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Pregação ao
Alcance de Todos
ferramentas para levar mensagens
fieis aos mais diferentes lugares

Renato Duarte
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ÍNDICE

LIÇÃO 01: O SERMÃO 4

LIÇÃO 02: CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES 7

LIÇÃO 03: MÉTODOS DE PREGAÇÃO 8

LIÇÃO 04: CARACTERÍSTICAS DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA 10

LIÇÃO 05: A PESQUISA DO TEXTO 13

LIÇÃO 06: A PESQUISA (continuação...) 16

LIÇÃO 07: O QUE É CONTEXTO? 18

LIÇÃO 08: A PESQUISA (III) 19

LIÇÃO 09: A COMPOSIÇÃO DO SERMÃO 22

LIÇÃO 10: A CONCLUSÃO E A INTRODUÇÃO DO SERMÃO 24

LIÇÃO 11: FRASES DE TRANSIÇÃO 28

LIÇÃO 12: A FINALIZAÇÃO DO ESBOÇO 30

LIÇÃO 13: RECOMENDAÇÕES PASTORAIS 39

PASSOS PARA PREPARAÇÃO DO SERMÃO 40

BIBLIOGRAFIA 41
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LIÇÃO 01: O SERMÃO

O Propósito do Sermão

Função do Sermão: satisfazer as necessidades humanas do ponto de vista de Deus.

Seis Propósitos Gerais do Sermão:

1. Evangelístico – conquistar vidas para Jesus.

2. Doutrinário – didático, tem como característica o ensino.

3. Devocional – intensificar nos crentes o sentimento de amorosa devoção a Deus. A


ênfase deste sermão é o amor a Deus.

4. Consagração – estimular os crentes a dedicar seus talentos, tempo e vida no serviço


a Deus. Neste a ênfase é o serviço a Deus.

5. Ético ou Moral – ajudar o crente a moldar sua conduta diária e suas relações sociais
de acordo com os princípios cristãos.

6. Consolação e Despertamento – fortalecer e dar alento ao crente em meio às provas


e crises de sua vida pessoal e relacional.

O Texto da Mensagem Bíblica

A extensão mínima deve constituir uma unidade completa de pensamento, com início, meio
e fim.

Como Escolher o Texto Bíblico?


a. Escolha um texto que está em seu coração
- que arde em sua alma
- alguém disse: “não é o pregador que escolhe o texto, é o texto que escolhe o
pregador”.

b. Escolha um texto que venha suprir a necessidade da Congregação


- não é um texto aleatório, ao acaso.

c. Mantenha Equilíbrio na Alimentação Espiritual


- no decorrer do tempo, use de variação. Abranger os seis propósitos gerais.
- abranger também toda a Bíblia: o AT e o NT

d. Mantenha Seqüência Progressiva de acordo com o Nível da Congregação


- não dê feijoada a crianças de leite. Comece por textos simples.
- não force os adultos a ficar somente no leite.

e. Use textos com Equilíbrio Teológico


- teologia da Prosperidade x Teologia da Miséria

f. Use textos que Desafiam o Raciocínio e a Imaginação


- evite ser simplista na escolha do texto
- pode usar Jo 14.6: “caminho... verdade... vida...”, mas não fique só aí!!!
- use também o raciocínio: “quem é o meu próximo?”
- lembre-se de Natan, que usou uma parábola para repreender Davi.

g. Limite-se a um só texto para cada Sermão


- esta é uma regra com poucas exceções.
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Requisitos do Sermão

1º) Fidelidade Textual: Fidelidade à Bíblia. Não suas próprias idéias utilizando o texto como
pretexto.

2º) Unidade: É necessário um só assunto, um só propósito.

Exemplo: Lucas 19:1-10


Tema: O perfil de uma conversão autêntica
1. Desejo de ver a Deus
2. Experiência pessoal com Cristo
3. Mudança de conduta na vida

3º) Movimento: “Como um barco descendo um rio”. Sem repetição.


A monotonia mata e arrebata a atenção dos ouvintes.

4º) Tom evangélico ou unção. Diferencia o sermão de um mero discurso secular.


Preparo sem unção: É puro intelectualismo morto, frio.
Unção sem preparo: As idéias podem ser boas, mas sem coordenação pode ser difícil de
serem entendidas.

5º) Finalidade: O que você quer dizer com isto? É bom fazermos três perguntas:
O que desejo que meus ouvintes: saibam
sintam
façam
Observe o exemplo positivo, neste aspecto, de Atos 16:31.

Requisitos do Pregador

1º) Ser de fato convertido, crente no Senhor Jesus, e depender de Deus


Exemplo negativo: Simão, o mágico. Atos 8:9-25
Exemplo positivo: Pedro, cheio do Espírito Santo. Atos 2:4,14-36 e 37-41.

2º) Crer na mensagem que vai pregar


Atos 4:5-22

3º) Aproveitar as oportunidades


Exemplo: Filipe prega em Samaria, Atos 8:4-8

4º) Iniciar com firmeza e determinação, e terminar com aquela convicção celestial de
ter falado em nome de Deus.
Há um belo exemplo em 2ª Coríntios 5:18-21 e 6:1-13.
5º) Não iniciar nem terminar pedindo desculpas. Isto desmoraliza o pregador e sua
mensagem.
Encontramos um exemplo disto no livro apócrifo de 2º Macabeus 15:38-39.

6º) Não ser alongado - Evite o sermão “espada”: chato e longo.


O Rev. Prof. Herculano Gouvêa Jr., em seu livro “Lições de Retórica Sagrada”, conta que
certo pregador anunciou o tema de seu sermão: “Profetas maiores e menores” e começou a
discorrer sobre o assunto. Depois de algum tempo ele diz: “E Jeremias meus irmãos? O que
faço com Jeremias?” E um irmão já cansado e sonolento respondeu: “Pastor: ponha-o em
meu lugar que eu já estou indo embora.”
Frase do professor Gouvêa: “Se um sermão é bom, não precisa ser longo; se é mau, precisa
ser breve.”

7º) Enriquecer sua cultura: Romanos 12:11. O Bom pregador é zeloso em seus estudos,
procurando ler não só a Bíblia como bons livros, jornais e revistas, de onde poderá tirar
material abundante para suas mensagens. Veja o exemplo de Paulo em 2ª Timóteo 4:9-13.
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8º) Empatia: É a identificação com seus ouvintes. “Alegrai-vos com os que se alegram, e
chorai com os que choram.” Romanos 12:15.

9º) Tom amoroso.


Raiva, ira ou amargura despertarão muito mais medo e tristeza nos ouvintes do que uma
reação favorável à mensagem.
Vejamos o exemplo dado pelo Senhor Jesus: Mateus 11:28-30.
Um pregador que recebe um auditório aflito e triste e o devolve alegre e cheio de esperança
para casa, terá cumprido bem o seu papel.

10º) Ter ferramentas: Bíblia, Concordância, Dicionário bíblico e secular, uma boa
gramática, livros de teologia, comentários, mapas, etc.
É um erro cair na indolência, evitando todo estudo, esforço e trabalho. O sermão que mais
seguramente poderá contar com a bênção de Deus, disse alguém, é aquele que maior
trabalho houver custado ao pregador. É um engano supor que o ignorante não percebe o
valor de um sermão bem composto e ordenado: ele sente o efeito disso, embora não saiba
explicá-lo.

OBSERVAÇÕES:

1. Um texto bem escolhido vale meio sermão.


2. A preparação do pregador pode ser comparada ao trabalho da abelha que colhe o que
necessita para fazer o mel.
3. Wesley disse que lia os jornais para ver como estava Deus governando o seu reino em
todo o mundo.
4. Dos fatos históricos cumpre fixar apenas o aspecto diretamente relacionado com o
assunto, evitando pormenores que resultam em desnecessário prolongamento do sermão.
5. Quanto mais organizada a matéria, quanto mais simples o plano - melhor o sermão.
6. Prepara de joelhos a tua mensagem.
7. Prega primeiro a ti mesmo e depois pregarás com autoridade aos outros.
8. Conserva e desenvolve a tua personalidade. Não queira imitar quem quer que seja. Seja
você mesmo.
9. “Prega a Cristo.” I Cor. 1:23
10. De vinte e cinco a trinta minutos é tido pelas maiores autoridades no assunto como
um bom tempo para a mensagem.
11. Procure somente o bem das vidas e a glória de Deus.
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LIÇÃO 02: CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES

I. QUANTO AO ASSUNTO:

1. Doutrinário. Ex. Romanos 5:1. Justificação: 1. Meio: Cristo


2. Condição: Fé
3. Resultado: Paz

2. Biográfico. Sobre um personagem bíblico. A lição está na vida.


Ex. Hebreus 11:27 Moisés, um herói da fé. 1. Viu o invisível
2. Creu no incrível
3. Recebeu o impossível

3. Histórico. Sobre uma história bíblica. A lição está no fato.


Ex. I Reis 19:1-16. Corretivos do desânimo.
1. Visão de Deus e de seus ilimitados poderes
2. Companhia do povo de Deus
3. Trabalho: Cumprimento do dever

4. Milagres. Exemplo: Marcos 5:24-34. Recebendo a cura para a enfermidade:


1. Crendo em Jesus
2. Experimentando o poder em Jesus
3. Confessando a fé em Jesus

5. Ético- Prático. Ex. II Tim. 2:1-13. Características de um bom soldado de Cristo


1. Obediência
2. Coragem
3. Perseverança

6. Parábolas. Ex. Marcos 4. Atitudes para com a mensagem do evangelho.


1. Solo impenetrável - rejeição
2. Solo superficial - impressão passageira
3. Solo ocupado - mundo
4. Solo bom - frutífero

7. Apologético. Ex. Romanos 1:16,17. Por que não me envergonho do evangelho?


1.É o poder de Deus ( natureza)
2. Para a salvação ( propósito)
3. De todo o que crê (condição)
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LIÇÃO 03: MÉTODOS DE PREGAÇÃO

“Se alguém quiser fazer a vontade Dele, conhecerá a respeito dá doutrina,


se ela é de Deus ou se falo por mim mesmo.” JOÃO 7.17

1) Os Métodos de Pregação:
São basicamente três: Textual, Tópico e Expositivo.

a. Textual:
A sua forma segue as partes de um texto pequeno. Toma-se um ou no máximo três
versos, usando suas frases literalmente como títulos principais do sermão1.
Exemplos:

João 3.16: João 3.16:


A Realidade da Salvação. O Amor de Deus:
1. Deus nos amou: I. É sublime - tal maneira
A sublimidade do Amor de Deus. II. É sacrificial - deu seu filho
2. Cristo se entregou: III. É salvador - para que não pereça
O sacrifício de Cristo
3. O que nele crê, não perece:
A dádiva da vida eterna.

Outro exemplo: I Timóteo 4.12: Torna-te Padrão dos Fiéis.


1) Seja um exemplo “na palavra”.
2) Seja um exemplo “no procedimento”.
3) Seja um exemplo “no amor”.
4) Seja um exemplo “na fé”.
5) Seja um exemplo “na pureza”.

Este método é muito vantajoso para pregações em textos pequenos, porque é


facilmente desenvolvido e também é fácil de ser lembrado. Porém há desvantagens: (1)
Nem todas as passagens se prestam a esse tipo de tratamento sem parecerem forçadas. (2)
Corre-se o risco de interpretar o texto fora do seu contexto e assim ignorar a intenção do
autor bíblico. (3) Pode facilmente dar lugar a artificialidades e alegorias (dizer que uma coisa
significa outra).

b. Tópico:
A sua forma resulta de palavras ou idéias contidas no assunto do texto. Eles não
resultam de um versículo (textual) ou de uma passagem (expositivo), mas de um assunto ou
tema (tópico), abordando-o “a partir de um dentre vários pontos de vista”2. Os argumentos
não procedem da passagem em si, mas das considerações do tópico escolhido em várias
passagens bíblicas. É muito útil para palestras e estudos doutrinários.

É aquele que deriva do texto só o assunto.


Exemplo: O crente deve ser como o cedro. Salmo 92:12
1. O cedro é madeira retilínea
2. O cedro é forte como uma rocha
3. O cedro proporciona um delicioso perfume

1 Stafford North, Pregação, Homem e Método, Vida Cristã, p.70.


2 Stafford North, Pregação, Homem e Método, p. 83.
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Vantagens:

1. Permite ao ministro discutir qualquer assunto que julgue importante e necessário;


2. Permite grande amplitude de desenvolvimento;
3. Encoraja o indivíduo a procurar unidade;
4. O uso sábio de um tópico faz com que o pregador prossiga para o alvo do sermão;
5. Demonstra os dons literários do pregador.

Desvantagens

1. Tende a encorajar o pregador a ser secularista, se este não estiver profundamente


envolvido e compromissado com o Senhor e Sua Palavra;
2. Nas mãos de um despreparado é possível que o sermão tópico não possua interesse, já
que neste caso, poderá surgir de análises rápidas e superficiais;
3. Requer pouco estudo da Bíblia, se o estudante quiser colocar mais material de fora e
usar muitas ilustrações.
4. Ignora-se, na maior parte das vezes, o contexto em que as passagens estão inseridas.

Exemplos:

Gálatas 5.25
Vida No Espírito.
I. Para Viver no Espírito é Preciso Ser Batizado com o Espírito (I Co 12.13).
II. Para Viver no Espírito é Preciso Andar no Espírito (Gl 5.16).
III. Para Viver no Espírito é Preciso Ser Cheio do Espírito (Ef 5.18).

Sua grande vantagem é oferecer grande mobilidade e valorizar a criatividade do


pregador. Contudo, (1) Exige um largo conhecimento das doutrinas bíblicas. (2) Tende a não
valorizar o texto básico e (3) pode partir para espiritualizações do texto (extrair uma lição
espiritual do texto sem dar atenção ao verdadeiro sentido da passagem) 3 devido ao excesso
de criatividade do pregador.

Exemplo de espiritualização:

Lucas 19.5 - Zaqueu, Desce Depressa: Lucas 22.54 - Pedro Seguia de Longe.
1. Desce do orgulho. 1. Longe da sua presença.
2. Desce da arrogância. 2. Longe do seu amor.
3. Desce da altivez. 3. Longe da sua proteção.

c) EXPOSITIVO:
É aquele que explica e aplica uma passagem seguindo a estrutura dos parágrafos do
texto bíblico de acordo com a intenção básica de seu autor, respeitando-se o texto, o
contexto, a estrutura das palavras e as particularidades históricas.

DEFINIÇÃO:

Walter Liefield define a exposição bíblica assim: “É pregação que explica a


passagem (bíblica) de uma maneira que leve a Igreja a uma aplicação verdadeira e prática
da passagem”.4

3 Walter Liefeld, Exposição do Novo Testamento, Do Texto ao Sermão, Ed. Vida Nova, p.17.
4 Walter Liefeld, Exposição do Novo Testamento, p.13. Itálicos meus.
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LIÇÃO 04: CARACTERÍSTICAS DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA

a) Ela trata de uma só passagem básica da Escritura:


O objetivo é ensinar um só texto de cada vez, tornando-o claro, e dando condições
aos ouvintes de obedecerem com segurança à verdade. A citação de outros textos deverão
estar vinculadas e subordinadas ao texto escolhido para esclarecer seu significado (reforçar
o ensino).

b) Ela é fiel ao texto (integridade hermenêutica):


A estrutura de seu sermão deve ser a estrutura do texto bíblico. No caso de sermão
expositivo, a passagem bíblica é o mestre, e o pregador é o servo.
A exposição bíblica leva em conta: O gênero literário (narrativa, epístola, milagres,
parábolas, profecias, etc.); propósito original do autor (o que ele quis ensinar?); a seqüência
da narrativa (verbos, palavras repetidas, etc.) o significado e a aplicação do autor.

c) Ela tem coesão:


Todas as partes do sermão (introdução, argumentação, conclusão e aplicações)
estão interligadas ao propósito e temas do texto escolhido para expor. Cada uma conduz à
outra e a completa e reforça.

d) Ela tem movimento e direção:


Ela segue o raciocínio do texto e o torna evidente aos ouvintes. Mostra as relações
no texto de causa e efeito, comparações, contrastes, repetições de palavras e expressões
diversas de emoção.

e) Ela tem aplicação:


Mostra aos ouvintes o que o texto te mostrou para facilitar a obediência. O objetivo
da aplicação é levar os ouvintes à obediência ao texto exposto. A aplicação de um
sermão expositivo procura não violar o propósito, o significado ou a função do texto em seu
contexto original5.

A IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA:

a) Cria proximidade da revelação e da vontade de Deus.


“Quanto mais nos ativermos à Palavra revelada de Deus, menos suscetíveis
seremos ao erro”6. Na elaboração uma exposição bíblica (sermão), é preciso levar em conta
a subjetividade do pregador, as limitações da mente humana, os efeitos do pecado sobre os
seus melhores pensamentos. Este século tem sido marcado pelo subjetivismo que ignora
até mesmo o básico na interpretação de um texto. A exposição bíblica é uma forma saudável
de minimizar os efeitos desses elementos.

b) Ensina a Palavra no contexto que o Espírito Santo escolheu.


Pode-se fazer mau uso das Escrituras no afã de fazer uma aplicação atualizada da
Palavra. A Bíblia não é um livro mágico em que alguém abre em qualquer página e tira a
mensagem de Deus para o seu dia. Ela é um livro de princípios, que aprendidos e
assimilados orientarão o caminho do cristão no seu dia a dia. Contudo, seus princípios
foram dados por Deus dentro de contextos próprios (históricos e literários) que não podem
ser ignorados na sua interpretação e aplicação moderna. Quando se leva em conta o
contexto da inspiração atesta-se melhor obediência ao Espírito.

5 Walter Liefeld, Exposição do Novo Testamento, p.13.


6 Walter Liefeld, Exposição do Novo Testamento, p.15.
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c) Vai ao encontro das necessidades dos ouvintes e da Igreja.


É claro que uma mensagem expositiva pode ser exata sem ser pastoralmente
funcional, mas a Palavra de Deus é maior que o sermão, pois a palavra de Deus tem
autoridade e poder próprios (Is 55.11). A exposição fiel das Escrituras é o meio mais seguro
de suprir as carências dos ouvintes da Palavra de Deus.

d) Fixa a atenção no texto bíblico e no seu ensino.


O propósito do pregador não é simplesmente suprir as necessidades espirituais de
seus ouvintes, mas também equipá-los para que possam pessoalmente buscar e encontrar
o genuíno alimento espiritual da Palavra. A exposição bíblica mostrará aos ouvintes que a
sua fonte de autoridade não é o pregador, mas a própria Palavra. A Igreja crê que as
Escrituras são a sua ÚNICA regra de fé e prática. A melhor maneira de exemplificar e aplicar
essa verdade é através da exposição sistemática e programada das Escrituras.

e) Alimenta a Igreja na medida certa (porção por porção).


O povo de Deus e os visitantes aos cultos das igrejas precisam mais do que
mensagens banais e superficiais, eles estão famintos pelo verdadeiro pão. A boa exposição
da Palavra não busca impressionar os ouvintes com conhecimento e oratória, mas busca
alimentá-los com a verdade de Deus contida nas Escrituras. O misticismo mágico que
domina os púlpitos de hoje, ocultam a Palavra dos ouvintes, pois não lhes dá o direito de
pensar com o pregador, nem tão pouco pensar como Deus pensa nas Escrituras.

f. Pode servir melhor contra o ensino errado, protegendo a Igreja de uma


interpretação imprópria da Escritura.
Um preparo pobre e superficial do pregador, sua hermenêutica falha, a simples
preguiça no estudo, sem contar a distorção deliberada a fim de alcançar interesses
particulares, acarretam em tremendo prejuízo espiritual para a Igreja de Cristo. Muitas
igrejas são sujeitas as interpretações imaginosas e inválidas das Escrituras. A
espiritualização e a alegria voltaram a ser tão comuns, que chegam mesmo a ser uma
praga!7
Como resultado de um púlpito fraco e pobre da Palavra de Deus, milhares de
cristãos estão “espiritualizando” a Bíblia em sua leitura devocional diária no esforço de “tirar
uma benção” da passagem para o seu dia a dia. O melhor lugar para combater esse
empobrecimento da interpretação bíblica é o púlpito; e a melhor maneira é a exposição
bíblica fiel e sistemática.

AS VANTAGENS DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA:

a) Ela propicia mais confiança de estar ensinando a vontade de Deus


Expor a verdade aumenta a confiança e a sensação de autoridade que emerge da
Palavra. Quem é fiel ao texto, é fiel à vontade de Deus, porque a única certeza que
realmente temos quanto ao sermão é que a Bíblia é a Palavra de Deus!

b) Ela limita o pregador-expositor à verdade bíblica.


Minimiza-se subjetivismo do pregador quando ele está consciente de que o sermão é
um veículo para a verdadeira Palavra de Deus.

c) Ao expor sistematicamente livros inteiros (livro após livro) expõe-se vários


assuntos diferentes, e não somente os prediletos.
A exposição bíblica é a melhor forma de se anunciar “todo o desígnio de Deus” (Atos
20.27), pois obriga os pregadores a tratarem dos assuntos da Palavra de Deus e não
somente de excentricidades pessoais e predileções.

d. A própria Bíblia trás sua aplicação (na maioria das vezes).

7 Walter Liefeld, Exposição do Novo Testamento, p.17.


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Não se tem dificuldades em aplicar a passagem à vida prática dos ouvintes se a


função original do texto bíblico for discernida. A forma como o autor bíblico a aplicou é um
indicativo seguro de como se deve aplicá-la hoje.

e. A estrutura do texto é a base da estrutura de sermão.


Cada texto segue padrões redatoriais e de pensamento arquitetados por seu autor,
que se devidamente descobertos servirão como a base do esboço do sermão. A exegese
não é somente uma ferramenta para se cavar o significado e o sentido do texto, mas é a
principal ferramenta da construção homilética da exposição bíblica.

f) Pode-se tratar de assuntos delicados sem que o pregador seja inoportuno.


Se as Escrituras são expostas em seqüência a tensão causada por esses assuntos
ficará diminuída e a autoridade da Palavra na igreja local resguardada.

g. Fornece um ótimo modelo de estudo bíblico.


A exposição bíblica mostra que a Bíblia não somente tem respostas como também
provê meios para que os ouvintes, por si mesmos, encontrem essas respostas em seu
estudo pessoal das Escrituras. Assim, a exposição se torna uma ferramenta extremamente
útil no discipulado cristão. Afinal, todos aprendem melhor observando um bom modelo.

Quem não expõe a palavra enfrenta problemas sérios8 :

1. Subjetividade: Dá larga margem para as suas idéias próprias.


2. A pregação se torna leite adulterado em vez de genuíno (I Pe 2.2).
3. Impõe limitações à mente, pois o pregador ensina o que pensa e gosta, não
necessariamente a Palavra de Deus.
4. Os efeitos do pecado ficam evidentes na própria mensagem, provocando ignorância da
mensagem real da Palavra e introduzindo o erro na vida da Igreja.
5. Destrói a autoridade da Bíblia, criando atitudes nos ouvintes de confiança mais em
métodos do que na Palavra de Deus.
6. Passa de largo a temas importantes das Escrituras que todos precisam conhecer e
obedecer, ainda que não sejam agradáveis aos seus ouvidos.

8Russel p. Shedd, Apostila de Pregação Expositiva. Curso ministrado no Seminário Betel Brasileiro, Goiânia-
GO, 7-11/12/1999, p. 1,2.
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LIÇÃO 05: A PESQUISA DO TEXTO

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna,


e são elas mesmas que testificam de mim.” JOÃO 5.39

A pesquisa do texto se divide em quatro passos básicos:

a) FAMILIARIZAÇÃO:
a.1) O Tema:
Leia o texto todo e procure certificar-se de que há um tema dominante no
parágrafo. Tente resumir em uma palavra o assunto do texto; depois faça a seguinte
pergunta: O que este texto diz sobre este assunto? Uma forma de destacar o tema é
observar a repetição de palavras, frases ou idéias. Exemplo:

Salmo 37: 1-11 Romanos 5.1-11


Que opção eu tenho à indignação? Porque a minha esperança não pode ser
v.3 Confia no Senhor confundida?
v.4 Agrada-te do Senhor v.5 Porque o amor de Deus é derramado em
v. 5 Entrega o teu caminho ao Senhor nossos coração pelo Espírito Santo
v. 7 Descansa no Senhor v. 6 Porque Cristo morreu pelos ímpios.
v. 10 Porque fomos reconciliados com Deus.

a.2) Uma Paráfrase: (leitura do texto com suas próprias palavras).


Separe todos os substantivos e verbos e descubra seus sinônimos mais simples.
Use um dicionário para fazer esse exercício. Lembre-se, porém, que a escolha de sinônimos
nem sempre pode refletir o sentido exato do texto; apenas facilitará o seu entendimento de
algumas palavras de difícil compreensão.

a.3) Limites do Texto:


Você deve observar se o seu texto tem uma idéia completa. Um parágrafo inteiro
facilita essa sondagem. No entanto, não é necessário ser um parágrafo, desde que o texto
tenha uma idéia completa (início, desenvolvimento e fim).

a.4) Esboço analítico:


O esboço analítico é o esqueleto da passagem, é a estrutura de sustentação do
texto, que guarda em si o movimento das idéias do texto e sua distribuição harmônica. O
Esboço analítico deve:
➢ Mostrar as idéias do texto na ordem em que elas aparecem (seqüência).
➢ Por em relevo as principais idéias do texto naturalmente (visual).
➢ Demonstrar o conteúdo real do texto, sem qualquer interpretação ou adornos
homiléticos.

Este primeiro esboço ainda não é o esboço final do sermão da exposição bíblica, mas
é a sua base estrutural.
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Exemplo: Salmo 100

Tema: Adoração. O que o texto fala exatamente sobre o tema da adoração? O QUE É
ADORAÇÃO?

Observações importantes: O tempo imperativo dos verbos. A repetição da palavra


“Senhor”.

SALMO 100 >>Salmo de ações de graças>>


(1) Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
(2) Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.
(3) Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos;
somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.
(4) Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios,
com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
(5) Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre,
e, de geração em geração, a sua fidelidade.

Esboço analítico:

Fase 1: Destacar as classes gramaticais (verbos principais, substantivos e adjetivos e


conjunções).

Salmo 100 <<Salmo de ações de graças>>


(1) Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
(2) Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.
(3) Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos;
somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.
(4) Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor;
rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
(5) Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre,
e, de geração em geração, a sua fidelidade.

Fase 2: Separar as frases.


Salmo 100 <<Salmo de ações de graças>>
(1) Celebrai com júbilo
ao SENHOR,
todas as terras.
(2) Servi ao SENHOR
com alegria,
apresentai-vos diante dele
com cântico.
(3) Sabei que o SENHOR
é Deus;
foi ele quem nos fez,
e dele somos;
somos o seu povo
e rebanho do seu pastoreio.
(4) Entrai por suas portas
com ações de graças
e nos seus átrios,
com hinos de louvor;
rendei-lhe graças
e bendizei-lhe o nome.
(5) Porque o SENHOR
é bom,
a sua misericórdia dura para sempre,
e, de geração em geração, a sua fidelidade.
Fase 3: Pré-esboço homilético:
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I - Celebrai ao Senhor V.1 a. Com Júbilo. (como).


b. Todas as Terras (quem).
II - Servi ao Senhor V.2 a. Com alegria (como).
b. Com cântico (como).
a. Ele vos fez (criador)
III - Sabei que o Senhor é Deus V.3 b. Dele somos (Senhor – pertencemos a Ele).
c. somos os seu povo (Rei).
d. rebanho do seu pastoreio (pastor)
a. Entrar com ações de graças – portas
IV - Rendei-lhe graças V.4 (como)
b. Apresentar-se diante dele.
c. Com hinos de louvor – átrios (como/onde).
d. Bendizei-lhe o nome ( o que fazer dentro)
Conclusão - Porque a. O Senhor é bom.
(por quê?) - (motivação/razão) b. Sua misericórdia dura para sempre.
c. Sua fidelidade-“de geração em geração
(dura).

Exemplo 2: João 14.6 (Diagrama) = Tema: Quem é Jesus?


Repondeu-lhe Jesus

I. Eu sou
a) O caminho

b) E a verdade

c) E a vida
II. Ninguém

a) Vem ao Pai

b) Senão por mim

Diagramação de II Timóteo 2.15 = Tema: O Caráter do Obreiro de Deus.


Procura
Apresentar-te

a Deus

Como obreiro

Aprovado

Que não tem do que se envergonhar

Que maneja

Bem

A palavra da verdade
!16

LIÇÃO 06: A PESQUISA (continuação...)

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensino, para a repreensão, para correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra.” II Tm 3.16,17

b) EXEGESE:
É o Estudo mais detalhado do texto e/ou palavras do texto.

Uma exegese simples poderá ser feita seguindo os seguintes passos:

1) Leia o texto em voz alta, várias vezes.


2) Observe o assunto do texto a seguir e do anterior (contexto imediato)
3) Qual a estrutura do texto? (história, milagre, parábola, epístola etc.).
4) Pesquise o significado das palavras mais difíceis de entender (dicionário).
5) Anote as características do texto (palavras repetidas, contrastes, comparações, perguntas
etc.).
6) Pesquise as circunstâncias históricas e culturais (Dicionário Bíblico, Bíblia de Estudo).
7) Reorganize o seu esboço com o que descobriu nesse estudo.

c) O ESTUDO INDUTIVO:

Agora você vai descobrir o ensino do texto e preparar as argumentações.


Faça o cruzamento do seu esboço com o texto novamente e anote:

1. OBSERVAÇÃO:
Veja os detalhes (tempos verbais, repetições, uso das preposições, das conjunções,
contrastes, comparações, etc.) Para isso, faça perguntas ao seu texto e deixe que ele
responda por si só. Lembre-se de que se fizer a pergunta errada o texto não dará uma
resposta que soa bem aos ouvidos, ou fará seu esboço ficar parecendo ter um parafuso
frouxo.
As perguntas: QUEM? - O QUE? - ONDE? - QUANDO? - POR QUÊ? - COMO?
Observe bem a estrutura do texto, como ele trata o assunto?

Exemplo: Ele levanta 4 perguntas e as responde. Relaciona 3 perigos a evitar.


Estabelece cinco regras a obedecer. Faz três comparações para ilustrar uma
verdade. (Tg 3.1-12/ II Tm 2/ Rm 5.1-11/ Gl. 3 e 4/ etc).

2. INTERPRETAÇÃO:
São 3 perguntas básicas:
➢ Por que o autor aborda o assunto dessa maneira? (Propósito)
➢ Qual o principal ensino do texto? (Pensamento -chave).
➢ Como o autor chegou a essa idéia? (fluxo-movimento do texto).

3. CORRELAÇÃO:
Comparação com outros textos que tratam do mesmo assunto ou que confirmam o
ensino da passagem escolhida. É aqui que você pesquisará as passagens de apoio ao
texto, as citações.
!17

Pesquise:

➢ O uso da mesma PALAVRA no mesmo texto, no mesmo livro, em outros livros do


mesmo autor bíblico, no N.T., e no A.T. (Concordância Bíblica/ Chave Bíblica)

➢ Passagens paralelas - que tratam do mesmo assunto.

➢ Citações do A.T.

➢ Exemplos práticos na vida de personagens bíblicos.


Exemplo: Pureza de coração (Sl 119.9) - José e a mulher de Potifar.
!18

LIÇÃO 07: O QUE É CONTEXTO?

São todos os elementos que estão envolvidos com o texto (ao lado do texto) e que
contribuem para o seu entendimento. Subdivide-se em Literário e Histórico:

A fim de descobrirmos o contexto da passagem precisamos ler o texto de vários


ângulos 9.

1. Leitura sintética. Buscar o tema principal, o desenvolvimento do tema e subsídios para


um esboço.

2. Leitura biográfica. Tudo o que lança luz sobre o autor e os destinatários importantes
mencionados no livro bíblico (Dicionários Bíblicos / Bíblias de Estudo).

3. Leitura histórica. Buscar a situação histórica, social, geográfica e cultural do escritor e


seus leitores originais (Dicionários bíblicos e literatura específica de introdução bíblica).

4. Leitura teológica. Buscar ensinamentos doutrinários e pressuposições que levam o


autor a argumentar tal como faz na passagem bíblica.

5. Leitura retórica. Notar e alistar as figuras de linguagem.

6. Leitura tópica. Buscar os assuntos principais do livro (éticos, práticos ou doutrinários) e


observar se estão presentes no texto escolhido para a exposição.

7. Leitura analítica. Buscar inter-relacionamentos entre as frases e as palavras.

8. Leitura pastoral. Buscar o interesse original do autor e em que pontos tocam os


ouvintes atuais.

9. Leitura devocional. Buscar o alimento espiritual com atenção à voz de Deus nas
palavras por Ele inspiradas na passagem escolhida.

9 Veja o excelente livro de Merril C. Tenney, Gálatas, Escritura da Liberdade Cristã, Vida Nova, 3ª ed., 1983.
!19

LIÇÃO 08: A PESQUISA (III)

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparado para
responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós.” I Pd 3.15.

4. A APLICAÇÃO:

Faça a seguinte pergunta:


Uma vez que o ensino do texto é este, o que Deus espera que façamos? Então leia o texto
outra vez e procure descobrir se há exemplos de pessoas a seguir, se há ordens a
obedecer; se há erros a evitar; se há pecados a confessar e abandonar; se há promessas a
reivindicar; ou descobertas a respeito de Deus a conhecer, etc.

Ao montar sua aplicação ou aplicações, procure fazer da seguinte forma:

➢ Seja seletivo. Pode haver várias aplicações. Escolha algumas que se adequarem mais
às necessidades da Igreja (dos ouvintes). Procure numerá-las para não ultrapassar de 2
a 3 aplicações por divisão do sermão.

➢ Seja específico. Ex. “Preciso pedir perdão”. É vago. “Preciso pedir perdão à minha
esposa por ter gritado com ela”; “Preciso pedir perdão ao meu filho por não ter-lhe
levado ao passeio como prometi”; “preciso pedir perdão a Deus, pois sabia desse
ensino e o ignorei”, etc.

➢ Seja pessoal. Troque o “nós e eles” por “você e eu”.


Faça uma aplicação por escrito, conferindo-a com o texto para ver se ela realmente
expressa seu ensinamento de forma clara.

d) A PROPOSIÇÃO:

É a afirmação do assunto que você vai expor e defender. Ela é a abreviação do


sermão em uma frase. Deve aparecer no começo do sermão, inclusa em sua introdução.
Deve ser uma DECLARAÇÃO forte, sugestiva e que desafia à atenção.

* Características:
- Ela é teológica/doutrinária (Declara um princípio divino/bíblico)
- Ela é didática (fácil de entender e decorar)
- Ela é específica (aponta direto o assunto sem rodeios)
- Ela é breve (formada com poucas palavras)
- Ela é temática (resume o texto/sermão em uma só afirmação)
!20

* Como Montar a Proposição:

a) Ela tem uma afirmação teológica (AT):


Você deve agora transformar o tema descoberto no esboço em uma afirmação
teológica completa, mas que resuma o conteúdo do texto que vai expor. Na PREGAÇÃO,
esta afirmação será uma declaração que intitula e resume todo o seu sermão e que mostra
claramente à Igreja sobre o que pretende falar.

b) Ela tem uma frase de transição (FT):


É uma frase desafiante, que estabelece a ligação (ponte) entre a declaração do tema
(afirmação teológica - AT) na introdução e a argumentação (divisões principais do sermão).

c) Ela tem uma Palavra-Chave (PC):


É uma palavra dentro da frase de transição (FT) que servirá de elo de ligação para a
enunciação das divisões (argumentação). Geralmente deve estar no plural, pois os sermões
geralmente têm duas ou mais divisões.

Exemplo1 : Mateus 4.1-11


Tema: Satanás Tenta ao Homem Piedoso (Que Obedece a Deus)

(AT): Satanás sempre irá tentar com astúcia ao homem piedoso, como fez com Jesus
Cristo.

(FT): Este texto nos mostra três tipos (PC) de tentação com os quais Satanás tentará nos
derrubar.

I. O primeiro TIPO é: Tratar a fome espiritual com alimento e material (V.


3,4):

II. O segundo TIPO é: Testar a capacidade de Deus com proezas


sensacionais (V.5-7):

III. O terceiro TIPO é: Trocar o domínio de Deus por poder político (V. 8-10):

Exemplo 2: Filemon 4-7


Tema: A Prática de Uma Comunhão Eficiente.

(AT): Paulo convida Filemon a vencer a desilusão com os irmãos e exercer uma comunhão
eficiente para com ele e Onésimo.

(FT): Este texto nos ensina três princípios (PC) para praticarmos uma comunhão eficiente:

O 1º princípio é (I) Comunhão Eficiente Começa Com Oração (v.4,5)

O 2º princípio é (II) Comunhão Eficiente Deve ser o objetivo da oração (v.6).

O 3º princípio é (III) Comunhão Eficiente produz conforto espiritual (v.7).


!21

Exemplo 3: Deuteronômio 31.1-6


Tema: Certezas que Precisamos ter Diante dos Desafios

(AT): Enfrentamos as lutas e desafios da vida, lembrando-nos e consolando-nos na


Onipresença de Deus.

(FT): Ao passarmos por dificuldades, lutas e desafios na vida precisamos nos lembrar de
Três Coisas Sobre Deus (PC):

I – Deus vai adiante de nós


II – Deus está conosco
III – Deus jamais nos abandonará
!22

LIÇÃO 09: A COMPOSIÇÃO DO SERMÃO

“Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.”


Mateus 22.29

A composição do sermão também se divide em quatro passos:

1) As Divisões Principais (Argumentação):

São as afirmações do texto que comprovam o ensino proposto no seu tema. É esta
argumentação que deverá levar a Igreja à obediência ao ensino do texto.

Faça as seguintes perguntas:

1) Quais as afirmações do texto comprovam o tema?


2) O que especificamente o texto ensina sobre este tema?

Exemplo: Salmo 100


Tema: O que é adorar a Deus?
(AT): Deus espera que saibamos o que é adorá-lo a fim de experimentarmos e mantermos
uma comunhão mais íntima com Ele.
(FT): Este Salmo, de forma muito poética, declara-nos em 4 afirmações (PC) o que é
adorar a Deus:

I. Adorar é Celebrar ao Senhor. v.1


II. Adorar é Servir ao Senhor. v.2
III. Adorar é Saber que o Senhor é Deus. v.3
IV. Adorar é Render Graças ao Senhor. v.4

Para fazer esta montagem é preciso muita submissão e criatividade, bem como
perder o medo de gastar e rasurar papel. A oração deve ser constante. Você ficará surpreso
com as atuações do Espírito Santo em seu coração nessa fase do estudo. Lembre-se,
porém, que o argumento poderá ficar muito bonito, mas mesmo assim não expressar com
plena fidelidade o ensino do texto. Por isso, confronte-o constantemente com o texto,
mudando-o se necessário.

Na pregação, fidelidade é mais importante


que beleza estética, ou o tempo de duração do sermão.

1) As Ilustrações:

As Ilustrações são exemplos práticos das verdades ensinadas no sermão. São como
as janelas de uma casa - fazem a luz entrar, tornando-a clara. Seu objetivo é associar o
ensino à prática, mostrar como ele se aplica no dia a dia das pessoas.
Como usá-las?
a) Use ilustrações que se encaixam e reforçam o ensino do texto, e não piadinhas
sem razão de ser. Se usar de humorismo, faça-o de forma a reforçar o ensino do texto.

b) Não use muitas ilustrações, pois, poderão tirar a objetividade de sua exposição,
confundindo em vez de esclarecendo o entendimento. Seja equilibrado.
!23

Exemplo: em Uruaçu, um pastor usou mais de 30 ilustrações em um só sermão. Um


crente em vez de prestar atenção no ensino contou todas elas.

c) Evite ilustrações com exageros. Você ensina a verdade, e não fantasia ou fábulas
(II Pd 1.16).

De onde tirá-las?
a) Da própria Bíblia - Muitas verdades são exemplificadas pelos próprios
personagens bíblicos.

b) Dos jornais, revistas, livros que lê; fatos da vida da Igreja (com cautela);
experiências pessoais etc.
!24

LIÇÃO 10: A CONCLUSÃO E A INTRODUÇÃO DO SERMÃO

“Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não,


corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” II TM 4. 2-4

3) A Conclusão e a Introdução:

São as menores partes da exposição. O objetivo da Introdução é ganhar a atenção, e o da


conclusão é reforçar o ensino (resumindo ou recapitulando), desafiando os ouvintes à
obediência.

* A Conclusão:
Faça as seguintes perguntas ao seu texto:

a) Qual ação o texto espera de mim e dos ouvintes da exposição bíblica?


b) O que devemos fazer para que este ensino aconteça na prática?
c) Quais as aplicações práticas que posso sugerir aos ouvintes?

A conclusão deve ser clara, breve, pessoal, desafiadora e prática. 10 Dizer


simplesmente no final da exposição: “_ Que Deus abençoe essa mensagem” _ significa
dizer: “Não tenho a mínima idéia de como vou terminar esta pregação”.11

2. Objetivos das Conclusões

Uma das razões por que a conclusão é muito importante é a probabilidade de que os
ouvintes se lembrem mais da conclusão do que qualquer outra parte da mensagem.
A conclusão é a meta da exposição bíblica, tornando tudo o que foi dito antes tanto
claro quanto constrangedor. Isso não quer dizer que a conclusão deva ser uma afirmação
bombástica ou a expressão da eloqüência do pregador, mas a expressão da profundidade e
do pensamento eficaz, que revela a sinceridade e a tranqüilidade do pregador. Nas palavras
de G. Campbell Morgan: “A conclusão precisa concluir, incluir e impedir”,12 ou seja, encerrar
a mensagem, incluir o que previamente foi dito e impedir que haja a possibilidade de se
perder as implicações e as conseqüências da mensagem.

São componentes das conclusões:


a) Recapitulação. Não precisa ser grande, mas uma sentença concisa é mais do que
suficiente.

b) Exortação. O pregador cita pensamento anterior, e emoções do momento, exortando


aos ouvintes a procederem de acordo com o impulso da exposição bíblica. A conclusão
não é tão somente concluir, mas fundamentalmente, MOTIVAR, mobilizar a vontade dos
ouvintes a que se conformem aos imperativos bíblicos explicitados na exposição do
texto das Escrituras.
c) Elevação. A exposição bíblica deve ficar clara na conclusão como algo significante, vital
e comovente. Se a mensagem não comove nem o próprio pregador, certamente não
comoverá aos demais. O máximo que ela fará será demonstrar a sua fragilidade. A

10 Veja o tópico – APLICAÇÃO da aula 09.


11 Howard Hendricks, Ensinando Para Transformar Vidas, Betânia, p.83.
12 G. Campbell Morgan, citado por Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.266.
!25

mensagem deve terminar como um impulso que vai direto à vontade, sendo um apelo ao
coração.

d) Terminação. Ao terminar, termine; mesmo que a conclusão não sirva a outros ideais
homiléticos, será válida se fechar a exposição bíblica de forma decisiva.

Precauções (Sugestões) Quanto às Conclusões:

a) Poesias e citações. A menos que expressem exatamente o objetivo do pregador, não


devem ser freqüentemente escolhidos como conclusão da mensagem, pois transferem a
outro a palavra final e podem causar rapidamente a perda do interesse pelos ouvintes.

b) Notas importantes. Isso quer dizer, concluir positivamente a mensagem. A exposição


deve sempre apontar um raio de esperança e uma luz no fim do túnel. “O pregador que
abandona uma congregação abatida, desesperada e pessimista com relação ao seu
pecado ou situação fracassou ao pregar... Todo sermão desencorajador é um sermão
perverso... Um homem desalentado não é uma vantagem, mas um risco”. 13

c) Anticlímax. Chapell afirma que as conclusões funcionam melhor se houver apenas uma
por mensagem.14 Porém, isso só acontece se as aplicações da conclusão se
estenderem por um tempo maior do que deveriam ter.

d) Perguntas retóricas. As perguntas retóricas transferem aos ouvintes a consideração


das questões levantadas pela mensagem e durante a apresentação da mesma, bem
como tendem a tornar o assunto tão geral, que esvaziam a mensagem de seu poder
persuasivo. As conclusões devem explicitar o raciocínio do pregador e sua perspicácia
em apontar caminhos de aplicação do texto da mensagem. As conclusões e as
aplicações revelam a capacidade pastoral do pregador em conduzir o rebanho tanto
quanto em alimentá-lo adequadamente.

e) Envoltório. Retornar à introdução, com a finalidade de envolver a mensagem num todo


único e coerente. Isso comunica destreza, meditação e preparação conscienciosa da
mensagem.

f) Finalmente. Discute-se se deva ou não anunciar a conclusão. Contudo, o importante é


frisar que se a conclusão foi anunciada, então ela deve concluir e a exposição chegar ao
fim.

13 Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.270/71..


14 Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.271.
!26

* A Introdução:

É o meio pelo qual ganhamos o direito de sermos ouvidos. Ela deve ser chamativa a
ponto de levar o ouvinte a querer saber do texto bíblico as respostas ao tema que propomos
expor. Pergunte a si mesmo:

a) Como posso propor esse assunto de forma a despertar interesse?


b) Quais os cinco acontecimentos recentes que estão na mente dos ouvintes e que
relacionam com o assunto do texto?
c) Quais as necessidades dos ouvintes que o texto toca?
d) Com qual exemplo bíblico ou histórico poderia introduzir o texto?
e) Que frases curtas que eu usar irão “fisgar” a atenção dos ouvintes?

Procure escrever tanto a conclusão como a introdução, pois são elas que lançarão o texto à
vida prática das pessoas. Na introdução, você trás os ouvintes para dentro do texto; na
conclusão, você coloca o texto em seus corações, para levá-los consigo para a vida
cotidiana, que começa logo após o culto.

Objetivos das Introduções

a) Despertar interesse pela mensagem. Esperar interesse automático pela exposição é


um milagre que não se deve esperar. “na introdução, você precisa adentrar o mundo das
pessoas e persuadi-las a acompanhá-lo ao mundo da verdade bíblica, e especificamente, da
verdade que é o peso do sermão”.15 Uma introdução mal preparada desfigura toda a
mensagem.
A introdução precisa tocar, ainda que em diferentes níveis, no senso da imaginação,
admiração, apreciação pelo passado e no temor do futuro, dos insultos e de compaixão dos
ouvintes. Segundo, Bryan Chapell, o que torna uma introdução interessante “são os
aspectos indicativos de que a mensagem causará impacto na vida dos ouvintes”. 16.

b) Apresentar o tema da mensagem. A função da introdução não é atrair a atenção


apenas, mas é atrair a atenção para o tema do texto da exposição bíblica.

c) Demonstrar interesse pelos ouvintes. A introdução responde á pergunta:


“Por que deveria lhe escutar sobre o que você vai falar?” Isso é importante porque a
exposição da palavra deverá tocar suas vidas e não somente as suas mentes.

d) Preparar para a proposição. A introdução deve ser construída de tal forma que
conduza á proposição do tema da exposição. Os elos da corrente precisam ser
relacionados. No fim das contas a introdução deverá ter a seguinte dinâmica:
➢ Provocar interesse.
➢ Apresentar o tema.
➢ Torná-lo pessoal. Indicar os motivos da exposição; o foco das necessidades dos
ouvintes e tornar cada ouvinte necessitado de ouvir a mensagem.
➢ Vincular à Escritura.
➢ Fixar a proposição.
Se a introdução for inconsistente o corpo da exposição ficará prejudicado. Por uma
questão de equilíbrio, proporção e coerência interna da exposição homilética, todos os
termos-chave da proposição devem resplandecer na introdução antes de aparecerem na
própria proposição.17

15 Bill Hogan, citado por Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.248.


16 Ibid., p.250.
17 Ibid., p.254.
!27

2. Tipos de Introduções:
a) Relato de interesse humano. Uma breve história da experiência de uma pessoa com
quem os ouvintes são compelidos a identificar-se.

b) Simples declaração. Declara simplesmente o intento do pregador com a exposição.

c) Declaração assustadora. Pretende sacudir os ouvintes a fim de que prestem atenção.


Esse tipo de método não pode ser utilizado toda semana, pois perde o impacto
desejado.

d) Pergunta provocativa. Seu objetivo é provocar reflexão.

e) Outras opções. Citações; estatísticas; relatos bíblicos ou casuais; poesias etc.

3. Precauções em Relação às Introduções:

a) Distinguir a introdução da Escritura.

b) Aprimorar a introdução do sermão.


➢ Seja breve. A demora pode demonstrar incertezas quanto ao tema e direção que
deve tomar a exposição.
➢ Mantenha-se no foco.
➢ Seja autêntico.
➢ Seja específico. As melhores introduções começam com o específico em vez de
oferecer o óbvio.
➢ Seja profissional. As introduções precisam ser bem preparadas e planejadas. Por
isso devem ser escritas.
!28

LIÇÃO 11: FRASES DE TRANSIÇÃO

As transições são frases que visam costurar os componentes do esboço da exposição


Bíblica estabelecendo harmonia e progressão entre as partes.

1. Objetivos das Transições:


As transições têm uma função quádrupla:

a) Estabelecem a relação entre as partes da exposição; da introdução com o corpo da


exposição, e da argumentação com a conclusão. Essa ligação é mais que o
estabelecimento de conexões lógicas, pois cria também relações psicológicas,
emocionais e estéticas, harmonizando o ritmo da exposição bíblica.

b) Sinalizam o progresso e a direção da exposição aos ouvintes.

c) Associar os tópicos atuais com a discussão anterior, articulando a boa comunicação da


mensagem, evitando que o sermão seja a mera apresentação de blocos separados e
desconexos.

d) Uma vez que os ouvintes não podem ver o esboço da exposição, as transições mostram
aos ouvintes quais pensamentos são importantes, quais os secundários, e como se
relacionam entre si.

2. Tipos de Transições:
a) Declarações entrelaçadas. Caracterizada por frases do tipo: “Não só..., mas também”,
que retorna a comentários precedentes, apontam para a discussão que se inicia e
juntam os dois.

Exemplos:
➢ “Se isto é verdade, então estas são as implicações...”
➢ Nossa compreensão não estará completa se não considerarmos também...”
➢ Outras expressões que estabelecem ligação: Entretanto, portanto, consequentemente,
não obstante.

b) Perguntas dialógicas. São diferentes das perguntas retóricas, que deixam as respostas
para os próprios ouvintes responderem. As perguntas dialógicas estimulam a discussão
posterior. Se o pregador está atento às perguntas que vão surgindo na mente dos
ouvintes, e faz essas perguntas em voz alta ao texto no decorrer da exposição, está
usando um instrumento retórico eficiente. Cumular a exposição de perguntas que levam
os ouvintes para dentro do debate com o texto e o autor bíblico, estimula o interesse na
mensagem. Porém, é preciso estar ciente de que, se as perguntas não forem adequadas
e as respostas não forem claras, o suposto diálogo se tornará árido e aumentará a
desconfiança na capacidade hermenêutica do pregador.

c) Enumerar (1,2,3...) e listar (a, b, c...). Embora esse método seja considerado pouco
criativo, orienta os ouvintes quanto aos estágios da exposição e seu progresso. Deve-se
portanto, evitar listar além dos pontos efetivamente principais, não descendo aos
detalhes dos pontos secundários. Chapell chama essa atitude de “insensibilidade
retórica”.18 Evite dizer: “Em terceiro lugar”, se não tiver dito antes do ponto anterior: “Em
segundo lugar”.

18 Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.277.


!29

d) Pintura de quadro. Uma ilustração isolada também pode agir como uma transição com
imagens ou relações dentro da história, com os pontos da exposição, indicando como as
seções do esboço se ligam.

e) A transição da introdução e as subdivisões dos assuntos. A área de transição mais


importante dentro da exposição é a que aparece entre a introdução e o início da
argumentação, pois função é sinalizar o que vai ser tratado na exposição como um todo.
Nesse caso específico, vale o que foi dito sobre a construção da proposição nas seções
anteriores.

Cada subdivisão deve ser precedida por uma pequena frase de transição que liga os pontos
e pontua o progresso e a direção da exposição bíblica.
!30

LIÇÃO 12: A FINALIZAÇÃO DO ESBOÇO

O que você leva para frente? Tudo escrito? Algumas anotações sugestivas
para a lembrança? Nada?

Depende dos dons e a capacidade de memória que Deus te deu associados ao


propósito do sermão preparado; e também da ocasião e oportunidades propostos.
Deus te orientará a desenvolver o seu próprio estilo de pregação, o qual com a
prática, associada à observação de outros pregadores, te farão amadurecer.

Lembre-se, porém, que seu estilo deve ser submisso ao texto bíblico e ser-lhe fiel (I
Co 4.1).
Você poderá escrevê-lo à mão, digitá-lo ou datilografá-lo; poderá usar folhas de
cadernos pequenos ou grandes. Isso não diminuirá sua autoridade. O que diminui a
autoridade é a infidelidade à Palavra de Deus e ao Senhor que te dá o privilégio de ensinar
a Sua Palavra.
O esboço da exposição bíblica, no entanto, precisa ter uma forma que te ajude ao
máximo a repassar o que aprendeu no estudo.

Conclusão:

As técnicas nunca devem ser aplicadas mecanicamente, mas debaixo de um certo


grau de criatividade e inovação. Contudo, “nunca faça qualquer coisa sempre”, pense e
planeje o que vai falar.
Por outro lado, Chapell aconselha a lembrarmo-nos de que nenhuma soma de
habilidades homiléticas substituirão a operação do Espírito Santo. O que dá verdadeiro êxito
à exposição bíblica não é se ela tem uma introdução exuberante com uma conclusão eficaz,
ornada de suaves transições, mas se ela comunica verdades que transformam.

Os sermões só funcionam quando o Espírito Santo trabalha além da perícia humana


aplicando a palavra de Deus ao coração dos ouvintes segundo a vontade e o desígnio de
Deus (Is 55).

Se nos esquecermos que somos servos e arrogantemente quisermos fazer aparecer


nossos nomes por detrás do sucesso de nossos sermões, estaremos forçando a bondade
daquele que nos permite o privilégio da pregação. “Servimos melhor quando não só
dependemos do Espírito Santo para capacitar nossas palavras, mas também quando as
empregamos com a finalidade de honrá-lo”.19

19 Brian Chapell, Pregação Cristocêntrica, p.280.


!31

Eis um modelo gráfico da forma de um esboço:

TEXTO A SER PREGADO:

TEMA DO SERMÃO:

INTRODUÇÃO:

NARRATIVA:

AFIRMAÇÃO TEOLÓGICA:

FRASE DE TRANSIÇÃO:

DIVISÕES OU ARGUMENTAÇÕES DO TEXTO:

1º PONTO:
a) subdvisão 1
b) subdivisão 2
APLICAÇÃO E ILUSTRAÇÃO

2º PONTO:
APLICAÇÃO E ILUSTRAÇÃO

3º PONTO:
a) subdvisão 1
b) subdivisão 2
c) subdvisão 3
APLICAÇÃO E ILUSTRAÇÃO

CONCLUSÃO:

RECAPITULAÇÃO
BREVE DOS PONTOS
EXORTANDO A VIVÊNCIA

APELO
!

Obs.: A aplicação e/ou apelo estão inclusos na conclusão como propostas oferecidas
aos ouvintes desafiando-os à prática e/ou decisões.
!32

Exemplo de sermão pronto no Salmo 100

Texto - Salmo 100.

Tema - “Adoração: “O Que é Adorar No Culto?”

INTRODUÇÃO:
Um pastor brasileiro contou-nos certa vez uma experiência que viveu em um culto
multilingüe comemorativo nos EUA, no final da década de 1980.

➢ A entrada das delegações das Igrejas do 1º Mundo foi marcada por muita formalidade
e solenidade ao som de um sonoro órgão de tubos.

➢ As delegações das igrejas do 3º mundo, diferentemente, foi marcada por informalidade


e alegria, ao som de rufantes tambores africanos.

Nesse culto, as duas coisas, formalidade e informalidade, uniram-se para formar a


beleza da adoração cristã.
Nenhuma das delegações fizeram nada de errado, pois suas práticas de culto
encontravam apoio nas Escrituras.
Uma pergunta que precisamos levantar sinceramente é a seguinte: Quais os motivos
que nos levam a adorar na realidade? Constatamos que existem muitas dificuldades na
forma como entendemos o culto o culto cristão e suas implicações para a nossa vida
cotidiana.

➢ As críticas geralmente levantadas entre nós manifestam:

1. Um Conflito de gerações.
Jovens e adultos querendo que a sua forma de cultuar tenha hegemonia, evidenciando
no corpo de Cristo uma tremenda falta de comunhão. Será que há lugar para as crianças
adorarem também no culto público?

2. A ignorância das Doutrinas Bíblicas.


O que a Bíblia diz e ensina muitas vezes é trocado pelo “eu penso e eu acho...”. Muitos
já compraram o seu achômetro e o antenaram com as últimas novidades da moda musical
evangélica.

3. A falta de uma espiritualidade cristã autêntica.


■ piedade.
■ intimidade com Deus.
■ temor.

Uma outra questão melindrosa, mas não menos importante, é a busca da


atratividade, que visa fazer do culto uma experiência mais que agradável, mas
simplesmente fantástica, do crente com Deus; correndo-se o perigoso risco de transformar o
culto em SHOW. A atenção se move de Deus para os homens. Será que Deus é realmente
cultuado? Ou será que os cristãos cultuam-se a si mesmos?

Adoração autêntica, segundo a Bíblia, nasce da experiência da Justificação do


pecador, pela obra maravilhosa de Cristo na Cruz.
Adoração é o mover grato e reconhecido do pecador em direção ao Deus que o fez
viver quando devia morrer. A adoração nos leva na direção de Deus e não o contrário.

NARRATIVA:
O Salmo 100 faz parte do Livro IV do livro dos Salmos. Faz parte dos salmos reais: De
95 – 100, que exaltam a Deus como Rei da terra e do seu povo.
PROPOSIÇÃO:
(FT) Este salmo nos ensina pelo menos quatro princípios básicos e claros da
adoração cristã, respondendo-nos a pergunta: (AT) O que é (PC) adorar no culto?
!33

A primeira verdade ensinada no texto é:

I – ADORAR É CELEBRAR AO SENHOR V.1

Celebrar é comemorar com explosões de louvor a pessoa e a obra de Deus. É um


grito de homenagem para um rei. O Salmo 95.1 nos convoca a demonstrarmos toda alegria
que a confiança em Deus produz em nossos corações.

Portanto, como devemos adorar?


a. Com júbilo.
A expressão “júbilo” aponta para uma alegria intensa. O alvo dessa alegria é o próprio
Deus! (ao Senhor).
Deus é a fonte da nossa alegria. Ele não é um Deus triste.

Ilustração:
O filme “O Nome da Rosa” gira em torno de um tema intrigante. A proibição do riso vinha do
entendimento que Deus é sério e compenetrado, e que por isso rejeita o riso na sua
presença. O foco do filme é bem exemplificado no debate entre o Frei William e o Frei Jorge
sobre a utilidade do riso para a fé. Cremos que não há conflito entre fé e razão, mas que as
duas atua nas suas esferas complementarmente, pois se não fosse assim, não haveria
razão de estar escrito nas Escrituras palavras como as de Neemias 8.10: “A alegria do
Senhor é a vossa força”.

Quem deve celebrar a Deus?

b. Todas as terras.
Essa expressão significa todas as nações do mundo.
Essa é, portanto, uma expressão missionária, pois o nome de Deus precisa ser adorado por
todas as nações, e em todas as nações.

O Salmo 67.1-2 nos lembra que quando Deus abençoa o seu povo, este povo o faz
conhecido entre os povos.

A segunda verdade ensinada no texto é:


II – ADORAR É SERVIR AO SENHOR V.2:

Servir é o exercício de funções obrigatórias. Servir é para escravos (Deus é Senhor).


Quando Cristo morreu por nós na cruz, Ele estava PAGANDO o preço da nossa salvação!
Paulo argumenta em II Co 5.14-17, que uma vez que pertencemos a Ele, devemos viver
para ele. O mesmo Ele o faz em Romanos 6.

Logo, culto não é opção, é obrigação e necessidade de todo aquele que foi REMIDO
por Deus em Cristo.

1º) Obrigação.
Porque o Salmo 29.1,2 fala que devemos “Tributar a glória devida” a Deus. Adoração
e louvor são devidos a Deus. São coisas que não podemos deixar para depois.
Adorar não é fazer um “favorzinho” para Deus se der tempo, mas é o cumprimento
de nossas obrigações como seus servos que somos.

2º) Necessidade.
Porque o Salmo 42.2, afirma que nossa alma tem sede de Deus, do Deus vivo das
Escrituras.

a. Com alegria.
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Assim como a celebração, o serviço também deve refletir a nossa alegria. Como é
possível servirmos como escravos e ainda assim sermos alegres? É só lembrar que o nosso
Senhor não é mau, mas bondoso. Quando conhecemos a bondade de Deus temos prazer
em servi-lo.

b. Com cântico.
O Cântico é uma das principais expressões de alegria na Bíblia. A palavra hebraica
demonstra firmeza na voz (quando o cântico não é firme é porque não há alegria em Deus).
Vozes tristes não têm firmeza quando cantam.
A servidão do Senhor é melhor que a servidão do mundo, pois é uma servidão libertadora
e que cura.

Ilustração:
A Reforma do século XVI reintroduziu na liturgia da Igreja o canto congregacional.
Redescobriu-se a alegria de todos cantarem juntos a Deus mais uma vez.

A terceira verdade ensinada no texto é:


III – ADORAR É SABER QUE O SENHOR É DEUS. V.3

a.Ele é Deus.
“Saber” significa ter a consciência de que adoramos a um Deus que conhecemos e
podemos continuar a conhecer. Nós o conhecemos pelos seus atributos pessoais
comunicáveis (Amor, bondade, verdade etc).

Adoramos a um Deus que é:


1. Pessoal - tem personalidade própria
2. Espiritual - transcendente.
3. Santo - não habita com o pecado.

b. Ele nos fez.


Nós adoramos ao nosso criador. Atos 17.26,28 nos ensina que fomos criados à imagem e
semelhança de Deus. Portanto, nosso culto deve estar cheio de gratidão.

c. Pertencemos a Ele.
1º) Somos o seu povo.
Deus livrou a Israel do Egito para ser o seu povo. A Igreja é o povo de Deus, livre do
pecado para viver proclamando a sua maravilhosa graça e luz (II Pe 2.9,10).

2º) Somos o seu rebanho.


Sua relação conosco é a do pastor com as suas ovelhas. Deus cuida de nós, por isso
o adoramos em amor. Ele nos ouve e nos acode (Sl 40.1-6).
Em João 10, o Senhor Jesus nos ensina que as ovelhas conhecem a voz do bom
pastor e o seguem.

A quarta e última verdade é:


IV – ADORAR É BENDIZER O NOME DO SENHOR V.4

“Bendizer” significa elogiar, glorificar, dar louvor (reconhecer o seu valor próprio).
Como elogiamos a Deus?

a. Com ações de graça.


Nosso culto de adoração deve ser cheio de gratidão.
Efésios 5.4 mostra que a gratidão é uma das marcas da santidade. Gratidão produz alegria
e não tristeza. Nossos lábios devem ser cheios de palavras que transmitam graça ou
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gratidão (Ef. 4.29). Nossos cânticos devem ser repletos de gratidão, tanto nas suas próprias
letras e palavras, como na atitude com que os cantamos para Deus.

b. Hinos de louvor.
O salmista fala de hinos que engrandeçam o nome de Deus.
Creio que o grande problema da música na Igreja tem a ver com o fato de que nossos
compositores têm feito canções que vendem e que falam aos corações dos homens, mas
não falam nada de Deus ou para Deus. Vejam só as letras. A minha fé é assim; o crente que
ora tem poder... Ou em estilos parecidos. Onde estão os salmos de louvor?

• Falta de senso crítico. Os critérios que as equipes de louvor usam na escolha da


música nem sempre são baseados na verdade da Palavra, mas no carismatismo do
cantor; no balanço da melodia; ou na capacidade de expressar um jargão da época.

• Ênfase no “Show”. Ou na solenidade “Escocesa”. Precisamos buscar músicas que nos


levam à presença de Deus e não que o desagradem (músicas que não passam de
estereótipos de uma época).

c.Render graças e bendizer o nome.


Apresentar a nossa gratidão de forma cúltica é como uma rendição, aceitar a vitória
de Deus nas nossas vidas. No final, sabemos que Deus venceu. Por isso nós vencemos e
venceremos no futuro.

Por que bendizer? O texto diz que é porque o seu nome é excelso, ou seja, está
acima de tudo.

CONCLUSÃO: Qual a conclusão a que chegamos?

Quais são as razões que nos levam a cultuar a Deus com louvor? O verso 5 nos
responde prontamente a essa pergunta:

1º) Adoramos porque o Senhor é bom.


Ele tem nos abençoado (Ef. 1.3).

2º) Adoramos porque a sua misericórdia dura para sempre.


Deus é misericordioso. Ele tem perdoado os nossos pecados constantemente e
eternamente. Pois nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).
Deus nos livrou definitivamente do inferno e do Lago de Fogo! Aleluia!

3º) Adoramos porque Ele é fiel.


Deus é leal para conosco. Cumpre todas as suas promessas. Por isso precisamos
aprender a sermos fiéis a Ele também.

APLICAÇÕES:
1. O centro do culto é Deus. O centro da alegria no culto também é. Quando buscamos
alegria em nós mesmos, tornamo-nos vazios da alegria de Deus, que é a única alegria
verdadeira.

2. A expressão firme da alegria no canto é diretamente proporcional à intimidade que


temos com Deus.
A vergonha da voz, o medo de errar, a timidez podem ser vencidos pelo desejo de adorar
com todo o coração. Sem contar que sempre podemos aprender a melhorar a nossa voz
acompanhando a quem tem um timbre de voz melhor que o nosso, ou nos matriculando em
aulas de canto. Isso é algo, se o nosso desejo for “tanger bem e com arte” ao Senhor.
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Exemplo de Sermão pronto no Salmo 126

Texto: Salmo 126


Tema: NOSSO DEUS RESTAURADOR

Introdução:
Uma das qualidades mais impressionantes do ser humano é a capacidade de
restaurar. O homem é capaz de restaurar grandes e pequenas coisas, desde pequenos
detalhes em uma obra antiga até uma enorme estrutura. Mas para coisas que parecem ao
homem ser algo insuperável, é que esse Salmo nos apresenta o Deus Restaurador, o Deus
das Escrituras. Nesse texto tão antigo podemos enxergar claramente a ação restauradora
de Deus.

Narrativa:
Para melhor entendermos o texto precisamos necessariamente procurar entender o
seu contexto. Um provável autor, e possível compilador do Livro dos Salmos, foi Esdras,
homem levantado por Deus para liderar o povo depois do retorno do cativeiro babilônico,
onde permaneceu por 70 anos. Assim sendo, o Salmo é uma expressão de louvor por um
ato restaurador de Deus na história de seu povo.
Essa restauração foi algo maravilhoso aos olhos do povo e das nações. Vejamos
bem a situação:
a) O contexto de Isaías, Miquéias, Ezequiel 5:9 “Farei contigo o que nunca fiz, e o
que jamais farei, por causa de todas as tuas abominações”; 5:12 “Uma terça parte de ti
morrerá de peste e será consumida de fome no meio de ti; outra terça parte cairá à espada
em redor de ti; e a outra terça parte espalharei a todos os ventos, e desembainharei a
espada atrás dela”.
b) em 586 a.C. o povo foi levado cativo para a Babilônia. Na verdade, a deportação
dos habitantes de Judá se deu em três fases distintas e em cada uma delas o nível de
destruição foi maior, até a fase final, quando Jerusalém, os muros da cidade e o Templo
destruídos. a situação que aquele povo viveu certamente foi trágica: destruição e separação
de famílias, perda das propriedades, perda de valores. Tristeza, morte e destruição. Tudo o
que era do bom e do melhor foi levado ou destruído. Com relação ao Templo construído por
Salomão, o que não pode ser levado foi queimado.
c) No livro do profeta Daniel encontramos um pouco do resultado dessa tragédia:
Daniel, jovem, bem educado, líder, agora um cativo! No capítulo 5 encontramos os utensílios
sagrados do Templo sendo usados numa orgia promovida por Belsazar, filho e sucessor de
Nabucodonosor.
d) No livro de Ezequiel, 3:15, depois de ter tido uma visão de tudo que o povo
sofreria, encontramos o profeta Ezequiel: “por sete dias assentei-me ali atônito no meio
deles” .
Depois de muito tempo, quase 70 anos, o povo ainda era escravo, triste, sem
qualquer perspectiva humana. O Salmo 137 nos relata em poesia a tristeza da situação:
1 Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos,
lembrando-nos de Sião.
2 Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas,
3 pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos
opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
4. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?

Quem poderia mudar aquela situação? Quem teria o poder e o interesse para mudá-la?

Afirmação Teológica:
Deus Iavé restaura qualquer situação de desgraça na vida. (FT) Esse texto nos fala de 3
verdades (PC) sobre Restauração.
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1. Iavé restaura
Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.

Devemos observar algumas importantes características desse verso.


A perspectiva humana era de que um povo que havia deixado a sua terra há tanto
tempo, agora sem liderança e já arraigado em um outro lugar, não mais voltasse. Porém,
Deus, Iavé, mudou esse curso, essa rota, esse destino, essa sorte. E isso aconteceu no
tempo e no espaço, na vida de pessoas como eu e você. Um dia, a sorte de Sião, a sorte do
povo de Judá, foi mudada.
Aprendemos também, aqui, a respeito de quem mudou a sorte. Não há qualquer
dúvida na mente do salmista de que o acontecido foi um ação de Deus Iavé.
Em terceiro lugar, aprendemos que o que Deus fez na história foi um ato restaurador.
Ele restaurou Sião. Ele trouxe de volta o povo para viver na sua terra, com seus valores e
com seu Deus. Depois de 70 anos de sofrimento no exílio, Deus volta os olhos para seu
povo e o restaura, cumpre suas promessas assim como havia cumprido seu decreto diante
da desobediência. Isso mesmo, o povo não foi levado cativo simplesmente porque o rei da
Babilônia era muito poderoso. Certamente não. O povo foi levado em cativeiro como uma
disciplina do seu pai amoroso, que vendo a rebeldia de seu filho, não podia deixar de
discipliná-lo (Hebreus 12:5-11). Deus não só anunciou a disciplina como também disse
quando traria seu filho de volta.
Assim, aquele filho amado do Pai, atraído com “cordas humanas”, com “laços de
amor”, a quem o Pai havia chamado do Egito e ensinado a andar (Oséias 11) estava,
depois da tristeza da repreensão, de volta aos braços do Pai.
A conseqüência de tudo isso é: ficamos como quem sonha... Então, a nossa boca se
encheu de riso, e a nossa língua de júbilo.
Deus trocou o pesadelo pelo sonho, o choro pelo riso e o lamento pelo júbilo! A
adoção de Israel estava confirmada. Até entre as nações se dizia: Grandes coisas o
SENHOR tem feito por eles. (v. 2) Ninguém mais pode negar. Iavé é um grande Deus, o
Deus restaurador: Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos
alegres. (v.3)

2. Iavé continua a restaurar


A partir do verso 4, temos que ter em mente um outro contexto: Esdras e Neemias
reconstruindo a os muros de Jerusalém. Uma vez de volta à sua terra, as dificuldades do
dia-a-dia mais uma vez se fizeram presentes. O trabalho árduo, acompanhado de investidas
dos inimigos que não queriam a reconstrução do Templo e dos muros de Jerusalém, foi
certamente uma carga pesada para o povo. O povo precisava de força, alento e coragem
para continuar.
Um outro aspecto importante a ser observado no texto é a mudança no tempo verbal.
Até o verso 2 o texto trata de ações passadas de Iavé e o estado de gratidão no presente: ...
por isso, estamos alegres. No entanto, o verso 3 começa com um pedido do salmista:
Restaura, SENHOR, a nossa sorte... Mesmo que a alegria da restauração passada ainda
fosse motivo de agradecimento, o fato é que no momento o povo precisava mais uma vez
de restauração. Por isso o pedido.
O sonho, o riso e o júbilo ficaram como uma boa lembrança e motivo de gratidão,

mas o povo de Deus precisava mais uma vez que Deus agisse no seu meio.

De forma poética o salmista compara a necessidade do povo com a sequidão do


deserto e pede que o Senhor venha suprir a sua necessidade como as torrentes do
Neguebe. O Neguebe é o deserto que fica ao sul de Israel e ao sul de Jerusalém. Esse não
é um deserto arenoso como o Saara, mas um deserto montanhoso que esconde muitos
perigos e armadilhas. O índice pluviométrico nesse local é muito baixo. Podem passar
muitos meses e até anos sem uma gota de chuva. Essa sequidão, comparável a algumas
regiões do nordeste do nosso país, é um símbolo de dificuldade e morte. Ali, quem vive, vive
com dificuldade e muita dependência do fenômeno conhecido como “torrentes do Neguebe”.
O que são essas torrentes?
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São verdadeiros rios que passam pelo meio do deserto, de uma forma inesperada e
incontrolável. O fenômeno é causado pelas chuvas que caem nas montanhas e que na
medida em que saturam o solo começam a descer e se ajuntar trazendo verdadeiras
correntes de águas no meio da sequidão. Portanto, de uma forma inesperada, sem qualquer
evidência imediata, e de forma incontrolável, a torrente desce das montanhas trazendo vida
no meio da morte, refrigério no meio da sequidão.
Esse é o pedido do salmista, que Iavé, como havia agido no passado de uma forma
tão ‘anormal’ (ainda que não inesperada porque ele mesmo havia anunciado a volta do
cativeiro), mais uma vez agisse para com o seu povo de forma a restaurar-lhe a alegria da
vida. Essa oração no verso 3 é a verdadeira oração do avivamento. O pedido humilde e
sincero do servo de Deus para que ele venha e traga a vida plena para o meio do seu povo
que vive na sequidão do dia-a-dia.

3. Como esperar a restauração


Os versos 5 e 6 são ainda uma figura tirada do deserto, a continuação do verso
anterior: Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando,
enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.
Certamente o texto se refere à situação do habitante seminômade do deserto, que
vive principalmente da pecuária (criação de gado miúdo) e que temporariamente precisa
plantar o cereal para suprir as necessidades mínimas de seu clã. Pouco se pode tirar do
deserto. E esse pouco, com a imprevisibilidade das chuvas, se torna algo extremamente
penoso. Isso ensina esse “fazendeiro” do deserto a ser totalmente dependente da
misericórdia de Iavé. Ele depende da torrente para sobreviver. Plantar é algo duro e penoso.
Algo que se faz com lágrimas! Jogar o cereal ao chão traz lágrimas aos olhos. O trigo que
poderia ser o pão de amanhã é a semente que vai ao chão hoje.
Daí a figura do texto: quem sai andando e chorando, enquanto semeia... E a
promessa que decorre da confiança em Iavé: voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.
Como essa figura se aplica à vida do crente? De muitas maneiras.
Quem no trabalho de liderança e edificação no Corpo de Cristo ainda não derramou
lágrimas? De cansaço, desalento ou desânimo? E mesmo diante dessas circunstâncias
insistiu em plantar, em continuar a jogar a semente na esperança firme de voltar trazendo
seus feixes de alegria!
Qual o cristão verdadeiro que ainda não foi desafiado a continuar na obediência firme
à Palavra de Deus diante de oportunidades de corrupção, mentira, etc? No entanto, com
lágrimas plantaram obediência ao Senhor e depois, com júbilo, trouxeram seus frutos.
A vida cristã é assim. É um plantar de obediência ao Senhor mesmo que o mundo
inteiro diga que não existam evidências da sua presença e bênção.

Conclusão
1. O crente não pode nunca esquecer quem é o verdadeiro restaurador das coisas que o
homem não pode restaurar. O Senhor é a sua esperança e força, pela restauração
passada e pela esperança futura de restauração. Ele faz aquilo que não podemos fazer.
2. O crente não pode nunca esquecer da soberania do Senhor em restaurar quando e como
ele quer. Por isso nunca deve deixar de orar humilde e esperançosamente a oração do
avivamento: restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe.
3. O crente não pode nunca tentar produzir aquilo que só o Senhor pode fazer. O que o
crente deve fazer é continuar na obediência até que o Senhor mande a torrente. Mesmo
diante das tentações que o mundo oferece para “facilitar” a vida de sequidão, o homem de
Deus permanece firme, ainda que com lágrimas.
4. E mesmo que a sequidão continue neste mundo, o crente não pode nunca esquecer que
são Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Quando isso vai
acontecer? Não sabemos ao certo. Temos certeza porém que “.... o Cordeiro que se
encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E
Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima ( Ap 7:17 ) e ...lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram (Ap 21:4).
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LIÇÃO 13: RECOMENDAÇÕES PASTORAIS

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres. II Tm 4.16

Entregar um sermão ou fazer uma exposição bíblica não é falar à frente da Igreja ou
de pessoas somente. Envolve também a sua consagração pessoal, postura, tom de voz e
gestual. Portanto, aceite essas recomendações:

1ª) Não negligencie a oração e a comunhão com Deus. Sem elas, a semente será lançada,
porém, não haverá chuva para fertilizá-la.

2ª) Tome uma postura discreta, que possibilite chamar a atenção mais ao que você fala do
que para você mesmo. Paulo diz que o exercício físico é pouco proveitoso, mas a piedade é
muito proveitosa (I Timóteo).

3ª) Demonstre respeito. Pelo texto e pelos ouvintes. A forma como manuseia a Bíblia diante
de outros; as palavras que usa no linguajar demonstram isso.

4ª) Não se justifique quanto à sua mensagem (“_eu não estudei direito; vocês sabem que eu
não sei nada; eu não tive tempo” etc.) Fale com convicção o que você aprendeu. Você está
falando a verdade de Deus que precisa ser ouvida e obedecida, a não ser que não creia no
que aprendeu do texto!

5ª) Procure aprender a fazer bom uso de sua voz, variando o tom e a velocidade de acordo
como ritmo do próprio texto e da emoção que Ele (o texto) produz em você (isso é obra do
Espírito Santo). Um mesmo tom de voz causa desinteresse.

6ª) Gesticule, porém, faça-o de forma a auxiliá-lo na exposição e te dar maior liberdade de
expressão do conteúdo do texto. Seja natural e não um exibicionista. Procure sempre o
equilíbrio.

7ª) Seja organizado. Assim as pessoas perceberão que o estudo da Bíblia é algo que
realmente vale a pena, e você demonstrará respeito para com as coisas de Deus.

8ª) Confie na direção de Deus. Você não está falando de coisas puramente humanas, mas
das verdades eternas de Deus, o seu PAI celestial, seu Salvador amado, seu Supremo
Pastor.

9ª) Seja fiel, o resto está nas mãos de Deus.

10ª) Guarde na lembrança: I Tm 4.6-16 e I Co 3.4-9. Medite nesses textos, e trabalhe com
diligência.
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PASSOS PARA PREPARAÇÃO DO SERMÃO

1. Escolher o Texto;

2. Estudar o Texto;

3. Extrair a Idéia Exegética (sentido original) do Texto;

4. Determinar o Propósito do Texto;

5. Elaborar o Esboço do Sermão;

6. Preencher o Esboço do Sermão;

7. Elaborar a Introdução e a Conclusão.


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BIBLIOGRAFIA

BLACKWOOD, A. W., A Preparação de Sermões, 3ª ed., ASTE/JUERP, São Paulo, 1984.


BONAR, Horatius A. Um Recado para Ganhadores de Almas, Ed. Vida Nova, São Paulo,
1984.
CÉSAR, Elben M. Lens. Práticas Devocionais, 4ª ed., Ultimato, Viçosa, 1996.
CHAPELL, Bryan, Pregação Cristocêntrica, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, 2002.
DEL PINO, Carlos, e outros. Interpretação e Pregação, Logos, Goiânia, 2005.
HENDRICKS, Howard, Ensinando Para Transformar Vidas, Betânia, Venda Nova, 1991.
HENRICHSEN, Walter A.. Métodos de Estudo Bíblico, 3ª ed., Ed. Mundo Cristão, São
Paulo, 1986.
LACHLER, Karl. Prega a Palavra: Passos para a Exposição Bíblica, Ed. Vida Nova, São
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LIEFIELD, Walter L.. Exposição do Novo Testamento; Do Texto ao Sermão, Ed. Vida Nova,
São Paulo, 1985.
STOTT, John R. W.. O Perfil do Pregador, SETE/SEPAL, Recife/São Paulo, 1991.

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