FEVEREIRO 2024

N.o 399/FEVEREIRO 2024 Portugal

CATARINA FURTADO
A mudança
CATARINA FURTADO AMORES E DESAMORES

Os novos códigos das relações

AMORES
E DESAMORES
ACTIVA
TUTORIAL APRENDA A TIRAR
TODO O PARTIDO DA APP
ACTIVA ONLINE
Através do menu inicial pode
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digital da ACTIVA
PEQUENAS
MUDANÇAS
GRANDE IMPACTO
Fala-se em alterações
climáticas, oceanos de
plástico, secas, cheias... e
sentimo-nos impotentes.
Será que um pequeno gesto
nosso pode ter impacto no
meio ambiente? A resposta
é... SIM! Veja aqui alguns
factos sobre o estado do
Planeta e o que podemos
fazer por ele.
Texto GISELA HENRIQUES
Para quem tem preocupações ambientais
– e devíamos ser todos porque esta é a
< ANTERIOR 45 / 111 SEGUINTE >
comportamentos, ou os nossos filhos
(não são netos, são mesmo filhos) vão
herdar um planeta ta inabitável.
aneta in Temos de
ser mais ativos
os na defesa
def do ambiente,
do que é nosso, de todos. Como?
Exigindo que quemuem nos governa – a
nível local, nacional
ona e europeu
mais medidas efetivas,
e – tome
fet as, que não fiquem
só no papel ou see percam
rca em boas
intenções. Lembre-see q que vivemos em
democracia, temos eleições,
lei petições,
orçamentos participativos...
cipativos
ati Mas
também temos de mudar ud alguns dos
nossos hábitos quotidianos
dia para
diminuir a nossa pegada ecológica.
ógi Vai
custar ao início, porque
q é difícill mudar
mud
rotinas,
as, mas
m como mo dizia Pessoa,
Pessoa
‘Primeiro
imeiro estranha-se, depois
Prime
entranha-se’.
ranh Esta é uma corrida contra
o tempo que temos mesmo de ganhar.
• Um terço dos terrenos agrícolas
mundiais é usado para criar animais, e
quase outro terço do que cultivamos
< ANTERIOR 45 / 111 SEGUINTE >
 Novo
Colagénio 1 Vegan + Patente (1)

3x mais eficaz
que o Retinol.
(2)

Efeito lifting
& firmeza.

EM FARMÁCIAS E EM CAUDALIE.COM
(1) Fragmento de Colagénio 1 Vegan + Patente Harvard University
N°4167935 x Caudalie. (2) Teste ex-vivo sobre a associação
dos ingredientes, sobre a espessura das fi bras de colagénio
na concentração do sérum.
editorial
JUNTAM-SE DUAS COISAS QUE
NUNCA ANTES HAVIAM SIDO JUNTAS.
E O MUNDO TRANSFORMA-SE….
JULIAN BARNES
E
sta é uma carta de amor. As cartas de amor
raramente começam dizendo o que são,
simplesmente manifestam-se, mas esta quis
começá-la assim para que não restem dúvidas da
minha intenção. Idealizar e fazer todos os meses
esta revista, ao lado da maravilhosa equipa que
há sete anos aqui encontrei, é um caso de amor
sério. Começou, como as melhores histórias de
amor, por ser uma paixão, mas o tempo – es-
se velho sábio – encarregou-se de a transformar
em amor. Um amor correspondido, felizmente,
porque há quem nos leia desse lado e manifeste
o quanto gosta de nós. Por isso, um amor feliz.
E se há algo que a vida já me ensinou – da pior
maneira – é que nunca é cedo de-
mais para manifestarmos o nosso
amor. Por isso, do alto destes se-
te anos de relacionamento entre
mim e a ACTIVA, já posso dizer
que temos uma história de amor.
E como em todos os amores de
verdade, também existem medos,
preocupações e até crises.
Por estes dias, com a crise mun-
dial a ameaçar o jornalismo,
PEDRO FERREIRA
imaginei o que aconteceria se
calassem a ACTIVA. Como se-
ria se deixássemos de ter na mão
NATALINA DE ALMEIDA
o megafone que há mais de 30
DIRETORA anos amplifica a voz das mulhe-
(nalmeida@trustinnews.pt) res, lutando de mãos dadas pela
igualdade e pelo empoderamento feminino.
Assistimos a uma era de mudanças rápidas e
avanços significativos na busca pela equidade
entre géneros. Neste contexto, as revistas femininas
emergiram como aliadas cruciais, levando adiante
histórias e perspetivas que, por muito tempo, fo-
ram marginalizadas ou negligenciadas. A ACTI-
VA, juntamente com tantas revistas femininas que
se publicaram em Portugal – algumas infelizmente
já extintas – tornaram-se faróis, guiando-nos atra-
vés das complexidades do feminino, desafiando
estereótipos e inspirando-nos a redefinir os nossos
papéis na sociedade.
Num mundo onde a informação é a força que
impulsiona a sociedade, é fundamental reconhecer
o papel vital que o jornalismo desempenha na
nossa busca por uma compreensão mais profunda
do que nos rodeia.
Assim como o amor, a verdade requer cuidado e
atenção constante. Não podemos virar as costas
à responsabilidade que temos de preservar o jor-
nalismo enquanto enfrentamos tempos incertos.
Que esta carta de amor à ACTIVA – e ao jorna-
lismo – sirva como um lembrete de que, mesmo
diante dos desafios, temos o poder de preservar
o conhecimento, a verdade e a justiça.
Obrigada, queridas leitoras, guardiãs incansáveis
de histórias que transcendem o tempo e moldam
o mundo. Vocês são a voz coletiva que ecoa todos
os dias, lembrando-nos da nossa força e potencial.
Com gratidão e compromisso.
FEVEREIRO 2024 3
CONTEÚDO PATROCINADO

Esplendor
de
inverno
O toque natural do frio dá o mote para um look luminoso e fresco.
Maçãs rosadas, lábios suaves e um brilho saudável em todo o rosto.
Victoria Guerra encarna a personagem na perfeição, enquanto
dá a conhecer a linha de maquilhagem Les Beiges, da Chanel.
VICTORIA GUERRA para Chanel
Fotos JOÃO PAULO Styling e Produção FILIPE CARRIÇO

Pele preparada com Les Beiges

Healthy Winter Glow Primer Icy
Beige; base Les Beiges Healthy Glow
Foundation B20; nas maçãs do roso,
Les Beiges healthy Winter Glow Blush
Rose Polaire; nos olhos, Les Beiges
Healthy Glow Natural Eyeshadow
Palette Cool; máscara de pestanas
Le Volume de Chanel noir; nos
lábios, Rouge Coco Baume Chilling
Pink; nas mãos, Le Vernis Glaciale.
Camiseiro e calças, ambos em
renda, sapatos em pele bicolor,
fio com pendente, tudo Chanel

4 FEVEREIRO 2024
FEVEREIRO 2024 5
6
CONTEÚDO PATROCINADO

FEVEREIRO 2024
 C
omo se tivesse passado um dia
na montanha ou acabada de
chegar de uma caminhada re-
vigorante. Assim se inspirou a
Chanel para apresentar a sua emblemáti-
ca linha de maquilhagem Les Beiges, em
2024. Um cenário que dá origem a uma
tez naturalmente fresca e subtilmente ro-
sada, aqui representada no rosto da atriz
portuguesa Victoria Guerra.
A gama inclui um primer, uma fórmula
fresca e cremosa para esbater as imper-
feições e preencher a pele; um blush com
três tonalidades de rosa e coral, para um
efeito instantâneo de “acabada de chegar
do frio”; uma paleta de sombras delicada
e poderosa que inclui cinco tons de rosa
frescos; um bálsamo de lábios, composto
por ceras naturais, este ano disponível em
novas tonalidades vibrantes, para hidratar
e dar um brilho suave; e duas cores de
verniz em perfeita sintonia com o inverno:
branco neve e rosa fosco.
Atualmente, podemos acompanhar o
trabalho de Victoria Guerra em televi-
são na novela “Papel Principal” (SIC),
onde desempenha ‘Vera’, a antagonista
da história. Já no cinema, podemos vê-
-la no papel de Ofélia Queiroz, uma das
protagonistas de “The Nothingness Club”,
um filme de Edgar Pêra sobre os heteró-
nimos de Fernando Pessoa, que estreou
recentemente.

Pele preparada com Les Beiges Healthy Winter Glow

Primer Icy Beige; base Les Beiges Healthy Glow
Foundation B20; nas maçãs do rosto, Les Beiges healthy
Winter Glow Blush Mauve Glacé; nos olhos, Stylo Yeux
Waterproof 88 noir e Les Beiges Healthy Glow Natural
Eyeshadow Palette Cool; máscara de pestanas Le Volume
de Chanel noir; nos lábios, Rouge Coco Baume Keep
Cool; nas mãos, Le Vernis Frosted Pink.
Vestido em tweed e glitter, jaqueta em lã fria com bolsos
bordados a tweed, colar, fio e pulseira com pendentes,
sapatos em pele bicolor, tudo Chanel

FEVEREIRO 2024 7
CONTEÚDO PATROCINADO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

1. Primer Hidratation and Protection; 2. Paleta de sombras Natural Eyeshadow Palette Cool; 3. Blush Rose Polaire;
4. Blush Corail Givré; 5. Blush Mauve Glacé; 6 Bâton Rouge Coco Baume Keep Cool; 7. Bâton Rouge Coco Baume Chilling Pink;
8. Bâton Rouge Coco Baume Cocoon; 9. Bâton Rouge Coco Baume Dreamy White; 10. Le Verniz Frosted Pink; 11. Le Verniz Glaciale

8 FEVEREIRO 2024
 Pele preparada com Les Beiges
Healthy Winter Glow Primer Icy
Beige; base Les Beiges Healthy
Glow Foundation B20; nas maçãs
do rosto, Les Beiges healthy Winter
Glow Blush Mauve Glacé; nos
olhos, Stylo Yeux Waterproof 88
noir e Les Beiges Healthy Glow
Natural Eyeshadow Palette Cool;
máscara de pestanas Le Volume
de Chanel noir; nos lábios, Rouge
Coco Baume Keep Cool; nas
mãos, Le Vernis Frosted Pink.
Vestido em tweed e glitter, jaqueta
em lã fria com bolsos bordados
a tweed, tudo Chanel
CABELOS HELENA VAZ PEREIRA PARA GRIFFE HAIRSTYLE, ASSISTIDA POR NICOLE FRANCISCO;
MAQUILHAGEM JOANA MOREIRA COM PRODUTOS CHANEL
 FEVEREIRO

72

36 82
3 Editorial 68 Beleza
12 Estilo 69 Cabelos
16 A Lista: Júlio Roque
e Nicole Lourenço 70 VIVER
18 Calendário 72 Entrevista: Inês Meneses
78 À volta do mundo
22 SER com Catarina Cabrera
24 MULHER ACTIVA: 82 Viagens: O futuro no Dubai
Catarina Furtado 88 Entrevista: Daniel Sampaio
N.o 399/FEVEREIRO 2024 Portugal €3,80

36 MULHER REAL: 94 O Meu Mundo: Irina

Geninha Horta Varatojo 96 Culinária: Receitas
44 Testemunhos: Amores e desamores para uma segunda vida
CATARINA FURTADO
48 Agora a Sério 100 Saúde: Guia Básico
A mudança

anti-inflamação
50 OLHAR 104 Mulher Empreendedora:
52 Moda: Namorar em… Veneza, Joana Trigueiros
Paris, Amesterdão, Budapeste 106 Voz Activa: Marta Martins Silva
Os novos códigos das relações 56 Moda: Sobretudos 107 Ecologia
AMORES
E DESAMORES 57 Moda: Carteiras 108 Livros
58 Shopping: Dia dos Namorados 110 Time Off
Catarina Furtado fotografada 60 Beleza: Trio hidratação 112 Clube Activa
por Pedro Ferreira,
com styling de Mafalda
64 Beleza: Mini tudo 113 O que há de novo
Mota Alves 66 Beleza: Perfumes para partilhar 114 Vejo-me Grega

10 FEVEREIRO 2024
 descubra a
inovação antienvelhecimento
mais eficaz que o
retinol (1)

•renova
(2)

alfa 3R •regenera
technology
•revitaliza

pele com
efeito tensor
para
()

90%
dos utilizadores

(4)

2/DERUDWöULR18;(GHVDĠDRVVLQDLVGRHQYHOKHFLPHQWRUHYHODQGRXPDWHFQRORJLDH[FOXVLYDPDLVHĠFD]TXHRUHWLQRO(1)IRFDGDHPQâYHLVGH
DÍÂRQDSHOHa Tecnologia Alfa [3R](2)8PFRQFHQWUDGRGHLQRYDÍÂR1X[XULDQFH8OWUDRIHUHFHXPDFRUUHÍÂRJOREDOGRVSULQFLSDLVVLQDLVGH
HQYHOKHFLPHQWRUXJDVġDFLGH]ĠUPH]DOXPLQRVLGDGHSDUDXPDSHOHYLVLYHOPHQWHPDLVMRYHP9 em cada 10 mulheres escolheriam, e você(5)?

nuxe laboratório N°1 nos cuidados de origem natural em farmácia em frança (6)

(1) Teste in vitro na tecnologia Alfa [3R] - Fevereiro de 2022. (2) ALFA [3R] TECHNOLOGY = Extrato de Alfafa + Ácido Hialurónico + Extrato de Hemerocallis Fulva. (3) Teste de utilização - 21 voluntários - % de satisfação após 28 dias. (4) Fórmula
clean de acordo com Nuxe. Mais informações em www.nuxe.com. (5) Teste de utilização - 21 voluntários após 56 dias - Janeiro de 2023. (6) GERSDATA - SOGEARLY - Mercado de Dermocosméticos - Seleção do segmento de marcas de
origem natural - Vendas em valor (IVA sobre volume de negócios em €) - Farmácias e parafarmácias francesas - MAT Abril 2023.
 ESTILO

MÃOS FRIAS
CORAÇÃO
QUENTE
Viva a beleza do inverno
com paixão, sem sacrificar
o estilo e o conforto.

FALCONERI

12 FEVEREIRO 2024
FALCONERI

LÃ E CAXEMIRA Óculos
Boss,
A magia do inverno €190
A nova edição limitada da Falconeri
é uma ode à natureza intocada
dos picos nevados, com propostas
sofisticadas em pura caxemira e lã
macia, para garantir que desfruta em
pleno dos seus momentos ao ar livre
e da vida na montanha.

Luvas
Max Mara,
€169

Cardigan
Falconeri,
Boné €848
Longchamp,
€120
Protetor
de orelhas
Longchamp,
€250 Sobretudo
Mango,
Camisola €249,99
Falconeri,
€498
Calças
Longchamp,
€330
Botas
Longchamp,
preço sob
consulta

Carteira
Le Pliage, Relógio
Longchamp, Tommy Hilfiger,
€230 €189

FEVEREIRO 2024 13
 ESTILO

Balaclava
Falconeri,
€188

Relógio
Tous,
€199
FALCONERI

Camisola
Falconeri,
€348

QUALIDADE E DESIGN INTEMPORAL

Smart Silent Luxury
Uma paleta com tons elegantes e neutros
inspirados no quiet luxury, tendência
que abraça uma nova forma de percepcionar
o luxo, caracterizada pela elegância
discreta e sofisticada.

Óculos
Polaroid,
€52

Botas
Ugg, €265 Carteira
Tous,
€179
FOTOS: DIVULGAÇÃO

Calças Sobretudo
Falconeri, Elisabetta Franchi,
€198 €1074

14 FEVEREIRO 2024
Campanha válida até 31/12/2024, na versão impressa e digital, salvo erro de digitação. Preços válidos apenas para Portugal. Consulte todas as opções em loja.trustinnews.pt.

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 LISTA
JÚLIO ROQUE E NICOLE LOURENÇO
Uma razão para
sorrir
Conheceram-se no restaurante onde
Júlio começou a trabalhar depois de
terminada a sua formação na área da
cozinha. Nicole ainda estudou Design
de Moda, mas a paixão pela restauração
falou mais alto. A pandemia trouxe-lhes
uma oportunidade de negócio – hoje são
os orgulhosos proprietários do ‘brunch
café’ Take a Break, em Carcavelos, que
QUAL O PRATO faz as delícias de muitos clientes fiéis.
BEST SELLER DE TODOS “Perdi o meu trabalho e tentei arranjar
OS TEMPOS? uma forma de conseguir fazer algo que
O Mush Rosti (com tivesse a ver com a área, mas que funcio-
cogumelos Portobello),
nasse na situação pela qual estávamos
sabe a conforto apesar
de ser um prato leve.
todos a passar. Na zona de Oeiras (onde
À partida, as pessoas moramos) não havia muita oferta com
acham que um prato este conceito e, como ninguém podia
vegetariano não sair de casa, pensei que o serviço de en-
tem sabor… tregas iria funcionar. Comecei com uma
amiga e poucas opções, nada profissio-
nal, porque não tínhamos experiência
na parte da cozinha e na altura o Júlio
16 FEVEREIRO 2024
ainda estava a trabalhar. Meses depois
passámos a ser apenas os dois e refor-
mulámos a carta”, conta Nicole.
O contexto em que a Take a Break nas-
ceu justifica o lema da marca – ‘Há sem-
pre uma razão para sorrir!’. “Costumo
dizer que a pandemia foi das melhores
coisas que nos podia ter acontecido, por-
que sem ela talvez nunca tivesse pensado
em me reinventar.”
Depois do segundo confinamento deci-
diram abrir um espaço físico. Tal foi o
sucesso que já o trocaram por um maior
e tencionam abrir mais. Mas tudo com
muita calma. “Tudo o que temos fei-
to até agora é fruto do nosso trabalho
diário, vamos investindo e melhorando
conforme vamos ganhando, sem ajudas
financeira externas. Quando abrimos
a loja, ficámos apenas com 600 euros
(nem chegava para a renda), hoje temos
8 pessoas a trabalhar connosco!”
 SUGESTÃO
TAKE A BREAK PARA O
DIA DOS NAMORADOS
Nada melhor que acordar
com um belo Brunch.
Este ano, com a abertura
do novo espaço, para além
do brunch para dois
iremos também fazer um
menu de jantar especial
(só com marcação) onde
poderão experimentar O QUE FAZEM PARA RECARREGAR BATERIAS?
uma vertente diferente O nosso escape é a decoração e as remodelações. Fomos nós a decorar
do nosso chef. e remodelar o Take a Break, e sempre que estamos de folga tentamos mudar
ou melhorar alguma coisa em casa, até uma camper van já construímos juntos!
Também adoramos viajar e conhecer novos lugares.

VIAGEM GASTRONÓMICA
DE SONHO…
(Júlio) Não tenho nenhum tipo de
cozinha preferida, mas gostaria
de viajar pelo continente asiático,
porque tenho alguma curiosidade
em experimentar a verdadeira
comida asiática.

ONDE SE COME MELHOR

SE PUDESSEM
EM PORTUGAL?
ESCOLHER
(Júlio) Desde pequenino
SÓ UM PRATO
que fui habituado à cozinha
DO TAKE A
portuguesa da Beira Baixa,
BREAK PARA O
porque a minha mãe nasceu
RESTO DA VIDA,
em Penamacor, e lembro-me
QUAL SERIA?
de a ver cozinhar em panelas
A Panqueca
de ferro (ainda o faz), e a
Citrus, representa
comida tem outro sabor.
a nossa união.
Conhecemo-
-nos a trabalhar
num restaurante
em Lisboa e
discutíamos imenso
FOTOS: GETTY, DR E DIVULGAÇÃO

(era amor-ódio),
mas depois o
chef acalmava
os ânimos com
uma sobremesa,
que serviu de
inspiração
à Citrus.

FEVEREIRO 2024 17
 fevereiro
CALENDÁRIO

DIVERTIR-SE
A descobrir novos modelos
de calças: flare dos anos 70, estilo
preppy dos anos 80, silhuetas largas
dos anos 90, cintura descida
dos anos 00, ou o modelo mais largo
da próxima primavera. A Levi’s
tem todos. Boas compras!

1 2
TIRAR PARTIDO
DA IA
Os novos modelos da série Galaxy
S24, da Samsung, recorrem
à Inteligência Artificial para
melhorar a utilização: prepare-se

4
para comunicar sem barreiras
com as traduções em tempo
real, em mensagens e chamadas,
entre outras funcionalidades
surpreendentes.

TER SORTE
Com a coleção de amuletos Festejar

3
com iniciais, de Juliana o ano novo
Bezerra. A palavra ‘amuleto’ Com os
vem do latim amuletum, Chineses (e a
que significava objeto protetor. Swatch) que
Se protegem ou não, celebram a
ninguém sabe, mas que entrada no Ano
são lindos, são. do Dragão.

18 FEVEREIRO 2024

6
Ver a vida cor-de-rosa
O mundo anda triste? Reme
contra a maré: corações ao alto!
Óculos Saint Laurent,
na André Ópticas.
5 DESCOBRIR
O FOGO
Se está farta de frio, vá ao encontro
do quentinho. Tire uns dias para
se aquecer no mágico Monte da
Bemposta, em Porto Covo, onde se
recupera tudo, até o calor. Aqueça-
-se nas salamandras, faça fogo
nas lareiras, converse ao relento –
embrulhada em mantas e à volta da
pira exterior, junto de amigos antigos
ou recém-encontrados – e volte
de corpo e coração mais quentes.
INSPIRAR-SE
7
No carisma de
Joy Sunday, a
nova embaixadora
global de Lancôme.
Americana de origem
nigeriana, a atriz e
realizadora tornou-se
mais conhecida pela
sua participação na
série ‘Wednesday’,
de Tim Burton.
FEVEREIRO 2024 19
 CALENDÁRIO

10
8 MERGULHAR NO OCEANO
Leve a família consigo para observarem
mais de 500 espécies marinhas numa viagem
ao Oceanário… por metade do preço.
ANDAR QUENTINHA
O melhor investimento do inverno:
uma boa camisola em tons neutros.
Esta é da marca sueca Fjällräven,
feita a partir de lã 100% rastreável,
renovável e biodegradável.

Até 29 de fevereiro, todos os bilhetes para o final

da tarde (entre as 17h e as 20h) comprados
online vão ser 50% mais baratos.

9 BRINCAR
AO CARNAVAL
Junte-se aos mais novos e leve a imaginação
ao poder! A Primark dá uma ajuda com
a nova coleção de Carnaval destinada às
crianças. Super-heróis, unicórnios, dálmatas,
todos bem quentinhos para fintar
as constipações.

11 Ver a neve
E levar as novas
Ugg après-ski, para
nunca ter os pés
gelados.

20 FEVEREIRO 2024
 12
VESTIR LÃ
QUE NÃO PICA
Finalmente alguém pensou em
nós almas sensíveis no inverno!
Se é friorenta mas tudo o que é lã
lhe arranha a pele, experimente
a coleção Wool & Cotton, da
Intimissimi, onde cada peça tem
duas camadas: uma interior 100%
algodão que é suave na pele e
uma exterior de 85% lã e 15%
seda, que ajuda a manter o calor.
Aleluia, é o que temos para dizer.

13
OUVIR MELHOR
Com os auriculares
Huawei FreeClip,
uma das principais
novidades da marca,
com um design único
e experiência auditiva
open-ear, são leves,
FOTOS: GETTY E DIVULGAÇÃO

confortáveis, resistentes
e asseguram até 36
horas de utilização. Além
dos auriculares, outras
novidades são o Huawei
MateBook D16 e o
MatePad Pro 13.2.

14
DESCANSAR
A cor do ano é o peach
fuzz, uma espécie de
cor de pêssego suave,
um tom acolhedor,
reconfortante e relaxante,
que fica especialmente
bem numa sala de
família. Este é o sofá
Wade, da Jetclass.

FEVEREIRO 2024 21
 ser
AMORES E DESAMORES
Quando lhe perguntamos se
está disponível para voltar a
apaixonar-se, Catarina Furtado
não tem dúvidas: “Prefiro viver
a dor mas amar, do que viver
sem dor e sem amor.”
CATARINA FURTADO FOI
FOTOGRAFADA POR PEDRO
FERREIRA, COM STYLING
DE MAFALDA MOTA ALVES
 MULHER ACTIVA

Catarina Furtado

A
MU
DAN
ÇA
Os 32 anos de carreira trouxeram-
-lhe segurança, paixão e sentido
de missão. Um divórcio trouxe-lhe
vontade de se apaixonar outra vez.
A mulher que Portugal inteiro ama
deu-nos a sua primeira entrevista pós-
-separação. Gosta de ouvir histórias,
mas hoje fomos nós a ouvir a sua.
Texto CATARINA FONSECA Fotos PEDRO FERREIRA
Styling MAFALDA MOTA ALVES

24 FEVEREIRO 2024
 Colar, Beatriz Jardinha;
camisa e saia, Nuno Baltazar
 MULHER ACTIVA

Se olhar para os meus 32 anos de carreira,

a grande maioria dos projetos que fiz, e que
estão na área do grande entretenimento,
contribuíram para mudar a vida a alguém.

26 FEVEREIRO 2024
Choker, vestido e botins, Dior;
casaco, Alves/Gonçalves

FEVEREIRO 2024 27
 MULHER ACTIVA
C
omo se costuma dizer, ‘dispensa apresentações’. Deve
ser a pessoa mais consensual de Portugal e ela própria
afirma que não tem ‘haters’. Além de não ter haters,
tem milhares de admiradores pelo país fora, não só pela segu-
rança imbatível em televisão mas também pela forma como
soube pôr a fama ao serviço de causas humanitárias.
Foi um choque nacional quando o casamento de 18 anos com
João Reis chegou ao fim. Quem a conhece, não estranhou a
sobriedade com que a notícia foi apresentada, mas eu queria
saber como é que uma pessoa tão admirada gere uma notícia
destas, e o que é que o ídolo de tantas mulheres teria a dizer-
-lhes sobre uma altura tão difícil na vida de qualquer pessoa,
pública ou privada.
Não fiquei desapontada. No mês em que celebramos o Dia
dos Namorados, Catarina falou abertamente sobre o fim do
casamento mas também sobre amor, amizade e a vontade de
se apaixonar outra vez. Mas ela é muito mais do que isso e a
conversa não começou nem acabou aí. Portanto, aqui fica o
retrato de Catarina e não a história de um divórcio.
Estou a apanhar-te entre a grande final de adultos
'The Voice' e antes do início da gravação do 'Kids', certo?
Sim. É uma coisa que eu continuo a adorar fazer porque nunca
nada é a mesma coisa: os mentores vão mudando, as histórias
são sempre diferentes e é muito bom fazer um programa que
toda a gente vê porque há um feedback imediato. Além disso,
tem um resultado prático: dá origem a muitíssimas carreiras,
como o Fernando Daniel e tantos outros, que começaram ali
e conseguiram fazer da música a sua forma de vida.
Portanto, és o Júlio Isidro do século XXI...
(risos) Claro que não sou eu que descubro aquelas pessoas, mas
gosto de pensar que lhes passo força e coragem. Ali, ponho
muito do meu lado maternal.
Quais são as vantagens de se ser a Catarina Furtado?
Vivo entre o grata e o realizada. Por um lado sou grata porque
as oportunidades foram surgindo e dou valor a isso, por outro
lado tenho consciência de que trabalhei muito para muitas
das coisas que já conquistei. E foi preciso uma teimosia muito
grande para vincar fortemente o que não queria fazer.
O que é que não querias fazer?
Em televisão nunca me seduziram os reality shows. Exata-
mente por isso que falámos há bocado: não tem consequências
práticas e positivas na vida daquelas pessoas. Evidentemente
que não tenho nada contra quem os faz, mas, se calhar, fruto
dos pais e da educação que tive, sempre houve limites àquilo
que queria fazer. A minha mãe era professora, o meu pai
era jornalista, muito rigoroso e exigente do ponto de vista
intelectual, e isto não quer dizer que eu seja o suprassumo
da intelectualidade, que não sou, quer dizer apenas que para
mim é absolutamente determinante que aquilo que eu esteja
a fazer tenha uma consequência prática e útil a alguém. E se
olhar para os meus 32 anos de carreira, a grande maioria dos
28 FEVEREIRO 2024
projetos que fiz, e que estão na área do grande
entretenimento, contribuíram para mudar a vida
a alguém. Os meus programas têm de ter um
propósito.
O 'The Voice' tem esse propósito?
Tem. Tem esse propósito muito claro de fazer
carreira e lançar talentos, e há outra coisa que
eu acho mais bonita ainda: é que muitas destas
pessoas não têm acesso às grandes cidades, vêm
de aldeias, de sítios superlongínquos, e nunca na
vida imaginaram poder ter uma carreira. Há
concorrentes que quando vêm a Lisboa fazer um
casting têm de sair às duas da manhã de auto-
carro, e arriscam tudo porque é a oportunidade
que nunca tiveram. Há pessoas que estão ainda
mais distantes dos seus sonhos do que as de Lisboa
ou Porto.
Tens algum sonho que tenha ficado
pelo caminho?
Gosto muito de fazer palestras em escolas se-
cundárias, sobre direitos humanos, igualdade de
género e todas estas causas que abraço há muito
tempo como embaixadora da ONU e do Cora-
ções com Coroa. A seguir à palestra tenho aquilo
a que chamo O Cantinho dos Desabafos, onde
cada jovem pode individualmente colocar uma
dúvida ou angústia. E digo-lhes sempre: o meu
maior sonho, não o realizei. E estou aqui à vossa
frente como uma pessoa muito feliz. Acho que
sou intrinsecamente feliz, mas também faço por
isso. Ou seja, nasci com queda para a felicidade
e muito pouca queda para dramatizar.
Mas estavas a falar dos sonhos…
Independentemente de não ter conseguido con-
cretizar o meu maior sonho, o de ser coreógra-
fa, consegui dar a volta. Começo sempre por aí,
para que os miúdos não olhem para mim como
alguém que conseguiu uma coisa inatingível e
para quem sempre foi tudo fácil. Eu tive de dar a
volta ao texto e perceber que outras atividades de
carreira tinha. Sobretudo, tive muita curiosidade.
Acho que a curiosidade é um dos meus truques
para viver bem, porque me leva a estar atenta e a
investigar muitas coisas. Nós somos tanta coisa ao
mesmo tempo que, se não nos colocarmos várias
possibilidades, nunca vamos descobrir de que é
que somos capazes. Há um mundo inteiro à nossa
espera que nós nunca vamos aproveitar porque
nunca sequer pusemos essa hipótese. Eu não nasci
comunicadora, não acho que tenha um dom para
a comunicação. Era muito tímida, não gostava de
falar com as pessoas e hoje adoro o que faço,
 Look, Dior;
botas de cano alto, Luís Onofre

FEVEREIRO 2024 29
 MULHER ACTIVA

Não tenho medo nenhum e tenho imensa vontade

de amar outra vez. O amor pressupõe dor
e eu estou cá para isso.

Fato, Alexander McQueen na Stivali; camisa, Elisabetta Franchi; stilettos, Luís Onofre

30 FEVEREIRO 2024
MULHER ACTIVA

Brincos, Beatriz Jardinha;

blazer, Alexander McQueen,
camisa, Valentino, e calças, MSGM,
tudo na Stivali;
botins, Luís Onofre
mas temos de saber aproveitar as oportunidades
e não ter medo de sonhar.
O que é que mais te custou?
A minha estreia no 'Top Mais' foi um parto do-
loroso, porque não era uma coisa que eu quisesse
muito. Desafiaram-me e disseram ‘vai lá que és
capaz de fazer isto bem’, mas eu ia superinsegura e
não-apaixonada. Quando não se vai apaixonada,
há muito mais território para as coisas correrem
mal.
Quando é que te apaixonaste?
No 'Chuva de Estrelas'. Pelas pessoas. Gosto muito
de histórias, gosto de gostar de pessoas, ainda hoje
vou para o 'The Voice' e peço os perfis de todos
os miúdos, mesmo aqueles que não vou ter de
entrevistar. Confio nas pessoas, entusiasmo-me,
entrego-me e dou tudo. Também tenho a sorte de
ter feito durante 18 anos os Príncipes do Nada, em
que conheci pessoas inacreditáveis com percursos
de vida muito difíceis em situações de conflito,
guerra e catástrofe, e como conheci muito mais
pessoas inacreditáveis do que execráveis, tenho um
depósito supergeneroso para continuar a acreditar
nas pessoas e a querer ouvir as suas histórias.
Conta-me uma história que te tivesse marcado
especialmente...
Foram tantas que não consigo escolher uma. Mas
sei que de certeza era mulher, num país em desen-
volvimento, alguém que sobreviveu a um destino
de morte materna porque não há condições pa-
ra se ter bebés com complicações nesses países,
ou alguém que sobreviveu a uma violação ou foi
vítima de casamento forçado ou gravidez adoles-
cente e não pôde seguir o seu sonho de estudar.
Seguramente seria uma dessas histórias, e dessas
eu tenho muitas e muito frescas.
Ainda faz sentido ser feminista?
Só faz sentido. Homens, mulheres, binários, não-
-binários, só faz sentido estarmos ao lado de quem
é permanentemente discriminado, porque todas as
pessoas vão beneficiar disso. Não faz sentido viver
num mundo onde a discriminação tem género.
E vê-se os resultados: onde houve investimento
na área da igualdade de género, os resultados a
nível de educação e saúde foram muito claros.
Quando há um investimento claro na educação
das mulheres, a mulher a primeira coisa que faz
é pôr os filhos na escola, coisas que os homens
não fazem.
É diferente ser hoje adolescente do que era
quando tu foste?
Acho que sim. Tenho dois filhos adolescentes, o João, de 16, e
a Beatriz, de 17, e tento sempre – nem sempre consigo – não
ser moralista bota-de-elástico. Mas há uma grande diferença,
que me preocupa imenso – a dependência das redes sociais e
do telemóvel. Tudo o resto é igual: as borbulhas, as angústias,
a inquietação, mas a forma como estão a ser manipulados por
esta ‘droga’, porque eles não têm noção de que é uma droga,
assusta-me muito. E somos nós, pais, que temos de controlar
este perigo, só que tudo aquilo já faz de tal maneira parte do
mundo deles que é impossível. Passados 20 minutos de estarem
sentados à mesa sem o telemóvel começam com sintomas de
abstinência.
Em que outras coisas não são iguais a ti?
Outra coisa que me preocupa muito, e falo disso com eles, é,
por um lado, a utilização destes meios como forma de violência
– utiliza-se muito as redes para se fazer chantagem emocional,
e é muito mais fácil difamar uma pessoa através das redes.
Há uma dependência que fragilizou muito a saúde mental dos
adolescentes. Isto tornou-se óbvio durante a pandemia, mas
agora agudizou-se. Eles estão permanentemente em compa-
ração uns com os outros, principalmente as raparigas, e há
aqui uma mensagem bastante esquizofrénica: por um lado
passa-se uma ideia de empoderamento, dizem-lhes que se
podem vestir e maquilhar como quiserem, mas não deixam de
ser escravas da própria imagem para se tornarem apetecíveis
para o predador. As jovens são terrivelmente dependentes dos
likes e os miúdos têm imensa dificuldade em estarem senta-
dos uns com os outros a falar olhos nos olhos. Hoje, os novos
cantores, por exemplo, comunicam pelas redes sociais, onde
estão sempre presentes.
E a tua relação com as redes, como é?
Tenho-as, mas acho que consigo não ser obcecada. É verdade
que tenho sido bem tratada, não tenho haters, mas tenho
uma gestão equilibrada do Instagram, Facebook e Linkedin.
Curiosamente, admito que foram muito úteis para passar
mensagens de pendor social, por exemplo, e partilho muito
informações da ONU, dos Príncipes do Nada, dos Corações
com Coroa, que de outra maneira não teria oportunidade de
passar. Ainda esta manhã tive uma mensagem que me deixou
muito feliz. Fiz há 2 meses uma missão em Timor-Leste e
recebi uma mensagem a dizer ‘Catarina a sua visita fez com
que Portugal contribuísse com 100 mil euros para os centros
de cuidados de emergência obstétrica e neonatal’.
Como é que tudo isto não te tornou uma diva?
Acho que sempre tive grande noção da finitude. Sei que sou
insubstituível para os meus muito próximos mas totalmen-
te substituível para todos os outros, e sempre tive noção de
que a minha presença aqui tinha que ter algum impacto nas
vidas dos outros. Não sei de onde é que isto vem, mas para
mim é fundamental saber que fiz a diferença. Por exemplo,
a Corações com Coroa existe há 12 anos. Até agora, demos
35 bolsas de estudo para que raparigas completassem um
FEVEREIRO 2024 33
 MULHER ACTIVA
curso superior, e já reerguemos mais de 600 vidas de mulheres.
Temos projetos sobre violência no namoro, bullying, racismo,
pobreza menstrual. Tudo isto é maior do que eu, mas não
deixo de me orgulhar de ter contribuído para que aquelas
pessoas tivessem uma vida melhor. Mas é uma vaidade que
não permite o deslumbramento da fama, porque tem muito
a ver com vidas difíceis.
Falando de fama, como é que duas figuras públicas
conseguem gerir um divórcio com a serenidade
com que vocês o fizeram?
Dizes bem, vocês. Foi muito difícil, posso dizer, e só foi pos-
sível fazê-lo de modo saudável porque nada foi precipitado,
porque há um respeito enorme individual um pelo outro mas
também pela família – e família não são apenas os meus dois
filhos mas os nossos quatro filhos – e também porque há um
enorme amor por aquilo que se construiu durante 18 anos. E
assim sendo, tivemos de fazer uma coisa à nossa dimensão,
à dimensão da nossa verdade, em vez de passar cá para fora
coisas que não existiam.
O que é que mudou?
Durante muito tempo fomos muito felizes, a certa altura as
coisas começaram a ser para nós difíceis porque crescemos
para sítios diferentes. Nós já éramos figuras públicas quando
nos conhecemos, cada um tinha o seu percurso, mas houve
vivências que cada um fez individualmente do ponto de vis-
ta profissional que afetaram o lado pessoal. Eu tive muita
experiência lá fora, muito mundo, o João teve outro tipo de
experiências. Depois, isto tem a ver com a cadência de cada
um. Todos nós somos seres completamente solitários. E quando
evoluímos, ou vamos no sentido da comunhão com a pessoa
que temos ao nosso lado ou vamos no sentido inverso e vão
sendo necessárias outras coisas, porque não estamos fechados
em casa a olhar um para o outro, somos seres vivos, e um
casamento não é feito de duas pessoas mas de dois mundos.
E com profissões tão desgastantes como as nossas, mudamos
muito e aos 50 já não somos as pessoas que éramos aos 18.
Claro que o centro, a coluna vertebral, está sempre lá, mas
precisamos de mais. E nós tivemos a consciência clara de que
já não estávamos a fazer bem um ao outro e precisávamos de
coisas diferentes. Essa consciência foi dura e crua, mas honesta.
Aliás, fizemos tudo de forma ponderada e concertada.
Mas o público respeitou-vos muito, não foi?
O público só soube do divórcio muito tempo depois de o termos
decidido. Assim, tivemos tempo de cicatrizar o que havia a
cicatrizar e resolver o que havia a resolver, tudo a bem, tudo
com calma. Os nossos filhos foram os primeiros a saber, porque
o público é fundamental nas nossas vidas mas em primeiro
lugar está a nossa família e a nossa intimidade. Como não
contámos a muita gente, conseguimos orientar melhor todo
o processo. Quando a notícia saiu, as pessoas reagiram muito
bem, toda a gente foi muito respeitosa connosco, inclusivamente
a imprensa cor-de-rosa. Claro que foi um choque porque nós
34 FEVEREIRO 2024
nunca partilhámos muito a nossa vida. Nunca
abrimos a nossa casa, nunca mostrámos os nossos
filhos, nunca fomos em viagem publicamente, e
portanto houve coerência na hora do desfecho.
O público também se educa?
Claro! É isso mesmo. Toda a gente sabe que co-
migo e com o João as coisas sempre foram assim,
estranho seria se de repente no divórcio desatásse-
mos a dizer coisas horríveis um do outro. Aliás, o
João hoje faz anos e já lhe mandei uma mensagem
no Instagram para que as pessoas também lhe
deem os parabéns. Claro que tenho pena que
isto tivesse acontecido. Casei para a vida, casei na
Igreja. Mas além de seres muito solitários somos
seres mutantes, e há várias formas de amar.
Amor pode transformar-se em amizade?
Claro que sim. E é isso que temos hoje, eu e o João.
Aliás, a amizade é uma outra forma de amar, é
querer muito o bem de outra pessoa.
E como é que se fica no fim de uma relação
tão longa? Com mais medo ou com vontade
de voltares a apaixonar-te?
Vais estranhar a minha resposta: não tenho medo
nenhum e tenho imensa vontade de amar outra
vez. O amor pressupõe dor e eu estou cá para isso.
As outras dores eu não quero: a dor de ver sofrer
as pessoas que eu amo ou a ideia de morrer, por
exemplo. Agora em relação ao amor, prefiro viver
a dor mas amar, do que viver sem dor e sem amor.
Já começaram a inventar-te namorados?...
Até agora ainda só me inventaram o Zambujo
e o Dino d’Santiago. (risos) Nós adoramo-nos e
rimo-nos imenso. Pelo menos inventaram alguma
coisa com pessoas que adoro, imagina que era
com alguém de quem não gostasse…
As pessoas inventam muito…
As pessoas andam tão perdidas que toda esta ideia
de amor, amizade, formas de amar, se transforma
numa grande complicação. As pessoas tanto di-
zem que querem imenso encontrar alguém como
depois se escudam em todo o tipo de artimanhas
para não se entregarem. Eu sou altamente femi-
nista, mas às vezes o discurso da independência
vira-se contra nós. Ouço muita gente dizer ‘Eu sou
financeiramente independente, eu sou emocional-
mente independente, eu não preciso de ninguém’,
isso é mentira, todos precisamos de alguém, todos
nós precisamos uns dos outros, e depois andamos
vazios e infelizes porque no fundo toda a gente
gosta de amar e ser amado.

O nosso mundo promove muito a insatisfação?
Sim, principalmente através da comparação. Estamos cons-
tantemente a comprar coisas, e depois fazemos retiros… Claro
que eu brinco mas também já fiz um retiro e é muito útil
pararmos de vez em quando para respirar e perceber o que
andamos aqui a fazer. Mas é engraçado ver como os próprios
retiros também já se transformaram num negócio. A mim,
como parte integrante de uma ONG, custa-me muito ver
a exploração da vulnerabilidade das pessoas. A fragilidade
promove-se e compra-se. Claro que no meio disto tudo há
projetos muito úteis e pessoas que de facto ajudam, mas a mim
choca-me muito as ‘esponjas’ que se aproveitam.
Diz-me qualquer coisa sobre ti que eu não saiba.
Conto-te uma coisa muito recente que tem a ver com aquilo
que eu vivi agora. Há pouco tempo tive uma das experiên-
cias mais bonitas da minha vida: fui com o meu pai passear
durante três dias para Bilbao. A idade
não é só rugas, traz-nos uma clarivi-
dência fantástica em algumas coisas.
Este ano, com o divórcio e a tentativa
de trabalhar de forma um bocadinho
menos invasiva, percebi muitas coisas.
Sempre gostei de juntar a família entre
o Natal e o fim de ano, costumava levá-
-los todos para um hotel. Mas percebi
a certa altura que este enquadramento
de família italiana era divertido mas
havia detalhes de cada pessoa que se
perdiam no coletivo. Então decidi pas-
sar algum tempo individual com cada
um num cenário diferente do habitual.
E isso mudou tudo. Foi incrível passear
em Bilbao de braço dado com o meu
pai, sempre a pé. Conseguimos falar de
coisas que num cenário ‘normal’ nunca
teríamos conseguido. Nós temos uma
relação intensa e nem sempre fácil, e
nestes três dias falámos de coisas muito
sérias mas nunca discutimos, estivemos
sempre bem, foi mesmo bonito.
A idade não te assusta?
Claro que assusta. E eu tenho um pro-
blema comum a muitas mulheres: não
sinto a idade que tenho. Os meus filhos
dizem-me muitas vezes que sou mais
infantil que eles, e eu sou realmente
muito gaiata ainda, embora também
seja madura, fruto de todas as coisas
terríveis que testemunhei, das muitas
vidas difíceis que conheci. Ver tanta
gente morrer de formas horríveis e ab-
solutamente evitáveis marca muito, e
portanto eu sei o que é a vida séria e
de alguma forma desvalorizo o resto.
O que mais me angustia na passagem
do tempo é a perda das capacidades,
físicas e cognitivas. E a ideia de partir,
porque eu não queria mesmo ir-me embora daqui.
Gosto mesmo muito de viver.
Pedro Ferreira assistido por Ana Viegas
Pós-produção: Ana Viegas e Ricardo Lamego
Maquilhagem: Cristina Gomes
Cabelos: Helena Vaz Pereira para Griffe Hairstyle,
assistida por Nicole Francisco, com produtos Wella
Professionals
A REVISTA ACTIVA AGRADECE À
QUINTA DA RIBAFRIA AS FACILIDADES
CONCEDIDAS PARA A REALIZAÇÃO
DESTA PRODUÇÃO
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36
MULHER REAL

FEVEREIRO 2024
CRÉDITO DE FOTO
 GENINHA HORTA VARATOJO

DEPOIS
Fundou, com o seu marido, Francisco Varatojo, o Instituto Macrobiótico

DO CHOQUE,
de Portugal. Falavam de comida saudável, de sustentabilidade, de equilíbrio

TIVE DE ME
entre corpo e mente, numa altura em que quase ninguém o fazia.

REDESCOBRIR,
Tiveram 4 filhos, uma legião de fãs e amigos, e de forma abrupta

DE ESTAR BEM
e inesperada Geninha perde o companheiro de uma vida.

COMIGO
Falámos de alegria, de tristeza, de fazer o luto, recuperar e renascer.

MESMA
Texto GISELA HENRIQUES Fotos JOÃO LIMA Styling PATRÍCIA PINTO

FEVEREIRO 2024 37
 MULHER REAL

Onde e quando nasceu a Geninha?

Nasci em Lisboa, a 30 de março de 1958. Tive uma
infância pacífica e os mesmos problemas dos adoles-

F
centes na altura, tudo tranquilo.

É filha única?
Não, sou a mais velha de seis irmãos. Era uma casa
rio, nuvens, vários tons de cinzento coloriam o céu cheia e ajudei os meus pais a criá-los. Os meus pais
no dia da entrevista e produção fotográfica. Não podia eram pessoas modestas, bem dispostas, muito traba-
contrastar mais com a personalidade solar de Geni- lhadoras, alentejanos de gema, não tinham grandes
nha, uma alegria contagiante que só é toldada quando possibilidades mas conseguiram dar estudos a todos
fala na morte do marido. Nunca conheci pessoalmente nós, o que na altura era um feito. Eu fiz o 11.º e 12.º
Francisco Varatojo, a grande referência da Macro- ano à noite, já a trabalhar.
biótica em Portugal, que desapareceu com apenas 56
anos, num acidente de mergulho, em 2017. Passaram Queria seguir que profissão?
quase sete anos e continua a falar-se do seu nome com Não tinha uma ideia definida, mas sei que queria
saudade, mais ainda a sua mulher e companheira de viajar. Antes de conhecer o Francisco, a minha ideia
sempre Geninha Horta Varatojo. Era impossível falar era ir para fora, viajar, trabalhar. Pensei em ser hos-
de Francisco sem pensar em Geninha, e vice-versa, um pedeira, mas nunca levei isso muito a sério.
complementava o outro, funcionavam em par e a par.
Foram 37 anos de vida em comum que terminaram Como surgiu o interesse pela macrobiótica?
de repente, sem aviso. Nas palavras de Geninha, o Foi quando conheci o Francisco. Na altura, em 1982,
choque foi grande, enorme, avassalador, esmagador, era secretária num escritório de engenheiros e um
mas já fez as pazes. Por coincidência maravilhosa, diz dia fui ter com um amigo que trabalhava num res-
Geninha, “dois dias depois do Francisco nos deixar taurante, perto do Marquês de Pombal, que era um
nasceu a nossa neta Jasmim”. Foi o que lhes deu alento centro macrobiótico, chamado Unimave. Não fazia
e alegria numa altura em que o universo pareceu a mínima ideia do que era. Estava com o meu amigo
deixar de fazer sentido. E se Francisco Varatojo era o quando aparece um rapaz, o Francisco, que tinha na
rosto mais conhecido da Macrobiótica, Geninha era altura 21 anos. Era um miúdo mas muito maduro
o seu braço direito e esquerdo, o seu apoio, e porto para a idade, já na altura dava aulas de macrobiótica
de abrigo nos bastidores. Quisemos conhecê-la um e conferências, consultas, tinha vindo de Boston, onde
pouco mais numa altura em que os ensinamentos tinha estudado com Michio Kushi e a sua mulher, Ave-
de Francisco voltam à ribalta, line, os 'pais' da macrobiótica.
ao ser publicado ‘O Grande Convidou-me para ir a uma
Livro da Macrobiótica’, uma O Francisco era das palestra que ia dar nessa sema-
compilação dos seus cadernos, na. Aceitei o convite e fiquei
fiéis depositários do seu conhe- pessoas mais íntegras maravilhada porque era uma
cimento partilhado com os mi- e honestas que conheci, filosofia de vida que fazia todo
lhares de pessoas com quem
ele privou.
ele fazia exatamente o sentido para mim. Não é só
mudar de alimentação, é uma
A produção decorreu no aquilo que defendia. forma de estar, de sermos mais
Convent Square Hotel, bem
no coração da Baixa lisboeta.
Era uma luz, um homem conscientes e de compreender
e respeitar o mundo, o planeta
Fui a primeira a chegar e logo apaixonado pela vida, onde vivemos. Na altura, pen-
começámos a entrevista. En- por aquilo que ensinava. sei ‘quero isto na minha vida’.
quanto falávamos, bebia o chá No início limitei-me a substi-
que trouxe de Marraquexe. O Era muito difícil não tuir alguns elementos, não
aroma perfumado da mistura gostar dele.” precisa de ser uma mudança
de ervas foi uma constante na radical. Em vez de fazer uma
conversa que tivemos antes, jardineira de carne, trocamos
durante e depois das fotos. Engraçado como o tema a carne por seitan ou tofu. Adaptas as receitas e usas
da alimentação macrobiótica desperta a curiosidade mais leguminosas e legumes.
de todos. Enquanto se maquilhava, Geninha fala de
como os filhos, desde pequenos, adoram legumes, que Foi paixão à primeira vista com o Francisco?
a mais velha, Marta – entrevistada pela ACTIVA há Mais ou menos, mas foi tudo muito rápido con-
3 anos –, tinha uma predileção por grelos salteados
com azeite e vinagre, e que até a neta, Jasmim, adora
rabanete em pickle (feito em casa). Curiosa? Venha
daí conhecê-la melhor.

38 FEVEREIRO 2024
FEVEREIRO 2024 39
 MULHER REAL
nosco. Eu fui-me apaixonando por aquele homem
tão rico de ideias, de pensamento, de carácter. Tudo
se resumiu a: conheci-o em fevereiro, nesse ano co-
meçámos a namorar, mudei de alimentação, deixei
o meu emprego, fomos para Londres para eu poder
estudar num centro macrobiótico que tinha também
um restaurante, engravidei e casámos em agosto.
Tivemos quatro filhos e nasceram todos entre os
meus 23 e 30 anos. A Marta, a Joana, a Sofia e o
Francisco. Quando cheguei ao quarto filho, disse
‘acho que já chega, já está bem assim’. (risos) Qua-
tro filhos que hoje são o meu alento, assim como a
minha neta, a Jasmim, que vai fazer sete anos no
mesmo mês em que o Francisco faleceu. Ela era
para nascer a 9 de agosto mas acabou por nascer
a 9 de julho, dois dias depois de o avô falecer... a
minha filha teve de deixar o bebé na clínica para
40 FEVEREIRO 2024
ir ao funeral do pai. Foi um grande choque para
todos e ainda mais para ela, que estava grávida de
8 meses. A alegria de ter uma filha e a tristeza de o
pai ter partido em simultâneo. O choque da morte
do pai acelerou o parto. Mas tudo fez sentido porque
sem a Jasmim tudo teria sido muito mais difícil. A
chegada dela conseguiu fazer-nos sorrir quando
não tínhamos vontade nem razões para isso. Ela
conseguiu essa magia.
Aproveito para perguntar: o que é a macrobiótica?
É uma filosofia de vida, um movimento ambiental
e social que pretende ajudar a construir um mundo
mais pacífico e saudável. Eu chamo-lhe Arte de Saber
Viver. Viver e comer com mais harmonia e maior
consciência de que todas as nossas escolhas fazem
toda a diferença, em nós, nos outros e no planeta em
que vivemos. Agora fala-se muito na importância
da alimentação à base de vegetais na nossa saúde,

na altura, nos anos 80, éramos um bocadinho vistos
como uns extraterrestres. (risos)
Todos os seus filhos seguem esta alimentação?
Os meus filhos nunca comeram um bife ou hambúr-
guer de carne até hoje. Eu, atualmente, posso comer
muita coisa, mas carne não consigo, por uma questão
de saúde e de ética. A forma como se come hoje em
dia é muito preocupante. Não sou fundamentalista
mas é preocupante os excessos que se cometem com a
alimentação. Todos os meus filhos já saíram de casa,
são adultos, e cada um a trilhar o seu caminho de
vida. Estiveram ligados ao Instituto Macrobiótico
de Portugal (IMP) enquanto lá estive, foram muitos
anos por lá, e neste momento desejam descobrir o seu
próprio caminho.
Quando eram pequenos levavam almoço de casa?
Sim, claro, através dos menus que a escola praticava eu
adaptava com alimentos que penso serem de melhor
qualidade. Imagine que era almôndegas com espar-
guete, eu fazia almôndegas de seitan com esparguete
integral com um molho que eles gostassem. Tentava
preparar refeições parecidas com as da escola. Não
quer dizer que não tenham experimentado outras
coisas, uns doces aqui e acolá... Comeram uma vez
frango em casa da minha sogra, e eles perguntaram
'ó avó que peixe é este?'. (risos)
A Geninha dava cursos de culinária mas deixou de
dar aulas, há 7 anos, quando o seu marido faleceu?
Sim, fiquei a dirigir o Instituto, a tempo inteiro. Tam-
bém deixou de me apetecer cozinhar, um dia, estava
em casa a cozinhar e de repente parecia que mais
ninguém ia comer o que cozinhasse, senti uma enorme
frustração e tristeza. E por uns tempos foi assim que
me senti, mas ao fim de algum tempo voltei a tomar
o gosto, a adorar cozinhar novamente, dentro dos
princípios da macrobiótica, sem fundamentalismos,
com muito sabor e cor e amor.
O tema desta edição é 'amores e desamores'...
A minha história com o Francisco é uma história de
amor que foi ganhando raízes, alicerces e ferramentas
ao longo de 37 anos, em que fomos lidando e cres-
cendo com as nossas diferenças. Sempre pensei que
ficaríamos os dois velhinhos e a passear por muitos
lugares. A macrobiótica tem também a ver com amor,
amar os outros, o planeta, os animais, e para isso tens
de te amar, cuidar de ti, para viveres com qualidade
de vida e sentires gratidão por estares aqui. Se nós
tivermos essa alegria dentro de nós, é mais fácil amar
os outros, ser grata pela família, amigos, a tua casa
e a abundância que o planeta nos oferece. Não se
trata só de comida. Podes comer bem, mas se saíres
à rua e tratares mal o teu semelhante algo não está
bem contigo...
Começaram a crescer após a abertura do IMP?
Devagarinho, começámos com as palestras do Fran-
cisco e cursos de macrobiótica de vários níveis, depois
passámos a ter um curso de Shiatsu, Feng shui e Yoga,
Chi Kung, organizámos os retiros, o festival Zimp...
Tudo foi acontecendo com uma grande entrega da
nossa parte, era a nossa forma de estar na vida e assim
chegámos a 2017 e o Francisco despediu-se, foi-se
embora, como se dissesse, “eu já fiz o meu trabalho
aqui, agora é a vossa vez de continuarem a divulgar
esta Grande Vida”.
É assim que encara a sua morte?
É sim, eu acho que foi 'chamado' para trabalhar
FEVEREIRO 2024 41
MULHER REAL

de outra forma, porque ele não viveu apenas 56 anos,
foram mais de 100, porque vivia intensamente tudo o
que fazia. Adorava fazer mergulho, maratonas, ouvir
música e dançar. Aliás, nesse ano ia fazer a maratona
de Berlim com uns amigos, mandou fazer t-shirts com
o símbolo do IMP, encomendou uns ténis superleves...
e ele foi o único que não participou. Lembro-me de
ir com a minha filha Sofia a Berlim levantar o dorsal
dele e quando nos foi entregue sentimos um misto de
tristeza e alegria. Dias antes, o carteiro tinha batido
à porta para entregar os ténis que iria usar naquela
maratona, foi muita emoção.
Fez as pazes com o mar?
Sim, completamente. Um
amigo dele ligou-me algum “Decidimos publicar
tempo depois a contar que,
numa das muitas viagens de
‘O Grande Livro
mergulho que tinham feito da Macrobiótica’ do
juntos, um dia falaram sobre
a Morte e que o Francisco
Francisco porque ele tinha
tinha dito que quando mor- 2 livros e 6 cadernos
resse gostaria que fosse junto
da família, ou no fundo do
temáticos com
mar… e assim foi. grande procura, e
pensei 'não podem deixar
Mais tarde veio a
pandemia, afetou o IMP?
de existir'. Falei com a
Imenso, éramos uma peque- Leya, que concordou
na empresa, com quase 15
empregados, e de repente,
em homenageá-lo
com a pandemia, não podes desta forma.”
ter quase ninguém no restau-
rante, nem pessoas nos cursos
presencialmente, tens de te reinventar completamente.
Foram dois anos assim, muito difícil financeiramente.
Com o Francisco éramos os dois a levar o barco em
frente. Sozinha, não senti a mesma força, ou antes, a
mesma vontade. Apesar de nunca ter estado sozinha,
tinha os meus filhos e uma equipa fantástica que era
como uma família, mas alguém tinha de gerir a parte
financeira. Saí sem uma única dívida, foi uma bênção.
Fiquei feliz por sair dessa forma.
Como é agora o seu dia a dia?
Durante o confinamento recomecei a pintar. Era um
hobby que tinha há muitos anos e foi assim que eu
Maquilhagem: Madalena Martins
percebi que tinha outros interesses, que havia coisas
que gostava muito de fazer para além de dar aulas de
culinária. Quanto ao meu dia a dia, começo a sentir
que estou a entrar na idade madura, acho que sinto
alguma nostalgia. Olhas para trás e começas a ver que
perdeste os teus pais, o marido, amigos, e há momentos
em que sentes a falta daquelas presenças, mas a vida
não é lá atrás, é aqui e agora e sempre em frente. Eu
tentei que essa nostalgia não tomasse conta de mim,
ela está lá, cuido dela quando é preciso, mas não deixei
que me dominasse. Agora, tenho mais tempo livre e
viajo mais. Às vezes, estou na rua e penso como é bom
não ter horas marcadas para nada, é uma liberdade
que me sabe muito bem, em que começas a sentir que
existes, e a sentir gratidão por quem és, com todas as
nossas limitações e virtudes.
Está a redescobrir-se?
Foram 37 anos a trabalhar numa área muito intensa.
No início não foi fácil, foi como se houvesse uma nu-
vem por cima de mim e eu não percebia bem o que
estava para lá do nevoeiro, não conseguia ver o meu
caminho e para onde ia, mas também percebi que não
tinha de correr. Tens de dar tempo ao tempo para
ver o que é que ele te vai mostrando... Quando tens
um companheiro e uma his-
tória de vida em conjunto, é
como se andassem sempre os
dois, lado a lado. De repente,
quando ele falta, tens de te
apoiar só em ti. Não sei para
onde vou, mas também não
é nada que me tire o sono
porque sei que quando nos
entregamos, e aceitamos de
coração, percebemos que
não temos nada a perder e
que não temos que ter medo
de nada nem de ninguém.
Ainda não se vê com outra
pessoa?
Durante muito tempo não,
não estava preparada para
viver o amor dessa forma,
precisei de tempo para sa-
ber quem sou e o que estou aqui a fazer. Se calhar,
um dia posso ter outro relacionamento, alguém com
quem possa voltar a partilhar aquilo que faço e o que
sou. Não para me sentir completa, se não me sentir
completa por mim mesma não é outra pessoa que o
vai fazer. Se o amor bater à porta vou abrir, os meus
filhos adorariam que isso acontecesse, mas o que es-
tiver aí para mim, estará, logo se vê.
Que mensagem gostaria de dar às nossas leitoras?
Nada nos pode completar a não ser nós mesmos: não
é um companheiro, um filho, uma mãe ou um pai.
Viemos cá com um propósito, que é cuidarmos de
nós, da nossa evolução como seres humanos e dos que
nos rodeiam. Somos nós os responsáveis pela nossa
felicidade.
A ACTIVA AGRADECE AO CAPÍTULO
RESTAURANT & BAR AS FACILIDADES
CONCEDIDAS PARA A REALIZAÇÃO
DESTA PRODUÇÃO.
FEVEREIRO 2024 43
TESTEMUNHOS

AMORES
E DESAMORES
Há quem tenha uma história pessoal inesquecível, há quem exerça
o amor com humor, há quem ajude a sair de um ‘desamor’...
Afinal ninguém disse que o amor era simples.
Texto CATARINA FONSECA

44 FEVEREIRO 2024
 RITA DA NOVA
Casada com Guilherme Fonseca, a blogger
e o humorista fizeram das suas divergências
um modo de vida no podcast ‘Terapia de casal’,
em espetáculos e no livro com o mesmo nome,
onde falam do seu dia a dia e daquilo
que mais os irrita no outro.
“Eu e o Guilherme estamos juntos há 9 anos e casados
há cinco. Conhecemo-nos em 2015, a jogar ao Sério.
O portal de notícias do Sapo estava a gravar vídeos de
promoção aos festivais de verão, onde juntava pessoas
conhecidas a jogarem ao Sério. Eu e o Guilherme não
nos conhecíamos e fomos ambos convidados. A pri-
meira coisa que ele me disse foi ‘vais perder’. E assim
começou a nossa relação. Os jogos demoravam cinco
minutos no máximo, o nosso levou uma hora e dez em
que estivemos a olhar um para o outro sem nos rirmos
e a chatear de morte as pessoas que estavam a gravar,
até que nos pediram para parar. Portanto, foi um
empate técnico. Só é uma tristeza que o Sapo tenha
perdido essa gravação do nosso primeiro encontro.
No nosso caso, o facto de sermos muito competitivos
é uma das coisas que nos mantém juntos. Aliás, se
jogamos algum jogo de tabuleiro com amigos, nunca
queremos ficar na mesma equipa. E há uma série de
pequeninos jogos que fazemos no dia a dia. Um deles
veio da infância do Guilherme, é o ‘Bom dia Filipina’.
Quando uma pessoa come uma laranja e encontra
um gomo minúsculo, tem de o dar ao outro. No dia
seguinte, quem disser primeiro ‘bom dia Filipina’,
ganha. Temos esta competição a decorrer há bastantes
meses, e tenho a dizer que vou à frente. Ou seja, a
nossa vida é uma parvoíce e foi assim desde o princípio.
Todas as relações têm um lado inicial mais romântico
e apaixonado, mas nós conseguimos manter esse fas-
cínio com a constante disputa. Claro que discutimos
coisas insignificantes, a máquina de lavar, o cabelo,
as séries... Também discutimos sobre questões sérias,
mas geralmente sobre essas estamos
de acordo. No podcast tentamos re-
tirar pressão destas coisas minús-
culas, que são discussões comuns a “Em todos os
todos os casais. Claro que há coisas casais há um
que me irritam no Guilherme: por
exemplo, irrita-me imenso que ele
Guilherme e uma
trate toda a gente por tu sem per- Rita, e isto não
guntar primeiro. Se calhar, se não
falássemos sobre isso, ia tornar-se
tem a ver com ser
um problema a longo prazo. Mas homem ou mulher
às vezes o Guilherme até diz ‘espera mas com aquilo
lá, não vamos discutir isso agora,
discutimos no podcast’. que pensamos, as
Improvisamos sempre. Decidimos nossas manias, os
sobre que temas falar, mas depois
é a liberdade total. E a verdade é
nossos hábitos...”
que, com estas discussões, demos RITA DA NOVA
NIA CARVALHO
por nós a mudar algumas coisas que fazíamos. O
primeiro tema de que falámos foi o facto de eu odiar
ligar para restaurantes a marcar mesa. Se der para
fazer alguma marcação online, eu faço online. Por
isso pedia sempre ao Guilherme que fosse ele a fazer
isso. E no outro dia, ia pedir-lhe a mesma coisa e
pensei ‘não, posso muito bem fazer eu’. Portanto, às
vezes isto também serve para mudarmos pequenas
coisas de que, de outra maneira, o outro nunca se
teria apercebido. E isto acontece naturalmente, sem
nenhum de nós exigir ao outro que mude.
O humor é muito bom para ser usado preventiva-
mente. O Guilherme é humorista e eu sou filha de
um casamento onde o meu pai brincava muito com
tudo, mesmo com assuntos sensíveis. Mas se eu e o
Guilherme falássemos de alguns temas, como se devía-
mos ou não ter filhos, se Deus existe ou não, em quem
votar, a discussão não era tão leve e tão aberta. Assim,
todos os casais se identificam connosco. Em todos os
casais há um Guilherme e uma Rita, e isto não tem a
ver com ser homem ou mulher mas
com aquilo que pensamos, as nossas
manias, os nossos hábitos, por isso
até um casal homossexual se pode
identificar connosco.
Há quem nos peça mesmo conse-
lhos matrimoniais, mas nós dizemos
sempre que não somos terapeutas.
Isto é um podcast de humor e ne-
nhum de nós tem qualificações para
ajudar. Se depois as pessoas acha-
rem que levar o humor para a re-
lação ajudou, é outra coisa. Dantes,
os portugueses não levavam muito o
humor para a relação, mas acho que
as gerações mais novas comunicam
mais e isso faz com que seja mais
fácil resolver os problemas.”
FEVEREIRO 2024 45
 TESTEMUNHOS
DIANA CRUZ
Terapeuta familiar e psicóloga clínica, é autora
do livro ‘Não é amor, é uma relação tóxica’ (Ed.
Manuscrito), onde propõe um plano detox para
deixar quem nos faz mal.
“Todas as relações têm uma dinâmica de poder en-
volvida. Numa relação saudável, o poder alterna. Por
exemplo, eu decido a escola em que os miúdos an-
dam e o outro decide onde vamos passar férias. Isto
é um exemplo como outro qualquer, e estas zonas de
influência alternam. O poder está lá sempre. Mas
quando está equilibrado, não é agressivo e não existe
uma dinâmica de humilhação, subjugação, autoridade
excessiva, perda de liberdade, controlo.
Quando me perguntam ‘como é que eu sei se estou
numa relação tóxica’, a resposta é: se faz essa pergunta,
provavelmente está. Uma relação tóxica é acima de
tudo uma relação em que não há empatia. Uma das
partes está ali para instrumentalizar a presença, o afeto
e as competências do outro em seu proveito, mas não
para lhes corresponder. São pessoas
narcisistas, de um narcisismo que
não é o ego normal de todos nós. “Os nossos limites
Há muito controlo sobre a outra
pessoa, e acima de tudo muita não se definem
crítica: ‘nunca fazes nada de jeito, na relação, têm de
não percebes nada do que está a
acontecer’, etc.
estar decididos à
O mais habitual é estar uma mu- partida. Quando isto
não está definido,
atraímos terroristas
emocionais que
nos destroem
a identidade.”
DIANA CRUZ
DANIELA VENTURA
46 FEVEREIRO 2024
lher no papel da vítima (também pode ser um homem,
mas esta não é a situação habitual) e são geralmente
mulheres inteligentes, com boas carreiras, com uma
boa situação económica, bonitas, interessantes, cultas,
mas constantemente desvalorizadas na relação.
Porque é que se deixam apanhar nestas situações:
porque podem ter-se tornado emocionalmente depen-
dentes daquela pessoa. Atenção, que não estou a falar
de nenhum tipo de culpa. Quem impõe uma relação
tóxica é hábil e sedutor, e portanto pode ser difícil
escapar a esta rede que é montada à volta da vítima.
Ao princípio tudo parece um conto de fadas: é a minha
alma gémea, somos iguais, temos os mesmos interes-
ses. Ora isto é forjado e depois vira-se contra nós. A
pessoa sente-se privilegiada por ter aquele homem na
sua vida, e se de vez em quando ele a humilha, lhe
chama parva, a ameaça ou anda com outras mulhe-
res, ela acha que a culpa é dela. Esta comunicação é
intermitente: ora somos a melhor pessoa do mundo
ou a pior, até que a pessoa fica com dúvidas sobre o
seu julgamento e acha que ela é que não está a corres-
ponder como devia. Este enredo de
culpa mantém a pessoa na relação,
sempre à espera que melhore.
E uma relação destas pode melho-
rar? Só se houver um comporta-
mento tóxico isolado. Se for um
padrão, dificilmente. Então a outra
pessoa tem de sair. O problema é
que temos muito medo de ficar so-
zinhas, e aquela pessoa já lhe disse
vezes sem conta ‘nunca ninguém
vai gostar de ti como eu’, ‘nunca
mais vais encontrar ninguém’, ‘não
te aguentas sozinha’...
Além disto, geralmente as pessoas
ficaram muito isoladas, dos amigos,
da família, da sua rede afetiva de
segurança, que tem de voltar a ser
estabelecida.
Os limites não se definem na relação, têm de estar de-
cididos à partida. Quando isto não acontece, atraímos
terroristas emocionais que nos destroem a identidade.
Mas é possível perceber que estamos numa relação
tóxica e desenvolver competências que nos fortalecem
e regeneram.
Pessoas tóxicas e narcisistas vai sempre haver. São
pessoas geralmente muito sedutoras, inteligentes, bem
sucedidas porque facilmente passam por cima dos ou-
tros, e os outros deixam-se levar por este discurso que
passa facilmente uma sensação de grande intimidade.
Os tóxicos são viciantes e eficientes. E as mulheres es-
tão sedentas de carinho. O que têm de perceber é que
não estão sozinhas e não são as únicas. Muito longe
disso. Não se podem envergonhar de uma situação de
que não têm culpa e que não vão conseguir resolver
ficando na relação.”
 INÊS PESSOA
Terapeuta, esteve casada durante 30 anos
com o poeta Joaquim Pessoa e conta-nos
uma longa e conturbada história de um amor
que demorou a realizar-se.
“Conheci o Joaquim em 1978 num espetáculo de poe-
sia. Eu estava no público, ele a atuar. No dia seguinte
fui a um café, e lá estava outra vez o Joaquim. Eu não
o reconheci, porque ao longe e num palco as pessoas
são diferentes. Pensei que era alguém da Rodoviária
Nacional (risos) e disseram-me quem era.
Na altura, ele era casado e tinha 30 anos, eu tinha
19. Passei a ser visita regular em casa dele, tornei-me
amiga da mulher e da filha. A certa altura, ele diz-
-me: ‘Estou apaixonado por ti.’ Fiquei sem saber o
que responder. Pensei: este homem deve pensar que
eu sou saloia e acha que estou a fim de uma relação
a três. Mas nessa altura nunca houve nada entre nós.
Eu apresentava-lhe todos os namorados, pensando,
‘se ele está apaixonado, que se mexa’. Quando um
dia lhe comuniquei que ia casar, foi desastroso. Ele
perguntou: ‘Porque é que casas?’ Eu brinquei: ‘Para
receber o subsídio de casamento.’ E ele: ‘Eu triplico’.
Mas nunca pôs a hipótese de se separar.
Convidei-o para padrinho de casamento e ele aceitou.
Casei em casa, e quando chegou aquela parte do ‘se
alguém tem alguma coisa a dizer’, o Joaquim levantou
o dedo e anunciou: - Isto não vai funcionar e não vai
dar casamento nenhum. Daqui a uns meses estamos
aqui para um divórcio.
Toda a gente se riu. Ninguém levou aquilo a sério, nem
eu, porque ele era muito provocador, gostava muito
de deixar as pessoas atarantadas. Um dia, estávamos
os dois em casa dele a conversar, a mulher dele entra
e diz: ‘Que caras tão sérias, passa-se alguma coisa?’ e
ele responde: ‘Estava a acabar de dizer à ‘bichanosa’
que estou apaixonado por ela.’ Fiquei sem chão. Ela
olhou para mim e eu respondi exatamente aquilo que
lhe respondi a ele: ‘Nós temos a relação perfeita: somos
irmãos de sangue.’ Ela não reagiu e ele ficou calado.
Entretanto casei-me e tive um filho e o Joaquim con-
tinuou casado. Eu continuei amiga
dos dois. Aliás, aquilo que atrasou
a nossa ligação foi eu ser tão amiga
da mulher dele. Era uma situação
“Nenhum
muito complicada para uma miúda casamento é
de 20 anos, mas estive sempre muito
tranquila porque valorizava a ami-
perfeito, mas
zade deles acima de tudo. ninguém nos
Estive casada 7 anos e acabei mesmo amar ou não
por me divorciar. Então o Joaquim
diz-me: ‘Eu caso contigo nem que conseguirmos amar
seja pelo budismo.’ Eu estava muito ninguém é que é
magoada e respondi-lhe: ‘Resolve
a tua vida. E se queres casar pelo
de verdade triste.”
budismo, tens de estudar o budismo. INÊS PESSOA
DR
(risos) Vamos pensar.’ No dia seguinte ele tocou-me à
campainha e anunciou: ‘Já resolvi tudo.’
E aí começámos uma relação. Ele divorciou-se e pou-
co depois casámos. Foi complicado para todos. Eu
era muito amiga da Bernardete e custou-me muito
perder a sua amizade, mas nunca senti que estivesse
a trair alguém.
Foi um bom casamento. Eu conhecia o Joaquim muito
bem e se tivesse casado mais cedo com ele nunca teria
funcionado. Era um homem profundamente criativo,
muito explosivo, que não era fácil e que dizia tudo,
mas dele próprio falava pouco. Antes de casarmos
fiz-lhe uma entrevista com 100 perguntas para con-
seguir que ele se desnudasse. Por exemplo: ‘O que é
que eras capaz de fazer por um amigo, o que sentes
quando escreves, o que é que a tua escrita te traz?’
O que mais me surpreendeu foi a maneira como ele
lamentava a perda dos pais, por exemplo.
De resto não houve muitas surpresas. Acho que co-
migo ele descobriu que é possível viver com alguém
em verdade. Ele era um homem reativo mas profun-
damente romântico e fez-me surpresas inesquecíveis.
Por exemplo, quando fiz 50 anos
ofereceu-me 50 presentes, desde
chá a sabonete ou chocolate. Achei
isto comovente. E escrevia coisas
como ‘quero-te para além das coi-
sas justas’. Claro que as minhas
amigas invejavam tudo isto. Mas
também era machista, por exem-
plo, e muito pouco prático, o que
me tirava do sério. Mas sei que ele
me valorizava e reconhecia o meu
amor. Nenhum casamento é per-
feito, mas ninguém nos amar ou
não conseguirmos amar ninguém
é que é de verdade triste.”
FEVEREIRO 2024 47
 GERAÇÃO FANTÁSTICA
No outro dia estava a jantar com o meu grupo de amigos mais chegados, que têm
todos a mesma idade, ali entre os 40-50. E de repente, entre queixas de salários em
atraso, dores nas costas, filhos/cães impossíveis de aturar, diz uma delas: - Vocês
já repararam que somos uma geração fantástica? Nunca em toda a história da
Humanidade um grupo de pessoas atravessou tantas mudanças.
Ficámos todos a olhar para ela, de súbito com o peso de milhares de anos de His-
tória da Humanidade às costas (não havíamos nós de ter espondilose. Ou lá o que
é). Vistas bem as coisas, ela tem razão. O futuro dos nossos filhos e sobrinhos não
sabemos qual é (coitados, pelo andar da carruagem nem sabemos se vão ter algum
PEDRO FERREIRA

tipo de futuro). Se calhar esperam-nos a eles mudanças ainda mais imprevisíveis

do que aquelas que nos aconteceram, e quando tiverem 40-50 vão estar também
reunidos (numa caverna. Desculpem mas saltou-me a piadola) a dizer que são a
geração mais fantástica e mais martirizada de sempre.
Bem. Dizia eu que a minha amiga tinha razão. Eu nasci praticamente na pré-his-
tória. A comida não tinha químicos, ainda havia quem morresse de sarampo e de
parto, ainda havia quem não tivesse telefone ou televisão, passávamos os tempos
livres a jogar à bola ou a ler, só havia um telejornal por dia, havia 2 canais e come-
çavam às 7 da tarde, pagava-se tudo com dinheiro, nas férias escrevíamos cartas
e era uma seca andarmos sempre à procura de uma cabine para ligar para casa.
Quando comecei no jornalismo, os computadores tinham comandos manuais.
Algumas pessoas, como a minha professora de
ginástica, eram preciosas porque conheciam
CATARINA FONSECA toda a gente. Eram o nosso Google.

agora a sério
Não estou a dizer que eram tempos melhores
ou piores. Como dizia o Dickens sobre a revo-
lução francesa, ‘era o melhor dos tempos, era
o pior dos tempos’. Mas aquilo que vivemos
hoje não tem comparação, e não vale a pena
fingir que para nós é normal tudo o que nos aconteceu. Por isso é que eu acho que
ainda muito bem estamos nós. Somos uma geração que foi traumatizada pelos pais,
pelo mundo, pela mudança, pelo emprego, pelo amor, pela vida, mas ninguém
veio com paninhos quentes reconhecer o nosso trauma e dizer ai coitadinhos dos
meninos estão muito ansiosos, deixa cá marcar um dia especial para fazerem o
exame porque eles são disléxicos (desculpem mas está-me a dar para a falta de
compaixão, é da chuva). Somos uma geração que teve de lidar, mal ou bem, com
aquilo que lhe aconteceu: e aquilo que lhe aconteceu foi simplesmente a maior
revolução de vida de todos os tempos. Sobrevivemos como soubemos e pudemos,
sem bússola, sem passado que nos guiasse, navegando à vista. E carregamos estoi-
camente o nosso peso aos ombros fingindo que não nos custa, que não acordamos
todos os dias a pensar se todo o resto da Humanidade não se sentirá assim, com
tanta dificuldade em voltar a pôr a mochila às costas.
Era para vos falar de amor mas nem sei que vos diga. Não somos pessoas fáceis
mas também não vivemos tempos fáceis para o amor. O que faz sentido: já que não
vivemos tempos fáceis para nada, seria de estranhar que o amor ficasse de fora. Às
vezes vejo episódios desgarrados de ‘O Sexo e a cidade’ e aquilo parece-me tudo
passado noutro planeta. Enfim, sempre foi um bocado noutro planeta, que mulher
em Portugal escreve uma crónica por mês que lhe dá para sapatos Louboutin e
uma casa de revista, mas pronto. Damos de barato por conta da fantasia. Mas às
vezes tenho saudades de um tempo em que aquilo que mais nos preocupava era
se o Zé Manel ou a Maria Antónia iam ligar.
Claro que pensar que somos a geração mais fantástica de sempre ajuda um bo-
cado. Por momentos, no meu jantar de amigos, levantei a cabeça do leite creme
esturrado e senti-me um bocadinho mais, como se diz agora, empoderada. Depois
voltei a baixar a cabeça, a enfiar mais uma colher na boca, a dizer mal da cã.

48 FEVEREIRO 2024
 A sua saúde merece
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Porque na moda também bate
um coração, o amor não foi
esquecido no desfile outono/inverno
de Paco Rabanne, com modelos
brilhantes e ‘palpitantes’,
para enfrentar os dias mais
cinzentos do ano.
GETTY
 MODA
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2
4 5

NAMORAR EM...
Faça a mala com roupas confortáveis e quentes e parta de mãos dadas
à descoberta (ou redescoberta) de cidades que convidam ao romance.

Veneza
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52 FEVEREIRO 2024
 1 2

Paris
5

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FEVEREIRO 2024 53
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1 2
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54 FEVEREIRO 2024
 1 2

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6 7 8

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FEVEREIRO 2024 55
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Franchi, €1092; carteira
Roseau, Longchamp, €320

56 FEVEREIRO 2024
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FOTOS: DIVULGAÇÃO

1 2 3

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FEVEREIRO 2024 57
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Se não tiver, que tal dar um presente a si própria?

2
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5 6

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7 10
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13
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58 FEVEREIRO 2024
 2 3
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18

21
20

1. Pulseira Chopard, preço sob consulta; 2. Batom Le Rouge Interdit Intense Silk, Nº 333, edição limitada, Givenchy, p. sob consulta;
3. Brincos Parfois, €8,99; 4. Gift Box Relais & Châteaux, a partir de €350; 5. Blusão C&A, €49,99; 6. Pack de dois anéis Tous, €89;
7. Dispositivo de Limpeza Luna 4 e espuma de limpeza, Foreo, €336; 8. Spray Texturizante Nº 305 Volumizer, Depot, €19; 9. Ténis Skechers,
€110; 10. Caneca Mr. Wonderful, na Note, €13,95; 11. Sutiã, €43,50, e cuecas, €15, Triumph; 12. Camisa C&A, €29,99;
13. Boxers Intimissimi Uomo, €19,90; 14. Pulseira Anjewels, €49,50; 15. Coffret Rose Amelie Body Butter, Benamôr, €33; 16. Loafers Lachoix
X Burel Factory, €289; 17. Rouge Seduction Eau de Parfum, Women’secret, €14,69 (30ml); 18. Botins Mango, €99,99;
19. Vibrador para casal, Platanomelón, €49,99; 20. Brincos Anjewels, €19,90; 21. Parfum Intense Boss Bottled Elixir, Hugo Boss, €120 (50ml)

FEVEREIRO 2024 59
60
BELEZA
FOTOS: GETTY E DIVULGAÇÃO

Quem disse que um
é pouco, dois é bom e três
é demais não estava, certamente,
a falar de agentes hidratantes.
Os cuidados da pele não
se querem monogâmicos.
Aqui, defendemos a suprema
trindade da hidratação:
humectantes, emolientes
e oclusivos.
Texto CARMO LICO
Prepare-se para o frio
TRIO
HIDRATAÇÃO
S
e eu ganhasse um euro por cada vez que
pergunto “não terás a pele desidratada?”
quando alguém se queixa de maleitas cutâ-
neas, estaria, querida leitora, a escrever-lhe desde
as Bahamas (com uma rica camada de protetor
solar, claro). Qualquer problema – enfim, no que
a estas questões diz respeito – será de mais fácil
resolução se o cenário das hostilidades estiver de-
vidamente hidratado.
Quando seca, a pele perde a sua capacidade de
defesa, ficando mais vulnerável às agressões ex-
ternas. E é uma pescadinha de rabo na boca,
porque quanto mais seca estiver a pele, mais a
barreira epidérmica está comprometida, menor
é a sua capacidade de reter a água e mais seca a
pele vai ficar. Não se perca já neste círculo vicioso,
isto ainda piora antes de melhorar.
A descida das temperaturas não é, de todo, um
aliado. Ora note: quando está frio, os nossos vasos
sanguíneos contraem-se, o aporte de nutrientes e
oxigénio por via sanguínea diminui, assim como
a produção de sebo. Acresce o facto de o vento
e a baixa humidade contribuírem também para
favorecer a desidratação. Sem esquecer que duches
muito prolongados e/ou com a água muito quen-
te podem também colocar em causa a barreira
epidérmica, esse escudo protetor que tantas vezes
desmerecemos.
Parem o carrossel! Creio que, a este ponto, já está
suficientemente (assoberbada e) convencida da
necessidade de um bom cuidado hidratante. Mas
porquê só um, quando podemos ter três?
FEVEREIRO 2024 61
 ROSTO
BELEZA

2º PASSO
1. Sérum Hydra-Hyal, Filorga, €59
2. Sérum Rosto Fortificante
Minéral 89, Vichy, €28
3. Sérum Ultra Hidratação Glow,
Soft&Co, €5,99

1º PASSO
1. Água Termal
Calmante
Refrescante,
Avène, €13
2. Essência de Água
Iluminadora,
Uriage, €18,20
3. Hydrachange
Cellular
Performance,
Sensai, €163 1 2 3 1 2 3

TERCETO DO BEM Os agentes oclusivos são ingredientes que criam

Os agentes hidratantes são divididos em três ca-
tegorias principais: humectantes, emolientes e
oclusivos. Sob pena de ser esconjurada por quí-
micos e farmacêuticos que me leiam, vou cometer
esse crime que é generalizar para simplificar: (dos
menos aos mais oleosos) humectantes são hidra-
tantes, emolientes são nutritivos, oclusivos são
protetores. Fez sentido?
Pense numa loção muito fininha e de fácil absor-
ção: trata-se de um humectante. O típico creme
hidratante que deixa a pele confortável sem ficar
demasiado oleosa? Emoliente. Já o oclusivo é aque-
le bálsamo bem denso, que assenta na pele, cria
uma película e não
vai a lado nenhum.
Humectantes Os três têm propósi-
tos diferentes.
hidratam, Os ativos humec-
uma barreira física na camada superior da pele
e impedem a perda de água para o ambiente. A
vaselina, por exemplo. Mais do que hidratar, estes
ativos impedem que a pele desidrate.
Em tempo de guerra aberta ao frio, não poupa-
mos a meios e, por isso, usamos os trunfos todos.
PLANO DE AÇÃO
Há tempos, ouviu-se muito falar sobre duas
tendências de cuidados da pele: skin flooding e
slugging. Skin flooding (inundação da pele, numa
tradução literal) consiste em combinar camadas
de produtos hidratantes. Não se veste também
por camadas no inverno? A lógica é a mesma.
Com o rosto limpo, começamos por uma essên-
cia hidratante ou água termal. Aqui, como no
passo seguinte – o sérum –, é uma boa altura
para incluir os agentes humectantes. Recordando,

emolientes tantes, altamente

hidrofílicos, pos-
nutrem e oclusivos suem a capacidade
de atrair e reter hu-
protegem. midade na pele. Um
bom exemplo seria
o ácido hialurónico,
conhecido por conseguir reter até mil vezes o seu
peso em água. Funcionam muito bem em qual-
quer tipo de pele, principalmente nas oleosas.
Os emolientes ajudam a suavizar a camada exter-
na. Espalham-se facilmente e é como se preenches-
sem os espaços entre as células, deixando a pele
macia e suave. O grande benefício dos emolientes
é a capacidade de oferecer nutrição a todos os tipos
de pele, principalmente as mais secas.
humectantes hidratam, têm alto teor de água. Pro-
cure por ácido hialurónico, glicerina ou pantenol.
Depois do sérum, aplique um creme emoliente,
com alto teor de óleo, para nutrir. Ceramidas,
manteiga de karité e esqualano são boas opções.
E agora a leitora pergunta: “Então, mas depois do
sérum e creme que outra camada posso aplicar?”
Referi duas tendências, falta-me falar-lhe da se-
gunda. Deriva de ‘slug’ (que, sim, se traduz para
lesma), mas tem muito potencial. Slugging é uma
técnica que passa por incluir, como último passo
da rotina, um agente oclusivo – aqueles muito
gordos que criam uma barreira sobre a pele. Vai
ficar brilhante? Vai. Gordurosa? Também. Não
é o semblante ideal e é por isso que esta técnica
é recomendada na rotina da noite.

62 FEVEREIRO 2024
 3º PASSO
1. Creme Premier Cru, Caudalie, €93
2. Sérum Advanced Serum Caps,
Elizabeth Arden, €121
3. Emollience, Skinceuticals, €75

4º PASSO
1. Vaselina pura,
Couto, €1,50
2. Pomada Reparadora
Aquaphor, Eucerin, €11
3. Bálsamo multiusos,
Egyptian Magic, €24

2 3 1 2 3

O propósito desta última camada é criar uma
barreira à superfície que vai ‘selar’ tudo o que
aplicou antes, impedindo a perda de água para
a atmosfera, aumentando a hidratação da pele
e consequente penetração dos ativos da rotina.
Não precisa, porém, de aplicar esta camada em
todo o rosto. Quando as rugas não eram sequer
uma miragem, lembro-me de ler numa revista de
beleza que “o segredo da pele jovem de Jennifer
Aniston” era aplicar, no final da rotina de noite,
uma fina camada de vaselina pura no contor-
no ocular. Expedita, já na altura usava agentes
oclusivos apenas nas zonas que, tendencialmente,
mais desidratam. É uma opção, se não adorar a
textura untuosa por todo o rosto – mas, por favor,
experimente antes de assumir que não vai gostar.
É graficamente terrível, bem sei, mas para uma
pele desidratada e desconfortável é como afundar
no sofá depois de um dia de trabalho.
O ideal será seguir esta rotina pelo menos uma
hora antes de se deitar. Ainda que um bom bál-
samo crie um filme de gordura para proteger a
sua super-hidratante rotina, de pouco lhe serve
se acabar tudo na almofada.
Tenha atenção, porque em peles oleosas, acneicas
e/ou com rosácea esta última tendência pode ser
contraproducente. Nas primeiras, por ser pouco
agradável e contribuir para a obstrução dos folí-
culos. Nas segundas, porque pode eventualmente
aumentar a vermelhidão da pele.
E o segredo pode passar por escolher a rotina ideal.
Falando do corpo, talvez não faça sentido uma camada
completa de um oclusivo. Era bem capaz de terminar
a transpirar! A típica latinha azul pode, porém, ser
uma boa opção para uma hidratação extra em zonas
tipicamente mais desidratadas, como os cotovelos,
joelhos e canelas. Para o resto do corpo – e porque
compreendo que (seja por ter frio ou preguiça) prefira
algo mas fácil de espalhar, sem comprometer a hidra-
tação da pele –, escolha um creme hidratante rico em
emolientes. Vão hidratar e nutrir, com a quantidade
certa de óleo. Se não suporta a sensação de creme
na pele, experimente fórmulas mais humectantes:
carregadinhas de água, com texturas mais finas e de
rápida absorção, como um gel hidratante.
CORPO
A TRÊS
1. Creme Lata Azul, Nivea,
€7,99
2. Loção Hidratante Corpo
Pele Seca, Cerave, €16,70
3. Gel hidratante,
Neutrogena, €13,74

E O RESTO?
Não vai ter todo este cuidado com a pele do rosto
para depois descurar a do corpo. Esconder-se não 1 2 3
é uma opção, há que chegar a um compromisso!

FEVEREIRO 2024 63
BELEZA

SEM COMPROMISSO

MINI TUDO
Para não cair em desamores, antes de se comprometer
com um full size, divirta-se com as miniaturas.
São um bom test drive antes de uma relação mais
séria (e uma excelente opção para levar de viagem).
Texto CARMO LICO

1 2 3

4 5 6

1. Rapid Radiance Set, Biossance, excl. Perfumes & Companhia, €34,30; 2. Eau de Parfum Angel,
Mugler, €59,80 (25ml); 3. Creme Eight Hour Cream Skin Protectant, Elizabeth Arden, €16,20 (30ml);
4. Sérum Advanced Night Repair, Estée Lauder, €44 (15ml); 5. Eau de Parfum Chloé, €48 (20ml);
6. Máscara de Pestanas Roller Lash, Benefit Cosmetics, €17,99

64 FEVEREIRO 2024
 1

2 3 4

5 6

7 8 9 10
FOTOS: DIVULGAÇÃO

1. Coffret Coleção Aqua Allegoria, Guerlain, €81 (5 x 7,5ml); 2. Finish CC Cream, Erborian, €22,95 (15ml);
3. Bálsamo desmaquilhante Take The Day Off, Clinique, €8 (30ml); 4. Escova de Cabelo Detangler Mini Tangle
Teezer X Barbie, €12,90; 5. The Restored And Refresh Set, La Mer, €356; 6. Óleo Capilar Multifunções Honey
Infused Hair Oil, Gisou, €22,99 (20ml); 7. Água Micelar Tudo em 1, Garnier, €2,99 (100ml); 8. Eau
de Beaute Visage, Caudalie, €15,90 (30ml); 9. Mini batom, tom Ruby Woo, MAC Cosmetics, €18;
10. Mini Kit Autobronzeador Self Tan Classic, St. Tropez, €16 (50ml)

FEVEREIRO 2024 65
 BELEZA

Eau de Toilette
Voyage d'Hermès,
Hermès, €134
Eau de (100 ml)
Toilette
Eau de
Campagne,
Sisley, €127
(100 ml)

Eau de Toilette CK One, Eau de Toilette

Calvin Klein, €76,90 Paris - Deauville, Chanel,
(100 ml) €142, (125 ml)

PERFUMES
Para quê dividir, quando podemos partilhar? Aqui, não há perfumes
para ele nem para ela: há perfumes para os dois. As fragrâncias são
de quem as sente, à semelhança das memórias, de quem as tem.
Texto CARMO LICO

Eau De Parfum Bois

Impérial, Essential Eau De Parfum
Parfums, excl. Skinlife, Do Son, Diptyque,
€78 (100 ml) excl. Skinlife,
€160 (75 ml)

Eau de Toilette Molecule 02,

Escentric Molecules, excl. Skinlife,
Eau de Parfum Gris Dior, €140 (100 ml)
Dior, €265 (125ml)

66 FEVEREIRO 2024
 Eau De Parfum Eau de Parfum
Infusion d'Ylang, Jardim Real, Granado,
Prada, €152,70 excl. Perfumes &
(100 ml) Companhia, €120
(75 ml)

Eau de Parfum
Aire Anthesis, Eau de Toilette Bois
Loewe, €199,60 d'Orange, Roger &
(100 ml) Gallet, €38,90 (100ml)

PARA
PARTILHAR Eau de Parfum Cologne
Palo Santo & Patchouli Pomegranate
Vert, Carlotha Ray, excl. Noir, Jo Malone
Perfumes & Companhia, London, €138
€85 (50 ml) (100ml)
FOTOS: GETTY E DIVULGAÇÃO

Eau de Toilette By the

Fireplace, Maison Margiela,
Eau de Parfum Santal 33, excl. Sephora, €122,99
Le Labo, excl. El Corte (100 ml)
Inglés, €198 (50 ml)

FEVEREIRO 2024 67
 2
1

5
6

LÁBIOS
PARA QUE

beleza
VOS QUERO

Batons com cor

9
8

1. Gloss Hidratante Efeito 3D, tom Cherry Red, Kiko Milano, €9,99; 2. Gloss What The Fake!, tom Oh My Nude, Essence, €10;
3. Óleo labial Lip Comfort Oil Intense, tom Nude, Clarins, €26,50; 4. Batom Rouge Volupté Shine, tom 122, Yves Saint Laurent, €45,95;
5. Batom líquido Lip Lingerie XXL Matte, tom Untamable, NYX Professional Makeup, €10,50; 6. Batom Pure Color Matte Lipstick,
tom Fragile Ego, Estée Lauder, €45,10; 7. Batom matte Rouge Hermès, tom Orange Boite, Hermès, €69; 8. Bálsamo com cor KissKiss
Bee Glow, tom Fuchsia, Guerlain, €42; 9. Gloss Plumping Lip Fluid, tom Rosy Sunshine, Artdeco, excl. Perfumes & Companhia, €12,95

68 FEVEREIRO 2024
 Placa a vapor
Steampod
4.0, L'Oréal
Professionnel,
€320

Modelador de
caracóis automático
StyleCare Prestige,
Philips, €120

Modelador multifunções
Dyson Airwrap,
Dyson, €499

PAIXÕES

cabelos
TÓRRIDAS

Ferramentas de calor

Rolos elétricos
Volume Curls,
BaByliss, €79

Alisador Chronos,
GHD, €359

Modelador
triplo Cutie
Waver
22 mm,
Mermade
Hair, €73
FOTOS: DIVULGAÇÃO

1 2 3 4

SEMPRE COM PROTEÇÃO

1. Spray Capilar Protector, Protecteur Absolu, Moroccanoil, €34,99 na Sephora;
2. Spray Cabelo Defesa Calor, Tresemmé, €7,99; 3. Spray Reparação, Phyto,
€17,90; 4. Luva Térmica para Pranchas, €13,50 na Pluricosmética

FEVEREIRO 2024 69
viver
Para a icónica imagem
de Banksy ‘Menina com
balão’, símbolo de amor,
esperança e liberdade,
há várias interpretações.
Qual é a sua? O balão
está a aproximar-se
ou a afastar-se?

GETTY
 Inês Meneses
ENTREVISTA
“É CADA VEZ
MAIS IMPORTANTE
TER UMA VOZ”
Depois de ‘Caderno
de encargos sentimentais’,
‘O coração ainda bate’
ou ‘Fala com ela’, lançou
‘A máquina de escrever
sentimentos’. Fomos saber de
que é feito o amor, qual
é a sua palavra preferida
e como se faz o luto de
um amor eterno.
Texto CATARINA FONSECA Fotos JOÃO LIMA
É
verdade que eu já ia prevenida para gostar da
conversa. Por um lado, tinha lido e ouvido coisas
suficientes para isso (qualquer dia ainda hei de fazer
T-shirts com frases dela como “A vantagem de sermos
míopes é poder escolher quando queremos ver o mundo
nítido” ou “Sabe tocar algum instrumento? Só o coração”).
Por outro, levava na cabeça uma frase do Valter Hugo
Mãe: “A Inês é a mais perigosa das mulheres. Fica-nos
com o coração.” Claro que há sempre aquela situação
em que uma pessoa vai cheia de ilusões entrevistar o seu
ídolo, chega lá e o coração espatifa-se. Não foi o caso.
A Inês é daquelas pessoas que de facto nos fica com o
coração, porque nos dá o dela. E isso, numa altura em
que toda a gente se esconde e tem medo de falar e de se
expor, não é fácil.
Portanto, falámos de corações, de amores, de lutas, a
propósito do seu último livro, ‘A máquina de escrever
sentimentos’, uma espécie de diário sem cronologia, com
partilhas em que muitas mulheres se vão rever. Ela pró-
pria se define como “Faço rádio, sou mãe, gosto de ouvir
música, de vibrar em concertos, de cozinhar, e de estar
com gente.” Mas é muito mais do que isso.
72 FEVEREIRO 2024
Dê-me um princípio para esta conversa.
Uma frase, um pensamento, uma imagem...
“No outro dia li esta frase ‘cheguei a esta idade e não tenho
inimigos’. Isso deixou-me a pensar. Não sei se quero não
ter inimigos. Claro que há muito mais pessoas de quem
eu gosto, mas também há pessoas que não gostam de mim
e de quem eu não gosto. Não me sentaria à mesa com o
André Ventura, por exemplo, porque não posso pactuar
com determinadas coisas. Se não tivermos inimigos, não
temos balizas nenhumas. Os nossos inimigos também nos
ajudam a saber quem somos.
Vai refletindo à medida que as coisas acontecem?
Vou digerindo. É como voltarmos a determinados restau-
rantes. Houve uma altura em que fazia crítica gastronómi-
ca e perguntava-me sempre ‘voltaria a este restaurante?’
Para voltar, tem de haver alguma coisa marcante. Quando
alguma coisa nos marca, um pensamento, uma pessoa,
gosto de lá voltar e pensar nisso.
A Inês é acima de tudo entrevistadora.
Toda a gente é interessante?
Toda a gente é interessante, mas há muita gente que passa
por baixo do radar. Não podemos entrevistar o mun-
do inteiro mas toda a gente tem as suas camadas, o seu
mistério, a história que nunca contou. E muitas vezes
nós, portugueses, também somos educados para não nos
acharmos e não parecermos interessantes, sobretudo as
mulheres. A minha filha já não vive isso, mas eu ainda
vim de um tempo em que o silêncio era a linguagem. A
não-resposta, a não-partilha, como proteção.
Temos dificuldade em falar mas também temos
dificuldade em ouvir, não temos?
Imensa. A maior parte das pessoas não tem interesse
nenhum nos outros. Mas atualmente acho que estamos
num circuito muito nefasto de achar que as pessoas ‘que
interessam’ são as que têm fama, nome, dinheiro.
FEVEREIRO 2024 73
 ENTREVISTA

“Nós, portugueses, somos

educados para não nos
acharmos e não parecermos
interessantes, sobretudo
as mulheres.”

Cresceu em Vila do Conde?

Sim. Nasci em Lisboa, os meus pais vieram para cá traba-
lhar nos anos 60 e depois voltaram para o Norte, de onde
vieram, e fiquei lá dos 4 aos 22. Era muito bom viver lá
mas eu não sabia. Cresci num meio onde hoje toda a gente
adoraria viver. Cresci no meio de coelhos, cães, gatos, entre
as plantações de milho, íamos apanhar grilos e passávamos
meses na praia, uma vida que a minha filha já não teve.
Aliás, reconstruí lá uma casa onde estou a cinco minutos
da praia e apetece-me passar lá a vida toda.

E no meio dos coelhos e dos campos de milho,

como é que nasceu a paixão pela rádio?
(risos) É engraçado que hoje estava a falar com a minha
filha e disse-lhe: ‘Já viste, vais fazer 16 anos e essa foi a
idade em que eu fui trabalhar para a rádio.’ De repente
isso foi uma iluminação, nunca tinha pensado nisso. Mas
para mim ela é um bebé. Como hoje temos mais meios,
infantilizámos os nossos filhos, protegêmo-los com privilé-
gios e defesas. Para mim, era impossível ver a Maria Inês
sair para trabalhar, quando eu nem hesitei. O meu irmão
estava numa rádio-pirata e disse-me ‘acho que tens boa
voz, porque não experimentas’? E eu fui imediatamente.

Lembra-se da primeira vez que esteve no ar?

Perfeitamente. Gravava num gravador os noticiários
da Antena 1, passava-os e lia-os ao microfone. E ia
bastante lançada e confiante até me aparecer à frente
a palavra ‘Massachusetts’... (risos) Naquele dia, pen-
sei que nunca mais ia conseguir fazer rádio. Mas fez-
-me bem perceber que temos estes momentos em que
percebemos que não somos invencíveis. Até hoje não
consigo dizer, por exemplo, epidemiologista. (risos)
Não tenho de estar preocupada com a imagem. Além
disso tenho o direito de não me querer ver. Vou sempre
pintada para a rádio, mas não é porque vou aparecer, é
porque gosto, sempre fui assim, desde os 17 anos que uso
batom vermelho. Até nos dias de luto. Gosto de pensar
em mim como aquela mulher que conquistou o batom
vermelho. Para mim, continua a significar que estamos
na luta, aconteça o que acontecer.

Qual é a diferença entre entrevistar alguém na rádio ou
na televisão? A rádio ainda continua mais misteriosa?
Isso está em vias de se perder, porque agora até se insiste
cada vez mais em gravar as entrevistas de rádio… Eu
detesto isso. A ideia da rádio é dar lugar à fantasia, cons-
truir o cenário que queremos, dar-nos a possibilidade de
imaginar. Agora querem escancarar tudo… Para mim,
a ideia de rádio é de casa, de aconchego, é liberdade,
televisão é exposição e opressão. Eu estou ali para ouvir.
Ainda faz sentido ser feminista?
Para mim, começou a fazer cada vez mais sentido. Há
uns tempos eu dizia aquelas coisas disparatadas do tipo
‘sou feminina, não sou feminista’. Mas é possível ser as
duas coisas, e ainda há tanto para fazer! Então se nós
nem sequer somos capazes de falar de período, de mens-
truação, de menopausa, de maridos violentos, de colegas
machistas, de patrões misóginos, como é que podemos
não ser feministas?

Qual dos seus entrevistados mais a surpreendeu?

Por exemplo, gostei muito de entrevistar a Maria Rueff.

74 FEVEREIRO 2024
Estávamos na pandemia e a forma como ela se expôs em
relação ao amor para mim foi arrepiante. E nem sequer
estávamos frente a frente. Mas ainda há pouco tempo
entrevistei o Daniel Sampaio e adorei ouvi-lo sobre aquilo
que corrói e desgasta o amor, a importância de não tra-
zermos para a vida do casal aquela conversa banal do dia
a dia, com demasiados pormenores. Não devemos contar
tudo à pessoa com quem estamos.
Não?
Claro que não. A rotina corrói, como o processo de erosão
do mar. As pessoas vão-se habituando – uma palavra
terrível – perdem o brilho, deixam de ver o outro, não há
lugar para a surpresa. De facto há coisas que não deve-
mos contar, porque antes de sermos um casal somos uma
pessoa, e algumas coisas não se devem oferecer ao outro.
Ama-se de maneira diferente aos 30 e aos 50?
Na verdade acho que depende mais da pessoa do que da
idade. E eu fui sempre bastante intensa naquilo que gostei
das pessoas. Mas é como o batom vermelho, ou se está na
luta ou não se está. E eu sempre estive quando era amor.
Não acredito nada em amores fáceis. Temos de lutar por
eles. Há quem diga ‘ah, se era amor à partida, já estava
tudo bastante simplificado’. Não. Temos de voltar para
trás muitas vezes. E nós mudamos, não consoante a idade
mas consoante a pessoa com quem estamos. Claro que o
Tozé aos 72 anos já não quer sair para dançar toda a noite
como eu fazia aos 30 com o pai da minha filha. Mas tem
de haver espaço para tudo. Da mesma forma que já não
me apeteceria ser mãe nesta idade, apesar de ter pena de
não ter tido mais filhos.
Como é que conheceu o Tozé?
Em 2017, quando fomos ambos jurados do Festival da
Canção (sim, aquele em que finalmente ganhámos). Apesar
de eu ser da rádio e ele ser da indústria discográfica, eu
nunca o tinha visto ao vivo. Fomos para o ensaio normal
e ok, ele era o Tozé Brito, mas eu estava fascinada
FEVEREIRO 2024 75
 ENTREVISTA
com a Gabriela Schaff, que era o meu ídolo (risos) e não
lhe liguei nenhuma. Quando fui à primeira eliminató-
ria, de noite, vesti um smoking e lembro-me que o Tozé
olhou para mim com curiosidade. Foi a primeira faísca.
Trocámos números de telefone com as pessoas do painel,
mas só eu, o Tozé e o Ramón Galarza é que voltámos a
ser chamados para júri do festival. Então passei a privar
imenso com eles e passámos a ir jantar fora os três. E
depois passámos a dois.
O que é que dão um ao outro?
Acho que nos estimulamos mutuamente. O Tozé é muito
bom conselheiro e eu tento sempre espicaçá-lo para a
novidade. Por um lado ele dá-me uma certa calma e
equilíbrio, porque eu sou de ficar rapidamente com suor
no buço (risos) e ele ensinou-me a refrear esse meu lado
epidérmico. O Tozé tem aquele sorriso até aos olhos e
não responde imediatamente. Temos essa boa fórmula
76 FEVEREIRO 2024
de conversarmos imenso ao jantar, e portanto há três
gerações a coabitar nesta casa.
Essa diferença de idades não vos assustou?
Deve ter assustado a cada um, mas lá está, se era amor,
tínhamos de o viver.
O amor passa por cima de tudo?
Somos nós a atuar por ele. O amor é uma palavra vazia
sem pessoas que o habitem.
'Máquina de escrever sentimentos' acompanha os últimos
dias que passou com a sua mãe e o crescimento da sua
filha como ilustradora. Escrever ajudou-a a fazer o luto?
Como escrevo todas as semanas para o podcast ‘O co-
ração ainda bate’, fui como que obrigada a fazer terapia
através da escrita. Andava tudo à volta da minha mãe,
das viagens que fazia, das recordações. É como se as pa-
lavras ganhassem forma e dessem forma à dor. Escrever
é como dar corpo ao monstro. Se tiver corpo, há maneira
de o combater.
 “Fui sempre muito discreta,
mas agora sinto a urgência
Maquilhagem: Mariana Palaio
O que mudou em si depois de a sua mãe morrer?
Passei a apreciar mais as coisas que ela amava, as plantas,
as flores, os bichos. Passei o verão na casa dela sem querer
mais nada a não ser estar ali, a apreciar as coisas simples,
por mais cliché que isto seja. Viver na simplicidade e na
beleza só está ao alcance de alguns porque só alguns é
que a querem ver. Há imensa gente que passa por cima,
não quer ver.
E a sua filha, o que é que lhe ensinou?
Ela tem um enorme bom-senso, é muito cautelosa e prag-
mática na gestão dos sentimentos, e ao mesmo tempo
mantém uma sensibilidade que não foi destruída por esse
pragmatismo. Muitas vezes uma coisa destrói a outra.
Eu sou menos pragmática e mais levada pelas emoções.
Diz a certa altura “o que perdemos como invencíveis
ganhamos em vulnerabilidade”...
Sim. A minha força é a vulnerabilidade. Permite-me sentir
sempre. O que é que ganhamos com isso? Verdade, por
exemplo. É engraçado que eu não gosto de ouvir as con-
de não o ser nas
minhas posições.”
versas que tive porque elas condensam um momento de
verdade, e voltar a ouvi-las é como retirar-lhes essa verda-
de. Mas a vulnerabilidade dá-nos essa possibilidade de ali
estarmos inteiras, mesmo enquanto nos desmoronamos.
Escreveu “A Amy Winehouse foi a primeira
desconhecida que me partiu o coração”.
Quem são as outras mulheres que admira?
Sou absolutamente fanática pela Amália, como se pode
ver em todos os retratos que tenho dela, por tudo o que
ela foi. E sou-o mesmo depois de ouvir imensas coisas
negativas que têm sido ditas sobre ela. Com tudo isso que
sei dela hoje, a Amália foi uma diva, e não posso deixar de
a admirar com tudo o que isso implica de bom e de mau.
Outra mulher que adoro é a Sade Adu. Simboliza para
mim o que é ser elegante e discreta e saber retirar-se na
altura certa sem que isso fosse um problema. Há poucas
pessoas que conseguem fazer isso. Aliás, admiro imenso
as mulheres da música porque eram guerreiras, e para
singrarem (odeio esta palavra) num mundo machista e
misógino muitas vezes tinham de se mostrar de determi-
nada forma para se tornarem apelativas.
Já ‘desamigou’ alguém por causa de uma piada sexista
ou racista?
Claro que sim. No meu livro ‘Amores impossíveis’ tenho
aquela piada do ‘Era homofóbico e desamigay’… (risos)
Nós não podemos dar voz a estas pessoas. Mas acho que
ainda vai demorar algum tempo até entrarmos outra vez
na época das trevas.
No livro diz, a certa altura, “Gosto de lutar
pela igualdade de todos de maneira igual.”
Isso continua importante para si?
Hoje mais do que nunca. É cada vez mais importante
sobretudo ter uma voz, verbalizar o que pensamos. Fui
sempre muito discreta, mas agora sinto a urgência de
não o ser nas minhas posições. Outro dia, num daqueles
inquéritos tipo 'ping-pong', perguntaram-me ‘direita ou
esquerda’? E eu respondi ‘esquerda’ e dei-me conta de que
provavelmente nunca o tinha dito, apesar de as minhas
posições serem conhecidas. É importante dizê-lo. É im-
portante não ter medo.
Qual é a sua palavra preferida?
Liberdade.
FEVEREIRO 2024 77
 VIAGENS

Buenos Aires
ARGENTINA

"O QUE
MAIS ME
MARCA
NAS
VIAGENS
SÃO AS
PESSOAS
COM Catarina
Cabrera
QUE ME Aos 24 anos já percorreu meio mundo
CRUZO" sozinha. Na véspera de partir para a
Austrália, onde vai ficar pelo menos um
ano, Catarina Cabrera falou-nos de viagens

“A
minha primeira grande via-
gem sozinha foi há 5 anos,
em 2019, quando vivi na
China, através de um intercâmbio de
estudantes (estudei Gestão de Marke-
ting). Antes de regressar a Portugal
quis aproveitar para conhecer alguns
países à volta – Indonésia, Filipinas,
Tailândia... Fiz de tudo para arranjar
e conquistas mas também do medo, que
supera cada vez que parte à aventura.
Texto CÍNTIA SAKELLARIDES
importante, falar com pessoas que já
lá estiveram, acabas por desenvolver
‘calma, eu estou sozinha, posso fazer um grande sentido de alerta, aprendes
FOTOS: INSTAGRAM/DR

companhia, mas não consegui. Tinha
19 anos e muito medo de me aventu-
rar por minha conta, mas a alterna-
tiva era voltar mais cedo, e não fazia
sentido. Assim, fui ‘obrigada’ a ir.
O melhor de estares sozinha, além de
saíres da tua zona de conforto, é que
ficas a conhecer-te a ti mesmo, é uma
introspeção gigante. E depois pensas,
o que eu quiser, não tenho de dar
satisfações a ninguém, se gostar fico,
se não, vou-me embora’.”
PROTOCOLO DE SEGURANÇA
“Infelizmente, ser mulher no mundo
ainda é um perigo, há sítios piores
que outros. Recolher o máximo de
informação sobre o destino é muito
a acreditar no teu instinto, a perceber
o que se está a passar à tua volta. É
importante pesquisar quais são as pio-
res zonas e evitá-las, há riscos que não
compensam.
Obviamente que há histórias muito
más para contar, mas a maioria são
muito boas. Nunca tive um problema
gravíssimo, claro que te objetificam,

78 FEVEREIRO 2024
Hong Kong
CHINA

Parque Nacional Vulcão Tenorio

COSTA RICA

Railay Beach
TAILÂNDIA

Bangkok
TAILÂNDIA

muito mais sendo

mulher, branca de
olhos azuis – em
certos países é um
fenómeno. Só por
Arequipa Bocas del Toro seres mulher, ganhas
PERU PANAMÁ
outra visibilidade.
Há milhares de mu-
lheres que viajam so-
zinhas – também há muitos homens,
mas acho que conheço mais mulheres
Deserto de Sechura do que homens a viajar desta forma.
PERU
Tenho encontrado muitos israeli-
tas, muitos americanos, europeus
– muitos alemães. Nunca encontro
portugueses. Sou sempre a primeira
portuguesa que conhecem.
Adapto muito o meu comportamento
ao país onde estou. Hoje, por exem-
plo, há aqueles AirTags que se me-
tem nas mochilas e que indicam a
localização via bluetooth, ando com a
localização do telefone sempre ligada,
envio-a para os meus pais e amigos,
para eles saberem onde estou a cada
momento.
Os meus pais já passaram por muito,
sendo a filha mais velha, a primeira a
Machu Picchu fazer isto, ficam sempre muito preo-
PERU
cupados quando vou de viagem.

FEVEREIRO 2024 79
 VIAGENS
Agora já estão mais habituados, mas
ao início ficavam sem dormir.”
FRONTEIRAS FECHADAS
“Depois do meu regresso a Lisboa
ainda voltei à Ásia para ficar uns
meses no Vietname. Durante muito
tempo não consegui viajar, por causa
da covid.
Desde os meus 15, 16 anos que faço
os meus trabalhinhos – fui hospedeira
e trabalhei em cafés – para ter a mi-
nha independência e pagar as minhas
viagens. Quando estou nestas viagens
sou muito de poupar. Mas também
há a opção de fazer voluntariado, há
muitos hostels que te dão alojamento
e alimentação em troca de algumas
horas de trabalho por dia. Há pla-
taformas como o Worldpackers, o
Workaway...”
SUPERAR O MEDO
“O ano passado decidi fazer a Améri-
ca Central e do Sul – fui em meados
de agosto e regressei no final de no-
vembro. De Lisboa fui para a Costa
Rica e fiz três semanas na Costa Rica
e uma no Panamá, sozinha. Há qua-
tro anos que já não fazia uma grande
viagem sozinha, estava com muito
medo, chorei muito antes de ir. Mas
assim que cheguei ao meu primeiro
destino, o medo desapareceu, fiquei
em paz.
Mais uma vez pesquisei muito, senti
que a Costa Rica era um país mui-
to seguro, bom para eu começar e
ganhar confiança. Nunca me senti
em perigo. Não fui para as cidades,
disseram-me que a capital era muito
perigosa, era um risco desnecessário.
Sempre que conhecia pessoas diziam-
-me os sítios que eram bons para eu ir
sozinha. Quando lá cheguei, só tinha
a primeira noite num hostel marcada,
depois estive sempre a mudar a rota
da minha viagem.
Queria muito ir à Colômbia, era o
país que mais queria fazer, mas tinha
medo de ir sozinha. Decidi recorrer
ao meu Instagram para perceber se
havia alguém que quisesse ir comigo.
Fiz um story e recebi imensas mensa-
gens de miúdas da minha idade que
queriam viajar mas que, pelas mais
80 FEVEREIRO 2024
variadas razões, não tinham compa-
nhia. E consegui fazer um grupinho.”
BEM ACOMPANHADA
“Tinha algum medo, ia viajar com Ollagüe
CHILE
4 desconhecidas, que também não se
conheciam entre si, e a mim só me
conheciam do Instagram. Eram todas
portuguesas – da Mealhada, Leiria,
Lisboa e Alenquer. A nossa viagem
começou no Peru – ali ainda éramos
só duas. Fizemos Peru e na Bolívia
encontrámo-nos com as outras três.
Descemos para o Chile, Argentina e
Brasil. Demo-nos superbem, foi uma
ótima surpresa.
A Costa Rica foi muito marcante
porque fui sozinha, a primeira vez
em muito tempo. Gostei muito do
país – apesar de ser muito caro. Foi
onde estive mais com os locais, com as
comunidades, mais no
desenrasca-te. Quando
La Paz
viajamos sozinhos, fi- BOLÍVIA
Salar de Uyuni
BOLÍVIA
camos muito mais dis-
poníveis para conviver.
O que mais me mar-
ca nas viagens são as
pessoas com quem me
cruzo, pessoas de todo
o mundo. Fiz muitos
amigos, que espero
voltar a ver.”
LIÇÕES DE
VIAJANTE
“O que é que teria fei-
to diferente? Teria le-
vado menos coisas na
mochila. Aprendemos La Paz
BOLÍVIA
a desapegar-nos das
coisas materiais, sempre que muda-
va de país deixava um saco de roupa
para trás, que dava às pessoas. Andei
sempre de chinelos, de ténis quando
precisava. Até porque a mochila fica
mais leve e é mais fácil de transportar.
Teria também investido mais nos
hostels. Muitos foram indicados por
pessoas que ia conhecendo, mas muitos
também encontrei no Booking e do
Hostelworld, via sempre os comentá-
rios. Quando viajas sozinha, tens de
ter certas coisas em conta.
Há muitos hostels que são bons mas
que para quem está a viajar sozinho
não têm aquele ambiente que te permi-
te conhecer outras pessoas, são muito
solitários.
 Glaciar Perito Moreno
ARGENTINA Para as refeições, ia muitas vezes aos
supermercados, nos hostels há sempre
uma cozinha e um frigorífico comum.
Tentei encontrar um equilíbrio: não
ia estar sempre a cozinhar, nem a co-
mer sandes de queijo, havia alguma
margem para ir comer fora, até para
experimentar os pratos típicos de ca-
da país – que não tivessem carne ou
peixe. Gostei mesmo muito do casado
da Costa Rica, do arroz com feijão,
das bananas fritas ou cozidas…”

O SONHO AUSTRALIANO
“A Austrália, desde miúda que pensei
que gostava de ir para lá. Já tinha
tentado fazer lá Erasmus durante o
mestrado, mas acabei por ir antes pa-
Patagónia ra Roma por causa da covid. Então
CHILE
decidi ir agora, vou tirar este ano só
para viajar e trabalhar. Candidatei-
-me ao visto Work and Holiday – de
Deserto de Atacama um ano, extensível até três –, que me
CHILE
Ilha Grande permite viajar e trabalhar. Se, por
BRASIL
exemplo, arranjar trabalho numa mi-
na, trabalho duas semanas e tenho
uma semana de folga. E ganha-se
bom dinheiro. Não tenho nada, vou
lá chegar e logo se vê. Está lá uma
pessoa conhecida que me dá casa
nas duas primeiras noites. Vou para
a Gold Coast e depois para Byron
Bay, logo ali ao lado, depois da ápoca
alta, porque lá é verão.
Não é difícil conseguir este visto. É
necessário ter menos de 30 anos, uma
licenciatura, o certificado de inglês
IELTS (que custa cerca de 200 eu-
ros) e 5 mil dólares australianos na
conta (por volta de 3 mil euros). O
Gold Coast visto demora de uma semana a um
AUSTRÁLIA
mês a sair, e é tudo tratado online, há
mesmo um site para o efeito. O visto
custa 390 euros.
Desta vez, não vou com tanto medo.
Mas vai ser uma experiência diferen-
te. Se eu fosse só viajar, iria conhecer
mais gente, ficaria em hostels, num
Rio de Janeiro
BRASIL ambiente mais turístico. Assim, vou
para lá viver, tenho de arranjar casa,
trabalho...
Depois disto tudo, acabei por não ir à
Colômbia – hei de lá ir, tenho tempo.
Também sonho em fazer África – só
fiz São Tomé e Marrocos –, Índia
(não sozinha!) e Sri Lanka.”

FEVEREIRO 2024 81
 VIAGENS

Viagem ao
FUTURO
O Dubai é um dos destinos turísticos
mais pacíficos, mais acolhedores e mais
criativos do mundo. Fomos à cidade
onde o futuro é já agora.
Texto CATARINA FONSECA

B
Não perca o pôr do sol no The View,
um observatório de vidro com vista estonteante
para a cidade e a baía.

Bem-vindos ao país mais confiante do mundo: tudo aqui
é em grande. Em muito grande. Em mesmo muitíssimo
enorme (ou alto, ou caro, ou lindo, ou original). Aqui não
há números 2, dizem-me. Só 1s. Faz parte do orgulho na-
cional. Afinal, esta foi a gente que fez nascer uma cidade
onde só havia deserto. Aliás, que a arrancou a ferros (e
vidro) da areia. E que cidade!
Toda a gente já viu fotografias, ah e tal os arranha-céus.
Mas nada nos prepara para o que nos espera. Não só é
tudo enorme como cada arranha-céus é diferente, e são
todos belíssimos. Quando chegamos, parece que desem-
barcámos não de um avião mas de uma máquina do
tempo calibrada para o futuro. Não há ninguém que não
admire esta paisagem, mesmo que se saiba que na sua
maioria não foram os dubaienses que a construíram mas
uma imensa mão de obra imigrante, sobretudo indianos
e paquistaneses.
A cidade nem sempre foi assim, aliás, tudo isto não parece
apenas recente: é mesmo recente, e muito ainda está em
construção. Aprendemos isso e muito mais na nossa pri-
meira paragem, precisamente na parte velha da cidade
(ou seja, antes da descoberta de petróleo, em 1966), a área
dos souks e o Gold District, onde as Mil e Uma Noites se
desdobram em tesouros de ouro estendido à nossa frente. O
Museu Al Shindgah é uma boa primeira paragem, porque
nos conta muito do que é o Dubai: de agora e de antes.
A maior das 7 cidades dos Emirados Árabes Unidos (um
conjunto de monarquias absolutas e hereditárias), o Dubai

82 FEVEREIRO 2024
A originalidade do Museu do Futuro começa
no espantoso edifício circular. Lá dentro,
entramos num simulador de nave espacial
que nos deixa num planeta longínquo
daqui a 50 anos.

Visto de cima parece uma palmeira…

e é mesmo. Palm Jumeirah é uma ilha
artificial e um milagre de engenharia
em forma de palmeira. era dantes uma pequena povoação à beira de um riacho
e a sua maior riqueza eram as pérolas (ainda hoje muitas
pessoas põem às filhas nomes que significam ‘pérola’,
como Hessa ou Dana). Depois o Japão entrou no mercado
FOTOS: DUBAI ECONOMY AND TOURISM E DR

das pérolas sintéticas e rebentou a Primeira Guerra, e a

cidade passou por um mau bocado.
Mais tarde, o Dubai tornou-se um porto importante e
a descoberta do petróleo veio mudar o seu destino. Mas
o responsável pela visão da cidade moderna foi o Sheik
Rashid (pai do atual Sheik Mohammed), que transformou
o Dubai na cidade do futuro que é hoje e que foi um dos
fundadores dos Emirados Árabes, em 1971, quando se
tornaram independentes de Inglaterra. Hoje, o petróleo, o
turismo e o comércio são os três pilares da sua riqueza.

FEVEREIRO 2024 83
 VIAGENS

DAS TINDER MOMS ÀS CHÁVENAS DE CAFÉ

Nem todas as mulheres que andam na rua vestem a Abaya
(túnica feminina) assim como nem todos os homens vestem
a Kandora (túnica masculina), até porque 80% da popula-
ção é estrangeira. Mas a maioria das mulheres dubaienses
usam-na, por tradição. Assim nos explica Shaíma, que nos
recebe no CMCUU - Sheikh Mohammed bin Rashid Al
Maktoum Centre for Cultural Understanding.
Ficamos a saber que as mulheres têm liberdade para es-
tudar o que quiserem, como Shaíma, que se formou em
Engenharia. Aliás, a educação é de graça para homens
e mulheres (só dubaienses) até ao mestrado. As mulheres
trabalham mas muitas ficam em casa (a casa também
é dada pelo Sheik, ou então terra onde a construir). Há
casamentos arranjados, mas há quem diga que não é a
coisa dramática que pensamos. “Funciona
como uma espécie de Tinder Mom”, ri Shaí-
ma. Ela própria se casou assim. O homem
encarrega a mãe de lhe procurar uma noiva
compatível, e os dois encontram-se: mas po-
dem recusar-se mutuamente. Também há
casamentos por amor, mas mesmo assim o
noivo tem sempre de ir a casa da família da
noiva pedir permissão. Além disso, tem de
pagar um dote, o casamento e os anéis. Não
se namora publicamente e ter sexo fora do
casamento não é permitido. Divórcio existe
cada vez mais, mas continua complicado.
Já agora que nos serviram café, uma curiosi-
dade: o café é apresentado no Dubai a meio
da chávena. Explicação: como as chávenas
não têm pega, isso faz com que ninguém
queime os dedos. Tradicionalmente, quem
servia o café era surdo (para não ouvir os
segredos das reuniões), daí que ainda hoje
os dubaienses comuniquem por gestos a Vamos voar sobre o abismo? Para uma
experiência radical não perca a Sky Edge
quem lhes está a servir o café (já não uma Walk, mas mesmo os mais sossegados podem
pessoa surda, mas hoje em dia a pessoa deslizar no escorrega transparente.
mais nova da família). Serve-se geralmen-
te o próprio género: um homem serve os
homens, uma mulher, as mulheres. Palm. Como também adivinharíamos, a ilha é absoluta-
mente artificial. Com 11 quilómetros de comprimento, ali
O PAÍS DO LUXO vivem milionários de 70 países diferentes. Estranhamente,
Ok, vamos lá então a um dos mais famosos ex-líbris: o levou apenas 6 anos a construir, entre 2001 e 2007.
Burj (Torre) Khalifa, o maior edifício do mundo, com Ao lado do Atlantis The Palm fica outro Atlantis, The
os seus 828 metros e 163 andares. Entramos no elevador Royal, igualmente luxuoso. É famoso, entre outras coisas,
(que é – como podem imaginar – o elevador mais rápido pelas enormes fontes que cospem fogo, pelos 17 restau-
do mundo) que nos leva ao andar 124 (não se pode subir rantes e pelas suítes com piscinas infinitas (aquela onde
mais). Daqui se tem uma vista de cortar a respiração, mas ficou Beyoncé, por exemplo, custa 100 mil dólares por
curiosamente, mesmo para uma pessoa com vertigens noite e é – nem vale a pena dizê-lo – a suíte mais cara
como eu, não é uma experiência angustiante. do mundo). Mas se nem todos somos a Beyoncé, todos
Outra experiência inesquecível é o pôr do sol no The View, podemos ir a uma das muitas praias públicas. E valem
um observatório de vidro com uma vista estonteante para mesmo a pena: são o paraíso. Se o paraíso é verdadeiro
a cidade, a baía e Palm Jumeirah, uma ilha em forma de ou artificial, aqui aprendemos depressa que não vale a
palmeira, com casas de luxo, hotéis, praias, clubes, spas, e pena fazer essa pergunta.
piscinas infinitas, construídos em cada um dos seus ramos Ainda vamos a sacudir a areia quando entramos num
e acabando em grande no luxuosíssimo Hotel Atlantis The dos sítios mais representativos do Dubai atual: a escola

84 FEVEREIRO 2024

Passe uma tarde ou uma manhã na praia e aproveite
a água quente e a areia fina. Esta tem vista para
o Palm Atlantis, um dos hotéis de luxo mais famosos
do mundo, situado no fim da Palm Jumeirah.
de moda FAD, no Design District. O Dubai é atualmente
conhecido como a capital da moda no mundo árabe, e faz
sentido. Afinal, é aqui que estão algumas das principais
marcas mundiais. Mas percebemos depressa o segredo do
sucesso desta escola: a sua ligação à indústria. Quem sai
da FAD tem de certeza emprego garantido.
UM HOSPITAL PARA CAMELOS
Mas para quem gosta de natureza mesmo natureza, nada
mais natural que o deserto. E ele está mesmo aqui. Afi-
nal, era assim o Dubai dantes: areia. “Tirem os sapatos”,
aconselha o nosso guia, Abdul. “Sintam a energia.” De
jipe é uma viagem curta desde a cidade. Aliás, durante
o inverno um dos passatempos preferidos de quem vive
no Dubai é vir para o deserto, onde fazem barbecues,
convivem, passam a noite. Por que é que não vêm no ve-
rão? Pois. É que aqui está calor. Muito calor. Muito, mas
O Miracle Garden (em baixo) é o maior
jardim de flores naturais do mundo, e além
de várias personagens infantis até tem um
avião da Emirates, em tamanho normal,
todo feito de flores.
muito mas muito calor. Incrivelmente, não é o
país mais quente do mundo (isto foi uma graça)
mas deve estar lá perto. Conselho: tragam um
casaquinho. Não, não é porque à noite esfria. À
noite esfria aí para 28 graus. O casaquinho vai
ser-vos muito útil em todos os espaços fechados,
que estão gelados com ar condicionado.
A caminho do deserto, Abdul vai contando
mais coisas. Então, olhem para as matrículas
dos carros. Quantos números têm? Cinco. Mas
de vez em quando passa um com quatro e houve
quem tivesse visto um com dois. Explicação:
quanto menos números tiver uma matrícula,
mais status. Então há quem pague 13 milhões
de dólares por uma matrícula personalizada.
O dinheiro arrecadado vai, dizem-nos, para
instituições de caridade.
Há dois animais venerados no Dubai: o falcão e o ca-
melo. Atualmente servem quase como decoração mas
noutros tempos eram essenciais aos homens: o falcão era
um valiosíssimo ajudante de caça. Hoje são criados como
desporto e até têm passaporte. Quando os falcões viajam
vão em primeira classe (para proteger as penas). Nos tem-
pos em que não se andava de Bentley com matrículas
personalizadas, o camelo era meio de transporte, carga
e alimentação (comia-se muita carne e leite de camelo).
Hoje, o desporto nacional não é o futebol nem o râguebi,
mas as corridas de camelos, e não é de admirar que sejam
tratados como reis. Aliás, passamos por uma tabuleta que
indica ‘Camels Hospital’: um hospital só para camelos
(também há um para falcões).
Chegamos a uma espécie de oásis onde se recria a tradicio-
nal hospitalidade do Dubai, com tendas, muita comida
FEVEREIRO 2024 85
 UM PAÍS HOSPITALEIRO
VIAGENS

Onde ficar: Sugerimos o Grand Plaza Mövenpick

Media City: com 5 restaurantes, bar, ginásio
e piscina exterior, tem um serviço impecável, as
camas mais confortáveis do mundo e um pequeno
almoço gigantesco. Desde €129 por noite.
Onde comer: Alguns sítios que valem a pena:
AVATARA – 1 estrela Michelin é pouco para uma
experiência que junta beleza, originalidade
e sabor. São 16 pratos vegetarianos um a seguir
ao outro, cada um mais bonito que o anterior.
Nunca mais se vai esquecer desta refeição.
IKIGAI – Um dos restaurantes orientais
mais famosos pela diversidade de pratos,
preços acessíveis e staff simpático,
até tem truques de magia à mesa.
CMCUU – Sheikh Mohammed bin Rashid Al
Maktoum Centre for Cultural Understanding,
serve um almoço de príncipes árabes.

presos por cabos e roldanas, mas

Sítio para comer é o que não falta no Dubai,
onde a noção de receber bem, como eles
próprios afirmam, é encher o hóspede
de comida até ele rebentar.
(estou viciada em sumo de melancia, não sei como é que
vou sobreviver em Lisboa), danças tradicionais, tatuagens
de henna, shisha e pequenos passeios de camelo. Fun
facts sobre camelos: têm pestanas que eu matava para ter.
São na verdade dromedários, porque só têm uma bossa.
Podem resistir durante 21 dias sem água nem comida. E
têm muito boa memória: se bater a uma mãe em frente
da cria, anos depois a cria vai lembrar-se da sua cara e
do seu cheiro. Pense nisto da próxima vez que estiver em
frente de um camelo bebé.
VER O MUNDO LÁ DE CIMA
Andava a temer este dia desde que cheguei. Alguma vez
arriscaram a vida pelo vosso posto de trabalho? Pois esta
vossa amiga foi o que fez. Enfim: na verdade não arris-
quei nada, toda a gente vai presa até aos cabelos, mas
deixem-me pensar desta maneira heróica.
Cá estamos nós no Address Sky View, com os seus 61
andares. Viemos ver outra vista? Não. Enfim, sim. Sim
mas – como se costuma dizer – para ver o Dubai como
nunca o vimos: pendurados por cima do abismo. A expe-
riência chama-se Sky Edge Walk, e é isso mesmo: vamos
mesmo assim saímos para o para-
peito a 220 metros do chão. É muito
metro. Se me passou pela cabeça
desistir? Não passou outra coisa.
Mas depois lembro-me que isto vai
ser escrito na primeira pessoa. Que
é que vou dizer? Olhem cheguei lá
acima e acobardei-me?
Bem, lá saio para o parapeito, agar-
rada ao cabo como à vida. Que é
que é para fazer agora? Ah, ver a
vista. Ai que giro. Se calhar era
melhor não olhar. É que estamos
mesmo alto. Nível 1: agora cami-
nhar pelo parapeito. Ok, feito. Nível
2, diz o instrutor. Vire-se de costas.
De costas para onde? Para o precipício, of course. Ó raios.
Viro-me rezando a todos os santinhos. Agora incline-se
para trás… mais para trás... e largue a corda. Estenda
os braços. Ó raios. Queridas leitoras, fiz isto por vocês,
ok? Espero que fique registado. ‘Smile, madame!’ grita o
fotógrafo. Isto já me parece demais. Bem, nível 3: agora
balance-se por cima do precipício. Ahhhhhhhhhhh! Vou
morrer aqui, longe da família e dos amigos. Agarro-me
à corda, atiro-me muuuuuuuito devagariiiiiinho. Ufa!
Pronto, já balancei. Ah, e ainda têm o escorrega de vidro.
Mas para quem sobreviveu a um precipício, atirar-se por
um escorrega transparente não é nada.
O que é que me falta? O Museu do Futuro! Claro que
para mim toda esta experiência já foi um Museu do Fu-
turo, mas há mesmo um verdadeiro, e não deixem de ir,
porque é inesquecível.
Conclusão: foi das viagens mais interessantes (e mais ines-
peradas) que fiz. Encontrei um país com um entusiasmo
e adrenalina contagiantes. Talvez nos possamos inspirar
nos seus falcões para tornar a nossa vida mais certeira e
sonhadora. Se calhar não podemos todos ser números 1,
mas podemos chegar cada vez mais alto.

86 FEVEREIRO 2024
 A SUA ESCOLHA
É O NOSSO
MELHOR PRÉMIO

A Trust in News foi distinguida em 2024

com 5 das suas publicações.

OBRIGADO AOS NOSSOS LEITORES

 ENTREVISTA

AS PESSOAS
TÊM DE SE
TRATAR COM
AMABILIDADE
E GENTILEZA
DANIEL SAMPAIO

É um dos psiquiatras portugueses mais conhecidos.

Apaixonado pela escrita – autor de quase 30 obras sobre
adolescência, parentalidade, intimidade e terapia familiar,
e até um relato sobre a sua experiência como doente grave de covid
–, lançou agora mais um livro, que fala sobre o amor de uma forma
inovadora, que nos vai fazer pensar.
Texto GISELA HENRIQUES Fotos JOÃO LIMA

88 FEVEREIRO 2024
FEVEREIRO 2024 89
 ENTREVISTA
O
psiquiatra Daniel Sampaio recebe-nos no
escritório de sua casa. Uma divisão em que
facilmente o imaginamos a ouvir as centenas
de CD que estão dispostos – por ordem alfa-
bética, revela-nos – num móvel feito à medida, a escrever
ou ler as centenas de livros nas prateleiras que forram as
paredes deste ‘refúgio’. Junto à janela, o quadro que um
dos netos, cenógrafo, lhe ofereceu e que junta pintura e
fotografias da família. Depois da sessão fotográfica, sen-
tamo-nos para falar e a sua voz, tão distinta e facilmente
identificável, desacelera-nos com a calma tão característica.
Um, dois, três, gravar…
O que o levou a escrever um livro sobre amor que é, ao
mesmo tempo, ficção mas que também é pedagógico?
Decidi escrever sobre este tema porque fui fundador da
Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, acompanho
casais há muitos anos e verifico que há uma grande insta-
bilidade na relação conjugal – falamos agora do homem
e da mulher, que é mais frequente e a que é abordada no
livro. Temos uma taxa altíssima de divórcios, há muitas
pessoas que têm dificuldade em manter o
seu relacionamento amoroso. E, portanto,
resolvi refletir sobre isso e pensei em pôr
uma parte teórica, porque sou psiquiatra.
A parte pedagógica, digamos assim, tem
a ver com a teoria da vinculação, é muito
interessante e achei que era importante
escrevê-la para o grande público.
A história ficcionada é a de João e Luísa,
casados há 50 anos, em que ambos têm
casos extraconjugais, e depois descreve
também casos de relações mais curtas
em conflito...
Quis escrever a história de uma relação PARA TÃO CURTOS
AMORES, TÃO LONGA
que tem início nos anos 70 até às suas Bo- VIDA Daniel Sampaio
das de Ouro. O objetivo é passar a mensa-
gem que numa relação longeva é inevitável
que haja várias crises, que as coisas não estão sempre
bem, e que, em muitos casos, é possível ultrapassá-las. A
minha ideia é que há muitos divórcios que são evitáveis
se as pessoas conseguirem falar sobre os problemas e,
eventualmente, pedir ajuda.
As pessoas confundem a paixão com amor?
Sim! É difícil explicar a paixão. Há razões de ordem bio-
química, de personalidade de cada um, as circunstâncias
da vida, que nos faz ficar atraídos por uma pessoa, mas essa
fase é de curta duração. O que se passa é que, a partir daí,
se a pessoa quiser continuar com o seu par romântico tem
de construir uma relação, que é o amor. O amor é uma
construção. Nós não ficamos amorosos por uma pessoa,
ficamos apaixonados e depois conseguimos criar uma
relação que é sobretudo baseada no património comum.
90 FEVEREIRO 2024
No livro, João e Luísa viveram juntos o 25 de Abril, o
1.º de Maio, a candidatura presidencial, o nascimento
do primeiro filho, a ida do primeiro filho para a escola,
tiveram a sua vida profissional, durante a qual surge a
grande crise, depois o aparecimento dos netos… uma
longa vida em que continuaram juntos porque souberam
construir uma relação e ultrapassar a crise.
Na sua experiência como terapeuta,
o que é mais corrosivo numa relação a dois?
A maneira como as pessoas se tratam. É uma coisa muito
simples, mas temos de passar essa mensagem. As pessoas
têm que se tratar com amabilidade e gentileza. Numa
relação conjugal é normal haver divergências, discordân-
cias, discussões, mas é muito importante assinalarmos as
divergências de uma forma gentil, tranquila, num tom
de voz que não é gritado. Há muitos casais que fazem
do combate a razão da sua existência,
porque andam numa lógica que um tem
de ganhar. Numa discussão em casal,
não há vencedores nem vencidos.
O que o casal deve fazer é conversar,
analisar bem porque está junto. Não
se separar à primeira crise, ver se con-
seguem mudar o seu relacionamento
para melhor. É muito importante não
deixar escalar a zanga, aquilo a que nós
chamamos mesmo escalada simétrica,
em que um grita e o outro grita, em
que um insulta e o outro insulta. Isso
é muito frequente agora e começa logo
no namoro adolescente.
Falou há pouco na teoria
da vinculação, o que é?
Numa relação que se pretende estável, o par romântico
funciona como segurança psicológica um do outro. A
teoria da vinculação, de uma forma muito simples, diz-nos
que o bebé liga-se aos pais à procura de segurança. Esta
teoria foi criada por John Mostyn Bowlby nos anos 60 e
nos anos 90 começou-se a pensar que talvez houvesse algo
semelhante no par romântico, se quando nos ligamos de
uma forma mais duradoura a uma pessoa a segurança psi-
cológica é importante. Verificou-se que sim, há estudos que
dizem que o ingrediente principal que mantém as pessoas
unidas é a segurança psicológica que transmitem uma à
outra. Dito de outra forma, todos nós temos momentos em
que estamos vulneráveis, humilhados, ofendidos, em que
fomos maltratados, incompreendidos. É muito importante
ter uma pessoa ao nosso lado que nos possa escutar e
transmitir conforto e segurança psicológica. Essa é uma
das bases para que a relação se mantenha: poder contar
com o outro. Em muitos casais de hoje, isso não chega a
acontecer porque as relações duram pouco tempo e essa
confiança não se consegue estabelecer.

Essa vinculação, ou a falta dela, é o que nos torna
também pessoas seguras ou inseguras?
É exatamente a mesma coisa. A teoria de vinculação
demonstrou que havia pais que não transmitiam segu-
rança aos filhos, em que o bebé começava a chorar e a
ficar inquieto. Chama-se vinculação insegura. O mesmo
se passa no par romântico. Há pessoas que são muito
ansiosas na relação. Isso verifica-se logo nos primeiros
namoros. São aqueles jovens com 17-18 anos que estão
sempre preocupados com o que o outro está a fazer, são
muito ciumentos, mandam muitas mensagens, sempre a
perguntar 'onde é que estás', 'o que é que estás a fazer?',
muito ansiosos. Depois há as evitantes, ou seja, pessoas
que são mais centradas em si próprias, têm dificuldade
em criar uma vinculação segura, porque estão sempre a
fugir da intimidade e da proximidade. Quer sejamos mais
seguros, mais evitantes ou mais ansiosos, é importante as
pessoas poderem refletir e modificar.
Percebe logo se um casal tem futuro
ou se já não há nada a fazer?
Nós fazemos sempre 3 sessões de ava-
liação. Nunca propomos uma terapia
sem falar 3 vezes com o casal. Se o
casal participar com vontade e comu-
nicar, nós ficamos com uma ideia de
onde é que devemos trabalhar e se há
hipótese de criar um espaço de liberda-
de, o que é importante. Há casais que
estão presos por circunstâncias muito
especiais. Uma vez ajudei um casal,
ela não queria continuar a relação e
ele disse que se ela o deixasse se ma-
tava. Ela ficou completamente presa
a isso, não queria continuar a relação
mas tinha medo que ele se suicidasse
porque era amiga dele. Felizmente não
havia filhos. Quando chegou à con-
sulta, ele disse logo 'não vale a pena
continuarmos, porque aconteça o que
acontecer nestas sessões se ela se sepa-
rar de mim, mato-me'. Evidentemente
foi preciso trabalhar junto dele e dela a
alternativa ao suicídio, depois o casal
separou-se e ele não se suicidou. Ou
seja, ele teve um espaço de alternativa
que não era o suicídio, como ele tinha
pensado no início.
As mulheres e os homens veem o
amor e a paixão da mesma forma?
Não, as mulheres são muito mais
abertas a falar das suas emoções. Os
homens são mais fechados. Há muitas
queixas dos homens do ponto de vista
da relação sexual, as mulheres falam
mais do respeito, da intimidade, da
gentileza, das tarefas domésticas. A
partilha das tarefas domésticas é uma
área que nós temos que trabalhar. Há
muita ideia de que as pessoas se separam por razões com-
plicadas, mas muitas vezes é por causa do dia a dia. O
quotidiano é muito difícil, há pouca amabilidade, pouca
gentileza, muita discussão. Outra questão muito impor-
tante no casamento é a perda do mistério. No início da
relação não se conhece a maneira de ser do outro, o corpo
do outro, portanto, há uma fase de mistério que é muito
importante. Esse mistério depois quebra-se, é inevitável.
É preciso pensar que temos que surpreender a pessoa
que está connosco, não podemos deixar instalar a rotina.
A rotina mata as relações?
Há muitos casais que têm uma vida completamente roti-
neira: casa, trabalho, casa, tomar conta dos filhos… o
FEVEREIRO 2024 91
 ENTREVISTA
espaço do casal desapareceu completamente. Eu trabalho
sempre uma coisa clássica em terapia de casal que é o
‘eu, o tu e o nós’, ou seja, o espaço dele, o espaço dela e
o espaço do casal. Há casais em que o espaço do nós de-
sapareceu, não têm nenhum tempo para si próprios, não
se organizam para estar um com o outro. Não há uma
atividade conjunta, não constroem uma vida em conjunto
sem os filhos. Para o casal sobreviver, tem que gostar de
estar um com o outro e tem de criar esse espaço conjunto.
Os casamentos passam pelas mesmas fases
problemáticas?
A crise do casal do livro é aos 10 anos mas costuma di-
zer-se que é por volta dos 7, o que corresponde já a um
crescimento dos filhos. Quando os filhos são bebés, o casal
está muito focado no bebé. Quando já têm uma certa
autonomia, o casal volta-se para si próprio, interroga-se
92 FEVEREIRO 2024
e muitas vezes pensa que não quer continuar. Há pessoas
que têm pavor de ficarem 50 anos casados.
Tanto homens como mulheres?
Penso que mais homens, eles sexualizam muito a relação.
Aquela ideia da monogamia, de ficar com a mesma mu-
lher toda a vida, para alguns homens novos é um pouco
assustadora. É cultural. Nos anos 50-60-70 era aceite que
o homem pudesse ter uma amante, se fosse a mulher seria
muito criticada socialmente. A situação agora é mais igua-
litária. Eu pus isso no livro, os dois a serem infiéis porque
me interessava discutir a questão da fidelidade e mostrar
que tanto o homem como a mulher podem ser infiéis.
Na sua história, ela confessa a infidelidade, ele não...
Essa é uma grande questão. Perguntam muito, deve-se ou
não contar, mas não há uma resposta universal para isso.
A sexualidade é algo muito debatido nas consultas?
Sim, sobretudo trazido pelos homens. É preciso explicar
que a sexualidade se torna diferente, mas que é sempre
importante. Mesmo nos casais velhos, eu lembro-me sem-
pre de um jovem de 18 anos que descobriu que os avós
tinham relações sexuais, achava que não era possível. A
sexualidade das pessoas mais velhas existe, tem é caracte-
rísticas diferentes. A sexualidade é uma força muito grande
em todos nós e no casamento é muito importante. Nos
casais mais velhos é em parte substituída pela ternura.
Mas a intimidade física continua a ser muito importante
nos casais que funcionam bem.
Há quem procure que seja sempre fogo de artifício?
Isso tem a ver com o mistério. A sexualidade também tem
que ser surpreendente, ou seja, o casal não pode cair numa
sexualidade rotineira. Às vezes, os casais fazem amor sem-
pre no mesmo dia, à mesma hora, da mesma maneira…
isso mata o erotismo do casamento, é preciso reinventar,
mudar de cenário, e é preciso sobretudo envolvimento.
O Tinder faz 12 anos, tem sido benéfico ou pernicioso?
Não é sempre pernicioso. Há pessoas que têm muita
dificuldade em estabelecer uma relação duradoura. O
título do meu livro é inspirado em Camões, 'Para tão
curtos amores, tão longa vida'. Não tenho qualquer in-
tuito moralista em criticar esse
tipo de relação. O que eu acho
é que muitas dessas pessoas, que “Amor não é poder,
têm curtos amores, anseiam por
ter uma relação estável. No meu domínio ou controlo
consultório, tenho vários homens do outro. As pessoas
e mulheres que estiveram nas pla-
taformas onde encontraram uma
precisam de lutar
relação estável e consideraram pela liberdade
isso um ganho. Mas as relações
ocasionais, através das platafor-
no amor.”
mas, também são fontes de pra-
zer e bem-estar. A nossa posição é tentar compreender,
não moralizar.
O que é fundamental para um relacionamento amoroso
ser feliz e ter futuro?
O mais importante de tudo é a construção daquilo que
chamo 'património comum': a casa, os filhos, a partilha
profissional, a viagem, os amigos. Tudo isso faz com que
a relação de amor se construa, isso para além da sexuali-
dade. Essa é uma construção em que é preciso as pessoas
trabalharem, chama-se mesmo o 'trabalho do amor', não
tenho outra maneira de dizer.
Quais são os sinais de alerta numa relação?
A violência, física e psicológica. Quando há violência
psíquica e física esse casal tende para a separação, e pelo
menos é obrigatório que um deles ou os dois façam tera-
pia. Não se pode pactuar com a violência e há violência
psicológica muito grave: desrespeito, de controlo, de sub-
missão, de obrigar a mulher a submeter-se ao homem,
de críticas muito contundentes. Aí acho muito difícil as
pessoas poderem continuar juntas.
Acha positivo que se comemore o dia de São Valentim?
Acho sempre bem que se comemore o amor. Em Portugal
fala-se pouco destes temas. O livro está na 4.ª edição,
felizmente tem tido muito êxito porque é sobre amor.
Não falamos de amor o suficiente?
Não, é muito importante começarmos logo a ter educação
sexual na escola. Muitas pessoas pensam que é falar sobre
a pílula e preservativo – que é obviamente fundamental
explicar – mas é muito importante falar do relacionamento
entre as pessoas, da gentileza, do respeito. O amor tem
que se basear justamente nessa gentileza e nesse respeito.
É importante que se comemore os dias importantes, para
poderem pensar um bocadinho na sua relação e como
melhorá-la. Os homens esquecem muito.
O que o preocupa nos amores
mais jovens?
A violência no namoro. Há
um grande controlo através do
telemóvel, muita falta de consi-
deração pelo outro e pela sua
liberdade, há reparos acerca da
maneira de vestir, da maneira
como fala com outras pessoas,
dos encontros que tem… chega
a haver perseguição. Isso é uma
coisa que deveria ser trabalhada
nas aulas de cidadania, sem medo: o que significa namorar;
o que significa um relacionamento entre um rapaz e uma
rapariga, ou entre 2 rapazes ou 2 raparigas...
Um dos ídolos de adolescentes rapazes é uma pessoa
com uma postura violenta e um discurso misógino...
Ainda bem que fala desse Andrew Tate. Tenho dois ra-
pazes no consultório que são fãs, dos valores do poder.
É o oposto do que é o amor. Como as pessoas sentem
instabilidade nas relações afetivas, as mensagens simplis-
tas, de dominação, de controlo, são apelativas. Por isso é
que a extrema-direita cresce na Europa. O amor não é
matemática, não há respostas definitivas, as pessoas têm
de lutar pela liberdade no amor.
O tema da nossa edição é amor e desamor.
O luto é importante quando acaba uma relação?
Quando foi significativa, sim, mas muitas vezes as pessoas
precipitam-se para outra que normalmente não resulta, já
que ainda estamos ligados à pessoa anterior. Muitas vezes
repetem-se comportamentos errados porque não foi feito
um trabalho interior. Depois de uma relação significativa
precisamos de perceber o que se passou e o que é que se
pode corrigir numa relação futura.
FEVEREIRO 2024 93
 CASAS

E
ncontrei a Irina, por acaso, no Instagram: uma fo-
tografia da sua sala (com a luz incrível do pôr do sol
a entrar pela janela) apareceu no meu ‘Explorar’.
Abri instantaneamente o perfil para ‘conhecer os cantos
à casa’ e gostei tanto que decidi partilhá-la neste Meu
Mundo. A Irina – escolhe partilhar apenas o primeiro
nome – não é propriamente uma criadora de conteúdo
com imensos seguidores. É uma ex-gerente de marketing
que virou fotógrafa e stylist de produto e de interiores, a
viver numa pequena cidade alpina na Baviera, Alemanha,

O MEU
com o marido e o filho.
Pode inspirar-se mergulhando no perfil de Instagram – @
by.arkt –, onde Irina partilha fotografias dos recantos da

MUNDO
casa. Peças do puzzle que é o seu bom gosto, as publica-
ções são todas bem recebidas pela audiência atenta que
quer sempre saber mais. Foi também por isso que, há
quase um ano, criou o blog ‘A Well-Designed Egg’ (em
português, um ovo bem desenhado): “Um diário online
IRINA sobre todas as coisas simples e elegantes (como um ovo!)”,
nas suas palavras.
Neste sítio da Internet, há mais espaço para
discorrer sobre as escolhas de design, num
estilo muito próprio, identitário, que descreve
como “uma assimetricamente equilibrada
mistura, um tanto imperfeita, um tanto rús-
tica, simples mas calorosa e elegante, de mi-
nimalismo nórdico e japonês descontraído”.

EQUILÍBRIO
Prevalece um ambiente
marcado pelas misturas
de madeira (carvalho, teca,
bétula) com cores neutras
ou muito suaves.
MINIMALISMO HABITÁVEL
Resume-se num “minimalismo habitável”,
termo (e corrente) que reclama ter sido a
primeira a usar. “Cada um define o que é
certo e minimalista o suficiente para a sua
vida e para a sua casa, o que parece eficiente
e simples para si. E o ponto principal: o que
o ajuda a viver com conforto.”
Esta corrente é o mote para, por exemplo, a
quantidade de almofadas que tem na cama
ou sofá. Diferente do que aconteceria se fosse
caso de minimalismo puro – que recomenda-
ria, provavelmente, ter apenas uma –, sendo
amante do aconchego que muitas almofadas
oferecem, Irina escolhe ter várias.

94 FEVEREIRO 2024
 LUMINOSA
A luz é uma das
características mais
notórias desta casa.

COMPOSIÇÃO
Telas de tons neutros
ou até por pintar criam
uma composição
de diferentes texturas
que traz profundidade
e conforto ao espaço.

Um lugar
entre o
minimalismo
nórdico e
japonês

NEUTROS
Os abajures de papel
de arroz (fotos ao lado)
são presença em várias
divisões, um traço
da preferência de Irina
pela simplicidade.
TEXTO: CARMO LICO; FOTOS: INSTAGRAM @BY.ARKT

FEVEREIRO 2024 95
 NÁRIA

RECEITAS PARA
CULIN

UMA SEGUNDA VIDA

Quantas vezes cozinhamos demais e depois não sabemos o que fazer com
o que sobrou? Isabel Zibaia Rafael diz-nos como cozinhar de forma criativa,
simples e bem saborosa no seu livro ‘Planear, cozinhar e congelar’.

QUESADILLAS
DE FRANGO COM
GUACAMOLE

96 FEVEREIRO 2024
 ARROZ FRITO
DE ATUM COM
LEGUMES

FEVEREIRO 2024 97
 CULINÁRIA
QUESADILLAS
DE FRANGO
serve 4
• 250g de frango cozido
• 3 col. (sopa) de azeite
• ½ cebola picada
• 2 dentes de alho picados
• 2 col. (chá) de mostarda em grão
• 1 col. (chá) de caril
• 3 col. (sopa) de caldo de frango
• Sal e pimenta-preta q.b.
• Coentros picados q.b.
• 150g queijo mozarela e 100g
de cheddar vermelho ralado
• 4 a 6 tortilhas de trigo
PARA O GUACAMOLE
• 2 abacates
• ½ cebola picada
• 2 tomates chucha em cubos
• 1 dente de alho esmagado
• Sumo de limão q.b.
• 2 col. (sopa) de coentros picados
• ½ col. (chá) de sal
1. Levar uma frigideira
antiaderente ao lume com
o azeite. Adicionar a cebola.
Deixar fritar um pouco e
adicionar o alho, a mostarda
e o caril. Mexer.
2. Acrescentar o frango desfiado
e o caldo. Temperar com sal
e pimenta. Assim que o caldo
evaporar, retirar do lume e
juntar os coentros picados.
3. Misturar os 2 queijos.
Numa das metades das tortilhas,
colocar uma camada de queijo,
outra de frango e mais uma de
queijo. Dobrar em meia-lua.
4. Levar uma frigideira ao lume
com um fio de azeite. Colocar
a tortilha dobrada. Alourar
e virar, com cuidado.
5. Guacamole: retirar a polpa,
regar com sumo de limão e
esmagar com um garfo. Juntar
os outros ingredientes e mexer.
Servir com as quesadillas.
98 FEVEREIRO 2024
ARROZ FRITO DE
ATUM COM LEGUMES
serve 4
• 3 col. (sopa) de óleo de sésamo
• 1 cebola
• 2 dentes de alho
• 1 col. (chá) de açafrão-da-índia
• 1 cenoura
• 2 latas de atum ao natural
• 140g de milho doce
• 150g de ervilhas
• 3 ovos
• 250g de arroz integral cozido
• 2 col. (sopa) de molho de soja
• Sal e pimenta-preta q.b.
• Sementes de sésamo q.b.
• Coentros picados q.b.
1. Numa frigideira levar o óleo
ao lume. Adicionar a cebola
e deixar fritar um pouco.
2. Juntar os dentes de alho picados
e o açafrão-da-índia. Mexer.
3. Adicionar a cenoura cortada
em pequenos cubos. Deixar
cozinhar um pouco.
4. Juntar o atum, previamente
escorrido, o milho e as ervilhas.
5. Chegar os legumes para um
dos lados da frigideira e colocar
os ovos batidos no lado que
ficou livre. Temperar com uma
pitada de sal e pimenta. Deixar
cozinhar um pouco e mexer até
obter ovos mexidos.
6. Juntar o arroz e envolver tudo.
Temperar com o molho de soja,
sal e pimenta, a gosto.
7. Servir polvilhado com sementes
de sésamo e coentros picados.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
BARQUINHOS
DE BATATA-DOCE
COM OVO E QUEIJO
serve 4
• 4 batatas-doces assadas
• 3 ovos
• 50g de queijo creme
• 1 col. (sopa) de salsa picada
• 40g de queijo mozarela ralado
• Sal e pimenta-preta q.b.
1. Cortar as batatas ao meio,
longitudinalmente. Com a ajuda
de uma colher, retirar parte da
polpa do interior, mas sem ferir
a casca das batatas, de modo a
formar uma canoa.
2. Colocar os ovos numa taça.
Acrescentar a salsa picada.
Temperar com sal e pimenta
e mexer.
3. Colocar na base das batatas
uma colher de chá de queijo
creme. Regar com a mistura
de ovo batido.
4. Polvilhar com o queijo mozarela
ralado.
5. Levar ao forno pré-aquecido a
200ºC durante cerca de 15 a 20
minutos.
PLANEAR, COZINHAR
E CONGELAR
Isabel Zibaia Rafael
€20,90
 BARQUINHOS
DE BATATA-DOCE
COM OVO
E QUEIJO

FEVEREIRO 2024 99
100
SAÚDE

FEVEREIRO 2024
GUIA BÁSICO
ANTI-INFLAMAÇÃO
 Especialistas em medicina funcional dizem
que a nossa bioquímica é única e que alguns
alimentos, inofensivos para muitos, podem
não o ser para nós, e dar origem a inflamação
e mal-estar. Veja aqui como pode ficar a perceber
o que a anda a incomodar.
Texto GISELA HENRIQUES

Q uando pensamos em inflamação, imagina-

mos, geralmente, um ferimento local, com
a área em redor avermelhada, inchada e
dorida. Pode ser resultado de um arranhão,
corte, queda, pancada, entorse… Esta é a forma aguda
de uma inflamação, em que o sistema imunitário reage
de imediato, aumenta o fluxo sanguíneo para a zona
afetada de modo a impedir a entrada e proliferação
de vírus, bactérias e outros micróbios nocivos ao nosso
organismo que podem dar origem a uma infeção. “A
inflamação é a reação natural de defesa do corpo. Já
todos teríamos morrido sem uma reação saudável e
equilibrada”, escreve Will Cole, especialista americano
em medicina funcional e integrativa, no seu livro ‘A
Solução para a Inflamação’. “Os problemas começam
quando a inflamação se torna descontrolada ou des-
proporcionada para o problema, não desaparece e se
mantém a um nível baixo durante um período longo.
Aí estamos perante inflamação crónica”... que pode
nem ser visível. Um dos fatores que mais promove a
inflamação é o estilo de vida, com especial foco para
a alimentação. Will Cole defende que “todos temos
essencialmente as mesmas características gerais, os
mesmos apêndices externos e órgãos internos, os mes-
mos processos básicos a decorrer no nosso interior. Os
nossos corações batem. O sangue corre pelas veias e
artérias. Os músculos contraem-se e distendem-se.
Os ossos sustentam-nos. No entanto, as oscilações
subtis da bioquímica são exclusivas a cada indiví-
duo”. O que no fundo isto quer dizer é que somos
todos iguais mas todos diferentes, que somos únicos A SOLUÇÃO
PARA A
em determinados aspetos bioquímicos, e que o que
INFLAMAÇÃO
desencadeia um processo inflamatório numa pessoa Dr. Will Cole
pode não desencadear noutra. “O seu corpo está vivo
devido a uma bioquímica fantástica. É percorrido
por uma vastidão de 95.000km de vasos sanguíneos
e produz 25 milhões de novas células a cada segundo.
Existem mais ligações intrincadas no seu cérebro do
que estrelas na galáxia. Durante várias eras, ao longo
dos tempos e da experiência humana ninguém teve
uma confluência única de genes, bioquímica e beleza
GETTY

como a sua, até você aparecer.”

FEVEREIRO 2024 101

 SAÚDE
BIOQUÍMICA ÚNICA
Diz este autor que estamos na era da inflamação, e
se olharmos para os números não deixam de ser as-
sustadores: de acordo com os dados divulgados pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2022, cerca
de 44% da população com mais de 16 anos tem uma
doença crónica ou um problema de saúde prolongado
(sendo as mulheres mais afetadas que os homens);
as doenças cardiovasculares representam um terço
das mortes em Portugal e segundo o presidente da
Fundação Portuguesa de Cardiologia só o enfarte
do miocárdio mata, em média, 12 pessoas por dia. A
maioria da população não sabe o seu valor de coles-
terol nem da tensão arterial, dois factores essenciais
na prevenção das doenças cardiovasculares; 5% dos
portugueses (cerca de 500 mil) são afetados por uma
doença autoimune; um milhão de portugueses vive
com diabetes, 40% não sabe que tem diabetes tipo 2
(originado pelo estilo de vida); e o cancro é a segunda
maior causa de morte em todo o mundo. “Os proble-
mas de saúde mental estão a aumentar, assim como
as doenças cerebrais, como o Alzheimer. Todos estes
problemas de saúde são inflamatórios. A medicina
moderna trouxe-nos avanços maravilhosos”, mas, se-
gundo o autor, há problemas que têm de ser ‘atacados’
na raiz e não apenas com o medicamento, que por
vezes vai remediando (passe o trocadilho) a situação.
Lembro-me muitas vezes do que o médico Michael
Greger, também americano, escreveu no seu livro
‘Como não morrer’: se batermos incessantemente
com o joelho no canto de uma mesa, até fazermos
uma ferida, e se formos ao médico e ele nos receitar
um medicamento para a sarar mas não deixarmos de
bater com o joelho, o medicamento não tem grande
efeito. O exemplo parece parvo, mas fica na cabeça
pela sua simplicidade e evidência. É verdade que nem
todas as doenças são causadas pela alimentação ou
estilo de vida, mas também é verdade que a ciência
tem vindo a demonstrar que muitas o são ou pelo me-
nos que estes dois fatores têm uma grande influência
e impacto a longo prazo.
No seu livro, Will Cole pretende ajudar cada leitor a
tentar descobrir os alimentos que possam estar na ori-
gem do mal-estar e inflamação, e aqueles que possam
estimular o bem-estar e dar energia, porque “todos
os alimentos que ingerimos transmitem instruções à
nossa bioquímica. Cada refeição, cada dentada que
damos na comida, influencia de forma constante e
dinâmica o modo como nos sentimos. Como é único,
não existem regras fixas e definitivas que revelem
uma lista universal de bons e maus alimentos. Os
que funcionam bem para os outros, podem não ser
102 FEVEREIRO 2024
adequados para si e para a sua bioquímica, única”. Ou
seja, em si, o pão pode não ter qualquer efeito negativo
e noutra pessoa pode causar-lhe inchaço abdominal,
enquanto a sua amiga pode comer chocolate negro à
vontade, e a si, cada vez que come um quadradinho,
provoca enxaquecas.
DIETA DA ELIMINAÇÃO
“Que o alimento seja o teu remédio e o remédio o
teu alimento”, terá dito Hipócrates há mais de 2 mil
anos. É claro que a medicina evoluiu imenso desde
essa altura – já não se pensa que as sanguessugas e as
pastas de ervas com excrementos animal curam tudo –
mas o pai da medicina tinha ali alguma razão quando
apontava para a alimentação como uma espécie de
farmácia. Hoje em dia, é nesse sentido que a Ciência
tem ido, pelo menos dando relevo à sua importân-
cia basilar na condição geral dos seres vivos. Para
a medicina funcional, de acordo com o especialista,
não existem alimentos neutros, “nenhuma refeição é
como a Suíça (...), os alimentos que o aproximam ou
afastam da saúde podem, no seu caso, ser totalmente
diferentes dos de outra pessoa. Como poderá saber que
alimentos e hábitos de estilo de vida estão a fomentar
a sua saúde ou a piorar os seus sintomas, contribuin-
do para uma resistência à perda de peso e falta de
energia ou a causar-lhe dores? Através de uma dieta
de eliminação”. É claro que à partida deve eliminar
todos os alimentos que são processados, aqueles cuja
lista de ingredientes é mais longa que o nosso braço
e nem sabemos que raio significam. Uma forma sim-
ples de fazer a escolha? Siga o conselho de Michael
Pollan, um dos mais conhecidos autores e ativistas da
alimentação saudável: ‘Não coma nada que a sua avó
não reconheceria como comida.’
RISQUE DO SEU MENU
Se o eliminar os alimentos processados não surtir
efeito, pode responder ao longo questionário, que está
SINTOMAS REVELADORES
Há vários indícios quase silenciosos – como se
costuma dizer, não matam mas moem – de que
algo não está bem consigo e que podem ser
sinal de inflamação. Além dos óbvios, colesterol
alto, hipertensão, diabetes… temos a falta de
concentração e de memória, ansiedade, a nível
cerebral. Em relação ao aparelho digestivo:
obstipação, diarreia, dores de estômago, distensão
abdominal e azia. Quando os nossos ‘filtros’ – rins,
fígado, vesícula biliar e sistema linfático – não
conseguem processar com eficiência dão origem
a mal-estar corporal, erupção cutânea, dores e
inchaço nas pernas e braços, aumento de peso
repentino, glicose em jejum elevada. Se a tireoide
e as suprarrenais são afetadas causam queda de
cabelo, pele seca e unhas frágeis, oscilações de
humor, falta de libido e menstruação irregular, dor
e rigidez articular, e fibromialgia a nível muscular.

no seu livro, e que incide sobre diferentes sintomas,
divididos em vários graus de intensidade e categorias.
No final, soma a pontuação. Will Cole divide os leito-
res em três grupos: os que não têm inflamação, os que
têm alguma inflamação que afeta o bem-estar e os
que já têm um problema de saúde mais preocupante.
Para estes últimos, a dieta de eliminação é muito mais
restrita e convém ser seguida por um profissional de
saúde já que são oito os grupos de alimentos que Will
Cole recomenda eliminar. Para quem está ali no pa-
tamar médio, ‘basta’ eliminar 4 grupos de alimentos
que devem ser retirados da alimentação em 4 dias
diferentes mas seguidos. São eles:
1.º dia - Eliminar todos os cereais: trigo, cevada, cen-
teio, arroz, quinoa, milho (pode cozinhar com farinha
de coco, de amêndoa, banana-pão, araruta, mandioca
ou tapioca).
2.º dia - Eliminar lacticínios: leite, manteiga, gelados,
iogurte, queijo, nata de vaca, ovelha ou cabra (pro-
cure as alternativas vegetais, leite de coco, amêndoa,
semente de cânhamo).
3.º dia - Eliminar todos os adoçantes: açúcar branco
e amarelo, xarope de milho, frutose, xarope de ácer
e de agave, mel, açúcar de coco, stevia (adoce com
fruta, batata-doce ou inhame, coco, canela ou anis.)
4.º dia - Eliminar óleos: milho, soja, canola, girassol,
grainha de uva (pode usar azeite extravirgem, óleo
de abacate, óleo de coco).
Chegada ao final do quarto dia de eliminação, agora
tem de manter a sua alimentação livre destes ingre-
dientes durante, pelo menos, quatro semanas. Temos
hábitos tão enraizados que é melhor mentalizar-se que
pode não ser fácil. De antemão, esvazie os armários lá
de casa de todas as tentações e procure receitas para
todas as refeições. Obriga a alguma organização a
priori, mas torna a sua vida mais fácil.
ABOLIR E REINTEGRAR
Depois de manter todos estes alimentos fora da sua
dieta durante 4 semanas, a ideia é depois reintrodu-
zi-los, um a um, de 3 em 3 dias, tomando nota de
como se sente durante esse tempo. É claro que deve só
reintroduzir aqueles que são saudáveis, aproveite este
‘jejum’ seletivo para fazer uma reeducação alimentar.
Comece por uma pequena quantidade no primeiro
dia e aumente ligeiramente no segundo e terceiro
dias. Ao fim de duas horas da primeira garfada já terá
ideia se teve algum efeito nocivo ou incomodativo. Só
3 dias depois passa ao próximo alimento. No fundo,
é como fazer a introdução alimentar de um recém-
-nascido. É bastante útil manter um diário onde vai
registando aquilo que come e como se está a sentir.
DIFERENÇAS: ALERGIAS, INTOLERÂNCIAS
E SENSIBILIDADES ALIMENTARES
Os alimentos podem ter impacto negativo na nossa
saúde a um nível mais imediato, muito além da
inflamação crónica. Convém distinguir estes conceitos
porque são muito diferentes entre si.
Alergias alimentares - “Envolvem o sistema imunitário
e constituem a reação mais imediata e potencialmente
grave. Os sintomas de uma reação alérgica podem
incluir erupções cutâneas, comichão, urticária,
inchaço e até anafilaxia, que é a dilatação das
vias respiratórias e que pode ser fatal.” É um caso
médico sério, grave, pelo que tem MESMO de ser
acompanhada por um especialista. (Nem o livro ou
este artigo são para si, está num patamar mais grave.)
Intolerância alimentar - “Ao contrário das alergias,
as intolerâncias não envolvem diretamente o sistema
imunitário, ocorrem quando o corpo é incapaz de
digerir determinados alimentos (como os lacticínios),
ou quando o aparelho digestivo se torna irritado por
causa deles. Normalmente resulta de carências de
enzimas.”
Sensibilidade alimentar - “À semelhança das alergias,
são ativadas pelo sistema imunitário, mas podem
resultar numa reação mais tardia. Pode ser capaz
de digerir uma pequena porção do alimento sem
problemas, mas ingeri-lo em grande quantidade ou
todos os dias aumentará gradualmente a inflamação,
e a sua saúde começa a ser prejudicada.
Sintomas de intolerância e sensibilidade alimentar -
distensão abdominal, enxaquecas, nariz a pingar,
dificuldade de concentração, dores nas articulações
ou músculos, fadiga, ansiedade, comichão, erupções
cutâneas, dores de estômago, síndrome do cólon
irritável.
Até para depois poder falar com o profissional de
saúde – seja nutricionista ou médico de família – que
deve ser informado desta sua ‘empreitada’.
ESTILO DE VIDA INFLAMATÓRIO
Não se resume ao nosso menu. O stresse mina a nossa
saúde, é altamente inflamatório, assim como o se-
dentarismo, e passamos demasiado tempo sentados a
olhar para ecrãs. O que podemos fazer em relação a
isso? Mais exercício físico, desligar (conscientemente)
do trabalho – não é à toa que existem movimentos
como o quiet quitting – passear em áreas verdejantes
(há estudos que comprovam que as pessoas são mais
saudáveis se viverem em locais onde possam andar a
pé em espaços verdes). Há também mais médicos de
família que prescrevem caminhadas e convívio social,
em vez de medicamentos. Vá passear o seu animal de
estimação, inscreva-se numa corrida solidária, pegue
numa bicicleta comunitária e dê um giro, diga mais
vezes bom-dia aos vizinhos. São pequenas coisas que
enchem os dias de energia positiva. Escreva – um
diário pode ser catártico – as coisas boas que lhe acon-
teceram durante o dia, pois ver o lado mais positivo
da vida também é anti-inflamatório.
FEVEREIRO 2024 103
 MULHERES EMPREENDEDORAS

JOANA TRIGUEIROS
“As mulheres não precisam
de saltos altos para se
sentirem empoderadas”
Cresceu praticamente numa sapataria, mas nunca imaginou que depois
de uma carreira no marketing esse voltaria a ser o seu negócio.

F
ormada em Economia pela Nova SBE, fez o
seu percurso profissional na área de Gestão
e Marketing. Foi na Danone, onde liderou o
Marketing, que diz ter aprendido quase tudo
o que sabe – afinal, foram 17 anos naquela “grande
escola”. Até que um dia mudou de vida e assumiu as
rédeas de uma marca de sapatos de que já era fã e
fiel cliente, a Maray. Ter um negócio próprio acarreta
grandes desafios, mas também grandes vantagens,
como passar mais tempo com os filhos.

De cliente a proprietária da marca,

como surgiu a oportunidade?
Sempre gostei de sapatos, ou não fosse mulher e não
tivesse nascido praticamente numa sapataria – a Sa-
pataria Trigueiros, em Torres Vedras. Ainda não
sabia ler nem fazer contas e já vendia sapatos. Mas
essa parte de mim ficou lá atrás (ou assim achava
eu). Conheci a Maray em 2019 através de uma cole-
ga da Danone e fiquei apaixonada. Comecei a usar,
até porque nunca adorei saltos altos. A marca era
tudo o que eu gostava – elegância e bom gosto em
sapatos rasos. Depois, surgiu um post na página de
Instagram da marca onde mencionava que o projeto
iria ficar adormecido. Decidi enviar uma mensagem
a perguntar se tinham algum interesse em vender...
e um mês depois estava à frente da Maray.

Qual o balanço entre expectativa

e realidade?
Venho de uma família de empreen-
dedores e sempre tive noção de que
a vida de empreendedor é dura,
particularmente em Portugal onde
a carga fiscal é tão pesada. Ainda
que trabalhasse numa multinacional,
onde existem muito mais recursos, A Maray tem loja
aberta na Rua
sempre tive mindset de empreendedo- Saraiva
ra, sempre me foi apontada a energia de Carvalho,
em Campo
e capacidade de “fazer acontecer” de Ourique
projetos que, à partida, seriam com-
plicados. Acho que o desafio de sair

104 FEVEREIRO 2024

 Julia Roberts

da minha zona de conforto dá-me

ainda mais força. ESCOLHAS
Ter um negócio próprio é trocar o
Designer de moda que mais
certo pelo incerto. E nem sempre é admira Isabel Marant Dani Noce
fácil quando se tem uma família para
gerir também. Mas há uma coisa que Uma celebridade que gostaria
valorizo muito: passei a ser dona da de ver a usar a sua marca
minha agenda, ainda que não tenha Nacionalmente, já usam parte significativa de investimento em
horários definidos. Consigo planear muitas. Internacionalmente, armazém que é importante garantir.
o dia a dia de outra forma e priorizar Julia Roberts
o tempo com os meus filhos, o que Que lema rege a marca?
Uma conta que faz questão
foi uma mudança muito grande na de seguir Dani Noce
O lema passa por acreditarmos que
minha vida. as mulheres não precisam de saltos
Tendência primavera/verão altos para se sentirem empoderadas
Qual o cunho pessoal 2024 que vai marcar presença e elegantes. Com a vida frenética que
que deu à marca? na Maray Cores vibrantes, levamos, é importante garantir o design
Sempre quis manter o ADN da Ma- como sempre! e sobretudo o conforto.
ray. Afinal de contas, identifiquei-me
Uma app que não dispensa
tanto com esta marca que não faria Os seus objetivos, a curto e a longo
no dia a dia Waze
sentido mudar. A marca tem um po- prazo, são...
sicionamento bem definido e diferen- No curto prazo, garantir a consolida-
ciado e quem conhece nem precisa ção no mercado português e melhorar
de ver a marca para saber que é Maray. O grande continuamente a oferta que temos trazido em cada
salto, diria que terá sido a abertura de uma loja física coleção, sem desvirtuar o conceito da marca. A longo
– em Lisboa, na Rua Saraiva de Carvalho, Campo prazo, levar tudo isso para outros países com afinidade
de Ourique. Foi um passo importante para trazer a este conceito.
maior credibilidade ao online, onde a marca nasceu,
e alavancar o crescimento sustentado. Outro ponto E o sonho?
importante é a relação com as clientes. Toda a nossa Honestamente, tenho um patamar de faturação onde
equipa gosta de lidar com pessoas e preocupamo-nos quero chegar. Mas ter a marca representada em vá-
em dar o melhor de nós, o que na maior parte das rios pontos do mundo com loja própria seria o meu
vezes vai muito além de vender um par de sapatos. sonho, para já.
FOTOS: DR, DIVULGAÇÃO E INSTAGRAM

Há muitos desafios específicos ligados à indústria
do calçado?
Existem muitos. Na produção, há falta de visão de
negócio e de nível de serviço por parte da indústria, já
que é ainda pouco profissionalizada. Se não tivermos
cuidado, corremos o risco de comprometer negócios
onde os timings são chave para que tudo corra bem. Já
na distribuição, é uma indústria que exige uma grelha
de tamanhos bastante vasta, pelo que há sempre uma
Quais os principais desafios de ser mulher
empreendedora em Portugal?
Num mundo onde ainda predominam, de facto, os
homens, principalmente na área da produção, nem
sempre é fácil tratarem-nos de igual para igual. De
resto, creio que depende mais da iniciativa e da energia
que colocamos em cada batalha do que propriamente
do género. Internacionalmente, há países em que isso
tem um impacto maior, mas ainda não estamos lá.

FEVEREIRO 2024 105

 Marta Martins Silva
VOZ ACTIVA

Depois de ‘Madrinhas de guerra’ e ‘Cartas de amor e de dor’, a jornalista

lança ‘Retornados’, onde reuniu testemunhos impressionantes de pessoas
que estiveram em África e voltaram a Portugal no pós-25 de Abril.

“SEM PASSADO NÃO

COMPREENDEMOS O PRESENTE
E NÃO ANTECIPAMOS O FUTURO”
chegada mas também o que motivou a ida, a
vivência em África e aquilo que trouxeram
de lá e não esqueceram.
As histórias são todas diferentes e muita gente

“É muito estranho que ain-

da haja tanto silêncio à
volta da guerra colonial e dos
nem se considera retornada, até porque algu-
mas até nasceram lá. E muitas pessoas nem
sequer consideram Portugal a sua terra. Te-
retornados. Talvez tenhamos mos de separar isto da questão da emigração.
vergonha, olhando para trás. Os nossos emigrantes que iam para França, e
Muitos destes homens foram que tanto sofreram lá, iam geralmente com o
MIGUEL BALTAZAR
para África como heróis e fo- plano de regressar, um dia. Estes, não. Quem
ram recebidos como assassinos, ia para África ia para ficar. Quando vinha,
e sem culpa nenhuma porque era de férias! Ninguém me diz ‘Eu ia para
foram a mando da pátria. África fazer dinheiro para um dia regressar
Outros foram simplesmente à à minha aldeia’. Em África, em comparação
procura de uma vida melhor. com Portugal continental, tudo era mais avançado, nos
Voltaram porque não tiveram costumes, vivências, hábitos. Havia mais convivência,
alternativa e foram muito mal imensas festas, as portas todas abertas, uma liberdade que
recebidos. Há partes da nos- cá não havia. E para quem voltava, o choque era brutal.
sa História que gostaríamos Ouvi histórias impressionantes. Por exemplo, a de José
de ignorar mas não podemos Silva. O pai foge de Angola e precisa de levar dois ca-
RETORNADOS
continuar a fazê-lo porque es- Marta Martins Silva miões, e ele, com apenas 12 anos, oferece-se para guiar
tas pessoas vivem connosco. Contraponto um deles. Depois ficaram num campo de refugiados, onde
€17,70
Se não tomarmos nota destas José foi responsável por distribuir a comida pelas pessoas.
memórias, daqui a pouco de- Também me marcou muito a história dos meus sogros,
saparecem e não deixámos registadas as suas vivências. casados debaixo de fogo numa terra já muito destruída,
Porque é importante registar estas memórias? Porque sem onde não havia farinha para fazer o bolo, o rolo das foto-
passado não compreendemos o presente e não antecipamos grafias estava estragado e o ourives tinha fugido com as
o futuro. Mas o que me interessa é a vida comezinha, a alianças. A minha sogra pouco depois descobre que está
vida das pessoas como nós que foram apanhadas num grávida mas todos os médicos também tinham fugido.
turbilhão da História e que temos de conhecer e perceber, Eles conseguem escapar para o Gabão e depois ela vem
para não deixarmos que estas coisas se esqueçam. sozinha e grávida de 7 meses para Portugal. Também me
As histórias dos nossos pais e dos nossos avós colam-se-nos marcou a história do António Neves: foi para Angola com
à pele. E escrever este livro foi como deixar um lugar à 5 anos e na altura da tropa foi mobilizado para combater
mesa para aqueles que já não estão. Eu não quis trair a por Portugal. Três dias antes de casar fica mutilado e
memória deles contando a história que deviam ter sido cego mas casa na mesma, e na altura do retorno vai ao
eles a contar. Mesmo assim, o livro é uma homenagem à aeroporto de Luanda e entrega a filha bebé de um ano a
história deles. Sempre ouvi os meus avós contarem histó- um desconhecido para a salvar, pedindo que a entreguem
rias de África, com alguma alegria, com memórias boas no Lobito aos avós. Ele e a mulher voltam a encontrá-la
misturadas com as tragédias. O meu avô foi primeiro, meses depois em Portugal.
e depois a minha avó vai ter com ele levando três filhos Tudo isto me fez pensar que neste momento, 50 anos depois
dos seis que tinha. A minha avó deixa três filhos entre os do 25 de Abril, nós, portugueses, vivemos mesmo, apesar
10 e os 15 anos, e só os volta a ver em 75. E há aqui um de tudo, num cantinho do céu.”
sofrimento enorme dos dois lados.
Eu sempre convivi com este lado de sofrimento, mas tam-
bém com um lado de imensa alegria. Portanto, eu quis dar
os dois lados: não contar só o retorno e as dificuldades da

106 FEVEREIRO 2024

 DEIXEM OS GOLFINHOS EM PAZ
Como não há estudos que comprovem que as
atividades de recreio com os humanos não têm
impacto naqueles animais, há empresas desta área
que estão a abandonar a natação com golfinhos
e uma delas foi a portuguesa Azores Adventures
Futurismo. Estão de parabéns pela tomada TESOUROS
de consciência e preocupação! DEBAIXO
DE ÁGUA
Becky Schott é uma
fotógrafa americana com
paixão pelas paisagens
gélidas e misteriosas do
mundo subaquático.
O seu talento já lhe valeu
5 prémios Emmy e deu
a conhecer ao mundo
tanto a fantástica vida
selvagem que nada nestas
paragens como grutas de
gelo e navios naufragados.
Espreite a sua conta no
Instagram: @becky_
kagan_schott.

ECOLOGIA

GUIMARÃES, CIDADE AMBIENTAL

A organização CDP já divulgou a lista das cidades líderes
ambientais de 2023 e pelo segundo ano consecutivo Guimarães
FOTOS: GETTY, DR E DIVULGAÇÃO

está no top 22 das localidades europeias com mais ações para

combater as alterações climáticas. Doze são de países nórdicos.

DIMINUA A PEGADA ECOLÓGICA

FOTO

VALÊNCIA, CAPITAL
VERDE 2024
Mais um bom motivo para visitar
esta cidade espanhola e apreciar os 5
milhões de m2 de áreas verdes, como
o Jardin del Turia ou os Parques 1 2 3 4
Naturais de Turia e de l’Albufera; 1. Champô sólido Cosbe na cosbeconcept.com, €11,90; 2. Kit DIY Fábrica
de Sabonetes na Pegada Verde, €15; 3. Lâmina de barbear em aço inoxidável
92km2 de passeios pedestres e 200km Tantura Razors, €174; 4. Voucher-inscrição no workshop vegetariano
de ciclovias. Também queremos! de Gabriela Oliveira na Academia Vegan, €45

FEVEREIRO 2024 107

 LIVROS
MARCOS BORGA
A ANOMALIA
Hervé Le Tellier – Presença, €16,90
“Ia falar com o autor ao Festival de Óbidos
e portanto li o livro com outra atenção.
É uma história de uma imaginação brutal
que não consegui largar. Depois fui ler em
francês os outros livros dele e achei-os
cada um melhor que o outro.”
OS CUS DE JUDAS
António Lobo Antunes – Bis, €6
“Quando o ALA começou a publicar,
eu tinha um preconceito em relação a ele
porque toda a gente dizia que era tão bom.
Comecei a lê-lo pelos livros mais recentes.
Depois fui ler os outros e encontrei
um retrato de Portugal com uma escrita
absolutamente extraordinária.”
108 FEVEREIRO 2024
O LIVRO da vida
de Ana Sousa Dias
Ficou famosa pelas suas entrevistas, que conduz
de modo sereno e intimista, e ganhou duas vezes
o Prémio Gazeta, do Clube de Jornalistas.
Mulher de causas, afirma que os livros
lhe deram outros mundos.
“Há muitos livros que me marcaram. Calculo que
toda a gente lhe diga a mesma coisa. Mas aqueles
que foram mesmo essenciais na minha formação
foram ‘MATARAM A COTOVIA’, da Harper Lee, ‘AS
VINHAS DA IRA’, do John Steinbeck e ‘A MÃE’, do
Gorki. Todos estes livros me foram passados pela
minha avó Adelina, que nos inculcou a todos os 6
irmãos o gosto pela leitura.
Claro que estes três são clássicos que, enquanto clás-
sicos, continuam passíveis de serem lidos e de serem
formadores. Todos os meus filhos leram o ‘Mataram
a cotovia’, que é um libelo antirracista e nos desper-
tava a nós, meninos bem-comportados e com uma educação católica, para
realidades que não conhecíamos na nossa vida de escola e família. Portanto,
abriu-nos horizontes absolutamente desconhecidos. Nesse sentido, os livros do
Júlio Verne também eram fascinantes. Se se conseguir entrar neles, também
abrem horizontes mas de forma diferente, porque nos trazem uma imaginação
quase a raiar a loucura.
Não voltei a ler a Harper Lee desde os 11 anos, mas é engraçado que me
lembro de imensos pormenores, sobretudo aquilo que é importante: a noção
de que as injustiças são uma coisa séria. Isso dá-nos armas para toda a vida,
porque nos ensina a perceber situações como o apartheid e mesmo o racismo
entre nós. Depois vamos puxando os fios e vamos dar a outros livros, como
‘As vinhas da ira’. É curioso como uma das cenas que mais me marcou nesse
livro, onde uma mulher alimenta com leite materno um homem adulto, foi
depois cortada no filme. Essa imagem ficou-me para sempre, achei de uma
humanidade e de uma beleza que nunca esqueci.
A leitura foi para mim, como acho que deve ser para toda a gente, uma aber-
tura a um mundo que me formou. Continuo a gostar de uma boa história,
mas há livros que não têm uma história fenomenal e que mesmo assim não
conseguimos largar. Hoje sou mais aberta a muitos tipos de livro, porque vou
compreendendo coisas que dantes não me interessavam. À medida que lemos
mais, percebemos melhor aquilo que lemos.
Não sou muito de reler porque tenho aquele pavor de haver imensos livros
que não vou ter tempo de vida suficiente para ler. Mas há clássicos a que
cheguei já na idade adulta. Por exemplo, descobri há pouco tempo ‘A ilha do
tesouro’, um livro extraordinário. Há livros que começo a ler e depois penso
‘como é que nunca li isto?’ Mas tenho um lado um bocado pateta de achar
que um livro que foi um êxito e que toda a gente lê é necessariamente mau.
Perco imensas oportunidades por causa desse preconceito. Mas é sempre um
prazer descobrir que me enganei.
Fiz muitas entrevistas a escritores, e duas das que gostei mais foram ao Amin
Maalouf, um homem interessantíssimo, e ao José Saramago. Eu já o conhecia
FOTOS: DIVULGAÇÃO
bem e gostava muito dele, porque era genuíno. Sei que muitas pessoas não
gostavam, mas eu nunca me senti desconfortável, ensinou-me muitas coisas
e gostei imenso de alguns livros dele, como o ‘Memorial do convento’ ou o
‘Ensaio sobre a cegueira’. Hoje, continuo a achar que a literatura é um modo
fantástico de termos mais mundo, e mais mundos.”
 VIAJAR COM
ESCRITORES
Algumas agências convidam
escritores para orientar
viagens baseadas nos seus
livros, como já fizeram, por
exemplo, José Luís Peixoto ou
Isabel Stilwell. Desta vez, é
João Pinto Coelho que assume
a liderança de duas viagens,
a Itália e Polónia, inspiradas
nos livros ‘Um Tempo a Fingir’
e ‘Perguntem a Sarah Gross’.
Promovidos pelo operador PEXELS/ARTEM PODREZ

turístico Lusanova, estes

circuitos visitam os locais que
deram origam às narrativas
e vão acontecer em agosto,
com a presença do escritor.
É melhor inscrever-se já, 3 ideias para
antes que esgotem.
PASSAR O GOSTO PELA LEITURA
AOS MAIS NOVOS
• Ler-lhes alto todos os dias – Parece mo uma obrigação e não como
simples, mas é o truque mais reco- um prazer. E ninguém gosta de
mendado pelos teóricos da leitura. obrigações.
Todos os dias ao deitar tire meia • Escolha bem os livros – Há mi-
hora para lhes ler uma história (ou lhares de livros para todos os
para eles lhe lerem a si). gostos. Tire algum tempo para
• Deixe que vejam os pais a ler – Se se informar, procurar, folhear, ler
pregamos uma coisa que depois algumas páginas, pôr-se no lugar
não cumprimos, eles vão vê-la co- de quem vai ler aquele livro.

MAPA COR O GRANDE CONSTRUA SIRÍACO A ANSIEDADE A FAMÍLIA

DE SANGUE ARMAZÉM A VIDA QUE E MISTER NÃO MANDA PERFEITA
Rui Cardoso DOS SONHOS QUER CHARLES EM MIM Lisa Jewell –
– Oficina do Livro, Miye Lee – Betrand, Arthur C. Brooks Joaquim Arena – Sara Crispim Planeta, €17,50
€14,31 €15,93 e Oprah Winfrey Quetzal, €17,70 – Contraponto, Quando faz 25
Invasões francesas, Numa cidade - Casa das Letras, O livro ganhou o €15,93 anos, Libby sabe
princípio do misteriosa, €17,01 Prémio Oceanos Sabia que a quem são os seus
século XIX: o povo escondida no A apresentadora 2023 e retrata a fome emocional, pais biológicos e
insurge-se contra os subconsciente e o professor história ficcionada o perfecionismo, herda uma mansão.
invasores mas quem de cada um de nós, combinam a arte da amizade entre a necessidade Mas herda também
ousa revoltar-se existe um grande e a ciência da Charles Darwin e de controlo, três cadáveres.
também é castigado. armazém que felicidade num um negro de Lisboa as insónias, a Quem são, quem
O jornalista Rui vende sonhos para livro que pretende nascido no Brasil. culpa, a síndrome os matou e qual
Cardoso faz o todos os gostos. ajudar-nos a Educado na corte do impostor e é a história
FOTOS: DIVULGAÇÃO

retrato sangrento Pequenos prazeres, viver de forma de D. Maria I, o isolamento daquela casa?
de uma época recordações, mais otimista, conheceu Darwin são formas de Um thriller cheio de
cheia de massacres, saudades dos prática e alegre, em Cabo Verde. ansiedade? A reviravoltas que vai
genocídios, que partiram… transformando Uma história que psicóloga ajuda- deixá-la sem dormir
guerrilhas e Que sonho dificuldades em junta realidade nos a reconhecer durante dias (mas
insurreições. compraria? Quem oportunidades. e ficção em três e lidar com estes com um final feliz).
gostaria de ser? continentes. sintomas.

FEVEREIRO 2024 109

 time off

música
FEVEREIRO

I/O
Depois de 21 anos
restaurantes 1 de silêncio, Peter
Gabriel volta a
lançar um álbum de
originais. Doze faixas
2 que refletem a sua
genialidade.

LAMENTOS
Nova obra do
compositor António
Pinho Vargas, que
conta com a Orquestra
Metropolitana de
Lisboa sob a batuta do
maestro Pedro Neves.

SONS DE VEZ
festival

A Casa das Artes

de Arcos de Valdevez
vai receber o primeiro
festival do ano, de
3 de fevereiro a 23
de março. São 13 os DANSE MACABRE
nomes que marcam A mais de quatro
presença, entre décadas desde a
eles The Legendary sua formação, os
Tigerman (dia 3), lendários Duran Duran
Salvador Sobral e Agir. insistem em manter-se
1. SAUVAGE CCB, LISBOA relevantes na pop ao
Para quem quem gosta de cozinha lançar mais um álbum.
portuguesa, em versão autêntica mas com
um twist de originalidade, com o privilégio
da vista sobre a capital. Memoráveis as
entradas Croquetes de Pato ou Brás de
Leitão, os pratos Bochecha de Vaca, Arroz
de Lavagante ou sobremesa Caminho de
Salomão. Pça. do Império, CCB, piso 3.

2. BLACK TRUMPET, LISBOA

Este é um restaurante fora da caixa CIDADE
Décimo álbum de
FOTOS: DIVULGAÇÃO E DR

pois tem um menu totalmente dedicado

António Zambujo,
à enorme variedade de cogumelos o cantautor de voz
(daí também o nome inspirado na aveludada que nos
Trompeta Negra). Uma experiência encanta com estas 12
gastronómica inesquecível, surpreendente músicas sobre solidão
e bem saborosa no 31, Calçada Ribeiro urbana, compostas por
Santos. Info: blacktrumpet.pt. Miguel Araújo.

110 FEVEREIRO 2024


1. AS MULHERES
DE MARIA LAMAS
Patente na Fundação Gulbenkian,
esta exposição mostra, pela 1ª vez em
Portugal, a obra fotográfica da escritora
e lutadora antifascista. A não perder.
teatro
GUIÃO PARA UM PAÍS
POSSÍVEL
Peça imperdível, em digressão pelo
país, que conta a história do nosso
Parlamento. Funchal: 18 e 19.
conc
ert
o
MARISA LIZ
AO VIVO E A CORES
A cantora vai subir ao palco do
Coliseu de Lisboa (dia 10) e do
Coliseu do Porto (dia 24) para
apresentar o seu álbum a solo,
Girassóis e Tempestades.
exposições
1
2. QUEM ÉS TU?
Exposição, em 11 concelhos, do Teatro
Nacional D. Maria II que mostra como
o percurso artístico daquele espaço
esteve ligado ao contexto político e
social desde 1929 até aos dias de hoje.
Info: www.tndm.pt.
filmes & séries
1. THE REGIME
HBO MAX. Minissérie satírica de 6 episódios
(com Kate Winslet e Hugh Grant e
realização de Stephen Frears) passada
3
no interior de um palácio europeu e que
acompanha a história de um regime
autoritário prestes a desmoronar.
2. DEIXAR O MUNDO PARA TRÁS
NETFLIX. Thriller apocalíptico com um elenco
de luxo: Julia Roberts, Ethan Hawke e
Mahershala Ali. As férias idílicas de
uma família transformam-se em pesadelo
quando o mundo pode ter sido alvo de
um ciberataque e nada parece funcionar.
3. SALTBURN
AMAZON PRIME. Oliver (Barry Keoghan) é
estudante em Oxford mas tem dificuldade 4
em integrar-se num meio impregnado de
privilégios e preconceito social. Um colega
encantador, aristocrata, convida-o para
passar o verão na imensa propriedade
da sua excêntrica família e tudo muda.
4. NÓS SOMOS O QUE COMEMOS
NETFLIX. Minissérie que segue uma
experiência com vários gémeos idênticos em
que estes alteram as suas dietas e estilos de
vida com o objetivo de ver se a alimentação
tem impacto no corpo e na saúde em geral.
FEVEREIRO 2024 111
 CLUBE ACTIVA
Carta vencedora
REVOLUÇÃO DA PAZ
"A única revolução realmente digna
de tal nome seria a revolução da paz,
aquela que transformaria o homem
treinado para a guerra em homem
educado para a paz, porque pela paz
haveria sido educado. Essa, sim, seria
a grande revolução mental, e portanto
cultural, da Humanidade. Esse seria,
finalmente, o tão falado homem no-
vo." Inicio a minha reflexão com esta
citação de José Saramago, em que a
educação para os Direitos Humanos
é o veículo fundamental para alcançar
a revolução da PAZ. Este é o tema
da ACTIVA de janeiro. A arte, co-
mo demonstra a ativista e artista Rita
Andrade na sua tocante entrevista,
procura sensibilizar-nos para causas,
como a palestiniana. Comovente, o
testemunho do médico Nelson Olim,
que conheceu no terreno cenários de
guerra e catástrofes naturais e que nos
deixa uma mensagem de esperança,
de TOLERÂNCIA, VISÃO MAIS
HUMANISTA DO MUNDO, "onde
nos coloquemos num plano onde não
há bons e maus, onde aquilo que nos
une é sermos todos humanos". Termi-
no com votos de FELIZ 2024 para a
equipa da ACTIVA, verdadeira fonte
de inspiração para a minha vida!
Susana Ferreira, email
A vencedora deste mês ganha uma Água
de Colónia Jean Marie Farina (100ml),
da Roger & Gallet, no valor €39,90.
ENVIE A SUA CARTA PARA:
‘Clube ACTIVA’ – Revista ACTIVA
Avenida Jacques Delors
Edifício Inovação 3.1, Espaço nº 511/512
2740-122 Porto Salvo
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112 FEVEREIRO 2024
Proprietária/Editora TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL, L.DA
Sede: Rua da Fonte da Caspolima, Quinta da Fonte, Edifício
Fernão de Magalhães, 8, 8A e 8B, 2770-190 Paço de Arcos
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Diretora Natalina de Almeida nalmeida@trustinnews.pt
Diretora de Arte Alexandra Belmonte abelmonte@trustinnews.pt
Editora Coordenadora Cíntia Sakellarides csakellarides@activa.pt
Subeditora Gisela Henriques ghenriques@activa.pt
Redação Catarina Fonseca cfonseca@activa.pt,
Carmo Lico clico@activa.pt
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Arte Patrícia Ajuda pajuda@activa.pt
Assistente Editorial Eugénia Serrasqueiro gserrasqueiro@activa.pt
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Redação, Administração e Serviços Comerciais Avenida Jacques Delors, Edifício Inovação 3.1,
Espaço nº 511/512, 2740-122 Porto Salvo
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de Produção), Nuno Carvalho, Nuno Gonçalves e Paulo Duarte
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novidades
1. LUZ ANTI-IDADE
1

Bem-vinda a uma nova dimensão de beleza: a marca

sueca de beauty-tech Foreo usa a luz LED para
melhorar a pele e o estado de espírito. Um exemplo
é o dispositivo UFO3, que nos traz uma massagem
facial com máscaras de ingredientes naturais e
tecnologia LED, além de crioterapia, termoterapia
e massagem T-Sonic.

2. MEXA-SE...
Se fazer mais exercício foi uma suas resoluções de
ano novo, inspire-se na cantora britânica Raye, que
(com o futebolista Zlatan) dá corpo à nova proposta 2
de ‘movewear’ da H&M Move. Juntando desporto
e moda, a coleção inclui conjuntos de treino e roupa
de desporto luxuosa em modelos oversized, com
tecnologias que absorvem a transpiração e oferecem 3
apoio ao movimento.

3... E DEPOIS RELAXE

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chegamos a casa de bom humor. Para uns preciosos
minutos relaxantes, experimente o novo Óleo de
Duche Ultra-Hidratante Topicrem, que pode ser
usado por toda a família. Enriquecido com um
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4. AMOR E CONFORTO
Porque o primeiro passo para nos sentirmos bonitas 4
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confortável e versátil, para que homens e mulheres se
sintam bem na sua pele. No Dia dos Namorados, que
tal surpreender a sua cara-metade e juntar amor e
conforto?

5. ENVELHECER BEM
Por volta de 1999, o Enólogo Domingos Soares
Franco deparou-se, nas adegas da Quinta dos
Pasmados, em Azeitão, com garrafas do Pasmados
Branco 1963, que se mantinha perfeito. Decidiu então
testar a produção de um Pasmados com potencial
de envelhecimento. Das melhores colheitas, algumas
garrafas são guardadas e vendidas anos mais tarde. 6
Nasce assim o Pasmados Garrafeira.

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FEVEREIRO 2024 113

 OS 50 NÃO SÃO
OS NOVOS 30!
E ste mês cumpro tantos anos como a democracia portuguesa e celebro tam-
bém eu a minha liberdade. Está na hora de nos libertarmos das mentiras
que nos contam. Por um lado, denuncia-se o idadismo, por outro, arranjam-se
as mais variadas metáforas para aliviar a verdade dos números. A nossa idade
não é só um número, garanto-vos. Não é um número sem significado, vazio,
que tanto faz como tanto fez (e, já agora, o mesmo é verdade para o número
que a balança denuncia).
Por muito que se ‘paralisem’ os músculos do rosto, o tempo não pára. E ainda
bem, já que um dos meus maiores medos, desde os anos 90, é que o argu-
mento de ‘Groundhog Day’ se materialize. Ainda hoje tremo ao ouvir ‘I got
you babe’, de Sonny & Cher, a música que dia após dia – na verdade sempre
o mesmo dia – despertava Bill Murray. Já imaginaram que aborrecido seria
ter de repetir o mesmo dia em prol do aperfeiçoamento moral? E fiquem a
saber que Andie MacDowell conseguiu eventualmente livrar-se do Bill e hoje
ostenta os seus 65 anos com orgulho.
De uma vez por todas: não, os 50 não são
os novos 30. Talvez seja numa clínica de
CÍNTIA SAKELLARIDES fisioterapia comparticipada pelo SNS às

vejo-me grega
9 da manhã, tão elevada é a média de
idades, ou em Marte, em que a menor
gravidade mantém tudo empinado du-
rante mais tempo. Mas certamente não
o é no Linkedin ou numa entrevista de
emprego. Dizer que os 50 são os novos 30 não é um elogio. É um insulto
encapuzado. Tal como nos dizerem que estamos bem ‘para a idade’. Mas,
calma, os 50 também não são os novos 80, já agora, aproveito para dizer às
minhas colegas de 20 que a senhora da foto que escolheram para ilustrar o
artigo das cinquentonas tem pelo menos 130 anos. Isso é uma afronta! Ou
serei eu a ter um afrontamento?
Se me apetece ter 50? Isso já é outra história. À partida, diria ‘não, obrigada,
estou bem assim’. Mas depois faço aquele exercício de pensar que idade é que
gostaria de ter para sempre e chego à conclusão de que não queria voltar a
ter 20 ou 30. Muito menos, 13, que é a idade da minha filha. Não é estranho
quando nos lembrarmos perfeitamente de ter a idade dos nossos filhos? Ou das
nossas mães – e, como há 40 anos, já achávamos que elas estavam acabadas?
Os 50 não são os novos 30 mas eu estou longe de estar acabada. Até porque
o meu comportamento muitas vezes ronda os 10. Que o digam as minhas
colegas (ou talvez seja melhor pagar o seu silêncio). Aliás, a nossa cabeça é uma
coisa muito estranha. A minha filha diz, em tom jocoso, que agora eu tenho
a mania que todas as mulheres são mais velhas do que eu. Mas, a não ser que
sofra da síndrome de Benjamin Button, eu ia jurar que aquela auxiliar lá da
escola já cá estava há pelo menos uma década quando se deu o 25 de Abril.
Daqui a uns (bons) anos, estou-me a ver no lar (aqui na redação somos da
opinião de que, perante o estado atual da profissão, talvez seja melhor criar
uma ‘Casa do Jornalista’) a chamar velhas a todas as camaradas, eu com 100
elas com 101. Será que na altura também vão dizer que os 100 são os novos 50?
Resta-me seguir avante, com os cravos (e as ferraduras) ao peito. Concen-
tremo-nos em salvar a nossa democracia, essa sim, demasiado jovem para o
desgaste que já leva.

114 FEVEREIRO 2024

Rouge Seduction nasceu da idea de representar uma mulher com carácter, que sabe o que
quer e com um magnetismo único. O vermelho explica-o perfeitamente: sensualidade,
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