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1. Introdução
Seja bem-vindo(a)! Você está iniciando o estudo de Psicologia do Desenvolvimento
e Educação de Crianças, Jovens e Adultos, uma das disciplinas que compõem o
seu curso de formação pedagógica na modalidade EaD do Claretiano – Centro
Universitário. Este conteúdo está dividido em 5 Ciclos de Aprendizagem, cada qual
correspondendo a um grupo de conteúdos e objetivos especí�cos, organizados a
partir de eixos temáticos.
Objetivo Geral
Compreender e identi�car as características das diferentes faixas geracionais, des-
de a infância até a vida adulta, e, compreender o percurso histórico ligado à con-
cepção de criança/infância até o momento atual, bem como as legislações vigentes
que fornecem os parâmetros para a Educação Infantil, e dentro disso, conhecer as
propostas e o currículo neste nível de ensino. Ainda, caracterizar o alunado na
Educação de Jovens e Adultos no plano social, cognitivo e emocional, re�etindo
sobre as propostas pedagógicas voltadas a este público.
Objetivos Especí�cos
• Compreender a transformação das diferentes concepções de infância e de cri-
ança no contexto histórico.
• Compreender os objetivos e as funções sociais exercidas pela educação infan-
til.
• Identi�car quais os fundamentos para o desenvolvimento de práticas educaci-
onais adequadas na Educação Infantil levando em conta a indissociabilidade
das ações de cuidar e educar.
• Conhecer as legislações que regem a Educação Infantil, sua importância no
sistema educacional e a necessidade de uma educação de qualidade para a
formação das crianças brasileiras.
• Formular re�exões sobre a organização curricular na Educação Infantil, e den-
tro disso, re�etir acerca das implicações da organização do tempo e do espaço
para um trabalho de qualidade nas creches e nas pré-escolas.
• Caracterizar o alunado da Educação de Jovens e Adultos, bem como reconhe-
cer a contribuição da Andragogia para o processo de desenvolvimento e
aprendizagem de adultos.
• Compreender as características do desenvolvimento nas diversas áreas ou di-
mensões (física, cognitiva e social) da infância, adolescência e vida adulta, de
forma a estabelecer práticas pedagógicas que considerem as etapas e as ca-
racterísticas de desenvolvimento.
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Objetivos
• Conhecer as diferentes concepções de infância e de criança no contexto
histórico da sociedade contemporânea, e dentro disso, analisar a função
social da educação infantil.
• Re�etir acerca do impacto da indústria cultural no desenvolvimento in-
fantil e na formação das crianças, e ainda compreender as diferentes ca-
racterísticas que envolvem as etapas da infância.
Conteúdos
• As diferentes concepções de infância e de criança no contexto histórico
da sociedade contemporânea.
• Função social da educação infantil na construção de uma sociedade de-
mocrática.
• A criança e a indústria cultural, e o consumismo. Direitos Humanos e
Infância.
• Desenvolvimento infantil: características no plano físico, emocional-
social e cognitivo.
Problematização
Podemos dizer que os conceitos criança e infância são sinônimos? Podemos
considerar que temos uma infância única ou múltiplas infâncias? Como pode-
mos caracterizar a infância na atualidade? Será que o consumo exagerado es-
timulado pelo mercado capitalista gera consequências para a criança? Quais
as características de desenvolvimento da criança, que o mercado leva em con-
ta, para elaborar suas estratégias de venda? Como a criança se tornou um su-
jeito de direitos? O que é construtivismo e quais autores o adotam para pensar
a aprendizagem da criança? Quais concepções foram sendo criadas para se
pensar o desenvolvimento e a aprendizagem humana? Como Piaget caracteri-
zou as fases de desenvolvimento na infância? E como Vygotsky entende a
aprendizagem e o desenvolvimento? Quais características marcam o desen-
volvimento da criança nos planos físico, social/emocional e cognitivo?
1. Introdução
Neste primeiro momento de nossa disciplina, veremos as diferentes concep-
ções de criança e infância, considerando o percurso histórico até chegar à so-
ciedade contemporânea, e dentro disso, re�etiremos sobre o impacto da indús-
tria cultural e do consumismo na formação das crianças. Ainda, abordaremos
os principais teóricos do desenvolvimento e aprendizagem, além das caracte-
rísticas das diversas etapas da infância.
Vamos lá?!
A sociedade atribui o mesmo valor para as crianças da elite e para as crianças pobres?
Como exemplo, Postman (1999) cita que, em 1890, escolas secundárias ameri-
canas selecionavam, apenas, 7% dos jovens de idade entre 14 e 17 anos para
estudar. As crianças e os jovens não selecionados trabalhavam como adultos,
do nascer ao pôr do sol, nas grandes cidades.
A ideia de infância mais próxima da ideia atual surgiu na Renascença.
Posteriormente é que se reconheceu essa infância como uma estrutura social
de condição psicológica peculiar.
A família não exercia função afetiva, mas de conservação dos bens. As trocas
afetivas e as comunicações sociais eram realizadas fora da família, no ambi-
ente de criados, de amigos etc.
A idéia da infância, não existiu sempre e da mesma maneira. Ao contrário, ela apa-
rece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida que mudam a in-
serção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a crian-
ça exercia um papel produtivo, assim que ultrapassava o período de alta mortalida-
de, na sociedade burguesa, ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolari-
zada e preparada para uma atuação futura. Esse conceito de infância é, pois, deter-
minado historicamente pela modi�cação nas formas de organização da sociedade
(KRAMER apud GOUVÊA, 2002, p. 14).
Infância ou infâncias
A infância na atualidade
Postman (1999) alega que a mídia tem causado a “expulsão da infância”. Esse
desaparecimento da infância pode ser visto de diversas formas, e um dos indi-
cadores disto vem de dados dos meios de comunicação, quando vemos a bus-
ca de uma “fusão” entre gostos de crianças e adultos. O aumento do uso de
drogas, do alcoolismo, da atividade sexual e da criminalidade também é um
indicador de que a infância, como visto anteriormente, está desaparecendo.
Esse é um problema que recai sobre as infâncias das várias classes sociais,
mas algo caracteriza, em particular, a infância não pobre: torna-se esta, cada
vez mais, consumidora de produtos apresentados pelas mídias como objetos
de desejo. Para Castro (1998, p. 14):
Para que isso seja feito, é necessário que, antes de tudo, o adulto também reco-
nheça e compreenda essa realidade; quais são os aspectos positivos e negati-
vos para seu desenvolvimento. Ele deve estar consciente de o quanto está
“condicionado” por essa realidade e se também é movido pelas in�uências da
mídia, pois só assim poderá transformar sua realidade e educar as suas crian-
ças em uma direção mais crítica.
Essa postura é um grande equívoco, uma vez que deveríamos encarar a edu-
cação da criança como compartilhada, tendo a instituição e os pais o papel de
juntos buscarem os melhores caminhos para a educação das crianças. Caso
essa parceria não aconteça, será instalada uma competição, o que trará gran-
des prejuízos às crianças.
• metafísica;
• ciências físicas;
• óptica;
• astronomia, geogra�a e cronologia;
• história;
• aritmética, geometria e estatística;
• artes;
• mecânica;
• gramática, retórica, poesia e música;
• economia doméstica;
• política, moral, religião e piedade.
Para ele, a educação do homem inicia-se com o seu nascimento, orientada pe-
los sentidos; depois, pela fantasia e, posteriormente, pela razão. Uma das gran-
des obras de Rousseau foi Emílio, publicada em 1762.
• observação;
• associação;
• expressões.
John Dewey (1859-1952)
Para mais informações sobre a Escola Nova, importante movimento de renovação do ensino ocorrido for-
temente na primeira metade do século XX, clique aqui! (http://www.educacional.com.br/glossariopedago-
gico/verbete.asp?idPubWiki=9577)
1. aulas-passeio;
2. desenho e texto livres;
3. jornal escolar;
4. correspondência interescolar;
5. o�cinas de trabalhos manuais e intelectuais e livro da vida.
Ele não propõe um método de ensino, porém, ao elaborar uma teoria do conhe-
cimento, subsidiará a ação de psicólogos e pedagogos.
Nas últimas décadas, esses conhecimentos, que, por sua vez, apresentam tan-
to convergências quanto divergências, têm in�uenciado, efetivamente, o cam-
po da educação. Sob o nome de “construtivismo”, eles reúnem as ideias que
preconizam tanto a ação do sujeito quanto o papel signi�cativo da interação
social no processo de aprendizagem e de desenvolvimento da criança.
Você sabia que a ideia da criança como ser portador de direitos teve início
após a década de 1950, no contexto internacional do Pós Segunda Guerra
Mundial, com as crescentes preocupações em relação à situação da infância
na sociedade? Em 1959, foi promulgada, pela Organização das Nações Unidas
(ONU), a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1949. No Brasil, o re-
conhecimento da criança como sujeito de direitos ocorreu com a promulgação
da Constituição Federal de 1988.
• Concepção inatista.
• Concepção ambientalista.
• Concepção interacionista.
Essa concepção in�uenciou muitas das teorias e práticas pedagógicas dos pri-
meiros jardins de infância, nos quais a criança era considerada uma semente,
cujas aptidões seriam desabrochadas mediante os cuidados dos adultos.
Por isso, é fundamental que os educadores saibam que, nos berçários, as cri-
anças não poderão �car presas nos berços. É preciso que elas tenham oportu-
nidades para manipular objetos diversi�cados, para escutar histórias e ouvir
músicas; en�m, é fundamental que o ambiente promova situações e oportuni-
dades de desenvolvimento das suas habilidades.
Para Piaget, o período pré-operacional, dos dois aos sete anos de idade, é mar-
cado pela capacidade simbólica, ou seja, a criança torna-se capaz de interiori-
zar suas ações, diferenciando os objetos de seus representantes. Dessa forma,
a construção do simbólico depende da aquisição da linguagem e de formas de
representação das situações, como, por exemplo, o desenho e a brincadeira
simbólica.
Você sabia que Vygotsky e Wallon desenvolveram estudos teóricos, estes in-
seridos em uma linha teórica sócio-histórica, por considerarem a constituição
do sujeito numa cultura concreta?
Sabemos que há atividades que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas
que ela poderá conseguir com orientações, explicações e demonstrações do
outro. A criança pequena poderá empilhar cubos e realizar jogos de encaixe
em interação com crianças que já possuem habilidades para essas atividades
ou por meio da observação da ação do adulto.
Pode-se a�rmar que esses estágios são universais, ou seja, que todo ser huma-
no passa pelos mesmos estágios, mesmo que em idades diferenciadas, fato
que poderá ser in�uenciado pelo grupo cultural de pertencimento da criança.
Vejamos o exemplo a seguir para entendermos melhor:
Uma família que conversa pouco com a criança e que atende a todas as suas
solicitações manifestadas por gestos poderá contribuir para que ela retarde a
linguagem oral, ao passo que outra criança, em um ambiente de estimulação
mais favorável, pode antecipar essa aprendizagem, que se inicia, geralmente,
a partir dos 18 meses de idade.
Área Motora: inclui tudo aquilo que se relaciona com a capacidade de movimento
do corpo humano, tanto de sua globalidade como dos segmentos corporais.
Capacidades motoras
As experiências que a criança vive em relação com seu corpo dão-lhe a imagem
que será um dos aspectos que a ajudarão a delimitar uma determinada maneira de
ver-se a si mesma. Se suas experiências ajudarem-na a ter uma percepção positiva
de si mesma, ajustada, com possibilidade de superação, como a aceitação dos pró-
prios defeitos, a criança poderá ter uma boa auto-imagem e uma boa auto-estima,
que lhe permitirão também ter con�ança em suas possibilidades (BASSEDAS;
HUGUET; SOLÉ, 1999, p. 35).
Capacidades cognitivas
Capacidades afetivas
Os cuidados e as relações de afeto estabelecidas com as crianças ao nascerem
são fundamentais para todo o seu desenvolvimento.
• corpo;
• símbolo;
• regra.
É importante que você saiba que, nas brincadeiras, poderão ser incorporados
conceitos, preconceitos e valores como manifestações às diversas expressões
humanas, tais como a competição, a cooperação, a violência, a brutalidade, o
respeito etc.
Segundo Vygotsky (1984), no brincar, a criança está acima de sua idade média,
acima de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz de conta, as
crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para a sua
idade. Nesse sentido, a aprendizagem cria a Zona de Desenvolvimento
Proximal.
Exempli�cando
Já os jogos de regra caracterizam a fase iniciada a partir dos seis anos de ida-
de. Nesses jogos, marca-se a presença das regras, sejam elas transmitidas ou
espontâneas. Para Piaget, os jogos de regras são combinações sensório-
motoras (corridas, bola etc.) ou intelectuais (cartas, xadrez etc.), marcadas pe-
las competições e pela cooperação entre os indivíduos, que são regulamenta-
dos por um código transmitido de geração em geração ou por acordos mo-
mentâneos.
• jogo de amarelinha;
• jogo gato e rato;
• jogo polícia e ladrão;
• jogo de bolinhas de gude.
9. Piaget e Vygotsky
Quanto as teorias de desenvolvimento e aprendizagem, notadamente as de
Piaget e Vygotsky contribuíram para o surgimento de uma concepção de cri-
ança e infância diferenciada da vida adulta, necessitando de um cuidado e
olhar especí�cos. Nesse sentido, temos o construtivismo, abordagem adotada
por estes autores que preconiza como fundamental tanto a ação do sujeito so-
bre o meio, como a interação social para que aconteçam o desenvolvimento e
a aprendizagem.
Para que você compreenda mais sobre a visão dos teóricos sobre desenvolvi-
mento e aprendizagem, sugerimos que assista aos vídeos que tratam das teo-
rias de Piaget e Vygotsky.
Neste momento, re�ita sobre sua aprendizagem respondendo à questão a se-
guir.
Para você entender melhor essa complexidade, pode-se dizer que nosso códi-
go genético é formado por conteúdos fechados (genótipos) e por conteúdos
abertos (fenótipos).
De acordo com Palácios et al. (2004), a primeira infância inicia-se com a queda
do coto umbilical e termina quando a criança aprende a andar, a falar, poden-
do nutrir-se independentemente do organismo da mãe.
Que momentos são esses? Temos a certeza de que você passou por eles, mas
que não se lembra.
São eles:
• Período pré-natal.
• Período do recém-nascido.
Durante esse período, o ser humano �ca em gestação por volta de 40 semanas.
Esse período é composto por duas fases: a fase embrionária (da segunda à oi-
tava semana depois da fecundação) e a fase fetal (da nona semana até o nas-
cimento).
Por exemplo: para uma criança de três meses de idade, espera-se uma altura
em torno de 59 cm (variando de 57 a 65 cm), com peso de 5,4 kg (variando de
4,8 a 5,8 kg).
Além disso, a espécie humana nasce equipada (genótipo) com uma série de
movimentos re�exos (sucção, enraizamento, palmar, moro e marcha). A maio-
ria deles desaparece no decorrer dos seus primeiros quatro meses de vida, em
consequência dos processos maturativos.
O bebê começa a tomar contato com o mundo por meio da percepção e dos ór-
gãos do sentido, criando, com a maturação, as condições para o desenvolvi-
mento mais elaborado nas áreas cognitiva, afetiva e social.
A conduta perceptiva do bebê está condicionada em parte pelo seu código ge-
nético, recebendo in�uência, também, de sua história de aprendizagem (esti-
mulação ambiental). Por meio dos órgãos do sentido (visão, audição, olfato, ta-
to e paladar), ele vai tomando contato com o meio e ampliando suas compe-
tências de apreender o mundo em que vive.
O ser humano não sobrevive sem vínculos afetivos, já que estes são tão impor-
tantes quanto a sua alimentação.
Nesse sentido, o apego forma-se no primeiro ano de vida e seus primeiros vín-
culos afetivos aparecem com a mãe. Quando as interações com a �gura de
apego contêm cuidados, afetos e atenção especí�ca às suas necessidades, a
criança torna-se autônoma para vínculos afetivos com outras pessoas.
Por exemplo, dentro da família, além do vínculo com a mãe, a criança vincula-
se afetivamente com outros membros da família. Esses vínculos subsidiam
relações socioafetivas com outras pessoas fora do ambiente familiar.
Habilidades psicomotoras
Na segunda infância, a criança adquire habilidades psicomotoras relaciona-
das à representação corporal, à lateralidade e à representação espaço-
temporal. Essas habilidades se desenvolvem interligadamente, porém, para
que possamos entendê-las de uma forma mais clara, elas serão tratadas sepa-
radamente.
Representação corporal
Dos dois aos cinco anos, o esquema corporal está em plena elaboração. Já aos
cinco anos, a maioria das crianças já apresenta uma representação interna de
seus movimentos e, com a lateralização, o mundo pode ser organizado com re-
ferência à posição do corpo (o que �ca na frente, atrás, à direita, à esquerda, em
cima, embaixo, entre outras).
Processo de lateralização
Por exemplo: se escrevem com a mão direita e chutam com a perna direita,
quando precisam olhar apenas com um olho, optam, também, pelo direito.
Estruturação espaço-temporal
Como você pode perceber, as noções de corpo, de espaço e de tempo estão inti-
mamente interligadas no movimento humano.
Por volta de um ano de idade, ela imita muitas palavras que ouve dos adultos,
mas ainda não compreende o signi�cado da maioria delas.
En�m, por volta dos 5 anos, a criança aprende estruturas sintáticas mais com-
plexas. O uso da voz passiva e as conexões adverbiais continuam sendo aper-
feiçoados e generalizados, embora não cheguem à aquisição completa até a
idade de sete ou oito anos. Aos seis anos, ela começa a apreciar os distintos
efeitos que a língua possui ao usá-la (fazendo adivinhações, piadas etc.) e ao
julgar a correta utilização da sua própria linguagem.
Essa fase é marcada pelo uso de símbolos para representar objetos e aconteci-
mentos. Embora a capacidade em utilizar símbolos constitua um grande
avanço em relação ao pensamento anterior, denominado “sensório-motor” por
ser essencialmente prático, seu pensamento é bastante limitado quando com-
parado ao das crianças em idade escolar.
Além disso, a criança, nessa fase, presume que um objeto seja realmente o que
parece ser, ou seja, a aparência é tomada como realidade. Vejamos os exem-
plos:
• Pode-se dizer que um menino está zangado porque o seu amigo está sen-
do mau; entretanto, ele sorri, pois tem medo de que, se demonstrar a sua
raiva, o amigo vá embora.
• A criança pode dizer que o leite parece marrom quando olhado através de
óculos escuros, ou pode tentar comer uma borracha colorida por ela se
parecer com um doce.
O autoconceito está ligado à imagem que temos de nós mesmos e se refere ao con-
junto de características ou de atributos que utilizamos para nos de�nir como indi-
víduos e para nos diferenciar dos demais. [...] É um conhecimento que não está pre-
sente no momento do nascimento, mas é o resultado de um processo ativo de cons-
trução pelo sujeito ao longo do seu desenvolvimento (HIDALGO; PALÁCIOS, 2004, p.
185).
Assim, ela compreende como família todos aqueles que moram juntos, até
mesmo os empregados ou os animais. O papel desempenhado pelos membros
da família está relacionado aos traços físicos, de maneira que, para a criança,
o pai não poderia nunca ser �lho de alguém, ou seja, ela tem di�culdades para
entender que seu pai também pode ser �lho.
Nessa etapa, também está presente a formação da consciência moral, uma vez
que começam a aparecer as noções de comportamento correto ou incorreto.
Entretanto, esses conceitos aparecem de forma vaga, já que a noção de respei-
to é unilateral ou de obediência ao adulto. Se uma regra é desobedecida, deve
sofrer castigo; isso é também chamado por Piaget de “heteronomia moral”.
Com esse tipo de raciocínio, ela pode ter consciência e compreensão das rela-
ções entre os passos sucessivos, bem como avaliar sentimentos e aconteci-
mentos. Adquire, ainda, a capacidade de compreender as razões das mudan-
ças e as transformações nos estados afetivos dos outros.
Na fase anterior, ao ver sua mãe chorar, poderia inferir que ela tinha se ma-
chucado, porém, nesta fase, consegue avaliar se o choro de sua mãe está rela-
cionado a algo que a deixou triste.
Por exemplo, quando a�rmamos que, para ir de uma cidade a outra, temos de
percorrer 40 km, ao perguntarmos à criança quantos quilômetros teremos de
percorrer no caminho de volta da mesma cidade, ela logo responderá que per-
correremos os mesmos 40 km.
Se com cinco anos a criança considera que toda mentira deve ser castigada,
aos 10 anos ela se torna mais �exível nos julgamentos e entende que poderão
haver exceções para algumas regras.
De acordo com Palácios e Hidalgo (2004), para que você possa pensar nos de-
terminantes da autoestima nessa etapa do desenvolvimento, é necessário
compreender que a autoestima global inclui determinantes físicos (aspectos e
destrezas físicas), acadêmicos (avaliações do desempenho escolar) e sociais
(relações com os pais e com os colegas).
Parece evidente que a interpretação que cada criança faz dos resultados obtidos na
escola não só intervêm variáveis do tipo pessoal como também o estilo atributivo;
os processos de comparação social e, principalmente, o professor constituem tam-
bém claras fontes de in�uência [...] a atitude e a conduta do professor com o aluno
se revelam como fator determinante para a valoração que este faz de sua compe-
tência acadêmica (PALÁCIOS; HIDALGO, 2004, p. 261).
Em síntese, pode-se dizer que as relações que o professor mantém com o alu-
no e o modelo de sua atuação proporcionam um impacto positivo ou negativo
no autoconceito acadêmico da criança.
15. Considerações
Neste ciclo, vimos que o conceito de infância é construído de acordo com o
momento histórico, e em consonância com a realidade social e cultural,
fazendo-nos pensar na existência de várias infâncias. Abordamos algumas
preocupações com a infância na atualidade e, também, como o mercado capi-
talista se vale de características especí�cas da infância para formular suas es-
tratégias de propaganda e venda. Foram apresentados alguns importantes
precursores da educação infantil, revelando que a forma de pensar a infância
in�uencia, diretamente, na maneira como foram organizadas as propostas
educativas. E, ainda, abordamos a aprendizagem e o desenvolvimento na in-
fância, apontando as concepções que predominam na atualidade. No próximo
ciclo, veremos as legislações que orientam a constituição das propostas curri-
culares e as práticas educativas junto às crianças.
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Objetivos
• Demonstrar a trajetória das políticas públicas destinadas à infância no
Brasil.
• Conhecer as legislações que regem a Educação Infantil, sua importância
no sistema educacional e a necessidade de uma educação de qualidade
para a formação das crianças brasileiras.
Conteúdos
• As políticas públicas para infância no Brasil.
• A infância no Estado Novo.
• Os movimentos populares e a defesa da cidadania na infância.
• A Educação Infantil como direito.
• Ordenamento legal da Educação Infantil.
• Documentos governamentais de orientação à implantação das políticas
para educação infantil.
Problematização
Por que estudar a trajetória das políticas de atendimento à infância e como se
deu essa trajetória? Por que temos uma herança assistencialista? Como se
con�guram as políticas voltadas para a infância no Estado Novo? Você já ou-
viu falar sobre os movimentos populares e a defesa da cidadania na infân-
cia? Você conhece o novo ordenamento legal acerca da infância? Quais os
documentos legais dão base a esse novo ordenamento legal acerca da infân-
cia? Quais as implicações desse aporte legal na Política Nacional de
Educação Infantil? Qual a função dos Parâmetros e dos Indicadores de quali-
dade para a educação infantil? O que estabelecem as Diretrizes Curriculares
para a educação infantil? E a BNCC, o que ela estabelece enquanto diretrizes
para se pensar o desenvolvimento e a aprendizagem na Educação Infantil?
1. Introdução
Neste momento, teremos contato com a trajetória das políticas de atendimen-
to à infância, passando de uma visão assistencialista à visão da criança como
um ser detentor de direitos. Assim, abordaremos os documentos o�ciais e le-
gais que regulamentam o funcionamento das instituições de Educação
Infantil, além de fundamentarem as práticas pedagógicas. Ainda, veremos o
mais recente documento que estabelece normativas curriculares para a edu-
cação básica, e dentro disso, a educação infantil, a Base Nacional Comum
Curricular, a BNCC, cujos estudos serão aprofundados no ciclo 3.
Como complementação aos seus estudos no ciclo, além das leituras e dos
links indicados a seguir, também sugerimos a leitura da obra:
Esperamos que você também reconheça, ao �nal deste estudo, educação in-
fantil no âmbito dos direitos sociais da infância.
2. Políticas públicas para a infância no Brasil:
a herança assistencialista
No bojo das transformações econômicas e políticas suscitadas pelo capitalis-
mo, ocorreram mudanças signi�cativas na organização familiar, em decor-
rência da participação feminina na população economicamente ativa do país.
Oliveira et al. (1992) apontam que, até o início do século 20, o atendimento às
crianças em creches era o mesmo oferecido nos asilos e nos internatos e era
destinado aos �lhos das mães solteiras que não tinham condições para criá-
los. Essa falta de condições era reforçada pela sociedade vigente, o que fazia
aumentar o sentimento de culpa dessas mães. O atendimento institucionaliza-
do era feito como um favor, uma caridade.
• creches;
• escolas maternais;
• jardins da infância.
Oliveira et al. ainda apontam que, somente no início do século 20, o atendi-
mento aos �lhos das operárias passou a ser discutido. Você sabe o porquê?
Porque os imigrantes europeus, que, inicialmente, tinham ido para o campo,
foram absorvidos nas fábricas. Na década de 1920, esses imigrantes passaram
a ser organizar, protestando contra as péssimas condições de trabalho que
lhes eram oferecidas. Entre as várias reivindicações, uma delas era pelas “cre-
ches” para seus �lhos.
Com todas as conquistas daquele momento, a creche ainda era vista como um
mal necessário, pois, até então, o ideal de mulher estava voltado para o lar, e
ela somente deveria trabalhar em função de grande necessidade �nanceira.
Poucas creches foram feitas fora das indústrias, e, nas décadas de 1930 até
1950, elas eram, predominantemente, responsabilidades das entidades �lan-
trópicas (OLIVEIRA et al. 1992), que recebiam donativos de famílias ricas.
A seguir, veja alguns indicadores que, no século 20, contribuíram para as cre-
ches se tornarem pauta de reivindicações na sociedade:
[...] voltadas, quando muito, para a liberação das mulheres para o mercado de traba-
lho ou direcionar a uma suposta melhoria do rendimento escolar posterior, essas
ações partem também de uma concepção de infância que desconsiderava a sua ci-
dadania e desprezava os direitos sociais fundamentais capazes de proporcionarem
às crianças brasileiras condições mais dignas de vida (KRAMER, 1988, p. 199).
Em termos dos princípios que o caracterizavam ele foi o irradiador, em nosso país,
do que �cou conhecido como assistência cientí�ca, um conjunto de concepções re-
sultantes da união entre a ciência e a ordem capitalista internacional. Essas con-
cepções, além de apropriarem da ideologia do progresso permanente, considera-
vam que o Estado deveria, através da ciência, controlar as instituições para que es-
tas ordenassem a vida e a reprodução das classes populares (MERISSE, 1997, p. 37).
Entretanto, como acontece com tantas outras conquistas legais no Brasil, esta
não foi efetivada na prática, pois poucas creches e poucos berçários foram or-
ganizados nas empresas nesse período.
O Estado Novo foi um período autoritário da nossa história, que durou de 1937 a
1945. Foi instaurado por um golpe de Estado que garantiu a continuidade de Getúlio
Vargas à frente do governo central, tendo o apoio de importantes lideranças políti-
cas e militares. Para entender como foi possível o golpe, eliminando-se as suas re-
sistências, é preciso retroceder ao ano de 1936 (CPDOC, 2010 (http://cpdoc.fgv.br
/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/GolpeEstadoNovo))
Uma mudança importante nesse período foi em relação à inclusão dos jardins
de infância na legislação educacional, de acordo com os artigos 23 e 24 da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
Art. 23 – A educação pré-primária destina-se aos menores de até 7 anos, e será mi-
nistrada em escolas maternais ou jardins-de-infância.
Art. 24 – As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete anos se-
rão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com
os poderes públicos, instituições de educação pré-primária.
Pesquisas realizadas em São Paulo e em Belo Horizonte nos anos 1970 con-
cluíram que a clientela básica dos movimentos de reivindicação por creches
nas periferias era constituída por empregadas domésticas.
A ampliação das lutas pelos direitos das crianças e dos adolescentes fez da
década de 1980 um marco na implementação de políticas para a infância bra-
sileira; a criança deixou de ser um objeto de tutela para �gurar como um sujei-
to de direitos, por meio da promulgação da Constituição de 1988.
Art. 29 – A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como �nali-
dade o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de idade, em seus aspec-
tos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
sociedade.
Esse último aspecto é um dos mais caóticos, pois grande parte das institui-
ções de educação infantil funciona em casas adaptadas, que acabam não ofe-
recendo condições para o desenvolvimento adequado das crianças (movimen-
tos amplos, sol etc.) nem condições sanitárias adequadas.
Temos, também, outros aspectos que não foram atingidos, como, por exemplo:
Que todos os dirigentes de instituições de educação infantil possuam formação
apropriada em nível médio (modalidade Normal) e, em dez anos, formação de nível
superior e que todos os professores tenham habilitação especí�ca de nível médio e,
em dez anos, 70% tenham formação especí�ca de nível superior (BRASIL, 2001)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm)
Outra meta não alcançada foi a de que todos os Municípios deveriam ter de�-
nido a sua política para a educação infantil, baseados nas diretrizes nacionais,
nas normas complementares estaduais e nas sugestões dos referenciais curri-
culares nacionais, e a de que todas as instituições de educação infantil deveri-
am ter formulado, juntamente com a participação de pro�ssionais da educa-
ção os seus projetos pedagógicos.
De todas as metas propostas, podemos observar que algumas ações têm sido
encaminhadas e realizadas, como, por exemplo, a ampliação da oferta dos
cursos de formação de professores de educação infantil de nível superior, com
conteúdos especí�cos, prioritariamente nas regiões em que o dé�cit de quali�-
cação é maior, de modo a atingir a meta estabelecida pela LDB para a década
da educação.
Essa iniciativa vem sendo realizada por meio de diversos programas, tais co-
mo:
Para obter maiores informações acerca da Plataforma Freire, clique aqui! (http://portal.mec.gov.br/in-
dex.php?option=com_content&view=article&id=13829&Itemid=86)
• Proinfantil:
[...] é um curso em nível médio, a distância, na modalidade Normal. Destina-se aos
professores da educação infantil em exercício nas creches e pré-escolas das redes
públicas – municipais e estaduais – e da rede privada sem �ns lucrativos – comu-
nitárias, �lantrópicas ou confessionais – conveniadas ou não (PORTAL MEC, 2010
(http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12321&
Itemid=548))
Esse curso, com duração de dois anos, é voltado às regiões mais pobres do
país, que, por sua vez, ainda possuem professores leigos. O curso possui um
material pedagógico especí�co para a educação a distância, e espera-se que,
ao �nal do curso, o professor seja capaz de dominar os instrumentos precisos
ao desempenho de suas funções, isto no que tange ao desenvolvimento de me-
todologias e estratégias de intervenção pedagógica adequadas às crianças.
Mesmo não sendo este um curso de nível superior, essa proposta valoriza os
professores que já atuavam na área, dando a eles a possibilidade de adquirir a
habilitação de nível médio para depois cursarem o Ensino Superior.
Para obter maiores informações acerca da Universidade para Todos, clique aqui! (http://prounipor-
tal.mec.gov.br)
Outra meta que podemos avaliar como atingida se refere à elaboração de pa-
drões mínimos de infraestrutura para o funcionamento adequado das institui-
ções de educação infantil públicas e privadas. O MEC publicou, em 2006, um
documento em dois volumes, que trata de estabelecer parâmetros básicos de
infraestrutura para instituições de educação infantil e que aborda as seguin-
tes questões:
Esse documento teve uma construção muito interessante, pois ele foi elabora-
do em parceria com educadores, arquitetos e engenheiros que já possuem ex-
periência em planejar, re�etir e construir/reformar espaços destinados à edu-
cação das crianças de zero a seis anos de idade. Contou com a participação de
diversos atores da sociedade, tais como secretarias municipais de educação e
a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em oito
seminários regionais para a discussão do documento preliminar.
Ele foi baseado, também, nos estudos e nas pesquisas do Grupo Ambiente-
Educação (GAE), que desenvolve projetos relacionados à qualidade dos ambi-
entes escolares, com ênfase nas relações entre o espaço físico. Trata-se de um
grupo que reúne pro�ssionais e pesquisadores de áreas e instituições distin-
tas, preocupados com o projeto pedagógico e o desenvolvimento da criança.
Você pode ter acesso aos dois volumes desse documento nestes sites:
Ainda tivemos, no quadro das políticas para a educação infantil no país, a pu-
blicação de outros importantes documentos de subsídio à gestão e à imple-
mentação das propostas pedagógicas nas instituições de educação infantil.
Dentre eles:
1. planejamento institucional;
2. multiplicidade de experiências e linguagens;
3. interações;
4. promoção da saúde;
5. espaços, materiais e mobiliários;
6. formação e condições de trabalho das professoras e demais pro�ssionais;
7. cooperação e troca com as famílias e participação na rede de proteção so-
cial (BRASIL, 2009, p. 17-18).
Ele foi construído para ser utilizado por instituições de educação infantil em
todo o país. As secretarias de educação e os conselhos municipais de educa-
ção podem estimular o seu uso, pois a adesão das instituições deve ser volun-
tária, uma vez que se trata de uma autoavaliação.
Acredita-se que quanto maior for o número de pessoas dos diversos segmen-
tos da comunidade a se envolverem em ações para a melhoria da qualidade da
instituição de educação infantil, maiores serão os ganhos para as crianças.
Você gostaria de baixar esse documento na íntegra? Então, clique aqui! (http://portal.mec.gov.br/dmdocu-
ments/indic_qualit_educ_infantil.pdf)
Vemos, assim, que a educação infantil no Brasil desenhou uma trajetória his-
tórica, em que o Estado estimulou uma política de atendimento baseada na
parceria com instituições privadas sem �ns lucrativos, comunitárias, �lantró-
picas e confessionais, especialmente no atendimento às crianças de zero a
três anos.
Esse documento teve a sua primeira publicação em 2005, sendo ele solicitado
pelo MEC e construído por duas grandes especialistas em educação infantil
no Brasil – as pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas Maria Malta Campos
e Fúlvia Rosemberg. Trata-se de um documento composto de duas partes:
Já a segunda parte diz respeito às políticas e aos programas, como, por exem-
plo:
O valor do per capita repassado pelo poder público às creches conveniadas é su�ci-
ente para oferecer um tratamento digno às crianças (loc. cit.).
O novo PNE já começa a ser discutido, tendo em vista que o plano que está em vigência
vence em 2011. Sugerimos, portanto, que, para se manter atualizado, você consulte, sempre,
a página do MEC ou o site da Undime, clicando aqui (http://www.undime.org.br)!
[...]
[...]
[...]
Estatuto da Criança e do Adolescente
ECA – 1990
V – acesso à escola pública e gratuita
próxima de sua residência.
[...]
Seção II
[...]
Para uma melhor compreensão dos subsídios que norteiam a Política Nacional de Educação Infantil, su-
gerimos a leitura das seguintes publicações do MEC:
§ 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de março devem ser matricu-
ladas na Educação Infantil.
I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos ci-
vis, humanos e sociais;
Você imagina o que esse artigo quer dizer? O que signi�ca considerar a crian-
ça o centro do planejamento? Dentre várias questões que podem ser levanta-
das, uma delas é o combate às práticas de alguns educadores em forçar e pu-
nir as crianças por não realizarem as atividades propostas pelos adultos.
No que tange as atividades diárias, vemos que muitos adultos pensam e pla-
nejam atividades que muitas vezes não são adequadas ao nível de desenvolvi-
mento das crianças nem ao seu interesse. Comprar materiais didáticos pron-
tos e utilizá-los como a única opção de trabalho também vai contra uma pro-
posta pedagógica que considere a criança no centro do planejamento curricu-
lar, a�nal, você está comprando um pacote de materiais sem avaliar qual cri-
ança você terá em mãos.
Veja agora algumas modi�cações que foram feitas com relação aos princípios
que devem orientar a construção da Proposta Pedagógica da Educação Infantil
(p. 2):
Precisamos nos despir de preconceitos e olhar para a criança em toda sua po-
tencialidade. Como sujeito histórico que precisa de condições favoráveis ao
seu desenvolvimento. Infelizmente, o que se percebe é que muito adultos boi-
cotam as possibilidades de desenvolvimento de muitas crianças, em função
de não conseguirem respeitá-las como sujeito de direitos.
I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos ci-
vis, humanos e sociais;
Vamos agora re�etir sobre o Art. 8º das Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil. Ele aponta que:
A proposta pedagógica das instituições deve ter como objetivo garantir à criança
acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e
aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde,
à liberdade, à con�ança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à
interação com outras crianças.
Pense um pouco sobre o início do artigo anterior. Você sabe o que são as dife-
rentes linguagens? Referem-se às dimensões: gestual, verbal, plástica, dramá-
tica e musical. O currículo na educação infantil deveria então ser organizado
tendo como eixo as linguagens e não mais as atividades fragmentadas e des-
contextualizadas que caracterizam a educação infantil. Podemos tomar como
exemplo os exercícios de coordenação motora �na que são feitos como treino
visomotor, que submetem as crianças a atividades cansativas e fragmentadas
– sem sentido – tal como as famosas bolinhas de isopor para serem coladas
na linha.
Cuidado e educação são dimensões de uma mesma ação “eu educo e cuido e
eu cuido e educo”, portanto, questões relativas ao cuidado com o corpo, tão
presente na educação infantil, deve ser feito por um pro�ssional reconhecido
como educador. Separar a criança em corpo e cabeça, a ser trabalhada por du-
as pro�ssionais diferentes, é um atraso para a qualidade da educação infantil.
Segundo nossa análise, também não podemos nos esquecer dos povos indíge-
nas! Lembremos também que temos alunos do nosso curso de Licenciatura
em Pedagogia que trabalham com populações indígenas.
VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos cultu-
rais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reco-
nhecimento da diversidade;
Essa é a maior contradição de uma proposta que diz ter a brincadeira como ei-
xo. Veja, se agora não é hora de brincar e é hora da atividade, signi�ca que a
professora não acha que brincar é uma atividade que promove aprendizagem,
e que a atividade proposta por ela não tem nada a ver com a brincadeira.
Portanto, essa professora jamais poderia alegar que seu currículo tem a brin-
cadeira como eixo.
Isso também nos revela que as práticas educativas de muitas professoras es-
tão longe do seu discurso, ou seja, elas não conseguem colocar em prática os
seus discursos.
Os incisos I, II, III e IV nos levam a re�etir sobre como podemos propor brinca-
deiras ou atividades lúdicas que promovam o desenvolvimento de todas essas
dimensões. Vemos também que essas dimensões não poderão ser plenamente
desenvolvidas se as professoras se mantiverem restritas às atividades em pa-
pel, com crianças sentadas e em silêncio, como se estivessem sendo domesti-
cadas para o ensino fundamental.
Esse inciso, também, nos indica que devemos combater o excesso de diretivi-
dade do professor de educação infantil “faça isso”, “faça aquilo”, “faça assim”.
Essa diretividade faz parte da nossa cultura, em geral damos as respostas para
nossos alunos e não temos paciência de fazer com que eles aprendam a fazer
sozinhos.
Como você pôde ver, a avaliação na educação infantil não deve ter o objetivo
de promover ou reter uma criança em um determinado grupo. Deve ser pro-
cessual e feita por meio de registros qualitativos. Devemos rejeitar as grades
de avaliação que muitas vezes se mostram ine�cazes e de difícil observação.
Por exemplo, algumas grades de avaliação pedem para o professor indicar se o
aluno fala de 200 a 300 palavras. Como podemos medir isso? Principalmente
porque nosso repertório linguístico se manifesta de forma diferente em cada
contexto. Em casa, na igreja, na escola, etc. são espaços diferentes que, em ge-
ral, utilizamos palavras e trabalhamos com assuntos diferentes. O mesmo
ocorre com a criança.
Ter um grupo de crianças com diferentes habilidades pode ser muito rico, de-
pendendo da competência técnica do professor. Crianças mais novas avan-
çam no desenvolvimento junto a crianças mais velhas ou com mais habilida-
des e estas desenvolvem outras tantas habilidades, ao ensinar as colegas.
Dessa forma, a diversidade dos níveis de desenvolvimento deve ser valorizada
e analisada. Somente depois disso o professor poderá rever suas práticas edu-
cativas e implementar mudanças importantes do seu plano de ensino.
O registro de desenvolvimento das crianças pode ser feito por meio de obser-
vações, ao longo do dia ou semana. Isso é possível quando os professores são
mediadores das atividades infantis e não permanecem o dia todo como “re-
creadores”, “animadores de festa” com todas as crianças com as atenções vol-
tadas a eles. Também podem ser feitos por meio de fotos e gravações de áudio
e vídeo.
Quanto ao artigo 11, que trata da transição para o ensino fundamental e que a
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no pro-
cesso de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, sem antecipação de
conteúdos que serão trabalhados no ensino fundamental. Devemos destacar
que a saída da educação infantil também merece um processo de adaptação.
Vimos ainda que a criança efetivamente passa a �gurar como sujeito de direi-
tos na década de 80, com a Constituição de 1988. Além disso, outros documen-
tos legais passam a regulamentar a Educação infantil como direito social e
educacional, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (1996), o Plano Nacional da
Educação (2001, 2011, 2014, sendo este último em vigência até 2024).
Importante que você conheça também a versão mais atual do Plano Nacional
de Educação (PNE- 2014-2024) (http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-
de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014), principal-
mente no tocante à Educação Infantil. Com essa leitura, você poderá re�etir
acerca das metas que puderam ser atingidas, e aquelas que ainda não se efeti-
varam na prática.
Outro ponto a ser destacado é que existem outros documentos igualmente im-
portantes que funcionam como norteadores da Educação Infantil, dentre eles,
os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, dividido em
dois volumes (o primeiro trata de aspectos fundamentais para de�nição de pa-
râmetros de qualidade na educação infantil, e o segundo traz as competências
das instâncias de ensino federal, estadual e municipal, e a caracterização das
instituições de acordo com o ordenamento legal).
A primeira versão da obra Fundamentos da Educação Infantil (2013) é de 2006. Para ter
acesso a versão atualizada em 2018, clique aqui. (http://portal.mec.gov.br/docman
/2020/141451-public-mec-web-isbn-2019-003/�le)
12. Considerações
Neste ciclo abordamos a trajetória histórica das políticas públicas voltadas pa-
ra infância, bem como a elaboração do ordenamento legal que deve guiar as
propostas pedagógicas e a prática pedagógica. Nesse sentido, vimos que a
Constituição de 1988, e posteriormente outras leis, instituíram a criança como
sujeito de direitos, reconhecendo-a como cidadã, e garantindo o atendimento
de crianças de zero a cinco anos em creches e pré-escolas.
(https://md.claretiano.edu.br
/psideseducrijovadu-gs0056-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Compreender a importância da proposta pedagógica para a Educação
Infantil.
• Identi�car as possibilidades de organização do currículo, de acordo com
as normativas da BNCC.
• Identi�car as funções de cuidar e educar na organização curricular da
educação infantil.
• Caracterizar o espaço físico e o tempo, como aliados para a concretiza-
ção do currículo e para o estabelecimento de uma aprendizagem signi�-
cativa.
Conteúdos
• A proposta pedagógica e o currículo na educação infantil.
• Cuidar e educar no currículo da educação infantil.
• Conteúdos curriculares na educação infantil.
• Organização do tempo e do espaço na educação infantil.
Problematização
Como é constituída a proposta pedagógica na educação infantil? Quais as
concepções de criança ou desenvolvimento infantil subjacentes às propostas
pedagógicas? E o currículo? Por que o cuidar e o educar constituem-se em
funções essenciais na educação infantil? O que signi�ca trabalhar com o cui-
dar e o educar de maneira indissociável? O fator ambiente físico pode exer-
cer in�uência determinante na ação pedagógica por permitir ou não maior
interação das crianças? Como deve ser a organização do tempo e do espaço
na educação infantil? Qual deve ser o papel do professor na organização do
tempo e dos espaços?
1. Introdução
Nos ciclos anteriores vimos as questões históricas que permearam a consti-
tuição do conceito de criança e infância, e ainda, as legislações que a consoli-
daram como sujeito de direitos, garantindo seu pleno desenvolvimento e
aprendizagem. Neste terceiro ciclo, veremos as questões atreladas a Proposta
Pedagógica e ao currículo na Educação Infantil, re�etindo principalmente so-
bre as normativas fornecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e
dentro disso, os aspectos do cuidar e educar, a organização do tempo e dos es-
paços, e o papel da mediação do educador para que a aprendizagem e o desen-
volvimento efetivamente ocorram. Assim, em conjunto com as leituras indi-
cadas neste ciclo, indicamos também a obra:
Vamos?
A situação anterior mostra-nos que devemos ter a clareza de quais são as con-
cepções que estão implícitas em nosso fazer, e as nossas escolhas devem ser
fundamentadas, e não escolhidas com base em crenças do senso comum.
Para sair deste, é preciso levar a sério as reuniões de estudo feitas nos grupos
de formação continuada, que devem ser realizados ao longo do ano letivo. As
concepções discutidas e acordadas pelo grupo deverão compor, explicitamen-
te, o projeto pedagógico, não devendo, de forma alguma, �carem implícitas, ca-
bendo ao leitor interpretá-las.
A proposta pedagógica expressa a identidade da escola, e, por isso mesmo, ela
não pode ser copiada por outras instituições. Deve mostrar a instituição que se
tem e a que se quer, e, para isso, é necessário realizar uma análise da situação
educativa, estabelecendo metas e prioridades, levantando recursos e de�nindo
etapas e atividades básicas. Precisamos analisar e considerar a nossa situa-
ção atual para abrir horizontes e apontar direções para as quais caminhará a
escola, objetivando integrar a criança à realidade do seu meio e da sua época.
Dessa forma, como é bem apontado por Kramer (1997), a proposta pedagógica
contém uma aposta; ela não é algo acabado, pois deve ser reconstruída no ca-
minhar.
Vários outros importantes autores tratam dessa questão, e eles devem ser li-
dos pela comunidade educacional, em especial por aqueles que intentam ava-
liar as instituições. Nesse caso, destacamos Oliveira (2007, p. 169):
Construir uma proposta pedagógica implica a opção por uma organização curricu-
lar que seja um elemento mediador fundamental da relação entre a realidade coti-
diana da criança – as concepções, os valores e os desejos, as necessidades e os
con�itos vividos em seu meio próximo – e a realidade social mais ampla, com ou-
tros conceitos, valores e visões de mundo.
Libâneo (2008) indica alguns pontos que devem ser considerados na constru-
ção de uma proposta pedagógica e inclui um roteiro para a formulação do pro-
jeto, do qual destacamos:
Princípios
Objetivos
Libâneo (2008) traz outros aspectos que são fundamentais de serem apresen-
tados na proposta pedagógica, tais como:
Como visto antes, os programas voltados aos menores de três anos baseiam-
se, em geral, em manuais de puericultura, que, em grande parte das vezes, tra-
tam essas crianças apenas como um corpo que deve ser alimentado, cuidado e
limpo. Essa visão descuida, completamente, do desenvolvimento social, afeti-
vo, linguístico, cognitivo e físico motor da criança, presentes desde o início de
sua vida (OLIVEIRA et al., 1992).
Algumas propostas, infelizmente, “importam” o modelo tradicional – e falido
– do ensino fundamental, que é altamente inadequado às crianças de zero a
cinco anos de idade, propondo a elas exercícios de gra�smo como forma de
exercitar a coordenação visomotora e de decorar cores e outros conceitos.
Outras propostas, reconhecendo as características dessa faixa etária, propõem
um trabalho focado na exploração de objetos, encaixando, abrindo e fechando;
pegando folhas de árvores e pedrinhas e transformando esses objetos em “co-
midinhas”, “carrinhos”, “aviões” etc., promovendo, dessa maneira, inúmeras
oportunidades de exploração de pesquisa.
Há, ainda, propostas que mesclam essas duas visões, mas, também, de forma
equivocada. Elas promovem situações de exploração de brincadeiras que são
interrompidas numa certa hora para que as crianças entrem em sala para
sentar e pintar ou realizar atividades “acadêmicas” diversas, propostas em fo-
lhas mimeografadas, xerocadas ou organizadas em livros didáticos.
Consideremos que um educador trabalhe, por oito horas diárias, com um nú-
mero de crianças acima daquele indicado pelo MEC, que é de um adulto para
cada seis ou oito crianças de zero a dois anos de idade, de um adulto para cada
15 crianças de três anos e de um adulto a cada 20 crianças de quatro anos de
idade (BRASIL, 2006). Esse educador, muitas vezes, ainda precisa cuidar da
limpeza do local e das atividades administrativas. Nesse caso, temos vários
problemas de gestão da educação infantil, que irão prejudicar a efetivação de
um trabalho de qualidade.
[...] construir uma proposta pedagógica implica a opção por uma organização curri-
cular que seja um elemento mediador fundamental da relação entre a realidade co-
tidiana da criança às concepções, os valores, e os desejos, as necessidades e os
con�itos vividos em seu meio próximo e a realidade social mais ampla, com outros
conceitos, valores e visões de mundo (OLIVEIRA, 2005, p. 169).
Para Oliveira (2005, p. 171), o currículo pode ser de�nido como uma “trajetória
de exploração partilhada de objetos de conhecimento de determinada cultura
por meio de atividades diversi�cadas, constantemente avaliadas”.
Vemos que, atualmente, não há um consenso sobre como deve ser a constru-
ção de um currículo voltado para a educação infantil. Por um lado, temos as
orientações do MEC, no sentido de não fragmentá-lo por disciplinas; organizá-
lo na perspectiva das diferentes linguagens; e não separar as ações de cuidado
e de educação, não diferenciando o professor que cuida do intelecto do moni-
tor que cuidar do corpo. Por outro lado, temos os pacotes de livros didáticos,
que são conteudistas, fragmentam as áreas do conhecimento e não favorecem
o desenvolvimento do raciocínio complexo, criativo e do movimento, prejudi-
cando, assim, as possibilidades de produção do conhecimento de forma ativa
pela criança.
Autores como Libâneo (2008, p. 168) apontam que o currículo é o elemento “nu-
clear do projeto pedagógico”, pois ele apresenta como a escola vai viabilizar o
processo de ensino e aprendizagem. Ele deve explicitar as intenções que diri-
gem a organização da escola, de forma a colocar em prática as experiências de
aprendizagem consideradas relevantes para as crianças e para os seus pais.
Constatamos, então, que o currículo não é mais uma lista de conteúdos a ser
trabalhados; é um documento que apresenta a organização das experiências
das crianças, que resulta de uma re�exão sobre a realidade à sua volta e a rea-
lidade da instituição.
Uma forma de organização do currículo que já vem sendo praticada por várias
instituições é o trabalho pedagógico com múltiplas linguagens. Nessa forma
de trabalho, permeiam outros organizadores do currículo, como o jogo infantil
e as várias áreas em que o conhecimento é elaborado numa cultura. As lin-
guagens corporais e plásticas são objetos do trabalho pedagógico; aprender a
representar algo utilizando o corpo, o desenho, a modelagem, a escultura ou
outras manifestações amplia as competências infantis, exigindo das crianças
novas habilidades.
Já indicamos no início deste ciclo a leitura de uma obra que aborda a BNCC,
agora para que seus conhecimentos sejam mais aprofundados sobre as nor-
mativas que devem orientar a construção do currículo na educação infantil,
assista ao seguinte vídeo sobre a BNCC:
6. O Cuidar e Educar, e a Organização do
Tempo e Espaço
O cuidar e educar devem caminhar juntos na Educação Infantil, e assim, as
ações pedagógicas devem estar respaldadas nesta concepção de indissociabi-
lidade destes dois aspectos. É importante para o educador considerar estas
duas funções: educar e cuidar. Todavia, a BNCC realça a necessidade dessas
duas funções caminharem juntas nas mediações e ações realizadas pelo pro-
fessor.
São várias as hipóteses sobre o porquê de vários municípios fazerem essa dis-
sociação. Dentre elas, a mais evidente é a questão econômica, pois gasta-se
mais ao contratar professores formados para trabalhar com as crianças du-
rante todo o período. Essa decisão de contratar dois pro�ssionais está infrin-
gindo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pois, na referida lei,
consta que aqueles que atuam na educação infantil devem ter formação em
nível normal ou a Licenciatura em Pedagogia.
Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua
singularidade, ser solidário com suas necessidades, con�ando em suas capa-
cidades. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida e quem
é cuidado (BRASIL, 1998, p. 25).
Segundo Oliveira (2005), a atividade educativa como ação intencional deve ser
orientada para a ampliação do universo cultural das crianças, possibilitando
uma compreensão da realidade e, consequentemente, uma ação transforma-
dora sobre ela.
Educar signi�ca formar o homem cada vez mais capaz de conhecer os ele-
mentos de sua situação para intervir nela, transformando-a no sentido de
uma ampliação da liberdade, da comunicação e da colaboração entre os ho-
mens.
Bassedas, Huguet e Solé (1999) apresentam três áreas de atuação que podem
ser traduzidas em todos os currículos da educação infantil:
• A descoberta de si mesmo.
• A descoberta do meio social e natural.
• A intercomunicação e as linguagens.
Essas três áreas deverão ser desenvolvidas por meio dos conteúdos:
• conceituais;
• procedimentais;
• atitudinais.
Você sabia que, em dezembro de 2009, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Infantil conforme a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Essas diretrizes devem nortear
todo o trabalho das instituições de educação infantil, tanto as creches quanto as pré-escolas, constituindo-
se um documento mandatário para a elaboração, o planejamento, a execução e a avaliação de propostas
pedagógicas e curriculares. Para saber mais sobre essas diretrizes, consulte o site do MEC. (http://por-
tal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12992:diretrizes-para-a-educacao-
basica&catid=323:orgaos-vinculados)
Esses três eixos não são excludentes, ou seja, não signi�ca a exclusividade de
um em detrimento dos outros na organização curricular; podem coexistir em
uma mesma proposta pedagógica.
Agora, vejamos como podemos trabalhar com cada linguagem nas creches e
nas pré-escolas.
Linguagem verbal
A linguagem verbal constitui-se um instrumento básico do processo de comu-
nicação e de interação entre os seres humanos. Estudos psicológicos revela-
ram a importância da linguagem para o desenvolvimento do pensamento.
Com base nas sucessivas aproximações com a fala do outro (do pai, da mãe,
dos educadores, de crianças), ocorre a construção da linguagem oral pela cri-
ança. No percurso dessas conquistas, é fundamental a atuação do outro, no
sentido de comunicar-se, intensamente, com as crianças.
Linguagem escrita
O trabalho com a linguagem escrita, na educação infantil, não pode implicar a
preparação da criança para o ensino fundamental ou em exercícios de pronti-
dão para a alfabetização.
Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 80) ressaltam alguns aspectos para que seja
pensado o trabalho com a linguagem escrita na educação infantil:
• Levar em conta que a criança já tem experiência pelo que faz com a lín-
gua escrita quando chega à pré-escola. É preciso partir disso e do que já
identi�cam.
• Dar sentido às situações da língua escrita, apresentando situações que te-
nham interesse para as crianças: fazer listas do que cada um pode levar
nas saídas às colônias de férias; dos meninos e meninas da sala; fazer lei-
turas e explicações de livros com letras; ler para as crianças os avisos que
irão levar aos pais, etc.
• Dar a informação de como funciona o nosso código, na medida em que a
criança o domine.
Linguagem matemática
A construção do pensamento lógico-matemático processa-se por meio de uma
intensa ação das crianças sobre os objetos e das relações que estabelecem
com as outras pessoas.
• Análise das propriedades dos objetos e das relações que podemos estabe-
lecer: por meio da investigação dos objetos e conforme as suas proprieda-
des – classi�cação, seriação e ordenação.
• Início da quanti�cação: trabalhar procedimentos de utilização da série
numérica em diferentes situações – contagem de objetos, das crianças,
dos brinquedos etc.
• Resolução de situações-problema: a aprendizagem de diferentes estraté-
gias para a resolução de diferentes problemas.
• Medida: noções de grandeza, distância e tempo.
• Representação do espaço: identi�cação das formas geométricas e de no-
ções espaciais em relação ao corpo – em frente, atrás, acima etc.
Linguagem plástica
As crianças, desde pequenas, sentem interesse e prazer nas representações
plásticas. Inicialmente, elas percebem que, ao utilizarem diferentes materiais,
tais como giz de cera, tintas e lápis, deixam marcas. Essas marcas, a princípio,
podem ser traduzidas por rabiscos sucedidos de formas circulares ordenadas
até chegar ao esquema corporal. Essa trajetória é acompanhada pela amplia-
ção da capacidade da criança em representar a realidade. Dessa forma, o dese-
nho infantil acontece de forma evolutiva.
A linguagem plástica deve ser manifestada por meio do desenho, das pintu-
ras, da modelagem, da colagem, da montagem etc. A diversidade de lingua-
gens e dos materiais utilizados proporcionará à criança ampliar, cada vez
mais, a sua capacidade de expressão plástica. Além disso, como a criança pe-
quena ainda não domina o verbal totalmente, é fundamental o trabalho com a
linguagem plástica para que ela possa comunicar os seus pensamentos e sen-
timentos.
10. Brincar
Como já vimos, o brincar ocupa um lugar de destaque no desenvolvimento e
na aprendizagem infantis. Constitui-se uma forma particular de expressão, de
pensamento, de interação e de comunicação social.
Para Hoffmann (2000, p. 44), os projetos pedagógicos são constituídos pela ca-
pacidade do professor em signi�car as necessidades e os interesses das crian-
ças:
Problematização
Desenvolvimento
Síntese
• identidade pessoal;
• desenvolvimento de competência;
• oportunidade para crescimento;
• sensação de segurança e con�ança;
• oportunidade para contato social e privacidade.
INDICADORES COMENTÁRIO
INDICADORES COMENTÁRIO
Segundo Oliveira et al. (1992), grande parte das creches, ao atender crianças
menores de três anos, organiza o tempo segundo o relógio “biológico” ou “da
natureza”, no ensejo de atender às suas necessidades físicas relacionadas à
alimentação, à higiene, ao sono etc.
As autoras analisam que esse aspecto é, muitas vezes, prejudicial, pois os edu-
cadores �cam “presos” ao atendimento restrito das necessidades �siológicas
das crianças, restando pouco ou nenhum “tempo” para atividades direciona-
das às suas necessidades psicológicas e culturais. Você concorda com essa
a�rmação? Qual é a sua opinião sobre esse assunto?
Oliveira et al. (1992, p. 89) propõem-nos quatro grupos de atividades para orga-
nizarmos o tempo das crianças:
Para que você conheça ainda mais sobre a rotina, a organização do tempo, e também sobre outros aspec-
tos da organização curricular na educação infantil, sugerimos que assista aos vídeos: Educação Infantil -
High Scope - Rotina Diária (https://www.youtube.com/watch?v=ByqEIMsjHng) e Cuidar, educar e Brincar
(https://www.youtube.com/watch?v=s71QaTgNdiw), fazendo suas re�exões e comparações com a realida-
de brasileira.
Sugerimos, agora, que você dê uma pausa na sua leitura e re�ita sobre sua
aprendizagem realizando a questão a seguir.
14. Considerações
Os conteúdos estudados neste ciclo permitiram re�etir sobre a organização de
uma proposta curricular e, para tanto, cada instituição de educação infantil,
seja ela pública ou particular, deve levar em conta a sua realidade, sem des-
considerar as orientações e normas previstas na BNCC, e outros documentos
o�ciais regulatórios. Uma re�exão ética, pro�ssional e que considere os direi-
tos da criança contribuirão para a construção de currículos que garantam o
desenvolvimento da criança e construção de conhecimentos.
(https://md.claretiano.edu.br
/psideseducrijovadu-gs0056-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Caracterizar a educação de jovens e adultos compreendendo suas parti-
cularidades.
• Compreender a função e o papel do educador de jovens e adultos, pen-
sando na formação cidadã e consciente do público desta modalidade de
ensino.
• Veri�car como os aspectos socioafetivos da relação entre professor-
aluno in�uenciam na aprendizagem e na mediação dos conhecimentos.
• Compreender os processos didáticos envolvidos na EJA, caracterizando
o método Paulo Freire de Alfabetização.
Conteúdos
• Educação de Jovens e Adultos.
• Educador de Jovens e Adultos.
• Aspectos socioafetivos envolvidos na relação educador-aluno.
• Procedimentos didáticos na educação de jovens e adultos.
Problematização
Como a Educação de Jovens e Adultos pode ser caracterizada e quais são su-
as especi�cidades? Ao que se refere o saber sensível e o saber cotidiano na
EJA? Como deve ser o papel do educador atuante das classes de Educação de
Jovens e Adultos sobre a prática pedagógica, especialmente como formador
de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade? Qual a importância dos
aspectos socioafetivos entre educador e educandos da Educação de Jovens e
Adultos na mediação da construção de conhecimentos? Por meio da educa-
ção de Jovens e Adultos quais são as reais possibilidades de avanços, de con-
quistar melhores condições de trabalho e de vida? Quais procedimentos di-
dáticos necessários a educação de Jovens e Adultos?
1. Introdução
Apesar do acesso e ingresso nas escolas terem aumentado nos últimos anos,
sabemos que as desigualdades sociais/econômicas sempre excluíram várias
pessoas da possibilidade de se capacitarem enquanto indivíduos e de forma
acadêmica. A Educação de Jovens e Adultos surge então, como proposta de
inclusão no contexto escolar, e concomitantemente no mercado de trabalho.
Assim, neste ciclo, veremos quem são os alunos da EJA, como se de�ne a
educação de Jovens e Adultos, e quais os aspectos socioafetivos envolvidos na
relação educador-aluno, além de alguns procedimentos didáticos necessários
a esta modalidade de ensino.
Ainda, pensamos ser fundamental que você tenha alguns conhecimentos sobre o histórico
da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, temática abordada neste ciclo e, dessa forma,
recomendamos a leitura do seguinte artigo: Visões da Educação de Jovens e Adultos no
Brasil (http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5541.pdf).
Relatório divulgado pelo Movimento Todos pela Educação aponta que, em 2008,
quase 40% dos jovens com 16 anos ainda não tinham concluído o Ensino
Fundamental, ainda que a idade esperada para o término dessa etapa seja 14 anos
(TRIGUEIRO, 2010).
O meu maior desejo é poder terminar meus estudos, fazer um curso técnico ou
mesmo uma faculdade, pois já estou percorrendo metade do caminho dos meus de-
sejos. Espero da vida a capacidade in�nita de realizar com êxito qualquer tarefa e
decidir agir com otimismo e autocon�ança, porque dias prósperos não vêm por
acaso, nascem através de muita luta e persistência (BRASIL, 2006, p. 5).
Podemos reconhecer, assim, que os alunos e as alunas da EJA têm uma visão
de mundo in�uenciada por seus traços culturais de origem, entrelaçados à sua
vivência social, familiar e pro�ssional.
Podemos dizer que eles trazem uma noção de mundo mais relacionada ao ver e ao
fazer, uma visão de mundo apoiada numa adesão espontânea e imediata às coisas
que vê. Ao escolher o caminho da escola, a interrogação passa a acompanhar o ver
desse aluno, deixando-o preparado para olhar. Aberto à aprendizagem, eles vêm pa-
ra a sala de aula com um olhar que é, por um lado, um olhar receptivo, sensível, e,
por outro, é um olhar ativo: olhar curioso, explorador, olhar que investiga, olhar que
pensa (BRASIL, 2006, p. 5).
Isso �ca muito claro nas palavras de Diocrésio, aluno da EJA, conforme Brasil
(2006, p. 5-6):
Acredito que duas das minhas melhores qualidades são a perseverança e a espe-
rança, porque já passei por inúmeras di�culdades, mas hoje sou melhor que ontem.
Com as di�culdades a gente aprende a valorizar as conquistas.
Especialmente no Brasil, a Educação de Jovens e Adultos está profundamente
ligada à situação de extrema pobreza e exclusão social de vários setores da
população. Todavia, esses alunos não devem e não podem ser caracterizados
de forma única, pois a diversidade cultural de nosso país proporciona traços
diferenciados de região para região.
[...] à vontade mais ampla de entender melhor as coisas, se expressar melhor, de ser
gente, de não depender sempre dos outros. Especi�camente as mulheres, referem-
se muitas vezes também ao desejo de ajudar os �lhos com os deveres escolares ou,
simplesmente, de lhes dar um bom exemplo.
A imagem que os educandos têm da escola tem muito a ver com a imagem que têm
de si mesmos dentro dela. Experiências de fracasso e exclusão normalmente pro-
duzem nos jovens e adultos uma autoimagem negativa. Nos mais velhos, essa bai-
xa autoestima se traduz em timidez, insegurança, bloqueios. Nos mais jovens, é co-
mum que a baixa autoestima se expresse pela indisciplina e autoa�rmação negati-
va ("se não posso ser reconhecido por minhas qualidades, serei reconhecido por
meus defeitos") (BRASIL, 1996, p. 43).
Neste momento, gostaríamos de fazer uma re�exão com você sobre a letra da
música a seguir, chamada É preciso saber viver, de Roberto Carlos (2010):
No entanto, não podemos negar que a escola é um lugar privilegiado para de-
senvolvermos o pensamento re�exivo. Isso porque, segundo Brasil (1996, p. 17),
"a escola é o lugar onde as pessoas vão para aprender coisas, tendo a oportuni-
dade de pensar sem estarem premidas pela necessidade de resolver proble-
mas reais imediatos".
Conhecimento já adquiridos
Os alunos que procuram tardiamente a escola já adquiriram vários conheci-
mentos ao longo de sua trajetória de vida. Entre esses conhecimentos, desta-
camos o "saber sensível" e o "saber cotidiano".
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo interior.
Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e colagens, jo-
gar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotogra�as são algumas ativi-
dades que favorecem o despertar desse saber sensível (BRASIL, 2006, p. 7).
Como um saber re�exivo, saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experi-
ência, nascido de valores e princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fo-
ra da escola.
[...] fundado no cotidiano, é uma espécie de saber das ruas, frequentemente assen-
tado no "senso comum" e diferente do elaborado conhecimento formal com que a
escola lida. É também um conhecimento elaborado, mas não sistematizado. É um
saber pouco valorizado no mundo letrado, escolar e, freqüentemente, pelo próprio
aluno (BRASIL, 2006, p. 7).
Por esse motivo, a di�culdade para o aprendizado muitas vezes está associada
à falta de motivação do aluno em virtude da falta de tempo dedicado ao estu-
do, da indiferença de professores quanto aos seus problemas pessoais e da fal-
ta de clareza e objetividade dos docentes em apresentar os conteúdos na sala
de aula.
Nesse contexto, de acordo com Moretto (2000, p. 97a), a escola assume papel
importantíssimo,
Nessa modalidade de ensino, tanto o professor como o aluno devem ser carac-
terizados como “trabalhadores". Essa condição se apoia nas raízes histórico-
culturais em que se foram formando como "ser humano-social".
Para que essa mediação se torne efetiva, o educador da EJA precisa apropriar-
se das condições sócio-históricas de produção em que os alunos e ele próprio
se constituíram como seres sociais, ocupando uma posição na sociedade e no
mundo do trabalho atual.
Nos cursos oferecidos pelas instituições formadoras, tanto em nível médio ou su-
perior, sentimos a necessidade de aprofundamentos teórico-práticos no que se refe-
re à educação de jovens e adultos, presente na fragilidade da formação do professor,
devido à não inclusão da EJA nos currículos das instituições, bem como a di�cul-
dade de colocar em prática os princípios políticos e pedagógicos defendidos pela
EJA, por falta de subsídios que deveriam ter sido adquiridos no curso de formação
(MOURA, 2003, p. 63).
Não podemos negar que algo comum entre esses alunos, sejam jovens, sejam
adultos, é o fato de eles serem alunos/trabalhadores que têm somente o perío-
do noturno para se dedicar aos estudos. Desse modo, os professores que atuam
nessa modalidade devem buscar metodologias de ensino atraentes e apropria-
das.
Diante disso, como já foi dito, é importante que o professor da EJA seja capaz
de se solidarizar com os alunos, demonstrando con�ança tanto na capacidade
de aprender e ensinar como a disposição de encarar di�culdades como desa�-
os estimulantes.
Coerentemente com essa postura, é fundamental que esse educador procure conhe-
cer seus educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e problemas
de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem. E, para responder a
essas necessidades, esse educador terá de buscar conhecer cada vez melhor os
conteúdos a serem ensinados, atualizando-se constantemente. Como todo educa-
dor, deverá também re�etir permanentemente sobre sua prática, buscando os mei-
os de aperfeiçoá-la (BRASIL, 1996, p. 46).
Para tanto, o educador deverá atualizar-se e re�etir sobre sua prática, constan-
temente, a �m de compreender e conhecer melhor os conteúdos a serem ensi-
nados.
O educador deve, ainda, com relação aos objetivos e conteúdos educativos, in-
tegrantes de um projeto pedagógico, de�nir com clareza as estratégias preten-
didas, auxiliando os alunos em seu processo de aprendizagem; uma vez base-
ado no pressuposto da diversidade, encontrará em uma mesma turma alunos
com bagagens culturais diferenciadas.
Assim, é importante que o professor traga para a sala de aula situações reais
vividas por seus alunos, tendo em vista que a vontade do adulto em aprender
os conteúdos curriculares está vinculada à compreensão que tem de sua apli-
cabilidade para enfrentar melhor seus problemas pessoais e pro�ssionais.
Portanto, o adulto tem vontade de aprender o que está relacionado às suas pró-
prias experiências, ou seja, seus interesses pessoais, pois "aprender é construir
explicações para a realidade, num processo ativo e criativo de resolução de
problemas" (ROCHA apud CAMPOY, 2002, p. 1).
Com essa postura, o professor tenta ver nos erros de seus alunos um impor-
tante instrumento mediador de aprendizagem.
5. Aspectos socioafetivos
Para Almeida (1999), a afetividade faz-se também presente quando o professor
conhece, escuta e conversa com seus alunos. Esses são os componentes mais
presentes nas práticas desses professores e, provavelmente, a motivação mai-
or que seus alunos têm para não desistir de estudar.
[...] as atitudes e valores dos professores que estabelecem relações afetivas com os
alunos repetem-se e intrincam-se na forma como tratam o conteúdo e nas habili-
dades de ensino que desenvolvem.
É por meio da afetividade que têm com seus alunos que esses professores vêm
conseguindo avanços na aprendizagem. Cada aluno traz sua história de can-
saço, de tristezas e de decepções. São histórias vividas na aspereza, na pobre-
za, nos direitos negados, no salário que mal dá para sobreviver e, especial-
mente, na educação subtraída. Isso se re�ete no emocional do professor, que
se preocupa em saber por que seus alunos faltaram, em como foi o �m de se-
mana etc.
Textos complementares
A leitura dos textos seguintes será de grande importância, pois ajudará você a
compreender a importância da EJA na vida dos jovens e adultos.
Além disso, a escola que os alunos têm em seu imaginário, aquela que conhe-
cem porque já passaram por ela anos atrás ou porque acompanham o cotidia-
no de seus �lhos, nem sempre é aquela com que se deparam nos primeiros di-
as de aula. Nesses casos, esperam encontrar o modelo tradicional de escola,
ou seja, um lugar onde predominam aulas expositivas, com pontos copiados
da lousa, onde o(a) professor(a) é o único detentor do saber e transmite conteú-
dos que são recebidos passivamente pelo(a) aluno(a). Esperam muita lição de
casa porque acreditam que a quantidade de treino leva a boa aprendizagem.
Especialmente, os alunos mais velhos se mostram resistentes à nova concep-
ção de escola que os coloca como sujeitos do processo educativo, que espera
deles práticas ativas de aprendizagem. Muitos, ao se depararem com uma au-
la na qual são convidados a pensar juntos, em grupo; a resolver desa�os dife-
rentes dos exercícios mais convencionais; a ler textos literários; a aprender
com a música, a poesia, o jornal; a fazer matemática com jogos e cálculos di-
versos, construir projetos; estranham, resistem e acreditam não ser esse o ca-
minho para aprender o que a escola ensina.
“Na primeira semana de aula, eu estava muito assustada, não entendia nada, tudo era dife-
rente. Cheguei até a pensar em desistir, mas criei coragem e continuei, e hoje estou muito
feliz.”
“Quando estudei na escola, a educação artística era uma coisa mecânica, não dava prazer
em estudar. Mas fui obrigada a mudar de opinião ao ingressar nesse colégio [...] De tudo que
aprendi, sei que educação artística não se limita somente à régua e compasso. Existe muito
além dos limites de simples traçados. Digamos que a arte é in�nita e maravilhosa. Simples,
completa e fascinante”.
[...] A professora Suemi, de São Paulo, começou o seu trabalho com uma gran-
de conversa. Cada um falando de si, de suas histórias, de suas famílias. Num
dado momento da conversa, a professora jogou a questão: por que procuraram
a escola? Algumas das respostas que ouviu são bastante intrigantes. Vejamos
um trecho do registro feito por ela, sobre essa conversa:
Nenhuma palavra era vã, cada uma vinha carregada e repleta de seu sentido
essencial. O discurso era interior e todos estavam como num transe. A reali-
dade de um se confundia com a diferença do outro numa busca comum:
“... quando tem um sistema novo pra pôr no carro, tenho que pedir pra alguém
ler e explicar”, 22 anos, homem.
“... saber o que está escrito num livro, numa placa, num bilhete”, 62 anos, mu-
lher.
“...poder escrever e ler uma carta. O que está escrito na nota �scal que eu levo
da loja”, 27 anos, homem.
Especialmente nas metrópoles das regiões Sul e Sudeste é comum que uma
sala de EJA componha um retrato do Brasil: os traços físicos, modos de falar,
agir e reagir, formas de lazer, preferências culinárias ou musicais dos alunos
nos remetem a todos os cantos do país. Esse quadro é revelador, inclusive, da
enorme riqueza da cultura brasileira marcada pela diversidade, pela pluralida-
de.
Noutras regiões, é comum encontrarmos alunos e alunas que saíram do cam-
po, de um espaço rural, e dirigiram-se para a cidade “para continuar os estu-
dos” ou “para arrumar um trabalho �xo”.
Para relembrar as raízes dos alunos e alunas, a professora Leda, de São Paulo,
usou o tema alimentação e suas memórias afetivas como foco de interesse pa-
ra estimular os jovens e adultos a escrever com naturalidade e �uência. Esses
textos, impregnados pelo poder sensorial da comida de infância, também res-
gatam tradições culinárias antigas, que se perdem na memória, pois Leda sen-
te que os alunos migrantes se acostumam com os hábitos de São Paulo muito
depressa.
“Neste livro estão reunidas algumas das memórias mais queridas e, por que
não?, doloridas de nossa experiência alimentar de quando ainda éramos bas-
tante jovens. Estas lembranças ajudam-nos a compreender os costumes ca-
seiros do povo do qual fazemos parte, nascidos em diferentes regiões do país.
[...] Essa memória gastronômica aqui registrada vai carinhosamente contando
nossa vida e revelando-nos enquanto seres fazedores de História.
Esperamos, com isso, trazer um pouco mais de felicidade para os momentos,
hoje fugazes, em que parentes e amigos se reúnem em torno à mesa. Privilégio
que vivemos naqueles tempos”.
“Prato bom era caranguejo servido com arroz e feijão com leite com farinha adoçado, do la-
do. E eu gostava quando o caranguejo tinha ova. Era uma delícia.”
“Comida boa, também, era quando minha mãe ganhava neném. Era um pirão de galinha
caipira bem gostoso. Quem fazia era meu pai, mas ele fazia com tanto capricho que de longe
se podia sentir o cheiro daquela comida. Quando �cava pronto, o pai me mandava levar a
comida no quarto para a mãe. E ele já deixava a minha parte na panela. Eu voltava corren-
do para a cozinha e meu pai colocava um pouco de arroz naquela panela com o �nal do pi-
rão.
Eu pegava a panela e ia para o quarto fazer companhia para minha mãe. Não podia sentar
na cama dela e �cava no chão, perto dos pés da cama.”
“Bom também era carne-de-sol assada na brasa e piabinhas que eu mesmo pescava no cór-
rego. E salada de folhas de couve crua, com arroz e feijão. Minha mãe fazia cortado de abó-
bora com quiabo e carne de sol picada em pedacinhos e minha avó, biju de tapioca com co-
co moído; e �cava delicioso, puro ou com margarina e café.”
“Eu comia de tudo, até manga verde com sal ou açúcar. Ou leite com farinha de milho. A
mãe levantava de manhã e tirava o leite da cabra, depois coava num pano e fervia numa
panela. Com farinha bem torradinha e um pedaço de rapa-dura! Hum!”
“O prato mais delicioso... virado de banana com queijo! Lembro-me que meu pai adorava.
Mas tinha que ser com bastante queijo!
"Receita: oito bananas nanicas, bem maduras, três ovos, 1 xícara de açúcar, quilo de queijo
meia-cura, três copos de farinha de milho e uma pitada de sal. Primeiro colocava uma co-
lher de óleo na panela, depois as bananas e os ovos; mexia, juntava a farinha, mexia, até
misturar tudo. Em seguida, os pedaços de queijo picado e, por último, o açúcar. Mexia tudo
até o queijo derreter e desgrudar um pouco da panela. Servia ainda um pouco quente.”
“O que me lembro do bolo de milho é que ela colocava milho no pilão e socava com a mão
do pilão até que se tornasse fubá. Passava pela peneira várias vezes até obter um fubá bem
�no. Depois colocava em uma panela de barro leite de coco, ovos, açúcar, cravo e canela e
levava ao fogão que era de lenha, até se transformar em angu. Feito isso, colocava toda
aquela massa em uma assadeira e levava ao forno de barro, que havia no fundo do quintal.
Para assar. Eu me lembro que ela tirava aquela assadeira do forno e regava o bolo com leite
de coco. O bolo �cava com uma casquinha dourada! Comíamos as fatias de bolo com café.”
“Se minha mãe ou meu pai convidassem alguém importante para almoçar na minha casa,
era preciso matar um peru para satisfazer os convidados. Além do peru era preciso fazer
um frango ou uma galinha caipira para fazer galinha cabidela, que é o nome do prato feito
lá em Pernambuco.”
“A galinha, a gente pegava na hora, viva, e cortava o pescoço dela e aparava o sangue em
uma vasilha e reservava. Enquanto isso, preparava a galinha com vários tipos de tempero.
De preferência, coentro, sal, cebola e vinagre. Depois batia o sangue da galinha num liqüidi-
�cador e colocava por cima da galinha já na panela e misturava até o caldo �car escuro.
Feito isso, era só tampar a panela e esperar a galinha cozinhar. Depois, servir com feijão, ar-
roz e salada. De preferência com tomatinhos pequenos, como os que a gente plantava e co-
lhia na hora que ia comer.”
“Acho que a professora conseguiu o que queria, deixei para trás montes de exemplos, nin-
guém resiste à lembrança de um lambari sequinho passado na farinha ou fubá e frito na
hora” (BRASIL, 2010).
A condição socioeconômica
Os homens, mulheres, jovens, adultos ou idosos que buscam a escola perten-
cem todos a uma mesma classe social: são pessoas com baixo poder aquisiti-
vo, que consomem, de modo geral, apenas o básico à sua sobrevivência: alu-
guel, água, luz, alimentação, remédios para os �lhos (quando os têm). O lazer
�ca por conta dos encontros com as famílias ou dos festejos e eventos das co-
munidades das quais participam, ligados, muitas vezes, às igrejas ou associa-
ções. A televisão é apontada como principal fonte de lazer e informação.
Quase sempre seus pais têm ou tiveram uma escolaridade inferior à sua.
A compreensão dessa realidade levou Paulo Freire, ainda nos anos de 1960, a
reconhecer o analfabetismo como uma questão não só pedagógica, mas tam-
bém social e política. É a mesma sabedoria de Freire que nos mostra que edu-
car a favor dos pobres é educar para a transformação da sociedade geradora
da pobreza.
A baixa autoestima
“Eu tinha medo de ir à escola, me dava um frio na barriga. Tentava prestar atenção na aula,
mas entendia tudo pela metade. Tentei participar das aulas, algumas vezes, mas minhas
perguntas sempre causavam risos e a professora nunca falava nada. Tinha vergonha de
não saber!”
Será que o fracasso escolar está na inaptidão dos alunos ou é gerado pela
própria escola?
Esta não é uma pergunta fácil de responder. O fracasso escolar é hoje objeto de
estudos das áreas da Educação e da Psicologia. Suas causas apontam para
uma diversidade e complexidade de fatores, ligados ao psiquismo do aluno:
forma como ele interage com o ambiente escolar, modo como estabelece rela-
ções com o saber e com o aprender, seu relacionamento com os professores e
com os colegas, suas relações familiares, os vínculos que constrói com o co-
nhecimento etc.; à estrutura da escola: as características, o modelo pedagógico
adotado, o per�l dos professores etc.; a uma dimensão social ampla: políticas
públicas de educação e a secular desigualdade econômica e social da socieda-
de brasileira.
O que se sabe, ao certo, é que o fracasso escolar tece uma espécie de teia, onde
o(a) aluno(a) se enreda e custa a sair. Na maioria dos casos, a teia torna-se tão
emaranhada que não oferece saída e o desfecho dessa situação, tão comum na
realidade brasileira, é o abandono da escola. Mais tarde, quando retornam aos
bancos escolares, os jovens e adultos �cam extremamente suscetíveis a
enredarem-se novamente, a vivenciarem outro fracasso escolar.
Como evitar que isso ocorra? Qual é o papel do(a) professor(a) de EJA nesse
processo?
Mais uma vez, é a aluna Luciane quem descreve a professora que contribuiu
decisivamente para o seu abandono da escola:
“Foi nesse tempo assim tumultuado e confuso que conheci a professora Dona Pedrina, da
qual eu nunca me esqueci e acho nunca me esquecerei. Quando um aluno escrevia alguma
coisa errada, por exemplo, ela falava bem alto para todos na classe ouvirem. E como costu-
ma ser, todas as crianças começavam a rir do erro cometido por alguém. Ela adorava pôr de
castigo o aluno que não fazia a lição de casa. Colocava-o de pé na frente da classe. Gostava,
também, de dar uma de todo-poderosa, dizendo com voz �rme:
– Luciane, vou comprar uma cartilha para você aprender a escrever. Eu vou
conversar com sua mãe para pôr você no primário de novo!!!
Com toda essa experiência, o meu comportamento, hoje vejo, só piorava. Pois
eu �ngia não estar nem aí, demonstrando isso com palavras e atitudes.
Achava que daquela forma as pessoas não mais ririam de mim.”
Nas salas de aula de EJA, estas marcas se evidenciam, de um lado, por atitu-
des de extrema timidez e, por outro, por atitudes de irreverência e transgres-
são. Esses alunos e alunas demonstram vergonha em perguntar ou em res-
ponder perguntas, nervosismo exacerbado nas situações de avaliação, ou en-
tão se mostram agitados e indisciplinados. Muitos não conseguem nem olhar
nos olhos do professor e da professora.
O papel do(a) professor(a) de EJA é determinante para evitar situações de novo
fracasso escolar. Um caminho seguro para diminuir esses sentimentos de in-
segurança é valorizar os saberes que os alunos e alunas trazem para a sala de
aula. O reconhecimento da existência de uma sabedoria no sujeito, provenien-
te de sua experiência de vida, de sua bagagem cultural, de suas habilidades
pro�ssionais, certamente, contribui para que ele resgate uma autoimagem po-
sitiva, ampliando sua autoestima e fortalecendo sua autocon�ança.
O Texto 4 revela como o tema trabalho tem lugar especial na EJA, pois os alu-
nos, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a experiência do tra-
balho foi iniciada precocemente em suas vidas.
Mas, sempre que pensamos em EJA, temos que considerar que nossa ativida-
de conta com mulheres e homens trabalhadores. Vale notar, ainda, que em to-
das as regiões do país, o trabalho é apontado pelos alunos de EJA tanto como
motivo para terem deixado a escola, como razão para voltarem a ela.
Sem dúvida alguma, o tema trabalho tem um lugar especial na EJA e deve im-
portar ao trabalho dos professores, das professoras e da escola.
Apesar de tudo, vale pensar, por exemplo, na quantidade de saberes que cada
um destes alunos/trabalhadores possui em função das atividades que reali-
zam ou realizaram. Saberes, certamente, não escolares, mas saberes. Saberes
a partir dos quais novos conhecimentos poderão ser construídos.
Uma tarefa fundamental para o(a) professor(a) é conhecer que saberes e habi-
lidades os alunos e alunas desenvolveram em função do seu trabalho.
Pode ser interessante pensar sobre as habilidades que a escola pode ajudar a
desenvolver e que contribuam para uma atuação mais e�ciente nesse univer-
so diversi�cado e competitivo que é o do trabalho. Não queremos dizer com is-
to que a escola deva tomar para si a responsabilidade da preparação do traba-
lhador, nem deixar a responsabilidade da conquista de um “emprego melhor”
nas mãos do(a) aluno(a). Como já sabemos, esta é uma responsabilidade social
mais ampla e mais próxima das políticas governamentais e empresariais.
Vale destacar que outras motivações levam os alunos jovens e adultos para a
escola. Uma delas é a satisfação pessoal, a conquista de um direito, a sensação
de capacidade e dignidade que traz satisfação pessoal (BRASIL, 2010).
Também pudemos constatar nos conteúdos estudados, até então, que, dentre
as funções desta modalidade de ensino está a melhoria na qualidade de vida
do indivíduo, o desenvolvimento dos seus potenciais, como também o desen-
volvimento de habilidades de resolução de problemas, tomadas de decisão.
Assim, o professor deve considerar a sala de aula como propícia para as inte-
rações socioafetivas, pois são estas que impulsionam o aprendizado. Nesse
contexto, há que se considerar as qualidades e a postura do educador que tra-
balha na EJA, sobretudo, a de acreditar no potencial de todos os alunos e de
conhecê-los, e se considerar também como aprendente nas experiências vivi-
das junto a eles, sendo mediador no processo de aprendizagem.
Por �m, até então, tratamos dos aspectos socioafetivos presentes nas relações
entre professores e alunos, sem os quais não há avanços na aprendizagem.
Sugerimos, para aprofundar seus conhecimentos, que assista aos seguintes vídeos: Educação de Jovens e
Adultos (https://www.youtube.com/watch?v=MmzfrUtn008) e Roda de Conversa - Tema: Os Desa�os da
Educação de Jovens e Adultos (https://www.youtube.com/watch?v=aECS7PB0HoA).
Ele foi um grande estudioso, engajado em causas políticas, motivo que lhe pro-
porcionou a oportunidade de desenvolver um "método" de alfabetização e edu-
cação de adultos que exaltava a luta de classes, a teoria marxista, o ateísmo e
a a�rmação do povo como massa oprimida. A autenticidade do seu trabalho
de alfabetização está no processo de conscientização dessa massa, por meio
da aprendizagem, capacitando-a tanto para a aquisição dos instrumentos de
leitura e escrita quanto para a sua libertação.
As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer que, no fundo, elas são a
maioria. O caminho para assumir-se como maioria está em trabalhar as semelhan-
ças entre si e não só as diferenças e assim criar a unidade na diversidade, fora da
qual não vejo como aperfeiçoar-se e até como construir-se uma democracia subs-
tantiva, radical (FREIRE, 1992, p. 154).
Quando chega à escola, o aluno, alfabetizado ou não, já tem uma cultura que
não é pior nem melhor que a do professor, tornando essa a�rmação um princí-
pio fundamental para Freire. Em sala de aula, ambos, professor e aluno, apren-
derão juntos e, para que tal aprendizagem se efetive, torna-se necessário que
as relações estabelecidas sejam democráticas e afetivas, o que garantirá a to-
dos possibilidade de expressão.
Neste contexto, alfabetizar as classes populares não era uma tarefa meramen-
te técnica. Constituía, desde o início, uma atitude humanista de solidarização
e uma atitude política de desa�o.
Já naquele então Freire descobre que é possível acrescentar aos temas apre-
sentados pelos grupos outros que ele os chama de “temas de dobradiça”. Estes
“temas de dobradiça”, na verdade, constituem a contribuição do educador-
coordenador, que introduz outros temas que podem auxiliar e enriquecer a
compreensão do grupo. O resultado obtido com estes trabalhadores populares
nos círculos de cultura foi muito bom, conseguindo-se um bom nível de com-
preensão, independentemente do fato de eles serem alfabetizados ou não. Isto
leva Paulo a propor a mesma metodologia para o processo de alfabetização de
adultos.
Este foi um momento importante no seu percurso, já que ele descobre de for-
ma intuitiva a importância do aspecto metodológico no fazer pedagógico, sem
desvalorizar, no entanto, o conteúdo especí�co que mediatiza este fazer. Este
aspecto metodológico percorre e acompanha a sua obra ao longo de todos os
seus anos de produção. Na verdade esta é uma das grandes contribuições do
Paulo Freire, sua metodologia de trabalho, que consiste em possibilitar a to-
mada de consciência do educando através do diálogo, que desvela a realidade
e mostra as suas interligações, culturais, sociais e político-econômicas.
Interessante também é chamar a atenção para o fato de que Paulo traz, com
muita clareza e precisão, a relação entre metodologia e concepção de educa-
ção. Não existe prática pedagógica sem uma metodologia que a de�ne, como
também não existe uma metodologia que não traga consigo uma prática espe-
cí�ca. Portanto, não existe teoria sem prática e nem prática sem teoria. Ambas
fazem parte de um mesmo pensar e fazer pedagógico.
Ele costumava dizer que não era su�ciente unicamente ensinar a pensar, nós,
enquanto professores educadores, temos também como desa�o ensinar a pen-
sar bem, a pensar de forma certa. A primeira condição para ensinar a pensar
bem é a convicção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim
construir com o educando ou possibilitar que ele construa com os seus iguais,
mas nunca construir por ele.
Traduzia o pensar bem e o pensar certo como aquele pensar que era gerado na
relação entre a teoria e a prática, sempre sendo necessário um distanciamento
da prática para poder se re�etir sobre esta e, desta forma, poder teorizá-la. É
esta postura que gera a rigorosidade metódica. Sem esta rigorosidade, costu-
mava dizer ele, não há pensar certo. O pensar certo é dialógico e não polêmico,
porque tem como objetivo possibilitar a apreensão e compreensão por parte do
educando do conteúdo que está sendo comunicado.
Não poderia terminar este artigo sem chamar a atenção do leitor para um as-
pecto interessante no percurso de Freire enquanto educador nacional e inter-
nacional que foi: o fato de ter mantido até os seus últimos dias de vida, uma
coerência profunda entre o que dizia e o que fazia, uma humildade que só os
grandes-pequenos homens possuem, uma profunda amorosidade pela vida e
por tudo que é humano, uma capacidade intensa e arraigada de se indignar
com injustiças ou qualquer falta de respeito ao ser humano.
Na verdade, acredito que o Freire foi um grande precursor no que diz respeito
à sua convicção de que é através da cultura que se pode gerar transformações
no processo social de forma geral, e não só da educação. Ele já anunciava esta
ideia há décadas, e só agora estamos vendo a cultura surgir como instrumento
de transformação da sociedade (FREIRE-DOWBOR, 2010).
No cenário nacional, o educador Paulo Freire foi uma das pessoas que mais
contribuíram para que a Educação de Jovens e Adultos fosse um direito da-
queles que não tiveram direito a ela em idade própria e, também, para que ela
tivesse a qualidade necessária para desenvolver suas habilidades, especi�ci-
dades, formando-os para o mercado de trabalho e para a cidadania.
Apesar de ter nascido em uma família de classe média, ele se preocupava pro-
fundamente com a situação de exclusão em que viviam os jovens e adultos
analfabetos e, por isso, sentia necessidade de apresentar uma proposta social
que modi�casse esse quadro. Foi um entusiasta dos movimentos populares e
defendeu a causa dos marginalizados como causa própria. Segundo Moacir
Gadotti, Paulo Freire, em uma entrevista concedida à Nilcéa Lemos Pelandré,
em 14 de abril de 1993, disse o seguinte:
Eu preferia dizer que não tenho método. O que eu tinha, quando muito jovem, há 30
anos ou 40 anos, não importa o tempo, era a curiosidade de um lado e o compro-
misso político do outro, em face dos renegados, dos negados, dos proibidos de ler a
palavra, relendo o mundo. O que eu tentei fazer e continuo hoje foi ter uma compre-
ensão que eu chamaria de crítica ou de dialética da prática educativa, dentro da
qual, necessariamente, há uma certa metodologia, um certo método, que eu pre�ro
dizer que é método de conhecer e não um método de ensinar (PELANDRÉ, 1998. In:
GADOTTI, 2001).
1. método;
2. teoria;
3. proposta;
4. sistema, entre outras.
O método em si
Vamos conhecer, a seguir, o método proposto por Paulo Freire, o qual é com-
posto por quatro partes:
Como você pode perceber, o Método Paulo Freire alvitra um aprendizado inte-
grador, abrangente, não compartimentalizado, interdisciplinar, com acentuado
posicionamento político-ideológico, além de estabelecer a horizontalidade na
relação educador-educando, a valorização da cultura popular e de teor huma-
nista.
Dessa forma, podemos observar que Freire foi, em seu tempo, um homem com
muitas ideias avançadas sobre a educação.
Sobre as cartilhas
O uso de cartilhas fundamentou durante muitos anos os trabalhos de alfabeti-
zação e educação de jovens e adultos em todo o país. Contudo, muitas discus-
sões foram levantadas sobre o assunto. Diante dessa situação, Paulo Freire já
defendia a necessidade de uma alfabetização que partisse dos referenciais dos
alunos, de dentro para fora, somente mediada pelo educador.
De acordo com Ribeiro (1997), desde os anos de 1970 ou até mesmo antes, o uso
da cartilha e de metodologias inadequadas na Educação de Jovens e Adultos
era uma preocupação para os educadores da época. Essa temática ainda preo-
cupa muitos docentes, pois, ao chegarem às escolas, encontram um material
didático pronto, acabado, com pouquíssima ou inexistente relação com o con-
texto em que vive seu alunado e, dessa forma, muitas vezes não conseguem
estabelecer relações entre os assuntos tratados na aula e a utilização que farão
de tais saberes no dia a dia.
Se a educação é, também, um ato político, tais �ns contribuem ou não para a formação do
cidadão conhecedor de seus direitos e deveres?
A democracia atual, onde ela acontece, não raras vezes faz com que “massas”
acreditem que estão decidindo, do que decorrem questões como: por que os
homens e as mulheres vivem em sociedade? Por que os seres humanos devem
submeter-se às ordens, aos governos, às leis...? Locke (1983) fala do governo,
constituído e eleito como funcionário do povo para organizar as relações soci-
ais, concebendo a possibilidade de rebelião desse mesmo povo e a consequen-
te destituição do governo, caso este não execute decisões concebidas por
aquele. Ou, poderíamos questionar, o que é o poder político, considerado como
uma relação entre indivíduos que mandam e outros que obedecem? Sempre
foi assim? É algo inscrito na natureza? Como organizar as relações sociais que
compulsoriamente existem e não há como evitar a convivência com elas?
Como constituir essas relações de forma democrática? Como conciliar, confor-
me a�rma Paulo Freire (1993), a coercibilidade necessária na organização das
relações sociais em geral e a busca desperta da liberdade por parte de cada
um dos envolvidos num dado processo, acreditando na possibilidade da mate-
rialização da tese de que não há democracia sem liberdade e que não há liber-
dade sem democracia? En�m, como pensar tais processos, sabendo-se, ao
mesmo tempo, que a liberdade e a democracia constroem-se em relação com
o mundo e com os outros?
É entendida, também, como instância de coação exterior, não raras vezes bus-
cando, na consciência coletiva, a perspectiva legitimadora das relações soci-
ais, em detrimento da consciência individual. E é por essa razão que a autori-
dade é um conceito que em muitos momentos históricos esteve ligado à domi-
nação e ao exercício do poder, óia nos mais diversos motivos de submissão,
desde a obediência a hábitos inconscientes até àqueles que se con�guram co-
mo �ns racionais. É dessa forma que existe a autoridade que se estabelece ba-
seada no caráter racional e que se fundamenta na crença da legalidade de pa-
drões e regras normativas postas para os indivíduos. É a autoridade legal pro-
priamente dita. Há, ainda, a autoridade que tem origem na tradição, isto é, que
se baseia na crença cotidiana das tradições e na tese da legitimidade do status
quo, tanto em relação ao modelo social em que vivem os indivíduos quanto em
relação ao exercício da própria autoridade.
É assim que a proposta passa pela crítica à prática produtiva do poder autori-
tário à construção da prática produtiva da liberdade coletiva e solidária atra-
vés da pedagogia da esperança e do diálogo. A perspectiva freiriana ultrapas-
sa tanto os limites do autoritarismo quanto da pedagogia da licenciosidade co-
mo condição de possibilidade para a superação do senso comum no processo
de construção do conhecimento e de transformação social. A questão é não
negar a liberdade de ser do outro, mas, da mesma forma, não abandonar a cri-
ança, o jovem, o educando (o/a outro/a) sem referências para a sua formação.
Por isso, entendemos que é necessário refazer a re�exão sobre a democracia e
o poder político. Esse poder, sim, que existe, mas nem sempre é facilmente
percebido. Daí a concepção de poder que, para Freire, como já dito, aproxima-
se do conceito de autoridade que desenvolve, correspondendo à capacidade
que humanos têm de, mediados pelo diálogo, aceitando a diferença (não do
antagônico), problematizar o “mundo vivido” ou a experiência imediata e de-
sa�ar (e deixar-se desa�ar) o interlocutor à superação do estágio em que se
encontra. É a materialização da possibilidade da “convivência com os diferen-
tes para que se possa melhor lutar com os antagônicos” (FREIRE, 1994, p. 39), o
que possibilita a construção de uma perspectiva que ultrapassa a visão di-
cotômica de poder, compreendendo as relações humanas como interdepen-
dentes e concebendo a in�uência das instituições e das pessoas, umas sobre
as outras.
O mundo vivido e imediato no qual se situa a escola deve passar por análises
aprofundadas em relação aos processos de formação das pessoas em geral. A
racionalidade sempre faz desa�os à universalidade ou à globalidade. E não ra-
ras vezes, os nossos referenciais de análise pouco contemplam de racional, no
sentido original do termo, ou seja, de compreensão ampla e global do contexto
desde o qual um determinado fenômeno (neste caso, a escola) é re�etido.
Recordamos Sünker (1994, p. 107), quando a�rma:
“Contra todas las críticas post-modernas al logocentrismo, hay que sostener que no
há tenido lugar un exceso de Ilustración sino uma carencia de ella. [...]”. E segue o
autor: “En consecuencia, contra las posiciones postmodernas hay que sostener en
forma decisiva que la ‘pluralización de formas de vida’ [...] sólo puede conseguirse
sobre el fundamento de un pensamiento universal, que nos proporcione la base pa-
ra una teoría del sujeto fundamentada teórica e intersubjetivamente, y que nos re-
mita tanto desde la perspectiva de la teoría como de la política social a las condici-
ones de posibilidad de un discurso sobre las ‘diferencias’”.
Por outro lado, as críticas que educadores/as têm feito ao planejamento, à exe-
cução e à avaliação do processo pedagógico, à ausência de democracia, à falta
de oportunidade de participação etc., são legítimas. Mas democracia não pode
ser confundida com luta por licenciosidades. Isto é, lutar por democracia não
é su�ciente e não resolve os problemas com os quais se defronta a escola pú-
blica, particularmente. São preocupações importantes, fundamentais, mas
apenas a partir de um contexto de lutas maiores que envolvem a revisão do
constructo axiológico da sociedade como um todo na qual se situa a escola. A
fala de Freire, a seguir, revela o caráter da discussão que aqui instauramos: “O
fato, contudo, de na teoria dialógica, no processo de organização, não ter a li-
derança o direito de impor arbitrariamente sua palavra, não signi�ca dever as-
sumir uma posição liberalista, que levaria as massas oprimidas – habituadas
à opressão – a licenciosidades”. Para Freire, “teoria dialógica da ação nega o
autoritarismo como nega a licenciosidade. E, ao fazê-lo, a�rma a autoridade e
a liberdade. Reconhece que se não há liberdade sem autoridade, não há esta
sem aquela”. Atando a discussão acerca da autoridade, Freire lembra: “A fonte
geradora, constituinte da autoridade autêntica, está na liberdade que em certo
momento se faz autoridade. Toda liberdade contém em si a possibilidade de
vir a ser, em circunstâncias especiais (e em níveis existenciais diferentes), au-
toridades [...] (FREIRE, 1982, p. 210-11).
Tendo por base a tradição �losó�ca, autonomia tem sua origem fortemente
marcada por Kant, o qual procurou designar a independência da vontade em
relação a todo desejo ou objeto de desejo e a capacidade dessa mesma vontade
do indivíduo para determinar-se, sempre em conformidade com uma lei pró-
pria, a da razão. Kant contrapõe a autonomia à heteronomia pela qual a vonta-
de é determinada pelos objetos da faculdade de desejar. Da mesma forma, os
ideais morais de felicidade ou de perfeição supõem a heteronomia da vontade,
supõem que ela seja determinada pelo desejo de alcançá-los e não por uma lei
sua e própria. A independência da vontade em relação a qualquer objeto dese-
jado é a liberdade no sentido negativo, ao passo que a sua legislação própria
(como razão prática) é a liberdade no sentido positivo. A lei moral não expri-
me nada mais do que a autonomia da razão prática, isto é, da liberdade.
Kant foi aqui retomado porque a sua re�exão, apostamos, é provocativa e in-
�uenciadora de produções seguintes sobre moral, autonomia etc. Mas a dis-
cussão que propomos neste texto inverte o ponto de partida kantiano e a re�e-
xão é elaborada a partir das condições de possibilidade dos humanos, isto é,
face o mundo da não liberdade, da autoridade autoritária e, não raras vezes, da
heteronomia, ou, até, da anomia.
O que ocorre, segundo Freire, é que a “ideologia fatalista, imobilizante, que ani-
ma o discurso neoliberal, anda solta no mundo. Com ares de pós-
modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a reali-
dade social, que, de histórica e cultural, passa a ser ou a virar “quase natural”
(id, p. 65), onde o que aparece em destaque é a coerência que é exigida de quem
busca e defende a autonomia do outro, do educando. “Saber que devo respeito
à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a
coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de algumas vir-
tudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico...” (idem, p. 69).
Para o educador que sabe que deve respeitar a dignidade do educando, a sua
autonomia e a sua identidade no processo, Freire aponta uma exigência de re-
alização e não de negação deste conhecimento, o que demanda re�exões críti-
cas permanentes sobre a prática educativa.
Partindo da tese de que a “liberdade sem limite é tão negada quanto a liberda-
de as�xiada ou castrada” (idem, p. 118) é que Freire defende a possibilidade da
construção da autonomia. Autonomia essa que, além de histórica, constrói-se
na criatividade e na tensa relação entre liberdade e autoridade: “Uma pedago-
gia autoritária, ou um regime político autoritário, não permite a liberdade ne-
cessária à criatividade, e é preciso criatividade para se aprender” (FREIRE e
SHOR, 1996,p. 31). E Freire continua: “... corremos também o risco de, negando
à liberdade o direito de a�rmar-se, exacerbar a autoridade ou, atro�ando esta,
hipertro�ar aquela” (1994, p. 23). A indispensável liberdade “é uma conquista e
não uma doação, exige permanente busca [...] que só existe no ato responsável
de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por
ela precisamente porque não a tem” (FREIRE, 1982, p. 35).
Ou seja, é decidindo, com os/as outros/as, que se aprende a decidir, por exem-
plo, num mundo repleto de autoritarismos e licenciosidades. A minha liberda-
de, a liberdade de cada um (autonomia), cresce no confronto com outras liber-
dades, com outras opções etc., com as diferenças, em cuja história de perver-
são social e de exclusão exige que se construam elos de encontros na busca
desperta e utópica de relações sociais dignas para todos. É o que Freire re�ete
diante da relação entre pais e �lhos: “O que é preciso [...] é que o �lho assuma
eticamente, responsavelmente, sua decisão, fundante de sua autonomia.
Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se consti-
tuindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas”
(FREIRE, 1997, p. 120).
A humildade permite que, conhecendo os limites, o caminho na direção do ser
mais seja iniciado; é a atitude de coragem que o humano, sabendo dos limites,
sabe o que quer e avança no possível; que sabe que nunca “está pronto”, que
não se contenta com o que faz e que busca sempre avançar, analisando sem-
pre as condições que existem como ponto de partida.
Outro caminho, não descolado do que até aqui buscamos trilhar, para cons-
truir ou reconstruir a re�exão sobre autonomia em Freire, é a relação que esta
categoria tem com “conscientização, com construção ou formação da consci-
ência, com a formação do espírito crítico etc., e a busca desperta, pela curiosi-
dade, da compreensão do mundo”. Assim, coloca-se Freire diante da questão:
“A conscientização é o aprofundamento da tomada de consciência, mas nem
toda tomada de consciência se alonga obrigatoriamente em conscientização”.
E é neste sentido, prossegue o autor, “... que a pura tomada de consciência a
que falte a curiosidade cautelosa, mas arriscada, a re�exão crítica, a rigorosi-
dade dos procedimentos de aproximação ao objeto �ca no nível do ‘senso co-
mum’” (FREIRE, 1991, p. 113).
Os seres humanos vivem permanentemente em tensão entre o reino da neces-
sidade e o reino da liberdade. A dimensão física do humano, reino de necessi-
dades, não está posta, como em algumas teorias clássicas ou contemporâneas,
independentemente da liberdade. O ser humano, mesmo que se admita ser
fundamentalmente sujeito de sua própria história, é condicionado em sua si-
tuação de liberdade pelas circunstâncias em que vive. A moral, então, que é
uma dimensão do social do qual os humanos participam, regula as ações dos
indivíduos.
Ainda: Freire fala da ética necessária para que uma ação, autônoma, possa ser
considerada moralmente correta. Condenando a ética pragmatista do capita-
lismo, ao mesmo tempo neoliberal e selvagem, Freire a�rma: “Falo, pelo con-
trário, da ética universal do ser humano. Da ética que condena o cinismo do
discurso [...], que condena a exploração da força de trabalho do ser humano [...].
A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória
de raça, de gênero, de classe” (FREIRE, 1997, p.17).
Sugerimos, agora, que você dê uma pausa na sua leitura e re�ita sobre sua
aprendizagem realizando a questão a seguir.
12. Considerações
Vimos ao longo do ciclo 4 vários pontos relacionados a Educação de Jovens e
Adultos, como o alunado se caracteriza nesta modalidade de ensino, quais são
suas motivações, e infelizmente, detectamos que ainda, grande parcela da
nossa população não teve acesso ao ensino no tempo adequado, voltando a
buscar por melhorias na qualidade de vida, no crescimento pessoal e mesmo
pela alfabetização, quando jovens ou adultos. Neste contexto, é fundamental
que o educador de jovens e adultos tenha consciência e respaldo teórico su�ci-
ente para atuar nesta modalidade, considerando a experiência de seus alunos,
re�etindo sobre a relação afetiva estabelecida com estes, e buscando por me-
todologias apropriadas, que não os infantilize, mas que estabeleça uma cone-
xão com suas reais expectativas.
(https://md.claretiano.edu.br
/psideseducrijovadu-gs0056-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Identi�car como a Andragogia contribui para o processo de desenvolvi-
mento e aprendizagem de adultos.
• Compreender e identi�car as características da aprendizagem adulta.
• Veri�car a relação entre Pedagogia versus Andragogia no contexto da
EJA.
• Identi�car as características de desenvolvimento dos jovens, adultos, e
terceira idade nas dimensões cognitiva, afetiva, social.
Conteúdos
• Relação da Pedagogia x Andragogia com a educação.
• Características do desenvolvimento e da aprendizagem de jovens e adul-
tos, e terceira idade.
• Di�culdades de aprendizagem do adulto.
Problematização
O que signi�ca Andragogia? Quais as características da aprendizagem adul-
ta? Quais as características do desenvolvimento na adolescência, pensando
no desenvolvimento físico, emocional-social e cognitivo? E quais as caracte-
rísticas de desenvolvimento na vida adulta, e terceira idade?
1. Introdução
Veremos neste ciclo a proposta da andragogia, seus princípios e pilares, sua
diferença em relação a Pedagogia, e as características de desenvolvimento dos
adolescentes, adultos e idosos, considerando as dimensões cognitiva, social e
emocional. Esperamos, que os conteúdos abordados neste ciclo possam lhe
oferecer uma visão mais clara e ao mesmo tempo prática de como trabalhar a
aprendizagem dos adultos.
Durante toda a sua vida, ele evolui por meio do aprendizado contínuo.
Portanto:
A Andragogia estuda o adulto por completo: sua vida, seu trabalho, seus sentimen-
tos, suas habilidades, seus gostos, seu comportamento, en�m, tudo que está relacio-
nado com o seu ser (RODRIGUES, 2010).
Pilares da Andragogia
Linderman (1926), um dos maiores pesquisadores da educação de adultos, des-
creve os cinco pilares da Andragogia. São eles:
• adultos são motivados a aprender à medida que percebem que as necessida-
des e interesses que buscam estão e continuarão sendo satisfeitos. Por isso
estes são os pontos mais apropriados para se dar início à organização das ati-
vidades de aprendizagem de adultos;
• a orientação da aprendizagem dos adultos está centrada em vida; portanto, as
unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são
as situações de vida e não disciplinas. O aluno é quem deve determinar junto
aos professores o que deve ser ensinado para que seus anseios sejam satisfei-
tos;
• a experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; assim, o centro da
metodologia da educação do adulto é a análise das experiências externas e do
próprio cotidiano de cada aluno. Praticamente todo o conteúdo deve ser de
utilidade prática e imediata; porém, devem resultar em mudanças de atitude
e aperfeiçoamento de habilidades passíveis de gerar resultados a longo prazo.
O adulto aprende aquilo que faz e vivencia, sendo a experiência seu próprio
livro-texto;
• adultos têm uma profunda necessidade de ser autodirigidos: por isso o papel
dos professores é engajar-se no processo de mútua investigação com os alu-
nos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los;
• as diferenças individuais entre as pessoas crescem com a idade; desta forma,
a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e
ritmo de aprendizagem (FAVA, 2010).
4. Psicologia do adulto
A palavra “adulto” vem do latim “adultus”, que signi�ca “crescer”. Em sua opi-
nião, em qual idade a pessoa é considerada adulta? Para responder a essa
questão, vamos continuar nossos estudos. Conforme Oliveira (2001, p. 18) a�r-
ma, a pessoa adulta:
[...] traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de ex-
periências, conhecimentos acumulados e re�exões sobre o mundo externo, sobre si
mesmo e sobre as outras pessoas.
Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da
etapa de vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo dife-
rentes habilidades e di�culdades (em comparação à criança) e, provavelmente,
maior capacidade de re�exão sobre o conhecimento e sobre seus próprios proces-
sos de aprendizagem.
5. Educação do adulto
O processo de formação que se inicia com pessoas maiores de 18 anos que não
tiveram acesso ao sistema educativo ou que, por algum motivo, tiveram de
sair sem terminá-lo ou concluí-lo é conhecido por Educação de Adultos. Isso
permitirá que a pessoa adulta enfrente os desa�os impostos pela família, pelo
mundo do trabalho e pela comunidade nos diversos contextos socioculturais
distintos, enriquecendo conhecimentos e desenvolvendo aptidões e, conse-
quentemente, a competência pro�ssional e técnica.
CARACTERÍSTICAS DA
ANDRAGOGIA
APRENDIZAGEM
O que deve estar sempre presente na cabeça de todos é que não existe um exército
sem um general ou um time de futebol sem um técnico. Todos têm um papel a de-
sempenhar. Se a vitória, o sucesso, é o objetivo, a equipe deve ter um líder integrado
e consciente de que todos, sem exceção, são seres humanos, diferentes uns dos ou-
tros.
A partir daí as coisas se facilitam e o sucesso é alcançado de forma mais rápida
(FAVA, 2010).
Para esse período da vida, não há, portanto, idades exatas para seu início e tér-
mino. O adolescente passa por um conjunto de mudanças físicas, que é deno-
minado puberdade, e por transformações psicossociológicas que vão depen-
der da cultura na qual está inserido.
A adolescência é um fenômeno recente, criado pela nossa cultura ocidental, que pode vari-
ar de acordo com o status socioeconômico e com as circunstâncias de vida dos jovens.
A incorporação dos adolescentes no status de adulto demora cada vez mais, de tal
forma que é cada vez mais freqüente nos encontrarmos com pessoas que são física
ou psicologicamente adultas, mas que, no entanto, não têm um status de adulto [...],
não porque não desejam se tornar independentes, trabalhar ou formar uma relação
estável com outra pessoa, mas porque o custo de vida, as condições sociais de di�-
culdade para entrar no mercado do trabalho e o prolongamento da escolaridade fa-
zem com que seja impossível materializar esses desejos (PALÁCIOS; OLIVA, 2004, p.
314-315).
O adolescente deixa de ser criança sem ainda estar preparado para o mundo
adulto. Com isso, ele vivencia muitos con�itos, visto que a sociedade ainda os
acentua com atitudes ambíguas, ou seja, ao mesmo tempo em que são espera-
dos comportamentos e responsabilidades por não ser mais criança, ele é im-
pedido de outros, pelo fato de ainda não ser adulto, como, por exemplo, no caso
de um jovem que tem de decidir sobre o seu futuro quanto à sua carreira pro-
�ssional, porém não pode participar do mercado de trabalho.
O adolescente [...] não considera somente os dados reais presentes, mas, também,
prevê todas as situações e reações de causas possíveis entre os elementos. Uma
vez analisadas de maneira lógica todas essas possibilidades hipotéticas, posterior-
mente, procurará contrastá-las com a realidade por meio da experimentação
(CARRETERO; LEÓN, 2004, p. 325).
Como exemplo, podemos citar que mesmo que um adolescente não esteja pre-
sente nas situações de con�ito entre os Estados Unidos e o Iraque, ele pode
compreender o que se passa entre os dois países e prever as consequências.
De acordo com Oliva (2004), os amigos são fundamentais nessa etapa da vida,
uma vez que podem se tornar a principal �gura de apego do adolescente, bem
como ajudar e dar apoio emocional para que ele supere seus altos e baixos, e
suas situações estressantes, como, por exemplo, um fracasso acadêmico ou
amoroso, ou a separação dos pais.
Contudo, nem sempre é fácil sua identidade pessoal. Essa construção �ca su-
bordinada a sucessos e fracassos vivenciados, os quais possibilitam senti-
mentos contraditórios. Com isso, o adolescente sente urgência em fazer coisas,
ou, ao mesmo tempo, �ca tão absorto que perde a noção do tempo, ou, ainda,
tão apaixonado por uma atividade que reduz sua capacidade de produção e de
concentração para outras.
Se o adolescente deve se preparar para abandonar o lar e agir como adulto autôno-
mo, é razoável esperar dele comportamentos cada vez mais independentes. Diante
desse processo de individuação, é frequente que os adolescentes experimentem
uma certa ambivalência. [...] não é estranho encontrar durante os primeiros anos
da adolescência a alternância entre condutas maturas e comportamentos infantis
(OLIVA, 2004, p. 353).
Nessa fase, mesmo com comportamentos onipotentes, o jovem continua a ter
enorme necessidade de carinho e de atenção por parte da família. Os pais ne-
cessitam ajustar seus afetos às necessidades dos adolescentes e saber que,
embora estejam crescidos, eles continuam precisando de orientações.
Adolescências
Por que utilizar o termo adolescências?
Alguns autores, assim como Bock (2002), apontam que seria um equívoco
considerar a adolescência uma fase única, independentemente de classe soci-
al.
Veja à sua volta: um jovem de classe média tem a sua fase de “juventude” pro-
longada em razão da entrada na universidade, podendo até mesmo ultrapas-
sar esta fase.
Outros tantos jovens nem chegam a frequentar o Ensino Médio, entrando cedo
no mercado de trabalho para ajudar a aumentar a renda familiar. Veri�ca-se,
então, que diferentes segmentos sociais apresentam uma adolescência peculi-
ar. Enquanto a grande maioria dos jovens de classe média tem pais que procu-
ram retardar a sua entrada no mundo do trabalho, em função dos estudos, ou-
tros jovens são forçados a entrar no mundo adulto, em razão das suas precári-
as condições econômicas.
Outros fatores intervenientes podem aparecer, tais como gravidez precoce, morte prematu-
ra dos pais etc. Essas questões vão delinear diferentes características e durações para a
adolescência.
Para �nalizar, deve-se lembrar que o jovem vive um paradoxo que o angustia,
em razão da cobrança dos adultos. Na verdade, é exigido do jovem um com-
portamento maduro com relação a algumas questões, e, ao mesmo tempo,
julgam-no jovem demais para outras. Dessa maneira, o adolescente �ca sem
saber como agir diante dos adultos, tendo em vista que não existem regras pa-
ra considerá-lo “muito jovem” ou “quase adulto”.
Atualmente, o que marca a transição para a idade adulta é uma complexa gama de
circunstâncias: o trabalho remunerado, a autonomia econômica, o desprendimento
da família (lar em que nasceu), o casamento ou a formação de um casal com vonta-
de de permanência, a formação de uma nova família (FIERRO, 2004, p. 404).
Nesse sentido, a vida adulta é, pois, um período em que a pessoa procura por
adaptação e qualidade de vida. Para que isso aconteça, é necessário que adqui-
ra recursos a �m de enfrentar o medo da realidade que a circunda e das adver-
sidades que a vida traz consigo.
No entanto, essa adaptação nem sempre é vivenciada com facilidade, sendo
necessário conviver, frequentemente, com a aceleração de novidades e de in-
formações, com as mudanças nos amores, com a solidão sentimental, com a
mobilidade ao posto de trabalho e a insegurança no emprego, entre outras ad-
versidades.
Segundo Fierro (2004), algumas pessoas podem ter di�culdades quando en-
xergam seu contexto como ameaçador, procurando manter seu padrão de vida
a qualquer custo, com altos níveis de ansiedade e neurose.
A síndrome de Peter Pan (o menino que se nega a crescer), por exemplo, pode
fazer que muitos adultos entrem num parasitismo emocional, necessitando de
constante apoio emocional e material, sem capacidade para tomar decisões,
além de vivenciarem profundos sentimentos de inferioridade.
Em virtude dos fatores socioculturais, os adultos são menos parecidos entre si do que as
crianças. Essas diferenças são ampliadas com o passar do tempo por meio das experiênci-
as.
En�m, a vida adulta prepara a pessoa para que ela possa enfrentar a velhice.
Você sabia que, com o passar do tempo, o cérebro humano diminui de tama-
nho, os ritmos de sua atividade elétrica alteram-se e algumas de suas partes
apresentam diferentes padrões de envelhecimento? As mudanças nas formas
de pensamento estão, pois, mais relacionadas com outros elementos proce-
dentes de épocas anteriores.
Quer um exemplo? Uma pessoa sem doenças crônicas, com nível socioeconô-
mico elevado e que vivencia um ambiente estimulante, apresentando um esti-
lo de personalidade �exível e um sentimento de satisfação própria, sofrerá um
declínio intelectual menor do que aquela que não tem as mesmas condições
de vida.
Além disso, o idoso conta com a habilidade que adquiriu nas suas experiênci-
as de vida e pode, por exemplo, superar seu declínio de memória e de alguns
órgãos do sentido (visão, audição, tato) com estratégias que já estão automati-
zadas.
Conclui-se que uma pessoa que, por exemplo, se adaptou com padrões de com-
portamentos rígidos e inseguros na sua vida adulta, irá se tornar muito mais
temerosa com relação às suas �nanças na velhice.
Para compor a autoestima nessa fase da vida, a pessoa não pode deixar de le-
var em conta o sentimento de e�cácia de ser pai ou mãe, o reconhecimento
pro�ssional alcançado, bem como as experiências no âmbito das relações so-
ciais ou de criatividade, vivenciadas de forma positiva ou negativa.
Numa visão psicossocial recente, foi adotado o termo “terceira idade”, pos-
suindo duas características principais: uma é a aposentadoria, ou seja, o tér-
mino do trabalho socialmente remunerado; a outra é a existência de um siste-
ma social de pensões, segurança e serviços que tentam proteger as pessoas
mais velhas, em situação de vulnerabilidade e carentes de apoio.
O envelhecer acontece junto com a idade cronológica, mas não coincide com ela,
nem varia em conexão mecânica com ela. Uma pessoa “de idade” não é a mesma
coisa que uma pessoa “envelhecida”. O sujeito que envelhece tem, além da sua ida-
de cronológica, várias idades funcionais que correspondem ao estado de funciona-
mento de seus diversos (sub) sistemas biológicos e psicológicos (FIERRO, 2004, p.
417).
Já as pessoas que continuam ativas, interessadas por esse mundo que as ro-
deia e, também, pelo sexo, vivem mais tempo e mais felizes, enfrentando me-
lhor o passar dos anos.
A maioria das pessoas com mais de 60 anos mantém suas amizades por mui-
to tempo, as quais são fatores de relações interpessoais importantes na velhi-
ce. Essa etapa também é propícia para a formação de novas amizades, que, na
maioria das vezes, são criadas em virtude da semelhança entre elas, tais como
idade, status, valores e interesses.
Erickson apud Fierro (2004) é quem melhor descreve o senso de velhice quan-
do postula a oitava idade do homem e o último estágio de identidade pessoal.
O sentimento e a consciência de integridade, a aceitação do ciclo vital exclusi-
vo de cada um, a disposição para defender até o último instante a dignidade
do seu próprio estilo de vida contra todo tipo de ameaça externa de�nem sua
identidade: “eu sou aquilo que sobrevive de mim”.
11. Considerações
Neste ciclo abordamos sobre a Andragogia, como metodologia especí�ca para
aprendizagem de adultos e, como vimos, é de suma importância considerar
suas ideias, singularidades, vontades, para que a EJA tenha sentido na vida
destas pessoas. Ainda, vimos as características de desenvolvimento das fai-
xas geracionais que são públicos na EJA, adolescentes, adultos e idosos, re�e-
tindo sobre a sua forma de pensar, de se relacionar, de sentir e manifestar
emoções.
12. Considerações �nais
A disciplina Psicologia do Desenvolvimento e Educação de Crianças, Jovens e
Adultos abordou desde a Educação de crianças, passando pelas questões his-
tóricas que envolveram a constituição do conceito de infância, legislações e
documentos normativos que regulamentam e buscam garantir os direitos da
criança e a qualidade da ação educativa/pedagógica, proposta pedagógica e
currículo na educação infantil, até a Educação de Jovens e Adultos.