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Unidade 1: TEXTO E TEXTUALIDADE

- Concepções da Linguagem
- Prática de Leitura e escrita
- Textualidade e Texto: coesão e coerência
- Erros básicos que se deve evitar em um texto de linguagem formal

Texto 1
O ato de estudar

Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas partes baixas do terreno. Em certos
lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam nela. Às vezes, mais do
que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antônio estavam
transportando numa caminhoneta cestos cheios de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura,
perceberam que a caminhoneta não atravessaria o atoleiro que tinha pela frente. Passaram. Desceram da
caminhoneta. Olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram os dois metros de lama, defendidos
por suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram. Discutiram como resolver o problema.
Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos de árvores deram ao terreno a consistência mínima para
que as rodas da caminhoneta passassem sem atolar. Pedro e Antônio estudaram. Procuraram resolver e, em seguida,
encontraram uma resposta precisa.
Não se estuda apenas na escola.
Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalhavam.
Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema.
Esta atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os fatos caracteriza o ato de estudar. Não
importa que o estudo seja feito no momento e no lugar do nosso trabalho, como no caso de Pedro e Antônio, que
acabamos de ver. Não importa que o estudo seja feito noutro local e noutro momento, como o estudo que fazemos
no Círculo de Cultura. Em qualquer caso, o estudo exige sempre esta atitude séria e curiosa na procura de
compreender as coisas e os fatos que observamos. Um texto para ser lido é um texto para ser estudado. Um texto
para ser estudado é um texto para ser interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem
curiosidade; se desistimos da leitura quando encontramos a primeira dificuldade. Que seria da produção de cacau
naquela roça se Pedro e Antônio tivessem desistido de prosseguir o trabalho por causa do lamaçal?
Se um texto às vezes é difícil, insiste em compreendê-lo. Trabalha sobre ele como Antônio e Pedro
trabalharam em relação ao problema do lamaçal. Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar
e recriar e não repetir o que os outros dizem. Estudar é um dever revolucionário!
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2001. p.57-58.

1) O que você sabe sobre o autor do texto?


2) Quais reflexões o autor trata sobre o ato de estudar?
3) Destaque um trecho do texto que você considerou interessante.
Texto 2
LEITURA E ESTUDO

Muitas pessoas têm dificuldade de ler e estudar. Isso é um fato.


O que poucos sabem é que parte dessa dificuldade ocorre por conta da falta de clareza entre duas
atividades fundamentais para a aprendizagem: ler e estudar.
Antes de iniciar este e-book, é importante entender que ler e estudar são atividades inter-
relacionadas, porém, não são a mesma coisa. O estudo compreende a leitura, mas a leitura não acarreta
diretamente em estudo. Se leitura e estudo fossem a mesma coisa, então, ao ler uma mensagem numa
rede social, uma notícia num blog, um folheto publicitário, a tabela de um campeonato de futebol ou
uma receita de bolo, estaríamos estudando. E este, obviamente, não é o caso.
O que eu quero dizer a você é que a leitura é uma atividade base do estudo, mas o estudo não é
feito somente de leitura. Você pode discordar, e dizer que já aprendeu muita coisa apenas lendo. Mas
na verdade, ao ler, apenas adquirimos informação.
Já o estudo é a análise das informações obtidas de diversas formas e fontes. Entre elas, a leitura.
Quando você lê, checa, analisa, testa, amplia, aprofunda e relaciona informações e fatos é que de fato
estuda. E quando pegamos o resultado de um estudo e o usamos na prática, aplicamos o que
descobrimos ou incorporamos isso ao nosso comportamento, então chegamos ao aprendizado. Ou seja,
depois que você lê, executa atividades de estudo e aplica os novos conhecimentos é que você
finalmente pode considerar que aprendeu algo.
E por que é importante entender essa diferença entre leitura e estudo?
Saber disso é importante pois, dependendo do nível de complexidade ou exigência do estudo, você
deve ajustar seu tipo de leitura, estabelecendo um objetivo e selecionando o nível que melhor se
adequar à situação. E antes que você pergunte: sim, existem várias formas de leitura.
Nos próximos capítulos você vai ver que a leitura pode ter diferentes objetivos: ler para se
informar; ler para compreender e ler para se divertir.
Diferentes fases: pré-leitura; leitura e pós-leitura.
Além de diferentes níveis: elementar; inspecional; analítico e sintópico.
Dessa forma, o primeiro passo antes de começar a estudar, é alinhar a forma de leitura com seu
objetivo.
Acredito que você já tenha entendido que a leitura é um pré-requisito para o estudo. No entanto, para
se conseguir um bom resultado no estudo é preciso ir além da leitura convencional. E é justamente
esse "ir além da leitura convencional" que vamos estudar nos próximos capítulos.
O foco desse livro é apresentar estratégias para melhorar sua leitura, entretanto, essas estratégias
também vão aumentar sua capacidade de estudo e aprendizagem de uma forma geral, já que a leitura
é a base desse processo. Agora que já temos uma visão clara da diferença entre leitura e estudo, vamos
discutir sobre uma outra dificuldade presente na vida de muitos leitores e estudantes: O que é
necessário para ler e compreender melhor?

Fonte: SOUZA, Ismar. Estratégias de Leitura para Ler e Compreender Melhor. Editora Ideia Books, São
Paulo, SP, 2018.

1) Quais reflexões o autor faz sofre a diferença entre ler e estudar?


2) Com quais objetivos lemos, segundo o autor? Você acrescentaria mais algum? Qual?
3) Ler, segundo Sousa (2018), tem fases e níveis. Quais são eles?
Aula 1. Linguagem e comunicação

Objetivos:
• reconhecer a importância da linguagem na constituição do ho-
mem;

• perceber a comunicação como mecanismo de interação; e

• diferenciar língua e fala.

Prezado(a) estudante,

Esta é a primeira aula da disciplina Português Instrumental, e abriremos nos-


so diálogo com o tema linguagem e comunicação. Juntos, buscaremos com-
preender a importância dessa temática para um(a) futuro(a) técnico(a) em
Informática para Internet. Esperamos que você perceba que a linguagem e
a comunicação permeiam nossa vida cotidiana. Por meio da linguagem nos
relacionamos com o mundo, com as pessoas.

Então vamos lá.

Comunicação: é a troca verbal


Boa aula! entre o falante, que produz um
enunciado destinado a outro
falante, o interlocutor, de quem
Introdução ele solicita a escuta e/ou uma
resposta explícita ou implícita
Você deve estar se perguntando por que necessitamos nos comunicar, bem (segundo o tipo enunciado). A
como o que é linguagem? Como comunicação e linguagem se relacio- comunicação é intersubjetiva
(DUBOIS, et al, 1998, p. 129).
nam? Observe o conceito abaixo:
Linguagem: capacidade espe-
cífica à espécie humana de co-
A atividade de comunicação é uma constante em qualquer escala da municar por meio de um sistema
de signos vocais (ou língua),
vida animal: todos os animais se comunicam de alguma forma e em que coloca em jogo uma técnica
algum período de sua vida, seja por necessidade de sobrevivência seja corporal complexa e supõe
a existência de uma função
por imperativos biológicos [...] através de um mínimo de interação simbólica e de centro nervoso
geneticamente especializado
(BORBA, 1998, p. 09).
(DUBOIS, et al,1998, p. 387).

Acompanhe o texto para entender melhor.

Aula 1 - Linguagem e comunicação 15 Rede e-Tec Brasil


Prof. Dr. Francisco da Silva Borba
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
Departamento de Linguística

Comunicar é uma atividade necessária na vida


animal. Segundo Borba (1998), é uma ‘necessi-
dade de sobrevivência’. Observe que, ao nascer-
Figura 1
Fonte: www1.araraquara.com mos, nos comunicamos pelo choro, pelos movi-
mentos e nos diferenciamos dos outros animais
porque somos dotados de linguagem articulada, a língua que se realiza na
fala. É por meio da comunicação realizada pela linguagem que nos torna-
mos seres/sujeitos dialógicos (não deixe de veri car no endereço eletrônico,
Fala: 1. faculdade ou ação fornecido logo abaixo, o conceito de dialógico).
humana de emitir palavras; 2
modo de exprimir-se próprio
de um povo, de uma área Comunicar-se é essencial para o estabelecimento e fortalecimento das rela-
geográfica; linguajar, linguagem,
dialeto; 3 mensagem feita ções humanas. Se pararmos para pensar, observaremos que a comunicação
em público; discurso <a f. do está na base de todas as áreas do conhecimento, logo necessitamos nos
ministro foi brilhante>; 4 cada
trecho de um texto dito por um apropriar cada vez mais da linguagem, para que o processo de comunicação
ator (HOUAISS, p. 331).
ocorra de modo efetivo e adequado ao contexto. Cada ser humano é único,
Linguística: Ciência da com sentimentos, ideias próprias; assim, necessitamos nos expressar, intera-
linguagem, isto é, o estudo da
língua em si mesma e por si gir com os outros, estarmos ligados a um grupo social.
mesma; o mesmo que glotologia
(BUENO, 1958, p. 736).
A comunicação é indispensável ao processo de interação e pode se realizar
Heterogeneidade: Qualidade
de heterogêneo (FERREIRA,
mediante o uso de diferentes linguagens, produtos da sociedade e cultura
2009, p. 1033). humanas.
Discurso: 1. Texto dito em
público ou escrito com essa A comunicação, do ponto de vista da linguística, nada mais é do que a in-
finalidade. 2. Expressão do
pensamento por meio da teração entre um determinado grupo que usa a mesma língua ou o mesmo
linguagem verbal. 3. Falação
entediante ou pomposa. [...]
dialeto; tendo em vista a diversidade linguística e a heterogeneidade no
(ABL, 2008, p. 448). discurso, faz-se necessário adequá-lo estrategicamente para que o fenôme-
no da comunicação se processe devidamente.

Muitas vezes você já deve ter ouvido alguém falar sobre a importância da
comunicação. Mas o que exatamente signi ca comunicar? Conforme Cereja
e Magalhães (1999, p. 16), “Comunicar é expressar e interagir com o outro
como um agente de transformação social por meio da mensagem/linguagem
– situando-se assim numa intencionalidade discursiva”.

Rede e-Tec Brasil 16 Português Instrumental


Dessa forma, comunicação e linguagem se relacionam, uma vez que só há
comunicação por meio da linguagem, e esta última se realiza na língua,
como infraestrutura (base ortográ ca), dentro de uma dada sociedade. Ou
seja, “se preestabelece num sistema convencional de signos e regras presen-
tes em um dado grupo social por meio do seu código. Sendo alicerce nessa
interação social intercomunicativa” (BARROS, 1991, 25).

A linguagem é a capacidade do homem de comunicar-se por meio de um


sistema de signos, a língua.

Se a linguagem se realiza na língua, é importante que você saiba o que é


língua.

Figura 2. Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa.


Fonte: ilustradora

Texto: Língua
Esta língua é como um elástico
Que espicharam pelo mundo.

No início era tensa,


de tão clássica.
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se pode


mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vida


Que nunca volta ao ponto de partida
(TELES, 1999, p. 5).

Aula 1 - Linguagem e comunicação 17 Rede e-Tec Brasil


1.1 A língua
A língua é o laço que une e integra os indivíduos num mesmo universo, e
é ela que dá acesso à vida cultural na sociedade. É um sistema de signos,
um conjunto organizado de elementos representativos convencionados por
indivíduos e utilizados por membros de um mesmo grupo social. Observe a
a rmação de um estudioso dessa área:

Enquanto a linguagem abrange um conjunto multiforme de fatores


físicos, siológicos e psíquicos, a língua aparece como uma totalidade
uniforme, um sistema especí co de signos com uma função social pre-
dominante: a comunicação (BORBA, 1998, p. 45).

A língua(gem) é, antes de tudo, uma atividade do sujeito, um lugar de inte-


ração entre os membros de uma sociedade e seu conceito é bastante abran-
gente, pois engloba todas as manifestações realizadas pela fala.

Para Bourdieu (1998, p. 81):

A linguagem é de modo mais geral, às representações, uma e cácia


propriamente simbólica de construção da realidade [...] – ao estruturar
a percepção que os agentes sociais têm do mundo social, a nomea-
ção contribui para construir a estrutura desse mundo, de uma manei-
ra tanto mais profunda quanto mais amplamente reconhecida (isto é,
autorizada).

Nessa perspectiva, a partir dessa relação interdiscursiva o sujeito social (ho-


mem) tem a necessidade de nomear o mundo que o rodeia, ou seja, uma
luta simbólica ritualizada como prática social – de que esse homem transfor-
ma e é transformado constamente.

O que não podemos perder de vista


é que nenhuma variação linguística
é melhor que a outra, pois elas ser-
vem a suas comunidades e ao con-
texto no qual os interlocutores estão
inseridos. Estudar a língua(gem) nos
é essencial e necessário, já que a
mesma é mecanismo de interação
com o outro, com o mundo, e nos Figura 3
Fonte:cristovamaguiar2.blogspot.com
permite estabelecer relações sociais.

Rede e-Tec Brasil 18 Português Instrumental


O homem fala. Falamos quando acordamos e em sonho. Falamos con-
tinuamente. Falamos mesmo quando não deixamos soar nenhuma pa-
Você sabia que foi o linguista
lavra. Falamos quando ouvimos e lemos. Falamos igualmente quando Ferdinand de Saussure o primeiro
a chamar a atenção para a
não ouvimos e não lemos e, ao invés, realizamos um trabalho ou ca-
distinção entre ‘Língua e Fala’?
mos à toa. Falamos sempre de um jeito ou de outro. Falamos porque
falar nos é natural (HEIDEGGER, 2003, p. 07).

Para compreender melhor o


conceito de Dialógico, leia
‘Introdução ao pensamento de
Bakhtin’, de José Luiz Fiorin
(2006). O filósofo russo Mikhail
Bakhtin foi quem institutiu esse
Figura 4 - Linguista e Filó- Figura 5 - Filóso- conceito.
sofo Ferdinand de Saussure fo e Pensador Russo
(1857-1913) Mikhail Mikhailovich Bakhtin
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdi- (1895-1975)
nand_de_Saussure Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mi-
khail_Bakhtin
Dialógico: ver dialogismo.
Resumo Dialogismo: conceito
emprestado, pela Análise do
Nessa aula você estudou que as variadas formas de códigos – gestos, movi- discurso, ao Círculo de Bakhtin,
mentos, símbolos, palavras, e outras que sintetizam a interação do homem e e que se refere às relações
que todo enunciado mantém
o meio em que vive – priorizam a língua(gem) e seu processo de comunica- com os enunciados produzidos
ção como um instrumento da prática social dos sujeitos, pois as mensagens anteriormente, bem como
com os enunciados futuros
que se estabelecem não só enriquecem esse processo de interação como que poderão os destinatários
produzir (CHARAUDEAU &
também priorizam de maneira particular a “fala”, a “língua” e suas “repre- MAINGUENEAU, 2004, p. 160).
sentações” do mundo como “lutas simbólicas ritualizadas” pela linguagem,
que está em constante movimento.

Atividade de aprendizagem
1. A partir do que estudamos até agora, redija um parágrafo expressando o
que Linguagem, Língua e Fala signi cam para você.

Aula 1 - Linguagem e comunicação 19 Rede e-Tec Brasil


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Leia o texto com bastante atenção:

O dono da bola

Caloca morava na casa mais bonita da nossa rua. Os brinquedos que Caloca tinha, vocês não podem
imaginar! Até um trem elétrico ele ganhou do avô.

E tinha bicicleta, com farol e buzina, e tinha tenda de índio, carrinhos de todos os tamanhos e uma
bola de futebol, de verdade. Caloca só não tinha amigos. Porque ele brigava com todo mundo. Não deixava
ninguém brincar com os brinquedos dele. Mas futebol ele tinha que jogar com a gente, porque futebol não
se pode jogar sozinho.

O nosso time estava cheio de amigos. O que nós não tínhamos era bola de futebol. Só bola de meia,
mas não é a mesma coisa.

Bom mesmo é bola de couro, como a do Caloca. Mas toda vez que a gente ia jogar com Caloca,
acontecia a mesma coisa. Era só o juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele gritava logo:

- Assim eu não jogo mais! Dá aqui a minha bola!

- Ah, Caloca, não vá embora, tenha espírito esportivo, jogo é jogo...

- Espírito esportivo, nada! - berrava Caloca. - E não me chame de Caloca, meu nome é Carlos Alberto!

E, assim, Carlos Alberto acabava com tudo que era jogo.

Ruth Rocha. Marcelo, marmelo, martelo e outras


histórias. Rio de Janeiro: Salamandra, 1981 (fragmentos)

Discussão oral:

* Vocês acham que existem muitos Calocas na vida, meninos e meninas que vivem estragando as
brincadeiras por pensarem só em si mesmos? Deem um exemplo.
* Se você fosse o dono da bola, como agiria?
* Você tem muitos amigos? O que faz para não perder a amizade deles?
*Explicar aos alunos que, para se fazer um debate, deve-se:
* primeiro escolher o tema a ser debatido (as atitudes do Caloca);
* entender que o debate só é possível quando há oposições de pontos de vista sobre um determinado
assunto;
* escutar com respeito os outros pontos de vista e apresentar os seus também de modo respeitoso, para
não ofender o outro. A oposição é de ideias, não de pessoas.

 A opinião sobre o assunto deve ser dada, assim como saber ouvir a opinião dos outros;
 Quem não concordar com alguma opinião, deverá aguardar sua vez de falar e expor seus
argumentos.
 Pedir aos alunos que, após o debate, apresentem dicas que considerem importantes para que haja
uma boa convivência.

LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA

Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita
representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea, abrange a comunicação

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linguística em toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por
mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim
um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom
de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da
língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se:

Fatores regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região nordeste e
outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há variações no uso da língua. No
estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive
na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado.
Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo também são fatores que
colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma maneira
diferente da pessoa que não teve acesso à escola.
Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos:
quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos
discursando em uma solenidade de formatura.
Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua
chamadaslínguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso praticamente restrito
ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da informática,
biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.
Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, como idade e sexo.
Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-se em linguagem infantil e
linguagem adulta.

FALA

É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a
manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua
necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente sociocultural em que
vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis
da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso
que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a
linguagem delas seja exatamente como a nossa.

NÍVEIS DA FALA

Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis:

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Nível coloquial-popular: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em
situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se
falamos de acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela língua.
Nível formal-culto: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em situações formais.
Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais
estabelecidas pela língua.

ATENÇÃO:

Existem algumas palavras que possuem a mesma escrita (grafia), mas a pronúncia e o significado
são sempre diferentes. Essas palavras são chamadas de homógrafas e são uma subclasse dos homônimos.
Observe os exemplos:

Almoço (substantivo, nome da refeição)


almoço (forma do verbo almoçar na 1ª pessoa do sing. do tempo presente do modo indicativo)
gosto (substantivo)
gosto (forma do verbo gostar na 1ª pessoa do sing. do tempo presente do modo indicativo)

Qual a importância da comunicação oral e escrita no mundo atual?

Fundamental! Sempre foi e sempre será! Nós vivemos em um mundo cada vez mais competitivo,
por conta do crescimento populacional e, especialmente nas grandes cidades, quem não estiver bem
preparado está fadado ao insucesso. Expressão é tudo! Os meios de comunicação que utilizamos, este é um
deles, exigem de nós o conhecimento da língua para que consigamos transmitir, com precisão, o que
desejamos.

Os elementos textuais que organizam sua exposição oral

Saber falar em público é uma habilidade essencial para os profissionais de hoje. E vale ressaltar:
ninguém nasce com um gene para essa habilidade. É preciso desenvolvê-la com muito treinamento.
Para fazer uma boa exposição oral em público, é preciso que você domine formas que permitam construir
ligar as suas ideias e guiar o seu ouvinte. Os principais elementos da exposição oral são os seguintes:

Coesão temática: elementos que asseguram a articulação das diferentes partes temáticas.
EX: Então, falemos agora do orçamento do mês de janeiro [...]; é preciso agora contrastar os gastos do mês
de novembro com os de dezembro.

SINALIZAÇÃO DO TEXTO:
por meio dela, distinguem-se:
· as ideias principais das ideias secundárias: ...sobretudo...

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· as explicações das descrições: então esses dados isolados/ os lucros e as despesas (descrição) / não fazem
sentido (questão principal)/ então precisamos estabelecer relações entre eles e compará-los aos dados de
outros períodos (reposta).
· os desenvolvimentos das conclusões resumidas e das sínteses: portanto, os responsáveis pelo setor
financeiro terão um mês para contabilizar as despesas e os lucros do mês, levantar no banco de dados a
contabilidade do mês anterior e analisar todos os números, em resumo, comparar esses dados de maneira
sistemática [...] bom, para concluir, eu gostaria de resumir...nós vimos, então, que...
Introdução de exemplos: ilustram, esclarecem ou dão legitimidade ao discurso.
Ex.: então, justamente, eu tenho o seguinte exemplo...
Reformulações: esclarecem termos percebidos como difíceis ou novos.
Ex.:um arcaísmo, o que é? É uma palavra ainda viva entre nós, embora em português esteja fora de moda.
Esses elementos devem ser aplicados em sua apresentação para que ela adquira uma estruturação
consistente, coerente e eficaz à comunicação. Dessa forma, você enriquece sua apresentação ecolabora
para que os objetivos da sua comunicação sejam atingidos.

APRENDA COMO ESCREVER BEM

Escrever é uma das formas mais eficazes para transmitir informação e conhecimento. Permitiu, por
exemplo, que pessoas que viveram há muitos séculos pudessem passar o seu conhecimento para as
gerações vindouras.

Dicas para escrever bem

A primeira coisa que deve fazer é um esqueleto do texto que pretende escrever, com algumas notas que
identificarão o que irá ser escrito. Por exemplo:

Número de palavras
Tema
Estilo (formal, bloque, carta)
Pesquisas a fazer
Data limite para terminar

Organizar notas e rascunhos


Uma das piores coisas que podem acontecer quando estamos a escrever é ter de parar para procurar uma
ideia que colocamos não sabemos bem onde. Quebra totalmente o ritmo criativo do texto.
Procure uma aplicação informática se costuma usar o computador para escrever ou anda com ele para todo

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o lado. Se for menos tecnológico, compre um bloco de notas e uma pasta para guardar documentos e ande
sempre acompanhado.

Crie um hábito para escrever bem


Podemos aprender a escrever bem se criarmos um hábito diário de escrever sempre na mesma hora e no
mesmo local. Se para ser um escritor inesquecível é necessário algo mais (um dom) escrever corretamente
pode ser alcançado por qualquer um, com esforço e dedicação. Compre um cronômetro e coloque-o na sua
secretaria. Depois marque o tempo que planejou escrever e não saia de lá até o alarme tocar. Concentre-se
no que está a fazer.

Delegue o que for possível


Enquanto a parte de escrever não pode ser delegada, existem outras tarefas que podem ser. Por exemplo,
para a edição do texto ou passar as notas para formato electrónico.

Concentre-se em produzir para escrever bem


Apesar de estar sentado, escrever bem pode consumir muita energia. Por isso devemos tentar produzir o
máximo no menor tempo possível, além de delegar tudo o resto (como já vimos). Se nos prepararmos
corretamente, com organização, criando o ambiente e rituais corretos, estando mentalmente preparados
para escrever, a qualidade dos textos será bastante boa. Por isso, siga estas dicas e comece a escrever bem.

NÃO SE FALA COMO SE ESCREVE

"Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala."
Pois é. U purtuguêis é muintofáciudi aprender, purqui é uma língua qui a gentiiscreviixatamenticumu si fala.
Num é cumuinglêisqui dá até vontadidi ri quandu a gentidiscobricumu é qui si iscrevi algumas palavras.
Impurtuguêis não. É só prestátenção. U alemão purexemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum
nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevimuintodiferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis.
Quem soubéfalásabiiscrevê.

O comentário é do humorista Jô Soares, para a revista Veja. Ele brinca com a diferença entre o
português falado e escrito. Na verdade, em todas as línguas, as pessoas falam de um jeito e escrevem de
outro. A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da língua e é com esse fato que o Jô brincou. Na
língua escrita há mais exigências, em relação às regras da gramática normativa. Isso acontece porque, ao
falar, as pessoas podem ainda recorrer a outros recursos para que a comunicação ocorra - pode-se pedir
que se repita o que foi dito, há os gestos, etc. Já na linguagem escrita, a interação é mais complicada, o que
torna necessário assegurar que o texto escrito dê conta da comunicação.
A escrita não reflete a fala individual de ninguém e de nenhum grupo social. Por essa razão, a fala e
a escrita exigem conhecimentos diferentes. A maioria de nós, brasileiros, falamos, por exemplo, "Eli me

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ensinô". O português na variante padrão exige, no entanto, que se escreva assim: "Ele me ensinou". Essas
diferenças geram muitos conflitos. A leitura de um trecho do poema de Antonino Sales, "Malinculia",
mostra as interferências da fala na escrita e como elas não anulam a expressividade poética de suas
imagens.
Malinculia, Patrão, É um suspiro maguadoQuinace no coração! É o grito safucado Duma
sodadeiscundidaQui nos fala do passado Sem se tornácunhicida! É aquilo qui se sente Sem se pudêispricá!
Qui fala dentro da gente Mas qui não diz onde istá! (...)

(BAGNO, Marcos. "A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolinguística)

A língua muda, ainda, conforme o grupo social, a região, e o contexto histórico. São as chamadas
variações linguísticas. A gíria e o jargão são algumas dessas variações. A leitura é ato criativo, o que significa
pensar nos diferentes modos de ler e nos mais surpreendentes objetivos por parte do leitor. Posso praticar
a leitura como distração ou como tarefa vinculada a uma pesquisa acadêmica, como forma de aprender a
escrever, como busca de soluções profissionais ou existenciais, ou como inspiração para conhecer a mim
mesmo, ou como forma de preencher a solidão, ou como caminho de solidariedade.
Uma outra maneira de ler é a filosófica. Ler filosoficamente é ler para pensar. Não um pensar
qualquer, exercício mental apenas. Filosofar é um pensar responsável, em busca de tudo aquilo que nos
torne mais humanos. A leitura com espírito filosófico não teme inventar problemas. Tudo o que não
inventamos é falso, repetindo o poeta Manoel de Barros. O encontro com as verdades humanas depende
de nossa abertura para o inesperado. Ir ao encontro dessas verdades é um modo radical de estudar.

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de
lado, o que resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez
mais pobres. A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos
enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. Muitas
pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a
leitura fosse um hábito as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.
Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não as praticamos.
Através da leitura rotineira, tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem esquecidos
posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler; e talvez nem as
teríamos, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado.
Durante a leitura descobrimos um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas.
O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é
algo importante e prazeroso, assim ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz. Saber ler e

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Fonte: Nani Humor.

Diversos fatores podem prejudicar ou mesmo impedir a comunicação. A compreensão inade-


quada de uma mensagem pode resultar em atitudes ou tomadas de decisão inadequadas e
equivocadas.

Por isso, ao falar ou escrever, procure ser claro. Ao ouvir ou ler, procure estar atento e saber
se entendeu perfeitamente a mensagem recebida. Caso haja dúvida, não se envergonhe e
pergunte. Se o patrão lhe pedir para fazer algo, tenha certeza de que compreendeu o que lhe
foi pedido para que o resultado seja e ciente.

Evite que ruídos na comunicação prejudiquem seu desempenho.

Tópico 3: Língua, Fala e Linguagem


Língua
A língua é o conjunto de termos com signi cados e regras que permitem a comunicação. 17

Por exemplo: empregamos a língua portuguesa para nos expressarmos no Brasil. Os argentinos
usam o espanhol. Os ingleses usam o inglês. Cada povo possui uma língua para se comunicar.

Fonte: Shutterstock.

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Fala
18 A fala ou o discurso é a forma como cada pessoa usa a língua.

Embora João, Pedro, José, Maria, Paula e tantas outras pessoas usem a língua portuguesa para
falar, cada um faz de uma maneira própria.

A fala é o uso da língua que cada um de nós fazemos.

Linguagem
A linguagem é a expressão de nossa comunicação. Ela ocorre por meio de palavras faladas
ou escritas, por meio de sinais de trânsito, por meio de gestos etc.

As funções da linguagem indicam a intenção do emissor ao usar a comunicação e se dividem


em seis tipos:

Função A intenção do autor é enfatizar a informação transmitida. É o caso, por


referencial ou exemplo, de uma notícia de jornal, de um relatório, de um aviso de
denotativa feriado no local de trabalho.

A intenção do autor é transmitir suas emoções e desejos e a


Função emotiva
comunicação se volta para o próprio autor. Uma mãe, ao falar sobre a
ou expressiva
saudade que sente de seu lho, é um bom exemplo.

A intenção do autor é convencer ou in uenciar o receptor. A


Função conativa comunicação geralmente usa verbos no imperativo. Observe
ou apelativa exemplos assim: “Beba Coca-Cola!”, “Você tem que fazer assim!”, “Não
faça aquilo!”. A publicidade é um bom exemplo de função conativa.

A intenção do autor é explicar o sentido de palavras e expressões ou a


forma de construção do próprio texto. O objetivo é abordar a própria
Função
língua empregada. O dicionário é exemplo desta função. Ao pesquisar
metalinguística
um termo, você encontra o signi cado. Poemas que explicam como
fazer poema também são exemplos.

A intenção do autor é destacar ou testar o canal da comunicação. Você


já deve ter observado que quase todas as pessoas costumam repetir
Função fática expressões ao falarem: “tá”, “tudo bem”, “assim”, “tá entendendo”.
São, na verdade, recursos para testar o canal. Ao atender o telefone,
dizemos “alô”. Temos aí outro exemplo de função fática.

A intenção do autor é destacar a própria mensagem. Um poema, por


exemplo, possui rima, sonoridade e tantos recursos que o tornam
Função poética bonito. Além da informação, a literatura procura destacar a forma
como se transmite. Isso é função poética. Outros exemplos são a letra
de uma música e muitas campanhas de publicidade.

Português Instrumental
Dentro da linguagem, também precisamos considerar que falar e escrever são duas formas
bem diferentes de nos comunicarmos.

Ao falar, somos mais espontâneos e despreocupados. Ao escrever, camos mais atentos e


procuramos palavras mais bonitas e corretas.

Basta você imaginar que está conversando com um grande amigo (linguagem oral) ou
escrevendo uma carta para o patrão (linguagem escrita). A diferença é grande!

Observe um exemplo de linguagem oral: Lucas e Pedro conversam após o trabalho.

- E aí, amigo, como vão as coisas?

- Ah! Nem te conto o que aconteceu ontem. Foi terrível! Olha só! O Luís se fez de besta
e tentou montar na égua do seu Zé. O tombo foi feio. Quebrou o braço e ele mais eu
fomos pro hospital.

Agora, observe um exemplo de linguagem escrita: Lucas escreve uma carta a Pedro para
contar as novidades.

Caro amigo, espero que esteja tudo bem!

As novidades são muitas por aqui. A principal foi o tombo do Luís ao tentar subir na
égua do senhor José. Ele foi parar no hospital por ter quebrado o braço.

Um abraço,

Lucas.

Questão 1
Identi que nos trechos a seguir se ocorreu linguagem oral ou linguagem escrita.
19
a) Eli me ensinô tudo qui sei.

________________________________________________________________________________________________

b) Ele me ensinou tudo o que sei.

________________________________________________________________________________________________

c) Era para falar a todos o que ele disse ontem.

________________________________________________________________________________________________

d) Era pra falá a todos o qui eli dissi ontem.

________________________________________________________________________________________________

Português Instrumental
Questão 2

20 O texto a seguir foi escrito em linguagem oral. Reescreva-o empregando linguagem escrita.

U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi
ixatamenti cumu fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti
discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção.

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

Tópico 4: Níveis de Linguagem


Já vimos a diferença entre linguagem, língua e fala. Assim, sabemos que a forma como se usa
a língua depende de diversos fatores: estudo, cultura, região e tantos outros.

É interessante observar que podemos usar a língua de diferentes maneiras, dependendo de


onde estamos.

Linguagem formal Linguagem coloquial ou informal

Fonte: Shutterstock. Fonte: Shutterstock.

Se você vai à missa conversar com o padre No entanto, se você está na fazenda, ao lado
ou vai a um lugar formal conversar com de seus amigos de infância, geralmente usa
alguém importante, certamente procura as palavras sem se preocupar tanto.
escolher melhor as palavras.

Por isso, há um assunto chamado níveis de linguagem que vamos estudar agora.

Português Instrumental
O primeiro nível é a linguagem formal ou culta. Ela é usada em ambientes formais (escola,
trabalho, órgãos públicos, igreja), onde escolhemos melhor as palavras para falar ou escrever
e procuramos usar a gramática de forma correta. Observe um exemplo.

A prefeitura determinou que todos os produtores rurais devem comparecer na


Secretaria de Agricultura ainda este mês para se informarem sobre os novos créditos
rurais oferecidos pelo município e pelo estado.

Já a linguagem coloquial ou informal é usada em lugares mais familiares ou entre amigos.


Falamos com bastante espontaneidade e não nos preocupamos muito em seguir as regras
gramaticais. Veja.

A gente lembrou de tudo que você pediu pra comprar, menos os pães.

As gírias são muito comuns na linguagem coloquial e bem aceitas durante um encontro
informal. No entanto, não devem ser empregadas no ambiente de trabalho, pois algumas
pessoas podem não entendê-las e elas acabarão provocando ruído na comunicação. A gíria
também demonstra falta de respeito em alguns casos.

Termos vulgares, usados para xingar ou menosprezar alguém, também devem ser totalmente
evitados no convívio social e, principalmente, em ambiente de trabalho.

Dica

' Tanto as gírias como os termos vulgares prejudicam a imagem de um bom


pro ssional e, por isso, devem ser evitados!

Outro nível de linguagem é a regional, empregada em determinadas regiões com expressões


e construções próprias. Observe algumas.

Expressão Signi cado


21

Mangar Ridicularizar

Guri Menino

Zé ruela Bobo

Comer um trem Comer algo

Dar pitaco Opinar

Por m, a linguagem técnica é aquela empregada em casos especí cos de determinadas


pro ssões e áreas de estudo. Veja um exemplo.

Português Instrumental
Este estudo analisou a relação inversa entre e ciência econômica e justiça
socioambiental na utilização de agrotóxicos. A utilização de agrotóxicos tenderia a
22 maximizar a e ciência econômica através de ganhos de produtividade; no entanto,
poderia agravar a injustiça socioambiental. Inferiu-se essa relação inversa, uma vez
que a e ciência econômica pela utilização de agrotóxicos estaria associada a alguma
injustiça socioambiental. Este estudo analisou, ainda, o impacto de instrumentos
regulatórios no controle da utilização e do manejo de agrotóxicos. Uma legislação
que reduza compulsoriamente a utilização de agrotóxicos poderia agravar diversos
problemas socioeconômicos, especialmente em pequenas comunidades rurais.
Concluiu-se que eventuais restrições na utilização de agrotóxicos em sistemas
produtivos que dependam dessas matérias-primas para sustentar sua economia
poderia ser bastante prejudicial. Quanto à necessidade de intervenção estatal para
regular a utilização de agrotóxicos, este estudo concluiu que a questão não deveria
ser sobre a necessidade ou não de legislação, mas sim como deve ser a forma dessa
intervenção.
Fonte: Ciência & Saúde Coletiva (2007).

Assim, temos a redação o cial, a linguagem acadêmica, a linguagem jurídica, a linguagem


médica etc.

Atividades

l Agora que já vimos vários tipos de linguagem, vamos fazer algumas atividades
para testar nossos conhecimentos. Bom trabalho!

Questão 1
Leia o quadrinho a seguir e indique se a linguagem utilizada foi formal ou informal.

Fonte: Bibliblog .

a) Linguagem formal.

b) Linguagem informal.

Português Instrumental
Questão 2
Identi que no quadrinho quem empregou linguagem formal e quem empregou linguagem
informal.

Fonte: Google Imagens.

Personagem de vermelho: ___________________________________________________________________

Personagem de pijama amarelo: _____________________________________________________________

Questão 3
Observe o texto a seguir. Transcreva os textos orais e informais para linguagem formal.

Um gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um de seus novos vendedores.

Seo Gomis, o criente de belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor tomá as 23
providenssa. Abrasso, nirso.

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro.

Seo Gomis, os relatório di venda vai xegá atrazado proque to fexando umas venda.
Temo que mandá treis mir pessa. Amanhã tô xegano. Abrasso, nirso.

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

Português Instrumental
Questão 4

24 Observe o quadrinho a seguir e diga por que o nome foi pronunciado de maneiras diferentes.

Fonte: Gazeta do Povo.

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________

Questão 5
Indique qual é a linguagem mais adequada para cada situação a seguir.
• Linguagem formal

• Linguagem informal

• Linguagem técnica

Preparar um relatório: _________________________________________________________________________

Conversar com amigos: ________________________________________________________________________

Entrevista de emprego: ________________________________________________________________________

Escrever para um jornal: _______________________________________________________________________

Português Instrumental
27

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL


O texto é produzido através da organização de palavras que se unem,adequadamente, umas às
outras.Assim, os termos vão formando uma oração, e as orações vão constituir períodos.Essa união ou
ligação entre os elementos de um texto deve apresentar um sentido lógico, coerente; para isso é
necessário observar as relaçõessemânticas existentes entre eles. Na verdade, há uma relação
dedependência entre os termos e as orações que se estabelece pelacoordenação ou subordinação das
ideias.Um texto torna-se bem construído e coeso quando usamos os elementosgramaticais ou coesivos
(conjunções, pronomes, preposições e advérbios),no interior das frases, de forma adequada. Se esses
elementos de ligaçãoforem mal empregados, o texto não apresentará noção de conjunto, ouainda, sua
linguagem se tornará ambígua e incoerente. Portanto, a coesão refere-se à forma ou à superfície de um
texto. Ela émantida através de procedimentos gramaticais, isto é, pela escolha doconectivo adequado na
conexão dos diversos enunciados que compõem umtexto.
A coerência resulta da relação harmoniosa entre os pensamentos ouideias apresentadas num texto
sobre um determinado assunto. Refere-se, dessa forma, ao conteúdo, ou seja, à sequência ordenada das
opiniões oufatos expostos. Não havendo o emprego correto dos elementos de ligação (conectivos)faltará a
coesão e, logicamente, a coerência ao texto. Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que se lê / diz.
Esses mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e a retomada do que foi escrito /
dito são os referentes textuais e buscam garantir a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
elementos que compõem a oração, como também entre a sequência de orações dentro do texto.
Essa coesão também pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado em conhecimentos
anteriores que os participantes do processo têm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determinada
sigla, que para o público a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mão de
repetições inúteis.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha imaginária - composta de termos e expressões -
que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer relações de sentido entre eles. Dessa forma,
com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substituição, associação), sejam
gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases, orações,
períodos, que irão apresentar o contexto – decorre daí a coerência textual.
Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o apresenta de forma contraditória. Muitas
vezes essa incoerência é resultado do mau uso daqueles elementos de coesão textual. Na organização de
períodos e de parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o
entendimento do texto. Construído com os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), “o enunciado não se constrói com um amontoado de
palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e independência sintática e
semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.

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28

Desta lição, extrai-se que não se deve escrever frases ou textos desconexos – é imprescindível que
haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Além disso,
relembre-se que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre os elementos que compõem a
estrutura textual.

VEJAMOS OS DEZ MANDAMENTOS PARA QUE SUA REDAÇÃO SURPREENDA O LEITOR:

1) Não escreva difícil, usando palavras para parecer que sabe de tudo! Prefira uma linguagem mais simples.
Não falo aqui do uso de coloquialismo, sem restrições!
2) Críticas sem fundamento, sem objetivo não devem ser feitas. A análise sobre algo deve ser realizada
baseada em fatos, acontecimentos reais. Sempre aponte soluções coerentes para os problemas levantados.
3) Uso de palavrões, jargões, gírias e coloquialismo é proibido!
4) A linguagem do msn ou orkut deve ficar em casa. Nunca abrevie palavras: vc, qdo, msm, dentre outras.
Exceção: etc.
5) Não faça repetição desnecessária de palavras! O texto fica enfadonho e pobre, pois o leitor verá que
você não tem muita leitura, uma vez que não tem muito vocabulário. Use sinônimos: menina, garota,
criança, guria.
6) Não “encha linguiça”, como dizem! Uns dizem coisas sem sentido, outros falam a mesma coisa várias
vezes, de vários modos. Seja objetivo, claro. Melhor qualidade do que quantidade. No entanto, processos
seletivos exigem o mínimo de 15 linhas. Escreva sobre algo que você tenha conhecimento. Baseie-se (não
copie) em um texto da coletânea, nas ideias expostas ali. Faça um parágrafo para introdução, um para o
desenvolvimento e um para a conclusão, pelo menos!
7) Não esqueça a cedilha no “c”, o cortado do “t”, o pingo do “i”, as letras maiúsculas em nomes próprios!
8) Coloque ponto final! Começou um novo argumento, uma nova ideia? Coloque ponto final e não vírgula!
Os períodos ficam tão confusos que o leitor não sabe nem mais qual é o assunto inicial ou quem é o sujeito
do período!
9) Faça a concordância verbal. Se o sujeito está no plural, o verbo também deverá estar! Ficou em dúvida?
Leia a oração e identifique o sujeito, quem pratica a ação.
10) Releia o texto! É impossível tentar organizar melhor o texto, corrigir os erros e tirar nota boa sem reler
o que se escreveu! Detalhe: Coloque-se no lugar de um leitor que não sabe nada sobre o assunto abordado
em seu texto e se pergunte: Será que ele entenderia sobre o que estou escrevendo e o meu ponto de vista?

Saiba que mandamentos foram feitos para serem seguidos, mas não como obrigação ou por imposição,
mas para nosso bem! Pense nisso!

O que é redação técnica?

Primeiramente, vejamos esses dois termos em separado:

Redação é o ato de redigir, ou seja, de escrever, de exprimir pensamentos e ideias através da escrita.

Técnica é o conjunto de métodos para execução de um trabalho, a fim de se obter um resultado.

Logo, para que você escreva uma redação técnica é necessário que certos processos sejam
seguidos, como o tipo de linguagem, a estrutura do texto, o espaçamento, a forma de iniciar e finalizar o
texto, dentre outros. Dessa forma, a necessidade de certa habilidade e de se ter os conhecimentos prévios
para se fazer uma redação técnica é imprescindível!
Por esse motivo, criamos esta seção, para que os internautas tenham material para servir de
embasamento teórico, pois há carência desse tipo de conteúdo no universo virtual. A redação técnica
engloba textos como: ata, circular, certificado, contrato, memorando, parecer, procuração, recibo,
relatório, currículo.

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29

PECULIARIDADES DA REDAÇÃO TÉCNICA


Impessoalidade
A redação oficial deve ser isenta da interferência da individualidade. O tratamento impessoal que
deve ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:
a) da ausência de impressões individuais de quem comunica;
b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação; e
c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado.

Linguagem
O texto oficial requer o uso do padrãoculto da língua. Padrão culto é aquele em que:
a) se observam as regras da gramática formal,
b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários do idioma.
A obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial procede do fato de que ele está acima
das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias
linguísticas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos.
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam.

Formalidade
As comunicações oficiais devem ser sempre formais. Não só ao correto emprego deste ou daquele
pronome de tratamento, mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez e à civilidade.

Padronização
A clareza de digitação, o uso de papéis uniformes e a correta diagramação do texto são
indispensáveis à padronização.

Concisão
A concisãoé uma qualidade do texto, principalmente o do oficial. Conciso é o texto que consegue
transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras. A concisão é, basicamente, economia
linguística. Isso não quer dizer economia de pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens
substanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis,
redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
Deve-se perceber a hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias
fundamentais e secundárias. Essas últimas podem esclarecer o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-
las; mas existem também ideias secundárias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm
maior relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.

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Clareza
A clarezadeve ser a qualidade básica de todo texto oficial. Claro é aquele texto que possibilita
imediata compreensão pelo leitor. A clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente
das demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações que poderia decorrer de um tratamento
personalista dado ao texto;
b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de entendimento geral e por definição avessa a
vocábulos de circulação restrita, como a gíria e o jargão;
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível uniformidade dos textos;
d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguísticos que nada lhe acrescentam.
É pela correta observação dessas características que se redige com clareza. Contribuirá, ainda, a
indispensável releitura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros e de
erros gramaticais provém principalmente da falta da releitura que torna possível sua correção.
A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comunicações
quase sempre compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de um texto que não seja seguida
por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se, pois, o atraso,
com sua indesejável repercussão no redigir.

TIPOS DE TEXTOS TÉCNICOS


A correspondência é uma forma de comunicação indispensável entre as pessoas, empresas e
instituições públicas ou privadas. Por isso, deve ser sempre absolutamente correta.
Com o objetivo de tornar este tipo de comunicação mais organizado e de fácil entendimento para todos os
envolvidos, as correspondências oficiais seguem determinados padrões de redação e formatação. Para
ajudar quem precisar lançar mão dessa ferramenta, faremos um apanhado geral dos tipos de
correspondências oficiais e empresariais existentes e suas principais características.

ATA
A ata é um documento no qual deve constar um resumo por escrito, detalhando os fatos e
as soluções a que chegaram as pessoas convocadas a participar de uma assembleia, sessão ou
reunião. A expressão correta para a redação de uma ata é "lavrar a ata". Uma das principais
funções da ata é historiar, traçar um painel cronológico da vida de uma empresa, associação ou
instituição. Serve como documento para consulta posterior, tendo em alguns casos caráter
obrigatório pela legislação. Por tratar-se de um documento formal, a ata deve seguir algumas
normas específicas de formatação:

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Tópico 6: Concordância
A concordância se dá entre nomes e verbos e sua nalidade é demonstrar com clareza a
relação entre os termos de uma frase.

Se a concordância ocorre entre sujeito e verbo, temos um caso de concordância verbal; se


ocorre entre substantivo e termos relacionados a ele, temos um caso de concordância nominal.

Vamos ver algumas regras e exemplos?

O verbo deve concordar com o sujeito.

Eu comprei comida.

Ela comprou comida.

Nós compramos comida.

Elas compraram comida.

Se o sujeito for composto (apresentar mais de um nome), o verbo vai para o plural.

Maria e João compraram comida.

José e Paula trabalham no sítio.

O adjetivo concorda com o substantivo.

Camisa bonita.

Camisas bonitas.

Vaca leiteira.
75
Vacas leiteiras.

O verbo "haver", quando pode ser substituído por "existir", ca sempre no


singular.

Há cavalos no pasto.

Havia muitos assuntos a conversar.

Houve problema na colheita.

Atividades

l Como zemos ao longo de toda esta unidade curricular, vamos praticar o que
estudamos.

Português Instrumental
Aula 8. Pontuação

Objetivo:

• reconhecer a importância da pontuação para a compreensão do


texto escrito.

Prezado(a) estudante,

Estamos a três aulas do nal de nossa jornada e você já recebeu diversas


informações durante essa caminhada. E não será menos importante para
sua formação como técnico(a) em Informática para Internet reconhecer a
importância da pontuação para a construção e compreensão do texto escri-
to. Então, nesta oitava aula, vamos conhecer alguns sinais de pontuação e
quando eles devem ser empregados. Vamos lá?

Introdução

Ao falarmos que um texto, quando de sua constituição, deve ser coeso e co-
erente, estamos nos propondo a redigi-lo sem ambiguidades e outros vícios
de linguagem. Para que isso aconteça, devemos atentar aos sinais de pontu-
ação, uma vez que estes são recursos que servem para indicar enumeração,
separação de orações e períodos, intercalação etc, bem como para deixar
claros os objetivos e o sentido do texto. Então, vamos conhecer alguns?

8.1 Vírgula ( , )
Indica uma pequena pausa na leitura. Seu uso se dá nos seguintes casos:

• Nas datas.

Ex. Cacoal, 23 de junho de 2013.

Aula 8 - Pontuação 59 Rede e-Tec Brasil


• Após o uso dos advérbios "sim" ou "não", usados como resposta,
no início da frase.

Ex. Você gostou do jantar?

– Sim, eu adorei!

• Após a saudação em correspondências.

Ex. Atenciosamente,

• Para separar termos de uma mesma função sintática.

Ex. A casa tem três quartos, dois banheiros, três salas e um quintal.

• Para destacar elementos intercalados, como:

a) uma conjunção

Ex. Estudamos bastante, logo, merecemos férias!

b) um adjunto adverbial

Ex. Estas crianças, com certeza, serão aprovadas.

c) um vocativo

Ex. Apressemo-nos, Lucas, pois não quero chegar atrasado.

d) um aposto

Ex. Juliana, a aluna destaque, passou no vestibular.

e) uma expressão explicativa

Ex. O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu
princípio em Deus.

Rede e-Tec Brasil 60 Português Instrumental


• Para destacar os objetos pleonásticos.

Ex. As provas, eu as corrigi hoje.

• Para separar orações intercaladas.

Ex. Felicidade, já dizia minha mãe, é amar e ser amado.

• Para separar orações coordenadas adversativas, conclusivas, ex-


plicativas e algumas orações alternativas.

Ex. Esforçou-se muito, porém não conseguiu o prêmio.

Vá devagar, que o caminho é perigoso.

Estude muito, pois será recompensado.

As pessoas ora dançavam, ora ouviam música.

• Para separar orações subordinadas substantivas e adverbiais


(quando estiverem antes da oração principal).

Ex. Quem inventou a fofoca, todos queriam descobrir.

Quando voltei, soube que precisava estudar para a prova.

• Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas.

Ex. A incrível professora, que ainda estava na faculdade, dominava todo o


conteúdo.

8.2 Ponto e vírgula ( ; )


Usado para marcar uma pausa mais longa, ou seja, é um sinal de pontuação
que está entre a vírgula e o ponto nal.

• Utiliza-se para marcar itens de uma enumeração.

Ex. O portfólio conta com os seguintes documentos;

Aula 8 - Pontuação 61 Rede e-Tec Brasil


memorandos;

requerimentos;

declarações;

ofícios.

• Separar orações coordenadas que já possuem vírgulas.

Ex. Após a realização da prova, 35 alunos foram aprovados; 5 alunos, não.

8.3 Ponto ( . )
Usa-se o ponto para encerrar uma frase, período, oração declarativa.

Ex. Vitor é uma criança muito feliz.

8.4 Ponto de interrogação ( ? )


Empregado após uma pergunta direta.

Ex. Você está compreendendo as aulas de português?

8.5 Ponto de exclamação ( ! )


Para indicar surpresa, espanto, estados emotivos, chamamento.

Ex. Vamos continuar nossa jornada!

8.6 Dois pontos ( : )


• Usados para iniciar citações.

Ex. Já dizia o ditado: lho de peixe, peixinho é.

• Marcar falas em um diálogo.

Ex. A mãe encheu os olhos de lágrimas e disse:

Rede e-Tec Brasil 62 Português Instrumental


- Minha lha, eu te amo!

• Iniciar uma enumeração.

Ex. O portfólio conta com os seguintes documentos:

memorandos;

requerimentos;

declarações;

ofícios.

8.7 Aspas ( “ ” )
• Empregam-se para marcar citações.

Ex. “Vivemos em um país democrático”, destacou a presidente.

• Destacar palavras estrangeiras, gírias.

Ex. O “show” foi maravilhoso!

• Destacar nomes de livros.

Ex. O livro “Dom Casmurro” de Machado de Assis é uma importante obra da


literatura brasileira.

Deve ter cado claro nessa aula a importância que a pontuação tem para o
bom entendimento de um texto. A falta de pontuação ou a sua má empre-
gabilidade compromete o sentido e a clareza da mensagem.

Resumo
Nessa aula você pôde perceber que os sinais de pontuação são importantes
não só para a entonação da frase, mas também para garantir a nalidade e
o sentido do texto. Assim, a pontuação pode ser e ciente e e caz quando
empregada corretamente – indicando de maneira expressiva cada sinal a ele
destinado em cada contexto: oral ou escrito na língua.

Aula 8 - Pontuação 63 Rede e-Tec Brasil


Atividade de aprendizagem
1. Leia o conto de João Anzanello Carrascoza.

Pontos de Vista

Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português


quando estourou a discussão.

— Esta história já começou com um erro — disse a Vírgula.

— Ora, por quê? — perguntou o Ponto de Interrogação.

— Deveriam me colocar antes da palavra "quando" — respondeu a


Vírgula.

— Concordo! — disse o Ponto de Exclamação. — O certo seria:

"Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Portu-


guês, quando estourou a discussão".

— Viram como eu sou importante? — disse a Vírgula.

— E eu também — comentou o Travessão. — Eu logo apareci para o


leitor saber que você estava falando.

— E nós? — protestaram as Aspas. — Somos tão importantes quanto


vocês. Tanto que, para chamar a atenção, já nos puseram duas vezes
neste diálogo.

— O mesmo digo eu — comentou o Dois-Pontos. — Apareço sempre


antes das Aspas e do Travessão.

— Estamos todos a serviço da boa escrita! — disse o Ponto de Excla-


mação. — Nossa missão é dar clareza aos textos. Se não nos coloca-
rem corretamente, vira uma confusão como agora!

— Às vezes podemos alterar todo o sentido de uma frase — disseram


as Reticências. — Ou dar margem para outras interpretações...

— É verdade — disse o Ponto. — Uma pontuação errada muda tudo.

Rede e-Tec Brasil 64 Português Instrumental


— Se eu aparecer depois da frase "a guerra começou" — disse o Pon-
to de Interrogação — é apenas uma pergunta, certo?

— Mas se eu aparecer no seu lugar — disse o Ponto de Exclamação


— é uma certeza: "A guerra começou!"

— Olha nós aí de novo — disseram as Aspas.

— Pois eu estou presente desde o comecinho — disse o Travessão.

— Tem hora em que, para evitar con itos, não basta um Ponto, nem
uma Vírgula, é preciso os dois — disse o Ponto e Vírgula. — E aí entro
eu.

— O melhor mesmo é nos chamarem para trazer paz — disse a Vír-


gula.

— Então, que nos usem direito! — disse o Ponto Final. E pôs m à


discussão.

(Conto de João Anzanello Carrascoza. Disponível em: <http://revistaes-


cola.abril.com.br/fundamental-1/pontos-vista-634247.shtml> Acesso
em: 23 jun. 2013.)

Após a leitura do conto, comente a importância do emprego dos sinais de


pontuação para a produção textual.

Caro(a) estudante,

O nosso objetivo foi deixar o mais claro possível o entendimento do uso da


pontuação em diversas circunstâncias, seja na oralidade ou na escrita. Você
percebeu que o uso adequado dela é importante para o bom entendimento
textual. Logo, cada uma das expressões transcritas em nosso dia a dia ne-
cessita da adequação e ciente e e caz em cada pontuação como objetivo
expressivo da língua(gem) e suas exões. A próxima aula tratará de concor-
dância.

Vamos adiante!

Bons estudos.

Aula 8 - Pontuação 65 Rede e-Tec Brasil


Aula 9. Concordância

Objetivo:

• reconhecer a importância da concordância nominal e verbal na


produção oral e escrita.

Prezado(a) estudante,

Estamos chegando ao nal da disciplina e você já teve oportunidade de


aprender diversos conceitos. Para sua formação como técnico(a) em Infor-
mática para Internet, é essencial compreender que a concordância nominal e
verbal no ato de produção oral e escrita auxiliam na compreensão da língua
padrão. Continue disciplinado(a) em seus estudos e não deixe de realizar as
atividades de aprendizagem.

Introdução

Sintaxe é o estudo das regras que regem a construção de frases nas lín-
guas naturais. A sintaxe é a parte da gramática que estuda a disposição das
palavras na frase e das frases no discurso orais e escritos, incluindo a sua
relação lógica entre as múltiplas combinações possíveis para transmitir um
signi cado completo e compreensível. Logo, a concordância é o mecanismo
através do qual as palavras alteram suas terminações para se adequarem
harmonicamente umas as outras na frase. Assim, sintaxe de concordância
é a harmonia de exão das palavras de uma frase, e esta se divide em dois
tipos principais: a concordância nominal e a concordância verbal.

9.1 Quando e para que usar a


concordância: empregabilidade e
situações signi cativas de uso
Muitas vezes nos perguntamos por que estamos aprendendo tal regra gra-
matical se existe o pensamento, por parte de alguns, de que nunca vamos
usá-la. Essas indagações são frequentes quando partimos para o ensino da
gramática da Língua Portuguesa.

Aula 9 - Concordância 67 Rede e-Tec Brasil


O que devemos levar em consideração no aprendizado da sintaxe de con-
cordância, por exemplo, é sua empregabilidade em situações signi cativas e
reais de uso, ou seja, tanto na oralidade quanto na escrita.

Vejamos alguns exemplos que, corriqueiramente, podem acontecer, princi-


palmente a partir da concordância. Observe os exemplos a seguir, nos quais
os termos destacados estão errados.

• Em entrevista de emprego;

Ex. Estou quite com o serviço militar. / Estou quites com o serviço militar.

Estou meio nervosa. / Estou meia nervosa.

• Ao anunciar a venda de algum bem;

Ex. Vende-se um computador. / Vende-se uns computadores.

• Ao escrever um e-mail;

Ex. As fotos seguem anexas ao relatório. / As fotos seguem em anexas ao


relatório.

• Ao informar as horas;

Ex. Já são dez para uma. / Já é dez para uma.

• Na entrada de um show musical

Ex. É proibida a entrada de menores. / É proibido a entrada de menores.

Esses são alguns exemplos de empregabilidade e uso real das regras de con-
cordância.

9.2 O que é concordância nominal?


É a concordância em gênero e número do adjetivo, artigo, numeral e prono-
me com o substantivo a que se refere.

Rede e-Tec Brasil 68 Português Instrumental


Ex.: Veja este carro quebrado.

Vendo moto e carro usados.

REGRAS ESPECIAIS
Casos Normas Exemplos
Adjetivo posposto a dois ou mais O adjetivo fica no plural ou concorda Comprei abacaxi e melancia ma-
substantivos. com o substantivo mais próximo. duros.
Comprei abacaxi e melancia
madura.
Adjetivo anteposto a dois ou mais O adjetivo concorda com o substanti- Na sala, havia lindas fotografias e
substantivos. vo mais próximo. desenhos.
Na sala, havia lindos desenhos e
fotografias.

• Se os substantivos pospostos forem sinônimos, o adjetivo deve


concordar com o mais próximo.

Ex.: Cuidava dos doentes com carinho e ternura exemplar.

• Se os substantivos pospostos forem nomes próprios, o adjetivo


deve car no plural.

Ex.: A torcida vibrava com os talentosos Zico e Sócrates.

LEMBRETE
Caso Norma Exemplos
Muito obrigado, disse Cristian.
Muito obrigada, disse Ingrid.
Obrigado Muito obrigada! (Emissor do gênero
feminino.)

Ele próprio/mesmo fez o trabalho.


Ela própria/mesma fez o trabalho.
Próprio/mesmo Eu mesma fiz o trabalho. (Emissor do
Concordam com a palavra a que se gênero feminino.)
referem. Ou com o gênero e número
do emissor.
O documento segue anexo.
Anexo A carta segue anexa.

Estou quite com meus credores.


Quite Estamos quites com nossos credores.

Maria comeu meia jaca e ficou meio


Meio
enjoada.

Aula 9 - Concordância 69 Rede e-Tec Brasil


Anexo precedido da preposição “em” ca invariável.

Exemplos:

Ex.: A fotogra a vai em anexo.

O livro segue em anexo.

Disponível em: <http://www.portugues.com.br/gramatica/concordancia-no-


minal-.html> Acesso em: 19 ag. 2013.

LEMBRETE
Casos Normas Exemplos
Aprendemos bastantes (adj.)
Se adjetivo, é variável. novidades hoje.
Bastante Se advérbio é invariável. Nossas aulas são bastante (adv.)
interessantes.

Vencia obstáculos o mais difíceis


Com a expressão o mais...possível, possível.
Possível deve-se fazer a variação de acordo Vencia obstaculos os mais difíceis
com o artigo que a precede. possíveis.

Sempre substitua bastante por


muito para saber se bastante Menos Advérbio, portanto, invariável. Há menos alunas do que prevíamos.
vai para o plural ou singular. É proibido entrada de animais.
BASTANTE (=muito ou Dedicação é necessário ao
suficientemente) é advérbio de candidato.
intensidade.
Essas expressões ficam invariáveis Água é bom para a saúde.
É uma forma invariável (=não vai
para o plural): quando o sujeito não vem acompa- Mas:
É proibido / É necessário / É bom
“Os empregados se esforçaram nhado de artigo ou pronome. É proibida a entrada de animais.
BASTANTE.” (=muito ou A dedicação é necessária ao
suficientemente) candidato.
“Eles são BASTANTE Esta água é boa para a saúde.
esforçados.” (=muito)
“Os espectadores saíram
BASTANTE satisfeitos.” (=muito)

Disponível em: http://


g1.globo.com/platb/
portugues/2011/05
Acesso em: 19 ag. 2013.

Rede e-Tec Brasil 70 Português Instrumental


9.3 O que é concordância verbal?
Na concordância verbal, o verbo concorda com o sujeito em número e pes-
soa.

Ex: Nós vamos à praia.

Paula vai ao supermercado.

REGRAS ESPECIAIS
Casos Normas Exemplos
Um grupo de garotos começou o
O sujeito coletivo no singular + O verbo pode ficar no singular ou tumulto.
substantivo plural. no plural. Um grupo de garotos começaram
o tumulto.
Vossa Excelência conhece bem este
caso.
O sujeito é pronome de tratamento. O verbo é empregado na 3ª pessoa.
Vossas Excelências ouvirão toda a
verdade.
A maioria dos brasileiros vive na
A maioria de, a metade de, parte de O verbo pode ficar no singular ou pobreza.
+ substantivo plural. concordar com o substantivo plural. A maioria dos brasileiros vivem na
pobreza. (Forma desprestigiada.)
40% da população apoiam a políti-
O verbo pode concordar com o ca econômica.
*Porcentagens numeral ou com o substantivo a que 40% da população apoia a política
a porcentagem se refere. econômica.
90% dos alunos foram aprovados.
*Sujeito composto anteposto ao O cão e o gato dormiam lado a
O verbo fica no plural.
verbo lado.
O verbo fica no plural ou concorda Viajaram a mãe e a filha.
Sujeito composto posposto ao verbo
com o núcleo mais próximo. Viajou a mãe e a filha.
O verbo vai para o plural, observan-
Tu, eu e meus filhos partiremos
*Pessoas gramaticais diferentes do-se que a 1ª pessoa prevalece
hoje.
sobre a 2ª e 3ª.

Sujeito composto resumido por pala- O frio, a fome, o cansaço, nada o


O verbo fica no singular.
vra ou expressões no singular impediu de terminar a jornada.

Concordância do verbo ser: era as alegrias da casa.


- sempre prevalece sobre objeto ou era só lamúrias.
soa e o predicativo é nome de coisa. abstração.) são 17 de dezembro.
são três
distâncias. expressão numérica. quilômetros.
é muito.
é bastante / é menos sujeito é pouco
é suficiente.
Verbo acompanhado de partícula se
ficará obrigatoriamente no singular,
*Verbo com índice de indeterminação Precisa-se de digitadores.
caso se trate de verbo intransitivo ou
do sujeito. Vive-se bem aqui.
transitivo indireto.

Aula 9 - Concordância 71 Rede e-Tec Brasil


Vende-se galinha. (Uma galinha é
Verbo transitivo direto acompanhado
vendida.)
Voz passiva sintética. de pronome apassivador se concorda
Vendem-se galinhas. (Galinhas são
Para ouvir uma paródia acerca com sujeito.
vendidas.)
do emprego da concordância
verbal, acesse: http://www. Faz um ano que ele se mudou.
Os verbos fazer e haver quando
scribd.com/doc/18472249/ Faz dez anos que ele se mudou.
indicarem passagem de tempo. Em
musica-concordancia-verbal. Deverá fazer dez anos que ele se
formas compostas, o
mudou.
verbo auxiliar também será impes-
Havia meses que o dólar se desva-
Verbos impessoais – flexionam-se soal.
lorizava.
apenas na 3ª pessoa do singular.
Há poucas ofertas de emprego nesta
O verbo haver, na acepção de existir. época. (MAS Existem poucas ofertas
de emprego nesta época.)
Verbos que indicam fenômeno da
Choveu meses nas regiões serranas.
natureza: chover, nevar, trovejar etc.

Quando se estuda uma língua, é válido não particularizar a “palavra” como


ponto de partida para uma dada função. Sendo assim, o estudo da “frase”
e suas relações são elementos constituintes ao entendimento do texto – ou
seja, principal objetivo da sintaxe: suas correspondências nas exões “verbal
e, ao mesmo tempo, nominal” num dado enunciado.

Resumo
A sintaxe, além de estudar as regras nas construções das frases, é responsá-
vel direta pela lógica desses discursos construídos a partir da concordância
nominal e verbal em cada frase: seja ela oral ou escrita.

Atividades de aprendizagem
1.Encontre os sete erros de concordância no texto a seguir. Grife-os e os
reescreva corretamente:

Ao partir de Itabira, Helena prometeu a Paulo que voltaria em breve.


Comprometeu-se também a enviar pequenas surpresas, as quais se-
guiram anexos aos documentos. Ele, então, transbordando de cari-
nho, disse à amada que não precisava se comprometer daquela forma,
porém, ansiava por receber uma foto, que poderia seguir incluso à
primeira remessa.

Assim que chegou à cidade Maravilhosa, Helena encontrou uma re-


alidade totalmente diferente da do interior de Minas Gerais! Dia sim,
dia não, chegava uma carta de Paulo, e Helena, atarefadíssima, não
encontrava tempo para responder. Como arrumar uma brecha para
isso em meio a tantas atividades? Ela mesmo não sabia. Ele continuava
a escrever – já tinha chegado seis cartas dele -, e ela, a não respon-

Rede e-Tec Brasil 72 Português Instrumental


der. Jamais cariam quite naquela situação. Uma nova amiga tentou
ajudar Helena. “Muito obrigado”, disse ela, “eu mesmo vou ter de
resolver essa situação”. (CIPRO NETO, 2007)

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

2. Realize uma pesquisa, no bairro onde reside, de placas e/ou anúncios que
apresentem desvios de concordância nominal e verbal. Esta atividade poderá
ser ilustrada (fotos) ou escrita.

Aula 9 - Concordância 73 Rede e-Tec Brasil


álbum: ________________________________________________________________________________________

62 armazém: _____________________________________________________________________________________

robô: __________________________________________________________________________________________

exército: ______________________________________________________________________________________

pajé: __________________________________________________________________________________________

tevê: __________________________________________________________________________________________

Tópico 2: Crase
O acento grave, conhecido como crase, representa a união de duas vogais em uma só: a + a = à.

Usa-se crase para indicar que a preposição "a" e o artigo "a"


estão juntos.

Os artigos em nosso idioma podem ser de nidos (o, a, os, as) ou inde nidos (um, uma, uns,
umas) e aparecem ao lado de um substantivo. Observe exemplos.

A casa, o livro, as casas, os livros, um amigo, uma amiga, uns amigos, umas amigas.

Comentário do autor

d O artigo de nido especi ca o substantivo. Quando digo que o livro sumiu é


justamente o artigo que determina um livro especí co. Se eu disse que um livro
sumiu, não especi caria exatamente qual é o livro.

A crase ocorre principalmente com artigo de nido feminino (a, as).

Observe um exemplo com termo masculino e, depois, com termo feminino para entender
bem.

Vou ao escritório.
Vou a + o escritório.

O verbo pede preposição "a" e o substantivo masculino pede artigo "o".

Português Instrumental
Agora, observe com substantivo feminino.

Vou à escola.
Vou a + a escola

Quanto às preposições, elas geralmente aparecem entre verbos e nomes.

Gosto de livro.

A preposição "de" une o verbo ao nome. Devemos ter muita atenção para saber se o verbo ou
o nome pede preposição. Observe.

Encontrei o livro. = O verbo não pede preposição.

Preciso de livros. = O verbo pede preposição.

Para descobrir se o verbo pede preposição ou não, sempre pergunte ao verbo. Observe!

João comprou o livro.


Pergunta: Quem compra, compra o quê?

João precisa do livro.


Pergunta: Quem precisa, precisa de quê?

João se refere ao livro.


Pergunta: Quem se refere, se refere a quê?

Casos em que ocorre crase


A crase ocorre quando a preposição “a” se une qualquer um dos casos a seguir.
63
Artigo feminino "a" ou "as"

Re ro-me à revista.

Re ro-me às revistas.

Português Instrumental
Locuções adverbiais femininas
64
Trabalho à noite.

A colheita começará às seis horas da manhã.

Estou à disposição.

O patrão estará à porta de sua casa.

Às vezes, acompanho a ordenha.

Antes de nomes de lugares se o termo anterior pedir a preposição "a" e o lugar


pedir o artigo "a"

Vou a Brasília. = Brasília não pede artigo "a".

Vou à Bahia. = Bahia pede o artigo "a"

Como descobrir se o lugar pede ou não artigo? Basta usar a construção "venho de" ou "venha da".

Venho de Brasília. Vou a Brasília.

Venho da Bahia. Vou à Bahia.

Antes de pronomes demonstrativos "aquela" e "aquele"

Fiz referência àquele processo.

Fiz referência àquela decisão.

Antes de "a qual" e "as quais"

A revista à qual me re ro sumiu.

As leis às quais nos submetemos são justas.

Com a palavra "distância" determinada na função de adjunto adverbial

Fique à distância de dois metros.

Na manutenção do paralelismo em construções coordenadas

De 8h a 10h.

Das 8h às 10h.

De segunda a sexta.

Da segunda à sexta.

O direito a remuneração e a trabalho.

O direito à remuneração e ao trabalho.

Português Instrumental
Casos em que não ocorre crase
Não usamos crase nos seguintes casos:

Casos em que não ocorre


Ela estava crase
a estudar.
Antes de verbo
Não usamos crase nos seguintes
Ela coucasos:
a chorar.

Contei a ela.
Antes de
pronomes em Contei a você.
geral Re ro-me a quem chegou.

Antes de termos Contei a Pedro.


masculinos em
geral Re ro-me ao menino.

Antes da palavra Cheguei a casa cedo.


casa sem estar Cheguei à casa de meu irmão. = Ocorre a crase porque o termo está
especi cada especi cado.

Antes da palavra Os marinheiros chegaram a terra.


"terra" no sentido Os astronautas chegaram à Terra. = Ocorre a crase porque o termo
de chão indica planeta.

Cara a cara.
Expressão
com palavras Frente a frente.
repetidas Gota a gota. 65

Devido a ocorrências inesperadas.

Devido às ocorrências inesperadas.


Antes de palavras
Quanto a situações.
no plural e "a"
anterior no Quanto às situações.
singular
Tudo correu a expensas do contribuinte.

Tudo correu às expensas do contribuinte.

O documento foi enviado a Vossa Excelência.


Antes de pronome
de tratamento A Sua Excelência o senhor Fulano de Tal.

Português Instrumental
Casos em que a crase é facultativa
66 Existem três casos especí cos em que a crase é facultativa.

Nomes de mulheres

Re ro-me a/à Paula.

Comuniquei a/à Denise.

Quando o nome aparecer determinado por uma qualidade ou característica, o artigo será
obrigatório.

Falei o assunto à Denise, minha irmã.

Quando o nome aparecer determinado por sobrenome, preferencialmente não use o artigo.

O texto fazia alusão a Paula Alves.

Pronomes possessivos adjetivos

Re ro-me a/à minha secretária.

Entreguei o presente a/à minha melhor amiga.

Até

Vou até a diretoria. = Preposição.

Vou até à diretoria. = Expressão denotativa de inclusão, no sentido de "inclusive".

Atividades

l Este tópico é um dos mais importantes dentro deste tema. O uso da crase
normalmente é acompanhado de dúvidas e a melhor maneira de esclarecê-las é
praticando. Vamos lá!

Questão 1
Indique quais frases a seguir devem receber crase.

a) Fui a cavalo.

b) Vou a São Paulo.

c) Estou a disposição.

Português Instrumental
d) Contei tudo a você.

e) Todos estavam a trabalhar.

f) Re ro-me a novela.

g) Pedi a ele um favor.

h) Informei a diretoria tudo.

i) Irei a fazenda ainda hoje.

j) Devemos ter acesso a merenda escolar.

Questão 2
Indique se a placa a seguir está correta ou incorreta em relação ao uso da crase.

Fonte: Acervo do autor.

a) Correta.

b) Incorreta. 67

Questão 3
Indique se o nome da novela está correto ou não.

Fonte: Globo.com.

Português Instrumental
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

Reitor Professores Conteudista


Gustavo Pereira da Costa José Antônio Vieira
Luciana Martins Arruda
Vice-Reitor Revisão de Linguagem
Walter Canales Sant´ana Jonas Magno Lopes Amorim

Pró-Reitora de Graduação Designer de Linguagem


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Pedagógica

Vieira, José Antônio

Produção textual e cientí�ca [ebook]. / José Antônio Vieira,


Luciana Martins Arruda. – São Luís: UEMAnet, 2021.

62 f.

ISBN: 978-65-89787-44-0.

1.Texto acadêmico. 2. Normas da ABNT. 3.Ética


cientí�ca. 4.Plágio. I.Arruda, Luciana Martins II.Título.

CDU: 028:373.3
SUMÁRIO

UNIDADE 01 – Conhecimento, pesquisa e texto cientí�co

1.1 O conhecimento cientí�co ................................................................................08

1.2 A pesquisa cientí�ca .........................................................................................09

1.3 Objeto de estudo/pesquisa e problemática .......................................................11

1.4 O que é texto cientí�co/acadêmico? ................................................................14

RESUMO .............................................................................................................14

EFERÊNCIAS .....................................................................................................15
.

UNIDADE 02 – Gêneros acadêmicos – resumo, resenha e artigo

2.1 Os gêneros textuais acadêmico-cientí�cos: conceitos iniciais .........................17

2.2 Tipos de produções cientí�cas .........................................................................19

RESUMO .............................................................................................................39

REFERÊNCIAS ..................................................................................................40

UNIDADE 03 – Normas, organização e regulamentação da escrita


cientí�ca

3.1 A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ......................................43

3.2 Paráfrase .........................................................................................................44


3.3 Discurso citado ................................................................................................50

3.4 CITAÇÃO .........................................................................................................53

3.5 FORMATAÇÃO ................................................................................................59

RESUMO .............................................................................................................61

REFERÊNCIAS ..................................................................................................62
APRESENTAÇÃO

Este é o e-Book da disciplina de Produção Textual Cientí�ca. É com muita


satisfação e dedicação que elaboramos este trabalho. Temos o objetivo de apresentar
conceitos, estratégias e técnicas de produção acadêmico-cientí�ca por meio de
uma metodologia dinâmica e inovadora, com foco no desenvolvimento prático e
autônomo, e apoio do uso de tecnologias da informação e da comunicação para a
Educação Superior.

Nosso material está fundamentado nos principais conceitos teóricos


e metodológicos, com a missão de auxiliar a promoção e consolidação do
conhecimento pro�ssional e cientí�co na área de linguagem. A ideia é contribuirmos
com a formação cientí�ca de qualidade, a partir do planejamento que reconheça a
importância do conhecimento cientí�co e do fazer cientí�co.

A sociedade atual vive uma ebulição de informações e, consequentemente,


de novos saberes do senso comum. Porém, é de conhecimento universal, que, ao
contrário desta diversidade de produções desenvolvidas no cotidiano, a sociedade
possui uma grande demanda de produção técnico-cientí�co. Isto é, necessidade de
novos conhecimentos sistemáticos que, fundamentados pela atividade cientí�ca,
podem contribuir com a resolução de problemas sociais de diversas ordens.

5
É com essa premissa, e com o objetivo de auxiliá-lo(a) na produção de
conhecimentos cientí�cos, que pretendemos mostrar como podemos desenvolver
essa forma de saber, bem como entender quais práticas estão associadas ao domínio
das técnicas de produção destas formas de trabalhos acadêmico-cientí�cos.

Por isso, dividimos este e-Book em quatro Unidades. A primeira,


“Conhecimento, pesquisa e texto cientí�co”, abordará as características da formação
do espírito cientí�co, e dos produtos resultantes do fazer cientí�co. A segunda
abordará os tipos de produção de gêneros acadêmicos presentes na ciência –
resumo, resenha e artigo, bem como, desenvolver uma grande e necessária re exão
sobre a produção de conhecimento teórico-metodológico na sociedade.

Na terceira apresentaremos as de�nições institucionais de regras e


normatizações da prática de escrita e desenvolvimento de pesquisa cientí�ca. Ao
�nal, na quarta unidade, apresentaremos algumas noções sobre ética na escrita do
texto cientí�co, plágio e tipos de plágio.

Assim, por meio da leitura deste e-Book, esperamos contribuir com a


aquisição de informações e conhecimentos sobre a prática de escrita cientí�ca
presente no contexto acadêmico cientí�co.
Bons estudos!

6
CONHECIMENTO, PESQUISA E
TEXTO CIENTÍFICO

UNIDADE

Objetivos

Demonstrar os conceitos dos elementos que alicerçam a produção cientí�ca;


Apresentar a base epistemológica da produção de textos acadêmico-cientí�cos;
nas universidades, faculdades e em institutos de pesquisas brasileiros;
Apresentar concepções gerais de conhecimento, pesquisa e texto cientí�co;
Demonstrar as noções que fundamentam teórica e metodologicamente a produção
escrita de textos cientí�cos.

Figura 1 - Compartilhamento de conhecimento

Fonte: https://www.pngwing.com/en/free-png-nslfc

Olá! Vamos iniciar os estudos sobre a prática e produção de textos acadêmico-


cientí�cos, um conteúdo de muita importância para todos que estão desenvolvendo
pesquisas e/ou disciplinas relacionadas à prática de investigações. A temática
que desenvolvemos nesta unidade tem como foco a compreensão de conceitos e

7
concepções sobre os elementos que estruturam o fazer cientí�co na universidade e
institutos de pesquisas.

É de saber geral que o conhecimento é uma das bases de sustentação


da sociedade. Podemos compreendê-lo como fundamentação para possíveis
resoluções de problemas que vivenciamos em sociedade. Entre as formas de
conhecimento existentes, vamos apresentar elementos e métodos de produção do
saber cientí�co que são desenvolvidos por meio da escrita de textos acadêmicos.

Para isso, dividimos esta primeira Unidade em quatro tópicos. No primeiro,


re etimos sobre as características do conhecimento cientí�co. Em um segundo
momento, no tópico 02, apresentamos os conceitos e concepções sobre a pesquisa
cientí�ca, possibilitando uma re exão em relação aos princípios norteadores da
produção textual em contexto acadêmico. No tópico 03, propomos uma discussão
sobre a formulação de objetos e problemas de pesquisas, compreendendo-os
como base fundamental para a prática cientí�ca. Por �m, abordamos, no tópico 04,
o conceito de texto acadêmico-cientí�co.

A seguir, apresentamos os principais objetivos desta nossa primeira unidade.


Boa leitura! E Bons Estudos!

1.1 - O conhecimento cientí�co

Para este primeiro tópico da Unidade 01 de nosso material, retomamos conceitos


sobre a produção de saberes na sociedade, no sentido de demonstrar as
características fundamentais do fazer cientí�co.

8
Atenção
O senso comum presente na sociedade possui em sua estrutura
diferentes formas de conhecimento.
É importante reconhecermos que o conhecimento cientí�co, diferente
de outros presentes na sociedade, tem por especi�cidade fundante a
adoção de metodologias públicas e rigorosas, que buscam em sua essência
a constituição de fundamentos e argumentos cientí�cos, com objetividade e neutralidade.
Porém, é possível dizermos que há condições que in uenciam na produção do
conhecimento cientí�co, assim como outros saberes do senso comum, como o religioso.

Para Demo (2000, p. 29) “conhecimento cientí�co é o que busca fundamentar-


se de todos os modos possíveis e imagináveis, mas mantém consciência crítica de
que alcança este objetivo apenas parcialmente, não por defeito, mas por tessitura
própria do discurso cientí�co”. Segundo o autor, o processo de argumentação
desenvolvido por trabalhos cientí�cos, precisam ser estruturados de forma que
“permitam ser desmontados e superados”
É preciso enfatizar que o conhecimento cientí�co é discutível. Não pela mera
polêmica, mas discute-se uma tese porque se chega a outra melhor elaborada.
Não é a crítica pela crítica. Mas, como Pedro Demo bem colocou é a crítica e
autocrítica porque só assim é possível ter as alterações, revisões e substituições
dos paradigmas.

1.2 - A pesquisa cientí�ca

Nesta sessão temos o objetivo de apresentar o conceito de pesquisa


cientí�ca. Compreendemos que é importante para os estudantes e pesquisadores
de universidades, faculdades e institutos de pesquisa, entenderem que o processo
de escrita cientí�ca transcende o domínio sobre as técnicas de escrita de um texto
acadêmico. Para que possamos desenvolver pesquisas e consequentemente
produzir novos conhecimentos cientí�cos, é necessário compreendermos que a
prática de pesquisa é, nos dias de hoje, um exercício e trabalho de pro�ssionais de
diferentes áreas de conhecimento.

9
As pesquisas cientí�cas têm como propriedade fundamental a busca por
melhorias na qualidade de vida da sociedade, bem como resolução de problemas
sociais. Não diferente, os trabalhos cientí�cos materializados em textos, sejam
aqueles desenvolvidos no início, no desenvolvimento, ou ao �nal da pesquisa, se
caracterizam no ambiente universitário, como gêneros acadêmicos com diferentes
estruturas. Como exemplo, podemos citar: resumo, resenha, artigos, e entre outros.
Conforme vimos até aqui, foi possível perceber que a pesquisa cientí�ca se
caracteriza enquanto um procedimento que faz uso de metodologias próprias com
o objetivo de desenvolver conhecimentos cientí�cos. Richardson (1999, p. 22) nos
a�rma que “O método cientí�co é o caminho da ciência para chegar a um objetivo.
A metodologia são as regras estabelecidas para o método cientí�co [...]”
Neste sentido, também podemos retomar as contribuições de Demo (2006, p. 10),

A pesquisa pode signi�car condição de consciência crítica e cabe com


o componente necessário de toda proposta emancipatória. Para não ser
mero objeto de pressões alheias, é mister encarar a realidade com espírito
crítico, tornando-a palco de possível construção social alternativa. Aí, já
não se trata de copiar a realidade, mas de reconstruí-la conforme nossos
interesses e esperanças. É preciso construir a necessidade de construir
caminhos, não receitas que tendem a destruir o desa�o de construção.

SUGESTÃO DE VÍDEO
Para saber mais sobre o conteúdo assista ao vídeo
“Metodologia do conhecimento cientí�co” com Pedro
Demo. Acesse o link: https://www.youtube.com/
watch?v=7hLqaJLQ5Q4

10
Figura 2 - Capa do Livro Introdução à Metodologia da Ciência

Fonte: www.amazon.com.br

1.3 - Objeto de estudo/pesquisa e problemática

Para o desenvolvimento de qualquer forma de pesquisa, independentemente


de áreas de estudo, sempre precisamos ter em vista o desenvolvimento de um
objeto de estudo. É a formulação e de�nição de um problema e ou fenômeno social
como elemento de análise e re exão teórico-cientí�ca.

Ribeiro (2016, p. 119), ao retomar os estudos de Bachelard (1996), propõe


reconhecermos que “a constituição de um objeto de pesquisa seria correlata à
inscrição de um nome próprio, um nome para que não seja mais preciso apontar o
dedo. [...] Trata-se, portanto, de despir-nos desses caminhos imaginários – que são
aqueles baseados em um julgamento moral|”.

Conforme vimos, o desenvolvimento de um objeto de estudo está interligado


a inscrever-se enquanto pesquisador dentro de uma proposta de problematização
de um fenômeno da linguagem, e enfrentar os imaginários possíveis que podem
contribuir com a resolução ou diagnóstico do problema levantado.

11
Segundo Ribeiro (2016), é possível entender que o desenvolvimento de
um objeto de estudo/pesquisa pode con�gurar-se como a construção singular do
pesquisador que produz um texto acadêmico.

- O problema cientí�co
Toda atividade cientí�ca requer o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos que
se caracterizam de formas diferentes, porém, todos possuem uma relação com a
formulação de um objeto de estudo, que consequentemente se constitui a partir do
desenvolvimento de um problema de pesquisa.
A problemática se estrutura inicialmente por meio da dúvida de um pesquisador.
Ao se �liar a um campo teórico de investigação cientí�ca, este pesquisador
desenvolve e seleciona métodos e técnicas cientí�cas que o auxiliarão no
desenvolvimento de seu estudo sobre o fenômeno problematizado.

1.4 - O que é texto cientí�co/acadêmico?

Os textos cientí�cos, também são conhecidos como trabalhos acadêmicos,


que se caracterizam como uma produção textual, uma narrativa escrita que faz
uso de conceitos e teorias para fundamentar uma re exão e/ou uma análise de
fenômenos sociais de diferentes áreas, resultados de pesquisas cientí�cas.

Esta forma de produção é própria da comunidade acadêmico-cientí�ca,


que no Brasil é representada em grande parte pelas universidades. Entre suas
características, o texto cientí�co tem uma linguagem própria e especí�ca da área de
estudo, mas de forma geral, se organiza por meio de uma linguagem objetiva, que
evita ambiguidade, e tem entre como uma de suas preocupações, a informatividade
e clareza em seus conceitos.
Para Ribeiro (2016, p. 122),
A escrita do texto acadêmico, para um pesquisador da área de linguagem,
diferentemente de outras áreas de conhecimento, constitui-se como
suporte e produto de uma investigação cientí�ca. É pela escrita de tal texto
que os resultados da pesquisa empreendida são divulgados, à medida
que tal escrita se con�gura como produto dessa investigação.

12
A autora nos reforça a concepção de que, ao escrever um texto cientí�co,
precisamos atender duas etapas de investigação. A primeira é a de apresentar para
sociedade os resultados da pesquisa, e a segunda é compreender que o texto
concluído funciona como prova material da experiência cientí�ca desenvolvida a
partir do desenvolvimento de um objeto de estudo.
Para Vieira e Fabiano (2013, p. 251),

A produção escrita de textos acadêmicos possui em sua estrutura


procedimentos teórico-metodológicos, como a apresentação de um
problema, a criação de um objeto de pesquisa e a utilização de outros
discursos, como argumentação e sustentação da investigação, que é
realizada pelo jovem-pesquisador.

Alguns gêneros textuais acadêmico-cientí�cos não possuem em sua


estrutura a necessidade de objetos de estudos especí�cos, o resumo e a resenha
por exemplo. Porém, estas produções são oriundas da análise de outros textos
acadêmicos que podem conter em sua estrutura, um objeto de pesquisa de�nido.

Assim, a escrita de textos cientí�cos demanda de quem escreve um domínio


sobre a produção e identi�cação de problemas de pesquisa, objetos de estudo, e toda
articulação de procedimentos teórico-metodológicos utilizados como mecanismos
de argumentação.

• Os tipos e as correspondências

Um conteúdo importante para lembrarmos são os conceitos universais de


tipologias textuais, como texto narrativo, descritivo e argumentativo.

Estas formas de textos estão presentes e estruturam os gêneros textuais. No


contexto acadêmico, podemos citar como exemplos a escrita de resumos, resenhas
e artigos cientí�cos.

13
SAIBA MAIS: CARACTERÍSTICAS
O Texto cientí�co - revela pesquisa, possui rigor cientí�co e visa
publicação. Ex. monogra�as, teses, resenhas e artigos cientí�cos.
O Texto técnico - relativo às pro�ssões, a atividades empresariais
e repartições públicas. Ex. atas, memorandos, circulares,
requerimentos, relatórios, avisos entre tantos outros.

Proximidades
As redações técnico-cientí�cas apresentam características que são regidas pelos mesmos
princípios básicos (no sentido amplo) que orientam a estruturação de qualquer texto
escrito, ou seja: clareza – coesão e coerência – objetividade, correção e obediência
às normas gramaticais.

Tabela1 - Redação técnico-cientí�ca


Redação técnico-cientí�ca
Precisão do vocabulário, a exatidão dos pormenores.
Imparcialidade e comunicabilidade: e�cácia e a exatidão da comunicação
Esclarecer, informar
Objetividade
Não permite ambiguidade
Uniformidade na estrutura, na terminologia e no estilo.
Linguagem denotativa
Função referencial
Fonte: elaborada pelos autores

RESUMO

Nesta Unidade estudamos o conceito de conhecimento cientí�co e as


características fundamentais do fazer cientí�co, como o uso das metodologias
adequadas, a escolha do objeto de estudo e do problema de pesquisa. Também
aprendemos a diferença entre o texto cientí�co e o texto técnico. Para que um texto
seja considerado cientí�co, ele deve obedecer a alguns princípios básicos, como
clareza, coesão e coerência, objetividade, correção e emprego adequado das
normas gramaticais. Portanto, o conhecimento cientí�co apresenta características
especí�cas e não deve ser confundido com o conhecimento produzido pelo senso
comum.
14
REFERÊNCIAS

BACHELARD, G. Aformação do espírito cientí�co. Contribuição para a psicanálise


do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

DEMO, P. Metodologia do conhecimento cientí�co. São Paulo: Atlas, 2000.


_____. Pesquisa: princípio cientí�co e educativo. 12. Ed. São Paulo: Cortez, 2006

RIBEIRO, M. A. de O. Para não apontar o dedo: a constituição de um objeto de


pesquisa In. TOLOMEI & LIMA (Orgs.) Entre Fronteiras: re exões entre linguística
e literatura. São Luís: EDUFMA, 2016.

RIBEIRO, M. A. de O. Contornando Nevoeiros: A escrita de um objeto de pesquisa In.


TOLOMEI & LIMA (Orgs.) Entre Fronteiras: re exões entre linguística e literatura.
São Luís: EDUFMA, 2016.

VIEIRA, J. A; CAMPOS, S. F; “Da Formação à Produção Escrita na Graduação”, p.


251 -268. In: Rumos da linguística brasileira no século XXI. São Paulo: Blucher,
2016.

15
GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICO-
CIENTÍFICOS – RESUMO, RESENHA E
ARTIGO

UNIDADE

Objetivos

Apresentar o conceito de gênero textual acadêmico-cientí�co;


Demonstrar as características dos gêneros acadêmicos: resumo, resenha
e artigo cientí�co;
Desenvolver técnicas e procedimentos da produção escrita cientí�ca.

Na primeira Unidade, apresentamos os conceitos fundamentais que norteiam


a produção cientí�ca em instituições de pesquisa e Ensino Superior do país. A partir
disso, na segunda Unidade, vamos desenvolver o conhecimento sobre os gêneros
textuais característicos do contexto acadêmico-cientí�co.

Entre os diversos gêneros textuais acadêmicos, vamos trabalhar com aqueles


previstos na ementa de nossa disciplina. Para isso, faremos uma breve descrição
de conceitos e características dos gêneros acadêmicos mais utilizados no ambiente
universitário, bem como, demonstraremos técnicas de produção que o auxiliarão no
reconhecimento, e análise dessas formas de produções cientí�cas.

Inicialmente temos uma breve apresentação conceitual, para posteriormente


indicarmos as funções, tipos e estruturas organizacionais do resumo, da resenha
e do artigo cientí�co. Os exemplos consideram todas as normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), bem como os instrumentos de normatização

16
de trabalhos acadêmicos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Porém,
as normas especí�cas serão retomadas posteriormente, em outra unidade deste
e-Book.

Ao tratarmos sobre essas formas de produções escritas do ambiente


acadêmico, é muito importante lembramos que os gêneros acadêmico-cientí�cos
são desenvolvidos com o propósito de documentar e comunicar o resultado de uma
investigação, isto é, de uma pesquisa cientí�ca.

Para Severino (2014), a documentação pode ser classi�cada de três formas:


a temática, a bibliográ�ca e a geral. Esses gêneros podem ser utilizados com o
intuito de registrar e estudar textos conceituais e/ou narrativos que pretendemos
apropriar e/ou analisar.

Nesta segunda Unidade, vamos abordar o resumo e a resenha. Ao �nal


apresentaremos também algumas considerações sobre a organização textual e
técnicas de escrita do artigo cientí�co, compreendendo esses trabalhos como os
principais gêneros mobilizados na prática cientí�ca, seja para �ns de estudo, ou
para produção de trabalhos que apontem resultados de pesquisas.

2.1 – Os gêneros textuais acadêmico-cientí�cos: conceitos iniciais

As discussões sobre o conceito de gêneros textuais e o ensino deles retoma


anos de re exões e demonstra, na história, a importância desse tema para o
contexto acadêmico. Ao mesmo tempo, é perceptível as diferentes abordagens
desses estudos que retomam a teoria dos gêneros consolidada por Mikhail Bakhtin
(2003), em especial, a publicação do capítulo dos “Gêneros dos Discursos”.

Os estudos sociointeracionistas bakhtinianos nos demonstraram que as


práticas discursivas e os gêneros se organizam histórica e socialmente por meio
de diferentes esferas sociais de�nidas pela experiência que desenvolvemos em
sociedade. Ou seja, os gêneros, mesmo estáveis, sofrem alterações e mudanças
conforme suas manifestações, já que são frutos de práticas socioculturais.
17
Entre essas práticas, há aquelas caracterizadas por serem produzidas no
contexto acadêmico-cientí�co. Podemos citar os resumos acadêmicos que são
desenvolvidos para �ns de estudo de uma leitura de disciplina, ou apresentação de
um artigo cientí�co, ou, uma resenha que escrevemos como forma de avaliação ou
para construção de repertório argumentativo ou publicação. Por �m, podemos citar
os artigos cientí�cos, que produzimos para conclusões de cursos, disciplinas ou
para publicação de resultados de investigações cientí�cas.

2.1.1 O gênero textual

Para Marcuschi (2008, p. 189), “os gêneros textuais não são frutos de
invenções individuais, mas formas socialmente maturadas em práticas comunicativas
na ação linguageira”.

Conforme vimos acima, Marcuschi (2008) explica que os gêneros textuais,


mesmo que considerados frutos de produções particulares dos sujeitos em
sociedade, se caracterizam também como uma prática, uma ação, um ato de uso
da linguagem em comunidade.

2.1.2 O gênero textual acadêmico-cientí�co

A produção de gêneros, dentro de um contexto acadêmico, se de�ne por


meio de funções e características ligadas a práticas de pesquisa e investigação,
desenvolvendo, desta forma, uma modalidade de classi�cação de gêneros ligada
ao contexto da produção escrita de textos cientí�cos.

Para Aranha (2007), o discurso acadêmico possui uma estrutura linguístico-


argumentativa especí�ca para o contexto cientí�co que in uencia de forma
vertical a prática do pesquisador, gerando a necessidade de que se desenvolva
conhecimentos sobre a produção do texto cientí�co. Pois, é a partir dos gêneros
textuais desta comunidade (cientí�ca) que se materializam a prática de investigação,
e consequentemente, a divulgação, promoção e consolidação de experiências

18
de pesquisas. Em consonância, Mota-Rotth & Hendges (2010) apontam que a
produção textual acadêmica desenvolvida no contexto universitário contribui com o
letramento acadêmico-cientí�co de alunos da graduação e pós-graduação.

Entre os tipos de gêneros textuais acadêmico-cientí�cos, vamos apresentar


conceitos e técnicas de produção do resumo, da resenha e do artigo, além de, por
meio da leitura e produção destes gêneros textuais acadêmicos, re etir sobre a
prática e produção cientí�ca.

2.2 Tipos de produções cientí�cas

Neste tópico, abordaremos as características estruturais da produção de


textos cientí�cos. Para isso, apresentaremos o conceito e as formas de organização
da escrita de resumos, resenhas e artigos cientí�cos.

2.2.1 – Resumo

Os resumos acadêmicos ou mesmo aqueles característicos de sinopses de


livros, �lmes e demais trabalhos de sínteses, se con�guram como apresentações
concisas das informações e dados que estão presentes no texto fonte analisado.

Salvador (1978, p. 17-19) conceitua resumo como “uma apresentação


concisa e frequentemente seletiva do texto de um artigo, obra ou outro documento,
pondo em relevo os elementos de maior interesse e importância”.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) apresenta 03 (três)


formas de classi�cação do resumo: indicativo, informativo e crítico.

- Resumo indicativo: produção escrita que descreve a natureza, a forma e


a �nalidade do que é escrito, não transcende o objetivo de apontar indícios. Não
descarta a necessidade de leitura do texto resumido.

19
- Resumo informativo: escrita que possui a característica especí�ca de
apresentar informações. Pode substituir a leitura do texto fonte resumido.
- Resumo crítico, ou resenha crítica: será objeto deste material no próximo
tópico.

No entendimento de Salvador (2008), o resumo tem por �nalidade “apresentar


uma visão geral de investigações feitas sobre uma determinada questão, com o
objetivo de reunir conhecimentos sobre o tema que deve ser exposto e também,
ainda segundo o autor, sem discussão ou julgamento” (p. 17). Ou seja, é um texto
que se propõe a sintetizar as principais informações presentes no texto original que
apresenta os conhecimentos que serão reorganizados de forma resumida.

2.1.1.1 – O resumo em contexto acadêmico

Ao contextualizar a produção de gêneros, Schneuwly e Dolz (1999) expõem


que o resumo se constitui num “eixo de ensino/aprendizagem essencial para o
trabalho de análise e interpretação de textos e, portanto, um instrumento interessante
de aprendizagem” (p. 15). Ou seja, é uma ferramenta que auxilia a apropriação de
conceitos teóricos que mobilizaremos numa produção acadêmico-cientí�ca.

No contexto da pesquisa, é comum desenvolver a prática de resumir, pois


é uma ação regular, compreendida pelos professores da educação superior como
forma de estudo e apropriação dos conhecimentos que circulam na Academia.

Esse gênero acadêmico também possui a característica de apresentar uma


imagem de sujeito autorizado a divulgar conhecimentos originados pela pesquisa e
investigação desenvolvidas. É uma forma de possibilitar a criação de um sentido de
verdade ao situar o discurso cientí�co num lugar enquanto conhecimento validado
cienti�camente.

20
Atenção
Por que resumir um texto?
- Sintetizar textos longos auxilia o acadêmico em todas as disciplinas.
- Reforçar as ideias principais e lembrar dos postos-chave do
conteúdo.
Qual a �nalidade de um resumo?
Resumir é um ato de ler, analisar e escrever em poucas linhas o essencial para o leitor.
Preparar um resumo é também uma atividade de estudo e não só de avaliação.

• As etapas de planejamento do resumo


1. Ler e reler o texto;
2. Destacar os conceitos importantes e fundamentais do texto;
3. Pontuar palavras-chave do assunto;
4. Grifar itens e frases importantes para a compreensão do texto;
5. Organizar as ideias principais do texto, questionando: o que está sendo dito
no texto? Como eu explicaria este assunto para alguém?
6. Escrever o texto com suas palavras;
7. Iniciar pelo assunto básico/geral e depois passar para os assuntos especí�cos;
8. Não copiar trechos do livro-texto.

• Procedimentos para a escrita de um resumo


a) Leitura atenciosa do texto;
b) De�nir o tema (assunto) abordado;
c) LER o texto por parágrafos, sublinhando as palavras-chave para serem a
base do resumo;
d) Fazer um resumo dos parágrafos;
e) Reler o texto e identi�car as ideias coerentes e coesas;
f) Escrever uma primeira versão do resumo articulando o resumo dos
parágrafos;
g) Analisar os conceitos apresentados em comparação com a compreensão
que se tem sobre a posição do autor do texto fonte resumido.

21
ATENÇÃO !
O resumo não possui comentários pessoais!

Texto 1 - Exemplo do gênero resumo de artigo cientí�co


A LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DAS OBRAS LITERÁRIAS
OBRIGATÓRIAS DO PAES PARA ALUNOS DO TERCEIRO ANO DAS ESCOLAS
PÚBLICAS DE BACABAL

Erika Vanessa Melo Barroso (UEMA)

Todos os anos acontece o Processo Seletivo de Acesso à


Educação Superior da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA) – PAES, que serve como ponte para que muitos
estudantes do último ano do Ensino Médio entrem no nível
superior, nesse processo a UEMA disponibiliza uma lista de obras
literárias a serem lidas pelos candidatos, entende-se que alguns
candidatos a uma vaga no PAES podem não ter conhecimento dessas obras ou não ter acesso
as mesmas. Dessa forma, esse trabalho se deu em virtude de oferecer um Projeto de Extensão
com alunos do Ensino Médio das escolas públicas da Regional de Bacabal para contribuir com a
preparação deste aluno para o PAES da UEMA, pois vemos o quanto o aluno vestibulando tem
di�culdade em escrever a sua redação principalmente os alunos da escola pública, infelizmente
essa é a realidade vivida por nós nesse momento, esperamos, com esse projeto, minimizar
esse problema e contribuir para que esses alunos consigam conquistar as vagas oferecidas pela
UEMA. Com isso buscou-se através deste projeto trabalhar as obras literárias obrigatórias do
PAES e auxiliar os alunos na produção de textos. Esse projeto será uma forma de possibilitar aos
alunos das escolas da rede pública o conhecimento das referidas obras em leitura comentada,
instigando ainda a produção textual ao �nal de cada obra lida. Entende-se que um leitor se
destaca onde chega, pois, um dos principais efeitos da leitura é o aprimoramento da linguagem,
da expressão, pois, a leitura é uma forma de lazer, de prazer, de aquisição de conhecimento,
de enriquecimento cultural e de interação. Assim, diante dessa perspectiva espera-se que, ao
�nal do curso, o aluno tenha lido todas as obras literárias indicadas para o PAES e dessa forma,
possa ter adquirido conhecimento de leitura su�ciente para realizar todas as provas do PAES e,
principalmente, escrever uma boa redação. E, assim, esse projeto terá contribuído para minimizar
uma das maiores di�culdades em nossa educação, que é a leitura.

Palavras-chave: Leitura. Ensino. Produção Textual. Obra Literária.

Fonte: https://conilufma.com.br/downloads/2021/CADERNO-DE-RESUMOS-
compactado-17062021.pdf
22
2.2.2 – A resenha

Neste subtópico apresentamos conceitos, re exões e discussões sobre


a produção de uma ferramenta importante para o desenvolvimento de práticas
cientí�cas. A elaboração de uma resenha prevê, além do domínio linguístico de sua
estrutura, o conhecimento sobre o tema central que é base do texto fonte objeto da
resenha. A resenha é uma produção requisitada pelo professor e demanda uma
necessidade de posicionamento crítico por parte do autor que a contextualiza e
defende a obra objeto de análise.

A resenha é uma das produções textuais mais utilizadas no contexto


universitário cientí�co. Todo sujeito que vivencia a experiência acadêmica, ao cursar
a graduação ou cursos de pós-graduação, desenvolvem atividades de estudo que
permitem a apropriação e mobilização de conhecimentos teóricos.

Ao mencionarmos essas atividades acima, fazemos relação com duas práticas


que precisamos desenvolver durante a formação. A primeira está relacionada à
apropriação do conhecimento teórico-cientí�co que mantemos contato durante
os estudos em diferentes níveis. A segunda, é que após o desenvolvimento da
apropriação para uma prática cientí�ca, é necessário mobilizar esses conceitos em
análises de dados que subsidiam uma investigação.

A resenha, mesmo possuindo a �nalidade de analisar textos e emitir


julgamentos, opiniões e posições do autor sobre o texto fonte/original, não se
con�gura como prática sem limites. Há uma necessidade e pressuposto para a sua
produção. Para ser elaborada, ela requer conhecimento sobre o que é a ciência,
suas formas de produção e domínio sobre o estudo e a leitura de outros textos
relacionados ao texto original que é objeto de análise pelo resenhista.

Assim, vejamos as características, objetivos e técnicas para odesenvolvimento


deste gênero acadêmico-cientí�co.

23
• As divisões
Para a metodologia cientí�ca, conforme a ABNT, a resenha crítica é uma
das modalidades de resumos que ganhou grande espaço no contexto acadêmico
por funcionar não só como uma produção textual com vistas à apropriação de
conhecimentos teóricos, mas também se consagrou enquanto forma de trabalho
requisitado para �ns avaliativos e de ponto de partida para o desenvolvimento de
outros textos acadêmicos.

Com a conquista de maior espaço e a consolidação enquanto produção


textual tradicional dentro da comunidade cientí�ca, foi elevada à categoria especí�ca
e tornou-se para os estudos metodológicos um gênero acadêmico especí�co.

• A Resenha crítica
Podemos conceituar a resenha como produção escrita que, além de sintetizar
o objeto e principais informações do texto, demarca durante sua construção uma
avaliação crítica do sujeito que a escreve, pontuando aspectos de ordem positiva e
negativa. Trata-se de um texto que ao mesmo tempo que aponta dados presentes
no texto fonte, também emite, de forma construtiva, não pejorativa, opinião particular
do autor sobre a estrutura, abordagem e estilo do texto original.

• O objetivo do gênero resenha, as condições e exigências para produ-


ção
A resenha, de forma geral, con�gura-se como produção que visa divulgar
manifestações culturais como livros, �lmes, peças etc. É uma produção opinativa.
No contexto acadêmico, as características básicas da divulgação e julgamento não
se alteram. Porém, a condição de domínio sobre a temática é desenvolvida com
maior rigor e apresenta-se como condição da produção de uma resenha crítica o
conhecimento teórico cientí�co sobre o assunto do texto que é resenhado.

Para Motta-Roth & Hendges (2010, p. 27), “esse gênero discursivo é usado
na academia para avaliar – elogiar ou criticar - o resultado da produção intelectual
em uma área de conhecimento”. Ao mesmo tempo, retomando os ensinamentos de

24
Cavalcante (2013), podemos compreender a resenha crítica como uma produção
acadêmica que se caracteriza pela análise e intepretação de um texto, livro ou
capítulo. É um gênero acadêmico que ultrapassa a noção de resumo de informações
e traz comentários e referências complementares sobre o texto resenhado.

O suporte e seu contexto de circulação


As resenhas são desenvolvidas em contexto pedagógico tanto como
ferramenta de avaliação, como de estudo, mas em contexto acadêmico-cientí�co
transcende e torna-se também objeto de publicação que visa divulgação de uma
prática de investigação.

Motta-Roth & Hendges (2010, p. 27-28) a�rmam que “o resenhador


basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de um ponto de vista
informado pelo conhecimento produzido anteriormente sobre aquele tema”.

• Dicas para a escrita


O tamanho da resenha está relacionado com o seu suporte (veículo que
a sustenta), pois o lugar destinado a sua publicação depende do espaço que o
veículo reserva para esse tipo de texto. Para melhor compreender esta diversidade
de estilos relacionados ao tamanho da resenha, busquem ler resenhas publicadas
em revistas cientí�cas.

• Elementos estruturais da resenha


Lakatos (1991) apresenta como estrutura da resenha crítica os seguintes
elementos:
a) Referência bibliográ�ca – Autor, título, imprensa, número de páginas, ilus-
tração, etc.
b) Credenciais do Autor – Informações do autor, �liação ao campo cientí�co,
nome de quem realizou o estudo, informações de tempo e espaço da pro-
dução.
c) Conhecimento sobre o assunto – Assunto do texto/obra, característica do
texto/obra, conhecimentos prévios que auxiliam na compreensão do texto/
obra resenhado.
25
d) Considerações/julgamentos do autor - Conclusões, posições, recursos
utilizados.
e) Indicações de referências do autor – Modelo e �liação teórica – método
utilizado.
f) Apreciação/avaliação do resenhista - Como situa a produção e o autor
em relação ao campo de investigação e às condições sócio-históricas da
produção - mérito da obra/texto – contribuição social e cientí�ca - estilo - ca-
racterísticas da organização linguístico-textual

Na mesma linha do que vimos acima, Severino (2013, p. 183-184) apresenta


algumas características sobre o gênero resenha.

Para o autor, há uma lógica redacional entre os elementos que compõem a


resenha.

a) O cabeçalho aponta os dados bibliográ�cos completos da publicação


resenhada, por meio de informações sobre o autor do texto. Podendo ser dispensada
em caso do autor ser conhecido no contexto acadêmico.

Para o reconhecido autor de obras de metodologia, a síntese que


desenvolvemos do texto precisa ser objetiva, apresentar os pontos principais e
mais signi�cativos presentes no texto/obra que é analisado.

Em relação à avaliação crítica que desenvolvemos sobre o texto que


resenhamos, ressaltamos a possibilidade de se destacar no texto aspectos positivos
e negativos da obra que é objeto da resenha, assim como podemos evidenciar as
contribuições do conteúdo para os mais diversos setores da sociedade. Já a crítica
relacionada a pontos negativos, precisa ser dirigida às ideias que são apresentadas
e não ao autor enquanto pessoa.

26
Atenção
A resenha não possui capas, páginas de rosto etc.
É importante demarcar considerações introdutórias e
contextualizar o tema.
Apresentar dados iniciais sobre o autor, como: quem é ele, sua área
de formação, publicações, e posição dentro do contexto acadêmico.

• O desenvolvimento da crítica
Os elementos que compõem a estrutura de uma resenha, a síntese do
conteúdo e a avaliação crítica, não são desenvolvidos de forma linear, o julgamento
que se faz na crítica não funciona como um complemento do resumo de informações,
mas sim como objeto de destaque e fundamento da produção. A presença da voz
do resenhista faz parte de toda produção, inserindo-se de forma articulada em todo
texto.

• Sugestões/recomendações
- A crítica pode desenvolver-se de forma moderada, técnica e respeitosa;
- Os resenhistas, assim como outros críticos, se tornam objetos de análises
do outro, que possivelmente podem quali�cá-lo como “detratores da obra” ou de
não compreenderam a produção que resenhou;

- Conforme discutimos, Severino (2013) destaca que é importante


contextualizar o que se analisa e seus impactos e funções na área de estudo e/ou
cultura aos quais estão vinculados;

- Quem escreve uma resenha pode apresentar suas próprias ideias e


defender seu ponto de vista, concordando ou não com o autor do texto resenhado;

- Incluir pequenas passagens ilustrativas, demarcando aspas e citando a


página e o ano.

27
Texto 2 - Exemplo do gênero resenha crítica

A anomalia poética, de Silvina Rodrigues LOPES. Belo Horizonte:


Chão da Feira, 2019.

Natália Barcelos Natalino - UERJ

Quase quinze anos separam as edições portuguesa e brasileira


de A anomalia poética, título de Silvina Rodrigues Lopes: a
portuguesa, de 2005; a brasileira, de 2019. Outro título de sua extensa
obra começou a circular por aqui em 2012, quando a Chão da Feira, editora belo-horizontina,
reparou, em parte, esta lacuna editorial: trata-se da primeira e única edição brasileira de
Literatura, defesa de atrito, atualmente esgotada. A Chão da Feira vem realizando, nos últimos
anos, um esforço notável neste sentido: a parceria da editora com a Prefeitura de Belo Horizonte
e a Embaixada Portuguesa no Brasil vem possibilitando que alguns títulos portugueses sejam,
�nalmente, viabilizados em terras brasileiras – outros portugueses, como Daniel Faria, Gonçalo
M. Tavares, Maria Filomena Molder e Raul Brandão, também já foram publicados pela editora.
Professora universitária, crítica literária, �ccionista, poeta, tradutora e editora, Silvina Rodrigues
Lopes faz parte de uma tradição de portugueses que encontra no ensaio o investimento na palavra.
Mesmo que de modo mais latente, percebe-se, nos escritos que compõem A anomalia poética –
sobretudo naqueles que investem em perspectivas e concepções do literário –, uma problemática
que se arrasta desde sua celebrada tese de doutorado, defendida em 1993 e publicada em
1994, na qual a autora se debruça nas inúmeras instâncias e processos de legitimação da (em)
literatura, considerando elementos que perturbam a sua própria ambiguidade constitutiva. Lopes
diagnostica diversos fatores constituintes do que ela entende como “processo legitimador e
fundador da instituição literária”, dentre os quais, a formação teórica, a crítica literária, a opinião
pública, os direitos de autor e a integração da disciplina de literatura no sistema escolar (LOPES,
1994). Todos esses mecanismos de circunscrição da literatura parecem ainda estar em jogo em
A anomalia poética.
Composto por 11 ensaios, originalmente publicados ou apresentados em momentos e meios
distintos, o livro é dividido em três seções: I. Ficção e testemunho; II. O artifício, a técnica; e III.
Valor. Nos deteremos, nesta resenha, nos ensaios da primeira seção e no ensaio que dá título
ao livro. O primeiro deles, “Literatura e circunstância”, foi originalmente publicado em 2003 na
revista Scripta, coincidentemente também de Belo Horizonte. Apoiada na convicção de que há
certas circunstâncias que interferem no sentido da singularização, o que implica, ainda, uma
noção de universalização, Lopes nos mostra que, caso consideremos a �ccionalidade como

28
parte do literário, a tendência é que a vinculemos à universalidade, passando, desse modo,
a ignorarmos a singularidade das circunstâncias. Por conseguinte, a ensaísta defende que,
na medida em que a linguagem-mundo (mais real, menos �ccional) se impõe, um discurso
questionador e construtivo – logo, pensante – se a�rma. Como ela própria anota: “Não se trata
de recusar a dimensão institucional da literatura, mas de não deixar que ela prevaleça no jogo
de forças em que as obras são produzidas e recebidas. [...] Sob a designação ‘literatura’ não
só se inclui uma multiplicidade como um movimento desencadeador do múltiplo” (p. 13). E é
também nesse mesmo ensaio que Silvina Rodrigues Lopes já começa a revelar, de antemão,
suas principais recorrências teóricas – Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jean-Luc Nancy, Jean-
François Lyotard e Maurice Blanchot, por exemplo –, presentes também nos ensaios seguintes.
“A literatura no limite da �cção”, segundo ensaio, alude a uma questão há muito discutida e que
parece não se esgotar: o problema da relação entre literatura e �cção. Considerando que, hoje,
“a própria oposição entre história e �cção foi posta em causa” (p. 34), Lopes entende que, mesmo
assim, é a �cção – enquanto pura construção de sentidos possíveis – que invade todos os
domínios da (nossa) existência. São muitos os nós da questão, e por isso ela procura esclarecê-
los organizando o seguinte percurso: 1) recorre ao pensamento ocidental, passando pela
reformulação da noção de verossimilhança, para evidenciar uma contradição: a desvalorização
da capacidade de invenção literária; 2) esclarece que, enquanto condição de todo o discurso,
a �ccionalidade expõe a falha da �cção enquanto puro artifício; e 3) pensa como a �guração
na literatura pode servir como experiência dos limites da �cção. Antes, esclarece: “O facto de a
problemática da �cção constituir hoje um aspecto central da teoria literária, o qual interfere com
uma série de questões – como a do autor, do leitor, da recepção – que tradicionalmente fazem
parte do campo da teoria e que se veem afetadas por este nó de convergência, que é ao mesmo
tempo o lugar das mais vivas divergências” (p. 48). Em relação aos aspectos que dizem respeito
à relação entre �cção e realidade, a ensaísta considera as contribuições de dois autores: Nelson
Goodman, que abala a distinção entre mundo real e mundos irreais, ao propor a construção de
versões do mundo ou de mundos, considerando que “há tantas versões do mundo quantas as
representações que existirem dele, decorrente de uma percepção que varia com o contexto e
as circunstâncias” (p. 50); Goodman sublinha, ainda, que a distinção a fazer não é exatamente
entre realidade e �cção, mas entre não-�cção e �cção; e Käte Hamburguer, que estabelece uma
diferença entre �ngimento e �cção, não opondo �cção à realidade, mas sim a enunciado ou
enunciado de realidade. Trata-se, portanto, de “sempre actualizar oposições do tipo natureza/
artifício, mundo real/ mundo �ccional, activo/ passivo, as quais têm por base uma concepção
da linguagem, enquanto instrumento de representação e comunicação que se auto-anula para
dar lugar ao outro – as imagens das coisas, a força do agir” (p. 52). Eis o interesse de Silvina
Rodrigues Lopes: a abertura, tensão ou movimento da linguagem para o exterior, de modo que
o leitor reinvente a linguagem da obra no confronto com os limites da sua própria linguagem –

29
já que, segundo Lopes, “a leitura é também ela uma experiência que implica a �ccionalidade
da linguagem” (p. 59). Logo, “Não se trata de estabelecer uma oposição ou um dilema entre
ambas, mas de conceber a travessia da primeira como condição da segunda” (p. 56). Partindo
de uma epígrafe de Friedrich Nietzsche em Humano, demasiado humano, Lopes inicia o
terceiro ensaio, “Da necessidade à intranquilidade”, dizendo sobre como o termo “humanidade”
carrega, ainda hoje – lembremos que o ensaio foi publicado pela primeira vez em 1999 –, um
sentido preciso e, ao mesmo tempo, vago, para chegar à questão de um “devir- -outro”: para
ela, o homem “foi superando uma fragilidade original face ao exterior” (p. 61), um processo
que se tornou evidência por conta de uma capacidade de tornar indissociáveis a consciência
da mortalidade e o desejo de encontro; em suas palavras: “capacidade de dizer ‘sim’, sem
ignorar que é a a�rmação que introduz o tempo pelo qual quem a�rma é já outro” (p. 62). A
impossibilidade do devir-outro decorre da liquidação do humano – seja pelo terror, seja por meio
de um outro tipo de compulsão ao silêncio. Admite, portanto, que o “terror” assombra ainda hoje
o nosso cotidiano, e é isso que lhe importa saber: perceber como ele, o terror, surge a partir de
uma con�guração política e social, que, embora, em larga medida o ignore, “pois ele [o terror]
não toma a forma habitual de ameaça mortal pura e simples, mas de morte daquilo que em nós
é irredutível a automatismos ou se baseia em regularidades biológicas” (p. 62). Reconhece, no
entanto, que não seria possível falar de terror apenas em sentido absoluto – “ele tem, para além
disso, o sentido de uma emoção, íntima e social” (p. 63). Ainda, a ensaísta chama a atenção
para os diferentes modos de imbecilização que nos cercam (a beleza, a força, o dinheiro), o que
colabora para o “reforço do egocentrismo” (p. 70). Como se não bastasse necessitarmos cada
vez de mais estímulos, caímos num estado de frustração, caímos na monotonia, como se nos
esquecêssemos de que “todos os objetos são monótonos, porque são formas apenas �nitas” (p.
70). Daí não conseguirmos mais �carmos sós, logo, “a possibilidade do encontro desaparece
perante a universalização de uma interação de permanência” (p. 71). Diz, por �m, que numa
hipótese catastro�sta, caminharíamos para a perda do humano, do relacional – um tempo em
que não haveria, tampouco, o terror enquanto emoção. E somente assim, da necessidade à
intranquilidade, por meio desse desvio, nos a�rma(ría)mos mortais. São muitas as questões
que se colocam nas páginas seguintes de A anomalia poética, partindo desde as relações
de estilo, gênero e exemplaridade, passando pela noção de hipertexto, pelas categorias de
sujeito-objeto, pela dominação da indústria cultural, chegando até as discussões que põem em
xeque os campos da arte e da política – considerando discussões sobre consumo, desejo e os
modos como as sociedades acolhem as obras de arte, por exemplo. Em todas essas questões
Silvina Rodrigues Lopes procura indagar não só os seus funcionamentos, como também os
problemas que os cercam, sempre se propondo a assinalar alguns traços característicos das
transformações pelas quais passaram tais noções ou discussões.

30
Avançando um pouco mais, é em “A anomalia poética”, ensaio que dá título ao livro – não
sem razão –, que Silvina Rodrigues Lopes assume, de vez, sua postura interrogatória e, em
certa medida, con ituosa e combativa: Lopes (se) interroga sobre “uma obsessiva vontade de
classi�cação” (p. 165) que, segundo ela, se re ete, ainda hoje, em grande parte do discurso
sobre poesia; uma tendência que, de acordo com o texto, serve a uma lógica de “promoção
das poéticas” (p. 165), similar às técnicas do marketing – prática que reduz o poema a um
mero objeto de consumo. Desse modo, o objeto-livro �ca refém das críticas dos chamados
“sacerdotes da poesia”, e não da relação que ele possa estabelecer diretamente com o leitor –
uma poesia que se leria “sem a ajuda de especialistas” (p. 170). Daí, sua tese: “Um poema não
é um objecto como os outros: não é um objecto; nunca é como os outros. É essa a sua, a nossa,
anomalia poética” (p. 166). É essa resistência, esse embate com uma lógica mercantilista, que
interessa a Silvina – não só esse embate, mas outros também, e o principal: o embate com o
indizível. Esclarece, como aquela que segue defendendo a defesa do atrito, aquela que advoga
o duelo: O duelo com o indizível só cada um o pode travar. Ele tanto se pode dar no mais realista
(entendendo que este adjetivo se refere ao verosímil, à existência de referência ao quotidiano)
como no menos realista dos poemas. O duelo é sempre com o real; é este, enquanto indizível,
que resiste em ato ao instituído, à realidade, e impede que esta se feche, impede que esteja
tudo dito. Sabe-se, entende-se, que o duelo é necessário, que não se pode fazer das linguagens
fortalezas incólumes à intensidade dos corpos que as constroem e habitam (a sensação de
que está tudo dito é talvez a mais mortífera). (LOPES, 2019, p. 169-171) Consciente de que
nem tudo está dito, os escritos de Silvina Rodrigues Lopes direcionam seu olhar não só para
os estudos de teoria da literatura e os estudos de literatura portuguesa, como também inclinam
seu pensamento para a arte, acumulando conhecimentos teóricos e �losó�cos – sempre na
tentativa de se inscrever enquanto escreve; a forma ensaística, portanto. Embora nem mesmo
as editoras portuguesas tenham realizado, até hoje, o trabalho de corporizar uma edição
sistemática, rigorosa e acessível de toda a sua obra crítica, estamos, por ora, bem servidos com
a edição brasileira de A anomalia poética, publicação que certamente já vem contribuindo para
os estudos no campo da literatura. Torçamos para que, a curto prazo, ações de incentivo, apoio
e distribuição possibilitem avanços como este, a�nal, sua obra merece ser publicada, debatida e
conhecida no Brasil como uma referência indispensável aos campos do comparativismo cultural,
da teoria da literatura e seus trânsitos nos tempos de agora – um “agora” que, talvez, nem
mesmo Silvina Rodrigues Lopes imaginasse, quando da preparação dos ensaios, ser ainda um
sintoma do presente.

REFERÊNCIAS
LOPES, Silvina Rodrigues. A legitimação em literatura. Lisboa: Edições Cosmos, 1994.
LOPES, Silvina Rodrigues. A anomalia poética. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019.

Fonte: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898

31
2.2.3 – O artigo cientí�co

Uma informação importante para o jovem pesquisador iniciante é que o


contexto acadêmico-cientí�co brasileiro é caracterizado pelo domínio de pesquisas
realizadas em universidades públicas, que concentram mais de 95% da produção
cientí�ca do país. Após o desenvolvimento da investigação, uma das ações de
todo pesquisador é apresentar e disponibilizar seus resultados para a comunidade
cientí�ca poder, em caso de interesse, questionar, avaliar e debater os procedimentos
e conclusões que a pesquisa realizou e gerou.

Motta-Roth & Hendges (2010, p. 65), a�rmam que

O artigo é um texto, de aproximadamente 10 mil palavras,


produzido com o objetivo de publicar, em periódicos
especializados, os resultados de uma pesquisa desenvolvida
sobre o tema especí�co. Esse gênero serve como uma via de
comunicação entre pesquisadores, pro�ssionais, professores
e alunos de graduação e pós-graduação.

Conforme observamos nas palavras das autoras, o artigo cientí�co desenvolve


uma via de comunicação entre diferentes públicos da comunidade cientí�ca. Ao
mesmo tempo, esse fenômeno fez desse gênero a forma mais utilizada nos dias de
hoje para apresentar uma pesquisa, e até mesmo, divulgá-la para conhecimento da
comunidade. As produções do gênero acadêmico-cientí�co artigo são, de acordo
com Severino (2013, p. 182),

Destinadas especi�camente a serem publicadas em revistas


e periódicos cientí�cos, esta modalidade de trabalho tem por
�nalidade registrar e divulgar, para público especializado,
resultados de novos estudos e pesquisas sobre aspectos
ainda não devidamente explorados ou expressando novos
esclarecimentos sobre questões em discussão no meio
cientí�co.

32
Para o referido pesquisador, esse gênero possui uma estrutura comum de
texto cientí�co, mas que ao mobilizar resultados de investigação, precisa colocar em
evidência os objetivos do texto, a fundamentação teórica utilizada, a metodologia
desenvolvida, uma análise de dados que participam da pesquisa, bem como as
considerações que todo processo investigativo nos levou a compreender. Isso,
além das referências bibliográ�cas e documentos que permitiram a realização da
pesquisa.

Em razão disso, neste tópico, apresentaremos mais detalhes de toda


característica, conceito, e procedimentos que precisamos compreender para
produzir um artigo cientí�co.

• Objetivos do tópico
a) Apresentar o conceito de artigo cientí�co;
b) Demonstrar características e técnicas da produção escrita do artigo cientí�-
co;
c) Indicar exemplo de produção de um artigo cientí�co

Atenção
Sobre a formatação técnica do texto, as revistas e periódicos
costumam estabelecer normas especí�cas para a publicação
dos artigos, cabendo ao autor se inteirar delas antes de enviar
seu trabalho à editoria. (SEVERINO, 2013, p. 182).

33
• O conteúdo
A produção escrita de um artigo deve apresentar, inicialmente, uma
introdução ou apresentação que informe ao leitor o assunto, o objeto de estudo, os
objetivos geral e especí�cos, a �liação teórica em que se insere dentro da área de
estudo, os procedimentos metodológicos utilizados e a discussão e re exão que
será realizada. Por �m, na conclusão ou considerações �nais, ele precisa enfatizar
as contribuições da pesquisa. Além disso, a escrita do trabalho também pode ser
dividida em seções e tópicos numerados e com subtítulos.

• Os elementos estruturais
1.Introdução - (Problemas/Objetivos/metodologia)
 Apresentar as principais linhas de desenvolvimento da pesquisa.
 Descrever para seu leitor a terminologia empregada para auxiliar a com-
preensão de sua problemática de estudo.
 Não citar os resultados do trabalho.

2. Revisão da literatura
Também conhecida como “quadro teórico”, ou “fundamentação teórica”,
a revisão da literatura se caracteriza como breve levantamento de conceitos e
re exões teóricas relevantes já publicados. Ela funciona como base de sustentação
teórica do trabalho acadêmico que é desenvolvido.

Atenção
Não podemos compreender esta parte da estrutura do artigo
cientí�co como uma transcrição ou descrição de pequenos
textos. Mas sim, como uma re exão articulada sobre ideias,
concepções, hipóteses, problemas, e sugestões de outros autores
que já desenvolveram outras investigações que auxiliam na execução
da pesquisa que é registrada enquanto texto cientí�co no artigo.

34
3. Materiais e métodos
Este item é a parte do gênero que explica os procedimentos que foram
planejados e executados para garantir a realização da pesquisa. É obrigatória para
trabalhos que envolvem práticas experimentais, coleta de dados, entrevistas, ou
ainda, questionários.
A descrição dos materiais e métodos utilizados na investigação permitem
que outros pesquisadores repitam os ensaios desenvolvidos, isto é, uma forma de
colocar a pesquisa em teste e fortalecer seu resultado na comunidade cientí�ca.
As técnicas e processos retirados de outros trabalhos, em especial, aqueles já
publicados, devem ser referidos por citação de seu autor.

4. Resultados/Discussão/análises
Ao desenvolver os resultados, as discussões e as análises, é importante:
 Apresentá-los em ordem cronológica;
 Utilizar tabelas e ilustrações, se achar necessário;
 Os dados quantitativos, sempre que possível, precisam passar por uma aná-
lise estatística;
 Comentário sobre os resultados;
 Dar primeiros indícios sobre as conclusões;
 Demarcar opiniões do autor com fundamentação teórica;
 Apresentar uma relação entre causas e efeitos;
 Explicar e comentar sobre contradições, teorias e princípios relativos ao tra-
balho;
 Apontar formas de aplicação e impactos dos resultados obtidos;
 Elaborar, se possível, uma teoria para justi�car os resultados obtidos;
 Indicar possibilidade de novas pesquisas a partir das experiências deste tra-
balho.

5. Conclusão/considerações �nais.
A �nalização de um artigo é o momento que o pesquisador, após desenvolver
sua pesquisa com base em teorias e procedimentos teóricos, apresenta suas
respostas, a�rmações e opiniões fundamentadas nos resultados e nas respectivas
discussões que apresentou durante todo o trabalho. Além disso, é preciso lembrar
35
de alguns pontos:
 Rea�rmar, de maneira sintética, a ideia principal.
 Responder a problemática apresentada como justi�cativa da pesquisa.
 Demonstrar como cumpriu os objetivos do trabalho.
 Apontar possíveis encaminhamentos para futuros trabalhos.

• O que é o tema?
É a de�nição de um assunto. Por meio da vinculação com um campo de
investigação/área de estudo, escolhemos um tópico que será o tema que será
investigado.

• Pontos importantes para desenvolver


 Planejar o que se vai informar;
 Lembrar que extensão tem relação com profundidade;
 De�nir limites;
 Elencar as ideias fundamentais/principais e secundárias;
 Estabelecer articulação entre as ideias e a temática principal;
 Demarcar um enfoque.

• Passos para elaboração

Coleta de dados:
 Levantamento da bibliogra�a;
 Plano de leitura;
 Documentação (anotação da referência);
 Seleção do material coletado.

Divisão preliminar:
 Introdução (projeto de pesquisa);
 Desenvolvimento (fundamentação teórica, explicações, demonstrações,
análises e discussões);
 Conclusão (recapitulação).

36
Atenção
Na divisão preliminar desenvolvemos um plano de texto
do procedimento de escrita. Na introdução apresentamos
a proposta/projeto de pesquisa que realizamos. No
desenvolvimento descrevemos a fundamentação teórica articulada
com explicações, exemplos, análises e discussões sobre a pesquisa.
Finalmente, na conclusão, recapitulamos a proposta inicial de investigação e
explicamos o que realizamos e quais as respostas que encontramos.

Dicas sobre a produção escrita


 O texto precisa ser objetivo e neutralizar posições pessoais do enunciador;
 Fazer uso de primeira pessoa do plural ou terceira do singular na conjuga-
ção dos verbos;
 Apresentar resultados, observações e experiências como exemplos;
 Escrever dentro das normas gramaticais;
 Fazer uso de operadores argumentativos para articular as ideias e os pará-
grafos;
 Usar referências e citações de forma articulada com discussões próprias;
 Evitar uso excessivo de citações;
 Não fazer cópias de outros textos;
 Evitar repetição de palavras;
 Evitar períodos/parágrafos muito longos.

• A estrutura pós-textual

As referências bibliográ�cas
Neste item �nal do artigo cientí�co, é importante demarcar todas as obras/
textos que foram citados direta ou indiretamente no texto. Não se deve esquecer
que a lista deve seguir uma ordem alfabética e demarcar as referências conforme
as normas da ABNT.
37
SAIBA MAIS

Para Severino (2013), a listagem das obras/textos que


colocamos nas referências bibliográ�cas devem obedecer
sempre a regra de só descrever as referências de textos
citados e demarcados no corpo do texto do trabalho. O autor
faz esta lembrança porque há uma diferença entre referências
bibliográ�cas e bibliogra�a. Sendo que a segunda pode demarcar referências e
textos não citados, mas que possivelmente foi objeto de leitura do pesquisador.
Um recurso, utilizado em outros gêneros acadêmicos-cientí�cos, como o projeto.
encontramos.

• Elementos para a apresentação grá�ca


Os artigos cientí�cos podem ou não conter em sua estrutura tabelas, grá�cos,
mapas, desenhos, fotos etc. Porém, sempre que �zer o uso desses recursos, o
pesquisador deve seguir algumas regras.
 As ilustrações se caracterizam pelo uso de quadros, grá�cos, mapas, dese-
nhos e fotos. Todas precisam ser identi�cadas com o termo �gura, quadro,
conforme o caso, precedido por um número arábico;
 As tabelas devem ser produzidas sem traços divisórios internos;
 A sigla deverá ser escrita em letras maiúsculas, entre parênteses, e ser an-
tecedida pelo nome completo do que lhe deu origem quando utilizada pela
primeira vez;
 As notas de rodapé precisam �car dentro das margens da página, separa-
das do corpo do texto por um espaço simples e por um espaçamento de 3
cm, a partir da margem esquerda;
 A contagem das páginas é sequencial em todo o texto e sua identi�cação
grá�ca é demarcada a partir da primeira página da Introdução, a 2 cm da
borda superior, �cando o último algarismo arábico a 2 cm da borda direita
da folha.

38
Texto 3 - Exemplo de artigo cientí�co

DO ARTIGO CIENTÍFICO AO RESUMO ACADÊMICO: OPERAÇÕES E


ESTRATÉGIAS DE ESCRITA MOBILIZADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO
EM LETRAS
Roberto Barbosa Costa Filho 1
Marcia Candeia Rodrigues

Fonte:http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/revistagepadle/article/view/4144/
pdf

RESUMO

Nesta Unidade, vimos que existem gêneros textuais utilizados no ambiente


acadêmico com diferentes propósitos: para �ns de estudo, para documentar e/ou
comunicar os resultados de uma pesquisa etc. Os gêneros acadêmico-cientí�cos
abordados foram o resumo, a resenha e artigo.

Sobre o resumo, aprendemos que ele pode ser classi�cado como indicativo,
informativo ou crítico, conforme a ABNT. Aprendemos também que o tipo de
resenha adotado nas produções acadêmicas é a resenha crítica, pois ela permite
ao pesquisador argumentar e mostrar o seu posicionamento diante do assunto
comunicado. Por �m, aprendemos que o artigo cientí�co é utilizado pela maioria
dos pesquisadores para registrar e disponibilizar os resultados de uma
pesquisa para a comunidade cientí�ca.

39
REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

FRANÇA, J. L. Manual para normalização de publicações técnico-cientí�cas.


6. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

MACHADO, A. R. Revisitando o conceito de resumos. In: DIONISIO, Â. P. et


al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 138-150.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: de�nição e funcionalidade. In: DIONISIO, Â.


P. et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MEDEIROS, J. B. Redação cientí�ca: a prática de �chamentos, resumos, rese-
nhas. São Paulo: Atlas, 1991.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São
Paulo: Parábola, 2010
NATALINO, N. B. A anomalia poética de Silvina Rodrigues Lopes. Matraga, Rio de
Janeiro, v. 28, n. 52, p. 211-214, jan./abr. 2021.
SALOMON, D. V. 1971. Como fazer uma monogra�a. 10. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

SALVADOR, Â. D. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográ�ca. Porto Alegre:


Sulina, 1978.

SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos


objetos de ensino. In: Revista Brasileira de Educação, nº 11, 1999, p. 5-16.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho cientí�co. São Paulo: Cortez, 1ª ed.,


2013 (e-pub).

40
NORMAS, ORGANIZAÇÃO E
REGULAMENTAÇÃO DA ESCRITA
CIENTÍFICA

UNIDADE

Objetivos

Discutir a importância da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)


para a leitura, produção, divulgação e preservação dos textos acadêmico-
cientí�cos;
Mostrar que a paráfrase é um elemento constitutivo e fundamental para a
escrita cientí�ca;
Apresentar a diferença entre discurso citado direto e indireto;
Compreender as normas e regras que orientam a construção e o emprego
dos tipos de citação, bem como a formatação dos elementos textuais e
pós-textuais que estruturam a pesquisa cientí�ca.

Figura 03 - Metodologia cientí�ca (Fragmentos)

Fonte: http://apoioemtudo.blogspot.com/2017/11/normas-da-abnt-orientacoes-tecnicas.html
41
Figura 04 - Regras de formatação da ABNT

Fonte: http://www.portaldotcc.com.br/abnt/

Nas Unidades anteriores, discutimos sobre o processo de aquisição e de


sistematização do conhecimento cientí�co, assim como a elaboração de alguns
textos denominados “acadêmico-cientí�cos”, como resumo, resenha, artigo, etc.

Nesta unidade, vamos conhecer algumas normas que organizam e


regulamentam a escrita desses textos, propostas pela ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas). Para isso, dividimos a Unidade em cinco seções.

Na primeira seção, apresentamos algumas informações sobre a ABNT


e discutimos sobre a importância desta entidade para a produção e divulgação
cientí�ca. Na segunda, apresentamos o conceito e os tipos de paráfrases, assim
como o de intertextualidade, mostrando que eles são essenciais para fundamentar
a escrita dos textos acadêmico-cientí�cos. Na terceira, abordamos o discurso
citado direto e indireto, explicando o seu funcionamento no processo de escrita. Na
quarta, mostramos os tipos de citação e as normas que orientam o seu emprego no
texto. Na quinta e última sessão desta Unidade, mencionamos algumas normas e
regras que orientam e organizam a formatação desses textos estruturados a partir
dos elementos textuais e pós-textuais.

42
3.1 – A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)

Figura 05 – Slogan ABNT

Fonte: http://www.abnt.org.br/

Nesta primeira seção vamos conhecer um pouco mais sobre a ABNT


(Associação Brasileira de Normas Técnicas) e entender como ela contribui para a
leitura e a produção dos textos acadêmico-cientí�cos.

Segundo consta em seu site, a ABNT é uma entidade privada e sem �ns
lucrativos que foi criada em 28 de setembro de 1940, ela é o Foro Nacional de
Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira desde a sua fundação.

A ABNT trabalha em sintonia com governos e com a sociedade, contribuindo


para a implementação de políticas públicas, promovendo o desenvolvimento de
mercados, defendendo os direitos dos consumidores e, de um modo geral, zelando
pela segurança de todos os cidadãos.

Essa entidade é responsável, entre outras coisas, pela elaboração


dos parâmetros que determinam a padronização de textos acadêmicos por
meio das Normas Técnicas (NT). Trata-se de um documento técnico que �xa
padrões reguladores visando garantir a qualidade de um determinado produto, a
racionalização, a uniformidade dos meios de expressão e a comunicação. Essa
padronização é importante porque garante que algo pode ser aprendido e ensinado

43
por qualquer pessoa, uma vez que há o emprego de uma linguagem técnica comum.
Sendo assim, nos perguntamos: a) Qual é a relação existente entre a ABNT e
a escrita de textos acadêmico-cientí�cos? e b) Por que devemos seguir as
normas técnicas propostas por ela?

Uma das inúmeras funções da ABNT é contribuir para a padronização da


escrita cientí�ca estabelecendo regras utilizadas em todo o território nacional, como
tamanho da fonte do tipo de letra utilizado, espaçamento entre linhas, formatação
das citações diretas e indiretas e apresentação/organização das referências
bibliográ�cas. São essas regras que normatizam, organizam e regulamentam a
escrita cientí�ca contribuindo para o entendimento, a disseminação e a preservação
das pesquisas desenvolvidas nas Universidades e nos Institutos, por exemplo.
Para a ABNT,
Na realidade, o conhecimento teórico ou prático, desprovido dos meios
para sua conservação e transmissão, pouco signi�ca em si mesmo. O
trabalho humano se torna material por meio de procedimentos, regras,
instruções, modelos, que podem ser repetidos, ensinados e aprendidos.
Sem essa condição fundamental - a expressão do conhecimento em regras
compreensíveis pelo outro - a civilização material não tem condições de
se reproduzir. Ensinar e aprender a criar são atos que requerem uma
linguagem comum1.

SUGESTÃO DE LEITURA
Para saber mais sobre a ABNT ou o Foro Nacional de
Normalização da ABNT, faça a leitura do estatuto que está
disponível no link a seguir: http://www.abnt.org.br/images/
Docspdf/ESTATUTOABNT_abril18.pdf

3.2 – Paráfrase

Vejamos agora o conceito de paráfrase e discutamos a sua importância para


a construção textual. Entendemos que o saber acadêmico-cientí�co se constrói por
meio da leitura e da compilação de textos de vários autores. Isto porque nenhum
pesquisador pode ser considerado como sendo detentor ou a “fonte única” de um
1
Disponível em: http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt Acesso em 12 de maio de 2021.
44
saber cientí�co, já que todo saber se apoia em outros. Do mesmo modo, a produção
de um resumo, uma resenha ou um artigo cientí�co requer a construção de uma ou
mais paráfrases.

Sant’Anna (1985, p. 17) explica que o termo para- phrasis é de origem grega
e signi�cava “continuidade ou repetição de uma sentença”. A paráfrase mantém
com o texto original ou texto-fonte uma relação de intertextualidade porque o novo
texto não diverge do texto parafraseado, mas assemelha-se a ele, mantendo a
mesma perspectiva.

Nesse sentido, o que é intertextualidade? Como a intertextualidade se


manifesta no texto? Julia Kristeva foi a primeira a usar o termo intertextualidade,
em 1967, e a apresentá-lo para a comunidade cientí�ca. Em virtude disso, todos os
trabalhos que se dedicam à abordagem desse tema não podem deixar de citá-la e
nem tampouco de evidenciar a sua importância para os estudos da linguagem.

Kristeva (1974, p. 440) defende o ponto de vista de que “todo texto se constrói
como mosaico de citações; todo texto é absorção e transformação de um outro
texto que o antecedeu e lhe deu origem.” Logo, entende-se que a intertextualidade,
conforme propõem Koch e Elias (2012, p. 86),

é o elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/leitura e


compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de
um dado texto depende de conhecimentos de outros textos por parte
dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações que um texto
mantém com outros textos.

As autoras enfatizam que a intertextualidade pode ocorrer de maneira


explícita e/ou implícita.

a) Intertextualidade explícita – ocorre quando há citação da fonte do intertexto,


como acontece nos discursos relatados, nas citações e referências; nos resumos,
resenhas e traduções; nas retomadas de textos de parceiro para encadear sobre
ele ou questioná-lo na conversação. (KOCH; ELIAS, 2012, p. 87)

45
b) Intertextualidade implícita – ocorre quando não há citação expressa da fonte,
cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto,
como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrases e ironias. (KOCH;
ELIAS, 2012, p. 94)

Atenção
A escrita do texto acadêmico-cientí�co utiliza-se tanto da
intertextualidade explícita quanto da implícita e esse uso
pode ocorrer de modo simultâneo ou não.

A paráfrase ou “metáfrase”, como nomeia Oliveira et al (2013, p. 60), é a imitação


de um texto escrito por outro autor, em prosa ou em verso. Quando utilizamos a
paráfrase, reescrevemos, com nossas palavras as informações contidas no texto
original, empregando sinônimos no intuito de preservar as ideias principais nele
contidas. Os autores destacam que é comum fazer-se inversões das estruturas
frasais do texto reescrito, entretanto é obrigatória a citação e referência ao autor da
obra parafraseada.

Exemplo de paráfrase:
a) Texto original: “Educar, formando o caráter, eis o problema máximo cuja solução
o momento reclama angustiosamente”. [VINÍCIUS. O mestre na educação. 10.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009].

b) Paráfrase do texto acima: A educação deve empenhar-se, antes de mais nada,


em formar homens de bem.

De acordo com Meserani (1995), a paráfrase sempre remete a uma obra que
lhe é anterior para rea�rmá-la, esclarecê-la, deixando a intertextualidade marcada.
Trata-se de um processo de reescrita que pode incluir outros tipos de textos além
dos literários, como os de caráter cientí�co, por exemplo, e ainda a linguagem não
verbal.
46
Considerando as semelhanças existentes entre a paráfrase e o texto parafraseado,
Cruz e Zanini (2009, p. 1906) explicam que Meserani (1995) classi�ca a paráfrase
em dois tipos2:

a) Paráfrase Reprodutiva – é a tradução quase literal de um outro texto, servindo


para reiterar, �xar, insistir, explicar, sintetizar, melhorar linguisticamente o texto, de
forma parcial ou total. Tradicionalmente se conceitua a paráfrase reprodutiva como
sendo simples reprodução, visto que o conteúdo do texto original é mantido no
texto derivado e não conta com expansão de ideias. Porém, esse tipo se distingue
da cópia, onde há a transcrição total. Na reprodução, o objetivo é escrever o que
for relevante da obra, necessitando assim por parte do produtor a habilidade de
sintetizar. Neste caso não se pode falar em criatividade, pois se trabalha basicamente
“no eixo de substituições semânticas, da sinonímia” (MESERANI, 1995, p. 100).
São exemplos de paráfrases reprodutivas os textos de imprensa, as notícias, os
resumos de novelas.

Atenção
Os textos acadêmico-cientí�cos que constam neste e-Book,
como o resumo e a resenha, são exemplos de paráfrase
reprodutiva.

Apresentamos a seguir a resenha da obra A anomalia poética, de Silvina


Rodrigues Lopes, publicada na Revista de Estudos Linguísticos & Literários do
Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, Matraga.

2
Esses conceitos foram discutidos no artigo “Paráfrase: campo de criação e trabalho nos textos
dos detentos”. Disponível em http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_linguisticos/
pfd_linguisticos/080.pdf
47
Figura 06 - Capa da obra resenhada

Fonte: https://www.amazon.com.br/ANOMALIA-POETICA-SILVINA-RODRIGUES-LOPES/
dp/8566421191

SUGESTÃO DE LEITURA
Acesse a referida resenha através do link disponível a seguir:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/
view/56362/36898

O outro tipo de paráfrase proposto por Meserani (1995) e explorado por Cruz
e Zanini (2009, p. 1906) é a “Paráfrase Criativa”.

b) Paráfrase Criativa – é aquela que “ultrapassa os limites da simples rea�rmação


ou resumo do texto original”, indo além da simples transcrição literal. Neste tipo
de paráfrase, o texto se desdobra e se expande em novos signi�cados. Podemos
entender que há um afastamento do texto original, �cando, contudo, no campo
da semelhança, ou seja, há a mesma perspectiva, convergindo com o texto
original, porém, expandindo-o. O texto parafrástico, nesta categoria, não discorda,
mas distancia-se do texto original, indo além da simples reiteração. Trata-se de
perspectivas diferentes.

48
Enquanto a paráfrase reprodutiva se aproxima da reprodução, a paráfrase
criativa possui sua dose de criação, dando origem a um novo discurso, sem, contudo,
divergir do texto que lhe deu origem. Como exemplo de paráfrase criativa, podemos
citar as Fan�cs, processo de escrita no qual o sujeito utiliza a sua criatividade e
re exão, transformando o texto parafrástico em um novo discurso, uma nova voz.

SAIBA MAIS

A palavra “Fan�c” é uma abreviatura inglesa do termo fan �ction,


um conceito que se refere à criação de qualquer tipo de obra a
partir de uma história já existente. Este tipo de �cção é feito por fãs
que recriam histórias de outros autores. A Fan�c pode ser aplicada
em um romance, uma série de televisão, uma história em quadrinhos,
en�m, a qualquer história já publicada. Do ponto de vista histórico,
este fenômeno surgiu na década de 1930, quando alguns fãs de quadrinhos criaram suas
próprias histórias inspiradas em seus personagens favoritos.
Fonte: https://conceitos.com/fan�c/

Koch e Elias (2017, p. 102) apresentam uma lista de expressões que


funcionam como introdutoras de paráfrase, a saber:
 Isto é;
 Ou seja;
 Ou melhor;
 Quer dizer;
 Em síntese;
 Em resumo;
 Em outras palavras etc.

Essas expressões promovem a ligação entre o que foi e o que será dito,
criando um novo texto ancorado no anterior: o que foi parafraseado. Embora
existam autores que percebem a paráfrase como sendo um discurso sem voz e
apresentando uma linguagem pouco evoluída, Sant’Anna (1985) não desvaloriza
o trabalho realizado pelo autor da paráfrase. Segundo ele, ao reformular e restituir
49
o sentido de um texto, o autor da paráfrase dá origem a um novo discurso que
exigiu do seu produtor criatividade e trabalho re exivo. Esse trabalho não deve ser
confundido com plágio (assunto a ser tratado na próxima Unidade) ou uma mera
reprodução textual.

SUGESTÃO DE LEITURA
Amplie seus conhecimentos sobre paráfrase, intertextualidade e
Fan�c.
Leia o livro Intertextualidade, de Tiphaine Samoyault, publicado
pela editora Hucitec, em 2008. Disponível no link: https://dtllc.
fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Intertextualidade%20-%20
Livro%20completo.pdf
Leia os artigos Parafrasear: Por quê? Pra quê?, de Onici Claro Flôres, publicado na Revista
Letrônica. Disponível no link: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/
view/23314
Leia A intertextualidade: um conceito em muitos olhares, de Gutemberg Lima da Silva e
Roberta Varginha Caiado, publicado nos Anais do GELNE. Disponível em: http://www.gelne.com.
br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/708.pdf

SUGESTÃO DE VÍDEO
Assista ao vídeo O que é Fan�c? Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=kKwJ2xMcwys

3.3 – Discurso citado

Vimos que os discursos são produzidos a partir do conhecimento de outros


discursos que circulam na sociedade. Fazer referência ao discurso do outro é algo
bastante comum no nosso dia a dia.

50
Quando nos referimos aos discursos veiculados no contexto acadêmico-
cientí�co, dizemos que não é proibido usar as ideias e os conceitos produzidos por
outros autores. No entanto, devemos saber como fazer isso, ou seja, como inserir o
“discurso alheio” ou de “outra pessoa” em nossos textos, sem cometer plágio. Para
isso, é fundamental indicar a referência do discurso que foi citado diretamente ou
indiretamente.

Bakhtin (2000, p. 88) esclarece que nossas palavras não são “objetos virgens
ainda não designados”, mas elas se cruzam e se encontram com as palavras do
outro, de modo que todo discurso é essencialmente dialógico. Duas justi�cativas
sustentam essa asserção: i) o discurso é construído entre pelo menos dois
interlocutores que, por sua vez, são seres sociais; e ii) todo discurso se constrói
como um “diálogo entre discursos”, ou seja, todo discurso mantém relações com
outros discursos.

Do ponto de vista do autor, “a palavra é uma espécie de ponte lançada entre


mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se
sobre o meu interlocutor. A palavra é um território comum do locutor e do interlocutor”
(BAKHTIN, 2000, p. 63).

O discurso citado ou “discurso alheio”, conforme Bessa e Bernardino (2011) e


Maingueneau (2008), pode se manifestar de dois modos: discurso direto e discurso
indireto.

a) Discurso citado direto – procura conservar a integridade e a autenticidade do


discurso alheio, esforçando-se para delimitar esse discurso com fronteiras nítidas e
estáveis (itálico, aspas ou presença de um verbo introdutor). Só existe através do
discurso citante, que constrói como quer um simulacro da enunciação citada. Nele,
o locutor se constitui como simples porta voz das palavras do outro, que ocupam o
tempo ou espaço na frase.

Maingueneau (2008, p. 141) explica que por mais �el que o discurso direto
seja, “é sempre apenas um fragmento do texto submetido ao enunciador do discurso
citante, que dispõe de múltiplos meios para lhe dar um enfoque pessoal”. 51
b) Discurso citado indireto – o enunciador citante tem uma in�nidade de maneiras
para traduzir as falas citadas porque não são as palavras exatas que são relatadas,
mas sim o conteúdo do pensamento. O locutor faz uso de suas próprias palavras,
remetendo a um outro como fonte do “sentido” dos propósitos que ele relata. O
discurso indireto não reproduz um signi�cante, mas dá um equivalente semântico
integrado à enunciação citante; e é o interlocutor que se encarrega do conjunto da
enunciação. Nele, veri�ca-se a existência de apenas uma situação de enunciação;
as pessoas e os dêiticos espaço-temporais do discurso citado são identi�cados em
relação à situação de enunciação do discurso citante.

Maingueneau (2008, p. 150) esclarece que “as falas relatadas no discurso


indireto são apresentadas sob a forma de uma oração subordinada objetiva direta,
introduzida por um verbo dicendi (contaram-nos que...)”, geralmente usados nas
declarações e citações.

Atenção
O discurso cientí�co geralmente emprega o discurso
indireto para conservar o conteúdo temático e separar os
discursos citante e citado.

Portanto, o discurso citado (direto ou indireto) é compreendido como


fenômeno dialógico por meio do qual os sujeitos descontroem o discurso alheio e
constroem o próprio para se posicionar em relação a um conteúdo ou temática, ao
outro, a ele mesmo, ao seu próprio discurso (CUNHA, 2008).

52
SUGESTÃO DE SITE
Amplie seus conhecimentos sobre discurso citado. Acesse
o portfólio Discurso citado: trazendo outras vozes para
nossos textos, desenvolvido pela UNISINOS. Disponível em:
http://portfolio.unisinos.br/discursocitado/index.html
Leia a dissertação de mestrado Referência ao discurso do outro: uma análise
de problemas de relações de sentido entre discurso citado direto e discurso
citante no gênero monográ�co, defendida pelo pesquisador José Cezinaldo
Rocha Bessa, na UFRN, em 2007. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vu�nd/
Record/UFRN_deaa87bb56d5f1eb41c8b84ee8e83a9a

3.4 – CITAÇÃO

De acordo com a NBR (Norma Técnica Brasileira) 10520/02, criada pela


ABNT, citação é a “menção de uma informação extraída de uma outra fonte”. A
citação pode ser utilizada para esclarecer, ilustrar ou sustentar um determinado
assunto, ela garante respeito ao autor da ideia e ao leitor.

O Manual de Normatização da UEMA (universidade Federal do Maranhão),


publicado em 2019, apresenta as características da citação:
a) Pode ser do tipo direta, indireta ou citação de citação;
b) Pode ser curta ou longa;
c) Pode estar localizada no interior do texto ou no rodapé da página.

Atenção
A citação deve vir acompanhada da indicação de autoria, que
pode aparecer inserida no texto ou entre parênteses. O ponto
�nal deve �car após o fechamento dos parênteses, pois a
indicação da responsabilidade faz parte da sentença ou frase.

53
• Tipos de citação

A) Citação direta – é a transcrição literal e �el de um trecho consultado. Ela deve


ser colocada entre aspas duplas e o autor deve ser referenciado, juntamente com o
ano da publicação e a página.

Exemplo: Carvalhal (2006, p. 07) explica que “Comparar é um procedimento que


faz parte da estrutura de pensamento do homem e da organização da cultura. Por
isso, valer-se da comparação é hábito generalizado em diferentes áreas do saber
humano e mesmo na linguagem corrente, onde o exemplo dos provérbios ilustra a
frequência de emprego do recurso”.

Quando a autoria não �zer parte do texto, deve aparecer entre parênteses,
com as letras maiúsculas, seguida do ano e paginação, quando for possível
identi�car.

Exemplo: Utilizar a comparação “é hábito generalizado em diferentes áreas do


saber humano e mesmo na linguagem corrente, onde o exemplo dos provérbios
ilustra a frequência de emprego do recurso” (CARVALHAL, 2006, p. 07).

B) Citação indireta – consiste na citação livre do texto, ou seja, é a reprodução de


algumas ideias do autor, sem que suas palavras sejam transcritas.
Exemplo: A comparação não é exclusiva da literatura comparada e não é o seu
emprego sistemático que caracteriza a sua atuação (CARVALHAL, 2006).

C) Citação de citação - citação direta ou indireta retirada de uma obra em que


não se teve acesso ao documento original. Registra-se o sobrenome do autor
do documento original, e data, seguido da expressão “apud” (citado por) e do
sobrenome, data e página do documento consultado.

Exemplos: A túnica submucosa em répteis consiste de tecido conjuntivo frouxo,


in�ltrado por grandes vasos sanguíneos e linfáticos, bem como tecido linfoide, na
forma de nódulos. (PERNKOPF; LEHNER, 1937 apud LUPPA, 1977).
54
Platão (428 a.C.; séc. V apudABBAGUANO, 2000, p.75), a�rmava que o pensamento
é uma atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos e à vontade.

• Formas de apresentação

A citação direta, indireta ou a citação de citação, quando está localizada no interior


do texto, pode ser classi�cada de duas formas: curta ou longa.

A) Citação curta – quando a citação tiver até três linhas, ela deve ser transcrita
entre aspas duplas dentro do texto, com indicação da fonte de onde foi retirada,
incluindo a paginação.

Exemplo: Para Saviani (1994, p.23) “Re etir é o ato de retomar, reconsiderar os
dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de signi�cado.”

B) Citação longa – quando a citação tiver mais de três linhas, ela deve ser transcrita
sem aspas. Em parágrafo independente, com recuo de 4 cm da margem esquerda,
digitada em espaço simples nas entrelinhas, com fonte menor que a do texto e
indicação de página.
Exemplo:
O desenvolvimento do pensamento tem início com o nascimento e termina
com a aquisição do raciocínio lógico e formal, é comparável ao crescimento
orgânico: como este o desenvolvimento do pensamento re exivo. Orienta-
se sempre para um estado de equilíbrio (PALANGANA, 1998, p.81)

Atenção
Os exemplos apresentados aqui foram de citação direta.

Além das características apresentadas, a citação pode ser indicada por


sistemas de chamada (numérico e autor-data) e notas de rodapé (de referência
e explicativas).

55
• Sistemas de chamada

As citações que aparecem no texto podem ser indicadas mediante os


sistemas numérico ou autor-data. O autor deve adotar um só tipo de sistema e
utilizar durante todo o trabalho.

A) Sistema numérico - as citações devem ter numeração arábica única e


consecutiva. A indicação numérica pode ser feita entre parênteses ou situada
pouco acima da linha de texto, em expoente à linha do mesmo, após a pontuação
que fecha a citação. São utilizadas para indicação das fontes consultadas, ou para
explicações que se �zerem necessárias, remetendo para a lista de referências, na
mesma ordem em que aparecem no texto. Ressalta-se que este tipo de sistema
não deve ser utilizado quando há notas de rodapé.

Exemplos: Segundo Romanelli “o apego ao dogma e à tradição escolástica e


literária fazia com que a educação não tivesse interesse pela ciência.”

Segundo Romanelli “o apego ao dogma e à tradição escolástica e literária fazia com


que a educação não tivesse interesse pela ciência.” ¹

B) Sistema autor-data - a fonte indicada no sistema autor-data deve ter sua


chamada pelo sobrenome do autor, pela entidade responsável ou ainda, pelo
título de entrada, seguido(s) do ano e da página, separados por vírgula e entre
parênteses, podendo vir antes ou após a citação.

Exemplo: Os programas de educação em saúde promovem o reconhecimento


por parte da população das suas necessidades de saúde, a adoção de medidas
adequadas para satisfazê-las, objetivando fazê-la participante e co-responsável
pela sua saúde e da comunidade. (BRASIL, 2000, 2001, 2002).

56
• Notas de rodapé

Segundo o “Manual para normatização de trabalhos acadêmicos da UEMA” (2019,


p. 74), consistem na complementação e no esclarecimento das informações de um
texto. Podem ser de referências ou explicativas. Apresentam-se da seguinte forma:

a) indicadas na mesma folha do texto que pretendem esclarecer e/ou complementar;


b) digitadas dentro das margens, com fonte menor que a do texto, em espaço
simples;

c) separadas do texto por um espaço simples entrelinhas e por um traço de 5 cm, a


partir da margem esquerda;

d) precedidas de algarismos arábicos ao alto ou ao lado.

Dividem-se em: notas de referência e notas explicativas.

A) Notas de referência - indicam fontes consultadas de uma maneira sequencial ou


remetem a outras partes da obra onde o assunto é abordado. Podem apresentar-se
da seguinte forma:

a) a primeira citação de cada documento deve ter sua referência completa;

b) para indicar um documento diferente de autor já referenciado em nota anteriormente


e não muito distante, deve-se fazer a referência utilizando-se a expressão latina “Id”
(mesmo autor), seguida do título e dos outros elementos da referência;

c) para indicar o mesmo documento, já referenciado em notas anteriormente, na


mesma página ou nas páginas subsequentes, deve-se fazer a referência de forma
abreviada, utilizando-se a expressão latina “Ibid” (na mesma obra);

d) após o sobrenome, para se indicar um documento do mesmo autor já referenciado


não muito distante, podendo ser ou não na mesma página, intercalados com
57
referências de outros autores, deve-se fazer a referência de forma abreviada,
utilizando-se a expressão latina “op.cit” (obra citada);

e) para se indicar a mesma página de um documento já referenciado anteriormente,


e não muito distante, porém intercalada com outras referências, deve-se utilizar a
expressão latina abreviada “loc.cit” (no lugar citado) após o sobrenome do autor;

f) para se indicar várias passagens de um documento já referenciado, devesse fazer


a referência utilizando-se a expressão latina passim (aqui e ali) após o sobrenome
do autor;

g) para remeter o leitor à consulta de outras páginas do mesmo documento, ou para


um outro documento, utiliza-se, na referência, a expressão abreviada Cf. (conferir,
confrontar).

h) para indicar que não se quer citar todas as páginas da obra referenciada, utiliza-
se a expressão latina abreviada “et. seq.” (seguinte ou que se segue);
Exemplo: __________________
FOUCAULT, 1994, p. 17 et. seq.

B) Notas explicativas - são usadas para tecer comentários, esclarecimentos ou


considerações complementares que não possam ser incluídos no texto, devendo
apresentar numeração única e consecutiva para cada capítulo ou parte.

No texto
Exemplo: os pais estão sempre confrontados diante das duas alternativas:
vinculação escolar ou vinculação pro�ssional. 4

No rodapé
Exemplo:
__________________
4 Sobre essa opção dramática, ver também Morice (1996, p.269-290)

58
SUGESTÃO DE LEITURA
Para saber mais sobre os tipos e como fazer citações,
consulte o Manual para normatização de trabalhos
acadêmicosdaUEMA (2019). Disponívelnolink: https://
www.biblioteca.uema.br/wp-content/uploads/2019/05/
Manual-de-Normaliza%C3%A7%C3%A3o-2019-1.pdf

3.5 – FORMATAÇÃO

Conforme mencionamos na primeira seção desta unidade, a ABNT


(Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a entidade responsável por criar as
NBRs (Normas Técnicas Brasileiras) que serão utilizadas para a formatação dos
textos acadêmico-cientí�cos.

O Manual para normatização de trabalhos acadêmicos da UEMA (2019, p.


78) explica que “A formatação do trabalho acadêmico consiste na observação das
normas e padrões com o objetivo de uniformidade”. As chamadas “Normas para
apresentação grá�ca” são empregadas para formato e imagens, espaçamento,
paginação, numeração progressiva, abreviaturas e siglas, equações e fórmulas,
ilustrações e tabela.

De um modo geral, os trabalhos acadêmicos são formatados considerando:


i) os elementos textuais: introdução, desenvolvimento, conclusão; e ii) os
elementos pós-textuais: referências, glossário, apêndice(s), anexo(s), índice.

Referências

As referências devem ser inseridas nos textos acadêmicos depois de feitas


as Conclusões ou Considerações �nais. A apresentação das referências é
um item indispensável e de suma importância em qualquer trabalho acadêmico-
cientí�co, pois conferem credibilidade ao texto, sinalizam para o leitor quais foram
59
as fontes/obras pesquisadas e que constam no interior do texto produzido. Dos três
gêneros estudados neste e-Book, o que contém um maior número de referências é
o artigo.

As referências apresentam elementos como: autoria, título e subtítulo (se houver),


edição, local, editora, ano da publicação, mês, dia e hora, descrição física, série e
coleção, notas.

Existem vários modelos de referências usados para �ns especí�cos: Monogra�a


no todo (livros, manuais, dissertações, teses), parte de monogra�a (capítulos
de livros, volumes), fascículo de periódico, artigo cientí�co, eventos cientí�cos
(congressos, simpósios), artigo e/ou matéria de jornal, documentos jurídicos,
documentos iconográ�cos (pinturas, gravuras, fotogra�as, desenhos técnicos,
transparências, cartazes, �lme, entre outros), documentos cartográ�cos (mapas,
globos, atlas, fotogra�as aéreas, entre outros), documentos audiovisuais (imagens
em movimento e registros sonoros nos suportes: disco de vinil, cd’s, vídeos, blu-
ray, �ta magnética entre outros), documentos tridimensionais (esculturas, maquete,
fosseis, objetos de museus, monumentos, entre outros), partituras, correspondência
(bilhete, carta, cartão, entre outros), patente, documentos civis e de cartórios,
documentos eletrônicos.

SUGESTÃO DE LEITURA
Para saber mais sobre os tipos e como fazer referências,
consulte o Manual para normatização de trabalhos
acadêmicos da UEMA (2019). Disponível em: https://
www.biblioteca.uema.br/wp-content/uploads/2019/05/
Manual-de-Normaliza%C3%A7%C3%A3o-2019-1.pdf

60
RESUMO

Nesta Unidade, aprendemos sobre as normas que organizam e regulamentam


a escrita cientí�ca e sobre a importância da ABNT para a leitura, produção,
divulgação e preservação dos textos acadêmico-cientí�cos, assim como para as
pesquisas de um modo geral.

Estudamos que a paráfrase é um elemento constitutivo e fundamental na


construção desses textos, juntamente com os discursos citado direto e indireto e o
emprego dos diferentes tipos de citação. Na condição de pesquisadores, precisamos
conhecer e aplicar as normas de formatação dos elementos textuais e pós-textuais
que estruturam a pesquisa cientí�ca.

61
REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução: Maria Ermantina Galvão G.


Pereira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BESSA, J. C. R.; BERNARDINO, R. A. dos S. A Referência ao discurso do


outro em textos acadêmicos de estudantes de curso de Letras/Português.
CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIN, 7, 2011, Curitiba. Anais. Curitiba:
UFPR, 2011, p.2068-2081.

CUNHA, D. de A. C da. Do discurso citado à circulação dos discursos: a reformulação


bakhtiniana de uma noção gramatical. Matraga, Rio de Janeiro, v. 15, n. 22, jan./
jun., 2008. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/
article/view/27911/19983. Acesso em: 30 jun. 2021.

KOCH, I.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2017.

KOCH, I.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2012.

KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. São Paulo: Perspectiva, 1974.

MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. 5. ed. ampl. Tradução de


Cecília P. de Souza e Délcio Rocha. São Paulo: Cortez, 2008.

MESERANI, S. O intertexto escolar. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1995.

OLIVEIRA, J. L. de (org.); CRAVEIRO, M.; CAMPETTI Sobrinho, G. Guia prático


de leitura e escrita: redação, resumo técnico, ensaio, artigo, relatório. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2013.

SANT’ANNA, A. R. Paródia, Paráfrase e CIA. Série Princípios, 2.ed. Ed. Ática,


1985.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO. Manual para normalização de


trabalhos acadêmicos. Sistema Integrado de Bibliotecas da UEMA. – 3. ed. rev.,
atual. e ampl. – São Luís: EDUEMA, 2019.

62

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