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Destaques do Laboratório Latino-Americano de Participação Social em Saúde


(após revisão adicionar ao arquivo final do livro)

Sumário
Eixo A........................................................................................................................................ 3
A Ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo: efetivando a participação
social no apoio à tomada de decisão no SUS. ....................................................................... 4
Frente pela Vida .................................................................................................................. 12
A Experiência do Conselho Nacional de Saúde No Monitoramento Do Plano Nacional De
Saúde A Partir Da Análise Do Relatório Anual De Gestão Do Ministério Da Saúde Do
Brasil: Uma Estratégia De Fortalecimento Da Governança E Participação Social ............. 17
Guia do SUS: instrumento para acesso ágil e oportuno à rede de Atenção à Saúde ........... 24
O direito à cidade e à saúde: O empoderamento da Associação Indígena e dos Moradores
do Parque das Tribos – AIMPAT, na cidade de Manaus na relação com o projeto Manaós.30
Políticas Públicas de Inclusão para a Garantia das Vidas nas Ruas A luta do MNPR e
Entidades Parceiras pelas vacinas contra Covid-19 para população em situação de rua na
pandemia ............................................................................................................................. 36
Educação permanente em saúde como método-ferramenta para formação de ativadores do
controle social do SUS em Minas Gerais. ........................................................................... 42
Práticas territoriais emancipatórias na autonomia do cuidado comunitário em uma
comunidade rural: a experiência do conselho local de saúde. ............................................. 49
Espaços de Educação Popular e Saúde no fortalecimento do SUS e da Democracia: o
Encontro Nacional de Educação Popular e Saúde e a Tenda Paulo Freire .......................... 56
Projeto de Desenvolvimento de Práticas Inovadoras Aplicadas ao Conselho Estadual de
Saúde do Espírito Santo ...................................................................................................... 63
Consolidación Estructura Social en Salud en el Marco del Modelo de la Gestión
participativa en salud de la Politica Nacional de Salud ....................................................... 70
La participación comunitaria en salud como política pública y acción participativa en
comunidades rurales con poblaciones étnicas del departamento del Cauca, Colombia ...... 75
Participación Comunitaria en Salud mediante el Mapeo de Activos Comunitarios en la
comuna de El Bosque .......................................................................................................... 82
Incidencia política y social hacia la constitución de la Conferencia Nacional de
Instituciones, Organizaciones Civiles y Movimientos Sociales a favor de la Salud Pública
(CONASAP). ...................................................................................................................... 88
Cogestión y Participación Ciudadana a través de las Comunidades Locales de
Administración de Salud (CLAS) ....................................................................................... 94
Participación social y formación de promotores en Uruguay entre 2020 y 2023 desde la
Red de Municipios y Comunidades Saludables ................................................................ 102
EIXO B.................................................................................................................................. 110
Formação de Multiplicadores/as em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICS) no Contexto da Pandemia (Covid 19). .................................................................. 111
2

Voltar à escola para participação social no SUS: articulação em rede entre uma equipe de
saúde da família e a Educação de Jovens e Adultos em Florianópolis-SC ....................... 116
Comitê Comunitário Virtual: Experiência de Controle Social no Monitoramento de Ações
de Enfrentamento da Covid-19 nos Bairros Populares de Salvador.................................. 124
Encontros de educação em saúde com pessoas privadas de liberdade .............................. 130
Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde – Edpopsus ........................ 136
Projeto de Formação em Educação Popular em Saúde (PedPopSus/ES): construindo o
caminho para a garantia do direito à saúde e em defesa do SUS no Espírito Santo.......... 144
Documentário: Manifesto! Pela Saúde Mental em Osasco/SP.......................................... 152
Movimento na Cidade: a participação social no processo de promoção da saúde. .......... 157
Radionovela “No ar, Posithivas na prevenção”. ................................................................ 163
Brincar para Eliminar: Integração Vigilância Ambiental e Atenção Básica na Prevenção da
Malária nas Escolas ........................................................................................................... 168
“Escucha Activa”............................................................................................................... 173
“Maternidades en comunidades rurales del Chubut: la cartografía social como herramienta
para un proceso de adaptación de estrategias de atención del embarazo a zonas
remotamente situadas” ...................................................................................................... 178
Proyecto de Recuperación áreas Verdes-Huertos Comunitarios”...................................... 185
Actividad Física para Jóvenes durante la Pandemia ......................................................... 191
Sin trabajo y sin vivienda no hay Salud Mental: red de dispositivos alternativos al Hospital
Psiquiátrico en Uruguay .................................................................................................... 196
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Eixo A.
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A Ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo: efetivando


a participação social no apoio à tomada de decisão no SUS.
Vitória/Espírito Santo - Brasil.

Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo – SESA/ES

Rafael Vulpi Caliari, mestre em Saúde Pública – rafaelvulpicac@yahoo.com.br; Maria Angélica


Carvalho Andrade, PhD em Saúde Pública – geliandrade@gmail.com; e Maria Cecília Moutinho
Camargo, mestre em Saúde Pública – cecicamargo@gmail.com.

Introdução
A Ouvidoria do SUS é um importante canal de comunicação entre a população e
a gestão da saúde pública, trazendo importante dados da participação social por meio de
seus canais de acesso (sites, e-mail, telefones, presencialmente).
A Ouvidoria do SUS na Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo –
SESA/ES apresentava deficiência estrutural, com equipamentos antigos, carência de
capacitação da equipe, falta de entendimento sobre as ações da Ouvidoria e de percepção
dos gestores e trabalhadores das áreas técnicas sobre a legislação e capacidade
institucional do serviço, desarticulação com outros serviços e entes federados,
inexistência de política de comunicação interna e externa, além da deficiência na
construção de relatórios e sem alcance dos indicadores de gestão para a Ouvidoria.
A gestão das informações recebidas pela Ouvidoria permite configurar importantes
relatórios gerenciais capazes de apresentar a realidade local, auxiliando e subsidiando os
gestores na tomada de decisão, em prol da melhoria das políticas do SUS.
A reestruturação das atividades da Ouvidoria do SUS da SESA/ES se fez necessária
para garantir que a participação social fosse pilar efetivo da gestão, trazendo dados
qualificados (relatórios) para apoiar a tomada de decisão de gestores.
A publicização da Ouvidoria para a rede SESA, municípios e população era
imprescindível para ampliar a participação social com vistas à utilização dos dados.
A pandemia de COVID-19 foi fator preponderante para pensar a Ouvidoria
executando práticas exitosas como a disseminação de informações seguras em saúde à
população.
Foram detectados problemas relacionados aos processos de trabalho como:
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• Recebimento de manifestações em canais específicos, sem registro, produzindo


dados de maneira equivocada;
• Manifestações com prazo vencido, sem envio;
• Sem capacitações da equipe e pontos focais das áreas;
• Desconhecimento da ouvidoria por parte dos gestores;
• Sem articulação com outras instituições em suas atividades.
A experiência apresenta a reestruturação da Ouvidoria da SESA/ES, buscando como
foco a efetivação das ações de Ouvidoria do SUS, promovendo a participação social,
apoiando gestores na avaliação e qualificação das práticas, ações e serviços de saúde.
Os grandes objetivos da experiência de qualificação da Ouvidoria foram:
• A reestruturação das ações da Ouvidoria do SUS da Secretaria de Estado da
Saúde em cinco grandes temas:
o Gestão interna da Ouvidoria;
o Relação com a rede SESA;
o Informação e educação em saúde;
o Articulação da rede de municípios e
o Apoio à gestão;
• Ampliação da participação social na saúde pública do Espírito Santo.
• Estímulo a implantação e qualificação de outras Ouvidoria do SUS a partir da
experiência da Ouvidoria/SESA/ES.

Quem participou?
As atividades foram realizadas em diversas frentes. Os trabalhadores da Ouvidoria
da SESA eram pilares das ações. A relação com as comissões intergestores, Colegiado de
Secretarias Municipais de Saúde e Conselho Estadual de Saúde fizeram parte da
qualificação e interlocução dos processos de trabalho. Os trabalhadores e gestores da
SESA/ES foram outros atores importantes para consecução dos objetivos da experiência
de qualificação apresentada. O Ministério Público e a Ouvidora-geral do Estado foram
parte do processo de integração.

Metodologia/Desenvolvimento
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O grande foco do trabalho da Ouvidoria para qualificação de seus serviços utilizou


reuniões de planejamento com os membros da equipe para identificar os problemas e
refletir sobre o alcance dos objetivos por meio de ações estratégicas.
A gestão interna da Ouvidoria da SESA/ES representou o primeiro grande ponto de
atuação, no início da gestão (2019), o que trouxe a possibilidade de novas reflexões e
projetos para execução em diversas áreas. A relação entre trabalhadores e ouvidor da
Ouvidoria do SUS se iniciou em uma roda de conversa considerando a situação atual das
atividades diárias, identificando falhas e planejando ações futuras conjuntamente.
A articulação com a rede SESA/ES (setores internos, hospitais, demais serviços) foi
desenvolvida trabalhando a relação da Ouvidoria com as áreas técnicas da Secretaria,
sensibilizando pontos focais, subsecretários(as), chefe de gabinete e secretário de estado
da saúde.
As práticas transversais de educação em saúde buscaram a qualificação de
informações produzidas na Ouvidoria (relatórios e bases de dados).
Em relação à articulação com os entes municipais, é importante descrever que o
Estado do Espírito Santo é composto por 78 municípios com características distintas de
população e indicadores sociais, como em muitos estados brasileiros. A apresentação do
apoio da Ouvidoria aos gestores do SUS foram temas debatidos nas reuniões das
Comissões Intergestores Regionais e Bipartite, além do Colegiado de Secretarias
Municipais de Saúde do Espírito Santo (COSEMS/ES).
O apoio à gestão se iniciou com o principal objeto de trabalho da Ouvidoria, as
manifestações, que carregam importantes dados que podem apoiar os gestores na tomada
de decisão no Sistema Único de Saúde. Ao receber e responder os registros dos cidadãos,
gestores das áreas técnicas tomam conhecimento dos atendimentos e serviços realizados
na rede SUS.
A partir desses encontros, algumas estratégias foram definidas e desenvolvidas:
1. Rodas de conversa e reuniões foram realizadas com trabalhadores e gestores de
áreas técnicas da Secretaria para sensibilização sobre a Ouvidoria e suas
potencialidades, humanização no SUS, uso de linguagem cidadã, manifestações
recebidas (estudo de caso), qualificação das respostas, produção de relatório,
cumprimento de prazos legais, além de estratégias para descentralização de
ouvidorias nos municípios;
2. Visitas Técnicas foram realizadas para apresentação aos secretários(as) de saúde
sobre o potencial da Ouvidoria para a gestão dos municípios e para capacitação
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do Ouvidor local no sistema OuvidorSUS, com distribuição e material


informativo;
3. As ações da Ouvidoria e dados foram apresentadas no Conselho Estadual de
Saúde, COSEMS/ES, em Comissões Intergestores regionais e bipartite e em
matérias jornalísticas no site da SESA/ES:
a. A disseminação de informações em saúde para a população e meios de
comunicação trabalhou com conteúdo seguro, produzidos pela própria
Secretaria de Saúde, Ministério da Saúde e Assessoria de Comunicação da
Secretaria de Estado da Saúde;
4. A publicação de relatórios anuais no site da Secretaria de Estado da Saúde
permitiu o acesso da população e de gestores à percepção e avaliação dos usuários
sobre as ações desenvolvidas pela SESA/ES no SUS capixaba. Além desse,
relatórios temporários sobre vacinação de COVID-19 foi encaminhado ao
Ministério Público Estado do Espírito Santo e alta gestão da SESA/ES;
5. A produção de relatórios permitiu à gestão interna da ouvidoria tomar decisões
para a melhoria dos processos de trabalho, como o encaminhamento de
manifestações e o não retorno de respostas no prazo, respostas com conteúdo
inadequado e correção dos assuntos principais por classificação (tipificação –
categorização no sistema informatizado). Esses dados embasaram a qualificação
das atividades internas da Ouvidoria;
6. Indicadores do Plano Estadual de Saúde permitiram a análise de dados sobre
prazos de manifestações (Lei Federal) e desenvolvimento de atividades previstas
para a Ouvidoria na SESA/ES (implantação de novos serviços e acreditação
institucional da Ouvidoria SESA/ES);

Resultados
Após aproximadamente um ano, procedimentos operacionais padrão foram
criados, como modelo para registro e encaminhamento das manifestações por área
(assistência à saúde, assistência farmacêutica, regulação, dentre outras) considerando os
prazos de acordo com a classificação (solicitação, denúncia, elogio, pedido de acesos à
informação, reclamação ou sugestão).
Os trabalhadores da Ouvidoria foram estimulados a participação em cursos online
sobre Ouvidoria e participação social – realizados pela Controladoria Geral da União
(período da pandemia de COVID-19) e foram atribuídas atividades de recebimento em
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canais específicos, criando uma divisão organizativa com responsáveis por áreas:
recebimento (manifestações vindas do Ministério da Saúde, site da SESA/ES,
atendimento presencial, além de tratamento de manifestação, encaminhamento,
monitoramento e qualidade da resposta).
A articulação com a rede da Secretaria foi possibilitada a partir de reuniões com
pontos focais, representantes das subsecretarias da SESA/ES para assuntos de Ouvidoria.
Os dados do indicador de Ouvidoria no Plano Estadual de Saúde (2020-2023) -
5.1.1 - Responder dentro do prazo legal as manifestações individuais e coletivas dos
usuários do SUS nos canais da Ouvidoria do SUS foram melhorados ao longo das ações:
2020 (76,65%), 2021 (91,81%) e 2022 (92,00%) o que demonstra que as atividades
qualificadas impactaram diretamente no indicador.
A Ouvidoria anualmente apresentou, no período de 2019 a 2021, o relatório anual
no Conselho Estadual de Saúde, inclusive com o ouvidor ocupando vaga de conselheiro
estadual de saúde em dois mandatos no referido colegiado facilitando a integração entre
os espaços.
A qualificação da Ouvidoria utilizou práticas de educação e informação em saúde
com atividades relacionadas à: quantificação de disseminações de informações em saúde;
qualificação das informações em relatórios e disseminadas à população, trazendo
evidências em saúde; publicação de principais perguntas e respostas; estruturação da
educação permanente em saúde com a equipe participando de cursos, rodas de conversas
internas para análise e discussões sobre as manifestações recebidas; relação com os
parceiros (secretarias municipais, rede SESA, Ouvidorias públicas, Ministério da Saúde).
A relação com a rede de municípios do Estado do Espírito Santo foi estimulada
em reuniões das comissões intergestores, COSEMS/ES, especificando a utilização de
recursos da Portaria GM/MS nº 1975/2018 (plano de trabalho para compra de
equipamento e realização de atividades de Ouvidoria) e apresentando a capacidade da
Ouvidoria do SUS para a gestão.
Ouvidorias já instituídas foram qualificadas e outros municípios iniciaram o
processo de implantação de Ouvidorias. Ao todo estavam previstos no plano de ação de
36 municípios (46%) a implantação e implementação de ouvidorias.
A aproximação com gestores se deu por meio da apresentação de dados da
Ouvidorias e possibilidades da utilização das evidências para avaliação dos serviços,
apoio a tomada de decisão ou, ainda, em discussões mais amplas sobre planejamento e
execução de políticas e ações dentro do contexto municipal.
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O último ponto de implementação perpassou pelo desenvolvimento da Ouvidoria


do SUS da SESA/ES como instrumento de gestão, recebendo os dados da participação
social e apoiando a consolidação de informações sobre vários aspectos na saúde pública:
necessidades de saúde dos cidadãos (solicitações); avaliação dos serviços e ações em
saúde (elogios e reclamações); controle, acompanhamento, garantia de direitos
(denúncias); acesso à informações seguras em saúde (informações); indicativos de
melhoria de processos (sugestões) em relatórios gerenciais.
Na parte final do relatório de gestão divulgamos as ações implementadas a partir
da Ouvidoria, por exemplo no Hemocentro do ES e da Gerência de Assistência
Farmacêutica que divulgaram que:

A partir das avaliações da população dos serviços


prestados por toda nossa Hemorrede, procuramos apurar
junto aos citados e envolvidos, adequando as situações
quando necessário, assim como procuramos sempre,
qualificar nossos servidores, através do setor de educação
continuada e capacitações oferecidas pela ESESP – Escola
(Hemocentro do ES).

Com o recebimento das ouvidorias pertinentes às


farmácias cidadãs, podemos acompanhar mais de perto
quais são as dificuldades e dúvidas dos cidadãos/usuários,
tentando ajudar pontualmente cada caso apresentado e
envolvendo os setores reclamados apontando os problemas
vividos diariamente entre farmácia x usuário... Setores
como o da telefonia, da distribuição de medicamentos,
aquisição de medicamentos, coordenação das farmácias. E
com isso, podemos aperfeiçoar e aprimorar o serviço
prestado, para que ele seja cada vez mais eficiente,
humanizado e de qualidade, que é o que preza a gerência
de assistência farmacêutica do ES (Gerência da Assistência
Farmacêutica do ES).

As maiores solicitações em 2020, por exemplo, (Assistência à Saúde –


consulta/atendimento e tratamento) foram nas especialidades de oftalmologia, ortopedia
e traumatologia, neurologia e psiquiatria, que se relacionou diretamente às maiores filas
de espera de atendimento na rede SESA/ES, ou seja, dados que representam a realidade
da população do território.
Os trabalhos de divulgação (sites e reuniões) e produção de material informativo
(banner, cartazes, folder) distribuídos também aos municípios, incentivaram o
reconhecimento da Ouvidoria pela população e por trabalhadores do SUS. Identificamos
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a ampliação do quantitativo de manifestações em 316,34%, comparando o ano de 2019


(n = 3.548) e o ano de 2021 (n = 11.224). Em 2022 aproximadamente 11.600
manifestações foram destinadas à Secretaria de Estado da Saúde.
Outra ação pontual foi a realização de dois projetos piloto de pesquisa de
satisfação dos usuários sobre os serviços de dois hospitais do estado – Hospital Antônio
Bezerra de Farias em Vila Velha e Hospital Silvio Ávidos em Colatina, com duração
média de um mês cada e levantamento de importantes informações, na visão dos cidadãos,
sobre equipe de saúde, estrutura hospitalar, informações, alimentação e tempo de
atendimento.
Os principais desafios se caracterizam na manutenção da memória das
informações institucionais, com a substituição de trabalhadores e gestores, o que pode
dificultar a continuidade de ações, mesmo com a construção de procedimentos
operacionais padrão; na troca de gestores nos municípios o que orienta as ouvidorias a
rotineiramente realizar reuniões de sensibilização sobre seus processos de trabalho para
apoio da gestão; e no financiamento para as ações de Ouvidoria que persiste na realidade
desses serviços no Brasil.
As principais facilidades dialogam com o arcabouço legal previsto para as ações
de Ouvidoria, o que, de certa forma, incentiva a implantação destes serviços. Os recursos
advindos da Portaria GM/MS nº 1975/2018 e os recursos financeiros disponibilizados
pela SESA para as ações de Ouvidoria permitiram maiores alcances nos trabalhados deste
serviço (diferente do vivenciado em outras localidades).
A experiência trouxe a ampliação da participação social no debate da saúde
pública, analisando a visão dos usuários do SUS em várias perspectivas do SUS, em
levantamentos de dados diários sobre realidades vivenciadas e não captadas pelos
serviços em alguns casos.
Atualmente, podemos ter um olhar da Ouvidoria da SESA/ES como espaço
institucional de participação social capaz de apoiar gestores na qualificação de práticas,
ações e serviços de saúde. A utilização dos dados da Ouvidoria na tomada de decisão em
saúde demonstra sua capacidade inovadora na promoção da participação social e no
desenvolvimento da democracia participativa.

Para conhecer mais...

Para conhecer mais sobre as ações da “Ouvidoria da SESA/ES” sugerimos acessar:


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• Relatórios Anuais da Ouvidoria;


• Relatórios de Gestão da SESA/ES;
• Matérias do site sobre a Ouvidoria.

bit.ly/OuvidoriaES
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Frente pela Vida


Rio de Janeiro/Distrito Federal; Rio de Janeiro – Brasil.

ABRASCO, CEBES, Rede Unida, Sociedade Brasileira de Bioética

Túlio Batista Franco, Professor Dr. , tuliofranco@id.uff.br; Rosana Onocko Campos, Profa. Dra,
rosanaoc@unicamp.br; Lúcia Regina Solto, Profa. Dra., luciafsouto@yahoo.com.br; Elda Bussinger,
Profa. Dra., elda.cab@gmail.com;

Introdução

A Frente pela Vida (FpV) foi criada no início de 2020, com o objetivo de fortalecer
o enfrentamento à pandemia e ao governo negacionista. Realizou seu primeiro ato público
em 9 de junho de 2020, uma marcha virtual com participação de mais de 6 mil pessoas,
coordenada pelas entidades Abrasco, Cebes, Rede Unida, Sociedade Brasileira de
Bioética, SBPC, CNBB e ABI. Nesta marcha, uma Declaração foi assinada por centenas
de entidades, estabelecendo as ideias centrais para mobilização e participação: i) O direito
à vida é o bem mais relevante e inalienável da pessoa humana, sem distinção de qualquer
natureza; ii) As medidas de prevenção e controle para o enfrentamento da pandemia de
COVID-19 devem ser estabelecidas com base científica e rigorosamente seguidas a partir
de planejamento articulado entre os governos federal, estadual e municipal; iii) O Sistema
Único de Saúde (SUS) é instrumento essencial para preservar vidas, garantindo com
equidade acesso universal e integral à saúde; iv) A solidariedade, em especial para com
os grupos mais vulneráveis da população, é um princípio primordial para uma sociedade
mais justa, sustentável e fraterna; v) É imprescindível para a vida no Planeta a preservação
do meio ambiente e da biodiversidade, garantindo a todos uma vida ecologicamente
equilibrada e sustentável; vi) A democracia e o respeito à Constituição são fundamentais
para assegurar os direitos individuais e sociais, bem como para proporcionar condições
dignas de vida para todas as brasileiras e todos os brasileiros.

No início de 2022, diante da já esperada polarização na disputa de projetos para o


Brasil, a Frente pela Vida decide convocar a Conferência Nacional Livre Democrática e
Popular de Saúde para o dia 5 de agosto de 2022, em São Paulo, com o objetivo inicial
de aprovar diretrizes para a política de saúde do país, no contexto da disputa eleitoral. A
Conferência também teve função preparatória da 17ª. Conferência Nacional de Saúde
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convocada pelo Conselho Nacional de Saúde para 2023. Este cenário teve como pano de
fundo a experiência trágica do enfrentamento da pandemia de Covid-19, que deixou
milhões de vítimas no Brasil, sendo que muitos doentes permanecem com sequelas da
doença, criando uma forte pressão de demanda no SUS. Somam-se a estes os quase 700
mil mortos, dos quais um número significativo poderia ter sido evitado pela vacinação no
tempo certo e pela implementação de outras políticas sanitárias corretas.

O SUS, que conta com mais de 2 milhões e 400 mil trabalhadores da saúde,
demonstrou seu gigantismo no enfrentamento da pandemia de Covid-19, colocando-se à
frente na defesa e proteção à vida da população. Por outro lado, suas já notórias
fragilidades se mostraram mais evidentes, como por exemplo, o histórico
subfinanciamento agravado pelo desfinanciamento dos últimos anos, resultando na
precarização da rede de cuidados de saúde, carência de investimentos no complexo
industrial estatal da saúde, modelo de assistência desatualizado em relação às
necessidades de saúde do momento e maior demanda de construção de redes em
articulação com outras políticas e outros segmentos sociais. As deficiências existentes no
setor de saúde foram agravadas pelo desinvestimento em educação, ciência & tecnologia.
A defesa da vida no Brasil, atingido pelas políticas de morte, é uma bandeira que se abre
para a construção de um novo projeto para o país.

A Frente pela Vida realizou em 5 de agosto de 2022 a Conferência Livre


Democrática e Popular de Saúde, que reuniu mais de mil pessoas em São Paulo, e foi
precedida de mais de uma centena de encontros preparatórios em todo país. Esta
Conferência discutiu as diretrizes para a política de saúde do Brasil, e foi preparatória da
17ª. Conferência Nacional de Saúde, que ocorre em início de julho de 2023. A
Conferência Livre Democrática e Popular expressa o aprendizado duramente adquirido
coma dramática experiência da pandemia no Brasil, transformado em diretrizes da
política de saúde, na busca do caminho adequado para a retomada da construção do SUS
constitucional. Esta construção é possível mediante um SUS 100% público, democrático
e com controle social e para tal, a energia da Conferência precisa se transformar em
movimento concreto no interior do novo governo.

Por fim, a questão democrática é transversal a todos os temas. Não há SUS sem
democracia nem democracia sem uma política de acesso universal a cuidados de saúde.
À democracia está incorporada a diretriz de controle social do SUS, efetivada através dos
Conselhos e das conferências, fóruns de participação direta da comunidade. Em um país
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onde a liberdade tem sido seriamente ameaçada, com instituições frágeis, a defesa da
democracia é uma questão a ser abraçada pelos movimentos sociais, em especial aqueles
da saúde.

O objetivo da Frente pela Vida foi fazer o enfrentamento à pandemia e ao governo


negacionista, lutar pela Vida, a Democracia e Fortalecimento do Sistema Único de Saúde.

Metodologia/Desenvolvimento

A Frente pela Vida se consolidou nacionalmente reunindo um amplo espectro de


entidades nacionais de trabalhadoras e trabalhadores da saúde, educação, assistência
social, ciência, movimentos sociais, direitos humanos, trabalhadoras e trabalhadores das
redes de saúde, partidos políticos, entre muitos outros segmentos. Sua construção
envolveu muitos eventos no enfrentamento da Pandemia, a elaboração de documentos
técnicos sobre a Covid-19 e formas de enfrentar os complexos desafios na área da saúde,
mas também sociais. Foram utilizados materiais em áudio e vídeo, inúmeras notas
circularam em meio digital, fomentando o debate, e orientando a organização da Frente
pela Vida nas diferentes regiões do país.

Usou como método de construção da unidade política no interior da Frente, o


conceito de “consenso progressivo”, que significa avançar na discussão de determinado
tema, procurando confluir as análises e propostas. Assim inovou na forma de enfrentar
divergências no interior de organizações de base muito ampla, tomando como central a
ideia de produzir conversações, com base na escuta e tolerância, e disposição para pactuar
posições políticas, em busca da produção de um comum, que seria o consenso possível.
O objetivo é unificar as entidades em torno de determinada posição construída
coletivamente. Isto criou um modelo de lidar com o conflito, ao invés de desconstruir o
outro e suas ideias, busca-se no exercício solidário, confluir posições rumo à unidade
política.

Resultados

Centenas de entidades participaram das grandes atividades da FpV nos momentos


mais agudos da pandemia, e um grande número delas continuam muito ativas. Milhares
de pessoas foram alcançadas com as discussões e mobilizações da Frente.
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Muitas publicações foram realizadas, sendo o Plano Nacional de Enfrentamento


da Pandemia (PNED), o principal deles, que orientou gestores, movimentos sociais,
trabalhadores da saúde, em soluções técnicas e políticas de enfrentamento da Pandemia.
Este documento e seu amplo alcance, disputou a narrativa referente às medidas protetivas
contra a convida, a importância do distanciamento social, uso de máscara e higiene para
prevenção. Foi amplamente divulgado e usado por trabalhadores das redes de serviços,
gestores do SUS e movimentos sociais. Link para o PNED no final do texto.

Outro documento importante foi o Manifesto “Ocupar Escolas, Proteger Pessoas,


Recriar a Educação”. Este documento foi fundamental em um momento crítico, em que
mais de 40 milhões de crianças da educação básica se encontravam com um grande
período fora da escola. Elas estavam expostas a graves problemas de saúde mental, e
sociais, e os órgãos governamentais não tinham diretrizes para o enfrentamento adequado
desta situação. Este documento proporcionou um debate fundamental entre entidades
nacionais da educação, e orientou um modo de retorno, protegendo as crianças e suas
comunidades, mas ao mesmo tempo interrompendo a linha de abandono existente até
então. Link para o documento no final do texto.

Na Conferência Livre Democrática e Popular de Saúde, apresentada


anteriormente, foi aprovado o documento de Diretrizes para uma Política de Saúde no
Brasil, expressas no Relatório Final da Conferência, que pode ser visto no link. Este
relatório hoje é a principal referência para os movimentos sociais discutirem suas
propostas para a 17ª. Conferência Nacional de Saúde.

A Frente pela Vida ficou como legado da intensa luta contra a Pandemia e o
governo negacionista. Se transformou em um Fórum Permanente do movimento sanitário,
com funcionamento cotidiano, e iniciativa para discutir os grandes temas da saúde no
Brasil. Ampliou os segmentos que dela participam, incorporando outros segmentos
sociais, como educação, direitos humanos, assistência social, movimento de
trabalhadores da saúde, etc... Neste sentido tem sido também inovadora, pois consegue
ampliar a discussão sanitária para além das entidades especificamente da saúde.

Como prova do seu reconhecimento, a Frente pela Vida foi convidada a participar
do Conselho de Participação Social da Presidência da República, órgão estratégico, que
atualmente elabora o Plano Plurianual, que orienta as diretrizes operacionais de governo,
a ser apresentado ao Congresso Nacional em agosto de 2023 para deliberar. Há ainda
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importante atuação de membros da Frente junto ao Conselho Nacional de Saúde. É hoje


a principal referência no Brasil, para o movimento sanitário.

Para conhecer mais...


Para conhecer mais sobre as ações da “Frente pela Vida” sugerimos acessar:
• Frente pela Vida – Site da Experiência
• Relatório da Conferência Nacional Livre Democrática e Popular de Saúde
• Plano Nacional de enfrentamento à pandemia da Covid-19
• Ocupar Escolas, Proteger Pessoas, Recriar a Educação;

bit.ly/FrentepelaVida
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A Experiência do Conselho Nacional de Saúde No Monitoramento Do


Plano Nacional De Saúde A Partir Da Análise Do Relatório Anual De
Gestão Do Ministério Da Saúde Do Brasil: Uma Estratégia De
Fortalecimento Da Governança E Participação Social
Brasília/Distrito Federal - Brasil

Conselho Nacional de Saúde

Suetonio Queiroz de Araujo – Mestrado Em Saúde Coletiva – UnB,


suetonioqueiroz@gmail.com; Francisco R. Funcia – Doutorado em Administração –
USCS. francisco.r.funcia@gmail.com; André Luiz de Oliveira – Mestrado em Ciências
da Saúde – UFU, andreluiz.psnacional@yahoo.com.br; Lizandra Nunes Coelho Conte
– Especialista em Gestão de Pessoas e Bioética – IESA, lizandra.conte@saude.gov.br;
Getúlio Vargas de Moura Junior – Graduado em Gestão Pública - Ulbra/RS,
getuliovargasjunior@yahoo.com;

Introdução
Nos últimos anos o Conselho Nacional de Saúde vem desenvolvendo diferentes
estratégias para qualificar o processo de monitoramento do Plano Nacional de Saúde no
intuito de qualificar as análises do Relatório Anual de Gestão (RAG), obrigação legal
deste órgão conforme Lei Complementar nº 141/2012 e deliberações do próprio conselho!
Essa agenda de aprimoramento de análises dos instrumentos de gestão do SUS, dentre
estes o RAG, por parte do CNS foi intensificada a partir das auditorias de órgãos de
controle e dentre estes o Tribunal de Contas da União (TCU) que recomendou no Acórdão
nº 1130/2017 que aponta os conselhos de saúde, incluindo neste caso o CNS, como
protagonistas da governança do SUS reafirmando suas atribuições indissociáveis de
avaliar, direcionar e monitorar as melhores práticas relacionadas as ações e serviços a
serem desenvolvidos nas diferentes esferas de gestão.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS), tomando como base as deliberações da 15ª
e 16ª Conferência Nacional de Saúde e das plenárias do conselho, e ainda, diante das
recomendações do TCU, estabeleceu algumas das diretrizes nacionais para reforçar a
atuação dos conselheiros e conselheiras de saúde nas diferentes instâncias do Sistema
Único de Saúde (SUS), descritas na Resoluções nº 554, de 15 de setembro de 2017 que
reforçou as deliberações das Resolução CNS nº 453/2012, nº 454/2012.
O próprio CNS precisaria avançar em estratégias de melhorias internas e no apoio
externo principalmente aos conselhos de saúde para fortalecer a governança do SUS.
Assim, a Comissão de Orçamento e Financiamento, procurou estabelecer com as demais
18

comissões intersetoriais do conselho o aprimoramento das análises dos instrumentos de


gestão apresentados pelo Ministério da Saúde a partir do Plano Nacional de Saúde e dos
relatórios de gestão do SUS. Desta forma, este documento tem o objetivo de descrever o
processo de estruturação, conduzido pela Comissão Intersetorial de Orçamento e
Financiamento do CNS (COFIN-CNS), para análise integrada do Relatório Anual de
Gestão (RAG) nos anos de 2021 e 2022, bem como o desenvolvimento do método e da
ferramenta (software livre) de análise integrada na plataforma Rede Conselhos do SUS,
em articulação com as comissões intersetoriais do CNS.
Neste sentido, o objetivo desta experiência é apresentar o processo de
aprimoramento metodológico de análise do RAG pelo Conselho Nacional de Saúde
realizado, por meio das Comissões Intersetoriais (CI)
(http://conselho.saude.gov.br/comissoes-cns), sob coordenação da COFIN, mediado por
ferramenta tecnologica para agilizar a coleta e a sistematização dos dados de análise
necessários para subsidiar as decisões dos conselheiros e conselheiras nacionais de saúde.

Metodologia/ Desenvolvimento
A metodologia de análise das Comissões Intersetoriais obedece a um roteiro
padrão e único, definido no âmbito da COFIN/CNS, com estrutura que contempla: uma
“Pergunta Chave” e quatro “Perguntas Norteadores” das análises para cada meta e que
acontece em processo automatizado, na ferramenta desenvolvida pelo Conselho, para que
cada coordenador de comissão insira s respostas e comentários complementares da CI,
assim, todas as comissões respondem simultaneamente as mesmas perguntas:

Pergunta Chave: “Se o(s) objetivo(s) e a(s) meta(s) proposta(s) no PNS, na PAS e
descritas no RAG, foram atendidas, considerando a execução orçamentária e as
justificativas do gestor para o período?”

Quadro 1. Perguntas-guia utilizadas para Análise pelas Comissões Intersetoriais do CNS


do Demonstrativo da Execução dos Objetivos e Metas do Relatório Anual de Gestão de
2021 do Ministério da Saúde.2022.
01 - No entendimento desta Comissão ou Câmara Técnica, o desempenho desta Meta contribuiu para o
cumprimento do Objetivo analisado?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente
Deseja inserir Comentários:
( ) Sim ( )Não
Se sim, abre campo texto para Comentários das Comissão ou Câmara Técnica:
Obs.: O campo para comentários está programado para o limite máximo de 500 caracteres.
19

02 - Nas informações apresentadas para esta Meta no Relatório Anual de Gestão (RAG), houve explicação
(ões) ou justificativa(s) por parte do Ministério da Saúde que mostrou/ mostraram os impactos dos
resultados alcançados nas condições de saúde da população?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente
Deseja inserir Comentários:
( ) Sim ( )Não
Se sim, abre campo texto para Comentários das Comissão ou Câmara Técnica:
Obs.: O campo para as medidas corretivas está programado para o limite máximo de 500 caracteres.
03 - Existe recomendação específica da Comissão como proposta de medida corretiva a ser implementada
pela gestão para essa Meta?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente
Se sim, abre campo texto: Insira a proposta de medida corretiva:
Obs.: O campo para as medidas corretivas está programado para o limite máximo de 500 caracteres.
04 - No entendimento desta comissão ou câmara técnica, após as análises das Metas realizadas
anteriormente, conclui-se que este objetivo foi:
( ) Atingido ( ) Parcialmente atingido ( ) Não foi atingido
Fonte: Elaboração própria a partir das definições metodológicas da COFIN em reuniões
ordinárias de junho e julho de 2021.

As Comissões Intersetoriais foram treinadas na metodologia virtualmente e no uso


da ferramenta de análise do RAG, normalmente apresentada até 30 de março de cada ano?
ao CNS, e que demonstrou naquele momento a execução do ano de 2021 do Plano
Nacional de Saúde (2020-2023). As comissões do CNS se posicionaram diante dos 7
Objetivos Estratégicos, das 92 metas relacionadas (2021) e dos 7 projetos a serem
monitorados anualmente a partir do instrumento da Programação Anual de Saúde (PAS).
As comissões intersetoriais têm um prazo de cerca de 15 dias para emitir suas
análises na plataforma rede conselhos do sus, utilizando a ferramenta de análise do RAG,
durante este período a assessoria técnica da COFIN realiza todo o suporte ao uso da
solução, ao final, as contribuições são inseridas na integra como anexo no parecer
conclusivo referente ao RAG enviado pela COFIN para a Mesa Diretora que
posteriormente submete para debates e posterior deliberação dos Conselheiros e
Conselheiras de Saúde no plenário do CNS.
Assim tomando como base a proposta metodológica da COFIN, o CNS aprovou
em 2021 a adoção da metodologia para monitorar a execução do Plano Nacional de Saúde
(PNS) a partir das análises dos resultados alcançados nos objetivos e metas apresentados
nos RAGs pelo Ministério da Saúde e a sua respectiva adaptação para ambiente digital
que facilitasse as análises das comissões intersetoriais do CNS.
O método aprovado orientou as comissões intersetoriais do conselho a realizar as
análises dos resultados dos 7 objetivos estratégicos e das 92 metas do Plano Nacional de
20

Saúde a partir de perguntas guia aprovadas pelo CNS com a finalidade de padronizar o
processo e a consolidação das análises realizadas pelas comissões em uma ferramenta
única, onde se registrava as contribuições analíticas das 18 comissões, exceto a COFIN,
quer realizar a análise da execução orçamentária e financeira.
Essa estratégia metodológica impactou diretamente o Conselho Nacional de
Saúde nas suas diferentes estruturas organizacionais desde os 48 conselheiros(as)
titulares, com seus representantes de usuários do SUS (50%), governo e prestadores da
área da saúde (25%) e profissionais de saúde (25%), mas principalmente as suas 19
comissões intersetoriais que atuam neste processo de análise do RAG para subsidiá-los
nas deliberações. As comissões do CNS são compostas por 36 membros, entre titulares e
suplentes atuando como organismos de assessoramento ao Plenário do CNS subsidiando
de forma temática as deliberações dos conselheiros(as) nacionais de saúde,
principalmente sobre a prestação de contas e relatório de gestão do Ministério da Saúde
do Brasil.
Uma vez definido o método a COFIN iniciou em junho de 2021 o
desenvolvimento da ferramenta integrada a plataforma moodle Rede Conselhos do SUS
(http://redeconselhosdosus.net/), sob gestão do CNS, que atendesse o método aprovado e
aprimorasse o processo de trabalho simultâneo das 18 comissões intersetoriais na análise
dos objetivos, meta e os respectivos resultados apresentados pelo Ministério da Saúde no
RAG de 2020 e 2021. Em julho 2021 o CNS finalizou a customização da ferramenta de
análise integrada do RAG e iniciou o treinamento das comissões intersetoriais para uso
na plataforma, com a elaboração de manual de uso e suporte aos usuários da ferramenta
para alimentação das análises de cada uma das comissões pelos seus coordenadores e
assessores.
A adoção da ferramenta tecnológica, que contemplara a metodologia aprovada
pelo CNS, qualificou o processo de trabalho e possibilitou que as comissões, a partir do
método de “perguntas guia”, informassem, na percepção de membros, se o Ministério da
Saúde atingiu os objetivos propostos e se os resultados apresentados e informações
complementares que constantes do RAG no ano anterior são suficientes ou não para:
aprovar, aprovar com ressalta ou reprovar a gestão do órgão, tendo como base seus
aspectos orçamentários, financeiros, assistenciais e gerenciais que competem ao
ministério.
São dificuldades para o avanço do projeto, a garantia de recursos para a
manutenção das equipes de desenvolvimento da tecnologia, bem como a infraestrutura
21

tecnológica para hospedagem definitiva e por fim, a produção de conteúdo educacional


sobre o processo de análise dos instrumentos de gestão como o PNS e RAG, que
possibilitem a expansão da solução para todo o controle social no país.
Outro desafio é estabelecer um calendário de análise que possibilite a
interlocução, em tempo, entre as comissões intersetoriais do CNS e as áreas técnicas do
MS responsáveis pelas metas estabelecidas no PNS para que sejam realizados os devidos
esclarecimentos sobre os resultados apresentados no RAG, em devolutiva das medidas
corretivas e/ou esclarecimentos coletados na ferramenta de análise do Conselho.

Resultados
A metodologia aprovada na COFIN em junho de 2021, submetida ao plenário do
CNS e aprovada em julho do mesmo ano, é o primeiro diferencial nesse processo, sendo
implementada nas rotinas das comissões intersetoriais no mês de agosto do mesmo ano e
incorporada as rotinas de análises do RAG no âmbito do Conselho.
Em outubro o parecer conclusivo foi consolidado pela COFIN, com a contribuição
de todas as comissões e câmaras técnicas do Conselho e enviado ao plenário do CNS para
deliberação pelos conselheiros de saúde. Os resultados identificados nas análises
exploratórias dos documentos técnicos, atas, resoluções e recomendações demonstraram
que o CNS em relação ao Relatório Anual de Gestão de 2020 e 2021 apresentados pelo
Ministério da Saúde, os pareceres aprovados nos anos anteriores (2016; 2017; 2018 e
2019) não apresentavam uma análise complementar substancial e padronizada pelas
comissões intersetoriais do CNS.
Nos pareceres de 2018 e 2019 não foi identificado processo formal e/ou
metodologia específica para essa análise integrada pelas comissões. Isso reforça a
ausência de processo formal instituído pelo pleno do CNS para a coleta e consolidação
das contribuições das comissões intersetoriais. os pareceres conclusivos dos RAG de anos
de 2016 e 2017 não fazia parte das rotinas de análise anual das CI/CNS, se limitando a
contribuírem apenas quando demandados pela COFIN e/ou após deliberação do pleno ou
por decisão da mesa diretora do CNS.
Ao término do processo de análise das comissões intersetoriais todos os 07
objetivos estratégicos e as 92 metas do Plano Nacional de Saúde foram analisados por
pelo menos uma das 18 comissões intersetoriais do CNS, tendo na sua maioria
considerado que os RAG 2021 apresentado pelo Ministério da Saúde “atingiram
parcialmente ou não atingiram” os objetivos estratégicos priorizados no PNS.
22

A transformação da metodologia em uma ferramenta tecnológica que apoiasse


sincronicamente as análises das comissões intersetoriais e produzisse um único banco de
comentários e medidas corretivas ao Ministério da Saúde, com a visão múltipla de visões
para as metas do PNS tornou relevante a análise do RAG e ofereceu uma dinâmica de
trabalho padronizada e sistematizada que antes não foi possível era possível no âmbito
das comissões.
A partir da implementação da metodologia e da ferramenta de análise integrada os
pareceres conclusivos de avaliação do RAG passaram a compor um dos anexos para
subsidiar a decisão dos conselheiros e conselheiras de saúde do CNS conforme
demonstrado nas resoluções que reprovaram os relatórios de 2021 do Ministério da Saúde
disponíveis no sítio eletrônico do Conselho Nacional de Saúde nos ambientes da COFIN
e dos Relatórios de Gestão do CNS.
O processo de construção coletiva e colaborativa que a COFIN conduziu
possibilitou a construção de uma metodologia simples, mediada por tecnologia que
facilitou o processo de trabalho e qualificou a governança do SUS, no âmbito das suas
atribuições na esfera federal, agregando diferentes visões e percepções do controle e da
participação social representada nas 19 comissões do CNS que envolve usuários,
trabalhadores da saúde, gestores e prestadores de serviços do SUS para contribuírem com
o controle e a fiscalização das políticas públicas no Brasil a partir das análises da execução
do Plano Nacional de Saúde reportados nos relatórios anuais de gestão do Ministério da
Saúde.

Para conhecer mais...


• Apresentação da Ferramenta de Análise do RAG para os Conselheiros(as)
Nacionais de Saúde na 331ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de
Saúde
• A Resolução CNS nº. 701/2022 é o resultado das análises realizadas pela
COFIN nas questão orçamentárias e financeiras e de no caso das
Comissões Intersetoriais, a partir da metodologia adotada pelo CNS, se
apresenta no anexo 1, o resultado da análise dos objetivos e metas no RAG
do Ministério da Saúde para 2021, tendo por fim a decisão do Plenário do
CNS que resolve reprovar o RAG 2021
• Da mesma forma a Resolução CNS nº. 663/2021 que também reprova o
RAG 2020;
23

• Ambiente e ferramenta digital utilizados pelas Comissões Intersetoriais


para análise dos objetivos e metas do PNS retratadas no RAG 2021;
• Rede Conselhos do SUS.

bit.ly/CNSBrasil
24

Guia do SUS: instrumento para acesso ágil e oportuno à rede de Atenção à


Saúde

Sarzedo/Minas Gerais – Brasil.

Secretaria Municipal de Saúde de Sarzedo

Rita de Cássia Costa da Silva – Psicóloga, Doutora em Ciências, rimaconsultoras@gmail.com; Gislene


Ferreira Silva Ribeiro – Enfermeira, Especialista em Saúde da Família, Processos Educacionais em
Saúde e Gestão de Políticas de Saúde informadas por Evidências, gizarazzi@gmail.com; Marcos José
Mendes de Carvalho – Advogado Sanitarista, Especialista em Gestão e Serviços de Saúde,
carval.marcos77@gmail.com; Fabiana Chaves Cabral – Enfermeira, Especialista em Saúde Coletiva,
fabichavescabral@yahoo.com.br; Fabiana Aparecida Silva Medeiros – Enfermeira, Especialista em
Auditoria em Serviços de Saúde, MBA em Gestão Pública, fabianamedeiros019@gmail.com;

Introdução

Trata-se de experiência de gestão participativa, desenvolvida no município de


Sarzedo, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Brasil.
Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informam que a
população estimada é de 34.050 pessoas. A cidade é constituída por um distrito (Sede) e
ocupa uma área de 62,134 km2. A área rural é habitada por 5,44% da população total e
representa importante papel na economia, com propriedades de pequeno e médio porte
praticantes da agricultura familiar que abastece a cidade e regiões vizinhas.

O sistema local de saúde conta com uma rede de serviços próprios organizados a
partir da Atenção Primária à Saúde. Parte das demandas de saúde de média complexidade
são atendidas no município, as de média/alta complexidade que extrapolam a capacidade
instalada no território municipal são supridas mediante pactuações nas instâncias
deliberativas do Sistema Único de Saúde, ou por meio de contratação de serviços
complementares, conforme previsto no texto constitucional e na lei orgânica municipal.

Durante o processo de elaboração do Plano Municipal de Saúde, os coordenadores


e referências técnicas da Secretaria Municipal de Saúde, bem como os conselheiros de
saúde, identificaram que o desconhecimento por parte da população sobre o
funcionamento da Rede de Atenção à Saúde (RAS) era um nó crítico, que comprometia
o acesso ágil e oportuno às ações e serviços de saúde. Foi percebida a necessidade de
discutir com a população e com os trabalhadores sobre a organização local da rede de
25

saúde, no sentido de fortalecer a Atenção Primária como ordenadora do cuidado e porta


de entrada prioritária para atender as necessidades de saúde dos moradores.

A falta de informação e desconhecimento da RAS, bem como dos locais de


atendimento e dos protocolos de acesso dificultavam o adequado funcionamento das
unidades de saúde, gerando sobrecarga de demandas no serviço de urgência e emergência
(UPA), que poderiam ser solucionadas na Atenção Primária. Da mesma forma, muitas
solicitações de informações sobre agendamentos e procedimentos de média e alta
complexidade, que poderiam ser buscados na Atenção Primária eram solicitados
diretamente no setor de regulação.

Foi identificado, também, que alguns profissionais de saúde tinham dúvidas sobre
os fluxos para onde direcionar a população, comprometendo os processos de trabalho nas
unidades de saúde.

A necessidade de organizar os fluxos de encaminhamentos e divulgar para a


população se impôs como condição para melhorar o acesso à Rede de Atenção à Saúde.
Como estratégia para mudar a situação indesejada, foi estabelecida no Plano Municipal
de Saúde a meta/ação: “elaborar cartilha para os usuários do SUS contendo a descrição
dos serviços oferecidos pela RAS municipal”.

A experiência teve como objetivo principal elaborar o Guia do SUS de Sarzedo,


para apresentar os serviços de saúde instalados no Município, sua localização, além de
uma breve descrição das ações e procedimentos oferecidos aos moradores. Buscou-se
promover ações de educação permanente para reordenamento dos fluxos e processos de
trabalho nas equipes, durante as etapas de validação do Guia do SUS.

O caráter inovador da experiência está no fato de adotar metodologias ativas no


processo de elaboração do Guia do SUS, com o envolvimento dos conselheiros e
profissionais de saúde. Além de criar a oportunidade para realização de ações de educação
permanente, como estratégia para fortalecer os processos de trabalho nas equipes de
saúde.

Quem participou?

Os participantes da experiência foram os conselheiros de saúde, os coordenadores


das áreas técnicas que compões a Secretaria Municipal de Saúde e os atores estratégicos:
26

agentes comunitários de saúde, agentes de combate às endemias, gerentes das Unidades


Básicas de Saúde e profissionais de saúde.

Metodologia/Desenvolvimento

Foi adotada metodologia participativa para a produção do Guia, que iniciou com
a constituição de uma comissão, em março de 2022, com a tarefa de conduzir o processo
de elaboração de forma ascendente, com participação dos coordenadores das unidades de
saúde, do Conselho Municipal de Saúde e de atores estratégicos para a validação do
conteúdo.

Foram desenvolvidas as seguintes ações:

1. Elaboração de roteiro e desenvolvimento de projeto gráfico, com conteúdo básico


a ser divulgado para a população, a cargo da comissão (proposta inicial).
2. Envio da proposta inicial para análise, complementação e alterações pelas
coordenações técnicas, de forma a refletir o real funcionamento das unidades de
saúde que compõem a RAS municipal.
3. Consolidação e revisão da proposta enviada pelas coordenações técnicas, revisão
da linguagem, tornando o texto claro, objetivo e de fácil compreensão para toda a
população.
4. Validação da versão preliminar em reunião com o Conselho Municipal de Saúde.
5. Revisão e ajustes indicados pelos conselheiros.
6. Rodas de conversas em todas as Unidades Básicas de Saúde e no Centro de
Controle de Zoonoses, com a presença de atores estratégicos (Agentes
Comunitários de Saúde, Agentes de Combates às Endemias, gerentes e
profissionais das equipes de saúde) para validação do conteúdo do Guia. Os atores
estratégicos foram instigados a avaliar se a caracterização e fluxos da RAS
descritos no Guia, de fato, era representativo do funcionamento das unidades de
saúde. Nesta etapa foram identificadas necessidades de ajustes, tanto no texto,
quanto nos processos de trabalho das equipes.
7. Revisão e ajustes indicados pelos atores estratégicos, tanto na redação do material,
quanto no diálogo com as equipes que precisaram ajustar alguns fluxos e
processos de trabalho.
27

8. Levantamento do número de domicílios e definição da estratégia de distribuição


do Guia do SUS.
9. Lançamento do Guia em reunião do Conselho Municipal de Saúde e início da
distribuição do material impresso e digitalizado para a população, trabalhadores e
gestores municipais.
10. Monitoramento e atualização do Guia, que poderá ocorrer semestral ou
anualmente, a depender da dinâmica da RAS.

A reunião de lançamento do Guia ocorreu em 12/12/22. Durante as etapas 4 e 6


foram discutidos aspectos organizacionais da RAS e identificados gargalos nos
processos de trabalho das equipes de Atenção Primária e da Atenção Especializada
que dificultam o acesso da população aos serviços, a partir do olhar da comunidade
local e dos profissionais de saúde. As rodas de conversas, espaços de educação
permanente, permitiram identificar consensos e dissensos sobre os fluxos para acesso
aos serviços oferecidos pelo sistema local de saúde.

Resultados

O processo de elaboração do Guia do SUS de Sarzedo trouxe melhorias para o


funcionamento da Rede de Atenção à Saúde e oportunizou a atualização dos fluxos e
processos de trabalho nas equipes de saúde.

Durante as etapas de elaboração foram diretamente envolvidos aproximadamente


88 atores que contribuíram desde a redação até a fase de validação do material:

• 12 conselheiros municipais de saúde;


• 13 coordenadores e referências técnicas da Rede de Atenção à Saúde,
representantes da Atenção Primária, Assistência Farmacêutica,
Reabilitação e Fisioterapia, Controle e Avaliação, Saúde Bucal, Saúde
Mental, Unidade de Pronto Atendimento, Vigilância em Saúde
(imunização, epidemiologia, Vigiágua, Vigilância Sanitária e Zoonoses),
Centro de Especialidades Médicas e assessoria técnica da Secretaria de
Saúde.
• 7 gerentes de unidades básicas de saúde;
• 56 Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate de Endemias.
28

Dentre os principais resultados já observados destacam-se: entrega das versões


impressas e digitalizadas do Guia do SUS de Sarzedo ao Conselho Municipal de
Saúde em 12/12/22; o reordenamento dos fluxos de trabalho nas equipes de Atenção
Primária e entre os demais pontos da Rede de Atenção à Saúde; fortalecimento do
papel fiscalizador e de acompanhamento da política municipal de saúde pelo
Conselho Municipal de Saúde; cumprimento de meta/ação estabelecida no Plano
Municipal de Saúde; envolvimento e satisfação dos profissionais que participaram das
rodas de conversas.

Além dos resultados já evidenciados, o Guia do SUS contribuirá a curto e médio


prazo, para a melhoria do acesso da população, que receberá informações claras sobre
a localização e serviços oferecidos em cada ponto de atenção.

A análise cuidadosa do Relatório Anual de Gestão pelo Conselho de Saúde foi


estratégica para identificar a importância do cumprimento da meta prevista no Plano
Municipal de Saúde. As rodas de conversas realizadas nas unidades de saúde para
validação do Guia foram estabelecidas como espaços de educação permanente para
discussão dos processos de trabalho, tendo o conteúdo do Guia como disparador das
discussões.

O método da roda mostrou-se eficaz, de fácil aplicação e adesão pelos


profissionais e conselheiros de saúde. O principal aprendizado foi a importância do
monitoramento pelo Conselho Municipal de Saúde, que atuou como parceiro da
Secretaria Municipal de Saúde, no sentido de sinalizar a importância de perseguir e
cumprir as metas propostas nos instrumentos de gestão do Sistema Único de Saúde.

Um resultado indireto não previsto nas etapas iniciais, mas que foi bastante
evidenciado durante as avaliações das rodas de conversas diz respeito a satisfação dos
profissionais de saúde, especialmente os ACS e os ACE, que se sentiram
corresponsáveis pela experiência e contribuíram para a validação do Guia.

Para conhecer mais...


29

Para conhecer mais sobre as ações do “Guia do SUS: instrumento para acesso ágil
e oportuno à rede de Atenção à Saúde” sugerimos acessar a versão online do Guia do SUS
de Sarzedo.

bit.ly/SUSSarzedo
30

O direito à cidade e à saúde: O empoderamento da Associação Indígena e


dos Moradores do Parque das Tribos – AIMPAT, na cidade de Manaus na
relação com o projeto Manaós.
Manaus/Amazonas – Brasil.

AIMPAT e Fiocruz Amazônia

Cacica Lutana Kokama – mulher indígena do povo Kokama, liderança indígena e atual presidente da
Associação dos Indígenas e Moradores do Parque das Tribos (AIMPAT) – lutanakokama@gmail.com;
Raniele Alana Lima Alves – mestranda do Programa de Mestrado em Condições de Vida e Situações de
Saúde na Amazônia (PPGVIDA); lanahlima93@gmail.com; Mayra Costa Rosa Farias de Lima –
mestranda do Programa de Mestrado em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia
(PPGVIDA); mcfarias@aluno.fiocruz.br; Rodrigo Tobias - Pós Doutor em Saúde Coletiva, Fiocruz
Amazônia – rodrigo.sousa@fiocruz.br; tobiasrodrigo@gmail.com

Introdução
A experiência ocorreu na cidade de Manaus, na Comunidade Parque das Tribos,
localizado no bairro Tarumã-Açu, zona oeste da cidade. A comunidade abriga uma
população estimada de 3 mil pessoas, com a presença de 35 etnias indígenas, considerado
assim o maior bairro multiétnico em contexto urbano no Brasil.
A realidade dos povos indígenas que vivem nos centros urbanos é marcada por
preconceitos e estigmas quanto a identidade étnica, em Manaus os movimentos e
associações indígenas tem reivindicado o reconhecimento da sua identidade nos espaços
urbanos, além da melhoria e acesso a direitos fundamentais a dignidade humana, como o
acesso a saúde.
A pandemia de Covid-19 explicitou e aprofundou as desigualdades e as injustiças
sociais em relação aos povos indígenas, que foram inclusive excluídos a prioridade na
vacinação, pois somente os indígenas aldeados entraram no grupo prioritário. Assim, em
meio as negligências vivenciadas pelos indígenas na cidade de Manaus no contexto
pandêmico, nasceu o projeto Manaós, assim denominado o projeto de pesquisa intitulado
“Saúde da População Indígena em Contexto Urbano: os desafios da atenção primária no
município de Manaus, cujo objetivo geral foi; avaliar as condições de saúde da população
indígena em contexto urbano, residente na Comunidade Parque das Tribos, e sua
capacidade de acesso à rede de serviços de saúde em Manaus, o projeto foi aprovado no
edital 001/2021 - Inova Fiocruz Saúde Indígena.
31

O projeto Manaós é um projeto de pesquisa-extensão construído coletivamente,


elaborado para ser realizado junto com a comunidade, assim, desde a sua concepção teve
a participação de representações/lideranças indígenas na formulação do projeto.
A experiência tem ocorrido no período de 01/03/2021 até o presente momento
com o intuito de visibilizar e fortalecer a luta dos povos indígenas que vivem na
Comunidade Parque das Tribos na busca pela melhoria das condições de vida. Desse
modo o objetivo deste relato é descrever as atividades que ocorreram na primeira fase do
projeto que auxiliou a organização social popular dos indígenas do Parque das Tribos
através da criação da Associação Indígena e dos Moradores do Parque das Tribos –
AIMPAT, e a visibilidade e fortalecimento da autonomia da Associação e sua relação com
o projeto Manaós.

Quem participou?
O projeto Manaós foi construído de forma coletiva. Lideranças indígenas
estabeleceram suas prioridades e necessidades sociais e a equipe da Fiocruz traduziu essa
demanda e transformou em projeto aprovado e financiado pelo Ministério da Saúde.
O projeto nasceu da conjugação de esforços de várias instituições parceiras locais
da esfera municipal, estadual, federal e as organizações indígenas e representações
indígenas, lideranças indígenas da Comunidade, ILMD-Fiocruz/Amazônia, Universidade
Federal do Amazonas – UFAM, Universidade do Estado do Amazonas- UEA,
Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME, a Coordenação das
Organizações Indígenas – COIAB, Centro de Medicina Indígena da Amazônia, Grupo de
Trabalho Intersetorial de Saúde Indígena da Região de Manaus e Entorno (GTI), e
Fundação Nacional do Índio – Coordenação Manaus e Entorno (FUNAI). O projeto foi
selecionado em edital para promover e fortalecer a implementação das “Orientações para
a aplicação de medidas de saúde pública não farmacológicas a grupos populacionais em
situação de vulnerabilidade no contexto da COVID-19” com financiamento da OPS
Washington.
O projeto atuou ativamente junto a Comunidade, tendo como um dos principais
resultados o fomento para a criação da Associação Indígena e dos Moradores do Parque
das Tribos – AIMPAT, que articulou em suas ações o engajamento dos jovens indígenas
e das lideranças indígenas e mulheres da Comunidade. Destaca-se que nesse processo de
realização do projeto e nascimento de uma organização social popular, as demandas reais
de saúde foram pautas de discussão com o poder público municipal, o que tem resultado
32

na construção de uma Unidade Básica de Saúde Culturalmente Diferenciada no Parque


das Tribos.

Metodologia/Desenvolvimento
O projeto iniciou com a reunião de atores estratégicos para a elaboração,
formulação e planejamento das ações do projeto. Importante pontuar que desde a
concepção do projeto as lideranças indígenas da Comunidade estiveram envolvidas. Em
todos os eixos de atuação utilizou-se como premissa a implementação do eixo transversal
de Promoção do Protagonismo Indígena e Autonomia da Comunidade, que acompanhou
e participou de todas as etapas do processo.
Na primeira fase de execução de atividades foram realizadas as ações que
compreenderam a fase de pactuação do projeto: Apresentação do Projeto de Pesquisa-
Extensão para a Comunidade Parque das Tribos e reuniões de pactuações de atividades
na comunidade; Realização de reuniões com as lideranças do Parque das Tribos para
estabelecer os critérios de seleção dos candidatos que compuseram a equipe de jovens
mobilizadores indígenas; Participação do projeto na criação da Associação Indígena e de
Moradores do Parque das Tribos (AIMPAT);
Na segunda fase foram desenvolvidas as atividades de extensão que foram
realizados junto com a Comunidade, as atividades compreenderam: Construção do
projeto de curso de atualização dos jovens mobilizadores indígenas para apoio à pesquisa
e coleta de dados; Realização da Primeira Oficina: “Valorizando os saberes e
conhecimentos tradicionais: colóquios sobre as vivências e experiências étnico-culturais
indígenas”; Planejamento da Segunda Oficina: “Um olhar para a saúde indígena em
contexto urbano e a organização sociocultural, política e das redes de serviços no Parque
das Tribos”; Construção do Website do Projeto Manaós; Planejamento de um webnário
Troca de Saber: “População indígena em contexto urbano no Brasil”, com Educadora da
UNIFESP, trabalhadora de UBS indígena em contexto urbano em São Paulo, Gestora da
saúde de Manaus e liderança indígena da Comunidade Parque das Tribos; Produção de
dois guias: Guia “O SUS nosso de cada dia”; Guia “Saberes Tradicionais na Prática do
Cuidado”, produção de produtos audiovisuais informativos Vídeo: “O que é COVID-
19?”; Vídeo: “Não compartilhe seu copo parente!”; Vídeo: “Tenho que trabalhar, e agora,
como me protejo?”; Vídeo: “Oficina: Valorizando os saberes e conhecimentos
tradicionais”.
33

As barreiras encontradas para o desenvolvimento das atividades giraram em torno


das limitações provocadas pela pandemia de COVID-19, que limitou as nossas visitas à
comunidade. Além disso, não se pode afirmar que articular e mobilizar diversos atores
seja uma tarefa fácil, ao contrário, todo o processo de construção e planejamento do
projeto aconteceu através de uma escuta atenta e sensível que foi efetivada por visitas in
loco prévias, articulações, negociações, mobilizações, novas negociações, enfim, muita
energia foi dispendida ao longo de suas todas as etapas do projeto. Os resultados
apontaram a participação ativa da Comunidade, embora houvesse presença de alguns
interesses conflitantes, no entanto os objetivos em comum em prol do coletivo
prevaleceram.
Portanto os resultados desse projeto superaram as expectativas iniciais, mesmo
com todas as adversidades relacionadas à pandemia de COVID-19, todas as atividades
planejadas e pactuadas foram entregues, e para mais, outras atividades demandadas pela
comunidade ou parceiros durante o processo de trabalho do projeto foram realizadas.

Resultados

Trata-se de um projeto em continuidade que teve como principais resultados a


criação de uma Associação Indígena e de Moradores do Parque das Tribos (AIMPAT) que
tem atuado ativamente na Comunidade. Atualmente a associação conta com duzentos e
trinta associados cadastrados, suas ações impactam cerca de novecentos e oitenta e cinco
famílias que moram na comunidade composto por indígenas e não-indígenas.
Dentre as ações da AIMPAT está a representação aos órgãos e instituições públicas
reivindicando serviços públicos essenciais para a melhoria das condições de vida dos
povos indígenas que moram na comunidade. Dessa forma, demonstrando a autonomia e
o engajamento comunitário frente as demandas coletiva.
Segundo a Cacica Lutana Kokama atual presidente da associação, a parceria que
se estabeleceu entre a AIMPAT e o Projeto Manaós têm contribuído para a visibilidade da
luta dos povos indígenas que moram em Manaus, além da valorização do protagonismo
e empoderamento da associação.
Por fim, é notório apontar que a atuação deste coletivo organizado levanta
bandeiras sociais de importância dos povos originários que reivindicam os direitos à
cidade e a saúde de indígenas citadinos. Em uma série de reuniões com a secretaria
municipal de saúde (SEMSA Manaus), a AIMPAT e outras lideranças indígenas,
34

apoiados pelo Projeto Manaós, lutaram e transformaram o “seu mundo” e, atualmente,


uma UBS culturalmente diferenciada do porte IV do MS está sendo construída no
Parque das Tribos em Manaus. Aqui a AIMPAT, com o suporte da Fiocruz via projeto
Manaós, tem apresentado pautas sobre os modos de produzir saúde nessa nova UBS,
apontando a necessidade de incorporar aspectos da interculturalidade, dos
conhecimentos tradicionais e a medicina indígena (pajelança, plantas e raízes
medicinais, garrafadas e outras) como propostas de conversa com o conhecimento
biomédico. Entendemos que essa série de experiências de conquistas sociais foi
resultante de ações de empoderamento e desenvolvimento da autonomia de sujeitos
protagonistas e que produzem no cotidiano da vida os valores da democracia, do
controle social e da luta pelo direito à saúde.

Para conhecer mais...

Para que vocês conheçam um pouco mais das atividades desenvolvidas pelo
Projeto Manaós junto com a Comunidade Parque das Tribos, disponibilizamos o endereço
do site oficial do Projeto que contém fotos das atividades desenvolvidas e produtos
gerados: como participação em assembleias e eventos promovidos pela comunidade,
realização de curso de capacitação para as jovens lideranças indígenas, oficinas de saberes
envolvendo a população, webnário sobre saúde da população indígena em contexto
urbano com participação indígena, e produção de guias e vídeos informativos para a
população. A princípio, o espaço abrigava somente conteúdo sobre o cronograma de
atividades do Projeto. Com o avançar da pandemia e a identificação e reconhecimento de
problemas, situações e questões de interesse da própria comunidade, o site Manaós
tornou-se também fonte de informações sobre meios de prevenção à COVID-19 entre
populações indígenas, espaço de divulgação científica e de diálogo entre parceiros e a
sociedade civil.
Além disso, disponibilizamos link da plataforma do curso Projeto de Atualização
dos Profissionais da Rede de Atenção no acolhimento à população indígena em Manaus;
e outros links das principais notícias veiculadas sobre o projeto citados neste texto.
35

bit.ly/ProjetoManaos
36

Políticas Públicas de Inclusão para a Garantia das Vidas nas Ruas A luta do
MNPR e Entidades Parceiras pelas vacinas contra Covid-19 para população
em situação de rua na pandemia
Natal/Rio Grande do Norte - Brasil

Movimento Nacional de População de Rua (MNPR)

José Vanilson Torres da Silva. Coordenador Nacional do MNPR Conselheiro Nacional de Saúde pelo
MNPR e formado em Rualogia, josevanilsontorres@gmail.com; Matheus Rios Silva Santos. Mestre em
Psicologia pela UFRN matheusrssantos@gmail.com

Introdução
No cenário da Pandemia da Covid-19, a principal orientação para evitar a
disseminação do vírus foi o isolamento social. No entanto, para a população em situação
de rua, tal direcionamento foi completamente distante da realidade. Dessa forma, o acesso
à vacinação se tornou decisivo para a vida ou para a morte das pessoas em situação de
rua. Baseando suas práticas nas orientações científicas, os objetivos da experiência do
MNPR que está sendo relatada no presente trabalho foram: a) antecipar a vacinação das
pessoas em situação de rua em Natal; b) bem como garantir o número suficiente de
imunizantes tendo em vista o aumento exponencial de pessoas em situação de rua durante
a pandemia. Em estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada estima
que 281.472 pessoas encontram-se em situação de rua no ano de 2023 no Brasil. Esse
ainda pode ser um número subnotificado. A seguir, relatamos a experiência de antecipar
a vacinação da população de rua em Natal.

a) O início da vacinação da População de Rua em Natal


Diante da falta de abrigamento suficiente para pessoas em situação de na cidade
de Natal no RN bem como da insalubridade dos equipamentos de abrigamento existentes,
o MNPR avaliou que, dada a extrema vulnerabilidade de contágio pelo coronavírus, a
antecipação da vacinação das pessoas em situação de rua seria uma forma de protegê-las
mais rapidamente. Para isso, o MNPR articulou para que as doses sobrantes da reserva
técnica (aquelas não utilizadas nos grupos prioritários) fossem destinadas para a
população em situação de rua. Assim, abarcada no conceito de equidade, um dos pilares
do Sistema Único de Saúde do Brasil, a atuação do MNPR centrou esforços em conseguir
doses para antecipar a vacinação da população de rua no Rio Grande do Norte (RN).
37

A vacinação da população em situação de rua no estado do RN iniciou no dia 29


de março de 2021 no espaço dos serviços públicos, contemplando os usuários dos Centros
POP, albergues, abrigos temporários e do Abrigo 24 horas; depois, no dia 7 de abril de
2021. Foi realizada a vacinação das pessoas em situação de rua que estavam nas ruas de
várias zonas da cidade, de modo que eram levadas em um Microônibus da Secretaria
Municipal de Trabalho e Assistência Social de Natal-SEMTAS, acompanhadas pelo
MNPR/RN e voluntárias(os) até a Toca de Assis, entidade apoiadora franciscana da luta
da população em situação de rua na cidade de Natal. Nos municípios de Parnamirim e
Mossoró quem fez as vacinações foram as equipes dos Consultórios na Rua.

Todavia, a pasta da Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Estado do Rio


Grande do Norte e o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MP-RN)
ajuizaram uma Ação Civil Pública para impedir que o estado modificasse a ordem dos
grupos prioritários previstos no Plano Nacional de Imunização-PNI , sem a autorização
do Ministério da Saúde. Mesmo sem haver nenhuma menção da população em situação
de rua na ação civil pública, o Ministério Público e a tutela coletiva da Defensoria Pública
proibiu que o Município de Natal aplicasse as doses do imunizante na população em
situação de rua. Por sua vez, o pedido foi deferido em sede de liminar e a vacinação da
população em situação de rua no estado do Rio Grande do Norte foi suspensa.

É importante ressaltar que as doses de reserva técnica da vacina da Oxford


destinadas à população em situação de rua no RN não interferiam e nem prejudicaria os
outros grupos prioritários, foram disponibilizadas cerca de 1.583 doses, doses essas
destinadas às pessoas em situação de rua inseridas no Cadastro Único-CADÚNICO/RN.
Ainda foram vacinadas cerca de 500 pessoas em situação de rua em todo o RN, as pessoas
que se vacinaram no dia 29 de Março, tomaram a segunda dose de Oxford no dia 29 de
Junho, e as que tomaram no dia 07 de Abril, voltaram a se imunizar com a segunda dose
no dia 07 de Julho de 2021.

Em Natal, se imunizaram cerca de 300 pessoas e nos outros municípios do RN


outras 200 pessoas. Após Judicialização no dia 10 de abril de 2021, o Ministério Público
das promotorias da cidadania e Saúde juntamente com o núcleo de Tutela Coletiva da
Defensoria Pública do RN, convidaram extraoficialmente o MNPR/RN para dialogarem
sobre a paralisação da vacinação da população em situação de rua no RN, durante a
reunião buscaram justificar a ação judicial, o MNPR fez as ponderações trazendo os
38

determinantes sociais e de saúde da população em situação de rua, a ausência de proteção


contra a Covid19 no RN desta população, a ausência de condições de cumprir as
orientações de distanciamento social e o Fique em Casa da Organização Mundial da
Saúde-OMS, por justamente essa população está em situação de rua, como também essa
população não ter acesso à água potável, segurança alimentar e nutricional, uso de
máscaras e álcool em gel, ausência de pias e banheiros para sua higiene pessoal, dentre
outras. Mas o judiciário não levou em consideração todos esses aspectos e
particularidades dessa população e manteve a ação judicial, solicitando inclusive o
recolhimento das doses da vacina destinadas à população em situação de rua no RN.

Diante de tal cenário, o MNPR passou a atuar em outra frente para garantir a
imunização das pessoas em situação de rua, desta vez, não somente no Rio Grande do
Norte, mas em todo território nacional.

b) A luta por mais doses de vacina para população em situação de rua no Brasil;

À vista disso, o MNPR (nas pessoas dos coordenadores José Vanilson Torres da
Silva (MNPR/RN) e Samuel Rodrigues (MNPR/MG) e do apoiador do MNPR e psicólogo
Matheus Rios), Defensoria Pública da União (Defensor Renan Sotto Mayor), Polos de
Cidadania da UFMG (Professor André Luiz Freitas Dias) , Pastoral do Povo da Rua
(Cristina Bove), Fiocruz, (Marcelo Pedra) e Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua-CiampRua,
(Carlos Ricardo e Bárbara Cavalcanti) iniciaram um diálogo proveitoso com o Ministério
da Saúde (mais especificamente com a coordenação do Programa Nacional de
Imunização: Thaís Minuzzi e Ariana Gonçalves), a fim de garantir o aumento do
quantitativo de doses destinadas para a população em situação de rua no Brasil, uma vez
que até o 4° Plano Nacional de Imunização-PNI esse número era de 66.963 doses, e após
os primeiros diálogos esse número subiu para 149.595 doses.

Essas discrepâncias nos números foram identificadas pelo trabalho desenvolvido


pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG através dos dados do CADUNICO que à
época trazia um número de 160 mil pessoas em situação de rua cadastradas. E, sendo
assim, quando chegasse o momento da vacinação desse grupo populacional que estava
em 16° lugar no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19,
teríamos um quantitativo mais aproximado do número real de pessoas em Situação de Rua
no Brasil. As reuniões também foram importantes para dar visibilidade a outras pautas
39

importantes para a luta da população em situação de rua. Essas pautas foram


sistematizadas em uma minuta redigida pelas organizações e instituições que participaram
das reuniões com o Ministério da Saúde e subsidiou a Nota Técnica 768 de 2021.

A nota técnica da Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações


fornece orientações referentes à vacinação de pessoas em situação de rua contra Covid-
19, dentre as estratégias de vacinação que foram elaboradas entre as entidades e os/as
participantes que participaram das reuniões, a nota técnica menciona que a falta de
documentos não deveria ser um empecilho para efetivação da vacinação da pessoa em
situação de rua, fornecendo a essa pessoa cartões de identificação plastificados com os
dados referentes à vacina (local, número da dose, data da vacinação). Ao ser identificado
que essa pessoa não tinha os documentos, ela deveria ser encaminhada para viabilizar o
seu registro no Sistema de Cadastramento de Usuários do SUS (CADSUS).

Uma vez que a vacinação da população de rua deveria acontecer extramuros,


através de campanhas de conscientização e busca ativa, deveriam ser preenchidos
formulários com os dados nominais e individualizados das pessoas em situação de rua
para depois serem lançados no sistema da Secretaria Municipal de Saúde. Um dos
principais avanços da nota, fruto da participação direta do MNPR e das demais
organizações que compreendem a dinâmica no território das ruas, foi ela mencionar a
importação de articulação de rede de entidades e associações que atuam com a população
de rua no esforço de efetivar a vacinação para esse segmento populacional.
Transcrevemos abaixo textualmente:
6.4 Uma estratégia possível no âmbito local pode ser a ar culação com os Comitês
Estaduais e Municipais de Acompanhamento e Monitoramento da Polí ca Nacional
para a População em Situação de Rua tendo em vista serem compostos por diversos
atores sociais, instuições públicas e demais organizações que atuam para a promoção
dos direitos humanos das pessoas em situação de rua, para auxiliar na elaboração de
planos de vacinação da população em situação de rua em âmbito local, além de
auxiliar as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde no processo de vacinação e
no estabelecimento de parcerias.
6.5. Nessa seara é importante que as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, a
Rede de Serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), Equipes de Estratégia Saúde
da Família (ESF) e as Equipes de Consultório na Rua (eCR) estabeleçam parcerias
locais com a assistência social, tais como Centro de Referência Especializado para a
População em Situação de Rua (Centro Pop), Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS),
Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), bem como ins tuições da
sociedade civil organizada, Defensorias Públicas locais, Ministério Público e demais
órgãos de proteção aos direitos humanos tendo em vista viabilizar, conforme a
realidade local, as condições de armazenamento das vacinas, os equipamentos
disponíveis no território e a vacinação extramuro desta população. (Grifo nosso).
40

Com a atuação do MNPR, em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado do


Rio Grande no Norte e demais entidades, 751 pessoas em situação de rua foram vacinadas
até maio de 2022, mais de 400 em comparação com número apresentado na primeira ação.

Metodologia

A metodologia adotada pelas lideranças do MNPR nesta ação aqui relatada se


fundamenta na construção de redes. A construção de uma rede de comunicação,
mobilização e articulação foi essencial para obter informações de como atuar para
conseguir destinar as doses de reserva para população de rua. A demanda material para o
contexto aqui apresentado em tela era mais doses de vacinas para população de rua. Mas
somente a existência dessas doses não garantiriam que elas chegassem aos braços das
pessoas que fazem da rua sua última guarida de sobrevivência.

De tal modo, a prática do MNPR operou para composição de uma rede que
envolvesse agentes públicos, pesquisadores acadêmicos, entidades socioassistenciais que
desenvolvem trabalhos com a população de rua, assim como mobilizou as próprias
pessoas em situação de rua para compor tais redes de diálogo e mobilização em prol da
luta para vacinação contra a Covid-19. Tais articulações aconteceram através de processos
de diálogos, sensibilização, campanhas nas redes sociais de modo que atingisse a opinião
pública, conscientizando a população sobre a vulnerabilidade em que tal segmento
populacional se encontra. A heterogeneidade dos atores e entidades que se somaram e se
mobilizaram para agregar mais atores foi fundamental para tanto efetuar a vacinação
como para conseguir um marco normativo com a contribuição e participação direta do
MNPR na sua elaboração junto às demais entidades da rede atuante em tal finalidade da
vacinação para população de rua.

As principais barreiras encontradas para a efetivação da nossa experiência se


centraram, muitas vezes, na própria forma que algumas instituições, tais como o
Ministério Público, encararam a garantia de direitos para população em situação de rua.
Como relatado no presente trabalho, foi com a ação do MP que a vacinação da população
de rua foi embargada inicialmente no Rio Grande do Norte. Outra barreira é a própria
mentalidade de gestores que, ao invés de encontrar soluções viáveis e plausíveis para
garantir a efetivação do direito à vacinação da população de rua, recorreram a argumentos
burocráticos para negar ônibus que conduzisse a população de rua até os locais de
vacinação.
41

Resultados

Para além dos dados materiais da quantidade de pessoas em situação de rua


vacinadas em Natal, o que podemos considerar como o maior ganho da nossa atuação,
uma vez que a vacina salva vidas, indubitavelmente, podemos considerar como produto
da atuação e do protagonismo do MNPR a portaria 768 do Ministério da Saúde, uma vez
que concretiza a importância da participação direta dos movimentos sociais e demais
entidades nos processos de mobilização e conscientização para as ações de saúde junto a
população de rua. Com isso, a portaria 768 consolida um precedente importante de
agregar nas normativas e ações concernentes à população de rua a participação direta e a
importância da atuação dos movimentos sociais. Sendo um caso replicável não somente
no Brasil diante das próximas ações, mas também nos demais países latinoamericanos.

Para conhecer mais...


Para que vocês possam conhecer um pouco mais do nosso trabalho,
disponibilizamos nosso Instagram, no qual podem ser encontradas fotos e vídeos
desenvolvidos pelo Movimento Nacional da População de Rua no Rio Grande do Norte.
Também disponibilizamos nossa conta no Youtube, onde é possível assistir vídeos mais
longos sobre a luta do Movimento. Se desejarem manter contato ou tirar mais dúvidas, é
possível nos contactar pelo e-mail:

bit.ly/PopRuaRN
42

Educação permanente em saúde como método-ferramenta para formação


de ativadores do controle social do SUS em Minas Gerais.
Belo Horizonte/Minas Gerais - Brasil.

Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG).

Rodrigo Martins da Costa Machado - Mestre em Ciência Política (rodrigo.machado@esp.mg.gov.br);


Daniel Augusto Fernandes - Graduado em Psicologia (daniel.fernandes@esp.mg.gov.br); Fernanda
Jorge Maciel - Mestre em Saúde Pública e (fernanda.maciel@esp.mg.gov.br); Gustavo Dias Ribeiro -
Graduando em Psicologia (gustavordias@hotmail.com); Lenira de Araújo Maia - Mestre em Ciência
Política (lenira.maia@esp.mg.gov.br); Lucas Rodrigues Albionti de Castro - Especialista em Saúde
Coletiva com ênfase em Planejamento em Saúde (lucas.castro@esp.mg.gov.br).

Introdução
O presente relato de experiência insere-se no âmbito do controle social,
apresentando uma estratégia de formação de ativadores de educação permanente em
saúde para o controle social junto a conselheiros de saúde municipais de Minas Gerais.
Ela foi desenvolvida no contexto da pandemia de COVID-19 e dos protocolos de
isolamento social decorrentes desta crise sanitária, inviabilizando a execução de
estratégias de formação presenciais. A experiência aqui apresentada é uma parceria da
Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) com o Conselho Estadual
de Saúde de Minas Gerais (CES/MG), que foi construída e validada junto à Câmara
Técnica de Educação Permanente (CTEP) e Mesa Diretora do CES/MG. Ambas as
instituições participaram da construção do projeto pedagógico do curso, atuando no
acompanhamento e avaliação da ação educacional. Foi desenvolvida uma turma-piloto
que foi avaliada, readaptada e validada pela equipe de coordenação e pela CTEP para que
novas turmas sejam ofertadas no ano de 2023. Ademais, essa ação teve como público-
alvo usuários, gestores e trabalhadores de saúde que atuam como conselheiro(a) de saúde
em municípios mineiros. Observa-se um público com trajetória diversa, o que reivindica
uma proposta educacional sensível às especificidades de cada conselho.
Essa ação justifica-se diante das adversidades sinalizadas pelos Conselhos de
Saúde na efetivação de suas atribuições, demandando diversas ações formativas para
conselheiros de saúde. Este desafio foi reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde, o
qual instituiu em 2006 a Política Nacional de Educação Permanente para o Controle
Social no SUS. A ESP-MG, compreendendo a relevância de sua atuação neste cenário,
vem realizando desde o ano de 2017 ações de qualificação de conselheiros municipais de
saúde de todo estado. A experiência atual sustenta-se no referencial da Educação
43

Permanente em Saúde, de forma que as conselheiras e conselheiros participantes tenham


subsídios para ativar processos educativos em seus conselhos, tendo como ponto de
partida a problematização do contexto atual de mobilização e atuação em seus municípios.
A Formação de Ativadores do Controle Social do SUS em Minas Gerais, portanto, coloca
os atores do controle social na base do diagnóstico dos problemas enfrentados em sua
realidade local e na busca de suas soluções, com apoio institucional da ESP-MG e
CES/MG durante o curso.
Desse modo, a experiência educacional aqui descrita, teve como objetivo realizar
a formação de ativadores do controle social dentre representantes de Conselhos
Municipais de Saúde do Estado de Minas Gerais. Em extensão, buscou-se a realização de
diagnóstico dos conselhos municipais e a construção de planos de ativação de forma
coletiva com outros membros dos conselhos de saúde participantes da ação.

Metodologia
A ação educacional se baseia no referencial político e metodológico da Educação
Permanente em Saúde (EPS), que nos instiga a desenvolver ações educativas adequadas
às necessidades específicas dos conselhos de saúde de cada município para que a
aprendizagem seja significativa e ancorada na realidade dos conselheiros. Para esse
projeto de formação, optou-se pelo ensino remoto síncrono, pois o diálogo, a troca e as
discussões entre os alunos, mediadas pelo docente, é a principal abordagem pedagógica
da ação educativa. Além disso, no contexto de pandemia, defendemos o fortalecimento
de espaços de fala dos alunos, sejam eles usuários, trabalhadores, gestores. Para isso,
utilizou-se uma plataforma de videoconferência que permite a realização de encontros
síncronos, com ferramentas de mediação da participação e a formação de reuniões
simultâneas em subgrupos.
A carga horária total da formação dos ativadores foi de 20 horas, sendo 12 horas
de ensino remoto – distribuídos em 4 encontros remotos síncronos de 3 horas cada – e 8
horas destinadas à realização das atividades de dispersão. Os encontros síncronos foram
mediados por docentes da ESP-MG, nos quais foi possível trabalhar conceitos e contextos
fundamentais relacionadas à EPS, ao SUS e ao controle social em saúde. Para esta
abordagem, procurou-se a problematização de casos e, também, a utilização de
experiências e situações dos próprios conselheiros em formação que apresentassem
44

aspectos de suas realidades. A matriz curricular do curso pode ser acessada por meio de
link apresentado na seção “Para saber mais”.
Ao longo da realização da formação, considerando o objetivo de realizar o
diagnóstico do Controle Social nos municípios, foi apresentado aos conselheiros a Matriz
de Diagnóstico do Controle Social no Município, instrumento criado pela equipe da ESP-
MG e disponibilizado em formulário online para preenchimento dos alunos participantes.
Sua produção foi realizada com base em estudo de bibliografia disponível sobre avaliação
de desempenho e condições de atuação do Controle Social. Essa ferramenta é organizada
em seis dimensões, sendo elas: autonomia; representatividade; dinâmica organizacional;
planejamento e acompanhamento de políticas públicas; participação comunitária; e
educação permanente em saúde. Os participantes foram orientados sobre o seu uso e
preenchimento, que ocorreria no desenvolvimento da carga horária destinada às
atividades de dispersão. Para a realização deste diagnóstico pelos participantes foi
estipulado prazo de dezoito dias para envio dos dados por meio do formulário online.
Disponibilizamos link para acesso ao termo de referência com as dimensões avaliativas
da matriz de diagnóstico, bem como ao formulário online utilizados na seção “Para saber
mais”.
A aplicação da Matriz Diagnóstico do Controle Social no Município permitiu
orientar a problematização e discussão da atuação e da realidade do Conselho Municipal
pelo conselheiro-participante da formação junto com seus pares. Além disso, permitiu
identificar os desafios e as fragilidades da realidade municipal, bem como suas possíveis
causas, oportunizando a realização de um exercício coletivo de reflexão sobre a própria
prática do Conselho.
A coordenação do curso realizou análise dos dados informados pelos conselheiros
no instrumento de diagnóstico, com atribuição de pontuações para cada uma das
subdminensões avaliadas, disponibilizando um consolidado de cada conselho municipal.
A partir do consolidado, foi possível identificar as dimensões que demandavam maior
atenção para elaboração de um plano de ativação do conselho municipal. O modelo
padrão do Plano de Ativação da Educação Permanente em Saúde para o Controle Social
no SUS foi disponibilizado virtualmente, sendo previsto o preenchimento de forma
coletiva com os pares do respectivo conselho municipal do aluno participante. Seu
objetivo é fortalecer o conselho no que se refere às necessidades identificadas e
implementação de ações educativas e de mudanças e você também poderá conhecê-lo na
seção “Para saber mais”. Os planos de ativação construídos pelos conselhos municipais
45

foram apresentados por seus representantes no último encontro de formação, em


subgrupos para fomentar maior troca entre pares. Nessa conversa também estiveram
presentes representantes do CES/MG, os quais contribuíram com sua experiência da
realidade do controle social.
Quanto ao processo de avaliação do curso, ao final do último encontro, os
participantes foram convidados a compartilhar suas percepções, sendo abordadas as
seguintes dimensões: contribuições da ação educacional para atuação como conselheiros,
cronograma do curso e as atividades propostas. Após o término da formação, os
conselheiros participantes preencheram uma avaliação individual disponibilizada via
formulário eletrônico. Integraram o formulário questões objetivas, com possibilidade de
manifestação acerca de observações e sugestões para ações futuras. Foram avaliadas as
seguintes dimensões: material didático; carga horária; relação do conteúdo programático
com a prática; potência das experiências vivenciadas nas aulas; instrumento de
diagnóstico local do controle social; modelo para plano de ativação do controle social. Os
dados coletados no formulário foram analisados quantitativamente.
Após o término da ação, foi enviado aos participantes, através de correspondência
física, material didático produzido pela ESP-MG para formações presenciais
anteriormente realizadas, bem como o caderno de legislações do SUS – ambos elaborados
no ano de 2017. Este material constitui-se enquanto um referencial de consulta nas
atividades cotidianas do conselheiro, abordando elementos como: legislação e princípios
do SUS; diagnóstico do controle social; educação permanente em saúde e sua utilização
como ferramenta para o controle social; atribuições dos conselheiros de saúde,
planejamento em saúde e financiamento.

Resultados:

Manifestaram interesse no Curso de Formação de Ativadores do Controle Social


do SUS em Minas Gerais, mediante processo de inscrição, 240 atores do controle social
do SUS, provenientes de todas as 14 Macrorregiões de Saúde e de 55 das 89
Microrregiões de Saúde do estado. Para divulgação do curso foram utilizadas as redes
sociais das ESP-MG e do CES/MG. Além disso, entre a inscrição e o início da turma-
piloto, foram realizados contatos telefônicos com cada um dos inscritos para reforço sobre
o cronograma da ação. Esta ação piloto contou com a participação de 23 conselheiros de
20 diferentes municípios ao longo de toda a execução. Apesar de uma amostra reduzida
46

em relação ao número de conselheiros inscritos no curso, destacamos que esta ação


integra uma parceria mais ampla entre a ESP-MG e o CES/MG. Essa parceria,
estabelecida no ano de 2017, resultou em ações formativas diversas para qualificação de
conselheiros de saúde, alcançando mais de 295 municípios mineiros e compreendendo
um público superior a 1000 participantes. Esse conjunto de ações contribuiu para a
construção do projeto pedagógico do curso aqui descrito, tendo em vista a experiência
acumulada pela equipe organizadora em mais de 45 turmas descentralizadas. No decorrer
da realização da turma-piloto foi criado um grupo em aplicativo de mensagens com
participação da coordenação, de docentes e alunos conselheiros, constituindo um canal
para resolução de dúvidas, facilitando a comunicação referente à ação educativa.
Preencheram a Matriz Diagnóstico do Controle Social no Município 13 (treze)
conselhos municipais de saúde, dos quais 7 (sete) apresentaram o Plano de Ativação da
Educação Permanente em Saúde para o Controle Social no SUS. Este número foi
justificado em razão de dificuldades logísticas dos alunos em estabelecer agendas comuns
para reunir com os pares e elaborar os instrumentos. Ademais, a análise deve também
considerar o momento sócio-histórico em que essa ação se desenvolveu, atravessada pela
crise sanitária decorrente da pandemia de COVID-19, que produziu mudanças em vários
âmbitos da vida, incluindo os processos de trabalho, com aumento da sensação de
esgotamento pelo acúmulo de tarefas as quais os indivíduos têm sido submetidos.
Adentrando a avaliação da ação educacional, os participantes destacaram que o
curso valorizou o papel dos conselheiros como ativadores do Controle Social em seus
respectivos Conselhos. Também sinalizaram como elemento positivo o incentivo ao
compartilhamento de experiências entre os distintos municípios, o que permitiu
coletivizar certas vivências ao perceberem que muitos dos presentes partilham de
situações e dificuldades comuns em sua atuação nos conselhos de saúde. A partir da
utilização dos instrumentos, espera-se que os Planos de Ativação possam ser
implementados para viabilizar as mudanças pretendidas. No entanto, não é possível,
ainda, avaliarmos possíveis transformações na realidade local, tendo em vista que o
projeto ainda está em andamento. De qualquer maneira, as discussões realizadas ao longo
do curso permitem identificar transformações no modo como os participantes
compreendem seu papel no controle social das políticas de saúde e na importância de sua
atuação nestes espaços.
De modo geral, considera-se que os objetivos do curso foram atingidos, uma vez
que as temáticas propostas foram abordadas conforme esperado. Ainda que nem todos os
47

participantes conseguiram construir o Plano de Ativação, estes compreenderam os


objetivos da utilização dos instrumentos propostos e seu potencial de viabilizar mudanças
na realidade dos Conselhos de Saúde. Destaca-se que a compreensão da importância,
pertinência e satisfação com a ação educativa fica evidente nas avaliações feitas pelos
participantes da turma piloto, tanto no encerramento do curso quanto nas avaliações
individuais coletadas via formulário eletrônico. Por meio da análise das respostas do
instrumento de avaliação, 83% dos alunos consideraram o processo formativo “Ótimo” e
17% o consideraram “Bom”. Como desafio a ser enfrentado para a continuidade da ação
no ano de 2023 está a construção de estratégias gerenciais e educacionais que favorecem
maior envolvimento dos demais conselheiros dos conselhos participantes nos processos
de diagnóstico local e de construção do plano de ativação.

Considerações finais:
A Formação de Ativadores do Controle Social é sustentada pelo referencial da
Educação Permanente em Saúde, apoiando-se na prática e realidade local dos conselhos
de saúde. O ponto de partida da ação, por sua vez, é a problematização da participação
social nas políticas de saúde a partir do olhar dos próprios conselheiros, fortalecendo a
autonomia e a valorização dos saberes destes atores sociais. Nesse sentido, a
aprendizagem significativa e transformadora da realidade atribui importância ao processo
formativo sem desconsiderar a historicidade dos sujeitos envolvidos, mas utiliza-a como
ponto de partida para teorizar as práticas do trabalho. A ação educacional possui uma
dimensão transformadora, pois fomenta mudanças nos processos de trabalho e na atuação
no controle social do SUS, mediante diagnóstico elaborado pelos próprios conselheiros.
A partir de um olhar direcionado ao funcionamento do conselho, por meio da construção
de um plano de ativação da educação permanente em saúde (EPS), é incentivada a
construção de uma estratégia que permita, de modo factível, a implementação das
mudanças identificadas como necessárias.
Ademais, a execução desta ação educacional de modo institucionalizado, a partir
de parceria estabelecida entre a ESP-MG e o CES-MG, qualifica-a também como
inovadora. Acrescenta-se, neste cenário, a participação de conselheiros estaduais em
todas as atividades prevista para o curso, bem como na elaboração e acompanhamento da
ação. A realização de novas turmas para o ano 2023 foi pactuada com o CES/MG,
tornando-se um compromisso institucional da ESP-MG. Para reforço à
institucionalização dessa oferta, será elaborado Termo de Acordo de Cooperação entre as
48

duas instituições. Além disso, do ponto de vista interno, a previsão da realização das
turmas desta ação educacional está inserida no planejamento de ação orçamentária
finalística da ESP-MG, vinculando-se a metas físicas e financeiras da instituição no Plano
Plurianual de Ação Governamental do Estado. Tais posturas reafirmam o compromisso
de ambas as instituições na qualificação do controle social, bem como no fortalecimento
de uma cultura política democrática mediante participação social nas políticas públicas.

Para conhecer mais...


Para conhecer um pouco mais sobre a Formação de Ativadores do Controle Social
do SUS em Minas Gerais, disponibilizamos no link abaixo a Matriz Curricular do curso,
o Termo de Referência e o Formulário online da Matriz de Diagnóstico do Controle Social
do SUS no Município, o modelo de Plano de Ativação da Educação Permanente em Saúde
para o Controle Social do SUS, bem como notícias do desenvolvimento da turma piloto
postadas em nosso site institucional. Também disponibilizamos versões digitais do
material didático e o caderno de legislações do SUS produzido pela ESP-MG para
formações presenciais realizadas antes do desenvolvimento da formação de ativadores.
Cabe destacar que por terem sido produzidos em 2017, estes dois últimos materiais
possuem informações desatualizadas, especialmente aquelas relacionadas a legislações
alteradas após esta data.

bit.ly/AtivadoresMG
49

Práticas territoriais emancipatórias na autonomia do cuidado comunitário


em uma comunidade rural: a experiência do conselho local de saúde.
Crato/Ceará - Brasil.

Estratégia Saúde da Família Baixio das Palmeiras

Keila Formiga de Castro, Enfermeira, Mestre em Saúde da Família pela RENASF/URCA/FIOCRUZ,


keila.formiga@urca.br; Caik Ferreira Silva, Mestre em Enfermagem e Residente em Saúde Coletiva pela
Universidade Regional do Cariri, caik.ferreira@urca.br; Izabel Cristina Santiago Lemos de Beltrão,
Doutora em Etnobiologia e Conservação da Natureza pela UFRPE, izabel.lemos@urca.br. José André
Matos Leal, Profissional de educação física - residente em saúde coletiva – URCA,
am079634@gmail.com; Cícera Georgia Brito Milfont, Bióloga , Residente em Saúde Coletiva,
georgia.milfont@urca.br.

Introdução

A transposição do Rio São Francisco foi iniciada após a implantação, em 2007, do


Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nesse sentido, o Cinturão das Águas do
Ceará (CAC) nasce no âmbito das obras previstas para o supracitado projeto de
transposição. Segundo os responsáveis pela implantação, o objetivo é facilitar o acesso
dos produtores rurais do semiárido à água. Sobre o CAC, o trecho I englobará obras na
região do Cariri Cearense – com alta densidade demográfica e expressiva relevância
econômica para o Estado –, envolvendo os territórios dos municípios de: Jati, Cariús,
Brejo Santo, Porteiras, Abaiara, Missão Velha, Barbalha, Crato e Nova Olinda. Segundo
dados oficiais do Governo do Estado, as obras do trecho I do CAC estão 70,86%
concluídas.

Todavia, o Cariri Cearense é uma região notadamente conhecida por sua


fertilidade e abundante disponibilidade de recursos hídricos, o que favorece a produção
agrícola para subsistência. Nesse ínterim, a comunidade do Baixio das Palmeiras,
localizada na zona rural do município do Crato, com cerca de 4.000 habitantes, viu-se
impactada pela perspectiva das obras para implantação do CAC – em meados de 2014 –,
alterando sua dinâmica social e instigando a mobilização dos moradores, que, em sua
expressiva maioria, são agricultores.

A comunidade possui um nível de articulação e intersetorialidade potente, e


conclamou à luta universidades da região, movimentos sociais, bem como profissionais
de saúde do município, buscando reduzir o impacto da obra no Baixio das Palmeiras.
Conseguintemente, dentro desse contexto de grande mobilização social, buscando dar
50

visibilidade para a resolução do problema que se apresentava à comunidade, os


profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) que atuam no Baixio das Palmeiras
viram-se implicados pelo processo. Notou-se, ainda, como essa problemática afetava
substancialmente a situação dos usuários, inclusive na perspectiva da promoção e da
prevenção da saúde, e foi iniciada uma aproximação mais direta com os articuladores do
movimento e as lideranças locais.

A referida ESF conta com uma equipe de saúde da família constituída por uma
médica, uma enfermeira, um dentista, um agente de saúde bucal, dois técnicos de
enfermagem, um gerente e cinco agentes comunitários de saúde, possui 05 microáreas
adscritas e 03 Unidades Básicas de Saúde, UBS Baixio das Palmeiras, UBS Muquém,
UBS Romualdo. A ESF é uma unidade que possui integração ensino-serviço-
comunidade, pois recebe residentes do Programa de Residência Multiprofissional em
Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (PRMSC/URCA), sendo a enfermeira
preceptora e membro do Núcleo da Enfermagem.

Assim, iniciou-se uma articulação mais ampla, envolvendo, não apenas os


aspectos territoriais – que deflagraram a mobilização do Baixio das Palmeiras –, como
também os impactos para a saúde da comunidade. Dessa forma, o Conselho Local de
Saúde do Baixio das Palmeiras, iniciando suas atividades em meados de 2015, tornou-se
um espaço para fomento de outros movimentos sociais na comunidade, assim como para
o fortalecimento de grupos já existentes, estando a equipe da ESF imbuída nesse processo,
atuando como articuladora, como na organização da II Convergência Cearense de
Permacultura e I Convergência Centro Nordestina de Permacultura ocorrida em 2018.

Portanto, o envolvimento da ESF possibilitou, em especial, uma maior


aproximação dos profissionais com as demandas da comunidade, imergindo e
conhecendo, mais estreitamente, os determinantes sociais de saúde que permeiam a
comunidade. Isso impactou, de forma expressiva, a construção do cuidado à saúde para a
comunidade e o estreitamento do vínculo entre moradores e equipe da ESF, possibilitando
muitos frutos que se concretizaram ao longo dos últimos anos e que proporcionam a
redução das iniquidades em saúde, à medida que partilham poderes com respeito às
questões sociais com que a comunidade vem sendo colocada em enfrentamento.
51

Desse modo, tem-se por objetivo relatar as ações intersetoriais que foram adotadas
e que estimularam práticas emancipatórias do cuidado de base territorial em uma área
adscrita por uma ESF localizada em uma área rural do Cariri Cearense.

Quem participou?
A presente experiência busca chamar atenção à realização de ações intersetoriais,
assim como a adoção de práticas emancipatórias do cuidado territorial de uma
comunidade rural, por meio do conselho local de saúde, com a finalidade de servir como
fonte de inspiração para outros cenários territoriais.

A experiência supracitada surgiu de forma orgânica, a partir de grande


mobilização e participação popular e social, além da articulação entre trabalhadores de
saúde, comunidade, gestão e universidades contra os impactos das obras do CAC. Nesse
sentido, as atividades do conselho local de saúde ocorreram e/ou se desenvolveram na
Estratégia Saúde da Família do Crato, Baixio das Palmeiras, no interior cearense
brasileiro, cenário prático da Atenção Primária à Saúde, com período de início no dia 11
de março de 2015 a 28 de fevereiro de 2023.

Dessa forma, diante da repercussão e articulação local, teve-se a necessidade da


equipe de saúde engajar-se nas discussões territoriais, conjuntamente com entidades
parceiras e equipamentos de representações locais que participaram e estiveram
envolvidas, a saber: escola Rosa Ferreira de Macedo; Universidade Federal do Cariri
(UFCA), com a atuação do Curso de Agronomia; Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva (URCA); Curso de Geografia (URCA); Secretária
Municipal de Saúde do Crato; Secretaria de Agricultura do Crato; Equipe Saúde da
Família do Baixio das Palmeiras; grupos culturais articulados a exemplo do Espaço
Cultural Casa de Quitéria, Fuxiqueiras da Chapada, Grupo Maneiro Pau, Associação
Rural do Baixio das Palmeiras, Casa de Farinha Mestre Zé Gomes, Coqueiras do Baixio,
Dança do Coco Mestre Zè Gomes e lideranças locais.

À vista disso, diante da geração de vínculos e pela articulação das diversas


entidades parceiras, acabou-se por haver outros desdobramentos, pois, além de apoiar as
articulações locais, o grupo engajou-se na mobilização de ações com pautas próprias para
entender e suprir às necessidades de saúde do território com autonomia, além de apoiar e
fortalecer os grupos culturais locais existentes.
52

Cabe ressaltar que os grupos sociais que foram diretamente impactados com as
experiências foram os próprios moradores da comunidade local, dado que em algum
momento participaram de alguma das atividades realizadas e/ou indiretamente por
integrarem e se sentirem verdadeiramente pertencentes ao território.

Metodologia/Desenvolvimento
O planejamento da experiência teve como ponto de partida o movimento de
articulação em defesa da preservação da territorialidade já instaurado dentro da
comunidade junto às lideranças locais e às entidades parceiras, no âmbito das atividades
desenvolvidas oriundas do Conselho Local de Saúde. Desse modo, as reuniões
conseguiam manter um número médio de 20 partcipantes, aconteciam na escola da
comunidade, com representação dos trabalhadores, comunidade, lideranças locais e da
gestão municipal, sendo que os diálogos durante os encontros permearam assuntos
relativos às questões das necessidades em saúde do território, estrutura da Unidade Básica
de Saúde, dentre outras discussões concernentes aos direitos e deveres dos usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), participação social, princípios e diretrizes do SUS.

Além disso, a partir das parcerias e articulações consolidadas fez com que a equipe
de saúde participasse das atividades de integração e fortalecimento territorial que
aconteciam na comunidade, de grupos de WhatsApp da comunidade, reuniões da
associação rural, reuniões sobre o cinturão das águas e atividades que eram ofertadas para
o fortalecimento e resistência do território.

Resultados
Em virtude do envolvimento crescente com as pautas de interesse comunitário, o
Conselho Local de Saúde do Baixio das Palmeiras tornou-se uma instância
representativa de governança no território e atua impactando a população beneficiada
com os avanços conquistados, com o apoio de todos os colaboradores que participam
dos encontros, entre eles, as lideranças locais, usuários dos serviços de saúde,
profissionais do PRMSC/URCA, representantes da gestão municipal e trabalhadores da
saúde que compõem a ESF, demonstrando a efetividade, escassa em outros cenários, do
controle social.
53

O que torna a experiência genuína, é o engajamento do serviço de saúde na vida


em comunidade e no território, fato que oportunizou a consolidação dos vínculos entre
equipe e comunidade, culminando com o fortalecimento pela busca à preservação da
identidade territorial. Outra importante contribuição, foi o início dos diálogos e debates
que contribuem com a autonomia dos sujeitos de forma emancipatória nos cuidados em
saúde individual e na vida em comunidade. O respeito e preservação dos saberes
ancestrais, reconhecendo e valorizando as potencialidades do território, apoiando as
atividades desenvolvidas pelos equipamentos comunitários e assim favorecendo com que
a territorialidade se efetive em sua amplitude, na busca pela redução das iniquidades
sociais, assim como na partilha dos poderes inclusive sobre a própria forma de ser-viver
em comunidade.

Dessa forma, o CLS se consolidou como um efetivo espaço de governança local


no território, com representatividade da gestão, trabalhadores da saúde, usuários e
também das instituições de ensino. No qual as necessidades de saúde são reconhecidas de
forma legítima pelos usuários e trabalhadores que vivenciam as problemáticas nos
territórios e que possui uma resolutividade potente. A partir do diálogo promovido pelo
espaço, os nós críticos, em sua maioria são solucionados, as angústias dos usuários
acolhidas e o processo de trabalho é fortalecido.

Essa aproximação entre serviço de saúde, comunidade e território, potencializou


e ampliou as ações desenvolvidas, promovendo a saúde nos territórios e fomentando as
práticas emancipatórias territoriais. A partir desses momentos, outras atividades, para
além das questões específicas da saúde, foram articuladas e desenvolvidas tais como: II
Convergência Cearense de Permacultura; a Feira Agroecológica Solidária que acontece
semanalmente no espaço Cultural Casa de Quitéria no qual oportuniza de forma solidária
a comercialização dos produtos da agricultura familiar local ; Bancos de Sementes
Crioulas, mantidos e preservados por alguns agricultores da comunidade, princípios do
Bem Viver, participação das atividades dos grupos locais já citados e atividades de
educação em saúde com contribuições advindas da participação da integração da vida em
comunidade.

Nessa perspectiva, pensando na conexão entre experiências e vislumbrando


possibilidades para melhor uso das potencialidades do território, a comunidade sediou a
II Convergência de Permacultura do Ceará e a I Convergência Centro Nordestina de
Permacultura – realizada em outubro de 2018, a Unidade de Saúde do Baixio das
54

Palmeiras também, dentro do evento, foi espaço de visitação e troca de saberes. O evento
teve como objetivo compartilhar as experiências, fomentar a cooperação, divulgar as
ações desenvolvidas na comunidade e fomentar o fortalecimento conjunto das iniciativas
que ocorrem sob a óptica e a ética da Permacultura.

A partir desse evento, em 2018, houve o alinhamento das ações que acabou por
resultar em um projeto de extensão articulado com o Curso de agronomia da
Universidade Federal do Cariri, UFCA, para a implementação de uma Farmácia Viva na
UBS, a qual foi chamada de Jardim Medicinal, o projeto permaneceu por 02 anos e
implementou o Jardim medicinal em duas UBS que a equipe de saúde da Família do
Baixio das Palmeiras atua, na UBS Baixio das Palmeiras e na UBS Romualdo. Ainda
hoje subsidia ações de fomento ao uso de Plantas Medicinais e resgate da ancestralidade
na Atenção Primária à Saúde, como a construção de um e-book e uma cartilha sobre as
plantas medicinais que fazem parte do Jardim Medicinal, com o intuito de disseminar o
uso correto e racional das plantas no território,além da realização de oficinas sobre
etnobotânica, entre outras atividades.
À medida que a intersetorialidade avançava, havia a necessidade de fortalecer e
dar maior visibilidade às ações de Educação Popular e promover a interculturalidade no
território, em 2019 através da parceria com o PRMSC/URCA, foi promovida a I Mostra
de Saberes e Cuidados Territoriais, com a participação de mezinheiras, benzedeiras,
cordelistas, grupos culturais de Maneiro Pau e Mulheres coqueiras. O objetivo da mostra
foi promover reflexões e discutir as práticas de saúde que defendam a vida, a educação
popular com foco em um cuidado amplo e o planejamento participativo dos serviços
oferecidos, impactando positivamente na qualidade de vida da comunidade.
Em 2020, organizada pela ESF Baixio das Palmeiras houve a II Mostra de
Saberes e Cuidados territoriais dentro do evento V Fórum Nacional de Diálogos e
Práticas Interprofissionais em Saúde (FONDIPIS), uma parceria entre a Rede Unida e a
URCA, que se propôs a reunir usuários/as do SUS, estudantes, profissionais da área da
saúde e organizações da sociedade civil para debater propostas assistenciais efetivas no
âmbito do SUS de forma interprofissional. Além disso, buscou promover espaços que
possibilitem a discussão acerca dos desafios e das perspectivas relacionadas ao
fortalecimento do SUS, no intuito de estimular uma visão crítica e reflexiva sobre a
temática abordada.
55

A atuação do Conselho Local de Saúde do Baixio das Palmeiras também se fez


presente durante a pandemia do COVID-19, com o Projeto “EPI solidário” uma
articulação entre a ESF Baixio das Palmeiras, PMRSC/URCA e costureiras da
comunidade. A partir da atuação do referido projeto, foram confeccionadas pelas
costureiras, de forma voluntária, e distribuídas nas nossas UBS, cerca de 2.500 máscaras
de tecido para a população de maior vulnerabilidade da localidade. Nesse sentido, o
projeto também possibilitou que pudéssemos ser contemplados com o edital do Fundo
Baobá para Equidade Racial, revertido em um valor financeiro de R$ 1.500,00 que
oportunizou a aquisição de kits de higiene pessoal, material para confecções das
máscaras, carro de som para divulgar as medidas protetivas, dentre outras ações de
fortalecimento ao combate à COVID-19 no território.

Existe um potencial imenso a ser alcançado através da articulação entre a


participação e o controle social e a Atenção Primária à Saúde no Brasil, que deve ser
fomentado e consolidado através de políticas públicas fortes. Muitos são os desafios a
serem reconhecidos e enfrentados, mas a potência que emana da articulação ensino-
serviço-comunidade-gestão é relevante, necessária, grandiosa e merece ser fortalecida.

Para conhecer mais...


Para que vocês possam conhecer um pouco mais das nossas experiências
desenvolvidas e se aproximarem de tudo o que experienciamos e vivenciamos,
disponibilizamos o relatório geral do projeto, com fotos das atividades, links de
documentários, nossas redes sociais, projetos e eventos que participamos que trata do
percurso metodológico que utilizamos para consolidarmos tudo o que produzimos em
parceria com a comunidade. Será uma alegria nos conhecermos:

bit.ly/CLSBaixio
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Espaços de Educação Popular e Saúde no fortalecimento do SUS e da


Democracia: o Encontro Nacional de Educação Popular e Saúde e a Tenda
Paulo Freire
Rio de Janeiro/RJ - Brasil

Grupo Temático de Educação Popular e Saúde da Associação Brasileira de Saúde


Coletiva

Luanda de Oliveira Lima - Mestra em Sociologia e Antropologia e Doutoranda em Saúde Coletiva -


luanda.ol@gmail.com; Sônia Acioli - Doutora em Saúde Coletiva e Professora Associada da Faculdade de
Enfermagem da UERJ - soacioli@gmail.com; Renata Pekelman - Mestre em Educação e Médica de
família e comunidade, especialista em práticas pedagógicas nos serviços de saúde - UFRGS -
renatapek@gmail.com; Vera Lucia de Azevedo Dantas – médica e Doutora em Educação -
dantas.verinha@gmail.com; Helena Maria Scherlowski Leal David - Doutora em Saúde Pública e
Professora titular do departamento de enfermagem de Saúde Pública da Faculdade de Enfermagem da
UERJ - helenalealdavid@gmai.com.

Introdução

A Educação Popular e Saúde consolida-se como espaço de produção crítica de


saberes e práticas onde os conhecimentos sobre Saúde em suas várias vertentes são
construídos no diálogo teórico e metodológico com outras áreas como Educação, Ciências
Sociais, Direitos Humanos. A integração entre saberes científico e popular e entre
iniciativas de pesquisadores, técnicos e pessoas de movimentos e práticas populares, no
campo da Educação Popular e Saúde, tem resultado na construção compartilhada de
soluções extremamente criativas e mobilizadoras na saúde e na participação social. Nesse
sentido, permite a formação de espaços de construção compartilhada, fortalecimento do
SUS e da democracia, como os Encontros Nacionais de Educação Popular e Saúde
(ENEPS) e as Tendas de Educação Popular Paulo Freire (Tendas).
Os espaços de educação popular, como os Eneps e as Tendas, são espaços de
construção compartilhada de conhecimento, que promovem encontros entre atores
diversos do campo da saúde: participantes de movimentos sociais e populares;
pesquisadores; estudantes; gestores e trabalhadores da saúde e da educação. O objetivo
central desses espaços é promover o intercâmbio e a construção de experiências, saberes
e práticas de educação popular e saúde nos serviços de saúde, nas escolas, nos domicílios
e nas comunidades, fortalecendo o exercício da democracia e inovando as formas de
pensar e fazer saúde.
57

Encontros Nacionais de Educação Popular e Saúde (ENEPS)


Os ENEPS iniciaram a partir de propostas centradas em iniciativas acadêmicas e de
formação em saúde que buscavam o diálogo com movimentos e práticas populares. O
primeiro ENEPS, no ano de 1991, em São Paulo, gerou um rico processo de interação e
troca de experiências entre educadores populares, contudo ainda foi um encontro restrito.
Os encontros seguintes passaram a ser cada vez mais participativos em número e
diversidade de atores sociais, ampliando a participação para profissionais de saúde,
pessoas dos movimentos sociais, cuidadores tradicionais, estudantes e outros. O segundo
ENEPS foi realizado em conjunto com o “II Seminário sobre Educação Saúde no
Contexto da Promoção da Saúde: seus sujeitos, espaços e abordagens”, em 2001, na
Universidade de Brasília. O terceiro foi em 2007, na Universidade Federal de São Carlos
(SP), e o quarto em conjunto com o I Seminário Nacional da Aneps, no ano de 2009, em
Caucaia, Ceará. O V ENEPS foi em 2012, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em 2020, após oito anos de intervalo, o VI Eneps abordou o tema “Caminhos para a
democracia, a autonomia e o Bem viver” e ocorreu entre os dias 06 e 09 de fevereiro de
2020, na Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Parnaíba/PI, afirmando a Educação
Popular em Saúde - EPS como ambiente de resistência, de reflexões e práticas que
aprimoram e contribuem para a democratização do espaço público e de construção e
defesa do SUS.
O Encontro realiza-se na perspectiva de promover a construção compartilhada e o
diálogo entre pesquisadores, gestores, movimentos sociais e pessoas dos serviços sobre
as condições de saúde da população brasileira a partir do paradigma da Determinação
Social da Saúde, da equidade, da solidariedade, da amorosidade, do respeito à vida e à
dignidade das pessoas, valorizando o saber e cultura populares. O evento oportuniza a
avaliação crítica e propositiva das políticas e experiências em relação à melhoria da saúde
da população brasileira e à redução das desigualdades sociais em saúde.

Tendas de Educação Popular Paulo Freire (Tendas)


As Tendas de Educação Popular Paulo Freire (que tradicionalmente levam o nome
do patrono da Educação, mas podem receber outros nomes, como Maria Felipa) são
iniciativas que nascem da necessidade de democratização e pluralização dos Congressos
de Saúde Coletiva, que no ano de 2006 foi marcado pelo movimento “Abraço a Abrasco”
58

que nasce na Tenda e culmina em uma ação na plenária final demandando espaços mais
plurais de discussão e valores mais acessíveis para a inscrição no Congresso.
Desde então, as Tendas Paulo Freire têm se constituído como espaços democráticos
nos Congressos de Saúde e Educação, assim como Conferências de Saúde pelo Brasil,
Congressos de Categorias, de Estudantes e de Extensão. No âmbito dos Congressos
Brasileiros de Saúde Coletiva (Abrascão), a Tenda Paulo Freire promove espaços de
reconhecimento dos saberes populares de saúde e de diálogo com os movimentos sociais
e populares locais, dos que estão às margens dos espaços de decisão. A Tenda tem como
objetivo democratizar os espaços de discussão sobre saúde, saúde coletiva na constituição
de orientações teórico-metodológicas, políticas públicas, pesquisas, dentre outros.

Participação
Nas 6 edições do Eneps estiveram envolvidas na organização a Abrasco,
Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde (Aneps),
Movimento Popular de Saúde (Mops), Rede de Educação Popular (RedePop), Ministério
da Saúde, Fiocruz, dentre outras organizações e grupos do movimento de educação
popular brasileiro (Educadores, Estudantes, Gestores, Cuidadores, Curandeiras,
Parteiras), suas várias práticas e experiências. Além das entidades mencionadas,
comissões locais compostas por representantes dos diversos grupos citados e outros
movimentos sociais, protagonizaram a organização dos encontros. Cada uma das edições
recebeu entre 300 e 900 participantes. Em sua edição mais recente participaram mais de
300 pessoas, de todas as regiões do país. As experiências e reflexões sobre as estratégias
de ação do movimento de Educação Popular em Saúde foram partilhadas em vivências,
oficinas, rodas de conversa e muito mais.
Assim como os ENEPS, as Tendas contam com o protagonismo do GT de EPS da
Abrasco, Aneps, especialmente dos núcleos regionais, Mops, RedePop. Dentre os grandes
apoiadores destaca-se a própria Abrasco, o Ministério da Saúde, a Fiocruz, os Conselhos
Nacional e Estaduais de Saúde, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra
(MST), Movimento das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN), Central de
Movimentos Populares (CMP), dentre outros. Buscam ainda acolher trabalhadores de
saúde do nível técnico, participantes de movimentos sociais, usuários do SUS,
representantes de Práticas Populares de Saúde.
As Tendas têm um público bastante flutuante, entre congressistas, delegados
(quando em Conferências), pessoas dos movimentos sociais, dentre outros, dividindo-se
59

entre aqueles que sabem exatamente a programação da Tenda e aqueles que passam e
ficam pois se interessam pelas atividades. Em sua última edição, em 2022, estima-se que
recebeu cerca de 100 participantes por dia.

Como fazer / Metodologia dos encontros


Buscando construir espaços acolhedores, que promovam o diálogo e a troca entre
todos os participantes, os Eneps e as Tendas são organizados majoritariamente em rodas
de conversa e de diálogo, com questões disparadoras apresentadas por pessoas convidadas
ou pelos apresentadores de trabalhos que previamente inscrevem suas experiências,
vivências e pesquisas.
O ENEPS é um espaço para mediação do diálogo entre as práticas e coletivos de
EPS de todo o território nacional, sendo assim, a organização é feita por uma comissão
organizadora nacional composta por representantes de vários movimentos e coletivos e
se divide em 4 subcomissões: de Comunicação e Mobilização - responsável pela
organização do site e sistema de inscrição de trabalhos, divulgação e mobilização; de
Trabalhos - responsável pela proposição das regras de submissão dos trabalhos nos eixos
temáticos, análise e distribuição dos mesmos nas rodas de conversa; de Cultura -
responsável pela organização das atividades culturais com o propósito de serem
provocadoras e sistematizadoras das reflexões; e a Local - responsável por toda
articulação e organização da logística e dos apoios necessários para a realização do
encontro. A arte e a cultura protagonizaram a proposta pedagógica do encontro, criando
momentos de problematização e de síntese diariamente com e pelos participantes, sempre
tendo como horizonte os desafios e a atuação do movimento de EPS.
As Tendas Paulo Freire são organizadas de maneira similar, iniciando com a
articulação das comissões nacional e local, que planejam a programação, articulam o
espaço com a comissão de organização do congresso e com os movimentos, coletivos e
práticas participantes. A decoração das tendas é parte importante do processo de
construção do espaço e ocorre no primeiro dia do encontro, em formato de roda é
construída uma mandala com elementos locais e de importância para os participantes, que
ocupam todo o espaço, inclusive as laterais das tendas. Sempre com rodas de conversa,
intervenções culturais e construção compartilhada, os participantes circulam livremente
nesse espaço, coletivo desde a sua concepção. Ao longo das atividades, a Tenda vai se
articulando com outros espaços do congresso.
60

Do ponto de vista metodológico, ambos espaços trazem a possibilidade de tessitura


da convivência de coletivos e atores populares, suas culturas e saberes, por meio de rodas
dialógicas, nas quais, em geral, a uma breve análise de conjuntura se segue a produção
do diálogo e o registro de sua síntese. A dimensão da cultura popular e suas diversas
expressões é incorporada a estas rodas, e busca romper com o risco do utilitarismo, de
"usar a arte" para educar. A dinâmica dos encontros é planejada coletivamente, nada se
produz num espontaneísmo simplista, mas há tempo e lugar para a espontaneidade e
alegria autênticas.
Paralelamente são organizadas vivências com movimentos populares locais. No VI
Eneps essas vivências foram chamadas de itinerários do saber, onde as pessoas presentes
puderam visitar espaços culturais e de cuidado do território, como o Herbário
Universitário, a colônia de pescadores, as casas das Marisqueiras.
Do ponto de vista técnico e político, a experiência dos espaços de educação popular
são sustentáveis e fomentam a participação plural, possibilitando a troca a partir de
vivências e perspectivas diversas e por vezes opostas. Ao envolver atores locais, de
movimentos sociais e pesquisadores na organização dos encontros nacionais ou no debate
sobre políticas e cuidado em saúde com pessoas e pesquisadores de outros territórios
fomentamos a formação associada à prática, fomentando a práxis freireana.
Embora os espaços de educação popular sejam mais ricos e vigorosos quando
contam com a participação de pessoas de diferentes territórios e seja interessante o apoio
financeiro e estrutural, com alimentação por exemplo, eles são iniciativas de baixíssimo
custo, que dependem basicamente da reunião de atores e atrizes interessados, facilitação
e planejamento compartilhado.
Para o sucesso desses espaços, o fundamental é o diálogo entre o movimento social
local e nacional, as comissões organizadoras da Tenda e do Congresso (local e nacional),
priorizando a diversidade de vozes com suas vivências, seus saberes e sabores, sem
hierarquizar posições, convergindo para indignação diante das condições históricas que
reproduzem opressões e desigualdades em saúde no país. Reafirma-se, a cada encontro,
a potência das respostas coletivas, produzidas em diálogo e solidariedade, para enfrentar
situações-limite.

Resultados
A construção de novas experiências, vivências, pesquisas, espaços de articulação e
redes é o principal resultado dos espaços de Educação Popular e Saúde aqui relatados,
61

onde conhecimentos, práticas e tecnologias apresentados resultam em melhoria nas


práticas de cuidado e na saúde da população brasileira e no aprimoramento das iniciativas
de participação e controle social, contribuindo também para a tomada de decisões na
definição de políticas e no planejamento em saúde.
Como fruto dos Eneps, observamos a organização de importantes espaços de
participação e educação popular, como a Rede Nacional de Educação Popular (atualmente
RedePop), a Aneps, a Anepop, o Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde
(CNEPS), todos nascem do diálogo e trocas nos Encontros.
Observamos que esses espaços se multiplicam ao longo dos anos, reforçando a
perspectiva de um movimento que nutre a si mesmo e que alimenta o crescimento de
espaços irmãos, com propostas iguais ou similares. Assim como a consolidação de ações
que revigoraram o movimento nacional de Educação Popular e Saúde, os Eneps e as
Tendas foram os espaços de construção de políticas públicas como a Política Nacional de
Educação Popular e Saúde no âmbito do SUS (PNEPS-SUS), Projetos de Extensão
Universitária e ações afirmativas em Congressos. Outro importante impacto é o
fortalecimento dos movimentos locais, fomentando a EPS nas formas diversas de
construir saúde. As propostas e possibilidades frutificam na troca franca e respeitosa,
fortalecendo a importância e os espaços de participação social, inclusive a realização do
VI Eneps, em 2020, foi um desdobramento das discussões na Tenda, em 2018.
A Tenda Paulo Freire promove um espaço de diálogo entre os participantes, pois se
mantém aberta para quem quiser participar. Logo, os espaços de educação popular em
saúde também se constituem como ferramentas poderosas para promover a participação
social, reduzindo os distanciamentos entre serviço de saúde e usuário, entre gestor e
trabalhador em saúde, entre políticas públicas e população. A promoção de espaços
compartilhados e coletivos, pautados na lógica freireana, amplia a visibilidade de atores
que, usualmente, estão fora dos processos de discussão e decisão, ou por desinformação
ou por limitação de acesso, amplia também sua participação, não só como ouvintes mas
como produtores de conhecimento.
Como são espaços construídos coletivamente e de forma compartilhada, as práticas
de promoção desenvolvidas são replicáveis em outros espaços, necessitando de adaptação
para os novos contextos e realidades. Além da composição das comissões com entidades
e pessoas representativas, deve-se atentar para a promoção do diálogo horizontal e da
construção compartilhada dos saberes entre atores tão diversos, como pesquisadores,
gestores, agricultores, parteiras, pessoas dos movimentos sociais.
62

Para conhecer mais...


Os Espaços de Educação Popular apresentados têm uma longa trajetória ao longo
dos últimos 30 anos e por essa razão há um acervo disperso de notícias e publicações.
Para conhecer mais o trabalho e as estratégias de mobilização e participação apresentadas,
recomendamos visitar a página do Grupo Temático de Educação Popular e Saúde e
disponibilizamos os anais do III e do V Eneps.

bit.ly/TendaPauloFreire

Agradecimentos
Gostaria ainda de ressaltar que vários outros membros do GT participaram dessa
construção. E os cito aqui nominalmente: Grasiele Nespoli; José Carlos da Silva; José
Ivo dos Santos Pedrosa; Marcos Aurélio Matos Lemões; Maria Rocineide Ferreira da
Silva; Maria Waldenez de Oliveira; Osvaldo Peralta Bonetti; Pedro Cruz; Theresa
Siqueira; Vanderleia L. Pulga.
63

Projeto de Desenvolvimento de Práticas Inovadoras Aplicadas ao Conselho


Estadual de Saúde do Espírito Santo

Vitória/Espírito Santo - Brasil

Juliana Vieira Wahl Pereira; Ana Clara Fraga; Alexandre de Oliveira Fraga; Ednéa Harckbart; Caique
dos Santos Pereira; Mariana Pereira Monteiro (participacaosocial.icepi@saude.es.gov.br)

Introdução
O Conselho Estadual de Saúde do Estado do Espírito Santo (CES/ES) é um
órgão colegiado de caráter permanente e deliberativo, com funções de formular
estratégias, controlar e fiscalizar a execução da política estadual de saúde. Composto
por representantes de trabalhadores da saúde, gestores públicos, prestadores de
serviços de saúde e usuários do sistema, este espaço vocaliza a participação da
sociedade na gestão do Sistema Único de Saúde. Apesar dos conselhos de saúde serem
parte da conquista da participação popular na gestão do SUS, por si só, a existência
destes espaços não garante a efetividade do controle social sobre as políticas de saúde.
Tal processo requer habilidades de mobilização e fiscalização, que muitas vezes não
são repassadas aos atores sociais quando começam a atuar nos conselhos. Diversas
pesquisas brasileiras sobre participação social na saúde demonstram que existem
dificuldades em implementar ações coletivas qualificadas nestes espaços, e o processo
decisório tem sido insuficiente. No caso do estado do Espírito Santo não é diferente.
Visando enfrentar esta realidade, atores sociais envolvidos no controle social
do SUS capixaba, passaram a reivindicar junto a Secretaria Estadual de Saúde, a
composição de uma assessoria técnica para o desenvolvimento de ações de
comunicação, pesquisa e educação permanente no âmbito do Conselho Estadual de
Saúde, assim como apoiar o exercício da participação popular desenvolvidas nos
Conselhos Municipais de Saúde.
Atendendo a esta demanda, surge o Projeto de Desenvolvimento de Práticas
Inovadoras para Qualificação da Participação Social na Saúde - PDPi/CES, fruto de
uma parceria do Conselho Estadual de Saúde e o Instituto Capixaba de Ensino
Pesquisa e Inovação - ICEPi, instituto de ciência e tecnologia criado em 2019. Tal
projeto tem como objetivo desenvolver atividades de ensino, pesquisa e inovação
voltadas à participação social no SUS no estado do Espírito Santo, tendo o Conselho
Estadual de Saúde como instituição protagonista, e apoiar os Conselhos Municipais
64

de Saúde nos 78 municípios capixabas através do desenvolvimento de atividades junto


aos conselheiros de saúde, secretários executivos e outros atores sociais.
Aspirando a eficácia e qualidade dos serviços prestados, em um primeiro
momento o projeto debruçou-se a desenvolver o Diagnóstico Situacional Interno do
CES/ES. A partir dos resultados da análise das atas das reuniões do colegiado e
relatórios das reuniões das Comissões e Comitês Intersetoriais, no período de
setembro de 2021 a outubro de 2022, foi possível identificar a baixa efetividade das
propostas realizadas pelos conselheiros e atores sociais envolvidos no controle social
do SUS capixaba, além de uma dificuldade de diálogo e construção de planos
conjuntos entre os diversos atores que compõem os conselhos de saúde, sobretudo
entre os representantes dos setores de usuários, trabalhadores e prestadores de
serviço/gestores do SUS. Tais observações estão em consonância com a ampla
bibliografia sobre a temática.
Um grande desafio a ser superado pelos conselhos de saúde diz respeito à crise
de representação e a dificuldade de “tornar a ausência presente”, ou seja, há
muita dificuldade em fazer com que os diferentes interesses dos usuários e
trabalhadores do SUS sejam abrangidos neste espaço, e que o processo decisório seja
qualificado. Dificuldades semelhantes foram observadas nos colegiados municipais
durante as oficinas de escuta realizadas pelo projeto que ocorreram nas regiões de
saúde do Estado do Espírito Santo.
A partir dos resultados dos levantamentos, o PDPi/CES desenvolveu um plano
de trabalho que respondesse às reais necessidades dos conselhos de saúde, ao passo
que capacita os diversos atores sociais do controle social do SUS capixaba. Com
objetivo de fortalecer o controle social do SUS em todo o Espírito Santo, atuando no
processo de democratização do Estado, na luta pela garantia de direitos sociais, na
participação da população nas políticas públicas de saúde e reafirmação do caráter
permanente e deliberativo dos conselhos de saúde como espaços legítimos de decisão
sobre as políticas de saúde, a proposta busca a qualificação da participação social na
formulação, gestão e controle da política pública de saúde, o fortalecimento dos
conselheiros de saúde como sujeitos representantes da sociedade, o desenvolvimento
de estratégias de promoção e troca de de experiências sobre o controle social no
Sistema Único de Saúde e a inserção de ferramentas de comunicação que
democratizam o acesso às discussões promovidas pelo conselho estadual de saúde pela
população capixaba.
65

Desta forma, o projeto tem realizado pesquisas sobre temáticas para subsidiar
os debates que ocorrem dentro do conselho estadual de saúde, debates e eventos sobre
questões relevantes para a saúde pública no Espírito Santo, ações educativas para a
capacitação dos conselheiros e atores sociais para o fortalecimento do controle social,
e ainda, um projeto de comunicação que visa divulgar as ações dos conselhos de saúde
por meio de redes sociais.

Metodologia/Desenvolvimento
Tendo como eixos principais a análise de políticas públicas a formação de
conselheiros de saúde e atores sociais e a comunicação social, o PDPi/CES, conta
atualmente com uma equipe de sete bolsistas, entre o coordenador do projeto, duas
analistas de políticas sociais, uma analista de projeto, uma jornalista e dois técnicos
de mídias sociais. Para potencializar o eixo de educação permanente para o controle
social no SUS capixaba, está previsto a ampliação de equipe, com a contratação de
quatro tutores e/ou tutoras, que atuarão nas diferentes regiões de saúde do estado, bem
como um supervisor de projetos.
No tocante às parcerias, por ser um projeto do ICEPi, o instituto tem como
parceiros estratégicos a Rede Unida e a Organização Pan Americana de Saúde
(OPAS), e ainda, uma parceria direta a Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), onde tem realizado interlocução com núcleos das áreas de Política Sociais e
de Comunicação, com objetivo mapear e analisar os impactos da cultura digital sobre
os atores sociais nos conselhos de saúde, e como eles comunicam os processos de
participação social em que estão envolvidos. Por outro lado, conta com o apoio direto
da Mesa Diretora e Secretaria Executiva do Conselho Estadual de Saúde, Conselhos
Municipais de Saúde e também da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
O projeto é guiado pelo Plano de Trabalho desenhado e destrinchado em cinco
vertentes, sendo elas: 1 Diagnóstico Situacional Interno do CES/ES; 2
Assessoramento de comissões e comitês do CES/ES; 3 Educação Permanente para o
controle social do SUS capixaba; 4 Comunicação; 5 Ciência de dados. As ações são
ancoradas nos pilares do ensino, pesquisa e inovação, trabalhando de forma horizontal,
com escuta, acolhimento das demandas e intervenções que objetivam a qualificação,
bem como a autonomia dos atores impactados/envolvidos.
Nesse contexto, foi realizado o diagnóstico situacional interno do CES, no qual
a equipe do projeto promoveu uma oficina de planejamento estratégico aos
66

conselheiros estaduais de saúde e membros da mesa diretora do CES para apresentar


os resultados da pesquisa, engajar os atores sociais na efetiva participação no espaço
do conselho, bem como fomentar a elaboração de propostas de reorganização do
espaço com embasamento teórico dos resultados explanados. É importante evidenciar
que a pesquisa preliminar do projeto convergiu com os estudos relatados pela Profª
Dra. Ana Targina Ferraz que coordena o Núcleo de Estudos em Movimentos e Práticas
Sociais (NEMPS) vinculado ao Departamento de Serviço Social da UFES durante o
evento. Destaca-se que atualmente, o núcleo tem se dedicado a pesquisar o papel do
controle social no fortalecimento do SUS através de estudo de caso no Conselho
Estadual de Saúde do Espírito Santo através de uma pesquisa documental
Paralelamente, dentro do escopo do projeto também há elaboração de um
subprojeto de Educação Permanente voltado para o controle social do SUS capixaba.
Este foi construído de maneira coletiva considerando que foram feitas oficinas de
escuta nas regiões de saúde do estado, com levantamento de demandas e problemas
enfrentados nos conselhos municipais de saúde, utilizando a metodologia crítica
problematizadora e a metodologia ativa. Foram realizadas quatro oficinas regionais,
entre agosto e setembro de 2022, que alcançaram a participação de 92 atores sociais
de 38 municípios. As oficinas foram desenhadas com dinâmicas e atividades
participativas e tinham como objetivos engajar a participação social no SUS, avivar a
defesa do SUS, levantar os principais temas a serem abordados em futuras
capacitações, acolher as situações levantadas e orientar a necessidade dos estudos em
saúde na rotina de funcionamento dos espaços de participação popular. Ou seja, o
desenho da oficina foi pensado de tal maneira para que os resultados da mesma
subsidiassem a escrita do projeto de educação permanente para o controle social do
SUS capixaba. Além disso, sua construção advém das diretrizes da Política Nacional
de Educação Permanente para o Controle Social no Sistema Único de Saúde -
PNEP/SUS, bem como outros referenciais teóricos encontrados na literatura
científica.
Todos os trabalhos realizados nessa vertente do projeto foram estruturados
buscando o desenvolvimento da leitura crítica da realidade, a construção coletiva de
conhecimentos, considerando saberes e vivências dos sujeitos. Assim, fortalecemos o
vínculo com os participantes, estimulamos a interação e o diálogo durante as oficinas
e conseguimos mobilizar os atores sociais, como expressado pelos mesmos segundo
nos formulários de avaliação das capacitações. Dessa forma, é possível afirmar que o
67

projeto busca sensibilizar os atores sociais e o fortalecimento do SUS via publicitação


das atividades do CES, ações educativas e apoio técnico.
No que tange a comunicação é relevante contextualizar a demanda pela área
durante a crise sanitária de 2020. A pandemia trouxe uma nova realidade em todos os
setores e os Conselhos de Saúde também tiveram que se organizar com uma nova
forma de participação. As plenárias virtuais e reuniões online vieram para ampliar o
debate, e através da utilização das redes sociais os resultados alcançados a curto prazo
foram bastante expressivos para o CES. A comunicação do PDPi/CES oficializou as
redes sociais do Conselho Estadual de Saúde, o que possibilitou um acesso rápido às
informações de interesse popular, ao passo que dá visibilidade para o trabalho do CES,
como por exemplo em trabalhos de cobertura audiovisual de eventos com foco na
participação social na saúde do Estado do Espírito Santo e criação visual dos materiais
gráficos para eventos como: vídeos, crachás, programação e banners.
Por fim, considerando que o projeto PDPi/CES é recente, tendo menos de um
ano de implementação, vale frisar que o mesmo se encontra em desenvolvimento, com
previsões de melhorias e constantes implementações de estratégias inovadoras.
Resultados
Apesar de recente, o projeto já tem mostrado resultados nos espaços de
participação popular capixaba, com mais de uma centena de atores sociais impactados.
Por ter uma subdivisão em vertentes diferentes, é possível trabalhar em diferentes
frentes para a mobilização e qualificação da participação social.
Através das pesquisas realizadas para o diagnóstico interno do CES/ES,
seguida da oficina de planejamento com os atores do conselho, o projeto desenvolveu
uma proposta de mudança do Regimento Interno do Conselho que foi acatada
juntamente à mesa diretora do conselho. A perspectiva é que essa movimentação possa
favorecer uma mudança cultural do espaço e comportamental dos conselheiros, de
forma mais participativa, visto que objetivamos a participação qualificada dos
conselheiros de saúde nas atividades cotidianas, o que perpassa a construção de
debates sobre as diversas temáticas de saúde, no âmbito dos comitês e comissões. Com
o novo regimento, os conselheiros terão como atividade obrigatória a participação
nestes espaços dos comitês e comissões para que continuem representando sua
entidade no conselho.
Desta forma, ao promover a assessoria técnica aos Comitês e Comissões
Intersetoriais do CES, a equipe do PDPi/CES promove estudos, pesquisas e análises
68

sobre temas relacionados à saúde, propiciam discussões qualificadas, apoio na


construção de documentos, organização de ciclos de debates, seminários, oficinas,
entre outras atividades para efetividade dos trabalhos desses espaços.
No desenvolvimento do eixo Educação Permanente para o Controle Social,
atuamos junto ao Conselho Estadual e Conselhos Municipais de Saúde, em especial
na oferta nos territórios de capacitação básica aos conselheiros de saúde e demais
atores sociais. Tais atividades são desenvolvidas desde o início do projeto, de forma
periódica, visto que trata-se de uma demanda constante dos municípios.
Na próxima fase do Projeto de Educação Permanente para o controle social
do SUS capixaba, com a atuação do supervisor e tutores regionais, serão
desenvolvidas além das capacitações básicas já em curso, capacitações voltadas aos
secretários e secretárias executivas dos CMS, capacitações temáticas e capacitações
voltadas ao processo de análise dos instrumentos de planejamento e gestão do SUS.
Além disso, o projeto prevê apoiar todas as atividades educativas desenvolvidas pelo
CES/ES. Com atividades desenvolvidas de forma híbrida, tanto online, quanto
presencial, o projeto de educação permanente tem a perspectiva de que todos os
conselheiros e atores sociais do municípios capixabas participem das atividades
educativas, impactando 100% dos conselhos municipais do estado.
A vertente da comunicação foi pensada para dar notoriedade às atividades
desenvolvidas pelo Conselho Estadual de Saúde do Espírito Santo e pelos conselhos
municipais, reafirmando, com mais ênfase, a importância estratégica das ações de
comunicação para garantir a participação popular através de três pilares: informação,
comunicação e participação. A equipe de comunicação vêm atuando para cumprir essa
demanda, com a criação de nova logomarca; oficialização dos canais já existentes no
Youtube e Facebook; criação de página no Instagram; cobertura nos eventos para
criação de conteúdo digital; criação de jornal da saúde, elaborando assim, uma rede
com informações para os 78 Conselhos Municipais do Espírito Santo; e ainda, a
construção do site do Conselhos Estadual de Saúde, consolidando uma identidade
própria e avançando para além de uma aba no site da Secretaria de Estado da Saúde
do Espírito Santo .
Por último, o projeto trabalha com a avaliação em formulário online, sem
obrigatoriedade de identificação, em todas as suas atividades, permitindo à equipe
conhecer a opinião dos participantes, críticas e sugestões de melhorias. Por outro lado,
encontra-se em fase de construção uma pesquisa a ser desenvolvida junto aos
69

Conselhos Municipais de Saúde com vistas a conhecer seu processo de organização,


estrutura, composição e efetividade de suas ações. Seus resultados permitirão uma
melhor construção de estratégias de apoio da equipe do PDPi/CES a estes espaços, e
assim, melhorar o desempenho da participação popular no SUS do Espírito Santo. Isto
é, criamos um formulário de avaliação e ao final das atividades executadas pelo
projeto, enviamos e solicitamos que todos preencham e participem do momento de
avaliação, para que assim, a equipe esteja sempre reavaliando suas ações e buscando
melhorias.

Para conhecer mais...


Para que vocês possam conhecer um pouco mais do nosso trabalho,
disponibilizamos nossas redes sociais.

bit.ly/ConselhoES
70

Consolidación Estructura Social en Salud en el Marco del Modelo de la


Gestión participativa en salud de la Politica Nacional de Salud

Estado Plurinacional de Bolivia

Servicios de Salud Departamentales (SEDES) de Cochabamba

Julio Pedroza Toribio, Asesor de Servicios de Salud en la Organización Panamericana de la Salud


(pedrozajul@paho.org), Wilfredo Terrazas Ortuño (terrazawil@paho.org), Osman Calvimontes, Diretor
nacional do programa “Mi Salud”. Ramiro Choquehuanca;

Introducción
En Bolivia, se ha implementado la política de Salud Familiar Comunitaria e
Intercultural (SAFCI) desde 2009, basada en la estrategia de Atención Primaria de Salud.
Para su implementación y desarrollo, la política nacional de salud establece un modelo
de gestión participativa en salud y un modelo de atención de servicios de salud. El modelo
de gestión participativa en salud se aplica a nivel local, municipal, departamental y
nacional.

Figura 1. Macroestrutura da Gestão Participativa na Bolívia

Fuente. - Salud Familiar Comunitaria Intercultural Documento Técnico Estratégico


71

Figura 2. Atores da Participação Social em Saúde na Bolívía

Fuente. - Salud Familiar Comunitaria Intercultural Documento Técnico Estratégico

El modelo de gestión participativa en salud en Bolivia implica la creación de


espacios de representación y participación territorial, en los cuales las comunidades
urbanas y rurales, incluyendo agrupaciones locales, municipios, departamentos y a nivel
nacional, eligen representantes para conformar los Consejos Sociales de Salud (a nivel
municipal, departamental y nacional). Estos representantes son seleccionados a partir de
propuestas de diversas organizaciones sociales, como la Confederación Sindical Única de
Trabajadores Campesinos de Bolivia (CSUTCB), la Confederación Sindical Única de
Mujeres Campesinas (Bartolina Sisa), la Confederación Obrera de Bolivia (COB), la
Confederación Nacional de Marchas y Ayllus del Collasuyo (CONAMAQ) y la
Confederación de Indígenas del Oriente Boliviano (CIDOB).
Estos Consejos Sociales de Salud también son responsables del control social de
los servicios de salud. Sus miembros participan en la planificación, monitoreo y
evaluación de los servicios de salud en su ámbito. Un hito importante son los Comités de
Análisis de Información (CAI), que se llevan a cabo anualmente. Los temas de mayor
relevancia se remiten a los niveles superiores, incluyendo el nivel nacional, para ser
tratados con los Ministerios correspondientes en el Consejo Nacional.
En municipios como Villa Tunari e Ivirgazama, los pobladores indígenas
quechua/aymaras y del trópico tienen una representación significativa. En los municipios
72

de la red Cuenca Poopo en el Departamento de Oruro, los representantes en la estructura


social son mayoritariamente indígenas aymaras.
Aunque el modelo de gestión participativa en salud se ha implementado en Bolivia
durante más de una década como parte de la política SAFCI, la calidad y efectividad de
la participación en la gestión varía considerablemente y, en muchos casos, es débil.
Además, su aplicación se ha ampliado con la aprobación de normativa legal a nivel
nacional, como la Ley de Participación y Control Social N° 341.
El objetivo del proyecto era fortalecer la organización de la estructura social en
salud, incluyendo los Consejos Municipales, Departamentales y Nacional, para lograr una
participación más efectiva en la implementación de programas y políticas de salud
pública. Se buscaba especialmente garantizar la gratuidad y el acceso equitativo a los
servicios de salud para la población indígena, tal como lo establece el Sistema Único de
Salud. Como resultado, se logró consolidar la formación de gestores comunitarios en
salud a nivel local, municipal, departamental y nacional, a través de instituciones
académicas reconocidas, como las Escuelas de Salud.

Metodología/Desarrollo
Se llevaron a cabo "Cumbres de Salud Indígena" tanto en la zona del trópico como
en el altiplano. Como resultado, se generaron productos que incluyeron un diagnóstico de
la situación y un plan de desarrollo de redes indígenas de salud, los cuales destacaron el
enfoque intercultural y la integración de la medicina tradicional. Además, se reconstruyó
el Consejo Social Nacional de Salud (COSONASA) con la participación de todas las
organizaciones sociales pertenecientes al pacto de unidad. Se brindó capacitación a los
representantes de los Consejos de Salud para mejorar su participación en los Comités de
Análisis de Información (CAI), así como en las reuniones de gestión a nivel municipal y
departamental, con el objetivo de lograr una participación más efectiva.

Resultados
Se ha logrado que la perspectiva específica de la salud indígena sea considerada
en la agenda de las autoridades municipales, departamentales y nacionales. Se ha
fortalecido la capacidad de participación de la estructura social en el control social y en
los espacios de gestión de salud. Después de 4 años de interrupción, se ha reconstituido
el COSONASA, y se ha establecido un enfoque estratégico sólido para el mismo. Se ha
alcanzado la mantención de reuniones regulares del COSONASA y su vinculación con
73

los COSODESA (9 departamentales). Además, se han elaborado Planes de Salud


Indígena que servirán como base para la participación social en los Comités de Salud.
El Sistema Único de Salud, que garantiza la atención universal de la salud en
Bolivia desde 2019, ha experimentado una mayor demanda y control social efectivo. Se
han logrado posicionar las demandas prioritarias de las organizaciones indígenas, como
la gratuidad y equidad en el acceso a la atención de salud, la creación de una red de salud
indígena, la incorporación de la medicina tradicional, la implementación de TeleSalud, y
la consideración de la cultura, usos y costumbres de la población indígena. Ahora, la
estructura social actúa con una mayor articulación y sinergia en sus demandas, tanto a
nivel municipal, departamental como nacional.
Con la implementación de la estructura social en todo el país, se ha abierto la
posibilidad de ampliar considerablemente las prácticas de organización y fortalecimiento
de los representantes en los comités de salud. En el futuro, se espera que el COSONASA,
como la estructura social a nivel nacional, participe en el diálogo y la discusión de
políticas de salud y sociales en los espacios del Parlamento y las Asambleas de
departamentos y municipios, avanzando así hacia un acceso equitativo y universal. Sin
embargo, existen desafíos como la alta rotación de los representantes y los limitados
recursos presupuestarios para sostener la participación social.
Para hacer frente a estas dificultades, se están implementando estrategias como
una mayor institucionalización de los planes formulados con la participación de la
estructura social. También se busca mantener un equipo nacional y departamental capaz
de capacitar rápidamente a los nuevos representantes, alineándolos con las políticas y
planes acordados. Se han aprendido lecciones importantes, como la necesidad de
fortalecer las organizaciones sociales de base, desde las cuales se eligen los representantes
para los comités de salud. Asimismo, se destaca la importancia de una mayor
participación de las mujeres en estas estructuras, ya que son quienes experimentan más
de cerca las necesidades de salud. Se recomienda garantizar un presupuesto adecuado
para el desarrollo de la participación social, en el marco del financiamiento del Sistema
Único de Salud (SUS) y la política de Salud Familiar Comunitaria e Intercultural
(SAFCI). Además, se sugiere establecer una "escuela" de formación para los
representantes de las estructuras sociales, con el fin de fortalecer su capacidad y lograr
una participación más efectiva.
Esta experiencia ha mejorado la efectividad y calidad de las funciones de la
estructura social, que previamente no contaba con estas características en las áreas
74

intervenidas. Se ha logrado posicionar al Consejo Social Nacional de Salud como una


piedra angular en la agenda de fortalecimiento del Sistema Único de Salud, reconociendo
que la participación social efectiva en salud es fundamental.

Para saber más sobre la experiencia, lo invitamos a acceder al e-book "Salud Familiar
Comunitaria Intercultural Documento Técnico Estratégico" así como al Encuentro de
Fortalecimiento del Sistema Único de Salud SUS y la Política de Salud Familiar
Comunitaria Intercultural SAFCI a través de la gestión participativa y control social en
salud, realizado en conjunto con la Organización Panamericana de la Salud.

bit.ly/MarcoBolivia
75

La participación comunitaria en salud como política pública y acción


participativa en comunidades rurales con poblaciones étnicas del
departamento del Cauca, Colombia

Cauca – Colômbia

Abelardo Jiménez C, Enf, MEP1; Marta C. Jaramillo-Mejía, Md, PhD1,2; Helena María
Cancelado, Ing, PhD (c)1,3; Delfidia Góngora, L. Educ1; Victoria González, CP1.
1
Proyecto Convocatoria 844 de 2020 Minciencias-Universidad Icesi-Universidad Libre;
2Departamento de Gestión Organizacional Universidad Icesi; 3Departamento de
Ingeniería Industrial, Universidad Icesi.
Correspondencia: abelardo65@gmail.com.

Introducción

La experiencia se desarrolló en cuatro (4) municipios del norte del departamento


del Cauca (Santander de Quilichao, Caloto, Corinto y Guachené) y dos (2) del litoral
pacífico caucano (Guapi y Timbiquí), en el suroccidente de Colombia, dos son de carácter
rural, uno rural disperso y tres son intermedios. Estos territorios son multiculturales, con
una larga historia de conflicto social, pobreza, y desigualdad social. Todos ellos son parte
de ecosistemas donde la tierra, riqueza, y los intereses públicos, privados y comunitarios
dejan una larga trayectoria de conflicto y postergación en el acceso a servicios sociales
básicos y una profunda violación de derechos individuales y colectivos relativos al
bienestar y la tierra. El proceso empezó a finales de 2020 y se extendió hasta 2023; aunque
la pandemia por Covid 19 ralentizó los procesos durante casi 12 meses. Los gobiernos
locales son los responsables de las políticas de salud y participación social y comunitaria,
con asistencia de la gobernación del Cauca. Los pueblos indígenas y afrocolombianos
tienen autoridades propias sobre las cuales descansa el deber de derechos territoriales,
denominados resguardos indígenas y consejos comunitarios.

La postergación del derecho a la salud está unida a la larga tradición de


participación marginal de las comunidades étnicas y grupos sociales excluidos del
desarrollo. Las tensiones entre comunidades rurales y servicios de salud, de
municipalidades pequeñas y rurales, además del conflicto intercultural con los
proveedores de atención y entre comunidades indígenas, afrodescendientes y campesinas,
han agudizado la vulneración del derecho a la salud. No hay herramientas y las pocas que
sobreviven son inoperantes, en el horizonte de procesos y mecanismos de participación
76

comunitaria para el empoderamiento ciudadano y el control social sobre la calidad y


acceso a los servicios de salud. El marco legal nacional exige la realización del derecho
a la salud, amparado en mecanismos de participación social en salud (ley 1751 de 2015),
y más recientemente ha definido instrumentos programáticos para promover la
participación en salud (Resolución 2063 de 2017). Pero desde 2016, cuando se firma el
Acuerdo Final de Paz, no ha habido garantías de seguridad y protección para la
participación y protesta en las poblaciones étnicas, han resurgido nuevos conflictos
sociales y se ha postergado la paz en la agenda pública nacional. La materialización de la
salud pública y de la atención integral en salud desde la estrategia de Atención Primaria
en Salud (APS) -que ha sido incluida en la ley 1438 de 2011- carece actualmente de
desarrollos institucionales que efectivicen el derecho a participar. La participación
institucional se aborda como un requisito legal, en vez de un derecho a participar para
incidir en la salud propia, a través de ejercicios colectivos internos y demandas
institucionales.

La construcción de los lineamientos de participación comunitaria en salud (PCS)


tuvo como propósito: por un lado, decantar las medidas y recomendaciones de política
para desarrollar una participación de base comunitaria, respetuosa de la institucionalidad
en salud, así como de la salud propia de pueblos indígenas y comunidades
afrocolombianas y campesinas; y, por el otro, promover las capacidades autóctonas de las
comunidades para conducir estrategias de participación con base en un diseño social
innovador para monitorear indicadores de salud claves, incentivar la participación de las
partes y tomar acciones de mejora de la salud.

Los beneficiarios directos fueron las comunidades rurales y en condiciones de


dispersión geográfica, con presencia de etnias y población afrocolombiana de los 6
municipios. Participaron involucrados del sector salud (alcaldías, direcciones u oficinas
locales de salud, Hospitales públicos, equipos de salud intra o extramurales del nivel
primario, proveedores de servicios de salud, entidades aseguradoras de salud),
representantes de mecanismos de participación en salud y de representación cívica (ligas
de usuarios, Juntas de acción comunal), delegados de los Consejos comunitarios
afrocolombianos, de cabildos indígenas y de asociaciones de campesinos, así como
líderes que representan intereses de grupos de atención especial (víctimas, usuarios
rurales de servicios, mujeres, personas mayores, jóvenes). En suma, se anexaron cerca de
150 personas de la comunidad, y 70 servidores públicos o privados. Las universidades
77

Icesi y Libre operan y financian recursos del proyecto que tiene cofinanciación del
Ministerio de Ciencia y Tecnología de Colombia (Minciencias)

Los principales beneficiados fueron las comunidades étnicas, afrocolombianas,


indígenas y campesinos. Los sabedores tradicionales, autoridades étnicas, promotores de
salud y líderes sociales de base comunitaria fueron los implicados directos en el trabajo
colaborativo.

Metodología/Desarrollo

Fase 1. Empatizando y reconociendo los activos en participación

Primero, se hizo una caracterización del perfil epidemiológico local. Se realizó un


análisis sobre conceptos, mecanismos y experiencias locales de participación en salud, a
través de encuestas de percepción, talleres creativos, grupos focales y consultas
documentales. El propósito de esta etapa fue conocer acerca de la participación en salud
desde la comunidad. Los resultados se convergieron entre investigadores, comunidades
étnicas, y los “técnicos” de salud (autoridad sanitaria, prestadores de servicios) para
mapear el estado del arte y la orientación de la participación comunitaria como objeto de
políticas públicas. Ni la legislación, ni las experiencias nacionales documentadas dan
cuenta del diseño de políticas para la PCS en la ruralidad.

Fase 2. Entendimiento de las dinámicas y experiencias participativas en torno a


problemas de salud pública

A través de sendos talleres, con proveedores de servicios de salud y líderes de


organizaciones comunitarias, se realizó la construcción de las prioridades de salud a partir
de los significados de la salud y los recursos propios de las comunidades. Las
representaciones del lado de los proveedores y de las comunidades aunque se
diferenciaron, estaban unidas por las marcas comunes a saber: ausencia de activismo
comunitario en salud, desconfianza hacia las instituciones de salud y gobierno, fuerte
influencia de determinantes sociales ambientales con intervención desmedida de actores
ilegales y de empresa privada que han generado despojo y desterritorialización de la
salud, y por último, la inaccesibilidad geográfica y cultural a los servicios esenciales de
salud. Como ingredientes potenciales para la participación se destacaron: los sabedores
de salud propia, el capital cultural de la ancestralidad, y las estructuras y organizaciones
78

propias que dan sustento a una gobernanza en salud orientada a la autogestión. Las
experiencias participativas se restringen a modos de convocatoria para informar y
consultar brigadas de salud, o a la participación autónoma en la que no toma gran
figuración los temas de salud, excepto cuando hay intervenciones externas de agencias de
cooperación o del gobierno nacional. La subsidiariedad de la gobernación del Cauca en
salud pública, está supeditada a las intervenciones de salud colectiva que excluyen la
participación como meta de salud. Aunque la mayoría de los municipios son beneficiarios
de programa de paz y en dicho proceso se construyeron espacios de consulta y
participación, los productos y cosechas para la participación en salud fueron nulos, con
la excepción de las “casas de la salud” consideradas como espacios para promover la
salud propia y el cuidado ancestral de la salud entre pobladores afrocolombianos. Dos
experiencias de participación que se documentaron, dan cuenta del valor que tienen los
agentes interculturales que ofrecen asistencia a quienes buscan atención intercultural en
las instituciones de salud. La asimilación de las estructuras burocráticas del sistema de
salud convencional, se valora como una limitación de un modelo de salud propia entre
comunidades afrocolombianas, lo cual no les permite afirmar su identidad como rasgo
distintivo del modelo de atención, y al contrario subordina dicha dimensión a las
estructuras de la provisión de servicios medicalizados.

Fase 3. Consulta y construcción de lineamientos de política de participación


comunitaria en salud para comunidades étnicas de zona rural y dispersa

Los talleres consultivos con la comunidad y las consultas con los “técnicos” de
salud sirvieron de recipiente para definir y validar los lineamientos de PCS. El proceso
empezó con el abordaje de las prioridades en salud, de lo cual se dedujo la baja densidad
de problemas de participación. Las brechas de participación para el diseño fueron: la
inexistencia de medidas que motiven la participación institucionalizada, la rigidez en los
proveedores de atención en salud para canalizar procesos de colaboración e incidencia
con las comunidades a excepción del trámite de quejas, tensiones interculturales en el
trato por el personal de salud en la entrega y trámite de servicios y, el desarrollo endógeno
de mecanismos participativos en las comunidades étnicas relacionados con la salud pero
muy al margen de verdaderos ejercicios de concertación o empoderamiento en salud.
Estos elementos fueron la base para el diseño de los lineamientos de PCS; se organizaron
las apuestas y estrategias para afirmar derechos colectivos, incidir en los determinantes
de la desconexión entre las obligaciones estatales de mejorar la accesibilidad en salud y
79

los mecanismos propios de autoorganización territorial y participación de autoridades y


líderes locales, procurando intervenciones que alentaran la construcción de vínculos
estructurales entre los agentes estatales y la comunidad.

Fase 4. Prototipando la participación desde un dispositivo de diseño social para la


ruralidad

Se delimitó un prototipo que simulara una de las medidas propuestas en los


Lineamientos de PCS, y que consideró el Monitoreo Participativo (MP) como opción
para el empoderamiento y la vigilancia comunitaria en salud. Dos fueron las fuentes. Una,
los talleres creativos que se hicieron con representantes de consejos comunitarios,
asociaciones campesinas y cabildos indígenas de 2 municipios. Y dos, la puesta en escena
del dispositivo comunitario de MP en alianza con agentes del sector salud, a través del
Comité de salud rural. El MP se prototipó en un municipio del norte y otro del pacífico
caucano para darle validez sociocultural al proceso. El curso virtual de PCS sirvió de
medio para que los agentes institucionales de salud formados tuvieran nuevos elementos
acerca de la innovación social del MP. La escenificación local del prototipo permitió que
los comités de salud reconocieran los problemas de salud expresados en indicadores de
monitoreo participativo representados en tarjetas de puntaje comunitario, y sobre éstos
definir un plan de monitoreo que permitía hacer rendición de cuentas en colaboración con
la autoridad sanitaria y los proveedores de salud.

Fase 5. Cosechando lecciones aprendidas y animando la sostenibilidad

En espacio de diálogo de políticas con el sector salud de los municipios


beneficiarios, se plantearon una serie de lecciones y desafíos, concluyendo que:

- El MP no puede descansar sobre una agenda que no institucionalice los espacios de


participación; - La promoción efectiva de la PCS debe estar legitimada en el principio
constitucional de atención diferencial para pueblos y comunidades étnicas, dejando
reflejo en los instrumentos de planeación territorial; - La financiación de la PCS, vía MP
u otros medios, debe estar soportada en un modelo diferencial de atención a la ruralidad;
- El empoderamiento de las comunidades rurales en procesos de PCS debe soportarse en
educación permanente, y en la apropiación de experiencias (mediante encuentros,
premios) donde se resignifique la salud desde los territorios; - El MP ofrece una estrategia
para corregir las brechas de rendición de cuentas mediante la creación de poder en las
80

comunidades, responsabilizando a los garantes de las necesidades de atención médica y


desarrollando mejoras y recomendaciones.

Facilitadores: Marco legal que estimula y obliga a activar mecanismos de PCS; Modelo
de salud que reclama la PCS como un rasgo propio y de la calidad de la atención en salud;
Agenciamiento de las direcciones locales de salud municipal de estrategias participativas
desde un ejercicio de aprender a hacer la participación como parte del modelo de salud;
Voluntad política de las organizaciones comunitarias y las autoridades autóctonas;
Espacios propios (Comités de salud, Consejos o Asambleas comunales) para el impulso
de la micro participación como recurso clave de incidencia en salud; Disposición al
aprendizaje y a la co-creación por parte de agentes de salud institucionales.

Barreras: Eventos que comprometían la seguridad pública y resintieron la motivación de


agentes estatales y de base comunitaria; La pandemia por Covid 19 ralentizó procesos
cara a cara y distanció a quienes requerían interacciones para construir el compromiso
entre pares y con actores externos; La ausencia de una política y un programa de
participación y/o de salud rural que invisibiliza y disminuye el atractivo de la
participación; Las reducidas y limitadas habilidades participativas de agentes
comunitarios e institucionales; La limitada experiencia de equipos extramurales de salud
y agentes de atención al usuario carente de una valoración de la etnicidad y la diferencia
cultural, que promovía una relación llana con los usuarios afros y campesinos.

Resultados

La formulación de los Lineamientos de política de PCS beneficia al conjunto de


pobladores, estimados en 182.000 especialmente afrocolombianos, indígenas y
campesinos (sumando datos censales del año 2018). - El diseño colaborativo del prototipo
de participación comunitaria en salud, que privilegió un dispositivo de monitoreo
participativo en salud, incluyó a cerca de 70 personas provenientes de comunidades
étnicas de 2 municipios. - La formación de 120 agentes de salud en el módulo de PCS
trajo consigo la nivelación y actualización para la promoción de la participación en
contextos rurales y étnicos.

Los involucrados calificaron positivamente su participación como agentes con


voz y opciones de interactuar con los proveedores de salud; destacaron la innovación del
81

MP como un medio para superar las barreras de incomunicación con el sector salud y la
posibilidad de que la salud rural sea una prioridad pública; y advirtieron los desafíos de
que una PCS auténtica no puede sino reconocer las tradiciones y formas de organización
propias de las comunidades étnicas.

- Involucramiento de representantes comunitarios y agentes del sistema de salud en la


formulación co-creadora de lineamientos de PCS, y en la prueba del prototipo de
Monitoreo Participativo como medida de política. – Compromiso de autoridad sanitaria
de 3 municipios y un Hospital público para adaptar los Lineamientos de PCS a sus
necesidades de PCS en comunidades rurales y dispersas. - Competencias desarrolladas en
120 agentes de salud institucionales sobre habilidades de PCS. - Desarrollos educativos:
Curso virtual del Módulo de PCS 20 horas en 4 sesiones. Documento Lineamientos de
política pública para la PCS; Podcast sobre participación en la ruralidad, Video de
socialización de Lineamientos de PCS; Materiales de enseñanza: Guía de participación
comunitaria en salud a nivel local, Cartilla de deberes y derechos de los ciudadanos para
ejercer el derecho a la salud, y Guía de monitoreo participativo en salud.

Para saber más...

Para que puedas conocer un poco más de nuestro trabajo, hemos puesto a tu
disposición la memoria general del proyecto, fotos de las actividades, los contenidos del
diplomado formativo, nuestro equipo de investigadores(as) y demás publicaciones de
interés, al igual que la metodología de diseño creativo de los lineamientos de
participación.

bit.ly/AccionEtnica
82

Participación Comunitaria en Salud mediante el Mapeo de Activos


Comunitarios en la comuna de El Bosque
Región Metropolitana, Santiago, El Bosque - Chile

Área de Gestión Estratégica Territorial de la Dirección de Salud Municipal de la Ilustre


Municipalidad de El Bosque.

Rodrigo Inti Vega Jones, Médico Cirujano, rodrigo.vega@saludelbosque.cl. Nadinne


Ruiz Aceval, Trabajadora Social, nadinne.ruiz@saludelbosque.cl.

Introducción
En la comuna de El Bosque (Santiago de Chile) se desarrolló, desde abril a
noviembre de 2022, una experiencia de participación comunitaria en salud basada en la
identificación colectiva de factores y recursos, presentes en las comunidades y sus
territorios, implicados en el bienestar de dichas comunidades (denominados “activos”
para la salud). Este proceso surgió de la necesidad de dar continuidad a una nueva forma
de relación entre los equipos de salud municipales y la comunidad, forjada en los
momentos de crisis provocados por la pandemia de SARS-COV2 en el año 2020, que
dejó en evidencia la dialéctica de subordinación -subversión presente -hasta ese
momento- en el modo de habitar el territorio. Las tensiones y contradicciones expresadas
en los vínculos comunitarios (incluyendo a los equipos de salud), afloraron al momento
de implementar acciones de respuesta tendientes a producir y sostener el cuidado. Para
preservar los modos de relación (re)productores del cuidado, las comunidades
encontraron un “sentido de coherencia” en medio de la crisis a través de la interpelación
a sus modos de habitar en el territorio. Este hito permitió inaugurar una nueva experiencia
de participación social -a nivel comunal- respetuosa de las particularidades territoriales
de la comuna y enfocada en las singularidades de los vínculos entre las comunidades y
sus equipos de salud. A partir de esta nueva configuración relacional se desarrolla durante
el año 2021 una serie de seis conversatorios de salud a nivel comunal, en los cuales
participaron un total de 86 dirigentes sociales de las distintas villas y poblaciones de la
comuna de El Bosque; cuatro conversatorios con niños, niñas y adolescentes y uno con
padres y madres de niños y niñas del Programa de Salud Mental Infantil (PASMI). En
dichos conversatorios participaron equipos de salud multidisciplinarios de cada uno de
83

los seis Centros de Salud Familiar (CESFAM), junto a integrantes de la comunidad, con
el propósito de analizar el concepto de salud y sus elementos característicos a fin de poder
proyectar acciones de promoción y fortalecimiento de la salud pertinentes a cada una de
las comunidades desde una perspectiva territorial.

La participación comunitaria lograda a través de estos conversatorios reveló que


aquella era mucho más que la mera agregación de personas en torno al abordaje de un
“tema de salud” (biomédico). Para el año 2022 se buscó alcanzar una participación
comunitaria real, es decir, en primer lugar, abandonar la pretensión de anteponer las
necesidades preventivistas institucionales sobre las necesidades de participación de la
comunidad y, en segundo lugar, acompañar a la comunidad en la construcción de un
proceso de transformación basado en el asumir un sentido de responsabilidad sobre la
producción de su propio bienestar, considerando la utilización de sus recursos disponibles
y su capacidad de dirigir el desarrollo de dicho proceso. Dentro de este encuadre se inicia
el trabajo con el equipo de participación comunitaria de la Dirección de Salud Municipal
(DISAM), junto a los profesionales referentes de cada uno de los seis CESFAM de la
comuna quienes definieron una concepción metodológica de participación comunitaria
en salud orientada a la identificación de los denominados “activos” en salud mediante el
Mapeo de Activos Comunitarios en Salud.

El Mapeo de Activos Comunitarios en salud se constituyó, desde un principio,


como una estrategia novedosa capaz de lograr la participación comunitaria real. La
recepción por parte de las comunidades fue de entusiasmo y compromiso, entendiendo
que dicha actividad modificaba al anterior esquema asimétrico, jerárquico, burocrático y
expertócrata del “diagnóstico participativo”, cuyo enfoque era eminentemente
patogénico. La participación comunitaria se vio potenciada a través de la construcción de
un vínculo entre las comunidades y sus equipos de salud, tendiente a cultivar un enfoque
salutogénico, es decir, a reflexionar en torno a las diversas riquezas, factores y recursos
propios de cada una de las comunidades con pertinencia territorial. Así, las prioridades en
salud se establecieron desde el seno de la dinámica de participación comunitaria en salud,
la cual a su vez fue el fruto del interés de la comunidad en sí misma en pro de la
identificación de los elementos que producen su propio bienestar. En este proceso
podemos reconocer al fenómeno de la concientización -constatado y descrito por Paulo
Freire en su trabajo en Educación Popular- el cual tiene que ver, para este caso en
84

particular, con la comprensión de la salud, no como un fin en sí mismo, sino como un


medio para alcanzar un bienestar.

¿Quiénes participaron?

• Integrantes de las comunidades que habitan en los territorios de la comuna de El


Bosque: dirigentes sociales, líderes y lideresas comunitarias, representantes de redes
de apoyo, representantes de organizaciones formales e informales, usuarios de
CESFAM, vecinos, vecinas, niños, niñas y adolescentes.
• Integrantes de los Equipos de Participación de los seis Centros de Salud Familiar:
CESFAM Dr. Mario Salcedo, CESFAM Orlando Letelier, CESFAM Dra. Haydee
López, CESFAM Cóndores de Chile, CESFAM Dr. Carlos Lorca y CESFAM Santa
Laura), los Centros Comunitarios de Salud Familiar CECOSF Los Sauces y CECOSF
Santa Laura, el Centro de Adolescentes ALTER JOVEN y el Centro Comunitario de
Salud Mental COSAM.
• Integrantes de los Consejos de Desarrollo Local (CDL), Equipos Intersectoriales de
las Mesas Territoriales, Unidad de Gestión Territorial de la Dirección de Desarrollo
Comunitario (DIDECO) de la Municipalidad de El Bosque.

¿Cuántos participaron?
FASE N° Participantes
Conformación del Equipo Motor 44
Planificación por Sector 203
Mapeo de Activos Comunitarios 90
Difusión Comunitaria -
Acuerdos Sociales 130

Metodología/Desarrollo

La experiencia de Mapeo de Activos Comunitarios en Salud se desarrolló en cinco fases:

1. Conformación del Equipo Motor


2. Planificación por Sector
3. Mapeo de Activos Comunitarios
4. Difusión Comunitaria
85

5. Acuerdos Sociales.

La primera fase -Conformación del Equipo Motor se inició con una


capacitación a los equipos de salud durante los días 2, 3, 9 y 10 de mayo 2022 sobre Salud
Comunitaria, Participación Social y Educación Popular para el desarrollo de la
metodología de Mapeo de Activos Comunitarios en Salud. En la segunda fase,
Planificación por Sector, se trabajó en una concientización junto a la comunidad de cada
uno de los sectores de la comuna entre los meses de marzo y junio en reuniones de trabajo
con diferentes grupos y organizaciones comunitarias. Durante el segundo trimestre de
2022 se presentó la estrategia de Mapeo de Activos Comunitarios en Salud a los Consejos
de Desarrollo Local (CDL), cuya buena recepción e interés permitió programar
capacitaciones en esta metodología y se visitó a los y las dirigentes en sus espacios
comunitarios. El grueso del trabajo en esta fase se llevó a cabo a través de conversatorios
en cuyos espacios se fue planificando el trabajo de la siguiente fase.

CENTRO DIRIGENTES CAPACITADOS


CESFAM Orlando Letelier 15
CESFAM Dr. Mario Salcedo 12
CESFAM Dra. Haydee López 19
CESFAM Dr. Carlos Lorca 19
CECOSF Los Sauces 60
CESFAM Santa Laura 40
CECOSF Santa Laura 30
Centro de Adolescentes Alter Joven 8
TOTAL 203

En la tercera Fase, Mapeo de Activos Comunitarios, cada uno de los Equipos


Motores se abocó a la tarea de reconocer en el territorio todos aquellos factores y recursos
(validados comunitariamente) que proveen de bienestar a la comunidad. La acción
comunitaria y la activación territorial, como componentes de la Participación
Comunitaria en Salud, se plasmaron en un movimiento desde lo interpretativo hacia lo
experiencial.
86

Los resultados de la experiencia (cuarta y quinta fases, Difusión Comunitaria


y Acuerdos Sociales) se presentaron en una actividad realizada el 29/11/2022 a la cual
asistieron 130 personas entre dirigentes sociales y comunitarios, funcionarios de los
CESFAM, de la DISAM y el equipo de la Unidad de Desarrollo Territorial de la Dirección
de Desarrollo Comunal (DIDECO). En la misma, los Equipos Motores de cada territorio
mostraron al resto de participantes el proceso de trabajo como un reflejo del
fortalecimiento del vínculo entre la comunidad y los equipos institucionales que trabajan
en salud y como resultado de una participación de enfoque salutogénico. La satisfacción
de las y los participantes de la comunidad, desde el rol protagónico que les compete, es
el principal acicate para continuar desarrollando y profundizando esta experiencia de
participación, encaminada hacia el control social, el ejercicio de la autonomía (individual
y colectiva) y a la profundización de la conciencia política respecto de las problemáticas
de salud. Las mejoras gatilladas (algunas en proceso de sistematización) tienen que ver
con la creación y optimización de los espacios de participación, la mejora en los
indicadores de participación del Modelo de Atención Integral en Salud (>30%) y en la
validación del trabajo de Cartografía Social en Salud para el 2023.

SECTORES
TIPOS DE ACTIVOS
1 2 3 4 5 6
Individuales: miembros de la comunidad, 10 1 2 14 4 7
trabajador@s, vecin@s, familia
Asociaciones Formales: Clubes deportivos, grupos 2 2 13 12 9 4
religiosos, juveniles, voluntarios, vecin@s,
autoayuda, asociaciones de pacientes, grupos de
cuidador@s, mujeres, clubes de personas mayores,
etc.
Asociaciones informales: Red de cuidador@s, 0 0 1 0 0 1
Redes de apoyo.
Recursos Físicos: plazas, parques, centros, sedes, 6 7 6 10 2 7
CESFAM, otros.
Recursos Culturales: grupos musicales, grupos de 0 0 1 1 1 0
baile, grupos literarios, artes escénicas, etc.
Recursos Organizacionales: Servicios 0 1 5 5 14 0
Municipales, Dirigentes, Mesas Territoriales, GDL,
JJVV, Funcionarios, etc.
87

Para saber más...

Para conocer un poco más de nuestro trabajo, hemos dispuesto un enlace donde
encontrarás un artículo acerca de este proyecto con más detalles sobre sus aspectos
metodológicos, un mapa de activos de la comuna, algunas fotos de las actividades y un
video que muestra un resumen de esta experiencia.

bit.ly/ActivosComunitarios
88

Incidencia política y social hacia la constitución de la Conferencia


Nacional de Instituciones, Organizaciones Civiles y Movimientos Sociales
a favor de la Salud Pública (CONASAP).
Ciudad de México - México

Fundación Interamericana del Corazón México/ Salud Justa MX.

Mtro. Erick Antonio Ochoa, director de Salud Justa MX.


erickantonioochoa@yahoo.com.mx; eantonio@saludjusta.mx; Juan Núñez Guadarrama,
juanunez@gmail.com, jnunez@saludjusta.mx; coordinador de la Coalición México
SaludHable.

Introducción

México afronta un rezago ancestral en el acceso de la población a los servicios de


salud, con un sistema fragmentado en instituciones de seguridad social para personas con
adscripción laboral y en instituciones de protección social para sectores indígenas, rurales
y urbanos de zonas depauperadas cuya cobertura siempre ha sido insuficiente. Aun
instituciones de seguridad social como el Instituto Mexicano del Seguro Social y el
Instituto de Seguridad y Servicios Sociales para los trabajadores del Estado (los de mayor
cobertura) padecen rezagos, falta de recursos económicos, de instalaciones,
equipamiento, personal y medicamentos, a grado tal que gran porcentaje de su población
derechohabiente prefiere atenderse en consultorios privados adyacentes a farmacias.

Desde 2010 nuestras organizaciones impulsan políticas públicas sobre control del
tabaco, grasas trans, alcohol, participación significativa de pacientes y cobertura universal
de salud.

Es impostergable la reestructuración del sistema de salud, la homologación de sus


subsistemas y la ponderación de que las necesidades de atención a la salud son un asunto
político del más alto nivel, como lo mostró la pandemia de COVID 19 (sin salud se cae
la economía y la convivencia). Los distintos gobiernos han sido presionados por las
poderosas industrias farmacéuticas, del tabaco, el alcohol, los comestibles
ultraprocesados y las bebidas azucaradas para que relajen medidas ya establecidas o
89

desalienten iniciativas de regulación más estrictas, dirigidas a incidir en los determinantes


comerciales de la salud.

Ante ello consideramos que la sociedad civil organizada debe apoyar a los
gobiernos para afrontar tales presiones y denunciarlas, además de impulsar iniciativas
legislativas y regulatorias que protejan la salud de las personas ante los intereses
lucrativos de dichas industrias.

Nuestro proyecto busca constituir la Conferencia Nacional de Instituciones,


Organizaciones Civiles y Movimientos Sociales a favor de la Salud Pública (CONASAP),
para llamar la atención y promover en tomadores de decisiones en los Poderes Ejecutivo,
Legislativo y Judicial compromisos para proteger la salud de la población y decidir en
consecuencia mediante la asignación suficiente y oportuna de recursos, así como del
ejercicio óptimo de tales recursos en la construcción o habilitación de instalaciones, su
equipamiento, la asignación de personal y la dotación de medicamentos. De igual manera,
las organizaciones civiles debemos denunciar la interferencia de las industrias, el
conflicto de interés y la falta de transparencia que se da en ocasiones entre funcionarios
públicos y emisarios de aquéllas.

¿Quien participó?

Convocaremos a participar en la CONASAP a 30 organizaciones sociales con


reconocida trayectoria en la prevención y el apoyo al tratamiento de enfermedades, con
énfasis en la Asociación Mexicana de Lucha contra el Cáncer, Asociación Mexicana de
Diabetes, Salud Crítica, Centro de Respuestas Educativas y Comunitarias, Asociación
Renal Venados, Pacientes en Acción, Alianza Nacional para el Control del Tabaco,
Alzheimer México, IAP, Alianza contra el Tabaco (ACTA), Asociación Mexicana de
Médicos en Formación (AMMEF), PREVEN sobre Salud Mental y enfermedades que
afectan a sectores vulnerables, Refleacciona con Responsabilidad y Salud Justa MX.
También invitaremos a organizaciones externas al campo de la salud pero que inciden en
los determinantes sociales de los factores de riesgo para la salud.

Buscaremos impactar a usuarios de servicios públicos de salud en general, sobre


todo de sectores vulnerables de la población, con énfasis en pacientes y sus cuidadores
90

primarios, a los integrantes de las organizaciones y consumidores de productos nocivos


para la salud, con información acreditada y clara sobre los riesgos de dichos productos.

Metodología/Desarrollo

Cuando éramos Fundación Interamericana del Corazón México (FIC México)


formamos la Coalición México Salud-Hable, que agrupa a más de 50 organizaciones que
trabajan con enfermedades no transmisibles. La coalición depende ahora y desde 2019 de
Salud Justa Mx.

En 2012 convocamos inicialmente a las organizaciones aliadas a reuniones de


inducción, comunicación e intercambio; actualizamos en tarea colectiva los principales
indicadores de las enfermedades que causan mayor mortalidad y discapacidad en el país
consultando hallazgos de los institutos nacionales de salud y atendiendo recomendaciones
de entidades internacionales; sesionamos cada mes los integrantes del grupo facilitador
de nuestros trabajos para compartir prioridades en la prestación de los servicios, datos
sobre rezagos y obstáculos para la atención; en 2012 convocamos al Foro Compromisos
por la Salud: Enfermedades Crónicas No Transmisibles, al cual invitamos a los candidatos
que contendían por la Presidencia del país. Asistieron 350 representantes de 115
organizaciones que trabajaban en la prevención y apoyo a la atención de enfermedades.

Con regularidad organizamos o participamos en foros con activistas sociales,


investigadores, autoridades y funcionarios de salud y personas que viven con
enfermedades no transmisibles. Al realizar el evento CONASAP queremos que sea punto
de partida para establecer dicha conferencia como una entidad permanente, que trabaje
con periodicidad con organizaciones de la salud y representantes de movimientos sociales
externos a la salud pero que sean coadyuvantes de ella.

Han sido facilitadores de nuestro trabajo los representantes de las organizaciones


ya mencionadas, con especialistas aliados y voceros entre funcionarios de gobierno,
investigadores y profesionales de la salud. El trabajo consistente con los profesionales de
la salud y la investigación en distintas ramas ha sido determinante para fortalecer nuestros
argumentos de incidencia pública, al igual que nuestra relación con entidades
internacionales especializadas y libres de conflicto de interés.
91

Entre las barreras que solemos afrontar destaca sin duda alguna la interferencia de
las industrias de productos nocivos que tratan de captar el favor de funcionarios,
legisladores y aun de investigadores para que retrasen el desarrollo de iniciativa o
desechen su discusión y malogren la aplicación de disposiciones reglamentarias.

La falta de conocimiento o experiencia, o la insensibilidad de algunos funcionarios


gubernamentales, constituye también un obstáculo al trabajo que tratamos de realizar en
favor de la protección de la salud.

Resultados:

Consideramos que cada año desde 2013 hemos podido impactar a decenas de
miles de personas en el país, entre quienes interactúan directamente con nosotros, las que
reciben las publicaciones que generamos o se benefician de las medidas regulatorias que
hemos impulsado. Mayoritariamente pensamos en que hemos podido influir en los
integrantes de las principales organizaciones sociales que trabajan en la prevención y
atención de enfermedades, en prestadores de servicios de salud y aun en estudiantes de
medicina que ya brindan atención en clínicas y hospitales. Buscaremos que varias de esas
organizaciones participen en la CONASAP.

La gran mayoría de quienes participaron en desde el inicio del proceso proceso


siguen actuando hasta la fecha como parte de nuestro trabajo coaligado, lo que nos
expresa su positiva disposición para seguir colaborando con nuestra organización, luego
de trece años de existencia. Una forma indirecta que nos hace pensar en una valoración
positiva hacia nuestra labor es nuestra capacidad de convocatoria a medios de
comunicación, cuyas profesionales nos identifican como fuente confiable de información
y difunden nuestras declaraciones y posicionamientos.

Conformamos la Coalición México Salud-Hable en 2013, para interactuar con


organizaciones de cáncer, diabetes, enfermedades cardiovasculares, cerebrovasculares,
respiratorias crónicas, renales y adicciones. La coalición nos ayuda a lograr amplias
convocatorias en la incidencia pública, dependió de la FIC México y ahora depende de
Salud Justa MX. Salud Justa MX actúa Por cuenta propia y puede ser más agresiva ante
tomadores de decisiones, pero México Salud-Hable tiene un tono conciliador, pero de
92

amplia convocatoria. Como coalición formamos parte de la Non Communicable Diseases


Alliance y de la Coalición América Saludable.

Desde 2010 impulsamos iniciativas que finalmente reformaron en 2021 la Ley


General para el Control del Tabaco para declarar a México como país 100% Libre de
Tabaco y prohibir por completo la publicidad, promoción y patrocinio de productos de
tabaco; en el ámbito fiscal promovimos el incremento del impuesto especial a productos
de tabaco (IEPS) que se empezó a aplicar en 2011; desde hace 18 años publicamos
ininterrumpidamente un reporte anual de seguimiento a la aplicación de políticas públicas
sobre control del tabaco.

Obtuvimos en 2018 el Premio internacional Bloomberg sobre Cesación al haber


impulsado el fortalecimiento de la capacidad del sistema de salud para atender a usuarios
de tabaco, apoyamos la actualización del Reglamento de dicha ley y lo defendemos ante
el embate de la industria tabacalera que se niega a proteger espacios públicos libres de
tabaco y a acatar la prohibición para que se exhiban en tiendas los productos de tabaco;

Coadyuvamos con autoridades de salud, investigadores y legisladores en la


construcción del Decreto presidencial de marzo de 2023 que prohíbe el uso de aceites
parcialmente hidrogenados y limita a 2 g de cada 100 el de grasas trans de producción
industrial en México. A tal efecto convocamos a conversatorios, reuniones con
especialistas, foros académicos con expertos del país y extranjeros, ruedas de prensa con
activistas y expertos;

Para desalentar el uso nocivo de alcohol publicamos en 2020 y 2023 los reportes
sombra sobre la aplicación de políticas públicas; realizamos una campaña amplia de
sensibilización y comunicación estratégica y un Foro de Alto Nivel en el Senado de la
República, con participación de funcionarios de la Secretaría de Salud, de la Comisión
Nacional contra las Adicciones, de los Institutos Nacionales de Psiquiatría y Salud
Pública, así como senadoras (es) de la Comisión de Salud del Senado; desarrollamos;

De 2020 a 2022 impulsamos posicionamientos políticos de alto nivel sobre


cobertura universal de salud, resaltando la necesidad de que todas las personas del país
tengan acceso efectivo a la atención de salud que requieren, en todos los lugares, con
instalaciones, equipamiento de calidad, personal capacitado y actualizado y
medicamentos oportunos de calidad y suficientes, sin importar la condición laboral de las
personas.
93

Hacia tal cometido realizamos reuniones con expertos, participamos en foros


globales y regionales, aplicamos una encuesta, organizamos foros académicos y con
usuarios de servicios, emitimos boletines y desplegados en prensa, elaboramos dos
cuadernos sobre la Situación Legal de la posible cobertura universal de salud en el país y
la Políticas Públicas de Salud en el país, destacando la disparidad en la atención que
resulta de un sistema de salud fragmentado que deja sin atención a las poblaciones más
vulnerables.

En 2020 publicamos nuestro primer reporte sobre inactividad física, denominado


“Inactividad Física en México, Un Primer Acercamiento” en el cual se revisó la
regulación del país, se proyecto el panorama nacional, las acciones impulsadas por el
gobierno, las inversiones dirigidas a fomentar la actividad física, además de consultarse
experiencias internacionales y consignarse las mejores prácticas, con el apoyo de
investigadoras del Instituto Nacional de Salud Pública y de la Comisión Nacional de
Cultura Física y Deporte.

Para saber más...

Invitamos a los lectores interesados en conocer nuestro trabajo y del proyecto


CONASAP, para que entren a alguno de estos enlaces, donde encontrarán documentos,
infografías, fotografías, boletines de prensa, así como crónicas de eventos relevantes con
tomadores de decisiones o medios de comunicación:

https://saludjusta.mx/wp-content/uploads/Reporte-de-la-sociedad-civil

bit.ly/CONASAPMexico
94

Cogestión y Participación Ciudadana a través de las Comunidades Locales


de Administración de Salud (CLAS)
Peru, nivel nacional

Ministerio de Salud.

Laura C. Altobelli, Facultad de Salud Pública y Administración. Universidad Peruana Cayetano


Heredia. laltobellim@gmail.com; Edward Cruz-Sánchez, DIPOS/DGAIN, Ministerio de Salud; Carlos
Acosta-Saal, exDirector General, Superintendencia Nacional de Salud, Peru; José Cabrejos-Pita,
Superintendencia Nacional de Salud, Peru; Jacqueline de la Cruz, exCoordinadora, Programa de
Administración Compartida.

Introducción

Perú cuenta con un programa nacional de salud con participación comunitaria


legalizada, regulada e institucionalizada en el primer nivel de atención. El Programa de
Administración Compartida (PAC) fue establecido en abril 1994 por Decreto Supremo, y
legalizado en octubre 2007 con la Ley No 29124 “Que establece la cogestión y
participación ciudadana en los establecimientos del primer nivel de atención del MINSA
y de las Regiones de Salud” (Ley de Cogestión). La ley otorga el poder de decisión
compartida entre el estado y la comunidad organizada sobre el manejo de recursos
públicos para la atención primaria de salud en base un convenio tripartito entre tres partes:
(1) una asociación civil sin fines de lucro conformada con participación comunitaria
llamada la Asociación Comunidad Local de Administración de Salud (CLAS), (2) la
Dirección Regional de Salud (autoridad a nivel subnacional), y (3) el gobierno local
(municipalidad distrital).

La CLAS es una instancia con personería jurídica con miembros están elegidos de y
por las comunidades en el ámbito y además de miembros seleccionados de instancias
públicas según la Ley de Cogestión. El convenio tripartito se basa en el programa de
salud local (PSL), cuya formulación y vigilancia cuenta con la participación de la CLAS
y cuyo financiamiento es del Estado. Los establecimientos de salud (EESS)
cogestionados con CLAS siguen la misma política de salud que los EESS sin CLAS, pero
con diferencias importantes en su gestión y nivel de participación comunitaria, dando a
la CLAS la flexibilidad y eficiencia para lograr mejores resultados en coberturas, calidad
y equidad. El PAC/CLAS representa un nuevo modelo de financiamiento y gestión del
primer nivel de atención del Ministerio de Salud (MINSA) con la participación de la
95

comunidad como componente clave para vigilar la gestión y garantizar la calidad de


servicios en el primer nivel de atención de salud.

Según la Ley de Cogestión, el objetivo principal es “para contribuir a ampliar la


cobertura, mejorar la calidad y el acceso equitativo a los servicios de salud y generar
mejores condiciones sanitarias con participación de la comunidad organizada, en el marco
de la garantia del ejercicio del derecho a la salud, y en concordancia con el proceso de
descentralización.” Los objetivos se logran a través de:

1. Modernización de la administración pública de servicios de salud. Se incorpora la ley


privada en la administración de los recursos públicos para la salud de la población
pobre.
2. Descentralización administrativa. El Estado asigna recursos directamente a CLAS
para la gestión financiera local con vigilancia y control comunitario para reducir
corrupción.
3. Participación comunitaria y control social de los servicios de salud. Miembros de la
comunidad vigilan el uso de fondos públicos y la calidad de atención brindada por el
personal de salud.
4. Mejoramiento de calidad y cobertura de servicios de salud. La gestión local con la
rendición de cuentas de los fondos públicos aumenta la eficiencia de gasto. CLAS
movilizan donaciones privadas y públicas y deciden sobre gastos en equipos e
infraestructura. CLAS están empoderados para pedir cuentas al personal de salud para
que traten bien a sus pacientes. Todo ello permite mejoramientos en la calidad de
atención. Calidad estimula mayor demanda.

Metodologia/Desarrollo

Debido a los estragos de la hiperinflación, el terrorismo y el aislamiento


internacional que sacudieron al Perú a fines de la década de 1980 y principios de la década
de 1990, los servicios sociales del gobierno se vieron obligados a reducir su financiación
a niveles de subsistencia. Los servicios de salud, especialmente del primer nivel en áreas
periféricas, llegaron a un estado de colapso, con poco personal, equipamiento y
subutilización. Hacia los finales de 1993, algunas partes de la economía y el gobierno
estaban empezando a recuperarse. Las autoridades nacionales comenzaron a reconocer
96

que los esfuerzos gubernamentales en los servicios sociales no iban a avanzar sin un
aumento sustancial de la financiación y/o nuevos mecanismos de administración.

El gobierno inicio la creación de nuevos programas en los sectores salud,


educación y justicia para reorientar el gasto social a las poblaciones de mayor pobreza.
En el sector salud, se creó el “Programa de Focalización del Gasto Social Básico en
Salud” que luego se llamaba Programa de Salud Básica para Todos (PSBPT) con un
amplio presupuesto del Tesoro Público. Fue diseñado con una estructura administrativa
vertical y gestión estricta dentro de, pero paralela a, el sistema de administración pública
tradicional. El entonces ministro de Salud, Dr. Jaime Freundt-Thurne tuvo la idea de
crear un programa piloto de atención primaria de salud con participación comunitaria
incorporando los conceptos de Alma Ata, y busco el consejo de un experto internacional
en participación comunitaria en salud (Dr. Carl E. Taylor, Univ. de Johns Hopkins)
mientras estuvo en Washington DC para la reunión anual en 1993 de la Organización
Panamericana de Salud para los ministros de Salud de las Américas.

El esquema operativo-legal de la estrategia fue elaborado en los primeros meses


de 1994 por un equipo de expertos peruanos en el marco del Programa de Fortalecimiento
de los Servicios de Salud apoyado por el Banco Interamericano de Desarrollo y el experto
internacional después de una visita a la Región Ayacucho donde preguntaron a las
comunidades sobre qué tipo de servicios de salud quisieran tener. La idea fue que se podía
estimular un mejoramiento en la calidad de atención, y por ende la reactivación de su
utilización por la población, si se permitiera a la posta de salud quedarse con el dinero
recolectado del pago de servicios por los clientes, además de transferir fondos públicos a
una cuenta de banca privada de la CLAS con firma mancomunada entre la comunidad y
el Estado. El PAC fue diseñado sobre la base de experiencias exitosas con participación
comunitaria en Perú y otros lugares, pero con una nueva base legal y pautas para dicha
participación. En el Perú, la política nacional apenas comenzaba a esbozar un nuevo
proceso de descentralización. El modelo de cogestión fue una reforma de salud
importante, siendo la primera experiencia de descentralización (y no solo
desconcentración) de la gestión financiera y la gestión de recursos humanos con
participación comunitaria en la planificación y vigilancia de la gestión y atención de la
salud.

En abril del 1994, se ejerció presión en el Comité Interministerial de Asuntos


Sociales. El Decreto Supremo No 01-94-SA, firmado por el presidente de la República de
97

ese entonces, el 2 de mayo de 1994, promulgó el Programa de Administración Compartida


(PAC) con su comité local de administración de salud (CLAS) y un contrato legal entre
el Estado y la CLAS basado en el Plan de Salud Local.

Entre mayo y julio del 1994, se organizaron las primeras CLAS en dos áreas. En
julio, se inauguraron cuatro CLAS en la Subregión de Salud de Ayacucho, y nueve CLAS
en Chincha en la Subregión de Salud de Ica.

La incorporación de los establecimientos de salud en el PAC fue ilustrativa de un


proceso de gestión compartida. En el primer año del programa, se brindó orientación a
las autoridades regionales de salud, quienes a su vez convocaron al personal de salud de
comunidades conocidas por tener un fuerte sentido e historia de organización
comunitaria. Las reuniones comunitarias individuales convocadas para presentar esta
nueva opción administrativa dieron lugar a decisiones conjuntas entre cada comunidad y
el centro de salud para formar una CLAS. El proceso de autoselección fue el primer paso
para el empoderamiento de la comunidad. A medida que las noticias de los beneficios de
CLAS se extendieron a otras comunidades, más solicitaron permiso para unirse al
programa. Con una explosiva demanda de abajo hacia arriba para unirse al programa
PAC/CLAS, impulsada por la satisfacción y difundida boca-a-boca entre los médicos
jefes en el primer nivel de atención, esto había aumentado a 250 establecimientos
administrados por CLAS al final del primer año en diciembre 1994, con la inscripción de
la CLAS en el registro público como entidad privada sin fines de lucro de derecho
privado, y la firma del convenio tripartito entre el gobierno regional, el gobierno distrital
y el/la presidente de la CLAS.

Al año 1997 hubo 500 EE.SS CLAS, cuando se congeló el programa para realizar
algunos estudios de evaluación y resolver dudas sobre el programa. Con resultados muy
positivos de los estudios, en 1998 se volvió a expandir el programa para llegar al 2002 a
2,155 EE.SS CLAS en todas las 33 regiones sanitarias del Perú, entre el total de 6,680
EE.SS del primer nivel a nivel nacional.

¿Quiénes participan en una Asociación CLAS? Una CLAS tiene los tres órganos
de una asociación civil según el Código Civil del Perú: Asamblea General, Consejo
Directivo y Director Ejecutivo (Gerente de la CLAS). Se elige la Asamblea General cada
tres años de las siguientes instancias en el ámbito de la CLAS: dos miembros elegidos de
cada comunidad (un líder comunal y un agente comunitario de salud); un representante
98

de cada organización social de base (OSB); un personal de salud; un representante de la


oficina gerencial de la Red de Salud; un representante del gobierno local (que no sea el
alcalde); y un representante del gobierno regional. El ámbito de cogestión es de un EESS
individual o una micro-red de varios EESS. El Consejo Directivo esta elegido cada año
por la Asamblea General para tener siete miembros: tres de las instancias públicas y cuatro
miembros elegidos de las comunidades y/o OSBs. El médico jefe del EESS sede es el
Gerente de CLAS y colabora en forma diaria o semanal con el Consejo Directivo. Las
CLAS participan en el manejo de fondos públicos que reciban por transferencia del
Gobierno Regional a una cuenta corriente de la banca privada en mancomunidad entre el
Gerente y Tesorero de CLAS.

Facilitadores de la experiencia: Dos ONG’s en especial fueron los campeones para


el modelo de cogestión. Una de ellos, Future Generations, apoyó el diseño y el desarrollo
técnico de las CLAS a partir del 1994; asimismo, inició la abogacia para el desarrollo de
la ley de cogestión en 2003 y la apoyaba hasta su aprobación del Congreso en 2007 y su
reglamento en 2008. CARE Perú tambien siempre fue un aliado de la cogestión dentro y
fuera del MINSA.

Desafios de la experiencia: En 2004, con la descentralización de la función salud


a los gobiernos regionales, cada región tomó su propia decisión sobre el apoyo a las
CLAS. Faltó la orientación del MINSA a las autoridades regionales quienes cambian cada
cuatro años. El principal desafio ha sido la oposición de la Federación Medica y su
presión sobre los Ministros de Salud para no brindar todo el apoyo politico necesario al
modelo de cogestion y participación ciudadana. Por miedo a la amenaza de una huelga
médica, el MINSA no ha querido enfrentar al gremio médico que se opone al uso de la
ley privada para contratar a los médicos.

La participación social en las CLAS incluye las siguientes acciones: (i) Vigilancia
y control sobre el uso de recursos públicos transferidos del Estado; (ii) Diagnóstico: apoyo
el censo comunal de salud; (iii) Participación en la planificación del Programa de Salud
Local (PSL); (iv) Monitoreo y control del PSL; (v) Decisiones sobre uso de ingresos
propios; (vi) Selección y despido del personal de salud contratado con el regimen privado;
(vii) Control de la calidez de la atención; (viii) Evaluación de la gestión del EESS; (ix)
Asegurar el mantenimiento y seguridad del EESS; (x) Apoyo a actividades promocionales
en la comunidad; (xi) Promoción del uso de servicios por la comunidad; (xii)
Movilización de recursos adicionales.
99

Resultados

Al año 2006, el programa PAC/CLAS habia escalado al 31% de los EESS del
primer nivel de atención con la cogestión con la comunidad, con diferencias según nivel
de capacidad resolutiva desde I-1 (menor capacidad) al I-4 (mayor capacidad). Entre los
EESS del nivel I-3 y I-4 (con 3-5 médicos), 52% son CLAS en la zona rural y 41% son
CLAS en la zona urbana. Entre los EESS del nivel I-2 (algunos con médico), 43% son
CLAS en la zona rural y 33% son CLAS en la zona urbana. Los EESS de menor nivel
resolutivo (I-1) tienen menos CLAS: 26% en la zona rural y 27% en la zona urbana. Las
diferencias se explican porque los EESS con CLAS mejoran su nivel resolutivo con
inversiones en equipamiento y infraestructura por la gestión local de presupuesto.

Estudios comparativos de los EESS con CLAS versus los EESS administrados por
la ley de administración pública sin CLAS, muestran evidencia de mejores índices de (1)
cobertura, (2) calidad, (3) equidad, (4) eficiencia de gasto y (5) impacto en la salud, entre
otros cualitativos.

Un estudio comparativo de todos los 675 EESS del primer nivel de atención del
sector público en tres regiones subnacionales (Cusco, Huánuco y La Libertad) mostró que
el promedio número de visitas al año por niño menor de cinco años fue significativamente
mayor en CLAS versus no-CLAS. Hubo un promedio de 2.94 visitas por niño en CLAS
urbano y 2.32 visitas por niño en CLAS rural, versus 1.73 y 1.32 visitas por niño en no-
CLAS urbano y rural, respectivamente (Altobelli, 2004).

El tiempo de espera fue significativamente menor en EESS CLAS en comparación


con EESS no-CLAS y en comparación con hospitales públicos. Hubo el 75%, 43% y
35% de pacientes reportando menos de 15 minutos de espera, respectivamente (Cortez,
1998).

En cuanto a equidad en la exoneración de pago por la atención en EESS CLAS


(n=749) en comparación con no-CLAS (n=1,271), un estudio a nivel nacional mostró que
los EESS CLAS exoneraron el 72.5% de sus pacientes del estrato bajo de ingresos (C y
D) versus los EESS no-CLAS donde el 66.4% de los pacientes del estrato bajo fueron
exonerados. En cambio, para pacientes en el estrato alto de ingresos (A y B), los EESS
100

no-CLAS exoneraron a 80% de sus pacientes, versus los EESS CLAS que exoneraron al
56.8% en el estrato alto (Vicuña et al, 1999).

En un análisis de impacto utilizando datos de la Encuesta Nacional Demografia y


Salud, los niños rurales menores de cinco años tuvieron significativamente menos
desnutrición crónica infantil si vivían en el ámbito de un EESS CLAS en comparación
con niños rurales viviendo en ámbitos no-CLAS. Las madres en ámbitos CLAS tuvo
menor nivel educativo (menor nivel socio-economico) que las madres viviendo en
ámbitos no-CLAS (Altobelli, 2006).

Entrevistas con personal de salud en la Región Arequipa mostraron diferencias en


indicadores de participación comunitaria en 19 EESS CLAS en comparación con 47 no-
CLAS. Ver Tabla 1.

Tabla 1. Participación comunitaria y mejoramientos en servicios brindados en


establecimientos CLAS vs. No-CLAS del primer nivel de atención
Categorias I-3 y I-4 Categorias I-1 y I-2
Indicadores de participación comunitaria % CLAS No-CLAS CLAS No-CLAS
(n=5) (n=15) (n=14) (n=32)
La organización comunitaria se reune en forma regular 100 67 86 72
Las reuniones estan lideradas por un miembro de la
100 60 93 88
comunidad
Mujeres participan en la organización comunitaria 100 80 93 88
Mujeres participan en las capacitaciones y toma de decisión 100 67 86 72
Grupos en desventaja estan representados adecuadamente 60 33 29 41
Las necesidades de grupos en desventaja social y economica
100 87 86 66
estan tomadas en cuenta en el plan de salud local
La comunidad aprueba la contratación de personal de salud 60 7 43 22
La comunidad evalua el personal o el plan local de salud 40 13 57 28
Indicadores de mejoramientos en servicios %
Los servicios necesitados estan disponibles 80 47 86 53
Las horas de atención y tiempo de espera estan mejoradas 100 73 86 75
Se implementó un programa de agentes comunitarios de
80 60 71 50
salud
Se realizan más actividades extramurales y visitas
100 80 86 91
domiciliarias
Proyectos comunitarios han sido exitosos 80 33 57 50
Fuente: Altobelli LC. Marzo 1998.

En conclusión, se ha mostrado con evidencia en la experiencia de casi 30 años


desde 1994, que el modelo de cogestión con CLAS ha podido escalar enormemente en el
país mejorando el funcionamiento del primer nivel de atención. Parte de este
mejoramiento se debe a dos reformas en la gestión de salud: en los mecanismos
101

permitidos para la gestión financiera de recursos públicos y la gestión de recursos


humanos en el primer nivel de atención. El tercer factor clave ha sido la incorporación
de la participación de la comunidad organizada, tanto en la planificación del Plan de Salud
Local con decisiones sobre las prioridades de atención y de los gastos como en la
vigilancia y control de la calidad y calidez de atención brindada, el uso correcto de los
fondos públicos disponibles para el beneficio de la comunidad, la promoción de la salud
en la comunidad para el cambio de comportamientos en el hogar y para el aumento en la
demanda con la ampliación de coberturas con equidad. La exitosa experiencia de
participación social con las CLAS en el Perú ahora requiere el decidido apoyo político de
las autoridades de salud para sobrellevar cualquier oposición por grupos poderosos de la
sociedad.

Para saber más…

Para que puedas conocer un poco más sobre la experiencia nacional de


participación social con CLAS en Perú, ponemos a tu disposición los enlaces a algunos
de los artículos que hemos publicado sobre estudios de evaluación del programa, al texto
de la Ley No 29124 de cogestión y participación comunitaria en el primer nivel de
atención con CLAS (2007) y a su reglamento aprobado por Decreto Supremo No 017-
2008-SA (2008).

bit.ly/CLASPeru
102

Participación social y formación de promotores en Uruguay entre 2020 y


2023 desde la Red de Municipios y Comunidades Saludables
Uruguay

Red de Municipios y Comunidades Saludables

Dr. Pablo Anzalone (pabloanzalone@gmail.com) siendo discutido, avalado y enriquecido en ámbitos de


la Red MCS y por otros integrantes como Ricardo Larrañaga, María Seijo, Elizabeth Meizoso, Graciela
Loarche, Mariana Pereira, Jorge Bentancur, Mario Bentancor, Doris Rodríguez, Gabriel Tapia, Zoraida
Fort, Zulis Goyen y otros.

Introducción
Uruguay es un país con 3,5 millones de habitantes con una transición demográfica
avanzada. En las primeras décadas del siglo XXI el país logró abatir sustantivamente la
pobreza (pasó de 40% a 8% de la población) y la indigencia (2,5% a 0,1%). El aumento
del salario real, el salario mínimo y las jubilaciones, la mayor formalización del empleo
(78% de la población activa tiene vínculos laborales formales con cobertura de seguridad
social y salud) junto a una matriz de protección social ampliada, redujeron en parte las
grandes desigualdades existentes. La esperanza de vida al nacer, para 2021 fue de 78,2
años lo que representa un aumento de 4,7 años respecto del año 2000. Los principales
problemas de salud están relacionados con las Enfermedades Crónicas No Transmisibles
como primera causa de muerte (60%) y enfermedad. Las muertes por suicidios,
accidentes y homicidios, son asimismo importantes (6,7%). La creación del SNIS Sistema
Nacional Integrado de Salud en 2006 fue un cambio trascendente en un sector sanitario
en crisis y con grandes deficiencias. Es un proceso inconcluso con grandes avances y
pendientes. El SNIS incorpora la participación social de usuarios y trabajadores en la
Junta Nacional de Salud, en Juntas Departamentales y Locales de Salud y en Consejos
Consultivos en cada institución sanitaria. Su implementación es un proceso rico en
experiencias, con luces y sombras. En 2017 se aprobó la ley 19529 que cambia
sustantivamente la atención en salud mental pero no se ha avanzado en su
implementación. En 2015 se aprobó la creación de un Sistema Nacional de Cuidados (ley
19353) que dió varios pasos iniciales (programa de Asistentes Personales, Centros de Día,
etc). La pandemia y el cambio de gobierno en 2020 afectaron fuertemente el escenario
en materia sanitaria y social 1 . En este contexto de crisis multidimensional, varios actores

1
Anzalone, Pablo (2023) Evaluación de la gestión de la pandemia en Uruguay. La Diaria. Disponible en:
https://ladiaria.com.uy/opinion/articulo/2023/4/evaluacion-de-la-gestion-de-la-pandemia-enuruguay/
103

y en particular movimientos sociales, academia y algunos gobiernos locales trabajaron


conjuntamente para entender mejor los procesos en curso, para pensar estrategias de
abordaje desde las comunidades y para poner la participación social como eje central. Los
procesos de formación de promotores de salud o agentes comunitarios de salud son parte
de ese esfuerzo común como referentes de la comunidad que trabajan socialmente por
una mejor salud de la población. En el impulso a la participación social con dinámicas de
formación/acción confluyen factores estructurales y coyunturales. La participación social
es una prioridad global para el desarrollo del SNIS y las políticas de salud. Al mismo
tiempo en la coyuntura varios sectores ven la necesidad de una visión integral de la crisis
sanitaria y social pandémica y pos pandémica para poder actuar desde las comunidades.
El objetivo general de esta experiencia ha sido promover la participación social
en la elaboración, puesta en práctica y evaluación de las políticas públicas de salud a
través de la formación/acción de sus protagonistas sociales. Los objetivos específicos
fueron:
a) Producir un conocimiento referido a problemas relevantes priorizados por las
comunidades en base a un dialogo de saberes que interactúan para investigar
fenómenos sanitarios y sociales complejos de larga data y también nuevos en una
realidad cambiante.
b) Formar y formarnos para que las personas y los colectivos puedan conocer mejor
su realidad y
c) actuar para cambiarla en aras de los derechos de la población, con dinámicas de
formación/acción.
d) Promover la capacidad de elaboración de diagnósticos y planes locales en forma
participativa.
e) Contribuir al desarrollo de redes que articulen los diferentes actores a nivel local
y a nivel nacional superando la fragmentación de los esfuerzos y generando
aprendizajes conjuntos.

Protagonistas
La Red MCS fue conformada en marzo de 2020 con varios antecedentes de la
estrategia Municipios y Comunidades Saludables en el país desde el año 1996 primero
como proyectos puntuales y después como convenios entre el Ministerio de Salud y
algunos municipios. El trabajo en red de los distintos actores a nivel nacional surge como
necesidad sentida en 2019 y 2020. Ante la pandemia se enfrentó la disyuntiva de postergar
104

la creación de la Red MCS o continuar con los planes previstos,y se optó por una tercera
opción que implicó multiplicar las actividades, usando creativamente las herramientas
virtuales. Los tres grandes grupos de actores que integran la Red MCS son las
organizaciones sociales, la academia y algunos gobiernos locales. La Organización
Nacional de Jubilados, el Movimiento Nacional de Usuarios de Salud, la Organización
de Usuarios del Oeste son los principales movimientos sociales aunque también han
participado la Sociedad Medicina Familiar, Espacio Participativo de Usuarios,
Asociación de Nutricionistas, Asociación de Nurses, la Red de Adultos Mayores y
muchos colectivos de personas mayores, discapacitados, sindicatos de trabajadores de la
salud, afrodescendientes, colectivos de salud mental, entre otros. En la Academia los
actores más importantes son de la Universidad de la República de Uruguay (Udelar) y
dentro de ella el Instituto de Psicología de la Salud, el Programa APEX (Aprendizajes y
Extensión), Laboratorio de Ciencias Sociales de la Salud, y también Facultades de
Enfermería, Ciencias Sociales, Escuela de Nutrición, etc. Los gobiernos locales que
trabajan en la Red MCS son las Intendencias de Montevideo y Canelones, así como los
municipios de Montevideo denominados A, B, C, G y F. Debe tenerse en cuenta que en
setiembre de 2020 se realizaron elecciones departamentales y municipales en Uruguay
con todas sus consecuencias de campañas electorales y cambio de autoridades. Los
efectores de salud no han participado en general de este proceso aunque en algunos
talleres hubo expositores que tenían responsabilidades en ellos. La heterogeneidad y
amplitud de los actores fue una fortaleza (aunque también generó dificultades) porque se
trabajó con amplitud y horizontalidad poniendo el énfasis en las acciones conjuntas. Los
participantes de las actividades fueron integrantes de colectivos sociales (nacionales y
locales), de servicios sociales o sanitarios y estudiantes o docentes universitarios y
público en general.

Metodología y actividades
Se utilizaron aprendizajes provenientes de distintas experiencias con
metodologías participativas y educación popular, aunque en el entendido que la coyuntura
desde 2020 era muy especial y diferente por el contexto de pandemia y crisis social. En
tal sentido tanto las posibilidades como las dificultades fueron, en gran medida, nuevas y
fue necesario aprender de lo que se iba haciendo con procesos participativos de reflexión
crítica y autocrítica.
No hubo una curricula rígida en los cursos sino que se hicieron instancias abiertas
105

previas para escuchar necesidades/percepciones e incluirlas en la planificación. La


combinación de exposiciones iniciales disparadoras desde paneles donde siempre hubo
representantes sociales ademas de la academia y los servicios en territorio, fue un criterio
permanente . Luego trabajo en subgrupos en base a consignas específicas, puesta en
común e intercambio final. La elaboración de proyectos de acción comunitaria en base a
áreas temáticas de interés fue otro criterio utilizado. La creación de un canal de youtube
y una página web para convocar, organizar y facilitar el acceso posterior a los talleres fue
una metodología constante. La virtualidad obligada por la pandemia fue una forma de
llegar a localidades del interior del país, a personas de distintas procedencias y áreas de
inserción. La utilización de videos previos buscó preparar adecuadamente los
intercambios en los talleres y dejar insumos para otros cursos o jornadas. Dichos videos
previos constituyeron aportes de distintos referentes que desarrollaban en mayor
profundidad los conceptos o recogieron testimonios de experiencias concretas de las
comunidades. La utilización de foros dentro de la página web de la Red MCS fue un
criterio de la primera etapa, luego interrumpido por el hackeo sistemático de la página
web. El criterio de compartir artículos, videos y materiales referidos a los temas
planteados apuntó a facilitar el acceso a todas las personas interesadas, procurando
conformar “cajas de herramientas” utilizables por personas y colectivos en distintos
lugares y momentos. La realización de relatorías de los talleres procuró recoger los
elementos volcados en las exposiciones e intercambios en forma sintética tanto para
difusión (artículos de prensa) como para sistematizar ideas y planteos. El envío de
formularios de evaluación a todas las personas inscriptas en cada taller apuntó a recoger
aportes y valoraciones de los participantes.
Se conformó un grupo motor para la evaluación y sistematización de lo realizado
en cada año, procurando apoyos de referentes en la materia. La realización con apoyo de
OPS de un libro y varios videos cortos (filmaciones del cineasta José Charlo Filipovich)
sobre la experiencia de la Red MCS fue un esfuerzo para difundir pero también para
ordenar las reflexiones al respecto.
Los encuentros presenciales en localidades del interior del país, cuando la
pandemia lo permitió, en 2022, fueron instancias muy fructíferas de intercambios,
diagnósticos locales y discusión sobre alternativas de participación social desde las
comunidades sobre problemas priorizados. Todos los talleres y cursos son gratuitos, se
entregan constancias de participación y están accesibles en el canal de Youtube de la Red
MCS. Hubieron presentaciones de estas experiencias en distintas instancias académicas
106

como Jornadas de Extensión del Area Salud de la Udelar, Jornadas de Investigación de


Facultad Ciencias Sociales, Congreso Iberoamericano de Investigación Cualitativa en
Salud, artículos periodisticos, ponencias en Congresos e investigaciones de maestría y
doctorado.

Resultados
Los impactos deben analizarse en relación con los objetivos planteados: producir
conocimientos por dialogo de saberes, formación/acción de personas y colectivos, mayor
capacidad de diagnóstico y planificación comunitaria y el desarrollo de redes. La cantidad
de talleres abiertos fue 16 en 2020, 18 en 2021 y 18 en 2022, con alrededor de tres veces
más reuniones preparatorias y de evaluación. La cantidad de participantes varió según los
temas y el momento (la pandemia afectó las actividades educativas y de participación
social) entre 30 y 400 participantes en cada taller, superando las tres mil personas en su
conjunto. La participación no se limitó a la asistencia a los talleres sino que se
conformaron grupos de trabajo específicos, instancias previas, grupos de sistematización,
reuniones amplias de coordinación y consulta. Las personas participantes provienen de
todos los departamentos del país (con mayor peso de la capital y el área metropolitana),
con predominio femenino, y son integrantes de organizaciones sociales, trabajadores de
servicios sociosanitarios y estudiantes o docentes universitarios. En todos los objetivos
se avanzó sustantivamente en relación con la situación anterior y todos ellos se
cumplieron parcialmente. La reafirmación del compromiso de trabajo conjunto de los
distintos actores de la Red MCS y la buena convocatoria de las distintas actividades son
indicadores que muestran avances. De todas maneras, no son objetivos que puedan
completarse en procesos de corto plazo y los pasos dados muestran la necesidad de
profundizar en las líneas de trabajo planteadas. Cuando fue posible realizar encuentros
presenciales en las ciudades de Paysandú, Artigas, Bella Unión, Florida y Durazno,
además de Montevideo y Canelones se encaró la formación de promotores como parte
del trabajo de las redes comunitarias. El apoyo de la Comisión Sectorial de Extensión de
Udelar (CSEAM) y Comisión Sectorial de Investigación Científica ( CSIC) ha
contribuido a su realización. La sistematización de las experiencias fue un aspecto
priorizado a fines de 2020, 2021 y nuevamente en 2022, junto con la evaluación de lo
realizado. Las percepciones de los participantes, recogidas en el capítulo 25 pag 226 del
libro Construyendo Salud desde los Territorios, son muy expresivas de cómo fue vivida
la experiencia de la Red así como el Epílogo de pag 273. Además de los videos, se
107

produjeron una gran cantidad de documentos que incluye relatorías de cada taller,
artículos de prensa y actas de todas las reuniones que en lo sustancial fueron recogidos en
el libro Construyendo Salud Desde los Territorios .
En Uruguay hay muchos antecedentes de participación comunitaria en salud y de
formación de promotores. Lo innovador en esta experiencia puede ser: a) la amplitud y
heterogeneidad de los actores comprometidos en el tema conjuntamente. b) el contexto
de pandemia con todas sus complejidades. c) la utilización creativa de herramientas
virtuales para llegar a muchos lugares del país como complementarias de las presenciales.
d) la profundización en las metodologías participativas y la sistematización de la
experiencia. La articulación entre investigación, formación y acción y las estrategias de
Investigación Acción Participación (IAP) . e) la creación del repositorio virtual (canal de
youtube) para facilitar el acceso a las experiencias. f) un espacio permanente de formación
de promotores. g) la elaboración de propuestas de abordaje local de la pandemia y los
aportes a los Objetivos Sanitarios Nacionales 2030.
Hay un compromiso con la continuidad de la labor conjunta de la Red MCS
combinando el espacio permanente de formación de promotores con la realización en
noviembre de 2023 del Congreso Salud Participación Social y Comunidad en el Mercosur
“Dr.Pablo Carlevaro” y de un Foro Nacional de Salud . Estas dos instancias centrales
serán preparadas por Conferencias sobre temas priorizados cuyas sedes presenciales irán
rotando entre distintas ciudades (manteniendo la posibilidad de participación virtual). En
abril 2023 se realizó la Conferencia sobre Salud Mental en el Dpto de Canelones, en mayo
la Conferencia sobre Infancias y Adolescencias en el Municipio A de Montevideo y en
la ciudad de Bella Unión en Artigas. En julio una Conferencia sobre Personas Mayores
en Maldonado. En setiembre la Conferencia Regional del Norte y en octubre una
Conferencia sobre Alimentación. Estas conferencias se combinarán con Encuentros
Locales de Salud. Cada conferencia está siendo preparada por grupos de colectivos
involucrados. Se ha logrado sumar todavía más organizaciones e instituciones para el
trabajo hacia el Congreso. En este contexto se procurará retomar la elaboración de
proyectos de acción comunitaria como parte de la formación, promover la redacción
colectiva de guías para diagnósticos locales y planes acordes y volver a trabajar con la
figura de “tutores” o “facilitadores” de esos proyectos.
Algunas de las principales dificultades son: a) la no convocatoria a los organismos
participativos del SNIS por parte de las autoridades sanitarias nacionales y la ausencia de
una estrategia de fortalecimiento en este sentido. b) la falta de traducción de los Objetivos
108

Sanitarios Nacionales en planes nacionales y locales para los cuales se convoque a las
organizaciones sociales y colectivos territoriales, gobiernos locales y academia, con
acciones claras y rendición de cuentas períodica. c) las dificultades para que los gobiernos
locales en todo el país asuman como una línea fuerte de responsabilidad la promoción de
la salud y el trabajo en Red, con excepciones positivas de larga data de algunos gobiernos.
d) la falta de una agenda clara de la academia en relación con el campo de la salud, una
agenda compartida y discutida con las organizaciones sociales y los distintos niveles de
gobierno que implique compromisos sostenidos. e) la debilidad del entramado social en
muchos lugares, la heterogeneidad existente en este plano y la fragmentación de los
actores. La unidad es uno de los grandes aprendizajes históricos del movimiento social
uruguayo. f) los procesos culturales de cambio del paradigma de salud frente al modelo
asistencialista, vertical y excluyente. g) la subestimación de la educación comunitaria
como campo relevante de la sociedad y la influencia de concepciones pedagógicas
verticales, unidireccionales, “bancarias” al decir de Paulo Freire. Las estrategias ante
desafíos y dificultades apuntan a un trabajo amplio, horizontal de construcción de redes,
donde las acciones comunitarias se vinculen con valores, ejercicio de derechos y
concepciones de la salud como construcción social colectiva. La experiencia adquirida
muestra que se trata de procesos complejos llenos de dificultades, pero posibles y
necesarios.
El desafío mayor es lograr un involucramiento activo de la población en el
abordaje integral de los problemas de salud. La situación se ha agravado con el
debilitamiento de la respuesta asistencial, el aumento de la pobreza y en especial la
pobreza infantil y juvenil, la malnutrición y la inseguridad alimentaria, la contaminación
ambiental, el incremento de los problemas de salud mental, las violencias, los suicidios,
los accidentes y las adicciones. Enfrentarlos con politicas públicas participativas,
integrales y cercanas a los territorios y comunidades son desafíos trascendentes.
El envejecimiento de la sociedad uruguaya (también a nivel regional y mundial)
es un gran logro civilizatorio que requiere políticas que lo sostengan para asegurar la
calidad de los años de vida ganados. Ello incluye políticas como la planificación urbana,
la construcción de espacios y ciudades amigables (en particular con niños, discapacitados
y personas mayores), mayor seguridad social, mejores servicios de salud, seguridad y
convivencia ciudadanas y una política integral de cuidados. La creación del Sistema
Nacional de Cuidados fue el inicio en Uruguay de una politica amplia para garantizar el
derecho a los cuidados a toda la población y en particular a los sectores mas vulnerables.
109

Sin embargo en el ultimo período no han habido avances en esta materia y sí algunos
retrocesos. Es un fuerte desafío construir envejecimiento saludable y activo, que haga
realidad los derechos establecidos en la Convención Interamericana sobre Personas
Mayores. La vulnerabilidad de la población infantil y juvenil aumentó en este período y
requiere revertir esta desigualdad y afectación profunda de derechos desde la primera
infancia. Las Enfermedades Crónicas No Transmisibles son la principal causa de
enfermedad y muerte y ello implica desafíos intersectorial .Todas las acciones tienen
valor en sí mismas, pero es la continuidad y vinculación transversal las que van
conformando una estrategia de trabajo de la Red MCS. El compromiso de los actores
sociales, gubernamentales y académicos es la garantía de continuidad para seguir
avanzando en participación social y salud comunitaria.

Para conocer más…

bit.ly/PromotoresUruguay
110

EIXO B
111

Formação de Multiplicadores/as em Práticas Integrativas e


Complementares em Saúde (PICS) no Contexto da Pandemia (Covid 19).
A experiência foi realizada de forma virtual com educandos/as dos estados do
Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato
Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul,
Sergipe, São Paulo, Tocantins e Amapá. Brasil.

Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares


– CONTAG.

Antônio Lacerda Souto – Pedagogo. E-mail: lacerda@contag.org.br; Cláudia Maria dos Santos Ferreira
– Socióloga e Assistente Social. E-mail: claudia@contag.org.br; Camila Guimarães Guedes – Pedagoga.
E-mail: camila@contag.org.br; Edjane Rodrigues Silva – Gestão de Recursos Humanos:
Edjane@contag.org.br; José Ramix de Melo Pontes Júnior – Gestão de Recursos Humanos:
juniorpontes@contag.org.br.

Introdução
O curso fez parte da uma campanha denominada “Campanha Campo Conectado
pelo Bem”, realizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais
Agricultores/as Familiares – CONTAG, por meio da Secretaria de Políticas Sociais, em
parceria com Escola de Formação da Contag – ENFOC. Referida campanha foi lançada
em 2020, tinha como objetivo contribuir e apoiar pessoas que necessitavam de ajuda,
financeira ou assistência à saúde física ou mental, em função dos efeitos da Pandemia
(Covid 19) e foi implementada em quatro ações: (i) mapeamento das comunidades rurais
afetadas pela Covid -19; (ii) construção de uma rede de profissionais da saúde que
pudessem atender, mesmo que de forma virtual, as comunidades rurais afetadas pela
Covid 19; (iii) construir uma rede de costureiras/os ligadas/os para a produção de
máscaras; e, (iv) arrecadação de alimentos para as comunidades em vulnerabilidades.
Durante a implementação da ação II, surgiu à proposta da Universidade Federal
do Recôncavo Baiano (UFRB) em oferecer o curso em PICS como uma forma de usar
estas práticas para amenizar os efeitos da Covid 19.
Desta forma, foi estabelecido a parceria com a UFRB para a realização do curso
e, durante o processo de sua realização ficou demonstrando o quão foi importante, com
ele foi possível definir estratégias sensíveis e capazes de articular formas comunitárias
cooperadas e solidárias em trabalhar a promoção da saúde, garantindo processos
continuados de inserção das PICS no Sistema Único de Saúde (SUS).
112

O Objetivo geral foi formar multiplicadores/as do Movimento Sindical de


Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e entidades parceiras em Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), como forma de utilização destas
práticas em comunidades rurais afetadas pela Covid 19.

Participantes
O curso contou com 60 participantes distribuídos entre agricultores e
agricultoras familiares ligados ao sistema Contag (80%), Articulação Nacional de
Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde – ANEPS (15%) e Confederação
Nacional das Agentes Comunitárias de Saúde – CONACS (5%).

Os municípios de origem dos participantes constam na tabela a seguir:


ESTADO MUNICÍPIO COMUNIDADE
1. Amazonas Parantins 1. Ocupação do Castanhal
2. Alagoas Olho D’água das Flores2. Comunidade Minador
3. Bahia São Felipe 3. Vila Caraipe
4. Ceará Senador Sá 4. Córrego de Baixo
5. DF São Sebastião 5. Capão Comprido
6. Espírito Santo Santa Maria de Jetibá 6. Alto Rio Plantoja
7. Minas gerais Tarumirim 7. Nossa Senhora das Graças
8. Mato Grosso Cuiabá 8. Unidade de Referência de URPICS
9. Pará Irituia 9. Comunidade Quilombola Santa
Terezinha
10. Paraíba Mulungu 10. Sítio Jardim
Jacaraú 11. Assentamento Novo Salvador
11. Pernambuco Caetés 12. Comunidade Quilombo de Atoleiro
12. Piauí Teresina 13. Horta Comunitária do Dirceu e Parque
Poty
13. Paraná Altônia 14. Comunidade São Lucas
14. Rondônia São Francisco 15.
do São Lucas
Guaporé
15. Rio Grande do Sul Sinimbu 16. Comunidade Rio Pequeno
16. Sergipe São Cristóvão 17. Povoado Parque Santa Rita
17. São Paulo São Paulo 18. Comuna da Terra Irmã Alberta
18. Tocantins Porto Nacional 19. Reassentamento Pinheropolis
19. Maranhão Guimarães 20. Comunidade Quilombola de Macajubal
TOTAL 21.

As comunidades acima citadas foram selecionadas para o tempo comunidade.


Como resultado do tempo comunidade foi elaborado um plano de ação que apresentaram
demandas diversas, com destaque para duas ações comuns em basicamente todas as
comunidades: instalação de espaços de PICS e a implantação de unidades produtivas de
plantas medicinais.
113

Metodologia
Em função da realização do curso ter sido realizado de forma virtual e para que
as aulas online não se tornassem cansativas, utilizou-se uma metodologia referenciada em
práticas pedagógicas e metodológicas já testadas e avaliadas positivamente por diversas
instituições de ensino e programas de educação com bases nos princípios da educação do
campo e educação popular, são elas: os cursos do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária –PRONERA, Programa Nacional de Licenciatura em Educação do
Campo – PROCAMPO, Pedagogia da Alternância utilizada pelas Escolas Família
Agrícola – EFA e Casas Familiar Rural – CFR.
A partir destes referenciais teóricos, pedagógico e metodológico e, considerando
o período de oito meses de duração, o curso foi estruturado com aulas semanais de quatro
horas/aula com duas modalidades: aulas virtuais e tempo comunidade.
As aulas virtuais aconteceram todas segundas feiras, com duração de quatro
horas e, para que as mesmas fossem menos cansativas possíveis, utilizamos três práticas
pedagógicas, quais sejam: (i) mística de abertura (3 minutos); (ii) rememória da aula
anterior (5 minutos) e, (iii) pratica corporal (5 minutos).
O tempo comunidade foi fundamental para que os educandos/as pudessem
materializar os conteúdos apreendidos durante as aulas virtuais em um espaço
selecionado, para tanto, cada equipe estadual selecionou uma comunidade para o tempo
comunidade, conforme quadro citado anteriormente.
Para a realização do tempo comunidade, utilizou como referência a pedagogia
da alternância experimentada pelas EFAS e CFR com resultados comprovados. Em
função da pandemia, o tempo comunidade foi realizado por meio de pesquisas em
ambientes virtuais.
Cada equipe, em seu estado, pesquisou e levantou informações em uma
comunidade selecionada, tendo como resultado a elaboração de um plano de ação que
apresentaram demandas diversas, com destaque para duas ações comuns em basicamente
todas as comunidades: instalação de espaços de PICS e a implantação de unidades
produtivas de plantas medicinais.
Essa dinâmica estabeleceu a relação entre a teoria e a pratica contribuindo na
formação dos sujeitos. Esta relação entre a teoria e a prática foi uma busca constante no
curso, principalmente por se tratar de um curso em PICS, onde a relação entre o
114

conhecimento científico das práticas integrativas precisa se articular com os saberes


populares das comunidades, os chamados nas PICS de complementares.

Resultados
O curso mobilizou e capacitou 60 educandos/as representantes de agricultores/as
familiares de 18 Sindicatos de Trabalhadores/as Rurais, Educadores Populares da ANEPS
e Agentes Comunitários de Saúde.
Para além da formação de 60 Multiplicadores/as em PICS, destaca-se a
elaboração de 19 Planos de Ação, conforme relatado na metodologia.
Destaca-se ainda, duas ações desenvolvidas, fruto do processo de realização do
Curso de Formação de Multiplicadores/as em PICS, são elas: (i) Parceria Contag e o
Instituto Federal de Brasília – IFB; e, (ii) Parceria Contag e a Fundação Osvaldo Cruz –
FIOCRUZ.
Com o IFB foi realizado um acordo de cooperação técnica para a realização de
um Curso de Extensão de Formação de Multiplicadores/as em Agroecologia. O curso está
em andamento, conta com a participação de 60 educandos/as e tem como referência a
metodologia utilizada no curso de formação de Multiplicadores/as em PICS, com três
inovações: a) elaboração de 8 (oito) cadernos temáticos; b) sistematização de experiências
agroecológicas; e, c) distribuição de sementes de hortaliças para a implantação de
unidades produtivas de horticultura orgânica. As atividades dos itens B e C computam
como carga horária do tempo comunidade.
Com a FIOCRUZ a parceria é voltada para a realização de um Curso de
Aperfeiçoamento em Bioeconomia das Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Agricultura
Familiar. O curso tem 40 participantes e tem como objetivo central qualificar
agricultores/as familiares para a implantação de plantas medicinais atendendo a demanda
dos 19 Planos de Ação elaborados no tempo comunidade do Curso Formação de
Multiplicadores/as em PICS.

Para saber mais...

Nos links a seguir constam aulas online e planas de ação das comunidades:
115

bit.ly/MultiplicaPICS
116

Voltar à escola para participação social no SUS: articulação em rede entre


uma equipe de saúde da família e a Educação de Jovens e Adultos em
Florianópolis-SC
Florianópolis, Santa Catarina - Brasil

Centro de Saúde Agronômica - Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis e Pólo


Avançado de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria Municipal de Educação
de Florianópolis

Mayara Floss, Médica de Família e Comunidade - Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis,


Doutoranda pela Universidade de São Paulo - USP; mayarafloss@hotmail.com; Carolina Gomes
Teixeira Cabral, Médica residente de Medicina de Família e comunidade - Secretaria Municipal de
Saúde de Florianópolis; gtc.carolina@gmail.com; Daniel Godinho Berger, Licenciado em Geografia.
Doutor em Educação - Professor da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. Articulador do Pólo
Avançado de Educação de Jovens e Adultos da Aflodef.; dgberger@gmail.com; Alexandre Nascimento de
Oliveira - Estudante do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) - Secretaria Estadual de
Educação; Centro de Educação de Jovens e Adultos de Florianópolis - Curso de EJA Ensino
Médio;alexnascimento0485@gmail.com; Bia Cruz Freitas, Assistente social, Mestra em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial; cruzbia@gmail.com; Paulo Rogério Pinto Andrade - Licenciado em Ciências
Biológicas - Especialista no Ensino de Ciências. Professor do Pólo Avançado de EJA da Rede Municipal
de Ensino de Florianópolis; paulo.andrade@prof.pmf.sc.gov.br

Introdução

Uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) da Atenção Primária à Saúde


(APS) e um polo avançado Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Florianópolis
construíram uma articulação em rede para agir num dos principais determinantes sociais
do processo saúde-doença: a educação. Desta forma, almejou-se a superação da
desigualdade, formação de lideranças através de jovens e adultos que voltam a estudar e
a empoderar-se dos seus direitos, em especial da saúde, tanto na participação quanto no
engajamento social para potencializar ações locais no âmbito do SUS.

A ação foi desenvolvida na comunidade da Agronômica, a qual situa-se no


município de Florianópolis em Santa Catarina (SC), no sul do Brasil. Caracteriza-se por
ser uma comunidade central e vulnerável coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
com seis equipes de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS). O território da
Agronômica é composto por contrastes como a área de alto poder aquisitivo da Beira Mar
e a região que adentra o território composta por três morros: Morro do Horácio, Vila
Santa Vitória e Morro do 25 (Morro do Chapecó). Entre as conurbações, o principal foco
desta ação é o Morro do 25, o único morro que não possui nem associação de moradores
nem conselho comunitário. Esta comunidade faz parte da área de duas equipes de ESF
organizadas por números e cores: a equipe 690, ou laranja, e a equipe 694, ou lilás.
117

A população do Morro do 25, atendida pela equipe 690 ou laranja, é composta por
moradores locais que remontam a época de resistência à escravidão e migrantes do norte-
nordeste do país que vem em busca de um emprego ou “futuro melhor”. Concentram-se
principalmente nas atividades de serviços domésticos e atividades braçais em geral.
Também compõem a comunidade migrantes venezuelanos e haitianos. Muitas vezes, os
migrantes vêm sem vínculo formal empregatício e têm escolaridade baixa (fundamental
completo ou incompleto).

Nesta mesma localidade, situa-se a Associação Florianopolitana de Deficientes


Físicos-SC (Aflodef), instituição que atua na defesa dos direitos humanos por meio de
projetos que visam a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência na
abrangência da Grande Florianópolis, por meio de atividades físicas, sociais,
complementares de saúde. Para a elevação da escolaridade de seus associados e
comunidade do entorno, oferece em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis
o curso de Educação de Jovens e Adultos no Polo Avançado de EJA-Aflodef, que atende
aos moradores do território da equipe.

Os determinantes sociais da população, principalmente a baixa escolaridade e o


racismo, traduzem-se como uma das principais barreiras de acesso aos direitos em saúde
e participação social. Desta forma, instrumentalizar a comunidade com a educação e
letramento em seu cotidiano tornou-se uma das maneiras da APS desenvolver novas
lideranças para a participação e engajamento social para potencializar ações locais. A
participação social dentro do SUS depende também dos determinantes sociais da saúde,
em especial a escolaridade. Sendo assim, o principal grupo mobilizado pela experiência
foram jovens e adultos que não haviam completado o ensino fundamental e residiam no
território do Centro de Saúde Agronômica. Outro grupo mobilizado foram os próprios
profissionais da educação e da saúde, na área de saúde também profissionais em
formação, que se envolveram no desenvolvimento do projeto.

Metodologia: o Centro de Saúde também é escola e vice-versa – formação e


participação popular

Durante os anos de 2021 e 2022, a equipe da ESF mapeou todas as escolas


públicas próximas à área do Centro de Saúde Agronômica e comunidade e criou um
panfleto informativo com instruções de como se inscrever e voltar às aulas,
118

principalmente em relação ao retorno ao ensino fundamental. Ainda de forma sistemática


nos consultórios, os profissionais de saúde começaram a estimular os pacientes jovens e
adultos se eles manifestassem interesse em voltar a estudar. Se a resposta fosse positiva o
paciente era direcionado para a escola, inclusive com encaminhamento escrito em
receituário para o Pólo EJA da Aflodef. Em diversos casos avisava-se também a escola e
o professor de referência sobre os sujeitos encaminhados, criando uma busca ativa das
pessoas interessadas. Este movimento de mapeamento e o próprio ingresso dos pacientes
na escola aproximou as duas instituições. As Agentes Comunitárias de Saúde também
ajudaram a levá-los até o Pólo EJA da Aflodef para conhecerem a escola.

No dia 22/10/2022 foi realizada uma ação de saúde referente ao “Outubro Rosa”
durante o sábado na praça do Morro do 25 com a oferta de inserção de Dispositivo
Intrauterino (DIU) na Escola Infantil João Machado; atendimentos referente a
anticoncepção; coleta de preventivo; roda de conversa com mulheres; auriculoterapia;
roda de conversa sobre direito à moradia com arquitetas e urbanistas; roda de conversa
sobre “voltar a estudar”; avaliação e orientação odontológica; vacinação e varal de poesia
sobre saúde planetária.

A ação contou com a participação dos estudantes da EJA da comunidade e do


professor que ficaram ao longo do dia atendendo a comunidade tirando dúvidas,
realizando matrículas e conversando sobre “voltar a estudar”. A possibilidade de realizar
os estudos para o Ensino Fundamental por meio de um curso que valoriza os interesses e
necessidades das pessoas, pode ser capaz de aumentar ainda mais o interesse por “voltar
a estudar”, visto que elas podem escolher os assuntos que serão foco de suas pesquisas.
Também participaram da ação dois estudantes do ensino superior do Instituto Federal de
Santa Catarina e também um professor do instituto.

A EJA é uma modalidade da educação básica que deve ser ofertada a partir de
modelos pedagógicos próprios desenvolvidos conforme as características de cada
comunidade, contextos sociais, necessidades e interesses dos sujeitos. Na Rede Municipal
de Ensino, a identidade pedagógica própria da modalidade se constitui por meio da
pesquisa como princípio educativo. Nesta proposta curricular, o processo pedagógico se
desenvolve a partir das pesquisas realizadas em sala de aula, a partir do interesse dos
estudantes.
119

Desta forma, ao ingressar no ensino fundamental os estudantes foram estimulados


pelo professor do Pólo EJA da Aflodef a realizar pesquisas que têm como base as suas
problemáticas de vida, os seus desejos e necessidades e se envolvem em práticas de ação
comunitária que os tornam agentes de mobilização pelo direito à educação. Ao longo do
ano são desenvolvidos cerca de 3 ciclos de pesquisa que compreendem o período de
mobilização didática dos estudantes para formular perguntas que possam se constituir
como problemáticas de pesquisa.

O plano de trabalho proposto pelos professores para o ano letivo de 2022, previa
dois projetos principais: "Pé na rua" e "Mão na Terra". O primeiro tinha por objetivos a
ampliação da territorialidade dos estudantes por meio de trabalhos de campo e saídas de
estudo que contribuíssem para a apropriação de espaços públicos da cidade, em especial
as áreas verdes dos parques. O segundo, tinha dois objetivos: desenvolver o senso de
pertencimento ao espaço escolar desenvolvido nas instalações da Aflodef e promover o
contato com os ciclos da natureza, com a observação do solo, das nuvens, das espécies
vegetais presentes no Polo de EJA.

Durante o ano de 2022 a turma de EJA ocupou-se dos canteiros do pólo e concluiu
o ano letivo com o desafio de ter um espaço maior para o plantio. Foi nesse contexto que,
em 2023, buscou-se com o Centro de Saúde Agronômica a possibilidade de manejo da
horta local que necessitava de cuidados. Assim em janeiro, iniciou-se o projeto integrado
da EJA e da Horta do Centro de Saúde Agronômica que ocorre semanalmente com a
revitalização dos canteiros e a parte da formação dos sujeitos no espaço da APS com
conversas com os profissionais da saúde tanto sobre aspectos da horta como do cuidado
em saúde e participação social.

Além da parceria intersetorial para o encaminhamento de sujeitos do Centro de


Saúde Agronômica para a EJA, ocorreu a presença dos profissionais de saúde nas
atividades da escola, reforçando o espaço da escola como um local de cuidado e
fortalecendo a adesão às atividades escolares.

Resultados: voltar a estudar é mais do que qualquer comprimido

O ano de 2022 mostrou a possibilidade de que o Centro de Saúde poderia


contribuir para a busca ativa dos estudantes para a EJA, além de que os usuários poderiam
120

ter resultados positivos para a saúde ao retornar aos estudos. O resultado desta
aproximação foi a construção de um currículo que é tecido a partir das questões que
atingem a vida dos estudantes, como o alcoolismo, a necessidade de conquistar
autonomia, ou o desejo de realizar um sonho profissional em um processo de reabilitação.

Também em 2022, dois pacientes encaminhados pela APS concluíram o ensino


fundamental. Na ação de sábado, sete pessoas se inscreveram para retornar aos estudos
e a roda de conversa “saúde e educação” que contou com a participação da comunidade,
profissionais da saúde e educação teve a participação de 22 pessoas. Em 2023, já tiveram
cinco encaminhamentos da equipe de ESF que resultaram em duas matrículas na EJA.

O perfil dos usuários que voltam a estudar compõe-se principalmente de


migrantes da região norte e nordeste, pessoas que apresentam situações de saúde mental
como: uso abusivo de álcool, dor crônica ou depressão. O retorno aos estudos,
reconhecimento do seu papel na sociedade e participação social ressignifica a sua história
de vida e da própria comunidade – construindo-se comunidades educadoras.

Um exemplo, é o trabalho de conclusão do ensino fundamental realizado pelo


usuário de 38 anos, encaminhado pelo Centro de Saúde Agronômica, que finalizou este
ciclo de formação em 2022. Ele decidiu realizar uma autobiografia sobre a “Importância
do SUS”, uma pesquisa sobre a origem do SUS que teve entre outros produtos a
elaboração de um texto autobiográfico. Desta forma, a escola também tornou-se um
espaço de cuidado, e até “cura” como o próprio estudante se referia, mas também como
empoderamento e participação social.

Outro exemplo, é a pesquisa de um estudante que abordou o desafio de se tornar


um caminhoneiro. Em ambas as situações, os estudantes encontravam-se amparados pelo
sistema de previdência para tratamento da saúde e buscavam novas alternativas para
repensar os seus projetos de vida.

A aproximação entre as equipes da saúde e da educação possibilitou a criação de


uma articulação em que se busca o olhar integral para o sujeito. Foi nesse aspecto que a
EJA percebeu o cuidado da saúde de um paciente com múltiplas deficiência como um
componente curricular que está diretamente relacionado com a sua pesquisa e ao mesmo
tempo, o seu projeto de vida de ser uma pessoa mais independente. Entre as articulações
intersetoriais, destacam-se o encaminhamento para o processo de reabilitação, a
orientação para o agendamento de consultas e realização de exames.
121

Na revitalização da horta do Centro de Saúde Agronômica buscou-se junto com


os estudantes um mergulho investigativo que teve como objetivo o próprio sentido de se
criar uma horta medicinal num espaço de saúde. Para tanto, foram identificados conceitos
pertinentes para a participação social no cuidado da horta, que foram: a economia de
mercado e a sustentabilidade. Com isso, em sala de aula estudou-se as características da
economia de mercado e os desafios para a sustentabilidade ambiental, situando a horta
como um espaço pedagógico.

Os desafios que persistem apesar da ação empreendida, indicam, em tempo, a


necessidade de entretecimento curricular por meio de práticas pedagógicas que culminem
em ações comunitárias no referido território. Nesse aspecto o currículo não é
compreendido como um conjunto de conteúdos previamente definidos a serem
desenvolvidos como conteúdos escolares, mas como uma trama, tecida por vetores que
consideram o interesse dos estudantes e as experiências que articulam diferentes espaços
e tempos pedagógicos. Busca-se nesse sentido, a integração de saberes advindos das
experiências dos sujeitos, com os conhecimentos propedêuticos pertinentes à educação
básica e da educação permanente que tem como foco a comunidade local na abrangência
da unidade de saúde.

Entre as uma das barreiras encontra-se a retenção dos profissionais da saúde no


contexto do município de Florianópolis, no Centro de Saúde Agronômica, em especial,
em relação à infraestrutura e o tamanho da área adscrita com o agravante da
vulnerabilidade dessas comunidades. Há uma cobrança para que os profissionais fiquem
todo o tempo de trabalho dentro dos consultórios, realizando atendimentos individuais,
por meio de metas e índices de produtividade que não são capazes de medir a importância
desse tipo de ação para os pacientes e território. Isso diminui a possibilidade de criações
como esta parceria intersetorial entre EJA e APS. O resgate das ações de participação
social e da própria participação das equipes de saúde nos aparatos do território é essencial.
Formas de ampliar ações como a descrita, para se tornarem políticas nacionais, é essencial
para o fortalecimento da participação social e formação dos sujeitos.

Esta parceria entre os profissionais de saúde e profissionais da EJA no território,


foi estendida a pelo menos outras duas unidades de saúde da região central, bem como às
outras cinco equipes do Centro de Saúde Agronômica. Nesse aspecto, para além da
capilaridade e potencialidade da ação do Centro de Saúde Agronômica na identificação
de demandas para matrícula e sensibilização de pacientes que se configuram como
122

sujeitos desta modalidade, a aproximação entre as duas instituições até então realizada,
demonstrou a possibilidade de que a parceria se configure como uma estratégia
multidisciplinar de acolhimento comunitário e o desenvolvimento de um currículo que
amplia a compreensão do que vem a ser conteúdo escolar ao abranger o reconhecimento
dos direitos da população atendida. Além de estar atuando no determinante de saúde da
escolaridade, a volta aos estudos também pode ser terapêutica no sentido de ocupar o
espaço de um projeto de vida das pessoas, e também um projeto de SUS.

A parceria realizada possibilitou a criação de um modo de acolhimento da


comunidade. Percebeu-se que a escolarização se configurou como uma experiência
terapêutica, na medida em que os estudantes desenvolveram pesquisas que o colocaram
em contato com o seu próprio projeto de vida, por exemplo: o estudo do SUS como
percurso pedagógico; ser caminhoneiro como possibilidade de projeto de vida; um jovem
com deficiências múltiplas que descobriu que pode construir sua autonomia por meio do
estudo e que isso está diretamente ligado com a sua saúde.

Assim, há um “borramento” dos limites da escola e do centro de saúde, na horta


fica a dúvida se os sujeitos são pacientes ou estudantes ou educadores, tornando o próprio
Centro de Saúde uma “sala de aula” ou uma “horta de aula”. Este confundimento cria
protagonismo para a participação social da comunidade.

Desta forma, o engajamento intersetorial entre saúde e educação, através da


integração entre APS e EJA se apresenta como importante instrumento de superação dos
determinantes de saúde, com plataformas de acesso à direitos do próprio território e a
construção de e comunidades que “educam” e “cuidam”. Voltar a estudar amplia as
condições de vida dos sujeitos em curto, médio e sobretudo a longo prazo, modifica o
determinante de saúde e fortalece a participação popular.

Agradecimentos

Os autores saúdam em especial as Agentes Comunitárias de Saúde do Centro de


Saúde Agronômica: Ludyanara, Ana Cristina, Michele, Ana Costa, Sirlei, Joel, Sivone,
Débora, Ana Cláudia, Cleia e Jucicleia. Agradecemos também a equipe de serviços gerais,
Dilma e Valéria, que ajudam a cuidar da horta, regando-a.
123

Para conhecer mais...

• Caderno pedagógico da EJA


• Exemplo de orientações para voltar a estudar.
• Notícia veiculada na mídia local

bit.ly/VoltaEscola
124

Comitê Comunitário Virtual: Experiência de Controle Social no


Monitoramento de Ações de Enfrentamento da Covid-19 nos Bairros
Populares de Salvador
Salvador/Bahia - Brasil

Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das Ações de Enfrentamento da Covid-


19 nos Bairros Populares de Salvador

Fabiana Almerinda G. Palma, Sanitarista, Mestre em Epidemiologia, fabiana.palma@yahoo.com.br;


Francisco dos Santos Santana, Economista, Mestre em Epidemiologia, frsantana58@gmail.com; Cristina
Melo, Enfermeira, Doutora em Saúde Pública, cristinameirademelo@gmail.com; Tania Maria Gonçalves
Palma Santana, Assistente Social, palmalua@gmail.com; Vilma Reis, Socióloga,
vilmareis689@gmail.com, Maria José Pacheco, Assistente Social, zezepacheco73@gmail.com

Introdução

Salvador é uma cidade desigual. A maioria de sua população é negra, mora nas
comunidades empobrecidas no centro e na periferia da cidade, tem renda mensal menor
que dois salários mínimos, nível de escolaridade abaixo do ensino fundamental, residem
em condições de moradia precárias e desumanas, com pouca ventilação, alta densidade
domiciliar, desemprego crônico, violência policial por histórica concentração de renda e
discriminação. Em tal cenário, as doenças infecciosas, como a Covid-19, e muitos outros
agravos encontram condições ideais para sua disseminação.

A experiência histórica revela que em sociedades desiguais, com discriminação de


raça/etnia, gênero e classe social como a em que vivemos, os recursos públicos de saúde,
em particular recursos diagnósticos e leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são
escassos e dificilmente acessados por populações em condições de vulnerabilidade se não
houver união, mobilização e luta.

Considerando a realidade da desvantagem socioeconômica e as iniquidades em


saúde nos territórios onde residem a maioria dos moradores e moradoras de bairros
populares em Salvador, membros de associações de moradores, coletivos, militantes dos
movimentos sociais e profissionais da saúde se uniram. Um coletivo organizado resolveu
tomar a iniciativa de mobilizar e articular diferentes comunidades, universidades e setores
dos mais diversos em Salvador para assumir um papel protagonista no enfrentamento da
Covid-19. O cenário político nacional era de negação da pandemia da Covid-19, falta de
propostas e de ação dos governos federal e local frente ao avanço rápido da transmissão
da Covid-19 nas comunidades. Além disso, era presente a falta de recursos básicos como
125

água tratada, funcionamento da rede de atenção básica de serviços de saúde e de


informações e orientação confiáveis e adequadas à realidade cultural, social e econômica
das comunidades.

O Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das Ações de Enfrentamento da


Covid-19 foi uma inciativa popular que ocorreu na cidade de Salvador quando foi
decretado o início da pandemia da Covid-19 no Brasil. A atuação desse coletivo foi
fundamental para conseguir organizar e vencer algumas das batalhas sofridas pelas
populações vulnerabilizadas da cidade durante o período da pandemia da Covid-19.
Assim, para que fossem construídas e efetivadas as pautas do Comitê contamos com o
apoio de uma ampla gama de entidades, lideranças, movimentos e coletivos das
comunidades, universidades e trabalhadores da saúde para construção e realização de
soluções conjuntas, apoios, esclarecimentos e busca de articulação e reivindicações junto
aos poderes públicos.

Desse modo, buscamos realizar o diagnóstico dos problemas, necessidades e


demandas dos bairros populares para encaminhar aos gestores, apoiar e monitorar as
ações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), defender a adoção das
ações exitosas de enfrentamento da doença adotadas em outros países como China,
Coréia, Venezuela e Cuba, e assegurar que os recursos de prevenção, controle, diagnóstico
e tratamento pudessem ser acessados pelas pessoas mais vulnerabilizadas em nossas
comunidades, evitando assim, que as mortes pudessem atingir desproporcionalmente a
população negra e pobre da cidade de Salvador.

Buscamos mobilizar e articular o protagonismo de lideranças, organizações e


movimentos sociais existentes nas comunidades populares de Salvador, sindicatos de
trabalhadores em saúde, movimentos negros, feministas, ambientalistas, organizações de
defesa dos direitos humanos, religiosos e universidades para cobrança das ações efetivas
de proteção da Covid-19. Secundariamente, foi identificado e mapeadas as demandas e
necessidades dos bairros, ajudando as comunidades a encaminhar as reivindicações junto
aos gestores públicos. Também foram desenvolvidas ações de educação em saúde com
mulheres e com agentes comunitários de saúde.

Quem participou?
126

O envolvimento e mobilização das organizações e parceiros ocorreu por meio de


contato prévio, por telefone ou e-mail, participação em reunião virtual para apresentação
dos objetivos do Comitê e das necessidades de reivindicação para o enfrentamento da
pandemia da covid-19 pelas populações dos bairros populares de Salvador. O Comitê
contou com a participação ativa de seis integrantes que compunham o Grupo Impulsor
Comunitário. Posteriormente, esse grupo passou a contar com cerca de 12 integrantes que
ativamente estiveram envolvidos e envolvidas nas reuniões e construções das ações do
coletivo.

Dados do levantamento produzido pelo Comitê Comunitário em abril de 2020


identificou o alcance de mais de 35 representantes de Entidades/Organizações/
Movimentos sociais/ coletivos de Salvador, conforme tabela abaixo. Essas instituições
estiveram envolvidas e atuando diretamente no apoio aos diagnósticos da situação da
Covid-19, dos problemas e necessidades de saúde das comunidades populares de
Salvador, divulgação dos instrumentos, compartilhando as informações produzidas e
divulgadas nas mídias sociais do Comitê, e de reuniões ampliadas para discussão e
encaminhamentos de pautas de interesse de todo o grupo.

Segundo as métricas das mídias sociais do Comitê, o Facebook conta com um


total de 608 seguidores. No Instagram, a página do coletivo possui cerca de 1.961
seguidores. No grupo de WhatsApp e no Twitter, o nosso alcance é de 78 participantes e
51 seguidores, respectivamente.

Tabela 1. Lista das entidades/organizações/movimentos sociais e coletivos dos bairros de


Salvador-Bahia envolvidas com o Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das
Ações de Enfrentamento da Covid-19. Salvador, 2020.

Nome da entidade/organização/movimento social


Associação de Moradores do Alto do Cabrito (AMACA)
A Voz do Subúrbio
AMCRV
Associação Comunitária de Moradores do Loteamento Jardim das Mangabeiras Cajazeiras 8
Associação Cultural e Esportiva da Comunidade de Canabrava - ACECC
Associação de Moradores da Comunidade do Barreiro Vale do Paraguari e Adjacências (AMCBVA)
Associação de Mulheres Koxerê
Associação dos Moradores do Nordeste de Amaralina (AMNA)
Candaces /UNEB
127

Cedeca BA
CEDHU
Centro Cultural Mamulengo (CCM)
Centro Cultural que Ladeira é essa
Centro Educacional Comunitário Educar pra Liberar
Cirandeiras
Coletivo Cultural Assim é o gueto
Coletivo de Mulheres do Calafate
Coletivo de Mulheres Negras Ayomidê Yalodê
Coletivo MULHER POR MULHER DO SUBÚRBIO
Coutos Contra o Covid19 e Associação Cultural Pé de Moleque
CRIA e Rede Mulher e Mídia
Defende Brasil, direitos humanos
Escola de Dança da Funceb
Espaço Tô Vivendo
Federação das Associações de Bairros de Salvador (FABS)
Grupo de Jovens Liberdade Já!
Ilê Axé Maroketu
Instituto de Esporte, Cidadania e Inclusão Social - IECIS
Instituto de Mulheres Kalamaço
Juventude Ativista de Cajazeiras
Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho
Mulheres de Fibra do Calabar
Odara Instituto da Mulher Negra
ONG Bahia da Paz
Paroquia Conversão de São Paulo
Projeto Corisco
PSB
Samba de Mesa no Gogó
Fonte: Comitê Comunitário

Metodologia/Desenvolvimento

O funcionamento do Comitê foi virtual. Para isso, utilizamos como recursos a


internet e as redes sociais como o WhatsApp, Facebook e Instagram. A comunicação e
contato com as primeiras pessoas envolvidas no Comitê ocorreu com o uso de ferramentas
de videoconferências do Google Meet, sendo esta a principal estratégia utilizada para as
reuniões e organização das ações de controle social, educação popular em saúde e
articulação com coletivos/entidades e instituições de Salvador.

No Comitê, contamos com o Grupo Impulsor Comunitário (GIC), uma


coordenação para servir de “cimento”, liga da articulação e mobilização das entidades,
128

lideranças e movimentos das comunidades, profissionais de universidades públicas,


trabalhadores e trabalhadoras em saúde que realizava reuniões periódicas semanalmente
e/ou quinzenalmente. Um Grupo de Comunicação e um Ampliado (WhatsApp) foi
organizado e era composto por representantes de entidades, lideranças, professores e
professoras de universidades públicas, trabalhadores e trabalhadoras da saúde. Estes
grupos foram responsáveis para elaboração das ações de comunicação e ainda,
disseminação e diálogo sobre as pautas prioritárias do Comitê.

Realizamos a compilação, organização de dados e divulgação de informações


confiáveis sobre a Covid-19 nos bairros de Salvador. Ações para repercussão e
encaminhamentos das reivindicações de interesse coletivos das populações dos bairros
populares de Salvador também foram construídas. Assim, uma coordenação democrática
representativa e não hierárquica, com maioria dos integrantes dos segmentos populares
foi estabelecida.

O Comitê realizou ações e apoiou coletivos sem qualquer orientação oficial à


época. Também tornou público documentos com reivindicações. Não fez mais, pois na
pandemia, as desigualdades se ampliaram. Doenças como a Covid-19 e outras,
encontraram as condições ideais para sua disseminação. O maior limite para a ação foi a
própria falta de recursos materiais para apoiar a subsistência das comunidades.

Resultados

O Comitê Comunitário mobilizou e articulou cerca de 43 bairros de Salvador e de


45 entidades/organizações e coletivos populares, elaborou dois inquéritos, um informe e
cinco relatórios sobre a situação da Covid-19 nos bairros populares de Salvador, submeteu
e aprovou um projeto de apoio assistencial às famílias de baixa renda com doações de
cestas básicas e livros para 200 famílias.

O Comitê organizou e realizou um ato simbólico em ponto turístico de Salvador,


elaborou uma cartilha e curso básico online sobre a prevenção da Covid-19, três lives,
quatro ofícios/cartas de reivindicações e denúncias para órgãos de saúde, ações de
educação popular em saúde com Agentes Comunitários de Saúde (ACS), um inquérito
sobre a vacinação contra a doença provocada pela covid-19 e uma cartilha de orientações
para a prevenção, controle e combate à Covid-19. Destaca-se ainda, a construção e ampla
129

divulgação de uma campanha educativa para as festas de fim de ano, além da divulgação
de informações úteis, compartilhamento de notícias e materiais educativos.

Os resultados supracitados foram e continuam sendo relevantes no fortalecimento


coletivo das Comunidades para o monitoramento e controle social sobre as políticas
públicas de saúde, desde as políticas básicas, até aquelas que incidem em cidades, como
Salvador. Levando em conta que ter mais informações de qualidade sobre o orçamento
da saúde, as políticas de definição de investimentos com equipes multiprofissionais,
medicamentos e outros investimentos são muito importantes neste fortalecimento. Para o
bom êxito destas ações precisamos de formação permanente junto as lideranças populares
e participantes das lutas locais pelo direito à saúde. Estas formações devem levar em conta
o enfrentamento ao racismo, ao sexismo, a LGBTfobia e outras formas de opressões.
Desta forma podemos alcançar gestões públicas democráticas em saúde, a partir de nossas
cidades e comunidades.

Para conhecer mais...


• Mídias sociais
• Materiais produzidos

bit.ly/ComiteCOVID
130

Encontros de educação em saúde com pessoas privadas de liberdade


Salvador/Bahia - Brasil.

Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP)

Andreia Beatriz Silva dos Santos, Mestra em Saúde Coletiva e Médica de Familia e Comunidade, email:
andreiasantos72@hotmail.com; Lavinia Boaventura Silva Martins, Especialista em Saúde Pública e
Fisioterapeuta email: laviniasilva@bahiana.edu.br

Introdução
No mundo existem mais de 10 milhões de pessoas privadas de liberdade e uma
parte importante destas pessoas estão vivendo em condições sanitárias precárias, em
instituições superlotadas e com pouco ou nenhum acesso a serviços de saúde. A população
privada de liberdade no Brasil vem crescendo ao longo dos últimos anos, colocando o
país no terceiro lugar no ranking populacional prisional mundial, com mais de 750 mil
pessoas jovens, negras, com baixa escolaridade e que se encontram em situação de grande
vulnerabilidade. Metade das instituições prisionais brasileiras não possuem consultório
médico e historicamente, as ações de saúde têm sido de cunho reducionista e biologicista,
demandando estratégias que superem estes os aspectos na abordagem de saúde deste
grupo. Estudos apontam que há muitas mortes que poderiam ser evitadas entre as pessoas
que estão presas, revelando a desassistência e exclusão destas pessoas do Sistema Único
de Saúde (SUS).
O acesso a saúde no âmbito prisional está previsto pela Lei de Execução Penal
(LEP) e sua inclusão no SUS tem se dado através da Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade, a PNAISP. Esta política que tem como diretriz
principal o atendimento às pessoas presas em todos os níveis de complexidade, ampliando
e organizando desde as formas de financiamento das equipes de saúde prisional até as
principais ações de saúde para as pessoas presas, incluindo ações de educação em saúde.
Diante desta realidade, surge a proposta de realização de encontros para discussão
sobre saúde com pessoas privadas de liberdade, envolvendo estudantes dos cursos de
graduação em saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e
profissionais de saúde que atuam na unidade de saúde da Penitenciária Lemos
Brito(PLB), na cidade de Salvador, Bahia. A intervenção em tela encontrou amparo na
131

equidade que, enquanto princípio do Sistema Único de Saúde, permite uma abordagem
de saúde diferenciada, reconhecendo as necessidades e especificidades das pessoas que
se encontram em desvantagem no acesso a saúde e as assimetrias que incidem nas pessoas
que se encontram presas.
A iniciativa foi acolhida em parceria entre a direção e a equipe de saúde da
Penitenciária Lemos Brito, a instituição de ensino Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública/Coordenação da disciplina Prática Interprofissional em Saúde e as pessoas
privadas de liberdade, pois o tema saúde das pessoas privadas de liberdade encontra
pouco ou nenhum espaço durante o processo de formação de profissionais de saúde. Neste
sentido, a proposta apresentada ganha relevância no caminho para a superação dos
estigmas que envolvem as pessoas presas, o espaço prisional e o cuidado a saúde desta
população. Na PLB existem 03 equipes de saúde, cada uma com: 01 médica,
01enfermeira, 01dentista, 01 técnica de enfermagem e 01 técnica de higiene dental, as
quais se dividem para o atendimento a população prisional. A unidade ainda conta com
01 psiquiatra, 02 assistentes sociais e 02 psicólogas para as pessoas presas naquela
unidade. Foi identificado que as equipes de saúde prisional se encontram imersas em
práticas individuais de assistência, reservando pouco ou nenhum espaço para atividades
coletivas de promoção da saúde e prevenção de agravos.
Os encontros ocorreram semanalmente, de agosto a dezembro de 2022, nas
dependências do Módulo IV da PLB, que abriga aproximadamente 150 pessoas em
situação de prisão. Este módulo, juntamente com os Módulos I, II, e V, compõe a
Penitenciária Lemos Brito. Esta unidade prisional é a maior em regime fechado de prisão
e é a mais antiga em funcionamento no estado e foi erguida na década de 1950, no bairro
da Mata Escura, na cidade de Salvador. Atualmente tem capacidade para 771 pessoas,
mas abriga, aproximadamente 1000 pessoas, acomodadas nos quatro módulos. Lá, as
pessoas já estão condenadas pelo sistema de justiça criminal e terão de cumprir a pena de
privação de sua liberdade, devendo os demais direitos serem resguardados pelo Estado,
entre eles, a saúde.
Objetivos da experiência: 1. Realizar encontros entre estudantes dos cursos de
graduação em saúde, profissionais de saúde e pessoas privadas de liberdade para a saúde,
na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, Bahia de agosto a dezembro de 2022; 2.
Promover práticas de educação em saúde para a população privada de liberdade no
módulo IV da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, Bahia; 3. Promover a participação
e a corresponsabilização no cuidado a saúde da população prisional, através da abordagem
132

dos seus principais problemas de saúde, fortalecendo a adesão das pessoas presas;
4.Potencializar o processo de trabalho da equipe de saúde prisional, com vistas a melhoria
das condições de saúde da população privada de liberdade; 5.Introduzir o debate sobre o
cuidado com equidade, com ênfase nas necessidade de saúde das pessoas presas, no
processo de formação de profissionais de saúde de forma precoce e contextualizada
(graduação e profissionais de saúde); 6. Garantir o acesso aos cuidados em saúde dentro
dos princípios do SUS, tendo a educação em saúde como uma importante ferramenta no
cuidado na Atenção Primária à Saúde.

Metodologia
As práticas de educação ocorreram no interior do Módulo IV da Penitenciária
Lemos Brito, de agosto a dezembro de 2022. Lá se encontram homens jovens e adultos,
mulheres trans e pessoas idosas, muitas delas com limitações físicas. O processo de
preparação para a realização das práticas educativas envolveu seis momentos. No
primeiro momento ocorreu a preparação para entrada no território, com duração de cinco
semanas com os estudantes da graduação, envolvendo discussão e aproximação com a
literatura que versa sobre práticas interprofissionais em saúde, políticas e ciclo de
políticas de saúde, políticas de saúde para pessoas privadas de liberdade, atividades em
grupo e trabalho multidisciplinar em saúde. O segundo momento, a territorialização,
envolveu a realização de uma visita dos estudantes para conhecer o território, aqui
identificado como a PLB, reconhecendo a estrutura e a dinâmica de funcionamento da
instituição. Após a territorialização, o terceiro momento foi uma reunião com a equipe de
saúde, oportunidade em que os profissionais diversos informaram os principais agravos
que incidiam na população atendida, além das dificuldades encontradas pela equipe de
saúde para o cuidado das pessoas. No quarto momento, houve uma roda de conversa com
as pessoas privadas de liberdade onde ocorreu a apresentação dos estudantes, a
apresentação da disciplina Práticas Interprofissionais em Saúde e o levantamento dos
principais problemas de saúde identificados pela população prisional o público. No quinto
momento os estudantes se reuniram para discutir a territorialização, as informações
fornecidas pela equipe de saúde e pelas pessoas em situação de prisão, articulando com a
literatura e as discussões realizadas na fase de preparação. Foram identificados os
principais temas elencados em comum com vistas a priorização das temáticas a serem
trabalhadas, levando em conta a estrutura e a dinâmica de funcionamento da unidade
prisional, com destaque para questões de segurança, os limites e possibilidades apontados
133

pela equipe de saúde e pelas pessoas presas. No sexto momento, houve uma reunião para
a apresentação e discussão da proposta de intervenção, com temas escolhidos, datas,
prazos, formato da atividade e responsabilidades para as práticas de educação em saúde
dentro a unidade prisional, com a PPL, profissionais diversos da equipe, coordenações de
saúde e segurança, estudantes e responsável pela disciplina Práticas Interprofissionais em
Saúde. Como parte do processo, foram ajustados e pactuados encontros semanais dentro
do Módulo IV da Penitenciária Lemos Brito, nas segundas-feiras, das 14h as 17h, em
horário adequado de forma a respeitar as regras de segurança para entrada na unidade, e
também a rotina dos internos da penitenciária e da instituição, sobretudo observando o
horário em que é servida a refeição da noite, a qual é fornecida no final da tarde.
Entre os temas elencados estão: Saúde do Homem, Depressão, Cefaléia,
Hipertensão, Diabetes, Alimentação saudável, Prevenção de doenças, Saúde da população
LGBTQIPNA+, Infecções sexualmente transmissíveis em seus eixos de prevenção,
tratamento e recuperação, além da abordagem dos mitos que envolvem estes temas.
Foram realizados 12 encontros semanais, com uma variação de participação em
torno de 20 a 40 pessoas presas, aproximadamente 05 profissionais da equipe de saúde da
atenção primária prisional (EAP) que se revezam na participação - para que a assistência
a saúde seja mantida para as demais pessoas presas -, 10 estudantes de graduação das
diversas áreas de saúde matriculados na disciplina de Práticas Interprofissionais em
Saúde, promovida pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e também
em torno de 02 a 03 policiais penais que atuam no serviço de saúde e/ou no módulo
prisional em questão. A realização das atividades recebe apoio da direção da Penitenciária
Lemos Brito, da coordenação de saúde da unidade prisional e da coordenação da
disciplina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Transversalizando os encontros são discutidos temas que permitem um olhar com
equidade para a complexidade que envolve o debate sobre as prisões e sua função social,
como o surgimento e o papel das prisões, relações étnico-raciais e encarceramento,
gêneros e prisão, políticas de guerra as drogas, abolicionismo penal, aproximando os
estudantes, a equipe de saúde e as pessoas presas da produção de autores como Angela
Davis, Loic Wacquant, Michel Foucault, Luis Carlos Valois, Ruth Gilmore, entre outras.
Ainda que não haja tempo hábil para um aprofundamento da produção destes autores, as
suas trajetórias acadêmico-políticas são apresentadas em sua interlocução com realidade
prisional. Além disto, os livros e textos destes e outros autores são apresentados ao longo
134

dos encontros sob a forma física para que o grupo possa conhecer e são disponibilizados
ao grupo, quando demandado.
Foram realizados: exposição dialogada, jogos, dinâmicas de grupo, Rodas de
Conversa. Ao final de cada encontro como os diversos atores envolvidos, foi realizada
uma avaliação qualitativa com o grupo e depois separadamente com o grupo de estudantes
e equipe de saúde. Os principais desafios encontrados estão relacionados a logística de
funcionamento de uma unidade prisional, onde as rotinas e horários e demandas de
segurança e judiciais vem em primeiro lugar. É necessário ultrapassar as barreiras criadas
pela sociedade em relação aos direitos das pessoas presas e os mitos sobre o perfil e
comportamento negativos das pessoas presas e também das pessoas que lá trabalham. Por
fim, a própria dinâmica da prisão (limites de segurança, funcionamento somado a
estrutura física e suas limitações) impuseram restrições para a realização de algumas
atividades e uso de equipamentos, a exemplo de exibição de filmes.

Resultados
Por meio desta experiência foi possível fomentar a participação das pessoas presas
em atividades de educação em saúde, através do contato com os temas discutidos que
promovem reflexões e outros olhares sobre o pensar e produzir cuidados em saúde para
as pessoas presas. Compreende-se que os resultados estão sendo colhidos pela equipe e
pela população prisional e também serão colhidos ao longo do processo de formação pelos
estudantes do curso de saúde da disciplina PIS e posteriormente no processo de cuidado
das pessoas com as quais estarão envolvidas. Também percebe-se algumas mudanças
provenientes dos encontros de educação: maior aproximação das pessoas presas com a
equipe de saúde, melhora da adesão medicamentosa e não-medicamentosa ao tratamento
da população prisional, uma maior compreensão da importância do pacto de
corresponsabilidade no cuidado a saúde, desconstrução de mitos sobre adoecimentos,
tratamento e cura de doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis, maior
compreensão dos profissionais de saúde sobre os limites e possibilidades para o cuidado
das pessoas que se encontram privadas de liberdade. Tem sido percebido pela equipe de
saúde uma sensível redução nos atendimentos das intercorrências das doenças crônicas e
suas descompensações.
As avaliações apontaram que os encontros foram bastante positivos e contribuíram
para a formação dos estudantes de saúde e para que as pessoas presas aprendam mais
sobre saúde e descontruam mitos sobre alguns temas. Dos principais objetivos,
135

destacamos a garantia do acesso aos cuidados em saúde dentro dos princípios do SUS,
com a compreensão da educação em saúde como uma importante ferramenta no cuidado
na Atenção Primária à Saúde. Ainda como parte dos resultados, temos a manutenção da
discplina Pratica Interprofissional em Saúde: Encontros de educação em saúde com
pessoas privadas de liberdade no primeiro semestre de 2023, uma vez que os impactos
positivos e benefícios gerados puderam ser identificados, para a equipe de saúde,
estudantes de graduação em saúde e pessoas privadas de liberdade.
Uma vez que se trata de atividades realizadas no interior de uma unidade prisional,
há restrições no que tange o registro e divulgação das atividades.

Para saber mais: Encontros de educação para a saúde com pessoas privadas de
liberdade
Para que vocês possam conhecer um pouco mais do nosso trabalho, podem acessar, nos
links abaixo, as informações sobre a disciplina PIS-Prática Interprofissional em
Saúde/Programa Candeal da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e um resumo
de artigo publicado nos Anais do 13º Congresso da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva, que apresenta nossa primeira experiência em uma unidade prisional feminina
com a disciplina PIS, o qual nos ajudou a aprimorar a metodologia de nossa proposta de
intervenção.

bit.ly/EncontrosEducacao
136

Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde – Edpopsus


Rio de janeiro/RJ - Brasil

Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)


Autores: Vera Joana Bornstein, Doutora em Saúde Pública vejoana@gmail.com e
vera.joana@fiocruz.br; Grasiele Nespoli, Doutora em Educação em Ciências e Saúde
grasiele.nespoli@fiocruz.br; Marcia Cavalcanti Raposo Lopes, Doutora em Psicologia Social
marcia.lopes@fiocruz.br; Luanda de Oliveira Lima. Doutoranda em Saúde Coletiva
luanda.ol@gmail.com.

Introdução

Em 2013 foi instituída Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-


SUS), como fruto do trabalho feito pelo Movimento de Educação Popular em Saúde e
como reivindicação junto ao Ministério da Saúde, no sentido de fortalecer a perspectiva
da educação popular no âmbito do Sistema Único de Saúde, com práticas educativas
progressistas e o estímulo à participação social no SUS

Com o intuito de implementar a PNEPS-SUS, foi organizado em 2013/2014, o


curso de sensibilização em Educação Popular em Saúde – EdPopSUS I, promovido pela
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do Ministério da Saúde e com a
coordenação executiva da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) da
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Este primeiro curso foi realizado em 8 Estados e
no Distrito Federal e teve a duração de 53 horas, sendo 32 horas presenciais, por meio de
4 encontros, 11 horas de conexão virtual e 10 horas de atividades de campo. Foram
certificados aproximadamente 11.000 trabalhadores.

A experiência exitosa do curso mostrou a importância de sua continuidade e


aprofundamento, no entanto a indicação era de que na nova versão, o curso fosse
totalmente presencial, considerando que na experiência anterior o conteúdo à distância
não foi bem avaliado pelos participantes.
137

O espaço considerado privilegiado para a realização do curso, foi o da Estratégia


Saúde da Família (ESF) que tem o papel de reorganizar a atenção básica no país, em busca
da ampliação do acesso, do cuidado centrado no território e no usuário, com garantia da
integralidade, de ações intersetoriais e com foco na promoção da saúde e na prevenção de
doenças. Os fundamentos teórico-metodológicos da Educação Popular propõem novas
formas de aproximação à população e ao seu saber, se ajustando ao modelo de atenção
proposto pela ESF.

A partir da experiência da primeira versão do EdPopSUS, a Escola Politécnica


Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em conjunto com
o Ministério da Saúde, especificamente do Departamento de Gestão Estratégica e
Participativa e os diferentes coletivos organizados da Educação Popular em Saúde (EPS),
organizou a realização do EdPopSUS II, orientado sobretudo a profissionais de nível
médio, buscando favorecer a atuação desses profissionais em processos de defesa de
Direitos à Saúde da população e no fortalecimento da participação nos processos de
formulação, implementação, gestão e controle social das políticas públicas.

A segunda edição do curso, manteve, portanto, o objetivo de contribuir com a


implantação da PNEPS-SUS, qualificando a prática educativa de profissionais e
lideranças comunitárias que atuam em territórios com cobertura da atenção básica do
SUS, tendo como base o referencial político-metodológico da EPS, potencializando o
cuidado, a participação e a mobilização popular nos territórios.

Este relato de experiência se refere à segunda edição do curso de Educação


Popular em Saúde (EdpopSUS II), um curso de Aperfeiçoamento que foi coordenado pela
EPSJV e que contou com o financiamento e parceria do Ministério da Saúde. O curso
iniciado em dezembro de 2016, foi realizado de forma descentralizada, em 193
municípios de 15 diferentes estados (Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso,
Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Roraima, São Paulo e Sergipe). A definição dos Estados participantes do projeto foi
fundamentada pela história de participação em experiências de Educação Popular, na
busca de fortalecer e ampliar essas experiências. O curso foi organizado em 160 horas,
divididas em 17 encontros presenciais de 8 horas, somando 136 horas, mais 24 horas de
trabalhos de campo, intercalados entre os encontros.

O EdpopSUS II continua acontecendo por meio de acordos de cooperação técnica


entre a EPSJV e outras Escolas de Saúde Pública ou Governos estaduais e municipais e é
138

ainda a maior estratégia formativa no campo da educação popular em saúde, mesmo não
tendo sido possível renovar seu financiamento a partir de 2019, devido às mudanças de
governo e ao desinvestimento nas ações de educação popular e participação política.

O curso busca favorecer a atuação dos trabalhadores nos processos de conquista


do direitos à saúde da população, de valorização dos saberes populares e de
fortalecimento da participação social. É direcionado, sobretudo, à formação de agentes
comunitários de saúde (ACS), agentes de vigilância em saúde (AVS), agentes de controle
de endemias (ACE) e trabalhadores que atuam na prevenção de doenças e na promoção
da saúde, onde a educação em saúde é uma estratégia fundamental para sua prática
profissional.

Quem e quantos participaram?

Inicialmente o curso foi previsto para 7000 participantes, sendo que 70% das
vagas foram reservadas para ACS e AVS/ACE e o restante foi disponibilizado para outros
trabalhadores da atenção básica, representantes do controle social e de movimentos
sociais.

Metodologia/Desenvolvimento:

A construção do currículo foi feita coletivamente, por meio de quatro oficinas


nacionais, que contaram com a participação de 90 representantes de movimentos sociais
e de educação popular em saúde, escolas técnicas do SUS, Secretarias Estaduais de Saúde
e outras instituições da saúde.

Foi elaborado material didático específico para o curso, comum a educadores e


educandos:

• Guia do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde que se


propõe a ser o fio condutor da experiência, com orientações sobre temas,
objetivos e atividades pedagógicas de cada eixo.

• Textos de Apoio, um compêndio que organiza e disponibiliza conteúdos


considerados fundamentais para a trajetória formativa.

Em relação ao caminho metodológico:


139

● Em cada estado, é organizada uma oficina de formação docente, com


duração de 40 horas, na qual é ressaltada a importância de manter uma
flexibilidade de planejamento local para atender as diversas realidades;

● O trabalho de campo realizado entre cada Encontro é pensado como uma


forma de trazer a realidade local, tomando-a como ponto de partida na
abordagem dos conteúdos;

● O guia busca auxiliar educadores e educandos na condução dos encontros:


serve como uma trilha e não um trilho;

● O material didático busca proporcionar uma diversidade de linguagens, para


além dos textos escritos e na maioria das turmas são realizadas visitas
externas a diferentes espaços e territórios, como atividade complementar;

● Foram definidos seis eixos temáticos nos quais são abordados: gestão
participativa e sistematização de experiências; Educação Popular e o
Processo de Trabalho na Atenção Básica; Direito à Saúde e Promoção da
Equidade; Território, lugar de História e Memória; Participação no processo
de democratização do Estado; O território e o processo de saúde-doença-
cuidado;

● O encerramento do curso é realizado no 17º encontro, com uma Mostra


estadual onde são compartilhadas as experiências de cada turma. Essas
Mostras ocorrem em praças, escolas, clubes, centros culturais, igrejas e
outros espaços.

A gestão nacional do Edpopsus II foi realizada por um Comitê Gestor, composto


por representantes da SGEP/MS e da EPSJV/Fiocruz. A coordenação executiva do
projeto foi composta por uma Equipe de Coordenação Nacional vinculada à EPSJV;
Equipes de Coordenação Estadual compostas na sua maioria, por quadros das Secretarias
de Saúde ou das Escolas Técnicas locais; e Apoiadores Nacionais com inserção no
Movimento de Educação Popular em Saúde. Com a perda do financiamento ao final de
2018, o projeto só pode ser desenvolvido em espaços politicamente favoráveis à educação
popular em saúde. A estrutura de gestão do projeto precisou ser desmontada,
permanecendo um pequeno núcleo na EPSJV que trabalha em parceria com as Secretarias
de Saúde Estaduais ou Municipais, assim como outras Escolas de Saúde Pública.
140

Cada turma foi e continua sendo composta por até 35 educandos e dois
educadores, sendo um com graduação completa e experiência docente na área da saúde e
o outro com ensino fundamental completo e experiência de educação popular na área da
saúde ou em movimento social. Ambos desempenham papéis similares, sem hierarquia,
no desenvolvimento do curso.

Outro recurso auxiliar para a realização do curso é o Sistema de Gestão Acadêmica


(SGA) que permite o controle das informações desde a seleção, até o acompanhamento
da vida escolar, por meio de relatos reflexivos sobre os encontros, e a certificação.

Durante a execução do EdPopSUS II com financiamento do Ministério da Saúde,


os docentes eram selecionados por meio de edital público e recebiam uma bolsa para
atuarem no curso. Também durante este período, os educandos recebiam uma pequena
ajuda de custo para sua locomoção. Com a finalização do financiamento, os educadores
e educandos passaram a ser funcionários indicados pelas instituições parceiras, sem apoio
financeiro.

Em dezembro de 2018 foi realizado o Encontro Nacional Edpopsus que congregou


229 participantes, entre educandos, educadores, coordenadores estaduais e equipe
nacional, onde foram apresentados e discutidos os resultados preliminares do processo de
sistematização do curso.

Resultados

O curso EdPopSUS II teve como meta inicial a matrícula de 7.000 educandos,


com previsão de certificação para 4.900 profissionais, mas devido à alta demanda, a
expectativa foi ultrapassada. Mesmo sem um financiamento específico, por meio de
convênios, os governos estaduais e municipais assumiram a disponibilização de docentes
para participarem das atividades, tendo-se chegado a 11440 matriculados, 10034
aprovados em 378 turmas com 645 educadores. Destes 11440 matriculados,
aproximadamente 6000 educandos participaram no período em que havia financiamento
do Ministério da Saúde e 5000 educandos participaram no período em que foram
realizados os Acordos de Cooperação.

O processo de sistematização, com análise das informações geradas entre 2016 e


2018, permite afirmar que a experiência provocou repercussões profundas nos
participantes. Foram relatadas transformações a nível pessoal, profissional e institucional,
que podem ser consideradas frutos desta experiência.
141

As mudanças nas concepções e práticas dos educandos e educadores são


destacadas como um dos efeitos mais relevantes do curso, pois impactaram positivamente
nas suas vidas e foram percebidas por praticamente todos os educadores. Essas mudanças
dizem respeito tanto à forma de se relacionar com os demais, de maneira mais respeitosa
e amorosa, quanto ao desenvolvimento da capacidade de escuta, da autoestima e
autoconfiança, assim como em relação aos direitos seus e da população, à participação
política e a implementação das práticas no território.

Vários educadores destacaram avanços dos educandos no sentido de uma postura


mais crítica frente à realidade, uma maior complexidade nas perguntas, opiniões mais
analíticas, capacidade de argumentar e maior vontade de ativar a participação popular.
Referiram que os próprios educandos explicitaram mudanças de postura frente aos
colegas e à chefia, assim como mais respeito à diversidade e à cultura diferenciada dos
usuários e usuárias.

Os trabalhos de campo permitiram que os educandos (re)descobrissem suas


cidades, bairros, territórios e locais de trabalho, refletindo com a comunidade e suas
equipes sobre os problemas de saúde identificados, as memórias, saberes populares,
movimentos sociais e práticas de cuidado.

O EdPopSUS II se desenvolveu num cenário de ataque à democracia e ao


pensamento de Paulo Freire e abordou em todo o seu percurso a importância da
participação no processo de democratização do Estado, buscando ampliar as formas de
atuação política das classes populares e dos trabalhadores, para além dos espaços
institucionalizados como conselhos, associações e sindicatos.
142

Ao longo do curso foram problematizadas as estratégias de dominação e de


resistência de classe, gênero e etnia, e enfatizada a importância da educação popular como
prática política capaz de fortalecer a participação em defesa do SUS.

O convite à participação dos educadores e educandos na própria gestão do curso,


feito já no primeiro eixo, foi considerado ponto de partida fundamental para valorizar o
protagonismo de educadores e educandos. Isso despertou neles novas possibilidades de
vivenciar um processo educativo no qual todos têm direito à fala e o compromisso com a
escuta, no intuito de favorecer a troca de saberes com base na valorização das experiências
de cada um.

O curso foi considerado um processo inclusivo e de autoconhecimento que


proporcionou mais equilíbrio na prática de trabalho e no cotidiano de vida dos educandos.

O EdPopSUS II pode ser considerado uma experiência inovadora pela sua


dimensão nacional, chegando a uma grande variedade de municípios, de forma presencial,
descentralizada e articulada com instituições nacionais, estaduais e municipais. Além
disso, houve uma preocupação em viabilizar e estimular os registros locais e a
sistematização nacional desta experiência, que foi apresentada aos participantes no
Encontro Nacional realizado em 2018 e que resultou na publicação: Saberes da
Experiência: sistematização do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em
Saúde.

Também foi inovadora a proposta pedagógica que valorizou o educador que não
tinha graduação universitária, possibilitando incluir no processo de ensino aprendizagem
educadores que trouxeram a perspectiva dos movimentos sociais e experiência da
educação popular, legitimando diferentes saberes nesse processo. A integração entre a
dupla de educadores foi uma experiência muito rica, pela qual ambos aprenderam entre
si e com a turma.

A análise desta experiência mostra a potencialidade da educação popular no que


diz respeito ao incentivo e fortalecimento da participação social e popular, da luta pelo
direito à saúde e pela democracia.

O contexto de mudanças que aconteceram no país reforça a necessidade de revisão


do material didático publicado em 2016. A equipe permanente da EPSJV programou para
2023 a coordenação desta revisão, com a participação dos autores originais e outros
143

parceiros da educação popular, no intuito de manter o EdPopSUS como estratégia de


implementação da PNEPS-SUS e de fortalecimento da participação social e popular.

Para conhecer mais:

Para que vocês possam conhecer um pouco mais do trabalho relatado,


disponibilizamos uma publicação que contém as informações sistematizadas sobre o
curso: Saberes da experiência: sistematização do curso além das duas publicações que
compõem o material didático do curso: Guia do Curso e Textos de Apoio.

bit.ly/Edpopsus
144

Projeto de Formação em Educação Popular em Saúde (PedPopSus/ES):


construindo o caminho para a garantia do direito à saúde e em defesa do
SUS no Espírito Santo
Vitória/Espírito Santo - Brasil

Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi)/ Secretaria de


Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA)

Amanda Brommonschenkel. Comunicadora Social. Sistematizadora do PedPopSus.


arteschama.amanda@gmail.com; Galdene Conceição dos Santos. Administradora. Supervisora do
PedPopSus. galdenesantos@gmail.com; Lidiene Cardoso. Bacharel em Ciências Contábeis. Supervisora
do PedPopSus lidiene.cs@gmail.com; Mercedes Queiroz Zuliani. Terapeuta Ocupacional. Mestre em
Política Social. Coordenadora do PedPopSus. mercedeszuliani@saude.es.gov.br; Nayara Oliveira
Francisco. Psicóloga. Mestre em Psicologia Institucional. Supervisora do PedPopSus. nayarafrancisco@
saude.es.gov.br; Úrsula Candida Rola. Pedagoga. ursularola@ saude.es.gov.br;

“A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem


teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria
tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade."
Paulo Freire

Introdução

A Política Nacional de Educação Popular em Saúde – PNEPS-SUS foi instituída


em 2013, e reconhece enquanto princípios fundamentais o diálogo, a amorosidade, a
problematização, a construção compartilhada do conhecimento, a emancipação e o
compromisso com a construção do projeto democrático popular. Para tanto, os eixos
estratégicos dessa Política são participação, controle social e gestão participativa,
formação, comunicação e produção de conhecimento, cuidado em saúde,
intersetorialidade e diálogos multiculturais.

O estado do Espírito Santo reúne inúmeras lutas históricas em prol dos direitos do
povo. Constituído de geopolíticas distintas e diversas, do campo à cidade, as regiões de
saúde encontram a preservação dos conhecimentos e práticas de saúde das comunidades
tradicionais e populares residentes em toda extensão estadual, uma vez que este é um
Estado fundamentalmente marcado pela presença de povos originários, populações
quilombolas, populações do campo, comunidade pesqueira e comunidades periféricas.
Com o objetivo de fomentar a implementação da PNEPS-SUS no Espírito Santo,
reconhecer os conhecimentos e práticas populares em saúde, contribuir para a formação
145

de educadores populares e fortalecer a capilaridade da educação e do cuidado em saúde


nos territórios capixabas, o PedPopSus/ES é criado.

O presente projeto nasce do encontro entre proposições de trabalhadores da SESA


e as reivindicações das populações atingidas por meio do Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB), que sistematizou as demandas dos territórios diretamente atingidos
pelos crimes ambientais no Estado, se deparando com o alto índice de demandas de
cuidado em saúde e fundamentalmente em saúde mental. A partir desse encontro de lutas
pelo direito à saúde no território capixaba, a necessidade de potencializar a formação de
sujeitos sociais e o reconhecimento de práticas populares de saúde nas regiões, a formação
Educação Popular em Saúde é construído pela primeira vez enquanto um Projeto no
interior das políticas estatais de saúde e instituído por meio da Portaria ICEPi nº 002-R,
de 17 de Janeiro de 2020. Porém, é ao final de 2021 que se inicia o PedPopSus/ES
enquanto Projeto Piloto no formato de Formação em Educação Popular em Saúde,
enquanto título de Aperfeiçoamento. Compreendemos, portanto, que estamos numa
travessia em que tempos e espaços diversos se encontram e nosso intuito é potencializar
o que têm transformado a realidade de saúde e vida das pessoas nos territórios.

Sendo assim, o objetivo do projeto foi promover formação em Educação Popular em


saúde de militantes e lideranças de movimentos sociais e trabalhadoras(es) dos serviços
públicos da saúde das regiões para o fortalecimento do SUS no Espírito Santo,
fomentando a implementação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde –
PNEPS/SUS, com seus princípios teóricos, práticos e metodológicos e a construção
coletiva do conhecimento para atuação nos diversos territórios e serviços de saúde no
estado. Sendo um projeto piloto institucional, seria importante evidenciar e aprender com
as experiências no campo popular de formações e ações em educação popular. Por isso,
foram objetivos específicos:

✔ Construir o Mapeamento Territorial, Comunitário e Regional como estratégia de


(re)conhecimento bem como de organização coletiva das práticas de educação
popular em saúde;
✔ Fortalecer a participação popular nas regiões de saúde através da organização
social e integração com os Conselhos locais e municipais e da articulação dos
movimentos sociais e trabalhadoras(as) de saúde que estão nos territórios,
promovendo diálogo entre essas experiências e os serviços de saúde;
146

✔ Fortalecer os movimentos sociais e populares, bem como os territórios atingidos


pelas barragens, ribeirinhos, comunidades quilombolas, acampamentos e
assentamentos da Reforma Agrária, povos tradicionais, comunidades periféricas,
com ações propostas na PNEPS-SUS nas regiões de saúde do estado do Espírito
Santo;
✔ Impulsionar o fortalecimento das práticas educativas em saúde, de forma coletiva,
tendo a cultura como referência para que haja o encontro dos saberes
acadêmicos/científicos com os saberes populares e realizando sínteses
importantes para a construção e socialização de saberes e práticas
contextualizadas.

Metodologia

Nesse ínterim, foi lançado o Edital ICEPi/SESA nº 026/2022, para processo


seletivo que recebeu mais de 100 inscrições e preencheu as 20 vagas ofertadas para o
Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde. A fim de garantir a extensão
estadual e iniciar a incidência do projeto, as vagas foram distribuídas considerando as
quatro macrorregiões de saúde: Norte, Sul, Central e Metropolitana. Além dos 20
educadores(as) selecionados(as), o projeto contou com uma equipe de gestão político-
pedagógica composta por 1 Coordenação Estadual, 4 Supervisoras Estaduais
responsáveis pelas regiões e 2 vagas criadas a partir das demandas do projeto, destinadas
à Sistematização.

Esta primeira turma foi formada por educadores e educadoras populares de 14


municípios do ES e que são: agentes comunitárias de saúde e profissionais, militantes de
várias organizações, como do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do
Levante Popular da Juventude, do Coletivo de Fortalecimento e Empoderamento da
População Negra do Sul do Estado do ES + Diversidade (FEPNES), do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, do Coletivo Beco, da Cáritas Brasileira, do Fórum de
Saúde Mental Infanto Juvenil, da Rede de Parteiras do Caparaó, do Movimento dos
Pequenos Agricultores, da Pastoral da Criança. Porém, ao longo do curso, a partir da
proposta de ações territoriais por meio de realização dos encontros comunitários, foram
envolvidas outros sujeitos das comunidades e territórios, como estudantes e
educadores(as) de Escola Família Agrícola, comunidades tradicionais e de organização a
147

partir da igreja católica, agentes comunitárias (os) de saúde e profissionais de Unidades


Básicas de Saúde, familiares de jovens assistidos pelo CAPS Infanto-Juvenil e militantes
do Fórum de Saúde Mental, mulheres de territórios atingidos e pescadores, mulheres e
jovens das regiões periféricas da Grande Vitória, camponeses Sem Terra, associações
comunitárias, movimentos e organização ambientalistas, dentre outros.

E como estamos fazendo a travessia formativa?

A formação seguiu um planejamento nomeado de Travessia Formativa estruturada


em 4 eixos formativos: 1) Saúde Coletiva, SUS e a Educação Popular em Saúde; 2)
Sujeitos e Territórios; 3) Trabalho, Saúde e Ambiente; 4) Organização e Projeto Popular
em Saúde. Cada eixo tem ementas com as proposições de cargas horárias, número de
encontros e referências bibliográficas indicadas. Porém, como construção, alguns
momentos são previstos para trazer outros referenciais e proposições conforme os
próprios sujeitos interagem e vão aparecendo necessidades. Este é o método vivo, em que
a intencionalidade e organização permitem que haja o aprendizado coletivo e a
participação efetiva ao longo do percurso formativo.

As dimensões formativas foram construídas com base em quatro dinâmicas:


Encontros Formativos Estaduais, Encontros Formativos Regionais, Supervisões
Regionais Semanais e Encontros Comunitários. Os encontros estaduais contaram com
formações referentes aos grandes temas centrais dos quatro eixos. Os encontros regionais
foram construídos com base nos temas principais, a partir das especificidades e demandas
formativas das regiões. As supervisões além de suprirem o papel de alinhamento estadual
e organicidade regional garantindo acompanhamento mais próximo, se tornaram ainda
espaços formativos de estudo e debates a partir das demandas dos territórios. Os encontros
comunitários foram realizados pelos educadores e educadoras populares nos territórios
de atuação escolhidos dentro de sua região, concomitantemente ao andamento da
formação, trabalhando as temáticas dos eixos a partir das demandas territoriais junto aos
moradores que compuseram os encontros, realizados em diferentes formatos a depender
da realidade concreta de cada comunidade.

Os processos formativos são orientados por abordagem pedagógica de


aprendizagem histórico-crítico-reflexiva, por meio de percursos formativos
contextualizados e da integração com as articulações locais de redes de educação popular
148

e educação popular em saúde nos territórios. Além disso, cada educador(a) popular
organiza os encontros comunitários, a partir de sua própria realidade, com temáticas
diversas, que fazem referência aos eixos acima. Sendo assim, cada educador e educadora
popular em formação, atua com outros sujeitos, havendo a práxis no processo formativo,
em que reflete sobre a sua realidade a partir dos estudos realizados teoricamente,
individual e coletivamente. Portanto, a reflexão-ação-reflexão, como processo contínuo
da formação, sendo (re)elaborado individual e coletivamente, foram, intencionalmente,
construindo uma prática emancipatória dos sujeitos em Movimentos, sendo possível pela
alternância pedagógica e acompanhamento por meio da supervisão e das formações que
são dialogadas e preparadas pela equipe.

Além disso, faz parte da proposta pedagógica, a divisão de tarefas em todos os


encontros estaduais e regionais formativos, inserindo a articulação, a organização de
místicas, da ornamentação do espaço, das memórias e relatórios dentre outras e, também,
a utilização de diversas linguagens artísticas, de memória, foram parte do processo
formativo e de interação e participação sociocultural. Compreendeu-se que a
sistematização do que se faz deve ser parte do processo formativo e do projeto, o que vai
garantir uma publicação com a experiência do projeto ao final do curso.

Para o encerramento do curso, que será em maio de 2023, estamos organizando


uma Mostra, como as Tendas da Educação Popular, que seja fruto da produção e vivência
do percurso, para socialização, reflexão e avaliação sobre o projeto, suas possibilidades e
desafios. Temos intenção de realizá-la na Conferência Estadual de Saúde, já que estamos
neste momento e é muito importante para estimular diálogos.

Dessa forma, retomando Freire (1976), estas propostas “mostram a intenção de se


constituírem um espaço de interação e interlocução dos diversos atores institucionais e
comunitários na formulação de políticas sociais que interferem e atuam na produção de
saúde, representa uma das estratégias visando direcionar as políticas públicas municipais
para uma democracia participativa, na perspectiva de estimular o protagonismo popular”.

Resultados e Considerações

A Educação Popular em Saúde é uma prática emancipatória, construída


coletivamente, que parte do encontro de saberes e experiências, por isso, torna-se
149

referência os movimentos sociais, as lutas das/dos trabalhadores de saúde e dos diversos


coletivos que atuam no ES. Construir projetos, programas ou políticas públicas que
trazem esta experiência é desafiador pelas contradições que as institucionalidades
carregam.

Apesar de ainda estarmos em processo de construção da experiência, pode-se


refletir que temos alguns dos objetivos alcançados. Um deles é o debate sobre a educação
popular em processos formativos em saúde no estado, visto que estamos dialogando sobre
a temática com outros cursos de formação bem como dentro da instituição, que possui
vários outros projetos. Interessante perceber o desconhecimento de profissionais de
saúde, seja na instituição pública de ensino, seja entre trabalhadores(as) da assistência,
sobre a educação popular e, inclusive, sobre a necessidade e importância da participação
social e popular de forma efetiva e permanente. Este tem sido um caminho muito
importante desta travessia, que é relatado em quase todos os momentos de encontro. Ao
mesmo tempo, há o grande desafio de reconhecimento e aceitação. Por vezes, esta prática
social é diminuída ou questionada, além do grande desafio de ser priorizada.

Outro objetivo que ainda estamos trilhando é o mapeamento territorial de práticas


de educação popular em saúde para o reconhecimento público e institucional de que há
importantes ações e que estas são parte da transformação das condições de vida da
população e, principalmente, quando são realizadas por populações específicas como
ribeirinhos, atingidos, Sem Terra, pessoas periféricas, entre outras e outros protagonistas.
Acredita-se ser possível, portanto, demonstrar caminhos importantes na construção de
programas e políticas públicas que, de fato, atuem nas determinações sociais da saúde.
Ainda podemos relatar alguns números que demonstram a mobilização e atuação desta
experiência, como o diálogo com, aproximadamente, 30 entidades ou movimentos sociais
(citadas acima); organização de, aproximadamente, 120 encontros comunitários, nas
diversas regiões do estado (sendo que alguns dos encontros são com os mesmos sujeitos
de comunidades ou movimentos); realização de supervisões semanais em todas as regiões
e os encontros formativos regionais e estaduais com educadores e educadoras populares
e convidados(as) e formação de 17 dos(das) 20 educadores(as) populares que
ingressaram.

Além disso, observa-se a participação das populações junto com profissionais de


saúde, o que contribui para integração, diálogo e construção de alternativas para a
melhoria de saúde, trazendo princípios da educação popular para refletir sobre o trabalho
150

e a gestão no SUS, assim como metodologias de ação territorial e comunitária. É muito


interessante observar o quanto a formação permitiu ampliação de conhecimentos sobre o
SUS, de forma crítica, dialógica e para construir proposições e ações mais coletivas que
são necessárias.

Por isso, vale refletir sobre os encontros comunitários, que tem a intencionalidade
de construir mobilização para que sejam amplos e participativos, com as temáticas
geradoras e problematização. A partir das discussões provocadas por estes encontros,
espera-se a ampliação da participação e do controle social na saúde e a ampliação do
protagonismo popular. Espera-se que os sujeitos sejam capazes de refletir, propor e
desenvolver ações de mobilização pelo direito à saúde e a qualificação da participação
nos processos de formulação, implementação, gestão e controle social das políticas
públicas. Os encontros buscam também, produzir novos conhecimentos e sistematizar
saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, tendo como resultado a
produção de ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos
desafios ainda presentes no SUS, a partir das diversas linguagens artísticas referenciadas
na realidade dos territórios e comunidades das regiões.

É sempre desafiadora a implementação de programas e políticas com


protagonismo popular e social, portanto, esta experiência pode apontar caminhos de
gestão participativa a partir do diálogo e da formação em saúde. Tanto a proposta do
projeto quanto sua metodologia impulsionam a perspectiva de participação, também pelo
processo formativo. Há várias dificuldades que foram encontradas, como as condições
materiais para que educadores(as) populares circulem e mobilizem os sujeitos nos
territórios, ou seja, condições institucionais objetivas. Algumas educadoras populares não
tinham acesso à boa rede de internet ou mesmo a computadores. Em alguns momentos,
são desafios as próprias condições sociais, como por exemplo, o que foi vivenciado neste
último período de chuvas intensas e alagamentos, o que impediu a realização de encontros
comunitários, sendo estes cancelados. Há, ainda, as condições subjetivas e culturais,
como, por exemplo, a não valorização deste trabalho de educadoras e educadores
populares, havendo questionamento por parte de gestões municipais. Este desafio foi
sendo trabalhado a partir do diálogo, acolhimento e referenciando a PNEPS - SUS e as
políticas de equidade, assim como a Lei Nº 8080 e 8142. Existem outros desafios no que
tange à mobilização comunitária e coletiva, ao diálogo com movimentos sociais e outros
tantos desafios que nos colocaram para debates permanentes e aprendizados constantes,
151

havendo dificuldade de colocá-los aqui porque são vários territórios e coletivos, assim
como educadores(as). Além disso, ainda não sistematizamos toda a experiência, o que
parte será realizada pela metodologia das Cartas Pedagógicas, inspiradas em Paulo Freire
- estamos atualmente em avaliação processual e final do projeto, o que contribuirá para a
organização da nova turma do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em
Saúde.

Para conhecer mais...

bit.ly/PedPopSus
152

Documentário: Manifesto! Pela Saúde Mental em Osasco/SP


Osasco/ São Paulo - Brasil

Coletivo Classe Livre


Eduardo Dias Real- Usuário do CAPS AD Osasco, Conselheiro Municipal de Saúde, Delegado Nacional
da 5° Conferência de Saúde Mental, Militante Antimanicomial e Antiproibicionista -
ediasreal@gmail.com; Eduardo Hess - Militante da Luta Antimanicomial, Usuário da Rede de Atenção
Psicossocial; Fabiana Medrado - Militante da Luta Antimanicomial, Usuário da Rede de Atenção
Psicossocial; Kleber Inocêncio - Militante da Luta Antimanicomial, Usuário do CAPS AD Osasco; Júlio
Murça - Militante da Luta Antimanicomial, Usuário da Rede de Atenção Psicossocial; Victor Alexander -
Militante da Luta Antimanicomial, Usuário da Rede de Atenção Psicossocial, Delegado eleito
Conferência Municipal de Saúde Osasco

Introdução

Ao final de 2021, contexto de pandemia, algumas de nós, pessoas usuárias da


Rede de Atenção Psicossocial-RAPS do Município de Osasco, começamos a dialogar
sobre a questão da saúde mental em nosso território. Provocadas por dificuldades que
tínhamos em acessar os equipamentos e serviços de forma integral e pelo anúncio da 5°
Conferência Nacional de Saúde Mental, decidimos dialogar, para além do consultório,
sobre o sucateamento da Rede, a falta de equipamentos, a falta de profissionais, o pouco
investimento, precarização do trabalho e do atendimento, desinteresse e/ou omissão
política. Nossos encontros começaram a ser além das reuniões terapêuticas nos Centros
de Atenção Psicossocial-CAPS. Passamos a nos encontrar de forma espontânea,
presencial e virtual e, ao longo dos dias, sentimos grande necessidade de nos aprofundar
sobre os problemas e buscar soluções de forma coletiva.

Assim nasce o Coletivo CLASSE LIVRE. O nome do coletivo parte da reflexão


de que, como classe trabalhadora, adoecemos e sofremos com as mazelas do sistema
capitalista que nos explora. Mesmo sistema que, ao nos adoecer, nos aprisiona e descarta,
inclusive em manicômios. Portanto, o nome do Coletivo reflete primeiramente nossa
indignação, em segundo lugar, nosso desejo por uma sociedade sem exploração, com
igualdade, sem manicômios e sem prisões. Através do compartilhamento de saberes e
práticas antimanicomiais e críticas ao sistema gerador do sofrimento e aprisionamento,
nosso Coletivo formou uma Rede de apoios para toda pessoa em sofrimento mental que
esteja nele ou fora dele, que quisesse lutar contra o desmonte da Rede de Cuidado em
Liberdade. O primeiro resultado desses encontros foi a construção de um documentário,
153

amador e experimental, que refletisse o resultado de nosso aprofundamento como pessoas


usuárias da RAPS sobre os temas.

A Rede de Atenção Psicossocial de Osasco enfrenta sérios problemas e isso afeta


diretamente na vida de pessoas que necessitam de um cuidado em saúde mental e nós
pessoas usuárias dos poucos serviços prestados pelo município sentimos na pele as
dificuldades. Temos em nosso Município apenas 3 Centros de Atenção Psicossocial, todos
na região central ou próximos ao centro, sendo que deveriam ser pelo menos 10
equipamentos deste tipo. Quem mora na periferia do município não consegue chegar,
mesmo com indicação da Rede Básica de Saúde. Já nas Unidades Básicas de Saúde faltam
profissionais em Saúde Mental e estratégias de cuidado a quem necessita.
Temos um Pronto Socorro referência em saúde mental que funciona onde era uma
cadeia e pacientes são atendidos em celas de forma muito precária. Não temos leito em
Hospital Geral e quando precisamos de internação ficamos à mercê das Comunidades
Terapêuticas, onde, além do "tratamento" ser prolongado, fora do território, carrega um
histórico de violências e violações aos direitos humanos. Ao mesmo tempo,
principalmente nos últimos quatro anos, assistimos além do desmonte intencional da
RAPS, congelamento ou interrupção dos poucos investimentos em todo tipo de
equipamento público de cuidado em liberdade e grandes investimentos em comunidades
terapêuticas. Portanto, todo esse descaso, sentido principalmente por nós pessoas
usuárias, justificou a mobilização e formação do Coletivo.

O objetivo geral da experiência foi empoderar pessoas usuárias da Rede de


Atenção Psicossocial Osasco sobre a configuração e funcionamento da RAPS E prepará-
las para atuação em espaços de Participação Social, como Conselhos de Saúde e
Conferências de Saúde. No entanto, ao longo da experiência, todos nós tivemos outros
ganhos que a princípio não eram objetivos, como por exemplo, a interação com
movimentos e nomes históricos no campo da luta antimanicomial e saúde mental.

Quem participou?

O movimento Classe Livre, que resultou na construção do Documentário, contou


com uma dezena de pessoas usuárias da Rede de Atenção Psicossocial, que a princípio
interagiam com os equipamentos de atendimento em Saúde Mental. Após A formação do
Coletivo sete de nós assumiram a tarefa de construção do documentário e ao longo do
154

processo contamos com a participação de muitas pessoas, entre usuárias e trabalhadoras


da Rede Pública de Atenção Psicossocial, tanto para coleta de informações, quanto para
entrevistas.

Metodologia/Desenvolvimento

O processo de formação do Coletivo por si só já impactou na vida de muitas


pessoas, usuárias da Rede Pública de Atenção Psicossocial, pois foram diversos
encontros, participação em atividades, entendimentos coletivos. Já o fazer do
documentário foi um novo marco na vida de várias pessoas usuárias da Rede, pois
demandou compromisso, organização, muitas reuniões para formação, coleta de dados e
manejo de tecnologias para edição, mesmo que de forma não profissional.

Já estávamos organizados como Coletivo quando tivemos a ideia do


Documentário e, desde o início, nosso objetivo maior era apresentar o trabalho realizado
por pessoas usuárias da RAPS na Conferência Municipal de Saúde Mental e que o
conteúdo seria, acima de tudo, uma denúncia sobre o desmonte das poucas políticas em
saúde mental que temos em nosso Município, sobre o desinvestimento e o porquê nos
posicionarmos como antimanicomiais. Iniciamos com reuniões de planejamento e divisão
de tarefas. Para um escrever um roteiro, para outro escrever o conteúdo, para outros coleta
de dados, outros coleta de depoimentos e por fim, edição e publicação nas redes sociais.

No decorrer do caminho de construção do Documentário tivemos várias barreiras


para realização de cada tarefa, por exemplo, a coleta de dados sobre as condições de
trabalho com trabalhadores, muitos o fizeram em segredo ou não fizeram, com medo, pois
sentiam-se ameaçados/as pela gestão municipal, caso participassem ativamente do
documentário que tem como objetivo denunciar a precariedade da Rede. Outra barreira
era entrar nos equipamentos para observar as condições estruturais, muitas vezes éramos
proibidos por gestoras de entrar, por isso tantas imagens externas no documentário. Nossa
condição financeira e material também foi um agravo, porém usamos os materiais que
tínhamos disponíveis como nossos próprios celulares, muitas vezes gravando ou
fotografando enquanto voltávamos do trabalho. A internet é algo que ajudou muito, pois
ali obtivemos muitas informações relevantes, como leis, materiais históricos e tutoriais.
Por fim, o que mais nos chamou atenção como barreira foi referente ao lançamento do
Documentário, a Conferência Municipal de Saúde Mental. Havíamos comunicado e sido
155

autorizados, pelo Conselho Municipal de Saúde de Osasco, a realizar o lançamento


durante a Conferência, no momento destinado a apresentações culturais, onde mais de
200 munícipes assistiram, porém, para nossa surpresa, na Conferência soubemos que
havíamos sido desautorizados pela gestão municipal de Osasco, em particular pela
Secretaria de Saúde. Com muita insistência e apoio de alguns membros do Conselho
Municipal de Saúde, tivemos, em 29 de Janeiro de 2022, ao final do evento, oportunidade
de apresentar, porém a um público extremamente reduzido devido a empecilhos
colocados pela gestão do municipio.

Resultados

Entendemos que o processo de formação do Coletivo e de produção do


documentário teve impacto significativo no cotidiano de muitas pessoas, principalmente
usuárias da Rede Pública de Atenção Psicossocial. A princípio, tratando sobre a formação
do Coletivo, ambientes que eram espaços terapêuticos, onde os grupos eram pouco
direcionados a tratar de Políticas Públicas de Saúde Mental, passaram a ter mais diálogos
sobre essas questões e mais participação efetiva de pessoas usuárias. Entendemos também
que a produção do documentário, posteriormente à formação do Coletivo, foi um
momento extremamente significativo para todos que participaram, pois tratava -se de
aprofundamento na questão, resultante, além da produção do trabalho citado, na formação
de pessoas críticas com propriedade para leitura do contexto que infelizmente é de
desmonte das políticas públicas em saúde mental e de Cuidado em Liberdade. Além disso,
pessoas usuárias e trabalhadoras da RAPS do município de Osasco e de outros
municípios, que tiveram acesso ao documentário, puderam entrar em contato com a
possibilidade de se organizar e produzir, como fizemos.

A experiência gerou muitas reações. Por parte do governo municipal as reações


que percebemos foi de repúdio ao nosso Coletivo e trabalho, pois, apesar de nós usuárias
e trabalhadoras apontarmos insuficiências, erros graves e precariedade da Rede de
Atenção Psicossocial, o governo mantém a propaganda que “está tudo perfeito". Já entre
trabalhadores da RAPS as reações foram de alegria em observarem o movimento
participativo e produção, ao mesmo tempo de temor, devido sérias ameaças que sofreram
por parte da gestão municipal por terem deixado acontecer a realização do documentário.
Entre o público, especificamente pessoas usuárias da Rede de Atenção Psicossocial,
156

percebemos que a avaliação foi extremamente positiva e gerou intensificação da


participação usuária em espaços como Conselhos e Conferências.

Infelizmente, além da produção do documentário e do empoderamento de pessoas


usuárias para participação social, não temos indicativos de melhorias nos serviços
descritos no documentário. O CAPS AD, que antes era em um terreno próprio, foi
desapropriado e hoje encontra-se (já fazem meses) num espaço provisório, sem
acessibilidade, sem recursos, onde ficava o necrotério da Policlínica Zona Norte em
Osasco. As condições estruturais do CAPS Adulto estão bem piores, com salas
interditadas sob risco de desabamento. De lá para cá ocorreram diversas denúncias de
violências e violações no Pronto Socorro André Sacco, conhecido como PS Pestana e no
projeto de melhoria da RAPS. Porém, através do Coletivo, da inserção proporcionada
pelo Coletivo Classe Livre, tivemos 3 três pessoas eleitas na Conferência de Saúde
Mental, inclusive duas eleitas posteriormente à etapa Nacional, e também duas eleitas
Conselheiras Municipais de Saúde.

Para conhecer mais...

• Documentário MANIFESTO! Pela Saúde Mental em Osasco/SP


• Perfil do Instagram

bit.ly/ManifestoOsasco
157

Movimento na Cidade:
a participação social no processo de promoção da saúde.

Brasília/Distrito Federal - Brasil

Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Brasília

Rayssa Maria de Farias Silva, Especialista em Atenção Básica, nutrirayssafarias@gmail.com; Thiago


Fernandes Costa Diniz, Especialista em Atenção Básica, tfcdiniz@gmail.com;

Introdução
Como forma de fortalecer e incentivar a prática de atividade física pela população
e de atender as demandas do Programa Brasil Saudável do MS, em 2006 surgiram os
Pontos de Encontro Comunitário (PEC), cuja finalidade seria o Brasil cumprir seu
compromisso com as diretrizes previstas pela Estratégia Global de Alimentação Saudável,
Atividade Física e Saúde, de modo a melhorar a qualidade de vida da população mundial
através da prática de atividade física.
No Distrito Federal, esses pontos de encontro foram implantados pela Secretaria
Especial do Idoso (SEI/DF), criada por meio do decreto nº 33.116, de agosto de 2011.
Esses espaços recebem o nome de Pontos de Encontro Comunitário, por serem pontos em
que todas as pessoas, incluindo idosos, podem se reunir para a prática de atividade física
e outras atividades culturais e de lazer, além de serem locais de socialização e inclusão
social.
Esses locais também funcionam com um incentivo à inclusão social e à melhoria
da autoestima das pessoas que os utilizam. Os PECs utilizam espaços de praças e parques
numa tentativa de revitalização de áreas públicas e estimular a prática de atividade física.
Por ser em locais públicos, sua utilização é livre durante todo o dia e seu uso é de inteira
responsabilidade do participante.
O Projeto Movimento na Cidade é um programa idealizado pelo Núcleo Ampliado
de Saúde da Família (NASF) da Unidade Básica de Saúde (UBS) 01 da Asa Sul, pelos
profissionais residentes Thiago Diniz (Profissional de Educação Física) e Rayssa Farias
(Nutricionista), em parceria com a gestão e as equipes de saúde da família (eSF). As
instituições envolvidas nesse projeto foram a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz Brasília
e a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). O projeto foi dirigido
158

aos moradores da Asa Sul, bairro da Região Administrativa do Plano Piloto, Brasília,
Distrito Federal.
O objetivo do Projeto Movimento na Cidade é ensinar os cidadãos a como utilizar
os aparelhos dos PECs de maneira adequada e não lesiva. Esses espaços constituem uma
importante ferramenta de promoção da saúde e são acessíveis aos mais diversos públicos.
Além disso, os PECs podem ser espaços onde a população pode socializar e criar vínculos
entre os moradores das quadras, especialmente o público idoso.

Quem participou?
As instituições e parceiros na execução do projeto foram a Fundação Oswaldo
Cruz - Fiocruz Brasília, a Gerência da UBS 01 Asa Sul vinculada à SES, no qual
contribuiu com a técnica para a realização do projeto, as eSFs que contribuíram com seu
trabalho e apoio e ao NASF, como apoiador na realização projeto. Além dessas
instituições, as prefeituras das quadras visitadas também contribuíram com a divulgação
e mobilização dos moradores.
O público-alvo deste projeto foram os moradores atendidos pela UBS 01 da Asa
Sul, onde o projeto foi desenvolvido. Apesar de ser localizada em bairro nobre de Brasília,
a UBS em questão atende uma população bem heterogênea, com moradores dos mais
diversos níveis sociais e etários e possuem níveis de escolaridade variados. No período
compreendido entre os dias 01/05 a 30/09/2022 foram realizadas visitas às 16 PECs,
atendendo a mais de 100 moradores da Asa Sul.

Metodologia/Desenvolvimento
O projeto Movimento na Cidade foi derivado do projeto Espaço Saúde, onde
foram oferecidas atividades que buscavam promover saúde através da mudança de
hábitos, através da atividade física e da orientação da alimentação saudável nos
equipamentos públicos de saúde localizados na UBS 01 da Asa Sul. Sendo assim, a
proposta do projeto foi visitar as quadras da Asa Sul junto à eSF responsável pela área
para realizar atividades de promoção da saúde e buscar aproximar mais a população das
suas respectivas equipes. Para isso, foram realizadas reuniões com as eSFs para planejar
um cronograma onde as equipes disponibilizassem horários para as intervenções nas
quadras. Além disso, foi realizado o contato com as prefeituras das quadras para viabilizar
o acesso e divulgação dos dias e horários em que o projeto estaria sendo realizado na
quadra.
159

Buscando não restringir o acesso a apenas algumas áreas, foi realizado um rodízio
entre as equipes de saúde da família, ou seja, o projeto não foi desenvolvido duas semanas
consecutivas na área de uma mesma equipe. Os critérios de seleção dos locais foram o
engajamento da comunidade e o interesse dos mesmos em ter o projeto em suas quadras.
Dessa forma, quadras que mostraram mais interesse da comunidade com o projeto foram
priorizadas.
Foram realizadas visitas em diferentes PECs da Asa Sul, semanalmente, cada qual
em 2 dias diferentes e intercalados da semana, onde o profissional de educação física
orientou a população a como realizar exercícios de maneira correta nos PECs, dando dicas
e sugestões de exercícios. Em casos excepcionais, o cronograma poderia ser flexibilizado,
seja por conta da indisponibilidade da equipe ou por condições climáticas.
Para a divulgação foram confeccionados panfletos e banners que foram
compartilhados com as eSFs para que sugerissem a participação de seus pacientes e com
as prefeituras, para que distribuísse e divulgasse os materiais nos prédios das quadras.
Além disso, também foram criadas postagens nas redes sociais das quadras para que a
divulgação fosse ampliada. Já para a execução dos exercícios propostos, foram utilizados
todos os aparelhos disponíveis (simulador de caminhada, esqui, pressão de pernas,
multiexercitador, alongador, simulador de cavalgada, remada sentada, surf, rotação dupla
diagonal e rotação vertical) e alguns exercícios foram adaptados para serem realizados na
estrutura dos aparelhos, como agachamento, elevação lateral da perna e panturrilha.
Contudo, algumas dificuldades foram encontradas para a realização do projeto.
Uma dificuldade está relacionada à divulgação do projeto, onde sem os veículos de
comunicação via rádio, TV e internet, não é possível atingir grande parte da população,
que sequer sabe da existência. Outro fator importante para a aplicação e expansão do
projeto é a falta de contratação de profissionais de educação física para cargo efetivo na
Secretaria de Saúde. Os únicos profissionais de educação física com vínculo à SES são
residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica da Fiocruz,
cujo vínculo se encerra em 03/2023. Dessa forma, é importante que esses profissionais
sejam incluídos no quadro de servidores efetivos, pois podem contribuir para a promoção
da saúde dos moradores do DF já na Atenção Primária.
Outro desafio encarado foi o processo de trabalho junto às eSFs. Observou-se que
parte dos profissionais possuíam interesse em participar e auxiliar no planejamento e
execução do projeto, se disponibilizando a organizar a rotina de trabalho para encaixar as
atividades dentro de suas agendas. Contudo, não foi uma disposição comum de todos os
160

profissionais, pois existiram dificuldades na comunicação, pactuação nas ações e falta de


interesse por parte de alguns servidores, sendo este um desafio enfrentado não somente
durante o projeto, mas também cotidianamente na UBS.

Resultados
Diversas pessoas buscavam os grupos da UBS para aprender a como utilizar de
forma adequada os PECs e muitos passavam a realizar os exercícios próximos às suas
moradias. Pudemos visualizar que, apesar de gerar independência, esse movimento gerou
um distanciamento entre a população e a UBS. A ideia do trabalho em grupos é fazer com
que as pessoas busquem condições de apoio e socialização, estimulando sempre uma
aproximação entre as pessoas. Assim, a partir da demanda percebida durante o grupo e
para buscar uma maior aproximação com a comunidade, foram discutidas propostas com
o NASF e as eSFs para que as experiências e o acesso à orientação e educação permanente
em saúde pudessem ser ampliados para uma maior parcela da população.
Dessa forma, optamos por nos deslocar para fora da UBS, onde as pessoas
pudessem se sentir mais próximas da sua realidade, além de desmistificar a ideia de que
a saúde só é trabalhada dentro do consultório. Assim, acreditamos que aproximar a
comunidade das equipes fortalece não só as suas relações entre o Sistema Único de Saúde,
mas também fazer com que as pessoas explorem as praças e os equipamentos públicos
para a promoção da saúde.
Se analisarmos que são mais de 570 PECs distribuídos no DF e que próximo a
maioria das UBSs existe ao menos um PEC, é possível compreender que esse projeto
pode ser expandido para todas as RAs do DF. Portanto, existe espaço e demanda para
aplicação em demais regiões, principalmente regiões mais vulneráveis
socioeconomicamente. Levar a promoção da saúde através da atividade física para a
população, independente de classe social ou renda, deveria ser uma prioridade dos planos
de governo.
Segundo o próprio relato dos participantes, muitos não sabiam utilizar os
aparelhos e/ou utilizavam de maneira inadequada e, após as intervenções, começaram a
frequentar mais vezes os PECs e seguir as recomendações dadas pelo profissional de
educação física. Alguns participantes relataram inclusive que a forma como realizavam
os exercícios provocavam dores pelo corpo, e quando receberam as orientações,
começaram a observar mais o seu corpo e como é importante a execução adequada dos
exercícios para prevenir lesões e dores.
161

Dessa forma, os alunos também podiam acessar um material para posterior


conferência, onde era mostrado todos os exercícios e sua correta execução para fixar
melhor o aprendizado da aula. Além disso, as eSFs responsáveis pelas áreas também
auxiliavam a população através da aferição da pressão arterial, orientações de saúde e
sobre os serviços oferecidos pela UBS e vinculação da população à UBS através do
cadastramento.
Parte da população que participou do projeto gostou da experiência e buscou
frequentar os grupos que eram oferecidos pela UBS, aproximando dos serviços que eram
oferecidos pela unidade. Além disso, a participação frequente no grupo fez com que esses
indivíduos criassem novos vínculos com pessoas que podem estar ou não alheias a sua
realidade, com seus vizinhos. Criou-se então a oportunidade de criar uma rede de apoio
através da prática de exercícios juntos no PEC.
A construção social realizada junto aos moradores da Asa Sul, em parceria com a
eSF e os residentes foi muito valiosa, já que produziu frutos importantes. A primeira foi
ver a promoção da saúde ser efetivada através de um projeto que não finda somente no
objetivo de praticar exercícios físicos, mas também possui como objetivo a promoção da
interação entre os moradores, de fazer com que os moradores das quadras criassem
vínculos mais afetivos entre si e que as pessoas possam superar o isolamento que a
pandemia de COVID-19 trouxe, em especial para idosos. Segundo, foi dar autonomia e
empoderamento para a população, para ocuparem os espaços públicos e utilizarem de
forma adequada, sem correr risco de lesões. E por fim, conscientizar a importância da
atividade física regular e que a UBS também tem grupos de exercícios físicos gratuitos,
práticas integrativas em saúde (PIS) e grupos terapêuticos.
Uma das principais dificuldades relatadas pela população e constatadas também
pelos profissionais envolvidos no projeto foi em relação ao estado dos aparelhos e sua
distribuição nos locais. Muitos desses PECs estão com aparelhos danificados, com
ferrugem ou falta de manutenção e são impeditivos para que a população possa usufruir
dos aparelhos. Alguns participantes relataram ter a percepção de que os PECs foram
criados e abandonados pela administração pública.
Muitos dos PECs encontram-se em locais desfavoráveis para o uso e que acabam
por antecipar o seu processo de degradação (debaixo do sol, sem cobertura). Dessa forma,
a sua utilização acaba sendo realizada somente em certos horários do dia - durante as
manhãs, por poucas horas - devido a alta exposição solar. O projeto auxiliou então a trazer
aos participantes a visão sobre a valorização e a importância de se estar de acordo com as
162

ações em promoção da saúde propostas pelo governo, uma vez que precisam ser eficazes,
de bom uso, acessível e adequada a todos.

Para conhecer mais...

Durante a realização do projeto, a Assessoria de Comunicação (ASCOM) da


Secretaria de Saúde do Distrito Federal realizou uma reportagem para maior divulgação
do projeto para o público. Também é possível acessar o acervo de fotos do projeto e o
material produzido para auxílio da execução dos exercícios.

bit.ly/MovimentoCidade
163

Radionovela “No ar, Posithivas na prevenção”.


Presidente Prudente/São Paulo - Brasil

Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas- MNCP.

Renata Soares de Souza - Assistente Social, Silvia Andrea Viera Aloia - Administradora em Sistemas e
Serviços de Saúde, Rafaela Queiroz, psicóloga; E mail para contato:
renatasouzaprudente2@hotmail.com, secretarianacionalmncp@gmail.com

Introdução

A ideia do projeto surgiu da observação do boletim Epidemiológico do ano de


2022 que apresentava o aumento de diagnósticos reagente para a sorologia do HIV, com
destaque para o incremento nas populações de homens jovens e mulheres heterossexuais
grávidas. A radionovela foi uma forma lúdica, no entanto de fatos reais, de abordar a
vivência de mulheres vivendo com HIV e AIDS que se dispuseram a dar seus
depoimentos pessoais sensibilizando a sociedade que ainda ameaça vidas.

Esta experiencia decorre não somente dos dados abaixo citados, como de nossa
vivencia no movimento social através de acolhimentos e a parceria com a área da saúde
e o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas. Alguns fatos caracterizaram a maior
percepção da sociedade quanto a um risco eminente nas relações de afeto, amor, paixão,
desejo, dentre outras. Num tempo anterior a Epidemia do HIV/AIDS, pouco se discutia
sobre sexualidade, o assunto era tido como tabu e proibido qualquer diálogo público sobre
o assunto.

O crescimento da epidemia nos anos 80/90 levou a academia, governo e


organizações a dialogarem sobre a diversidade das relações e estratégias de enfrentamento
ao HIV/AIDS e a pautar o tema não somente falando de corpos biológicos, mas também
de afetos e outras discussões que permeiam as relações entre as pessoas. Neste contexto,
foi possível ter um olhar atento para a sexualidade e os corpos políticos que se
apresentavam.

De acordo com dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de


2022, de 1980 a 2022 foram identificadas 1.088.536 pessoas vivendo com HIV no Brasil,
sendo registrados 719.229 (66,1%) casos de AIDS em homens e 369.163 (33,9% em
mulheres. Em 2021, entre as mulheres, 29,4% dos casos se verificaram em brancas e
164

63,2% em negras (13,7% de pretas e 49,5% de pardas). No período de 2000 até junho de
2022, foram notificadas no país 149.591 gestantes/parturientes/puérperas infectadas pelo
HIV, das quais 8.323 no ano de 2021.

Entre os anos de 2011 e 2021 o total de jovens com HIV, de 15 a 24 anos, de ambos
os sexos, foi de 52.513 que evoluíram para AIDS, mostrando a importância do
desenvolvimento da doença nessa faixa etária e a necessidade de envidar esforços para a
vinculação desses jovens nos serviços e adesão à terapia antirretroviral (TARV). Apesar
do adoecimento por AIDS, da mortalidade e de novas infecções terem reduzido, segundo
o mesmo boletim, sabe-se que há subnotificações podendo não trazer ainda dados exatos,
mesmo assim foram notificados 11.238 óbitos em 2021. Dentre estes dados cerca de 108
mil pessoas no Brasil desconhecem seus status sorológico.

No mês de Abril de 2022, o Fundo Posithivo publicou o 10º edital público para
financiamento de projetos de prevenção ao HIV e outras infecções sexualmente
transmissíveis com estratégias inovadoras de prevenção. Foram inscritos 51 projetos de
vários estados brasileiros, sendo 15 selecionados. O tema da seleção foi promoção de
ações de prevenção ao HIV/AIDS, incidência politica e assistência.

O Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas e a Associação de Pessoas


Vivendo com HIV/AIDS do Rio Grande do Sul (APVHA/RS) apresentaram uma proposta
de projeto de prevenção com diversas ações e, dentre elas, uma radionovela como prática
inovadora de prevenção e informação que poderia chegar a todos os públicos por meio
das rádios e principalmente as rádios comunitárias nos mais diversos locais do País e até
mesmo fora dele.

Sendo assim, o objetivo da proposta é levar informação qualificada em saúde por


meio do rádio, com fácil entendimento a todos os públicos, com histórias reais de
mulheres vivendo com HIV /AIDS, filiadas ao Movimento Nacional de Cidadãs
Posithivas, mostrando aos ouvintes temas que permeiam a vivência cotidiana destas
mulheres que em algum momento de suas vidas receberam um diagnóstico positivo para
o HIV/ AIDS. Também era nosso objetivo sensibilizar a população sobre a importância
da testagem para diagnóstico precoce e do tratamento, que quando realizado de forma
correta contribui para a qualidade de vida e o não adoecimento. Ressaltamos, ainda, a
importância do apoio entre pares, os cuidados para evitar a transmissão vertical do HIV,
165

assim como falar sobre os danos causados pelo estigma, preconceito e discriminação em
relação à prevenção.

Participaram um grupo de ativistas do Movimento Nacional de Cidadãs


Posithivas: Renata Soares de Souza, Silvia Andrea Aloia, Rafaela Queiroz, Jenice Pizao,
Ethel Frota, Felipe Radicetti. Foram selecionadas 05 atrizes, sendo elas: Renata Soares
de Souza, Helena Agalenea, Maira Fernanda Magalhães, Ethel Frota e uma voz para a
música criada especialmente para a produção, que foi interpretada pela cidadã Emília
Ferreira. Foi contratada uma empresa que nos deu o apoio de sonoplastia e sonorização,
que contemporizou os produtos deste projeto.

As entidades e pessoas parceiras do projeto foram: Criar Brasil, que inseriu a


sonoplastia e concluiu o produto; Sra. Ethel Frota, escritora e roteirista; Felipe Radicetti,
músico e compositor da trilha sonora e da música “Canção da Cura”, inserida no final
dos episódios; Fundo Posithivo, principal Financiador do Projeto (este fundo possui o
incentivo e estimulo do Departamento DATHI/MS para captação na iniciativa privada,
facilitando o acesso de instituições que trabalham com HIV/AIDS, para que possam, com
menos burocracia, ter sustentabilidade na execução de suas ações); Rádio Quintal, por
meio do locutor “Toninho”, que veiculou imediatamente a radionovela; Cinco atrizes
contratadas com recurso do projeto e que cederam suas vozes para interpretar as histórias
da radionovela e cerca de 30 protagonistas que escreveram, foram selecionadas e
compartilharam suas histórias de vida com o HIV.
Assim que concluída a radionovela, iniciou-se o contato com rádios comunitárias
que poderiam veicular os episódios e levar informações as comunidades sobre prevenção
e despertar na comunidade, principalmente em mulheres, o dialogo de um assunto tão
cheio de tabus e proibições. A Radio Quintal FM, ao obter conhecimento da radionovela,
realizou contato com equipe das Cidadãs Posithivas, informando o desejo de veicular os
episódios e dialogar sobre o tema, que é de importância no território de abrangência da
radio, no município de Viçosa em Minas Gerais.

Metodologia

O projeto foi desenvolvido na seguinte ordem: Escrita do Projeto, planejamento


das ações, aprovação do edital, definição de equipe técnica, captação de histórias de vida,
negociação dos valores com a empresa produtora, edição de roteiro, musicalidade,
166

seleção de atrizes, contratação de empresa para edição e sonoplastia, gravação dos


episódios, levantamento das rádios comunitárias, levantamento dos locais que oferecem
PEP e PrEP em todo o Brasil e conclusão da prestação de contas do projeto ao seu
financiador – Fundo Posithivo.

Foi realizado o planejamento do projeto, a definição de equipe técnica, a coleta de


histórias que posteriormente foram traduzidas para episódios. Após estes ficarem prontos
com apoio da escritora Ethel Frota e musicalidade do compositor Felipe Radicetti, foram
selecionadas as atrizes que colocariam suas vozes para interpretar as personagens criadas
e os temas propostos. Foi contratada uma empresa, com estúdio e a finalização técnica
que inseriu música e efeitos sonoros dos capítulos. Em seguida, se deu a busca por rádios
comunitárias que aceitassem a parceria na divulgação da radionovela.

Após a fase de produção deste instrumento, estamos realizando levantamento das


rádios que aceitem a veiculação do material e a possibilidade de novas parcerias e dar
prosseguimento em nosso foco principal, que é a prevenção.

Todos esses temas se desenvolveram em 4 episódios sendo: Diagnóstico;


Transmissão Vertical; Prevenção; Discriminação/preconceito. Os episódios estão
disponíveis gratuitamente no Spotify e na página do Movimento Nacional das Cidadãs
Posithivas (Os links estão disponíveis no QR Code abaixo).

Agente Financiador, Equipe Técnica, Parceiros, Atrizes e as protagonistas das


histórias, foram aspectos que contribuíram e facilitaram para a realização do projeto. No
entanto, tivemos algumas barreiras: inexperiência de produção técnica de uma
radionovela, o tempo da produção foi muito reduzido para conclusão dos episódios,
distribuição dos episódios nas rádios comunitárias, vulnerabilidade financeira das
mulheres que contribuíram com suas histórias, o valor aportado no projeto foi insuficiente
para o número de episódios definidos inicialmente no projeto, tivemos que pechinchar,
falta de equipamento (notebook, fones adequados, estúdios apropriados para gravação
dos episódios), recursos financeiros e humanos para contratar equipe de mobilização da
radionovela nas rádios.

Resultados:
167

Envolvendo equipe técnica e ouvintes da rádio calculamos que o projeto alcançou


cerca de 100 pessoas diretamente e cerca de 2.000 pessoas indiretamente. Justificamos os
números citados porque estamos em contato com outras cinco rádios comunitárias e
desejamos acessar regiões onde é grande a dificuldade da internet chegar, tais como:
regiões de assentamentos, fazendas, regiões ribeirinhas, acampamentos, quilombos,
tribos indígenas, dentre outras áreas onde a cobertura digital é pequena ou até mesmo
inexistente.

Todas as pessoas envolvidas no processo da produção da radionovela relataram


ter sido sensibilizadas e/ou muito impactadas com os conteúdos do produto. O sonoplasta
Douglas, técnico contratado da Empresa Criar Brasil, foi uma das pessoas que afirmou
nunca ter observado o quanto estava vulnerável pela infecção pelo HIV-AIDS. O mesmo
ocorreu com a escritora Ethel Frota, que também é médica, relatou do quanto ficou
sensibilizada com as histórias e vivências das mulheres e como tais materiais seriam úteis
a quem não tem acesso aberto a informação.

Como o material está em plena execução e ainda em fase de distribuição.


Queremos atingir maior número de pessoas. Para tanto, são necessários novos
investimentos, planejamento e desenvolvimento dessa ousada produção.

Para conhecer mais...

Acessem nosso site, nossas redes sociais e os episódios do projeto no linktree do


Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas:

bit.ly/Posithivas
168

Brincar para Eliminar: Integração Vigilância Ambiental e Atenção Básica


na Prevenção da Malária nas Escolas
Mazagão/Amapá – Brasil

Vigilância ambiental Mazagão-AP

Tiago José de Souza, especialista em saúde coletiva, tiagopse@outlook.com

Introdução
O município de Mazagão, que fica na região sul do estado do Amapá, tem um
forte histórico no tocante aos casos de malária. O município é considerado prioritário para
o ministério da saúde, no que se diz respeito a estratégias de combate, visando a
eliminação da doença. No ano de 2019, foram registrados 1860 casos, sendo 576 casos
na população infantil de 1 a 14 anos, o que configura que 40% dos casos de malária do
município foram em crianças e em sua maioria na zona rural. A malária em crianças vai
além do sofrimento pelos sintomas clínicos, também está atrelada ao baixo rendimento e
evasão escolar e ao declínio na interação social, pois a criança com malária não brinca.
O Departamento de Vigilância Ambiental vem trabalhando a
multidisciplinariedade, fazendo parcerias e trabalhando de forma integrada com outros
níveis de atenção à saúde. Uma das ferramentas usadas para fortalecer essa rede de
comunicação para prevenção foi o PSE (Programa Saúde na Escola). O município de
Mazagão possui 56 escolas, 3906 alunos e 336 professores. Ao mensurar esse corpo
pedagógico, vemos um grande potencial educativo para combate da malária. Enxergar a
criança como multiplicadora de informação a serem disseminadas na sua comunidade é
uma estratégia de educação que além de promover saúde, promove também a educação
autônoma.
O projeto brincar para eliminar teve o início da sua execução no ano de 2020 e
tem como seu objetivo tornar as crianças protagonistas do processo de prevenção da
malária, oferecendo conhecimento de forma equânime, pedagógica e divertida.

Quem participou?
Deste o processo de planejamento até a avaliação contamos com varias entidades
atuando como parceiras e mentoras de algumas das ações. A secretaria municipal de
169

educação, o conselho tutelar, as associações comunitárias das localidades atendidas,


cooperativas e igrejas. O foco sempre foi difundir e ampliar ao máximo as informações
sobre a prevenção da malária no público infantil e com isso criar uma rede fortalecida
com as bases da comunicação em saúde.
As comunidades rurais e ribeirinhas foram as principais atendidas pelas ações,
tendo em vista que o cenário de positividade da malária no município é predominante na
zona rural. Localidades como: Ponte Do Vila Nova, Carvão e Rio Preto foram as
primeiras localidades atendidas, pois apresentavam índices de positividade alto. Para
atender algumas comunidades contamos com auxílio da Unidade Básica de Saúde fluvial,
uma estrutura de atendimento em saúde que minimiza bastante as barreiras geográficas
de acesso, pois acessa as comunidades ribeirinhas navegando pelo rio (nome do rio ou
dos rios que esta unidade acessa).
A faixa etária atendida pelas ações foram as inseridas dentro do ensino infantil
que vai dos 4 aos 6 anos, ciclo educacional esse que tina em sua totalidade 1494 alunos
matriculados. Do total de crianças matriculadas mais de trezentas foram atendidas pelas
atividades de prevenção a malária, sendo alcançadas por diversas abordagens didáticas
visando sempre o nível de aprendizado e o contexto local.

Metodologia/Desenvolvimento
O desenvolvimento da experiência começou com o planejamento baseado no
levantamento de dados. Criamos um fluxo de trabalho que ajudou a reunir ferramentas
que embasassem nossas ações. Tais ferramentas tinham que ser interdisciplinares, pois
tinham que mostrar a realidade da educação e também da saúde. Então começamos a
elaborar a estratificação epidemiológica e traçar o perfil das áreas com mais casos de
malária. De forma articulada, também estávamos analisando o censo escolar e a PENSE
(Pesquisa Nacional de Saúde Escolar), bem como as bases da educação do campo, tendo
em vista que a maiorias das escolas estão inseridas em zonas rurais. A partir dessas
análises, selecionamos as duas localidades piloto, sendo elas as comunidades do carvão e
do rio preto.

A parceria sempre aconteceu de forma equânime, para que tanto a educação e


como a saúde se sentissem contempladas e tivessem o protagonismo conjunto na ação.
Após o planejamento e a seleção das escolas que receberiam as ações, partimos para o
momento das oficinas, com o intuito de criar ferramentas lúdicas que prendessem a
170

atenção das crianças durante as atividades. As oficinas ocorreram com os técnicos


escolares e delas saíram produtos como rimas, poesias, jogos e atividades escritas. O
próximo passo foi a mobilização social, onde precisávamos que a comunidade fosse
inserida nesse processo, a participação da comunidade aconteceu na divulgação das ações
dentro das localidades, associações de moradores, conselho tutelar, pastoral da criança e
cooperativas de trabalhadores foram nossos comunicadores populares. Passavam
avisando a data das atividades e incentivando aos pais a também participarem das ações
educativas.

Além de ajudar no processo de comunicação também tornamos a comunidade em


multiplicadores das atividades que realizamos. Tornar a população protagonista do
processo de continuidade das ações foi a chave que abriria as possibilidades de inserir a
temática da prevenção da malária no cotidiano das famílias. Os agentes comunitários de
saúde sempre encabeçaram o incentivo para a população liderar o processo de divulgação
e também para que as informações técnicas fossem passadas de maneira que fossem
acompanhadas dos princípios da educação popular em saúde e que valorizassem cada vez
mais o saber da população local.

A primeira ação aconteceu na comunidade do carvão e abrangeu alunos da escola


Tia Chica. Neste momento, utilizamos as seguintes estratégias pedagógicas: o mosquito
de tamanho aumentado; as poesias da gotinha de sangue e da prevenção; e as atividades
escritas que propõem habilidades como pintar partes do corpo que estão expostas a picada
do mosquito; decifrar o labirinto que leva o agente de endemias até a criança com
sintomas; sinalizar no mapa os locais com maior número de mosquitos e circular o vetor
da malária. A segunda ação aconteceu na comunidade do rio preto, e abrangeu a escola
Vanderléa dos Santos Pena. Nessa comunidade, utilizamos o jogo da memória da malária
que mostra imagens sobre as formas de prevenção e sintomas, assim como a utilização
do “dinoscópio”, um microscópio infantil em formato de dinossauro, que utilizamos para
chamar a atenção das crianças para importância do diagnóstico; bem como atividades
como caça palavras, sete erros e pintura.

Resultados
A experiência BRINCAR PARA ELIMINAR traz em sua essência a quebra de
barreiras de comunicação com o público infantil, buscando de forma equânime tornar as
questões pertinentes à prevenção e ao combate à malária mais acessíveis e fluidas
171

metodologicamente. A informação tem que ser compreensível para o receptor. Por esta
razão, utilizamos a educação popular em saúde e as práticas pedagógicas, pois são
perspectivas que consideram a realidade dos educandos para a definição dos conteúdos,
dos materiais didáticos e dos processos interacionais. A intersetorialidade tem sido um
grande aliado para a continuidade do projeto, pois a divisão de tarefas faz com que tanto
a vigilância ambiental, como a atenção básica, por intermédio do PSE, sintam-se
responsáveis pelo processo educativo das crianças e pelo enfrentamento à malária
melhorando as condições de saúde da população.
Em suma, nossa maior missão é fazer com que as crianças aprendam brincando,
tendo em vista que brincar, além de ser a forma natural de expressão e relação da criança,
propicia inúmeros benefícios a saúde, ao desenvolvimento, a aprendizagem e, sobretudo,
à qualidade de vida. Ao todo foram mais de 300 crianças alcançadas pelas atividades,
crianças essas oriundas das localidades ribeirinhas e extrativistas do município.
A adesão e o encantamento da população com as atividades foram massivas, era
notório o brilho nos olhos das crianças que aprendiam enquanto brincavam, ao termino
das ações recebíamos os abraços calorosos da população que sempre vinha com um relato
ou fala de que nunca tinham visto as crianças tão fascinadas por uma temática da área da
saúde, que era uma novidade ver os pequenos entendendo de um assunto tão sério e que
historicamente sempre esteve presente na vida dos habitantes do município.As
brincadeiras geraram dados epidemiológicos muito positivos.
Identificamos a redução de 29% dos casos de malária nas crianças com a faixa
etária atendidas pelo projeto, foram 40 casos a menos. Como legado deixamos um vasto
acervo de material educativo, jogos, animações e brincadeiras para que essa temática
possa continuar perpetuando-se de forma lúdica e prazerosa.

Para conhecer mais...

Temos muitos materiais e fotos, temos também uma animação infantil e um vídeo
institucional do projeto.
172

bit.ly/BrincarparaEliminar
173

“Escucha Activa”
Buenos Aires – República Argentina

Gobierno de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires

Manuela Estefanía Vazquez, manuelaestefaniavazquez@buenosaires.gob.ar

Introducción
El Gobierno de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires, a través de la Secretaría de
Bienestar Integral, llevó adelante la primera encuesta post-pandemia sobre soledad no
deseada en personas mayores. En una muestra representativa de vecinos mayores de 60
años, se midieron distintas variables para una comprensión integral de la realidad de las
personas mayores en la Ciudad, específicamente sobre aquellos factores que pueden
incidir en su percepción de la soledad no deseada y sentimiento de tristeza. La soledad no
deseada es la sensación subjetiva de tener menor afecto y cercanía de lo deseado en el
ámbito íntimo, relacional y/o comunitario. El aislamiento y la soledad constituyen una
problemática frecuente en la sociedad, pero se presenta con más fuerza en las personas
mayores debido a que en esta etapa de la vida pueden aparecer cambios que alteran las
relaciones afectivas, los ingresos económicos, la composición del hogar y, por sobre todo,
la salud. La Ciudad de Buenos Aires es uno de los distritos más envejecidos del país: 1
de cada 4 vecinos tiene 60 años o más. La vejez se reconoce como una etapa en la que las
personas están más expuestas a encontrarse o sentirse en situación de soledad de manera
involuntaria, pudiendo esto impactar de forma negativa en la salud y el bienestar, al
repercutir en su estado anímico. Algunos datos de la encuesta mencionada anteriormente
nos arrojaron que, más del 50% de las personas encuestadas presentaron sentimiento de
tristeza de manera recurrente. Desde el Gobierno de la Ciudad trabajamos la salud de las
personas desde una mirada integral, para potenciar el bienestar de la comunidad, en todas
las etapas de la vida entendiendo que cada vejez es única. Esto implica abordar la soledad
no deseada de manera innovadora y creativa, impulsando la integración y la construcción
de redes para las personas mayores y su entorno. En ese marco, surge Escucha Activa, un
espacio de diálogo y acompañamiento para personas mayores, con el fin de fomentar su
integración a través del diálogo y de la empatía
El principal objetivo es que las Personas Mayores reciban acompañamiento
afectivo que las ayude a motivarse y estimularse, que las pueda orientar ante determinadas
situaciones y, fundamentalmente, contribuya a reducir la sensación de soledad y el
aislamiento.

¿Quién participó?
Es un canal de recepción de las demandas de las personas mayores que requiere
articulación y coordinación con diversas áreas de gobierno. La colaboración requiere
174

niveles de articulación capaces de proteger la información sensible, y abordar las


problemáticas que pueden o no, ser competencia de la Dirección General de Ciudad
Amigable para las Personas Mayores. La colaboración interna de las áreas competentes
fue vital para establecer los criterios de atención garantizando que fueran amigables con
las personas mayores. La política partió de dos procesos en simultáneo, por un lado se
realizaron focus groups y jornadas de prueba de la iniciativa por parte de personas
mayores, indispensables para el diseño del servicio y por otro lado se articuló la
colaboración intergubernamental con el objetivo de poner a disposición todas las
herramientas disponibles para el segmento. Del diseño y desarrollo de esta política,
participaron asociaciones de personas mayores, usuarias frecuentes de otras actividades
de la dirección como “centros de jubilados, centros de día”, asistentes a talleres y espacios
de formación que brinda la Secretaría de Bienestar Integral.

Metodología/Desarrollo
Escucha Activa fue creado en octubre de 2022 para brindar a las personas mayores
un espacio libre de prejuicios, y para que puedan sentirse acompañadas cuando lo
necesiten. El programa fue pensado para promover la participación e integración social,
y brindar un ambiente amigable a los adultos mayores que marquen el #147 (Opción 5).
También se puede acceder al servicio desde otras localidades de Argentina, marcando un
número alternativo: #08009992727 (Opción 5). Del otro lado de la línea, hay un operador
del call center que ha sido capacitado por especialistas en gerontología para escuchar
atentamente e identificar las necesidades de la persona que llama y sus intereses. El
operador tiene acceso a todos los programas y actividades que se realizan en Buenos Aires
para mayores de 60 años.
Escucha Activa comienza a desarrollarse a partir de la necesidad de abordar en
clave de derechos la soledad no deseada y el aislamiento en las personas mayores de la
Ciudad de Buenos Aires como factores que afectan a la salud integral de esta población.
Su implementación incluye las reuniones de trabajo en las que se recogieron compromisos
de colaboración y articulación de las áreas de la Secretaría. Para esto, se realizó un
relevamiento inicial de programas, proyectos y actividades orientadas al segmento de
personas mayores del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires, con el objetivo de
centralizar, promover y difundir las actividades especialmente diseñadas para fomentar la
participación comunitaria de las personas mayores entre las personas que se comuniquen
telefónicamente a través de la línea 147. Para brindar la atención a las personas mayores,
se acordó con el call center proveedor del servicio llevar a cabo capacitaciones periódicas
sobre buenos tratos, escucha empática, el funcionamiento de los dispositivos de abordaje
de situaciones de las personas mayores, entre otras cosas. El equipo de operadores,
ejercita una escucha atenta, activa y empática, libre de prejuicios y pensada para ser un
espacio de acompañamiento y contención. Para todas las etapas de implementación, se
realizaron testeos territoriales del dispositivo. Se avanzó mediante la centralización de la
información de todas las actividades dirigidas a la población mayor de la Ciudad, teniendo
en cuenta que en Buenos Aires, 1 de cada 4 personas es mayor de 60 años. El análisis y
seguimiento constante de las problemáticas presentadas es parte de la metodología
aplicada en el desarrollo del Programa.
175

Para dar a conocer Escucha Activa a las personas mayores y a la ciudadanía en general,
se realizaron múltiples acciones de difusión, tanto territorial como virtual a través de las redes de
comunicación oficiales de las diferentes reparticiones del Gobierno de la Ciudad Autónoma de
Buenos Aires. Para dar a conocer Escucha Activa, se partió de la encuesta de soledad no deseada,
la primera que se realizó post pandemia. Se visitaron espacios en desarrollo de la Secretaría, como
talleres y capacitaciones de inclusión digital, se promovieron y realizaron espacios de formación
en organismos públicos sobre atención gerontológica, talleres y mesas de trabajo con centros de
salud, coordinadores de centros de día y coordinadores de centros de jubilados, entre otros. Se
realizaron actividades de difusión y explicación del Programa, además de las ya mencionadas
capacitaciones periódicas que se realizan en el marco de la actualización constante a operadores
del 147.

Resultados
Al ser una política recientemente desarrollada, hasta el momento ha tenido un
alcance y recepción generalizada que viene superando las expectativas de la Secretaría.
Hasta el momento, el canal del programa ha recibido más de 16.000 llamadas. Entre las
actividades proyectadas para Escucha Activa, se encuentra la difusión y promoción
ampliada en distintas localidades, por lo tanto, se espera un impacto gradual que
contribuye con el objetivo de reducción de la soledad no deseada en las personas mayores.
En esta etapa inicial, el eje está en el testeo territorial basado en la recolección del
feedback, la difusión y la implementación articulada entre áreas. La implementación dió
cuenta de la necesidad de realizar mesas de trabajo articuladas para el seguimiento de las
situaciones que requieren intervención, la necesidad de protocolizar y estandarizar las
derivaciones entre el sistema de cuidados, las inscripciones a los distintos programas y la
necesidad de revisión constante de la información brindada por el operador a la persona
mayor que se comunica. Hasta el momento, se ha cumplido la etapa inicial de alcance
esperada. Los próximos pasos incluyen el fortalecimiento institucional de áreas que
tengan atención a personas mayores, con el objetivo de concientizar a los equipos de
agentes que prestan servicios en el Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires en primera
instancia, y luego poner a disposición de otras localidades, la herramienta de manera
progresiva. Teniendo como faro la disminución de la soledad no deseada y el aislamiento
en las personas mayores y disminuir el impacto que esta problemática tiene en la salud
integral de las personas mayores.
Uno de los principales problemas que tuvimos que superar fue la brecha
generacional entre las personas mayores usuarias del servicio, y los operadores de la línea
#147. Fue posible abordar este desafío a través de una instancia de testeo territorial, donde
las personas fueron invitadas a probar la plataforma, y realizar una devolución con
comentarios que se tradujeron en espacios de capacitación a los operadores del call center
Las capacitaciones se realizan en forma continuada por parte de especialistas en
gerontología con los operadores para que la atención sea la mejor posible, entendiendo
que, las personas mayores que utilizan el servicio son protagonistas y su feedback es
invaluable para nosotros. Como principales dificultades podemos señalar la gran cantidad
de información que se centraliza a través del operador en la línea. Mantener las bases de
datos actualizadas con días, horarios, direcciones, teléfonos, correos, etc., ha requerido
176

un nivel de coordinación entre reparticiones que resultó en una estrategia de


afrontamiento de estandarización de la actualización de la información.
Uno de los desafíos que tuvimos con esta política fue cambiar la percepción
pública y la lógica de utilización que se tenía de la línea #147 como centro de llamadas
del Gobierno de la Ciudad. Las personas mayores tendían a considerar la experiencia con
el call center dificultosa y en algunos casos no resolutiva. Escucha Activa brinda una
dinámica diferente a nuestros usuarios, los operadores están instruidos y capacitados para
entablar una conversación con la persona que llama, que puede hablar libremente y sin
limitaciones de tiempo. Hemos descubierto que muchas personas de la tercera edad que
llaman disfrutan de mantener conversaciones largas con nuestros operadores, quienes a
su vez trabajan para asistir a la persona mayor con las herramientas y con la oferta
programática que la ciudad de Buenos Aires tiene pensada para ellos. Otro desafío al que
se enfrentó el programa, y persiste a la fecha, fue combatir la soledad no deseada. En la
ciudad de Buenos Aires, realizamos la primera encuesta de soledad no deseada post
pandemia, los resultados arrojaron que más de la mitad de las personas consultadas, sintió
tristeza de manera recurrente. La atención de esta problemática es la raison d'être de
Escucha Activa ya que pone a disposición de las personas mayores, ese espacio de
contención y acompañamiento cuya ausencia aumenta la soledad no deseada.
Escucha Activa puede considerarse una experiencia innovadora porque resignifica
una herramienta que ya es conocida mayoritariamente por la población de la Ciudad de
Buenos Aires como lo es la línea #147 del Gobierno de la Ciudad. A través de una
reinterpretación de la lógica de contacto, se ofrece el espacio de Escucha Activa como un
espacio de conversación libre, sin un flujo pre cerrado de atención, desestructurado y
centrado en el usuario, personas mayores de 60 años. La forma en la que se articula la
participación de cada uno de los actores intervinientes es también innovadora. Posterior
a la planificación de esta política que tiene en el foco en las personas mayores, surgió
también la necesidad de avanzar en el fortalecimiento institucional de las capacidades de
diversas áreas para comprender los ejes centrales de los buenos tratos en atención a
personas mayores. La dinámica en la que se van entrelazando las articulaciones también
es innovadora.

Para saber más...


• Enlace oficial del programa de Escucha Activa;
• Escucha activa: acompañando adultos mayores;
• "Escucha activa", el servicio de la Ciudad que acompaña a las personas mayores;
• “Escucha Activa” Servicio de acompañamiento telefónico para personas mayores.
177

bit.ly/EscuchaArgentina
178

“Maternidades en comunidades rurales del Chubut: la cartografía social


como herramienta para un proceso de adaptación de estrategias de atención
del embarazo a zonas remotamente situadas”
Chubut, República Argentina.

Instituto de Investigaciones Geográficas de la Patagonia (IGeopat)-Grupo Geografía y


Acción Territorial (GIGAT); Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco http

Sergio Fernando Jaime, Mg. Atención Primaria/Medico Especialista en Medicina Familiar.


monchituc2@hotmail.com; Juan Manuel Diez Tetamanti. PhD Geografía. jmdiezte@gmail.com; Alberto
Vazquez. PhD Geografía. Albertogeo85@gmail.com;

Introducción
La provincia de Chubut (uno de los 24 estados provinciales de la República
Argentina) se caracteriza por un territorio extenso (224.686 km2) y escasamente poblado
(603.000 Hab, 2022), donde sólo cinco ciudades concentran el 82% de la población. El
proyecto se realizó en comunidades definidas como rurales y remotamente situadas de la
Provincia de Chubut algunas de ellas con vías de acceso de difícil tránsito, pero que
mayoritariamente se localizan alrededor de rutas principales (rutas 26, 40 y 25) que las
conectan con localidades de mayor jerarquía del sistema urbano provincial-regional
(ciudades pequeñas y medianas que no superan los 250.000 habitantes) (ver cuadro 1).
Las distancias entre estas comunidades rurales usualmente son amplias, pero cuando estas
distancias no son tan extensas se relacionan de un modo más estrecho definiendo flujos y
trayectorias comunes.
Cuadro 1: Localidades rurales seleccionadas Provincia del Chubut por habitantes y
distancia a centro de referencia.
Sección Localidades Tipo de servicio Habitantes 2022 Distancia a
(proyectado) maternidad de
referencia

Comarca andina. Paso del Sapo Hospital Rural 500 178 km


Hospital de Cholila Hospital Rural 2503 145 km
referencia:
Hospital Zonal Tecka Hospital Rural 1328 96 km
Esquel-El Maiten Gualjaina Hospital Rural 1778 85 km
Ruta 25 (meseta Las Plumas Hospital Rural 434 184 km
central). Hospital El Mirasol Puesto Sanitario 57 238 km
de referencia:
hospital Zonal de Los Altares Puesto Sanitario 472 287 km
Trelew. Paso de Indios Hospital Rural 1665 343 km
Ruta 26 (meseta y Alto Rio Senguer Hospital Rural 1703 349 km
zona sur de Aldea Beleiro Puesto Sanitario 275 383 km
cordillera).
Hospital de Rio Mayo Hospital Rural 2999 273 km
referencia; Ricardo Rojas Puesto Sanitario 281 343 km
Hospital Regional Buen Pasto Puesto Sanitario 105 235 km
de Comodoro.
Telsen Hospital Rural 598 172 km
Gan Gan Hospital Rural 730 267 km
179

Ruta 4 (meseta Gastre Hospital Rural 640 388 km


norte y Peninsula Puero Piramides Hospital Rural 792 94 KM
de Valdez)
Hospital Zonal de
Puerto Madryn.
Fuente: diseño propio en base a datos de Dirección General de Estadísticas y
Censos Chubut. 2022

Basada en experiencias locales de regionalización y la evidencia disponible en ese


momento, surge en República Argentina a partir del año 2010 una serie de lineamientos
que fueron transformándose en una política federal conocida como “Maternidades
Seguras y Centradas en la Familia (MSCF)” la cual constituye en la actualidad la base
del cuerpo normativo de la atención del Embarazo, Parto y Puerperio (EPP) en el territorio
nacional. Esta política se conforma como una mezcla de estilos de intervenciones que
proponen conjugar cambios en la cultura de las organizaciones (una medicina orientada
al paciente con un enfoque de derechos), una búsqueda de un piso de garantías en cuanto
a calidad de atención (con una característica excluyente: las instituciones donde se
realicen partos deben acogerse a una serie de Condiciones Obstétricas y Neonatales
Esenciales --CONE-) y la tendencia a la regionalización. Estas CONE excluyen de hecho
la posibilidad de realizar partos en hospitales de baja complejidad (como hospitales
rurales) y como resultado se produjeron profundos cambios en el proceso de atención del
EPP y en las trayectorias que se suceden a partir de este.
La implementación de la política de MSCF, por lo tanto, se convirtió en un mojón,
un fenómeno sustancial en el desarrollo de un tema central de una comunidad como los
es el proceso de atención del EPP. Además de ser un momento trascendente en el ciclo
vital de las personas y comunidades, en un sentido más amplio, este tema se vincula
estrechamente con otras dimensiones relevantes en la trama social de las comunidades
rurales de la provincia de Chubut: los cambios sociodemográficos en las últimas décadas,
el impacto de la implementación de políticas públicas en comunidades vulnerables, los
aspectos centrales que propicien un desarrollo sustentable de comunidades rurales y
remotamente situadas, entre otros fenómenos.

La singularidad de este contexto genera interrogantes sobre cuál será el impacto


en las dinámicas y trayectorias de las mujeres y sus familias en el proceso de maternar
bajo esta propuesta normativa. Visibilizar y analizar un problema de estas características
permitiría abordajes diferenciales de base real en el futuro, generar encadenamientos
institucionales entre organizaciones e instituciones locales con espacios
gubernamentales y nuevos planteos en propuestas de intervención con un enfoque de las
comunidades afectadas. La cartografía social, como campo de confluencia
transdiciplinario, se propone como un enfoque adecuado para una empresa de estas
características. El propósito general de la experiencia fue analizar las dinámicas y
experiencias de trayectorias y movilidades en procesos asociados al embarazo, parto,
post-parto y maternidad para generar propuestas de acción e intervención del Estado y/o
comunitarias, a partir de las singularidades y experiencias en trayectorias y movilidades
de las mujeres y familias de áreas rurales de Chubut, en el marco de Maternidades
Seguras y Centradas en la Familia.

¿Quién participó?
180

El Proyecto surge del Instituto de Investigaciones Geográficas de la Patagonia


(IGeopat)-Grupo Geografia y Accion Territorial (GIGAT) dependiente de la Universidad
Nacional de la Patagonia San Juan Bosco. Su financiamiento y apoyo institucional
provino del programa Proyectos de Investigación Científica y Tecnológica (PICT) de la
Agencia Nacional de Promoción de la Investigación, el Desarrollo Tecnológico y la
Innovación (dependiente del Ministerio de Ciencia y Técnica de la Republica Argentina);
y el Programa de Desarrollo Tecnológico y Social de la Universidad Nacional de la
Patagonia. El grupo investigador estuvo conformado inicialmente por 20 personas de
diferentes disciplinas, con bajas e incorporaciones durante el trayecto del proyecto, y
actualmente 17 personas están involucradas directamente. En su etapa formativa se
realizaron más de veinte entrevistas en profundidad a miembros locales del equipo de
salud y 3 entrevistas grupales. En los talleres de cartografía social (que se llevaron a cabo
con miembros del equipo de salud y miembros de la comunidad en proporciones
variables) llevan participando cerca de 60 personas hasta el momento con una expectativa
de unas 150 participantes al finalizar los plazos de este proyecto.
El Ministerio de Salud inicialmente apoyó la iniciativa designando como
institución Promotora/Adoptante del proyecto al Hospital Regional de Comodoro
Rivadavia (Chubut) y al Hospital Rural de Rio Senguer. Actualmente, el grupo
investigador y el Ministerio de Salud (a través de la Dirección de Maternidad e Infancia
) se encuentra trabajando en una nueva rama del proyecto para ser incluidos dentro del
programa Impact.AR (Ministerio de Ciencia y tecnología de la República Argentina).
Podemos mencionar tres grupos que han sido impactados por esta iniciativa
▪ Gestores y decisores del Ministerio de Salud de la Provincia del Chubut.
▪ Miembros del equipo de salud de Hospitales Rurales de la Provincia del Chubut.
▪ Mujeres y familias de áreas rurales del Chubut. Es necesario aclarar en que
consiste este impacto directo por parte del grupo investigador: mediante el
enfoque de investigación principal (enfoque cartográfico), se instaura un proceso
de generación de conocimiento a través del dialogo con actores territoriales, donde
sus vivencias y experiencias son un elemento trascedente; en este sentido este
nuevo conocimiento que se genera es modelador de una realidad que estaba
latente, pero no plenamente percibida ni desarrollada. Por otro lado esto permite,
mediante otras herramientas (enfoques bottom-up) la implementación de acciones
de base comunitaria que mediante el desarrollo de “Capacidad Comunitaria”
inician un proceso de movilización social hacia el cambio.

Metodología/Desarrollo
Si bien este proyecto no censura otros aportes metodológicos, en términos
generales se asume como parte del enfoque de pesquisa cartográfica ya que propone la
incorporación de múltiples vectores para la comprensión de una realidad compleja; la
investigación intenta acceder al” plano común” que articula, conecta y moviliza esas
diferentes aristas de la realidad, tensionando la perspectiva desde la posición y
experiencia (como elemento central del análisis) de diferentes sujetos-actores.
Analizando los diferentes momentos de este proyecto, el mismo podría identificarse con
las Investigaciones Participativas de Base Comunitaria (Community-Based Participatory
Researh o CBPR por sus siglas en inglés) con la diferencia que se enfoca en múltiples
comunidades y que incluye en su propósito el objetivo de armonizar el enfoque local con
181

una política pública preexistente (y por lo tanto involucrar a actores gubernamentales en


un proceso paralelo).
En la primera etapa del proyecto el equipo investigador recolectó información
documental para comprender en profundidad el desarrollo de la implementación de la
política de MSCF (a lo cual, paradójicamente, existía escasa información disponible).
Posteriormente los directores del proyecto realizaron una serie de encuentros para
armonizar conceptual y operativamente a los participantes del equipo investigador
(provenientes de diferentes disciplinas) y desarrollar una organización que permitiera
cumplir objetivos de esta envergadura (ver cuadro 2). Una vez terminado este proceso de
armonización y establecida una planificación de actividades se realizó un primer trabajo
(una investigación formativa) orientada a comprender como se percibe y opera la
estrategia de MSCF en los contextos locales y en las condiciones de vida rural incluyendo
el acceso a servicios. Las dificultades operativas del momento epidemiológico
(restricciones en la circulación y en la posibilidad de reuniones) hizo que la recolección
de datos para esta etapa fuera mayoritariamente en modalidad hibrida.

Cuadro 2: organización del proyecto Experiencias y trayectorias de mujeres y familias de


áreas rurales de Chubut, en el marco de Maternidades Seguras y Centradas en la Familia
Dispositivo Objetivo Descripción

Grupo ruta Coordinación del trabajo en terreno Debido a la extensa superficie la


(reconocimiento, creación de organización del trabajo por regiones
contactos, soporte local de apoyo, fue fundamental para que la
logística). interacción local sea representativa.
Metodologías Realizar entrevistas en profundidad a Debido a que la información
tradicionales actores clave. cualitativa es un componente
fundamental, en este dispositivo se
realiza la recolección y
sistematización de entrevistas.
Metodologías Abordaje de la problemática mediante Este dispositivo desarrollo
colectivas metodologías colectivas. metodologías colectivas en las
comunidades (cartografía social,
dioramas, planificación con
enfoques “bottom-up”),
Imágenes locales Recopilar imágenes (entrevistas, La recopilación de imágenes con
fotografías, etc). con fines fines documentales, las
documentales y de investigación. representaciones de situaciones
mediadas por imágenes y en lo
posible desarrollo de técnicas de
abordaje de problemas por imágenes
(por ejemplo, fotovoz).
Espacializaciones Facilitar la interpretación territorial de En este dispositivo se realizarán
emergentes complejos. síntesis Core matizadas y
esquematizadas mediante
espacializaciones.
Producción La edición de material para Este dispositivo se orienta a la
Multiformato divulgación y generación de producción multiformato: libros,
conocimiento. artículos, videos y otros formatos
que articulen formato.
Fuente: diseño propio.
182

Luego de la etapa formativa y en otro contexto epidemiológico, se consolidó el


trabajo de campo realizando talleres de cartografía social en diferentes comunidades.
Asimismo, los dispositivos de Producción Multiformato y de Imágenes Locales
empezaron a generar productos con los insumos que fue generando el proyecto. Para la
generación de actividades se busco un contacto local con capacidad de movilización
(mayoritariamente alguna personalidad destacada dentro del hospital rural), se le explico
los alcances y objetivos de la actividad, y se consensuaba en base a su opinión los
términos de la convocatoria a la comunidad; es importante recalcar que la mayoría de las
poblaciones cuentan con una escasa cantidad de habitantes y cada evento (personas
extrañas, algo fuera de lo común, la posibilidad de participar de actividades muchas veces
en un tono lúdico) generaba mucha atención por parte de los pobladores. Los talleres de
cartografía, como proceso, implican una serie de pasos donde en la construcción del mapa
y sus derroteros (sus referencias sobre problemas y soluciones) los cartógrafos sociales
son los mismos invitados al taller; esta construcción colectiva finaliza con un momento
final donde se analiza y discute esa construcción colectiva en un proceso de cierre.
Ya con resultados proveniente de información sistematizada (falta de procesos de
participación comunitaria y problemas de adaptación de la política de MSCF a este tipo
de contextos) se prorrogó el ciclo de vida del proyecto para fortalecer procesos
participativos (mediante talleres de cartografía social y talleres para la planificación con
enfoques “bottom-up”), lo cual constituye la parte esencial de la agenda 2023. Además,
se presentaron los resultados de este proyecto a las autoridades gubernamentales
regionales y con el apoyo del Ministerio de Ciencia y Técnica de la República Argentina
está en desarrollo una nueva rama del proyecto (Impact.AR), cuyo objeto es promover
proyectos de investigación y desarrollo orientados a apoyar a organismos públicos a
encontrar soluciones a desafíos de interés público para de esta manera, fortalecer el
impacto de la ciencia, la tecnología y la innovación en la construcción y aplicación de
políticas pública..

Cuadro 3: facilitadores y barreras del proyecto Experiencias y trayectorias de mujeres y


familias de áreas rurales de Chubut, en el marco de Maternidades Seguras y Centradas
en la Familia
Facilitadores Barreras
La experiencia previa del equipo investigador. La complejidad logística y territorial.
El conocimiento profundo de la temática del equipo Los tiempos de los procesos participativos
investigador antes de iniciar el trabajo de campo.
Iniciar el trabajo de campo con una investigación Fenómenos que condicionaron la dinámica social
formativa (y que este espacio sea esencialmente de (Epidemia por COVID-19)
escucha activa)
Poder adaptarse a diferentes contextos. La dinámica económica Argentina
Poner a la comunidad en el centro y no las preferencias La sensibilidad de la temática en autoridades
del equipo investigador gubernamentales.
Abrir un espacio de comunicación continuo con
aquellos facilitadores de cada comunidad

Resultados
La población total de las comunidades donde se desarrolló esta experiencia suma
alrededor de 16800 personas aproximadamente; esto constituye la totalidad de las
personas que viven en el centro de la Provincia (conocido como meseta chubutense) y
183

una porción mayoritaria de la población rural que vive en las otras grandes regiones de la
provincia (costa Atlántica y Cordillera).
Si bien la población objetivo de este proyecto fueron mujeres y familias de zonas
rurales de la provincia de Chubut, en el desarrollo del proyecto notamos que un grupo
especifico -los trabajadores de salud de hospitales rurales- fueron especialmente
impactados por esta experiencia. En los 17 hospitales rurales y postas sanitarias
alcanzados, los miembros del equipo de salud son además miembros trascendentes de
las comunidades en estudio y por lo tanto actores clave en un fenómeno sanitario
(atención del EPP, un trazador destacado del desempeño de hospitales rurales y de
accesibilidad sanitaria global) pero también de la dinámica social comunitaria. En
términos generales podemos decir de las personas que han participado de este proceso
han expresado con claridad los siguientes adjetivos:
▪ Identidad: se han sentido identificados con los productos que se han generado de
este proyecto (trabajos de investigación).
▪ Pertenencia. Han manifestado que participar de un proceso de esta característica
fortalece el sentido de pertenencia a su comunidad.
▪ Gratitud. Fundamentalmente en aquellos procesos que implicaban escucha activa
de personas con gran experiencia.
▪ Confort. Describen como agradable y cómodo participar de los talleres de
cartografía social.
▪ Utilidad. Perciben que las herramientas que se utilizan en este proceso les puede
ser de utilidad para otros problemas sociales de envergadura que les afectan
(accesibilidad, desarrollo local, etc).
▪ Reflexión crítica. Los participantes perciben que son espacios donde se pueden
generar conocimientos basados en una reflexión de la realidad y un mayor
autoconocimiento.

Por otro lado, los productos de investigación generados (con enfoque


participativo) pusieron en evidencia algunos puntos críticos no contemplados durante la
implementación de la estrategia MSCF:
▪ Como afecta a escala individual/vivencial en sujetos que viven en un contexto
rural una estrategia de acceso a servicios de salud sin un enfoque participativo
activo, estrategia que además implica diferentes niveles de desarraigo.
▪ Como se modificó el proceso de atención del EPP en las zonas rurales del Chubut
después de esta estrategia y como afecto a los hospitales rurales.
▪ El impacto que tuvo en términos sociales en la población rural.
▪ Puntos de interés común para implementar estrategias de adaptación a contextos
locales.

En esta experiencia se han generado los siguientes productos:


▪ Repositorio con toda la documentación del proyecto, productos intermedios,
notas metodológicas, archivos de imágenes y video. En este repositorio
contamos con diversos mapeos realizados bajo diversas metodologías.
▪ Notas metodológicas para el desarrollo de entrevistas con escucha activa,
desarrollo de talleres con metodología de cartografía social, desarrollo de
dioramas, talleres de construcción de “capacidad comunitaria”.
184

▪ 4 textos científicos en diferentes etapas de producción.


▪ VIDA RURAL Y MOVILIDADES EN LA PATAGONIA
CENTRAL. APROXIMACIONES DESDE UN RELATO
EXPERIENCIAL. Aprobado por la Revista Geoingá: Revista do
Programa de Pós-Graduação em Geografía.
▪ “Acá el parto programado no existe más”: la urbanización de los
partos de comunidades rurales desde la mirada del equipo local
de salud. Aprobado por la revista Salud-Problema (México).
▪ Gestar en lo rural, parir en la ciudad. Escenarios de
desterritorialización del proceso perinatal en Chubut. En proceso
final de edición.
▪ Fotografía y maternidad(es): miradas desde la Patagonia. En
proceso final de edición.
▪ Un acuerdo con las autoridades regionales de salud para iniciar un proyecto
conjunto avalado por el Ministerio de Ciencia, Tecnología e innovación de la
República Argentina con el objeto de optimizar la armonización de la estrategia
con las singularidades locales

Dado que el proyecto no ha finalizado aun (se espera ello ocurra en diciembre
2023) el proceso evaluativo del mismo no concluyó y existe la posibilidad de que surjan
nuevas ramas, productos intermedios o finales.

Para saber más...


• Parirás lejos de casa: 5 ciudades de Chubut atienden partos: sitio web de la
Universidad Nacional de la Patagonia
• Maternidades rurales en la provincia del Chubut: nota de prensa en el sitio web
El Patagonico.
• Trabajo territorial del Proyecto de Investigación "Experiencias y trayectorias de
mujeres y familias de áreas rurales de Chubut, en el marco de... : departamento
de Comunicación de la Universidad Nacional de la Patagonia.
• "En Chubut solo se puede parir en cinco ciudades": entrevista al Director del
Proyecto Juan Manuel Diez Tetamanti

bit.ly/MaternidadesChubut
185

Proyecto de Recuperación áreas Verdes-Huertos Comunitarios”


V Región Valparaíso. Comuna De Viña Del Mar - Chile

Corporacion Municipal Viña Del Mar Para El Desarrollo Social

Carolina Cabello Aguilera, Área de Salud Corporación Municipal Viña del Mar cabello@cormuvina.cl;
Laura Hernández Norambuena, Jefe Centro de Salud Comunitario Las Palmas lhernandez@cmvm.cl;
Marcela Gallardo Gómez, Asistente Social CESFAM Jorge Kaplan mgallardo@cmvm.cl; Vanesa Muñoz
Norambuena, Monitora Social, huertos comunitarios vanesamnorambuena@gmail.com; Estephania
Leyton Chacón, Centro de Salud Comunitario-Santa Julia fannyleytonc@gmail.com

Introducción
La comuna de Viña del Mar ubicada en la Región de Valparaíso conforma una de
las áreas urbanas más grandes y turísticas del país. La ciudad cuenta con 334.248
habitantes, representando un 18,4% de población regional, con una densidad poblacional
correspondiente a 2.748,8 hab./km2.
Para la cobertura de atención primaria de salud, se dispone de diez centros de salud
familiar, cuatro centros comunitarios de salud familiar, cinco servicios de atención
primaria de urgencia, y cuatro unidades transversales de: Droguería- Laboratorio,
Resolución de Especialidades Ambulatorias, Cuidados Radiológicos y Medicina
Complementaria.

La experiencia descrita inicia en 2015, en contexto de diagnósticos participativos


de salud, donde los participantes identifican la existencia de microbasurales e
insuficiencia de áreas verdes en distintos sectores de la comuna. Este problema genera
una percepción de abandono de los territorios, como así también una afectación de la
calidad de vida y salud mental de sus habitantes. Esta información se complementó con
informe “Programa Control de Microbasurales en la Comuna de Viña del Mar 2016” que
identificó un total de 52 microbasurales, ubicados principalmente en los sectores altos de
la ciudad, donde habita alrededor del 70% de la población.

Como factor determinante de este problema se destacan condiciones de


precariedad, y poco equipamiento urbano en varios de estos sectores, lo que dificulta la
recolección de residuos. Esto sumado a la escasa valoración del espacio público,
contribuye a la proliferación de microbasurales, afectando a más de 90.000 habitantes.
186

A partir de esta evidencia, se diseñó un fondo concursable dirigido a


organizaciones sociales vinculadas a los Centros de Salud, promoviendo el eje
gobernanza y participación ciudadana cuyo fin apunta a recuperar un espacio percibido
como un foco de insalubridad, mediante instancias promoción de salud y de participación
de la comunidad vecinal e intersectorial. La intervención se desarrolló en una primera
etapa a través de fondos concursables los años 2017 y 2018, mediante el convenio Plan
Trienal de Promoción, que es un instrumento de planificación comunal para acciones de
promoción, educación e intervención en determinantes sociales de la salud. Este fue un
concurso abierto a la comunidad, mediando criterios de: intersectorialidad, cobertura
poblacional, impacto y sostenibilidad.

A partir de la evaluación realizada de los dos primeros años, se reorientó la


estrategia a una modalidad de asignación directa para huertos comunitarios, logrando la
implementación de once huertos en diversos territorios de la comuna, contribuyendo de
esta forma al fomento de áreas verdes en los territorios y al trabajo participativo.

La importancia de la iniciativa es que permite adaptar las intervenciones de


promoción a un nuevo espacio relacional, fomentando la cogestión, la asociatividad y el
empoderamiento ciudadano en un ámbito que afecta la calidad de vida de las personas”.

Metodología y Desarrollo

La metodología comprende dos periodos, el primero asociado al trienio 2016-


2018, con las siguientes etapas:

PROCESO REUNIONES INTERSECTOR PROYECTOS


• Diagnóstico comunitario • Secretaría regional Ministerial de • Conformación de panel de
informes y catastros Salud (SEREMI) selección de iniciativas
municipales. • Oficina medioambiente municipal • Postulación de proyectos
• Búsqueda de financiamiento • Secretaría comunal de desde los sectores.
• Elaboración de las bases de planificación (SECPLA) • Adjudicación montos.
concurso. • Unión Comunal Consejos Locales • Ejecución proyectos.
• Difusión a la comunidad y a de Salud • Hito Comunicacional.
los equipos de salud

La primera adjudicación, en el año 2017, correspondió al proyecto Sendero


Ecológico de Las Palmas con un presupuesto de $7.000.000 (US 8.785). Para el siguiente
año se adjudicaron tres proyectos nuevos con $5.000.000 cada uno (US 6.275 y una
187

mención especial al proyecto de Forestal con $3.000.000 (US 3.765) destinada a la


comunidad Nag Mapu perteneciente a pueblos originarios, de acuerdo con el siguiente
resumen:

Proyecto Organizaciones Resultado en obras Estado/Uso


Sendero 6 organizaciones • Erradicación residuos • Acceso más expedito al
Ecológico 5.000 beneficiarios • Habilitación sendero centro de salud.
Las Palmas ecológico con árboles • Área de esparcimiento
nativos
Eco-plaza Los 21 organizaciones • Erradicación residuos • Ecoplaza recreativa.
Pino 2.921 beneficiarios • Cierre perimetral • Delimitación espacios
Reñaca Alto • Habilitación inicial plaza plantación
entorno natural y cultural • Nuevo proyecto
postpandemia
Proyecto Neyün. 2 organizaciones • Erradicación • Espacio limpio, cerrado
Achupallas 2.800 beneficiarios microbasural para el acceso a público.
• Cierre perimetral
Comunidad Nag 1 Organización • Habilitación invernadero • Invernadero comunidad
Mapu. Forestal 50 beneficiarios hierbas medicinales mapuche Nag Mapu,
cerrada a atención de
público desde 2020.

Dentro de los factores facilitadores se destacó la participación de organizaciones


sociales y el involucramiento de los centros de salud, dispuesto a adaptar una metodología
de trabajo orientada al abordaje de medio ambiente, iniciativa que se expandió a otros
programas gubernamentales, tales como “Quiero mi Barrio” en el sector de Reñaca Alto.

Respecto a las barreras de ejecución, estas se relacionan principalmente con la


capacidad de desarrollo y autogestión de los activos comunitarios y la existencia de
conflictos asociados al destino del espacio recuperado, por lo que el destino final puede
alejarse del objetivo para el cual fue suscrito el proyecto (ejemplo: cierre para público,
tomas de terreno)
A partir de estas experiencias, y considerando que no todas las comunidades
cuentan con herramientas para dar sostenibilidad a proyectos de esta envergadura y/o
capacidad de ejecución en mediano plazo, se optó por una nueva modalidad de trabajo,
188

para el trienio 2019-2021 manteniendo el mismo espíritu de recuperación de área verde


para la comunidad a través de la implementación de huertos comunitarios.

Este nuevo enfoque, de financiamiento inicial para huertos comunitarios se


destinó a territorios que contaban con iniciativas en desarrollo y que requerían de recurso
financiero para mejorar la implementación con cercos, invernaderos, bancales, insumos,
herramientas, etc., permitiendo una mayor sostenibilidad de las iniciativas locales, y la
búsqueda de recursos propios de la comunidad para dar continuidad a la estrategia,
mediante asociaciones con ONG, instituciones y universidades vinculadas al medio
ambiente y al área nutrición

De esta forma, los pasos fueron los siguientes:

Necesidades Formulación proyectos Asignación Ejecución


Implementación y/o Proyectos: bancales, Directa según área a Preparación terrenos.
fomento de huertos limpieza y/o preparación de cubrir: Talleres prácticos
iniciales. terrenos, invernaderos. (Hasta $1.000.000 Siembra- cuidado-
- US 1.255) cosecha
Monitoreo centro

La modalidad de asignación directa se mantiene en el trienio 2022-2024, con un


presupuesto de $17.000.000 diecisiete millones de pesos para este fin (US 21.335),
estimando la habilitación de diecisiete nuevos espacios a intervenir en la comunidad. Dado
que las orientaciones técnicas de promoción de salud reconocen el impacto de las áreas
verdes en la salud mental de las personas como un factor protector, la estrategia de huertos
comunitarios ha sido integrada al Plan de Salud Comunal, de tal forma de cubrir intereses
comunitarios, terapéuticos y recreativos, mediante una estrategia que aborde el efecto de
los determinantes sociales en salud

Dentro de los resultados cualitativos se aprecia el incremento de la asociatividad


en ambas modalidades de trabajo (fondo concursable o asignación directa), dado que la
existencia de un presupuesto participativo abre las puertas a organizaciones no vinculadas
a los centros de salud a conformar propuestas de corto y mediano plazo en temas de medio
ambiente. Destacó el caso del sector Reñaca Alto que fortaleció su tejido social,
reconociendo la capacidad de interrelación entre las organizaciones sociales e instituciones
como salud, educación, municipio en iniciativas compartidas de mejoramiento de calidad
de vida y entorno comunitario, dando paso a conformación de distintas mesas territoriales.
189

Respecto al entorno, se logró la recuperación y transformación de áreas verdes


que estaban afectadas por la aparición de microbasurales/sitios eriazos, favoreciendo la
forestación, creación de senderos ecológicos y la implementación de huertos comunitarios
que promueven la recuperación del espacio público, potenciando acciones de
comunicación para la salud.

Nuestros huertos comunitarios se caracterizan por tener plantaciones al aire libre,


de tipo comestible en bancales, con cajoneras y cierre perimetral. Cuentan con cultivos
de hortalizas, frutos, hierbas comestibles y medicinales (ciboulette, physalys, hinojo,
apio, acelgas, lechuga, tomates, zapallo italiano, papas, etc.). Actualmente constituyen
espacios de alimentación saludable, promoviendo educación en otras áreas asociadas al
bienestar, tales como fomento de lactancia materna, ejercicios de relajación y prevención
en materias de salud mental, esta última de forma incipiente. Actualmente nuestros
huertos activos se ubican en:

N HUERTOS UBICACIÓN TAMAÑO CARACTERÍSTICA


MTS S
1. Achupallas Calle Huelen. Paradero 7 7* 15 Huerto comestible
2. Huelen Huelen/Oscar Cristi 10*20 Huerto comestible
3. Manuel Bustos Población Manuel Bustos 50*20 Huerto demostrativo
4. Nueva Aurora Av. Central s/n 20* 20 Huerto comestible
5. Santa Inés UMC 2*2 Huerto medicinal
6. El Olivar Chungará con Tamarugal 24* 2 Huerto comestible
7. Gómez Carreño Av. Gómez Carreño N° 3336 6*4 Huerto comestible
8. Sedamar Las Magnolias N° 260. 9*6 Huerto comestible

Para saber más…

• Boletín Atención Primaria de Salud Viña del Mar N°38, febrero 2018, encontrará
nota comunicacional sobre inauguración Sendero Ecológico Las Palmas.
• Boletín Atención Primaria de Salud Viña del Mar N°50, febrero 2019, encontrará
nota comunicacional Sendero Ecológico Las Palmas segunda etapa Pág. 4, y nota
comunicacional sobre habilitación huerto medicinal de la comunidad Nag Mapu
Pág. 7.
• Boletín Atención Primaria de Salud Viña del Mar N°46, octubre 2018, encontrará
nota comunicacional sobre inauguración Ecoplaza Los Pinos
• Registro fotográfico de huertos habilitados en Fan page de los centros de salud:
o CECOSF Achupallas Sergio Donoso Rodríguez;
o Centro Comunitario de Salud Familiar Santa Julia
o Junta de Vecinos El Olivar - Primera Etapa
190

bit.ly/HuertosComunitarios
191

Actividad Física para Jóvenes durante la Pandemia


Panamá - Republica de Panamá

Asociación Panameña de Asma y Deportes

Maristela de Lima Ferreira - m22delima@gmail.com; Ricardo Hugo Gonzalez


ricardo.gonzalez@ufc.br;

Introducción
El COVID-19 trajo muchos desafíos para la humanidad en los aspectos sociales,
económicos, sanitarios y culturales. Provoco cambios significativos en el dia a dia de las
personas en consecuencia del aislamiento social. Asi fue necesario innovar para mantener
la salud física integral de los individuos, en especial, los jóvenes que mas sufrieron el
impacto del aislamiento social. Hay diversos trabajos que demuestran los efectos
favorables de las actividades físicas y mencionan los “efectos y beneficios y con bajo
costo para el control del asma y la salud en general”.
Participaron niños y jóvenes entre las edades de 10 a 17 años, de ambos sexos,
diagnosticados con asma o problemas alérgicos respiratórios.
La iniciativa partió de la Asociación Panameña de Asma y Deportes (APAD) con
el apoyo científico de un docente del programa de pós-graduación en Salud Publica
(PPGSP-UFC) de la Universidad Federal de Ceará- Brasil. La ejecución fue cordinada
por una profesora Magister de la APAD con la colaboración de profesores de educación
física y voluntarios. Las barreras para realizar las actividades fue la inexperiencia en este
tipo de estrategia metodológica para la elaboración de los entrenamientos. Los alumnos
tenían dificultades para tener una señal de internet que le permitiera hacer las actividades
y ni todos tenían un notebook o celular con internet. Por ese motivo fue reducido el
número de participantes en relación a los que ya realizaban los entrenamientos de manera
presencial. El propósito general de la intervención fue oportunizar actividades físicas y
deportivas on line con el intuito de ofrecer un factor de protección y dar mayor seguridad
a estos jóvenes que tenían una pre-disposición para problemas respiratorios, de esta
manera considerados de grande vulnerabilidad.

Metodologia/Desarrollo
192

La experiencia fué desarrollada de manera virtual durante los meses de mayo a


noviembre de 2021. Participaron 15 niños y adolescentes de ambos sexos, de edad de 10
a 17 años, con asma y alergias respiratorias, alumnos de la Asociación Panameña de Asma
y Deportes de la ciudad de Panamá (APAD). Tambien 8 padres de familia de los niños y
jóvenes que eran pacientes asmáticos.
Fue utilizado dos cuestionarios online, en la plataforma Google (GoogleForms).
El primer cuestionario fue para la inscripción de los participantes para obtener
informaciones, por ejemplo: nombre, edad, género, tipo de asma, toma algún
medicamento o realiza actividad física. El segundo cuestionario fue para obtener
información de la participación en la competencia virtual, con las siguientes preguntas:
1.¿En qué nivel se encuentra cuando realiza las actividades de la Competencia Virtual,
según la escala de Borg?; 2. ¿Le gusto participar de la Competencia Virtual?; 3. ¿Usted
realiza alguna actividad física?
La realización de las actividades fue divulgada en las redes sociales, como
Facebook, WhatsApp e Instagram, los interesados debían llenar una inscripción online
con los datos principales para luego tener acceso a la plataforma Meet, donde se explicaba
el horario y la fecha de inicio de las clases, la mayoría de los participantes ya eran grupo
que asistía a APAD.
También fue solicitado la autorización de los padres para que los alumnos
pudiesen realizar las actividades, ya que por la pandemia sería difícil contar con la
autorización médica, ya que siempre la Asociación se ha manejado con autorización
médica para poder realizar cualquier actividad física previa.
El contenido programado fue dividido en tres partes. En la primera etapa fueron
desarrolladas clases virtuales dos veces a la semana con duración de 60 minutos con
actividades para el desarrollo de las capacidades físicas: coordinación, fuerza, velocidad
y flexibilidad. De esta manera, aplicamos estas capacidades para mejorar las cualidades
físicas motoras.
Las actividades consistían en caminar o bailar por 30 minutos y también la
realización de algunos ejercicios respiratorios para mejorar el desbloqueo torácicos y la
reeducación respiratoria. En una crisis de asma, la dificultad para el paso del aire se
produce durante su salida de los pulmones (espiración), no durante su entrada
(inspiración). Para mejorar la reeducación respiratorias no inicios de las clases,
realizamos varios ejercicios que también recomendamos que realice es sus clases de
educación física, natación y cualquier otro deporte que practique.
193

Es importante realizar la concientización en estos ejercicios: inhalar por la nariz y


exhalar por la boca. Estos ejercicios deben ser realizados en el inicio para, así, obtener un
calentamiento de los músculos respiratorios para dar inicios a los otros ejercicios
programado en la clase.
La segunda parte fue la iniciación del atletismo, donde procuramos enseñar la
técnica de la carrera de manera virtual, explicando y demostrando a los alumnos.
Utilizamos el atletismo para dar seguimiento y poder apoyar en la mejora de la condición
física, que sería consecuencia del buen desarrollo de las capacidades físicas y estas son
mejoradas por la práctica del atletismo. El ABC del atletismo es importante para mejorar
la técnica de la carrera. Vamos a enumerar algunos ejercicios que fueron practicados en
las clases virtuales:1) Skipping (Ejercicios con elevación de las rodillas altas); 2) Taloneo
(Ejercicios con los talones a los glúteos. 3) Rodilla alta con extensión (Acción de zarpazo
simultáneo con la extensión de la articulación de la rodilla de la pierna libre). 4) Salto del
Indio. (Elevación de muslo alternando las extremida- des inferiores con un impulso desde
el metatarso hacia arriba.
También fue utilizado equipos visuales, como videos, para que los estudiantes
pudieran observar y mejorar la técnica para luego ejecutarla de la mejor manera, siempre
realizando las correcciones de los ejercicios.
En la segunda etapa también fueron desarrolladas charlas educativas una vez al
mes, con duración de 60 minutos. Se explicó a los participantes la importancia de la
concientización de nuestro cuerpo. Fue hablado sobre nutrición, donde se explicó como
deberían alimentarse durante la Pandemia.
En la tercera etapa fue realizada una competencia virtual - “DESAFÍO SIM
LÍMITES”. Que tenia la intención de involucrar la participación de los padres de los
participantes en realizar una competencia familiar dividida en equipos, que podrían ser
madres o padres con sus hijos o hijas. En la actividad participaron 15 equipos. Esta fue
una estrategia utilizada para que los participantes estuviesen motivados en participar con
sus padres algún familiar adulto, tratando también de concientizar a la realización de
algún tipo de actividad física para toda la familia.
La competencia se realizó por hora marcada, cada equipo realizaba su
competencia de manera individual y contamos con cuatros árbitros divididos en los 15
participantes, primero se ejecutaban los ejercicios para que los participantes observarán
la manera correcta de realizarlos y luego se iniciaba la competencia. Contamos con la
autorización de los padres para la participación y divulgación de la actividad en las redes
194

sociales al igual que para el relato de este proyecto. Los niños y jóvenes practicaron los
ejercicios durante las clases virtuales para ejecutarlos de la mejor manera posible.
Una de las mayores dificultades fue el acceso a la plataforma, ya que para muchos
era la primera vez utilizando la plataforma Meet, pero, al pasar de los meses, todos fueron
aprendiendo y las clases se realizaron con una mejor fluidez de ambas partes.
Tuvimos varios puntos estratégicos para mantener las prácticas más divertidas y
variadas, pero siempre siguiendo una metodología adecuada. Por lo cual invitamos a
profesionales de educación física y nutrición
También se les explicó a los estudiantes que deberían ayudar en las tareas
domésticas para moverse y tener más tiempo activos, ya que eso les ayudaría con el
control del estrés y la ansiedad. Sin embargo, debemos seguir desarrollando estrategias
pilotos como estas que permitan a esta población mantener un estilo de vida saludable, ya
que somos promotores de salud.

Resultados
El mayor resultado fue poder contribuir con una propuesta innovadora de
protección y promoción de la salud de niños y adolescentes durante la pandemia. El
número reducido de jóvenes se debe a las dificultades con el acceso a internet.
El segundo resultado fue la posibilidad de contactar con otros profesores y
profesionales de la salud de otros países para intercambio de ideas prácticas de actividades
físicas y deportivas durante el aislamiento social. Que concluyo con la elaboración de un
libro intitulado “Actividad Física para Jovenes durante la Pandemia” disponible de
manera gratuita en formato digital para todos los profesionales de habla hispana y
portugués.
En relación a los resultados que median el esfuerzo subjetivo ayudo a desenvolver
una mayor sensibilidad al realizar los ejercicios físicos que ayudo también a reconocer
sua capacidad, tanto en los jóvenes como en sus familiares.
Se observó que entre los niños y adolescentes un total de 41,2% se mostró
ligeramente cansado y entre los padres 58,8%. Pudiendo observar que los familiares no
tuvieron una práctica constante, como fue en casos de los niños y adolescentes que
realizan sus prácticas de mayo a noviembre.

Conclusión
195

Después de esta gran experiencia vivenciada durante estos ocho meses,


manteniendo activos y mejorando su condición de salud, sugerimos la aplicación de
programa educativo, donde se incluye las actividades físicas como estrategias
fundamentales para el bienestar de los niños y jóvenes asmáticos, buscando un desarrollo
biopsicosocial e incorporando también un buen control médico adecuado para un mejor
estilo de vida.
Es hora de aunar esfuerzos desde las diferentes áreas, tales como la medicina, la
enfermería, la educación y la pedagogía, para darle apertura a nuevos caminos de calidad
de vida a ese gran número de niños y de jóvenes y ayudar a construir caminos positivos.
Es un trabajo arduo para el desarrollo de las potencialidades de nuestros niños y jóvenes,
donde debemos participar de manera comprometida, tanto con los vínculos familiares y
educativos y, de esta manera, seguir este gran trabajo, para poder involucrar más pacientes
con esta patología, proporcionando así una mejor calidad de vida.
Incluso, podemos mencionar que la insuficiencia de la actividad física antes y
durante la pandemia del COVID-19 ha sido un problema de salud pública. Estos patrones
se vienen repitiendo a lo largo de los años y, durante este periodo, pasando muchas horas
sentados o acostados, llevando al aumento de problemas de salud a corto plazo.

Para saber más…


Para que puedas conocer un poco más de nuestro trabajo, hemos puesto a tu
disposición um libro produzido durante la pandemia, la memoria general del proyecto,
fotos de las actividades, nuestras redes sociales.

bit.ly/ActividadFISICA
196

Sin trabajo y sin vivienda no hay Salud Mental: red de dispositivos


alternativos al Hospital Psiquiátrico en Uruguay
Montevideo-Uruguay

Taller Sala 12- Residencia “El Trébol” Cooperativa Social DODICI-Cooperativa de


vivienda HAMABI- Instituto de Asesoramiento Técnico 3 de diciembre

Selva Tabeira . Auxiliar en Enfermería Hospital Vilardebó y Patronato del Psicópata


(selvatabeira12@hotmail.com); Marcos Martignony. Ex preseidente y fundador de Cooperativa Social
DODICI; miembro fundador de Cooperativa de reciclaje, ayuda mutua y vivienda HAMABI
(residenciaeltrebol@gmail.com); Jose Luis Noble. Actual presidente Cooperativa Social DODICI;
miembro fundador de Cooperativa de reciclaje, ayuda mutua y vivienda HAMABI
(residenciaeltrebol@gmail.com); Gerardo Pérez. Integrante del Taller Sala 12.
(residenciaeltrebol@gmail.com); Juan Pablo Santos Camiou, Licenciado en Psicología por la UdelaR y
Psicólogo en Residencia “el Trébol” (sc.juanpi@gmail.com) +598095590259;

Introducción
Nuestra historia como programa surge en el año 2008, cuando la Aux. De
Enfermería, Selva Tabeira decidió realizar un grupo de trabajo junto con Usuarios
internados en el Hospital Vilardebó. Comenzando a gestar un dispositivo de trabajo que
funcionará distinto a las lógicas propias del Hospital Psiquiátrico, así nace el Taller Sala
12. En él se enseñarán oficios (carpintería, serigrafía, herrería, albañilería, etc). Para el
año 2015 y viendo el compromiso de estas personas es que se creó la Residencia “el
Trébol” . Siendo esta una casa de medio camino para usuarios que se encuentran
internados y bajo un proceso de judicialización dentro del Hospital Vilardebó.
Contemplando la carencia en nuestro país de una opción destinada a la reinserción
laboral para estos usuarios, fue que en el año 2017 tanto la coordinadora como usuarios
crean la Cooperativa Social DODICI. Es de resaltar que en ese año también nacen los
apartamentos supervisados a distancia.
Continuando con la idea de profundizar las soluciones habitacionales para esta
población se funda en 2019 la cooperativa de vivienda, reciclaje y ayuda mutua
HAMABI. La misma tiene como objetivo que sus integrantes puedan contar con
viviendas dignas brindado soluciones habitacionales permanentes .
Por otra parte, la Sra. Tabeira, vislumbró la carencia de un órgano de asesoría
técnica en asuntos relacionados a la construcción y que tenga en cuenta la complejidad
del campo de la Salud Mental. Fue entonces que en el año 2019 nace el Instituto de
Asesoramiento Técnico (IAT) “3 de diciembre”. La Sra. Tabeira es su actual presidenta.
197

Este conjunto de experiencias fue motivado por la necesidad de crear soluciones


de rehabilitación reales para el usuario internado en el Hospital Vilardebó. A su vez estas
soluciones deben de combatir el estigma asociado al sufrimiento psíquico, busca incluir
la inclusión social de estos sujetos.
Consideramos que los distintos dispositivos dentro de este programa como lo son
Taller Sala 12, Residencia El Trébol, apartamentos supervisados, Cooperativa DODICI,
Cooperativa HAMABI y el IAT son en su conjunto hitos en la rehabilitación Uruguaya.
Los mismos, siendo en su mayoría previos a la aprobación de la ley de Salud Mental N°
19.529 del año 2017, son soluciones alternativas al Hospital Psiquiátrico (tal y como la
ley lo sugiere).
Consideramos que estos dispositivos mencionados dentro del proyecto cuadran
con lo dicho en la Ley, siendo que se presentan como forma alternativa que permiten
aprender (entre tantas cosas) nuevos hábitos de cuidado, trabajo en equipo, confianza en
el compañero, un sentido de pertenencia y participar en un proyecto común de autonomía.
Esto entonces representaría (además de tratamiento y rehabilitación) el lograr construir
condiciones que habiliten a la creación de una vida digna y ejercicio de la ciudadanía.
Es entonces que se piensan estos espacios como unos que, en mayor o menor
medida, promuevan la autonomía, reinserción laboral y familiar a través de la enseñanza
de saberes que le permitan al sujeto un buen desarrollo de la misma.
Estos dispositivos entonces, también se alinea con la Ley ya que se vincula al
efectivo ejercicio de los derechos humanos de la educación, vivienda y trabajo.
El objetivo principal de este proyecto es el lograr la reinserción psico-socio-
laboral y habitacional del usuario que fue institucionalizado dentro del Hospital
Psiquiátrico y que se encuentra bajo un proceso judicial.

¿Quien participó?
Las entidades que colaboran o han colaborado con estos dispositivos son:
Comisión Honoraria del Patronato del Psicópata (CHPP), la Administración de los
Servicios de Salud del Estado (ASSE), Intendencia de Montevideo (IMM), Institución
Nacional de los Derechos Humanos (INDDHH), Instituto del Niño y el Adolescente del
Uruguay (INAU) Administración Nacional de Educación Pública (ANEP), Directores
Asociados de Espectaculos Carnavalescos Populares del Uruguay (DAECPU),
TENFIELD, Ministerio de Desarrollo Social (MIDES) y personalidades del ámbito
político y musical, entre otras.
198

En su mayoría fueron atendidos Usuarios Judiciales provenientes del Hospital


Vilardebó. Sumando todos los dispositivos mencionados (Taller Sala 12, Residencia El
Trébol”, Cooperativa DODICI y Cooperativa HAMABI) , se a impactado a un total de
aproximadamente 28 personas (5 no son usuarias del Hospital Vilardebó). Agregando,
también se generaron puestos de trabajo como Operadores Terapéuticos dentro de la
Residencia “El Trébol” lo cual implica un total de 5 funcionarios que se ven beneficiados.

Metodología/Desarrollo
Desde el año 2008 hasta la fecha el Taller Sala 12 está funcionando dentro del
Hospital Vilardebó. Este dispositivo se piensa como uno donde el Usuario pueda concurrir
y aprender a oficios así como también trabajar y confiar en el compañero. Dentro del
Taller, el usuario aprende hábitos de cuidado, usar herramientas, trabajar con los
materiales y hablar de sus conflictos mediante el trabajo. Esto también implica que, a
través del trabajo, el sujeto pueda reelaborar y resignificar situaciones vividas previo a su
internación. .
En el año 2015 se presentó una propuesta a CHPP para crear una casa de medio
camino que funcionara como una solución habitacional transitoria para los usuarios que
se comprometieron con el dispositivo taller. Fue así que una organización estatal, el
INAU, cedió una propiedad al CHPP para este fin. Para el 16 de setiembre del año 2015
comenzó el reciclaje de la futura Residencia, siendo los mismos usuarios los encargados
de llevar adelante el proceso junto con la Sra. Tabeira. El 13 de octubre del mismo año,
se inaugura la Residencia “El Trébol”.
Actualmente la Aux. Selva Tabeira es la Coordinadora de la Residencia, siendo
acompañada por un Psicólogo y cinco Operadores Terapéuticos que acompañan a los
residentes de la vivienda las 24hs. La misma se encuentra fuera del ámbito hospitalario y
es una casa de medio camino para usuarios que, estando en condiciones psiquiátricas de
egresar del Hospital Vilardebó, cuentan con la autorización judicial para ello. Cabe
resaltar que, para que un sujeto pueda ingresar a la residencia, es necesario que este haya
concurrido al Taller Sala 12 y ser evaluado en su desempeño.
Continuando, los sujetos que ingresan a la casa mantienen las tareas de
rehabilitación en el Taller, a la vez que participan en actividades comunitarias y retoman
hábitos de cuidado para consigo, su compañero y el espacio que habitan. También se
retoman hábitos de buena convivencia.Es de destacar que continúan sus controles
psiquiátricos en la policlínica del Hospital Vilardebó, y en el Instituto Técnico Forense
199

(ITF) debiendo informar sobre la evolución de acuerdo a lo estipulado por los jueces.
Por otra parte, se vislumbró que era necesario para la rehabilitación generar un
dispositivo que permita enfocarse en el área de reinserción laboral. Entonces en el año
2017 se propuso realizar una cooperativa social que funcione como lavadero industrial.
Se presentó un proyecto a CHPP y gracias a la organización estatal ANEP (que cedió en
comodato a CHPP el predio para realizar el lavadero) el proyecto se concretó.
Fue así que, desde el 15 de marzo del 2017 al 13 de julio de ese año fue realizada
la remodelación del local cedido y comienza a trabajar la Cooperativa Social DODICI
Cabe resaltar que los usuarios miembros de esta cooperativa además de contar con la
experiencia previa del Taller Sala 12, fueron capacitados en cooperativismo por el
Ministerio de Desarrollo Social (MIDES).
La Cooperativa Social DODICI se encuentra integrada por residentes y egresados
del Trébol (en su mayoría usuarios Judiciales) y tiene como objetivo reinsertar en el
mercado laboral a estos usuarios mediante el formato de lavadero industrial.
Además de esto se restauraron los apartamentos que se encontraban en el mismo
predio de la cooperativa, lo cual permitió generar egresos desde la Residencia “el Trébol”
para ahí, contribuyendo a incrementar la autonomía de los usuarios que se encontraban
preparados. Estos apartamentos son otro escalón hacia la autonomía progresiva del
usuario, permitiéndole, bajo una supervisión distinta a la de la Residencia “El Trébol”,
vivir en ellos y poder mantenerlos.
Cabe resaltar que, al igual que en la Residencia y la cooperativa DODICI los
usuarios fueron los encargados de su reciclaje y acondicionamiento.
Por otra parte, viendo la necesidad de contar con una solución habitacional real y
digna para estas personas fue que en el año 2019 se concreta la fundación de la
Cooperativa de vivienda, reciclaje y ayuda mutua HAMABI. Se proponen los mismos
usuarios construir, a través del formato del cooperativismo, 14 viviendas definitivas.
Cabe resaltar que, si bien se encuentra compuesta en su mayoría por los usuarios,
también hay personas que no tuvieron un pasaje por nuestro programa o internaciones en
el Hospital, lo cual hace aún más nutricia esta experiencia ya que se combate estigma y
la “getización”.
HAMABI continúa hasta la fecha realizando ventas económicas los domingos
para lograr juntar dinero y así abaratar costos en la futura obra. Actualmente los usuarios
se encuentran esperando a que la Intendencia de Montevideo de las llaves para el predio.
Por otra parte, dentro ese año, nuestra coordinadora en conjunto con otros
200

profesionales (un arquitecto, un contador, una escribana y una trabajadora social), crean
un Instituto de Asesoramiento Técnico (IAT) nombrado “3 de diciembre”. Su cometido
radica en asesorar en cuestiones relacionadas a la construcción desde todo ámbito posible
a este estilo de población. Su nacimiento se relaciona con que los IAT que se consultaron
se negaban a la posibilidad de trabajar con nuestros usuarios debido al estigma social que
se les adjudica.
Como facilitadores para el desarrollo de la experiencia se pueden encontrar el
lograr generar redes que permitan a estos proyectos sigan su curso a través de donaciones
estatales, privadas y anónimas. Además de esto el poder exponer las obras y poder mostrar
lo que los usuarios hacen día a día.
Una de las barreras que se puede ver desde el inicio de estas experiencias es el
estigma con que la sociedad carga a los usuarios en Salud Mental. Esto genera desde
respuestas negativas a la hora de solicitar ayuda, cuestionamientos en torno a la capacidad
que ellos tienen para desempeñar su trabajo o simplemente el abandono por parte de la
sociedad en su conjunto.

Resultados
Como se dijo más arriba, se logro impactar aproximadamente a 28 personas entre
los distintos dispositivos mencionados que en su mayoría tuvieron un trayecto de
institucionalización dentro del Hospital Vilardebó.
Absolutamente todos los integrantes de esta experiencia destacan los resultados
favorables de la misma ya que se encuentran trabajando y esperando la propiedad para
lograr empezar la refacción.
Dentro de las reformas realizadas en el Hospital Vilardebó por parte del Taller
Sala 12 se pueden destacar: remodelar la enfermería de Sala 12, el sector Post-mortem,
cancha de fútbol, sector de residuos contaminados, espacio de rehabilitación del sector
femenino, peluquería, se acondicionó el espacio de duchas y se pintó las paredes de la
sala 12, refacción de sala 11 luego de un motín, reforma de consultorios de sala 11,
reforma del salón gremial, perrera, amplicación del taller sala 12, baños de sala 8,
consultorio de las psiquiatras de sala 12, creación del espacio de recuperación patrimonial
del Hospital Vilardebó (museo), etc.
Es de destacar que además de esas reformas también se realizan obras de arte con
materiales en desuso (hierro, madera, mármol, plástico, etc) reciclándolos. Un ejemplo
son los bancos hechos con tapas de botellas y camas en desuso de la vieja colonia
201

Etchepare. Uno de esos bancos fue entregado al expresidente Jose “pepe” Mujica.
Fue posible concretar múltiples exposiciones en distintos lugares de Montevideo
para exhibirlas. Ejemplos son la exposición “decidimos irnos” realizada en el anexo del
palacio legislativo (año 2016) o las realizadas en el Centro Cultural Goes.
Desde el plano de la reinserción laboral, es de destacar que la cooperativa DODICI
logró lavar hasta 9000 kilos del ropa al mes para el Hospital Vilardebó no siendo este su
único cliente (cabe resaltar que trabajan con otras instituciones estatales). DODICI es
administrada enteramente por los usuarios integrantes, realizando el flete de la ropa, el
lavado, llevar actas, asambleas y todas las actividades inherentes a una cooperativa.
En conjunto con lo anterior, se destaca en sentido de pertenencia de los usuarios
para con este proyecto, trabajando todos los días como cooperativistas. Esto además
contribuye a que los usuarios (y técnicos) dejen de pensar desde un lugar de “paciente”
(Hospitalocéntrico) para lograr comenzar a posicionarse como cooperativistas,
trabajadores o compañeros.
Pasando al plano de la vivienda, la cooperativa de vivienda, reciclaje y ayuda
mutua HAMABI a logrado realizar ventas económicas, fletes de donaciones y asambleas
entre sus integrantes. Esto ayuda a la reinserción social y ejercicio de la ciudadanía ya
que como se mencionó, si bien HAMABI se encuentra compuesta en su mayoría por la
población de usuarios mencionada, la integran otras personas que no tuvieron un trayecto
por el Hospital.
Finalizando este escrito, mencionar que estamos concretando lo planteado por la
ley 19.529 aprobada en el año 2017, mejorando no solo las condiciones edilicias donde
cada usuario habita, sino que además se brindan alternativas concretas (como lo es el
trabajo y la vivienda) que contribuyen al campo complejo de la Salud Mental.
Es necesario resaltar en este escrito que los usuarios participaron desde el inicio
en estos proyectos, siendo cada dispositivo un resultado de su esfuerzo, constancia y
confianza. Son, en conjunto con la Sra. Tabeira, los protagonistas principales que lograron
(y continúan haciéndolo) cambiar su historia.

Para saber más acerca de nuestra historia e imaginar las actividades realizadas, ponemos
a disposición estos links de Youtube, un artículo e imágenes ilustrativas:
202

bit.ly/SaludMentalUruguay
203

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