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os INTELECTUAIS
EA SOCIEDADE
Impresso no Brasil, dezembro de 20 1 1
Editor
Edson Manoel de Oliveira Filho
Gerente editorial
Gabriela Trevisan
Revisão técnica
Prof. Galo Lopez Noriega
Preparação
Luciane Gomide
Revisão
Amandina Morbeck
Liliana Cruz
Pré-impressão e impressão
Cromosete Gráfica e Editora
C a p ít u l o 4 I Os I n telect u a is e a s Visões d e
Sociedade
1 Walter Lippmann, Public Opinion. Nova York, The Free Press, 1 965, p. 80.
Os I ntelectu ais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
CONFLITO DE VIS Õ ES
4 ]ohn Stuart Mill, "Utilitarianism". In: Co llected Works of.lohn Stuart Mil/.
Toronto, University of Toronto Press, 1 96 9 , v. X, p. 2 1 5 .
5 Idem, " De Tocqueville o n Democracy in Ameri ca [I] " . In: Ibidem. Toronto,
University of Toron to Press, 1 977, v. XVIII, p . 86; idem, "Civi lization " . In:
Ibidem, p . 1 2 1 , 1 3 9; idem, "On Liberty" . I n : Ibi dem, p. 222.
6Jean-Jacques Rousseau, The Social Contra ct. Tra d . Maurice Cranston . Nova
York, Penguin Books, 1 968, p. 49.
Os Intelectua is e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
7Donald Kagan, On the Origins of War and the Preservation o{ Peace. Nova
York, Doubleday, 1 9 95, p. 4 1 4 .
1 28 1 1 2 9
9 Ver meu li vro A Conflict of Visions. 2. ed. Nova York, Basic Books, 2007.
10 9 - 1 7, 1 66-67, 1 9 8-99.
I bidem, p.
11
Ibidem, p. 1 47-53.
1 30 I 1 3 1
12
Ver, por exemplo, William Godwin, Enquiry Conce rn ing Political Justice
and Its Influence on Morais and Happiness. Toronto, University of Toronto
Press, 1 946, v. 2, cap. XVI; John Dewey, Human Nature and Conduct: An ln
troduction to Social Psychology. Nova York, Modem Library, 1 957, p. 1 1 4-
15; Bernard Shaw, The Intelligent Woman s Cuide to Socialism and Capital
'
18
Ian Ayres, Super Crunchers: Why Thinking-by-Numbers Js the New Way to
Be Smart. Nova York, Bantam Books, 2007, p. 3 .
1 9 Ibidem, p. 1 -9. Ver também Mark Strauss, "The Grapes of Math " . Dis
cover, j a n . 1 99 1 , p. 50-5 1 ; Jay Pa lmer, " Grape Expectations" . Barron 's,
3 0/1 2/1 996, p . 1 7- 1 9 .
1 34 1 1 3 5
20
Ian Ayres, Super Crunchers, p . 82-83.
Os I ntelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
do New York Times, Tom Wicker, alertou seus leitores dizendo que
a liberdade " não é uma panaceia e que se o comunismo falhou, não
s ignifica que a alternativa ocidental sej a perfeita ou mesmo satis
fatória para milhões que vivem sob seu peso " .2 1 O fato histórico
concreto de milhões de pessoas que viviam sob as diretrizes do bloco
comunista e fugiram para o Ocidente, comparado ao fato de uma
fração ínfima de pessoas que fugiram no sentido inverso, pode nos
sugerir onde realmente havia maior nível de satisfação. Mas é claro
que nada que compreendeu estritamente o humano j amais alcançou
a perfeição e, assim, o fato de os intelectuais sempre poderem ima
ginar algo melhor do que aquilo que existe de melhor não nos sur
preende. Certamente, todavia, a visão de Tom Wicker não é a mesma
que a de Richard Epstein, para o qual o máximo que podemos espe
rar é "a mais tolerável das imperfeições " . 22
Outro posicionamento parecido é o que afirma que nunca hou
ve uma " era de ouro " . Isso é frequentemente colocado na boca de
pessoas que nunca alegaram que já houve tal coisa, mas que tendem
a pensar que algumas práticas do passado produziram resultados
melhores do que algumas práticas do presente. Em vez de oferecer
evidências que mostrem que as práticas atuais sempre produzem re
sultados mais satisfatórios, "panaceias " e " eras de ouro " são usadas
para desqualificar argumentos contrários. Por vezes, a mesma noção
é expressa ao se dizer que não podemos ou não deveríamos " voltar
o relógio da história " . Mas, a menos que alguém aceite, como dog
ma, que todas as medidas subsequentes em relação a uma data qual
quer sej am automaticamente melhores do que o eram anteriormente
à data determinada, esse tipo de artifício revela ser uma evasão que
foge às especificidades das questões, ou sej a, mais um exemplo de
argumentação sem prova.
21
Tom Wicker, " Freedom for What ? " . New York Times, 0510 111 990, p. A3 1 .
22 Richard A. Epstein, Overdose, p. 1 5.
Os Intelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
23 joseph Epstein, "True Virtue" . New York Times Magazine, 24/1 1/1 985, p. 95.
1 38 I 1 39
24 Thomas Robert Malthus, Population: The First Essay. Ann Arbor, Univer
sity of Michigan Press, 1 959, p. 3 .
25William Godwin, O f Population. Londres, Longman, Hurst, Rees, Orme
and Brown, 1 820, p . 520, 550 e 554.
26Edmund Burke, The Correspondence of Edmund Burke. Ed. R. B. Mc
Dowell. Chicago, University of Chicago Press, 1 969, v. VIII, p . 1 3 8 .
Os Intelectuais e a Sociedade I Os Intelectuais e as Visões de Sociedade
30 Andrew Hacker, Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Un
equal. Nova York, Charles Scribner's Son, 1 992, p. 52.
Os Intelectuais e a Sociedade I Os Intelectuais e as Visões de Sociedade
3 1 Arthur C. Brooks, Who Really Cares: The Surprising Truth About Compas
sionate Conservatism. Nova York, Basic Books, 2006, p. 2 1 -22, 24.
1 42 I 1 43
37 ]. B. Priestley, "The Public and the Idea of Peace " . In: Challenge to Death.
Ed. Storm Jameson. Nova York, E. P. Dutton & Co . , Inc., 1 935, p. 3 1 3.
38 Ibidem, p. 309.
39Ver, por exemplo, William Godwin. Enquiry Concerning Political ]ustice, v . 1,
p. 456-57.
1 44 1 1 45
4 0 T. S. Eliot, "The Cocktail Party " . In: The Complete Poems and Plays. Nova
York, Harcourt, Brace and Company, 1 952, p. 348.
Os I ntelectuais e a Sociedade I Os Intelectuais e as Visões de Sociedade
41 Alfre d Lief (ed.), R epresentative Opinions of Mr. ]ustice Holmes. Wes tpo rt
( CT), Greenwood Press, 1 97 1 , p. 1 60, 282.
42 Mark DeWolfe Howe (ed.), Holmes-Laski Letters, v. 2 , p. 888.
Os Intelectuais e a Sociedade I Os Intelectuais e as Visões de Sociedade
A DICOTOMIA ESQUERDA-DIREITA
46 Ver, por exemplo, G. Kinne, " Nazi Stratagems and Their Effects on Ger
mans in Australia up to 1 94 5 " . Royal Australian Historical Society. V. 66,
parte 1 ( j u n . 1 98 0 ) , p. 1 - 1 9; Jean Roche, La Colonisation A llemande et Le
Rio Grande do Sul. Paris, Institue des Haures É rudes de L' Amérique La tine,
1 959, p. 54 1 -43.
Os I ntelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
47
Valdis O. Lumans, Himmler's Auxiliaries. Chapel Hill, University of North
Carolina Press, 1 993, p. 77-87.
48Hélene Carrere d'Encausse, Decline of an Empire: The Soviet Socialist Re
publics in Revolt. Nova York, Newsweek Books, 1 980, p. 146, 1 50-5 1 .
1 52 I 1 53
53 " O estadista que tentasse direcionar a vida econômica das pessoas priva
das, na maneira como devem emprega r seus capitais, não apenas tra ria para
si uma responsa bilidade desnecessária, mas assumiria uma autoridade que
não poderia ser facilmente confiada, não apenas a um indivíduo qualquer,
mas também a um Conselho ou Senado de qualquer tipo, e isso seria mais
Os Intelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
perigoso do que nunca nas mãos de a lguém que tivesse tornado de loucura
e de presunção suficientes para pensar que pudesse exercer tal poder." Adam
Smith, Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Nova
York, Modern Libra ry, 1 937, p. 423 .
54 Oliver Wendell Holrnes Jr., The Common Law. Boston, Little, Brown and
Cornpany, 1 923, p . 1 .
1 56 1 1 57
Books, 2000, p. 1 3 .
Os Intelectuais e a Sociedade I Os Intelectuais e as Visões de Sociedade
74 Ed m und Burke, "A Letter to the Right Hon. Henry Dundas, One of His
Majesty's Principal Secretaries o f State with the Skerch o f a Negro Code " .
I n : Edrnund Burke, The Works o { the Right Honorable Edmund Burke. 3 . ed.
Boston, Little, Brown and Company, 1 869, v. 6, p . 256-89.
7; A da m Smith, The Theory of Moral Sentiments. Indianá polis, Liberty Clas
sics, 1 976, p. 337.
1 64 I 1 65
em nossa cultura para que seja necessária uma elaboração mais so
fisticada . Todavia, a verdadeira questão é a seguinte: Quais são as
preferências realmente reveladas por seus comportamentos ?
A frase " resultados indesej áveis" tornou-se clichê precisamente
pelo fato de tantas políticas e de tantos programas desej ados para,
por exemplo, melhorar a situação dos menos afortunados, acaba
rem na verdade deixando a situação deles pior, de forma que não é
mais possível acreditar que boas intenções, por si só, possam auto
maticamente anunciar bons resultados. Qualquer pessoa cuj a preo
cupação fundamental sej a a melhoria das condições socioeconômi
cas dos menos afortunados já deveria ter percebido, depois de déca
das de "resultados indesejáveis " , a necessidade incontornável de se
investir tempo e esforços em tornar boas intenções em políticas e em
programas realmente eficientes, além de investir tempo e esforços
adicionais para se tentar descobrir como aferir os impactos reais
dessas políticas e desses programas.
Qualquer um, cuja preocupação fundamental seja a melhoria das
condições dos menos afortunados, deve também estar alerta para ou
tros fatores, mas cuj a origem ultrapassa a visão dos intelectuais, sem
pre que esses outros fatores se mostram empiricamente como elemen
tos que aj udam na promoção do bem-estar dos menos afortunados,
mesmo que por meios que não sej am contemplados pela inteligência e
de forma contrária às visões e às crenças adotadas pela intelligentsia.
Resumindo, uma das maneiras de testar se as alegadas preocupações
com o bem-estar dos menos afortunados são verdadeiras e se repre
sentam, de fato, uma preocupação genuína pelo bem-estar dessas pes
soas ou se, pelo contrário, é apenas uma forma de sequestrar a po
sição de "vítima " dos menos afortunados, usando-a como forma de
condenar a sociedade a fim de alçar autoridade moral e política, seria
na o bservação das preferências reais, reveladas no comportamento
dos intelectuais. É preciso avaliar quanto rempo e quanta energia os
intelectuais investem na promoção de sua visão, comparando com o
1 68 I 1 69
7 7 John Larkin, " Newspaper Nirvana ? " . Wall Street journal, 0510512006, p.
Bl ; Tirn Harford, The Undercover Economist. Nova York, Oxford University
Press, 2005, p. 3 .
1 70 I 1 7 1
78Raymond Aron, The Opium o( the Intellectuals. Londres, Sec ker & War
burg, 1 957, p. 227.
79 Ver, por exemplo, Abigail e S tephan Thernstrom, No Excuses: Closing
the Racial Gap in Learning. Nova York, Simon & Schuster, 2003, p. 43-
50; Thomas Sowell, "Patterns of Black Excellence " . The Public Interest,
primavera de 1 976, p. 26-5 8 .
Os I ntelectuais e a Sociedade I Os Inte lectuais e as Visões de Sociedade
JUVENTUDE E VELHICE
Edmund Burke, Speeches and Letters on American Affairs. Nova York, E.P.
85
Dutton & Co., Inc., 1 96 1 , p. 203 .
86Woodrow Wilson, "What is Progress ? " . In: American Progressivism: A
Reader. Ed. Ronald ]. Pestritto e William ]. Atto. Lanham (MD), Lexington
Books, 2008, p. 48.
Os Intelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
profissão, o tra balho dos intelectuais não precisa seguir esse padrão.
Em vez de termos o rígido estabelecimento de princípios, há, por outro
lado, uma ampla margem para o desenvolvimento de meras atitudes,
as quais acabam guiando o trabalho dos intelectuais, especialmente
quando são atitudes predominantes entre seus pares e se encontram
isoladas do mundo externo, protegidas do mundo real.
Embora a lógica e a evidência constituam os critérios ideais para
o trabalho de qualquer intelectual, existem muitas provas que nos
mostram algo diferente, pois muito do que é dito e feito pelos in
telectuais tem um compromisso diminuto com princípios formais e,
por outro lado, um compromisso muito maior com meras atitudes.
Por exemplo, os mesmos intelectuais que são tão receptivos à ideia
de redução das penas de mulheres condenadas por homicídio e que,
segundo é alegado, sofreram espancamentos domésticos ou outros ca
sos semelhantes de maus-tratos domésticos na infância, mostram-se,
contudo, inflexíveis às alegações para se atenuar as acusações contra
policiais que tiveram um átimo de segundo para tomar uma decisão
de vida ou morte, correndo o risco de morrer, recusando-se a tratá-los
com menos severidade.
Alguns intelectuais que notoriamente se opõem aos princípios de
conduta racista permaneceram, no entanto, em si lêncio ou mesmo
defenderam líderes de comunidades negras que perpetraram ataques
racistas contra donos de loj as asiáticos que residiam em guetos negros
ou atacaram brancos em geral e j udeus em particular. Alguns intelec
tuais chegaram ao ponto de redefinir o racismo de forma a tornar os
negros imunes ao rótulo,P ou seja, mais um exercício de manipulação
retórica . Muitos na intelligentsia denunciam a "ganância " que reina
entre os executivos, mas cuja renda é uma fração das rendas de atletas
87 Sob a alegação de que apenas aqueles que detêm poder podem ser caracte
rizados como racistas - uma condição que impede qualquer definição a priori
e uma que implicaria que os nazistas não eram racistas durante a década de
1 920, antes de chegarem ao poder.
Os I ntelectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
sejam muito mais frequentes do que as mortes com o boxe. Mais uma
vez, não se trata de princípios, mas de atitude.
Embora as atitudes variem de indivíduo para indivíduo, as ati
tudes dos intelectuais são, em sua grande parte, atitudes de grupo.
Além do mais, essas atitudes mudam coletivamente ao longo do tem
po, tornando-se estilos transitórios de determinada época, em vez
de se fixarem como atitudes permanentes, e muito menos princípios
permanentes. Assim, na era progressista no começo do século XX,
as minorias raciais e étnicas eram vistas sob uma ótica amplamente
negativa, e o apoio dos progressistas à causa do movimento de euge
nia não estava desligado de um anseio presumível em prevenir que
essas minorias propagassem suas populações. Tal a titude foi muito
comum na década de 1 930, só depois as minorias étnicas e raciais se
tornaram obj etos de especial zelo. Depois da década de 1 960, esse
zelo se transformou numa verdadeira obsessão, apesar de toda a in
consistência em comparação às obsessões diametra l mente opostas
anteriores, adotadas pelos intelectuais, na época os " progressistas " ,
no início d o século XX.
Durante essa primeira fase do século XX, quando fazendeiros e
trabalhadores eram o foco especial do zelo intelectual, ninguém pres
tava muita atenção sobre como os benefícios concedidos a esses gru
pos poderiam afetar adversamente as minorias e os outros grupos. Da
mesma forma, numa época posterior, pouca atenção foi dada pelos
intelectuais "progressistas " a como a ação afirmativa para as mino
rias ou para as mulheres afetava negativamente outros grupos. Não
existe princípio algum que equilibre essas mudanças de atitude coleti
va . Temos simplesmente a bola da vez, da mesma forma que acontece
com as manias, entre os a dolescentes, os quais, por um tempo, assu
mem formas de comportamento compulsivo e depois as consideram
fora de moda, mas que nunca são tratadas como sujeitas ao escrutínio
lógico ou à evidência durante o período em que se vive a obsessão ou
o período após o seu descarte. Voltando à década de 1 920, quando
Os I ntel ectuais e a Sociedade I Os I ntelectuais e as Visões de Sociedade
88
Mark DeWolfe Howe (ed . ) , Holmes-Laski Letters, v. 2, p. 974.
1 80 I 1 8 1
90Thomas Sowell, The Housing Boom and Bust. Nova York, Basic Books,
2009, p. 97- 1 02.
91 Malcolm Gladwell, Outliers: The Stor)' of Success. Boston, Little, Brown
and Co., 2008, p. 1 1 2.
Os I n telectuais e a Sociedade I Os Intelectua is e as Visões de Sociedade
Sowell, Thomas
Os Intelectuais e a Sociedade / Thomas Sowell ; tradução de
Maurício G. Righi. - São Paulo : É Realizações, 201 1 .
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