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Eqt10dp Questaula 42 91000161 01000
Eqt10dp Questaula 42 91000161 01000
º ano
B. das conclusões.
C. das premissas.
D. das proposições.
B. a conclusão falsa.
3. Como é que as mulheres conquistaram os direitos que têm? Sem dúvida que foi através da
luta ativa, pois foi através da luta ativa que conquistaram o direito de voto, foi através da luta
ativa que conquistaram o direito à igualdade de oportunidades no emprego, e também foi
através da luta ativa que conquistaram o direito de frequentar o ensino superior.
Qual é a conclusão deste argumento?
A. Foi através da luta ativa que as mulheres conquistaram o direito de voto.
C. Foi através da luta ativa que as mulheres conquistaram o direito de frequentar o ensino
superior.
D. Foi através da luta ativa que as mulheres conquistaram os direitos que têm.
6. Há quem diga que a astrologia é uma ciência e há quem diga que não. A verdade é que a
astrologia não é uma ciência, porque, se fosse uma ciência, as teorias dos astrólogos seriam
submetidas a testes. Mas as teorias dos astrólogos não são submetidas a testes.
Qual é a conclusão deste argumento?
A. Há quem diga que a astrologia é uma ciência e há quem diga que não.
B. A astrologia não é uma ciência.
C. As teorias dos astrólogos não são submetidas a testes.
D. Se a astrologia fosse uma ciência, as teorias dos astrólogos seriam submetidas a testes.
10. Os filósofos querem saber se o conhecimento é possível, porque procuram o conhecimento, e quem
procura o conhecimento quer saber se o conhecimento é possível.
O argumento anterior é:
A. válido, porque as premissas são verificáveis.
13. Os filósofos querem ser justos, pois são pessoas bondosas, e todas as pessoas bondosas
querem ser justas.
O argumento anterior é válido, porque:
A. a verdade das premissas implica a verdade da conclusão.
B. a conclusão é verificável.
16. No argumento «Miguel é médico e, por isso, Miguel tem formação universitária», a
premissa omitida é:
A. «Os indivíduos com formação superior são médicos».
19. Cada pessoa tem a sua opinião, como se vê nos debates televisivos, em que nunca se chega
a um acordo. Por isso, não podemos negar que a verdade é relativa, pois haveria consenso
entre as pessoas se a verdade fosse absoluta.
O texto anterior exprime um argumento cujas premissas são:
A. Se a verdade fosse absoluta, haveria consenso entre as pessoas; não há consenso entre
as pessoas.
B. Cada pessoa tem a sua opinião, como se vê nos debates; não podemos negar que a
verdade é relativa.
C. Quando discutem, as pessoas deveriam chegar a um acordo; não devemos procurar uma
verdade absoluta.
D. Os debates televisivos são inúteis, porque não se chega a um consenso; a verdade não é
absoluta.
21. Os argumentos:
A. são verdadeiros ou falsos; não são válidos nem inválidos.
B. não são verdadeiros nem falsos; não são válidos nem inválidos.
1. A ciência está na base das tecnologias que mudaram as nossas vidas. Por conseguinte, para que o
avanço tecnológico não abrande, os investimentos em ciência não devem ser reduzidos.
2. Após a Segunda Guerra Mundial, importava assegurar a recuperação económica dos países
europeus envolvidos. Além disso, os líderes das principais nações europeias pretendiam impedir
um novo conflito armado. Foi esta dupla ambição que esteve na origem da União Europeia.
27. Será que os computadores pensam? Há quem considere que sim, mas eu considero que não,
pois pensar é bastante mais do que processar informação, e os computadores apenas se
limitam a processar informação.
Quem argumenta deste modo conclui que:
A. talvez os computadores pensem.
Alguns futebolistas ganham muito dinheiro. Outros, porém, ganham pouco. No entanto, o futebol é um
desporto bastante igualitário. Se o compararmos com a natação, o basquetebol ou o râguebi,
percebemos porquê. Qualquer um pode jogar futebol, mas, para jogar basquetebol ou râguebi, poucos
atletas são suficientemente altos ou musculosos. E pode-se jogar futebol em qualquer lugar, desde
que alguém tenha uma bola, ao passo que a natação exige instalações desportivas muito
dispendiosas. Na verdade, só um grande investimento permite dispor de uma piscina.
A conclusão do argumento é:
A. «só um grande investimento permite dispor de uma piscina».
As leis devem escolher, do conjunto das regras éticas, aquelas cujo incumprimento, pela sua
gravidade e importância para a vida das pessoas, merece uma sanção social. (...)
O ato não é mau porque é proibido, mas é proibido porque é mau!
A. P. Barbas Homem, O que é o Direito?, Estoril, Principia, 2001, pp. 38-39 (adaptado).
30. O argumento «Alguns minhotos são portugueses; portanto, alguns portugueses são
minhotos» é…
A. válido, porque a conclusão se segue da premissa.
31. A proposição «os gatos têm asas» não pode fazer parte de um argumento…
A. não sólido.
B. inválido.
C. sólido.
D. válido.
33. O Estado deve financiar diretamente as pessoas com deficiência para que tenham uma vida
independente. Porém, o Estado tem optado por financiar instituições que apoiam essas
pessoas; só que, assim, o Estado acaba por gastar mais do que gastaria se financiasse
diretamente as pessoas com deficiência que querem ter uma vida independente. Mas, mais
importante ainda do que as questões financeiras, é a razão moral de que ter uma vida
independente é um bem.
As premissas deste argumento são as seguintes:
A. ter uma vida independente é um bem; o Estado deve financiar diretamente as pessoas com
deficiência para que elas tenham uma vida independente.
B. o Estado tem errado ao contrariar o que é desejável; o Estado tem financiado inutilmente
instituições que apoiam pessoas com deficiência.
C. ter uma vida independente é um bem; o Estado gastaria menos se financiasse diretamente
as pessoas com deficiência que querem ter uma vida independente.
D. o Estado tem errado ao contrariar o que é desejável; o Estado deve financiar diretamente as
pessoas com deficiência para que elas tenham uma vida independente.
Tal como os estudos experimentais mostraram, (...) fazemos o que fazemos por causa do que
aconteceu (...). Infelizmente, o que aconteceu deixa poucas pistas observáveis, e os motivos para
fazermos o que fazemos (...) ultrapassam, assim, largamente o alcance da autoanálise.
Talvez seja por isso (...) que o comportamento tem sido tão frequentemente atribuído a um ato de
vontade que o desencadeia, produz ou cria.
B. F. Skinner, Recent Issues in the Analysis of Behavior, Columbus, Merrill Publishing Company, 1989, p. 15 (adaptado).
37. «Algumas bicicletas não são veículos com duas rodas» é expressão canónica de:
A. Algumas bicicletas têm mais do que duas rodas.
38. Considere o argumento seguinte: «O dalai-lama é uma pessoa bondosa; por isso, rejeita
a violência.»
Que premissa deve ser introduzida no argumento para o tornar válido?
A. «O dalai-lama não é uma pessoa violenta».
39. Nas últimas décadas, os carros tornaram-se maiores e é mais difícil estacioná-los. Por isso, os
lugares de estacionamento devem passar a ser maiores. É um facto que precisamos de
cidades com mais espaços verdes e menor área de estacionamento, mas seria absurdo as
pessoas não terem onde deixar os seus carros.
A conclusão deste argumento é:
A. «seria absurdo as pessoas não terem onde deixar os seus carros.»
40. Alguns cozinheiros premiados são portugueses. Logo, alguns portugueses são cozinheiros
premiados.
Para determinar a validade do argumento anterior:
A. apenas é preciso apurar se a conclusão e a premissa são verdades conhecidas.
B. apenas é preciso verificar se a conclusão pode ser falsa, caso a premissa seja verdadeira.
42. A frase «na manhã do dia 15 de janeiro de 1770, o Marquês de Pombal, em vez de tratar
de assuntos políticos, deixou-se ficar na cama a beber chocolate e a ler poesia»:
A. não exprime uma proposição, porque não sabemos se é verdadeira ou falsa.
B. exprime uma proposição, ainda que não seja verdadeira nem falsa.
C. exprime uma proposição, ainda que ignoremos qual é o seu valor de verdade.
O direito à vida implica o direito a prolongar a vida através do acesso aos melhores cuidados médicos
disponíveis. Assim, numa sociedade justa, se todos têm igual direito à vida, então todos têm igual
direito a prolongar a vida através do acesso aos melhores cuidados médicos disponíveis. Por
conseguinte, numa sociedade justa, não é aceitável que o acesso aos melhores cuidados médicos
disponíveis dependa do poder económico dos indivíduos ou das suas famílias. Em contrapartida,
numa sociedade injusta, impera literalmente o princípio do «salve-se quem puder».
De acordo com a lei portuguesa, um peão pode ser multado por atravessar uma via urbana fora das
passadeiras. Isso significa que as pessoas que se deslocam a pé devem procurar passadeiras para
atravessarem a rua. Deste modo, para que os condutores de automóveis possam circular
despreocupadamente a maior velocidade, as pessoas que se deslocam a pé são obrigadas a fazer
trajetos mais longos. Tal desigualdade é injusta e só pode ser corrigida por uma alteração da lei.
B. os peões são obrigados a fazer trajetos mais longos para utilizarem as passadeiras.
46. As frases «António Costa era primeiro-ministro de Portugal em 2018» e «Em 2018,
Portugal tinha como primeiro-ministro António Costa»
A. representam duas proposições verdadeiras.
48. Durante muito tempo, a combustão foi explicada com base numa substância – o flogisto
– que se supunha existir. Mas a investigação mostrou que, afinal, essa substância não
existia. Isto significa que argumentos que se apoiassem na existência do flogisto não
poderiam ser sólidos, porque:
A. uma das suas premissas não tinha justificação.
B. da inferência.
C. do termo.
D. da conclusão.
B. as conclusões da inferência.
52. No argumento «Mentir é agir de uma forma moralmente errada. Logo, falsificar a
declaração de rendimentos é agir de uma forma moralmente errada», a premissa
subentendida é:
A. «enganar as Finanças é moralmente errado».
Tendo em conta as questões ambientais, será razoável adiar o investimento em comboios de alta
velocidade? As viagens de comboio elétrico têm uma menor pegada carbónica do que as viagens de
avião. Mas as viagens de comboio só atraem passageiros se forem muito rápidas. Ora, a rapidez
destas viagens consegue-se com estações ferroviárias centrais e comboios de alta velocidade.
Selecione a opção que apresenta a principal tese defendida por quem profere o discurso
anterior.
A. As viagens de comboio têm a menor pegada carbónica.
56. A clonagem humana reprodutiva é uma tecnologia que pode ser objeto de debate
filosófico, na medida em que se procura:
A. saber o que a maioria das pessoas informadas pensa sobre o assunto.
57. Nos argumentos que são válidos, mas que não são sólidos:
A. a conclusão não se segue das premissas.
Outras questões
7. O Carlos encontrou a Diana numa esplanada sobre o rio Guadiana. A Diana disse-lhe:
‒ Gosto de rios, mas também gosto de lagos rodeados de montanhas.
O Carlos acrescentou:
‒ Nesse caso, gostas de alguns lagos suíços, pois na Suíça há lagos rodeados de montanhas.
Qual dos dois tipos de argumentos – dedutivo ou não dedutivo – usou o Carlos para
concluir que a Diana gosta de alguns lagos suíços? Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Indicação do tipo de argumento que o Carlos usou para concluir que a Diana gosta de alguns
lagos suíços:
‒ (argumento) dedutivo.
Justificação:
‒ num argumento dedutivo/dedutivamente válido, a conclusão é uma consequência lógica das
premissas / é impossível a conclusão ser falsa caso as premissas sejam todas verdadeiras;
‒ se for verdade que, na Suíça, há lagos rodeados de montanhas e que a Diana gosta de
lagos rodeados de montanhas, então tem de ser verdade que a Diana gosta de alguns lagos
suíços.
Caso discordasse desta afirmação, teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação
egoísta?
Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Indicação solicitada:
‒ não, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justificação:
‒ quem considera que é falsa a proposição de que todos os atos têm uma motivação egoísta
apenas tem de mostrar que, pelo menos, um ato não tem (OU alguns atos não têm) uma
motivação egoísta;
‒ o objeto da discórdia não é a existência de atos com uma motivação egoísta, mas a ideia de
que todos os atos tenham uma motivação egoísta.
OU
‒ a falsidade da proposição «Todos os atos têm uma motivação egoísta» não implica a
verdade da proposição «Nenhum ato tem uma motivação egoísta», pois ambas podem ser
falsas;
‒ para mostrar que é falso que todos os atos têm uma motivação egoísta, bastaria apresentar
um exemplo de um ato que não tivesse uma motivação egoísta, pois, caso seja verdade que
«Alguns atos não têm uma motivação egoísta», então é falso que «Todos os atos têm uma
motivação egoísta».
B. inválido, pois existe a possibilidade de tanto as premissas como a conclusão serem falsas.
B. P \ (Q Ù R)
C. P → (Q Ù R)
D. P → (Q Ú R)
6. Qual das seguintes formas proposicionais representará uma proposição falsa, caso
tanto P como Q representem proposições verdadeiras?
A. P Ú Q
B. P ↔ Q
C. P → Q
D. (P Ù Q)
Se a alma for eterna, vale a pena sermos bons. Ora, a alma não é eterna. Portanto, não vale a pena
sermos bons.
Outras questões
A arte é imitação ou é expressão de sentimentos. Ora, a arte não é imitação. Daí que seja expressão
de sentimentos.
P = A arte é imitação.
Q = A arte é expressão de sentimentos.
PÚQ
¬P
\Q
A → B
B
\ A
A B A → B, B \ A
V V F F F F
V F V V V F
F V V F F V
F F V V V V
AÚB
B
\A
A B A Ú B, B \ A
V V V F F
V F V V F
F V V F V
F F F V V
A B [(A Ú B) Ù B] → A
V V V F F V F
V F V V V F F
F V V F F V V
F F F F V V V
(C Ù B) → A
Traduz corretamente a fórmula em linguagem natural: «Se tirar a vida não é moralmente
aceitável e a punição tem como objetivo a reabilitação, então a pena de morte não é
moralmente aceitável».
6. Admitindo que uma conjunção é falsa, será possível determinar o valor de verdade da
disjunção composta pelas mesmas proposições simples? Justifique.
– Afirma que é impossível determinar o valor de verdade da disjunção.
– Justifica, referindo que, se uma conjunção é falsa, então, ou as duas conjuntas são falsas e,
nesse caso, a disjunção é falsa, ou uma delas é falsa e, nesse caso, a disjunção é
verdadeira.
P = Deus existe.
Q = A vida tem sentido.
R = A vida vale a pena ser vivida.
Traduz corretamente a fórmula em linguagem natural: «Se Deus não existe, então não é
verdade que a vida tenha sentido e que valha a pena ser vivida».
8. Admitindo que uma condicional é falsa, qual é o valor de verdade de uma conjunção
composta pelas mesmas proposições simples? Justifique.
– Explica que, se uma condicional é falsa, então a sua antecedente é verdadeira e a sua
consequente é falsa.
– Conclui que uma conjunção formada por estas duas proposições é falsa.
Se o António é um intelectual português contemporâneo, então leu Eduardo Lourenço e leu José Gil.
O António não leu Eduardo Lourenço nem José Gil. Logo, o António não é um intelectual português
contemporâneo.
Dicionário
P = António é um intelectual português contemporâneo.
Q = António leu Eduardo Lourenço.
R = António leu José Gil.
Exemplos de simbolização
P → (Q Ù R)
Q Ù R
\ P
Ou
P → (Q Ù R)
Q Ù R
P
– apresentação de uma tabela estruturalmente correta e coerente com a formalização do
argumento anteriormente apresentado;
Exemplo
P Q R P → (Q Ù R) Q Ù R P
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F
P Q R P → (Q Ù R) Q Ù R P
V V V V V F F F F
V V F F F F F V F
V F V F F V F F F
V F F F F V V V F
F V V V V F F F V
F V F V F F F V V
F F V V F V F F V
F F F V F V V V V
10. Teste a validade do seguinte argumento, aplicando o método das tabelas de verdade ou
outro método.
Se Cícero é um orador persuasivo, então utiliza um discurso sedutor e cativa o auditório. Cícero é um
orador persuasivo. Logo, Cícero cativa o auditório.
11. Teste a validade do seguinte argumento, aplicando o método das tabelas de verdade ou
outro método.
Emanuel orienta o seu comportamento tendo em conta os seus deveres ou orienta o seu
comportamento prevendo as consequências das suas ações. Se Emanuel orienta o seu
comportamento prevendo as consequências das suas ações, é omnisciente. Mas Emanuel não é
omnisciente. Logo, Emanuel orienta o seu comportamento tendo em conta os seus deveres.
Se os cientistas não criarem novas teorias e não criarem novos modelos de explicação da vida, então
não poderemos provar que há vida em Marte.
(P Ù Q) → Q
Q
\PÙQ
P Q (P Ù Q) → Q Q \PÙQ
V V V V V V
V F F V F F
F V F V V F
F F F V F F
(P Ù Q) → R
Se Espinosa tem razão, então tudo está determinado ou não há livre-arbítrio. Ora, Espinosa tem
razão.
17. Admitindo que a proposição «A Joana está sentada» é verdadeira, será possível
determinar o valor de verdade da proposição seguinte?
P → Q
\ Q → P
P: A ciência é racional.
Q: O erro é uma fonte de aprendizagem.
21. Construa uma inferência válida que tenha como única premissa Se Descartes é
racionalista, então é alemão.
Use uma das formas de inferência válida estudadas.
Identifique a forma de inferência válida aplicada.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Apresentação da inferência válida:
Se Descartes é racionalista, então é alemão.
Logo, se Descartes não é alemão, então não é racionalista.
Identificação da forma de inferência válida aplicada:
– contraposição.
22. Traduza as fórmulas seguintes para a linguagem natural, com base no dicionário
apresentado.
a) Q → P
b) P Ù Q
Dicionário:
P: A Sandra tem bons hábitos alimentares.
Q: A Sandra come legumes com regularidade.
24. Construa um argumento, com a forma modus ponens, cuja conclusão seja «O Luís vai
ao cinema».
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Construção de um argumento, com a forma modus ponens, cuja conclusão é «O Luís vai ao
cinema».
Exemplo:
Se o Luís quer ver um filme, então o Luís vai ao cinema.
O Luís quer ver um filme.
Logo, o Luís vai ao cinema.
26. Identifique a falácia que ocorre na inferência seguinte. Justifique a identificação feita.
Se vive no Funchal, o Luís não vive no continente. Ora, ele não vive no Funchal. Portanto, vive no
continente.
Dicionário:
P: Os jornalistas são precipitados.
Q: As notícias são rigorosas.
28. Considere que R e S representam duas proposições. Sabendo que R é falsa e que R Ú S
é verdadeira, determine o valor de verdade de S. Justifique a sua resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Determinação do valor de verdade de S:
– (nas condições dadas,) S é verdadeira.
Justificação:
– uma disjunção é verdadeira quando pelo menos uma das proposições disjuntas é verdadeira
(ou uma disjunção é falsa apenas quando ambas as proposições disjuntas são falsas);
– como R é falsa, S tem de ser verdadeira, para que R Ú S seja verdadeira (ou como R é
falsa, se S fosse falsa, R Ú S seria falsa); logo, S tem de ser verdadeira.
Se Cristiano Ronaldo ganhar quatro Botas de Ouro ou três Ligas dos Campeões, ficará na história do
desporto.
Dicionário:
P: Cristiano Ronaldo ganha quatro Botas de Ouro.
Q: Cristiano Ronaldo ganha três Ligas dos Campeões.
R: Cristiano Ronaldo fica na história do desporto.
31. Mostre que a forma argumentativa seguinte é inválida, recorrendo ao método das
tabelas de verdade.
AÚB
A
\ B
A B AÚB A B
V V V V F
V F V V V
F V V F F
F F F F V
Interpretação da tabela:
‒ na linha da tabela assinalada (a sombreado), as premissas são todas verdadeiras e a
conclusão é falsa;
‒ uma forma argumentativa é inválida quando existe a possibilidade de as premissas serem
todas verdadeiras e a conclusão ser falsa.
33. O que se segue da afirmação dada, aplicando uma das leis de De Morgan?
Apresentação da conclusão:
– Hume não é inglês nem irlandês.
OU
Hume não é inglês e (Hume) não é irlandês.
34. Sabendo que C é uma proposição verdadeira, determine o valor de verdade de uma
proposição com a forma A → (B Ú C). Justifique a sua resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Determinação do valor de verdade de uma proposição com a forma dada:
– A → (B Ú C) é verdadeira.
Justificação:
– se C representa uma proposição verdadeira, então (B Ú C) é verdadeira, pois a disjunção é
verdadeira se pelo menos uma das disjuntas é verdadeira;
– se (B Ú C) representa uma proposição verdadeira, então A → (B Ú C) é verdadeira, pois a
condicional é verdadeira se a consequente é verdadeira.
Se D. Dinis escreveu O Leal Conselheiro, então foi um rei amante das letras.
D. Dinis não escreveu O Leal Conselheiro.
Logo, D. Dinis não foi um rei amante das letras.
Justificação da resposta:
– esta falácia ocorre quando, a partir de uma condicional (no argumento dado, «Se D. Dinis
escreveu O Leal Conselheiro, então foi um rei amante das letras») e da negação da sua
antecedente (no argumento dado, «D. Dinis não escreveu O Leal Conselheiro»), se
pretende inferir a negação da sua consequente (no argumento dado, «D. Dinis não foi um rei
amante das letras»).
– a partir de uma condicional e da negação da sua antecedente, não é possível inferir a
negação da sua consequente, pois não é impossível que uma condicional seja verdadeira e
tenha antecedente falsa e consequente verdadeira.
OU
A (forma da) inferência é inválida, porque é possível que as duas premissas da inferência
sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa; assim, é possível que D. Dinis não tenha escrito O
Leal Conselheiro, mas que tenha sido um rei amante
das letras.
OU
A (forma da) inferência é inválida, porque é possível que as duas premissas da inferência
sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa, como se pode verificar na seguinte tabela de
verdade.
P Q P→Q P Q
V V V F F
V F F F V
F V V V F
F F V V V
Dicionário
P – Marcelo Rebelo de Sousa é professor de Direito.
Q – Marcelo Rebelo de Sousa é professor de Economia.
R – Marcelo Rebelo de Sousa é presidente da República Portuguesa.
Se J. K. Rowling deseja ocupar um lugar de destaque entre os escritores britânicos, então tem
ambição literária. Mas J. K. Rowling não deseja ocupar um lugar de destaque entre os escritores
britânicos. Isso mostra que J. K. Rowling não tem ambição literária.
39. Considere que a proposição seguinte é a conclusão de uma inferência com uma única
premissa.
Escreva a premissa que, mediante a aplicação de uma das formas de inferência válida
estudadas, permite obter a conclusão apresentada.
Na sua resposta, identifique a forma de inferência válida aplicada.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Apresentação da premissa que permite obter a conclusão dada:
‒ Se Joana Schenker não treina intensamente, então não é campeã mundial de bodyboard.
Identificação da forma de inferência válida aplicada:
‒ Contraposição.
40. No texto seguinte, encontra-se um argumento que tem uma das formas lógicas válidas
estudadas.
Tomé da Fonseca, um velho general reformado, revive com frequência a atividade militar. À sua
maneira, foi desde a infância uma pessoa sociável e enérgica, e o universo militar sempre lhe deu
muito prazer. Ora, o velho general não revive com frequência a atividade militar se não jogar muitas
vezes jogos de estratégia. Portanto, Tomé da Fonseca joga muitas vezes jogos de estratégia.
Não é só porque Ricardo Pacheco joga em equipas estrangeiras ou ganha muito dinheiro que é um
grande jogador; é também porque, se ganha muito dinheiro, então é um grande jogador.
Teste a validade do argumento apresentado, recorrendo ao método das tabelas de verdade.
P Q R PÚQ Q→R \R
V V V V V V
V V F V F F
V F V V V V
V F F V V F
F V V V V V
F V F V F F
F F V F V V
F F F F V F
A Maria aproveita as férias grandes para trabalhar como nadadora-salvadora ou para trabalhar como
monitora num campo de férias. Logo, a Maria aproveita as férias para trabalhar como nadadora-
-salvadora.
Introduza uma nova premissa no argumento, de modo a obter um argumento com uma
das formas válidas estudadas. Identifique essa forma de inferência válida.
Apresentação de uma outra premissa, de modo a obter uma das formas válidas estudadas:
‒ A Maria não aproveita as férias para trabalhar como monitora num campo de férias.
Identificação da forma de inferência válida do argumento:
‒ silogismo disjuntivo.
Caronte não é um satélite natural de Plutão, pois é falso que Caronte orbite em torno de Plutão, e
orbitaria em torno de Plutão se fosse um satélite natural de Plutão.
Não é verdade que a Luísa tenha estudado turismo e teatro. Por conseguinte, a Luísa estudou turismo
ou teatro.
Formalização do argumento:
Dicionário:
P: A Luísa estudou turismo.
Q: A Luísa estudou teatro.
Formalização:
(P Ù Q)
\PÚQ
47. Que proposição se pode inferir validamente das duas proposições seguintes, usando
uma das regras de inferência estudadas?
48. Teste a validade do seguinte argumento, aplicando o método das tabelas de verdade.
P Q PÚQ Q → P P Q
V V
V F
F V
F F
P Q PÚQ Q → P P Q
V V V F F V F
V F V V F V V
F V V V V F F
F F F V V F V
B ? A
A→B
\B
A B B ? A A→B B
V V F V V
V F F F F
F V V V V
F F F V F
Utilizando uma das regras de inferência estudadas e, em conformidade com essa regra,
introduzindo uma segunda premissa, o argumento anterior torna-se válido.
Escreva a premissa que torna o argumento válido e a regra de inferência usada.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Identificação da premissa e da regra de inferência usada:
‒ (premissa) O Manuel perde o último comboio do dia;
‒ (regra de inferência) Modus ponens.
Dicionário
P: Stuart Mill é liberal.
Q: Stuart Mill é socialista.
2. Nietzsche enlouqueceu. Portanto, penso que não deveríamos estudar as ideias dele nas aulas
de Filosofia.
O orador que apresenta este argumento incorre numa falácia informal, porque:
A. a loucura de Nietzsche contribuiu para a projeção da sua filosofia.
B. pessoalmente inatacável.
5. Ou reconheces que todos temos um destino, que explica o que nos sucede, ou defendes que a
vida de cada pessoa é apenas fruto dos jogos do acaso. Ora, dado que é inconcebível que a
nossa vida seja obra do acaso, resta-te aceitar que existe um destino que nos comanda.
Quem apresenta o argumento anterior incorre na falácia:
A. ad hominem.
B. apelo à força.
C. post hoc.
D. falso dilema.
D. fingir que hesita entre opções possíveis, apesar de não se sentir hesitante.
B. falso dilema.
C. petição de princípio.
D. apelo à ignorância.
10. É impossível provar que os animais têm consciência. Portanto, temos de admitir que não têm.
O argumento anterior é:
A. dedutivamente válido.
B. indutivamente forte.
D. um caso de derrapagem.
11. Ou o bombeiro que arriscou a vida para salvar a criança presa no incêndio não se deu
conta de que ele próprio estava a correr perigo, ou a criança era da sua família.
Argumentar a partir da premissa anterior é incorrer na falácia seguinte.
A. Petição de princípio.
B. Boneco de palha.
C. Derrapagem.
D. Falso dilema.
B. A testemunha não se exprime claramente, pois não se compreende bem o que diz.
C. Não interessa o que a testemunha diz, pois não passa de uma pessoa vaidosa.
D. Não interessa o que a testemunha diz a favor do acusado, pois ela é mulher dele.
13. Os tubarões vivem no mar como as sardinhas. Ora, as sardinhas são peixes. Portanto, os
tubarões também são peixes.
Quem apresenta este argumento está a recorrer a:
A. um mau argumento por analogia.
C. uma má generalização.
14. É errado contar histórias de fantasmas às crianças, pois fazê-lo não é correto.
Argumentar desta maneira é incorrer na falácia:
A. da derrapagem.
B. do boneco de palha.
C. da petição de princípio.
D. do falso dilema.
B. Enquanto não me mostrares que és mais inteligente do que eu, concluo que és menos.
C. Se uma pessoa não apresentar provas do que diz, mostra desse modo que é ignorante.
D. Se uma pessoa é ignorante acerca de um dado assunto, não deve falar desse assunto.
17. Se a família Torres deixar o prédio, toda a gente se vai embora. Com este prédio ao
abandono, em breve o bairro vai ficar deserto. Depois, toda esta zona da cidade acabará
fatalmente por morrer. Logo, só nos resta convencer a família Torres a ficar.
Este argumento é um caso de:
A. falso dilema.
B. apelo à ignorância.
C. petição de princípio.
D. falácia da derrapagem.
18. Dizes que os animais não têm direitos, porque és uma pessoa má e insensível que nunca teve
animais de estimação e para quem o sofrimento dos outros seres vivos não tem qualquer
significado.
O orador que argumentasse desta maneira estaria a incorrer na falácia:
A. ad hominem.
B. da derrapagem.
C. do apelo à ignorância.
D. da petição de princípio.
19. Segundo a UNICEF, devido à epidemia de ébola que, em 2014, atingiu o continente africano,
4000 crianças perderam ambos os pais e 13 000 crianças perderam um dos pais. Portanto, a
epidemia de ébola causou 17 000 órfãos em África.
O argumento anterior é:
A. uma indução a partir de uma amostra representativa.
23. Sir Peter Medawar, que recebeu o Prémio Nobel da Medicina pelas suas importantes
descobertas no campo da imunologia, apoiou a perspetiva de Popper sobre a ciência. Logo, a
perspetiva de Popper sobre a ciência é verdadeira.
O argumento anterior constitui:
A. um bom argumento de autoridade.
24. Se for permitido fazer um referendo para saber se os habitantes da Catalunha querem
continuar integrados em Espanha, então cada cidade da Catalunha deve igualmente ter um
referendo para saber se os seus habitantes querem pertencer à Catalunha, e assim
sucessivamente, até fazer referendos para saber se os habitantes de cada rua querem
continuar na freguesia a que pertencem.
O orador que apresenta o argumento anterior incorre na falácia:
A. da derrapagem.
B. do falso dilema.
C. do apelo à ignorância.
D. ad hominem.
25. Admitindo que um argumento indutivo tem como conclusão bastante provável que o
próximo desfile de Carnaval em Torres Vedras será animado, a premissa desse argumento
seria:
A. os desfiles de Carnaval em Torres Vedras foram sempre animados.
26. Retirar das escolas e dos hospitais públicos todos os símbolos religiosos é inaceitável, pois
isso é o mesmo que impor o ateísmo.
O orador que apresentasse o argumento anterior incorreria na falácia:
A. do boneco de palha.
B. da petição de princípio.
C. do apelo à ignorância.
D. ad hominem.
27. O orador que apresenta o argumento «Não há provas de que Deus não exista; portanto,
Deus existe» incorre na mesma falácia em que incorre aquele que apresenta o
argumento seguinte.
A. Deus existe, porque temos provas de que existe.
29. Perante o terrorismo, temos de escolher se prescindimos das liberdades civis para termos a
segurança que queremos dar às nossas famílias, ou se sacrificamos a segurança das nossas
famílias para mantermos todas as liberdades. Ora, para quem é pai, a escolha não é difícil,
pois a família está sempre em primeiro lugar.
Este é um argumento:
A. válido, pois segurança e liberdade são, por definição, valores incompatíveis.
30. Suponha que alguém, com a intenção de defender que a teoria evolucionista está
errada, argumenta do seguinte modo:
Os evolucionistas enganam-se quando defendem que a espécie humana evoluiu a partir de outras
espécies, nomeadamente dos macacos, pois isso seria dizer que os nossos avós são macacos. Mas
nos nossos retratos de família não há macacos.
B. ad hominem.
C. do apelo à ignorância.
D. do falso dilema.
31. Os milagres não existem, pois não há suspensões temporárias das leis da natureza por
intervenção divina.
Quem apresenta o argumento anterior:
A. não incorre numa falácia, porque a existência de milagres é uma crença de senso comum, e
as leis da natureza são estudadas por cientistas.
B. não incorre numa falácia, porque a aceitação da premissa por parte do interlocutor, quer
seja crente quer não, o conduz inevitavelmente à aceitação da conclusão.
C. incorre na falácia da petição de princípio, porque os milagres podem ser definidos como
suspensões temporárias das leis da natureza por intervenção divina.
D. incorre na falácia do falso dilema, porque apenas admite duas alternativas: não haver
milagres ou haver suspensões temporárias das leis da natureza.
Dizem que o povo dinamarquês é o mais feliz do mundo. Mas é um abuso fazer tal afirmação sem
provas. Na minha opinião, o povo dinamarquês não é o mais feliz do mundo, uma vez que não me
apresentam provas de que o seja.
B. a petição de princípio.
De um lado, temos aqueles que se limitam à leitura de informação instantânea na Internet e que têm
dos acontecimentos uma visão perigosamente superficial. Do outro, temos aqueles que leem os
clássicos e que adquirem uma grande profundidade na análise dos acontecimentos.
D. um boneco de palha.
Os enormes custos ecológicos do transporte aéreo deveriam ser integrados nos bilhetes de avião, pois
essa é a única coisa sensata a fazer.
D. não incorre numa falácia, porque dá razões, em vez de procurar explorar as emoções do
auditório.
José – Ultimamente, já não se pode estar sossegado num jardim, a descansar ou a ler.
Maria – Porquê, José?
José – Porque agora há sempre alguém por perto a fazer exercício físico.
Maria – Bem, José, quem se incomoda com o exercício físico é contra a prática desportiva. Eu não
sabia que eras contra a prática desportiva.
36. Infelizmente, há países que ainda têm pena de morte. Ora, a pena de morte é um ataque à
inviolabilidade da vida humana. Uma vez sacrificado o mais sagrado dos direitos humanos, a
sociedade acabará por aceitar sacrificar todos os direitos, desde a liberdade de expressão até
ao direito à educação.
Quem argumenta deste modo:
A. ataca o carácter e a credibilidade de todos aqueles que, racionalmente, defendem a pena
de morte.
B. não justifica que a violação de um direito fundamental acabe por conduzir inevitavelmente à
violação de todos os outros.
C. admite sem provas que, em nenhuma circunstância, os direitos, sejam eles quais forem,
devam ser restringidos.
D. supõe que ou não existe nenhum direito ou existe um sistema que inclui todos os tipos de
direitos.
Laura – Quem não se interessa por matemática nem física não deveria ter acesso a tecnologias que
dependem da matemática e da física, como os computadores e os telemóveis.
João – Porquê, Laura?
Laura – Porque quem não reconhece o valor da matemática e da física não merece beneficiar dos
resultados do conhecimento produzido por matemáticos e físicos.
João – Esse teu argumento parece-me fraco. Se aceitássemos a razão que deste para retirar
computadores e telemóveis a quem não se interessa por matemática nem física, também teríamos de
retirar o acesso a tratamentos médicos a quem não se interessa por biologia ou química.
O João apresenta:
A. um argumento por analogia para defender que não temos razões para retirar computadores
e telemóveis a quem não se interessa por matemática nem física.
B. uma previsão de acordo com a qual não temos razões para retirar computadores e
telemóveis a quem não se interessa por matemática nem física.
C. um argumento por analogia para defender que não temos razões para retirar o acesso a
tratamentos médicos a quem não se interessa por biologia nem química.
D. uma previsão de acordo com a qual não temos razões para retirar o acesso a tratamentos
médicos a quem não se interessa por biologia nem química.
38. Não me venha dizer que a sua opinião sobre os direitos dos animais é a palavra final
sobre a questão que estamos a debater. E, por favor, não invoque sondagens de
opinião, uma doutrina religiosa ou um partido político para encerrar o debate. Já o
filósofo Robert Nozick afirmou que nenhuma opinião pode ter a pretensão de ser a
palavra final num debate.
Quem se opusesse deste modo à apresentação de uma opinião definitiva sobre os
direitos dos animais recorreria a:
A. uma generalização.
B. um apelo à ignorância.
C. uma derrapagem.
D. um argumento de autoridade.
39. Sem praxe, os novos alunos não se sentiriam integrados e ficariam à margem das atividades
académicas; assim sendo, ou existe praxe e os novos alunos participam na vida académica e
sentem-se integrados, ou a praxe acaba e os novos alunos não se sentem integrados e ficam
excluídos da vida académica. Por conseguinte, e dada a importância para os novos alunos da
integração na vida académica, a praxe deve existir.
Quem argumentasse deste modo incorreria na falácia seguinte.
A. Falso dilema.
B. Petição de princípio.
C. Boneco de palha.
D. Ad hominem.
O Pedro está a chegar ao parque onde habitualmente o seu cão corre. Por isso, vai tirar-lhe a trela.
Selecione a premissa que, sendo introduzida no argumento, lhe confere a maior força
indutiva.
A. Sempre que o Pedro tira a trela ao cão, este corre livremente no parque.
B. Sempre que os donos dos cães chegaram aos parques onde os cães podem correr,
tiraram-lhes a trela.
C. Da última vez que levou o cão ao parque, o Pedro tirou-lhe a trela quando estavam a
chegar.
D. Muitas vezes, os donos de cães tiram-lhes a trela quando estão a chegar aos parques onde
os deixam correr.
Nos anos 50, o psicólogo Harry Harlow isolou macacos bebés em jaulas por períodos prolongados,
assegurando-se de que eram alimentados, mas privando-os de qualquer contacto, designadamente
com as mães. Observou que a ausência de contacto nos primeiros meses de vida produzia
perturbações psicológicas permanentes nos macacos. E concluiu que o contacto corporal e o conforto
dele decorrente eram fundamentais para o desenvolvimento equilibrado dos bebés humanos.
Incorreria numa falácia do apelo à ignorância quem, a partir das afirmações anteriores,
concluísse que:
A. a pessoa que fez desaparecer os documentos conhecia bem o armazém.
O senhor deputado defende um aumento das verbas destinadas aos museus e às artes. Mas, no atual
contexto económico, não é aceitável usar o dinheiro de todos em velharias e excentricidades.
B. derrapagem.
C. ad hominem.
D. boneco de palha.
Sempre que vi a Mariana, ela usava brincos. Logo, da próxima vez que vir a Mariana, ela usará
brincos.
Trata-se de:
A. um argumento indutivo, porque a verdade da premissa torna a conclusão apenas provável.
B. um argumento dedutivo, porque a verdade da premissa implica a verdade da conclusão.
C. um argumento indutivo, porque a verdade da premissa impossibilita a falsidade da
conclusão.
D. um argumento dedutivo, porque a sua validade depende unicamente da sua forma lógica.
1. É impossível falar sem usar palavras, uma vez que as palavras são necessárias para falar.
2. Ninguém conseguiu provar que a reincarnação existe. Portanto, a reincarnação não existe.
3. Quem não aprova todas as nossas decisões é contra nós. Como não aprovas todas as nossas
decisões, és contra nós.
4. A filosofia de Sartre é irrelevante porque o autor é ateu.
Comete-se a falácia:
A. da derrapagem.
B. do boneco de palha.
C. do falso dilema.
D. ad hominem.
50. Identifique a afirmação que, caso fosse a premissa de um argumento contra o serviço
militar obrigatório, faria desse argumento uma falácia ad hominem.
A. Ou se apoia o recurso à guerra ou se considera que o serviço militar não deve ser
obrigatório.
B. Defender o serviço militar obrigatório é defender a obrigação de fazer parte de um exército.
Outras questões
Quando observamos um relógio, apercebemo-nos de que as suas várias partes estão desenhadas e
articuladas para produzirem um certo fim. Quando temos em conta o seu mecanismo, é inevitável a
inferência de que ele foi construído por um artífice. Ora, o universo tem grande complexidade e
organização. Assim, supõe-se que também teve um criador inteligente.
Do mesmo modo que os olhos dos morcegos ficam ofuscados pela luz do dia, também a inteligência
da nossa alma fica ofuscada pelas coisas mais naturalmente evidentes.
Aristóteles, Metafísica, Livro α, 993b.
naturalmente evidentes», de modo que a luz do dia está para os olhos dos morcegos como
as coisas mais evidentes estão para a inteligência da nossa alma.
4. Leia o seguinte exemplo de uma falácia apresentado por Irving M. Copi e Carl Cohen.
Para haver paz, temos de não encorajar o espírito competitivo. Ao passo que, para haver progresso,
temos de encorajar o espírito competitivo. Temos ou de encorajar o espírito competitivo ou de não
encorajar o espírito competitivo. Logo, ou não haverá paz ou não haverá progresso.
Irving M. Copi e Carl Cohen, Introduction to logic, Nova Iorque, Macmillan Publishing Company, 1994 (adaptado).
O Paulo defende que a água de abastecimento público deve ser enriquecida com flúor. Ele diz-nos
que, enriquecendo com flúor a água de abastecimento público, a saúde dentária de toda a população
melhoraria imenso. Mas que crédito nos merece o Paulo, se ele nem com a saúde da sua família se
preocupa?
Para que o argumento constitua uma falácia ad hominem, que conclusão deverá ter?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Apresentação da conclusão do argumento, de modo a constituir uma falácia ad hominem:
‒ A água de abastecimento público não deve ser enriquecida com flúor.
A Vanessa e a Mariana são amigas. Gostam dos mesmos jogos e da mesma música. Usam o cabelo
da mesma maneira e vestem o mesmo tipo de roupa. A Vanessa recebeu de prenda uma guitarra
elétrica e adorou. Pouco tempo depois, o pai da Mariana decidiu oferecer à filha uma guitarra elétrica.
Ontem, em Roma, Adam Nordwell, o chefe índio da tribo Chippewa, protagonizou uma reviravolta
interessante. Ao descer do avião, proveniente da Califórnia, vestido com todo o esplendor tribal,
Nordwell anunciou, em nome do povo índio americano, que tomava posse da Itália «por direito de
descoberta», tal como Cristóvão Colombo fizera quando chegara à América.
«Proclamo este o dia da descoberta da Itália», disse Nordwell. «Que direito tinha Colombo de
descobrir a América, quando esta já era habitada pelo seu povo há milhares de anos? O mesmo
direito tenho eu agora de vir à Itália proclamar a descoberta do vosso país.»
In A. Weston, A Arte de Argumentar, Lisboa, Gradiva, 1996, p. 44.
Ao longo dos tempos, muitos filósofos se têm interrogado sobre o que de mais valioso existe. Será a
beleza? Será o amor? Será a justiça? Será o prazer? Ora, após muita reflexão, convenci-me de que a
beleza é a coisa mais importante que há, pois tudo o resto é indubitavelmente inferior a ela.
10. Leia o seguinte excerto do Diálogo dos Grandes Sistemas, escrito por Galileu Galilei no
século XVII, em que as personagens Salviati e Simplício discutem a teoria aristotélica
acerca do movimento.
Texto B
Salviati – (...) Espanta-me (...) que não vos apercebais que Aristóteles supõe o que precisamente está
em questão. Ora notai…
Simplício – Suplico-vos, Senhor Salviati, falai com mais respeito de Aristóteles. A quem
convenceríeis, aliás, de que aquele que foi o primeiro, o único, o admirável explicador da forma
silogística, da demonstração, das refutações, (...) de toda a lógica, em suma, tenha podido cair num
erro tão grave como o de supor conhecido o que está em questão?
Galileu Galilei, Diálogo dos Grandes Sistemas (Primeira Jornada), Lisboa, Publicações Gradiva, 1979.
11. Leia o seguinte exemplo de uma falácia, apresentado por Carl Sagan.
Não há nenhuma prova indiscutível de não haver OVNI a visitar a Terra; por conseguinte, os OVNI
existem – e há vida inteligente algures no universo.
Carl Sagan, Um Mundo Infestado de Demónios, Lisboa, Publicações Gradiva, 1997.
2. A ação intencional é:
A. um acontecimento que depende apenas de causas externas à vontade do agente.
D. não está sujeita ao determinismo natural, mas nós não podemos fazer escolhas.
D. o universo está sujeito a leis naturais, mas os seres humanos podem alterá-las.
B. 1 é falsa e 2 é verdadeira.
C. 1 e 2 são falsas.
D. 1 é verdadeira e 2 é falsa.
B. 1, 2 e 4.
C. 1, 3 e 4.
D. 2 e 3.
11. Identifique a propriedade que um acontecimento precisa de ter para também ser uma ação.
A. Ser causado.
B. Ser intencional.
C. Motivar um agente.
D. Ter consequências.
12. Imagine que um agente poderoso fazia recuar o tempo até um qualquer ponto do passado,
para que, a partir daí, mantendo-se as leis da natureza, a história recomeçasse.
Qual das situações seguintes poria em causa o determinismo radical?
A. As deliberações dos agentes seriam causadas por acontecimentos anteriores.
13. Uma pessoa tinha curiosidade de ver o que aconteceria se pressionasse um certo botão no sistema
de comandos de um edifício inteligente. Para isso, pressionou esse botão e descobriu que o facto de
o ter pressionado levou a que as portas do edifício se fechassem.
A pessoa em questão realizou propositadamente a ação de:
A. associar o botão às portas.
C. pressionar o botão.
1. As pessoas que não ponderam as consequências dos seus atos não merecem ter liberdade.
2. Nas democracias, os cidadãos têm mais liberdades do que nos outros regimes políticos.
15. Imagine que quer ouvir música e que, em seguida, põe os auscultadores e ouve música.
De acordo com o determinismo radical, o facto de querer ouvir música:
A. é um indício de livre-arbítrio apenas se não foi sujeito a coação.
16. A Ana foi almoçar a casa da Sofia. Tinham combinado ir à praia nessa tarde. Depois do
almoço, a mãe da Sofia saiu à pressa para o trabalho e, sem dar por isso, levou consigo, além
da sua chave de casa, também a da filha. Como era habitual, a mãe da Sofia fechou a porta à
chave. Por sorte, a Ana e a Sofia decidiram não ir à praia, preferindo concluir um trabalho para
a disciplina de Inglês.
Os defensores do determinismo moderado consideram que a Ana e a Sofia:
A. agiram livremente, pois a porta poderia não estar fechada à chave.
B. não agiram livremente, pois as obrigações escolares determinaram que ficassem em casa.
D. não agiram livremente, pois, mesmo que quisessem ir à praia, não podiam agir de modo
diferente.
1. Até aos 18 anos, os nossos pais respondem por nós e não somos livres.
2. As nossas escolhas são livres, ainda que estejam submetidas à causalidade natural.
3. As ditaduras caracterizam-se por suprimirem as liberdades fundamentais dos cidadãos.
4. No Universo, tudo está determinado e a liberdade é uma ilusão.
B. 1 e 3.
C. 3 e 4.
D. 1 e 2.
18. Em qual das seguintes opções é referida, de forma inequívoca, uma ação?
A. Um mosquito picou a Mariana.
19. Se dissermos que, numa determinada circunstância, poderíamos não ter realizado a
ação que realizámos, estamos implicitamente a admitir que:
A. o determinismo moderado é implausível.
C. o libertismo é falso.
C. quase tudo está determinado, mas continua a haver lugar para o livre-arbítrio.
D. quase tudo está determinado e não pode haver lugar para o livre-arbítrio.
Outras questões
Uma pedra recebe de uma causa exterior que a empurra uma certa quantidade de movimento, pela
qual continuará necessariamente a mover-se depois da paragem da impulsão externa. (...)
Imaginai agora, por favor, que a pedra, enquanto está em movimento, sabe e pensa que é ela que faz
todo o esforço possível para continuar em movimento. Esta pedra, seguramente, (…) acreditará ser
livre e perseverar no seu movimento pela única razão de o desejar. Assim é esta liberdade humana
que todos os homens se vangloriam de ter e que consiste somente nisto, que os homens são
conscientes dos seus desejos e ignorantes das causas que os determinam.
Spinoza, «Lettre à Schuller», in Oeuvres Complètes, Paris, Gallimard, 1954.
É difícil não pensar que temos livre-arbítrio. Quando estamos a decidir o que fazer, a escolha parece
inteiramente nossa. A sensação interior de liberdade é tão poderosa que podemos ser incapazes de
abandonar a ideia de livre-arbítrio, por muito fortes que sejam as provas da sua inexistência.
E, obviamente, existem bastantes provas de que não há livre-arbítrio. Quanto mais aprendemos sobre
as causas do comportamento humano, menos provável parece que escolhamos livremente as nossas
ações.
J. Rachels, Problemas da Filosofia, Lisboa, Gradiva, 2009, p. 182.
5. Leia o texto.
O homem, estando condenado a ser livre, carrega o peso do mundo inteiro nos seus ombros (...). Ele
tem de assumir a situação em que se encontra com a consciência orgulhosa de ser o seu autor, pois
os piores obstáculos ou as piores ameaças que põem em perigo a sua pessoa apenas adquirem
sentido através do seu próprio projeto (...). É, portanto, insensato pensar sequer em lamentar-se, uma
vez que nada de exterior a si decidiu aquilo que ele sente, aquilo que ele vive ou aquilo que ele é.
J.-P. Sartre, L’Être et le Néant, Paris, Gallimard,1943, p. 612 (adaptado).
7. Temos uma tendência irresistível para nos vermos como seres livres, talvez porque a todo o
momento nos parece óbvio que fazemos escolhas. Mas também temos cada vez mais
conhecimento de como a hereditariedade e o ambiente nos moldam.
Uma vez que somos moldados pela hereditariedade e pelo ambiente, será que dispomos
de razões para acreditar que temos livre-arbítrio?
Na sua resposta, deve:
‒ explicar o problema apresentado;
‒ apresentar inequivocamente a perspetiva que defende;
‒ argumentar a favor da perspetiva que defende.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Nota – Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos,
não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.
Explicação do problema do livre-arbítrio:
– o problema do livre-arbítrio resulta da incompatibilidade entre duas das nossas crenças – a
crença de que dispomos de diferentes alternativas de ação e de que podemos fazer
escolhas diferentes daquelas que fazemos; e a crença de que tudo o que acontece é
causado por acontecimentos anteriores, de acordo com as leis da natureza, e de que não
dispomos de diferentes alternativas de ação.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o examinando defender que não dispomos de razões para acreditar que
temos livre-arbítrio.
− admitir que a hereditariedade e o ambiente são responsáveis pelo que somos significa
aceitar que determinam as nossas escolhas e o modo como agimos;
− ainda que nos pareça óbvio que fazemos escolhas e que poderíamos agir de modo
diferente, caso assim o escolhêssemos, temos apenas a ilusão de que fazemos escolhas e
de que poderíamos agir de modo diferente, ilusão que resulta de termos um conhecimento
limitado das causas que operam sobre nós;
− a informação genética, a natureza e os estímulos do ambiente operam causalmente sobre
as nossas escolhas e ações, e não temos o poder de modificar essa rede causal de acordo
com o nosso conhecimento, os nossos desejos e as nossas atitudes;
− ainda que a sensação de que fazemos escolhas e a crença de que temos livre-arbítrio sejam
muito fortes, e se mantenham, apesar de termos cada vez mais conhecimento das causas
que operam sobre nós, não se segue que essa crença seja verdadeira – podemos estar
emocionalmente vinculados a uma crença falsa de modo tão forte como, há quinhentos
anos, os seres humanos estavam emocionalmente vinculados à crença falsa de que a Terra
se encontrava no centro do Universo.
No caso de o examinando defender que ainda dispomos de razões para acreditar que
temos livre-arbítrio.
− é um facto que temos motivos para agir e que esses motivos são causados – por exemplo,
se alguém nos convida para jantar, temos um motivo para ir jantar com a pessoa que nos
fez o convite;
− porém, temos o poder de exercer controlo sobre os nossos motivos para agir, aceitando-os
ou rejeitando-os – de modo análogo, uma pessoa que toma decisões de carácter público,
depois de considerar os conselhos de especialistas, tem o poder de os aceitar ou rejeitar;
− se, além de termos o poder de exercer controlo sobre os nossos motivos para agir, tivermos
também o poder de realizar as ações correspondentes, por não haver nenhum impedimento
externo, então essas ações são livres – estas (termos o poder de exercer controlo sobre os
nossos motivos para agir e termos o poder de realizar as ações correspondentes) são as
duas condições requeridas para que uma ação seja livre;
− ainda que todas as ações sejam causadas pela hereditariedade e pelo ambiente, e tenham
assim uma história causal que pode ser explicada pelas leis da natureza e por condições
antecedentes, os casos de ações que satisfazem as condições referidas constituem uma
razão a favor da crença de que temos livre-arbítrio.
OU
− é um facto que deliberamos sobre como agir, pesando as razões a favor e contra os vários
cursos de ação disponíveis;
− ora, se não tivéssemos o poder de agir de modos diferentes numa mesma circunstância,
seria absurdo deliberarmos sobre como agir;
− temos evidências a favor da crença de que ocorreu um acidente quando temos a
experiência desse acontecimento – de modo análogo, temos evidências a favor da crença
de que temos livre-arbítrio quando, na nossa experiência pessoal, temos a sensação de
liberdade;
− há ainda evidência empírica independente da nossa experiência pessoal a favor da crença
de que temos livre-arbítrio quando, por exemplo, se observa uma certa pessoa a apanhar o
autocarro para o seu trabalho em manhãs consecutivas e, na manhã seguinte, mantendo-se
tudo o resto igual, se verifica que ela, em vez de apanhar o autocarro, faz a pé o percurso
para o seu trabalho – casos como este apoiam a ideia de que essa pessoa, quando
apanhou o autocarro para o seu trabalho, poderia ter agido de modo diferente, fazendo a pé
esse percurso.
O João e o Carlos estão a jogar à bola em equipas contrárias. Numa das jogadas, o João correu para
a bola. Atrás dele, vinha o Carlos, também decidido a disputar o lance. O Carlos acabou por conseguir
chegar primeiro à bola, mas o João tocou-lhe com a chuteira no tornozelo. O Carlos caiu
imediatamente no relvado. O Manuel, que estava a arbitrar o jogo, expulsou o João. Mas o João disse
que era injusto ser penalizado pelo sucedido.
10. Alguns filósofos defendem que a sensação interior de liberdade se opõe à conceção
determinista do universo.
Será que essa sensação é uma razão forte para aceitarmos que o livre-arbítrio existe?
Na sua resposta,
‒ clarifique o problema do livre-arbítrio;
‒ apresente inequivocamente a sua posição relativamente à questão proposta;
‒ argumente a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
– a ciência dá-nos uma conceção determinista do universo (de acordo com a qual todos os
acontecimentos são determinados por acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza);
ao mesmo tempo, frequentemente, sentimos que diferentes cursos de ação estão
disponíveis e dependem de uma escolha nossa (ou seja, sentimos que esses cursos de
ação não estão determinados) OU a conceção determinista do universo parece ser
inconciliável com a ideia de livre-arbítrio; mas a nossa experiência da escolha entre
alternativas sugere-nos que temos livre-arbítrio;
– saber se temos livre-arbítrio é, então, um enigma/problema.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Argumentação a favor da posição defendida:
No caso de o examinando considerar que a sensação interior de liberdade é uma razão
forte para aceitarmos que o livre-arbítrio existe:
− por vezes, escolhemos cursos de ação e sabemos que outros cursos de ação, embora
(aparentemente) possíveis, não seriam razoáveis; por exemplo, embora seja
(aparentemente) possível sair da sala pela janela, na ausência de uma razão para o
fazermos (por exemplo, a porta da sala estar bloqueada, ou haver um incêndio no corredor),
acabamos por não o fazer e saímos pela porta;
− em casos destes, pode argumentar-se que as nossas escolhas resultam de
acontecimentos/factos anteriores (e das leis da natureza), como, por exemplo, a existência
das regras sociais, que mandam sair pela porta, e a nossa necessidade de estarmos
socialmente integrados;
− todavia, também nos encontramos frequentemente perante cursos de ação genuinamente
alternativos; por exemplo, se nos dão a escolher entre bolo de cenoura e bolo de laranja, e
não temos razões para preferir um ou outro, a escolha parece ser inteiramente nossa, e não
determinada;
− a experiência direta da escolha genuína (ou a sensação interior de liberdade inerente à
experiência direta da escolha genuína) mostra-nos que há cursos de ação que dependem
da nossa vontade, e não (apenas) de acontecimentos anteriores (e das leis da natureza), e
nenhuma teoria consegue negar este tipo de experiência.
No caso de o examinando considerar que a sensação interior de liberdade não é uma
razão forte para aceitarmos que o livre-arbítrio existe:
− é certo que, frequentemente, sentimos que diferentes cursos de ação estão disponíveis e
dependem de uma escolha nossa, ou seja, sentimos que esses cursos de ação não estão
determinados;
− porém, esta sensação, quando submetida a análise, revela-se ilusória; por exemplo, embora
possamos sentir (e acreditar) que saímos pela porta, e não pela janela, porque é isso que
queremos, a verdade é que «sair pela janela», dadas as regras sociais e a nossa
necessidade de nos integrarmos socialmente, não era possível, exceto se outros
acontecimentos/factos determinassem a saída pela janela (como a porta da sala estar
bloqueada, ou haver um incêndio no corredor);
− as nossas escolhas podem ser explicadas precisamente porque temos razões para essas
escolhas, e essas razões resultam de processos causais;
− mesmo escolhas entre cursos de ação que parecem ser equivalentes (relativamente aos
quais não temos uma preferência consciente) podem, afinal, ser causadas por
acontecimentos/factos dos quais não estamos conscientes; aliás, os especialistas em
marketing, por exemplo, estudam motivações humanas, das quais, muitas vezes, as
pessoas não estão conscientes, e usam o conhecimento assim adquirido para controlar o
comportamento dos consumidores.
11.
Por um lado, um conjunto de argumentos muito poderosos força-nos à conclusão de que a vontade
livre não existe no Universo. Por outro, uma série de argumentos poderosos baseados em factos da
nossa própria experiência inclina-nos para a conclusão de que deve haver alguma liberdade da
vontade, porque (...) todos a experimentamos em todo o tempo.
John Searle, Mente, Cérebro e Ciência, Lisboa, Edições 70, 2000, p. 108.
10. Identifique o par de termos que permite completar adequadamente a afirmação seguinte.
Os juízos de facto são essencialmente _______, distinguindo-se dos juízos de valor, que são
essencialmente _______.
A. descritivos … normativos
B. objetivos … subjetivos
C. verdadeiros … relativos
D. concretos … abstratos
D. a correção dos juízos de valor depende inteiramente do que é aprovado nas sociedades
mais evoluídas.
14. A liberdade religiosa é a liberdade de cada um praticar a religião que é do seu agrado,
ou de não praticar qualquer religião.
Se a liberdade religiosa for um valor objetivo, então:
A. todos defendem a liberdade religiosa.
15. «Em alguns países, ter armas e usá-las para assegurar a defesa da família e da
propriedade são vistos como direitos dos cidadãos; mas, noutros países, acredita-se
que a posse e o uso de armas devem estar sujeitos a grandes restrições.»
Perante a constatação anterior, um relativista acerca dos valores defenderia que:
A. as sociedades que impõem grandes restrições à posse e ao uso de armas são melhores do
que aquelas que não o fazem.
B. poder defender a família e a propriedade é um valor que deve ser protegido em qualquer
sociedade.
C. ter armas e com elas se defender, dependendo dos contextos históricos e sociais, podem
ser vistos como direitos dos cidadãos.
D. a convicção de que a posse e o uso de armas são direitos dos cidadãos resulta de
preferências pessoais.
1. Franklin Roosevelt é considerado pelos norte-americanos um dos três mais importantes presidentes
dos EUA.
2. Já adulto, Franklin Roosevelt contraiu poliomielite.
3. Franklin Roosevelt não gostava de ser fotografado em cadeira de rodas.
4. Franklin Roosevelt deveria ter decidido mais cedo a entrada dos EUA na II Guerra Mundial.
D. as pessoas que tiverem valores diferentes dos nossos pensam e agem erradamente.
18. Qual das frases seguintes exprime um juízo de valor moral acerca de uma certa pessoa?
A. Aquela pessoa usa transportes públicos.
20. Considerar que os valores são objetivos significa considerar que os valores são:
A. objetos de preferência.
C. objetos estimáveis.
B. a desvalorização da racionalidade.
24. A Luísa viajou muito e notou diferenças significativas, por exemplo, no estatuto das mulheres
em diferentes sociedades. Alguns hábitos, como o de as mulheres apenas poderem passear
acompanhadas, chocaram a Luísa; contudo, pareceu-lhe que muitas dessas mulheres
aceitavam tais hábitos sem reservas. Esta observação foi a razão para a Luísa concluir que
aquilo que é certo ou errado depende de cada cultura.
Perante o relato da Luísa, a Paula recordou que o estatuto das mulheres tinha mudado muito
em Portugal, nas últimas décadas, e afirmou que isso representava um progresso, pois a
sociedade portuguesa abandonara leis e hábitos errados.
É razoável presumir que:
A. a Luísa é relativista e a Paula é objetivista.
25. Identifique a questão que envolve o problema da natureza dos juízos morais.
A. Será que só os princípios morais importam?
D. O juízo de que uma certa pessoa é corajosa é um juízo de valor acerca dessa pessoa?
Outras questões
1. É um facto que há diferenças culturais e que há pessoas com opiniões muito diferentes
em relação a valores.
Será que este facto mostra que não há valores objetivos?
Na sua resposta, deve:
‒ identificar inequivocamente a perspetiva que defende;
‒ argumentar a favor da perspetiva que defende.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Nota – Os aspetos constantes do cenário de resposta apresentado são apenas ilustrativos,
não esgotando o espectro de respostas possíveis.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o examinando defender que o facto referido mostra que não há valores
objetivos:
– (do facto de duas pessoas, ou dois grupos de pessoas, emitirem juízos de valor diferentes
(opostos) acerca da mesma questão é possível inferir a inexistência de valores objetivos, e é
possível inferir que a verdade (ou a falsidade) dos juízos de valor depende de quem os
exprime, ou da cultura de quem os exprime;)
– as pessoas também discordam acerca de factos, e dessa discordância não se infere que a
verdade (ou a falsidade) dos juízos de facto depende de quem os exprime, ou da cultura de
quem os exprime; porém, as discordâncias e as discussões acerca de valores são mais
profundas;
– além disso, uma questão de facto pode ser esclarecida com a descoberta ou com a
apresentação de mais factos (por exemplo, saber se «o consumo de carnes processadas
provoca cancro» é uma questão controversa, mas podemos imaginar o tipo de estudos e de
resultados que poderão ser esclarecedores ou conclusivos);
– ao contrário, uma controvérsia em torno de valores não é resolvida com mais informação ou
com mais factos (por exemplo, saber se «a obrigatoriedade do uso da burca é errada» não
depende de conhecermos a quantidade de mulheres forçadas a usar burca, ou que
detestam usar burca, ou que gostam de usar burca);
– admitir que as diferenças de opinião e de cultura não implicam que os valores sejam
relativos é o mesmo que afirmar que há culturas corretas e culturas incorretas;
– esse juízo sobre as outras pessoas e as outras culturas constitui uma forma de paternalismo
ou de etnocentrismo e pode servir de justificação para atitudes arrogantes ou intolerantes.
No caso de o examinando defender que o facto referido não mostra que não há valores
objetivos:
– (do facto de duas pessoas, ou dois grupos de pessoas, emitirem juízos de valor diferentes
(opostos) acerca da mesma questão não é possível inferir a inexistência de valores
objetivos, nem é possível inferir que a verdade (ou a falsidade) dos juízos de valor depende
de quem os exprime, ou da cultura de quem os exprime;)
– as pessoas também discordam acerca de factos, e dessa discordância não se infere que a
verdade (ou a falsidade) dos juízos de facto depende de quem os exprime, ou da cultura de
quem os exprime;
– além de a inferência (das diferenças culturais ou de opinião para a inexistência de valores
objetivos) ser inválida (pois a conclusão não deriva da premissa), é falso que as pessoas, ou
os grupos de pessoas, sejam diferentes em relação a tudo (OU em relação a princípios
fundamentais);
– há muitas diferenças de opinião entre pessoas, ou grupos de pessoas: as pessoas, ou os
grupos de pessoas, discordam frequentemente acerca daquilo que preferem, que
consideram mais agradável ou que lhes dá mais prazer (por exemplo, fazer ou não fazer a
sesta depois do almoço); ora, tais opiniões são naturalmente subjetivas e não têm de ser
reconciliadas;
– mas as pessoas também têm muitas opiniões semelhantes a respeito daquilo que é mais
importante (OU a respeito de princípios fundamentais, como, por exemplo, a obrigação
moral de educar e proteger os filhos, a proibição de roubar, ou a proibição de matar pessoas
inocentes);
– essas semelhanças de opinião sugerem que, tal como é um facto que uma bola é redonda,
também é um facto que, por exemplo, ser cruel com uma pessoa indefesa é moralmente
condenável (e que está enganado quem não reconhece que isso é cruel).
2. Os austríacos gostam de valsa; já a maior parte dos brasileiros gosta de samba. Em relação
ao desporto, os canadianos, por exemplo, preferem o hóquei no gelo, ao passo que muitos
portugueses apreciam o hóquei em patins. A verdade é que cada povo tem tendência a
apreciar mais o que faz parte da sua cultura.
Contudo, o hóquei em patins é mais bonito do que o hóquei no gelo.
No texto anterior é expresso, de forma inequívoca, um único juízo de valor. Identifique-o
e justifique a identificação feita.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação do juízo de valor expresso no texto:
– «O hóquei em patins é mais bonito do que o hóquei no gelo».
Nota – Aceita-se que a identificação seja feita através da transcrição integral da última frase
do texto («Contudo, o hóquei em patins é mais bonito do que o hóquei no gelo»), ou através de
expressões que indiquem o reconhecimento do único juízo de valor expresso no texto (por
exemplo, «É a última frase do texto»).
5. Leia o texto.
Enquanto ato de autoproteção (...), podemos fazer o que for necessário para nos defendermos,
mesmo que isso implique a morte do atacante (...). O efeito bom é a preservação da nossa vida, sendo
o efeito mau a perda da vida do atacante.
David S. Oderberg, Ética Aplicada, Lisboa, Principia, 2009, p. 233.
6. Em 1948, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que enuncia um
conjunto de direitos reconhecidos pelos países com representação na Organização das
Nações Unidas (ONU).
Algumas pessoas pensam que os direitos aí consagrados exprimem valores objetivos.
Concorda? Justifique a sua posição.
Na sua resposta, deve:
− esclarecer o problema da natureza dos juízos de valor moral;
− apresentar inequivocamente a sua posição relativamente à questão formulada;
− argumentar a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
– os juízos de valor distinguem-se por serem essencialmente normativos, isto é, por referirem,
nem que seja implicitamente, o que deve ser;
– o problema da natureza dos juízos de valor é o problema da fonte da normatividade desses
juízos OU é o problema da justificação desses juízos;
– há quem defenda que essa normatividade decorre das características daquilo que é julgado
OU de processos argumentativos racionais (objetivismo), há quem defenda que depende da
cultura/dos contextos culturais (relativismo), e há quem defenda que depende da
sensibilidade/dos sentimentos dos indivíduos/das pessoas (subjetivismo).
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o aluno considerar que os direitos consagrados na Declaração Universal
dos Direitos Humanos exprimem valores objetivos:
− (os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos exprimem valores
objetivos);
− existe um consenso dos diferentes povos em relação aos valores expressos na Declaração
Universal dos Direitos Humanos;
− um consenso tão alargado e duradouro apenas pode ser adequadamente explicado se
entendermos que esses valores correspondem a factos morais.
OU
− (os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos exprimem valores
objetivos);
− os valores enunciados na Declaração resultam do debate racional entre os representantes
dos diferentes países, povos e culturas;
− esse debate permitiu clarificar os valores que mais contribuem para o bem-estar dos
indivíduos e das comunidades e que, por essa razão, são corretos.
No caso de o aluno considerar que os direitos consagrados na Declaração Universal
dos Direitos Humanos não exprimem valores objetivos:
− (os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos exprimem valores
relativos/não exprimem valores objetivos);
− o contacto persistente, ao longo de muitos séculos, entre diferentes países, povos e culturas
(e a hegemonia dos padrões culturais de alguns desses países) instituiu/conduziu à criação
de uma cultura comum/transversal/universal.
7. Leia o texto.
Na Europa, ao contrário de noutras partes do mundo, a grande maioria das pessoas julgaria o castigo
por apedrejamento como horrendo e profundamente errado. Para algumas pessoas isso mostra que
estas questões são relativas. (...)
A respeito do apedrejamento, os relativistas [morais] por vezes concluem enganadoramente que é
errado interferirmos nas práticas de outro país. Se essa conclusão é apresentada como uma
afirmação não relativa, nomeadamente a de que interferir é errado, (...) então contradiz a afirmação
relativista de que todos os juízos morais são relativos. Tais relativistas não podem manter
consistentemente a sua posição. Essa é uma razão clara para rejeitar o seu relativismo.
P. Cave, Duas Vidas Valem Mais Que Uma?, Alfragide, Academia do Livro, 2008, pp. 85-87 (adaptado).
7.1. O autor do texto apresenta um argumento contra o relativismo moral. Explique esse
argumento.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do argumento contra o relativismo moral apresentado no texto:
– os relativistas (morais) defendem que todos os juízos morais são relativos (ou seja,
defendem que os juízos morais são verdadeiros ou falsos em relação a uma cultura / o valor
de verdade dos juízos morais depende da cultura a que se pertence);
– ao mesmo tempo, os relativistas (morais) defendem que é sempre errado interferir nas
práticas de outras culturas (por exemplo, condenando essas práticas);
– se é verdade que todos os juízos morais são relativos, então também é relativo o juízo de
que é errado interferir nas práticas de outras culturas; por outro lado, se é absolutamente
verdadeiro o juízo de que é errado interferir nas práticas de outras culturas, então nem todos
os juízos morais são relativos;
– os relativistas (morais) contradizem-se quando afirmam que todos os juízos morais são
relativos e, ao mesmo tempo, apresentam como uma verdade não relativa (absoluta) o juízo
de que é errado interferir nas práticas de outras culturas.
7.2. O relativismo moral é usado para defender a tolerância. Apresente razões dos relativistas
morais a favor da tolerância.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de razões dadas pelos relativistas a favor da tolerância:
– temos uma tendência (errada) para pensar que as preferências e as práticas da nossa
sociedade são moralmente certas / se fundamentam em valores absolutos;
– porém, muitas dessas preferências e práticas não passam de padrões culturais;
– os padrões culturais das outras sociedades são apenas diferentes e não são moralmente
piores (nem melhores) do que os padrões culturais da nossa sociedade;
– é errado tentarmos impor as preferências e as práticas da nossa sociedade às outras
sociedades / é errado sermos intolerantes.
Quando Kant propõe (...), enquanto princípio fundamental da moral, a lei «Age de modo que a tua
regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais», reconhece virtualmente
que o interesse coletivo da humanidade, ou, pelo menos, o interesse indiscriminado da humanidade,
tem de estar na mente do agente quando este determina conscienciosamente a moralidade do ato.
Caso contrário, Kant estaria [a] usar palavras vazias, pois nem sequer se pode defender
plausivelmente que mesmo uma regra de absoluto egoísmo não poderia ser adotada por todos os
seres racionais, isto é, que a natureza das coisas coloca um obstáculo insuperável à sua adoção. Para
dar algum significado ao princípio de Kant, o sentido a atribuir-lhe tem de ser o de que devemos
moldar a nossa conduta segundo uma regra que todos os seres racionais possam adotar com
benefício para o seu interesse coletivo.
Stuart Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005.
A. as circunstâncias da ação.
B. o interesse da humanidade.
C. o imperativo categórico.
D. um imperativo hipotético.
1.3. Stuart Mill defende que uma ação tem valor moral:
1.4. Para Kant, a lei «Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como lei
por todos os seres racionais» significa que:
A. os seres racionais estão submetidos a leis objetivas.
O princípio da felicidade pode, sem dúvida, fornecer máximas, mas nunca aquelas que serviriam de
leis da vontade (...). Podem certamente dar-se regras gerais, mas nunca regras universais, isto é,
regras que, em média, são corretas na maior parte das vezes, mas não regras que devem ser sempre
e necessariamente válidas (...). Este princípio não prescreve, pois, a todos os seres racionais as
mesmas regras práticas, embora estejam compreendidas sob um título comum, a saber, o de
felicidade.
Kant, Crítica da Razão Prática, Lisboa, Edições 70, 1989.
A. as máximas da ação.
B. as leis da vontade.
D. o princípio da felicidade.
2.3. Diferentemente de Kant, Stuart Mill defende que a ação ética visa:
A. hedonista, porque a felicidade e a qualidade dos prazeres são o objetivo da vida boa.
3.
A emoção dizia-nos: “A minoria branca é o nosso inimigo, nunca devemos falar com eles.” Mas a
cabeça dizia-nos: “Se não falares com eles, o país vai explodir em chamas.” Tivemos de reconciliar
esse conflito. Falarmos com o inimigo foi o resultado desse domínio da mente sobre a emoção.
Nelson Mandela, citado em editorial do Suplemento Especial do Público, em 6 de dezembro de 2013, p. VIII.
Estas palavras de Nelson Mandela exemplificam aquilo que Kant designou por:
A. entendimento.
B. autonomia.
C. heteronomia.
D. deliberação.
7. De acordo com a ética de Kant, o motivo moralmente válido para honrar compromissos é:
A. o interesse dos envolvidos.
B. o benefício social.
C. o dever de o fazer.
D. a simpatia pelos envolvidos.
9. Kant consideraria que uma pessoa que, motivada unicamente pelo sentimento de pena,
ajudasse uma criança perdida na praia a encontrar os seus pais:
A. praticaria uma ação com valor moral.
B. agiria em conformidade com o dever.
C. praticaria uma ação imoral.
D. agiria por dever.
11. Segundo Kant, a máxima de que devemos diminuir os outros para ver reconhecida a nossa
superioridade não está de acordo com o imperativo categórico, tal como é apresentado
na fórmula da lei universal, porque:
A. a sua adoção por todos os agentes teria consequências negativas.
B. não tem em conta o interesse próprio de todos os agentes.
C. a sua adoção universal anularia o nosso sentimento de igualdade.
D. não é possível universalizá-la sem que ela se anule a si mesma.
12. De acordo com Kant, uma pessoa que, motivada pela obediência a um mandamento da
religião que professa, dá assistência a quem vive numa situação de pobreza:
A. não tem, neste caso, uma vontade autónoma.
B. age, neste caso, por respeito à lei moral.
C. age, neste caso, apenas por dever.
D. é uma pessoa que, neste caso, se autodetermina.
13. De acordo com Mill, geralmente temos a obrigação de dizer a verdade, porque:
A. a consequência de mentirmos é sentirmo-nos infelizes.
B. a vítima da mentira pode deixar de contribuir para o bem-estar social.
C. dizer a verdade decorre do princípio de que devemos ser felizes.
D. dizer a verdade tende a produzir efeitos positivos no saldo global de felicidade.
B. o dever.
C. a boa vontade.
D. a justiça.
17. De acordo com a ética de Kant, temos a obrigação de respeitar os princípios seguintes:
– Nunca se deve violar contratos.
– Nunca se deve quebrar promessas.
Suponha que alguém prometeu fazer algo, não se apercebendo de que isso implicava
violar um contrato.
Que problema levantaria este caso à ética de Kant?
A. O primeiro princípio deverá ser desrespeitado, pois tem menos força do que o segundo.
B. O segundo princípio deverá ser desrespeitado, pois tem menos força do que o primeiro.
C. Os dois princípios deixam de ter importância moral, pois mostram não ser universalizáveis.
Se a Dona Maria dispõe de 50 000 euros, deve usá-los para apoiar um programa de vacinação de
5000 crianças de um país pobre, em vez de pagar um curso de teatro em Londres à sua neta, que
deseja ser atriz.
B. nos obrigam a tratar os outros como meros meios, e não como fins em si, contrariando as
convicções morais comuns.
C. levam a fazer algo cujos resultados somos incapazes de prever.
20. Imagine que o Luís precisa urgentemente de medicamentos e que a única maneira de os
conseguir é pedir dinheiro emprestado a um amigo rico, sem ter a intenção de lho pagar. Neste
caso, o Luís decidiu adotar a máxima «faz promessas enganadoras quando não há outra
forma de resolver os teus problemas pessoais».
Esta máxima pode ser usada para fazer uma crítica à ética kantiana, dado ser razoável
argumentar que a máxima:
A. não é imoral, ainda que não seja racional querer universalizá-la.
C. devemos renunciar aos prazeres inferiores para não nos rebaixarmos à condição animal.
D. são superiores os prazeres preferidos por quem tem competência para os apreciar.
22. Considere os seguintes enunciados sobre a comparação entre as teorias éticas de Kant
e de Stuart Mill.
As teorias:
1. apresentam critérios de moralidade distintos.
2. defendem que o valor moral da ação é relativo à situação ou às circunstâncias.
3. reconhecem que as regras da moral comum se devem subordinar a um princípio ético fundamental.
4. reconhecem que a felicidade é o fim último das ações humanas.
Outras questões
1. Alguém decide doar anonimamente toda a sua fortuna à UNICEF, porque encontra
grande alegria no alívio do sofrimento das crianças dos países pobres.
1.1. Enuncie o princípio que, do ponto de vista utilitarista, permite justificar a correção moral
da ação descrita.
Mostra compreensão do princípio fundamental do utilitarismo: uma ação é moralmente correta
se realiza algo que promove a maior felicidade do maior número de pessoas OU o valor moral
de uma ação depende das suas consequências.
1.2. De acordo com Kant, a ação dessa pessoa é moralmente boa? Justifique.
– Não, porque é uma ação cujo motivo determinante é a satisfação de uma inclinação
(a alegria no alívio do sofrimento das crianças) e não o cumprimento do dever.
– O valor moral da ação depende da intenção do agente. Uma ação é moralmente boa apenas
se o agente a praticou por dever, ou seja, tendo como única intenção a obrigação de
respeitar a lei moral.
É indiscutível que um ser cujas capacidades de prazer sejam baixas tem uma probabilidade maior de
as satisfazer completamente e que um ser amplamente dotado sentirá sempre que, da forma como o
mundo é constituído, qualquer felicidade que possa esperar será imperfeita.
(...)
Tenho de voltar a repetir o que os críticos do utilitarismo raramente têm a justiça de reconhecer: que a
felicidade que constitui o padrão utilitarista daquilo que está certo na conduta não é a felicidade do
próprio agente, mas a de todos os envolvidos.
(...)
O motivo é irrelevante para a moralidade da ação. Aquele que salva um semelhante de se afogar faz o
que está moralmente certo, seja o seu motivo o dever, seja a esperança de ser pago pelo seu
incómodo; aquele que trai um amigo que confia em si é culpado de um crime, mesmo que o seu
objetivo seja servir outro amigo relativamente ao qual tem maiores obrigações.
Stuart Mill, Utilitarismo, trad. port., Porto, Porto Editora, 2005, pp. 51-59 (adaptado).
Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa não
verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia eu dizer a
mim mesmo: – Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade
de que não pode sair de outra maneira? Em breve, reconheço que posso em verdade querer a
mentira, mas que não posso querer uma lei universal de mentir; pois, segundo uma tal lei, não poderia
propriamente haver já promessa alguma (...). Por conseguinte, a minha máxima, uma vez arvorada em
lei universal, destruir-se-ia a si mesma necessariamente.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Coimbra, Atlântida, 1960.
3.1. Explique, a partir do exemplo do texto, por que razão o ato de mentir nunca é moralmente
permissível, segundo Kant.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– identificação das condições de moralidade de um ato, segundo Kant;
– articulação entre máxima, universalidade e lei moral;
– aplicação da lei moral kantiana ao exemplo do texto.
3.2. Compare o papel da intenção do agente na ética de Kant com o papel da intenção do
agente na ética de Stuart Mill.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– distinção do critério de avaliação moral das ações em Kant – a intenção do agente – e em
Stuart Mill – as consequências das ações;
– clarificação do conceito de «dever» e/ou de «imperativo categórico» na ética kantiana e do
«princípio da maior felicidade» em Stuart Mill.
4.1. A partir do texto, mostre por que razão, para Kant, a ação com valor moral se fundamenta
no imperativo categórico e não em imperativos hipotéticos.
Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Caracterização da ação moral em Kant: as ações com valor moral são feitas por dever, ou
seja, nelas o cumprimento do dever é um fim em si mesmo.
– Distinção entre imperativo categórico e imperativo hipotético: o imperativo categórico
envolve uma obrigação absoluta ou incondicional e o imperativo hipotético é uma obrigação
condicional.
– Identificação do imperativo categórico como imperativo da moralidade: o imperativo
categórico exige que se cumpra o dever por dever (por simples respeito pela lei moral).
4.2. Será que há deveres morais absolutos?
Compare as respostas de Kant e de Stuart Mill a esta questão.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Caracterização do conceito de dever moral absoluto: os deveres morais absolutos são
obrigações que devem ser sempre cumpridas.
– Explicitação do imperativo categórico como obrigação moral absoluta, em Kant: o imperativo
categórico exige conformidade da máxima da ação com a universalidade da lei; não admite
situações em que seja aceitável violar a lei moral, impondo, portanto, deveres morais absolutos.
– Explicitação do princípio de utilidade, em Stuart Mill: o princípio de utilidade exige que das
nossas ações resulte a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas;
admite situações em que violar uma regra é aceitável, pelo que não há deveres morais
absolutos, exceto a própria procura da felicidade.
Não existe sistema moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em conflito.
Estas são as verdadeiras dificuldades, os momentos intrincados na teoria ética e na orientação
conscienciosa da conduta pessoal. São ultrapassados, na prática, com maior ou menor sucesso,
segundo o intelecto e a virtude dos indivíduos; mas dificilmente pode alegar-se que alguém está
menos qualificado para lidar com eles por possuir um padrão último para o qual podem ser remetidos
os direitos e os deveres em conflito. Se a utilidade é a fonte última das obrigações morais, pode ser
invocada para decidir entre elas quando as suas exigências são incompatíveis. Embora a aplicação do
padrão possa ser difícil, é melhor do que não ter padrão algum (...).
Stuart Mill, Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005 (adaptado).
5.1. Stuart Mill afirma que «a utilidade é a fonte última das obrigações morais».
Esclareça o conceito de «utilidade», integrando-o na ética de Stuart Mill.
Não existe sistema moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em conflito.
O valor moral da ação não reside, portanto, no efeito que dela se espera (...). Nada senão a
representação da lei em si mesma, que em verdade só no ser racional se realiza, enquanto é ela, e
não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos
moral, o qual se encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas não se deve
esperar somente do efeito da ação.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, pp. 31-32 (adaptado).
Compare, a partir do texto, a perspetiva de Kant com a de Mill relativamente àquilo que
determina o valor moral da ação.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das perspetivas de Kant e de Mill:
– na perspetiva de Kant, as consequências são irrelevantes para determinar o valor moral da
ação; na perspetiva de Mill, as consequências determinam o valor moral da ação;
– na perspetiva de Kant, uma ação é boa dependendo da intenção do agente; na perspetiva
de Mill, uma ação é boa se é útil;
– na perspetiva de Kant, uma ação é boa quando é feita por respeito à lei moral; na perspetiva
de Mill, uma ação é boa se produz a maior felicidade para o maior número.
É, na verdade, conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e,
quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante coisa,
mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar no seu
estabelecimento tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isso
ainda não é bastante para acreditar que o comerciante assim proceda por dever e por princípios de
honradez; o seu interesse assim o exige (...).
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 27 (adaptado).
7.1. Distinga, partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em conformidade
com o dever.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Distinção, recorrendo ao exemplo do texto, entre agir por dever e agir em conformidade com o
dever:
– a ação em conformidade com o dever pode ser motivada por inclinações, como o interesse
próprio / o comerciante agiria em conformidade com o dever se, ao fixar um preço igual para
todos, fosse motivado pelo seu interesse em manter a clientela;
– a ação realizada por dever é exclusivamente motivada pelo dever / o comerciante agiria por
dever se fosse motivado a fixar um preço igual para todos apenas pelo dever de ser
honesto;
– a ação em conformidade com o dever, apesar de não ser contrária ao dever, não tem valor
moral;
– a ação realizada por dever é a única moralmente boa.
7.2. Explique, de acordo com Kant, a relação entre autonomia e boa vontade.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação da relação entre autonomia e boa vontade:
– a vontade é autónoma quando se autodetermina (racionalmente);
– a vontade é autodeterminada quando não depende de qualquer princípio que lhe seja
exterior / de inclinações, mas apenas (do uso incondicionado) da razão;
– só uma vontade autónoma pode ser boa.
É perfeitamente compatível com o princípio de utilidade reconhecer que alguns tipos de prazer são
mais desejáveis do que outros (...).
É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser um Sócrates
insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente, é porque só
conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados.
Stuart Mill, Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005, pp. 52-54 (adaptado).
Pelo que diz respeito ao dever necessário ou estrito para com os outros, aquele que tem a intenção de
fazer a outrem uma promessa mentirosa reconhecerá imediatamente que quer servir-se de outro
homem simplesmente como meio, sem que este último contenha, ao mesmo tempo, o fim em si. Pois
aquele que eu quero utilizar para os meus intuitos por meio de uma tal promessa não pode, de modo
algum, concordar com a minha maneira de proceder a seu respeito, não pode, portanto, conter em si
mesmo o fim desta ação.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 2009, p. 74.
Justifique, a partir do texto, que fazer falsas promessas é imoral, segundo Kant.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação da imoralidade das falsas promessas, segundo Kant:
– fazer uma promessa com a intenção de não a cumprir é servir-se do outro simplesmente
como um meio / tendo em vista apenas a satisfação dos interesses ou das inclinações do
agente;
– tratar os outros apenas como meios, não respeitando a sua qualidade de seres racionais, é
desrespeitar a sua dignidade como pessoas;
– quem faz uma falsa promessa viola o dever absoluto de respeitar a humanidade, tanto na
sua pessoa como na dos outros;
– quem faz uma falsa promessa segue uma máxima que não é universalizável.
10. Haverá alguma circunstância em que seja moralmente aceitável matar uma pessoa
inocente, sem o seu consentimento, para salvar a vida de outras cinco pessoas?
Apresente as respostas que Kant e que Mill dariam à questão anterior, comparando-as.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das respostas de Kant e de Mill:
– Kant diria que em nenhuma circunstância é moralmente aceitável matar uma pessoa
inocente, sem o seu consentimento, para salvar a vida de outras cinco pessoas, ao passo
que Mill diria que, numa circunstância excecional, é moralmente aceitável sacrificar a vida
de uma pessoa para salvar a vida de outras cinco pessoas;
– Kant apresentaria o imperativo categórico para justificar a sua opção, enquanto Mill
justificaria a opção contrária por meio do princípio de utilidade:
• de acordo com Kant, a máxima de matar alguém para salvar um maior número de
pessoas viola a fórmula da lei universal, pois não podemos querer que tal máxima se
torne uma lei universal (OU a fórmula da humanidade do imperativo categórico estabelece
o dever de nunca usar a humanidade, seja na sua pessoa ou na pessoa de qualquer
outro, apenas como meio, mas sempre como um fim em si mesma; por essa razão, matar
uma pessoa, sem o seu consentimento, seria usar essa pessoa apenas como meio, não
respeitando a sua dignidade de ser um fim em si mesma em todas as circunstâncias);
• o princípio de utilidade, defendido por Mill, estabelece o dever de maximizar a felicidade
geral; assim, havendo apenas a opção de matar uma pessoa para salvar outras cinco e a
opção de não matar uma pessoa deixando outras cinco morrerem, o princípio de utilidade
dita como moralmente certa a opção de matar uma pessoa para salvar cinco pessoas,
dado ser esta a opção que promove um total de felicidade maior.
Compete à ética dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por meio de que teste podemos conhecê-
-los, mas nenhum sistema de ética exige que o único motivo do que fazemos seja o sentimento do
dever; pelo contrário, noventa e nove por cento de todas as nossas ações são realizadas por outros
motivos – e bem realizadas, se a regra do dever não as condenar. (...) O motivo, embora seja muito
relevante para o valor do agente, é irrelevante para a moralidade da ação. Aquele que salva um
semelhante de se afogar faz o que está moralmente certo, seja o seu motivo o dever, seja a
esperança de ser pago pelo incómodo; aquele que trai um amigo que confia em si é culpado de um
crime, mesmo que o seu objetivo seja servir outro amigo relativamente ao qual tem maiores
obrigações.
Stuart Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005, pp. 58-59 (adaptado).
está moralmente certo, seja o seu motivo o dever, seja a esperança de ser pago pelo
incómodo») (ou «aquele que trai um amigo que confia em si é culpado de um crime, mesmo
que o seu objetivo seja servir outro amigo relativamente ao qual tem maiores obrigações»).
12.2. No texto, lê-se que «Compete à ética dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por meio
de que teste podemos conhecê-los». Segundo Kant, esse teste é o do imperativo
categórico.
Explique como funciona o teste proposto por Kant. Na sua resposta, recorra a um
exemplo.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do funcionamento do teste:
– o imperativo categórico ordena «Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal»;
– segundo Kant, podemos derivar todos os nossos deveres deste imperativo;
– quando nos preparamos para agir, devemos perguntar a nós próprios qual é a máxima que
determina a nossa ação e se podemos querer sem contradição que essa máxima se
converta em lei universal (ou se podemos querer sem contradição que todos sejam
determinados por ela);
– se não podemos, a ação é contrária ao dever e devemos abster-nos de a realizar.
Apresentação de um exemplo:
– o João precisa de dinheiro e admite pedi-lo a um amigo, prometendo pagar-lho no mês
seguinte, embora saiba que não o fará; se o fizesse, o João estaria a seguir a máxima
segundo a qual se pode fazer uma promessa falsa para resolver problemas; o João não
pode querer que essa máxima se torne uma lei universal, pois uma tal lei destruiria a
possibilidade de haver promessas; consequentemente, se fizer uma promessa falsa, o João
age contra o dever.
Que outra coisa pode ser, pois, a liberdade da vontade senão autonomia, isto é, a propriedade da
vontade de ser lei para si mesma? (...) Vontade livre e vontade submetida a leis morais são uma e a
mesma coisa.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 94 (adaptado).
Explique por que razão, segundo Kant, «vontade livre e vontade submetida a leis morais
são uma e a mesma coisa».
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação, de acordo com Kant, da razão pela qual «vontade livre e vontade submetida a leis
morais são uma e a mesma coisa»:
– uma vontade livre é uma vontade autónoma, e a autonomia consiste em não se deixar
determinar por algo exterior a si, como os costumes, as leis (dos Estados), as religiões ou as
inclinações naturais (instintos, emoções, desejos ou interesses pessoais);
– a vontade de um ser racional só é livre ou autónoma se o princípio que a determina for, ele
próprio, racional, ou seja, se esse princípio for a lei moral;
– a liberdade da vontade consiste na submissão a leis morais que nós próprios, enquanto
seres racionais, estabelecemos.
14. Será que, de acordo com a ética utilitarista de Mill, quando calculamos as
consequências dos nossos atos, temos a obrigação de dar prioridade aos nossos
familiares, amigos e vizinhos mais próximos? Porquê?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da resposta:
– de acordo com a ética utilitarista de Mill, quando calculamos as consequências dos nossos
atos, não temos a obrigação de dar prioridade aos nossos familiares, amigos e vizinhos
mais próximos (mais do que isso: temos a obrigação de não dar prioridade aos nossos
familiares, amigos e vizinhos mais próximos).
Justificação da resposta:
– o cálculo das consequências dos nossos atos subordina-se ao princípio de utilidade, que
ordena a maximização da felicidade, ou seja, que obriga a agir de modo a obter o maior
saldo total de felicidade;
– no cálculo da felicidade, que deve ser imparcial, a felicidade de cada um dos envolvidos
conta o mesmo (OU como apenas importa o saldo global de felicidade decorrente da ação,
não é relevante se é a felicidade de uma pessoa que nos é próxima ou a de qualquer outra
pessoa afetada pela nossa ação que (mais) contribui para esse saldo).
Numa associação industrial cooperativa, será justo que o talento e a perícia deem direito a uma
remuneração superior? Os que respondem negativamente defendem que aqueles que fazem o melhor
que podem merecem ser pagos da mesma maneira, e que seria injusto colocá-los numa posição de
inferioridade por algo de que não têm culpa. (...) A favor da perspetiva contrária, alega-se que a
sociedade recebe mais do trabalhador mais eficiente, e que, como os seus serviços são mais úteis, a
sociedade lhe deve uma maior compensação. (...) Como escolher entre estes apelos a princípios de
justiça rivais? Neste caso, a justiça tem dois lados, sendo impossível harmonizá-los, e os dois
disputadores escolheram lados opostos – um olha para aquilo que é justo que o indivíduo receba; o
outro, para aquilo que é justo que a comunidade lhe dê. Cada uma destas posições é, do ponto de
vista de cada disputador, incontestável, e qualquer opção por uma delas (...) tem de ser
completamente arbitrária. Só a utilidade social pode decidir a prioridade.
Stuart Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005, pp. 98-99 (adaptado).
15.1. Explique o princípio geral, indicado por Mill, que permite resolver de forma não arbitrária
conflitos entre princípios rivais, como o exemplificado no texto.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do princípio geral, indicado por Mill, que permite resolver de forma não arbitrária
conflitos entre princípios rivais, como o exemplificado no texto:
– só a «utilidade social» permite decidir qual dos princípios de justiça em conflito tem
prioridade (se o princípio segundo o qual «aqueles que fazem o melhor que podem
merecem ser pagos da mesma maneira», ou se o princípio segundo o qual ao «trabalhador
mais eficiente (...) a sociedade (...) deve uma maior compensação»);
– o princípio da utilidade determina que se deve promover sempre a maximização da
felicidade;
– de acordo com o princípio da utilidade, tem prioridade o princípio de justiça que, numa dada
circunstância, maximiza (de forma imparcial) a felicidade geral.
Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há, além disso, muitas almas de disposição tão
compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse pessoal, acham íntimo
prazer em espalhar alegria à sua volta e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto
este é obra sua. Eu afirmo, porém, que, neste caso, uma ação deste tipo, ainda que seja conforme ao
dever, ainda que seja amável, não tem qualquer verdadeiro valor moral (...).
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 28 (adaptado).
Por que razão Kant afirma que o tipo de ação descrito no texto anterior não tem valor
moral?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da razão pela qual o tipo de ação descrito não tem valor moral:
– a ação caritativa descrita resulta de uma disposição compassiva (de um sentimento de
compaixão), e é motivada pelo prazer que dela retira quem a pratica, em virtude do
contentamento que proporciona aos outros;
– de modo a ter valor moral, a ação descrita teria de ser determinada pelo dever / a ação
descrita teria de ter como motivo o respeito pelo dever;
– o que distingue uma ação por dever de uma ação meramente conforme ao dever, como é o
caso desta ação (caritativa), é o motivo ou a intenção do agente;
– por resultar de uma disposição/inclinação, a ação caritativa descrita, ainda que seja
conforme ao dever, não foi feita por dever, o que a impede de ter valor moral.
Qual das duas programações referidas seria adotada por um defensor da ética de Mill?
Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Apresentação da solução que um defensor da ética de Mill adotaria:
– os automóveis autónomos devem ser programados para, em caso de acidente iminente,
darem prioridade à minimização do número total de vítimas.
Justificação da solução apresentada:
– o princípio ético defendido por Mill é o princípio da maior felicidade;
– de acordo com o princípio da maior felicidade, temos o dever de promover imparcialmente a
felicidade geral;
– no caso em questão, promover imparcialmente a felicidade geral implica optar pela solução
que minimiza o número total de vítimas, atribuindo igual importância aos passageiros do
automóvel autónomo e a todas as outras pessoas envolvidas no acidente.
O utilitarismo exige que o agente seja tão estritamente imparcial entre a sua própria felicidade e a dos
outros como um espectador desinteressado e benevolente.
Stuart Mill, Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005, pp. 63-64.
Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro,
sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 69.
Uma pessoa, por uma série de desgraças, chegou ao desespero (...). A sua máxima (...) é a seguinte:
Por amor de mim mesmo, admito como princípio que, se a vida, prolongando-se, me ameaça mais
com desgraças do que me promete alegrias, devo encurtá-la. (...) Vê-se então (...) que uma natureza
cuja lei fosse destruir a vida em virtude do mesmo sentimento cujo objetivo é suscitar a sua
conservação se contradiria a si mesma.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1986, p. 63.
21.1. Explique como Kant, recorrendo à fórmula da lei universal do imperativo categórico,
condena o suicídio.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do modo como Kant condena o suicídio recorrendo à fórmula da lei universal do
imperativo categórico:
‒ de acordo com o imperativo categórico, para uma ação ser moralmente boa, o agente tem
de poder querer que a máxima que a determina seja uma lei universal (da natureza);
‒ se a máxima que determina o agente, no caso considerado, fosse uma lei universal (da
natureza), haveria uma contradição na natureza, pois evitar o que é desagradável e nos
ameaça determinaria, simultaneamente, pôr fim à vida/«destruir a vida» e conservá-la;
‒ assim, a máxima que determina o suicídio não poderia ser uma lei universal (da natureza).
21.2. Segundo Kant, uma pessoa que, nas circunstâncias descritas no texto, optasse pelo
suicídio agiria de modo autónomo ou heterónomo? Justifique a sua resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação do modo de ação em causa:
‒ a pessoa agiria de modo heterónomo.
Justificação:
‒ a vontade da pessoa que optasse pelo suicídio seria determinada por uma inclinação («o
amor de si mesmo» / o desejo de se subtrair aos aspetos desagradáveis ou insuportáveis da
vida / o amor-próprio);
‒ por conseguinte, a sua vontade não seria determinada unicamente pela razão (que proíbe o
suicídio).
Aquele que diz uma mentira, por muito bem-intencionado que possa ser, tem de ser responsável pelas
suas consequências (...), ainda que estas possam ter sido imprevisíveis; pois a veracidade é um dever
que tem de ser entendido como a base de todos os deveres decorrentes de um contrato, cuja lei se
torna incerta e inútil caso se admita a menor exceção.
Por conseguinte, ser verídico (honesto) em todas as declarações é um mandamento sagrado da razão
(...).
Kant, «Sobre um Suposto Direito de Mentir por Amor à Humanidade», in A Paz Perpétua e Outros Opúsculos, Lisboa, Edições 70, 1989, pp. 175-
-176 (adaptado).
Todos os moralistas reconhecem que mesmo a regra de dizer a verdade, sagrada como é, admite a
possibilidade de exceções, verificando-se a principal quando ocultar um facto (por exemplo, ocultar
informação a um malfeitor ou más notícias a uma pessoa muito doente) iria salvar uma pessoa
(especialmente uma pessoa que não nós próprios) de um mal maior e imerecido, e quando só é
possível realizar a ocultação negando a verdade.
Stuart Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005, p. 63 (adaptado).
Quando, por exemplo, dizemos «Não deves fazer promessas enganadoras», admitimos que a
necessidade desta abstenção não é (...) um conselho para evitar qualquer outro mal – como se
disséssemos «Não deves fazer promessas mentirosas para não perderes o crédito quando se
descobrir o teu procedimento» – mas que fazer promessas enganadoras é uma ação que tem de ser
considerada como má em si mesma (...).
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 2009, p. 59 (adaptado).
24. Talvez roubar se justifique em certas circunstâncias. Por exemplo, no caso de um país
devastado pela guerra, uma pessoa em condições de extrema necessidade pode ter de se
apropriar de alimentos ou de agasalhos que não lhe pertencem para ajudar os seus filhos a
sobreviverem.
Mostre como o exemplo dado representa um desafio para a moral kantiana.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do modo como o exemplo dado representa um desafio para a moral kantiana:
– a moral kantiana prescreve regras absolutas, como não matar, não roubar ou não mentir;
– porém, parece haver casos em que essas regras absolutas entram em conflito, sem que
seja possível decidir qual prevalece;
– no caso apresentado, a regra que manda ajudar os outros sempre que possível
(encontrando alimentos ou agasalhos que lhes permitam sobreviver) pode ser considerada
tão importante como a regra que proíbe o roubo.
A Maria sempre gostou muito de crianças e chegou a pensar em trabalhar como voluntária numa
associação de apoio a crianças doentes, mas acabou por concluir que seria muito difícil conciliar esse
trabalho com os estudos.
Entretanto, ela soube que o voluntariado era muito valorizado nas entrevistas de emprego. Por essa
razão, decidiu contactar uma conhecida associação de apoio a crianças doentes e conseguiu ser
admitida, passando a conciliar o trabalho de voluntariado com os estudos. Pela sua dedicação e pela
sua simpatia, a Maria destacou-se desde o primeiro momento como uma das voluntárias favoritas das
crianças e das famílias.
O apoio dado pela Maria às crianças doentes e às suas famílias tem valor moral?
Na sua resposta, deve:
‒ clarificar o problema filosófico inerente à questão formulada;
‒ apresentar inequivocamente a sua posição;
‒ argumentar a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
– consideramos, geralmente, que os motivos são relevantes para o valor moral das ações,
mas também consideramos, geralmente, que as consequências das ações são relevantes
para o seu valor moral;
– daí decorre o problema de saber o que determina o valor moral das ações.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
O José é um bom aluno, mas sente-se inseguro quando tem de utilizar fórmulas memorizadas. Ao ser
informado de que o enunciado do teste final de Física não iria incluir uma lista com as fórmulas,
decidiu levar uma pequena cábula com as fórmulas mais complexas, para o caso de se esquecer de
alguma.
Ainda assim, o José acabou por não usar a cábula, errando algumas fórmulas, pois teve receio de ser
apanhado a copiar.
Será que, de acordo com Kant, a decisão do José tem valor moral? Justifique a sua
resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Indicação de que, de acordo com Kant, a decisão não tem valor moral:
‒ de acordo com Kant, a decisão do José não tem valor moral.
Justificação:
‒ ao levar a cábula para o teste final de Física, o José violou o dever de não levar cábulas
para testes (OU o dever de não tentar obter vantagens indevidas) OU o José agiu contra o
dever;
‒ é certo que o José acabou por não usar a cábula que levou para o teste; contudo, não foi o
dever (de não usar cábulas nos testes OU de não tentar obter vantagens indevidas) que o
motivou, mas o receio de ser apanhado a copiar OU contudo, tendo sido motivado pelo
receio (uma inclinação resultante do amor de si), o José agiu em conformidade com o dever,
e não por dever.
Um soldado encontra-se na frente de batalha. Sabe que, caso fuja, conseguirá salvar-se, mas porá em
causa a operação militar, destinada a proteger uma aldeia onde se abrigam centenas de civis
inocentes. Ainda assim, ele acabou por fugir.
Será que Kant e Mill divergiriam na avaliação moral do ato do soldado? Justifique.
Indicação do solicitado:
‒ Kant e Mill não divergiriam na avaliação moral do ato do soldado / ambos condenariam o ato
do soldado.
Justificação:
‒ de acordo com Kant, o ato do soldado constitui uma violação do dever (absoluto) de
proteger a vida de pessoas inocentes e, por isso, é imoral/condenável; o ato do soldado
resulta de uma cedência às inclinações, como o amor de si/o receio de perder a sua vida
(tratando-se o soldado a si mesmo, desse modo, apenas como meio);
‒ de acordo com Mill, o ato do soldado diminui o saldo de felicidade, que previsivelmente será
menor do que seria caso o soldado cumprisse a sua obrigação de colaborar na operação; o
ato do soldado resulta de, erradamente, ele atribuir mais importância à sua felicidade
pessoal do que à felicidade agregada.
Texto A
Conseguimos, portanto, mostrar, pelo menos, que, se o dever é um conceito que deve ter um
significado e conter uma verdadeira legislação para as nossas ações, esta legislação só se pode
exprimir em imperativos categóricos, mas de forma alguma em imperativos hipotéticos.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Coimbra, Atlântida, 1960, pp. 61-62.
Texto B
O objeto da ética é dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por que meios podemos conhecê-los;
mas nenhum sistema de ética exige que o único motivo de tudo o que façamos seja um sentimento de
dever. (...) O motivo nada tem a ver com a moralidade da ação, embora tenha muito a ver com o valor
do agente. Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente correto, quer o seu
motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu incómodo.
Stuart Mill, Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005, p. 65.
A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer
finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si mesma, e, considerada em si mesma,
deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado
em proveito de qualquer inclinação, ou mesmo, se se quiser, da soma de todas as inclinações. [..] A
utilidade ou a inutilidade nada podem acrescentar ou tirar a este valor.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1992, p. 23.
32. Leia o Texto 1 e considere-o nas suas respostas aos itens 32.1. e 32.2.
Texto 1
Temos a obrigação de ajudar alguém que seja pobre; mas, como o favor que fazemos implica que o
seu bem-estar dependa da nossa generosidade, e isso humilha a pessoa, é nosso dever
comportarmo-nos como se a nossa ajuda fosse (...) meramente o que lhe é devido (...), permitindo-lhe
manter o seu respeito por si própria (...), de modo a não diminuir o valor dessa pessoa enquanto ser
humano (...).
Kant, A Metafísica dos Costumes, Lisboa, FCG, 2017, pp. 390-392 (adaptado).
32.1. É possível inferir do Texto 1 que há atos de caridade que podem ser moralmente
censuráveis.
Concorda que há atos de caridade que podem ser moralmente censuráveis? Justifique a
sua perspetiva.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Num país, metade das pessoas tem um rendimento mensal de 6000 €, que lhes permite adquirir bens
que elas próprias consideram dispensáveis, e a outra metade tem um rendimento mensal de 600 €,
que dificilmente chega para satisfazer as suas necessidades básicas. Foram apresentadas duas
propostas ao governo: na primeira, propõe-se que o rendimento disponível seja redistribuído,
transferindo 200 € das pessoas que têm um rendimento mensal de 6000 € para as que têm um
rendimento mensal de 600€; na segunda, propõe-se que não se faça qualquer redistribuição.
34. Leia o Texto 1 e considere-o nas suas respostas aos itens 34.1. e 34.2.
Texto 1
Todos já tivemos de lidar com pessoas que dizem que algo – por exemplo, a homossexualidade (...) –
é moralmente errado, mas que são incapazes de apontar quaisquer consequências más que daí
resultem. (...) Certas teorias morais, mesmo quando são motivadas por uma preocupação com o bem-
-estar humano, parecem consistir num conjunto de regras para serem seguidas, sejam quais forem as
consequências.
W. Kymlicka, Contemporary Political Philosophy – an introduction, Oxford, Oxford University Press, 2002, p. 11.
34.1. Será que o utilitarismo é uma das teorias morais que consistem apenas «num conjunto
de regras para serem seguidas»?
Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Indicação do solicitado:
‒ não, o utilitarismo não é uma teoria moral que consista apenas «num conjunto de regras
para serem seguidas».
Justificação:
‒ para os utilitaristas, o facto de algo ser moralmente certo ou errado é determinado pelas
suas consequências OU o simples facto de uma regra ser considerada correta (ou ser
apresentada como correta) não é uma justificação aceitável da sua moralidade / de que
deva ser seguida;
‒ uma regra só adquire estatuto moral / só deve ser seguida se o teste da experiência mostrar
que, em geral, a sua aplicação tem consequências boas;
‒ em circunstâncias excecionais, se for previsível que a aplicação de uma regra não
maximizará o bem, então essa regra não deve ser seguida.
34.2. No Texto 1, refere-se que há teorias morais «motivadas por uma preocupação com o
bem-estar humano».
Explique o que entende Mill por bem-estar.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Explicação da noção de bem-estar defendida por Mill:
‒ o bem-estar é o mesmo que a felicidade;
‒ a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor OU a felicidade consiste em
experiências aprazíveis (e de ausência de dor).
Texto 1
Alguém bate à sua porta. Depara-se com um jovem que, claramente, necessita de ajuda. Está ferido e
a sangrar. Leva-o para dentro e ajuda-o, fazendo-o sentir-se confortável e seguro, e chama uma
ambulância. Não há dúvida de que esta ação é correta. Mas, se o ajudasse apenas por ter pena do
jovem, segundo Kant, isso já não seria uma ação moral.
N. Warburton, Uma Pequena História da Filosofia, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 123.
35.1. De acordo com Kant, a ação descrita no texto, ainda que seja correta, pode não ser «uma
ação moral». Caso não seja uma ação moral, como a classificaria Kant? Explique.
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Classificação da ação:
‒ ação em conformidade com o dever OU ação em conformidade com a lei moral OU ação
motivada por uma inclinação.
Explicação:
‒ temos o dever de ajudar (quem necessita de socorro), e a ação descrita não é contrária a
esse dever;
‒ contudo, caso a ajuda dada dependa do sentimento de pena, a ação não é motivada pelo
dever (e, por isso, é meramente conforme ao dever).
35.2. Como poderá o caso apresentado no Texto 1 ser usado para criticar a teoria ética de
Kant?
A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Explicação do modo como o caso apresentado pode ser usado para criticar a teoria ética de
Kant:
‒ independentemente dos motivos do agente – pena do jovem, respeito pela lei moral que
manda ajudar os outros ou vaidade pessoal –, o seu comportamento aumenta o saldo global
de felicidade;
‒ ora, se o comportamento aumenta o saldo global de felicidade, então tem consequências
boas para todos os envolvidos;
‒ aumentar o saldo global de felicidade é o propósito do comportamento moral OU o bem-
-estar é o propósito do comportamento moral.
OU
‒ o motivo do agente – pena de um jovem ferido – é um sentimento moral;
‒ os sentimentos morais motivam os agentes a considerar os interesses dos outros;
‒ a consideração (imparcial) dos interesses dos outros é o aspeto central da vida moral OU
tais sentimentos são nobres e resultam de um carácter moralmente educado/refletem uma
educação moral/não só não retiram valor moral às ações, como até lhes conferem valor
moral.
11. Rawls defende que, na posição original, a escolha dos princípios da justiça seguiria a
estratégia maximin.
Suponha que há 100 unidades de bem-estar para distribuir por três pessoas. Selecione a
opção que apresenta o modelo de distribuição que está mais de acordo com a estratégia
maximin.
Um indivíduo sofre de graves deficiências mentais, e um outro tem um grande talento matemático.
Estando satisfeitas as necessidades materiais de ambos, a sociedade dispõe de recursos adicionais
que permitem ajudar apenas um deles. Desse modo, ou o indivíduo com graves deficiências mentais
terá um apoio educativo suplementar, que não irá melhorar significativamente a sua vida, ou será
proporcionada uma educação superior ao indivíduo com talento matemático, que dela retirará a
grande satisfação de desenvolver todas as suas potencialidades nesse domínio.
Quem, contra Rawls, defender a opção de ajudar o indivíduo com talento matemático
estará a pôr em causa:
A. a existência de bens sociais primários.
B. o dever de imparcialidade.
C. o princípio da diferença.
D. o princípio da igualdade de oportunidades.
13. Suponha que uma pessoa rica tem de participar na escolha de princípios de justiça que
regulem a estrutura básica da sociedade em que vive. De acordo com Rawls, para que a
escolha seja razoável, essa pessoa terá de atender às restrições da posição original. Por
conseguinte, ela deve escolher princípios de justiça:
A. tendo em conta o rendimento dos mais desfavorecidos.
14. Na teoria da justiça de Rawls, o princípio da liberdade igual tem prioridade sobre o
princípio da diferença.
Aceitar esta prioridade implica aceitar que:
A. as liberdades não podem ser negadas mesmo que impeçam a criação de riqueza que
beneficiaria os menos favorecidos.
B. os incentivos ao crescimento da riqueza envolvem sempre o risco de serem negadas
liberdades aos menos favorecidos.
C. as liberdades são indispensáveis à melhoria crescente do rendimento dos menos
favorecidos.
D. os incentivos ao crescimento da riqueza apenas limitam as liberdades dos menos
favorecidos.
E se (...) algumas pessoas preferissem apostar? E se vissem a vida como uma lotaria e quisessem
certificar-se de que haveria algumas posições muito atrativas para ocupar na sociedade? Em princípio,
os jogadores estão dispostos a correr o risco de ficarem pobres se, em contrapartida, tiverem a
hipótese de serem extremamente ricos. (...) Rawls acreditava que as pessoas sensatas não
desejariam apostar as suas vidas desta maneira. Talvez estivesse enganado a este respeito.
N. Warburton, Uma Pequena História da Filosofia, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 228 (adaptado).
16. Suponha que os valores apresentados nas situações A e B indicam o acesso aos bens
primários dos indivíduos 1 e 2.
Indivíduo 1 Indivíduo 2
Situação A 4 4
Situação B 5 6
B. o princípio da liberdade.
B. os princípios de justiça que devem estruturar a sociedade não impõem um certo modo de
vida.
C. contém princípios de justiça que apenas especificam as diferentes liberdades.
D. a liberdade individual apenas pode ser anulada quando é incompatível com os desejos da
maioria.
C. as liberdades dos mais talentosos valerem menos do que o rendimento dos desfavorecidos.
Outras questões
1. De acordo com a teoria da justiça proposta por John Rawls, os princípios da justiça
devem ser escolhidos a coberto de um «véu de ignorância». Porquê?
– Os princípios da justiça devem ser escolhidos a partir da posição original, ou seja, a partir de
uma situação hipotética na qual ignorássemos a nossa posição atual na sociedade.
– Admite-se que, se ignorássemos a nossa posição atual, escolheríamos os princípios mais
equitativos. Deste modo, evitaríamos escolher os princípios que beneficiassem
exclusivamente a nossa situação atual, minimizando os riscos de termos uma vida
insatisfatória.
Para nos podermos queixar da conduta e das crenças de outros, temos de demonstrar que essas
ações nos ferem ou que as instituições que as permitem nos tratam de forma injusta. E isto significa
que temos de apelar para os princípios que escolheríamos na posição original. Contra estes princípios,
nem a intensidade do sentimento nem o facto de ele ser partilhado pela maioria têm qualquer
relevância.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001.
Dadas as circunstâncias da posição original, [nomeadamente] a simetria das relações que entre todos
se estabelecem, esta situação inicial coloca os sujeitos, vistos como entidades morais, isto é, como
seres racionais com finalidades próprias e – parto desse princípio – capazes de um sentido de justiça,
numa situação equitativa.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 34 (adaptado).
3.1. Explique, a partir do texto, por que razão Rawls considera que a posição original «coloca
os sujeitos (...) numa situação equitativa».
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação da razão por que a posição original «coloca os sujeitos (...) numa situação
equitativa»:
– na posição original, que é uma situação hipotética, os sujeitos fazem as suas escolhas a
coberto do véu de ignorância, garantindo «a simetria das relações que entre todos se
estabelecem»;
– o véu de ignorância coloca os sujeitos numa situação de desconhecimento dos factos
particulares das suas vidas: capacidades, classe social, género, etc.;
– desconhecendo os factos particulares das suas vidas, ninguém se encontra numa situação
de vantagem na escolha dos princípios de justiça;
– na posição original, as escolhas ocorrem numa «situação equitativa».
3.2. Apresente uma objeção à teoria da justiça de Rawls.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de uma objeção à teoria da justiça de Rawls:
– Objeção baseada no princípio da titularidade (de R. Nozick):
• para a justiça, é relevante o modo como se adquire e transmite a riqueza, e não o modo
como a riqueza está distribuída;
• se a aquisição e a transmissão da riqueza são legítimas, então a distribuição que daí
resultar também é justa;
• retirar parte da riqueza aos seus legítimos titulares, para a redistribuir, sem o seu
consentimento, é violar a sua autonomia.
– Objeção baseada na natureza das desigualdades (de R. Dworkin):
• há desigualdades que resultam de escolhas individuais;
• há desigualdades que resultam de contingências sociais e naturais, pelas quais os
indivíduos não são responsáveis;
• na teoria de Rawls, estas desigualdades são tratadas do mesmo modo, incentivando-se
as escolhas individuais irresponsáveis.
4. Leia o texto.
Quando os dois princípios [da justiça] são cumpridos, as liberdades básicas de cada sujeito estão
garantidas e, de um modo definido pelo princípio da diferença, cada sujeito é beneficiado pela
cooperação social. Deste modo, é possível explicar a aceitação do sistema social e dos princípios que
ele cumpre através da lei psicológica segundo a qual as pessoas tendem a amar, proteger e apoiar
aquilo que defende o seu próprio bem. Dado que o bem de todos é defendido, todos estarão
inclinados a defender o sistema.
Quando o princípio de utilidade é cumprido, (...) não existe a garantia de que todos beneficiem. A
obediência ao sistema social pode obrigar a que alguns, em particular os menos favorecidos, devam
renunciar a benefícios para que um bem maior esteja à disposição do conjunto. Assim, o sistema não
será estável, a não ser que aqueles que sofrem os sacrifícios maiores se identifiquem com interesses
mais amplos do que os que lhes são próprios. Tal não é fácil de obter.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 149 (adaptado).
No texto anterior, Rawls apresenta razões a favor dos dois princípios da justiça por si
defendidos e contra o princípio de utilidade.
Explicite as razões de Rawls.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação das razões de Rawls:
– numa sociedade organizada de acordo com os dois princípios da justiça, todos os cidadãos
são beneficiados em função do princípio da diferença (que estipula que as expectativas dos
menos favorecidos sejam maximizadas);
– (em contrapartida,) numa sociedade organizada de acordo com o princípio de utilidade,
alguns cidadãos poderão ser sacrificados em nome da felicidade geral ou de um bem maior
(pois o princípio de utilidade estipula a maximização do saldo global de felicidade, sem
atender à forma como a felicidade e os bens que a ela conduzem são distribuídos);
– quando todos são beneficiados, a aceitação do sistema social é mais elevada (e o sistema é
mais estável) do que quando alguns podem ser sacrificados em nome de um bem maior.
5. Em muitos países, os governos aplicam recursos financeiros quer para apoiar os estudantes
provenientes de meios economicamente desfavorecidos quer para apoiar os estudantes com
necessidades educativas especiais.
Segundo Rawls, essa aplicação de recursos financeiros é justa ou é injusta? Justifique
a sua resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação da posição de Rawls:
– a aplicação de recursos financeiros descrita é justa;
Justificação:
– segundo Rawls, as desigualdades económicas e sociais devem resultar do exercício de
cargos e funções abertos a todos em circunstâncias de igualdade (equitativa) de
oportunidades (princípio da igualdade de oportunidades);
6. Para que uma sociedade seja justa, basta que todos tenham liberdades iguais?
Na sua resposta,
‒ apresente inequivocamente a sua posição;
‒ argumente a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Nota – Os aspetos constantes do cenário de resposta apresentado são apenas ilustrativos,
não esgotando o espectro de respostas possíveis.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o examinando considerar que, para uma sociedade ser justa, basta que
todos tenham liberdades iguais:
– (sim, ter as mesmas liberdades é suficiente para uma organização justa da sociedade;)
– as posições sociais de cada um são justas quando resultam de processos que são, eles
próprios, justos (quando resultam do esforço ou da aplicação de capacidades e de talentos
individuais, de negócios bem-sucedidos baseados num acordo livre e informado entre as
partes envolvidas, ou de heranças legítimas), ainda que se verifiquem desigualdades na
distribuição da riqueza ou nas oportunidades disponíveis;
– seria injusto forçar as pessoas a abdicarem dos bens que adquiriram por processos justos
com a finalidade de beneficiar os mais desfavorecidos (as pessoas com menores recursos
económicos);
– apesar de, em muitos casos, a pobreza (a escassez de recursos económicos) ou a falta de
oportunidades não dependerem de escolhas individuais nem da falta de mérito pessoal, não
é justo violar a autonomia de uns, interferindo ilegitimamente na sua vida pessoal, com o
objetivo de beneficiar outros, ainda que mais carenciados (não é justo instrumentalizar uns
para favorecer outros).
No caso de o examinando considerar que, para uma sociedade ser justa, não basta que
todos tenham liberdades iguais:
– (não, ter liberdades iguais é fundamental para uma organização justa da sociedade, mas
não é suficiente;)
– o facto de todos terem, à partida, as liberdades necessárias para alcançar funções e
carreiras abertas a todos não implica que, efetivamente, todos tenham iguais oportunidades
de as alcançarem;
– as expectativas das pessoas que têm as mesmas capacidades e aspirações devem ser
idênticas, independentemente da classe social a que pertencem, e isso exige que todos
tenham oportunidades iguais;
– assim, a igualdade de oportunidades de educação, por exemplo, é fundamental para que os
conhecimentos e as qualificações não dependam da classe social e contribui para que
pessoas com as mesmas capacidades e aspirações tenham expectativas idênticas;
OU
– (não, ter liberdades iguais é fundamental para uma organização justa da sociedade, mas
não é suficiente;)
Os princípios da justiça constituem também imperativos categóricos no sentido empregado por Kant.
Por imperativo categórico, Kant entende um princípio de conduta que se aplica a um sujeito em virtude
da sua natureza como ser racional, livre e igual.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 204 (adaptado).
O objetivo da posição original é excluir aqueles princípios que seria racional tentar fazer aprovar (...)
em função do conhecimento de certos dados que são irrelevantes do ponto de vista da justiça.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 38 (adaptado).
O valor da liberdade não é o mesmo para todos. Alguns gozam de maior poder e riqueza e dispõem,
portanto, de maiores meios para alcançar os seus fins. (...) Considerando os princípios da justiça em
conjunto, a estrutura básica deve ser disposta de modo a maximizar para os menos beneficiados o
valor do sistema completo de liberdades iguais que é partilhado por todos. É esta a definição do
objetivo da justiça social.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 170 (adaptado).
10.1. Por que razão, de acordo com Rawls, é preciso maximizar o valor da liberdade para os
menos beneficiados?
Na sua resposta, mostre como se faria essa maximização aplicando os princípios da
justiça propostos por Rawls.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da razão pela qual é preciso maximizar o valor da liberdade para os menos
beneficiados:
– ainda que todos tenham iguais liberdades (cumprindo-se o que é prescrito pelo princípio da
liberdade), o valor dessas liberdades será menor para os menos beneficiados se estes não
dispuserem dos meios que permitem exercê-las / o valor dessas liberdades pode ser maior
ou menor consoante se tenham ou não os meios que permitem exercê-las.
Explicitação do modo como se faria a maximização do valor da liberdade para os menos
beneficiados, aplicando os princípios da justiça propostos por Rawls:
– os menos beneficiados não podem exercer de facto as liberdades de que dispõem
(liberdades decorrentes do princípio da liberdade) se não tiverem iguais oportunidades de
acesso a todos os cargos ou posições sociais (como é exigido pelo princípio da igualdade
equitativa de oportunidades) ou se a distribuição da riqueza disponível não lhes proporcionar
as melhores expectativas (como é exigido pelo princípio da diferença);
– assim, só a aplicação conjunta dos princípios da liberdade igual, da igualdade equitativa de
oportunidades / da oportunidade justa e da diferença maximiza o valor da liberdade para os
menos beneficiados (permitindo a realização da justiça social).
10.2. Considere, a título de hipótese, que temos a liberdade de viver a vida que queremos e
que temos a liberdade de usar como entendermos os recursos que adquirimos em
resultado do exercício legítimo das nossas capacidades. Suponha, ainda, que estas
liberdades são direitos morais absolutos.
Teríamos, neste caso, a obrigação de contribuir para a realização da justiça social
defendida por Rawls? Porquê?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da implicação da hipótese dada:
– não teríamos a obrigação de contribuir para a realização da justiça social proposta por
Rawls (caso as liberdades referidas ‒ a liberdade de viver a vida que se quer e a liberdade
de usar como se entende os recursos legitimamente adquiridos ‒ fossem direitos morais
absolutos).
Justificação:
– se as liberdades referidas fossem direitos morais absolutos, então não deveriam ser
limitadas;
– as liberdades referidas seriam limitadas caso se transferissem recursos legitimamente
adquiridos pelos mais beneficiados para os menos beneficiados, sujeitando os mais
beneficiados à obrigação de ajudar os menos beneficiados;
– ora, a realização da justiça social proposta por Rawls implica a obrigação de ajudar os
menos beneficiados (de acordo com o princípio da diferença).
11. Rawls defendeu que, se fôssemos colocados na posição original para escolhermos o
tipo de sociedade em que iríamos viver, escolheríamos os princípios de justiça por ele
indicados.
Terá Rawls razão ao afirmar que essa seria a escolha que todos faríamos? Justifique a
sua opinião.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de uma opinião.
Justificação da opinião apresentada:
Caso o examinando defenda que Rawls tem razão:
– (sim, Rawls tem razão ao afirmar que essa seria a escolha que todos faríamos;)
– na posição original, não conhecemos as condições particulares da nossa vida (talentos,
capacidades, saúde, situação de classe);
– de modo a minimizarmos os riscos, escolheríamos princípios que nos protegessem /
assegurassem o nosso acesso aos bens essenciais, caso não fôssemos favorecidos pela
lotaria social ou pela lotaria natural.
Caso o examinando defenda que Rawls não tem razão:
– (não, Rawls não tem razão ao afirmar que essa seria a escolha que todos faríamos;)
– de acordo com Rawls, na posição original escolheríamos princípios de acordo com os quais
as desigualdades económicas e sociais apenas são toleradas se trouxerem benefícios para
os mais desfavorecidos;
– muitas desigualdades económicas decorrem de escolhas individuais (por exemplo, alguém
pode escolher ter mais tempo livre e trabalhar menos), e não é justo que aqueles que fazem
certas escolhas (por exemplo, trabalhar mais e ter menos tempo livre) tenham de
compensar aqueles que fazem outras escolhas (por exemplo, trabalhar menos e ter mais
tempo livre).
12. Suponha que a sociedade dispõe de uma quantia destinada a financiar a preparação de dois
atletas para os jogos olímpicos. Os dois atletas têm o mesmo nível de talento e de
capacidades e a mesma motivação para as usar. De acordo com a teoria da justiça de Rawls,
estes atletas devem ter a mesma expetativa de sucesso, independentemente da classe social
de origem. Por isso, a quantia destinada a financiar a preparação de ambos para os jogos
olímpicos deve ser dividida pelos dois em partes iguais.
Identifique o princípio de justiça, proposto por Rawls, em nome do qual a solução
apresentada é a correta.
Identificação do princípio de justiça, proposto por Rawls, que determina a correção da solução
apresentada:
‒ (princípio da) igualdade (equitativa) de oportunidades OU (princípio da) oportunidade justa.
13. No texto seguinte, Rawls argumenta que o utilitarismo, ao dar prioridade à maximização
do bem, em vez de dar prioridade à justiça como equidade, não garante os direitos e as
liberdades individuais.
Admitamos que a maior parte da sociedade detesta certas práticas religiosas ou sexuais, encarando-
as como uma abominação. Este sentimento é tão intenso que não basta que tais práticas sejam
ocultadas do público; a simples ideia de que elas ocorrem é suficiente para suscitar na maioria
sentimentos de cólera e ódio. (...) Para defender a liberdade individual neste caso, o utilitarista tem de
demonstrar que, dadas as circunstâncias, o que verdadeiramente interessa do ponto de vista dos
benefícios, a longo prazo, é a manutenção da liberdade; mas este argumento pode não ser
convincente.
Na teoria da justiça como equidade, no entanto, este problema nunca se coloca. Desde logo, as
convicções intensas da maioria, se forem efetivamente meras preferências sem qualquer apoio nos
princípios da justiça anteriormente estabelecidos, não têm qualquer peso. A satisfação destes
sentimentos não tem qualquer valor que possa ser contraposto às exigências da igual liberdade para
todos.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 344 (adaptado).
– seja como for, a experiência/o cálculo da utilidade tem mostrado que a liberdade individual
geralmente contribui para a maximização do bem (por esta razão, a maximização do bem
tem prioridade sobre a justiça como equidade).
14. Imagine que é uma das quatro pessoas referidas no quadro abaixo e que, sem saber qual
delas é, tem de escolher entre as duas sociedades apresentadas, A ou B. Os valores
indicados são a medida do grau de acesso aos bens primários, que vai de um mínimo de 1 a
um máximo de 10.
De acordo com a teoria da justiça de Rawls, qual das duas sociedades indicadas, A ou
B, iria escolher?
Porquê?
Indicação do solicitado:
‒ iria escolher a sociedade A.
Justificação:
‒ desconhecendo que posição teria como resultado da lotaria natural e da lotaria social, teria
de considerar a possibilidade de ser a pessoa mais desfavorecida;
‒ por conseguinte, escolheria a sociedade que maximizasse o acesso aos bens primários da
pessoa mais desfavorecida;
‒ o grau de acesso aos bens primários da pessoa mais desfavorecida é maior na sociedade A
do que na sociedade B.
A pessoa que escolhe trabalhar mais horas para obter um rendimento que ultrapassa aquilo de que
precisa para satisfazer as suas necessidades básicas prefere alguns bens ou serviços adicionais em
detrimento do lazer e das atividades que poderia realizar nessas horas; ao passo que a pessoa que
escolhe não trabalhar tantas horas prefere as atividades de lazer em detrimento dos bens ou serviços
adicionais que poderia adquirir trabalhando mais. Assim sendo, se seria ilegítimo um sistema fiscal
apropriar-se de uma parte do lazer de uma pessoa (impondo-lhe trabalho forçado) com o propósito de
servir os necessitados, como pode ser legítimo que um sistema fiscal se aproprie de uma parte dos
bens de uma pessoa com esse mesmo propósito?
Porque devemos tratar a pessoa cuja felicidade requer certos bens materiais ou serviços de modo
diferente da pessoa cujas preferências e desejos tornam esses bens desnecessários para a sua
felicidade? (...) Talvez não haja diferença quanto ao princípio.
R. Nozick, Anarquia, Estado e Utopia, Lisboa, Edições 70, 2009, pp. 214, 215.
‒ para isso, o sistema fiscal apropria-se de uma parte dos rendimentos de quem escolhe
trabalhar mais horas para adquirir «bens e serviços adicionais»;
‒ mas é tão ilegítimo o sistema fiscal apropriar-se de uma parte dos rendimentos de quem
escolhe trabalhar mais horas como seria ilegítimo apropriar-se de «uma parte do lazer de
uma pessoa»;
‒ por conseguinte, não havendo diferença entre os dois casos, é discutível que uma
sociedade justa seja aquela que se encontra organizada de modo que o rendimento obtido
pelos mais produtivos beneficie o mais possível os mais desfavorecidos.
Numa associação industrial cooperativa, será justo que o talento e a perícia deem direito a uma
remuneração superior? Os que respondem negativamente defendem que aqueles que fazem o melhor
que podem merecem ser pagos da mesma maneira, e que seria injusto colocá-los numa posição de
inferioridade por algo de que não têm culpa. (...) A favor da perspetiva contrária, alega-se que a
sociedade recebe mais do trabalhador mais eficiente, e que, como os seus serviços são mais úteis, a
sociedade lhe deve uma maior compensação. (...) Como escolher entre estes apelos a princípios de
justiça rivais? Neste caso, a justiça tem dois lados, sendo impossível harmonizá-los, e os dois
disputadores escolheram lados opostos – um olha para aquilo que é justo que o indivíduo receba; o
outro, para aquilo que é justo que a comunidade lhe dê. Cada uma destas posições é, do ponto de
vista de cada disputador, incontestável, e qualquer opção por uma delas (...) tem de ser
completamente arbitrária. Só a utilidade social pode decidir a prioridade.
Stuart Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005, pp. 98-99 (adaptado).
16.1. Mostre que o princípio da diferença, defendido por Rawls, permite uma retribuição maior
para os mais talentosos.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação das razões pelas quais o princípio da diferença permite uma retribuição maior
para os mais talentosos:
– o princípio da diferença permite distribuições desiguais de riqueza;
– as distribuições desiguais de riqueza justificam-se quando produzem os maiores benefícios
possíveis para os menos favorecidos (para aqueles que sofrem os efeitos negativos da
lotaria natural ou da lotaria social nas suas vidas);
– se, por exemplo, os incentivos aos mais talentosos aumentarem os recursos disponíveis
para distribuir pelos menos favorecidos, então (de acordo com o princípio da diferença)
justificar-se-á uma retribuição maior para os mais talentosos.