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RESPOSTA ÀS DÚVIDAS DE UMA PESSOA QUANTO AOS DIREITOS

AUTORAIS DE OBRAS DISPONÍVEIS PARA DOWNLOAD NA INTERNET

A questão é sobre direitos autorais de obras intelectuais: quadros, músicas, filmes,


softwares e assim por diante. A lei moral garante ao criador de uma obra intelectual o
direito de receber dela os frutos por um determinado tempo.

Na teologia moral houve duas opiniões sobre direitos autorais. A primeira afirmava o
seguinte: o autor de uma obra intelectual é o seu legítimo proprietário; porém, ao torná-
la pública, perde o direito de lucrar com ela. Essa posição baseava-se no fato de que
existe um interesse social nestas obras intelectuais, pois elas estimulam o progresso
cultural. A segunda afirmava o seguinte: o autor tem direito sobre a obra que criou, e,
quando a torna pública, tem também direito de lucrar com ela durante o tempo
estabelecido pela legislação civil. Essa posição decorre da virtude da justiça: ora, se o
autor gasta tempo e talento para criar uma obra intelectual, é justo que receba uma
remuneração por esse trabalho; e a limitação desse direito a um prazo determinado,
assegura o progresso cultural pois, transcorrido o prazo dos direitos autorais, a obra passa
a ser de domínio público.

Essa disputa se estendeu por um bom tempo. Entretanto, após o desenvolvimento


tecnológico, sobretudo nos séculos XIX e XX, surgiram meios de realmente ganhar a
vida produzindo obras intelectuais. Por essa razão, os teólogos morais comumente
admitem hoje que os autores de obras intelectuais podem lucrar com elas pelo tempo que
a legislação civil lhes assegura esse direito.

A lei de direitos autorais assegura ao proprietário os meios legais para lucrar com seu
trabalho intelectual. No entanto, segundo a moral católica, a lei civil está subordinada à
lei natural e recebe dela a sua força: já que, por lei natural, é razoável que a sociedade
seja governada, o governante tem o direito de estabelecer leis justas para o governo da
mesma sociedade. Então, como as leis civis são subordinadas à lei natural, devem os
homens prudentes interpretá-la baseando-se na mesma lei natural, na lei divina e no
Magistério da Igreja. Ex: Pode acontecer de o governante promulgar validamente uma lei
que é injusta, como a lei que obriga os pais a colocarem os filhos em aulas sobre ideologia
de gênero.

Dito isto, podemos concluir: I) quem produz uma obra intelectual tem direito a lucrar com
ela por algum tempo; II) é preciso interpretar prudentemente a lei que estabelece os
direitos autorais, para harmonizá-la com a lei natural e a lei divina.

Como vimos, o que a lei de direito autoral faz é: garantir ao autor o direito de difundir e
lucrar com sua obra. Moralmente falando, esse direito se enquadra no sétimo mandamento
(não furtar); e por essa razão, para resolvermos os casos práticos dessa questão, devemos
nos valer das regras morais sobre o sétimo mandamento.

1. Pode ocorrer que um autor não tenha pretensões financeiras ao criar uma obra
intelectual, como acontece frequentemente com os grandes autores de livros
importantes, ex: os grandes teólogos, filósofos, cientistas, que fazem preciosas
descobertas no campo cultural. Quase sempre o interesse desses autores é o
progresso cultural e a difusão daquela informação. Sendo assim, neste caso
específico não seria pecado contra o sétimo mandamento se alguém, por exemplo,
fizesse uma cópia de tais livros ou adquirisse uma cópia deles, supondo que o
autor não se importaria — o que na verdade não configura um subjetivismo moral,
porque é muito comum o desinteresse monetário de tais autores, que não
considerariam esse tipo de conduta como um furto. Nesse caso não seria pecado
adquirir uma cópia do livro.

2. E o que dizer de um autor de livros fúteis, sem nenhuma relevância cultural, como
vários dos best-sellers modernos? Bom, nesse caso os autores geralmente
procuram o lucro, não o avanço cultural. Por isso, é muito provável pensar que
tais autores se sentiriam furtados caso alguém fotocopiasse seus livros. Neste
caso, seria pecado adquirir uma cópia do livro.

3. Sobre o download de softwares. Os fabricantes desses softwares geralmente


esperam lucrar de empresas menores que compram os programas para uso
comercial. Tanto é assim que muitos desses fabricantes têm versões gratuitas dos
softwares para uso de pessoas comuns, como é o caso do Office por exemplo.
Nesse caso, ainda que o fabricante tenha recebido da lei de direitos autorais os
meios legais para controlar o uso do produto, ele dá a entender que não pretende
exercer rigorosamente esse seu direito, pois permite que muitos usem seus
programas gratuitamente.

Isso acontece não somente por questões financeiras (pois os fabricantes sabem
que quase todo seu lucro advém das empresas menores), mas por questões
econômicas: empresas como a Microsoft sabem que possuem hegemonia em
certas áreas da computação e não querem perdê-la, e por isso permitem que o
indivíduo use seus produtos em versões gratuitas.

Aplicação:
i) Se houver uma versão gratuita do software, obviamente não é pecado
baixá-la;
ii) Se não houver uma versão gratuita do software, não é pecado baixar uma
versão antiga;
iii) Se não houver uma versão gratuita nem uma versão antiga, é necessário
comprar o software;
iv) Se uma pessoa tivesse real necessidade daquele software para fazer
alguma boa ação, mas não tivesse condições de comprá-lo, não seria
pecado contra o sétimo mandamento se ela baixasse a versão atual com a
intenção de comprá-la assim que pudesse.

4. Sobre o download de jogos de computador. Nesse caso, as fabricantes esperam


lucrar dos indivíduos, indicando com isso que pretendem exercer totalmente os
direitos autorais que a lei assegura. Por essa razão, adquirir ilicitamente um jogo
desses seria pecado contra o sétimo mandamento, pois neste caso a fabricante
considerar-se-ia furtada pelo indivíduo.

O melhor é sempre comprar os produtos que se deseja utilizar. Alguns consideram isso
uma atitude escrupulosa, alegando que na internet tudo está disponível. Contudo, a
legislação garante o direito de lucrar com uma obra intelectual durante um tempo
determinado, e a teologia moral reconhece a validade desse direito.
Uma boa pergunta a se fazer é: — Será que eu realmente preciso desse software ou desse
produto? Em boa parte das vezes a resposta será: — Não. Eu posso ficar sem isso! Com
essa breve reflexão, diminuirá muito o número de produtos que julgamos “necessários”,
e nos sobrará dinheiro suficiente para comprar os que realmente o são.

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