Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EspírítO de
Profecia
Orientações para a Igreja Remanescente
í
UI\I;SP
Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado ern 1915 — www.unasp.edu.br
Missão: Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a excelência no servírço a Deus
e à humanidade.
Visão: Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços prestados, pelos seus elevados
padrões éticos e pela qualidade pessoal e profissional de seus egressos.
TJNASPBESS
Imprensa Universitária Adventista
Editor: Renato Groger
Editor Associado1 Rodrigo Follis
Conselho Editorial: José Paulo Martini, Afonso Cardoso, Elizeu de Sousa, Francisca Costa, Adolfo Suarez,
Emilson dos Rets, Renato Groger, Ozéas C. Moura, Betania Lopes, Martin Kuhn
Espírito de
Profecia
Orientações para a Igreja Remanescente
Espírito de profecia: orientações para a igreja
tnSTASPRESS remanescente
Imprensa Universitária Adventista
1a edição-2012
Caixa Postal 11 - Unasp 5.000 exemplares
Engenheiro Coelho-SP 13.165-000
(19) 3858-9055
Todos os direitos em língua portuguesa
http://unaspress.unasp.edu.br reservados para a Unaspress. Proibida a
reprodução por quaisquer meios, salvo em
Editoração; Renato Groger, Rodrigo Follis breves citações, com indicação da fonte.
Normatização: Giulia Pradela, Felipe Carmo
Diagramação: Bárbara Reis, Pedro Valença Todo o texto, incluindo as citações, foi
Programação Visual: Mareio Trindade adaptado segundo o Acordo Ortográfico
Revisão: Juliana Castro, Ingrid Lacerda da Língua Portuguesa, assinado em 1990,
Capa: Flávio Luís, Mareio Trindade em vigor desde janeiro de 2009,
ISBN:978-85-895OMO-9
Vários autores.
Bibliografia.
12-03350 CDD-236.9
Editora associada:
Associação Brasileira
U das Editoras Universitárias
Sumário
Agradecimentos 7
Apresentação 9
Renato Stencel
Sobre os autores 11
Os profetas e a infalibilidade 47
Roger W. Coon
Epílogo 187
Valdecir Simões Lima
Agradecimentos
Renato Stencel
"Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que
fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" {Ap 14:7). Esse texto desafia a igreja de Deus
a convidar os habitantes do mundo para o iminente juízo que está por vir, ou seja, o dia glo-
rioso da volta de nosso senhor Jesus Cristo. De fato, quando a Igreja Adventista do Sétimo Dia
(IASD) foi fundada, os pioneiros tinham a clara certeza de que estavam vivendo em tempos
"emprestados" O juízo de Deus já era um fato vivido na experiência de cada um deles.
Dentro desse prisma, Deus nos confia uma dupla tarefa: restaurar as mensagens
que haviam sido perdidas, esquecidas e lançadas por terra ao longo dos séculos; e tam-
bém levar ao mundo o último convite de salvação. Nesse contexto, nos deparamos com
o poderoso conteúdo da tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14:6-12, a qual con-
clama toda criatura ao arrependimento e à vida eterna. Ao escrever sobre a importância
dos adventistas na proclamação da última mensagem, Ellen G. White afirmou que em
sentido especial, os adventistas do sétimo dia foram colocados no mundo como vigias e porta-
dores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de misericórdia a um mundo que perece.
Sobre eles brilha maravilhosa luz da Palavra de Deus (WHITE, 1985, p. 140).
Através das considerações de Ellen G. White, não restam dúvidas de que foi confiada
aos membros da IASD uma tarefa muito grandiosa. Porém, ao refletirmos sobre os desafios
que estão à nossa frente, sentimo-nos humanamente incapacitados perante a grandeza da
missão. No entanto, Jesus prometeu que estaria conosco "todos os dias até a consumação dos
séculos" (Mt 28:20} e para essa tarefa Ele contaria com um povo especial.
Os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como um povo peculiar, sepa-
rado do mundo. Com a grande talhadeira da verdade Ele os cortou da pedreira do mun-
do e os ligou a si. Tornou-os representantes seus e os chamou para serem embaixadores
seus na derradeira obra de salvação. O maior tesouro da verdade já confiado a mortais,
as mais solenes e terriveis advertências que Deus já enviou aos homens, foram confiadas
a este povo, a fim de serem transmitidas ao mundo (WHITE, 2005, p. 45).
A presente obra tem como objetivo principal despertar a consciência sobre os im-
portantes temas acerca do Espírito de Profecia, com a finalidade de auxiliar os membros
da igreja em seu preparo para o retorno de Jesus. Os assuntos escolhidos para compor
Espírito de Profecia
este material foram selecionados para trazer subsídios que possam promover o desejo
em cada leitor de se aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus e nos escritos
do Espírito de Profecia. Além disso, este livro é uma ferramenta poderosa nas mãos de
pastores, anciãos e líderes de publicações a fim de difundirem a revelação profética e,
assim, estarmos preparados para os últimos dias da história do mundo.
Referências
WHITE, E. G. Testemunhos seletos. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1985.
10
Sobre os autores
Alberto R. Timm
Diretor associado do Ellen G. White Estate, EUA.
Denis Fortin
Professor do Seminário de Teologia da Andrews University, EUA.
Jerry Moon
Professor do Seminário de Teologia da Andrews University, EUA.
Renato Stencel
Diretor do Centro de Pesquisa Ellen G. White do Unasp, Brasil.
Robert W. Olson
Diretor do Ellen G. White Estate, EUA de 1978 a 1990.
Roger W. Coon
Diretor associado do Ellen G. White Estate, EUA de 1991 a 1993.
i
Para urna compreensão
adventista de inspiração
Alberto R. Timm
1
O conteúdo deste artigo foi apresentado, na forma de palestra, em uma sessão plenária, na
Primeira Conferência Bíblica Internacional de Jerusalém, Israel, no dia 10 de junho de 1998.
Espírito de Profecia
Uma compreensão bem mais heterodoxa de inspiração foi proposta em 1991 por Al-
den Thompson, professor de Teologia Bíblica no Walla Walla College, em seu livro intitulado
Inspiration: hard questions, honest answers. Abandonando as tradicionais teorias adventistas de
inspiração verbal e de pensamento, Thompson propôs um "modelo encarnacional" que pu-
desse reconciliar um espectro mais amplo de dificuldades humanas e de acomodações cultu-
rais (THOMPSON, 1991).4 Frank Holbrook e Leo Van Dolson viram no estudo de Thompson
"os frutos do método histórico-crítico", considerado pelo Concílio Anual da Associação Geral,
de 1986, como "inaceitável" aos adventistas (HOLBROOK; DOLSON, 1992, p. 7}.s
O conceito de "modelos" de inspiração foi desenvolvido por Juan Carlos Viera
em 1996, diretor do Ellen G. White Estale, em seu artigo na Adventist Review, reprodu-
zido neste livro. Enquanto Rice havia falado apenas de dois modelos, Viera sugeriu os
seis seguintes: 1) o modelo visionário, no qual Deus fala "por meio de visões e sonhos
proféticos"; 2) o modelo testemunhal, no qual Deus inspira "o profeta a dar seu próprio
relato das coisas vistas e ouvidas"; 3) o modelo historiográfico, no qual a mensagem "não
vem por meio de sonhos e visões, mas através da pesquisa"; 4) o modelo de aconselha-
mento, no qual "o profeta atua como um conselheiro para o povo de Deus"; 5} o modelo
epistolar, no qual "o profeta escreve saudações, nomes, circunstâncias ou mesmo coisas
comuns que não requerem uma revelação especial; e 6) o modelo literário, no qual "o
Espírito Santo inspira o profeta a expressar seus sentimentos e emoções íntimos por
meio de poesia e prosa, como nos salmos".
Esses "modelos" de inspiração refletem a crescente tendência adventista de definir
inspiração como um processo multiforme, envolvendo a assistência divina não apenas na
transmissão das verdades proféticas, mas também na obtenção das informações. Da pers-
pectiva da obtenção de informações acuradas, pode-se falar genuinamente da existência de
"modelos" de revelação-inspiração. Mas no âmbito da transmissão fidedigna de informa-
ções, a discussão se restringe à interação divino-humana na própria redação das Escrituras.
Essa interação é explicada na seguinte declaração de Ellen G. White (1867, p. 260; ver 1985,
v. l, p. 37): "Se bem que eu dependa tanto do Espírito Santo para escrever minhas visões
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas, a
menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas."
Disso podemos inferir que, embora Deus tenha falado através dos profetas
"muitas vezes e de muitas maneiras" (Hb 1:1), todo o processo de obtenção de in-
formações e de sua transmissão ao povo foi controlado pelo Espírito Santo. Além
disso, enquanto a redação de algumas partes dos escritos inspirados foi divinamen-
te provida, as palavras de outras partes foram escolhidas pelo próprio profeta sob a
orientação do Espírito Santo. Mas isso jamais deveria ser usado como um endosso à
teoria dos "graus" de inspiração, ou como um pretexto para desprezar certas partes
4
Ver resenhas crítica de Canale (1991, p. 278-279); de Bemmelen (1991, p. 27-28); de Yorke
(1991,
'9 i j p.
p- 28);
í-fil, Holbrook;
i i i iii mm, Dolson
Lxuiaiiii (1992);
\ i y ?í.), Pinnock
ri num (1994,
v * rr*t p.
[>• 51-52);
Ji-J*-), Bradford
oídumi u (1994,
l, p. 53-54).
5
Ver Methods (1987, p. 18-20); - Methods of (1987, p. 22-24); - Hasel (1985).
Espirito de Profecia
das Escrituras como menos importantes do que outras (ver Mt 4:4; 2Tm 3:16, 17). De
acordo com Carlyle B. Haynes (1935, p. 138, grifo do autor), as Escrituras são muito
"mais do um relato não inspirado de ideias inspiradas".
Algumas noções do "princípio cristológico" de Lutero podem ser encontradas em: Althaus
(1966, p. 72-102); Ramm (1970, p. 56).
Espírito de Profecia
10
Tentativas adventistas significativas de solucionar alguns dos pretensos erros factuais das Kscrituras po-
dem ser encontradas em: Davidson (1992, p. 105-135); Koranteng-Pipim (1996, p. 225-253,279-304).
Para uma compreensão adventista de inspiração
outro meio de resolver algumas dificuldades do que admitir que elas são realmente equí-
vocos. Por exemplo, Arthur L. White (l973, p. 47-48, grifo do autor), secretário do White
Estale, declarou em uma palestra, em 1966, que "a mensagem inspirada do profeta podia
incorporar uma imprecisão em um pequeno detalhe não consequente ao conceito básico,
ou em um pequeno ponto no campo do conhecimento comum, 'precisão ou imprecisão
do qual a investigação humana é suficiente para informar aos homens'"
Em 1981-1982, Roger W. Coon, secretário associado do White Estate, propôs
uma teoria de "intervenção", que provia espaço para "erros inconsequentes de pequenos
detalhes insignificantes" nos escritos inspirados. Ele explicou que
se, como ser humano, o profeta de Deus erra, e a natureza desse erro é suficientemente
séria para afetar consideravelmente a) a direção da igreja de Deus, b) o destino eterno de
uma pessoa, ou c) a pureza de uma doutrina, então {e somente então) o Espírito Santo
leva imediatamente o proteta a corrigir o erro, de modo a que não ocorra nenhum dano
permanente (COON, 1981-1982, p. 18-19, grifo do autor).
inspirados, como sugerido por alguns teólogos modernos, por que, então, nem Cristo,
nem Paulo ou João, ou mesmo Ellen G. White nos ajudam nessa tarefa? Se os próprios
profetas não se preocupavam com isso, por que deveríamos nós?
Mas esse exemplo profético de respeitabilidade para com a totalidade dos escritos
proféticos nunca deveria ser usado para defender qualquer teoria de inerrância calvinis-
ta (KARANJA, 1990). Nem deveríamos jamais tornar nossa própria fé e a fé de outros
dependente de tais questões insignificantes. Sem fechar nossos olhos para as dificulda-
des reais encontradas nos escritos proféticos, deveríamos desenvolver uma abordagem
mais respeitosa para com esses escritos, que nos permita enfatizar 1) mais o conteúdo
das mensagens divinas do que seus continentes humanos, e 2) mais o âmago dessas
mensagens do que suas questões periféricas (TIMM, 1996, p. 168-179), de tal maneira
que "os elementos fundamentais permaneçam como fundamentais, e que os periféricos
permaneçam como periféricos" (TIMM, 1998, p. 38).
Resumo e conclusão
Nossas considerações anteriores salientaram a importância de se levar em con-
sideração 1) a natureza sinfónica da inspiração, 2) o escopo todo-abrangente da ins-
piração e 3) uma abordagem respeitosa para com os escritos inspirados. Em vez de
confinar todos os escritos inspirados dentro de uma teoria específica "monofônica"
de inspiração, deveríamos desenvolver uma compreensão mais "sinfónica" e mul-
tiforme (Hb 1:1). Tal compreensão deveria prover espaço suficiente para os vários
"modelos" pelos quais as informações foram obtidas pelos profetas, bem como para
a interação divino-humana na transmissão dessas informações através da própria
linguagem dos escritos inspirados.
Rejeitando toda teoria dicotômica dos níveis temáticos de inspiração, deve-
ríamos enfatizar a natureza integral e todo-abarcante das Escrituras, sem perder
de vista a multiforme e indivisível unidade temática do seu conteúdo (Mt 4:4; Ap
22:18, 19) e a natureza soteriológica do seu propósito último (Jo 20:31; iCo 10:11).
Evitando tanto o conceito calvinista de inerrância bíblica, como a teoria liberal da
não intervenção corretiva do Espírito Santo, deveríamos seguir mais de perto o
exemplo profético de respeitabilidade para com a totalidade dos escritos proféticos.
Nossa fé jamais deveria depender das dificuldades factuais encontradas nas Escri-
turas ou nos escritos de Ellen G. White.
Teorias humanas, mesmo de inspiração, podem florescer por um pouco de tempo, e
então murchar como uma flor em uma terra que se tornou árida pelo vento. Portanto, nossa
compreensão de inspiração jamais deveria estar subordinadamente exposta aos ventos ári-
dos das doutrinas humanas (Ef 4:14), mas deve estar fundamentada na inamovível Palavra
de Deus, sendo por ela protegida. De acordo com o profeta Isaias, "seca-se a erva, e cai a sua
flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente" (Is 40:8).
Para uma compreensão adventista de inspiração
Referências
ALTHAUS, P. The theology of Martin Luther. Philadelphia: Fortress Press, 1966.
BEMMELEN, P. Resenha. Diálogo Universitário, v. 3, n. 3, p. 27-28,1991.
BOMAN, T. Hebrew thought compared with Greek. New York: W. W. Norton, 1970.
BRADFORD, C. Bradford on Thompsons Inspiration. Spectrum, v. 23, jan. p. 53-54, 1994.
BUTLER, G. Inspiration. Advent Review, and Sabbath Herald, jan. v. 61, n. 2, p. 24-15, 1884.
. Inspiration. Advent Review, and Sabbath Herald, v. 61, n. 22, p. 344, 1884.
CANALE, F. Book reviews. Andrews University Seminary Studies, v. 29, n. 3, p. 278-279, 1991.
COON, R. W. Inspiration/Revelation: what it is and how it works--Part II. Journal of Adventist
Education. v. 44,1981-1982.
DA1LEY, S. et aí, Responding to Pipim and Scriven, Spectrum, v. 26 , jan. 1998.
DANIELLS, A. G. The use of the Spirit of Prophecy in our teachíng of Bible and history.
Spectrum, v. 10, mai. 1979.
DAVIDSON, R. M. Revelation/inspiration in the Old Testament: a critique of Alden Thompsons
'incarnational' model. In: HOLBROOK, F.; DOLSON, L. V, (Eds.). Issues in Revelation and
Inspiration. Berrien Springs: Adventist Theological Society Publications, 1992. (Adventist
Theological Society Occasional Papers, v. l J.
GENERAL Conference Proceedings. Advent Review, and Sabbath Herald, 27 nov. 1883.
HASEL, G. F. Biblical interpretation today: an analysis of modern methods of biblical
interpretation and proposals for the interpretation of the bible as the Word of God. Washington:
Biblical Research Institute, 1985.
HAYNES, C. B. God's Book. Nashville: Southern Publishing Association, 1935.
HOLBROOK, E; DOLSON, L. (Eds.) Issues in Revelation and Inspiration. Berrien Springs: Adventist
Theological Society Publications, 1992. (Adventist Theological Society Occasional Papers, l)
KARANJ A, J. Inerrancy and sovereignty: a case study on Cari F. H. Henry. Dissertação. (Mestrado
em Teologia), Andrews University, Berrien Springs, 1990.
KNIGHT, G. R. Reading Ellen G. White: how to understand and apply her writings. Hagerstown:
Review and Herald, 1997a.
. The case of the overlooked postscript: a footnote on inspiration. Muiistry, ago. 1997b.
KNIGHT, G. R.; REID, G. W. Resenha de Receiving the Word. Ministry, p. 30-31 1997.
KORANTENG-PIP1M, S. In the spirit of truth: key issues on biblical inspiration and
interpretation. Berrien Springs: Berean Books, 1997a.
Espírito de Profecia
.. In the spirit of truth: Pipim responds. Spectrum, v, 26, p. 38-44, set. 1997b.
. Receiving the word: how new approaches to the bible impact our biblical faith and
lifestyle. Berrien Springs: Berean Books, 1996.
.. Questions and Answers. Advent Review, and Sabbath Herald, v. 30, n. 17, 1867.
WHITE, W. C. Apêndice li. In: WHITE, E. G. Mensagens Escolhidas. Santo André: Casa
Publicadora Brasileira, 1985. v. 3.
Nas páginas sagradas da Bíblia descobrimos pelo menos seis modelos ou pa-
drões de inspiração. Esses modelos conferem luz aos processos misteriosos pelos
quais Deus se comunica com a humanidade, esclarecendo melhor as dinâmicas da
inspiração de Ellen G. White.
1
Para uma ilustração bíblica de força sobrenatural, ver (uízes 13-16. Para falta de força en-
quanto em visão, ver Daniel 10:7-11. Muitas testemunhas confiáveis afirmam que Ellen G. White
ficava sem respirar enquanto em visão.
Espírito de Profecia
Visto que muitos houve que empreenderam unia narração coordenada dos fatos
que entre nós se realizaram [...] a mim me pareceu bem, depois de acurada inves-
tigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem (Lc 1:1-3).
inspirados. Nem Moisés nem Lucas precisavam de uma revelação especial para registrar
a história do Êxodo ou da igreja apostólica. Entretanto, o Senhor sabia que aquelas nar-
rativas não somente levariam encorajamento a seu povo posteriormente, mas também
conselhos e avisos. Consequentemente, ele inspirou seus servos a registrarem aquelas
viagens e circunstâncias envolvendo o povo de Deus.
O modelo histórico de inspiração também nos permite entender melhor porque
Ellen G. White incluiu registros históricos (muitas vezes retirados de fontes seculares)
nos seus escritos inspirados. Uma citação secular se torna uma parte integral de um
escrito inspirado não por causa de uma falsa mudança na substância, mas por causa da
liberdade que Deus concede ao profeta de usar qualquer fonte que este considere neces-
sária para tornar o texto final da mensagem claro e completo.
O modelo histórico de inspiração nos ajuda a entender o uso de fontes religiosas
em vez de visões e sonhos proféticos. Assim como Lucas dirigiu-se a pessoas religiosas
em busca de informação sobre a história de Jesus, Ellen G. White foi a livros religiosos em
busca de expressões e figuras literárias que a permitiriam dar "uma apresentação enérgica
e boa do assunto" que ela tinha sido inspirada a apresentar (WHITE, 2008a, p. xii).
Ellen G. White sugere ambas as ideias: 1) que seu próprio julgamento estava "sob o treina-
mento de Deus" (WHITE, 2008b, p. 60); e 2) que sua mente e julgamento eram controlados pela
"mente e julgamento do grande EU SOU".
Espírito de Profecia
1) Como lidar com cartas pessoais tornadas públicas por sua inserção no cânon bíblico?
2) Como entender a inspiração quando o profeta escreve cumprimentos, nomes, circunstân-
cias ou até mesmo coisas comuns que não requerem revelação especial.
Certamente, Paulo nunca imaginou que suas cartas a Timóteo, Tito e Filemom se
tornariam de domínio público. Mas o Senhor planejou que aquelas cartas fizessem parte
do cânon para trazer inspiração, instrução e conforto para muitos ministros e crentes
jovens enfrentando circunstâncias parecidas.
Da mesma forma, Ellen G. White nunca imaginou que suas cartas pessoais, es-
pecialmente aquelas endereçadas ao seu marido e aos seus filhos, se tornariam de do-
mínio público. Ao decidir disponibilizá-las, o comité de depositários do Património
Literário Ellen G. White considerou dois princípios: 1) a própria profetisa afirmou
que aqueles testemunhos que haviam sido dirigidos a um único indivíduo para o ins-
truir, corrigir ou encorajar, em uma situação específica, seriam úteis também a outros
(WHITE, 2008d, v. 5, p. 660); e 2) se o Senhor permitiu que as cartas pessoais de Paulo
estivessem na Bíblia para servir a uma audiência maior, por que ele não poderia fazer
a mesma coisa com um profeta posterior?
As correspondências de Paulo aos Coríntios revelam suas emoções, sentimentos
de desânimo e até de repulsa pelos pesados pecados permitidos dentro da igreja. O Es-
pírito Santo não entrou em cena com uma revelação especial ou visão. Em vez disso, o
Espírito inspirou o servo do Senhor a se expressar com seus próprios sentimentos. Mas
se, por acaso, alguns crentes considerassem essa mensagem somente como uma carta de
um pastor preocupado, o apóstolo os lembra que tudo o que ele pregou e ensinou (ou
até mesmo escreveu) foi resultado dos ensinos do Espírito (ICo 2:1-13).
As cartas pessoais de Ellen G. White mostram o profeta se correspondendo
com sua audiência, expressando seus fardos e sentimentos. Muitas vezes há a ex-
pressão "eu vi" no início da carta. Mas isso não significa que ela está escrevendo
somente acerca de suas opiniões pessoais. Ela está muito ciente da fonte divina de
seus escritos (WHITE, 2008d, v. 5, p. 63, 64).
Linguagem imperfeita
Os adventistas do sétimo dia não crêem em inspiração verbal (a ideia de que Deus ditou
as palavras exalas aos profetas). Com exceção dos dez mandamentos, todos os escritos inspi-
rados são o resultado de esforços combinados: l) o Espírito Santo inspira o profeta com uma
visão, uma impressão, um conselho, ou um julgamento; 2) o profeta começa a procurar por
frases, figuras literárias e expressões para levar a mensagem de Deus com precisão.
Deus dá liberdade ao profeta para selecionar o tipo de linguagem que ele ou ela
quer usar. Isso explica os diferentes estilos dos escritores bíblicos e explica porque Ellen
G. White descreve a linguagem usada por escritores inspirados como "imperfeita" e
"humana". Porque "tudo que é humano é imperfeito" (WHITE, 20G8c, v. l, p. 20, 21).
Nós devemos aceitar a ideia de imperfeições e erros tanto na Bíblia como nos escritos
de Ellen G. White. Isso significa pelo menos duas coisas: 1) o profeta usa sua linguagem diá-
ria aprendida desde criança e aprimorada através de estudo, leitura e viagens, ou seja, não há
A dinâmica da inspiração
Referências
\ v m n . l- 1 , (i. o grande condiu» r.iiuí: Casa 1'uhlu .nlnr.i Brasileira, .'uusj
. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008b. v. 3.
. Mensagens escolhidas. Tatu t: ( I;IMI l ' i i l i l n . , u l u r , i l í i - . i x i k - u . u .'UUSi .v. l .
Roger W. Coon
e acreditava neles como tendo sido enviados por Deus, não os considerou proféticos.
Aliás, todos estes não se consideraram profetas. Dons naturais, mesmo quando recebi-
dos em um grau especial, não devem ser comparados ao dom profético. Veja o caso da
"Irma D" (WHITE, 2006, v. l, p. 708, 709 - 1868, no apêndice).
Durante a década final da vida de Ellen G. White, havia pessoas que imagina-
vam ter sido chamadas para o ofício profético. Algumas, inclusive, se apresentaram a
ela, acreditando que quando ela lhes visse a face, instantaneamente as reconheceria de
um sonho ou visão e validaria suas reivindicações (veja William White, "Confidence in
God", uma apresentação devocional na 38a Assembleia da Conferência Geral, realizada
em 30 de maio de 1913, às 8h30 [General Conference Bulletins, 16 mal 19Í3]).
Os mais altos líderes da igreja também estavam de acordo sobre a questão do
sucessor ao ofício profético. O vice-presidente da Associação Geral, M. N. Cam-
pbell, visitou Ellen G. White, em 1914, para perguntar se ela havia tido alguma
palavra do Senhor sobre esse assunto e se ela viveria ou não para ver Jesus voltar à
Terra. Ellen G. White frequentemente era questionada quanto a se haveria um su-
cessor. Sobre isso, ela sempre respondeu com uma declaração de duas partes: 1) Eu
não sei se haverá ou não outro profeta, porque o Senhor não me contou; e 2) Mas
Ele me contou que, se minha vida for poupada ou não, o que eu escrevi é suficiente
para conduzir a igreja até o fim dos tempos. Alguns incorretamente concluíram
que se a igreja não precisava de outro profeta antes do fim, certamente não haveria
outro. Mas a própria Ellen G. White disse que nós não necessitaríamos dela se es-
tudássemos a Bíblia como deveríamos:
36
Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão
bíblico e a perfeição cristã, não necessitariam dos testemunhos. É porque negligencia-
ram tomar conhecimento do livro inspirado de Deus que Ele procurou alcançar vocês
por meio de testemunhos simples e diretos, chamando a sua atenção para as palavras
da inspiração que negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para modelarem a
vida de acordo com os seus ensinamentos puros e elevados (WHITE, 2007, v. 5, p. 665).
E se Deus, em sua sabedoria, amor e graça nos concedeu o dom de Ellen G. White,
quando nós, tecnicamente, dela "não precisávamos", Ele pode muito bem fazer isso no-
vamente no futuro. Baseado em Joel 2:28-32, há um espaço para a possibilidade de haver
mais de um profeta na remanescente igreja de Deus no fim dos tempos. Além disso, há
algumas evidências que sugerem que, desde a morte de Ellen G. White, um autêntico e
genuíno dom tem sido manifestado por si mesmo na igreja. Alguns exemplos são nosso
trabalho na Etiópia, na virada do século, que iniciou com um sonho divino dado a Moslem
Alhaji e Sheik Zachariya; na América do Sul, onde houve evidentemente alguém com o
dom de profecia entre os "Davis Indians", e, mais recentemente, pode ter havido uma jovem
mulher em Bangladesh que recebeu o dom (essa informação ainda está sendo verificada).
Mas se Ellen G. White teve qualquer dúvida quanto a se haveria ou não um pro-
feta genuíno na igreja após o seu falecimento, ela não teve absolutamente nenhuma
Profetas modernos
dúvida a respeito da presença de falsos profetas na igreja nos fim dos tempos. Ela previu
que, ao nos aproximarmos do fim, um crescente número de falsos profetas surgiriam na
América e no exterior, alegando que Deus os havia enviado. Quanto a isso, é nos adver-
tido: não os aceitem, a menos que lhes dêem uma "evidência clara" da origem divina de
seu dom, pois muitos serão, no futuro, enganados.
Devemos considerar, então: Em que constitui essa "evidência clara" para que pos-
samos identificá-la e exigi-la dos "supostos" profetas?
A necessidade do teste
O conselho de Jesus
Em Mateus 7:15, no Sermão da Montanha, temos: "Guardai-vos dos falsos pro-
fetas." A implicação dessa afirmação é a de que se há falsos profetas, então deve haver
profetas verdadeiros. Outro texto que deve ser observado é Mateus 24:4, 5,11, 24, onde
são apresentados sinais da destruição de Jerusalém e do fim do mundo, bem como a
advertência sobre os perigos da decepção. Nesse contexto, encontramos duas categorias
(falsos Cristos e falsos profetas), seguidas do alerta de que eles ofereceriam evidências
subjetivas ("grandes sinais e prodígios"), ao invés da objetiva Palavra de Deus. "Muitos"
surgiriam e "muitos" seriam enganados por meio disso.
a não acreditar em todo "espírito" (porque há dois tipos no mundo), e ainda coloca como
obrigação testar os "espíritos" Nessa passagem, bem como na de Paulo citada anteriormente,
identificamos linguagem forense e a implicação da necessidade de adequar critérios durante o
processo. A razão para isso é que muitos dos "falsos" saíram para o mundo.
O conselho de Ellen
Ela tinha certeza de que eles surgiriam (WHITE, 2008, v. 2, p. 392, 49), que ha-
veria "muitos" falsos profetas (Mt 24:11; WHITE, 2008, v. 2, p. 72, 392) e que, por meio
disso, muitos seriam enganados. Segundo ela, à medida que o fim se aproximar, o nú-
mero desses falsos profetas aumentará, tanto nos Estados Unidos como em outros paí-
ses (WHITE, 2008, v. 2, p. 72; 1997, p. 610), e muitos deles serão genuinamente sinceros,
nem todos serão um engano e uma fraude (WHITE, 2008, v. 2, p. 72).
O resultado das pregações desses falsos profetas será decepção {WHITE, 1997,
p. 363, 610; 2008, v. 2, p. 392), confusão (WHITE, 2008, v. 2, p. 72), rebelião (WHITE,
2006, v. 4, p. 173; 1996, p. 442; 2008, v. 2, p. 392-395), introdução de doutrinas heréti-
cas (WHITE, 2008, v. 2, p. 393, 360), descrédito pela legitimidade do dom de profecia
(WHITE, 2008, v. 2, p. 77-79) e manifestações sobrenaturais que acompanharão mui-
tos deles (WHITE, 1997, p. 610; WHITE, 2008, v. 2, p. 48, 49). Contudo, é importante
observar que um fenómeno sobrenatural não pode por si mesmo constituir um teste
de legitimidade e autenticidade. Falsos profetas serão mais perigosos à Igreja Adven-
tista do que a própria perseguição (WHITE, 1997, p. 359, 360).
Diante desse quadro, vemos a obrigação que a Igreja tem de conhecer tais preten-
dentes ao dom. Não devemos aceitar qualquer pretendente ao dom até que ele/ela pro-
ve com uma "evidência clara" que o mesmo procede genuinamente de Deus (WHITE,
2008, v. 2, p. 72; 1997, p. 610).
Essas são evidências de que um poder sobrenatural está operando, mas não in-
dica que é necessariamente de Deus, pois Satanás pode simular um fenómeno físico.
Existe a necessidade adicional de validar a fonte, determinar se é o Espírito Santo ou
um grande espírito profano. Satanás se utilizará de evidência subjetiva no seu "ato
coroador de falsificação" — ou seja, simular o Segundo Advento. Ante os olhos, ele
trará glória que excede a do sol; e aos ouvidos, voz melodiosa, de conteúdo seme-
lhante à palavra de Jesus (WHITE, 2005, p. 624-25). A única evidência adequada é a
total familiarização com a palavra de Deus. Satanás não pode simular a maneira físi-
ca da Segunda Vinda, uma vez que Jesus virá nas nuvens e Satanás caminhará sobre
Terra; todo olho verá a Cristo como o relâmpago que sai do oriente até o ocidente
(Mt 24:27, 30; Ap 1:7). Como é dito na Bíblia, o justo encontrará o Senhor nas nuvens
(ITs 4:16-17). Enquanto isso, Satanás, em sua aparência fictícia, ensinará elementos
contrários à Bíblia, declarará a mudança do Sábado e pronunciará uma bênção para
aqueles que tiverem a marca da besta.
Devemos considerar as áreas nas quais este teste é aplicado, ou seja, nos frutos da
própria vida dos supostos profetas e nos frutos da vida daqueles que seguem os supostos
profetas. Um fruto leva tempo para se desenvolver até mesmo no mundo natural, logo
nós não devemos estar apressados para confirmar as afirmações dos supostos profetas,
mas sim dar abundância de tempo para que os frutos apareçam.
Uma vez que se permita que o impulso e a emoção tomem o domínio sobre o calmo
juízo, possivelmente haverá demasiada velocidade, mesmo no palmilhar uma estra-
da reta. Aquele que viaja demasiado rápido verificará ser isso perigoso em mais de
um aspecto. Não tardará para que ele se desvie do caminho direito para uma vereda
errada (WHITE, 2008, v. 2, p. 91; compare 17-18).
Na aplicação desse teste, não olhemos para a perfeição sem pecado, pois
todos os profetas, exceto Jesus, pecaram — incluindo Ellen G. White (Rm 3:23).
Diante dessa observação, como podem, então, os frutos serem um teste legítimo?
Ellen G, White (2003, p. 57-58) dá uma dica retratando a distinção entre atos in-
dividuais (se bons ou maus) e a inclinação e direção de uma vida toda: "O caráter
[que é o fruto da vida da pessoa] se revela não por boas ou más ações ocasionais,
mas pela tendência [inclinação/direção] das palavras e atos costumeiros." Isso sig-
nifica que toda boa pessoa ocasionalmente faz coisas ruins (não há quem faça o
bem totalmente [Rm 3:12]), e toda má pessoa ocasionalmente faz boas coisas,
embora geralmente por razões erradas.
40
Teste do cumprimento da previsão
Há duas referências sobre esse teste no Antigo Testamento, relacionadas a
dois diferentes profetas: Jeremias 28:9 ("Quando a palavra do profeta se cumprir,
então será conhecido que o Senhor na verdade enviou o profeta") e Deuteronómio
18:22 ("Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir,
nem suceder assim, essa é a palavra que o Senhor não falou; o profeta falou com
presunção; não o temerás"). O teste consiste no cumprimento das previsões com
respeito a acontecimentos futuros.
O elemento condicional pode qualificar a aplicação desse teste. Os próprios Moisés
e Jeremias mencionam esse elemento condicional rnais de urna vez nos livros nos quais
eles identificam o cumprimento como um teste (Jr 18:6-10; 26:2-6; Dt4:9; 28:1, 2, 13-15).
Outras referências sobre o elemento condicional são Zacarias 6:15, 2 Crónicas
15:2 e Nichol (1957, v. 4, p. 25-38). O melhor exemplo bíblico da aplicação do elemento
condicional pode ser encontrado na história do profeta Jonas. O elemento condicional
não foi explícito em sua mensagem discursada oralmente e publicamente, mas estava
implícito. Jonas fez duas previsões; uma aconteceu e a outra, a respeito de Ninive, não
se cumpriu até 150 anos mais tarde: a Assíria "se arrependeu" de seu primeiro arrepen-
dimento e Deus "se arrependeu" de seu perdão anterior. Mas Jonas não se tornou um
verdadeiro profeta só a partir do fato ocorrido 150 anos depois, ou seja, a destruição
Profetas modernos
posterior de Nínive. Jesus o chamou de verdadeiro profeta (Mt 12:39; Lc 11:29), então
nós também o podemos considerar assim.
Devemos nos lembrar, contudo, de que Satanás pode fazer previsões limitadas
com relação ao futuro imediato. No caso de Jó, que ainda era leal a Deus, havia limites
definidos colocados sobre o que Satanás poderia fazer a Jó (Jó 1:2). No caso do Rei Saul,
no tempo em que visitou a necromante de En-Dor, ele havia apostatado totalmente e
cometeu um pecado imperdoável — acreditar que Satanás tinha total controle do ho-
mem e poderia prever com precisão seu fim imediato. Ellen G. White acrescenta que,
em algumas ocasiões, supostos (embora falsos) profetas em seus dias foram capazes de
prever certas coisas de maneira muito limitada, as quais aconteceram tal como foram
previstas (WHITE, 2008, v. 2, p. 76, 77, 86). Todavia, cumprimento da previsão é um
teste legítimo para o profeta.
de Ellen G. White, afirmando serem autênticas. Logo após ele lançar um material
escrito sobre o assunto, onde misturava as profecias de ambas, ele recebeu uma
carta escrita por Ellen G. White, repreendendo-o, escrita mais de um mês antes
da impressão do material.
É interessante considerar que ambas foram mulheres e se chamavam "Anna".
Impostores sempre procuram parecer-se com o genuíno tão exatamente quanto pos-
sível. Como a genuína profetisa era mulher, essas impostoras alegaram possuir o mes-
mo dom e tinham até o mesmo nome de uma legítima profetisa dos tempos bíblicos
(Lc 2:36-38). O critério de Ellen G. White da "evidência clara" não é apropriado a
esses casos simplesmente porque não havia "coisa alguma objetável" nos dizeres das
supostas profetisas (WHITE, 2008, v. 2, p. 93-94).
Essa questão se torna mais compreensível quando se leva em conta que Satanás
opera com o seguinte princípio:
Muitas coisas nessas visões e sonhos parecem ser todas correias, uma repeti-
ção daquilo que tem estado no campo por muitos anos; bem depressa, porém,
eles introduzem um jota aqui, um til de erro ali, apenas uma sementinha que
deita raiz e floresce, e muitos são por ela contaminados (WHITE, 2008, v. 2,
p. 87, ver também p. 91).
Além disso, devemos lembrar que "a vereda da verdade acha-se muito perto da
vereda do erro e ambas as veredas podem parecer uma só às mentes não dirigidas pelo
Espírito Santo e que, portanto, não são ligeiras em discernir a diferença entre a verdade
e o erro" (WHITE, 2008, v. l, p. 202).
Considerações finais
Quanto a haver outro profeta genuíno na Igreja Adventista antes da volta de Jesus,
devemos admitir que Joel 2:28-32 dá margem a essa possibilidade. É possível dizer que
a referência aos homens (no plural) foi cumprida por William Foy e Hazen Foss, ambos
chamados por Deus imediatamente antes de Ellen G. White. A referência a "mulheres"
(no plural), porém, não é necessariamente cumprida apenas por Ellen G. White, tendo
sido ela a única profetisa do seu tempo.
Pedro, em seu sermão no Pentecostes (At 2), afirmou que o Pentecostes foi o cumpri-
mento de Joel 2. No entanto, não se pode dizer que foi um cumprimento completo, pois não
houve nenhum fenómeno sobrenatural em corpos celestiais no Pentecostes e o grande dom do
Pentecostes foi o de variedade de línguas, enquanto que o grande dom em Joel 2 é o de profecia.
Hoje, falamos do Pentecostes como um cumprimento "parcial" de Joel 2 e de Ellen G.
White como um cumprimento "adicional", porém não "final" da mesma passagem. Ela pode,
de fato, ser o cumprimento "final" de Joel 2, mas isso não pode ser provado por meio do texto.
Se outro profeta tivesse surgido em nosso tempo, seu papel poderia muito bem ser completa-
mente diferente do de Ellen G. White. Nos tempos bíblicos, profetas diversos tiveram papéis
completamente diferentes. Moisés foi um administrador — a previsão de eventos futuros foi
uma parte muito pequena de seu ministério profético. João Batista (de acordo com Jesus, o
"maior" de todos os profetas), por sua vez, praticamente não fez previsões futurísticas.
Pode haver, na verdade, mais do que um cumprimento futuro de Joel 2 nos últimos
dias. Como o povo remanescente estará fragmentado em pequenos grupos, caçado e per-
seguido, o papel desses profetas pode ser muito prático — advertir os cristãos de forma
sobrenatural quanto a perigos iminentes e dar-lhes conselhos espirituais. Essa declaração,
no entanto, é muito especulativa e deve ser reconhecida dessa maneira.
De qualquer maneira, se outro profeta surgir na Igreja, ele deverá submeter-se a
todos os testes bíblicos de um legítimo profeta, exatamente como o fizeram em seus dias
os profetas dos tempos bíblicos e como Ellen G. White fez em sua época. Todos os testes
devem ser aplicados e são cumulativos, bem como a maioria do material para o teste.
Quaisquer testes dados por Ellen G. White em acréscimo aos que foram encontrados
nas Escrituras, também seriam necessários. Vale lembrar que a liderança da Igreja tem
uma parte a realizar nesse processo de teste.
Deus não esqueceu o Seu povo, escolhendo um homem isolado aqui e outro ali, como
os únicos dignos de que lhes confie a verdade. Não dá a um homem luz contrária à esta-
belecida fé do corpo de crentes. [... j O erro jamais é inofensivo. Nunca ele santifica, mas
sempre traz contusão e dissensão. [...] A única segurança para qualquer de nós está em
não recebermos nenhuma nova doutrina, nenhuma interpretação nova das Escrituras,
antes de submetê-la à consideração dos irmãos de experiência. Apresentem-na a eles,
com espírito humilde e pronto para aprender, fazendo fervorosa oração e, se eles não
virem luz nisto, atendam ao seu juízo, porque 'na multidão de conselheiros há seguran-
ça [...] Surgirão homens e mulheres proclamando possuir alguma nova luz ou alguma
Espírito de Profecia
nova revelação e cuja tendência é abalar a fé nos marcos antigos. [...] Não podemos
ser demasiado vigilantes contra toda forma de erro, pois Satanás está constantemente
buscando afastar da verdade os homens (WHITE, 1985, v. 2, p. 103-104).
Precisamos ir ao povo com a sólida Palavra de Deus; e quando eles receberem essa Pa-
lavra o Espírito Santo poderá vir, mas Ele vem sempre, como declarei antes, por uma
maneira que se recomenda ao discernimento das pessoas. Em nosso falar, nosso canto,
e em todos os nossos cultos espirituais, devemos revelar a calma e a dignidade e o
piedoso temor que atua em todo verdadeiro filho de Deus (WHITE, 2008, v. 2, p. 43).
APÊNDICE
Referências
WHITE, E. G. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 1.
. Anna Phillips: not another prophet. Adventist Review, p. 8-10, 20 fev. 1986.
COON, R. W. Heralds of newlight: another prophet to the remant? Boise: Pacific Press Publishing
Association, 1987. p. 32.
SPLANGER, J. R. The gift of prophecy and "thought voices™ Ministry, p. 4-7, jun. 1986. Disponível
em <bit.ly/zenAVd>. Acesso em: 13 mar. 2012.
WHITE, ARTHUR L. Will there be another special messenger? In: GENERAL Conference. Notes and
papers concerning EHen G. White and the Spirit of Prophecy. [S.l.]: EHen G. White Estate, 1974.
46
Os profetas e a infalibilidade
Roger W. Coon
Existem três questões relativas ao tema da profecia que demandam uma boa res-
posta: 1) Um profeta verdadeiro pode errar? 2) Todas as predições de um profeta devem
ocorrer no tempo previsto? 3) Em alguma ocasião, o profeta poderia voltar atrás e mo-
dificar algo do que disse?
Quando exorta os crentes a respeito das profecias, Paulo pede para não "apa-
garmos o Espírito" nem "desprezarmos as profecias", mas, antes, "julgar todas as coi-
sas, retendo o que é bom" (ITs 5:19-21). A análise do conteúdo profético é essencial
porque, como nos informa Pedro, são palavras "confirmadas" que faríamos bem em
prestar atenção, em virtude de sua utilidade como "candeia que brilha em lugar te-
nebroso" (2Pe 1:19). Por conseguinte, padrões para avaliação de profecias devem ser
considerados, a fim de que o conteúdo demonstre-se crível. Duas teorias para avalia-
ção são levantadas a esse respeito:
1) A teoria da "camisa de forca": essa teoria alega que o controle do Kspírito Santo sobre
o profeta é de tal ordem que não há possibilidade de erro. Em todas as ocasiões, um
profeta verdadeiro acerta 100% das predições. Assim, não podem cxislir profecias não
cumpridas; se um profeta de Deus não acertar em 100% de suas predições, este não
pode ser considerado como um protela legítimo. Nas suas predições, não pode haver
equívocos. Além disso, um profeta de Deus não necessita voltar para modificar algo
que tenha dito ou escrito anteriormente. Suas palavras são criveis e irremediáveis.
verdades são infalíveis e verdadeiras.1 Por outro lado, a metáfora do "vaso de barro"
deve ser considerada como a "embalagem" ou o dito "recipiente" da mensagem divina.
O ser humano, nesses termos, atua como o "vaso de barro" que carrega o "tesouro" do
céu. Como "vaso de barro", o ser humano é apresentado como ser imperfeito e falível.2
Ellen G. White (2005, p. 6; 2007, v. 5, p. 747) enfatiza que os elementos compostos
no processo de salvação apresentam traços de divindade combinados com traços de hu-
manidade. Dessa forma, críticas contemporâneas que desclassificam Ellen G. White como
profetisa confiável em questões doutrinárias não possuem tanta relevância, uma vez que se
fundamentam em certos equívocos cometidos pela profetisa. O argumento desclassificaria
também diversos autores canónicos que eram vítimas da mesma espécie de erros. Dentre
tais equívocos, apontamos os seguintes: 1) profecias não cumpridas; 2) pequenas descri-
ções relativas a detalhes mais minuciosos; 3) aspectos substancialmente importantes.
Hm todos os casos, examinaremos, em primeiro lugar, o que ocorre com as Sagradas Es-
crituras, para depois verificarmos o que ocorre com os escritos de Ellen G. White. Dessa forma,
passamos a compreender Ellen G. White à luz da Bíblia, e não a Bíblia à luz de Ellen G. White.
Ellen G. White (2005, p. 8 e 9) é categórica ao alegar que "as Santas Hscrituras devem ser
aceitas como autorizada e infalível revelação de sua |de Deus] vontade". Ainda nesses termos,
"somente Deus é infalível" (WHITE, H., 2008, v. l, p. 37); o homem, porém, está propenso a erros
dos mais variados (WHITE, E., 2008, v. l, p. 416).
Nas palavras de Ellen G. White (2008, v. l, p. 20), "qualquer coisa humana é imperfeita".
Tudo o que é produzido pela humanidade é carente de qualquer traço de perfeição visto que
"nenhum homem é infalível".
Os profetas e a infalibilidade
relativas à grandeza e honra nacionais de Israel pronunciadas por sete profetas do Antigo
Testamento (Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Joel, Sofonias e Zacarias).-1 Em virtude do
não cumprimento das exigências divinas, o Senhor igualmente não cumpriu com suas
promessas. Algumas delas, porém, possuem aplicação secundária ao "Israel espiritual" da
atualidade e serão cumpridas no/através do povo de Deus na atualidade; o repouso, entre-
tanto, jamais alcançará seu cumprimento (ver NICHOL, 1957, v. 4, p. 2S-28).4
Tais predições dizem respeito a: l ) Missão mundial do antigo Israel; 2) Colheita dos gentios; 3)
Repouso eterno em Canaã; e 4) libertação dos inimigos políticos.
* Alguns teólogos modernos, por falharem no reconhecimento do elemento condicional das pro-
fecias, cometem erros hermenêuticos determinantes e sistematizam a segunda vinda de Cristo sob a
forma do "arrebatamento secreto". Nesse sentido, eles subtraem a septuagésima semana de Daniel 9
das outras 69 semanas, deslocando-as para um futuro distante. Ao alegarem a infalibilidade das pre-
dições proféticas (em contraste à condicionalidade que apregoamos), eles tomam as profecias não
cumpridas relacionadas ao antigo Israel e as aplicam a uma época posterior, vislo que as predições
proféticas não podem talhar; disso dependeria, na visão deles, a credibilidade do próprio profeta.
Foi essa concepção que fundamentou suas considerações a respeito do futuro "Estado de Israel"
5
Para uma análise mais considerável da problemática ver Nichol (1951, p. 102-111).
Espírito de Profecia
fi
Como, por exemplo, a apresentação genealógica de Cama (comparar Lc 3:36 com Gn 11:12), e
as baixas causadas por Davi numa guerra (comparar 2Sm 10:18 com ICr 19:18).
Podemos ver também a idade de Acazias quando chegou ao trono (comparar 2Rs 8:26 com
2Cr 22:2 (em algumas versões esse texto foi corrigido)); a posição cronológica de Davi na lista
Os profetas e a infalibilidade
3) Citações incorretas realizadas por autores do Novo Testamento: quando faz refe-
rência à profecia messiânica relativa às trinta peças de prata, Mateus 27:9 atribuí
a profecia a "Jeremias", sendo que ela foi escrita evidentemente por Zacarias (Zc
11:13). A dedicação do antigo concerto foi descrita de uma maneira por Moisés
(ÊX 24:5-8) e de outra por Paulo (Hb 9:19-21).
4) A utilização das Escrituras fora do contexto: enquanto Oséias 11:1 se utiliza da ex-
pressão "do Egito chamei o meu filho" num contexto especifico, fazendo referência
a um personagem específico, Mateus 2:15 usa os termos como referência a uma
suposta profecia relativa à viagem de Jesus ao Egito. A mesma problemática é encon-
trada na relação à "concepção de um filho" em Isaías 7:14 e Mateus 1:23.
1) Descrições imprecisas de eventos bíblicos: sobre a Torre de Babel, ela comenta que
"situa-se antes do dilúvio" (WHITE, E., 1945, v. 3, p. 301); sobre João Batista, ela chega
a declarar: "João Batisla estava morto quando ocorreram os eventos de Mateus 4:18 a
22" (WHITE, E., 1945, v. 2, p. 183-184). Sobre o mesmo contexto, ela alega que "João
se encontrava sozinho no cárcere nessa ocasião" (WHITE, E., 2007, p. 154).s
51
2) Erros cronológicos: quanto à duração do templo de Salomão, Ellen G. White alega
ter permanecido por quatro séculos (WHITE, E., 1996, p. 149). A arqueologia, por
outro lado, diz que o templo durou 384 anos (970 a 586 a.C).
3) Aplicações das Escrituras fora do contexto: ela usa um sentido temporal para 2 Tes-
salonicenses 2:9 (WHITE, E., 2009, p. 735), ou seja, sentido relacionado à segunda
vinda de Cristo logo após a atuaçào de Satanás. Entretanto, esse sentido não foi,
evidentemente, a intenção de Paulo.
4) Créditos errados: ao se utilizar do texto "o amor de Cristo nos constrange" (2Co
5:14), Ellen G. White atribui seus créditos a Pedro (WHITE, E., 1913), quando, na
verdade, ele foi dito por Paulo.
dos filhos de (esse (comparar ISm 16:10-11 com ICr 2:15), e a extensão do período dos juizes
(comparar At 13:20 com !Rs6:l).
1
Sobre os "Aliados de Quedoriaomer", ela alegou serem "quatro aliados" (WHITE, E., 2007, p.
130), enquanto que Génesis 14:1 e 9 menciona apenas "três"; cm certa ocasião, ela alegou que os
pregos atravessaram "ossos e músculos" de Cristo (WHITE, E., 1945, v. l, p. 58), mas em outra
diz que eles tocaram apenas a carne (em harmonia com João 19:36; WHITE, E., 2007, p. 555).
Espírito de Profecia
5) Imperfeições gramaticais: Ellen G. White alega que sua função não é de erudita;
ela alega não poder preparar seus próprios escritos para o prelo porque não é
"um gramático" (WHITE, E., 2007, v. 3, p. 90). William White, escrevendo a G.
A. Irwin, no mesmo sentido, alega: "Os copistas de mamãe estão revestidos da
responsabilidade de corrigir erros gramaticais, eliminar repetições desnecessá-
rias e agrupar parágrafos e seções da melhor forma possível" (William White,
carta a G. A. Irwin, maio 7, 1900).
Ellen G. White
O número dos erros significativos, assim como nas Escrituras, é pequeno nos es-
critos de Ellen G. White. Houve, contudo, ocasiões em que ela teve de retroceder, modifi-
cando sua posição anterior em relação a algum assunto. No que diz respeito ao momento
de início do sábado (1846-1855), tendo anteriormente seguido suas próprias convicções,
Ellen G. White preferiu, depois, modificar sua posição (WHITE, A., 1969, p. 34-39). Ade-
mais, em 1901, quando aprovou o fechamento da Southern Publishing Association, Deus
a repreendeu e ordenou que retratasse sua opinião (DANIELLS, 1936, p. 322-329).
Assuntos como os citados acima foram suficientemente sérios e provocaram a ime-
diata intervenção do Espírito Santo para serem corrigidos. Efetivamente, ela os corrigiu.
Considerações Finais
Os escritores bíblicos não foram pessoas infalíveis. Por outro lado, a mensagem
a eles outorgada pelo Espírito Santo demonstrou-se inequívoca. As revelações divinas
Os profetas e a infalibilidade
("tesouros") que receberam foram tão perfeitas quanto o próprio Deus. Entretanto, na
qualidade de seres humanos falíveis, através da linguagem humana, os profetas comu-
nicaram a mensagem de Deus como "vasos de barro".
No tocante à "infalibilidade" de Ellen G. White, a questão foi levantada e respondida
por W. H. Littlejohn na Review and Herald. A pergunta foi a seguinte: "Os adventistas do
sétimo dia consideram Ellen G. White como infalível?" Littlejohn (1883, p. 778) respondeu:
Não. Tampouco crêem eles que Pedro ou Paulo tenham sido infalíveis. Eles crêem
que o Espírito Santo que inspirou Pedro e Paulo era inlalível. Kles crêem também
que, de tempos em tempos, Ellen G. White recebeu revelações do Espírito Santo de
Deus e que as revelações a ela feitas pelo Santo Espírito são tão dignas de confiança
quanto as revelações feitas pelo mesmo Espírito a outras pessoas.
Por fim, os adventistas do sétimo dia sustentam hoje que Ellen G. White foi (e
ainda é) digna de confiança e imbuída de autoridade como genuína e autêntica profetisa
de Deus. Da mesma forma, acreditam que Ellen G. White foi inspirada da mesma forma
e no mesmo grau em que o foram os profetas que escreveram a Bíblia. Contudo, há de
se esclarecer que os adventistas não fazem dos escritos de Ellen G. White "uma outra
Bíblia" ou "uma extensão" (adição) ao cânon sagrado das Escrituras.
Nos termos de Pedro, a afirmativa de que as mensagens dirigidas a nós representa
a "confirmada palavra profética" (2Pe 1:19) nos faz considerá-las como sendo de extre-
ma importância. Faríamos bem em atendê-las.
Referências
DANIELLS. A. G. The abiding gift of prophecy. Califórnia: Pacific Press Publishing
Association, 1936.
LITTLEJOHN, W. H. Scripture questions. Review and Herald, v. 60, n. 49, p. 778-779, 1883.
N1CHOI., F. D. Ellen G. White and her critics. [S. 1.]: Review and Herald, 1951. Disponível em:
<http://bit.ly/zSAtQJ>. Acesso em: 13 mar. 2012.
. What does thou here. Review and Herald, v. 90, n. 44, 30 out. 1913. Disponível em:
<http://bit.ly/yrXA8q>. Acesso em: 13 mar. 2012.
EUenG. White como
uma profetisa: conceitos de
revelação e inspiração
••
Denis Fortin
Relevância do tema
Parece correto afirmar que a maioria dos adventistas provavelmente tem uma visão
distorcida do que seja a revelação-inspiraçào.1 Foi observado um preconceito que é comum
à posição estritamente verbal, ou seja, do ditado mecânico. Isso faz tais indivíduos muito
vulneráveis à perda de confiança em Hllen G. White e na Igreja. Eles entram em perigo quan-
do descobrem informações factuais contrárias à sua visão. Em lugar de descartar sua teoria
errónea de inspiração ou fazer ajustes no sentido de encaixá-la em fatos comprovados, eles
podem descartar sua confiança no ministério profético de Ellen G. White.
Muitos membros da Igreja no início da década de 1980 perderam a confiança na
organização, pois essa havia recebido três ataques significativos a suas crenças. O pri-
meiro foi a proposta de Ford relativa à teologia adventista de 1844 e o santuário. O se-
gundo ataque veio de Walter Rea contra Ellen G. White, acusando-a de plágio. O último
foi a desconfiança no gerenciamento financeiro da igreja em Davenport. Uma dessas
crises, portanto, ocorreu especificamente devido a um entendimento inadequado da
origem e desenvolvimento dos escritos de Hllen G. White.
É preciso comentar as questões de revelação e inspiração. Devemos compreender
bem o processo de revelação (a mensagem como foi transmitida por Deus para a mente
do profeta) e inspiração (forma como o profeta expressou esses conceitos em palavras
faladas ou escritas) antes que possamos considerar adequadamente a hermenêutica (in-
terpretação das palavras do profeta e a mensagem que foi pretendida}.
1
Boa parte deste trabalho se deve a Jerry Moon (Revelatíon and Inspirution in thc Writings of
Ellen (í. White (Revelação e inspiração nos escritos de Fllen G. White]); D.F,. Manscll (How Hllen
G. White Perceived Her Inspimiion [Como F.llen G. White entendia sua inspiração)); e Jim Nix
(h'rom Vision to Printed Pii#e [Da visão até a página impressa]).
Espírito de Profecia
Em harmonia com a Palavra de Deus, deveria seu Espírito continuar sua obra
durante todo o período da dispensarão evangélica. Durante os séculos em que
as Escrituras do Antigo Testamento, bem como as do Novo, estavam sendo
dadas, o Espirito Santo não cessou de comunicar luz a mentes individuais,
independentemente das revelações a serem incorporadas no cânon sagrado. A
Bíblia mesma relata como, mediante o Espírito Santo, os homens receberam
advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum
modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épo-
cas várias, de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a
conclusão do cânon das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a
Sua obra, esclarecendo, advertindo e confortando os filhos de Deus (WHITE,
E., 2005, p. viii). 2
Ela mesma afirma que seus escritos nunca deveriam ficar acima das Escrituras:
O Espírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo
ensino e experiência devem ser aferidos (WHITE, E., 2005, p. vii).
Visões
Todas as visões eram acompanhadas de surpreendentes fenómenos físicos e so-
brenaturais, tais como inconsciência do ambiente terrestre, mas vívida consciência do
que estava sendo mostrado a ela em visão. Além disso, havia parada respiratória tempo-
rária, aquisição de força sobrenatural, e ela deixava de piscar.
Conforme veremos adiante, existe uma discussão acerca da diferença entre
visões e sonhos proféticos, mas um ponto é claro: eles nunca tiveram diferenças
quanto ao conteúdo (WHITE, E., 2007, v. 5, p. 658). Como um bom exemplo de
todo esse processo, é interessante notar a descrição realizada por Ellen G. White
acerca de sua primeira visão:
È interessante notar que a seção introdutória no O Grande Conflito é uma das declarações
de Ellen G. White mais claras no assunto de revelação e inspiração, e como seu dom de profecia
se relaciona com as Escrituras.
Ellen G. White como uma profetisa
Sonhos
1) Sonhos proféticos
Em geral, os sonhos proféticos eram visões recebidas durante o sono. Na intro-
dução dos Testemunhos para a Igreja, número 13 (1867), Hllen G. White {2006, v. l, p.
569-570) escreveu sobre eles:
Outro bom exemplo acerca desse assunto se refere ao ocorrido acerca do terre-
moto de São Francisco:
Também se pode citar o sonho acerca do Dr. David Paulson e do Dr. J. H. Kellogg:
2} Sonhos naturais
Diferente dos sonhos proféticos, esses se originam "das coisas comuns da
vida, com as quais o Espírito de Deus nada tem a ver", portanto eles não são ins-
pirados de maneira direta. Como qualquer humano normal, Ellen G. White tinha
sonhos naturais. Por exemplo, na Carta 4 de 1856 pode a própria escritora falar
sobre essa diferença: "Queridos amigos em casa" ela escreveu, "tenho tido alguns
pesadelos sobre o pequeno Willie. Oh, quão agradecida eu serei em ver meu lar,
doce lar novamente e meus queridos meninos, Henry, Kdson e Willie." O contex-
to dessa carta é interessante. Anteriormente, naquele ano, no final de maio 1856,
Willie, de 20 meses, se afogou ao brincar com um barco numa grande banheira de
limpeza de água. Ellen G. White trabalhou freneticamente para revivê-lo por mais
de 20 minutos (ver WHITE, A., 1981, v. l, p. 337). Assim, não era de se espantar
que ela tivesse pesadelos com tal ocorrido.
Ellen G. White distinguia os sonhos proféticos dos simples cotidianos através de,
pelo menos, duas maneiras: pelo conteúdo informacional (ver WHITE, E., 2006, v. l,
p. 569-570) ou pela presença do seu anjo, como nas visões proféticas: "O mesmo anjo
mensageiro ficou ao meu lado me instruindo nas visões da noite, assim como fica ao
meu lado me instruindo nas visões do dia" (WHITE, A., 2000, p. 7).
Meu pai e minha mãe estavam carregando um pesado fardo em favor do mi-
nistério que estava acontecendo no estado. No domingo de manhã, eles se
responsabilizaram por conduzir um serviço de reavivamento. Papai falou por
alguns minutos, mas com pouca liberdade. H depois de mamãe falar breve-
mente, eles pediram à congregação para que se ajoelhassem em oração. Papai
Ellen G. White como uma profetisa
Predição
Ellen G. White recebia, em diversos momentos, determinada revelação acerca de
pessoas que ela ainda não conhecia. Nesses casos, a aplicação era revelada quando ela
finalmente os conhecia. Ela conta que, às vezes, as coisas que ela via eram-lhe encober-
tas depois que saía da visão, e ela não podia se lembrar delas até que estivesse diante
das pessoas ou situações às quais as visões se aplicavam; então as coisas que havia visto
voltavam fortemente à memória (WHITE, 1945, v. 2, p. 292-293).
Como são frequentemente feitas indagações quanto ao meu estado em visão, e de-
pois de sair dela, desejo dizer que, quando o Senhor acha por bem dar uma visão,
sou levada à presença de Jesus e dos anjos, e fico inteiramente fora das coisas ter-
renas. Não posso ver além daquilo a que o anjo me dirige. Minha atenção é muitas
vezes encaminhada a cenas a acontecerem sobre a Terra. Sou por vezes levada mui-
Espirito de Profecia
Os Dez Mandamentos foram pronunciados pelo próprio Deus e por sua própria
mão foram escritos. São de redação divina e não humana. Mas a Escritura Sa-
grada, com suas divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta
uma união do divino com o humano. União semelhante existiu na natureza de
Cristo, que era o Filho de Deus e Filho do homem. Assim é verdade com relação
à Escritura, como o foi em relação a Cristo, que "o Verbo Se fez carne e habitou
entre nós" (Jo 1:14) (WHITE, E., 2005, p. v-vi).
Embora, no texto acima, Ellen G. White fale de forma mais direta acerca da ins-
piração da Bíblia, ela mostra fortes indícios de enxergar a sua própria inspiração como
sendo operada da mesma forma.
Todos eles, porém, atuam sob a direção do mesmo Espírito para apresentar
aquilo que mais particular impressão exerce sobre o seu espírito, resultando
daí uma variedade de aspectos da mesma verdade, mas perfeitamente harmó-
nicos entre si (WHITE, E., 2005, p. vi).
Deus se satisfaz em comunicar Sua verdade para o mundo pelos agentes hu-
manos, e Ele mesmo, pelo Seu Espírito Santo, qualifica homens e os habilita a
Ellen G. White como uma profetisa
fazer esta obra. Ele guiou a mente nessa selecào do que falar e o que escrever
(WHITE, K., 2005, p. vi).
Eu estou tentando captar as cxatas palavras e expressões que foram ditas em refe-
rência a esle assunto, e assim que minha caneta hesita por um momento, as palavras
apropriadas vem à minha mente (Ellen G. White, Carta 123, 1904).
Eu tenho fé em Deus [...]. Ele trabalha à minha mão direita e esquerda. Enquan-
to eu estou escrevendo assuntos importantes, Kle está ao meu lado, me ajudan-
do. Ele estende o meu trabalho diante de mim, e quando eu estou confusa por
uma palavra adequada com que expressar meus pensamentos, Ele a traz clara e
distintamente à minha mente. Eu sinto que toda vez que eu peço. Ele responde:
"Estou aqui" (Ellen G. White, Carta 127, 1902).
Deus pelo seu Santo Espirito [...] qualifica homens e os habilita a fazer esta obra
(WHITE, E., 2005, p. vi).
Mediante a inspiração de seu Espírito, o Senhor deu a seus apóstolos uma ver-
dade a ser expressa segundo o desenvolvimento de sua mente pelo Espírito
Santo. A mente, porém, não é tolhida, como se forcada em determinado molde
(WHITE, E., 2006, v. l, p. 22).
Se bem que eu dependa do Espírito do Senhor tanto para escrever minhas visões,
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são
minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre
ponho entre aspas (WHITE, E., 2006, v. l, p. 37; 2007, v. 3, p. 278).
Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma palavra para
cada ideia distinta (WHITE, E., 2006, v. l, p. 20).
2) Diversidade:
3) Variedade de pontos de vista, porém "perfeita harmonia" (WHITE, E., 2005, p. vi):
O Criador de todas as ideias pode impressionar mentes diversas com o mesmo pen-
samento, mas cada um pode exprimi-lo por diferentes maneiras e, ao mesmo tem-
po, sem contradições (WHITE, E., 2006, v. l, p. 22).
O tesouro foi confiado a vasos de barro, sem, contudo, perder coisa alguma de sua
origem celestial. O testemunho é transmitido mediante a imperfeita expressão da
linguagem humana, conservando, todavia, o seu caráter de testemunho de Deus,
no qual o crente submisso descobre a virtude divina, superabundante em graça e
verdade (WHITE, E., 2005, p. vi-vii).
b) Mensagem confiável:
Tomo a Bíblia tal como ela é, como a Palavra Inspirada. Creio nas declarações de
uma Bíblia inteira (WHITE, E., 2006, v. l, p. 17).
Espírito de Profecia
Irmãos, apegai-vos à Bíblia, tal como ela reza; parai com vossas criticas relativamente à sua
validade e obedecei à Palavra, e nenhum de vós se perderá (WHITE, E., 2006, v. l, p. 18).
b) Por outro lado, ela usa o termo "infalível" com respeito à confiabilidade da Es-
critura como um todo ("a Bíblia inteira" [WHITE, E., 2006, v, l, p. 17]) para o
propósito que foi dado a ela:
Com respeito a seus próprios escritos, ela diz: "Há uma corrente de verdade reti-
línea, sem uma só frase herética, naquilo que escrevi" (WHITE, E., 2007, v. 3, p. 52). Ela
não reivindicou que seus escritos eram perfeitos ou livres de imperfeições insignifican-
tes ou erros, mas reivindicou que eles eram livres de heresia.
as palavras, por que ela as riscou e as alterou?" Entretanto, o mais escandaloso aos olhos de
Canright eram as revisões que ela fez para os Testemunhos publicados. Ao exemplificar o nú-
mero de mudanças em quatro páginas escolhidas ao acaso, ele tentou estimar qual tinha sido a
porcentagem total do número de palavras que podem ter sido afetadas pelo processo editorial.
Canright estava avaliando Ellen G. White a partir do ponto de vista de um
modelo ditado de inspiração, uma pressuposição que ela rejeitou. Do ponto de
vista dela, sua tentativa de medir a inspiração pelo número de palavras era um
exercício irrelevante que passava longe da real questão. Sua preocupação era sim-
ples: ela queria que seus pensamentos fossem representados precisamente e na
melhor linguagem disponível.
Davjd Paulson duvidou por algum tempo do ministério profético e inspira-
ção de Ellen G. White depois que, como muitos outros, ficou sabendo como ela
escrevia seus livros e testemunhos. Ele perguntou a ela muitas coisas a respeito
de sua inspiração e sobre como ela escrevia seus livros. A resposta dela (WHITE,
E., 2006, v. l, p. 24-31) nos fornece informação acerca de como Deus lhe revelou
coisas e de como ela escreveu seus livros.
A premissa de Paulson (apud WHITE, E., 2006, v. l, p. 24) a respeito de inspira-
ção era: "Eu fui levado a concluir e crer muito firmemente que toda palavra que você
falava em público ou em particular, que cada letra que você escrevia sob qualquer
e toda circunstância, era inspirada como os Dez Mandamentos." Depois, em 1913,
Paulson escreveu uma carta a Frank Belden, na qual ele descreveu sua experiência de
duvidar e, depois, apreciar o dom profético de Ellen G. White. Nessa carta, ele con-
vida Belden a reconsiderar sua dura posição contra o ministério profético de sua tia
e admitiu que enfatizar demais o lado humano do seu dom leva à rejeição do mesmo
{Paulson a Franklin E. Belden, 7 de dezembro, 1913}.
Considerações finais
Tanto a Bíblia como os escritos de Ellen G. White representam a união do divino
com o humano. Se, por um lado, eles podem conter imperfeições, por outro eles são
guias seguros e confiáveis para a salvação. Para o crente, as imperfeições da fornia não
negam a confiabilidade da mensagem. "A Bíblia", ela disse, é a "autorizada e infalível re-
velação de sua vontade [de Deusl" e seus próprios escritos, apesar de não serem dados
para "substituir a Bíblia" (WHITE, E., 2005, p. 7), não contém "uma só frase herética"
(WHITE, E., 2007, v. 3, p. 52).
APÊNDICE
A descrição feita por Martha Amadon dos fenómenos
físicos em Ellen G. White durante as visões
Como alguém que frequentemente observou ela em visão, conhecendo a
companhia das pessoas normalmente presentes, todos os profundos observadores
Espirito de Profecia
Referências
1AS1). General Conferenceproceedings. Review and Herald, v. 60, n. 47, 27nov. 1883. Disponível
em <http://bit.ly/J6moPH>. Acesso em: 16 abr. 2012.
WHITE, A. L. Ellen G, White: mensageira da igreja remanescente. Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2000.
os escritos de Ellen G. White não constituem um substituto para a Bíblia e não po-
dem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única,
pois são o único padrão pelo qual os seus escritos — ou quaisquer outros — devem
ser julgados e ao qual devem estar subordinados (IASD, 2009, p. 305).
A própria Ellen G. White afirmou que "pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor
deu uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior" (WHITE, 1903, p. 15).
Como essa afirmação deve ser entendida? Ela considerava a si mesma em condições de
igualdade com os profetas da Bíblia? Existem "graus" de inspiração?
Essas e outras questões são tratadas por Ellen G. White e vários outros autores
adventistas nas páginas seguintes. A primeira seçào, intitulada "O entendimento de
Ellen G. White de como seus escritos se relacionam com as Escrituras", consiste de
duas passagens importantes de Ellen G. White sobre o assunto. A seção seguinte,
"Como a IASD Entende a Autoridade de Ellen G. White", compõe-se de duas decla-
rações de fontes oficiais da igreja.
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2Tm. 3:16 e 17). Todavia, o
fato de que Deus revelou sua vontade aos homens por meio de sua Palavra não tornou
desnecessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito
foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a Seus servos, para iluminar
e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus que inspirou a Escritura
Sagrada, é impossível que o ensino do Espírito seja contrário ao da Palavra. O Espírito
não foí dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à Escritura; pois
esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experiência
devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo o espírito, mas provai se
os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo"
(lfo 4:1) E Isaias declara: "À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta
palavra, não haverá manhã para eles" (Is 8:20). Muito descrédito tem acarretado à obra
do Espírito Santo o erro de certa gente que, presumindo-se iluminada por Ele, declara
não mais necessitar das instruções da palavra divina. Tais pessoas agem sob impul-
sos que reputam como a voz de Deus às suas almas. Entretanto, o espírito que as rege
não é de Deus. Essa docilidade às impressões de momento, com desprezo manifesto
do que ensina a Bíblia, só pode resultar em confusão c ruína, favorecendo os desíg-
nios do maligno. Como o ministério do Espírito tem importância vital para a igreja
de Cristo, é o decidido empenho de Satanás, por meio dessas excentricidades de gente
desequilibrada c fanática, cobrir de opróbrio a obra do Espírito Santo e induzir o povo
a negligenciar a fonte de virtude que Deus proveu para o seu povo. Em harmonia com
a Palavra de Deus, deveria seu Espírito continuar sua obra durante todo o período da
70 dispensação evangélica. Durante os séculos em que as Escrituras do Antigo Testamento
bem como as do Novo estavam sendo dadas, o Espírito Santo não cessou de comunicar
luz a mentes individuais, independentemente das revelações a serem incorporadas no
cânon sagrado. A Bíblia mesma relata como, mediante o Espírito Santo, os homens
receberam advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum
modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épocas várias,
de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a conclusão do cânon
das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a sua obra, esclarecendo, ad-
vertindo e confortando os filhos de Deus. Jesus Cristo prometeu a seus discípulos: O
"Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome. Esse vos ensinará todas
as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14:26). "Quando vier
aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará cm toda a verdade; [... j e vos anunciará o que
há de vir" {Jo 16:13). As Escrituras claramente ensinam que estas promessas, longe de
se limitarem aos dias apostólicos, se estendem à igreja de Cristo em todos os séculos.
O Salvador afirma a seus seguidores: "Estou convosco todos os dias, até à consumação
dos séculos" {Mt 28:20). E Paulo declara que os dons e manifestações do Espírito foram
postos na igreja para "o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhe-
cimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo"
{Ef 4:12 e 13). A favor dos crentes da igreja de Éfeso o apóstolo Paulo orava "para que o
Ellen G. White e a Bíblia
Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e
de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para
saberdes qual é a esperança do seu chamamento [...] e qual a suprema grandeza do
seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder" (Ef 1:17-
19). Era a ministração do Espirito na iluminação do entendimento e desvendaçào dos
olhos do espírito humano para penetração das coisas profundas da Palavra de Deus,
que o apóstolo suplicava para a igreja de Éfeso. Depois da maravilhosa manifestação do
Hspirito Santo no dia de Pentecoste, Pedro exortou o povo a arrepender-se e batizar-
-se em nome de Cristo, para a remissão de seus pecados; e disse ele: "E recebereis o
dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a
todos os que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar" (At 2:38 e 39).
Em imediata relação com as cenas do grande dia de Deus, o Senhor, pelo profeta Joel,
prometeu uma manifestação especial de Seu Espírito (]1 2:28). Esta profecia recebeu
cumprimento parcial no derramamento do Espírito, no dia de Pentecoste. Mas atingirá
seu pleno cumprimento na manifestação da graça divina que acompanhará a obra final
do Evangelho (WHITE, 2005, p. 9-11).
Documento 2
Relação dos escritos de EUen G. White para com a Bíblia — a "luz menor":
Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e
mulheres à luz maior.
O irmão J. procura confundir os espíritos, esforçando-se por fazer parecer que a luz
que Deus nos concedeu por meio dos Testemunhos constitui um acréscimo à Palavra
de Deus, mas com isto apresenta os fatos sob uma luz falsa. Deus escolheu chamar
por este meio a atenção de seu povo para a sua Palavra, a fim de conceder-lhes uma
compreensão mais perfeita da mesma. A Palavra de Deus é suficiente para iluminar
o espírito mais obscurecido e pode ser compreendida por todo o que sinceramente
deseja entendê-la. Mas, não obstante isto, alguns que dizem fazer da Palavra de Deus
o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus
mais claros ensinos. Daí, para que tanto homens como mulheres fiquem sem escusa,
Deus dá testemunhos claros e decisivos, a fim de reconduzi-los à sua Palavra, que
negligenciaram seguir. A Palavra de Deus está repleta de princípios gerais para a for-
mação de hábitos corretos de vida, e os testemunhos, tanto gerais como individuais,
visam chamar a sua atenção particularmente para esses princípios.
Nas Escrituras, Deus expôs lições práticas para governar a vida e a conduta de
todos; mas, conquanto Ele tenha dado minuciosas instruções a respeito de nos-
so caráter, conversação e conduta, em grande parte suas lições são negligencia-
das e desprezadas. Além das instruções em sua Palavra, o Senhor tem concedido
testemunhos especiais a seu povo, não como uma nova revelação, mas para que
possa apresentar-nos as claras lições de sua Palavra, a fim de que sejam corrigi-
dos os erros e indicado o caminho certo, para que toda alma fique sem escusa.
O Dom de Profecia: Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma carac-
terística da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como
a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e
proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. Eles também tornam
claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser aprovado todo ensino e experiência. En-
contramos apoio para esta afirmação nas seguintes passagens bíblicas: )oel 2:28,29; Atos
2:14-21; Hebreus 1:1-3; Apocalipse 12:17; Apocalipse 19:10 (IASD, 2006, p. Í5).
Cremos que:
• A Escritura é a palavra divinamente revelada de Deus e é inspirada pelo
Espírito Santo.
• Ellen G. White foi inspirada pelo Espírito Santo e que seus escritos, frutos
dessa inspiração, são aplicáveis e autoritativos, especialmente para os ad-
ventistas do sétimo dia.
• O estudo dos escritos de Ellen G. White possa ser usado para substituir o estu-
do das Escrituras Sagradas.
• A Escritura possa ser compreendida somente através dos escritos de Ellen G. White.
Etlen G. White e a Bíblia
• O uso de fontes e assistentes literários por parte de Ellen G. White negue a ins-
piração de seus escritos.
Documento 2
O dom profético — o espírito de profecia e a Bíblia (IASD, 2009)
Os escritos de Ellen G. White não constituem um substituto para a Bíblia. Não po-
dem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única,
pois são o único padrão pelo qual os seus escritos — ou quaisquer outros — devem
ser julgados c ao qual devem estar subordinados.
Em resposta aos crentes que consideravam seus escritos como uma adição à Bíblia,
ela escreveu, dizendo: "Tomei a preciosa Bíblia e circundei-a com os vários Testemu-
nhos Para a Igreja, concedidos ao povo de Deus [...] Não estais familiarizados com
as Escrituras. Se tivésseis feito da Palavra de Deus objeto de estudo regular, com o
desejo de alcançar os padrões bíblicos e de atingir a perfeição cristã, não teria havido
necessidade dos Testemunhos. É porque negligenciastes familiarizar-vos com o Livro
inspirado de Deus, que Ele procurou alcançar-vos através de testemunho simples e di-
reto, chamando a atenção para as palavras da inspiração que negligenciastes obedecer,
insistindo em que a vossa vida se paute de acordo com esses puros e elevados ensinos.
O desafio ao crente:
O livro do Apocalipse profetiza que o "testemunho de Jesus" haveria de manifestar-se
através do "espírito de profecia" nos últimos dias da história terrestre. Isso representa
um desafio a todos, no sentido de não assumir uma atitude de indiferença ou descren-
ça, mas a "provar todas as coisas" e "reter o que é bom". Existe muito a ganhar — ou
perder — face à atitude com a qual assumirmos nossa investigação biblicamente or-
denada. Josata exortou no passado: "Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros;
crede nos seus profetas, e prosperareis" (2Cr 20:20). Essas palavras soam como perfei-
tamente verdadeiras, ainda nos dias de hoje.
Referências
WHITE, E. G. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.
. An open letter. Review and Herald, v. 80, n. 3, p. 15-20 jan. 1903. Disponível em
<http://bit.ly/xgRa2h>. Acesso em 13 mar. 2012.
IASD. Nisto cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2009.
77
.. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2006. Disponível em <http://bit.ly/Jag342>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Jesus, os profetas e nós:
evitando os erros
de gerações passadas
Alberto R. Timm
"O Senhor, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por in-
termédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua pró-
pria Morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de
Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu povo,
e não houve remédio algum" (2Cr 36:15 e 16).
Algumas pessoas pensam que um profeta é alguém cuja mensagem, possuindo
credenciais divinas, pode ser distorcida e mesmo rejeitada pelos incrédulos, mas certa-
mente jamais pelo próprio povo de Deus. No entanto, a realidade é que mesmo cristãos
sinceros podem, inconscientemente, usar abordagens distorcidas, não apenas em rela-
ção aos profetas, mas também para com as mensagens proféticas.
Durante o ministério terrestre de Cristo, Ele se defrontou com pelo menos
cinco importantes abordagens desequilibradas em relação com o dom profético.
Consideraremos, a seguir, cada abordagem mal orientada, bem como a maneira
pela qual Cristo procurou corrigi-la. O que descobrimos deveria nos ajudar a evitar
a repetição dos erros das gerações passadas.
das Escrituras. Porém, a fidelidade à Bíblia não exige a rejeição dos profetas extraca-
nônicos, mas apenas daqueles que se demonstram falsos. "Amados, não deis crédito
a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos
falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (IJo 4:1).
Em Lucas 10:16 Cristo declarou: "Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e
quem vos rejeitar, a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar, rejeita aquele que me
enviou." Com isso em mente, é óbvio que se Ellen G. White foi uma profetisa verda-
deira, como cremos que ela realmente foi, qualquer tentativa consciente de minar a
confiança em suas mensagens proféticas é uma reprovação direta a Deus que a enviou
para ser uma voz profética em nosso meio.
9:1-7). Lamentavelmente, mesmo alguns dos mais íntimos discípulos de Cristo criam
nessa expectativa messiânica tendenciosa (Mt 16:21-23; Mc 9:31 e 32; Lc 18:31-34).
Hoje, o mesmo desequilíbrio interpretativo pode ser visto em duas grandes tendên-
cias. Primeiro, existe a tentação de se enfatizar artificialmente uma doutrina em detrimen-
to de outras de igual importância. Alguns advogam apenas a justificação pela fé; outros,
apenas a reforma de saúde, e outros, ainda, apenas os eventos finais. Importantes como
essas três doutrinas possam ser, nenhuma delas pode ser considerada como a mensagem.
Antes, elas são todas partes da completa e inseparável mensagem. Isso significa que de-
vemos tomar os escritos inspirados como um todo (ver Mt 4:4), permitindo que eles, não
nós, definam quais são os temas fundamentais, em contraste com os periféricos.
Em segundo lugar, o desequilíbrio no estudo dos escritos inspirados pode ser
também reconhecido entre aqueles que permitem que os seus próprios sentimentos
decidam entre o que é relevante hoje e o que é cultural. Normalmente, aquilo que a
pessoa aprecia é aceito como pertinente e útil, enquanto que aquilo que ela não aprecia
é considerado apenas como cultural e inútil. Sem dúvida, podemos ver nos escritos
inspirados uma constante tensão entre os princípios universais e o relacionamento des-
ses princípios dentro de um contexto cultural específico. Mas não podemos brincar
com esses escritos como as crianças brincam em uma gangorra. Jamais deveríamos nos
esquecer de que princípios universais são sempre aplicáveis mesmo naqueles casos em
que os escritos inspirados estão falando para um contexto cultural específico.
Se levamos a sério o conselho de Cristo para vivermos "de toda palavra que pro-
cede da boca de Deus" (Mt 4:4), então podemos permitir que nossos próprios precon-
ceitos e sentimentos pessoais sejam o árbitro final das Escrituras.
Vivemos numa época em que quase tudo é superficial. Pouca estabilidade e firmeza
de caráter há, porque o preparo e a educação das crianças c superficial desde o ber-
ço. Seu caráter é edificado sobre areia movediça. A abnegação e o domínio próprio
não lhes têm sido moldados no caráter (WHITE, 2007, p. 184).
Espírito de Profecia
Ocupados com as numerosas opções que absorvem o tempo, providas pela tec-
nologia e pela comunicação moderna, os cristãos contemporâneos são tentados, como
nunca dantes, a se voltarem para uma forma de religião filosófica e antidoutrinária.
Ellen G, White (2009, p. 35; 1997, p. 682) nos adverte a não confiarmos em uma
mera "religião intelectual". Mas, por outro lado, ela também declarou que "a ignorância
não aumentará a humildade ou a espiritualidade de nenhum professo seguidor de Cris-
to" (WHITE, 2007, v. 3, p. 160). Portanto, somos encorajados "a atingir o próprio ápice
da grandeza intelectual", tornando-nos "gigantes na compreensão das doutrinas bíblicas
e das lições práticas de Cristo" (WHITE, 2007, v. 4, p. 413-415).
Considerações finais
Como filhos e filhas de Deus, devemos desenvolver uma abordagem consistente
para com os escritos inspirados. Essa abordagem deve estar baseada em duas passagens da
Escritura — Mateus 4:4: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede
da boca de Deus", e Deuteronômio 4:2: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando,
nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu
Jesus, os profetas e nós
vos mando." Isso requer que obtenhamos a vitória, pela graça de Deus, sobre as tendências
humanas de elogiar os profetas antigos e de rejeitar os profetas contemporâneos, de substi-
tuir a mensagem divina pelo mensageiro humano, de enfatizar aquilo que a pessoa aprecia
da mensagem profética ao mesmo tempo que ignora ou rejeita aquilo que ela não aprecia,
de se contentar com uma leitura superficial dos escritos inspirados e de aceitar a teoria da
verdade revelada nos escritos inspirados sem viver em harmonia com ela.
Exercer fidelidade incondicional aos escritos inspirados pode não ser a maneira
mais fácil de se viver, mas é a única maneira pela qual podemos reclamar verdadeira-
mente a promessa de 2 Crónicas 20:20: "Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis segu-
ros; crede nos seus profetas e prosperareis." Que o Senhor nos capacite a vivermos hoje,
e todos os dias de nossa vida, em fidelidade para com Ele e para com a sua Palavra.
Referências
WHITE, E. G. Caminho a Cristo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.
83
Por que eu creio
que Ellen G. White
foi uma verdadeira profetisa
Roger W. Coon
Pessoas têm diferentes razões para crer em Ellen G. White. Daniel T. Bourdeau,
líder pioneiro adventista, a viu em visão em 21 de junho de 1857 (a qual ele, incorreta-
mente, datou como havendo ocorrido em 28 de junho), em Bucks Bridge, NY. Bourde-
au observou que ela não respirava. Em 4 de fevereiro de 1891, ele escreveu: "Desde que
presenciei este maravilhoso fenómeno, eu fui inclinado a não duvidar da origem divina
de suas visões nem por uma vez" {LOUGHBOROUGH, 1909, p. 210).
H. M. S. Richards, orador adventista e locutor de rádio, fundador da "Voz da Profecia",
declarou acreditar em Ellen G. White "porque [ouviu] a oração dela" (ver Apêndice A).
Alguns adventistas do sétimo dia crêem simplesmente porque seus pais, pro-
fessores, pastores e líderes da igreja também crêem, e a credibilidade dessas pessoas é
tão alta que alguns aceitam suas crenças como uma verdade incontestável. Essa razão
têm certa validade, porém apresenta certo perigo, pois Satanás também pode simular
fenómenos físicos. Há grande número de charlatões e fraudes, muitos apenas "aparen-
tam" sinceridade. Além disso, muitas pessoas respeitáveis, verdadeiramente sinceras,
podem também estar erradas.
Ellen G. White uma vez escreveu a respeito de si mesma, seu dom, seu cha-
mado e sua obra:
Se está inteiramente convencido de que Deus não tem falado por nosso intermé-
dio, por que não agir de acordo com a sua fé e nada ter mais a ver com um povo
que está sob tão grande engano como esse? Se você tem agido de acordo com os
ditames do Espírito de Deus, você está certo e nós errados. Ou Deus está ensi-
nando Sua Igreja, reprovando seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta
obra é de Deus ou não é. Deus nada faz em parceria com Satanás. Meu trabalho,
ao longo dos últimos trinta anos, traz o selo de Deus ou do inimigo. Não há meio
termo nesta questão (WHITE, 2008, v. 4, p. 230).
Em harmonia com a advertência de Pedro: "E estais sempre preparados para res-
ponder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há
em vós" (IPe 3:15), posso oferecer as seguintes razões para explicar por que eu creio.
Espírito de Profecia
redor. Algumas vezes, segurava um grande objeto (a Bíblia) por longos períodos de
tempo, o que não poderia ser feito em circunstâncias normais. No entanto, o fenóme-
no físico, isoladamente, não é uma prova de que alguém seja um verdadeiro profeta,
mas apenas uma evidência de que algo sobrenatural está operando. Deve-se sempre
averiguar qual é essa fonte sobrenatural — se é Deus ou o diabo.
É interessante observar também que as oportunidades para seus conselhos
eram precisas. Há relatos de cartas enviadas por Ellen G. White com antecedência
aos fatos ocorridos como, por exemplo, a carta para Alonzo T. Jones. Após pre-
gar sobre a suposta veracidade no dom de profecia apresentado por Anna Rice-
-Phillips, no dia seguinte, Jones recebe uma carta de Ellen G. White pedindo que se
retratasse a respeito do assunto por não ser verdadeiro. Ocorre que, naquela época,
uma correspondência dessa natureza demorava no mínimo um mês para chegar
aos seus destinatários (JEMISON, 1955, p. 469-471). A. G. Daniells, na Assembleia
do Conselho Anual de 1903, em Takoma Park, também recebeu uma carta a respei-
to do panteísmo herético do Dr. John Harvey Kellogg (COON, 1990, p. 22). Foram,
inclusive, entregues instruções a William White para levar as cartas ao correio de
St. Helena e entregá-las ao funcionário do para a próxima remessa, ao invés de sim-
plesmente colocá-las na caixa de correio. Outro ocorrido interessante foi a visão
de Salamanca, na qual ela viu uma reunião que estava ainda no futuro e divulgou
sua incapacidade para relembrar e compartilhar isto até que a reunião acontecesse
(JEMISON, 1955, p. 471-480).
Havia intervenção sobrenatural no ministério diário de Ellen G. White. En-
quanto escrevia, certa vez, uma carta encorajadora, um anjo a impediu, colocando
sua mão sobre o papel e lhe dizendo que o destinatário consideraria isso, erronea-
mente, como lisonja (WHITE, E.,1983, p. 182). Em outra ocasião, enquanto escrevia
uma carta para Natanael Davis sobre poupar algum dinheiro, o Espírito Santo a
proibiu de fazer tal coisa (Ellen G. White, Carta 36, 1897). Em outra ainda, um anjo
a impediu de assinar um contrato com uma editora não adventista (ver Apêndice
C). Em uma carta ao Dr. John Harvey Kellogg, mencionou que Deus a despertou
d u r a n t e a noite para dar-lhe mensagens faladas e escritas:
Eu sinto o mais profundo interesse em você. Nas cartas que enviei na penúltima
correspondência — suas cartas chegaram poucos dias antes — declarei os fatos
claramente. Em poucos dias outra correspondência veio, a última. Bem, eu não
ousei impedir a luz sobre coisas que estão constantemente abertas diante de mim.
Recentemente não tenho dormido após às 2h da manhã, exceto por três noites.
Algumas noites eu acordei à Ih30. Na penúltima noite, acordei à meia-noite e
comecei a escrever para você. Escrevi ião rápido quanto minha caneta podia des-
lizar sobre do papel. listes escritos foram dados a mim para que eu os desse a você
(Ellen G. White, Carta 40, 1899; Manuscrito 1508, p. 7-9).
Espírito de Profecia
APÊNDICE A
Porque eu a ouvi orar
O cenário era um novo acampamento no Columbia Union Conference. Os par-
ticipantes eram três pastores e o Sr. H. M. S. Richards. Na noite anterior, o pastor
Richards anunciou aos acampantes que suas funções estavam mudando. Ele declarou:
"Eu tenho sido o pregador e diretor da Voz da Profecia e meu filho tem me auxiliado.
Agora, ele assumirá a liderança e eu o auxiliarei."
Mas esse não foi o tema principal da conversa no isolado refúgio onde acampa-
vam. Os temas variam entre o satélite de comunicação e o novo motor a vapor Lear.
Richards demonstrou sua ávida sede por conhecimento, contando à pequena plateia os
princípios científicos envolvidos nessas invenções.
O tema mudou para a Sra. Ellen G. White. Ele relatou sua experiência, voltando
aos dias de sua infância, quando ouviu a Sra. White falar: "Quando pregava, ela era
uma perfeita mulher divina, cristã, que conhecia sua Bíblia." Ele também contou sobre
ter estado presente quando o filho dela, Willie White, se colocou ao lado da mãe após
Por que eu creio que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa
ela ter pregado e disse que era hora de terminar. Ela virou para seu filho e disse: "Não
posso sentar-me até que eu tenha orado."
A oração provocou uma vívida e vitalícia impressão no jovem Richards. "Quando
ela orou", ele recorda, "foi como estar na presença de Deus. Uma profunda convicção
comoveu a plateia, e homens e mulheres choraram."
Quaisquer dúvidas que Richards pudesse ter sobre a autenticidade da Sra. White
como profetisa foram dissipadas. "Isso mudou minha vida", ele relata, "porque eu a ouvi
orar". Provavelmente, após a Sra. White, nenhuma outra pessoa teve tão grande influ-
ência sobre o adventismo e o crescimento da igreja como teve o Sr. H. M. S. Richards.
Depois de aproximadamente 40 anos como locutor de rádio, seria difícil imaginar qual-
quer afastamento de tão infatigável obreiro. "Não, eu não estou me afastando. Eu apenas
continuarei em um passo reduzido", explica.
APÊNDICE B
Parábola do piloto e da tripulação, por Uriah Smith
"Suponhamos que estamos prestes a iniciar uma viagem. O dono do navio nos dá
um livro de instruções, dizendo-nos que este contém instruções suficientes para toda a
nossa jornada, e que se nós as seguirmos, alcançaremos em segurança o porto de destino.
Navegando, abrimos nosso livro para aprender seu conteúdo. Encontramos
que seu autor formulou princípios gerais para nos guiar em nossa viagem e nos ins-
truir de maneira prática no tocante às muitas eventualidades que poderiam surgir
até o fim. Mas ele também nos diz que a última etapa da viagem seria especialmente
perigosa; que as características da costa estão em constante mudança por causa da
areia movediça e tempestades. 'Mas para esta etapa da jornada', diz ele, 'Eu provi-
denciei um piloto para vocês. Ele os encontrará e lhes dará as instruções necessárias
para que estejam aptos a enfrentar qualquer circunstância e perigo ao redor; e vocês
devem atender ao que ele disser'.
Com essas instruções, nós alcançamos o perigoso tempo especificado, e o piloto,
de acordo com a promessa, aparece. Mas alguns da tripulação, enquanto ele oferece seus
serviços, se levantam contra ele. 'Nós temos o livro original de instruções', eles dizem, 'e ele
é suficiente para nós. Permaneceremos seguindo as instruções dele, e somente dele; não
queremos nada de você.' Quem agora dá atenção ao livro original de instruções? Aqueles
que rejeitam o piloto, ou aqueles que o recebem, como o livro os instruiu? fulgue você.
"O que dizemos é exatamente isto: Que os dons do Espírito são dados para
nosso piloto nestes momentos perigosos e onde quer que seja e em quem quer que
seja que encontremos genuínas manifestações como estas, somos obrigados a res-
peitá-los. Não podemos agir de outra forma sem rejeitar a Palavra de Deus, que nos
instrui a recebê-los" (WHITE, 1863; ver Jl 2:28-32; ICo 12:8-10, 28; Ef 4:11-13).
Espírito de Profecia
APÊNDICE C
Quando o anjo sacudiu a cabeça indicando "não"1
O ano era 1913 ou 1914. O lugar, Elmshaven, um modesto local situado aos pés
da Howell Mountain, em Santa Helena, Califórnia — lar de Ellen G. White durante os
últimos 15 anos de sua vida.
A Fleming H. Revell Co., uma editora não denominacional de literatura evangélica
cristã (e editora da primeira edição de Caminho a Cristo, em 1892), estava negociando um
contrato com Ellen G. White para a publicação de outro livro. Os detalhes haviam sido mais
ou menos decididos antecipadamente por seu filho mais novo, William ("Willie") C. White,
que, desde a morte de seu pai, Tiago White (em 1881), tornara-se o principal conselheiro
de sua mãe, como também seu companheiro nas viagens, gerente de negócios e confidente.
Agora tudo estava quase pronto, o contrato havia sido redigido em termos muito
favoráveis à Sra. White, e a Revell Co. enviou quatro de seus funcionários para estarem
presentes no momento da assinatura do contrato.
Enquanto a simples cerimónia estava quase encaminhada, Willie pediu para que os re-
presentantes da editora se assentassem em frente a uma grande janela no piso superior ao escri-
tório — dessa forma, eles ficavam de costas para a viúva. Grace White Jacques relembra: "Vovó
(Sra. White) estava sentada em sua 'cadeira de escrever', com seu suporte de escrita (talvez uma
'prancheta) sobre seu colo", quando lhe deram o contrato para ser assinado.
Após algumas poucas palavras de cumprimento e com sociais jovialidades, a Sra,
White — muito claramente ciente do que estava acontecendo e o que era esperado dela
— pegou sua caneta, como se fosse assinar o documento.
Então, ela fez uma pausa e, inesperadamente, deitou sua caneta de volta sobre seu
suporte de escrita, sem assinar o contrato.
E, estranhamente, eía não deu nenhuma explicação sobre o que havia feito.
Os visitantes, longe de respeitar os 86 anos de idade da autora, tentaram ignorar
o assunto envolvendo-se em gracejos voluntários e em um bate-papo inconsequente,
na esperança de que qualquer coisa pudesse distrair sua atenção, e que, em seguida, ela
assinaria o documento para que eles pudessem seguir seu caminho.
Mas ela não estendeu o braço para pegar a caneta novamente.
"Meu pai então convidou os homens para a sala de visitas no térreo. Enquanto os
visitantes se assentavam, ele voltou até o escritório, no piso superior, onde vovó perma-
necia sentada. Estava agora sozinha, com o contrato ainda sobre o suporte de escrita em
seu colo", relembra a Grace Jacques. Puxando uma cadeira ao lado de sua idosa mãe,
Willie perguntou gentilmente: "Mãe, você entende por que estes cavalheiros estão aqui,
1
Essa história está baseada em uma entrevista feita com Arthur L. White em Yountvílle, CA,
em l de maio de 1990, por telefone, menos de um ano antes de sua morte; e em um questionário
respondido por sua irmã, Grace (ackes, recebida no Património White, também em l de maio de
1990. Não é de meu conhecimento se isso foi publicado anteriormente. — R.W.C.
Por que eu creio que EUen G. White foi uma verdadeira profetisa
Referências
ALBRIGHT, W. F. From the stone age to christianity: monotheism and the historical process.
Nova York: Doubleday, 1957.
COON, R. Look a little higher. Silver Spring: Ellen G. White Estate, 1990.
LOUGHBOROUGH,). N. The great second advent movement: its risc and progress. Washington:
Review and Herald, 1909.
SEVENTH-DAY adventist Bible students' source. Washington: Review and Herald, 1962.
(Commentary Reference Series)
WHITE, T. Do we discard the fiiblc by endorsing lhe visiuns? Review and Herald, v. 21, n. 7, 13
jan. 1863. Disponível em <http://bit.ly/I2M7Vu>. Acesso em: 17abr. 2012.
WHITE, E. G. Olhando para o alto: meditações matinais. Santo André : Casa Publicadora
Brasileira, 1983.
EUen G. White
e seus críticos
Princípios norteadores
de interpretação da Bíblia e
dos escritos de Ellen G. White
Robert W. Olson
Falei duas vezes aos professores do Colégio (de Battle Creek]. Na primeira vez, o as-
sunto rcladonou-se com a correia interpretação das Escrituras. O objetivo foi prote-
gê-los contra alguns pontos de vista extremos que eles defenderam no passado. Na
segunda vez, o assunto foi a morte de insetos. Foi-me perguntado se não era a vida de
Deus que se achava nos insetos. [...] Sempre que alguém, nos dias atuais decide de-
fender alguma ideia excêntrica, procura encontrar alguns dos escritos da irmã como
prova de apoio. F, em quase todos os casos eu me recordo do que foi escrito, da opor-
tunidade e das circunstâncias correlatas, de modo que posso estabelecer a conexão.
Existe, contudo, uma doutrina que está sendo pregada por alguns; chamam-na 'jus-
tificação física'. Trata-se do seguinte: se vivermos de modo correto, isto nos habili-
tará a vivermos e a sermos tornados imortais quando o Senhor vier (S. N. Haskell,
carta a Ellen G. White. nov. 23, 1899).
Não existe escusa para que qualquer pessoa assuma a posição de que não há
mais verdades a serem reveladas, e de que todas as nossas exposições das Es-
crituras encontram-se isentas de erros. O fato de que certas doutrinas têm sido
consideradas como verdade durante anos por nosso povo, não constitui prova
de que nossas ideias são infalíveis. O tempo não converterá o erro em verdade,
e a verdade suportará a sua própria comprovação. Nenhuma doutrina verda-
deira perderá qualquer substância quando submetida a profunda investigação
(WHITE, E., 1892a).
Os instrutores cm nossas escolas jamais deveriam ser colocados sob o jugo que os
97
obrigasse a ensinar apenas aquilo que até agora foi ensinado. Afastem-se tais restri-
ções. Existe um Deus que concederá a Seu povo a mensagem que este deve procla-
mar. Que nenhum ministro se sinta sob tais cadeias, ou seja medido de acordo com
padrões humanos (IASD, 1966, p. 273 e 274).
Veja a série de artigos de Ellen G. White (1890a; 1892b) publicados na Rcvicw and Hcrald.
Espírito de Profecia
Aparecerá um, e ainda outro, com nova iluminação, que contradiz aquela que foi dada
por Deus sob a demonstração de Seu Santo Espírito [... ] Não devemos receber as pa-
lavras dos que vêm com uma mensagem em contradição com os pontos especiais de
nossa fé. Eles reúnem uma porção de passagens, e amontoam-na como prova em torno
das teorias que afirmam. Isto tem sido repetidamente feito durante os cinquenta anos
passados. E se bem que as Kscrituras sejam a Palavra de Deus, e devam ser respeitadas,
sua aplicação, uma vez que mova uma coluna do fundamento sustentado por Deus
nestes cinquenta anos, constitui grande erro (WHITE, K., 1987, v. l, p. 161).
Hora da história bíblica, a geologia nada pode provar àqueles que tão confiantemente
raciocinam acerca de suas descobertas, não têm uma concepção adequada do tamanho
dos homens, animais e árvores anteriores ao dilúvio, ou das grandes mudanças que en-
tão tiveram lugar. Restos encontrados na terra dão provas de condições que em muitos
respeitos diferiam do presente; mas o tempo em que estas condições existiram apenas
pode ser descoberto pelo Registro inspirado. Na história do dilúvio a inspiração expli-
cou aquilo que a geologia por si só nunca poderia sondar (WHITF, H., 2009, p. 38).
Aquele que possui conhecimento de Deus e de Sua Palavra através de experiência pes-
soal, tem sua fé estabelecida na divindade das Sagradas Escrituras. Ele provou que a
Palavra de Deus é a verdade, e sabe que a verdade jamais poderá contradizer a si mesma.
Espirito de Profecia
Ele não prova a Bíblia a partir das ideias humanas quanto ao que é a ciência; estas ideias
é que são conferidas de acordo com o padrão infalível. Ele sabe que na verdadeira ciência
nada pode existir que contrarie os ensinos da Palavra; uma vez que ambos se originam
do mesmo Autor, a correia compreensão de ambos mostrará que eles se harmonizam.
Tudo aquilo que, na assim-chamada teoria científica, contrarie o testemunho da Palavra
de Deus, representa mera conjectura humana" (WHITE, E., 2004, p. 462).
A Bíblia é seu próprio expositor. Uma passagem será a chave que descerrará outras pas-
sagens, e deste modo haverá luz sobre o significado oculio da Palavra. Comparando di-
versos textos que tratam do mesmo assunto e examinando sua relação em lodo o sentido,
tornar-se-á evidente o verdadeiro significado das Escrituras (WHITE, E., 1975, p. 187).
Se bem que eu dependa tanto do Espírito do Senhor para escrever minhas visões
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são
minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre
ponho entre aspas (WHITE, E., 1987, v. l, p. 37).
De que modo escrever numa forma que seja compreensível àqueles aos quais dirijo
importantes assuntos, é um problema que eu mesma não posso resolver. Quando
percebo que sou mal compreendida pelos meus irmãos que mais me conhecem,
Princípios norteadores de interpretação
tenho certe/a de que necessito reservar mais tempo para escolher cuidadosamente
os termos que traduzirão meus pensamentos no papel, pois o Senhor me concede
luz que de outro modo eu não me atreveria a comunicar; grande fardo é colocado
sobre m i m ( W H I T E , K., 1899).
Hm alguns trechos, Kllen G. White emprega o termo nicest ("mais bela") referin-
do-se à obra de Cristo.
A mais bela obra já empreendida por homens e mulheres, é lidar com espíritos
jovens (WHITE, E., 2008c, p. 65).
É uma solene declaração que faço à igreja, de que nem um entre vinte dos nomes
que se acham registrados nos livros da igreja está preparado para finalizar sua histó-
ria terrestre, e achar-se-ia tão verdadeiramente sem Deus e sem esperança no mun-
do, como o pecador comum (WHITH, li., 1984, p. 40 e 41).
Ellen G. White utiliza pelo menos cinco vezes a proporção l para 20 e, pelo
menos, 21 vezes a expressão l para (ou em) 100. Ela jamais menciona l em 19, l em
Espírito de Profecia
21, l em 99 ou l em 101. Veja o Index dos escritos dela (1963, v. 3, p. 1917 e 1918), o
que demonstra que se tratava de uma expressão somente, e não de um número exato.
Vi que Deus havia de uma maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando da
mesma existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as
palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível, quando na reali-
dade estava mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas
opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus,
como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explican-
do-se mutuamente. Os verdadeiros inquiridores da verdade não devem errar; pois
não somente é a Palavra de Deus clara e simples ao explanar o caminho da vida, mas
o Espírito Santo é dado como guia na compreensão do caminho da vida ali revelado
(WHITE, E., 1999, p. 220 e 222).
Alguns nos olham seriamente e dizem: "Não acha que deve ler havido algum erro da
parte dos copistas ou dos tradutores?" Tudo isso é provável. [... l Mesmo todos os erros
não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés de alguém que não
fabrique dificuldades da mais simples verdade revelada (WHITE, E-, 1987, v. l, p. 16).
Em português, pelo menos até a 25" edição de O grande conflito, ainda permanecia a expressão.
Princípios norteadores de interpretação
Diz o irmão A que em uma carta escrita a um dos irmãos no sul da Califórnia, fora
feita por mím a declaração de que o sanatório tinha 40 quartos, quando em verdade
havia apenas 38. Isto o irmão A me apresenta como razão por que ele perdeu a con-
fiança nos testemunhos [ . . . ] A informação quanto ao número de quartos no Sanatório
Vale do Paraíso foi dada, não como uma revelação vinda do Senhor, mas simplesmen-
te como uma opinião humana. Nunca me foi revelado o número exato de quartos de
qualquer de nossos sanatórios; e o conhecimento que tenho obtido dessas coisas, tive
indagando dos que se esperava que soubessem (WHITE, E., 1987, v. l, p. 38).
Em minhas palavras, quando falando acerca desses assuntos comuns, não há nada que leve
os espíritos a crer que recebo meu conhecimento em visão do Senhor e o estou declarando
1 1 K i n i lal i . . . | . l, >u. nulo u | \ | i ] i !to S.nitn i r \ v i , i a l ; ; i i ! i k i i 0183 u-],lhv L ime!ilc ,i-, Í ! i s l i H : i i . < > ( " .
relacionadas com a obra do Senhor, ou referente à obra de Deus no coração e espírito hu-
mano, como Ele tem revelado essas coisas por meu intermédio no passado, a mensagem
dada deve ser considerada como esclarecimento vindo de Deus para aqueles que o neces-
sitam. Misturar, porém, o sagrado com o comum, é um grande erro [...]. Há vezes, porém,
em que devem ser declaradas coisas comuns, pensamentos comuns precisam ocupar a
mente, cartas comuns precisam ser escritas ( . . . ) Tais palavras, tais informações, não são
dadas sob a inspiração especial do Espírito de Deus (WHITE, E., 1987, v. l, p. 38 e 39).
Marion, lowa, 18 de março de 1861. Queridos filhos Henry, Edson e William: Kstamos
agora na casa dos irmãos Snook. Trata-se de um bom lar. Quando vejo o seu pequeno
bebé e o tomo nos braços, sinto saudades de meu querido bebé que deixamos no
cemitério de Oak Hill; não permitirei, porém, que um único pensamento de murmu-
ração se manifeste. Aprecio a companhia desta família. A irmã Snook é uma criatura
excelente. Amanhã visitaremos o irmão e a irmã Weaver, que são os encarregados do
hotel em Fairview. Que mudança podemos observar neles desde a nossa última visita
a esse Estado! Naquela oportunidade hospedamo-nos em seu hotel e fomos tratados
com amabilidade, mas eles ainda não haviam sido convertidos à verdade. Agora o
Espírito de Profecia
nosso coração acha-se unido, e desfrutaremos muito esta visita. Encontro-me sofren-
do de forte resfriado que se instalou em meus pulmões. Minha mente volve-se para
o lar, pensando em meus filhos. Crianças, sejam fiéis. Façam o que é correto e vocês
serão respeitadas. Pensamos muito em vocês e desejamos que vocês formem um ca-
ráter cristão, que lhes trará alegria, bem como a nós. Obedeçam a Jenny assim como
o fariam em relação a mim. Procurem agradá-la e não demonstrem relutância em
ajudá-la, antes façam o que ela deseja, de modo carinhoso e alegre. Façam confor-
me William os instruir. Colocamos vocês sob os cuidados dele enquanto estiverem
aí. Procedam de modo a granjear o amor e o respeito de todos. Pequeno William,
você deve ser um menino de temperamento suave e bom. Que o Senhor vos abençoe,
queridas crianças. Esta é a nossa oração sincera. Não se esqueçam de escrever-nos. A
mamãe que muito os ama (SMITH; PATTEN; WHITE, E., 1864, p. 52 e 53).
Durante as últimas semanas, os dias têm sido excessivamente quentes, t) jornal diz
que isto se deve a um vento quente proveniente do norte. Ao começar esta carta, tive
de abrir minhas janelas a fim de obter algum ar fresco. Transpiro abundanlemente
e, então, sofro uma crise de espirros. Almejo que você não esteja sofrendo demasia-
damente com esse tempo quente {Hllen Cí. White, Carta 201, 1903).
Em reformas, é preferível andar um passo aquém do limite, do que ir um passo além dele.
E se houver algum erro, deve este estar do lado das pessoas (WHITE, E., 1993b, p. 438).
Meu irmão, não deveis fazer da questão do regime uma prova para o povo de Deus; pois
perderão a confiança cm ensinos que são estirados ao ponto máximo de extensão. Deseja
o Senhor que Seu povo seja íntegro em todos os pontos da reforma prò-saúde, mas não
devemos ir a extremos (WHITE, E., 2002, p. 205 [escrevendo ao Dr. e Sra. D. H. Kress]).
Ê mais seguro e melhor para a causa da reforma que erremos, se tivermos de errar,
do lado do costume que do lado das mudanças extremas (WHITE, E., 1868 (aqui ela
focalizava o número de refeições diárias no caso das crianças pequenas)).
Princípios norte adores de interpretação
Ela conclui, então, que "devemos, porém, considerar a situação do povo, [... ]
sendo cautelosos em não insistir indevidamente, mesmo quanto a ideias correias"
(WHITE.E., 2002, p. 398).
Outro assunto sobre o qual ela apresenta diferentes posições é quanto ao uso de
aparelhos de raios-x. Ela diz:
Fui instruída de que os raios-x não constituem a grande bênção que alguns supõem
ser. Se utilizados indevidamente, poderão provocar grande dano. O resultado de al-
guns tratamentos clctricos é similar aos resultados do uso de estimulantes. Segue-se
um enfraquecimento (COMPREHENSIVE, 1963, v. 3, p. 303).
Em outro momento, porém, ela afirma: "Por várias semanas me submeti a trata-
mentos de raios-x, para a mancha escura que eu tinha na fronte. Tomei ao todo vinte e
três aplicações, e elas conseguiram remover inteiramente a mancha. Por isso sou muito
grata" (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 303).
Espirito de Profecia
Na alimentação, ela advertiu quanto ao uso de ovos, dizendo que "ovos não deve-
riam ser colocados sobre a vossa mesa" (WHITE, E., 2008b, v. 2, p. 400) numa carta a uma
família cujas crianças possuíam fortes propensões animalescas; a publicação ocorreu num
artigo intitulado "Sensualidade nos Jovens". Contudo, ela chegou a afirmar em outra obra
que "em alguns casos, o uso de ovos é benéfico" (WHITE, E., 2006, v. 7, p. 135). Ponderan-
do sobre as duas posições, temos o seguinte trecho escrito também por ela:
Nem o irmão Daniells, nem o irmão Prescott acham-se preparados para dirigir a obra na
Associação Geral, pois em algumas coisas têm eles desonrado o Senhor Deus de Israel
(Ellen G. White, lhe Later Elmshaven Years, p. 225).
Parecia haver uma moda de bicicletas. O dinheiro era gasto na gratificação de uni entu-
siasmo orientado nesta direcão, o qual teria sido melhor — muito melhor — aplicado
se investido na construção de casas de adoração onde estas se faziam grandemente
necessárias. Foram apresentadas diante de mim algumas coisas muito estranhas em
Battle Creek. Uma enfeitiçante influência parecia estar passando como onda sobre o
nosso povo deste lugar. Alguns lutavam pela supremacia, cada um tentando exceder os
demais na corrida de bicicletas. Havia um espirito de disputa e contenda entre eles, no
tocante a qual deles seria o maior (WHITE, E., 2006, v. 8, p. 51 e 52).
Uma possível razão para isso é que as bicicletas eram extremamente caras quando
foram inventadas.
Sobre o uso de drogas, o primeiro artigo de Ellen G. White sobre a saúde foi es-
crito em 1864:
Foi-me mostrado que maior número de mortes tem sido causado pelo uso de drogas,
do que por todas as demais causas somadas [... ] Diante de mini foi apresentado um
ramo que sustentava sementes largas e achatadas. Sobre ele estava escrito: Nux vomi-
ca, estriquinina. Abaixo estava escrito: Não há antídoto. Muitos utilizam esse veneno
mortal em pequenas quantidades. Mas se eles soubessem qual a influência a que se
submetem, nenhum grão desta substância seria introduzido em seu organismo [...]
Foi-me mostrado que a inocente papoula branca, de aparência modesta, comporta
uma droga perigosa. O ópio representa um veneno de ação lenta, quando utilizado
em pequenas quantidades. Em doses maiores produz letargia e morte. Mercúrio, ca-
lomel e quinino têm contribuído com a sua quota de desgraça, o que somente o dia
de Deus revelará plenamente (WHITE, 1945, v. 4, p. 133, 138 e 139).
Já o primeiro livro sobre saúde, da autoria de Ellen G. White, How to Live, do ano
1865, diz que "a intérmina variedade de medicamentos que existe no mercado, os numero-
sos anúncios de novas drogas e misturas, todas, como dizem, produzindo curas milagrosas,
matam centenas enquanto trazem benefícios a um só" (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 454).
Quanto a intervenções cirúrgicas que exigem o uso de drogas, ela afirma serem
estas aprovadas pelo Senhor:
Quem esteve ao vosso lado, ao efetuardes essas operações melindrosas? Quem vos man-
teve calmo e dominado na crise, dando-vos discernimento rápido e perspicaz, vista cla-
ra, nervos estáveis e habilidosa precisão? O Senhor Jesus enviou Seu anjo para o vosso
lado, para vos dizer que fazer. Colocou-se uma mão sobre a vossa mão. Jesus, e não vós,
guiou os movimentos de vosso instrumento (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 285).
fevereiro de 1890, cerca de dezesseis meses depois da amarga discussão quanto à lei em
Gaiatas, que ocorreu em Minneapolis, ele escreveu à profetisa:
Segundo minha opinião, depois da morte do irmão White, a maior calamidade que
jamais se abateu sobre nossa causa ocorreu quando o Dr. [K. J.] Waggoner publicou
seus artigos quanto à lei em Gaiatas no Signs [1884 a 1886). Suponho que a questão da
lei em Gaiatas voltou à tona cm 1856, quando o irmão Pierce veio de Vermont a fim
de investigar a posição que o irmão J. H. Waggoner [pai do Dr. Waggoner] assumiu
em seu primeiro livro sobre a lei, a saber, que a lei mencionada em Gaiatas eram os
Dez Mandamentos. De qualquer modo, desde aquele tempo até o aparecimento dos
artigos no Signs havia entre nós — salvo algumas exceções individuais — unidade no
tocante a esta questão. Mas tal unidade foi então quebrada. Muitos foram lançados
em contusão, e as cartas acumularam-se nos escritórios da Review, querendo saber o
que significam estas coisas. Surpreendi-me com os artigos, pois me pareceu então — e
ainda me parece hoje — que eles contradiziam diretamcnte aquilo que a irmã escreveu
a }. H. Waggoner na ocasião a que aludi acima. A irmã percebeu que a posição dele
estava errada. K havia então apenas um assunto sob exame, ou seja, se a lei em Gaiatas
eram os Dez Mandamentos — contorme afirmava o irmão Waggoner — ou era o sis-
tema de leis mosaicas, segundo a posição do irmão Pierce. Minhas reminiscências so-
bre o assunto são bastante distintas, e se eu me encontrasse sob juramento numa corte
de justiça, seria obrigado a testificar que, tanto quanto eu soubesse e cresse, aquele era
o único ponto em questão; e no tocante a ele, a irmã declarou que o irmão Waggoner
estava equivocado (Uriah Smilh a Ellen G. White, 17 de fevereiro de 1890, Arquivo de
Correspondências Recebidas do Património White).
Vi então que todos os pastores deveriam ser perfeitamente unidos e que a igreja
sentiria esta união e os pastores seriam fortes; cada um saberia então exatamente a
obra que os outros estivessem realizando, e desse modo poderiam eles sustentar-se
mutuamente as mãos, e a igreja seria beneficiada; assim haveria apenas pequeno pe-
rigo de os pastores receberem erros perigosos que causariam a divisão do precioso
rebanho (Kllen G. White, Manuscrito 14, 1850).
Que ninguém confie em si mesmo, como se Deus lhe houvesse concedido luz espe-
cial, acima de seus irmãos [... ] A única segurança para qualquer um de nós, está em
não recebermos nenhuma nova doutrina, nenhuma nova interpretação das Escritu-
ras, sem primeiro submetê-la aos irmãos de mais experiência. Coloquemo-la diante
deles num espírito humilde e disposto a aprender, mediante oração sincera; se eles não
puderem ver luz nesta exposição, devemos submeter-nos ao seu julgamento; pois "na
multidão de conselheiros há segurança" (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 291 e 293).
Espírito de Profecia
A maravilhosa verdade de Deus deve ser pesquisada por cada mente, e o resulta-
do de muitas mentes deve ser reunido a partir de várias fontes como o depósito
hereditário de Deus, e o divino poder operará de tal modo que existirá verdadeira
harmonia (WHITE, E., 1894).
Todo obreiro deve guardar-se contra o pensamento de que é completo por si mesmo.
Meu irmão, você deveria aprender que, qualquer que seja a sua posição no serviço de
Deus, outras mentes, além da sua, deveriam ser postas em conexão com a obra. Você po-
derá desejar empreender coisas que, segundo o seu juízo deveriam ser feitas. Mas nem
sempre deverá ser seguida a sua vontade. Em alguns setores outras mentes podem ser
mais capazes de oferecer conselho sábio do que a sua; portanto, você deve aconselhar-se
com seus irmãos. Em vossas reuniões administrativas, permita que os outros membros
expressem livremente suas opiniões. Não considere seu próprio julgamento como sendo
plenamente suficiente para decidir os assuntos, sem que seja ouvida qualquer outra voz
(Ellen G. White, Carta 179,1902).
Referências
COMPREHENSIVE index to the writings of Ellen G. White. [S. 1.]: Pacific Press Publishing
Association, 1963. v. 3.
IASD. The Conference. Review and Herald, v. 37, n. 9,14 fev. 1871. Disponível em <http://bit.Iy/
x9qH9S>. Acesso em: 14 mar. 2012.
IASD. Through Crisis To Viclory 1888-1901. [S. 1.]: Review and Herald Publishing
Association, 1966.
SMITH, U; PATTEN, A. P.; WHITE, E. G. An appeal to the youth. Battle Creek: Steam Press of
the SDA Publishing Association, 1864.
._. A constellation of principies from personal letters by Mrs. E. G. White. Review and
Herald, v. 76, n. 98,19 set. 1899. Disponível em: <http://bit.ly/xOZGu7>. Acesso em: 15 mar. 2012.
. Caminho a Cristo. Talui: Casa Publicadora Brasileira, 1989.
. Chris tour hope. Review and Herald, v. 69, n. 50, 20 dez. 1892a. Disponível em:
<http://bit.ly/xxA2lX>. Acesso em: 14 mar. 2012.
. Feedings iníants. Review and Herald, v. 31, n. 18, 14 abr. 1868. Disponível em:
<http://bit.ly/yFHp8Dx Acesso em: 15 mar. 2012.
. Fundamentos da educação cristã. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1975.
. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1987. v. 1. 111
. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008a. v. 2.
. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1987. v. 3.
.. The darkness comprehended it not. Review and Herald, v. 67, n. 22, 3 jun. 1890b.
Disponível em: <http://bit.ly/Ae4sHgx Acesso em: 14 mar. 2012.
. Truth to be rescued from error. Review and Herald, v. 71, n. 42, 23 out. 1894.
Disponível em: <http://bit.ly/zQWDHB>. Acesso em: 15 mar. 2012.
112
O papel de Ellen G. White
no desenvolvimento
das doutrinas da IASD
Jerry Moon
Muitos adventistas supõem erroneamente que suas crenças tiveram origem nas
visões de Ellen G. White. A típica opinião de não adventistas é a de G. H. Shriver (1981,
p. 672), autor de um artigo sobre o "Adventismo do Sétimo Dia" no Abingdon Dictiona-
ry of Living Religions: "A origem da autoridade para a crença é a Bíblia, mas os escritos
de Ellen G. White são tidos em tão alta estima que para todas as intenções práticas, é a
Bíblia como interpretada por Ellen G. White."
Nem todos têm o mesmo ponto de vista. O Dr. Roger Nicole, eminente académico e
fundador da Sociedade Teológica Evangélica, comentou com um estudante da Universida-
de Andrews, na Convenção Anual de 2003, em Atlanta: "Eu aprecio muito os adventistas
do sétimo dia. Eles têm a mais elevada visão das Escrituras do que qualquer outra pessoa
que já conheci. Ellen G. White acreditava profundamente nas Escrituras." Um estudo sobre
o crescimento da igreja revelou que os adventistas que se consideram "leitores regulares
ilos eset ilosde líllui G. White" Ia/em provavelmente quase Ju.is ve/es mais esmdn pessoal
diário da Bíblia do que os que não lêem o Espírito de Profecia (NICOLE, 1982, p. 11).
Uma das mais claras evidências da prioridade das Escrituras nas experiências e
ensinos de Ellen G. White é uma série de sete conferências preparadas pelos pioneiros
do movimento adventista, em 1848. Acredito ser absolutamente essencial que nos lem-
bremos da história e especialmente das lições espirituais obtidas nestas conferências,
visto que elas estabeleceram os fundamentos da igreja a partir das Escrituras.
Naturalmente, o princípio Sola Scriptura não é novo. Esse princípio é um funda-
mento clássico do protestantismo de reforma. Todavia, na prática, o princípio raramente
é considerado por mais de um breve período de tempo. No decorrer da história, existe a
tendência de criar-se tradições e costumes que sobrepõem-se às Sagradas Escrituras como
base para fundamentações doutrinárias. Uma forma de corrigir essa tendência é fazer
urna pausa, de tempos em tempos, para se reexaminar os fundamentos da fé, a fim de
nos assegurarmos de que nossas certezas estão sendo fundamentadas sobre as Escrituras.
Uma das maiores defensoras da fundamentação bíblica como principio de
vida, na Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), foi uma jovem que estava presente
em todas as sete reuniões de 1848 e possuía apenas 21 anos de idade. Acerca do
princípio da Sola Scriptura, ela escreveu:
Espírito de Profecia
Mas Deus terá sobre a Terra uni povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como
norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens
ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos,
tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria
— nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como
prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer
doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro "Assim diz o Senhor"
(WHITE, E., 2005, p. 595).
Ela apresenta constantemente a ideia de que a Bíblia, por si mesma, é o mais alto
padrão pelo qual todos os outros devem ser testados. Comentando a relação entre a
Bíblia e o dom de profecia, ela escreveu:
O Espírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura, pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo
ensino e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo
o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas
se têm levantado no mundo" (l)o 4:1) e Isaías declara: "À lei e ao Testemunho!
se eles não falarem segundo esta palavra, não haverá manhã para eles (Is 8:20)"
(WHITE, E., 2005, p. viii).
Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de
nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiram] Edson e outros
que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo
em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles e estu-
dávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite e
às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se
reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem prepa-
rados para ensiná-la com poder. Quando em seu estudo chegavam a ponto de dizerem:
"Nada mais podemos fazer", o Espírito do Senhor vinha sobre mini e eu era arrebatada
em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando,
com instruções quanto à maneira pela qual devíamos trabalhar e ensinar eficientemente.
Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de
Cristo, sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma sequência de verdades que se
estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti
aos outros as instruções que o Senhor me dera (WHITE, E., 2008, v. l, p. 206-207).
lágrimas eram derramadas. Assim passávamos muitas horas. Algumas vezes passáva-
mos a noite toda em solene busca das Escrituras, para compreender a verdade para o
nosso tempo. Em algumas ocasiões o Espírito de Deus descia sobre mim, e porções di-
fíceis eram esclarecidas pelo modo indicado por Deus, e havia então perfeita harmo-
nia. Éramos todos de um mesmo pensamento e espírito (WHITK, E., 2002, p. 24-25).
• A busca pelo /elo intcrpretativo, a fim de "que as Escrituras não fossem tor-
cidas para adaptarem-se às opiniões de qualquer pessoa" (WHITE, E., 2002, p. 25);
1
Conforme ela alega: "Procurávamos fazer com que nossas divergências de opiniões fossem
tão pequenas quanto possível, não insistindo sobre pontos que eram de menor importância, a
respeito dos quais havia opiniões divergentes" (WHITE, E., 2002, p. 25).
Ela explica: "Se, depois de fervorosa oração, não compreendíamos algum ponto, nós o discutí-
amos, e cada qual exprimia livremente sua opinião" (WHITE, E., 2002, p. 25).
Espírito de Profecia
4
Essa crença assume a total interpretação escatológica do millerismo, particularmente o
princípio día-ano.
Ou seja, a aniquilação final do mal e dos pecadores. George Storrs em duas publicações: An In-
quiry: Are the Souls of the Wícked Immortal? In 'Ihree Letters (publicado anonimamente, 1841),
c An Inquiry: Are the Souls of the Wicked Immortal? In Six Sermons (publicado em 1842). Ellen
G. White comenta posteriormente: "Nossa identidade pessoal é preservada na ressurreição [...]
O espírito, o caráter do homem, volta a Deus, para ser preservado. Na ressurreição, toda pessoa
terá seu próprio caráter. Deus, em seu devido tempo, despertará os mortos, dando novamente o
fôlego de vida e ordenando que os ossos secos vivam. Aparecerá a mesma forma, mas estará isenta
de doenças e de todo defeito. Revive apresentando as mesmas características pessoais, de modo
que um amigo reconheça o outro" (Ellen G. White, Manuscrito 76, 1900).
Essa doutrina foi gradualmente redefinida (ver folheto, "Steps in the Changing Usagc of the Term
'Shut Door"'; NICHOL, 1951, p. 176-252; WHITE, J., 1847, p. 22; WHITE, A., 1993, v. l, p. 256-270,
60-61,78,96,140, 160-161, 191-192; DOUGLAS, 2009, p. 500-512,549-569; WHITE, 2005, p. 428-
431). Por volta de 1850, os principais pilares doutrinários estavam consolidados. A "Porta Fechada"
de 1844 (Ml 25:10) era agora vista como "aberta" (Ap 3:7-8); cm seis anos de progresso teológico os
pioneiros haviam desenvolvido convicções bem fundamentadas de sua mensagem e missão.
Espirito de Profecia
das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida.
Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos
principais de nossa té, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que,
quando não estava em visão, eu não compreendia esses assuntos e aceitaram como
luz direta do Céu as revelações dadas. Por dois ou três anos, minha mente continuou
cerrada ao entendimento das Escrituras. No decorrer de nossos trabalhos, meu ma-
rido e eu visitamos o Pai Andrews, que sofria intensamente de reumatismo infla-
matório. Oramos por ele. Impus as mãos sobre sua cabeça e disse: "Pai Andrews, o
Senhor Jesus te dê saúde." Foi curado instantaneamente. Levantou-se e andou pelo
aposento, louvando a Deus e dizendo: "Nunca dantes vi isto. Anjos de Deus estão
neste aposento." Revelou-se a glória do Senhor. Toda a casa parecia resplandecer
de luz, e um anjo pôs-me a mão sobre a cabeça. Desse tempo em diante tenho sido
capaz de compreender a Palavra de Deus (WHITE, E., 2008, v. l, p. 207).
A cura do pai Andrews ocorreu em dezembro de 1850. Assim, esses "dois ou três
anos" a que ela se refere acima correspondem quase que exatamente ao período das
conferências de 1848-1850 (WHITE, E., 2008; v. l, p. 207). Por isso, na Conferência em
Volney, NY, ela foi incapaz de refutar o erro do irmão Arnold, embora ela tenha reco-
nhecido que a crença dele estava errada. "Uma grande dor pressionava o meu espírito",
ela revogou, "porque me pareceu que Deus foi desonrado" (WHITE, E., 1858, v. 2, p.
98). Sob tamanha ansiedade, ela desmaiou. Imediatamente, cinco dos homens presentes
— José Bates, E. L. H. Chamberlain, H. S. Gurney, Hiram Edson e Tiago White — for-
maram um círculo de oração e intercederam por ela.
Contudo, uma visão deu respostas bíblicas às "estranhas diferenças da opinião". Aos
anciãos orarem, ela se reanimou, mas não voltou à consciência. Em visão, inconsciente do
que acontecia na ocasião, ela levantou uma grande Bíblia e começou a virar as páginas,
indicando os textos relevantes para as questões em discussão. Ao mesmo tempo, os seus
olhos estavam virados "para cima e em uma direção oposta à da Bíblia", como se estivesse a
ver algo distante (LOUGHBOROUGH, 1885). Knquanto aqueles em volta dela documen-
tavam curiosamente o seu comportamento aparente, ela mesma estava "perdida das coisas
terrestres". Quando a visão terminou e ela novamente percebeu o que acontecia ao seu
redor, ela contou ao grupo que o seu "anjo companheiro" tinha explicado "alguns dos er-
ros daqueles que estavam presentes, e também a verdade em contraste com os seus erros".
O método pelo qual as visões resolveram discordâncias doutrinárias foi o de
chamar a atenção a passagens específicas das Escrituras Sagradas e relevantes para o
seu estudo. Como Loughborough observou,
a razão porque essas pessoas desistiram de suas diferenças não foi simplesmente
porque a Irmã White disse que eles devessem abandoná-las, mas porque na mesma
visão eles foram dirigidos a afirmações claras das Sagradas Escrituras que refutaram
as falsas teorias que lhes haviam sido apresentadas, em contraste com a direta e
harmoniosa verdade Bíblica (WHITE, A., 1993, v. l, p. 142).
Espírito de Profecia
pela manhã, Elíen foi tomada em visão e enquanto ela estava em visão, todos os
irmãos [e irmãs] chegaram. Foi um momento poderoso. Um dos irmãos não esteve
presente no sábado, mas era humilde e bom. Ellen levantou-se em visão, tomou uma
grande Bíblia e levantou-a perante o Senhor. Falando sobre ela, logo ela levou a Bí-
blia até aquele humilde irmão que não esteve no sábado, e a pôs nos seus braços. Ele
tomou-a, enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto. Então Ellen veio e sentou-se
ao meu lado. Ela esteve em visão por uma hora e meia e neste tempo ela não respi-
rava de forma alguma. Este foi um momento comovente. Todos choraram de alegria
(Tiago White, carta ao Irmão e Irmã Hastings, ago. 26, 1848).
Surge, então, a questão: por que em todos esses exemplos em que Ellen G. Whi-
te esteve em visão, ela levantava Bíblias, as transportava, citava textos dela e a levava
às pessoas de modos os mais impressionantes? Porque esse gesto (que aconteceu pelo
menos cinco vezes nos primórdios da igreja) foi altamente significativo? Nos relatos
de suas ações durante as visões, uma das suas atividades mais frequentes e notáveis era
a de abrir, transportar e fazer citações da Bíblia. A pergunta tem uma resposta clara e
simples: porque essa foi a essência da sua missão: exaltar a Bíblia.
Dessa forma, o grupo testou um novo conceito para um futuro estudo da Bíblia.
Na mesma visão, Ellen G. White recebeu mensagens específicas para Tiago White e José
Bates. A mensagem para Bates dizia que ele deveria escrever naquele momento o que ele
tinha visto e ouvido em seus estudos, e que a bênção de Deus estaria sobre ele. Eviden-
temente, o motivo de evitar escrever depois da Conferência em Topsham foi porque ele
ainda não havia chegado a uma completa compreensão do selamento. A partir de então,
ele foi intimado a escrever, inclusive, sobre o que ele tinha visto e ouvido por ocasião da
visão de Ellen G. White em Dorchester. A mensagem para Tiago White foi a que segue:
Você deve começar a publicar uni pequeno folheto e enviá-lo às pessoas. Deixe-o
ser pequeno de início, mas ao lê-lo, as pessoas lhe enviarão recursos para que você
possa continuar com a impressão deles, e ele será um sucesso desde o princípio. Foi-
-me mostrado que a partir deste pequeno começo, seriam como claros raios de luz
que circulariam o mundo (WHITE, E., 1943, p. 125).
A obra do Senhor sobre este ponto está em perfeita harmonia com suas manifes-
tações a nós sobre outros pontos, e em harmonia com a posição correia sobre os
dons espirituais. Não parece ser o desejo do Senhor ensinar o seu povo através
dos dons do Espírito sobre questões bíblicas até que seus servos tenham diligen-
temente estudado sua Palavra. Quando isto foi feito com o assunto do horário
de se iniciar o sábado, e a maior parte [dos adventistas] estavam convictos desta
interpretação, alguns estiveram em perigo de estarem em desarmonia com o
corpo da igreja neste assunto; então foi o momento para Deus ampliar a sua
bondade na manifestação do dom do seu Espírito na realização do seu próprio
trabalho. As Escrituras Sagradas nos são dadas como regra de fé e dever, e so-
mos ordenados a examiná-las. Quando falharmos em compreender e obedecer
Espírito de Profecia
Tiago White viu duas razões por que Deus interveio quanto ao tempo do início
do sábado. A primeira alega que Deus esperou que os fiéis pesquisassem seriamente as
Escrituras Sagradas tentando resolver a questão; e a segunda, que Deus agiu (neste caso)
antes que a discórdia se espalhasse na atual separação da igreja.
e ênfase verdadeira, para ter certe/a de que você esta absolutamente correio em
sua interpretação. Então se dirija às pessoas e pregue o assunto através da Bíblia
(H. M. S. Richards, carta para Mervyn Maxwell).
Considerações finais
As doutrinas dos adventistas do sétimo dia não foram baseadas nas visões de El-
len G. White, mas nas Escrituras. Os escritos dela foram dados no contexto do estudo da
Bíblia e tendo como pano de fundo todas as revelações prévias de Deus nas Escrituras.
O modelo regular de Deus na relação com os pioneiros adventistas foi o de que Ele não
enviava normalmente uma revelação direta para guiá-los em assuntos doutrinários até
que eles tivessem investigado primeiramente as Sagradas Escrituras para aprender o que
Deus tinha transmitido anteriormente sobre o assunto.
As visões, por sua vez, desempenharam um papel fundamental nas conferências
de 1848, bem como no período depois da conferência de 1855. Há um modelo consis-
tente, com poucas excecões, no qual o estudo de Bíblia precedeu as visões. Raramente
Deus dava a luz por uma visão antes que os crentes tivessem feito o seu melhor para do-
minar primeiramente as evidências bíblicas. Depois que eles tivessem aprendido tudo o
que podiam estudando a Bíblia, Deus graciosamente dava a eles uma ajuda extra através
de urna visão. Hoje, então, o inestimável tesouro do Espírito de Profecia não deve levar-
-nos a usá-lo como um substituto do estudo da Bíblia. Isso deve ser um estímulo para
o estudo da Bíblia e não um substituto a ele. Portanto, aquele que faz de Ellen G. White
uma "muleta" para evitar uma luta séria com as Sagradas Escrituras, não estará bem
equipado para resolver problemas sobre os quais ela não faz nenhuma afirmação.
A maneira pela qual Deus conduziu os pioneiros desse movimento ensina um
princípio básico hermenêutico, desenhado a partir do relacionamento entre o Espí-
rito de Profecia e as Escrituras. Isto é, para evitar alterar o conselho de Deus usando
indevidamente os escritos de Ellen G. White, primeiro trace o assunto através do
Antigo e do Novo Testamento das Escrituras.
No capítulo anterior, consideramos os princípios hermenêuticos para nos ajudar
a interpretar corretamente os escritos de Ellen G. White. Uma prioridade entre aqueles
princípios (implícito "no contexto teológico") é a necessidade (especialmente em ques-
tões de "fé e doutrina") de aprofundar nossos estudos dos escritos de Ellen G. White
com um estudo criterioso sobre o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto.
Os resultados do uso desse método pelos primeiros adventistas testificam sua
aplicabilidade. Embora os pioneiros fossem poucos em número e seus recursos fi-
nanceiros e credenciais educacionais praticamente não existissem, pelos padrões do
mundo, eles lançaram os fundamentos de uma igreja baseados nas Escrituras e nada
além dela. Além disso, os pioneiros foram confirmados por visões sobrenaturais e
levados à liberdade individual da consciência; a autoridade foi investida não em
líderes humanos, mas nas Escrituras Sagradas. Os líderes, bem como os ouvintes,
Espírito de Profecia
estiveram prontos para modificar o seu ponto de vista caso fosse mostrada uma
visão mais correta através da Bíblia. Por último, seus esforços são caracterizados
pela unidade, uma vez que a palavra de Deus não se contradiz e todos haviam se
comprometido com a Palavra de Deus.
APÊNDICE A
O ocorrido pode ser encontrado no testemunho pessoal ocular de Otis Nichols, escrito a mão
e conservado no cofre do Património White; Ellen G. White (1858, v. 2, p. 75-79) cita três pará-
grafos do documento de Nichois (LOUGHBOROUGH, 1905, p. 240-44).
O papel de Ellen G- White no desenvolvimento das doutrinas da IASD
APÊNDICE B
APÊNDICE C
Pouca atenção é dada à Bíblia e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e
mulheres à luz maior (WHITE, E., 1983, p. 37 [1902]; 1997, p. 257).
Todavia, o fato de que Deus revelou sua vontade aos homens por meio de sua Pala-
vra, não tornou desnecessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao
contrário, o Espirito foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a seus
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD
servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus
que inspirou a Escritura Sagrada, é impossível que o ensino do Hspírito seja contrá-
rio ao da Palavra (WHITE, E., 2005, p. vii).
O Hspírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino
e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo o espírito, mas
provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no
mundo." l João 4: l. E Isaías declara: "À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo
esta palavra, não haverá manhã para eles (Is. 8:20) (WHITE, E., 2005, p. vii).s
APÊNDICE D
O relacionamento de Ellen G. White com os seis "pilares"
da doutrina da igreja adventista do sétimo diaq
Segundo Ellen G. White (1946, p. 28-32), podemos identificar as doutrinas fun-
damentais da IASD como:
A segunda vinda de Cristo: Ellen G. White ouviu Guilherme Miller pregar esta
doutrina em Portland, Maine, em 1840 e 1842. Juntamente com seus pais, ela aceitou
essa doutrina e foram, por isso, excluídos da Igreja Metodista por causa de suas novas
crenças. O papel de Ellen G. White como "mensageira especial" em relação a essa dou-
trina foi validar os ensinamentos bíblicos aprendidos de Guilherme Miller, Joshua V.
Himes, Charles Fitch, José Bates, Josias Litch (entre outros).
H
Outros importantes textos de Ellen G. White que tratam sobre o assunto são: White (2008, v.
2, p. 604-608; 2004, v. 5, p. 665- 666).
Apêndice escrito por Roger Coon.
Espírito de Profecia
O sábado: Essa doutrina foi introduzida por José Bates. Tiago e Ellen G. White
inicialmente guardavam o sábado com base no seu estudo da Bíblia, não porque
ela teve uma visão sobre o assunto. A primeira visão sobre a santidade do sábado
do sétimo dia foi dada no dia 3 de abril de 1847, sete meses depois que eles tinham
começado sua observância (ver Ellen G. White, Carta 2, 1874). Quanto à hora certa
do início da guarda do sábado, essa questão não foi ajustada entre os adventistas
sabatistas até novembro de 1855. Quatro observações foram mantidas durante a
década de 1840 e início da de 1850:
130 • O sábado começa no levantar do sol, no sábado pela manhã (baseado na
interpretação errónea de Mateus 18:1, que eles entenderam como começando com
o levantar do sol, no domingo pela manhã);
• O sábado tinha início às 18h da sexta-feira, uma posição favorecida por José Ba-
tes, que sabia que o sol nasce diariamente às 6h e se põe às 18h da tarde no equador;
• O sábado tinha início ao pôr do sol de sexta à noite — posição dos batistas
do sétimo dia.
Dom de profecia: Ellen G. White foi a terceira escolha de Deus para o oficio de pro-
feta entre o povo remanescente. Ela foi "a mais fraca das fracas" (LOUGHBOROUGH,
1988). Antes dela, Deus havia escolhido William Ellis Foy, um homem negro, e Hazen Foss,
cunhado de Ellen (a irmã de Ellen, Mary, foi casada com o irmão de Hazen, Samuel Foss).
Referências
ANDREWS,). N. Time for Commencing the Sabbath. Review and Herald, v. 7, n. 10,4 dez. 1855.
Disponível cm <http://bit.ly/GNE6sO>. Acesso em: 22 mar. 2012.
DOWER, N. R. Interview with H. M. S. Richards. Ministry, v. 49, n. 10, p. 5-7, out. 1976.
LOUGHBOROUGH, J. N. Recollections of the past. Review and Herald, 3 mar. 1885. Disponível
em <http://bit.ly/GIcdmH>. Acesso em: 22 mar. 2012.
_. The great second adventist moviment: its rise and progress. Washington: Review
and Herald Publishing Association, 1905.
MAXWELL, C. M. The 1848 Sabbath and Sanctuary Conferences: what actually took place? In:
DAMSTEEGT, G. P. (Ed.). Development of SDA theology. [S. L]: Andrews University, 1994.
N1COLE, R. Who reads Ellen G. White? Ministry, v. 55, n. 10, p. 11, out. 1982. Disponível em
<http://bit.iy/GHRKOM>. Acesso em: 22 mar. 2012.
SHRIVER, G. H. Adventismo do Sétimo Dia. In: CRIM, K.; BULLARD, R. A.; SH1NN, L. D. (Eds.).
Abingdon dictionary of living religions. Abingdon: [S. L], 1981.
WHITE, A. L. Ellen G. White: mensageira da igreja remanescente. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993.
132
WHITE, E. G. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.
WHITE, J. Life incidents. Battle Creek: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868.
. The conference. Review and Herald, v. 7, n. 10, 4 dez. 1855a. Disponível e <http://
bit.ly/GNE6sO>. Acesso em: 22 mar. 2012.
.. Time of the Sabbath. Review and Herald, v. 7, n. 10, 4 dez. 1855b. Disponível em
<http://bit.ly/GNE6sO>. Acesso em: 22 mar. 2012.
. Time to commence the Sabbath. Review and Herald, v. 31, n. 11, 25 fev. 1868.
Disponível em <http://bit.ly/GH6j4U>. Acesso em: 22 mar. 2012.
133
Assistentes literários
dos autores inspirados
Robert W. Olson
Segundo Roger R. Nicole (1980, p. 82), "o autor do Apocalipse utilizou neste livro uma
forma de grego pesadamente marcada por hebraísmos, expressões que seriam consideradas
incorreras em termos dos padrões gramaticais gregos.
Assistentes literários dos autores inspirados
No entanto, Nilchol (1957, v. 7, p. 720) afirma que não é difícil explicar as di-
ferenças literárias e linguísticas observáveis entre o Apocalipse, escrito provavelmente
quando João se encontrava sozinho em Patmos, e o Hvangelho, escrito com o auxílio de
um ou mais companheiros de fé em Éfeso.
À semelhança desses autores bíblicos, Ellen G. White também necessitou
de ajuda literária. Uma das razões para isso é que ela possuía apenas uns poucos
anos de educação formal. Em 1876, ela escreveu: "Não sou um erudito. Não posso
preparar meus próprios escritos para o prelo. [... ] Não sou um gramático" (WHI-
TE, 1987, v. 3, p. 90). Seus escritos nem sempre possuíam a mesma qualidade. Seu
filho, William White, escreveu certa vez:
Por vezes, quando Mamãe se encontra descansada e livre, seus pensamentos são
apresentados numa linguagem que é não apenas clara e forte, como também bonita
e correia; outras vezes, quando ela se acha cansada e oprimida com pesados fardos e
ansiedade, ou quando o assunto é de difícil exposição, aparecem repetições e incor-
reções gramaticais (William White, carta a G. A. Irwin, mai. 7, 1900).
Outra razão é que Ellen G, White não dispunha de tempo para efetuar edição de-
talhada. Ela mesma escreveu: "Tenho devotado pouco tempo a estes livros, pois as pa-
lestras, a redação de artigos para os periódicos e a redação de testemunhos particulares
que visam a enfrentar e reprimir os erros que estão aparecendo, mantêm-me ocupada"
(Ellen G. White, Carta 114, 1896).
Há que se considerar ainda o tempo empregado em entrevistas pessoais. Ela era
137
frequentemente interrompida enquanto escrevia.
Ela [Fannie Bolton] deveria declarar-me qual a causa de toda essa desavença, mas
tudo o que ela conseguiu dizer é que por vezes deixou frases incompletas. Lembreí-
-a de que sou frequentemente interrompida enquanto escrevo, e isso pode ocorrer
em meio a uma sentença; quando retomo o trabalho, prossigo em frente, não per-
cebendo que a sentença ficou incompleta. Mas eu lhe havia dito que quando isto
ocorresse, ela poderia tanto trazer-me o problema quanto riscar a frase e prosseguir.
Escrevendo tanto quanto escrevo, não é de surpreender que fiquem por vezes sen-
tenças incompletas (Ellen G. White, Carta 103, 1895).
Em outro documento, William White descreve os limites traçados por sua mãe
para os "copistas" ou assistentes literários:
nuscrito em que o mesmo pensamento tenha sido expresso, mas não de modo tão cla-
ro. Mas nenhum dos auxiliares de mamãe está autorizado a acrescentar ao manuscrito
pensamentos de sua própria mente (William White, carta a G. A. Irwin, mai. 7,1900).
Estimado irmão [G. A. Irwin]: O irmão viu minhas copistas. Elas não modificam
minha linguagem. Esta permanece assim como a escrevi. O trabalho de Marian é de
ordem bastante diferente. Ela é a minha editora. Fannie jamais foi minha editora. De
que modo são preparados meus livros? Marian não pretende obter reconhecimento
[literário]. Ela trabalha da seguinte forma: Toma os meus artigos que são publicados nas
revistas, e arquiva-os em livros em branco. Ela possui também uma cópia de todas as
cartas que escrevo. Ao preparar um capítulo de livro, Marian se recorda de que escrevi
algo sobre aquele ponto especial, e que poderá tornar o assunto mais convincente. Ela
inicia a pesquisa e, ao encontrá-lo, se ela percebe que efetivamcntc o capitulo ficará mais
claro, acrescenta o material. Os livros não são produções de Marian, mas inteiramente
minhas, reunidas de todos os meus escritos. Marian possui um vasto campo de ação, e
sua habilidade em organizar as matérias é de grande valor para mim. Evita que eu tenha
de vasculhar grande quantidade de material, o que não teria tempo de fazer (Ellen G.
White, Carta 61a, 1900; ver também Carta 41,1895).
138 Ela afirma, porém, que Marian tinha permissão para trocar algumas palavras:
Mary, Willie está em reunião de manhã cedo até tarde da noite, ideando e plane-
jando para a realização de melhor e mais eficiente obra na causa de Deus. Nós só o
vemos à mesa. Marian recorre a ele em pequenas questões que, segundo parece, ela
poderia resolver por si mesma. Ela é nervosa e apressada, e ele está tão extenuado
que tem de cerrar os dentes e controlar os nervos da melhor maneira que pode,
Conversei com ela e lhe disse que precisava resolver por si mesma muitas coisas
que estava levando a Willie. A mente dela está em cada ponto e suas conexões, e a
mente dele tem avançado a custo através de uma variedade de assuntos difíceis até
ficar com o cérebro num turbilhão, e então seu espírito de modo algum se acha pre-
parado para tratar dessas pequenas minúcias. Ela mesma tem de arcar com algumas
dessas coisas referentes à sua parte na obra, e não apresentá-las a ele, nem afligir-lhe
o espirito com elas. Às vezes penso que ela acabará matando a nos dois, desnecessa-
riamente, com suas coisinhas que pode resolver tão bem por si mesma como se as
apresentasse a nós. Quer que vejamos toda pequena modificação de uma palavra.
Estou bastante cansada desse assunto (WHITE, 1987, v. 3, p. 92 -93).
Tenho tentado começar tanto capítulos quanto parágrafos mediante sentenças curtas e
efetivamente simplificar sempre que possível, eliminar qualquer palavra desnecessária,
e tornar o trabalho, conforme tenho dito, mais compacto e vigoroso (Ellen G. White,
carta a William White, abr. 11,1897, referindo-se a O desejado de todas as nações).
Durante mais de vinte anos tenho estado vinculada ao trabalho da irmã White. Du-
rante este período jamais fui solicitada a escrever um testemunho a partir de ins-
truções orais ou a localizar os pontos em questão em matérias já escritas (Ellen G.
White, carta a G. A Irwin, Carta 61a, 1900).
Além disso, Ellen G. White submetia seus manuscritos a outras pessoas, objeti-
vando apreciação crítica:
Todas as minhas publicações são rigorosamente examinadas. Desejo que coisa alguma
apareça-sob forma impressa sem cuidadosa investigação. Obviamente não desejaria que
homens que não possuem experiência crista ou aos quais falte habilidade para apreciar
méritos literários fossem colocados como juizes a respeito do que é essencial para ser
trazido perante o povo, como puro mantimento joeirado de toda palha. Apresentei to-
dos os meus manuscritos de Patriarcas e profetas e de [Spirít ofProphecy] volume IV ao
comité de livros para exame e apreciação crítica. Coloquei também esses manuscritos
nas mãos de alguns de nossos ministros, para exame. Quanto mais apreciação crítica
em relação a eles, tanto melhor será o trabalho (Ellen G. White, Carta 49. 1894).
Gostaria que ao longo de toda a sua leitura o irmão observasse os pontos em que os
pensamentos estejam expressos de tal modo que se tornariam especialmente criticá-
veis por parte de pessoas com formação médica; por bondade, conceda-nos o bene-
fício de seu conhecimento no tocante a como expressar os mesmos pensamentos de
modo mais acurado (William White, carta a David Paulson,/ev. 15, 1905).
Por último, Ellen G. White lia todas as matérias depois que esses assumiam sua
forma final — logo, os artigos não eram publicados sem seu consentimento final.
Espírito de Profecia
antes que qualquer documento fosse enviado pelo escritório, era ele lido pela
senhora White em sua forma final e nenhuma alteração era efetuada por qual-
quer de seus auxiliares depois que ele fosse desta forma aprovado e aceito por
ela (ROBINSON, s.d., p. 107).
Ellen G. White, certa vez, também descreveu seus hábitos de releitura de seus artigos:
encontro pela manhã, sob a minha porta, vários artigos copiados pelas irmãs Peck,
Maggie Hare e Minnie Hawkins. Todos devem ser lidos criticamente por mim. [... ]
Todo artigo que escrevo para ser editado por meus auxiliares, tenho de lê-lo sempre,
antes de enviá-lo para publicação (Ellen G. White, Carta 84, 1898).
140 Leio tudo aquilo que é copiado, a fim de verificar se tudo está da forma como
deveria estar. Leio todos os manuscritos de livros antes de enviá-los ao impres-
sor. Assim, você pode perceber que o meu tempo acha-se totalmente ocupado
(Ellen G. White, Carta 133, 1902).
Ellen G. White cria que seus livros, em seu resultado final, eram inspirados por Deus:
Referências
BARCLAY, W. The letters to Tímothy, Titus and Philemon. I.ouisville: Westminster John
Knox Press, 2003.
GREEN, M. The second epistle general of Peter and the general epistle of Jude. Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1987. (The Tyndale New Testament Commentaries).
MCRAE, A. A. The ups and downs of higher cristidsm. Christianity Today, lOout. 1980.
Assistentes literários dos autores inspirados
N1CHOL, F. D. (Ed.). The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and
Herald,1956.v.5.
NICOLE, R. R. Inerrancy and common sense. Grand Rapids: Baker Book House, 1980.
ROBINSON, D. E. How the books of Mrs E. G. White were prepared. Silver Spring: White
Estale, [S. d.].
WHITE, E. G. Mensagens escolhidas. Tutuí: Casa Publicadorn Brasileira, 1987. v. 3.
141
Os críticos e a integridade
dos profetas
Renato Stencel
Jesus
"Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por
causa da blasfémia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo" (Jo 10:33).
"Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (Jo 5:18).
"Muitos deles diziam: Ele tem demónio e enlouqueceu; por que o ouvis?" (Jo 10:20).
"Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como sabe estas letras, sem ter
estudado?" (Jo7:15).
Moisés
E se ajuntaram contra Moisés e contra Arão c lhes disseram: Basta! Pois que toda a
congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que,
pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor? (Nm 16:3).
Jeremias
Então, falou Azarias, filho de Hosaías, e Joana, filho de Careá, e todos os homens
soberbos, dizendo a Jeremias: É mentira isso que dizes; o Senhor, nosso Deus, não
te enviou a dizer: Não entreis no Egito, para morar. Baruque, filho de Nerias, é que
te incita contra nós, para nos entregar nas mãos dos caldeus, a fim de nos matarem
ou nos exilarem na Babilónia (}r 43:2, 3).
Espírito de Profecia
Paulo
"Dizendo ele estas coisas em sua defesa, Festo o interrompeu em alta voz: Estás
louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!" (At 26:24).
"Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as autoridades,
clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui" (At 17:6).
"Estais vendo e ouvindo que não só em ívfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem
persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos
por mãos humanas. Não somente há o perigo de a nossa profissão cair em descrédito,
como também o de o próprio templo da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser
mesmo destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram" (At 19:26,27).
Todos os exemplos citados acima revelam, de modo convincente, que, nas mais va-
riadas épocas, os profetas bíblicos (canónicos) tiveram que aprender a conviver com as ad-
versidades do espírito crítico. Sua integridade foi constantemente provada em diferentes
circunstâncias e experiências. E quanto aos profetas modernos? Ellen G. White, por exem-
plo? Foi ela alvo de críticas por parte de seus adversários? Foi sua integridade pessoal, bem
como a integridade de seus escritos, provada durante os setenta anos de seu ofício profético?
Atualmente, alguns críticos, dentro e fora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
(IASD), escrevem livros, artigos e matérias na internet com o propósito de questionar
o ministério profético de Ellen G. White. De acordo com o Dr. Jemison (1955, p. 413),
as acusações mais comuns dizem respeito às seguintes questões: a) desordem nervosa,
b) falsos ensinos, c) plágio, d) profecias não cumpridas, e e) aspectos da vida pessoal.
Quando analisamos mais detidamente o assunto, verificamos que as mesmas críti-
cas dirigidas aos profetas bíblicos foram direcionadas a Ellen G. White, o que revela um
paralelismo entre ambas as realidades, em circunstâncias e épocas completamente dife-
rentes. Muitas críticas dirigidas a ela se manifestam numa cadência cíclica. As acusações
hoje levantadas não são novas. De fato, tiveram início no começo do ministério dela e
continuaram ao longo de sua vida. E muitas delas persistem mesmo após sua morte.
Quando uma nova geração entra em cena, os críticos suscitam temas antigos -
algumas vezes com novas roupagens. Essas gerações, inconscientes de que se trata de
"temas antigos" e de que já foram completamente respondidos no passado, muitas vezes
se assustam e se julgam enganadas. Alguns vão mais longe: ao negar sua crença em Eiíen
G. White como profetisa genuína, acabam por abandonar a igreja.
De acordo com o Dr. Herbert E. Douglass (2009, p. 468), há pelo menos sete
motivos tidos como principais agentes causadores das críticas e acusações à vida e
obra de Ellen G. White: 1) os que rejeitam qualquer pessoa que afirme ser um pro-
feta moderno, inclusive Ellen G. White; 2) os que deixam de utilizar as regras de
interpretação básicas e comumente aceitas; 3) os que confiam em rumores e boatos
sem nenhuma evidência documental para suas alegações; 4) os que vêem mudan-
ças editoriais nos escritos de um profeta e as chamam de "supressões"; 5) os que fi-
cam perturbados com a aparente dependência literária; 6) os que carregam consigo
Os críticos e a integridade dos profetas
1
Ver dicionário online da língua portuguesa. Disponível em <http://www.priheram.pt/dlpo/>.
Acesso em: 27 fev. 2012.
Espírito de Profecia
a) Ellen G. White não pode ser acusada de plagiadora; "tal afirmação não procede".
b) "Creio que os críticos perderam uma grande oportunidade de focalizar sua atenção
nas mensagens de Ellen G. White, em vez de focar apenas nos seus escritos."
c) Ela usou escritos de outros autores, mas a maneira como ela os utilizou foi única e
pessoal, de fornia ética e legal. Portanto, ela está dentro dos padrões legais "do uso
correio" de materiais de outros autores.
d) " Ellen G. White [usou) palavras, frases, sentenças, parágrafos, sim, e mesmo pági-
nas dos escritos de outros autores. Porém, eta permaneceu dentro dos parâmetros
legais e em todo o tempo ela criava algo que era substancialmente maior (e ainda
mais belo) do que a soma das partes dos conteúdos de seu empréstimo literário. E
penso que a tragédia maior é que os críticos deixaram de ver esse detalhe."
e) No fim do processo, o advogado deu seu testemunho pessoal, sem que tenha sido solici-
tado a fazé-lo: "Sou um homem mudado. Nunca mais serei o mesmo."''
Além do estudo conduzido por Ramik, destacamos a pesquisa feita pelo Patri-
mónio Literário Ellen G. White, que se tornou conhecida como "Projeto Surpresa".
No mesmo ano de 1981, Tim Poirier, arquivista do Património White, recebeu uma
coleçâo completa de todos os escritos de Ellen G. White publicados em inglês. Ao
Aqueles que desejarem obter uma síntese do processo de condução do estudo e elaboração do
documento do Dr. Vincent Ramik, queiram se reportar ao periódico Adventist Review de 17 de
setembro de 1981, ou baixá-lo pelo seguinte site: <bit.ly/zSGK8i>.
Os críticos e a integridade dos profetas
recebê-los, foi-lhe solicitado que tomasse nota, nas margens, de todas as referências
aos conteúdos de autores citados por Ellen G. White, tanto trechos evidentes como
paráfrases, e reunisse todas as descobertas de seus críticos de plágio, para serem
avaliadas. O objetivo dessa tarefa era descobrir paralelos literários entre os escritos
dela e os de outros autores. O "Projeto Surpresa", concluído em cinco anos, foi de-
signado dessa maneira porque não importava o quanto fosse encontrado, se Ellen
G. White tivesse tomado emprestado, muito ou pouco, sem sombra de dúvidas,
seria uma "surpresa" para alguns da igreja. Em 1986, Poirier apresentou o relatório
de sua pesquisa, cuja síntese revelou o seguinte:
Ellen G. White lia muito. Além disso, tinha memória retentiva [fotográfica], o
que significa que frequentemente ela usava conteúdos de materiais que tinha
lido sem se reportar à sua biblioteca para encontrar a fonte exata de onde ela
havia retirado tal empréstimo literário.
que ao ler os livros e periódicos religiosos, ela encontraria gemas preciosas de ver-
dades expressas numa linguagem aceitável e que ela receberia auxílio celestial para
reconhecê-los e separá-los dos resíduos de erros que por vezes pudesse encontrar
(WHITE apud PFANDL, 2008, p. 86).
O mundo tem tido seus grandes ensinadores, homens de cérebro gigantesco e dota-
dos de admirável capacidade de investigação; homens cujas declarações têm estimu-
lado o pensamento e aberto à visão vastos campos de conhecimento; e esses homens
têm sido honrados como guias e benfeitores de sua raça. Alguém existe, porém, que
os supera a todos. "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus." "Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigénito, que está no seio do
Pai, é quem o revelou (Jo 1:12 e 18). Podemos seguir os passos dos grandes homens
do mundo até onde se estende o registro da história humana; a Luz, porém, existia
antes deles. Como a Lua e as estrelas de nosso sistema solar brilham pelo reflexo da
luz do Sol, assim, no que há de verdadeiro em seus ensinos, refletem os grandes pen-
sadores do mundo os raios do Sol da Justiça. Toda jóia de pensamento, todo lampejo
de intelecto, provém da luz do mundo (WHITE, 2007, p. 464 e 465).
Em vez de tentar esconder as fontes literárias de onde efetuava seus emprés-
timos, Ellen G. White muitas vezes recomendava que as pessoas lessem os livros
que ela utilizava para compor o conteúdo de seus escritos. Dessa forma, podemos
inferir que sua obra como autora estava em comum acordo com os costumes de sua
época. Como vimos, ela não quebrou nenhuma das regras de direitos autorais e sua
conduta como autora foi moralmente correia e ética.
Podemos afirmar que, durante os setenta anos de ofício profético, Ellen G. White
jamais teve a intenção de enganar ninguém ao fazer empréstimos literários. Isso não afeta
sua integridade nem põe em descrédito a genuína inspiração que a capacitou a ser consi-
derada a Mensageira do Senhor. Podemos ressaltar que seu propósito foi sempre comuni-
car a verdade a fim de exaltar e glorificar a Deus e conduzir leitores aos pés de Jesus Cristo.
Referências
JEMISON, T. A prophet among you. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1955.
PFANDL, G. The gift of prophecy: the role of Ellen G. White in Gods remnant church. Nampa:
Pacific Press Publishing Association, 2008.
Roger W. Coon
1. Ellen G. White foi uma ladra: ela roubou as produções literárias de outros e colocou
o seu nome nelas;
O p\ágio
O Dicionário Michaelis Escolar on-line define "plagiar" como apresentar como
sua uma ideia ou obra literária, científica ou artística de outra pessoa, ou imitá-la.
Quando um escritor conscienciosamente toma material literário de outro escritor e o
Espírito de Profecia
transforma para seu próprio uso (um tipo de "apropriação" literária), esforçando-se no
processo por persuadir o leitor de que ele — o "conversor" — é na verdade o criador
original dessas palavras e ideias, ele, de fato, cometeu um plágio. Sua motivação pode
ser meramente a fama, ou ele pode estar procurando um benefício adicional financeiro.
O plágio, apesar de obviamente não ser ético (moralmente censurável) não é, por
lei, um crime definido no estatuto. Atividades criminais relacionadas a essa prática in-
cluem invasão de direitos autorais e roubo literário.
Em suma, o plágio é uma literatura mascarada no que diz respeito à identi-
ficação do verdadeiro autor.
O empréstimo literário
O "empréstimo literário" ocorre quando um escritor utiliza ou emprega
("empresta") as ideias — e, algumas vezes, até a fraseologia — de outro escritor,
para enfatizar um ponto em particular.
A questão da identificação da autoria não é aqui um assunto relevante, como
no caso do plágio. A prática do "empréstimo literário" não constitui plágio. As leis
literárias reconhecem e definem como "uso justo" um escritor tomar ideias e até
mesmo palavras de outro, utilizando-as a serviço de uma finalidade particular do
segundo escritor, desde que não pretenda ser o autor original. As leis literárias des-
cartam essa prática específica como sendo plágio.
150
A importância da perspectiva na discussão deste assunto
Na discussão do assunto do plágio e empréstimo literário no geral, bem como nas
alegações de tais práticas no caso de Ellen G. White em particular, é imperativo que a
discussão seja conduzida no grande contexto da perspectiva bíblica e histórica.
Perspectiva bíblica
O empréstimo literário era bastante comum entre os escritores da Bíblia, e isso é
encontrado repetidamente em muitos livros, começando com o Pentateuco de Moisés e
terminando com o Apocalipse do apóstolo João.
Um exemplo dessa prática no Antigo Testamento vem de Moisés, ao dar suas leis a
Israel. Ele tomou emprestadas algumas das leis, ideias e até mesmo a fraseologia do grande
legislador mesopotâmico Hammurabi (que viveu talvez 250 anos antes). O código de Ham-
murabi n" 14 diz: "Se um cidadão roubou o filho de outro cidadão ele deverá ser morto." De
uma forma similar, Moisés escreveu: "O que raptar alguém e o vender, ou for achado na sua
mão, será morto" (Êx 21:16). No código de Hammurabi n° 196 e n° 200 lemos: "Se um ci-
dadão destruir o olho do filho de um cidadão, seu olho deverá ser destruído. Se um cidadão
golpear o dente de outro cidadão, seu dente deverá ser golpeado também." Dois séculos e
meio se passaram e Moisés escreveu: "Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por
olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé" (Dt 19:21). Leis desumanas não foram inclu-
ídas, então Moisés não estava somente copiando (NICHOL, 1978, v. l, p. 616-619).
Ellen G. White e "empréstimos literários"
Outro autor no Velho Testamento que fez uso de empréstimos literários foi
Salomão. Esse "homem sábio" não foi o autor de todos os Provérbios que ele incluiu
em seu livro. Ele "emprestou" os dizeres de diferentes sábios e, na preparação de seu
livro, ele provavelmente atuou mais na função de editor do que na de um autor legí-
timo e admite a ação em Eclesiastes 12:9-10 (Ver apêndice A). Ele afirma claramente
que "procurou" (VKJ) e "investigou" (NVI), e ainda acrescenta que muitos provér-
bios são originalmente de autoria alheia. Seu trabalho foi metodicamente "organi-
zar", "colocar em ordem" essas pérolas de outros autores para servir a seu próprio
propósito literário. Ele colocou aqui "palavras de verdade" (VKJ, RSV, NASB), mes-
mo não sendo o autor original e apesar de os autores originais não serem escritores
inspirados. Vale lembrar que tudo isso foi feito sob a soberana superintendência do
Espírito Santo, que guiou Salomão na busca de frases e expressões que, apesar de
não serem provenientes de fontes inspiradas, são verdadeiras. O Espírito Santo sem
dúvida o guiou para longe de outros relatos que não eram verdadeiros.
Willis J. Hackett disse que "as palavras e as ideias dos profetas não são verdadeiras
somente porque eles as disseram, mas podemos crer que os profetas as proferiram por-
que elas são verdadeiras" (informação verbal).1
Os textos de Isaías 2:2-4 e Malaquias 4: l -3 são verdadeiramente idênticos, assim
como Isaías 36-39 e 2 Reis 18-20 são verdadeiramente idênticos. Novamente, porém, é
irrelevante discutir quem foi o autor e quem copiou o texto.
No Novo Testamento também há exemplos de empréstimos literários. O próprio
Jesus usou ideias e linguagens que outros haviam usado previamente em certos momentos
como, por exemplo, ao nos dará regra de ouro (Mt 7:12), a qual já havia sido escrita pelo
rabino Hillel uma geração antes2: "O que é desagradável a você não faça ao seu vizinho,
essa é a essência da Tora, enquanto que o resto é o comentário disso" (b.Shabbat 31a).
O apóstolo Paulo tomou emprestado de Epiménides, um filósofo do sexto século an-
tes de Cristo, e não viu problema em não identificar a "fonte" para Tito. O texto original diz:
Eles criaram uma tumba para Ele, Aquele que é o Santo e Elevado — Cretenses,
sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos! Mas vós não estais mortos:
O Senhor vive e habita para sempre; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos
(poema de Epiménides em Cretica, ver Tito 1:12; Atos 17:28).
1)"E contemplem! Ele virá com milhares de seus santos para executar o julgamento
sobre todos, e para destruir todos os ímpios: e para convencer todos os ímpios de
suas obras mas que eles tem cometido, e de todas as palavras insolentes que ímpios
pregadores proferiram contra Ele" (CHARLES, 1913, p. 189; ver Judas 14,15).
1
Reunião campal em Potomac, em 1980.
:
O pensamento e até algumas das palavras na oração do Senhor podem ser encontradas nos
primeiros rituais judeus de oração conhecidos como Ha-Kaddish.
Espírito de Profecia
2) "E eu vi e contemplei uma estrela caída do céu" (Enoque 86:1; ver Apocalipse 9:1).
3) "Eles foram todos julgados e achados culpados e foram lançados para dentro do lago
de fogo" (Enoque 90:26; ver Apocalipse 20:15).
4) "E o primeiro Céu passará, e um novo céu deverá aparecer" (Enoque 91:16; ver
Apocalipse 21:1).
5) "E o cavalo andará até o peito no sangue dos pecadores" (Enoque 100:3; ver Apo-
calipse 14:20).
6) "O nome deles serão apagados do livro da vida" (Enoque 108:3; ver Apocalipse 3:5).
7) "Depois disso eu vi uma multidão incontável, que estavam diante do Senhor dos
Espíritos" (Enoque 40: l; ver Apocalipse 7:9).
Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre
nós se realizaram conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles teste-
munhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acu-
rada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.
Perspectiva histórica
Alguns são inclinados a entrar em pânico quando ouvem alegações supondo cri-
mes literários de Ellen G. White pela primeira vez, com frases e termos bastante fortes
de denúncia por parte dos críticos. Entretanto, devemos lembrar que essas acusações
não são novas. Elas tiveram início no começo do ministério dela, continuaram ao longo
de sua vida e continuam a aparecer desde a sua morte quase que em ritmo cíclico.
Ellen G. White e sua igreja tiveram que confrontar essas acusações, e eles fizeram
isso para a satisfação da maioria dos membros, que prontamente esqueceram essa ques-
tão e continuaram a gastar seu tempo com outros assuntos.
De qualquer maneira, quando a nova geração entra em cena, críticos levantam os
velhos assuntos novamente, algumas vezes com novas vestimentas, e essa nova geração,
Ellen G- White e "empréstimos literários"
inconsciente de que isso são "coisas antigas" e de que já foram completamente respon-
didas no passado, muitas vezes se assusta e sente-se como se tivesse sido ludibriada.
Alguns vão mais longe ao se deparar com a negação da crença em Ellen G. White como
uma profetisa genuína e acabam por abandonar a igreja.
Questão número 1:
A Senhora recebeu suas visões sobre a reforma de saúde antes de visitar o Instituto
de Saúde em Dansville, Nova Iorque, ou a senhora havia lido alguns trabalhos ante-
riormente sobre esse assunto?
Ellen G. White (2005, p. xi, xii) ampliou sua declaração anterior de que ela realmen-
te fez uso de escritos sobre saúde de outros autores. A partir de 1888, por exemplo, a "in-
trodução" de O Grande Conflito passou a afirmar que se havia feito uso de escritos histó-
ricos e teológicos de outros autores. A denominação reimprimiu a autobiografia de Tiago
White, Life Sketches (esta obra não deve ser confundida com o livro de Ellen G. White de
título similar). A primeira edição, de 1880, publicada um ano antes de sua morte, continha
certos relatos que os editores consideraram inexatos com respeito aos escritos de Ellen G.
White. Tais relatos foram removidos da edição revisada da referida obra.
Em 1933, William White e Doris Robinson preparam o documento "Um pequeno
relato com respeito aos escritos de Ellen G. White" que foi republicado como uma inser-
ção na. Adventist Review, edição de 4 de junho de 1981. O assunto do plágio continuava
a ressurgir e eles novamente comentaram sobre ele de uma maneira franca, podendo-se
destacar dois pontos interessantes:
1. Nos dias anteriores ao seu ministério, Ellen G. White foi informada pelo seu anjo de que
devido aos seus limites relacionados à educação formal, o Senhor certamente a guiaria
a jóias literárias e a outras informações e materiais importantes — "preciosas pérolas da
verdade expressa em linguagem aceitável" e que ela deveria sentir-se livre para utilizá-las
em seus escritos, ao procurar conduzir as mensagens de Deus ao seu povo.
(SEVENTH-DAY, 1962, H-2). Assim, com todos esses argumentos, esperamos que as
acusações de plágio tenham sido enterradas por mais uma geração.
3
Para os resultados, ver Coon/Wood quatro artigos reimpressos da Adventist Review, 17 de
setembro de 1981.
Ellen G. White e "empréstimos literários"
O relatório de Poirier
Em 1986, Tim Poirier entregou o relatório da sua pesquisa. O livro O Desejado
de Todas as Nações foi excluído dessa pesquisa, porque ele estava sendo objeto de um
estudo bastante detalhado e intensivo conduzido pelo Dr. Fred Veltman, professor e
pesquisador do Departamento de Religião do Pacific Union College. A maior percen-
tagem dos "empréstimos" foi encontrada no livro O Grande Conflito, somando o valor
de 20,16%. No livro Sketches From de Life of Paul foram encontrados 12,23% de para-
lelos. O restante dos livros incluídos nesse estudo tem 2% ou menos do seu conteúdo
composto por materiais emprestados {para o relatório detalhado, ver Apêndice B). A
declaração pública de Walter Rea, de que nos escritos de Ellen G. White havia de 80 a
90% (ou mais) de empréstimos literários revelou-se extremamente exagerada, para a
surpresa de poucos que haviam estudado as pesquisas de Rea, bem como as pressuposi-
ções literárias concernentes à inspiração e revelação.
O Senhor é amante do belo, e para nos agradar e gratificar Ele desvelou perante nós
as belezas da natureza, tal como um pai terreno busca oferecer o melhor aos filhos
que ama. O Senhor sempre se compraz em ver-nos felizes (...) Ele no-las concedeu
para o nosso deleite [,..] Suas misericórdias foram-nos concedidas gratuitamente
(Ellen G. White, Manuscrito 153, 1903).
1. Como o domínio de ideias, é tão verdadeiro quanto qualquer outro: "O que foi e o que
há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol"
(Ec l :9). Ideias surgem a cada nova geração e com isso alguns podem pensar serem
originais, quando, na realidade, é somente a fala renovada de uma verdade antiga.
Para um resumo da teoria sobre a composição sagrada de Ellen G. White, ver Apêndice C.
Elten G. White e "empréstimos literários"
3. Porque Deus é o Criador de todas as boas ideias. Ele é também o dono delas. Na Car-
ta 7, datada de 6 de fevereiro de 1894, para sua assistente literária Fannie Bolton, que
estava tão preocupada sobre créditos literários pelas ideias, Ellen G. White escreveu:
Foi-me dada uma ilustração de uma árvore repleta de lindos frutos. Foi-me
mostrada Fannie recolhendo os frutos, alguns maduros, os melhores, alguns
ainda verdes. Ela os colocava em seu avental e dizia: "Eles são meus, isto é meu."
Eu disse: "Fannie, você com certeza está reivindicando algo que não é seu. Esta
fruta pertence àquela árvore. Qualquer um pode arrancá-la e saboreá-la, mas
ela pertence àquela árvore" (Ellen G. White, Carta 7, 1894).
4. Ela se via como uma agente escolhida por Deus para conduzir antigas verdades e es-
sas verdades — não o agente que as levava — eram o único assunto verdadeiramente
Espirito de Profecia
Avaliações
160
Por um académico adventista do sétimo dia
O doutor Edward Heppenstalí (1987, p. 17), professor aposentado de Teologia,
apresenta em um excelente artigo alguns pontos quanto a Ellen G. White e o uso de
outras fontes. Vamos a eles:
1. A inclusão de materiais de outras fontes cristãs por Ellen G. White em seus escritos, na
maioria das vezes sem dar o devido crédito, levanta a questão da declaração dela de
genuína inspiração como uma Mensageira do Senhor. Entretanto, ela não procurou
enganar ninguém. Pensamentos, fatos e verdades escritas por uma pessoa podem ser
usados por outra sem que isso seja considerado plágio. Ela fez aplicações originais
para materiais antigos, enquanto se valia de pensamentos e palavras de outros livros.
2. Ela dificilmente poderá ser acusada de plagiadora mais do que um arquiteto ou escultor
poderá ser acusado de ser um copiador de Christopher Wren ou Michelangelo, apenas
porque ele teria cortad um mármore de uma pedreira em comum, esquadrinhado as
pedras com a mesma arte, e então as unido em colunas com uma forma parecida. O cer-
to é que existe certa liberdade para se adotar e adaptar formas de propriedades comuns
de académicos mundiais. Usar argumentos e seguir as verdades de outros escritores não
significa não ser original. Na realidade, a originalidade absoluta é quase impossível.
Ellen G. White e "empréstimos literários"
3. Nenhuma objeção válida pode ser trazida contra Kllen G. White quando ela aumenta
c clarifica suas próprias ideias à luz do trabalho de outros escritores. Para estabele-
cer a acusação de plágio, alguém deve provar uma tentativa deliberada de usar o
trabalho de outra pessoa para exaltação de si mesmo, ao invés de exaltar a Deus. Seu
íntegro propósito foi a comunicação da verdade, acreditando que, não importando
a origem, a verdade deveria ser exaltada c Deus glorificado.
5. O amor "não é invejoso". Há muita dúvida quanto a igreja e suas doutrinas; muita
desaprovação e rejeição entre nós porque outros não pensam exatamente como nós
pensamos. O assunto é este: São os testemunhos de Ellen G. White, por Jesus e pelas
Hscrituras, verdadeiros? As declarações dela quanto a ter recebido comunicações de
Deus são genuínas? Acreditaremos que Deus falou e continua falando a nós; que as
verdades que guardamos vêm do próprio Deus; e que elas nos guiarão triunfantc-
mcntc à vida eterna em Cristo Jesus Nosso Senhor?
Considerações finais
O empréstimo literário era uma prática comum entre os escritores da Bíblia.
Ao seguir esse exemplo, Ellen G. White estava honestamente mantendo o objetivo
final da tradição bíblica, e, portanto, alegações contra Ellen G. White concernentes
à prática de plágio não são assuntos novos levantados pelos críticos hoje em dia.
Eles têm sido levantados e foram encarados com sinceridade por Ellen G. White
durante toda a sua vida, desde 1867.
Como foi visto nesse artigo, denúncias de plágio são totalmente sem funda-
mento. Nunca algum autor ou editor processou, ou tentou processá-la, por violação
de direitos autorais em sua época e nem o Património White esteve sujeito a tais
processos após sua morte. Além disso, Ellen G. White não fez, esforços para escon-
der o fato de que ela usou porções de escritos de outros autores, incorporando-os
à sua própria produção literária. Aliás, ela reconheceu publicamente, por escrito,
o uso em seus trabalhos de materiais de outros escritores nas categorias reforma
de saúde, história e teologia. Particularmente, ela reconheceu abertamente alguns
usos de anotações pessoais, como na contracapa de pelo menos um livro na sua
biblioteca particular e em inúmeras cartas para familiares de colegas profissionais.
A extensão de seus empréstimos literários tem vindo a lume como resultado
de pesquisas conduzidas pelo Património White e por pesquisadores independen-
tes desde 1981. As diversas acusações feitas anteriormente quanto a uma suposta
incidência de 90 a 100% de material de outros autores em seus escritos compro-
varam-se agora ser extremamente exageradas. Com a exceção de quatro livros, a
média deste incidente é de 3% ou menos.
O Património Ellen G. White e a liderança denominacional não são culpados
das alegações dos críticos sobre acobertar o plágio ou os empréstimos literários.
Ela mesma enfrentou as críticas no século 19 tão logo elas foram feitas. Em 1933,
o Património White preparou um documento (escrito por William White, "Brief
Statements") se posicionando e tratando de forma completamente franca esse as-
sunto. Quando a primeira impressão se esgotou, uma nova impressão não foi feita
em virtude da ausência de demanda do campo por cópias. Quando o assunto veio
à tona novamente em 1981, foi reimpresso como uma inserção da revista Adventist
Review. Desde sempre, a liderança da igreja tem tratado desta questão publicamen-
te, de uma maneira franca, direta e detalhada.
Já vimos que o especialista em legislações, Dr.Ramik, analisou as acusações de plá-
gio contra Ellen G. White e concluiu que ela "não é culpada" nem de violação dos direitos
autorais, nem de pirataria literária. Há evidências de que, apesar de ela ter estado de al-
guma forma ciente das restrições de direitos autorais, ela ainda considerou que, afinal de
contas, toda verdade pertence a Deus, não ao homem, e que os escritores de temas religio-
sos são meramente refletores ao invés de geradores da verdade. Vale lembrar que a prática
de empréstimos literários era vista de outra forma nos dias dela, além de ser uma prática
contemporânea comum nos dias de Ellen G. White, enquanto hoje não é.
EUen G. White e "empréstimos literários"
2. O fato de que desde que os escritores bíblicos seguiram esse costume, o assunto da
porcentagem é totalmente irrelevante.
4. A frequência com que ela adaptava ou mudava o que ela pegou emprestado.
5. A forma como ela decidia o que tomar e o que não tomar emprestado.
6. O fato de que ela ia além dos materiais emprestados para outros autores e adi-
cionava novas informações, não encontradas em n e n h u m outro lugar, mesmo
na própria Bíblia.
APÊNDICE A
Traduções de Eclesiastes 12:9-10
APÊNDICE B
Educação 71 0,88%
Evangelismo 50 0,30%
Fé e Obras 73 2,97%
165
Fundamentos da Educação Cristã 159 0,91%
Santificação 17 0,81%
Temperança 25 0,37%
Fé e Obras 73 2,97%
Educação 7] 0,88%
Temperança 25 0,37%
Evangelismo 50 0,30%
168 Testemunhos Para a Igreja — vol. 9 18 0,28%
Conselhos Sobre o
15 0,11%
Regime Alimentar
APÊNDICE C
s
Extraído do artigo "Christ Revealed The Father". Review and Herald, v. 67, n. l,7jan. 1890, p. 1.
EUen G. White e "empréstimos literários'
próprio nome. Desejavam que nenhum crédito fosse relacionado a eles, e que ninguém
deveria considerá-los como os criadores de nada de que pudessem se gloriar. Eles eram
zelosos pela honra de Deus, a quem todo o louvor pertence. Eles declararam que todas as
habilidades e as mensagens que eles traziam foram dadas a eles como representantes do
poder de Deus. Deus era a sua autoridade e suficiência. Jesus havia transmitido um conhe-
cimento de Deus aos patriarcas, profetas e apóstolos. As revelações do Antigo Testamento
constituíram enfaticamente o desdobramento do evangelho, o desvelar do propósito e a
vontade do nosso infinito Pai. Através de homens consagrados do passado, Cristo traba-
lhou para a salvação da humanidade caída. E quando Ele veio a este mundo, foi com a
mesma mensagem de redenção de pecados e restauração ao favor de Deus.
Cristo é o Autor de toda a verdade. Cada conceito brilhante, cada pensamen-
to sábio, cada talento e capacidade do ser humano é um presente de Cristo. Ele
não tomou emprestadas novas ideias da humanidade; pois foi Ele quem originou
todas elas. Mas quando Ele veio a este mundo, Ele encontrou as brilhantes pérolas
da verdade que havia incrustadas no homem, todas enterradas em superstições e
tradições. Verdades da mais vital importância foram colocadas em molduras de
erro, para servir aos propósitos do arquienganador. As opiniões dos homens, os
sentimentos mais populares das pessoas, foram disfarçados com a aparência da ver-
dade e foram apresentados como as genuínas jóias dos céus, merecendo atenção e
reverência. Mas Cristo varreu estas teorias erróneas de seu posto. O Redentor do
mundo tinha poder para apresentar a verdade em sua pureza original, desvestida do
erro que Satanás tem acumulado para encobrir a sua beleza celestial.
Algumas das verdades que Cristo talou eram familiares às pessoas. Alguns as
haviam ouvido dos lábios de pregadores, governadores, e pensadores; mas, além
disso, eles eram distintivamente os pensamentos de Cristo. Ele os deu aos homens
na confiança de que eles seriam comunicados ao mundo. Em cada ocasião Ele pro-
clamava uma particular verdade que Ele achava ser apropriada às necessidades de
seus ouvintes. Não importando se as ideias já tivessem sido expressas ou não.
Referências
CHARI.HS, R. H. The apocrypha and pseudepigrapha of the Old Testament, v. l, 1931.
Disponível em <http://bit.ly/GCWFzyx Acesso em: 21 mar. 2012.
HARRIS, f. The great teacher. London: Thomas Ward and Co., 1840.
HEPPENSTALL, E. O testemunho inspirado de Ellen G. White. Adventist Review, 9 mai. 1987.
NICHOL, F. D. (Ed.). The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and
Herald, 1978. v. 1.
. Ellen G. White and her critics: an answer to the major charges that critics have
brought again Mrs. Ellen G. White. [S. 1.]: Review and Herald, 1951.
Espírito de Profecia
SEVENTH-DAY adventist Bible students' source. Washington: Review and Herald, 1962.
(Commentary Reference Series).
WHITE, E. G. Questions and answers. Review and Herald, v. 30, n. 17, 1967. Disponível em
<http://bit.ly/GK7Hk4>. Acesso em: 21 mar. 2012.
170
Ellen G. White e o
vegetarianismo:
ela praticava o que pregava?
HHI
Roger W. Coon
Refutando as acusações
Canright conheceu Tiago White e aceitou o sábado a partir de sua pregação em
1859 (CANRIGHT, 1881, p. 153). É possível que ele tenha visto carne de porco na mesa
deles nos anos iniciais de sua amizade, pois Ellen não recebeu sua primeira visão a
respeito da ingestão de carne e porco até 6 de junho de 1863 — quatro anos depois de
Canright e os White terem se conhecido.
Quando William White soube da carta de 1914 de Fannie Bolton, ele pegou uma
cópia dela e a mandou para o ancião Starr a fim de saber sua opinião. Starr respondeu:
Eu só posso dizer que eu a considerei como o monte de lixo e mentira mais absurdo
que eu já vi ou li a respeito da nossa querida irmã White. O evento simplesmente
1
A maior parte desta palestra é baseada em Ellen G. White and Vegetarianistn: dia she practíce
what she preached?, de Coon (1986).
Espírito de Profecia
nunca ocorreu. Eu nunca vi sua mãe comer ostras ou carne de qualquer tipo em
um restaurante ou em sua própria mesa. A declaração de Fannie Bolton (...) é uma
mentira de primeira ordem. Eu nunca tive tal experiência e ela é absurda demais
para qualquer um dos que já conheceram a sua mãe possam acreditar. |... ] Eu acho
que essa carta inteira foi escrita por Fannie Bolton em um de seus momentos mais
insanos [Fannie passou treze meses como uma paciente mental no Hospital Estadu-
al de Kalamazoo, 1911-1912, e outros três meses e meio na mesma instituição, em
1924-1925; ela morreu em 1926]. Quando nós visitamos a Flórida, em 1928, a Sra.
Starr e eu fomos informados de que em uma reunião campal, Fannie Bolton fez uma
declaração pública reconhecendo que havia mentido a respeito da irmã White, e que
ela havia se arrependido disso (STARR, 1982, p. 118-119).
William White também provê uma luz útil para as práticas dietéticas de sua mãe,
assim como a da família White como um todo:
Quando eu comprei o bife, eu argumentei que um boi recém morto desse gado
campestre, provavelmente seria um animal saudável e que o risco de pegar uma
doença provavelmente seria muito pequeno. Isso foi oito ou nove anos antes de a
irmã White decidir, na época da reunião campal de Melbourne 11894], abster-se de
comer alimentos cárneos. Você encontrará nos escritos de Ellen G. White muitas
ocasiões em que ela diz que carnes não aparecem em nossa mesa, e isso era verdade.
Durante muitos anos, quando em raras ocasiões um pouco de carne era usada, isso
era considerado uma emergência (WHITE, W, 1982, p. 119-120).
Quando ela teve sua primeira visão, ela era uma débil inválida, seus amigos e médico desis-
tiram do caso esperando que ela morresse l... ] sua condição nervosa era tão frágil que ela
não podia escrever, e era dependente de alguém que se assentasse perto dela à mesa para
até mesmo derramar no seu copo algo para beber (WHITE, J., 1868, p. 273).
Outono de 1848
Na época em que a primeira mensagem da reforma veio a ela, ela se caracterizou
como "fraca e débil, sujeita a frequentes desmaios". Ela escreveu mais tarde:
Eu vinha pensando durante anos que eu dependia de uma dieta carnívora para
ter forca [...] tem sido muito difícil para eu ir de uma refeição para outra sem
sofrer de enjoos do estômago, e tontura da cabeça {...] Eu [...] desmaiava
frequentemente [...] eu, portanto, decidi que carne era indispensável no meu
caso [...] Eu tenho sido incomodada a cada primavera com perda de apetite
(WHITE, E., 1864, v. 4, p.153-154).
Para remediar essas fraquezas físicas, Ellen G. White comia quantidades subs-
tanciais de carne diariamente. Ela subsequentemente se referiu a si própria como "uma
grande consumidora de carne" naquela época (WHITE, E., 2006, p. 371, 372). "Carne
[...] era [...] meu artigo principal de alimentação" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
O resultado para a tentativa de alívio para os desmaios era, porém, temporário,
"depois de um tempo" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 153), como ela mesma disse: "em vez
de ganhar força, eu fui ficando mais e mais fraca. Eu frequentemente desmaiava de
exaustão" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
21 de outubro, 1858
A única visão referente à carne antes de 1863 foi uma visão na qual ela baseou
sua reprovação ao irmão e irmã A por urgir excessivamente que a abstinência do porco
fosse um teste de comunhão na igreja. Entretanto, a visão não ofereceu qualquer pista
de que a abstinência da carne resultaria numa saúde melhor.
Quanto à ingestão de carne suína ser certa ou errada, Ellen G. White nunca con-
denou nem deixou de condenar. Ela disse que se essa posição fosse a de Deus, no seu
próprio tempo Ele "ensinaria à sua igreja seu dever" (WHITE, E., 2006, v. l, p. 206, 207).
6 de junho, 1863
Sua primeira visão compreensiva da reforma da saúde, especialmente no tocante
ao uso de carne, foi recebida e divulgada. O povo de Deus apressou-se, então, em abster-
-se de carne em geral e da carne suína em particular.
Ellen G. White caracterizou essa primeira visão compreensiva da reforma da
saúde como "uma grande luz do Senhor", acrescentando: "Eu não procurei essa luz,
eu não estudei para obté-Ia; foi dada a m i m pelo Senhor a fim de dar a outros" (Ellen
G. White, Manuscrito 29, 1897).
Espírito de Profecia
A resposta pessoal de Ellen G. White foi pronta e positiva: "Eu aceitei a luz da
reforma da saúde ao ser-me ela comunicada" (Ellen G. White, Manuscrito 50, 1904}.
"Cortei imediatamente a carne de meu cardápio" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
Com firmeza ela disse: "rompi com tudo imediatamente — com carne e manteiga, com
as três refeições [por dia]" (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371). E o resultado? "Minhas sen-
sações de desmaio e tontura anteriores me deixaram, assim como o problema de perda
de apetite na primavera" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 154).
Com a idade de 82 anos ela declarou: "Eu tenho uma saúde melhor hoje, apesar da
minha idade, do que eu tinha nos meus tempos juvenis" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Tudo isso não veio sem luta. Em 1870, ao descrever essa luta, ela disse:
Sofri intensa fome — eu comia muita carne. Mas quando enfraquecida, punha os
braços sobre o estômago e dizia: "Não provarei nenhum pedacinho. Comerei ali-
mento simples ou absolutamente nada comerei" [...] Ao enfrentar essas mudanças,
174
enfrentei uma grande luta (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371, 372).
No ano seguinte, depois da visão de reforma da saúde de 1863, ela podia relatar:
"Eu deixei o uso da carne" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 153). E, cinco anos depois, em uma
carta a seu filho Edson, na qual ela apressava a ele e sua família a "mostrar o verdadeiro
princípio" em fidelidade à reforma da saúde, e assegurava que ela também estava pra-
ticando o que pregava: "Quanto à dieta, temos seguido estritamente a luz que o Senhor
nos deu [...] nós o temos avisado para não comer manteiga ou carne. Nós não os colo-
camos na nossa mesa" (Ellen G. White, Carta 5,1869).
Em 1870, os White continuaram a progredir na mesma direção. Ela diz: "Não mu-
dei minha conduta em nada desde que adotei a reforma de saúde. Não voltei nem um
passo atrás desde que a luz do Céu iluminou, pela primeira vez, o meu caminho. Rompi
com tudo imediatamente" (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371).
Havia exceções ocasionais ao padrão habitual de vegetarianismo. Em 1890, ela
declarou: "Quando não me foi possível obter o alimento de que necessitava, comi um
pouco de carne algumas vezes"; mas até mesmo aqui "estou ficando cada vez mais ate-
morizada de fazé-lo" (WHITE E.; WHITE, J., 2005, p. 117, 118). E, onze anos depois
(1901), ela admitiu abertamente: "fui por vezes [...] compelida a comer um pouco de
carne" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
Ellen G. White e o vegetarianismo
Viagem
Como pregadores itinerantes, em meio a um "movimento adventista" novo e em cresci-
mento, Tiago e Ellen G. White estavam continuamente envolvidos num planejamento aperta-
do de viagens, o qual não deixaria Ellen nem mesmo após a morte do marido, em 1881.
O fator agravante é que, na segunda metade do século 19, era difícil o acesso aos
confortos e conveniências de hoje (por exemplo, hotéis confortáveis, restaurantes ou
fax t foods com variedade nos cardápios). Mesmo que essas coisas estivessem disponí-
veis, os White não podiam pagar. Dentro dessas circunstâncias, era difícil e, às vezes,
impossível seguir uma dieta vegetariana estrita, particularmente quando dois tipos de
situações relacionadas eram levadas em conta:
Quando os White viajavam, eles eram grandemente dependentes na hospitalida-
de dos membros da Igreja. Essas pessoas normalmente eram pobres, sua alimentação
consistia quase que inteiramente de carnes. Frutas e vegetais, mesmo quando disponí-
veis, apenas poderiam ser consumidas nas estações.
Havia também épocas em que um ou ambos os White passavam um tempo em
uma região geográfica isolada e remota, como as montanhas do Colorado, onde as pes-
soas tinham que "viver da terra" e aprender a caçar e pescar, ou passar fome. As seguin-
tes citações do diário de Ellen G. White de setembro e outubro de 1873, quando eles
estavam retidos nas montanhas, com poucas provisões, ilustram esse fato:
5 de outubro: O sol brilha de forma muito agradável, mas nenhum alívio chega a
nós. Nossas provisões têm estado baixas por alguns dias. Muitos de nossos supri-
mentos acabaram — nenhuma manteiga, nenhum molho de qualquer tipo, nenhum
milho ou farinha grossa. Temos um pouco de farinha fina e isso é só. Nós esperamos
Espírito de Profecia
suprimento certo três dias atrás, mas nada chegou. Willie foi até o lago. Nós ouvimos
sua arma e descobrimos que ele atirou em dois patos, isso é realmente uma bênção,
pois precisamos de atgo para sobreviver (Ellen G. White, Manuscrito 12, 1873).
Eu tenho passado por uma experiência nesse país que é parecida com a experiência
que eu tive em campos novos na América [nas primeiras décadas do século 19]. Eu
tenho visto famílias que as circunstâncias não permitem encher a mesa com alimentos
saudáveis. Vizinhos descrentes têm enviado a eles porções de carne de animais recém
sacrificados. Eles têm feito sopas da carne e suprido suas grandes famílias de crianças
com refeições de pão e sopa. Não era meu dever, nem eu imaginava que fosse o dever de
qualquer outra pessoa, discursar a eles a respeito dos malefícios da alimentação cárnea.
Eu sinto sincera pena por famílias recém conversas e que são tão oprimidas pela pobre-
za, que não sabem quando virá sua próxima refeição {Ellen G. White, Carta 76,1895).
Irmã White não era uma cozinheira, nem era uma especialista em comida nas formas
técnicas que vêm de estudo e experimentação. Ela frequentemente tinha discussões
sérias com a sua cozinheira. Ela nem sempre era capaz de permanecer com a cozi-
nheira que ela havia cuidadosamente doutrinado nos ideais vegetarianos. Aquelas que
ela contratava sempre eram pessoas jovens e inteligentes. Ao casarem e a deixarem,
ela era obrigada a conseguir novas cozinheiras que não eram treinadas na cozinha
vegetariana. Naqueles dias não havia escolas como temos agora, onde nossas jovens
moças poderiam aprender o sistema da cozinha vegetariana. Portanto, mamãe era
EHen G- White e o vegetarianismo
obrigada, com todos os seus outros cuidados e deveres, a gastar considerável esforço
para persuadir suas cozinheiras de que elas não poderiam usar carne, ou soda, ou fer-
mento e outras coisas condenadas em seus testemunhos. Frequentemente nossa mesa
mostrava alguns acordos entre o padrão que a irmã White queria e o conhecimento,
experiência e padrão da nova cozinheira. (Arthur L. White, Dec. 18,1935).
!:,u nunca achei que fosse meu dever dizer que ninguém deveria comer carne quais-
quer que fossem as circunstâncias. Dizer isso, quando as pessoas têm sido educadas
a sobreviver da carne em tão grande extensão [na Austrália, em 1894], seria levar o
assunto a extremos. Hu nunca senti que fosse meu dever fazer afirmações generali-
zadas. O que eu disse, eu disse sob um senso de dever, mas eu tenho sido cautelosa
em minhas declarações, porque eu não queria dar ocasião para alguém ser uma
consciência para oulro (Ellen G. White, Carla 76, 1895).
Ao lidar com certas doenças, em particular casos terminais, Ellen G. White to-
mou uma posição sensível:
Em certos casos de doença ou exaustão, poderá ser considerado melhor usar alguma
carne, mas grande cuidado deve ser tomado para adquirir carne de animais sadios.
Tornou-se questão muito séria se é seguro usar de algum modo alimento cárneo
nessa época do mundo. Melhor nunca usar carne, do que usar a carne de animais
que não sejam sadios (WHITK. E., 2007, p. 394).
Espírito de Profecia
Não deveis fazer prescrições dizendo que nunca devam ser usados alimentos cár-
neos, mas educar a mente e deixar aí penetrar a luz. Seja a consciência da pessoa
despertada no que concerne à conservação própria e à pureza de todo apetite per-
vertido (...] Não insista para que essa mudança seja feita abruptamente, em espe-
cial tratando-se de pessoas com sobrecarga de contínuo trabalho. Seja a consciência
educada, estimulada a vontade, e a mudança pode ser feita muito mais depressa e de
boa vontade (Ellen G. White, Carta 54,1896).
da década de 1890, No entanto, qual é a sua posição relativa ao que a igreja de hoje
considera ser moluscos "impuros"?
Em 1882, Ellen G. White escreveu uma carta à sua nora, Mary Kelsey White,
que estava vivendo com seu marido em Oakland, Califórnia. Nessa carta, ela incluía
uma "lista de compras" de coisas que o casal deveria trazer na sua próxima visita à
sua casa. Com respeito a certos itens nessa lista, ela disse: "Se você conseguir uma
boa caixa de arenques — frescos — por favor, a traga. Os últimos que Willie con-
seguiu estão amargos e velhos [...| se você conseguir algumas latas de boas ostras,
pegue-as (Ellen G. White, Carta 16, 1882).
Isso acontece especialmente nos locais em que os peixes entram em contato com o
esgoto das grandes cidades [...] Esses peixes que compartilham com as sujeiras do
esgoto podem passar para águas distantes do esgoto e serem pegos'em localidades
onde a água é pura e fresca; mas por causa da drenagem prejudicial onde eles se
alimentaram, não é seguro ingeri-los {Kllen (i. White, Curta 76, 1895).
Dois anos atrás eu cheguei à conclusão de que havia perigo ao usar a carne de ani-
mais mortos e, desde então, eu não tenho usado qualquer tipo de carne. Nunca é
colocada sobre a minha mesa. Eu uso peixe quando eu consigo. Nós pegamos lindos
peixes do lago de água salgada perto daqui. Eu não uso chá nem café. Ao lutar con-
tra essas coisas, eu não posso fazer outra coisa senão praticar o que eu sei ser o me-
lhor para a minha saúde, e minha família está toda em perfeita harmonia comigo.
Veja, minha querida sobrinha, que eu estou te contando os fatos exatamente como
são (Ellen G. White, Carta 128, 1896).
Mas em 1896, Ellen G. White havia concluído que a carne de peixe, assim como
de outros animais, não era mais segura para se comer e, portanto, não deveria ser servi-
da no novo sanatório adventista, em Sydney. Falando sobre o assunto com três médicos
do sanatório que estavam prescrevendo uma dieta cárnea para seus pacientes, ela pes-
quisou a história da questão em uma carta ao Dr. }ohn Harvey Kellogg:
Anos atrás, a luz foi dada a mim que a posição [naquela época] não deveria ser to-
mada no sentido de descartar totalmente a carne [...] [Mas] eu presencio a palavra
do Senhor Deus de Israel [...] [de que] comer carne [agora] não deveria entrar em
nossas prescrições para qualquer inválido de qualquer médico [em nossas institui-
ções] [...] [porque] doenças no gado está fazendo da ingestão de carne um assunto
perigoso. A maldição do Senhor está sobre a terra, sobre o homem, sobre animais,
sobre os peixes do mar e, à medida que a transgressão se torna quase universal,
a maldição se tornará tão ampla e tão profunda quanto a transgressão. Doenças
são contraídas pelo uso da carne. O Senhor trará seu povo a uma posição na qual
eles não encostarão ou sentirão o gosto da carne de animais mortos. Portanto, não
permita que essas coisas sejam prescritas por qualquer médico que tenha o conheci-
mento da verdade para este tempo. Não há segurança em comer a carne de animais
mortos e, em pouco tempo, o leite de vacas também será excluído da dieta do povo
guardador dos mandamentos de Deus. Em pouco tempo, não será seguro usar qual-
quer coisa que venha da criação de animais. Nós não podemos fazer agora o que nos
aventuramos a fazer no passado com respeito à ingestão de carne (...) As doenças
sobre esses animais estão se tornando mais e mais comuns, e nossa única segurança
está em deixá-la inteiramente {Ellen G. White, Carta 59,1898).
Aqui, Ellen G. White indica que tanto peixe como carne não devem ser prescritos
nas instituições de saúde adventistas. Em 1905, ela se posiciona tão firmemente em re-
lação ao peixe como em relação à carne, pois ao escrever o capítulo sobre "Carne como
Alimento" para o livro Ciência do Bom Viver, ela declarou:
Em muitos lugares os peixes ficam tão contaminados com a sujeira de que se nu-
trem, que se tornam causa de doença. Isso se verifica especialmente onde o peixe
está em contato com os esgotos de grandes cidades[...] De modo que, ao serem
Ellen G. White e o vegetarianismo
usados como alimento, ocasionam doença e morte naqueles que nada suspeitam do
perigo (WHITE, E., 2007, p. 314, 315).
A alegação de hipocrisia
Uma questão de definição
A pergunta é a seguinte: seria Ellen G. White uma "hipócrita" por aconselhar, a
partir de 1963, que os adventistas do sétimo dia seguissem o vegetarianismo, enquanto
"secretamente" continuou comendo alimentos cárneos ao longo das três décadas se-
guintes ou mais? Comecemos por permitir que ela, através de seus escritos, defina os
termos "vegetariano" e "princípio".
Como já foi notado, na carta de William White a George B. Starr, em 1933, "por
anos a família White foi vegetariana, mas não teetotalers2. Uma distinção interessante e
ainda mais iluminadora é revelada em uma carta que Ellen G. White escreveu em 1894
a M. M. J. O'Kavanagh, uma não adventista ativa na causa da temperança na Austrália,
que havia questionado sobre a posição dos adventistas como "total abstêmios":
Eu estou feliz em lhe assegurar que, como denominação, nós estamos na mais total
abstinência do uso de licores, vinho, cerveja, cidra [fermentada] e também do uso
de tabaco e todos os outros narcóticos [ . . . ] Todos são vegetarianos, muitos absten-
do-se totalmente do uso de alimento cárneo, enquanto outros apenas a utilizam em
nível moderado (Ellen G. White, Carta 99, 1894).
1R1
Essa declaração deixa claro que, para Ellen G. White, o termo vegetariano era apli-
cado àqueles que se abstinham de comer alimento cárneo, mas que não eram necessaria-
mente abstêmios totais. E quanto ao termo principio, ela frequentemente o usava em seus
escritos em conexão com a reforma da saúde. Em 1904, aos 76 anos, ela relatou que estava
experimentando uma saúde melhor que "nos meus dias juventude", atribuindo essa melho-
ra na saúde aos "princípios da reforma da saúde" (Ellen G. White, Manuscrito 50,1904).
pena. Mas posso dizer que, até o que sei, não me tenho apartado desses princípios"
(Ellen G. White, Carta 50, 1908).
No ano seguinte (1909), com a crítica persistindo, ela novamente se defendeu: "Houve
quem alegasse que não tenho seguido os princípios da reforma de saúde, tais como os defen-
do em meus escritos; posso, entretanto, dizer que tenho sido fiel a essa reforma. Os membros
da minha família sabem que isso é verdade" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Aparentemente, a acusação dos críticos se baseava na suposição artificial de que
Sra. White considerava o vegetarianismo um "princípio". Porém, devemos considerar o
que está escrito no livro A Propheí Among You, [Um Profeta entre Vós], de T. Housel
Jemison, que oferece três princípios de hermenêutica para a interpretação dos escritos
sagrados. No terceiro, ele diz o seguinte: todo profeta, falando de sua capacidade pro-
fissional como um profeta, ao dar um conselho, está fazendo duas coisas; ou ele ou ela
está enunciando um princípio ou aplicando um princípio em uma declaração política.
Portanto, ele conclui, "dever-se-ia se tentar descobrir o princípio envolvido em qualquer
conselho específico" (JEMISON, 1955, p. 445).
Um princípio é geralmente definido como "uma verdade básica, uma lei ou uma
doutrina geral que é usada como base de racionalização ou como um guia para ação ou
comportamento" (EHRLICH, 1980). Princípios, portanto, são regras imutáveis, invari-
áveis de conduta humana. Princípios nunca mudam. Uma política, por outro lado, é a
aplicação de um princípio para alguma situação imediata e contextuai. Políticas podem
mudar, assim como as circunstâncias que as regem podem mudar.
Ellen G. White recusou-se a apoiar a ideia de fazer do vegetarianismo um teste
de comunhão promovido por alguns irmãos (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159). Pelo
contrário, mesmo reconhecendo que "carne suína era proibida por Jesus Cristo ocul-
to na nuvem" durante o Êxodo, ela declarou enfaticamente em 1889 que até mesmo
a ingestão de porco "não é um teste" (Ellen G. White, Manuscrito 15, 1889}. Escre-
vendo para colportores adventistas no mesmo manuscrito, ela disse: "Eu aconselho
todo colportor guardador do sábado a evitar comer carne, não porque é considerado
um pecado comer carne, mas porque não é saudável."
É óbvio que o vegetarianismo não era um princípio para Cristo ou para os
patriarcas e profetas das Escrituras, pois todos eles comiam carne. A páscoa exigia
a ingestão de Cordeiro e isso por direção divina. Cristo e seus discípulos comeram
peixe da Galileia mais de uma vez e, fazendo assim, nenhum deles violou um prin-
cípio ou, portanto, cometeu pecado.
Para Ellen G. White, vegetarianismo era uma política baseada em, pelo me-
nos, dois princípios: "preserve a melhor saúde" (WHITE, E., 2007, p. 395) e "coma o
alimento que seja mais nutritivo" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 163), fazendo o melhor
possível, sob todas as circunstâncias imediatas, para promover vida, saúde e força.
Porém, vale ressaltar que ela aplicou aqueles princípios em uma declaração política
inspirada nos "países onde há frutas, grãos e amêndoas em abundância". Em tais
locais, ela disse muito claramente, "alimento cárneo não é o alimento correio para o
povo de Deus" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Ellen G. White e o vegetarianismo
Os que entendem as leis da saúde e são governados por princípios fugirão dos ex-
tremos, tanto da condescendência como da restrição. Sua alimentação é escolhida
não meramente para agradar o apetite, mas para fortalecimento do organismo. Pro-
curem conservar todas as faculdades nas melhores condições para o mais elevado
serviço a Deus e aos homens. |...| Há verdadeiro bom senso na reforma do regime.
O assunto deve ser estudado de forma ampla e profunda. Ninguém devia criticar
outros porque não estejam, em todas as coisas, agindo em harmonia com seu ponto
de vista. É impossível estabelecer uma regra fixa para regular os hábitos de cada um,
e ninguém se deve considerar critério para todos (WHITE, E., 2006, p. 319, 320).
Não somente Ellen G. White não desejava ser um critério para os membros da Igreja,
mas ela também não desejava ser um critério para os membros de sua família imediata ("Eu
não quero me colocar como um critério para eles" [Ellen G. White, Carta 127, 19()4\).
Um pouco antes da inauguração da Sessão da Associação Geral de 1901, Ellen G.
White se encontrou com alguns lideres denominacionais na biblioteca do Battle Creek
College, onde ela falou a respeito daqueles que a colocaram como sendo seu critério
quanto à prática dietética. Aqui estão suas declarações, conforme registradas por Cla-
rence C. Crisler, sua secretária:
Oh, como me magoa ser apedrejada por causa desse respeito desse assunto. Alguns
têm dito: "A irmã come, portanto também temos a liberdade de comer". Eu apenas
provei uma ou duas vezes, diferente de fazer do queijo parte da minha dieta. Uma
vez em Minnneapolis, sentei-me à mesa na qual havia um pouco. Ru estava muito
doente na ocasião, e alguns irmãos pensavam que se eu comesse um pouco de quei-
jo poderia me fazer bem. Eu provo um pequeno pedaço e dizem por ai que estou
comendo queijo. Não tenho carne em casa há anos, mas não deixem de comer carne
por que a irmã White não come. Eu não daria um centavo na reforma de saúde de
vocês se for baseada nisto. Eu quero que vocês se firmem na dignidade e consagra-
ção individual perante Deus, dedicando todo o ser a Ele. "Se alguém destruir o san-
tuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado"
(l Co 3:17). Eu quero que pensem nestas coisas. Não façam de nenhuma pessoa seu
critério. (Ellen G. White, Manuscrito 43a, 1901, tradução livre).
conveniências de casa que para nós são básicas, como geladeiras e congeladores para
preservar frutas, vegetais e outros alimentos perecíveis, eram praticamente desconhe-
cidas na segunda metade do século XIX e início do XX. Em seus dias, frutas e vegetais
eram disponíveis somente na estação. Na maior parte do ano, produtos frescos simples-
mente não estavam acessíveis; assim, ou se comia carne ou não se comia nada. Comer
carne era, portanto, mais comum e necessário nos tempos da profetisa do que no nosso.
Outra coisa que vale ser lembrada é que Ellen G. White nunca tirou produtos
cárneos como artigo de alimentação de ninguém até que houvesse primeiro um subs-
tituto nutricional disponível para ficar no lugar deles (WHITE, E., 2006, p. 316, 317).
Os cereais secos para café da manhã não foram desenvolvidos e vendidos até a metade
da década de 1890. Manteiga de amendoim, outra excelente fonte de proteína, também
não foi inventada até a metade da década de 1890 (SCHWARZ, 1964, p. 283). Portanto,
havia mais razões ligadas à necessidade para as pessoas de seus dias comerem carne do
que há para a maioria de nós em nossos dias.
Considerações finais
Ellen G. White teve que encarar acusações contra sua integridade durante sua
vida. Acusações semelhantes contra ela nos dias de hoje nào são novidade e nem im-
pressionam quando nós examinamos os fatos. Pouco após a virada do século XIX para o
XX, ela foi acusada de hipocrisia ao defender o vegetarianismo publicamente aos mem-
bros da Igreja, enquanto estaria continuando a seguir secretamente uma dieta cárnea.
Tais acusações são injustificadas e sem fundamento.
Para compreender as acusações contra a integridade de Ellen G. White, devemos
analisá-las partindo da perspectiva dos objetivos e da metodologia de Satanás nos últi-
mos dias como revelados a Ellen G. White, em 1890. Ela declarou que o "último engano"
de Satanás seria destruir sua credibilidade e criar um ódio "satânico" contra seus teste-
munhos (WHITE, E., 2008, v. l, p. 48).
A crítica contra a integridade de Ellen G. White, até onde a pesquisa nos tem
revelado, continua infundada e reprovável, tal como era durante a vida da profetisa.
Referências
BOLTON, F. E. Letter of Francês E. Bolton to Mrs. E. C. Slauson, Dec. 30,1914. In: EGW Estale.
The Fannie Bolton story: a collection of source documents. [S. I.]: EGW Estate, 1982.
. My remembrance of Eldcr White. Review and Herald, v. 58, n. 10. ago. 1881.
Disponível em <http://bit.ly/xg5M l P>. Acesso em: 5 mar. 2012.
COON, R. W. Ellen G. White and vegetarianism: did she practice what she preched? [S. 1.]:
Pacific Press, 1986.
Ellen G. White e o vegetarianismo
JEMISON, T. H. A prophet aniong you. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1955.
SCHWARZ, R. W. John Harvey Kellogg: american hcalth rcformer. Dissertação (Ph.D. teologia
histórica), University of Michigan, Ann Arbor, 1964.
STARR, G. R. Letter of George B. Starr to W. C. White, Aug. 30, 1933. In EGW Estate. The Fannie
Bolton story: a collection of sourcc documents. [S. 1.]: EGW F.state, 1982.
WHITE, E. G. A Ciência do bom viver. Tattií: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
_ . Conselhos sobre regime alimentar. Talui: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
W l I I H , l < ú-. WHITE, J. Christian teiiiperaiiceand liibk- hygicnu.|S. l.|: 'k.u li Service, tac., 200'..
WHITE, J. Life incidents in connection with lhe great advent movemcnt as illustrated by
the three angels of revelation XIV. Battle Creek: Steam Press of the Seventh-day Adventist 185
Publishing Association, 1868.
WHITE, W. C. Letter of W. C. White to George B. Starr, Aug. 24, 1933. In EGW Estate. The
Fannie Bolton story: a collection of sourcc documents. [S. 1.]: EGW F.state, 1982.
Necessitamos de um profeta hoje?
Valdecir Simões Lima
ao gemido da escravidão (Êx 2:23). Deus decidiu livrá-lo do jugo que o atormentava
e escolheu Moisés como profeta e líder para anunciar o seu plano e libertar esse povo.
SANTUÁRIO E PROFECIA:
APOCALÍPTICAS
L
'AM H.
•- - : : _
INTERPRETAI;/
PROFÉTICA
7 6 5