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Renato Stencel (org.

EspírítO de
Profecia
Orientações para a Igreja Remanescente

í
UI\I;SP
Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado ern 1915 — www.unasp.edu.br
Missão: Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a excelência no servírço a Deus
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Editor: Renato Groger
Editor Associado1 Rodrigo Follis

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Emilson dos Rets, Renato Groger, Ozéas C. Moura, Betania Lopes, Martin Kuhn

A Unaspress está sediada no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP


Renato Stencel (org.)

Espírito de
Profecia
Orientações para a Igreja Remanescente
Espírito de profecia: orientações para a igreja
tnSTASPRESS remanescente
Imprensa Universitária Adventista
1a edição-2012
Caixa Postal 11 - Unasp 5.000 exemplares
Engenheiro Coelho-SP 13.165-000
(19) 3858-9055
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Normatização: Giulia Pradela, Felipe Carmo
Diagramação: Bárbara Reis, Pedro Valença Todo o texto, incluindo as citações, foi
Programação Visual: Mareio Trindade adaptado segundo o Acordo Ortográfico
Revisão: Juliana Castro, Ingrid Lacerda da Língua Portuguesa, assinado em 1990,
Capa: Flávio Luís, Mareio Trindade em vigor desde janeiro de 2009,

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Espírito de profecia: orientações para a Igreja remanescente/ Renato Stencel, (org.).


- Engenheiro Coelho, SP: Unaspress - Imprensa Universitária Adventista, 2012.

ISBN:978-85-895OMO-9

Vários autores.
Bibliografia.

1. Adventistas do Sétimo Dia - Doutrinas 2. Apocalipse 3. Bíblia - Profecias 4. Sal-


vação 5. Segundo Advento 6. Teologia do Remanescente - Ensino bíblico 7 White,
Ellen G., 1827-1915 l. Stencel, Renato.

12-03350 CDD-236.9

índices para catálogo sistemático:

1. Igreja remanescente : Orientações : Adventistas do Sétimo Dia : Doutrinas 236.9

Editora associada:
Associação Brasileira
U das Editoras Universitárias
Sumário

Agradecimentos 7

Apresentação 9
Renato Stencel

Sobre os autores 11

Para uma compreensão adventista de inspiração 15


Alberto R. Ti m m

A dinâmica da inspiração: olhando de perto as mensagens de Ellen G. White 27


Juan Carlos Viera

Profetas modernos: como testá-los? 35


Roger W. Coon

Os profetas e a infalibilidade 47
Roger W. Coon

Ellen G. White como uma profetisa: conceitos de revelação e inspiração 55


Denis Fortin

Ellen G. White e a Bíblia: como seus escritos se relacionam com as Escrituras 69

Jesus, os profetas e nós: evitando os erros de gerações passadas 79


Alberto R. Timm

Porque eu creio que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa 85


Roger W. Coon
Princípios norteadores de interpretação da Bíblia e dos escritos de Ellen G. White ....95
Robert W. Olson

O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD 113


(erry Moon

Assistentes literários dos autores inspirados 135


Robert W. Olson

Os críticos e a integridade dos profetas 143


Renato Stencel

Ellen G. White e "empréstimos literários": a questão do plágio 149


Roger W. Coon

Ellen G. White e o vegetarianismo: ela praticava o que pregava? 171


Roger W. Coon

Epílogo 187
Valdecir Simões Lima
Agradecimentos

Primeiramente, agradecemos a Deus por conceder a grata oportunidade de apre-


sentar à Igreja Adventista do Sétimo Dia (LASD) um conteúdo tão abrangente e indispen-
sável. Gostaríamos de citar alguns pastores da 1ASD por sua visão e apoio à publicação
deste importante material que agora está disponível aos membros da 1ASD: Pr. Alberto
R. Timm, diretor associado do Elleii G. Whiíe Estate, EUA; Pr. Almir Marroni, vice-pre-
sidente da DSA; Pr. Tércio Marques, diretor do Departamento de Publicações da DSA.
Nosso grato reconhecimento aos diretores do Departamento de Publicações e
Espírito de Profecia das Uniões da IASD no Brasil pela contribuição e investimento
nesse ministério tão importante da Igreja.
Por último, mas não menos importante, nossa gratidão a toda a equipe da Unas-
press (Imprensa Universitária Adventista) pela transformação do primeiro manuscrito
neste excelente livro que você tem agora em mãos.
Rogamos a Deus que este material seja um instrumento de bênçãos para todos os
cristãos que aceitaram fazer parte de um ministério que tem como propósito pregar a
fim de que todos possam ter a salvação destinada àqueles que "guardam os Mandamen-
tos de Deus e têm o Testemunho de Jesus" (Ap 12:17).
Apresentação

Renato Stencel

"Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que
fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" {Ap 14:7). Esse texto desafia a igreja de Deus
a convidar os habitantes do mundo para o iminente juízo que está por vir, ou seja, o dia glo-
rioso da volta de nosso senhor Jesus Cristo. De fato, quando a Igreja Adventista do Sétimo Dia
(IASD) foi fundada, os pioneiros tinham a clara certeza de que estavam vivendo em tempos
"emprestados" O juízo de Deus já era um fato vivido na experiência de cada um deles.
Dentro desse prisma, Deus nos confia uma dupla tarefa: restaurar as mensagens
que haviam sido perdidas, esquecidas e lançadas por terra ao longo dos séculos; e tam-
bém levar ao mundo o último convite de salvação. Nesse contexto, nos deparamos com
o poderoso conteúdo da tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14:6-12, a qual con-
clama toda criatura ao arrependimento e à vida eterna. Ao escrever sobre a importância
dos adventistas na proclamação da última mensagem, Ellen G. White afirmou que em
sentido especial, os adventistas do sétimo dia foram colocados no mundo como vigias e porta-
dores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de misericórdia a um mundo que perece.
Sobre eles brilha maravilhosa luz da Palavra de Deus (WHITE, 1985, p. 140).
Através das considerações de Ellen G. White, não restam dúvidas de que foi confiada
aos membros da IASD uma tarefa muito grandiosa. Porém, ao refletirmos sobre os desafios
que estão à nossa frente, sentimo-nos humanamente incapacitados perante a grandeza da
missão. No entanto, Jesus prometeu que estaria conosco "todos os dias até a consumação dos
séculos" (Mt 28:20} e para essa tarefa Ele contaria com um povo especial.

Os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como um povo peculiar, sepa-
rado do mundo. Com a grande talhadeira da verdade Ele os cortou da pedreira do mun-
do e os ligou a si. Tornou-os representantes seus e os chamou para serem embaixadores
seus na derradeira obra de salvação. O maior tesouro da verdade já confiado a mortais,
as mais solenes e terriveis advertências que Deus já enviou aos homens, foram confiadas
a este povo, a fim de serem transmitidas ao mundo (WHITE, 2005, p. 45).

A presente obra tem como objetivo principal despertar a consciência sobre os im-
portantes temas acerca do Espírito de Profecia, com a finalidade de auxiliar os membros
da igreja em seu preparo para o retorno de Jesus. Os assuntos escolhidos para compor
Espírito de Profecia

este material foram selecionados para trazer subsídios que possam promover o desejo
em cada leitor de se aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus e nos escritos
do Espírito de Profecia. Além disso, este livro é uma ferramenta poderosa nas mãos de
pastores, anciãos e líderes de publicações a fim de difundirem a revelação profética e,
assim, estarmos preparados para os últimos dias da história do mundo.

Referências
WHITE, E. G. Testemunhos seletos. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1985.

. Eventos finais. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

10
Sobre os autores

Alberto R. Timm
Diretor associado do Ellen G. White Estate, EUA.

Denis Fortin
Professor do Seminário de Teologia da Andrews University, EUA.

Jerry Moon
Professor do Seminário de Teologia da Andrews University, EUA.

Juan Carlos Viera


Diretor do Ellen G. White Estate, de 1995 a 2000, EUA.

Renato Stencel
Diretor do Centro de Pesquisa Ellen G. White do Unasp, Brasil.

Robert W. Olson
Diretor do Ellen G. White Estate, EUA de 1978 a 1990.

Roger W. Coon
Diretor associado do Ellen G. White Estate, EUA de 1991 a 1993.

Valdecir Simões Lima


Professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).
Estudos
selecionados sobre
EUen G. White

i
Para urna compreensão
adventista de inspiração

Alberto R. Timm

Provavelmente nenhum componente da fé cristã tem sido debatido de forma tão


controversa nos dois últimos séculos como a natureza e a autoridade das Escrituras.1 Ha-
vendo perdido sua confiança na Bíblia, muitos cristãos modernos e pós-modernos não
mais a consideram como a "única regra de fé e prática". Sua confiança básica está funda-
mentada em algum elemento humano específico, ao qual as Escrituras são acomodadas.
Enquanto os assim chamados conservadores da extrema-direita tentam manter a Bíblia
presa a suas tradições humanas (tradicionalistas), os liberais da extrema esquerda procu-
ram reler as Escrituras da perspectiva da razão humana (racionalistas), ou da experiên-
cia pessoal (existencialistas), ou da cultura moderna (culturalistas). Esses elementos são
considerados não apenas como mais autoritativos do que os escritos inspirados, mas até
mesmo como o padrão adequado a ser usado para "corrigir" o conteúdo da Bíblia.
Deus suscitou a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em meio aos desafios destes "úl-
timos dias" (2Tm 3:1) para restaurar e enaltecer a autoridade de sua Palavra (WHITE,
1988, p. 593-602). Lamentavelmente, porém, o cumprimento dessa missão tem sido
seriamente debilitado, em alguns círculos adventistas, pela aceitação das acomodações
da Escritura acima mencionadas. Isto significa que a identidade de nossa denominação
está sendo desafiada hoje não apenas por forças externas, mas também por algumas
vozes internas empenhadas em promover essas acomodações dentro da Igreja.
Embora os adventistas do sétimo dia tenham escrito extensivamente, durante os
últimos 150 anos, sobre o assunto da inspiração (TIMM, 1994, p. 180-195; 1997), nossa
tarefa ainda não está concluída. Como formadores do pensamento da Igreja, devemos não
apenas afirmar claramente nossa confiança na Bíblia como a Palavra de Deus, mas tam-
bém responder efetivamente aos novos desafios que tentam solapar a fé dos membros de
nossas igrejas. Ao tratar das muitas questões relacionadas com este assunto, jamais deverí-
amos nos olvidar 1) da natureza sinfónica da inspiração, 2) do escopo todo-abrangente da
inspiração, e 3) de uma abordagem respeitosa para com os escritos inspirados. Estes três
componentes, creio eu, deveriam funcionar realmente como diretrizes básicas em todos
os nossos estudos relacionados com a natureza e a autoridade das Escrituras.

1
O conteúdo deste artigo foi apresentado, na forma de palestra, em uma sessão plenária, na
Primeira Conferência Bíblica Internacional de Jerusalém, Israel, no dia 10 de junho de 1998.
Espírito de Profecia

A natureza sinfónica da inspiração


Muitas controvérsias adventistas sobre inspiração se devem à tendência tradicional
de considerar os escritos inspirados como o produto de uma teoria específica "monofôni-
ca" de inspiração, que desconhece as contribuições de todas as demais teorias de inspira-
ção. Essa atitude gerou uma clássica polarização sob os rótulos de inspiração verbal, de um
lado, e de inspiração de pensamento, do outro (TIMM, 1997).
Para superar as limitações dessa abordagem, vários autores adventistas têm pro-
posto algumas compreensões mais "sinfónicas" e multiformes de inspiração.2 Uma das
primeiras foi a controvertida teoria dos "graus" de inspiração, promovida na década de
1880 por Uriah Smith e George I. Butler (TIMM, 1994, p. 184-186). Assumindo que a
inspiração divina varia de acordo com as fontes originais de informação a ser transmi-
tidas, Smith argumentou em 1883, em uma carta a D. M. Canright, que os escritos de
Ellen G. White eram compostos pelas "visões" genuinamente inspiradas e pelos "teste-
munhos" não inspirados. 1 No ano seguinte, Butler sugeriu, em uma série de 10 partes
na Review, que todo o conteúdo da Bíblia podia ser classificado sob cinco diferentes
"graus" de inspiração e de autoridade, que oscilam dos escritos considerados por ele
como inspirados no mais alto grau aos que ele "dificilmente poderia chamar de inspira-
dos" (BUTLER, 1884, p. 41-22). Essas noções, a despeito de aceitas por muitos membros
da Igreja, foram severamente criticadas por Ellen G. White (E. G. White carta a R. A.
Underwood,;aw. 18, 1889) e por uma Lição da Escola Sabatina dos Adultos (1893), pelo
fato de sugerirem um cânon artificial dentro das Escrituras.
Digna de nota foi também a tentativa de Uriah Smith, na Review de 1888, de har-
monizar as teorias de inpiração verbal e de pensamento, propondo que, se as palavras da
Escritura foram "ditas diretamente pelo Senhor", então "as palavras são inspiradas". Se as
palavras não vieram diretamente do Senhor, então "as palavras podem não ser inspiradas",
mas apenas "as ideias, os fatos e a verdade transmitidas por essas palavras" (SMITH, 1888,
p. 168-169). Mas ele não consegui encontrar qualquer reação específica a essa proposta.
Novas tentativas significativas de distanciamento de uma compreensão "monofô-
nica" de inspiração foram feitas somente nas décadas de 1980 e 1990, quando George E.
Rice, Alden Thompson e Juan Carlos Viera expuseram seus diferentes "modelos" de ins-
piração. Detendo-se mais na questão da obtenção das informações proféticas do que em
seu efetivo processo de transmissão, Rice (1983), então professor de Novo Testamento
da Universidade Andrews, sugeriu em seu livro Luke, a Plagiarist?t publicado em 1983, a
existência dos dois seguintes modelos de inspiração: 1) o modelo profético de revelação
divina (visões e sonhos), que explica os escritos proféticos, e 2) o modelo "lucano" de
pesquisa humana (leitura e entrevistas orais), responsável pelas seções não proféticas.

Uma importante discussão sobre a necessidade de uma abordagem "sinfónica" em teologia


pode ser encontrada em Poythress (1987).
1
Uriah Smith para D. M. Canright, 22 de março de 1883, ASC.
Para uma compreensão adventista de inspiração

Uma compreensão bem mais heterodoxa de inspiração foi proposta em 1991 por Al-
den Thompson, professor de Teologia Bíblica no Walla Walla College, em seu livro intitulado
Inspiration: hard questions, honest answers. Abandonando as tradicionais teorias adventistas de
inspiração verbal e de pensamento, Thompson propôs um "modelo encarnacional" que pu-
desse reconciliar um espectro mais amplo de dificuldades humanas e de acomodações cultu-
rais (THOMPSON, 1991).4 Frank Holbrook e Leo Van Dolson viram no estudo de Thompson
"os frutos do método histórico-crítico", considerado pelo Concílio Anual da Associação Geral,
de 1986, como "inaceitável" aos adventistas (HOLBROOK; DOLSON, 1992, p. 7}.s
O conceito de "modelos" de inspiração foi desenvolvido por Juan Carlos Viera
em 1996, diretor do Ellen G. White Estale, em seu artigo na Adventist Review, reprodu-
zido neste livro. Enquanto Rice havia falado apenas de dois modelos, Viera sugeriu os
seis seguintes: 1) o modelo visionário, no qual Deus fala "por meio de visões e sonhos
proféticos"; 2) o modelo testemunhal, no qual Deus inspira "o profeta a dar seu próprio
relato das coisas vistas e ouvidas"; 3) o modelo historiográfico, no qual a mensagem "não
vem por meio de sonhos e visões, mas através da pesquisa"; 4) o modelo de aconselha-
mento, no qual "o profeta atua como um conselheiro para o povo de Deus"; 5} o modelo
epistolar, no qual "o profeta escreve saudações, nomes, circunstâncias ou mesmo coisas
comuns que não requerem uma revelação especial; e 6) o modelo literário, no qual "o
Espírito Santo inspira o profeta a expressar seus sentimentos e emoções íntimos por
meio de poesia e prosa, como nos salmos".
Esses "modelos" de inspiração refletem a crescente tendência adventista de definir
inspiração como um processo multiforme, envolvendo a assistência divina não apenas na
transmissão das verdades proféticas, mas também na obtenção das informações. Da pers-
pectiva da obtenção de informações acuradas, pode-se falar genuinamente da existência de
"modelos" de revelação-inspiração. Mas no âmbito da transmissão fidedigna de informa-
ções, a discussão se restringe à interação divino-humana na própria redação das Escrituras.
Essa interação é explicada na seguinte declaração de Ellen G. White (1867, p. 260; ver 1985,
v. l, p. 37): "Se bem que eu dependa tanto do Espírito Santo para escrever minhas visões
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas, a
menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas."
Disso podemos inferir que, embora Deus tenha falado através dos profetas
"muitas vezes e de muitas maneiras" (Hb 1:1), todo o processo de obtenção de in-
formações e de sua transmissão ao povo foi controlado pelo Espírito Santo. Além
disso, enquanto a redação de algumas partes dos escritos inspirados foi divinamen-
te provida, as palavras de outras partes foram escolhidas pelo próprio profeta sob a
orientação do Espírito Santo. Mas isso jamais deveria ser usado como um endosso à
teoria dos "graus" de inspiração, ou como um pretexto para desprezar certas partes

4
Ver resenhas crítica de Canale (1991, p. 278-279); de Bemmelen (1991, p. 27-28); de Yorke
(1991,
'9 i j p.
p- 28);
í-fil, Holbrook;
i i i iii mm, Dolson
Lxuiaiiii (1992);
\ i y ?í.), Pinnock
ri num (1994,
v * rr*t p.
[>• 51-52);
Ji-J*-), Bradford
oídumi u (1994,
l, p. 53-54).
5
Ver Methods (1987, p. 18-20); - Methods of (1987, p. 22-24); - Hasel (1985).
Espirito de Profecia

das Escrituras como menos importantes do que outras (ver Mt 4:4; 2Tm 3:16, 17). De
acordo com Carlyle B. Haynes (1935, p. 138, grifo do autor), as Escrituras são muito
"mais do um relato não inspirado de ideias inspiradas".

O escopo todo-abrangente da inspiração


Um segundo tema que tem suscitado algumas discussões significativas nos cír-
culos adventistas é a extensão temática da confiabilidade dos escritos inspirados. Em-
bora os adventistas tradicionalmente enfatizem a confiabilidade de todas as diferen-
tes áreas do conhecimento abordados nesses escritos, várias tentativas têm sido feitas
para limitar essa confiabilidade a questões de salvação.
Já em 1884, George I. Butler (1884, p. 24) sugeriu a existência de diferentes níveis
de confiabilidade dentro da Escritura, que ele considerava como diretamente dependentes
de seus vários "graus" de inspiração. Para ele, as Escrituras "são autoritativas na proporção
dos graus de inspiração", e são perfeitas apenas na medida em que são necessárias para
alcançar o propósito para o qual foram dadas a fim de tornar-nos sábios "para a salvação"
(2Tm 3:15) (BUTLER, 1884, n. 9, p. 344).
Mas a mais influente declaração rumo a um conceito de confiabilidade limitado à
salvação é a afirmação de W. C. White (1985, v. 3, p. 437), feita em 1911, de que sua mãe
(Ellen G. White) "nunca pretendeu ser autoridade em história". Embora no ano seguinte
ele explicasse mais claramente que "mamãe nunca desejou que nossos irmãos os conside-
rassem [seus escritos] como uma autoridade no tocante a pormenores da História ou de
datas históricas" (WHITE, W. 1985, v. 3, p. 446), o conceito de que os escritos inspirados
não podem ser considerados como autoritativos em questões que não sejam a salvação
tem sido ecoado por vários outros autores adventistas/
Por exemplo, no Concílio de Professores de Bíblia e de História, em Washington,
DC, em 1919, o presidente da Associação Geral, Arthur G. Daniells (1979, p. 34-38), afir-
mou que Ellen G. White "nunca pretendeu ser autoridade em história" ou "professora dog-
mática de teologia", e que ela nunca considerou suas "citações históricas" como infalíveis. A
despeito das fortes reações a essas palavras naquela ocasião,7 e ao fato de essa ideia não ser
apresentada na literatura adventista pelo menos durante as três décadas seguintes (TIMM,
1994, p. 30-47), a controvérsia sobre este assunto ainda não cessou. As divergências sobre
a extensão da confiabilidade dos escritos inspirados realmente aumentaram desde o início
da década de 1970 (TIMM, 1994, p. 57-97; 1997, p. 8-14).8

* Uma discussão elucidativa da declaração de W. C. White sobre a autoridade de Ellen G. White


em história é provida por Moon (1993, p. 427-436).
Ver as declarações, por exemplo, de Wilcox (1979, p. 44-57).
8
Para uma atualização bibliográfica dessa discussão, ver também: Koranteng-Pípim (1996;
1997a; 1997b, p. 38-44); Knight (1997a, p. 105-118; 1997b, p. 9-11); Scriven (1997, p. 28-37);
resenhas críticas de Knight e Reid 1(997, p. 30-31); Dailey et ai (1998, p. 50-54).
Para uma compreensão adventista de inspiração

Crucial em toda essa discussão é o inter-relacionamento entre o conteúdo do escritos


inspirados e o seu propósito último. Não resta qualquer dúvida de que o propósito principal
da Escritura é a salvação dos seres humanos (Jo 5:39). Mas a verdadeira questão é: Podemos
isolar algumas partes cronológicas, históricas e científicas da Escritura de seu total propósito
salvífico? Deveríamos desenvolver, realmente, um cânon soteriológico de inspiração dentro
do cânon geral da Bíblia, semelhante ao princípio hermenêutico cristológico de Martinho
Lutero?9 Não quebraria essa abordagem a unidade da Palavra de Deus?
Se levarmos em consideração o que a Bíblia diz a seu próprio respeito, descobrire-
mos que as Escrituras possuem uma natureza todo-abrangente, formando uma unidade
indivisível (Mt 4:4; Ap 22:18, 19), e apontando para o mesmo alvo soteriológico (Jo
20:31; ICr 10:11). Além disso, a "salvação" é descrita nas Escrituras como uma am-
pla realidade histórica, relacionada a todos os demais temas bíblicos. E é precisamente
esse inter-relacionamento temático geral que torna quase impossível para alguém falar
das Escrituras hebraico-cristãs em termos dicotômicos ocidentais (ver BOMAN, 1970),
como confiáveis em alguns assuntos e não em outros.
Uma vez que o propósito primário da Bíblia é desenvolver fé para a salvação (Jo 20:31),
suas seções históricas, biográficas e científicas provêem, muitas vezes, apenas as informações
específicas necessárias para atingir esse propósito (Jo 20:30; 21:25). A despeito de sua seletivida-
de em algumas áreas do conhecimento humano, isto não significa que as Escrituras não sejam
confiáveis nessas áreas. Pelo contrário, é apenas na inspirada Palavra de Deus que encontramos,
de acordo com Ellen G. White(1997, p. 173), "um relato autêntico da origem das nações", e "a
história de nossa raça, não maculada do orgulho e preconceito humanos" A mesma autora
considerava a Bíblia também como a "norma infalível" pela qual as "ideias científicas do ho-
mem" deveriam ser provadas (WH1TE, 1884, p. 161; 1989, v. 2, p. 699).
Assim, a teoria de que os escritos inspirados são confiáveis apenas em ques-
tões de salvação reflete mais o pensamento dicotómico ocidental do que a perspectiva
todo-abrangente da Bíblia e de Ellen G. White. Reconhecendo que "toda a Escritura
é inspirada por Deus" (2Tm 3:16), nossa compreensão de inspiração deveria sempre
preservar esse escopo integral e todo-abarcante.

Uma abordagem respeitosa para com os escritos inspirados


Intimamente relacionada com as discussões sobre as teorias de inspiração e a ex-
tensão temática de confiabilidade encontra-se a questão extremamente controvertida
da existência ou não de erros factuais nos escritos inspirados. Mesmo reconhecendo a
confiabilidade de toda a extensão temática desses escritos, permanece ainda a indagação
sobre o grau dessa confiabilidade. Em outras palavras, o Espírito Santo permitiu que erros
factuais se infiltrassem nos escritos inspirados ou não? Se sim, até que ponto?

Algumas noções do "princípio cristológico" de Lutero podem ser encontradas em: Althaus
(1966, p. 72-102); Ramm (1970, p. 56).
Espírito de Profecia

Os adventistas do sétimo dia têm sido, historicamente, relutantes em falar a res-


peito da existência de erros factuais nos escritos inspirados. Quando a Associação Ge-
ral nomeou uma comissão, em 1883, para fazer uma revisão gramatical dos Testimonies
for the Church, de Ellen G. White, o voto não mencionava qualquer erro factual no
conteúdo da obra. Apenas "imperfeições" gramaticais deveriam ser corrigidas, sem al-
terar, "de qualquer forma", as ideias (GENERAL, 1883, p. 741-742). Mais tarde, porém,
no contexto da edição revisada de 1911 de O Grande Conflito, a existência de tais erros
de menor importância começou a ser discutida (WHITE, A. 1982, v. 6, p. 302-337). As-
sim, no Concílio de Professores de Bíblia e de História, em 1919, A. G. Daniells (1979;
ver WILCOX et ai, 1979) expressou publicamente o seu ponto de vista de que tanto
a Bíblia como os escritos de Ellen G. White continham várias discrepàncias factuais.
Durante as três décadas seguintes (1920-1950), os autores adventistas continu-
aram negando a existência de erros factuais nos escritos inspirados. Embora algumas
discussões explícitas desse assunto já tivessem ocorrido na década de 1960, foi so-
mente por volta de 1970 que isto se tornou uma verdadeira questão divisiva entre os
adventistas do sétimo dia. Como resultado, os teólogos adventistas se encontram hoje
divididos entre 1) aqueles que crêem que o Espírito Santo não permitiu que qualquer
erro factual se infiltrasse nos autógrafos dos escritos inspirados; 2) aqueles que argu-
mentam que a influência controladora do Espírito Santo permitiu que apenas peque-
nas discrepàncias insignificantes penetrassem nesses escritos; e 3) aqueles que falam
livremente da existência de erros factuais nos escritos inspirados, sem jamais mencio-
narem qualquer influência controladora do Espírito Santo.
Sem uma teoria de intervenção do Espírito Santo, esse último ponto de vista
deixa de compreender o que os profetas, que experimentaram pessoalmente essa in-
tervenção, têm a dizer sobre o assunto. Por exemplo, a história do conselho de Nata ao
Rei Davi sobre a construção do templo não menciona apenas que Nata deu um conse-
lho equivocado ao rei, mas também que o Senhor corrigiu o erro {2Sm 7:1-16). Ellen
G. White (1985, v. l, p. 26) também reconheceu a influência controladora do Espírito
Santo ao declarar que Ele "guiou a mente" dos profetas "na escolha do que dizer e do
que escrever". Falando de sua própria experiência, ela acrescentou que "em dar a men-
sagem, com a pena e falando perante grandes congregações", "não sou eu que controlo
minhas palavras e ações" e sim o Espírito de Deus (WHITE, 1985, p. 39). Sendo esse o
caso, não podemos admitir qualquer teoria de "não intervenção" como uma hipótese
válida a ser considerada nas discussões adventistas de inspiração.
Mas mesmo aceitando a intervenção controladora geral de Deus na transmissão da
verdade pelo profeta, somos deixados a indagar até que ponto essa intervenção previne os
erros. Enquanto alguns autores crêem que os pretensos erros factuais são meros proble-
mas dos copistas ou dificuldades de compreensão,"1 outros autores pensam que não existe

10
Tentativas adventistas significativas de solucionar alguns dos pretensos erros factuais das Kscrituras po-
dem ser encontradas em: Davidson (1992, p. 105-135); Koranteng-Pipim (1996, p. 225-253,279-304).
Para uma compreensão adventista de inspiração

outro meio de resolver algumas dificuldades do que admitir que elas são realmente equí-
vocos. Por exemplo, Arthur L. White (l973, p. 47-48, grifo do autor), secretário do White
Estale, declarou em uma palestra, em 1966, que "a mensagem inspirada do profeta podia
incorporar uma imprecisão em um pequeno detalhe não consequente ao conceito básico,
ou em um pequeno ponto no campo do conhecimento comum, 'precisão ou imprecisão
do qual a investigação humana é suficiente para informar aos homens'"
Em 1981-1982, Roger W. Coon, secretário associado do White Estate, propôs
uma teoria de "intervenção", que provia espaço para "erros inconsequentes de pequenos
detalhes insignificantes" nos escritos inspirados. Ele explicou que

se, como ser humano, o profeta de Deus erra, e a natureza desse erro é suficientemente
séria para afetar consideravelmente a) a direção da igreja de Deus, b) o destino eterno de
uma pessoa, ou c) a pureza de uma doutrina, então {e somente então) o Espírito Santo
leva imediatamente o proteta a corrigir o erro, de modo a que não ocorra nenhum dano
permanente (COON, 1981-1982, p. 18-19, grifo do autor).

Mais recentemente, Juan Carlos Viera, diretor do White Estate, em um ar-


tigo neste livro, acrescentou que "o profeta pode cometer erros ortográficos ou
gramaticais, bem como outros tipos de imperfeições da linguagem, como um lap-
sus linguae (lapso da língua) ou um lapsus memoriae (lapso da memória)", mas o
Espírito Santo "está em controle da mensagem inspirada", e "sempre corrigiu os
seus mensageiros em questões importantes para a igreja".
No entanto, a discussão entre a noção da não existência de erros factuais e a
ideia da existência de apenas alguns poucos erros insignificantes está longe de ser
resolvida e, creio eu, nunca será completamente solucionada. Esse problema deve-
-se, em grande parte, ao fato de que nós, como ocidentais, nos sentimos muito des-
confortáveis se não podemos entender e explicar todas as coisas, inclusive a nature-
za misteriosa das Escrituras. Mas devemos nos conscientizar de que não podemos
resolver todas as dificuldades com as quais nos deparamos em nossos estudos da
Palavra de Deus. De acordo com Ellen G. White (1993, p. 312), "homens de capaci-
dade têm dedicado uma existência de estudo e oração à investigação das Escrituras,
e, todavia, há muitas porções da Bíblia que não têm sido plenamente exploradas.
Algumas passagens da Escritura nunca serão perfeitamente compreendidas até que,
na vida futura, Cristo as explique. Há mistérios a ser esclarecidos, declarações que
a mente humana não pode harmonizar. E o inimigo buscará levantar argumentos
sobre esses pontos, que seria melhor não ser discutidos.
Além disso, se aceitamos o princípio da Sola Scriptum, deveríamos considerar
mais seriamente a maneira respeitosa como os genuínos profetas tratam os escritos dos
demais profetas. É interessante notarmos que nenhum profeta do Novo Testamento
jamais chamou a atenção para qualquer erro factual do Antigo Testamento; nem o fez
Ellen G. White em relação com a totalidade do cânon bíblico (TIMM, 1994, p. 189-190).
Se a identificação de tais erros é essencial para fortalecer nossa confiança nos escritos
Espirito de Profecia

inspirados, como sugerido por alguns teólogos modernos, por que, então, nem Cristo,
nem Paulo ou João, ou mesmo Ellen G. White nos ajudam nessa tarefa? Se os próprios
profetas não se preocupavam com isso, por que deveríamos nós?
Mas esse exemplo profético de respeitabilidade para com a totalidade dos escritos
proféticos nunca deveria ser usado para defender qualquer teoria de inerrância calvinis-
ta (KARANJA, 1990). Nem deveríamos jamais tornar nossa própria fé e a fé de outros
dependente de tais questões insignificantes. Sem fechar nossos olhos para as dificulda-
des reais encontradas nos escritos proféticos, deveríamos desenvolver uma abordagem
mais respeitosa para com esses escritos, que nos permita enfatizar 1) mais o conteúdo
das mensagens divinas do que seus continentes humanos, e 2) mais o âmago dessas
mensagens do que suas questões periféricas (TIMM, 1996, p. 168-179), de tal maneira
que "os elementos fundamentais permaneçam como fundamentais, e que os periféricos
permaneçam como periféricos" (TIMM, 1998, p. 38).

Resumo e conclusão
Nossas considerações anteriores salientaram a importância de se levar em con-
sideração 1) a natureza sinfónica da inspiração, 2) o escopo todo-abrangente da ins-
piração e 3) uma abordagem respeitosa para com os escritos inspirados. Em vez de
confinar todos os escritos inspirados dentro de uma teoria específica "monofônica"
de inspiração, deveríamos desenvolver uma compreensão mais "sinfónica" e mul-
tiforme (Hb 1:1). Tal compreensão deveria prover espaço suficiente para os vários
"modelos" pelos quais as informações foram obtidas pelos profetas, bem como para
a interação divino-humana na transmissão dessas informações através da própria
linguagem dos escritos inspirados.
Rejeitando toda teoria dicotômica dos níveis temáticos de inspiração, deve-
ríamos enfatizar a natureza integral e todo-abarcante das Escrituras, sem perder
de vista a multiforme e indivisível unidade temática do seu conteúdo (Mt 4:4; Ap
22:18, 19) e a natureza soteriológica do seu propósito último (Jo 20:31; iCo 10:11).
Evitando tanto o conceito calvinista de inerrância bíblica, como a teoria liberal da
não intervenção corretiva do Espírito Santo, deveríamos seguir mais de perto o
exemplo profético de respeitabilidade para com a totalidade dos escritos proféticos.
Nossa fé jamais deveria depender das dificuldades factuais encontradas nas Escri-
turas ou nos escritos de Ellen G. White.
Teorias humanas, mesmo de inspiração, podem florescer por um pouco de tempo, e
então murchar como uma flor em uma terra que se tornou árida pelo vento. Portanto, nossa
compreensão de inspiração jamais deveria estar subordinadamente exposta aos ventos ári-
dos das doutrinas humanas (Ef 4:14), mas deve estar fundamentada na inamovível Palavra
de Deus, sendo por ela protegida. De acordo com o profeta Isaias, "seca-se a erva, e cai a sua
flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente" (Is 40:8).
Para uma compreensão adventista de inspiração

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A dinâmica da inspiração:
olhando de perto as
mensagens de EUen G. White

Juan Carlos Viera

Nas páginas sagradas da Bíblia descobrimos pelo menos seis modelos ou pa-
drões de inspiração. Esses modelos conferem luz aos processos misteriosos pelos
quais Deus se comunica com a humanidade, esclarecendo melhor as dinâmicas da
inspiração de Ellen G. White.

O modelo "visionário" de inspiração


Muitos cristãos acreditam no modelo "visionário" — Deus falando através de vi-
sões e sonhos proféticos — como a única forma de revelar a sua vontade aos profetas.
Esse modelo sugere visões de caráter sobrenatural, nas quais o profeta exibe sinais que
demonstram que ele está sendo controlado sobrenaturalmente, tais como ficar sem res-
pirar, adquirir força anormal ou sentir a falta dela. Testemunhos como esses podem ser
achados tanto entre os profetas bíblicos como em Ellen G. White.1
O modelo visionário também inclui experiências à parte de sonhos e visões, como
as teofanias, nas quais a presença real de um ser celestial é vista e ouvida. Moisés no de-
serto de Midiã e Josué nos planaltos de Jericó receberam suas mensagens pessoalmente
de um ser divino real e presente (ver Êx 3; 4; Js 5:13-15). Em outras situações, os olhos
do profeta são abertos para ver o mundo invisível dos seres espirituais envolvidos no
grande conflito entre o bem e o mal (ver 2Rs 6:15-17).
Visões são tão reais para os profetas que às vezes é difícil para eles distinguirem
entre a visão e a realidade (ver 2Co 12:1-4). Eles podem dizer para as pessoas: "Eu vi o
Senhor" ou "Eu ouvi a voz do Senhor" (Is 6:1, 8). Visões sobrenaturais asseguram aos
honestos e sinceros que Deus está falando a eles através da voz e da pena dos profetas
mas a Bíblia inclui diversos modelos de inspiração diferentes do visionário.

1
Para uma ilustração bíblica de força sobrenatural, ver (uízes 13-16. Para falta de força en-
quanto em visão, ver Daniel 10:7-11. Muitas testemunhas confiáveis afirmam que Ellen G. White
ficava sem respirar enquanto em visão.
Espírito de Profecia

O modelo "testemunho" de inspiração


No modelo "testemunho", Deus parece inspirar o profeta a dar o seu próprio tes-
temunho das coisas vistas e ouvidas. João podia escrever: "O que era desde o princípio,
o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos [...] o que temos
visto e ouvido anunciamos também a vós outros" (IJo 1:1-3).
Ser uma testemunha significa relatar a história tal como é vista ou percebida pelo
indivíduo. Tecnicamente, não é permitido a uma testemunha referir-se a pontos de vista
ou opiniões dadas por outros. Deus inspira uma pessoa a dar o seu próprio informe
independentemente de sonhos ou visões adicionais. No entanto, a mensagem ainda é
resultado de inspiração divina uma vez que o Espírito Santo impressiona a mente do
profeta e o inspira a escrever como uma testemunha.
Os evangelhos de Mateus e João são resultado do modelo "testemunho". Esses após-
tolos não necessitavam de uma revelação sobrenatural para contar a história de Jesus: eles
fizeram parte da história. Os evangelhos não são menos inspirados do que os escritos
visionários somente pelo fato de não serem resultado de uma visão, Eles foram inspirados
de uma forma diferente — o Espírito Santo estava usando um modelo diferente.
Alguns adventistas têm dificuldade para entender como funciona a inspiração
quando Ellen G. White dá seu próprio testemunho em obras autobiográficas ou quando
ela conta a história do movimento adventista do modo como o via. Essas declarações
são menos inspiradas do que as que iniciavam com a expressão "Eu vi"? Não. Nós não
cremos em "níveis" ou "degraus" de inspiração; em vez disso, cremos que Deus usa dife-
rentes formas para inspirar alguém a escrever uma mensagem.

O modelo "histórico" de inspiração


Enquanto os evangelhos de Mateus e João são resultado do modelo "testemunho",
os evangelhos de Marcos e Lucas podem ser descritos como um modelo "histórico" de
inspiração. Lucas nos conta claramente que a sua história sobre Jesus não veio através
de sonhos ou visões, mas por pesquisa:

Visto que muitos houve que empreenderam unia narração coordenada dos fatos
que entre nós se realizaram [...] a mim me pareceu bem, depois de acurada inves-
tigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem (Lc 1:1-3).

No modelo histórico, Deus inspira o profeta a procurar por informação em fontes


como registros históricos, relatos de testemunhas oculares, tradições orais e escritas.
Nós podemos estar seguros de que Ele guia seus servos para i r a pessoas confiáveis, fazer
as perguntas certas e citar a fonte correta.
Além de Marcos e Lucas, livros como Atos, Êxodo, Josué, Esdras e Ester ilustram
como alguns relatos históricos, incluindo diários de viagem, se tornam parte de escritos
A dinâmica da inspiração

inspirados. Nem Moisés nem Lucas precisavam de uma revelação especial para registrar
a história do Êxodo ou da igreja apostólica. Entretanto, o Senhor sabia que aquelas nar-
rativas não somente levariam encorajamento a seu povo posteriormente, mas também
conselhos e avisos. Consequentemente, ele inspirou seus servos a registrarem aquelas
viagens e circunstâncias envolvendo o povo de Deus.
O modelo histórico de inspiração também nos permite entender melhor porque
Ellen G. White incluiu registros históricos (muitas vezes retirados de fontes seculares)
nos seus escritos inspirados. Uma citação secular se torna uma parte integral de um
escrito inspirado não por causa de uma falsa mudança na substância, mas por causa da
liberdade que Deus concede ao profeta de usar qualquer fonte que este considere neces-
sária para tornar o texto final da mensagem claro e completo.
O modelo histórico de inspiração nos ajuda a entender o uso de fontes religiosas
em vez de visões e sonhos proféticos. Assim como Lucas dirigiu-se a pessoas religiosas
em busca de informação sobre a história de Jesus, Ellen G. White foi a livros religiosos em
busca de expressões e figuras literárias que a permitiriam dar "uma apresentação enérgica
e boa do assunto" que ela tinha sido inspirada a apresentar (WHITE, 2008a, p. xii).

O modelo "conselheiro" de inspiração


No modelo "conselheiro", o profeta age como um conselheiro do povo de Deus.
Por exemplo, Paulo discutiu assuntos de família na primeira carta aos Coríntios. Em
algumas ocasiões, ele tinha a direçào do Senhor (ICo 7:10); já em outras, ele não tinha
revelação especial (v. 25), embora isso não o impedisse de dar conselhos inspirados, ou
seja, vindos de uma mente cheia do Espírito de Deus (v. 40).
Uma grande parte dos escritos de Ellen G. White provém do modelo "conselheiro" de
inspiração. Muitas vezes ela utilizou a expressão "eu vi" quando fazia recomendações a pais e
professores, quando aconselhava crianças e jovens, ou ao dar avisos a ministros e administra-
dores; muitas outras vezes, porém, ela não a usou. Não devemos dar menos valor a conselhos
só porque uma revelação especial não é declarada. Isso limitaria o Senhor a um único modelo
de comunicação. Deus inspirou a profetisa a usar seu próprio julgamento2 ao dar conselhos —
conselhos vindos da mente iluminada pelo mesmo Espírito que dá sonhos e visões.

O modelo "epistolar" de inspiração


Cartas de Tiago, João, Paulo e Pedro trouxeram iluminação, devoção, instrução
e correção aos crentes do primeiro século, como também aos cristãos de todas as eras.
Porém, na dinâmica da inspiração, essas epístolas nos confrontam com novos dilemas:

Ellen G. White sugere ambas as ideias: 1) que seu próprio julgamento estava "sob o treina-
mento de Deus" (WHITE, 2008b, p. 60); e 2) que sua mente e julgamento eram controlados pela
"mente e julgamento do grande EU SOU".
Espírito de Profecia

1) Como lidar com cartas pessoais tornadas públicas por sua inserção no cânon bíblico?
2) Como entender a inspiração quando o profeta escreve cumprimentos, nomes, circunstân-
cias ou até mesmo coisas comuns que não requerem revelação especial.

Certamente, Paulo nunca imaginou que suas cartas a Timóteo, Tito e Filemom se
tornariam de domínio público. Mas o Senhor planejou que aquelas cartas fizessem parte
do cânon para trazer inspiração, instrução e conforto para muitos ministros e crentes
jovens enfrentando circunstâncias parecidas.
Da mesma forma, Ellen G. White nunca imaginou que suas cartas pessoais, es-
pecialmente aquelas endereçadas ao seu marido e aos seus filhos, se tornariam de do-
mínio público. Ao decidir disponibilizá-las, o comité de depositários do Património
Literário Ellen G. White considerou dois princípios: 1) a própria profetisa afirmou
que aqueles testemunhos que haviam sido dirigidos a um único indivíduo para o ins-
truir, corrigir ou encorajar, em uma situação específica, seriam úteis também a outros
(WHITE, 2008d, v. 5, p. 660); e 2) se o Senhor permitiu que as cartas pessoais de Paulo
estivessem na Bíblia para servir a uma audiência maior, por que ele não poderia fazer
a mesma coisa com um profeta posterior?
As correspondências de Paulo aos Coríntios revelam suas emoções, sentimentos
de desânimo e até de repulsa pelos pesados pecados permitidos dentro da igreja. O Es-
pírito Santo não entrou em cena com uma revelação especial ou visão. Em vez disso, o
Espírito inspirou o servo do Senhor a se expressar com seus próprios sentimentos. Mas
se, por acaso, alguns crentes considerassem essa mensagem somente como uma carta de
um pastor preocupado, o apóstolo os lembra que tudo o que ele pregou e ensinou (ou
até mesmo escreveu) foi resultado dos ensinos do Espírito (ICo 2:1-13).
As cartas pessoais de Ellen G. White mostram o profeta se correspondendo
com sua audiência, expressando seus fardos e sentimentos. Muitas vezes há a ex-
pressão "eu vi" no início da carta. Mas isso não significa que ela está escrevendo
somente acerca de suas opiniões pessoais. Ela está muito ciente da fonte divina de
seus escritos (WHITE, 2008d, v. 5, p. 63, 64).

O modelo "literário" de inspiração


No modelo "literário", o Espírito Santo inspira o profeta a expressar seus senti-
mentos e emoções íntimas por meio da poesia e prosa, como nos salmos.
Ellen G. White não era poetisa. Não obstante, ela expressou seus sentimentos
e emoções íntimas em milhares de páginas de diário à mão. Naquelas páginas, o
crente encontra inspiração, instrução, correçào e conforto como em qualquer ou-
tra porção dos escritos inspirados.
Mas existe uma dimensão mais profunda nas dinâmicas da inspiração. Ao
levar sua mensagem, Deus não somente utiliza seres humanos, mas também lingua-
gem humana. E ambos são imperfeitos. Como esses veículos imperfeitos afetam a
perfeita mensagem de Deus?
A dinâmica da inspiração

Uma mensageira imperfeita


O fato de profetas serem chamados "santos homens de Deus" (2Pe 1:21) não sig-
nifica nem que eram sem pecado, nem nos proíbe de reconhecer suas fraquezas como
seres humanos. Qualquer tentativa de fazer os profetas bíblicos "perfeitos" será confron-
tada pelo próprio relato bíblico.
Veja, por exemplo, o rei Davi. Apesar de ser profeta, ele cometeu pecados signi-
ficativos. Quando seu relacionamento com Deus foi quebrado pelo pecado, Deus en-
viou outro profeta para corrigir seu servo (2Sm 12:1-13). Depois do arrependimento
de Davi, o meio de comunicação foi aberto novamente e ele foi inspirado a escrever um
bonito salmo de confissão (SI 51).
Não devemos fazer nossa confiança nos profetas bíblicos depender de um registro de
vida perfeito por parte do profeta. Nem devemos fazer isso com um profeta moderno — a
autoridade da palavra profética não é baseada em uma vida perfeita ou infalível. Ellen G.
White nunca reivindicou perfeição ou infalibilidade. "Sobre infalibilidade, eu nunca a rei-
vindiquei; somente Deus é infalível. Sua palavra é verdadeira, e nele não há variação ou som -
bra de mudança" (WHITE, 2008c, v. l, p. 37). Pelos seus diários e cartas pessoais, sabemos
que algumas vezes ficou desencorajada; outras vezes ela teve desentendimentos com seu ma-
rido; muitas vezes ela teve que pedir perdão. Logo, podemos afirmar que ela também errava.

Uma profetisa falha


No relato bíblico, encontramos situações onde um profeta tinha de ser corrigido por
causa de ideias preconcebidas. Os apóstolos acreditavam que somente os judeus podiam ser
saJvos. O Espírito Santo teve que corrigir essa ideia para que o evangelho fosse levado a todo
o mundo. No caso de Pedro, foi por meio de uma visão (At 10,11), e no caso de Paulo, por re-
velações especiais (Ef 3:3-6). Tais correções iluminaram os apóstolos e, portanto, toda a igreja.
No movimento adventista, encontramos situações semelhantes de correção de
ideias preconcebidas. Nossos pioneiros foram grandemente limitados em sua compre-
ensão de missão por um erro teológico vindo do movimento millerita — a doutrina de
que a porta da graça estava fechada. Até mesmo Ellen G. White a aceitava inicialmente.
Em visões sucessivas, o Espírito Santo corrigiu a ideia primeiro em sua mente e, depois,
através dela, no movimento inteiro (WHITE, 2008c, v. l, p. 63).
O fato de que o Espírito Santo corrigiu as concepções erróneas relacionadas com
missão global na mente de Pedro, Paulo e Ellen G. White nos dá a segurança que o Es-
pírito Santo está no controle da mensagem inspirada.
Em outras circunstâncias, um profeta tinha que ser corrigido porque o conselho
ou sugestão era diferente do plano de Deus. É por essa razão, por exemplo, que encon-
tramos o profeta Nata inicialmente aprovando o plano de Davi de construir uma casa
para o Senhor, e, depois, o Senhor corrigindo aquela ideia.
Nós encontramos paralelos no ministério de Ellen G. White. Em 1902, a casa
publicadora adventista no sul dos Estados Unidos estava sofrendo financeiramente. Os
Espírito de Profecia

lideres da igreja procuraram conselhos inspirados. Depois de alguma consideração, a


mensageira aprovou a decisão dos líderes de fechar a casa publicadora. No entanto,
durante a noite, Deus corrigiu sua mensageira, e ela, então, teve que escrever uma men-
sagem diferente (Ellen G. White, Carta 208, 1902).
Todos os escritores do Novo Testamento criam que o retorno de Jesus seria em
breve. Apesar de não conseguirmos reconstituir toda a sequência cronológica da atua-
ção do Espirito Santo ao lidar com essa questão, sabemos que os apóstolos receberam
informação adicional. Por exemplo, em sua primeira carta aos tessalonicenses, Paulo
deu a impressão de que ele esperava estar vivo para a volta de Jesus (iTs 4:16, 17). Po-
rém, informações adicionais entre as duas cartas levaram-no a alertar a igreja para não
esperar que o Senhor viesse imediatamente (2Ts 2:1-4).
Da mesma forma, João foi convencido de que ele estava vivendo "a última hora"
(IJo 2:18). Visões posteriores deram a ele a oportunidade de dizer à igreja, certamente
com tristeza, que muitas coisas aconteceriam (incluindo perseguição forte) antes da
vinda do Senhor. Sem dúvida, o livro do Apocalipse foi a resposta do Espírito Santo a
muitas perguntas surgidas na mente do apóstolo amado.
A mensageira do Senhor acrescentou que todos os crentes no movimento adven-
tista compartilhavam da convicção de que a vinda do Senhor estava próxima. Nós não
precisamos ficar com vergonha pelo fato de que Ellen G. White expressou suas expectati-
vas, como fez Paulo, Pedro e João nos tempos bíblicos. Novamente, o Espírito Santo teve
de corrigir algumas ideias e dar informação adicional para guiar a igreja na direção certa.
Em uma reunião em 1856, foi mostrado a Ellen G. White que alguns crentes ali
presentes estariam vivos até a volta de Jesus (ver WHITE, 2008e, v. l, p. 131, 132). Nos
anos que se seguiram, o Senhor deu a ela uma visão estendida do grande conflito com
informações adicionais sobre a viagem que estava à frente. Também foi revelado que
"devido à insubordinação, nós provavelmente vamos ter que permanecer aqui neste
mundo por muitos anos ainda" (WHITE, 1997, p. 696).

Linguagem imperfeita
Os adventistas do sétimo dia não crêem em inspiração verbal (a ideia de que Deus ditou
as palavras exalas aos profetas). Com exceção dos dez mandamentos, todos os escritos inspi-
rados são o resultado de esforços combinados: l) o Espírito Santo inspira o profeta com uma
visão, uma impressão, um conselho, ou um julgamento; 2) o profeta começa a procurar por
frases, figuras literárias e expressões para levar a mensagem de Deus com precisão.
Deus dá liberdade ao profeta para selecionar o tipo de linguagem que ele ou ela
quer usar. Isso explica os diferentes estilos dos escritores bíblicos e explica porque Ellen
G. White descreve a linguagem usada por escritores inspirados como "imperfeita" e
"humana". Porque "tudo que é humano é imperfeito" (WHITE, 20G8c, v. l, p. 20, 21).
Nós devemos aceitar a ideia de imperfeições e erros tanto na Bíblia como nos escritos
de Ellen G. White. Isso significa pelo menos duas coisas: 1) o profeta usa sua linguagem diá-
ria aprendida desde criança e aprimorada através de estudo, leitura e viagens, ou seja, não há
A dinâmica da inspiração

nada sobrenatural ou divino na linguagem usada; 2) o profeta pode errar ortograficamente


ou gramaticalmente, assim como cometer outros tipos de erros linguísticos, como lapsus
linguae (um lapso da língua) ou lapsus memoriae (um lapso da memória), que precisam ser
corrigidos por um editor antes de o texto estar pronto para publicação. O editor não corrige
a mensagem inspirada, mas os conteúdos gramaticais que não são inspirados.
Nós encontramos lapsus linguae no evangelho de Mateus quando ele cita Zacarias,
mas menciona Jeremias em conexão com as 30 peças de prata (Mt 27:9, 10; Zc 11:12, 13;
Jr. 32:6-9). Para uma pessoa que crê na inspiração verbal, isso levanta questões sérias; mas
para aqueles que aceitam que o Senhor fala aos seres humanos em linguagem imperfeita,
isso ilustra como a mensagem divina nos alcança através de uma linguagem imperfeita.
A seguinte declaração de Ellen G. White, quando ela cita Paulo, mas menciona
Pedro, é similar: "'O amor de Cristo nos constrange', declara o apóstolo Pedro. Esse
foi o motivo que impeliu o discípulo zeloso em seu ardoroso trabalho em favor do
evangelho" (ver 2Co 5:14; WHITE, 1913).
Felizmente, nós temos evidência suficiente na Bíblia, assim como na história do
movimento adventista, para nos mostrar que o Espírito Santo sempre corrigiu seus
mensageiros em assuntos importantes para a igreja.
O Senhor nos surpreende com seus caminhos maravilhosos e, às vezes, estranhos.
Ao se comunicar com seu povo, ele tem selecionado seres humanos dedicados, mas fa-
lhos, usando uma linguagem humana imperfeita como instrumento para transmitir sua
mensagem. Devemos ser gratos ao nosso Pai celestial por ele não ter selecionado uma
linguagem "sobre-humana" compreendida apenas por algumas pessoas selecionadas,
mas escolheu usar nosso próprio modo imperfeito e comum de ver e entender as coisas.
Ao aceitar seus caminhos, nós também devemos tomar cuidado para não confun-
dir o conteúdo com o recipiente. Nós não devemos descartar o "tesouro" que está dentro
somente porque a vasilha é imperfeita e às vezes indigna (WHITE, 2008c, v. l, p. 26).

Referências
\ v m n . l- 1 , (i. o grande condiu» r.iiuí: Casa 1'uhlu .nlnr.i Brasileira, .'uusj
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. Testemunhos para a Igreja, '['atuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008e. v. 1.
. Evangelismo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997.
. What does thou here. Reviewand Herald, v. 90, n. 44,1913. Disponível em: <http://
bit.ly/yrXA8q>. Acesso em: 23 fev. 2012.
Profetas modernos:
como testá-los?

Roger W. Coon

Sábado, 17 de julho de 1915. Enquanto os 100 mil membros da Igreja Adventista


do Sétimo Dia que residiam na América do Norte se preparavam para participar do
culto, em sua igreja havia sentimentos de preocupação, inquietude, angústia e apreen-
são quanto ao futuro. Aquele foi o primeiro dia de toda a história da 1ASD em que não
houve um profeta vivo em seu meio. Ellen G. White faleceu na tarde do dia anterior,
sexta-feira, aproximadamente às 15h30. Suas últimas palavras foram: "Eu sei em quem
tenho crido" (2Tm 1:12). Sua primeira visão aconteceu em dezembro de 1844, apro-
ximadamente 16 anos antes de haver realmente uma Igreja Adventista (os primeiros
passos para uma organização do movimento foram dados em 1860).
A maioria dos adventistas se perguntava qual seria o futuro de sua igreja tendo de
encarar a questão de um sucessor para a missão de profeta. Os adventistas do sétimo dia
não assumiram a posição mantida pelos mórmons, que declaram sempre ter em seu meio
um constante e ininterrupto dom de profecia. Eles afirmam que quem quer que venha a
ser o presidente do Conselho dos 12 Apóstolos em ocasião oportuna (equivalente ao pre-
sidente da Associação Geral da IASD), automaticamente tem o dom de profecia.
No entanto, não há nenhuma evidência na Bíblia que apoie essa posição. Nos
tempos bíblicos, os primeiros três reis de Israel tiveram o dom, mas outros reis
não foram tão abençoados. O primeiro sumo sacerdote e alguns dos que vieram
após ele também tiveram o dom, mas nem todos os sumo sacerdotes o tiveram.
Alguns dos juizes tiveram o dom, mesmo as mulheres que se tornaram juízas,
como Débora e Hulda, mas a maioria não o teve.
Paulo declara que os dons do Espírito Santo — incluindo o de profecia — são da-
dos àqueles a quem Ele escolhe; somente Ele determina os que receberão o dom. Nem
todo mundo recebe o dom de profecia e ninguém pode reivindicá-lo. O que os cristãos
podem fazer é desejar os melhores dons (iCo 12:1-31). O simples fato de alguém poder
receber um sonho de origem divina não faz do receptor necessariamente um profeta.
Nos tempos bíblicos, algumas pessoas tiveram sonhos divinos e, no entanto, elas
não se tornaram profetas (por exemplo, temos os faraós egípcios nos tempos de Abraão
e José, Nabucodonosor, rei da Babilónia, e Cláudia, a esposa de Pôncio Pilatos). No
princípio do movimento adventista, Tiago White teve pelo menos um sonho como es-
ses e J. N. Loughborough teve vários. Mas Ellen G. White, que sabia de seus sonhos
Espirito de Profecia

e acreditava neles como tendo sido enviados por Deus, não os considerou proféticos.
Aliás, todos estes não se consideraram profetas. Dons naturais, mesmo quando recebi-
dos em um grau especial, não devem ser comparados ao dom profético. Veja o caso da
"Irma D" (WHITE, 2006, v. l, p. 708, 709 - 1868, no apêndice).
Durante a década final da vida de Ellen G. White, havia pessoas que imagina-
vam ter sido chamadas para o ofício profético. Algumas, inclusive, se apresentaram a
ela, acreditando que quando ela lhes visse a face, instantaneamente as reconheceria de
um sonho ou visão e validaria suas reivindicações (veja William White, "Confidence in
God", uma apresentação devocional na 38a Assembleia da Conferência Geral, realizada
em 30 de maio de 1913, às 8h30 [General Conference Bulletins, 16 mal 19Í3]).
Os mais altos líderes da igreja também estavam de acordo sobre a questão do
sucessor ao ofício profético. O vice-presidente da Associação Geral, M. N. Cam-
pbell, visitou Ellen G. White, em 1914, para perguntar se ela havia tido alguma
palavra do Senhor sobre esse assunto e se ela viveria ou não para ver Jesus voltar à
Terra. Ellen G. White frequentemente era questionada quanto a se haveria um su-
cessor. Sobre isso, ela sempre respondeu com uma declaração de duas partes: 1) Eu
não sei se haverá ou não outro profeta, porque o Senhor não me contou; e 2) Mas
Ele me contou que, se minha vida for poupada ou não, o que eu escrevi é suficiente
para conduzir a igreja até o fim dos tempos. Alguns incorretamente concluíram
que se a igreja não precisava de outro profeta antes do fim, certamente não haveria
outro. Mas a própria Ellen G. White disse que nós não necessitaríamos dela se es-
tudássemos a Bíblia como deveríamos:
36
Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão
bíblico e a perfeição cristã, não necessitariam dos testemunhos. É porque negligencia-
ram tomar conhecimento do livro inspirado de Deus que Ele procurou alcançar vocês
por meio de testemunhos simples e diretos, chamando a sua atenção para as palavras
da inspiração que negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para modelarem a
vida de acordo com os seus ensinamentos puros e elevados (WHITE, 2007, v. 5, p. 665).

E se Deus, em sua sabedoria, amor e graça nos concedeu o dom de Ellen G. White,
quando nós, tecnicamente, dela "não precisávamos", Ele pode muito bem fazer isso no-
vamente no futuro. Baseado em Joel 2:28-32, há um espaço para a possibilidade de haver
mais de um profeta na remanescente igreja de Deus no fim dos tempos. Além disso, há
algumas evidências que sugerem que, desde a morte de Ellen G. White, um autêntico e
genuíno dom tem sido manifestado por si mesmo na igreja. Alguns exemplos são nosso
trabalho na Etiópia, na virada do século, que iniciou com um sonho divino dado a Moslem
Alhaji e Sheik Zachariya; na América do Sul, onde houve evidentemente alguém com o
dom de profecia entre os "Davis Indians", e, mais recentemente, pode ter havido uma jovem
mulher em Bangladesh que recebeu o dom (essa informação ainda está sendo verificada).
Mas se Ellen G. White teve qualquer dúvida quanto a se haveria ou não um pro-
feta genuíno na igreja após o seu falecimento, ela não teve absolutamente nenhuma
Profetas modernos

dúvida a respeito da presença de falsos profetas na igreja nos fim dos tempos. Ela previu
que, ao nos aproximarmos do fim, um crescente número de falsos profetas surgiriam na
América e no exterior, alegando que Deus os havia enviado. Quanto a isso, é nos adver-
tido: não os aceitem, a menos que lhes dêem uma "evidência clara" da origem divina de
seu dom, pois muitos serão, no futuro, enganados.
Devemos considerar, então: Em que constitui essa "evidência clara" para que pos-
samos identificá-la e exigi-la dos "supostos" profetas?

A necessidade do teste
O conselho de Jesus
Em Mateus 7:15, no Sermão da Montanha, temos: "Guardai-vos dos falsos pro-
fetas." A implicação dessa afirmação é a de que se há falsos profetas, então deve haver
profetas verdadeiros. Outro texto que deve ser observado é Mateus 24:4, 5,11, 24, onde
são apresentados sinais da destruição de Jerusalém e do fim do mundo, bem como a
advertência sobre os perigos da decepção. Nesse contexto, encontramos duas categorias
(falsos Cristos e falsos profetas), seguidas do alerta de que eles ofereceriam evidências
subjetivas ("grandes sinais e prodígios"), ao invés da objetiva Palavra de Deus. "Muitos"
surgiriam e "muitos" seriam enganados por meio disso.

O conselho de Paulo (ITs 5:19-21)


O conselho se encontra no livro de l Tessalonissences, um dos primeiros textos
do Novo Testamento, escrito menos de 20 anos após a crucifixão e 15 anos antes dos
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Existe a possibilidade de que aquilo que
as pessoas tinham no Antigo Testamento era suficiente para sua salvação, e de que não
havia nenhuma necessidade de escritos inspirados adicionais. O objetivo, porém, foi o
testar os pretendentes ao dom profético.
A mensagem aconselha a não apagar o Espírito Santo (pela negligência/desonra
aos seus dons) e a não desprezar a profecia, um de seus dons mais importantes. Também
nos ensina a comprovar a origem de eventuais pretendentes ao dom profético, mas não
rejeitá-los imediatamente. Pelo contrário, temos a obrigação de provar a veracidade do
dom, apoiando-nos para tanto naquilo que comprova ser genuíno e bom. A continuida-
de da profecia depende dessas verificações, mas há a necessidade de um teste constante.
Paulo não se importou em ser testado. Pelo contrário, ele aparentava receber o
teste com agrado. Em Atos 17:11, Paulo declarou que os bereanos eram "mais nobres"
que os tessalonicenses porque tinham a mente aberta. Eles receberam a palavra com
toda avidez e não foram ingénuos: examinavam diariamente as Escrituras para ver se
"estas coisas" — os ensinos de Paulo — eram ou não assim.

O conselho de João (Uo 4:1-2)


O livro de l João demonstra o contínuo interesse por parte dos cristãos em não serem
enganados por persuasivos falsos profetas ainda por surgir. A mensagem adverte os crentes
Espírito de Profecia

a não acreditar em todo "espírito" (porque há dois tipos no mundo), e ainda coloca como
obrigação testar os "espíritos" Nessa passagem, bem como na de Paulo citada anteriormente,
identificamos linguagem forense e a implicação da necessidade de adequar critérios durante o
processo. A razão para isso é que muitos dos "falsos" saíram para o mundo.

O conselho de Ellen
Ela tinha certeza de que eles surgiriam (WHITE, 2008, v. 2, p. 392, 49), que ha-
veria "muitos" falsos profetas (Mt 24:11; WHITE, 2008, v. 2, p. 72, 392) e que, por meio
disso, muitos seriam enganados. Segundo ela, à medida que o fim se aproximar, o nú-
mero desses falsos profetas aumentará, tanto nos Estados Unidos como em outros paí-
ses (WHITE, 2008, v. 2, p. 72; 1997, p. 610), e muitos deles serão genuinamente sinceros,
nem todos serão um engano e uma fraude (WHITE, 2008, v. 2, p. 72).
O resultado das pregações desses falsos profetas será decepção {WHITE, 1997,
p. 363, 610; 2008, v. 2, p. 392), confusão (WHITE, 2008, v. 2, p. 72), rebelião (WHITE,
2006, v. 4, p. 173; 1996, p. 442; 2008, v. 2, p. 392-395), introdução de doutrinas heréti-
cas (WHITE, 2008, v. 2, p. 393, 360), descrédito pela legitimidade do dom de profecia
(WHITE, 2008, v. 2, p. 77-79) e manifestações sobrenaturais que acompanharão mui-
tos deles (WHITE, 1997, p. 610; WHITE, 2008, v. 2, p. 48, 49). Contudo, é importante
observar que um fenómeno sobrenatural não pode por si mesmo constituir um teste
de legitimidade e autenticidade. Falsos profetas serão mais perigosos à Igreja Adven-
tista do que a própria perseguição (WHITE, 1997, p. 359, 360).
Diante desse quadro, vemos a obrigação que a Igreja tem de conhecer tais preten-
dentes ao dom. Não devemos aceitar qualquer pretendente ao dom até que ele/ela pro-
ve com uma "evidência clara" que o mesmo procede genuinamente de Deus (WHITE,
2008, v. 2, p. 72; 1997, p. 610).

Critério inaceitável para teste


Jesus advertiu contra a evidência subjetiva oferecida pelos falsos Cristos e falsos
profetas (Mt 24:24) e Ellen G. White mencionou o fenómeno sobrenatural como sendo
exibido por falsos profetas (WHITE, 1997, p. 610; WHITE, 2008, v. 2, p. 48, 49). Esse
tipo de fenómeno, portanto, não pode constituir um teste final de legitimidade e auten-
ticidade. "Quando as pessoas falam levianamente da Palavra de Deus e colocam suas
impressões, sentimentos e exercícios religiosos acima da norma divina, podemos saber
que elas não têm luz" (WHITE, 2009, p. 146).
As principais características do profeta em visão são as seguintes:

1. Perda da força habitual (Dn 10:8, 17);


2. Inconsciência acerca do ambiente em que está (Dn 10:9; 2Co 12:1,2);
3. Interrupção da respiração (Dn 10:17);
4. Olhos abertos, como em estado de transe (Nm 24:3-4, 16);
5. Força sobrenatural (Dn 10:18-19);
6. Capacidade de falarem voz alta sob certas circunstâncias (Dn 10:15-16);
Profetas modernos

Essas são evidências de que um poder sobrenatural está operando, mas não in-
dica que é necessariamente de Deus, pois Satanás pode simular um fenómeno físico.
Existe a necessidade adicional de validar a fonte, determinar se é o Espírito Santo ou
um grande espírito profano. Satanás se utilizará de evidência subjetiva no seu "ato
coroador de falsificação" — ou seja, simular o Segundo Advento. Ante os olhos, ele
trará glória que excede a do sol; e aos ouvidos, voz melodiosa, de conteúdo seme-
lhante à palavra de Jesus (WHITE, 2005, p. 624-25). A única evidência adequada é a
total familiarização com a palavra de Deus. Satanás não pode simular a maneira físi-
ca da Segunda Vinda, uma vez que Jesus virá nas nuvens e Satanás caminhará sobre
Terra; todo olho verá a Cristo como o relâmpago que sai do oriente até o ocidente
(Mt 24:27, 30; Ap 1:7). Como é dito na Bíblia, o justo encontrará o Senhor nas nuvens
(ITs 4:16-17). Enquanto isso, Satanás, em sua aparência fictícia, ensinará elementos
contrários à Bíblia, declarará a mudança do Sábado e pronunciará uma bênção para
aqueles que tiverem a marca da besta.

Critério aceitável e objetivo: quatro testes bíblicos


para um profeta
Acordo priorizando a revelação
A base bíblica está em Isaías 8:20, onde está o teste que diz que os ensinos do su-
posto novo profeta não devem contradizer os ensinos dos antigos profetas, já confirma-
dos e estabelecidos como tais. Cada declaração do profeta sucessor deve estar de acordo
com as mensagens cumulativas de todos os profetas que o precederam.
Isso não impede a possibilidade da "nova luz" vir de Deus, informação que
vai além dos profetas anteriores. O Novo Testamento, por exemplo, dá uma "nova
luz" àquela que o Antigo Testamento provê; Ellen G. White oferece uma "nova luz"
que não é encontrada nem no Antigo nem no Novo Testamento. Há, porém, a in-
formação "antibíblica", que contradiz os profetas anteriores. Isaías diz que essa não
é uma "nova luz", mas sim "nenhuma luz", devendo ser rejeitada juntamente com
o suposto profeta.
Para Jesus, o último motivo de condenação não foi que a humanidade estava nas
trevas do pecado, mas, ao contrário, que quando a luz veio ao mundo os homens pron-
tamente escolheram permanecer nas trevas, ao invés de seguir a luz (Jo 3:19-21).

Teste dos frutos


Desta vez, o fundamento bíblico se encontra em Mateus 7:16, 20, onde é dito
que "pelos seus frutos os conhecereis" Cristãos não deveriam ser juizes, mas analisar
os "frutos" é um trabalho que requer certos julgamentos — valendo ressaltar, a esse
respeito, que o mandamento de "não julgar" se refere ao julgamento de caráter e mo-
tivação, o qual nenhum ser humano deveria fazer em relação ao outro [WHITE, 2000,
p. 71]. O texto mencionado foi ouvido no Sermão da Montanha, advertindo quanto
ao cuidado com falsos profetas (v. 15).
Espírito de Profecia

Devemos considerar as áreas nas quais este teste é aplicado, ou seja, nos frutos da
própria vida dos supostos profetas e nos frutos da vida daqueles que seguem os supostos
profetas. Um fruto leva tempo para se desenvolver até mesmo no mundo natural, logo
nós não devemos estar apressados para confirmar as afirmações dos supostos profetas,
mas sim dar abundância de tempo para que os frutos apareçam.

Uma vez que se permita que o impulso e a emoção tomem o domínio sobre o calmo
juízo, possivelmente haverá demasiada velocidade, mesmo no palmilhar uma estra-
da reta. Aquele que viaja demasiado rápido verificará ser isso perigoso em mais de
um aspecto. Não tardará para que ele se desvie do caminho direito para uma vereda
errada (WHITE, 2008, v. 2, p. 91; compare 17-18).

Na aplicação desse teste, não olhemos para a perfeição sem pecado, pois
todos os profetas, exceto Jesus, pecaram — incluindo Ellen G. White (Rm 3:23).
Diante dessa observação, como podem, então, os frutos serem um teste legítimo?
Ellen G, White (2003, p. 57-58) dá uma dica retratando a distinção entre atos in-
dividuais (se bons ou maus) e a inclinação e direção de uma vida toda: "O caráter
[que é o fruto da vida da pessoa] se revela não por boas ou más ações ocasionais,
mas pela tendência [inclinação/direção] das palavras e atos costumeiros." Isso sig-
nifica que toda boa pessoa ocasionalmente faz coisas ruins (não há quem faça o
bem totalmente [Rm 3:12]), e toda má pessoa ocasionalmente faz boas coisas,
embora geralmente por razões erradas.
40
Teste do cumprimento da previsão
Há duas referências sobre esse teste no Antigo Testamento, relacionadas a
dois diferentes profetas: Jeremias 28:9 ("Quando a palavra do profeta se cumprir,
então será conhecido que o Senhor na verdade enviou o profeta") e Deuteronómio
18:22 ("Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir,
nem suceder assim, essa é a palavra que o Senhor não falou; o profeta falou com
presunção; não o temerás"). O teste consiste no cumprimento das previsões com
respeito a acontecimentos futuros.
O elemento condicional pode qualificar a aplicação desse teste. Os próprios Moisés
e Jeremias mencionam esse elemento condicional rnais de urna vez nos livros nos quais
eles identificam o cumprimento como um teste (Jr 18:6-10; 26:2-6; Dt4:9; 28:1, 2, 13-15).
Outras referências sobre o elemento condicional são Zacarias 6:15, 2 Crónicas
15:2 e Nichol (1957, v. 4, p. 25-38). O melhor exemplo bíblico da aplicação do elemento
condicional pode ser encontrado na história do profeta Jonas. O elemento condicional
não foi explícito em sua mensagem discursada oralmente e publicamente, mas estava
implícito. Jonas fez duas previsões; uma aconteceu e a outra, a respeito de Ninive, não
se cumpriu até 150 anos mais tarde: a Assíria "se arrependeu" de seu primeiro arrepen-
dimento e Deus "se arrependeu" de seu perdão anterior. Mas Jonas não se tornou um
verdadeiro profeta só a partir do fato ocorrido 150 anos depois, ou seja, a destruição
Profetas modernos

posterior de Nínive. Jesus o chamou de verdadeiro profeta (Mt 12:39; Lc 11:29), então
nós também o podemos considerar assim.
Devemos nos lembrar, contudo, de que Satanás pode fazer previsões limitadas
com relação ao futuro imediato. No caso de Jó, que ainda era leal a Deus, havia limites
definidos colocados sobre o que Satanás poderia fazer a Jó (Jó 1:2). No caso do Rei Saul,
no tempo em que visitou a necromante de En-Dor, ele havia apostatado totalmente e
cometeu um pecado imperdoável — acreditar que Satanás tinha total controle do ho-
mem e poderia prever com precisão seu fim imediato. Ellen G. White acrescenta que,
em algumas ocasiões, supostos (embora falsos) profetas em seus dias foram capazes de
prever certas coisas de maneira muito limitada, as quais aconteceram tal como foram
previstas (WHITE, 2008, v. 2, p. 76, 77, 86). Todavia, cumprimento da previsão é um
teste legítimo para o profeta.

Teste de atitude com relação ao Cristo encarnado (Uoão 4:1-2)


Um verdadeiro profeta irá declarar e não negará a divindade de Jesus. Filipenses
2:10 diz para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra e
debaixo da terra e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Características dos escritos de um autêntico profeta


1. Forte tom espiritual — nada pobre, imaturo ou trivial;
2. Ocasião;
3. Relevância;
4. Auxílio prático;
5. Segurança e destemor;
6. Maneira pela qual a revelação é recebida pelo profeta.

Aplicação do critério a estudos de casos selecionados

Durante a vida de Ellen G. White


Anna Garmire, na década de 1880 (WHITE, 2008, v. 2, p. 64-65, 72-84, 89) fez previ-
sões falsas, dentre as quais a de que a marca da Besta seria dada logo após a provação (sendo
que Ellen G. White era o teste dos últimos dias, devendo vir logo antes da provação). Ela tam-
bém previu que a Segunda Vinda ocorreria em 1884, baseando-se na analogia de Israel es-
perando 40 anos (os adventistas do sétimo dia igualmente esperariam 40 anos [1844-1884]).
Ao observar seus "frutos", Ellen G. White a chamou de "corrupta" devido a uma
gravidez fora do casamento. Também há no seu histórico um roubo negociado da lista
de endereços de assinatura da Review and Herald (acusação de crime de Estado em
Michigan). Garmire assim o fez porque a RH recusava-se a publicar suas visões e ela
pretendia divulgá-las aos adventistas do sétimo dia.
Outro exemplo é o de Anna Rice-Phillips, na década de 1890 (WHITE, 2008,
v. 2, p. 85-95). A. T. Jones chegou a comparar as "profecias" de Anna Rice com as
Espírito de Profecia

de Ellen G. White, afirmando serem autênticas. Logo após ele lançar um material
escrito sobre o assunto, onde misturava as profecias de ambas, ele recebeu uma
carta escrita por Ellen G. White, repreendendo-o, escrita mais de um mês antes
da impressão do material.
É interessante considerar que ambas foram mulheres e se chamavam "Anna".
Impostores sempre procuram parecer-se com o genuíno tão exatamente quanto pos-
sível. Como a genuína profetisa era mulher, essas impostoras alegaram possuir o mes-
mo dom e tinham até o mesmo nome de uma legítima profetisa dos tempos bíblicos
(Lc 2:36-38). O critério de Ellen G. White da "evidência clara" não é apropriado a
esses casos simplesmente porque não havia "coisa alguma objetável" nos dizeres das
supostas profetisas (WHITE, 2008, v. 2, p. 93-94).
Essa questão se torna mais compreensível quando se leva em conta que Satanás
opera com o seguinte princípio:

Muitas coisas nessas visões e sonhos parecem ser todas correias, uma repeti-
ção daquilo que tem estado no campo por muitos anos; bem depressa, porém,
eles introduzem um jota aqui, um til de erro ali, apenas uma sementinha que
deita raiz e floresce, e muitos são por ela contaminados (WHITE, 2008, v. 2,
p. 87, ver também p. 91).

Além disso, devemos lembrar que "a vereda da verdade acha-se muito perto da
vereda do erro e ambas as veredas podem parecer uma só às mentes não dirigidas pelo
Espírito Santo e que, portanto, não são ligeiras em discernir a diferença entre a verdade
e o erro" (WHITE, 2008, v. l, p. 202).

Após a morte de EUen G. White


Após o falecimento de Ellen G. White, se levantou Margaret Rowen nas décadas
de 1910 e 1920. Em suas previsões constavam a grande provação em 6 de fevereiro
de 1924, e a Segunda Vinda em 6 de fevereiro de 1925. Quanto aos seus frutos, ob-
servam-se falsidades com relação aos supostos pais adotivos para explicar o dinheiro
que ela gastava superfluamente, o roubo do dinheiro de seu próprio movimento e a
falsificação de supostas cartas de Ellen G. White (datadas de 10 de agosto de 1911)
afirmando que Margaret seria a sua sucessora.
Além disso, ela foi acusada de implantar no cofre do Património White, em 11
de novembro de 1919, um documento com assinatura falsificada de Ellen G. White,
que endossava o seu suposto dom profético. Para tanto, ela contou com a ajuda de B.
Fullmer, um líder da igreja. A ação foi descoberta em 17 de dezembro de 1919, ao ser
confessada por Fullmer. Em 27 de fevereiro de 1927, Margaret tentou sem sucesso assas-
sinar seu comparsa no hotel Hollywood, sendo presa e condenada pela Corte Superior
de Los Angeles a um ano de prisão na penitenciária de San Quentin.
Atualmente, o Património White tem conhecimento de cerca de 35 a 40 supostos
profetas no seio da Igreja Adventista ao redor do mundo, mas certamente há muito mais.
Profetas modernos

Considerações finais

Quanto a haver outro profeta genuíno na Igreja Adventista antes da volta de Jesus,
devemos admitir que Joel 2:28-32 dá margem a essa possibilidade. É possível dizer que
a referência aos homens (no plural) foi cumprida por William Foy e Hazen Foss, ambos
chamados por Deus imediatamente antes de Ellen G. White. A referência a "mulheres"
(no plural), porém, não é necessariamente cumprida apenas por Ellen G. White, tendo
sido ela a única profetisa do seu tempo.
Pedro, em seu sermão no Pentecostes (At 2), afirmou que o Pentecostes foi o cumpri-
mento de Joel 2. No entanto, não se pode dizer que foi um cumprimento completo, pois não
houve nenhum fenómeno sobrenatural em corpos celestiais no Pentecostes e o grande dom do
Pentecostes foi o de variedade de línguas, enquanto que o grande dom em Joel 2 é o de profecia.
Hoje, falamos do Pentecostes como um cumprimento "parcial" de Joel 2 e de Ellen G.
White como um cumprimento "adicional", porém não "final" da mesma passagem. Ela pode,
de fato, ser o cumprimento "final" de Joel 2, mas isso não pode ser provado por meio do texto.
Se outro profeta tivesse surgido em nosso tempo, seu papel poderia muito bem ser completa-
mente diferente do de Ellen G. White. Nos tempos bíblicos, profetas diversos tiveram papéis
completamente diferentes. Moisés foi um administrador — a previsão de eventos futuros foi
uma parte muito pequena de seu ministério profético. João Batista (de acordo com Jesus, o
"maior" de todos os profetas), por sua vez, praticamente não fez previsões futurísticas.
Pode haver, na verdade, mais do que um cumprimento futuro de Joel 2 nos últimos
dias. Como o povo remanescente estará fragmentado em pequenos grupos, caçado e per-
seguido, o papel desses profetas pode ser muito prático — advertir os cristãos de forma
sobrenatural quanto a perigos iminentes e dar-lhes conselhos espirituais. Essa declaração,
no entanto, é muito especulativa e deve ser reconhecida dessa maneira.
De qualquer maneira, se outro profeta surgir na Igreja, ele deverá submeter-se a
todos os testes bíblicos de um legítimo profeta, exatamente como o fizeram em seus dias
os profetas dos tempos bíblicos e como Ellen G. White fez em sua época. Todos os testes
devem ser aplicados e são cumulativos, bem como a maioria do material para o teste.
Quaisquer testes dados por Ellen G. White em acréscimo aos que foram encontrados
nas Escrituras, também seriam necessários. Vale lembrar que a liderança da Igreja tem
uma parte a realizar nesse processo de teste.

Deus não esqueceu o Seu povo, escolhendo um homem isolado aqui e outro ali, como
os únicos dignos de que lhes confie a verdade. Não dá a um homem luz contrária à esta-
belecida fé do corpo de crentes. [... j O erro jamais é inofensivo. Nunca ele santifica, mas
sempre traz contusão e dissensão. [...] A única segurança para qualquer de nós está em
não recebermos nenhuma nova doutrina, nenhuma interpretação nova das Escrituras,
antes de submetê-la à consideração dos irmãos de experiência. Apresentem-na a eles,
com espírito humilde e pronto para aprender, fazendo fervorosa oração e, se eles não
virem luz nisto, atendam ao seu juízo, porque 'na multidão de conselheiros há seguran-
ça [...] Surgirão homens e mulheres proclamando possuir alguma nova luz ou alguma
Espírito de Profecia

nova revelação e cuja tendência é abalar a fé nos marcos antigos. [...] Não podemos
ser demasiado vigilantes contra toda forma de erro, pois Satanás está constantemente
buscando afastar da verdade os homens (WHITE, 1985, v. 2, p. 103-104).

As falsificações de Satanás deveriam já ser esperadas, ou seja, não deveríamos fi-


car surpresos quando elas vêm à tona. Elas podem bem ser acompanhadas de um fenó-
meno sobrenatural e ainda ser limitada quanto ao cumprimento da previsão. "Sempre
haverá movimentos falsos e fanáticos na Igreja" (WHITE, 2008, v. 2, p. 84). O fato de
que "não há coisa alguma objetáveí" no modo de falar de qualquer suposto profeta não
é, em si mesma, suficiente evidência para satisfazer o critério whiteano da "clara evidên-
cia". Mensagens falsas certamente conterão "algumas verdades" ou, talvez até, "muita
verdade" (WHITE, 2008, v. 2, p. 17). "Ela pode dizer muitas coisas boas, pode falar
muitas coisas verdadeiras, mas isso faz o inimigo das almas. O falsificado se assemelhará
em muitos sentidos com o verdadeiro" (WHITE, 2008, v. 2, p. 74-75). Ellen G. White
contrasta "excitação do sentimento" com "entusiasmo saudável":

Se trabalhamos para criar uma excitação de sentimentos, teremos tudo quanto


queremos, e mais do que poderemos possivelmente saber manejar. Calma e cla-
ramente "que pregues a palavra". II Tim. 4:2. Precisamos não considerar ser nossa
obra criar excitação. Unicamente o Espírito Santo pode criar um são entusiasmo.
Deixai que Deus opere, e ande o instrumento humano mansamente diante dEle,
vigiando, esperando, orando, olhando cada momento a Jesus, dirigido e controlado
pelo precioso Espírito que é luz e vida (WHITE, 2008, v. 2, p. 16, 17).

Precisamos ir ao povo com a sólida Palavra de Deus; e quando eles receberem essa Pa-
lavra o Espírito Santo poderá vir, mas Ele vem sempre, como declarei antes, por uma
maneira que se recomenda ao discernimento das pessoas. Em nosso falar, nosso canto,
e em todos os nossos cultos espirituais, devemos revelar a calma e a dignidade e o
piedoso temor que atua em todo verdadeiro filho de Deus (WHITE, 2008, v. 2, p. 43).

É por meio da Palavra — não de sentimentos ou de exaltação — que precisamos


influenciar as pessoas a obedecer à verdade. Podemos permanecer em segurança
sobre a plataforma da Palavra de Deus (WHITE, 2007, v. 3, p. 375).

APÊNDICE

Discernimento especial não comparado ao dom profético


O Caso da Irmã D (WHITE, 2006, v. l, p. 708, 709)
A irmã D tem-se enganado em alguns pontos. Ela tem pensado que Deus a te-
nha instruído em sentido especial, e ambos têm crido e agido de acordo com isso. O
Profetas modernos

discernimento que ela julgava ter em um sentido especial, é um engano do inimigo.


Ela é por natureza rápida para ver, rápida para compreender, rápida para antecipar,
e é de natureza extremamente sensível. Satanás tem-se aproveitado desses traços de
caráter, levando cativos a ambos. Irmão D, você é um escravo há muito tempo. Muito
daquilo que a irmã D tem julgado ser discernimento, é ciúme. Ela se dispôs a tudo
considerar com olhos ciumentos, ser suspeitosa, conjecturando o mal, desconfiada
de quase tudo. Isto causa infelicidade mental, desalento e dúvida, onde devia existir
fé e confiança. Estes infelizes traços de caráter levam-lhe os pensamentos para um
conduto sombrio, onde ela condescende com um pressentimento do mal, enquanto
o temperamento grandemente sensível a leva a imaginar negligência, menosprezo e
ofensa, quando isto não existe. Todas essas coisas impedem o progresso espiritual de
ambos e afetam outros até a extensão de sua ligação com a causa e a obra de Deus.
Há uma obra que vocês precisam realizar: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente
mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte." (l Pé 5:6). Estes infelizes traços de
caráter, com uma vontade forte e arraigada, têm de ser corrigidos e reformados, ou
do contrário levarão ambos a sofrer o naufrágio da fé.

Referências
WHITE, E. G. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 1.

. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 5.

. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 4.

. Testemunhos seletos. Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 1985. v. 2.

. Caminho a Cristo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003.

. Profetas e reis, Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1996.

. Parábolas de Jesus. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

. Evangelismo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997.

. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 3.

. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. v. 2.

. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. v. 1.

. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

. . O maior discurso de Cristo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

NICHOL, F. D. The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and


Herald, 1957. v. 4.
Espírito de Profecia

Para estudo adicional


BAKER, G. Anna Phillips: a second prophet. Adventist Review, p. 8-10, 6 fev. 1986.

. Anna Phillips: not another prophet. Adventist Review, p. 8-10, 20 fev. 1986.

COON, R. W. Heralds of newlight: another prophet to the remant? Boise: Pacific Press Publishing
Association, 1987. p. 32.

HOLBROOK, F. B. The current phenomenon of thought messages. Biblical Research Institute,


p. 9,9abr. 1986.

SPLANGER, J. R. The gift of prophecy and "thought voices™ Ministry, p. 4-7, jun. 1986. Disponível
em <bit.ly/zenAVd>. Acesso em: 13 mar. 2012.

WHITE, ARTHUR L. Will there be another special messenger? In: GENERAL Conference. Notes and
papers concerning EHen G. White and the Spirit of Prophecy. [S.l.]: EHen G. White Estate, 1974.

WHITE, E. G. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. v. 2.

46
Os profetas e a infalibilidade

Roger W. Coon

Existem três questões relativas ao tema da profecia que demandam uma boa res-
posta: 1) Um profeta verdadeiro pode errar? 2) Todas as predições de um profeta devem
ocorrer no tempo previsto? 3) Em alguma ocasião, o profeta poderia voltar atrás e mo-
dificar algo do que disse?
Quando exorta os crentes a respeito das profecias, Paulo pede para não "apa-
garmos o Espírito" nem "desprezarmos as profecias", mas, antes, "julgar todas as coi-
sas, retendo o que é bom" (ITs 5:19-21). A análise do conteúdo profético é essencial
porque, como nos informa Pedro, são palavras "confirmadas" que faríamos bem em
prestar atenção, em virtude de sua utilidade como "candeia que brilha em lugar te-
nebroso" (2Pe 1:19). Por conseguinte, padrões para avaliação de profecias devem ser
considerados, a fim de que o conteúdo demonstre-se crível. Duas teorias para avalia-
ção são levantadas a esse respeito:

1) A teoria da "camisa de forca": essa teoria alega que o controle do Kspírito Santo sobre
o profeta é de tal ordem que não há possibilidade de erro. Em todas as ocasiões, um
profeta verdadeiro acerta 100% das predições. Assim, não podem cxislir profecias não
cumpridas; se um profeta de Deus não acertar em 100% de suas predições, este não
pode ser considerado como um protela legítimo. Nas suas predições, não pode haver
equívocos. Além disso, um profeta de Deus não necessita voltar para modificar algo
que tenha dito ou escrito anteriormente. Suas palavras são criveis e irremediáveis.

2) A teoria da "intervenção": segundo essa teoria, se um profeta erra em sua predição, em


decorrência de sua imperfeição como ser humano, a natureza do erro pode afetar signi-
ficativamente a direção da igreja de Deus, o destino eterno de uma alma ou a pureza de
determinada doutrina. Assim, a fim de evitar tais consequências, o Espírito Santo intervém
imediatamente através do mesmo profeta para corrigir o erro e refrear possíveis danos.

Em 2 Corintios 4:7, por exemplo, ao falar da condição humana em relação às


mensagens divinas, Paulo utiliza a metáfora do "tesouro" contido em "vasos de barro".
O "tesouro" deve ser entendido como as verdades outorgadas por Deus; em outras pa-
lavras, as mensagens que representam a porção divina no processo de revelação. Essas
Espirito de Profecia

verdades são infalíveis e verdadeiras.1 Por outro lado, a metáfora do "vaso de barro"
deve ser considerada como a "embalagem" ou o dito "recipiente" da mensagem divina.
O ser humano, nesses termos, atua como o "vaso de barro" que carrega o "tesouro" do
céu. Como "vaso de barro", o ser humano é apresentado como ser imperfeito e falível.2
Ellen G. White (2005, p. 6; 2007, v. 5, p. 747) enfatiza que os elementos compostos
no processo de salvação apresentam traços de divindade combinados com traços de hu-
manidade. Dessa forma, críticas contemporâneas que desclassificam Ellen G. White como
profetisa confiável em questões doutrinárias não possuem tanta relevância, uma vez que se
fundamentam em certos equívocos cometidos pela profetisa. O argumento desclassificaria
também diversos autores canónicos que eram vítimas da mesma espécie de erros. Dentre
tais equívocos, apontamos os seguintes: 1) profecias não cumpridas; 2) pequenas descri-
ções relativas a detalhes mais minuciosos; 3) aspectos substancialmente importantes.
Hm todos os casos, examinaremos, em primeiro lugar, o que ocorre com as Sagradas Es-
crituras, para depois verificarmos o que ocorre com os escritos de Ellen G. White. Dessa forma,
passamos a compreender Ellen G. White à luz da Bíblia, e não a Bíblia à luz de Ellen G. White.

Profecias não cumpridas


A condicionalidade nas Escrituras
As Escrituras delimitam um teste para o reconhecimento de um profeta através do
"cumprimento de suas predições". Quando os eventos preditos ocorrem, reconhecemos que
o "Senhor enviou o profeta" {Jr 28:9); da mesma forma, quando o evento predito não ocor-
re, "o Senhor não falou através do profeta, antes, este falou presunçosamente" (Dt 18:22).
À vista disso, devemos alegar que, de fato, 100% das profecias ditas devem ser
cumpridas para que um profeta seja considerado como genuíno? A resposta mais plau-
sível parece ser: não. Alguns profetas bíblicos nos apresentam predições que carregam
claros elementos de condicionalidade como, por exemplo, Jeremias (18:6-10; 26:2-6),
Moisés (4:9; 8:19; 28:1-2,13-15), entre outros (2Cr 15:2). Em todos os exemplos, as pre-
dições se cumpririam sob determinadas condições (ver Zc 6:15; Êx 19:5 e 6; iRs 9:4-7).
Dentre diversos exemplos de condicionalidade no cumprimento das profecias,
temos o conhecido caso de Jonas em sua mensagem a Nínive (Jn 3:4). Em virtude da
conversão da cidade, ela não foi destruída como foi previsto por ele. Mesmo assim, a Bí-
blia não o considera como um falso profeta. Ademais, existem diversas predições futuras

Ellen G. White (2005, p. 8 e 9) é categórica ao alegar que "as Santas Hscrituras devem ser
aceitas como autorizada e infalível revelação de sua |de Deus] vontade". Ainda nesses termos,
"somente Deus é infalível" (WHITE, H., 2008, v. l, p. 37); o homem, porém, está propenso a erros
dos mais variados (WHITE, E., 2008, v. l, p. 416).
Nas palavras de Ellen G. White (2008, v. l, p. 20), "qualquer coisa humana é imperfeita".
Tudo o que é produzido pela humanidade é carente de qualquer traço de perfeição visto que
"nenhum homem é infalível".
Os profetas e a infalibilidade

relativas à grandeza e honra nacionais de Israel pronunciadas por sete profetas do Antigo
Testamento (Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Joel, Sofonias e Zacarias).-1 Em virtude do
não cumprimento das exigências divinas, o Senhor igualmente não cumpriu com suas
promessas. Algumas delas, porém, possuem aplicação secundária ao "Israel espiritual" da
atualidade e serão cumpridas no/através do povo de Deus na atualidade; o repouso, entre-
tanto, jamais alcançará seu cumprimento (ver NICHOL, 1957, v. 4, p. 2S-28).4

A condicionalidade em Ellen G. White


Críticos de Kllen G. White costumam apontar a visão de 1856 (conhecida como "co-
mida para os vermes") para lançar-lhe descrédito e caracterizá-la como uma falsa profetisa.
A crítica alega que a profecia (assim como a profetisa) não são dignas de reconhecimento,
visto que uma parcela da visão não se cumpriu (ver WHITE, E., 2006, v. l, p. 127-137).
A visão ocorreu numa terça-feira, dia 27 de maio de 1856. Nessa visão, foi mostra-
do a Ellen G. White que os espectadores de uma conferência em Battle Creek no final de
semana anterior (23 a 26 de maio) teriam diferentes destinos. O anjo alegou que alguns
do grupo se tornariam "comida para os vermes" (aludindo à morte) em virtude das sete
últimas pragas. Por outro lado, outros do grupo seriam transladados por ocasião da
segunda vinda de Cristo. Hm vista disso, durante anos, os pioneiros mantiveram uma
lista dos que estavam presentes na conferência. Por outro lado, reconhecendo o caráter
condicional da profecia, Ellen G. White desestimulou o procedimento. De fato, devido
à condicionalidade do evento, todos os que estiveram presentes na conferência se tor-
naram "comida para vermes"; o último sobrevivente daquele grupo (William White) era
um bebé na ocasião, ele, porém, faleceu em 1937, aos 83 anos de idade.^
Outro exemplo de condicionalidade nos escritos de Ellen G. White encontra-se
em predições de um "iminente retorno de Jesus". Existem aproximadamente 50 citações
escritas desde o final da década de 1840 até o início de 1910 que assinalam a certeza
do retorno de Cristo mediante o cumprimento do dever conferido por Ele, Em outras
palavras, Ellen G. White alega que se tivéssemos cumprido nosso trabalho da forma
como deveríamos, o Senhor haveria voltado antes do momento em que ela escrevia. Em

Tais predições dizem respeito a: l ) Missão mundial do antigo Israel; 2) Colheita dos gentios; 3)
Repouso eterno em Canaã; e 4) libertação dos inimigos políticos.
* Alguns teólogos modernos, por falharem no reconhecimento do elemento condicional das pro-
fecias, cometem erros hermenêuticos determinantes e sistematizam a segunda vinda de Cristo sob a
forma do "arrebatamento secreto". Nesse sentido, eles subtraem a septuagésima semana de Daniel 9
das outras 69 semanas, deslocando-as para um futuro distante. Ao alegarem a infalibilidade das pre-
dições proféticas (em contraste à condicionalidade que apregoamos), eles tomam as profecias não
cumpridas relacionadas ao antigo Israel e as aplicam a uma época posterior, vislo que as predições
proféticas não podem talhar; disso dependeria, na visão deles, a credibilidade do próprio profeta.
Foi essa concepção que fundamentou suas considerações a respeito do futuro "Estado de Israel"
5
Para uma análise mais considerável da problemática ver Nichol (1951, p. 102-111).
Espírito de Profecia

virtude dessas alegações, há de se considerar que o "tempo" da segunda vinda em Ellen


G. White é condicional; já o "evento" da segunda vinda, não. Assim como no Antigo
Testamento, existe um número notadamente pequeno de profecias condicionais nos
escritos de Ellen G. White e precisam ser reconhecidas.

Descrições e detalhes minuciosos


Alguns se surpreendem ao descobrir que, mesmo nas Escrituras Sagradas, encontra-
mos pequenas discrepâncias e equívocos em descrições proféticas que demandam atenção
mais minuciosa. Detalhes dessa natureza, porém, não afetam a direção da igreja, o destino
eterno de alguma alma ou a pureza de qualquer doutrina bíblica. Mesmo assim, os erros exis-
tem e precisam ser analisados de maneira honesta e franca. Por outro lado, evidentemente,
poderíamos considerar que o Espírito Santo pode evitar possíveis equívocos gramaticais ou
informativos antes da publicação do escrito profético e, assim, previamente à difusão do texto,
tornar conhecidos os possíveis erros ao profeta. Entretanto, como notamos, o Espírito não o
fez. Como é evidente, tais erros foram relevados em virtude de seus aspectos insignificantes.

Erros nas Escrituras


Na Bíblia encontramos diversas discrepâncias de caráter numérico, geográfico,
familiar etc. Dentre eles, podemos enumerar:

1) Incertezas históricas: na cura do cego Bartimcu, em relação ao itinerário de Jesus,


Lucas 18:35 relata que o milagre foi efetuado "quando Ele chegava à cidade"; já em
Maços 10:46, notamos que a cura foi efetuada "quando ele deixava a cidade". Em
Números 10:29, Moisés é apresentado como sendo "cunhado" de Hobabe, enquan-
to em Juizes 4:11 efe é mencionado como "sogro". Mateus (26:34, 69-70) alega que
quando Pedro negou a Jesus, ele o fez apenas "uma vez", enquanto que, em Marcos
14:66-72, encontramos a informação de que foram "duas vezes". Km suma, diversas
outras pequenas discrepâncias são encontradas no decorrer dos relatos bíblicos."

2) Problemas numéricos/cronológicos: na descrição da praga ocorrida em Baal-Peor/Sitim,


o livro de Números 25:9 relata que "24 mil morreram", enquanto que em l Crónicas 10:8
lemos que "23 mil morreram" Quando consideramos o número de estrebarias de Salomão
em l Reis 4:26, lemos "40 mil"; já em 2 Crónicas 9:25, lemos "4 mil". Ademais, em 2 Reis
24:8, notamos que Jeoaquim começou a reinar aos "18 anos" de idade, enquanto que, em 2
Crónicas 36:9, lemos que isso ocorreu quando ele possuía apenas "8 anos"7

fi
Como, por exemplo, a apresentação genealógica de Cama (comparar Lc 3:36 com Gn 11:12), e
as baixas causadas por Davi numa guerra (comparar 2Sm 10:18 com ICr 19:18).
Podemos ver também a idade de Acazias quando chegou ao trono (comparar 2Rs 8:26 com
2Cr 22:2 (em algumas versões esse texto foi corrigido)); a posição cronológica de Davi na lista
Os profetas e a infalibilidade

3) Citações incorretas realizadas por autores do Novo Testamento: quando faz refe-
rência à profecia messiânica relativa às trinta peças de prata, Mateus 27:9 atribuí
a profecia a "Jeremias", sendo que ela foi escrita evidentemente por Zacarias (Zc
11:13). A dedicação do antigo concerto foi descrita de uma maneira por Moisés
(ÊX 24:5-8) e de outra por Paulo (Hb 9:19-21).

4) A utilização das Escrituras fora do contexto: enquanto Oséias 11:1 se utiliza da ex-
pressão "do Egito chamei o meu filho" num contexto especifico, fazendo referência
a um personagem específico, Mateus 2:15 usa os termos como referência a uma
suposta profecia relativa à viagem de Jesus ao Egito. A mesma problemática é encon-
trada na relação à "concepção de um filho" em Isaías 7:14 e Mateus 1:23.

Erros em Ellen G. White


Ellen G. White também cometeu diversos erros de pequena relevância em algu-
mas de suas considerações.

1) Descrições imprecisas de eventos bíblicos: sobre a Torre de Babel, ela comenta que
"situa-se antes do dilúvio" (WHITE, E., 1945, v. 3, p. 301); sobre João Batista, ela chega
a declarar: "João Batisla estava morto quando ocorreram os eventos de Mateus 4:18 a
22" (WHITE, E., 1945, v. 2, p. 183-184). Sobre o mesmo contexto, ela alega que "João
se encontrava sozinho no cárcere nessa ocasião" (WHITE, E., 2007, p. 154).s

51
2) Erros cronológicos: quanto à duração do templo de Salomão, Ellen G. White alega
ter permanecido por quatro séculos (WHITE, E., 1996, p. 149). A arqueologia, por
outro lado, diz que o templo durou 384 anos (970 a 586 a.C).

3) Aplicações das Escrituras fora do contexto: ela usa um sentido temporal para 2 Tes-
salonicenses 2:9 (WHITE, E., 2009, p. 735), ou seja, sentido relacionado à segunda
vinda de Cristo logo após a atuaçào de Satanás. Entretanto, esse sentido não foi,
evidentemente, a intenção de Paulo.

4) Créditos errados: ao se utilizar do texto "o amor de Cristo nos constrange" (2Co
5:14), Ellen G. White atribui seus créditos a Pedro (WHITE, E., 1913), quando, na
verdade, ele foi dito por Paulo.

dos filhos de (esse (comparar ISm 16:10-11 com ICr 2:15), e a extensão do período dos juizes
(comparar At 13:20 com !Rs6:l).
1
Sobre os "Aliados de Quedoriaomer", ela alegou serem "quatro aliados" (WHITE, E., 2007, p.
130), enquanto que Génesis 14:1 e 9 menciona apenas "três"; cm certa ocasião, ela alegou que os
pregos atravessaram "ossos e músculos" de Cristo (WHITE, E., 1945, v. l, p. 58), mas em outra
diz que eles tocaram apenas a carne (em harmonia com João 19:36; WHITE, E., 2007, p. 555).
Espírito de Profecia

5) Imperfeições gramaticais: Ellen G. White alega que sua função não é de erudita;
ela alega não poder preparar seus próprios escritos para o prelo porque não é
"um gramático" (WHITE, E., 2007, v. 3, p. 90). William White, escrevendo a G.
A. Irwin, no mesmo sentido, alega: "Os copistas de mamãe estão revestidos da
responsabilidade de corrigir erros gramaticais, eliminar repetições desnecessá-
rias e agrupar parágrafos e seções da melhor forma possível" (William White,
carta a G. A. Irwin, maio 7, 1900).

6) Discrepãncias históricas: em 1888, ela alega que os valdenses foram os primeiros


dentre todos os povos da Europa a obter uma tradução das Sagradas Escrituras. Em
1911, porém, depois de descobrir que pelo menos um grupo obteve a Bíblia ante-
riormente, ela diz que os valdenses achavam-se entre os primeiros povos da Europa
a obter uma tradução das Sagradas Escrituras.

Aspectos substancialmente importantes


Escrituras
Um caso muito conhecido é a história do estímulo inicial que o profeta Nata deu
ao rei Davi quando aprovou a construção do templo de Jerusalém. Vendo Deus que
Nata agiu contra a vontade divina, falando por si mesmo, repreendeu o profeta fazendo-
-o voltar à presença do rei e corrigir a orientação anterior. Nessa ocasião, o erro foi tão
absurdo, que demandou a necessidade de uma intervenção divina a fim de corrigi-lo,
caso contrário, o dano seria permanente.
Assim, sempre que o resultado final de uma "falsa predição" ameaça alterar signi-
ficantemente o que Deus pretende, em vez de manter o profeta preso por uma "camisa
de força" Deus prefere intervir nos planos humanos através do próprio profeta para que
os possíveis erros não sejam cometidos.

Ellen G. White
O número dos erros significativos, assim como nas Escrituras, é pequeno nos es-
critos de Ellen G. White. Houve, contudo, ocasiões em que ela teve de retroceder, modifi-
cando sua posição anterior em relação a algum assunto. No que diz respeito ao momento
de início do sábado (1846-1855), tendo anteriormente seguido suas próprias convicções,
Ellen G. White preferiu, depois, modificar sua posição (WHITE, A., 1969, p. 34-39). Ade-
mais, em 1901, quando aprovou o fechamento da Southern Publishing Association, Deus
a repreendeu e ordenou que retratasse sua opinião (DANIELLS, 1936, p. 322-329).
Assuntos como os citados acima foram suficientemente sérios e provocaram a ime-
diata intervenção do Espírito Santo para serem corrigidos. Efetivamente, ela os corrigiu.

Considerações Finais
Os escritores bíblicos não foram pessoas infalíveis. Por outro lado, a mensagem
a eles outorgada pelo Espírito Santo demonstrou-se inequívoca. As revelações divinas
Os profetas e a infalibilidade

("tesouros") que receberam foram tão perfeitas quanto o próprio Deus. Entretanto, na
qualidade de seres humanos falíveis, através da linguagem humana, os profetas comu-
nicaram a mensagem de Deus como "vasos de barro".
No tocante à "infalibilidade" de Ellen G. White, a questão foi levantada e respondida
por W. H. Littlejohn na Review and Herald. A pergunta foi a seguinte: "Os adventistas do
sétimo dia consideram Ellen G. White como infalível?" Littlejohn (1883, p. 778) respondeu:

Não. Tampouco crêem eles que Pedro ou Paulo tenham sido infalíveis. Eles crêem
que o Espírito Santo que inspirou Pedro e Paulo era inlalível. Kles crêem também
que, de tempos em tempos, Ellen G. White recebeu revelações do Espírito Santo de
Deus e que as revelações a ela feitas pelo Santo Espírito são tão dignas de confiança
quanto as revelações feitas pelo mesmo Espírito a outras pessoas.

Por fim, os adventistas do sétimo dia sustentam hoje que Ellen G. White foi (e
ainda é) digna de confiança e imbuída de autoridade como genuína e autêntica profetisa
de Deus. Da mesma forma, acreditam que Ellen G. White foi inspirada da mesma forma
e no mesmo grau em que o foram os profetas que escreveram a Bíblia. Contudo, há de
se esclarecer que os adventistas não fazem dos escritos de Ellen G. White "uma outra
Bíblia" ou "uma extensão" (adição) ao cânon sagrado das Escrituras.
Nos termos de Pedro, a afirmativa de que as mensagens dirigidas a nós representa
a "confirmada palavra profética" (2Pe 1:19) nos faz considerá-las como sendo de extre-
ma importância. Faríamos bem em atendê-las.

Referências
DANIELLS. A. G. The abiding gift of prophecy. Califórnia: Pacific Press Publishing
Association, 1936.
LITTLEJOHN, W. H. Scripture questions. Review and Herald, v. 60, n. 49, p. 778-779, 1883.

N1CHOI., F. D. Ellen G. White and her critics. [S. 1.]: Review and Herald, 1951. Disponível em:
<http://bit.ly/zSAtQJ>. Acesso em: 13 mar. 2012.

NICHOL, F. D. The Seventh-day adventist bíble commentary. Washington: Review and


Herald, 1957. v. 4.

WHITE, A. L. EllenG. White: messenger to theremnant. Washington: Reviewand Herald, 1969.


WHITE, E. G. O grande conflito. Tatui: Casa Puhlicadora Brasileira, 2005.

__. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. v. l.

. Mensagens escolhidas, 'l atuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 3.

. O desejado de todas as nações. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.

_. Patriarcas e profetas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.


Espírito de Profecia

.. Profetas e reis. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1996.

.. Spiritual gifts. Washington: Review and Herald , 1945. v. 3.

_. Spiritual gifts. Washington: Review and Herald , 1945. v. 2.

., Spiritual gifts. Washington: Review and Herald , 1945. v. l .

.. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 5.

.. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 1.

. What does thou here. Review and Herald, v. 90, n. 44, 30 out. 1913. Disponível em:
<http://bit.ly/yrXA8q>. Acesso em: 13 mar. 2012.
EUenG. White como
uma profetisa: conceitos de
revelação e inspiração

••
Denis Fortin

Relevância do tema
Parece correto afirmar que a maioria dos adventistas provavelmente tem uma visão
distorcida do que seja a revelação-inspiraçào.1 Foi observado um preconceito que é comum
à posição estritamente verbal, ou seja, do ditado mecânico. Isso faz tais indivíduos muito
vulneráveis à perda de confiança em Hllen G. White e na Igreja. Eles entram em perigo quan-
do descobrem informações factuais contrárias à sua visão. Em lugar de descartar sua teoria
errónea de inspiração ou fazer ajustes no sentido de encaixá-la em fatos comprovados, eles
podem descartar sua confiança no ministério profético de Ellen G. White.
Muitos membros da Igreja no início da década de 1980 perderam a confiança na
organização, pois essa havia recebido três ataques significativos a suas crenças. O pri-
meiro foi a proposta de Ford relativa à teologia adventista de 1844 e o santuário. O se-
gundo ataque veio de Walter Rea contra Ellen G. White, acusando-a de plágio. O último
foi a desconfiança no gerenciamento financeiro da igreja em Davenport. Uma dessas
crises, portanto, ocorreu especificamente devido a um entendimento inadequado da
origem e desenvolvimento dos escritos de Hllen G. White.
É preciso comentar as questões de revelação e inspiração. Devemos compreender
bem o processo de revelação (a mensagem como foi transmitida por Deus para a mente
do profeta) e inspiração (forma como o profeta expressou esses conceitos em palavras
faladas ou escritas) antes que possamos considerar adequadamente a hermenêutica (in-
terpretação das palavras do profeta e a mensagem que foi pretendida}.

Dois pontos de partida gerais


Ellen G. White explica que seu ministério profético é semelhante ao dos escritores
não canónicos dos tempos bíblicos:

1
Boa parte deste trabalho se deve a Jerry Moon (Revelatíon and Inspirution in thc Writings of
Ellen (í. White (Revelação e inspiração nos escritos de Fllen G. White]); D.F,. Manscll (How Hllen
G. White Perceived Her Inspimiion [Como F.llen G. White entendia sua inspiração)); e Jim Nix
(h'rom Vision to Printed Pii#e [Da visão até a página impressa]).
Espírito de Profecia

Em harmonia com a Palavra de Deus, deveria seu Espírito continuar sua obra
durante todo o período da dispensarão evangélica. Durante os séculos em que
as Escrituras do Antigo Testamento, bem como as do Novo, estavam sendo
dadas, o Espirito Santo não cessou de comunicar luz a mentes individuais,
independentemente das revelações a serem incorporadas no cânon sagrado. A
Bíblia mesma relata como, mediante o Espírito Santo, os homens receberam
advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum
modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épo-
cas várias, de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a
conclusão do cânon das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a
Sua obra, esclarecendo, advertindo e confortando os filhos de Deus (WHITE,
E., 2005, p. viii). 2

Ela mesma afirma que seus escritos nunca deveriam ficar acima das Escrituras:

O Espírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo
ensino e experiência devem ser aferidos (WHITE, E., 2005, p. vii).

Formas de revelação na experiência de EUen G. White


56
Diante disso, para entendermos quais são as relações entre inspiração e revelação
e como tais processos se davam dentro da perspectiva da obra de Ellen G. White, será
preciso verificar como ela se comunicava/recebia as mensagens proféticas.

Visões
Todas as visões eram acompanhadas de surpreendentes fenómenos físicos e so-
brenaturais, tais como inconsciência do ambiente terrestre, mas vívida consciência do
que estava sendo mostrado a ela em visão. Além disso, havia parada respiratória tempo-
rária, aquisição de força sobrenatural, e ela deixava de piscar.
Conforme veremos adiante, existe uma discussão acerca da diferença entre
visões e sonhos proféticos, mas um ponto é claro: eles nunca tiveram diferenças
quanto ao conteúdo (WHITE, E., 2007, v. 5, p. 658). Como um bom exemplo de
todo esse processo, é interessante notar a descrição realizada por Ellen G. White
acerca de sua primeira visão:

È interessante notar que a seção introdutória no O Grande Conflito é uma das declarações
de Ellen G. White mais claras no assunto de revelação e inspiração, e como seu dom de profecia
se relaciona com as Escrituras.
Ellen G. White como uma profetisa

Enquanto eu estava orando junto ao altar da família, o Espírito Santo me sobreveio,


e pareceu-me estar subindo mais e mais alto da escura Terra. Voltei-me para ver o
povo do advento no mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: "Olha
novamente, e olha um pouco mais para cima." Com isso olhei mais para o alto e vi
um caminho reto e estreito, levantado em lugar elevado do mundo. O povo do ad-
vento estava nesse caminho, a viajar para a cidade que se achava na sua extremidade
mais afastada {WHITE, E., 2007, p. 14).

Sonhos
1) Sonhos proféticos
Em geral, os sonhos proféticos eram visões recebidas durante o sono. Na intro-
dução dos Testemunhos para a Igreja, número 13 (1867), Hllen G. White {2006, v. l, p.
569-570) escreveu sobre eles:

Gostaria de chamar em especial a atenção para os extraordinários sonhos rela-


tados neste pequeno trabalho, todos ilustrando harmónica e distintamente as
mesmas coisas. Grande número de sonhos origina-se das coisas comuns da vida,
com as quais o Espírito de Deus nada tem a ver. Há também falsos sonhos, bem
como falsas visões que são inspiradas por Satanás. Mas os sonhos provenien-
tes do Senhor estão classificados na Palavra de Deus como visões. Tais sonhos,
levando-se em conta as pessoas que os tiveram e as circunstâncias sob as quais
foram dados, contêm suas próprias provas de genuinidade.
57

Outro bom exemplo acerca desse assunto se refere ao ocorrido acerca do terre-
moto de São Francisco:

Estando eu em Loma Linda, Califórnia, em 16 de abril de 1906, uma cena as-


sombrosíssima me foi revelada. Numa visão noturna, estava eu numa elevação
de onde via as casas sacudidas como o vento sacode o junco. Os edifícios, gran-
des e pequenos, eram derrubados. Os sítios de recreio, teatros, hotéis e mansões
suntuosas eram sacudidos e arrasados. Muitas vidas eram destruídas e os lamen-
tos dos feridos e aterrorizados enchiam o espaço. [...]. Não posso descrever as
cenas terríveis que me foram apresentadas. Dir-se-ia que a paciência divina se
tivesse esgotado, e houvesse chegado o dia do juízo. Conquanto terrível, a cena
que me foi revelada não me causou tanta impressão quanto às instruções que
recebi nessa ocasião (WHITE, E., 2007, v. 3, p. 40-41).

Também se pode citar o sonho acerca do Dr. David Paulson e do Dr. J. H. Kellogg:

Numa visão, ontem à noite, eu vi você [David Paulson] escrevendo. Alguém


olhou por sobre os seus ombros e disse: "Você, meu amigo, está em perigo", l... ]
Quero falar-lhe de uma cena que presenciei enquanto estive em Oakland. Anjos
Espírito de Profecia

cobertos de belas vestes, como anjos de luz, acompanhavam o Dr. A. de um lu-


gar a outro, inspirando-o a proferir palavras arrogantes e jactanciosas que eram
ofensivas a Deus. Pouco depois da conferência de Oakland, à noite, o Senhor
me apresentou uma cena, na qual Satanás, disfarçado da maneira mais atraente,
procurava diligentemente chegar bem perto do I)r. A. Vi e ouvi muita coisa.
Noite após noite eu era oprimida por grande angústia de alma ao ver esse perso-
nagem falando com nosso irmão (WHITK, E., 2007, v. 3, p. 42-43).

2} Sonhos naturais
Diferente dos sonhos proféticos, esses se originam "das coisas comuns da
vida, com as quais o Espírito de Deus nada tem a ver", portanto eles não são ins-
pirados de maneira direta. Como qualquer humano normal, Ellen G. White tinha
sonhos naturais. Por exemplo, na Carta 4 de 1856 pode a própria escritora falar
sobre essa diferença: "Queridos amigos em casa" ela escreveu, "tenho tido alguns
pesadelos sobre o pequeno Willie. Oh, quão agradecida eu serei em ver meu lar,
doce lar novamente e meus queridos meninos, Henry, Kdson e Willie." O contex-
to dessa carta é interessante. Anteriormente, naquele ano, no final de maio 1856,
Willie, de 20 meses, se afogou ao brincar com um barco numa grande banheira de
limpeza de água. Ellen G. White trabalhou freneticamente para revivê-lo por mais
de 20 minutos (ver WHITE, A., 1981, v. l, p. 337). Assim, não era de se espantar
que ela tivesse pesadelos com tal ocorrido.
Ellen G. White distinguia os sonhos proféticos dos simples cotidianos através de,
pelo menos, duas maneiras: pelo conteúdo informacional (ver WHITE, E., 2006, v. l,
p. 569-570) ou pela presença do seu anjo, como nas visões proféticas: "O mesmo anjo
mensageiro ficou ao meu lado me instruindo nas visões da noite, assim como fica ao
meu lado me instruindo nas visões do dia" (WHITE, A., 2000, p. 7).

Visões dadas durante períodos de oração e escrita


Certa vez, eía escreveu: "Bem, enquanto eu estava orando e dirigindo a minha
petição, havia, como tem havido cem vezes ou mais, uma luz suave circundando o
quarto, e uma fragrância como a fragrância de flores, de um lindo aroma de flores"
(Ellen G. White, Manuscrito 43a, 1901). Mais tarde, recontando aquele evento, ela
disse'. "Apesar de ninguém da família ter visto o que eu vi, ou ouvido o que eu ouvi,
eles sentiram a influência do Espírito, e estavam louvando a Deus" (WHITE, A.,
1981, v. 5 p. 54). Acerca de outra visão dada durante uma oração na reunião campal
em Minnesota, em 1870, William White relembra:

Meu pai e minha mãe estavam carregando um pesado fardo em favor do mi-
nistério que estava acontecendo no estado. No domingo de manhã, eles se
responsabilizaram por conduzir um serviço de reavivamento. Papai falou por
alguns minutos, mas com pouca liberdade. H depois de mamãe falar breve-
mente, eles pediram à congregação para que se ajoelhassem em oração. Papai
Ellen G. White como uma profetisa

ofereceu uma oração longa e pesarosa, e depois mamãe começou a implorar


por luz e liberdade. Houve silêncio longo o suficiente para contar até quaren-
ta ou cinquenta, aproximadamente meio minuto. Eu estava ajoelhado junto
à congregação, e me virei para ver o porquê do silêncio. Somente então ela
continuou a orar. Sua voz estava melodiosa e triunfante, e o restante de sua
oração emocionou grandemente as pessoas presentes. Durante aquele período
de silêncio, uma revelação foi dada a ela e respeito das condições da Associa-
ção de Minnesota, também condições a respeito do trabalho em Battle Creek,
c a respeito de outros assuntos de interesse geral na causa. Depois da reunião
campal, papai e mamãe acharam alojamento na casa de um de nossos irmãos.
Mamãe escreveu diligentemente por aproximadamente duas semanas para re-
latar o que havia sido mostrado a ela durante o meio minuto de pausa em
oração (WHITE, W., 1936).

Predição
Ellen G. White recebia, em diversos momentos, determinada revelação acerca de
pessoas que ela ainda não conhecia. Nesses casos, a aplicação era revelada quando ela
finalmente os conhecia. Ela conta que, às vezes, as coisas que ela via eram-lhe encober-
tas depois que saía da visão, e ela não podia se lembrar delas até que estivesse diante
das pessoas ou situações às quais as visões se aplicavam; então as coisas que havia visto
voltavam fortemente à memória (WHITE, 1945, v. 2, p. 292-293).

Impressões revelatórias e outras informações 59


dadas de formas não visionárias

Declarações "Eu vi" e "Eu vi que"


É interessante notar que sempre que Ellen G. White se utilizava de declarações
iniciadas com a expressão "Eu vi", ela queria denotar que aquilo que viria a seguir
havia sido obtido em visão. Já na utilização de expressões "Eu vi que" ou "Foi-me
mostrado que" indicam que a informação foi dada a ela e ela entendeu ser "verdade".
Em muitos casos, normalmente refletem informação ou conclusões baseadas em re-
velação por visões, mas, às vezes, podiam representar conclusões que ela considera
como divinamente inspiradas, apesar de terem sido baseadas, até certo ponto, em
informações recebidas por fontes humanas.

A descrição pessoal de Ellen G. White de seu estado em visão (1860)

Como são frequentemente feitas indagações quanto ao meu estado em visão, e de-
pois de sair dela, desejo dizer que, quando o Senhor acha por bem dar uma visão,
sou levada à presença de Jesus e dos anjos, e fico inteiramente fora das coisas ter-
renas. Não posso ver além daquilo a que o anjo me dirige. Minha atenção é muitas
vezes encaminhada a cenas a acontecerem sobre a Terra. Sou por vezes levada mui-
Espirito de Profecia

to adiante, no futuro, e é-mc mostrado o que há de acontecer. De outras, são-me


mostradas coisas como ocorreram no passado. Depois que saio da visão, não me
recordo imediatamente de tudo o que vi, e o assunto não me é tão claro até que eu
escrevo; então a cena surge diante de mim como me foi apresentada em visão, e eu
posso escrever com liberdade. Em certas ocasiões, aquilo que vi me é oculto depois
que saio da visão, e não o posso evocar até que me encontro perante um grupo de
pessoas no lugar a que se aplica a visão; então as coisas que vi me vêm com força à
mente. Sou tão dependente do Espírito do Senhor ao relatar ou escrever uma visão,
como ao ter essa visão. É-me impossível evocar o que me foi mostrado a menos que
o Senhor traga diante de mim no tempo em que é de seu agrado que eu o relate ou
escreva (WHITE, E., 2006, v. l, p. 36-37).

A função da inspiração nos escritos de Ellen G. White

União de elementos divinos e humanos:


uma visão "encarnacional" de inspiração
Em contraste com o processo de revelação, que é uma iniciativa de controle com-
pleta e unicamente divino, a escrita final, ou seja, inspirada, envolve a união tanto de
elementos divinos como de humanos:

Os Dez Mandamentos foram pronunciados pelo próprio Deus e por sua própria
mão foram escritos. São de redação divina e não humana. Mas a Escritura Sa-
grada, com suas divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta
uma união do divino com o humano. União semelhante existiu na natureza de
Cristo, que era o Filho de Deus e Filho do homem. Assim é verdade com relação
à Escritura, como o foi em relação a Cristo, que "o Verbo Se fez carne e habitou
entre nós" (Jo 1:14) (WHITE, E., 2005, p. v-vi).

Embora, no texto acima, Ellen G. White fale de forma mais direta acerca da ins-
piração da Bíblia, ela mostra fortes indícios de enxergar a sua própria inspiração como
sendo operada da mesma forma.

O papel do Espírito Santo nos escritos do profeta


l) Ele deve ser um guia:

Todos eles, porém, atuam sob a direção do mesmo Espírito para apresentar
aquilo que mais particular impressão exerce sobre o seu espírito, resultando
daí uma variedade de aspectos da mesma verdade, mas perfeitamente harmó-
nicos entre si (WHITE, E., 2005, p. vi).

Deus se satisfaz em comunicar Sua verdade para o mundo pelos agentes hu-
manos, e Ele mesmo, pelo Seu Espírito Santo, qualifica homens e os habilita a
Ellen G. White como uma profetisa

fazer esta obra. Ele guiou a mente nessa selecào do que falar e o que escrever
(WHITE, K., 2005, p. vi).

Eu estou tentando captar as cxatas palavras e expressões que foram ditas em refe-
rência a esle assunto, e assim que minha caneta hesita por um momento, as palavras
apropriadas vem à minha mente (Ellen G. White, Carta 123, 1904).

Eu tenho fé em Deus [...]. Ele trabalha à minha mão direita e esquerda. Enquan-
to eu estou escrevendo assuntos importantes, Kle está ao meu lado, me ajudan-
do. Ele estende o meu trabalho diante de mim, e quando eu estou confusa por
uma palavra adequada com que expressar meus pensamentos, Ele a traz clara e
distintamente à minha mente. Eu sinto que toda vez que eu peço. Ele responde:
"Estou aqui" (Ellen G. White, Carta 127, 1902).

2) Eíe deve qualificar e capacitar o escritor:

Deus pelo seu Santo Espirito [...] qualifica homens e os habilita a fazer esta obra
(WHITE, E., 2005, p. vi).

Mediante a inspiração de seu Espírito, o Senhor deu a seus apóstolos uma ver-
dade a ser expressa segundo o desenvolvimento de sua mente pelo Espírito
Santo. A mente, porém, não é tolhida, como se forcada em determinado molde
(WHITE, E., 2006, v. l, p. 22).

Assim, no que tange à questão da inspiração/revelação, não podemos atribuir ao


Espírito Santo a função de controlador, a ponto de remover completamente a individu-
alidade do ser humano. Como Ellen G. White mesmo escreveu, "a mente não é tolhida,
como se forçada em determinado molde".

Em que nível ocorreu a união divino-humana?


A teoria de inspiração verbal assegura que o primeiro momento em que algo
humano se torna parte da escrita é exatamente o momento em que o profeta es-
creve. Ou seja, todas as palavras e detalhes foram pré-selecionados e ditados por
Deus. A expressão "inspiração verbal" tem hoje um leque tão grande de inter-
pretações que perdeu muito de sua precisão. Como entendida pelos adventistas
pioneiros, porém, denotava a ideia de que cada palavra da mensagem do profeta
era pré-selecionada por Deus sem qualquer participação humana, e, por isso, não
podia ser alterada, nem mesmo pelo profeta.
Essa concepção foi especificamente rejeitada pela Conferência Geral de 1883 em uma
resolução oferecida por William White, que claramente representava a compreensão de ins-
piração de Ellen G. White. O contexto para essa resolução foi a necessidade de reimprimir o
livro Testemunhos Para a Igreja, escrito por Ellen G. White. Ela queria editar o velho texto
Espírito de Profecia

dos testemunhos antes de reimprimi-los, removendo imperfeições nas palavras e na gramá-


tica, e clarificando o significado do que ela havia dito. Para muitos adventistas, que tinham
uma visão verbal/ditada da inspiração, esse trabalho editorial foi visto como se tratando das
próprias palavras de Deus. A autora, porem, não via sua inspiração dessa forma.
Ela acreditava que a luz dada por Deus aos seus servos é pela iluminação da men-
te, transmitindo, portanto, os pensamentos e não as próprias palavras nas quais as ideias
deveriam ser expressas. Então, se decidiu que na republicação desses volumes tais mu-
danças verbais seriam feitas a fim de remover as imperfeições, mas sem modificar a
ideia. Também se optou pela criação de um comité de cinco estudiosos, que se encarre-
gariam da republicação daqueles volumes (IASD, 1883).
Quanto à inspiração conceituai, ou inspiração de pensamento, Ellen G.
White ensinou que a união do divino com o h u m a n o na inspiração aconteceu no
nível da "mente e vontade".
Não são as palavras da Bíblia, mas os homens é que foram inspirados. A mente e
vontade divina são combinadas com a mente e a vontade humana, portanto o discurso
do homem é a palavra de Deus (WHITE, E., 2006, v. l, p. 21).

Implicações de inspiração conceituai


Se a união do divino e do humano em inspiração se realiza no nível dos "pensamen-
tos" e envolve uma "junção" entre "mente e vontade", pode-se concluir que as faculdades
tanto da compreensão como da escolha estão inteiramente operantes enquanto o profeta
escreve. Como "a mente e vontade divina são combinados com a mente e vontade huma-
na" permanece um mistério, mas sugere que ao formular ou escolher "palavras e expres-
sões" para representar os "pensamentos" recebidos de Deus, o profeta exercita o intelecto
e escolha humana em cooperação com a "mente e vontade divina".
Ellen G. White claramente compreendia esse processo como vivo e dinâmico,
continuando enquanto o profeta permanecia sob a influência do Espírito Santo. Ela
reivindicava completa dependência do Espírito Santo para escrever (necessidade da
União com a mente e vontade divina). Ela reivindicava ter completa responsabilidade
e liberdade para escolher suas palavras:

Se bem que eu dependa do Espírito do Senhor tanto para escrever minhas visões,
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são
minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre
ponho entre aspas (WHITE, E., 2006, v. l, p. 37; 2007, v. 3, p. 278).

Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma palavra para
cada ideia distinta (WHITE, E., 2006, v. l, p. 20).

Ellen G. White compreendia que a combinação da mente e vontade divi-


nas com a mente e vontade humanas era um processo progressivo na experiência
do profeta. A inspiração guiava o profeta como comunicador, não somente na
Ellen G. White como uma profetisa

formulação inicial de pensamentos em palavras, mas também no aprimoramento


daquelas expressões.

Características dos escritos divino-humanos


1) Estilos individuais de escrita (WHITE, E., 2005, p. vi; 2007, v. 3, 21 -22):

Mediante a inspiração de Seu Espírito, o Senhor deu a Seus apóstolos uma


verdade a ser expressa segundo o desenvolvimento de sua mente pelo Espírito
Santo. A mente, porém, não é tolhida, como se forçada em determinado molde
(WHITE, E., 2006, v. l, p. 22).

2) Diversidade:

A diversidade pode gerar aparentes discrcpáncias ou contradições (para um leitor


superficial), mas, na realidade, constitui uma base harmoniosa de "unidade espiri-
tual" (WHITE, E., 2005, p. v; 2006, v. l, p. 20-21).

3) Variedade de pontos de vista, porém "perfeita harmonia" (WHITE, E., 2005, p. vi):

O Criador de todas as ideias pode impressionar mentes diversas com o mesmo pen-
samento, mas cada um pode exprimi-lo por diferentes maneiras e, ao mesmo tem-
po, sem contradições (WHITE, E., 2006, v. l, p. 22).

4) Linguagem imperfeita, porém confiável:


a) Linguagem imperfeita:

O tesouro foi confiado a vasos de barro, sem, contudo, perder coisa alguma de sua
origem celestial. O testemunho é transmitido mediante a imperfeita expressão da
linguagem humana, conservando, todavia, o seu caráter de testemunho de Deus,
no qual o crente submisso descobre a virtude divina, superabundante em graça e
verdade (WHITE, E., 2005, p. vi-vii).

A Bíblia não nos é dada em elevada linguagem sobre-humana. A fim de chegar


aos homens onde eles se encontram, Jesus revestiu-Se da humanidade. A Bíblia
precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é imperfeito
(WHITE, E., 2006, v. l, p. 20).

b) Mensagem confiável:

Tomo a Bíblia tal como ela é, como a Palavra Inspirada. Creio nas declarações de
uma Bíblia inteira (WHITE, E., 2006, v. l, p. 17).
Espírito de Profecia

Irmãos, apegai-vos à Bíblia, tal como ela reza; parai com vossas criticas relativamente à sua
validade e obedecei à Palavra, e nenhum de vós se perderá (WHITE, E., 2006, v. l, p. 18).

5) As duas faces de "infalível":

a) Contra as teorias de inspiração verbal-ditada, Ellen G. White nos lembra que


"tudo o que é humano é imperfeito. Diferentes significados são expressos pela
mesma palavra; não existe uma palavra para cada ideia distinta: "A Bíblia foi
dada para fins práticos" (WHITE, E., 2006, v. l, p. 20). Portanto, ela insiste,
"unicamente Deus e o Céu são infalíveis.. [...] Com relação à infalibilidade,
nunca a pretendi; unicamente Deus é infalível. Sua palavra é a verdade e não há
nele mudança ou sombra de variação" (WHITE, E., 2006, v. l, p. 37).

b) Por outro lado, ela usa o termo "infalível" com respeito à confiabilidade da Es-
critura como um todo ("a Bíblia inteira" [WHITE, E., 2006, v, l, p. 17]) para o
propósito que foi dado a ela:

Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à


salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível
revelação de Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das dou-
trinas, a pedra de toque da experiência religiosa (WHITE, E., 2005, p. vii).

Com respeito a seus próprios escritos, ela diz: "Há uma corrente de verdade reti-
línea, sem uma só frase herética, naquilo que escrevi" (WHITE, E., 2007, v. 3, p. 52). Ela
não reivindicou que seus escritos eram perfeitos ou livres de imperfeições insignifican-
tes ou erros, mas reivindicou que eles eram livres de heresia.

Relevância para hoje


Conceitos erróneos de inspiração inevitavelmente levam a uma má interpre-
tação e mau uso de seus escritos inspirados. A ênfase exagerada nos elementos hu-
manos e a pouca ênfase dos elementos divinos nos escritos inspirados leva a uma
apreciação diminuída de seu verdadeiro valor e autoridade. No entanto, menor ên-
fase nos elementos humanos levam a aplicações rígidas, inflexíveis e autoritativas,
além de confusão de regras e princípios. Aqueles que possuem uma crença na ins-
piração verbal/ditada de Ellen G. White também podem ter sua fé colocada em ris-
co, porque, ao continuarem a estudar os escritos dela, provavelmente encontrarão
aspectos que não podem ser justificados por essa teoria da inspiração.
Canright tinha uma visão ditada da inspiração. Em seu livro de 1889, Seventh-day
Adventism Renounced [Adventismo do Sétimo Dia Renunciado], ele contrariou até mesmo
suas correções pessoais nos originais escritos à mão. "Eu já a vi riscar uma página inteira, ou
uma linha, ou uma frase, e escrevê-la novamente de forma diferente. Se Deus deu para ela
Ellen G. White como uma profetisa

as palavras, por que ela as riscou e as alterou?" Entretanto, o mais escandaloso aos olhos de
Canright eram as revisões que ela fez para os Testemunhos publicados. Ao exemplificar o nú-
mero de mudanças em quatro páginas escolhidas ao acaso, ele tentou estimar qual tinha sido a
porcentagem total do número de palavras que podem ter sido afetadas pelo processo editorial.
Canright estava avaliando Ellen G. White a partir do ponto de vista de um
modelo ditado de inspiração, uma pressuposição que ela rejeitou. Do ponto de
vista dela, sua tentativa de medir a inspiração pelo número de palavras era um
exercício irrelevante que passava longe da real questão. Sua preocupação era sim-
ples: ela queria que seus pensamentos fossem representados precisamente e na
melhor linguagem disponível.
Davjd Paulson duvidou por algum tempo do ministério profético e inspira-
ção de Ellen G. White depois que, como muitos outros, ficou sabendo como ela
escrevia seus livros e testemunhos. Ele perguntou a ela muitas coisas a respeito
de sua inspiração e sobre como ela escrevia seus livros. A resposta dela (WHITE,
E., 2006, v. l, p. 24-31) nos fornece informação acerca de como Deus lhe revelou
coisas e de como ela escreveu seus livros.
A premissa de Paulson (apud WHITE, E., 2006, v. l, p. 24) a respeito de inspira-
ção era: "Eu fui levado a concluir e crer muito firmemente que toda palavra que você
falava em público ou em particular, que cada letra que você escrevia sob qualquer
e toda circunstância, era inspirada como os Dez Mandamentos." Depois, em 1913,
Paulson escreveu uma carta a Frank Belden, na qual ele descreveu sua experiência de
duvidar e, depois, apreciar o dom profético de Ellen G. White. Nessa carta, ele con-
vida Belden a reconsiderar sua dura posição contra o ministério profético de sua tia
e admitiu que enfatizar demais o lado humano do seu dom leva à rejeição do mesmo
{Paulson a Franklin E. Belden, 7 de dezembro, 1913}.

Considerações finais
Tanto a Bíblia como os escritos de Ellen G. White representam a união do divino
com o humano. Se, por um lado, eles podem conter imperfeições, por outro eles são
guias seguros e confiáveis para a salvação. Para o crente, as imperfeições da fornia não
negam a confiabilidade da mensagem. "A Bíblia", ela disse, é a "autorizada e infalível re-
velação de sua vontade [de Deusl" e seus próprios escritos, apesar de não serem dados
para "substituir a Bíblia" (WHITE, E., 2005, p. 7), não contém "uma só frase herética"
(WHITE, E., 2007, v. 3, p. 52).

APÊNDICE
A descrição feita por Martha Amadon dos fenómenos
físicos em Ellen G. White durante as visões
Como alguém que frequentemente observou ela em visão, conhecendo a
companhia das pessoas normalmente presentes, todos os profundos observadores
Espirito de Profecia

e crentes em seus exercícios, frequentemente me perguntei por que uma descrição


mais vívida das cenas vistas não foi dada.
Em visão, seus olhos mantinham-se abertos. Não tinha respiração, mas havia mo-
vimentos graciosos dos ombros, braços e mãos, expressivos do que ela via. Era impossí-
vel para outra pessoa mover suas mãos e braços. Ela frequentemente murmurava algu-
mas palavras e, às vezes, frases que expressavam aos que estavam em volta a natureza da
visão que ela estava tendo, se da terra ou do céu.
Sua primeira palavra em visão era "Glória", soando primeiramente de perto e,
depois, desvanecendo, parecendo muito longe. Isso às vezes se repetia. Quando contem-
plando Jesus, nosso Salvador, ela exclamava em tons musicais, baixo e doce, "belo, belo,
belo", muitas vezes, sempre com grande afeição. Olhando para a nuvem envolvendo o
Pai, como posteriormente ela explicou, seus ombros iam para trás, suas mãos se levan-
tavam em temor e seus lábios se fechavam.
Às vezes, ela cerrava seus lábios com o dedo, significando que não estava na hora de
revelar o que havia visto. Mais tarde, entretanto, uma mensagem talvez atravessasse o conti-
nente para salvar um indivíduo ou igreja do desastre. Ela afirmou que "mundos não podem
expressar as belezas do céu", nem poderiam descrever essas cenas das quais ela fazia parte.
Suas visões pareciam nos levar para mais perto do céu e almejávamos estar lá.
Em nenhuma visão existiu qualquer excitação entre os presentes, nada causava
medo. Era uma cena solene, silenciosa, às vezes durando uma hora, durante a qual,
como os profetas do Antigo Testamento, ela viu tanto da vastidão do trabalho de Deus
por seu povo, que seria o assunto principal de sua escrita. Quando uma determinada
visão terminava e ela deixava de ver a luz celestial, voltando a esta Terra, ela exclamava
com um longo suspiro: "Escuro." Ela então ficava tão débil e sem força, que tinha de ser
assistida com sua cadeira, por ter ficado deitada durante a visão,

Martha D. Amadon (Ellen G. White, E.G. White in Vision, p. 1}

Referências
1AS1). General Conferenceproceedings. Review and Herald, v. 60, n. 47, 27nov. 1883. Disponível
em <http://bit.ly/J6moPH>. Acesso em: 16 abr. 2012.
WHITE, A. L. Ellen G, White: mensageira da igreja remanescente. Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2000.

. EllenG. White. Washington: Review and Herald, 1981. v. 1.


. Ellen G. White. Washington: Review and Herald, 1985. v. 5.
WHITE, E. G. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.
- Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 5.
. Primeiros escritos. Tatuí: Casa Publicadom Brasileira, 2007.
Ellen G. White como uma profetisa

.. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 1.

.. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 3.

.. Spiritual Gifts. Washiton: Review and Herald, 1945. v. 2.

_. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

WHITE, W. C. Lecture at advanced Bible school. Washiton: White State, 1936.


Ellen G. White e a Bíblia: como
seus escritos se relacionam
com as Escrituras

Os escritos de Ellen G. White se igualam aos da Bíblia? Como ela entendia a


relação entre os seus escritos e as Escrituras? Qual é a diferença entre os profetas
canónicos e os não canónicos? Os adventistas do sétimo dia acreditam que

os escritos de Ellen G. White não constituem um substituto para a Bíblia e não po-
dem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única,
pois são o único padrão pelo qual os seus escritos — ou quaisquer outros — devem
ser julgados e ao qual devem estar subordinados (IASD, 2009, p. 305).

A própria Ellen G. White afirmou que "pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor
deu uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior" (WHITE, 1903, p. 15).
Como essa afirmação deve ser entendida? Ela considerava a si mesma em condições de
igualdade com os profetas da Bíblia? Existem "graus" de inspiração?
Essas e outras questões são tratadas por Ellen G. White e vários outros autores
adventistas nas páginas seguintes. A primeira seçào, intitulada "O entendimento de
Ellen G. White de como seus escritos se relacionam com as Escrituras", consiste de
duas passagens importantes de Ellen G. White sobre o assunto. A seção seguinte,
"Como a IASD Entende a Autoridade de Ellen G. White", compõe-se de duas decla-
rações de fontes oficiais da igreja.

Como Ellen G. White entendia a relação entre os seus


escritos e a Bíblia
Documento l

A continuidade da obra do Espírito de Deus


Em sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação.
As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de sua
vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da
experiência religiosa. "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
Espírito de Profecia

seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2Tm. 3:16 e 17). Todavia, o
fato de que Deus revelou sua vontade aos homens por meio de sua Palavra não tornou
desnecessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito
foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a Seus servos, para iluminar
e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus que inspirou a Escritura
Sagrada, é impossível que o ensino do Espírito seja contrário ao da Palavra. O Espírito
não foí dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à Escritura; pois
esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experiência
devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo o espírito, mas provai se
os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo"
(lfo 4:1) E Isaias declara: "À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta
palavra, não haverá manhã para eles" (Is 8:20). Muito descrédito tem acarretado à obra
do Espírito Santo o erro de certa gente que, presumindo-se iluminada por Ele, declara
não mais necessitar das instruções da palavra divina. Tais pessoas agem sob impul-
sos que reputam como a voz de Deus às suas almas. Entretanto, o espírito que as rege
não é de Deus. Essa docilidade às impressões de momento, com desprezo manifesto
do que ensina a Bíblia, só pode resultar em confusão c ruína, favorecendo os desíg-
nios do maligno. Como o ministério do Espírito tem importância vital para a igreja
de Cristo, é o decidido empenho de Satanás, por meio dessas excentricidades de gente
desequilibrada c fanática, cobrir de opróbrio a obra do Espírito Santo e induzir o povo
a negligenciar a fonte de virtude que Deus proveu para o seu povo. Em harmonia com
a Palavra de Deus, deveria seu Espírito continuar sua obra durante todo o período da
70 dispensação evangélica. Durante os séculos em que as Escrituras do Antigo Testamento
bem como as do Novo estavam sendo dadas, o Espírito Santo não cessou de comunicar
luz a mentes individuais, independentemente das revelações a serem incorporadas no
cânon sagrado. A Bíblia mesma relata como, mediante o Espírito Santo, os homens
receberam advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum
modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épocas várias,
de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a conclusão do cânon
das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a sua obra, esclarecendo, ad-
vertindo e confortando os filhos de Deus. Jesus Cristo prometeu a seus discípulos: O
"Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome. Esse vos ensinará todas
as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14:26). "Quando vier
aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará cm toda a verdade; [... j e vos anunciará o que
há de vir" {Jo 16:13). As Escrituras claramente ensinam que estas promessas, longe de
se limitarem aos dias apostólicos, se estendem à igreja de Cristo em todos os séculos.
O Salvador afirma a seus seguidores: "Estou convosco todos os dias, até à consumação
dos séculos" {Mt 28:20). E Paulo declara que os dons e manifestações do Espírito foram
postos na igreja para "o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhe-
cimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo"
{Ef 4:12 e 13). A favor dos crentes da igreja de Éfeso o apóstolo Paulo orava "para que o
Ellen G. White e a Bíblia

Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e
de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para
saberdes qual é a esperança do seu chamamento [...] e qual a suprema grandeza do
seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder" (Ef 1:17-
19). Era a ministração do Espirito na iluminação do entendimento e desvendaçào dos
olhos do espírito humano para penetração das coisas profundas da Palavra de Deus,
que o apóstolo suplicava para a igreja de Éfeso. Depois da maravilhosa manifestação do
Hspirito Santo no dia de Pentecoste, Pedro exortou o povo a arrepender-se e batizar-
-se em nome de Cristo, para a remissão de seus pecados; e disse ele: "E recebereis o
dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a
todos os que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar" (At 2:38 e 39).
Em imediata relação com as cenas do grande dia de Deus, o Senhor, pelo profeta Joel,
prometeu uma manifestação especial de Seu Espírito (]1 2:28). Esta profecia recebeu
cumprimento parcial no derramamento do Espírito, no dia de Pentecoste. Mas atingirá
seu pleno cumprimento na manifestação da graça divina que acompanhará a obra final
do Evangelho (WHITE, 2005, p. 9-11).

Documento 2

A primazia da palavra — Ellen G. White reconhece, em seu primeiro


livro, a relação entre seus textos e a Bíblia {WHITE, 2007, v. 3, p. 29-31):
71
Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé c prática. Por
essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos "últimos dias";
não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que
se desviam da verdade bíblica. Assim tratou Deus com Pedro, quando estava para
enviá-lo a pregar aos gentios.

Seus escritos não vieram a lume para tomar o lugar da Palavra:


O Senhor deseja que estudeis a Bíblia. Ele não deu alguma luz adicional para tomar
o lugar de sua Palavra. Esta luz deve conduzir as mentes confusas a sua Palavra, a
qual, se for comida e assimilada, é como o sangue que dá vida à alma. Então serão
vistas boas obras como luz brilhando nas trevas.

Os fiéis devem procurar obter provas na própria Bíblia Sagrada:


No trabalho público não torneis proeminente nem citeis o que Ellen G. White tem escrito
como autoridade para apoiar vossas posições. Fazer isto não aumentará a fé nos testemu-
nhos. Apresentai vossas provas, claras e simples, da Palavra de Deus. Um "Assim diz o Se-
nhor" é o mais forte testemunho que podeis apresentar ao povo. Que ninguém seja instru-
ída a olhar para a Irmã White, e sim ao poderoso Deus, que dá instruções à Ellen G. White.
Espírito de Profecia

Relação dos escritos de EUen G. White para com a Bíblia — a "luz menor":

Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e
mulheres à luz maior.

Seus escritos não existem para proporcionar nova luz:

O irmão J. procura confundir os espíritos, esforçando-se por fazer parecer que a luz
que Deus nos concedeu por meio dos Testemunhos constitui um acréscimo à Palavra
de Deus, mas com isto apresenta os fatos sob uma luz falsa. Deus escolheu chamar
por este meio a atenção de seu povo para a sua Palavra, a fim de conceder-lhes uma
compreensão mais perfeita da mesma. A Palavra de Deus é suficiente para iluminar
o espírito mais obscurecido e pode ser compreendida por todo o que sinceramente
deseja entendê-la. Mas, não obstante isto, alguns que dizem fazer da Palavra de Deus
o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus
mais claros ensinos. Daí, para que tanto homens como mulheres fiquem sem escusa,
Deus dá testemunhos claros e decisivos, a fim de reconduzi-los à sua Palavra, que
negligenciaram seguir. A Palavra de Deus está repleta de princípios gerais para a for-
mação de hábitos corretos de vida, e os testemunhos, tanto gerais como individuais,
visam chamar a sua atenção particularmente para esses princípios.

Os Testemunhos objetivam trazer lições simples da Palavra:

Nas Escrituras, Deus expôs lições práticas para governar a vida e a conduta de
todos; mas, conquanto Ele tenha dado minuciosas instruções a respeito de nos-
so caráter, conversação e conduta, em grande parte suas lições são negligencia-
das e desprezadas. Além das instruções em sua Palavra, o Senhor tem concedido
testemunhos especiais a seu povo, não como uma nova revelação, mas para que
possa apresentar-nos as claras lições de sua Palavra, a fim de que sejam corrigi-
dos os erros e indicado o caminho certo, para que toda alma fique sem escusa.

Como a IASD entende a autoridade de EUen G. White


Documento l
Uma declaração sobre a compreensão atual
Em resposta a pedidos, uma declaração sobre a relação entre os escritos de Ellen
G. White e a Bíblia foi preparada inicialmente por um comité da Associação Geral.
A declaração foi publicada na Adventist Review de 15 de julho de 1982 e na edição
de agosto de 1982 da revista Ministry, com um convite para os leitores darem sua
opinião. As sugestões de leitores e de vários grupos levaram a um aperfeiçoamento da
declaração até o seu presente formato. Embora ela não seja uma declaração votada,
EUen G. White e a Bíblia

acreditamos que a participação mundial em seu aperfeiçoamento a torna um reflexo


das opiniões da igreja sobre o tópico a que ela se aplica.
Na "Declaração das Crenças Fundamentais", votada pela Associação Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia, em Dálias, em abril de 1980, o prefácio afirma: "Os Adven-
tístas do Sétimo Dia aceitam a Bíblia como seu único credo e mantêm algumas crenças
fundamentais como sendo o ensino das Escrituras Sagradas" (IASD, 2006, p. 9). O pri-
meiro parágrafo reflete o entendimento sobre inspiração e autoridade das Escrituras,
enquanto um parágrafo mais adiante reflete o entendimento da igreja sobre os escritos
de Ellen G. White em relação às Escrituras. Estes parágrafos dizem o seguinte:

As Escrituras Sagradas: As Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamento, são a


Palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina por intermédio de santos homens
de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. Nesta Pala-
vra, Deus transmitiu ao homem o conhecimento necessário para a salvação. As Escri-
turas Sagradas são a infalível revelação de Sua vontade. Constituem o padrão de cará-
ter, a prova da experiência, o autorizado revelador de doutrinas, e o registro fidedigno
dos atos de Deus na História. Encontramos apoio para esta afirmação nas seguintes
passagens bíblicas: 2 Pedro 1:20,21; 2 Timóteo 3:16,17; Salmos 119:105; Provérbios
30:5,6; Isaías 8:20; |o 17:17; l Tessalonissences 2:13; Hebreus 4:12 (IASD, 2006, p. 9).

O Dom de Profecia: Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma carac-
terística da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como
a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e
proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. Eles também tornam
claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser aprovado todo ensino e experiência. En-
contramos apoio para esta afirmação nas seguintes passagens bíblicas: )oel 2:28,29; Atos
2:14-21; Hebreus 1:1-3; Apocalipse 12:17; Apocalipse 19:10 (IASD, 2006, p. Í5).

As seguintes afirmações e negações trazem maior esclarecimento sobre as ques-


tões que têm sido levantadas a respeito da inspiração e autoridade dos escritos de Ellen
G. White e sua relação com a Bíblia. Estes esclarecimentos devem ser vistos como um
todo. Eles são uma tentativa de expressar o entendimento atual dos adventistas, portan-
to não devem ser interpretados como um substituto das duas declarações doutrinárias
citadas acima nem como sendo parte delas.

Cremos que:
• A Escritura é a palavra divinamente revelada de Deus e é inspirada pelo
Espírito Santo.

• O cânon da Escritura é composto somente dos sessenta e seis livros do


Antigo e Novo Testamentos.
Espírito de Profecia

« A Escritura é a base da fé e a autoridade final em todos os assuntos de


doutrina e prática.

• A Escritura é a Palavra de Deus em linguagem humana.

. A Escritura revela que o dom de profecia será manifestado na igreja cristã


após o período do Novo Testamento.

. Acreditamos que o ministério e os escritos de Ellen G. White foram uma


manifestação do dom de profecia.

• Ellen G. White foi inspirada pelo Espírito Santo e que seus escritos, frutos
dessa inspiração, são aplicáveis e autoritativos, especialmente para os ad-
ventistas do sétimo dia.

• Os propósitos dos escritos de Ellen G. White incluem orientação na com-


preensão dos ensinos das Escrituras e na aplicação destes ensinos, com ur-
gência profética, para a vida espiritual e moral.

. A aceitação do dom profético de Ellen G. White é importante para a n u t r i -


ção espiritual e a unidade da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

74 - O uso que Ellen G. White fez de fontes e assistentes literários encontra


paralelo em alguns dos escritos da Bíblia.

Não cremos que:

• A qualidade ou grau de inspiração nos escritos de Ellen G. White seja


diferente do da Escritura.

Os escritos de Ellen G. White sejam um acréscimo ao cânon da Escritura Sagrada.

• Os escritos de Ellen G. White funcionem como o fundamento e a autoridade


final da fé cristã, tal como a Bíblia.

• Os escritos de Ellen G. White possam ser usados como a base da doutrina.

• O estudo dos escritos de Ellen G. White possa ser usado para substituir o estu-
do das Escrituras Sagradas.

• A Escritura possa ser compreendida somente através dos escritos de Ellen G. White.
Etlen G. White e a Bíblia

• Os escritos de Ellen G. White esgotem o significado das Escrituras.

Os escritos de Ellen G. White sejam essenciais para a proclamação das verda-


des das Escrituras para a sociedade como um todo.

• Os escritos de Ellen G. White sejam o produto de mera piedade cristã.

• O uso de fontes e assistentes literários por parte de Ellen G. White negue a ins-
piração de seus escritos.

Portanto, concluímos que o correto entendimento da inspiração e autoridade


dos escritos de Ellen G. Whiíe evitará dois extremos: 1) considerar que estes escri-
tos funcionem no mesmo nível canónico das Escrituras, ou 2) considerá-los como
uma literatura cristã comum.

Documento 2
O dom profético — o espírito de profecia e a Bíblia (IASD, 2009)
Os escritos de Ellen G. White não constituem um substituto para a Bíblia. Não po-
dem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única,
pois são o único padrão pelo qual os seus escritos — ou quaisquer outros — devem
ser julgados c ao qual devem estar subordinados.

A Bíblia é o padrão supremo:


Os adventistas do sétimo dia apoiam plenamente o princípio da Reforma, Sola Scriptura,
a Bíblia como seu próprio intérprete e a Bíblia sozinha, como base de todas as doutrinas.
Os fundadores da igreja desenvolveram suas crenças fundamentais através do estudo da
Bíblia; não receberam tais doutrinas através das visões de Ellen G. White. Seu principal
papel durante o desenvolvimento das doutrinas da igreja foi orientar a compreensão da
Bíblia e confirmar as conclusões às quais se chegava através do estudo da Bíblia.
A própria Ellen G. White cria e ensinava que a Bíblia representa a norma final da igreja.
Em seu primeiro livro, publicado em 1851, ela escreveu: "Recomendo-vos, caro leitor,
a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados.
"Ela jamais modificou esse ponto de vista. Anos mais tarde, ela tornou a escrever: "Em
sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas
Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de sua vontade. Elas
são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência reli-
giosa." Em 1909, durante sua última palestra perante uma sessão da Associação Geral da
Igreja Adventista do Sétimo Dia, ela abriu sua Bíblia, ergueu-a diante da congregação, e
disse: "Irmãos e irmãs, eu vos recomendo este Livro."
Espírito de Profecia

Em resposta aos crentes que consideravam seus escritos como uma adição à Bíblia,
ela escreveu, dizendo: "Tomei a preciosa Bíblia e circundei-a com os vários Testemu-
nhos Para a Igreja, concedidos ao povo de Deus [...] Não estais familiarizados com
as Escrituras. Se tivésseis feito da Palavra de Deus objeto de estudo regular, com o
desejo de alcançar os padrões bíblicos e de atingir a perfeição cristã, não teria havido
necessidade dos Testemunhos. É porque negligenciastes familiarizar-vos com o Livro
inspirado de Deus, que Ele procurou alcançar-vos através de testemunho simples e di-
reto, chamando a atenção para as palavras da inspiração que negligenciastes obedecer,
insistindo em que a vossa vida se paute de acordo com esses puros e elevados ensinos.

Um guia para entender a Bíblia:


Ela encarou seu trabalho como a condução das pessoas de volta à Bíblia. "Pouca impor-
tância é dada à Bíblia", escreveu ela, e assim, "o Senhor concedeu uma luz menor para
conduzir homens e mulheres à luz maior." "A Palavra de Deus", prossegue a autora, "é
suficiente para iluminar a mente mais obscurecida e pode ser compreendida por todos
aqueles que sentirem o desejo de entendê-la. Apesar de tudo isto, alguns que preten-
dem estar fazendo da Palavra de Deus o seu objeto de estudo, encontram-se vivendo
em direta oposição aos seus mais claros ensinos. Consequentemente, para que homens
e mulheres fiquem sem escusa, Deus concede testemunhos claros e diretos, fazendo
com que estas pessoas retornem à Palavra que haviam negligenciado em seguir.
-JC
Um guia na compreensão da Bíblia:
Ellen G. White considerava seus escritos como um guia para a compreensão mais
clara da Bíblia. "Não são apresentadas verdades novas; através dos Testemunhos;
porém, Deus simplificou as grandes verdades já concedidas e, segundo a forma por
Ele mesmo escolhida, trouxe-as perante o povo, visando despertá-los e impressio-
nar suas mentes, a fim de que todos eles fiquem sem escusa." Os testemunhos escri-
tos não são concedidos a fim de prover nova luz, mas para imprimir vividamente
sobre o coração as verdades da inspiração já anteriormente reveladas.

Um guia para aplicar princípios bíblicos:


Muitos de seus escritos aplicam os conselhos bíblicos ao viver diário. Ellen G. White
disse que ela foi "orientada a apresentar princípios gerais, e, ao mesmo tempo, especifi-
car os perigos, erros e pecados de alguns indivíduos, a fim de que todos pudessem ser
advertidos, reprovados e aconselhados". Cristo havia prometido semelhante orientação
profética à sua igreja. A própria Ellen G. White observou: "O fato de que Deus revelou
sua vontade aos homens por meio de sua Palavra, não tornou desnecessária a contínua
presença e direção do Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito foi prometido por nosso
Salvador para aclarar a Palavra a seus servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos."
Ellen G. White e a Bíblia

O desafio ao crente:
O livro do Apocalipse profetiza que o "testemunho de Jesus" haveria de manifestar-se
através do "espírito de profecia" nos últimos dias da história terrestre. Isso representa
um desafio a todos, no sentido de não assumir uma atitude de indiferença ou descren-
ça, mas a "provar todas as coisas" e "reter o que é bom". Existe muito a ganhar — ou
perder — face à atitude com a qual assumirmos nossa investigação biblicamente or-
denada. Josata exortou no passado: "Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros;
crede nos seus profetas, e prosperareis" (2Cr 20:20). Essas palavras soam como perfei-
tamente verdadeiras, ainda nos dias de hoje.

Referências
WHITE, E. G. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

. Primeiros escritos. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.

. Mensagens escolhidas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 3.

. An open letter. Review and Herald, v. 80, n. 3, p. 15-20 jan. 1903. Disponível em
<http://bit.ly/xgRa2h>. Acesso em 13 mar. 2012.

IASD. Nisto cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2009.
77
.. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2006. Disponível em <http://bit.ly/Jag342>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Jesus, os profetas e nós:
evitando os erros
de gerações passadas

Alberto R. Timm

"O Senhor, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por in-
termédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua pró-
pria Morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de
Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu povo,
e não houve remédio algum" (2Cr 36:15 e 16).
Algumas pessoas pensam que um profeta é alguém cuja mensagem, possuindo
credenciais divinas, pode ser distorcida e mesmo rejeitada pelos incrédulos, mas certa-
mente jamais pelo próprio povo de Deus. No entanto, a realidade é que mesmo cristãos
sinceros podem, inconscientemente, usar abordagens distorcidas, não apenas em rela-
ção aos profetas, mas também para com as mensagens proféticas.
Durante o ministério terrestre de Cristo, Ele se defrontou com pelo menos
cinco importantes abordagens desequilibradas em relação com o dom profético.
Consideraremos, a seguir, cada abordagem mal orientada, bem como a maneira
pela qual Cristo procurou corrigi-la. O que descobrimos deveria nos ajudar a evitar
a repetição dos erros das gerações passadas.

1) Cristo reprovou a tendência humana de elogiar os profetas


antigos e de rejeitar os profetas contemporâneos
Estudando as Escrituras, encontramos várias ocasiões nas quais o povo de Deus
se recusou a aceitar determinado profeta contemporâneo. Ao mesmo tempo que elo-
giava um profeta antigo por haver censurado os pecados de gerações passadas, o povo
de Deus se demonstrava relutante em aceitar as censuras proféticas que diziam respeito
especificamente ao seu próprio comportamento inaceitável.
Cristo se referiu a esse problema ao declarar em Mateus 23:29, 30 e 34: "Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os
túmulos dos justos e dizeis: se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos
sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Por isso, eis que Eu vos envio profetas, sá-
bios e escribas. A uns matareis e crucificareis, a outros açoitareis nas vossas sinagogas e
perseguíreis de cidade em cidade."
Existem pessoas hoje que ecoam essa mesma forma de pensamento. Elas mi-
nam a manifestação moderna do dom profético na vida e obra de Ellen G. White,
alegando que por essa atitude elas se demonstram "mais fiéis" ao cânon estabelecido
Espírito de Profecia

das Escrituras. Porém, a fidelidade à Bíblia não exige a rejeição dos profetas extraca-
nônicos, mas apenas daqueles que se demonstram falsos. "Amados, não deis crédito
a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos
falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (IJo 4:1).
Em Lucas 10:16 Cristo declarou: "Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e
quem vos rejeitar, a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar, rejeita aquele que me
enviou." Com isso em mente, é óbvio que se Ellen G. White foi uma profetisa verda-
deira, como cremos que ela realmente foi, qualquer tentativa consciente de minar a
confiança em suas mensagens proféticas é uma reprovação direta a Deus que a enviou
para ser uma voz profética em nosso meio.

2) Cristo reprovou a tendência humana de enaltecer o


mensageiro humano em detrimento da mensagem divina
Aqueles que professam aceitar os profetas contemporâneos correm o grande risco de
substituir a necessária fidelidade para com a mensagem divina pela sua admiração pessoal
para com o mensageiro humano. Em muitos casos, essa admiração pode acabar ofuscando,
voluntária ou involuntariamente, o compromisso pessoal para com a mensagem profética.
Durante o seu ministério terrestre, Cristo encontrou pessoas que alegavam ser fi-
lhos e filhas de Abraão sem estarem dispostas a seguir o seu exemplo (ver Jo 8:39), bem
como pessoas que pretendiam ser seguidoras de Moisés sem viver em harmonia com os
ensinos daquele grande líder (ver Jo 5:45-47). Cristo reprovou essa distorção de caráter
exibícionista nas seguintes palavras: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no
reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus" (Mt 7:21).
Estudos biográficos contemporâneos de Ellen G. White podem ser de grande va-
lia para nos ajudar a melhor compreender os seus escritos, mas existe sempre o risco
de nos tornarmos "cultuadores" dela se enfatizamos mais a sua pessoa do que as men-
sagens divinas que Deus comunicou através dela. Bem mais importante do que apenas
sabermos se ela era alta ou baixa, gorda ou magra, é o conhecimento experiencial da
mensagem salvadora revelada através dos seus escritos.

3) Cristo reprovou a tendência humana de enfatizar aquilo que


a pessoa aprecia da mensagem profética ao mesmo tempo
em que ignora ou rejeita aquilo que ela não aprecia
Mesmo que a pessoa aceite tanto as mensagens proféticas antigas quanto as mo-
dernas, ainda permanece o grande risco de ela perder o equilíbrio temático geral, por
enfatizar apenas os tópicos mais atrativos e empolgantes, ao mesmo tempo que desco-
nhece aqueles que nào são tão apreciados.
No tempo de Cristo, o exemplo mais difundido desse método distorcido de in-
terpretação era a compreensão parcial das profecias messiânicas do Antigo Testamento.
Sem dar atenção suficiente às profecias que falavam do sofrimento do Messias (SI 22; Is
52:13 a 53:12; Dn 9:26), os contemporâneos de Cristo colocavam a sua esperança quase
que excíusivãmente nas profecias que o descreviam como um Rei vitorioso (SI 24; Is
Jesus, os profetas e nós

9:1-7). Lamentavelmente, mesmo alguns dos mais íntimos discípulos de Cristo criam
nessa expectativa messiânica tendenciosa (Mt 16:21-23; Mc 9:31 e 32; Lc 18:31-34).
Hoje, o mesmo desequilíbrio interpretativo pode ser visto em duas grandes tendên-
cias. Primeiro, existe a tentação de se enfatizar artificialmente uma doutrina em detrimen-
to de outras de igual importância. Alguns advogam apenas a justificação pela fé; outros,
apenas a reforma de saúde, e outros, ainda, apenas os eventos finais. Importantes como
essas três doutrinas possam ser, nenhuma delas pode ser considerada como a mensagem.
Antes, elas são todas partes da completa e inseparável mensagem. Isso significa que de-
vemos tomar os escritos inspirados como um todo (ver Mt 4:4), permitindo que eles, não
nós, definam quais são os temas fundamentais, em contraste com os periféricos.
Em segundo lugar, o desequilíbrio no estudo dos escritos inspirados pode ser
também reconhecido entre aqueles que permitem que os seus próprios sentimentos
decidam entre o que é relevante hoje e o que é cultural. Normalmente, aquilo que a
pessoa aprecia é aceito como pertinente e útil, enquanto que aquilo que ela não aprecia
é considerado apenas como cultural e inútil. Sem dúvida, podemos ver nos escritos
inspirados uma constante tensão entre os princípios universais e o relacionamento des-
ses princípios dentro de um contexto cultural específico. Mas não podemos brincar
com esses escritos como as crianças brincam em uma gangorra. Jamais deveríamos nos
esquecer de que princípios universais são sempre aplicáveis mesmo naqueles casos em
que os escritos inspirados estão falando para um contexto cultural específico.
Se levamos a sério o conselho de Cristo para vivermos "de toda palavra que pro-
cede da boca de Deus" (Mt 4:4), então podemos permitir que nossos próprios precon-
ceitos e sentimentos pessoais sejam o árbitro final das Escrituras.

4) Cristo reprovou a tendência humana de se contentar


com uma leitura superficial dos escritos inspirados
Outra grande distorção na compreensão dos escritos inspirados é a probabilidade
de não se avançar o suficiente no processo de investigação da verdade. Satisfeitos apenas
com um conhecimento superficial, muitos são inclinados a pensar que já conhecem tudo
o que pode ser conhecido, ou que não existe uma genuína razão para investigarem mais.
Cristo enfrentou a leitura superficial do Antigo Testamento, pelos escribas e fari-
seus, ao Ele advertir em seu Sermão do Monte: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus" (Mt 5:20).
O Senhor continuou o processo de expor o sentido mais profundo da Escritura, declaran-
do repetidamente: "Ouvistes que foi dito aos antigos [ . . . ] Eu, porém, vos digo" (v. 21-48).
Superficialidade na compreensão do conteúdo dos escritos inspirados é um dos
maiores pecados de nossa geração. Ellen G. White observou:

Vivemos numa época em que quase tudo é superficial. Pouca estabilidade e firmeza
de caráter há, porque o preparo e a educação das crianças c superficial desde o ber-
ço. Seu caráter é edificado sobre areia movediça. A abnegação e o domínio próprio
não lhes têm sido moldados no caráter (WHITE, 2007, p. 184).
Espírito de Profecia

Ocupados com as numerosas opções que absorvem o tempo, providas pela tec-
nologia e pela comunicação moderna, os cristãos contemporâneos são tentados, como
nunca dantes, a se voltarem para uma forma de religião filosófica e antidoutrinária.
Ellen G, White (2009, p. 35; 1997, p. 682) nos adverte a não confiarmos em uma
mera "religião intelectual". Mas, por outro lado, ela também declarou que "a ignorância
não aumentará a humildade ou a espiritualidade de nenhum professo seguidor de Cris-
to" (WHITE, 2007, v. 3, p. 160). Portanto, somos encorajados "a atingir o próprio ápice
da grandeza intelectual", tornando-nos "gigantes na compreensão das doutrinas bíblicas
e das lições práticas de Cristo" (WHITE, 2007, v. 4, p. 413-415).

5) Cristo reprovou a tendência humana de aceitar a teoria da verdade


revelada nos Escritos Inspirados sem viver em harmonia com ela
Talvez a condição mais perigosa na qual a pessoa pode se colocar é a de professar
crer nos escritos inspirados sem permitir que esses santifiquem a sua vida. Isso gera
uma séria divisão filosófica entre a base teórica da religião e sua expressão prática na
vida diária. Os que se encontram nessa condição normalmente se tornam mais críticos
do comportamento dos outros do que do seu próprio e, como consequência, não sen-
tem qualquer necessidade real de uma transformação da sua própria vida.
No tempo de Cristo, muitos mestres da lei, bem como fariseus, se encontravam,
em termos humanos, em uma situação de desesperança (ver Mt 23). Descrevendo-os
várias vezes como "hipócritas", Cristo também os comparou a copos limpos por fora,
mas sujos por dentro (v. 25 e 26) e a sepulcros "caiados" por fora, mas "cheios de ossos
de mortos e de toda imundícia" por dentro (v. 27).
A mensagem de Deus para a igreja de Laodiceia, do tempo do fim, revela um pro-
blema semelhante. Os laodiceianos são descritos no livro do Apocalipse como um povo
inconscientemente iludido com a sua própria condição. Apocalipse 3:17 declara: "Pois
dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz,
sim, miserável, pobre, cego e nu."
A única esperança para aqueles que nutrem tal abordagem confusa para com as
mensagens proféticas é que eles fundamentem, com humildade de coração, a sua vida
espiritual sobre as infalíveis palavras de Cristo (ver Mt 7:24-27; Jo 5:39). Tais indivíduos
devem permitir que as palavras de Cristo santifiquem a sua vida (ver Jo 17:17). Isso im-
plica, de acordo com o apóstolo Paulo, que confessemos o poderoso Salvador revelado
nas Escrituras e nele creiamos (Rm 10:8-13).

Considerações finais
Como filhos e filhas de Deus, devemos desenvolver uma abordagem consistente
para com os escritos inspirados. Essa abordagem deve estar baseada em duas passagens da
Escritura — Mateus 4:4: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede
da boca de Deus", e Deuteronômio 4:2: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando,
nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu
Jesus, os profetas e nós

vos mando." Isso requer que obtenhamos a vitória, pela graça de Deus, sobre as tendências
humanas de elogiar os profetas antigos e de rejeitar os profetas contemporâneos, de substi-
tuir a mensagem divina pelo mensageiro humano, de enfatizar aquilo que a pessoa aprecia
da mensagem profética ao mesmo tempo que ignora ou rejeita aquilo que ela não aprecia,
de se contentar com uma leitura superficial dos escritos inspirados e de aceitar a teoria da
verdade revelada nos escritos inspirados sem viver em harmonia com ela.
Exercer fidelidade incondicional aos escritos inspirados pode não ser a maneira
mais fácil de se viver, mas é a única maneira pela qual podemos reclamar verdadeira-
mente a promessa de 2 Crónicas 20:20: "Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis segu-
ros; crede nos seus profetas e prosperareis." Que o Senhor nos capacite a vivermos hoje,
e todos os dias de nossa vida, em fidelidade para com Ele e para com a sua Palavra.

Referências
WHITE, E. G. Caminho a Cristo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

. Evangelismo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997.


. Orientação da criança. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.

. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 4.

. Testemunhos para igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. v. 3.

83
Por que eu creio
que Ellen G. White
foi uma verdadeira profetisa

Roger W. Coon

Pessoas têm diferentes razões para crer em Ellen G. White. Daniel T. Bourdeau,
líder pioneiro adventista, a viu em visão em 21 de junho de 1857 (a qual ele, incorreta-
mente, datou como havendo ocorrido em 28 de junho), em Bucks Bridge, NY. Bourde-
au observou que ela não respirava. Em 4 de fevereiro de 1891, ele escreveu: "Desde que
presenciei este maravilhoso fenómeno, eu fui inclinado a não duvidar da origem divina
de suas visões nem por uma vez" {LOUGHBOROUGH, 1909, p. 210).
H. M. S. Richards, orador adventista e locutor de rádio, fundador da "Voz da Profecia",
declarou acreditar em Ellen G. White "porque [ouviu] a oração dela" (ver Apêndice A).
Alguns adventistas do sétimo dia crêem simplesmente porque seus pais, pro-
fessores, pastores e líderes da igreja também crêem, e a credibilidade dessas pessoas é
tão alta que alguns aceitam suas crenças como uma verdade incontestável. Essa razão
têm certa validade, porém apresenta certo perigo, pois Satanás também pode simular
fenómenos físicos. Há grande número de charlatões e fraudes, muitos apenas "aparen-
tam" sinceridade. Além disso, muitas pessoas respeitáveis, verdadeiramente sinceras,
podem também estar erradas.
Ellen G. White uma vez escreveu a respeito de si mesma, seu dom, seu cha-
mado e sua obra:

Se está inteiramente convencido de que Deus não tem falado por nosso intermé-
dio, por que não agir de acordo com a sua fé e nada ter mais a ver com um povo
que está sob tão grande engano como esse? Se você tem agido de acordo com os
ditames do Espírito de Deus, você está certo e nós errados. Ou Deus está ensi-
nando Sua Igreja, reprovando seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta
obra é de Deus ou não é. Deus nada faz em parceria com Satanás. Meu trabalho,
ao longo dos últimos trinta anos, traz o selo de Deus ou do inimigo. Não há meio
termo nesta questão (WHITE, 2008, v. 4, p. 230).

Em harmonia com a advertência de Pedro: "E estais sempre preparados para res-
ponder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há
em vós" (IPe 3:15), posso oferecer as seguintes razões para explicar por que eu creio.
Espírito de Profecia

Um dom bíblico para os últimos dias de expectativa


A Bíblia ensina que nos últimos dias haveria manifestação do dom de profecia na igre-
ja "remanescente" de verdadeiros crentes. Não há alusão alguma na doutrina de Paulo refe-
rente aos dons espirituais (Ef 4; l Co 12; Rm 12) dizendo que um dos dons do Espírito Santo
— o de profecia — seria retirado enquanto todos os outros continuariam simultâneos até o
fim dos tempos. Joel prediz (Jl 2:28-32) um dom profético restaurado no fim dos tempos.
Nesse contexto, podemos observar que o Pentecostes foi um cumprimento apenas
parcial de Joel 2, pois o grande dom no Pentecostes foi o de línguas, enquanto que em
Joel 2 é o de profecia. Não há nenhuma evidência de que os sinais celestes mencionados
por Joel fizeram parte do Pentecostes. Pelo contrário, esses sinais são especificamente
identificados como sinais dos últimos dias em outro lugar nas Escrituras. O "princípio-
-cântaro" (ver Lc 22:8-10; Mc 14:13-15), a partir do qual Jesus identifica um homem
em Jerusalém por duas características e uma igreja no fim dos tempos por outras duas
características (Ap 12:17; 19:10) é aplicável aqui.
Protestantes que utilizam o princípio da reforma Sola Scriptura ("a Bíblia e a Bí-
blia somente") para se opor ao dom profético dos últimos dias estão utilizando as pa-
lavras de Shakespeare: "presos em sua própria armadilha", uma vez que a Escritura lhes
avisa quanto à ocorrência de um dom nos últimos dias
A parábola de Uriah Smith sobre um piloto e a tripulação de um navio que
o rejeitou é especialmente apropriada (ver Apêndice B). Se a Igreja Adventista do
Sétimo Dia não tem esse dom especial e único nos dias de hoje, é preciso deixá-la
e procurar por aquela que o tem.

EUen G. White preenche os requisitos bíblicos de um


verdadeiro profeta
Os escritos de Ellen G. White estão em harmonia com os escritos de todos os profetas
que vieram antes dela (Is 8:20) e os frutos de sua vida e seu ministério estão em harmonia
com as Escrituras (Mt 7:14, 20). Sua própria vida foi um consistente e divino exemplo de
como um verdadeiro cristão deve ser e os frutos na vida daqueles que seguiram seus ensinos
também estão à altura da norma do evangelho. Outro fator importante é que suas previsões
ocorreram tal como foram profetizadas por ela (Jr 28:9; Dt 18:22), embora seja necessário
ressaltar que o elemento condicional pode ser encontrado em algumas de suas previsões
exatamente como é encontrado em algumas profecias bíblicas (Jr 18:7-10; Dt 4:9; 8:19; 28:1,
2, 13-15; Zc 6:15; 2Cr 15:2). Além disso, sua atitude com respeito a Jesus Cristo também
preenche os requisitos bíblicos (IJo 4:1).

O elemento sobrenatural presente em sua vida e obra


Durante suas visões, Ellen G. White apresentava certos exemplos bíblicos de
fenómenos físicos, tais como não respirar e perder a consciência do que está ao seu
Por que eu creio que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa

redor. Algumas vezes, segurava um grande objeto (a Bíblia) por longos períodos de
tempo, o que não poderia ser feito em circunstâncias normais. No entanto, o fenóme-
no físico, isoladamente, não é uma prova de que alguém seja um verdadeiro profeta,
mas apenas uma evidência de que algo sobrenatural está operando. Deve-se sempre
averiguar qual é essa fonte sobrenatural — se é Deus ou o diabo.
É interessante observar também que as oportunidades para seus conselhos
eram precisas. Há relatos de cartas enviadas por Ellen G. White com antecedência
aos fatos ocorridos como, por exemplo, a carta para Alonzo T. Jones. Após pre-
gar sobre a suposta veracidade no dom de profecia apresentado por Anna Rice-
-Phillips, no dia seguinte, Jones recebe uma carta de Ellen G. White pedindo que se
retratasse a respeito do assunto por não ser verdadeiro. Ocorre que, naquela época,
uma correspondência dessa natureza demorava no mínimo um mês para chegar
aos seus destinatários (JEMISON, 1955, p. 469-471). A. G. Daniells, na Assembleia
do Conselho Anual de 1903, em Takoma Park, também recebeu uma carta a respei-
to do panteísmo herético do Dr. John Harvey Kellogg (COON, 1990, p. 22). Foram,
inclusive, entregues instruções a William White para levar as cartas ao correio de
St. Helena e entregá-las ao funcionário do para a próxima remessa, ao invés de sim-
plesmente colocá-las na caixa de correio. Outro ocorrido interessante foi a visão
de Salamanca, na qual ela viu uma reunião que estava ainda no futuro e divulgou
sua incapacidade para relembrar e compartilhar isto até que a reunião acontecesse
(JEMISON, 1955, p. 471-480).
Havia intervenção sobrenatural no ministério diário de Ellen G. White. En-
quanto escrevia, certa vez, uma carta encorajadora, um anjo a impediu, colocando
sua mão sobre o papel e lhe dizendo que o destinatário consideraria isso, erronea-
mente, como lisonja (WHITE, E.,1983, p. 182). Em outra ocasião, enquanto escrevia
uma carta para Natanael Davis sobre poupar algum dinheiro, o Espírito Santo a
proibiu de fazer tal coisa (Ellen G. White, Carta 36, 1897). Em outra ainda, um anjo
a impediu de assinar um contrato com uma editora não adventista (ver Apêndice
C). Em uma carta ao Dr. John Harvey Kellogg, mencionou que Deus a despertou
d u r a n t e a noite para dar-lhe mensagens faladas e escritas:

Eu sinto o mais profundo interesse em você. Nas cartas que enviei na penúltima
correspondência — suas cartas chegaram poucos dias antes — declarei os fatos
claramente. Em poucos dias outra correspondência veio, a última. Bem, eu não
ousei impedir a luz sobre coisas que estão constantemente abertas diante de mim.
Recentemente não tenho dormido após às 2h da manhã, exceto por três noites.
Algumas noites eu acordei à Ih30. Na penúltima noite, acordei à meia-noite e
comecei a escrever para você. Escrevi ião rápido quanto minha caneta podia des-
lizar sobre do papel. listes escritos foram dados a mim para que eu os desse a você
(Ellen G. White, Carta 40, 1899; Manuscrito 1508, p. 7-9).
Espírito de Profecia

O testemunho proeminente de muitos não adventistas


em favor dela
Muitos não adventistas deram importantes testemunhos sobre a obra de Ellen
G. White. Entre eles, está o mundialmente renomado arqueólogo William Foxwell
Albright (1891-1971), autor e coautor de mais de 800 publicações sobre arqueologia.
Bíblia e assuntos da antiguidade e vida oriental. Ele recebeu dezenas de doutorados
honorários de instituições superiores protestantes, católicas e judaicas. Foi o primei-
ro vice-presidente das Escolas Americanas de Pesquisa Oriental, em Jerusalém, de
1937 até sua morte, em 1971. Durante muitos anos foi professor na John Hopkins
University. Na segunda edição do livro From the Stone Age to Christianity, ele clas-
sificou Ellen G. White como profetisa, tendo aprendido sobre ela com os dois candi-
datos doutorais adventistas sob tutela dele (ALBRIGHT, 1957, p. 19).
Edith Deen, a mais notável autora sobre mulheres e cristianismo, dedicou a Ellen G.
White um capítulo do livro Great Women of The Christian Faith. Outros autores também
escreveram de maneira positiva sobre Ellen G. White, tais como Paul Harvey, em emisso-
ras de rádio e em colunas de jornais sindicalizados (SEVENTH-DAY, 1962, K-l/8, 9); o
Dr. Clive M. McCay, nutricionista da Cornell University (SEVENTH-DAY, 1962, K-l/4, 5,
11); o Dr. Florence Stratemeyer, professor do Teachers College, Columbia University, Nova
York (SEVENTH-DAY, 1962, K-l/5,12-14); o Dr. Irmgard Simon (SEVENTH-DAY, 1962,
K-l/15) e dois professores do College of Education, Michigan State University, no exame
oral da tese de Ph.D. de Horace Shaw, em 1957 (SEVENTH-DAY, 1962, K-l/5,6).
Apresentadas todas essas evidências, parece apropriado encerrar com o conhe-
cido conselho provindo da Palavra de Deus: "Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis
seguros; crede nos seus profetas e sereis bem sucedidos" (2Cr 20:20).

APÊNDICE A
Porque eu a ouvi orar
O cenário era um novo acampamento no Columbia Union Conference. Os par-
ticipantes eram três pastores e o Sr. H. M. S. Richards. Na noite anterior, o pastor
Richards anunciou aos acampantes que suas funções estavam mudando. Ele declarou:
"Eu tenho sido o pregador e diretor da Voz da Profecia e meu filho tem me auxiliado.
Agora, ele assumirá a liderança e eu o auxiliarei."
Mas esse não foi o tema principal da conversa no isolado refúgio onde acampa-
vam. Os temas variam entre o satélite de comunicação e o novo motor a vapor Lear.
Richards demonstrou sua ávida sede por conhecimento, contando à pequena plateia os
princípios científicos envolvidos nessas invenções.
O tema mudou para a Sra. Ellen G. White. Ele relatou sua experiência, voltando
aos dias de sua infância, quando ouviu a Sra. White falar: "Quando pregava, ela era
uma perfeita mulher divina, cristã, que conhecia sua Bíblia." Ele também contou sobre
ter estado presente quando o filho dela, Willie White, se colocou ao lado da mãe após
Por que eu creio que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa

ela ter pregado e disse que era hora de terminar. Ela virou para seu filho e disse: "Não
posso sentar-me até que eu tenha orado."
A oração provocou uma vívida e vitalícia impressão no jovem Richards. "Quando
ela orou", ele recorda, "foi como estar na presença de Deus. Uma profunda convicção
comoveu a plateia, e homens e mulheres choraram."
Quaisquer dúvidas que Richards pudesse ter sobre a autenticidade da Sra. White
como profetisa foram dissipadas. "Isso mudou minha vida", ele relata, "porque eu a ouvi
orar". Provavelmente, após a Sra. White, nenhuma outra pessoa teve tão grande influ-
ência sobre o adventismo e o crescimento da igreja como teve o Sr. H. M. S. Richards.
Depois de aproximadamente 40 anos como locutor de rádio, seria difícil imaginar qual-
quer afastamento de tão infatigável obreiro. "Não, eu não estou me afastando. Eu apenas
continuarei em um passo reduzido", explica.

Testemunho de H.M.S. Richards para o Columbia Union


Visitar (julho de 1969): Texto de Morten Juberg

APÊNDICE B
Parábola do piloto e da tripulação, por Uriah Smith
"Suponhamos que estamos prestes a iniciar uma viagem. O dono do navio nos dá
um livro de instruções, dizendo-nos que este contém instruções suficientes para toda a
nossa jornada, e que se nós as seguirmos, alcançaremos em segurança o porto de destino.
Navegando, abrimos nosso livro para aprender seu conteúdo. Encontramos
que seu autor formulou princípios gerais para nos guiar em nossa viagem e nos ins-
truir de maneira prática no tocante às muitas eventualidades que poderiam surgir
até o fim. Mas ele também nos diz que a última etapa da viagem seria especialmente
perigosa; que as características da costa estão em constante mudança por causa da
areia movediça e tempestades. 'Mas para esta etapa da jornada', diz ele, 'Eu provi-
denciei um piloto para vocês. Ele os encontrará e lhes dará as instruções necessárias
para que estejam aptos a enfrentar qualquer circunstância e perigo ao redor; e vocês
devem atender ao que ele disser'.
Com essas instruções, nós alcançamos o perigoso tempo especificado, e o piloto,
de acordo com a promessa, aparece. Mas alguns da tripulação, enquanto ele oferece seus
serviços, se levantam contra ele. 'Nós temos o livro original de instruções', eles dizem, 'e ele
é suficiente para nós. Permaneceremos seguindo as instruções dele, e somente dele; não
queremos nada de você.' Quem agora dá atenção ao livro original de instruções? Aqueles
que rejeitam o piloto, ou aqueles que o recebem, como o livro os instruiu? fulgue você.
"O que dizemos é exatamente isto: Que os dons do Espírito são dados para
nosso piloto nestes momentos perigosos e onde quer que seja e em quem quer que
seja que encontremos genuínas manifestações como estas, somos obrigados a res-
peitá-los. Não podemos agir de outra forma sem rejeitar a Palavra de Deus, que nos
instrui a recebê-los" (WHITE, 1863; ver Jl 2:28-32; ICo 12:8-10, 28; Ef 4:11-13).
Espírito de Profecia

APÊNDICE C
Quando o anjo sacudiu a cabeça indicando "não"1
O ano era 1913 ou 1914. O lugar, Elmshaven, um modesto local situado aos pés
da Howell Mountain, em Santa Helena, Califórnia — lar de Ellen G. White durante os
últimos 15 anos de sua vida.
A Fleming H. Revell Co., uma editora não denominacional de literatura evangélica
cristã (e editora da primeira edição de Caminho a Cristo, em 1892), estava negociando um
contrato com Ellen G. White para a publicação de outro livro. Os detalhes haviam sido mais
ou menos decididos antecipadamente por seu filho mais novo, William ("Willie") C. White,
que, desde a morte de seu pai, Tiago White (em 1881), tornara-se o principal conselheiro
de sua mãe, como também seu companheiro nas viagens, gerente de negócios e confidente.
Agora tudo estava quase pronto, o contrato havia sido redigido em termos muito
favoráveis à Sra. White, e a Revell Co. enviou quatro de seus funcionários para estarem
presentes no momento da assinatura do contrato.
Enquanto a simples cerimónia estava quase encaminhada, Willie pediu para que os re-
presentantes da editora se assentassem em frente a uma grande janela no piso superior ao escri-
tório — dessa forma, eles ficavam de costas para a viúva. Grace White Jacques relembra: "Vovó
(Sra. White) estava sentada em sua 'cadeira de escrever', com seu suporte de escrita (talvez uma
'prancheta) sobre seu colo", quando lhe deram o contrato para ser assinado.
Após algumas poucas palavras de cumprimento e com sociais jovialidades, a Sra,
White — muito claramente ciente do que estava acontecendo e o que era esperado dela
— pegou sua caneta, como se fosse assinar o documento.
Então, ela fez uma pausa e, inesperadamente, deitou sua caneta de volta sobre seu
suporte de escrita, sem assinar o contrato.
E, estranhamente, eía não deu nenhuma explicação sobre o que havia feito.
Os visitantes, longe de respeitar os 86 anos de idade da autora, tentaram ignorar
o assunto envolvendo-se em gracejos voluntários e em um bate-papo inconsequente,
na esperança de que qualquer coisa pudesse distrair sua atenção, e que, em seguida, ela
assinaria o documento para que eles pudessem seguir seu caminho.
Mas ela não estendeu o braço para pegar a caneta novamente.
"Meu pai então convidou os homens para a sala de visitas no térreo. Enquanto os
visitantes se assentavam, ele voltou até o escritório, no piso superior, onde vovó perma-
necia sentada. Estava agora sozinha, com o contrato ainda sobre o suporte de escrita em
seu colo", relembra a Grace Jacques. Puxando uma cadeira ao lado de sua idosa mãe,
Willie perguntou gentilmente: "Mãe, você entende por que estes cavalheiros estão aqui,

1
Essa história está baseada em uma entrevista feita com Arthur L. White em Yountvílle, CA,
em l de maio de 1990, por telefone, menos de um ano antes de sua morte; e em um questionário
respondido por sua irmã, Grace (ackes, recebida no Património White, também em l de maio de
1990. Não é de meu conhecimento se isso foi publicado anteriormente. — R.W.C.
Por que eu creio que EUen G. White foi uma verdadeira profetisa

não entende?" Na mente do filho, o desconforto e o aborrecimento foram moderados,


sem dúvida, pela suspeita de que a crescente distraçào de sua mãe era a explicação para
a demora; talvez lhe dando mais tempo, ela poderia "se recuperar" e assinar o contrato.
"Sim, Willie, eu sei porque eles estão aqui."
"Então por que a senhora não assinou? Eles são homens muito ocupados, e preci-
sam voltar para a Costa Leste, portanto nós realmente não deveríamos atrasá-los", lem-
brou bondosamente Willie à profetisa. "Houve alguma razão, mãe, pela qual a senhora
mudou de ideia e não assinou o contrato?"
"Sim, Willie. Eu estava quase para assiná-lo e já havia pegado a caneta para isso, quan-
do momentaneamente observei que logo atrás dos visitantes havia um anjo. Ele olhou direta-
mente para mim e silenciosamente balançou sua cabeça, dizendo 'Não! Naquele momento, eu
soube que não devia assinar o contrato. Eu não sei o porquê, eu só sei que não deveria assinar."
Então Willie calmamente tranquilizou sua mãe, dizendo que ela havia feito a coisa certa
— ao não fazer nada —, e, desculpando-se, voltou para a sala onde os visitantes o esperavam.
O que ele disse aos homens nós não sabemos exatamente. Ele pode muito bem
não lhes ter contado o real motivo pelo qual sua mãe hesitou em assinar o contrato tão
diligentemente negociado. Talvez eles tenham partido com seus próprios pensamentos
— muito provavelmente eles (corno Willie, inicialmente) ficaram com a impressão de
que tudo não passou de mais uma evidência da senilidade da idosa senhora.
E, muito provavelmente, eles partiram aborrecidos, demonstrando insatisfação por cau-
sa de todo o tempo e esforços que haviam perdido em sua missão, que agora, de nada valia.
Seja qual for a razão, Deus não quis que aquele contrato fosse assinado e enviou
um anjo que, utilizando somente a linguagem corporal, fez com que a profetisa soubesse
que não deveria assiná-lo. Talvez algum dia saibamos o motivo.

Referências
ALBRIGHT, W. F. From the stone age to christianity: monotheism and the historical process.
Nova York: Doubleday, 1957.
COON, R. Look a little higher. Silver Spring: Ellen G. White Estate, 1990.
LOUGHBOROUGH,). N. The great second advent movement: its risc and progress. Washington:
Review and Herald, 1909.
SEVENTH-DAY adventist Bible students' source. Washington: Review and Herald, 1962.
(Commentary Reference Series)
WHITE, T. Do we discard the fiiblc by endorsing lhe visiuns? Review and Herald, v. 21, n. 7, 13
jan. 1863. Disponível em <http://bit.ly/I2M7Vu>. Acesso em: 17abr. 2012.
WHITE, E. G. Olhando para o alto: meditações matinais. Santo André : Casa Publicadora
Brasileira, 1983.
EUen G. White
e seus críticos
Princípios norteadores
de interpretação da Bíblia e
dos escritos de Ellen G. White

Robert W. Olson

Provavelmente, ninguém sabe com precisão qual é o número de denominações e


pequenas seitas religiosas existentes no mundo, mas não resta dúvida de que são milha-
res. Embora todos esses grupos utilizem o mesmo livro divinamente inspirado como a
base de suas crenças, nem todos interpretam esses escritos da mesma forma. Divergên-
cias doutrinárias devem-se, em grande medida, a métodos deficientes de interpretação.
Quando princípios hermenêuticos errados são postos em uso, as conclusões resultantes
provavelmente serão também erradas. A interpretação que fizermos da Bíblia — assim
como dos escritos do Espírito de Profecia — será com muito maior probabilidade cor-
reta se utilizarmos os princípios hermenêuticos adequados.
A história adventista inclui exemplos de doutrinas estranhas que, de quando em
quando, surgiram na igreja. Quando o irmão S. N. Haskell retornou à América do Nor-
te em 1899, após uma ausência de quatro anos na qualidade de missionário em outros
continentes, escreveu à irmã Ellen G. White, que ainda se achava na Austrália:

Falei duas vezes aos professores do Colégio (de Battle Creek]. Na primeira vez, o as-
sunto rcladonou-se com a correia interpretação das Escrituras. O objetivo foi prote-
gê-los contra alguns pontos de vista extremos que eles defenderam no passado. Na
segunda vez, o assunto foi a morte de insetos. Foi-me perguntado se não era a vida de
Deus que se achava nos insetos. [...] Sempre que alguém, nos dias atuais decide de-
fender alguma ideia excêntrica, procura encontrar alguns dos escritos da irmã como
prova de apoio. F, em quase todos os casos eu me recordo do que foi escrito, da opor-
tunidade e das circunstâncias correlatas, de modo que posso estabelecer a conexão.

Existe, contudo, uma doutrina que está sendo pregada por alguns; chamam-na 'jus-
tificação física'. Trata-se do seguinte: se vivermos de modo correto, isto nos habili-
tará a vivermos e a sermos tornados imortais quando o Senhor vier (S. N. Haskell,
carta a Ellen G. White. nov. 23, 1899).

Haskell indicou que os advogados da doutrina da "justificação física" ou "carne


santa" baseavam seus ensinamentos numa declaração feita por Ellen G. White. Ela a
havia escrito em 1877:
Espirito de Profecia

Aqueles que empreenderem esforços determinados, em nome do Vencedor, para so-


brepujar todos os ardentes apelos não naturais do apetite, não morrerão no conflito.
Em seus esforços quanto ao controle do apetite, estão eles colocando-se em relação
correta com a vida, de modo que possam desfrutar da saúde e do favor de Deus, e
possam ter o justo direito ávida imortal (WHITE, E., 1877, p. 81).

Durante a Assembleia da Associação Geral de 1901, Ellen G. White rejeitou


abertamente a doutrina da "carne santa". Os defensores dessa ideia haviam interpre-
tado erroneamente os seus escritos.
Para que pudéssemos evitar conclusões insensatas e incorretas, Ellen G. White
deixou-nos várias regras de interpretação baseadas no bom senso. Os autores bíblicos
também nos outorgaram orientação hermenêutica. Anotaremos, a seguir, aquelas que
nos parecem as mais importantes dentre referidos princípios.

1. Deveríamos convidar o Espírito Santo como


o orientador de nosso estudo
Em 2 Pedro 1:20 e 21, lemos: "Acima de tudo, porém, lembrem-se disto: Ninguém
pode explicar, por si mesmo, uma profecia das Sagradas Escrituras. Pois nenhuma men-
sagem profética veio da vontade humana, mas os homens eram guiados pelo Espírito
Santo quando anunciavam a mensagem que vinha de Deus." Ellen G. White comenta
que "um verdadeiro conhecimento da Bíblia só se pode obter pelo auxílio daquele Es-
pírito pelo qual a Palavra foi dada" (WHITE, E., 1997, p. 188} e "sem a iluminação do
Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa
das tentações sutis de Satanás" (WHITE, E., 1998, p. 408-411). Ela diz ainda:

O espírito com que vindes à investigação das Escrituras determinará o caráter do


assistente ao vosso lado. Anjos do mundo da luz estarão com aqueles que com hu-
mildade de coração buscam a direção divina. Mas se a Bíblia for aberta com irre-
verência, com sentimentos de presunção, se o coração está cheio de preconceitos,
Satanás se acha ao vosso lado, e apresentará as declarações simples da Palavra de
Deus numa luz pervertida {WHITE, E., 1993a, p. 108).

2. Devemos estar dispostos a obedecer à verdade


João 7:17, na versão O Novo Testamento Vivo, diz: "Se qualquer um de vocês
realmente decidir fazer a vontade de Deus, então saberá com certeza se o meu ensino
vem de Deus ou é meramente meu próprio". Complementando o texto bíblico, no
Espírito de Profecia encontramos: "Sempre que os homens não procurarem, por pala-
vras e ações, estar em harmonia com Deus, então — não importa quão sábios possam
ser — estarão sujeitos a erros em sua compreensão das Escrituras, e não será seguro
confiar em suas explanações" (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 705). Para ela, "o compreen-
der a verdade bíblica não depende tanto do vigor do intelecto posto à pesquisa, como
da singeleza de propósito, do fervoroso anelo pela justiça" (WHITE, E., 2005, p. 605).
Princípios norteadores de interpretação

3. Devemos manter a receptividade, dispondo-nos a abrir mão


de posições mantidas anteriormente, sempre que necessário1
A profetisa aconselha: "Se examinais as Escrituras para vindicar vossas próprias
opiniões, nunca alcançareis a verdade. Investigai para aprender o que o Senhor diz"
(WHITE, E., 1998, p. 112). Porém, ao alcançar essa verdade, "não podemos manter a
opinião de que uma posição uma vez assumida, uma vez advogada a ideia, não deve, sob
qualquer circunstância ser abandonada. Há apenas um que é infalível: Aquele que é o
Caminho, a Verdade e a Vida" (WHITE, E., 1993a, p. 105). Quanto a nós, estudantes da
palavra de Deus, "o estudante da Bíblia deve esvaziar-se de todo preconceito, depositar
suas próprias ideias à porta da investigação e com o coração humilde e subjugado e o eu
escondido em Cristo, através de oração sincera, deve buscar sabedoria de Deus" (Ellen
G. White, Carta 463), Ela diz ainda,

Não existe escusa para que qualquer pessoa assuma a posição de que não há
mais verdades a serem reveladas, e de que todas as nossas exposições das Es-
crituras encontram-se isentas de erros. O fato de que certas doutrinas têm sido
consideradas como verdade durante anos por nosso povo, não constitui prova
de que nossas ideias são infalíveis. O tempo não converterá o erro em verdade,
e a verdade suportará a sua própria comprovação. Nenhuma doutrina verda-
deira perderá qualquer substância quando submetida a profunda investigação
(WHITE, E., 1892a).

Os instrutores cm nossas escolas jamais deveriam ser colocados sob o jugo que os
97
obrigasse a ensinar apenas aquilo que até agora foi ensinado. Afastem-se tais restri-
ções. Existe um Deus que concederá a Seu povo a mensagem que este deve procla-
mar. Que nenhum ministro se sinta sob tais cadeias, ou seja medido de acordo com
padrões humanos (IASD, 1966, p. 273 e 274).

O voto Oficial da Assembleia da Associação Geral de 1871 no tocante ao assunto


doutrinário (posição que não mais mantemos hoje) diz:

Resolvido que reconhecemos na presente condição do Papa de Roma e do Sultão


da Turquia inconfundível evidência de que atingimos o estágio final das grandes
linhas proféticas, e que nossa confiança no rápido advento de nosso Senhor acha-se
inabalável (IASD, 1871, p. 68).

Outras interpretações bíblicas que se modificaram foram as seguintes: a hora em


que deve ser iniciado o sábado; o Armagedom; o "contínuo" de Daniel 8; a Trindade; a
lei em Gaiatas e os dez reinos de Daniel 2.

Veja a série de artigos de Ellen G. White (1890a; 1892b) publicados na Rcvicw and Hcrald.
Espírito de Profecia

4. Deveríamos alimentar a expectativa de descobrir novas verdades


Tem-me sido dirigida a pergunta: "Pensa você que o Senhor ainda dispõe de luz
adicional para revelar-nos como povo?" Respondo que Ele tem nova lu/ para nós,
e ainda assim esta é a velha e preciosa luz que brilha da Palavra da verdade. Possui-
mos apenas os lampejos dos raios de luz que até agora chegaram a nós (...) Embora
grandes e talentosos autores tenham tornado conhecidas maravilhosas verdades, e
tenham apresentado crescente luz diante do povo, em nossos dias ainda encontrare-
mos espaço para novas ideias (WHITE, E., 1890b).

Em cada época há novo descobrimento da verdade, uma mensagem de Deus para


essa geração. As velhas verdades são todas essenciais; a nova verdade não é indepen-
dente da antiga, mas desdobramento dela. Só compreendendo as velhas verdades é
que podemos entender as novas (WHITE, E., 1998, p. 127).

5. Qualquer interpretação que contradiga pontos


especiais de nossa fé representa um erro
Ellen G. White recomenda:
Deus [...] não concede a um homem nova luz que seja contrária à fé estabelecida
do conjunto [...] Levantar-se-ão homens e mulheres que pretenderão possuir al-
guma nova revelação, cuja tendência será desmerecer a fé nos marcos antigos. Suas
doutrinas não suportarão o teste da Palavra de Deus, mas ainda assim almas serão
enganadas (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 291 e 295).

Sobre os marcos definidos em 1888, ela declara que

eles perverteram as ideias quanto ao que constitui os antigos marcos. A passagem


do tempo em 1844 representou um período de grandes eventos, pois nossos olhos
atónitos foram abertos para a purificação do santuário que se efetuava no Céu,
e que possuía decisiva relação com o povo de Deus sobre a Terra, e [também]
com as três mensagens angélicas que desfraldavam a bandeira sobre a qual estava
escrito: "Os mandamentos de Deus e a fé de |esus," Um dos marcos desta men-
sagem foi o templo de Deus, visto no Céu por Seu povo amante da verdade, e a
arca que continha os Dez Mandamentos. A luz do sábado do quarto mandamento
brilhava em fortes raios ao longo do caminho dos transgressores da lei de Deus.
A nào-imortalidade dos ímpios é um dos marcos antigos. Não consigo trazer à
memória qualquer outro aspecto que pudesse ser classificado sob o rótulo de mar-
cos antigos. Todo este clamor a respeito da alteração de marcos antigos é apenas
imaginário (WHITE, 1946, p. 30 e 31).
Princípios norteadores de interpretação

Ela afirma que essas contradições continuarão a aparecer:

Aparecerá um, e ainda outro, com nova iluminação, que contradiz aquela que foi dada
por Deus sob a demonstração de Seu Santo Espírito [... ] Não devemos receber as pa-
lavras dos que vêm com uma mensagem em contradição com os pontos especiais de
nossa fé. Eles reúnem uma porção de passagens, e amontoam-na como prova em torno
das teorias que afirmam. Isto tem sido repetidamente feito durante os cinquenta anos
passados. E se bem que as Kscrituras sejam a Palavra de Deus, e devam ser respeitadas,
sua aplicação, uma vez que mova uma coluna do fundamento sustentado por Deus
nestes cinquenta anos, constitui grande erro (WHITE, K., 1987, v. l, p. 161).

6. Escritos inspirados deveriam ser interpretados


de acordo com seu significado óbvio
Ellen G. White é categórica ao afirmar que não deve haver interpretações exces-
sivas de textos claros: "A linguagem da Bíblia deve ser explicada de acordo com o seu
sentido óbvio, a menos que seja empregado um símbolo ou figura" (WHITE, E., 2005, p.
604). Este principio requer que o texto de Génesis l a 11 receba interpretação histórica.
Agir de outro modo seria negar a credibilidade de Pedro, Paulo e do próprio Cristo,
pois eles entenderam estes capítulos como sendo literais. Eles não consideraram o relato
bíblico pré-abraâmico como apenas um relato simbólico, figurativo ou mítico (Ver Mt
19:4 -6, 24:37-39; Rm 5:12; ICo 15:45; 2Co 11:3; 2Pe 3:5-7).
qq
7. Escritos inspirados são mais confiáveis que conjecturas humanas
A maior confiabilidade da Bíblia comparada a conclusões humanas é reforçada
em diversos textos:

É unicamente a Palavra de Deus que nos dá autêntico relato da criação do mundo.


[,..] A Bíblia é uma história que nos conta a criação do mundo e nos revela os
séculos passados. Não fora ela, e seríamos deixados a conjecturar e formar fábulas
quanto aos acontecimentos do remoto passado (WHITE, E., 1994, p. 13 e 379).

Hora da história bíblica, a geologia nada pode provar àqueles que tão confiantemente
raciocinam acerca de suas descobertas, não têm uma concepção adequada do tamanho
dos homens, animais e árvores anteriores ao dilúvio, ou das grandes mudanças que en-
tão tiveram lugar. Restos encontrados na terra dão provas de condições que em muitos
respeitos diferiam do presente; mas o tempo em que estas condições existiram apenas
pode ser descoberto pelo Registro inspirado. Na história do dilúvio a inspiração expli-
cou aquilo que a geologia por si só nunca poderia sondar (WHITF, H., 2009, p. 38).

Aquele que possui conhecimento de Deus e de Sua Palavra através de experiência pes-
soal, tem sua fé estabelecida na divindade das Sagradas Escrituras. Ele provou que a
Palavra de Deus é a verdade, e sabe que a verdade jamais poderá contradizer a si mesma.
Espirito de Profecia

Ele não prova a Bíblia a partir das ideias humanas quanto ao que é a ciência; estas ideias
é que são conferidas de acordo com o padrão infalível. Ele sabe que na verdadeira ciência
nada pode existir que contrarie os ensinos da Palavra; uma vez que ambos se originam
do mesmo Autor, a correia compreensão de ambos mostrará que eles se harmonizam.
Tudo aquilo que, na assim-chamada teoria científica, contrarie o testemunho da Palavra
de Deus, representa mera conjectura humana" (WHITE, E., 2004, p. 462).

8. A Bíblia e o Espírito de Profecia expõem a si próprios


A profetisa também discorre sobre a autoexplicabilidade da Bíblia e do Espírito de
Profecia, dizendo que "os próprios testemunhos serão a chave que explicará as mensa-
gens dadas, como texto escriturístico é explicado por texto escriturístico" (WHITE, E.,
1987, v. l, p. 42; ver 2008b. v. 2, p. 157). Ela afirma ainda:

A Bíblia é seu próprio expositor. Uma passagem será a chave que descerrará outras pas-
sagens, e deste modo haverá luz sobre o significado oculio da Palavra. Comparando di-
versos textos que tratam do mesmo assunto e examinando sua relação em lodo o sentido,
tornar-se-á evidente o verdadeiro significado das Escrituras (WHITE, E., 1975, p. 187).

Os textos de Apocalipse 12:6, 14 e 13:5, contribuem para explanar Daniel 7:25.


Este texto, por sua vez, ajuda a explicar Daniel 7:17. Já o texto de Daniel 8:14 pode ser
visto como aplicando-se ao juízo investigativo quando as profecias paralelas de Daniel 7
e 8 são comparadas entre si. Os relatos da Criação e do Dilúvio devem ser aceitos como
históricos e literalmente verdadeiros à luz dos textos mencionados acima, no item 6. Por
último, Deuteronòmio 24:1-3 deveria ser compreendido à luz de Mateus 19:3-9.

9. Reconheça o problema da semântica; compreenda


que podem existir expressões incorretas
A Bíblia precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é im-
perfeito. Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma pa-
lavra para cada ideia distinta. A Bíblia foi dada para fins práticos. Diferentes são
os cunhos mentais. As expressões e declarações não são compreendidas da mesma
maneira por todos (WHITE, E., 1987, v. l, p. 20).

Se bem que eu dependa tanto do Espírito do Senhor para escrever minhas visões
como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são
minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre
ponho entre aspas (WHITE, E., 1987, v. l, p. 37).

De que modo escrever numa forma que seja compreensível àqueles aos quais dirijo
importantes assuntos, é um problema que eu mesma não posso resolver. Quando
percebo que sou mal compreendida pelos meus irmãos que mais me conhecem,
Princípios norteadores de interpretação

tenho certe/a de que necessito reservar mais tempo para escolher cuidadosamente
os termos que traduzirão meus pensamentos no papel, pois o Senhor me concede
luz que de outro modo eu não me atreveria a comunicar; grande fardo é colocado
sobre m i m ( W H I T E , K., 1899).

Hm alguns trechos, Kllen G. White emprega o termo nicest ("mais bela") referin-
do-se à obra de Cristo.

A mais bela obra já empreendida por homens e mulheres, é lidar com espíritos
jovens (WHITE, E., 2008c, p. 65).

Alcança-se o verdadeiro objctivo da reprovação apenas quando o próprio malfeitor


é levado a ver a sua falta, e consegue sua vontade no empenho de corrigir-se. Quan-
do isto se cumpre, apontaí-lhe a fonte de perdão e poder. Procurai preservar o seu
respeito próprio, e inspirar-lhe ânimo e esperança [...] Esta é a obra mais delicada
[nicest] e mais difícil que se tem confiado a seres humanos. Exige o mais delicado
tato, a maior susceptibilidade, conhecimento da nalure/,a humana, e uma té e paci-
ência oriundas do Céu, dispostas a trabalhar, vigiar e esperar. É uma obra que nada
sobrelevará em importância (WHITE, E., 1997, p. 292).

10. Reconheça que por vezes as traduções são imperfeitas ou


inadequadas e, se possível, consulte os idiomas originais
Em Lucas 23:43, por exemplo, os manuscritos gregos mais antigos não contêm
qualquer pontuação. Semelhantemente, no ano de 1902, Kllen G. White escreveu: "Mui-
tos que agora são apenas meio convertidos quanto à questão da alimentação cárnea, se-
parar-se-ão do povo de Deus, para não mais andar com ele" (WHITE, E., 1993, p. 575).
Na tradução em português aparece: "aqueles que agora são apenas meio convertidos".

11. Tome em consideração as figuras de


linguagem, tais como hipérboles
Na Bíblia, identifica-se o uso de hipérboles com frequência, como em Génesis
22:17: "Certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas do Céu" e tam-
bém em João 21:25: "Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem
relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que
seriam escritos." Vemos esta mesma prática nos escritos de Ellen G. White:

É uma solene declaração que faço à igreja, de que nem um entre vinte dos nomes
que se acham registrados nos livros da igreja está preparado para finalizar sua histó-
ria terrestre, e achar-se-ia tão verdadeiramente sem Deus e sem esperança no mun-
do, como o pecador comum (WHITH, li., 1984, p. 40 e 41).
Ellen G. White utiliza pelo menos cinco vezes a proporção l para 20 e, pelo
menos, 21 vezes a expressão l para (ou em) 100. Ela jamais menciona l em 19, l em
Espírito de Profecia

21, l em 99 ou l em 101. Veja o Index dos escritos dela (1963, v. 3, p. 1917 e 1918), o
que demonstra que se tratava de uma expressão somente, e não de um número exato.

12. Lembre-se de que um livro infalível pode conter


discrepâncias de menor importância
"A Bíblia [...] é um guia infalível sob quaisquer circunstâncias" (WHITE, E., 2006,
v. 5, p. 264). "A Palavra de Deus é infalível" (WHITE, E., 1987, v. l, p. 416). "Ela é infalível,
pois Deus não pode errar" (Ellen G. White, Manuscrito 27,1906). Ela acrescenta ainda:

Vi que Deus havia de uma maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando da
mesma existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as
palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível, quando na reali-
dade estava mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas
opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus,
como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explican-
do-se mutuamente. Os verdadeiros inquiridores da verdade não devem errar; pois
não somente é a Palavra de Deus clara e simples ao explanar o caminho da vida, mas
o Espírito Santo é dado como guia na compreensão do caminho da vida ali revelado
(WHITE, E., 1999, p. 220 e 222).

Alguns nos olham seriamente e dizem: "Não acha que deve ler havido algum erro da
parte dos copistas ou dos tradutores?" Tudo isso é provável. [... l Mesmo todos os erros
não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés de alguém que não
fabrique dificuldades da mais simples verdade revelada (WHITE, E-, 1987, v. l, p. 16).

13. Não deveríamos utilizar O grande conflito


como livro-texto de história
William C. White declarou: "Quanto aos escritos de minha mãe e seu uso como
autoridade sobre pontos de história e cronologia, mamãe nunca desejou que nossos
irmãos os considerassem como autoridade no tocante a pormenores da história ou de
datas históricas [...] Quando foi escrito O grande conflito, mamãe não imaginava que os
leitores o considerariam uma autoridade em datas históricas ou o usariam para resolver
controvérsias acerca de pormenores da história, e ela não acha agora que ele deve ser
usado dessa maneira" (WHITE, E., 1987, v. 3, p. 447).
Na edição de 1888 de O grande conflito, Ellen G. White (2005, p. 65) declarou:
"Os valdenses foram os primeiros dentre todos os povos da Europa a obter a tradução
das Sagradas Escrituras." Esta declaração foi corrigida em 1911, passando a rezar: "Os
valdenses achavam-se entre os primeiros dos povos da Europa a obter a tradução das
Sagradas Escrituras." Outros melhoramentos de natureza similar foram igualmente
efetuados na edição de 19112.

Em português, pelo menos até a 25" edição de O grande conflito, ainda permanecia a expressão.
Princípios norteadores de interpretação

14. Conserve em mente que os profetas escreveram algumas coisas


que não eram inspiradas; eles também escreveram cartas comuns
Ellen G. White não considerava que toda linha escrita por ela fosse inspirada.
Nenhum profeta foi inspirado durante as 24 horas de todos os dias de sua vida. Não
resta dúvida de que Daniel escreveu cartas familiares e comerciais, como qualquer outra
pessoa. No caso dos escritores bíblicos, somente as suas produções inspiradas foram
preservadas. No caso de Ellen G. White, tanto seus escritos sagrados quanto os comuns
encontram-se arquivados. Em certa carta arquivada, ela escreveu:

Diz o irmão A que em uma carta escrita a um dos irmãos no sul da Califórnia, fora
feita por mím a declaração de que o sanatório tinha 40 quartos, quando em verdade
havia apenas 38. Isto o irmão A me apresenta como razão por que ele perdeu a con-
fiança nos testemunhos [ . . . ] A informação quanto ao número de quartos no Sanatório
Vale do Paraíso foi dada, não como uma revelação vinda do Senhor, mas simplesmen-
te como uma opinião humana. Nunca me foi revelado o número exato de quartos de
qualquer de nossos sanatórios; e o conhecimento que tenho obtido dessas coisas, tive
indagando dos que se esperava que soubessem (WHITE, E., 1987, v. l, p. 38).

Para apresentar a diferença entre o sagrado e o comum, ela aconselha:

Em minhas palavras, quando falando acerca desses assuntos comuns, não há nada que leve
os espíritos a crer que recebo meu conhecimento em visão do Senhor e o estou declarando
1 1 K i n i lal i . . . | . l, >u. nulo u | \ | i ] i !to S.nitn i r \ v i , i a l ; ; i i ! i k i i 0183 u-],lhv L ime!ilc ,i-, Í ! i s l i H : i i . < > ( " .
relacionadas com a obra do Senhor, ou referente à obra de Deus no coração e espírito hu-
mano, como Ele tem revelado essas coisas por meu intermédio no passado, a mensagem
dada deve ser considerada como esclarecimento vindo de Deus para aqueles que o neces-
sitam. Misturar, porém, o sagrado com o comum, é um grande erro [...]. Há vezes, porém,
em que devem ser declaradas coisas comuns, pensamentos comuns precisam ocupar a
mente, cartas comuns precisam ser escritas ( . . . ) Tais palavras, tais informações, não são
dadas sob a inspiração especial do Espírito de Deus (WHITE, E., 1987, v. l, p. 38 e 39).

Quanto às cartas "comuns", temos vários exemplos:

Marion, lowa, 18 de março de 1861. Queridos filhos Henry, Edson e William: Kstamos
agora na casa dos irmãos Snook. Trata-se de um bom lar. Quando vejo o seu pequeno
bebé e o tomo nos braços, sinto saudades de meu querido bebé que deixamos no
cemitério de Oak Hill; não permitirei, porém, que um único pensamento de murmu-
ração se manifeste. Aprecio a companhia desta família. A irmã Snook é uma criatura
excelente. Amanhã visitaremos o irmão e a irmã Weaver, que são os encarregados do
hotel em Fairview. Que mudança podemos observar neles desde a nossa última visita
a esse Estado! Naquela oportunidade hospedamo-nos em seu hotel e fomos tratados
com amabilidade, mas eles ainda não haviam sido convertidos à verdade. Agora o
Espírito de Profecia

nosso coração acha-se unido, e desfrutaremos muito esta visita. Encontro-me sofren-
do de forte resfriado que se instalou em meus pulmões. Minha mente volve-se para
o lar, pensando em meus filhos. Crianças, sejam fiéis. Façam o que é correto e vocês
serão respeitadas. Pensamos muito em vocês e desejamos que vocês formem um ca-
ráter cristão, que lhes trará alegria, bem como a nós. Obedeçam a Jenny assim como
o fariam em relação a mim. Procurem agradá-la e não demonstrem relutância em
ajudá-la, antes façam o que ela deseja, de modo carinhoso e alegre. Façam confor-
me William os instruir. Colocamos vocês sob os cuidados dele enquanto estiverem
aí. Procedam de modo a granjear o amor e o respeito de todos. Pequeno William,
você deve ser um menino de temperamento suave e bom. Que o Senhor vos abençoe,
queridas crianças. Esta é a nossa oração sincera. Não se esqueçam de escrever-nos. A
mamãe que muito os ama (SMITH; PATTEN; WHITE, E., 1864, p. 52 e 53).

Durante as últimas semanas, os dias têm sido excessivamente quentes, t) jornal diz
que isto se deve a um vento quente proveniente do norte. Ao começar esta carta, tive
de abrir minhas janelas a fim de obter algum ar fresco. Transpiro abundanlemente
e, então, sofro uma crise de espirros. Almejo que você não esteja sofrendo demasia-
damente com esse tempo quente {Hllen Cí. White, Carta 201, 1903).

15. Acautele-se contra interpretações extremas


Ellen G. White apontou um problema de M. L. Andreasen: "Quase todos os
membros da família humana comem mais do que o organismo requer" (WHITH, H.,
2002, p. 132). Ela os adverte:

Se os que advogam a reforma higiénica levam a questão a extremos, não será


de admirar que o povo se aborreça [ . . . ] Esses extremistas causam, em poucos
meses, mais dano do que podem desfazer em toda uma vida. F,mpenham-se
em uma obra que Satanás se apraz em ver prosseguir (...) É impossível estabe-
lecer uma regra dietética invariável pela qual regulamentar os hábitos dietéti-
cos de cada um (WHITE, E., 1993b, p. 153-155).

Em reformas, é preferível andar um passo aquém do limite, do que ir um passo além dele.
E se houver algum erro, deve este estar do lado das pessoas (WHITE, E., 1993b, p. 438).

Meu irmão, não deveis fazer da questão do regime uma prova para o povo de Deus; pois
perderão a confiança cm ensinos que são estirados ao ponto máximo de extensão. Deseja
o Senhor que Seu povo seja íntegro em todos os pontos da reforma prò-saúde, mas não
devemos ir a extremos (WHITE, E., 2002, p. 205 [escrevendo ao Dr. e Sra. D. H. Kress]).

Ê mais seguro e melhor para a causa da reforma que erremos, se tivermos de errar,
do lado do costume que do lado das mudanças extremas (WHITE, E., 1868 (aqui ela
focalizava o número de refeições diárias no caso das crianças pequenas)).
Princípios norte adores de interpretação

Ela conclui, então, que "devemos, porém, considerar a situação do povo, [... ]
sendo cautelosos em não insistir indevidamente, mesmo quanto a ideias correias"
(WHITE.E., 2002, p. 398).

16. Não construa o edifício sobre uma única palavra ou


mesmo uma única referência, teia tudo que for possível
sobre o assunto antes de esboçar as conclusões
Ellen G. White mencionou apenas uma vez os livros apócrifos, porém jamais
utilizou-os como fonte de citação.
Em relação ao adultério, ela afirmou que o adúltero deveria ser desligado da
igreja: "Aqueles que transgridem o sétimo mandamento devem ser suspensos da igre-
ja e não devem manter os privilégios da relação de membros da casa de Deus" (Ellen
G. White, Manuscrito 3, 1854). Em outro trecho, porém, ela diz que nem sempre é
requerido o desligamento: "Quando o seu caso foi aberto diante de mim e os seus pe-
cados me foram apresentados, conservei-os comigo, almejando que chegasse o tempo
em que o seu espírito fosse enternecido. Agora eu lhe imploro que você busque a
salvação de sua alma, antes que seja demasiado tarde" (Ellen G. White, Carta 23a,
1890). Em outro trecho, ela demonstra a tristeza que sentiria se tivesse que revelar o
pecado: "Possa o Senhor trazer a mais profunda convicção à sua alma, pois eu aprecia-
ria jamais trazer a público as coisas que me foram mostradas, e tenho a esperança de
que você tomará um curso de ação que tornará desnecessário que eu assim proceda"
(Kllen G. White, Carta 24a, 1890). Ela aconselha:
105
Limpai o campo dessa corrupção moral, atinja ela os mais altos homens nas
posições mais elevadas. Deus não será escarnecido. Há prostituição em nossas
fileiras, bem o sei (...) Muito há que nunca saberemos, mas o que é revelado
torna a igreja responsável e culpada, a menos que revele determinado esforço
para erradicar o mal. Limpai o acampamento, pois nele há anátema (WHITE,
E., 1993a, p. 427 e 428).

Outro assunto sobre o qual ela apresenta diferentes posições é quanto ao uso de
aparelhos de raios-x. Ela diz:

Fui instruída de que os raios-x não constituem a grande bênção que alguns supõem
ser. Se utilizados indevidamente, poderão provocar grande dano. O resultado de al-
guns tratamentos clctricos é similar aos resultados do uso de estimulantes. Segue-se
um enfraquecimento (COMPREHENSIVE, 1963, v. 3, p. 303).

Em outro momento, porém, ela afirma: "Por várias semanas me submeti a trata-
mentos de raios-x, para a mancha escura que eu tinha na fronte. Tomei ao todo vinte e
três aplicações, e elas conseguiram remover inteiramente a mancha. Por isso sou muito
grata" (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 303).
Espirito de Profecia

Na alimentação, ela advertiu quanto ao uso de ovos, dizendo que "ovos não deve-
riam ser colocados sobre a vossa mesa" (WHITE, E., 2008b, v. 2, p. 400) numa carta a uma
família cujas crianças possuíam fortes propensões animalescas; a publicação ocorreu num
artigo intitulado "Sensualidade nos Jovens". Contudo, ela chegou a afirmar em outra obra
que "em alguns casos, o uso de ovos é benéfico" (WHITE, E., 2006, v. 7, p. 135). Ponderan-
do sobre as duas posições, temos o seguinte trecho escrito também por ela:

Embora advertências tenham sido dadas em relação ao perigo de doenças pelo


uso de manteiga e do mal ocasionado pelo livre uso de ovos por parte de crian-
ças pequenas, não deveríamos considerar violação do princípio o uso de ovos
provenientes de galinhas bem cuidadas e adequadamente alimentadas. Os ovos
contêm propriedades que constituem agentes medicinais na neutralização de
certos venenos (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 162).

Referindo-se à nossa vida espiritual, há várias referências da profetisa. Na Bí-


blia, temos o texto de Judas 24, que deveria ser complementado por l João 2:1. Ellen
G. White escreve: "Se você permanecer sob a ensanguentada bandeira do Príncipe
Emanuel, executando fielmente o seu serviço, jamais necessitará render-se à tenta-
ção; pois a seu lado estará alguém capaz de preservá-lo de cair" (WHITE, E., 1961,
p. 19). Porém, ela afirma que, de fato, cairíamos em tentação: "Muitas vezes, teremos
de prostrar-nos e chorar aos pés de Jesus por causa de nossas faltas e erros; mas não
devemos desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos repe-
lidos, nem abandonados ou rejeitados por Deus" (WHITE, E., 1989, p. 64). Aliás, ela
diferencia o pecado deliberado do pecado não intencional:

Ser conduzido inesperadamente ao pecado — não havendo a intenção de pecar,


mas cedendo ao pecado em virtude de falta de vigilância e oração, não discernindo
a tentação de Satanás e assim caindo em sua armadilha — é algo muito diferente do
que a situação de quem planeja e deliberadamente cai em tentação, desenvolvendo
um curso de ação pecaminoso (WHITE, E., 1961, p. 177).

17. Considere o contexto


A própria mensageira do Senhor adverte sobre a contextualização das palavras
de Jesus: "Compreendendo o que as palavras de Jesus significavam para aqueles que
as ouviam, discerniremos nelas nova vivacidade e beleza, e seremos capazes de captar
para nós próprios as suas mais profundas lições" (WHITE, E., 1990, p. 1). "Deus quer
que todos nós tenhamos bom senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso
comum. As circunstâncias alteram as condições. As circunstâncias modificam a rela-
ção das coisas" (WHITE, E., 1987, v. 3, p. 217).
Em cartas sobre o irmão A. G. Daniells, ela diz: "Aquilo que pode ser dito
dos homens sob certas circunstâncias, não pode ser dito deles sob outras circuns-
tâncias" (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 670).
Princípios norteadores de interpretação

Nem o irmão Daniells, nem o irmão Prescott acham-se preparados para dirigir a obra na
Associação Geral, pois em algumas coisas têm eles desonrado o Senhor Deus de Israel
(Ellen G. White, lhe Later Elmshaven Years, p. 225).

A posição que você assumiu acha-se em harmonia com a vontade do Senhor,


e agora eu gostaria de estimulá-lo com as palavras: Avance de maneira como
iniciou, usando a sua posição de influência como presidente da Associação Ge-
ral para o avanço da obra que fomos chamados a realizar. ... Os anjos de Deus
estarão com o irmão e cabe-lhe usar toda a influência que o cargo de presidente
da Associação Geral lhe atribuiu, a fim de estimular outros a desempenhar a
mesma obra (Ellen G. White, Carta 68, 1910).

Apesar de todas estas diferentes citações e seus conteúdos aparentemente diver-


gentes, em seu testamento, que datava de 9 de fevereiro de 1912, Ellen G. White nomea-
va A. G. Daniells como um dos depositários que deveriam administrar os seus escritos.
Ela discursou também sobre os meios de transporte de sua época. Quanto à moda
das bicicletas, ela disse que "o dinheiro gasto em bicicletas e vestidos e outras coisas des-
necessárias, é algo de que teremos de prestar contas" (Ellen G. White, Carta 398, 1896).

Parecia haver uma moda de bicicletas. O dinheiro era gasto na gratificação de uni entu-
siasmo orientado nesta direcão, o qual teria sido melhor — muito melhor — aplicado
se investido na construção de casas de adoração onde estas se faziam grandemente
necessárias. Foram apresentadas diante de mim algumas coisas muito estranhas em
Battle Creek. Uma enfeitiçante influência parecia estar passando como onda sobre o
nosso povo deste lugar. Alguns lutavam pela supremacia, cada um tentando exceder os
demais na corrida de bicicletas. Havia um espirito de disputa e contenda entre eles, no
tocante a qual deles seria o maior (WHITE, E., 2006, v. 8, p. 51 e 52).

Uma possível razão para isso é que as bicicletas eram extremamente caras quando
foram inventadas.

Próximo ao final do século passado (XIX) o povo americano mergulhou numa


paixão de consumo que lhes deixou pouco tempo ou dinheiro para qualquer outra
coisa. Qual foi a nova e poderosa distração? Para obter a resposta, os comerciantes
necessitavam apenas olhar pelas janelas e ver seus antigos clientes passar zum-
bindo. A América descobrira a bicicleta, e todas as pessoas procuravam utilizar
ao máximo a nova liberdade que ela trouxera consigo. [ . . . ] A bicicleta começou
como brinquedo dos ricos. Pessoas da sociedade e celebridades andavam de bici-
cleta. A melhor das bicicletas primitivas custava $150, um investimento compará-
vel ao de um automóvel na atualidade [... ] Cada membro da família desejava uma
'roda', e por vezes as economias de toda a família eram utilizadas para atender a
demanda (Readers Digest, dezembro de 1954).
Espírito de Profecia

Sobre o uso de drogas, o primeiro artigo de Ellen G. White sobre a saúde foi es-
crito em 1864:

Foi-me mostrado que maior número de mortes tem sido causado pelo uso de drogas,
do que por todas as demais causas somadas [... ] Diante de mini foi apresentado um
ramo que sustentava sementes largas e achatadas. Sobre ele estava escrito: Nux vomi-
ca, estriquinina. Abaixo estava escrito: Não há antídoto. Muitos utilizam esse veneno
mortal em pequenas quantidades. Mas se eles soubessem qual a influência a que se
submetem, nenhum grão desta substância seria introduzido em seu organismo [...]
Foi-me mostrado que a inocente papoula branca, de aparência modesta, comporta
uma droga perigosa. O ópio representa um veneno de ação lenta, quando utilizado
em pequenas quantidades. Em doses maiores produz letargia e morte. Mercúrio, ca-
lomel e quinino têm contribuído com a sua quota de desgraça, o que somente o dia
de Deus revelará plenamente (WHITE, 1945, v. 4, p. 133, 138 e 139).

Já o primeiro livro sobre saúde, da autoria de Ellen G. White, How to Live, do ano
1865, diz que "a intérmina variedade de medicamentos que existe no mercado, os numero-
sos anúncios de novas drogas e misturas, todas, como dizem, produzindo curas milagrosas,
matam centenas enquanto trazem benefícios a um só" (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 454).
Quanto a intervenções cirúrgicas que exigem o uso de drogas, ela afirma serem
estas aprovadas pelo Senhor:

Quem esteve ao vosso lado, ao efetuardes essas operações melindrosas? Quem vos man-
teve calmo e dominado na crise, dando-vos discernimento rápido e perspicaz, vista cla-
ra, nervos estáveis e habilidosa precisão? O Senhor Jesus enviou Seu anjo para o vosso
lado, para vos dizer que fazer. Colocou-se uma mão sobre a vossa mão. Jesus, e não vós,
guiou os movimentos de vosso instrumento (WHITE, E., 2008a, v. 2, p. 285).

18. Procure os princípios básicos envolvidos, pois estes


não mudam, mas a aplicação deles pode variar em
oportunidades, lugares e culturas diferentes
Ao afirmar que as mulheres modestas devem cobrir-se com o véu (lCo 11:5),
Paulo estava discutindo um "costume" (verso 16) do primeiro século d.C. No presente
século não é necessário que uma mulher do mundo ocidental se cubra com um véu a
fim de ser considerada modesta.

19. Uma interpretação é provavelmente errada se ela se fizer


acompanhar de um espírito dessemelhante ao de Cristo
Uriah Smith pensou que Ellen G. White tivesse endossado sua posição quanto à
lei em Gaiatas na década de 1850, tão somente para abandoná-la na década de 1880. Ele
imaginou que ela havia modificado sua posição no tocante ao assunto, o que fez com
que ele, durante vários anos, questionasse o dom profético nela manifestado. Em 17 de
Princípios norteadores de interpretação

fevereiro de 1890, cerca de dezesseis meses depois da amarga discussão quanto à lei em
Gaiatas, que ocorreu em Minneapolis, ele escreveu à profetisa:

Segundo minha opinião, depois da morte do irmão White, a maior calamidade que
jamais se abateu sobre nossa causa ocorreu quando o Dr. [K. J.] Waggoner publicou
seus artigos quanto à lei em Gaiatas no Signs [1884 a 1886). Suponho que a questão da
lei em Gaiatas voltou à tona cm 1856, quando o irmão Pierce veio de Vermont a fim
de investigar a posição que o irmão J. H. Waggoner [pai do Dr. Waggoner] assumiu
em seu primeiro livro sobre a lei, a saber, que a lei mencionada em Gaiatas eram os
Dez Mandamentos. De qualquer modo, desde aquele tempo até o aparecimento dos
artigos no Signs havia entre nós — salvo algumas exceções individuais — unidade no
tocante a esta questão. Mas tal unidade foi então quebrada. Muitos foram lançados
em contusão, e as cartas acumularam-se nos escritórios da Review, querendo saber o
que significam estas coisas. Surpreendi-me com os artigos, pois me pareceu então — e
ainda me parece hoje — que eles contradiziam diretamcnte aquilo que a irmã escreveu
a }. H. Waggoner na ocasião a que aludi acima. A irmã percebeu que a posição dele
estava errada. K havia então apenas um assunto sob exame, ou seja, se a lei em Gaiatas
eram os Dez Mandamentos — contorme afirmava o irmão Waggoner — ou era o sis-
tema de leis mosaicas, segundo a posição do irmão Pierce. Minhas reminiscências so-
bre o assunto são bastante distintas, e se eu me encontrasse sob juramento numa corte
de justiça, seria obrigado a testificar que, tanto quanto eu soubesse e cresse, aquele era
o único ponto em questão; e no tocante a ele, a irmã declarou que o irmão Waggoner
estava equivocado (Uriah Smilh a Ellen G. White, 17 de fevereiro de 1890, Arquivo de
Correspondências Recebidas do Património White).

20. Várias mentes são melhores que uma


Sobre a individualidade na obra e o trabalho solitário, ela escreveu:

Vi então que todos os pastores deveriam ser perfeitamente unidos e que a igreja
sentiria esta união e os pastores seriam fortes; cada um saberia então exatamente a
obra que os outros estivessem realizando, e desse modo poderiam eles sustentar-se
mutuamente as mãos, e a igreja seria beneficiada; assim haveria apenas pequeno pe-
rigo de os pastores receberem erros perigosos que causariam a divisão do precioso
rebanho (Kllen G. White, Manuscrito 14, 1850).

Que ninguém confie em si mesmo, como se Deus lhe houvesse concedido luz espe-
cial, acima de seus irmãos [... ] A única segurança para qualquer um de nós, está em
não recebermos nenhuma nova doutrina, nenhuma nova interpretação das Escritu-
ras, sem primeiro submetê-la aos irmãos de mais experiência. Coloquemo-la diante
deles num espírito humilde e disposto a aprender, mediante oração sincera; se eles não
puderem ver luz nesta exposição, devemos submeter-nos ao seu julgamento; pois "na
multidão de conselheiros há segurança" (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 291 e 293).
Espírito de Profecia

A maravilhosa verdade de Deus deve ser pesquisada por cada mente, e o resulta-
do de muitas mentes deve ser reunido a partir de várias fontes como o depósito
hereditário de Deus, e o divino poder operará de tal modo que existirá verdadeira
harmonia (WHITE, E., 1894).

Todo obreiro deve guardar-se contra o pensamento de que é completo por si mesmo.
Meu irmão, você deveria aprender que, qualquer que seja a sua posição no serviço de
Deus, outras mentes, além da sua, deveriam ser postas em conexão com a obra. Você po-
derá desejar empreender coisas que, segundo o seu juízo deveriam ser feitas. Mas nem
sempre deverá ser seguida a sua vontade. Em alguns setores outras mentes podem ser
mais capazes de oferecer conselho sábio do que a sua; portanto, você deve aconselhar-se
com seus irmãos. Em vossas reuniões administrativas, permita que os outros membros
expressem livremente suas opiniões. Não considere seu próprio julgamento como sendo
plenamente suficiente para decidir os assuntos, sem que seja ouvida qualquer outra voz
(Ellen G. White, Carta 179,1902).

21. Não podemos esperar obter respostas definitivas


sobre todos os assuntos bíblicos
A Bíblia é apenas superficialmente compreendida. O estudo de toda uma vida
acerca dessas revelações sagradas, mesmo que acompanhado de muita oração, deixará
ainda muitos assuntos sem explicação. Tanto na revelação divina quanto na natureza,
Deus outorgou certos mistérios aos homens a fim de dirigir a sua fé. Assim deve ser.
Devemos estar sempre pesquisando, sempre inquirindo, sempre aprendendo, e ainda
assim haverá um infinito diante de nós (WHITE, E., 2006, v. 8, p. 261).
Podemos compreender tanto de seus propósitos quanto seja para o nosso bem;
além desse ponto, devemos confiar no poder da onipotência, e no amor e sabedoria do
Pai e Soberano sobre todos (WHITE, E., 2006, v. 5, p. 699, 675 e 701).

Referências
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112
O papel de Ellen G. White
no desenvolvimento
das doutrinas da IASD

Jerry Moon

Muitos adventistas supõem erroneamente que suas crenças tiveram origem nas
visões de Ellen G. White. A típica opinião de não adventistas é a de G. H. Shriver (1981,
p. 672), autor de um artigo sobre o "Adventismo do Sétimo Dia" no Abingdon Dictiona-
ry of Living Religions: "A origem da autoridade para a crença é a Bíblia, mas os escritos
de Ellen G. White são tidos em tão alta estima que para todas as intenções práticas, é a
Bíblia como interpretada por Ellen G. White."
Nem todos têm o mesmo ponto de vista. O Dr. Roger Nicole, eminente académico e
fundador da Sociedade Teológica Evangélica, comentou com um estudante da Universida-
de Andrews, na Convenção Anual de 2003, em Atlanta: "Eu aprecio muito os adventistas
do sétimo dia. Eles têm a mais elevada visão das Escrituras do que qualquer outra pessoa
que já conheci. Ellen G. White acreditava profundamente nas Escrituras." Um estudo sobre
o crescimento da igreja revelou que os adventistas que se consideram "leitores regulares
ilos eset ilosde líllui G. White" Ia/em provavelmente quase Ju.is ve/es mais esmdn pessoal
diário da Bíblia do que os que não lêem o Espírito de Profecia (NICOLE, 1982, p. 11).
Uma das mais claras evidências da prioridade das Escrituras nas experiências e
ensinos de Ellen G. White é uma série de sete conferências preparadas pelos pioneiros
do movimento adventista, em 1848. Acredito ser absolutamente essencial que nos lem-
bremos da história e especialmente das lições espirituais obtidas nestas conferências,
visto que elas estabeleceram os fundamentos da igreja a partir das Escrituras.
Naturalmente, o princípio Sola Scriptura não é novo. Esse princípio é um funda-
mento clássico do protestantismo de reforma. Todavia, na prática, o princípio raramente
é considerado por mais de um breve período de tempo. No decorrer da história, existe a
tendência de criar-se tradições e costumes que sobrepõem-se às Sagradas Escrituras como
base para fundamentações doutrinárias. Uma forma de corrigir essa tendência é fazer
urna pausa, de tempos em tempos, para se reexaminar os fundamentos da fé, a fim de
nos assegurarmos de que nossas certezas estão sendo fundamentadas sobre as Escrituras.
Uma das maiores defensoras da fundamentação bíblica como principio de
vida, na Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), foi uma jovem que estava presente
em todas as sete reuniões de 1848 e possuía apenas 21 anos de idade. Acerca do
princípio da Sola Scriptura, ela escreveu:
Espírito de Profecia

Mas Deus terá sobre a Terra uni povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como
norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens
ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos,
tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria
— nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como
prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer
doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro "Assim diz o Senhor"
(WHITE, E., 2005, p. 595).

Ela apresenta constantemente a ideia de que a Bíblia, por si mesma, é o mais alto
padrão pelo qual todos os outros devem ser testados. Comentando a relação entre a
Bíblia e o dom de profecia, ela escreveu:

O Espírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura, pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo
ensino e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo
o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas
se têm levantado no mundo" (l)o 4:1) e Isaías declara: "À lei e ao Testemunho!
se eles não falarem segundo esta palavra, não haverá manhã para eles (Is 8:20)"
(WHITE, E., 2005, p. viii).

Ainda hoje, esse conceito continua sendo o ensino fundamental da IASD,


considerado como o princípio básico de nossas Crenças Fundamentais. O tes-
te para qualquer crença deve passar pelas Escrituras. As Conferências Sabáticas
(1848-1850), por exemplo, evidenciaram que o uso do princípio Sola Scriptura foi
estimado pelos pioneiros adventistas.
Para compreendermos melhor o ocorrido de 1848, devemos retroceder quatro
anos (1844) até o período do Grande Desapontamento. Na ocasião, os milleritas
adventistas esperavam a segunda vinda de Cristo para outubro de 1844. O evento
foi um exemplo devastador resultante da aceitação de suposições não bíblicas como
fundamentos doutrinários. Os milleritas adventistas acreditaram que o "santuário"
a ser purificado em Daniel 8:14 era a terra. Assim, eles pensaram que a purificação
do planeta ocorreria através do fogo, na segunda vinda de Cristo. Perceba como
uma única ideia não bíblica (de que o santuário representava a terra) ocasionou um
dos maiores desapontamentos na história do cristianismo.
Logo após o desapontamento, o movimento millerita fragmentou-se em diver-
sas opiniões. Aqueles que defenderam a guarda do sétimo dia como "o sábado", foram
considerados fanáticos e distanciados de seus antigos irmãos milleritas, referidos como
"adventistas do primeiro dia" por aqueles que começavam a ser conhecidos como os
"adventistas do sétimo dia". O nome "adventista do sétimo dia" se oficializaria somente
em 1860; a Associação Geral não foi organizada até 1863; antes de 1848, entretanto, a
forma doutrinal da IASD já começava a aparecer.
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

O relacionamento entre as visões e o estudo da Bíblia no


desenvolvimento doutrinário adventista antes de 1850
Conferências sobre o Sábado e o Santuário (1848-1850)
O termo "Conferências Sabáticas" ou "Conferências sobre o Sábado e o Santuário"
referem-se a uma série de 23 reuniões entre abril de 1848 e dezembro de 1850. As confe-
rências ocorreram na região nordeste dos Estados Unidos, onde começou um processo
de formação de um consenso entre ex-milleritas adventistas que, em dois anos, levou à
formação de um núcleo de doutrinas mutuamente aceitas. As bases bíblicas para funda-
mentação doutrinária culminaram na organização da Associação Geral dos Adventistas
do Sétimo Dia, 15 anos depois. Sete reuniões ocorreram em 1848, seis em 1849 e dez em
1850 (MAXWELL, 1994, p. 325-327).

Visão histórica das Conferências de 1848


A cidade de Rocky Hill, em Connecticut, nos dias 20 a 24 de abril (quinta a do-
mingo), foi sede de uma reunião na casa de Albert Belden, uma "grande sala inacabada".
Essa foi a "primeira reunião geral dos adventistas do sétimo dia" (WHITE, J., 1868, p.
271). O principal orador desse momento foi José Bates e o tema abordado foi o sábado.
Uma média de "50 pessoas" participaram do evento (WHITE, E., 1858, v. 2, p. 93).
Outra conferência dessa natureza ocorreu em Bristol, Connecticut, em junho de 1848.
Pode-se considerar também a reunião de Volney, Nova Iorque, 18-19 de agosto
(sexta e sábado), no celeiro de David Arnold. Ellen G. White relembra que
115
havia por volta de 35 pessoas presentes; todas as que puderam ser ajuntadas naquela
parte do Estado. Era difícil que dois concordassem entre si. Cada qual defendendo seu
ponto de vista, declarando que eles estavam de acordo com a Bíblia. Todos estavam an-
siosos por uma oportunidade de mostrar seus sentimentos ou apresentar sermões. Foi
dito a eles que não tínhamos percorrido esta distância tão grande a fim de ouvi-los, mas
tínhamos vindo para ensinar-lhes a verdade (WHITE, E., 1858, v. 2, p. 97-98).

David Arnold, o anfitrião dessa reunião, mantinha três "estranhas diferenças de


opinião": 1) O milénio de Apocalipse 20 já havia passado; 2) os 144 mil eram aqueles
que ressuscitaram na ressurreição de Cristo; e 3) a Ceia do Senhor deveria ser celebrada
somente na páscoa anual (WHITE, E., 1858, v. 2, p. 97-98).
Bates pregou sobre o sábado e Tiago White explanou sobre Cristo no santu-
ário. Duas visões dadas a Ellen G. White resolveram as diferenças para que aquela
reunião terminasse em união.
Em outro momento, a reunião foi em Port Gibson, Nova Iorque, 27-28 de agosto
(domingo e segunda), no celeiro de Hiran Edson. Ellen G. White teve outra visão insis-
tindo pela unidade "sobre a verdade da Bíblia" (WHITE, E., 1858, v. 2, p. 99).
Ademais, Rocky Hill, Connecticut, também serviu como sede nos dias 8-9 de
setembro (sexta e sábado), na casa de Albert Belden novamente.
Espírito de Profecia

Além dessas, houve também a reunião de Topsham, Maine, 20-22 de outubro


(sexta a domingo), em casa de Stockbridge Howland, engenheiro civil, onde novamente
Bates e Tiago White falaram sobre o sábado e o santuário, respectivamente.
Por último, em Dorchester (agora parte de Boston), Massachusets, 17-19 de no-
vembro (sexta a domingo), na casa de Otis Nichols, houve mais uma reunião na qual
foi levantada a questão: "O que é o selo de Deus em Apocalipse 7:1-3?" F.llen G. White
recebeu uma visão indicando que o selo era o Sábado.

A avaliação retrospectiva de EUen G. White sobre processo de estudo


Os resultados das conferências sabáticas foram tidos pelo grupo de estudiosos
como um sucesso. Foi por meio do processo utilizado que se pôde chegar ao ponto em
que Ellen G. White escreveu: "Nós sabemos que temos a verdade" (EUen G. White, Car-
ta 30, 1850). Como avaliação retrospectiva, Ellen G. White complementa:

Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de
nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiram] Edson e outros
que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo
em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles e estu-
dávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite e
às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se
reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem prepa-
rados para ensiná-la com poder. Quando em seu estudo chegavam a ponto de dizerem:
"Nada mais podemos fazer", o Espírito do Senhor vinha sobre mini e eu era arrebatada
em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando,
com instruções quanto à maneira pela qual devíamos trabalhar e ensinar eficientemente.
Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de
Cristo, sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma sequência de verdades que se
estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti
aos outros as instruções que o Senhor me dera (WHITE, E., 2008, v. l, p. 206-207).

Em outra ocasião, Ellen G. White novamente comenta a respeito do processo de


estudo baseado no sincero consentimento dos membros presentes e na intervenção do
Espírito Santo nos momentos em que a limitação humana os impedia de prosseguir:

Reuníamo-nos sentindo angústia de alma, a fim de orar para que fôssemos um na fé e


doutrina, pois sabíamos que Cristo não está dividido. Cada vê/ tomávamos um ponto
para assunto de nossa pesquisa. Abriam-se as Escrituras com sentimento de temor. Je-
juávamos frequentemente, a fim de pôr-nos em melhor disposição para compreender
a verdade. Se depois de fervorosa oração, não compreendíamos algum ponto, o discu-
tíamos, e cada qual exprimia livremente sua opinião. De novo então nos curvávamos
em oração, e ardentes súplicas ascendiam ao Céu para que Deus nos ajudasse a ver
de uma mesma maneira, para que fôssemos um, como Cristo e o Pai são um. Muitas
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

lágrimas eram derramadas. Assim passávamos muitas horas. Algumas vezes passáva-
mos a noite toda em solene busca das Escrituras, para compreender a verdade para o
nosso tempo. Em algumas ocasiões o Espírito de Deus descia sobre mim, e porções di-
fíceis eram esclarecidas pelo modo indicado por Deus, e havia então perfeita harmo-
nia. Éramos todos de um mesmo pensamento e espírito (WHITK, E., 2002, p. 24-25).

Análise do processo teológico: uma vitoriosa


busca pela verdade e unidade
Na ocasião posterior ao Grande Desapontamento, segundo Hllen (i. White, homens
"inteligentes, nobres e verdadeiros" procuravam diligentemente estudar as Escrituras em
busca de respostas, devido às dúvidas levantadas a respeito da segunda vinda de Cristo e
dos fundamentos da fé cristã (WHITE, 2008, v. l, p. 206); dentre os membros que com-
punham o grupo, os principais oradores foram José Bates e Tiago White. Segundo Ellen
G. White, buscava-se "a verdade como a tesouros escondidos" (WHITE, E., 2008, v. l, p.
206; 2002, p. 24); nos momentos da reunião, "abriam-se as Escrituras com sentimento de
temor" (WHITE, E., 2002, p. 24). Tais sentimentos regeram as reuniões naquela ocasião.
A principal motivação dos reunidos girava em torno da "união", sob a justificativa
de que se "Cristo não está dividido" (WHITE, E., 2002, p. 24), igualmente não deveria
existir entre eles nenhuma desavença. Ademais, os estudiosos nutriam o propósito de
conhecer o significado da Bíblia, obtendo, assim, o devido preparo escriturístico para
o ensino de outras pessoas (WHITE, E., 2008, v. l, p. 206). Dessa forma, para que seus
objetivos fossem cumpridos, alguns métodos de estudo foram utilizados:
117

A unidade de estudo e oração em grupo foram estabelecidos como princípios


básicos de pesquisa (WHITE, E., 2008, v. l, p. 206; 2002, p. 24-25);

• A investigação de um ponto em particular por vez (WHITE, H., 2002, p. 24);

• Não estender a discussão sobre pontos em que as discordâncias fossem pequenas;1

• A apresentação das opiniões pessoais de cada membro da reunião; 2

• A busca pelo /elo intcrpretativo, a fim de "que as Escrituras não fossem tor-
cidas para adaptarem-se às opiniões de qualquer pessoa" (WHITE, E., 2002, p. 25);

1
Conforme ela alega: "Procurávamos fazer com que nossas divergências de opiniões fossem
tão pequenas quanto possível, não insistindo sobre pontos que eram de menor importância, a
respeito dos quais havia opiniões divergentes" (WHITE, E., 2002, p. 25).
Ela explica: "Se, depois de fervorosa oração, não compreendíamos algum ponto, nós o discutí-
amos, e cada qual exprimia livremente sua opinião" (WHITE, E., 2002, p. 25).
Espírito de Profecia

• O apaziguamento dos "sentimentos naturais do coração" quando pontos dis-


cordantes fossem levantados.3
Dentre os muitos esforços despendidos para a interpretação das Escrituras e o enten-
dimento de pontos controversos, é interessante notar a intensidade da busca dos estudiosos
pela luz da Palavra de Deus através da diligência técnica e da oração constante: "Muitas vezes
ficávamos reunidos até alta noite, e, às vezes, a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra"
(WHITE, E., 2008, v. l, p. 206). Frequentes jejuns eram feitos a fim de se colocarem em melhor
disposição para compreender a verdade nas Escrituras (WHITE, £., 2002, p. 24). A intensidade
dos estudos e a sede pelo conhecimento correto das verdades bíblicas eram evidenciadas pela
persistência na realização de várias reuniões — pelo menos sete finais de semana durante 1848.
Para o bom entendimento do estudo, foi seguida uma ordem na qual as Escrituras
eram estudadas até atingirem os limites das habilidades do entendimento humano atra-
vés das evidências disponíveis: "Quando, em seu estudo, chegavam a ponto de dizerem:
'Nada mais podemos fazer', o Espírito do Senhor vinha sobre [Ellen G. White, e ela] era
arrebatada em visão, sendo-lhe dada uma clara explanação das passagens que estiveram
estudando" (WHITE, E., 2008, v. l, p. 206-207). Evidentemente, a direta revelação do
Espírito Santo através de visões não era dada até que eles tivessem examinado totalmen-
te as evidências bíblicas. A partir dos estudos e das revelações divinas, os resultados ob-
tidos foram "claras explanações das passagens" sob investigação, sendo que até mesmo
"porções difíceis eram esclarecidas pelo modo indicado por Deus" (WHITE, E., 2002, p.
25). O sistema doutrinário também foi compreendido dessa forma:
118
Foi-nos proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de
Cristo, sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma sequência de verdades
que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus
(WHITE, E., 2008, v. l, p. 207).

Assim, a unidade de entendimento providenciou a base para a unidade de ação:


"havia então perfeita harmonia. Éramos todos de um mesmo pensamento e espírito"
(WHITE, E., 2002, p. 25).

Doutrinas nas quais houve consenso antes de 1850


Dentre as diversas doutrinas que compõem o corpo de crenças dos adventistas do
sétimo dia, anteriormente a 1850, já existiam algumas doutrinas essenciais que lançavam

"Algumas vezes, um ou dois irmãos obstinadamente se opunham à opinião apresentada e


agiam de acordo com os sentimentos naturais do coração; quando, porém, essa disposição apare-
cia, suspendíamos nossas pesquisas e adiávamos a reunião para que cada um tivesse a oportuni-
dade de buscar a Deus em oração, e, sem consulta com outrem, estudasse o ponlo de divergência,
rogando luz do Céu. Com expressões de amizade nos despedíamos para, de novo, nos reunir tão
breve quanto possível para mais pesquisas" (WHITE, E., 2002, p. 25).
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

fundamento ao movimento da época. Delas, enumeram-se: l) o Segundo Advento de Cristo;4


2) o Sábado; 3) os Dons Espirituais; 4) o Santuário; 5) as Três Mensagens Angélicas; 6) o Esta-
do dos Mortos; 7) a Segunda Morte;'* 8} as Sete Últimas Pragas; e 9) a Porta Fechada.*1

Um exemplo do desenvolvimento doutrinário após 1850: o


"horário do início do sábado" (1855) (WHITE, J., 1855a, p. 75;
1855b, p. 78; 1868; ANDREWS, 1855, p. 76-78)
Com respeito à controvérsia sobre o "tempo de início do sábado", José Bates, um
marinheiro aposentado, baseando sua argumentação em Levítico 23:32, assegurou que
"tarde" no contexto do verso quer dizer "horário equatorial, 6 da tarde" (18 horas).
Como José Bates era o líder principal entre os que advogavam a causa do sábado no
meio adventista, a sua opinião foi respeitada e seguida pela maioria (WHITE, A,, 1993,
v. l, p. 200). Alguns guardadores do sábado do estado do Maine, em 1847 e 1848, cita-
ram o trecho de Mateus 38:1 (KJV) como apoio para o início do sábado "ao nascer do
sol", mas uma visão de Ellen G. White, em 1848, refutou o costume.
Em junho de 1848, um incidente quanto ao horário das 18 horas foi aceito como
uma confirmação de que o início do sábado se dava nesse horário. Como resultado, de
1847 a 1855, poucos começavam guardar o sábado ao pôr do sol, a maioria seguindo o
horário das 18 horas. Preocupado com essa diferença de opinião, Tiago White solicitou,
em junho de 1854, a D. P. Hall, de Wisconsin, que estudasse o assunto. Entretanto, nada
obteve de Hall, que, preocupado com a teoria da "Era Vindoura" juntou-se a um grupo
partidário chamado Messenger, o primeiro desdobramento dos adventistas sabatistas.

4
Essa crença assume a total interpretação escatológica do millerismo, particularmente o
princípio día-ano.
Ou seja, a aniquilação final do mal e dos pecadores. George Storrs em duas publicações: An In-
quiry: Are the Souls of the Wícked Immortal? In 'Ihree Letters (publicado anonimamente, 1841),
c An Inquiry: Are the Souls of the Wicked Immortal? In Six Sermons (publicado em 1842). Ellen
G. White comenta posteriormente: "Nossa identidade pessoal é preservada na ressurreição [...]
O espírito, o caráter do homem, volta a Deus, para ser preservado. Na ressurreição, toda pessoa
terá seu próprio caráter. Deus, em seu devido tempo, despertará os mortos, dando novamente o
fôlego de vida e ordenando que os ossos secos vivam. Aparecerá a mesma forma, mas estará isenta
de doenças e de todo defeito. Revive apresentando as mesmas características pessoais, de modo
que um amigo reconheça o outro" (Ellen G. White, Manuscrito 76, 1900).
Essa doutrina foi gradualmente redefinida (ver folheto, "Steps in the Changing Usagc of the Term
'Shut Door"'; NICHOL, 1951, p. 176-252; WHITE, J., 1847, p. 22; WHITE, A., 1993, v. l, p. 256-270,
60-61,78,96,140, 160-161, 191-192; DOUGLAS, 2009, p. 500-512,549-569; WHITE, 2005, p. 428-
431). Por volta de 1850, os principais pilares doutrinários estavam consolidados. A "Porta Fechada"
de 1844 (Ml 25:10) era agora vista como "aberta" (Ap 3:7-8); cm seis anos de progresso teológico os
pioneiros haviam desenvolvido convicções bem fundamentadas de sua mensagem e missão.
Espirito de Profecia

No verão de 1855, Tiago White repetiu a solicitação a J. N. Andrews, que preparou um


estudo de aproximadamente 4.500 palavras apresentando evidências (retiradas das Es-
crituras e de outras fontes) de que o sábado começa ao pôr- do sol da sexta-feira. Esse
estudo foi apresentado à conferência de Battle Creek, em 17 de novembro de 1855, e foi
publicado na Review de 4 de dezembro de 1855.
Muitos dos participantes acharam os argumentos de Andrews convincentes. Todos
os presentes concordaram que o sábado deveria ser celebrado de pôr do sol a pôr do sol,
exceto José Bates e Ellen G. White. Na terça feira, 20 de novembro de 1855, porém, ela
recebeu uma visão que endossa a visão do pôr do sol (WHITE, E., 2006, v. l, p. 113,116).

Análise do processo investigativo em


comparação e contraste com o de 1848
O estudo superficial da Bíblia e as suposições interpretativas de José Bates levaram ao
início de uma tradição. A visão contrária à proposta do pôr do sol foi assumida em apoio à pro-
posta das 18 horas. A falta de evidências claras das Escrituras Sagradas, somada às suposições
interpretativas, levou à aceitação sem críticas de supostas confirmações de evidências (o dom
de línguas a favor da visão das 18 horas [WHITE, A., 1993, p. 199-200]).
No entanto, um estudo mais abrangente refutou as suposições interpretativas. Duas
pessoas concluíram que a prática antiga da igreja havia sido abençoada por Deus e acredi-
tavam que aquilo devia ser correto. Providencialmente, o Espírito Santo enviou evidências
adicionais na forma de uma visão que confirmou os resultados do estudo abrangente da
Bíblia. Como resultado, houve, finalmente, unidade em um dos aspectos mais salientes de
120
estilo de vida adventista, a observância do sábado de pôr do sol a pôr do sol.

Quatro critérios acerca da relação entre o estudo da Bíblia e


as visões na formação da doutrina adventista
1. As visões de ajuste das discordáncias doutrinárias,
não impondo autoridade superior, mas chamando
atenção à relevância das Escrituras Sagradas
O primeiro exemplo é a conferência em Volney, em agosto de 1848. Nessa ocasião,
David Arnold, cujo celeiro foi o local da reunião, manteve três "diferenças estranhas de
opinião": 1) de que o milénio de Apocalipse 20 já havia passado; 2) de que os 144 mil
eram aqueles que ressuscitaram na ressurreição de Cristo; 3) de que a Ceia do Senhor
deveria ser comemorada somente uma vez por ano, sendo esta na Páscoa.
Como Arnold "falou sobre os 1.000 anos estarem no passado", Ellen G. White
"sabia que ele estava errado" (WHITE, E., 1858, v. 2, p. 98), mas não sabia como refutar
o erro (WHITE, E., 2008, v. l, p. 207). Havia uma razão notável pela qual ela não sabia
como refutar o erro dele. Ela escreveu:

Durante todo o tempo eu não podia compreender o arrazoamento dos irmãos.


Minha mente estava por assim dizer fechada, não podia compreender o sentido
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida.
Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos
principais de nossa té, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que,
quando não estava em visão, eu não compreendia esses assuntos e aceitaram como
luz direta do Céu as revelações dadas. Por dois ou três anos, minha mente continuou
cerrada ao entendimento das Escrituras. No decorrer de nossos trabalhos, meu ma-
rido e eu visitamos o Pai Andrews, que sofria intensamente de reumatismo infla-
matório. Oramos por ele. Impus as mãos sobre sua cabeça e disse: "Pai Andrews, o
Senhor Jesus te dê saúde." Foi curado instantaneamente. Levantou-se e andou pelo
aposento, louvando a Deus e dizendo: "Nunca dantes vi isto. Anjos de Deus estão
neste aposento." Revelou-se a glória do Senhor. Toda a casa parecia resplandecer
de luz, e um anjo pôs-me a mão sobre a cabeça. Desse tempo em diante tenho sido
capaz de compreender a Palavra de Deus (WHITE, E., 2008, v. l, p. 207).

A cura do pai Andrews ocorreu em dezembro de 1850. Assim, esses "dois ou três
anos" a que ela se refere acima correspondem quase que exatamente ao período das
conferências de 1848-1850 (WHITE, E., 2008; v. l, p. 207). Por isso, na Conferência em
Volney, NY, ela foi incapaz de refutar o erro do irmão Arnold, embora ela tenha reco-
nhecido que a crença dele estava errada. "Uma grande dor pressionava o meu espírito",
ela revogou, "porque me pareceu que Deus foi desonrado" (WHITE, E., 1858, v. 2, p.
98). Sob tamanha ansiedade, ela desmaiou. Imediatamente, cinco dos homens presentes
— José Bates, E. L. H. Chamberlain, H. S. Gurney, Hiram Edson e Tiago White — for-
maram um círculo de oração e intercederam por ela.
Contudo, uma visão deu respostas bíblicas às "estranhas diferenças da opinião". Aos
anciãos orarem, ela se reanimou, mas não voltou à consciência. Em visão, inconsciente do
que acontecia na ocasião, ela levantou uma grande Bíblia e começou a virar as páginas,
indicando os textos relevantes para as questões em discussão. Ao mesmo tempo, os seus
olhos estavam virados "para cima e em uma direção oposta à da Bíblia", como se estivesse a
ver algo distante (LOUGHBOROUGH, 1885). Knquanto aqueles em volta dela documen-
tavam curiosamente o seu comportamento aparente, ela mesma estava "perdida das coisas
terrestres". Quando a visão terminou e ela novamente percebeu o que acontecia ao seu
redor, ela contou ao grupo que o seu "anjo companheiro" tinha explicado "alguns dos er-
ros daqueles que estavam presentes, e também a verdade em contraste com os seus erros".
O método pelo qual as visões resolveram discordâncias doutrinárias foi o de
chamar a atenção a passagens específicas das Escrituras Sagradas e relevantes para o
seu estudo. Como Loughborough observou,

a razão porque essas pessoas desistiram de suas diferenças não foi simplesmente
porque a Irmã White disse que eles devessem abandoná-las, mas porque na mesma
visão eles foram dirigidos a afirmações claras das Sagradas Escrituras que refutaram
as falsas teorias que lhes haviam sido apresentadas, em contraste com a direta e
harmoniosa verdade Bíblica (WHITE, A., 1993, v. l, p. 142).
Espírito de Profecia

2. As visões sentenciam indivíduos de seu dever pessoal, não impondo


autoridade sobre eles, mas apontando-os às Sagradas Escrituras
Um exemplo disso é a parada da viagem em Hannibal, NY (entre Volney e Port
Gibson, agosto 1848). No caminho de Volney para Port Gibson, José Bates, Tiago e El-
len G. White, irmão e irmã Edson e o irmão Simmons pernoitaram com a família Snow
em Hannibal, onde havia entre 8 e 10 crentes. Tiago White informou, em uma carta a
Leonard e Elvira Hastings, que,

pela manhã, Elíen foi tomada em visão e enquanto ela estava em visão, todos os
irmãos [e irmãs] chegaram. Foi um momento poderoso. Um dos irmãos não esteve
presente no sábado, mas era humilde e bom. Ellen levantou-se em visão, tomou uma
grande Bíblia e levantou-a perante o Senhor. Falando sobre ela, logo ela levou a Bí-
blia até aquele humilde irmão que não esteve no sábado, e a pôs nos seus braços. Ele
tomou-a, enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto. Então Ellen veio e sentou-se
ao meu lado. Ela esteve em visão por uma hora e meia e neste tempo ela não respi-
rava de forma alguma. Este foi um momento comovente. Todos choraram de alegria
(Tiago White, carta ao Irmão e Irmã Hastings, ago. 26, 1848).

Surge, então, a questão: por que em todos esses exemplos em que Ellen G. Whi-
te esteve em visão, ela levantava Bíblias, as transportava, citava textos dela e a levava
às pessoas de modos os mais impressionantes? Porque esse gesto (que aconteceu pelo
menos cinco vezes nos primórdios da igreja) foi altamente significativo? Nos relatos
de suas ações durante as visões, uma das suas atividades mais frequentes e notáveis era
a de abrir, transportar e fazer citações da Bíblia. A pergunta tem uma resposta clara e
simples: porque essa foi a essência da sua missão: exaltar a Bíblia.

3. Normalmente, as visões forneciam luz futura somente depois que


os fiéis tivessem feito um profundo estudo da Bíblia sobre o tópico
Um exemplo disso são as conferências em Dorchester, que ocorreram entre os dias
17 a 19 de novembro de 1848. Na cidade de Dorchester (agora parte de Boston), Massachu-
setts, elas ocorreram na casa do impressor Otis Nichols. As reuniões anteriores seguiram o
modelo de um seminário "evangélico" com Tiago White e José Bates fazendo as apresen-
tações evangélicas sobre o sábado e a compreensão do santuário. A conferência de Dor-
chester foi mais semelhante a um concílio de líderes. Nessa ocasião, José Bates apresentou
alguns materiais que foram estudados por todos, sendo uma "nova luz" naquele momento.
A pergunta em pauta era "Qual é o selo de Deus em Apocalipse 7:1-3?". José Bates
havia publicado, em janeiro de 1848, um livro intitulado The Vindication ofthe Sabbath,
onde ele coloca a sua compreensão de que o selo representa o caráter desenvolvido através
da obediência à lei de Deus, mas o grupo queria mais luz. Após a apresentação inicial de
Bates, Ellen G. White foi tomada em visão e foi auxiliada acerca de um ponto em particu-
lar na lei de Deus. Em sua visão, o sábado foi especialmente apresentado como o "selo da
verdade", ampliando, assim, as conclusões anteriores de Bates (sem as contradizer).
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

Dessa forma, o grupo testou um novo conceito para um futuro estudo da Bíblia.
Na mesma visão, Ellen G. White recebeu mensagens específicas para Tiago White e José
Bates. A mensagem para Bates dizia que ele deveria escrever naquele momento o que ele
tinha visto e ouvido em seus estudos, e que a bênção de Deus estaria sobre ele. Eviden-
temente, o motivo de evitar escrever depois da Conferência em Topsham foi porque ele
ainda não havia chegado a uma completa compreensão do selamento. A partir de então,
ele foi intimado a escrever, inclusive, sobre o que ele tinha visto e ouvido por ocasião da
visão de Ellen G. White em Dorchester. A mensagem para Tiago White foi a que segue:

Você deve começar a publicar uni pequeno folheto e enviá-lo às pessoas. Deixe-o
ser pequeno de início, mas ao lê-lo, as pessoas lhe enviarão recursos para que você
possa continuar com a impressão deles, e ele será um sucesso desde o princípio. Foi-
-me mostrado que a partir deste pequeno começo, seriam como claros raios de luz
que circulariam o mundo (WHITE, E., 1943, p. 125).

Poucos meses depois, em julho de 1849, Tiago começou a publicação de um pe-


riódico chamado The Present Truth, que enfatizava a doutrina do sábado. Em 1850, ele
começou outro periódico intitulado The Adventist Review, que era um resumo dos en-
sinamentos dos milleritas adventistas sobre as profecias na Bíblia, enfatizando a mais re-
cente compreensão sobre o santuário. Os dois periódicos logo se juntaram sob o título de
Second Advent Review and Sabbath Herald. Assim, os raios de luz "circularam o mundo".

4. Até mesmo os erros dos adventistas não foram


corrigidos por meio de visões sem antes terem feito um
profundo estudo da Bíblia nos assuntos em questão e,
especialmente, se haviam ameaças sérias de desunião
A conferência de 1855, por exemplo, abordou o "momento do início do sábado".
A pergunta dirigida a Tiago White foi: se as visões são dadas para corrigir erros, por que
Deus permitiu que os fiéis guardassem o sábado das 18h às 18h por nove anos antes de
corrigi-los? A resposta de Tiago foi:

A obra do Senhor sobre este ponto está em perfeita harmonia com suas manifes-
tações a nós sobre outros pontos, e em harmonia com a posição correia sobre os
dons espirituais. Não parece ser o desejo do Senhor ensinar o seu povo através
dos dons do Espírito sobre questões bíblicas até que seus servos tenham diligen-
temente estudado sua Palavra. Quando isto foi feito com o assunto do horário
de se iniciar o sábado, e a maior parte [dos adventistas] estavam convictos desta
interpretação, alguns estiveram em perigo de estarem em desarmonia com o
corpo da igreja neste assunto; então foi o momento para Deus ampliar a sua
bondade na manifestação do dom do seu Espírito na realização do seu próprio
trabalho. As Escrituras Sagradas nos são dadas como regra de fé e dever, e so-
mos ordenados a examiná-las. Quando falharmos em compreender e obedecer
Espírito de Profecia

completamente suas verdades porque não as buscamos na Bíblia como deverí-


amos ou quando não almejarmos consagração e discernimento espiritual e, em
consequência disso, Deus em sua misericórdia e tempo nos corrigir através de
alguma manifestação dos dons do Espírito Santo, reconheçamos humildemente
sua misericórdia e o louvemos por sua infinita bondade por, ainda assim, con-
descender em nos corrigir ao invés de lamentarmos por Ele não tê-lo feito antes.
Deixe que os dons tenham seu lugar apropriado na igreja. Deus nunca os priori-
zou, mas ordenou que permitamos que eles nos conduzam à vereda da verdade
e ao caminho para o céu. A sua palavra Ele tem exaltado. As Sagradas Escrituras,
tanto o Antigo como o Novo Testamento, iluminam o caminho do homem ao
reino celestial. Siga-a. Mas se você erra ao interpretar a verdade Bíblica e está em
perigo de se perder, pode ser que Deus, a seu tempo, o corrija e o leve de volta à
Bíblia e o salve (WHITE, J., 1868).

Tiago White viu duas razões por que Deus interveio quanto ao tempo do início
do sábado. A primeira alega que Deus esperou que os fiéis pesquisassem seriamente as
Escrituras Sagradas tentando resolver a questão; e a segunda, que Deus agiu (neste caso)
antes que a discórdia se espalhasse na atual separação da igreja.

Nova confirmação de que as Escrituras Sagradas devem ter


prioridade em relação ao Espírito de Profecia
1 OA
A conclusão acima sobre o estudo da Bíblia tomar o primeiro lugar e o Espírito
de Profecia, o segundo em importância, é confirmada pelo que Ellen G. White escreveu
"sobre a luz maior e a luz menor" c o seu conselho a um pastor proeminente sobre o uso
de seus escritos na preparação de sermões para a pregação.
Sobre a "luz menor" e a "luz maior" ela escreveu em 1902 que "pouca atenção é
dada à Bíblia e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior"
(WHITE, E., 1997, p. 257). Isso sublinha a insistência dela de que a Bíblia deverá sempre
ser colocada à frente como o padrão de doutrina e prática (ver WHITE, 1997, p. 256;
2005, p. vii; 2008, v. 2, p. 604-608; 2004, v. 5, p. 665-666).
O conselho de Ellen G. White a H. M. J. Richards (pai de H. M. S. Richards) tam-
bém fala sobre isso. Quando H. M. J. Richards foi presidente da Associação do Colorado
e pastor da Igreja de Denver (1900 ou 1901), a profetisa visitou sua igreja num sábado
pela manhã e o ouviu pregar. Posteriormente, ele pediu o seu conselho sobre como usar
os escritos dela em suas pregações. Ela respondeu:

Quando você escolher um assunto, procure-o na Bíblia e estude-o diretamente


dela. Aprenda-o completamente das Sagradas Escrituras, aprenda tudo o que as
Escrituras têm a dizer sobre este assunto, para que você seja um completo mes-
tre sobre o tópico baseado nas Escrituras. Depois disto, vã a esses escritos do Es-
pírito de Profecia. Veja o que eles dizem sobre o assunto como luzes adicionais
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

e ênfase verdadeira, para ter certe/a de que você esta absolutamente correio em
sua interpretação. Então se dirija às pessoas e pregue o assunto através da Bíblia
(H. M. S. Richards, carta para Mervyn Maxwell).

Considerações finais
As doutrinas dos adventistas do sétimo dia não foram baseadas nas visões de El-
len G. White, mas nas Escrituras. Os escritos dela foram dados no contexto do estudo da
Bíblia e tendo como pano de fundo todas as revelações prévias de Deus nas Escrituras.
O modelo regular de Deus na relação com os pioneiros adventistas foi o de que Ele não
enviava normalmente uma revelação direta para guiá-los em assuntos doutrinários até
que eles tivessem investigado primeiramente as Sagradas Escrituras para aprender o que
Deus tinha transmitido anteriormente sobre o assunto.
As visões, por sua vez, desempenharam um papel fundamental nas conferências
de 1848, bem como no período depois da conferência de 1855. Há um modelo consis-
tente, com poucas excecões, no qual o estudo de Bíblia precedeu as visões. Raramente
Deus dava a luz por uma visão antes que os crentes tivessem feito o seu melhor para do-
minar primeiramente as evidências bíblicas. Depois que eles tivessem aprendido tudo o
que podiam estudando a Bíblia, Deus graciosamente dava a eles uma ajuda extra através
de urna visão. Hoje, então, o inestimável tesouro do Espírito de Profecia não deve levar-
-nos a usá-lo como um substituto do estudo da Bíblia. Isso deve ser um estímulo para
o estudo da Bíblia e não um substituto a ele. Portanto, aquele que faz de Ellen G. White
uma "muleta" para evitar uma luta séria com as Sagradas Escrituras, não estará bem
equipado para resolver problemas sobre os quais ela não faz nenhuma afirmação.
A maneira pela qual Deus conduziu os pioneiros desse movimento ensina um
princípio básico hermenêutico, desenhado a partir do relacionamento entre o Espí-
rito de Profecia e as Escrituras. Isto é, para evitar alterar o conselho de Deus usando
indevidamente os escritos de Ellen G. White, primeiro trace o assunto através do
Antigo e do Novo Testamento das Escrituras.
No capítulo anterior, consideramos os princípios hermenêuticos para nos ajudar
a interpretar corretamente os escritos de Ellen G. White. Uma prioridade entre aqueles
princípios (implícito "no contexto teológico") é a necessidade (especialmente em ques-
tões de "fé e doutrina") de aprofundar nossos estudos dos escritos de Ellen G. White
com um estudo criterioso sobre o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto.
Os resultados do uso desse método pelos primeiros adventistas testificam sua
aplicabilidade. Embora os pioneiros fossem poucos em número e seus recursos fi-
nanceiros e credenciais educacionais praticamente não existissem, pelos padrões do
mundo, eles lançaram os fundamentos de uma igreja baseados nas Escrituras e nada
além dela. Além disso, os pioneiros foram confirmados por visões sobrenaturais e
levados à liberdade individual da consciência; a autoridade foi investida não em
líderes humanos, mas nas Escrituras Sagradas. Os líderes, bem como os ouvintes,
Espírito de Profecia

estiveram prontos para modificar o seu ponto de vista caso fosse mostrada uma
visão mais correta através da Bíblia. Por último, seus esforços são caracterizados
pela unidade, uma vez que a palavra de Deus não se contradiz e todos haviam se
comprometido com a Palavra de Deus.

APÊNDICE A

Relatos divulgados sobre Ellen G. White


segurando a grande Bíblia em visão

Existem relatos de que, no inverno de 1844-1845, provavelmente em dezembro


de 1844 ou janeiro de 1845, na casa da família Hannon, Portland, ME, Ellen G. White
segurou uma grande Bíblia durante uma visão. Acredita-se que essa tenha sido sua ter-
ceira visão (LOUGHBOROUGH, 1905, p. 236-37; Life Sketches menciona a visão, mas
não inclui uma referência sobre segurar a Bíblia). Nesse mesmo período, provavelmente
em janeiro de 1845, após aquela visão, o ocorrido se repetiu na casa da família Curtis,
Topsham, ME (LOUGHBOROUGH, 1905, p. 237-39).
No inverno seguinte, provavelmente entre novembro e dezembro de 1845, os
membros da família Thayer foram inesperadamente confrontados por Ellen G. White
em uma reunião de domingo numa residência particular. Justamente com o intuito de
evitar a confrontação, eles haviam previamente marcado um encontro com ela para o
mesmo dia e horário em outra cidade. No entanto, um anjo divulgou o ardil a Ellen G.
White e a enviou precisamente ao local onde eles poderiam ser encontrados, instruin-
do-a sobre como a natureza não bíblica dos ensinos deles poderia ser exposta.7
No dia 3 de abril de 1848, o primeiro sábado do mês, na casa de Stockbridge, em
Howland, Topsham, ME, mais uma vez o fato se repetiu (LOUGHBOROUGH, 1905, p.
244-45). Numa visão de uma hora e meia, em agosto de 1848, na casa da família Snow,
em Hannibal, NY, Ellen e Tiago White estavam a caminho da Conferência Sabática em
Port Gibson, NY, que teria início dia 27 de agosto. Eles estavam vindo da Conferência
Sabática de Volney, NY, que teve início em 18 de agosto e terminou provavelmente em
20 de agosto (WHITE, E., 1943, p. 110-12;1993, p. 118-20). Em uma carta ao irmão
Hastings, Tiago White falou sobre ela tomando "uma grande Bíblia" que ela "segurou
alta perante o Senhor" (Tiago White, carta a Hastings, ago. 26, 1848).
Roger Coon

O ocorrido pode ser encontrado no testemunho pessoal ocular de Otis Nichols, escrito a mão
e conservado no cofre do Património White; Ellen G. White (1858, v. 2, p. 75-79) cita três pará-
grafos do documento de Nichois (LOUGHBOROUGH, 1905, p. 240-44).
O papel de Ellen G- White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

APÊNDICE B

Conselhos da própria Ellen G. White sobre como usar seus escritos


em pregações

Carta de H. M. S. Richards para C. Mervyn


Maxwell (ver DOWER, 1976, p. 5-7)
Querido irmão Maxwell,
Meu pai contou-me sua experiência com a irmã White. Ele relatou que ela chegou
sem esperar em Denver, quando ele estava pronto para pregar em um sábado pela ma-
nhã. Ele tentou convencê-la a pregar e ele insistiu que ela pregasse, apesar de ele haver
pedido a Deus uma mensagem e acreditar que esta havia sido concedida. Ela não quis
concordar em tomar o lugar de um homem que falaria sob tais condições.
Ela o ouviu e no final disse que seu sermão havia sido uma benção para ela, mas
lhe disse também que se ele continuasse falando como falou, esforçando sua voz, ele em
breve morreria. Por 15 minutos ela deu a ele instruções sobre como falar em público,
dentre outras coisas. Até o dia da morte de meu pai ele teve uma voz doce, como qual-
quer pessoa que o ouviu pode testificar, tanto no púlpito como através do rádio.
Então meu pai perguntou à irmã White como ele poderia usar os escritos dela em
seu ministério de pregações. Aqui está em resumo o que ela respondeu: "Quando você
escolher um assunto, procure-o na Bíblia e estude-o diretamente dela. Aprenda-o comple-
tamente das Sagradas Escrituras, aprenda tudo o que as Escrituras têm a dizer sobre este
assunto, para que você seja um completo mestre sobre o tópico baseado nas Escrituras.
Depois disto, vá a esses escritos do Espírito de Profecia. Veja o que eles dizem sobre o
assunto, como luzes adicionais e ênfase verdadeira, para ter certeza de que você está ab-
solutamente correto em sua interpretação. Então se dirija às pessoas e pregue este assunto
através da Bíblia." Essa foi sua instrução definida para ele.
Suponho que isto não impediria uma referência de vez em quando de alguma fra-
se para citação. Certamente isto não significa que devemos levar uma pilha de livros ao
púlpito e ler as maravilhosas coisas do Espírito de Profecia e chamar isto de um sermão.
Em um dos seus livros ela diz: "a Bíblia, e a Bíblia sozinha deve ser ouvida [do] o púlpi-
to" [ver WHITE, E., 1990, p. 626]. Estou certo de que você conhece pessoalmente esta citação.
Que Deus o abençoe em seu ministério. E não nos esqueça em suas orações.

Sinceramente seu na mensagem de Cristo,


H. M. S. Richards
Espírito de Profecia

APÊNDICE C

Conselhos de Ellen G. White sobre a "luz menor" e a 'luz maior"


Não substituir a Bíblia
Não devem os testemunhos da irmã White ser postos na dianteira. A Palavra de
Deus é a norma infalível. Não devem os Testemunhos substituir a Palavra. Devem todos
os crentes manifestar grande cautela no expor cuidadosamente estes assuntos e calai
sempre que houverdes dito o suficiente. Provem todos a própria atitude por meio das
Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser
verdade (Ellen G. White, Carta 12, 1890).

Não devem os Testemunhos prevalecer sobre a Bíblia


Quanto mais examinamos as promessas da Palavra de Deus, mais brilhantes fi-
cam. Quanto mais as pusermos em prática mais profunda será a nossa compreensão
delas. Nossa atitude e crença têm por base a Bíblia. E nunca queremos que alma nenhu-
ma faça prevalecer os Testemunhos sobre a Bíblia (Ellen G. White, Manuscrito 7, 1894).

O propósito dos Testemunhos


A Palavra de Deus é suficiente para iluminar a mente mais obscurecida e pode ser com-
preendida pelos que têm qualquer desejo de compreendê-la. Mas não obstante tudo
isso, alguns que professam fazer d;\ Palavra de Deus o objeto de seu estudo, vivem em
direta oposição aos seus mais claros ensinos. Assim, para deixar sem desculpa os ho-
mens e mulheres, Deus dá claros e positivos testemunhos, dirigindo-os para a palavra
que negligenciaram seguir. A Palavra de Deus é rica em princípios gerais para a forma-
ção de correios hábitos de vida e os testemunhos gerais e pessoais destinam-se a cha-
mar a atenção mais especialmente para esses princípios (WHITE, 2004, p. 663-664).

Pouca atenção é dada à Bíblia e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e
mulheres à luz maior (WHITE, E., 1983, p. 37 [1902]; 1997, p. 257).

Em sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As


Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de sua vontade.
Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência
religiosa. "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra (2Tm. 3:16 e 17)" (WHITE, H., 2005, p. vii).

Todavia, o fato de que Deus revelou sua vontade aos homens por meio de sua Pala-
vra, não tornou desnecessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao
contrário, o Espirito foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a seus
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus
que inspirou a Escritura Sagrada, é impossível que o ensino do Hspírito seja contrá-
rio ao da Palavra (WHITE, E., 2005, p. vii).

O Hspírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-se à
Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino
e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo o espírito, mas
provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no
mundo." l João 4: l. E Isaías declara: "À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo
esta palavra, não haverá manhã para eles (Is. 8:20) (WHITE, E., 2005, p. vii).s

APÊNDICE D
O relacionamento de Ellen G. White com os seis "pilares"
da doutrina da igreja adventista do sétimo diaq
Segundo Ellen G. White (1946, p. 28-32), podemos identificar as doutrinas fun-
damentais da IASD como:

A segunda vinda de Cristo: Ellen G. White ouviu Guilherme Miller pregar esta
doutrina em Portland, Maine, em 1840 e 1842. Juntamente com seus pais, ela aceitou
essa doutrina e foram, por isso, excluídos da Igreja Metodista por causa de suas novas
crenças. O papel de Ellen G. White como "mensageira especial" em relação a essa dou-
trina foi validar os ensinamentos bíblicos aprendidos de Guilherme Miller, Joshua V.
Himes, Charles Fitch, José Bates, Josias Litch (entre outros).

O santuário celestial: As primeiras declarações escritas de Ellen G. White sobre


este assunto surgiram cerca de um ano após as conclusões de Hiran Edson, Owen R.
L. Crosier e Dr. Frederick Hahn terem sido publicadas por Crosier no Day-Star and
Day-Dawn. O seu papel deveria ser o de validar basicamente o trabalho desses irmãos.
Apesar de a profetisa ter recebido 11 visões sobre o assunto do Santuário Celestial
entre 1845-51, ela sempre incitava os membros a lerem artigos sobre o assunto escri-
tos pelos pioneiros do movimento adventista. Nenhum destes pioneiros havia apelado
para as 11 visões como prova da validade desta doutrina. A evidência e o argumen-
to deles foram extraídos somente das Escrituras Sagradas. Urias Smith mencionou os
mesmos artigos para refutar os críticos e comprovar a validade desta doutrina através
da Bíblia e não do Espírito de Profecia.

H
Outros importantes textos de Ellen G. White que tratam sobre o assunto são: White (2008, v.
2, p. 604-608; 2004, v. 5, p. 665- 666).
Apêndice escrito por Roger Coon.
Espírito de Profecia

O "sono da alma" (imortalidade condicional e não imortalidade dos ímpios):


George Storrs, (1796-18790), um ministro metodista que se tornou um pregador
millerita em 1842, foi o primeiro a defender o estado inconsciente de seres huma-
nos na morte e cunhou a expressão "o sono da alma" para descrevê-lo. Em 1841,
ele escreveu An Enquiry: Are the Souls of the Wicked Immortal? In Three Letters,
reeditado posteriormente como Now It Would Be In Six Sermons. Ellen G. White,
que inicialmente mostrou forte desaprovação quando introduzida nesse assunto,
na idade de 15 anos, aceitou-o depois de um estudo cuidadoso da Bíblia (IT, p. 39,
40). Após entrar em seu ministério profético, ela tornou-se uma forte advogada da
doutrina de Storrs e considerou-a como uma das doutrinas "pilares" da IASD (Ellen
G. White, Manuscrito 13, 1889). O papel da profetisa foi basicamente endossar os
escritos de Storrs sobre este assunto.

O sábado: Essa doutrina foi introduzida por José Bates. Tiago e Ellen G. White
inicialmente guardavam o sábado com base no seu estudo da Bíblia, não porque
ela teve uma visão sobre o assunto. A primeira visão sobre a santidade do sábado
do sétimo dia foi dada no dia 3 de abril de 1847, sete meses depois que eles tinham
começado sua observância (ver Ellen G. White, Carta 2, 1874). Quanto à hora certa
do início da guarda do sábado, essa questão não foi ajustada entre os adventistas
sabatistas até novembro de 1855. Quatro observações foram mantidas durante a
década de 1840 e início da de 1850:
130 • O sábado começa no levantar do sol, no sábado pela manhã (baseado na
interpretação errónea de Mateus 18:1, que eles entenderam como começando com
o levantar do sol, no domingo pela manhã);

• O sábado começa à meia-noite de sexta-feira para sábado;

• O sábado tinha início às 18h da sexta-feira, uma posição favorecida por José Ba-
tes, que sabia que o sol nasce diariamente às 6h e se põe às 18h da tarde no equador;

• O sábado tinha início ao pôr do sol de sexta à noite — posição dos batistas
do sétimo dia.

J. N. Andrews, que podia ler o original hebraico do AT e o NT em grego, foi comissio-


nado pelos líderes da igreja para estudar o assunto através das Escrituras e apresentar seus
estudos e pesquisas na reunião da Associação Geral em Battle Creek, em novembro de 1855.
Baseado em 11 textos do AT e dois do NT, ele concluiu que o momento correto de se iniciar
o sábado era ao pôr do sol de sexta-feira. Bates e Ellen G. White inicialmente resistiram e se
firmaram no "horário equatorial", mas, naquela noite, EGW recebeu urna visão corrigindo a
sua posição e ela compartilhou aquele fato com os outros fiéis na primeira reunião da manhã
seguinte (WHITE, A., 1993, p. 36; WHITE, E., 2006, v. l, p. 116).
O papel de Ellen G. White no desenvolvimento das doutrinas da IASD

Dom de profecia: Ellen G. White foi a terceira escolha de Deus para o oficio de pro-
feta entre o povo remanescente. Ela foi "a mais fraca das fracas" (LOUGHBOROUGH,
1988). Antes dela, Deus havia escolhido William Ellis Foy, um homem negro, e Hazen Foss,
cunhado de Ellen (a irmã de Ellen, Mary, foi casada com o irmão de Hazen, Samuel Foss).

Terceira mensagem angélica: Miller e seus seguidores pregavam somente a pri-


meira mensagem angélica (1839-44). Charles Eitch parece ter sido o primeiro a pregar
a segunda mensagem angélica, em 26 de julho, 1843. Anteriormente protestantes, ge-
ralmente tendiam a identificar a Igreja de Roma com a Babilónia espiritual descrita em
Apocalipse. Fitch ampliaria isto para incluir os protestantes contemporâneos, aqueles
que abandonaram as doutrina da iminente segunda vinda. Ellen G. White incorreta-
mente datou a primeira pregação desta mensagem como havendo ocorrido no verão
de 1844 (WHITE, E., 2005, p. 389). Quanto à mensagem do terceiro anjo, Tiago White
(1850) foi provavelmente o primeiro ministro da IASD a pregá-la. A função de Ellen G.
White, portanto, foi basicamente ampliar a pregação de todas as três mensagens como
apresentada pelos outros escritores e pregadores previamente.

Comentários finais aos apêndices


O. R. L. Crosier não apelou para a visão de Iram Edson no milharal (23 de outubro
de 1844) ao escrever seu artigo para o Day-Dawn and Day-Star objetivando comprovar
a existência do santuário celestial; tampouco fez Ellen G. White referência às suas visões
131
para comprovar a validade das doutrinas da IASD que ela abraçava e ensinava. A seguir
estão os comentários dela nas doutrinas fundamentais:

Os cinquenta anos passados não apagaram um jota ou princípio de nossa fé ao


recebermos as grandes e maravilhosas evidências que se tornaram certas para nós
em 1844, após a passagem do tempo. As pessoas desanimadas devem ser confir-
madas e despertadas segundo sua palavra [ . . . ] Nenhuma palavra é mudada ou
negada. Aquilo que o Espírito Santo testificou como verdade após a passagem do
tempo, em nosso grande desapontamento, é o sólido fundamento da verdade. Os
pilares da verdade foram revelados e nós aceitamos os princípios fundamentais
que nos tornaram o que somos — adventistas do sétimo dia, observando os man-
damentos de Deus e tendo a fé de Jesus (Ellen G. White, Carta 326, 1905).

Devemos permanecer firmes como uma rocha sobre os princípios da Palavra de


Deus, lembrando-nos de que Deus c conosco, fortificando-nos para enfrentarmos
toda a experiência nova. Mantenhamos sempre os princípios de justiça em nos-
sa vida, para que possamos prosseguir, fortalecendo-nos no nome do Senhor. De-
vemos considerar muito sagrada a fé que tem sido substanciada pela instrução e
aprovação do Espírito de Deus, desde nossa experiência mais remota até o presente
(Ellen G. White, Carta 66,1911).
Espirito de Profecia

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Disponível em <http://bit.ly/GH6j4U>. Acesso em: 22 mar. 2012.

133
Assistentes literários
dos autores inspirados

Robert W. Olson

Alguns profetas utilizaram o trabalho de secretários na redação de seus livros,


como Jeremias (Jr 36:18), Paulo (Rm 16:22) e Pedro (IPe 5:12). Os assistentes eram
Baruque, Tércio e Silvano, respectivamente.
As epístolas pastorais revelam diferenças substanciais em relação a todas as demais
cartas de Paulo. Aos secretários de Paulo foi concedida, aparentemente, considerável li-
berdade de trabalho. As epístolas pastorais, por exemplo, utilizam vocabulário bastante
diferente do das demais cartas de Paulo. Existem 902 palavras diferentes, usadas nas três
epístolas pastorais. Destas, 306 não ocorrem em nenhuma das demais cartas paulinas.
Existem 112 diferentes partículas ou enclíticas (palavras não traduzíveis) nas demais
cartas do apóstolo, mas nem mesmo uma só ocorre nas epístolas pastorais (BARCLAY,
2003, p. 11). De que modo podem ser explicadas essas diferenças? "As diferenças {...]
podem ser devidas à probabilidade de haver ele empregado diferentes escribas, os quais
exerceram certa liberdade na escolha da fraseologia" (NICHOL, 1956, v. 5, p. 185).
A primeira e a segunda carta de Pedro são também um tanto diferentes entre si,
sob o ponto de vista literário. De acordo com Michael Green (1987, p. 16), "o grego de l
Pedro é polido, culto, cheio de dignidade; acha-se entre os melhores do Novo Testamento.
O grego de 2 Pedro é grandioso; assemelha-se mais à arte barroca". Porém, de que modo
se explicam estas diferenças? Wílliam Barclay diz: "Ou ele [Silvano] corrigiu e aperfeiçoou
o grego de Pedro, necessariamente inadequado; ou, uma vez que Silvano era um homem
bastante eminente, pode muito bem ter ocorrido que Pedro lhe tenha dito o que desejava
dizer e o tenha deixado em liberdade para escolher a forma de dizê-lo, aprovando depois
o resultado final e acrescentando ao conjunto os últimos parágrafos de cunho pessoal.
Quando Pedro diz que Silvano foi seu instrumento ou agente na redaçào da carta, temos
em mãos a razão da excelência do grego utilizado. O pensamento é o de Pedro; mas o esti-
lo é o de Silvano (GPvEEN, 1987, p. 169-171). Disse Allen A. McRae (1980, p. 34):

Tampouco podemos excluir a ideia de que em certas ocasiões o autor tenha


dado ao assistente uma ideia do que ele desejava, dizendo-lhe que o transfor-
masse em forma escrita. Em tal caso, ele conferiria o trabalho a fim de assegu-
rar-se de que era efetivamente aquilo que ele desejava dizer, e assim poderia
ser considerado genuinamente como o autor. O Espirito Santo poderia haver
Espírito de Profecia

orientado todo o processo, de modo que o texto afinal redigido representasse


as ideias que Deus desejava chegassem ao seu povo [...] Provavelmente Paulo
quase não tenha utilizado este último procedimento, uma vez que possuía elevado
nível educacional e deve ter sentido confiança em sua habilidade para expressar-se
em grego. Mas deve ter sido diferente nos casos de João e de Pedro. Os estilos da
Primeira e da Segunda epístolas de Pedro diferem de modo tão considerável, que
alguns críticos sugerem que uma delas é fraudulenta. Pode ser ainda que Pedro
tenha escrito uma das cartas em grego (2Pe ?) e, quanto à outra, haja expressa-
do seus pensamentos em aramaico, deixando a redação final por conta de um
assistente mais versado em grego (lPé). Este assistente pode então haver escrito
as ideias de Pedro utilizando seu próprio estilo, efetuando posteriormente altera-
ções, de acordo com as sugestões do apóstolo. Desta forma, as duas cartas apre-
sentariam diferenças de estilo; ainda assim, sob a direcão do Espírito Santo, am-
bas estariam expressando os pensamentos de Pedro tão verdadeiramente como se
Pedro houvesse ditado cada palavra. João Calvino sustentava este ponto de vista,
mas não manifestava qualquer dúvida de que ambas representavam corretamente
os pensamentos de Pedro (MACRAE, 1980, p. 34).

Em outra citação encontramos:

Embora seja um fato que a linguagem de 2 Pedro é diferente daquela utilizada na


primeira epístola, isto pode ser razoavelmente explicado pela probabilidade de que
Pedro, sendo um residente iletrado da Palestina, cujo idioma materno era o aramai-
co, tenha sem dúvida empregado ajuda de um secretário para redigir, em grego, a
epístola que ele estava escrevendo. Se Paulo, que se sentia perfeitamente à vontade
com o idioma grego, fez uso do auxílio de secretários, o que é bastante evidente, mui-
to mais lógico seria esperar que Pedro, cujo idioma materno era o aramaico, também
assim procedesse e que tal secretário haja exercido influência decisiva na redação, em
grego, de sua epístola. Portanto, dois secretários diferentes podem muito bem haver
redigido para ele as duas epístolas diferentes (N1CHOL, 1956, v. 5, p. 186).

O Evangelho de João e o Apocalipse também apresentam diferenças literárias.

O vocabulário e o estilo literário do Apocalipse são notavelmente diferentes


daqueles que ocorrem no Evangelho Segundo João. O primeiro exibe um grau
incomum de liberdade face aos padrões ordinários de expressão e de sintaxe do
grego, ao passo que a linguagem do Evangelho se conforma ao bom estilo grego
(NICHOL, 1957, v. 8, p. 914).

Segundo Roger R. Nicole (1980, p. 82), "o autor do Apocalipse utilizou neste livro uma
forma de grego pesadamente marcada por hebraísmos, expressões que seriam consideradas
incorreras em termos dos padrões gramaticais gregos.
Assistentes literários dos autores inspirados

No entanto, Nilchol (1957, v. 7, p. 720) afirma que não é difícil explicar as di-
ferenças literárias e linguísticas observáveis entre o Apocalipse, escrito provavelmente
quando João se encontrava sozinho em Patmos, e o Hvangelho, escrito com o auxílio de
um ou mais companheiros de fé em Éfeso.
À semelhança desses autores bíblicos, Ellen G. White também necessitou
de ajuda literária. Uma das razões para isso é que ela possuía apenas uns poucos
anos de educação formal. Em 1876, ela escreveu: "Não sou um erudito. Não posso
preparar meus próprios escritos para o prelo. [... ] Não sou um gramático" (WHI-
TE, 1987, v. 3, p. 90). Seus escritos nem sempre possuíam a mesma qualidade. Seu
filho, William White, escreveu certa vez:

Por vezes, quando Mamãe se encontra descansada e livre, seus pensamentos são
apresentados numa linguagem que é não apenas clara e forte, como também bonita
e correia; outras vezes, quando ela se acha cansada e oprimida com pesados fardos e
ansiedade, ou quando o assunto é de difícil exposição, aparecem repetições e incor-
reções gramaticais (William White, carta a G. A. Irwin, mai. 7, 1900).

Outra razão é que Ellen G, White não dispunha de tempo para efetuar edição de-
talhada. Ela mesma escreveu: "Tenho devotado pouco tempo a estes livros, pois as pa-
lestras, a redação de artigos para os periódicos e a redação de testemunhos particulares
que visam a enfrentar e reprimir os erros que estão aparecendo, mantêm-me ocupada"
(Ellen G. White, Carta 114, 1896).
Há que se considerar ainda o tempo empregado em entrevistas pessoais. Ela era
137
frequentemente interrompida enquanto escrevia.

Ela [Fannie Bolton] deveria declarar-me qual a causa de toda essa desavença, mas
tudo o que ela conseguiu dizer é que por vezes deixou frases incompletas. Lembreí-
-a de que sou frequentemente interrompida enquanto escrevo, e isso pode ocorrer
em meio a uma sentença; quando retomo o trabalho, prossigo em frente, não per-
cebendo que a sentença ficou incompleta. Mas eu lhe havia dito que quando isto
ocorresse, ela poderia tanto trazer-me o problema quanto riscar a frase e prosseguir.
Escrevendo tanto quanto escrevo, não é de surpreender que fiquem por vezes sen-
tenças incompletas (Ellen G. White, Carta 103, 1895).

Em outro documento, William White descreve os limites traçados por sua mãe
para os "copistas" ou assistentes literários:

Os copistas de mamãe são incumbidos do Irabalho de corrigir erros gramaticais, eli-


minar repetições desnecessárias e agrupar parágrafos e seções em sua melhor ordem.
Os auxiliares mais experientes de mamãe, tais como as irmãs Davis, Burnham, Bolton,
Peck e Hare, que estão muito familiarizadas com seus escritos, estão autorizadas a to-
mar uma sentença, parágrafo ou seção de um manuscrito e incorporá-lo a outro ma-
Espirito de Profecia

nuscrito em que o mesmo pensamento tenha sido expresso, mas não de modo tão cla-
ro. Mas nenhum dos auxiliares de mamãe está autorizado a acrescentar ao manuscrito
pensamentos de sua própria mente (William White, carta a G. A. Irwin, mai. 7,1900).

Ellen G. White descreve o trabalho de Marian Davis, sua principal assistente na


preparação de livros:

Estimado irmão [G. A. Irwin]: O irmão viu minhas copistas. Elas não modificam
minha linguagem. Esta permanece assim como a escrevi. O trabalho de Marian é de
ordem bastante diferente. Ela é a minha editora. Fannie jamais foi minha editora. De
que modo são preparados meus livros? Marian não pretende obter reconhecimento
[literário]. Ela trabalha da seguinte forma: Toma os meus artigos que são publicados nas
revistas, e arquiva-os em livros em branco. Ela possui também uma cópia de todas as
cartas que escrevo. Ao preparar um capítulo de livro, Marian se recorda de que escrevi
algo sobre aquele ponto especial, e que poderá tornar o assunto mais convincente. Ela
inicia a pesquisa e, ao encontrá-lo, se ela percebe que efetivamcntc o capitulo ficará mais
claro, acrescenta o material. Os livros não são produções de Marian, mas inteiramente
minhas, reunidas de todos os meus escritos. Marian possui um vasto campo de ação, e
sua habilidade em organizar as matérias é de grande valor para mim. Evita que eu tenha
de vasculhar grande quantidade de material, o que não teria tempo de fazer (Ellen G.
White, Carta 61a, 1900; ver também Carta 41,1895).

138 Ela afirma, porém, que Marian tinha permissão para trocar algumas palavras:

Mary, Willie está em reunião de manhã cedo até tarde da noite, ideando e plane-
jando para a realização de melhor e mais eficiente obra na causa de Deus. Nós só o
vemos à mesa. Marian recorre a ele em pequenas questões que, segundo parece, ela
poderia resolver por si mesma. Ela é nervosa e apressada, e ele está tão extenuado
que tem de cerrar os dentes e controlar os nervos da melhor maneira que pode,
Conversei com ela e lhe disse que precisava resolver por si mesma muitas coisas
que estava levando a Willie. A mente dela está em cada ponto e suas conexões, e a
mente dele tem avançado a custo através de uma variedade de assuntos difíceis até
ficar com o cérebro num turbilhão, e então seu espírito de modo algum se acha pre-
parado para tratar dessas pequenas minúcias. Ela mesma tem de arcar com algumas
dessas coisas referentes à sua parte na obra, e não apresentá-las a ele, nem afligir-lhe
o espirito com elas. Às vezes penso que ela acabará matando a nos dois, desnecessa-
riamente, com suas coisinhas que pode resolver tão bem por si mesma como se as
apresentasse a nós. Quer que vejamos toda pequena modificação de uma palavra.
Estou bastante cansada desse assunto (WHITE, 1987, v. 3, p. 92 -93).

Em outro manuscrito, podemos ver o relato da própria Marian Davis descre-


vendo seu trabalho.
Assistentes literários dos autores inspirados

Tenho tentado começar tanto capítulos quanto parágrafos mediante sentenças curtas e
efetivamente simplificar sempre que possível, eliminar qualquer palavra desnecessária,
e tornar o trabalho, conforme tenho dito, mais compacto e vigoroso (Ellen G. White,
carta a William White, abr. 11,1897, referindo-se a O desejado de todas as nações).

Durante mais de vinte anos tenho estado vinculada ao trabalho da irmã White. Du-
rante este período jamais fui solicitada a escrever um testemunho a partir de ins-
truções orais ou a localizar os pontos em questão em matérias já escritas (Ellen G.
White, carta a G. A Irwin, Carta 61a, 1900).

Quando C. H. Jones insistiu que o manuscrito fosse completado imediatamente,


Marian escreveu a William White:

A irmã White sente-se constantemente atormentada com o pensamento de que


o manuscrito deveria ser enviado imediatamente aos impressores. [ . . . ] A irmã
White parece inclinada a escrever, e não tenho dúvidas de que ela trará à luz
muitas coisas preciosas. Tenho a esperança de que isto poderá ser utilizado no
livro. Há uma coisa, porém, que nem mesmo o mais competente editor poderia
fazer — ou seja, preparar o manuscrito antes que ele tenha sido escrito (Marian,
carta a Willian White, ago. 9, 1987).

Além disso, Ellen G. White submetia seus manuscritos a outras pessoas, objeti-
vando apreciação crítica:

Todas as minhas publicações são rigorosamente examinadas. Desejo que coisa alguma
apareça-sob forma impressa sem cuidadosa investigação. Obviamente não desejaria que
homens que não possuem experiência crista ou aos quais falte habilidade para apreciar
méritos literários fossem colocados como juizes a respeito do que é essencial para ser
trazido perante o povo, como puro mantimento joeirado de toda palha. Apresentei to-
dos os meus manuscritos de Patriarcas e profetas e de [Spirít ofProphecy] volume IV ao
comité de livros para exame e apreciação crítica. Coloquei também esses manuscritos
nas mãos de alguns de nossos ministros, para exame. Quanto mais apreciação crítica
em relação a eles, tanto melhor será o trabalho (Ellen G. White, Carta 49. 1894).

Gostaria que ao longo de toda a sua leitura o irmão observasse os pontos em que os
pensamentos estejam expressos de tal modo que se tornariam especialmente criticá-
veis por parte de pessoas com formação médica; por bondade, conceda-nos o bene-
fício de seu conhecimento no tocante a como expressar os mesmos pensamentos de
modo mais acurado (William White, carta a David Paulson,/ev. 15, 1905).

Por último, Ellen G. White lia todas as matérias depois que esses assumiam sua
forma final — logo, os artigos não eram publicados sem seu consentimento final.
Espírito de Profecia

Desejo escrever palavras que possam remover da mente de qualquer um de meus


irmãos a impressão de que não li, antes de sua publicação, as páginas que, em Tes-
temunhos para a igreja, vol. 9, fazem referência ao trabalho aos domingos. l,i a ma-
téria antes que ela fosse levada aos impressores e tenho-a lido várias vezes no livro,
e não consigo perceber nela qualquer coisa que permita dizer que ali se está aprego-
ando a guarda do domingo. Tampouco o conselho ali expresso contradiz a Bíblia ou
testemunhos anteriores (Ellen G. White, Carta 94, 1910).

Uma testemunha afirmou que

antes que qualquer documento fosse enviado pelo escritório, era ele lido pela
senhora White em sua forma final e nenhuma alteração era efetuada por qual-
quer de seus auxiliares depois que ele fosse desta forma aprovado e aceito por
ela (ROBINSON, s.d., p. 107).

Ellen G. White, certa vez, também descreveu seus hábitos de releitura de seus artigos:

encontro pela manhã, sob a minha porta, vários artigos copiados pelas irmãs Peck,
Maggie Hare e Minnie Hawkins. Todos devem ser lidos criticamente por mim. [... ]
Todo artigo que escrevo para ser editado por meus auxiliares, tenho de lê-lo sempre,
antes de enviá-lo para publicação (Ellen G. White, Carta 84, 1898).

140 Leio tudo aquilo que é copiado, a fim de verificar se tudo está da forma como
deveria estar. Leio todos os manuscritos de livros antes de enviá-los ao impres-
sor. Assim, você pode perceber que o meu tempo acha-se totalmente ocupado
(Ellen G. White, Carta 133, 1902).

Ellen G. White cria que seus livros, em seu resultado final, eram inspirados por Deus:

Em meus livros a verdade é declarada, fortalecida por um "Assim diz o Senhor".


O Espírito Santo traçou essas verdades sobre meu coração e mente de maneira
tão indelével como a lei foi traçada pelo dedo de Deus nas tábuas de pedra [...]
(WHITE, 2008, p. 126).

Referências
BARCLAY, W. The letters to Tímothy, Titus and Philemon. I.ouisville: Westminster John
Knox Press, 2003.
GREEN, M. The second epistle general of Peter and the general epistle of Jude. Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1987. (The Tyndale New Testament Commentaries).
MCRAE, A. A. The ups and downs of higher cristidsm. Christianity Today, lOout. 1980.
Assistentes literários dos autores inspirados

N1CHOL, F. D. (Ed.). The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and
Herald,1956.v.5.

The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and


Herald, 1957. v. 7.

. The Seventh-day adventist bible commenlary. Washington: Review and


Herald, 1957. v. 8.

NICOLE, R. R. Inerrancy and common sense. Grand Rapids: Baker Book House, 1980.
ROBINSON, D. E. How the books of Mrs E. G. White were prepared. Silver Spring: White
Estale, [S. d.].
WHITE, E. G. Mensagens escolhidas. Tutuí: Casa Publicadorn Brasileira, 1987. v. 3.

. O colportor evangelista. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008.

141
Os críticos e a integridade
dos profetas

Renato Stencel

Os registros da História Sagrada revelam que, em muitas ocasiões e circuns-


tâncias, a integridade dos profetas foi posta à prova e investigada por inúmeras
pessoas imbuídas do propósito de criticar, censurar e condenar o exercício desse
ofício sagrado.
Dentre os muitos exemplos de profetas bíblicos que foram alvos de críticas, des-
tacamos os seguintes:

Jesus
"Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por
causa da blasfémia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo" (Jo 10:33).
"Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (Jo 5:18).
"Muitos deles diziam: Ele tem demónio e enlouqueceu; por que o ouvis?" (Jo 10:20).
"Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como sabe estas letras, sem ter
estudado?" (Jo7:15).

Moisés
E se ajuntaram contra Moisés e contra Arão c lhes disseram: Basta! Pois que toda a
congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que,
pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor? (Nm 16:3).

Jeremias

Então, falou Azarias, filho de Hosaías, e Joana, filho de Careá, e todos os homens
soberbos, dizendo a Jeremias: É mentira isso que dizes; o Senhor, nosso Deus, não
te enviou a dizer: Não entreis no Egito, para morar. Baruque, filho de Nerias, é que
te incita contra nós, para nos entregar nas mãos dos caldeus, a fim de nos matarem
ou nos exilarem na Babilónia (}r 43:2, 3).
Espírito de Profecia

Paulo

"Dizendo ele estas coisas em sua defesa, Festo o interrompeu em alta voz: Estás
louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!" (At 26:24).
"Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as autoridades,
clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui" (At 17:6).
"Estais vendo e ouvindo que não só em ívfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem
persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos
por mãos humanas. Não somente há o perigo de a nossa profissão cair em descrédito,
como também o de o próprio templo da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser
mesmo destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram" (At 19:26,27).

Todos os exemplos citados acima revelam, de modo convincente, que, nas mais va-
riadas épocas, os profetas bíblicos (canónicos) tiveram que aprender a conviver com as ad-
versidades do espírito crítico. Sua integridade foi constantemente provada em diferentes
circunstâncias e experiências. E quanto aos profetas modernos? Ellen G. White, por exem-
plo? Foi ela alvo de críticas por parte de seus adversários? Foi sua integridade pessoal, bem
como a integridade de seus escritos, provada durante os setenta anos de seu ofício profético?
Atualmente, alguns críticos, dentro e fora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
(IASD), escrevem livros, artigos e matérias na internet com o propósito de questionar
o ministério profético de Ellen G. White. De acordo com o Dr. Jemison (1955, p. 413),
as acusações mais comuns dizem respeito às seguintes questões: a) desordem nervosa,
b) falsos ensinos, c) plágio, d) profecias não cumpridas, e e) aspectos da vida pessoal.
Quando analisamos mais detidamente o assunto, verificamos que as mesmas críti-
cas dirigidas aos profetas bíblicos foram direcionadas a Ellen G. White, o que revela um
paralelismo entre ambas as realidades, em circunstâncias e épocas completamente dife-
rentes. Muitas críticas dirigidas a ela se manifestam numa cadência cíclica. As acusações
hoje levantadas não são novas. De fato, tiveram início no começo do ministério dela e
continuaram ao longo de sua vida. E muitas delas persistem mesmo após sua morte.
Quando uma nova geração entra em cena, os críticos suscitam temas antigos -
algumas vezes com novas roupagens. Essas gerações, inconscientes de que se trata de
"temas antigos" e de que já foram completamente respondidos no passado, muitas vezes
se assustam e se julgam enganadas. Alguns vão mais longe: ao negar sua crença em Eiíen
G. White como profetisa genuína, acabam por abandonar a igreja.
De acordo com o Dr. Herbert E. Douglass (2009, p. 468), há pelo menos sete
motivos tidos como principais agentes causadores das críticas e acusações à vida e
obra de Ellen G. White: 1) os que rejeitam qualquer pessoa que afirme ser um pro-
feta moderno, inclusive Ellen G. White; 2) os que deixam de utilizar as regras de
interpretação básicas e comumente aceitas; 3) os que confiam em rumores e boatos
sem nenhuma evidência documental para suas alegações; 4) os que vêem mudan-
ças editoriais nos escritos de um profeta e as chamam de "supressões"; 5) os que fi-
cam perturbados com a aparente dependência literária; 6) os que carregam consigo
Os críticos e a integridade dos profetas

pressuposições pessoais sobre a maneira de um profeta atuar. Esses últimos acredi-


tam, por exemplo, que os profetas "devem ter conhecimento completo" desde o início
de seu ministério. Suas predições devem ser inalteráveis, seus escritos precisam estar
isentos de erros, discrepâncias e equívocos, e jamais incluir fontes não inspiradas.
Para eles, os profetas nunca expressam opiniões meramente pessoais em seus escritos.
Por fim, o último grupo [7] de causadores de críticas é daqueles que aceitam Ellen G.
White como escritora devocional inspirada, mas rejeitam seu ministério teológico.
Os mais acirrados críticos de Ellen G. White se apegam normalmente a um ou
dois itens dessa lista. Na visão de Coon, em artigo neste livro, de todos os assuntos
considerados problemas, talvez dois deles tenham causado mais impacto para destruir
a confiança na credibilidade dela como profetisa do Senhor: 1) questionamentos de
afirmações de natureza científica, que motivaram sarcasmo e dúvidas por parecerem
contrárias à forma como a ciência vê esses assuntos hoje, e 2) alegação de "plágio".
Portanto, pode-se notar que grande parte das críticas direcionadas a Elíen G.
White tem sua raiz ligada à questão da dependência literária, ou seja, plágio. De
acordo com o dicionário, 1 a palavra plágio indica uma "cópia fraudulenta do traba-
lho de outrem que um autor apresenta como sua".
Nesse ponto, é de vital importância diferenciar tecnicamente dois termos: plágio e
empréstimo literário. É necessário fazer distinção entre plágio (que Ellen G. White não
cometeu) e empréstimos literários (prática adotada por ela e usada repetidamente pelos
escritores da Bíblia). A seguir, apresentamos uma breve distinção entre esses termos.
Roger Coon, no artigo que se segue a este, sugere que o plágio ocorre quando um
escritor toma propositalmente o material literário de outro escritor e o transforma para seu
próprio uso (um tipo de "apropriação" literária). Tal atitude visa a persuadir o leitor de que
ele — o "copiador" — é, na verdade, o criador original dessas palavras e ideias. Hm suma,
plágio é uma literatura mascarada no que diz respeito à identificação do verdadeiro autor.
O empréstimo literário, por sua vez, é caracterizado pela utilização e emprego de
ideias, até mesmo fraseologias, de outro escritor para reforçar determinado aspecto, a
fim de salientar uma ideia em seu texto. Sendo assim, de acordo com as leis literárias, a
prática do empréstimo literário não constitui plágio.
Muitos insinuam que grandes porções dos escritos de Ellen G. White são
produto da mente e literatura de outras pessoas. Partindo dessa premissa, pergun-
tamos: tal acusação tem fundamento? A seguir, apresentaremos alguns argumen-
tos que refutam essas insinuações. Em 1981, a Igreja Adventista do Sétimo Dia
se posicionou favoravelmente a uma análise técnica, após sucessivas acusações
quanto à prática de plágio nos escritos de Ellen G. White.
Então, a Associação Geral contratou os serviços de um advogado especialista
em leis de direitos autorais, Dr. Vincent Ramik, a fim de saber se Ellen G. White era

1
Ver dicionário online da língua portuguesa. Disponível em <http://www.priheram.pt/dlpo/>.
Acesso em: 27 fev. 2012.
Espírito de Profecia

ou não culpada de tais denúncias. Primeiramente, Ramik foi informado de todas as


acusações contra Ellen G. White e foram-lhe passados todos os documentos de defesa
preparados pela Igreja, bem como os livros de Ellen G. White que eram objeto de
acusações de plágio. Em sua primeira leitura, Ramik ficou inicialmente inclinado em
favor da posição dos críticos. Entretanto, investiu depois cerca de trezentas horas no
estudo de mais de mil casos de lei literária norte-americana (1790-1915). Roger Coon,
no artigo já citado anteriormente, descreve o processo de análise de Ramik da seguinte
maneira: a) Ele também dedicou tempo considerável à leitura dos livros de Ellen G.
White, especialmente de O Grande Conflito; b) Apesar de Ramik ser um católico ro-
mano por persuasão religiosa, não se sentiu ofendido nem afrontado pelas referências
que O Grande Conflito traz em relação à instituição do papado.
Ramik obteve os resultados de suas análises após algumas semanas de intenso
trabalho e estudo. Então, ele preparou um documento com cerca de 50 páginas. Eis
uma síntese de suas conclusões:

a) Ellen G. White não pode ser acusada de plagiadora; "tal afirmação não procede".

b) "Creio que os críticos perderam uma grande oportunidade de focalizar sua atenção
nas mensagens de Ellen G. White, em vez de focar apenas nos seus escritos."

c) Ela usou escritos de outros autores, mas a maneira como ela os utilizou foi única e
pessoal, de fornia ética e legal. Portanto, ela está dentro dos padrões legais "do uso
correio" de materiais de outros autores.

d) " Ellen G. White [usou) palavras, frases, sentenças, parágrafos, sim, e mesmo pági-
nas dos escritos de outros autores. Porém, eta permaneceu dentro dos parâmetros
legais e em todo o tempo ela criava algo que era substancialmente maior (e ainda
mais belo) do que a soma das partes dos conteúdos de seu empréstimo literário. E
penso que a tragédia maior é que os críticos deixaram de ver esse detalhe."

e) No fim do processo, o advogado deu seu testemunho pessoal, sem que tenha sido solici-
tado a fazé-lo: "Sou um homem mudado. Nunca mais serei o mesmo."''

Além do estudo conduzido por Ramik, destacamos a pesquisa feita pelo Patri-
mónio Literário Ellen G. White, que se tornou conhecida como "Projeto Surpresa".
No mesmo ano de 1981, Tim Poirier, arquivista do Património White, recebeu uma
coleçâo completa de todos os escritos de Ellen G. White publicados em inglês. Ao

Aqueles que desejarem obter uma síntese do processo de condução do estudo e elaboração do
documento do Dr. Vincent Ramik, queiram se reportar ao periódico Adventist Review de 17 de
setembro de 1981, ou baixá-lo pelo seguinte site: <bit.ly/zSGK8i>.
Os críticos e a integridade dos profetas

recebê-los, foi-lhe solicitado que tomasse nota, nas margens, de todas as referências
aos conteúdos de autores citados por Ellen G. White, tanto trechos evidentes como
paráfrases, e reunisse todas as descobertas de seus críticos de plágio, para serem
avaliadas. O objetivo dessa tarefa era descobrir paralelos literários entre os escritos
dela e os de outros autores. O "Projeto Surpresa", concluído em cinco anos, foi de-
signado dessa maneira porque não importava o quanto fosse encontrado, se Ellen
G. White tivesse tomado emprestado, muito ou pouco, sem sombra de dúvidas,
seria uma "surpresa" para alguns da igreja. Em 1986, Poirier apresentou o relatório
de sua pesquisa, cuja síntese revelou o seguinte:

• A maior porcentagem de empréstimos literários foi encontrada no livro O Grande


Conflito — 20,16%.

• No livro Sketches From de Life of Paul (Relatos da Vida de Paulo) — 12,23%.

• No restante dos livros incluídos nesse estudo foram encontrados 2% ou menos, do


total de empréstimos literários.

As conclusões de Poirier lançaram por terra as declarações públicas de um


dos maiores críticos de Eílen G. White quanto à questão de plágio, Dr. Walter Rea,
autor do livro The White Lie. Nessa obra, ele afirma que ela havia usado cerca de
80 a 90% de empréstimos literários.
147
Considerações Finais
Na visão de Pfandl (2008, p. 86),

Ellen G. White lia muito. Além disso, tinha memória retentiva [fotográfica], o
que significa que frequentemente ela usava conteúdos de materiais que tinha
lido sem se reportar à sua biblioteca para encontrar a fonte exata de onde ela
havia retirado tal empréstimo literário.

Ainda assim, Deus lhe revelara

que ao ler os livros e periódicos religiosos, ela encontraria gemas preciosas de ver-
dades expressas numa linguagem aceitável e que ela receberia auxílio celestial para
reconhecê-los e separá-los dos resíduos de erros que por vezes pudesse encontrar
(WHITE apud PFANDL, 2008, p. 86).

Ao enfatizar a importância do uso de ideias de outros pensadores no livro O De-


sejado de Todas as Nações, 11 ela afirmou:
Espírito de Profecia

O mundo tem tido seus grandes ensinadores, homens de cérebro gigantesco e dota-
dos de admirável capacidade de investigação; homens cujas declarações têm estimu-
lado o pensamento e aberto à visão vastos campos de conhecimento; e esses homens
têm sido honrados como guias e benfeitores de sua raça. Alguém existe, porém, que
os supera a todos. "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus." "Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigénito, que está no seio do
Pai, é quem o revelou (Jo 1:12 e 18). Podemos seguir os passos dos grandes homens
do mundo até onde se estende o registro da história humana; a Luz, porém, existia
antes deles. Como a Lua e as estrelas de nosso sistema solar brilham pelo reflexo da
luz do Sol, assim, no que há de verdadeiro em seus ensinos, refletem os grandes pen-
sadores do mundo os raios do Sol da Justiça. Toda jóia de pensamento, todo lampejo
de intelecto, provém da luz do mundo (WHITE, 2007, p. 464 e 465).
Em vez de tentar esconder as fontes literárias de onde efetuava seus emprés-
timos, Ellen G. White muitas vezes recomendava que as pessoas lessem os livros
que ela utilizava para compor o conteúdo de seus escritos. Dessa forma, podemos
inferir que sua obra como autora estava em comum acordo com os costumes de sua
época. Como vimos, ela não quebrou nenhuma das regras de direitos autorais e sua
conduta como autora foi moralmente correia e ética.
Podemos afirmar que, durante os setenta anos de ofício profético, Ellen G. White
jamais teve a intenção de enganar ninguém ao fazer empréstimos literários. Isso não afeta
sua integridade nem põe em descrédito a genuína inspiração que a capacitou a ser consi-
derada a Mensageira do Senhor. Podemos ressaltar que seu propósito foi sempre comuni-
car a verdade a fim de exaltar e glorificar a Deus e conduzir leitores aos pés de Jesus Cristo.

Referências
JEMISON, T. A prophet among you. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1955.

DOUGLASS, H. E. Mensageira do Senhor. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

PFANDL, G. The gift of prophecy: the role of Ellen G. White in Gods remnant church. Nampa:
Pacific Press Publishing Association, 2008.

WHITE, E. G. O desejado de todas as nações. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.


EUenG.White
e "empréstimos literários":
a questão do plágio

Roger W. Coon

De todos os assuntos considerados como "problemas", talvez dois deles venham


tendo maior sucesso em destruir a confiança na credibilidade de Ellen G. White como
uma profetisa autêntica do Senhor. O primeiro é a existência em seus escritos de afirma-
ções questionavelmente apontadas como sendo de natureza científica, as quais criaram
dúvidas por parecerem tão contrárias à forma como a ciência vê esses assuntos hoje. O
outro é a alegação de plágios nos seus escritos.
Acerca desse último tipo de crítica, um ex-pastor adventista do sétimo dia, Walter
Rea, foi o principal representante na década de 1980. No jornal Los Angeles Times, de
23 de outubro de 1980, ele fez três acusações:

1. Ellen G. White foi uma ladra: ela roubou as produções literárias de outros e colocou
o seu nome nelas;

2. Ela foi uma mentirosa: nega ter feito essas coisas;

3. Ela e seu marido exploraram os membros da igreja — eles forçavam os mem-


bros da igreja a comprar os livros escritos por ela e, dessa forma, fizeram sua
fortuna pessoal por meio dessa fraude.

O objetivo do presente estudo será examinar as acusações e determinar a sua validade.

A importância de se fazer distinções


Para iniciarmos, é importante estabelecer a diferença entre "plágio" {práti-
ca da qual nós descobriremos, ao longo deste estudo, que Ellen G. White não era
culpada) e "empréstimo literário" (expediente utilizado não somente por ela, mas
também pelos escritores da Bíblia).

O p\ágio
O Dicionário Michaelis Escolar on-line define "plagiar" como apresentar como
sua uma ideia ou obra literária, científica ou artística de outra pessoa, ou imitá-la.
Quando um escritor conscienciosamente toma material literário de outro escritor e o
Espírito de Profecia

transforma para seu próprio uso (um tipo de "apropriação" literária), esforçando-se no
processo por persuadir o leitor de que ele — o "conversor" — é na verdade o criador
original dessas palavras e ideias, ele, de fato, cometeu um plágio. Sua motivação pode
ser meramente a fama, ou ele pode estar procurando um benefício adicional financeiro.
O plágio, apesar de obviamente não ser ético (moralmente censurável) não é, por
lei, um crime definido no estatuto. Atividades criminais relacionadas a essa prática in-
cluem invasão de direitos autorais e roubo literário.
Em suma, o plágio é uma literatura mascarada no que diz respeito à identi-
ficação do verdadeiro autor.

O empréstimo literário
O "empréstimo literário" ocorre quando um escritor utiliza ou emprega
("empresta") as ideias — e, algumas vezes, até a fraseologia — de outro escritor,
para enfatizar um ponto em particular.
A questão da identificação da autoria não é aqui um assunto relevante, como
no caso do plágio. A prática do "empréstimo literário" não constitui plágio. As leis
literárias reconhecem e definem como "uso justo" um escritor tomar ideias e até
mesmo palavras de outro, utilizando-as a serviço de uma finalidade particular do
segundo escritor, desde que não pretenda ser o autor original. As leis literárias des-
cartam essa prática específica como sendo plágio.

150
A importância da perspectiva na discussão deste assunto
Na discussão do assunto do plágio e empréstimo literário no geral, bem como nas
alegações de tais práticas no caso de Ellen G. White em particular, é imperativo que a
discussão seja conduzida no grande contexto da perspectiva bíblica e histórica.

Perspectiva bíblica
O empréstimo literário era bastante comum entre os escritores da Bíblia, e isso é
encontrado repetidamente em muitos livros, começando com o Pentateuco de Moisés e
terminando com o Apocalipse do apóstolo João.
Um exemplo dessa prática no Antigo Testamento vem de Moisés, ao dar suas leis a
Israel. Ele tomou emprestadas algumas das leis, ideias e até mesmo a fraseologia do grande
legislador mesopotâmico Hammurabi (que viveu talvez 250 anos antes). O código de Ham-
murabi n" 14 diz: "Se um cidadão roubou o filho de outro cidadão ele deverá ser morto." De
uma forma similar, Moisés escreveu: "O que raptar alguém e o vender, ou for achado na sua
mão, será morto" (Êx 21:16). No código de Hammurabi n° 196 e n° 200 lemos: "Se um ci-
dadão destruir o olho do filho de um cidadão, seu olho deverá ser destruído. Se um cidadão
golpear o dente de outro cidadão, seu dente deverá ser golpeado também." Dois séculos e
meio se passaram e Moisés escreveu: "Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por
olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé" (Dt 19:21). Leis desumanas não foram inclu-
ídas, então Moisés não estava somente copiando (NICHOL, 1978, v. l, p. 616-619).
Ellen G. White e "empréstimos literários"

Outro autor no Velho Testamento que fez uso de empréstimos literários foi
Salomão. Esse "homem sábio" não foi o autor de todos os Provérbios que ele incluiu
em seu livro. Ele "emprestou" os dizeres de diferentes sábios e, na preparação de seu
livro, ele provavelmente atuou mais na função de editor do que na de um autor legí-
timo e admite a ação em Eclesiastes 12:9-10 (Ver apêndice A). Ele afirma claramente
que "procurou" (VKJ) e "investigou" (NVI), e ainda acrescenta que muitos provér-
bios são originalmente de autoria alheia. Seu trabalho foi metodicamente "organi-
zar", "colocar em ordem" essas pérolas de outros autores para servir a seu próprio
propósito literário. Ele colocou aqui "palavras de verdade" (VKJ, RSV, NASB), mes-
mo não sendo o autor original e apesar de os autores originais não serem escritores
inspirados. Vale lembrar que tudo isso foi feito sob a soberana superintendência do
Espírito Santo, que guiou Salomão na busca de frases e expressões que, apesar de
não serem provenientes de fontes inspiradas, são verdadeiras. O Espírito Santo sem
dúvida o guiou para longe de outros relatos que não eram verdadeiros.
Willis J. Hackett disse que "as palavras e as ideias dos profetas não são verdadeiras
somente porque eles as disseram, mas podemos crer que os profetas as proferiram por-
que elas são verdadeiras" (informação verbal).1
Os textos de Isaías 2:2-4 e Malaquias 4: l -3 são verdadeiramente idênticos, assim
como Isaías 36-39 e 2 Reis 18-20 são verdadeiramente idênticos. Novamente, porém, é
irrelevante discutir quem foi o autor e quem copiou o texto.
No Novo Testamento também há exemplos de empréstimos literários. O próprio
Jesus usou ideias e linguagens que outros haviam usado previamente em certos momentos
como, por exemplo, ao nos dará regra de ouro (Mt 7:12), a qual já havia sido escrita pelo
rabino Hillel uma geração antes2: "O que é desagradável a você não faça ao seu vizinho,
essa é a essência da Tora, enquanto que o resto é o comentário disso" (b.Shabbat 31a).
O apóstolo Paulo tomou emprestado de Epiménides, um filósofo do sexto século an-
tes de Cristo, e não viu problema em não identificar a "fonte" para Tito. O texto original diz:

Eles criaram uma tumba para Ele, Aquele que é o Santo e Elevado — Cretenses,
sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos! Mas vós não estais mortos:
O Senhor vive e habita para sempre; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos
(poema de Epiménides em Cretica, ver Tito 1:12; Atos 17:28).

1)"E contemplem! Ele virá com milhares de seus santos para executar o julgamento
sobre todos, e para destruir todos os ímpios: e para convencer todos os ímpios de
suas obras mas que eles tem cometido, e de todas as palavras insolentes que ímpios
pregadores proferiram contra Ele" (CHARLES, 1913, p. 189; ver Judas 14,15).

1
Reunião campal em Potomac, em 1980.
:
O pensamento e até algumas das palavras na oração do Senhor podem ser encontradas nos
primeiros rituais judeus de oração conhecidos como Ha-Kaddish.
Espírito de Profecia

2) "E eu vi e contemplei uma estrela caída do céu" (Enoque 86:1; ver Apocalipse 9:1).

3) "Eles foram todos julgados e achados culpados e foram lançados para dentro do lago
de fogo" (Enoque 90:26; ver Apocalipse 20:15).

4) "E o primeiro Céu passará, e um novo céu deverá aparecer" (Enoque 91:16; ver
Apocalipse 21:1).

5) "E o cavalo andará até o peito no sangue dos pecadores" (Enoque 100:3; ver Apo-
calipse 14:20).

6) "O nome deles serão apagados do livro da vida" (Enoque 108:3; ver Apocalipse 3:5).

7) "Depois disso eu vi uma multidão incontável, que estavam diante do Senhor dos
Espíritos" (Enoque 40: l; ver Apocalipse 7:9).

Numa comparação minuciosa dos quatro evangelhos, nota-se que os escritores


evangélicos emprestaram materiais um do outro ou se utilizaram de uma fonte comum.
Algo como 95% do livro de Marcos está reproduzido em Mateus ou Lucas. Este último
não foi uma testemunha pessoal dos eventos que ele relatou em seu evangelho e, com
certeza, não recebeu seu material através de visões ou sonhos proféticos, como, talvez,
a maioria dos escritores profetas recebeu, mas nos parece que ele encontrou esses ma-
teriais após muito cuidado e pesquisa dirigidos pelo Espírito Santo. Em Lucas 1:1-4, o
autor escreveu com sinceridade a Teófilo:

Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre
nós se realizaram conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles teste-
munhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acu-
rada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.

Perspectiva histórica
Alguns são inclinados a entrar em pânico quando ouvem alegações supondo cri-
mes literários de Ellen G. White pela primeira vez, com frases e termos bastante fortes
de denúncia por parte dos críticos. Entretanto, devemos lembrar que essas acusações
não são novas. Elas tiveram início no começo do ministério dela, continuaram ao longo
de sua vida e continuam a aparecer desde a sua morte quase que em ritmo cíclico.
Ellen G. White e sua igreja tiveram que confrontar essas acusações, e eles fizeram
isso para a satisfação da maioria dos membros, que prontamente esqueceram essa ques-
tão e continuaram a gastar seu tempo com outros assuntos.
De qualquer maneira, quando a nova geração entra em cena, críticos levantam os
velhos assuntos novamente, algumas vezes com novas vestimentas, e essa nova geração,
Ellen G- White e "empréstimos literários"

inconsciente de que isso são "coisas antigas" e de que já foram completamente respon-
didas no passado, muitas vezes se assusta e sente-se como se tivesse sido ludibriada.
Alguns vão mais longe ao se deparar com a negação da crença em Ellen G. White como
uma profetisa genuína e acabam por abandonar a igreja.

Acusações e defesas: uma análise histórica


Alegações de plágio
No ano de 1867, quatro anos após Ellen G. White ter recebido sua primeira gran-
de visão sobre a reforma de saúde (6 de junho de 1863), os membros da igreja já esta-
vam indagando sobre similaridades entre alguns dos escritos dela sobre saúde e ideias
encontradas em livros não adventistas de escritores contemporâneos (WHITE, 1967).
Em 1889, um ex-ministro adventista do sétimo dia chamado Dudley M. Canri-
ght, após uma verdadeira odisseia entrando e saindo repetidas vezes da IASD, finalmen-
te deixou a igreja e publicou o livro Seventh-day Adventism Renounced [ Adventismo do
sétimo dia renunciado] ("após uma experiência de 28 anos"). Ele detém o marco não
invejável de ter sido o primeiro a acusar publicamente Hllen G. White de plágio (outros
que levantaram as dúvidas previamente estavam apenas questionando). Décadas mais
tarde, Canright escreveu Life ofMrs. E. G. White, Seventh-day Adventist Prophet — Her
False Claitns Refuted [Vida da Sra. Ellen G. White, profetisa adventista — suas falsas
declarações refutadas] onde a acusação de plágio é repetida.
Em 1907, a equipe de médicos do Sanatório de Battle Creek discursava sobre as
153
acusações de plágio encontradas no famoso "livro azul" que apareceu no local, de Dr.
Charles E. Stewart (conhecido dessa fornia por causa da cor da capa).
Em 1976, o livro do Dr. Ronald L. Numbers, Prophetess of Health: A Study of
Ellen G. White [Profetisa da Saúde: um estudo sobre Ellen G. White] foi publicado
por uma editora de bastante prestígio, Harper & Row. Essa foi uma publicação que
fracassou de forma fragorosa. O autor, professor de História da Medicina, adventista
do sétimo dia, em tom de sarcasmo, deixa bastante claro desde o prefácio do trabalho
que não acredita que Ellen G. White seja uma profetisa verdadeira. Ele divulga no
conteúdo do livro algumas das velhas acusações de plágio.
Finalmente, nos anos de 1980-1982, Walter Rea, na época já um ex-pregador
adventista do sétimo dia, é entrevistado pelo Los Angeles Times. A entrevista foi
publicada numa das principais colunas do jornal, apresentando acusações de plá-
gio entre outras coisas. Duas semanas depois, a mesma entrevista foi publicada, su-
primindo apenas dois parágrafos e as fotos, no Washington Post. Alguns anos mais
tarde, Rea publicou seu livro The White Lie [A mentira branca — um trocadilho
com o nome da escritora], que de uma maneira repulsiva distorce e faz acusações
insuportáveis e absolutamente bárbaras. O tom é bastante furioso, as acusações
viciosas, chegando a ridicularizar Moisés. Resta dizer que a revista Christianity
Today, ao resenhar o livro de Rea, rechaçou completamente o texto, o que não sig-
nificava que tivessem mais apreço por Ellen G. White que pelo autor.
Espírito de Profecia

A Igreja se ergue em sua defesa


Já em 1867, na Review and Herald, em meio a uma investigação sobre semelhan-
ças entre os escritos sobre saúde de Ellen G. White e daqueles reformadores de saúde
não adventistas, o assunto é discutido abertamente e dirigido pela própria autora. Ela
não somente se defendeu das denúncias de que era alvo, como continuou declarando
sem rodeios que usou algum material, explicando suas razões por ter feito isso.

Questão número 1:
A Senhora recebeu suas visões sobre a reforma de saúde antes de visitar o Instituto
de Saúde em Dansville, Nova Iorque, ou a senhora havia lido alguns trabalhos ante-
riormente sobre esse assunto?

Resposta: Foi na casa do irmão A. Hilliard, em Otsego, Michigan, em 6 de junho


de 1863, que este grande assunto da Reforma de Saúde foi aberto perante mim
em visão. Eu não visitei Dansville até agosto de 1864, 14 meses após eu ter tido a
visão. Eu não li nenhum artigo sobre saúde até ter escrito Spiritual Gifts, volumes
III e IV, Apelos às Mães, e haver esboçado a maioria dos meus seis artigos dos seis
números de Como Viver. Eu não sabia da existência desse artigo Leis da Vida,
publicado em Dansville, Nova Iorque. Igualmente, eu não tinha conhecimento
dos vários trabalhos sobre saúde escritos pelo Dr. J. C. Jackson, bem como de
outras publicações de Dansville, quando na época eu tive a visão do nome acima.
Eu não sabia que tais trabalhos existiam até setembro, 1863, quando em Boston,
Massachusetts, meu marido viu então um anúncio em um periódico chamado A
Voz dos Profetas, publicado pelo ancião J. V. Himes. Meu esposo encomendou
esses trabalhos em Dansville e recebeu esses livros em Topsham, Maíne. Devido
ao seu trabalho, ele não teve tempo para lê-los com atenção e eu me determinei a
não lê-los até haver escrito minhas visões; os livros permaneceram empacotados.
Quando introduzi os assuntos de saúde a amigos dos locais onde eu trabalhava
em Michigan, Nova Inglaterra e no estado de Nova Iorque, e falar contra o uso de
drogas, carnes, e em favor da água, ar puro, e de uma dieta apropriada, a reação
era frequentemente esta: "A senhora fala de forma muito parecida com as opini-
ões ensinadas nas Leis da Vida e outras publicações dos doutores Trall, Jackson
e outros. A senhora leu aqueles artigos e trabalhos?" Minha resposta foi a de que
eu não havia lido antes e que também não os li até ter completamente escrito as
minhas visões, a fim de que não fosse dito que eu havia recebido minha luz sobre
esse assunto de saúde de médicos e não de nosso Deus. E após eu haver terminado
de escrever os meus seis artigos para Como Viver, eu pesquisei os vários livros
sobre higiene e fiquei surpresa ao encontrar artigos tão parecidos e em harmonia
com o que o Senhor me revelou. E para mostrar essa harmonia e colocar ante
meus irmãos e irmãs o assunto como trazido pelos hábeis escritores, me deter-
minei a publicar Como Viver de uma forma pela qual eu retirasse bastante dos
trabalhos em referência (WHITE, 1967, p. 260).
Ellen G. White e "empréstimos literários"

Ellen G. White (2005, p. xi, xii) ampliou sua declaração anterior de que ela realmen-
te fez uso de escritos sobre saúde de outros autores. A partir de 1888, por exemplo, a "in-
trodução" de O Grande Conflito passou a afirmar que se havia feito uso de escritos histó-
ricos e teológicos de outros autores. A denominação reimprimiu a autobiografia de Tiago
White, Life Sketches (esta obra não deve ser confundida com o livro de Ellen G. White de
título similar). A primeira edição, de 1880, publicada um ano antes de sua morte, continha
certos relatos que os editores consideraram inexatos com respeito aos escritos de Ellen G.
White. Tais relatos foram removidos da edição revisada da referida obra.
Em 1933, William White e Doris Robinson preparam o documento "Um pequeno
relato com respeito aos escritos de Ellen G. White" que foi republicado como uma inser-
ção na. Adventist Review, edição de 4 de junho de 1981. O assunto do plágio continuava
a ressurgir e eles novamente comentaram sobre ele de uma maneira franca, podendo-se
destacar dois pontos interessantes:

1. Nos dias anteriores ao seu ministério, Ellen G. White foi informada pelo seu anjo de que
devido aos seus limites relacionados à educação formal, o Senhor certamente a guiaria
a jóias literárias e a outras informações e materiais importantes — "preciosas pérolas da
verdade expressa em linguagem aceitável" e que ela deveria sentir-se livre para utilizá-las
em seus escritos, ao procurar conduzir as mensagens de Deus ao seu povo.

2. O anjo assegurou, tamhém, que o Espírito Santo a capacitaria a distinguir os verda-


deiros dos falsos relatos e a ajudaria a separar algumas dessas "pérolas" do "lixo do
erro" em que estariam embutidas, para que ela não perpetuasse os erros.

Em 1951, Francis D. Nichol (1951, p. 403-467) lançou a enciclopédia Ellen G. White


and Her Critics [Ellen G. White e seus críticos], na qual foram dedicados três capítulos a vários
aspectos e alegações de ataques plagiadores que continuam a surgir dentro e fora da igreja.
Finalmente, em 1976, a equipe do Património Literário Ellen G. White coletiva-
mente interrompeu todos os projetos em andamento e preparou um documento de 128
páginas contestando as inúmeras acusações de Ronald Numbers "Crítica da profetisa
da saúde" após seis meses de pesquisas. Quatro anos depois, o secretário do Património
Literário Ellen G. White, Robert W. Olson escreveu uma monografia de grande ajuda:
"O uso de fontes não inspiradas por Ellen G. White" (SEVENTH-DAY, 1962, H-4).
Continuando a defesa dos escritos de Ellen G. White, em 1982 a revista Ministry
publicou duas importantes contribuições, sendo a primeira em junho (p. 5-19), "Profeta
ou plagiadora?" de Warren H. John, um académico bastante meticuloso e metódico, e a
outra em agosto, com o título "The Truth About the White Lie" [A verdade sobre a men-
tira branca], da equipe do Património Literário Ellen G. White, de 32 páginas, editada
por Ron Graybill. Uma detalhada resposta a Walter Rea, contendo bibliografia para um
estudo mais detalhado de cada um dos vários pontos levantados por ele.
Por último, em 1986, Robert W. Olson preparou sua monografia de nove páginas
intitulada "O assunto dos empréstimos literários" revisada em 8 de fevereiro de 1989
Espírito de Profecia

(SEVENTH-DAY, 1962, H-2). Assim, com todos esses argumentos, esperamos que as
acusações de plágio tenham sido enterradas por mais uma geração.

Um especialista em leis de direitos autorais examina os as-


pectos legais das acusações de plágio
Em 1981, após as últimas acusações de Walter Rea, o chefe do Comité da Associação
Geral, Sr. Warren L. Johns contratou os serviços de um especialista em leis de direitos au-
torais, Vincent Ramik, na tentativa de obter a opinião de um especialista em leis para saber
se Ellen G. White era ou não culpada delas. Johns não usou o dinheiro da igreja para esse
projeto pessoal — recursos particulares pagaram por essa pesquisa. Foram informadas a
Ramik todas as acusações contra a profetisa e todos os documentos de defesa preparados
pela igreja, assim como os seus relevantes livros envolvidos nas várias acusações. Ao ler as
acusações e a postura e defesa da igreja, Ramik estava inicialmente inclinado a favor da posi-
ção dos críticos. Ele gastou mais de 300 horas no estudo de mais de 1000 casos de lei literária
norte-americana (1790-1915), no contexto de acusações críticas e respostas da igreja em sua
defesa. Ele também dedicou um tempo considerável na leitura dos livros de Elíen G. White,
especialmente de O Grande Conflito. É interessante que, apesar de Ramik ser um católico
romano por persuasão religiosa, ele não se sentiu ofendido ou afrontado pelas referências
em O Grande Conflito acerca da instituição do papado.
Após algumas semanas, Ramik entregou um breve documento jurídico de
aproximadamente 50 páginas a Johns. Sua opinião legal a respeito das acusações a
Ellen G. White era a seguinte: "Não procede." Ele fez a seguinte observação sobre as
acusações dos críticos: "Eles perderam o barco; eles têm colocado em foco somente
as palavras e perderam totalmente a mensagem." Para ele, os escritos de Ellen G.
White estão dentro dos padrões legais "do uso correto" concernentemente a um es-
critor usando materiais de outros. Ele até mesmo deu seu testemunho pessoal, sem
ter sido solicitado, sobre sua leitura dos livros de Ellen G. White: "Sou um homem
mudado. Nunca mais serei o mesmo Vince Ramik". Ramik foi posteriormente entre-
vistado por Roger W. Coon e outros líderes da igreja por duas horas (cada palavra
foi eletronicamente gravada e depois transcrita literalmente). 3
Após os resultados serem publicados, um advogado de Walter Rea zombou das
descobertas de Ramik, alegando que o advogado mencionou um caso em particular
("Emerson x Davies") cuja análise de quem ganhou ou quem perdeu, longe de ajudar,
prejudicou a argumentação de Ramik. Respondendo à acusação, Ramik disse: "Eu citei
esse caso, não por causa de quem ganhou ou perdeu, mas porque leis autênticas foram
feitas pela declaração do senhor Justice Storey, que examinou o caso — sua posição foi
usada como um precedente legal e se tornou uma lei literária efetiva."

3
Para os resultados, ver Coon/Wood quatro artigos reimpressos da Adventist Review, 17 de
setembro de 1981.
Ellen G. White e "empréstimos literários"

O "Projeto Surpresa" do Património White


Os bastidores
Hm 1981, Tim Poirier, arquivista do Património White, recebeu uma coleção
completa de todos os escritos de Kllen G, White publicados em inglês. Foi dito a ele que
tomasse nota nas margens de todas as referências do trabalho de outros escritores feitas
por ela, tanto trechos evidentes como paráfrases. Foram dadas a ele todas as descobertas
de Walter Rea e ele usou investigações de outros pesquisadores (inclusive dele próprio)
para tentar descobrir outros paralelos literários entre os escritos da profetisa e os de ou-
tros autores. F,sse projeto levou cinco anos para ser concluído e ficou conhecido como
"Projeto Surpresa", porque não importava a quantidade por ele encontrada, ou seja, se
ela havia tomado emprestado muito ou pouco: isso, sem sombra de dúvidas, seria uma
"surpresa" para alguns da igreja.

O relatório de Poirier
Em 1986, Tim Poirier entregou o relatório da sua pesquisa. O livro O Desejado
de Todas as Nações foi excluído dessa pesquisa, porque ele estava sendo objeto de um
estudo bastante detalhado e intensivo conduzido pelo Dr. Fred Veltman, professor e
pesquisador do Departamento de Religião do Pacific Union College. A maior percen-
tagem dos "empréstimos" foi encontrada no livro O Grande Conflito, somando o valor
de 20,16%. No livro Sketches From de Life of Paul foram encontrados 12,23% de para-
lelos. O restante dos livros incluídos nesse estudo tem 2% ou menos do seu conteúdo
composto por materiais emprestados {para o relatório detalhado, ver Apêndice B). A
declaração pública de Walter Rea, de que nos escritos de Ellen G. White havia de 80 a
90% (ou mais) de empréstimos literários revelou-se extremamente exagerada, para a
surpresa de poucos que haviam estudado as pesquisas de Rea, bem como as pressuposi-
ções literárias concernentes à inspiração e revelação.

Possíveis razões por que Ellen G. White tomou emprestado


de outros escritores
Uma provável razão para Fllen G. White ter utilizado empréstimos literários é a
ajuda neles encontrada para expressar melhor as ideias e verdades reveladas a ela em
visão. Essa justificativa é compreensível, levando-se em consideração que ela possuía
educação formal limitada (sobre isso ver as breves declarações de William C. White) e
pouco tempo disponível para escrever a visão total de seu ministério. Além disso, esses
empréstimos possibilitariam a complementação de detalhes úteis não revelados a ela
nas visões. Ela se obrigava a pesquisar detalhes históricos, geográficos e cronológicos
após as visões a fim de melhorar o texto para a publicação. Logo, ela utilizou materiais
históricos para ilustrar, e não provar seus escritos.
Outra razão possível é o aprimoramento literário, ou seja, por razões estéticas
(beleza do texto):
Espírito de Profecia

O Senhor é amante do belo, e para nos agradar e gratificar Ele desvelou perante nós
as belezas da natureza, tal como um pai terreno busca oferecer o melhor aos filhos
que ama. O Senhor sempre se compraz em ver-nos felizes (...) Ele no-las concedeu
para o nosso deleite [,..] Suas misericórdias foram-nos concedidas gratuitamente
(Ellen G. White, Manuscrito 153, 1903).

Dessa forma, vemos uma preocupação em honrar a Deus e impressionar leitores,


pedagogicamente incentivando a memória. Através desses argumentos externos, tam-
bém é possível explicar as posições doutrinárias da IASD para o nosso povo. Relatos
da situação das Conferências Sabatinas de 1848-50 foram entendidas por consenso e
todos contribuíram e se sentiam livres para usar posteriormente. Vale ressaltar, porém,
que o fato de que John N. Andrews tenha escrito sobre o Sábado, Tiago White, sobre o
Santuário, e Urias Smith, sobre o Juízo Investigativo, é, afinal, irrelevante — eles estavam
articulando e/ou refletindo posições de consenso.
Uma última razão é um exercício do subconsciente da possível memória fotográ-
fica de Ellen G. White. Durante a semana ela provavelmente lia artigos de vários auto-
res. No sábado, falando de modo improvisado, sem anotações, ela iria refletir algumas
das verdades expressas por outros autores não inspirados. Seria feito uni relatório por
taquigrafia e, como ela não fornecia a "origem" em seu discurso oral, não haveria então
a referência na transcrição; e as transcrições posteriores seriam materiais para futuros
capítulos de livros e artigos periódicos. É impossível provar que ela tinha uma memória
fotográfica e é também impossível refutar isso.

A teoria sobre composições sagradas de EUen G. White4


Após substanciosos estudos e pesquisas, eu acredito que a teoria sobre a criação
de textos sagrados por Ellen G. White poderá ser aqui apresentada em quatro tópicos:

1. Como o domínio de ideias, é tão verdadeiro quanto qualquer outro: "O que foi e o que
há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol"
(Ec l :9). Ideias surgem a cada nova geração e com isso alguns podem pensar serem
originais, quando, na realidade, é somente a fala renovada de uma verdade antiga.

2. Deus é o criador de todas as ideias:

a) Em O Desejado de Todas as Nações, lemos:

O mundo tem tido seus grandes ensinadores, homens de cérebro gigantesco


e dotados de admirável capacidade de investigação, homens cujas declarações

Para um resumo da teoria sobre a composição sagrada de Ellen G. White, ver Apêndice C.
Elten G. White e "empréstimos literários"

têm estimulado o pensamento e aberto à visão vastos campos de conhecimento;


e esses homens têm sido honrados como guias e benfeitores de sua raça. Al-
guém existe, porém, que os supera a todos. "A todos quantos O receberam, deu-
-Ihes o poder de serem feitos filhos de Deus." "Deus nunca foi visto por alguém.
O Filho unigénito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer." João 1:12 e 18.
Podemos seguir os passos dos grandes homens do mundo até onde se estende o
registro da história humana; a Luz, porém, existia antes deles. Como a Lua e as
estrelas de nosso sistema solar brilham pelo reflexo da luz do Sol, assim, no que
há de verdadeiro em seus ensinos, refletem os grandes pensadores do mundo
os raios do Sol da Justiça. Toda jóia de pensamento, todo lampejo de intelecto,
provém da luz do mundo {WHITE, 2007, p. 464-465).

b) Um pensamento semelhante é expresso no Manuscrito 25, de 1890:

Em seus discursos, Cristo [... ] Não menosprezava as repetições de antigas e fami-


liares verdades proféticas, se elas servissem para o seu propósito de inculcar ideias.
Cristo foi a Origem de todas as pérolas da Verdade. E pelo trabalho do inimigo, es-
tas verdades têm sido deslocadas. Elas vêm sendo desconectadas de sua verdadeira
posição, e colocadas numa moldura de erro. O trabalho de Cristo foi reajustar e es-
tabelecer estas preciosas pérolas num contexto verdadeiro [... ] Cristo as resgatou da
imundície do erro e deu a elas uma nova força vital [... ] O próprio Cristo poderia usar
qualquer destas antigas verdades sem precisar tomar emprestada a mínima partícula
que fosse, porque foi Ele quem as originou. Ele tem colocado estas verdades nas men- 159
tes e pensamentos de cada geração e quando Ele veio ao nosso mundo, Ele rearranjou
e revitalizou as verdades que estavam mortas, tornando-as mais fortes para o bene-
fício das gerações futuras. Foi o próprio Jesus que teve o poder de resgatar a verdade
do lixo e novamente dá-las ao mundo com muito mais poder e vigor do que na sua
forma original (Ellen G. Whitc, Manuscrito 25, 1890).

3. Porque Deus é o Criador de todas as boas ideias. Ele é também o dono delas. Na Car-
ta 7, datada de 6 de fevereiro de 1894, para sua assistente literária Fannie Bolton, que
estava tão preocupada sobre créditos literários pelas ideias, Ellen G. White escreveu:

Foi-me dada uma ilustração de uma árvore repleta de lindos frutos. Foi-me
mostrada Fannie recolhendo os frutos, alguns maduros, os melhores, alguns
ainda verdes. Ela os colocava em seu avental e dizia: "Eles são meus, isto é meu."
Eu disse: "Fannie, você com certeza está reivindicando algo que não é seu. Esta
fruta pertence àquela árvore. Qualquer um pode arrancá-la e saboreá-la, mas
ela pertence àquela árvore" (Ellen G. White, Carta 7, 1894).

4. Ela se via como uma agente escolhida por Deus para conduzir antigas verdades e es-
sas verdades — não o agente que as levava — eram o único assunto verdadeiramente
Espirito de Profecia

importante. Na Carta 53, de 5 de abril de 1900, Ellen G. White escreveu a Stephen


N. Haskell:

Em consideração aos nossos irmãos que estão escrevendo sobre a terceira


mensagem angélica, deixe-os escrever. Lembrando que nos ramos da videira
há diversidade na unidade. A vida na natureza confronta a uniformidade. Há
variedade no corpo humano desde os olhos até os pés [...] Há também o que
não vemos, o consciente, unidade individual, mantendo a maquinaria do corpo
em ação, cada parte trabalhando em harmonia com outra parte.
Há variedade em uma árvore; há dificilmente duas folhas idênticas, e esta varie-
dade contribui para a perfeição da árvore como um todo.
Deixe tudo estar sob o controle da influência do Espírito Santo de Deus. Sob
a direção do Espirito Santo, alguém poderá até usar as mesmas expressões
usadas por outro colega de trabalho que está sob o mesmo guia. Ele não
fará nenhum esforço para fazer isto ou aquilo, mas deixará a mente agir
de acordo com o Espírito Santo. Mas há uma coisa que todos devem fazer:
"Esforçar-se em manter a unidade do Espírito no laço da paz."
O criador de todas as ideias poderá impressionar mentes diferentes com o mes-
mo pensamento, mas cada uma delas poderá expressar isso de maneiras dife-
rentes, e ainda assim sem contradição (Ellen G. White, Carta 53, 1900).

Avaliações
160
Por um académico adventista do sétimo dia
O doutor Edward Heppenstalí (1987, p. 17), professor aposentado de Teologia,
apresenta em um excelente artigo alguns pontos quanto a Ellen G. White e o uso de
outras fontes. Vamos a eles:

1. A inclusão de materiais de outras fontes cristãs por Ellen G. White em seus escritos, na
maioria das vezes sem dar o devido crédito, levanta a questão da declaração dela de
genuína inspiração como uma Mensageira do Senhor. Entretanto, ela não procurou
enganar ninguém. Pensamentos, fatos e verdades escritas por uma pessoa podem ser
usados por outra sem que isso seja considerado plágio. Ela fez aplicações originais
para materiais antigos, enquanto se valia de pensamentos e palavras de outros livros.

2. Ela dificilmente poderá ser acusada de plagiadora mais do que um arquiteto ou escultor
poderá ser acusado de ser um copiador de Christopher Wren ou Michelangelo, apenas
porque ele teria cortad um mármore de uma pedreira em comum, esquadrinhado as
pedras com a mesma arte, e então as unido em colunas com uma forma parecida. O cer-
to é que existe certa liberdade para se adotar e adaptar formas de propriedades comuns
de académicos mundiais. Usar argumentos e seguir as verdades de outros escritores não
significa não ser original. Na realidade, a originalidade absoluta é quase impossível.
Ellen G. White e "empréstimos literários"

3. Nenhuma objeção válida pode ser trazida contra Kllen G. White quando ela aumenta
c clarifica suas próprias ideias à luz do trabalho de outros escritores. Para estabele-
cer a acusação de plágio, alguém deve provar uma tentativa deliberada de usar o
trabalho de outra pessoa para exaltação de si mesmo, ao invés de exaltar a Deus. Seu
íntegro propósito foi a comunicação da verdade, acreditando que, não importando
a origem, a verdade deveria ser exaltada c Deus glorificado.

4. Como seres finitos, o conhecimento completo do que está envolvido no método de


comunicação de Deus pode facilmente escapar de nós. Deus escolheu Ellen C,. White
e falou para e através dela de uma forma que Ele não fala a nós. Acreditar em todas
estas comunicações sobrenaturais como verdades de Deus requer fé de nossa parte.

5. O amor "não é invejoso". Há muita dúvida quanto a igreja e suas doutrinas; muita
desaprovação e rejeição entre nós porque outros não pensam exatamente como nós
pensamos. O assunto é este: São os testemunhos de Ellen G. White, por Jesus e pelas
Hscrituras, verdadeiros? As declarações dela quanto a ter recebido comunicações de
Deus são genuínas? Acreditaremos que Deus falou e continua falando a nós; que as
verdades que guardamos vêm do próprio Deus; e que elas nos guiarão triunfantc-
mcntc à vida eterna em Cristo Jesus Nosso Senhor?

Por um escritor não adventista


John Harris, um contemporâneo de Ellen G. White, escreveu uma biogra-
fia de Jesus intitulada The Great Teacher, publicada em 1835, quando ela tinha
apenas oito anos de idade. Há evidências de que Harris foi um dos vários bió-
grafos de Cristo cujos materiais aparecem em O Desejado de Todas as Nações. O
prefácio do livro de Harris foi escrito por Herman Humphrey, então presidente
do Amherst College. Nele, Humphrey coloca a hipótese sobre o que aconteceria
se um profeta verdadeiramente genuíno surgisse em tempos modernos e, sob a
luz do que aconteceu na experiência de Ellen G. White, suas palavras hoje pare-
cem quase que prescientes. Humphrey escreveu:

Imagine, por exemplo, que um profeta inspirado aparecesse na igreja para


adicionar suplementos aos livros canónicos — que Babel de opiniões ele en-
contraria existindo em quase que cada assunto teológico! E quão altamente
provável seria que seu ministério consistisse, ou parecesse consistir de uma
mera ratificação e seleção destas tais opiniões de acordo com a mente de Deus.
Originalidade absoluta parece ser quase impossível. A mente inventiva do ho-
mem já tem se incorporado de opiniões especulativas em quase todas as for-
mas concebíveis, antecipando e roubando o futuro de suas justas proporções
de novidades e descobertas, e deixando pouco mais, até mesmo para um men-
sageiro divino, do que a tarefa de tomar algumas destas opiniões e imprimi-las
com o selo dos céus (HARRIS, 1840, p. xxxiiii, xxxiv).
Espírito de Profecia

Considerações finais
O empréstimo literário era uma prática comum entre os escritores da Bíblia.
Ao seguir esse exemplo, Ellen G. White estava honestamente mantendo o objetivo
final da tradição bíblica, e, portanto, alegações contra Ellen G. White concernentes
à prática de plágio não são assuntos novos levantados pelos críticos hoje em dia.
Eles têm sido levantados e foram encarados com sinceridade por Ellen G. White
durante toda a sua vida, desde 1867.
Como foi visto nesse artigo, denúncias de plágio são totalmente sem funda-
mento. Nunca algum autor ou editor processou, ou tentou processá-la, por violação
de direitos autorais em sua época e nem o Património White esteve sujeito a tais
processos após sua morte. Além disso, Ellen G. White não fez, esforços para escon-
der o fato de que ela usou porções de escritos de outros autores, incorporando-os
à sua própria produção literária. Aliás, ela reconheceu publicamente, por escrito,
o uso em seus trabalhos de materiais de outros escritores nas categorias reforma
de saúde, história e teologia. Particularmente, ela reconheceu abertamente alguns
usos de anotações pessoais, como na contracapa de pelo menos um livro na sua
biblioteca particular e em inúmeras cartas para familiares de colegas profissionais.
A extensão de seus empréstimos literários tem vindo a lume como resultado
de pesquisas conduzidas pelo Património White e por pesquisadores independen-
tes desde 1981. As diversas acusações feitas anteriormente quanto a uma suposta
incidência de 90 a 100% de material de outros autores em seus escritos compro-
varam-se agora ser extremamente exageradas. Com a exceção de quatro livros, a
média deste incidente é de 3% ou menos.
O Património Ellen G. White e a liderança denominacional não são culpados
das alegações dos críticos sobre acobertar o plágio ou os empréstimos literários.
Ela mesma enfrentou as críticas no século 19 tão logo elas foram feitas. Em 1933,
o Património White preparou um documento (escrito por William White, "Brief
Statements") se posicionando e tratando de forma completamente franca esse as-
sunto. Quando a primeira impressão se esgotou, uma nova impressão não foi feita
em virtude da ausência de demanda do campo por cópias. Quando o assunto veio
à tona novamente em 1981, foi reimpresso como uma inserção da revista Adventist
Review. Desde sempre, a liderança da igreja tem tratado desta questão publicamen-
te, de uma maneira franca, direta e detalhada.
Já vimos que o especialista em legislações, Dr.Ramik, analisou as acusações de plá-
gio contra Ellen G. White e concluiu que ela "não é culpada" nem de violação dos direitos
autorais, nem de pirataria literária. Há evidências de que, apesar de ela ter estado de al-
guma forma ciente das restrições de direitos autorais, ela ainda considerou que, afinal de
contas, toda verdade pertence a Deus, não ao homem, e que os escritores de temas religio-
sos são meramente refletores ao invés de geradores da verdade. Vale lembrar que a prática
de empréstimos literários era vista de outra forma nos dias dela, além de ser uma prática
contemporânea comum nos dias de Ellen G. White, enquanto hoje não é.
EUen G. White e "empréstimos literários"

Há aproximadamente doze declarações em que, superficialmente, Ellen G. White


aparenta estar reivindicando a originalidade de todos os seus escritos e após análises
cuidadosas, foi demonstrado que essas passagens somente se tornam problemáticas
quando os críticos as tiram de seu contexto original e então as distorcem. Os críticos de
hoje ainda não estão levantando questões tais como:

1. O fato de que a originalidade da composição literária não é um teste de autenticidade


ou legitimidade profética.

2. O fato de que desde que os escritores bíblicos seguiram esse costume, o assunto da
porcentagem é totalmente irrelevante.

3. O modo como Ellen G. White usou o que ela tomou emprestado.

4. A frequência com que ela adaptava ou mudava o que ela pegou emprestado.

5. A forma como ela decidia o que tomar e o que não tomar emprestado.

6. O fato de que ela ia além dos materiais emprestados para outros autores e adi-
cionava novas informações, não encontradas em n e n h u m outro lugar, mesmo
na própria Bíblia.

7. O papel do Espírito Santo no inteiro processo da inspiração e revelação e no uso dos


materiais emprestados por escritores inspirados.

APÊNDICE A
Traduções de Eclesiastes 12:9-10

t* 9 O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conheci-


E mento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.
de Almeida Revista
10 Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever
';- com retidão palavras de verdade.
9 O Sábio, usando o seu conhecimento, continuou a ensinar
Versão; Nova ao povo o que sabia. Ele estudou, examinou e pós em ordem
Tradução na
Linguagem do Hoje JO Procurou usar palavras agradáveis, e tudo o que escreveu
é verdade.
Espírito de Profecia

9 Além de ser sábio, o pregador também ensinou ao povo o


Versão: João conhecimento, meditando, e estudando, e pondo em ordem
Ferreira de Almeida muitos provérbios.
Atualizada 10 Procurou o pregador achar palavras agradáveis, e escreveu
com acerto discursos plenos de verdade,
M And moreover, because the preacher was wise, he still taught
the pcople knowledge; yea, hc gavc good heed, and sought out,
Versão; English: and set in order many proverbs.
King James Version 10 'lhe preacher sought to find out acceptable words: and that
which was written was upright, even words of iruth.
9 And further, because the Preacher was wise, he [Solomon]
still taught the people knowledge, and he pondered and sought
AMP out and set in order many proverbs.
10 The Preacher sought out acceptable words, and to written
down rightly words of truth or correct sentiment.
9 Besides being wise, the Preacher also taught the people knowled-
ge, weighing and studying and arranging proverbs with great care.
RSV e MV
10 'lhe Preacher sought to find pleasing words, and, uprightly
he wrote words of truth.
9 Not only was the Teacher wise, but also he imparted know-
ledge to the people. He pondered and searched out and set in
164 order many proverbs.
10 lhe Teacher searched to find just the right words, and what
Bíblia de Jerusalém he wrote was upright and true.
Besides being a sage, Qoheleth also taught his knowledge to
the people, having wcighed, studied and amended a great many
proverbs. Qoheleth tried to write in an attractive style and to set
down truthful thoughts in a straight-forward manner.

APÊNDICE B

Porcentagem de "empréstimo" em livros selecionados de


Ellen G. White
Porcentagens de empréstimos literários em
ordem alfabética de título de livros:
Título Linhas Paralelas Porcentagem
Atos dos Apóstolos 426 3,05%
Ellen G. White e "empréstimos literários"

Beneficência Social 47 0,68%

Caminho a Cristo 196 6,23%

Ciência do Bom Viver, A 98 0,78%

Conselhos aos Pais, 64 0,49%


Professores e Estudantes
Conselhos Sobre a Escola Sabatina 13 0,32%

Conselhos Sobre Mordomia 58 0,80%

Conselhos Sobre o 15 0,11%


Regime Alimentar
Conselhos Sobre Saúde 83 0,48%

Counsels to Writers and Editors 14 0,34%

Educação 71 0,88%

Evangelismo 50 0,30%

Fé e Obras 73 2,97%
165
Fundamentos da Educação Cristã 159 0,91%

Grande Conflito, O (em citações) 3241 15,11%

Grande Conflito, O (não-creditado) 1084 5,05%

Lar Adventista, O 55 0,41%

Life Sketches 0,55%

Maior Discurso de Cristo, O 26 0,68%

Medicina e Salvação 34 0,36%

Mensagens aos Jovens 282 2,67%

Mensagens Escolhidas — vol. 1 225 1,94%

Mensagens Escolhidas — vol. 2 20 0,17%

Minha Vida Hoje 126 1,33%


Espírito de Profecia

Orientação da Criança 61 0,50%


Parábolas de Jesus 70 0,60%
Patriarcas e Profetas 543 2,28%

Paulo, o Apóstolo da Fé 1185 12,23%

Primeiros Escritos 10 0,14%

Profetas e Reis 242 1,51%

Santificação 17 0,81%

Serviço Cristão 60 0,80%

Temperança 25 0,37%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 1 135 0,60%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 2 42 0,20%

Testemunhos Para a Igreja — vol 3 177 0,96%

Testemunhos Para a Igreja - vol 4 366 1,74%


166
Testemunhos Para a Igreja — vol. 5 638 2,82%

Testemunhos Para a Igreja — vol 6 61 0,51%

Testemunhos Para a Igreja — vol 7 56 0,77%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 8 82 0,97%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 9 18 0,28%

Testemunhos Para Ministros 1 27 0,85%

Porcentagens de empréstimos literários em


ordem decrescente de incidência:
Título Linhas Paralelas Porcentagem
Grande Conflito, O (em citações) 3241 15,11%
EUen G. White e "empréstimos literários"

Paulo, o Apóstolo da Fé 1185 12,23%

Caminho a Cristo 196 6,23%


Grande Conflito, O (não-creditado) 1084 5,05%

Atos dos Apóstolos 426 3,05%

Fé e Obras 73 2,97%

Testemunhos Para a Igreja - vol 5 638 2,82%


Mensagens aos Jovens 282 2,67%
Patriarcas e Profetas 543 2,28%
Mensagens Escolhidas — vol. l 225 1,94%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 4 366 1,74%

Profetas e Reis 242 1,51%

Minha Vida Hoje 126 1,33%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 8 82 0,97%


167
Testemunhos Para a Igreja — vol. 3 177 0,96%

Fundamentos da Educação Cristã 159 0,91

Educação 7] 0,88%

Testemunhos Para Ministros 127 0,85%


Santificação 17 0,81%

Serviço Cristão 60 0,80%

Conselhos Sobre Mordomia 58 0,80%


Ciência do Bom Viver, A 98 0,78%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 7 56 0,77%


Maior Discurso de Cristo, O 26 0,68%

Beneficência Social 47 0,68%


Espírito de Profecia

Parábolas de Jesus 70 0,60%

Testemunhos Para a Igreja — vol 1 135 0,60%

Life Sketches 32 0,55%

Testemunhos Para a Igreja — vol 6 61 0,51%

Orientação da Criança 61 0,50%

Conselhos aos Pais, 64 0,49%


Professores e Estudantes
Conselhos Sobre Saúde 83 0,48%

Lar Adventista, O 55 0,41%

Temperança 25 0,37%

Medicina e Salvação 34 0,36%

Conselhos Sobre a Escola Sabatina 13 0,32%

Evangelismo 50 0,30%
168 Testemunhos Para a Igreja — vol. 9 18 0,28%

Testemunhos Para a Igreja — vol. 2 42 0,20%

Mensagens Escolhidas — vol 2 20 0, 1 7%

Primeiros Escritos 10 0,14%

Conselhos Sobre o
15 0,11%
Regime Alimentar

APÊNDICE C

A teoria sobre a composição sagrada de EUen G. White5


Patriarcas, profetas e apóstolos falavam conforme foram movidos pelo Espírito San-
to. Eles afirmavam com franqueza que falavam não pelo seu próprio poder, e não em seu

s
Extraído do artigo "Christ Revealed The Father". Review and Herald, v. 67, n. l,7jan. 1890, p. 1.
EUen G. White e "empréstimos literários'

próprio nome. Desejavam que nenhum crédito fosse relacionado a eles, e que ninguém
deveria considerá-los como os criadores de nada de que pudessem se gloriar. Eles eram
zelosos pela honra de Deus, a quem todo o louvor pertence. Eles declararam que todas as
habilidades e as mensagens que eles traziam foram dadas a eles como representantes do
poder de Deus. Deus era a sua autoridade e suficiência. Jesus havia transmitido um conhe-
cimento de Deus aos patriarcas, profetas e apóstolos. As revelações do Antigo Testamento
constituíram enfaticamente o desdobramento do evangelho, o desvelar do propósito e a
vontade do nosso infinito Pai. Através de homens consagrados do passado, Cristo traba-
lhou para a salvação da humanidade caída. E quando Ele veio a este mundo, foi com a
mesma mensagem de redenção de pecados e restauração ao favor de Deus.
Cristo é o Autor de toda a verdade. Cada conceito brilhante, cada pensamen-
to sábio, cada talento e capacidade do ser humano é um presente de Cristo. Ele
não tomou emprestadas novas ideias da humanidade; pois foi Ele quem originou
todas elas. Mas quando Ele veio a este mundo, Ele encontrou as brilhantes pérolas
da verdade que havia incrustadas no homem, todas enterradas em superstições e
tradições. Verdades da mais vital importância foram colocadas em molduras de
erro, para servir aos propósitos do arquienganador. As opiniões dos homens, os
sentimentos mais populares das pessoas, foram disfarçados com a aparência da ver-
dade e foram apresentados como as genuínas jóias dos céus, merecendo atenção e
reverência. Mas Cristo varreu estas teorias erróneas de seu posto. O Redentor do
mundo tinha poder para apresentar a verdade em sua pureza original, desvestida do
erro que Satanás tem acumulado para encobrir a sua beleza celestial.
Algumas das verdades que Cristo talou eram familiares às pessoas. Alguns as
haviam ouvido dos lábios de pregadores, governadores, e pensadores; mas, além
disso, eles eram distintivamente os pensamentos de Cristo. Ele os deu aos homens
na confiança de que eles seriam comunicados ao mundo. Em cada ocasião Ele pro-
clamava uma particular verdade que Ele achava ser apropriada às necessidades de
seus ouvintes. Não importando se as ideias já tivessem sido expressas ou não.

Referências
CHARI.HS, R. H. The apocrypha and pseudepigrapha of the Old Testament, v. l, 1931.
Disponível em <http://bit.ly/GCWFzyx Acesso em: 21 mar. 2012.
HARRIS, f. The great teacher. London: Thomas Ward and Co., 1840.
HEPPENSTALL, E. O testemunho inspirado de Ellen G. White. Adventist Review, 9 mai. 1987.
NICHOL, F. D. (Ed.). The Seventh-day adventist bible commentary. Washington: Review and
Herald, 1978. v. 1.

. Ellen G. White and her critics: an answer to the major charges that critics have
brought again Mrs. Ellen G. White. [S. 1.]: Review and Herald, 1951.
Espírito de Profecia

SEVENTH-DAY adventist Bible students' source. Washington: Review and Herald, 1962.
(Commentary Reference Series).

WHITE, E. G. Questions and answers. Review and Herald, v. 30, n. 17, 1967. Disponível em
<http://bit.ly/GK7Hk4>. Acesso em: 21 mar. 2012.

. O grande conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

170
Ellen G. White e o
vegetarianismo:
ela praticava o que pregava?
HHI
Roger W. Coon

Alegações hipócritas contra Ellen G. White


Pregador ex-adventista, Dudley M. Canright escreveu que Ellen G. White "proi-
biu comer carne, [...] porém secretamente ela mesma comia carne durante a maior
parte da sua vida" (CANRIGHT, 1919, p. 289).' Ele também reivindicou ter visto Tiago
e Ellen G. White comerem presunto na própria sala de jantar da casa deles.
Em 1914, Francês (Fannie) Bolton, uma das últimas assistentes literárias de Ellen G.
White, escreveu sobre dois incidentes que supostamente mostravam a sua inconsistência
com respeito à ingestão de carne. De acordo com Bolton, quando ela e outros estavam
viajando de trem com ela para a Califórnia, George B. Starr encontrou-a atrás de uma
tela no restaurante comendo uma grande ostra branca crua com vinagre, pimenta e sal
(BOLTON, 1982, p. 109). Ela também disse que, na mesma viagem à Califórnia, William
Clarence White entrou no trem com um enorme pedaço de bife sangrento envolvido num
papel marrom. Sarah McEnterfer, sua atendente, o cozinhou em um pequeno fogão a óleo,
e todos comeram, menos ela e Marian Davis (BOLTON, 1982, p. 109-110).

Refutando as acusações
Canright conheceu Tiago White e aceitou o sábado a partir de sua pregação em
1859 (CANRIGHT, 1881, p. 153). É possível que ele tenha visto carne de porco na mesa
deles nos anos iniciais de sua amizade, pois Ellen não recebeu sua primeira visão a
respeito da ingestão de carne e porco até 6 de junho de 1863 — quatro anos depois de
Canright e os White terem se conhecido.
Quando William White soube da carta de 1914 de Fannie Bolton, ele pegou uma
cópia dela e a mandou para o ancião Starr a fim de saber sua opinião. Starr respondeu:

Eu só posso dizer que eu a considerei como o monte de lixo e mentira mais absurdo
que eu já vi ou li a respeito da nossa querida irmã White. O evento simplesmente

1
A maior parte desta palestra é baseada em Ellen G. White and Vegetarianistn: dia she practíce
what she preached?, de Coon (1986).
Espírito de Profecia

nunca ocorreu. Eu nunca vi sua mãe comer ostras ou carne de qualquer tipo em
um restaurante ou em sua própria mesa. A declaração de Fannie Bolton (...) é uma
mentira de primeira ordem. Eu nunca tive tal experiência e ela é absurda demais
para qualquer um dos que já conheceram a sua mãe possam acreditar. |... ] Eu acho
que essa carta inteira foi escrita por Fannie Bolton em um de seus momentos mais
insanos [Fannie passou treze meses como uma paciente mental no Hospital Estadu-
al de Kalamazoo, 1911-1912, e outros três meses e meio na mesma instituição, em
1924-1925; ela morreu em 1926]. Quando nós visitamos a Flórida, em 1928, a Sra.
Starr e eu fomos informados de que em uma reunião campal, Fannie Bolton fez uma
declaração pública reconhecendo que havia mentido a respeito da irmã White, e que
ela havia se arrependido disso (STARR, 1982, p. 118-119).

E a respeito do episódio do "bife sangrento", William explica o que aconteceu:

Havia aproximadamente 35 de nós indo de Battle Creek até Oakland, em 1884,


em dois carros. Ao nos aproximarmos da fronteira entre Nevada e Califórnia
foi constatado que as nossas provisões estavam baixas. Alguns de nós pudemos
fazer boas refeições das coisas secas que restavam em nossas caixas de almoço,
mas o apetite da irmã White cessou. Estávamos em um estado no qual fruta fres-
ca era muito cara. E, então, numa manhã em uma estacão onde havíamos parado
por meia hora, eu saí e comprei dois ou três libras de bife e isso foi cozido pela
irmã McEnterfer em um fogão a álcool, e a maioria dos que estavam com a irmã
White comeu dele (WHITE, W, 1982, p. 119).

William White também provê uma luz útil para as práticas dietéticas de sua mãe,
assim como a da família White como um todo:

Quando eu comprei o bife, eu argumentei que um boi recém morto desse gado
campestre, provavelmente seria um animal saudável e que o risco de pegar uma
doença provavelmente seria muito pequeno. Isso foi oito ou nove anos antes de a
irmã White decidir, na época da reunião campal de Melbourne 11894], abster-se de
comer alimentos cárneos. Você encontrará nos escritos de Ellen G. White muitas
ocasiões em que ela diz que carnes não aparecem em nossa mesa, e isso era verdade.
Durante muitos anos, quando em raras ocasiões um pouco de carne era usada, isso
era considerado uma emergência (WHITE, W, 1982, p. 119-120).

Cronologia do ensino e prática de EUen G. White


Dezembro, 1844
Ellen teve sua primeira visão com 17 anos. Houve silêncio quanto às vantagens
de uma dieta vegetariana. Ela estava com pouca saúde e pesava apenas 36 quilos. Tiago
White descreveu sua condição naquele tempo:
Ellen G. White e o vegetarianismo

Quando ela teve sua primeira visão, ela era uma débil inválida, seus amigos e médico desis-
tiram do caso esperando que ela morresse l... ] sua condição nervosa era tão frágil que ela
não podia escrever, e era dependente de alguém que se assentasse perto dela à mesa para
até mesmo derramar no seu copo algo para beber (WHITE, J., 1868, p. 273).

Outono de 1848
Na época em que a primeira mensagem da reforma veio a ela, ela se caracterizou
como "fraca e débil, sujeita a frequentes desmaios". Ela escreveu mais tarde:

Eu vinha pensando durante anos que eu dependia de uma dieta carnívora para
ter forca [...] tem sido muito difícil para eu ir de uma refeição para outra sem
sofrer de enjoos do estômago, e tontura da cabeça {...] Eu [...] desmaiava
frequentemente [...] eu, portanto, decidi que carne era indispensável no meu
caso [...] Eu tenho sido incomodada a cada primavera com perda de apetite
(WHITE, E., 1864, v. 4, p.153-154).

Para remediar essas fraquezas físicas, Ellen G. White comia quantidades subs-
tanciais de carne diariamente. Ela subsequentemente se referiu a si própria como "uma
grande consumidora de carne" naquela época (WHITE, E., 2006, p. 371, 372). "Carne
[...] era [...] meu artigo principal de alimentação" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
O resultado para a tentativa de alívio para os desmaios era, porém, temporário,
"depois de um tempo" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 153), como ela mesma disse: "em vez
de ganhar força, eu fui ficando mais e mais fraca. Eu frequentemente desmaiava de
exaustão" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).

21 de outubro, 1858
A única visão referente à carne antes de 1863 foi uma visão na qual ela baseou
sua reprovação ao irmão e irmã A por urgir excessivamente que a abstinência do porco
fosse um teste de comunhão na igreja. Entretanto, a visão não ofereceu qualquer pista
de que a abstinência da carne resultaria numa saúde melhor.
Quanto à ingestão de carne suína ser certa ou errada, Ellen G. White nunca con-
denou nem deixou de condenar. Ela disse que se essa posição fosse a de Deus, no seu
próprio tempo Ele "ensinaria à sua igreja seu dever" (WHITE, E., 2006, v. l, p. 206, 207).

6 de junho, 1863
Sua primeira visão compreensiva da reforma da saúde, especialmente no tocante
ao uso de carne, foi recebida e divulgada. O povo de Deus apressou-se, então, em abster-
-se de carne em geral e da carne suína em particular.
Ellen G. White caracterizou essa primeira visão compreensiva da reforma da
saúde como "uma grande luz do Senhor", acrescentando: "Eu não procurei essa luz,
eu não estudei para obté-Ia; foi dada a m i m pelo Senhor a fim de dar a outros" (Ellen
G. White, Manuscrito 29, 1897).
Espírito de Profecia

Expandindo esse tema em outra ocasião, ela acrescentou:

O Senhor apresentou um plano geral diante de mim. Foí-me mostrado que


Deus daria a seu povo guardador dos mandamentos uma reforma alimentar, e
que, ao receberem isso, suas doenças e sofrimento seriam grandemente dimi-
nuídos. Foí-me mostrado que essa obra teria progresso (General Conferencia
Bulletins, 12 de abril, 1901).

A resposta pessoal de Ellen G. White foi pronta e positiva: "Eu aceitei a luz da
reforma da saúde ao ser-me ela comunicada" (Ellen G. White, Manuscrito 50, 1904}.
"Cortei imediatamente a carne de meu cardápio" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
Com firmeza ela disse: "rompi com tudo imediatamente — com carne e manteiga, com
as três refeições [por dia]" (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371). E o resultado? "Minhas sen-
sações de desmaio e tontura anteriores me deixaram, assim como o problema de perda
de apetite na primavera" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 154).
Com a idade de 82 anos ela declarou: "Eu tenho uma saúde melhor hoje, apesar da
minha idade, do que eu tinha nos meus tempos juvenis" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Tudo isso não veio sem luta. Em 1870, ao descrever essa luta, ela disse:

Sofri intensa fome — eu comia muita carne. Mas quando enfraquecida, punha os
braços sobre o estômago e dizia: "Não provarei nenhum pedacinho. Comerei ali-
mento simples ou absolutamente nada comerei" [...] Ao enfrentar essas mudanças,
174
enfrentei uma grande luta (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371, 372).

No ano seguinte, depois da visão de reforma da saúde de 1863, ela podia relatar:
"Eu deixei o uso da carne" (WHITE, E., 1864, v. 4, p. 153). E, cinco anos depois, em uma
carta a seu filho Edson, na qual ela apressava a ele e sua família a "mostrar o verdadeiro
princípio" em fidelidade à reforma da saúde, e assegurava que ela também estava pra-
ticando o que pregava: "Quanto à dieta, temos seguido estritamente a luz que o Senhor
nos deu [...] nós o temos avisado para não comer manteiga ou carne. Nós não os colo-
camos na nossa mesa" (Ellen G. White, Carta 5,1869).
Em 1870, os White continuaram a progredir na mesma direção. Ela diz: "Não mu-
dei minha conduta em nada desde que adotei a reforma de saúde. Não voltei nem um
passo atrás desde que a luz do Céu iluminou, pela primeira vez, o meu caminho. Rompi
com tudo imediatamente" (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 371).
Havia exceções ocasionais ao padrão habitual de vegetarianismo. Em 1890, ela
declarou: "Quando não me foi possível obter o alimento de que necessitava, comi um
pouco de carne algumas vezes"; mas até mesmo aqui "estou ficando cada vez mais ate-
morizada de fazé-lo" (WHITE E.; WHITE, J., 2005, p. 117, 118). E, onze anos depois
(1901), ela admitiu abertamente: "fui por vezes [...] compelida a comer um pouco de
carne" (Ellen G. White, Carta 83, 1901).
Ellen G. White e o vegetarianismo

Encontrando dificuldades e concessões resultantes


As principais situações em que Ellen G. White se sentiu obrigada a deixar tempo-
rariamente o vegetarianismo foram as seguintes:

Viagem
Como pregadores itinerantes, em meio a um "movimento adventista" novo e em cresci-
mento, Tiago e Ellen G. White estavam continuamente envolvidos num planejamento aperta-
do de viagens, o qual não deixaria Ellen nem mesmo após a morte do marido, em 1881.
O fator agravante é que, na segunda metade do século 19, era difícil o acesso aos
confortos e conveniências de hoje (por exemplo, hotéis confortáveis, restaurantes ou
fax t foods com variedade nos cardápios). Mesmo que essas coisas estivessem disponí-
veis, os White não podiam pagar. Dentro dessas circunstâncias, era difícil e, às vezes,
impossível seguir uma dieta vegetariana estrita, particularmente quando dois tipos de
situações relacionadas eram levadas em conta:
Quando os White viajavam, eles eram grandemente dependentes na hospitalida-
de dos membros da Igreja. Essas pessoas normalmente eram pobres, sua alimentação
consistia quase que inteiramente de carnes. Frutas e vegetais, mesmo quando disponí-
veis, apenas poderiam ser consumidas nas estações.
Havia também épocas em que um ou ambos os White passavam um tempo em
uma região geográfica isolada e remota, como as montanhas do Colorado, onde as pes-
soas tinham que "viver da terra" e aprender a caçar e pescar, ou passar fome. As seguin-
tes citações do diário de Ellen G. White de setembro e outubro de 1873, quando eles
estavam retidos nas montanhas, com poucas provisões, ilustram esse fato:

22 de setembro: Willie vasculhou a área hoje para conseguir materiais ou um eixo


para a carruagem que Waíling está fazendo. Nós não podemos nos mexer, nem re-
tornar para a casa dos Mills sem que nossa carruagem esteja funcionando. Há pouca
comida para os cavalos. Seus grãos estão acabando. As noites são frias. Nosso esto-
que de provisões está diminuindo rapidamente.

28 de setembro: Irmão Clover deixou o acampamento hoje para procurar supri-


mentos. Estamos com pouca provisão. [...] Um jovem de Nova Escócia, que estava
voltando da caça, tinha um quarto de veado. Ele havia viajado 20 milhas com o
veado sobre suas costas. [... ] Ele deu um pedaço da carne para nós, do qual fizemos
um caldo. Willie atirou num pato, que veio em um tempo de necessidade, pois nos-
sos suprimentos desapareciam rapidamente (Ellen G. White, Manuscrito II, 1873).

5 de outubro: O sol brilha de forma muito agradável, mas nenhum alívio chega a
nós. Nossas provisões têm estado baixas por alguns dias. Muitos de nossos supri-
mentos acabaram — nenhuma manteiga, nenhum molho de qualquer tipo, nenhum
milho ou farinha grossa. Temos um pouco de farinha fina e isso é só. Nós esperamos
Espírito de Profecia

suprimento certo três dias atrás, mas nada chegou. Willie foi até o lago. Nós ouvimos
sua arma e descobrimos que ele atirou em dois patos, isso é realmente uma bênção,
pois precisamos de atgo para sobreviver (Ellen G. White, Manuscrito 12, 1873).

Pobreza de alguns membros


A pobreza fez o vegetarianismo difícil, se não impossível para alguns adventistas
do sétimo dia no século 19. Por exemplo, no dia do Natal de 1878, os White, que viviam
em Denison, Texas, convidaram uma família adventista pobre para juntar-se a eles para
o desjejum do Natal. A refeição incluía "um quarto de carne de veado e recheio. Era
macia como uma galinha. Todos nós apreciamos muito. Há muita carne de veado no
mercado." Ellen G. White então escreveu: "Eu não vejo há anos tanta pobreza como eu
tenho visto desde que vim ao Texas" (Ellen G. White, Curta 63, 1878).
Ellen G. White serviu como uma "missionária" na Austrália, de 1891 a 1900.
Em 1895, ela escreveu ao irmão A. O. Tait a respeito das condições locais. A carta
revela seu grande espírito humanitário:

Eu tenho passado por uma experiência nesse país que é parecida com a experiência
que eu tive em campos novos na América [nas primeiras décadas do século 19]. Eu
tenho visto famílias que as circunstâncias não permitem encher a mesa com alimentos
saudáveis. Vizinhos descrentes têm enviado a eles porções de carne de animais recém
sacrificados. Eles têm feito sopas da carne e suprido suas grandes famílias de crianças
com refeições de pão e sopa. Não era meu dever, nem eu imaginava que fosse o dever de
qualquer outra pessoa, discursar a eles a respeito dos malefícios da alimentação cárnea.
Eu sinto sincera pena por famílias recém conversas e que são tão oprimidas pela pobre-
za, que não sabem quando virá sua próxima refeição {Ellen G. White, Carta 76,1895).

Transição para uma nova cozinheira


Outra situação na casa de Ellen G. White, que exigiu um abandono temporário
da alimentação vegetariana normal, era a contratação de uma nova cozinheira que não
sabia preparar refeições vegetarianas. Até que a nova cozinheira pudesse ser treinada a
preparar tais pratos, os participantes da mesa de Ellen G. White tinham que comer o
que a nova cozinheira sabia preparar e isso provavelmente incluía carne.
Uma carta de William White, escrita em 1935, é reveladora:

Irmã White não era uma cozinheira, nem era uma especialista em comida nas formas
técnicas que vêm de estudo e experimentação. Ela frequentemente tinha discussões
sérias com a sua cozinheira. Ela nem sempre era capaz de permanecer com a cozi-
nheira que ela havia cuidadosamente doutrinado nos ideais vegetarianos. Aquelas que
ela contratava sempre eram pessoas jovens e inteligentes. Ao casarem e a deixarem,
ela era obrigada a conseguir novas cozinheiras que não eram treinadas na cozinha
vegetariana. Naqueles dias não havia escolas como temos agora, onde nossas jovens
moças poderiam aprender o sistema da cozinha vegetariana. Portanto, mamãe era
EHen G- White e o vegetarianismo

obrigada, com todos os seus outros cuidados e deveres, a gastar considerável esforço
para persuadir suas cozinheiras de que elas não poderiam usar carne, ou soda, ou fer-
mento e outras coisas condenadas em seus testemunhos. Frequentemente nossa mesa
mostrava alguns acordos entre o padrão que a irmã White queria e o conhecimento,
experiência e padrão da nova cozinheira. (Arthur L. White, Dec. 18,1935).

Uso terapêutico em emergências médicas


Outra categoria de situação em que Ellen G. White abandonava um padrão vege-
tariano de alimentação era em casos de emergências médicas, nas quais a carne poderia
servir temporariamente com propósitos terapêuticos. Km 1874, em uma carta a seu
filho William, ela mencionou uma interessante exceção ao regime vegetariano então em
voga na casa dos White: "Seu pai e eu temos evitado o leite, creme, manteiga, açúcar e
carne totalmente desde que viemos à Califórnia [...] Seu pai comprou carne uma vez
para May [ Walling] enquanto ela estava doente, mas nem um centavo foi gasto em carne
desde então" (Ellen G. White, Carta 12, 1874).
Ellen G. White não era uma fanática no assunto de comer carne. Em um artigo
publicado em 1894 pela Youíh '.v instmctar, ela declarou: "O regime cárneo não é o mais
são e, todavia, eu não tomaria a atitude de que ele deva ser rejeitado por toda pessoa. Os
que têm fracos órgãos digestivos, podem muitas vezes comer carne quando não lhes é
possível ingerir verduras, frutas e mingaus" (WHITE, E., 2007, p. 394, 395).
Devido a um erro tipográfico, o segundo não na primeira frase da citação
anterior foi omitido. Essa omissão foi ratificada quando o irmão O. A. Tait escreveu
177
para pedir a Ellen G. White para clarificar o que ela quis dizer. Ela então amplificou
sua posição no assunto da carne, dizendo:

!:,u nunca achei que fosse meu dever dizer que ninguém deveria comer carne quais-
quer que fossem as circunstâncias. Dizer isso, quando as pessoas têm sido educadas
a sobreviver da carne em tão grande extensão [na Austrália, em 1894], seria levar o
assunto a extremos. Hu nunca senti que fosse meu dever fazer afirmações generali-
zadas. O que eu disse, eu disse sob um senso de dever, mas eu tenho sido cautelosa
em minhas declarações, porque eu não queria dar ocasião para alguém ser uma
consciência para oulro (Ellen G. White, Carla 76, 1895).

Ao lidar com certas doenças, em particular casos terminais, Ellen G. White to-
mou uma posição sensível:

Em certos casos de doença ou exaustão, poderá ser considerado melhor usar alguma
carne, mas grande cuidado deve ser tomado para adquirir carne de animais sadios.
Tornou-se questão muito séria se é seguro usar de algum modo alimento cárneo
nessa época do mundo. Melhor nunca usar carne, do que usar a carne de animais
que não sejam sadios (WHITK. E., 2007, p. 394).
Espírito de Profecia

Em 1896, Ellen G. White alertou os médicos dos sanatórios adventistas:

Não deveis fazer prescrições dizendo que nunca devam ser usados alimentos cár-
neos, mas educar a mente e deixar aí penetrar a luz. Seja a consciência da pessoa
despertada no que concerne à conservação própria e à pureza de todo apetite per-
vertido (...] Não insista para que essa mudança seja feita abruptamente, em espe-
cial tratando-se de pessoas com sobrecarga de contínuo trabalho. Seja a consciência
educada, estimulada a vontade, e a mudança pode ser feita muito mais depressa e de
boa vontade (Ellen G. White, Carta 54,1896).

Ellen G. White apontou que "tuberculosos que se acham em decidido caminho


da sepultura" e "pessoas que têm tumores a minar-lhes a vida" não devem ser oprimidas
sobre o assunto da carne; e médicos devem "cuidar-se para não coagir a uma resolução
quanto a esse assunto" (Ellen G. White, Carta 54,1896).
Respondendo a um questionamento de um médico sobre se caldo de gali-
nha poderia ser apropriado para alguém sofrendo sérias náuseas e incapacidade de
manter qualquer coisa no estômago, a mensageira escreveu: "Há pessoas morrendo
de tuberculose que, se pedirem caldo de galinha, deve ser-lhe dado. Mas eu teria
muito cuidado" (Ellen G. White, Carta 231, 1905).

A reunião campal de Brighton: uma transição


Enquanto Ellen G. White estava atendendo a uma reunião campal em Brighton, perto
de Melbourne, em janeiro de 1894, sua mente foi exercitada sobre o assunto de comer carne
e veio a ela a impressionante convicção de que dali em diante a carne não deveria fazer parte
de sua alimentação sob qualquer circunstância. Então, com característica sinceridade, ela
declarou: "Bani absolutamente a carne de minha mesa. É uma certeza de que [de agora em
diante] esteja eu em casa ou fora, nada desse tipo deve ser usado na minha família ou vir
sobre a minha mesa." Além disso, ela chegou a um ponto incomum de declarar e assinar um
"voto ao meu Pai celestial" no qual ela "descartou carne como um artigo de alimentação."
Ela disse: "Eu não comerei carne ou colocarei diante da minha casa. Eu dei ordens para que
as aves fossem vendidas e que o dinheiro que elas rendessem fosse gasto em comprar frutas
para a mesa" (Ellen G. White, Carta 76,1895).
Evidência subsequente mostrará que ela cumpriu esse voto. Assim, em 1908, ape-
nas sete anos antes de sua morte, aos 87 anos, Ellen G. White declarou: "Faz muitos
anos que eu não tenho carne na minha mesa em casa" (Ellen G. White, Carla 50,1908).

A questão do peixe e do molusco


Comer peixe
Apesar de Ellen G. White ter desistido de comer carne em 1894, ela não desistiu
ao mesmo tempo de comer peixe, apesar de a evidência ser relativamente clara de
que ela não continuou nem mesmo a usar esse artigo de alimentação depois do final
Ellen G. White e o vegetarianismo

da década de 1890, No entanto, qual é a sua posição relativa ao que a igreja de hoje
considera ser moluscos "impuros"?
Em 1882, Ellen G. White escreveu uma carta à sua nora, Mary Kelsey White,
que estava vivendo com seu marido em Oakland, Califórnia. Nessa carta, ela incluía
uma "lista de compras" de coisas que o casal deveria trazer na sua próxima visita à
sua casa. Com respeito a certos itens nessa lista, ela disse: "Se você conseguir uma
boa caixa de arenques — frescos — por favor, a traga. Os últimos que Willie con-
seguiu estão amargos e velhos [...| se você conseguir algumas latas de boas ostras,
pegue-as (Ellen G. White, Carta 16, 1882).

A distinção levítica entre puro e impuro


A respeito da distinção levítica entre "puro" e "impuro", há evidências que Ellen G. Whi-
te fez uma distinção do alimento animal "puro", que ela chama de "carne", e peixes "puros"
Quando Elíen G. White fez o voto de não comer carne, ela não queria dizer que
ela havia abandonado o comer peixe. A distinção que ela fez a respeito de carne e peixe
é abundantemente clara em sua correspondência. Em 1876, por exemplo, ela escreveu a
seu marido que estava viajando: "Nós não temos comido um pedaço de carne em casa
desde que você foi embora e muito antes de você ter ido embora. Temos comido salmão
algumas vezes" (Ellen G. White, Carta 13, 1876).
Quando Ellen G. White assinou o voto de não comer carne na reunião campal
de Brighton, ela obviamente não incluiu peixes "puros", pois no ano posterior, em uma
carta a A. O. Tait, ela comentou que "nós raramente temos peixe em nossa mesa", e ela
continuou a dar detalhes para diminuir o consumo desse artigo de alimentação.
Em muitas localidades, até mesmo peixe é prejudicial e não deve ser usado:

Isso acontece especialmente nos locais em que os peixes entram em contato com o
esgoto das grandes cidades [...] Esses peixes que compartilham com as sujeiras do
esgoto podem passar para águas distantes do esgoto e serem pegos'em localidades
onde a água é pura e fresca; mas por causa da drenagem prejudicial onde eles se
alimentaram, não é seguro ingeri-los {Kllen (i. White, Curta 76, 1895).

Apesar desse possível perigo, havia circunstâncias na Austrália, na metade da dé-


cada de 1890, quando Ellen G. White reconheceu que era próprio, até mesmo neces-
sário, incluir peixe no cardápio diário. Assim, em uma carta ao seu filho William, em
1895, ela escreveu a respeito do problema de alimentar os trabalhadores que estavam
construindo o Avondale College: "Nós não podemos alimentar a todos, mas você pode-
ria nos conseguir bacalhau seco e peixes secos de qualquer descrição — nada enlatado?
Isso dará um bom tempero à comida" (Ellen G. White, Carta 149, 1895).
Em 1896, Ellen G. White escreveu a uma sobrinha não adventista, Mary Wat-
son (Clough), que durante um período serviu de assistente literária, e disse, referin-
do-se ao seu "voto" de Brighton:
Espírito de Profecia

Dois anos atrás eu cheguei à conclusão de que havia perigo ao usar a carne de ani-
mais mortos e, desde então, eu não tenho usado qualquer tipo de carne. Nunca é
colocada sobre a minha mesa. Eu uso peixe quando eu consigo. Nós pegamos lindos
peixes do lago de água salgada perto daqui. Eu não uso chá nem café. Ao lutar con-
tra essas coisas, eu não posso fazer outra coisa senão praticar o que eu sei ser o me-
lhor para a minha saúde, e minha família está toda em perfeita harmonia comigo.
Veja, minha querida sobrinha, que eu estou te contando os fatos exatamente como
são (Ellen G. White, Carta 128, 1896).

Mas em 1896, Ellen G. White havia concluído que a carne de peixe, assim como
de outros animais, não era mais segura para se comer e, portanto, não deveria ser servi-
da no novo sanatório adventista, em Sydney. Falando sobre o assunto com três médicos
do sanatório que estavam prescrevendo uma dieta cárnea para seus pacientes, ela pes-
quisou a história da questão em uma carta ao Dr. }ohn Harvey Kellogg:

Anos atrás, a luz foi dada a mim que a posição [naquela época] não deveria ser to-
mada no sentido de descartar totalmente a carne [...] [Mas] eu presencio a palavra
do Senhor Deus de Israel [...] [de que] comer carne [agora] não deveria entrar em
nossas prescrições para qualquer inválido de qualquer médico [em nossas institui-
ções] [...] [porque] doenças no gado está fazendo da ingestão de carne um assunto
perigoso. A maldição do Senhor está sobre a terra, sobre o homem, sobre animais,
sobre os peixes do mar e, à medida que a transgressão se torna quase universal,
a maldição se tornará tão ampla e tão profunda quanto a transgressão. Doenças
são contraídas pelo uso da carne. O Senhor trará seu povo a uma posição na qual
eles não encostarão ou sentirão o gosto da carne de animais mortos. Portanto, não
permita que essas coisas sejam prescritas por qualquer médico que tenha o conheci-
mento da verdade para este tempo. Não há segurança em comer a carne de animais
mortos e, em pouco tempo, o leite de vacas também será excluído da dieta do povo
guardador dos mandamentos de Deus. Em pouco tempo, não será seguro usar qual-
quer coisa que venha da criação de animais. Nós não podemos fazer agora o que nos
aventuramos a fazer no passado com respeito à ingestão de carne (...) As doenças
sobre esses animais estão se tornando mais e mais comuns, e nossa única segurança
está em deixá-la inteiramente {Ellen G. White, Carta 59,1898).

Aqui, Ellen G. White indica que tanto peixe como carne não devem ser prescritos
nas instituições de saúde adventistas. Em 1905, ela se posiciona tão firmemente em re-
lação ao peixe como em relação à carne, pois ao escrever o capítulo sobre "Carne como
Alimento" para o livro Ciência do Bom Viver, ela declarou:

Em muitos lugares os peixes ficam tão contaminados com a sujeira de que se nu-
trem, que se tornam causa de doença. Isso se verifica especialmente onde o peixe
está em contato com os esgotos de grandes cidades[...] De modo que, ao serem
Ellen G. White e o vegetarianismo

usados como alimento, ocasionam doença e morte naqueles que nada suspeitam do
perigo (WHITE, E., 2007, p. 314, 315).

A alegação de hipocrisia
Uma questão de definição
A pergunta é a seguinte: seria Ellen G. White uma "hipócrita" por aconselhar, a
partir de 1963, que os adventistas do sétimo dia seguissem o vegetarianismo, enquanto
"secretamente" continuou comendo alimentos cárneos ao longo das três décadas se-
guintes ou mais? Comecemos por permitir que ela, através de seus escritos, defina os
termos "vegetariano" e "princípio".
Como já foi notado, na carta de William White a George B. Starr, em 1933, "por
anos a família White foi vegetariana, mas não teetotalers2. Uma distinção interessante e
ainda mais iluminadora é revelada em uma carta que Ellen G. White escreveu em 1894
a M. M. J. O'Kavanagh, uma não adventista ativa na causa da temperança na Austrália,
que havia questionado sobre a posição dos adventistas como "total abstêmios":

Eu estou feliz em lhe assegurar que, como denominação, nós estamos na mais total
abstinência do uso de licores, vinho, cerveja, cidra [fermentada] e também do uso
de tabaco e todos os outros narcóticos [ . . . ] Todos são vegetarianos, muitos absten-
do-se totalmente do uso de alimento cárneo, enquanto outros apenas a utilizam em
nível moderado (Ellen G. White, Carta 99, 1894).

1R1
Essa declaração deixa claro que, para Ellen G. White, o termo vegetariano era apli-
cado àqueles que se abstinham de comer alimento cárneo, mas que não eram necessaria-
mente abstêmios totais. E quanto ao termo principio, ela frequentemente o usava em seus
escritos em conexão com a reforma da saúde. Em 1904, aos 76 anos, ela relatou que estava
experimentando uma saúde melhor que "nos meus dias juventude", atribuindo essa melho-
ra na saúde aos "princípios da reforma da saúde" (Ellen G. White, Manuscrito 50,1904).

A ênfase de Ellen G. White em "agir por princípio"


Os seguintes exemplos são também do uso que Ellen G. White fez do termo prin-
cipio. Em 1897, ela escreveu: "Eu apresento esses assuntos [reforma da saúde] ao povo,
demorando nos princípios gerais" (Ellen G. White, Manuscrito 29, 1897). Em 1870,
falando sobre sua resposta à visão da reforma da saúde de 1863, ela disse: "Abandonei
essas coisas por princípio. Tomei minha decisão para com a reforma de saúde por prin-
cípio [...] Agi por princípio e não por impulso" (WHITE, E., 2006, v. 2, p. 372).
Em outro momento, ela acrescentou: "Alguns vêm alegando que não tenho
vivido segundo os princípios da reforma de saúde, tal como os tenho advogado pela

O termo em inglês teetotaiers pode ser traduzido como "abstêmios".


Espirito de Profecia

pena. Mas posso dizer que, até o que sei, não me tenho apartado desses princípios"
(Ellen G. White, Carta 50, 1908).
No ano seguinte (1909), com a crítica persistindo, ela novamente se defendeu: "Houve
quem alegasse que não tenho seguido os princípios da reforma de saúde, tais como os defen-
do em meus escritos; posso, entretanto, dizer que tenho sido fiel a essa reforma. Os membros
da minha família sabem que isso é verdade" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Aparentemente, a acusação dos críticos se baseava na suposição artificial de que
Sra. White considerava o vegetarianismo um "princípio". Porém, devemos considerar o
que está escrito no livro A Propheí Among You, [Um Profeta entre Vós], de T. Housel
Jemison, que oferece três princípios de hermenêutica para a interpretação dos escritos
sagrados. No terceiro, ele diz o seguinte: todo profeta, falando de sua capacidade pro-
fissional como um profeta, ao dar um conselho, está fazendo duas coisas; ou ele ou ela
está enunciando um princípio ou aplicando um princípio em uma declaração política.
Portanto, ele conclui, "dever-se-ia se tentar descobrir o princípio envolvido em qualquer
conselho específico" (JEMISON, 1955, p. 445).
Um princípio é geralmente definido como "uma verdade básica, uma lei ou uma
doutrina geral que é usada como base de racionalização ou como um guia para ação ou
comportamento" (EHRLICH, 1980). Princípios, portanto, são regras imutáveis, invari-
áveis de conduta humana. Princípios nunca mudam. Uma política, por outro lado, é a
aplicação de um princípio para alguma situação imediata e contextuai. Políticas podem
mudar, assim como as circunstâncias que as regem podem mudar.
Ellen G. White recusou-se a apoiar a ideia de fazer do vegetarianismo um teste
de comunhão promovido por alguns irmãos (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159). Pelo
contrário, mesmo reconhecendo que "carne suína era proibida por Jesus Cristo ocul-
to na nuvem" durante o Êxodo, ela declarou enfaticamente em 1889 que até mesmo
a ingestão de porco "não é um teste" (Ellen G. White, Manuscrito 15, 1889}. Escre-
vendo para colportores adventistas no mesmo manuscrito, ela disse: "Eu aconselho
todo colportor guardador do sábado a evitar comer carne, não porque é considerado
um pecado comer carne, mas porque não é saudável."
É óbvio que o vegetarianismo não era um princípio para Cristo ou para os
patriarcas e profetas das Escrituras, pois todos eles comiam carne. A páscoa exigia
a ingestão de Cordeiro e isso por direção divina. Cristo e seus discípulos comeram
peixe da Galileia mais de uma vez e, fazendo assim, nenhum deles violou um prin-
cípio ou, portanto, cometeu pecado.
Para Ellen G. White, vegetarianismo era uma política baseada em, pelo me-
nos, dois princípios: "preserve a melhor saúde" (WHITE, E., 2007, p. 395) e "coma o
alimento que seja mais nutritivo" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 163), fazendo o melhor
possível, sob todas as circunstâncias imediatas, para promover vida, saúde e força.
Porém, vale ressaltar que ela aplicou aqueles princípios em uma declaração política
inspirada nos "países onde há frutas, grãos e amêndoas em abundância". Em tais
locais, ela disse muito claramente, "alimento cárneo não é o alimento correio para o
povo de Deus" (WHITE, E., 2006, v. 9, p. 159).
Ellen G. White e o vegetarianismo

Ellen G. White não é nosso critério


Uma das coisas mais sensíveis que Ellen G. White já escreveu sobre o assunto da
reforma da saúde foi:

Os que entendem as leis da saúde e são governados por princípios fugirão dos ex-
tremos, tanto da condescendência como da restrição. Sua alimentação é escolhida
não meramente para agradar o apetite, mas para fortalecimento do organismo. Pro-
curem conservar todas as faculdades nas melhores condições para o mais elevado
serviço a Deus e aos homens. |...| Há verdadeiro bom senso na reforma do regime.
O assunto deve ser estudado de forma ampla e profunda. Ninguém devia criticar
outros porque não estejam, em todas as coisas, agindo em harmonia com seu ponto
de vista. É impossível estabelecer uma regra fixa para regular os hábitos de cada um,
e ninguém se deve considerar critério para todos (WHITE, E., 2006, p. 319, 320).

Não somente Ellen G. White não desejava ser um critério para os membros da Igreja,
mas ela também não desejava ser um critério para os membros de sua família imediata ("Eu
não quero me colocar como um critério para eles" [Ellen G. White, Carta 127, 19()4\).
Um pouco antes da inauguração da Sessão da Associação Geral de 1901, Ellen G.
White se encontrou com alguns lideres denominacionais na biblioteca do Battle Creek
College, onde ela falou a respeito daqueles que a colocaram como sendo seu critério
quanto à prática dietética. Aqui estão suas declarações, conforme registradas por Cla-
rence C. Crisler, sua secretária:

Oh, como me magoa ser apedrejada por causa desse respeito desse assunto. Alguns
têm dito: "A irmã come, portanto também temos a liberdade de comer". Eu apenas
provei uma ou duas vezes, diferente de fazer do queijo parte da minha dieta. Uma
vez em Minnneapolis, sentei-me à mesa na qual havia um pouco. Ru estava muito
doente na ocasião, e alguns irmãos pensavam que se eu comesse um pouco de quei-
jo poderia me fazer bem. Eu provo um pequeno pedaço e dizem por ai que estou
comendo queijo. Não tenho carne em casa há anos, mas não deixem de comer carne
por que a irmã White não come. Eu não daria um centavo na reforma de saúde de
vocês se for baseada nisto. Eu quero que vocês se firmem na dignidade e consagra-
ção individual perante Deus, dedicando todo o ser a Ele. "Se alguém destruir o san-
tuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado"
(l Co 3:17). Eu quero que pensem nestas coisas. Não façam de nenhuma pessoa seu
critério. (Ellen G. White, Manuscrito 43a, 1901, tradução livre).

A importância da perspectiva histórica


Ellen G. White precisa ser considerada em contraste com o contexto de sua época,
não o da nossa. As condições em seu tempo eram diferentes das que temos hoje. Muitas
Espírito de Profecia

conveniências de casa que para nós são básicas, como geladeiras e congeladores para
preservar frutas, vegetais e outros alimentos perecíveis, eram praticamente desconhe-
cidas na segunda metade do século XIX e início do XX. Em seus dias, frutas e vegetais
eram disponíveis somente na estação. Na maior parte do ano, produtos frescos simples-
mente não estavam acessíveis; assim, ou se comia carne ou não se comia nada. Comer
carne era, portanto, mais comum e necessário nos tempos da profetisa do que no nosso.
Outra coisa que vale ser lembrada é que Ellen G. White nunca tirou produtos
cárneos como artigo de alimentação de ninguém até que houvesse primeiro um subs-
tituto nutricional disponível para ficar no lugar deles (WHITE, E., 2006, p. 316, 317).
Os cereais secos para café da manhã não foram desenvolvidos e vendidos até a metade
da década de 1890. Manteiga de amendoim, outra excelente fonte de proteína, também
não foi inventada até a metade da década de 1890 (SCHWARZ, 1964, p. 283). Portanto,
havia mais razões ligadas à necessidade para as pessoas de seus dias comerem carne do
que há para a maioria de nós em nossos dias.

Considerações finais
Ellen G. White teve que encarar acusações contra sua integridade durante sua
vida. Acusações semelhantes contra ela nos dias de hoje nào são novidade e nem im-
pressionam quando nós examinamos os fatos. Pouco após a virada do século XIX para o
XX, ela foi acusada de hipocrisia ao defender o vegetarianismo publicamente aos mem-
bros da Igreja, enquanto estaria continuando a seguir secretamente uma dieta cárnea.
Tais acusações são injustificadas e sem fundamento.
Para compreender as acusações contra a integridade de Ellen G. White, devemos
analisá-las partindo da perspectiva dos objetivos e da metodologia de Satanás nos últi-
mos dias como revelados a Ellen G. White, em 1890. Ela declarou que o "último engano"
de Satanás seria destruir sua credibilidade e criar um ódio "satânico" contra seus teste-
munhos (WHITE, E., 2008, v. l, p. 48).
A crítica contra a integridade de Ellen G. White, até onde a pesquisa nos tem
revelado, continua infundada e reprovável, tal como era durante a vida da profetisa.

Referências
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The Fannie Bolton story: a collection of source documents. [S. I.]: EGW Estate, 1982.

CANRIGHT, D. M. Life of Mrs. E. G. White. Cincinnati: Standard Publishing Company, 1919.

. My remembrance of Eldcr White. Review and Herald, v. 58, n. 10. ago. 1881.
Disponível em <http://bit.ly/xg5M l P>. Acesso em: 5 mar. 2012.

COON, R. W. Ellen G. White and vegetarianism: did she practice what she preched? [S. 1.]:
Pacific Press, 1986.
Ellen G. White e o vegetarianismo

HHRI.ICH, E. Oxford American dictionary. [S. 1.]: Avon, 1980.

JEMISON, T. H. A prophet aniong you. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1955.
SCHWARZ, R. W. John Harvey Kellogg: american hcalth rcformer. Dissertação (Ph.D. teologia
histórica), University of Michigan, Ann Arbor, 1964.

STARR, G. R. Letter of George B. Starr to W. C. White, Aug. 30, 1933. In EGW Estate. The Fannie
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WHITE, E. G. A Ciência do bom viver. Tattií: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
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WHITE, W. C. Letter of W. C. White to George B. Starr, Aug. 24, 1933. In EGW Estate. The
Fannie Bolton story: a collection of sourcc documents. [S. 1.]: EGW F.state, 1982.
Necessitamos de um profeta hoje?
Valdecir Simões Lima

O endurecimento do coração humano como resposta à Palavra de Deus sempre


provocou resulados pecaminosos dos mais variados: idolatria, sensualidade, egocentris-
mo, luta desenfreada pelo poder, o descaso para com o sofrimento alheio, menosprezo
pela lei de Deus, pelo sábado etc. Essas foram as razões pelas quais o mundo enfrentou
suas maiores crises. Porém, para cada crise iminente, Deus providenciou uma maneira
para que seu povo soubesse quais seriam os passos que os conduziriam à liberdade, bem
como quais atitudes deveriam ser tomadas em relação ao pecado. Esse princípio é bem
expresso nestas palavras: "Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter
revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas" (Am 3:7).
Isso ocorreu em, pelo menos, quatro grandes crises durante História de Israel: no di-
lúvio, na libertação do povo do Egito, no período de indas e vindas da idolatria, bem como
na mais radical atitude divina para a redenção do homem: a vinda de Cristo à Terra.

Quatro momentos cruciais na História de Israel


Dilúvio
A Bíblia afirma que a maldade havia se multiplicado na Terra, que a corrupção
e a violência eram a tónica daquela época e que as pessoas eram continuamente más
(Gn 6:5 e 11). O secularismo estava tão arraigado entre o povo que Deus foi levado a
tomar uma atitude drástica, mas não o fez sem antes haver anunciado a sua decisão.
Após 120 anos de pregação, Deus decidiu destruir o mundo, mas foi rejeitado pelos
seres humanos daquela época. Entretanto, antes de tudo, chamou a Noé como seu
profeta para alertar as pessoas.

Libertação do cativeiro egípcio


Depois de séculos de peregrinação e cativeiro em uma terra pagã, o Egito, chegou
o tempo da libertação. O povo se voltou para Deus e clamava por socorro em meio
Espírito de Profecia

ao gemido da escravidão (Êx 2:23). Deus decidiu livrá-lo do jugo que o atormentava
e escolheu Moisés como profeta e líder para anunciar o seu plano e libertar esse povo.

Alerta contra a idolatria


Após haver chegado à terra prometida, o povo ainda não conhecia a lei de-
Deus -— o amor divino não havia sido internalizado e a idolatria era dominante. A
terra de Canaã estava cheia de ídolos, o povo adorava a obra das suas próprias mãos
(Is 2:8). Deus, então, escolheu um número de profetas para chamar o povo a se
afastar da adoração de ídolos. Neste ponto, percebemos que Deus não usa homens
apenas, Ele também usa mulheres. Chamou uma profetisa, Débora, como um ins-
trumento seu para alertar e afastar o povo da idolatria.

Anúncio da primeira vinda de Cristo


O mundo estava amadurecido para a vinda do Messias e o povo deveria conhecer
e aceitar Aquele que haveria de reinar sobre Israel. Sobre Ele repousaria o "Espírito do
Senhor" e Ele reinaria com sabedoria e força, pois viria para revelar o Pai (Mq 5:2; Is 11:
l e 2). Portanto, as pessoas deveriam, mais do que conhecer a hora de sua vinda, estar
preparadas para recebê-lo. Através de João Batista, ficaram sabendo que o momento
para receber esse Rei poderoso havia chegado; assim, deveriam arrepender-se de seus
pecados e não simplesmente se justificar proclamando que pertenciam a uma linhagem
religiosa (Mt 3:8-11; Jo 8:31-34). Para anunciar a primeira vinda de Cristo e preparar
o povo para essa ocasião especial, Deus enviou vários profetas: Miquéias, Isaías, João
Batista e, entre eles, também uma mulher, Ana.
O segredo do recomeço sempre esteve atrelado a uma condição dupla: buscar a
Deus e crer em seus profetas (Jr 29:13; 2Cr 20:20). Dessa forma, o Líder Soberano guiou
o seu povo sem deixá-lo à mercê dos acontecimentos terrenos.

O dom profético no tempo do fim


Será que há algo em nosso tempo que justifique a presença de um profeta? A respos-
ta é sim. Essa dupla condição (buscar a Deus e crer em seus profetas) é uma linha mestra
que atravessa a história. Atualmente, todos acreditamos estar perto da segunda vinda de
Cristo. Porém, se para cada crise Deus costuma enviar um profeta, a fim de realizar algo
especial ao seu povo, certamente Ele enviaria um mensageiro antes da segunda vinda de
Cristo. Como fazem sentido os métodos de Deus! A segunda vinda de Cristo é o maior
evento de todos os tempos desde a cruz! E, pouco antes desse evento, todos os aconteci-
mentos mais sérios que ocorreram até aqui, vão ser repetidos.
Há uma convergência das características que emolduraram as crises da história, acon-
tecendo simultaneamente neste tempo, assim como há também um paralelismo quanto ao
comportamento do povo daquela época com o povo de hoje. Com relação à destruição do
mundo, Cristo mesmo declarou que o comportamento dos homens e os acontecimentos que
precederam o dilúvio seriam repetidos por ocasião da sua segunda vinda (Mt 24:37 e 38).
Epílogo

Sobre a libertação do povo, todos clamamos pelo momento da ressurreição ou da


transformação, quando se cumprirá "a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela
vitória". Estaremos livres, seremos arrebatados para o encontro com o Senhor nos ares,
e assim viveremos para sempre com Ele (ICo 15: 51-55; ITs 4:17).
A respeito da idolatria, há motivos de sobejo para se crer que a adoração aos ídolos
é um mal que assola o nosso tempo. As recomendações para se evitar essa prática não são
poucas. Não só ídolos literais mas tudo que se interpõe entre o homem e Deus, seja o secu-
larismo em todas as suas formas ou a adoração à besta e à sua imagem. Qualquer coisa que
desvia os olhos da adoração a Deus, merece reprovação (Ap 14: 9 e 10).
Finalmente, quanto à vinda de Cristo, Ele próprio diz que voltaria sem demora. As profe-
cias estão se cumprindo, demonstrando que o tempo está próximo (Ap 22:20; Mt 24:32 e 33).
Se Cristo em circunstâncias similares que envolviam estes quatro fatores (des-
truição do mundo, libertação do povo, adoração de ídolos e a iminência de sua vinda)
enviou profetas, você não acha que faz sentido agora, quando todos esses fatores estão
acontecendo simultaneamente, Ele também enviar outro?
Uma das características do povo remanescente é a observância dos "mandamen-
tos de Deus" e do "testemunho de Jesus" (Ap 12:17), definido em Apocalipse 19:10 como
o "Espírito de Profecia". Deus enviou para o nosso meio um profeta ao qual devemos
atender. A rejeição aos profetas nos momentos cruciais da história sempre gerou sérias
consequências para o professo povo de Deus, porque a rejeição de um profeta implica,
de acordo com Lucas 10:16, na rejeição daquele que o enviou.
Se temos a Sra. White como uma pessoa inspirada e se o que ela nos deixou tem
a mais profunda inspiração, nos conduzindo aos caminhos mais seguros no comporta-
mento cristão, devemos respeitar a sua relevância e considerar com mais seriedade seus
ensinos. Somos responsáveis por crer, viver e proclamar essa luz.
A Igreja Adventista tem uma direção, está indo para algum lugar. Sem dúvi-
da, o Espírito de Profecia pertence a este movimento que está vivendo os dias mais
críticos da história. Deus, uma vez mais, providenciou uma maneira pela qual o seu
povo vai ser liderado e libertado.
Série

SANTUÁRIO E PROFECIA:
APOCALÍPTICAS

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INTERPRETAI;/
PROFÉTICA

7 6 5

Publicada originalmente em inglês com o título de Daniel and Reve-


lation Committee, a série Santuário e profecias apocalípticas reúne
alguns dos mais importantes estudos já produzidos no meio adven-
tista acerca da temática. Em seu conjunto, a coleção representa um
verdadeiro tratado histórico-teológico sobre a profecia bíblica,
especialmente no que se refere à doutrina dos últimos eventos.
V

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