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Aromaterapia e o óleo do Bom Samaritano

“Perfume e incenso trazem alegria ao coração...”.

Provérbios 27:09

Começo a proposta de reflexão aromática desta semana com um esclarecimento: minha


formação religiosa é Católica Apostólica Romana. Como uma boa neta da D. Esmerina,
aprendi a rezar o rosário e a expressar minha devoção a Nossa Senhora Aparecida (uma
das representações da Virgem Maria). Como uma boa neta da D. Regina, junto com a
herança da linhagem italiana, também veio essa admiração, respeito e reverência pela
mãe de Deus e aos queridos Toninho (Santo Antônio) e Chiquinho (São Francisco).
Depois fui apresentada as religiões de matrizes africanas pela minha querida prima Tata
e pela tia Neuza. Durante anos, com o tio José participei da escola dominical para
crianças da congregação evangélica que ele frequentava. Minha professora de runas e
numerologia, a Sônia, é uma bruxa/maga incrível e que me ensinou que o culto da Deusa
é uma das formas fundamentais do reconhecimento da força e da grandeza da energia
feminina que habita em mim. Ao conhecer o meu marido, de presente veio a minha
cunhada Darci que até hoje me inspira em relação ao Espiritismo e cujo aprendizado me
levou a visitar o túmulo de Allan Kardec no cemitério do Père-Lachaise. Ao começar a
praticar Yoga, um mundo novo se descortinou na minha frente com dois caminhos: o do
Hinduísmo, que foi uma paixão arrebatadora, que me levou a Índia e a aprender o Maha
Lilah e o do Budismo, que me levou ao Nepal e a aprender sobre meditação e a roda da
encarnação. Qual o resultado disso hoje em dia? Minha casa tem uma pequena capela
dedicada aos anjos e a Nossa Senhora, dividindo o altar com a cigana e Santa Sara de
Kali (Optchá) e no jardim convivem muito bem o Toninho, o Chiquinho, Iemajá e a Deusa
Diana (ou Deméter).

Meu ponto aqui é ilustrar dois aspectos: minha profunda gratidão a essa generosidade
da vida por colocar todas essas pessoas no meu caminho que amorosamente tiveram (e
ainda tem) a paciência de me ensinar e o fato de que essa trajetória se configura em um
profundo respeito e admiração por cada um dos caminhos que conectam o ser humano
com a sua religiosidade (seu religare), com sua beleza peculiar e com vários pontos em
comum (quanto mais estudo e aprendo, menos vejo as diferenças e mais enxergo e
aprecio a convergência entre todos esses caminhos). Por que embarquei em todas essas
jornadas e continuo em busca de outras? A explicação está em Provérbios – assim como
o perfume o e incenso, isso traz alegria para o meu coração.

É com essa alegria e respeito que apresento aqui o tema de discussão desse texto: o
óleo/azeite do Bom Samaritano. Deixo claro que o ponto principal da reflexão proposta
não é se o óleo/azeite deve ser usado ou não e reforço isso porque algumas pessoas são
bem radicais e reduzem tudo a “é” ou “não é”, “a favor” ou “contra”, “direita” e
“esquerda”, como se só houvesse duas opções. Na verdade, vivemos em um mundo de
possibilidade e explorar o caminho do meio pode ser uma delas, desde que a pessoa
possa “enxergar” e ter ciência dessa opção.

Na parábola do bom samaritano (Lucas 10:30-37), um homem que estava em uma


estrada quase morto, nú e que havia sido espancado por assaltantes, foi ajudado por
um samaritano que passava por ali e tratou das feridas com vinho e óleo. O uso do óleo
era muito popular, sendo empregado nas unções elaboradas tanto para purificação e
ordenação quanto para coroar reis e rainhas e no cuidado com os doentes. O azeite de
oliva era amplamente utilizado na época e uma loção com esse óleo pode trazer alívio,
uma vez que a versão obtida das azeitonas verdes é adstringente. Além de auxiliar o
processo de cura das feridas, no nível vibracional (completando a alquimia discutida no
texto do dia 08/02¹), é revitalizante e indicado para esgotamento mental e físico. O floral
de Bach Olive é recomendado para esses casos também, de grande fadiga física e mental
e quando não há mais reserva de energia.

Na aromaterapia, o azeite de oliva (de primeira prensagem a frio) pode ser utilizado
como um óleo carreador. No vídeo e no texto que foi amplamente divulgado nas redes
sociais do óleo do Bom Samaritano e que eu recebi, a sugestão é utilizar o azeite de oliva
ou o óleo de gergelim. Um blend feito com esses dois óleos também é uma opção válida,
pois o óleo vegetal de gergelim, além de ser rico em antioxidantes e vitamina E, também
reduz a viscosidade do azeite. Acrescentar óleos essenciais a essa mistura, cujas
propriedades terapêuticas já foram comprovadas em diversas pesquisas, só contribui
para ampliar a eficácia do tratamento.

A receita divulgada é atribuída a uma recomendação feita por Nossa Senhora, elaborada
com os óleos essenciais de limão, alecrim, eucalipto, cravo (1 parte cada), canela (0,5
parte) adicionados a 5 partes de azeite de oliva ou óleo de gergelim para aplicar
diretamente na pele. A receita é assertiva, pois os óleos essenciais escolhidos são muito
eficazes! Porém, essa diluição é considerada alta, principalmente para a utilização da
canela e do cravo na pele, segundo organizações internacionais e autores como Robert
Tisserand e Rodney Young², considerados referências na utilização segura dos óleos
essenciais.

Uma tia me pediu para fazer esse óleo para ela e quando comentei que a proporção
estava alta e que poderíamos diminuir a quantidade de óleos essenciais, ela me indagou:
você está querendo alterar a receita que foi dada por Nossa Senhora? Obviamente essa
não foi a minha pretensão (bem longe disso) e por isso tentei argumentar, mas foi em
vão.

Em primeiro lugar, quero dizer que até o momento nenhuma pesquisa apontou que haja
algum óleo essencial capaz de inativar o vírus que causa a covid-19, o Sars-coV-2 ou as
suas mutações. Ainda que houvesse uma pesquisa mostrando atividade in vitro, ela
precisaria ser testada em situações reais de uso na aromaterapia para que pudéssemos
afirmar que tal óleo essencial ou fórmula evita o contágio.

Em segundo lugar, é perfeitamente possível que uma pessoa utilize essa receita que foi
divulgada (com essa concentração alta) e não tenha nenhum problema de
desconforto/irritação na pele, uma vez que os óleos de cravo e canela são
dermocáusticos e o óleo essencial e limão é fototóxico? Sim, é possível, e inclusive
acredito piamente que a fé genuína é capaz de gerar transformações (proteção) e criar
verdadeiros milagres, como a obtenção da cura – “Está alguém entre vós doente?
Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do
Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará [...]”. (Tiago 5:14,15).

Porém, como aromaterapeuta (de formação e paixão), que preza as questões de


segurança e que atua em um espaço terapêutico que comunga dessa visão do uso dos
óleos essenciais com responsabilidade e comprometimento, inclusive com a questão da
sustentabilidade e preservação da natureza (evitando o desperdício e o uso
desnecessário), é preciso informar que também existe a possibilidade de alguém fazer
uso desse azeite do Bom Samaritano e ter reações adversas na pele. Aliás, no próprio
vídeo que recebi isso é mencionado e a indicação, caso isso aconteça, é que a pessoa
utilize o óleo de lavanda.

Esse óleo, Lavandula angustifolia (sinônimos: Lavandula officialis, Lavandula vera), é


indicado para pele nos casos, por exemplo, de queimaduras, eczemas, feridas cutâneas,
picadas de insetos, bolhas, acne, devido ao seu efeito cicatrizante, analgésico,
antibacteriano, antifúngico, antisséptico e anti-inflamatório. Porém, nesse caso,
dependendo do comprometimento da pele, colocar outro óleo essencial, pode até
mesmo causar mais irritação. O ideal seria aplicar um óleo vegetal puro no local para
dispersar os óleos que provocaram essa ação e só depois fazer uso do óleo essencial da
lavanda – sendo fortemente recomendado que a pessoa procure um profissional
capacitado para fazer essa avaliação.

Na busca da solução para Covid (por uma questão de saúde, mas sem dúvida motivados
também por uma questão social, para poder sair e exercer o seu direito de ir e vir
quando bem quiser e para onde bem desejar) as pessoas podem promover ações que
ao invés de ajudar irão trazer mais problemas.

Religião e Ciência suscitam um debate filosófico há milênios e não creio que estejam
separadas – aprendi no Hinduísmo que tudo está absolutamente conectado a tudo e
que o nosso desafio é poder perceber e enxergar essas conexões. Ambas agem em prol
do mesmo objetivo – preservar e cuidar a vida humana para ser saudável e feliz. Creio
que isso seja perfeitamente possível com essa união da fé e da informação responsável.

E você, já fez uso do óleo do Bom Samaritano?


Namastê!

Profª. Kátia Veloso

Aromaterapeuta e Terapeuta Maha Lilah.

¹ https://equipedobemviver.com.br/aromaterapia-e-a-verdadeira-alquimia-parte-i

²Tisserand R. Young R. Essential Oil Safety – a guide for health care professionals. Churchill
Livingstone, 2014.

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