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Resumo
Introdução
A proposta de descrever a forma como pesquisamos o tema foi idéia dos educadores
presentes ao citado evento. Estes nos solicitaram que o conteúdo da conferência fosse transformado
num texto que respeitasse a estrutura da apresentação, a qual foi organizada, justamente, seguindo o
caminho que percorremos para descobrir o sentido e o significado da resiliência.
Resiliência. Do ingl. Resilience. S.f. 1. Fís. Propriedade pela qual a energia armazenada em
um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica. 2.
Fig. Resistência ao choque. Resiliente. (Do ingl. Resilient) Que tem resilîência.2. Por ext. Elástico.
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Artigo Publicado em: Revista Educação em Ação: Formação de Professores para o Século XXI. Ano I Num I –
Jul/dez/2004, p. 25-49.
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Mestre e Doutor em Educação: Currículo. Pró-reitor de Extensão, Culturas e Assuntos Estudantis (2000-2004 e
2005-2008) e docente da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia.
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Pedagoga da Rede Pública Municipal de Uberlândia. Aluna do Programa de Mestrado em Educação da Universidade
Federal de Uberlândia.
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Ao analisar o sentido atribuído ao termo, não foi difícil perceber que além de referir-se a um
conceito científico associado à Física, o dicionário não estabelece nenhum vínculo com as ciências
humanas.
Um rápido estudo sobre os títulos dos sites, permitiu-nos identificar a existência de três tipos
de assuntos relacionados à Resiliência: a) na Física; b) nas áreas da Saúde Mental, Antropologia,
Gerenciamento de Recursos Humanos e Gestão Empresarial e, c) num tipo de literatura de “auto-
ajuda” orientada para os executivos de empresas. Notamos, também, naquele momento da pesquisa,
não foi encontrado nenhum texto associado à Resiliência e a educação formal.
O passo seguinte foi selecionar uma parte do material pesquisado para elaborar um “marco”
geral de referência com a finalidade de ampliar o significado que vem sendo atribuído à resiliência
nas áreas de conhecimento acima identificadas:
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Resiliência (português), resilientia (latim), resilienza (italiano), resilience (inglês). Termo que deriva do verbo latino
resilio que significa “saltar para trás”, “voltar saltando”, “retirar-se sobre si mesmo, “encolher”, “reduzir-se”,
“recuar”, “desdizer-se” (TAVARES, 2001).
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Construindo um “novo” discurso do tipo: "A verdadeira medida de um homem não é como
ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de
controvérsia e desafio", os gestores de Recursos Humanos e de Organização empresarial,
descobriram de alguma forma, a sugestiva idéia de “força de recuperação” contida no conceito físico
da resiliência, para, a partir daí, buscarem “fórmulas”, saídas ou estratégias capazes de “dotar de
energia” ao trabalhador, para que este possa, suportar, sem adoecer, as adversidades decorrentes do
mundo do trabalho.
Assim, a noção de resiliência contida num objeto, transforma-se numa característica humana
a ser aprimorada com base científica para enfrentar eficazmente, em determinados ambientes,
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Num artigo publicado na Revista “Você S/A” (São Paulo: Editora Abril, agosto de 2004), Estelle Morin, da
Universidade de Montreal, apresentou um estudo onde procura identificar como as pessoas estão lidando com a
carreira. Para esta pesquisadora, a geração das pessoas nascidas entre 1965 e 1980, testemunharam na família o
impacto de perder o emprego no qual se planejou ficar a vida inteira. Quem viveu esta situação hoje detesta, em
termos gerais, o estilo “viver para trabalhar”, além de valorizar mais a sua vida pessoal. Para aqueles que nasceram
entre 1981 e 1995 e cresceram na época da globalização, preferem trabalhar individualmente com foco nos
resultados e, além de processar informações rapidamente, vêm desenvolvendo um padrão de trabalho flexível,
acostumado a fazer escolhas.
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privados e públicos, de trabalho e de convivência cotidiana, os desafios e tensionamentos do mundo
do trabalho contemporâneo.
Neste momento, paramos para refletir porque de um momento para outro, o setor empresarial
começou a ser motivado para “cuidar” dos seus profissionais? Seria somente pelo fato de que a
perda de rendimento no trabalho poderia provocar uma diminuição nos lucros? Não seria mais
“econômico” para uma empresa dispensar o trabalhador (como historicamente tem prevalecido) e
substituí-lo por outro?
Não sendo nossa intenção aprofundar nessas questões, deixamos registrado como hipótese
que, duvidando de uma possível pretensão de “humanização” do capitalismo por parte das classes
dominantes, talvez seja mais econômico e produtivo investir na formação continuada do trabalhador,
devido ao fato (previsto por Karl Marx no século XIX) de que as exigências tecnológicas e
administrativas estão se tornando cada vez maiores. Situação esta, que vêm exigindo dos
trabalhadores um maior tempo de aprofundamento técnico-científico em sua formação profissional,
associada a um importante “acúmulo” de experiência no trabalho.
Em outras palavras: estará saindo mais econômico para o capitalismo investir na formação e
manutenção dos seus, cada vez mais, especializados profissionais, do que descartá-los por outros,
que nem sempre se encontram disponíveis no mercado?
Sites e trabalhos associados à resiliência nas áreas de Saúde Mental e Antropologia, afirmam
que, na procura de identificação e de entendimento sobre os “sujeitos resilientes”, os conteúdos
relacionados ao tema devem estar fundamentados em abordagens de pesquisa, inter ou
transdisciplinares, para alcançar uma compreensão mais ampla e aprofundada desse “objeto” de
pesquisa.
Tais abordagens de pesquisa apontam, também, que devem ser utilizadas técnicas de colheita
de dados e de observação participante, que exigem, além de um envolvimento mais direto dos
pesquisadores na realidade, um confronto crítico entre diversos olhares, linguagens e instrumentais,
tais como: o uso de dados quantitativos e qualitativos advindos de entrevistas abertas, semi-
estruturadas, individuais e coletivas, registros iconográficos (fotografia, vídeo), diários de campo,
“softwares” estatísticos etc.
A finalidade é criar as condições para que o trabalhador, tratado na condição não de “objeto”,
mas como “pessoa”, seja capaz de auto-reflexão, auto-organização, de atualização de suas crenças e
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comportamentos e de orientação eficaz, em busca da superação das adversidades e dos resultados
desejados.
Procura-se, também, que o sujeito, “aprenda a aprender” como “gerenciar” sua ansiedade e
as ambigüidades próprias da organização empresarial e/ou social, por meio do aperfeiçoamento
contínuo do repertório de habilidades necessárias ao enfrentamento das adversidades, dentre as quais
se encontram os problemas de relacionamento interpessoal.
Ressaltamos que, frente a este discurso, técnicas corporais tais como a Ioga, o Tai chi chuan
e outras modalidades do gênero, vêm sendo propostas como alternativas para enfrentar as “tensões”
do mundo do trabalho. Identificamos, também, propostas que procuram incentivar às empresas para
que ampliem o círculo de interação social entre os funcionários, oferecendo a eles programas de
esporte, lazer e de convivência fora dos ambientes formais de trabalho.
Resiliência e Educação.
A vida cotidiana na escola pública vem provocando “choques de tensão” que estão
“dobrando” e “vencendo” os estados de “equilíbrio” das pessoas? Existem indícios a
respeito de uma situação dessa natureza no campo da educação?
Resiliência na vida escolar?: Que tensões seriam essas e quais as suas resultantes? Como
superá-las?
Seria possível falar de uma Educação para a resiliência? Quais seriam os seus
fundamentos?
Munidos desse novo “guia de estudo”, procuramos, então, encontrar uma associação entre as
informações coletadas e a produção científica e filosófica da educação, buscando estabelecer uma
relação dialética entre esta área e a resiliência.
Para tanto, iniciamos uma revisão bibliográfica começando pela nossa Tese de Doutorado
(MUÑOZ PALAFOX, 2001) que trata, dentre outros, dos aspectos conjunturais relacionados à vida
do educador no contexto escolar.
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O objetivo da gestão democrática é muito difícil alcançar, não somente devido às pressões
advindas da ideologia oficial, do controle social e dos atos autoritários de governos municipais em
exercício, mas também, por uma série de dificuldades subjetivas e intersubjetivas que parecem
refletir o fato de que, independentemente de vivermos em meio às ruínas de uma civilização
hegemonicamente autoritária e conservadora, a maior parte dessas ruínas já está em nossas mentes
(LUCKÁCS, 1982, Apud FEATHERSTONE, 1995: p.199) 6. “Ruínas” que se manifestam, dentre
outros aspectos, na prática do individualismo exacerbado, uma das principais marcas características
do mundo contemporâneo.
Numa pesquisa realizada, em nível nacional (CODO, 1999), foi constatado que grande parte
dos educadores lotados nos sistemas públicos de Ensino Fundamental e Médio encontra-se
ministrando aula em ambientes de profunda descrença e desilusão, não somente com as políticas e
reformas educacionais mas também com os movimentos de luta pela construção de gestões
democráticas nos estabelecimentos de trabalho.
Essa situação contemporânea é tão crítica que já pode ser observada nessa área,
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A questão da gestão escolar reflete uma movimentação intensa em torno de reformas administrativas no setor
educacional. A maioria das propostas em âmbito federal, estadual e municipal apresenta aspectos convergentes com
o conjunto de princípios acordados na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em março de 1990,
em Jontiem, na Talilândia e na Declaração de Nova Delhi, de dezembro de 1993. Por esses motivos, o debate atual
em torno da gestão da Educação tem assumido centralidade. A necessidade de conhecer os problemas, reconhecer
as críticas em tempo hábil, dada a velocidade com que as mudanças se processam, coloca como primeiro desafio
abarcar os grandes temas e procurar desvendar seus aspectos mais nebulosos (OLIVEIRA, 1997, p.10).
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trabalho que se afectiva, que se afeiçoa, que se parece com a vida, que espanta e
pasma como um parto, que dói, como um parto” (CODO,1999:13).
Uma grande parte dos educadores, que comparece no tecido social compondo o futuro de
milhares e milhares de jovens, está dando lugar a um conglomerado de pessoas cansadas, abatidas,
sem mais vontade de ensinar, ou seja, que entraram em Bournout (CODO,1999: 237)7
Diante dessa situação, observamos que a resiliência, tal como proposto nas Ciências
Humanas, encontra, de fato, um campo fértil na esfera da educação, como possibilidade de elevação
da capacidade do educador, por exemplo, para resistir às tensões, ao estresse e às adversidades do
cotidiano escolar.
O problema é que, para os filósofos contemporâneos estamos imersos numa crise mundial de
duas dimensões, uma delas relacionadas justamente ao mundo do trabalho:
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A teoria do burnout não surgiu por acaso. Ela se dispõe a compreender as contradições da área de prestação de
serviços, exatamente, quando a produção do setor privado descamba e o setor terciário toma seu lugar. A teoria do
ser humano solitário, época em que parece se esvanecer a solidariedade; a ênfase na despersonalização, quando a
ruptura dos contratos sociais parecem ter eliminado a pessoa (CODO, 1999: 239).
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Poucos dias antes do Seminário, aconteceu um fato interessante. Numa rápida viagem para a cidade de São Paulo
encontrei, finalmente, um livro que trata exclusivamente sobre o assunto, intitulado “Resiliência e Educação”. O
livro é organizado pelo professor português José Tavares (TAVARES, 2001). Como não dispomos de tempo hábil
para introduzir parte do seu riquíssimo conteúdo na exposição, decidimos mostrar o livro durante a conferência,
recomendando sua leitura aos educadores interessados. Acredito que, na época da realização do trabalho, não
paramos para pensar em buscar livros associados ao tema resiliência e educação na Internet, pois não encontramos
nada a respeito nas livrarias de nossa cidade, nem entre alguns colegas de trabalho que foram consultados. Por isso,
durante o seminário, recomendamos aos educadores que dispõem de acesso a Internet, que gravem os endereços
eletrônicos das principais editoras brasileiras e utilizem este recurso de busca na realização de suas pesquisas.
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se tornou escasso e transitório numa sociedade que abriga, mundialmente, nos anos
noventa, oitocentos milhões de desempregados – “o desemprego estrutural”,
provocado principalmente pelas novas tecnologias. Se nossa subjetividade-
identidade não está mais centrada na “consciência”, muito menos podemos vê-la
centrada na “consciência de sermos trabalhadores” (GUIRALDELLI JR, 1997: 254-
55).
Em segunda instância, uma outra crise alimentada em parte pela crise acima descrita, surgiu
associada ao fato de que, depois da II Guerra Mundial,
Por que a busca da identidade focalizada numa nova representação subjetiva do “Eu”,
encontra no “corpo” uma figura tão proeminente na atualidade? Para além do culto ao corpo
amplamente difundido pela cultura de consumo, pesquisadores fortemente vinculados à esfera da
linguagem, como EGAN (2002), estão associando a formação da consciência/subjetividade ao
“corpo” baseados em fundamentos fenomenológicos. A sua leitura parte do pressuposto de que,
Desse modo, é a experiência corporal vivida que forma a compreensão que nós temos do
mundo e, como o mundo não é um dado fixo, nós o construímos sem cessar por meio de
interpretações que se renovam. Na fenomenologia, os objetos não tem significados em si mesmos;
seu significado deriva do ato de apropriação da experiência vivida (GAUTHIER, 199: 162).
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Com esse “pano de fundo” sobre a noção de “corpo” assumida na condição de sinônimo dos
conceitos do “Eu”, “identidade”, “subjetividade”, “consciência”, “sujeito” e “pessoa”, estamos
assistindo à difusão de estudos advindos de uma corrente de pesquisa denominada “interacionista-
subjetivista” que, sintonizada com o deslocamento da “subjetividade-identidade” para a noção de
corpo (ainda que isso não seja bem explicitado), vêm propondo “resgatar” o professor como
“pessoa” a partir do estudo de suas dimensões pessoais e profissionais e da ação e do saber advindos
da sua experiência (TARDIF,1991; NÓVOA, 1992; DELORS, 1997).
Para além dos enormes problemas políticos, econômicos que enfrentamos no campo da
Educação, nossa caminhada para compreensão da resiliência na educação, nos conduz para a
identificação dos motivos sócio-psicológicos e das conseqüências que podem estar contribuindo, no
cotidiano escolar, para aumentar as “tensões” e as “dores” do professor.
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Nos anos noventa, a educação brasileira assistiu, no campo da formação de professores em serviço, o retorno de um
renovado enfoque psicológico, se levarmos em conta as publicações e apresentações de trabalhos em congressos
mais recentes (GATTI, 1992:71). A questão central era, e continua sendo, saber como em razão de quais
características e em quais contextos, o professor pode contribuir para aprimorar o rendimento dos alunos,
sobretudo na escola básica, a partir do deslocamento dos aspectos individuais do professor até enfocá-lo como
sujeito e agente central da socialização de determinados conhecimentos (NEUBAUER e DAVIS, 1993: 31).
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Um exemplo deste tipo de análise pode ser verificado no material expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais
nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores no Brasil (RODRIGUES, 2002).
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Dentre os problemas a que nos referimos, podemos citar três: a manutenção de: a) uma sociedade profundamente
injusta, desigual e excludente, tanto econômica quanto culturalmente; b) uma formação profissional inicial e
continuada fragmentada, despolitizada e elitista e, c) um crônico estado de desvalorização profissional em todos os
níveis de ensino deste país.
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Quadro 2. Indicadores das “tensões” da profissão docente.
Indicador Observações
No Brasil Contemporâneo, entramos em crise de Falas de Educador:
identidade: O educador perdeu seu “status social”. “Professor ? o pessoal acha que somente
A profissão docente passou a ser marginalizada vira professor quem não tem competência
(proletarizada) pouco compreendida, muito menos para fazer coisas melhores na vida...”
reconhecida em que a dureza penetrou até a
entranha mesma da tarefa docente e das relações “Com esses salários de hoje qualquer uma
pessoais do professor (ESTEVE, 1999, p. 41). vira professora....”
A Formação inicial é idealista-missionária e A ácida e rude realidade da vida cotidiana
inadequada para enfrentar a realidade do cotidiano em sala de aula (ESTEVE, 1999, p. 124),
escolar e político-educacional mais amplo. vêm produzindo um “colapso” nos ideais
missionários produzidos durante a formação
inicial do educador.
A era da Informação, seus meios de comunicação e Fala de Educador:
de acesso à mesma, associados à cultura de
consumo, alimentam à base de conhecimento do “O professor deixou de ser dono da
aluno. Resultado: o saber do educador pode ser informação. Qualquer um pode refutar as
contestado. suas verdades”.
A reputação do educador é polarizada de forma Se aluno e escola estão bem, o professor é
restrita. Não existe mais o amparo do consenso ótimo, se estão mal, o professor é
social. Qualquer atitude do professor pode ser considerado incompetente e irresponsável
contestada, e haverá grupos e forças sociais (problemas sociais, econômicos camuflados
dispostos a apoiar a contestação do professor na comunidade).
(ESTEVE, 1999, p.31)
Educador resiliente? - Ou sobre as possibilidades de luta pela superação das tensões e das
dores do professor.
Qual seria a educação dos nossos sonhos, capaz de tornar-nos ou de aprimorar a nossa
capacidade de resiliência?
que significaria “ser/tornar-se” educador resiliente diante das adversidades da vida
cotidiana?
Quais as diretrizes para promover uma educação resiliente?
Mais uma vez, partimos para uma nova revisão dos livros selecionados anteriormente.
Porém, antes de responder as perguntas levantadas, encontramos em FONSECA (1997) uma série de
interessantes questões que, no nosso entendimento, precedem a uma discussão sobre as
possibilidades de promover uma formação capaz de ampliar/melhorar a resiliência do educador.
A partir da análise historiográfica da “vida de professores”, a autora nos alerta sobre três
aspectos importantes:
Diante dessas questões perguntamos, então, qual seria a educação capaz de aprimorar a
resiliência, orientando-a explicitamente para enfrentar os desafios da vida cotidiana escolar numa
perspectiva crítica e transformadora da realidade social?
Assumindo que a resiliência representa muito mais do que uma simples “capacidade” ou
“competência” técnica que se aperfeiçoa com estratégias de desenvolvimento cognitivo, emocional e
físico, tornar o educador apto para enfrentar as tensões e as “dores” da profissão, implica, no nosso
entendimento, lutar pela promoção de uma formação profissional orientada, sem dúvida nenhuma,
para a Omnilateralidade humana, tal como defendida por Karl Marx.
Em resumo, o educador resiliente, representa, para nós, aquele que, empunhando o desafio
histórico da omnilateralidade (como objetivo de sua práxis), mantém estabilidade orgânica, mental e
emocional e seu compromisso político com a construção coletiva de um mundo efetivamente
democrático, justo, e igualitário. Isto, apesar das tensões e distensões vividas no mundo cotidiano,
pessoal e/ou profissional.
Mas, quais poderiam ser as diretrizes necessárias à promoção de uma formação resiliente
orientada para a omnilateralidade?
Por outro lado, ao perguntarmos o que poderia ser feito para tornar o educador resiliente,
concluímos, ainda que provisoriamente, que não existem receitas prontas a respeito dessa questão,
principalmente se utilizamos como referência a vida de grandes personagens da história humana os
quais podemos considerar, sujeitos dotados de uma enorme capacidade de “resiliência”, tais como
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Karl Marx, Antônio Gramsci ou os educadores brasileiros Florestan Fernandes e Paulo Freire, que
lutaram a vida toda contra a injustiça e a desigualdade social, superando fortes tensionamentos e
adversidades políticas, econômicas, emocionais e sociais.
Não sendo nossa intenção estabelecer uma profunda comparação entre tais personagens,
podemos destacar, entretanto, a presença de um forte traço de resiliência que, no nosso
entendimento, é comum a todos eles. Trata-se de um forte sentimento de indignação ético-política
freqüentemente manifestado, tanto nas suas trajetórias de vida, quanto nas suas obras, pelo
reconhecimento da injustiça, da desigualdade e da opressão sócio-político-econômica e cultural,
produzida historicamente pelas classes dominantes.
Valendo-nos desse exemplo, entendemos que uma educação orientada para desenvolver e
aprimorar permanentemente a resiliência, bem que poderia ser orientada para estimular e manter,
dentre outros aspectos, esse sentimento de indignação ético-política para motivar o educador a agir
na direção da luta permanente pela superação da injustiça, da desigualdade e da opressão social, das
suas “tensões” e suas “dores cotidianas. Cientes, porém, de que estas encontram suas origens numa
sociedade dividida, intencionalmente, em classes sociais, cujos interesses são, literalmente,
antagônicos.
Somente para ilustrar, podemos lembrar o educador Florestan Fernandes, para quem o
compromisso mais importante do professor no exercício de sua profissão é:
não “internaliza” uma visão fatalista de mundo nem dos problemas vividos. Nem assume
papel de vítima: Rejeita idéias e práticas do tipo “tudo é difícil”, “Não consigo mudar nada”;
“Ninguém faz nada por mim” etc.;
pelo contrário: avalia a situação e luta cotidianamente para reverter situações indesejáveis
estabelecendo parcerias e elaborando metas e planos bem definidos;
além de evitar emitir pré-julgamentos negativos sobre outra(s) pessoa(s) quando se sente
prejudicado, procura compreender por que essa(s) pessoa(s) age(m) dessa forma sobre ele;
procura encontrar apoio nos outros, ainda que este apoio seja pequeno. Sentir que alguém
acredita em nós é fundamental em caso de dificuldades pessoais ou profissionais;
procura seu crescimento pessoal em todos os casos apesar das dificuldades, pois este
contribui para não deixar de projetar no presente e no futuro seus desejos individuais e
sociais por uma vida melhor;
YUNES (2001, p. 40), afirma que existem três tipos de fatores de “proteção” que, no nosso
entendimento, podem contribuir para o desenvolvimento dos traços acima citados:
b) laços afetivos dentro da família que oferecem suporte emocional em momentos de estresse,
seja por um dos pais, irmãos, esposo(a) ou companheiro;
c) sistemas de suporte social, seja na escola, no trabalho, na igreja, que propiciam competência
e determinação individual e um sistema de crenças para a vida (Werner & Smith,1989: 80).
Terminamos este trabalho convictos de que a resiliência não deve ser tratada como mera
competência pessoal a ser “treinada” pelo educador, pois além de correr o risco de tornar-se mais
um “modismo” tecnicista, o seu estudo numa perspectiva individual, não possibilitará, também,
Referências Bibliográficas