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NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
LUCIANA DE LUCA DALLA VALLE
Teoria e prática na
Educação Infantil
IESDE BRASIL
2023
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5 Responsabilidades do professor 93
5.1 Construção de vínculos afetivos com a criança e sua família 93
5.2 Inclusão e respeito às diferenças 100
5.3 Formação continuada 105
Objetivos de aprendizagem
Diante disso, a mortalidade infantil nessa época era muito alta face
às condições de higiene precárias em que viviam, mas esse não era um
fato que causava estranhamento na sociedade (ARIÈS, 1987).
Nesse período, não havia distinção entre criança e adultos tanto nos Livro
aspectos pedagógicos quanto nos aspectos motores. Afinal, partia-se Um dos clássicos da
literatura sobre a história
do pressuposto que a diferenciação entre uma criança e um adulto era
da infância foi escrito por
apenas o corpo. Porém, a capacidade cognitiva, intelectual e de discer- Ariès em História social
da criança e da família.
nimento eram consideradas as mesmas, inclusive os castigos aplicados
Por meio de estudos, fei-
a um adulto poderiam ser infligidos a uma criança. Desse modo, estava tos por ele, que incluíam
a análise de imagens
vigente uma concepção de infância que a considerava como um adulto
religiosas, cartas, regis-
em miniatura (CABRERA SÁNCHEZ, 2008). tros de batismo, diários
de famílias, dossiês
Havia algum documento de registro do desenvolvimento infantil, familiares, o autor teceu
principalmente registros médicos, mas eram direcionados a um gru- uma representação da
criança na sociedade dos
po seleto de crianças – sobretudo infantes (como eram chamadas na séculos XII ao XVII.
época), príncipes e filhos de nobres. Eles eram o alvo de preocupação ARIÈS, P. 2. ed. Rio de Janeiro:
constante de seus progenitores, que mobilizavam recursos humanos e Zahar, 1987.
Comenius
(1592-1670)
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I
A finalidade da educação: buscar a felicidade do homem, o encontro
com Deus. Esse caminho é feito em consonância com a natureza e não
pela destruição dos desejos, dos instintos e das emoções naturais, con-
forme estava sendo feito.
(Continua)
III O método: Comenius listou nove princípios que constituem uma incrível
mudança nos processos educativos.
3
Tudo que é ensinado
1 2
Tudo deve ser
apresentadas às crianças ensinado com base deve ser feito
não por meio de em sua aplicação abertamente, sem ser
símbolo ou forma, mas prática e uma utilidade obscuro ou complicado.
diretamente. específica.
6
Para aprender qualquer Todas as partes de um
4 5
Tudo que é ensinado
conteúdo, primeiro objeto, sem exceção,
deve ser relacionado com
deve-se compreender devem ser apresentadas
suas causas, ou seja, sua
os princípios gerais e, em ordem, em posição e
verdadeira origem.
depois, os detalhes. em relação às demais.
7 8
Não mudar de
9
ser ensinadas na sua assunto antes de ter o conteúdo devem ser
devida ordem e nunca primeiro devidamente evidentes para que
mais de uma coisa de compreendido. sejam acentuadas as
uma única vez. diferenças entre eles.
ebooksbrasil.org/eLibris/didaticamagna.
html. Acesso em: 27 jan. 2023.
Nascido em Genebra, na Suíça foi filósofo e
escritor. Educado na religião protestante, tornou-se
católico e retornou ao protestantismo. Com isso, a
religiosidade impactou a sua obra.
Para refletir
Desse modo, as ideias de Rousseau influenciaram muitos movimen-
Na sua perspectiva,
as quatro propostas tos na educação e, ainda hoje, ele é referenciado por suas ideias acerca
parecem comuns? Pois da educação de crianças.
considere que elas são
de quatro séculos atrás.
Com isso, é possível
afirmar que Rousseau era
Johann Heinrich Pestalozzi
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Friedrich Froebel
(1782-1852)
Nasceu em Oberweissbach, na Alemanha, e
era filho de um pastor protestante. Além disso,
Froebel é reconhecido como autor que enfatizou
a importância da educação das crianças, das
atividades destinadas a ela e da escola das
crianças pequenas. Para ele, a escola é o lugar por
natureza onde a criança vai se desenvolver.
Para refletir Com base nisso, Monroe (1983, p. 306) destaca: “Na escola, a crian-
Quantas vezes você já falou ça deve aprender as coisas mais importantes da vida, os elementos
o termo jardim de infância
referindo-se à escola de essenciais da verdade, da justiça, da personalidade livre, da responsa-
crianças? Talvez você tenha bilidade, da iniciativa, das relações causais e outras semelhantes. Não
escutado o termo enquanto
estudava em um jardim de estudando-as, mas vivenciando-as”.
infância. Mesmo que hoje
em dia a terminologia não Partindo da natureza como metáfora, Froebel concebe as crianças
seja mais essa no Brasil, ela como plantinhas que são dispostas à mercê do professor, que atua-
ainda é bastante usada.
ria como jardineiro. Para que as plantas floresçam, o jardineiro precisa
adubar, regar, cuidar. Assim, para a escola das crianças ele escolheu o
nome kindergarten (em alemão, kind– significa criança, e –garten signi-
fica jardim); já em português ficou conhecido como jardim de infância.
Além disso, ainda existia uma grande parte da população no campo, por
isso os autores remetem seus escritos à natureza, assim como a necessida-
de de deixar a criança aprender e viver na natureza que, para eles, era uma
grande escola. Porém, isso não acontecia na realidade, pois muitas vezes
elas estavam trabalhando, seja no campo ou nas indústrias. Desse modo,
conforme destaca Arce (2002), elas passavam o tempo servindo aos adultos.
Maria Montessori
(1870-1952)
Foi a primeira mulher a se formar médica na
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Por sua vez, os adultos cuidadores relatavam que as crianças eram sujas,
insaciáveis e que se jogavam no chão para brincar com as migalhas de comi-
da. Isso fez com que Montessori percebesse que elas não tinham nada do
universo infantil, nenhum brinquedo, nada além de suas camas.
com rapidez e com resultados surpreendentes no campo da aprendiza- Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=LnLt24ypGDc. Acesso
gem e do relacionamento entre elas e seus cuidadores, tudo isso resul-
em: 27 jan. 2023.
tante de materiais e da relação adequada à idade delas.
Jean Piaget
(1896-1980)
O famoso psicólogo suíço teve sua formação inicial
em Biologia, foi professor por muitos anos e criou
uma teoria de desenvolvimento na qual afirma que
todas as pessoas passam por fases sequenciais de
desenvolvimento e tais fases regem sua forma de
aprendizagem e de conhecimento de mundo.
Além disso, Vygotsky (VIGOTSKI; LURIA; LEONTIEV, 1998) afirma OLIVEIRA, M. K. 2. ed. São Paulo:
Scipione, 1995.
que há dois níveis de aprendizagem: o real e o potencial.
2
Já o nível de desenvolvimento potencial é definido pelo autor como
aquilo que a criança (ou o adulto) precisa de ajuda para realizar, o que
ainda não é capaz de realizar sozinho, mas apresenta potencial para
aprender, está no processo.
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A clara frita é a zona de
desenvolvimento proximal.
Henry Wallon
(1879-1962)
O psicólogo francês Henry Wallon influenciou
as propostas educativas da escola de Educação
Infantil. Em linhas gerais, suas ideias sustentam a
importância do afeto nas propostas educativas.
Para ele, a emoção, os sentimentos e os
desejos necessitam ser levados em conta para
a efetivação da verdadeira aprendizagem e,
consequentemente, do desenvolvimento infantil.
Com base nisso, ele ressalta que o choro funciona como uma ma- Livro
neira de comunicação para a criança, pois ela chora indicando alguma Um dos importantes livros
de educação apresenta
necessidade. Com isso, ela tem essa necessidade atendida, entendendo a perspectiva de Piaget,
que foi capaz de comunicar uma mensagem ao adulto (GALVÃO, 2002). Vygotsky e Wallon e
oportuniza ao leitor a
Desse modo, com o tempo e a interação, as crianças vão transfor- formação de conceitos e
aprofundamento na obra
mando suas maneiras de comunicação, mas todas elas terão relação dos pensadores. O livro
com o afeto conforme Wallon defende. Piaget, Vygotsky, Wallon:
teorias psicogenéticas em
Portanto, o autor apresenta a importância do afeto para a Educação discussão, de La Taille,
Oliveira e Dantas é um
Infantil, de levar em conta os sentimentos da criança quando ao pro- clássico sobre o assunto, e
por que ela busque, pesquise e aprenda. Com isso, vemos que a teoria sua leitura é indispensável.
de Wallon derruba as práticas pedagógicas que priorizavam obediência LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS,
H. São Paulo: Sammus, 1992.
extrema e o seguir regras sem manifestar sua opinião. Além disso, ao
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trazer à tona ideias do pensamento de autores que são considerados
os precursores da Educação Infantil nos faz ver quanto foi importante o
que disseram e perpetuaram. Eles não só foram contra o que era enten-
dido como certo na época, como fortaleceram suas ideias com pesquisas
e desenvolvimento de acordo com o que a época permitia.
Desse modo, as suas ideias sobre a educação de crianças foram mui-
to além do que eles puderam pensar, influenciando até hoje escolas do
mundo todo.
Então, se hoje pensamos a criança pequena como um ser com direitos
e em uma etapa da vida que requer cuidado e atenção, além da educação,
devemos isso aos precursores das ideias, que nos abriram as portas do
conhecimento sobre esse tema.
ATIVIDADES
Atividade 1
Por que é necessário conhecer as diferentes concepções de infân-
cia ao longo do tempo?
Atividade 2
Em linhas gerais, qual é o ponto principal da teoria de Henry
Wallon e como ela influencia a Educação Infantil?
Atividade 3
O professor tem um papel relevante na teoria de Vygotsky? Por quê?
Acontece que o futuro das crianças nascidas nessa época não era
tão garantido como aparentava. Afinal, havia um alto índice de morta-
lidade, principalmente pelas questões de higiene e pobreza que impe-
ravam. Esse era um grande problema social enfrentado no nosso país,
embora isso também fosse uma realidade em boa parte do mundo.
Uma grande parte das crianças pobres do final do século XIX e início
do século XX tinha como destino as associações mantidas pelo estado.
Ou seja, os pais e as mães em extrema pobreza preferiam destinar seus
filhos para que fossem tutoreados pelo estado como órfãs e abandoná-
-los, por não terem condições de criá-los. Até a década de 1980, muitas
crianças passaram suas infâncias nessas instituições (RIZZINI, 1997).
Para entendermos a razão pela qual a infância era pensada dessa ma-
neira, precisamos compreender qual era o contexto brasileiro na época:
uma crescente onda de nacionalização do Brasil, que finalmente se liber-
tara das amarras da colonização e se erguia como um país. Um dos pontos
para essa mudança era a questão da pobreza e da saúde. Sob esse ponto
de vista, a infância era percebida como um compromisso do Estado, ou seja,
um problema social que ecoava no projeto de Brasil que estava nascendo.
Analisemos que o que estava sendo discutido era o futuro das pes-
soas que fariam o Brasil como uma nação soberana e com ideias e traba-
lho próprio. Assim, as crianças da época eram tidas como essas pessoas
do futuro. Logo, nada mais justo, sob o ponto de vista da época, que hou-
Em 1919, visto que não existia por parte do poder público outro
órgão que atendesse às necessidades das crianças, foi criado pelo
2.2 Responsabilidades na
Vídeo educação de crianças
Somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal,
houve uma definição que determinou as responsabilidades no atendi-
mento às crianças da Educação Infantil.
Para refletir Analisando pelo ponto de vista educacional, podemos perceber que
Você vê coerência na ideia as garantias de atendimento e cuidado, além da educação, são com-
de que a educação das
partilhadas pelo Estado e pela família das crianças pequenas. Portanto,
crianças pequenas seja
realizada em parceria com a educação deve ser feita em consonância com a assistência de saúde.
o atendimento a elas? Faz
sentido a parceria entre Os documentos que vieram após a CF de 1988 ajudaram a compor o
saúde e educação para a cenário da Educação Infantil brasileira atual, inclusive a BNCC. A partir da-
Educação Infantil?
qui, tratamos de cada um desses documentos compreendidos no período
entre 1998 e 2010, por ordem de promulgação, visto que eles ajudaram a
formar as premissas pelas quais a BNCC foi concebida.
Por sua vez, o ECA considera criança aquela que tem de 0 a 12 anos.
Sendo assim, ela tem as prerrogativas de direitos fundamentais, garan-
tidos em seu artigo 3º.
Parágrafo único.
Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e
adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar,
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição
Leitura
pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que dife- O Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA)
rencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
é uma legislação muito
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: comentada e utilizada
15 mar. 2023. no nosso país. Muitas
vezes, há confronto
entre o texto escrito e a
realidade, mas todos os
Nesses dois pequenos recortes do texto do ECA, podemos encontrar
professores precisam co-
os avanços consideráveis à educação de crianças pequenas. Observe- nhecê-la para identificar
qual é a parte que lhes
mos que a lei assegura que elas tenham oportunidades de desenvolvi-
cabe dessa legislação. A
mento, em condições de dignidade. Isso é muito diferente do que existia leitura do documento é
essencial, especialmente
e de como a educação das crianças era considerada no Brasil.
a do Capítulo IV.
Na verdade, analisando mais a fundo, isso é muito diferente de Disponível em: https://www.
como a própria infância era considerada antigamente. Atualmente, planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.
htm. Acesso em: 15 mar. 2023.
esse tempo da vida é reconhecido como um espaço de direito da pró-
Por isso, não se trata de reprovar a criança por faltas ou por baixo de-
sempenho, trata-se de buscar saber o motivo de ela não estar frequen-
Leitura
tando as aulas, qual motivo está levando-a a estar distante do ambiente
Quais os tipos de registros
escolar ou qual é o motivo do seu baixo rendimento. Será por meio des- para avaliar na Educação
sa investigação que teremos as respostas que podem apresentar as cau- Infantil? é uma questão
recorrente, e a leitura do
sas sociais. Com essas respostas em mãos e em consonância com o ECA, artigo do site Nova Escola
a escola precisará tomar uma providência ou comunicar algum órgão de responde sobre como
construir documentos
autoridade relativo ao motivo a fim de resolver o problema detectado. para explicar aos pais,
aos demais professores
Também é necessário considerarmos a quantidade de horas que as e às próprias crianças
crianças ficam no ambiente escolar, algo que a lei determina que seja sobre o desenvolvimento
delas. O texto também
no máximo 7 horas por dia no horário integral. Com isso, entende-se apresenta os diferentes
que a criança também precisa passar um tempo em família, com seus formatos de documentos
que podem ajudar você
responsáveis, fazendo parte do seu núcleo social. Portanto, a escola a analisar seu próprio
cumpre seu papel, mas partilha as responsabilidades com a família. desempenho.
Criança: sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produ-
zindo cultura.
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• procurar fazer com que a criança não sinta que a higiene é uma ba-
talha perdida, porque deverá sempre aceitar as vontades do adulto
quanto aos momentos e à forma de fazer isso.
Todos esses itens pressupõem uma boa relação do adulto professor para
com a criança e são esperados no trabalho com a Educação Infantil.
Expressar sentimentos
e pensamentos
Movimentar-se em espaços
amplos e ao ar livre
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estabelecer a diferença entre assistencialismo e educação e como a
educação atuava como compensação por déficits sociais nos possibilita
compreender como isso impacta a ação educativa proposta para crianças
pequenas na atualidade. Portanto, é perceptível o quanto a Educação In-
fantil brasileira avançou nesse aspecto, abandonando as visões ultrapas-
sadas que valorizavam apenas o cuidado mínimo das crianças.
Além disso, a elaboração de documentos oficiais mostra a importância
que a Educação Infantil adquiriu ao longo do tempo, especialmente a par-
tir da Constituição Federal de 1988, incluindo a necessidade de oferecer
cuidado e educação às crianças de 0 a 5 anos, com a sua prática permea-
da pela brincadeira para que a criança possa crescer e se desenvolver em
todas as suas potencialidades.
ATIVIDADES
Atividade 1
Como era caracterizada a visão assistencialista na Educação
Infantil?
Atividade 3
A escola de Educação Infantil deve privilegiar o cuidar ou o educar
da criança?
REFERÊNCIAS
ARRIBAS, T. et al. Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. 5. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988.
BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 dez. 2006a.
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 16 jul. 1990.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
Brasília, DF: MEC/SEB, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação
Infantil. Brasília, DF: MEC/SEB, 2006b. v. 1 e 2.
BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Brasília, DF: MEC/SEB, 1998. vol. 1, 2 e 3.
FREIRE, M. M. L.; LEONY, V. S. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção
e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde, v. 18, n. 1,
p. 199-225, dez. 2011.
GOUVEIA, M. C. S. Estudos sobre desenvolvimento humano no século XIX: da biologia à
psicogenia. Caderno de Pesquisa, v. 38, n. 134, p. 535-557, ago. 2008.
KRAMER, S. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 9. ed. Rio de Janeiro: Cortez, 2013.
KUHLMANN JR., M. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. 7. ed. Porto
Alegre: Mediação, 2010.
OLIVEIRA, Z. M. R. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2018.
OLIVEIRA, Z. M. R. et al. Creches: crianças, faz de conta e cia. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
WESTIN, R. Crianças iam para a cadeia no Brasil até a década de 1920. Senado Notícias, 2015.
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/07/07/criancas-iam-
para-a-cadeia-no-brasil-ate-a-decada-de-1920. Acesso em: 25 abr. 2023.
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1 2 3
O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas
4 5
Escuta, fala, pensamento e Espaço, tempo, quantidades,
imaginação relações e transformações
(Continua)
muitas diferenças ao longo da faixa etária de 0 a 5 anos. Então, é preci- Disponível em: https://novaescola.
org.br/conteudo/16990/
so adequar as propostas pedagógicas dentro dos campos de experiên-
educacao-infantil-6-planos-de-
cia com base nessa realidade. Na BNCC, a Educação Infantil apresenta atividade-para-trabalhar-os-
campos-de-experiencia. Acesso em:
uma divisão por idades, que aproxima as crianças por faixa de desen-
16 mar. 2023.
volvimento. Essa divisão foi realizada para que as especificidades das
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E I02TS01
O primeiro par de letras indica O último par de números
a etapa de Educação Infantil. indica a posição da habilidade
na numeração sequencial do
campo de experiências para
cada grupo/faixa etária.
O primeiro par de números
indica o grupo por faixa etária:
01 = Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) O segundo par de letras indica o campo de experiências:
02 = Crianças bem pequenas EO = O eu, o outro e o nós
(1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
CG = Corpo, gestos e movimentos
03 = Crianças pequenas
(4 anos a 5 anos e 11 meses) TS = Traços, sons, cores e formas
EF = Escuta, fala, pensamento e imaginação
ET = Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
(EI03EO01)
(EI03CG01)
(EI03TS01)
(EI02TS01) Utilizar sons produzidos por
(EI01TS01)
Criar sons com materiais, objetos e ins- materiais, objetos e instrumen-
Explorar sons produzidos com o próprio
trumentos musicais, para acompanhar tos musicais durante brinca-
corpo e com objetos do ambiente.
diversos ritmos de música. deiras de faz de conta, encena-
ções, criações musicais, festas.
(Continua)
(EI03EF01)
(EI02EF01) Utilizar sons produzidos por
(EI01EF01)
Criar sons com materiais, objetos e ins- materiais, objetos e instrumen-
Explorar sons produzidos com o próprio
trumentos musicais, para acompanhar tos musicais durante brinca-
corpo e com objetos do ambiente.
diversos ritmos de música. deiras de faz de conta, encena-
ções, criações musicais, festas.
(EI02ET01)
(EI01ET01) (EI03ET01)
Explorar e descrever semelhanças e di-
Explorar e descobrir as propriedades Estabelecer relações de com-
ferenças entre as características e pro-
de objetos e materiais (odor, cor, sabor, paração entre objetos, obser-
priedades dos objetos (textura, massa,
temperatura). vando suas propriedades.
tamanho).
Para Rovira e Peix (2004), o professor precisa educar seu olhar para a
observação que vai se dar, inclusive em aspectos que ultrapassam a
sala de aula, nos seguintes âmbitos:
• Familiar: na relação que a criança e seus familiares estabelecem.
não há a necessidade de
um vídeo ser unicamente
usado como avaliação das
crianças, o que estamos
afirmando é que é possí-
vel por meio de um vídeo
gravado (por exemplo, de
uma brincadeira) o pro-
fessor ter elementos para
melhorar sua observação
acerca das crianças.
ATIVIDADES
Atividade 1
Qual é a importância de a escola de Educação Infantil ter um currí-
culo pedagógico elaborado com base na BNCC?
Atividade 2
Qual é a justificativa de o trabalho da Educação Infantil ser propos-
to em divisão de três faixas etárias de acordo com a BNCC?
Atividade 3
Está correto dizer que a avaliação da Educação Infantil tem o cará-
ter de retenção de uma criança que não tenha um bom desempe-
nho na avaliação, impedindo-a de cursar o Ensino Fundamental?
Justifique sua resposta.
Talvez possa surgir uma dúvida: mas então temos que trabalhar
apenas com o que as crianças gostam? E a resposta para isso é sim-
ples: Não! Precisamos trabalhar a partir do que elas gostam.
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É nesse contexto que destacamos a importância do planejamento
da prática da Educação Infantil. É fundamental que fique evidente que
o planejamento é imprescindível em todos os níveis de ensino, ape-
nas vamos destacar aqui a Educação Infantil por ser nosso objeto de
estudo.
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A previsão é o momento da escolha, das propostas, de elencar estra-
tégias, objetivos, tempo a ser destinado a este ou outro ensinamento.
Mas é importante considerarmos que um planejamento precisa ter fle-
xibilidade e permitir uma revisão de ideias, de estratégias, de métodos.
Sem planejamento nada dá certo, mas sem considerarmos que o planeja-
mento precisa ser revisto também não teremos sucesso, pois incorreremos
naquele erro de fazer tudo sempre do mesmo jeito, sem nos lembrarmos de
que é possível mudar a forma para termos outros resultados.
Pensando na prática
Em uma sala de aula com crianças de 4 anos, o professor entrega às crianças
cartões que serão dedicados às mães no Dia das Mães.
Para facilitar (porque na visão dele as crianças não sabem escrever e não dese-
nham muito bem), os cartões já vêm com um lado preenchido com desenhos de
flores para serem coloridos e outro lado com uma mensagem previamente escrita.
Caberá às crianças, sob a orientação do professor, pintar as flores que
estão no cartão e colar pedacinhos de papel ao redor do cartão. O professor
escreverá o nome de cada mãe e de cada criança e pronto. Esse é um exemplo
de atividade muitas vezes feita nas salas de aula de Educação Infantil.
No entanto, o que as crianças de fato fizeram e qual significado esse cartão
tem para elas? Nesse caso, as crianças somente colaram papel picado em
volta de um cartão e pintaram flores previamente desenhadas.
Pensemos nessa proposta sob o ponto de vista da adequação da atividade ao
contexto das crianças.
O professor precisa refletir sobre sua escolha metodológica. Veja as consi-
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derações nesse caso: há crianças que não têm mãe. Há crianças que têm duas
mães. Há crianças criadas com mães sociais, criadas por avós, criadas por pais
ou outras figuras masculinas. Diante disso, o cartão do Dia das Mães será abo-
lido? Não necessariamente. É nisso (e muito mais) que a escola precisa pensar.
A decisão é de cada instituição como um todo e de cada professor em parti-
cular. Porém, é inegável que a escola precisa adequar suas práticas aos con-
textos das crianças e acreditar que elas podem fazer mais que apenas seguir
as ordens de seus professores. Ou seja, elas também podem participar das
escolhas, opinando e decidindo.
(Continua)
Em geral, a resposta para essa pergunta seria que as crianças não sa-
bem escrever, que não conseguem pintar sem orientação, que as mães
são todas iguais e assim devem ser consideradas, que a criança fará o
que o professor mandar mesmo que não entenda o motivo disso.
1
Educação Infantil apre-
senta algumas ideias de
Pedagógico – o trabalho pedagógico se desenvolve em toda a escola e
elementos para compor
nos passeios e visitas realizados. o ambiente da Educação
Infantil sob o ponto de
2
vista das crianças. Vale
conhecer e verificar como
Segurança – o espaço da escola precisa ser seguro e favorecer a ampla os pequenos podem
circulação das crianças. É fundamental que as crianças conheçam to- interagir com esses nove
dos os espaços da instituição e saibam se movimentar por eles. elementos propostos,
o que pode resultar em
boas ideias!
3
Disponível em: https://www.
Acesso – as crianças precisam ter acesso direto aos materiais pedagógi- youtube.com/watch?v=l6FA6-
cos que devem estar distribuídos de maneira organizada para possibilitar o XSHSw&t=8s. Acesso em: 30
uso e a exploração dos pequenos. mar. 2023.
4
e isso precisa acontecer de maneira cooperativa entre professores e
crianças e entre as crianças. A organização pode sofrer alterações de
acordo com a introdução de novos materiais e será reorganizada por to-
dos. As crianças devem participar e se sentir igualmente responsáveis
pela conservação e manutenção dos materiais.
5
Leitura
Mobilidade – o ambiente deve sugerir mobilidade e iniciativa das crianças. Como fundamento para
os conceitos, as defini-
ções e a orientação dos
Portanto, os espaços educativos da escola de Educação Infantil de- processos da construção
contínua da qualidade
vem oportunizar que as crianças possam jogar, brincar, aprender, dor-
no atendimento às
mir, alimentarem-se, brincar ao ar livre, terem contatos com pequenos crianças de 0 a 5 anos, o
documento Parâmetros
animais e plantas.
Nacionais de Qualidade da
Educação Infantil indica
No Brasil, a regulamentação desses espaços é feita pelo documen-
os padrões de referên-
to Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil. Para isso é cia, organização, gestão
e funcionamento das
necessário compreendermos que os espaços e os materiais do ambiente
instituições de Educação
deverão estar sempre à disposição das crianças e não dos adultos. Infantil para a aprendiza-
gem e o desenvolvimento
Como as crianças da Educação Infantil são de idades diferenciadas – integral das crianças.
bebês (zero a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 me- Disponível em: https://www.gov.
ses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 br/mec/pt-br/media/seb/pdf/
publicacoes/educacao_infantil/
meses) – (BRASIL, 2018), algumas de suas necessidades também são Public_MEC_WEB_
diferentes. Então, mesmo que estejam em um único ambiente escolar, ISBN_2019_003.pdf. Acesso em:
30 mar. 2023.
é necessário prevermos algumas especificidades.
vimento inicial é motora. Assim, eles vão rolar, aprender a andar, ex-
plorar materiais diversos, observar, brincar sozinhos e acompanhados,
alimentar-se, cochilar. Para que possam fazer livremente tudo isso e,
portanto, exercer seu pleno direito de desenvolvimento e aprendiza-
gem, alguns espaços são necessários, como fraldário, lactário e espaço
para descanso com berços.
Livro A seguir algumas considerações sobre as necessidades das crianças
O livro Cadê? Achou! Edu- que estão nas creches e pré-escolas e os ambientes que as compõem.
car, cuidar e brincar na
ação pedagógica da cre- Ter um ambiente para repouso, sendo necessário dispor de berços
che é focado no trabalho
pedagógico com bebês e
(para crianças de até 8 meses) ou caminhas/colchonetes para demais
crianças dos 0 aos 3 anos idades. É ideal que a criança durma profundamente em um berço seguro
e 11 meses, sugerindo
soluções práticas para os
(cuidando com a distância entre as grades para não passar a cabeça do
desafios da educação des- bebê e não correr risco de acidentes). A opção da chupeta é de cada fa-
sas faixas etárias, visando
à integração do cuidar
mília, então teremos na mesma sala algumas crianças com e outras sem.
e educar e oferecendo
boas opções de trabalho
Leitura
dentro de quatro elemen- Há muita polêmica sobre o uso de chupeta por crianças da Educação Infantil. Alguns pais
tos: observação, imitação, são favoráveis, outros contrários, algumas escolas incentivam o uso em determinados
brincadeiras e interação. momentos, entendendo que são objetos que ajudam a criança, enquanto outras traba-
lham para a criança se abster dessa necessidade. Por isso a leitura da matéria do site
PINTO, A. Curitiba: Positivo, 2018.
Primeira Infância é essencial para ampliar os conhecimentos sobre essa discussão.
Vídeo
Alguns bebes quando vão à creche mamam somente na mamadeira, outros ainda estão
no aleitamento materno (inclusive a mãe pode enviar seu leite para o lactário da creche
ou ir até lá para amamentar seu bebê) e existem ainda os que ora são alimentados em
mamadeira (na creche), ora são alimentados pelos pais (em casa). Sabia que há diferença
no tipo da mamada? Para conhecer mais sobre isso, assista ao vídeo do site Sikana que
apresenta várias dicas úteis.
hutterstock
Oferecer um espaço externo, sendo ele um pátio ou um espaço ena/S
App
ra
L au
para jogos ao ar livre que possibilite movimentos amplos e livres e ex-
plorações diversas preferencialmente em contato com a natureza.
Leitura
Uma prática muito comum nas creches é levar os bebês para tomar Sol em espaços
abertos. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que atualizou opiniões sobre
o tema, é preciso dosar muito a quantidade de tempo que a criança fica no Sol. Logo, é
essencial a leitura da matéria Fotoproteção na criança para conhecer a recomendação
atual sobre Sol e bebês envolvendo tempo, idade, permanência e proteção.
Cantinho dos
veículos: tico-ticos,
Cantinho com areia. bicicletinhas, pistas
para deslocamento.
BlueRingMedia/Shutterstock
Então, onde consta “uso adequado”, consideremos que isso diz res-
peito à intencionalidade educativa que imprimiremos no uso desses
materiais. Eles não estão na escola como passatempo, são elementos
muito importantes de aprendizado e desenvolvimento infantil.
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Segurança para as crianças pequenas – os materiais não podem causar
acidentes evitáveis (com pontas, metálicos, jogos com peças pequenas
para menores de 3 anos, entre outros).
vectorplus/Shutterstock
(Continua)
HappyPictures/Shutterstock
Ensinar a criança a guardar os brinquedos no final. Para isso, é necessário
dispor de um local seguro para, inclusive, prevenir quedas e acidentes. Os
brinquedos das crianças maiores devem ser guardados separados das
menores, pois os das maiores podem ser perigosos.
gens. Isso ajuda muito a criança, pois ela consegue prever no tempo
quais serão as atividades do dia até que volte para casa, o que aconte-
cerá após o lanche, qual a primeira atividade do dia. Por exemplo, para
as crianças que ficam ansiosas com o horário em que irão ao parquinho
ou o horário de voltar para casa, as rotinas escritas as acalmam, além
de as manter informadas. Nesse caso, o hábito de listar as atividades
diárias auxilia na construção de noções temporais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das partes mais importantes da escola diz respeito à realização
do planejamento educacional. Nele ficam explícitas as concepções que
estão sendo utilizadas no ambiente, bem como as percepções dos profes-
sores sobre o desenvolvimento infantil. Para que uma escola cumpra com
sua função de educar as crianças por meio de interações e brincadeiras,
é preciso que tudo seja muito bem planejado, levando em conta os docu-
mentos oficiais que fundamentam essa ação.
ATIVIDADES
Atividade 1
Uma vez que as crianças de Educação Infantil são tão pequenas
e têm atitudes imprevisíveis, qual a importância do planejamento
educacional se nem sempre é possível cumpri-lo?
Atividade 2
Por que se diz que na Educação Infantil não há uma sala de aula?
Atividade 3
Quais aspectos dos materiais precisam ser levados em conta
quando da escolha deles para o uso na Educação Infantil?
Responsabilidades do professor 93
Livro todas as etapas da nossa vida. Os vínculos emocionais que criamos
O livro A escuta e o acolhi- com as pessoas em nossas vidas, que são permeados de sucessos,
mento como princípios das
relações foi escrito com fracassos, medos, (in)certezas, dificuldades, facilidades e muitos
base nas experiências mais adjetivos, nos ajudam a construir nosso eu, a compor nossa
da rede municipal de
ensino de Curitiba e é uma personalidade (WALLON, 2010).
primorosa obra que vai lhe
ajudar a compreender me-
No universo educacional, a palavra vínculo é bastante consi-
lhor o universo da Educa- derada como elemento facilitador do processo educativo. Como
ção Infantil e a importância
do vínculo afetivo.
definição, chamamos de vínculo “o que liga afetivamente duas ou
id
Ins
cadeira, e assim é estabelecida uma relação afetiva, que envolve
muitos sentimentos, como amor, carinho, encantamento, frustra-
ção, raiva, medo, entre outros sentimentos (BRASIL, 1998).
nas cuidam das crianças sob sua responsabilidade, mas também são Neste livro, tratamos do
profissional de Educa-
o elemento de mediação entre os pequenos e o mundo. Sob o olhar e ção Infantil somente
atitudes desses profissionais, as crianças vão conhecendo o que lhes como professor, mas
ele também é conhe-
cerca, vão testando respostas e explorações, vão atuando sobre seu cido como educador. A
entorno. São as impressões, as respostas e as propostas educativas distinção muitas vezes se
dá pelo professor ser o
desses profissionais que farão a diferença na formação da criança. profissional graduado em
uma licenciatura, já o edu-
Não precisamos destacar ainda mais a real importância da forma- cador ser o profissional
ção desse professor, não é? A responsabilidade dele é enorme. Cada com magistério.
Responsabilidades do professor 95
a família deles. Mas por que também o vínculo com as famílias es-
pecificamente? Para respondermos a isso vamos abordar primeiro a
questão da legislação.
Rawpixel.com/Shutterstock
É importante considerarmos que as famílias têm diferentes confi-
gurações para além do pai e da mãe e seus filhos biológicos. O que
dizer sobre isso? Façamos o seguinte raciocínio: qual é a importância
da família para a escola?
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e as interações que resultarão em desenvolvimento das crianças, e não
a configuração familiar (PANIAGUA; PALACIOS, 2007).
Para refletir
Em uma convocação para uma reunião na escola quem habitualmente é cha-
ViDI Studio/Shutterstock
mado? Se você respondeu mãe, precisa repensar seus conceitos. Hoje é preciso
estudar a realidade de cada criança e chamar o responsável, que pode ser a mãe,
a avó, o pai, o irmão maior de idade, a tia, a madrasta, o padrasto, o avô. Novas
práticas educativas para uma nova configuração educacional. Adequação aos
tempos modernos é o que se espera, não?
Responsabilidades do professor 97
É preciso compreendermos que existem realidades familiares em
que não há rede de apoio à maternidade: não estão por perto avós,
tios, amigos que possam compartilhar o cuidado e o bem-estar das
crianças, ficando tudo a cargo dos pais ou de um deles somente, nor-
malmente cansado de tantos afazeres. Assim como há casos em que
as crianças são criadas por avós que tomam todas as decisões mesmo
tendo pais presentes.
1 Conhecer a criança
Considere que quando entra na escola a criança já participa de
experiências sociais no seio familiar. Assim, para conhecer melhor a
criança, uma entrevista com os pais/responsáveis ajuda muito. É preci-
so conhecer a criança, seus ritmos, o que lhe agrada, o que não agrada,
que palavras usa para nomear objetos ao seu redor, entre outras coi-
sas. Claro que isso depende da idade em que a criança entra na escola,
mas de qualquer modo a entrevista inicial com os pais/responsáveis é
algo a ser feito com todas as famílias.
Responsabilidades do professor 99
diferentes para uma mesma situação, por exemplo, guardar os brin-
quedos que utiliza. Enquanto a criança faz isso tranquilamente na
escola, em casa recusa-se a fazer. Muitas vezes o comentário dos
pais é: em casa não tem jeito. Nisso entra a ajuda que a escola dará
aos pais: ajudá-los a educar a criança!
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação
dada pela Lei n. 12.796, de 2013)
§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na
escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educa-
ção especial.
§ 2º. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições especí-
ficas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns
de ensino regular.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em:
24 abr. 2023.
wavebreakmedia/Shutterstock
• Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter
o nível adequado de aprendizagem.
• Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implemen-
tados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades.
• Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria
acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades.
• Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de com-
bater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade
inclusiva e alcançando educação para todos. Além disso, tais escolas provêm uma educação efetiva
à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o
sistema educacional.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 24 abr. 2023.
Público Benefício
São poupadas aos efeitos da educação segregada – incluindo os efeitos negati-
vos da categorização, bem como das atitudes negativas, promovidas pela falta
de contato com as demais crianças sem deficiência.
Têm modelos que lhes permitem observar e aprender novas competências
e/ou aprender, por meio da imitação, como e quando utilizar as competências
que já possuem.
Crianças com deficiência
Têm a oportunidade de estar com crianças de idades similares (pares) com as
quais podem interagir de modo espontâneo. Assim, aprendem novas compe-
tências sociais ou comunicativas.
Têm a possibilidade de vivenciar experiências de vida realísticas, que as pre-
param para a vida na comunidade. Têm a possibilidade de desenvolver ami-
zades com as demais crianças.
(Continua)
Pensando na prática
Andréa é professora e organizou uma aula sobre alimentação saudável para
uma turma de 15 alunos com 5 anos de idade e entre eles uma criança com
deficiência visual. Uma das atividades proposta pela professora foi para as
crianças da turma, de olhos vendados, colocarem as mãos dentro de uma
caixa e adivinharem qual alimento estava lá dentro. Dentro da caixa havia
diferentes frutas, legumes e verduras, como pimentão, batata, coco maduro,
laranja, banana.
A dinâmica consistia em uma a uma as crianças, de olhos vendados, co-
locarem a mão na caixa e dizerem o que estavam segurando. Enquanto as
crianças realizavam a dinâmica, uma menina da sala narrava para a colega
cega o que estava acontecendo. Todos estavam animadíssimos com a brin-
cadeira. Pois bem, chegou a vez da aluna cega. A professora Andréa colocou
a caixa no colo da aluna e esperou que ela colocasse a mão dentro da caixa.
A criança não se mexeu. O silêncio intrigou a professora. Muito sorridente a
criança disse: estou esperando você colocar o lenço em mim para começar.
Atenção
Formar-se continuamente não é só fazer um acúmulo de cursos. É de fato aprender,
mudar, considerar que é possível adequar procedimentos, e técnicas, e certezas, e per-
cepções. Então não basta fazer o curso (ou frequentar a palestra, ou ouvir o podcast, ou
assistir a um vídeo), é preciso considerar realmente o que está sendo dito, refletir sobre
as informações e a sua prática, comparar suas atitudes com as que estão em discussão e Livro
analisar o que é preciso para o seu crescimento e, talvez, a sua mudança. Saber administrar
sua própria formação
continuada é uma das
Alguns motivos podem nos fazer buscar mudanças: inovação, tra- 10 competências listadas
balho em equipe, participação em um projeto educativo da institui- por Perrenoud em seu
livro 10 novas competên-
ção ou da cidade, reflexão pessoal sobre suas atitudes e desempenho cias para ensinar. A obra
profissional. Paulo Freire (1996, p. 43), patrono da educação brasileira, é maravilhosa e a sua
leitura é indicada para
destaca: “na formação permanente dos professores, o momento fun- profissionais que desejam
damental é a reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a aprender mais e estão
abertos ao crescimento
prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. pessoal e profissional.
A ação de lucidez profissional (PERRENOUD, 2000) também é indi- PERRENOUD, P. São Paulo:
Artmed, 2000.
cada, pois propõe que haja uma reflexão sobre a prática de cada pro-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os núcleos familiares passaram por muitas mudanças e os con-
ceitos de família ampliaram-se significativamente com a chegada de
diversas configurações. Isso trouxe necessidades de atualização e
adequação das ações escolares. Hoje em dia, ter um vínculo afetivo
presente com a família dos educandos é uma necessidade para que
a educação dos pequenos estudantes seja concreta, visando ao seu
desenvolvimento integral. Escola e família são contextos diferentes
que visam ao mesmo ideal e precisam trabalhar uníssonos para que
isso seja possível.
Uma escola inclusiva torna-se cada vez mais necessária na realidade
brasileira. Considerando as várias diferenças e necessidades especiais
entre as crianças, a escola precisa encontrar formas de trabalho que
mudem o foco da visão do problema para a solução dele. A solução está
na escola encontrar modos de tornar-se inclusiva, oferecendo a melhor
educação para as crianças, tenham elas deficiências ou não.
Para que a escola possa alcançar seus objetivos e educar realmente
as crianças da atualidade, os professores precisam de formação conti-
nuada. São muitas demandas e atualizações necessárias ao professor,
e a formação continuada apresenta-se como um espaço investigativo
(sobre novas práticas) e reflexivo (sobre a sua prática cotidiana) que
pode ajudar muito o professor.
ATIVIDADES
Atividade 1
Por que hoje em dia não é mais suficiente que o professor ape-
nas goste das crianças que se propõe a educar?
Atividade 3
O que é uma escola de Educação Infantil inclusiva?
REFERÊNCIAS
ARRIBAS, T. L. (org.). Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. 5.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.
BRANDÃO, M. T.; FERREIRA, M. Inclusão de crianças com necessidades educativas especiais
na Educação Infantil. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 19, n. 4, p. 487-502, 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf.
Acesso em: 24 abr. 2023.
BRASIL. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das
necessidades educativas especiais. Brasília, DF: MEC, 2023. Disponível em: http://portal.
mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 24 abr. 2023.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 5 abr. 2021.
BRASIL. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC, 1998. (v. 2).
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC;
Unesco, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
GLAT, R.; BLANCO, L. M. V. Educação especial no contexto de uma educação inclusiva. In: GLAT,
R. (org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2007.
KRAMER, S. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 9. ed. Rio de Janeiro: Cortez, 2013.
MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 2023. Disponível em: https://
michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 24 abr. 2023.
MONTE-SERRAT, F. Emoção, afeto e amor: ingredientes do processo educativo. São Paulo:
Academia de Inteligência, 2007.
PANIAGUA, G.; PALACIOS, J. Educação Infantil: resposta educativa à diversidade. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
2. Por que se diz que na Educação Infantil não há uma sala de aula?
Porque o conceito de aula na Educação Infantil é diferente. Como
dar aulas para bebês? Na nova concepção, os espaços da Educação
Infantil são todos educativos e cada um ensina um pouco para as
crianças, por isso não há necessidade de ter uma aula. Mas, de fato,
as crianças continuarão com uma sala de referência, para poderem
se sentir seguras nesse ambiente, só que não é só nesse espaço que
aprenderão e se desenvolverão.
5 Responsabilidades do professor
1. Por que hoje em dia não é mais suficiente que o professor apenas
goste das crianças que se propõe a educar?
O afeto e apreço dos professores pelas crianças é fundamental,
mas só isso não caracteriza um bom professor para os dias atuais.
Na Educação Infantil é preciso gostar das crianças, mas também
saber como trabalhar com elas nos tempos atuais, com práticas
pedagógicas que justifiquem essa ou aquela escolha metodológica
para o crescimento e desenvolvimento pleno das crianças.
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