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histórias
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dAS
histórias

São Paulo, 2023


Expediente

Coordenação editorial Carlos Costa

Edição Icaro Mello e Juliana Ribeiro

Projeto gráfico Mily Mabe

Produção editorial Luciana Araripe

Redação de conteúdo André Felipe de Medeiros,


Icaro Mello e Juliana Ribeiro

Organização de conteúdo Binho Ribeiro, João


Vitor Maturana, Júlia Munhoz, Juliano Ferreira,
Lari Umeri e Sofia Fan

Supervisão de revisão Polyana Lima

Revisão de texto Rachel Reis (terceirizada)


Sumário

10 Editorial

12 Binho Ribeiro: histórias escritas


por letras entrelaçadas
por André Felipe de Medeiros

28 Linha do tempo

36 Mulheres no graffiti
por Katia Suzue

50 As fundações do grafite como


expressão urbana
por Icaro Mello

72 Livros para conhecer o grafite

82 Crédito

86 Ficha técnica
Além das ruas - histórias do graffiti

A
rte pública por excelência, o grafite é expressão fundamental dos
espaços urbanos que habitamos. Herdeira de intervenções presentes
em sociedades da Antiguidade, como a romana e a egípcia – nas quais
turistas e nativos relatavam em paredes suas experiências com os espaços
públicos –, a prática de grafitar se consolidou como expressão artística
e política de jovens em todo o mundo, pintando e colorindo a paisagem
opressora das metrópoles. Com movimentos de contracultura gestados nos
anos 1960, nos Estados Unidos e na França, as grafias rápidas e hieroglíficas
se desenvolveram técnica e esteticamente em obras de arte que hoje ocupam
muros, paredes, galerias e museus.

Resgatando a história do movimento, a exposição Além das ruas: histórias do


graffiti apresenta o trabalho de expoentes da street art e do grafite, de dentro
e fora do Brasil, investigando os caminhos que essa arte percorreu desde a
explosão nas ruas de Paris e Nova York, sua relação com a cultura hip-hop,
sua internacionalização e chegada a São Paulo e os percursos que levaram à
diversidade da cena atual brasileira.

Esta publicação traz conteúdos complementares e histórias da arte urbana


através da vida de alguns de seus protagonistas: entrevistas com o curador
Binho Ribeiro e o grafiteiro norte-americano T-Kid, e um texto da grafiteira
brasileira Katia Suzue sobre a presença feminina no grafite, bem como
indicações bibliográficas para que você conheça melhor a história e a
realidade da arte de rua.

Além deste material, é possível encontrar outros conteúdos sobre a


exposição Além das ruas: histórias do graffiti e os artistas participantes no site
itaucultural.org.br e na Enciclopédia Itaú Cultural (enciclopedia.itaucultural.
org.br). Ao longo de sua trajetória, o Itaú Cultural (IC) vem desenvolvendo
diversas ações no campo das artes visuais, como exposições individuais e
coletivas e, mais recentemente, mostras virtuais a partir do acervo de obras
de arte do Itaú Unibanco. ☜

Itaú Cultural

10
Editorial

Daniel Melim. Mural da Luz, 2011.


Fotografia: Daniel Melim

11
BiNHO
RiBEiRO:
HiSTóRiAS
ESCRiTAS
POR LETRAS
ENTRELA-
ÇADAS
por André Felipe de Medeiros
12
Da cultura underground ao
reconhecimento internacional,
o grafiteiro e curador desta
exposição, Binho Ribeiro,
relembra sua própria história,
os trabalhos com ilustrações
na juventude, as primeiras
experiências pintando na rua e
a formação da cena paulistana
de grafite, da qual é um dos
principais expoentes.

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Além das ruas - histórias do graffiti


Fomos todos nós, 11 grafiteiros, Além das ruas: histórias do graffiti,
presos numa manhã de Carnaval promovida pelo Itaú Cultural (IC) com
pintando as colunas do metrô curadoria do próprio Binho.
Santana”, relembra Binho Ribeiro de
um acontecimento em 2011 – cerca A linha do tempo exposta nesta
de 25 anos após a formação da cena publicação insere o movimento na
paulistana do grafite, da qual ele é um história como uma estética recente –
dos principais nomes. Um jornalista iniciada na Nova York de meados dos
acompanhava o grupo durante as anos 1960 e 1970 e popularizada de
atividades naquela manhã, e ele fez a vez na década de 1980 –, que resultou
ponte para que diferentes telejornais do desejo de expressão inerente ao
exibissem o caso, até mesmo com ser humano, principalmente em uma
entrada ao vivo. “Minha mãe ficou situação de opressão ou invisibilidade.
assustada, porque ficou sabendo “Uma das histórias de seu surgimento
pela TV que o filho dela estava é romântica: um cara queria que uma
preso”, conta o grafiteiro. “Mas fomos mulher visse o nome dele e começou
absolvidos da acusação, porque a escrevê-lo no caminho que ela
o juiz entendeu que estávamos sempre fazia. Dali, outras pessoas
trazendo um benefício à cidade, se influenciaram e começaram a
não um vandalismo. Ou seja, era um fazer isso também”, conta o curador.
relacionamento [tido como] marginal “A essência do início do grafite e da
que começou a ser entendido como pichação é a mesma: a busca pela
benéfico”, completa. fama. Não a fama do mainstream,
mas a de ser conhecido em sua
Essa pequena história sintetiza comunidade, uma afirmação. O garoto
muitas das discussões que rondam que picha a lateral de um prédio vai
o universo do grafite nas últimas criando um nome, uma marca, uma
décadas. Entre tentativas de grife. E o grafite dialoga com isso, a
deslegitimação – seja por sua origem essência é a mesma.”
periférica, seja pelo modo como
ele ocupa os espaços públicos –
e a aceitação tanto por parte de UM FURACÃO CULTURAL
um público encantado com suas “Como não havia espaços em galerias
formas, traços e cores quanto pelas para pessoas que eram excluídas,
instituições, é uma narrativa que para uma sociedade esquecida e
se aplica ao Brasil e a diferentes abandonada, começou a surgir uma
realidades no mundo. Todas essas cultura underground” – é assim que
questões são revistas na exposição Binho resume o momento em que

16
Binho Ribeiro: histórias escritas por letras entrelaçadas

Grafiteiros durante a pintura de


mural na Avenida 23 de Maio,
um dos maiores corredores de
arte urbana da América Latina.
Prefeitura de São Paulo, 2015.
Fotografia: acervo Binho Ribeiro

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Mural feito por Vitché, Tinho, Uma grande amizade iniciou-se neste intercâmbio ao
OSGEMEOS, Speto e Binho. Chile, que, além de fortalecer o grupo, proporcionou
Chile, 1996. Fotografia: acervo aos jovens artistas conhecimentos sobre estilos e
Binho Ribeiro técnicas essenciais na formação de seus caminhos
artísticos. Essa evolução colaborou para estabelecer
São Paulo como berço de uma cultura urbana
eclética e diferenciada.

20
21
Além das ruas - histórias do graffiti

Parte do mural na Avenida 23 de


Maio, um dos maiores corredores
de arte urbana da América
Latina, 2015. Fotografia: acervo
Binho Ribeiro

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Binho Ribeiro: histórias escritas por letras entrelaçadas

o grafite como o conhecemos hoje começou a tomar forma na Nova York


dos anos 1960, mais especificamente nos bairros periféricos, como Bronx e
Brooklyn. Ao longo da década seguinte, o ato de escrever seu nome de maneira
criativa sem autorização, principalmente em trens, cresceu exponencialmente
em popularidade. Ao chegar aos anos 1980, o grafite foi entrelaçado à
cultura hip-hop que ali nascia e, após medidas de segurança para diminuir o
vandalismo nos trens, esse tipo de arte se espalhou de vez pelas ruas e prédios
da cidade.

Paralelamente, a França vivia uma efervescência após os movimentos


estudantis de maio de 1968, que tiveram seus slogans – como o icônico “É
proibido proibir” – reproduzidos em pichações ao redor do país. Em 1981,
o jovem Xavier Prou, de 20 anos, começou a pintar as ruas de Paris sob o
pseudônimo Blek Le Rat (na brincadeira de “Rat” como um anagrama de “Art”)
e originou o que veio a ser o movimento de estêncil, uma forma de arte urbana
em profundo diálogo com o grafite.

“Tudo aquilo começou a fazer um redemoinho, um furacão cultural que não era
aprovado pela sociedade. As galerias não aceitavam aquele formato de arte, e ele
só crescia, até que houve uma hora em que não tinha como barrar aquilo”, conta
Binho. Foi assim que essa cultura chegou também ao Brasil, de maneira bastante
orgânica, quase que no boca a boca em diferentes círculos. “Eu vim do skate
e do hip-hop; a dupla osgemeos (formada por Otávio e Gustavo Pandolfo) era
totalmente da raiz do hip-hop, o Speto já era ilustrador e recebia, às vezes, uma
revista que alguém trazia dos Estados Unidos, via uma foto aqui e outra ali”, diz o
grafiteiro. “A gente começou a crescer com essa cultura, todo mundo separado.
Era uma época na qual você mal tinha um telefone em casa, e, mesmo assim,
essa cultura cresceu em São Paulo.”

MOVIMENTOS COLETIVOS
“Eu não conhecia ninguém que fazia grafite, Speto também não. osgemeos
pensavam que só eles faziam aquilo no Brasil”, brinca o curador ao relembrar de
quando, na década de 1980, ainda não havia uma cena no país. Na adolescência,
ele ganhou uma bolsa para estudar desenho e, logo depois, um emprego na
Galeria do Rock, no qual desenhava estampas para as marcas. Em pouco tempo,
Binho começou a se aventurar pelo grafite ao pintar pistas de skate. Foi nesse
contexto que ele conheceu Speto, que também já produzia dentro dessa estética.

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24
Desde jovem, Binho demonstrou grande admiração imagem à esquerda
pela cultura japonesa, com a qual sempre teve Binho Ribeiro com colegas
bastante contato através de amigos. Personagens grafiteiros em edição de revista
como monstros e animais influenciaram bastante japonesa de 1999. Fotografia:
a definição de seu estilo. Casado com uma neta acervo Binho Ribeiro
de japoneses, tem uma filha mestiça, nascida
em 1994. Em 1999, pôde visitar a Terra do Sol
Nascente, onde foi recebido pela família Luz (Jun, imagem abaixo
Akira, Eiji Mattsui) em Tóquio, e desde então teve Mural com grafite de Binho
contato com famílias, experiências e aventuras que Ribeiro em Tóquio, Japão, 1999.
o marcaram para sempre. Fotografia: acervo Binho Ribeiro

25
Além das ruas - histórias do graffiti

Em uma ocasião, os dois estavam o movimento ainda hoje no Brasil e


grafitando para um campeonato no exterior, até a criação de revistas
de skate promovido por uma igreja e grandes eventos, como a Bienal
quando conheceram osgemeos. internacional de graffiti fine art.
“Eles nos mostraram que já faziam Eles também foram responsáveis
várias coisas que nós estávamos por algumas das articulações com
estudando, e nós fazíamos várias outros setores da sociedade, como
coisas que eles estavam aprendendo. os órgãos públicos, para que essa
Foi quando combinamos de pintar cultura no país ganhasse seu espaço
juntos e começamos, ali, a crescer de destaque na cena mundial.
e a conhecer mais gente – como
Tinho, Yama, Vitché e Onesto. Como Ainda assim, houve sempre certa
pintávamos na rua, muita gente via desconfiança ou desaprovação vindas
e repercutiu demais. Então, a cada de mentalidades conservadoras
dois ou três anos apareciam umas 50 em relação a esse tipo de arte.
pessoas novas. E, assim, as coisas Binho acredita que parte disso se
foram crescendo”, recorda. dá pela própria estética das letras
entrelaçadas, com muitas cores e
Binho conta que, ao aprender uma movimento: “É uma psicodelia que,
técnica nova, ele a mostrava para se a pessoa não consegue ler, não
osgemeos e vice-versa. “Quando um entende. E, porque não entende, não
conseguia uma revista, emprestava gosta”. Segundo ele, um contato maior
para o outro. Na época, era o único com esse movimento e seu contexto
meio de informação. Se chega a polícia, histórico pode ser fundamental para
como você inventa que tem autorização transformar essa perspectiva. “As
ou não? Toda essa malandragem da rua pessoas irão à exposição esperando
se tornou muito forte, se firmou como ver apenas grafite e vão encontrar
uma cultura underground muito rica de um universo muito evoluído
conteúdo. Era fascinante.” tecnicamente, extremamente bem
exposto, com conteúdo histórico
Os 30 anos seguintes testemunharam muito bem estruturado”, explica o
diversos caminhos percorridos por curador. “Falo das coisas que vivi
esses primeiros grafiteiros da cena aqui no Brasil e no exterior, do que
paulistana, desde o reconhecimento eu conheço, não do que eu acho ou
internacional e a presença em queria que fosse.”�
grandes galerias de arte, passando
pela criação e participação em
importantes iniciativas que apoiam

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Binho Ribeiro: histórias escritas por letras entrelaçadas

Avenida 23 de Maio. Fotografia:


acervo Binho Ribeiro

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Além das ruas - histórias do graffiti

Pinturas rupestres Antigo Egito


(cerca de 40 mil a.C.) (cerca de 2500 a.C.)

Cenas que narram o cotidiano Muito do que veio a formar


de um grupo social, com as sociedades do mundo
suas lutas e glórias, foram as ocidental nasceu ali, às
primeiras formas de pintura margens do Rio Nilo. Um dos
feitas pela humanidade, tendo legados da civilização egípcia
as paredes das cavernas foi a documentação de sua
como suporte. Houve também cultura, dos costumes e do
quem optou por soprar a dia a dia de sua população. Os
tinta por entre os dedos e registros existem em paredes
registrar o contorno de suas que nos fascinam ainda hoje,
mãos, criando, assim, uma milênios depois.
primeira versão do que hoje
conhecemos por estêncil.
Arte popular romana
.C. (cerca de 62 d.C.)
b e i j o " , 1 0 mil a
“O i l l am e
afia: W
Fotogr valho e Silva Quando a erupção do vulcão
Ca r
Vesúvio devastou a cidade
de Pompeia, no ano 79, a
lava também levou consigo
diversas frases e desenhos
que adornavam suas paredes
– já foram escavados mais de
11 mil exemplares só naquela
região. A prática, frequente
em todo o Império Romano,
era a única oportunidade de
expressão do cidadão comum.

28
Linha do tempo

Trens de Nova York


(final da década de 1960)

O bairro do Bronx, na periferia


da cidade, ganhou traços e
cores à medida que crescia
um sentimento de inquietação
com as desigualdades
e violências contra sua
população marginalizada. Os
trens, assinados com uma
grafia inédita, logo se tornaram
ícones desse novo movimento,
que se espalharia pelas ruas de
Nova York com grande fôlego
Registro de trem pintado nos próximos anos.
por T-Kid em Nova York,
Fotografia: a cervo T-Kid
Paris, Maio de 68
(1968)

Muralismo mexicano Do outro lado do Atlântico,


(início do século XX) a França era palco de
movimentos estudantis
Após o fim de uma ditadura que ficaram marcados pela
militar, a Revolução Mexicana presença de pichações,
soprou novos ares criativos principalmente nas
no país, com o surgimento de universidades. Nas ruas, os
painéis que contavam a história estênceis ganhavam força
da nação, enalteciam suas como uma forma de arte
ancestralidades e promoviam característica desse novo
a luta contra as desigualdades tempo, ao lado de pôsteres
sociais. Ruas e prédios eram e murais que ajudaram a
decorados com arte de cunho construir o imaginário da
popular para todos verem. street art ao redor do globo.

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Além das ruas - histórias do graffiti

Um grafiteiro Nasce uma cena


na Bienal (meados da década de 1980)
(1971)
Dos deslocamentos de dois
Nascido na Etiópia e radicado grupos marginalizados – o
em São Paulo, o artista hip-hop do Largo São Bento
gráfico Alex Vallauri (1949- e o skate, que chegou a
-1987) conseguiu entrar pela ser criminalizado nas ruas
porta da frente em uma das de São Paulo em 1988 –,
maiores instituições de arte do o grafite começou a unir
Brasil, a Bienal de São Paulo. pessoas influenciadas pelos
Participante de quatro edições movimentos em Nova York
entre 1971 e 1985, Vallauri e Paris. Juntos, esses jovens
tornou-se referência para uma paulistanos lutariam por
nova (e ainda pouco aceita) espaço, reconhecimento e
arte urbana, que pretendia, legitimidade na arte da cidade.
em suas palavras, “enfeitar
a cidade” e “transformar o
urbano com uma arte viva Primeiras parcerias
[e] popular”. (início da década de 1990)

Em 1978, também existia A nova década chegou com


um movimento de street art oportunidades para o universo
protagonizado por grupos como do grafite na capital paulista.
Tupy Não Dá, Carlos Matuque A prefeitura incentivou sua
e Jaime Prades, que realizaram prática, cedendo materiais
diversas intervenções urbanas e e espaços físicos para a
ocuparam muitas ruas de produção dos grafiteiros,
São Paulo. como forma de oferecer uma
alternativa às pichações.
Alguns trabalhos eram também
remunerados. Paralelamente,
o hip-hop foi fomentado pela
Secretaria de Cultura e o skate,
finalmente, legalizado.
a
Evento “Arte e cultur
5 .
na kebrada", 201in o
a cervo B h R ibei ro
30 F otografia: n
Linha do tempo

Grafite na mídia
(meados dos anos 1990)

Com uma cena em São Paulo


já consolidada, o grafite no
Brasil teve sua popularidade
expandida também pelos
meios de comunicação em
massa, entre eles revistas
especializadas, como
Ëpidemia, a publicação
independente Fiz, fundada por
ho e
, B i n ho, Ti9n96. osgemeos, e a revista Graffiti,
OS e , 1 o Ribei ro
EME o Chi l
O SG S p e t o n c e r v o B i n h editada por Binho Ribeiro e
ia: a n
t ograf distribuída pela Editora Scala
Fo em todo o Brasil durante dez
anos, multiplicando o acesso
Intercâmbio aos artistas e eventos dessa
Brasil-Chile cena. Na mesma época, a TV
(1996) Globo exibiu a novela Vila
Madalena (1999), que tinha
Quando Binho Ribeiro, Tinho, como cenário a efervescência
osgemeos e Vitché chegaram cultural do bairro de mesmo
a Santiago para grafitar em nome – epicentro da arte
um evento de hip-hop, a urbana na capital paulista.
notícia repercutiu nos círculos
de grafite de todo o Brasil
como um novo marco para o
desenvolvimento dessa arte
no país. Ao mesmo tempo, no
Chile, houve uma valorização
dessa atividade, e não tardou
para que logo começasse uma
nova era de idas e vindas de
grafiteiros entre os dois países. Revista

“Graffit Rap Brasil",
d e r u a , o i , a r t e e c u esp e c i a l
utubro lt
de 20 ura"
06
31
Além das ruas - histórias do graffiti

Evento Ruas,
no Itaú Cultural
(2006)

afitei ros
Em 2006, o Itaú Cultural (IC)
e g i s t ro de gr a externa
R e
apresentou o evento Ruas. Além do na ár urante
pintan aú Cultural d 06.
de performance circense, teatro, I t 2 0
do s" , da Foto
to “Rua .
música eletrônica, rap e vídeos, o eventografia: Cia
Fo
foram realizadas oficinas de hip-
-hop, ações de pintura e
palestra/debate sobre grafite Museu de Arte
com osgemeos. Na ocasião, de São Paulo
artistas – entre eles Binho (2009)
Ribeiro – grafitaram placas na
lateral do edifício do IC e painéis Cento e quarenta mil visitantes.
dispostos dentro do prédio. Esse foi o público da mostra
De dentro para fora / De fora
para dentro, que levou a obra de
30 horas de arte, CPTM Daniel Melim, Ramon Martins,
(2006) Titi Freak e outros expoentes
da arte contemporânea com
Com painéis e intervenções experiência na arte de rua para
urbanas instaladas nos muros dentro do Museu de Arte de São
das estações, uma grande Paulo (Masp), conhecido ícone
exposição de arte pública da elite cultural paulistana.
foi criada com o objetivo de
humanizar a paisagem que Também em 2009, a Graffiti
acompanha a linha do trem e de fine art (GFA) teve sua primeira
aproximar a Companhia Paulista edição, no Museu Brasileiro da
de Trens Metropolitanos (CPTM) Escultura (MuBE), com cerca
de seus usuários. O mutirão de 50 artistas. Hoje, a Bienal
artístico, coordenado por Binho internacional GFA conta com
Ribeiro e Bonga, reuniu cerca de mais de cinco edições, sendo
150 artistas do grafite, vindos de uma das mais completas
diversas partes do país. exposições de arte de rua
do mundo.

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Linha do tempo

A cidade abraça Museu de Arte de Rua


a arte (2017)
(início dos anos 2010)
A Avenida 23 de Maio, que serve
Em 2011, a prisão de 11 de eixo do corredor norte-sul
grafiteiros – absolvidos após de São Paulo, possuía uma
a conclusão de que sua extensa coleção de murais, que
atividade não era vandalismo, foram apagados por uma nova
mas um benefício para cidade prefeitura. A ação gerou enorme
– ganhou repercussão e a repercussão negativa e levou a
Secretaria de Cultura de São Secretaria de Cultura a criar o
Paulo patrocinou a criação do Museu de Arte de Rua (MAR), com
Museu Aberto de Arte Urbana. a viabilidade do projeto prevista
Uma das avenidas mais em lei, independentemente das
importantes para o trânsito da próximas mudanças de governo.
capital paulista, a 23 de Maio
é também a sede do maior
mural de grafite a céu aberto
do mundo.

Registro de m
Frasão e Katiaural de Odé
S z
Fotografia: a cervo u ue, 2017.
Binho R ibei
ro

Além das ruas


(2023)

O IC convida Binho Ribeiro para


a curadoria da exposição Além
das ruas: histórias do graffiti,
que reúne e organiza diferentes
vivências e perspectivas sobre
a arte das ruas e seu lugar no
panorama artístico e cultural no
Registro de mu Brasil e no mundo.
ral do museu
de arte urbana de São Paulo, 20
Fotografia: a cervo Binho Ribei ro17.
33
34
35
MULHERES
NO
GRAFFiTi
por Katia Suzue

36
A grafiteira, artista plástica
e educadora Katia Suzue
fala de sua experiência com
o grafite, de suas principais
influências, da evolução de
seu estilo, dos desafios e
da construção de espaços
de apoio e fortalecimento
entre mulheres em uma
cena da arte de rua
tradicionalmente masculina.

37
Além das ruas - histórias do graffiti

N
asci e cresci na Zona Norte de evolução como estudante, artista,
São Paulo e me lancei para valer mãe, mulher e feminista. Quero
no jogo do graffiti em 2005. contar um pouco sobre as mulheres
Nessa época eu só queria fazer parte, que conheci ao longo desse
criando bombs [formato de grafite período de lutas e glórias, no qual
rápido, com letras estilizadas de poucas nos tornamos muitas.
simples e poucas cores] Nós nos fortalecemos em rede,
pela cidade. Por muito compartilhando informações e
tempo fiquei nesse eventos e nos energizando com as
cenário tradicional, cheio experiências de outras mulheres que,
de regras, como nós, escrevem diariamente
muitos homens, a sua história nas ruas de todo
pouquíssimas o mundo. Paralelamente ao meu
mulheres, muita percurso nas ruas, segui como
vivacidade e muita educadora, lugar que me manteve
competição. Segui em estudo constante e nutrindo o
trilhando esse caminho interesse pela trajetória dessas
das ruas e resistindo mulheres.
a esse mecanismo nada
convidativo às mulheres, em Seguindo a regra
que era possível básica do
contar nos dedos graffiti – de
as graffiteiras que respeitar
conheci e com as quem veio
quais pintei, mas com primeiro –,
quem me conectei quero começar
profundamente e até hoje citando Lady
guardo em meu coração. Pink, graffiteira
equatoriana radicada
Minha história começou no real nos Estados Unidos. Ela recentemente
vandal – estilo em que só cabem deu um depoimento contando que,
letras e que é ilegal por essência, quando começou a pintar, escutava
no sentido literal de vandalismo; é rock e que a imagem atrelada a ela
oriundo do movimento hip-hop e tem de mulher cult da cultura hip-hop
como objetivo demarcar território (graças ao filme Wild style, de 1982,
– e foi se desdobrando, entre do qual foi protagonista) não a
mudanças de estilos, acompanhando representava. Apesar disso, assim
meu desenvolvimento e minha perpetuou seu nome e se tornou

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Mulheres no graffiti

Katia Suzue, 2023. Fotografia:


André Coletto

39
40
41
Além das ruas - histórias do graffiti

Registro de grafite da artista


Katia Suzue. São Paulo.
Fotografia: Katia Suzue

42
Mulheres no graffiti

uma grande referência feminina na que aparecesse e tentava rastrear


cultura hip-hop. Atualmente, segue essas mulheres para pintar junto.
pintando nas ruas, atuando como Foi assim que, em 2007, surgiram
educadora de graffiti em espaços as Noturnas, grupo formado pelas
culturais e vendendo projetos de graffiteiras Tikka, Prila e Zeila. Eu
arte. Apesar de ser uma das minhas me juntei a elas, e, nos dois anos
grandes influências, ela não foi a seguintes, entraram para o grupo
primeira referência, já que, no início Keila, Yá, Pan e Miss. Construíamos
do meu percurso, a internet era uma uma verdade que era só nossa,
ferramenta limitada, à qual nem todo várias meninas cheias de disposição
mundo tinha acesso, e as primeiras e muita vontade de colorir as ruas.
mulheres com as quais tive contato Noturnas se tornou a primeira crew
encontrei na rua. [equipe] de mulheres na cidade de
São Paulo. Criamos nossas regras,
Outro grande nome para mim é colorindo a cidade cinza que a
Martha Cooper, fotojornalista norte- gestão política da época nos fazia
-americana que tive o prazer de engolir. Nós nos inscrevemos em
conhecer há alguns anos. Martha editais e conseguimos realizar muitas
é uma enciclopédia viva do graffiti conquistas apenas entre mulheres.
e, com seus 80 anos, segue mundo Aprovamos o projeto As 13, que
afora registrando a evolução dessa pela primeira vez levou 13 mulheres
arte e o trabalho das novas gerações. graffiteiras juntas em um espaço
expositivo institucionalizado (com
Um dos primeiros contatos que tive cachê, material e uma publicação), no
com outras mulheres no graffiti foi Centro Cultural Ruth Cardoso.
em 2003, antes de me jogar de vez
na cena, quando vi Waleska Nomura Nesse mesmo período, fomos
pintando no Clubão, um espaço de convidadas para o Encontro nacional
convívio da galera na Zona Norte de da Rede Graffiteiras BR, encabeçado
São Paulo. Nesse dia me senti muito por Ana Clara, da crew Maçãs Podres,
impactada vendo uma mulher pintar. criada no ABC Paulista em 2003.
Uma mulher amarela, de cabelos Nesse encontro, tivemos contato
coloridos, que muito se assemelhava com aproximadamente 50 mulheres
a mim. Nossa origem oriental nos de todo o Brasil. A Rede Graffiteiras
conectava, e a força feminina BR nos serviu de apoio para viajar e
ancestral me emocionou naquele pintar com outras mulheres de outros
momento raro e único. No início eu me estados, e a partir disso muita coisa
apegava a qualquer figura feminina mudou, conexões foram estabelecidas

43
Além das ruas - histórias do graffiti

e uma revolução feminina no graffiti do meu percurso nessa área, já que


se iniciou. Ana Clara me abriu não só a nós mulheres passamos por muitas
porta para o mundo feminino do graffiti, provações no período de gestação.
mas também minha mente ao falar de Nesse momento, recusei propostas para
feminismo, termo que, antes do contato pintar, até que, como mágica, muitos
com ela, eu nem sabia o que significava. convites irrecusáveis passaram a fazer
parte da minha rotina. Então deixei
Nessa mesma época, eu me formei os bombs e, graças aos movimentos
em artes e comecei a ocupar espaços do próprio graffiti, cheguei à street
culturais ministrando aulas de arte art. Passei a produzir telas e projetos
urbana. Posteriormente, eu me graduei de pintura, de grandes formatos, em
em museologia pela Etec Parque da instituições e galerias de arte.
Juventude, bem em frente ao Museu
Aberto de Arte Urbana (Maau). No Há cerca de dez anos, o graffiti se
momento da criação do museu, eu consolidava de maneira incrível, e
estudava e pintava havia pouco mais quem tinha técnica e circulava na
de cinco anos, mas já tinha em mente cena conseguia muitos trabalhos
que havia aprendido a pintar e queria em campanhas publicitárias.
muito participar dessa cena. Foi então Galerias na Vila Madalena, bairro
que recebi um convite para fazer a paulistano, começaram a investir
pintura em uma das pilastras do Maau. na venda de obras de artistas do
universo da rua, outras instituições
Esse foi um momento em que muita fomentaram a cultura da rua e, graças
coisa mudou na minha vida. Tive a esse momento, pude participar de
a chance de fazer minha segunda residências artísticas internacionais,
iniciação científica, via Conselho eventos nacionais e internacionais
Nacional de Desenvolvimento de muralismo e mostras coletivas em
Científico e Tecnológico (CNPq), com grandes museus de São Paulo, ganhei
um inventário de obras de mulheres salões de arte e participei da Bienal
graffiteiras. Entreguei minha pesquisa de graffiti fine art como artista e como
em 2011 – nela mapeei 40 mulheres palestrante. Era um sucesso ser artista
atuantes no graffiti na capital paulista, de rua.
estudo que serviu de apoio para a
produção do capítulo sobre mulheres do Então chegou a pandemia de
livro Graffiti em SP, publicado em 2012. covid-19. Como ser artista de rua sem
a rua? Eu me reinventei, mudei de
Em meio ao graffiti e aos estudos, cidade, de ares, e segui com as aulas
engravidei. Pensei que seria o fim remotamente. Mas como falar de arte

44
Mulheres no graffiti

de rua nesse momento distante da


rua? Sendo educadora cultural – em
um programa social desde 2014, e
cada vez mais com demandas on-line
–, tive a ideia de fazer entrevistas,
focando em mulheres do graffiti,
convidando artistas que começaram
a pintar no mesmo período que eu.
Entre as perguntas, uma era comum
a todas, e eu a repasso a vocês: “Qual
foi a primeira mulher que você viu Crew Noturnas e colegas
grafiteiras em São Paulo, 2007.
fazendo graffiti na sua vida?”. ❄ Fotografia: acervo Katia Suzue

Registro de grafite da artista


Katia Suzue, São Paulo.
Fotografia: Katia Suzue

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47
AS
FUNDAÇÕES
DO GRAFiTE
COMO
EXPRESSÃO
URBANA
por Icaro Mello

50
Membro de uma geração
que construiu as bases da
cultura do grafite em Nova
York, o grafiteiro T-Kid fala
da realidade social no Bronx,
das mudanças estéticas
e técnicas que o grafite
incorporou com o passar
dos anos e da potência de
sua internacionalização.

51
Além das ruas - histórias do graffiti

N
ascido em Nova Jersey e criado
no Bronx, em Nova York, Julius
Cavero, conhecido mundialmente
como T-Kid, descobriu o grafite
ainda criança, aos 7 anos, através de
tags (escrita do nome ou apelido do
artista, no grafite e no picho, que lhe
dá visibilidade e reconhecimento)
pichadas nos muros. Fruto de uma
complexa e dura realidade urbana
daquela cidade na década de 1970, ele
construiu uma reputação ainda jovem,
com acrobacias urbanas e espalhando
suas tags “King13” e “Sen102”.

A Nova York dos anos 1970


é comumente lembrada pela
instabilidade econômica e pelo caos
social: bairros com ruínas de prédios,
alta taxa de incêndios criminosos,
recordes de desemprego, roubos e uma
cidade à beira da falência econômica.
Nas ruínas dessa cidade, no entanto,
crescia um movimento de resistência
e contracultura, de latinos e negros
pobres, que resultaria no movimento
hip-hop e daria nova cara e voz à
expressão de jovens marginalizados
pela sociedade estadunidense.

Nesta entrevista, T-Kid nos conta sobre


a atmosfera social na qual cresceu, a
realidade das gangues, sua trajetória
pessoal no grafite e as transformações
que a cultura da arte de rua e sua
representação estética percorreram
até os dias atuais.

52
As fundações do grafite como expressão urbana

IM Quando você começou sua


trajetória no grafite? Qual era o
contexto urbano em Nova York
e suas motivações?
T-KID O momento em que percebi que existia algo chamado grafite foi no
final da década de 1960. Você via por todo lugar. Eu era uma criança
e percebia, enquanto crescia, que o grafite estava por todos os
lados, como tag. Mas só comecei a entrar no grafite, fazendo tags,
quando fugi da casa da minha mãe para ir morar com o meu pai, no
começo da década de 1970.

Nessa época, o Bronx tinha muitas gangues e muitas drogas, era


um bairro perigoso. Comecei a fazer tags quando entrei em uma,
os Bronx Enchanters [Encantadores do Bronx]. Escrevia “King13”,
e também o nome da gangue, nas paredes e caixas de correio. Foi
só quando eu saí dela e fui para outra, os Renegades of Harlem
[Renegados do Harlem], que comecei a escrever nos trens. Danko,
Smoky, Diamond Dave e eu fazíamos motion tagging [pintar e
grafitar com o trem em movimento]. Nesse período, eu usava a tag
“Sen102”, que continuei fazendo até 1977, quando fui baleado e
decidi sair do mundo das gangues. Foi nesse momento que eu me
tornei T-Kid 170.

IM Como você criou o nome T-Kid?


T-KID Esta é uma história engraçada, de quando era um garoto magrelo
e gostava de jogar futebol americano na rua. Costumava correr e
balançar meus braços gritando: “Me passa a bola”. Os outros garotos
riam de mim porque, quando agitava meus braços, parecia a letra
T, então começaram a me chamar de “Big T” [Grande T]. Quando
entrei nas gangues, meus amigos me chamavam de kid [criança ou
moleque], porque sempre fui o mais novo, e é comum as pessoas o
chamarem de kid quando você é o mais novo em um lugar.

53
Além das ruas - histórias do graffiti

Quando eu estava no hospital depois de ter sido baleado, meu irmão


comprou um caderno de rascunho e algumas canetas El Marko e
Buffalo para mim. Eu escrevia e rascunhava no papel. Escrevia um
grande “T”, escrevia “Kid”. Então olhei para os desenhos e vi que os
dois juntos eram muito legais, e era original: T-Kid. O interessante
é que pode significar muitas coisas: The Kid, Terrible Kid, Tenacious
Kid, Terrorizing Kid. Foi assim que criei o nome, no hospital, em 1977,
me recuperando. Foi muito louco, mas o nome pegou.

IM No Brasil, e acredito que nos


Estados Unidos também, existe
uma linha tênue na maneira
como a sociedade vê o grafite.
Algumas pessoas o reconhecem
como uma expressão artística
e outras como vandalismo,
sendo uma questão em
constante debate. Como essas
percepções impactaram sua
vida e seu trabalho?
T-KID Quando escrevia em paredes, caixas de correio e tudo o mais
que encontrava, era vandalismo. Não tinha permissão para fazer
isso, e essa era a maneira como as pessoas viam. A gente não
buscava permissão, a gente só fazia. É bem interessante como o
grafite se transformou no que é hoje em dia, apesar de as pessoas
o odiarem tanto.

54
As fundações do grafite como expressão urbana

Na passagem dos anos 1970 para os 1980, com a revolução cultural


que se iniciou no Bronx, com o hip-hop, as pessoas passaram a ver
o grafite de uma maneira diferente. A percepção começou a mudar
porque as galerias no centro da cidade, em Manhattan, começaram a
aceitar o grafite como um meio de ganhar dinheiro. A Autoridade de
Trânsito [que administra os trens] e muitas pessoas odiavam o grafite
porque achavam que a arte precisava ser limpa, ter uma estética, que
é o que a mentalidade conservadora sempre pensou. Apesar disso,
muitas pessoas tiveram a mente aberta e viram a verdadeira arte.
O grafite é a única expressão artística que sempre se comunicou
rompendo barreiras como raça, religião, idade. Não importa de onde
você é, qual sua idade e no que você acredita ou não, o grafite te toca.

Por causa desse movimento cultural do Bronx, pessoas como


[o fotógrafo] Henry Chalfant e [a fotojornalista] Martha Cooper
documentaram o que acontecia em um livro. Assim que a publicação
se internacionalizou, o movimento virou um fenômeno mundial.
Tenho certeza de que muitos artistas hoje em dia, inclusive no
Brasil, foram influenciados. Por exemplo, a história de osgemeos.
Eles conseguiram uma cópia xerocada do livro e isso os inspirou.
Nosso movimento criou a fundação. Criamos, colocamos nos trens,
e isso motivou e inspirou muita gente, a ponto de virar um fenômeno
global. No meio disso tudo, para escapar do estigma da palavra
grafite, começaram a chamar de arte de rua – afinal, é arte na rua.

Quando começou a ficar mais difícil de pintar os trens, o grafite


passou a ir para as paredes, que eram mais aceitas pelo público,
porque você podia pedir permissão. Não estávamos mais diante
de um grande departamento federal, estávamos lidando com
indivíduos, que gostavam ou não. Alguns reconheciam seus muros
e paredes como um bom espaço para exibir arte, e isso foi uma
transformação incrível.

Tudo se resume à maneira como você percebe o mundo: o quão


conservador ou liberal você é, qual é a sua visão. A minha motivação
sempre foi estabelecer o grafite como arte, porque ele é. É um
meio de expressão, como a arte também é, seja ela visual, física ou
performática. Arte é sobre expressão.

55
Registro de trem pintado por
T-Kid em Nova York, 1984

56
57
Além das ruas - histórias do graffiti

IM Escrever nos trens era muito


forte em Nova York. Você
consegue dizer por que era
tão importante?
T-KID Muitos artistas de rua hoje em dia parecem não entender que
o grafite nos trens foi a fundação do movimento. Antes disso,
não havia murais de grafite, eram apenas tags nas ruas. Nós
começamos a pintar os trens nos metrôs, e a importância de fazer
isso é que eles se moviam. Era uma galeria em movimento. A gente
percebeu que poderia pintar no Bronx e nossos nomes iriam de lá
para Manhattan, Brooklyn, Queens. Escrever nos trens se tornou
um rito de passagem para os jovens, que pintavam os nomes e os
viam circular. Por isso que havia lugares como o Writer’s Bench
[Banco dos Escritores, onde grafiteiros e escritores se reuniam
para se organizar e observar os trens] na estação 149th Street,
ou na Rua 125, onde os trens saíam dos túneis e as pessoas iam
fotografar. Antes disso o grafite era tag, era escrita. Com os trens,
nós passamos a gastar mais tempo, usar cores, criar estilos, fazer
personagens que criavam vida com o trem em movimento.

Assim, o grafite como arte passou a existir. Era feito no aço, nos trens,
era ilegal. A gente não pedia aos nossos pais que comprassem tinta, a
gente roubava. Era arte das pessoas pobres, que não tinham nada, e
isso deixava tudo mais passional. Quando foi para as paredes depois,
tudo se tornou mais criativo, mais estético, e, como não era ilegal, as
pessoas aceitaram melhor. Muitos grandes artistas nasceram aí, onde
nada era comprado nem planejado. Juntos, nós nos energizávamos,
trocávamos influências. Quando estávamos nos túneis e nos pátios dos
trens, ficávamos sentados conversando, fazendo piadas, rindo, e essa
energia era transformada em criações maravilhosas. Era incrível. Nunca
mais teremos um período como aquele. Não tínhamos revistas, lojas
dedicadas ao grafite, tintas específicas, cápsulas de spray. Usávamos o
que estava disponível, o que conseguíamos achar. E isso é arte, ela vem
da ausência. Nós nos tornamos algo e fizemos do grafite algo global.

58
As fundações do grafite como expressão urbana

IM Você vem de uma família


de imigrantes latinos. Isso
influenciou seu trabalho?
T-KID Eu tenho muito orgulho da minha origem. Eu sou latino. Meu pai era
um imigrante do Peru que veio para os Estados Unidos, trabalhou
duro, me ensinou valores. Minha mãe era porto-riquenha e veio para
Nova York com minha avó para trabalhar nas fábricas. Naquela época,
o Bronx tinha muitos empregos nas fábricas. Meu pai gostava de
futebol e era um homem muito inteligente. Era contador, mas gostava
de trabalho físico, e por isso foi trabalhar com ferro, como soldador,
em construção de prédios, pontes. Ele nunca estava em casa,
sempre trabalhando. Eles se separaram quando eu tinha 3 anos, e eu
morei com minha mãe até os 9 anos, quando fugi para ir morar com
meu pai. Com ele, conheci a cultura peruana e fiquei fascinado pela
cultura inca e moche dos Andes. Isso me influenciou, com certeza.
Quando morei com minha mãe – inclusive em Porto Rico por um
tempo –, as cores e a cultura porto-riquenha, a cultura taina, as casas
coloridas me cativaram.

Tudo isso me incentivou a usar muitas cores, junto com as linhas


finas da arte inca e moche. Eu só percebi essa influência depois,
quando fui fazer pesquisas sobre essas tradições e percebi que
aquilo era o que eu fazia, como me expressava. Afinal, o grafite é uma
forma hieroglífica: é um sistema complexo de letras e símbolos que
nem todo mundo consegue entender. É muito importante que as
pessoas conheçam sua cultura, a cultura de onde elas vêm. Assim
elas podem descobrir quem são. Eu sei quem eu sou. Sou latino, sou
mestiço, eu me orgulho disso e expresso na minha obra.

59
Além das ruas - histórias do graffiti

IM Você já veio ao Brasil?


T-KID Infelizmente nunca fui. Mas já tive o prazer de trabalhar com muitos
artistas brasileiros. Pintei uma parede no Bronx com osgemeos e o
Cope2. Pintei com o Bonga MAC em Paris. E pintei com o Binho na
China, na França, na Alemanha e em Nova York. Só de pintar com
eles, eu já pude sentir a energia do Brasil. O Brasil é incrível, assim
como a arte que é produzida aí. Acho incrível, em São Paulo, os
prédios enormes e os artistas fazendo seus grafites nas empenas
[em arquitetura, empena designa qualquer parede lateral de uma
edificação, normalmente na divisa do terreno]. Estou ansioso para
conhecer o Brasil e me sinto grato por ter sido convidado a ir.
Espero poder fazer algo que impressione vocês, porque vocês são
impressionantes para mim. Espero que o que façamos juntos possa
ser lembrado por muito tempo.

IM O que o motiva a continuar


criando?
T-KID Eu tenho 61 anos e ainda estou ativo. Vou bastante para a Europa.
Pinto muito. Até pinto trens por lá. Para mim, é importante poder dar
de volta aquilo que me foi dado.

Quero ver o grafite como arte, feito como sempre fizemos,


resgatando as raízes. Por isso, eu vou pintar trens até não conseguir
mais andar. Me motiva muito poder ver meu trabalho chegando
a museus importantes, como o Louvre, o Smithsonian, e ver as
pessoas reconhecendo o grafite como uma arte de verdade. A maior
parte dos grafiteiros não é treinada nas técnicas clássicas da arte,
não foi a escolas de arte, não fez da arte seu negócio. Eles só se
expressam, assim como eu faço. Se fizer dinheiro com isso, tudo
bem. Mas o que é realmente importante, e me faz continuar, é que os
artistas de hoje, de rua, vejam que essa expressão veio dos trens do
metrô, de uma geração que não teve nada.

60
As fundações do grafite como expressão urbana

IM Que mensagem você gostaria


de deixar para quem está
começando no grafite?
T-KID Que sejam verdadeiros consigo mesmos como artistas. Sempre
saiba o que você quer ser, o que quer aprender, o que você está
disposto a fazer e do que deve abrir mão. Às vezes arte é sacrifício,
e, se você está disposto a fazer esse sacrifício, será um grande
artista. Seja disciplinado no que você faz, seja verdadeiro, acredite
em si mesmo e no que é importante. Isso é o que a arte me deu,
a autoconfiança de que posso alcançar tudo aquilo em que eu
focar minha mente e meu coração. Mente e coração são muito
importantes. A mente lhe diz o que fazer, mas o coração precisa
sentir. Precisa parecer certo para você – e, se é isso que você quer,
seja verdadeiro que o retorno será verdadeiro. ☁

61
Além das ruas - histórias do graffiti

Registro de trem pintado por


T-Kid em Nova York, 1984

62
“Pintei uma parede no
Bronx com osgemeos
e o Cope2. Pintei com
o Bonga MAC em
Paris. E pintei com o
Binho na China, na
França, na Alemanha
e em Nova York. Só de
pintar com eles, eu já
pude sentir a energia
do Brasil. O Brasil é
incrível, assim como a
arte que é produzida
aí. Acho incrível, em
São Paulo, os prédios
enormes e os artistas
fazendo seus grafites
nas empenas.”
LiVROS
PARA
CONHECER
O GRAFiTE

72
Binho Ribeiro, grafiteiro
e curador da exposição
Além das ruas: histórias do
graffiti, selecionou 11 livros
que apresentam reflexões e
críticas por meio de cores e
traços nos muros da cidade.
As obras bibliográficas
indicadas abrangem, além
da história do grafite, os
trabalhos e os artistas de
destaque desse meio.

73
Além das ruas - histórias do graffiti

Subway art O mundo do grafite


Henry Chalfant e Martha Cooper Nicholas Ganz
Thames & Hudson WMF Editora
[edição em inglês] [edição em português]

Publicado pela primeira vez em 1984, Nicholas Ganz combina suas próprias
Subway art é um conjunto documental experiências, depoimentos de artistas
do fotógrafo Henry Chalfant e da e mais de 2 mil obras para analisar
fotojornalista Martha Cooper que a essência do grafite, conduzindo o
apresenta a explosão do movimento leitor pela história desse movimento
do grafite na cidade de Nova York. nos Estados Unidos, na Europa, no
Conhecido como A Bíblia do Grafite, Brasil e em outros lugares.
o livro é considerado um dos
responsáveis pela internacionalização
desse movimento. O grafite na cidade de
São Paulo e sua vertente
no Brasil
Spraycan art Sérgio Poato
Henry Chalfant e James Prigoff Núcleo Interdisciplinar do Imaginário
Thames & Hudson e Memória (Nime)/Laboratório
[edição em inglês] de Estudos do Imaginário (Labi)/
Instituto de Psicologia da
Publicado em 1987, Spraycan art é um Universidade de São Paulo
trabalho documental dos fotógrafos
Henry Chalfant e James Prigoff sobre Lançado em 2006, o livro integra a
o início da disseminação do grafite coleção Imaginários, série semestral
nova-iorquino ao redor do mundo, com de obras que buscam compor um
obras e depoimentos de grafiteiros. conjunto de artigos e trabalhos em
diferentes áreas do conhecimento,
como antropologia, artes plásticas,
cinema, geografia, história, literatura
e música.

74
Livros para conhecer o grafite

Graffiti planet Tropical spray


Alan Ket Julien “Seth” Malland
Michael O’Mara Books Martins Fontes
[edição em inglês] [edição em português]

O grafiteiro, escritor e pintor Alan Ket O artista parisiense Julien “Seth”


apresenta um compilado de obras dos Malland viaja ao Brasil para encontrar
principais nomes do grafite mundial, artistas brasileiros e aprender
como Banksy, T-Kid, Binho e osgemeos. novas formas de criação. Em dez
meses de viagem pelo país, em seis
capitais (São Paulo, Belo Horizonte,
Dondi White: style master Rio de Janeiro, Recife, Brasília e
general Porto Alegre), o autor apresenta
Andrew “Zephyr” Witten e as especificidades de cada região
Michael White através da criação de seus artistas.
Harper Design
[edição em inglês]
Graffiti SP
Apresentando a vida e o trabalho de Ricardo Czapski
um dos expoentes do grafite nova- Comg Editora
-iorquino dos anos 1970 e 1980, o [edição em português]
livro conta com fotografias, rascunhos,
entrevistas inéditas e depoimentos de Em um projeto que começou
seus contemporâneos. como hobby, o fotógrafo e
consultor financeiro Ricardo
Czapski documentou e organizou
L’art du graffiti. 40 ans representações do grafite na cidade
de pressionisme de São Paulo entre 2010 e 2013.
Grimaldi Forum Monaco O livro apresenta obras de Cranio,
[edição em francês] Speto, Chivitz, Kobra, Ozi, Alex
Hornest, Tinho, Mundano e Magrela,
Catálogo da exposição de mesmo entre outros artistas.
nome apresentada no Grimaldi
Forum Monaco e que contava com
obras do “pressionismo”, movimento
de artistas que transportou a
estética da arte urbana para as telas
convencionais.

75
Além das ruas - histórias do graffiti

Graffiti fine art


vários autores
Sesi-SP Editora
[edição em português]

Fruto de uma parceria entre a Sesi-


-SP Editora e o Museu Brasileiro
da Escultura (MuBE), o livro Graffiti
fine art apresenta grandes nomes
do grafite mundial ao lado de suas
obras, explorando seus traços, suas
influências e seus temas.

Graffiti Brasil
Tristan Manco, Lost Art e Caleb
Neelon
Thames & Hudson
[edição em inglês]

Trabalho conjunto do autor e


designer Tristan Manco, do coletivo
de fotografia Lost Art (formado por
Louise Chin e Ignacio Aronovich) e
do grafiteiro Caleb Neelon, o livro
Graffiti Brasil é um registro visual e
histórico da criatividade, das técnicas
e das particularidades da produção
de grafite no país, apresentando o
trabalho de artistas como Nina, Tupy
Não Dá e Niggaz.

76
Livros para conhecer o grafite

Registro do artista André


Gonzaga Dalata. Fotografia:
acervo Binho Ribeiro

77
PÁGiNAS
DE
CRiAÇÃO

78
Além das ruas - histórias do graffiti

p. 1 Registro do evento Ruas, 2006.


Fotografia: Cia. da Foto

p. 2-3 Registro de mural do Museu de


Arte de Rua de São Paulo, 2017.
Fotografia: acervo Binho Ribeiro

p. 4-5 Evento Arte e cultura na kebrada,


2015. Fotografia: acervo Binho
Ribeiro

p. 14-15 Evento 30 horas de artes, CPTM,


2006. Fotografia: acervo Binho
Ribeiro

p. 18-19 osgemeos, Binho, Tinho e Speto no


Chile, 1996. Fotografia: acervo Binho
Ribeiro

82
Crédito

p. 34-35 Registro da artista Katia Suzue


pintando sua primeira empena, em
2015. Projeto Revivarte Cingapura
- Água Branca. Fotografia: André
Coletto

p. 40-41 Registro de grafite da artista Katia


Suzue, São Paulo. Fotografia: Katia
Suzue

p. 46-47 Registro de grafite da artista Katia


Suzue, São Paulo. Fotografia: Katia
Suzue

p. 48-49 Registro de grafite da artista Katia


Suzue, São Paulo. Fotografia: Katia
Suzue

p. 64-65 Registro de trem pintado por T-Kid


em Nova York, 1984

83
Além das ruas - histórias do graffiti

p. 66-67 Avenida 23 de Maio. Fotografia:


Zanone Fraissat/Folhapress

p. 68-69 Noturnas Gang 2008. Primeira crew


de graffiti só de mulheres na cidade
de São Paulo. Fotografia: acervo
Katia Suzue

p. 70-71 Projeto Olhar nascente para


comemorar o centenário da
imigração japonesa e o aniversário
de São Paulo, no complexo viário das
avenidas Doutor Arnaldo, Paulista e
Rebouças, conhecido como “Túnel
da Paulista”, 2007. Fotografia: acervo
Binho Ribeiro

p. 90-91 Registro do evento Ruas, 2006.


Fotografia: Cia. da Foto

84
Crédito

p. 92-93 Ônibus com intervenção do artista


Vermelho, por ocasião da terceira
Bienal internacional graffiti fine art,
São Paulo, 2020. Fotografia: acervo
Binho Ribeiro

p. 94-95 Registro do evento Ruas, 2006.


Fotografia: Cia. da Foto

p. 96 Registro do evento Ruas, 2006.


Fotografia: Cia. da Foto

85
Além das ruas - histórias do graffiti

EXPOSIÇÃO ALÉM DAS RUAS – HISTÓRIAS DO GRAFFITI


Concepção e realização Itaú Cultural
Curadoria Binho Ribeiro
Assistente de curadoria Lari Umeri
Projeto expográfico Renato Bolelli Rebouças
Projeto de acessibilidade Itaú Cultural

FUNDAÇÃO ITAÚ
Presidente do Conselho Curador Alfredo Setubal
Presidente Eduardo Saron

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO


Gerência Ana de Fátima Sousa
Coordenação Carlos Costa e Renato Corch
Edição e produção de conteúdo Icaro Mello e Juliana Ribeiro
Supervisão de revisão Polyana Lima
Revisão de texto Rachel Reis (terceirizada)
Revisão de tradução Denise Chinem (terceirizada)
Identidade visual e projeto gráfico Mily Mabe
Comunicação visual Guilherme Ferreira e Mily Mabe
Produção editorial Luciana Araripe
Produção gráfica Lilia Góes (terceirizada)
Edição de fotografia André Seiti
Redes sociais Daniela Campos (estagiária), Jullyanna Salles e Victoria Pimentel

ITAÚ CULTURAL

NÚCLEO DE ARTES VISUAIS E ACERVOS


Gerência Sofia Fan
Coordenação Juliano Ferreira
Produção-executiva João Vitor Maturana e Júlia Munhoz
Acervo Steffania Prata

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL
Gerência André Furtado
Coordenação Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual Amanda Lopes e Ana Paula Fiorotto
Captação Abaquar Produções (terceirizada)
Edição Algazarra Produção Cinematográfica (terceirizada) e Richner Allan
Ficha técnica

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTO


Gerência Valéria Toloi
Coordenação de atendimento ao público Tayná Menezes
Equipe Domenica Antonio, Fabiano Nascimento, Matheus Paz, Natasha
Marcondes, Victor Soriano e Vinícius Magnun
Coordenação de formação Valéria Toloi
Equipe Edinho dos Santos, Edson Bismark, Elissa Sanitá, Joelson Oliveira,
Matheus Maia, Maya de Paiva, Mayra Reis Rocha, Mônica Abreu Silva, Silas
Barbosa (estagiário), Victória de Oliveira, Vítor Luz e Vitor Narumi

NÚCLEO DE INFRAESTRUTURA E PRODUÇÃO


Gerência Gilberto Labor
Coordenação Vinícius Ramos
Produção Érica Pedrosa, Fábio Marotta, Fernanda Tang, Iago Germano, Tailane
Felix (estagiária) e Wanderley Bispo

CONSULTORIA JURÍDICA
Gerência Anna Paula Montini
Coordenação Daniel Lourenço
Equipe Rafael Del Piero

AGRADECIMENTOS
A Bob Fonseca, Ludmila Cayres, Leandro Mantovani, Tiago Diel (Eurecka
Filmes), Vinicius Vg, Alex Hornest, Henrique Cabral, Adriano Mendez, Bruna
Monique, Fernando Augusto e Miguel Chaia. Aos artistas, à equipe de produção
e às pessoas que fizeram e fazem parte dessa história, inclusive as que não
foram citadas, mas que têm grande importância na construção dessa cultura.
Aos grandes artistas que partiram, entre eles Zelão, Niggaz, Vermelho, Pakato
e ACB (artista chilena que também marcou presença em importantes
momentos do grafite em São Paulo), que colaboraram e deixaram suas obras
e histórias eternamente.

O Itaú Cultural (IC) e a curadoria agradecem a todos os fotógrafos que cederam


imagens e a todos os artistas, sucessores e colecionadores que autorizaram
a exibição e emprestaram suas obras para a exposição. O IC realizou todos os
esforços para encontrar os detentores dos direitos autorais incidentes sobre as
imagens/obras aqui expostas e publicadas, além das pessoas fotografadas. Caso
alguém se reconheça ou identifique algum registro de sua autoria, solicitamos o
contato pelo e-mail atendimento@itaucultural.org.br. O IC integra a Fundação Itaú.
Saiba mais em fundacaoitau.org.br.
sábado 6 de maio a domingo 30 de julho de 2023
terça a sábado | 11h às 20h
domingos e feriados | 11h às 19h

pisos 1, -1 e -2
entrada gratuita

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, São Paulo, SP
Memória e Pesquisa | Itaú Cultural­­

Além das Ruas: histórias do graffiti/organizado por Itaú Cultural;


vários autores. – São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
il.: 18 x 24 cm; 96 p.

ISBN: 978-65-88878-72-9

1. Gravuras . 2. Graffiti. 3. Artes visuais. 4.Xilogravuras. 5. Artes.


I. Instituto Itaú Cultural. II. Itaú Cultural. III. Título.
CDD 760

Bibliotecária Geovanna de Barros Kustovich CRB-8/010630

Esta publicação foi composta das famílias tipográficas Approach


e PP Rader . O miolo foi impresso no papel pólen natural 80 g/m2
e couchê fosco 115 g/m2. Duas mil unidades foram impressas em
abril de 2023.

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