo do santuário terrestre ocorria no Dia da Expiação, o ministério de Cristo
no lugar santíssimo do Céu, que começou em 31 d.C., também deve ter sido um
ministério do Dia da Expiação. Portanto, Cristo não poderia ter comcç4do Seu minis-
tério do lugar santíssimo e do Dia da Expiação em 1844.
No entanto, em minha visão, a ausência de um véu no santuário celestial significa
que, em 31 d.C„Jesus entrou no lugar santo e, da mesma forma, entrou no lugar san-
tíssimo. Ou, dizendo de outra maneira, o santuário celestial incorpora tanto o lugar
santo como o lugar santíssimo de seu tipo terrestre. Isso significa que o ministério
SENTAD0 NO TRON0 DE OEUS

que Jesus exerceu depois de Sua ascensão tem sido, provavelmente, um ministério
tanto do lugar santo quanto do lugar santíssimo.
Isso significa que o santuário celestial tem apenas um lugar em vez de dois, como
no tipo? Não necessariamente. As evidências bíblicas sugerem que, dc/#fo, ele tem
dois locais.

Um ..lugar santíssimo" no Céu


Começarei lembrando o que eu disse no capítulo 21: o juízo celestial descrito
em Daniel 7, inclusive a aproximação do Filho do Homem do trono de Deus, é
um Dia da Expiação escatológico. Pelo método historicista de interpretar as profe-
cias de Daniel, esse juízo se encaixa, cronologicamente, no mesmo período da his-
tória da Terra, como também a purificação/restauração/vindicação do santuário de
Daniel 8:|4.8
Aqui está a, maneira como Daniel apresenta a cena do juízo/Dia da Expiação em
Daniel 7:9 e 10: "Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião
de Dias Se assentou" (v. 9). Note que Daniel viu tronos (plural) "postos". Em outras
palavras, esses tronos, inclusive o trono de Deus, não estavam naquele local em par-
ticular antes; eles foram levados para lá e postos em seus lugares. Essa ideia é reforçada
pela última parte do verso 9, que diz que o trono de Deus "eram chamas de fogo, e
suas rodas eram fogo ardente" (itálico acrescentado). Por que o trono de Deus tem
"rodas"? William Shea faz um interessante comentário: "A implicação é que era por
meio de algum tipo de locomoção relacionado com essas rodas que, sentado em Seu
trono, Dc#s cíifMtwfl ÍM ct3m4Ífl cJc 4wdi'é#ci.4, onde Se reunia com Sua hoste de anjos."9
Assim, se tomarmos a visão de Daniel em seu sentido mais literal, temos que con-
cluir que, para o propósito do juízo investigativo, o trono de Deus, o antítipo da arca
do concerto, foi levado para um novo local. E, uma vez que]esus, o Filho do Homem,
compareceu diante do trono de Deus na visão de Daniel (ver v.13,14),]esus tam-
bém foi para esse novo local.
Minha proposta é que, ao mostrar o trono de Deus se mudando para um novo
"1ugar", Daniel 7:9 e 10 sugere que a sala do trono no Céu de fato tem duas

partes. A primeira parte é o "lugar" em que ]esus Se sentou com Seu Pai em
31 d.C., e a segunda parte é o "1ugar" onde ocorre o juízo de Daniel 7. Cada uma
dessas partes pode ser considerada como o lugar santíssimo do Céu. Podemos
considerar o lo.cal no qualJesus Se sentou com Seu Pai em 31 d.C. como o lugar
santo do Céu visto que, muito embora o trono de Deus esteja localizado ali,
os dois compartimentos estão agora combinados em um. Assim, seria razoável
entender que, por 1800 anos, Cristo exerceu o tipo do ministério no santuário
celestial que é representado pela atividade dos sacerdotes durante o ano no lugar
santo do santuário terrestre.Ao mesmo tempo, podemos considerar que Daniel 7
descreve um segundo local no santuário celestial onde o Dia da Expiação celes-
tial e o juízo investigativo ocorrem. Esse seria o antítipo do lugar santíssimo do
Céu; mas, ao mesmo tempo, conteria todas as coisas do primeiro local, inclusive
o lugar santo do Céu.
NA comE €ELESTIAL

Assim será o Céu? Eu não sei; o que escrevi acima é apenas uma sugestão. 0 que
sei é que o Céu é vastamente diferente de tudo o que já experimentamos na Terra,
e que, ao explicá-1o para nós, Deus fica limitado a usar a linguagem e as imagens
que nos são familiares. Assim, acho que é um erro discutir demasiadamente sobre a
arquitetura celestial. Para nós, é suficiente saber que Jesus entrou na presença ime-
diata de Deus quando voltou para o Céu, cerca de 2 mil anos atrás. Para nós, é sufi-
ciente saber que um importantejuízo começou no Céu em 1844, e que essejuízo é
o antítipo do Dia da Expiação terrestre. Nessejuízo, será resolvido para sempre o pro-
blema do mal. Para nós, é suficiente saber que Jesus, o Filho do Homem, está envol-
vido em cada aspecto de nossa salvação, inclusive no Dia da Expiação escatológico do
Céu. E, finalmente, para nós, é suficiente saber que, a cada etapa do caminho, Pai e
Filho, seja em que "sala" for, estão trabalhando lado a lado para garantir que todos os
crentes sinceros possam encontrar o caminho que leva ao lar celestial.

t Ellen G.White, citado por Francis D. Nichol, ed., em Comc#fárí.o Bt'b/t.co 4dt;c#ft.sf4 do Se'fí.mo DÍ.4, v. 3, p. 988.
2 William G. ]ohnsson diz que considera "um escorregão" do autor [de Hebreus] 1ocalizar o altar de
incenso no ]ugar santíssimo. Ver seu livro Hcbrctvs, Séri.c BÍ'b/e 4Í#pl%cd (Nampa, Idaho: Pacific Press,
1994), p. 157.
`' Harold S. Camacho, "The Altar of lncense in Hebrews 9:3-4", p. 8, 9.
4 A preposição hebraica pode significar "para", "na direção de", "pertencente a" e assim por diante.
5 Richard Davidson, "Typology in the Book of Hebrews" em Jss#cs j.# fÁ€ BooÁ? oJHcbwtJJs, p.178,179; itálico

do original.
6 Nota do tradutor: 0 termo "pertencia" é usado em Hebreus 9:4 na versão Almeida Revista e Atualizada.
7 Desmond Ford, "Dcí#j.€J 8..14", p. 235, 239.
8 É interessante notar que, embora entenda que o mimstério do Dia da Expiação de Cristo no Céu tenha
começado por ocasião de Sua ascensão, Ford deixa claro no manuscrito de Glacierview que Daniel 8:14
de fàto a.ponta para um Dia da Expiação escatológico.
9 Wílliam Shea, Selected Studies on Prophetic lnterpretation, p. L19., itálicos acrescenta.dos.
0 TEMA DE HEBREUS

|Fear::nà::;.pr:rsaieTmT3maennotoéc6o5mdo:T.Jeur::ud:r2s:ã:ndoes6aâ,a.::àuma:àaon::,eo:i::
cristão, você tinha a plena esperança de que jesus voltaria em pouco tempo. Afinal,
o próprio Jesus prometeu que, depois de construir um lugar para Seu povo, Ele
voltaria, pois dissera: "e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou,
estejais vós também" Uo 14:3). Os anjos que falaram com os discípulos logo após
Sua ascensão também garantiram que Ele voltaria ``do modo que 0 vistes subir"
(At 1:11).
Depois de 25 anos sem que Jesus tivesse aparecido, sua fé está fraquejando, e você
está se perguntando se os cristãos não estavam totalmente equivocados. Os rituais
associados ao templo de jerusalém foram de grande significado para você em sua
juventude; na verdade, você ainda participa deles de vez em quando, assim como
muitos de seus amigos cristãos. Infélizmente, o preconceito contra os cristãos em
jerusalém e najudeia é opressor.A coisa mais comum é ridicularizarem os cristãos e,
além disso, muitas oportunidades econôinicas não estão mais disponíveis para você.
Sua situação é precária: parece que cadajudeu está constantemente procurando uma
desculpa para processar os cristãos. Então, um dia, você menciona para alguns de seus
amigos cristãos o seu pensamento de talvez retornar ao judaísmo, só para descobrir
que eles pensam como você.
Parece bem claro que o livro de Hebreus foi dirigido aos judeus cristãos que,
como acima descrito, estavam fraquejando na fé em ]esus e com a inclinação de
retornar para o judaísmo, o qual ainda tinha um forte apelo para eles. Um judeu
cristão maduro escreveu Hebreus para explicar para esses fraquejantes crentes o
significado real dos rituais que no passado foram tão significativos para eles. Seu
propósito era animá-los a manter viva sua fé em ]esus.
Naturalmente, a observância mais importante do ano religioso hebraico era o
Dia da Expiação.. Esse era o dia em que todos os pecados cometidos durante o ano
anterior eram removidos para sempre do acampamento de lsrael, e o povo podia
sentir que eles e o santuário tinham sido purificados espiritualmente.Assim, não nos
deveria surpreender que, em seu esforço para animar os vacilantes judeus cristãos,
o autor de Hebreus tenha feito várias referências ao Dia da Expiação. Alguns intér-
pretes veem tantas referências ao Dia da Expiação em Hebreus que o consideram o
principal tema do livro, a espinha dorsal da linha de raciocínio do autor. Desmond
Ford, por exemplo, diz: ``A obra sumo sacerdotal de Cristo é o principal tema de
Hebreus, e a única obra distintiva do sumo sacerdote era a do Dia da Expiação."í
"0 Dia da Expiação nunca está ausente da mente do apóstolo."2 Assim, o assunto
CELESTIAL

que quero considerar com você neste capítulo é o tema de Hebreus, especialmente
nos capítulos s a 10.
Entendo que a base para Ford considerar o Dia da Expiação como o principal tema
de Hebreus é dupla. Primeiro, ao longo do livro, o autor salienta a entrada de Cristo na
presença de Deus, ou seja, na sala do trono, a qual Ford vê unicamente como o antí-
tipo do lugar santíssimo do santuário terrestre. E uma vez que a única atividade no
lugar santíssimo do santuário terrestre eram os rituais do sumo sacerdote no Dia da
Expiação, Ford assume que todas as menções sobre Cristo em pé na presença do Pai
ou sentado com Ele em Seu trono são uma, referência ao Dia da Expiação. No capí-
tulo 2 do manuscrito de Glacierview, em que Ford trata de Hebreus, ele disse que
a tese central do capítulo era: "Hebreus afirma claramente que, no cumprimento do
tipo do Dia da Expiação, Cristo, por meio do evento da cruz-ressurreição-ascensão,
entrou no ininistério prefigurado pelo scg##do compartimento do santuário."3 Ford,
então, cita cada uma das referências de Hebreus quanto à presença de Cristo com Deus
e, também, Hebreus 6:19 e 20, que ffla da passagem de Cristo para "trás do véu". Eu
tratei desses textos nos dois capítulos anteriores; por isso, não repetirei a discussão aqui.
A segunda razão para Ford considerar o Dia da Expiação como o tema de Hebreus
são as referências ao Dia da Expiação nos capítulos s a 10.Vamos abordar esta questão
agora: o Dia da Expiação é, de fato, o tema principal de Hebreus s a 10? Argumenta-
rei que o tema é a nova e a velha aliança e, ao longo desses dois capítulos, o autor de
Hebreus salienta a superioridade da nova sobre a velha. Uma vez que cada uma delas
tinha um santuário, o autor também enfatiza a superioridade do sacrificio de Cristo e
Seu ministério no santuário celestial sobre os sacrificios e o ministério realizado pelos
sacerdotes no santuário terrestre.
Visto que um exame detalhado de Hebreus s a 10 iria além do âmbito do presente
capítulo deste livro, darei um resumo de seu conteúdo, citando apenas as palavras, fia-
ses e orações mais relevantes. Entre outras coisas, indicarei quatro inquestionáveis
referências ao Dia da Expiação e uma sobre a qual os comentaristas discordam. Os
leitores que têm familiaridade com o conteúdo de Hebreus s a 10 acompanharão
fàcilmente meu resumo. Para os que não têm, pode ser útil primeiro ler esses dois
capítulos a fim de entender meus comentários.

Hebreus s
0 oitavo c?pítulo de Hebreus está perfeitamente dividido em duas partes.
Ptzrfc ], t;cr5os 14 6. Nesses textos, o autor explica queJesus é o sumo sacerdote no
santuário celestial, do qual o santuário terrestre é uma cópia. No santuário terrestre
havia sacerdotes que ofereciam sacrificios, consequentemente, Cristo, o sumo sacer-
dote no santuário celestial, também deve ter ``o que oferecer" (v. 3). Essa parte do
capítulo termina com estas palavras: "Agora, com efeito, obteve ]esus ministério tanto
mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com
base em superiores promessas" (v. 6).A palavra central nesse verso é 4/í'¢Í?f4.
Ptzrfc 2, t;cÍsos 7 4 f j. No verso 7, o autor disse: "Porque, se aquela primeira aliança
tivesse sido sem defeito, de maneira alguma, estaria sendo buscado lugar para uma
DE HEBRELIS

segunda", e, nos vários versos que se seguem, ele cita uma longa passagem dejeremias
na qual o profeta predisse que Deus instituiria uma ``nova aliança com a casa de lsrael
e com a casa de Judá" (v. 8). Essa aliança não seria como a que Ele fez com os israe-
litas m saída do Egito (v. 9). Nessa nova aliança, Deus colocaria Suas leis na mente
e no coração deles (ver v.10). 0 verso final do capítulo diz: "Quando Ele diz Nova,
torm antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está
prestes a desaparecer."
Minha sugestão, como já disse antes, é que o tema dos capítulos s a 10 é o contraste
entre a nova e a velha aliança, e o ponto do autor é que a velha aliança é ineficaz para
promover mudanças espirituais autênticas na mente e no coração do povo de Deus, mas
a nova aliança pocíc, sim, promover essas mudanças. 0 autor usou os serviços do santuário,
inclusive o Dia da Expiação, como um exemplo da natureza ineficaz da velha aliança. Por
meio de contraste, ele indicou que o ministério de Cristo no santuário celestial é eficaz
para transformar mente e coração.

Hebreus 9
0 capítulo 9 está divido em quatro partes.
Pzzrfc 1, #ersos 1 4 ÍO. Nesses versos, o autor descreve o santuário do Antigo Tes-
tamento. 0 verso 1 diz: "Ora, a primeira aliança também tinha preceitos de serviço
sagrado e o seu santuário terrestre", e, nos nove versos seguintes, o autor descreve a
mobília dos dois compartimentos do santuário (v. 2-5) e o ministério exercido pelos
sacerdotes em ambos os compartimentos (v. 6-7). 0 verso 7 contém uma das incon-
testáveis referências ao Dia da Expiação em Hebreus s a 10. 0 autor diz que "o sumo
sacerdote entrava no Santo dos Santos, apenas uma vez por ano" (NVI). A declaração
sobre o ministério do sumo sacerdote ``apenas uma vez por ano" claramente aponta
para o Dia da Expiação.
No verso 8, o autor se refere ao santuário: "querendo com isto dar a enten-
der o Espírito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou,
enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido". 0 termo grego traduzido
como "Santo Lugar" na versão Almeida Revista e Atualizada é fõ# #c]gi.õ#, que é
a forma plural do singular fa h4gi'4.4 Intérpretes do livro de Hebreus diferem na
interpretação de f4 #4gi.4. Alguns acham que seja "santuário", enquanto outros
acham que é "lugar santíssimo". Essa é uma questão significativa sobre a qual fala-
rei no próximo c.apítulo.
P#rfc 2, t/c/5os Í 1 4 1J. Na segunda seção do capítulo 9, o autor descreve o minis-
tério de Cristo nos serviços do santuário celestial sob a nova aliança. 0 texto mais
controvertido dessa seção é o verso 12, que diz: ``não por meio de sangue de bodes e
de bezerros, mas pelo Seu próprio sangue, [Cristo] entrou no Santo dos Santos, uma
vez por todas, tendo obtido etema redenção."Algumas versões da Bíbha, inclusive a
Almeida Revista e Atualizada, dizem "Santo dos Santos" ou alguma variação disso,
uma indicação de que muitos intérpretes consideram o termo como uma outra refe-
rência ao Dia da Expiação de Hebreus s a 10. Examinarei esse verso em detalhes no
próximo capítulo.
NA CORTE CELESTIAL

0 autor continua, agora indicando que, "se o sangue de bodes e de touros e a


cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à
purificação da carne [sob a antiga aliança], muito mais o sangue de Cristo, que [...]
purificará burgará] a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo
[sob a nova aliança]!" Note o contraste entre o ineficaz ministério do santuário ter-
restre e o eficaz ministério de Cristo no santuário celestial.
No verso 15, o último dessa seção, o autor diz: "Por isso mesmo, Ele Uesus] é o
Mediador da nova aliança, [...] para remissão das transgressões que havia sob a pri-
meira aliança." Note a ênfase nas alianças e na superioridade da nova aliança sobre
a antiga.
P#ríc 3, t/cr5os Í 6 4 22. A terceira seção do capítulo 9 indica que a ratificação de uma
aliança requer sangue. No verso 18, o autor diz que "nem a primeira aliança foi san-
cionada sem sangue", e, nos versos seguintes, ele comenta o ritual por meio do qual
Moisés ratificava a primeira aliança. Entre outras coisas, ele disse que Moisés ``asper-
giu com sangue o tabernáculo e todos os utensílios do serviço sagrado" (v. 21 ; o ritual
inteiro está descrito nos v.19-21). Falando sobre o aspergir de sangue com que Moisés
ratificava a antiga aliança, o autor disse: "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purifi-
cam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão" (v. 22).
Pwrfc 4, vcrsos 2j ¢ 28. Tendo comentado sobre o ritual pelo qual a velha aliança
era ratificada, o autor se volta para o santuário celestial, no capítulo 9. Ele diz: "Era
necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem
com tais sacrificios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrificios a eles superio-
res" (v. 23). Seu ponto é que Moisés ratificava a velha aliança ao espargir o santuá-
rio e sua mobília com sangue de animais, mas Jesus purificou o santuário celestial
com o próprio sangue, ou seja, um sacrificio muito melhor do que o de meros ani-
mais. Note a ênfase na função purificadora do sangue.Voltarei a esse detalhe no
próximo capítulo.
No restante dessa seção, o autor fala sobre o ministério de Cristo no santuário
celestial e sobre o quanto esse ministério é superior comparado ao dos sumos sacer-
dotes no santuário, sob a velha aliança. Cristo não entrou ern um santuário cons-
truído por mãos humanas, mas no próprio Céu. Ele também não precisa "Se oferecer
a Si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos
com sangue alheio" (v. 25). 0 sacrificio de Cristo foi um só, e é válido para sempre.
Note a clara referência ao Dia da Expiação. 0 autor se refere ao Dia da Expiação ter-
restre, mas é óbvio que ele o aplica ao ministério de Cristo no Dia da Expiação celes-
tial. 0 ponto do autor em 9:25 é que o sacrificio único de Cristo é um exemplo da
superioridade de Seu ministério sobre o do sumo sacerdote no Dia da Expiação ter-
restre, visto que esse ritual tinha que ser repetido a cada ano. Esse é outro exemplo da
superioridade da nova aliança sobre a antiga aliança.

Hebreus 10

0 capítulo 10 está dividido em cinco seções, mas comentarei somente as quatro


primeiras.
P#rfc 1, ycrso5 í cz 4. Na primeira seção, o autor faz duas referências óbvias ao
Dia da Expiação terrestre. No verso 1, ele disse: "Ora, visto que a lei tem sombra
dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nuncajamais pode tornar perfei-
tos os ofertantes, com os mesmos sacrificios que, c!#o cJpós 4#o, perpetuamente, eles
oferecem." E no verso 3, ele disse: "nesses sacrificios faz-se recordação de pecados
fodos os cí#os". Seu ponto é que os sacrificios sob a velha aliança, especialmente os
do Dia da Expiação, eram ineficazes para promover uma mudança real nas pes-
soas. As palavras que destaquei nesses versos são duas outras referências óbvias ao
Dia da Expiação.
P#ríc 2, tJcrsos J 4 ÍO. Na segunda seção, o autor indicou que o sacrificio do corpo
de ]esus foi um ato de obediência à vontade de Deus, e, no verso 9, o autor aplica
as palavras de Salmo 40:8 a Jesus: "Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a Tua vontade."
E, então, conclui o verso 9, dizendo: "[Deus] Remove o primeiro para estabelecer o
segundo." 0 autor não disse o que são "o primeiro" e "o segundo", mas é muito pro-
vável que a intenção dele tenha sido dizer que a antiga aliança e seu santuário ter-
restre se tornaram obsoletos, razão pela qual Deus os eliminou, substituindo-os pela
nova aliança com o ministério de jesus no santuário celestial.
Ptzrfc j, tJcrsos Í Í c! Í 8. Na terceira seção, o autor outra vez contrasta o serviço do
santuário da antiga aliança com o serviço do santuário na nova aliança. "Todo sacer-
dote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes
os mesmos sacrificios, que nunca jamais podem remover pecados;Jesus, porém, tcmdo
oferecido, para sempre, um único sacrificio pelos pecados, assentou-Se à destra de
Deus" (v.11,12). 0 ponto é que "com uma única oferta, Uesus] aperfeiçoou para
sempre quantos estão sendo santificados" (v.14). Em outras palavras, o sacrificio de
]esus é eficaz para promover uma, transformação permanente na vida humana. Então
o autor cita a famosa declaração de ]eremias: "Esta é a aliança que farei com eles,
depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu cora,Ção as Minhas leis e sobre a sua
mente as inscreverei" (v.16).
Fechamos, assim, o círculo inteiro. 0 autor começou sua discussão sobre as alian-
Ças do capítulo s citando a declaração de ]eremias de que, sob a nova aliança, Deus
escreveria Suas leis na mente e no coração de Seu povo. Em todo o capítulo 9 e m
primeira parte do capítulo 10, ele explica como o sacrificio único de Cristo e Seu
ministério sumo sacerdotal no Céu possibilitou isso. Ele conclui citando mais uma
vez a famosa dedaração de Jeremias sobre Deus ter escrito Sua lei na mente e no
coração humanos mediante a nova aliança.
Ptzrfc 4, t;crsos f 9 4 2J. Na seção quatro, o autor apela aos seus leitores para que
aproveitem a nova aliança. "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de ]esus, [...] aproximemo-nos, com sincero coração, em plena
certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com
água pura" (v.19, 22).
Resumindo o que vimos neste capítulo: embora o autor de Hebreus tenha, de
fato, fàlado sobre o Dia da Expiação nos capítulos 9 e 10, essa não era sua principal
preocupação. Seu tema em Hebreus s a 10 são as alianças, e ele usa o Dia da Expiação
NA CORTE CELESTIAL

como um meio para mostrar o quanto o ministério sumo sacerdotal de Cristo sob
a nova aliança é superior, comparado com o ministério dos sumos sacerdotes terres-
tres, sob a antiga aliança.
No entanto, ainda nâo estamos prontos para chegar a uma conclusão definitiva
sobre o Dia da Expiação de Hebreus 9 e 10. Para isso, é preciso que consideremos
várias outras questões.

t Desmond Ford, "D¢#t.c/ 8..14", p.182.


2 ibid., p. 253.
3 ibid„ p.160; itálico do original.
4 No restante da minha discussão sobre Hebreus, usarei a forma singular, f4 h4gí`4, mesmo quando o original

grego trouxer a forma plural fõ# #4gi.Õ#.


0 DIA DA EXPIAÇÃO
EM HEBREUS 9 E 10

(PARTE 1)

Jíd£;:n::t.ator:fae::á,:uaeoe,s::zuo:lnevnets:|::,s|vpor.oE:::::s:u:isTo:::::|Se.g:ràp.as::â.Crdeent::
lhado do livro de Hebreus há vários anos. Comecei com o capítulo 1, verso 1, e fúi
progredindo lentamente e com oração até o capítulo 10, escrevendo meus comentá-
rios, verso por verso, de maneira detalhada, à medida em que avançava. Quando ter-
minei, eu tinha chegado a certas conclusões definitivas, algumas das quais você lerá
neste capítulo.
No fim do capítulo anterior, indiquei que ainda precisamos considerar diversas
questões antes de chegarmos à conclusão definitiva sobre o Dia da Expiação do capí-
tulo 9 e 10. Este capítulo e o próximo tratarão dessas outras questões, que são bem
técnicas. A razão para discuti-las aqui é que, por mais de cem anos, essas questões têm
estado entre os principais argumentos dos críticos contra a crença adventista a res-
peito do juízo investigativo pré-advento no santuário celestial. Portanto, mesmo de
modo técnico, é imperativo que tratemos desses assuntos.
Por várias vezes, nas páginas seguintes, irei me referir à Septuaginta. Os eruditos reco-
nhecem que o autor de Hebreus se baseou fortemente na Septuaginta, um fato que, fie-
quentemente, acaba tendo bastante significado na interpretação do que ele quis dizer.

Hebreus 9:8
Nos versos que precedem Hebreus 9:8, o autor descreve a mobília do santuário
terrestre (v. 2-5) e o ministério dos sacerdotes (v. 6, 7). Depois, ele diz:"querendo com
isto dar a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar [do grego:
f4 Ã4gi.4] não se manifestou, enquanto o primeiro tabernáculo [do grego: profés ské#és]
continua erguido." Os dois termos gregos que realcei, f4 h4gf.4 e p/ofés ské#és, são cru-
ciais para interpretar o verso 8.
Todos concordam que as palavras fci Ã4gí.¢ se referem ao santuário celestial.A pergunta
é se elas se refer.em ao santuário celestial como um todo ou apenas ao lugar santíssimo.
Os comentaristas se dividem sobre essa questão, embora eu considere seguro dizer que a
maioria prefere a interpretação de "lugar santíssimo". Na Nova versão lnternacional,
a expressão f4 #4gí`4 é traduzida como "Santo dos Santos", isto é,1ugar santíssimo.í
Essa questão é, de fato, crucial. Se por f4 Ãcígf'4 o autor de Hebreus quis se referir
ao santuário como um todo, isso abriria a possibilidade de Jesus ter começado um
tipo de ministério do lugar santo no santuário celestial em 31 d.C., o qual pode ter
sido seguido por um ministério do lugar santíssimo. Mas, se por f4 #4gí.4 o autor quis
se reférir exclusivamente ao lugar santíssimo do santuário celestial, então, obviamente
]esus deve ter começado apenas um ministério do lugar santíssimo/Dia da Expiação
no santuário celestial em 31 d.C. Examinaremos tanto f¢ h4gi.4 como píofés ské#és para
determinar se pelo primeiro termo grego o autor de Hebreus quis dizer o santuário
do Antigo Testamento inteiro ou apenas o lugar santíssimo.
Profés ské#és significa "primeiro tabernáculo".Antes de usar esse termo no verso 8,
o autor o usou nos versos 2 e 6, nos quais ele claramente se refere ao lugar santo do
santuário terrestre. Assim, à primeira vista, pareceria razoável entender que o termo
tem o mesmo significado no verso 8. Se esse for o caso, então o verso s poderia ser
parafraseaào assim: ``0 caminho para dentro do lugar santíssimo do santuário celes-
tial não podia ser aberto enquanto o lugar santo do santuário terrestre ainda estivesse
funcionando." Mas isso parece um pouco estranho. Por que a entrada de Cristo no
Í#gw scz#f/j.Jí.mo do Céu deveria depender de estar o /#gar s4#fo do santuário terres-
tre ainda funcionando? 0 ininistério de ambos os compartimentos não terminou ao
mesmo tempo, em 31 d.C.?2 Parece mais razoável dizer que a entrada de Cristo no
santuário celestial como um todo não poderia ter ocorrido enquanto qwci/¢w Í)#Í€
do santuário terrestre inteiro estivesse em funcionamento.
E, de fato, existe uma forte base contextual para isso. Como indiquei no capítulo
30, o tema de Hebreus s a 10 é a superioridade da nova aliança, com seu santuário
celestial, sobre a antiga aliança, com seu santuário terrestre. 0 autor de Hebreus dedica
a última metade do capítulo s para dar uma explicação sobre a antiga aliança e começa
o capítulo 9 com a declaração de que "a primeira aliança também tinha preceitos de
serviço sagrado e o seu santuário terrestre" (Hb 9: 1). Nos versos seguintes, ele descreve
a mobília e o ministério dos sacerdotes nesse santuário terrestre. 0 verso 8, então, volta
a considerar o santuário terrestre inteiro e seu antítipo no Céu.
Portanto, apesar do uso do termo pÍoíéf Jk-%-s no capítulo 9, parece razoável con-
cluir que, no verso 8, esse termo significa o santuário como um todo. Parafiaseado dessa
maneira, Hebreus 9:8 fica assim: "0 Espírito Santo está indicando com isso que o cami-
nho para dentro do santuário celestial como um todo ainda não havia se manifestado
enquanto o santuário terrestre ainda estava fiincionando." Isso me parece ser o jeito mais
lógico de entender Hebreus 9:8.
E o termo f4 hcigí'4? Quando o autor de Hebreus usou esse termo, ele tinha em
mente o santuário celestial como um todo ou somente o lugar santíssimo, como
creem muitos comentaristas?
Começarei minha resposta indicando que o autor de Hebreus era um judeu cris-
tão que entendia muito bem o judaísmo e o cristianismo. Podemos presumir que
ele teria usado o plural de Í¢ ÍMgí.4 em harmonia com o entendimento geral judeu
daquele tempo. Carl Cosaert, professor da Escola de Teologia da Universidade de
Wallawalla, escreveu sua dissertação de mestrado sobre esse assunto. Ele investigou o
uso das palavras gregas f4 h4gi'4 tanto no plural como no singular na Septuaginta, na
Pseudoepigrafia do Antigo Testamento e nos escritos de Filo e Josefo, os quais foram
contemporâneos, ou proximamente contemporâneos, do autor de Hebreus.3
Cosaert descobriu que a forma plural de fa Ã4gc.¢ nunca é usada em nenhuma des-
sas fontes para se referir ao lugar santíssimo. Ele descobriu, em vez disso, que "sem-
pre que a forma plural é usada sozinha [nessas fontes] , ela descreve com exclusividade
o santuário inteiro em geral.Além disso, sempre que é feita uma referência específica
ao lugar santíssimo, a forma plural nunca é usada sozinha. 0 1ugar santíssimo é refe-
rido ou com o uso da forma singular de #czgi.os, [...] algum termo qualificativo, [...]
ou, mais tipicamente, com uma forma da frase âgí.o# fõ# h4gí`ÕÍc".4
0 porito é que o autor de Hebreus, provavelmente, tenha usado o plural de f4
ft4gi'4 em harmonia com o uso dessa expressão na Septuaginta e em outras fontes con-
temporâneas. Isso dá suporte à tradução de Í4 #4gí.4 no verso s como "santuário" em
vez de "1ugar santíssimo".
Minha conclusão sobre essa discussão de Hebreus 9:8 é que existem excelen-
tes razões contextuais e culturais para traduzir f4 h4gi.¢ nesse verso como "santuário"
em vez de "1ugar santíssimo". E, com essa tradução, é inteiramente bíblico conside-
rar que Cristo começou um ministério do lugar santo no santuário celestial quando
subiu ao Céu em 31 d.C. e não um ministério exclusivamente do lugar santíssimo.
Consideraremos questões adicionais de Hebreus 9:8 e 9 no capítulo 33.

Hebreus 9:12

Hebreus 9:12 também tem sido muitas vezes interpretado como se Cristo tivesse
começado uma, forma de ministério no lugar santíssimo em Sua ascensão. Esse texto
diz: ``não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo Seu próprio sangue,
entrou no Santo dos Santos [do grego: plural de fa #c]gí.4], uma vez por todas, tendo
obtido eterna redenção." A maioria dos comentaristas e tradutores entende que o
autor de Hebreus quis dizer ``1ugar santíssimo". E por duas razões.
A primeira é que o plural de f¢ Ãc!gi.o no verso 12, provavelmente, signifique
a mesma coisa que significou no verso 8, seja o que for, e, uma vez que muitos
eruditos entendem que essa expressão do verso s significa lugar santíssimo, eles
transportam esse significado para o verso 12. Entretanto, como acabei de indicar,
"santuário" parece ser uma tradução mais apropriada para f¢ #4gí'4 no verso s e,
também, no verso 12.
A segunda é que os eruditos têm notado que o verso 12 diz que Cristo não entrou
no santuário celestial "por meio de sangue de bodes e bezerros, mas pelo Seu próprio
sangue". Um novilho e um bode eram sacrificados no Dia da Expiação no santuário
terrestre, o que leva as pessoas a pensar que o autor tinha em mente o ministério do
Dia da Expiação de Cristo no santuário celestial.A partir dessa perspectiva, ``lugar san-
tíssimo" também parece ser a tradução preferida de fa #cigí'cz.
Em resposta a isso, direi o que já foi observado acima: a forma plural de f4 h4gí'4
###cfl é usada em referência ao lugar santíssimo na Septuaginta, na Pseudoepigrafia
do Antigo Testamento ou nas obras de Filo e Josefo. Embora isso não seja uma evi-
dência conclusiva quanto ao significado de f4 Ã4g!.4 em Hebreus 9:12, elas são alta-
mente sugestivas. Embora a referência, a bodes, bezerros e touros nos versos 12 e 13
de fato pareçam sugerir um ritual do lugar santíssimo, um exame das palavras gregas
para esses animais tanto em Hebreus como em Levítico 16 -passagem que contém
a principal descrição das Escrituras sobre o Dia da Expiação - não lança nenhuma
dúvida sobre essa conclusão.
CORTE CELESTIAL

A palavra grega para "bezerros" no verso 12 é mosc#õÍ£, que é a mesma palavra que
a Septuaginta usa em Levítico 16:3 para o novilho sacrificado no Dia da Expiação.
Entretanto, a palavra para "bodes" em Hebreus 9:12 é frtzgõ#, ao passo que na versão
da Septuaginta de Levítico 16, a palavra tanto para o bode do Senhor como para o
bode emiss'ário é cÃ!'m4ros, e a palavra frtzgos (a forma singular) não ocorre uma vez
sequer nesse capítulo sobre o Dia da Expiação.As palavras frflgo5 e fr¢gó# não são usa-
das em nenhum outro lugar nos capítulos do Pentateuco que tratam do santuário,
com exceção de Números 7, em que ela ocorre 13 vezes. Números 7 é uma das pas-
sagens importantes do Pentateuco que tratam da f.#4#g#rtzçõo do santuário terrestre,
o que é uma evidência adicional em apoio à conclusão que tirei do capítulo 28, ou
seja, que a passagem de Cristo para ``trás do véu" em Hebreus 6:19 e 20 está ligada
à inauguração do lugar santíssimo e não ao Dia da Expiação.5
0 autor de Hebreus menciona outra vez bodes e bezerros no capítulo 9:19,
embora na ordem invertida: "bezerros e bodes". Dessa vez é inquestionável que o
contexto seja a ratificação e a inauguração da aliança. Davidson comenta que ``o autor
de Hebreus inequivocamente relaciona a ligação desses dois animais ao pa.no de
fundo da inauguração e não a,o Dia da Expiação".6
Em vista disso, a conc]usão de que o plural de f4 #4g!.4 em Hebreus 9: 12 deve ser tra-
duzido como "santuário", em vez de "1ugar santíssimo", tem significativo apoio bíblico.

Hebreus 10:19 e 20
Na versão Almeida Revista e Atualizada, Hebreus 10:19 e 20, e a primeira parte
do verso 22, diz: ``Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos [do
grego: plural de fci h4gí.4], pelo sangue deJesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos
consagrou pelo véu, isto é, pela Sua carne, [...] aproximemo-nos, com sincero cora-
Ção, em plena certeza de fé." Novamente, a palavra Sci#Ío dos Sfl#fos [santíssimo] na
versão Almeida Revista e Atualizada sugere que os tradutores entenderam Í4 h4gi'4
como uma referência ao lugar santíssimo. Entretanto, como já indiquei, o plural de f4
#¢gí.4, usado aqui pelo autor, não se referia exclusivamente ao luga,r santíssimo na lite-
raturajudaica daquela época. Isso imediatamente lança dúvida sobre a ideia de que o
autor de Hebreus quis dizer lugar santíssimo no capítulo 10:19 e 20.
Essa conclusão é apoiada pela comparação desses versos com Hebreus 6:19 e 20, que
eu analisei no capítulo 28 deste hvro. Note a semelhança entre estas duas passagens:

Hebreus6:19e20-"Aqud[esperança]temosporâncoradaahna,seguraefirme
e que penem além do véu, onde ]esus, como precursor, entiou por nós, tendo-
Se tornado Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque."
Hebreus 10:19 e 20 -"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo
dos Santos, pelo sangue deJesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consa-
grou pelo véu, isto é, pela Sua carne."

jesus e Seu ministério sumo sacerdotal são os assuntos dessas duas passagens. Ambas
dizem queJesus passou para "além do véu" ou "pelo véu" e animam os crentes a abraçar
8 DIA DA EXPIÁ ÃO EM HEBREUS

essa esperança. Em minha discussão sobre Hebreus 6:19 e 20, expliquei por que ``para
além do véu" deve ser entendido como uma referência à imuguração do santuário
celestial e a nomeação de Cristo como sumo sacerdote nesse santuário, em vez de uma
referê'ncia ao Dia da E¥iação celestial. A natureza paralela desses versos sugere que
Hebreus 10:19 e 20 também deve ser entendido como inauguração.
Essa conclusão é apoiada pelo uso da palavra grega eg¢¢f'#Í.zo- no verso 20, a qual
a versão Almeida Revista e Atualizada traduz como "consagrou". Acho significativo
verificar que na parte do Pentateuco que trata dos rituais do santuário, da maneira
como está traduzida na Septuaginta, a forma do substantivo cgÁ?"'#i.zÕ ocorre ape-
nas quatro vezes, todas em Números 7.7 Como indiquei acima, Números 7 -o capí-
tulo inteiro - descreve em detalhes os rituais que eram realizados em conexão com a
inauguração do santuário. Por isso, a palavra co#s4grow (cgk¢Í.#Í'zÕ) em Hebreus 10:20
deve ser entendida como uma referência à inauguração do santuário celestial e não
ao Dia da Expiação.
Há uma evidência adicional que apoia essa conclusão dentro do próprio livro de
Hebreus.A palavra cgk#.#!'zÕ também ocorre em Hebreus 9:18: "Pelo que nem a pri-
meira aliança foi sancionada [cgÁ24!.ÍcÍ'zÕ] sem sangue." No capítulo 32 deste livro, indi-
carei que Hebreus 9:16 a 22 mescla os rituais associados à sançâo da aliança com a
inauguração do santuário. Assim, o uso de cgk4í'%i.zÕ em Hebreus 9:18 em conexão
com a inauguração do santuário apoia a interpretação de que Hebreus 10:20 tam-
bém é uma referência à inauguração do santuário. Portanto, mesmo se as palavras fct
h4gi.4 em Hebreus 10:20 de fato se referirem ao lugar santíssimo (uma conclusão que
o uso costumeiro do termo no lQ século d.C. contradiz), elas deveriam ser entendi-
das como uma referência à inauguração do santuário, não ao Dia da Expiação. Isso é
um apoio adicional para a mesma conclusão concernente a Hebreus 6:19 e 20, a que
cheguei no capítulo 28 deste livro.
Ainda precisamos investigar várias outras questões relacionadas ao Dia da Expiação
em Hebreus. Faremos isso no próximo capítulo.

t Nota do tradutor: 0 autor cita a versão New King ]ames, que traduz f4 hczgi.4 como "Holiest of.All" (Mais
San[o de Todos, ou seja, o Santíssimc)).A versão Almeida Revista e Atualizada traduz fci 7i4gí.4 como o "Santo
Lugar", enquanto a Novaversão lnternacional o traduz como "Santo dos Santos".
2 0s judeus continuaram a realizar os serviços no santuário terrestre (templo dejerusalém) até a destruição
do templo em 70 .d.C. Entretanto, pela perspectiva de Deus, esses sacrificios passaram a não ter mais
significado depois que Cristo fez o sacrificio supremo, de uma vez por todas, pelo pecado.
3 É quase certo que Hebreus tenha sido escrito antes de 70 d.C. Filo foi um filósofo judeu que viveu de
20 a.C. a. 50 d.C., e o historiador Flávio Josefo, que era de ascendência sacerdotal, viveu de 37 d.C. até
cerca de 100 d.C.
4 Carl P. Cosaert, "The Use of H4gt.o5 for the Sanctuary", p.102,103.
5 NormanYoung, porém, indica que "Filo, o filósofo judeu do lQ século [d.C.], usa frt{gos mais frequentemen-
te do que c#Í.m4ros para o bode ofertado pelo pecado no Dia da Expiação". "The Day ofDedication or the
Da'y of Atonement? The Old Testament Background to Hebrews 6:19-20 Revisited", 4#díct4Ü U#i.yeí5i.fy
Scmi.#4ry Sfwdi.cs 40, nQ 1 (Primavera de 2002), p. 65.
6 Richard Davidson, "Inauguration or Day ofAtonement?" p. 79.
7 Números 7:10,11, 84, 88.
0 DIA DA EXPIAÇÃO
EM HEBREUS 9 E 10

(PARTE 11)

|:.diqau;1r|nn:|;adpíàueloH3e?rqe::.mNuol:o;acp:,:|eonstaar:::ars|ocroe:,Sledxe:=n:mDolsafsasaE:fi::::;ã:
e descobrimos que outros temas predominam, como inauguração e alianças. Neste
capítulo, examinaremos quatro questões relacionadas com a discussão sobre o Dia da
Expiação em Hebreus.

A purificação em Hebreus
0 objetivo do Dia da Expiação terrestre era purificar o santuário dos pecados ali
acumulados durante o ano anterior e removê-los totalmente do acampamento de
lsrael. A palavra hebraica "purificar" em Levítico 16:19 e 30 é fa#cr. A Septuaginta
usa a palavra grega k4fhwí'zo-, que também significa "purificar". Essa palavra também
é usada em Hebreus 9:14, 22, 23 e 10:2.
Visto que k4f#4rí'zÕ é a palavra grega que a Septuaginta usa em Levítico 16 para
a purificação do santuário, ficamos naturalmente interessados em saber como o
autor de Hebreus usou essa palavra, pois ela pode nos dar algumas pistas de sua
interpretação sobre o Dia da Expiação. Examinando os quatro textos acima, des-
cobrimos que ele usou a palavra de duas maneiras.
Opri.í7%!'ro f!.po cíe wso..pwr%c4Ção do s4#fw4'ri.o. 0 autor de Hebreus usou a palavra
kcif#4rf.zÕ em contextos relacionados com a purificação do santuário. Encontramos
isso no capítulo 9:22 e 23, em que ele diz: "Com efeito, quase todas as coisas,
segundo a lei, se purificam [kczfJiflyí.zÕ] com sangue; e, sem derramamento de san-
gue, não há remissão. Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que sc
acham nos céus se purificassem [kczfh4rí.zÕ] com tais sacrificios, mas as próprias coi-
sas celestiais, com sacrificios a eles superiores."
Muitos comentaristas veem essa purificação do santuário como uma referência ao
Dia da Expiação celestial. Eles fazem essa conexão porque nos dois versos seguintes, o
autor fàla sobi:€ o Dia da Expiação: "Porque Cristo não entrou em santuário feito por
mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para comparecer, agora, por nós.
diante de Deus; nem ainda para Se oferecer a Si mesmo muitas vezes, como o Sumo
Sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio" (v. 24, 25).
Uma vez que o autor flou do ministério do Dia da Expiação celestial depois die
ter se referido à purificação do santuário celestial, o contexto parece sugerir qucL
no verso 22, ele estava falando sobre a purificação do Dia da Expiação do santuí-
rio celestial realizada por Cristo. Entretanto, o contexto não tem que ver apenas com
o que vem dcpoi's de um texto em particular; ele também tem que ver com o qiie
vem 4#f€s. E, nesse caso, o que vem antes é, na verdade, uma parte do contexto mri
DA EXP!A ÃO EM HEBREÜS 9 E IC (PÁFiTE 1!

relevante do que o que vem depois. Nos versos 19 e 20, o autor explica -de maneira
um tanto imprecisa (ver a seção seguinte deste capítulo) - como Moisés ratificou a
antiga aliança ao espargir sangue sobre o povo e o santuário (ver Êx 24:1-8). Depois,
no verso 23, ele começa sua aplicação da nova aliança e do ministério de Cristo no
santuário celestial, dizendo que "as figuras das coisas que se acham nos Céus se puri-
ficassem com tais sacrificios [o sangue de animais], mas as próprias coisas celestiais,
com sacrificios a eles superiores".
Obviamente, o autor tinha em mente o ritual de ratificação que ele acabara de
descrever. Isso fica particularmente aparente pelo uso da palavra f4!.s: "Era necessário,
portanto, que as figuras das coisas que se acham nos Céus se purificassem [k4f7zcm'zÕ]
com Í¢Í.s sacrificios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrificios a eles superio-
res."A palavra f4i.s se refere ao sangue aspergido quando Moisés ratificou a aliança e
não ao comentário do autor sobre o Dia da Expiação. Isso leva à conclusão de que
o autor estava relacionando esse aspecto particular da purificação do santuário celes-
tial ao tempo em que a aliança foi ratificada e não à purificação ocorrida no Dia
da Expiação.
0 segundo tipo de uso: purificação da consciência. Ern Hebreus 9..14 e 10-.2, o autor
usa a palavra k4Í#4ri'zÕ para descrever o efeito do sacrificio de Cristo na mente e
no coração de seus leitores. Em 9:14, ele diz que o sangue de Cristo ``purificará
[k4fh4/!`zÕ] a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" e,
em 10:2, ele diz que os que "tendo sido purificados [k4fh4rí.zÕ] uma vez por todas,
não mais teriam consciência de pecados". E, naturalmente, Levítico 16:30 diz com
toda clareza que um propósito do Dia da Expiação era "[fazer] expiação por tJós,
para purificar-tJos [do grego: k4fÃ4/í'zÕ]; e sereis purificados [do k¢fh4ros, a forma
adjetivada de Á:4f#cm'zÕ] de todos os vossos pecados, perante o Senhor" (itálicos
acrescentados). A pergunta é: 0 autor de Hebreus estava falando da purificação
que o Dia da Expiação provia?
Há uma diferença significativa entre a purificação de lsrael realizada pelo Dia da
Expiação e a purificação que o autor de Hebreus desejava que seus leitores experi-
mentassem. No sistema de rituais levíticos, as pessoas eram purgadas individualmente
de seus pecados ao longo do ano a cada vez que traziam um sacrificio por seus peca-
dos. A purificação no Dia da Expiação, por outro lado, era para todo o acampamento.
Era uma remoção coletiva de todos os seus pecados do santuário, uma purificação
corporativa que a.contecia para todos, ao mesmo tempo, rio fim do ano religioso.
Em contraste, a purificação de que £úa Hebreus 9:14 e 10:2 era aplicada à cons-
ciência de cada leitor do livro, e Hebreus os assegurava que esse beneficio espiritual
estava imediatamente disponível para eles e para qualquer outro cristão. Assim, essa
purificação é mais parecida com a purgação do pecado que estava disponível para
os israelitas durante o ano, em vez da purificação coletiva pelos pecados recebida no
Dia da Expiação. Além disso, na descrição feita pelo autor do ritual de ratificação da
aliança, ele diz que Moisés ``aspergiu não só o próprio livro, como também sobre fodo
o povo" (Hebreus 9: 19, itálicos acrescentados), e ele também diz que essa purificação
da era neotestamentária é superior porque purifica a consciência.
CELESTIAL

No entanto, existe uma maneira de aplicar essa purificação ao Dia da Expiação


do verso 25. Cortez observa que, depois de purificar o lugar santíssimo e o lugar
santo no Dia da Expiação, o sumo sacerdote saía para o altar e aspergia sangue sobre
ele "para pwr%có-Jo e smf%"'-/o das impurezas dos israelitas" (Lv 16:19, NVI, itálico
acrescentado). Note que o Dia da Expiação provia a p#rcjfic4fÃo e 54#f%"Çõo do san-
tuário. Cortez diz que "esse ato de purificação e santificação do altar era, de fato, um
ato de rcco#s4grt3ÇÕo".
``Assim, o Dia da Expiação traz o santuário de volta para seu estado de pureza ori-

ginal e, nesse sentido, o restabelece ou o reinaugura."í


Se isso esciver correto, então mesmo se a intenção do autor fosse aplicar a puri-
ficação do verso 22 ao Dia da Expiação, seria o aspecto de reinauguração do Dia da
Expiação que ele tinha em mente.

Descrições imprecisas dos rituais do santuário terrestre

Quando examinamos as descrições que o autor de Hebreus faz dos rituais levíti-
cos do santuário, descobrimos algumas diferenças entre o que ele diz e o que lemos
no Antigo Testamento. Um dos exemplos mais evidentes dessas ocorrências está em
sua descrição da ratificação da antiga aliança no capítulo 9:19 a 22 (comparar com
Êx 24:1-8). Cortez diz: ``Nessa conexão, é importante notar que a descrição feita
em Hebreus da inauguração da primeira aliança se desvia do relato de Êxodo 24:1 a
11 em diversos aspectos."2 Relaciono, abaixo, alguns dos pontos em que o relato do
Antigo Testamento e o de Hebreus são diferentes um do outro:

• Hebreus fala do sacrificio de mosc#õ# (bezerros) e frt2gõw (bodes), ao

passo que o relato de Êxodo 24 fala somente do sacrificio de "novilhos"


(do grego: Í#osc#4rí.cÍ; do hebraico: pwí'm).
• Hebreus diz que Moisés usava "água,1ã tinta de escarlate e his:opo" para
aspergir o livro (da lei) e o povo (v.19), ao passo que o relato de Exodo não
diz nada sobre o uso de água, ]ã tinta de escarlate e hissopo. Entretanto, escar-
1ate e hissopo são mencionados em conexão com outros rituais (ver Lv 14:6;
Nm 19:6). 0 autor de Hebreus aparentemente misturou esses rituais.
• Êxodo 24:8 cita Moisés dizendo: "Eis o sangue da aliança", enquanto
Hebreus cita Moisés dizendo: ``Este é o sangue da aliança."
• Hebreus diz que Moisés aspergiu sangue no livro, no p^ovo, no tabernáculo
e em "todos os utensílios do serviço sagrado" (v.19, 21). Exodo, porém, men-
ciona somente as pessoas e o altar sendo aspergidos com sangue (v. 6, 8).
• Êxodo 40:9,10; Levítico 8:10,11 e Números 7:1 falam de Moisés
ungindo o tabernáculo e tudo que estava dentro dele como parte do ritual
de consagração do santuário. Assim, Hebreus combina o ritual da ratifica-
Ção da aliança com o ritual de consagração do santuário.
• Hebreus fala de Moisés usando sangue para consagrar o santuário e sua
mobília, mas os relatos de Êxodo (40:9,10) e Levítico (8:10,11) dizem
que Moisés usou óleo.
0 BIA DA EXPIA ÃO EM HEBREÜS 9 E 10

Por que o relato da ratificação da aliança em Hebreus difere de maneira tão sig-
nificativa dos relatos do Antigo Testamento? Por que o autor de Hebreus combina
os rituais da ratificação da aliança com a consagração do santuário? Cortez comenta:
"Esses desvios [...] são importantes para o argumento de Hebreus. Eles possibilitam a

descrição do sacrificio de Cristo como um evento complexo que incluiu [...] a con-
sagração do santuário celestial (9:23) e a inauguração do acesso sacerdotal dos cren-
tes â presença de Deus (10:19-23)."
0 ponto é o seguinte: o autor de Hebreus não estava necessariamente dando a seus
leitores uma análise detalhada, ponto por ponto, dos rituais do Antigo Testamento.
Em vez disso, ele adaptou esses rituais para que se encaixassem em sua argumentação.
Assim, embora possamos tirar algumas conclusões sobre o significado antitípico des-
ses rituais a partir do que ele disse, o uso impreciso desses rituais sugere que devemos
evitar ser demasiadamente dogmáticos.

Nemhum bode emissário em Hebreus


A mais evidente omissão na explicação do autor sobre o Dia da Expiação é
a ausência de qualquer referência ao crucial ritual do bode emissário. 0 Dia da
Expiação terrestre não se completava até que os pecados do povo fossem remo-
vidos do santuário e o bode emissário os levasse para longe - e para sempre - do
acampamento. Levítico retém o pronunciamento da purificação do povo até cícpoÍ.s
da partida do bode do acampamento (ver Lv 16:21, 22, 30). Por isso, acho muito sig-
nificativo que em sua discussão sobre o Dia da Expiação, o cmfor dc Hcórc#s Í£Õo fc#hcz,
em absoluto,fiito qualquer refirêmia ao bode emissário. Ele £icou tota]:rnerLte silente sobre
esse aspecto crucial do Dia da Expiação. Por quê?
Há outra omissão em Hebreus que é significativa se o Dia da Expiação for o tema
principal. Indiquei no capítulo 20 que a teodiceia, o plano de Deus para resolver o
problema do mal, é um importante tema dos rituais levíticos e das profecias de Daniel
7 e 8. Em Daniel 7, os poderes dos animais e do chifre pequeno são derrotados, e o
domínio do mundo é dado ao Filho do Homem e Seus santos. Em Daniel 8, o san-
tuário é "purificado" do ataque do chifre pequeno e restaurado a seu estado correto.
Em Levítico 16, o Dia da Expiação ilustra uma solução semelhante para o problema
do mal: eliminá-1o do acampamento do povo de Deus, o que, no antítipo, significa
eliminá-1o de todo o Universo.
Entretanto, por mais importante que seja o plano de Deus para livrar o Universo
de todo o mal, Hebreus basicamente não diz nada sobre isso. Se o tema de Hebreus
s a 10 é o Dia da Expiação, acho muito estranho que o bode emissário e o plano de
Deus para acabar com o mal, tão claramente ilustrados pelo Dia da Expiação, sejam
totalmente ignorados. Não digo isso para apontar uma fàlha do autor de Hebreus.
0 ponto é que ele não estava escrevendo sobre esses assuntos. Em vez disso, sua
preocupação era com a nova aliança, a escrita da lei de Deus na mente e no coração
dos cristãos e a transformação de sua vida por meio do sacrificio de Cristo e de Seu
ministério mediador no santuário celestial. Estou certo de que, se pudéssemos per-
guntar ao autor, ele confirmaria a importância da eliirinação do mal do Universo.
E possível que ele até nos dissesse que sua intenção era enfatizar esse aspecto do Dia
da Expiação no próximo livro que escrevesse. Mas ele também explicaria que essa não
-era sua preocupação em Hebreus.
No santuário terrestre, o povo não era purificado do pecado até que o sumo sacerdote
tivesse saído do santuário no Dia da Expiação. Cortez faz uma significativa observação
sobre a diferença entre a descrição da saída do sumo sacerdote do santuário e a descri-
ção de Hebreus: "Se Hebreus segue uma tipologia do Dia da Expiação relacionando a
purificação da consciência (9:14) com a purificação do santuário (v. 23), ficamos com
um problema, posto que Jesus ainda não saiu do lugar santíssimo (Céu). [...].Vários
eruditos acreditam que essa saída do lugar santíssimo está descrita em Hebreus 9:28,
que ainda está no futuro, [...] e a purifica,Ção de pecados ainda não foi cumprida; mas
para Hebreus, a purificação do pecado/oz. cumprida (Hb 10:10-13,18)."4
Cortez está dizendo que, na descrição do Antigo Testamento sobre o Dia da
Expiação, as pessoas não eram decla,radas purificadas de seus pecados até que o sumo
sacerdote tivesse completado os rituais do dia, inclusive o ritual do bode emissário, e
saísse do santuário, tanto do lugar santíssimo como do lugar santo. Mas Hebreus não
diz nada sobre Cristo sair do santuário. 0 ponto do livro é que Crí.sfo csf4t;4 m sciítfwá-
r!.o cc/csfí.4/ wqwc/c Íefflpo. Como, então, pôde o autor de Hebreus assegurar a seus lei-
tores que a consciência deles havia sido purificada do pecado, sendo que ]esus ainda
não havia saído do santuário celestial?
Eu resolvo essa questão com um princípio ao qual me referi no capítulo 22: Deus
sempre assegura a Seu povo que este já recebeu todos os beneficios espirituais provi-
dos pelo plano da salvação, embora a transação 1egal que valida esses beneficios espi-
rituais ainda esteja no futuro. Assim, por intermédio de lsaías, Deus pôde encorajar
o antigo lsrael com as palavras "Eu te remi" (Is 44:22), embora a transação 1egal da
crucifixão que assegurou a redenção ainda estivesse a centenas de anos no futuro. De
igual maneira, proponho que o autor de Hebreus podia assegurar aos leitores que a
consciência deles tinha sido purificada do pecado, embora a transação legal do juízo
investigativo mediante a qual esses pecados seriam purificados (ou apa,gados) dos
registros do Céu ainda estivesse a milhares de anos no futuro.

0 julgamento futuro/Dia da Expiação em Hehreus


Os adventistas ensinam que o Dia da Expiação é um tipo do julgamento que
ocorrerá no santuário celestial pouco antes de Cristo voltar àTerra. Uma das críticas
a esse ensinamento é que Hebreus não diz nada sobre isso.
É verdade, naturalmente, que o autor de Hebreus não tinha um entendimento
mais completo sobre as aplicações do Dia da Expiação para o tempo do fim como
temos hoje. Entretanto, duas passagens de Hebreus indicam que ele entendia a apli-
cabilidade do tema a umjulgamento futuro.
A primeira passagem está em Hebreus 9:27. No verso 25, o autor diz que Cristo
compareceu diante da presença de Deus, "nem ainda para Se oferecer a Si mesmo
muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Sa,nto dos Santos com san-
gue alheio." Esse texto faz uma referência direta à entrada do sumo sacerdote no lugar
santíssimo do santuário terrestre no Dia da Expiação, e, no verso 26, o autor aplica
iss-o a Cristo, que, "ao se cumprirem os tempos, Se manifestou uma vez por todas, para
aniquilar, pelo sacrificio de Si mesmo, o pecado."
Note que o autor aplicou o Dia da Expiação celestial de Cristo ao "sacrificio de Si
mesmo". Os adventistas do sétimo dia concordam plenamente que os 54cr##.os ofere-
cidos no Dia da Expiação terrestre foram cumpridos com a morte de Cristo na cruz.
É o restante das atividades desse dia que dizemos ter um cumprimento no tempo
do fim, em forma de julgamento. É a isso que o autor de Hebreus se refere no verso
seguinte, no qual escreve: "E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma
só vez, vindo, depois disto, o juízo" (v. 27) e, em seguida, no verso 28, sobre a segunda
vinda de Cristo: "aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que 0 aguardam para a sal-
vação." Esse é, precisamente, o entendimento adventista sobre os eventos finais: um
juízo investigativo seguido da segunda vinda de Cristo.
0 capítulo 10 faz outra referência ao juízo fiituro. Nos versos 24 e 25, o autor
escreve: "Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e
às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é cosmme de alguns; antes, faça-
mos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima." Note que os tra-
dutores da versão Almeida Revista e Atualizada usaram "D" maiúsculo para a palavra
Dí.4.Acredito que a maioria dos comentaristas interpretaria esse "Dia" como uma refe-
rência à segunda vinda de Cristo. Contudo, Richard Davidson indica que "o termo
`o Dia' (aramaico: yom4') era um termo técnico para o Dia da Expiação na Mishnah

(ver todo o tratado intitulado yom4 descrevendo os serviços do Dia da Expiação do


segundo templo), e pode muito bem ser uma referência ao Dia da Expiação aqui em
[Hebreus 10:25]".5
Davidson prossegue apontando que "essa conclusão parece se confirmar nos ver-
sos seguintes, que descrevem umjulgamento futuro (a partir da perspectiva do autor
de Hebreus)."6 E é, de fato, sobre juízo que o autor de Hebreus £úa nos dois versos
seguintes: "Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos rece-
bido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrificio pelos pecados; pelo
contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os
adversários" (Hb 10:26, 27).
Além disso, no verso 28, o autor diz: "Sem misericórdia morre pelo depoimento
de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés", o que sugere que
ele entendia o ju.ízo final de Deus como "investigativo". E nos versos 29 e 30, ele fala
do "mais severo castigo" que virá sobre "aquele que calcou aos pés o Filho de Deus,
e profanou o sangue da aliança com o qual fói santificado, e ultrajou o Espírito da
graça". Essa é uma clara referência ao dia do juízo executivo no fim do milênio.
Assim, os pontos fundamentais do entendimento adventista sobre o juízo investi-
gativo estão todos em Hebreus, embora de forma abreviada:

• 0 autor reconhece que o juízo era futuro em relação a seus dias (9:27).
• Ele entendia que seria uma fase investigativa com o "depoimento de duas ou três
testemunhas" (10:28).
NA CORTE CELESTIAL

• Ele reconhecia que o juízo terminaria com uma fàse executiva (10:26-30).
• Ele coloca esse juízo no contexto do ministério de Cristo no lugar santíssimo
do santuário celestial e do Dia da Expiação (9:25-27).

Conclusão
Para resumir a discussão deste capítulo e dos dois anteriores: o argumento espe-
cífico do autor de Hebreus é que Jesus entrou na presença do próprio Deus e, por-
tanto, por intermédio Dele, cada um dos leitores poderia também entrar diante da
presença do próprio Deus e obter perdão e purificação dos pecados. Eles poderiam
ter a certeza dessa purificação pessoal, mesmo no sentido da purificação provida
pelo Dia da Expiação.
Isso não significa, porém, que o autor de Hebreus estivesse dando aos leitores a
última palavra sobre o significado antitípico do Dia da Expiação. 0 tema principal
de Hebreus s a 10 são as alianças. 0 Dia da Expiação é simplesmente uma ilustração
da superioridade do sacrificio e do ministério mediador de Cristo sob a nova aliança.
0 fato de que, em sua descrição, o autor tenha misturado vários rituais levíticos é
uma clara indicação de que ele não estava dando a seus leitores uma análise precisa,
ponto por ponto, de nenhum deles, inclusive do Dia da Expiação. A mais flagrante
evidência de que o autor não estava tentando dar uma aplicação detalhada do ritual
do Dia da Expiação terrestre para o ministério celestial de Cristo é o fato de que ele
ficou absolutamente em silêncio sobre o crucial rito do bode emissário e do plano
de Deus para acabar com o mal que ele ilustrava tão claramente.
Minha conclusão, portanto, é essa: Hcbrc#s #ão #os dó ¢ p4/¢vrt7ufi#4J sobrc o Di.c] d4
ExpÍ'4fão ceJcsfi.4J. Se hoje encontrarmos em outras partes da Bíblia evidências para
um Dia da Expiação antitípico, podemos nos sentir totalmente livres para analisá-1as
e aplicá-las em sua máxima abrangência sem temer que aquilo que Hebreus diz de
alguma maneira torne nossas conclusões inválidas. E essas evidências estão presen-
tes em outros lugares das Escrituras, como vimos em nossa análise de Daniel 7 e 8.
Desmond Ford reconheceu isso. No manuscrito de Glacierview, ele disse:

Agora, desejamos enfitizar que aquilo que é uerdade para o princípio dpotelesmá-
tico do reino de Deus, o ]ubileu, a Páscoa, a Festa do T;abemáculo também é iier-
dade para o Dia da Expiação. Hebreus 9 aplica esse tipo especialmente para a cruz,
mas 4pocalipse e Paulo o aplicam para a escatologia consumada, o último juí2o.7

Forensicamente, isso [a purificação do santuário] teve lugar na cruz, mas sua


consumação está no último juízo, o qual purificará o Universo do pecado
e dos pecadores.Aqui está a inspirada interpretação escriturística de Daniel
8:14. Ela realmente aponta para o Dia da Expiação cumprido no Calvário;
e muito em breve será plenamente cumprido pelo juízo final de Deus.8

Por diversas vezes, no manuscrito de Glacierview, Ford falou sobre o Dia da


Expiação sendo cwmp%'do na cruz, mas co#s#m¢do no tempo do fim, como se, de
0 DIA BÀ EXPIA ÃO EM HEBRElls 9

alguma fórma, a co#sÍ/Í%4Ção do tempo do fim não possa ser considerada como um
cÍ/-mp/i.mc#fo. Para mim, isso é simplesmente umjogo de palavras. Se o Dia da Expiação
for co#swm4do no tempo do fim, então pelo menos esse aspecto do Dia da Expiação
será c#mpri'do no tempo do fim.
Em minha visão, é quase certo que o autor de Hebreus não conhecia tudo o que
conhecemos sobre a ap]icação do Dia. da Expiação para o tempo do fim. Nós enten-
demos esse aspecto do Dia da Expiação a partir do estudo de Daniel, mas o anjo de
Daniel lhe disse muito especificamente que certos aspectos de suas profecias foram
"encerrados" e selados até o tempo do fim (Dn 12:4). Portanto, o autor de Hebreus
não tinha que entender todas as aplicações escatológicas do Dia da Expiação encon-
tradas em Daniel. Concordo com dois comentários de Alwyn Salom sobre Hebreus:

Embora Hebreus nos dê valiosas revelações sobre a doutrina do santuá-


rio, ele não fha de maneira direta sobre o assunto do ministério sacerdo-
tal de duas fases de Cristo nem sobre o tempo profético para o início do
juízo fina|.9

Hebreus silencia no que diz respeito a vários assuntos de interesse dos


adventistas. Esses assuntos são parte de nossas preocupações ao contem-
plarmos o cenário escatológico. Mas eles não faziam parte das preocu-
pações do escritor de Hebreus. São questões nossas, não do apóstolo.
Devemos ser cuidadosos na interpretação desse livro - como em todas as
Escrituras - para que não busquemos respostas que são irrelevantes para as
preocupações do escritor..í°

Eu não teria falado melhor.

' Felix Cortez, "The Anchor of the Soul", p. 415.


2 ibid., p. 377.
3 ibid., p. 378, 379.
4 ibid„ 23; itálico do autor.
5 Richard Davidson, "Christ's Entry `Within the Veil'", p. 188. 0 artigo, tal como publicado em 4#dr€ti/s
Uwi.ycrsi.fy Scmí.mp; Sft/di.cj, apresenta "Hb 9:25" como o último item m citação, mas acredito que seja um
erro de impressão.Acredito que o texto correto é 10:25, e foi assim que o citei.
6 ibid., p.188.
7 Desmond Ford, "Daniel 8:14", p. 517; itálicos do original.
8 ibid., p. 417.
9 Alwyn Salom, "Sanctuary Theology", em Jsswes i.# Íftc Book o/Hcbrettü, p. 200, 201.
io ibid., p. 218.
OSEREV#H°E![RAERj§

N;:sooqe:t.u:::::::.:,::râ:ss:tã|om:Stâ::a,::mfi::::?,Sr::::o:odnilf:::,Sseen?r:Soasdsl::1v::
Ços diários e anuais nos santuários terrestre e celestial. Comparamos os serviços que
os sacerdotes israelitas realizavam cada dia durante o ano com o ministério de Cristo
no santuário celestial entre 31 d.C. e 1844, e também comparamos o ministério do
segundo compartimento terrestre com o de Cristo no Céu, de 1844 até o fecha-
mento da porta da graça.
Essa distinção, diz Ford, é estranha ao livro de Hebreus. Ele oferece pelo menos
três razões para essa conclusão: (1) não há um "primeiro compartimento" no Céu;
(2) Hebreus não reconhece a existência de um "serviço diário" no santuário celestial;
e (3) o rrinistério do primeiro compartimento no santuário terrestre era um tipo do
ineficaz ministério do sistema levítico do santuário. Examinaremos as razões de Ford
na ordem em que as apresentei acima.

Não há um "primeiro compartimento'. no Céu


Tratei da questão dos dois compartimentos no capítulo 29, e minha conclusão
foi que os dois compartimentos se fundiram em um. Ford entende isso. Ele disse:
``Muitos comentaristas se referem à ausência de um véu no santuário celestial porque,
a partir da cruz, os dois compartimentos se tornaram um, não havendo, agora, sepa-
ração da presença de Deus."í "0 fato de que o véu foi rasgado por Deus significava
que o santuário celestial não tinha nenhuma divisão, e que, dali para frente, o termo
`santuário', uma vez utilizado para uma estrutura com duas partes, agora se aplicava
a uma `sala do trono' única no Céu."2 Como indiquei no capítulo 29, meu pensa-
mento difere do pensamento de Ford, pois ele vê a sala inteira do santuário celestial
como "uma `sala do trono' única no Céu" -em outras palavras, o lugar santíssimo -
enquanto eu a vejo como uma combinação do lugar santo e do lugar santíssimo em
uma única sala.
A pergunta-chave aqui é: Existe um m!'#i.sféíí.o do primeiro compartimento no san-
tuário celestial? Ford presume que, pelo fato de o santuário celestial como um todo
ser apenas o antítipo do lugar santíssimo, tudo o que acontece no santuário celestial
deve ser exclusivamente um antítipo da,quilo que o sumo sacerdote fazia no lugar
santíssimo. E uma vez que a única atividade no lugar santíssimo terrestre ocorria
uma vez por ano, no Dia da Expiação, qualquer menção do santuário celestial deve
ser tomada como uma referência ao ministério do lugar santíssimo/Dia da Expiação.
Isso significa que qualquer referência a Cristo em pé ou sentado na presença ime-
diata do Pai é a de um ministério do segundo compartimento/Dia da Expiação.
0 DIÃRlo EM HEBREÜS

- Eu discordo. Se não existe um primeiro compartimento como f4J no santuário


celestial, então o santuário também não tem um segundo compartimento como f4/.
Em vez disso, o que existe é uma única sala do trono que era representada no san-
tuário terrestre por ambos os compartimentos.3 À medida que prosseguirmos, isso
ficará claro.

A ausência dos ..serviços diários" em Hebreüs


Ford foi muito enfático ao afirmar que Hebreus não diz nada sobre um tipo de
ministério de "serviço diário" no santuário celestial. Ele disse, por exemplo: "Não
encontramos no livro de Hebreus o estabelecimento de um ministério do primeiro
compartimento no Céu."4 "Representá-Lo [Cristo] engajado naquilo que era feito
pelos sacerdotes inferiores, que raramente se envolviam com sangue no primeiro
compartimento, é degradá-Lo, o que torna Hebreus um absurdo."5 "Hebreus não
ensim que existe um ministério especia,l do lugar santo no santuário celestial. Ele
nega isso repetidamente ao confirmar a presença de Cristo no `lugar santíssimo' desde
Sua ascensão."6
Ford diz que Hebreus não diz nada sobre o ministério do primeiro compartimento.
No entanto, o autor de Hebreus entendia a distinção entre os serviços diários e anuais
do santuário fÉ'r/csfíc. No capítulo 9:6 e 7, ele diz: "Ora, depois de tudo isto assim prepa-
rado, continuamente entram no primeiro tabernáculo os sacerdotes, para realizar os ser-
viços sagrados; mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano." Em
Hebreus 7:27, ele diz que Cristo "não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de
oferecer todos os dias sacrificios", pela simples razão de que Cristo "fez isto uma vez por
todas, quando a Si mesmo Se ofereceu."
E em Hebreus 10:11 e 12, o autor dessa epístola se refere ao serviço diário rea-
lizado pelos sumos sacerdotes no santuário terrestre e, por Cristo, em Seu santuário
celestial. No verso 11, ele diz: "Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exer-
cer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrificios, que nuncajamais
podem remover pecados''. Depois, no verso 12, ele diz: "]esus, porém, tendo oferecido,
para sempre, um único sacrificio pelos pecados, assentou-Se à destra de Deus." 0 con-
texto imediato de Cristo Se assentando à destra de Deus é o serviço diário do santuá-
rio terrestre e não seu serviço anual.
Eu concordo que Cristo tem estado no lugar santíssimo do Céu desde Sua ascen-
são. Mas também.proponho que, uma vez que as duas salas do santuário celestial
foram combinadas em apenas uma, Cristo tem estado também no lugar santo do
Céu, e Ele vem realizando todos os ministérios que são o antítipo do ministério dos
sacerdotes no lugar santo terrestre.
Acho muito estranho dizer que é degradante para Cristo a ideia de que Ele esteja
realizando o ministério representado pelos assim chamados sacerdotes inferiores.
Quando esses "sacerdotes inferiores" oficiavam os sacrificios matinais e vespertinos,
estariam eles representando Gabriel? Claro que não! Ao assistirem um pecador na
imolação de um cordeiro e, então, aspergir o seu sangue sobre o altar do pátio ou do
lugar santo, estariam eles representando um ou outro anjo do Céu? Claro que não!
NA CORTE CELESTIAL

0 sacrificio do cordeiro represeritava a morte de Cristo na cruz, e qualquer ministério


adicional realizado pelos sacerdotes em favor do pecador representava, além disso, o
ministério de Cristo no santuário celestial. Como pode isso degradar Cristo, Seu sacri-
ficio ou Seu ministério de mediação?

0 antítipo do sewiço diário


Segundo o entendimento de Ford, o serviço diário no santuário terrestre não era
um tipo de nada no santuário celestial. Ele era um tipo de todos os serviços inefica-
zes do santuário terrestre ao longo de todo o período de existência do santuário. Por
outro lado, o ministério anual do sumo sacerdote no lugar santíssimo era um tipo do
ministério eficaz de Cristo no santuário celestial desde 31 d.C. até a segunda vinda
(ou até o fechamento da porta da graça). Ford baseia essa conclusão em Hebreus 9:8
e 9.Após descrever as mobílias e o ministério dos sacerdotes nos dois compartimen-
tos do santuário terrestres nos versos 2 a 7, o autor de Hebreus diz que o Espírito
Santo queria dar a entender "que ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou,
enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido. É isto [o primeiro tabemáculo]
uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como
sacrificios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar
aquele que presta culto" (v. 8, 9).
No capítulo 31, indiquei dua,s maneiras de entender o verso 8, as quais explicarei
em maiores detalhes aqui. Ford entende que profés sÁ3é#és ("primeiro tabernáculo"),
no verso 8, significa apenas o lugar santo terrestre, e que f4 #4gí.4 se refere apenas ao
lugar santíssimo celestial. Ele entende assim porque profés ské7¢éj nos versos 2 e 6 cla-
ramente se referem ao lugar santo terrestre. Mas, se profés skéícés no verso s tem exa-
tamente o mesmo significado dos versos 2 e 6, então teríamos que traduzir o verso
s de tal modo que ele passasse a significar algo que indicasse que o caminho para
o lugar santíssimo não poderia ser aberto enquanto o lugar santo do santuário ter-
restre ainda estivesse em funcionamento, o que, segundo observei no capítulo 31,
parece improvável.
É por isso que os eruditos adventistas conservadores dizem que profés ské#és ("pri-
meiro tabernáculo") no verso s se refere a todo o santuário terrestre, e f4 Ác7g;.4 se
refere a todo o santuário celestial. Isto é, o santuário terrestre como um todo e seus
ministérios são um tipo de todo o santuário celestial e do ministério eficaz de Cristo
ali. 0 autor de Hebreus quer dizer que o ministério de todo o santuário celestial
não pode começar até que o ministério de todo o santuário terrestre haja termi-
nado. Isso é muito consistente com Hebreus 9: 1, em que o autor declara: "Ora, a pri-
meira aliança também tinha preceitos de serviço sagrado e o seu santuário terrestre."
0 autor iguala todo o santuário terrestre com a antiga aliança. Logicamente, então,
todo o santuário celestial devia estar associado com a nova aliança. E todo o santuá-
rio terrestre sob a antiga aliança é um tipo do ininistério superior de Cristo no san-
tuário celestial sob a nova aliança.
A interpretação do verso 9 depende de como se entende essas questões do verso 8.
0 verso 9 diz: ``Isso [o primeiro tabernáculo] é uma ilustração para os nossos dias,
0 SERVIC0 DIÁRlo EM üEER-
indicando que as ofertas e os sacrificios oferecidos não podiam dar ao adorador uma
consciência perfeitamente limpa" (NVI).A palavra grega traduzida como "ilustração"
nesse verso é pdmzbo/é, que você, sem dúvida, reconhece como ``parábola" em portu-
guês. Por conseguinte, "ilustração" é uma boa tradução.7
Ford resolve essa estranha situação concluindo que profés ské#é5 se refere não ao
lugar santo do santuário terrestre, mas a toda cro do santuário do Antigo Testamento.
Ele díz,.." Um ministério do primeiro compartimento só seria releuante até a cruz, nunca após ela,
e ele representaua as bênçãos limitadas da era tt'pica. ''8 "0 pr±:meíro corn:pa.rü:merLto repre`-
senta todo o santuário mosaico, e o segundo compartimento representa todo o san-
tuário celestial." "Achamos que há evidências claras de que [em Hebreus 9:8, o autor]
está dizendo que o primeiro compartimento era um símbolo de todo o santuário ter-
restre durante a era judaica.""
Eruditos adventistas conservadores, por outro lado, entendem que profés ské#és e
f4 #4gí'¢ representam, respectivamente, todo o santuário terrestre e todo o santuário
celestial; com os rituais no santuário terrestre inteiro, tanto no lugar santo como o
lugar santíssimo, sendo um tipo do ministério maior de Cristo no santuário celestial
inteiro, tanto no lugar santo como no lugar santíssimo.
0 ponto de vista de Ford difere apenas ligeiramente -embora este seja um ``1igei-
ramente" importante - daquilo que os eruditos adventistas conservadores estão
dizendo. Tanto Ford como os eruditos adventistas conservadores estão mudando o
significado de p/ofés skéícés no verso s em relação ao que o termo significa nos ver-
sos 2 e 6, em que ele se refere clara e unicamente ao lugar santo terrestre. Eles estâo
mudando a interpretação de profés ské#és para que o termo passe a significar algo
muito mais amplo, o que, naturalmente, é razoável, uma vez que o autor de Hebreus
disse que o santuário terrestre deveria ser entendido simbolicamente, como em uma
"parábola". Adventistas conservadores interpretam profés sÁ€é#és como uma referên-

cia a todo o j4#fwár!.o terrestre, enquanto Ford o interpreta como uma referência à cm
do santuário terrestre.
Fordjustifica isso com base no verso 9, que diz que o píofés sÁ:é#éJ -o 1ugar santo
do santuário terrestre - era uma parábola, um tipo, do miristério ineficaz da cm do
santuário do Antigo Testamento e que, por isso, ele não é um tipo de na,da no san-
tuário celestial durante a era cristã. Parece-me, todavia, muito mais consistente com
o tema das alianças de Hebreus s a 10 dizer que o santuário terrestre e seus rituais,
tanto do lugar sapto como do lugar santíssimo, são uma parábola, um símbolo, de
todo o ministério de Cristo no santuário celestial, tanto no lugar santo como no
lugar santíssimo.
Vamos assumir, por um momento, que Ford esteja certo, e que o primeiro com-
partimento do santuário terrestre seja um tipo do ministério ineficaz do santuário
terrestre, representando toda a era antes da cruz. Com isso, temos a estranha situação
em que o irinistério do primeiro compartimento no sa,ntuário terrestre era um tipo
de si mesmo! Isso não soa muito bem.
Também precisamos perguntar se o sacrificio de cordeiros e outros animais no
serviço diário representava a morte de Cristo na cruz. E precisamos perguntar se a
NÀ ÊCRTE €

aplicação feita pelo sacerdote do sangue dos animais sobre o altar de sacrificio no
pátio, ou sobre o altar de incenso no lugar santo, representava alguma coisa que Cristo
vem fazendo como nosso mediador no santuário celestial desde o Calvário. Se for
assim - e não vejo como alguém pode argumentar diferentemente -, então os servi-
Ços do primeiro compartimento do santuário terrestre não representavam, em abso-
luto, a cr# terrestre anterior à cruz. Eles representavam uma parte importante do r€cí/
plano divino de salvação que teria lugar quando os serviços do santuário terrestre
chegassem ao fim. Eles eram um tipo de alguma coisa no santuário celestial: a imo-
lação do cordeiro representa a morte de Cristo na cruz, e o ministério mediador dos
sacerdotes no altar de sacrificio no pátio e no altar de incenso no lugar santo repre-
senta o ministério de Cristo no santuário celestial para o perdão dos nossos pecados
durante a era neotestamentária (ver 1]o 1:9; 2:1).
No capítulo 29, argumentei que a sala do trono de Deus no santuário celestial é
uma combinação do "primeiro compartimento" com o "segundo compartimento".
Assim, é razoável presumir que o ministério de Cristo no santuário celestial desde 31
d.C. inclui o antítipo do ministério realizado pelos sacerdotes nos serviços diários do
santuário terrestre. Quando você e eu confessamos nossos pecados e buscamos o per-
dão de Deus,Jesus responde da grandiosa sala do trono de Deus com Seu ministé-
rio do primeiro compartimento. Parece-me que Hebreus 4:14 a 16 é uma excelente
representação do ministério do primeiro compartimento de Cristo no santuário
celestial: ``Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande Sumo Sacerdote que
penetrou os Céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos Sumo
Sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; antes, foi Ele tentado
em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto,
confiadamente,junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e achar-
mos graça para socorro em ocasião oportuna."

Para conc{uir
Em relação a este capítulo e aos quatro capítulos anteriores é possível concluir
que o autor de Hebreus está particularmente ansioso por fazer seus leitores entende-
rem que, enquanto o povo de Deus que viveu antes da cruz tinha um acesso muito
limitado a Deus no santuário terrestre, agora, cada crente tem acesso direto a Deus
por intermédio de Cristo, que está sentado à direita do Pai, dentro da grandiosa sala
do trono no Céu. ]á não existe mais um véu para proteger os sacerdotes e o povo
da presença de Deus. 0 grande templo do Céu inclui o lugar santo e o lugar santís-
simo do santuário terrestre, e Cristo está realizando os ministérios que ambos repre-
sentavam.Várias vezes, o autor de Hebreus ilustrou seu tema, fazendo referências ao
ministério anual do Dia da Expiação realizado por Cristo, mas aqui ele é impreciso,
combinando certos rituais e deixando de fora outros detalhes importantes. E o mais
notável: ele não faz, em absoluto, referência ao crucial ritual do bode emissário do
Dia da Expiação terrestre.
Devemos entender que a preocupação principal do autor era assegurar a seus
vacilantes companheiros judeus cristãos que o ministério celestial de Cristo era
G DIÀRIC EM

muito superior a. qualquer ritual dos quais eles pudessem participar no templo de
jerusalém. Cristo podia verdadeiramente purificar a mente e o coração deles do
pecado de uma forma que o sacrificio de cordeiros e bodes jamais poderia fazê-lo.
Entretanto, não devemos esperar que o autor de Hebreus tenha todas as revelações
sobre o santuário celestial e o cumprimento final do Dia da Expiação que encontra-
mos de maneira tão clara em Daniel, porque isso foi totalmente selado até o tempo
do fim (ver Dn 12:4, 9).
Muitos críticos do ensinamento adventista sobre um juízo investigativo no Céu,
que é um antítipo do Dia da Expiação terrestre, têm usado Hebreus como uma
de suas principais bases. Hebreus, dizem eles, contradiz e invalida totalmente o
entendimento adventista tradicional. Minha análise, porém, conclui diferentemente.
Existem fortes evidências bíblicas para apoiar a conclusão de que há, no Céu, um
juízo investigativo no tempo do fim, que é o antítipo do Dia da Expiação no san-
tuário terrestre. Embora Hebreus não desenvolva essa conclusão de maneira mais
ampla, ele, de fato, assim sugere e, de nenhuma forma, o contradiz.

t Desmond Ford, "D4#i'cJ 8.. Í4", p. 235.


2 ibid., p. 239.
3 Entretanto, ver o capítulo 28, em que mostro evidências bíblicas de que o santuário celestial de fato tem,
em certo sentido, duas "salas."
4 Ford, "D4wi.€J 8..14", P. 221.
5 ibid„ p. 226.
6 ibid., p. 227.
7 Nota do tradutor: A versão Almeida Revista e Atualizada traduz pm4bo/é como "parábola", e a versão Al-
meida Revista e Corrigida, como "alegoria".
8 Ford, "D4#i.cJ 8.' Í4", p.165; itálicos do origiml.
0 ibid., p.167.
io ibid., p. 243.
CONSIDERAÇõES FINAIS
ELLEN WHITE E 0
JUÍZ0 INVESTIGATIVO

0:|:d::nis:;:áos:àt,1|:ooá:aea;:eedsl::|Torqe:eb:j::.noyohitee.:àceer:iu,::::od:spprí::::
Santo a inspirou da mesma fórma que os inspirou. Entretanto, também afirmamos
que a Bíblia é o fundamento de nossa fé e que nossos principais ensinamentos estão
baseados nas Escrituras e não naquilo que E11en White disse. Por essa razão é que,
para compor este livro, extraí evidências sobre vários aspectos do juízo investigativo
das Escrituras. Poucas vezes citei Ellen White, e mesmo nesses exemplos, meu pro-
pósito não foi utilizá~1a primariamente como prova da correção do tópico sob con-
sideração; em vez disso, citei-a como um ponto de evidência, entre outros, quanto
àquilo que os adventistas historicamente têm acreditado sobre certos aspectos do
juízo investigativo.
Entretanto, visto que os adventistas consideram que ela foi inspirada por Deus,
ela tem dado forma em grande medida a nosso entendimento sobre o juízo inves-
tigativo. É apropriado, portanto, que dediquemos algumas páginas deste livro para
considerar o que essa autora disse. Note que muito mais poderia ser dito sobre Ellen
White e o juízo investigativo do que eu posso dizer neste capítulo.
Nos capítulos 3 e 4, tratei do entendimento de Ellen White sobre o juízo e sua
relação com a justificação pela fé e o grande conflito, de modo que não tratarei des-
ses assuntos aqui. Neste capítulo, destacarei quatro assuntos: (1) o ponto de vista de
Raymond Cottrell sobre E11en White como uma autoridade doutrinária; (2) a quem
Ellen White atribui a função de decidir, no juízo investigativo, quem obtém a vida
eterna, e quem não a obtém; (3) o que Ellenwhite disse sobre a relação entre o juízo
investigativo e a expiação; e (4) as implicações de uma visão na qual Ellenwhite disse
ter visto o santuário celestial.

Raymond Cottrel e a autoridade doutrinária de Ellen White


Tendo acaba.do de dizer que Ellenwhite não é o fundamento para o ensinamento
adventista sobre o juízo investigativo, devo dizer que pelo menos um indivíduo na
história adventista afirmou que ela era. Raymond Cottrell (discutimos seus pontos
de vista resumidamente no capítulo 7) não acreditava que o ensinamento adventista
sobre o juízo investigativo e tópicos afins podiam ter sustentação nas Escrituras. No
entanto, ele acreditava na doutrina do juízo investigativo. Explicarei resumidamente
o raciocínio dele.
Para Cottrell, a história do povo de Deus está dividida em três partes: a era israe-
1ita de Abraão até Cristo, a era cristã de 31 d.C. até 1844 e a era adventista., de 1844
até a segunda vinda` Ele afirmava que Deus deu uma revelação especial, por meio dos
profetas, para cada era, declarando como Seu reino eterno seria estabelecido, ao fim
daquela era. Entretanto, quando o povo de uma dessas eras rejeitava o plano divino,
as declarações divinas sobre os eventos que levariam ao estabelecimento do reino
eterno, no fim daquela era, encerravam-se. Então Deus começava tudo outra vez com
um novo grupo, em uma nova era e em um novo cenário.
A revelação especial de Deus para cada era foi construída sobre o prí'"'pÍ.o decla-
rado na(s) revelação(ões) da(s) era(s) anterior(es), mas a maneira como esses prin-
cípios funcionavam era diferente da forma como os princípios de eras anteriores
funcionaram.Além disso, os profetas de cada era citavam as Escrituras de eras ante-
riores; mas, frequentemente, interpretavam os profetas das eras anteriores de maneira
bastante inconsistente com aquilo que os profetas originais de fato queriam dizer
no contexto de sua situação histórica.t
Cottrell, então, raciocinou que Ellen White era a profetisa de Deus para a era
adventista. Ele acreditava que, embora a purificação do santuário e os 2.300 dias
de Daniel 8:14 não tivessem absolutamente nada que ver com um antítipo do Dia
da Expiação em 1844, essa interpretações eram válidas para os adventistas st'mp/cs-
mente porque Ellen White assim tinha dito. Sua.s ±nterpreta.çôes sobre essa.s pro£ec±a.s
não precisavam se encaixar com o que Daniel tencionava porque, como uma escri-
tora inspirada para a nossa era, ela estava interpretando Daniel da mesma forma
como os escritores do Novo Testamento reinterpretaram as profecias do Antigo
Testamento de um modo nunca pretendido pelos autores do Antigo Testamento.
Assim, Cottrell podia afirmar que ele acreditava implicitamente na interpretação
tradicional adventista de Daniel 8:14 simplesmente porque E11en white assim afir-
mou. Por exemplo, ele disse:

E11enwhite reinterpreta Daniel para nosso tempo. E porque acredito ple-


namente e estou convencido de que Deus falou para e por meio de E11en
White, aceito seus escritos completamente, aceito sua reinterpretação, sua
aprovação da interpretação adventista sobre o santuário celestial, o juízo
investigativo,1844, porque eu a aceito como uma escritora inspirada. [...].
E, por isso, reconhecemos tanto a interpretação contextual [o que Daniel
originalmente quis dizer no contexto de seu tempo] como a reinterpre-
tação dos escritores do Novo Testamento e Ellen White, que nos trazem
aquil.o que Deus quer que compreendamos em nosso tempo.2

Ellen White foi uma mensageira de Deus para a igreja remanescente. [...].
Parece-me que é preciso reconhecer a autoridade do ensinamento de E11en
White para que possamos estabelecer nossa interpretação de Daniel 8:1.4.3

Eu sustento um ponto de vista diferente sobre o papel de Ellenwhite em rela-


ção às Escrituras. Os ensinamentos adventistas devem sempre estar alicerçados nas
Escrituras. Entretanto, uma vez que um ensinamento em particular tenha sido desen-
volvido a partir das Escrituras, sempre me disponho a incluir alguns detalhes que
ELLEN WHITE E 0 JÜIZO

não são encontrados nas Escrituras. Por exemplo, nosso ensinamento básico sobre o
conflito entre o bem e o mal é claramente bíblico, mas Ellenwhite inclui muitos
detalhes desse conflito que não estão nas Escrituras. 0 mesmo é verdade quanto ao
nosso entendimento sobre os eventos do tempo do fim; embora os conceitos bási-
cos sejam bíblicos, E11en White acrescenta muitas revelações.
Minha objeção à explicação de Cottrell sobre o juízo investigativo é que ele fez
de Ellenwhite a base do nosso entendimento sobre essa doutrina. Isso eu não posso
aceitar, nem penso que devemos aceitar. Neste livro, tenho mostrado o que acredito
ser uma firme base bíblica para a doutrina do juízo investigativo como um Dia da
Expiação no santuário celestial, iniciado em 1844.

Ouem toma as decisões no julgamento?


No capítulo 2, relatei a conversa que tive, há alguns anos, com um cristão, mem-
bro da lgreja de Cristo, que me disse ter objeções ao ensinamento adventista sobre
o juízo investigativo, porque "ninguém pode ter a certeza da salvação com um
ensinamento como esse". Como indiquei no capítulo 2 e também no capítulo 4, a
questão é quem toma as decisões sobre a salvação do povo de Deus no juízo inves-
tigativo. Se o propósito desse juízo for o de Deus resolver em Sua mente se Seu
povo merece a cidadania do reino eterno, então, de fato, ninguém poderá ter a cer-
teza da salvação até que o julgamento ocorra. Entretanto, indiquei no capítulo 2 e,
de modo ainda mais completo, no capítulo 4, que o propósito de Deus ao realizar
um juízo investigativo não é o de resolver situações em Sua mente, mas de solu-
cionar o problema do pecado para sempre ao dar aos anjos uma oportunidade de
rever as decisões Dele concernentes a cada santo. Dar-lhes a oportunidade de exa-
minar as acusações de Satanás contra cada santo e então deixar que eles cheguem
ao veredito. Assim, a pergunta sobre quem toma as decisões no juízo investigativo
- se Deus ou os anjos - é crucial.
Ellen White dedicou um capítulo inteiro a,o juízo investigativo em seu livro
0 Grtz#dc Co#fli.fo.4 Uma das perguntas que podem surgir da leitura desse capítulo
é se é Deus ou se são os anjos que tomam as decisões. 0 problema é salientado por
declarações como a seguinte: "Ao abrirem-se os livros de registro no juízo, é passada
em revista perante Deus a vida de todos os que creram em]esus. Começando pelos
que primeiro viveram m Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração
sucessiva, finalizando com os vivos.Todo nome é mencionado, cada caso minuciosa-
mente investigado. Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes."5
Dois pensamentos nesse parágrafo parecem justificar a conclusão de que Ellen
White entendia que é Deus quem toma as decisões no juízo investigativo. Primeiro,
"é passada em revista perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus", e,
segundo, "Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes". Isso sugere que Deus é quem
tomará as decisões, aceitando e rejeitando nomes. Além disso, várias vezes naquele
mesmo capítulo, E11enwhite falou sobre os que são "havidos por dignos" para rece-
ber a vida eterna,6 sugerindo que a decisão sobre serem considerados ou não dignos
não é tomada até o julgamento. No decorrer desta seção, fflarei sobre esse problema.
Dews prc5Í.dc. A primeira coisa que precisamos ter em mente é que Deus presidirá
o juízo investigativo. Isso fica evidente no retrato do julgamento que encontramos
em Daniel 7:9 e 10, em que o Ancião de Dias está sentado em Seu trono, cercado de
niilhões de anjos, e ``assentou-se o tribunal, e se abriram os livros" (v.10). Entretanto,
como indiquei no capítulo 2, "mesmo em nossos sistemas judiciários humanos, há um
júri e também um juiz, e o juiz tem que chegar a uma conclusão sobre a culpa ou
inocência da pessoa em julgamento''. Creio que precisamos entender dessa maneira as
decisões que são tomadas no juízo investigativo.

Então quem forma o júri nesse processo?


05 4#/'of csfõo c#tJo/t;í.cíos. No capítulo sobre o juízo investigativo em 0 Grcz#cÍc
Co#j3í`fo, Ellenwhite deixa claro que os anjos estão intimamente envolvidos nessejul-
gamento. Ela começa o capítulo citando Daniel 7:9 e 10, que mostra inilhões de anjos
em volta do trono de Deus, e ela conclui o segundo parágrafo dessa página com as
seguintes palavras: "[Deus é quem] deve presidir ao juízo. E s4Í4fos ¢#j.os, como minis-
tros e testemunhas, [...] assistem a cs5c gr4#dc fri'b##4J." A seguir, estão algumas outras
citações sobre o papel dos anjos no juízo investigativo:

• "Assistido po/ 4#/.os ccJesfí.c#`s, nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar santís-
simo, e ali comparece à presença de Deus a fim de [...] realizar a obra do juízo
de investigação."8
• "Uesus] ergue as mãos feridas perante o Pai c os sci%fos mjos."9
• "0 pecado pode ser escondido [...], porém, [a fflta] jaz descoberta pcrfl#fc os scrcs
ceiestiais:'io
• "Quão pouca solicitude é experimentada belos seres humanos] com referência
àquele registro que deve ser posto sob o o/hw dos scrcs cc`csfi'4i's/"ít

Essas declarações deixam evidente que E11en White entendeu claramente que os
anjos têm urn papel no juízo investigativo.
4 t% p4ssÍ.v4. Em todo o capítulo de Ellen White sobre o juízo investigativo, as
referências às decisões sendo tomadas estão consistentemente na voz passiva. A voz
passiva declara o que foi feito, mas não diz quem fez. Assim, a declaração de que
"a bola foi chutada" é uma oração completa; mas, a menos que ela prossiga e diga
"por José", sQmente podemos presumir quem chutou a bola. Ao escrever sobre
esse julgamento, Ellen White disse: "Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes." Essa
é uma oração na voz passiva (sintética),í2 e E11enwhite não chegou a dizer quem
aceita e quem rejeita. Além disso, quando E11en White escreveu sobre "os que no
juízo forem `havidos por dignos",í3 ela não disse por quem eles foram tidos por
dignos. Não há uma declaração do tipo "por fulano ou sicrano" nessas citações.
É suficientemente fácil presumir que Deus é quem toma as decisões, mas as decla-
rações, na verdade, não c7Í.27cm isso.
Acho significativo que Daniel 7:21 e 22 também use a voz passiva em cone-
xão com decisões no juízo: "Eu olhava, e eis que essa ponta fazia guerra contra os
O JÜIZO

santos, e os vencia. Até que veio o ancião de dias, e/oÍ. d4cío o jwí'zo aos santos do
Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino" (ARC; itálicos
acrescentados) . É fácil assumir que foi o Ancião de Dias que deu juízo em favor dos
santos, mas Daniel não disse isso, uma vez que a frase está na voz passiva.
Igualmente, é fácil assumir que, na declaração de Ellen White sobre nomes
sendo aceitos e rejeitados, Deus é quem toma as decisões sobre o merecimento de
cada santo quanto à salvação. Entretanto, temos que manter essas palavras no con-
texto da repetida ênfase dada por Ellen White, nesse capítulo, sobre a participação
dos anjos no juízo. Proponho que são os anjos que aceitam e rejeitam os nomes, e
são os anjos que consideram os santos dignos da vida eterna.Visto que Deus pre-
side o julgamento, é apropriado ligá-Lo ao processo, e é nesse contexto que deve-
mos interpretar as declarações de Ellen White em que parece que é Ele quem
toma as decisões.
Como já disse antes, devemos entender os anjos aceitando e rejeitando nomes e
considerando os santos dignos da vida eterna como wm c#cÍosso dcíj cJcci'sõcs q#c Dcwsjá
fomoí/. Os anjos não determinam quem será salvo e quem se perderá. Deus é quem
faz isso. Ao julgar a salvação eterna das pessoas, os anjos estão meramente confir-
mando para eles ajustiça das decisões de Deus. Eles estão edificando sua fé najus-
tiça divina.
Há uma exceção nos casos da,s orações na voz passiva sobre decisões tomadas no
juízo. Pouco antes do término do capítulo sobre o juízo investigativo, Ellen White
escreveu: "Embora todas as nações devam passar em juízo perante Deus, Ele exa-
minará o caso de cada indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante como se
não houvesse outro ser na Terra."í4 Essa declaração está na voz ativa, o que signi-
fica que ela apresenta Deus como quem examina a vida de homens e mulheres; a
implicação é que Ele é quem toma as decisões no julgamento.
Responderei indicando que Deus, de fato, examina os detalhes da vida de cada
ser humano durante o tempo da vida e no momento da morte da pessoa. Isso,
naturalmente, inclui o exame daqueles que estão vivos agora, no tempo do juízo.
A pergunta é: É mesmo %ccc5só/í'o que o Deus onisciente examine a vida dos seres
humanos que viveram em épocas passadas para que, então, Ele possa decidir, no
juízo, quem é digno da salvação? Menciono esse ponto porque Ele é onisciente
e, por conseguinte, não precisa fazer isso, sendo um erro concluir, a partir dessa
declaração de E11en White, que Ele é quem toma as decisões no juízo. No pará-
grafo em que es.sa declaração aparece, E11en White faz um longo comentário sobre
a seriedade com que cada cristão deveria viver à luz do juízo, e me parece que
esse é o ponto para ela nessa declaração, e não se Deus é realmente quem revê a
vida e toma as decisões.
Uma questão relacionada com isso, da qual precisamos tratar resumidamente,
é uma declaração de E11en White em 0 GÍ4#dc Co#j3í'fo: "0 lntercessor divino
apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que
venceram pela fé em Seu sangue."í5 Isso parece sugerir que o povo de Deus tem
que esperar até o juízo para que seus pecados sejam perdoados, ao passo que a
Bíblia promete perdão imediato, assim que nossos pecados são confessados (ver,
por exemplo,1Jo 1:9).
Minha resposta para esse problema é muito simples: Ellenwhite conhecia muito
bem o ensinamento bíblico sobre a justificação pela fé. Quem já leu livros como
Caminho a Cristo, Parábolas deJesus, 0 Desejado de Tlodas as Nações e o ca,pttulo sobre
justificação pela fé em Mc#s4gcíü EscoJ#Í`d4s (v.1, p. 350-400), sabe que ela tinha
uma compreensão muito clara do evangelho. Repetidas vezes, ela assegurava aos
leitores tanto a garantia do perdão de Cristo quanto a aceitação deles no momento
em que se arrependiam e confessavam seus pecados.í6 0s escritores dizem, às vezes,
coisas que, à primeira vista, parecem contradizer aquilo em que acreditam ou que
mencionaram de maneira clara em outro lugar. 0 próprio Paulo fazia isso de vez em
quando (comparar Rm 3:20 com 2:13). Portanto, temos que considerar o principal
sistema de crença do autor como o alicerce para nossa interpretação dos seus escrí-
tos e interpretar declarações aparentemente contraditórias dentro desse contexto,
em vez de isolar a declaração aparentemente contraditória, e considerá-la como uma
representação da crença do autor. Representamos inadequadamente E11en White
quando distorcemos declarações como a que citei acima para fizer com que elas
contradigam outras declarações nas quais ela tem manifestado de maneira muito
clara suas crenças sobre ajustificação pela fé e o perdão do pecado.
0 parágrafo de 0 Grwí£cíc Co#j?!'fo que contém a declaração de E11enwhite sobre
o perdão começa com estas palavras: "0 mais profundo interesse manifestado entre
os homens nas decisões dos tribunais terrestres não representa senão palidamente o
interesse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes inseridos nos livros da
vida aparecerem perante o Juiz de toda a Terra."" Segue, então, a declaração sobre
]esus pedindo que Seu povo seja perdoado. Então, quem nas "cortes celestiais" está
manifestando "o mais profundo interesse" nos processos? Proponho que sejam os
anjos. E o ponto de E11enwhite é que, diante das acusações de Satanás contra os
santos, as quais os anjos estão 1evando em consideração,Jesus está pedindo aos 4#/.os
que eles aceitem Seu julgamento do caso de cada santo, que é "perdão e justifica-
Ção, amplos e completos".[8 E, naturalmente, eles aceitarão! Embora E11enwhite de
fato não o diga, isso é consistente com o que ela realmente manifesta nesse capítulo.

0 juízo investigativo e a expiação


Uma das críticas importantes ao conceito adventista sobre ojuízo investigativo é
que ele inclui .a ideia de que Cristo fará uma expiação para Seu povo nesse tempo.
Ellenwhite declarou essa ideia de maneira bem clara:"Assistido por anjos celestiais,
nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar santíssimo, e ali comparece à presença
de Deus a fim de [...]J4L2íc/ cxpÍ.ciçõo por todos os que se verificarem com direito aos
beneficios da mesma."t9 Muitos cristãos entendem que Cristo fez expiação pelo
pecado na cruz, e a ideia de que ainda resta uma expiação a ser feita durante o juízo
investigativo é ofensiva para eles.
A questão é se a palavra cxpí.4fõo deve ser aplicada exclusivamente à morte sacrifi-
cal de Cristo na cruz ou se é apropriado usá-1a em relação a Seu ministério mediador
no santuário celestial também. 0 único lugar em que a palavra "expiação" ocorre no
Novo Testamento é Romanos 5:11, na versão King James: "Também nos gloriamos
em Deus por nosso SenhorJesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a
expiação." Nesse verso, a palavra "expiação" é uma tradução da palavra grega Á34f4//4gé.
Todas as traduções modernas, inclusive a versão Almeida Revista e Atualizada e a
Nova versão lnternacioml, traduzem k4f4J/4gé como "reconciliação", e é assim que
ela é traduzida em todas as demais ocorrências no Novo Testamento.
A palavra "expiação", portanto, é uma palavra exclusiva do Antigo Testamento,
em que ela é uma tradução da palavra hebraica kí4pwr, o que já discutimos no capí-
tulo 19 e 20. E, no Antigo Testamento, kí4p#r é usada para descrever os resultados
durante o serviço diário tanto do sacrificio do animal, que representava a morte
de Cristo, corno a mediação do sacerdote emfiuor do pecador, a qual representaua o minis-
/é/í.o mcdi.4cío/ de Cr!`sfo #o Céw.2° Além disso, a palavra Á2ií)pwr é usada em conexão
corn o D±a, da. Exp±a,ção a.nual, e claramente inclui a mediação sacerdotal no tabernáculo e
não apenas os sacrificios oferecidos naquele dia. Assim, o uso da palavra "expiação"
pelos adventistas do sétimo dia em conexão com a mediação sacerdotal de Cristo
no santuário celestial está em harmonia com o uso bíblico da palavra. De fato, o
uso que fazemos dessa palavra está mais próximo do uso bíblico do que o de grande
parte dos protestantes evangélicos.
Na década de 1950,Wálter Martin abordou a Associação Geral com algumas per-
guntas sobre nossas crenças, dentre as quais havia uma sobre a questão da expiação
durante o juízo. A igreja respondeu às perguntas de Martin com o livro Q#e5fõcs
Sobrc Do#frí.#cJ. Os autores desse livro declararam inequivocamente que os adventistas
do sétimo dia: "Concordam plenamente com aqueles que dão ênfase a uma expia-
Ção completa na cruz, no sentido de um sacrificio expiatório todo-suficiente pelo
pecado, feito uma vez por todas. Creem que nada menos que isso ocorreu na cruz
do Calvário.''2i
Entretanto, os autores observaram: ``Quando [...] se ouve um adventista dizer,
ou se lê na literatura adventista, mesmo nos escritos de Ellen G.White, que Cristo está
fazendo expiação agora, deve-se compreender que queremos dizer que Cristo está agora
fizendo aplicação dos beneflcios da expiação sacrftal que efituou na cruz; que a. està torníLndo
eficaz para nós, individualmente, conforme nossas necessidades e petições."22 A isso
eles acrescentaram uma declaração de Ellenwhite de que, em Seu ministério no san-
tuário celestial, desde a ascensão, Cristo derrama ``sobre os discípulos os ócÍ%J7cí.os de
Sua expiação".23
0s adventistas pensam no juízo investigativo que começou em 1844 como uma
forma especial da expiação mediadora de Cristo no santuário celestial, mas Jesus
vem realizando alguma forma de expiação mediadora e contínua desde Sua ascen-
são. É nesse sentido que devemos entender as declarações de Ellenwhite como a que
citei anteriormente, de 0 Gít2#dc Co#j3i.fo: "Assistido por anjos celestiais, nosso grande
Sumo Sacerdote entra no lugar santíssimo, e ali comparece à presença de Deus a
fm de [...] fazer expiação por todos os que se verificarem com direito aos bc#cJíci'os
da mesma."24
Em alguns círculos adventistas, houve quem suscitasse certo furor quanto à explica-
Ção dada em Qwcsfõc£ Soárc Do#fr£'Í" a respeito da "expiação" durante o juízo investiga-
tivo. Não tenho interesse em entrar nesse debate aqui. É suficiente dizer que acredito
na explicação dada em Q#csfõff Sobrc DoÍ/fr!`#4.

A visão de Ellen White sobre o santuário celestial


No livro Pr!.meí.ros Escíi.fo5, Ellen white apresenta um relato bastante detalhado de
uma visão que ela teve, na qual foi levada ao santuário celestial. Citarei algumas par-
tes de dois parágrafos de sua descrição:

Na cidade vi um templo no qual entrei. Passei por uma porta antes de che-
gar ao primeiro véu. Este véu foi erguido, e eu entrei no lugar santo. Ali
vi o alta,r de incenso, o castiçal com sete lâmpadas e a mesa com os pães
da proposição. Depois de ter eu contemplado a glória do lugar santo,jesus
levantou o segundo véu, e eu passei para o santo dos santos.
No lugar santíssimo vi uma arca, cujo alto e lados eram do mais puro ouro.
Em cada extremidade da arca havia um querubim com suas asas estendidas
sobre ela.Tinham os rostos voltados um para o outro, e olhavam para baixo.
Entre os anjos estava um incensário de ouro. Sobre a arca, onde estavam os
anjos, havia o brilho de excelente glória, como se fora a glória do trono da
habitação de Deus.Jesus estavajunto à arca, e ao subirem a Ele as orações dos
santos, a fumaça do incenso subia, e Ele oferecia Suas orações ao Pai com o
fumo do incenso. Na arca estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de
Arão que florescera e as tábuas de pedra que se fechavam como um livro.25

No capítulo 28, "Jesus Além do Véu", argumentei que, embora existam, provavel-
mente, dois ``lugares" no santuário celestial que são o antítipo do lugar santo e do lugar
santíssimo do santuário terrestre, o Pai e o Filho estão juntos em ambos os lugares, sem
a separação de um véu entre eles. Alguns adventistas podem querer argumentar que a
declaração de Pri.mci'ros Escrí.fos é uma evidência de que há dois compartimentos no
santuário celestial com um véu entre eles.
Entretanto, parece-me bastante óbvio que Ellen White estivesse descrevendo o
santuário celestial com uma linguagem tirada da descrição do santuário terrestre no
Antigo Testamento, e seria um erro assumir que o santuário celestial é literalmente
igual ao que e.1a retrata nessa declaração. A arca do concerto do santuário terrestre
é um tipo do trono de Deus no Céu, e os dois anjos em pé sobre a tampa da arca
representam a miríade de anjos em pé ao redor do trono de Deus (ver Dn 7:9,10;
Ap 5:11). Mas, seguramente, a sala do trono celestial é imensamente superior a sua
minúscula representação no santuário terrestre! Ellen white também disse que, den-
tro da arca, ela viu os dez mandamentos que "se fechavam como um livro'', a urna
contendo o maná e a vara de Arão que florescera.Alguém poderá até argumentar em
favor de tábuas dos dez mandamentos literais, mas me parece muito estranho supor
que a urm de maná e a vara de Arão que florescera existam no santuário celestial!
ELLEN WHITE E C JÜ!ZO

Novamente, meu ponto é que o santuário celestial é muito superior ao santuá-


rio terrestre e dificilmente pode ser considerado como uma réplica exata do san-
tuário terrestre. Portanto, a declaração de Ellen White em Pri'meí'Íof Escrí'fos é mais
simbólica do que literal.

] Isso é, de fato, verdade quanto aos escritores do Novo Testamento. Eles frequentemente aplicavam profécias
do Antigo Testamento de maneira que nada tinham que ver com aquilo que o profeta quis dizer.Ver, por
exemplo, Mateus 2: 18, em que Mateus tomou a profecia deJereinias 31:15 sobre o pranto de Raquel pelos
seus filhos e a aplicou à mata.nça de bebês do sexo masculino por Herodes, em Belém.]eremias não tinha
isso em mente quando falou aquelas palavras.
2 FLayrnond E. CottreH," 1844, the lnuestigatiue Judgment, the Sanctuary" , p. 35.
3 ibid., p. 37.
4 Ellen G.White, "0 Grande ]uízo lnvestigativo", em 0 Grj2#de Co#j3i.fo, p. 479-491.
5 ibíd., p. 483.
6 Ibid.; três vezes na página 482 e uma vez na página 483.
7 Ibid., p. 479; itálico acrescentado.
8 ibid., p. 480; itálico acrescentado.
9 ibid., p. 484; itálico acrescentado.
" Ibid., p. 486,. itálico acrescentado.
" Ibid., p. 487; itálico acrescentado.
t2 Nota do tradutor: Embora essa oração esteja na voz passiva. sintética. (daí o uso da. partícula apassivadora
"se"), o agente, nesse caso, também é indeterminado, o que vem a ser o ponto do autor.
" Twhite," 0 Gmnde Conflito" , p. 482.
14 Ibid., p. 490.
„ Ibid., p. 484.
t6 Ver, por exemplo, o último parágrafo da página 41 de C4mi.#bo 4 Cri.sfo e Mc%s¢gcí# EscoJhi.d45, v. 1,

p. 382, 392.
17 White, " 0 Gr4Ítde Co%j]i.fo", p. 483, 484.
is ibid., p. 484.
ig ibid., p. 480; itálicos acrescentados.
2°Ver, por exemplo, Levítico 4:13-20.
2] George R. Knight, Qwcsfõcs Soõre DoÍ/Íri.#a, p. 251.
22 ibid., p. 260; itá]icos acrescentados.
23 White, Pri'wcÍ.ros Escrt.fos, p. 260; itálico acrescentado.
24 White, " 0 GÍ4#dc Co#j3t.fo", p. 480; itálico acrescentado.
25 TWLite, " Primeiros Escritos" , P. 32 .
COLOCAND0
TUDO JUNTO

Alqei:s:àeçeàt:shhwwoo:eà:1::::|:od:uÉral:ae|:dnv:nàtta|gdooiueís:::::e,Sot:=:1io.uo::.:::e:
significativas de Apocalipse, no Novo Testamento. Nos capítulos anteriores deste livro,
examinamos de modo detalhado esses variados elementos da crença, adventista sobre o
juízo investigativo. Em cada um deles, nossa principal pergunta tem sido: Isso é bíblico?
Isso pode ser razoavelmente demonstrado a partir das Escrituras? Concluí que sim.
Cada parte do ensinamento adventista sobre o juízo investigativo pode ser defendida
com base na Bíblia. Neste capítulo, quero colocar tudo junto, como um todo.

0 tema do grande conflfto


0 grande conflito é o tema subjacente da teologia adventista do sétimo dia.
0 Trtgf4do dc Tco/ogí`4 4dyc#fi.sf4 do Séíj.mo Di.a o chama de "uma das principais caracte-
rísticas do pensamento adventista".í Para muitos protesta,ntes, a cruz é o centro da
teologia, o que é compreensível, pois a cruz é o supremo ato de Deus para a salvação
dos seres humanos. É importante entender que os adventistas não diminuem a cruz
ao fazer do grande conflito uma das bases de nossa teologia. Ao contrário, coloca-
mos a cruz na mais ampla perspectiva. 0 tema do gra,nde conflito nos ajuda a enten-
der que o propósito pleno da cruz não foi apenas a salvação de seres humanos, por
mais importante que isso possa ser. A morte de Cristo também é a base para a der-
rota de Satanás, o barimento do pecado e do sofrimento do Universo e o estabeleci-
mento de Seu reino eterno.
Acima de tudo mais, o grande conflito é uma história: uma história sobre Deus,
os seres inteligentes que criou e o relacionamento entre eles e o Criador.Alguns têm
sido leais a Ele e a Suas leis. Outros, seguindo Satanás, rebelaram-se, afirmando que
Deus é injusto e que Suas leis são impossíveis de ser observadas. Esse conflito come-
Çou no Céu, mas veio para o planeta Terra quando nossos primeiro pais se rebela-
ram. Entretant.o, porque os amava profundamente e queria poupá-1os da fatalidade
de seu destino, Deus implementou o plano da salvação. A cruz se tornou a solução
divim não somente para o problema do pecado do ser humano, mas também para a
rebelião de Satanás contra Deus. Afinal, um dos resultados da cruz foi a expulsão do
"acusador de nossos irmãos" (Ap 12:10). Meu ponto é que a crença adventista sobre

o juízo investigativo só fàz sentido no contexto da história sobre o grande conflito.


Vamos rever a razão para isso.
Deus respeita a inteligência e o livre-arbítrio de todas as Suas criaturas. Ele não
força os anjos a Lhe obedecer, também não vai requerer que eles aceitem alguém no
Céu com o temor de que essa pessoa possa reintroduzir a rebelião, o sofrimento e a
JUNTO ! 2Ó9

morte. 0 propósito do juízo investigativo é dar a esses seres celestiais uma oportu-
nidade para revisar a vida de cada ser humano que alguma vez tenha afirmado ser
um seguidor de Deus. Esse julgamento também dá a Satanás uma chance de apre-
sentar melhor sua acusação contra nós diante de Deus e dos anjos. Entretanto, você
e eu não precisamos temer os ataques dele porque podemos ter a certeza de que,
como nosso mediador,Jesus apresentará o nosso caso com perfeição diante dos
anjos, apontando nosso arrependimento, nossa confissão do pecado e Sua morte na
cruz, que expiou esses pecados. Ele apontará para a própria justiça, a qual cobriu
nossos pecados, e pedirá que nos sejam concedidos "perdão e justificação, amplos
e completos".2
No encerramento do juízo investigativo, Deus será vindicado em todas as Suas
decisões ao lidar com o pecado e os pecadores. Os anjos concordarão que todos
aqueles que confiaram em ]esus e foram vitoriosos em Seu nome merecem passar
a eternidade com eles em Seu reino, enquanto os rebeldes devem ser banidos para
sempre do Universo.
A palavra para isso é fcocJj'cc£.4, isto é, justificar Deus pela maneira como Ele tem
lidado com o problema do pecado.A crença adventista sobre o juízo investigativo deve
ser compreendida de acordo com o conceito de teodiceia ou não se harmonizará com
a crença bíblica sobre a justificação pela fé.

Teodiceia em Levítico
Uma das mais claras exposições do Antigo Testamento sobre a maneira de Deus
lidar com o pecado é encontrada em Levítico. Estudar esses rituais pode parecer
tedioso, mas eles são uma representação em miniatura do plano de Deus para salvar o
ser humano do pecado e do plano divino para eliirinar o pecado de todo o mundo
e até do Universo.
No sistema levítico, os pecadores tinham a cada dia do ano a oportunidade de
levar animais para o santuário como sacrificios por seus pecados. 0 pecado era trans-
ferido do pecador para o animal, e o animal era imolado como pagamento pelo
pecado. Naturalmente, o sangue dos animais não podia expiar o pecado humano (ver
Hb 10:1). Isso era apenas uma representação em miniatura do supremo sacrificio de
Cristo m cruz, por meio do qual Ele levou os pecados de cada ser humano.
Depois que o animal era morto, o sacerdote recolhia o sangue e o aspergia sobre
o altar do sacrificio do pátio ou sobre o altar de incenso no lugar santo. Por meio
desse ato de riediação após o sacrificio, o pecado era transferido para o santuário e
o pecador era perdoado. Isso representava o ministério mediador de Cristo em favor
dos pecadores no santuário celestial depois de Sua ascensão em 31 d.C. A mediação
de Cristo no santuário celestial aplica os beneficios de Seu sacrificio aos pecadores
individualmente, quando eles se arrependem de seus pecados, confessam-nos e bus-
cam o perdão.
No santuário terrestre, a transferência do pecado para o santuário significava que
Deus aceitava a responsabilidade temporária por ele. Entretanto, Ele não merecia
ser responsabilizado pelo pecado; Deus assumia essa responsabilidade com o único
propósito de aliviar o pecador no momento. Isso representa o fato de que, no santuá-
rio celestial, Deus assume a responsabilidade por nossos pecados para que possamos
ser perdoados. jesus aceitou essa responsabilidade em nome da Divindade quando
morreu na cruz (ver ls 53:4-6,12; 1Pe 2:24).
No santuário terrestre, todos os pecados da congregação eram removidos do san-
tuário no Dia da Expiação, sendo colocados sobre o bode emissário. 0 bode então
levava aquela carga nociva para Azazel, uma representação de Satanás. Isso ilustra o
fato de que Deus não pode ser considerado responsável por nossos pecados, e que
Ele não assumirá para sempre a responsabilidade por eles. Essa responsabilidade será,
oportunamente, lançada de volta para Satanás, o originador do pecado e, por sua
morte e a morte de todos os seus seguidores, a rebelião contra Deus que ele ini-
ciou será banida para sempre do Universo. ``Pecado e pecadores não mais existem.
0 Universo inteiro está purificado."3
É importante entender que os rituais levíticos eram uma representação da teodi-
ceia, isto é, o plano de Deus para livrar o mundo e o Universo do pecado.

Teodiceia em Daniel

As profecias de Daniel 2, 7 e s espelham essa teodiceia. Começando com o capí-


tulo 2, cada profecia se concentra no conflito entre o bem e o mal com detalhes
cada vez maiores. As três profecias começam no tempo de Daniel, e as três forne-
cem um retrato instantâneo da história do mundo desde aquele tempo até o fim do
mundo. Isso é chainado de "método historicista" de interpretar as profecias de Daniel.
Resumirei cada uma delas.
D4#í.c` 2. 0 sonho de Nabucodonosor no capítulo 2 é um excelente caso para
demonstrarmos o método historicista de interpretação. Ele apresenta um esboço das
forças políticas seculares que dominariam o Oriente Médio e a Europa.
Nabucodonosor foi um rei ímpio que nada entendia sobre o Deus dos israelitas.
Assim, somente no fim, o sonho apresentou o Deus do Céu que derribaria todos os
demais reinos do mundo e estabeleceria Seu reino eterno. Isso deu ao rei um vislum-
bre do plano de Deus para resolver o problema do mal no mundo: teodiceia.
D4#í.e/ 7. 0 elemento principal de Daiiiel 7 é um "chifre pequeno", um poder
religioso maligno que se oporia a Deus e perseguiria o povo escolhido. Os adven-
tistas entendem que esse chifre pequeno representa o papado medieval. Na visão
de Daniel descrita no capítulo 7, a,s atividades do chifre estão restritas ao planeta
Terra, mas a s.olução do conflito tem lugar no Céu na fomia de um julgamento
presidido por Deus, rodeado de milhões de anjos. Esse julgamento condena o poder
religioso apóstata representado pelo chifre pequeno. 0 julgamento também vindica
o povo de Deus e passa os reinos do mundo para o "Filho do Homem" e Seu povo.
Esse é um retrato em miniatura do conflito entre o bem e o mal - o grande conflito
-e sua solução.Também é um exemplo de teodiceia.
D4Í%'c/ 8. 0 chifre pequeno de Daniel 8 representa o mesmo poder religioso
maligno.Além de perseguir o povo de Deus, o ataque do chifre do capítulo s procura
eliminar Cristo, "o príncipe do exército". E o ataque especial do chifre é sobre o
E!C "BÕ JüüTC

santuário celestial e sobre o plano divino de salvar homens e mulheres do pecado. Os


adventistas têm tradicionalmente interpretado esse chifre pequeno como o papado,
que sustenta doutrinas que minam o ensinamento bíblico sobre a salvação. Eu con-
cordo com essa interpretação.
Em Apocalipse 12, descobrimos que o poder por trás dos chifres pequenos de
Daniel 7 e s não é outro senão o próprio Satanás. 0 povo de Deus está na mira de
seu ataque, e uma de suas principais estratégias é dizer, diante de Deus e dos anjos,
que o povo de Deus não merece o favor divino. E por isso que Apocalipse chama
Satanás de "o acusador de nossos irmãos" (Ap 12:10).A acusação de Satanás de que o
povo de Deus não merece a vida eterna é um ataque direto ao plano de salvação que
Cristo está ministrando no santuário celestial e, por conseguinte, é um ataque ao pró-
prio santuário: um ataque que Daniel profetizou que iria acontecer.
Daniel 8:14 indica a soluçâo para esse problema. Ele prediz que chegará o tempo
em que o santuário celestial de Deus será "purificado", "vindicado", "justificado",
dependendo de como se queira traduzir a palavra hebraica #i'£sdc!q. Minha preferên-
cia é "vindicado" porque essa palavra se encaixa melhor no julgamento de Daniel 7,
o qual também vindica os santos. E uma vez que o ataque do chifre ao santuário
inclui a acusação de Satanás de que o povo de Deus é indigno da vida eterna, a solu-
ção deve, obviamente, vindicar o povo de Deus, mostrando que eles são merecedores
do fàvor divino. Naturalmente, a vindicação do povo de Deus é, precisamente, o pro-
pósito dojulgamento do capítulo 7. E, uma vez que ojuízo vem no mesmo ponto na
profecia de Daniel 7 como na purificação do santuário do capítulo 8, os dois textos
obviamente descrevem aspectos diferentes do mesmo processo.
Essa vindicação de Deus e de Seu povo pelo juízo -chamado de "purificação" do
santuário em Daniel 8 - é uma teodiceia da mais alta categoria, o que também era a
função do Dia da Expiação 1evítico.

0 Dia da Expiação em Daniel

Há evidências significativas de que a purificação/vindicação do povo de Deus e do


santuário de Daniel são antítipos do Dia da Expiação 1evítico do Céu. Digo isso por
várias razões. A teodiceia é uma das principais linhas de evidência que ligam Levítico
a Daniel, porque tanto Levítico 16 como Daniel 7 e s descrevem o plano de Deus
para resolver o problema do pecado. Com efeito, o retrato do julgamento no capí-
tulo 7 mostra impressiomntes semelhanças com o Dia da Expiação. A arca da aliança
em Levítico representa o trono de Deus. Os dois querubins sobre a arca da aliança,
que está dentro do santuário, podem ser entendidos como representantes da miríade
de anjos ao redor do trono de Deus nojuízo. E o Filho do Homem, que entendemos
serjesus, aproxima-Se do trono, o que nos faz lembrar o sumo sacerdote se a,proxi-
mando da arca da aliança no lugar santíssimo, no Dia da Expiação.
Também há uma evidência significativa a favor de um Dia da Expiação em Daniel 8.
Em primeiro lugar, o capítulo trata da rebelião do chifre pequeno, e Satanás é o poder
por trás do chifie. Portanto, Daniel s descreve uma parte importante do processo de
Deus para lidar com o problema do mal - teodiceia -, e o Dia da Expiação tem tudo
NA CORTE CELESTIAL

que ver com teodiceia.Além disso, o carneiro e o bode dos versos 3 a s são animais
do santuário, em contraste com os animais selvagens do capítulo 7. De fato, dois car-
neiros e dois bodes eram usados no Dia da Expiação. Também há o fato de que a
purificação do santuário de 8:14 ocorre precisamente no mesmo ponto da linha da
história desse capítulo na qual ocorre o juízo na linha histórica do capítulo 7.Assim,
se o juízo do capítulo 7 for uma cena do Dia da Expiação celestial, então a purifi-
cação ou vindicação do santuário de 8:14 também o é.Além disso, o ataque do chi-
fre pequeno ao santuário no capítulo s é chamado de pecado de rebelião pc5ÍM' no
verso 13, e o Dia da Expiação era a única vez na rotina dos serviços levíticos em que
se lidava com os pecados pcs#4'. Finalmente, embora as palavras hebraicas traduzidas
como ``purificadas" em Daniel 8:14 e Levítico 16 sejam diferentes, os tradutores do
Antigo Testamento para o grego usaram uma única palavra grega para traduzir essas
duas palavras hebraicas.
Por essas razões, a purificação ou vindicação do san em Daniel 8:14 pode
ser entendida como um Dia da Fxpiação celestial. //

0 princípio dia-am
Cada uma das profecias de Daniel 7 e s inclui u período de tempo. Em Daniel
7:25, o tempo é dado como "tempo, tempos e metade e um tempo", o que Apocalipse
12:6 reinterpreta como 1.260 dias. Em Dariel 8:14 o período de tempo é de 2.300
tardes e manhãs, o que, de uma maneira ou de o ra, todos os intérpretes entendem
como dias. Entretanto, a maneira como interp amos esses ``dias" depende de como
interpretamos as visões como um todo. Os que entendem que as visões de Daniel 7 e
8 foram cumpridas na história a,ntiga interpretam os 1.260 dias e os 2.300 dias como
um tempo literal. E assim deve ser, pois interpretá-1os como anos seria estender as pro-
fecias para muitos séculos além do tempo do seu suposto cumprimento. Os adventis-
tas do sétimo dia, porém, interpretam os 1.260 dias e os 2.300 dias de acordo com o
princípio dia-ano, no qual um dia simbólico representa um ano literal. Uma das prin-
cipais razões para fazermos isso é que essa é a única maneira de encaixar esses períodos
de tempo em nosso método historicista, que vê as profecias se estendendo por milha-
res de anos ao longo da história do mundo.Além disso, os estudiosos da profecia têm
usado o princípio dia-ano para interpretar as profecias de Daniel por mais de 2 mil
anos, e o conceito básico do uso da palavra "dia" para representar um ano era parte do
pensamento judaico 2 rnil anos antes disso. Assim, não há nada particularmente novo
ou fora do comum quanto ao princípio dia-ano.
05 ].260 cJí.cis. Os adventistas do sétimo dia creem que os 1.260 anos começa-
ram em 538 d.C., quando o imperador romano Justiniano apontou o papa como o
líder de todas as igrejas cristãs, e se estenderam até 1798, quando o aprisionamento
do papa pôs fim às centenas de anos de poder político exercido pelovaticano sobm
as nações da Europa.
05 2.joo di'4s. Nós baseamos nosso cálculo dos 2.300 anos em Daniel 9. 0 capí-
tulo s nos diz que Gabriel intemompeu sua explicação sobre a visão do capítulo s exa-
tamente quando estava para começar a explicar os 2.300 dias, pois Daniel havia adoecido.
Êflm±N"D±3f
Mas isso não fez cessar o interesse do profeta em relação ao misterioso período de
tempo. 0 capítulo 9 de seu livro diz que, vários anos mais tarde, em resposta ao vigoroso
questionamento dele sobre o tempo para os judeus voltarem para sua, pátria e recons-
truírem o templo, Gabriel apareceu outra vez a Dairiel. Ele disse para o profeta que 70
semanas haviam sido "cortadas" para osjudeus, mas não disse de onde tinham sido corta-
das. Historicamente, os adventistas têm afirmado que elas foram cortadas dos 2.300 dias
de Daniel 8, uma vez que essa era a parte da visão que ainda não havia sido explicada.
4s 70 scmczí"s. No princípio dia-ano, 70 semanas representam 490 anos. Gabriel
deu a Daniel um evento específico para o começo desse período. Ele disse: "desde a
saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe,
sete semanas e sessenta e duas semanas" (Dn 9:25). Uma operação de aritmética sim-
ples nos diz que sete semanas somadas a 62 nos dão 69 seriams, um total de 483 dias,
ou 483 anos no princípio dia-ano. E o mais s premdefl€e é que, a partir da ordem
dada por Artaxerxes de "restaurar e edifi Jerusalém" em 457 a.C. até o batismo
de Cristo em 27 d.C„ decorreram e amente 483 anos! A profecia das 70 semanas,
então, confirma a validade do pri n#a:
io dia-ano, ao mesmo tempo em que dá a base
para o cálculo dos 2.300 anos de Daniel 8:14. Uma vez que as 70 semanas começa-
ram em 457 a.C., os 2.300 a 0 também começaram nesse te terminando em
1844 d.C., menos de 50 anos e ois do fim dos 1.260 anos de D ! Somente
o Deus que está no Céu poderia começar duas profecias de teii OS 2.300 dias e

os 1.260 dias) com mil anos de diferença entre elas, na história antiga, e terminá-las
com 50 anos de diferença, em nossos dias.
Esse entendimento das profecias de Daiiiel e a confirmação dada pelo batismo de]esus
no tempo exato compreende a razão pela qual os adventistas do sétimo dia dizem que a
purificação ou vindicação do santuário de Daniel 8:14 começou em 1844. E porque
a purificação do santuário de Daiiiel 8: 14 ocorre no mesmo ponto da linha histórica em
que ocorre o juízo do capítulo 7:9 e 10, concluímos que esse juízo, que chamamos de
juízo investigativo, também começou em 1844. Chegamos até a definir essa data como
22 de outubro de 1844, fiindamentados em uma analogia entre as diversas festas do ca-
lendário religioso levítico e o tempo de seu cumprimento no antítipo.

Concluindo

A maneira de uma pessoa entender ojuízo investigativo e os tópicos a ele relaciona-


dos depende de.como interpreta as evidências bíblicas. Nossos críticos interpretam
as evidências de maneiras diferentes das nossas, o que é compreensível. Meu ponto
é que, dado nossos métodos de interpretação, nossas conclusões em relação ao juízo
investigativo, das 70 semanas, dos 2.300 dias e do Dia da Expiação estão solidamente
alicerçados m Bíblia.
0 livro neotestamentário de Hebreus comenta extensivamente sobre os santuá-
rios terrestre e celestial, e muito daquilo que o a,utor de Hebreus diz nos ajuda a com-
preender a obra do nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial. Alguns intérpretes
acreditam que Hebreus contradiz o entendimento adventista a respeito do santuá-
rio, especialmente o Dia da Expiação. Nos capítulos 28 a 33 deste livro, eu sugeri
que o autor de Hebreus não tinha nosso entendimento sobre o Dia da Expiação e
o juízo investigativo poff¢#c #õo crtz p4rti fé-/o./ Afinal, as profecias de Daniel se esten-
dem a quase dois mil anos além do tempo em que escreveu sua espístola. E, ao pro-
ceder a uma cuidadosa análise daquilo que o autor de Hebreus disse, concluí que seus
comentários não negam nosso entendimento` Existem razões pelas quais eu acredito
que o juízo investigativo pré-advento tem um sólido fundamento bíblico.

í Frank 8. Holbrook, "0 Grande Conflito", cm: T/4f4do dc TcoJogi.4 4dtJc#fi.sf4 do Séfi.mo Di`4, p.1104.
2 Ellen G.White, 0 G/íinde Coqfli.fo, p. 484.
`` Ibid., p. 678.

HE=H
J, -----\
OUE DIFERENÇA
ISS0 FAZ?

Empgr::anr:çá:.|Pfi::ap::ts:,C.a:ít.u',:;Élaz|huoT#áiladap.pr:suqnu,1:ae:antieu:,lgus:if|oess,mQe::
diferença a crença adventista sobre o juízo investigativo faz em sua. vida pessoal e
caminhada espiritual com Deus? Aqui estão algumas das respostas que obtive:

• ``Por que ter uma religião se não há um juízo para separar o bem do mal?"
• "0 juízo investigativo é como o ar: está sempre lá, e eu não penso sobre ele."
• "É um pouco assustador, porque Deus observa cada aspecto da ininha vida."
• "Tenh ouvido as pessoas discutindo sobre isso, mas eu me pergunto: Qual a
para tanta discussão? 0 juízo não faz a menor diferença no meu relaciona-
nto com Deus.„
lJhuoipoa::v=tTga:::=ori:ã:aa:::|q£:learesstoeà:ep|rsos::9ParaserJulg"
:::guqauned::

É c\àQ equena pesquisa não é nada científica, mas acredito que essas
poucas respos obtive apontam para um problema: os adventistas do sétimo
dia, em sua maio7;parte, estão cientes sobre nossos ensinamentos a respeito do juízo
investigativo, rr}aé essa crença não tem muito significado espiritual para eles. Antes
que fiquemos \'muito alarmados, vamos colocar tudo isso em perspectiva com outro
ensinamento q-ue é amplamente aceito como parte do cristianismo ortodoxo. Que
tipos de respostas obteríamos se fizéssemos uma pesquisa perguntando para as pes-
soas sobre o beneficio espiritual que elas recebem da doutrina da trindade? Essa dou-
trina tem profundas implicações espirituais; mas, para a maioria das pessoas, ela é, para
colocar nas palavras de um de meus entrevistados, como o ar: a trindade é impor-
tante como doutrina, mas e daí? Na verdade, nem mesmo pensamos muito sobre isso.
Devo me apressar para observar que, obviamente, não saímos por aí, dia após dia,
pensando sobre a trindade, o juízo investigativo e as outras 26 crenças fundamen-
tais. Na maioria da,s vezes, esses ensinamcmtos ficam no fundo de nossa mente, fora
do conhecimento consciente. Apesar disso, eles influenciam nossas atitudes a respeito
de nós mesmos e de Deus ao vivermos cada hora dos nossos dias. Por exemplo, como
você se sente quando faz algo errado?Você se sente culpado, é claro! E você tem esse
sentimento porque sabe que Deus o está julgando por aquilo que você fez. Nesse
momento, o ponto não é qw4#cJo ocorrerá o juízo. 0 ponto é simplesmente que você
sc sc#fcjulgado.Afinal, foi o próprio Jesus quem disse que uma das funções do Espírito
Santo em nossa vida é nos corivencer "do pecado, da justiça e do juízo" Uo 16:8).
Saber sobre o juízo de Deus contra o pecado nos ajuda a não ceder à tentação. E esses
CÔRTE €ELESTIÁL

sentimentos sobre o juízo são totàlmente apropriados, ca,so os mantenhamos dentro


do contexto do evangelho. Eles são uma das maneiras de Deus nos guiar para uma
vida melhor.
Meu ponto é que a doutrina do juízo realmente afeta nossas atitudes espirituais no
dia a dia.Assim, não podemos dizer que a doutrina bíblica do juízo não tem implica-
ções espirituais para nossa vida. Ela tem profiindas implicações espirituais!
]á indiquei neste livro algumas das ideias nocivas que algumas pessoas já tive-
ram sobre o juízo, como a do medo de nunca serem suficientemente boas; também
apontei a noção totalmente fdsa de que as pessoas nunca podem ter a certeza de
que são aceitas por Deus. Mas meu propósito neste livro não tem sido simplesmente
corrigir ideias fàlsas e espiritualmente destrutivas sobre o juízo investigativo. Meu
propósito é foÀqecer os fundamentos dos quais você precisa para entender os aspec-

;ooss'pa:àlálav:Su::e[tí:0|-dgm:rnot:.ósltodesteCapítuloéexamlnaressesaspectosposltl-

um:euu::r:àsapa#aGenera]Motors,aFordeachrys]erdec[dssemabr]rtodososseus

registros finan eiros, de mcmÁ3cf£.#g e de recursos humanos e convidassem todos para


uponha que eles dissessem que não haveria limite de tempo para que
as pessoas m nos escritórios dessas companhias e que nenhum registro seria
retido: é ento e um dos amistosos funcionários sai correndo para
buscá-1o.As empresas até providenciariam um recinto confortável e privado para que
você fizesse sua inspeção.
É claro que isso nunca acontecerá. Mas é exatamente isso que ocorre no juízo
investigativo! Deus está abrindo os reristros mais secretos do Céu, pemitindo que
os anjos os inspecionem. Nada será retido. Por quê? Porque Deus tem a certeza de
que Suas decisões são corretas e não teme deixar que os anjos tenham pleno acesso
às informações sobre elas.
A doutrina do juízo investigativo nos diz que servimos a um Deus muito
transparente.

Um Deus razoável
Relacionada de perto com essa ideia está a percepção de que servimos a um
Deus muito razoável. Falando por intermédio de lsaías, Deus disse: "Vinde, pois, e
arrazoemos" (Is 1:18). Deus criou os seres humanos com inteligência e respeita essa
inteligência. Ele espera que queiramos entender Seus atos e, então, põe-se a explicá-
los para nós. Convenhamos, devemos ter fé em Deus, e por uma boa razão: Ele
pode ver muito além da nossa limitada perspectiva. Ele entende coisas que, para nós,
seriam impossíveis de entender. Dentro do que podemos entender, Ele nos convida:
" b7i.Í£dc, pois, e arrazoemos".

Um Deus razoável é, para mim, uma das grandes lições espirituais do juízo inves-
tigativo. Essa doutrina me diz que meu Deus não é arbitrário. Ele não é um dita-
dor divino. De fato, parte da razão pela qual eu posso confiar Nele é saber de Sua
üÜE 0lFEREN

razoabilidade. Se tenho perguntas, Ele fará o melhor para respondê~las dentro de


minha liriiitada capacidade de compreensão.
Como é que o juízo investigativo me diz isso? Daniel 7:9 e 10 revela que Deus
está abrindo Seus livros de registro para a inspeção de todas as criaturas inteligentes
do Céu. Se Deus está disposto a abrir os livros de registro de modo que os milhões
de ã'njos ao redor de Seu trono possam inspecioná-los, então certamente Ele também
está disposto a explicar Seus caminhos para mim. No presente, minha capacidade de
compreensão está limitada por circunstâncias terrenais. Mas eu sei que, um dia, muito
em breve, eu também poderei examinar os registros do Céu, e, se esse exame suscitar
mais, perguntas em minha mente, Deus tomará providências para que eu obtenha as
respç>stas adequadas. Posso não saber como todas as peças da minha vida se encaixam

:e:sJ:el:#aio¥e::¥O::ionetfs?:É;sÉ:eorqe::oAnã:e;:;ÊÉu,s:;õfi:;ods:d;ffiàql;eee::a:z;:qv:::tio;:
semEPÍ:oud::eá:so:rdaên_íaessçíeçõme:nqe:reaappL:ennad:gcoor:adoutrLnado„íZoLnvestLgat]Vo

eu não fique pensando sobre isso todo dia, o dia todo, a compreensã.o de que
íus é razoável e que respeita meus questiommentos traz paz para minha mente ao
igo do dia, mesmo quando não estou pensando sobre esse assunto.

£o\#ruat:ío%edt:.JUíZ°tnuesttgatwonosdtzquetemosumDeusrazoáuelquenostratacomo

0 juízo investigativo me diz que Deus éjusto.A recompensa eterna que cada pes-
soa recebe estará em harmonia com o tipo de vida que ele ou ela tem vivido.A ques-
tão principal é se temos confiado emJesus. Os que confiam Nele experimentam uma
mudança espiritual de mente e coração chamada de ``conversão", a qual permite que
eles observem as leis de Deus como resultado de um genuíno desejo de Lhe obede-
cer. Cada vez mais, a vida dessas pessoas refletirá a obediência às leis de Deus e a Seus
princípios morais. Essa obediência demonstrará que sua fé é genuína (verTg 2: 14-17)
e que estão qualificados para morar no reino eterno de Deus.
Por outro lado, os que se recusarem a viver em harmonia com as leis de Deus serão
responsáveis por perpetuar os problemas que o mal causa a nosso mundo. A esses não
será permitido um lugar no reino eterno de Deus, pois eles simplesmente continuariam
com as mesmas atitudes e práticas que têm causado tanto sofi.imento naTerra.
Deus é sumamente justo em Suas decisões sobre quem incluir ou excluir. Para
dissipar qualquer possível dúvida sobre a justiça de Suas decisões, Ele convocou um
enorme comitê composto de criaturas como nós mesmos para verificar a exatidão de
Suas decisões.Assim, embora você e eu possamos até ficar surpresos ao vermos algu-
mas pessoas no reino de Deus - e não vermos outras -poderemos estar certos de que
ali estarão todos os que mereceram estar e que os que ali não estiverem não estarão
porque não mereceram estar.
A doutrina do juízo inuestigativo nos ensina que podemos confiar na justiça de Deus.
Assegurando nossa experiência espiritual
Em seu livro 0 Grc{#cÍc Co#L#!'fo, E11enwhite fez uma declaração que algumas pes-
soas acham bastante assustadora.

Todos quantos desejem seja seu nome conservado no livro da vida, devem,
agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus,
em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um
exame de coração, profundo e fiel. 0 espírito levia,no e frívolo, alimentado
por tantos cristãos professos, deve ser deixado. Há uma luta intensa diante de
todos os que desejam subjugar as más tendências que insistem no predomí-
rio. A obra de preparação é uma obra individual. Não somos salvos em gru-
pos.A pureza e devoção de um, não suprirá a fflta dessas qualidades em outro.
Embora todas as nações devam passar emjuízo perante Deus, examinará Ele
o caso de cada indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante como se
não houvesse outro ser na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem
mancha ou ruga, ou coisa semelhante.í

' Essas palavras soam como se tivéssemos que ser absolutamente perfeitos para

podermos passar pelo escrutínio de Deus no juízo. Por causa de declarações como
€ssas, algumas pessoas acusam E11en White de ser legalista e de causar um medo inde-
/\\g)7éras
vido doadvertências
juízo. Contudo,
sobretemos que manterdos
as consequências emnossos
menteatos
quequando
a Bíblia também
estes nos dá
foremjulga-

dos.Algumas das palavras mais severas são ditas pelo próprio jesus. Ele declara: "toda
palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do juízo" (Mt
12:36). Paulo advertiu que "importa que todos nós compareçamos perante o tribu-
nal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por
meio do corpo" (2Co 5:10). E o autor de Hebreus disse: "Porque, se vivermos deli-
beradamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da ver-
dade, já não resta sacrificio pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível
de juízo e fogo vinga,dor prestes a consumir os adversários" (10:26, 27) E acrescenta:
"Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo" (v. 31).

0 ponto, apresentado tanto por Ellen White quanto pela Bíblia, é que devemos
estar atentos às instruções morais da Palavra de Deus e, com a ajuda divina, fazer o
melhor para v.encer os pecados que existem em nossa vida. Não podemos ser cris-
tãos descuidados.
A doutrina do juízo irwestigatiuo nos diz que nossa iJida será waliada; por isso, deuemos
estar atentos àquíío que fizemos.

Deus está do nosso Lado


Entretanto, devemos manter todo esse conceito equilibrado com o evangelho. Os
que atingem os padrões exigidos pelo juízo só o farão porque a justiça de Cristo os
cobre, e nunca por suas realizações. Assim, quando descobrimos um pecado ou um
defeito de caráter, não precisamos temer que isso nos faça inaceitáveis diante de Deus.
Ninguém é perfeito. Nenhum de nós jamais poderá se declarar sem pecado antes que
Cristo venha pela segunda vez. 0 apóstolo João disse: "Se dissermos que não temos
pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1]o 1 :8).
Nossa perfeição sempre estará baseada na justiça de Cristo a nos cobrir. Em seu livro
C4mí.#Ão ¢ Cri.sfo, Ellen White disse: "0 caráter de Cristo substituirá o seu caráter, e
você será aceito diante de Deus como se não tivesse pecado.''2 Uma das maiores lições
que os cristãos podem aprender é que podemos sempre descansar najustiça de Cristo.
É por isso que Paulo disse: "]ustificados, pois, mediante a fê, temos paz com Deus por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1).Verdadeiramente, existe paz em saber
que Deus nos aceita como somos.
A pergunta-chave nojuízo, então, é se aceitamos ajustiça de Cristo para que ela cubra
nossa pecaminosidade.Todos os que são leris às leis de Deus -que querem Lhe obede-
cer e estão fazendo o melhor para isso -são cobertos com ajustiça de Cristo e passarão
pelo escrutírio do juízo. É nesse contexto que precisamos entender o juízo investigativo.
No juízo, é Satanás quem nos acusa de sermos indignos do fàvor de Deus. Ele
é o "acusador dos irmãos" (Ap 12:10). É ele quem está perante Deus no juízo
investigativo ``aponta[ndo] para o relatório de [nossa] vida, para os defeitos de caráter
e dessemelhança com Cristo, que desonraram a [nosso] redentor".3 Satanás é o per-
feccionista supremo, insistindo que, a menos que tenhamos um registro sem nenhuma
falha, não somos merecedores do favor de Deus. ]esus, por outro lado, "apresenta o
[nç)sso] arrependimento e fê, e, reclamando o perdão para [nós], ergue as mãos feridas

#r#Lt:h°aspi]ã:s?,:,:a#to°s:aa:Ü=:'ad::;:rda::;ac:onjhueíçz:-:Sa::::Lçna°d:ec::ta:,ei-u°nsc:aapn::aa.
A boa notícia sobre o juízo é que ele está ligado às boas-novas de salvação.
Apocalipse 14:6 e 7 une o evangelho e ojuízo em uma única proclamação do tempo
do fim para o povo de Deus. 0 anjo que proclama que "é chegada a hora do seu
juízo" é o mesmo que tem ``um evangelho eterno para pregar aos que se assentam
sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo".
A doutrina do juízo iniJestigatiiJo nos diz que Deus está do nosso lado no juízo. Ele proi)eu
a justiça de Cristo para cobrir nossa pecaminosidade e, portanto, não precisamos temer o juízo.

0 pecado e o sofrimento acabarão


0 povo de Deus vive em um mundo hostil.Aquele que fomentou a rebelião ori-
ginal no Céu está com raiva por não poder submeter à sua vontade o pequeno grupo
de pessoas na Terra que são leais a Deus. Em linguagem simbólica, Daniel 7:25 des-
creve a extensão da rebelião de Satanás para aTerra com a imagem do chifi-e pequeno
que ataca os santos. Apocalipse 12:17 nos diz que o dragão está fiirioso com o povo
de Deus e está a ponto de fàzer guerra contra eles.Apocalipse 13:7 representa o chi-
fre pequeno do livro de Daniel como um animal a quem foi dado poder para que
"pelejasse contra os santos e os vencesse". Esse é o tema do grande conflito -o con-
flito entre o bem e o mal - que discutimos em capítulos anteriores deste livro. Mas
Daniel nos assegura que o juízo investigativo emitirá uma. sentença contra o chifre
pequeno, fazendo ``justiça aos santos do Altíssimo" (Dn 7:22). Apocalipse ecoa esse
€ELESTIAL

juízo favorável: "Tu és justo,Tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas;
porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado
a beber; são dignos disso" (Ap 16:5, 6).
Daniel diz que, um dia, o controle que as forças do mal têm exercido sobre o
mundo será destruído (ver Dn 7:11, 26). Apocalipse 20 descreve um lago de fogo
que destruirá pecado e pecadores. Por outro lado, Daniel nos assegura que "a majes-
tade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo"
(Dn 7:27). E os capítulos 21 e 22 de Apocalipse descrevem em detalhes um reino no
qual Deus "enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá,já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Ap 21 :4).
Em Daniel e Apocalipse aprendemos que o co#J!i.fo cÍ4frc o bcm c o m4J wm dí.a 4c4-
b4Íó. E o juízo investigativo, que está acontecendo no Céu agora mesmo, ao você ler
essas palavras, desempenhará um papel crucial na resolução desse conflito. A dor e o
sofrimento pelos quais passamos neste mundo como resultado do pecado não con-
tinuarão para sempre. Assim, na próxima vez em que você se perguntar por que
Deus está permitindo que você ou alguém próximo sofra, deixe que o pensamento
sobre o juízo investigativo traga paz a sua mente.
A doutrina do juízo iwestigativo nos diz que estamos chegando perto do fim do mal.

A história do Adventismo
Em vários dos capítulos anteriores deste livro, expliquei a origem da doutrim
do juízo investigativo na história da lgreja Adventista do Sétimo Dia. 0 movimento
milerita e sua dissolução no Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844 são
uma parte crucial de nossa história. 0 mundo, inclusive a maior parte do mundo pro-
testante, zomba e nos diz que o juízo investigativo é pouco mais do que um astuto
instrumento para explicar nosso embaraço diante do Grande Desapontamento. Mas
um exame cuidadoso dos fatos ligados ao movimento de Guilherme Miller me con-
vence de que Deus o guiou para pregar daquela maneira, e Deus permitiu o Gra,nde
Desapontamento porque sabia que era isso que daria início a nosso movimento. Ao
longo da história do mundo, as crises têm sido grandes motivadores para o povo de
Deus - a cruz sendo o exemplo por excelência, e o Grande Desapontamento foi uma
crise de grande peso, para dizer o niínimo.
Assim, é imperativo que nunca esqueçamos nossa história. Uma das tragédias do
adventismo de hoje é que muitos de nossos membros - talvez a maioria - estejam
apenas vagamente cientes dessa história, e muitos não sabem absolutamente nada
sobre ela. Infelizmente, alguns dos que sabem alguma coisa acham que ela é embara-
çosa. Proponho que, sem essa história, seríamos meramente mais uma denominação
cristã no cenário religioso mundial.
A doutrina do juí2o inuestigatíuo nos diz quem somos e por que estamos aqui. j,
t

Nossa missão !

Da:|: :3| f,eqou:::rr.oa g;ulr:fiíc4:d:,1,r,a`=|:dd|Scoaà.t:?ees;á ,:Ság"áé:e 3use a:vsâ:,t|:,áarslo,êdme


A ISSO FAZ?

sustentado esse ponto de vista desde então. Esse e outros aspectos de nosso ensina-
mento sobre o juízo investigativo têm sido severamente criticados ao longo dos anos,
fazendo com que muitos adventistas questionem sua validade. Alguns deixaram a
igreja, e muitos dos que ficaram têm questionamentos. Isso, invariavelmente, diminui
a eficácia de nosso testemunho, pois, para que proclamemos a mensagem com cora-
gem, temos que estar convencidos de que ela é verdadeira. E essa é uma das mais sig-
nificativas razões por que é importante entender que o juízo investigativo tem uma
sólida base bíblica.
A grande coinissão de Cristo nos chama para ``faze[r] discípulos de todas as nações"
(Mt 28: 19).Apocahpse 14:6 e 7, que descreve um anjo que desce do céu com o "evan-
gelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e
língua, e povo", dá a esse comissionamento um contexto do tempo do fim. A "pri-
meira mensagem angélica" é a grande comissão para nossos dias. Ela inclui três coisas:

• 0 evangelho
. 0 juízo
• 0 sábado5

\\ Note que o juízo é uma parte importante da mensagem do evangelho para nos-
jos dias. Isso significa que Deus 4w ¢% 4 procJ¢mcmo5. Isso não é uma tare£? fácil em
um mundo que ridiculariza ojuízo investigativo ou o condena. Mesmo assim, como
já vimos neste livro, esta é uma mensagem inteiramente bíblica; portanto, o fato de
o mundo não a aceitar é algo à parte. Ao longo da história, o povo de Deus tem
enfrentado o desprezo do mundo por sua mensagem bíblica, mas eles a proclamaram
mesmo assim. É o que nós também devemos fazer.
A doutrina do juízo inuestigatiuo é uma parte imi)ortante de nossa mensagem para o mundo.

0 fim está próximo


A crença bíblica sobre o juízo investigativo também nos assegura que vivemos
no tempo do fim. Isso é diferente do fim do tempo, que é quando jesus realmente
voltará à Terra. 0 tempo do fim é o período que leva, a Sua segunda vinda. Nossos
pioneiros acreditavam que Jesus viria em seus dias, e cada geração, desde então, tem
acreditado m mesma coisa. Eu ainda quero crer que Ele virá em meus dias, mas não
sei se assim será. .0 que sei é que, desde 1844, estamos vivendo no tempo do fim.
Por que digo isso? Porque o anjo Gabriel disse a Daniel que a visão do capítulo 8
-que inclui os 2.300 dias/anos -"se refere ao tempo do fim" (Dn 8:17). Os 2.300
dias/anos terminaram em 1844 e, desde então, o mundo tem vivido em tempo
emprestado. 0 ano de 1844 marca o tempo em que o juízo investigativo começou
no Céu e m Terra, é o tempo em que a contagem regressiva para a segunda vinda
de Cristo começou.
A doutrina do juízo inuestigatiuo nos di2 que estamos uiuendo no tempo do fim.
Se o juízo investigativo for simplesmente mais uma doutrim vazia, então pode-
remos muito bem jogá-1a na lata de lixo da história. Mas o significado do juízo
investigativo - aquilo que compartilhamos com você nas páginas deste livro - faz
dele boas e poderosas notícias para o povo de Deus!
E ele é bíblico!

[ E11en G.White, 0 Grü#de Co#JZí.fo, p. 490.


2 Whíte, Caminho a Cristo, p. 62.
3White, 0 Grande Confiito, p. 484.
4 Ibid.
5 A ordem do anjo de adorar "Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (v. 7) é pratica-
mente uma citação direta de Êxodo 20:11, o verso que conclui o quarto mandamento.
Epílog®

Porpodem
que aslevar
pessoas acreditam
duas pessoas no que
a duas acreditam?
conclusões Por que asdiferentes?
completamente mesmas evidências
Esse fenômeno não ocorre apenas nos círculos teológicos. Ele ocorre na política.
Pouco depois de ser aclamado presidente dos Estados Unidos da América, Barack
Obama propôs uma profunda revisão no sistema nacional de saúde.Alguns membros
do congresso eram favoráveis à revisão; outros se opuseram. Todos estavam olhando
para as mesmas evidências básicas e chegaram a conclusões opostas.
Também ocorre na ciência. Alguns cientistas estão convencidos de que a maneira
como vivemos está levando o mundo para a mais terrível devastação ecológica.
Outros nos asseguram que a maneira como vivemos não tem nada que ver com isso,
pois tudo o que está acontecendo fàz parte dos altos e baixos normais da natureza.
Mas os dados examinados são os mesmos.
0 mesmo acontece em todas as áreas do conhecimento humano. Escolha seu
tema, estude-o por um tempo, e você encontrará pessoas que discordam quanto ao
significado das evidência,s. Por que isso? Por que as mesmas evidências podem ser
interpretadas de maneiras tão diferentes?
A razão para isso é que não existe objetividade total.Todos nós enxergamos as evi-
dências através de nossos respectivos vieses e de nossas ideias preconcebidas e, dessa
maneira, estamos prontos para provar que aquilo que pensamos está certo. E nor-
malmente podemos encontrar evidências para dar suporte a nossas pressuposições.
Devemos nos esforçar para ser o mais objetivo possível e, então, reconhecer que
somos humanos.
No primeiro capítulo deste livro, eu disse que, no começo do ano de 2007, eu
havia decidido que faria um estudo aprofundado de todos os aspectos dos ensina-
mentos adventistas sobre o juízo investigativo a fim de esclarecer definitivamente cer-
tas questões que tive por várias décadas. Devo admitir que eu estava predisposto a
chegar a uma conclusão positiva. Não 1amento por isso.Acho que, às vezes, mudamos
de ideia muito rapidamente. Seria fácil para mim olhar para os desafios dos críticos e
me unir a eles. Parte da razão pela qual não fiz isso é que eu acredito na missão his-
tórica da lgreja Adventista do Sétimo Dia. Essa foi uma parte importante de minha
predisposição para enxergar o juízo investigativo e os tópicos relacionados de maneira
positiva. Assim, eu decidi examinar os melhores e mais recentes pensamentos entre
os eruditos bíblicos da lgreja Adventista, refletir sobre o que aprendi e, então, tirar
minhas conclusões.
0 1ivro que você leu é o resultado disso. Estou certo de que não respondi a todas
as perguntas que podem ser feitas, mas acredito que abordei as principais. Fiz o
melhor que pude para considerar com seriedade as objeções dos críticos e examinar
as evidências bíblicas de ambos os lados. 0 resultado é a conclusão de que nosso ensi-
namento histórico sobre o juízo investigativo é verdadeiramente bíblico.
Bibliografia §elecionada

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