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Fernando Pessoa

Poesia dos heterónimos


Síntese da
unidade

Encontros – 12.o ano ▪ Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães


Fernando Pessoa | Poesia dos heterónimos: síntese de unidade ● Manual, p. 110

Friso cronológico
IDADE Séc. XV-XVI Séc. XVII Séc. XIX Séc. XX
MÉDIA RENASCIMENTO BARROCO ROMANTISMO REALISMO MODERNISMO

Fernando Pessoa
1888-1935
Fernando Pessoa | Poesia dos heterónimos: síntese de unidade ● Manual, p. 110

O FINGIMENTO ARTÍSTICO
Ortónimo: teorizador do fingimento artístico

O poeta O poeta O poeta da


“bucólico” “clássico” modernidade

Alberto Ricardo Álvaro


Caeiro Reis de Campos

O primado A consciência e Sujeito, consciência


das encenação da e tempo
sensações mortalidade Nostalgia da infância

REFLEXÃO EXISTENCIAL
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Alberto Caeiro
Ricardo Reis
Álvaro de Campos
Linguagem e estilo
Em síntese
Fernando Pessoa | Poesia dos heterónimos: síntese de unidade ● Manual, p. 110

Alberto Temáticas
Caeiro ❶ Mestre de Fernando Pessoa e dos heterónimos
Campos e Reis; é a partir dos seus ensinamentos que
os heterónimos tecem os seus discursos.
❷ Poeta bucólico, estabelece uma ligação com um
tempo anterior, recuperando a unidade perdida com
a natureza e dando atenção à “eterna novidade do
mundo”.
❸ Criador do sensacionismo, é o poeta dos
sentidos, que recusa a intelectualização das
emoções, advogando a primazia das sensações (e em
especial do ver).
❹ Defensor do objetivismo e do concreto, a sua
poesia pode ser entendida como uma interpretação
do mundo em que se opera uma substituição do
pensamento pelas sensações.
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Alberto Linguagem e estilo


Caeiro ❶ Utilização do verso livre, reproduzindo um estilo
coloquial e popular.
❷ Para reproduzir este estilo coloquial, utiliza uma
linguagem simples e aparentemente pobre, com
simetrias, comparações e metáforas pouco
complexas.
❸ Preferência por frases coordenadas em
detrimento de frases subordinadas.

Alguns poemas
• “O luar através dos altos ramos”
• “Sou um guardador de rebanhos”
• “O meu olhar é nítido como um girassol”
• “Como quem num dia de verão abre a porta de casa”
• “Se, depois de eu morrer…”
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• “Quando vier a primavera”
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Ricardo Temáticas
Reis ❶ Advoga a intelectualização das emoções.
Procura uma ordem interior através das correntes
filosóficas clássicas do Estoicismo e do Epicurismo.

❷ Consciente da efemeridade da vida e da


iminência da morte, encena a própria mortalidade.

❸ Canta o regresso do neopaganismo, com a


apropriação do espaço sagrado pelos deuses.

❹ Resvala, num período mais tardio da sua


poética, num niilismo existencial que procura
afastar.
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Ricardo Temáticas
Reis Epicurismo: tem como ideais o Fatalismo (o
poeta conforma-se com a morte inevitável), a
vivência moderada dos prazeres da vida (carpe
diem) e a fuga da dor.

Estoicismo: tem como ideais o domínio das


paixões e a aceitação da ordem natural das
coisas, através da ausência das emoções ou do
excesso por elas suscitado.
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Ricardo Linguagem e estilo


Reis ❶ Uso de formas clássicas, como as odes de tipo horaciano.
❷ Estilo rigoroso, com linguagem elevada e disciplina
métrica e rimática – estrofes regulares (decassílabos
alternados ou não com hexassílabos) em verso branco.
❸ Linguagem de inspiração clássica (léxico e sintaxe
alatinados).
❹ Submissão da forma ao conteúdo (se o pensamento for
elevado, a forma será igualmente elevada).

Alguns poemas
• “Quando, Lídia, vier o nosso outono”
• “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”
• “Prefiro rosas, meu amor, à pátria”
• “As rosas amo dos jardins de Adónis”
• “Antes de nós nos mesmos arvoredos”
• “Ponho na altiva mente o fixo esforço” Voltar
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Álvaro de Temáticas
Campos ❶ O poeta da modernidade –
indisciplinado por natureza, este
heterónimo pessoano é a manifestação do
desejo de cosmopolitismo do Modernismo
português e do Futurismo. Por isso, canta a
modernidade e a máquina. Através de um
canto arrebatado, exalta como matéria
épica a civilização industrial e da técnica, da
força, da violência e do excesso, querendo
“sentir tudo de todas as maneiras”.

Ex.: “Ode triunfal”


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Álvaro de Temáticas
Campos ❷ Depois da fase sensacionista, passa por
uma fase metafísica em que, incapaz de se
deslumbrar pela sensação, sente uma
frustração que lhe provoca as insónias de
ser. É a fase em que revela uma angústia
existencial, o tédio e a fragmentação do
sujeito. Tal como o ortónimo, sente dor de
pensar, angústia pelo tempo que passa e a
nostalgia da infância.
Ex.: “Aniversário”
“Depus a máscara…”
“Na casa defronte de mim e dos meus
sonhos”
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Álvaro de Linguagem e estilo


Campos ❶ Tendência para o
emprego do verso solto.
❷ Vertigem da palavra –
que se traduz numa
gradação da linguagem.
❸ Uso de onomatopeias,
aliterações e outros recursos
fonéticos.
❹ Recurso a grafismos
expressivos e pontuação
emotiva.

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Linguagem Recursos expressivos

e estilo Aliteração Anáfora

Anástrofe Apóstrofe

Enumeração Gradação

Metáfora Personificação

Onomatopeia

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Aliteração
Repetição intencional do mesmo som consonântico em
palavras próximas, conferindo ao texto determinados
efeitos sonoros, rítmicos e de sentido.
A aliteração dos sons “f”, “r” e
“Em febre e olhando os motores “t” realça a robustez , a
[como a uma Natureza energia o vigor que das
[tropical – Grandes trópicos máquinas, sugerindo o ritmo
humanos de ferro e fogo e força” alucinante da sociedade
moderna e acentuando o
Álvaro de Campos, “Ode Triunfal” arrebatamento do canto do
sujeito poético.

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Anáfora
Repetição de uma palavra ou expressão em início de frases ou
versos sucessivos com o objetivo de intensificar a ideia
expressa.
“Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, A anáfora
O que fui de coração e parentesco, (“O que fui”) marca
O que fui de serões de meia-província, remete para o tempo
O que fui de amarem-me e eu ser menino, passado, acentuando a
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje nostalgia da infância e
[sei que fui… a saudade do passado
A que distância!….” longínquo, para sempre
perdido.
Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Anástrofe
Alteração da ordem comum das palavras (ex.: ocorrência
do complemento direto antes do verbo ou do
complemento do nome antes do nome), para criar efeitos
rítmicos, rimáticos e de sentido.

“Prefiro rosas, meu amor, à pátria, As anástrofes colocam em


E antes magnólias amo realce o vocativo “meu amor”
Que a glória e a virtude.” e a expressão “magnólias
amo”, acentuando o tom de
Ricardo Reis conversação e a importância e
o simbolismo das “magnólias”
(mundo natural vs. valores
sociais).

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Apóstrofe
Interpelação de um destinatário, que pode ser (ou não)
humano, real ou fictício, presente ou ausente, através do
vocativo.
A apóstrofe realça o tom
“Quando, Lídia, de conversação com Lídia,
[vier o nosso outono” a figura feminina que se
assume frequentemente
Ricardo Reis como interlocutora e
amada do sujeito poético.

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Enumeração
Apresentação ou listagem sucessiva de elementos
relacionados entre si e, geralmente, da mesma
classe gramatical, de forma a intensificar uma ideia.
A enumeração
“Ó fábricas, ó laboratórios, sugere o fascínio do
[ó music-halls, ó Luna-Parks, sujeito poético
Ó couraçados, ó pontes, perante a sociedade
[ó docas flutuantes –.” moderna, marcando
o seu espírito épico
e o arrebatamento
Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”
do seu canto.

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Gradação
Apresentação de determinadas palavras ou conceitos de
forma crescente ou decrescente.
A gradação sugere a
“Rasgar-me todo, progressiva euforia
[abrir-me completamente, do sujeito poético ao
[tornar-me passento exprimir a sua
A todos os perfumes de óleos […]” pretensão de
sentir tudo, num
misto de volúpia e
Álvaro de Campos, “Ode Triunfal” vertigem.

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Metáfora
Utilização de um termo para designar algo diferente daquilo
que designa habitualmente, a partir de elementos que são
comuns a esse termo e ao que ele refere.
Através da metáfora, o sujeito
“(Pensar é estar doente
poético acentua a recusa do
[dos olhos)” pensar, ato que associa à
incapacidade de fruição do
Alberto Caeiro mundo (realidade exterior)
captado pelos sentidos.

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RECURSOS EXPRESSIVOS

Personificação
Atribuição de características humanas (pensamentos,
sentimentos, ações) a seres inanimados, a animais ou a
entidades abstratas.
O sujeito poético
“Para, meu coração! interpela o seu “coração”,
Não penses! personificando-o e
[Deixa o pensar na cabeça!” acentuando o sofrimento
causado pela consciência e
pela dor de pensar.
Álvaro de Campos

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Fernando
Fernando Pessoa
Pessoa |– Poesia
Poesia dos
dos heterónimos:
heterónimos síntese de unidade ● Manual, p. 110

RECURSOS EXPRESSIVOS

Onomatopeia
Imitação de um som (ruído de um objeto ou de um
fenómeno da natureza, som emitido por um animal…)

“Ó rodas, ó engrenagens, A onomatopeia imita o


[r-r-r-r-r-r-r eterno!” ruído causado pelas
máquinas, acentuando o
Álvaro de Campos, “Ode Triunfal” ritmo, a energia e a força da
civilização industrial.

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Em síntese
O fingimento artístico
– Alberto Caeiro, o poeta “bucólico”
– Ricardo Reis, o poeta “clássico”
– Álvaro de Campos, o poeta da modernidade

Reflexão existencial
– Alberto Caeiro: o primado das sensações
– Ricardo Reis: a consciência e a encenação

da mortalidade
– Álvaro de Campos: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância.

O imaginário épico (Álvaro de Campos)


– matéria épica: a exaltação do Moderno
– o arrebatamento do canto

Linguagem, estilo e estrutura


– formas poéticas e formas estróficas, métrica e rima
– recursos expressivos: aliteração, anáfora, anástrofe, apóstrofe, enumeração, a
gradação, metáfora e personificação
– onomatopeia Voltar

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