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Família Argeneau 11

The Immortal Hunter


Lynsay Sands
Mesmo os vampiros precisam de férias. Mas as de Decker Argeneau terminam
abruptamente quando pedem a ele para ajudar na caçar de um grupo de vampiros
rebeldes que atacam mortais - que pode incluir um desertor em sua própria família.
Antes que ele possa se preocupar com isso, porém, ele tem que resgatar a última
vítima. É tudo parte do trabalho, inclusive levar um tiro por uma bela médica.

A Dra Danielle McGill não sabe se ela pode confiar no homem que salvou sua vida.
Há muitas perguntas, como o que é a organização secreta que ele diz que faz parte e
por que suas feridas dificilmente sangram? No entanto, com a irmã nas mãos de
alguns homens perigosos, ela não tem muita escolha a não ser confiar nele.

Só que agora Decker está falando de companheiros de vida e despertando uma


paixão que está tomando Dani além de qualquer coisa que ela já conheceu. Ser um
morto-vivo pode não ser tão ruim ... especialmente se isso significa estar para sempre
com um homem que a ama com a sua mente, corpo e alma imortal.
Prólogo

-Por que demoram tanto?

Decker Argeneau Pimms levantou o olhar e se via aborrecido enquanto girava os


polegares ante a pergunta do Garrett Mortimer. Ele soprou e observou como se
levantava sua franja umas duas vezes antes de dizer: -Estou certo de que eles
terminarão logo.

Mortimer se limitou a grunhir e continuou passeando pelo lugar enquanto Decker


inclinou a cabeça para trás no sofá de couro negro e fechou os olhos. A energia na
sala era pesada, sentia-se a ansiedade, queria ter partido. Infelizmente, esta era sua
casa. Também se supunha que estava de férias, mas tinham sido canceladas por uma
chamada. Ao terceiro dia de suas férias, Lucian, seu tio, mas o mais importante, o
diretor das forças da ordem dos imortais e seu chefe, tinha chamado com a notícia de
que havia vários informes de mortais com marcas de mordidas na zona. Dois
executores do Conselho estavam a caminho para o norte, para encontrar o culpado.
Podiam ficar em sua casa com ele? Podia lhes ajudar com a busca? Como um idiota,
havia lhe dito que sim.

Decker fez uma careta ante sua própria estupidez, mas sabia que não tinha tido outra
escolha. Ele também era um executor do Conselho, o equivalente a um policial de
vampiros. Seu trabalho consistia em caçar imortais renegados que ameaçavam o
bem-estar de seu povo ou o dos mortais. Embora os mortais não fossem danificados
por uma mordida, desde que não se tomasse muito sangue, isso era uma ameaça para
o bem-estar de sua raça, já que aumentava as possibilidades de que sua existência
fosse descoberta. Por isso, com o advento dos bancos de sangue, morder mortais era
proibido na América do Norte, exceto em casos de emergência.
Infelizmente, alguns preferiam os velhos costumes e corriam o risco de expor a todos
por sua alimentação "improvisada", como eles a chamavam. Os que tinham estes
hábitos tinham que ser capturados e detidos para a segurança de outros, e Decker e
Garret Mortimer, eram os encarregados de fazer cumprir a lei.

Na maioria das vezes, Decker obtinha um certo grau de satisfação ao proteger dos
vampiros sem escrúpulos a sua raça e aos mortais. Entretanto, este não era um desses
momentos. Suas férias se arruinaram por nada. Tinham passado as duas últimas
semanas procurando um renegado que na verdade não era um renegado.

Abriu os olhos e girou a cabeça para olhar o suposto renegado que estava sentado no
extremo oposto da sala. Um homem magro de cabelo negro chamado Grant. Decker
não se incomodou em averiguar se esse era seu nome ou seu sobrenome. Tinha
estado muito zangado uma vez que se deu conta de que suas férias não tinham sido
canceladas para capturar a um vampiro renegado, mas sim porque algum empregado
que faz a papelada no Banco de Sangue Argeneau se indispôs com o homem e
deliberadamente tinha perdido e atrasado suas encomendas de sangue. Isso fez que
Grant se visse forçado a alimentar-se de mortais entre as entregas de sangue.

Decker suspeitava que o homem não teria problemas por suas ações, dado que
alimentar-se dos mortais em situações de emergência estava permitido. Entretanto,
Grant estava mordendo as unhas desesperadamente e parecia ansioso assim como
Mortimer. Decker não podia culpá-los. Ter que enfrentar Lucian Argeneau podia ser
um fato bastante intimidante. Ele era a cabeça do Conselho de Imortais, assim como
também era o líder das forças da ordem do Conselho, também era um dos imortais
mais antigos e em conseqüência, podia ser tão frio como uma pedra.

-Talvez eu devesse ir ver se tudo vai bem- murmurou Mortimer.


Decker olhou ao homem loiro quando ele se deteve diante dele e sacudiu a cabeça.

-Não é uma boa idéia, amigo.

Mortimer franziu o cenho, grunhiu e logo continuou caminhando, mas seus olhos
seguiam fixos na parte superior da escada. Decker sabia que não passaria muito
tempo antes que Mortimer não pudesse mais se conter e fosse acima para procurar
Samantha. Decker entendia perfeitamente. Provavelmente se sentiria da mesma
forma se a mulher fosse sua companheira de vida.

Inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, pensando no fato de que Mortimer
encontrar Samantha era a única coisa boa que tinha saído desta caçada. Quando um
de sua espécie encontrava sua companheira de vida era sempre um acontecimento
feliz. Era uma pena que a mulher proviesse de uma família em que os pais tinham
morrido e as três filhas que ficaram não tinham parentes próximos. Isso significava
que eram muito unidas entre elas... por isso Sam estava resistente a transformar-se e
a ter que desaparecer de suas vidas dentro de dez anos para evitar que se dessem
conta que não envelhecia. Essa decisão foi a razão pela qual estava acima, de fato
estava sendo interrogada por Lucian; enquanto isso Mortimer, pouco a pouco, estava
ficando louco, esperando para saber o que lhe proporcionava seu futuro.

Se Lucian decidisse que estava bem que ela não se convertesse em um deles e que
não representava uma ameaça para sua raça, os dois poderiam estar juntos.
Entretanto, se ele decidisse o contrário, Sam teria que aceitar a mudança ou sua
memória seria apagada e não recordaria a relação que tinha atualmente com o homem
que, com seu passeio, parecia que ia fazer um buraco no tapete do porão de Decker.
Entretanto, Mortimer continuaria lembrando de tudo, o amor encontrado e perdido ...
e nunca poderia voltar a aproximar-se dela por medo de que esta lembrasse de seu
tempo juntos. Era um inferno, uma coisa pela qual não se devia passar, sinceramente
Decker esperava não ter que enfrentar nunca a uma situação semelhante.

Um som baixo de frustração lhe fez abrir os olhos de novo. Mortimer se deteve e
agora estava olhando a escada com uma expressão sombria. Teve medo de que ele
tivesse chegado ao final de suas forças e estivesse a ponto de fazer algo do que mais
tarde se arrependeria, então Decker tentou distrai-lo lhe perguntando -O que é essa
conversa de que vai haver uma nova sede para os executores e que possivelmente
você a dirigirá?

Mortimer deixou de olhar ao teto e se encolheu de ombros.

-Agora que Lucian tem uma companheira de vida, resulta-lhe incômodo ter como
sede sua casa quando nós estamos trabalhando na zona. Decidiu que uma sede
adequada era a solução e tem feito acertos para a compra de uma casa não longe de
seu lugar de residência nos subúrbios de Toronto. Ofereceu-me o trabalho de dirigi-la
quando chegou aqui.

Decker, assentiu com a cabeça, fingindo que não tinha escutado toda a conversação
anterior. Logo comentou: -Isso te permitirá estar perto de Sam.

-Sim.- Mortimer suspirou e logo franziu o cenho e adicionou com amargura: -Se é
que nos permitirá estar juntos .

Decker grunhiu, dando-se mentalmente chutes por não perceber que esta conversa o
levaria de volta a pensar em Sam e no que estava se passando acima. Estava tentando
dizer algo mais quando ouviu o som de uma cadeira raspando o chão de madeira,
seguido de uns suaves passos.
-Parece que terminaram de falar.

-Graças a Deus- murmurou Mortimer, mas Decker não podia deixar de observar que
não parecia aliviado. Na verdade, o homem estava se colocando ainda mais tenso
enquanto esperava conhecer seu futuro.

Decker, olhou para a escada, vendo enquanto apareciam Sam e logo depois Lucian.
Não preocupou em olhar seu tio que sempre tinha uma expressão de pedra e difícil
de interpretar. Em lugar disso, centrou-se em Sam, mas estava tão inexpressiva como
o homem que estava atrás dela, supôs que isso era consequência por ela ser uma
advogada. Uma cara de pôquer, provavelmente era o melhor nesse momento, pensou
e leu sua mente. O que encontrou foi algo confuso, uma mescla de ira e de alívio.
Parecia que Lucian não tinha abandonado seus habituais costumes dizendo
claramente a Sam que o castigo seria a morte se alguma vez traísse sua raça. Mas
tinha concordado em lhe permitir ser a companheira de vida de Mortimer sem
transformar-se.

Decker também viu que Lucian tinha conseguido convencê-la para que se demitisse
do escritório de advocacia no qual trabalhava e que trabalhasse para as forças da
ordem. Decker achou surpreendente porque sabia que, até sua união com o Mortimer,
sua carreira no prestigioso escritório de advocacia tinha sido a parte mais importante
de sua vida. Não obstante, parecia que se deu conta nestas duas últimas semanas que
não lhe importava deixá-lo, porque isso ocupava quase toda sua vida e embora ela
não estivesse disposta a renunciar a suas irmãs, estava disposta a mudar sua situação
atual para ter o tempo necessário para viver com Mortimer. Tinha ajudado o fato de
que Lucian lhe havia dito que havia um montão de questões jurídicas que
necessitavam atenção quando eles estavam perseguindo e exterminando aos
renegados. Hoje em dia, em um mundo infestado de papéis, as pessoas não podiam
só desaparecer. Nem sequer os imortais.
-Sam está de acordo em trabalhar para nós- anunciou Lucian ao baixar as escadas.

-Ela fará o que puder para te ajudar a organizar a sede dos executores e se
encarregará dos assuntos legais que surjam no trabalho.

A Decker não escapou o alívio que refletia o rosto de Mortimer enquanto se


aproximava de Sam e lhe passava o braço ao redor da cintura para atrai-la a seu lado.
Absortos em si mesmos, não prestaram atenção quando Lucian parou frente a Grant e
olhou com expressão sombria ao imortal de cabelo escuro.

- Pelo que entendi você teve problemas para obter sangue e se viu obrigado a se
alimentar dos mortais?- perguntou-lhe.

Grant assentiu temeroso. Quando Lucian olhou fixamente ao homem, Decker soube
positivamente que estava lendo a mente do imortal. Ao que parece, mostrou-se
satisfeito com o que encontrou ali, porque ele assentiu com a cabeça e lhe disse:
-Alguém está investigando a negligência do empregado que estava atrasando suas
ordens. Também dispus um gerador para que seu fornecimento de sangue não se
danifique cada vez que haja um corte de luz aqui, isso evitará que tenha que se
alimentar dos mortais no futuro. Mas, -acrescentou a modo de advertência -se tiver
mais problemas, deve chamar Mortimer. Não vou perdoar outro incidente como este.-
Grant se encolheu no sofá de couro frio pela advertência.

-Não foi minha culpa.

-Se esquece que posso ler sua mente- interrompeu-o Lucian com gravidade. -O
orgulho é a razão pela qual não se pôs em contato com alguém que pudesse
solucionar seus problemas com o fornecimento de sangue. Isso e o fato de que em
realidade prefere comidas quentes, e a situação lhe deu a desculpa perfeita para se
alimentar dos mortais. Se realmente quer se alimentar desse modo, será melhor que
vá para Europa. Aqui não será permitido. A próxima vez que uma situação como esta
apareça relacionada com você, será acusado. Entendido?

-Sim senhor- balbuciou Grant.

Satisfeito aparentemente com o veredicto dado, Lucian olhou para Mortimer e depois
para Decker enquanto ele manifestou: -Felizmente, não parece que terei que fazer
nenhuma limpeza aqui. Grant teve ao menos o bom julgamento de alimentar-se em
uma zona ampla, do norte de Parry Sound até Minden. Significa que providenciou
para não levantar suspeitas entre os mortais. Rapazes, podem recolher suas coisas e
partir.

-Desculpe- disse Grant timidamente do sofá.

Lucian franziu o cenho e se voltou fazia o homem. -O que?

O imortal se encolheu por seu olhar e logo balbuciou nervoso -Eu nunca me
alimentei em P...Parry Sound ... ou em M...Minden.

Lucian o olhou fixamente durante um momento. -Temos informes de outros imortais


que viram marcas de mordidas em Parry Sound, Burks Falls, Nobel, Huntsville,
Bracebridge, Gravenhurst, Minden e Haliburton.

Grant sacudiu a cabeça. -Nunca estive mais à frente do que ao sul de Bracebridge.
Não estive em Gravenhurst, Minden e Haliburton, não fui eu. Tampouco ao norte de
Parry Sound. - Lambeu-se os lábios e logo sugeriu -Possivelmente não sou o único
que esteve tendo problemas para conseguir fornecimentos de sangue.
Houve um momento de silêncio quando Lucian aparentemente o leu de novo. Lucian
amaldiçoou e se voltou para o Decker, lhe dizendo: -Parece que seu trabalho não
terminou. Terão que dividir-se e revisar tanto o norte como o sul, mas primeiro falem
com Bastien para saber quem utiliza o abastecimento de sangue do Banco Argeneau
e assim saber quem poderia estar tendo problemas similares aos do acusado.
Verifiquem isso com ele primeiro.

Decker, arqueou uma sobrancelha ante a menção de seu primo Bastien Argeneau, o
cabeça das Empresas Argeneau. Seu olhar deslizou para a janela, onde a luz do sol
era visível no horizonte. -Está amanhecendo, Bastien terá saído do escritório e já foi
para casa neste momento.

Lucian fez uma careta. -Sim, e desde que encontrou sua companheira de vida desliga
o telefone enquanto dormem a menos que esteja esperando uma chamada urgente.
Ele pensou durante um momento e logo olhou para Grant. -Conhece algum dos
outros imortais que vivem por aqui?

-Não muitos. Tento me manter à margem- disse Grant com um tom de desculpa.

-Bom, deve terminar com isso- grunhiu Lucian. -Um imortal sem família e sem
amigos é mais provável que se torne um renegado.

-Tenho amigos- disse Grant rapidamente e logo acrescentou a contra gosto: -Bom ...
um. Vive justo ao norte do Minden e o visito a cada duas semanas. -Ao que parece,
teve medo que Lucian não lhe acreditasse e adicionou: -Pode perguntar a Nicholas.
Ele responderá por mim.

-Nicholas?- perguntou Lucian bruscamente quando Decker ficou rígido ao ouvir o


nome. -Quem é Nicholas ?

-Nicholas Argeneau- disse Grant, soando aturdido já que estranhou que ele sequer o
perguntasse. -Vi-o a última vez que fui lá e lhe disse que estava indo ver um amigo.
Ele vai lembrar e poderá lhe dizer isso .

Lucian tinha ficado imóvel e Mortimer murmurou uma maldição. Decker sentiu
como se o sangue de suas veias se convertesse em barro e deixasse de mover-se.
Tudo nele se congelou, seu sangue, seu coração e até seus pensamentos quando as
palavras ressonaram em sua cabeça.

Sam sussurro: -O que acontece? Quem é este Nicholas Argeneau?

-É um renegado que foge de nós a quase cinqüenta anos- grunho Mortimer.

-O que?

O acusado empalideceu e retrocedeu de novo no sofá como se tivesse medo de que


Lucian o agarrasse e o estrangulasse. Começou a balbuciar: -Não sabia que era um
renegado. Faz cinquenta anos que me mudei para este lugar e saí da cidade e não
sabia nada. Se soubesse que Nicholas era um renegado teria chamado às Empresas
Argeneau.

-Vá para casa- ordenou Lucian sombrio. Quando o homem exalou com alívio e se
lançou com entusiasmo para as escadas, acrescentou: -E sem mais mordidas ou irei te
buscar pessoalmente.

O homem assegurou várias vezes que seu comportamento futuro seria irrepreensível
enquanto subia com rapidez as escadas. Ao final se ouviu o golpe da porta de cima
ao fechar-se.

-Então- disse Mortimer em voz baixa rompendo o silêncio que reinava na sala, -O
que vamos fazer com Nicholas?

Decker, olhou para seu tio e viu que Lucian o olhava fixamente. Como de costume,
seu rosto era uma máscara sem expressão. Ele respondeu: - Vamos Caçá-lo.

Capítulo 1

-Aonde diabos está indo?- murmurou Decker entre dentes enquanto conduzia o
veículo pelo caminho de terra cheio de buracos seguindo à caminhonete branca que
ia diante.

-Não tenho nem idéia- respondeu Justin Bricker.

Decker olhou brevemente ao jovem imortal, seu companheiro provisório nesta


caçada, mas não se incomodou em lhe explicar que havia pensando em voz alta.
Voltou a se concentrar na estrada, entrecerrando os olhos em um esforço para ver por
onde ia. Embora sua espécie pudesse ver na escuridão melhor que os mortais, lhe
custava a enxergar devido à quase falta completa de luz. Era uma noite sem estrelas
e Decker tinha apagado as luzes vários quilômetros atrás para evitar ser descoberto
por Nicholas. Os veículos dos executores tinham várias modificações, entre elas a
que apagava as luzes quando o carro estava em movimento.

-Não esperava que fosse tão fácil localizá-lo- disse Justin de repente.
Decker grunhiu surpreso. Nicholas Argeneau era um renegado que estava fugindo a
mais de cinqüenta anos durante os quais ninguém o tinha visto. Por isso, o fato de
que só tivesse levado um dia para mostrar sua foto e encontrar seu rastro parecia
muito fácil. Muito fácil. Isto fez com que Decker suspeitasse e fosse mais cauteloso.
Por que Nicholas não tinha apagado a lembrança dos mortais com os que se
encontrou? Tinha-o feito no passado e entretanto, de repente não o fazia. Em lugar
disso, parecia ter deixado um rastro tão claro como miolo de pão verde radioativo.

Justin amaldiçoou a seu lado e se agarrou à alça de segurança quando o caminho de


terra chegou ao fim e seguiram o carro fora da estrada, ricocheteando sobre o mato
alto e os arbustos.

-Talvez esteja cansado de fugir- sugeriu repentinamente Justin com os dentes


apertados, sem dúvida para evitar morder a língua, pelos desníveis do caminho.
-Talvez ele queira que o apanhem.

Decker não respondeu. Nem por um minuto pensou que Nicholas fosse dar-se por
vencido e não sabia o que estava acontecendo, mas a constante necessidade de Justin
Bricker de falar começava a deixá-lo louco. Não tinha nem idéia de como Mortimer,
o companheiro habitual de Justin, tinha aguentado todos estes anos.

-Ele está parando.

-Posso vê-lo- murmurou Decker entre dentes, estacionando o veículo ao lado da


estrada. Estacionou tão perto do bosque como pôde, sem correr o risco de ficar
entalado, com a esperança de que estivessem o suficientemente longe para que sua
presa não notasse sua presença, depois desligou o motor e ordenou: -Vigie o carro.

Deixou as chaves no contato para economizar tempo se por acaso Nicholas


pressentisse sua presença e tratasse de escapar em seu carro. Decker se arrastou sobre
o assento para a parte traseira do veículo, onde guardavam o sangue e as armas.
Primeiro abriu a geladeira e agarrou duas bolsas de sangue, lançando uma no colo de
Justin.

-Tome isso. Terá mais força.

-Suponho que não esteja pensando que ele se renderá quando nos vir?- perguntou
Justin com tom seco e logo mordeu a bolsa.

Decker lançou um bufo pela pergunta. Esperou que suas presas descendessem e
pressionou a bolsa de sangue nas presas com uma mão enquanto estirou a outra até
abrir a tampa do contêiner de armas. Seus olhos se deslizaram sobre as armas em seu
interior. Embora não pudesse matar um ser imortal com uma arma, esta podia detê-lo
e inclusive incapacitá-lo temporariamente ... sobre tudo utilizando as balas que
estavam recobertas com o tranqüilizador que os técnicos de Bastien tinham
desenvolvido.

-Está saindo do carro- disse Justin.

Decker o olhou e viu que Justin já tinha drenado o conteúdo da bolsa e estava
colocando-a em uma sacola pequena a seus pés que estava cheia de pacotes de
comida rápida. O homem gostava de comer tanto como gostava de falar, percebeu
Decker. Sacudindo a cabeça, olhou pelo pára-brisa dianteiro, mas não podia ver além
dos assentos. Retirando sua bolsa vazia de seus dentes perguntou:

-O que está fazendo?

Vai para a parte traseira do carro ... abriu a porta ... está agarrando algo do porta-
malas…acredito que esteja tirando armas.- Justin olhou para trás com o rosto
preocupado quando lhe perguntou: -Acha que nos viu?

Decker apertou seus lábios. Puxou a bolsa vazia e se voltou para ele.

-Veio por suas armas.

-E se chamarmos o Lucian ou o Mortimer?- perguntou Justin enquanto ia para ele.


Decker pensou na situação enquanto se decidia por duas armas de fogo e uma caixa
de balas recobertas. Lucian os tinha enviado ao norte como mera medida de
precaução. Ele também tinha enviado a Mortimer e Sam ao oeste pela mesma razão,
mas ele e sua companheira de vida, Leigh, estavam buscando-o na zona do
Haliburton onde Nicholas tinha sido visto pelo Grant. Decker suspeitava que seu tio
tinha esperado encontrá-lo ali e esperava ser o primeiro a chegar. Isso significava que
os dois casais estavam o suficientemente longe e não iam ser de utilidade neste
momento. Sacudiu a cabeça.

-Levaria pelo menos uma hora, possivelmente duas para que qualquer deles chegue
até aqui. Estamos por nossa conta.

Justin assentiu lentamente e logo o companheiro vagabundo e simpático se converteu


no caçador que era. Seus ombros se endireitaram e sua expressão se tornou sombria
quando começou a escolher as armas.

Dispostos a não arriscar que Nicholas saltasse sobre eles enquanto estavam
distraídos, Decker agarrou suas armas e a caixa de balas e se dirigiu para o assento
do condutor. Viu que Nicholas agora tinha uma aljava cheia de flechas e uma balestra
pendurando em suas costas, mas ainda seguia na parte traseira do veículo.
Procurará mais armas, supôs Decker e continuou observando-o enquanto carregava
suas armas. Nicholas seguia ocupado na parte traseira de sua caminhonete quando
Justin retornou à parte dianteira.

-E agora o que?- perguntou Justin, olhando para o renegado. -Vamos de mansinho e


pulamos em cima dele?

-Parece uma boa idéia- murmurou Decker. Agarrou as chaves e logo o pensou
melhor. Se Nicholas se dava conta de sua presença antes que chegassem até ele,
poderia meter-se no carro e fugir. Se isso acontecia, Decker não queria estar
perdendo o tempo procurando as chaves em seus bolsos no meio da caçada, então
deixou as chaves no contato e desativou a luz da cabine para que não se acendesse
quando a porta se abrisse. Felizmente, outra modificação feita em todos os seus
veículos era que não havia sinais sonoros que indicassem que as chaves estavam no
contato e conseguiu sair em silêncio do veículo, assim como Justin.

Decker tinha receio de que um só clique delatasse sua presença, por isso não fechou
a porta de tudo e a deixou entreaberta. Justin fez o mesmo e os dois homens
avançaram com cautela, caminhando através do mato tão silenciosamente como era
possível. Nenhum dos dois falava, mas na metade do caminho, Justin se dirigiu ao
outro lado do caminho para aproximar-se pelo lado oposto. Era o tipo de coisa que o
companheiro habitual de Decker, Anders, faria de forma automática, mas Anders e
ele tinham trabalhado juntos durante décadas. Decker supôs que não devia se
surpreender pelas ações de Justin. Podia ser a primeira vez que trabalhava com ele,
mas Justin o tinha feito com Mortimer durante anos e sabia o que tinha que fazer.
Deixou de se preocupar, o garoto seria capaz de atuar por si mesmo. Decker voltou
sua atenção a sua presa enquanto se aproximava em silêncio.

Estavam a uns dois metros quando Nicholas se endireitou e disse: -Levou tempo
encontrar as balas e se aproximar. Estava começando a pensar que teria que te
esperar aqui de pé até o amanhecer.

Decker se acalmou, consciente de que Justin também o fez. Os três permaneceram


em silêncio e logo Nicholas levantou as mãos e se voltou lentamente. Como era de se
esperar, o tempo o tinha mudado pouco, seu cabelo escuro estava um pouco mais
comprido do que Decker recordava, mas seus olhos seguiam sendo azuis prateados e
ainda era atraente, com feições cinzeladas que faziam com que a maioria das
mulheres sofresse palpitações em seus corações ao vê-lo. A única mudança era que o
sorriso fácil e o encanto que estava acostumado a ter, agora tinham sido substituídos
por uma expressão sombria. Decker estava mais acostumado a ver isso no rosto de
Lucian. Também tinha uma arma em cada mão, e ambas apontavam para o céu.

-Estávamos escolhendo e carregando as armas -explicou Justin, demontrando-se


ferido pelo comentário.

Nicholas assentiu solenemente, mas olhava para Decker, quando ele disse: -Deve ser
difícil escolher com o que disparar a um de seu próprio sangue.

Decker se encolheu de ombros, mas reconheceu para si mesmo que não era fácil para
ele. Nicholas era da família ... mas também era um renegado. -Quanto tempo faz que
sabe estamos te seguindo?

-Desde o restaurante. Esperei por vocês muito tempo ali- informou-lhes e


acrescentou com tom grave, -espero que não tenha sido por muito tempo.

-O que quer dizer com que esperou durante muito tempo?- perguntou Decker com
suspicacia. -Como soube que estávamos na redondeza?
-Porque assim o quis -disse Nicholas como se fosse óbvio. -Por que acha que deixei
que Grant me visse quando nos encontramos no mesmo posto de gasolina?

-Está dizendo que queria que te encontrasse?- perguntou Decker.

-Sim.- Sua boca se torceu para baixo quando Decker não ocultou sua incredulidade, e
acrescentou: -Quando vi o Grant me dei conta que deixar que me visse não era tão
mau, assim me aproximei para saudá-lo. Sabia que quando me visse ele iria contar ao
Lucian e enviariam algumas equipes para acabar comigo.

Nicholas fez uma pausa e logo continuou com desagrado. -Simplesmente não me
tinha dado conta de que vocês se tornaram tão preguiçosos em seu trabalho. Deviam
ter sido capazes de me rastrear antes de ontem. Deixei um rastro suficientemente
claro. E ainda assim tive que esperar dois dias para que se apresentassem.

-Não, Grant não reportou que te tinha visto. Ele não sabia que é um renegado. Foi só
uma casualidade que ele te mencionasse hoje pela manhã- explicou-lhe Justin,
defendendo-se de suas palavras o que fez que Decker franzisse o cenho. Não tinham
que explicar nada a este homem.

Nicholas entrecerro os olhos com a notícia e logo suspirou e assentiu. -Então não
posso culpá-los se essas garotas morrem- murmurou com tristeza e sacudiu a cabeça.
-Será minha culpa por esperá-los.

-Que garotas?- perguntou Decker. -E por que quereria encontrá-las?

-Porque tropecei com um desagradável ninho de renegados e os estive seguindo. No


momento em que vi Grant me dei conta de que ia precisar de ajuda para eliminá-los.
Me encontrar com ele no posto de gasolina pareceu quase uma coincidência. Ao
menos parecia isso e pensei que ele me entregaria- acrescentou com amargura e logo
se repreendeu. -Não deveria ter esperado, deveria ter chamado vocês e as garotas
estariam a salvo e sem lembranças.- Nicholas fez uma pausa e logo disse com tom
sério: -Estes são alguns dos realmente maus, Decker.

-Não são maus todos os renegados?- perguntou Justin em dúvida.

-Suponho que sim- disse Nicholas, com um tom de cansaço em sua voz e logo
continuou, -estão os que são realmente maus e verdadeiras sementes de demônios
massacram inocentes, tomando seu sangue pelo gosto de fazê-lo e rindo como
psicopatas enquanto o estão fazendo.

-Jesus- suspirou Justin.

Decker olhou aos olhos de Nicholas. -Está tentando me dizer que está caçando
renegados embora agora seja um deles? Por que faz isso?

-É difícil perder os velhos hábitos- disse Nicholas amargamente. Moveu-se com


impaciência. -Agora que te expliquei o suficiente, temos que começar a nos mover
antes de que comecem com essas duas.

-Espere um minuto- espetou-lhe Decker quando Nicholas baixou as mãos e se voltou


para caminhar em direção ao carro. -Nós não vamos a nenhuma parte e quem são
estas duas garotas de que tanto fala?

Nicholas o olhou por cima do ombro e disse: -São as duas garotas que estes patifes
seqüestraram no estacionamento da loja de comida antes que vocês chegassem ao
restaurante. Uma vez que agarraram às garotas, eu não podia esperar mais pelo
respaldo. Felizmente, vocês apareceram justo quando eu estava indo e me seguiram.
Agora podemos…

-Como sabe que agarraram essas duas garotas na loja de comida?- interrompeu-lhe
Decker . -O restaurante onde lhe vimos está bem longe de.…

-Jesus- interrompeu Nicholas com impaciência. -Não tenho tempo para isto agora.
Não podem ouvir seus gritos?

Decker abriu a boca para insistir que Nicholas lhe explicasse, mas se deteve quando
se deu conta dos gritos aterrorizados que provinham de mais adiante. Ou tinha
começado agora ou tinha estado tão concentrado no que Nicholas estava dizendo que
o tinha bloqueado. Entretanto, agora os escutava, uma vez que escutou os
desesperados e horripilantes gritos não pôde ignorá-los ... nem tampouco a risada
cruel dos homens que também se escutava.

-Me dispare pelas costas se quiser- Nicholas se deu volta. -Mas eu vi o que esses
filhos de puta fazem e não posso ficar para lhe explicar isso enquanto estão rasgando
às garotas. Deu meia volta e caminhou por entre as árvores.

-Disparo-lhe?- perguntou Justin, apontando para Nicholas enquanto este desaparecia


rapidamente.

Decker apertou os dentes e logo moveu a cabeça quando ressonou outro grito.
-Ainda não- espetou-lhe e correu atrás de seu primo, consciente de que Justin estava
justo detrás dele.

Dani olhou por cima do ombro para Stephanie olhando a mensagem "sem sinal" de
seu celular, fechou-o e o meteu em seu bolso e abraçou à garota que estava a seu lado
sussurrando:-Tudo vai ficar bem, Stephi.
Era mentira, mas tentava que ambas se sentissem melhor, mas Stephanie não
acreditou. Aferrou-se a sua cintura e a jovem chorou. -Não, nada vai ficar bem.

Com o coração encolhido pelo desespero em sua voz, Dani girou a cabeça para olhar
ao homem que estava detrás dela. Alto, magro, com o cabelo comprido, loiro e
murcho, ficou para montar guarda junto a elas enquanto os outros foram pegar lenha
para fazer uma fogueira e ocupar-se de outras tarefas desconhecidas. Ele as olhava
tão fixamente que lhe dava arrepios e o que mais a preocupava era que prestava
muita atenção em Stephanie.

Dani abraçou mais a sua irmã de maneira protetora e logo olhou com receio para os
outros, quando retornavam um após o outro, aparecendo na escuridão como pálidos
espectros que entravam no círculo de luz do fogo, cinco homens tão similares na
aparência que deviam estar relacionados. Alguns chegaram com as mãos vazias e
simplesmente se sentaram ao redor da fogueira. Os outros deixaram a lenha que
tinham encontrado junto ao fogo e se sentaram frente a Dani e Stephanie. A luz do
fogo banhava seus rostos, as sombras e a luz se deslizavam sobre eles como se
fossem as chamas do inferno enquanto observavam Dani e Stephanie. Eram como
gatos olhando a um par de ratos suculentos. Dani conseguiu resistir a sua inspeção
em silêncio por um momento, mas logo lhes perguntou: -O que vão fazer conosco?

No momento em que as palavras saíram de seus lábios, arrependeu-se de ter falado. A


pergunta lhes pareceu cruelmente divertida e eles riram em voz baixa enquanto
intercambiavam olhadas entre si. Pior ainda, um deles ficou de pé e começou a andar.
Dani olhou-o com cautela quando se deteve o lado do fogo e se agachou para agarrar
uma das peças de lenha. Ele levantou o ramo no ar, sustentando-a no alto enquanto se
dirigia para elas e por um momento, aterrada, temeu de que a jogasse nelas. Foi
quase um alívio quando em vez disso ele se aproximou e com sua mão livre a
agarrou pelo antebraço.

Dani tratou de se liberar de Stephanie, antes que ele a puxasse para pô-la de pé.

-Não! Deixa-a em paz!- chiou Stephanie e agarrou Dani, tratando de impedir que a
levassem, mas nem seus esforços nem os de Dani impediram que o homem a
arrastasse longe. Continuar lutando era inútil enquanto ele puxava ela através da
clareira do bosque, mas quando ele se deteve, olhou a seu redor. Ao princípio não
pôde ver nada mais que só escuridão diante dela e logo seu captor lhe aproximou a
tocha improvisada e viu que estava na borda de um precipício.

Dani lutou instintivamente por retroceder, temerosa de que ele tivesse a intenção de
jogá-la, mas foi a tocha o que lançou e que caiu girando até que aterrissou no fundo
com um ruído surdo. Viu então que não era muito profundo. Não mais de quatro
metros, pensou Dani e logo se esqueceu disso e se fixou em algo que estava entre o
mato e os ramos, no fundo do precipício.

Sem poder fazer nada deixou de lutar e inclusive se inclinou para diante, puxando a
mão que a sustentava para tratar de ver melhor o que havia no fundo. Dani lamentou
imediatamente ter feito isto. Em sua condição de médica, tinha visto um montão de
coisas horríveis, mas nunca em sua vida tinha imaginado ver algo tão horrível como
os corpos retorcidos e ensangüentados no fundo do precipício. O espetáculo em si
era terrível, mas não tão aterrador como sua súbita compreensão de que Stephanie e
ela estavam condenadas. Não havia esperança para elas absolutamente. Se eles
tinham o propósito de lhes fazer o mesmo que àquelas que apodreciam nessa
ravina ... a julgar pelo estado dos corpos, seria uma longa e dolorosa viagem até
chegar ali.

Isto não está acontecendo, Dani pensou fracamente, sua mente não podia aceitar o
giro que sua vida tinha tomado. Era uma médica que passava a maior parte de seu
tempo trabalhando. Este fim de semana tinha sido algo pouco comum em sua vida,
um pouco de tempo livre cheio de sol e areia no seio de sua família. A reunião
familiar dos McGill tinha durado quatro dias e três noites, cheias de risadas, natação,
pesca e simplesmente desfrutando da companhia mútua. Dani tinha aproveitado de
tudo isso e pela primeira vez em anos, tinha estado feliz e relaxada.

Antes de empreender a longa viagem de volta para casa, pararam para comprar
sanduíches para a viagem de oito horas e ...

Não se supunha que ia terminar assim, sua mente começou a uivar. Isto era o Canadá,
pelo amor de Deus, era aborrecido, Canadá era um lugar seguro onde nada tão
monstruoso como isto acontecia. Mas estava ocorrendo reconheceu, e quando
Stephanie começou a gritar histérica, interrompeu seus pensamentos aturdidos.
Voltou a cabeça para ver que a moça mais jovem tinha sido arrastada por um dos
outros homens para que visse o precipício. Agora ela também saberia que sua
situação era desesperada, pensou Dani com tristeza.

Quando os gritos do Stephanie subiram de tom e ficou histérica, Dani começou a


lutar de novo, desesperada por chegar até ela, mas a mão que a sujeitava era dura e
forte e todos seus chutes, golpes e tentativas de morder seu captor só o fizeram rir ...
do mesmo modo que o homem que retinha sua irmã. Estes animais pareciam achar
divertido seu horror e seu pânico. Isso provocou a fúria no interior de Dani e
redobrou sua tentativa frenética de se liberar e chegar até sua irmã.

-Ela é uma chorona- Proclamou o que segurava Stephi enquanto a sacudia para que
ela gritasse mais e isto fez que rissem ainda mais.

Dani desejava ter uma arma e poder disparar no bastardo quando de repente este
ficou rígido e a surpresa se refletiu em seu rosto. Soltou Stephanie deixando que esta
caísse no chão enquanto ele se inclinava tentado alcançar suas costas onde agora
uma flecha se sobressaía entre suas omoplatas. Dani se surpreendeu tanto que cessou
de lutar um instante contra seu captor e simplesmente observou o homem enquanto
este caminhava em círculo, como um cão tentado morder o próprio rabo, enquanto
tentava tirar a flecha. Todos os outros também ficaram paralisados, à exceção de
Stephanie que soluçava e gemia enquanto se arrastava pelo chão para sua irmã.

Ver isso fez com que Dani reagisse e saísse de seu estupor e quando ia começar a
lutar para livrar-se de seu captor percebeu um assobio que fez com que ficasse
gelada. De repente, uma flecha se sobressaía do braço de seu captor e a sentiu vibrar
junto a sua bochecha.

Dani percebeu não só que tinha sido solta mas que também tinha sido lançada longe,
enquanto o homem gritava de dor. Ela estava indo em direção à borda do precipício,
mas recordando o que havia debaixo, Dani não queria aterrissar ali e se agarrava
freneticamente a algo para salvar-se. Seus dedos se aferraram a vários ramos magros
de um arbusto. Entretanto, o agarre falhou e ela deslizou sobre a borda com os pés
para frente e começou a cair pelo lado. Dani não deu atenção à dor quando os ramos
deslizavam por entre seus dedos, arrancando as de folhas com o passar do caminho.
Desesperada por parar, apertou suas mãos, mas os ramos imediatamente se romperam
com seu peso. Soltou-se e não vendo nada o que agarrar, Dani se encontrou
arranhando a terra enquanto que caía no fundo.

Felizmente, a combinação entre arranhar a terra e agarrar-se aos arbustos fez com
que a queda fosse mais lenta e Dani se deteve na metade do caminho do pequeno
precipício. Fechou os olhos e elevou uma oração silenciosa de agradecimento.

Os sons que chegavam de cima eram caóticos e ruidosos. Sua irmã estava gritando de
novo, mas a esse som se somaram os gritos dos homens e vários ruídos agudos. Ao
que parece, as flechas já não eram as únicas armas que se disparavam. Quando
pensou em Stephanie, Dani começou a subir de novo até a borda, seu coração parecia
ressonar no mesmo ritmo dos sons das armas de fogo acima. Chegou à borda,
conseguiu pôr um braço sobre a parte superior para manter seu peso e se arrastou o
suficiente para ver a cena na clareira. Três dos seis seqüestradores tinham sido
abatidos, outros dois se esconderam atrás de um tronco de grande tamanho e
disparavam, possivelmente três ou mais homens estavam escondidos detrás das
árvores do bosque que os rodeava. Mas Dani não podia ver o sexto seqüestrador ...
ou a sua irmã.

-Dani!

O grito atraiu seu olhar para a direita e viu Stephanie enquanto era arrastada e usada
como escudo pelo sexto homem ao mesmo tempo que ele se movia pelo bosque.
Amaldiçoando, Dani ignorou os disparos a seu redor e começou a lutar por sair da
borda.

-Um deles está escapando!

O grito de Justin desviou a atenção de Decker dos dois renegados que disparavam
contra eles, para o que escapava pelo bosque e que levava arrastanda à garota mais
jovem.

-Eu pego ele- chiou Nicholas e saiu de atrás de uma árvore próxima e se moveu
através das árvores, cobrindo a cabeça.

-Não! Espere, Nicholas!- rugiu Decker e instintivamente se lançou atrás dele para
caçá-lo, mas um aviso de Justin o fez deter-se. Voltando-se para trás, seguiu o gesto
do jovem imortal para a mulher que tratava de subir da borda do precipício do outro
lado da clareira. Decker a tinha visto desaparecer no precipício depois que Nicholas
tinha atirado uma flechada no braço do renegado que a segurava. Temeu que
estivesse morta ou gravemente ferida pela queda, mas ao que parece ela tinha
conseguido se salvar e agora lutava por sair e retornar por si mesma.

Quando Decker ainda estava olhando para ela, a mulher escorregou e começou a
afundar-se outra vez. O desespero em sua cara e a forma em que seus dedos se
agarravam como garras freneticamente no chão para deter sua queda lhe sugeriu que
a queda poderia ser mortal e que ela não se salvaria.

Amaldiçoando, ele se dirigiu através das balas para o precipício. Decker se moveu
tão rápido como pôde, apertando os dentes quando as balas passaram lhe roçando.
Embora as balas dos renegados não estavam cobertas com um tranqüilizador como as
suas, podiam causar dor e muito dano ... e se tinham sorte e o disparo atingisse o
coração, estaria indefeso e poderiam acabar com ele.

Decker estava surpreso e quase sentiu um pouco de alívio quando chegou ao


precipício ileso. Conseguiu agarrar a mão da mulher justamente quando ela estava
escorregando da borda ... e foi então quando finalmente uma das balas o alcançou.
Golpeou-o nas costas e quase soltou à mulher, cambaleou para frente mas logo
conseguiu agarrá-la com a outra mão. Arrastando-se pela terra para não cair para
frente, Decker puxou a mulher para cima e ao mesmo tempo se girou de volta para o
claro. Teve que utilizar mais força do que acreditava, não se limitou a tirá-la do
buraco mas também a lançou a vários metros de distância.

Foi quando a segunda bala lhe acertou no peito, debaixo do ombro. Sentiu como se
um laço de arame farpado estivesse rodeado em seu peito. Decker se obrigou a
ignorar a dor, levantou sua arma, ficou de pé e começou a disparar na direção dos
dois homens que se escondiam atrás do tronco, movendo-se rapidamente para o lado
e afastando-se da mulher mortal enquanto o fazia. Era difícil afastar os disparos dela
enquanto ele tomava conta da situação. Ambos os renegados tinham saído de seu
esconderijo e agora estavam de pé, um disparava nele e o outro em Justin, que
investia do outro lado do clareira.

Ao vê-lo, Decker deixou de mover-se e apontou com sua arma ao que estava lhe
disparando e disparou a quema roupa no peito. Esperou o tempo suficiente para ver
como se agarrava a zona ferida e surpreso, começava a cair para trás, e
imediatamente girou para apontar ao segundo homem. Entretanto, este já estava
caindo, Justin lhe tinha disparado.

Decker olhou para a mulher, então a viu desaparecer no bosque na mesma direção
que Nicholas tinha tomado. Deixou que Justin tomasse conta dos homens na clareira
e foi atrás dela, com a intenção de alcançar Nicholas. Ele seguiu o som da mulher
através da mata e de repente se encontrou no caminho onde tinham estacionado o
carro... só que já não estava ali e tampouco a caminhonete de Nicholas.

Decker, fechou os olhos e lançou uma maldição. Tinha deixado as chaves no carro e
ao parecer o renegado o tinha aproveitado e roubou o veículo.

Amaldiçoando de novo, Decker se fixou na pessoa que estava de pé onde antes tinha
estado seu carro. Sempre a tinha visto de costas desde que tinham saído do bosque,
mas agora estava de frente, era uma mulher de média estatura, com uma figura
curvilínea e comprido cabelo loiro que caía sobre a cara em cachos soltos. Isso foi
tudo o que tinha notado até esse momento e o fato de que ela se deteve abruptamente
enquanto ele a olhava. Os olhos dela se deslocaram para a estrada e de novo a ele
com uma mescla de preocupação e incerteza. Parecia evidente que estava preocupada
com a outra garota que tinha sido raptada. Sem dúvida, sentia incerteza porque não
estava segura se ele era amigo ou inimigo.

Decker vacilou e por um instante considerou tomar um tempo para lhe assegurar que
estava a salvo, mas suas costas e o peito doíam pelas balas que lhe tinham alcançado
e ele não estava com humor para fazer frente à mulher que certamente estava
emocionalmente alterada. Além disso, não tinha tempo para ela, Justin e ele tinham
que fazer todo o possível para arrumar a confusão que havia aqui e logo perseguir
Nicholas ... outra vez, pensou, irritado, e simplesmente se deslizou na mente dela
para tomar o controle ... ou tentou. Para surpresa do Decker, não podia ler sua mente.

Esse fato lhe fez lhe dar uma segunda olhada. Esta vez se deu conta de que seus
olhos eram azuis, sua boca era quase grande, o nariz pequeno e reto. Embora não
fosse uma beleza clássica, de algum jeito, essas características individuais em
conjunto davam como resultado um rosto atraente. Mas era o rosto de uma mulher
que não podia ler. A questão era: isso se devia ao fato que ela estava preocupada
nesse momento, certamente sua cabeça era um caos devido aos acontecimentos
recentes, e por isso um imortal não podia lê-la? Ou havia outra razão pela que não
podia penetrar em sua mente?

Decker vacilou, e logo se concentrou uma vez mais para tentar penetrar em seus
pensamentos, mas se encontrou com um muro de escuridão duro e impenetrável.

-Quem é você?

Ele franziu o cenho quando ela interrompeu sua concentração, mas ela o fulminou
com o olhar. Surpreendeu-se ao responder. -Decker Argeneau- disse e logo franziu o
cenho ante a resposta e disse: -Quero dizer Pimms. Ele não tinha utilizado o nome
Argeneau durante mais de um século. Negava-se a isso. O nome suportava um certo
prestígio, provocava um certo respeito aos de sua espécie, mas não queria respeito só
por seu sobrenome. Decker preferiria ganhá-lo por seus próprios méritos.

-Está bem, é Decker ...pode ser...Argeneau...talvez...Pimms.- A mulher parecia


zangada. -Mas me dizer seu nome não me está dizendo quem é verdadeiramente e
por que não deveria sair correndo em direção contrária neste momento, não é?

-Está a salvo- disse ele e quando ela não respondeu nem se relaxou, adicionou
-Salvei sua vida, garota. Está a salvo.

Ela vacilou e logo gritou: -e minha irmã Stephanie? Seu amigo foi atrás deles. Vai ser
capaz de recuperá-la?

-Não sei- admitiu Decker. -E ele não é meu amigo.

Ela franziu o cenho. -Estavam juntos.

-Não. Justin e eu só o seguimos até aqui- disse Decker, procurando seu telefone em
seu bolso. Viu "sem sinal" piscando na tela.

-Aqui não há cobertura- anunciou ela e acrescentou: -Ao menos o meu não tem.
Onde está seu carro? Temos que ir atrás de minha irmã.

-Eu não tenho- murmurou Decker, sem incomodar-se em lhe explicar que o tinham
roubado. Ele a ignorou e logo levantou seu telefone para o céu, girando em círculo
com a esperança de captar o sinal. Quando isso não funcionou, fechou-o com um
suspiro e o meteu no bolso. Decker olhou à loira e viu que tinha começado a
caminhar pelo caminho para a estrada.

Esfregando-se distraídamente o peito, tratou de tomar o controle dela uma vez mais,
mas desta vez não teve mais êxito que nas duas últimas tentativas. Amaldiçoando,
deu-se por vencido e se apressou a agarrá-la pelo braço para detê-la.

-Espere.

A loira se voltou para ele bruscamente e olhou a mão que agarrava seu braço.

Decker lhe ignorou e perguntou: -Onde acha que vai?

-Buscar minha irmã- respondeu ela de maneira contundente e soltou seu braço para
voltar a caminhar de novo.

-A pé?- perguntou ele com exasperação, detrás dela.

-Sim, pelo menos até que encontre uma casa habitada ou uma cabana e possa tomar
emprestado um carro ou algo assim.

-Ninguém vai emprestar te seu carro- disse-lhe Decker zangado. -E não pode
perseguir esses tipos sozinha. Eles não são criminosos habituais. Nós vamos nos
encarregar disto. É ao que nos dedicamos.

Ela fez uma pausa e se voltou para olhá-lo com incerteza. -É da polícia ou algo
assim?

-Um pouco parecido- disse ele vagamente e a agarrou pelo braço para que voltasse
por onde tinham vindo. Ele não deu atenção ao fato de que ela estreitava seus olhos e
estava arrastando os pés.

-É da PPO?
-Não. Não pertencemos à Polícia Provincial de Ontario.

- A Real Polícia Montada?

-Não. Tampouco estamos com a Polícia Montada do Canadá.

A loira cravou seus pés no chão e se negou a seguir adiante. Em lugar de obrigá-la,
Decker suspirou e se voltou para lhe dizer: -Olhe, somos de uma força dedicada ao
cumprimento da lei. Apanhamos os criminosos, mas não tem sentido que te diga o
nome da organização para a qual trabalho. Não a conhece. Nós não somos
conhecidos pelo cidadão médio. Mas está a salvo.

Os olhos dela se abriram com sua declaração e lhe perguntou com ansiedade: -Quer
dizer como o CSIS (Serviço de Inteligência Canadense)? Vocês são algo assim como
agentes secretos?

Decker vacilou; não tinha nenhuma vontade de afirmar que era um membro do CSIS,
a versão canadense do FBI. Ela tinha nomeado todas as organizações dedicadas ao
cumprimento da lei e não podia lhe dizer a verdade, por isso só murmurou: -Algo
assim.

Quando ela abriu a boca para fazer outra pergunta, ele se antecipou com rapidez para
lhe perguntar: -Como se chama?

-Danielle McGill.

-E a outra garota é sua irmã Stephanie?


-Minha irmã menor, acaba de fazer quinze anos- disse Danielle. A preocupação
alagou seu rosto e olhou uma vez mais para a estrada.

Antes que Decker pudesse dizer algo mais, um ruído atraiu sua atenção, era Justin.

O imortal mais jovem olhou para onde tinha estado o veículo e disse:-Deixou a chave
na ignição.

Não foi uma acusação, só uma observação. Justin sabia exatamente por que ele tinha
deixado as chaves na ignição e não tinha protestado no momento. Nenhum dos dois
sabia do grupo de renegados nem esperavam que fossem roubar o carro.

Um som afogado de Danielle chamou a atenção de Decker, bem a tempo para ver
como ela voltava a caminhar para a estrada. A irritação começava a tirar o melhor
dele, saiu atrás dela, e uma vez mais a agarrou pelo braço.

-Espera. Pensei que tinha combinado com você que nós íamos nos encarregar disto.

-Eu não concordei com nada- replicou ela, tentando livrar-se. -E, francamente,
prefiro não confiar a vida de minha irmã à versão Austin Powers de um espião
governamental que nem sequer pode recordar que nome está utilizando em uma
missão secreta e que deixa suas chaves no carro para que seja mais fácil que os
bandidos possam escapar. - Danielle McGill, apartou-se para começar a caminhar de
novo.

Apertando a boca, Decker gritou: -Justin, entre na mente dessa mulher e traga ela
aqui de novo.

Justin assentiu com a cabeça e começou a girar para o Danielle, mas logo se deteve, e
voltou a olhá-lo. -Por que não tomou o controle você mesmo?

Decker sussurrou entre seus dentes apertados. -Não posso.

Os olhos do jovem imortal se abriram mais. -Não pode?

-Ela está zangada- murmurou Decker. -Só faça se você puder fazê-lo, de acordo?

-Homem- suspirou Justin, sacudindo a cabeça. -Primeiro Mortimer e agora você.


Estão caindo como moscas.

-Simplesmente controle Danielle, ok?- disse Decker com cansaço.

-Ela prefere que a chamem por Dani- anunciou ele.

-Bricker- grunhiu ele.

-Está bem, está bem. Mantenha suas calças no lugar- Justin passou junto a ele e
adicionou: -Só estou dizendo que …

Decker apertou os dentes e logo se deu conta exatamente o que o homem estava
tentando lhe dizer. O fato de que soubesse que ela preferia ser chamada de Dani,
significava que Justin era capaz de ler seus pensamentos. Não era o fato de que ela
estivesse muito nervosa que impedia de poder lê-la. Ela era sua ... companheira de
vida.

Decker elevou os olhos ao céu, esperando que algo acontecesse. Não sabia o que,
possivelmente que as estrelas sobre sua cabeça estalassem em brilhantes foguetes ou
que o céu se abrisse, chovesse e trovejasse para marcar o momento. Mas não
aconteceu nada. O momento mais importante de sua vida não chegou com uma
explosão, como sempre tinha esperado, mas com com o som tranqüilo do vento entre
as árvores e uma brisa serena que roçava suas bochechas.

Sacudindo a cabeça, Decker concentrou sua atenção em voltar para o assunto que
tinha entre mãos. Eles estavam presos em um bosque no meio do nada com uma
clareira cheia de renegados criminosos que estavam feridos, mas não mortos.
Precisava limpar este desastre antes de que algum mortal distraído encontrasse com a
cena. E precisavam iniciar a caçada de Nicholas de novo ... assim como do renegado
que tinha fugido e da garota que ele levou.

Decker não estava absolutamente certo de que ambos os objetivos fossem na mesma
direção. Era muito possível que Nicholas houvesse os trazido até o grupo de
renegados quando se deu conta de que Decker e Justin o estavam seguindo e
enquanto eles lutavam contra os renegados ele teria a oportunidade de escapar
enquanto que eles estavam ocupados. Nicholas aproveitou a primeira oportunidade
para escapar com bastante rapidez .

Mas mesmo se realmente os tivesse levado ali deliberadamente com o único


propósito de destruir o ninho, isso não significava que Nicholas tivesse deixado de
ser um renegado. Era um homem procurado. Seria inteligente de sua parte deixar que
Decker e os outros executores perseguissem à garota e a seu seqüestrador e
aproveitasse esta oportunidade para desaparecer como tinha feito há cinqüenta anos.

Se esse fosse o caso, provavelmente eles o tinham perdido de novo. Sua única
esperança de alcançá-lo era se Nicholas Argeneau de algum jeito tivesse visto o quão
errado era o caminho que tinha tomado e estivesse perseguindo à garota e ao
renegado. Então, ao menos teriam a oportunidade de apanhá-lo ... mas Decker ficou
sem ar.
Esfregou-se o peito de novo, recordando que por cima de todo o resto, atualmente
tinha duas feridas de bala e seu corpo estava tentando repará-las... e seu sangue
estava no carro junto com suas armas. Perfeito, Decker pensou com frustração e
cansado. Este era um momento frustrante para ele, mas ao menos tinha encontrado
finalmente a sua companheira de vida. Olhou à mulher em questão. Dani.

Justin tinha conseguido controlá-la e que desse a volta. Ela estava caminhando para
eles, seu corpo estava rígido e sua expressão estava em branco.

-Tem algo que me dizer- disse Justin enquanto eles a observavam retornar.

-Quer um agradecimento por trazê-la de volta?- perguntou Decker secamente.

-Não, isso não.

-Então o que?

O jovem imortal pôs os olhos em branco. -OH, não sei. Pensei que só poderia querer
me pedir desculpas por todas as brincadeiras chatas que vocês me fizeram por usar
como álibi que estávamos em um grupo musical, em nosso último caso. Me refiro
a…espião do governo?

- Eu nunca...- Decker se deteve o ver o sorriso zombador na cara do Justin.


Amaldiçoando-se por permitir que o garoto tirasse um sarro dele, gritou-lhe: -Só
traga ela e vamos.

-Sim, senhor, Mr. Bond, senhor, - disse Justin rindo.


-Sabichão- murmurou Decker enquanto dava a volta.

Capítulo 2

-As duas garotas são irmãs- disse Justin quando alcançou Decker junto ao veículo
dos sequestradores. Estava estacionado na borda da clareira, embora não tivessem
prestado muita atenção quando chegaram ali apressadamente, agora Decker estava
considerando que era uma maneira possível de sair dali. Deteve-se para olhar para
Justin, franzindo o cenho quando viu que o garoto levava Dani pela mão como se
fossem namorados.

Justin pôs os olhos em branco ante sua expressão e soltou a mão dela para segurá-la
pelo braço.

-Sei que são irmãs- disse Decker, relaxando-se um pouco. -Ela me disse isso.

Justin assentiu com a cabeça, mas seguiu contando o que tinha averiguado ao ler a
mente de Dani.

-Passou com sua família um longo fim de semana. As duas foram sequestradas no
estacionamento da loja de comida como disse Nicholas. Seus captores foram um
pouco rudes, mas além de uma contusão ou duas parece que ela está bem.

Decker grunhiu, fixando sua atenção no terreno desigual e deu uma volta ao redor da
caminhonete e foi para a clareira.

-Entretanto, deduzo por suas lembranças que há mais imortais que os que
enfrentamos- advertiu lhe Justin seguindo-o.

Decker fez uma pausa e olhou para trás com uma expressão interrogante.

-Ao que parece, Dani e Stephanie, não foram as primeiras vítimas- explicou-lhe
Justin. -Há algumas mulheres no fundo do precipício. Em bastante mal estado pelo
que vi em sua memória. Ah, e acontece que o precipício não é muito profundo. A
razão pela qual estava tão desesperada por sair dali eram os corpos.

Decker, franziu o cenho e olhou de novo para a loira. Ela parecia estar calma e tinha
os olhos em branco. O olhar não lhe incomodava. O que não gostava de era o fato de
que Justin tivesse tomado o controle dela desse modo. Infelizmente era necessário.
Não tinha tempo para tentar lhe fazer entender que não podia sair correndo sozinha
atrás de sua irmã e tinham coisas para fazer antes de que pudessem abandonar a
clareira. Coisas que ela não compreenderia e das que ele não queria que fosse
testemunha.

-Viu se o telefone funciona?- perguntou Justin de repente. -Tentei antes para chamar
uma equipe de limpeza para que recolhessem os renegados, mas não pude captar o
sinal.

-Eu também não- admitiu Decker enquanto caminhava para a clareira.

-Acredito que estamos por nossa conta- disse Justin, não soando muito satisfeito ante
a perspectiva. -O que vamos fazer?- antes de que Decker pudesse responder,
acrescentou: -Suponho que não podemos só decapitar os bastardos e estar bem com
isso?

-Acredito que te ocorrerá algo melhor que isso- disse Decker secamente. Era tudo o
que tinha que dizer. Os executores não eram como o personagem mortal de ficção
James Bond, que tinha licença para matar a qualquer um que considerasse
necessário. Ter ordem de matar um renegado era uma coisa, mas assim como os
mortais, os imortais acreditavam que tudo tinha que ter um processo. Estes homens
tinham que ser julgados pelo Conselho. Decker entendia que isso era necessário para
garantir que não matassem a inocentes por engano, mas às vezes era um grande pé no
saco... como agora, pensou enquanto contemplava como podia incapacitar os homens
para que não se recuperassem e escapassem antes de que uma equipe de limpeza
chegasse para recolhê-los.

-Então? O que vamos fazer?- repetiu Justin interrompendo seus pensamentos.

Decker se encolheu de ombros e disse: -Encontre algo para amarrar os homens,


pegue as chaves do carro deles, temos que sair daqui e logo que tenhamos cobertura
ligaremos para Lucian. O veículo tem um sistema de busca GPS. Alguém das
Empresas Argeneau será capaz de saber onde está e então poderemos caçá-los.
Lucian também pode chamar uma equipe de limpeza para que venha e cuide destes
homens.

Enquanto falava, Decker tinha se ajoelhado para esvaziar os bolsos do renegado mais
próximo procurando as chaves do carro, mas se deteve e olhou quando Justin disse
sem fôlego: -Um deles desapareceu.

-O quê desapareceu? - perguntou ele.

-Um dos renegados. Havia seis- assinalou. -Além do que Nicholas está perseguindo,
havia outros cinco, mas agora só há quatro aqui.

Decker se levantou e contou rapidamente aos homens na clareira. Amaldiçoou-se


quando viu que só havia quatro. Um deles tinha fingido que estava inconsciente ou
se recuperou muito mais rapidamente dos tranqüilizadores das balas do que devia. A
idéia lhe fez olhar com cautela aos outros. Teriam que atá-los rapidamente ... e não
tinha o necessário para fazê-lo. Estava tudo em seu veículo.

-Por que não pegou o carro?- perguntou Justin, distraindo o desta preocupação.

Decker se girou bruscamente para o carro estacionado na borda da clareira, fazendo


uma careta ao ver o problema. -Tem um peneu furado.

-Terá sido uma bala perdida- assinalou o garoto e logo olhou para Decker. -Falando
de balas, como você está?

Decker fez uma careta. Sentia-se um pouco enjoado, um pouco fraco e as feridas lhe
doíam terrivelmente, mas o único que disse foi: -Viverei.

Justin o olhou preocupado por um momento e logo soltou o braço de Dani e se


afastou, dizendo: -Vou ver se há um estepe no carro.

-Não- disse Decker rapidamente. -Se o quinto homem foi ferido e de algum jeito se
recuperou do tranqüilizador rapidamente, não pode ter se recuperado por completo.
Pode ser que simplesmente tenha recuperado a consciência e a força suficiente para
arrastar-se para o bosque. Mas também existe a possibilidade de que tenha fingido
estar ferido.

-De qualquer maneira é provável que esteja por aí, nos observando- disse Justin
contrariado. Ambos guardaram silêncio durante um momento, os olhos exploraram o
bosque e a seguir Justin olhou ao homem inconsciente que Decker tinha estado
revisando e lhe disse: -O que acontece se o tranqüilizador que cobria as balas era
defeituoso? Todos eles poderiam recuperar-se.

Decker observou cada renegado, em busca de sinais de recuperação. O que Nicholas


tinha disparado com balestra tinha uma flecha no coração e não se recuperaria até
que alguém lhe tirasse a flecha. Decker estava muito seguro que o homem no que
tinha disparado ao final da briga, também tinha uma bala no coração. Se a bala se
alojou ali e não o tinha atravessado, pelo menos poderia mantê-lo for a de ação
durante um momento. Decker não se preocupou por apontar ao coração do primeiro
homem que tinha disparado e duvidava que Justin fizesse o mesmo com o homem em
que disparou. Teriam que conferir os homens para obter mais informação antes que
fossem procurar no bosque.

-Olhe no carro, deve haver algo útil- ordenou-lhe Decker enquanto examinava aos
dois homens dos que mais duvidava. -E procure o estepe enquanto isso.

-Certo- disse Justin e se afastou.

-Justin?- chamou Decker . Quando o garoto parou e se virou, acrescentou com tom
sombrio: -Matenha os olhos e ouvidos abertos.

Justin olhou aos quatro renegados caídos na clareira e depois ao bosque que os
rodeava. Ele assentiu solenemente e logo se foi com mais cautela para o carro.

Decker saiu das árvores e foi para ao fogo para pegar uma madeira que ainda
queimava e que utilizou como tocha para procurar no bosque enquanto Justin trocava
a roda. Ele não tinha encontrado nada. Parecia que o renegado desaparecido tinha
conseguido fugir.

Olhou por cima do ombro aos outros renegados. Justin os tinha preso com uma corda
que tinha encontrado no carro. Decker tinha ordenado isso antes de ir procurar ao
renegado que faltava. Embora não fosse provável que a corda retivesse a todos por
muito tempo quando acordassem, ele esperava que demorasse o suficiente para que
Justin ou ele pudessem lhes disparar de novo antes que eles conseguissem soltar-se.
Pode ser que estivesse enganando a si mesmo, era como enrolar macarrão cozidos ao
redor de seus tornozelos e pulsos, mas isso fez se sentir melhor ao deixar sozinhos a
Justin e Dani na clareira com os renegados, enquanto que ele procurava no bosque.

Decker olhou à mulher. Sua mulher. Sua companheira de vida, pensou com um pouco
de assombro. Ela estava encolhida e dormia em paz pelo controle de Justin. Embora
não gostasse de mantê-la sob o controle de um imortal, pareceu-lhe o melhor neste
momento.

-Encontrou alguma coisa?

Decker olhou ao Justin quando o jovem imortal chegou a seu lado e negou com a
cabeça. -Nada.

Justin assentiu com a cabeça, mas sorriu com satisfação e anunciou: -Encontrei-os
quando troquei a roda.

Quando Decker arqueou uma sobrancelha em forma inquisitiva, Justin esticou sua
mão e a abriu para revelar dois pequenos aparelhos eletrônicos na palma. -Estavam
presos na roda.

-O que são?- Decker agarrou os artefatos e se ajoelhou ao lado do fogo para


examiná-los.

-São de Nicholas, desta forma soube quando os renegados agarraram às garotas e


aonde se dirigiam. Estou bastante seguro de que um é um dispositivo de escuta e o
outro uma espécie de dispositivo de localização.

-Hmm.- Decker olhou primeiro um dispositivo e logo o outro. -É lógico. Nicholas


sempre foi um aficionado à tecnologia. Se Annie não tivesse morrido, acredito que
teria deixado de ser um executor para trabalhar no laboratório de tecnologia de
Bastien.

-Annie era sua companheira de vida?- perguntou Justin.

Decker, assentiu com a cabeça.

-O que aconteceu com ela?

-Morreu- Decker fechou a mão com os artefatos eletrônicos e se endireitou. -Sua


morte é o que o levou a loucura.

Justin se manteve em silencio durante um momento e logo disse: -Estive pensando.

-É um passatempo perigoso- murmurou Decker quase ausente e olhou para o carro


para ver que tinha estado fazendo enquanto ele inspecionava o bosque. Justin tinha
trocado o pneu furado. Podiam começar a caçar Nicholas.

-ok, ok- murmurou Justin e logo disse: -Pergunto-me se é uma boa idéia deixar os
renegados aqui sozinhos até que a equipe de limpeza chegue. Se eles…

-Vamos levá-los os conosco - interrompeu-o Decker. Já era bastante um imortal


andando solto pelo bosque. Os homens caídos poderiam despertar antes que a equipe
de limpeza chegasse ou alguém poderia ter ouvido os disparos e neste momento um
carro da PPO estivesse dirigindo-se lá para investigar o que aconteceu. Se um
policial mortal chegava na clareira e tropeçava com os corpos antes de que os
imortais despertassem ... Decker não queria nem pensar nos problemas que haveria.

Quando Justin se relaxou junto a ele, obviamente aliviado pela notícia, adicionou:
-Mas não os levaremos até que estejamos seguros de que não despertarão na parte
traseira da caminhonete e nos atacarão.

-O que vamos fazer?- perguntou Justin.

A resposta do Decker foi levantar o ramo largo que tinha encontrado no bosque. Ao
fazer o movimento sentiu uma dor aguda no peito e a costas, mas não demonstrou.
Não era tão mau como antes e as náuseas tinham passado.

Olhou para Justin e viu que o jovem imortal estava olhando a madeira em dúvida.
-Vai bater neles com isto? - perguntou com incerteza.

-Não- grunhiu Decker, sem chiar os dentes e começou a romper o ramo em três
pedaços. -vamos incapacitar os três que estão feridos à bala. O da flecha não há
necessidade, mas outros são um risco se não houver algo que garanta que seu
coração não pode bombear.

-Poderia matá-los se deixarmos as estacas por muito tempo- assinalou Justin em voz
baixa.

-Nós não. Só os estamos deixando estacados até que possamos nos encontrar com a
equipe de limpeza- assegurou Decker e logo perguntou: -Disse que tinha encontrado
uma lona na parte traseira do carro?
-Sim- disse Justin e arqueou uma sobrancelha em forma interrogante.

-Depois de carregá-los no carro vamos cobrí-los com ela para que Dani não os veja e
não se assuste.

-Pode continuar dormindo- assinalou Justin. -Não há necessidade de despertá-la.

Decker olhou para Dani. Provavelmente era melhor para ela seguir dormindo, mas
ele não queria isso. Ele queria que ela estivesse acordada para poder falar com ela e
assim redimir-se ante seus olhos. Agora a mulher pensava que ele era um caipira
torpe e gostaria muito que mudasse de idéia. Mas também queria chegar a conhecê-la
melhor. Era sua companheira de vida ou poderia sê-lo se ela concordasse. Depois de
duzentos e cinqüenta e nove anos de estar sozinho, estava preparado para ela. Ele só
tinha que mudar a opinião que ela tinha sobre ele e cortejá-la para obter que o visse
como algo mais que uma paródia de Austin Powers como havia dito ela.

Decker sacudiu a cabeça. Ele estava acostumado a ser o epítome da inteligência e da


competência mas tinha sido pego de surpresa ao dar-se conta de que não podia lê-la e
o que isso significava.

-Ela poderia nos dar alguma pista sobre o cara que levou sua irmã e assim seria mais
fácil de caçá-lo-disse Decker, mas sabia que era uma desculpa pouco convincente.
Justin já tinha lido sua mente e provavelmente tinha todos os dados úteis. O jovem
imortal não disse nada, entregou-lhe um dos paus e lhe disse: -vamos terminar com
isto e a seguir em frente.

-Não deveríamos afiá-los?- perguntou Justin, aceitando o plano improvisado.

-Não há tempo- disse Decker. -Só terá que cravá-los com um pouco de força.
Justin se aproximou de um dos homens e logo o olhou de novo para perguntar: -O
que fazemos os corpos no fundo do precipício?

Decker, olhou para a borda da clareira por sobre o precipício. Pensou no assunto e
logo sacudiu a cabeça. -Não vamos nos ocupar deles. Lucian se encarregará de fazer
os acertos para que alguém as encontre e assim suas famílias poderão lhes dar um
enterro digno.

Dani despertou abruptamente, quase de maneira pouco natural, pensou confundida e


se sentou na cama dura e olhou a seu redor. Levo-lhe um momento compreender que
não estava em uma cama, mas sim no chão de metal duro de uma caminhonete. Suas
lembranças eram confusas e por um momento pensou que ela tinha sonhado o resgate
na clareira e ainda estava nas mãos dos homens que tinham sequestrado ela e a sua
irmã, mas logo Dani deu uma olhada nos assentos dianteiros e viu um homem
sorrindo do assento do co-piloto. Não era Decker, talvez, Argeneau...talvez...Pimms,
era outro homem que não conhecia.

-Meu nome é Justin- disse ele apresentando-se alegremente e logo assinalou ao


homem a seu lado e adicionou: -Estou com o Decker, talvez Argeneau, talvez Pimms.

Dani deixou sair o ar lentamente, mas não relaxou. Estava preocupada com sua irmã
e isso era o que ocupava toda sua mente.

-Como você está?

A pergunta fez com que Dani o olhasse com incredulidade. Como se encontrava?
Tinha sido sequestrada, golpeada por um grupo de criminosos, apanhada no meio de
um tiroteio, e pior ainda, sua irmã tinha desaparecido e ainda estava nas garras de um
desses animais. Como ia se sentir? Movendo a cabeça com desgosto, murmurou:
-Isto é o melhor que tem o CSIS ? Os sempre fiéis?

-Os sempre fiéis são os Marines dos EUA - informou Justin, mas bem divertido. -Nós
somos agentes do CSIS. -Por alguma razão, ele se deteve para dar um olhar
zombador para o Decker e logo continuou: -Nós do CSIS somos garotos fortes,
inteligentes e atraentes.

-Estou certa que sim- disse Dani em tom seco e logo se distraiu pensando em como
tinha terminado de novo nessa caminhonete. A última coisa que lembrava era que
seguia rumo à estrada, decidida a encontrar uma casa com um carro e um telefone
para poder chamar a sua família e fazer o que pudesse para encontrar a sua irmã.
Dani não tinha nem idéia como pôde ter terminado de volta no carro e adormecido.

-Não se preocupe- disse Justin, como se ela houvesse dito suas preocupações em voz
alta. -Tudo está bem. Estamos a caminho e com sorte, logo seremos capazes de obter
sinal para o celular para poder fazer ligações.

Dani se encontrou apanhada pela intensidade de seus olhos, curiosamente, de repente


não parecia importante como tinha chegado até ali. Quando a preocupação
desapareceu, ela se arrastou de joelhos entre os assentos e olhou com curiosidade
pela janela para ver que não estavam chegando ao final do caminho no matagal e
sentiu os buracos do caminho de cascalho. Não dormi muito, pensou Dani e se voltou
para olhar a Decker. Por alguma razão estavam dirigindo com as luzes da cabine
acesas. Não tinha idéia do porque, mas isso lhe permitia ter uma melhor visão do
homem que tanto lhe tinha incomodado. Parecia ser muito bonito, de cabelo escuro,
feições finas e olhos sob essa luz pareciam ter a cor de prata azulada. Tal como
recordava, ele era alto e bem formado. Quanto a aparência, concluiu que os agentes
se ajustavam à imagem de James Bond. É uma pena que sua inteligência não seja
comparável com sua força e seu atrativo sexual.

-Não seja muito dura com o Decker- disse Justin de repente, obviamente tinha visto
sua expressão e adivinhou seus pensamentos. -Depois de tudo, o homem estava
emocionado.

-Cale a boca, Justin- interrompeu Decker .

Dani ignorou o condutor e olhou ao homem em questão. -Por que ele estava
emocionado?

Justin vacilou, e quando falou se deu conta que não era o que tinha querido dizer.

-Dispararam-lhe quando saiu correndo para a linha de fogo para te ajudar a sair do
precipício.

-Maldição- murmurou Decker quando a cabeça de Dani girou bruscamente para ele.
Parecia zangado e envergonhado, mas ignorava a razão, quando ela se inclinou mais
para frente para olhar seu peito seus olhos se aumentaram quando viu que realmente
havia um buraco de bala no ombro de sua camisa.

-Dispararam-lhe- disse ela com consternação. -Por que está dirigindo? Você
deveria…enfaixar a ferida ou algo assim?

Não lhe parecia que ele o tivesse feito. Sua camisa negra de manga larga estava toda
abotoada , assim não podia dizer se havia sangue nela, mas o tecido estava aberto na
parte superior do peito e por ali não conseguia ver se havia algum curativo por
debaixo. Dani puxou a camisa para comprová-lo. O que encontrou foi um buraco no
ombro com uma crosta de sangue seca a seu redor ... e um grande peito masculino
nu. Obrigou-se a deixar de pensar nele nu. Dani se concentrou na ferida. Parecia que
a bala tinha atravessado o músculo debaixo de sua omoplata, sem tocar o osso. Essa
era uma boa notícia pelo menos, mas deveria haver mais sangre na ferida e Dani só
pôde imaginar que pelo menos ele tinha se preocupado em parar o sangramento. Mas
realmente precisava que limpassem o ferimento, tirassem a bala e o enfaixassem.

-Deixe pra lá- murmurou Decker, agarrando sua mão para que soltasse a camisa.
-Estou dirigindo.

-Sim, bom, não deveria estar- disse ela com firmeza. -Pare o carro para que eu possa
dar uma olhada. Seu amigo pode dirigir.

-Justin- disse o amigo, lhe recordando seu nome.

Dani não lhe deu importância e puxou a camisa de Decker. -Pare.

-Não, estou bem. A bala pegou de raspão.

Dani soprou. -Não pegou de raspão, atravessou sua subescapular.

-Sua sub o que?- perguntou Justin com assombro.

-Sua subscapular- repetiu Dani e quando o olhou lhe explicou:- É um músculo que se
inicia na omoplata e corre para a frente do antebraço rodeando o braço pela parte
interna.

As sobrancelhas de Justin se elevaram assombradas e lhe perguntou: -O que? É


médica ou algo assim?
-Sim.- voltou-se para o Decker. -Pare, assim poderei atender seu ombro.

Ele simplesmente moveu a cabeça. -Temos que procurar um lugar onde haja sinal
para o celular. Temos que encontrar o carro do sequestrador . Se lembra de sua irmã?

Dani mordeu o lábio, dividida entre insistir em parar ou manter a boca fechada. Por
um lado ele estava ferido. As feridas de bala que não eram complicadas desde que
recebessem tratamento, do contrário podiam ocasionar uma infecção e um choque
séptico, onde a vítima tinha cinqüenta por cento de possibilidades de morrer. Por
outro lado estava sua irmã, que ainda estava nas garras de um dos homens que as
tinham sequestrado e podia estar em perigo.

-Tenho sinal- disse Justin de repente e isso fez com que ela economizasse ter que
tomar uma decisão.

-Bem -disse Dani aliviada enquanto Justin olhava o telefone concentrado na tela.
Voltou-se para o Decker e assinalou:-Agora pode parar assim olharei o ombro
enquanto ele faz a chamada para que rastreiem seu veículo e nos digam onde está.

-Quanto sinal tem?- perguntou Decker ignorando-a.

-Uma barra- respondeu Justin. -Mas estamos nos aproximando.

Decker, assentiu com a cabeça.

-É possível que seja melhor parar- sugeriu Justin. - Ela pode tirar a bala. É médica.
Nesse caso, pode ser melhor deixar que ela te veja, melhor agora que depois.

Dani franziu o cenho ante a forma significativa em que disse as palavras. Sentia que
havia uma mensagem em jogo ali. Se era assim, não o entendia. Decker se entendeu,
fez com que acelerasse a caminhonete e andasse mais rápido. A viagem foi muito
mais acidentada e Dani se encontrou ricocheteando contra a carroceria. Quando seu
pé tocou algo, ela deu uma olhada aos homens que tentavam conservar o equilíbrio
em seus assentos, e olhou por cima do ombro para ver o que havia acontecido. Seus
olhos se deslizaram sobre as formas desiguais cobertas com algum tipo de lona.

-O que...?- começou a dizer e logo fechou a boca, depois de que quase morder sua
própria língua, quando atingiram um buraco no caminho. Em vez de arriscar-se a
perder sua língua, Dani decidiu averiguar por si mesma o que havia debaixo da lona,
foi para a parte traseira para levantar a parte mais próxima da lona. A luz da velha
caminhonete que estava sobre sua cabeça jogava luzes sobre a pilha de corpos que se
revelou, mas não teve nenhum problema em reconhecer os homens que tinham
sequestrado a ela e Stephanie. Custou-lhe compreender o que era que saía do peito de
um dos indivíduos e provavelmente também dos outros. Parecia que eram partes de
galhos grossos cravados em seus corações.

-Duas barras- disse Justin e Dani olhou à frente para ver que sua cabeça estava
inclinada sobre o telefone, olhando a tela. Não tinha percebido que ela tinha visto os
homens na parte traseira. Ela voltou a cobrí-los com a lona e voltou para seu lugar de
novo, sua mente era um caos enquanto tentava assimilar o que tinha visto debaixo da
lona.

Ver os corpos não lhe incomodou, Dani tinha visto um montão de cadáveres,
enquanto estava na escola de medicina e ela sabia que tinham recebido disparos e
provavelmente morreram no tiroteio da clareira. O detalhe dos galhos cravados em
seu peito era o que a intrigava, sua mente dava voltas como um pequeno cão que
perssegue o próprio rabo. Seria um procedimento policial? Dani duvidou que
profanar um cadáver fosse um procedimento padrão para uma organização como o
CSIS e de repente lhe ocorreu que realmente ela não tinha idéia de quem eram estes
homens, salvo pelo que Decker lhe havia dito. Não tinha visto nenhum distintivo ou
identificação de nenhum tipo.

Por isso sabia, podiam ser um par de loucos tão perigosos como os outros seis.

-O que há debaixo da lona?- perguntou ela de repente e não deixou passar o modo
em que os dois homens se olharam entre si, trocando uma mensagem silenciosa antes
de que Decker esclarecesse garganta e admitisse: -Os homens da clareira.

Dani permaneceu calada durante um momento e logo perguntou: -E o que acontesse


com as mulheres do precipício?

Voltaram-se a olhar em silêncio e a seguir Decker disse: -Tivemos que deixá-las para
trás no momento, Lucian, nosso chefe, se encarregaráe de que as autoridades locais
as encontrem depois que falarmos com ele.

Dani olhou seu perfil uns minutos, meditando em suas palavras. Se encarregará de
que as autoridades locais as encontrem, parecia uma estranha maneira de tratar o
assunto, mas ela só perguntou: -Quem é o homem que persegue o sequestrador de
minha irmã ? É do CSIS também?

Curiosamente, esta pergunta provocou uma pausa muito larga antes de que Decker
dissesse: -Estava acostumado a ser um de nós.

Antes de que Dani pudesse fazer outra pergunta, Decker desacelerou a caminhonete,
ela olhou pelo pára-brisa e viu que tinham chegado ao final do caminho.

-Quantas barras Justin? - perguntou ele.


-Três- Foi a resposta desalentadora.

Decker deu a volta à direita e conduziu até uma nova estrada, dirigiu o carro para um
montículo antes de frear e parar.

- Agora?

-De quatro a cinco.- Foi a resposta.

-É o suficiente- decidiu Decker e estacionou em um pequeno pedaço de mato entre o


asfalto e a fileira de árvores. -Me dê o telefone.

-Provavelmente devesse ligar enquanto Dani atende seu ombro- sugeriu Justin em
voz baixa, e logo assinalou: -Ela é médica. Ela vai seguir insistindo até que deixe
que te examine o ombro, é melhor se o fizer mais cedo que tarde- Permaneceu em
silencio durante um momento e logo adicionou: -Se quiser eu posso...- olhou para
Dani antes de concluir -…ligar eu mesmo.

-Não- disse Decker bruscamente e logo olhou cautelosamente para Dani. Vendo que
esta estava escutando, deu-se a volta e acrescentou: -Posso chamar enquanto me olha
o ombro. Foi minha decisão deixar as chaves na ignição. Eu receberei as críticas.

Justin se encolheu de ombros, entregou-lhe o telefone e logo se voltou para o Dani.


-Não encontrei um kit de primeiros socorros quando revistei a caminhonete, assim
terá que se conformar com o que temos. Tenho um canivete de bolso que pode usar
para tirar a bala, mas não sei o que vai utilizar para enfaixar e não há nada para
limpar a ferida.
Dani encolheu de ombros e aceitou a navalha que lhe entregou. Não tinha realmente
nenhum interesse em olhar o ombro de Decker. Havia algo errado aqui e ela de
repente estava segura de que os dois homens não eram do CSIS ou de qualquer outra
organização policial. Dani agora tinha medo de que ela tivesse escapado de um grupo
de loucos só para cair nas mãos de outro.

Entretanto, ela antes tinha insistido em atender o ombro do Decker, por isso negar-se
a isso agora poderia parecer suspeito e isso era a última coisa que queria. Seria mais
fácil escapar se acreditavassem que ela ainda pensava que estava em mãos seguras e
estava perfeitamente contente por estar ali, assim Dani simplesmente olhou para
Decker e lhe perguntou: -Onde quer fazê-lo?

Ele vacilou e logo saiu do assento do condutor e foi para ela. Os corpos que estavam
debaixo da lona ocupavam a maior parte da parte traseira, deixando um espaço muito
pequeno para eles dois. Dani se voltou e se dirigiu para trás até que topou com a
porta lateral para ter o maior espaço possível e Decker se ajoelhou frente a ela.

Quando ele começou a desabotoar a camisa, Dani observou cada centímetro de sua
pele nua até que se deu conta do que estava fazendo e pôs sua atenção na navalha
que sustentava enquanto a abria. Logo a olhou, sua formação médica lhe recordou
que não estava esterilizada e que pinçar na ferida com uma faca sem esterilizar podia
causar mais mal do que bem.

O olhar do Dani se deslizou para a lona, mas retornou seu olhar para Decker quando
este girou um pouco para que o ombro ferido estivesse perto dela. Ela olhou a contra
gosto a ferida de bala e se encontrou com o cenho franzido e aproximando-se para
ver melhor.

-O que foi?- perguntou Decker, com tensão em sua voz.


-Eu…nada- disse ela rapidamente, mas sabia que sua expressão não o enganava.
Dani não via muitas feridas de bala em seu trabalho. De fato, ela nunca tinha visto
uma, mas se ela não soubesse o contrário, diria que o homem tinha levado o tiro há
pelos menos vinte e quatro horas, ao invés de aproximadamente quinze minutos, no
tiroteio da clareira.

-Por que me olha assim? Há algo errado com a ferida?- perguntou Decker antes que
ela pudesse se aprofundar muito nas perguntas confusas que a atormentavam.

-Não - mentiu ela. -Simplesmente não se vê tão mal como eu esperava.

-Disse que não estava mal- recordou-lhe.

-Sim, disse- disse ela em voz baixa e seus olhos voltaram a centrar-se na ferida. A luz
do teto não era muito potente, mas podia ver a bala dentro da ferida. Isso não podia
ser normal. Não deveria estar mais profunda?

-Só tire a bala e ponha uma atadura- disse Decker, quando ela simplesmente ficou
olhando durante um momento. -Vou ficar bem.

Dani duvidou e logo admitiu: -Eu não gosto de usar uma navalha que não está
desinfetada.

-Tampouco a bala estava- disse ele com um encolhimento de ombros e logo se


concentrou no celular enquanto discava um número. Decker o apoiou no ouvido e
adicionou: -Só tire a bala, depois farei que me limpem a ferida e tomarei antibióticos.

Dani suspirou e logo agarrou de novo a navalha, mas se deteve novamente e olhou
para Justin. -Não teria um isqueiro ou algo parecido, não é?

-Não, mas vi um no porta-luvas, espere. Ele desapareceu de vista e Dani lhe ouviu
rebuscar no porta-luvas. Depois de um momento ouviu um grunhido de satisfação e
logo Justin se inclinou para ela e lhe ofereceu um pequeno isqueiro descartável.

Dani o aceitou aliviada. Não era o ideal, mas certamente era melhor que nada. Ela
acendeu o isqueiro e passou a chama várias vezes sobre a lâmina, tentando fazer o
suficientemente rápido que não deixar queimar, mas o suficientemente lento para
matar germes e bactérias. Quando terminou de fazer o melhor possível, Dani se
voltou para Decker, apoiou uma mão sobre seu ombro para não cair e se inclinou.
Sua mente estava no que estava fazendo, mas não podia deixar de inalar seu aroma
natural enquanto ela trabalhava. Era um aroma picante e vegetal, era muito agradável
e inconscientemente fechou a boca para inalar mais profundamente pelo nariz.

-Lucian, Nicholas estava aqui- disse Decker de repente, lhe provocando quase um
sobressalto quando ela estava cortando seu peito. Realmente deveria ter deixado que
Justin realizasse a ligação, pensou ela com irritação e respirou profundamente para
tranquilizar-se.

-Não…houve complicações -disse Decker ao telefone e logo a olhou e assentiu com


a cabeça, dizendo: -Vá em frente.

Dani apertou os lábios, pensando que seria melhor esperar até que terminasse a
chamada, mas se encolheu de ombros e se apoiou de novo. Logo descobriu que tinha
feito um diagnóstico correto e que a bala estava bem debaixo da ferida.

-Ele estava…ele disse que estava seguindo a uns re…garotos realmente maus- disse
Decker, sua voz se mantinha firme enquanto ela pinçava e tirava a bala. Estava bem
debaixo da pele, era fácil de tirar e por essa razão era um pouco estranho. Que tipo
de arma deixa uma bala bem em baixo da pele?

-Sim, ouviu bem, ele diz que continua caçando aos maus ... apesar de estar
aposentado …- disse Decker.

Dani deixou a bala no chão do carro, sua atenção estava no que Decker estava
dizendo. Parecia evidente que o homem falava em código e teria pago caro para
saber o que realmente queria dizer, pensou Dani e voltou a olhar a ferida. Ela
pensava que começaria a sangrar bastante uma vez que tirasse a bala mas só havia
um pouco de sangue. Isto foi suficiente para lhe fazer pensar que precisava retornar à
faculdade e assistir a um par de cursos de trauma. Isto não era como tinha esperado.

-Antes de te explicar, há algumas coisas que tenho que te dizer para começar A...
-disse Decker, quando ela olhou a seu redor procurando algo que pudesse usar para
enfaixar a ferida. Embora sangrasse, era melhor enfaixá-la e pelo menos assim
evitaria em parte o risco de infecção. Infelizmente, não havia nada que usar para
enfaixá-la.

-Preciso que Bastien faça uma busca do carro para saber aonde se dirige- disse
Decker e ela o olhou. A busca do carro significava encontrar sua irmã, algo que
desejava muito fazer, mas também queria saber se estes homens estavam
suficientemente organizados para fazer algo assim. Isso lhe fez pensar que podia
estar enganada e que não eram homens maus, a pesar do estranho tratamento que
deram aos corpos que estavam debaixo da lona.

Decker cobriu a parte inferior do telefone e disse: -Está ótimo. Por que não sai e
estica um pouco as pernas enquanto tem oportunidade de fazê-lo?
Era mais uma ordem do que uma sugestão e não havia dúvida disso. Parecia que
queria privacidade para a ligação. Dani não duvidou, ela assentiu com a cabeça,
abriu a porta que estava detrás dela e então saiu da caminhonete.

Parecia evidente que não ia dizer nada revelador na frente dela, de todos os modos
precisava de tempo para decidir se devia tratar de escapar ou ficar com eles.

Justin não a seguiu, ficou para escutar a conversa e Dani se encontrou de pé ao lado
da estrada, sem que ninguém lhe impedisse de partir. O problema era que não tinha
certeza do que devia fazer.

Franzindo o cenho, ela começou a passear pelo caminho, tendo em conta a situação,
parecia evidente que as coisas não eram o que pareciam. Tinha dúvidas de que estes
homens pertencessem ao CSIS. Estava bastante segura de que tinham mentido e que
tinham ocultado informações.

Por outro lado, Decker se arriscou no bosque para tirá-la do precipício ... No
processo tinha sido baleado. Essas não pareciam as ações de um vilão. E também
havia o fato de que Stephanie tinha sido levada em seu carro e estes homens tinham
um modo de rastreá-lo. Eles eram sua melhor opção para encontrar a sua irmã. Talvez
inclusive sua única esperança.

Ficaria com eles por agora...mas decidiu que ia proceder com muito cuidado com
eles. Veria, escutaria e aprenderia o que pudesse. Sua vida e a de Stephanie,
poderiam depender disso.

Capítulo 3
-Maldito seja, Decker! Que diabos está acontecendo? O que quer dizer com que
rastrear o veículo? Perdeu-o? Como diabos aconteceu isso?. E como pôde deixar que
Nicholas escapasse?

Decker fez uma careta ante o rugido em sua orelha enquanto olhava Dani se afastar
um pouco da caminhonete, e logo disse: -Tudo foi um pouco mais complicado do
que o esperado.

-Explique-se.

Decker se estremeceu com o som de chiar de dentes que se apoderou da linha. O


homem estava zangado... ao ponto de quebrar uma presa se não tomasse cuidado.
Esclareceu a garganta, contou-lhe de sua conversa com o Nicholas e tudo o que tinha
acontecido.

Houve um momento de silêncio quando terminou de falar, e logo seu tio disse
lentamente: -Me deixe esclarecer isto. Nicholas continua perseguindo os renegados
apesar de ser ele mesmo um renegado?

-Isso foi o que ele disse- respondeu Decker em um tom neutro.

-E vocês dois lhe ajudaram com este ninho?

-Sim. - Decker, deslizou o olhar para a lona que cobria os corpos. -Havia seis.
Tinham um acampamento no bosque e havia um pequeno precipício perto onde havia
dois cadáveres. Pelo que pude ver em uma olhada rápida estavam em muito mal
estado. Estes tipos as massacraram... lentamente.
-Me diga onde é e vou mandar uma equipe de limpeza e verei se houver algo que se
possa fazer antes que as autoridades se dirijam para lá- disse Lucian cansado.

Decker lhe disse rapidamente o nome da estrada e lhe deu as instruções para chegar
ao precipício. Quando terminou, Lucian lhe perguntou: -O que aconteceu aos
renegados? Apanharam-nos?

-Só quatro deles- admitiu ele com tom grave. -Tinham duas garotas novas que
acabavam de sequestrar e conseguimos resgatar uma delas, mas o sexto homem
escapou usando à segunda garota como escudo. Ele... -Decker fez uma pausa e se
esclareceu garganta antes de admitir -…Eu tinha deixado as chaves na ignição do
veículo no caso de Nicholas tentar fugir e tivéssemos que caçá-lo rapidamente. O
sexto renegado se aproveitou disso e fugiu no veículo. Nicholas partiu atrás deles em
sua caminhonete, enquanto Bricker e eu nos encarregávamos dos outros.

Lucian amaldiçoou no outro extremo da linha e logo exclamou -O que aconteceu ao


outro renegado? Diz que ele também escapou?

-Sim. Havia cinco no chão quando fui atrás de Nicholas. Quando voltamos para a
clareira, só havia quatro. Ou o quinto fingiu estar ferido, ou temos balas recobertas
com um lote de tranqüilizadores fracos e se recuperou o suficientemente rápido para
escapar poucos minutos depois que saí.

-O que fez com os quatro?

-Estacamos para assegurar de que não se recuperarão e os temos conosco neste


momento. Pareceu-me melhor que deixá-los para que alguém pudesse encontrá-los.
-Bem, bem- disse Lucian, que soava mais tranqüilo. -Está bem, assim agora têm que
encontrar Nicholas e os dois renegados?

Por isso te pedi que rastreassem o veículo. Se Nicholas o está perseguindo e


podemos alcançar o veículo, talvez encontremos Nicholas e ao menos um renegado.

-E também resgatamos à segunda garota - murmurou Lucian. Vou chamar Bastien


para que possa rastreá-lo. Suponho que tem um veículo para segui-los?

-Tomamos a caminhonete.

-O que aconteceu ao sangue?

-No veúculo.

-Junto com suas armas- disse Lucian, soando irritado de novo.

-Sim- admitiu Decker em voz baixa. -Temos duas pistolas cada um, mas com pouca
munição.

-Está bem. Fique aí. Chamarei Bastien para que ponha tudo em funcionamento.
Voltarei a chamar quando tiver as coordenadas e um plano para poder obter um novo
veículo com sangue e armas para vocês.

Decker grunhiu e esperou um momento para ver se havia mais instruções. Quando o
único som foi o clique do telefone desligado, fechou seu próprio telefone com um
suspiro.

-Vai rastrear o veículo e enviar a uma equipe para que se ocupe da limpeza na
clareira do bosque?- perguntou Justin enquanto observava Decker colocar o telefone
no bolso.

-Sim. E providenciará um modo de nos fazer chegar outro veículo com sangue e
armas.

O olhar de Justin se dirigiu aos corpos cobertos pela lona. -Será agradável nos livrar
destes caras. Continuo achando que vi um se movendo sob a lona pela extremidade
do olho. Fico olhando por sobre minhas costas, esperando que eles se sentem e nos
ataquem.

-Vê muita televisão- disse Decker aborrecido. -Foram estacados. Eles não vão a
nenhuma parte.

-Sim, bom, estarei contente de me desfazer deles- murmurou Justin, e logo perguntou
-Quem nos trouxer o novo veículo também levará Dani?

Decker ficou rígido e sacudiu a cabeça. -Não. Ela ficará conosco. Poderia ser útil
para nos ajudar a manter a calma de Stephanie quando a encontrarmos- acrescentou,
mas sabia que Justin não se deixou enganar acreditando que essa era a verdadeira
razão pela qual queria manter Dani com ele. Podiam controlar Stephanie como Justin
tinha controlado Dani se fosse necessário.

Deu a volta para evitar os olhos do outro homem, olhou pela janela em busca da
mulher em questão, e logo franziu o cenho. -Onde está ela?

Justin seguiu seu olhar, e logo se voltou e olhou através das janelas no lado oposto.
-Alí está.
Decker olhou ao redor e viu Dani ao lado da estrada, a uns cem de metros de
distância.

-Não acredito que esteja escapando, não é? -perguntou Justin, soando curioso.

-Não. - Decker abriu a porta da caminhonete e saiu.

-Disse que devia me deixar mantê-la sob meu controle- disse Justin com ar de
suficiência. -Ela nem sequer teria que sair da caminhonete.

-Não- repetiu Decker com firmeza, voltando a olhar através da porta aberta. -Não a
controles mais. Eu não gosto que esteja dentro de sua cabeça. Fique fora de sua
mente.

Justin arqueou uma sobrancelha. -E se realmente tentar fugir?

-Então a deterei- disse Decker com firmeza. Começou a fechar a porta e então fez
uma pausa para olhar ao garoto com expressão sombria. -Ela é minha. Mantenha-se
afastado de sua cabeça.

-Tenho cem anos, logo sou um menino- disse Justin secamente, arrancando o
pensamento de sua mente.

Decker só franziu o cenho, fechou a porta e começou rodear a caminhonete


dirigindo-se em direção a Dani.

Justin baixou o vidro da janela do lado do motorista e apareceu para lhe dizer em voz
baixa -Não demore muito. Acho que deveríamos esperar a ligação na cidade.
Decker se deteve e olhou para trás. Seu tom era seco quando disse: -Me deixe
adivinhar, tem fome.

-Sim- admitiu Justin, e logo adicionou: -Mas você também está começando a
empalidecer. Vai precisar de sangue logo.

Decker se encolheu de ombros e se voltou para continuar indo atrás de Dani. Não se
surpreendeu de escutar que estava pálido. Tinham-lhe disparado duas vezes, e seu
corpo tinha estado trabalhando horas extras para fazer as reparações. Seguia
utilizando sangue para fazê-lo e logo teria que repô-la. Se Decker não tivesse se
distraido com tudo o que aconteceu, teria percebido há muito tempo a dor no
estômago, a forma em que seu corpo lhe dizia que queria mais sangue. Certamente
deu-se conta agora, quando Justin lhe tinha feito pensar nisso, e isso lhe fez desejar
que Lucian fosse rápido para conseguir outro veículo e sangue para eles.

Uma brisa fresca em seu peito chamou a atenção de Decker sobre o fato de que sua
camisa estava ainda desabotoada. Felizmente, Justin não tinha mencionado, e Dani
não tinha conseguido dar uma olhada em suas costas para ver que na verdade tinha
sido baleado duas vezes. Enquanto fechava a camisa, Decker começou a preocupar-
se se por acaso Dani não teria visto mais do que devia, e pelo que teria pensado
quando verificava sua ferida. Parecia evidente que ela tinha notado algo estranho
quando tirou a bala. Decker supôs que a cura devia ser muito mais lenta se fosse um
mortal. Os de sua espécie se curavam muito mais rápido. É por isso que Justin tinha
insistido em lhe dizer que devia deixar que olhasse a ferida mais cedo do que tarde.
Dentro das próximas vinte e quatro horas a bala, junto com as outras das costas,
seriam expulsas de seu corpo e Decker já teria cicatrizado completamente.

Sendo médica, e mesmo o examinando tão rápido como fez, Dani deve ter percebido
que a bala estava muito mais perto da superfície do que devia estar. Não tinha idéia
de como assimilou isto, mas não tinha dito nada e esperava que agora que tinha feito
todo o possível para extrair a bala deixasse o assunto de lado.

Decker desprezou essa preocupação enquanto se aproximava de Dani. Estava a ponto


de tocar em seu ombro quando de repente ela girou em sua direção. Ela deu um salto
para atrás dando um grito afogado pela surpresa ao vê-lo ali de pé.

-Aonde foi? - perguntou ele.

-Eu estava caminhando para me distrair das preocupações- respondeu ela, e logo o
acompanhou para a caminhonete. -Então, eles podem rastrear o veículo? Estamos
preparados para ir ?

-Estão rastreando agora. Chamarão quando tiverem algo- respondeu ele a seguir.

Ela assentiu. -Não deveríamos nos pôr em movimento de qualquer maneira? Talvez ir
até a cidade? Poderíamos economizar um pouco de tempo para quando chamarem.

-Ou isso poderia acrescentar mais tempo, se nos dirigirmos na direção errada-
assinalou ele e logo moveu a cabeça. -Estaremos em uma melhor preparados se
ficarmos esperando até que Lucian volte a chamar.

-Suponho que tem razão- disse ela com tristeza.

-Não deve levar muito tempo- assegurou Decker com brutalidade, e logo, para que
ela se distraísse de sua preocupação, disse-lhe -Me conte o que aconteceu.

Quando ela parou e o olhou, ele adicionou - Nos ajudará a encontrar a maneira de
abordar melhor a situação quando chegarmos até sua irmã e ao homem que a levou.
Dani esteve em silencio durante tanto tempo que ele pensou que não ia responder,
mas logo disse: -Viemos para uma reunião familiar. Meu tio é dono de uma casa com
várias cabanas de campo em sua propriedade, e uma vez ao ano reúne toda a família
para passar um fim de semana- Ela franziu o cenho e logo admitiu: -Normalmente
estou muito ocupada para vir, mas este ano me preparei para conseguir um pouco de
tempo livre.

Decker, assentiu com a cabeça e não mencionou que estava muito contente de que
ela o tivesse feito. Duvidava muito de que ela sentisse o mesmo neste momento.

-Supunha-se que íamos sair esta noite para evitar o trânsito do fim de semana. Foi
minha idéia…- adicionou Dani com amargura, sem dúvida pensando que se tivesse
partido na manhã do domingo em vez de noite, nada disto tivesse ocorrido. Era uma
desculpa para se culpar pelo ocorrido, e Decker estava procurando em sua mente
algo que lhe dizer para aliviar a culpa quando ela continuou: -…de todos os modos
Stephanie queria vir comigo para não amontoar-se na caminhonete com meu papai e
nossos irmãos e irmãs.

-Quantos são? - perguntou ele com curiosidade.

-Eu, Stephanie, que é a mais jovem, e dois irmãos e duas irmãs mais no meio-
respondeu Dani e sorriu com ironia quando assinalou, -a caminhonete estava
bastante cheia de bagagem e de passageiros, e pensei que ter companhia seria algo
bom, assim concordei com ela.

Decker, assentiu com a cabeça.

-Stephanie queria alguns sanduíches para a viagem até em casa, assim entrei na loja
de comida. Deixou escapar o fôlego em um suspiro triste. -Deveria ter parado em
uma loja de café ou algo assim. Eu…

-O que aconteceu não é sua culpa, Dani- disse ele em voz baixa.

-Não é? - perguntou ela com voz rouca.

Ele sacudiu a cabeça. -Parece que está utilizando todas as decisões que tomou como
uma razão para se culpar, mas não foi sua culpa.

Dani se encolheu de ombros com o olhar posto sobre o terreno à frente, e Decker
sabia que não estava ouvindo o que ele dizia. -Foi idéia de seu tio fazer a reunião
este fim de semana. Se ele não o tivesse feito, você não teria vindo aqui. Culpa a ele?

-Não, é obvio que não- disse ela de uma vez, e ele assentiu com a cabeça.

-Bom, o fato de que fez sua estadia mais curta para evitar o trânsito, e que foi até a
loja de comida para que sua irmã pudesse comprar alguns sanduíches não significa
que seja sua culpa. Se quer jogar culpas, as ponha no lugar a que pertencem... nos
homens que as levaram.

Dani deixou sair o ar lentamente. -Tem razão, é obvio.

-Mas ainda se culpa- adivinhou Decker secamente.

-Talvez- admitiu ela com um gesto irônico. -Mas vou tentar.

Sabendo que era o melhor que podia esperar, Decker deixou passar e lhe perguntou:
-Agarraram-lhe no caminho para a loja ou na saída?
-Na saída- respondeu Dani, e logo sorriu, admitindo- Stephanie enlouqueceu ao
escolher as opções. Minha mãe não permite comer besteiras em casa e Stephi ficou
louca pegando tudo o que ela ama mas que raramente come. Ambas íamos carregadas
com bolsas quando saímos. A caminhonete estava estacionada ao lado do carro
quando voltamos. Não pensei muito nisso, e logo…

Os olhos do Decker se concentraram em seu rosto, observando o desconcerto e a


confusão que reinavam ali. -O que aconteceu?

-Eu… nós… a porta da caminhonete se abriu e Stephanie e eu só deixamos cair as


bolsas e subimos à caminhonete. Não sei porque, mas simplesmente o fizemos- disse
ela assombrada.

-E então o que aconteceu?- perguntou Decker, para que ela não pensasse nisso por
muito tempo. Era óbvio que os renegados tinham controlado suas mentes, mas
dificilmente poderia explicar-lhe.

Dani duvidou, evidentemente, ainda confusa por suas próprias ações, e logo
continuou: -Uma vez que estávamos na caminhonete de repente soube que não
deveríamos estar ali e agarrei o braço do Stephanie e tentei arrastá-la para fora. Os
homens riram, e um me golpeou as costas enquanto outro agarrou Stephanie e a
atirou sobre seu colo e começou a manuseá-la, tentei ajudá-la, mas só consegui que
me golpeassem de novo. O homem que me golpeou parecia gostar disso- acrescentou
com raiva, e logo a expressão se nublou pela confusão: -E então o motorista lhes
disse que deixassem de brincar com a comida.

Decker apertou os lábios mas se limitou a dizer: - O que aconteceu depois?


-O homem que estava com Stephanie disse algo assim como … Ei, papai, só estamos
nos divertindo um pouco.

Isto pareceu desconcertá-la ainda mais e Decker não se surpreendeu. Todos os


imortais pareciam ter de vinte e cinco a trinta anos. O pai pareceria muito jovem para
ser chamado assim pelos outros.

-Deve ser um apelido- disse Dani, sacudindo a cabeça. -Eles praticamente nos
deixaram sozinhas depois disso, só ficaram nos olhando com essa expressão ansiosa
e faminta que me dava calafrios. Depois de uns minutos, Stephanie deixou de gritar e
logo chegamos à clareira. Nos tiraram da caminhonete e nos fizeram sentar no chão,
enquanto faziam uma fogueira e isso foi tudo. Foi então quando soube que meu
telefone não tinha sinal ali.

Decker assentiu com a cabeça, recordando que ela disse que não tinha conseguido
obter sinal para o celular. Isso foi provavelmente a razão pela qual os homens não lhe
tinham tirado seu telefone.

-Quando os homens terminaram de recolher lenha e tinham aceso o fogo, uniram-se a


nós em torno do fogo e lhes perguntei o que fariam conosco. Todos eles puseram-se a
rir e logo um deles me arrastou até o precipício e atirou um galho em chamas no
fundo e ali haviam duas mulheres…

Sua voz se afogou e Decker agarrou sua mão e lhe deu um apertão. -Não tem que me
dizer isso, eu vi.

Ela assentiu e ficou em silêncio, e Decker meditou sobre o que havia dito. Os
homens tinham controlado sua mente e a de Stephanie para conseguir que subissem à
caminhonete, mas logo tinham retirado o controle e lhes permitiram lutar e estar
aterrorizadas. Eles não tinham que fazê-lo. Poderiam tê-las mantido sob seu controle
e inconcientes todo o tempo, mas ao que parece desfrutavam do horror de suas
vítimas com a experiência.

-Pobres mulheres- disse Dani com tristeza - e suas pobres famílias.

-Sim- disse ele simplesmente, e lhe apertou a mão de novo.

Ela o olhou e disse a contra gosto: -Suponho que te devo minha vida.

-Não deve nada a ninguém- disse ele com brutalidade.

Dani se encolheu de ombros e lhe perguntou: -Você já suspeitava que estes homens
eram responsáveis pelo desaparecimento dessas mulheres? Vocês os estavam
seguindo quando nos capturaram?

-Nicholas estava seguindo-os- admitiu ele a contra gosto.

-Foi ele quem seguiu atrás de minha irmã?- perguntou Dani.

Ele assentiu com a cabeça.

-Acaso nos viu quando fomos seqüestradas no estacionamento, ou …

-Não. Ele estava em um restaurante a boa distância quando isso ocorreu- disse
Decker, e ao ver a pergunta nos olhos, explicou- pelo que sei ele pôs um aparelho de
escuta e rastreamento na roda da caminhonete. Ouviu quando as seqüestraram e
utilizou o dispositivo para segui-los.
-E como terminaram Justin e você ali?- perguntou ela.

-Seguíamos a Nicholas- disse ele em forma concisa.

-Por que seguiam a Nicholas?

Decker se moveu incômodo e simplesmente disse: -Estava saindo de um restaurante


quando chegamos ali, assim fomos atrás dele.

A forma em que seus olhos se entreabriram sugeriu que não era uma resposta muito
satisfatória. Não se surpreendeu quando lhe perguntou: -Quem é exatamente este
Nicholas?

Decker procurava em sua mente a maneira de lhe responder e finalmente disse:


-Estava acostumado a trabalhar conosco.

-Então, por que não te chamou até agora para te dizer que estava seguindo o veículo?

-Ele não tem meu número de telefone- disse Decker, contente de ser capaz de
responder honestamente ao menos a essa pergunta. Não havia telefones celulares
quando Nicholas se converteu em renegado e desapareceu. Antes que ela pudesse
perguntar, acrescentou -e eu também não conheço seu número.

-Seu chefe sabe?- perguntou ela.

-Não.

-OH-. Os ombros do Dani caíram brevemente e começou a caminhar de novo, mas


tinha dado só uns passos mais quando parou e se voltou para ele com entusiasmo. -O
dispositivo de escuta.

-Que tem ele? - perguntou ele.

Nicholas ainda pode ter o receptor- assinalou ela, e sugeriu: -Você pode falar nele e
lhe dar seu número e lhe pedir que te ligue.

Decker elevou as sobrancelhas ante a sugestão. Era uma idéia inteligente, ou poderia
ser, se houvesse alguma possibilidade de que Nicholas ligasse. Não havia
possibilidade, mas as palavras de Dani lhe fizeram perceber que tinha passado
totalmente esquecida a presença dos dispositivos. Nicholas bem poderia tê-los
escutado. Justin os tinha posto em um dos porta-copos entre os dois assentos
dianteiros e rapidamente se esqueceram deles. Nicholas tinha escutado tudo o que
haviam dito na caminhonete, incluindo sua parte da conversa telefônica com Lucian,
e o dispositivo de rastreamento lhe dizia onde estavam eles exatamente neste
momento. Era o que Decker teria feito se a situação se invertesse e deveria ter
pensado nisso, mas em seu afã por conseguir fazer as coisas e seguir adiante, tanto
ele como Justin se esqueceram dos dois artefatos. Pelo menos sabia que ele se
esqueceu, e suspeitava que Justin também, ou este lhe haveria dito algo.

-Vamos- Dani correu para a caminhonete.

Decker a seguiu mais devagar. Estava bastante seguro de que Nicholas não o
chamaria, e Dani se decepcionaria quando não o fizesse. Além disso ela perguntaria
por que ele não estava chamando e começaria a fazer mais perguntas, que ele não
desejava ou não necessitava. Por outro lado, tratar de dissuadí-la de seu plano só
traria essas perguntas mais cedo.

Justin estava sentado de lado no assento dianteiro do passageiro, com a porta aberta e
as pernas pendurando. Desceu quando eles chegaram e deixou que a porta se
fechasse, tinha as sobrancelhas elevadas em um gesto de interrogação.

Dani com um sorriso brilhante anunciou: - Me acaba de ocorrer que não temos que
esperar que este Lucian chame para rastrear o veículo. Nicholas pode nos dizer onde
está porque ele o está seguindo.

-Nicholas?- perguntou Justin em dúvida, deslizando seu olhar para Decker.

-Decker me disse que ele não sabe o número de seu telefone celular, mas e se
pudessem falar pelo dispositivo de escuta e lhe dizer o número? Então ele poderia
nos chamar.

-Mas... - começou a dizer Justin, e logo se deteve quando Decker captou sua atenção
e negou com a cabeça.

-O que?- perguntou Dani. Como Justin permaneceu em silêncio, com seu olhar
cravado em Decker, ela suspirou e disse: -Vocês querem falar. Espero-os na
caminhonete.

Ambos guardaram silêncio enquanto ela abria a porta traseira, entrava e fechava a
porta, Justin e Decker se afastaram uns poucos metros da caminhonete e logo Justin
admitiu: -Tinha-me esquecido dos dispositivos de escuta e rastreamento.

-Eu também- admitiu Decker, e logo levantou uma sobrancelha quando Justin de
repente franziu o cenho e olhou de novo à caminhonete. -O que foi?

-Talvez eu devesse lê-la- sugeriu Justin. -Só para nos assegurar de que não tenta
enviar uma mensagem a Nicholas.
Decker sacudiu a cabeça. -Ela não sabe que os dispositivos estão no porta-copos. Ela
esperará que tentemos falar com ele.

Justin assentiu com a cabeça, mas logo assinalou: - Ele não vai chamar.

-Não- esteve Decker de acordo. -Mas é melhor deixar que o tente, que ter que lhe
explicar a razão pela qual ele não o fará. Espero que Lucian chame logo e ela esteja o
suficientemente distraída por perseguir sua irmã para não perceber que Nicholas não
chamou.

Justin permaneceu em silencio durante um momento e logo disse: -Poderíamos


deixar que tente... ou poderíamos lhe dizer que estam quebrados e guardá-los para
colocar uma armadilha para Nicholas mais tarde.

Quando as sobrancelhas do Decker se elevaram, Justin assinalou: -Se esteve nos


escutando até agora, Nicholas provavelmente acredita que nos esquecemos por
completo do transmissor e do rastreador porque falamos diante deles. Se continua
pensando que isso é possível talvez possamos utilizá-los para colocar uma armadilha
para apanhá-lo.

Decker estava sacudindo a cabeça antes de que Justin acabasse, e uma vez que este
ficou em silêncio, disse-lhe: -Como disse, Nicholas provavelmente escutou minha
chamada telefônica com Lucian e sabe que vamos rastrear o veículo. De todos os
modos saberá que estamos atrás dele e estará alerta. Nicholas era um dos melhores.
Não vamos surpreendê-lo sem um plano condenadamente bom.

Justin fez uma breve pausa antes de sugerir: -Depois da próxima chamada de Lucian,
poderia me dizer que ele te disse que Bastien não pôde rastrear o veículo porque o
GPS não funcionava por alguma razão. Se fizermos isso e desativamos o dispositivo,
Nicholas não saberá para onde nos dirigimos. Embora- acrescentou - eu não
recomendaria desativar o dispositivo tratando de lhe extrair a bateria se é que existe.
Bastien pode ser capaz de utilizar o artefato de algum modo e reverter o rastreamento
e localizar Nicholas.

-Poderia fazê-lo?- perguntou Decker surpreso.

-Não estou certo- disse o jovem imortal. -Eu vejo um montão de coisas de ficção
científica, mas não sou um aficionado à tecnologia.

Decker o olhou com o cenho franzido. A idéia era boa, e desejava ter pensado nisso
ele mesmo. Em primeiro lugar Dani se lembrou do transmissor que ele e Justin
tinham esquecido, e agora Bricker tinha pensado em um plano para utilizar o
dispositivo para apanhar Nicholas. Quando tinha desaparecido seu cérebro? Ele
estava acostumado a ser o primeiro a ter estas idéias.

-Não seja tão duro consigo mesmo- disse Justin brandamente, lhe dando uma
palmada sobre seu ombro. Logo adicionou em brincadeira- quando Mortimer
encontrou a sua companheira de vida também se converteu em um idiota.

Decker franziu o cenho. Encontrar uma companheira de vida também tinha feito que
Mortimer estivesse tão disperso que podiam ler facilmente sua mente, recordou.
Decker decidiu que não gostava que sua mente fosse um livro aberto para outros e
que precisava ter mais cuidado, estar menos distraído e manter a guarda.

-Se é que pode- comentou Justin, que pelo jeito continuava lendo seus pensamentos.
-Mortimer não foi muito bom nisso nunca mais. Duvido que você o seja.
Decker abriu a boca para lhe dizer onde podia ir, mas Justin se antecipou e lhe
perguntou: -Já tem fome?

Quase lhe disse que não, mas na verdade, suas dores de estômago estavam piorando,
e finalmente admitiu: - Poderia tomar uma bolsa de sangue ou quatro.

-Quatro, não né?- riu Justin. -Infelizmente, não temos nenhuma à mão agora. Me
referia a comida.

-OH. Não, não estou com fome. Ele franziu o cenho. Além de não ser capaz de ler a
mente, e ter dificuldade para manter seus próprios pensamentos para si, o despertar
do apetite pela comida e o sexo e muitas outras coisas, vinham em geral com a
chegada de uma companheira de vida. Sendo esse o caso, o fato de que não estava de
repente faminto era um pouco preocupante e lhe perguntou: -Por que não estou?

Justin não parecia tão preocupado. Encolhendo-se de ombros, disse: -Talvez demore
mais tempo para que isso aconteça. Ou talvez tenha que estar ao redor da comida.
Quanto tempo faz desde que comeu, de todos os modos?

-Parei quando fiz cento e vinte- admitiu Decker.

Bricker o olhou horrorizado. -Isso significa que eu só poderei comer durante outros
vinte anos mais ou menos. Pensou nisso e logo moveu a cabeça com firmeza, -De
maneira nenhuma... embora - acrescentou com preocupação - o hambúrguer que comi
a última vez que paramos no café não me pareceu tão bom como sempre.

-Esse café era horrível- disse Decker secamente. -O hambúrguer provavelmente era
feito com carne de um animal atropelado.
-Hmm. - Ele se mostrou inquieto e logo perguntou: -Que idade tinha quando deixou
de ter relações sexuais?

-Faz oitenta anos- respondeu Decker.

Justin sorriu. -Levou um pouco mais de tempo cansar de sexo, que da comida, não é?
Não me surpreende. Inclusive ainda não entendo como é possível se cansar de sexo.
Não posso imaginar esse dia. Estou bastante seguro de que poderia fazer todos os
dias, até duas ou três vezes ao dia durante os próximos milênios e não me cansaria
disso.

Decker se encolheu de ombros, pensando que o jovem imortal o entenderia dentro de


aproximadamente outro século.

-Não, não vou entender em aproximadamente outros cem anos- disse Justin com
segurança, sem deixar de ler sua mente. -Vou querer ter relações sexuais até morrer.
As mulheres são incríveis. Cada uma tem diferente forma, tamanho, cor e inclusive
textura.

-Textura? - perguntou Decker, com a sobrancelha levantada.

-Claro. Algumas são mais suaves, algumas são menos, mas todas são belas em seu
próprio estilo.

Decker supunha que teria que estar de acordo com isso. Seu olhar se deslizou à
caminhonete e sobre a mulher apenas visível através do cristal e pensou que, embora
todas as mulheres fossem belas, algumas eram mais belas que outras.

Dani esperou até que Decker se voltasse para Justin para seguir falando e logo se
inclinou e fechou completamente a janela. Tinha-a descido em um momento em que
os homens não estavam olhando-a para poder ouvir o que diziam... e tinha
conseguido.

Ela se sentou e considerou o que tinha escutado. A última parte tinha sido motivo de
preocupação. Decker deixou de comer aos cento e vinte anos? E deixou de ter
relações sexuais fazia oitenta anos? O homem não podia ter mais de trinta anos de
idade. Que tolices estava dizendo? E a resposta de Justin de ter somente vinte anos
mais antes de chegar a cento e vinte e deixar de comer? Dani não precisava ter uma
formação médica para saber que os dois homens estavam total e absolutamente
delirantes.

Um som de um sussurro atraiu seu olhar à cobertura de lona detrás dela quando algo
se moveu e a roçou. Dani fez uma careta. Bom, delirante era um termo muito suave.
Parecia que depois de tudo, estava de fato em companhia de dois homens loucos.
Não era uma idéia feliz, decidiu, sobre tudo porque o fato de que estivessem loucos
não mudava a situação de que continuavam sendo sua melhor oportunidade de
encontrar a sua irmã.

A menos, pensou Dani de repente e seu olhar se deslizou para o porta-copos entre os
dois assentos dianteiros. Ali era onde tinha ouvido Decker dizer que estava o
transmissor e ela se inclinou para espiar sigilosamente enquanto sua mente se
agitava. De acordo com o que disse Decker, Justin e ele tinham seguido Nicholas até
onde sua irmã e ela estavam retidas, assim Nicholas era o único que realmente tinha
se deslocado para salvá-las, não os outros dois. E Nicholas era quem agora estava
perseguindo sua irmã. Ainda estava tratando de salvá-la, enquanto que estes dois
pareciam mais interessados em capturá-lo que em ajudar a sua irmã.

Nicholas tinha sido também o que usou uma balestra em lugar de uma arma de fogo.
Ele tinha estado sustentando essa arma incomum quando se lançou atrás de sua irmã
e o homem que a arrastava longe da clareira. Mas estes dois tinham aparecido por
detrás das árvores disparando armas de fogo, embora ela não tinha visto nenhuma só
arma desde que despertou na parte traseira da caminhonete. Mas não se preocupou
muito por isso, embora estivesse mais preocupada com o fato de que, pelo que ela
sabia, não era legal que os cidadãos levassem armas no Canadá. As únicas pessoas
que normalmente as levavam eram policiais... e os criminosos que as compravam no
mercado negro ou de várias formas ilegais. Dani estava muito segura de que estes
tipos não eram policiais. Pelo que acabava de ouvir, nunca teriam sido aprovados no
exame psicotécnico... o que significava que provavelmente também eram criminosos
e Nicholas era o único homem bom pelos arredores.

Ela olhou pela janela e viu que os homens seguiam profundamente concentrados na
conversa, deslizou-se para frente até ajoelhar-se entre os dois assentos dianteiros.
Lançou outro olhar nervoso pela janela e continuou olhando-os enquanto falava
perto do porta-copos.

-Nicholas? Se me ouvir, sou Dani, a outra mulher que protegeu esta noite. - Fez uma
pausa e se lambeu os lábios e logo continuou: -Decker e Bricker vão colocar uma
armadilha para você, utilizando o transmissor e o dispositivo de rastreamento que
deixou na caminhonete. Pensam que provavelmente acredita que eles não se lembram
dos dispositivos que se encontram aqui e vão tratar de utilizá-los para te encontrar.

Dani se deteve de novo e fechou os olhos um instante antes de continuar. -Tenho


medo. Decker me disse que trabalha para o CSIS, mas não há forma possível. Está
louco. Ouvi-lhes falar e me parece que acredita que tem centenas de anos.

-Eu não sei o que fazer- admitiu. -Estou dividida entre fugir por minha conta e
permanecer com eles, porque eles podem rastrear o veículo que tem Stephanie e
tenho que encontrar minha irmã, quero que saia com vida disto. Se for o que acredito
que é, uma espécie de caçador de recompensas ou detetive privado ou algo assim,
por favor, me chame.

Dani recitou seu número de telefone celular, e logo esperou um minuto e o repetiu.
Antes de terminar lhe disse uma vez mais, -Me chame imediatamente se puder, não
estou segura se me deixarão a sós de novo, e tenho que saber quão perigosos são
esses homens. Espero que me possa dizer isso.

Para seu assombro, apenas Dani tinha deixado de falar quando seu telefone celular
começou a vibrar no bolso.

Capítulo 4

-Dani?- grunhiu profundamente uma voz desconhecida no telefone.

-Nicholas? -perguntou ela esperançada.

-Sim. Provavelmente não lhe deixarão sozinha por muito tempo. Temos que ser
breves, assim me escute. Não conheço o garoto mais jovem, mas conheço Decker e
está segura com ele. Nunca te faria mal, e não acredito que o companheiro que está
com ele o faça. Está bem? - exclamou ele. -Está a salvo.

-Mas estão loucos- protestou ela, e logo se mordeu o lábio e olhou pela janela, com
medo de que tivesse falado muito alto, embora Justin e Decker não pareciam havê-la
escutado. De fato, agora estavam afastando-se da caminhonete enquanto falavam.

-Podem parecer loucos, mas não são. Você está a salvo com eles. Confia em mim
nisto.

-Você não entende- disse Dani com frustração. -Eles cravaram estacas nos corpos dos
homens que nos sequestraram, e… eles pertencem ao CSIS? -perguntou ela de
improviso.

-Não, estão em uma equipe dedicada ao cumprimento da lei, mas não de uma
organização da qual tenha ouvido falar.

-Qual organização?- perguntou Dani de todos os modos, pouco disposta a aceitar a


explicação.

Depois de uma vacilação, Nicholas respondeu. -Eles são executores do Conselho.

-O que são os executores do Conselho? -perguntou-lhe ela de uma vez.

-Não importa. O que importa é que saiba que está a salvo com eles.

-Mas minha irmã….

-Ela está viva e bem. Ainda a estou seguindo. Sua irmã estará bem. Ele não pode lhe
fazer mal enquanto está dirigindo e não tenho intenção de perdê-los de vista para que
possam machucá-la.

Dani fechou os olhos com alívio ante suas palavras.


-Não chamou sua família com seu telefone celular, não é? -perguntou ele de repente.

Os olhos do Dani se abriram de repente pelo assombro. Deveria ter chamado em


seguida... e à polícia. -Não- admitiu ela finalmente, e logo acrescentou nervosamente,
-eu deveria ter feito isso imediatamente. Não sei por que não o fiz.

-É provável que tenham colocado em sua mente a sugestão para que não o faça- disse
ele de modo calmo. -Eu não sei por que ainda não lhe tiraram o telefone.

Ela franziu o cenho perguntando-se de que lado ele estava e logo ele disse: -Dani,
corri o risco de ser apanhado para salvar sua vida, por isso deve confiar em mim.
Fique com eles.

-Por que? -repetiu ela com o cenho franzido. -Por que estão tentando detê-lo?

A pausa esta vez foi mais longa antes de que ele dissesse -Cometi um engano faz
muito tempo. Receio que matei alguém. Foram enviados para me buscar e para me
levar a julgamento. Eles são os bons Dani, eu sou o mau.

-E você me está pedindo que confie em você? -perguntou-lhe ela secamente.

-Sim - disse Nicholas soando divertidamente amargo. -Quem é o louco aqui? Certo?

Dani não disse nada. Ela não sabia o que pensar agora. Ele tinha matado alguém?

-Sei que está assustada Dani, mas realmente precisa confiar em mim e ficar com o
Decker. E provavelmente seria melhor se não tentasse chamar a sua família. Pelo
menos não até que tragamos sua irmã de volta, e te prometo que farei isso, mas em
troca disso não pode entrar em contato com sua família. De todos os modos, eles só
se preocupariam. É melhor que não saibam nada até que tudo termine e que ambas
estejam a salvo. De acordo?

Ela se mordeu os lábios, sem saber o que devia fazer.

-De acordo? - repetiu ele.

-De acordo- respondeu Dani calmamente, embora não estava segura se que cumpriria
com sua palavra.

Houve outro momento de silêncio e ela suspeitou que ele estava preocupado de que
ela não mantivesse sua palavra, e logo ele suspirou. -Não te chamarei outra vez. Eles
saberão que falamos.

-Não, não saberão- assegurou-lhe ela, não queria perder esta conexão com sua irmã.
Nicholas era o único que podia lhe assegurar que sua irmã estava ainda a salvo e não
se encontrava no fundo de um precipício aquelas outras mulheres. -Estão fora. Posso
vê-los. Não sabem que estou falando com você.

-Não importa. Eles saberão - afirmou Nicholas com tom sério e logo adicionou - Vão
ler sua mente e saberão tudo o que pensou, falou e escutou.

-Ler minha mente? -perguntou Dani de forma vacilante, começando a questionar se


todo mundo ficou louco enquanto ela estava na loja de comida.

-Sei que nada disto tem sentido para você, mas confie em mim - disse Nicholas com
firmeza. -Farei o que puder para conseguir resgatar sua irmã, mas eles podem fazer
mais. Diga a eles que acabamos de passar a baía da Georgia na auto-estrada 400. Em
minha opinião, acredito que ele vai tomar a estrada até chegar a Toronto e lá tentará
se perder entre a multidão.

-Baía Georgia- repetiu Dani fracamente. Isso era quase a uma hora de distância. Ela
franziu o cenho, confundida pela forma em que tinham chegado tão longe e tão
rápido. Certamente ela não tinha dormido durante tanto tempo, ou o tinha? E o que
tinham estado fazendo os dois homens durante esse tempo para que o sequestrador
de sua irmã conseguisse essa vantagem? Seu olhar se deslizou à lona que cobria os
corpos detrás dela.

-Nicholas- começou a dizer Dani, mas antes de que pudesse ir mais longe, ouviu o
clique e a chamada terminou. Fechou o celular e o olhou, seus pensamentos voltaram
para sua afirmação de que ele tinha matado alguém e que Decker e Justin o
perseguiam para levá-lo a julgamento. Curiosamente, a confissão não lhe preocupou
tanto como a afirmação de que Decker e Justin podiam ler sua mente. O que parecia
sugerir que Nicholas estava tão louco como eles.

Quanto à idéia de que eles tinham posto a sugestão em sua mente para que não
chamasse seus pais, ele estava equivocado. Ela não tinha chamado eles porque
esteve muito distraída com outras coisas, disse-se Dani e começou a discar o número
do telefone celular de sua mãe. Tinha que chamá-los e lhes dizer o que estava
acontecendo. Precisavam saber. Ela não tinha vontade de lhes explicar sobre o
sequestro de Stephanie, mas era a coisa mais responsável que devia fazer e…

Dani se deteve e levantou rapidamente o olhar quando a porta do passageiro abriu e


Decker deslizou para o interior da caminhonete. Imediatamente fechou o telefone e o
colocou rapidamente em seu bolso, por medo de que o tirassem se o vissem.

Decker fechou a porta e logo se voltou para olhá-la enquanto Justin se sentava no
assento do motorista, e com um sorriso forçado ela lhes perguntou: -Está tudo bem?
-Sim- disseram eles.

Foi Justin quem adicionou: -Eu só queria falar com Decker a respeito de algo. Coisas
de homens.

Dani assentiu com a cabeça e tratou de não mostrar que tinha escutado muito de sua
conversa e que agora sabia que estavam loucos. Sentiu-se aliviada pela distração que
lhe ofereceu Justin quando este disse alegremente: -Então, enquanto esperamos, por
que não vamos à cidade e conseguimos algo para comer?

Antes que Decker ou Dani pudessem desprezar a idéia, o telefone de Decker


começou a tocar. Os dois homens se olharam em silêncio, e logo Justin agarrou o
rastreador do porta-copos mais próximo e começou a manuseá-lo enquanto Decker
tirava o telefone e o punha no ouvido. Sabendo que Justin estava tirando a bateria ou
desativando o rastreador, Dani se concentrou no Decker quando este disse, -Olá- e
escutou brevemente antes de dizer: -Pode repetir para o Bricker?

Estendeu o telefone e Justin depositou de novo o rastreador no porta-copos e logo


tomou o telefone. Ele também disse -Olá- e escutou brevemente antes de dizer:
-Muito bem.

Decker tomou de novo o telefone e continuou uma breve conversa que consistia em
escutar e sobre tudo em grunhir de vez em quando e logo fechou o telefone. Quando
o deslizou no bolso, Decker se inclinou para um lado para olhar para trás e lhe disse:
-Eles não puderam rastrear o veículo. Vamos retornar a Toronto para coordenar e
elaborar um plano para continuar com a perseguição do homem que tem sua irmã.

-Entendo -murmurou Dani, e a pesar do fato de que ela já esperava por isso, ficou
decepcionada por sua mentira. Obviamente, haviam dito a ambos os homens que o
GPS na caminhonete tinha sido rastreado e que estavam indo pela estrada 400, rumo
a Toronto.

Isto ficou demonstrado quando Justin pôs em movimento o carro e lhe perguntou:
-Não sabe como chegar à estrada 400 daqui, sabe? Tínhamos um GPS no outro
veículo para chegar até aqui e não encontrei nenhum mapa na caminhonete quando a
revistamos antes de sair.

Dani assentiu com a cabeça e olhou pela janela para fora enquanto dizia, -Eu posso te
mostrar. Siga em frente e irei indicando a direção.

Dani estava olhando pela janela da porta lateral, sem olhar a parte traseira, perdida
em seus pensamentos, quando uma maldição de Justin fez que olhasse curiosa em
sua direção. Ela notou seu cenho franzido enquanto o olhar dele seguia descendendo
pelo painel de instrumentos.

-Precisamos de gasolina... agora. A luz de alerta está acesa.

Dani abriu os olhos consternada pela notícia e se sentou em seus joelhos para olhar
pelo pára-brisa para o escuro caminho pela frente.

-Não entre em pânico- disse Decker com voz firme ao notar sua ansiedade.

-Estou seguro de que encontraremos um lugar para parar antes que acabe.

-E se não encontrarmos? -perguntou ela ansiosamente.

Ele não respondeu. Em lugar disso, voltou-se e se inclinou para diante em seu
assento para olhar o caminho que tinha por diante. Viajaram em silencio durante um
par de minutos tensos, logo Decker se endireitou e entreabriu brevemente os olhos
antes de deixar escapar seu fôlego em um suspiro de alívio e dizer: - Há uma placa de
sinalização mais adiante.

-Já vi - assentiu Justin com a cabeça, relaxando-se um pouco em seu assento quando
acrescentou, - há uma rampa de saída em um quilômetro.

Dani olhou, tentando ver o que diziam, mas tudo o que viu foi a auto-estrada escura e
as luzes traseiras dos automóveis. Passou outro momento esforçando-se antes que
pudesse ver a placa verde mais a frente, e um momento mais para que pudesse ler
com as luzes intermitentes dos carros que passaram antes deles, que efetivamente era
uma rampa de saída. Dani então se sentou, pensando que ou os homens estavam lhe
mentindo tentando impedir que entrasse pânico, ou ela precisava ir ao oftalmologista.

No momento em que saíram da rampa, Dani se levantou de novo sobre os joelhos


aliviada quando viu o posto de serviço que estava logo adiante.

-Há um restaurante bem ao lado- assinalou Justin quando se dirigiu à estrada. -Sim…

-Jesus, Justin- disse Decker com desgosto.

-Eu só ia dizer que se Dani quisesse usar o banho, eu paro ali, ponho gasolina e volto
para pegá-la- disse Justin secamente. -Esta poderia ser sua única oportunidade até
que precisemos abastecer de novo.

-OH- disse Decker suspirando e fechou os olhos. Dani aproveitou a oportunidade


para dar um bom olhar ao homem sob as luzes do estacionamento que se projetava
sobre eles. Ela não tinha sido capaz de vê-lo realmente bem essa noite. Nem com boa
luz e nem sequer com uma má. Tinha-lhe parecido que cada vez que seus olhos se
moveram para olhá-lo, ele estava olhando pelo espelho para trás em sua direção,
assim continuamente o tinha evitado, tendo só a impressão de que era um homem
bonito antes de que ela desse uma olhada para outro lado. Agora, embora ele
estivesse com os olhos fechados, foi capaz de ver realmente o homem com quem
Nicholas tinha assegurado que estaria a salvo. Era um homem muito bonito pensou,
enquanto seus olhos percorriam seu nariz reto e sua mandíbula firme. Tinha uma
boca interessante, com um lábio superior magro e um lábio inferior cheio e sensual.
Entretanto, nesse momento estava muito pálido, com o semblante de um doente.
Lembrou da ferida que ele tinha sofrido e se preocupou que tivesse perdido mais
sangue do que ela tinha pensado, ou que a ferida estivesse infeccionada.

-Entretanto- adicionou Justin, distraindo-a. -Agora que mencionou, sim gostaria de


comer um hambúrguer ou outra coisa enquanto ela estiver ali, provavelmente temos
tempo e…

-Bricker- ladrou Decker para fazê-lo calar.

Dani mordeu os lábios, divertida a seu pesar pela exasperação na voz do Decker. Era
como andar com um casal estranho nesta caminhonete. Embora Dani estivesse
olhando pela janela a maior parte do passeio, ela não tinha estado completamente
perdida em seus pensamentos. A metade de sua atenção tinha estado nos breves
momentos de conversa entre os dois homens. Não tinha compreendido tudo o que
diziam, pois suspeitava que falavam em código para evitar que ela compreendesse,
mas o que tinha captado era que Justin e Decker eram completamente opostos.

Justin parecia desfrutar do som de sua própria voz e falava muito, enquanto que
Decker era mais silencioso, falando só quando tinha algo que dizer. Justin tinha
afirmado em um momento que amava a vida da cidade, desfrutando da variedade e os
clubes noturnos, enquanto que Decker respondeu que preferia a paz e a tranqüilidade
da casa de campo onde aparentemente tinha um segundo lar. Justin desfrutava dos
filmes de ação e das comédias, enquanto que Decker havia dito que não via muito
essas coisas, e preferia um bom livro e um fogo acolhedor.

Dani também preferia ler à televisão, e o fogo acolhedor de uma chaminé em uma
casa de campo superava à vida na cidade, qualquer dia da semana, apesar de que
possivelmente isso se devia ao fato de que tinha nascido e se criado em uma cidade e
ali era onde estava sua prática. Ela também se encontrou em sintonia com Decker
quando se tratava de sua evidente exasperação com o Justin. Parecia evidente para
ela que Justin, que devia ser mais jovem, apesar de que eles aparentavam ter a mesma
idade, deliberadamente estava tirando sarro de Decker e provocando-o de propósito.

-Dani?

Ela deixou escapar estes pensamentos e olhou para Decker.

-Quer utilizar o banheiro? - perguntou ele.

Dani duvidou. Em realidade não tinha que ir ao banheiro, mas sabia que poderia ser
uma boa idéia. Além disso, seria uma oportunidade para chamar seus pais e à polícia,
assim murmurou: -Sim, obrigada.

Decker, assentiu com a cabeça. Olhou a seu redor quando Justin se deteve no
estacionamento do restaurante, mas logo se voltou para ela outra vez. Ele ia
conseguir uma cãibra no pescoço pelas voltas que continuamente dava para trás para
olhá-la, pensou ela distraídamente, e lhe disse: -Está pálido. Como se sente?

-Estou bem- assegurou ele, desprezando a preocupação dela. -Só preciso me


alimentar.
-Então talvez devesse conseguir algo para comer enquanto estamos aqui- assinalou
Dani. Ela estava muito preocupada com sua irmã para ter fome, mas podia entender
se Decker e Justin não sentiam o mesmo e de todos os modos queriam ir ao
restaurante.

-Não tenho fome- respondeu ele e seu olhar girou para olhar pelo pára-brisa quando
Justin freou para estacionar.

Estava a ponto de lhe perguntar sobre o que tinha respondido, se era que precisava
alimentar-se ou que não tinha fome, quando Justin a distraiu dizendo: - Viremos
pegá-la logo que tenhamos terminado de abastecer o carro.

Dani duvidou, mas logo assentiu com a cabeça e se dirigiu para a porta do carro com
o olhar fixo sobre os corpos cobertos pela lona enquanto saía. Embora os cadáveres
normalmente não lhe incomodassem, estes verdadeiramente começavam a tirá-la do
sério e decidiu que estaria feliz de afastar-se deles, enquanto se aproximava da
maçaneta da porta. Antes que pudesse tocá-la, começou a mover-se e a porta se abriu
para um lado para revelar Decker. Estava tão distraída que não o tinha visto sair do
assento dianteiro para ajudá-la a descer.

-Obrigada. Dani aceitou a mão que lhe oferecia e a agarrou quando se ergueu em
posição inclinada e saltou ao chão. Um golpe seco e o som de algo deslizando fez
que seu olhar girasse ao redor para ver o que era o que tinha caído, e seus olhos se
abriram alarmados quando viu seu telefone atirado no chão, e a vários metros, a
bateria. Não deve tê-lo guardado bem no bolso, e com a sacudida ao descer da
caminhonete o tinha deixado cair.

-Meu telefone! -gritou alarmada, e temendo que a bateria e o telefone fossem


esmagados por um pneu, correu para agarrar a bateria e logo se voltou para encontrar
Decker se endireitando depois de recolher o aparelho.

-Não parece tão mal. Vou colocaar a bateria enquanto utiliza o banheiro- disse ele,
lhe estendendo a mão para agarrar a bateria que ela tinha resgatado.

-Está tudo bem, eu mesma posso fazer isso. -Dani caminhou para ele com a intenção
de recuperar o telefone.

-Decker, temos que andar logo- exclamou Justin do assento do motorista.

Decker vacilou, e logo se dirigiu à caminhonete e lhe disse: -Vá em frente. Vou
passar um pouco de água no rosto.

Para sua consternação, Decker guardou o telefone celular e fechou a porta da


caminhonete, logo a segurou pelo braço e a acompanhou à entrada do restaurante.

-Dê-me isso, eu posso arrumar meu telefone- disse Dani quando ele a levou para
dentro do edifício.

-Mais tarde. Decker parecia distraído e seu olhar percorria as pessoas que estavam de
pé nas filas dos caixas quando passaram junto a eles. Acompanhou-a todo o caminho
pelo corredor que conduzia aos banheiros e logo lhe deu um pequeno empurrão para
a porta das damas, lhe dizendo: -Encontrarei você aqui quando tiver terminado.

Dani se dirigiu a contra gosto até o banheiroo. Parecia que agora não ia fazer a
ligação... nem poderia fazê-la logo. O telefone parecia bem apesar da falta da bateria,
mas se algo quebrou por dentro... Ela franziu o cenho pensando nessa possibilidade e
se uniu de forma automática à fila de mulheres que estavam esperando por uma
cabine livre.

-Por que sempre há fila no banheiro de mulheres? - queixou-se uma ruiva diante dela
e captou sua atenção. Dani ficou rígida quando viu que a mulher estava teclando uma
mensagem de texto em um telefone celular.

-Não sei. Aposto que o banheiro dos homens não está tão ocupado -respondeu uma
morena, e logo olhou a mensagem que sua amiga ia enviar, e lhe disse: -Diga ao
Harry que vamos demorar mais do que o esperado.

-Sim- disse a primeira mulher.

Dani estava considerando pedir emprestado o telefone da mulher quando ouviu o


murmúrio da voz de Decker no corredor, seguido de uma risada aguda feminina. Ela
olhou com curiosidade nessa direção, mas a porta estava fechada. Quando retornou o
murmúrio masculino que estava segura que era Decker, esforçou-se por ouvir o que
estava dizendo, mas a única coisa que podia escutar era um rumor surdo de sons e
depois a voz de mulher dizendo algo que soou como "quarto das vassouras".

-Senhorita? Sua vez.

Dani olhou a seu redor para ver que a ruiva tinha desaparecido e só estava a morena.

-Não, não tenho que ir. Estou esperando a Sally- disse a mulher quando Dani a olhou
confusa. -A cabine da terceira porta está livre entretanto.

-OH, obrigada! -murmurou e passou junto a ela rumo à cabine que estava livre. Dani
entrou, rapidamente fez o que tinha fazer, e logo saiu a toda pressa, esperando
alcançar à ruiva para lhe pedir emprestado seu telefone antes que se fosse.
Infelizmente, Dani saiu da cabine bem a tempo de ver as duas mulheres saindo do
banheiro, rindo de alguma coisa.

Suspirando, dirigiu-se à pia e percorreu com o olhar o recinto. Foi quando Dani
estava lavando as mãos que lhe ocorreu que poderia pedir emprestado outro telefone
para realizar a chamada. Ela tinha uma nota de cinco dólares e umas moedas no
bolso, do troco que lhe deram na loja de comida e poderia oferecer a alguém pelo
inconveniente. Infelizmente, já não havia uma fila de mulheres esperando no
banheiro. Fechou a torneira e foi até a secadora de mão, olhando as cabines e
esperando que saísse alguém para poder pedir emprestado o celular.

A primeira pessoa a sair foi uma mulher mais velha, quando lhe perguntou sobre o
telefone, desculpou-se lhe respondendo que não se incomodava em usar "essas
coisas". A segunda era uma mulher de meia idade que lhe disse que seu telefone
estava em sua bolsa na mesa. Como não levava uma bolsa, Dani supôs que
provavelmente era verdade. Estava a ponto de perguntar a uma terceira mulher que
estava saindo de uma cabine com a bolsa no braço, quando a porta do banheiro se
abriu e uma mulher de cabelo escuro se deteve mantendo a porta entreaberta e
perguntou: -Há alguma Dani aqui?

-Sim- disse ela dirigindo-se surpreendida à porta.

-Há um homem aqui na sala perguntando-se por que está demorando tanto tempo.
Está com receio de ter se desencontrado com você enquanto ele estava no banheiro
dos homens.

-OH- Dani duvidou, seu olhar se dirigiu à mulher a qual pensava pedir o telefone
para utilizá-lo, e logo retornou à mulher na porta. A mulher de cabelo escuro elevou
as sobrancelhas, sustentando ainda a porta aberta, obviamente estava esperando que
ela se apressasse a sair por ali imediatamente. Fazendo uma careta, Dani decidiu que
obviamente agora não era o momento e se dirigiu para a porta. Quando passou junto
à mulher, olhou-a para lhe dizer: -Obrigada - e logo se deteve surpreendida.

-O que foi? - perguntou-lhe a mulher.

-Há sangue em seu pescoço- informou-lhe Dani. -Bem aqui.

Quando Dani assinalou a um lado de seu pescoço, a mulher soltou uma risada irônica
e soltou a porta para fechá-la. -Malditas moscas negras! Este fim de semana
estiveram como loucas na cabana.

Dani abriu a boca para lhe dizer que isso não se parecia com uma picada de mosca
negra e que de fato eram duas marcas, a um pouco mais de dois centímetros de
distância, mas antes de poder fazê-lo, a mulher lhe disse: - É melhor que vá. Não é
inteligente deixar um homem tão bonito esperando. Pode dizer que prefere uma
mulher que não deixe plantado esperando.

-Não somos um casal- replicou-lhe Dani.

A mulher de cabelo escuro elevou as sobrancelhas duvidosa. -Bom, ele parece estar
certo de que são.

Dani se ruborizou, simplesmente passou junto a ela e saiu ao corredor para encontrar
Decker a esperando.

-OH, aí está. - Lhe sorriu um pouco tenso e logo a pegou pelo braço para levá-la para
fora. -Estava começando a pensar que nos havíamos desencontrado e que tivesse se
dirigido à caminhonete, mas não queria te deixar no caso de que não o tivesse feito.
-Havia fila - disse ela.

-OH. Decker, sacudiu a cabeça. -Devem pôr a metade da quantidade de lugares no


toilette de damas do que põem para os homens. Nunca temos filas, mas sempre estou
escutando as queixa das mulheres sobre isso.

-Muitas mulheres suspeitam de algo assim- assegurou-lhe Dani à medida que


passavam entres as pessoas em frente aos caixas.

De fato Decker riu entre dentes, ela o estudou em forma de curiosa, e não pôde
deixar de notar que grande parte de sua anterior palidez havia desparecido. Suas
bochechas estavam quase de cor rosa. Ao que parece, sair da caminhonete e molhar o
rosto com água o tinha ajudado. Ou tinha febre, pensou ela, enquanto ele a guiava
fora do restaurante. Quando a levou até o final da calçada e olhou a seu redor para
ver onde estava a caminhonete, Dani aproveitou para apoiar rapidamente o dorso de
sua mão em sua bochecha.

Decker deu um salto e tomou a mão enquanto a olhava surpreso, e rapidamente ela
lhe explicou -Eu estava verificando se tinha febre.

Ele relaxou, mas elevou as sobrancelhas. -E tenho?

-Não. Sente-se bem- admitiu ela.

-Parece decepcionada- disse Decker divertido.

-Não, é obvio que não- disse Dani e logo admitiu: -Estou um pouco surpresa. Não
parecia tão saudável antes, e estava certa de que estava tendo uma infecção, mas
agora parece bem e não há sinal de que tenha dor.
Decker se encolheu de ombros. -Não tenho dor. Saro rapidamente e tenho uma
constituição formidável.

Antes que Dani pudesse lhe responder, a caminhonete se deslizou até parar na frente
deles e Justin apareceu na janela. -Até que enfim! Pensei que tivessem criado raízes
dentro do banheiro. Temos que voltar para a estrada.

Dani não resistiu quando Decker a tomou pela mão e a levou ao redor da
caminhonete. Abriu a porta do passageiro, mas em lugar de entrar, ofereceu o lugar a
ela enquanto passava por diante dela para a porta traseira. -Vou ir atrás. Sente-se na
frente desta vez.

Ela se alegrou de não estar na parte de atrás com os corpos, murmurou um obrigada e
lhe permitiu que a ajudasse a entrar na caminhonete. Decker fechou a porta enquanto
Dani colocava o cinto de segurança e logo abriu a porta traseira e subiu; Justin
arrancou logo que tinha fechado a porta e se dirigiu ao acesso da auto-estrada.

-Que diabos é isto?

Dani olhou a seu redor pela pergunta irritada de Decker e o encontrou olhando para
baixo a duas bolsas grandes, duas pequenas, e uma caixa com três copos grandes que
estavam no chão entre os dois assentos dianteiros.

-O que é o que parece? É comida- disse Justin em um tom seco.

-Sim, isso é o que pensei. Simplesmente não posso acreditar que foi ao auto-serviço -
murmurou Decker.
-Eu não fui. Consegui a comida graças a uma jovem que me trouxe isso enquanto
enchia o tanque no posto de gasolina ao lado.

-Como conseguiu? - perguntou-lhe Dani surpreendida.

-Utilizei meu encanto…-murmurou ele, e acrescentou secamente-: Embora não


tivesse me incomodado em fazê-lo se soubesse que vocês dois fossem demorar tanto
tempo. Poderia ter ido às compras duas vezes durante o tempo que demoraram no
banheiro.

Dani olhou para Decker e o encontrou pondo os olhos em branco pela reclamação e
logo Justin disse: -Alguém pode desembrulhar um hambúrguer para mim e me
entregar isso.

-Tem comida suficiente para um exército aqui, Justin- disse Decker com desgosto
enquanto ele tirava um hambúrguer com queijo e começava a abrí-lo.

Dani não fez nenhum comentário, mas realmente era uma quantidade incrível de
comida para um homem, e se perguntava como ele fazia para manter-se em tão boa
forma se comia regularmente dessa maneira.

-Não é toda para mim- tranqüilizou-a Justin. -Pensei que assim que vissem minha
comida teriam fome, assim comprei um hambúrguer, batatas fritas e uma bebida para
cada um. Os hambúrgueres restantes são para mim, depois de tudo são mais fáceis de
comer enquanto dirijo que qualquer outra coisa. Fez uma pausa e olhou os
mantimentos antes de dizer: -Onde está esse hambúrguer?

-Aqui. -Decker levantou o hambúrguer meio embalado.


Tirando uma mão do volante, Justin tomou murmurando um obrigado e logo o
comeu em dois bocados. Dani observava o processo com assombro. Nunca tinha
visto nada igual. Era um compactador humano de lixo.

Seu olhar se dirigiu a Decker ao vê-lo movendo a cabeça no espelho retrovisor.


Obviamente, era algo que ele tinha visto antes.

-Posso ter outro, por favor? -perguntou Justin. -E talvez uma dessas bebidas?

Dani se inclinou para agarrar a bebida, enquanto Decker desembrulhava um


hambúrguer para o Justin. Não lhe entregou a bebida, mas sim a pôs no
compartimento para copos a seu lado.

-Obrigado- disse ele e levantou o copo, logo se deteve e olhou com preocupação ao
porta-copos que estava ao lado dela. -Tem que tirar as coisas fora do porta-copos
antes de usá-lo.

Dani não lhe perguntou que coisas. Ela sabia que ele se referia ao microfone e ao
dispositivo de rastreamento, mas tampouco teve que tirá-los. Decker o fez por ela,
estirando-se até recolhê-los com uma mão, enquanto que com a outra sustentava um
novo hambúrguer com queijo sem embalagem para Justin.

-Cuidado com a comida- exclamou Justin, quase soava com pânico ante a
possibilidade de que Decker pudesse esmagar com seus joelhos uma das bolsas.

-Estou vendo- disse Decker com exasperação ao colocar os dois aparelhos no bolso e
acomodar-se de joelhos. Olhou para baixo às bolsas de comida e lhe perguntou:
-Uma dessas é para mim?
-Sim- disse Justin com a boca cheia. -Prove, você gostará.

Dani olhou com curiosidade de um homem a outro. Ele o disse como se Decker
nunca tivesse comido um hambúrguer antes, o que lhe pareceu ridículo. Era difícil
imaginar a alguém que ao menos não tivesse provado um hambúrguer. Bom,
possivelmente se ele tivesse crescido como vegetariano, ela acreditaria, mas se era
um vegetariano não estaria desembrulhando o hambúrguer que acabava de tirar da
bolsa e lhe dando uma boa mordida.

Ela olhou sua cara, tomando nota das expressões que se formavam em seu rosto e
podia jurar que em realidade ele não tinha comido um antes. -É vegetariano ou algo
assim?

Decker olhou-a surpreso. -Não. Por que pergunta?

-Bom, parece como se você nunca tivesse provado um hambúrguer antes.

-Ele não comeu- informou-lhe Justin. - Decker geralmente segue uma dieta líquida.

-Justin Bricker- ofegou Decker, soando tão surpreso como horrorizado pela
revelação.

Fazendo caso omisso dele, Dani perguntou: -Quer dizer bebidas de proteínas?

-Algo assim- disse Justin evasivo. -Um líquido especial com uma grande quantidade
de proteínas e…

-Bricker- grunhiu agora Decker.


-Bom, você o faz- disse o homem soando arrependido, e disse a Dani - ele afirma que
é muito ruidoso e chato comer comida de verdade e em regra segue uma dieta
exclusivamente líquida.

-Maldito seja, Bricker!- Decker agora soava quase zangado, com ira , mas o som de
um toque do telefone celular lhe fez esquecer as brincadeiras do outro homem e
começou a procurar seu telefone em seus bolsos. Sua saudação quando o encontrou
não foi muito gentil.

Dani o olhava com curiosidade, enquanto ele escutava, e logo grunhiu o que poderia
ter sido um adeus e desligou o telefone. -Seguiremos por aqui até o Vaughan. Eles
vão se reunir conosco no estacionamento do Outdoor World.

Justin assentiu com a cabeça e engoliu o hambúrguer com queijo que tinha na boca,
ela suspeitava que o fez sem sequer incomodar-se em mastigá-la. -Eu sei onde é.

-Nos vamos parar? -perguntou Dani alarmada. Significava que Stephanie e o homem
que estava com ela poderiam avançar mais e se afastar ainda mais deles.

-É uma parada rápida para trocar esta caminhonete por um novo veículo - assegurou-
lhe Decker.

Dani franziu o cenho, mas logo olhou à parte traseira da caminhonete e murmurou:
-Suponho que é melhor que dirigir na companhia de cinco caras mortos.

-Quatro- corrigiu-lhe Justin.

-Cinco- repetiu Dani-. Havia seis no claro, e um fugiu com Stephanie.


Os homens intercambiaram um olhar e a seguir Decker admitiu: -Faltava um quando
retornamos. Nós só conseguimos acabar com quatro deles.

-OH -. Dani franziu o cenho. Tinha pensado que eram cinco quando tinha olhado,
mas a luz era ruim e os corpos estavam empilhados um em cima do outro. Pode ser
que fossem só quatro.

-E não se preocupe, isto não nos atrasará muito- assegurou-lhe Justin. - Poderemos ir
mais rápido com o outro veículo. Esta velha caminhonete não passa dos cento e trinta
quilômetros por hora, mas nossos veículos são mais velozes. Realmente se movem.

Quando Dani permaneceu em silêncio, Justin perguntou a Decker -Com quem nos
reuniremos no Outdoor World?

-Eshe- foi a resposta. -Ela vai trazer um novo veículo com fornecimentos. Lucian e
Leigh estão a caminho. Parece que estão um pouco mais atrás de nós, embora não sei
como conseguiram.

Justin assentiu de novo. -Realmente deveriam ter chegado antes, mas ele teve que
fazer todas essas chamadas telefônicas e provavelmente isso os atrasou.

-Quem são estas pessoas?- perguntou Dani com curiosidade, retorcendo-se em seu
assento para olhar a Decker. -Lucian é seu chefe, certo? Mas quem são Eshe e Leigh?

-Eshe é outra... er ... agente como nós- respondeu Decker, evitando seus olhos.

-Ela é uma das melhores- disse Justin com um sorriso.

-Ah, sim?. Eshe é uma mulher, então? -perguntou Dani, olhando-os com curiosidade.
Havia um montão de pacientes com nomes interessantes e exóticos, mas Eshe era um
que nunca tinha ouvido antes.

Justin assentiu com a cabeça e disse com admiração: -Uma mulher. Um metro oitenta
de estatura, magra e se move como uma pantera. Eu não queria ter que lutar contra
ela. É suficiente para assustar a um homem feito, mesmo que este fosse um renegado.

-Renegado? - Dani o olhou assombrada.

-Não dê atenção ao Justin- disse Decker sombrio. -perdeu-se entre seus livros de
historias fantásticas. Me diga se ele começar a babar e lhe passarei os guardanapos.

Dani conseguiu esboçar um sorriso pelas palavras de Decker.

-Então tá- disse Justin com secura e a seguir lhe informou, -Eshe é formidável, e
Leigh é agradável.

-É uma agente também? -perguntou Dani, lembrando-se de evitar dizer a palavra


executor.

-Não, é a companheira de vida de Lucian, embora tenha ouvido que quer nos ajudar
nos casos- disse-lhe Justin. -Acredito que conhece algo dessas coisas de artes
marciais e também pode chutar um traseiro.

-Companheira de vida? - inquiriu Dani. Era um termo que nunca tinha ouvido antes.

-Eles ainda não estão casados - disse Decker.

-OH.
-Leigh é agradável. Vai gostar dela- disse Justin de repente. -Mas Lucian é um tipo
duro.

Dani se encolheu de ombros. -Não importa. Este não é um acontecimento social.


Apenas nos reuniremos o tempo suficiente para trocar os veículos.

-É verdade, mas me pareceu melhor lhe advertir isso - disse Justin. -Ele pode parecer
um pouco duro às vezes.

Dani não fez nenhum comentário, seus pensamentos estavam no que tinha aprendido.
Eshe também era uma agente ou uma executora do Conselho como Nicholas os tinha
chamado. Seu chefe, Lucian, era um tipo duro e Leigh era sua companheira de vida.
Sacudiu a cabeça, suspeitando que havia muito dessa gente que não sabia e deveria
saber. Entretanto, Dani estava menos preocupada com eles, que por sua irmã. Ela não
entendia por que tinham que trocar de veículo. Realmente importava se continuavam
na caminhonete em vez de seguir no outro veículo? Embora fosse agradável não
estar dando voltas com os cadáveres na parte traseira do veículo, o atraso o
retardaria, e o homem que tinha Stephanie já tinha uma hora de vantagem.

De todos os modos, ela não entendia por que os corpos estavam ali. Por que não os
deixaram na clareira para que a polícia os encontrasse, como tinham feito com as
vítimas no precipício? Essa era uma pergunta que deveria ter pensado desde o
começo, mas por alguma razão não o fez, embora houvesse muito que não lhe tinha
ocorrido e que deveria havê-lo feito. Era quase como se criasse um véu em seu
cérebro, seus pensamentos eram difusos e lentos. Talvez tivesse sido drogada, pensou
de repente. Talvez por isso tinha dormido e não recordava havê-lo feito.
Possivelmente Justin ou Decker, ou ambos, tivessem-na drogado.
Essa possibilidade se fez perguntar uma vez mais se não deveria estar tentando
escapar destes homens, mas seguia existindo o fato de que por agora eles eram o
único vínculo com sua irmã. Eles poderiam rastrear o veículo no qual ia Stephanie,
algo que não acreditava que a polícia pudesse fazer sem mais informações do que as
que ela tinha para lhes dar.

Dani estava inquieta por estes pensamentos enquanto corriam ao longo da estrada.
Justin estava dirigindo mais rápido do que era legalmente permitido, por não falar
que também mais rápido do que era seguro, mas não fez comentários. Quanto mais
rápido fossem, mais rápido chegariam a Stephanie, de modo que só comprovou que o
cinto de segurança estivesse bem colocado e rezou para não sair voando do veículo.

Apenas havia pensado nisso quando Justin anunciou: -Encontramos um policial.

Dani olhou pelo espelho retrovisor para ver um carro de polícia aproximando-se
velozmente com as luzes intermitentes.

-Já o tenho- assegurou-lhe Decker, e apenas um segundo mais tarde, as luzes


intermitentes se apagaram e a patrulha de polícia freou e começou a ficar para atrás.
Ficou olhando confunsa o veículo até que desapareceu no espelho, não estava segura
do que acabava de acontecer. Era algo mais para se preocupar enquanto circulavam a
toda velocidade pela estrada. Estava tão absorta em seus pensamentos que o tempo
pareceu voar e se surpreendeu quando viu o pôster que dizia Vaughan Mills.

-Aqui estamos- anunciou Justin quando ele tomou um caminho de acesso uns
minutos mais tarde. - Agora conhecerá Eshe e Lucian.

Capítulo 5
O Outdoor World tinha fechado fazia bastante tempo e o estacionamento estava
praticamente vazio quando eles entraram. Decker fixou seus olhos no solitário
veículo prateado, notando que havia três pessoas no interior. Podia perceber a forma
distintita de Eshe no assento do motorista, mas também haviam umas formas maiores
e volumosas de dois homens, um no assento do passageiro e um no assento traseiro.
Isto fez com que Decker franzisse os lábios. Lucian não tinha mencionado que a
mulher teria companhia.

-Eshe não está sozinha- comentou Justin enquanto girava o volante para estacionar a
duas vagas de distância do lado do motorista do outro veículo.

-Quais são os homens que estão com ela?- perguntou Dani com curiosidade.

Decker olhou em sua direção para ver que ela estava entrecerrando os olhos olhando
por sua janela para o veículo.

-Não sei- admitiu Justin. -Nunca os vi antes.

Quando Dani e ele se voltaram para olhar atrás para Decker para saber de quem se
tratava, ele simplesmente negou com a cabeça. Nunca tinha visto eles antes.

-Provavelmente, são só executores- decidiu Justin em voz alta, e Decker se voltou


bruscamente para ele pelo deslize, mas nem ele nem Dani pareciam havê-lo
compreendido. Sacudindo a cabeça, relaxou-se, se aproximou da porta lateral da
caminhonete e a abriu. Saiu dali agradecido por não ficar mais tempo de joelhos, e
logo se voltou para abrir a porta de Dani, dando-se conta de que Eshe e os homens
também estavam saindo do outro veículo.
-Obrigada- murmurou Dani, descendo no chão frente a ele.

Decker assentiu com a cabeça e fechou a porta, logo a pegou pelo braço para guiá-la
para o trio que se aproximava.

-Caramba!- Dani disse com um suspiro enquanto eles se aproximavam, e ele sorriu
ironicamente para si, pela impressão que ela devia estar tendo. Eshe, por si mesma,
era bastante surpreendente. Media 1,83 como Justin havia dito, e levava um apertado
traje de couro negro que demonstrava exatamente o que ele tinha querido dizer com
magra , mas não era ali onde estava a atenção de Decker. Eshe freqüentemente luzia
penteados interessantes e pouco comuns, sempre curtos e freqüentemente ajustados a
seu estado de ânimo do momento. A julgar pelo penteado de esta noite, tinha tido
uma semana difícil. Os cachos negros, que emo geral caíam perto da cabeça, estavam
levantados em ondas curtas e retorcidas pintadas de loiro e vermelho
intermitentemente, de modo que quase pareciam de fogo. Seus grandes olhos
inteligentes resplandeciam em ouro e negro, e o sorriso de bem-vindo que oferecia
era duro, mostrando seus dentes brancos que contrastavam com sua preciosa pele de
mogno. A mulher era bela e, advertiu Decker, intimidava como o inferno a maioria
das pessoas que a conheciam, tanto mortais como imortais. Parecia que no caso do
Dani não era diferente.

Era isso, ou eram os homens que faziam que ela tivesse os olhos tão abertos, pensou
ele e seu olhar passou agora às imagens em espelho a cada lado de Eshe. Mais
pálidos de pele e, obviamente, gêmeos, os homens também estavam vestidos de
couro, mas apesar de que Eshe fosse tão alta, eles a ultrapassavam uns bons 10 ou 15
centímetros. Ambos tinham o cabelo comprido e escuro; um deles o tinha preso em
um rabo-de-cavalo, enquanto que o outro o levava solto ao redor de seu rosto.
Entretanto, o que era surpreendente era sua constituição, os homens eram uma dupla
potente, largos com grande volume e com muito músculo.

Individualmente, cada uma das três pessoas que se aproximavam chamaria a atenção,
assim era impossível que não a chamassem juntos, pensou Decker, e logo notou que
cada homem levava uma maleta negra com correias. Olhou-os com curiosidade,
suspeitando que levavam notebooks, embora não estava seguro de com que
propósito.

-Encontraram algum tipo de problema no caminho?- saudou-os Eshe quando se


encontraram.

Decker deixou que Justin respondesse a pergunta, arrependendo-se logo quando o


imortal mais jovem pareceu esquecer a presença de Dani e disse: -Não. Tivemos um
carro de polícia atrás de nós durante um momento, mas Decker fez essa coisa do
controle mental e o mandou seguir seu caminho.

Eshe assentiu com a cabeça e logo fez um gesto um pouco irritado às duas
montanhas a seu lado. –Estes são Dante e Tommaso. Estavam no escritório quando
Bastien me chamou e insistiram em me acompanhar.

O de rabo-de-cavalo que Eshe tinha apresentado como Tomasso se encolheu de


ombros. -Estávamos aborrecidos.

O outro, Dante, assentiu com a cabeça. -Sim. Christian está sempre com Marguerite e
Julius, e não tivemos mais escolha do que ficar vigiando no escritório com Bastien.

As sobrancelhas de Decker se elevaram ante a menção de sua tia Marguerite, seu


marido, Julius, e seu filho Christian. De repente, sua mente fez clique a respeito de
quem eram estes homens.
-Vocês são os Notte- disse Justin reconhecendo-os enquanto ele o estava pensando.
-São os primos da Itália de Christian. Os gêmeos.

Os dois homens assentiram, e te Dante disse, -E você é Justin Bricker e…-seu olhar
se deslocou até Decker -…o filho de Martine, Decker. Não estavam na reunião
familiar.

-Eu estava em um trabalho quando Marguerite os reuniu a todos- disse Decker em


voz baixa.

-Ela nos disse isso- assegurou-lhe Tomasso, lhe oferecendo sua mão. Decker a
aceitou, e enquanto as apertavam saudando-se, Tomasso admitiu: -Essa é em parte a
razão pela que saímos com Eshe. Para te conhecer.

-Sim- disse lhe Dante quando lhe apertou a mão e, continuando, lançou um olhar
faiscante a Eshe, e acrescentou -Além disso, não podíamos permitir que a pequena
dama conduzisse ela mesma todo o caminho até aqui no meio da noite.

Ele recebeu uma cotovelada no estômago de Eshe por seu esforço. Não foi
brincalhão, mas um golpe que o fez se dobrar surpreso pela dor. Ela olhou ao
Tomasso quando começou a rir, e espetou: -Se vocês dois, meninos, não deixarem de
falar assim, vou lhes mostrar o que esta pequena dama pode fazer.

Isto não pareceu frear sua diversão. Decker tinha trabalhado com o Eshe várias vezes
e conhecia bem à mulher. Poderia advertir aos homens de que estavam brincando
com fogo, mas logo decidiu deixar que aprendessem da maneira difícil. Não seria
uma lição que esqueceriam tão cedo e seria um espetáculo infernal.
-O que há nas malas?- perguntou Justin a Dante e Tomasso com curiosidade.

-Computadores portáteis configurados para seguir o rastro do veículo roubado-


explicou Eshe. -Um é para o Lucian e outro é para Mortimer. Estamos esperando-os
aqui para lhes entregar isso. Há um terceiro para vocês na caminhonete, meninos.

-Genial- comentou Justin.

-É melhor que andar caçando às cegas- disse Eshe encolhendo-se de ombros.


-Embora, se vocês dois não tivessem deixado que lhes roubassem o carro…

-Seus olhos- disse Dani de repente, distraindo Decker da irritação que Eshe tinha
conseguido lhe gerar ao iniciar seu comentário. Voltou-se e olhou para baixo
enquanto ela se girava para ele com o cenho franzido pela confusão. -Seus olhos
brilham como os de um gato na escuridão. Eles... -Ela fez uma pausa, abriu os olhos
e logo disse assombrada: -Assim como os seus. Todos parecem de cor plata-azulada.

Decker captou o modo em que Eshe levantou as sobrancelhas, mas murmurou: -Deve
ser um truque causado pela luz. -Então esta é a mulher que se supõe que devemos
levar de volta?- perguntou Eshe. -Por que um de vocês não a está controlando?

-Eu gostaria, mas Decker não me deixa- anunciou Justin, e logo acrescentou de
maneira significativa, -E ele não pode.

-Ninguém me controla- disse Dani com tom sombrio. -E não vou a nenhuma parte.

Captando o modo em que os olhos de Eshe brilharam de uma cor dourada profunda
com reflexos negros, Decker apanhou o braço de Dani e a obrigou a se afastar do
grupo, levando-a a uma boa distância da caminhonete antes que começasse a
protestar. Quando decidiu que estavam o suficientemente longe se voltou para olhá-
la.

-Seria melhor se me esperar aqui e deixar que me ocupe disto- sugeriu ele em voz
baixa antes de que pudessem sair as palavras que tremiam na língua dela.

Dani vacilou, seus olhos se deslizaram de novo ao grupo junto os veículos. Decker
olhou para trás para ver que todo mundo os olhava com curiosidade enquanto Justin
lhes dizia algo. Suspeitando que não queria saber o que era, Decker, suspirou e se
voltou para Dani, reclamando sua atenção quando lhe disse: -Vou falar com eles. Não
vou te deixar para trás.

Os olhos do Dani se estreitaram rebeldes, e ele não esteve muito surpreso quando lhe
disse, -Será melhor que não. Sei que esteve me mentindo e não só sobre o CSIS, e a
única razão pela que não estou agora mesmo em uma delegacia de polícia
denunciando um assassinato sangrento é porque você pode rastrear a caminhonete. É
meu único vínculo com minha irmã atualmente, Decker, mas se vai sem mim, vou
diretamente à polícia e lhes direi tudo o que sei.

-Entendo- respondeu ele com um gesto solene, sem se incomodar em lhe dizer que
ela não teria a oportunidade de chamar ninguém. Eshe tomaria o controle de sua
mente e se encarregaria do assunto se não a convencia de que deixasse Dani com ele.
Entretanto, tinha a esperança de que isso não acontecesse. Ele realmente não tinha
nenhuma intenção de deixá-la atrás ou deixar que ninguém mais passeasse através de
seus pensamentos e controlasse seus atos, por isso acrescentou: -Mas por favor, fique
aqui e deixe que me ocupe deles. De acordo?

Dani se cruzou de braços com aborrecimento, mas assentiu com a cabeça.


Justo quando ele deu a volta, ela disse, -Só ande logo. Quanto mais tempo perdemos
aqui, mais a distância que nos separa de Stephanie será maior.

Decker unicamente assentiu com a cabeça enquanto percorria o caminho pelo


estacionamento para reunir-se com o grupo.

-Encontrou sua companheira de vida- disse lhe Dante em voz baixa quando se uniu a
eles. -Felicidades.

-Obrigado- murmurou Decker, e logo olhou para Eshe.

-Minhas ordens são para levá-la- disse a mulher com voz forte.

Decker, sacudiu a cabeça. -Ela fica comigo.

-Então será melhor que chame Lucian, porque faço o que me mandam e me
mandaram levá-la para ele.

Decker soprou. Estava a ponto de lhe lembar que ela fazia o que queria quando lhe
dava a vontade, quando Dante disse -Não há necessidade de chamá-lo. Lucian está
aqui.

Girando-se, Decker olhou na direção em que Dante estava olhando e viu estacionar
um segundo veículo ao outro lado da caminhonete.

Decker, franziu o cenho. Teria lutado com o Eshe se fosse necessário para manter
Dani com ele, mas simplesmente não se discutia com Lucian. Ou, ao menos, se fazia
todo o possível para evitá-lo. Decker temia que neste caso ia ter que discutir o
assunto. Ninguém, nem sequer Lucian, ia interpor se entre ele e Dani.
-Lucian encontrou a sua companheira de vida- comentou Eshe quando o viram sair e
caminhar ao redor do veículo. Quando Lucian abriu a porta do passageiro para
Leigh, acrescentou -Pode ser que te entenda e te permita manter Dani contigo.

Decker, franziu o cenho ante o comentário. Tinha ouvido alguns dizerem que o
homem se suavizou desde que encontrou Leigh. Mas ele não tinha visto nada que
sugerisse que isso fosse verdade. Seu tio ainda era um osso duro de roer pelo que ele
podia dizer.

-Por que todo mundo está parado aqui?- grunhiu Lucian quando chegou até eles.
Seus olhos se deslizaram sobre o grupo antes de pousarem agudos sobre Decker.
-Onde estão os renegados?

-Na caminhonete- disse ele ao mesmo tempo, seguindo-o quando seu tio se voltou
bruscamente e esquivou de Leigh enquanto se dirigia à parte traseira do veículo.
Uma vez ali, Lucian agarrou a porta e logo se deteve e se voltou para olhar para
Decker. -Não está trancada.

-O que?- Decker se dirigiu a seu lado e viu que era verdade, a porta não estava
trancada.

-Descuidado- disse Lucian bruscamente. -Tem sorte de que não se abrisse e que os
corpos se esparramassem na estrada. Não teria sido divertido explicá-lo?

Decker se mordeu a língua. Descuidou-se, reconheceu, enquanto via Lucian puxar a


porta, mas embora não estivesse completamente trancada, estava o suficientemente
fechada para que não se abrisse até que se apertasse o botão para liberar a tranca. Ele
abriu a porta totalmente e depois também abriu a segunda porta, e todos os rodearam,
enquanto ele agarrava um extremo da lona e a jogava para trás. Todos permaneceram
em silêncio enquanto ele olhava os cadáveres. - Há quanto tempo estão estacados?

-Desde que deixamos a clareira- disse Decker. -Não queria que se recuperassem e
causassem problemas.

Lucian assentiu com a cabeça e murmurou: -As estacas terão que ser eliminadas logo
para que possam sobreviver para seu julgamento.

Decker simplesmente assentiu, sabendo que o Conselho insistiria em ler seus


pensamentos para conhecer os numerosos problemas que tinham causado antes de
ditar a sentença. As forças da ordem em geral tinham uma boa quantidade de
informação sobre os renegados e o que tinham feito até antes de irem atrás deles. Se
tinham suficiente informação, às vezes podia executar-se aos renegados no lugar e
começar a limpeza imediatamente, como tinham feito no caso mais recente em
Kansas, mas não sabiam nada destes homens e do dano que poderiam ter ocasionado.
Teriam que descobrir isso antes que pudessem fazer outra coisa.

-Quem são eles?- perguntou Leigh, agarrando a mão de Lucian enquanto olhava os
corpos.

-Eles têm uma semelhança surpreendente com Leonius- murmurou ele, com uma
expressão de preocupação em seu rosto.

-Leonius?- perguntou-lhe Decker, ao não reconhecer o nome.

-Leonius Livio- esclareceu Lucian. -Foi um dos poucos atlantes originais que
escaparam quando Atlântida caiu.
-Edentata- suspirou Eshe, ao parecer reconhecendo o nome.

-O que é um edentata?- perguntou Leigh perplexa.

Lucian passou e logo disse: -Edentata é a palavra em latim para “sem dentes” ou
desdentado. Os edentata são imortais que não têm presas que lhes ajudem a
conseguir o que necessitam para sobreviver. Os que estão sãos são chamados
desdentados. Entretanto, os que têm caído na loucura e se converteram em renegados
são geralmente denominados Sem Presas para diferenciá-los. Leonius Livio era um
Sem Presas - Lucian fez uma pausa antes de acrescentar: -Mas ele foi abatido em
uma batalha faz alguns milênios.

-Talvez tenha tido filhos antes de morrer- sugeriu Decker.

-Ele teve, mas todos caíram na mesma batalha que ele. Asseguramo-nos disso-
murmurou Lucian, e logo se inclinou para examinar a um dos homens mais de perto.
Ele o olhou no rosto, logo lhe abriu a boca para olhar dentro e empurrou o céu da
boca atrás dos dentes caninos. Depois de um momento se endireitou e sacudiu a
cabeça. -Sem presas.

-Como pode dizê-lo?- Justin perguntou com curiosidade, evidenciando que nunca
tinha tratado com um desdentado antes.

Decker não estava surpreso. Tinham sido exterminados com o tempo e eram bastante
raros nestes dias. Decker, só tinha encontrado com um em seus duzentos e cinqüenta
e nove anos. Lhe explicou -Se pressionar no céu da boca, atrás dos caninos, estes
deslizarão queira ou não, mas nos desdentados não há presas para deslizar.

Justin colocou a mão em sua própria boca. Deve ter empurrado seu céu da boca por
trás de sua presa direita, porque essa foi a que deslizou para frente e para baixo.

-Genial- disse ele , tirando o dedo e permitindo que o dente se deslizasse para trás e
voltasse para seu lugar. -Não sabia que podíamos fazer isso.

-Por que não desenvolveram presas?- perguntou Leigh. -E como sobrevivem?

-Explicarei-lhe isso mais tarde - assegurou-lhe Lucian, e logo se voltou para o


Decker. -Onde está a garota?

Decker se voltou e assinalou a Dani que estava sob uma luz e olhava em sua direção.
Sabia que ela estava impaciente por partir.

-O que está fazendo ali?- perguntou Lucian consternado. -E por que alguém não está
controlando-a?

-Ela é a companheira de vida de Decker- disse Justin rapidamente, sem dúvida


tentando fazer frente ao caráter de Lucian, mas a única coisa que provocou foi fazer
que Lucian desse a volta para o Decker e começasse a se mover através de seus
pensamentos. Decker podia sentir o que estava acontecendo, mas não tratou de
bloqueá-lo, inclusive pudesse fazê-lo.

-CSIS?- perguntou-lhe Lucian com incredulidade, atraindo os olhares curiosos de


todos, menos a de Justin. Decker se retorcia desprotegido enquanto seu tio seguia
revisando seus pensamentos, e logo Lucian sacudiu a cabeça com desgosto. -E não
explicou a ela a respeito de nós? Primeiro Mortimer, e agora você... Sou o único que
aconteceu todo este assunto da companheira de vida e que segue com o cérebro
intacto?
Pelo que Decker tinha ouvido, Lucian também tinha estado um pouco confuso, mas
manteve o que pensava para si mesmo e simplesmente disse: -Eu estava esperando o
momento adequado.

-Exato. Bom, esse momento é agora- anunciou Lucian, e olhou em direção a Dani
enquanto ladrava, -Moça!

Dani estava passeando de cima para abaixo e não se deu volta ante o grito.
Provavelmente não tinha idéia de que era a ela a quem estavam chamando, pensou
Decker.

-Qual é seu nome?- perguntou Lucian com impaciência, e logo sacudiu a cabeça.
-Não importa.

Seus olhos se estreitaram concentrando-se em Dani. Ela se deteve bruscamente, e


logo se voltou e caminhou até parar diante de Lucian.

Decker esperou, consciente de que agora seu tio sem dúvida estava controlando e
lendo Dani. Ele soube exatamente quando seu tio a liberou pela confusão que nublou
imediatamente seu rosto quando ela olhou em torno deles.

-O que…?- disse Dani com incerteza e logo fez uma pausa, a inquietação atravessava
seu rosto.

-Sua mente não está com problema e não está tendo lapsos de tempo- disse Lucian,
lendo por sinal essa preocupação em sua mente. -A razão pela qual não recorda ter
caminhado até aqui é porque tomei o controle de sua mente para te trazer... E eu
posso fazer isso porque sou um ser imortal... ou como sua gente parece insistir em
nos chamar, um vampiro- disse com desdém. -Todo mundo aqui é um... incluindo
Decker, que é o único aqui que não pode ler nem controlar seus pensamentos. Isso te
converte em uma possível companheira de vida para ele, mas você será quem dá a
palavra final.

Agora que tinha deixado Dani com a boca aberta, Lucian estendeu a mão frente a
Eshe. Quando ela pôs as chaves da caminhonete na palma de sua mão, ele se voltou
para entregar-las a Decker, lhe dizendo: -Muito bem!. Agora que já passou a parte
mais difícil do caminho, coloca-a na caminhonete e ponham seus traseiros em
movimento. Pode lhe explicar o resto pelo caminho.

-Esperem um minuto- protestou Dani quando Decker a pegou pelo braço para levá-la
ao veículo. –Eu…

-Não há um 'esperem um minuto'- disse Lucian com frieza. -Ainda temos dois
renegados e uma garota jovem em perigo andando por aí. Sua irmã, acredito. Ou
começa a te mover agora, ou vai com o Eshe.

Decker suspeitou que ameaçá-la com o Eshe não tinha sido necessário, Dani tinha
deixado de tentar que lhe soltasse seu braço no minuto em que sua irmã foi
mencionada. Ele conduziu a uma muito contida Dani até o novo veículo, abriu a
porta lateral e a fez passar, a seguir se voltou e entregou as chaves a Justin. –Você
dirige.

Justin aceitou as chaves sem questionar, e deu a volta para caminhar de novo para o
lado do motorista. Decker estava a ponto de subir à parte de atrás com o Dani,
quando Lucian o chamou. Deteve-se e caminhou de volta ao redor do veículo para
encontrar-se a meio caminho com seu tio que vinha caminhando a seu encontro.

-Há algo mais?- perguntou ele com frieza, molesto por seu trato com Dani.
Lucian assentiu. -Pelo que entendi Justin e você tinham algum plano para apanhar
Nicholas utilizando o microfone oculto e o rastreador da caminhonete.

Decker levantou as sobrancelhas, tinha planejado falar com outros e lhes contar a
respeito de sua idéia quando chegassem aqui, mas o tinha esquecido. -Como sabe?

-Lia a mente dela.

Decker olhou para a caminhonete quando Lucian fez um gesto para ela. -A de Dani?
Mas ela não sabia…

-Ela escutou às escondidas sua conversa com o Justin, e logo conseguiu falar no
microfone e deu seu número a Nicholas para que a contatasse. Ele o fez, e lhe contou
tudo a respeito de seu plano.

-Por que ela faria…?

-Porque não confia em você- interrompeu-o Lucian. -Ela sabe que Nicholas estava
seguindo a estes homens e é a razão pela que ela e sua irmã se salvaram. Também
sabe que, inclusive agora, ele está perseguindo a sua irmã, tratando de salvá-la. Tudo
o que sabe a seu respeito, entretanto, confunde-se pelas mentiras. Fez uma bagunça
ao tentar manter o que somos em segredo, ela não confia em você tanto como confia
em Nicholas, com quem nunca falou. Deixou que ele assimilasse a informação e logo
adicionou -Precisa lhe explicar as coisas e ganhar sua confiança, se quiser que ela
seja sua companheira de vida.

Decker assentiu muito sério.


-Agora vamos. Temos trabalho que fazer.

Decker se voltou e correu de novo para a caminhonete. Justin tinha o notebook em


funcionamento e estava falando por seu telefone celular quando Decker subiu na
parte traseira do veículo e fechou a porta.

-Obrigado, Bastien. Acredito que agora o vejo. -Justin terminou a chamada e


deslizou seu telefone no bolso. Logo sorriu e disse a Decker. -Olhe isto. Falando de
coisas geniais. Suponho que Bastien contratou alguns peritos em informática depois
do embrulho pelo que tiveram que passar para conseguir rastrear o telefone de
Marguerite na Europa. Eles programaram isto. Olhe. Assinalou a tela. -Esse ponto
azul somos nós, o verde do lado é o veículo do Lucian, e o negro é o veículo
roubado. Justin franziu o cenho. -Está na estrada 427 perto do Etobicoke, em lugar
de dirigir-se para o centro de Toronto como esperávamos.

Decker assentiu em silêncio, perguntando-se aonde se dirigia o tipo que tinha


seqüestrado Stephanie. Todos tinham estado seguros de que ia tentar se esconder na
cidade. Lucian tinha a vários imortais, incluídos os executores e os voluntários, que
estavam esperando em diferentes lugares de Toronto para juntarem-se sobre o
veículo quando o vissem.

-Etobicoke?- perguntou Dani, inclinando-se para frente para olhar à tela. -Isso não
está nem a uma hora daqui, não é verdade?

-Esta só a meia hora daqui. Corri um pouco- disse Justin alegremente.

Decker tomou nota da expressão irônica na cara do Dani e supôs que não estava
muito surpreendida. Justin tinha estado conduzindo como um morcego saído do
inferno desde que haviam partido de Parry Sound.
-Quais são os outros pontos coloridos?- perguntou ela agora.

-Outros executores- respondeu Justin. -Esse amarelo é meu companheiro habitual,


Mortimer, e sua companheira de vida, Sam.- Suas sobrancelhas se juntaram quando
se deu conta da posição do ponto. -Ainda estão a uma hora ou mais atrás de nós.
Espero que seu veículo não lhes tenha dado problemas.

-Minha caminhonete não lhes está dando problemas- assegurou-lhe Decker e,


continuando, capturou o olhar curioso de Dani e lhe explicou: -O veículo que foi
roubado era um dos veículos da companhia, um que Mortimer e Justin conduziram
de Toronto. Mortimer e Sam estão em minha caminhonete particular, que tem um
GPS instalado da companhia.

-Também tem um cabine detrás com uma cama- disse Justin, movendo as
sobrancelhas. -E eles são companheiros de vida recentes, uma espécie de recém
casados. Eles necessitarão da cama.

Decker rodou os olhos e disse a Dani, -Sim, tem uma cama, e por isso lhes sugeri que
tomassem, mas não pela razão a que está se referindo Justin. Sam é mortal, o que
significa que podem ser uma equipe dupla. Sam pode acompanhar o sinal de
Nicholas durante o dia enquanto Mortimer dorme e ele pode fazê-lo de noite
enquanto ela dorme.

-Ele estraga tudo, não é mesmo?- queixou-se Justin, girando-se no assento do


motorista para ligar o carro.

Decker se acomodou no assento traseiro junto a Dani e se colocou o cinto de


segurança e logo se voltou para olhá-la enquanto ela fazia o mesmo, perguntando-se
no que estaria pensando. Ainda não havia dito uma palavra sobre as revelações de
Lucian.

Quando terminou com seu cinto de segurança, Dani se voltou para ele e lhe
perguntou: -Lucian é seu tio, não é?

-Sim.

Ela assentiu, sua expressão era pensativa, e logo perguntou: -Então a loucura é coisa
de família?

Justin rompeu a rir do assento dianteiro e Decker se voltou com uma careta para o
homem mais jovem. Respirou profundamente em busca de paciência antes de voltar
sua atenção a Dani. Era evidente que ela não tinha acreditado nenhuma palavra do
que seu tio lhe havia dito, e considerou brevemente o que era o que podia lhe dizer
para convencê-la. E então teve uma idéia.

-O que está fazendo? Pare- disse Dani quando Decker começou a desfazer-se de sua
camisa.

-Só estou te mostrando minha ferida de bala- disse ele com doçura.

-OH- Dani se relaxou um pouco, mas não completamente. Ela não podia dizer com
certeza porque achava que a idéia de ver seu peito nu era mais preocupante nesta
ocasião que quando lhe tinha tirado a bala. Possivelmente era porque, apesar de tudo,
descobriu que ele estava começando a gostar dele, mas em qualquer caso, estava
tendo dificuldades para ficar em seu papel profissional neste momento. Em lugar
disso, ficou olhando-o desfazer-se de um botão atrás de outro, comendo com os
olhos polegada atrás polegada da carne pálida que se revelava até que teve que
forçar-se a afastar seu olhar.

-Pronto- disse Decker um momento depois.

Dani se voltou a contra gosto para ver que ele tinha aberto a camisa e destampado o
ombro ferido. Seus olhos se deslizaram sobre toda essa carne de cor mármore claro e
logo se congelou. Ela se aproximou mais, e logo reagiu -Necessito de uma luz.

Justin imediatamente acendeu a luz do teto que jogou um forte brilho por cima de
tudo, inclusive da ferida de bala de Decker. Dani a olhou de perto, observando que se
reduziu em tamanho e estava cicatrizando-se. Se alguém lhe tivesse perguntado
quanto tempo tinha a ferida, teria suposto que vários dias, possivelmente uma
semana. Sua mente imediatamente começou a correr em círculos, procurando em
toda sua formação médica e tratando de encontrar uma explicação de como pôde
haver-se curado com tanta rapidez, mas não encontrou nada.

Dani se sentou e o olhou em silencio durante um minuto e logo disse em voz baixa:
-Isso não é humanamente possível.

-Não é mortalmente possível- corrigiu-a ele igualmente em voz baixa.

-Mostre seus dentes a ela- disse Justin do assento dianteiro.

Decker abriu a boca, e ela observou fascinada a maneira em que os caninos


lentamente se deslocavam para frente e para baixo, convertendo-se no que só podia
ser descrito como presas. Quando se voltou para o espelho retrovisor, Justin levantou
ligeiramente a cabeça e permitiu que seus próprios dentes saíssem de sua boca. Dani
rapidamente deu uma olhada para trás e viu que os dente de Decker se retraíam,
baixou rapidamente os olhos ao peito e viu que a ferida de bala já estava perto de
curar-se, e logo se voltou e agarrou o cabo da porta com a intenção de saltar.

Só seu esquecido cinto de segurança a impediu. Conseguiu abrir a porta antes de que
Decker pudesse reagir, mas o cinto de segurança a reteve em seu lugar quando tentou
saltar.

-Dani!- Decker a agarrou com uma mão, quando começou a tentar se desfazer do
cinto de segurança e fechou a porta com a outra, continuando, obrigou-a a girar-se
para olhá-lo. -Me olhe. Necessito que me escute. Está a salvo. Não vou te machucar.
Deve te dar conta disso. Se quisesse te machucar o teria feito faz muito tempo. Está a
salvo.

Repetiu as palavras uma e outra vez até que ela deixou de lutar e a obrigou a
acalmar-se entre suas mãos.

-Está bem- disse ele então. -Sei que isto é difícil de aceitar e te assusta, mas tem que
deixar que lhe explique isso. Deve-me isso ao menos, não te parece?

-Devo-lhe isso?- perguntou ela surpreendida e finalmente levantou a cara para olhá-
lo.

Foi Justin quem assinalou cautelosamente, -Bom, ele levou alguns tiros quando lhe
salvamos. Certamente deveria deixar que ao menos se explicasse.

Capítulo 6
-Alguns tiros?- perguntou Dani, voltando-se para o Decker.

-Não importa- disse ele em voz baixa.

Dani franziu o cenho, mas logo decidiu que estava bem e que realmente não
importava. O que importava era que se tratava do pesadelo mais estranho que tinha
tido em sua vida e queria que terminasse. Queria despertar e assegurar-se que tudo
estava bem, que Stephanie estava em casa com seus pais ou inclusive na cabana, sã e
salva.

-Dani?- disse Decker vendo sua incerteza.

Seu olhar se centrou no rosto do homem de seus sonhos ante ela, e se encontrou
perguntando onde sua imaginação tinha buscado esse rosto atrativo. Tinha-o visto ao
redor do Windsor, ou na cabana e, pensando que era atrativo, tinha inserido sua cara
em seu sonho? Se tivesse sido assim, em realidade teria feito dele um policial ou
algum outro cara bom em vez de um vampiro com presas.

-Está o suficientemente tranqüila para me escutar?- perguntou o Decker do sonho,


agarrando suas mãos. Ele parecia estar bastante em dúvida nesse assunto.

Entretanto, Dani se sentia perfeitamente tranqüila, embora este era um termo


relativo, decidiu, e se olhou as mãos. Tratou de livrar-se de seu agarre, com a
intenção de se beliscar, mas ele simplesmente apertou suas mãos, observando-a com
preocupação. Não vendo nenhum outro recurso, de repente Dani jogou a cabeça para
trás, golpeando-a contra o guichê do lado traseiro do veículo, para se certificar que
não estava sonhando.
-O que está fazendo?- bramou Decker.

-Tentando acordar- murmurou com ironia quando ele a agarrou pelos ombros para
lhe impedir que o fizesse de novo. Ele não devia ter se incomodado, a dor que
irradiava através do crânio de Dani foi suficiente para convencê-la de que não estava
sonhando. Parecia que estava acordada e em uma caminhonete com dois homens que
afirmavam ser vampiros... e que também tinham presas para respaldar sua afirmação.

-Ela acredita que está sonhando- disse Justin tranqüilamente do assnto do motorista,
sua diversão habitual estava notavelmente ausente. -Embora acredite que está
percebendo a verdade.

-Mantenha-se afastado de seus pensamentos- disse Decker, mas sua voz soava mais
resignada que zangada, e Dani se perguntou do que estava falando quando disse isso.
Em realidade não lhe importava, exceto que era um pouco desagradável não saber do
que estavam falando a metade do tempo.

-Dani- disse Decker com firmeza. -Confie em mim, isto não é um sonho.

-Por que os homens sempre dizem confie em mim antes de cuspir algo
completamente desagradável?- perguntou vacilante enquanto era atravessada pela
irritação. -Supõe-se que os vampiros não são reais. E como se converteu em um
vampiro bonito? Deveria ser horrível. Tudo o que é malvado, as pessoas más,
deveriam ser tão feias por for a como são por dentro.

-Não somos malv…- Decker deteve sua negação, e logo fez algo que ainda não lhe
tinha visto fazer e levantou os lábios de uma forma muito estranha e, em sua opinião,
totalmente inadequada quando com um sorriso lhe perguntou: -Acha que sou bonito?
-Terra chamando Decker- disse Justin com tom seco. -Ela acha que é um demônio
filho de puta bonito.

-Correto. Ele franziu o cenho e sacudiu a cabeça como tratando de se livrar das
palavras dela, e logo disse: -Não somos demoníacos ou maus. Nem sequer somos
vampiros.

-Mas tem presas, e esse Lucian disse…

-Disse que sua gente insiste em nos chamar disso- recordou-lhe Decker com firmeza.
-Mas não somos.

-Bom, somos de alguma forma- corrigiu-o Justin. -Simplesmente nós não gostamos
de ser chamados assim. Ao menos, não os velhos chupa-sangues. Não sei por que.
Acredito que é algo sexy. Adotando um falso acento mau, disse, -Eu sou um vampiro,
e quero chupar você…

-Justin- disse Decker, com a paciência pendendo por um fio. -Não está ajudando
aqui.

-Sinto muito- murmurou. -Mas temos presas e bebemos sangue e…

-Bricker- disse Decker bruscamente, voltando-se para lhe olhar.

-Ok. Sinto muito, estou fechando a boca. Encontrou o olhar de Decker no espelho e
fez um gesto de fechar sua boca. Mas no momento em que Decker deixou de lhe
olhar, voltou-se para o Dani, e começou a lhe falar de novo. –conte a ela sobre a
Atlântida.

Decker fraquejou, seus olhos se fecharam brevemente, e logo tomou um fôlego


profundo e disse: -Sim, Justin, estava a ponto de fazê-lo.

-A Atlântida?- repetiu Dani assombrada.

-Ou talvez seja melhor começar com os nanos- disse Justin, trocando de opinião. -Ela
é médica. Entenderá melhor a parte científica.

-Sim, sei. Obrigado, Justin, posso dar conta disso- disse Decker com uma careta,
obviamente no limite de perder realmente a paciência. Logo se voltou para Dani,
olhou-a com um suspiro, e lhe perguntou: -Escutará pelo menos?

Dani assentiu. Não é como se realmente tivesse outra escolha, não depois de ter visto
aquelas presas.

-Está bem- disse Decker aliviado. -Somos humanos. Se me abrisse encontraria tudo
exatamente igual a qualquer outro homem, salvo que todos meus órgãos estariam
muito saudáveis e em bom estado.

-Tudo é exatamente igual exceto nosso sangue- acrescentou Justin.

-Isso é certo- reconheceu Decker. -Nosso sangue é diferente. Há nanos nela. Ao


menos essa é a melhor descrição. -Quando Dani se limitou a lhe olhar, explicou-lhe.
-Entenda, nossos cientistas estavam tentando desenvolver uma forma de curar ou
eliminar coisas como o câncer, infecções e lesões graves sem recorrer à cirurgia ou
infligir novos traumas no corpo. Então eles inventaram os nanos, pequenos
dispositivos de bio-engenharia programados para viajar através da corrente
sangüínea. Utilizam o sangue tanto como combustível para regenerar-se, como para
fazer reparações no corpo, regenerar tecidos, ou rodear e eliminar qualquer tipo de
infecção ou enfermidade que possa estar presente.
Dani assentiu com a cabeça para animá-lo a continuar. Até agora, o que lhe havia
dito não soava a coisa de loucos. Tinha lido a respeito dos experimentos recentes que
utilizavam essa tecnologia para um propósito similar.

-Tiveram êxito além de suas expectativas- continuou Decker. -Os nanos entraram,
realizaram as reparações e eliminaram as infecções e o câncer, e qualquer outra coisa
que atacava ao corpo. Foi aclamado como um grande avanço médico. Os doentes e
os feridos se alinhavam em massa para recebê-lo. Os pais de minha mãe se
encontravam entre aqueles que primeiro foram infectados com eles.

-Wow- interrompeu Dani de uma vez. -Os pais de sua mãe! Seus avós!

Decker, assentiu com a cabeça. -Minha avó, Alexandria, tinha o que agora se
conhece como câncer e meu avô, Ramses, ficou gravemente ferido em um acidente.
Ambos eram doentes terminais. Eles foram os pacientes um e dois, ambos foram
tratados ao mesmo tempo. É a forma em que se conheceram. Casaram-se três meses
mais tarde, e meu tio Lucian e seu irmão gêmeo Jean Claude nasceram pouco menos
de nove meses depois. Eles foram os primeiros nascidos infectados.

-OH, entendi!- Dani se tornou para trás, sacudindo a cabeça. -Estava indo muito bem
até o tema dos avós. Antes me tinha enganado, mas não havia maneira de ter este tipo
de tecnologia faz cinqüenta anos.

-Cinquenta?- soprou Justin, encontrando seu olhar no espelho retrovisor quando ela
se voltou em sua direção. –Tente vários milhares de anos.

Decker se tomou um momento para jogar um olhar em sua direção e logo se voltou
para Dani. -Esta é a parte difícil de acreditar. Fez uma pausa e tomou ar e disse:
-Nossos antepassados vieram de Atlântida.

-A Atlântida- disse ela com incredulidade. -A Atlântida, Atlântida?A legendária terra


perdida?

-Sim. Como as lendas dizem, Atlântida era muito avançada tecnologicamente.


Infelizmente, também estava terrivelmente isolada e não compartilhava essa
tecnologia com ninguém. Não compartilhava nada com ninguém. Viviam rodeados
pelo mar por três lados, com montanhas entre eles e o resto do mundo, e era a forma
em que gostavam. Assim quando Atlântida caiu, os superviventes cruzaram as
montanhas para encontrar um mundo muito mais primitivo. Não tinham nenhuma
forma de armazenar o sangue ou realizar transfusões.

-Espera um minuto- interrompeu Dani. -Salta de uma cura milagrosa para nada de
sangue e transfusões. Por que a necessidade de sang…?

-Os nanos utilizam uma grande quantidade de sangue para manter-se e fazer
reparações. Mais do que o corpo humano pode criar. Tinham que fazer transfusões
naqueles que tinham sido tratados com os nanos. Isso estava bem em Atlântida, mas
quando a Atlântida caiu.

-Sem mais transfusões- disse ela, lutando agora entre acreditar ou não. Algo de tudo
isto tinha uma espécie de louco sentido.

-Sim, e aí é quando os nanos começaram a mudar nosso povo. Tinham sido


programados para reparar e regenerar e, basicamente manter seu hóspede vivo e na
melhor condição física possível. Sem sangue, nossos antepassados teriam morrido,
então os nanos os mudaram de uma forma que lhes ajudou a se manter com vida e em
um estado saudável. Fizeram-nos fortes e rápidos para que pudéssemos obter o
sangue necessário para os nanos.

-Os olhos- murmurou ela compreendendo. -Seus olhos refletem a luz como um gato
ou um mapache.

-Porque somos caçadores noturnos como eles- disse Decker em voz baixa.

-Disse que Sam é mortal, de modo que pode investigar durante o dia enquanto
Mortimer dorme. Vocês não podem sair à luz do sol?

-Podemos- admitiu ele - mas como médica sabe que o sol faz mal, o que significa que
os nanos têm mais trabalho, o que implica uma maior necessidade de sangue.
Alimentamo-nos de sangue em bolsas, mas antes dos bancos de sangue e do sangue
em bolsas, fomos obrigados a nos alimentar de nossos vizinhos e amigos. E fizemos
nosso melhor esforço para reduzir ao mínimo a alimentação que necessitávamos.

-E os nanos lhes fizeram crescer as presas também?- perguntou ela.

Ele assentiu com a cabeça. -Deram-nos todos os atributos físicos necessários para
nos fazer melhores caçadores.

-Entendi- murmurou Dani, olhando suas mãos e tratando de assimilar tudo. Era
muito para digerir, quase tão difícil de acreditar como a velha lenda a respeito das
criaturas mortas sem alma, condenadas a caminhar pela terra por algum pecado do
passado. A ciência era uma coisa, mas a Atlântida? Milhares de anos? É certo, tinham
chegado lendas sobre a legendária Atlântida através dos anos, mas eram só um mito.
Não?

-Seria mais fácil para acreditar se te dissesse que somos mortos condenados?-
perguntou-lhe Decker ironicamente. Era como se lesse sua mente, pensou ela, e isso
lhe recordou sobre o que haviam dito Nicholas e Lucian de que podiam ler sua
mente, e inclusive controlá-la.

-Diz que lhes deu os atributos físicos necessários para fazê-los melhor caçadores.
Isso é tudo?- perguntou ela, e entrecerrou os olhos olhando-o.

Ele vacilou e logo admitiu: -Não. Também desenvolveram nossa capacidade para ler
os pensamentos e controlar as mentes. Ajuda a…

-O que estou pensando agora?- interrompeu-o ela abruptamente.

Decker, sacudiu a cabeça. -Como disse Lucian, eu não posso te ler, Dani.

-Eu posso- disse Justin, captando seu olhar. -Está pensando em sua irmã.

Dani voltou a franzir o cenho no homem. -Isso foi muito fácil. É obvio que pensava
nela. Tente de novo- ordenou-lhe enquanto procurava em sua mente até que lhe
ocorreu outra coisa.

-Uma girafa- disse Justin.

-Outra vez- perguntou ela.

-Um elefante roxo. -Esta vez ele respondeu quase antes de que ela terminasse de
dizê-lo. -Posso te controlar agora?

-Pode?- perguntou ela entrecerrando os olhos e logo olhou para baixo emocionada
quando suas mãos se levantaram e aplaudiram várias vezes.
-Chega- ladrou Decker, agarrando suas mãos entre a suas.

-Ela que pediu- disse Justin à defensiva.

Dani olhou a Decker imóvel com as mãos na suas, e lhe perguntou com voz tremente,
-Como? Por que você não pode se ele pode?

Ele se encontrou com seu olhar, e logo desviou sem responder. Foi Justin quem lhe
disse -Porque você é sua companheira de vida.

O olhar do Dani piscou para o homem, sua mente recordou o que Lucian havia dito
antes, mas se voltou para o Decker, quando lhe perguntou: -O que é um companheiro
de vida?

Ele deixou sair seu fôlego em um suspiro. Seu olhar caiu a suas mãos, elevou-se para
encontrar-se com os dela de novo e finalmente disse, -Os nanos não só nos permitem
ler a mente dos mortais. Podemos nos ler também entre nós se não nos mantemos em
guarda para bloquear a outros para que leiam nossos pensamentos. Faz a vida um
pouco... - Decker sacudiu a cabeça -Pode ser cansativo. Tanto é assim que alguns
imortais evitam a outros o máximo possível só para não ter que estar sempre em
guarda. Mas o isolamento pode conduzir à depressão, a raiva e a loucura, e converter
um imortal em um renegado. Deteve-se brevemente, e logo explicou: -Um
companheiro de vida é essa estranha pessoa a quem não podemos ler e que não pode
nos ler. Podem ser mortais ou imortais, mas estar com eles é como um oásis de
calma. Podemos nos relaxar e ser nós mesmos ao redor deles sem medo de que
ouçam todos os pensamentos que temos. E, já que não podemos lê-los, tampouco nos
bombardeiam com seus pensamentos. Podem ser um companheiro verdadeiro,
alguém que não te pode ler ou controlar e com quem podemos passar nossa vida,
felizmente.

Dani o olhou, recordando exatamente o que Lucian havia dito: Eu sou um imortal. . .
ou como sua gente parece insistir em nos chamar, um vampiro. . . Todos os que estão
aqui o são... incluindo Decker, que é o único aqui que não pode te ler ou controlar
seus pensamentos. Isso te converte em uma possível companheira de vida para ele,
mas será você quem tem a palavra final.

Ele havia dito que ela era uma possível companheira de vida e que teria que decidir.
Significava que também podia não ser? Ou que era companheira de vida de Decker,
mas que podia rechaçá-lo se assim o desejava? Antes que pudesse lhe perguntar,
Justin disse de repente, -Decker?

Ele se voltou para a contra gosto de Dani para dar uma olhada a Justin. -O que?

-Perdão por interromper, mas estou correndo bastante e passamos um radar policial.
Poderia tratar de controlá-lo, mas não quero apartar minha concentração da estrada.

-Eu me encarregarei disso- disse Decker, e olhou pela janela traseira.

Dani se retorceu em seu assento para ver o que poderia ter sido uma repetição de seu
primeiro encontro com o outro oficial. As luzes intermitentes na parte superior do
cruzeiro se apagaram de repente e o carro reduziu a velocidade e se retirou. Quando
já não pôde vê-lo mais, Dani se voltou para o Decker. –Você o controlou, e ao outro
oficial que estava atrás de nós antes.

Quando ele assentiu solenemente, perguntou-lhe: -Mas não me pode controlar ?

Ele sacudiu a cabeça e os olhos do Dani se entrecerraram. -Mas Justin pode?


Seu movimento de cabeça esta vez foi quase a contra gosto, como se suspeitasse de
uma armadilha.

-Assim foi Justin quem me fez dormir na parte traseira da caminhonete depois do
incidente na clareira?- perguntou Dani, suspeitando que já conhecia a resposta. De
fato, isso explicaria por que não podia recordar entrar na caminhonete e ir dormir.

Decker se estremeceu por seu tom agudo, mas assentiu com a cabeça.

-Que mais me fez fazer?- perguntou-lhe ela e sua voz se tornou fria.

-Nada- assegurou-lhe ele solenemente.

-Por que devo te acreditar quando não tem feito outra coisa que me mentir do
momento em que te conheci?

-Só te menti porque, se tivesse dito a verdade, teria pensado que estávamos loucos...
e já estava muito emocionada depois de seu encontro com os renegados e não estava
com ânimo para confiar em nós- disse com firmeza. -Somos executores do Conselho,
Dani. Policiais vampiro, se você gostar mais. Nosso povo tem leis e temos que
cumprí-las. Caçamos imortais renegados que violam nossas leis.

-Que tipo de leis?- perguntou Dani relaxando-se um pouco. Quase não podia
argumentar que ele deveria ter dito a verdade desde o começo. Decker tinha razão.
Ela não tinha estado em condições de receber esta revelação pouco depois de tudo
aquilo. Que diabos, não estava segura de estar preparada para isso agora, mas estava
começando a aceitá-lo, e grande parte de seu medo se desvanecia com cada minuto
que passava.
-A primeira e mais importante é não alimentar-se dos mortais ou machucá-los.

Ela gostava dessa lei, decidiu Dani. -Que mais?

-Aos casais só é permitido ter um filho cada cem anos.

Essa lhe fez franzir o cenho. -Por que?

-É para manter nossa população baixa. Necessitamos sangue para sobreviver. Se


houvesse muitos de nós com essa necessidade poderia ser um problema.

Entendia-o, embora a norma ainda a fizesse sentir incômoda. O que faziam aos
imortais tinham mais de um menino em cem anos? O que faziam com o menino?
Antes que pudesse perguntar, Justin anunciou, -Acredito que nosso renegado acaba
de tomar a saída de Dixon Road.

-Dixon?- Dani girou a cabeça para olhar à tela, a voz de alarme se apagou em sua
cabeça e afogou qualquer preocupação a respeito dos bebês imortais. -Aí é onde fica
o aeroporto.

Decker amaldiçoou e se desabotoou o cinto de segurança ficando de joelhos entre os


assentos dianteiros para poder ver melhor a tela do computador. Efetivamente, o
pequeno ponto negro tinha tomado o desvio de Dixon.

-Não pode estar pensando em tentar pegar um vôo, não é?- perguntou Dani a seu
lado, e Decker olhou a seu redor para descobrir que se soltou e se movia
aproximando-se dele.
-Ponha o cinto de segurança de novo- grunhiu ele, muito consciente de que à
velocidade que conduzia Justin, provavelmente resultaria morta se tivessem um
acidente.

Dani não deu atenção, tinha os olhos fixos na tela do computador. -Ele não pode
estar pensando em colocar Stephanie em um avião. Ela não tem passaporte, ou…

-Estou certo que não- assegurou-lhe Decker, apesar de que não estava de todo
seguro. A falta de um passaporte não era um problema quando se pode controlar as
mentes das pessoas encarregadas de solicitá-lo. -Agora volta para seu assento e
ponha o cinto de segurança.

-É difícil ver isto. É muito pequeno- disse Dani, fazendo sem dar atenção de novo, e
olhou a Justin. -Há alguma maneira de fazer a imagem maior?

-Eu o farei- resmungou Decker, que não queria que Justin se distraísse. Ele utilizou o
mouse do computador portátil para aproximar a seção do mapa onde estava o ponto
negro, e logo se sentou de novo. -Aí.

-OH Deus, está na rampa de saída- exclamou Dani horrorizada quando a imagem
entrou em uma escala muito major. -Ele deve estar indo ao aeroporto. Se deixarem a
caminhonete não temos maneira de rastreá-los.

-Não tenha medo- ordenou-lhe Decker, e logo assinalou um ponto marrom que
também estava na rampa. -Olhe, um dos nossos não está muito longe dele. E
Nicholas também, provavelmente, ainda está em seus calcanhares. Além disso, não
acredito que haja vôos a esta hora.

-Há vôos até as doze e meia- disse Dani tensa.


Decker olhou seu relógio e franziu o cenho quando viu que nem sequer era meia-
noite. Estava um pouco surpreso de que fosse tão cedo. Sentia como se uma vida
inteira tivesse passado desde que se deu conta de que não podia ler ou controlar a
Dani.

-Apanharão-no, Dani- disse Justin. Felizmente, manteve os olhos na estrada


enquanto falava. -Somos como a Polícia Montada, apanhamos nosso homem. Sua
parada só significa que tudo deve ter acabado e você poderá ter a sua irmã de volta
logo.

Dani não respondeu. Tinha os olhos pegos à tela do computador, olhando o pequeno
ponto, como se fechá-los significasse que desapareceria levando sua irmã com ele.
Decker queria lhe dizer que voltasse para seu assento e colocasse o cinto de
segurança de novo, mas sabia que ela ia se recusar. Quase pediu a Justin que tomasse
o controle dela e a obrigasse a fazê-lo, mas Bricker estava conduzindo tão rápido que
Decker não queria arriscar-se que ele desviasse sua atenção da estrada, inclusive o
tempo necessário para realizar essa tarefa fácil. Assim, em vez disso, sentou-se em
silêncio, seu olhar preocupado oscilava entre Dani, a tela, e o caminho a tomar entre
os outros carros na estrada. Não havia tanto trânsito como durante o dia, mas havia o
bastante, e Justin estava ziguezagueando entre os automóveis a um ritmo aterrador.

Decker, deslizou o olhar para Dani e suas vísceras se contraíram ante a idéia de
perdê-la em um acidente, se de repente um desses carros cruzava sua frente. Isto lhe
fez mover-se um pouco mais perto dela, e levantou um braço perto das costas dela
para escorá-la contra o assento de Justin. Logo moveu sua outra mão diante do
estômago dela, preparando-se para agarrá-la e abraçá-la em caso de que algo
acontecesse.
Sentado muito perto de Dani, Decker se encontrou imediatamente envolto em seu
aroma. Era um aroma não muito diferente ao dos morangos, e rodou sobre ele, doce e
delicioso. Tinha-o notado antes, quando lhe tinha atendido sua ferida de bala, mas se
tinha distraído nesse momento tanto por ligar para Lucian como pela preocupação
dela ao dar-se conta de que algo ia mal com sua ferida. Entretanto agora o notava, e
sem pensar se colocou mais perto e girou sua cabeça para poder aspirar o ligeiro
aroma embriagador mais a fundo. Era como o vinho, doce mas picante, e por alguma
razão, deu-lhe fome.

-Está dando a volta - disse Dani com voz tensa.

Decker começou a olhar à tela, mas seu olhar não chegou tão longe. Deteve-se em
seu perfil quando ela lambeu ansiosamente os lábios. Encontrou-se olhando com
fascinação como a ponta rosada de sua língua se deslizava por uma boca que parecia
incrivelmente suave e cheia.

- Quão perto estão nossas equipes?- perguntou Justin, olhando a seu redor.

-Mantenha seus olhos na estrada- grunhiu Decker, sua fome acrescentava aspereza a
sua voz. Seu olhar se deslizou a contra gosto pela tela e a olhou de perto. O ponto
marrom que representava um de seus veículos se encontrava já na rampa. Uma de cor
cinza ainda estava na 427, mas só uns minutos atrás. Seu olhar se deslizou aos dois
primeiros pontos e murmurou: -Parece que pararam no estacionamento. Nosso
homem não está muito mais atrás.

-Acredito que está parando- disse Dani com preocupação.

Decker se inclinou e aumentou ainda mais a imagem. -Não, simplesmente diminuiu a


velocidade.
-Talvez não se deu conta de que está sendo seguido e está procurando
estacionamento?- sugeriu Justin.

Decker grunhiu. -Nosso homem está bem atrás dele e os outros estão saindo da
rampa e alcançando-o.

-Quem está na caminhonete atrás dele?- perguntou Dani.

-Não sei- admitiu Decker. -Lucian não disse a quem mais pôde chamar em um prazo
tão curto.

Ambos observaram em silêncio, quando o ponto cinza alcançou os outros dois e os


três pontos se detiveram, quase superpuestos entre si.

-Pararam- disse Dani com ansiedade.

-Provavelmente já o pegaram- disse Justin com certeza.

-Você acha?- perguntou ela com a esperança tremendo em sua voz.

-Se não a ele, então provavelmente pelo menos a sua irmã,- disse Justin, e logo
assinalou: -Ela é mortal. Vai lhe atrasar. Ou ele terá que deixá-la ir ou tentará entrar
correndo no aeroporto para esconder-se entre a multidão com ela, e não há maneira
de que possa deixar para trás a nossos rapazes a pé enquanto a arrasta consigo. Além
disso, já é tarde, o aeroporto não pode estar cheio de gente a esta hora. Quando
chegarmos ali, ou terão a ambos, ou um a terá a ela e o outro estará perseguindo o
renegado no aeroporto.
Dani pareceu render-se com alivio por estas palavras e Decker deixou cair a mão
para lhe esfregar as costas brandamente, agachando a cabeça instintivamente para
inalar de novo seu aroma.

-Segurem-se bem, algum idiota acaba de…- Justin não terminou a frase, estava muito
ocupado freando e virando bruscamente para evitar que esse “idiota” pudesse
interromper seu passo veloz pela estrada. A ação jogou Decker para frente e
instintivamente agarrou Dani enquanto o fazia, segurando-a contra seu peito e a
sujeitou ali, já que foram jogados para o lado do assento do passageiro e no espaço
entre os assentos. Deu a volta para tomar a pior parte do golpe ao se chocar com o
assento, e logo Decker foi caindo para trás, levando Dani consigo quando Justin
acelerou e se desviou novamente, supostamente para evitar outro obstáculo.

-Sinto muito. Estão bem?- Justin olhou a seu redor, entrecerrando os olhos, enquanto
tentava penetrar a escuridão que agora os cobria enquanto estavam no chão do
veículo.

-Estamos bem. Ponha seus olhos na estrada- recordou-lhe Decker, preocupado de que
outro veículo pudesse cruzar seu caminho. Continuando, olhou para Dani. Ela tinha
ficado escancarada sobre seu peito no estreito espaço entre os assentos dianteiros e o
assento no que tinha estado sentada. -Está bem?

Dani levantou a cabeça. Inclusive com sua excepcional vista, Decker levou um
tempo para vê-la na escuridão. Embora pelo que pôde notar, ela estava mais aturdida
que qualquer outra coisa. Relaxou e fechou os olhos com alívio, planejando tomar só
um momento para acalmar-se, mas se encontrou tomando pouco a pouco consciência
do aroma e a sensação dela. A imagem de seus grandes olhos e sua expressão
divertida se gravou em sua mente. Ela era suave e se sentia cálida entre seus braços,
e pensava que ele era bonito, recordou. Dani também cheirava o suficientemente bem
para comê-la. Era uma festa para todos os sentidos. Decker não pôde resistir e, sem
sequer pensar nisso, agarrou-a pela parte superior dos braços e puxou seu corpo até
que seu rosto esteve em cima do dele. Sua cabeça se levantou então por sua própria
vontade, reclamou seus lábios e se perdeu.

Decker foi vagamente consciente da rigidez inicial dela, mas ela não lutou, e quando
ela abriu a boca, provavelmente para protestar, ele se aproveitou plenamente e
deslizou a língua em seu interior, degustando a doçura que era Dani.

Ainda sacudida por ter sido lançada pelo veículo, Dani se assustou tanto quando
Decker a beijou que no princípio não soube reagir. No momento em que recuperou o
suficiente do sentido comum para pensar em afastá-lo, já era muito tarde. Já estava
envolta em seus fortes e quentes braços, em seu corpo duro debaixo dela, sua boca
que cobria a dela, sua língua que a enchia e seu aroma que a assaltava.

Decker cheirava bem. Dani tinha notado isso antes, enquanto tirava a bala de seu
ombro, mas só tinha sido algo passageiro, um sopro débil em comparação com o
assalto completo que estava recebendo neste momento. Era emocionante, agora que
estava entre seus braços, e combinado com o sabor e a sensação dele, era suficiente
para mantê-la quieta em seus braços. Mas quando suas mãos começaram a mover-se
sobre seu corpo, acariciando suas costas e logo baixando para colocá-la contra ele,
perdeu essa tranqüilidade e começou a lhe devolver os beijos. No momento em que o
fez, Dani sentiu uma tormenta de desejo que se vertia através dele. Era incrivelmente
forte e se sentia um pouco estranha, mas foi forte e a levou em uma onda enquanto
açoitava as bordas de seu cérebro. Continuando, retirava-se, só para atacar de novo,
esta vez acompanhada por uma nova onda de emoção crua. O assalto deixou Dani
sem fôlego e cheia de uma necessidade cega.

Decker gemeu em sua boca, a vibração do som a fazia gritar em resposta, e logo
ambos perderam completamente todo sentido de quem estava ali ou onde se
encontravam. Ao menos, Dani o fez. Esqueceu-se de que estavam apertados na parte
traseira de uma caminhonete com Justin a uns centímetros de distância. Esqueceu-se
de que ele não só era um desconhecido que lhe havia dito várias mentiras, mas
também alguém que tinha declarado ser um vampiro e que realmente parecia sê-lo.
Esqueceu-se de sua irritação com ele, de sua preocupação por sua irmã... e quase de
seu próprio nome. Dani se esqueceu de tudo e se lançou ao momento, obstinada a
seus ombros e movendo-se com entusiasmo contra a dureza que podia sentir que
pressionava contra o vértice de suas coxas quando uma de suas mãos empurrou em
seu traseiro para baixo, obrigando-a a estar ainda mais perto.

Era vagamente consciente de que sua outra mão se movia a um lado, mas não estava
preparada para a emoção que a sacudiu quando lhe roçou ligeiramente um lado de
seu peito. Dani reteve o fôlego surpreendida e encontrou que a parte superior de seu
corpo, instintivamente se torceu e se arqueou para pressionar deliciosamente seu
peito dentro de sua palma. Ele aceitou o convite, fechando a mão sobre o montículo e
amassando-o brevemente antes de começar a mover-se sob o tecido de sua camiseta.
Ela sentiu que ele apartava o delicado tecido de seu sutiã e se congelou brevemente,
logo voltou a cabeça e apertou a boca em seu ombro, mordendo-o para sufocar o
gemido quando sua cálida mão se fechou sobre sua carne ansiosa.

Com sua própria boca agora livre, Decker começou imediatamente a lhe dar beijos
atrás de seu ouvido, fazendo-a estremecer por um surpreendente agradar quando a
mordeu brevemente ali. Dani suportou o assalto combinado tanto como pôde, mas a
fome golpeava seu cérebro e finalmente voltou a cara para encontrar seus lábios uma
vez mais. O beijo nesta ocasião era quase vicioso pela necessidade de montar-se, e
então Decker começou a mover-se debaixo dela, suas mãos deixaram de fazer o que
estavam fazendo para agarrar seus quadris e levantá-la.
A princípio Dani não entendeu o que ele estava fazendo, e então seu joelho se
deslizou entre suas pernas e ele a deixou estabelecer-se novamente sobre sua coxa.
Agora ela estava montada em sua perna e seu corpo estava um pouco mais acima que
ele. Isto a obrigou a inclinar a cabeça em um ângulo incômodo para manter seu beijo,
mas ela o conseguiu. Quando sua coxa pressionou com mais firmeza em sua entrada
onde todas as cordas de seu desejo culminavam, Dani começou a chupar sua língua.
Continuando, passou uma mão ao chão acarpetado ao lado de sua cabeça e se apertou
de novo na carícia, esfregando-se contra sua coxa, ao mesmo tempo que esfregava a
parte superior de sua própria coxa pela dura prova da excitação dele.

Decker lançou um grunhido em resposta e lhe apertou o peito de forma quase


dolorosa, e logo relaxou seu controle para emprestar especial atenção a seu mamilo.
Foi muito para Dani, sentia como se estivesse afogando-se no prazer que a assaltava
e afastou a boca, jogando atrás a cabeça para tomar ar. Mas Decker foi implacável,
simplesmente continuou esfregando sua perna contra ela e acariciando seu peito, e
logo levantou a cabeça para pressionar sua boca no pescoço que lhe tinha devotado
sem pensar. Passou a língua e os lábios pela vulnerável pele, fazendo uma pausa para
sugar e beliscar e sugar de novo. Dani não sentiu nenhuma dor, nada que lhe dissesse
que seus dente se afundaram em sua carne, o prazer a tinha enchido e a deixou
totalmente inconsciente. Não foi até que sua visão começou a apagar-se quando se
deu conta que algo estava errado.

Foi só quando Dani desabou em seus braços que Decker se deu conta do que estava
fazendo. Amaldiçoando-se, retraiu seus dentes e a agarrou quando ela se desabou
contra ele.

-Ela está bem?

Decker lançou um olhar feroz a Justin justo quando este se girava para olhar de novo
o caminho. -Por que diabos não me deteve?

-Eu não sabia que a estava mordendo até que ouvi sua maldição e logo então olhei-
disse Justin rapidamente, e logo adicionou: -Pensei que só estavam... já sabe...
acariciando-se mutuamente.

A boca de Decker se esticou ante a crua descrição do que tinha sido, até fazia um
momento, um belo momento de paixão, mas Justin não tinha querido dizer isso.

-Pensei que depois de oitenta anos sem nada, provavelmente precisava deixar sair um
pouco de vapor assim continuei com meus olhos no caminho... e tratava de não
escutar todos os grunhidos e gemidos aí de trás.

-Obrigado- disse Decker secamente, moveu-se até sentar-se e levantou Dani pondo-a
a seu lado. Decker então inclinou a cabeça para trás para olhar seu rosto. Parecia um
pouco pálida, mas sua respiração e o batimento do coração pareciam normais.
Felizmente só era um desmaio.

-Sem problema- disse Justin. -Embora me deva uma, foi difícil resistir a espiar.
Soava muito Q e U.

-Q e U?- Decker o olhou confundido.

-Quente e úmido- explicou ele, e acrescentou quase com inveja -Parecia como se
vocês estivessem rasgando tudo aí atrás.

Decker franziu o cenho ante as palavras e seus olhos descenderam às duas feridas
agudas na garganta de Dani. Não havia rasgão, só havia aproveitado a oportunidade
que lhe ofereceu no momento e não era que só a tivesse mordido, mas nem sequer
tinha lembrado de tomar cuidado com a quantidade de sangue que havia tomado.

Sacudindo a cabeça, deslocou-se para levantar-se de novo no assento.

-Deveríamos ter tomado um pouco de sangre no momento em que entramos no carro-


disse Justin lamentando-se enquanto Decker punha o cinto de segurança ao redor de
Dani. -Falando nisso... por que não tomou? Deve ter tido um apetite voraz devido a
essa ferida de pistola.

-Tomei um aperitivo no restaurante enquanto estava esperando que Dani saísse do


banheiro- admitiu Decker, seus olhos se moveram do rosto pálido de Dani ao espelho
retrovisor.

-Mesmo?- Justin o olhou e disse: -passou um longo tempo desde que tomei outra
coisa que não fosse bolsas de sangue.

-Esperemos que não te aconteça nunca- disse-lhe Decker de uma vez. Estar
necessitado de sangre por uma ferida de bala e sem bolsas de sangue disponíveis, era
uma dessas situações de emergência nas que morder a um mortal era permitido. No
princípio teve a intenção de sofrer as cãibras que o atacavam e esperar até encontrar-
se com o Eshe e poder alimentar-se dos fornecimentos no carro de substituto, mas
quando Decker se encontrou muito fascinado com o pescoço de Dani quando a tinha
ajudado a sair da caminhonete, e logo sentiu que suas presas tratavam de deslizar-se
para baixo quando a tinha acompanhado através da multidão no concorrido
restaurante de comida rápida, deu-se conta de que esperar não era uma opção. Depois
de levar Dani ao banheiro tinha esperado à primeira pessoa chegou até a sala e a
levou até o armário de limpeza entre os banheiros masculino e feminino para um
delicioso aperitivo. Não tinha tomado muito, o suficiente para eliminar o pior de sua
fome, e logo tinha posto em seus pensamentos que tinha picadas de mosca negra no
pescoço, e a tinha mandado ver se Dani estava no banheiro.

-Como foi?- perguntou Justin enquanto os conduzia à rampa de saída.

-Comida rápida- murmurou Decker agarrando uma mecha de cabelo que tinha caído
na rosto de Dani. Seu olhar logo baixou a seu peito, e se deu conta de que havia algo
que estava errado. Seu peito parecia estar fora de seu lugar. Levou-lhe um momento
lembrar que lhe tinha afastado o sutiã de lado para liberar seu peito e acariciá-lo.
Ainda estava afastado sob a camiseta.

-Adequado- disse Justin com diversão. -Era um restaurante de comida rápida, afinal
de contas.

Decker o escutou com muita dificuldade. Seus olhos se moviam entre o rosto de Dani
e seu peito. Estava duvidando em tocá-la enquanto ela estava inconsciente, mas só
lhe levaria um segundo colocar o peito de novo em seu sutiã, e temia que ela ficasse
envergonhada se acordasse e se desse conta disso. Além disso, talvez se o colocasse
de novo ela pensaria que tudo tinha sido um sonho erótico... incluindo a parte da
mordida.

Não é que Decker quisesse que ela se esquecesse de seus momentos de paixão, mas
sim a parte em que ele tinha afundado seus dentes em seu pescoço e chupado seu
sangue vital. Suspeitava que ela novamente ia se zangar com ele, e merecidamente,
pensou enquanto olhava sua palidez e sua estado de inconsciência.

Decker deu uma olhada em Justin para assegurar-se de que não estava olhando, e
logo se inclinou para frente e rapidamente lhe levantou a camiseta. Só tinha a
intenção lhe colocar o peito sob o tecido de seda e logo a baixaria de novo. Não
funcionou dessa maneira. Em primeiro lugar, a visão de seu peito nu era muito
fascinante para cobri-lo imediatamente. Decker se encontrou ali sentado olhando-o
por um momento, antes de que seu bom sentido lhe recordasse a presença de Justin.
Deu uma olhada para ele para assegurar-se de que Justin continuava olhando para a
estrada e logo se aproximou para colocá-lo por debaixo do sutiã.

-Está espantosamente tranqüilo aí atrás. O que está fazendo?

-Nada- disse Decker, com ar de culpabilidade. Encontrou-se com o olhar de Justin no


espelho e franziu o cenho. -Olhe a estrada.

-Sim, chefe- disse Justin secamente, e girou a cabeça enquanto voltava de novo sua
atenção para frente.

Decker esperou para assegurar-se de que ele continuava observando a estrada e logo
se voltou para Dani, franzindo o cenho quando viu que em seu pânico ao ser
apanhado colocando mão em uma mulher inconsciente, tinha-a deixado desabada ali,
com a camiseta levantada.

Murmurando entre dentes, Decker se inclinou para frente e agarrou o bordo da taça
do sutiã, só para liberá-lo e colocá-lo em posição vertical e se sobressaltou quando
Justin voltou a falar.

-O que acontece? O que está fazendo aí?

-Nada- disse ele inocentemente. -Por que?

-Porque está murmurando e está inclinado sobre o Dani como se algo estivesse
errado. Ela está bem? Não a matou, não é? - aparentemente não podia vê-la pelo
espelho e torceu o pescoço tratando de olhá-la.
-Maldito seja, Justin! Olhe a estrada- espetou-lhe Decker, movendo-se para bloquear
sua visão de Dani. -Estou... comprovando seu pulso.

Quando Justin se voltou de novo, Decker se voltou imediatamente a Dani para lhe
acomodar de novo seu sutiã e pôs a camiseta em seu lugar. Continuando, afundou-se
a seu lado no assento com um suspiro, aliviado de ter feito a tarefa até que Justin
disse: -Tenho notícias para você, Decker. Não se toma o pulso dos mortais nas tetas.

Decker se incorporou sobressaltado e se encontrou com seu olhar no espelho.

-OH, se acalme! Sua mente é um livro aberto neste momento, lembra?- disse-lhe
Justin, rodando os olhos quando seu olhar se cruzou com o de Decker no espelho
retrovisor. -Sei que não estava lhe colocando mão.

Decker se deixou cair outra vez com alívio.

-Apesar de que realmente queria fazê-lo- acrescentou Justin divertido.

Decker franziu o cenho lhe olhando a nuca, enquanto considerava que tipo de
violência física poderia lhe infligir ao homem sem lhe causar um acidente.

-Nenhuma- disse Justin, obviamente sem deixar de ler seus pensamentos. -Além
disso, já chegamos.

Decker imediatamente olhou atentamente pelo pára-brisa dianteiro a cena a frente.


Estavam entrando na garagem e pôde ver os três veículos estacionados um junto ao
outro, perto da parte traseira, mas não havia nenhuma só pessoa ao redor. Deixou que
seu fôlego saísse em um suspiro, sabendo que isto não podia ser bom.
Capítulo 7

Dani despertou lentamente de um sonho bem agradável no qual ela e Stephanie


estavam caminhando entre as flores. Sorria com essa imagem quando se estirou na
cama. Então abriu os olhos e o sorriso foi substituído por um cenho franzido, quando
se encontrou em um quarto de cor nata vazio, que só continha a cama em que ela
estava. Embora fosse uma cama grande e cômoda com travesseiros macios e lençóis
que obviamente eram novos, estava apoiada no chão sem um estrado.

Dani se sentou sentindo-se confunsa e a seguir colocou as cobertas de lado. Deteve-


se ao perceber que só usava suas calcinhas... e não se lembrava de ter se despido. A
última coisa que lembrava era..., ficou rígida quando os acontecimentos do último
dia passaram através de sua mente, um caleidoscópio brilhante de lembranças
faiscantes de um dia ensolarado e feliz com sua família, seguidos pelo terror escuro e
a ansiedade que culminou em uma paixão igualmente escura e desesperada.

Dani saiu do colchão e olhou a seu redor freneticamente procurando sua roupa. O
alívio se deslizou através dela quando viu que estava dobrada em uma impecável
pilha no chão. A pôs rapidamente, logo parou, e seu olhar foi para as janelas.
Nenhuma delas tinha algo que as cobrisse.

Com a esperança de que ao menos poderia ter uma idéia de onde estava se olhasse
para fora, Dani se aproximou da mais próxima e se encontrou olhando de uma
sacada. Este quarto estava no segundo piso, e dava a uma terraço comprido que
parecia estender-se ao longo edifício. Qualquer um que passasse por ali poderia tê-la
visto dormindo, mas não viu ninguém, e voltou sua atenção ao que havia mais à
frente. Um pátio traseiro, supunha-se, se é que se podia chamar-se assim. A casa
estava sobre uma pequena colina que se estendia uns trinta metros. Estava coberta de
grama e havia várias árvores que davam sombra, assim como umas pequenos
arbustos. Além dos primeiros cem metros estava também o que parecia ser uma pista
de aterrissagem para aviões que corria em forma reta entre dois campos verdes. Dani
deu uma olhada atemorizada e um pouco alarmada. Devia haver uns quarenta
hectares de campo estendendo-se ante ela, a cada lado da pista de aterrissagem, e
tudo isso estava rodeado por bosques.

- Onde demônios estou?- murmurou e logo se voltou para o quarto, procurando uma
saída. Havia três portas, uma na parede diretamente frente a ela e uma em cada
parede a seus lados. Dani suspeitava que a que estava frente a ela era a de saída, mas
tinha medo de encontrá-la fechada e não pôde resistir de experimentar primeiro as
demais. A que estava a sua direita levava a um armário embutido que estava tão
vazio como o próprio quarto, a outra dava a um banheiroo com pia, sanitário e uma
banheira grande. De repente, pensou que tinha que tomar um banho, entrou e fechou
a porta.

Quando lavou as mãos percebeu a feia marca no pescoço. Inclinou-se para vê-la
melhor, seus olhos se abriram cada vez mais quando se deu conta que era uma
mordida de amor.

Meu deus, não tinha um desses desde a escola secundária!, pensou enquanto se
endireitava e se sentiu constrangida pelo que as pessoas poderiam pensar quando a
vissem. Supunha-se que era uma profissional, uma médica adulta, não uma
adolescente. Franziu o cenho, deslizou seus dedos sobre a área afetada e teve um
vislumbre de lembranças sobre o modo como tinha obtido essa marca, a lembrança se
deslizou por sua mente como a serpente em busca da maçã. Dani de repente recordou
claramente o aroma e o sabor de Decker, a maneira em que a tinha beijado. Podia
sentir suas mãos quando se deslizavam sobre seu corpo, seus dedos puxando seus
mamilos, esfregando sua coxa entre as pernas, e quando logo levou a boca até seu
pescoço ... o eco de seus gemidos e ofegos quase parecia ressonar em sua memória, e
ela fechou brevemente os olhos quando seu corpo respondeu, os mamilos começaram
a ficar duros e a dor da excitação aumentava entre suas pernas.

Sacudiu a cabeça, obrigou-se a espantar as lembranças e se aproximou de novo do


espelho para examinar o resto de seu pescoço em busca de chupões, e foi então
quando encontrou as duas feridas agudas. Ficou imóvel, olhando com uma espécie de
horror e fascinação, seus dedos instintivamente as acariciaram. Não lhe doeu, o que a
deixou assombrada, e parecia que já estavam se curando, mas vê-las a levou de novo
à noite anterior e recordou quão assustadora tinha sido sua paixão, e como ela tinha
interrompido seu beijo e levantou a cabeça para tomar ar, estirando o pescoço antes
que Decker o tomasse como uma oferenda sacrificial.

Droga, como pôde ser tão estúpida? pensou consternada. O homem lhe havia dito
que era um vampiro, mostrou suas presas e contudo não só tinha sido tão ingênua
para desfrutar com ele do que quase foi um queda na caminhonete, mas o tinha feito
sem sequer colocar primeiro um pulôver de pescoço alto, ou um cachecol ou algo
para proteger-se. E então, ela tinha estado tão satisfeita que o convidou a mordê-la e
sem pensar lhe ofereceu seu pescoço. Supôs que era como oferecer um filete a um
cão. Que cão meio preparado levantaria o nariz no ar e se negaria?

Sacudindo a cabeça para si mesma, deixou cair a mão de sua garganta e deu as costas
ao espelho. Tinha coisas mais importantes do que se preocupare com sua própria
falta de sentido comum. Tinha que averiguar onde se encontrava e o que tinham feito
com sua irmã depois de que a tinham resgatado no aeroporto na noite anterior. Ao
menos, pressupunha que tinha sido a noite anterior. Mas a verdade era, pelo que
sabia, que poderiam ter passado vários dias desde que Decker e Justin tinham ido ao
aeroporto atrás de sua irmã e do homem que a tinha sequestrado.

Dani enrugou o cenho ante a possibilidade e correu rapidamente do banheiro para a


única porta que ainda não tinha aberto. Para seu alívio não estava trancada e
acreditou que isso era um bom sinal. Ao menos não parecia ser prisioneira ali, onde
quer que fosse onde estava, pensou ia para um corredor comprido e estranho, e
olhava com inquietação a um lado e ao outro. Não tinha idéia de que caminho tomar,
por isso simplesmente começou a caminhar para a direita.

Essa direção a levou a um conjunto de escadas largas que descendiam até o primeiro
piso da casa. Dani desceu lentamente por elas, seu olhar foi até a entrada vazia no
fundo e passou através das portas abertas das salas localizadas de cada lado, para ver
que estavam completamente desprovidas de móveis. Isso, junto com o silêncio
começou a atemorizá-la um pouco.

Dani se deteve no último degrau para escutar, mas não pôde ouvir nenhum som. De
onde estava podia ver as largas janelas localizadas a cada lado das portas duplas, e
uma vez mais se deparou com uma grande extensão de grama e com o que poderia
ter sido uma pista de aterrissagem asfaltada, mas que suspeitava ser um caminho de
entrada. Embora não houvesse extensões de campo aqui, o jardim também estava
rodeado de bosques por toda parte. Pareciam densos e profundos, e o caminho se
perdia entre eles.

- Alex?

Dani se voltou surpreendida, mas não via nenhum corpo que correspondesse à voz
que tinha falado. Não foi até que voltou a falar que se deu conta de que era a voz de
uma mulher e que não provinha das cercanias, mas sim tinha chegado através da casa
vazia.

- Sim, é obvio, estou bem. Só queríamos passar outro dia juntos. Por outra parte, o
senhor Babcock me devia pelo menos um dia mais depois de me fazer trabalhar em
meu dia de descanso- disse a voz.

Dani começou a andar lentamente pelo corredor à direita, seguindo a voz.

- Não, ele não ficou louco porque tomei um dia mais- assegurou a voz, e logo
adicionou: - Ao menos não até que o dei a notificação.

Várias portas se alinhavam no corredor, moveu-se ao longo dele e olhou em cada


uma, encontrando mais quartos vazios.

- Tenho um novo trabalho- continuou a mulher. - E me vou mudar com...

A voz de repente morreu e isso a levou a parar abruptamente. Mas então viu que a
oradora estava situada no extremo oposto da habitação, de costas para ela. Era alta e
esbelta, com o cabelo comprido e escuro recolhido em um coque. Usava um traje
escuro de jaqueta e saia e estava falando ao telefone, ou escutando nesse momento,
para o caso dava no mesmo.

Não desejando interromper, olhou com curiosidade a cozinha. Assim como o resto da
casa, este recinto parecia limpo. Tinha um refrigerador, fogão e microondas, mas os
armários brancos estavam vazios e o balcão pequeno com vista para o jardim traseiro
não tinha equipamentos que deveriam ter estado ali.

- Não, não perdi a cabeça- disse a mulher com exasperação, reclamando a atenção de
Dani. - Olhe, tenho que ir trabalhar, vou passar pelo restaurante esta noite para lhe
explicar isso, de acordo?

A mulher grunhiu ante a resposta de quem estava falando e disse adeus. Não foi até
que se voltou para deixar o telefone na base ao lado da mesa que ela viu Dani. Fez
uma breve pausa, uma expressão de surpresa aumentou ainda mais seus olhos já de
por si grandes, e logo continuou caminhando para a mesa.

- Minha irmã- explicou-lhe ela, colocando o telefone na base. Depois se voltou para
olhar Dani e acrescentou com ironia: - Ela pensa que eu perdi a cabeça. Agora só
tenho que encontrar uma maneira de tranqüilizá-la sem lhe dizer a verdade.

Quando Dani ficou olhando-a em silêncio, sem saber o que lhe dizer, ela fez uma
careta e disse: - Sinto muito Dani. É obvio que não tem nem idéia de quem sou, não
é? Seus saltos altos faziam clique no piso enquanto avançava lhe estendendo a mão. -
Sou Samantha Willan, me chame de Sam.

Dani se endireitou um pouco quando recordou o nome, - A Sam do Mortimer?

-Sim-. A mulher sorriu feliz enquanto se apertaram as mãos, o rosto se transformou


de um pouco quase insosso a um quase bonito. Quando Dani sorriu insegura, Sam
inclinou a cabeça e lhe disse com simpatia. - Deve ser inquietante despertar em uma
cama estranha e em uma casa estranha, especialmente em uma que está meio vazia-
acrescentou olhando a seu redor antes de lhe explicar. - Bastien comprou a casa, mas
só adquiriu o mobiliário mínimo.

-Bastien?- perguntou ela, recordando vagamente Justin e Decker mencionando esse


nome.

- Sim. Sou bastante nova em tudo isto, mas parece que ele é o homem para tudo se
precisar que algo seja feito- explicou Sam e logo suspirou. - Acredito que Lucian lhe
disse que comprasse uma casa nos subúrbios, para que os executores a utilizassem
como sede e encontrou esta. Também comprou camas, um refrigerador, o fogão e
outros aparelhos, mas disse que pensava que devia deixar que os móveis fossem
escolhidos por quem fosse viver aqui ... e vamos ser Mortimer e eu.- Fez uma pausa
para olhar para os armários superiores vazios que lhes rodeavam e fez uma careta. -
Acho que de algum modo isso foi bonito de sua parte, mas agora não tenho tempo
para compras.

Dani só a olhou confunsa.

- Não tem nem idéia de onde está, não é?- perguntou-lhe Sam de repente, e moveu a
cabeça antes de acrescentar: - E eu não tenho tempo para lhe explicar isso. Já estou
atrasada para o trabalho. Sam golpeou os dedos com impaciência na mesa de
mármore, exalou um suspiro de exasperação e começou a mover-se além dela.
-Acredito que teremos que acordar Decker. Odeio fazê-lo, mas é sua culpa. Disse-lhe
que deveria despertar ontem à noite, mas...- encolheu-se de ombros.

- Está bem- disse Dani rapidamente. - Se está atrasada, me diga onde ele está e vou
encontrá-lo e perguntar-lhe eu mesma.

- OH, obrigado- disse ela aliviada enquanto dava a volta. Imediatamente se dirigiu
para uma bolsa que estava na mesa junto a uma porta no outro extremo da habitação.
- Está em seu quarto. Dormindo. Todos estão. É de dia e estiveram acordados toda a
noite procurando a sua irmã.

- Stephanie?- perguntou ela alarmada, e quando Sam assentiu com a cabeça,


perguntou: - não estava no aeroporto?
Sam se deteve com a mão em sua bolsa e uma expressão preocupada, mas logo,
simplesmente disse: - Realmente tenho que ir trabalhar Dani, e isto não vai ser algo
rápido e fácil de responder. Acredito que Decker deve lhe explicar isso.

- Onde está seu quarto? -perguntou ela abruptamente, desejosa de saber a respeito de
sua irmã.

- É a habitação ao lado da sua- disse-lhe, com evidente alívio quando não insistiu
que explicasse. Agarrou sua bolsa e passou a correia sobre o ombro, enquanto
acrescentava - Ele queria estar perto caso você acordasse. Não que isso tenha feito
muita diferença.

Dani assentiu com a cabeça e se voltou por onde tinha vindo.

- Dani?- chamou-a Sam para detê-la.

Ela se deu volta ante a pergunta.

- Não fique tão zangada com Decker. Pelo que sei dele, é um homem muito bom. E
encontrar uma companheira de vida aparentemente pode pôr uma pessoa fora de
ritmo, por dizer o mínimo. -Sam sorriu com ironia quando disse isso e logo se voltou
e se dirigiu para a porta atrás dela.

Dani conseguiu ver o interior de uma garagem com três veículos estacionados em seu
interior e logo a porta se fechou. Ela esperou até que ouviu ligar o motor, e a seguir
se dirigiu até o corredor, seu aborrecimento aumentava a cada passo. Estava furiosa
porque ela tinha sido deixada de lado, ou possivelmente ele a fez dormir durante os
acontecimentos da noite e agora não sabia que diabos estava acontecendo. Além do
fato de que sua irmã parecia que ainda estava sequestrada, não tinha idéia do que
tinha acontecido. A última coisa que lembrava era que estava rodando na parte
traseira da caminhonete com Decker, embora reconhecesse que essa era uma
descrição bastante pobre do que tinha ocorrido. Os poucos momentos de paixão
tinham sido como nada do que jamais tinha experimentado antes. Eles estavam
gravados a fogo em seu cérebro, assim como a imagem das marcas de mordida no
pescoço. Ainda assim, eles não ardiam tanto como sua ira no momento que seguiu o
caminho de volta, passou seu quarto e continuou até a porta seguinte.

Dani se deteve e levantou a mão para bater na porta, e logo fez uma pausa. Ela tinha
a intenção de bater furiosamente na porta para despertar o homem, mas tendo em
conta o fato de que Sam lhe havia dito que todos estavam dormindo, vacilou. Não
tinha idéia de quem eram todos, mas se todos tinham passado toda a noite
procurando a sua irmã, ela não tinha nenhum desejo pertubar seus sonhos. Decker,
entretanto, era outro assunto. Realmente gostaria de bater nele... e decidiu o que faria
enquanto se aproximava para pegar a maçaneta.

Decker tinha tido problemas para dormir e não acreditava ter dormido muito, quando
foi atacado pelo que pensou em um princípio ser um gato selvagem. Assobiava e
grunhia meio ajoelhado sobre ele e lhe passava pelo rosto umas garras afiadas.

Abriu os olhos de repente, agarrou a criatura e instintivamente rodou para capturá-lo


com a parte inferior de seu corpo contra o colchão para que não pudesse arranhá-lo
com suas patas traseiras. Decker tinha lutado antes com felinos selvagens.

Só depois de que tombou o corpo dela e tinha imobilizado seus braços a ambos os
lados da cabeça, é que despertou o suficiente e seus olhos frágeis se limparam para
notar que não era um gato, mas sim uma mulher.

- OH. Dani. Decker desceu sua testa e a deixou descansar um instante sobre o peito
dela enquanto se recompunha. Logo se levantou e lhe ofereceu um sorriso de
desculpa. - Sinto muito. Eu estava dormido e pensei que era...

- Mordeu-me!- disse ela bruscamente, interrompendo-o.

Os olhos Decker caíram sobre sua garganta para ver a prova de seu mau
comportamento na noite anterior e ficou olhando, muito consciente da sensação que
despertava o corpo dela debaixo do dele, enquanto rememorava o momento em que
lhe tinha feito as feridas ... e o chupão, que se deu conta que se destacava muito bem.

Maldição, pensou enquanto olhava a contusão. Esse era um dos bons, mas esperava
que os homens não o vissem. Começariam a chamá-lo Hoover.

-Mordeu-me- repetiu ela, as palavras saíam em assobios e suspeitava que estava se


esforçando para que não a escutassem. Isso explicava por que tinha pensado que ela
era um gato, supôs, e logo ficou rígido quando ela começou a mover-se debaixo dele,
lutando por liberar-se. Decker dormia nu e podia sentir o ar fresco em seu traseiro nu,
ali onde ambos estavam deitados, com apenas a coberta entre eles. Também podia
sentir que se endurecia enquanto ela se mexia tentando tirá-lo de cima.

- É possível que deseje deixar de fazer isso- advertiu-lhe Decker.

- Você gostaria disso, não é?- grunhiu ela, soando incrivelmente como uma gata
molhada e zangada.

- Na verdade, prefiro que continue se movendo. É você quem acredito que pode não
gostar das conseqüências- disse ele com voz cansada, movendo os quadris para
pressionar sua ereção contra ela e assim reforçar seu ponto. Satisfeito pelo modo em
que de repente ela ficou imóvel, acrescentou com tom sério: - Lamento ter te
mordido. Temo que estava um pouco super-excitado. Mas para sermos justos, você
também me mordeu.

- Eu não...- Dani se deteve no meio da negação, e piscou enquanto ela aparentemente


se recordava afundando seus dentes no ombro dele. Tinha sido uma boa dentada
também, não uma pequena mordida. A mulher também o tinha marcado. Felizmente,
ele tinha estado tão excitado que apenas o havia sentido.

Decker viu que seu olhar se deslizava preocupado com seu ombro, e sabia que ela
estava olhando se tinha piorado mais o ferimento de bala. Não se surpreendeu
quando viu sua cara de incredulidade.

- Desapareceu- ela reteve o fôlego assombrada.

Ele não olhou para baixo, sabia que Dani estava falando da ferida de bala. Curou-se
por completo e tinha desaparecido durante as horas de sono da manhã. Não havia
nem sequer uma cicatriz.

- Deus querido. Ela ofegou soando consternada, e ele pensou que ainda estava
reagindo ante suas habilidades de cura quando de repente ela gritou: - Está nu!

Decker, sorriu ironicamente. - Que bom que tenha notado.

Dani simplesmente ficou olhando-o, seus olhos se moveram sobre o peito nu e logo
ao lado, para dar uma olhada ao longo de sua lateral e as costas. Um calor lento e
ardente se internou em seus olhos, e sua língua se deslizou para lamber os lábios. Ele
estava seguro que se tratava de uma ação inconsciente, mas foi suficiente para que
fizesse correr mais sangue para sua virilha e aumentasse o endurecimento. Decker
grunhiu em voz baixa e baixou a cabeça para beijá-la, mas se encontrou beijando os
dedos da mão dela que de repente apareceram em sua boca.

- Stephanie- disse ela quando ele levantou a cabeça, sua voz de novo era dura e fria.

Decker vacilou um instante, logo suspirou e saiu de em cima dela levando o lençol.
Logo fechou os olhos, tratando de ordenar seus pensamentos enquanto sentia que a
cama se movia e ela se sentava junto a ele.

- Sam me disse que esteve acordado toda a noite procurando a…

Sentindo-se curioso por sua pausa repentina, Decker abriu os olhos para encontrar o
olhar dela fixo em sua virilha, tinha os olhos abertos pelo assombro. Depois de seu
olhar, não esteve surpreso de encontrar uma pequena tenda de campanha armada ali,
mas ao que parecer ela estava surpresa. Não sabia porque. Com certeza havia sentido
sua ereção enquanto ele estava sobre ela.

- Dizia?- perguntou-lhe ele com tom seco.

- O que?. Dani se voltou para olhá-lo no rosto, logo esclareceu a garganta antes de
continuar. - O que aconteceu no aeroporto? Não resgatou Stephanie?

- Não- respondeu ele simplesmente.

Ela franziu o cenho ante a resposta inútil, a preocupação enrijeceu suas feições, e
logo perguntou: - E o homem que a levou?

- Também escapou- disse Decker em um suspiro.

- Escapou?- perguntou ela franzindo o cenho sobre sua escolha de palavras. -Quer
dizer com ela, não é? A levou com ele. Não é como se ela fugisse por sua conta.

- Não estamos certos disso- disse, e logo se sentou na cama para apoiar-se contra a
parede, e lhe explicou. - Quando Bricker e eu chegamos ali, os três veículos estavam
parados no meio do caminho na parte traseira do estacionamento, mas não havia
ninguém à vista. Não sabíamos onde estava cada um, ou inclusive a que executores
pertenciam esses dois veículos. Estava dormindo e eu não queria te deixar sozinha,
assim decidimos revistar o veículo.

- O que encontrou? -perguntou ela nervosa.

- Nada- assegurou-lhe Decker.

Dani fechou os olhos com evidente alívio, sabia que ela tinha temido que pudesse
haver sangue ou alguma outra coisa que sugerisse que Stephanie tinha sido ferida.
Alegrou-se de pelo menos poder lhe assegurar isso. Não tinha nada mais para lhe
dizer.

- Lucian apareceu justo quando estava a ponto de chamar Bastien- continuou. - Ele
sabia quem eram os voluntários e os chamou. Acabavam de finalizar a busca no
aeroporto e estavam retornando, assim os esperamos ali.

- Os voluntários?- o ela interrompeu abruptamente antes de que pudesse continuar. -


Refere-se aos executores, não?

- Não. Refiro-me a voluntários. Toronto é enorme, e não havia suficientes executores


na área para cobrir todos os lugares. Bastien chamou uns voluntários para que
ajudassem na busca- admitiu ele a contra gosto, pensando que se os homens nos dois
primeiros veículos tivessem sido executores em lugar de voluntários, as coisas teriam
sido muito diferentes e que sem dúvida agora Stephanie estaria a salvo. Infelizmente,
isso não era o que tinha acontecido.

- O que aconteceu a Stephanie?- perguntou ela impaciente quando ele ficou em


silêncio.

Ele suspirou, passou-se uma mão pelo cabelo e recordou o que lhe haviam dito.
-Quando o primeiro veículo chegou até onde estava o veículo roubado, já estavam no
estacionamento. Eles o seguiram, e então nosso segundo veículo chegou e puderam
obrigá-lo a parar. Mas quando se apressaram a ir para o veículo roubado, só
Stephanie estava em seu interior.

- O que?- Dani ficou sem fôlego pelo assombro e logo moveu a cabeça. - De maneira
nenhuma, Stephanie acaba de fazer quinze anos. Ela não tem uma licença. Nem
sequer tentou praticar ou averiguar como conduzir- disse com firmeza, e logo,
suspirou quando acrescentou - Este verão ia sair ao campo para lhe ensinar.

- Dani, ela estava conduzindo- disse ele em voz baixa, e logo adicionou: -
Provavelmente estava sendo controlada.

- OH- disse ela, logo franziu o cenho e lhe perguntou: - Como puderam perdê-la?

Decker continuou : - Quando lhe perguntaram onde estava seu sequestrador, disse-
lhes que lhe tinha ordenado que uma vez que chegasse ao estacionamento seguisse
dirigindo em círculos e que logo parasse.

- E ela o fez?- disse ela confundida. - por que não saiu imediatamente para procurar
ajuda? Por que?
- Ele pode ter estado ainda controlando-a, Dani- disse Decker brandamente.

Ela tragou saliva e assentiu. -O que aconteceu depois?

- Os homens tinham receio que o renegado estivesse tentando fugir de avião, por isso
lhe disseram que se permanecesse ali, que a levariam para sua irmã logo que
retornassem, e então correram para o aeroporto para caçá-lo.

- Eles a deixaram ali sozinha- disse ela com incredulidade. - Os voluntários não
poderiam ter sido tão estúpidos.

Decker voltou a duvidar, teria preferido esperar para evitar lhe dizer esta parte, mas
finalmente admitiu: - Não, claro quee não. Havia um guarda de segurança na área.
Eles o trouxeram, disseram-lhe que eram policiais e que Stephanie era uma vítima de
sequestro e que precisavam que ficasse com ela e que a mantivesse calma enquanto
perseguiam o sequestrador.

Parou e olhou para baixo ao lençol que cobria todo seu corpo, não se surpreendeu em
nada ao ver que a barraca ja estava desarmada.

- E ele acreditou neles?- perguntou Dani surpreendida. - Eles não distintivos, não é?

- Eles não as precisam- assinalou Decker.

- OH, bem. Utilizaram o controle mental- murmurou ela ao dar-se conta e logo
franziu o cenho. - Então, onde está ela? O que aconteceu? Ele não a deixou vagando
sozinha por ali, certo? Ela poderia estar por aí em estado de shock.

- Ele não a deixou ir exatamente- interrompeu Decker, evitando olhá-la nos olhos.
Esta era a parte mais difícil de dizer, mas não podia evitar. - Quando voltaram a sair e
nos disseram que Stephanie e o guarda deveriam estar ali, nos dispersamos para
buscá-los no estacionamento. Não encontramos Stephanie.

- E o guarda?

- Morto- disse ele sem rodeios.

Tal como tinha temido, Dani abriu os olhos com horror e medo. - O que…?. Como…
foi…?

- Sua garganta estava cortada- respondeu Decker antes de que ela pudesse terminar a
pergunta.

Dani se inclinou para trás, seu rosto tinha uma palidez doentia. - O renegado matou
esse pobre homem e levou Stephanie.

- Isso é o que pensamos- disse ele com cuidado.

- O que significa pensamos?- perguntou ela com frieza. - É obvio que sim. Não pode
ter ido com ele de boa vontade.

- Não, provavelmente não- reconheceu ele. -Mas não entendemos por que se
incomodou em levá-la com ele, quando seria mais fácil para ele escapar sozinho.

Dani franziu o cenho ante suas palavras e logo ficou pensativa um momento antes de
dizer: - ele a observava muito.

- Viu isso?- perguntou ele com curiosidade.


Ela assentiu. - Vi-o olhando Stephanie na caminhonete, mas no bosque ficou para
nos vigiar e não parecia tirar os olhos de cima dela. Ele ficou ali, com uma expressão
muito intensa e fechada sobre ela, como se sua vida dependesse disso. Foi
horripilante. Eu queria... . Dani moveu a cabeça tristemente e desprezou esse
pensamento. Ambos estiveram em silencio por um momento e logo disse: - Assim
ainda estão perseguindo-os?

Ele assentiu com a cabeça.

- Mas então, por que estamos aqui?- perguntou ela com um repentino estalo de
frustração. - Deveríamos estar na estrada atrás dele.

Decker segurou pelo braço quando ela começou a sair da cama. - Ele não levou a
caminhonete.

- Não ...?.- Dani o olhou sem entender, e a seguir um novo horror começou a crescer
em seus olhos quando se deu conta do estado da situação. - Perderam-na!

Decker se estremeceu, mas se apressou a lhe dizer, - vamos encontrá-la.

Não parecia como se ela acreditasse provável, logo suspirou e olhou a seu redor,
-Tenho que chamar meus pais. Eles devem estar preocupados.

- Estão bem. Lucian enviou um par de homens para que se ocupassem deles a noite
anterior- disse Decker, e ela abriu os olhos alarmada.

- Ocuparam-se deles, como?


Dani fez a pergunta como se suspeitasse que sua gente tivesse ido e os tivesse
matado como a cães na rua ou algo assim. Essa reação o irritou e lhe fez estalar. - Só
entraram em suas mentes e lhes fizeram pensar que Stephanie e você pararam em
Toronto alguns dias para ver as paisagens e visitar o Parque de Atrações Wonderland.
Era para que não se preocupassem. Se você os chamar, só vai perturbá-los e
confundí-los. Estão felizes e tranquilos. E não é provável que chamem à polícia
mortal e provoquem uma "situação", pensou, mas não o disse em voz alta.

Dani ficou olhando-o em dúvida durante uns instantes, logo moveu a cabeça e disse
com tom cansado. -Deveria ter acordado.

- Não foi necessário. Não podia fazer nada para ajudar em ambos os casos.

- Poderia ter ajudado a procurar Stephanie- replicou ela. -Outro par de olhos não teria
feito mal. Além disso- acrescentou zangando-se de novo - nenhum de vocês sabem
como ela é.

- Cada homem tem uma imagem dela- assegurou-lhe ele, sério.

Isso lhe fez franzir o cenho. - De onde tiraram uma imagem dela?

Decker vacilou, sabendo que ela não ia gostar disto, mas finalmente admitiu, - De
suas lembranças.

- O que?- disse ela com voz entrecortada.

- Também temos uma imagem de seus pais- acrescentou ele rapidamente. - Mas essa
é mais artificial, e frequentemente não se parecem muito à pessoa, as imagens dela
em sua memória são melhores. São mais recentes e naturais e também nos disse o
que vestia.

- Quer dizer que deixou que um punhado de seus homens pinçassem dentro de minha
cabeça?- ofegou Dani com um horror que sugeria que era equivalente à violação, e
Decker entendeu seu sentimento. Só Deus sabia o que poderiam ter visto sem dar-se
conta, enquanto entravam em seus pensamentos. Lucian lhes tinha ordenado que se
aderissem à superfície de suas lembranças mais recentes, e Decker confiava que os
executores com os que trabalhava tinham feito isso. Entretanto, muitos dessas
lembranças incluíam a ele, e isso era algo que preferia ter mantido em particular,
como o incidente na parte traseira da caminhonete.

Decker nunca o diria a Dani, mas estava bastante seguro de que já não era privado.
Não tinha perguntado a nenhum deles, mas a julgar pelos murmúrios e as olhadas
que lhe lançaram alguns executores e voluntários quando terminaram de ler seus
pensamentos, quase todo mundo tinha sido testemunha disso.

- Era necessário- disse ele apartando seus pensamentos de lado. - Tínhamos que ter
uma imagem clara e recente de ambos, de Stephanie e do homem que a levou. Só
consegui lhes dar uma olhada rápida quando escaparam. Você viu e tem um montão
de imagens visuais claras de Stephanie e do renegado que a sequestrou. Agora eles
sabem exatamente a quem e o que estão procurando, e estiveram toda a noite fora
buscando-os.

Com os ombros e a cabeça encurvada em sinal de derrota, Dani olhou suas mãos por
um momento, aceitando por sinal a situação, e logo levantou a cabeça. -Eles
estiveram procurando toda a noite, mas há alguém buscando-os agora?
Provavelmente não, não é verdade? -respondeu ela mesma. - Vocês devem evitar o
sol.
- Temos janelas especialmente revestidas nas caminhonetes. A maioria dos homens
ainda estão buscando-os. Eu também o fiz até… - Decker girou sua cabeça em busca
de um relógio, mas o quarto estava totalmente vazio, à exceção do colchão no chão.
Isso ia mudar muito em breve, mas por agora... Agarrou seu relógio, que estava no
chão junto a suas calças jeans e fez uma careta ao ver a hora. -…faz meia hora.
Voltei porque pensei que estaria por despertar e queria te dizer o que tinha
acontecido. Quando me inteirei de que estava dormindo, decidi deitar até que
despertasse.

- Bom, estou acordada.

- Correto- Decker suspirou com cansaço.

- Vou dirigir e você pode dormir. Despertarei se a encontrar…- Dani se deteve de


repente e disse, - Nicholas.

- O que acontece ele?- perguntou ele franzindo o cenho.

- Chamou? Também o perderam? Chamou? -repetiu ela com impaciência.

- Não. Não ouvimos nada dele- respondeu Decker.

Dani franziu o lábio e logo lhe perguntou bruscamente: - Onde está meu telefone?

- Ainda está em meu jeans.O que…- A palavra terminou com um surpreendente “ei”
quando ela de repente passou engatinhando por cima dele para chegar até suas calças
jeans junto à cama. Decker deveria havê-la detido, mas se distraiu com seu traseiro
que de repente estava frente a sua cara enquanto ela se inclinava sobre ele, os joelhos
dela estavam junto a uma de suas coxas, e uma mão estava sobre o outro, balançando
seu peso para chegar à pilha de roupa.

Era um traseiro muito bonito, decidiu Decker quando se moveu diante de sua cara, e
se balançava um pouco enquanto ela revistava as calças jeans procurando o vulto que
devia ser seu telefone.

- Achei!- o traseiro de Dani de repente saiu de sua linha de visão quando se


endireitou, com o telefone na mão. Decker suspirou com decepção. Tinha sido uma
visão muito agradável e tinha tido a tentação de agarrá-lo de novo como o fez na
caminhonete e …

Estava distraído em seus pensamentos quando ouviu que Dani amaldiçoava entre
dentes.

- O que acontece?- perguntou Decker, obrigando-se a olhar a seu rosto enquanto ela
se recostava sobre suas pernas.

- Minha bateria- disse Dani, tocando seus bolsos. - Deve ter caído quando:... deteve-
se de repente e se deu volta olhando-o fixamente. - Quem me despiu?

- Sam e Leigh- disse ele a sua vez, sem incomodar-se em mencionar que tinha tido a
intenção de fazê-lo ele mesmo, mas elas o tinham espantado, a levaram e assumiram
a tarefa.

- Hmm- murmurou ela sem olhá-lo, como se não lhe acreditasse. Logo, de repente
ficou de pé, apressou-se a sair da cama e correu para a porta.

Decker a viu sair correndo do quarto e logo se olhou dando um pequeno suspiro. No
lençol, de novo tinha aparecido uma barraca armada por debaixo da cintura quando
tinha visto dançar seu traseiro ante sua cara. Por um lado, foi bom saber que podia ter
ereções como esta em repetidas ocasiões, depois de oitenta anos sem sequer uma
faísca de interesse nessa área. Por outro lado, parecia um desperdício ter que perdê-
las. Decker voltou a suspirar, jogou os lençóis de lado e ficou de pé colocando seus
jeans para ir atrás dela.

Capítulo 8

Dani procurou no chão ao redor do colchão, mas não viu a bateria emr nenhum lugar.
Estava engatinhando sobre a cama, olhando sob os travesseiros, os lençóis e a manta
quando Decker falou da porta.

- Não achou?- perguntou ele. Não parecia muito surpreso.

Ela se sentou sobre suas pernas e negou com a cabeça tristemente. - Não, não sei
onde poderia estar. Estava em meu bolso.

- Talvez tenha caído- sugeriu Decker, evitando seu olhar. – Igual ao telefone.

- Sim, caiu- disse ela em voz baixa, e logo parou, passou junto a ele e continuou pelo
corredor.

- Onde vai? - perguntou ele atrás dela.

- A procurar no veículo. Talvez tenha caído no chão enquanto estávamos lá… . Dani
se interrompeu abruptamente, consciente de que se ruborizava pelo que tinham feito
no piso da caminhonete.

- O veículo não está aqui.

- O que?- Ela deu a volta ante o anúncio. -Por que não? Onde está?

- Mortimer e Sam trouxeram de novo meu veículo particular, então levaram o outro
às empresas Argeneau. Planejam construir um estacionamento aqui para os
automóveis, mas até que o façam, ainda ficam guardado na compahia....

- Bom, então vamos ter que ir às Empresas Argeneau- disse-lhe Dani quando o
interrompeu. Mas quando deu a volta para continuar caminhando para a escada,
Decker a pegou pelo braço para detê-la.

- Não tem sentido fazer isso, Dani. Provavelmente não estará lá. Algum dos outros
homens devem estar utilizando-o para procurar Stephanie e o renegado.

Ela franziu o cenho ante essa possibilidade e logo disse: - Bom, só tem que chamar
Bastien e averiguar a quem entregou o veículo para que possamos...

- Bastien está dormindo- disse Decker de uma vez. -Por que não esperamos até que…

- Não vou esperar. Vamos acordá-lo- espetou Dani, e logo moveu a cabeça com
perplexidade ante a resistência que encontrava. - Jesus, Decker, é minha irmã …

- Já sei- disse ele docemente, tratando de acalmá-la ... e ela percebeu que
provavelmente ele tentava que ela baixasse a voz, pela forma em que olhava para a
porta do corredor.
Dani não queria acordar todo mundo, só Bastien, se isso significava que poderia
obter uma vantagem para sua irmã, por isso se deu volta e caminhou pelo corredor
até as escadas. Ela baixou correndo, logo seguiu até a cozinha, onde finamente o
olhou de frente. Mas quando Dani abriu a boca para falar, lhe ocorreu que não
tinham que acordar ninguém.

- Não temos que acordar Bastien- anunciou, e Decker imediatamente se relaxou, seu
alívio foi evidente. Até que ela adicionou: -Pegaremos seu veículo e vamos à cidade
para comprar uma bateria de reserva.

Decker fechou os olhos e sacudiu a cabeça. - Dani, Nicholas não te vai chamar. Ele...

- Você não sabe- protestou ela, elevando a voz com frustração, e logo lhe perguntou:
- por que está tentando me deter?. E por que não despertei ontem à noite? Ou
realmente não foi um sonho natural? Justin esteve me controlando e me induziu para
que dormisse de propósito?

Seu rosto culpado, foi suficiente resposta, e Dani sentiu que a raiva e a frustração
explodiam dentro dela.

- É um descarado- gritou ela agarrando o telefone sem fio, que era a única coisa que
havia na cozinha para agarrar e o levou para trás para jogar-lhe. Foi então que Dani
aprendeu que os imortais podiam mover-se rapidamente. De repente, Decker estava
ali, frente a ela, agarrando-a por ambos os pulsos. Apertou-lhe o pulso da mão em
que tinha o telefone até que ela o deixou cair e logo a sacudiu ligeiramente.

-Me escute- espetou-lhe. -Nicholas não é o herói que você pensa que é. Há cinquenta
anos matou uma mulher.
- Que diabos está acontecendo aqui?

Ambos se congelaram e giraram a cabeça para a porta quando Lucian ladrou essa
pergunta.

Decker soltou Dani e se afastou. - Sinto muito. Acordamos você?

- É obvio que não... acordaram toda a casa- grunhiu Lucian, e entrou na cozinha para
dar passagem a que entrassem outros dois homens.

Dani torceu os lábios enquanto os olhava entrar. Reconheceu Justin, mas não tinha
idéia de quem era o segundo homem, embora ela pensou que poderia ser Mortimer.
De todos os modos não importava, ela se sentia culpada por havê-los acordado com
sua discussão.

- Agora - grunhiu Lucian - me diga o que está acontecendo.

- Dani quer uma bateria para seu telefone- explicou Decker cansado. - Ela pensa que
se seu telefone funcionar, Nicholas a chamará. Pensa que ele ainda está indo atrás de
sua irmã e que poderia ser capaz de nos dizer onde estão.

Dani disse com firmeza: - Ele me chamará. Sabe que vou estar preocupada.

- Dani- disse Justin sentindo lástima por ela. - Nicholas é um renegado. Não pode
permitir o luxo de te chamar de novo. A única razão pela que te respondeu a primeira
vez foi porque não sabia que tinha o telefone.

Ela o ignorou e olhou a Lucian quando disse - Prometeu-me que a traria de volta.
Lucian meditou em silencio o que ela disse e logo perguntou: -E você acreditou?

A pergunta não era sarcástica ou dúbia, simplesmente curiosa, e Dani não duvidou
em assentir.

- Por que?- perguntou-lhe de uma vez.

- Não sei- disse ela, suspirou e admitiu: -Talvez só quero acreditar porque é a melhor
esperança de Stephanie. Quando Lucian seguiu olhando-a sem falar, Dani adicionou,
-Sei que ele é o que vocês chamam de renegado e que matou alguém. Ele me disse
isso, mas...

- Medo- murmurou Lucian.

Dani fez uma pausa e o olhou com incerteza. -Não entendi. Medo de que?

- De nada- disse ele de uma vez, e logo adicionou: - Bom, se ele está tentando
chamar, estou certo de que já se deu por vencido. Não tem sentido…

- Meu telefone tem registro de chamadas e ele não bloqueou seu número.

- O que?- disse Decker quase sem fôlego, estava surpreso.

Todos na sala pareciam estar congelados no lugar com os olhos fixos nela, mas Dani
ignorou a todos exceto Lucian. - Seu número deve estar na memória de meu telefone.

-Por que não me disse isso?- perguntou Decker, indo para ela com o rosto
atravessado pela ira. -Você sabia que o estávamos caçando. Por que diabos não me
disse que podia me dar seu número? Bastien poderia tê-lo usado para apanhá-lo.
- Essa é exatamente a razão pela qual não lhe disse isso- replicou Dani. - O homem
está tentando salvar Stephanie. Não vou pagá-lo entregando-o a vocês.

- Não é um homem, é um vampiro e um renegado- disse Decker com dureza, e a


seguir acrescentou: -E você não tem nem idéia se está tentando encontrar Stephanie
ou não. É um renegado, Dani. Por que ia arriscar sua vida por uma garota que nem
sequer conhece?

- Não sei- admitiu ela, e logo perguntou: -Por que se interpôs entre uma bala e eu
antes de nos haver conhecido? E por que ele se pôs em perigo para nos salvar a
primeira vez?

- Não sabemos por que tentou salvá-las a primeira vez- disse Decker, ignorando o
comentário a respeito de si mesmo. -Talvez andasse com esse grupo e mentiu para
salvar sua própria pele quando chegamos atrás dele. Talvez só nos guiou até esses
caras com a esperança de que estaríamos distraídos e assim pudesse escapar ... como
o fez- adicionou com amargura.

- Ou talvez ele não seja o homem que você acredita que é- respondeu Dani.

- Me dê o telefone- disse Lucian.

- Por que?- perguntou ela com receio.

-Me dê o telefone, mulher!- espetou-lhe.

Dani duvidou, mas logo o entregou a contra gosto. Em realidade não tinha muita
escolha. De todas as maneiras o homem poderia controlá-la e obtê-lo.
Lucian grunhiu o que poderia ter sido uma aprovação, quando ela o estendeu. Então
tomou e entregou imediatamente a Justin. -Entregue-o a Bastien para que veja se
alguém entre seu pessoal pode arrumá-lo. Diga que se conseguir, o envie de novo a
Dani.

Dani abriu os olhos amplamente. Tinha pensado que seria a última vez que ia ver seu
telefone, que o tomariam e o utilizariam para capturar Nicholas e que isso seria tudo.

Lucian viu sua expressão e se encolheu de ombros. – Se ele está chamando você,
poderia desligar e se desfazer de seu telefone se algum outro lhe responder.

Dani franziu o cenho ante as palavras.

- Agora volto para minha cama. Sugiro que o resto de vocês façam o mesmo. Decker,
mantenha um olho sobre ela- ordenou, e logo olhou a Dani e acrescentou: - E você
ficará aqui esperando que lhe devolvam seu telefone.

- É obvio- disse ela tranquilamente, e então só para que ele não pensasse que era
porque lhe havia dito isso, acrescentou, -Eu não queria estar em um engarrafamento
no horário de pico quando o telefone começar a tocar.

Para sua surpresa, isso pareceu divertir Lucian Argeneau, que se voltou para Decker
e lhe disse, -Eu gosto dela. Tem minha bênção. Mas sugiro que deixe de pensar com
o pinto e use o cérebro antes de perdê-la. Lhe explique a situação. Sei que você não
gosta de falar de Nicholas, mas é a única maneira de que ela entenda e veja que pode
confiar em você e talvez não em Nicholas.

Dani franziu o cenho ante as palavras. Não lhe importava se tinha sua bênção, e
apesar de que seu corpo ontem à noite respondeu em forma mais que alarmante ao
Decker na caminhonete, não tinha nenhum interesse em ser sua companheira.
Entretanto, ela queria…precisava… confiar em Nicholas. Agora Dani estava bastante
segura de que ele era sua única esperança de ver Stephanie viva de novo.

- Dani- disse Decker em voz baixa, quando os outros homens saíram da cozinha.

Ela o olhou ressentidamente, em realidade não queria falar com ele absolutamente,
mas disse: - Não deveria ter permitido que Justin me pusesse para dormir.

- Não o fez. Você desmaiou. Eu só... quando começou a se mover, pedi-lhe que te
ajudasse a continuar dormindo. Não deveria ter feito isso, e sinto muito- acrescentou
rapidamente quando ela abriu a boca para falar. Decker se encolheu de ombros
sentindo-se impotente e tratou de explicar-se: - Eu queria te economizar um pouco de
preocupação. Esperava encontrá-la antes de que despertasse e...

- Não sou uma imbecil sem cérebro que necessita de mímicos, Decker. Ela é minha
irmã. Deveria ter despertado- espetou Dani, e logo adicionou com frustração -não é
seu problema me evitar preocupações. O telefone poderia estar funcionando neste
momento, Nicholas poderia ter me chamado e poderíamos ter Stephanie conosco, sã
e salva. Em vez disso ela está por aí, Deus sabe onde e sabe Deus o que ele estará lhe
fazendo... se é que ela ainda está viva- acrescentou com amargura.

- Dani, sinto muito, mas ele não te chamará- repetiu ele com voz séria.

- Não sei. E dizer que sente não vai trazer minha irmã de volta, não é?- perguntou ela
fazendo um gesto com a mão e saindo da cozinha. Dirigiu-se pelo corredor e logo
subiu as escadas até o segundo piso, conciente de que ele estava seguindo-a, mas
tratando de ignorar este fato. Era difícil ignorá-lo quando entrou em seu quarto e
tentou fechar a porta detrás dela, mas ele o impediu.

Dani o olhou brevemente e logo moveu a cabeça com cansaço, e disse: - Vá embora,
Decker. Necessito tempo para pensar.

Ele se passou a mão pelo cabelo com um gesto cansado, enquanto a seguia para o
quarto. - Não posso.

Ela não tinha esquecido as palavras de Lucian a respeito de que a vigiasse, e Dani
estava muito cansada para discutir com ele, assim ela olhou a seu redor em busca de
uma fuga. Seus olhos se posaram na porta do banheiro.

Então fique. Mas vou tomar um banho. Suponho que não tem que estar alí comigo,
não é?

- Não, isso está bem- disse Decker em voz baixa.

Ela assentiu com a cabeça, cruzou a porta e entrou no banheiro. Dani fechou a porta,
mas em lugar de começar a preparar o banho, apoiou-se na porta de madeira e baixou
a cabeça por um instante. Tinha acordado fazia um momento, mas se sentia como se
não tivesse dormido nada. Os acontecimentos da manhã tinham sido terrivelmente
exaustivos, e tudo o que queria fazer era se encolher no chão, dormir e não despertar
até que Stephanie estivesse de volta, sã e salva.

Seus lábios se torceram ao pensá-lo. Isso era exatamente o que Decker esperava fazer
por ela, mantendo-a dormindo e estava zangada com ele por isso. Supunha que em
realidade isso não era o que ela queria absolutamente. O que realmente queria era
chegar a Stephanie e logo saber se estava viva ou morta. Evidentemente, preferia tê-
la de volta com vida, mas se o seqüestrador já tinha matado Stephanie, era melhor
saber agora que sofrer a agonia e a ansiedade entre a esperança e o medo. Isso seria
insuportável.

Mas nem sempre se consegue o que se quer, Dani se disse com gravidade, e se
obrigou a afastar-se da porta para começar a preparar o banho.

Ela tinha colocado o tampão na banheira e foi para as torneiras para começar a fazer
correr a água quando alguém tocou à porta. Franziu o cenho. Sabendo que era
Decker, estava a ponto de lhe dizer que partisse, quando ele lhe disse - Dani? Fui te
buscar um pouco de sabão e umas toalhas.

Ela piscou surpreendida por suas palavras, olhou a seu redor para ver que a toalha de
mão e a barra de sabão que tinha usado essa manhã e estavam ali, eram as únicas
coisas que havia, além de papel higiênico. Não havia toalhas de banho nem sabão na
banheira. Uma busca rápida nos armários demonstrou que estavam completamente
vazios.

- Dani?- sua voz soava preocupada com o silêncio.

Fazendo caretas ante a conclusão de que depois de tudo teria que abrir a porta, Dani
disse - Não está trancada.

Houve uma pausa e logo a porta se abriu. Decker entrou com uma pilha de toalhas e
muitas outras coisas na mão. Olhou-a com receio, e logo se dirigiu até a mesa para
lhe explicar, -Acredito que Bastien não pensou em comprar este tipo de coisas para a
casa, mas Sam foi ontem à noite até a loja que funciona vinte e quatro horas e
conseguiu algumas coisas e logo voltou para seu apartamento para procurar as
toalhas. Não me lembrei de lhe dizer isso, assim poderia escolher o que necessitava
por si mesma. Decker apoiou as coisas e adicionou: -Se houver algo no que não
pensei, me diga e lhe trarei.

O rosto do Dani se suavizou com um gesto pensativo, mas só murmurou: -Obrigada.


Quando ele deu volta e saiu do banheiro. Ela ficou ali por um momento depois que
ele se foi, em parte desejava sair e lhe dizer algo para pôr fim a esta situação
incômoda entre eles, mas não tinha idéia do que podia lhe dizer. Ele tinha se
equivocado ao mantê-la dormindo, ainda que tivesse tido boas intenções. Decker não
tinha tido a intenção de machucá-la e em certa forma tinha sido doce, mas ...

Dani sacudiu a cabeça e olhou a banheira para ver que já estava meioo cheia. Foi até
a mesa para pegar o sabão de borbulhas, um dos vários artigos que ele havia trazido
para ela. Jogou uma generosa quantidade na banheira e começou a despir-se.

A água estava morna e acolhedora quando Dani entrou nela. Foi sentando-se
lentamente, suspirando à medida que a água e as borbulhas a envolviam. Recostou-se
de novo na banheira e fechou os olhos, desejando que as borbulhas de água morna
absorvessem parte de sua tensão e de suas preocupações, mas sabendo que não o
fariam.

O som da água corrente cessou e Decker parou de caminhar pelo quarto para olhar
para a porta do banheiro, muito consciente de que Dani estava do outro lado. Sua
companheira de vida ... que de fato o odiava, pensou sombríamente. Era um
pensamento deprimente! Decker sabia que não tinha feito muito desde que a
conheceu. Primeiro tinha sido essa coisa estúpida de ser agentes do CSI, e logo a
tinha mordido, e agora se sentia como se pessoalmente lhe tivesse falhado por não ter
podido salvar Stephanie. Decker sabia racionalmente que não havia nada que
pudesse ter feito, mas isso não lhe impedia de sentir-se responsável. E nem sequer
essa era a razão pela qual ela estava zangada com ele neste momento. Era por saber
que Justin a tinha controlado para fazê-la dormir.
“Não sou uma imbecil sem cérebro que necessita de mímicos. Ela é minha irmã,
deveria ter despertado. Não é seu problema me evitar preocupações”. Suas palavras
corriam por sua cabeça e franziu o cenho olhando para a porta do banheiro. É obvio
que era seu problema. Ela era sua companheira de vida.

Agora estava irritada, olhou a sua redor em busca de um lugar para se sentar, mas o
único móvel do quarto era a cama. Decker se dirigiu à cama e se deitou sobre ela,
cruzou as pernas sobre os tornozelos e apoiou as mãos em seu estômago escutando
os sons da sala contigua.

Ela já estava na banheira ou acabava de despir-se? perguntou-se e não se


surpreendeu muito quando seus pensamentos se deslocaram para o sul, criando uma
imagem dela ao tirar-se sua camiseta pela cabeça, deixando-a cair ao chão enquanto
suas mãos se moviam pelas costas e subiam para desfazer os ganchos de seu sutiã.

Decker ainda recordava a sensação sedosa disso quando o tinha afastado de seu peito
para tocar sua pele quente. Ele também recordou o aroma dela e saboreou a
lembrança enquanto em sua cabeça continuava desenvolvendo o que ela poderia
estar fazendo. Ela permitiu que o sutiã deslizasse por seus braços e o deixou junto
com sua camiseta. Em sua imaginação, Dani se retorceu o cabelo e o recolheu na
parte posterior da cabeça, de modo que só umas poucas mechas penduravam ao redor
de seu rosto. Uma vez feito isto, desabotoou suas calças curtas. Baixou-a e no
momento em que chegou ao chão, deu um passo ao lado e se desfez dela. Logo
deslizou seu polegar por debaixo do elástico a cada lado das calcinhas e pouco a
pouco foi as baixando pelos quadris, as coxas e os joelhos, até que ela pôde tirar-lhe
tirando um pé de uma vez. Elas caíram sobre o piso do banheiro enquanto Dani dava
uns passos cuidadosamente e entrava…OH tão lentamente na banheira cheia de
borbulhas.
Um pequeno gemido de decepção deslizou dos lábios de Decker quando a água e as
borbolhas envolveram seu sonho de Dani, ocultando a de vista. Fez uma careta para
o teto e se disse que era sua companheira de vida e que tudo sairia bem. Que chegaria
o dia em que simplesmente ele entraria ali, enquanto ela estava recostada no
banheiro. E lhe sorriria dando boas-vindas, faria um sinal com seu dedo para que ele
fosse a bordo da banheira e logo lhe acariciaria lentamente a perna antes de deixá-la
deslizar-se. Acariciando-o através do tecido de suas calças jeans lhe perguntaria:
Quer me acompanhar? A banheira é suficientemente grande para nós dois.

- OH sim- Decker ofegava, Dani se sentou e agarrou o botão de suas calças.


Desabotoou-o com uma mão, as borbolhas se grudavam ao botão e logo levantou
seus olhos para ver o rosto enquanto lhe baixava o zíper lentamente. Ele empurrou
seu jeans por seus quadris no momento em que ela terminou, deixando que se
amontoassem ao redor dos tornozelos, e ela se agachou para ajudá-lo a sair deles,
logo voltou sua atenção a sua cuecas boxer. Dani a baixou muito mais lentamente do
que o tinha feito com os jeans. A cintura elástica ficou presa na ereção que emergia
de modo que ela teve que levantá-la por cima de seu eixo. Um sorriso se desenhava
em seus lábios e se inclinou para frente para posar um beijo na ponta antes de lhe
ajudar a tirar-lhe .

Dani levantou a cabeça para olhá-lo, seus olhos apenas se deslizaram sobre o que
tinha revelado quando murmurou, - Sua camisa.

Decker a tirou por cima de sua cabeça. No momento em que seu rosto esteve envolto
no pano suave e que não podia ver o que ela estava fazendo, Dani agarrou a ereção
em uma mão ensaboada e de repente a apertou brandamente enquanto a percorria
com os dedos.
Estremecendo-se pela explosão de desejo que se disparou através dele, Decker tirou
de um puxão a camisa para atirá-la por cima de seu ombro e logo fez que a mão dela
o soltasse e se aproximou da borda da banheira. Dani se moveu a toda pressa para
frente, deixando espaço detrás dela enquanto ele entrava na água. Decker se sentou
detrás dela, a água quente deslizava sobre sua pele como uma carícia enquanto se
acomodava, Dani retrocedeu para sentar-se entre suas pernas e se reclinou contra seu
peito.

- Estava te esperando- murmurou ela, enquanto lhe acariciava as coxas sob a água.

- Estava?- perguntou Decker. Tinha estado esperando por ela duzentos e cinqüenta e
nove anos. Suas mãos se deslizaram pelos braços dela e acariciaram a pele suave dos
cotovelos, seus dedos roçaram o oco interior dos braços com uns toques ligeiros que
a fizeram estremecer-se contra ele.

- Sim- ofegou ela movendo-se contra ele. - Tinha a esperança de que me lavasse as
costas.

Decker esboçou um sorriso enquanto tomava a barra de sabão. Deslizou-a


brevemente sob a água, e logo começou a esfregá-la entre as mãos para fazer
espuma. Fez que ela se sentasse e começou a lhe passar as mãos por suas costas,
correndo em círculos até que cada centímetro da pele estava coberta pela espuma de
sabão. Logo agarrou de novo a barra e voltou a esfregá-la durante um minuto antes
de retornar à tarefa, seus círculos se faziam cada vez mais e mais amplos até que
incluíram os lados do corpo dela.

- OH- Dani suspirou quando Decker deixou que seus dedos percorressem o que eles
queriam. Suas mãos se fecharam quentes e ensaboadas sobre seus peitos, apertando-
os e amassando-os com o pretexto da limpeza. Quando ela se recostou contra ele,
suas costas cobertas de espuma escorregaram no peito limpo dele, e Decker apareceu
por cima de seu corpo, contemplando o modo em que suas mãos amassavam seus
peitos e logo agarravam os mamilos entre o polegar e o indicador e os beliscou
ligeiramente.

A ação provocou um longo gemido de Dani e lhe fez inclinar a cabeça para trás e
girá-la para ele, em um convite silencioso. Decker baixou ao mesmo tempo a cabeça,
seus lábios cobriram os dela e sua língua se moveu com entusiasmo para lhe encher a
boca. Ela era tão doce como se lembrava, seus dedos se fecharam sobre seus peitos
por um instante, e logo se afastaram para encontrar a toalha e derrubá-la na água.
Utilizou-a para lhe tirar o sabão e assim poder acariciá-la sem a espuma
escorregadia. No momento em que o último rastro de sabão tinha desaparecido,
Decker deixou cair o tecido e agarrou de novo seus peitos entre suas mãos,
introduzindo a língua na boca dela e roçando ligeiramente seus mamilos.

- OH!- Foi algo entre um suspiro e um gemido, enquanto ela cobria as mãos dele
com as suas próprias, incentivando-o a continuar. Quando ele tirou uma de suas
mãos, queixou-se decepcionada. Mas foi seguido por um som sibilante de surpresa
quando ele deixou cair sua mão sobre o estômago para deslizá-la entre as coxas.

Dani ficou um instante rígida pela surpresa, e logo abriu as pernas tão amplamente
como pôde para tratar de agradá-lo. Continuando, gemeu em sua boca enquanto ele a
acariciava, sua própria língua se enlaçava com a dele, enquanto se arqueava e
retorcia entre suas mãos. Dani levantou a mão e então deslizou os dedos de sua mão
por seu cabelo e a cabeça para aproximá-lo, mas logo pôs a outra atrás de suas
costas, entre seus corpos e debaixo da água, até que uma vez mais encontrou sua
ereção. Decker se congelou, suas mãos permaneceram quietas enquanto se queixava
na boca dela e se estremecia ante a carícia.
Com a segunda carícia, ele reagiu e reatou os beijos e as carícias. Embora o beijo
agora era mais exigente e suas carícias mais prementes. Quando ambos estavam
ofegando e sem fôlego pela necessidade, Decker rompeu o beijo e retirou suas mãos
de novo, esta vez para levantá-la e girá-la. No momento em que a pôs de lado sobre
seu colo, começou a arrastar a boca por sua bochecha, passou pelo pescoço e
continuou descendendo até encontrar e fechar sua boca em um mamilo úmido.

Dani ofegou seu nome, um som proveniente da necessidade e sua mão o achou de
novo sob a superfície da água e se fechou sobre ele. Não foi uma carícia suave,
estava decidida a levá-lo à borda do abismo. Por temor de gozar na água, Decker se
agachou forçando-a a soltá-lo. Dani o permitiu, mas também se levantou na água
para trocar de posição até que se ajoelhou pondo seus joelhos a cada lado dele. Então
se aproximou de novo para ele sentando-se em seu colo para introduzi-lo nela.

O fôlego de Decker saiu em um assobio quando seu calor úmido e quente se fechou
sobre ele e teve que morder a língua para não explodir nesse momento. Dani parecia
saber disso e sorria maliciosamente enquanto ela o soltava para agarrar a borda da
banheira e lentamente se acomodar voltando a descender e logo, pouco a pouco
voltava a levantar-se. Decker apertou os dentes sem poder fazer nada por um minuto,
e logo estendeu sua mão para encontrar o ponto entre as pernas dela. Acariciou-o,
deslizando seus dedos por ao redor e por cima dele até que o sorriso dela
desapareceu de seu rosto para ser substituído por um olhar quase doloroso quando
Dani começou a mover-se mais rapidamente. Decker começou a levantar seus
quadris, introduzindo-se quase com violência quando ela baixava e se agarrava por
seu ombro para manter o equilíbrio enquanto ele os dirigia ao climax.

O som do chapinhar da água junto com uma tosse violenta, foi suficiente para
despertar Decker do sonho no qual tinha caído. Saltou da cama, correu à porta do
banheiro e quase a abriu mas em lugar disso, chamou por ela.
- Dani? Está bem?- perguntou-lhe em voz alta com expressão preocupada com a
tosse profundamente violenta. - Dani?

- Estou bem- disse ela entre a tosse. - Só traguei água. Vá embora.

Decker duvidou, ela ainda estava tossindo, mas não soava tão violento como antes, e
depois de um momento, voltou-se e se aproximou da cama, perguntando-se como
tinha podido ela tragar água.

Estava a ponto de tombar-se na cama, mas se deteve quando descobriu uma mancha
úmida na parte dianteira de suas calças. Olhou a mancha escura, fazendo uma careta
ao recordar o sonho que tinha tido. Tinha começado só imaginando-o, mas deve ter
adormecido porque rapidamente cheirou e sentiu como algo real. Se não tivesse
despertado na cama, arrancado de seu sonho pela tosse de Dani, quase poderia
acreditar que tinha sido real. Que em realidade tinha entrado nesse banheiro e ...

Decker se deteve e se ergueu um pouco mais girando a cabeça lentamente para a


porta do banheiro, quando recordou outro dos sintomas de encontrar um
companheiro de vida, os sonhos compartilhados. Em seu caso, sonhos úmidos.

Dani tossiu pela última vez e logo se afundou na banheira. Apesar de ter dormido
nove horas, de algum jeito tinha adormecido na banheira e quase se afogou. Ela não
podia acreditar o que tinha feito. Mais que isso, não podia acreditar no sonho que
tinha tido quando dormiu. Ofereceu-se a ele, a Decker-talvez-Argeneau-talvez-
Pimms, para ter um pouco de sexo bem quente.

Meu Deus!, pensou Dani desgostosa, estava tendo sonhos eróticos com um homem
cujo sobrenome... nem sequer conhecia. Logo recordou que a noite anterior tinha
estado a ponto de ter sexo real com o homem cujo sobrenome não sabia, na
caminhonete. Cobriu o rosto com o pano úmido, sem saber o que acontecia ela.

Era evidente que estava se perdendo. Dani não era dissimulada, mas ... meu Deus!.
Nunca tinha sido promíscua. Tinha estado muito ocupada estudando e tratando de
manter suas qualificações para a universidade e a escola de medicina. Logo tinha
feito seu estágio, tinham sido uns anos infernais onde dormia pouco, e muito menos
com alguém.

Não é que ela fosse virgem. Tinha tido namorados e encontros, e esse tipo de coisas,
mas nunca antes se entregou na parte traseira de uma caminhonete correndo a toda
velocidade pela auto-estrada.

Qual era o problema com ela? Isto não era típico dela absolutamente. Ela não sentia
luxúria com homens que acabava de conhecer. E muito menos com homens que eram
vampiros ...

Dani fechou os olhos enquanto as palavra passavam por seu cérebro. Vampiro.
Companheiro de vida. Renegado. Ela estava adquirindo todo um novo vocabulário e
não estava absolutamente segura de que era algo que ela queria. Embora não
contasse com nenhuma outra explicação. Especialmente o assunto do companheiro
de vida. Lucian lhe havia dito que ela era a companheira de Decker, e Decker lhe
havia dito que um companheiro de vida era essa estranha pessoa com a qual um
vampiro podia relaxar. Quão estranho isso podia ser? E ela era a companheira de
vida do Decker? E se era assim, exatamente o que significava isso?

Ela tinha sequer o direito de se perguntar a respeito deste assunto enquanto


Stephanie estava sequestrada e em perigo? Dani não sentia que tivesse esse direito e
se sentia egoísta e insensível por fazê-lo.
Ela lançou um suspiro, apertou o botão para tirar o tampão da banheira e drenar seu
conteúdo e ficou em pé para agarrar uma toalha, fazendo um juramento silencioso. A
partir de agora, centraria-se na questão mais importante. Encontrar Stephanie.

Capítulo 9

Decker foi até a janela, olhou os jardins detrás da casa e a seguir foi de retorno até a
cama, só para repetir o percurso. Ele tinha feito uma corrida rápida até seu quarto
para colocar uns jeans limpos e retornou ao quarto para escutar as salpicaduras da
água no banheiro. Estes não tinham sido os sons violentos que tinham acompanhado
sua tosse antes, mas começou a passear-se de novo pelo quarto, esperando a que ela
terminasse.

O som da porta do banheiro ao abrir fez com que Decker se detivesse e provocou um
abrupto fim de seus pensamentos. Deu-se a volta quando Dani entrou no quarto.
Tinha as bochechas rosadas, o cabelo úmido estava penteado para trás em forma
trança sobre a cabeça. A vista era simpática, pensou ele, e logo notou que ela se viu
obrigada a colocar a mesma roupa que tinha usado antes. Teriam que tratar de
conseguir um pouco mais de roupa.

-Está adorável- As palavras saíram de sua boca espontaneamente e trouxeram um


rubor suspeito no rosto de Dani, como se pensasse que ele estava sendo sarcástico.

-Obrigada- murmurou ela por fim e acrescentou –Você parece um demônio.


Decker sorpresivamente lançou uma gargalhada, e sorrindo com ironia lhe disse
-Obrigado.

-Quero dizer que parece cansado- acrescentou ela rapidamente, ruborizando-se.

Decker fez uma careta, mas assentiu com a cabeça e admitiu: -Estou.

-Bom, Por Deus, vá dormir então- disse Dani, soando exasperada.

Decker sinceramente desejava poder fazê-lo. Estava esgotado, mas sacudiu a cabeça.
-Não posso.

-OH, bem. Tem que me vigiar- disse ela irritada e logo explodiu com irritação. -Isto é
estúpido. Eu não vou a nenhuma parte, tenho que esperar por meu telefone. E se não
dormir vai estar totalmente inútil quando Nicholas ligar e tenhamos que nos mover.

Decker esclareceu sua garganta e disse: -Temos que falar de Nicholas…

-Não quero ouvir- interrompeu Dani bruscamente, e imediatamente correu à cama


para agarrar a manta de lã suave e arrastá-la levando-a consigo, e logo correu para a
porta.

-Aonde vai?- perguntou Decker sussurrando entre dentes enquanto corria atrás dela
pelo vestíbulo.

-Tomar sol- Dani vaiou de novo, por sinal não tinha mais vontade que ele de
despertar de novo a Lucian e aos outros.

Abriu a boca para discutir com ela, mas logo a fechou e se precipitou pelas escadas
atrás dela. Decker esperou até que estiveram na cozinha antes de abrir a boca de
novo, mas ela se adiantou.

-Eu só vou me deitar na grama. Você pode me vigiar da casa... ou não me permitem
sair absolutamente?- acrescentou Dani, e se deteve na porta junto ao balcão,
lançando um olhar sobre ele.

Decker vacilou. Ele não queria que ela se sentisse como uma prisioneira, e podia
vigiá-la do interior da casa, mas em realidade queria falar com ela a respeito de
Nicholas. Sabia que Dani não queria nem escutar falar disso, mas ela tinha que fazê-
lo. Lucian tinha razão, era melhor que ela compreendesse a verdadeira situação.

Pelo menos, Decker esperava que seu tio tivesse razão, porque ele estava seguro de
que não sabia o que era o melhor. O problema era que estava esmigalhado por várias
motivações diferentes. Uma parte queria proteger Dani de que soubesse o que ele
tinha que lhe dizer, para manter vivas suas esperanças lhe permitindo que contasse
com um homem que poderia não ser tão confiável. Outra parte estava irritada como o
inferno porque parecia que ela tinha mais confiança em Nicholas que nele. E
entretanto, outra parte pensava que seria melhor dizer-lhe porque ao mesmo tempo
que destroçava suas ilusões, também a preparava para o pior se acontecia de
Nicholas não estar de seu lado.

Decker foi arrancado de sua luta interna pelo som da porta ao fechar-se. Levantou o
olhar e viu Dani através da janela da porta enquanto caminhava resolutamente pelos
ladrilhos para a grama, arrastando a manta com ela. Ao que parece, cansou-se de
esperá-lo.

Amaldiçoando, foi até a porta, o sol aparecia detrás de uma nuvem, logo apertou os
dentes e abriu a porta para segui-la.
-O que está fazendo aqui? Pensei que vocês deveriam evitar o sol- foi a saudação
irritada de Dani quando o viu na metade do pátio. Era evidente que tinha a esperança
de escapar dele ao ter ido ali por alguma razão, isso só lhe fez decidir-se ainda mais a
ficar com ela.

-Evitamos, mas não todo o tempo- disse Decker. -Além disso, há um montão de
bolsas de sangue na casa.

Dani o olhou evidentemente zangada e logo exclamou, -Bem- e se voltou para seguir
caminhando.

-Aonde vamos?- perguntou ele sorrindo por seu pesar. Ela realmente era muito
adorável quando estava zangada como agora.

-Eu- ela pôs ênfase na palavra -estou tratando de encontrar um lugar seco para pôr a
manta.

Decker, deslizou o olhar sobre a grama cheia de relva. Embora estaria quente e
úmido mais tarde, ainda era cedo e o sol não estava fazendo uma atuação muito boa.
Decker sorriu enquanto contemplava as nuvens. Se não se equivocava, essas eram
nuvens de tormenta. Parecia que a mãe natureza estava do seu lado.

Seu olhar se deslizou de novo para Dani. Tinha-lhe permitido adiantar um metro e
agora se encontrava olhando fixamente seu traseiro e a parte traseira das coxas e as
pantorrilhas torneadas, inclusive enquanto ela apressava o passo. Distraído como
estava pela vista, Decker não estava preparado quando ela se deteve abruptamente e
se voltou. Quase se chocou contra ela antes de que conseguisse deter-se e não dando
atenção à careta que lhe estava brindando, perguntou-lhe rapidamente, -Se deu por
vencida?

-Não nesta vida- assegurou-lhe Dani furiosa, enquanto se dirigia para a casa. -Só
estou dando mais tempo ao pasto para que seque, para não estragar a manta.

Decker assentiu com a cabeça, tratando de não mostrar seu alívio. Apesar do que
havia dito, não gostava de estar fora no sol. O dano seria mínimo para ela e só lhe
aceleraria o processo de envelhecimento, que não era o que ocorria em seu caso. Sua
pele era um pouco mais sensível devido à falta de exposição, e por causa disso se
danificaria mais. Decker tinha a idade suficiente para ter sido treinado desde seu
nascimento para evitar que isso lhe acontecesse. Mais energia solar significa que
necessitaria mais sangue, o que significa maior risco de ser descoberto.

A pesar do fato de que agora utilizavam bolsas de sangue dos bancos de sangue, eles
ainda tratavam de não utilizar mais sangue do que o necessário. Os bancos de sangue
mortais muitas vezes estão escassos de estoque, e os bancos de sangue dos imortais
não são diferentes. Desperdiçar o sangue lhe fazia sentir-se culpado e incômodo,
reconheceu Decker para si mesmo, enquanto seguia Dani que retornava à casa.

Ele tinha pensado que ela tinha a intenção de entrar, mas percebeu seu engano
quando ela pôs a manta em cima do corrimão que rodeava o pátio de ladrilhos e logo
dobrou para a esquerda e começou a afastar-se.

Fazendo caretas, Decker a seguiu rapidamente. -Aonde vamos agora?

-Explorar- murmurou ela, e logo perguntou: -Onde estamos de todos os modos?

Dani olhou por cima de seu ombro quando fez a pergunta e o pegou lhe olhando o
traseiro e as pernas. Decker elevou os olhos mas se encolheu de ombros sem
arrependimento. Ele era um homem, e se a mulher se colocava diante dele, lhe ia
olhar o traseiro. Não havia muito mais que olhar aqui.

-Nos subúrbios de Toronto- disse ele, respondendo a sua pergunta.

-Hmmph- grunhiu ela, embora Decker não sabia se era porque ele a estava
contemplando ou por sua resposta.

-O que vamos explorar?

-O estábulo- murmurou Dani. -Não pode ser visto do meu quarto. Não percebi que
estava aqui.

Decker olhou o estábulo que estava adiante, não havia muito que ver. Era um
estábulo velho, vermelho, retangular e grande, com grandes portas deslizantes nas
partes dianteira e traseira e uma pequena porta giratória no centro do lado que estava
em frente a eles. Dani se dirigiu à porta menor.

À medida que se aproximavam, Decker a ultrapassou de forma automática para lhe


abrir a porta, seu olhar se movia bisbilhotando o interior enquanto ela passava
caminhando junto a ele. Havia baias vazias que se alinhavam na parede oposta. Deste
lado era o mesmo, salvo que a baia do meio faltava para dar espaço à porta pela que
se entrava.

-Eles vão demolí-lo e construir uma garagem aqui para as caminhonetes- anunciou
Decker quando ele a seguiu ao interior.

A resposta de Dani foi outro grunhido quando a porta se fechou detrás dele,
deixando-os na escuridão.
-Espere- disse Decker. Embora ainda podia ver o suficiente para mover-se, sabia que
ela provavelmente agora estava tão cega como um morcego. Retrocedeu até a porta e
novamente a abriu, mas esta vez o fez por completo, até que golpeou contra a parede
exterior. Quando permaneceu aberta, assentiu satisfeito e retrocedeu um passo para
dentro, mas Dani já não estava onde a tinha deixado. Voltou a cabeça, seus olhos
procuravam as sombras com ansiedade até que o chiado de metal sobre metal atraiu
seu olhar para as portas duplas corrediças na parte dianteira do edifício. Ela tinha
desafiado a escuridão para aproximar-se até ali e abrir uma delas. Deslizou-a ao
longo da guia oxidada um metro e meio antes de deter-se. Dani lhe deu um
empurrãozinho, pondo todo o peso de seu corpo, mas a porta não ia mais longe.

-Aqui, me deixe tentar - ofereceu-se ele.

- Está bem assim- decidiu Dani quando se deu volta para ver o efeito.

Decker seguiu seu olhar. O estábulo estava muito mais iluminado. Ainda haviam
cantos escuros, e era um pouco tênue em comparação com o exterior, mas supôs que
estava o suficientemente bem, e se afastou da porta para segui-la enquanto ela o
explorava.

-Ainda há feno aqui- comentou Dani surpreendida quando viu meia dúzia de montes
frescos empilhados contra a parede. Ao menos dois mais estavam esparramados no
chão diante deles. Ele não sabia se tinham sido postas ali deliberadamente, ou
simplesmente desmoronaram e se esparramaram, mas tinham formado um pequeno
montículo de feno fresco.

-É um estábulo- disse ele encolhendo-se de ombros. -Os estábulos têm feno.


-Sim, mas por que os anteriores proprietários não os levaram?- perguntou Dani com
curiosidade enquanto olhava a seu redor, e adicionou surpreendida -E as selas de
montar.

Decker voltou a cabeça até que seus olhos se fixaram em duas selas que tinham
ficado penduradas na parede. Aproximou-se mais para examinar, verificando que
estavam em mal estado. -São muito velhas. Provavelmente não sirvam para muito
mais.

-Entretanto, o feno se vê bastante fresco- comentou Dani, e ele olhou a seu redor
para ver que tinha começado a mover-se ao longo das baias. Olhando com
curiosidade em cada uma delas e acrescentou, -eu teria esperado que os tivessem
levado.

-Talvez estivessem deixando a agricultura e não lhes era de nenhuma utilidade-


sugeriu ele, indo atrás dela.

-Em geral não se cultiva cavalos- disse ela com tom divertido. -Pelo menos não
acredito que você o faça. Suponho que eles eram boiadeiros.

Decker não fez nenhum comentário, e não estava olhando muito a seu redor. Era um
estábulo. Paredes de madeira, habitáculos de madeira, aroma de feno, e bolinhas de
pó que flutuavam nos atoleiros de luz que se derramavam pelas portas abertas. Em
realidade não era muito interessante para ele. Decker estava mais preocupado em
como lhe dizer o que tinha que lhe dizer... e fazer que ela o escutasse.

-Dani- começou a dizer.

Dani suspirou irritada. Sabia que Decker estava a ponto de falar de novo de
Nicholas, mas ela não queria escutá-lo. Começou a caminhar um pouco mais rápido
ao longo dos postos, perguntando, -Quanto tempo acha que levará para os homens de
Bastien arrumarem meu telefone?

-Não sei- murmurou ele. -Mas já que estamos no tema…

-OH, olhe, mais feno- interrompeu-o Dani quando chegaram ao final das baias.

Decker suspirou e se moveu atrás dela para espiar os fardos empilhados no posto
final.

-Devem tê-los mantido aqui para não arrastá-los todo o caminho desde as baias da
frente até as de trás- supôs Dani, mas estava falando para evitar que ele pudesse lhe
dizer algo. Ela começou a caminhar rapidamente para a parte dianteira do edifício.
-Eu sempre quis um cavalo quando estava crescendo. Suponho que a maioria das
meninas o fazem. Conseguiria um agora, mas não sei como montar e…

-Lhe arrancou a garganta de uma mulher- espetou-lhe Decker.

Dani se deteve estremecida ao final das baias, com os olhos fixos na porta aberta
frente a ela. Ficou de pé justo na borda da luz que entrava através dessas portas.
Tudo o que tinha que fazer era cruzar a zona aberta onde estavam o feno e as selas de
montar e estaria fora, e poderia correr para qualquer outra parte para tentar evitar
escutar o que ela suspeitava que ia ouvir e que o mínimo que lhe causaria seria
sacudi-la e possivelmente derrotaria todas as esperanças que tinha colocado sobre os
ombros de Nicholas Argeneau, um vampiro renegado. Em vez disso, voltou-se
lentamente para ele, sua voz soava derrotada quando ela disse, -Me diga.

Decker, desviou o olhar, seu rosto estava pesaroso e logo se apoiou na baia que
estava atrás dele e cruzou os braços sobre o peito. E então, olhando para ela disse,
-Seu nome era Barbara Johnson. Ela era um dona-de-casa, estava grávida de oito
meses. Tanto ela como o bebê morreram. Era filha única. Seu pai teve um ataque do
coração quando lhe deram a notícia, seu marido se enforcou depois do funeral triplo,
e sua mãe se converteu em uma alcólatra e conduziu seu carro contra uma árvore
antes do final desse ano. Levantou a cabeça e acrescentou com amargura: -O homem
que está defendendo, não só matou a uma mulher, também acabou com uma família.

-E isso é só a família da vítima. A nossa também foi rasgada por ele. Seu irmão
menor, Thomas, não quer falar dele, e sua irmã menor…- Decker, sacudiu a cabeça.
-Jeanne Louise realmente defendeu Nicholas e no princípio não podia acreditar, mas
quando finalmente o fez... ela nem sequer admite sua existência. No que se refere a
ela, só tem e teve um irmão.

Enquanto falava, Dani tinha parado frente a ele, e agora se apoiou ligeiramente
contra a baia que estava justo em frente. Suas palavras nadavam dentro de sua
cabeça, levando as imagens vívidas. E então começou a negar com a cabeça, sua voz
soava desconcertada quando ela disse, -Mas correu o risco de ser apanhado para
salvar Steph e a mim. E estava acostumado a ser um de vocês. Está seguro de que
ele…?

-Sim- Decker se esfregou a parte de atrás de seu pescoço com cansaço. -Fui eu que o
apanhou justo depois. O sangue dela estava em seu corpo e ainda recobria seus
dentes e a língua.

Dani sentiu que se revolvia seu estômago com a notícia e moveu a cabeça com
assombro. -Por que o fez?

Decker se encolheu de ombros com tristeza. -Sua companheira de vida tinha morrido
em um acidente de carro algumas semanas antes. Não tinham estado juntos muito
tempo e ela estava grávida. Acredito que ficou louco. Todo mundo sabia que estava
em mal estado e todos tentamos lhe ajudar, mas ele estava tão malditamente
amargurado e zangado- Decker sacudiu a cabeça. -Expulsou a todos de sua vida.
Deixou de trabalhar como executor, não queria ver ninguém...- Fez uma pausa e logo
admitiu, -Nicholas é meu primo por parte de mãe, seu pai, Armand, é irmão dela.
Nicholas também era meu colega de trabalho antes que acontecesse tudo isso, e
apesar da diferença de idade fomos bons amigos e primos. Fui a sua casa esse dia
para tentar convencê-lo a sair, chamei mas não obtive resposta e logo escutei os
gritos de uma mulher.

Decker fez uma careta e admitiu que, -eu fui o suficientemente estúpido para bater na
porta de novo antes de decidir arrombar a porta e talvez tivesse chegado a tempo
para salvá-la. Nunca imaginei...

Dani foi a seu lado, atraída pela culpa e a dor refletida em seu rosto. Mas uma vez
ali, não tinha idéia do que podia fazer para acalmá-lo e só elevou a mão para apoiá-la
em seu braço cruzado e confortá-lo em silêncio.

Isso pareceu ser suficiente. Decker respirou profundamente, apartou tudo isso de si e
logo continuou quase mecanicamente, -Arrombei a porta, mas quando os encontrei
no porão, já era muito tarde. Nicholas estava sentado no chão com a mulher em seu
colo e, como já disse, o sangue dela estava sobre ele.

-Entendi- disse Dani em voz baixa olhando seu rosto. Parecia evidente que Decker se
culpava pela morte da Barbara Johnson, assim como de seu filho, seu pai, seu
marido, e a mãe. O fato de que ele sabia muito a respeito da família, indicava-lhe que
era assim.
Dani se deu conta que Decker tinha assumido a responsabilidade do que Nicholas
fazia, do mesmo modo que ela se culpou a si mesma porque Stephanie e ela tinham
sido sequestradas.

-Nada disto foi sua culpa- disse Dani com firmeza, querendo ajudá-lo como ele a
tinha ajudado. –Nicholas foi quem…

-Deixei-o ir- interrompeu-a Decker.

Ela ficou rígida. -O que?

-Deixei que Nicholas se fosse- repetiu ele. -Quando vi o que tinha feito, dei a volta e
lhe disse que ia acima para chamar Lucian. Quando retornei ele se foi.

-Provavelmente estava emocionado. Não foi sua intenção…

-Não?- interrompeu-a Decker com gravidade.

Dani elevou as sobrancelhas e lhe perguntou muito séria: -Foi?

Ele virou o rosto e admitiu -passei cinquenta anos tentando não acreditar. Decker se
apartou e adicionou -Nesse momento, eu não sabia quem era Barbara ou o que tinha
passado. Era só uma mulher estranha morta entre seus braços. Nicholas era meu
primo. Tinha sido como um irmão maior quando me mudei para cá vindo da Europa
e me acolheu, me ajudando a encontrar um lugar. Ele foi quem me ensinou tudo
quando me converti em um executor. Talvez alguma parte de mim sabia que ele
quereria escapar... e deixei que se fosse.

Dani sacudiu a cabeça. -Não pode adivinhar seus motivos, Decker, quando a verdade
é que pode que não ter havido nenhum. Se você pensava muito bem dele, deve ter
estado emocionado pelo que tinha feito. Qualquer um teria estado.

-Mas…

-E inclusive se não fosse assim, embora tivesse sabido que ele escaparia, isso não te
faz responsável pela morte da Barbara Johnson, seu filho, marido, ou pais. Esse fato
é responsabilidade de Nicholas, e foi realizado antes que você o encontrasse. Não é
responsável por essas mortes.

-E os mortais que podem ter morrido após?- perguntou Decker em voz baixa.

Dani duvidou e quase franziu seus lábios. Em realidade não acreditava que Decker
tivesse deixado ir intencionalmente a Nicholas. Suspeitava que só se sentia tão
culpado porque o homem tinha escapado e se culpou por tudo. Isso o entendia mas
não queria dizer que isso estivesse certo. O único responsável pelo que tinha
acontecido desde esse dia até o presente momento era Nicholas.

-E as mulheres no precipício e sua irmã?- adicionou Decker tirando a de seus


pensamentos. -E se Nicholas andava com esse grupo e só afirmou que os estava
caçando para ter a oportunidade de escapar?

Dani imediatamente começou a negar com a cabeça. -Não sei o que aconteceu aquele
dia em que matou Bárbara. Talvez tenha perdido o juízo, talvez lhe rasgou o pescoço,
mas ainda não acredito que o homem com que falei por telefone andasse com esses
animais, ou tenha algo a ver com nosso sequestro. Ele te guiou até nós, Decker,-
disse ela quase em forma suplicante. -Ele ajudou a me salvar, e foi atrás do renegado
que levou a minha irmã. Tenho que acreditar que... É a única coisa que tenho para
que me segurar.
Decker suspirou, seus ombros estavam cansados sob o peso de uma culpa que ela
sabia que não podia lhe tirar. Seria um macaco em suas costas até que ele apanhasse
seu primo, ou talvez inclusive até que morresse.

-Correto- disse ele com voz cansada, passando junto a ela para sair à área aberta.
-Acredito que devemos retornar à casa.

Dani lhe seguiu lentamente. Não havia nenhuma razão para evitá-lo nunca mais. Lhe
havia dito o que ela tinha tratado de evitar ouvir tanto tempo. Melhor seria voltar
para a casa. Uma vez ali, talvez pudesse persuadi-lo para que dormisse, pensou, e
então se deu conta que ele parou na porta e olhava para fora com o cenho franzido.
Foi então quando se deu conta do tamborilar constante da chuva no telhado de metal.
Tinham estado tão absortos em sua conversa e seus próprios pensamentos que não se
deram conta que tinha começado a chover. Agora se perguntava por quanto tempo
tinha estado caindo.

-Vamos ter que correr- disse Decker, quando ela chegou a seu lado. -Acredito que
realmente está a ponto de cair um dilúvio.

Dani assentiu com a cabeça e tomou a mão que lhe ofereceu, e logo abriu os olhos
quando de repente o tamborilar constante se converteu em uma bateria forte. Ela
voltou seu olhar para a porta para ver que lá fora estava tão escuro como se fosse de
noite, e que a chuva corria entre as folhas.

-Talvez devêssemos esperar até que se limpe de novo- sugeriu ela.

Decker duvidou olhando o céu enquanto este se iluminou com um raio, que pouco
depois causou um rangido forte e logo se ouviu um estrondo enquanto o trovão
crescia, e ele assentiu. -Sim, vamos esperar.

Dani lhe soltou a mão e caminhou até os fardos empilhados contra a parede. Sentou-
se em um e arrancou uma fibra de palha, então viu que ele vinha lentamente até
sentar-se a seu lado.

Permaneceram sentados em silêncio durante vários minutos e então Dani não pôde
aguentar mais e lhe perguntou, -seu sobrenome é Argeneau ou Pimms? Quando ele a
olhou surpreso, ela adicionou, -Parecia que não estava muito seguro disso quando
nos conhecemos.

Ele sorriu com ironia e logo tirou um pouco de palha fora do monte e começou a
jogar com ela. -Eu nasci como Decker Argeneau Pimms. Minha mãe é uma
Argeneau. O Pimms vem de meu pai. Mas sempre alternamos entre os dois
sobrenomes.

Quando ela levantou uma sobrancelha em forma interrogante, lhe explicou, - os de


nossa espécie tendem a mudar-se a cada dez anos, mais ou menos. As pessoa
começam a suspeitar quando passam os anos e não envelhecemos nesse período, por
isso é que nos mudamos. Nossa família também troca o nome de Argeneau pelo de
Pimms, aproximadamente a cada século. Este século estão utilizando Argeneau. Ao
menos meus pais e irmãs. Não estou seguro de meus irmãos.

Dani se perguntou a respeito desse comentário, era incapaz de imaginar-se em seu


caso, o não saber os nomes de seus próprios irmãos e irmãs, mas simplesmente lhe
perguntou: -Quantos irmãos e irmãs tem?

-Três irmãs menores e três irmãos maiores-, respondeu ele com facilidade.
-Tem uma família maior que a minha- disse ela sorrindo.

-Só tenho um mais- disse Decker encolhendo-se de ombros. -E não somos tão
próximos como sua família parece sê-lo. É pela diferença de idade,- explicou-lhe.

-Que idades têm?

-Vamos ver. Fez uma pausa para pensar e logo disse: -Elspeth nasceu em 1872 ,
Julianna e Vicki…elas são as gemam - esclareceu -Acredito que nasceram em 1983.-
Dani lhe olhou sem compreender. -1872?

Decker assentiu com a cabeça.

-Mas isso seria mais de cento e trinta anos.

-Perto de cento e trinta e sete, mais ou menos- disse ele , e logo lhe recordou, -A lei
que manda deixar pelo menos cem anos entre cada criança causa as grandes lacunas.

Dani fechou os olhos, já que tudo fez clique e se acomodou em sua cabeça. Decker
dizendo a Justin que não tinha comido nada desde que ele tinha cento e vinte anos,
suas palavras no veículo dizendo que seus avós tinham sido tratados com os nanos na
Atlântida e lhe dizendo faz um momento que este século sua família estava usando o
nome de Argeneau. Chamavam a si mesmos imortais, e estava começando a dar-se
conta que não era porque as curas eram rápidas. Dani não sabia por que não tinha
pensado antes nisto. Supôs que tinha estado muito estressada e preocupada com
Stephanie, mas agora estava começando a entender.

-Sua gente não envelhece e morre- disse ela.


-Nós não envelhecemos- disse Decker -mas podemos morrer. Mencionei que a
companheira de vida de Nicholas morreu e que isso foi o que o empurrou à loucura.

-Supus que era mortal- murmurou Dani confundida. -Sam é mortal, e pensei…

-Sam é mortal porque ela ainda não está disposta a transformar-se- explicou-lhe, e
logo moveu a cabeça e murmurou: -Acredito que ontem à noite não te expliquei as
coisas muito bem. Fez uma pausa, respirou fundo e disse: -Os nanos repararão
qualquer dano, incluídos os causados pelo envelhecimento. Também eliminam as
enfermidades, mas viajam pela corrente sangüínea, assim se arrancar o coração, não
podem ir a nenhum lugar nem reparar nada. O sangue morrerá e eles também o farão.

-Assim a esposa do Nicholas morreu em um acidente que arrancou seu coração?-


perguntou ela sem poder lhe acreditar. -Que tipo de acidente te arranca o coração?

-A esposa do Nicholas, Annie, foi queimada até a morte em um acidente de carro.

-Então o fogo também pode te matar.

Ele assentiu com a cabeça. -E a decapitação.

Dani supôs que tinha sentido, e lhe perguntou: -Mas de todos os modos não morrem
com a idade?

Decker negou com a cabeça.

-E sua irmã tem cento e trinta e sete?

-Algo assim- assentiu ele.


-E ela é mais jovem que você?

Decker pareceu dar-se conta de que suas perguntas eram importantes. Os lábios se
torceram ironicamente e disse, -Tenho duzentos e cinquenta e nove anos de idade,
Dani.

-Duzentos e...

-Cinquenta e nove- concluiu ele.

Vendo que era muito difícil para que seu pobre cérebro o aceitasse, lhe perguntou em
voz duvidosa, -Está brincando comigo, não é verdade?

-Não- disse Decker solenemente, e a seguir seu rosto foi sulcado pela preocupação.
-A diferença de idade te incomoda?

Dani lançou uma breve gargalhada incrédula e logo franziu o cenho e o olhou com
preocupação. -Decker, contou-me sobre os companheiros de vida, e sei que acha que
sou a sua, mas…

-Não acredito, eu sei- disse ele com firmeza, e a seguir lhe recordou, -Dani. Não
posso te ler.

-Sim, mas…

-E estamos compartilhando os sonhos.

Ela o olhou assombrada. O único sonho que tinha tido desde que se encontrou com
ele, tinha sido um no que percorreu um caminho coberto de flores com o Stephanie,
e… Dani se congelou, e logo perguntou consternada, -a banheira?

-Temo que sim- disse ele contrariado. -Fiquei adormecido na cama enquanto
esperava que terminasse de se banhar, e...- encolheu-se de ombros.

Ela sentiu que se ruborizava pela vergonha, mas perguntou: -Assim experimentou o
que eu estava sonhando?

-Não exatamente- disse Decker lentamente.

-Bom, o que é o que exatamente sentiu?- replicou ela.

-Pelo que entendo é algo que se compartilha. Sua mente estava te suprindo no que
estava fazendo e minha mente me controlava, assim enquanto te ensaboava os peitos,
foi você quem deu a volta e levantou o rosto para me dar um beijo e quem se
aproximou para agarrar meu…

-Pergunto-me se a chuva parou- interrompeu-o Dani com a voz tensa.

Ela começou a levantar-se do feno, mas ele a agarrou pelo braço para detê-la, e
assinalou, -Pode ouvir que ainda está caindo.

-OH, sim- murmurou ela, lambendo lábios e evitando olhá-lo nos olhos. Suas
palavras a tinham levado de volta à emoção daqueles momentos, e sua voz se
aprofundou à medida que falava, chegando a ser tão condenadamente sexy... Ela
queria que ele a beijasse. Queria lhe corresponder o beijo. Queria… Dar a sua cabeça
uma sacudida. Dani tirou seu braço e se levantou do feno e imediatamente começou a
caminhar pelas portas abertas.
-Pode ser que chova durante horas. Talvez devêssemos retornar e...- Fez uma pausa
pela surpresa quando Decker a pegou pelo braço e a fez girar.

-Não fuja de mim, Dani- sussurrou ele, sua expressão era intensa. -Vou te perseguir.

-Não estou fugindo- sussurrou ela lhe olhando a boca.

-Sim- grunhiu ele. -Está fugindo. E logo fez exatamente o que ela queria e a beijou.

Capítulo 10

Uma pequena explosão de sensações estalou na cabeça de Dani quando a boca de


Decker cobriu a sua. Ela não resistiu nem tentou se afastar. Em vez disso, deslizou
suas mãos ao redor de seu pescoço e sua boca se abriu para ele sem nenhum tipo de
urgência. Dani gemeu quando sua língua aceitou o convite e a deslizou lutando com
sua própria língua, enquanto começou a levá-la para trás com as mãos em seus
quadris, guiando-a como se estivessem dançando.

Com os olhos fechados, Dani se deixou guiar cegamente, absorta nas sensações que
surgiam à vida em cada parte de seu corpo. Deteve-se quando sentiu algo contra suas
costas, e logo as mãos de Decker começaram a vagar. Quando encontraram e
tomaram seus peitos, ela se levantou nas pontas dos pés e se queixou dentro de sua
boca, e logo apartou a boca gritando surpreendida quando ele começou a amassá-los.
Decker imediatamente agachou a cabeça para beijar a curva visível de um de seus
seios por cima de sua camiseta. Dani abriu os olhos e viu que sua língua se deslizava
pela borda da parte superior, tomando posse sobre a carne pálida, e logo se inundava
para lamber a fenda entre seus peitos. Apertou e empurrou um dos seios um pouco
mais e voltou beijá-los através do tecido. Ela gemeu e fechou os olhos, recostou-se
sobre o fardo de feno contra o que ele a tinha apoiado e suas mãos se enredaram no
cabelo dele. Dani sentiu um puxão no decote de sua camiseta, e abriu os olhos
enquanto ele titava para um lado o sutiã para deixar a descoberto um peito. Esta vez,
quando a boca dele se fechou sobre seu peito, não havia nada entre eles, e ela gritou
e fechou outra vez os olhos, quando sua língua percorreu o mamilo, lhe provocando
um pico de excitação.

Logo que tinha reclamado o peito, Decker o abandonou levantando a cabeça e


agarrando-a com uma mão por detrás do pescoço a obrigou a manter-se erguida para
outro beijo. Dani o fez de boa vontade, sua resposta foi entusiasta e premente, suas
próprias mãos escaparam do cabelo dele e foram até os ombros, e logo se deslizaram
por sobre seu peito. Ela mediu sua grande extensão acariciando profundamente seus
peitorais e logo foi para baixo, através de seu ventre duro e plano, antes de investigar
seus mamilos através do tecido da camiseta que hoje estava vestindo. Dani brincou
ligeiramente com suas unhas sobre essas pequenas protuberâncias excitadas, e se
surpreendeu quando ele gemeu excitado dentro de sua boca. Ela se surpreendeu
ainda mais quando isso enviou sacudidas de prazer através de seu próprio corpo,
como se ela estivesse experimentando as carícias.

Sentiu as mãos de Decker na cintura, e depois um puxão enquanto lhe tirava a


camiseta que estava por debaixo de suas calças curtas, por isso não se surpreendeu
quando de repente ele paroue para lhe tirar o objeto por sua cabeça. Ele a deixou cair
no monte de feno junto a eles, e imediatamente lhe desabotoou o fecho do sutiã. Dani
se estremeceu e se arrepiou enquanto seus peitos ficavam livres, e lhe tirou o sutiã
deslizando-o pelos ombros e os braços. As mãos dele agora estavam cobrindo sua
pele exposta, inclusive antes de que a pequena peça íntima tivesse voado para unir-se
à camiseta. Dani tomou sua cabeça e puxou seu rosto para poder beijá-lo novamente.

Desta vez ela tomou a iniciativa, colocando a língua entre seus lábios e exortando-o
a que os abrisse enquanto lhe acariciava os peitos e os mamilos. Decker o permitiu
por um instante, e logo dominou o beijo, obrigando-a a jogar a cabeça para trás
enquanto a acendia com seu encanto até que ela ofegou tentado tomar ar e se aferrou
a seus ombros para permanecer erguida. Logo, a boca dele se separou e foi até a
garganta dela, deslizando-se ligeiramente sobre a pele. Decker fez uma pausa para
beliscar e mordiscar brevemente sua clavícula, fazendo-a gritar e retorcer-se, e logo
continuou seu caminho até seus peitos. Ele repartiu sua atenção entre cada um,
lambeu e sugou um e logo fez o mesmo com o outro, enquanto suas mãos se
deslizavam e arrastava os dedos por cima do ventre dela.

Dani conteve o fôlego pela surpresa e os músculos de seu estômago se contraíram,


mas apanhou as mãos dele quando chegaram à cintura de sua calça curta. Então
Decker deixou escorregar o mamilo de sua boca e quando levantou sua cara com um
gesto interrogante, ela baixou a sua para lhe dar um beijo. Não era que Dani quisesse
que ele parasse, mas ela estava ali de pé e sem roupa na parte superior de seu corpo,
e ele ainda estava completamente vestido.

Decker a beijou, endireitando-se quando o fez, e Dani imediatamente apoiou as mãos


na parte inferior de seu estômago. Ela agarrou o tecido de sua camiseta entre os
dedos e começou a arrastá-la fora das calças jeans. Sentia o sorriso de Decker em sua
boca e logo ele a ajudou puxando o tecido e rompendo seu beijo para inclinar-se para
trás enquanto ambos retiravam o objeto que logo foi parar junto com a roupa dela.
Dani se aproximou e pressionou sua boca contra um de seus mamilos para lhe dar o
mesmo trato que ele tinha dado aos seus.
Decker gemeu com prazer, seus braços se fecharam ao redor dela, e suas mãos
acariciaram suas costas nua enquanto ela continuava fazendo o seu movimento, e
uma vez mais ela se surpreendeu quando esse ato de prazer também pareceu rodar
através dela. Apanhada pelo momento, Dani não se deteve analisando e continuou
com o que estava fazendo até que Decker reclamou de novo sua boca.

Seu peito nu agora estava contra ela, os pêlos de seu peito roçavam e lhe faziam
cócegas nos mamilos. Como estava apanhada em seus beijos, Dani não pensou que
isso significava que a outra mão tinha deixado de acariciá-la e que se foi para outro
lado, até que sentiu que se deslizava entre suas pernas. Surpreendeu-se um pouco, e
logo gemeu dentro de sua boca enquanto ele esfregava seu corpo contra suas calças
curtas.

Decker gemeu em resposta e logo baixou sua mão, só para deslizá-la por debaixo da
borda das calças curtas dela e a acariciou, entre ambos só estava a seda de suas
calcinhas. Então gemeram ao mesmo tempo. Dani moveu seus quadris ante as
carícias, oferecendo-se a ele, e Decker imediatamente empurrou a seda a um lado
para tocá-la apropiadamente. Ela começou a lhe chupar freneticamente a língua
enquanto ele a acariciava uma e outra vez, e logo ela baixou sua mão para acariciá-lo
através de suas calças jeans. Estava duro, sua ereção pressionava contra o tecido
como se estivesse tentando escapar e Dani rapidamente deixou de tocá-lo,
desabotoou-lhe as calças e lhe baixou o zíper para poder introduzir sua mão dentro
da cueca e assim encontrá-lo. A excitação que crescia em seu interior pareceu
duplicar-se quando Dani fechou a mão sobre o eixo quente e o acariciou, e a seguir
Decker apartou a mão de novo. Esta vez ela não tratou de detê-lo quando lhe
desabotoou suas calças curtas e logo lhe baixou as calcinhas.

Decker, ficou de joelhos, obrigando-a que deixasse de tocá-lo enquanto a ajudava a


separar-se das roupas e as lançou para um lado, junto ao resto da roupa na pilha de
feno. Não obstante isso, ele não se endireitou novamente, mas sim se voltou para
examinar o que ele tinha deixado a descoberto. Dani teve o repentino impulso de
tampar-se com as mãos, mas não teve a oportunidade de fazê-lo quando Decker lhe
abriu as pernas e se inclinou para lhe beijar a parte interna da coxa.

-OH!- balbuciou Dani sem fôlego, agarrando-se pelos fardos de feno detrás dela para
não cair. Alegrou-se de ter algo que segurar quando, continuando, lhe agarrou uma
perna por detrás do joelho e a passou por cima de seu ombro. Ela ficou parada sobre
uma perna, a palha ligeiramente espinhosa pressionava suas costas enquanto ele a
beijava percorrendo um atalho até a pele delicada. Quando chegou ao topo de suas
coxas e lhe deu um beijo ali, a perna sobre a qual Dani estava parada tremeu e quase
perdeu a sustentação. A mão de Decker imediatamente a sustentou enquanto ele
passava a língua por sua carne tenra, e logo levantou essa outra perna, passou-a por
sobre seu ombro e ela ficou sentada sobre seus ombros, frente a ele e recostada no
feno para sustentar-se, enquanto ele enterrava sua cara entre as coxas, e
alternativamente, beijava-a, mordiscava, e envolvia o núcleo dela com seus lábios e
sua língua.

Dani jogou atrás a cabeça e gritou com um som trêmulo enquanto era assaltada por
onda atrás onda de prazer. Seu cérebro se desconectou e ela era pura sensação
enquanto se retorcia entre as mãos dele e seu corpo procurava o que queria. Então
Decker pôs suas mãos no traseiro dela, controlando a situação, e a obrigou a
permanecer imóvel enquanto lhe dava prazer. Justo quando ela acreditava que estava
a ponto de alcançar a satisfação que ambos estavam procurando, Decker de repente
deixou de fazer o que estava fazendo e girou com ela ainda sobre seus ombros. Uma
de suas mãos a sustentou pela parte baixa das costas enquanto a deitava sobre o vulto
de roupa que estava sobre o monte de feno esparramado no chão diante das baias.
Dani conseguiu fazer funcionar seu cérebro o suficiente para maravilhar-se de quão
forte ele devia ser para conseguir fazer isso, mas foi tudo o que pôde pensar.
Imediatamente em seguida, seus pensamentos se dispersaram quando ele começou de
novo a lhe dar toques ligeiros com a língua e logo fez uma breve pausa para sugá-la
antes de passar a língua por seu centro de excitação. Quando as mãos dele se
deslizaram até seu estômago para encontrar seus peitos, Dani cobriu as mãos dele
com as suas, e apertou seus peitos, inclusive quando ele os apertava.

Esta posição lhe dava mais oportunidade de mover-se e assim o fez, arqueou suas
costas e balançou seus quadris. Moveu suas pernas sem descanso até que Decker se
moveu e aprisionou uma de suas pernas com seu corpo e logo lhe sujeitou a outra
coxa para abri-la mais e mantê-la em seu lugar. Um momento depois, essa mesma
mão baixou para reunir-se com sua boca, seus dedos a roçaram e logo os introduziu
em seu interior, e Dani se perdeu. Ela gritou seu nome, seu corpo se retorceu
grosseiramente e arqueou as costas por cima da palha quando o prazer e a liberação
explodiram dentro dela. Onda detrás onda a golpearam até que ela não soube onde
terminava uma e começava a outra, e logo já não teve importância, e Dani sentiu que
caía sobre o feno enquanto sua visão se debilitava.

Dani despertou com os cantos dos pássaros em seus ouvidos, uma visão do velho
celeiro poeirento, as vigas que estavam em cima dela, e com um sorriso do gato que
se comeu o canário. Sentia-se absolutamente fabulosa, e por um momento, não se
perguntou porque. Logo teve a necessidade de estirar-se e começou a mover as
pernas, só para descobrir que estavam esmagadas por algo um pouco pesado.

Levantou a cabeça, e baixou seu olhar percorrendo seu corpo até encontrar Decker
deitado com as pernas sobre uma das suas, seu cotovelo fixo sobre a outra, e o rosto
enterrado em seu colo. Por um momento ela o olhou sem compreender, até que
recordou como tinham chegado até ali, e logo se deixou cair sobre o feno.
-Agora sim que você foi e o fez, Dani McGill- murmurou ela. -Não só o que quase
fez na caminhonete, mas também verdadeiramente rodou sobre o feno...bom uma
espécie de …- acrescentou com o cenho franzido ao dar-se conta de que tinha sido só
uma rodada pela metade. Depois de tudo, Decker a havia agradado, mas ela não tinha
feito nada por ele, e ao que parece o lhe dar prazer tinha tomado tanto dele que o
tinha nocauteado imediatamente depois.

Dani levantou a cabeça para olhá-lo de novo. O homem estava morto para o mundo.
Exalou um suspiro, fechou os olhos e sacudiu a cabeça, pensando que sua vida
estava tão fora de controle... e em como ia sair debaixo de Decker sem despertá-lo.
Dani não queria estar ali quando ele despertasse. Como ia enfrentá-lo? O que podia
lhe dizer? Obrigada, Decker, foi maravilhoso. Me desculpe por ficar adormecida sem
lhe retribuir.

Diabos, pensou desgostosa e logo ficou rígida quando ouviu um suspiro e o peso
quente da cabeça Decker foi retirado de entre suas pernas. Mordendo os lábios, Dani
levantou a cabeça e olhou para baixo para encontrar o olhar sonolento de seus olhos
azul prata.

-Olá- disse ela com voz débil e tentou sorrir.

-Olá pra você também- respondeu Decker com um grunhido realmente muito sexy, e
logo depois ele subiu por seu corpo. Recostou-se junto a ela colocando uma perna
sobre a parte inferior de seu corpo, moveu uma mão para deixá-la descansar sobre o
estômago dela, e com a outra sustentava sua própria cabeça enquanto a olhava.

-Me desculpe por ter adormecido- disse Dani rapidamente, ruborizando-se pela
vergonha, enquanto se obrigava a pronunciar as palavras.
-Você não dormiu- disse Decker, com um sorriso cada vez major em sua boca.
-Desmaiou.

A culpa de Dani fugiu perseguida pela pura satisfação masculina em seu rosto. -Sim,
bom…- começou ela a dizer acanhada, só para que ele a interrompesse.

-Esse é outro sinal de um companheiro de vida.

-É?- perguntou ela, relaxando-se um pouco.

Decker, assentiu com a cabeça, a mão em seu estômago começou a mover-se de


maneira mas bem distraída. -O prazer compartilhado é muito para que a mente possa
lidar com ele ao princípio, e então o cérebro se desconecta.

-Bom... foi bastante impressionante- admitiu Dani timidamente e logo fez uma careta
e disse em tom de desculpa, -Mas não era exatamente compartilhado. Eu estava
recebendo a maior parte do prazer.

-Não, não o estava- assegurou-lhe ele. –Eu também o experimentei. É por isso que se
chama prazer compartilhado.

-Quer dizer que você...- Ela fez uma pausa, sem saber como dizer o que queria lhe
perguntar.

-Quero dizer que quando faço isto...- Decker inclinou a cabeça para agarrar um
mamilo entre seus lábios, seus dentes rasparam o botão e isso fez que Dani fechasse
os olhos enquanto tinha um calafrio pela excitação que despertava de novo em seu
interior. Logo ele levantou a cabeça liberando o botão, e grunhiu: -Eu senti o prazer
que experimentou como se fosse meu. Flui através de você para mim e retorna de
novo, cada vez que faço isto…- ele lambeu o mamilo em outra rápida carícia,
enviando outra quebra de onda de excitação através dela -…isto acontece uma e
outra vez…- sussurrou. -As ondas se formam, ricocheteiam e crescem vigorosamente
até que a mente não pode suportar.

Dani se obrigou a abrir os olhos novamente e o olhou no rosto, percebendo que a


prata tinha superado o azul de seus olhos. Ela aproximou seus dedos de suas
pálpebras para acariciá-los, mas sacudiu a cabeça e disse: -Eu não posso acreditar
que deixou o sexo faz oitenta anos, se era como o que acabo de experimentar.

Decker levantou suas sobrancelhas. -Então o tio Lucian estava certo, escutou quando
Justin e eu estávamos falando- disse com olhos risonhos.

-Sinto muito- murmurou ela retirando a mão, mas ele a apanhou e a levou a boca
para lhe beijar os nódulos.

-Está tudo bem- assegurou-lhe Decker. -Mas o sexo do que me dava por vencido faz
oitenta anos não era assim. Disse-lhe, o prazer compartilhado, é outro sintoma de ser
companheiros de vida. Nunca o havia sentido até agora.

Dani sentia que o prazer abria caminho através dela ante esse anúncio. Fez-lhe sentir-
se especial, e ela sorriu e murmurou: -Cara, é quase suficiente para fazer que uma
garota queira ser um vampiro, assim pode experimentar isso.

Seus olhos brilharam por um instante, mas logo Decker disse muito sério, -Disso eu
gostaria. Mas como sabe, não tem que ser imortal. Quando ela não pôde ocultar sua
confusão ante suas palavras, ele franziu o cenho, -Certamente você experimentou o
que estou dizendo?
Dani duvidou e logo admitiu, -Senti algo estranho quando estava brincando com seus
mamilos e... er... coisas- acrescentou ruborizando-se ao recordar acariciando sua
ereção, e logo se apressou a dizer, -mas você me fez parar rapidamente e o resto foi
tão emocionante, que eu... . Ela se encolheu de ombros com impotência.

-Ah.- Decker se relaxou um pouco, mas parecia preocupado e logo lhe perguntou
com incerteza, -Quer tentar para ver se o experimenta?

Dani duvidou. Queria ela realmente saber se era sua companheira de vida?
Experimentar o que ele acabava de descrever sem dúvida a convenceria. Mas então,
o que? Casariam-se e viveriam felizes para sempre como vampiros? E como se
supunha que explicaria isso a seus pais? Mamãe, papai, eu gostaria que conhecessem
meu namorado, o Conde Sexo Grandioso.

Por outro lado, disse Dani a si mesma, estava ansiosa para experimentar o que ele
acabava de lhe descrever. É obvio que não se referia à paixão avassaladora que já
tinha experimentado, embora seria bom voltar a senti-la, mas o fascinante era a parte
de agradar-se mutuamente.

Pensou que, sem dúvida, isso se devia a sua curiosidade científica e quase bufou em
voz alta por sua própria mentira.

-Não importa- disse Decker de repente. -Vamos averiguar eventual….- As palavras


terminaram em um ofego quando Dani lhe respondeu em silêncio e tomou seu pênis.
A princípio estava brando e flácido, mas se inflou como o colete salva-vidas de um
avião com seu contato. Ela apenas o notou, Dani estava muito distraída pelo choque
de excitação que se disparou através dela. Passou tentativamente a mão sobre seu
pênis várias vezes, isso enviou mais ondas de choque através de si mesma enquanto a
primeira retrocedia e se desfazia, e soube sem dúvida que ela estava experimentando
essa coisa de prazer compartilhado.

Como tinha os olhos fechados, sobressaltou-se quando de repente, a boca do Decker


cobriu a dela, mas foi um bom sobressalto e abriu seus lábios com impaciência para
recebê-lo, enquanto sua mão seguia acariciando seu eixo, que agora estava duro e
erguido, aumentando constantemente a excitação compartilhada. Mas não era
suficiente, ela queria mais, e se apertou contra seu peito com a mão livre enquanto
girava sua cabeça, rompendo o beijo.

Quando Decker levantou a cabeça, Dani o incentivou a ir para trás fazendo com que
se sentasse, enquanto ele deixava que ela o empurrasse para baixo. Isto era como
uma droga e ela queria mais. Queria experimentar a sensação da engrenagem sobre o
entalhe.

No momento em que ele estve de costas, Dani se ajoelhou e se inclinou para agarrar
a ponta de seu membro com sua boca e logo gemeu junto com ele enquanto sua boca
continuava o caminho descendente ao igual a sua mão, enviando onda detrás de onda
de prazer através deles. Foi a coisa mais incrível que jamais tinha experimentado, e a
convenceu a continuar fazendo. Dani realmente podia sentir o que era melhor para
ele, sabia o que devia lamber, beliscar, ou onde chupar e a que velocidade tinha o
maior impacto.

Seus sentimentos de culpa ao pensar que só Decker lhe tinha dado prazer, afastaram-
se como um lenço de seda no vendaval enquanto ela o lambia com sua língua. Ele
tinha experimentado o prazer e a excitação junto com ela, assim como agora ela
experimentava sua ascendente paixão.

Era surpreendente!, pensou ela fracamente, e logo perdeu a capacidade de pensar,


quando a mão dele se deslizou sobre seu traseiro e a parte posterior de sua coxa,
antes de inundar-se para encontrar seu próprio centro de prazer. Agora ela era
bombardeada por ambos os lados, tanto pelo prazer que lhe estava dando, como pelo
que ele estava dando a ela, e não passou muito tempo antes de que ambos gritassem
por sua liberação e as luzes de desvanecessem de novo.

Dani despertou com um leve suspiro e um sorriso, e com a cabeça entre as pernas de
Decker.

Ela olhou o pênis que dormia diante de seus olhos e poderia ter beijado seu
cabecinha. Sentia-se muito próxima do pequeno indivíduo, e não só porque estava a
um centímetros de seu nariz. Dani tinha a sensação de que iam ser bons
companheiros.

Uma mão correndo por sua coxa a distraiu dos pensamentos de seu novo melhor
amigo, e Dani obrigou a se mover. Sentou-se e deu a volta para dar uma olhada em
Decker. Não podia deixar de sorrir mesmo que quisesse, e quando lhe devolveu o
sorriso, de repente exclamou: -Vamos fazer o outra vez!

-Olá?

Decker piscou abrindo os olhos e levantou ligeiramente a cabeça para olhar a seu
redor. Tomou um momento para que sua mente sonolenta e ainda aturdida se desse
conta de onde estava, e logo reconheceu que o peso sobre seu peito era Dani, e a
memória retornou rapidamente.

Estavam na última baia na parte traseira do estábulo, que tinha feno. Decker tinha
insistido em levar a festa para lá depois da terceira vez que desmaiaram. Não tinha
querido que os apanhassem estupidamente no feno, no espaço aberto da frente do
estábulo, se alguém viesse enquanto estavam inconscientes. Tampouco queria que
alguém entrasse e os visse nus enquanto estavam acordados. Assim, quando
despertaram depois de finalmente lhe fazer amor pela primeira vez, ele tinha
recolhido a roupa e a levou até ali, onde ao menos teriam um pouco de intimidade.

-Olá?

A segunda chamada soava um pouco mais perto, e desta vez Decker reconheceu a
voz de Sam. Já era hora de mover-se. Apartou Dani de seu peito, provocando que ela
desse um pequeno suspiro e gemesse. Continuando, agarrou suas calças jeans e a
camiseta e os pôs rapidamente , tratando ao mesmo tempo de permanecer agachado e
fora da vista. Quando conseguiu, Decker se apressou para aparecer no estábulo antes
que Sam pudesse chegar à baia e descobrí-los.

-OH, Decker!- Sam se deteve metade do estábulo e lhe sorriu enquanto caminhava
rapidamente para reunir-se com ela. -Vi que as portas do estábulo estavam abertas
enquanto dirigia e vim ver o que estava acontecendo. É muito cedo para que vocês
estejam fora vagando pelos arredores e pensei que Dani poderia estar aqui.

Decker, olhou seu relógio de pulso, advertindo que eram seis e meia da tarde. Os
homens provavelmente estavam acordados, mas tal como ela tinha sugerido,
evitariam sair até mais tarde.

-Eu ia perguntar a Dani se queria ir às compras comigo- adicionou Sam.

-OH, sim, mas... ela está...sabe…- Decker hesitou, sem saber muito bem o que dizer.

-Está indisposta? - sugeriu Sam, inclinando ligeiramente a cabeça para um lado


enquanto o olhava. -Isso que tem no cabelo é palha?
Decker o tirou da cabeça passando rapidamente os dedos pelo cabelo enquanto
murmurava: -Eu estava dormindo um pouco.

Sam assentiu com a cabeça, mas logo lhe perguntou: -Por que está usando a camiseta
de Dani?

-Eu não…- começou ele a dizer, mas olhou para baixo para ver que realmente levava
a camiseta branca de Dani, e o tecido estava estirado como o inferno. Tinha-lhe
parecido que estava justa quando a tinha posto.

-Vou para dentro- adicionou Sam, que agora mal podia ocultar sua diversão. Sam se
afastou sacudindo a cabeça e se dirigiu à porta. -Pergunte a ela se gostaria de ir às
compras. Se for assim, vou em uns vinte minutos. Isso deve lhe dar tempo se quiser
tomar uma ducha rápida. É bem-vindo a se unir a nós também- acrescentou ela
enquanto saía do edifício.

Decker ficou olhando à mulher e suspirou. E fez tanto para ser discreto.

-Decker?

Deu-se a volta quando a cabeça de Dani apareceu por cima da baia. -OH, aí está!-
disse ela sorrindo quando o viu. -Não posso encontrar minha camiseta. Você a ...?.
Dani fez uma pausa, e abriu mais o olhos enquanto ele retornava caminhando ao
longo das baias. -Essa é minha camiseta?

-Sim- admitiu Decker em um murmúrio quando voltou a entrar na baia para a


encontrar de pé, com as calças curtas, o sutiã na mão, e pelo menos meia dúzia de
pedaços de palha que se sobressaíam em diferentes direções de seu cabelo. -Sam veio
te buscar para ver se queria ir às compras. Vesti-me rapidamente para impedir que
continuasse nos buscando e me pus sua camiseta por engano. Sinto muito- adicionou,
embora soou afogado enquanto puxava o objeto por cima da cabeça. -Aqui está.

Decker a ofereceu, mas Dani estava muito ocupada rindo para agarrá-la, o que
aumentou seu descontentamento até que se deu conta da maneira em que seus seios
estavam ricocheteando. O cenho franzido desapareceu de seu rosto enquanto seus
olhos se fixavam nos dois objetos em movimento.

-OH, não- disse Dani de repente, e sua risada morreu. -Não me olhe com esses olhos
brilhantes prateados, Sr. Pimms. Temos que parar agora, quero ir às compras. Na
verdade necessito, agora que estirou minha camiseta- adicionou ela deslizando seu
sutiã para trás e acomodando-o para cima.

Decker permaneceu em silêncio, vendo como seus peitos aumentavam ligeiramente


enquanto ela realizava a manobra, e logo ouviu suas palavras quando ela
acrescentou: -Além disso, pelo menos deve ser passado do meio-dia, e quero saber se
o telefone chegou enquanto estávamos aqui.

-Seis- disse Decker em forma ausente, seus olhos viajavam através de seu corpo
enquanto ela terminava com seu sutiã e agarrava a camiseta de suas mãos.

-Seis o que?- perguntou Dani distraídamente enquanto colocava o objeto por sobre
sua cabeça.

-Já passam das seis- explicou. -Seis e meia na verdade.

-O que?- chiou ela quando sua cabeça apareceu na linha do pescoço da camiseta e o
viu. Ela então se deteve e o olhou com os olhos abertos e logo disse com incerteza,
-Está brincando.

Decker sacudiu a cabeça, estava um pouco surpreso por sua comoção.

-Dani, fizemos amor pelo menos dez vezes- assinalou, adicionando que tinha sido em
várias posições interessantes e inovadoras que nunca tinha imaginado. Decker
acreditava que tinha feito tudo antes de que o sexo se tornasse muito aborrecido para
incomodar-se em fazê-lo, mas Dani foi muito criativa, sobre tudo com uma sela de
montar.

Ela elevou as sobrancelhas surpreendida. -Tantas vezes assim? Tudo ficou como em
uma neblina para mim depois da quinta vez. Sacudiu a cabeça e terminou de ajustar
a camiseta, murmurando, -Você deve ter uma bomba da Viagra onde deveria estar seu
coração.

-É essa coisa dos companheiros de vida- informou-lhe Decker. -Deduzo que a


maioria dos companheiros de vida são insaciáveis quando se encontram.

Dani não fez comentários. Estava olhando com o cenho franzido para sua camiseta
pela nova forma que Decker lhe tinha dado. Estirou-se tanto que o decote era quase
indecente, e caía como uma blusa em vez de ajustar-se a seu corpo como antes.
Estalou a língua, puxou a gola tentando fazê-la mais aceitável, e deixou um ombro
descoberto para que ao menos não mostrasse as taças de seda de seu sutiã.
Continuando, amarrou as pontas de baixo na altura do quadril, fazendo parecer algo
do estilo dos anos oitenta. Dani aparentemente decidiu que era o melhor que podia
fazer, e logo tratou de correr e esquivá-lo para sair da baia, mas ele a agarrou pelo
braço e obrigou-a a parar.

-Decker, me deixe ir- queixou-se ela. -Tenho que ir ver se trouxeram o telefone.
-Tem palha no cabelo- disse ele com exasperação e rapidamente lhe tirou as palhas e
logo tratou de lhe acomodar de algum modo o arbusto selvagem de cabelo, para que
não se sentisse completamente humilhada se alguém a visse.

Logo Decker tomou o rosto dela entre suas mãos e lhe deu um beijo nos lábios
impaciente antes de liberá-la.

-Obrigada- murmurou Dani, e correu para a porta como se temesse que ele pudesse
começar a cativá-la com seus encantos... e que ela pudesse lhe responder apesar de
suas preocupações do momento. Não é que fosse uma idéia tola. O corpo de Decker
estava além da saciedade, e entretanto, o aroma dela quando ele se aproximou e a viu
meio nua, tinha sido suficiente para despertar um pouco ao Decker. Tinha estado em
apuros para manter o beijo que lhe tinha dado, como um beijo rápido, e não lhe tinha
escapado o modo em que brilhavam de desejo os olhos dela antes de que saísse
correndo. Definitivamente eram companheiros de vida.

Suspirando feliz, Decker se inclinou para pegar sua camiseta e a pôs enquanto ia
atrás dela.

Capítulo 11

-Sinto muito, demoramos muito -gritou Dani, correndo para a pequena mesa no pátio
de alimentação onde Sam estava sentada esperando pacientemente. Aliviada, deixou
cair meia dúzia de sacolas de compras que levava. -Decker insistiu que eu precisava
de algo mais que camisetas, shorts e roupa íntima e me fez experimentar um monte
de roupa.

-Está tudo bem, eu acabo de chegar -disse Sam quando Dani finalmente sentou na
cadeira frente a ela. -Só tinha planejado conseguir mais lençóis para as camas agora
que todos estamos na casa. Percebi que a meia dúzia de toalhas que peguei em minha
casa ontem de noite não iam durar muito tempo e logo pensei em roupa branca para a
cozinha, e... -Ela se encolheu de ombros com ironia. -Um vendedor me ajudou a
levar tudo para o carro. Não faz nem dois minutos que consegui um café e me sentei.

Dani assentiu com a cabeça e perguntou: -Suponho que ninguém ligou da casa para
dizer que meu telefone estava de volta.

-Não– disse Sam séria. –Teria te procurado e se tivessem dito isso.

Dani assentiu. Depois de correr do estábulo à casa e ver que seu telefone ainda não
tinha sido devolvido, tinha aceito sair às compras a contra gosto. Não é que ela não
quisesse ir, mas temia que o telefone chegasse no minuto em que saísse. Entretanto,
depois que Mortimer se comprometeu a chamar Sam no momento em que chegasse o
aparelho, Dani tinha permitido que Decker a colocasse na ducha e depois no carro de
Sam, para ir ao centro comercial.

Dividiram-se ao chegar ao centro comercial, Sam foi em busca de roupa para a casa,
ela e Decker foram comprar alguns conjuntos de roupas. Pelo menos esse tinha sido
o plano de Dani, até que Decker viu a pequena bolsa de artigos que tinha comprado.
Imediatamente insistiu que ela precisava de mais roupa que isso. Continuando, tinha
insistido que ela experimentasse para ele cada artigo e modelo antes de comprar.

O assunto a tinha deixado chateada e nervosa até Decker entrou no camarim para
"ajudá-la" a sair da roupa anterior. O ar condicionado do centro comercial estava
obviamente a todo vapor porque os mamilos de Dani ainda estavam eretos desde que
o ar fresco a tinha atingido quando tirou a roupa.

Estremeceu-se e fingiu procurar alguma coisa revolvendo uma das sacolas ao


recordar o que ele tinha feito com ela nesse pequeno quarto. Tinha tido que tampar a
boca com a mão para abafar seus gritos excitados no momento em que finalmente ele
a pôs em seu colo na cadeira no canto e se introduziu nela. Tinha sido terrivelmente
excitante. Quando acordou abraçada com ele no chão, saiu da inconsciência pelas
batidas da vendedora na porta, que lhe perguntava em voz alta se estava bem,
embora talvez excitante não fosse a palavra adequada para essa parte. Pânico
induzido provavelmente encaixava melhor.

Dani não acreditava que seu coração fosse sobreviver a isto... o que fosse que tinha
com o Decker. O homem era insaciável... e assim era ela com ele. Se continuavam
assim teriam um ataque do coração.

-Onde está Decker? -perguntou Sam, tirando a de seus pensamentos.

Dani fez um gesto vago para os restaurantes que os rodeavam e o procurou mas não
pôde se localizá-lo. –Foi nos buscar alguns copos, enquanto eu trazia as sacolas e lhe
dizia que estávamos aqui.

Sam assentiu com a cabeça e logo lhe perguntou, -Como está?

-Estou bem- respondeu Dani em voz baixa. –Estou preocupada com Stephanie, mas
Decker, segue tentando me tranquilizar me dizendo que eles vão recuperá-la e faz
tudo o que pode para me distrair.

Dani se ruborizou quando disse isso, sentindo-se culpada, porque uma vez que
tinham estado no estábulo sua mente tinha estado um pouco distraída com as
revelações de Decker e logo pelo homem em si. Tinha pensado em seu irmã várias
vezes no estábulo e após, mas tudo o que bastava era que Decker a tocasse ou a
beijasse para desprezar a preocupação de sua mente.

Havia algo de mau nisso, pensou com tristeza. Este assunto do prazer compartilhado
dos companheiros de vida era como uma droga e era aditivo como o inferno. Já
estava desejando que ele se apressasse e chegasse à mesa para poder lhe ver e lhe
tocar.

-É bastante ruim, não é?- disse Sam de repente, vendo a de perto.

Dani forçou um sorriso. –Que Stephanie tenha sido sequestrada é bastante ruim em si
mesmo, mas que o tenha sido por este animal, é ...- Sacudiu a cabeça pela
impotência, tratando de não pensar no que sua irmã poderia estar passando.

-Eu não referia a isso, apesar de que também é ruim- disse Sam, quando Dani se
voltou para ela. -Refiro a este assunto do companheiro de vida. Mortimer e eu não
podemos manter nossas mãos afastadas um do outro. -Sacudiu a cabeça. –Nunca
experimentei algo como isto. É como uma loucura temporária.

-Então não afeta desta maneira só ao Decker e a mim?- perguntou ela aliviada.

-OH, Meu deus, não!- disse Sam com firmeza. -Parece que todos os companheiros de
vida estão… bom...

-Perambulando como cães quentes com suas cadelas no cio -sugeriu ela com ironia.

Sam se pôs-se a rir, mas assentiu com a cabeça. -Eu ia dizer grosseiramente
absorvidos um pelo outro, mas sua descrição é mais adequada.

Dani sorriu levemente.

-Me dá vergonha admitir, mas é realmente uma boa coisa que Lucian nos atribuiu a
área de Penetanguishene para procurar em vez da zona onde Decker te encontrou ou
você ainda estaria nas garras dos renegados. Mortimer e eu fomos bastante inúteis
durante a busca. Não podia pensar com claridade por querer lhe tocar, e ele não
estava melhor. Surpreende-me que ainda estejamos vivos, ou pelo menos que eu o
esteja, depois do acidente de carro, provavelmente não o teria matado a ele. – Seu
olhar se tornou pensativo, e Sam murmurou: -Ainda não sei como ele evitou o
Toyota.

-O Toyota?- Dani não pôde resistir a perguntar.

Sam piscou e avermelhou pela pergunta, logo suspirou e admitiu:

-Deixamos nos levar um pouco em um momento... -Seus lábios se torceram pela


culpa, quando admitiu, -Bom, deixamos nos levar muito e passamos uma boa parte
do tempo estacionados a um lado da estrada, balançando a caminhonete em vez de
fazer o que deveríamos estar fazendo, mas o incidente com o Toyota é diferente.
-Fechou os olhos, via-se consternada pelo ocorrido, e logo exclamou: -Estávamos
conduzindo pela auto-estrada e só me aproxime para pôr minha mão sobre sua
perna…você sabe, de forma afetuosa. Ela fez uma careta. -O seguinte que soube é
que suas calças estavam abaixo e eu estava em seu colo.

As sobrancelhas de Dani se elevaram até a frente.

Seu tom era seco quando ela sugeriu: -Eu recomendaria que nenhum dos dois dirija
enquanto o outro estiver no veículo até que o pior do presente tenha passado. Sam
fez uma careta de dor, esfregou-se suas costas, e adicionou: -É provável que ainda
tenha o rastro do volante nas costas. Sei que vou estar com a marca por um longo
tempo.

Dani se deixou cair em seu assento assombrada. Isso definitivamente superava a


experiência de Decker e ela rodando na parte traseira da caminhonete enquanto
Justin dirigia. Meu Deus!, se Sam e Mortimer nem sequer puderam encontrar o
sentido para deter-se antes de que ela se arrastasse em seu colo, que possibilidade
teria tido ela?

-Isso é muita informação, não?- Sam deixou cair seu rosto entre as mãos como que
escondendo-se.

-Não- Dani se aproximou para tocar seu braço e tranqüilizá-la. -Me alegro que tenha
me dito isso. Estava me sentido terrivelmente culpada enquanto desfrutava de Decker
e Stephanie está em algum lado sofrendo Deus sabe o que. Sinto que deveria estar
fazendo algo para encontrá-la e em lugar disso…

-Não deve se sentir culpada. Não há nada que possa fazer -assegurou-lhe Sam
firmemente, elevando a cabeça. -Pelo que sei, Mortimer e Lucian pensam que seu
telefone é a melhor oportunidade que temos neste momento.

-Acreditam mesmo?- perguntou ela surpreendida.

Sam assentiu com a cabeça. -Tentar encontrá-lo quando ele não quer ser encontrado,
especialmente em uma cidade do tamanho de Toronto, é como procurar uma agulha
em um palheiro. E nem sequer estão seguros de que ainda se encontrem em Toronto.
Mortimer disse que seu telefone e Nicholas são realmente a única oportunidade que
temos de encontrar Stephanie e ao homem que a levou.

Dani franziu o cenho. -Decker segue tratando de me dizer que não conte com
Nicholas.

Sam pensou nisso e disse lentamente -Provavelmente tem medo de te dar esperanças
e que depois tenha uma grande decepção se Nicholas falhar com você.

-Talvez- murmurou Dani, e logo se encontrou com o olhar de Sam e lhe disse:
-Suponho que eles estavam acostumados a ser muito próximos. É que me pareceu
que Decker estava mais perto de Nicholas que de seus próprios irmãos. Também
eram colegas.

-Eram?- perguntou-lhe Sam surpreendida. -Mortimer não me mencionou isso.

Dani estava em silêncio, pensava na possibilidade de que Decker pudesse estar


mantendo as esperanças dela baixas, para manter também assim as suas próprias.
Estava bastante segura de que ele tinha ficado devastado pelo homem que se
converteu em um renegado, e não acreditava que fosse só porque se culpava por lhe
deixar escapar. Ela sabia que estaria terrivelmente perturbada se alguém de sua
família tivesse matado a alguém.

-Acredito que não me surpreende- comentou Sam.

Dani levantou o olhar em branco. Tinha estado tão distraída por seus pensamentos
que tinha perdido o fio da conversa.

-O fato de que eram mais próximos que com seus irmãos- explicou Sam.
-E não é porque fossem colegas.

-OH.- Dani inclinou a cabeça com curiosidade. -Por que é então?

-Bom, pelo que Mortimer me disse, todos os irmãos devem ter pelo menos cem anos
de diferença. Essa é bastante diferença de idade-assinalou. -Quero dizer, conheço
pessoas com irmãos ou irmãs, tão somente com dez anos de diferença e apenas se
pode dizer que estejam relacionadas. Não posso imaginar ter um de cem anos de
idade.

Dani se encolheu de ombros. Era a filha mais velha de sua família, tinha quinze anos
mais que Stephanie, que era a mais jovem, mas eram próximas. Ela tinha sido sua
babá quando Stephanie era uma menina, e agora que era maior, freqüentemente tinha
terminado em suas festas de pijamas, ou a levava às compras. Sabendo que seus
pensamentos se deslizavam perigosamente perto da preocupação e o medo que sentia
por sua irmã, e que um pátio de alimentação de um centro comercial não era um
lugar para deixá-los soltos, apartou os pensamentos a um lado e olhou ao Sam:

-Decker disse que é mortal.

-Sim. Eu não estou pronta para me transformar- admitiu ela em voz baixa. -Suponho
que estarei algum dia, mas por agora estou feliz andando em ambos os mundos.

Dani elevou as sobrancelhas. -Podemos nos transformar? Refere-se a ser imortal?

-Claro que sim. Pelo que sei só precisa de uma transferência de nanos que
transportam no sangue a outra pessoa. Sam franziu o cenho. -Decker não lhe disse
isso?
-Não- disse ela, e Sam lhe deu uns tapinhas no braço.

-Ele -disse ela com certeza -provavelmente tenta não te afligí-la com muita
informação de uma vez.

Dani assentiu com a cabeça, mas pensou que era possível que simplesmente não
tivesse pensado nisso ainda. As explicações lhe tinham chegado fragmentadas desde
que se encontraram, um pouco aqui, um pouco lá. Inclusive, ele poderia não ser
consciente do que tinha deixado fora. Não importava. Ela não estava realmente
interessada na idéia de converter-se. Em teoria soava bem. Quem não quereria ser
jovem e saudável para... bom... possivelmente para sempre?. Soava bem até que
pensava em renunciar a todos outros que amas, além da carreira onde pôs seu
coração e alma depois dez anos. Não, não tinha interesse em mudar, pensou Dani.
Mas talvez também poderia viver entre ambos mundos e postergar a mudança como
Sam. A possibilidade lhe fez olhar a Sam e lhe perguntar: -É difícil?

-O que?

-Ser uma mortal com um companheiro imortal-explicou.

-Não é tão difícil-disse Sam com ironia e, a seguir assinalou: -Mas não estamos
juntos muito tempo.

Antes que Dani pudesse lhe perguntar quanto tempo, Decker chegou à mesa.

-Aqui estão- disse ele, sentando-se no assento junto a ela e pondo uma bandeja com
uma montanha de comida na mesa.

-Isto é para você. Pôs o café que tinha pedido sobre a mesa diante de Dani. -E isto...
e isto... e isto... e...

-Meu Deus, Decker, não posso comer todo isso- disse Dani consternada enquanto
contemplava o hambúrguer com queijo, batatas fritas e tudo que tinha posto diante
dela e logo olhou para o sorvete de chocolate que ele estava acrescentando ao
crescente monte. Havia outra pilha do mesmo tamanho em uma bandeja para ele,
além de dois pães de docea, duas porções de pizza e dois pratos com frango. Parecia
que o homem tinha ido a quase todos os restaurantes do centro comercial.

- Não estava certo do que era bom, assim fiz uma seleção. Só coma o que quiser-
disse ele despreocupadamente, agarrando uma porção de pizza e mordendo-a. Com o
rosto concentrado, Decker mastigou o bocado de comida e logo assentiu com a
cabeça quando o tragou. -Isto é bom, muito melhor que esses hambúrgueres. Deve
provar isto.

Ele empurrou o hambúrguer com queijo dela de lado para dar lugar, pôs outro prato
com uma porção de pizza diante dela e logo tomou e a sustentou diante da boca dela,
animando-a: -Prove.

-Eu…-Dani estava a ponto de lhe dizer que ela conhecia pizza, mas se encontrou
com a boca cheia com o extremo da porção quando Decker aparentemente se propôs
a tarefa de alimentá-la.

-Morda- ordenou-lhe.

Dani girou os olhos e Sam rompeu a rir. Ao ver o ridículo da situação, ela curvou
seus lábios em um sorriso enquanto mastigava a comida.

-Vê, disse que você gostaria- disse Decker, tomando nota de seu sorriso. Deixou a
pizza no prato para que ela continuasse alimentando-se por si mesma e voltou sua
atenção a sua própria comida.

Tragando o bocado que tinha a boca, Dani notou que Sam olhava a comida e disse:
-Seja minha convidada. Não posso comer tudo isto.

Decker assentiu com a cabeça. –Adiante Sam, há um montão para todos.

A mulher tomou um dos pratos de frango, dizendo: -Não deveria ter fome. Jantei em
meu escritório enquanto examinava as declarações oficiais de meu chefe, mas estive
utilizando uma grande quantidade de energia ultimamente.

Dani sorriu levemente por seu tom pesaroso, suspeitando que sabia exatamente como
tinha estado utilizando a energia, e logo perguntou com curiosidade -Trabalha em
uma escritório de advocacia aqui em Toronto?

-Sim. Embora não por muito tempo. Dei-lhes meu aviso prévio. Duas semanas mais e
serei livre- disse ela sorrindo, e logo adicionou. -Em realidade, agora são duas
semanas menos um dia.

Dani sorriu ante seu sorriso de satisfação. -Decker me disse que administrará a casa
dos executores com o Mortimer. Quanto tempo faz que vocês dois estão juntos?

-Encontramo-nos faz pouco mais de duas semanas-admitiu Sam, e logo suspirou e


acrescentou: -Tinha a esperança que ele viesse conosco esta noite, mas tem muito
que fazer para conseguir organizar as coisas na casa, ele não podia.

Dani assentiu com simpatia, mas sua mente estava no fato de que Sam em realidade
não tinha muito mais experiência neste assunto dos companheiros de vida que ela.
Achou um pouco decepcionante. Ela esperava que Sam pudesse lhe dizer quanto
tempo teria que esperar até poder controlar esta necessidade pelo Decker. Certamente
não poderiam manter este nível de apetite do um pelo outro para sempre. A paixão
era agradável, mas toda essa necessidade que a consumia era algo complicado.
Também dificultava os processos mentais, empurrava a preocupação por sua irmã
fora de sua cabeça, e depois terminava lhe deixando com um sentimento de
culpabilidade. Sem dúvida, tinha que tranqüilizar-se em algum momento, não? Dani
não sabia, e duvidava que Sam pudesse responder à pergunta. Supôs que teria que
perguntar ao Decker quando voltassem para a casa.

Conversaram um pouco enquanto comiam, mas terminaram rapidamente, desejosos


de completar sua expedição de compras. Dani queria voltar para a casa e Sam parecia
igualmente ansiosa por voltar. Dani suspeitava que era porque queria ver Mortimer,
algo que ela podia entender completamente, pensou Dani enquanto se levantavam
para deixar a mesa e Decker a pegou pela mão. Só esse simples toque bastou para
mandar um calafrio por seu braço, e isso lhe fez pensar que ele ia ser um homem
difícil de deixar. Não é que ela estivesse segura de que tivesse que fazê-lo, mas Dani
não tinha tido muita oportunidade de examinar a questão.

Como funcionaria esta relação com sua vida? Ela era médica, tinha trabalhado duro
para converter-se em uma. Dani tinha uma prática florescente e concorrida, e até
agora tinha pensado que tinha uma vida completa, e estava principalmente feliz com
esse estado de coisas. Entretanto, pelo que tinha aprendido, teria que abandonar tudo
para ter Decker. Ao menos em dez anos ou menos.

De repente Decker puxou Dani, fazendo que ela tomasse consciência do fato de que
quase tinha se chocado com outro comprador ao não olhar por onde ia. Dando-se
conta de que não era nem o momento nem o lugar para preocupar-se com tudo
aquilo, murmurou: -Obrigada- a Decker por previnir a colisão, e logo começou a
prestar atenção por onde ia.

-Oooh, eu adoro estas.

Decker levantou a cabeça do pacote que continha um pouco do chamado anéis de


camarões que tinha estado examinando com interesse, e olhou para onde Dani se
inclinava sobre uma seção da área de comida congelada. Ela se voltou para Sam, lhe
dizendo: -Estes são tão bons.

-Sei - esteve de acordo Sam. -eu adoro. Mescle uma salada para acompanhá-los e tem
uma comida. São excelentes. Será melhor que peguemos um montão deles.

Dani assentiu com a cabeça e colocou a caixa no carrinho que levava, logo se voltou
para agarrar várias mais. -A melhor parte é que são saudáveis e para fazê-los só basta
dez minutos no forno.

Decker estava a ponto de devolver a caixa que tinha na mão, mas de repente se
deteve quando Dani se endireitou e se voltou para Sam com o cenho franzido. -Há
um forno na casa? Vi um forno de microondas, mas…

-Não–murmurou Sam. -Não só não há torrador, também não há panelas ou bandejas


ou pratos ou talheres.

Não foi necessário que Decker visse a consternação no rosto de Dani para dar-se
conta do que isso significava. Parecia que depois desta, terei que ir a outra loja para
comprar. Ou ao menos pensava que significava isso até que Dani se voltou e deixou
as caixas que acabava de recolher.

No momento em que ela terminou, Sam tomou o carrinho e se dirigiu em direção a


ele. Dado que as garotas já haviam acabado com esta seção, supunha que iam
retornar a ele para pôr no carrinho o que ele tinha escolhido e procedeu a fazê-lo,
levantando as sobrancelhas surpreso quando Dani imediatamente os tirou do carrinho
e o pôs de novo no lugar de onde tinha sido tirado, enquanto Sam passava junto a
ele.

-Ei!- protestou Decker. -Eu queria isso.

-Agarraremos alguns mais tarde, assegurou-lhe Dani e se apressou a ir detrás de Sam.


Ele permaneceu atrás delas, vendo como as mulheres eliminavam vários artigos do
carrinho e os devolviam ao lugar de onde tinham sido encontrados, e logo moveu a
cabeça assombrado e se andou para unir-se a elas.

-Damas- disse ao chegar junto a elas. -Parece que têm o conceito de compras um
pouco confunso. Acredito que se supõe que coloquem os artigos no carrinho, não que
os tire.

-Necessitamos panelas e frigideiras e coisas para cozinhar - explicou-lhe Dani,


deixando uma caixa de frango congelado no congelador.

-E? - perguntou Decker , não vendo qual era o problema. -depois disto, paramos em
uma loja e compramos alguns.

-Não podemos- informou-lhe Sam. -Faz muito calor e não temos um refrigerador. A
comida ficará em mal estado em um carrinho enquanto compramos as outras coisas.

-OH- murmurou ele, dando-se conta de qual era o problema. Tinham chegado ao
centro comercial no carro de Sam em lugar de fazê-lo em uma das caminhonetes, que
tinham um refrigerador em seu interior. Fez uma careta e logo fez outra quando seu
olhar se deslizou pelo carro quase cheio. Levaria uma eternidade pôr tudo de volta.
-Não podemos deixar o carro aqui e….

-Não. -As duas mulheres gritaram a palavra horrorizadas quando se voltaram para
ele.

-Decker- disse Dani, como se falasse com um menino não muito brilhante. -A comida
também se estraga aqui, posta em um carro. Especialmente os mantimentos
congelados, o sorvete se derrete e…

-Certo, certo, já entendi. Ele olhou a seu redor. Detectando um empregado com o
uniforme da loja na plataforma de carga perto do mostrador da carne, Decker se
deslizou em sua mente e o fez vir.

-O que está fazendo?– perguntou-lhe Dani com desconfiança e os olhos


entrecerrados.

-Nos conseguindo um pouco de ajuda para economizar tempo- respondeu ele.


Quando o trabalhador da loja se aproximou, Sam se separou de seu caminho,
olhando-o surpreendida enquanto ele em forma silenciosa começava ocupar-se de
devolver os mantimentos do carrinho.

-Aqui.- Decker apanhou a cada uma delas pelo braço e as conduziu para fora. Deu-se
conta que Dani olhava com ar de culpabilidade para o empregado da loja, mas isso
não atrasou seu passo.

-Onde podemos comprar o que necessitam? -perguntou-lhes em tom sério enquanto


se apressavam a sair da loja.
-A loja de departamentos terá tudo –respondeu Sam com prontidão. -Está acima e à
direita, no outro extremo do centro comercial.

-É obvio que está- disse secamente Decker, e se apressou a continuar a marcha. Era
muito pensar que quase tinham terminado, pensou com ironia, totalmente seguro de
que as mulheres se eternizariam na loja por departamentos.

Decker logo viu que estava equivocado. Dani e Sam pareciam tão ansiosas por
realizar a tarefa e sair, como ele estava, e encontrou a si mesmo empurrando o
carrinho a passo rápido, enquanto elas empilhavam as coisas. Viu voar no carrinho
pratos e talheres, panelas e frigideiras, a uma velocidade quase vertiginosa. Houve
pouco alvoroço ou discussão. Caminhavam pelo corredor, seus olhos escaneavam as
opções e, continuando, alguém dizia - Esses parecem bons, lindos ou de boa
qualidade, e a outra em geral estava de acordo. Parecia óbvio que as mulheres tinham
um gosto muito similar. Decker não se surpreendeu. Ambas eram mais ou menos da
mesma idade e profissionais. Suspeitava que se converteriam em boas amigas com o
tempo.

-Esta parece a melhor opção -disse Dani ao ler a lateral da caixa que continha uma
cafeteira. -Tem um temporizador, desligamento automático, e outras funções. Franziu
o cenho e logo olhou a Sam adicionando com incerteza -Embora seja um pouco cara.

Sam se aproximou para examinar o preço na caixa e assentiu.

-Vamos levá-la.

Dani perguntou: -Tem certeza?

-Bastien me deu um cartão de crédito da companhia para comprar coisas para a casa,
-anunciou Sam.

-Ah.- Dani e Sam intercambiaram um sorriso que Decker pensou que era um pouco
maligno, e logo a cafeteira foi para o carrinho e as duas mulheres passaram à seção
das bules.

-Mulheres -murmurou Decker, com os olhos baixando até ao traseiro de Dani


enquanto as seguia.

-O que tem as mulheres?– perguntou Dani, que por sinal o tinha escutado. Quando
ela e Sam se deram volta para lhe perguntar, Decker se encontrou levantando seu
olhar aos peitos de Dani, à curva de seu ombro que se sobressaía da parte superior da
camiseta, e logo, finalmente a seu rosto.

-São criaturas incríveis- respondeu ele finalmente. –Belas, sexys, inteligentes, sabem
o que querem e como consegui-lo.

-E como gastar o dinheiro? – sugeriu Dani, que ao que parece não tinha sido
enganada por suas palavras.

Decker, vacilou e logo assentiu com a cabeça, adicionando: -Mas vale a pena cada
centavo que gastam.

-Boa resposta-disse Dani com um sorriso antes de afastar-se para continuar pelo
corredor com Sam. Viu-as olhar uma à outra e logo escutou um comentário de Dani
em um sussurro divertido -Não lhe levou muito tempo chegar a isso, não é?

-Não– concordou Sam, em voz igualmente baixa. -Mortimer tem seus momentos
doces também. Acredito que é porque são muito velhos.
-Geriátricos- esteve de acordo Dani, com um gesto solene.

-Surpreende-me que tenham tanta vitalidade e vigor para sua idade.

-Provavelmente seja só temporário- assegurou-lhe Dani. -A vitalidade, sem dúvida,


decairá pelo uso excessivo dentro de um par de semanas e o vigor morrerá sem isso.

-Sem dúvida – esteve de acordo Sam com um suspiro e acrescentou: -É uma


vergonha. É no que eles realmente são melhores.

Decker estava rígido pelo insulto… havia um montão infernal de coisas nas que era
bom, além da vitalidade e do vigor…quando lhe ocorreu que as mulheres podiam
dar-se conta de que ele podia ouví-las e estavam brincando com dele.

Ele estava absolutamente seguro de que esse era o caso quando Dani comentou: -Isso
e comer. Comeu a maior parte dos mantimentos que comprou, Decker.

Ela não havia virado a cabeça ou elevado a voz, mas tinha se dirigido a ele
diretamente.

Sam estava rindo agora, quando ela disse -Mortimer tem um apetite muito saudável.

-E ao igual a Decker, imagino que não só para os mantimentos. Como estão suas
costas? -perguntou Dani e as duas mulheres estalaram em gargalhadas.

Ele não tinha nem idéia do que elas achavam tão divertido, assim simplesmente
moveu a cabeça e se colocou entre elas com o carrinho. -Muito bem vocês duas. Já
chega, vamos terminar isto e voltar para casa.
Sam e Dani novamente começaram a mover-se um pouco mais rápido, mas ainda
estavam rindo enquanto selecionavam um bule e punham no carrinho.

Decker, sacudiu a cabeça e perguntou: -Falta muito pra comprar? Este carrinho está
bastante cheio.

Sam se deteve para examinar o carrinho e logo franziu o cenho e disse: -vamos pegar
outro carrinho.

-Eu vou pegar– ofereceu-se Dani, mas Decker a pegou pelo braço para detê-la e a
colocou diante do carrinho que já tinham.

-Fique com Sam. Eu vou- disse ele, e logo saiu.

O primeiro carrinho estava ridiculamente empilhado de eletrodomésticos até o alto


quando retornou, e assim estava o segundo quando se dirigiram ao caixa. O
atendente revisou tudo, empilhando caixa atrás de caixa enquanto tirava as coisas até
que os dois carrinhos estiveram vazios. A seguir leu o total. Decker levou um susto e
quase se queixou do valor, mas Dani e Sam nem sequer piscaram.

Quando o empregado começou a ajudar a colocar as caixas de novo nos dois


carrinho, Decker, comentou: -Esta mercadoria tem que ir para o carro. Por que vocês
duas não vão à loja de comida enquanto me ocupo disso?

-Obrigada- disse Sam, lhe entregando as chaves.

Decker assentiu com a cabeça quando pegou e logo se inclinou para posar um beijo
rápido nos lábios de Dani. Ao menos, era para ser um beijo rápido, mas Dani
suspirou contra sua boca e o encontrou insistindo a abrir os lábios de modo que a
língua pudesse deslizar-se dentro. Sentiu suas mãos subindo pelos ombros, e logo
Sam disse, divertida. -Talvez devesse ajudá-lo a levar estas coisas, Dani.

-Sim.- Dani respirou quando Decker rompeu o beijo para ouvir sua resposta.

-Muito bem. Vou estar na loja de comida-disse Sam com um sorriso enquanto se
afastava.

Decker estava imaginando o que podiam fazer depois de tivessem tudo dentro do
carro quando Sam gritou: -Só tomem cuidado com o volante.

Ele não sabia o que significava, mas de repente Dani se havia posto rígida em seus
braços.

Dani piscou com os olhos abertos alarmada pela despedida de Sam, seu olhar se
posou no fogo prateado dos olhos do Decker. Não havia absolutamente nenhuma
duvida em sua mente do que ocorreria se fosse carro com ele. Poderiam conseguir
colocar os aparelhos e os pratos no carro, mas era certo que também acabariam
dentro do veículo, provavelmente no assento dianteiro, já que todos estes pacotes não
iam caber no porta-malas e ao menos um par teriam que ir no assento traseiro. De
repente Dani teve uma visão de Sam saindo para encontrá-los inconscientes no
assento do motorista, ela caída para trás sobre o volante, e Decker com a cabeça
desabada sobre o peito dela, os dois desmaiados sobre a buzina do carro soando a
todo volume debaixo de suas costas e uma multidão de curiosos ao redor do veículo
olhando para dentro.

Gemendo, Dani sacudiu a cabeça e se afastou dele.


Decker, franziu o cenho e arqueou uma sobrancelha em forma interrogante.

-Sera melhor se eu for com Sam, depois de tudo- disse ela ruborizada.

Decker pareceu decepcionado, mas assentiu com a cabeça e disse


despreocupadamente, -Está bem. Terminarei tudo em alguns minutos.

Sorrindo com alívio porque ele não estava zangado, ela começou a inclinar-se para
lhe dar um beijo rápido e logo se conteve e sacudiu a cabeça. -Melhor não.

Decker riu e logo se inclinou para lhe dar um beijo na testa antes de dá-la volta e lhe
dar um empurrãozinho na direção que Sam tinha tomado. -Vai... antes de que eu tente
te fazer mudar de idéia.

Dani saiu da loja, olhando por cima do ombro, enquanto se ia. Seus olhos se dirigiam
para seu corpo, enquanto ele se voltava para falar com o empregado da loja. Decker
realmente tinha uma bela figura de homem. Não era tão robusto como seu tio, que
parecia que lutava com espadas para ganhar a vida. Decker era ágil, mas musculoso,
enquanto recordava suas mãos sobre o estômago e o amplo peito. E era super forte.
Meu Deus, não acreditava que algumas das posições que tinham explorado essa
tarde, inclusive fossem fisicamente possíveis ... e não teriam sido para ninguém mais
que Superman. E Decker, pensou ela sorrindo, finalmente voltou a cabeça uma vez
que ele esteve fora da vista... bem a tempo para ver o peito largo que se chocava
contra ela.

-Sinto muito- desculpou-se e tratou de passar ao redor homem, mas ele a agarrou
pelos braços e a reteve no lugar. Então, Dani levantou a cabeça, seu sorriso morreu
enquanto olhava sua cara e ofegou horrorizada: -Você.
Capítulo 12

-Obrigado.- Decker deslizou uma gorjeta na mão do empregado da loja e o enviou de


volta com os dois carrinhos agora vazios. Não se incomodou em olhá-lo quando se
ia, voltou-se para fechar a porta traseira do passageiro e o porta-malas. Continuando,
Decker apertou o botão do controle remoto para trancar o carro de Sam e se dirigiu à
entrada mais próxima para procurar às mulheres na loja de comida.

Sam estava no corredor de produtos lácteos, lendo a etiqueta de um yogurt. Ele não
tinha nem idéia de por que o fazia já que a mulher não precisava preocupar-se com
seu peso, era alta e magra.

Sam olhou em sua direção e levantou as sobrancelhas quando o viu. Deixando o


yogurt no carrinho, sorriu e comentou: -Bom, isso foi sem dúvida mais rápido do que
esperado.

Decker se encolheu de ombros quando se voltou de novo para prateleira de iogurtes,


não estava seguro de por que ela poderia pensar que tomaria muito tempo, mas
perguntou: -Onde está Dani?

Sam o olhou confusa. -Foi com você.

-Não, mudou de idéia e decidiu ir às compras com você enquanto eu me encarregava


de deixar as outras coisas no carro. Foi atrás de você- acrescentou, e logo franziu o
cenho e lhe perguntou: -Está dizendo que não chegou ainda?
-Não- Sam fez uma careta com o lábio. -Possivelmente só parou para comprar
alguma coisa no caminho.

-Não pode, não tem dinheiro. Decker olhou com preocupação ao redor, esperando
ver Dani correndo para eles.

-Onde poderia estar então?- perguntou Sam, soando aturdida.

Amaldiçoando, Decker se voltou e começou caminhar por onde tinha vindo,


levantando a vista por cada corredor que passava, mas ela não estava em nenhum
deles. Sam o perseguia com o carrinho, mas se deteve quando ele o fez, e sugeriu:
-Talvez tenha ido até o carro.

-Já lhe disse, voltou para fazerr compras com você- disse ele com impaciência.

-Sei- disse ela brandamente. -Mas ela não conhece este centro comercial, é grande e
um pouco confuso. Talvez deu a volta, não pôde encontrar a loja de comida e foi ver
se te encontrava ainda no carro.

Decker pensou um momento e logo disse: -Vou ver. Fique aqui se por acaso ela
encontra o caminho.

No momento em que Sam assentiu com a cabeça, apressou-se a afastar-se. Correu


pelos corredores, explorando entre a multidão procurando Dani enquanto ia para o
carro de Sam.

Decker podia dizer antes de chegar ao automóvel que estava vazio, mas de todos os
modos se aproximou para olhar no interior no caso de que ele não tivesse fechado as
portas como tinha pensado e ela estivesse dentro encoljida e ficou adormecida.

Não teve sorte. Endireitando-se, girou sua cabeça à esquerda e à direita, explorando
o estacionamento para ver se ela se aproximava, e logo tirou seu telefone e chamou
Sam pelo celular.

-Está aí?- perguntou-lhe no momento em que ela respondeu.

-Não- disse Sam- quase em tom de desculpa e logo perguntou: -O que fazemos?
Devo chamar Mortimer?

Decker se deteve por um momento, sentindo o pânico que tratava de liberar-se em


seu interior e logo disse: -Não. Primeiro vamos procurar no centro nós mesmos.

Fechou o telefone sem despedir-se, seus olhos exploraram o estacionamento uma vez
mais, e logo empreendeu a volta para o edifício. Encontraria-a, assegurou-se Decker
ao caminhar. Tinha que fazê-lo. Não podia perder Dani agora.

-Aí vai seu herói.

Dani ignorou o comentário do homem no assento do motorista junto a ela, em vez


disso, sua atenção se centrou em Decker, enquanto o via afastar-se. Lamentou não
poder abrir as portas e gritar, desejava poder mover-se, mas o desagradável bastardo
que estava junto a ela a tinha firmemente sob seu controle. Ao menos fisicamente,
embora lhe deixou seus próprios pensamentos.

Provavelmente ele estava escutando, pensou Dani amargamente. Não lhe tinha
escapado que ele parecia estar desfrutando de seu terror quando ele e os outros a
tinham seqüestrado a Stephane e a ela no norte, e parecia igualmente entretido com
isso enquanto lhe tinha feito caminhar para esta velha caminhonete marrom. Dani
estava segura de que as pessoas com quem se cruzou não tinham visto nenhum
problema, nenhum deles poderia saber que ela estava gritando de terror dentro de sua
cabeça.

-Realmente estou desfrutando de suas deliciosas respostas a tudo- concordou ele,


demonstrando que ela tinha razão e que ele estava pinçando em sua cabeça. -Apesar
de que teria que fazer uma exceção com o “bastardo desagradável”. Eu sempre fui
muito bonito. Você não acha?

A cabeça de Dani girou sem seu consentimento, tinha os olhos ainda abertos quando
ela tentou fechá-los enquanto ele a obrigava a olhá-lo.

-Agora me diga a verdade- insistiu ele. -Não tenho uma cara bonita?

Ela o olhou à cara, o ressentimento e a ira afundaram momentaneamente seu medo,


provocando que o amaldiçoasse em silêncio. Era um homem de aparência
extraordinariamente agradável, com um sorriso encantador, os olhos brilhantes de
cor amarelo ouro, e uma gloriosa juba dourada que estava penteada para trás e se
estendia quase até os ombros... e ainda assim era um bastardo desagradável, pensou
Dani contrariada.

-Caramba!- Ele riu de seus pensamentos e se voltou para arrancar com o veículo
dizendo: -Vais ser muito divertido bricar com você. Quase não posso esperar.

Dani tratou de controlar o temor que surgiu nela ante esse comentário. Não queria
que ele tivesse a satisfação de saber o que tinha causado.

Obviamente, este era o quinto homem que tinha escapado. Era o que um dos outros
chamou de papai na caminhonete quando Stephanie e ela tinham sido sequestradas.
Dani tinha pensado na época que devia ser um apelido porque certamente era muito
jovem para ser o pai dos outros. Mas naquele tempo, naquele tempo, fazia só um dia
inteiro, advertiu Dani com assombro, não tinha conhecimento dos imortais e que não
envelheciam. Tudo o que ela sabia era que ele se sentou sorrindo no assento dianteiro
do passageiro da caminhonete, vendo como seus filhos aterrorizavam Stephanie e
ela, o que sugeria que ele estava de acordo com isso. Desde que Mortimer lhe tinha
explicado que um imortal podia controlar totalmente a um mortal, e que poderiam tê-
las levado sem que elas fossem conscientes disso ou sofressem, parecia óbvio que
queriam que sofressem. Sendo esse o caso, ia fazer seu melhor esforço para não lhe
dar essa satisfação.

-OH, agora está sendo uma desmancha-prazeres- queixou-se ele, voltando a vista
para ela, e logo lhe sorriu de uma forma que lhe fez arrepiar. -Suponho que será um
desafio ver se posso conseguir uma resposta de sua parte, ou não o será? Talvez te
faça dançar nua para mim quando chegarmos em casa. Ou não me importaria em
experimentar algumas dessas posições interessantes que Decker e você fizeram no
estábulo. Não seria divertido?

Não havia maneira de que Dani pudesse evitar o horror que essas palavras
provocaram em sua mente, e foi incapaz de fazer outra coisa que olhá-lo, enquanto
sua mente se retorcia ante a idéia.

-Aí vamos nós. Agora já está captando o espírito das coisas! -felicitou ele com uma
gargalhada. -Mas agora é muito perturbadora para mim, assim é hora de que tenha
um feliz sonho. Despertarei quando chegarmos em casa- prometeu-lhe.

Dani pensou que ele simplesmente a poria para dormir mentalmente como sabia que
podia fazê-lo, mas em vez disso, deu-lhe um soco. Ela viu vir o punho e não pôde
fazer absolutamente nada para esquivar o golpe, e logo a dor estalou em sua cabeça e
tudo ficou às escuras.

-E então?- Decker deixou de caminhar junto ao carro de Sam quando Mortimer,


Justin, e Lucian se aproximaram. Uma maldição caiu de seus lábios quando seu tio
negou com a cabeça.

-Todo mundo revistou o interior do centro e não há pistas dela por nenhum lugar-
anunciou Mortimer.

Decker se voltou para olhar por cima o estacionamento que rapidamente se esvaziou.
Os homens que Lucian tinha chamado, os homens que se supunha que estavam
procurando Stephanie, tinham estado procurando no centro comercial durante a
última hora. Estenderam-se como uma praga para encontrá-la, e ao que parece não
chegaram a nada. Já eram quase dez da noite, as lojas vazias fechariam em breve, e
logo o centro estaria completamente vazio.

-Há algum lugar que ela mencionou ao que acha que poderia ter fugido?- perguntou
Mortimer.

-Ela não fugiu- grunhiu ele. -Não tem motivos para fugir de mim.

-Sinto muito- disse Mortimer, e logo se encolheu de ombros e acrescentou: -É que


ela não parecia estar muito feliz contigo esta manhã e pensei que talvez houvesse…

-As coisas mudaram- interrompeu Lucian com calma. -Dani e Decker resolveram
suas diferenças e se uniram.

-Saia de minha cabeça.- Decker lhe franziu o cenho a seu tio.


Lucian só lhe sorriu e se voltou para o Mortimer para lhe dizer -os homens têm
vigiadas a casa de sua família e sua clínica só por precaução, mas suspeito que
Decker tem razão e que ela não fugiu.

-O que está pensando?- perguntou Mortimer.

-Estou pensando que seu desaparecimento está conectado aa de sua irmã de algum
modo- disse ele. Essas palavras eram a última coisa que Decker queria ouvir, e
imediatamente colocaram em sua cabeça a imagem dos corpos no precipício.

-Não estará pensando que o renegado e Stephanie de algum jeito apareceram por
aqui e que ela foi atrás deles, não é?- perguntou Justin com incredulidade.

-Não é impossível- murmurou Lucian pensativo. Pensou brevemente e logo sacudiu a


cabeça. -Mas é igualmente possível que o renegado que escapou na clareira pode a
ter seguido a Toronto e a levou esperando trocá-la pelos renegados presos.

-Mas ele não tinha um veículo para nos seguir- disse Decker rapidamente.

-Os bosques estavam no final de uma estrada- assinalou Lucian. -É de se supor que
havia algo nesse caminho para que eles estivessem ali. Pode ser que houvessem
cabanas, ou algum negócio no qual tenha roubado um veículo.

-Havia casas de campo- disse Justin em voz baixa.

Decker grunhiu. Ele não se deu conta, mas tinha estado preocupado por dirigir sem
luzes pelo caminho escuro e cheio de buracos. O renegado que tinha desaparecido
pode muito bem ter roubado um veículo e seguido-os. Sem dúvida tinha tido tempo
para fazê-lo. Tinha levado um tempo limpar as coisas na clareira e logo tinham
esperado no caminho para averiguar aonde deviam dirigir-se. Decker sentiu que seu
coração se rasgava enquanto o aceitava, mas logo se repôs. Se o renegado queria
Dani para intercambiá-la pelos outros renegados, significava que ainda havia
esperanças para ela, e que receberia uma chamada breve.

-Não adianta nada ficar aqui. Os homens procuraram e Dani não está no centro
comercial- disse ele indo ao carro de Sam. Ela o tinha deixado para que Dani pudesse
encontrá-lo se realmente estivesse perdida. Sam tinha ido para casa ao menos uma
meia hora antes com um dos homens e levou os aparelhos eletrodomésticos. Os
mantimentos nunca chegaram a ser comprados.

-Decker tem razão. Deixe dois homens em uma caminhonete para que esperem aqui
até que o centro comercial feche, somente no caso de Dani estiver ali perdida e não a
tenhamos visto- ordenou Lucian enquanto Decker abria o carro e entrava. O resto
deve voltar para a busca do renegado e Stephanie.

Decker fechou sua porta e colocou a chave na ignição. O motor estava em marcha
quando a porta do passageiro se abriu e Lucian se sentou no assento junto a ele.

Quando Decker, arqueou uma sobrancelha, Lucian disse: -Vou com você. Justin
dirige com um louco.

A boca de Decker se franziu ante o comentário mordaz, sobre tudo porque não era
verdade. Justin não duvidava em utilizar a velocidade quando era necessário, mas em
realidade era um piloto muito bom. Entretanto, essa não era a verdadeira razão pela
que seu tio tinha optado por ir com ele. Decker suspeitava que era porque estava
preocupado a respeito de como Decker se estava tomando tudo isto.
-Nunca me preocupo– grunhiu Lucian, colocando seu cinto de segurança.

Decker se pôs-se a rir com incredulidade. -Sim, sei. É um sacana desumano... e


continua lendo meus pensamentos.

Lucian não respondeu.

-Acorde.

Dani piscou com os olhos abertos para encontrar a si mesma desabada no assento do
passageiro na caminhonete. Sentia-se débil, com um pouco de náuseas, e tinha um
terrível golpe na cabeça. Fez uma careta de dor e se sentou, fechando os olhos
rapidamente quando o interior do veículo começou a girar de uma maneira bastante
alarmante.

-Sim, sei. Bati muito forte e agora se sente desagradável- foi o comentário
impaciente proveniente de seu lado direito. -Mas todos temos nossas provas para
suportar. Agora, vamos. Se levante e venha. Chegamos.

-Onde estamos?- perguntou Dani com o olhar impreciso, obrigando-se a abrir os


olhos de novo. Para seu alívio, o mundo não se moveu a seu redor nesta ocasião.
Então girou devagar e olhou ao homem de pé fora do veículo, que mantinha a porta
aberta. -Quem é você?

Ele levantou as sobrancelhas ante a pergunta e, continuando, estalou a língua


fingindo consternação. -Esqueci de me apresentar, não é? Isso foi muito negligente
de minha parte. Leonius Livio a seu serviço.
Fez uma pronunciada reverência que recordou os filmes da época do Renascimento e
logo se endireitou e lhe deu uma piscada quando acrescentou:

-Pode me chamar Leo.

-Me deixe adivinhar -disse ela com cansaço. -Nasceu e se criou no Renascimento?

-Uma estimativa muito boa, mas não. Eu nasci muito antes- assegurou-lhe.
-Entretanto eu gostava dessa época. Os vestidos de noite compridos eram muito
elegantes e ajudavam a esconder alguns cortes que fiz em busca de alimento. Podia
manter uma mulher durante meses antes de ter que procurar uma substituta se me
cuidava de não beber muito sangue.

Dani recordou o estado em que estavam os corpos no precipício e se perguntou se


isso era o que lhes tinha acontecido, se as tinham mantido vivas por meses, lhes
drenando o sangue, com a vida escapando de seus corpos enquanto este homem e
outros abusavam e bricavam com delas. Poderia ser o que estava acontecendo a
Stephanie neste momento.

-É obvio, com a pouca roupa que as garotas usam hoje em dia, isso não é possível.

Dani olhou sua camiseta ajustada e suas calças curtas e soube que tinha razão.
Recordou a breve olhada que tinha dado aos corpos das mulheres no precipício e se
deu conta que tinham cortes em todas as artérias principais.

-Para manter agora a uma mulher durante muito tempo, temos que mantê-las ocultas
ou as vestir como punks, tanto a elas como a nós mesmo. Embora meus filhos não
parecem pensar o mesmo, me parece um estilo bastante rústico e de mau gosto.
Encolheu-se de ombros, e logo adicionou: -Mas a gente faz o que preciso.

-Todos os homens na clareira eram seus filhos?

-Sim, são.- Ele fez insistência no tempo presente.

Dani ignorou isso. E o que levou a minha irmã também?

-Ah sim, a doce Stephanie. É mais bonita que você- comentou olhando a seu redor.
-E também grita mais. Vinte e um ficou encantado por ela.

-Vinte e um?- repetiu ela confunsa e ficou sobressaltada pela preocupação por sua
irmã.

-Leonius vinte e um- explicou. -Vinte e um para abreviar.

-Nomeou a todos os seus filhos de Leonius?– perguntou Dani lentamente, tratando


de entender.

-É obvio. Eu levo o nome de meu pai e parecia correto continuar a tradição, assim
que meu primeiro filho é Leonius terceiro, e assim sucessivamente.

-Sim, mas…

-Mas, mas, mas, -interrompeu ele com impaciência. -Estávamos falando da doce
Stephanie.

Dani fechou a boca.


-Não vai me perguntar se ela está bem?

-Não pode saber se está ou não, se esteve nos seguindo- disse ela em voz baixa.
Decker lhe havia dito que tinha tirado tudo dos bolsos dos homens enquanto
procurava as chaves da caminhonete, assim Dani sabia que ele não tinha um telefone
celular para chamar ou para que o chamassem, e provavelmente, não tinha uma
melhor ideia de onde estava seu filho Vinte e um, que ela mesma.

-Ah, mas eu não estava na clareira nesse momento e Vinte e um fugiu antes disso–
assinalou ele, inundando-se ao que parece em seus pensamentos. Ele tinha deixado
que ela tivesse ilusões pensando que ele poderia saber onde estava sua irmã e se ela
estava bem, e logo esmagou alegremente essas esperanças, dizendo: -Entretanto, eu
perdi meu telefone em alguma parte com no caminho. Provavelmente no precipício
quando estava com as garotas- disse com o cenho franzido. -Espero que elas não
tenham gasto meus minutos. Vocês mulheres são tão faladoras.

Leonius estalou em gargalhadas ante suas próprias palavras, mas Dani só ficou
olhando-o, não achando sua pequena brincadeira nem o mais mínimamente divertida.
Depois de um instante, deteve-se e a olhou suspirando. -Temo que te falta o senso de
humor, Danielle. Teremos que trabalhar nisso. De todos os modos, embora não tenho
meu telefone, meus filhos e eu temos um sistema para nos pôr em contato entre nós
se nos separarmos durante uma de nossas pequenas aventuras. Não duvido de que
neste momento, Vinte e um já me deixou uma mensagem... Assim como a seus
irmãos, se é que conseguiram se liberar. Vou verificar o depois de ter tudo arrumado
aqui.

-Mas os outros estão mortos- assinalou Dani, sentindo-se como se fora Alice e
acabasse de cair através do espelho.
-Não. Decker e Justin os estacaram atravessando o coração, é verdade, mas eu lhes
tirei as estacas. Não tanto para que fosse óbvio, só tirei as estacas o suficiente para
me assegurar de que já não estavam perfurando o coração.

-Estava sob a lona quando dirigíamos a Toronto- disse ela dando-se conta. Tinha
pensado que tinha contado cinco corpos, mas Decker e Justin lhe tinham assegurado
que só havia quatro.

-Sim, era eu. Sou muito velho e forte. Recuperei-me mais rapidamente do
tranqüilizador do que esperava. Não de tudo, claro, mas o suficiente para levantar e
sair da clareira e me esconder no precipício com as garotas. Tinha me recuperado o
suficiente para caminhar e falar no momento em que levaram meus meninos à
caminhonete. Esperei até que se voltaram para apagar a fogueira e te recolher, e logo
me coloquei sob a lona com eles. Consegui remover a estaca em dois deles antes de
Decker arrancar com a caminhonete e ficar em movimento, mas tive que ser muito
mais cuidadoso uma vez que decidiram despertar. Justin constantemente estava
tentando falar contigo.

Leo franziu os lábios. -Temo que o atraso pode custar a vida de um ou dois de meus
moços. Não pode abandonar o jogo muito tempo se deseja preservar a vida. Se o
sangue morrer por falta de oxigênio, os nanos morrem, e não há esperança para o
anfitrião. Mas não estou seguro de quanto tempo é preciso realmente.

Dani não pôde deixar de peceber que embora parecesse aborrecido, Leonius em
realidade não parecia esmigalhado pela perda... e não tinha estado disposto a
arriscar-se a ser apanhado para salvá-los. -Tinha ido quando trocamos de carros no
Outdoor World.

Tinha visto Decker e os outros rodear a parte traseira da caminhonete e ela supôs que
tinham ido ver os corpos. Decker teria dado conta se houvesse um a mais.

-Fui de sua agradável companhia enquanto Justin estava ocupado colocando gasolina
e Decker te acompanhou ao restaurante para usar as instalações- anunciou. -Embora
meus filhos ainda não mostrassem sinais de recuperar a consciência, sabia que não
podia esperá-los e sai quando tive a oportunidade. Então apareceu um carro com um
precioso par de mulheres jovens. A morena dirigiu, te seguindo, enquanto me
alimentava da ruiva no assento traseiro. Foi um pequeno e excitante acontecimento,
uma verdadeira gritadora como sua irmã. Tive que me concentrar muito para manter
sob controle sua amiga dirigindo, enquanto eu drenava sua vida. Sally era seu nome.
Acredito que as três se conheceram. Pelo menos a morena tinha lembranças de falar
com você brevemente para te dizer que havia uma cabine disponível no banheiro de
senhoras.

Dani recordou às duas mulheres com o telefone celular no restaurante de comida


rápida.

-É tão deliciosamente expressiva- disse Leonius sorrindo. -Realmente nem sequer


preciso ler sua mente para saber o que está pensando.

-Por que não está lendo minha mente?- perguntou ela, dando-se conta nesse
momento que aparentemente ele se inundava nela e arrancava as coisas de forma
intermitente. Não estava ali constantemente e tampouco a estava controlando.

-Não quero compartilhar sua dor de cabeça ou tentar decifrar seus pensamentos que
são obviamente tão lentos como o melaço. Vou esperar até que esteja mais
recuperada, obrigado. Agora, saímos da caminhonete?

Dani duvidou, mas supôs que agora não tinha muito sentido resistir. Estava muito
fraca para correr, e ele não faria mais que controlá-la e obrigá-la a fazer o que ele
queria. Além disso, quanto antes ele tivesse as coisas em marcha, mais cedo saberia
se tinha uma mensagem de Vinte e um e ela poderia saber como estava Stephanie.

Fazendo uma careta pela dor que imediatamente lhe apunhalou a cabeça, Dani se
deslizou do assento e saiu da caminhonete. A sacudida em seus pés ao golpear o chão
enviou uma dor tão aguda a sua cabeça que foi seguida por náuseas, e teve que
fechar os olhos e agarrar no veículo, respirando profundamente para tentar manter
em seu estômago o alimento que tinha comido no centro comercial.

-OH, tsk tsk. Verdadeiramente está mau. Bati muito mais forte do que tinha previsto,
mas me fez ficar zangado. Deve tentar não provocar meu temperamento para que isto
não volte a ocorrer. Eu não quero te matar acidentalmente em caso de que meus
filhos não tenham conseguido escapar e ainda estejam com os executores. Terei que
te trocar por eles.

-A mim?- Dani se incorporou lentamente e pouco a pouco voltou a cabeça para olhá-
lo com incredulidade. -Eles não trocarão a seus filhos por mim.

Leonius permaneceu em silêncio com o olhar concentrado em seu rosto, e logo


levantou as sobrancelhas. -Realmente acredita nisso- maravilhou-se, aparentemente
tinha compartilhado sua dor de cabeça o suficiente para ler sua mente.

-Não tem nem idéia de seu valor, não é? Que encantador.

Ele estalou em gargalhadas, fazendo que Dani fizesse uma careta de dor quando o
som rasgou seus nervos e agravou as palpitações em sua cabeça.

-Escute- disse ele de repente, a risada morreu tão repentinamente como tinha
começado. -Vou te ensinar uma ou duas coisas que pode utilizar. Leonius fez uma
pausa até que ela o olhou e logo disse: -Um companheiro de vida é mais valioso que
qualquer outra coisa nesta terra. A maioria dos imortais renunciam a todas as
riquezas que tenham acumulado, a sua família e inclusive a sua própria vida por um
companheiro de vida. É uma jóia preciosa. Entende?

Dani assentiu lentamente, mas só porque ele esperava que ela o fizesse. Ela não
acreditava que tivesse um valor tão alto para Decker. Simplesmente não podia fazê-
lo. Só o tinha visto no dia anterior. Dani gostava dele... bom, mais que lhe gostar,
reconheceu, gostava muito… gostava dele um pouco... e ele sentia luxúria por ela, a
julgar por sua atuação esse dia, e pensava que ela também sentia luxúria por ele, e
talvez também gostava de muito dela, mas isso não significava que ele fosse entregar
esses assassinos por ela. Ao menos, isso é o que esperava. Dani não queria deixá-los
em liberdade. Como ia desfrutar de algum momento de tranqüilidade mental sabendo
que por causa dela, esses animais estavam aproveitando-se de mulheres inocentes?

-Sente-se recuperada o suficiente para caminhar?- perguntou Leo solícito. -Em


realidade, deveríamos entrar. Não devemos manter a nossos anfitriões esperando.

Dani voltou a cabeça lentamente para o edifício junto ao que tinham estacionado, seu
olhar se deslizou sobre uma antiga casa vitoriana com um amplo alpendre branco no
fronte. Continuando, girou para olhar as dependências e os campos de milho e sentiu
que lhe revolvia o estômago. Estava segura de que esta não era sua casa. Também
estava segura de que seus "anfitriões" não o eram por vontade própria, e temia que
tudo isto fosse piorar muito mais, antes de melhorar.

Capítulo 13
-Vamos, tenho algumas surpresas para você, e sei que vamos desfrutá-las muito.
Leonius tomou o braço de Dani e a levou meio arrastada pelos degraus do alpendre
da velha casa, quando ela não se moveu o suficientemente rápido para seu gosto. Ela
fez uma careta pelo agarre doloroso, mas não reagiu de nenhum outro modo. Não
tinha intenção de dizer ou fazer nada que pudesse lhe fazer mais divertido este
pesadelo.

- Aqui estamos. Leo se inclinou diante dela, empurrou a porta para abri-la e a
obrigou a entrar.

Dani fechou os olhos um instante quando a luz do teto fez que a cabeça lhe doesse
como se a atravessassem raios. O aroma a canela e maçãs dançava em seu nariz e
abriu lentamente os olhos. Estavam em uma cozinha antiga, com despensas e uns
amplos balcões. O piso de madeira era sem dúvida tão antigo como a própria casa.
Seu olhar se deslizou sobre uma bule com forma de galo que estava sobre a mesa. O
saleiro e o pimentero tinham forma de vaca. Finalmente encontrou a fonte do aroma
doce, um bolo, não longe do forno.

- Eu estava olhando-os do bosque que está frente à casa quando Decker e você
entraram em estábulo- disse Leo a seu lado. -Quando ficaram ali durante tanto
tempo, me aproximei sob o amparo da chuva. Uma vez que vi o que vocês dois
estavam fazendo, soube que ia ter tempo para procurar um lugar próximo, um lugar o
suficientemente perto para vigiar e onde te levar depois de te capturar. Fez uma
pausa para lhe explicar: -Eu não esperava que fosse às compras ou inclusive, que
saísse das instalações. Esperava ter que te tirar da casa enquanto outros dormiam.

- De todo modo- continuou Leo, urgindo-a para que fosse ao extremo oposto da
mesa. -Eu estava muito contente quando me encontrei com este lugar. É muito
agradável e acolhedor, somente terá que preocupar-se com o senhor e a senhora...
estive um pouco preocupado por estar justo ao lado, mas… . Ele fez que se detivesse
frente ao bolo e passou ligeiramente um dedo sobre a cobertura. Embora seu toque
fosse ligeiro, alguns flocos da cobertura se levantaram. Isto lhe fez sorrir e
continuou: -Quando entrei, a anciã estava tirando o bolo do forno. Decidi levar isso
como um bom augúrio e correr o risco.

Dani franziu o cenho ante a menção de uma anciã, perguntando-se o que tinha sido
dela, mas logo se precaveu de suas palavras e se deu conta do perto que devia estar a
casa do executor. Justo ao lado. Se tão somente pudesse escapar….

-Seu ritmo cardíaco se acelerou- comentou Leo divertido, e quando ela o olhou
assustada, explicou-lhe, -Ouço-o muito bem. Todos o fazemos. E seu coração está
acelerado. Pergunto-me, o que poderia estar pensando?.- Ele se aproximou e
sussurrou em seu ouvido: - Poderia estar pensando em escapar? Fugir com o Decker?

Pôs-se a rir ante a idéia, e logo moveu a cabeça e disse, -É tão divertido. Voltou-se e
a levou até corredor que conduzia à sala contigua.

Era uma sala de estar. Com a luz apagada estava tão escura que tinha problemas para
mover-se. Leo não parecia ter o mesmo problema, e recordou que Decker lhe havia
dito que os nanos melhoraram sua visão noturna, então lhe perguntou com desgosto,
-muito colonial, não parece?

Ela olhou sua cara e pensou que estava enrugando o nariz, e logo ele confessou: - Eu
desprezava os colonos. Um grupo de idiotas nervosos com armas de fogo que
disparavam primeiro e depois perguntavam. Foi difícil para um Sem Presas como eu
poder comer sem receber um monte de tiros no processo.
Vai Colonos!, pensou Dani sombríamente, embora ela não tinha idéia do que era um
Sem Presas.

Leo parecia estar lendo sua mente de novo porque se voltou para ela e lhe disse: -
OH!, olhe, agora este é o tipo de coisas que vai fazer que tenha que te castigar de
novo. Se não aprender um pouco de auto-controle, isto poderia ser inclusive mais
doloroso do que planejei.

Dani permaneceu em silêncio. Não havia nada mais que pudesse fazer.

Leo assentiu aparentemente satisfeito e a guiou através da sala escura até a porta.
Abriu-a, ligou um interruptor para acender as luzes, e logo fez menção de que
descesse para o quarto da lavanderia no porão.

Dani olhou a seu redor, ao chão de cimento, as paredes alegres de cor amarela pálida,
e logo à máquina de lavar roupa e secadora que estavam contra a parede, enquanto
ele a conduzia uns poucos passos através de um arco para uma sala muito maior.
Obviamente era a oficina do marido. A parede frente a eles estava coberta com uma
estante de oficina. Ferramentas de todo tipo estavam penduradas nos ganchos. A
parede da esquerda estava ocupada com uma longa mesa de trabalho. Na parede da
direita havia prateleiras que tinham lixas e latas de pintura alinhadas a ambos os
lados por uma ampla porta que dava ao que parecia ser um pequeno e escuro quarto
ocupado por uma grande caldeira e as outras máquinas da casa. Mas Dani apenas deu
uma olhada em tudo isto. Sua atenção estava nas três cadeiras colocadas no centro do
local e no casal de anciões, cada um estava amarrado e amordaçado a uma das
cadeiras dos extremos, deixando outra cadeira vazia no centro.

- Venha, me deixe te apresentar a nossos anfitriões.


Dani tropeçou para frente quando ele puxou seu braço, e olhou ao casal. Eram mais
velhos, talvez estivessem no final dos cinquenta ou princípios dos sessenta. O marido
tinha a pele escura e curtida pelos anos sob o sol, e uma expressão sombria e
determinada que se negava a mostrar medo. A mulher tinha os olhos cheios de
lágrimas, medo e súplica, enquanto contemplava Dani por cima de sua mordaça.

- Este é o Senhor Jantar de Dani e a Senhora Lanche da Meia-noite de Dani-


anunciou Leo, e quando ela o olhou surpreendida, ele explicou, - São minhas
surpresas. Eles vão te ajudar através de sua transformação, minha querida.

- Transformação?- perguntou ela bruscamente. -Pensei que fosse me trocar por seus
filhos.

- Eu ia fazer isso- assegurou-lhe com uma voz suave, e logo sorriu. - Na verdade,
meu plano original era te matar para castigar Decker por estacar meus filhos, mas
logo percebi que ele só estava seguindo as ordens de Lucian e pensei que o castigo
deveria ser menor...em seu caso- adicionou com tom sombrio. - Lucian é outro
assunto completamente diferente. Ele dominou ao resto dos imortais durante muito
tempo. Já é hora de que… -Leonius se deteve de repente, sua ira se desvaneceu e
encolhendo-se de ombros, disse, - Mas estou divagando. Estávamos falando de você.
Venha, sente-se.

Ele a conduziu para que fosse para a cadeira no centro, e quando ela resistiu, dobrou-
a e fez que se sentasse entre o casal mais velho.

Dani se sentou e se voltou para olhar primeiro ao marido e logo à mulher. O marido a
olhou com lástima, a mulher com desespero. Voltou-se para o Leonius e disse a
primeira coisa que lhe veio à cabeça, - Mas eu não quero ser uma vampiresa.
- Sei- murmurou ele, sorrindo de tal forma que sugeria que não lhe incomodava
absolutamente. – Em realidade é tão triste. Não percebe que há mulheres por todo
mundo que pagariam um bom dinheiro por converter-se em uma?

- Pois procure por elas então- replicou ela.

Leo se pôs a rir. - É tão adorável. Não. Temo que é você ou ninguém mais.

- Por que?- perguntou Dani com frustração.

- Devido a que Decker é quem deve ser castigado- explicou ele pacientemente.

Esta lógica só aumentou seu desconcerto. -Mas eu sou sua companheira de vida.
Provavelmente me transforme ele mesmo se lhe der a oportunidade. Dificilmente
para ele será um castigo que você me transforme.

- Ele quer te converter em um de sua espécie- disse Leo. -Vou te transformar em uma
de minha espécie. Será uma Sem Presas, e não gostará absolutamente. De fato,
querida, temo que ele e o resto deles desprezam aos de nossa espécie, assim não te
espera um quente reencontro se for o suficientemente idiota para escapar. Lucian e
seu grupo nos caçaram desde a Atlântida, quase até nossa extinção. Mataram meu pai
e meus irmãos. A única razão pela qual sobrevivi era porque não sabiam nada de
minha mãe ou que me levava em seu ventre. Portanto…-sorriu cruelmente - Este será
um castigo para Decker. Tomarei sua companheira de vida e a converterei em um dos
desprezíveis Sem Presas que ele e sua espécie odeiam tanto. Então ele realmente irá
querer me matar… e a você também.

Dani ficou olhando-o com uma mescla de confusão e medo. -Eu não…
-Não sabe o que é uma Sem Presas?- perguntou ele, desprezando o resto de seu
pensamento em sua cabeça. - OH, Decker foi muito negligente. Mas suponho que
estava ocupado fazendo outras coisas, não é?

Dani avermelhou pela maneira insinuante em que seus olhos a percorreram, e


recordou seu anterior comentário sobre que tinha visto o que eles estavam fazendo
no estábulo.

- Essa marca que tem no pescoço é uma mordida, Dani?- De repente, ele estava
inclinado esquadrinhando seu rosto, e logo lhe perguntou em um sussurro, -
Pergunto-me, há outros lugares nos que te mordeu?. Lugares mais...íntimos, talvez?

Ela agarrou a mão dele que de repente se deslizava para cima por suas coxas e jogou
atrás a cabeça para olhá-lo. O homem estava louco como uma cabra. Uma idéia de
repente podia fazê-lo se zangar, enquanto que o que devia tomar como um insulto o
divertia. Não tinha idéia do que estava falando quando disse que era um Sem Presas,
mas ela não queria nada disso.

- É um ser imortal que não tem presas- disse Leo, pinçando em sua cabeça de novo.

Dani franziu o cenho ante o anúncio e lhe perguntou confusa: -Mas vocês têm
nanos?

- OH, sim. Temos os nanos e a necessidade de sangue.

- Então, como se… . Ela fez uma pausa ao recordar os cortes que tinham as mulheres
no precipício e se perguntou se o golpe que ele lhe deu não lhe teria causado algum
dano cerebral e por isso ela estava pensando tão lentamente.
- Desta maneira.

Dani olhou como a mão que tinha utilizado para agarrar sua mão estava outra vez na
mão dele, e logo tirou uma pequena faca afiada e rasgou seu pulso. Tudo aconteceu
tão rápido que levou um momento para preceber o que ele tinha feito, e logo chegou
a dor e a respiração sibilante quando viu que o sangue emergia, rico e vermelho, e se
derramava fora do corte.

Leo imediatamente levou o pulso até sua boca para beber e começou a chupar com
avidez.

Dani o olhou com repugnância e tratou de tirar sua mão, mas ele se limitou a apertá-
la dolorosamente e continuou alimentando-se, chupando a ferida até que deixou de
sangrar. Ela apertou os dentes para não gritar quando ele utilizou a língua e os dentes
para escavar a ferida para que sangrasse mais.

Quando não pôde extrair uma gota mais, Leonius levantou a cabeça e lançou um
suspiro de prazer antes de olhá-la e anunciar, -Não há nada tão doce como o medo no
sangue. Toda essa adrenalina, noradrenalina e o oxigênio extra, só a fazem perfeita.
Inclinou a cabeça e lhe fez um gesto para o corte que sangrou, lhe dizendo
amavelmente, - Não se importou, certo? Parece-me justo já que vou te dar alguns de
meus.

- Está louco- disse ela com voz débil.

- Sim, não é estupendo? Está no sangue, já sabe- disse Leo, continuando, seu sorriso
adquiriu uma forma cruel e utilizou a faca para cortar seu próprio pulso,
acrescentando: - E agora vou compartilhar meu sangue contigo.
Dani se inclinou para trás, tentando evitá-lo quando ele chegou até ela, mas não
havia escapatória. Leonius era rápido, forte e determinado. Antes que ela soubesse,
sua mão estava na parte posterior da cabeça dela e agarrou um punhado de seu
cabelo. Puxou violentamente de modo que ela gritou surpreendida pela dor, e
imediatamente depois o pulso dele estava contra a boca aberta.

- Beba- ordenou-lhe.

Dani empurrava desesperadamente seu pulso, sentindo que o sangue descia por sua
boca, mas se negava a engolir enquanto lutava para sair da cadeira e fugir, mas ele a
mantinha no lugar enquanto a tinha presa pelo cabelo da parte posterior de sua
cabeça. Quando sua boca estava cheia e o sangue começou a descer pelo braço, lhe
soltou o cabelo e tampou o nariz com o polegar e o indicador. Dani gritava de
pânico, e engolia convulsivamente enquanto tentava tomar ar, e logo outra vez,
afogando-se com o líquido espesso que entrava em sua garganta. Mas não conseguia
ar, só um pouco mais de sangue.

Dani estava segura de que ia se afogar ou asfixiar, e então ele a soltou. Ela lançou um
grito afogado e cuspiu o que restava na boca, faltou-lhe o ar e olhou a seu redor para
ver que o granjeiro tinha tentado ajudá-la. Apesar de que estava amarrado, ele se
dobrou para frente o mais que pôde, lançou a si mesmo contra Leo com cadeira e
tudo, acertando Leo no estômago e forçando-o a afastar-se de Dani. Quando ela se
deu conta disto, Leo rugiu com fúria e se voltou contra o homem.

Inclinado para frente como estava, ofegando e ainda amarrado pelas costas, o
granjeiro não podia fazer nada para evitar o golpe. Dani gritou de espanto, sem
reparar sequer nos gritos apagados da mulher quando o golpe agarrou o granjeiro e o
lançou contra a parede. Um estalo alagou o porão enquanto a cadeira golpeava a
parede de pedra, e logo, o homem e os pedaços de cadeira caíram no chão de
cimento.

Dani se deslizou pouco a pouco da cadeira e caiu de joelhos sobre o cimento frio,
tentando ainda recuperar o fôlego, e logo olhou com preocupação à mulher quando
Leo, zangado, dirigiu o olhar para ela, que estava fazendo sons frenéticos através de
sua mordaça e raspando o chão com a cadeira, tratando de chegar até seu marido.

- Não- ofegou Dani com desespero quando se ele aproximou da mulher, levantando
seu braço de novo.

Leonius se deteve e se voltou para olhá-la com uma sobrancelha arqueada. - “Não”, é
uma palavra que me desgosta muito.

Dani apertou os lábios e logo fez uma careta quando ele deu a volta e golpeou à
esposa do granjeiro. No golpe havia muito menos ira e força, entretanto sacudiu de
lado à mulher, e o sangue começou a emanar de um corte na boca, em cima da
mordaça, ao menos, ela seguia em sua cadeira e se mantinha conciente.

Dani se mordeu a língua, com medo de dizer algo que só conseguisse enfurecê-lo e
lhe fizesse causar mais dor à mulher, mas teve que cravar as unhas nas palmas de
suas mãos para manter a boca fechada quando ele se agachou a lamber o rastro de
sangue que se escorria da boca da mulher.

- Mmmm.- ergueu-se lentamente com os olhos fechados enquanto saboreava o sabor,


e logo sorriu a Dani. - Medo e diabetes, uma combinação imbatível. Vai me amar por
lhe dar isso, é um prazer.

-Nunca- A palavra cheia de desgosto, deslizou-se de seus lábios antes de que pudesse
detê-la.
Felizmente, em sua forma imprevisível habitual, Leo estava mais divertido, o que a
irritou ainda mais. Rindo a gargalhadas, ele sacudiu a cabeça. - Diz isso agora, mas
me acredite, quando a fome atacar, vai rasgar a estes dois em pedaços para lhes
chupar até a última gota de sangue.

Dani lhe devolveu o olhar em silêncio, horrorizada ante essa possibilidade, e sacudiu
a cabeça.

- Sim- assegurou ele enquanto se movia para agarrá-la de novo pelos braços e
levantá-la até colocá-la na cadeira. Então se deteve, agachou-se e enfrentando-a cara
a cara, acrescentou com alegria, - Levará menos de uma hora antes que precise
conseguir sangue, sentirá-se tão mal que começará a vê-los como um par de grandes
e suculentos bifes com pernas - endireitou-se e logo continuou: -Não muito depois,
não será capaz de se controlar. A dor e a fome serão tão fortes que começará a roê-
los.

Leonius sorriu ante sua expressão e lhe deu um calafrio. -Quase não posso esperar e
só queria ter pensado em ter uma câmara de vídeo para que o veja depois-Suspirou.
-Todo este bate-papo de comida me deu fome, vou comer algo. As duas garotas do
restaurante não me encheram muito ontem, e temo que com todo o alvoroço de hoje
deixei de comer.

Seu olhar pensativo se voltou para a esposa do granjeiro. Quando a mulher se


encolheu em sua cadeira, Dani se apressou a dizer: -Disse que era minha.

Leo se deu volta, suas sobrancelhas se elevaram de novo, mas esta vez estavam
acompanhadas por um sorriso irônico. – Só diz isso para tentar salvá-la, mas vai
entender a ironia em uma hora ou menos. Ao menos, eu tenho uma faca. Você a
rasgará com seus dentes.

Quando Dani sacudiu a cabeça, ele sorriu e se encolheu de ombros. - Entretanto,


disse que era um presente para você. Além disso, só teria que correr e agarrar ao
outro. Você necessitará de pelo menos dois para atravessar a transformação. Assim
… . Ele se afastou e se dirigiu às escadas. -Suponho que terei que sair correndo e
agarrar um pouco de comida rápida. Quero voltar a tempo para ver o espetáculo
quando começar, e, infelizmente, Lucian escolheu um lugar tão afastado como o
inferno para seu novo quartel. Poderá demorar um pouco, mas te prometo que
retornarei o mais breve possível, tente esperar para que possa vê-lo, você consegue?

Leonius se deteve na escada e se deu volta. Quando ela simplesmente ficou olhando
com o rosto inexpressivo, ele deixou que seus olhos se deslizassem sobre ela e
acrescentou: -Talvez encontre uma loira bonita, briguenta e pequena como você. Ele
sorriu. -E ver você e Decker hoje me deu vontade de um pouco de diversão e
brincadeiras, e não me incomodava com isso a muito tempo tempo. Mas te prometo
que vou esperar até que retorne para que possa se unir se gostar. Voltou-se e
continuou subindo as escadas, dizendo, -Voltarei logo.

A porta se fechou atrás dele, mas Dani esperou escutando seus passos enquanto
atravessava o piso superior. Assim que ouviu o ruído da porta que se abria, e logo o
ruído ao fechar-se de repente, ficou rapidamente de pé e foi para os granjeiros, suas
pernas estavam um pouco instáveis. Aajoelhou-se junto ao homem inconsciente,
examinou-o rapidamente, assegurando-se de que nada parecia estar quebrado. Além
de uma ferida na cabeça, parecia estar ileso, embora sem dúvida estaria golpeado e
maltratado pelo ataque de que foi vítima.

Ela pôs a cabeça dele brandamente sobre o chão e começou a olhar para a mulher,
mas fez uma pausa e levou a mão à frente quando uma onda de enjôo se apoderou
dela. O aroma do sangue imediatamente afligiu Dani, ficou rígida e retirou sua mão.
O corte superficial no pulso já não sangrava; Leonius tinha chupado tudo o que pôde
de cada pingo de seu sangue. Entretanto, uma mancha de um líquido vermelho e
fresco cobria sua palma logo depois de examinar o granjeiro. O sangue brilhava
sobre sua pele sob a luz fluorescente da habitação, seu aroma doce e estranho
resultava bastante agradável.

Horrorizada pelo pensamento que flutuava em sua mente, Dani se obrigou a ficar de
pé e a sala girou a seu redor. Desesperada por fugir do homem que sangrava, subiu
tropeçando pelas escadas para tratar de abrir a porta. Estava fechada com chave, é
óbvio.

O pânico a afligiu imediatamente, mas Dani apoiou a cabeça contra a porta de


madeira, obrigando-se a respirar profundamente em um esforço para se acalmar. Ela
estava em pânico por nada. O enjôo era o resultado da tensão e a ferida no pulso. Ela
não podia estar mudando tão rapidamente, assegurou-se Dani e, continuando, as
palavras de Leonius sussurraram através de sua cabeça. Levará pelo menos uma hora
para que venha a necessidade de conseguir sangue, se sentirá tão mal que começará a
vê-los como um par de grandes e suculentos bifes com pernas…. Não muito depois
não será capaz de se controlar. A dor e a fome serão tão fortes que começará a roê-
los.

Fechou os olhos e gemeu. Ela tinha que escapar e fazer que o casal se afastasse dela
tanto como pudesse, pensou Dani, e se separou da porta para começar a baixar as
escadas de novo, alarmada por quão trementes estavam suas pernas em tão pouco
tempo. Fazendo todo o possível para ignorá-lo, Dani deu uma olhada à sala da
lavanderia, mas já que não parecia haver nada que pudesse utilizar para forçar a
fechadura, foi até a oficina.
O marido se encontrava inconsciente e a mulher a olhava preocupada, mas um olhar
ao lábio ensangüentado da mulher fez que Dani a evitasse e que fosse para a estante
com as ferramentas alinhadas. Agarrou um martelo, uma alavanca, e começou a
voltar, seus olhos percorreram a passagem para a sala quando o fez.

Uma olhada do que parecia ser a esquina de uma porta a fez deter-se. Dani olhou por
um momento, a seguir deixou as ferramentas no canto da mesa de trabalho e se
dirigiu à passagem. Efetivamente, ali havia uma porta, estava meio escondida do
outro lado da caldeira. Ela se aproximou, e depois de abri-la se encontrou olhando à
escuridão.

Havia um interruptor de luz na parede e o ligou, por um momento piscou cega


quando uma lâmpada nua se acendeu sobre sua cabeça. Era um quarto estranho.
Tinha cinco metros de profundidade e corria ao lado do porão. Cheirava a umidade e
era frio. Uma bomba e um pulverizador de água estavam em um canto, e umas
estantes vazias no outro, o que sugeria já tinha sido utilizado como uma sala de
armazenamento refrigerado, mas a parede a frente estava coberta por várias placas
duras isolantes de poliestireno. Não havia saída.

Decepcionada, Dani deu um passo atrás e fechou a porta, e logo se voltou, só para
perder o equilíbrio e se agarrar a uma caldeira enquanto a sala girava a seu redor.
Fechou os olhos, assegurando-se uma vez mais que isto tinha que ser por causa do
sangue que Leonius tinha tomado. Certamente a transformação não podia começar a
afetá-la tão rápido.

Então, por que evitar o casal? Por que não se atreveu a se aproximar o suficiente para
desamarrar a mulher?, perguntou-lhe burlonamente uma parte de sua mente, e Dani
gemeu entristecida quando reconheceu que eles verdadeiramente estavam com
problemas. Leo a tinha obrigado a beber seu sangue e, provavelmente, ela estava
convertendo-se em alguém como ele.

Uma Sem Presas, pensou angustiada. Apesar de que Dani ainda não sabia o que isso
significava, a possibilidade de que ela pudesse converter-se em um ser que Decker
desprezasse, causou-lhe uma sensação dilaceradora. Embora não estivesse segura se
ia querer compartilhar uma vida com ele antes disto, lhe haver tirado essa
possibilidade bastava para afastar a incerteza. Sem dúvida isso teria sido preferível
ao que agora enfrentava.

Leonius a tinha arruinado, aceitou ela com tristeza. Tinha-a destruído por completo,
como se a tivesse matado, porque era o único final aceitável que agora podia ver para
si mesma. Dani não ia se permitir ser alguém como ele, matando pessoas inocentes
para se deleitar com seu sangue. Se tornou uma médica para salvar vidas, não para
destruí-las.

Sendo consciente de uma desagradável sensação ácida no estômago, Dani fechou os


olhos, respirou fundo, e se obrigou a pensar com calma. Tinha que encontrar uma
maneira de tirar este casal daqui, a fim de que se afastassem dela e de Leo antes que
ele voltasse...

E logo tinha que averiguar como matar ao Sem Presas e a ela mesma. Ela preferiria
estar morta que ser um monstro.

Com tudo planejado, Dani abriu os olhos e retrocedeu com cuidado de volta para a
passagem. Estava a ponto de retornar e recolher as ferramentas que tinha posto sobre
a mesa de trabalho, com a esperança das usar para forçar a porta de cima, mas se
deteve ante um gemido do granjeiro. Seu olhar se deslizou para encontrá-lo rodando
sobre seu lado. Dani começou a ir para ele, mas tinha dado só um passo quando a
sensação ácida no estômago aumentou até chegar a ser um ponto doloroso. Respirou
profundamente ofegando pela surpresa, e tropeçou se chocando contra a passagem.
Ela se agarrou à parede e logo se deslizou pela parede da passagem enquanto a dor a
apunhalou, atravessando-a. Quando ela passou o segundo ponto, estava ofegando
sobre suas mãos e joelhos.

Por último levantou os olhos aturdida para encontrar o granjeiro grunhindo e fazendo
outros sons tratando de chamar sua atenção. O homem também se retorcia no chão,
por sinal tentava se aproximar dela, sua cabeça balançava. Levou um momento para
peceber que o balanço silencioso da cabeça era um gesto destinado a conseguir que
ela se aproximasse dele. Seus olhos se deslizaram pelo sangue que ainda gotejava de
sua cabeça, e Dani se estremeceu ao recordar a Leo afirmando que em menos de uma
hora o casal lhe pareceria um par de bifes grandes e suculentos.

Não tinham muito tempo. Tinha que tirá-los dali, pensou Dani fracamente. Ela tinha
que desamarrá-los para que eles a ajudassem a encontrar uma saída. Inclusive se não
pudessem encontrar nada, seria melhor que o casal estivesse desamarrado para ao
menos poder lutar, caso a situação a levasse a perder o controle de si mesma.

Fazendo uso de sua determinação, Dani começou a ficar de pé, mas gemeu e caiu de
joelhos, tentando aliviar a dor aguda que retornava. Gemendo, ela tomou um
momento para esperar que a dor diminuísse e logo se arrastou pelo chão até chegar
ao granjeiro. As lágrimas emanavam de seus olhos no momento em que ela chegou
até ele, mas ela não deu atenção a isso e lhe desamarrou as mãos. Assim que
terminou de fazê-lo, secou as lágrimas torpemente com suas mãos e ele se ocupou da
tarefa de liberar a si mesmo.

Dani deu a volta aliviada, achava inquietante a vista e o aroma de seu sangue. Ela se
separou dele, encolhendo-se como uma bola no chão e abraçando-se a si mesma ao
redor da cintura. Ouviu-o grunhir e sussurrar e suspeitou que ele estava ficando de
pé, mas não quis olhá-lo. Em lugar disso, levou-se as mãos ao estômago, desejando
poder escavar e tirar o sangue de Leo e deter toda a dor.

O granjeiro passou junto a ela, entrando uma vez mais em sua linha de visão à
medida que avançava rapidamente para sua esposa. Dani lhe viu desatar a corda que
prendia a mulher à cadeira, mas quando deixou a corda a um lado, no chão, disse-lhe,
- Me amarre.

O granjeiro e sua esposa se voltaram para olhá-la surpreendidos.

- Me amarre,- repetiu ela. -Vocês estarão mais seguros.

Eles intercambiaram um olhar entre si, e logo continuou soltando a sua esposa,
concentrando-se agora na corda que envolvia seus pulsos.

- Se não pudermos sair daqui- começou a dizer ela desesperadamente - Eu poderia…

- Não se preocupe, menina- interrompeu-a ele. - Conheço uma saída.

Dani sentiu que a esperança renascia por um momento, nem sequer pensou por um
momento que ela também poderia escapar e talvez encontrar uma maneira de deter o
que lhe estava acontecendo, ou ao menos obter a ajuda de Decker e dos outros. Não
haveria uma melhor oportunidade para deter Leo e garantir que este nunca mais
causasse este sofrimento a outra pessoa... e evitaria também que fizesse mal a
alguém, pensou Dani, mas logo fechou os olhos e sacudiu a cabeça. Ela não podia
arriscar-se a ir com eles. Não havia maneira de saber quanto tempo poderia controlar-
se. Seu olhar se deslizou até o granjeiro que terminava de desamarrar as mãos de sua
esposa e lhe disse, -Me amarrem e vão sem mim.
A mulher tirou a mordaça, agora que tinha as mãos livres e disse com firmeza: - Não
vamos deixá-la aqui para que ele abuse de você.

- Vocês têm que se afastar de mim. Se o que ele disse é certo, eu poderia lhes atacar.

- O que? O sangue e esse assunto de vampiros?- O marido soprou, endireitou-se e


ajudou a sua esposa a ficar de pé. -O homem estava drogado ou algo assim. Tudo
eram tolices.

- O que é que ele lhe deu, querida?- perguntou a mulher preocupada enquanto se
aproximava dela quando seu marido foi correndo através da sala de caldeiras para o
corredor comprido e estreito onde estava a bomba e o pulverizador de água.

- Seu sangue- disse Dani suspirando. - Agora também estou me convertendo em um


vampiro.

A mulher se deteve junto a Dani, abriu a boca para falar, mas parou e olhou a seu
redor quando seu marido reapareceu e correu à mesa de trabalho. Ambas lhe viram
agarrar o martelo que Dani havia posto ali, e logo se afastou correndo de novo.
Houve um chiado quando desencravou as madeiras, e então a mulher disse: - Qual é
seu nome, querida?

-Dani- respondeu ela com cansaço.

- Bom, Dani, meu nome é Hazel Parker e ele é meu marido, John.- Hazel se ajoelhou
a seu lado e acrescentou com sensatez, - Tenho que lhe dizer querida que os
vampiros não são reais. Esse homem deve tê-la drogado de algum jeito antes de
trazê-la até aqui.
Dani fechou os olhos. Ela não estava muito surpreesa que não lhe acreditasse. Não
acreditou no Decker quando ele havia dito, e tinha visto as presas. Para Hazel e John,
Leo devia parecer normal, o habitual psicopata, pensou. A menos que…

- Quem a amarrou acima?- perguntou-lhe Dani de repente.

A confusão apareceu brevemente no rosto do Hazel, mas ela disse, - Amarrei John e
então o jovem me amarrou.

-Por que amarrou John? Leo a ameaçou?

- Não- admitiu ela, aprofundando sua confusão. - Ele me disse que tinha que fazer
isso, e eu não queria ... eu só ... não- Algo como pânico brilhou em seus olhos.
-Tentei parar, mas era como se alguém mais estivesse controlando meu corpo.

- Alguém mais o estava fazendo- Dani disse com firmeza. - Leo. Ele é um vampiro.

Hazel a olhou com incerteza e logo se voltou com alívio ao ver que seu marido se
apressava a retornar ao local.

- Já consegui abrir- anunciou John, correndo para elas. -Não pensava que seria capaz
de fazê-lo. Estava fechada há uns vinte anos, mas a arranquei dos pregos com um
poquinho de….

Fez uma pausa para olhar sua esposa e Dani, e logo se agachou para agarrar o braço
de Dani e a levantou. - Vamos. Ele pode voltar a qualquer momento.

Dani resistiu brevemente, mas sua luta era débil. Ela não parecia ter nenhuma força
em seu corpo, e isso foi o que lhe fez ceder e acrescentar a pouca força que tinha
para ajudá-lo a colocà-la de pé. Não havia maneira de que ela pudesse vencer Leo
nessa condição. Se ficasse, simplesmente lhe traria mais inocentes para que se
alimentasse, e pela forma em que tudo estava indo, Dani temia que não seria capaz
de resistir.

Ela ia sair da casa com eles e logo os enviaria ao lado, à casa do executor em busca
de ajuda, enquanto ela se escondia entre os arbustos ou algo assim. Logo Decker e os
outros poderiam voltar a cuidar dela e capturar a Leo. Parecia um bom plano para
Dani, e ante a insistência do John, ela deu um passo vacilante para frente, só para
ofegar e dobrar-se quando o movimento fez aumentar de novo a dor. Ofegando como
uma mulher em trabalho de parto, ela olhou ao chão e se disse que só tinha que sair
ao exterior. Logo eles partiriam e estariam a salvo, deixando-a a seu…- Dani se
deteve e olhou ao John drasticamente, perguntando: -você dirige uma caminhonete
marrom, não?

- Sim- respondeu John, insistindo para que avançasse outro passo. -Por que?

- Porque isso é o que ele estava dirigindo e é provável que esteja dirigindo agora-
disse Dani miseravelmente, disposta a desistir e a procurar a maneira de obrigá-los a
irem sem ela.

- Então vamos ter que pegar seu automóvel- disse John incondicionalmente. Está no
celeiro. Eu estava lá guardando o novo trator quando ele chegou dirigindo….- e John
se deteve abruptamente com a boca apertada ante alguma lembrança desagradável.
-Vamos, vamos, ou ainda estaremos aqui discutindo quando ele voltar.

Dani apertou os lábios, mas começou a se mover de novo. Ela fez o possível para
ignorar a dor que essa atividade lançava através de seu corpo, e foram até a sala fria
que ela tinha examinado antes. Ela notou o martelo e os pregos grandes abandonados
no chão de cimento, e logo levantou a cabeça para ver que uma das placas de espuma
de poliestireno tinha sido retirada para revelar um muro de pedra que tinha uma
velha janela.

A visão fez que seu coração se afundasse pelo desespero. Não havia forma de que
fosse capaz de sair através dessa janela.

Capitulo 14

-Você consegue, menina.

Dani se voltou para o velho granjeiro. Ao que parece, sua expressão a tinha delatado,
mas ele não ia se dar por vencido, inclusive se ela o fizesse.

-Ajudaremos você- adicionou, quando ela começou a negar com a cabeça, e logo lhe
gritou com impaciência, -Pelo menos tente, maldita seja! Ou se não quer tentar, pode
ir ao quarto ao lado e usar uma de minhas ferramentas para te cortar os pulsos.

Ela apertou os dentes ante as duras palavras. Ele tinha razão, ela podia fazer isto, ou
ao menos poderia fazer uma maldita tentativa. Dani nunca tinha sido uma covarde,
acreditava firmemente que o único fracasso era não tentar. Essa crença a tinha
sustentado na escola de medicina e nas horas extras que tinha trabalhado como
estagiária depois. Se tinha conseguido sobreviver a tudo isso, ela poderia sair através
desta janela estúpida, disse-se Dani firmemente. E se não podia, não seria por não
tentar.
Um pouco mais tranquilo, John a ajudou a se levantar diante da janela, então se
detiveram, e John estendeu a mão e soltou o velho e oxidado gancho da tranca. Abriu
a antiga janela para cima para deslizar um prendedor no teto baixo, sustentando a
janela aberta.

A borda inferior da janela estava à altura do queixo de Dani. Era de sessenta


centímetros de largura por sessenta centímetros de altura. Olhou a janela de metal, a
grama aparecia logo a frente e podia ver o céu noturno cheio de estrelas.

-Vamos precisar de uma cadeira ou algo para você usar- disse Hazel, e voltou a sair
correndo do quarto.

Dani olhou a janela e disse tristemente: -Farei vocês perderem tempo.

-Temos um pouco de tempo- disse John encolhendo-se de ombros. –Estamos


bastante afastados. Estamos a meia hora do restaurante de comida rápida mais
próximo.

Dani não se incomodou em lhes explicar que para Leo, a comida rápida não tinha o
mesmo significado.

-Aqui.

John se voltou e retrocedeu um passo levando Dani com ele, quando Hazel se
apressou a retornar com uma das cadeiras da oficina. Colocou-a diante da janela e
logo os olhou aos dois com incerteza.

-Suba, Hazel- disse John. -E então vou ajudar a menina a subir e você pode puxar
ela.

Hazel assentiu com a cabeça e se apressou a subir na cadeira. Ela era ágil para sua
idade e tamanho, notou Dani, vendo como a matrona conseguia passar através da
janela, soprando e ofegando para conseguiu sair.

Quando Hazel se ajoelhou e se voltou para olhá-los, John lhe disse: - Saia até a
grama. Se se deitar na grama e se estirar, pode puxar enquanto que ajudo a garota
daqui.

-Meu nome é Dani- murmurou ela ao ver Hazel fora da janela.

-Prazer em conhecê-la- respondeu John ausente enquanto olhava a sua esposa com
preocupação, e logo conduziu Dani para que subisse na cadeira. Com sua ajuda, ela
conseguiu subir e impulsionar-se pelo vão. As mãos Hazel apareceram
imediatamente da parte superior e Dani as agarrou, John a segurou pelos quadris, pôs
seu ombro por trás dela e começou a empurrá-la para cima. Houve uma grande
quantidade de grunhidos e ofegos, e Dani estava segura de que se raspou pelo menos
dois cortes em sua barriga, mas depois do que pareceu uma eternidade se encontrou
quase for a da janela.

-Vai ter que tentar se impulsionar para ajudar Hazel a te tirar daí, garota- disse John
sem fôlego, e Dani se deu volta e o viu parado na cadeira junto a janela. Estavam
todos sem fôlego pelo esforço realizado, mas sua cara estava alarmantemente
vermelha. Seus olhos se deslizaram à testa, onde o sangue secou ao redor da ferida, e
sentiu que seu estômago dançava, logo Dani notou que uma pontada de dor a
atravessava em uma agonia terrível. Se só pudesse conseguir um pouco de sangue, só
um pouco, sabia que se sentiria mais aliviada. Só um pingo. Talvez poderia lhe
lamber somente a testa, como Leo tinha feito na cara da esposa, só uma lambida.
-Dani?

Ela sacudiu a cabeça e elevou o rosto para olhar Hazel. Estava escuro, mas a luz que
se filtrava em torno da forma de John do interior foi suficiente para que visse o
alarme repentino na cara da mulher.

- Está terrivelmente pálida, menina- disse ela em tom vacilante. - Está bem? Pode
tentar se manter em pé?

Dani se envergonhou ao perceber o que tinha estado pensando, e fechou os olhos por
um momento. Tinha que sair dali e afastar-se destas pessoas como pudesse. De
qualquer pessoa. Tinha que procurar ajuda, mas não qualquer tipo de ajuda. Alguém
que soubesse o que estava passando e que pudesse detê-la. Necessitava de …
-Decker!

-O que foi isso querida?- perguntou-lhe Hazel.

-Temos que nos mover- disse John, empurrando sua perna. - Tem que se pôr de pé.

Dani pôs seus joelhos diante dela e apoiou seus pés. Estirou-se até a parte superior da
janela e sentiu as mãos de Hazel sobre as suas . Quando Hazel começou a puxar,
Dani deixou de lutar contra a dor da fome e em seu lugar a utilizou para encontrar a
força para impulsionar-se para cima. Se levantou, ao princípio vagamente consciente
de que Hazel estava puxando e John estava fazendo o que podia para empurrá-la,
mas ela estava fazendo a maior parte, obrigando a seus músculos a mover-se. A ação
fez que a dor em seu estômago surgisse e se disparasse para seus membros como
ácido e golpeasse seu cérebro como um martelo. A agonia afastou todos seus outros
pensamentos enquanto se arrastava fora da janela. No momento em que sentiu a
grama fria sob suas mãos e joelhos, Dani se deixou cair ao chão, separou-se da janela
e se fez uma bola abraçando-se a si mesmo.

Logo foi consciente dos sons detrás dela quando Hazel ajudou John a sair. Ele
murmurou: -Eu irei ver se o carro liga. Tente levantá-la. Logo Hazel se inclinou
sobre ela, e lhe perguntou se estava bem. Dani podia escutar os batimentos do
coração da mulher por cima, quase podia ouvir a corrente de sangue correndo pelas
veias da mulher e se encontrou rodando sobre eles.

Hazel deslizou seus braços ao redor de Dani, levantando a cabeça e os ombros de


Dani para fazê-la descansar em seu colo. Hazel logo baixou o rosto para olhá-la.

-Está muito pálida. As palavras soavam nervosas e levavam um leve rastro de sangue
com elas.

A parte da mente que Dani que ainda funcionava lhe disse que isso provinha do lábio
ensangüentado de Hazel que Leo tinha machucado, mas isso não importava, o aroma
fez que seu corpo começasse a gritar de forma miserável.

Gemendo, ela voltou a cabeça para um lado, seu olhar se posou no oco do braço que
Hazel tinha deslizado por debaixo da cabeça. A pele se via magra pela idade e sob a
suave luz que entrava pela janela Dani pôde ver as veias azuis em forma de aranha
arrastando-se por seus braços. As veias que levam sangue, disse-lhe sua mente, o
sangue quente e doce que se levaria a dor. Só uma pequena provada, para afastar a
dor...

Dani se empurrou longe da tentação, rodando contra a parede. Sentiu o tijolo, fresco
e áspero contra seu rosto, ela levantou a mão e começou a levantar-se, afundando os
dedos de uma mão nas pequenas gretas entre os tijolos e empurrando-se com a outra
mão no chão.

- Deixe que te ajude. Hazel estava a seu lado outra vez, tentando-a com seu aroma.
Sem pensá-lo, Dani a agarrou pela parte dianteira da blusa e a arrastou mais perto
para poder inalar o aroma.

-Seus olhos- ofegou Hazel, com voz tremente. -Tornaram-se prateados.

As palavras foram como uma bofetada na cara de Dani. Imediatamente recuperou o


controle de si mesma, soltando a blusa da mulher, e a apartou.

-Corra. A palavra era um rogo desesperado. -Vou me esconder nos arbustos. Pode me
enviar ajuda.

Hazel a olhou com incerteza, obviamente lutando contra o desejo verdadeiro de


fugir, e logo o som de um motor ressonou na parte posterior da casa. Hazel a olhou, e
foi evidente que o alívio percorreu seu corpo, logo uma careta de determinação
apareceu em seu rosto e retrocedeu um passo junto a Dani.

-Não vamos deixá-la para trás- anunciou, agarrando Dani por baixo das axilas e
arrastando-a para cima com uma surpreendente amostra de força. –Vamos sair os três
daqui, menina. Assim será melhor que coloque isso na cabeça e que ponha os pés em
movimento ou te vou arrastar por toda a casa até o carro.

Dani negou com a cabeça, e não ajudou Hazel quando esta passou a seu lado e lhe
pôs um braço por cima de seus ombros e logo tratou de empurrá-la para frente.

-O celeiro está ao lado da casa e então estaremos a caminho- disse Hazel quase
suplicante. -Cinco minutos mais e estaremos a salvo. Por favor, Dani, tente.
Cinco minutos. Dani deixou que as palavras caíssem dentro de sua cabeça. Ela só
tinha que controlar-se durante cinco minutos e logo Decker se ocuparia de tudo. Ele
manteria a salvo aos Parker, tiraria-a de sua miséria e se ocuparia de Leo. Cinco
minutos. Será que poderia controlar-se tanto tempo?

Dani se obrigou a endireitar suas pernas e deu um passo cambaleante para frente com
a ajuda de Hazel. Ouviu, mas ignorou, o exclamar da mulher -Graças a Deus-,
enquanto se dirigiam ao canto da casa.

-Ouvi Leo dizer que você estava justo ao nosso lado- exclamou Hazel sem fôlego
enquanto cruzavam a grama. –Acho que deve ter se referido à casa dos Sanderson.
Foi vendida faz algumas semanas. São essas pessoas amigas suas ou familiares?

Dani não tinha nem idéia de quem tinha sido o dono anterior da casa, mas duvidava
que ambas as casas vizinhas tivessem sido vendidas, por isso assentiu fracamente.

-Têm um telefone? Se for assim, podemos usá-lo para chamar à polícia.

-Sim- grunhiu ela, sabendo que não era provável que isso acontecesse. Hazel e John
provavelmente seriam postos sob o controle de uma pessoa no momento em que
chegassem à casa, e logo os homens iriam buscar Leo eles mesmos. Ela esperava que
lhe arrancassem as extremidades, mas suspeitava que só o decapitariam ou algo
assim para assegurar que estava morto. Então, provavelmente eliminariam todo
rastro do que tinha acontecido nesta casa e eliminariam as lembranças de John e de
Hazel para que continuassem com o que provavelmente tinha sido uma vida pacífica
e agradável. Depois disto, eles sem dúvida não lhe dariam atenção.

-OH, John- suspirou Hazel aliviada, quando chegou ao celeiro.


Dani levantou a vista para ver o homem que vinha correndo para elas.

-Aqui, me deixe te ajudar.- John tomou o outro braço de Dani sobre seus ombros e
começou a mover-se mais rapidamente enquanto lhe explicava, -As chaves não
estavam no carro e não sei como fazer uma maldita ligação direta, então teremos que
pegar o trator.

Dani deixou cair a cabeça apoiando o queixo contra o peito. Tinha medo do que
poderia acontecer se visse ou cheirasse a ferida que sangrava na testa uma vez mais,
por isso foi Hazel quem respondeu.

-Está tudo bem- gritou a anciã para fazer-se ouvir por cima do motor à medida que se
aproximavam do veículo agrícola. -Vamos ao velho Sanderson de todos os modos.
Podemos cruzar o campo no trator e assim não nos arriscaremos a topar com ele no
caminho.

-Bem pensado, mulher- gritou John ao chegar junto ao trator. Quando ele se deteve e
vacilou, Dani correu o risco de levantar a cabeça para olhar o veículo. A primeira
coisa que viu foi o metal verde dos dois degraus da escada para subir. Seu olhar se
deslizou até a porta de vidro aberta e a cabine. Obviamente, era bastante novo, o
interior parecia tão elegante como uma cabine de avião com um assento acolchoado,
engrenagens, e botões, e inclusive uma pequena tela que lhe fez pensar em um GPS.
Mas não podia deixar de notar também que não havia espaço suficiente para os três
no interior.

-Entre Hazel- gritou John. -Vai ter que dirigir. Vou colocar a menina no chão uma vez
que esteja dentro e eu irei de pé na porta para me assegurar de que não caia.

Hazel se deslizou por debaixo do braço de Dani para subir à cabine. Dani então
olhou ao John para ver que estava olhando a sua esposa. Não era um homem muito
alto, e seu rosto estava bem próximo, e isso a deixava olhando o rastro de sangue que
lhe corria pela testa e a bochecha até a garganta. Ela tragou saliva e girou a cabeça
para um lado, por isso se surpreendeu quando de repente ele se deu volta, agarrou-a
pela cintura e a levantou para sentá-la no chão da cabine com as pernas pendurando
para fora.

-Segure- gritou-lhe ele.

Dani se apoiou no marco da porta e se agarrou nele quando ele se aproximou para
agarrar-se a cada lado do marco da porta aberta e subiu, ficando parado na escada
diante dela. Isso a bloqueava e deixava a cara dele ao mesmo nível que a sua. John
lhe sorriu quase amavelmente antes de olhar a Hazel.

-Vamos, Hazel- gritou. -Vamos sair daqui antes que ele volte.

Cinco minutos, recordou-se Dani a si mesma. Tudo o que tinha que fazer era
aguentar durante outros cinco minutos. Ou talvez agora fosse menos, talvez só
quatro, pensou, e logo o trator acelerou e caiu contra John, agarrando-se por sua
camisa para não cair. Abraçou-o um momento, e logo sentiu um aroma tentador
procedente do tecido. Levantando a cabeça um pouco, olhou a parte de camisa
apanhada em sua mão esquerda, e viu uma mancha escura no material que me
sobressaía do círculo feito pelo polegar e o dedo indicador fechado.

Era sangue que tinha gotejado da ferida em sua cabeça e se secou ali, deu-se conta
Dani, e se encontrou respirando profundamente a doce fragrância com sabor
metálico. Fechou os olhos quando a vertigem se apoderou dela enquanto o sangue
em seu corpo começou a saltar borbulhando, como se estivesse em ebulição e,
continuando, antes de dar-se conta do que estava fazendo, Dani fechou a boca sobre
a mancha escura, aproveitando cada pedacinho do sangue no tecido.

O trator de repente saltou e se sacudiu, e saltou de novo. Ela caiu para trás, fazendo
com que soltasse a camisa, e John rapidamente se olhou a camisa úmida à medida
que caía sobre seu peito. Logo olhou a Dani com o cenho franzido enquanto lhe
agarrava o rosto.

-Está bem?- gritou. -Está pálida como a morte e suando.

Dani gemeu e olhou por detrás dele para ver o campo, e notou que estavam atrás da
casa e se encontravam atravessando o campo. Por sinal Hazel se dirigia em linha reta
à propriedade vizinha, usando a velocidade tanto como podia. A julgar pela direção
em que se moviam, parecia que a propriedade dos Parker, estava à direita da casa dos
executores. Por isso Dani recordava do que tinha visto nesse dia a caminho para o
centro comercial, este campo era tão comprido, ao menos, um quilômetro, talvez dois
... e logo se topariam com o bosque.

Não ia agüentar tanto, pensou Dani com desespero. O campo era muito comprido e
não havia maneira de que pudessem conduzir o trator pelo bosque. Teriam que cruzá-
lo a pé. Nada disto seria um problema se não perdesse o controle tão rápido. Já se
tinha visto obrigada a chupar o sangue seco de uma camisa. O que seria a próxima
vez?

Dani se voltou para tentar ver onde tinham chegado e o que faltava, mas o corpo de
John estava bloqueando sua visão. Então ele também se voltou para olhar para frente,
deixando seu pescoço estirado diante dela. Dani se esqueceu do bosque e olhou com
faminta fascinação a veia palpitante do pescoço.

Ao dar-se conta do que estava fazendo, obrigou-se a baixar o olhar, só para


encontrar-se lhe olhando a parte interna do pulso quando ele se acomodou no marco
da porta e se agarrou um pouco mais acima enquanto se inclinava para fora para
poder olhar melhor a frente.

-Nos leve até a borda do bosque e eu vou correr até a casa para procurar a alguém
que venha nos ajudar a levar a garota até lá- gritou de repente John, fazendo que a
atenção dela sobre seu pulso se afastasse.

-Está bem- gritou Hazel.

John voltou a olhar a Dani, com o cenho franzido enquanto lhe dava uma olhada.
Soltou do marco da porta a mão que estava mais perto dela e apoiou o ombro contra
o marco para não perder o equilíbrio para poder lhe tocar a testa, em seguida ele
olhou a Hazel, inclinando-se um pouco e colocando sua testa mais perto dela,
enquanto gritava, -A moça está ruborizada e com febre. Acho…

Deteve-se abruptamente quando Dani de repente voltou a cabeça, inclinou-se para


frente e lambeu a mão que lhe tinha apoiado na testa.

-Ei, pare!- John fez um gesto com a mão. -Menina, ninguém me lambe, exceto Hazel.
Comporte-se.

-Sinto muito, havia sangue nela de quando se secou a testa- murmurou ela

-O que?- Ele se aproximou com suas sobrancelhas elevadas em forma interrogante e


Dani se centrou na testa. Sua ferida na cabeça começou a sangrar de novo, e o fresco
e doce aroma de sangue se filtrava para fora. Observou lentamente o caminho do
sangue para baixo, através do sangue seco, e sentiu a saliva em sua boca. Dani tragou
e logo se umedeceu os lábios, finalmente se inclinou um pouco para inalar seu
aroma, surpreendendo-se ao perceber que cheirava tão delicioso como um filete
suculento e agradável, como havia dito Leo.

-O que disse?- perguntou John, inclinando-se mais de perto, e Dani aproveitou a


ocasião para lhe lamber a testa. Imediatamente ele se inclinou para atrás aborrecido,
e então franziu o cenho e espetou: -Já basta!

-O que fez?- Hazel perguntou.

-Ela segue me lambendo, Hazel. Está pior que o maldito gato que você tem- grunhiu,
olhando a Danie agora com receio.

Dani queria se desculpar, mas estava ocupada saboreando o sangue que tinha
conseguido da lambida rápida, movendo-o dentro de sua boca antes de engolí-lo.
Nunca tinha pensado antes, mas o sangue era realmente delicioso, e Dani se
perguntava como poderia atrai-lo para ela para lhe dar outra lambida quando Hazel
perguntou surpreendida: -Ela te lambeu?

-Sim, ela contínua…- John se deteve o inclinar-se para trás, afastando-se de Dani,
enquanto esta tentava lambê-lo de novo. A ação lhe fez perder seu agarre sobre o
marco da porta com a mão por sobre a cabeça de Dani e gritou agitando no ar o braço
livre enquanto a parte superior de seu corpo começava a cair para fora.

-John!- exclamo Hazel.

-Tenho que fazer isso- gritou Dani, e se surpreendeu um pouco ao encontrar-se


fazendo-o. Suas mãos se estiraram instintivamente para agarrá-lo pela parte dianteira
da camisa e o arrastou para a cabine de maneira que seu peito se chocou contra seus
joelhos e seu rosto estava diretamente frente a ela. Ela não sabia de onde provinha a
força, só esteva ali de repente, mas também estava a dor rasgando através de sua
mente e animando-a a arrastá-lo mais perto para poder lhe lamber a frente de novo.

-Hazel!- gritou John, empurrando-a, mas incapaz de quebrar seu agarre. -me ajude!
Dani estava distraída quando sentiu um golpe na cabeça enquanto Hazel gritava: -Já
chega, garota má! Deixe-o em paz! Deixe de lamber meu marido!

Decker ouviu que a porta se abria e levantou os olhos para ver Lucian aparecer na
entrada como uma forma escura à luz de lua.

-Aí está- Lucian olhou no estábulo sem luz. -Sam disse que pensou que tinha te visto
vir para cá.

-Alguma novidade?- perguntou bruscamente.

Lucian sacudiu a cabeça.

Decker suspirou. Continuando, saiu do fardo de feno em que tinha estado sentado e
se aproximou da porta. Tinha estado sentado ali desde sua chegada à casa, estar onde
tinham estado juntos tinha-lhe feito sentir-se mais perto de Dani, mas ele se sentou
ali, torturando a si mesmo com as lembranças do breve interlúdio e a possibilidade
de que isso poderia ser tudo o que tivessem. Era melhor se retornasse à casa, embora
só fosse para andar por seu quarto como um tigre enjaulado e triste.
Chegou à porta e fez uma pausa, esperando que Lucian passasse para sair. Quando
não o fez, Decker advertiu que seu tio permanecia de pé com a cabeça ligeiramente
em alto, em atitude de escuta e com os lábios franzidos.

Decker, arqueou uma sobrancelha. -O que é?

-Acredito que ouço um trator- murmurou Lucian, voltando a cabeça para olhar ao
redor com desgosto. -Quem diabos estará trabalhando os campos a esta hora?

Decker se encolheu de ombros. -Um granjeiro?

Lucian lhe dirigiu um olhar de desaprovação. -É obvio que é um granjeiro. Mas que
granjeiro idiota estaria trabalhando a estas horas?

Decker se encolheu de ombros com indiferença, embora Lucian não se deu conta
enquanto se lançava para a porta e se afastava. Decker agarrou a porta enquanto se
fechava e saiu para ver que ele caminhava pelo lado do edifício. Seu olhar se
deslizou à casa, movendo-se por sobre as janelas que brilhavam com a luz, e logo se
voltou para seguir seu tio.

Lucian tinha desaparecido quando chegou à parte traseira, mas Decker podia ouvir o
suave murmúrio de seus passos pelo bosque e o seguiu. O bosque tinha tão somente
vinte metros de profundidade. Decker abriu passo entre as árvores quase sem fazer
ruído e se deteve junto a seu tio na borda do campo e viu a forma escura do trator
que estava parado na metade de caminho. Não havia luzes no veículo, ou se havia,
não as acenderam, mas o motor estava funcionando.

-O que…?
-Shh…-, fez-lhe calar Lucian. -Escute.

Decker se voltou para o campo e escutou, recolhendo os sons longínquos de um


homem gritando e uma mulher, em um tom agudo e alarmado, -Não!- e, continuando,
-Não Dani!

Os pés do Decker se moveram inclusive antes de que o som do nome tivesse


morrido. Consciente de que seu tio estava em seus calcanhares, voou através do
campo, movendo-se tão rápido que seus pés pareciam não tocar na terra enquanto
rasgava a distância.

A cena que Decker viu permaneceria em sua mente por um tempo muito longo. Dani
tinha um homem maior com jeans e uma camiseta imobilizado no chão, com os
joelhos sobre os ombros enquanto sustentava sua cabeça e lamia freneticamente sua
testa. Ela parecia completamente alheia à luta do homem, e inclusive à mulher com
um vestido de algodão, também de idade avançada, que estava detrás de Dani,
tentando afastá-la, gritando, -Já basta! Deixa de lamber meu marido. Perdeu o juízo?,
Deixe-o em paz!

Decker levantou a mulher apartando-a de Dani, voltou-a para o Lucian, e logo se


voltou para encontrar Dani deixando a testa e seguindo o rastro de sangue seco que
ia da bochecha a seu pescoço.

-Detenha-na!

Decker não necessitava esse grito de Lucian, já estava agarrando Dani pelos braços e
puxando ela para apartá-la do homem que ela estava assaltando.

-Não- gemeu ela, lutando fracamente contra ele. -Quero mais.


-Dani- disse ele bruscamente, girando-a.

Ela levantou a cabeça, seus olhos em sua cara se tornaram cada vez mais amplos. –
Decker- suspirou ela com alívio. -Encontrou-nos. Graças a Deus. Agora pode me
matar.

Quando Dani se afundou em seu peito, Decker fechou seus braços ao redor dela.
Seus olhos se deslizaram ao homem de idade enquanto este ficava de pé tremendo, e
logo à mulher de idade, antes de lhe perguntar com gravidade: -O que aconteceu?

A mulher correu junto a seu marido quando Lucian a soltou. Ela deslizou um braço
ao redor de sua cintura para sustentá-lo, olhou-o brevemente, e logo olhou a Decker.

-Não sei- admitiu ela, olhando preocupada para Dani. -Esse homem deve tê-la
drogado ou algo assim. Estava doente quando escapamos do porão, mas à medida
que escapávamos no trator começou a lamber John. Quando tentei fazer que parasse,
ela o lançou do trator como uma boneca de trapo e saltou atrás dele. Imediatamente
parei o trator e saltei, ela estava em cima dele como um cão com um osso.- Sacudiu a
cabeça e repetiu: -Ele deve tê-la drogado. Há algo errado com esta menina.

-Leonius- disse Lucian de repente, e Decker se voltou e viu que seus olhos estavam
centrados em Dani. Era óbvio que tinha estado lendo em sua mente o que tinha
acontecido. Seu tio dirigiu seu olhar para ele e anunciou, -Leonius a agarrou no
centro comercial e a levou a sua casa. Fez um gesto à casa que se via através do
campo. -Obrigou-a a beber seu sangue, e logo a trancou no porão para que fizesse
deles sua comida, enquanto ia em busca de outra vítima para si mesmo, mas eles
escaparam.
-Jesus- suspirou Decker, baixando o olhar para Dani. Estava apoiada principalmente
contra ele, tinha seu punho na boca, se balançava ligeiramente e gemia com o que
soava como dor.

-Leve-a até a casa e deixe Dani amarrada com cordas. Vou ao lugar a esperar que Leo
retorne- ordenou Lucian. Logo se voltou e correu pelo campo para a casa do lado.

Decker lhe viu chegar, e logo puxou os dedos de Dani tirando-os de sua boca,
fazendo uma careta ao ver o dano que se tinha feito.

-Não- gemeu ela, e tentou levar à boca de novo, mas Decker lhe agarrou a mão e a
colocou atrás de suas costas enquanto a elevava em seus braços. Apanhou sua outra
mão e colocou entre seus corpos para que não começasse a roê-la. Dani começou
imediatamente a lutar, e ele simplesmente a aprisionou mais forte e se dirigiu ao
casal de idade.

John Parker e Hazel, Decker pegou os nomes de seus pensamentos enquanto olhava
ao homem. Pareciam haver se recuperado de seu encontro com Dani. Decker,
assentiu com a cabeça para o bosque mais diante e disse: -Por ali.

Assentindo com a cabeça, o homem tomou a sua esposa pela mão e começou a levá-
la para o bosque.
Capítulo 15

Algo frio gotejava sobre os lábios fechados de Dani, a excitação a tinha esgotado até
que caiu em um estado de quase inconsciência, enquanto Decker a levava através dos
bosques. Abriu os olhos, encontrou-o de joelhos em cima dela e se sentiu confunsa
ao olhar a seu redor e ver que estava amarrada à cama em seu quarto. A cama não
tinha colunas ou cabeceira, a corda simplesmente tinha sido amarrada a um pulso, de
algum jeito a passaram debaixo da cama, e depois a trouxeram para amarrar seu outro
pulso. O mesmo tinha sido feito com os tornozelos. Primitivo, mas eficaz, decidiu
enquanto puxava a corda e comprovava que o peso da cama a mantinha no lugar.

Dani não recordava como tinha chegado até ali e se deu conta que ela deve ter
perdido a noção pela mordida. Recordou ter lutado desesperadamente para que
Decker a pusesse no chão, ou ao menos para que ele liberasse uma de suas mãos para
poder chupar seus nódulos de novo, mas Decker a tinha ignorado enquanto conduzia
aos Parker à casa. No momento em que tinham chegado ali, ela realmente estava fora
de si. Tinha vagas lembranças de Sam, Mortimer, Justin e Leigh a seu redor, embora
Mortimer tivesse ordenado a Justin que cuidasse dos Parker enquanto ele ia ajudar
Lucian, e logo tudo o que pôde recordar foram as paredes e os tetos dançando sobre
sua cabeça e agora isto.

-Abra a boca.

Girando a cabeça para cima, Dani olhou para Decker e advertiu que sua expressão
era sombria e fechada enquanto sustentava uma bolsa de sangue em cima de sua
boca. -Não quero.

As palavras morreram em sua garganta quando ele abriu um extremo da bolsa de


sangue, vertendo um pouco de líquido frio e vermelho em sua boca. No momento em
que o fresco e vivo sangre salpicou sua língua, Dani se esqueceu de lhe dizer que não
queria ser um animal como Leo e que só devia matá-la nesse momento. Em lugar
disso, abriu suas mandíbulas ainda mais e tragou com avidez o líquido que fluía para
seu interior.

Era como um pano frio sobre uma queimadura, aliviando sua agonia e golpeando-a
um pouco em retribuição, mas muito em breve o saco esteva vazio e a dor voltou
com força, como uma gangue de valentões atacando seu corpo e demandando por
mais. Dani ofegava ante o ataque quando a porta se abriu e entraram Sam e Leigh
levando três bolsas de sangue cada uma.

-Trouxemos mais- anunciou Sam enquanto as duas mulheres se precipitaram para


frente com olhares de preocupação.

-Obrigado- Decker tomou um saco de Sam e utilizou seus dentes para abrir um
extremo. Continuando, inclinou-se sobre Dani e pôs a ponta sobre sua boca. Ela
abriu sua boca com ansiedade, e suspirou quando o sangue frio se deslizou por sua
garganta, domando à dor em seu interior.

Eles fizeram o mesmo quatro vezes mais, cinco bolsas de sangue que sumiram no
poço sem fundo em que se converteu seu estômago e logo Dani ficou rígida enquanto
seu corpo permanecia imóvel. Não houve mais clamor urgente em seus ouvidos, sem
mais cãibras ácidas no estômago, e seu ritmo cardíaco se reduziu até quase parar.
Continuando, Dani sentiu um temor trepidante. Sentia-se como a calma antes de uma
tormenta, e ela sabia que quando chegasse seria como um furacão devastando tudo a
seu passo.

-O que é isto?- perguntou Decker. Observava o rosto dela com preocupação,


enquanto sustentava em suas mãos outra bolsa que estava sem abrir.

- Me diga você-disse ela com voz firme. -Você é o perito aqui.

-Eu não sou um perito. Nasci sendo imortal. Nunca me sentei antes para ver uma
transformação- admitiu, e logo se voltou para o Leigh com um olhar interrogante.

-Temo que eu tampouco- admitiu a companheira de vida de Lucian, com manifesta


preocupação no rosto.

Dani ouviu Decker suspirar e logo se voltou para ela e lhe disse, -Me diga o que está
acontecendo.

Abriu a boca para falar, e então gritou, já que estavam atacando ela de novo. O
murmúrio nos ouvidos retornou, mas agora era um rugido, fazendo que não ouvisse
todo o resto. As cãibras ácidas retornaram piores e se converteram então em uma
cama de facas invisíveis que a golpeavam do teto e a cravavam lhe atravessando seu
estômago e o peito, para logo disparar-se em todas direções através de seu corpo. E
os batimentos de seu coração começaram a disparar, investindo e golpeando com
tanta força que ela temia que fosse explodir e sair de seu peito. Mas pior ainda foi a
explosão que estalou em sua cabeça. Uma dor como nunca antes tinha experimentado
lhe rasgou o crânio. Então seu corpo começou a convulsionar, e Dani perdeu a
capacidade de ver ou inclusive de pensar. Ela era pura sensação agora, só estava
consciente da agonia.

- Querido Deus!, o que está acontecendo?- a pergunta gritou através da cabeça de


Decker, ainda quando Sam o perguntou em voz alta quando Dani começou a
convulsionar na cama.
-Talvez será melhor que chame Lucian para saber se isto é normal- disse Leigh.

-Não. Lucian não pode fazer nada- disse ele ao mesmo tempo. -Chame Bastien e lhe
diga que envie drogas e uma via intravenosa.

Leigh assentiu, mas antes de que pudesse ir em busca de um telefone, de repente


Dani começou a convulsionar.

Decker se voltou para a cama bem a tempo para vê-la levar suas mãos para o peito.
Parecia que ela estava tentando agarrar seu estômago, ou talvez seu coração, mas a
corda a deteve ... por meio segundo, e logo o som da estrutura de madeira da cama ao
romper-se chegou até seus ouvidos enquanto o movimento das mãos continuaram
para o centro e para cima. As laterais da estrutura destruída e do colchão, exceto
onde Decker estava sentado, enrolavam-se para cima enquanto Dani não agarrava
seu peito nem seu estômago, e sim sua cabeça. Seus dedos se enredaram em seu
cabelo, agarrando punhados e logo fechou seus punhos ao redor deles e os
pressionou contra seu crânio. Logo, com a mesma rapidez, começou a puxá-los para
fora.

Se Decker não tivesse conseguido lançar-se para agarrar suas mãos e detê-la nesse
momento, era bastante certo que Dani teria arrancado todo o cabelo de seu couro
cabeludo. Felizmente, ele a agarrou e logo lutou para segurá-la e lhe impediu de se
machucar, mas as pernas estavam movendo-se muito e todo seu corpo se tornou
selvagem. Decker esteve mais que agradecido pela ajuda de Leigh, quando esta se
lançou sobre as pernas de Dani, mas quando viu de soslaio que Sam vinha para a
cama pelo lado para ajudá-los tentando segurar um dos braços, gritou-lhe, -Não! Para
trás! Ela é muito forte. Poderia te matar agora mesmo, sem dar-se conta.

-Mas vocês sozinhos não podem segurá-la- assinalou Sam, com os olhos frenéticos.
Decker não respondeu, mas sabia que ela tinha razão. Enquanto que ele e Leigh eram
fortes graças aos nanos, a combinação de nanos e a dor que sofria Dani a faziam
difícil de controlar. Estava a ponto de lhe sugerir a Sam que chamasse Justin quando
a porta se abriu e viu que seu primo Etienne, e Rachel, a mulher ruiva de Etienne,
entraram no quarto com duas grandes bolsas de lona.

No momento em que ambos viram o estado das coisas, deixaram cair as bolsas e se
lançaram sobre a cama.

-O que aconteceu?- perguntou Rachel, subindo do outro lado da cama para agarrar o
braço enquanto Etienne se dirigiu até onde estava Leigh para ajudá-la a segurar as
pernas de Dani.

-Está se transformando- murmurou Decker. Inclusive com quatro deles segurando,


não podiam mantê-la quieta.

-Sim, sabemos- disse Rachel. -Estávamos no escritório quando Lucian chamou


pedindo ao Bastien que enviasse uma via intravenosa e alguns medicamentos para
uma transformação. Nos oferecemo para a trazê-los e ajudar- explicou, e
acrescentou: -Mas o que quero dizer é por que já está assim? Lucian disse que ela
tinha obtido os nanos só faz uma hora, e Kate levou três ou quatro horas para chegar
a esta etapa.

Decker, franziu o cenho. -Você esteve na transformação de Kate?

-Pode ser que trabalhe em um necrotério, mas ainda sou uma médica- assinalou ela
com ironia. -Sabendo disso, Kate me pediu que estivesse perto em caso de que algo
saísse mau.
-E não foi assim?- perguntou Decker com preocupação.

Ela sacudiu a cabeça fazendo umas caretas quando Dani esteve a ponto de liberar-se,
e quase teve que sentar-se em seu braço para mantê-lo quieto.

-Isto começou depois da quinta bolsa de sangue- disse Sam, aproximando-se um


pouco mais da cama.

-Já lhe deu seu sangue?- perguntou Etienne. -Como o fez?

- Por sua boca- respondeu Decker. -Abri uma bolsa atrás de outra e derramei seu
conteúdo dentro.

-OH.

O som suave da compreensão atraiu o olhar dele para o Rachel e viu que esta se
mordia o lábio. -O que acontece?

- Eu...bom, acredito que isso provavelmente acelerou um pouco as coisas- admitiu


ela.

-De acordo com Marguerite, eles descobriram que o uso da via intravenosa freia um
pouco o processo porque o sangue demora mais em entrar no corpo. Mas também
reduz o risco de que os transformados se firam ou a outra pessoa. Entretanto, se
derramou cinco bolsas por sua garganta uma atrás de outra, então os nanos
provavelmente estão partindo a toda velocidade e estão fazendo tudo de uma vez.

Decker lançou uma maldição.


-Está tudo bem-assegurou-lhe Rachel. - Isso só significa que ela o conseguirá mais
rápido.- Continuando, olhou a Sam, e sua voz vibrou enquanto Dani a fazia saltar a
ao redor, disse: -Olá, sou Rachel Argeneau.

-Sam Willan- disse Sam, tirando o olhar de Dani com um sorriso distraído.
-Companheira de vida do Mortimer.

-Bastien nos disse isso- afirmou a ruiva. -Sam, acha que poderia ir procurar na bolsa
pequena e me trazer um dos pequenos estojos negros que há em seu interior?

Sam assentiu com a cabeça e se apressou a ir para as bolsas, parecia feliz de ter algo
que fazer para ajudar na situação. Quando voltou com um estojo negro, Rachel se
moveu até ocupar um lugar mais estável no braço de Dani e logo agarrou o estojo e o
abriu, revelando a presença de duas agulhas e duas ampolas em seu interior.

-O que é isso?-perguntou Decker preocupado.

-Uma combinação de um agente que paralisador e outro adormecedor- respondeu


Rachel enquanto recolhia uma agulha e uma ampola e preparava a injeção. -Não lhe
tirará totalmente a dor, mas facilitará tudo grandemente e a paralisará para que não
possa se machucar ou a qualquer outro.

-Quanto tempo necessita para fazer efeito? - perguntou Decker enquanto Rachel
aplicava a dose em Dani.

-É muito rápido- anunciou ela. -Felizmente, os homens de Bastien vieram com


algumas coisas bastante potentes. Esta injeção mataria a um mortal, mas os nanos
evitarão que isso ocorra no caso dela. Infelizmente, isso também ocasiona que o
medicamento só seja efetivo no curto prazo e terá que ser administrado em intervalos
regulares de meia hora.

Decker, assentiu com a cabeça. Os nanos tendiam a tratar de lutar contra os efeitos de
todo isso, e de eliminar do sistema qualquer produto químico que não estava ali em
forma natural. Era muito difícil para um dos de sua espécie ser um alcólatra ou um
drogado. O imortal que caía nesse caminho tinha que estar continuamente tomando
grandes quantidades de sangue impregnados de álcool ou drogas, de um mortal que
se mantivesse drogado ou bêbado. Inclusive o tranqüilizante que tinham as balas que
utilizavam era eficaz mas só durante meia hora ou quarenta e cinco minutos, o que
resultava mais que suficiente para conseguir imobilizar e aprisionar os renegados. Ao
menos, nos caso normais pensou Decker, recordando que Leo se viu afetado pela
substância só uns minutos.

-Está começando a fazer efeito- comentou Etienne, chamando sua atenção sobre
Dani. Suas sacudidas se acalmaram grandemente, e seu rosto já não estava contraído
pela dor e o horror.

- Deus querido- disse de repente Rachel suspirando, com o olhar fixo no rosto de
Dani. -Bastien não nos disse quem era. Esta é a Dra. McGill.

-Conhece-a?- perguntou Etienne surpreendida.

Rachel assentiu. -Formou-se em Toronto e esteve na residência em nosso hospital


durante seis meses antes de abrir sua própria clínica ... no Windsor, acredito.- Ela
franziu o cenho e se voltou para o Decker de forma quase acusadora. -Que diabos
está acontecendo?

-Ela é minha companheira de vida- disse Decker em voz baixa.


-OH- relaxou-se. -Então você a converteu?

Ele negou com a cabeça. - Não fui eu. Foi Leo.

-Cristo- Etienne respirou profundamente e viu o olhar confundido de Rachel.

-Quem é Leo? -perguntou ela desconcertada.

-Ele é o Sem Presas que desapareceu na clareira do bosque no norte quando eles
encontraram Nicholas- disse Etienne. Ao que parece, eles tinham comentado
brevemente a última parte dos recentes acontecimentos e Rachel simplesmente se
esqueceu do nome, porque disse, -OH- e voltou a assentir.

-Sabia você sabia que Nicholas era irmão de Thomas e Jeanne Louise?- perguntou
Leigh com curiosidade.

Rachel assentiu. -Tive problemas para beber sangue quando fui convertida. Thomas
me ajudou. Disse que sua cunhada estava acostumada ter o mesmo problema, mas
que encontraram uma solução e me conectou um par de canudinhos. Não pensei
nisso até que estive falando com o Jeanne Louise na festa de Kate antes de suas
bodas, e lhe perguntei por seus irmãos e irmãs. Ela me disse que não havia ninguém
mais que ela e Thomas.

Leigh assentiu com a cabeça, -Tivemos uma conversa similar, onde ela me disse o
mesmo. Suponho que ela levou a mal quando Nicholas se converteu em um
renegado.

-Sim- murmurou Rachel, e concluiu: -Eu não lhe disse que Thomas me tinha
contado, não estava segura de se tinha entendido mau ou algo assim, assim esperei
até que pude perguntar a Etienne a respeito e ele me falou de Nicholas.

Fez-se silêncio no quarto por um momento, e logo Leigh perguntou: -Por que é tão
horrível que Leo transformasse Dani? Quando todo mundo se voltou a olhá-la, ela se
encolheu de ombros e acrescentou: -Quero dizer, Morgan era um renegado e quando
me converteu ninguém parecia preocupado por isso, mas todos parecem estar muito
perturbados porque este renegado, Leo, converteu Dani.

-Devido ao fato de que Leo não é só um renegado, é um Sem Presas- disse Decker
em voz baixa.

-Sei, mas as presas realmente importam? -perguntou ela. -Quero dizer, de todos os
modos usamos bolsas de sangue.

-Não é isso- explicou Rachel, -Segundo Bastien, ser convertido por uma Sem Presas
é perigoso.

-Por que?- perguntou Sam com curiosidade.

Quando ninguém respondeu, Decker, disse com um tom grave, -Porque significa que
ela só tem uma chance em três de sair bem, só que sem as presas, mas em todo o
resto, será igual a nós.

Sam abriu os olhos horrorizada. -Quer dizer que poderia morrer?

Ele vacilou e logo admitiu: -Um de cada três morre.

-Então, um de cada três morre, e um de cada três consegue. Ela fez uma pausa e
levantou as sobrancelhas. -O que acontece ao outro dos três?

-Eles se convertem em um Sem Presas enlouquecido, como Leonius- respondeu


Etienne quando Decker manteve a boca fechada.

Decker se encontrou de repente tragando o medo que se alojou em sua garganta,


enquanto todos eles se davam a volta para olhar a Dani. Ele quase preferia que Dani
morresse durante a transformação antes de vê-la convertida em alguém como
Leonius. Se isso ocorresse, ela teria que ser eliminada como um cão raivoso, ou ser
presa pelo resto de sua vida, que bem poderia ser a eternidade. Decker não queria ver
Dani presa, mas não sabia se ele poderia tomar sua vida se ela se tornasse um dos
três que ficava louco. Ela era sua companheira de vida. Também era alguém que
tinha chegado a lhe importar e inclusive a amar durante o curto período de tempo que
tinham estado juntos. Havia muito que admirar em Dani, ele não tinha sido capaz de
ajudar a si mesmo ... e agora enfrentava a possibilidade de perdê-la.

Ela sentiu um horrível sabor na boca. Isso foi a primeira coisa que percebeu Dani
quando começou a despertar. Isso e o fato de que tinha a boca tão seca que sentia a
língua enrolada como um papel de lixa usado. Moveu-a por sua boca, tratando de
gerar um pouco de saliva, mas o pouco que conseguiu só fez que piorasse o mau
gosto que sentia na boca. Dani fez umas caretas, abriu os olhos e olhou ao redor do
quarto que tinha utilizado na primeira noite na casa dos executores, e, continuando,
recordou tudo e se incorporou bruscamente. Algo roçou seu braço e olhou para
baixo, franziu os lábios quando viu as cordas que lhe atavam os pulsos e cujo
extremo estava ao outro lado do colchão. Dani puxou e se surpreendeu um pouco
quando os extremos livres da corda vieram a seu encontro e quase lhe açoitaram o
rosto.

Ela tinha uma vaga lembrança de despertar e encontrar-se amarrada, mas a julgar
pelos extremos cortados da corda, parecia como se esta tivesse se desgastado. Seu
olhar se deslizou a seus pés para descobrir que havia outras duas partes de corda
presass a seus tornozelos. Ainda estava com a roupa que vestia quando foi levada do
centro comercial.

Fazendo caso omisso da corda no momento, ela saiu da cama. O quarto estava tão
vazio como tinha estado no primeiro dia que acordou aqui ... salvo que as sacolas de
roupa de sua viagem de compras estavam cuidadosamente empilhadas contra a
parede.

Podia colocar roupa limpa, pensou Dani, e logo fez uma careta ante a idéia de tirar
essa agradável roupa limpa e colocá-la sobre um corpo não muito limpo. Sentia-se
gordurenta, como se tivesse estado trabalhado em um turno de oito horas em uma
frigideira.

Dani fez uma careta e começou a arrastar-se até a borda do colchão. Logo apoiou
uma mão contra a parede e se obrigou a ficar de pé. Quando finalmente se endireitou
estava tão instável como um potro recém-nascido. Fechou os olhos um instante e se
apoiou contra a parede até que o tremor que lhe tinha causado esta mínima atividade
diminuiu ligeiramente. Logo caminhou com cuidado para a porta do banheiro, sua
mão se deslizava pela parede enquanto seguia o caminho, pronta para afirmar-se
contra ela e manter sua posição vertical se suas pernas cedessem.

Quando ela chegou à porta do banheiro, recuperou um pouco a confiança. Foi


diretamente à banheira, abriu as torneiras para que saísse a água corrente, e logo
selecionou o botão para trocar do modo banheira para o modo ducha. A água
imediatamente começou a cair, molhando sua cabeça e seus ombros, mas Dani
simplesmente fechou os olhos, girou a cabeça, e abriu a boca para deixar que a água
entrasse.

Imediatamente, uma lembrança da noite anterior cruzou sua mente, e Dani ficou
rígida ao recordar Decker vertendo sangue em sua boca. Gemendo, baixou de novo a
cabeça e se obrigou a afastar as lembranças, ainda não estava preparada para lutar
com o que tinha acontecido. Logo se endireitou e começou a tirar a camisa, mas viu
as cordas nos pulsos e se deteve para tirá-las. Uma delas saiu com facilidade, mas os
nós na outra estavam apertados e resistiram a seus esforços. Deixou-o, voltou sua
atenção às cordas nos tornozelos e se desfez delas rapidamente, continuando, tentou
novamente com a última corda amarrada em seu pulso direito.

Dani tentou desatá-la durante uns instantes, mas finalmente se deu por vencida e
simplesmente tirou a roupa, deu um passo sob a ducha, e fechou a porta de vidro. A
água estava mais fria do que normalmente gostava, mas se sentia bem ao estar assim
e ficou debaixo da ducha, permitindo que a água golpeasse sua cabeça durante um
breve instante antes de ajustar a temperatura. Logo agarrou o sabão e começou a
limpar-se, a lavar os resíduos de gordura que por sinal tinham sido forçados a sair de
seu corpo pelos nanos. Era a única explicação que lhe ocorreu, mas dado que pensar
nisso a obrigava a pensar no acontecido ontem à noite, Dani apartou esses
pensamentos e simplesmente se concentrou em ensaboar-se e se lavar.

Não foi até que estava lavando o cabelo que Dani começou a considerar sua situação.
Agora era um dos temidos Sem Presas. Ao menos ela supôs que era, embora na
verdade, a não ser pela debilidade que seguia assolando-a, ela não se sentia diferente.
Não tinha agora um impulso louco de cortar às pessoas para obter seu sangue, ou de
saltar sobre eles para lhes lamber as feridas abertas.
Dani fez uma careta ao recordar o ataque ao pobre John Parker. Estava bastante
segura de que não faria o mesmo se agora ele entrasse caminhando no banheiro. De
fato, a idéia de lamber o sangue da testa dele, ou inclusive de beber de um copo,
parecia-lhe agora tão desagradável... como tiria feito antes de que Leonius a
obrigasse a tomar seu sangue. O que fez que Dani se perguntasse se os nanos não
tinham funcionado. Talvez ela não tivesse tomado o suficiente para provocar a
mudança, ou talvez seu corpo tinha combatido os nanos de algum jeito.

A idéia nem tinha penetrado em sua mente antes de que o lado mais emocional de
Dani a esbofeteasse. Não era muito provável que seu corpo tivesse combatido os
nanos. Era mais provável que ela estivesse completamente repleta de sangue neste
momento e não enlouquecida de desejo por ele, como a noite anterior. Mas inclusive
isso lhe deu esperanças. Parecia estar pensando com claridade, seus pensamentos não
a golpeavam em forma enlouquecida ou incomum. Talvez se se mantivesse cheia de
sangue, ainda poderia ser capaz de viver uma vida relativamente normal.

Dani meditou sobre isso enquanto enxáguava o xampu do cabelo, e quase se


convenceu de que ia funcionar, que poderia obter sangue do banco de sangue
Argeneau, tal como Decker afirmava que faziam os imortais, que se manteria bem
alimentada, e continuaria trabalhando em sua clínica ... talvez continuaria sua relação
com Decker. A fantasia se desvaneceu ao recordar Leonius exclamando que os
imortais odiavam às Sem Presas, que os caçavam e matavam, e que quando se
inteirasse, Decker ia querer matar a ambos, a Leonius e a ela.

Apoiada contra a parede de azulejos, Dani fechou os olhos e tentou pensar por sobre
os repentinos uivos em sua mente, na idéia de Decker a desprezando e desejando sua
morte. Tratou de dizer a si mesma que ele não faria isso, que poderia tê-la matado a
noite anterior e não o tinha feito, mas imediatamente sua estúpida mente assinalou
que embora não a tinha matado, tinha-a amarrado como um animal e que seu rosto
tinha estado sombrio e frio enquanto derramava uma bolsa de sangue atrás de outra
em sua boca.

Enquanto esses pensamentos a assaltavam, Dani temia que Decker podia detestá-la
neste momento e que se não a tinha matado, só podia ser porque pensava que podiam
utilizá-la de algum modo. Talvez ele pensasse que ela tinha alguma informação a
respeito do Leonius e seu filho e que podiam utilizá-la para persegui-los, se é que já
não tinham capturado e matado Leonius.

Dani se deu conta de que tinha que sair dali. Tinha que sair dessa casa antes que
alguém se desse conta de que estava acordada e tentasse amarrá-la de novo. Afastou-
se da parede, fechou a torneira da água e abriu a porta de vidro. As toalhas que tinha
utilizado na primeira manhã depois do banho estavam sobre a prateleira das toalhas.
Dani agarrou uma e se secou rapidamente, fazendo caso omisso da forma em que a
golpeava esse pedaço de corda que agora estava úmida e ainda estava unido a seu
pulso. Então rapidamente se esfregou o cabelo para tirar toda a água possível antes
de jogar a toalha e dirigir-se para a porta. Encontrou o quarto ainda vazia, precipitou-
se para as bolsas contra a parede, agarrou a primeira de um canto e esvaziou seu
conteúdo no chão.

Vários calcinhas de seda e um vestido azul com alças caíram ao chão. Decidiu o que
tinha que fazer, agarrou a calcinha mais próximas e as pôs, continuando, colocou o
vestido pela cabeça, acomodou-o de um puxão e amarrou as alças ao redor de seu
pescoço enquanto se dirigia para a porta. Uma vez ali, deteve-se para escutar, mas
quando ela não pôde ouvir sons procedentes da sala, abriu a porta e olhou, e sentiu
alívio ao saber que estava vazia. Não perdeu tempo e saiu nas pontas dos pés pelas
escadas. Quando escutou que não chegavam sons de movimento do andar principal,
Dani se dirigiu para a entrada. Foi quando viu o dia ensolarado que diminuiu sua
marcha.

O fato de que já era de dia explicava a razão pela que a casa parecia estar vazia. Dani
supôs que isso significava que Sam estaria no trabalho, e todos outros estavam
dormindo em suas camas, totalmente inconscientes de que ela se liberou em algum
momento durante sua transformação e agora estava acordada e escapando. Essa era
uma boa coisa. Entretanto, deu-se conta de que isso ocasionava outro problema,
recordou que Decker lhe havia dito que os imortais evitavam sair à luz solar porque
lhes causava dano e aumentava sua necessidade de sangue.

Isso era um problema, reconheceu Dani. Agora se sentia muito bem, mas temia que
não se sentiria assim depois de uma hora caminhando por uma estrada poeirenta sob
um sol abrasador. Removeu-se inquieta sobre seus pés, sem saber o que fazer e então
pensou nos veículos na garagem. Talvez pudesse pegar um deles. Seria um roubo, é
óbvio, mas podia deixá-lo em algum lugar e chamar mais tarde para lhes dizer onde
estava. Além disso, era melhor ser ladrão que terminar atacando a alguém em um
frenesi de sangue.

Dani se voltou e estava a ponto de dirigir-se à cozinha quando ouviu o suave estalo
de uma porta ao fechar-se no andar de cima, seguido de uns passos que se moviam
rapidamente para a escada. Ela se meteu na sala de estar vazia e colocou suas costas
contra a parede com os olhos fixos na passagem da sala. Seu coração pulsava
rapidamente pelo temor de ser descoberta, enquanto escutava que alguém baixava
trotando em forma ligeira pelas escadas. Então ela conteve a respiração, mas os
passos continuaram afastando-se para a cozinha. Deixou de conter o ar e o soltou
aliviada, e olhou a seu redor procurando um esconderijo adequado.

Foi então quando Dani viu John e Hazel Parker. O casal estava sentado no tapete
exuberante, com a parte superior de seus corpos desabada um contra o outro,
apoiados na parede do fundo. Aparentemente ambos dormiam, e ela se deu conta de
que John deixava escapar um forte ronco. Ver o casal respondeu uma das perguntas
de Dani. Leonius não tinha sido capturado. Se tivesse sido, o casal teria retornado a
sua casa com suas lembranças alteradas.

John Parker soltou outro ronco forte e Dani começou a preocupar-se de que isso
poderia chamar a atenção de quem tinha descido e que devesse olhar o local onde
estava o casal. E então, definitivamente, ela seria descoberta. Já era hora de mover-
se. Foi até a passagem que conduz à sala, e começou a entrar, planejando verificar o
cômodo que estava em frente da sala para usá-lo como um possível refúgio onde
poderia pensar. Mas só estava na metade do caminho quando a pessoa que tinha ido à
cozinha começou a dirigir-se à sala uma vez mais.

O pânico estava se apoderando dela, Dani mudou de direção e se deslizou no armário


vazio junto à porta de entrada, fechando cuidadosamente a porta para tentar não fazer
ruído.

Capítulo 16

Decker saiu rapidamente da cozinha com uma bolsa de sangue-frio em cada mão,
uma para ele, e outra para Dani. Não estava seguro de quanto tempo mais ela estaria
inconciente, mas pensava em dar de comer outra bolsa estando acordada ou não.
Tinha-o feito de forma intermitente durante a noite enquanto ela atravessava seu
calvário. Às vezes não tinha funcionado muito bem e sua roupa tinha sofrido por
isso. Quando viu as manchas de sangue que cobriam sua camisa e as calças jeans,
logo depois de haver parado e enquanto se dirigia à cozinha, Decker decidiu que
seria melhor trocar-se primeiro. Não queria que a primeira coisa que Dani visse ao
abrir os olhos fosse ele manchado de sangue.

Decker tinha voltado para seu quarto só com a intenção de trocar-se, mas vários
bocejos e o esfregar de olhos cansados no trajeto, tinham-lhe feito pensar que tomar
uma rápida ducha também podia ser bom. Tinha pensado em fazê-lo rápido, mas
pensar em Dani lhe atrasou um pouco e encontrou a si mesmo simplesmente de pé e
sendo golpeado pela água, enquanto sua mente estava cheia de preocupação por ela.
Decker pensou que o pior da transformação tinha terminado e estava seguro de que
Dani ia sobreviver. Agora a questão só se tratava de se ela ia sair disso estável ou não
... e o que faria ele se ela não estivesse?

Foi a preocupação de que pudesse despertar sozinha e com medo o que lhe obrigou a
sair da ducha. Decker se secou, vestiu-se com roupa limpa, e se dirigiu a seu quarto,
só para lembrar que sua intenção original tinha sido procurar um pouco de sangue na
cozinha. Então foi à cozinha, pegou duas bolsas, e estava caminhando pelo corredor
com a intenção de retornar para cima, quando viu a porta do armário dos casacos
fechando-se.

Por um momento Decker pensou havia imaginado, mas então ouviu um ruído surdo e
um grunhido detrás da porta. Fez uma pausa na sala, por um momento esteve
observando e logo avançou alguns passos e olhou na sala de estar. Fez uma careta
com os lábios quando viu que os Parker continuavam alí e dormiam profundamente.
Não tinha sido um deles que tinha fechado a porta do armário por dentro.

Decker endireitou o corpo e deu a volta dirigindo-se para o armário e pensou que não
podiam ser Mortimer, Lucian ou Justin. Eles estavam na casa dos Parker esperando a
que Leonius aparecesse. E Leigh, Rachel e Ettiene foram dormir um pouco depois
que Sam saiu para trabalhar. Isso deixava só... . Ele chegou a ver a ponta desfiada de
uma corda aparecendo por debaixo da porta do armário que logo sumiu com um
puxão para dentro.

-Dani?- chamou com incerteza, e trocou as bolsas de sangue a uma mão para poder
abrir a porta. Ele girou a maçaneta da porta e a tinha aberto apenas uns centímetros
quando ela disse, -Não- e a porta foi tirada de sua mão ao fechar-se de repente.

Reconhecendo sua voz nessa palavra curta, Decker começou a sorrir ante sua
negativa, e quase pôs-se a rir até que lhe ocorreu que a mulher estava em um armário
negando que era ela. Isso não era exatamente um comportamento estável. Tampouco
era psicótico, ou ao menos isso esperava, mas ...

Com a preocupação carcomendo seus nervos, ele se aproximou de novo da porta.


-Dani, está bem?

Esta vez conseguiu abri-la uns quinze centímetros ou menos antes de que ela
exclamasse, -Vá embora- e puxasse a porta para fechá-la.

Realmente preocupado, Decker deixou o sangue a um lado da porta para poder


utilizar as duas mãos na maçaneta, mas Dani devia estar utilizado as suas no outro
lado. Teve que pôr verdadeiramente certo esforço para fazer girar a maçaneta e então
puxar a porta para abri-la. Tinha quase entreaberto a porta, quando de repente ela
soltou a maçaneta. Infelizmente, Decker não esperava por isso e ainda estava
puxando com todas suas forças, o que resultou que a maldita coisa se chocou contra
sua cabeça. Amaldiçoando, cambaleou dando um passo para trás e agarrou sua
cabeça entre suas mãos, e viu que ela fechava a porta de um puxão de novo.
Suspirando, ele soltou sua cabeça e cansado se dirigiu até a porta para perguntar,
-Dani, o que está fazendo?

-Me escondendo. O que é que parece?

Decker pensou nisso. A voz dela soava estranha, como se estivesse chorando e
tentando parecer zangada, assim ele não podia ter certeza. Estava a ponto de lhe
perguntar de novo se estava bem quando de repente ela disse: -Eu não sou um
animal.

Ele piscou ante essas palavras, sacudindo a cabeça ligeiramente para trás ante a dor
evidente em sua voz.

-Eu não quero que me amarre de novo- acrescentou, e logo exclamou quase com
desespero, -eu não sou como Leonius. Nem sequer quero sangue. Eu só quero... .
Suas palavras morreram em um soluço, e Decker alcançou o trinco. Esta vez não
encontrou nenhuma resistência e se deu conta disso quando viu que Dani tinha
retrocedido e estava encolhida em um canto e havia virado seu rosto para a parede.

Decker vacilou e logo entrou, fechou a porta com uma mão e ao aproximar-se lhe
acariciou as costas com a outra mão.

Dani ficou rígida ante seu toque e olhou rapidamente por cima de seu ombro,
revelando que de fato estava chorando. Logo voltou para o canto, sua voz soava
aquosa quando lhe perguntou: -O que está fazendo aqui?

-Me escondendo com você.

As palavras a fizeram desmoronar-se e se afundou na parede enquanto seus ombros


tremiam com seus soluços suaves.

Sentindo sua dor, Decker agarrou seus ombros e a virou para ele, sem que ela
opusesse resistência, e a capturou contra seu peito. Ele viu o pedaço de corda que
pendurava de seu pulso, percebeu que não tinha sido capaz de tirar uma vez que
tinha tirado as demais e quase se ofereceu a fazê-lo. Mas logo decidiu passar por alto
no momento, e deslizou seus braços ao redor dela para sustentá-la enquanto a
balançava nesse armário escuro e sem ar. Acariciou-lhe as costas e lhe murmurou
palavras tranqüilizadoras e, finalmente, seu pranto lento se deteve. Depois de um
momento lhe sussurrou: -Você me odeia agora.

-Não- disse ele em voz baixa, e lhe levantou a cabeça para que ela o olhasse.

-Mas eu sou uma Sem Presas.

-Não, não o é- assegurou ele.

Dani moveu tristemente a cabeça ante sua negação. -Sim, sou-o. Sou uma Sem
Presas, e os imortais nos odeiam.

-É Dani- repetiu ele com firmeza. -E não é uma Sem Presas, é uma Edentata. Os
imortais não odeiam aos desdentados.

-Edentata? -perguntou ela confundida.

-É como se chama os imortais sãos sem presas- explicou ele. -É uma desdentada,
Dani. Só os renegados loucos e sem dente são chamados Sem Presas.

-Desdentada- disse ela lentamente, mas logo sacudiu a cabeça. -Mas Leonius disse
que ia me odiar, e ontem à noite me amarraram como a um cão.

-Tivemos que te amarrar ontem à noite para que não se fizesse mal- assegurou
Decker rapidamente. -Mordia a si mesma e se retorcia Dani, era necessário.

Quando ela levantou a cabeça, a esperança aparecia em seus olhos e ele adicionou,
-E não desprezamos a nenhuma raça. Só caçamos e matamos renegados, sejam
imortais ou desdentados.

Quando ela o olhou em dúvida, ele admitiu a contra gosto, -Infelizmente, a metade
dos desdentados que sobrevivem à transformação são Sem Presas como Leonius, e
também renegados, os executores tiveram que matar muitos deles em comparação
com os imortais, mas não muitos mais- e adicionou: -Só ouvi falar de um Sem
Presas, além do Leonius e seus filhos, desde que me converti em um executor faz
sessenta anos, mas conheço um desdentado. Ele trabalha como executor.

-Sério?- perguntou ela quase com ansiedade.

Decker assentiu com a cabeça, e quando ela se aproximou lhe perguntou com um
suspiro: -Está pronta para sair daqui agora? Fui procurar algum sangue na cozinha.
Está fora junto à porta. Poderíamos ir à cozinha e...

-Eu não quero- murmurou Dani interrompendo-o. -Eu não sou…não...- Sacudindo a
cabeça, apertou a cara contra seu peito e repetiu: -Não quero.

Decker baixou seu olhar e observou a parte superior da cabeça dela, e lentamente se
deu conta de que Dani ainda custava aceitar o que era. Havia inclusive vergonha e
desespero em sua voz quando tinha rechaçado a sugestão. Compreendia-o, mas
negar não ia fazer que desaparecesse, e tampouco se negar a alimentar-se. E a julgar
pela forma em que o rosto dela brilhava fracamente na escuridão do armário estava
necessitando de sangue, tanto se admitisse para si mesma como se não o fizesse.
Quanto mais tempo não se alimentasse, mais provável era que aumentassem as
possibilidades de que saltasse sobre alguns pobres mortais inocentes em busca de
alimento. Decker considerou o problema brevemente e logo a conduziu para separar-
se de seu peito lhe dizendo: -Venha. Vamos nos sentar.

Dani hesitou, mas logo se sentou no chão a apoiando suas costas contra a parede. No
momento em que o fez, Decker se aproximou da porta, abriu-a e pegou primeiro uma
bolsa de sangue e depois outra, e as levou até o armário antes de puxar a porta para
fechá-la de novo.

-Aqui, pode segurar isto por um minuto?- entregou-lhe uma das bolsas. -Tenho medo
de ficar de joelhos sobre ela e que se estoure.

Dani pegou a contra gosto a bolsa, e imediatamente os dentes do Decker apareceram.


Ele não a olhou, mas podia sentir seus olhos olhando-o sob a escassa luz que se
arrastava por debaixo da porta quando seus dentes começaram a drenar a bolsa.
Decker esperava que vê-lo a animasse a fazer o mesmo, mas ela só o olhava em
silêncio. Quando a bolsa esteve quase vazia, Decker pôs a ponta para acima,
permitindo deliberadamente que as últimas gotas corressem devagar pelo queixo.
Espremeu a bolsa vazia, colocou-a em um canto e logo se voltou para ela.

-Me beije- disse ele em voz baixa.

Dani se inclinou para ele, as aletas de seu nariz se expandiram e seu olhar estava fixo
na gota de sangue e no rastro que deixava em seu caminho, e logo se conteve e ficou
de pé, deixando cair a bolsa de sangue como se estivesse ardendo. Ela agarrou a
maçaneta da porta, mas Decker pegou a bolsa de sangue descartada e ficou de pé de
repente, lhe capturando a mão para detê-la.

-Me beije- repetiu.

-Eu não quero fazê-lo- disse Dani, mas podia ouvir a mentira em sua voz.

-Quero que o faça- disse ele em voz baixa, aproveitando-se de seu maior tamanho e
baixando a cabeça por sobre ela. -Só um beijo.

Decker a viu tragar, seus olhos foram de seus lábios ao sangue, e logo ele baixou a
cabeça uns centímetros e pressionou sua boca contra a dela. Ela conseguiu
permanecer completamente quieta e sem resposta por talvez o lapso de um batimento
de coração e, em seguida, Decker deslizou sua língua insistindo para que ela
separasse seus lábios, e ela gemeu e os abriu para ele. Ele sabia que ela podia
saborear o sangue que ele acabava de consumir, sabia que era como agitar um copo
de uísque debaixo do nariz de um alcólatra, e rogava a Deus para que isso
funcionasse quando a deslizou entre seus braços e a atraiu para seu corpo.

Quando ela começou a lhe chupar a língua, retirando qualquer resto de sangue que
ficasse ali, ele teve a esperança que isso funcionaria, mas quando ela rompeu o beijo
para lamber o sangue em seu queixo e o que tinha caído por sua garganta, ele soube
que tinha conseguido. Quando limpou a última gota de sangue que ficava, Dani
apertou a cabeça contra seu peito e suspirou pela derrota.

-Tem fome- disse ele em voz baixa.

Ela assentiu com a cabeça contra seu peito.

-Quer que abra a bolsa para você?- Quando ela permaneceu quieta contra ele, mas
não respondeu, adicionou, -Vou ficar de costas se quiser.

Dani se afundou contra seu corpo e suspirou, logo estalou, -Sei que é estúpido, mas
não quero que me veja...

-Está tudo bem- disse ele brandamente. -Tudo isto é novo e inquietante. Levaremos
com calma.

Dani assentiu com a cabeça, deixou escapar de seus lábios um suspiro ligeiro e logo
se separou. Decker utilizou os dentes para arrancar uma ponta da bolsa, sustentando-
a cuidadosamente para assegurar-se de que não derramasse nada e então a entregou
com o mesmo cuidado. No momento em que Dani pegou, ele se virou de costas e
esperou. Um suspiro lhe indicou quando ela terminou, mas lhe deu outro momento
antes de dar a volta.

-Obrigada- murmurou Dani quando ele agarrou de novo a bolsa vazia.

-Sente-se melhor?- perguntou Decker enquanto se inclinava para pôr essa bolsa junto
com a outra. Ela assentiu com a cabeça enquanto se endireitava.

-Não pensei que...-. Ela sacudiu a cabeça, não querendo dizer que tinha necessitado
do sangue.

Decker deslizou seus braços ao redor dela e a recostou contra seu peito. -Sei. Logo
aprenderá a reconhecer os sinais.

-Eu gostaria não ter que fazê-lo- murmurou ela.

Decker lhe passou a mão pelas costas e logo tomou a cabeça e a obrigou a olhar seu
rosto. -Lamento muito que isto seja tão perturbador para você, mas não lamento que
agora seja uma imortal. Teria te convertido eu mesmo quando estivesse preparada
para isso.

-Mas agora sou...- Ela sacudiu a cabeça com tristeza.

-É Dani- disse ele em voz baixa. -Os nanos não mudam isso. É a Dra. Dani McGill. E
com presas ou sem presas, é uma imortal. Deixou que isso penetrasse nela e logo
acrescentou, -Minha imortal, minha companheira de vida, minha esperança para o
futuro, e a mulher que amo.

A cabeça de Dani se sacudiu para trás ante essas palavras. Seu coração saltou, mas
ficou lhe olhando com os olhos abertos através da escuridão e sacudiu a cabeça de
lado a lado. -Você não me ama, Decker. Não pode.

-Não?- perguntou ele.

-Não. Acabamos de nos conhecer.

Decker assentiu com a cabeça, mas lhe perguntou: -O que é o que sabe de mim?

-Não muito- murmurou ela, e logo se deu conta de que isso não era certo. Tinham
conseguido falar um pouco entre as sessões de amor no celeiro. Ela sabia que ele
tinha uma casa nos subúrbios de Toronto, não longe de uma tia chamada Marguerite,
mas que não chegava a permanecer ali muito tempo porque sempre estava viajando a
trabalho. Ela sabia que ele tinha uma casa de campo no norte, onde de vez em
quando ia desfrutar de paz e tranqüilidade, que preferia a leitura à televisão e as
peças de teatro ao cinema. Sabia que ele tinha seis irmãos e irmãs, três irmãos mais
velhos e três irmãs mais novas. Sabia que gostava de comer, amava o sexo, ao menos
com ela, e que pensava que Justin era exasperante. E ela sabia que ele dedicou sua
vida a manter aos mortais e imortais a salvo daqueles vampiros que com presas ou
sem presas que decidiram ser renegados e causavam estragos.

Dani também sabia que ele permanecia em calma em uma crise, que era forte,
considerado...

-Aqui- Decker lhe deu um pequeno golpe no peito quando ela ficou perdida em seus
pensamentos. -O que sabe de mim aqui? Confia em mim?

Dani meditou na pergunta. Ela não tinha confiado nele quando se conheceram,
porque ele tinha estado lhe mentindo, mas uma vez que lhe explicou as razões das
mentiras e quem era ele e o que era ... Na casa dos Parker, a única pessoa que tinha
querido ver era Decker. Tinha confiado que ele se encarregaria das coisas. Tinha
acreditado nele. Dani assentiu. -Sim.

-Então, me acredite quando te digo, Dani McGill, que te amo. Eu adoro sua
independência, sua determinação, seu amor e preocupação pela família, sua
inteligência, seu engenho, você...

Lhe cobriu a boca com a mão. -Eu acredito em você. Mas nunca funcionaria entre
nós. Embora você não me despreze por ser uma Sem Presas...

-Desdentada- corrigiu ele.

Ela assentiu e continuou: -Sua família o fará. Leo disse...

-Ele mentiu. Ou realmente ele acredita nessas coisas, mas está louco. Minha família
te amará- acrescentou Decker, pondo-a de novo entre seus braços. -E aconteça o que
acontecer, amo você Dani. Daria minha vida por você.

Ela soltou uma risadinha. -Quase o fez antes, quando apenas nos tínhamos
encontrado no clareira.

Decker sacudiu a cabeça. -Você sabe que receber um tiro não teria me matado. Eu
não estava arriscando muito, mas daria minha vida por você, Dani. Se eu pudesse
salvar sua vida e somente reverter o que te aconteceu e te fazer mortal e feliz de
novo, faria isso, trocaria minha vida por isso.

Dani soprou com a idéia e sem pensá-lo, murmurou: -Bom, dificilmente isso me faria
feliz se é que está vivo.

Viu que os lábios dele se curvaram em um sorriso e ela se deu conta do que havia
dito, e logo a boca dele pressionou contra a sua. Sentiu a mão dele em sua nuca, e lhe
inclinou a cabeça até deixá-la na posição que queria, e logo a língua dele estava
dentro de sua boca e Dani deixou que suas mãos se deslizassem sobre os ombros
enquanto lhe correspondia o beijo. A paixão que formou redemoinhos através dela
foi assombrosamente súbita e lhe arrancou um gemido de sua boca. Ela se moveu em
forma impaciente e se aproximou mais até ficar apertada contra ele da pantorrilha até
os lábios. Podia sentir sua ereção pressionando contra ela e tomou completamente
por surpresa quando de repente ele interrompeu o beijo, apartou sua boca e apoiou
sua testa contra a dela, deixando cair suas mãos.

Dani queria puxar a cabeça dele para a dela, mas se obrigou a não fazê-lo e aguardou
com incerteza e com um pouco de medo de que apesar do que ele tinha afirmado,
agora Decker a estava rechaçando porque Leonius a tinha convertido. O corpo dele
parecia estar mais que suficientemente de acordo, mas ao parecer sua mente não
estava, pensou ela com tristeza, e então ele disse, -Sinto muito.
-Por que? -perguntou ela cautelosamente.

Ele soltou uma gargalhada, como se devesse ser óbvio, e logo disse: -Por isso. Você
acaba de despertar depois de ser transformada. Pelo amor de Deus!, está perturbada e
estamos metidos em um armário e entretanto estava a ponto de te arrancar de um
puxão a saia....- interrompeu-se e sacudiu a cabeça.

Dani sentiu que o alívio a atravessava e lhe agarrou a mão. Assinalou para baixo, a
sua perna, onde estava a prega da saia e lhe disse com voz rouca: -Tire minha saia!

Decker jogou sua cabeça para trás para olhá-la, mas ela simplesmente tomou sua
cabeça com a outra mão e levou de novo os lábios dele até sua boca, enquanto
conduzia a outra mão dele até a parte externa de sua coxa e empurrava a saia para
cima sussurrou: -quero que faça.

Foi tudo o que teve que dizer, e então Decker se ocupou disso. Ele começou a beijá-
la, empurrou a língua em sua boca, mas não continuou subindo a saia. Em vez disso,
apartou a mão dela e agarrou as alças do vestido. Logo as deixou cair, deixando
descobertos seus peitos, e Dani gemeu quando as mãos dele os cobriram, apertando-
os e amassando-os enquanto a beijava, enviando uma onda atrás de onda de paixão
através de ambos. Então ele rompeu o beijo e agachou a cabeça para apanhar um
mamilo na boca. A mão que agora estava livre deslizou entre as coxas dela,
pressionando o tecido da roupa íntima e do vestido contra ela enquanto ele
encontrava e esfregava seu centro.

Dani se queixou na boca dele, e sua própria mão se moveu para trabalhar no botão e
no zíper das calças. Apesar de sua desesperadora distração, ela conseguiu desfazer-se
de ambos. Continuando, ela puxou para baixo a parte dianteira das cueca e o pênis
saltou. No momento em que o fez, Decker lhe agarrou a perna por detrás do joelho e
a levantou e a acomodou sobre seus quadris. Logo subiu a saia para poder situar-se
entre as pernas dela de novo. Esta vez, rasgou-lhe as calcinhas as jogando de lado.

Os gemidos de Dani enquanto ele a percorria com os dedos foram seguidos por um
dele, então Decker lhe agarrou a outra perna, levou sua mão até seu traseiro e a
levantou um pouco antes de baixá-la sobre sua ereção. Estava quente e duro, e a
sensação de ser preenchida por ele, fez-lhe apartar a boca da sua com um ofego. Ela
quase girou para lhe morder o ombro, mas se conteve no último momento. Dani
queria morder algo de um modo terrível, não pelo sangue, mas sim porque as
sensações que explodiam nela eram muito intensas, mas agora era perigoso.

Tratando de reduzir o risco de chegar a excitar-se até o ponto de não poder conter-se,
Dani desprezou a tentação de lhe morder os ombros e se agarrou à barra que se
estendia acima no armário. Aferrou-se a ela com as duas mãos e inclinou a cabeça
para trás, afastando-a, enquanto ele se retirava e se introduzia de novo nela.

Decker reclamou os lábios dela outra vez e a beijou intensa e profundamente antes de
se separar. Quando o fez, ela se encontrou cravada contra a parede, e o ombro
tentador estava muito perto. Ela fechou os olhos e sacudiu a cabeça, agarrando-se
desesperadamente à barra enquanto ele investia em seu interior uma e outra vez,
enviando uma quebra de onda de excitação atrás de outra que atravessavam seu
corpo. E então, justo quando ela chegou ao ponto de ruptura, viu a corda que ainda
pendurava de seu pulso e se equilibrou sobre ela, afundando seus dentes na corda
grosa enquanto ele se introduzia nela uma última vez e logo gritou enquanto
explodia. As ondas que a seguir varreram sobre ela foram suficientes para empurrá-la
sobre a borda, e ela estava consciente que de fato estava mordendo a corda antes de
que a inconsciência a reclamasse.
Capítulo 17

Foi o duro golpe que recebeu em suas costas ao cair no chão que despertou Decker.
Entreabrindo os olhos, viu que a porta do armário no qual Dani e ele tinham
desmaiado, tinha sido aberta. Justin, Mortimer e Lucian formavam um círculo ao
redor de sua cabeça, olhando-o surpreendidos. Ao menos Mortimer e Justin se
mostravam surpreendidos, pensou com um suspiro. Lucian se mostrava inexpressivo
como de costume, unicamente a sobrancelha ligeiramente arqueada parecia sugerir
que podia ser incomum abrir uma porta de um armário e que caíssem duas pessoas
meio nuas.

-Bom- disse Justin, finalmente, já que ninguém parecia ansioso por falar. -Pensei que
nunca sairia do armário.

O imortal mais jovem pôs-se a rir de sua própria brincadeira. Quando ninguém mais
se uniu a ele, olhou a cara sombria de Decker e depois a Dani, que ainda estava
desmaiada sobre seu peito, e logo a Mortimer e Lucian . Sacudindo a cabeça,
murmurou: -Vocês realmente precisam ir comprar senso de humor.- Voltando-se
sobre seus calcanhares, partiu para a cozinha.

Lucian o olhou ir, e logo elevou brevemente os olhos antes de a Decker, -Leve-a em
seus braços à cozinha. Tenho que lhe fazer algumas perguntas.

-Sobre a aparição de Leonius?- perguntou Decker.


Lucian sacudiu a cabeça e se dirigiu à cozinha atrás de Mortimer.

-Ao menos não me repreendeu pelo lugar que escolhemos- murmurou Decker para si
enquanto o observava ir-se.

-Já foram?- sussurrou Dani com os olhos muito abertos, Decker a pegou pelos
ombros e a levantou um pouco. Seu rosto estava completamente desprovido de
qualquer sinal de sonolência. -Estava acordada todo o tempo?

-A queda do armário me despertou- admitiu ela suspirando.

-Por que não se levantou ou… . A pergunta morreu quando ela se olhou
significativamente. Ele seguiu seu olhar para ver que as alças de seu vestido
descansavam sobre seu peito, deixando seus seios a descoberto. Lhe fez água na boca
a imagem, e Dani imediatamente se endireitou para ajoelhar-se e agarrar os extremos
das alças para colocá-las ao redor de seu pescoço.

Decker suspirou enquanto ela ocultava sua beleza, mas sabia que era o melhor.
Também lhe recordou que havia algo dele que era necessário endireitar e colocar, e
rapidamente se ocupou disso antes de ficar de pé e lhe oferecer uma mão.

-Não apanharam Leonius, não foi?- perguntou ela em voz baixa, enquanto
atravessavam a sala.

-Não- respondeu Decker. Lucian se tinha limitado a sacudir a cabeça em resposta


quando ele tinha perguntado. Dani, é obvio, não tinha sido capaz de ver porque
estava sobre seu peito com o rosto olhando para baixo, mas tinha adivinhado a
resposta. Ela se via tão triste que ele adicionou, -Vamos pegá-lo. Não vamos parar
até apanhá-lo.

Dani assentiu com a cabeça, mas parecia que não acreditava.

Justin estava sentado no balcão ao lado da pia, Lucian estava apoiado contra a mesa
frente a ele, Mortimer estava entre os dois homens frente à porta, e os três tinham
uma bolsa de sangue entre seus dentes quando Dani e Decker entraram.

Decker sentiu que os dedos de Dani roçavam os seus quando se detiveram, e baixou
seu olhar para ver que ela observava os homens em silencio com inveja. Fosse a
invejava do fato de que não tivessem barreiras sobre alimentar uns frente a outros, ou
que pudessem utilizar suas presas para fazê-lo, enquanto que ela tinha que tomá-lo
como um mortal, não sabia, mas Decker a pegou pela mão e lhe deu um suave
apertão para tranqüilizá-la.

Dani se virou para se encontrar com seu olhar e sorriu levemente.

De repente Lucian soltou a bolsa de entre os dentes, que agora estava vazia de
sangue, e lançou uma maldição. Quando todo mundo se voltou para olhá-lo, disse,
-Estamos perdendo tempo esperando aqui. Leo já se foi.

Todo mundo pareceu surpreso por este anúncio, mas foi Dani quem perguntou:
-Como sabe disso?

-Porque acabo de ler sua mente- respondeu Lucian. -Segundo suas lembranças a casa
estava em perfeita ordem quando chegaram, e ele caminhou diretamente para fora
depois deixar a vocês três no porão.

Quando Dani assentiu em silêncio em sinal de reconhecimento, ele acrescentou,


-Mas quando eu cheguei, o bule em forma de galo estava quebrado no chão e o chá
estava esparramado por toda parte, o saleiro e o pimenteiro estavam em pedaços, e o
bolo de maçã tinha sido destroçado por um murro. Encolheu-se de ombros. -Leonius
retornou enquanto vocês estavam atravessando o campo.

-Terá ouvido o trator- assinalou Mortimer. -Por que não saiu imediatamente depois
de que eles se foram…

-Deve ter querido revistar o porão- disse Lucian com certeza. -Ao encontrá-lo vazio,
provavelmente em seu caminho de volta, Leonius esmagou o bolo e atirou ao chão
tudo o que estava sobre a mesa. Possivelmente então foi revistar o campo, mas pode
ter nos visto aparecer em cena ou escutou o trator. Nossa presença deve tê-lo
espantado.

-Há uma caminhonete marrom na casa?- perguntou nervosa Dani.

Lucian sacudiu a cabeça.

-OH- Parecia aliviada, e logo explicou: -Isso é o que ele estava dirigindo. Tinha
medo de que houvesse voltado a pé para vigiar de novo a casa. Virou-se para Decker
e lhe explicou: -Ele estava nos observando no estábulo, no primeiro dia.

Decker sentiu sua boca esticar-se, mas se limitou a passar o braço ao redor de sua
cintura e a atraiu a seu lado.

-Ia tentar me capturar para me trocar por seus filhos- adicionou ela.

-Seus filhos estão mortos- disse Decker em voz baixa.


-Todos eles? Como?- perguntou ela surpreendida levantando as sobrancelhas.
Quando ninguém respondeu imediatamente, adicionou, -Leonius estava na
caminhonete, veio conosco até o restaurante onde paramos enquanto Justin colocava
gasolina. Ele estava sob a lona e tirou as estacas de dois de seus filhos. Disse que
isso bastava e que deveriam recuperar-se.

Decker intercambio um olhar com seu tio, e logo admitiu: -Dani, o Conselho os
executou tão logo terminaram de lê-los. Tiveram que fazê-lo. Nós não temos cárcere,
e os renegados são como cães raivosos. Têm que ser eliminados para proteger a
outros.

Dani não fez nenhum comentário sobre isso, mas anunciou, - Leonius disse que o
tranqüilizador não funcionava nele, mas sim em seus filhos. Disse-me que era muito
velho e forte, e que só lhe afetou por uns momentos.

-É bom saber- disse Decker sombrio. - Então vamos ter que conseguir flechas para
Leonius.

Os outros assentiram e logo Lucian se voltou e olhou a Mortimer. -Chame os


rapazes, diga que comecem a limpar tudo o que possam na casa dos Parker, assim
nós poderemos apagar suas lembranças e enviá-los de volta a sua casa.

-E se ele retornar?- perguntou Dani, e assinalou: -Poderia tentar usar novamente a


casa para nos espionar, se pensar que vocês limparam tudo.

-Duvido- disse Lucian, mas se voltou para Mortimer.

-Vou pôr dois homens a mais para que os vigiem, só para estarmos seguros- disse
Mortimer antes que Lucian pudesse dizer algo mais, e logo adicionou: -Também
enviaremos um par mais a nossos vizinhos do outro lado, para nos assegurar de que
não estabeleceu um acampamento ali.

Lucian assentiu com satisfação e logo se dirigiu à porta. -Vou dormir um pouco. Me
chamem se ocorrer algo.

-Parece que aos dois viria bem um pouco de descanso- disse Mortimer de repente,
dirigindo a Decker um olhar. -Se quiserem dormir chamarei quando chegar o
telefone.

Decker vacilou; não tinha dormido muito nas últimas duas noites e estava cansado.
Dani também se via um pouco exausta e provavelmente devia descansar. Embora
tinha estado inconsciente durante toda a noite, isso não tinha sido o que poderia
chamar de um sono reparador. Assentindo com a cabeça, voltou-se para a porta
dispondo-se a sair junto com Dani.

Ela não resistiu, e enquanto subiam pelas escadas, ele percebeu que ela tinha uma
expressão preocupada. Isso lhe fez se perguntar no que ela estaria pensando.

Obteve sua resposta quando Dani o olhou ao entrar em seu quarto e lhe perguntou:
-Exatamente como é que os Desdentados chegaram a existir? São só uma mutação
dos imortais?

Decker fechou a porta antes de lhe dizer, -Os Desdentados e os Sem Presas são o
resultado dos primeiros experimentos com os nanos.

Ela tinha começado a cruzar o quarto, mas se deteve e se voltou para ele
surpreendida. -Pensei que tinha dito que seus avós foram os primeiros?
-Eles foram os primeiros ensaios que tiveram êxito com o último lote de nanos-
interrompeu ele, afastando-se da porta. -Mas antes houve ensaios sem êxito.

-Sem êxito, como?- perguntou ela enquanto se instalava na cama.

-Ao que parece, o primeiro lote utilizado para os ensaios era de humanos, é o lote
que produziu os Desdentados, eram seis pessoas. Dois deles morreram, dois ficaram
loucos, e dois pareciam estar bem e não apresentaram problemas até depois da queda
de Atlântida, quando as transfusões de sangue já não estavam disponíveis.

Dani o viu sentar-se na cama desarrumada, com as costas contra a parede e logo se
moveu para reunir-se com ele antes de dizer com incerteza, -e Leo é um dos quatro
que sobreviveram?

-Seu pai, Leonius I° foi- corrigiu Decker. -Foi um dos dois que ficaram loucos
durante a transformação.

-Por que ficou louco?

-Não sei- admitiu ele. -Não estou certo se sequer os criadores dos nanos soubessem a
razão, mas o fato de que dois terços dos sujeitos de prova morreram ou
enlouqueceram foi suficiente para que cancelassem as provas e tratassem de
melhorar os nanos. Por sinal, fizeram alguns retoques, e o resultado final é o que
obtiveram meus avós.

-O que fizeram com Leonius e o outro Sem Presas que ficou louco pelo primeiro lote
defeituoso?

-Permaneceram encarcerados para que não pudessem machucar a si mesmos ou a


outros.

Ela assentiu lentamente, mas sua mente tinha voltado para o que ele havia dito antes
e lhe perguntou, -Quais foram os problemas que apresentaram os outros dois depois
de que Atlântida caiu? Os dois dos seis que não ficaram loucos? Só a falta de presas?

Decker hesitou e logo disse: -Essa era a diferença mais evidente. Alguns desdentados
também não têm a visão noturna melhorada, mas de resto são virtualmente iguais.
Eles têm mais força, velocidade e a capacidade de ler e controlar as mentes como
nós.

-Então vou ser capaz de ler a mente das pessoas e as controlar?- parecia surpresa.

Ele assentiu com a cabeça. -Precisa de um pouco de tempo para aprender essas
coisas, mas sim, em algum momento será capaz de fazer ambas as coisas.

-Hmm- Dani permaneceu em silêncio por um momento, mas a seguir, franziu o


cenho. Se Leonius foi encarcerado, como é possível que seja o pai de Leo. Quero
dizer, não lhe permitiam visitas conjugais ou algo assim, não é?

-Não- Decker riu ante a idéia, mas admitiu: -Ninguém sabe com certeza, assume-se
que quando Atlântida caiu alguém o liberou junto com o outro sujeito, ou
simplesmente escapou em meio a todo caos. Decker fez uma careta. -Qualquer que
seja o caso, ele sobreviveu.

-E o outro?

Decker sacudiu a cabeça. -Acredita-se que o outro morreu em Atlântida.


-Desejaria que Leonius o tivesse feito também- disse Dani amargamente.

-Então não te teria conhecido- assinalou ele em voz baixa. -Não teria sido
sequestrada, não teria estado ali para te resgatar e não estaria aqui comigo agora.

Dani baixou a cabeça. Queria lhe dizer que ela preferia que tivesse acontecido isso a
como estava agora, mas não era totalmente verdade. Ela não podia dizer ainda que
amava Decker, mas apesar de que não estava segura se o fazia ou não, gostava dele.
Certamente seu coração sofria ante a possibilidade de não voltar a vê-lo. Talvez se
Stephanie também tivesse sido resgatada na clareira, a história seria totalmente
diferente, mas não o tinha sido, e Dani não podia sentir-se bem com como acontece
ou desfrutar plenamente da relação que estava se formando entre ela e Decker. Ao
que parece, sua mente estava constantemente indo para trás, preocupada com
Stephanie.

Suspirando, desprezou esses pensamentos e disse: -Então Leonius conseguiu escapar


de Atlântida e causou estragos, mas também encontrou a sua companheira de vida e
por isso há um Leonius II°?

-Leonius teve vários filhos que causaram estragos, mas não estou seguro se alguma
vez encontrou com sua companheira de vida.

-Então, como…?

-Leonius não só ataca aos mortais, mas também também aos imortais- explicou
Decker, com expressão sombria. -Ele era muito aficionado em sequestrar mulheres
imortais e as obrigava a carregar seus filhos. Leonius tinha um montão de filhos.

Dani arqueou uma sobrancelha. -Sem filhas?


-Aparentemente não tinha nenhuma utilidade para ele e em geral as matava ao nascer.

-Que agradável- ironizou ela.

Decker continuou, -Leonius é parte da razão da regra dos cem anos. Teve meninos
em dúzias, conservava os mortais como comida para alimentá-los, e começou a
comportar-se como se fosse criar um exército com sua própria prole. Foi então
quando se formou o primeiro Conselho de Imortais. Meu avô Ramses e vários outros
imortais se uniram para tentar averiguar o que fazer com respeito a Leonius e suas
crias, e depois de muita deliberação, decidiu-se que deviam ser detidos. Os imortais
formaram um exército próprio, atacaram Leonius e seus descendentes, e pensaram
que os tinham aniquilado. Mas parece que um lhes escapou.

-Leo- disse ela suspirando.

Ele assentiu com a cabeça.

Ambos permaneceram em silêncio por um minuto, e logo perguntou: -Eu tenho agora
os nanos do primeiro lote defeituoso, não é certo?

-Bom, sim, mas não os originais, as cópias que se recrearam com o tempo.

Ela vacilou, e logo perguntou: -Existe alguma forma de consertá-lo? Talvez com uma
transfusão de seus nanos, o...- Deixou que sua voz se desvanecesse quando ele
começou a negar com a cabeça.

-Sinto muito, Dani. Não sei muito sobre este assunto, teria que falar com o Bastien.
Ele sabe mais disso, mas estou bastante seguro de que não funcionaria. Seus nanos
veriam os meus como invasores e os eliminariam como fazem com as células do
câncer e os vírus.

-Correto.- Ela deixou escapar seu fôlego em um suspiro, e, brincando com a corda de
seu pulso que agora estava mais curta, perguntou-lhe: -Então, se eu fosse ter um
filho, esse menino teria só uma oportunidade entre três, de não nascer mortos ou
enlouquecer? - Os meninos eram algo a ter em consideração. Dani tinha mais de
trinta anos e recentemente havia pensando que gostaria de casar-se e ter um bebê, ou
seis, como seus pais.

Decker permaneceu em silêncio tanto tempo que ela deixou de brincar com a corda e
se voltou para olhá-lo. A resposta estava em sua expressão, um olhar de assombro e
consternação que lhe disse que sim, que assim era, e que só agora tinha pensado
nisso.

-Não temos que ser companheiros de vida- disse ela em voz baixa. -Não vou culpar
você se...- Fez uma pausa quando Decker se voltou para ela rapidamente.

-Somos companheiros de vida, Dani- disse ele com firmeza. -E quero sê-lo. Nada vai
mudar isso. Vamos postergar ter filhos por um tempo. Bastien tem gente trabalhando
neste tipo de coisas e encontrará algo.

-E se não o fizer, ou já estou grávida?- perguntou ela.

Decker piscou, aparentemente não tinha considerado que tinham feito sexo no
armário do andar de baixo sem nenhum tipo de proteção, sem mencionar as várias
vezes no estábulo no dia anterior, mas então ela era mortal, e não se preocupou de
que ela fosse uma desdentada.
Dani viu como Decker fechava os olhos consternado, suspirou, e logo olhou para a
porta quando Mortimer lhes chamou do andar de baixo. Ela se voltou para o Decker
que piscou abrindo os olhos; ele duvidou por um momento e logo se levantou e a
ajudou a ficar de pé, dizendo: -Cruzaremos essa ponte quando chegarmos lá.

E definitivamente vamos utilizar amparo a partir de agora, pensou Dani enquanto


saíam do quarto e desciam as escadas.

-O que aconteceu?- perguntou Decker ao chegar à parte inferior da escada, onde


estava Mortimer junto com um homem que Dani nunca tinha visto antes.

Foi o recém-chegado quem respondeu. Deu um passo adiante com o olhar fixo nela,
e disse, -Bastien me pediu que te desse isto, Dani.

Ela olhou para baixo, e seus olhos se abriram quando viu o que sustentava.

-Meu telefone!- Dani o pegou e lhe ofereceu um sorriso de gratidão. -Obrigada.

Ele assentiu com a cabeça, com expressão solene, e logo se voltou para sair pela
porta que continuava aberta.

-Chame Nicholas- disse Mortimer, e quando ela hesitou, assinalou-lhe: -lhe pergunte
se sabe onde está sua irmã... se é que responde.

Dani abriu o telefone, olhou sua lista de chamadas e encontrou o número de


Nicholas. Enquanto chamava, perguntou-se por que Nicolas não tinha bloqueado seu
número para que não aparecesse, mas logo pegou o telefone e se esqueceu disso
enquanto esperava que aquele respondesse. Em vez disso, o que escutou foi uma
mensagem gravada.
Dani fechou os olhos, fechou o telefone com um suspiro de decepção e disse: -O
número já não está em serviço.

Decker abraçou-a e murmurou: -Sinto muito. Sei que contava com ele.

Dani assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Era consciente de que Mortimer se
foi para que estivessem um momento a sós. Suspirando, deslizou seu celular no bolso
e levantou o rosto para perguntar a Decker o que deviam fazer agora para encontrar
Stephanie quando o telefone começou a tocar e vibrar em seu bolso.

Capítulo 18

-Dani?

-Nicholas?

Ela abriu a boca em estado de shock, ao reconhecer sua voz através do celular. Seus
olhos piscaram ao ver que Decker se aproximava. E então, de repente Mortimer se
deteve e retornou. Ambos os homens pareciam zangados e podia sentir a tensão no
ar.

-Sinto não te ter chamado antes- disse Nicholas. -Eu sei que estiveste muito
preocupada, mas não queria te chamar até que tivesse uma boa notícia para te dar.
-Minha irmã?-perguntou ela com entusiasmo, animada por sua menção da boa
notícia. -Está com você?

-Não- soava a desculpa. -Mas sei onde está e que está viva.

Dani fechou os olhos. Viva, isso era bom. Todo o resto podia ser arrumado, fosse
com terapia ou que Decker ou um dos outros homens apagasse a memória de
Stephanie.

-Imagino que não está sozinha?- perguntou-lhe Nicholas. Dani abriu os olhos. A
julgar por suas expressões, Mortimer e Decker podiam escutar ambas as partes da
conversa. Era por seu nano-ouvid, supôs ela enquanto admitia: -Não, Decker e
Mortimer estão aqui.

Ambos os homens a olharam , mas ela não deu atenção conta.

-Seu telefone tem viva-voz?

-Sim- disse Dani, agradecida pela primeira vez de ter permitido que o vendedor a
convencesse para que comprasse esse modelo . -Coloque no viva-voz então- pediu-
lhe Nicholas. Dani o fez, sustentando o telefone frente a ela.

-Vá em frente.

-Decker?

-Sim?- respondeu ele com tom seco.


-Hotel Four Seasons, habitação 1413 -disse Nicholas. -Dou a você cinco minutos
para que chegue à estrada e logo voltarei a chamar.

A chamada foi encerrada. Dani se moveu antes de que finalizasse, correu pelo
corredor para a cozinha e logo para a garagem . Era consciente de que Decker ia em
seus calcanhares e Mortimer os seguia, mas sua mente estava em chegar à garagem e
pegar o carro.

-Podemos pegar uma das caminhonetes- sugeriu Mortimer.

-Uma caminhonete realmente seria melhor- disse Decker e logo adicionou: -Não
sabemos como estará Stephanie.

-Ele disse que estava viva-disse Dani, quase sorrindo com alívio.

Seu desejo de sorrir se extinguiu quando ele assinalou brandamente, -Estar viva
cobre muitas situações Dani.

A imagem das mulheres no precipício apareceu imediatamente em sua mente e Dani


mordeu o lábio, e a preocupação retornou. A mente de Stephanie podia ser curada ou
suas lembranças apagadas, mas poderia ter cicatrizes pela experiência.

-Não temos uma caminhonete, -assinalou Mortimer, voltando de novo para a questão
que lhes ocupava.

-Isso tem solução. Todos eles pararam e olharam para trás, vendo Lucian descer pelas
escadas e aparecer na garagem .- O que aconteceu? - perguntou ele, indo para eles.
Dani foi à cozinha enquanto os homens pararam para lhe responder.
Não lhe importava se eles pegavam uma caminhonete ou um carrinho, desde que
fossem procurar sua irmã. Olhou a Justin quando entrou na cozinha . O homem
estava fechando a porta do refrigerador, tinha uma expressão de desagrado em sua
cara. Assim que a viu, disse: -Não há uma só coisa para comer nesta casa. Eu...-
deteve-se abruptamente quando se deu conta de sua expressão e logo olhou aos
homens quando entraram atrás dela.

-O que aconteceu?

-Nicholas chamou. Temos que ir- anunciou Decker alcançando Dani e agarrando-a
pelo braço para dirigir-se até a porta da garagem. Justin assentiu com a cabeça, todos
os pensamentos sobre comida se afastaram de sua mente à medida que começou a
caminhar atrás deles. Dani pensou que Lucian conduziria a caminhonete, mas jogou
as chaves para Decker e logo fez uma pausa para abrir a porta do lado do passageiro,
fazendo um gesto para que ela entrasse.

-Pode subir na parte dianteira com Decker. Ela não hesitou. Imediatamente colocou o
cinto de segurança, Decker e outros subiram. Olhou para Decker enquanto ele usava
o controle remoto para abrir a porta da garagem e arrancava com o carro, então se
virou em seu assento para olhar com curiosidade à parte posterior .Viu vários baús e
caixas, não havia assentos para os passageiros de trás, mas isso não parecia lhes
incomodar, estavam ocupados movendo os objetos. Lucian e Justin estavam
trabalhando nisso. Mortimer tinha parado para tirar seu telefone móvel e estava
fazendo uma chamada, provavelmente estava chamando executores e voluntários
para que fossem para o hotel, Dani olhou aos outros dois homens que estavam
agarrando suas armas. Ela olhava assombrada a caminhonete de Lucian, que era um
arsenal sobre rodas… e tinha um guarda-roupa, percebeu quando Lucian agarrava
um casaco comprido de couro e começava a colocá-lo.
-Não faz calor para isso?- perguntou Justin carregando balas em uma pistola. Dani
não tinha nem idéia de que arma se tratava, mas sem dúvida parecia impressionante.

-Sim- reconheceu Lucian. -Mas vai ser mais discreto. Esta indumetária esconde um
montão de pecados.

Dani entendeu o que ele queria dizer quando o viu tocar o peito para tirar uma
pequena balestra com uma só mão que logo meteu no lado interior esquerdo de sua
jaqueta. Um aljava de flechas lhe seguiu e o colocou no interior do lado direito.
Enquanto que Justin gostava das armas de fogo, ao que parece Lucian, assim como
Nicholas, preferiam armas antiquadas. Olhou como os outros dois homens ocultavam
suas armas em seu jeans. A balestra não era realmente necessária neste momento.
Leonius tinha resistido aos tranqüilizadores das balas, mas seus filhos não tinham
conseguido, assim as armas bastariam.

-Que armas quer Decker?- perguntou Mortimer, deixando um momento o telefone


para falar com ele.

-O de costume- grunhiu.

-Usem silenciadores- ordenou Lucian, logo soou o telefone e um silêncio espectador


encheu a caminhonete. Dani olhou para baixo, automaticamente respondeu seu
telefone e pôs no viva-voz antes de dizer: -Olá? Nicholas?

-Sim.- Houve uma pausa, e logo se desculpou.

-Me desculpe por ter deixado que ele fugisse do aeroporto com sua irmã, Dani. É
minha culpa. Os caminhonetes dos executores pararam atrás de mim na rampa.
Infelizmente, pensei que eles podiam resolver e estacionei para ver o que acontecia,
para estar seguro. Sua voz soava zangada quando ele adicionou: -Foi uma estupidez
por parte deles deixar à garota para trás. Como executores deveriam ter feito melhor.

- Os homens que chegaram primeiro ao aeroporto eram voluntários, não executores-


disse Lucian e logo perguntou:- Você a levou?

- Bom, olá para você também, tio- disse ele com tom áspero. -Não. O que queria que
fizesse, Lucian? Que matasse o guarda de segurança?

- Matou-o?- perguntou Decker .

- Não- disse brevemente e logo continuou com o tema.- Ao que parece, o sexto
renegado não entrou no aeroporto.

Dani disse imediatamente: -Stephanie disse aos homens que ele saltou do veículo
assim que ela virou para entrar no estacionamento.

Nicholas grunhiu . -Isso tem sentido. Mas eu não os via de onde estava. Ao que
parecer, agarrou um veículo com uma mulher idosa dentro. Deve ter tomado o
controle dela e logo viu quando chegaram os homens. Nicholas continuou: -logo que
os voluntários se foram, Stephanie e o guarda de segurança se aproximaram de um
carro. Vi a garota ficar do lado do passageiro. O guarda foi para o lado do condutor e
logo o perdi de vista. Um momento depois o carro deu marcha ré... Havia três
pessoas no interior e pensei que eram a garota, o guarda e o renegado. Comecei a
segui-los e vi o guarda caído no chão. Segui-os até um hotel na cidade. Iam três
carros a minha frente enquanto o seguia. Ele não se incomodou em estacionar,
deixou o carro na entrada. No momento em que ele saiu do carro, vi que levava
Stephanie e a uma mulher de mais idade ao interior do edifício. Quando me apressei
a entrar na recepção, as mulheres e ele já estavam em um elevador repleto de gente e
as portas estavam se fechando. A frustração em sua voz era evidente. -A maldita
coisa parou em oito andares. Não podia procurar outro elevador para subir e permitir
que eles descessem em um piso e me escapassem enquanto eu procurava em outro,
assim que me sentei na recepção para esperar.

- Sem sangue?- perguntou Lucian.

-OH, diabos, não tio, estive mordendo a todos os mortais passavam caminhando-
disse Nicholas com sarcasmo. -Isso é o que os renegados fazem por diversão.

-Deveria ter me chamado, tiria te levado sangue- disse Decker com voz sedosa.

-Aposto que sim, primo. Houve uma risada seca e logo Nicholas disse: -Estava a
ponto de renunciar à vigilância esta manhã e tentar procurar nos pisos onde o
elevador parou, quando o sexto renegado passou a meu lado e subiu no elevador.

-Ele saiu sem que o visse e logo retornou?- perguntou Lucian.

-Sim. Embora não sei como. Não tirei meus olhos do maldito elevador -murmurou
Nicholas com evidente irritação. -Deve ter escapado pelas escadas.

Os quatro homens grunhiram pela sugestão.

-Felizmente não havia muitos hóspedes no hotel a essa hora e só havia uma pessoa
no elevador com ele e foram ao mesmo piso; o quatorze, tomei o mesmo elevador
quando baixou. Havia uma empregada de limpeza no vestíbulo. Ela o tinha visto
chegar e consegui ler sua mente para averiguar em qual quarto estavam.

-1413- disse Dani, o número lhe queimava o cérebro.


-Sim. É provável que ele descanse durante o dia. Mas ainda assim eu me apressaria.
Ele não estava sozinho quando voltou. Havia uma loira com ele- anunciou Nicholas.

-Não se aproximou do quarto?- perguntou Decker bruscamente.

-Não comi em dois dias perseguindo este filho de puta, primo. Fiz o trabalho duro.
Agora vocês devem ocupar-se da limpeza... Está no centro ainda? Acho que sim.
Imagino que pegaram a auto-estrada do Gardiner. Onde estão?- Dani rapidamente lhe
disse a intercessão que se aproximava, ganhando por isso um olhar de Lucian, mas
ela o ignorou.

-Gire à direita, Decker- disse Nicholas rapidamente.

Decker amaldiçoou e girou, os pneus chiaram ao virar na esquina no último segundo


possível. Com os dentes chiando, ele disse: -Você não está no Four Seasons, não é?
Está em outro hotel.

-Muito bem, primo. É bom ver que é tão sagaz como sempre. Verá o hotel correto
mais adiante. Percebi que provavelmente têm um pequeno exército de homens que já
está rodeando o Four Seasons, mas realmente não acreditam que ficarei aqui
esperando que me capture uma das equipes de executores, certo? Fez-se um silêncio
sombrio na caminhonete. Nicholas continuou: -Eu não esperaria até que os homens
que estão no Four Seasons venham até aqui. Sugiro que arrombem a porta do quarto.

-Por que?- perguntou Decker bruscamente.

-Já lhe disse, havia uma loira com ele e a julgar por sua expressão zangada, ela não
deve estar tendo um bom momento.
-Então, talvez devesse ir lá agora mesmo -sugeriu Lucian.

-Estou muito fraco, preciso de sangue- grunhiu Nicholas. -Estive de pé ao final do


corredor escutando o que acontece no quarto. Não se produziu nenhum som estranho
que sugira que tenha começado com ela. -Fez uma pausa e acrescentou:- Suponho
que já devem estar chegando ao hotel neste momento.

-Sim- disse Dani, olhando pela janela para ver onde estavam.

-Bom. Não lhes levará muito tempo chegar até ali. Acredito que vou sair. -Houve
uma breve pausa e logo adicionou: - Decker?

-Sim?- perguntou enquanto se detinha ante as portas.

-Se não salvar a esta garota depois de todos os problemas pelos que passou, vou
chutar o seu traseiro.

-Em qualquer momento primo- disse Decker tristemente enquanto levava a


caminhonete para o estacionamento e desligava o motor. Ele saiu da caminhonete
junto com Dani e o resto dos homens, logo depois de que ela finalizou a chamada.

Ela colocou o telefone no bolso e correu para alcançar Decker e lhe agarrou a mão
que estendeu para trás. No momento em que os dedos dela se deslizaram nos seus,
ele olhou para trás e disse: - Acredito que deveria esperar na recepção.

- Ela é minha irmã- disse Dani sombria. -Além disso, sou imortal agora, certo? -A
boca de Decker se fechou, mas não tentou discutir com ela. -Quer que Mortimer e eu
procuremos Nicholas, enquanto Decker pega o sexto renegado? - perguntou Justin
para Lucian, mas foi Decker quem respondeu.

-Não. A prioridade é resgatar a irmã de Dani . Depois procuraremos Nicholas.

Dani logo escutou quando Lucian grunhiu dando sua conformidade. Seus olhos
estavam postos em Decker enquanto ele a levava pela recepção, e lhe pareceu que o
amava, depois de tudo. Como não ia amar? Este imortal recebeu uma bala por ela
antes de saber sequer seu nome, tinha a levado ao mais alto de uma paixão que nunca
tinha imaginado, tinha cuidado dela durante sua transformação e depois a consolou.
Este era um imortal que estava torturado pela culpa por causa da fuga de Nicholas e
entretanto estava priorizando a vida de uma jovem, que nunca tinha conhecido, à
captura de um renegado que estava procurando há cinquenta anos. Era um bom
homem, um imortal. Seu imortal, se é que ela o queria ... e o queria, reconheceu
Dani, e logo olhou a seu redor quando Decker parou e a atraiu a seu lado. Tinham
chegado aos elevadores e tentavam passar entre a grande quantidade de pessoas que
estavam esperando para pegar o elevador que descia. Dani estava muito segura de
que estariam esperando durante um bom momento, mas quando o elevador chegou e
as pessoas começaram a deslocar-se para ele, os que estavam mais perto
milagrosamente se detiveram e impediram o passo dos outros que queriam entrar
para que Decker e seu grupo pudessem passar e subir no elevador. Enquanto as
portas se fechavam e as pessoas descontentes tentavam evitar o bloqueio, Dani
decidiu que não podia esperar muito para poder ler e controlar mentes. Sem dúvida,
teria sido muito útil neste momento, reconheceu, enquanto pensava em quais dos
homens, ou quantos deles, tinham causado o pequeno milagre.

-Procure uma camareira e consigua um cartão mestre- ordenou Lucian a Justin


enquanto se dirigiam à saída do elevador e caminhavam pelo corredor que levava ao
quarto 1413. O jovem assentiu com a cabeça e deu a volta para cumprir com sua
tarefa enquanto o resto deles continuavam em frente, logo Decker se deteve e se
voltou para ela.

-Ela é minha irm…- começou a dizer Dani em um sussurro, mas ele a interrompeu
com um sussurro dos seus.

-Não pode vir, não poderá dominar ao renegado.

Dani hesitou, mas logo assentiu a contra gosto relaxando-se, Decker lhe deu um
beijo rápido na testa e logo se voltou para seguir Lucian e Mortimer. Os três homens
chegaram à porta e pararam para tirar suas armas enquanto Justin passava correndo
junto a Dani. Ela viu que deu algo a Lucian e logo tirou a pistola que tinha guardado
na parte traseira de suas calças. Com o coração na garganta, Dani viu como Lucian
abria a porta e Decker abriu passagem e entrou, seguido dos outros três homens.
Primeiro ouviu os gritos de uma mulher. Depois vários sons apagados, que deviam
ser disparos com silenciador e não pôde deixar de correr pelo corredor.

-Está viva- disse Mortimer e Decker levantou a vista para a mulher mais velha que
ele tinha estado examinando.

-Sim está- admitiu ele e logo se endireitou para olhar com o cenho franzido ao casal
da cama, uma mulher idosa com o cabelo grisalho e um homem jovem com o cabelo
escuro. A mulher provavelmente era a que os recolheu no estacionamento do
aeroporto, mas Decker não tinha nem idéia de quem era o homem. Os dois estavam
pálidos e inconscientes e tinham sido cortados várias vezes.

Seu olhar deslizou para a loira da qual estava se alimentando o filho de Leonius
quando entraram, era a mulher com a que ele tinha entrado no elevador pela manhã.
Ela tinha estado gritando de forma histérica quando eles entraram e lutava para
escapar do homem que estava chupando a ferida de seu braço, mas agora ela estava
tranquila e com o rosto em branco, enquanto Justin lhe enfaixava o corte para deter a
hemorragia.

-Nenhuma das mulheres é a irmã de Dani- grunhiu Lucian. Decker não necessitava
de seu comentário para dar-se conta disso. Uma olhada rápida a todos os que estavam
no quarto, quando tinham entrado, tinha sido suficiente para que ele soubesse que a
garota não estava ali.

-O que acha que fez com ela?- perguntou Justin. Decker negou com a cabeça para
Lucian e logo olhou ao jovem imortal para comprovar que tinha terminado de
enfaixar à loira, levantou-a e a levou até a cama com os outros dois mortais.

-Dani não vai levar bem a notícia- disse Justin entristecido.

-Não- disse Decker em silêncio, não sabia como ia dizer-lhe e esfregou-se a parte
posterior de seu pescoço com cansaço, deu a volta para dirigir-se à porta que dava
ao corredor pensando que quanto antes dissesse, melhor seria. Ela provavelmente
ficaria louca pela preocupação. Estava surpreso de que ela já não tivesse golpeado a
porta para entrar e só podia pensar que tinha medo do que poderia encontrar. Com
tudo o que tinha acontecido, ela tinha direito a ter medo, pensou Decker
sombríamente enquanto abria a porta. Seu olhar se deslizou até onde a tinha deixado
e Decker parou com um pé ainda no interior do quarto e os olhos abertos pela
surpresa quando viu que ela já não estava ali.

-O que aconteceu?- perguntou Justin, movendo-se atrás dele.

-Foi embora- disse ele com incredulidade e logo caminhou para o lugar com passos
largos e rápidos. -Isto é estranho Decker- disse Justin, correndo junto a ele. -Dani
não iria embora.
-Sei.

-Ela estava muito preocupada com sua irmã.

-Sei- repetiu ele sombríamente.

-Alguém deve tê-la levado- adicionou Justin, dizendo em voz alta os temores de
Decker.

-Acha que foi Leonius? Pode ter estado nos seguindo.

Ele não fez comentários, mas acelerou o passo tratando de pensar em quanto tempo
tinha passado desde que tinha deixado Dani no corredor e quão longe puderiam tê-la
levado. Ao dobrar a esquina, ambos se detiveram abruptamente quando viram os
elevadores, não havia ninguém diante deles. Decker amaldiçoou e se voltou.

-O que vamos fazer?- perguntou Justin em voz baixa.

Decker pensou e logo disse: -Os homens já devem estar aqui. Provavelmente estão
postados nas saídas. vamos ter que começar a procurar no hotel.

-Direi a Mortimer que comece a chamar os homens e os ponha em alerta- disse


Justin.

Quando ele assentiu com a cabeça, o jovem executor pôs-se a correr para o quarto
1413. Decker o seguiu a um ritmo rápido, mas não tratou de mantê-lo. Ele estava
tentando coordenar as coisas em sua cabeça, tentando pensar em todas as
possibilidades e assegurar-se de que não lhes tinha escapado nada. Justin
desapareceu no quarto onde os outros homens esperavam justo quando Decker estava
passando pela porta do quarto ao lado do 1413. Como estava movendo-se rápido,
Decker quase perdeu o som de algo que golpeou contra o chão e que foi amortecido
pelo tapete e a porta. Mas o escutou e instintivamente parou e se aproximou para
escutar.

Dani não podia mover-se. Leonius a mantinha completamente imóvel lhe tampando a
boca com uma mão, quase a asfixiava com a outra sobre sua garganta, e com o corpo
a mantinha aprisionada contra a parede. Ele a tinha estado retendo ali desde que ela
tinha passado na frente deste quarto e ele a levou para dentro.

Ela não tinha idéia de por que ele não estava controlando sua mente, quando sabia
que podia fazê-lo, mas supôs que se devia ao fato de que ele sentia supremo prazer
em aterrorizá-la. Embora ela estivesse agradecida de que ele não o fizesse, enquanto
olhava para o lado tentando ver o interior do quarto.

Quando Leonius se deu conta, olhou nessa direção e fez uma careta de desagrado
com a boca. Logo a arrastou afastando-a da parede e a obrigou a ir para o quarto.
Dani viu Stephanie. A jovem estava sentada, meio inclinada sobre a borda da cama,
balançando-se e tentando ficar de pé, mas parecia estar muito fraca para conseguir. O
que parecia ter sido um copo cheio de água, agora estava no chão e um líquido claro
tinha empapado o tapete formando um grande atoleiro. Dani supôs que a queda do
copo contra o tapete tinha sido o ruído que tinha escutado.

Ela examinou Stephanie rapidamente, e se sentiu aliviada ao ver que não parecia ter
nenhum corte ou contusões, ao menos não nas partes visíveis. Dani tinha temido que
quando a encontrassem, Stephanie estivesse no estado em que estavam os corpos do
precipício, mas estava notavelmente livre de lesões, sua pele luzia pálida e perfeita,
embora Dani não podia ver os pulsos ou o interior de seus braços pela forma em que
estava amarrada. Mas Stephanie definitivamente não estava bem. Dani se deu conta
disso quando Stephanie levantou a cara, estava muito pálida, suava e tinha olheiras.

-Dan…?

Não chegou a dizer o nome completo. Dani soube que Leonius tinha entrado na
cabeça da garota para controlá-la e lhe fez calar. Pela forma em que ela estava,
aparentemente não era uma experiência agradável para ele, porque seu rosto se
contorcia pela dor. Ela não soube o que ele fez, mas depois de um momento, a cabeça
de Stephanie caiu e a expressão dele começou a ceder. Suspirou aliviado e olhou para
Dani.

-Eu acabei de lhe dar meu sangue e estava a ponto de amarrá-la quando ouvi os
disparos detrás da porta contigua- disse em voz baixa e logo comentou: -Em
realidade os silenciadores não funcionam tão bem como os que aparecem na
televisão, não é verdade?

Dani estremeceu ao ouvir esta notícia, imediatamente a preocupação por sua irmã
aumentou em seu interior. Entretanto, não havia tempo para isso agora e tentou
escapar para poder fazer mais ruído, e dessa maneira poderia atrair a atenção dos
homens que estavam no quarto do lado... Se é que ainda estavam ali. Tinha ouvido
Justin falando com o Decker quando passaram pela frente do quarto fazia um
momento, antes de ouvir o golpe que tinha provocado que Leonius a levasse ao
quarto. Eles tinham estado falando dela e sobre o fato de que tinha desaparecido e
teve vontade de gritar, mas não pôde fazê-lo porque Leonius a tinha aprisionada.
-Sei que quer fazer ruído para alertar a seus amigos, mas temo que não posso
permitir isso- disse Leonius em sua orelha. -É muito emocionante esconder-se a
poucos metros de distância de onde Lucian e seus homens estão parados, mas isso
também é perigoso. Se fizer ruído, terei que te calar.

Ele a levou perto da cama e ficaram frente a Stephanie e logo girou Dani para o
criado mudo para assim poder olhar à garota. A adolescente se balançava onde ela
estava sentada, com as mãos agarrando seu estômago, mas ela não estava fazendo
ruído e Dani não sabia se era porque seguia sob seu controle ou não.

-Vinte e um ainda não a tinha transformado quando cheguei aqui faz uma hora-
murmurou em voz baixa Leonius. -Por estranho que pareça discutiu comigo porque
se opunha a isso. Parecia querer mantê-la como uma espécie de mascote mortal.
Inclusive não se alimentou dela.- Fez uma pausa e acrescentou: -Eu o fiz antes de lhe
dar meu sangue ... como o fiz contigo.

Dani o olhou por cima de sua mão e ele sorriu ampliamente. -As duas compartilham
o mesmo temperamento. Ela tratou de defender-se, ao igual a você o fez. O sorriso se
desvaneceu quando acrescentou com desagrado. -E Vinte e um tratou de me deter.
Para que não perturbasse tive que enviá-lo a outro quarto e fechar as portas para
conseguir que não interferisse. Resultou algo fortuito para mim, mas não tão fortuito
para Vinte e um.

Voltou-se para olhar Stephanie de novo e logo lhe disse: -É obvio, tenho planos
maiores para Stephanie do que mantê-la como um mascote mortal. Para as duas, na
verdade. Ele sorriu cruelmente e acrescentou: -Alguém tem que criar mais filhos para
substituir aos que perdi esta semana.

Isso foi muito para Dani. A ira rugiu através dela como um furacão ante a perspectiva
de que ela ou Stephanie se convertessem em éguas de cria deste animal. Leonius a
tinha levado o suficientemente perto da mesa para que ela pudesse agarrar o abajur e
antes de que Dani soubesse muito bem o que estava fazendo, tinha o agarrado e a
estava lançando por cima de sua cabeça e para trás. Houve um rangido repugnante
quando se chocou contra a cabeça de Leonius e logo este a soltou e tropeçou. De
repente Dani esteva livre, deu um passo cambaleante para frente golpeando-se com o
criado mudo, mas manteve o equilíbrio e se voltou para agarrar Stephanie pelo braço
e puxou ela para a pôr de pé. A confusão no rosto da garota e a forma em que movia
a cabeça sugeriram a Dani que o golpe na cabeça do Leonius tinha sido o suficiente
contundente como para que deixasse de controlar Stephanie. Sabia que isso não ia
durar muito tempo e a empurrou para o pequeno corredor que ia para a porta,
desesperada por tirá-la do quarto. Tiveram que passar por cima de Leonius para
chegar ali. Ele estava em posição vertical, mas se via aturdido e se agarrava a cabeça,
Stephanie conseguiu passar junto a ele cambaleando-se, mas quando Dani a seguiu,
ele estirou uma mão e conseguiu agarrá-la pelo braço.

-Corra- gritou Dani oara sua irmã, enquanto lutava para se liberar de Leonius. Para
seu alívio, Stephanie seguiu adiante e conseguiu agarrar a fechadura. Ela o girou a
maçaneta e começou a puxar para abrir a porta, e caiu para trás quando de repente
algo empurrou a porta de fora. Dani soluçou aliviada quando viu aparecer Decker.
Ele percebeu a situação com uma olhada e começou a levantar a arma que tinha na
mão, mas de repente agarrou Stephanie, deu a volta defendendo-a com seu corpo
enquanto algo explodia junto à orelha de Dani. Ela não reconheceu que era um
disparo de uma arma de fogo, até que viu o sangue na parte posterior da camisa de
Decker. Um grito de horror foi arrancado de sua garganta quando Dani viu onde
estava a ferida. Ela soube imediatamente que se não se alojou em sua coluna
vertebral, provavelmente tinha acertado seu coração e horrorizada, viu como ele se
desabava para frente, levando Stephanie junto com ele ao chão. Uma vez no chão,
nenhum deles se moveu.
-É hora de ir- disse Leonius ou ela pensou que isso era o que havia dito. Tinha um
zumbido em seus ouvidos pelo disparo que lhe dificultava sua audição. Continuando,
ele começou a obrigá-la a avançar e Dani foi cambaleando para o corredor,
consciente de que alguém estava golpeando a porta que conectava com o outro
quarto.

-Vamos ter que deixar Stephanie por agora, mas voltarei para procurá-la mais tarde-
assegurou Leonius enquanto a empurrava por cima de Decker para o corredor. Dani
ficou olhando Decker enquanto passavam junto a ele. Estava convexo sobre o
estômago, sua cabeça estava junto aos pés do Stephanie e estava tão imóvel que se
fosse um mortal, pareceria que estava morto.

Quando chegaram ao corredor, Leonius a estava empurrando com força para o


elevador quando soaram uma série de estalos. Quando de repente ele a soltou e caiu
contra a parede oposta, Dani deu a volta e viu Lucian de pé no corredor, em frente ao
quarto 1413, com o braço levantado e uma arma na mão. No momento seguinte,
percebeu que a arma de Lucian era uma balestra, e tinha uma flecha com entalhes
que não tinha sido disparada. Se voltou e viu que Decker baixava a arma e posava
sua cabeça no chão.
Capitulo 19

- Decker! - Dani se apressou para retornar ao quarto, seu olhar deslizou sobre sua
irmã enquanto passava. Os olhos de Stephanie estavam abertos e ela estava ofegando
fortemente. Tendo passado ela mesma pela mudança e sabendo que não podia fazer
absolutamente nada, Dani seguiu até Decker e se ajoelhou junto a ele, enquanto este
gemia e começava a mover-se.

Ela o ajudou a dar a volta, lutando com o horror quando viu que o buraco em seu
peito era muito maior que nas costas. Leonius o tinha acertado com uma arma muito
mais potente do que com a que seus filhos tinham disparado em Decker na primeira
noite na clareira. A preocupação nublou seus olhos e pressionou com sua mão a
ferida tentando conter o fluxo de sangue.

- Estou bem- murmurou ele. - Cuide de Stephanie.

Dani negou com a cabeça, pressionando agora com ambas as mãos sobre seu peito,
mas ele fez uma careta e logo tomou suas mãos e as afastou. Obrigando-se a se
levantar para apoiar na parede, disse-lhe, - Os nanos me repararão. Olhe, o
sangramento é mais lento. A bala não tocou meu coração por pouco.

- Algo como um milímetro- disse ela com o cenho franzido, quando se deu conta de
que o sangramento estava de fato mais lento.

- Estou bem- insistiu ele. - Vá ver Stephanie.

Ela vacilou, deslizando seu olhar para sua irmã, mas quando a adolescente gemeu e
começou a mover-se, Dani se endireitou e se moveu para ajoelhar-se junto a
Stephanie enquanto ela rodava sobre seu lado na porta.

- Stephi?- disse ela, apoiando sua mão na bochecha da jovem. - Está bem?

Stephanie piscou e abriu os olhos. Dani viu a confusão e a dor que existia ali e sentiu
que seu coração lhe doía pela moça. Ela sabia exatamente quanto estava sofrendo
nestes momentos.

Um movimento na extremidade de seu olho levou seu olhar distraídamente para o


corredor. Lucian tinha se movido para parar sobre a figura caída de Leonius. Olhou
ao renegado por um momento com uma balestra penduranda a seu lado, e logo a
girou para frente e disparou a flecha com entalhes no peito de Leo.

Definitivamente um tiro ao coração, pensou Dani com satisfação enquanto Lucian


logo se inclinou para agarrá-lo pelo pescoço para puxar ele para a porta aberta do
quarto. Ela começou a pegar sua irmã, com a intenção de tentar mover Stephanie e
Decker para tirá-los do caminho, mas gritou quando a garota de repente se lançou
para cima, agarrou a mão de Dani e colocou os dedos em sua boca. Stephanie os
chupava desesperadamente enquanto a jogava de repente para trás.

Tudo aconteceu muito rápido e a pegou tão de surpresa, que em um primeiro


momento Dani nem sequer lutou. Quando o fez, Stephanie estava em cima dela, sua
debilidade anterior tinha sido substituída por uma força incrível enquanto lambia e
mordia a mão de Dani. Vendo as manchas de sangue na parte da mão que saía da
boca da menina, Dani percebeu que tinha feito uma coisa estúpida. Ela tinha tentado
deter o fluxo de sangue da ferida de Decker, e logo se aproximou de sua irmã e tinha
agitado a mão ensangüentada debaixo de seu nariz.

Dani escutou uma maldição e olhou ao redor para ver que Decker estava tentando
chegar até ela, logo um golpe chamou sua atenção para o corredor quando Lucian
soltou Leonius e foi em sua ajuda. Ele levantou Stephanie como se não pesasse nada
e logo a virou no ar para olhá-la.

- Ela está mudando- disse ele com tom grave, e passou por cima dela para levar
Stephanie para dentro do quarto.

Dani ficou de pé para segui-lo, dizendo ao Decker, - Já volto. Não se mova.

- Tire a tranca e abra a porta- ordenou Lucian, dirigindo-se a uma das portas
contiguas que tinham golpeado mais cedo de uma maneira muito mais tranquila.

- Por que ele não se limitou a usar o corredor e entrar por ali?- murmurou Dani com
exasperação.

- Porque eu ordenei a Justin que permanecesse no quarto- respondeu secamente


Lucian enquanto ela se movia para fazer o que lhe pediu. - Justin tem que manter um
olho no filho de Leonius para estar seguro de que não escape, e Mortimer tem que
vigiar os mortais.

- OH- Dani suspirou enquanto tirava o ferrolho da porta e a abria.

- Tudo está…?- Mortimer se interrompeu quando de repente Lucian empurrou


Stephanie para ele. Dani viu o suficiente para ver que ele a tinha segurado e logo se
afastou enquanto Lucian anunciava, -Dispararam em Decker e esta está se
convertendo. Tem que ser levada para casa.

- E Leonius?- perguntou Mortimer.


Dani não ficou para ouvir a resposta de Lucian, tinha cruzado para o corredor da
entrada, e viu que Decker estava agora de pé, movendo-se lentamente pelo corredor.
Ela franziu o cenho e correu a seu lado.

- Disse que ficasse quieto- murmurou ela, e começou a colocar-se sob seu braço, mas
se deteve quando ela olhou para o corredor do hotel. Uma mulher com compridos
cabelos loiros estava recolhendo Leonius como se fosse um menino pequeno em
lugar de um homem adulto. Quando se endireitou com ele em seus braços, Dani abriu
a boca para gritar uma advertência aos homens, mas a mulher volteou a cabeça
rapidamente. Umas presas e uns olhos azul prateado brilharam e Dani se encontrou
fechando a boca e simplesmente ficou de pé sem poder dizer nada enquanto a mulher
a olhava, concentrando-se em seu rosto.

- Dani?- Decker franziu o cenho ao que provavelmente era sua cara em branco, e
então foi como se um interruptor se ativasse em sua cabeça. Sentiu-se cair, e o último
que viu antes de que a escuridão a reclamasse, foi à mulher afastando-se para a
escada no extremo do corredor.

- Dani!- Decker conseguiu apanhá-la com uma mão quando começou a desmaiar. Em
seguida apertou-a contra seu peito enquanto ele se apoiava contra a parede. A ferida
que tinha recebido no peito era muito pior que as que tinha recebido da zarabatana
que o filho do Leonius tinha utilizado na clareira. Esta ia necessitar de uma grande
quantidade de sangue para curar-se. Até que a conseguisse, Decker ia estar débil e
doente.

- O que aconteceu com ela?- perguntou Lucian, cruzando a habitação em direção a


eles.

- Não sei- admitiu ele. - Ela só se deteve, olhou o corredor, e...- Decker fez uma
pausa enquanto olhava por cima do ombro e viu que o corredor estava vazio. O corpo
do Leonius tinha desaparecido.

Decker ouviu que Lucian amaldiçoava e então seu tio se moveu passando junto a ele,
e saiu correndo da habitação, em direção aos elevadores.

- O que aconteceu?- perguntou Mortimer da porta quando Decker amaldiçoou.

- Dani se desmaiou e Leonius se foi- disse com gravidade, e se apoiava


principalmente na parede enquanto avançava o último par de passos para o final do
corredor de entrada para poder ver o outro homem.

- Como diabos Leonius pôde ir-se?- perguntou Mortimer consternado, parecia estar
alheio aos gemidos da menina que se retorcia entre seus braços. - Lucian acaba de
me dizer que lhe disparou uma flecha em seu coração. Isso é tão bom como uma
estaca. Não deveria ter se levantado.

Decker se limitou a sacudir a cabeça e olhou para a porta pela que Lucian tinha saído
apressadamente em direção à porta da escada. Quando olhou de novo a Mortimer,
este estava sustentando Stephanie com um braço ao redor de sua cintura enquanto
tirava seu telefone para chamar e advertir os homens para que vigiassem procurando
Leonius.

Decker estava examinando a possibilidade de baixar Dani e ir sustentar Stephanie


para que Mortimer pudesse ajudar Lucian com a busca, mas um ruído atrás dele o fez
olhar a seu redor e viu que Lucian tinha retornado e entrava no quarto.

- Alguma coisa?- perguntou-lhe Decker, lendo já a resposta no rosto aborrecido.


- Não- disse Lucian enquanto se unia a ele e logo olhava a Mortimer. - Chama ao…-
A ordem morreu em seus lábios quando viu que Mortimer já estava no telefone.

- Como diabos fez para escapar?- perguntou Decker com frustração.

Lucian negou com a cabeça, seu olhar se deslizou para o Dani. - Pode ser que ela nos
diga isso... ou não- adicionou secamente depois de concentrar-se nela por um
momento. -Tem um lugar em branco em sua memória.

Decker franziu o cenho e olhou para Dani, perguntando-se o que teria visto que
alguém quisesse apagar, então os olhos dela piscaram.

- Dani?- disse ele em voz baixa.

Ela abriu os olhos, a consciência pouco a pouco se deslizava neles, e logo franziu o
cenho ao dar-se conta de que estava apoiada contra ele, com a cabeça no peito, ao
lado de sua ferida.

- Sinto muito- murmurou ela, incorporando-se para aliviar o de seu peso. - Está bem?

- Sim, é obvio- assegurou-lhe ele, lhe acariciando com doçura o braço.

- O que aconteceu?- perguntou ela confunsa. -A última coisa que lembro é vir te
repreender por se levantar e te mover por sua própria conta.

- Olhou além de mim, parecia alarmada, e desmaiou.

Ela olhou por cima dele e seus olhos aterrissaram no corredor vazio. - Leonius se foi.
- Sim. Viu ele saindo?

Dani o olhou com surpresa, mas negou com a cabeça. - Não... Ao menos, eu não
acredito.

Decker lhe apertou o braço quando ela franziu o cenho, procurando em sua mente
por uma lembrança que não estava ali. Disse-lhe em voz baixa, - Está tudo está bem.
Não importa.

Dani levantou o olhar para ele e abriu a boca para falar, mas logo se deteve e olhou
para sua irmã Stephanie quando esta se queixou. Decker seguiu seu olhar para ver
que Mortimer estava ao telefone, mas a garota estava mais que inquieta, estava
começando a lutar e o executor estava tendo problemas para sustentá-la ainda com as
duas mãos. Decker se obrigou a apartar-se da parede, aliviado ao ver que embora
suas pernas se sentiam um pouco fracas, já não estavam tremendo sob seu peso.
Pondo seu braço ao redor de Dani, olhou a seu tio e lhe disse, - Precisamos levar
Stephanie de volta para casa e atá-la.

Lucian assentiu com a cabeça e olhou para Mortimer. Ele arqueou as sobrancelhas.
-Está encarregado.

Decker sorriu fracamente quando Mortimer rodou os olhos ante isso. O único
responsável quando Lucian estava ao redor, era Lucian. Ele tomava o controle na
maioria das situações, ou permitia que outros tomassem até que eles tomavam uma
decisão com a que ele não estava de acordo e então tomava de novo o controle.

- Justin- disse Mortimer de repente.

- Sim?- o imortal mais jovem perguntou do quarto ao lado.


- Leve estes quatro de volta para casa.

Justin se dirigiu à porta e olhou a Lucian, Stephanie, Decker, e Dani, então retornou
ao quarto, antes de olhar a Mortimer para lhe perguntar, - O que acontece o filho de
Leonius?

- Eu me encarregarei dele e dos mortais- respondeu Mortimer, passando a menina a


Justin.

- O que acontece se alguém chamou à segurança do hotel ou à polícia pelo barulho


daqui?- perguntou Decker quando de repente lhe ocorreu a idéia.

- Já me ocupei que eles- disse Mortimer com calma. - Chamei os rapazes no andar de
baixo enquanto estava esperando que a porta fosse aberta. Vão se ocupar da
segurança do hotel e dirigirão à polícia caso se apresentem.

Decker assentiu com a cabeça, pensando que obviamente Lucian tinha tomado a
decisão correta ao colocar Mortimer encarregado. Ia se converter em um bom chefe
para eles.

- Tome- Lucian tirou o casaco comprido e se aproximou para entregar ao Decker.


-Faz calor, mas ocultará o caos em seu peito.

Decker olhou sua camisa ensanguentada e o buraco que revelava a horrível ferida por
debaixo e soltou a Dani para aceitar o casaco. Imediatamente ela se moveu para lhe
ajudar a colocar, mas inclusive isto lhe causava muita dor.

- Está bem?- perguntou ela preocupada olhando seu rosto suarento enquanto fechava
os quatro botões por ele.

A pesar da dor que estava sofrendo, Decker esboçou um sorriso e assentiu com a
cabeça. Ferido de bala ou não, ele estava bem, agora que ela estava a salvo a seu
lado... e ia assegurar-se endemoniadamente de que ela ficasse ali.

- Vamos. Lucian se dirigiu à porta, dizendo, - Tomaremos as escadas para evitar atrair
muita atenção.

- As escadas?- queixou-se Justin, recolhendo Stephanie para os seguir. - São quatorze


andares.

- Treze- corrigiu Dani enquanto Decker a insentivou a continuar. - Este é realmente o


piso treze. Eles só o chamam quatorze porque muita gente supersticiosa se nega a
ficar no piso treze.

Justin grunhiu enquanto manobrava de caminho para a porta, ficando de lado para
passar Stephanie. -Posso ver porque. Isso significa que o filho do Leonius estava
realmente no quarto 1313, e que isso não foi muito de muita sorte para ele.

Decker viu sorrir a Dani fracamente. Mas o sorriso se desvaneceu quando saíram ao
corredor e ela perguntou, - O que fará Mortimer com Vinte e um e suas vítimas?

Decker a conduziu para seguir pelo corredor atrás dos outros. - Ele terá que levar
vinte e um para que seja julgado, e então provavelmente fará uma chamada anônima
reportando que ouviu gritos na habitação 1413 para que as autoridades mortais
possam encontrar a suas vítimas e as ajudar.

Dani ficou em silêncio enquanto chegavam à porta da escada e a cruzavam. Justin e


Lucian já estavam fora de sua vista, mas podia ouvir seus passos ressonando do
seguinte lance de abaixo.

- Stephanie não poderá voltar para casa nunca mais, não é verdade?- disse Dani
quando começaram a baixar as escadas. Suas palavras estavam mescladas com
tristeza.

Decker considerou se deveria lhe recordar que Stephanie tinha só um de três


possibilidades de sobreviver à mudança com sua mente intacta, mas logo decidiu não
lhe acrescentar mais preocupações. Ela recordaria isso muito em breve. - Não, ela
não pode fazê-lo. Não haveria maneira de que ocultasse o que é de seus pais. É uma
adolescente e uma recém convertida, e estará alimentando-se constantemente por um
tempo... e há também a necessidade de que se mantenha longe do sol, o fato de que
se ela for ferida, vai curar mais rapidamente que se fosse mortal...- Ele sacudiu a
cabeça. - Não, não pode ir para casa.

- Eu não tinha pensado nisso- admitiu Dani. - Eu estava pensando em Leonius.

- Leonius?- perguntou-lhe Decker.

- Ele disse que queria a Stephanie e a mim para que tivéssemos filhos para substituir
os que morreram esta semana- disse-lhe. -E quando ele estava me forçando a entrar
no corredor disse que teríamos que deixá-la no momento, mas que voltaria por
Stephanie.- Sua boca estava apertada. - Meus pais nunca poderiam proteger a dele.

- Nós o faremos.

Decker se deteve e olhou para baixo para ver que Lucian e Justin estavam esperando-
os no patamar seguinte. Justin estava sustentando Stephanie que se sacudia e que
agora estava frente a ele, que franzia o cenho enquanto tentava controlá-la, mas a
atenção Decker estava em seu tio; Lucian obviamente tinha ouvido as palavras de
Dani. Seu rosto estava sombrio, quando ele acrescentou, -Vamos organizar a
segurança na casa do executor. Pode ficar ali. Sam pode ajudar a cuidá-la, e
Mortimer e os meninos podem treiná-la para sobreviver como uma de nós. Vocês
dois também são bem-vindos a ficar ali. Jogou um olhar a Justin quando ele grunhiu
e amaldiçoou quando Stephanie lhe deu um chute na virilha em um intento de
escapar, e logo se deu volta retorcendo a boca divertido. - Agora vocês dois se beijem
e digam um ao outro 'te amo' para que possamos começar a nos mover antes de que
sua irmã machuque ao Justin.

-Antes de que ela o faça? Se não fosse pelos nanos eu seria um eunuco agora-
murmurou Justin, recolhendo Stephanie para seguir o antigo imortal enquanto
começavam a baixar o seguinte lance de escadas.

Decker esboçou um sorriso, mas logo olhou a Dani quando lhe tocou a bochecha.

- Há muito que arrumar ainda- disse ela muito séria. -E não estou segura do que
proporciona o futuro, mas ele tem razão. Realmente te amo Decker.

Sorrindo, ele tomou sua mão e a beijou. - Sei.

- Sabe? - perguntou ela com tom áspero. -Eu te digo te amo e você diz sei?

- Bom, eu já te disse que te amo- assinalou ele. - E é obvio que sabia que chegaria a
me amar. Os nanos nunca se equivocam.

- Os nanos nunca se equivocam- repetiu Dani com incredulidade, logo girou sobre
seus calcanhares e começou a baixar as escadas, murmurando, -É obvio que ele sabia
que ia amá-lo. Os nanos nunca se equivocam. Por que me incomodei em dizer-lhe.

Decker sorriu enquanto começava a segui-la. Lhe encantava quando ela ficava toda
zangada. Era tão linda quando estava assim, não tinha sido capaz de resistir a brincar
com ela.

- É muito pedir algo romântico?- continuou Dani quando chegou ao seguinte


descanso. - Aqui estou, renunciando a minha carreira para me converter em um
vampiro sem alma e o que consigo é que os nanos nunca se equivocam. Eu só
deveria… Ah!- , gritou ela agarrando-se por seus ombros, quando de repente ele a
levantou.

- O que está fazendo?- perguntou consternada.

- Te dando romance- disse ele solenemente, dando um passo mais perto da parede
para apoiar-se contra esta.

- Está ferido, Decker- gritou ela com desespero. - Me baixe antes que se machuque.
Meu Deus, você…

Decker a beijou para silenciá-la, e não parou até que ela deixou de lutar em seus
braços. Logo elevou a cabeça e disse, - Amo-te, Dani McGill, que logo será talvez-
Argeneau-talvez-Pimms.

A ira do Dani se derreteu, seus olhos se suavizaram, e suspirou. - Amo-te também,


Decker.

- Não é um vampiro sem alma, e embora seja possível que tenha que renunciar a sua
carreira, ainda pode exercer sua profissão. Há muitas situações onde seu título de
médica seria muito útil e nossos rapazes sempre podem usar suas habilidades.

-De algum jeito não acredito- disse ela divertida.

- Engana-se- assegurou-lhe ele.

- Decker, eu sou ginecologista.

- Você disse ginecologista?- perguntou Justin, desviando sua atenção do fato de que
Lucian, Stephanie e ele estavam esperando-os de novo no patamar mais abaixo. Um
grande sorriso estava estendido em seu rosto quando disse, - Que trabalho tão
impressionante!.Tem a oportunidade de passar o dia inteiro olhando…

- Justin!.- Dani, Decker, e Lucian soltaram de uma vez.

- Esperaremos na caminhonete- grunhiu Lucian, empurrando Justin para o seguinte


lance de escadas.

Decker os viu partir e logo se voltou para encontrar Dani olhando-o. Ele esclareceu a
garganta e disse, - Os imortais também têm bebês.

Ela assentiu, mas disse, - Stephanie vai estar chateada por não poder ir para casa.

-Vamos ter que ajudá-la a passar por isso- disse ele em voz baixa, e viu que seus
olhos se nublavam antes de que ela apoiasse a cabeça contra seu ombro.

- O que acontecerá a nossos pais?

Ele suspirou e a soltou, tentando não parecer muito aliviado quando o fez. Ela não
era pesada, mas ele não estava tão forte como o era normalmente, e sustentá-la tinha
machucado seu peito, embora ele nunca tivesse admitido.

Uma vez que ela esteve sobre seus próprios pés, continuou, - Acreditarão que
estamos perdidas, ou…?

- Isso depende de vocês- disse ele, solene. Podem deixar que eles se perguntem o que
aconteceu vocês duas, ou podemos providenciar para que acreditem que seus corpos
foram encontrados no precipício do norte junto com outros.

Ela o olhou fixamente. - As autoridades não foram enviadas para que encontrem às
mulheres ainda?

- Não. Lucian pensou que seria melhor se esperássemos para ver o que acontecia
primeiro contigo e com o Stephanie.

-No caso de que tivéssemos que ser acrescentadas aos corpos?- disse ela em tom
seco.

Ele não respondeu, mas suspeitou que isso é o que seu tio tinha estado pensando.

- Nossos pais ficarão devastados- adicionou ela.

- Podemos fazer acertos para ajudá-los a passar por isso, de maneira que seja menos
doloroso para eles- disse, e logo acrescentou com cuidado, - Ou podemos organizar
para que eles pensem que tudo está bem. Podem continuar acreditando que você e
Stephanie só estavam desfrutando de um par de dias na cidade.

- Mas ela não pode viver com eles- disse Dani com o cenho franzido.
- Não, mas poderíamos pôr em sua mente que Stephanie está em um internato e que
você acaba de aceitar um trabalho em outra parte. Desta maneira , de vez em quando,
as duas podem ir visitar sua família.

- Embora só por outros dez anos, não é?- perguntou ela em voz baixa.

Decker assentiu com a cabeça. - Sinto muito, Dani. Eu gostaria de poder fazer isto
mais fácil para você.

- Você o faz, só por estar aqui. Não posso me imaginar enfrentando tudo isto sozinha.
Pôs sua mão na sua, apertando-a. -Suponho que isso é o que é o amor, compartilhar o
bom e o mau, o feliz e o triste.

- Sim- murmurou ele. Quando começaram a baixar de novo a escada, estava


desejando poder tomar todo o mau e triste e afastar o dela.

- E família.

- Família?- perguntou-lhe ele vacilante.

- Bom, ainda terei uma família contigo.

Decker estava preocupado de que ela se referisse a bebês e se estava imaginando sua
pena no caso de que tivessem um que nascesse morto, ou um menino que nascesse
louco como Leonius, quando ela acrescentou, - Sua mãe, seu pai, seus irmãos e irmãs
e essa tia que você gosta tanto.

- Marguerite- murmurou ele aliviado.


- Sim. Sua tia Marguerite. Teremos a eles, e teremos um ao outro. Vamos estar bem.
Ela levantou um sorriso para seu rosto e disse, - Estaremos bem.

- Sim. Ele se inclinou para beijá-la brandamente e então lhe assegurou, - Estaremos
bem.

Enquanto se separavam para continuar descendo pelas escadas, Decker começou a


fazer planos; sobre a forma de manter a salvo Dani e Stephanie, sobre as maneiras
em que ela ainda pudesse ver sua família, por agora, inclusive para que visitasse sua
tia e a suas primas... Algo que pudesse pensar para ajudá-la a atravessar isto. Sabia
que nem sempre ia ser fácil, mas ia trabalhar muito, muito duro para fazer todo o
possível para que Dani fosse feliz. Ela não tinha escolhido ser convertida, mas era
sua companheira de vida, e a mulher que havia trazido a paz e a paixão a sua vida.
Ele ia assegurar-se de que estivessem mais que bem.

FIM

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