Você está na página 1de 345

PARCERIA

RUBY DIXON
LANÇAMENT0

EM BREVE

2 3 4 5 6

7 8 9 10 10.5

11 12 13 14 15
Uma exuberante ilha tropical num planeta gelado não faz
sentido.

Então, novamente, nada faz muito sentido depois de


acordar e me encontrar não na cama, mas em um mundo
estranho habitado por alienígenas. Desde aquele momento,
aprendi que nada é mais normal e tenho que lidar com os
golpes. Posso lidar com isso, no entanto... Sou forte e capaz.

Então... Arrastada para uma ilha tropical? Está tudo


controlado.

Separada das outras no meu grupo? Lidando.

Encalhada sozinha com um brutal, mas delicioso homem


alienígena que não pode falar Inglês, mas tem grande... Ahem...
Linguagem corporal? Sim, estou bem com isso.

Acrescente o fato de que a minha piolha – uma simbionte


que preciso para sobreviver – escolheu o meu grande amigo
alienígena como o meu companheiro predestinado? Digamos
que a situação não é a única coisa que será resolvida.

Mas não falta muito para eu descobrir que a ilha tropical


paradisíaca é uma armadilha mortal e que estamos em grande
perigo, tanto alienígenas como humanos. Para sobreviver a isto,
precisarei que meu cara tentador me ajude com a situação...
Ainda bem que ele tem quatro mãos!
AVISO
A tradução em tela foi efetivada pelos grupos Pegasus
Lançamentos e Só Aliens de forma a propiciar ao leitor o acesso
à obra, incentivando-o a aquisição integral da obra literária
física ou em formato E-book.
Os grupos têm como meta a seleção, tradução e
disponibilização apenas de livros sem previsão de publicação
no Brasil, ausentes de qualquer forma de obtenção de lucro,
direta ou indiretamente.
No intuito de preservar os direitos autorais e contratuais de
autores e editoras, os grupos, sem aviso prévio e quando
julgarem necessário poderão cancelar o acesso e retirar o link
de download dos livros cuja publicação for vinculada por
editoras brasileiras.
O leitor e usuário ficam cientes de que o download da
presente obra se destina tão somente ao uso pessoal e privado,
e que deverá abster-se da postagem ou hospedagem do mesmo
em qualquer rede social, e bem como abster-se de tornar
público ou noticiar o trabalho de tradução do grupo, sem a
prévia e expressa autorização do mesmo.
O leitor e usuário, ao acessar a obra disponibilizada,
também responde individualmente pela correta e lícita
utilização da mesma, eximindo o grupo citado no começo de
qualquer parceria, coautoria e coparticipação em eventual
delito cometido por aquele, que por ato ou omissão, tentar ou
concretamente utilizar da presente obra literária para obtenção
de lucro, direto ou indiretamente, responderão nos termos do
art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
POR FAVOR, NÃO PUBLIQUE NOSSOS ARQUIVOS

EM REDES COMO BLOGS E FACEBOOK


Se você viu algum arquivo do PL ou do Só Aliens em
algum lugar sem a nossa autorização, converse com a
moderação.

Se você gosta dos livros do PL e do Só Aliens ajude!!

Quem gosta, respeita nossos grupos!

Não publique diretamente no Face, blogs e afins, não


exponha o grupo de forma desnecessária.

NÃO ACEITAMOS RECLAMAÇÕES SOBRE AS

TRADUÇÕES DO GRUPO!
OS CLÃS DA ILHA
Clã Braço Forte/Strong Arm
K'thar – Caçador, líder de fato do Braço Forte, ressoa para
Lauren/Lo

J'shel – Caçador do Braço Forte, ressoa com Hannah

N'dek – Caçador do Braço Forte, recentemente perdeu uma perna


em um ataque kaari

I'chai – Falecida mulher, mãe de Z'hren

Z'hren – Filho órfão do braço forte

Fat One/Kki – pássaro animal noturno do clã

Clã Chifre Alto/Tall Horn


R'jaal – Líder de clã de Chifre Alto

T'chai – Caçador de Chifre Alto, ressoa com Marisol

M'tok – Caçador de Chifre Alto, ressoa no final do livro

S'bren – Caçador, irmão de M'tok


Clã Gato das Sombras/Shadowed Cat
I'rec – Líder de clã

O'jek – Caçador

A'tam – Caçador, considerado o mais bonito da ilha

U'dron – Caçador

OS RECÉM-CHEGADOS (TRIBO ICEHOME)


Lauren/Lo – Fêmea adulta no acampamento da praia.
Anteriormente usava óculos. Gosta de ser uma solucionadora de
problemas. Ressoa com K'thar.

Marisol – Mulher adulta aterrorizada no acampamento da praia


que gosta de se esconder. Fica presa com Lo na ilha. Ressoa em
T'chai.

Hannah – a autoproclamada assistente de Vektal. Uma das fêmeas


no acampamento da praia. Ressoa quando as tribos da ilha
chegam.

Angie – Fêmea adulta no acampamento da praia. Grávida do


misterioso bebê. Foco de fascinação dupla.

Willa – Fêmea adulta com um sotaque do sul. Amiga de Lo.


Roubada por Gren.
Gren – machão feroz e ex-gladiador. Ataques à vista. Rouba Willa
do acampamento.

Veronica – A mais nova curandeira do planeta. Ressoou para


Ashtar na chegada. Um pouco desajeitada, caso contrário, sem
graça.

Ashtar – Gladiador de ouro, ex-gladiador e ex-escravo. Ressoa


imediatamente para Veronica.

Vordis – Um dos gêmeos vermelhos, ex-gladiador.

Thrand – Um dos gêmeos vermelhos, ex-gladiador.

Tia – Adolescente no acampamento da praia.

Nadine – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.

Callie – Uma das mulheres adultas no acampamento da praia.

Bridget – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.

Steph – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.

Raven – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.

Penny – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.

Devi – Fêmea adulta tagarela no acampamento na praia. Ex-


cientista.

FlordeLiz – Fêmea adulta no acampamento da praia.

Samantha – Uma das fêmeas adultas no acampamento da praia.


DA VELHA TRIBO (CROATOAN)
Vektal – Chefe da tribo croatoan. Acasalado com Georgie (humana)
e pai de duas filhas.

Rokan – Caçador da tribo croatoan. A companheira dele é Lila.

Bek – Caçador da tribo croatoan. O companheiro dele é Elly.

Raahosh – Caçador da tribo croatoan. Chifres bagunçados.


Acasalado com Liz e tem filhas na aldeia. Geralmente desagradável
de estar por perto (exceto para sua companheira).

Liz – Companheira humana sarcástica de Raahosh. Seus filhos


estão de volta a Croatoan.

Salukh – Caçador da tribo croatoan. Sua companheira é Tiffany (de


volta à vila).

Ereven – Caçador da tribo croatoan. A companheira dele é Claire


(de volta à vila).

Hassen – Caçador da tribo croatoan. Sua companheira é Maddie


(de volta à vila).

Zolaya – Caçador da tribo croata. Sua companheira é Ariana (de


volta à vila).

Pashov – caçador de um chifre da tribo croatoan. Sua companheira


é Stacy (de volta à vila).
Cashol – Caçador da tribo croatoan. Sua companheira é Megan (de
volta à vila).

Rukh – Caçador da tribo croatoan e ex-pária. Sua companheira é


Harlow e seu filho Rukhar está de volta à vila croatoan.

Harlow – Companheira de Rukh, mãe de Rukhar. Ela ajuda Mardok


com a tecnologia roubada/saqueada das naves quebradas. Muito
grávida.

Farli – Uma das poucas mulheres sa-khui. Acasalada com Mardok,


e tem um dvisti de estimação chamado Chompy.

Mardok – Ex-soldado que escolheu permanecer no planeta do gelo.


Guru da tecnologia. Acasalado com Farli.
CAPÍTULO 1
Lauren
— Ela está acordando ― alguém sussurra ao lado da minha
cama. — Todo mundo, sejam legais.

Esfrego os olhos com os nós dos dedos e bocejo, olhando para


fora. Não estou de óculos e tudo parece um borrão. Minha cabeça
está latejando e confusa, e não consigo pensar direito, porém tenho
certeza de que não deveria haver pessoas no meu quarto.

— Michelle? — Chamo, sonolenta, a minha colega de quarto.


— Por que você está no meu quarto?

Está quieto por um longo momento.

— Mee-shell está em uma das outras cápsulas? — Alguém


pergunta. É um homem com uma voz profunda e um sotaque
estranho.

— Eu não sei — a mulher diz novamente, impaciente. —


Pareço uma vidente de cápsula, filho da puta? Sei tanto quanto
você!
Minha mão é agarrada por outra mão estendida, apertando-
a. Oh, Deus, está quente demais – ou eu estou com muito frio. Na
verdade, pensando bem, está muito frio no meu quarto. Meus
dedos estão congelando. Enrolo-os automaticamente e me
pergunto por que não tenho cobertores.

— Querida, ouça com atenção ― a mulher me diz.

Ela se inclina para mais perto e vejo que é uma mulher loira
de casaco, seus olhos de um azul vívido e brilhante. É bonita, de
um jeito atlético, descolado, de quem gasta muito tempo ao ar livre.
Não conheço ninguém assim... Meu pessoal é mais da biblioteca.
Deve ser uma das amigas de Michelle. Aperta minha mão
novamente.

— Não quero que fique alarmada, certo? Está segura aqui. Nós
somos os mocinhos.

— Onde está Michelle? Como é que ela te deixou entrar no


meu quarto? — Franzo o cenho, tentando afastar minha mão da
mulher. — Você diminuiu o aquecedor?

— Acho que ela ainda está grogue — diz outra mulher em voz
baixa. — Devemos fazê-la beber alguma coisa?

A mulher loira se afasta e se transforma em um borrão. Não


consigo ver mais do que alguns metros à minha frente sem meus
óculos, e tudo o resto parece estar voltando para fora do alcance.
Há muito azul se movendo nas bordas da minha visão, e olho de
soslaio, mas nada aparece. Irritada, me inclino na beira da minha
cama e procuro meus óculos na mesa de cabeceira.
Exceto que não há mesa de cabeceira. Ou óculos.

E quando rolo, percebo que não estou na cama. Meu rosto


esfrega contra algo que parece uma parede, e percebo, dois
segundos depois, que estou nua.

Esse é um daqueles pesadelos em que está nua no shopping?


Ou na aula? Fecho meus olhos novamente, tentando redirecionar
meu sonho. Pensamentos felizes, Lo. Apenas pensamentos felizes.

Exceto, meu sonho não parece estar mudando. Abro


cautelosamente um olho novamente e um rosto azul embaçado e
chifres? Isso são chifres? Aparece à vista. — Ela está bem?

Mordo um grito, encolhendo na minha cama. Empurro para


trás apenas para sentir meu ombro do lado oposto bater em uma
parede também. Duas paredes estreitas e estou nua ... Estou em
um caixão?

— Estou morta? ― grito horrorizada. Olho de soslaio para o


grande rosto azul com chifres. — Oh meu Deus, vocês são
demônios? Estou no inferno?

— Só se estiver congelado ― diz a loira. — Ha, ha.

— Liz ― repreende a outra mulher. — Seja legal. Um novo


rosto aparece, e mal consigo distinguir um rosto pálido, cabelos
ruivos e um par de olhos azuis loucos. Um cobertor macio e peludo
é entregue a mim. — Envolva-se nisso. Sou Harlow. Não se assuste.
Nós somos os mocinhos. Prometo.

Mocinhos? Isso significa que existem bandidos?


— Onde estou? Por que estou nua?

A loira morde a articulação dos dedos. — Assim. Muitas.


Piadas. Não posso... Mas simplesmente não posso resistir.

— Você está segura, diz a ruiva novamente.

— Talvez devêssemos ter planejado um discurso ― continua a


loira. — Como os Smurfs: Você, muito bem-vinda à nossa vila!

— Liz!

— Eu não pude evitar!

— O quê? ― sussurro. Pressiono a mão na minha testa


latejante. Estou ... chapada? Dopada? Estou muito confusa.

— Liz está apenas piorando as coisas ― diz a ruiva e se


aproxima do meu lado. Ela aparece e seu rosto está pálido e
sardento, mas amigável. Ela também parece um pouco desgastada
e também está usando um casaco peludo. — OK. Você não está em
casa, hum ... como você disse que era seu nome mesmo?

— Lauren ― digo a ela. — Mas todo mundo me chama de Lo.


Você viu meus óculos?

— Olá, Lo. Sou Harlow. Esta é Liz. ― Ela aponta para a loira
borrada ao seu lado. — E odeio te dizer isso, mas você foi
sequestrada por alienígenas.

— Hum, alienígenas? ― Agora eu estou me perguntando se


elas estão chapadas.
— Não esses alienígenas ― Harlow me tranquiliza
rapidamente, acenando com a mão. Outra forma azul muda ao
fundo e alguém caminha – oh Deus, essas coisas azuis são
pessoas? Pessoas realmente grandes? Com chifres? Não estou
sonhando isso?

— Somos a equipe de resgate.

— Os mocinhos ― Liz fala com orgulho. — Bem-vinda ao seu


novo lar.

Meus óculos não estão em lugar nenhum. Nem minhas calças,


minha cama ou qualquer coisa que se assemelhe ao meu
apartamento.

Parece que eu realmente fui sequestrada por alienígenas!

Até agora ninguém está me machucando, então tento manter


meu pânico no mínimo. Acho que o fato de estar drogada ajuda,
porque não estou com vontade de surtar. Estou muito cansada e
esgotada. Liz e Harlow me ajudam a sair da minha cápsula e me
envolvem em mais um cobertor peludo. Elas me levam por perto,
onde eu me sento no chão em meio a um monte de outros
cobertores.

— Espere aqui ― Harlow me diz com um tapinha no ombro.


Como se eu estivesse indo para algum lugar? Não consigo nem
ver dois pés na minha frente.

Tento não olhar enquanto um cara grande e azul se aproxima


e me oferece um odre e uma bolsa com algo que parece granola. ―
Coma ― ele me diz com uma voz rouca e acentuada e depois se
afasta alguns metros. Tenho certeza que vi uma cauda, o que é
alarmante. Enfio um punhado de comida na boca e mastigo,
observando todos ao meu redor. Há muitos caras azuis, e o
estranho é que eles não parecem estar vestindo muita roupa... A
menos que estejam vestidos de azul. É estranho, porque estou
congelando completamente, apesar das camadas de cobertores no
meu corpo, e o conteúdo do odre que eles me deram está coberto
de gelo. Talvez tenha pegado um resfriado. Isso explicaria minha
exaustão e confusão.

Exalo profundamente e assisto minha respiração congelar em


uma nuvem na frente do meu rosto.

Ok, talvez não esteja doente.

— É inverno? ― pergunto. — Pensei que era verão. Pelo menos,


era em casa.

— Suh-mer não está aqui. Ela está de volta com os outros ―


o alienígena azul me diz, e então se afasta alguns metros para
assistir um borrão à distância.

— Oooookay. ― Agora estou realmente confusa. Tomo um gole


de água gelada e aceno com a cabeça como se tudo fizesse sentido
para mim e observo como todos se movem. Eles estão agrupados
em torno de uma bolha escura e conversando em voz baixa. Um
momento depois, alguém grita alto. Muito alto. Pulo na minha
cadeira e quase derramo minha bebida.

— Está tudo bem! ― Harlow chama. — Por favor, não tenha


medo! Alguém a agarre antes que ela corra!

Uma grande névoa de movimento e, em seguida, a gritadora


solta outro soluço sufocado antes de ficar em silêncio. Olho, olhos
arregalados, e tento não entrar em pânico.

— Bem, tudo correu bem ― diz Liz secamente.

— Sinto que precisamos praticar um pouco mais o nosso


discurso 'Somos alienígenas'. Como se talvez não abríssemos com
'oi, somos alienígenas'.

— Deixe-me lidar com esta próxima ― Harlow diz firmemente.


— Vá sentar com a amiga.

A amiga deve ser eu. Esta é minha colega de quarto Michelle,


então? Talvez ela saiba o que está acontecendo. Alguns momentos
depois, Liz traz outra pessoa enrolada em pele para vir sentar-se
ao meu lado nos cobertores. Esta está fungando e chorando, e sinto
uma impaciência de Liz antes que ela se afaste para ajudar
novamente. Outro cara azul entra e oferece à garota ao meu lado
seus próprios lanches e depois se afasta mais uma vez.

— Oi ― sussurro para a nova garota, uma vez que está claro


que ela não é Michelle. Michelle tem pele escura e cabelo curto.
Essa garota tem cabelos castanhos e bagunçados e sardas, e está
chorando e chorando de uma maneira que Michelle nunca faria.
Devo entrar em pânico mais do que estou? Por um momento, estou
meio aliviada por não poder ver nada sem meus óculos. — Eu sou
Lo.

— Você é o quê? ― A garota pergunta, sua voz estridente com


um sotaque do sul. — Baixa?

Oh. Talvez isso não fizesse sentido. — Eu sou Lauren. Todo


mundo me chama de Lo, no entanto. Oi.

— Willa ― ela responde e desliza o nariz. — Você... você sabe


o que está acontecendo aqui?

— Na verdade não.

Ela se inclina para perto de mim. — Eles são bandidos?

— Espero que não ― sussurro. — Porque não tenho calcinha.

Willa dá uma risadinha chorosa. — Eu também.

Começo a rir também, e então nós duas estamos rindo


enquanto comemos nossa granola. Parece uma coisa tão estúpida
– mas importante – para estar chateada. Curiosamente, porém, me
sinto melhor sendo capaz de rir das coisas. — De onde você é? ―
pergunto a Willa.

— Sou de Durham, mas acho que não estamos na Carolina


do Norte, porque faz muito frio.
— Arkansas ― responde Willa. — Hot Springs. ― Ela cheira
sua pele de água, como se não tivesse certeza se podia confiar nela,
e então toma um gole. — Onde acha que estamos?

— Talvez nas montanhas? Eu acho, embora não tenha muita


certeza. Se estamos, como chegamos aqui? E por que os
alienígenas estão aqui?

— Você acha que estamos seguras? ― Willa me pergunta,


preocupada.

Dou de ombros, porque realmente não sei. ― Acho que se


fossem nos matar, não nos alimentariam e nos dariam cobertores
― digo a ela, já que é a coisa mais esperançosa que consigo pensar.

— Oh, bom. ― Ela parece animada por isso. — Meu Deus,


estava prestes a fazer xixi nas minhas calças inexistentes com o
pensamento de ser morta por alienígenas. ― Sorrio com as palavras
dela, embora não tenha certeza de que estamos seguras. Harlow e
Liz parecem boas o suficiente, mas não posso deixar de pensar em
seus olhos azuis assustadoramente brilhantes e no fato de que
existem apenas duas delas e muitos grandes homens azuis.

Alguns momentos depois, outra garota vem se juntar a nós.


Ela tropeça quando cai nas peles, derrubando minha água das
minhas mãos e tropeçando nos cobertores de Willa.

— Desculpe ― ela diz rapidamente.


— Está tudo bem ― digo a ela enquanto luto para pegar a água
antes que ela possa vazar por toda parte. Willa e eu a ajudamos a
sentar e ela puxa os cobertores para perto dos ombros.

— Eu sou Lauren, essa é Willa.

— Eu sou Veronica. Onde estamos?

— O palpite de vocês é tão bom quanto o meu ― declara Willa.

— Quantas de nós existem? ― Veronica quer saber.

— Todas... Essas grandes caixas pretas são pessoas?

Penso na coisa do caixão em que fui puxada e olho na direção


em que Liz e Harlow estão ocupadas. Elas estão cercadas por
alguns dos caras azuis seminus.

— Quantas delas existem? Não sei dizer nada sem meus


óculos.

Veronica se aconchega ao meu lado enquanto Willa se levanta,


contando. Depois de um momento, ela se senta novamente e se
inclina em minha direção. ― Contei vinte. E acabaram de tirar uma
mulher grávida de outra caixa.

Vinte pessoas? São todas como nós, confusas e nuas? Que


diabos está acontecendo? Por que estamos aqui? O que esses
alienígenas querem conosco?

Melhor ainda, como voltamos para casa?


Um por um, nosso pequeno grupo se transforma em um grupo
bastante grande. Estamos com Nadine, Callie e Bridget, que
parecem estar levando as coisas com calma. Elas têm a mesma
expressão atordoada que eu. Samantha está em pânico e afasta as
mãos de quem tenta ajudá-la. Devi é uma tagarelice, e uma mulher
chamada Marisol decide que eu sou a melhor para se esconder
atrás. Ela se aconchega atrás de mim, empurrando minhas peles
como se pudesse deslizar de alguma forma sob a minha pele. Não
reclamo, porque também estou com medo. Não posso culpá-la por
tentar encontrar um lugar seguro. Só não tenho certeza se sou o local
seguro...

Somos um grupo heterogêneo, acho. Nadine é negra, Flordeliz


é asiática e Devi é indiana. Eu acho. Também tenho certeza de que
Callie é hispânica, embora pareça indelicado – e bobo – perguntar.
O que importa qual é a cor da pele de alguém quando estamos
cercadas por pessoas azuis? Depois, há Tia, que parece ser uma
adolescente. Hannah, Penny e Steph que são meninas grandes com
figuras saltitantes e decote que até meu eu cego pode ver.

E depois há Angie.

Pobre, pobre Angie. Ela continua tocando sua barriga – sua


barriga muito, muito grávida – como se estivesse em choque. —
Você está bem? ― Alguém lhe pergunta.

— Acho que estou grávida ― diz ela, totalmente surpresa.


Depois disso, fica muito quieta. Está claro para todas nós que
Angie está muito grávida, mas se é uma surpresa para ela, há
quanto tempo está dormindo? E quem a engravidou? É
perturbador e fico doente ao pensar no que isso significa. Se Angie
está grávida, e quanto a nós?

— São todas as mulheres ― diz alguém. — Agora, pegue os


machos.

Minha garganta seca na última mistura da minha trilha.


Somos um grupo silencioso, todo mundo comendo e tentando não
surtar, embora haja ocasionalmente um pânico. Acho que estamos
todas tentando descobrir o que está acontecendo. Harlow se move
para o nosso grupo trêmulo, enquanto Liz fica com os outros.
Quando ela passa, percebo que está com as mãos na parte inferior
das costas e a barriga se projeta para fora da parka. Ela também
está grávida.

— Eu me pergunto se eles a pegaram enquanto estava


dormindo também ― sussurra Willa, pensando a mesma coisa que
eu.

Um grande borrão azul aparece ao lado de Harlow e traz uma


cadeira para ela.

— Sente-se ― ele exige. — Você se esforça demais.

— Estou bem, baby. Prometo... — Ela se inclina para o cara


azul e percebo um segundo depois que os dois borrões estão se
beijando.
— Sente-se de qualquer maneira ― ele exige, ganhando uma
risada dela.

Um momento depois, Harlow senta-se com o nosso grupo em


um banquinho acolchoado. Ela ajusta as roupas e depois olha para
os nossos rostos esperando, apertando as mãos. — Antes de
começar tudo, porque sei que será um pouco difícil de acreditar,
quero que se lembrem de que sou sua amiga e passei por isso e
estou aqui para ajudar, ok? ― Quando ninguém diz nada, ela
assente lentamente. — Tudo bem. Tenho certeza que estão se
perguntando o que está acontecendo. Eu tenho respostas. Podem
não gostar delas, mas tenho respostas.

Marisol se aperta com força nas minhas costas, como se


estivesse se preparando.

— Há alguns anos, eu também acordei em um lugar frio e


estranho, cercada por estranhos. Fui tirada da minha cama
enquanto dormia e acordei com um mundo novo. Nada fazia
sentido. Fui resgatada por um grupo muito gentil que me tirou de
uma cápsula muito parecida com a que vocês estavam. ― Ela
gesticula para longe.

— Ele está lutando ― Liz grita. — Alguém venha aqui e segure-


o! Não queremos te fazer mal, caramba. Foda-se!

Vários dos grandes alienígenas azuis correm pela sala e


Harlow faz uma pausa. Os olhos de Willa se arregalam e alguém
começa a chorar baixinho.
As coisas se acalmam um momento depois e Harlow suspira.
Ela esfrega a barriga arredondada e não posso deixar de olhar para
Angie, que fica olhando para ela mesma como se a tivesse traído.
Acho que tenho, em certo sentido.

— Fui sequestrada por alienígenas que os outros chamam de


'Pequenos Homens Verdes'. Eles têm olhos grandes e corpos magros
e pegam mulheres humanas e as vendem no mercado negro do
espaço como escravas ou animais de estimação de algum tipo.

— É isso que está acontecendo conosco? ― Uma garota


pergunta, seu tom em parte horror e em parte raiva. — Nós somos
suas escravas agora?

— Não ― Harlow diz calmamente. — Esses alienígenas não


foram os que te levaram. Os que fizeram eram um tipo diferente de
escravistas, mas a equipe não era a mesma. Esses escravistas
desembarcaram aqui tentando reunir mais alguns escravos e nós
os matamos.

Alguém levanta a mão. — Estou confusa... Então os bandidos


estão mortos?

— Sim. Estão mortos e não prejudicarão ninguém. Prometo.

— Onde está a nave espacial deles se vocês os pararam?

— Você está sentada nela.

Nós estamos? Olho de soslaio ao meu redor, mas tudo o que


posso dizer é que está escuro e frio. Muito, muito frio. Tremo e me
aconchego mais fundo em meus cobertores. Se estamos em uma
nave espacial...

— Então vocês vão, o quê? Dirigir a nave espacial e nos levar


para casa, certo? ― Outra mulher Nadine, eu acho, pergunta. — É
disso que se trata? Você nos levará de volta para nossas casas?

Harlow faz uma pausa.

— Hum, não exatamente. Esse é um grande problema com


isso. Vocês não podem ir para casa. Estão em casa.

— Onde estamos exatamente? Estamos na Terra?

— Você está em um planeta diferente. Este tem dois sóis


pequenos e duas luas e é um pouco frio.

Ela sorri para tirar o aguilhão de suas palavras.

— Mas é um lugar muito agradável e as pessoas aqui são


maravilhosas, prometo.

Alguém começa a rir histericamente. Samantha.

— Então espere. Nós não podemos ir para casa? Agora? Ou


Nunca?

— Nunca, eu acho... ― A voz de Harlow é tão gentil. — Não há


caminho de volta.

— Besteira ― diz Hannah, claramente chateada.


Samantha apenas ri e ri, como se essa fosse a coisa mais
engraçada que já ouviu. Outra pessoa começa a chorar. Várias
pessoas, na verdade. Estou entorpecida. Não sei o que pensar.

Nenhum lar? Nunca mais?

Penso no meu apartamento perto do instituto. Michelle não se


importará com a minha falta até o vencimento do aluguel ou minha
cacatua de estimação começar a gritar por comida. Felizmente,
Nugget é muito barulhento e Michelle gosta dele. Minha pobre
cacatua. Meus pobres pais. Pobre de mim... Sinto uma profunda
sensação de tristeza por tudo que perdi em um instante. Não fiz
nada para merecer isso, mas meu mundo de alguma forma foi
arrancado de mim em um instante. Nem tenho meus óculos!

Perdi tudo...

— Isso é besteira! ― Hannah grita. — Estamos sentadas em


uma nave espacial. Por que não podemos simplesmente dar a volta
e levá-la de volta à Terra?

Harlow levanta a mão, como se quisesse acalmá-la. — Sei


como você se sente. Prometo que senti o mesmo quando acordei e
percebi o que havia acontecido. Mas esta nave originalmente veio
aqui à procura de mais escravos. Eles seguiram os registros da
antiga tripulação, que havia chegado aqui mais cedo, e os
assassinaram. Se esta nave voltar para a Terra, alguém seguirá as
rotas de voo e as seguirá de volta a este mundo e tornará todos os
que vivem aqui inseguros. Lamento dizer que existem dezenas de
famílias vivendo aqui que estariam em perigo. Vocês estão
vencidas.

Há uma onda baixa de murmúrios infelizes entre o grupo.


Também sinto uma pontada de ressentimento, mesmo que parte
de mim entenda. A outra parte de mim só quer ir para casa. Marisol
estremece nas minhas costas. Chego para trás e dou um tapinha
nela o melhor que posso. — Então ... O que acontece com a nave?
O que acontece com a gente? ― pergunto. Não posso ficar calada.
Preciso saber.

— A nave ― diz Harlow pesadamente ― Será destruída para


que não possa voar novamente. ― Há outro murmúrio de vozes
ultrajadas. — Eu sei. Eu sei o que estão pensando. Também não
estou feliz com isso, mas se isso significa a diferença entre manter
as crianças seguras, é isso que acontecerá.

— Isso é uma porcaria ― diz Hannah com raiva.

— Nós não temos uma opinião a dizer?!

O grande alienígena azul ao lado de Harlow rosna, o som baixo


e ameaçador. Hannah fica calada. Nós também.

— Rukh, bebê ― Harlow murmura. — Está tudo bem...

— Não está bem ― rosna o alienígena. — Nosso pessoal arrisca


suas vidas para salvá-las. Muitos assustados. Muitos longe de kits.
Muitos se arriscam. Para quê? ― Ele apunhala um dedo no ar e
aponta para o lado, onde Liz e os outros ainda estão trabalhando
para domar o homem que luta. — Para que alguém possa morder
e tentar machucar mais? ― Ele olha para todas nós com olhos azuis
irritados e brilhantes.

— Todos nós estamos em risco. Todos. Isto não é somente


vocês. Somos nós.

Há um longo momento de silêncio. — Desculpe,―Hannah


murmura.

— Isso tudo é novo para nós ― diz Willa. — É muito para


ajustar.

— Por favor, não se desculpe ― Harlow nos diz.

— De verdade. Este é um novo território para todos. E


sabíamos que seria difícil de entender. Algumas pessoas queriam
que as deixássemos em seus aposentos do sono porque era mais
seguro para todos nós já aqui, mas no final do dia, não podíamos.
Isso não seria justo com vocês. Então, nós as acordamos, sabendo
que nem todas vocês ficariam felizes em se juntar à nossa tribo, e
que nem todas vocês são... ― Ela limpa a garganta delicadamente.

— Humanas.

Em algum lugar no fundo, há um rugido animalesco de fúria.


— O que é isso? ― Nadine pergunta.

— Isso não seria humano... ― diz Hannah secamente.

— Então você não está mentindo para nós ― pergunta


Samantha, avançando. — Realmente não há caminho de casa? E
ninguém mais vem nos buscar?
Harlow balança a cabeça. — Viagem só de ida, temo.

— E os homens? ― Samantha pergunta. — Quantos são


humanos?

— Nenhum?

Samantha faz uma pausa e começa a rir novamente. Ela cai


de costas nas peles e continua rindo, mesmo quando enxuga as
lágrimas dos olhos.

Bem, acho que todas lidamos com o luto de maneiras


diferentes. Olho para Harlow. – Acho que vocês não têm óculos de
reposição por aqui? Não vejo nada sem o meu.

Outra mulher levanta a mão. — Preciso do meu inalador.

Um ponteiro dos segundos se levanta. — Sou alérgica a


abelhas. Preciso de um repelente se tiverem abelhas aqui.

Curiosamente, eu me pergunto se eles têm pássaros aqui.


Amo pássaros e estou tentando ver o lado bom das coisas, mas é
um pouco complicado. — Onde é aqui? ― pergunto. — Onde
estamos?

— Como informei, é um planeta de gelo. Dois sóis, duas luas.


Receio que nada mais você reconheça. Somos todos muito
primitivos aqui, daí todas as peles. ― Ela sorri. — Mas é uma vida
boa depois que se acostuma, juro.

— Não há cidades? ― Pergunta Willa.

— Tem uma vila. Apenas uma.


Jesus. Não consigo imaginar. Isso soa cada vez pior.

— Médicos? ― Angie pergunta, e sua mão acaricia a barriga,


pensativa.

Sinto um tremor de remorso. Mesmo sem óculos, ainda estou


melhor do que Angie, que está tendo um bebê surpresa. Oh Deus,
me pergunto se o bebê dela é humano? Tremo só de pensar. Melhor
não pensar nisso.

— Nós temos uma curandeira, mas ela foi de volta com a tribo.
― Harlow lança um olhar brilhante para Angie.

— Mas tanto Liz quanto eu já tivemos filhos antes, então, se


não voltarmos no tempo antes de seu bebê nascer, saberemos o
que fazer. ― Ela se vira para me olhar. — Quanto aos óculos, não
precisará deles.

Ela está sendo engraçada? — Uh, não, tenho certeza que


preciso deles. Eu nem seria capaz de dizer quantos dedos você está
segurando no momento.

O pensamento de estar presa em um planeta de gelo sem


meus óculos é meio assustador.

— Uh oh ― Willa sussurra. — Não olhe agora, mas bolas


vermelhas às três horas.

Alguém fala e eu olho. Com certeza, há um grande cara


vermelho brilhante parado ao lado de várias das senhoras. Ele é,
infinitamente vermelho. Não há um ponto de roupa nele ... e estou
meio chateada por não poder ver como é o seu equipamento.
Sou apenas humana, afinal. Se houver um cara nu, também
quero olhar. Talvez olhe um pouco. Marisol alcança e cobre meus
olhos, e Willa ri. Ok, talvez eu estivesse deixando isso óbvio. Minha
culpa. — Como eu disse, não consigo ver nada sem meus óculos ―
grito um pouco alto. Só para que eles saibam que eu não sou uma
pervertida total.

Apenas um pouco pervertida...

— Eu sei. Juro, você não precisará deles – Harlow diz


novamente, sua voz suave. Ela gesticula para o grandão azul ao
seu lado e ele oferece um cobertor para o vermelho. O cara
vermelho pega o cobertor entregue a ele, cheira e depois o joga no
chão.

Bem, tudo certo então.

Alguém levanta a mão novamente. — E o meu inalador?

Harlow está assentindo. — O khui cuidará de tudo. Inalador


também. Até câncer. Está tudo resolvido quando você tem um
khui.

Parece bom demais para ser verdade. — Coo-ee? O que é um


coo-ee? — Pergunto. — Isso é como ... operação a laser? Porque
não me qualifico. E não tenho muita certeza do que isso faz com os
inaladores.

— Bem ― diz Harlow, e torce as mãos pela primeira vez. —


Não, não é um procedimento cirúrgico. É um ... bem, é um
parasita.
CAPÍTULO 2
Lauren
— Não posso acreditar que estamos fazendo fila para pegar
uma tênia – Hannah resmunga ao meu lado.

— Acredite, irmã ― diz Nadine, pulando para cima e para


baixo para se aquecer. — Se parar minha bunda de congelar,
levarei uma dúzia delas.

Estou a bordo com Nadine neste momento. Estou usando três


camadas de couro e peles, minhas botas são de linha dupla e ainda
me sinto como um gelo enquanto permanecemos na neve,
assistindo uma caçada. Ou melhor, os outros estão assistindo uma
caçada. Estou assistindo um monte de bolhas coloridas se
movendo em um campo branco.

Estamos de pé na neve, nosso grupo de humanos amontoados


a uma curta distância dos outros. Os caçadores estão perseguindo
um animal grande chamado sa-kohtsk, para que possam obter algo
chamado khui. Parece que todos os seres vivos neste planeta têm
um khui – um parasita – que os ajuda a sobreviver e evita que
fiquem doentes. É o que faz os olhos de todos brilharem no azul
esquisito.

Ouvir que terei um parasita permanente – que Liz chama, de


brincadeira, de piolho, foi um pouco de... ajuste. Quero dizer, há
um pequeno bônus em que isso nos impeça de pegar resfriados e
nos ajude a termo regular, duas coisas que são extremamente
necessárias entre o grupo de humanas em nosso grupo. Estou
começando a esquecer como é estar quente novamente. Steph e
Penny estão com resfriados furiosos e o nariz de Willa é tão
vermelho que ela parece um palhaço caipira.

Está frio. É miserável. É cansativo. Neste ponto, feliz com o


meu senhor piolho.

Claro, há um problema. Sempre há um problema. Mas estou


tentando não pensar nisso.

Então coloquei minha mão nos meus olhos e estremeci,


tentando como o inferno ver o que acontece ao longe. Liz fica perto,
junto com o marido de Harlow, Rukh, nos protegendo. Os outros –
incluindo o chefe da tribo – estão ocupados caçando o bicho que
nos dará os piolhos e nos salvará do congelamento até a morte
aqui.

Faz alguns dias desde que acordamos agora, e isso tem sido
um ajuste para todas nós. Desde aprender nomes até aprender
sobre este planeta, aprender tudo... Sinto que estou começando do
zero. Houve noites em que chorei no meu beliche de pele, apenas
para que as lágrimas congelassem no meu rosto. Não sou a única
chorona. Sei que Tia chora à noite, porque posso ouvi-la, e há outra
chorona que não admite à luz do dia. Algumas de nós entendem as
coisas de maneira diferente, Hannah está um pouco brava com a
situação. Samantha apenas ri. Muito. Angie se perdeu em seus
próprios pensamentos, mas não posso culpá-la.

E Marisol? Bem, Marisol se esconde.

Ou ela tenta, de qualquer maneira. Mas ela desaparece muito


e então todos caçam para encontrá-la em algum lugar da nave.
Preocupa os outros, porque Mardok e Harlow, os especialistas da
própria nave alienígena, temem que ela se envolva em algo que
possa prejudicá-la. Estou tentando colocar Marisol sob minhas
asas para dar-lhe coragem. À noite, estamos juntas para
compartilhar o calor do corpo, e tento mantê-la ao meu lado e
segurar sua mão para que saiba que não está sozinha.

Eu meio que gostaria que alguém estivesse lá para segurar


minha mão e me dizer que não estou sozinha, mas se não receberei,
acho que darei.

— Eles estão derrubando ― alguém diz, e o aperto de Marisol


aperta minha mão. Estamos à beira de um grande campo nevado,
esperando para sermos chamadas adiante. A nave está longe, e há
tanto barulho e trovões vindo à frente que me deixa nervosa.
Gostaria de estar de volta a nave, mas me foi explicado que, se não
conseguir o piolho, morrerei. Há algo no ar aqui que é tóxico para
os seres humanos. O piolho trabalha simbioticamente,
modificando seu hospedeiro para que ambos possam permanecer
vivos.
E apesar de não gostar muito do piolho, gosto muito de estar
viva. Então aqui estou.

— Alguém acabou de enfiar uma lança nela ― diz Willa, e ao


lado dela, uma garota chamada Raven faz um barulho enojado.
Steph espirra.

— Como é a aparência? ― pergunto, já que não consigo ver


nada além de bolhas se movendo nas bordas da minha visão. — O
sa-kohtsk?

— Feio ― diz Willa. — Como se Godzilla e uma alpaca


acasalassem e tivessem um bebê peludo com muitos olhos.

Em vez disso, fico feliz por não poder vê-lo. Para mim, parece
uma bolha em movimento perseguida por muitas bolhas azuis
menores. É como o dvisti de estimação de Farli, Chompy, se parece
com um camelo mais magro, com muito cabelo e muitos dentes.

— Fique comigo, Lo ― Marisol sussurra, e segura minha mão


mais apertada.

— Claro ― digo a ela tranquilizadoramente. Sei que ela está


assustada. Também estou com medo. Ultimamente tem havido
muito medo, e todo dia parece uma luta para superar isso.

— Você acha que ... ― Willa começa e depois para.

— O quê? ― pergunto. — Eu acho o que?


Ela bate as botas peludas, sacudindo a neve delas. — Não sei.
Você acha que vamos, você sabe. Como eles chamam isso?
Reverberar?

— Ressoar ― Marisol corrige timidamente.

— É isso aí. Acha que isso acontecerá? ― Willa olha para mim.

— Não sei. Para mim, espero que não ― digo a elas.

Porque o piolho, a tênia simbiótica que nos dará olhos azuis


elétricos, um aquecedor de ambiente embutido e imunidade super
carregada, também tem um problema. Gosta de emparelhar
pessoas e fazer bebês. Parece que o piolho escolherá um
companheiro para sua pessoa e você começará a ressoar ou vibrar
do seu peito. Alguém mais vibra para você e é isso. Boom! Agora
você cria filhos e é isso. Foi-me dito que é impossível negar e que o
piolho parece sempre escolher corretamente. Todos aqui ressoaram
felizes, incluindo Harlow e Liz, ambas para machos azuis.

O que me preocupa. Ainda estou pensando em minha própria


sobrevivência, não em começar uma família ou me estabelecer com
um estranho alienígena.

Decido que uma tática otimista é a melhor.

— Daremos um passo de cada vez. Piolho primeiro. Nos


preocuparemos em ressoar mais tarde.

— Nunca tive um namorado ― diz Willa, pensativa, ignorando


meu conselho alegre. — Meio estranho que um piolho encontrará
o cara perfeito para mim.
— A menos que ele não seja um cara legal ― Marisol fala. —
E se ele for assustador? Como o cara fera?

Eu tremo só de pensar. Caramba, Marisol finalmente decide


falar e ela imita a comediante Debbie Downer. — Não iremos lá.

O cara fera é um dos quatro homens que estavam em vagens,


junto com as dezesseis meninas. Dois deles eram os gêmeos
vermelhos brilhantes, que gostam de estar nus. Um deles era um
cara grande e dourado que tem um cabelo dourado tão duro que
se ergue como uma mecha. Ele até tem chifres, alguém disse,
embora eu não consiga entendê-los. E depois há o monstro. Ele é
mais sombrio. E assustador. E marcado. E o menos humano, com
seus ombros largos e sua forma curvada. Não espiei muito de perto.
Ele rosna para todos e tem grandes presas, garras e olhos
vermelhos, e isso é o suficiente para eu ficar longe...bem longe.

Eles o mantêm amarrado e sob guarda.

Mas Willa não parece chateada com o pensamento. Ela olha


para o grupo de pessoas a uma curta distância. — Sinto muito pelo
monstro ― admite. — Aposto que está assustado como nós. Ele
simplesmente não sabe como lidar com isso.

— Mm. Não tenho certeza se concordo. Acho a raiva dele


inquietante e sei que não sou a única. Não importa quão amigáveis
sejam alguns desses alienígenas, eles não são pessoas como nós.
Isso é evidente desde as caudas e os chifres, até algumas das
opções de idioma. Liz chama o marido de companheiro e os filhos
de kits. Eles comem a carne crua e parece que têm um curandeiro
que faz a coisa toda de imposição de mãos na aldeia. Para essas
pessoas, Summer é uma pessoa (me disseram que ela é legal) e não
uma estação do ano. Nem tenho certeza se eles têm outras estações
além de frio e mais frio ainda.

Todos os dias que passa, a irrealidade da nossa situação


parece crescer.

— Venham ― uma voz grita, e reconheço a do chefe, Vektal.


Ele é o grande cara azul que todos os outros seguem. — Venham a
frente e recebam seu khuis.

— Somos nós ― diz Willa sem fôlego. — Devemos ir?

Eu hesito, porque não há como voltar uma vez que temos essa
coisa de piolho. Ele nos permitirá viver aqui, mas também nos
mudará para sempre. E se eu ressoar com um dos estranhos
ferozes e aparentemente bravos aqui? O único que parece à
vontade com a situação é o grande cara de ouro, mas até ele parece
intimidador. Eu simplesmente não sei.

Então, novamente, gostaria de ver. E estar quente.

E, você sabe, não morrer.

Droga. — Vamos acabar com isso ― falo.

— Aqui, pegue minha manga ― oferece Willa.

— Cuidado onde pisa. A neve está agitada por aqui.

Eu a agarro e Marisol me agarra e formamos uma corrente


humana, junto com as outras humanas marchando adiante. Um
dos caras grandes e vermelhos tem um braço ao redor da grávida
Angie, e sinto uma pontada que não a ajudei. Deveria ter pensado
nela. Estou feliz que alguém fez. Ao lado, três dos grandes caras
azuis estão arrastando o meio o monstro, que está amarrado com
cordas e rosnando, ainda lutando contra eles como se sua vida
dependesse disso.

Por um momento, quero fazer o mesmo. Sinto-me


descontrolada, empurrada em uma direção após a outra pelo
destino. Não o culpo por lutar, rosnar e tentar se libertar. Mas
Marisol está apertando minha mão com força, e Willa está me
levando para frente, e ao longe, sei que os outros estão esperando.
Sei que estão fazendo o possível para nos ajudar.

Então eu vou. Não tenho escolha, no final.

— Sem ressonância para você, hein? ― Hannah me dá um


olhar simpático.

— Decepcionada?

— Não ― digo a ela, colocando mais sopa na minha tigela.


Estamos todas de volta a nave, sentadas no refeitório após a caçada
do dia, e ainda estamos nos recuperando de receber nossos
piolhos. No momento em que o meu tocou meu pescoço e deslizou
dentro de mim – algo que prefiro não pensar – fiquei inconsciente.
Acontece com todo mundo, me disseram. Agora que estou
acordada, estou percebendo algumas coisas.

Um – sinto que fui atingida por uma marreta! Estou exausta e


com dores por todo o lado.

Dois – estou morrendo de fome. Poderia comer uma vaca inteira


se alguém colocasse uma na minha frente. Como é, estou apenas
comendo todo o ensopado que posso conseguir na minha tigela. Não
sou a única. Os gêmeos vermelhos estão de volta há quatro e
quintos.

Três – não estou mais congelando. Está um pouco frio lá fora,


mas é muito mais confortável. Como um frio dia de outono frio, em
vez de frio nu na Antártica. Não admira que Harlow e Liz não
pareçam tão incomodadas com o clima frio.

Quatro – acho que minha visão está melhorando. Assim como


eles prometeram, em vez de nada além de bolhas, as coisas mais
perto de mim estão começando a tomar uma forma melhor. Não é
muito, mas é um começo. Posso ver o rosto de Hannah, e ela é bonita.

Ela também parece triste. — Decepcionada por você não ter


ressoado? ― Não posso deixar de perguntar.

Hannah faz um barulho de framboesa. — Eu? Por favor.

Não a culparia se ela estivesse. É difícil não pensar agora.


Veronica – Veronica desajeitada, simples e quieta – senta-se ao lado
do grandalhão de ouro. O de cabelos de leão. Eles estão ressoando.
Aparentemente, começou no momento em que Veronica acordou e
não parou mais desde então. Há um ronronar baixo e vibrante
vindo de ambos e é tão alto que todos não conseguem deixar de
notar. Veronica parece tímida e envergonhada.

O grandalhão de ouro parece querer comer Veronica com uma


colher.

Eu não queria ressoar para mim mesma, mas é meio difícil


ignorar como ele está olhando para ela. Mesmo com a minha visão
ruim, é óbvio que ele está completamente fascinado por ela, e toda
vez que ela se contrai, ele reage. Suspeito que, se Veronica
deixasse, ele tentaria alimentá-la. Eu os olho disfarçadamente do
meu lugar. Mesmo daqui, posso ver como as bochechas vermelhas
de Veronica são brilhantes. O grandalhão está sentado muito perto
dela, e quando um dos gêmeos vermelhos passa, ele endurece e lhe
dá um olhar furioso por ousar passear por perto. Ele está
praticamente cheio de possessividade.

Ao meu lado, Hannah suspira. Ela também vê.

Sim. Se você me perguntar, não quero ressoar. Mas... Esse


tipo de atenção de um cara quente e sexy é difícil de deixar passar.

— Você acha que eles dividirão quartos hoje à noite? ―


Hannah sussurra entre mordidas de ensopado.

Dou de ombros. — Não é da minha conta. Embora admita,


também estou super curiosa.

— Oh, por favor ― diz Hannah. — É um pequeno grupo. É da


conta de todo mundo. Veja como eles estão todos assistindo
também. ― Ela assente a porta e percebo que há um monte de
caras azuis parados por perto, de braços cruzados. Eles estão
assistindo Veronica e seu novo namorado também.

Acompanhantes. Bom. Estou realmente feliz em ver isso. Isso


significa que, mesmo que Veronica não estivesse interessada – o
que, caramba, ela seria louca por não estar – ninguém a forçará a
nada. Isso me faz sentir melhor. Coloco um pouco mais de
ensopado na minha barriga faminta.

— Alguém mais ressoou? ― pergunto, já que Hannah parece


ter todos os detalhes.

— Não. Apenas esses dois. Acho que alguém olhou para um


dos gêmeos vermelhos. E você?

Olho para trás cuidadosamente, onde os gêmeos vermelhos –


muito nus – estão sentados. Ninguém está sentado à mesa pequena
com eles na bagunça. Os dois comem debruçados sobre as tigelas
com um sombrio e metódico empurrão de colheres na boca, como
se estivessem com pressa. Também ninguém olha para a comida
deles. Eles estão muito ocupados assistindo todo mundo.

Um olha na minha direção e rapidamente volto minha atenção


para minha comida. Não quero ser pega olhando. Parece rude,
especialmente quando uma das partes está nua. — Eles parecem
... legais. ― Não consigo pensar em mais nada para dizer.

Hannah bufa. — E Cujo é apenas um cachorro.


Ela tem razão. Mas estou tentando permanecer positiva.
Temos o suficiente para nos preocupar agora. Todo mundo está
lidando com tudo isso de maneira diferente. Algumas pessoas são
meio que... intrometidas com tudo isso. Termino minha comida e
olho em volta. — Você viu Marisol? Ou Willa? Elas não estão
comendo.

Hannah encolhe os ombros.

Porcaria. Aposto que Marisol está se escondendo novamente.


Ela está lutando com a mudança – não que a culpe. — Acho que
verei onde elas estão. Falo com você mais tarde.

— Não esqueça que chegaremos à costa amanhã ― Hannah


me lembra. — Último dia de vida na nave antes de sermos todos
primitivos. ― Ela gira uma colher no ar. — Que bom.

Certo. A nave está lentamente rastejando sobre a terra no


momento e chegaremos à costa do oceano pela manhã para a
segunda parte de nosso resgate, na qual nossos novos amigos
destroem prontamente a única nave espacial que temos.

Eu não acho que alguém esquecerá isso.

— Obrigada, Hannah. Eu me lembrarei. ― Como se pudesse


ir a qualquer lugar enquanto isso? O que farei, pular de uma nave
espacial em movimento e esperar atacar por conta própria? Guardo
minha louça, porque a pequena área de jantar da nave parece um
pouco apertada com tantas pessoas lá dentro, e procurarei Marisol
e Willa.
Willa está voltando para pegar mais comida, uma tigela vazia
nas mãos. — Você não está comendo com o grupo? ― pergunto a
ela, curiosa. — Está tudo bem?

―Trouxe comida para Gren. Não acho que ele esteja comendo.
– Willa me diz naquele tom suave dela.

— Gren? Quem é Gren? — Nós conhecemos tantas pessoas


nos últimos dias que elas estão começando a correr juntas. Tento
mentalmente colocar o nome que soa duro com um dos rostos
alienígenas.

— Você sabe. ― Willa me dá um olhar exasperado.

— O que eles mantêm amarrado.

Esse é o Gren? Estremeço, lembrando aqueles olhos


vermelhos brilhantes – agora azuis – e a raiva feroz em seu rosto.
— Você tem certeza de que é seguro, Willa? Ele não está
exatamente feliz por estar aqui.

— Algum de nós está? ― Ela balança a cabeça, sua expressão


cheia de simpatia. — Ele está tão assustado quanto eu. Apenas
mostra isso de maneiras diferentes. Ele precisa de um amigo.

Aqui estava pensando que ele precisava de tranquilizantes,


mas talvez Willa esteja certa. Ainda assim, não confio nisso. —
Apenas tenha cuidado, ok?

— Estamos todos juntos nisso ― ela me diz simplesmente. —


Ele também perdeu a casa e tudo o que conhece.
E agora me sinto idiota. Sorrio para ela.

— Você está certa. Só estou preocupada.

Olho para ela e pergunto:

— Não viu Marisol, viu?

— Acho que a vi correndo por um dos corredores dos fundos.

Mordo meu lábio. — Obrigada. É melhor encontrá-la antes


que os gêmeos vermelhos comam todo o ensopado.

— E é melhor arrumar uma segunda tigela para meu amigo.


― Ela levanta a louça, sorri e segue em frente.

Faço uma pausa, me perguntando se estou sendo injusta.


Gren realmente me assusta. Mas se Willa aprendeu seu nome,
talvez esse seja o primeiro passo para acalmá-lo e ser sua amiga.
Sei que os outros estão mais preocupados com ele nos prejudicar
do que cuidar dele em geral. Temos muitas pessoas que estão
desamparadas agora. Entendi. Estamos em uma situação de
triagem, você cuida primeiro das coisas mais urgentes e depois se
preocupa com as coisas mais difíceis.

Eu sei que Harlow, Liz e os outros estão se sentindo


sobrecarregados. Posso ver isso em seus rostos. Liz parece que não
dorme há dias e Vektal o chefe parece desgastado pelas bordas. Os
caçadores estão constantemente nos vigiando, para não nos
machucarmos ou caçando para nos alimentar e vestir. Harlow,
Mardok e Farli estão correndo ao redor da nave, tentando salvar o
máximo que puderem antes de jogarmos tudo em chamas de glória
questionável. Vinte novatos são muito para atrair para um pequeno
grupo, e todos são levados ao ponto de ruptura.

É por isso que estou tentando ajudar.

É por isso que preciso encontrar Marisol.

Desço o corredor mais uma vez, procurando por ela. Começo


a olhar para qualquer canto ou recanto do tamanho humano na
nave, tentando pensar como uma mulher assustada. Se fosse eu,
onde me esconderia? Tentaria encontrar o último lugar que alguém
me procuraria, é claro. Algum lugar escuro e silencioso e onde
pudesse desaparecer e me esconder de todos os meus problemas
um pouco.

Penso por um momento e depois vou para o compartimento


de carga.

— Você está perdida, Lo-ren? ― Um dos grandes caras azuis


– Zolaya, eu acho – pergunta quando passo por ele no corredor. Ele
parece bastante amigável, sua expressão aberta e honesta. Ele tem
tranças longas e bagunçadas, e lembro-me dele dizendo aos outros
ontem que sente falta de sua companheira porque ela costuma
arrumar o cabelo dele. Lembro disso e lembro dele conversando
sobre o kit deles juntos. Isso me faz confiar nele um pouco mais,
estranhamente, ao ouvir que tem esposa e família e sente falta
deles.

Mas tenho certeza de que Marisol não apreciaria a companhia


alienígena. Ela ainda está nervosa com todos os não-humanos.
— Estou apenas procurando pela minha amiga.

— Você precisa de ajuda?

Balanço a cabeça. — Acho que ela está assustada e se


escondendo.

A compreensão aparece em seu rosto.

— Ah. Aquela. Mar-ee-sol.

Pobre Mari. Uma lenda já.

— Essa mesma. Vou encontrá-la e a trarei de volta para o


refeitório.

Ele concorda. ― Irei nessa direção. Venha me encontrar se


precisar de ajuda.

— Irei. Obrigada, Zolaya.

Ele sorri ao ouvir seu nome e parece humano como um garoto


por um momento antes de me dar um pequeno aceno de cabeça e
depois seguir em frente. Relaxo. Talvez sejam pessoas como nós,
afinal. É claro que, quando ele se vira, seu rabo balança para frente
e para trás enquanto caminha, e isso anula o pensamento muito
rápido.

Humano, talvez não. Não é completamente humano.

Espero ele sair e depois vou para o compartimento de carga.


Passo por cada uma das vagens, passando a mão pela superfície
de uma. Por quanto tempo fiquei por aqui? Como eles me levaram
sem que soubesse? O que teria acontecido se ninguém tivesse
vindo me acordar? Tremo só de pensar. Mesmo agora, embora não
esteja emocionada por ficar presa aqui, prefiro estar acordada do
que no limbo, sem saber de nada. Isso parece um tipo especial de
inferno.

Uma das cápsulas na parte de trás tem a tampa puxada sobre


ela. Movo-me em direção a ela, mantendo meus passos
barulhentos o suficiente para não esconder de Mari. Quando chego
ao lado, hesito e bato suavemente. — Sou eu. ― Ela abre a tampa
e olha para mim com olhos azuis eletrocutados.

— O que?

— Vim para ver se está bem ― digo a ela gentilmente,


empurrando a tampa para o lado para que possa vê-la. — Todo
mundo está comendo, menos você.

— Não estou bem. ― Ela funga, passando as bochechas. —


Acordei em um planeta estranho e alguém colocou um parasita em
mim. Por que ficaria bem com isso?

— Eu sei ― digo, dando um tapinha no ombro dela sem jeito.


— Sinto como você. Estou impressionada e não sei o que pensar.
Mas é melhor do que ficar presa no limbo.

— Será? ― Ela balança a cabeça, enxugando mais lágrimas.


— Porque pelo menos eu não saberia o que estava acontecendo.
Pelo menos então, não teria medo. ― Mari pressiona a mão trêmula
na testa.
— Gostaria que ninguém tivesse me acordado, sabia? Não sei
se consigo lidar com ... tudo isso. ― Ela acena com a mão em nosso
redor. — Eu não sou corajosa como você.

Corajosa como eu ?

Resisto à vontade de rir histericamente. Estou me agarrando


a um fio. Suspiro e olho sua cápsula e começo a subir ao lado dela.
— O que está fazendo?― Ela pergunta assustada.

— Vendo se isso funciona ― digo a Mari. — Se eu puder me


esconder de tudo isso por algumas horas, vou me juntar a você.

Ela dá uma risadinha rouca enquanto aperto ao lado dela. —


Tenho que te avisar, não faz. O esconderijo só ajuda um pouco.

— Ah, mas ajuda, certo? ― Deito-me ao lado dela, nossos


ombros se apertando, e aperto sua mão. Sei como ela se sente. A
única razão pela qual não comecei a chorar é porque mais uma
pessoa chorando não ajudará as coisas. Outros precisam de
alguém forte para procurar, então eu também poderia ser essa
pessoa. Aperto a mão dela novamente. — Ficará tudo bem.
Prometo.

— Você está apenas dizendo isso? ― Ela parece chorosa


novamente. — Sim?

Rio dela, pelo menos. É alguma coisa.


Naquela noite, como todas as humanas estão empilhadas em
nossas camas de pele em um dos depósitos da nave, o movimento
suave do balanço facilita o sono. Os olhos brilhantes dos meus
vizinhos, nem tanto. De qualquer maneira, paro e não fico surpresa
quando Mari vem e se encolhe ao meu lado. Ela decidiu que sou
sua protetora, de alguma forma, então coloco um braço maternal
em volta dela, dou um tapinha nas costas e tento voltar a dormir.

Enquanto isso, ouço a noite chorando novamente. Acho que é


Hannah.

Acho que todos lidamos com as coisas de maneira diferente.


Ela é uma total cadela de dia e fica arrasada pela noite. Acontece.
Gostaria de poder ajudar, mas acho que ela não quer que ninguém
conheça sua fraqueza. Então, fecho os olhos e tento dormir com
isso.

As coisas melhorarão, digo-lhe em silêncio. Este é apenas o


começo. Quando você atinge o fundo do poço, não há para onde ir
além de subir.

Claro, não tenho certeza se estou dizendo isso a ela ou


tentando me convencer.
CAPÍTULO 3
Lauren
Olho fixamente as águas do oceano, entorpecida de choque.

Há muito neste mundo que é diferente, é claro, mas também


há tanta coisa igual. Neve é neve. Montanhas são montanhas.
Rochas são rochas. E de volta onde estávamos, a paisagem não
passava de neve e pedras cobertas de neve. Não parecia tão
estranho, pelo menos não para os meus olhos.

Mas essa praia?

Isso é estranho. Isso é de outro mundo. Isso é assustador.

A nave chegou entre os vales das montanhas irregulares que


nos cercavam e saiu à beira da água. A longa rampa se estende
para a areia, mas a nave já está na água, repousando sobre um
tripé de pernas que parecem mais resistentes do que suportam o
bater do oceano esquisito.

E garoto! O oceano é estranho.


A água é verde. Não é um verde reconfortante de espuma do
mar ou mesmo azul esverdeado. É um fundo verde-garrafa e a
espuma que se enrola ao longo de cada onda também é verde. A
areia é uma cor mais escura, quase jade, e a areia é mais grossa
do que eu me lembro de ser na terra. Cheira ao oceano, pelo menos,
mesmo que não pareça. As ondas também são caóticas. Lembro-
me das férias de verão passadas nas praias da Flórida quando era
adolescente e fiquei decepcionada pelas ondas serem tão rasas que
você não podia surfá-las como os surfistas na televisão. Elas eram
suaves, refrescantes pequenas ondas.

Aqui não. Essas ondas monstruosas são caóticas e zangadas.


Elas batem e batem na praia como se tentassem puni-la. Sei que
isso tem algo a ver com a atração de duas luas em vez de apenas
uma, mas é alarmante ver isso.

E as criaturas...

Deus, existem criaturas por toda parte! Os caranguejos se


parecem mais com escorpiões e as ondas ondulam com coisas
serpentinas e com tentáculos. E, para minha sorte, minha visão se
corrigiu o suficiente para que possa vê-los em toda a sua glória.
Este não é um lugar amigável. De alguma forma, quando soube
que levaríamos a nave para o oceano, pensei em praias de areia
branca e ondas suaves. Mesmo que tenha nevado, ainda seria
adorável e reconfortante de se olhar.

Sim, nem tanto.


Mas... existem pássaros. Passarinhos marrons e gordos
aglomeram-se ao longo dos penhascos e voam em ondas no
momento em que alguém se aproxima. Pássaros maiores, de penas
brancas, com pernas compridas e finas, mergulham bicos em
forma de agulha nas ondas e pescam guloseimas. Não é como estar
em casa, mas ver os pássaros de alguma forma me faz sentir
melhor. Observá-los sempre me acalma. É interessante como as
criaturas daqui são semelhantes às de casa, mas ainda assim
muito diferentes. O pássaro nas ondas parece um primo pálido e
esticado para um flamingo, mas seu bico parece mais uma lâmina
de barbear. Os caranguejos aqui são semelhantes, porém mais
assustadores. O oceano é água, mas não é o mesmo que o nosso.

As pessoas aqui ... a mesma coisa.

— Bem, isso é ... diferente. ― Willa se move para o meu lado,


olhando para a água. Ela abraça seu pelo mais perto do peito
enquanto o estranho pássaro nas ondas se afasta de nós. Ela
distraidamente afasta um pequeno escorpião-caranguejo da bota.
— Não me lembro da praia parecendo tão ... aranha.

— Eu também. ― Observo enquanto um dos caranguejos do


tamanho de uma placa se aproxima da água. Algo com tentáculos
se estende e o prende, arrastando-o para as ondas, e estremeço.

— Ainda bem que está frio demais para nadar, não é?

— Coisa boa ― ela diz, concordando, depois olha para mim. —


Mardok diz que quer ajuda para recuperar alguns equipamentos,
se tiver tempo.
Mardok é um dos grandes alienígenas azuis, com tatuagens e
chifres de prata. Ele parece muito diferente dos outros, e acho que
alguém mencionou que ele fazia parte da tripulação da nave há
muito tempo. Existem tantas camadas e histórias de fundo que
uma novata como eu está fazendo o bem apenas para manter
nomes e rostos, então tento me concentrar nesse tipo de coisa. Sei
que ele sabe muito sobre a nave, e sei que ele e Harlow têm
trabalhado duro para desmontar componentes e pequenos pedaços
aqui e ali antes que tudo caia em glória na praia.

Vendo como estamos agora na praia, acho que é quase hora


da bola de fogo.

— Claro, posso ajudar. Mas não sei se terei uma ideia do que
estou vendo. Não tenho conhecimento de minha nave espacial.

— Eu também. Acho que ele só quer mãos extras. Os outros


caras grandes e azuis estão caçando ou montando tendas. Ou
cavernas. Ou algo assim. ― Willa faz uma careta. — Deus, espero
que não sejam tendas, porque não sei se conseguirei dormir no
chão sabendo que essas coisas de escorpião-aranha estão por aí.

— Ótimo. Agora não conseguirei dormir – provoco enquanto


voltamos para a nave. Não consigo resistir a um último olhar para
as ondas e vejo o pássaro branco mergulhar a cabeça na água e
puxar algo viscoso. Ele olha na minha direção e faz uma pausa, e
sinto uma vontade absurda de acenar para ele, como se estivesse
me dando permissão para viver em seu planeta.
Estúpido da minha parte. É apenas um pássaro no final das
contas. Estou presa aqui, quer ele queira ou não. Mas estou
sorrindo enquanto sigo Willa de volta a nave, de qualquer maneira.

No interior, está surpreendentemente silencioso. Nos últimos


dias, houve pessoas em cima de pessoas. Mardok nos disse que a
nave normalmente tem apenas uma tripulação de quatro homens
e acredito nisso. Embora pareça grande do lado de fora, os
alojamentos internos são na verdade meio que apertados. Você não
pode passar ombro a ombro por um corredor com um dos grandes
alienígenas do lado de dentro, não sem que alguém tenha que fugir
do caminho. Hoje, porém, a maioria da tribo está do lado de fora
na praia ou fora, caçando, e o lugar parece surpreendentemente
vazio.

Mardok está no compartimento de carga, de costas para nós.


Ele fica de lado, junto à tampa de uma das vagens parecidas com
caixão de onde acordamos. Ele tem uma ferramenta brilhante na
mão que me lembra uma chave de fenda e a usa para separar uma
das placas de circuito. — Trouxe um par extra de mãos ― anuncia
Willa.

Marisol espia por cima de um dos caixões e sorri para mim,


depois volta para o trabalho. Sorrio para ela e depois olho para
Mardok.

— Oi ― digo com uma onda tímida quando o grande alienígena


olha para mim. Sempre acho que Mardok é um dos mais
intimidadores dos alienígenas. Ele é um dos mais altos, e seus
chifres estão cobertos de metal brilhante. Um lado do corpo está
fortemente tatuado, e ouvi um boato de que ele é parte ciborgue,
embora não saiba dizer qual parte. Isso o deixa um pouco
assustador. Então, novamente, Rukh também é assustador. E
Vektal. E tudo bem, a maioria deles, mesmo que estejam fazendo o
possível para parecer legais. Só estou demorando um pouco para
me acostumar com as coisas.

— Bom, outro par de mãos. Preciso de tudo o que posso


conseguir, porque Vektal quer lançar está nave embaixo da água
até o final do dia de hoje. Isso significa que tenho que desligar tudo
e desmontá-la nas próximas horas e o tempo está se perdendo.

Arregaço as mangas da minha longa túnica.

— Mostre-me o que fazer.

Willa bate palmas. — Vou almoçar e depois volto e ajudo.

Ela sai correndo e, enquanto o faz, me inclino e assisto


Mardok tirar um minúsculo chip dourado de três pontas de um
dos painéis. — Preciso de tantos deles quanto puder encontrar. Se
elevar essa camada de circuitos, verá quatro neste nível e três no
próximo. Com vinte dessas cápsulas, isso deve nos dar cento e
quarenta delas. Acha que pode fazer isso por mim?

— Acho que sim ― digo a ele, e pego a ferramenta que me


entrega. Ele se afasta e fico sozinha para começar. Ah, tudo bem.
Esse é todo o treinamento que recebo. Bem, tudo bem. Avalio a sala
e decido começar pela parede oposta. Uma das cápsulas é
empurrada contra a lateral da nave, e o painel de que preciso está
naturalmente na parte que não consigo acessar do lado acessível.
Tento empurrar a cápsula para longe da parede, mas ela pesa mais
do que eu e, se houvesse roletes, foram arrancados ou desligados.
De qualquer forma, não está se movendo. Tudo bem então. Subo
no caixão e deslizo para o lado oposto, minha bunda encostada na
parede, contra uma barra e o que parece uma janela fechada.
Inclino-me e começo a abrir o compartimento.

— Espere! Loden, não!

Olho para cima. Ele está falando comigo?

— Lauren ― Marisol corrige silenciosamente. — O nome dela


é Lauren.

— Desculpa. É muito para lembrar ― ele diz, correndo para o


meu lado. — Como você acha que nos sentimos? ― Deixo escapar.

Mardok ri e balança a cabeça. — Desculpa. Tenho certeza que


é pior para vocês. Está bem. É só, não encoste nessa parede. Tirei
o mecanismo da escotilha de escape. – Ele dá um tapinha na barra
contra a minha bunda. — Se insistir nisso, todo o painel poderá se
abrir e despejar você na água abaixo.

Eca. Acho que a janela fechada não era uma janela, mas uma
escotilha. — É quase como se essa tecnologia alienígena fosse
perigosa ― digo secamente.

Ele ri, surpreso e satisfeito com a minha atitude. — Quase.


Tirei cento e vinte fichas das cápsulas quando Farli entra no
compartimento de carga, sem fôlego. Seu olhar está focado em seu
companheiro. — Você viu Wil-lah?

Olho para cima e observo Mardok enxugar o suor da testa e


deixar de lado o equipamento em que está trabalhando. — O que
você quer dizer? ― Ele olha de volta para mim.

Eu fui a última a vê-la? — Ela estava trazendo o almoço, não


estava? Não a vejo desde que entrei. ― Olho para encontrar Marisol,
mas ela se foi. Bem, merda.

Farli faz um barulho alarmada. — Gren também está


desaparecido. Os outros acham que ele pode tê-la levado.

Eu me sinto mal com o pensamento. Sei que Willa está


tentando fazer amizade com ele. É o que acontece quando tenta ser
legal. Isso não explica para onde Marisol foi, no entanto.

— Você precisa nos ajudar a procurar ― diz Farli a Mardok.


— Precisamos de você.

Mardok hesita, claramente chateado. Sei que ele quer


terminar de salvar a nave. Vektal já esteve várias vezes enquanto
trabalhamos para pedir para ele se apressar. Agora que estamos
na praia, ele não quer mais esperar para abandonar. Cada
momento que chega aqui é outro momento em que ele claramente
sente que sua presença está ameaçando a tribo. Talvez não esteja
errado. Sei que Mardok está despojando e esmagando vários
componentes enquanto ele trabalha. Talvez um inferno de fogo seja
a melhor solução para esta nave.
Mas se for esse o caso, preciso encontrar Marisol.

Mardok olha de volta para mim e aceno, fazendo o meu melhor


para parecer a pequena humana trabalhadora que sou. — Só
terminarei isso ― minto. — Vá em frente. Conversarei com as
outras quando terminar. ― É apenas meia mentira. Terminarei...
mas farei o meu melhor para encontrar Marisol primeiro. As
pessoas são mais importantes que as partes, e se os sa-khui
estiverem super empolgados para se livrar da nave, então preciso
encontrá-la imediatamente.

Eles se viram e correm para fora do compartimento de carga


e imediatamente coloco minha ferramenta no saco em que tenho
trabalhado e vou pelo corredor. — Marisol? ― chamo. — Você está
aqui?

Sei que é inútil chamar o nome dela – ela nunca responde –


mas não posso deixar de tentar.

— Marisol? ― Tento cada vez que entro em uma nova sala.


Nos últimos dois dias, a nave parece cada vez mais devastada.
Peças foram arrancadas das paredes, componentes arrancados de
suas placas de circuito e fios pendurados no teto em mais de uma
sala. As portas sensíveis à iluminação e aos movimentos também
não parecem mais funcionar, e tenho que entrar no corredor que
leva à ponte.

Há uma grande barra de metal na frente da porta, quase na


altura da testa, e quase bato com a cabeça quando entro. Deve ter
caído quando Harlow e Mardok estavam retirando as peças. Tento
empurrá-lo para fora do caminho, e quando ele não se move, eu
me escondo e deslizo para a ponte, passando pela porta agora
quebrada.

— Olá? Você está aqui, Marisol?

Ela também não está lá, mas estou um pouco surpresa ao ver
pilhas de peças de aparência estranha colocadas na maioria das
cadeiras e em todas as superfícies. Não tenho ideia do que são, mas
quando olho mais de perto, vejo algum tipo de símbolo de aviso e
algo que se parece com rabiscos de fogo.

Porra. Sei o que são. Estas são peças explosivas recuperadas


da nave. Eles devem estar empilhando-os aqui na frente para
garantir que, quando a nave incendeie, ele exploda e a ponte não
seja utilizável por quem pensa em salvá-la.

Minha pele pinica com consciência. Definitivamente não é


seguro aqui. — Marisol!

Sem resposta. Eu me ajoelho em uma das estações e seguro


o balcão, olhando por baixo. Parece um bom esconderijo.

— Ativando o sinal de socorro ― o computador chama com


uma voz distorcida.

O que? Eu me levanto e olho horrorizada para o painel. O local


em que coloco minha mão está iluminado, coberto de muitas teclas
de aparência irregular que eu provavelmente acertei de alguma
maneira. Não sei o que fiz para acender, mas sei que não posso
duplicar. Santo inferno, o que fiz? É exatamente isso que os outros
não querem que aconteça.

— Cancelar sinal de socorro ― chamo. Quando isso não gera


resposta, tento novamente. — Olá? Cancelar sinal de socorro!

Sério, que porra é essa? Por que ninguém encobriu esse painel
se era tão importante? Bato com a mão.

— Ativando sinal de socorro ― o computador chama


novamente naquela voz calma e misteriosa. Parece que está mais
lento, como se o próprio computador estivesse morrendo
lentamente. Não sei se está se repetindo ou se, de alguma forma,
já enviei dois sinais de perigo. Choramingo de frustração.

Tenho que deixar alguém saber sobre isso. Tenho que dizer a
eles que precisamos parar com isso antes que seja tarde demais.
Mardok saberá o que fazer.

Viro e corro para a porta.

BANG!

A barra que esqueci na minha pressa? Isso me bate na testa


e percebo que deveria ter me esquivado cerca de dois segundos
antes que o mundo escurecesse.
CAPÍTULO 4
Lauren
BANG!

Uma vibração abafada sacode meu corpo, me puxando para


acordar. Minha cabeça lateja e tento me sentar de pé, apenas para
bater com a cabeça em algo duro novamente. — Oooh. ― Recuo
novamente.

— Não se sente ― Marisol sussurra ao meu lado, no escuro.


— Não há espaço.

Olho de soslaio, tentando entender onde estou. Ainda na


ponte? Não, é realmente escuro e apertado. Posso sentir o calor do
corpo de Marisol enquanto ela pressiona o braço contra o meu.
Parece... claustrofóbico. — Onde estamos?

— Em uma das cápsulas. ― Ela estremece quando há outro


estrondo alto e nossa cápsula treme e treme como se estivesse em
uma montanha-russa. — Más notícias. A nave está pegando fogo!

— O quê? ― Eu a encaro, de olhos arregalados.


— Já? Eles não nos esperaram?

— Bem, hum. ― Ela morde o lábio e parece infeliz. — Eu


estava tendo um dia ruim e queria voltar a me esconder. Só um
pouco. Mas você parecia desconfortável onde estava, então eu a
mudei e... — Ela estremece. — Joguei minha ferramenta.

— Sua ferramenta? ― Minha cabeça está tocando e estou


tendo dificuldade em seguir o que ela está falando.

— É uma arma ― ela sussurra. — Apenas no caso.

Dou um tapinha no braço dela, porque sei o que é esse — por


precaução. Apenas no caso dos alienígenas voltarem e tentarem
nos levar cativos novamente. — Entendo você.

— E tipo... acho que acertei algo importante. Porque um


monte de coisas pegou fogo.

Penso em todas as coisas inflamáveis na cabine. Sim, posso


ver isso acontecendo. — Má sorte,― murmuro.

Ela aperta meu braço, preocupada. — E você não acordava.


Não sabia o que fazer... te trouxe aqui.

— E aqui é... ― Minha visão ainda está confusa e esfrego os


olhos, desejando ter meus óculos. Minha visão melhora a cada dia,
mas não é perfeita.

— Dentro de uma das cápsulas ― sussurra Mari.

— Acho que estamos afundando agora.


— Claro que sim ― murmuro, porque essa é a minha sorte.
Sobrevivi a um sequestro de alienígenas e estou presa em um
planeta invernal apenas para afundar com a nave. Parece certo. —
Os outros sabem que estamos aqui?

— Não sei. Não vi ninguém.

Entre o sinal de perigo e Willa desaparecendo, eu meio que


vejo isso. Tem sido um dia agitado e não deveria estar aqui. Deveria
estar alcançando os outros quando terminava minha tarefa.
Alguém descobrirá eventualmente que não estou lá, mas então será
tarde demais. Pressiono a mão contra a tampa da cápsula. — Como
você me trouxe aqui? ― Esfrego minha testa machucada e dolorida.
Tudo o que me lembro é ... ah sim, a barra. Deus, que idiota da
minha parte.

— Arrastei você ― a voz de Marisol é ultra baixa, como se ela


pensasse que alguém nos ouvirá. — O que fazemos agora? ― Ela
pergunta preocupada.

Não faço ideia. Mas sou eu que sempre tenho um plano, então
preciso pensar em alguma coisa. Perco meu cérebro, tentando
pensar em como podemos sair disso. Se a nave estiver pegando
fogo, não é como se pudéssemos pular. Penso em todos os
explosivos no outro extremo da nave, na ponte. Talvez seja isso que
está fazendo o barulho batendo no nosso caixão e faz a coisa toda
– e meu interior – estremece. Inspiro, mas não há cheiro de fumaça,
apenas o cheiro levemente suado de Marisol e seu corpo assustado
pressionando o meu. Por um momento, minha cabeça lateja e
parece tão apertada aqui que quero sair. É muito pequeno, muito
escuro, muito pouco espaço para respirar.

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando me acalmar. OK. OK.


Estar nesta cápsula é uma coisa boa. Nós não queimaremos até a
morte. Isso é um bônus.

Mas temos que sair daqui. Não sei quanto tempo podemos
ficar no fundo do oceano nessa coisa, mas meu palpite não é tão
longo. O ar não durará e tiramos tantas partes da cápsula que
estou surpresa que até a tampa esteja fechada. Uma coisa de cada
vez, no entanto.

Toco a tampa novamente e parece gelada. Ou estamos bem


isoladas ou não há fogo no compartimento de carga. Não sei qual
é, no entanto. Terei que arriscar em algum momento, é claro, mas
por enquanto, quero pensar no resto do meu plano.

— Precisamos de uma maneira de sair da nave.

— Lo? ― Marisol sussurra em uma voz trêmula. — O que


podemos fazer?

Ouvir seu medo me estimula, por incrível que pareça. OK. Ela
precisa que eu fosse forte e decisiva, então serei. — Pensaremos
sobre isso ― declaro a ela, tentando parecer mais calma do que
realmente estou. — Você moveu a cápsula? Ou ainda estamos no
compartimento de carga?

— Ainda no compartimento de carga.


— E disse que a saída da nave estava pegando fogo? ― Penso
na longa rampa. Posso senti-la concordar. — Não percebi o que
estava acontecendo até que tudo estava cheio de fumaça. A essa
altura já era tarde demais. Pensei em gritar, mas... ―ela suspira.
— Eu me escondi.

Dou um tapinha no braço dela. — Está bem. Sairemos disso.

— Tudo bem ― ela me diz com uma voz mais calma, como se
eu dizendo isso fez do resgate uma coisa certa.

Então só tenho que fazer isso.

— Estamos em uma das cápsulas na frente ou atrás da baía?


Gostaria de saber a que distância estamos das explosões ou se
estamos sentadas em um inferno ardente agora.

— Hum ... atrás ― acho.

Tento pensar no que estava na área. Caixotes? Entradas?


Escotilhas? Qualquer coisa? — Alguma ferramenta aqui?

— Não peguei nada além de você ― Marisol diz humildemente.


— Não havia tempo.

— Está bem. Só estou tentando descobrir tudo. Você ouve


mais explosões? ― Torço e tento encostar o ouvido no casco de
metal, mas não consigo alcançá-lo, e com Marisol empurrada
contra mim, é impossível.

— Não ouço nada ― ela confessa. — Talvez a nave tenha


afundado e os incêndios tenham se apagado?
Não sei se acho isso reconfortante. Se sim, significa que o
oxigênio existente nesta pequena cápsula é tudo o que temos ... e
somos duas a sugá-lo. Mesmo agora, cada respiração parece cada
vez mais claustrofóbica e como se não houvesse ar suficiente para
circular.

— Acho que terei que abrir a cápsula ― explico-lhe.

— Tudo bem ― diz ela com um aceno de cabeça.

— Isso pode matar nós duas ― eu a aviso. — Pode não haver


ar lá fora. Pode ser nada além de água. Ou pode ser nada além de
fumaça e morreremos se não conseguirmos sair. Só estou lhe
dizendo porque sei que é perigoso... mas sei que não podemos ficar
aqui.

Seus olhos parecem ficar um pouco mais arregalados no


escuro. A mão dela aperta meu braço com força. — Se você acha
que é melhor.

— Eu não sei se é melhor ― admito. — Mas é com isso que


temos que trabalhar. Abrirei a tampa e sairei. Você tenta se
abaixar, se houver chamas... ― Faço uma pausa, engolindo em
seco. — Se houver chamas ou estiver superaquecido aqui, isso me
atingirá e não você.

— Obrigada por ser tão corajosa ― ela me diz com uma voz de
admiração.
Quero dizer a ela que não sou corajosa. Que estou tão
aterrorizada quanto ela, mas uma de nós tem que agir. Apenas dou
outro tapinha no braço dela.

— Esteja pronta. Farei isso no três.

Antes que eu perca a coragem.

— Um, dois ― digo em voz alta, e depois respiro fundo e


profundamente, apenas no caso de ser o meu último. — Três.

Empurro a tampa enquanto Marisol se aperta atrás de mim.

A tampa não se move facilmente. Apoio meu joelho contra isso


e empurro e finalmente se move. Enquanto isso, algo pegajoso e
preto derrete e deixa longas cordas para trás, como se a cola
estivesse derretendo entre a tampa e o próprio caixão. Algum tipo
de selo, então.

Derretido.

Afasto a tampa e olho para fora. Está enfumaçado aqui, e o ar


parece sufocantemente quente, mas há oxigênio. Não é um inferno.
Ainda não. Posso ouvir algo queimando à distância, e o calor seco
do ar faz minha garganta fazer cócegas. Eu tusso, sentando. Minha
cabeça lateja com o calor e em algum lugar distante, há um rugido
baixo. Chamas? Eu me pergunto, enquanto rastejo pelo lado do
caixão.

— Fique quieta ― digo a Marisol como se ela tivesse dois anos


em vez de uma mulher da minha idade.
Quando meus pés tocam o chão, percebo o que é o rugido. É
água, tornozelo alto e chegando para inundar a nave. A água está
surpreendentemente quente, mas não sei se é por causa do calor
dos incêndios em outros lugares ou se é meu piolho ou o quê. De
qualquer forma, não é o mesmo. Olho em volta, frustrada,
enquanto o som de um rugido cresce mais alto. Não teremos muito
tempo até que toda a nave encha. Tenho que descobrir uma saída.

Fumaça sai da entrada do compartimento de carga. Não pelo


resto da nave, então. Isso não é bom. Olho ao redor da sala,
impotente. A água está enchendo agora e, enquanto assisto, um
dos caixões perto da parede se levanta, balançando levemente.
Porra. Não demorará muito tempo para que isso inunde
completamente e então vou me afogar.

Pense Lo, pense. Ando para frente, examinando a grande


câmara.

Tem que haver uma saída. De alguma forma. Algum lugar.


Este é um compartimento de carga. Ok então... como eles tiram a
carga? Olho as paredes e meu olhar trava na escotilha que Mardok
me avisou antes. O que ele disse? Algo sobre uma trava ser
quebrada? Não, espera. Era algo sobre componentes e peças
despojadas e, se eu tocasse errado, abriria toda a parede...

É exatamente disso que preciso agora!

— Eu sei o que fazer ― digo a Marisol, passando pela água de


volta para o lado de seu caixão. Aponto para a escotilha. — Aquela
parede. Lembra do que Mardok disse? Você estava na sala, não
estava?

Ela assente e seus olhos se arregalam. — Isso nos separará e


nos derrubará da nave. Você acha que funcionará?

— Só há uma maneira de descobrir ― digo severamente.

— Mas não sei se funcionará, ou mesmo se funcionar, se


seremos sugadas uma da outra.

— Ajudarei ― diz ela, e começa a subir da cápsula.

— Não ― eu digo, e a paro antes que saia.

— Não há tempo para discutir, mas se isso for perigoso, uma


de nós precisa sobreviver. Suba de volta na cápsula e puxe a
tampa. Mesmo se nós duas formos sugadas para o oceano ―
estremeço ao pensar naquela água verde escura com as estranhas
criaturas com tentáculos nela — então você tem uma chance
melhor de viver se estiver protegida.

— Mas..

— Sem mas, Marisol. Por favor. Façamos isso, ok? Cada


momento que desperdiçamos discutindo é mais um centímetro que
a água sobe. ― Faço um gesto para minhas pernas, agora molhadas
até a panturrilha. — Se ficar muito mais alto, a pressão pode ser
demais para explodir qualquer escotilha que houver aqui.

Ela hesita, implorando em seus olhos. — Não quero que você


morra.
— Eu também. ― Pego a tampa da cápsula e começo a arrastá-
la sobre sua cápsula novamente. — Então, façamos isso e veremos
se nós duas conseguimos, tudo bem? ― Acho que por um momento
ela protestará mais, mas assente e desliza de volta para a cápsula,
me ajudando a arrastar a tampa sobre ela. Quando está ligada, há
um pequeno assobio de ar e depois se fecha novamente. Bem, isso
é algo pelo menos. A bolha de vidro no topo da cápsula está muito
coberta de cinzas e fuligem para ela ver, isso faz sentido, pois
estava escuro lá dentro e hesito por um momento, me perguntando
se devo limpá-la para ela.

Sem tempo. Ela pode passear quando estiver segura.

Caminho de volta para a parede, tentando lembrar


exatamente o que Mardok me disse. Há uma cápsula balançando
contra isso, flutuando na água, e outra está deslizando na minha
direção. Empurro para o lado, um pouco nervosa com a facilidade
com que são movidas agora. Maldita água. Eu tusso novamente,
abanando a mão para tentar limpar a fumaça. Não há ar suficiente
aqui. Ar insuficiente e muita água. Que bagunça. — De quem foi a
ideia brilhante de explodir a nave espacial? ― Murmuro para mim
mesma enquanto sinto ao longo da parede, procurando por uma
trava ou um cabo de algum tipo. Há uma barra com letras
alienígenas nela, e isso leva a uma lacuna na parede que parece
ter sido trabalhada – ou descartada – recentemente.

Coloco minhas mãos nisso. Por favor funcione. Por favor não
me mate! Por favor, não deixe um monstro marinho lá fora esperando
para me comer. Por favor, não me deixe afogar.
Tantos pedidos, mas não saberei a menos que abra essa
escotilha. Respirando fundo, porque sei que isso é suicídio, mas
faço de qualquer maneira.

A barra range, o metal geme, e então sou empurrada para fora


em uma lufada de ar e água enquanto o vácuo me leva para o
oceano.

Não posso evitar. Grito. Ou tento, mas não há nada além de


água e corrente. Minha boca e pulmões se enchem de água salgada
e engasgo, tentando desesperadamente respirar, mas não há nada
para respirar. Também não há nada a que me agarrar enquanto
sou arrastada pela água, carregada pela corrente. Estendo a mão,
mas não há nada para agarrar, nada para segurar.

Irei morrer!

Arranho a água, girando para frente e para trás nas


profundezas sem fim. Não sei para que lado é para cima ou para
baixo. Luto contra a sucção da água e abro os olhos, apertando os
olhos para a salmoura. Queima e arde, mas vejo algo passar pela
minha cabeça. Uma enorme bolha de ar. Oh Deus, vá para o outro
lado. Viro na água e a luz do sol está muito acima – muito acima.
Frenética, nado para a frente, meus pulmões e nariz ardendo. É
difícil nadar com todos esses couros em mim e faz muito frio.
Continuo nadando, no entanto, porque a luz do sol parece tão
próxima e tão distante.

O preto aparece nos cantos dos meus olhos e tento respirar


fundo. Quem disse que o afogamento era pacífico mentiu para
mim, porque tudo o que quero fazer é respirar e não posso. Por
favor. Por favor. Por favor. A luz está tão perto, mas não consigo
alcançá-la, e parece que a corrente ainda está lutando comigo.

Por que estou lutando tanto? Por que simplesmente não


desisto? Deixar a água me envolver e afundar nela. Terminar toda
essa luta. O pensamento é surpreendentemente fácil de entender.
Se ao menos pudesse respirar, poderia pensar claramente, mas
não posso. Não há ar.

Meus membros ficam mais pesados e isso se torna muito


esforço para alcançar a luz do sol. Não importa que esteja tão perto
agora que posso praticamente tocá-la. Muito pouco, muito tarde.
Guardarei toda a luz do sol para outra pessoa. Fecho meus olhos
e algo agarra um punhado do meu cabelo e me puxa para cima.

A dor percorre meu couro cabeludo e me debato fracamente.


Minha cabeça rompe a água e então há ar no meu rosto, muito frio
comparado à água estranhamente quente. Eu tusso e espirro, a
água salgada escorrendo do meu nariz e minha boca.

Marisol se inclina sobre a cápsula, os olhos arregalados. Ela


ainda tem um punhado do meu cabelo preso em seus dedos. —
Você está viva?

Engasgando e tossindo, aceno com a cabeça e tento sugar o


ar suficiente para agradar meus pulmões em chamas. Tudo
machuca. Tudo. Parece que Marisol arrancou meu cabelo pelas
raízes, mas isso são duas vezes que ela me salvou agora.
Ela solta meu cabelo e enfia a mão na minha cara e eu a
agarro fracamente. — Entre, ela me diz. — Rápido.

O ar parece mais frio do que a água, mas lembro-me das


coisas que vivem neste oceano. Eu a seguro firmemente enquanto
ela faz o possível para me arrastar para dentro da cápsula. É
preciso muito esforço de nós duas para me arrastar para dentro da
cápsula e, quando desmorono no fundo, estou exausta e chiando.
Meus pulmões ainda parecem pesados com água salgada, e a
salmoura está nos meus olhos, nariz e poros.

— Você está bem? ― Ela pergunta preocupada. Dou-lhe um


fraco polegar para cima.

Ela se recosta contra mim, sem se importar que eu esteja com


frio e molhada, e tira a jaqueta, oferecendo-a para mim. Ela me dá
uma cotovelada no rosto, mas tudo bem. Meus dentes batem e tiro
minha parka de pele encharcada e a uso como cobertor. —
Vv...você está bem?

— Estou bem ― ela concorda e puxa a tampa de volta sobre


nós. Escurece imediatamente, mas também fica mais quente. E
estou bem com isso.

— Minha cápsula foi imediatamente à superfície. Uma das


outras também, mas acho que o resto não tinha tampa, então elas
se encheram. Também não há sinal da nave. Esperei e esperei, mas
acho que quando fomos descartadas, isso nos empurrou para o
mar. — Ela hesita por um momento e depois acrescenta: ―Não
consigo ver a costa.
— Está bem. Obrigada por me salvar. — Tusso e falo sério.
Tratei Marisol como um bebê porque ela estava assustada, mas ela
mostrou uma quantidade impressionante de bravura nos últimos
tempos e serei eternamente grata a ela. — Eu... não pensei além
disso ― admito para ela. — Não tenho um plano para nos levar
para a praia. ― Um palavrão borbulha dentro de mim, mas acabo
tossindo mais água do mar.

Ela dá um tapinha no meu ombro distraidamente. — Não se


preocupe. Se estivermos perto de uma costa de qualquer tipo, as
ondas nos levarão até ela. Eu acho.

Concordo com a cabeça fracamente, e então estou cansada


demais – ou muito encharcada – para ficar acordada. Fecho os
olhos para aliviar minha cabeça dolorida e rachada. Só preciso
descansar por um momento, acho. Então, apresentaremos um
plano para voltar à costa.

Em algum momento.
Capítulo 5
K'thar
Não se pode viver numa ilha sem ver coisas estranhas
aparecerem na praia. Às vezes, é a carcaça de uma estranha
criatura aquática, com barbatanas em vez de pernas e estranhas
bolhas brilhantes em vez de olhos. Às vezes, é um osso enorme de
um animal morto há muito tempo ou os galhos nus de uma árvore
caída. Conchas. Peixes. Pedras lisas. Pequenas pedras. Pedras
grandes.

Mas ... nunca antes vi uma pedra tão grande quanto a preta
que balança contra as ondas ao longe. Parece ser maior do que um
homem adulto. Maior, até, do que o corpo gordo e escamoso de um
kaari.

E flutua. Isso por si só torna incomum. Tenho que saber o que


é isso. Examino o penhasco em que estou no topo, procurando
cipós que descem para me deixar ir meu caminho até a costa. Devo
ser rápido. Mesmo que os quatro clãs – agora três – morem
separados, temos um acordo. Se algo aparece na praia, pertence
àqueles que a encontram.
E seja qual for a pedra exótica e flutuante, será minha!

Animado, encontro um cipó forte e começo a descer os


penhascos. Não há lugar nesta ilha que eu não conheça como as
costas das minhas mãos e não demoro muito para descer. Um
garra do céu1 sobrevoa como eu, procurando presas fáceis, e mudo
os tons de pele com um pensamento, misturando-me
automaticamente para combinar com a rocha contra a qual
pressiono. O garra do céu passa voando sem parar e, se eu não
tiver outra missão, posso tentar pular nas costas enquanto passa.
Afinal, os garras do céu são bons de comer, e há muita carne para
toda a tribo.

Mas sempre haverá mais garras do céu, e nunca vi nada


parecido com essa rocha flutuante antes. Então continuo
descendo. Caio na praia rapidamente, satisfeito com a velocidade
com que consegui atravessar os penhascos escarpados. Se não
estivesse com pressa, poderia pular os cipós e seguir as trilhas
sinuosas pelos penhascos. Ver minhas armadilhas. Verduras
forrageiras. Aproveitar o dia. Mas a singularidade dessa descoberta
me chama, me faz apressar.

Vou na praia, deixando minha cor voltar ao normal. Enquanto


passo, meus passos diminuem e um grunhido se forma na minha
garganta, porque vejo outro se aproximando na direção oposta. Não
apenas qualquer sakh, mas o meu mais odiado rival, R'jaal, do clã
do Chifre Alto.

1 Pássaro gigante com garras que é o maior predador


Claro que seria ele.

Rosno baixo na garganta e caminho em direção a ele, puxando


minhas quatro lâminas e brandindo-as em sua direção, deixando
a ameaça falar por si.

Ele me dá um sorriso de desprezo quando se aproxima, lança


casualmente segurada em uma de suas mãos. — Eu deveria saber
que você estaria aqui. O lixo sempre aparece em terra.

— Grandes palavras para um homem com apenas duas mãos


insignificantes, digo a ele. Faço um gesto para a grande rocha,
balançando na praia. — Isso é meu. Eu vi primeiro.

— Não, irmão ― diz ele, usando o termo ironicamente. ― Isso


pertence a mim. Mesmo agora estou mais perto do que você. ― E
ele se inclina e bate na superfície da rocha com sua lança. — Meu
presente do mar, não o seu.

Eu o olho com repugnância. Ele é alto e magro, onde sou forte


e musculoso. Sua cor natural é um pouco mais clara que a minha,
a camuflagem ondulando para cima e para baixo nos braços e
mudando de cor com emoção. Ele pode ter apenas dois braços para
os meus quatro, mas ele é tão forte quanto qualquer outro, eu sei.
Lutei com ele no passado.

Mas tenho o dobro de oportunidades para agarrá-lo, se puder


me aproximar. A única coisa que pode me causar problemas é a
varredura maciça de chifres que se erguem de sua sobrancelha que
dão nome ao seu clã. Ainda assim, não seria o chefe do clã do Braço
Forte, se fosse um covarde.
Flexiono agressivamente, deixando minhas cores mostrarem
minha raiva. — Não vou recuar. É minha obrigação. ― Não digo a
ele que a comida está escassa em nosso território ultimamente, ou
o que já passei, deixando-nos cuidar de seu filho pequeno. Que
lutamos para trazer comida, já que a mesma caça que matou I'chai
pegou a perna de N'dek. J'shel deve ficar para trás e cuidar de
ambos, kit e N’dek, o que deixa toda a caçada para mim.

Mas R'jaal não se importará com nada disso, assim como não
me importo com os problemas de sua tribo. O clã dele está
morrendo, assim como o meu. Todos nós estamos morrendo. Só o
prolongamos com todos os dias de sobrevivência. Não há esperança
para o nosso povo, desde que a Grande Montanha Fumegante
explodiu sete turnos atrás e destruiu a maior parte da ilha ... e a
maioria das pessoas que vivem nela.

Não, R'jaal não se importará se o clã do Braço Forte estiver


morrendo de fome. Também não me importo se o Chifre Alto está
prosperando do lado da ilha. Só me preocupo com essa coisa na
praia e que é minha.

— Tão rápido para lutar comigo, K'thar? ―O olhar de R'jaal é


zombeteiro. — Quando você nem sabe o que é?

— E você sabe? ― Digo a ele, zombando. Ainda sou cauteloso,


mas não sinto vontade de lutar com ele, apenas sua atitude de
desprezo habitual. Cauteloso, enfio duas das minhas facas,
disposto a me afastar... mas só um pouco.
— Acho que é um ovo ― ele me diz, deslizando a lança no
coldre nas costas para libertar as mãos. Ele os esfrega juntos,
depois gesticula para a grande pedra negra nas ondas. — Veja
como oscila na corrente. É um ovo monstruoso de algum tipo. —
Ele olha para mim através dos olhos estreitados, sua cor de pele
desbotando um pouco para uma sombra mais neutra.

— Podemos quebrar e dividir o conteúdo. Deve haver comida


suficiente para os dois clãs.

Eu olho para ele. Por que ele está tão ansioso para
compartilhar? Clãs não compartilham. Nós somos rivais, ele e eu,
e dar a ele metade sem luta me parece estranho, a menos que R'jaal
perceba que esse presente do mar é meu e ele está tentando jogar
uma parte para si mesmo…

Ou seu povo também está com fome.

Eu o estudo, pensando. Sei que estou de cabeça quente. Sei


que é da minha natureza lutar. Tudo em mim está dizendo para
rosnar e desafiá-lo e reivindicar isso para o meu povo. Meu povo,
não o dele. Se ele estiver certo e for um ovo, essa gema alimentará
o pequeno Z'hren por muitos dias. Não deveria dividir. É meu para
reivindicar.

Mas se lutar contra R'jaal e ele vencer ... então volto de mãos
vazias. Se fosse outro, estaria completamente seguro do meu
sucesso. Sou o caçador mais forte da ilha ... mas R'jaal é o mais
rápido. Ele e eu brigamos em reuniões de clãs e saímos ainda mais
vezes. Se fosse mais alguém...
Eu posso arriscar, ou posso pensar no bem-estar do meu clã.
Rosno baixo na garganta porque sei o que quero, e ainda assim
devo pensar no meu clã primeiro.

— Não gosto de compartilhar.

— Nem eu. Mas também não estou com vontade de lutar hoje.
― Ele coloca as mãos nos quadris, a cauda sacudindo, parecendo
muito como se desejasse lutar depois de tudo.

Faço uma careta para ele. Mentira. Ele gosta tanto de mim
quanto eu dele e sou seu parceiro de luta favorito. Algo mais deve
estar incomodando-o, ou ele está doente.

Ou faminto.

Ou ele sabe algo que não sei.

Eu o estudo por mais um momento, cheio de desconfiança.


Cada momento que desperdiçamos é outro momento em que
alguém mais pode aparecer. Sei que não seria um da minha tribo.
N'dek está em uma caverna e J'shel terá o kit. Sou apenas eu neste
dia. Se outro do clã Chifre Alto chegar, ficarei em menor número.
Ou se um dos clãs dos Gato das Sombras chegar, teremos que
dividir a recompensa do mar de três maneiras. Com um rosnado
frustrado, eu tiro uma das minhas lâminas e ofereço a ele,
manuseio primeiro. — Dividiremos nossas ações, então.

Ele grunhe e parece surpreso que concordei. R'jaal pega a faca


com um aceno de cabeça para mim e depois avança, balançando a
cauda. Sigo atrás, minha outra faca ainda na mão quando nos
aproximamos da coisa estranha.

Parece escuro, a casca lisa e sem manchas, como qualquer


criatura que eu já vi antes. Existe uma pequena bolha circular de
algum tipo no outro extremo – um olho, talvez , mas o resto é preto
incansável. Toco a superfície quando R'jaal a observa, e parece que
não há casca de ovo ou pele que já senti antes.

Ele bate a ponta da sua lâmina – minha lâmina contra a


superfície e ouve. — Parece vazio.

Um ovo oco com casca dura pode significar que a criatura está
pronta para eclodir. — Escuro demais para ser um ovo de garras
do céu ― indico. ― Muito grande também. Pena – garras do céu são
bons para comer e podem alimentar um clã por dias com um ovo.

— Esteja pronto para qualquer criatura que surgir.

Ele assente, sua boca se firmando em uma linha dura e


irritada. Sei como ele se sente. Também não gosto de trabalhar com
ele. Mas penso nas bocas famintas de volta à tribo e no kit berrante
que precisa do leite de sua mãe – e nunca conseguirá. Devo pensar
neles primeiro. Bato meu próprio punho na superfície e coloco
minha mão sobre ele, verificando se há movimento. Há uma fissura
de cabelo ao longo de um lado. Bom lugar suficiente para enfiar
uma lâmina, suponho. Empurro a ponta da minha faca na fenda e
bisbilhoto.

Para minha surpresa, a concha assobia e levanta. Eu olho


para trás, camuflando, enquanto puxo minhas facas do cinto mais
uma vez, pronto para atacar. Pelo canto do olho, noto que R'jaal
também se camufla, sua pele mudando para combinar com o
marrom esverdeado da areia, enquanto ele puxa a lança, se
preparando para atacar. Eu me agacho baixo, girando minhas
facas, preparado para atacar.

O pedaço de casca continua a subir e depois se move


suavemente para o lado. O assobio para. Há um barulho como um
bocejo, e então algo surge de dentro.

É uma fêmea. Acho...

Sua camuflagem é de uma estranha cor dourada que não


combina com nenhum dos arredores, e ela bate nos lábios e esfrega
a cabeça, sacudindo a juba. Seu olhar sonolento pousa na praia e
depois em R'jaal. Então eu.

Ela empalidece e seus olhos reviram nas órbitas. Seu corpo


cai e ela desaparece de volta para o ovo de pedra.

— O que ... ― R'jaal olha para mim, chocado.

Eu me endireito, guardando minhas facas. Deixei minha


camuflagem desaparecer até o meu azul natural e avanço. — Isso
era uma fêmea?

Ele coloca a mão no peito, sobre o coração. Sua mandíbula


aperta e ele olha para mim. — Minha. Ela é minha.

— Você ressoa com ela, então? ― Eu me pergunto por que não


me sinto possessivo pela fêmea. Se é realmente uma, ela é a única
fêmea que restou nesta ilha depois que a Grande Montanha
Fumegante destruiu nossos clãs e com a morte de I'chai. Eu
deveria reivindicá-la para o meu clã. Mas não sinto nada por ela.

Certamente, se ela fosse minha, eu sentiria algo, não sentiria?

— Não ― ele diz rapidamente. — Mesmo assim, ela é minha.


R'jaal se move para frente, inclinando-se sobre a borda do ovo para
olhar para dentro da fêmea caída. Então, ele olha para mim e ri. —
Existem duas!

Duas? Meu coração bate forte no meu peito. Duas mulheres?


Por quê? Por que elas vêm até nós em um ovo? É ... um sinal dos
ancestrais que vieram a este mundo em um ovo?

Avanço e me inclino, mal ousando acreditar em R'jaal.

Ali, aninhada dentro do ovo, estão duas fêmeas. Ambas estão


coloridas erradas para se camuflar. Prendo a respiração, porque
são inconfundivelmente femininas. São menores que as fêmeas
sakh e muito mais delicadas, e seus seios estão inchados, mas não
posso negar que são mulheres. Nenhuma delas tem chifres.

Elas não podem pertencer ao clã Chifre Alto, então. Aperto


dois dos meus punhos, contando os braços. Apenas quatro para as
duas fêmeas. Dois para cada uma. Não é do clã braço forte,
também. R'jaal estende a mão e toca o braço de uma mulher a
escura que desabou. O antebraço dela é liso e sem movimento.
Também não é do clã Gato das Sobras.

Eu não me importo com essa mulher, no entanto.


É a outra que prende minha atenção. Ela é mais pálida que a
outra, sua pele é mais um rosa esbranquiçado estranho do que o
ouro quente da outra. Até a camuflagem não combina
adequadamente. Sua juba paira sobre o rosto delicado, e a cor
também é pálida, um marrom avermelhado rosado, em vez do preto
escuro que deveria ser. Seus cílios são longos sombreiam suas
bochechas e ela tem o nariz mais charmoso e uma boca macia e
rosada.

Esta é minha!

Sinto que surge através de mim, o intenso conhecimento e a


avareza de encontrar algo que realmente me pertence. Não importa
como essa fêmea chegou aqui.

Ela irá embora comigo!

Chego e coloco em meus braços, tomando cuidado para não


machuca-la. Sua cabeça balança e coloco uma das mãos embaixo
dela para apoiá-la, depois a levanto com cuidado, embalando seu
corpo contra o meu peito. Por um momento escasso, me preocupo
que ela não esteja respirando, e prendo a respiração até ver seus
seios subirem e descerem.

Viva.

Agradeço aos antepassados. — Espere ― diz R'jaal enquanto


levanta a outra mulher. — As duas deveriam ir comigo. Você
conhece as regras do clã. Quatro braços vão para o clã Braço Forte.
Ambas as fêmeas têm dois.
Eu mostro meus dentes para ele. Ele se atreve a citar as regras
dos antepassados para mim? — Você tem aquela fêmea. Esta é
minha. ― Afasto os cabelos da testa, já fascinado por ela. Não me
importa que ela seja fraca e só tenha dois braços. Vou protegê-la e
cuidarei dela como se fosse tão inteira quanto qualquer outra
fêmea.

— Há outros no meu clã que precisam de companheiras.

A raiva fervilha dentro de mim. Ele pensa em pegar o que é


meu? — Não vejo chifres em sua fêmea, amigo ― zombo de volta
para ele. — Nem deve ir com você também.

Ele estreita os olhos para mim e embala a fêmea no peito. —


Você não pode tê-la.

Eu não a quero ... mas eu o matarei se ele tentar tirar está de


mim. — Você tem a sua. Eu tenho a minha. Não me importo com
as regras do clã. As regras do clã diriam que nenhum recurso
distintivo iria para o clã Exilado, mas eles se foram há muito
tempo.

Apenas o pensamento de ter que desistir de minha mulher me


deixa louco de raiva, e eu a seguro mais apertado. Minha!

Minha.

Minha.

Minha.
A palavra palpita em minha mente, tão feroz quanto qualquer
batimento cardíaco. Posso sentir isso, bombeando através de mim
como sangue. Minha. Minha. Minha. Essa fêmea é minha. É por
isso que não me importo com a outra, meu coração sabia que esta
viria para mim.

Não estou totalmente surpreso quando meu khui começa a


cantar, seu ritmo coincide com a batida na minha cabeça.

Os olhos de R'jaal se arregalam de surpresa e ele assente


lentamente. — Sua então.

— Minha ― digo com prazer feroz. Eu ressoo com ela. Ninguém


nunca a tirará de mim.

Ela é minha e só minha!


CAPÍTULO 6
K'thar
Nem eu nem R'jaal estamos mais interessados no ovo.
Partimos da praia sem outra palavra, cada um de nós carregando
nossas cargas o mais rápido possível. Ele não pode tirar minha
fêmea de mim, não com minha música ressoando zumbindo no
meu peito, mas sei que ele se sente vulnerável, pois não ressoou
com a dele.

Só quero ficar sozinho com minha mulher. Quero olhar para


ela, explorá-la, aprender sobre ela.

Despertá-la. Vê-la olhar para mim.

Quero ouvir o khui ressoar.

O fato de ainda não ter me incomoda. Ela está inconsciente e


dormindo profundamente. Uma vez que acordar, isso a atrairá para
mim enquanto o meu é atraído pelo dela. A ressonância nunca é
unilateral. Tudo o que tenho que fazer é esperar.
Eu a carrego o mais rápido, e com o maior cuidado possível,
movendo-me rapidamente pela costa e seguindo em direção à linha
das árvores distante. Quando estamos fora de campo, coloco-a
gentilmente na sombra de uma grande samambaia debaixo de uma
das árvores mais altas. Aqui, ela ficará protegida de qualquer
garras do céu que esteja em patrulha ou kaari errante. Ajoelho-me
ao lado dela e toco meus dedos em seu queixo, inclinando a cabeça
em minha direção.

Ela ainda dorme. Está doente? Meu olhar preocupado passa


por ela. Ela respira superficialmente, mas respira. Sua pele é
estranhamente pálida e quando as folhas de samambaia ondulam
suas sombras sobre ela, ela não muda de cor para se adaptar. Não
entendo. Até o mais jovem dos kits sabe desde o dia em que sai do
corpo de sua mãe que precisa se camuflar para sobreviver.
Preocupo-me que algo dentro dela esteja quebrado, que encontrei
minha companheira apenas para perdê-la.

— Não ― murmuro, e pego sua mão pequena na minha. —


Você é minha. Agora que te encontrei, você acordará e se juntará a
mim. Faremos muitos kits juntos e trabalharemos para trazer
nosso clã de volta à grandeza. ― Pressiono a palma da mão na
minha boca, respirando o cheiro de sua pele. Cheira como as águas
salgadas do mar e algo mais, algo doce e totalmente dela. Percebo
quando pressiono meu rosto contra sua pele que ela também não
reage à minha proximidade.

Também noto... Ela tem um dedo extra.


Ímpar. Examino a outra mão e tem um lá também. Uma
anomalia de nascimento? Como nossos clãs com os recursos de
identificação? Dizem que às vezes um membro do clã Tall Horn
nasceria com quatro braços, ou a pele peluda do clã Gato das
Sombras, e o kit seria retirado de sua família e entregue ao clã
correto. Eu nunca ouvi falar de alguém nascendo com dedos
extras, no entanto.

Também não ouvi falar de alguém camuflado com uma cor tão
estranha e permanecendo assim.

Novamente, me pergunto se ela está doente. Toco seu rosto


gentilmente, acariciando sua bochecha e sobrancelha. Pressiono
meu ouvido no peito dela, mas não consigo ouvir nada através das
coisas estranhas com as quais ela cobriu o corpo. Talvez este seja
o problema? Talvez seja por isso que a camuflagem dela não parece
estar funcionando.

Preciso tirá-los dela. Então posso avaliar melhor o que a está


afetando.

Corro minhas mãos pelos braços dela, procurando uma


maneira de tirar essas peles estranhas. Cheiram a pele, e me
preocupo que estejam conectados a ela de alguma forma e que
removê-los a prejudique. Quando os puxo, no entanto, isso não
parece machucá-la. Movo minhas mãos por baixo dos couros,
procurando algum tipo de acessório em sua pele, mas tudo o que
sinto é suavidade por baixo.
Apenas tocá-la faz meu pau doer de uma maneira que nunca
senti antes. Torna-se demais para suportar e puxo minhas mãos
para trás, fechando os olhos e respirando com dificuldade
enquanto me esforço para me conter.

Uma companheira de ressonância é o maior presente. Foi-me


dito isso repetidamente. Imaginei que nunca o experimentaria, não
após a morte da Grande Montanha Fumegante e a dizimação dos
clãs. Pensei que era algo perdido para o passado, como família e
uma vida tranquila e as grandes competições. Achei que toda a
esperança tivesse sido perdida com a morte de tantos.

Agora, pela primeira vez ... sinto esperança mais uma vez.
Talvez os sakh não estejam condenados a morrer com os
remanescentes de nossos clãs. Talvez exista mais do que
simplesmente existir.

Toco sua bochecha novamente, já fascinado por ela. Não sinto


isso por ninguém nem por nada desde a morte da montanha.
Desejo tocá-la. É assim que outros companheiros de ressonância
se sentem? Ou apenas me sinto assim porque ela é a primeira
fêmea que já vi em tantas reviravoltas das estações? Vi a outra
fêmea ao mesmo tempo que R'jaal, porém, e não senti nada por ela.

É esta que mantém essa centelha especial. Há algo nela que


meu corpo, meu khui, instintivamente reconhece como minha.

Satisfeito que essas peles sejam meramente decorativas, pego


uma das minhas facas e as corto de seus membros, revelando uma
pele mais pálida e rosada. Seus braços são finos e estranhamente
não musculosos, como se nunca tivesse escalado um cipó ou um
penhasco em sua vida. De onde ela veio, me pergunto, que essas
coisas não são necessárias? A menos que ela esteja doente há
muito tempo. Aperto o braço dela novamente, verificando. É
estranhamente flácida aqui, mas os músculos não parecem tensos,
apenas macios.

Talvez quem quer que tenha vivido antes não tenha permitido
que saísse da caverna. Talvez agora, esteja escapando deles.

Mas como entrou no ovo? Por que está coberta de coisas tão
estranhas? Por que é rosada?

Continuo cortando as camadas do corpo dela. Há outra faixa


estranha de couro em seus seios. Ela não pode estar
amamentando. Eu não ressonaria para uma mulher que já está
tomada. Outro sinal de doença? Corto a banda e os seios dela se
soltam, cheios e saltitantes.

Chocado, sento-me de costas, estudando sua forma. Nunca vi


isso antes.

Meu pau, já rígido, cresce ainda mais. Dou um golpe rápido


antes de empurrá-lo de volta sob a tanga folhosa que uso. Não é
hora de pensar em acasalar. Minha companheira está doente,
claramente.

Certas partes dela estão... inchadas.

É por isso que ela os amarrou? Para reduzir o inchaço? Toco


um em hesitação, apertando a carne. Não está quente com febre.
As pontas são de um tom de rosa mais escuro que o resto de sua
pele, mas elas também não ficam vermelhas.

Quando a toco lá, porém, ela geme e as pequenas pontas se


apertam.

Pego minha mão de volta. Claramente eles são macios. Não


vejo outros sinais de infecção, no entanto. Sem cortes, sem
machucados, sem marcas ou linhas vermelhas de raiva que
sugerem que sua carne está cheia de doença. Toco atrás das
orelhas dela e os nós também não estão inchados. Se for uma
infecção, é muito estranha.

Penso em I'chai. Seus seios incharam quando seu kit nasceu,


mas nunca tão grandes quanto isso ou tão cheios. Não pensei duas
vezes sobre o corpo dela, mas acho que não consigo parar de olhar
as pontas rosadas do peito dessa fêmea e a maneira como os seios
balançam levemente com a respiração.

Não sei o que fazer com isso ... ou minha própria reação.
Deveria pensar em nada além de sua saúde e, em vez disso,
continuo pensando em acasalar. Como seria puxá-la de quatro
embaixo de mim e afundar em seu corpo...

Com um assobio, levanto-me e fecho os olhos, dando alguns


passos para reunir meus pensamentos. É porque tudo isso é muito
novo para mim. Não era nada além de uma criança quando a
montanha morreu. Pensava em flertar com mulheres na próxima
reunião, talvez levando uma das minhas peles para aprender
prazeres ... mas esses dias nunca chegaram.
Agora meu pau quer compensar o tempo perdido.

Nunca poderei ajudá-la se não conseguir me concentrar.


Talvez precise aliviar meu corpo para que possa me concentrar
inteiramente em minha companheira.

É uma boa ideia, acho. Coloco uma das mãos na árvore mais
próxima para me firmar e afastar minha tanga frondosa, libertando
meu pau. Com a imagem dela em mente, começo a me acariciar
com movimentos precisos e lentos, imaginando seu corpo sob o
meu.

Parece uma vergonha me dedicar ao pensamento de seios


infectados e inchados e carne rosada ... e, no entanto, nunca estive
tão duro na minha vida, nem me senti tão bem. Com um gemido
baixo, derramei minha semente nas folhas de uma samambaia
próxima. Minha semente é estranhamente espessa e leitosa, ao
contrário da porra clara habitual. Estranho.

Meu pau ainda dói mesmo depois que estremeço com a minha
liberação. Mais uma vez, e então poderei me concentrar.

Lauren
Meus olhos se abrem para a visão de altas árvores verdes e
frondosas acima e sombras dançando sobre a minha pele.
Estou ... em casa? Em um parque?

Estou drogada? Porque não entendo como fui de um planeta


de inverno para um paraíso tropical, mas aqui estou eu. As folhas
farfalham na brisa quente e posso ouvir o som distante do oceano.
O sentimento surreal continua, mas quando pressiono a mão na
testa, sinto ... bem, sinto como eu. Eu sofro e juro que terei água
salgada na cavidade nasal por semanas, mas isso não parece um
sonho. Sinto-me muito dolorida e muito suada para que seja um
sonho.

Esfrego o rosto e é aí que percebo que não tenho mangas. Ou


qualquer camisa. Estou de topless, minha longa túnica forrada de
pele dada a mim por Liz se foi, apenas minhas perneiras e botas
restantes. Lembro-me vagamente de tirar minhas peles externas
quando Marisol me puxou da água. Então tirei o resto durante o
sono? Mas como cheguei aqui? Olho de soslaio para as árvores,
perguntando se meus olhos me enganam.

Elas realmente parecem árvores. Árvores da selva.

Um gemido vindo de perto me faz dar uma olhada. Eu faço, e


então respiro fundo, assustada.

Há um homem parado por perto, de costas para mim. Ele está


completamente nu, sua cauda balançando para frente e para trás
através de um bumbum azul muito apertado. Ele tem os ombros
mais largos que já vi, e as costas mais largas, com músculos que
duram dias. Enquanto observo, o braço dele bate de uma maneira
que só pode significar uma coisa.
Está ... se masturbando... Que porra é essa?

Está por que estou de topless? Estava sendo molestada


enquanto dormia? Horrorizada, procuro no chão e vejo minha
túnica por perto. Agarro, apenas para perceber que foi cortada em
tiras. Suspiro, meu olhar voltando para o homem.

Ele congela e, naquele momento, ele... desaparece.

Pisco meus olhos repetidamente, não totalmente certa do que


estou vendo. É como se ele desaparecesse diante dos meus olhos.
Fecho os olhos e pressiono as pálpebras, me perguntando se a água
do mar que inalei – ou a dor de cabeça horrível que tenho – está
fazendo meus olhos brincarem comigo. Eles estão melhorando dia
após dia, mas as pessoas simplesmente não desaparecem.

Esfrego-os com força e depois abro novamente.

O homem está lá novamente, a cor azul pálida de sua pele se


destacando contra as frondosas árvores que nos cercam. Ok, meus
olhos estão sendo estranhos. Deve ser isso. Balanço minha cabeça
um pouco para limpá-la e ela lateja em resposta. — Oi.

— Oi ― ele responde. É claro que ele é uma das pessoas azuis,


o sa-khui, embora seus chifres pareçam menores do que os de
todos os outros, e sua cor seja um pouco mais clara. Acho que isso
não deveria surpreender, já que vi que os outros vêm em um bilhão
de tons diferentes de azul, assim como as pessoas da Terra vêm em
todos os tipos de tons de branco, dourado e marrom. Ainda assim,
há algo nele que não consigo entender. Talvez seja o fato dele ter
uma barba, como se seu rosto tivesse uma pitada de arranhão.
Talvez seja porque os dentes dele não são afiados como os outros
sa-khui. Ou talvez seja porque peguei o maluco se masturbando
enquanto estava dormindo.

Concentro-me nas árvores. Aqui é verde, frondoso e


verdejante e completamente diferente de tudo que já vi antes.
Sinto-me um pouco traída ao vê-lo, na verdade. Durante a última
semana, mais ou menos, toda a tribo encheu nossa cabeça com
histórias de quão frio é no planeta gelado, quão amargas são as
neves e como as coisas pioram, não melhoram. Esse lugar? Isto é
o paraíso. É como encontrar o Havaí no meio do Ártico.

E não faz sentido, assim como encontrar um estranho se


masturbando não faz sentido.

Seguro os restos destruídos da minha túnica no meu peito


protetoramente. — Onde estou?

— Ooondiistou ― o homem responde, a voz com forte sotaque.


Ele se agacha ao meu lado e não posso deixar de notar que está
nu. Realmente, muito nu. Bem, não, retiro. Ele não está
completamente nu, tem um cinto de faca pendurado no ombro. É
isso aí. E não é exatamente construído como caras humanos. Uau,
isso é estranho. Quero olhar para tudo o que ele tem entre as coxas,
mas isso parece rude. Congelo meu olhar para cima...

E percebo quando estende a mão para tocar meu rosto que ele
tem muitas mãos.

Tipo, muitas delas.


Demoro um momento antes de perceber que ele tem quatro
braços.

— Hum. ― Fecho meus olhos e abro novamente, me


perguntando se estou vendo duas vezes. Quando os quatro braços
permanecem, olho para o rosto dele, estudando-o para quaisquer
outras duplicidades. Ele não teria dois narizes se eu estivesse
vendo o dobro? Mas há apenas um. Seu rosto largo é bonito de um
jeito estranho, mas definitivamente só tem o nariz. — Eu não me
lembro de alguém com quatro braços ... ― Pergunto-me se é
educado trazê-lo à tona. Mudo de tática. — Você está com o resto
da tribo? Estamos de volta à vila? — Vektal e os outros caras azuis
conversaram sobre suas famílias em uma vila de pedra do outro
lado das montanhas.

Tenho certeza que ninguém mencionou quatro braços, no


entanto. Ou árvores.

— B'c veeh l'sshh? ― Ele ecoa, confundindo minhas palavras.


A testa dele enruga enquanto me observa, como se estivesse
tentando entender o que estou dizendo, e percebo que ele não fala
inglês.

Ok, isso é estranho. Todos os outros alienígenas falavam


inglês. Talvez... talvez haja outras tribos alienígenas das quais eu
não estava ciente? Ele parece diferente, agora que penso nisso.
Além de sua cor um pouco mais clara, parece ser mais corpulento
que os outros. Onde a maioria dos sa-khui era musculoso e em
forma, esse cara parece que é um pedaço de músculo derramado
sem um centímetro de gordura. É ... bem, é meio que incrível.
Nunca vi um cara tão em forma como ele. Seu peito é praticamente
o dobro da largura de um homem normal e tem dois pares de
braços, um empilhado em cima do outro. Parece algo altamente
incomum, mas é tão fluido com seus movimentos e tão bem
construído que parece totalmente natural, por incrível que pareça.

O rosto dele também é diferente, acho. Ele tem as


características amplas e fortes das outras pessoas do sa-khui, mas
estou sentindo falta dos sulcos duros e na placa que eles tinham.
Tem chifres, mas não se parecem com os gigantes e grandes chifres
de carneiro que os outros têm. Os dele são meio que chifres de bebê
pequeninos que se curvam para trás da testa e arqueiam para trás,
como se prendessem os cabelos pretos ondulados.

— Você é da tribo? ― pergunto a ele. ― Conhece Vektal? E Liz?

— L'sh ― ele repete, franzindo a testa para mim. Estende a


mão para tocar minha mandíbula, e quando recuo, ele parece
chateado. — L'sh?

— Er, não, eu não sou Liz. ― Suspiro, mordendo meu lábio.


— Sou Lauren, mas pode me chamar de Lo. ― Acho que é hora de
interromper a rotina — Você Tarzan, eu Jane. Bato no meu peito.
— Lo.

— Llllll ― ele começa, tentando formar a boca em torno da


sílaba do meu nome. É como se não pudesse descobrir. Quanto
mais tenta, mais faz parecer um ruído de engasgo.

— Ótiiiiimmmo.
— Llll,― diz finalmente, meio que vomitando meu nome, e
depois acena para mim como se isso fosse algo próximo de estar
correto.

— Não exatamente ― digo. Tento novamente, batendo no meu


peito. — Vamos com Lauren, então. Lauren.

— Llllll'rhn.

Ele está tentando, darei isso a ele. É como se estivesse tendo


problemas com vogais. Como se não estivesse acostumado a mover
sua mandíbula como a minha. Sua linguagem deve ser todas as
consoantes ou algo assim. Curiosa, bato em seu peito. — Quem é
você, amigo?

Ele parece satisfeito por eu ter perguntado. Esfrega os dedos


sobre o local em que toquei, o que me faz sentir todo tipo de
estranha, já que estou de topless no momento, e depois diz algo
que soa um pouco mais como um espirro do que um nome.

Quando ele não continua, percebo que é o seu nome. Oh


garoto. — Pode repetir isso?

Ele balança a cabeça para mim e estuda minha boca, como se


estivesse tentando seguir minhas palavras. Uma das mãos se
estende, movendo-se em direção aos meus lábios, e me sinto toda
corada e incomodada com o pensamento dele me tocando.

Balanço a cabeça e ele deixa cair a mão. Abraço minha túnica


destruída contra o meu peito, estudando-o cautelosamente.
Deveria estar pirando com o fato de que estava inconsciente e ele
tirou minha roupa, mas não estou recebendo uma vibe
assustadora dele. Ele nem está olhando para os meus seios ou
tentando me tocar de forma inadequada. É como tudo o que ele
realmente quer agora é se comunicar.

Claro, peguei o cara se masturbando.

Então, novamente, estava inconsciente. O pensamento é


horrível, mas ... se quisesse me machucar, poderia ter feito isso. —
Espero estar segura com você, meu amigo ― sussurro. — Porque
estou realmente muito vulnerável agora.

— Llll ― ele diz novamente, depois gesticula para mim. — L'rn.

Aw. É como se ele quisesse cuspir a palavra, ou melhor ainda,


transformar duas sílabas em uma.

— Não exatamente. Lauuuuuu-rennnn ― explico, exagerando


a palavra e alongando minha boca com cada sílaba.

— Lll'rn. ― Ele franze a testa como para si mesmo, sabendo


que não está certo. Não posso deixar de sorrir com isso. É claro
que ele quer aprender e é meio fofo. — Lauuuu ― começo de novo
e depois paro, esperando que ele tente.

— Llll.

Estendo a mão e aperto sua mandíbula levemente peluda,


tentando alongá-la em uma forma de O. É claro que, no momento
em que o toco, seus olhos ficam macios e ele acaricia minha mão,
e sinto um tremor engraçado na minha barriga.
Tudo bem, Lo, foco. — Lauuuu, repito, e mantenho a mão na
mandíbula dele. Desta vez, quando imita, ele me deixa puxar um
pouco e tenta formar um O próprio.

— Lllllaaaahhhhhooooooooo ― diz, e depois olha para mim.

— Isso é muito bom ― falo, sorrindo.

Ele sorri de volta para mim, e estou impressionada com o quão


atraente é. Ainda é um alienígena, é claro, mas há algo tão juvenil
e encantador nesse sorriso feliz que a pequena borboleta
esvoaçante na minha barriga dá outro giro.

— Llllooo'rhn ― ele tenta novamente. Então ― L'ren.

— Eu aceito ― declaro com um aceno de cabeça. — Agora me


diga seu nome novamente, e por favor não pareça um espirro, ou
te chamarei de saúde. ― Aponto para ele.

Ele tenta novamente, diminuindo o nome de uma quantidade


exagerada que é claramente difícil para ele. Parece ... Kathar, mas
se engolir todas as sílabas e fizer um som estranho. Tento imitá-lo.

— K-tharr?

— K'tha ― ele concorda, e desta vez quando o ecoo parece


satisfeito.

— Ok, estamos chegando a algum lugar ― concordo. L'ren e


K'thar. ― Tenho certeza de que os outros alienígenas não tinham
nomes assim, então você deve ser de pessoas diferentes. Sim?
Ele franze a testa levemente para mim, como se estivesse
tentando seguir minhas palavras. Depois de um momento, aponta
para as árvores e solta um fluxo de sílabas que não posso seguir,
muito menos pronunciar.

Certo. — Não entendi, mas seguiremos em frente, ok?


Estamos de volta às montanhas? Ou na praia? Você viu a nave
espacial afundar? ― Movo minha mão no ar, tentando fazê-la
parecer, bem, parecida com uma nave espacial. — Nave espacial?

Ele olha de soslaio e depois gesticula para as árvores,


cuspindo outra rodada de palavras guturais que não posso seguir.

Bem, merda. Abraço os restos da túnica nos meus seios e


contemplo minha situação. ― Alguém na outra tribo — Liz? Vektal?
Mardok? Mencionaram a obtenção de algum tipo de despejo de
linguagem para que pudéssemos aprender sa-khui. Estávamos
pressionados pelo tempo e havia tantas pessoas – todas já falando
inglês, até os homens alienígenas – que foram colocados em
segundo plano. Gostaria que não tivesse acontecido, porque não
posso falar com meu novo amigo. — Sabe onde Vektal está? ―
pergunto, trazendo o nome do chefe.

― Vektal?

Ele faz um gesto para beber e me dá um olhar curioso.

— Sim, chegando a lugar nenhum ― e o recompenso com


outro sorriso constrangedor. Não é culpa dele. Está fazendo o
possível para ajudar.
Ele diz outra coisa e faz um gesto para os meus seios, que são
encobertos pela minha túnica desfiada.

Aperto com mais força no meu peito e lhe dou um olhar


indignado. — Você não está tirando isso de mim. Percebo que essa
é uma praia opcional para roupas, mas não estou sentindo essa
vibração. — Não olho para baixo, porque verei um monte de pênis
alienígena se fizer. — Na verdade, preciso de uma camisa nova.

Ele diz outra coisa e pressiona a mão na minha testa, com


preocupação no rosto.

Ele acha que estou doente?

— Se acha que estou tão doente, por que quer que eu fique
nua? ― murmuro para mim mesma, tentando pensar em uma
maneira de me comunicar. Talvez precisemos ir até a praia e
desenhar figuras na areia. Aqui é mais terra preta e pedregosa
debaixo das árvores, o que é estranho para mim, mas não sei muito
sobre botânica alienígena. Ou qualquer botânica. Talvez Marisol ...

Espere.

Onde está Marisol?

Levanto, segurando a túnica nos meus seios. A preocupação


me faz tropeçar para a frente e ignoro o esmagar das minhas botas
de couro encharcadas. Minha calça está seca, e isso me faz pensar
quanto tempo fiquei inconsciente. Estudo as ondas batendo, mas
não há cápsula flutuando na água. Há apenas areia preta sem fim.
Areia preta? Isso me atinge agora. Isso é novo. Era esverdeada
e pedregosa na outra praia.

— Marisol? ― Grito. — Você está aqui?

O grandalhão se move para o meu lado, tocando meu braço.


Balança a cabeça violentamente, murmurando alguma coisa. Ele
provavelmente está me dizendo para calar a boca.

Como se me importasse? Cadê minha companheira? Onde


está Marisol? Se ela está se escondendo, pode estar em perigo. Não
posso sair sem ela, e se esse alienígena pensa que sou só eu na
praia, isso pode ser perigoso. Coloco a mão na boca e grito o nome
dela. — Marisol!

O grande alienígena assobia algo para mim e toca a mão no


meu braço.

Eu o sacudo, ainda mais preocupada. Avanço, indo para a


praia. — Marisol ― berro. — Responda! Estou aqui! Onde você
está? Está se escondendo? ― Ele segue atrás de mim, pegando
minha mão novamente. — L'ren, hst.

Não sei o que significa hst, mas posso adivinhar que é algo
como cale a boca. Só que não quero. Afasto-me dele e começo a
correr, indo para a praia. — MARI...

Minhas palavras morrem quando ele me agarra e me prende


contra ele, colocando uma das mãos grande sobre minha boca.
Grito contra seus dedos, lutando.
— Hst! ― ele repete no meu ouvido. E me carrega para longe
da praia e de volta para as árvores.

Luto contra ele, mas com quatro braços, é muito fácil me


manter em cativeiro contra ele e ainda me manter abafada. Sinto
uma onda de desespero quando ele me carrega para a selva, se
movendo rapidamente e depois me coloca perto de uma árvore. Ele
pressiona a mão na minha boca novamente, gentilmente, e depois
balança a cabeça, como se estivesse indicando silêncio. Há um
olhar de preocupação em seu rosto que me faz sentir
desconfortável. — L'ren. ― Ele gesticula para a árvore, indicando
que eu deveria subir.

O que? — Não estou subindo em uma árvore! Por que faria


isso? Olho para a coisa. Mesmo que eu quisesse, é maior do que
qualquer árvore que já vi, com um tronco mais largo do que alto e
sem galhos baixos. O mais próximo está no topo do meu alcance,
e não consigo nem fechar meus dedos em torno dele quando estou
na ponta dos pés.

— L'ren ― ele diz novamente, tentando me puxar para cima


da árvore.

Bato em suas mãos, liberando o galho. — Pare com isso! Não


posso escalar isso! É muito alto! — Olho para cima e a árvore
continua bem acima da minha cabeça, e tenho certeza de que o
próximo conjunto de galhos acima está ainda mais distante do que
o primeiro.
K'thar faz um gesto de salto e depois aponta para a árvore
novamente, com urgência no rosto.

— Não, eu ... ― Fico em silêncio. Ao longe, ouço o ruído de


algo grande e pesado através da vegetação frondosa da floresta.

Ah merda. Meus olhos se arregalam. Algo grande está vindo.

A mandíbula sombria de K'thar aperta. Ele me agarra e me


puxa atrás dele, me arrastando até uma árvore a alguns metros de
distância. Quero protestar, mas tenho muito medo de emitir um
som. O barulho está se aproximando e meu novo amigo tem uma
expressão bastante sombria no rosto. Ele me leva para a nova
árvore – uma coisa pequena e agachada, coberta de folhas grandes
e irregulares que flutuam ao vento – e me pressiona contra o tronco
dela.

A árvore é muito curta para subir, apenas alguns metros mais


alta que eu, e por isso não tenho certeza do que ele quer até que
coloca uma das mãos sobre minha boca e então captura minhas
mãos com as dele, me prendendo contra o tronco com suas mãos.
Grande corpo. Ele gesticula para a própria boca, indicando
silêncio.

Ele está me protegendo com seu corpo. Aterrorizada, aceno.

O som estridente se aproxima e posso ouvir o suspiro de um


animal barulhento ... Ao mesmo tempo em que um fedor terrível
toca meu nariz. Ugh, cheira a atropelamento e coisas mortas.
Engulo em seco, e o olhar que K'thar me dá é um aviso, mesmo
quando sua mão permanece pressionada nos meus lábios. A
mensagem é clara – não faça barulho. Não se mexa. Não respire.

Não faço nenhuma dessas coisas. Estou com muito medo.


Meus olhos estão arregalados e presos aos de K'thar e tremo contra
ele. Ele mantém a mão contra a minha boca, mas seus dedos
parecem menos como uma prensa e mais uma ... carícia. Seu olhar
é suave quando encontra o meu e não parece preocupado. Protetor,
sim. Preocupado, não.

É aquele olhar protetor nos olhos dele que me faz sentir ...
corada por toda parte. É intenso o olhar nos olhos dele, nossos
rostos tão próximos que posso sentir sua respiração em mim. Ele
tem os mesmos olhos azuis elétricos brilhantes que todo mundo, o
olhar azul khui que fala de seu simbionte.

Sinto-me estranha.

Mas então a criatura troveja passando por nós, toda a pele de


couro e fedor, e eu ainda permaneço sob o corpo de K'thar. Consigo
distinguir partes dele por cima dos ombros e vejo muitos chifres,
muita pele cinza-acastanhada e um rabo longo e agitado que afasta
a vida das plantas à medida que passa de um lado para o outro.

E está apenas passando por nós.

Talvez seja uma dessas coisas que, como nos filmes, os


dinossauros não podem ver as pessoas a menos que se mexam.
Espero.
Olho para K'thar ... e percebo que ele mudou de cor de alguma
forma enquanto estava focada em seus olhos ou na criatura que
parou atrás de nós, farejando o ar.

O polegar de K'thar esfrega meus lábios, muito suavemente,


lembrando-me de ficar em silêncio. Como se pudesse falar neste
momento. Estou muito surpresa com o que estou vendo. Não é o
lagarto com chifres atrás de nós que me surpreende tanto, mas
meu novo amigo. Os dedos entrelaçados aos meus mudaram para
a cor da casca da árvore e, enquanto estudo o braço dele, vejo que
o restante dele ficou da mesma cor.

Nós nos misturamos completamente com a árvore, e seu corpo


maior esconde o meu não camuflado.

Tem tantas perguntas que quero fazer. Os outros poderiam


fazer isso e eu simplesmente não estava ciente disso? Mas não
tinham os quatro braços que ele possui e K'thar não fala inglês.
Não sei se ele é um dos mesmos alienígenas que os outros ou se é
de um tipo completamente diferente.

Tudo isso é um mistério.

A criatura próxima faz um som de sopro e depois se afasta,


mas K'thar não se move. Eu também não. Não irei a lugar nenhum
até que ele dê o aval. Estudo a coloração dele – ele conseguiu, de
alguma forma, combinar perfeitamente com a árvore.

Talvez meus olhos não estejam tão ruins, afinal. Talvez eu o


tenha visto mudando de cor como um camaleão antes.
É fascinante.

Seu aperto se solta em mim e deslizo minhas mãos, mas


quando ele continua segurando meu corpo contra a árvore com os
braços, sei que ainda não é inteligente ir embora ainda. A criatura
ainda está por perto, apesar de estar cada vez mais longe a cada
passo.

Isso é bom. Posso ficar aqui, porque estou muito interessada


no que está diante de mim.

Corro meus dedos pelo braço dele, me perguntando se irá me


parar. A verdade é que eu quero ver “sentir” se a pele dele tem a
mesma textura que a casca de uma árvore, porque combina
perfeitamente. Parece pele, no entanto, quente e suave, e estou
ainda mais fascinada por isso. Deveria, provavelmente, parar de
tocá-lo agora que a criatura está seguindo em frente, mas não
consigo evitar. Ele estremece, fechando os olhos, e é como se
estivesse paralisada. Quero continuar a explorá-lo, continuar
tocando-o. Sei que ele é um estranho. Eu simplesmente não me
importo no momento.

Deslizo as pontas dos dedos para cima de um bíceps e depois


sobre o ombro dele. Ele está pressionado tão perto de mim que
posso sentir todo o seu corpo contra o meu, e sinto o ruído excitado
de sua respiração à medida que acelera. Ele gosta do meu toque.
Percebo pela maneira como reage – e pela maneira como certas
partes de sua anatomia estão endurecendo contra o meu estômago.
Ele está completamente nu contra mim e agora estou percebendo
isso ... e que estou de topless, minha túnica esquecida em algum
lugar da nossa pressa de encontrar uma árvore. Meus seios estão
pressionados contra ele, e posso sentir cada respiração que ele leva
até meus poros.

Nunca estive tão perto de outra pessoa, principalmente de um


estranho. Houve namorados, mas nunca pareceu o momento certo
de levar as coisas muito longe. Sempre havia algo mais, ou eu
simplesmente não gostava o suficiente. Nunca estive quase nua
com outro cara pressionado contra mim, e nunca um do tamanho
desse homem.

É ... de tirar o fôlego.

Inspiro profundamente e meus mamilos roçam contra seu


peito. Eles endurecem imediatamente e sinto uma intensa
sacudida de desejo varrer através de mim. Não sou o tipo de garota
que se esfrega contra um cara nu na selva, mas parece que hoje
sou. Não posso me ajudar. Suspiro e pressiono para frente,
movendo-me contra ele novamente apenas para sentir essa
sensação.

Ele geme baixo na garganta. A mão de K'thar vai para o meu


cabelo e agarra um punhado, inclinando minha cabeça para trás e
expondo meu pescoço. Choramingo, esperando que ele me beije,
mas tudo o que faz é inclinar-se e cheirar fundo, como se estivesse
agora ciente do meu cheiro pela primeira vez.

Nunca fui farejada por um cara antes. Nunca percebi que uma
coisa tão pequena poderia ser tão erótica, mas quando seu nariz
se arrasta pelas cordas do meu pescoço e ele respira? Se tivesse
calcinha, elas estariam molhadas. Quero que ele me beije. Quero
saber como seria ser possuída por um cara desse tamanho, desse
primal. Não sabia que isso era coisa minha, mas estou aprendendo
rapidamente que tudo é diferente neste planeta.

E realmente, realmente quero que ele me beije.

Estendo a mão e acaricio sua mandíbula, inclinando minha


boca na dele. É um pedido silencioso para um beijo, se já houve
um, mas tudo o que ele faz é esfregar o rosto no meu pescoço mais
uma vez. Talvez o pessoal dele não saiba beijar? Mas isso não pode
estar certo, vi Liz e seu companheiro, Raahosh, beijando
sorrateiramente quando eles achavam que ninguém estava
olhando. Talvez ele simplesmente não queira me beijar?

Isso também não pode estar certo. Posso sentir o quanto ele
está excitado. Seu pênis é uma barra de calor pressionando meu
estômago. Suas mãos percorrem meus ombros e acariciam meus
cabelos, e posso ouvir sua respiração pesada ofegando em meu
ouvido. Ele está tão nisto quanto eu. Caramba, o cara está
praticamente ronronando...— Ronronando?

Congelo. De jeito nenhum.

K'thar olha para mim, calor em seus olhos, sua boca sexy
aberta enquanto olha para mim. Deus, isso é outra coisa. Fico toda
tremendo só de olhar para ele. Na verdade, estou tremendo ainda
mais a cada momento que passa...

E então percebo que não é só ele que ronrona. Eu também.


Com pavor, percebo o que isso significa. Quando eles nos
deram nossos piolhos, a tribo nos disse o que aconteceria. O khui
escolhe um parceiro para você e ressoa sempre que estiver perto.
Seu corpo anseia por essa outra pessoa e você fica incrivelmente
excitado a ponto de não conseguir pensar em nada além de fazer
sexo com essa pessoa, e continua até que alguém acabe grávida.
Veronica e o grandalhão de ouro no acampamento ressoaram um
com o outro e ele olhou para ela como se quisesse devorá-la.

Como o jeito que K'thar está me olhando agora.

Pressiono a mão no centro do peito. Com certeza, posso sentir


o zumbido de seu piolho em seu peito, ronronando e vibrando sua
canção.

— Ressonância ― sussurro.

— Isto poderia ser um problema.


CAPÍTULO 7
K'thar
Sorrio com satisfação enquanto minha fêmea ressoa para
mim. Agora ela entende. Agora cederá a mim e nós acasalaremos.
Preciso afastá-la desta área se houver kaari por perto, para que
possamos ter tempo de ceder à ressonância e nos divertir.

Gosto muito desse pensamento.

— L'ren ― murmuro, tocando seu queixo. — Venha. Temos


que fugir deste lugar.

Ela balança a cabeça um pouco, indicando que não me


entende. Mordo minha frustração. Não é culpa dela que não possa
entender minhas palavras. De onde ela é, seu povo não fala o
mesmo que o meu. Fico imaginando um clã que coloca as pessoas
nos ovos, mas talvez ela me conte mais a tempo.

Por enquanto, tudo o que importa é a segurança dela.

— Temos que ir ― explico novamente, minhas cores


ondulando para combinar com as folhas das árvores próximas.
Através dos galhos é a melhor e mais segura maneira de levar
minha companheira para casa.

L'ren suspira e toca minha pele, fascinada pelas cores. A


reação dela é surpreendente para mim. Ela não tem camuflagem
própria? Permanece no mesmo rosa pálido esbranquiçado, e isso
me enche de preocupação como ela pode se proteger se não
consegue mascarar sua aparência? Até o pequeno Z'hren muda de
cor e ele ainda não pode engatinhar.

— Porr ― ela me diz, batendo no meu peito novamente. —


Issoémauuu.

Não entendo suas palavras sem sentido, mas não consigo me


distrair com o toque dela. — Devemos ir para as árvores. Vou levá-
la para minha casa, onde estará segura. É alto nas folhas, além de
onde qualquer kaari pode alcançar, e os galhos nos protegerão dos
garras do céu. No terreno aqui, somos vulneráveis.

Ela parece perturbada. — Não posso ficar.

— Sim ― concordo. ― Muito vulnerável. Venha. ― Gesticulo


para os galhos de uma árvore próxima.

— Você deve conseguir chegar a este com suas mãos


pequenas. ― Preocupo-me que ela tenha apenas duas delas. E se
perder o controle de uma mão? A outra não será forte o suficiente
para aguentar o peso dela.

A resposta é simples — devo carregá-la.


Para um dos clãs do Braço Forte, ser carregado é uma
profunda humilhação. É por isso que N'dek se recusa a deixar o lar
após a perda de sua perna. Quando você ultrapassa a idade de um
kit, espera-se que conte com sua própria força. Porém, lembro-me
que L'ren não é do meu clã e não há vergonha em carregá-la. Eu a
carreguei para fora da praia, afinal, mas ela estava inconsciente.
Isso é diferente.

— Devo carregá-la ― explico, indicando com um gesto que


precisamos levar para as árvores.

— Nãofalequeestamoscomproblemas ― ela diz para mim,


dando um tapinha no meu peito novamente.

Ah ela está perguntando sobre o acasalamento? ― Estou


encantado com a sua ansiedade. — Meu pau pode esperar até que
esteja segura, minha companheira adorável. Inclino para acariciá-
la em uma demonstração de carinho, para que saiba que ainda
estou satisfeito com ela.

Ela faz um grito suave e dá um tapa na minha bochecha. —


Noh!

Franzo a testa, surpreso. É assim que o povo dela mostra


afeto? Bofetadas no rosto? Não acho que posso seguir esse
costume. Um dos meus tapas mais leves faria seu corpo delicado
cambalear. —Encontrarei maneiras diferentes de te dar prazer,
isso eu prometo ― digo a ela e pressiono minha mão nos lábios. —
Quieta, agora estamos no chão.
L'ren solta um pequeno suspiro do nariz, claramente
frustrada. Não tinha ideia de que uma companheira ficaria tão
irritada que não a virasse de costas e a fodesse aqui. A segurança
dela deve vir primeiro. — Logo ― prometo. — Não duvide que te
queira. Certamente pode ver isso. ― Faço um gesto para o meu pau
dolorido, depois para o meu coração cantando. — Isso não está
claro o suficiente?

Suas bochechas se camuflam um pouco. Curiosa. —


Nãoseiquevocequer.

O tom da minha companheira soa como se estivesse cedendo


à razão. Estou feliz. Estendo meus braços para ela novamente,
oferecendo-lhe a chance de vir até mim por sua própria vontade. —
Irei carregá-la, falo, indicando para a árvore novamente. — Dessa
forma, sei que estará segura.

Franzindo a testa, L'ren balança a cabeça para mim. —


Naumintendo.

— Não, deve ser assim, minha companheira. Não discuta


comigo. Você não é do Braço Forte. Não há necessidade de se sentir
envergonhada. ― Avanço e a puxo contra mim.

L'ren endurece, lutando contra mim.

Seguro seus braços com os meus e uso minhas mãos livres


para começar a subir na árvore. Subo alguns galhos e depois paro,
porque ela parou de lutar e depois passou os braços para o meu
pescoço.
— Segure em mim.

Suas bochechas estão camuflando aquela sombra estranha


novamente.

— Sei que você está ansiosa ― eu a acalmo. — Tempo


suficiente para isso, prometo. Preciso ter você em segurança antes
de te ter debaixo de mim. Então pode me dar um pouco do amor
em seu coração.

Ela não diz nada, seus braços apertados em volta do meu


pescoço. Apoio as pernas dela em volta de mim e lembro que ainda
usa as estranhas camadas sobre ela. Algo para consertar quando
chegarmos à tribo. Ela quer se libertar dessas coisas, eu sei. Não
podem ser confortáveis.

Meu pau dolorido está tornando a escalada um pouco ...


interessante. Ele sai da minha virilha, esfaqueando os galhos como
se fossem a carne quente do minha companheira. Também não
descerá. Não com L'ren pressionada tão docemente contra mim,
seus seios inchados esfregando contra meu peito e seus braços em
volta do meu pescoço. Com o corpo dela contra mim assim,
enquanto subo, penso em acasalar. Não posso evitar. Seu
entusiasmo por essas coisas, junto com a música firme em seu
peito, traz minha própria necessidade a um tom de febre. Suas
pernas estão em volta de mim e não posso deixar de pensar que
seria tão fácil deslizá-la um pouco para a frente e afundar meu pau
bem fundo...
É uma pena que ela use essas camadas, ou nós dois
conseguiríamos o que queremos. Com um suspiro raivoso, subo
mais alto nas árvores, em direção ao dossel.

Lauren
Pela primeira vez em dias, eu realmente queria não ver tão
bem agora. Sem óculos, é relativamente fácil eliminar
gradualmente o que vejo, me isolar mentalmente das coisas. Não
vejo isso acontecendo, então não pode ser tão assustador.

Infelizmente, isso não parece mais ser uma tática de


enfrentamento que posso usar. Estou perfeitamente ciente de quão
alto estamos nas árvores e quão longe está o solo. Meu novo amigo
– K'thar – parece não perceber o quão alto estamos, porque ele se
move através das árvores como se tivesse nascido. Pular vários
ramos de distância? Não tem problema, ele pulará para isso.
Árvores que não são fortes o suficiente para aguentar seu peso?
Ele pula do tronco com as pernas e voa para a próxima árvore, tudo
sem parar. Meu peso extra não parece ser um fardo para ele,
porque sobe e carrega nós dois com tanta velocidade que sinto que
estou com enjoo.

Então, apenas me agarro a ele com mais força, braços e


pernas em volta de seu corpo. Ele me segura contra si com dois
braços, e os outros se movem rapidamente de galho em galho.
Claramente, esse tipo de viagem não é um problema para ele.
Ótimo.

Um problema abaixo, tantos para ir.

Sei que Marisol deve ser minha principal preocupação. Ela é


uma mulher adulta, é claro, e deve ser capaz de cuidar de si mesma
da melhor maneira possível. Somos todos iguais agora, porque
ninguém conhece esse lugar. Mas sei que Marisol tem lutado para
se adaptar. Ela gosta de se esconder do mundo, e concentrei muito
do meu medo e preocupação em ser sua protetora. Não perdi
porque sabia que Marisol precisava de alguém para ser forte, então
me ofereci. Não sei como ela se sairá sozinha. Nem sei se está
segura ... ou se está viva. Não posso nem perguntar.

Mais do que o problema da falta de Marisol, é que não sei onde


estou. Este lugar não corresponde a nada que os outros me
disseram. Não está nevando nem um pouco, e o ar está quente e
abafado. A vegetação está fora de controle, enorme, e nada disso
faz sentido. De alguma forma, fui levada para outro planeta
enquanto dormia? Parece ridículo, mas tenho certeza de que tudo
isso é ridículo, tênia, planeta de gelo, caras azuis, quatro braços, e
isso está acontecendo comigo. Adoraria que uma grande pitada me
acordasse, mas isso não está acontecendo. O grandalhão me move
contra ele e seu pau esfrega contra a minha coxa enquanto sobe
cada vez mais alto nas árvores. Meu amigo ronrona como se
estivesse emocionado por esse pequeno contato, e tenho que
admitir que estou me sentindo um pouco quente e incomodada.

Sim, isso é outro problema. Ressonância.


Fui avisada por Liz e Harlow. É um efeito colateral do khui e
todos que têm um khui experimentam ressonância em algum
momento ou outro. Já que era khui ou morte, escolhi o khui. Sabia
que isso estava prestes a acontecer em algum momento, já que
todos os humanos que foram resgatados no planeta gelado até
agora tinham ressoado um ou dois anos após a chegada.

Entretanto, vendo como tínhamos apenas quatro machos não


acasalados em nosso grupo e um já ressoava com outra pessoa, as
chances eram de que demoraria muito, muito tempo antes que eu
ressoasse com alguém.

Não contei com K'thar. Não contei com essa ilha – ou onde
quer que estejamos – e com certeza não contei com a ressonância
para alguém no momento em que o vi.

Não sei o que fazer com ele e eu. Quero dizer, não há nada a
fazer, mas parece um problema que preciso resolver. Tenho certeza
que ele irá querer acasalar. Também tenho certeza de que não
estou pronta para isso. Mentalmente, de qualquer maneira.
Fisicamente? Oh garoto, meu corpo está sempre pronto? Meu
piolho está vibrando uma milha por minuto e o dele também está
me lembrando que não sou a única sentindo os efeitos da
ressonância. Disseram-me que seria impossível resistir e, na
época, também tinha certeza de que a maioria das pessoas não
resistia porque não queria. Que era mais uma endorfina alta do
que um imperativo de algum tipo.

Oh, como estive errada...


A ressonância é mais ou menos um tapa na cara, dizendo aos
hormônios para entrar na fila, porque estão prestes a ser
atendidos. Meus seios não pararam de doer e sentem-se tensos
desde que meu piolho começou a agir. Minha pele está sensível.
Minhas partes de garota? Elas também sentem dores, como se
precisassem de algo que não existe. Sei exatamente o que é isso, e
meu corpo terá que esperar.

Não estou tão pronta para entrar em um relacionamento.

Ele diz algo para mim, sua mão se abaixando e acariciando


minha bunda enquanto ri.

— Sim, não tenho ideia do que você acabou de dizer ― falo


mal-humorada. O primeiro passo desse relacionamento é
estabelecer algum tipo de comunicação, mesmo se terminarmos
com perguntas principalmente sim e não. Tenho muitas perguntas.

K'thar gesticula novamente e depois dá um tapinha no meu


quadril com uma das mãos e aponta para o pescoço dele com a
outra.

Oh. Acho que estou segurando muito forte. Sinto minhas


bochechas esquentando. — Desculpe por isso.

Ele estende a mão e acaricia minha bochecha, dizendo algo


novamente. Daria um tapa na mão dele, exceto pelo fato de que
preciso de todos os meus membros para segurá-lo para que ele não
me derrube. — Deixarei esse deslizar por enquanto.
Outra frase ilegível. Ele aponta para cima e olho também. Oh
Deus, estamos perto do topo do dossel. É uma visão vertiginosa, e
apenas inclinar minha cabeça assim me deixa enjoada. Fecho os
olhos e enterro o rosto no pescoço dele novamente, gemendo de
horror. Não sabia que tinha medo de altura até agora. K'thar
murmura algo calmante, e suas mãos se apertam em mim
novamente. Desta vez, não me importo com a mão na minha
bunda. Se isso permite que ele me segure melhor, sou a favor.
Posso sentir seus músculos enrijecerem quando ele pula
novamente, nossos corpos se movendo e balançando. Mantenho
minha cabeça baixa, porque não quero ver nada dessa viagem.

Ele faz uma pausa e sinto a onda de vento no meu cabelo. —


L'ren ― sussurra, depois acaricia meu braço.

— Você provavelmente deveria estar segurando algo diferente


de mim ― indico, sem levantar a cabeça. — Foco, amigo. Foco. Sou
importante demais para desistir. Espero.

Uma mão grande e reconfortante acaricia meu cabelo. — L'ren


― ele diz novamente. — Vy skh.

O grandalhão fica repetindo isso e tocando meu ombro, e


percebo que ele quer alguma coisa. Mordendo meu medo, levanto
minha cabeça um pouco.

Eu vejo o céu.

Aterrorizada, aperto minhas pernas ao redor dele com mais


força, agarrando seu pescoço. — Não me deixe cair!
— Es ket. ― Um tapinha nas minhas costas. — Ket.

Olho para ele novamente e, quando me dá um sorriso


encorajador, ignoro a onda do meu excitado piolho e tento olhar ao
redor desta vez, para ver o que está me mostrando.

Há mais céu, e meu cabelo chicoteia em volta do meu rosto,


voando. Posso ouvir o farfalhar de folhas aqui em cima, centenas e
milhares delas, tremendo na brisa. O céu é laranja pálido rosado
nas partes onde os sóis podem ser vistos sob as nuvens, um sinal
de que a noite estará chegando em breve. E além das árvores...
verde-garrafa.

Água.

Suspiro, sentando-me ereta. O oceano. É o mesmo oceano de


antes. Aperto os olhos, não ousando levantar a mão para os olhos,
mas tenho certeza de que posso ver quilômetros e quilômetros em
torno deste alto. Juro que estamos na árvore mais alta da floresta
e, se conseguisse não me apavorar, provavelmente pensaria que
isso é legal.

Não deixei o planeta por outro, então. Estou no mesmo


planeta... apenas em um lugar diferente. Aposto que se eu pudesse
ver o suficiente, veria os picos gelados do outro lado. A menos que
esteja a um continente de distância, é claro. Algo me diz que não
estou, no entanto. É estranho, porque aqui em cima com a brisa,
o ar parece mais frio. Lá embaixo, entre as árvores, está úmido e
abafado, mas aqui em cima é tão fresco quanto me lembro.

K'thar me diz algo, gesticulando para a terra.


— Mm ― digo, apenas para responder, mas não estou
prestando atenção nele. Estou tentando pensar. Algo sobre isso
está me deixando desconfortável, e não é apenas a altura em que
estamos. Olho para a água e as árvores ao nosso redor. Existem
ilhas à distância, um pouco mais planas e não tão verdes quanto
esta. É interessante, porém, porque estão se curvando, quase como
se estivessem fazendo um grande círculo. E no centro do círculo,
há mais água, mais pálida e verde-clara do que o resto do oceano,
como um lago. Só que é estranho, porque no centro do lago há
bolhas e uma nuvem de fumaça. Apenas uma pequena.

Realização me impressiona. Sei o que é isso.

Agarrando-me ao pescoço de K'thar, viro-me, tentando ver


atrás de nós. Estamos no ponto mais alto do que parecem
quilômetros, e daqui posso ver quase tudo. É como se estivéssemos
ao lado de um penhasco muito íngreme e lá embaixo se espalhe
por quilômetros e quilômetros de árvores. Ao longe, vejo a linha
negra e fraca de areia. Viro minha cabeça novamente.

E ofego.

No extremo da ilha, onde a terra se estreita, é toda a terra


preta e lisa. Isso não seria tão alarmante, exceto que há fumaça
saindo da água em um fluxo constante, enviando massas de
fumaça para o ar. Sei o que é isso. Vi um vídeo sobre o Havaí na
Geologia 101 na faculdade. Um vulcão ativo que ainda tem lava
fluindo produz vapor quando atinge a água. Ao longe, isso refrigera
a lava que atinge o oceano. Muitos e muitos. Olho morro abaixo,
depois em direção à minúscula pluma no centro do lago cercado
por ilhas. Exceto que não é um lago e não estamos em uma ilha. É
uma caldeira – a cratera de um vulcão – e estamos bem em cima.
Essas árvores, essa floresta, tudo ficou úmido e quente porque
estamos bem no topo de um vulcão ativo.

Oh, isso não é bom!


CAPÍTULO 8
K'thar
L’ren está chateada com alguma coisa. Acho que ela não gosta
da terra. Algo a assusta. Levei-a para o meu lugar favorito, no alto
das árvores, porque adoro olhar para o mundo e imaginar como é
além de nossa casa. Gosto da vista e da brisa fresca que se move
tão acima da terra. Mas, em vez de ficar surpresa ou satisfeita com
o que lhe mostrei, ficou pálida e preocupada. Há sombras em seus
olhos e parece infeliz. Ela continua apontando para a névoa
espessa e sempre presente nos terrenos do fogo e dizendo palavras
estranhas.

— Não te levarei lá ― asseguro. ― Sei que é perigoso. Confie


em mim. ― Ela não parece feliz, contudo seu aperto tenso relaxa
um pouco quando descemos de volta para o dossel. Não há mais
tempo para pontos turísticos. Preciso levá-la para a casa do clã,
antes que fique escuro e os voadores noturnos se tornem ativos em
sua caça.

Então descemos, movendo-nos através das árvores mais uma


vez. Ela treme contra mim, e faz meu corpo lembrar que estamos
ressonando. Talvez eu devesse levá-la para algum lugar mais
privado que a casa do clã?

Não está noite, decido. J'shel precisará de ajuda com o kit.


Eles precisarão de comida. Acasalar com ela em algum lugar
privado terá que esperar um pouco mais. Sinto uma pontada de
irritação com o pensamento. Não tem o que fazer. A segurança de
todos deve vir em primeiro lugar.

Mas isso não significa que não posso me ressentir, só um


pouco.

Está quase escuro quando o buraco esculpido na casa do clã


se torna visível. Nossa árvore não é tão espaçosa quanto a casa do
clã de Tall Horn, cercada por corais, ou os penhascos das cavernas
de Gato das Sombras, mas é fácil para subirmos e defender mais
facilmente dos predadores. Preocupo-me que isso não seja seguro
para ela com suas plataformas de tecido e covas confortáveis. Vou
até a plataforma superior e a coloco no chão suavemente.

Ela choraminga, agarrando-se ao meu pescoço.

— Naummiderrubiiii!

— Está tudo bem ― asseguro, acariciando seus cabelos. —


Este é o nosso lar. Estamos a salvo. ― Toco meus dedos em seu
queixo. — Espere aqui.

No momento em que me afasto, ela solta um grito de protesto


e segura o meu cinto de faca.
— Não vou longe, prometo ― explico, e pego uma das tigelas
de madeira esculpida esperando em uma prateleira dentro da
cavidade da árvore. Pego um punhado de musgo noturno e o
esmago entre os dedos, e ele começa a brilhar. Coloco dentro da
tigela e depois ofereço-lhe. — Você pode segurar isso se quiser.

Ela pega, um olhar surpreso no rosto.

— Issubrilhaa?

— Luz ― digo a ela. — Então você pode ver.

— K'thar? ― J'shel chama de baixo. Um momento depois, o


kit lamenta um protesto. — Você pode vir e pegar este aqui antes
que eu rasgue minha própria juba?

L'ren me encara em choque e horror. A mão dela passa por


cima das tetas inchadas. — Teimaaugueim aki? Estounua! — Ela
cai de quadril na plataforma e abraça os joelhos no peito.

— Ningueimpodimeverassim!

— Não tenha medo ― asseguro, movendo para o lado dela e


agachando-me a seu lado. ― Tão nervosa, minha companheira. Tão
aterrorizada com tudo. — J'shel é um amigo. ― Para ele, eu grito:

— Venha!

O kit chora novamente e ouço o grito do Fat One se juntando.


O buraco da árvore range e geme, um sinal de que J'shel está
subindo. Levanto.
L'ren percebe isso também, e faz um barulho infeliz, enfiando
a tigela de luz nas minhas mãos e depois se apoiando nas minhas
costas. Ela passa os braços em volta de mim por trás, e o som que
faz é indignado.

Ela está tentando se camuflar contra mim? Olho para as mãos


rosadas contra o peito, mas continuam da mesma cor. Ela não
percebe que não pode mudar de cor? Perdeu a capacidade?

J'shel surge da árvore um momento depois, com Z'hren em


uma tipoia de couro contra o peito, Fat One empoleirado em seu
ombro. Ele parece cansado e frustrado depois de um dia assistindo
o kit, mas faz uma pausa ao ver L'ren se escondendo atrás de mim.
— Isso é ... ― Ele olha para mim, chocado. — O que é isso, K'thar?

— É uma fêmea ― explico orgulhosamente e coloco um punho


no meu peito. — Ouça. Eu ressoo com ela.

Sua boca se abre de surpresa e ele balança o kit contra o peito


enquanto geme novamente. — Eu não entendi. Como? Ela estava
se escondendo com outro clã?

— Não acho que ela é de um clã ― digo a ele, acariciando sua


mão enquanto ela se agarra a mim.

— Eu a encontrei em um ovo com outra fêmea. R'jaal pegou


essa.

— O que? Por quê? ― Ele me dá um olhar traído.

— Por que você não trouxe a outra fêmea aqui? N'dek e eu


também não temos companheiras!
— Eu sei disso, irmão. Mas R'jaal chegou à praia ao mesmo
tempo que eu. ― Eu rapidamente conto a história do ovo estranho
e das fêmeas lá dentro.

— Parecia melhor compartilhar do que lutar.

Ele assente, pensativo, enquanto o Fat One empurra seu


braço, flutuando até o meu ombro e aterrissando lá com um baque.
Atrás de mim, L'ren faz um som assustado quando Fat One começa
a cheirá-la. ― R'jaal ressoou com a outra?

— Não que eu vi.

Os olhos de J'shel brilham. — Que clã ela era? ― Ele tenta


espiar por cima do meu ombro a minha mulher.

Agora é a hora de lhe explicar de onde é minha L'ren ... mas


não tenho muita certeza de que sei.

— Ela não é do clã, gosto da minha fêmea.

E me afasto de L'ren para que ele possa olhar para o rosto


dela.

Lauren
Vou matar K'thar por me apresentar a seu amigo enquanto
estou de topless! Ele se afasta de mim, deixando-me sem um
escudo humano para cobrir minha nudez, e mordo de volta meu
grito de irritação e coloco minhas mãos sobre meus seios.

— Pode me avisar na próxima vez? ― grito para ele.

Os olhos do recém-chegado se arregalam ao me ver. Ele parece


K'thar, acho, com uma construção semelhante. Seu cabelo está em
uma longa trança, enquanto o de K'thar está solto em volta dos
ombros. E ele é mais bonito que o amigo, mas sou tendenciosa, é
claro. Meu piolho garante isso.

O novo cara gesticula para mim e começa a cuspir um fluxo


de palavras em K'thar. Provavelmente muitos — quem diabos ela
é? Posso me relacionar. Quero dizer a mesma coisa, exceto que
ninguém me entende. Eles começam a falar em tom baixo e,
enquanto o fazem, estudo meus arredores.

Ainda estamos no alto das árvores. Não é o meu lugar favorito,


mas acho que está quieto aqui em cima. Novos sons estão saindo
da selva com a noite, e não parece totalmente seguro, então, pela
primeira vez, fico feliz por não estarmos perto do chão. Este lugar
é estranho, no entanto. É uma árvore grande, gorda e larga, e
parece que foi escavada. O interior brilha com uma leve luz
esverdeada, exatamente como a pequena tigela que K'thar segura
na frente dele. Acho que é a fonte de luz noturna.

Faz sentido não ter fogo, pois estamos em uma árvore e tudo.

Algo chia – como uma galinha com mais baixo na voz – e então
pula do ombro de K'thar para o meu braço nu. Luto contra um grito
de alarme, porque isso tem que ser um animal de estimação. Farli
tinha um grande pônei peludo e feio. Faz sentido que alguém aqui
tenha um animal de estimação. Só não tenho muita certeza do que
é isso. O rosto parece um cruzamento entre um lagarto e um gato,
e suas asas são sem pelos. Não há cauda e tem uma pequena crista
arqueando para trás de sua cabecinha pontuda. Tem olhos grandes
que brilham como os de um gato no escuro, porém não tem penas
ou pelos. Os pés agarrados ao meu braço me lembram um pássaro,
no entanto. E é redondo e gordo e olha para mim como se estivesse
esperando ser alimentado.

Esquisito.

— Kki ― diz K'thar, e faz um som de clique com a língua. A


coisa emite outro som estrondoso de protesto e depois volta para
K'thar, me abandonando a favor de se mover para o ombro dele e
se encostar na orelha. É como um pássaro e, por algum motivo,
aquece meu coração.

Ele tem um pássaro de estimação. Claro, não há bico ou


penas, mas o jeito que bate as asas? Pássaro. As garras que
cavaram na minha pele sem arranhar? Pássaro. A maneira como
está arrulhando para ele como se esperasse guloseimas? Isso me
lembra do meu doce pássaro que deixei para trás. Sou atingida por
uma onda de saudade que me deixa chorosa.

K'thar avança no meio da conversa, acenando para o amigo.


Ele toca meu rosto, percebendo minha angústia, e depois olha para
o jeito que estou colocando minhas mãos sobre meus seios. Ele fala
algo ao amigo, que ajusta o bebê nos braços. Um momento depois,
K'thar tem a capa de couro e a oferece para mim.
Oh.

Sorrio para ele através das minhas lágrimas e a pego, virando


e envolvendo-a em volta do meu tronco. Aceitarei uma blusa
improvisada. Já me sinto melhor e, quando me viro, minhas
lágrimas estão secando e sou capaz de me concentrar um pouco
mais.

Os dois homens estão olhando para mim, o recém-chegado


inclinando a cabeça como se estivesse tentando me entender
enquanto segura o bebê debaixo do braço. O olhar de K'thar é um
tipo completamente diferente de olhar. É quente e possessivo e fala
de todos os tipos de coisas sujas que me fazem querer pressionar
minhas coxas com força.

Terei sonhos sujos esta noite. Apenas sei disso.

O novo cara gesticula nos meus seios e depois no bebê. Ele


pega a criança e a segura na minha direção.

Oh inferno não.

— Só porque eu tenho peitos, não significa que recebo as


crianças ― protesto, aproximando-me de K'thar.

Ele balança a cabeça para o amigo e bate no peito, depois


aponta para o meu coração. Sei o que isso significa. Ressonância.

O outro protesta, gesticulando para meus seios novamente e


depois para a boca do bebê.
Isso me bate. — Não estou amamentando! Eu apenas ressoei!
Isso significa que posso ter bebês, não que tenha todos os bebês,
seu idiota!

K'thar faz uma careta para ele e pega o bebê nas mãos de seu
amigo e o coloca debaixo do braço. Ele diz algo ao amigo e o outro
cara esfrega o rosto, cansado. Eles conversam um pouco mais, e
percebo que nenhum deles provavelmente é o pai do rapaz. Eles
não parecem saber o que fazer com ele, e quando o bebê enfia um
punho (de quatro) na boca e chupa, eu me pergunto onde está a
mãe da criança. K'thar o segura sem jeito, e depois de um
momento, decido intervir.

— Venha agora. Era babá quando criança – explico,


avançando para tirar o bebê dele. Estou surpresa com o quão
sólido o garoto é. Ele é uma coisinha pesada, e os quatro braços
imediatamente acenam em deleite absoluto quando o coloco contra
o meu lado e o balanço para frente e para trás. Três punhos puxam
imediatamente meu cabelo enquanto o outro dá um tapinha no
meu queixo. Bem, isso não pode ser ajudado. Ele é fofo, porém,
todo gordinho de bebê e pele azul clara. Quando o pego, ele
imediatamente muda de cor para combinar com minha pele e me
dá um sorriso feliz e desdentado.

Ok, isso é fofo. — Onde está sua mãe, garotinho? Eu o levanto


no meu quadril. — Ela está vindo para cá?

Ele fala comigo e puxa meu cabelo. Não pode ter mais do que
alguns meses, esse carinha. Aposto que é um punhado. Olho para
os outros dois, desejando entender a conversa baixa deles. Não
parece que mais alguém está chegando, e olho a árvore novamente.
Claro que parece uma grande casa para apenas dois caras. Bem,
dois caras e um bebê aleatório. Sinto que estou perdendo parte da
história.

Não é surpresa, pois ninguém fala minha língua.

O recém-chegado me dá um sorriso cansado e diz algo para


K'thar, depois volta para a árvore.

K'thar volta para mim e acho que estamos sozinhos


novamente. Bem, exceto pelo bebê que pegamos. Continuo
segurando o carinha, e um pensamento estranho me ocorre. O
garoto está ficando conosco porquê ... porque pertence a K'thar?
Mas isso não pode ser. Ele ressoou para mim.

Tenho vergonha de dizer que sinto uma pontada de ciúme


irracional por um breve momento. Isso é bobagem. O khui no meu
peito me diz a verdade. É o mesmo khui que me deixa com ciúmes
de um cara que conheci hoje cedo.

No meu coração, sei que estou sendo ridícula. Se eu sentar e


pensar logicamente, sei que este não é o bebê dele. Foi-me
explicado claramente como funciona a ressonância e se ele ressoa
comigo, ele nunca mais ressoará com ninguém. A ressonância é
uma tarefa única. Agora, se meus hormônios pudessem relaxar e
perceber isso, tudo seria ótimo.

Exceto ... meus hormônios realmente não são tão bons em


relaxar. K'thar tira o bebê de mim e começa a balançá-lo,
acalmando-o da maneira que alguém razoavelmente experiente em
tais coisas faria. O bebê se mexe um pouco e K'thar faz sons suaves
de cacarejar com a língua e depois produz um ovo enorme de um
dos cestos apoiados na base da árvore. Ele perfura
cuidadosamente um buraco na parte superior do ovo e o oferece ao
bebê como se fosse uma mamadeira. Estou um pouco nervosa ao
ver o menininho pegá-lo nas mãos e sugar o conteúdo, mas se não
houver mãe por perto, acho que eles não têm muitas opções de
alimentação.

Se não há mãe na área, isso também explica por que dois


homens cuidam de um bebê. Não devo criticar, porque o bebê
parece gordo e saudável e K'thar sorri para ele com um carinho que
faz meus ovários darem outro giro.

— Qual é o nome dele? ― pergunto baixinho. K'thar olha para


mim com curiosidade nos olhos.

Aponto para ele. — K'thar. ― Então a mim mesma. — Lauren.


― Então aponto para o bebê.

O reconhecimento aparece em seu rosto. Ele balança a


criança e depois a senta, dando um tapinha nas costas. Como
qualquer outro bebê, o carinha se contorce e depois arrota. —
Z'hren ― diz K'thar. É tão arrastado e dito tão rapidamente que
tenho certeza de que não conseguirei pronunciar direito, mas tento
de qualquer maneira e recebo um aceno satisfeito de K'thar.

O pequeno Z'hren dá um soco em K'thar, batendo na


mandíbula e balbuciando. K'thar imediatamente alcança uma
cesta e oferece-lhe uma pequena vagem. O bebê enfia na boca e
chupa, fechando os olhos sonolentamente. Esta é a versão na selva
de uma chupeta? K'thar me oferece uma e aceito, porque estou
curiosa. O interior tem um gosto doce e leitoso, e faz meu estômago
roncar.

Estou morrendo de fome e agora percebo que não como nada


desde que estava na costa gelada com os outros esta manhã.
Parece uma vida desde que isso aconteceu, mas faz menos de um
dia. Eita.

Menos de um dia e tudo no meu mundo ficou de cabeça para


baixo.

Novamente.

Com o bebê enfiado debaixo de um braço, K'thar levanta e se


move em direção a uma das cestas empilhadas perto do tronco oco
da árvore. Ele vasculha as cestas, encontra a que deseja e depois
oferece para mim. Pego e espio por dentro. Existem várias nozes
marrons do tamanho de um punho, e K'thar pega uma e a abre
com os dentes, depois a oferece para mim. Lá dentro, a carne é
macia e quando mergulho um dedo nela, percebo que tem gosto de
manteiga de amendoim.

Surpreendente.

Como as nozes enquanto ele balança o bebê para dormir, e


quando Z'hren desmaia, meu estômago está cheio e estou
lambendo a última manteiga de noz dos meus dedos, contente.
Recebo uma cápsula cheia de água fria e bebo enquanto K'thar se
levanta e coloca o bebê adormecido em uma cesta forrada de folhas
de plantas e cotão. Isso está entalhado em um buraco entre dois
galhos, e ele o testa para garantir que seja seguro antes de instalar
Z'hren. Quero protestar que uma cesta nas árvores não é o local
mais seguro para um bebê, mas quem sou eu para ser a juiza?
Estou sentada em uma plataforma tecida, afinal. Não conheço esse
lugar como eles, ou teria me vestido um pouco melhor para a
ocasião. Coloco as pesadas perneiras de couro e minha blusa. Sou
grata por estar coberta, mas com o calor da selva, sinto-me
completamente escorregadia com o calor e o couro não está
ajudando.

K'thar volta para o meu lado e coloca a mão na boca,


indicando que devo ficar quieta para não acordar o bebê. Concordo.

Claro, então o homem puxa uma faca e senta-se ao meu lado.


— Hum ― respiro, fazendo o meu melhor para manter minha voz
baixa. — O que exatamente estamos fazendo com essa coisa?

Ele pega minhas calças e inclina a faca como se fosse cortar.

Bato na mão dele. — Não ― sussurro.

— Péssima ideia. Preciso de calça. Só porque você está nu,


não significa que quero estar. ― Bem, ele não está completamente
nu. Ele está usando algum tipo de fio dental. Sempre pensei que
algo assim seria ridículo, mas ele é tão grande e musculoso que
funciona muito, muito bem.

— L'ren ― diz ele, e há paciência em sua voz.

— K'thar ― falo de volta, imitando seu tom paciente. — Não.


Ele me dá um rosnado baixo, como se estivesse me dizendo
para pará-lo, e pega minha perna da calça novamente. Quando dou
um tapa em sua mão mais uma vez, ele a agarra e depois usa outra
mão para continuar cortando. Bem, porra. Você não pode entrar
em uma briga com um cara de quatro braços. Eu me contorço,
protestando silenciosamente enquanto ele continua a cortar a
perna da minha calça, destruindo as costuras de couro costuradas
à mão. — Sério? O que está fazendo? — Assobio para ele. — Não
quero ficar nua.

O grande alienígena ignora minhas palavras raivosas e


continua massacrando minhas calças. Ele para perto da minha
cintura e muito do meu pânico diminui quando o faz. Pelo menos
não está me despindo. Quando ele começa a atravessar, percebo
que ele está me fazendo shorts em vez de calças. Oh Bem, isso faz
sentido. Minha pele imediatamente se sente mais fria e respiro
fundo de alívio quando o couro pesado e suado cai. Definitivamente
muito melhor.

K'thar dá um tapinha no meu joelho quando ele termina e


solta minhas mãos. — Eu sei ― digo a ele.

— Obrigada. Isso foi atencioso da sua parte. ― Todos os


problemas de comunicação de lado, ele está tentando me ajudar.
E está certo sobre os shorts serem mais legais. Eles estão cortados
na parte superior da minha coxa e, embora eu não goste muito do
visual despojado, não é como se houvesse polícia da moda nesta
ilha. Ninguém pode ver minha celulite, a não ser ele, seu amigo e
o bebê. Acho que está tudo bem.
E Marisol, se a encontrarmos. Deus. Sinto-me sobrecarregada
instantaneamente. Eu a abandonei? Ela se foi? Poderia ter feito
mais para tentar encontrá-la? Pressiono as mãos na testa,
frustrando às lágrimas. Estou tão cansada e sinto que falhei com
ela.

— L'ren?― K'thar toca meu braço, acariciando-o gentilmente.

Levanto minha cabeça para olhar para ele. Seus olhos


brilhantes khui brilham na escuridão, e além do musgo brilhante,
é a única luz na selva muito escura. Não posso procurá-la esta
noite, não importa o quanto eu queira.

Amanhã então. Ainda me sinto a pior idiota do mundo, mas


até eu sei que não é inteligente passear por lá à noite, não com
todos os barulhos estranhos começando a surgir na selva abaixo.

— Estou bem ― sussurro para ele. — Apenas um pouco


sobrecarregada.

Sem palavras, ele me entrega os longos pedaços de couro que


cortou da minha calça e gesticula na minha blusa. Certo. Posso
fazer um top com todo esse couro. Farei isso amanhã.

Aceno de novo. — Obrigada.

Ele resmunga o reconhecimento das minhas palavras e depois


gesticula, indicando que devo esperar aqui, e caminha até à beira
da plataforma. Não estou totalmente surpresa quando ele pula,
porque isso parece típico dele. Mas não sei para onde ele foi. Ele
retorna um breve momento depois com braçadas de folhas longas
e frondosas e então começa a empilhá-las ordenadamente, fazendo
uma cama. Ah. Bem, isso faz sentido também. Embora o interior
da árvore pareça ter vários parapeitos e cubos escavados que
provavelmente dariam bons ninhos, está quente demais para
dormir lá dentro. Aqui fora, pelo menos, há uma brisa.

Ele se acomoda nas folhas e depois se deita, apoiando-se em


um cotovelo e me olhando com expectativa.

Ok, então o que devo fazer? Arrumar minha própria cama? Eu


hesito, depois dou de ombros. Quando em Roma e tudo isso. Viro-
me e antes que possa me afastar, ele agarra meu tornozelo e
balança a cabeça, indicando que deveria me deitar com ele.

Ah.

Então ele fez uma cama para nós dois. — Puxa, você não
deveria ― murmuro secamente. Parte de mim gosta da ideia,
porque, embora essa plataforma seja de bom tamanho, também
não é tão grande que não corro o risco de sair do lado de sono. Ao
mesmo tempo ... meu piolho está ficando louco. Sei que se me
deitar com ele, assumirá que quero fazer sexo. E enquanto meu
corpo pode estar gritando que sim, minha cabeça está firmemente
no campo não agora. Mal conheço o cara. Ainda não estou pronta
para avançar tão longe.

Só pensar em sexo faz meu piolho ronronar ainda mais rápido.


É tão alto que sei que ele pode ouvir, e posso ouvir sua resposta.
Puxa, isso é estranho.

— L'ren. ― Ele dá um tapinha na cama novamente.


Não sei o que fazer. Claro, minha mente está girando uma
milha por minuto. O que acontece se não me deitar com ele? Ele
me arrastará até lá e me forçará a dormir com ele? Então,
novamente, o que o impede de me levar para o chão e seguir o seu
caminho de qualquer maneira? Ele é muito, muito mais forte do
que eu e a luta por minhas calças me mostrou que não tenho
chance de enfrentá-lo, se ele quiser empurrar as coisas. Tremo com
o pensamento, preocupada.

Ele inclina a cabeça, me olhando, e a expressão em seu rosto


não é cruel, nem assustadora. Ele parece um pouco cansado como
eu e um pouco frustrado. Mais uma vez, como eu. Terei que confiar
em algum momento, acho. Depois de outro momento de hesitação,
aproximo-me e deito ao lado dele. Não é super perto, é claro. Deixo
pelo menos um pé entre nós e mantenho a borda das folhas. Espero
que isso lhe dê a dica.

K'thar grunhe e imediatamente me puxa para o lado dele,


enterrando o rosto no meu pescoço.

Tanto para sugestões.

Ele cutuca meu pescoço, esfregando sua pele contra a minha.


Tenho que admitir que é muito bom ... e um pouco assustador ao
mesmo tempo.

— Não ― digo baixinho para ele e balanço minha cabeça. —


Não.
Ele estuda meu rosto por um momento e depois assente,
aliviando seu aperto em mim e deitando. Ele fecha os olhos e
respiro um enorme suspiro de alívio.

Sem estupro. Graças a Deus.

Fecho os olhos e relaxo ... e volto com cuidado para a borda


das folhas novamente, só por precaução.

K'thar rosna baixo na garganta e me puxa de volta contra ele,


uma das mãos ancorando na minha cintura e me mantendo presa
ao seu lado. Tudo bem então. Posso ser cabeça-dura, mas posso
entender. Nós conseguimos nos aconchegar apesar do calor da
noite. Dou um tapinha na mão dele em reconhecimento e fecho os
olhos mais uma vez, decidida a fazer o meu melhor para dormir.

É surpreendentemente fácil dormir, apesar da proximidade de


K'thar. Ou diabos, talvez seja por causa disso. Nem sei. Tudo o que
sei é que quando ele desliza um braço por baixo da minha cabeça
e me puxa contra ele, decido que há coisas piores do que tê-lo como
travesseiro e mantenho os olhos fechados. Sua mão permanece
presa em volta da minha cintura e sinto seu polegar acariciar a
pele sensível do meu estômago. Também ignoro isso. A verdade é
que ele é muito bom em provocar. Sinto-me um pouco quente, mas
não muito. Em vez disso, me sinto segura. Protegida. Como se nada
acontecesse porque K'thar me salvou. Gosto muito mais do que
deveria.

Então, sua mão desliza sobre o centro da minha barriga.


Pequenas ondas de excitação atravessam meu corpo. É bobagem,
mas faz as coisas parecerem um pouco como se fossemos
adolescentes tentando fazer amor sem que ninguém percebesse.
Poderia empurrar sua mão, dar-lhe outro firme não. Mas estou tão
relaxada e ele é tão legal provocando que deixo passar. Se fosse
honesta comigo mesmo, estou curiosa para saber se ele irá a algum
lugar com isso.

Consigo minha resposta alguns momentos depois, quando


seus dedos mergulham na cintura da minha bermuda e então ele
está passando os dedos sobre o meu monte.

Bem, isso aumentou rapidamente.

Mordo de volta meu suspiro de surpresa. Ele dá uma


risadinha brincalhona e, quando coloco minha mão em seu pulso,
ele para. Ele não irá mais longe se o afastar. Ele sabe que está
ultrapassando os limites.

E tenho certeza de que sou uma pessoa terrível porque, por


um breve e brilhante momento, não quero afastar a mão dele. Meu
piolho está zumbindo, mas mais do que isso, sou atraída por sua
brincadeira, sua força. Não me tocam há tanto tempo que fico
tentada a ver para onde as coisas vão. Não quero sexo. Ele sabe
que não quero sexo. Mas... isso não é realmente sexo, é? É só tocar.
Explorar. Acariciar.

Deus, amo ser acariciada!

Afeto não é algo que pensei que sentiria novamente, por


incrível que pareça. Desde que aterrissamos neste planeta, uma
coisa após a outra foi lançada contra nós. tive que ser forte e calma.
Coloquei Marisol em minhas mãos e tentei ser uma líder e um
exemplo para as outras quando estavam com medo. Sempre há
pânico em uma situação assustadora, sempre raciocinei, e a
melhor maneira de superar uma delas é ajudar. Sabia que em
algum momento meu par apareceria, mas pensei que tinha muito,
muito tempo para ir. Agora, sou confrontada com o fato de que meu
companheiro está interessado e está me lembrando que gosto de
ser tocada. Tive namorados no passado, mas nunca fiz sexo. Nunca
foi a hora certa, ou ele nunca foi o cara certo. Puxa, estou tão
cansada de ser equilibrada. Pela primeira vez, quero começar a
minha aberração. Quero saber como será se ele me tocar e deixa-
lo. Por um momento, quero liberar o controle e deixar que outra
pessoa lidar com as coisas. Quero ser impetuosa e selvagem e não
pensar no amanhã.

Não muito impetuosa, é claro. Mas talvez só um pouquinho.

Alivio meu aperto em seu pulso com um pequeno suspiro,


dando-lhe permissão silenciosa.

Meu nome é um sussurro em seus lábios enquanto empurra


a mão um pouco mais. Ele toca os cachos do meu sexo,
acariciando-os. Percebo que eles devem ser diferentes para ele,
porque quando o vi nu – no rápido vislumbre que tive – ele era todo
pele azul nua. Não me lembro de ver pêlos no corpo, na verdade.

Espero que ele não ache a minha cobertura capilar ofensiva.

— L'ren ― ele murmura novamente, sua respiração quente


contra a minha testa. Sou pequena, pressionada contra seu corpo
maciço e musculoso, percebo. Provavelmente peso metade que ele
e sei que sou um metro menor que ele. Sinto-me pequena e
delicada em seus braços, e é uma sensação bastante deliciosa.
Minha garota ronrona de prazer e relaxo contra ele, mesmo que
meu coração esteja acelerado com antecipação.

Até onde levaremos isso, me pergunto. Por que isso me deixa


tão sem fôlego?

K'thar esfrega um dedo grande para cima e para baixo na


parte das minhas dobras, deixando-me ofegando de desejo. Ele não
explora mais fundo, apenas move o dedo para frente e para trás,
acariciando-me repetidamente e me deixando louca de
necessidade. Posso sentir o quão molhada estou ficando com
apenas um pequeno toque, e meu piolho está ficando selvagem no
meu peito. O dele também é alto, mas não parece prestar muita
atenção – seu foco é inteiramente em mim. Posso sentir sua boca
pressionada contra o meu cabelo, seu aperto firme na minha
cintura, mas a única coisa que ele move é a mão.

Acariciando-me.

Apenas quando estou pronta para enlouquecer e empurrar


sua mão para o lugar certo, empurrando um pouco mais fundo,
acariciando entre minhas dobras e deslizando através de minha
umidade. Choramingo e me seguro com força, agarrando-me ao
bíceps enquanto ele me acaricia, explorando minhas dobras e
murmurando meu nome muito suavemente. Sua mão parece
enorme quando me toca, e quando roça a entrada do meu núcleo
com uma ponta do dedo, é preciso tudo o que tenho para não me
apoiar contra ele e pedir que me leve assim. Mas então ele afasta a
mão novamente e continua suas carícias enlouquecedoras. Quase
explodo quando esfrega o meu clitóris. Nunca senti nada tão
intenso! Tão bom... A respiração solta da minha garganta, e posso
senti-lo enrijecer ao meu lado. É quase como se estivesse surpreso.
Ele nunca tocou em uma mulher antes? Ou a anatomia humana é
diferente? Não importa, porque continua me tocando, esfregando
um dedo grande para frente e para trás contra o pequeno pedaço
de carne sensível e me fazendo contorcer contra ele. A respiração
parece sair dos meus pulmões.

Ele dá uma risada profunda e sexy e depois brinca com meu


clitóris novamente, e aperto a mão dele, ofegando quando acerto
minha liberação. Isso foi rápido. E intenso. Nunca gozei tão forte,
nem mesmo sozinha. Parece que meu corpo ficou tenso com esse
grande nó que se desdobra de maneira lenta e agradável quando
vou e gozo e gozo.

Quando recupero o fôlego, percebo o que fiz. Oh cara! Tanta


coisa para me manter firme e não deixar um estranho me tocar...
Claro, K'thar não se sente como um estranho. Sei que parte disso
é apenas conversa fiada, mas sinto que o conheço há muito tempo.
Ele se sente familiar para mim. Confortável.

E a mão dele na minha boceta? Parece que pertence a esse


lugar. O que também está bagunçado.

Solto outro suspiro suave que se transforma em um bocejo.


Estou um pouco escandalizada com o que aconteceu, mas também
me sinto muito bem. Como se fosse a coisa perfeita que eu
precisava depois de um dia estressante, o que também é ridículo.
Um pouco da tensão começa a voltar quando me deito ao lado de
K'thar, esperando para ver o que acontece a seguir. Ele exigirá
reciprocidade? Empurrará para fazermos sexo? Moverá a mão da
minha boceta para que eu possa dormir?

Ele não faz nenhuma dessas coisas, no entanto. Ele apenas


cutuca meu cabelo como se estivesse satisfeito e relaxa contra
mim. Tento furtivamente puxar sua mão, já que ele ainda está
segurando entre as minhas pernas, mas ele apenas rosna baixo em
um aviso e me ignora.

Bem, tudo bem então. Espero um momento ou dois mais,


insegura, e depois relaxo, pouco a pouco. A exaustão me domina e
me inclino contra ele até que meu corpo esteja pressionado contra
o dele. Falaremos sobre a possessividade dele de manhã.

Por enquanto, estou cansada demais para protestar.


CAPÍTULO 9
K'thar
Nunca estive tão satisfeito em todos os meus dias. Após a
morte da Grande Montanha Fumegante, pensei que a minha seria
uma existência sem alegria, para caçar e cuidar daqueles que
restaram até desaparecermos, um por um. Que não haveria nada
além de mais tristeza e frustração na minha vida. Mas agora? Com
a minha companheira perto de mim, seu perfume de prazer
cobrindo minhas mãos e seu corpo macio enrolado no meu?

Há esperança mais uma vez. E há alegria.

Com uma companheira, minha tribo tem uma chance. Será


difícil, é claro, reconstruir o que fomos uma vez, mas com uma
ressonância feminina ao meu lado, pelo menos temos uma chance.
Antes, não tínhamos.

Ela ainda não está pronta para acasalar. Está tudo bem.
Enquanto me deixar segurá-la e tocá-la, fico contente em esperar
até que seus braços se abram para me receber.
Não irá demorar, acho. L'ren dorme pesadamente contra mim,
sua respiração firme. Minha mão permanece nos cachos de sua
boceta, e quero tocá-la novamente, dar-lhe mais prazer, vê-la girar
em meus braços com sua necessidade e ouvir os pequenos sons
suplicantes que ela faz. Isso a acordará, no entanto, e ela precisa
descansar. Esperarei até de manhã.

Mas até então, eu a segurarei.

Não durmo até de manhã, é claro. Z'hren geme em sua cesta


e quer ser alimentado antes do amanhecer. É a minha vez de cuidar
dele, então relutantemente deixo minha companheira aninhada
nas folhas e cuido do kit. Uma vez que ele é alimentado e arrota,
quer brincar, e então o deixo sentar no meu colo enquanto costuro
as folhas para uma tanga nova, depois trabalho em uma para
minha companheira. O couro que ela usa ficará úmido e quente
nesse calor. As folhas são muito mais frias e podem ser
descartadas quando necessário. Terei que ensiná-la como, porque
está claro que não sabe se cuidar. Não me importo, no entanto.
Estou ansioso por essas coisas.

Assim que o amanhecer começa a clarear os céus, a montanha


solta um resmungo raivoso. O chão treme e as folhas das árvores
farfalham descontroladamente. Eu passo para o lado da minha
companheira e com o kit debaixo de um braço, abraço-a,
garantindo que ela não caia da plataforma.
L'ren suspira e se apega a mim, os olhos arregalados de medo.

— Não durará muito ― prometo a ela.

— Tremor nos deixa saber que é loucura e depois acabará


parando. Espero. Contanto que não venha com fumaça e fogo
líquido, tudo ficará bem. A maioria deles não faz.

— Terremotus?― Diz, preocupada.

— Issoééaporradeumtremorditerrra?

O tremor do mundo cessa e, assim, tudo fica quieto mais uma


vez. Nada chama das árvores e até as folhas que normalmente
agitam com a brisa são totalmente silenciosas.

— Está feito ― comunico à minha companheira e me levanto


e ofereço uma das mãos para ela. — Venha. Nós conseguirão algo
para você comer.

— Obebestáokay? ― Ela repete isso e brinca com a mãozinha


de Z'hren, e percebo que ela está perguntando por ele.

— Ele está acostumado com os tremores de terra ― explico. —


Provavelmente mais acostumado do que eu. Eles têm sido cada vez
mais frequentes. — Preocupo-me que eles tenham algo a ver com o
fato da floresta ficar mais úmida a cada dia, mas só posso me
preocupar com o que posso controlar. Estou satisfeito que se
preocupe com o kit, no entanto. Ela fará uma boa mãe para nossos
filhos.
L'ren parece chateada, então faço o meu melhor para distraí-
la, oferecendo-lhe a tanga que teci para ela esta manhã. Para
minha surpresa, seu rosto coloriu o tom rosado novamente. O
olhar que me dá é tímido, e sua voz fica suave. Quando o khui dela
começa a cantar, percebo que está pensando na noite passada e
em como a toquei.

E então não consigo parar de sorrir, porque pretendo fazê-lo


novamente hoje à noite e todas as noites pelo resto de nossas vidas.

Ela faz um gesto com as mãos e indica que deveria me virar.


Sua insistência é intrigante, mas faço o que ela pede. Quando
minhas costas estão viradas, ela tira os couros, e fico imaginando
o corpo dela. Ele não se camufla, mas cobrem seu corpo rosado
com peles pesadas e suadas como ela faz? Ou esse estranho hábito
é apenas de L'ren? Isso não faz sentido. Ela chama meu nome e me
viro, satisfeito ao ver que ela está usando a tanga que fiz para ela.
Fica solta em seus quadris e me movo para frente e puxo duas das
folhas para apertá-lo para que fique bem. — Você está muito bem,
minha companheira. ― Não aponto que ela poderia se livrar do
couro enrolado em seu torso. Ela tem seu próprio tempo.

— Beimmilhor! ― L'ren sorri para mim e depois dá um tapinha


em seu peito. — Podeiriamitecerumtop?

Um para cobrir os seios? — Claro. ― Estou feliz que peça.

Ela pega o kit dos meus braços e o mantém ocupado enquanto


recolho mais folhas e as teço rapidamente em uma superfície plana
e quadrada para cobrir sua frente e uma segunda corrente menor
para prender o pescoço. Ofereço-lhe, mas ela só segura o kit e o
balança, franzindo a testa para mim.

— Issoaépraquee? Noéumtop?

— Roupas ― explico. — Para seus seios. ― E gesticulo como


deve colocá-lo. Ela faz um zumbido na garganta, claramente
indecisa, mas depois me entrega Z'hren e a coloca, tirando o pedaço
de couro assim que as folhas pousam sobre seus seios inchad0s.
Então, puxa sua juba longa para frente e a coloca no lugar deles,
e parece satisfeita.

— Com fome? ― pergunto, imitando comida. Sei que ela deve


estar. Ao seu ansioso aceno, gesticulo para que desçamos mais
abaixo na árvore, através do buraco.

Seus movimentos são incertos, mas L'ren me segue pela


árvore até chegarmos ao nível mais baixo. Embora ainda esteja a
uma boa distância do solo, a plataforma é a mais larga aqui. É aqui
que a maioria dos alimentos armazenados é guardada e onde N'dek
vive desde que sua perna foi machucada.

Ele está aqui esta manhã, ainda deitado no tapete de folhas


murchas, olhando para a floresta. Fat One fica na beira de uma
cesta próxima, esperando ser alimentado. Ele chia e bate as asas,
indignado com a fome. O barulho desperta N'dek e ele olha quando
desço com Z'hren, e então fica sentado, de olhos arregalados,
quando vê L'ren.

Ela engasga ao vê-lo e se move atrás de mim novamente.


Camuflo automaticamente com o alarme dela, e o kit em meus
braços também se camufla. — Como você está hoje, meu irmão? ―
pergunto ao meu companheiro de tribo quando coloco Z'hren nas
folhas ao lado dele. Vou para as cestas próximas. Ultimamente,
eles parecem um tanto chatos, e me preocupo com a falta de
comida. A ilha é muito menor agora com a morte da Grande
Montanha Fumegante, e a caça tem sido mais escassa, nozes e
ovos não tão abundantes. Com apenas eu e J'shel capazes de
caçar, há longos períodos em que não temos tempo para coletar
nada e isso afetou nossos suprimentos. Não posso reclamar, no
entanto. Não para N'dek, que perdeu toda a perna abaixo do joelho.
Sou saudável e íntegro e tenho uma companheira. Na verdade, sou
o homem mais sortudo.

Minha fêmea se apega ao meu lado, sua mão roubando uma


das minhas para tranquilizar. Dou-lhe um olhar tranquilizador e
abro a tampa de uma das cestas. Quase vazia, o único conteúdo é
um pedaço de fruta meio podre. Eu o pesco e o ofereço a Fat One,
que arrebata meus dedos com um trinado indignado e depois voa
até o ombro de L'ren para se empoleirar.

Ela dá uma risadinha feliz e sua expressão está claramente


satisfeita com seu novo companheiro. Seu aperto firme na minha
mão diminui e relaxo, olhando para N'dek antes de abrir a próxima
cesta. – J'shel foi embora cedo esta manhã? ―N'dek assente
lentamente, os olhos arregalados. Ele não pode parar de encarar
minha mulher, e sinto uma vontade possessiva de ficar na frente
dela e protegê-la de seu olhar. — Ele falou sobre você e uma fêmea,
mas ... pensei que ele estava falando bobagem para me animar.
Você sabe como ele adora inventar histórias.
Eu sei. J'shel fez o possível para afastar N'dek da depressão,
passando horas intermináveis contando histórias selvagens para
intrigá-lo ... ou, pelo menos, fazê-lo sorrir. Ele ficará satisfeito por
N'dek ter demonstrado interesse em algo hoje, mesmo que seja
minha companheira. Claro que ele está interessado, acho. Toda a
esperança de uma companheira para todos nós partiu no dia em
que a Grande Montanha Fumegante morreu, junto com a maior
parte da tribo e da própria ilha.

Quase tudo morreu naquele dia. Penso no tremor de terra


desta manhã e minha boca se achata. Isso não pode acontecer
novamente. Pequenos terremotos não são nada. Eles sempre
aconteceram. Não teremos outra morte na montanha. Não há mais
montanha ...né?

Penso na fumaça derramando no mar no outro extremo da


terra e franzo a testa para mim mesmo. Não posso me preocupar
com essas coisas. Devo alimentar L'ren e Z'hren. Mais tarde vou
me preocupar com a montanha.

— Qual é o nome dela? ― N'dek pergunta com uma voz suave.


— De onde ela veio? E... o que há de errado com a camuflagem
dela?

Dou uma risada porque ele falou mais neste dia do que na
última volta da lua. — Ela é minha, N'dek. Nós ressoamos.

— Tenho ouvidos ― resmunga secamente. — Eu sei disso. Mas


... como ela chegou aqui? Há mais como ela? ― Z'hren balbucia e
agarra as tranças de N'dek, e o caçador distraidamente pega o kit,
sentando-se na cama. — Não entendo como ela veio aqui.

— Nem eu. Até que ela aprenda a falar a nossa língua, não
saberemos quem é ou onde está o seu povo.

— Outra ilha, talvez? Com outros clãs? Os que não foram


destruídos pela morte da montanha? ― Ele parece esperançoso.

— Se for esse o caso, então é um lugar estranho onde não


precisam de camuflagem para se protegerem.

Ele resmunga. — Parece estranho.

Como se ela percebesse que é o centro da nossa conversa,


minha companheira dá um passo à frente com o nightflyer ainda
empoleirado em seu ombro e sorri para N'dek. — Oi, L'ren ― diz,
dando um tapinha no peito.

N'dek olha para mim, olhos estreitados. — Ela está tentando


me dizer uma coisa?

— O nome dela.

— Oh. Claro. — Ele acena para ela e toca seu próprio peito. —
N'dek.

O rosto dela se aperta e ela me olha impotente, depois tenta


dizer o nome dele. — Naaaahdeckkkk.

O olhar no rosto de N'dek é doloroso, mas ele acena


educadamente.
— A linguagem deles é estranha ― admito.

— Ela também não pode dizer meu nome.

— Ela é de aparência incomum ― diz depois de um momento,


e quando ela se senta ao lado dele, ele exibe camuflagem, como se
estivesse alarmado. — Suas mãos estão deformadas.

— Acho que é assim que o pessoal dela é. Ela usa todos os


dedos, até os extras. ― Encontro uma cesta que contém dois ovos
e um punhado de nozes doces. Meu estômago dói com a visão, mas
posso caçar o suficiente para encher minha barriga. Minha
companheira e o kit devem ser alimentados. Tiro um ovo da cesta,
quebrei o topo e ofereço-o ao pequeno Z'hren. Quando o kit começa
a comer, me ajoelho ao lado da minha companheira e ofereço a ela
o resto da cesta. — Coma, meu coração. Você precisa de sua força.

L'ren pega a cesta de mim e me sento ao lado dela. Ela franze


a testa para o ovo e oferece de volta para mim.

— Para você ― digo-lhe, gentilmente empurrando-o de volta


para ela. Estou com fome, todos nós estamos, mas isso pode
esperar.

— Talvez o tipo dela não coma ovos,― sugere N'dek. Ele está
olhando a comida com olhos ávidos.

Quando ela oferece a N'dek, em vez de mantê-lo, ele me olha


como se estivesse pedindo permissão. Eu aceno para ele. Enquanto
ele não puder caçar, assegurarei que seja alimentado. Talvez em
breve ele saia deste triste e solitário estado devido à perda de sua
perna e perceberá que ainda pode fazer muito bem à nossa tribo,
por menor que seja o número de pessoas. Ele pega imediatamente
e quebra, sugando o conteúdo rapidamente. Z'hren ri, segurando
seu próprio ovo, e L'ren se aproxima para fazer cócegas nele,
sorrindo.

Cutuco a cesta em sua direção novamente.

— Coma ― digo novamente. — Coma ― ela concorda, pegando


uma das nozes e quebrando como lhe mostrei. Ela come uma e
depois oferece outro para mim, e um terceiro para N'dek. Quebro a
minha e ofereço de volta a ela, mas N'dek come a dele. Ele deve
estar com mais fome do que deixou transparecer ... o que significa
que há ainda menos suprimentos do que eu pensava.

Fat One se inclina sobre o ombro de L'ren e tenta arrebatar o


conteúdo de uma de suas nozes. Sibilo para ele e tento fazê-lo ir
embora, mas ele apenas encaixa nos meus dedos. — Voador
mimado,― murmuro.

L'ren ri e oferece ao pássaro um pouco de sua comida, e


suspiro interiormente. Ela não percebe o quanto o animal já está
sendo alimentado. Não posso culpar seu gentil coração, no entanto.

Ela termina de comer e lambe os dedos, e enquanto a observo,


meu khui começa a cantar. N'dek limpa a garganta e arranca a
casca de ovo vazia dos pequenos punhos de Z'hren, fazendo o
possível para não chamar a atenção para nós. — Se você quiser
levá-la para a selva com você, posso cuidar do pequeno ― ele me
diz.
Eu estou surpreso. É a primeira vez que ele se ofereceu para
ajudar Z'hren desde o acidente. — Se você puder. Nós não iremos
longe.

— Vá o quanto quiser ― diz ele com uma voz estranha e suave.

Sei o que ele está pensando – que precisamos de privacidade


para acasalar. — Irei levá-la para conhecer, nada mais.

— Faça como quiser. Cuidarei do pequeno. ― Ele faz uma


pausa e depois olha para mim. ― J'shel disse que havia outra
mulher com ela? Que R'jaal a levou? Eles ressoaram?

— Não tinham quando eu saí.

Seus olhos brilham com interesse. — É muito bom ouvir isso.

Lauren
A tribo de K'thar parece muito ... pequena. Não vejo mais
ninguém quando saímos, e isso me parece estranho. A grande
árvore escavada parece que poderia conter muito mais pessoas,
pois existem plataformas e plataformas que sobem por toda a
enorme árvore. Eles podem até voltar até o dossel e parece muito
espaço para três rapazes e um bebê. Algo não está batendo. Os
outros saíram? Como a outra tribo fez quando precisou caçar a
longa distância? Ou há algo mais acontecendo?
Nós vamos mais fundo na floresta, e tenho certeza de manter
a mão na cintura de K'thar o tempo todo. Ele tem uma cauda longa
e sacudida, mas parece estranho agarrá-la, então prefiro sua tanga
frondosa. Claro, assim tenho medo que ele vá avançar e
acidentalmente arranque isso dele.

Bem, ok, então realmente não tenho medo disso. Estou mais
curiosa sobre o que aconteceria se tal cenário acontecesse, e tenho
vergonha de todos os pensamentos sombrios que correm pela
minha mente. Parece que meu amigo me transformou em uma bola
de chifre absolutamente raivosa, porque já estou pensando em hoje
à noite e se ele me tocará de novo.

O passarinho rechonchudo e sem pelos nos acompanha,


cavalgando no ombro de K'thar e gorjeando em seu ouvido. Ele o
ignora em sua maior parte, ocasionalmente arrancando um inseto
do tipo besouro de uma folha e entregando-o ao amigo. Acho fofo.
Acho que sou uma otária por um cara com um fraquinho por
animais.

Enquanto caminhamos mais fundo na selva, K'thar aponta


para objetos e fala. Leva um momento para perceber que ele está
tentando me ensinar a língua deles. Faço o possível para repetir
depois dele, mas serei a primeira a admitir que sou uma péssima
aluna. Continuo me distraindo. Não apenas pelo nosso ambiente,
ou pela coisa gorda de pássaro que pousa em seu ombro, mas pelos
movimentos de seu corpo enquanto caminha um pouco à minha
frente.
É estranho que esteja ficando excitada por um cara com
quatro braços e pele que camufla? Sinto que devo culpar meu
amigo piolho, mas isso não afetará meus pensamentos, não é?
Porque eu continuo pensando nele com o bebê e como ele sorria
quando o bebê ria dele. Como distraidamente tende para o pássaro
em seu ombro e me pega com cuidado quando o terreno fica
rochoso e machucaria meus pés descalços. Ele é atencioso e gentil.
Não sei se Lo-piolho se importa com isso, mas Lo-humana acha
isso muito sexy.

Ele inclina a cabeça e, por um momento, me preocupo que ele


possa ouvir meus pensamentos. A coisa de pássaro em seu ombro
Kki, cujo nome eu realmente não posso pronunciar pira, e ele
estende a mão e coloca um dedo no focinho da coisa e fica em
silêncio.

Fico quieta também, esperando.

K'thar puxa Kki do ombro e o transfere para o meu. As


pequenas garras cavam na minha pele e estremeço, mas lhe dou
um olhar curioso. Ele coloca o dedo nos lábios novamente e depois
me puxa para mais perto da árvore mais próxima. Quando está
satisfeito com a posição em que estou, ele deixa cair sua cesta,
puxa uma faca que parece ser feita de uma cunha de sílex e sorri
para mim. Esse é o único aviso que recebo antes que se camufle
da mesma cor que os padrões sombrios das folhas no chão e, no
momento seguinte, sua tanga cai. Ele se afasta, nu, e meus olhos
se cruzam de tentar segui-lo. Tudo o que consigo ver são manchas
de sombras e o reflexo de seus braços antes que ele desapareça na
vegetação.
Eu ... Acho que ele está caçando? Pego sua tanga descartada
e a cesta que deixou para trás. Kki cutuca minha bochecha, como
se estivesse implorando por guloseimas, e eu gostaria de ter algo
para lhe dar. Em vez disso, coço a cabeça e ele fecha os olhos,
claramente apreciando o toque.

Distraída, pulo quando os arbustos a uma curta distância


farfalham descontroladamente. Kki dá um grito alarmado de
surpresa, batendo as asas e sibilando no meu ouvido. Grito
novamente quando as garras da coisa rasgam minha pele e ele sobe
na minha cabeça, cavando meu cabelo enquanto tenta encontrar
um lugar. Mesmo tendo asas, não parece grande voador, preferindo
andar por cima de mim. Ótimo. Sou dona de um pássaro, no
entanto. Sei que, se me acalmar, ele também se acalmará, então
faço o possível para ficar quieta e torcer para que a coisa que bate
nos arbustos a uma curta distância não seja um predador.

— L'ren ― uma voz chama ao meu lado, e pulo novamente.


Desta vez, Kki arremessa e volta para o ombro de K'thar, que agora
está voltando ao tom azul normal. Ele está parado à minha
esquerda, lentamente se misturando de volta à sua cor normal e,
como faz, eu posso ver todos os músculos ondulantes.

— Você me assustou ― digo a ele, toda sem fôlego. Não posso


deixar de olhar para baixo, já que está sem uma tanga e me sinto
um pouco mais ousada depois do que aconteceu entre nós na noite
passada. Ou talvez apenas tenha decidido ceder ao meu interior.
Seja o que for, olho. Muito.
Ele é definitivamente sem pelos. E definitivamente está
equipado de forma semelhante aos homens humanos, pois tem
pênis e bolas. Mas é aí que as semelhanças terminam, porque ele
tem equipamento muito maior do que tenho certeza que qualquer
homem humano tenha. É longo e grosso e descansa contra a coxa
dele. Seu saco está cheio e um tom de azul mais escuro que o resto
de sua pele, e tem uma protrusão estranha logo acima de seu pênis
que me faz pensar se não estou vendo coisas. Parece exatamente
... bem, exatamente como um botão específico no meu vibrador
favorito.

Isso explica por que todas as outras garotas são tão felizes e
sorridentes por ficarem presas aqui, no entanto. Ninguém se
queixa de ressonância porque está sendo fodida pelo padrão-ouro
em paus.

Eeeee... estou olhando. Merda.

Levanto meu olhar para ele e dou um sorriso brilhante,


percebendo pela primeira vez que está ofegando, brilhando em uma
leve camada de suor que faz seus músculos brilharem, e está
segurando um lagarto bastante grande ... em uma mão. A coisa
pinga sangue nas folhas de um corte na barriga e percebo que
K'thar está manchado de sangue também.

— Hum ... você matou? ― pergunto, me sentindo toda sem


fôlego. Essa foi uma pergunta estúpida, não é? É claro que está
morto. Estou toda distraída, meu piolho latejando com tanta força
que parece que a coisa sairá do meu peito. Ele apenas olha para
mim, o calor em seus olhos, e posso sentir minha pele formigando
de consciência. Não posso deixar de olhar para baixo e sim. Ele
está duro. E maior. E Jesus, não posso deixar de prestar atenção
nisso. Não há como evitar o fato de que ele é enorme. Claro que é.
O cara tem o dobro do meu tamanho, mas tinha que ter o dobro do
tamanho em todo lugar ? Engulo em seco, sentindo-me corada.

Kki chia e bate o bico na bochecha de K'thar.

O feitiço está quebrado. Bem, mais ou menos. Aperto minhas


coxas com força e abraço sua cesta no meu peito, muito consciente
de que ele está nu e estou usando o que equivale a uma tanga de
samambaia. — Você está bem? ― Quando ele simplesmente
continua me olhando, pego uma folha de uma planta próxima e
depois me aproximo dele, enxugando o sangue que salpica sua
pele. — Diga-me que este não é o seu sangue.

K'thar olha para o peito dele, onde minha folha está roçando
sua pele. Oh Deus, estamos muito perto. Um pouco mais perto e
apresentaria o Sr. Feliz na minha barriga. Ele percebe o que estou
fazendo e diz alguma coisa, depois gesticula para o lagarto morto
em sua mão. Suponho que significa tudo de bom porque parece
relaxado.

Ele gesticula para que o siga, e o faço, mantendo um passo


cuidadoso ou dois atrás dele. Está ficando cada vez mais difícil não
olhar para sua bunda, especialmente agora que está nu e ele
parece não se importar. Ou isso ou talvez ele queira que o admire?
Certamente ele sabe que é um idiota, no entanto.
Certamente. A minha parece positivamente grande em
comparação.

Um pensamento horrível me ocorre. Ao lado dele, sou baixa,


pastosa e claramente pouco musculosa. Só tenho dois braços. Ele
acha que eu sou ... pouco atraente? Bruta?

Não deveria me importar, mas o pensamento é bastante


angustiante. Estou me acostumando cada vez mais com o
pensamento de um companheiro permanente a cada hora, mas
gostaria que ele se sentisse atraído por mim porque sou eu, e não
apenas porque o piolho exige isso.

Ele se ajoelha na base de uma das grandes árvores e deixa


cair sua matança, depois gesticula.

— Chkat.

Olho por cima do ombro dele e vejo o que parece um ninho


gigantesco e oco, cheio de pedaços de folhas e galhos. Ovos grandes
e oblongos estão agrupados e percebo que deve ser de onde eles
tiram os ovos. ― Oh. Estamos jantando esses? — Eu aponto para
eles.

— Ovos? Comida?

Ele pega um e oferece para mim, gesticulando para que eu


deva comer.

— Oh não, não. ― Levantei a mão, balançando a cabeça. Há


algo em sugar um ovo quente e cru que faz meu estômago revirar.
Sei que é uma boa fonte de comida, mas também sei que ainda não
estou com tanta fome. Ele a empurra em minha direção e eu a
empurro de volta para ele. — Esse é tudo para você.

Ele se senta e racha a parte superior do ovo, depois joga a


cabeça para trás e a chupa com grandes goles famintos. Não leva
tempo para terminar e ele fecha os olhos, suspirando
profundamente. Caramba, ele deve estar morrendo de fome. Faço
uma pausa, estudando-o. Toda vez que me viro, ele está me
oferecendo comida, mas é a primeira vez que o vejo comer desde
que o conheci. Penso de volta à refeição hoje cedo com as nozes.
Ele recusou os ovos e, quando ofereci um ao amigo, pensei que ele
parecia um pouco ansioso demais. E quando dei a K'thar uma das
nozes, ele a abriu e me devolveu.

Eles estão ... eles estão morrendo de fome?

É por isso que ele estava tão animado para conseguir essa
caçada?

— Você está com fome? ― pergunto a ele, pegando outro ovo


e oferecendo a ele.

Ele estuda por um longo momento e depois balança a cabeça,


pegando a cesta das minhas mãos e enchendo-a com os ovos.
Tenho certeza de que ouço seu estômago roncar.

Eu sabia! Filho da puta está racionando. Cutuco o lado dele.


— Ouvi isso. ― K'thar me dá um olhar envergonhado. Ele faz uma
pausa e levanta um ovo. — Z'hren. ― Ele toca o próximo. — Z'hren
nakt. Então o próximo. — Z'hren nakt nakt.
Ah. Ele está guardando isso para o bebê. Aposto que nakt é a
palavra alien para amanhã. Ele definitivamente está armazenando
comida porque teme que não seja suficiente. Ponho a mão no pulso
dele e antes que possa colocar outro ovo na cesta, eu o dirijo. ―
K'thar ― digo suavemente. — Não Z'hren, K'thar. Você não é bom
para ninguém se morrer de fome. E não posso ter você morrendo.
Não quando devemos nos acasalar, lembra? ― Agora que olho para
ele, vejo sinais de fome. Achava que seus músculos eram
extremamente bem definidos? É porque ele não tem mais gordura
para o corpo usar. Posso ver suas costelas, e sua barriga é tão
plana que me preocupa.

Não me lembro da outra tribo passando fome. Irônico é que


estamos rodeados de tanta vegetação e ainda não há o suficiente
para comer. Parece que há algo errado com isso. Talvez o vulcão ou
os terremotos estejam assustando todos. Pergunto-me quanto
tempo faz desde que a coisa entrou em erupção.

E quanto tempo levará antes que sopre novamente. Lembro-


me da parede de vapor espesso borbulhando de um extremo da ilha
e tremendo.

— Este lugar é quente, mas é como uma armadilha mortal, se


você me perguntar ― reclamo.

Ele me oferece o ovo novamente. Balanço a cabeça e, quando


insiste em pressioná-lo na minha mão, quebro a parte superior
com a articulação dos dedos e depois a seguro novamente.
K'thar me dá um olhar exasperado, como se estivesse dizendo
— olhe o que você fez , mas ele drena o conteúdo e esfrega a boca
com as costas da mão. Ele me estuda por um longo momento e
depois me puxa para perto, enterrando o rosto no meu pescoço.

É um abraço.

É doce.

Isso também me deixa ciente de que nós dois estamos bem


nus. E meu babador de tecido não está fazendo muito para
esconder o fato de que meus mamilos estão duros com aquele
pequeno toque.

Olho para baixo e vejo que não sou a única afetada. Seguro
sua tanga. — Acho que você esqueceu isso.

K'thar olha para ele, depois joga a cabeça para trás e ri.
CAPÍTULO 10
K'thar
Ela é inteligente, minha L’ren.

Ensino palavras enquanto levamos nossa caçada e os ovos de


volta ao acampamento. Ela lembra mais deles do que eu pensava,
e isso me deixa orgulhoso. Quero tanto ter uma conversa com ela,
descobrir mais sobre ela e seu povo. Aprender o que ela gosta.
Ouvir mais risadas, ver seus sorrisos.

Quero saber tudo sobre ela.

Voltamos ao acampamento, embora não tenhamos ido muito


longe. O sviket2 foi um achado de sorte, e o ninho ainda mais sorte.
A carne nos alimentará bem esta noite e os ovos garantirão que
Z'hren não morra de fome. E minha inteligente L'ren percebeu que
eu não estava comendo e insistiu que tivesse um segundo ovo.
Mesmo agora, sinto-me mais forte depois da minha refeição, e não
é tarefa difícil cavar um poço a uma curta distância da árvore e
iniciar uma pequena fogueira. Apenas uma pequena, é claro, e

2 pássaro
então eu a deixo queimar até que sejam meros carvões, e em
camadas com folhas. Esfolo e estrago a carcaça, cubro-a com mais
folhas e deixo a cova para fumar por muitas horas. Quando estiver
pronto, os sóis estarão abaixo do horizonte e o dia terminará. Até
lá, há mais o que fazer. Então levo L'ren de volta para a selva
comigo. Desta vez, perseguimos nosso verdadeiro objetivo, as nozes
moídas e grossas. É fácil enjoar do paladar durante momentos de
abundância, mas ultimamente elas têm sido o único alimento
facilmente encontrado. Mostro-lhe o que procurar e passamos a
tarde juntando nozes e ensinando minhas palavras. Embora falar
um com o outro seja um desafio, eu aprecio a companhia dela e
amo nada mais do que fazê-la rir com prazer.

Paramos para uma pequena refeição de nozes e água fresca


quando chegamos ao riacho. Lavo-me rapidamente, me livrando da
sujeira e do sangue da minha pele e noto que minha companheira
tenta se lavar com suas roupas. Ela é estranhamente tímida,
minha L'ren. Não entendo, mas, novamente, não entendo muitas
coisas sobre ela. Gosto do pensamento de aprender tudo o que
posso, no entanto.

L'ren senta-se na beira da água e deita-se na margem,


fechando os olhos e suspirando profundamente.

— Cansada? ― pergunto, embora saiba que ela não me


entenderá.

Ela abre os olhos e me dá um sorriso pensativo. —


Sopensandu. ― Ela estuda a cesta de nozes ao lado dela e pega
uma, segurando-a para o meu olhar.
— L'ren ― diz ela depois de um momento, e depois coloca no
chão. Ela coloca outra próximo a ele.

— L'ren, K'thar ― explica ela, apontando primeiro a noz


original e depois a nova. Ela adiciona uma terceira noz menor. —
Z'hren. E outro. — J ... Ela olha para mim, esperando.

— J'shel ― digo a ela, apontando para a nova noz. Vejo onde


ela vai com isso. É um jogo de nomes de algum tipo. Adiciono outra
noz e coloco ao lado de J'shel. — N'dek.

Ela assente, excitação nos olhos, e pega outra noz.

— Mrsl.

— Não, somos todos nós ― digo. — A menos que você queira


contar com o Fat One. ― Dou um tapinha no voador, que tem suas
garras cravadas no meu ombro.

Ela balança a cabeça e segura a noz novamente, descendo a


lista de nomes e apontando para cada um. Então gesticula para o
que está na mão.

— Mrsl. ― Ela pega e coloca ao lado da noz dela. L'ren. Mrsl.


— Ela afasta a noz L'ren e coloca uma nova por ela.

— L'ren. K'thar. — Então ela gesticula para a sobra restante.


— Mrsl? ― Há uma pergunta em sua voz.

A realização amanhece. Aponto para as sobras.

— Esta é a fêmea humana que estava com você?


Suas sobrancelhas se franzem e ela me estuda, tentando
entender.

— Fêmea ― aponto, depois gesticulo para o meu peito. —


Seios. Kit.

— Sim ― ela diz animadamente na minha língua.

— K'thar, sim! ― Ela faz os mesmos gestos com as nozes


novamente. ― L'ren com Mrsl. L'ren então K'thar. — Mrsl ? ― Ela
pergunta, tocando as sobras mais uma vez. — Mrsl. Não?

Eu vejo a preocupação em seu rosto.

— Mrsl Sim. Ela está viva. Ela foi com R'jaal.

— R'jaal?

Eu pego outra noz. R'jaal. ― Ele é do clã Tall Horn (Chifre Alto).
Pego o cacho de nozes que representam minha tribo. — Este é o
Clã Strong Arm (Braço Forte). Pego algumas das nozes novas e
coloco a que representa R'jaal com elas. — Este é o Clã Chifre Alto.
R'jaal. T'chai. M'tok. S'bren. E sua amiga, Mrsl.

Os olhos dela se arregalam. Ela aponta para o aglomerado. —


Marisolestálá?

— Chifre Alto ― digo a ela novamente. Depois pego outro


aglomerado e os uso para representar o Shadowed Cat (Gatos das
Sombras), no outro extremo da ilha. — Eu estou. O'tek. A'tam.
U'dron. Isso é tudo o que resta do Gato das Sombras. Não restam
muitos de nosso povo agora. — Penso nas grandes reuniões
quando eu era um kit, em dezenas de pessoas reunidas para
compartilhar comida, competir em jogos e visitar a família. Penso
nos jogos de provas, quando os machos saíam para a selva para
trabalhar juntos e derrubar um garras do céu sem armas, exceto
com as próprias mãos.

Eu estava no meu próprio jogo de provas quando a Grande


Montanha Fumegante morreu. Todos nós estávamos no jogo de
provas. Foi apenas o fato de estarmos deste lado da ilha que nos
manteve vivos. O resto da terra afundou com a Grande Montanha
Fumegante e levou consigo quase todo o nosso povo.

Meu queixo aperta com a dor daquele tempo. Eu estudo as


nozes diante de nós. Tão poucos e já houve tantos de nós. Mesmo
agora, nosso território de caça é apenas uma pequena fatia do que
costumava ser. Lembro-me de dias de viagem para chegar ao local
do encontro. Agora, posso atravessar todo o território para as terras
dos Gatos das Sombras com um dia de viagem.

Não parece certo.

Uma fungada chama minha atenção. Olho para cima e vejo


que minha companheira está chorando, limpando lágrimas de suas
bochechas.

— O que é isso? ― pergunto-lhe, estendendo a mão para


acariciar sua mandíbula. — Por que você chora?

— Mrsl ― explica, tremendo os lábios. — Mrsl nnaum


estámorta. Elaviive. — Aperta minha mão na dela e me dá um olhar
suplicante. — Levemiatéela.
— O que você quer, minha companheira? ― Preciso me
concentrar em suas palavras, mas ela segura minha mão
perigosamente perto de seus seios inchados e isso me distrai.

Ela repete, e quando balanço minha cabeça novamente, ela


olha para as nozes e depois bate um dedo na dela. — L'ren. Ela
pega e move ao lado da amiga. — L'ren Mrsl.

Ela quer a amiga dela. Claro que sim. Se fosse eu e um do


meu clã desaparecesse, não conseguiria descansar até saber que
ele estava seguro. É isso o que é? Ela se sente responsável por sua
amiga? Eu concordo. — Conversarei com meu clã e ver o que
pensam.

Seu sorriso é brilhante e meu pau dói ao ver como ela é


adorável. Como a achei estranha? Ela é delicada, mas nunca vi
nada melhor do que o rosto dela quando está feliz.

Fat One pula do meu braço e L'ren olha para baixo, depois ri.
— Uhm... Fat One comeu K'thar.

Com certeza, meu pequeno Fat One pássaro noturno comeu


a noz que era para mim. Rosno quando se aproxima da noz da
minha companheira, afastando-o.

Algumas coisas não devem ser tocadas.


J'shel está entusiasmado com a minha descoberta naquela
noite. Ele voltou com nada além de alguns pequenos caminhantes,
e até esses são escassos, ele me diz. As águas próximas à praia
esquentam e os peixes saem das águas rasas. Não indico que a
selva pareça ficar mais quente a cada dia.

Não faz sentido alarmar ninguém, não quando não há nada a


ser feito a respeito. Naquela noite, sentamos juntos e saboreamos
nossa refeição. Fico feliz em ver L'ren comer tanta carne quanto
qualquer um de nós, embora ela torça o nariz ao ver J'shel roendo
uma perna. Ela mói um pedaço macio de carne entre duas pedras
e espreme o suco de sua fatia em uma tigela, e depois o oferece ao
pequeno Z'hren, que ama o mingau quando ele é esfregado contra
suas gengivas.

— Estou surpreso por não termos pensado nisso ― admite


N'dek.

Também estou. Mas nós somos caçadores. Nós não somos


mães. Assisto enquanto L'ren brinca com o kit. I'chai se foi, morta
nesta lua passada. Seu companheiro V'den morreu pouco depois
de ressoarem. Lembro-me da sorte que pensei que V'den tivesse
ressonado com a última fêmea. Essa foi a última sorte dele, e agora
seu kit está aqui conosco, sem mãe. Observo L'ren enquanto ela
embala Z'hren em seu colo, alimentando-o com mingau e
mordiscando sua própria comida. Meu clã é tão pequeno que todos
nós importamos.
E se o clã dela não for ninguém além de sua amiga? A amiga
dela? Ela merece vê-la. Merece tê-la ao seu lado. Se não ressoou
em R'jaal, ela deveria voltar para casa conosco.

Terei que lutar com ele, porque ele não quer desistir dela. Mas
para minha companheira, farei qualquer coisa.

— Minha L'ren perguntou sobre a amiga dela hoje ― digo a


J'shel e N'dek.

— Ela falou? ― J'shel parece surpreso, jogando a longa trança


por cima do ombro. — Ela aprendeu nossas palavras tão
rapidamente?

— Ela me disse em palavras e gestos. Ela quer seu clã ao seu


lado. Devo ir amanhã e levá-la para ver a Mrsl, sua amiga.

L'ren olha para mim surpreso. — Mrsl? ― Há emoção e


esperança em seu rosto.

Aceno para ela. — Amanhã. Vou levá-la para o clã do Chifre


Alto para que possa ver sua amiga. E se ela não ressoou com um
do clã deles...

— Então você a trará de volta para ver se ela ressoa com um


de nós? ― J'shel pergunta, esfregando as mãos ansiosamente e
olhando para N'dek, que parece igualmente entusiasmado.

— Verei se ela quer ― eu os aviso. — Se ela deseja ficar com


os Chifre Alto, não posso forçá-la a sair.
— Devo ir com você? ― J'shel pergunta. Sua emoção é
palpável. — Eu posso carregar Z'hren nas minhas costas.

N'dek imediatamente desvia o olhar. Sei o que ele está


pensando, que J'shel verá a mulher diante dele porque ele tem
duas boas pernas, enquanto N'dek deve ficar para trás, esquecido.
Parece injusto. — Não ― digo lentamente. — Eles suspeitarão se eu
levar alguém não acasalado. Por enquanto, seremos apenas eu e
minha companheira.

L'ren olha para mim com olhos esperançosos, e quando ela


me olha assim, lutaria com todos os homens nesta ilha apenas
para vê-la feliz.

Espero que não chegue a isso.


CAPÍTULO 11
Lauren
Ele fala por um tempo depois do jantar, fazendo planos em
voz baixa. Não entendo nada disso, mas ocasionalmente ouço meu
nome e o de Marisol. Toda vez que falo, K'thar apenas sorri para
mim e assente, e tenho que confiar que ele realmente me levará
para minha amiga. Não acho que ele mentiria, mas também espero
que não esteja entendendo completamente as coisas.

Quando os sóis caem, J'shel pega o bebê e se dirige para o


local onde dorme, e N'dek prepara sua cama com folhas frescas
que K'thar juntou para ele. Eles não parecem grandes fãs de fogo
aqui, então quando a luz se apaga, é praticamente hora de dormir.
Isso deixa apenas eu e K'thar nós retiramos para o nosso lugar no
alto da árvore.

Hora de dormir. Não posso deixar de pensar sobre a noite


passada e fico toda corada me perguntando como será esta noite.
Não que devesse pensar em coisas assim.
Não que não tenha pensado nisso a cada hora o dia inteiro.
Culpo meu namorado por meus pensamentos bastante singulares.
Sabia que o anoitecer estava chegando. Eu simplesmente não sabia
se o acompanharia.

Há.

Mas não posso negar que quero ser tocada novamente. O


orgasmo da noite passada não foi nada menos que abalar a terra e
estou curiosa para ver se ele planeja assumir o controle
novamente. Ele não me empurrou o dia todo, mas o peguei me
observando. Sei que ele tem que estar pensando como eu– o piolho
dele tem sido tão barulhento quanto o meu o dia todo.

Se ele não me tocar hoje à noite, no entanto, não tenho certeza


se tenho coragem de pedir. Parte de mim acha que ninguém se
importaria, ninguém nesta tribo de qualquer maneira, mas há
outra parte de mim que ainda pensa como a mulher estranha da
Terra que usava óculos e se sentava à margem do clube em vez de
dançar. Não estou abandonada. Acho que nunca serei essa pessoa.
O mais próximo que estarei dessa pessoa despreocupada é quem
eu sou agora, aquela de biquíni na grama em uma selva de pessoas
nuas. Eu sou a única que tenta ser útil, a pacificadora. É difícil
pedir coisas para mim.

É especialmente difícil pensar em perguntar a alguém. Ei,


você me tocaria novamente hoje à noite?

K'thar gesticula para o tronco oco da maciça árvore que eles


chamam de lar, e indica que eu deveria tentar escalá-la hoje à
noite. Aprecio que ele não me jogará por cima do ombro e me
puxará, mas me preocupo que serei muito ruim nisso. — Não sou
a mais atlética ― explico-lhe, agarrando uma das mãos e olhando
para cima. — Então não ria.

— L'ren, suba ― ele me diz em seu idioma.

Certo, certo. Estou ansiosa pelo dia em que possamos ter uma
conversa real. Uso o apoio para as mãos e me levanto, pegando o
próximo. Não é muito grande e meus dedos escorregam, e então
uma das grandes mãos de K'thar cobre minha bunda, me ajudando
a levantar.

Não consigo decidir se isso é estranho ou excitante.


Definitivamente, estou ciente de que ele está a centímetros de
distância das minhas partes femininas e isso me faz contorcer e
esticar a mão para o próximo apoio para as mãos, para que não
fique na mão dele por muito tempo e tenha muitas ideias. No
entanto, as bordas esculpidas no interior da árvore são bastante
grandes. Acho que é porque mãos alienígenas são muito maiores
que as minhas. Elas são um pouco espaçadas, portanto, mudar
para cada uma delas é um desafio. Concentro-me em viajar pela
árvore e estou ofegante quando passamos por todas as outras
plataformas e chegamos ao topo da árvore. Arrasto para a
plataforma tecida e desço, ofegante. — Da próxima vez, talvez você
pegue o primeiro andar em vez da cobertura ― reclamo quando ele
se agacha ao meu lado, olhando para meu corpo esparramado e
divertido com diversão.
— L'ren, sim ― diz ele, e toca minha bochecha com um dedo
grande. Acho que ele está tentando me dizer que está orgulhoso de
mim.

Dou-lhe um polegar cansado.

Ele sorri e depois se afasta, e me sento nos cotovelos para


observá-lo enquanto desaparece da borda com um salto, e depois
retorna alguns momentos com um punhado de folhas. O coletor
mais rápido de todos os tempos, embora suponha que ele tenha
uma vantagem com quatro braços em relação aos meus dois braços
insignificantes. Ele as joga em uma pilha agradável e confortável e,
em seguida, lança um olhar aquecido em minha direção.

E sinto uma descarga de corpo inteiro se mover através de


mim. Posso adivinhar o que esse olhar significa, e isso está me
fazendo tremer com a consciência. Meu piolho começa sua música
novamente, lembrando-me exatamente o que quer e, a cada hora,
parece um pouco mais difícil argumentar com a maldita coisa. Por
que estou lutando contra isso exatamente? Porque pessoas que
não sabem mais que eu existo não aprovam? Porque a moral da
Terra diz que é uma má ideia pular na cama com um cara que você
acabou de conhecer?

Essas coisas realmente se aplicam mais?

Levanto-me e passo para a beira da cama. Ele se senta de um


lado, mantendo-se entre mim e a borda, e depois espera por mim.

Não tenho certeza de como jogar isso. Tento ser sexy?


Reservada? O que eu quero? Dividida pela indecisão, caio na cama
e me deito de costas, ajustando a camisa do tapete sobre os meus
seios. Deus, sou a pior em sedução.

K'thar apenas ri, como se pudesse ouvir meus pensamentos,


e se deita ao meu lado. Não deitado de costas, mas apoiado em um
braço e de frente para mim. Assistindo-me. Sinto outra pontada
quente percorrer meu corpo com essa realização e fico feliz que o
crepúsculo esteja caindo, porque talvez meus faróis não sejam tão
perceptíveis.

— L'ren ― ele murmura.

— Você pode me chamar de Lo ― sussurro.— Todos os meus


amigos mais próximos fazem. Acho que você se qualifica. ―
Coloquei a mão no meu peito. — Lo.

— Lllloh ― ele consegue, revirando a língua de uma maneira


que quase soa como se ele estivesse ronronando meu nome, como
se seu piolho estivesse ronronando para mim. E Deus, isso não
deve ser tão sexy quanto é. — K'thar, Llo.

Ele está dizendo que eu sou dele? Fico coberta de arrepios


com o pensamento. Eu não deveria querer que um cara fosse todo
homem das cavernas comigo, mas é difícil negar que quero mais
do que qualquer coisa agora. Mais. Do que. Qualquer coisa. — Está
sou eu. Toda sua.

Ele olha para mim com aqueles olhos azuis brilhantes e depois
coloca uma das mãos entre minhas coxas, bem acima da minha
boceta coberta de folhas. — K'thar Llo. ― Mordo um gemido. Rapaz,
esse cara não brinca. — Isso é seu também.
O olhar que ele me dá é de um prazer feroz.

Bem, dois podem jogar esse jogo. Talvez esteja na hora de eu


ser um pouco mais ousada. Estendo a mão e agarro-o no mesmo
lugar que ele me tem, bem no seu pau. Não estou totalmente
surpresa ao ver que ele já está duro. — E este é o K'thar de Lo.

— Sim ― diz ele densamente, pressionando contra a minha


mão.

Ok, terei que ser ousada com mais frequência, porque a


resposta dele à minha carícia é quase tão emocionante quanto
quando ele me toca. Essas folhas não escondem muito, e posso
sentir algo muito grande e quente por baixo.

Ele se inclina, gemendo baixinho e, em seguida, oh tão


casualmente arranca minha saia de folhas de mim. Não é possível
fingir com este, ele está me declarando como dele e apostando em
seu território. E Deus me ajude, amo isso. Um pequeno grito me
escapa e nem protesto quando ele arranca minha blusa também.
Acho que isso é bom em roupas folgadas – acesso fácil.

K'thar olha para mim, sua expressão tão faminta quanto a


minha. Sem quebrar o contato visual, ele arranca sua própria
tanga e a joga de lado.

Oh garoto, agora nós dois estamos realmente, muito nus.


Tremo com a realização. Não há nada que nos impeça de continuar
com esse material de acasalamento. Estou pronta? Isso importa?
Mordo meu lábio, cheia de incerteza dolorosa quando ele olha
para mim. Ele não está se mexendo para me tocar, apenas
assistindo. Será que estou fazendo algo errado? Algo que o faz
hesitar hoje, diferente de ontem.

Ele olha para os meus seios, depois toca a curva de um, me


observando.

Que porra? Ele está olhando bastante duro para o meu rosto
e não para os meus seios. Franzo a testa. — O que foi aquilo?

— Machuca? ― Pergunta, usando uma das palavras que ele


conseguiu me ensinar nos últimos dias.

— Não ― digo lentamente. Por que eles machucariam?

Ele deve ver minha confusão, porque ri e esfrega o queixo,


parecendo um pouco envergonhado. Gesticula para os meus seios
e indica que eles são grandes, depois aponta para si mesmo e
balança a cabeça.

Isso significa que mulheres desse tipo não têm peitos como
eu? Ou ele acha que os meus são enormes? Coloquei uma das
mãos sobre meus seios para cobri-los, me sentindo um pouco
desconfortável.

K'thar agarra minha mão e a puxa para baixo com um


movimento de cabeça, depois passa levemente os dedos sobre o
meu mamilo. — K'thar Llo.
Oooh, então estamos de volta a esse jogo sexy. Eu aprovo. Fico
sem fôlego, especialmente quando ele continua a traçar meu peito
com as pontas dos dedos. — Sim.

Ele geme baixo da garganta, tão forte que parece sacudir as


árvores. Lá embaixo, seu Khui solta um grito estridente, e percebo
que não é apenas o meu que está tremendo é a árvore inteira.

Eu pulo de pé, aterrorizada. — K'thar outro terremoto!

— Llo ― diz calmamente, ficando de pé também. — Não.

— Não me diga não! ― Sei o que ouvi! Eu ... ― Faço uma pausa,
porque percebo que já parou. Foi apenas um tremor, nada mais,
mas é o segundo hoje. Cada um é aterrorizante porque me
pergunto quando o vulcão explodirá. Estamos bem na zona de
perigo, empoleirados na beira da caldeira.

Ele agarra minha cintura e me puxa de volta contra ele, e de


repente estou deitada encostada em um bárbaro grande, quente e
sexy e minha pele nua é pressionada contra sua pele nua.

E por um momento, esqueço tudo sobre terremotos.

K'thar me segura firmemente contra ele, e posso sentir seu


pênis pressionando nas minhas costas. Meu corpo formiga com a
consciência e meus mamilos estão duros, e prendo a respiração,
esperando para ver se ele me libera.

Ele não faz, no entanto. Em vez disso, sua mão grande vai
para minha boceta e ele acaricia meus cachos lá. — K'thar Llo ―
murmura contra o meu cabelo.
Tremo de necessidade, recostando-me contra ele, entregando-
me a ele. Ele quer que eu seja dele? Eu sou toda dele com o que ele
quer. — Sim.

Ele geme baixo na garganta, e posso sentir o barulho mais


profundo de seu khui em seu peito. Enquanto calmamente desliza
um dedo entre as dobras da minha boceta, ele estende a mão e
acaricia um dos meus seios novamente.

Respiro fundo, porque as sensações duplas são


enlouquecedoras. Eu achava que um cara com quatro braços era
estranho? Retiro isso, porque ele tem tantas outras maneiras de
me tocar que estou me molhando só de pensar nisso.

— Llo ― diz novamente com uma voz deliciosamente rouca, e


arrasta o dedo grande e grosso ao longo da costura molhada da
minha boceta. Ele o move para frente e para trás, depois começa a
esfregar levemente contra o meu clitóris. Oh merda, ele se lembra
disso de ontem. Claro que sim.

Agarro seu braço, contorcendo-me e ofegando enquanto ele


esfrega meu mamilo ao mesmo tempo em que ele acaricia meu
clitóris. Isso é tão injusto. É demais para eu entender. É
impressionante e incrível, e, oh meu Deus, gozarei tão duro se ele
continuar me tocando assim. A respiração chia dentro e fora da
minha garganta e choramingo, presa na gaiola de seus braços
enquanto ele me abraça com força contra ele e acaricia meu corpo
como se fosse dele há centenas de anos e ele sabe exatamente como
me tocar. Tão injusto.
É tão bommm!

Gozo um momento depois, gritando quando um orgasmo


rápido me toma. Nunca gozei tão rapidamente antes, mas parece
que toda vez que ele me toca, eu apenas acendo e explodo. Caio
contra ele enquanto ele continua me acariciando, murmurando
meu nome.

Sua mão levanta da minha boceta e, atordoada, eu assisto


enquanto ele levanta os dedos molhados na boca e os prova.

Então, K'thar geme. Duro. — Llo ― diz rouco.

No momento seguinte, estou de volta na cama arborizada, nas


minhas costas. Ele é rápido, tão rápido que mal posso dizer o que
está acontecendo antes que perceba que ele está separando
minhas coxas e sua cabeça desce entre elas.

OhDeusOhDeusOhDeus! — K'thar, espere ― eu choramingo.


— Eu preciso de um tempo. Estou muito sensível ...

Mas ele não me entende. Claro que ele não faz. Ou talvez ele
não se importe. Braços presos em volta das minhas coxas para
ancorar meus quadris contra ele, ele se inclina e me lambe longo e
lento.

Mordo meu dedo para não gritar o nome dele. A sensação


dispara através de mim e sinto que meu corpo inteiro está virando
do avesso. Nunca senti tanto de uma só vez. Quero que ele pare e
quero que continue. Ele lambe minhas dobras e meus dedos se
enrolam. Minhas mãos vão para os cabelos dele enquanto levanta
um dos meus joelhos por cima do ombro e começa a usar sua
língua com ainda mais força. Ele leva um tempo para explorar
minhas dobras e, em seguida, empurra a ponta da língua contra o
meu núcleo.

Meus gemidos se transformam em suspiros e me agarro a ele.


Sinto um pouco de decepção quando se afasta do meu núcleo, me
deixando dolorida e vazia. Mas um momento depois, sua língua se
arrasta pelo meu clitóris ainda incrivelmente sensível, e então
começa a se deleitar comigo.

Desta vez, não posso evitar o grito alto que escapa da minha
garganta.

Uma mão... Deus, ele tem tantas... estende a mão e pressiona


os dedos nos meus lábios. Eu os chupo, choramingando, porque
estou tão cheia de necessidade. Não posso evitar a reação do meu
corpo a sua intensa lambida, meus quadris batem contra seu rosto
em minha urgência. Posso senti-lo rir, mas ele não para. Só me
lambe com mais força, suas mãos apertadas em volta das minhas
coxas.

E então estou gozando novamente, molhada e quente e ao


redor de seu rosto. Meu corpo arqueia e ele ainda não para de me
lamber, não até eu estremecer e gritar pela terceira vez.

Olho para o dossel da floresta escura acima. Eu me sinto ...


cheia. Não, mais do que repleta. É como se toda a força do meu
corpo tivesse sido drenada, e foi sugada para fora da minha boceta
pelo alienígena entre minhas coxas. Levanto minha cabeça para
olhar para ele e seus olhos estão brilhando, o olhar em seu rosto
presunçoso e satisfeito. Sim, deveria estar satisfeito. Tenho certeza
de que todos os pássaros, répteis e alienígenas em um raio de cinco
quilômetros acabaram de me ouvir desabafando. Definitivamente,
isso tornará o café da manhã de amanhã bastante estranho
quando vir os outros.

Três orgasmos, um após o outro. Precisarei fazer exercícios


aeróbicos para acompanhar a língua desse homem! Minhas pernas
parecem que correram cinco quilômetros e tudo o que fizeram foi
apertar a cabeça entre minhas coxas. Claro, não posso reclamar.
Seria uma tola em reclamar. Isso foi incrível. Mãos em todos os
lugares, língua em todos os lugares ... meus dedos do pé se curvam
só de pensar nisso novamente.

— K'thar Llo ― o grandalhão murmura e lambe com a língua


ao longo da parte interna da minha coxa.

Tremo, porque posso ver o calor e a necessidade em seus


olhos. — Espere ― respiro, contorcendo-me do seu caminho. Uma
ideia me atingi e estou bastante animada com isso. Quero virar a
mesa contra ele…. Se ele gostou da minha reação ao toque dele,
tenho certeza que vou gostar da reação dele ao meu. Coloquei a
mão em seu peito e deslizo para longe, fechando minhas coxas
trêmulas. — Chega de Lo por enquanto. Falaremos sobre K'thar.

Ele me alcança, mas balanço a cabeça e acaricio seu rosto,


sorrindo para ele. — Minha vez. Lo K'thar!
Seus olhos estreitam e seu khui ronrona ainda mais alto. Sim,
ele gosta dessa ideia.

Levanto-me e pego a mão dele na minha, indicando que ele


deve fazer o mesmo. Ele faz, e então pude olhar para toda a
deliciosa altura do cara. Coloquei minha mão em seu peitoral,
sentindo seu coração bater e seu khui cantar, e parece um
momento mágico.

Ele explodiu minha mente, agora é minha vez de explodir a


dele. O pensamento é atraente. Quantas vezes K'thar olhou para
mim com olhos quentes e me segurou um pouco mais do que
deveria? É a minha vez de prestar atenção à sua necessidade... E
agradecê-lo por quatro muito, muito bons orgasmos.

E, bem, me divertir um pouco.

O pensamento de tocá-lo da maneira que quero é


emocionante. Isso me faz pressionar minhas coxas juntas com
antecipação e meu corpo cora novamente. Posso dizer que ele
também está animado, embora não seja difícil ver isso. Ele está
ofegando, seus ombros enormes arfando, e seus punhos estão
cerrando ao seu lado, como se estivesse tomando toda a sua força
para não me alcançar e agarrar e me jogar de volta nas folhas
novamente para outra rodada.

Por mais que essa rodada fosse incrível, quero que ele também
tenha uma incrível. Então sorrio para ele.

— Eu te ensinarei como beijar primeiro. Podemos fazer isso?


Ele inclina a cabeça e posso dizer que está examinando
mentalmente minhas palavras, tentando combiná-las com os
trechos da linguagem um do outro que aprendemos.

— Beijo ― explico prestativamente, deslizo minha mão na


parte de trás do pescoço dele, depois pressiono meu corpo contra
o dele. Meus seios empurram contra seu peito e um de seus braços
vai para minha cintura, me trancando contra ele. Balanço a
cabeça, mantendo minha expressão divertida. — Minha vez de
administrar as coisas, querido. E estamos começando com um
beijo.

— Bs... ― Concorda e coloca a mão atrás do meu pescoço,


assim como estou fazendo com ele.

Quero fechar meus olhos e me apoiar nessa mão grande,


porque ele pode colocar toda a parte de trás da minha cabeça na
palma da mão, e é uma sensação estranhamente erótica. Mas não
consigo me distrair, e ele é o melhor em me distrair. Inclino-me,
puxando-o em minha direção.

— Beijo ― sussurro novamente. — É o meu favorito.

Bem, era o meu favorito antes da oral. Posso ter um novo


favorito. Mas este pode ser um clássico. Estou bem com isso.

Ele me observa de perto, com os olhos abertos enquanto me


aproximo e coloco minha boca na dele. Ele fica completamente
imóvel debaixo de mim, como se estivesse tentando descobrir o que
estou fazendo.
Então me inclino e levemente pressiono meus lábios nos dele.
É claro que ele não sabe como beijar. Ele franze a boca e espera,
como se tentasse descobrir o que estou fazendo para que pudesse
imitar. Isso é estranhamente doce e meio engraçado ao mesmo
tempo.

Claro, a reação dele só me faz querer fazer mais. Quero chocá-


lo. Empurrar seus limites – ou apenas ver o que são. Eu me inclino
para mais perto e o lambo, direto na boca.

A respiração assobia entre os dentes. — Bj?

— Não exatamente ― murmuro, minha voz rouca com o poder


que tenho sobre ele. — Deixe-me terminar de te mostrar. Beijo —
digo novamente, e depois pressiono minha boca sobre a dele. Desta
vez, faço um beijo mais profundo. Em vez de acariciar seus lábios
com os meus, inclino minha boca sobre a dele e bato minha língua
contra a costura da dele. Quando ele se abre para mim, acaricio-o,
deslizando minha língua ao lado da dele. Então lentamente paro e
lhe dou um olhar sem fôlego.

— Beijo.

Ele rosna baixo e seus braços travam em volta da minha


cintura. Sua mão segura a parte de trás da minha cabeça com mais
força e, em seguida, sua boca está na minha novamente, e estamos
nos beijando com toda a intensa paixão que estava esperando.
K'thar é um aprendiz rápido, porque ele assume o beijo, e o que lhe
falta em elegância, compensa em entusiasmo. Deus, há sempre
entusiasmo. Ele está me beijando com tanta força que posso sentir
meu corpo respondendo, meu piolho cantarolando seu prazer.
Cada lambida na minha boca parece que está me lambendo entre
as minhas coxas novamente e é tão enlouquecedor quanto incrível.
Perdi o controle do beijo, mas não me importo. Quando finalmente
nos separamos, minha boca parece estar formigando e nós dois
estamos ofegantes. Ele olha para mim e desliza um polegar sobre
o meu lábio inferior. — Bs.

Aceno, atordoada. — Sim, é isso que é. ― Embora chamar o


que experimentamos agora apenas um mero beijo pareça
inadequado.

Quero fazer mais, antes que ele me distraia completamente.


Deslizo minha mão pelo peito e depois ainda mais baixo,
acariciando com ousadia seu pau. — Beijo aqui?

Os olhos de K'thar ficam encapuzados e posso ouvir o gemido


mais baixo escapar dele.

— Isso não é um não ― sussurro, e deslizo de joelhos,


ajoelhando-me na frente dele, minhas mãos ainda em seu pênis.
— De fato, isso pode ser um sim.

— Sim ― murmura densamente.

Sim, pensei que sim. Sinto uma intensa onda de prazer sobre
o controle que tenho agora. Estou de joelhos, mas sou a
responsável pela situação. É um sentimento inebriante e intenso e
posso ver por que as pessoas ficam tão viciadas em estar no
comando. Suas reações aos meus toques tornam tudo duas vezes
mais agradável.
Eu gentilmente seguro seu saco, explorando-o com os dedos.
Sua pele é macia aqui e incrivelmente quente. Quando olho para o
corpo dele nas sombras, parece estar ficando da mesma cor da
minha pele. Fascinante. Ele está camuflado para mim porque eu
estou tocando nele ou porque está tentando me agradar? De
qualquer maneira, gosto disso. Envolvo minha outra mão em torno
de seu comprimento e aperto, aprendendo seu corpo. Seu pênis é
incrivelmente grosso. Não que tenha tido muitas experiências com
paus (como em nenhuma), mas assistir pornô online não me
preparou para o tamanho de um alienígena.

Quando aperto, meus dedos não se fecham completamente ao


redor dele, e o comprimento dele é maior do que o previsto. Mas
todos os outros humanos presos aqui são alegremente felizes e
grávidas, então acho que o pau alienígena é grande do tipo viva,
em vez do tipo oh merda. E com essa maçaneta em cima, tenho
certeza que ele me acertará nos lugares certos. Isso é ... meio
emocionante.

Ok, muito emocionante.

Primeiro, porém, é a minha vez de me divertir. Olho para ele


e noto que está me olhando com olhos atentos e focados, como se
nada mais importasse no mundo. Sorrio para ele, então estendo a
mão e lambo casualmente a cabeça de seu pênis. Nunca dei um
boquete antes, mas há coisas que você simplesmente conhece em
seu âmago, e acho que sei como ser uma provocação.

— L'ren ― ele respira, acariciando meu rosto.


Meu piolho está retumbando como um cortador de grama no
meu peito, e o dele é tão alto que estou surpresa que ninguém
esteja gritando conosco para mantê-los quietos. Por outro lado, se
meus gritos há alguns minutos atrás não acordaram ninguém,
acho que eles estão fingindo não ouvir. Isso funciona para mim,
porque não pararei até que esse homem alienígena goze.

Sei que boquetes envolvem chupar e acariciar, então tento


descobrir a melhor maneira de fazer as duas coisas. Com minhas
mãos, exploro seu comprimento, sentindo sua pele. Ele é
escaldantemente quente aqui, e o cheiro suave e picante de seu
perfume enche meu nariz. Gosto do cheiro dele, e acho que nunca
disse isso sobre um cara antes. Provavelmente é o piolho, mas não
me importo. Só sei que até agora, gosto de tudo nele. Lambo a
cabeça de seu pênis, explorando-o com a minha língua. O pré-
sêmen golpeia a cabeça e o lambo várias vezes, mas sempre há
mais. Gosto do gosto dele, no entanto. Ele é grosso e macio ao longo
de sua haste, mas há uma crista dura ao longo do topo de seu
pênis, como se a pele estivesse mais espessa lá. É incomum e tenho
certeza de que não é padrão nos equipamentos da Terra, mas o que
é?

Acho que vou muito bem em agradá-lo, no entanto. Os


barulhos que K'thar faz são os de um homem prestes a perder o
controle, e sua mão continua tocando meu rosto, meu cabelo, em
qualquer lugar que puder. Ele sussurra coisas para mim que nem
pretendo entender, e o tempo todo, eu amo seu pau com minha
boca e minhas mãos.
— L'ren ― arfa e me afasta dele quando tento chupar a cabeça
de seu pau. — L'ren.

— Você irá gozar? ― Sussurro, pegando seu comprimento na


minha mão e esfregando meu rosto contra nele. Eu simplesmente
amo tocá-lo. Não importa como, apenas é prazeroso fazê-lo. — É
isso que está tentando me dizer?

Ele balança a cabeça e se afasta, e posso sentir a tensão em


seu corpo. Ele não quer que eu o toque nele? Eu o alcanço
novamente. Se puder gozar no rosto dele, ele pode gozar no meu.
— K'thar ― murmuro, minha voz rouca e suave. — Sim.

K'thar fecha os olhos e geme como se estivesse atormentado.

Decido tomar a iniciativa. Estendo a mão e acaricio-o


novamente, movendo meus dedos para cima e para baixo em seu
comprimento em uma leve carícia de vibração.

A respiração sussurra em sua garganta e então ele agarra


uma das minhas mãos, envolvendo-a em sua ereção e depois
bombeando seu comprimento com ela. Fascinada, vejo como ele
trabalha minha mão sobre seu pau, para cima e para baixo. Em
questão de segundos ele goza, e sêmen quente e pegajoso brilha em
minha mão, a prova de sua liberação. Ele fecha os olhos e respira
meu nome novamente, seu bombeamento diminuindo para um
golpe lânguido. Então, solta minha mão com um suspiro profundo
e me dá o olhar mais sonolento e satisfeito que acho que já vi em
seu rosto.

Amo ver essa expressão nele.


Ele me levanta, pega um punhado de folhas e limpa
cuidadosamente minha mão. Então, com uma carícia na minha
bochecha, ele se deita nas folhas e indica que devo me juntar a ele.

Acho ... não acasalaremos hoje à noite. Estou surpresa, mas


também estou satisfeita por ele se lembrar de que eu queria
esperar.

É claro que, em mais alguns dias, talvez eu não queira


esperar. Então, novamente, estou gostando do que fizemos até
agora, que parece não há pressa. Meu piolho ronrona, me
lembrando o contrário. Ainda quer um acasalamento.

Quando K'thar puxa meu corpo exausto para dentro do


círculo de seus braços, percebo que meu piolho provavelmente
conseguirá o seu caminho mais cedo ou mais tarde, e estou bem
com isso. Claro que não demorou muito.

Apenas ... não hoje à noite. Mesmo agora, meus olhos estão
fechados. A última coisa que noto antes de adormecer é que K'thar
coloca uma das mãos entre minhas coxas, segurando minha
boceta.

Certo. Ele está segurando o que é dele. O pensamento


divertido me leva a dormir.
CAPÍTULO 12
K'thar
Estou na frente da minha companheira na manhã seguinte e
começo a fazer uma tanga nova e uma cobertura para os seios
enquanto ela dorme. Eu a observo, satisfeito com seus suspiros
suaves. Ela sonha comigo e com o jeito que nós tocamos na noite
passada?

Nunca conheci tanto prazer como o que ela fez com a boca. Só
de pensar nisso agora faz meu khui estremecer, e não quero nada
além de empurrar entre suas coxas e lamber sua boceta até que
ela grite com sua liberação. Não, porém, o dia será longo e ela
precisará de suas forças. Ela não pode se camuflar, então nossa
viagem deve ser através dos galhos das árvores altas. Muitos kaari
perseguem samambaias e arbustos, tão famintos quanto nós por
caça que não podem mais ser encontradas. O dossel nos protegerá
dos garras do céu, então devem ser as árvores. Minha L'ren tem
apenas dois braços, e fracos, por isso nossa viagem será lenta. Se
estivesse sozinho, poderia chegar às falésias rochosas do campo do
Cifre Alto, mas não deixarei minha L'ren, sozinha.
Um tremor de terra a acorda, mas é pequeno e desaparece tão
rapidamente quanto chega. Ela se veste em silêncio, obviamente
preocupada, e não posso resistir a pressionar minha boca contra a
dela neste Bjo que ela gosta tanto. Isso traz um sorriso ao rosto
dela.

Nós comemos algumas mordidas rápidas e depois nos


despedimos dos outros. N'dek tem Z'hren hoje, para que J'shel
possa caçar. Sua cor é boa e ele se senta, com a roupa de cama
fresca. Ele ainda não saiu de sua plataforma, mas espero que com
o tempo encontre uma maneira de andar ou se movimentar sem a
perna. Outros já o fizeram no passado. É encorajador vê-lo ativo
em nossa pequena tribo mais uma vez, e sei que a presença de
L'ren lhe dá esperança.

N'dek e J'shel queriam companheiras há tanto tempo quanto


eu, e suspeito que tenham grandes esperanças na amiga de L'ren.
Veremos.

Não estou totalmente surpreso ao ver que Fat One fica para
trás com N'dek e Z'hren. O nightflyer gosta de pousar no meu
ombro, mas ultimamente ele está pairando em volta do kit,
provavelmente por causa de todas as migalhas e pedaços que
Z'hren solta quando mastiga uma raiz ou um pouco de carne
defumada. Mesmo agora, o voador vê o kit chupar seu ovo com
fome.

Não posso culpá-lo. O kit é o único bem alimentado da tribo.


Finjo comer minha carne seca, mas deslizo a maior parte para
dentro da minha bolsa de couro para mais tarde, quando L'ren
precisará de mais comida. Já estava com fome antes e não me
importo de estar de novo. Ela precisará de sua força hoje ... e
precisará dela quando carregar meu kit.

Apenas o pensamento me enche de intenso orgulho.

Minha pequena companheira é tão feroz à sua maneira como


qualquer mulher sakh. Ela não é uma boa alpinista, de forma
alguma. Mas tenta, e se esforça. Não reclama, embora o dia esteja
quente e a selva esteja tão úmida que eu possa ver nuvens de névoa
no ar. As mãos dela às vezes escorregam nos galhos, mas estou lá
para ajudá-la, e quando o espaço entre as árvores é grande demais
para ela pular, eu a carrego nas costas.

Isso não facilita a jornada para nenhum de nós. Quando


chegamos à curva da ilha e aos penhascos que pertencem ao Chifre
Alto, estamos ambos exaustos.

Fico feliz em ver as antigas ruínas de pedra dos ancestrais,


para onde o clã de R'jaal se retirou quando suas terras afundaram
no mar com a Grande Montanha Fumegante. Vejo as paredes de
suas casas estranhas quando nos aproximamos e as folhas verdes
e douradas de seus telhados. Não se parece em nada com nossas
plataformas abertas e arejadas no meio das árvores, mas elas estão
perto da água e passam muito tempo pescando em águas rasas,
como no antigo território.
L'ren faz uma exclamação de surpresa ao ver suas cabanas.
— Istosãocabanas?

— É aí que o clã do Chifre Alto mora ― explico, gesticulando


para meus próprios chifres de tamanho normal.

Ela assente, reconhecendo minhas palavras. Chifre alto, ela


repete e depois acrescenta: — Mrsl?

— Sim. Venha. ― Coloquei a mão nas costas dela e a guiei


pela costa.

O acampamento está mortalmente quieto. Meus sentidos


formigam porque deveria haver mais barulho. Alguém consertando
ferramentas de pederneira, alguém curtindo uma pele ou pescando
com redes. Ninguém sai para nos receber, e não há fogos acesos.
As cobertas de tecido sobre cada aba das pequenas habitações
estão abaixadas, e estaria sufocante lá dentro a essa hora do dia.
Isso não faz sentido. Ou eles estão caçando ao mesmo tempo...

Ou eles estão se escondendo de nós.

Rosno baixo na minha garganta, com raiva.

L'ren imediatamente agarra meu braço e se move atrás de


mim. — Queht? qtaacontecendo? K'thar?

— Está tudo bem ― falo. Minha frustração não está nela. Está
em R'jaal e sua tribo que adivinhou que estaríamos vindo e se
esconderam. Eles não querem desistir de sua fêmea. Não é
surpreendente. Não faria o mesmo na situação deles?
Claro, apenas pensar na minha L'ren nos braços de outro faz
meu temperamento aumentar. Coloco um braço na frente dela,
protegendo-a da vista deles.

— Saiam ― eu os chamo. — Venho para conversar, não para


roubar.

A menos que a mulher queira ser roubada, é claro. Essa é


outra questão inteiramente.

Não há resposta. Agora eles estão apenas sendo ridículos. —


Chifre Alto ― berro, colocando a mão na boca e gritando tão alto
que minha L'ren pula de surpresa atrás de mim. — Minha
companheira e eu viajamos o dia todo para conversar com vocês.
Saiam.

Eu espero, mas ainda não há nada.

— Sim? ― Minha companheira pergunta em voz baixa. — Mrsl


sim?

— Não ― digo pesadamente, além da frustração. Queria isso


para a minha companheira. Ela viajou muito e duro este dia, e
encontrar uma resposta dessas me faz querer pegar a árvore mais
próxima e arrancar os galhos. — Eles se escondem de nós.

Não tenho certeza se ela entende, mas faz um barulho


indignado na garganta e passa por meu braço. —
MARRRRIIIISOOOOOL ― ela grita, tão alto e penetrante que faz
meus ouvidos doerem.

— ONDIESTAAAAVOCCEEE.
Sua voz soa desesperada e infeliz, e sinto como se tivesse
falhado com ela. Quero isso para ela, mas invadir as cabanas
fechadas dos outros viola as leis dos clãs. Vim para a casa deles.
Se não me receberem, não posso entrar. — Venha, minha
companheira. Sei que você está decepcionada. EU-

— LOOOORN? ― Há um grito estridente das cavernas das


marés ao longe, logo além das cabanas. — EEEVOCCEEEE?

Minha L'ren suspira de prazer, apertando as mãos contra os


seios e dando um pequeno pulo de alegria.

— SSSSM!"― Ela grita. — SOUEU!

Há movimento nas sombras da caverna. Enquanto assisto,


um caçador de chifres altos dá um passo à frente, apenas para ser
empurrado de lado pela fêmea humana de cabelos escuros que
passa por ele. Então, as duas mulheres estão fazendo gritos felizes
e correndo uma contra a outra na longa praia de areia.

Elas se reúnem, braços cruzados e pulando. Os outros


membros do Chifre Alto emergem lentamente das cavernas das
marés, um por um.

Nenhum deles parece feliz em nos ver.

Lauren
Entre rir e chorar de pura alegria, noto que Marisol está
pelada. Ela bronzeou um marrom um pouco mais profundo do sol,
e seus cachos escuros estão uma bagunça, mas o sorriso em seu
rosto é brilhante e ela parece mais feliz do que há muito tempo.

Parece que um peso enorme foi tirado dos meus ombros.

— Eu não tinha certeza se você estava bem— , diz ela, me


apertando com força novamente antes de voltar para me estudar.
— Você está bem?

— Estou bem! É com você que tenho me preocupado. Não


sabia o que aconteceu com você porque, quando acordei, estava
sozinha com K'thar. Mas ele me disse que a outra tribo tinha você
e eu queria ir ver por mim mesma.

Ela olha por cima do meu ombro e seus olhos se arregalam.


— Ele ... ele não se parece com os outros. ― Ela se aproxima um
pouco mais de mim, como se alarmada.

— Não? ― Eu franzo a testa com a reação dela.

— Isso são ... quatro braços? ― Ela sussurra quando ele se


aproxima de mim. Ela imediatamente se afasta um passo.

— Um, sim. Todo mundo tem quatro braços, não é? Pensei


que todos os alienígenas da ilha sim.

— Embora agora eu esteja pensando.

Alguém se aproxima por trás dela e eu paro, porque agora


entendo o que ela quis dizer. Esse cara é parecido com K'thar de
várias maneiras, mas ele tem dois braços e não é tão volumoso com
músculos quanto o meu. Em vez disso, ele tem um enorme
conjunto de chifres saindo da testa e inclinando-se para trás. Eles
me lembram os chifres de um antílope com sua enormidade e eu
me viro para olhar K'thar. Seus chifres são pequenos, compridos e
facilmente perdidos nas ondas selvagens de seus cabelos. Não há
como perder esses chifres. — Ok, isso é estranho. Todos têm chifres
assim?

Ela assente lentamente. — E eu acho que todos vocês têm


quatro braços?

— Até o bebê ― eu concordo.

— Tem um bebê? ― Marisol parece surpresa.

— Existem apenas quatro caras aqui. Acho que a tribo deles


foi exterminada. Tenho a impressão de que havia muito mais
pessoas aqui.

K'thar também. A sensação desconfortável pinica minha pele.


— Eu sei. O pessoal de K'thar vive em uma grande casa na árvore,
mas está quase vazia.

Marisol parece preocupada. Ela se move para frente e agarra


minhas mãos novamente, falando em voz baixa. — Lauren, temos
que sair daqui. Você sabe o que é essa ilha?

— Uma caldeira de vulcão ― digo a ela, assentindo. — E


estamos bem no limite do que resta.
— Mas não está adormecido. Não deve estar. Há partes dele
que ainda estão fumegando ― ela sussurra, preocupação
revestindo seu rosto. — E o chão treme todos os dias. É como se
essa coisa estivesse apenas esperando para explodir novamente e
acabar com toda a Krakatoa conosco.

— Kraka, o quê? ― Parece familiar, mas não posso lembrar.

―Você se lembra da sua história? Krakatoa era um vulcão tão


grande que, quando explodiu no século XIX, podia ser ouvido a
milhares de quilômetros de distância. Suas mãos apertam as
minhas. — E levou toda a ilha e todos os seus habitantes com ela.

Estou tonta. Oh. Isso não é muito bom.

— Temos que voltar para os outros no continente ― ela me


diz. — Estou tentando conversar com T'chai sobre isso, mas ele
não me ouve.

— Foi ele quem te sequestrou? ― Fico com raiva por ela. —


Estamos aqui agora, Mari. Deixe-nos ajudar a protegê-la. K'thar é
um cara legal, prometo.

Mas ela balança a cabeça, ficando impaciente comigo. Fico


surpresa com a reação dela, especialmente quando ela puxa as
mãos das minhas. — R'jaal foi quem me trouxe aqui. Quando eu
conheci os outros, porém, as coisas mudaram. — Ela coloca a mão
no peito nu. — Eu ressoei, Lauren. Você acredita nisso?

— Sim, na verdade ― digo secamente. — Eu fiz o mesmo. ―


Os olhos dela se arregalam.
— Você fez?

Concordo. — Para K'thar. E você fez com R'jaal? Aquele que


roubou você?

Ela morde o lábio e estremece. — Na verdade não. Eu não


ressoei com ele. Ele me trouxe de volta ao grupo e ressoei com seu
amigo. Já passei ... alguns dias interessantes.

Olho sua nudez. — É por isso que você está nua?


Interrompemos alguma coisa?

Ela ri e suas bochechas ficam sombrias. — Não. Todo mundo


aqui fica nu. Pareceu estranho exigir roupas e não teriam
entendido de nenhuma maneira. — Ela se move para frente e pega
minha mão novamente, sorrindo.

— Você quer vir almoçar? É como um buffet de sushi


constante por aqui. Muito peixe cru e fresco. ― Mesmo quando ela
me leva para frente, um cara grande e magro com chifres enormes
se aproxima e fica atrás de Marisol protetoramente. Ela o ignora,
sorrindo para mim e, um momento depois, K'thar vem ao meu lado.

— Não sei se somos bem-vindos, Mari. Eles não parecem


emocionados em nos ver. ― Olho o cara atrás dela. Ele cruza os
braços sobre o peito e faz uma careta para nós, seu olhar passando
rapidamente para Mari e depois de volta para mim e K'thar.

Mari olha para trás e balança a cabeça, dispensando-o. — Isso


é apenas T'chai. Ignore-o. Ele me segue como um cachorrinho
bravo desde que ressoamos. — Filhote de cachorro bravo não é
como eu descreveria o homem carrancudo, mas estou feliz que
Marisol tenha encontrado sua coragem. Pela primeira vez desde
que chegamos a esse lugar, ela não parece totalmente aterrorizada.
Não sei ao certo o que causou a transformação, mas agradeço. É
uma coisa a menos com que me preocupar. Vê-la feliz e saudável
me faz sentir tão aliviada que poderia cair no chão aqui e chorar
de exaustão. Até agora, não percebi o quanto o estresse de seu
destino estava pesando em mim. — Então você ressoou com ele ―
digo lentamente, tentando pensar nas minhas palavras. — Você
está feliz?

— Ficarei feliz quando sairmos dessa armadilha mortal de


uma ilha ― ela me diz, pegando minha mão e me levando em
direção aos outros membros da pequena tribo, de aparência
irritada. Todos eles têm chifres enormes, noto, e não parecem
emocionados ao ver K'thar ... embora estejam todos me olhando
com interesse descarado.

K'thar percebe isso também e se move para o meu lado,


colocando uma das mãos protetora no meu ombro. Eu deveria
estar irritada, acho, mas estou realmente muito feliz com esse
toque possessivo. Isso me lembra que ele está aqui e está cuidando
de mim, e envia um aviso para eles.

Um dos outros se aproxima e diz algo curto e duro para K'thar.


Meu cara responde com uma resposta legal e alguém chama algo
de raiva.

Faço uma pausa, e Mari também. Isso não parece uma


situação muito acolhedora, e não tenho muita certeza do que fazer.
Estou cansada da viagem do dia e estou com fome, mas também
não quero ficar aqui se não for seguro. Preocupada, olho para
K'thar.

Ele dá um passo na minha frente e aponta com raiva para um


dos outros caminhando adiante. Percebo que o companheiro de
Mari se move na frente dela, e então a praia está cheia de
alienígenas discutindo, todos fazendo seu descontentamento
conhecido em tons ásperos. Achei que, por causa da relutância de
K'thar, não seríamos recebidos de braços abertos, mas nunca
esperava isso. Também posso dizer que Mari está chocada.

— O que está acontecendo? ― Ela sussurra.

— Se eu soubesse, diria a você ― murmuro de volta. Não sei


por que esses caras não parecem gostar um do outro, mas é claro
que essa visita não é super amigável. Todos os homens estão
praticamente cheios de raiva quando estamos aqui na praia e eles
rosnam um para o outro. Olho os rostos de cada um deles quatro
são todos contados, e Mari. Não muitos. Esse pequeno grupo é tão
pequeno quanto o nosso? Não posso deixar de sentir que todos
devemos trabalhar juntos, considerando que não há muita comida
para comer. Se há tanto peixe aqui como Mari diz, por que todos
não se mudam para cá? Por quê...

Uma sombra voa acima, momentaneamente escurecendo as


areias. Imediatamente, todos os homens se camuflam, mudando
de cor para combinar com as areias escuras. Antes que eu possa
me perguntar o que está acontecendo, um grito alto e desumano
atravessa o ar.
No momento seguinte, sou derrubada no chão, a respiração
saindo de mim. Minha cabeça gira. Através de uma névoa, ouço
Marisol gritando e mais alguém gritando na língua estrangeira.

O grito animalesco soa nos meus ouvidos novamente e tento


levantar a cabeça, mas o corpo de K'thar cobre o meu. — Não! ―
Ele grita, tão alto que faz minha cabeça doer. — Não, L'ren.

— Não me mexer? ― Olho para ele, de olhos arregalados, e ele


cobre minha boca com uma mão, seu peso pressionando sobre
mim. Estou enjaulada debaixo dos braços dele e quero protestar,
mas a selvageria em seus olhos me faz parar. Ele achatou seu corpo
ainda mais forte no meu e quero protestar que não consigo
respirar, mas uma sombra cai sobre seu ombro e a cabeça de um
enorme pássaro-lagarto espia as areias, depois grita novamente.

Se a cabeça dessa coisa não for do tamanho de um carro, eu


como minha camisa. Aterrorizada, eu me encolho embaixo dele. E
percebo o que ele está fazendo agora – ele está me escondendo com
sua camuflagem, já que não tenho nenhuma.

Prendo a respiração e a coisa se afasta a uma curta distância,


olhando a areia.

Se Godzilla tivesse asas, acho que ele se pareceria com este


pássaro. Não, me corrijo mentalmente. Amo pássaros. Odeio essa
coisa! Não é um pássaro na verdade. É mais perto de um
dinossauro, com um focinho longo e pontudo e tufos de pelo de
aparência desagradável na garganta e no corpo. As asas são de
membrana fina como um pterodátilo, mas os dentes afiados e
irregulares que chamam minha atenção são como algo saído de um
pesadelo. A coisa está empoleirada em pés compridos e com garras
e seu corpo parece impossivelmente longo. Já vi ônibus urbanos
menores do que isso, e é tudo junção, tendões e presas presos a
um corpo de cano. Não há nada gracioso nisso... ou o fato de que
ele quer nos comer.

De um lado, mal consigo distinguir o cabelo de Mari e seus


olhos aterrorizados, seu corpo coberto pelo alienígena camuflado.
O monstro vagueia mais perto deles, olhando a areia mais uma vez.
É como se soubesse que estamos aqui, mas não pode nos ver, e o
pensamento é aterrorizante. E se não desaparecer?

Uma das mãos de K'thar desliza entre nossos corpos, e o vejo


pegar sua faca de pedra. É do tamanho de uma de suas grandes
mãos e isso não parece ser uma grande arma contra uma criatura
tão grande. Seu corpo fica tenso sobre o meu quando a coisa
balança a cabeça em nossa direção.

— Não ― sussurro para ele, agarrando um longo pedaço de


seu cabelo antes que ele possa se levantar. — Não me deixe.

Sua atenção não está em mim, no entanto. Está trancada


diretamente na criatura ameaçadora próxima. Sei que ele está
apenas esperando o momento certo para atacar. E isso me assusta.
Eu o perderei agora?

Acabei de encontrá-lo. Parece que minha vida, por mais louca


que tenha sido ultimamente, começou no momento em que meu
piolho começou a ronronar. A realização me bate como um tijolo e
suspiro alto.

A criatura começa, levantando a cabeça ao meu barulho.

Porra.

K'thar se joga fora de mim, gritando. Antes que eu possa gritar


um protesto, ele se lança no monstro e balança uma faca nele,
depois outra. Enquanto assisto horrorizada, ele consegue pegar
todas as quatro facas com velocidade e balança a criatura,
chamando sua atenção. Ele brande suas lâminas, braços abertos,
ferozes e prontos para atacar. Parece que pode ser comido de uma
só vez pela besta, e estou aterrorizada.

Então a coisa olha para mim, ainda esparramada na areia, e


sinto um tipo diferente de terror. Sento-me e deslizo para trás um
meio passo, a respiração sumindo dos meus pulmões.

K'thar dá um grito de guerra e se lança na cabeça da coisa um


momento antes dela se lançar em minha direção. Enquanto
assisto, congelada, três outros alienígenas se lançam contra a
coisa, armados com lanças, e a luta se torna uma dança estranha,
em velocidade dobrada, de homens voando na criatura com armas,
sendo arremessados para trás e depois se lançando novamente.

Parece que ir muito bem até que um segundo voa baixo e


entra. O grito de Mari alerta todos nós para o recém-chegado, e
então o sangue voa quando um dos guerreiros com chifres é varrido
pelas costas. Ele cai no chão, e o novo monstro um pouco menor
que o outro cai sobre ele e começa a atacá-lo com bico e dentes.
Não consigo desviar o olhar. Ele está longe de mim, mas todos os
outros estão lutando contra o maior. É horrível demais, e os gritos
de Mari continuam, e percebo que o alienígena preso sob os pés da
coisa é seu novo companheiro.

Alguém tem que ajudá-lo.

Levanto-me, pego um punhado de areia e arremesso no rosto


do segundo pássaro. — Shoo!

Mari segue minha liderança, pegando areia e arremessando


no rosto da coisa. — Vá embora ― ela soluça enquanto arremesso
outro punhado.

A coisa olha para cima e assobia para nós. Esse é o único


aviso que recebemos antes que ele estique o bico para nós e salte
para a frente. Puxo Mari para trás, fora de alcance, mas ela
abandona sua presa e vem atrás de nós, estalando novamente.

Oh, porra! Procuro por uma arma, mas não há nada. Empurro
Mari atrás de mim, tentando protegê-la enquanto a coisa avança
sobre nós, balançando a cabeça para limpar a areia dos olhos.

Minha vida está prestes a piscar diante de mim, e vejo a coisa


recuar, pronta para estalar novamente quando K'thar pula no bico,
fechando-o com os braços. Uma faca serra o olho da criatura e ele
grita algo para mim.

Eu não preciso ser avisada duas vezes. — Corra, Mari! Para


as árvores! ― Aponto para o dossel distante. — Estaremos seguras
lá!
— Eu não deixarei T'chai ― ela soluça, se libertando do meu
aperto e tentando voltar em sua direção.

É claro que chegar até ele significa superar as criaturas nas


areias manchadas de sangue. Agarro seu braço novamente e a
puxo para trás com toda a minha força. — Você pode ajudá-lo
muito mais se estiver viva!

Ela torce nos meus braços e depois estica a mão e me dá um


tapa no rosto, furiosa. — Não!

Parece que meu lábio explode e posso sentir o sangue jorrar


da minha boca e escorrer pelo meu queixo. Eu ignoro, porém, e
enfio meus dedos em seu braço, arrastando-a comigo. Depois de
um momento, ela cede e se move comigo, soluçando o tempo todo.

Chegamos à beira das árvores e nos movemos para trás do


tronco de uma grande e esperamos. Não consigo ouvir muito sobre
o som do choro de Mari e a sacudiria de frustração se não sentisse
vontade de chorar. Não consigo parar de tremer. Essas coisas eram
tão grandes. Eles poderiam ter nos comido de uma só vez. Penso
no alienígena preso sob as garras e o arrepio da coisa. — Por favor,
esteja seguro, K'thar ― murmuro baixinho.

Meu piolho começa a acelerar, o ronronar crescendo alto e


latejando no meu peito. Coloco a mão no peito e me viro para espiar
por trás da árvore.

K'thar corre em minha direção, facas ensanguentadas ainda


agarradas em suas mãos, a expressão em seu rosto manchado de
areia e sangue feroz. Enquanto eu assisto, sua cor lentamente
derrete de volta ao seu gelo azul normal. Ele arranhou e arrancou
sua pele, vergões erguidos em seus braços e sua tanga de folha
desapareceu há muito tempo -

Mas ele está vivo e inteiro.

Com um grito de alegria, saio de trás da árvore e tropeço em


sua direção através da areia.

Ele me puxa para seus braços e me abraça, e não me importo


que sua pele seja pegajosa e arenosa e ele cheira a suor e Deus
sabe o que mais. Ele está vivo. Não consigo parar de chorar com
pura alegria e alívio.

Essas coisas não o comeram.

— L'ren ― diz ele em voz baixa enquanto me coloca de volta


no chão. uma das mãos segura minha bochecha e ele passa o
polegar na minha bochecha ardente. — Es ket?

Ele está perguntando se eu estou bem. Eu concordo. —


Apenas um soco histérico entre as meninas. Está tudo bem. —
Toco seu braço, onde o sangue atingiu sua pele e estremece. —
Você? Es ket?

Ele assente e acaricia minha bochecha novamente, parecendo


muito mais preocupado comigo do que com seus próprios
ferimentos. Homem doce.

Há um soluço quebrado atrás de mim e Mari passa correndo,


indo em direção à areia agitada. Percebo que não há muito
movimento na praia. Os cadáveres dos dois monstros são enormes,
e enquanto eu assisto, um homem sai mancando por trás de um
deles. Outro corta o intestino de uma criatura e, em seguida, coloca
a mão ao lado, como se isso o machucasse. Eu não vejo os outros.

— T'chai! ― Mari grita, avançando.

— Eu tenho que ir com ela ― digo a K'thar, preocupada. Se o


companheiro dela estiver morto, ela estará em ruínas e precisará
de uma amiga para se apoiar. Aponto para a minha amiga.

Ele me examina mais uma vez, como se minha segurança


importasse mais do que qualquer outra coisa, e depois me deixa
relutantemente fora de seus braços. — Sim.
CAPÍTULO 13
Lauren
T'chai não está bem.

Eu sabia que ele não estaria, mas também não sabia o quão
ruim seria. Sua barriga está completamente rasgada, e ele está
inconsciente e perdendo sangue. Mari e o infame R'jaal trabalham
em T'chai, costurando suas feridas, limpando-as e deixando-o
confortável em uma das cabanas. Para minha surpresa, Mari está
extremamente calma. É como se o momento que viu o quão ruim
estava seu companheiro, estalasse em sua mente e toda a histeria
se fosse.

Seja qual for o motivo, sua calma é boa, porque há muito a


ser feito no acampamento da praia. Dois dos outros alienígenas –
M'tok e S'bren – estão gravemente feridos e cobertos de sangue.
M'tok manca e S'bren está apoiando um de seus braços, apertado
contra seu peito. Eles ainda estão fazendo o possível para
trabalhar, cortando as carcaças dos animais mortos para que
possam ser arrastados para longe da praia. Eles não podem ficar
porque todos os carniceiros conhecidos pela humanidade ou
alienígenas aparecerão para conseguir uma refeição grátis. Até eu
sei disso.

Meu K'thar aparece para ajudar os outros imediatamente.


Apesar das diferenças, é K'thar que ajuda R'jaal a transportar o
T'chai gravemente ferido de volta à cabana. Então, ele ajuda os
outros dois a tirar as criaturas, mesmo que todos pareçam
exaustos e que não façam nada além de entrar em colapso.

Mas não podem. Não há mais ninguém para fazer isso.

A realização me impressiona. O trabalho nunca termina aqui


neste planeta, porque sempre haverá mais que precisa ser feito. Se
você está em perigo, tudo o que tem são suas próprias mãos e a de
seus amigos. É um pensamento preocupante e me faz dar um
passo à frente para ajudar. Quando o próximo pedaço cortado de
criatura é libertado, sigo em frente antes que M'tok, que está
mancando, possa se mover para pegá-lo. — Eu posso pegar este ―
digo.

— L'ren ― diz K'thar, uma pergunta em sua voz.

— Estou bem ― prometo com um sorriso. Claro, o sorriso dói


porque Mari rachou meu lábio, mas o que é um lábio partido em
comparação com o que está acontecendo? Eu tenho quatro
membros bons pelo menos. — Sei para onde estão levando isso.
Posso faze-lo.

Ele hesita e depois assente.


É mais fácil falar do que fazer para ajudar, no entanto. Não
há empunhadura na carne do animal morto, então eu a pego da
melhor maneira possível e a lanço na areia. A coisa é pesada,
escorregadia e pesada, e acabo arrastando-a na maior parte do
caminho. As cabanas estão localizadas na beira de uma pequena
enseada e estamos arrastando essas coisas para o outro lado. Se
os predadores vierem buscar uma refeição grátis, eles não estarão
perto das cabanas e dos feridos. Largo meu pacote e pego mais, e
então parece que o resto do dia se transforma em pedaços de
transporte, uma e outra vez.

Nunca fiquei tão aliviada quando termino a última e não há


mais o que arrastar. K'thar me leva até à beira da água e nós dois
nos limpamos da pior sujeira, e verifico suas feridas. As dele são
principalmente arranhões. Alguns arranhões parecem
desagradáveis, mas quando tento mexer, ele me tranquiliza com
algumas palavras e gestos que está bem.

Nós partimos da praia para verificar os outros. Eles parecem


tão destruídos quanto eu pensava, e T'chai está inconsciente e
queimando. Mari segura sua mão firmemente na dela, imóvel da
cabeceira da cama. Os três outros em sua pequena tribo parecem
sombrios e agressivos.

De todos eles, K'thar e eu saímos disso com a maior sorte.


Também está claro para mim que Mari não irá para casa conosco.

Também está claro para mim que, se deixarmos esses caras,


eles lutarão. Mari e T'chai estão dentro de uma cabana. R'jaal sai
e verifica os outros dois homens, mas todos parecem prontos para
cair exaustos. Sinto o mesmo e tenho fome e sede, mas parece
errado pedir algo assim.

Um braço ferido e um joelho machucado são uma coisa, e


tenho certeza que os caras conseguirão sobreviver. Mas T'chai
precisará de muita ajuda, e sei do meu tempo com K'thar que há
muito a ser feito em todos os campos. E se eles precisassem de
água fervida para as feridas de T'chai? Isso é fogo e água a serem
recuperados antes que cheguem ao lado da cama dele. E a comida?
Água potável? Há tanto trabalho pela frente que meu coração dói.

— Não podemos sair ― murmuro para K'thar. Não sei como


dizer isso no idioma dele, então tento novamente com as poucas
palavras que sei. — K'thar, L'ren não irá? Socorro?

Ele me estuda e acaricia meu rosto novamente.

— Volte Z'hren, J'shel, N'dek.

Eu entendo o que ele está dizendo. Ele pegará os outros. Essa


tribo precisará da ajuda de todos para sobreviver pelos próximos
tempos, e somos todos mais fortes juntos. Aceno para ele. — L'ren
fica aqui. Posso ajudar.

R'jaal se move em nossa direção e estuda K'thar. Ele diz algo


ao meu companheiro e eles falam em voz baixa e silenciosa. Não
entendo muito do que estão dizendo, mas uma palavra ocasional
aparece. Aqui. Comida. Fêmeas.

Os dois olham para mim, como se tentassem me entender.


— Ficarei aqui ― digo novamente, gesticulando na praia e nas
cabanas. ― Posso ajudar com Mari. Ajudar com comida. Sou forte.
― Levanto um braço, flexiono um músculo e dou um tapinha no
meu bíceps. — Forte.

Os lábios de R'jaal se contraem como se ele estivesse fazendo


o possível para não rir.

K'thar apenas olha orgulhoso para mim. Ele dá um passo à


frente e coloca meu rosto em suas mãos. — K'thar Llo ― ele
murmura, a voz rouca.

Oh Deus, agora estou ficando excitada e não é a hora. — Toda


sua ― sussurro de volta para ele. ― Não esquecerei. Lo pertence a
K'thar.

Ele olha para R'jaal, depois de volta para mim, e depois se


inclina e me dá o beijo mais feroz e mais surpreendente que já tive.
É um beijo possessivo e marcante, a língua dele acariciando minha
boca como se ele estivesse reivindicando por si mesmo.

Fico sem fôlego e ofegante quando ele se afasta. Olha para


R'jaal novamente, toca minha bochecha e depois se aproxima das
árvores.

Sinto-me como um hidrante que acabou de ser marcado como


território, e não consigo parar de rir com o pensamento, embora
queira chorar ao vê-lo partir. Tão cedo?

Mas sei que é necessário. Sei que ele não pode deixar os outros
por muito tempo e não pode ficar aqui. A única coisa a fazer é
reunir as duas tribos quebradas e esperar que todos possamos nos
apoiar.

Não significa que não sentirei falta dele. Toco minha boca
latejante e suspiro.
CAPÍTULO 14
Lauren
Falo para mim mesma que alguns dias sem K'thar não
demoram tanto. Afinal, sobrevivi 23 anos sem ele. Posso sobreviver
mais alguns dias. E as pessoas da tribo da praia precisam de ajuda.
Mari está uma bagunça e não sai do lado inconsciente de T'chai.
Ela fica me perguntando coisas do tipo: — O piolho deve fazê-lo
curar mais rápido, certo? Fazê-lo melhorar, não é?

Quero dizer que sim, porque também fui informada disso. Mas
não sei como o piolho lida com coisas como uma barriga destruída
ou possivelmente órgãos perfurados. Não sei como ele lida com
sepse, infecção ou qualquer outra coisa que pode acontecer em um
lugar primitivo como esse. O piolho pode manter seu hospedeiro
forte, mas não pode fazer muito. Mas apenas sorrio brilhantemente
e dou um tapinha no ombro de Mari e a asseguro que ele é forte.

O que mais posso fazer?

A tribo com chifres, como cheguei a pensar neles está


destruída pelo ataque. M'tok continua tentando andar de joelhos,
que parece cada vez pior a cada hora que passa, até que R'jaal o
sente e o force a descansar. S'bren – aquele com o braço ferido –
faz o que pode para ajudar no acampamento.

Isso deixa R'jaal e eu para cuidar de todos. É um pouco


estranho no começo, porque não conheço muitas das palavras
deles e ele não é tão paciente comigo quanto K'thar. Através de uma
mistura de gestos e palavras cortadas, ele me dá tarefas a fazer.
Não importa que os sóis gêmeos estejam caindo e esteja exausta de
andar o dia todo. Há água a ser recolhida e uma fogueira a ser
acendida. Acho que eles gostam de fogo aqui na praia.

Quando está completamente escuro, estou exausta e pronta


para me deitar na cama. Eu nem me importo quando R'jaal me
aponta para a segunda cabana e tenho que dormir em frente a
M'tok e S'bren. Está claro para todos eles que sou de K'thar e que
ninguém me tocará. Adormeço no topo de uma pilha de folhas
instantaneamente.

Na manhã seguinte, acordo com um silvo. Esfrego os olhos e


olho por cima e vejo que M'tok está balançando o joelho inchado.
Ele assobia novamente quando um rio de pus escorre por sua
perna, e meu estômago se contrai.

— Você realmente deve descansar essa coisa ― digo


fracamente antes de me retirar da cabana.

Estou sofrendo e dolorida e quero dormir por mais um milhão


de horas, mas quando saio da cabana, R'jaal já está nas águas da
baía, lançando redes. Não consigo dormir enquanto há pessoas
necessitadas, então trabalho para acender o fogo novamente. Sei
como fazer isso graças a Liz e Harlow, pelo menos, e coloco uma
das conchas gigantescas nos carvões e a encho com água fresca de
um riacho próximo que escorre do fundo das rochas. Enquanto
espero que isso ferva, pego uma das lanças apoiadas nas cabanas
e me junto a S'bren para juntar algumas das grandes nozes que
caem no chão. Ele é lento com apenas um braço, o que me convém
muito bem, porque não sou muito habilidosa. Não há muitas, é
claro, e metade dos que caíram apodreceram. Ele gesticula para as
árvores altas, indicando que devo subir e pegar algumas, mas sei
que não sou tão habilidosa. Se K'thar estivesse aqui, seria
diferente.

Mas ele não está, então farei o que puder. Sugo meu medo,
encontro a árvore mais curta para escalar e, de alguma forma,
consigo lentamente chegar à árvore com as nozes e sacudi algumas
por S'bren. Quando desço, meus joelhos, o interior das minhas
coxas e minhas mãos e pés estão arranhados e doloridos. Adorável.

Voltamos para o acampamento e vejo R'jaal arrastando uma


rede pesada na água, esforçando-se para puxá-la. S'bren deixa cair
sua braçada de nozes e começa a ir atrás dele, mas coloco a mão
no braço dele e indico que ajudarei. É claro que R'jaal não gosta do
jeito que tento ajudá-lo e acaba falando e latindo palavras
incompreensíveis para mim enquanto entro e tento ajudá-lo.

Quando chegamos à praia, ele parece furioso, metade dos


peixes dentro da rede provavelmente nadou para o meu lado, e eu
estou exausta. Mal está amanhecendo.
R'jaal pega a rede das minhas mãos e diz algo gritando para
mim, e atinjo meu ponto de ruptura. Bato em suas mãos e mostro
os dentes para ele com a minha melhor imitação alienígena. —
Estou tentando ajudar, filho da puta! Deixe-me ajudar ou me deixe
em paz!

Ele parece surpreso com a minha veemência, depois joga para


trás sua grande cabeça com chifres e ri. Um tapinha rápido no meu
ombro me diz que tudo está perdoado e ele passa o próximo
enquanto me mostra como pegar a rede e transportá-la para que o
peixe não fuja.

Entre manter a água fervida para Mari para que ela possa
cuidar de T'chai e ajudar R'jaal com redes, o dia passa. Pego uma
refeição de nozes ocasionais e um pouco de peixe. A maioria dos
peixes nas redes é pequena, nada além de meros bocados. Percebo
que a maioria dos peixes é salva para mim, Mari e T'chai. Os outros
não parecem estar com fome, o que me diz que estão com pouca
comida como a tribo de K'thar.

Durmo naquela noite exausta, mas pensando muito. O chão


dá outro tremor fraco, depois fica parado. É o terceiro naquele dia,
e todo mundo ignora. Mas isso me lembra que não podemos pensar
apenas na sobrevivência do dia a dia. Precisamos sair desta ilha.

Nós precisamos de um plano. Todos nós grandes chifres,


quatro braços e humanos, precisamos sair desta ilha. O
continente, por mais distante e mais frio que fosse, tinha muita
caça, e sei que os outros nunca estavam com fome. Assim não.
Então, tento pensar em um plano. Mari não está em condições
de fazê-lo, porque T'chai está delirando de febre e seu abdômen
tenso e inchado. Tenho que lembrá-la de comer, então ela
definitivamente não está planejando com antecedência. E os
outros? Suspeito que este é o único mundo que eles conhecem,
então não pensarão em uma maneira de sair da ilha.

Mas é tudo o que tenho em mente ultimamente escapar ... e


K'thar. Porque não vou embora sem ele.

Minha afeição pelo grande alienígena de quatro braços é a


única coisa que faz sentido no meu mundo agora. Tenho que
chamar isso de carinho, porque não posso estar apaixonada. É
muito cedo e meu corpo e mente são influenciados demais por
minha companhia no momento. Estou tentando ser prática,
mesmo que apenas pensar nele me faça rir como uma colegial.
Penso nele o tempo todo. Sinto uma falta louca dele, e observo as
árvores todas as chances que tenho, na esperança de vê-lo descer
e caminhar em minha direção com aqueles lindos e fluidos passos
dele, e me atirarei em seus braços e ele me puxará contra ele e
nossos piolhos cantarão juntos e ...

E sim...

Ele precisa voltar e logo. Eu me pergunto quanto tempo levará


para ele, e não consigo parar de pensar nisso quando encontro
madeira e detritos para cuidar da fogueira enquanto R'jaal lança
suas redes.
Alguém volta, no entanto, mas não é K'thar e o resto de sua
pequena tribo.

É outro grupo. Esta deve ser a terceira tribo que K'thar


mencionou quando estava me falando sobre seus povos. Fico
surpresa ao ver um pequeno grupo de homens caminhando em
direção a nossas cabanas, e R'jaal se move protetoramente para o
meu lado, parado na minha frente. Ele chama um aviso para os
outros, que chamam de volta para ele.

Estes não têm chifres grandes. Nem têm os quatro braços


fortes que o grupo de K'thar possui. Eles são definitivamente
diferentes, no entanto. À medida que se aproximam, vejo que,
quando conversam, percebo uma ponta de presas. Seus dedos
estão com garras ferozes, e eles são os primeiros alienígenas que
eu vi que têm pelos faciais. Cada um tem barba e pelos no peito.
Fascinante. Tantas características diferentes para tão poucas
pessoas. Como isso aconteceu, me pergunto?

Os homens gesticulam para mim e minha pele se arrepia com


a consciência de quão pouco estou vestindo. Meu babador de
grama e minha tanga estão ficando muito irregulares devido aos
dias de desgaste, e estive colocando mais folhas na trama para
tentar fazer com que dure, mas elas desmoronarão muito em breve.
Todo mundo está nu, é claro, mas me sinto nua com o quanto eles
estão me encarando.

R'jaal fala com eles por um momento e ouço o nome de K'thar


aparecer. Desapontamento imediato cruza seus rostos.
Tudo bem, R'jaal continuará na lista de cartões de Natal,
decido. Ele está dizendo que sou casada com K'thar. Ufa. Os
olhares que eles mandam para mim são muito menos interessados
e um cara barbudo me lança um olhar de pura decepção. Ouço o
nome de Mari, depois T'chai e depois o nome de K'thar novamente.

Os recém-chegados se afastam e discutem tranquilamente


entre si, depois se estabelecem um pouco mais na praia, à beira
das árvores. Não consigo descobrir o que estão fazendo, então volto
a trabalhar no fogo. Quando olho para cima, vejo um dos recém-
chegados saindo para ajudar R'jaal, e outro me traz uma pilha de
lenha. Os outros dois trabalham na beira da floresta e percebo que
estão fazendo seu próprio abrigo.

Estou surpresa ... e um pouco impressionada. Esses caras


agem como se não gostassem um do outro, mas quando alguém
está com problemas, eles ajudam, sem fazer perguntas. Está claro
que apareceram para ver Mari e eu, mas estão ficando para ajudar.

Tudo bem então. O plano de fuga deve cobrir quatorze


pessoas. Todos nós temos que sair. Quando tiver tempo para mim,
trabalharei em algum plano.

Tempo para mim chega naquela tarde. Estou colocando água


fresca na concha que uso para ferver quando um dos recém-
chegados barbudos agarra meu braço e me afasta da corrente de
água doce. Meu protesto morre na minha garganta quando uma
sombra cruza o acampamento, e então corro duro para uma das
cabanas de pedra. Aproximo-me de Mari enquanto os outros se
escondem.

Eles perseguem a coisa com lanças. Suponho que, como


predadores, esses pássaros gigantes sejam muito baseados em
visão e, portanto, a camuflagem mantém os alienígenas seguros.
Como Mari e eu não podemos camuflar, tenho que passar o resto
do dia escondida em uma das cabanas sufocantes com ela. Ela se
senta ao lado de T'chai, lavando delicadamente as feridas e
acariciando a testa enquanto ele transpira com febre. É como se eu
não estivesse aqui.

Não me importo com isso. Não saberia o que dizer, mesmo que
ela prestasse atenção em mim. Não sou boa em confortar. Sou boa
em ser estoica e prática. Essa parte de mim (a parte estoica) quer
sacudi-la e mandá-la dormir, porque acho que ela não o fez desde
que ele foi ferido. Mas entendo como ela está confusa. Tenho me
preocupado com K'thar sem parar desde que ele partiu.

Minha amiga também ficou em silêncio. Espero que isso não


signifique nada de terrível. Acho que não aguentaria se algo
acontecesse com o vínculo frágil entre nós. Nós nem tivemos a
chance de explorar muito.

Eu realmente, realmente quero essa chance.


Então, temos que deixar essa armadilha mortal de uma ilha,
e logo, porque todos esses pequenos terremotos apenas me dizem
que um grande está a caminho.

Quando K'thar volta no dia seguinte, acho que também tenho


uma solução.
CAPÍTULO 15
K'thar
ESTIVE LONGE da minha companheira por dias, e nunca
senti tão profundamente a ausência de outra pessoa. Isso deixa
meu temperamento curto e irritado. Isso não é uma coisa boa
quando está viajando pela selva com um membro da tribo ferido,
um kit e um pássaro gordo que se recusa a deixar seu poleiro
favorito: minha cabeça.

O clima é quente e parece mais úmido do que antes. A comida


é escassa e as únicas nozes que encontramos estão murchas. Os
ovos devem ser guardados para Z'hren, e comemos nada além de
algumas folhas e brotos tenros enquanto caminhamos.

J'shel carrega N'dek de costas e continuamos no chão. Kaari


são vorazes, mas estamos seguros com nossa camuflagem. Carrego
todas as mercadorias do nosso pequeno clã nas minhas costas em
um pacote de tecido com os ovos armazenados, nossas poucas
nozes e peles de couro raspadas. Ferramentas de pederneira. E
carrego Z'hren, que mexe e se agita e quer descansar. Dou a ele
uma casca de noz vazia e deixo que mastigue isso para acalmar
suas lágrimas, mas estamos todos cansados e a viagem é lenta
porque não podemos nos mover rapidamente. Não pesados como
estamos.

Fat One grita sua alegria quando nos aproximamos da costa


e das cabanas de pedra do clã do Chifre Alto. Ele bate as asas e
cava suas garras na minha crina, e Z'hren ri e o alcança.

— Vejo as cabanas ― chama J'shel, N'dek de costas. — Quase


lá.

Mesmo cansado, estou mais do que pronto para ver minha


adorável L'ren novamente. Esses dias sem ela foram longos demais,
e a desejo mais do que minha barriga anseia por comida. Sei que
ela foi sábia em ficar com eles, onde pode ajudar os Chifre Alto a
se recuperar, mas sofro por ela. Ainda mais, me preocupo que eles
não a tenham mantido segura...

Mas não estou preparado para ver as tendas de esconderijo


do clã dos Gatos das Sombras na beira da selva. Passamos por eles
e troco um olhar com J'shel, um rosnado baixo na garganta. Os
Gatos das Sombras guardam para si o território no outro extremo
da selva. Só consigo pensar em uma razão pela qual eles chegariam
ao território dos Chifre Altos.

Eles vieram reivindicar uma fêmea. Ou ambas.

Raiva amarga flui pela minha mente e tenho que lutar contra
o rosnado na minha garganta. L'ren é minha companheira. Não
importa que eu ainda não a tenha reivindicado. O khui dela canta
para mim. Seu corpo anseia por mim. Eu sou o único que encherá
sua boceta com minha semente. Serei eu a plantar um kit na
barriga dela.

Minha!

Z'hren percebe que meu humor muda. Seu pequeno rosto


enruga e então ele explode meus ouvidos com um gemido agudo de
raiva. Contra o meu quadril, sinto o embrulho de suas folhas se
molhar e retiro um som de nojo, arrancando-o dele e jogando-o nas
samambaias.

Seu grito chama a atenção dos outros, no entanto. Ao longe,


vejo vários caçadores no raso, puxando redes, e mais dois
permanecendo no fogo. Não vejo minha L'ren ou sua amiga e meu
coração treme no peito com medo.

Então, a cobertura tecida de uma das cabanas se eleva e uma


figura sai correndo. Reconheço a crina marrom-escura, escura
como a terra rica, e sua pele quente, seus dois braços pequenos e
seu corpo delicado. L'ren corre em minha direção com boas-vindas
no rosto.

Meu khui, tão quieto nos últimos dias, começa a cantar alto
ao vê-la. — Vocevoltou! ― Ela chora ao me ver. — K'thar!

Ela vem ao meu lado, todos os sorrisos e felicidade. Eu


gentilmente seguro sua bochecha e quando ela inclina o rosto para
mim, sinto que quer outro Bj. Estou satisfeito e dou-lhe um leve
toque da minha boca sobre a dela, uma dica do que está por vir. —
Minha L'ren ― murmuro, examinando seu rosto. Ela parece bem,
seu lábio inchado curado desde a última vez que a vi dias atrás.
Sua pele está escurecida pelo sol, mas ela não parece fina. Parece
que R'jaal e sua tribo estão cuidando bem dela.

Minha companheira tira Z'hren dos meus braços, arrulhando


o kit e sorri ao ver Fat One, ainda empoleirado em cima da minha
cabeça. — Ybrotrryun?

— Algum dia saberei o que você diz, minha doce companheira


― digo a ela com um suspiro.

— Venha. Vamos para o acampamento. ― Faço um gesto para


o fogo à frente.

Ela cumprimenta J'shel e N'dek enquanto caminhamos, mas


só tenho olhos para ela. Usa as roupas que teci para ela há muitos
dias, apesar de parecerem esfarrapadas, e fez coberturas para os
pés, de certa forma. Eles são feitos de folhas e cobrem apenas o
fundo. Peculiar. Ela tem vergonha de mostrar as pessoas ao redor,
assim como seus seios?

O zumbido do meu khui me lembra que ainda não acasalei.


Fica cada vez mais forte enquanto caminha ao meu lado, e o dela
se junta ao meu, como se nossos corações estivessem satisfeitos
por estarmos juntos novamente. L'ren me lança um olhar de lado
cheio de promessas e acho que talvez não esteja tão cansada hoje
em dia quanto pensei.

Eu me livro das minhas mochilas e, como eu, Fat One pula


para baixo e se move para se acomodar no ombro de L'ren. Ela
come uma tigela de comida naturalmente e oferece um pedaço
moído para o kit e depois dá um pouco de peixe cru para o pássaro
gordo. Dá um tapinha em uma das pedras perto do fogo e indica
que N'dek deve se sentar com ela. Meu coração parece que
explodirá de orgulho ela é uma boa companheira. Pensa nos outros
primeiro. Meu pau parece que estourará também.

A'tam, um dos caçadores dos Gatos das Sombras, vem ao meu


lado e oferece um aperto de braço em saudação. — Faz muito
tempo desde que te vi, meu irmão. ― Somos irmãos então? É uma
escolha interessante de saudação, mas bem-vinda.

— Nossos pequenos clãs não tiveram muitos motivos para


realizar uma reunião de desafios ― admito, cumprimentando-o. —
Mas estou feliz em descansar meus olhos com você neste dia. Seu
clã veio ajudar Chifre Alto?

— Viemos ajudar a suas mulheres ― ele admite, com um


sorriso largo. — Mas quando descobrimos o que havia acontecido,
ficamos para ajudar.

Eu grunho, mordendo de volta o rosnado possessivo subindo


na minha garganta. Não adianta estalar com ele. L'ren é minha e o
khui dela canta para mim. Não importa que A'tam seja perfeito e
tenha um rosto bem formado, que esmurrei várias vezes. Pelo
menos, espero que isso não importe.

Olho para minha companheira, sentada perto, e ela balança


Z'hren no joelho, fazendo-o rir, e depois estica a mão para acariciar
a minha, como se ela precisasse que eu estivesse lá. E meu coração
esquenta novamente. Não há necessidade de ciúmes.

L'ren é minha em espírito e corpo.


— Sua sorte é uma corrente que secou, meu irmão, digo a ele.
— Ambas as fêmeas estão reivindicadas.

Ele suspira pesadamente e abaixa a cabeça. — Eu sei. Minha


sorte é um leito seco de rio.

— Você não disse como sabia das fêmeas, no entanto ―


aponto.

Seu sorriso travesso retorna. — Nós gostamos de ficar de olho


nos outros clãs. Você nunca sabe o que descobrirá.

De fato.

— T'chai vive ― continua A'tam, olhando para uma das


cabanas. — Embora ele esteja com febre e ainda não tenha
acordado. Sua força se foi.

Concordo, embora tenha prazer em saber que ele ainda vive.


Não podemos nos dar ao luxo de perder mais. Não após a perda de
I'chai. ― Ele se recuperará. Ele tem muito pelo que viver.

— Mais do que alguns de nós ― A'tam concorda ironicamente.


— E ainda assim continuamos. Ele olha para L'ren. — Você sabe
de onde ela é? Há mais como ela?

— Nossas palavras são limitadas ― admito. Não pensei muito


sobre de onde ela veio. Tudo o que importa para mim é que está
aqui ao meu lado. ― Por um momento, sinto vergonha. Talvez
devesse ter perguntado mais. Talvez haja outros sentindo falta dela
em algum lugar distante. Talvez ela queira voltar para lá.
O pensamento me faz cerrar os punhos. Ela é minha. Se ela
sair... meu espírito morrerá.

— Bem, estamos todos aqui ― diz A'tam, abrindo os braços.


— É como uma reunião de desafios, não é?

É de fato. Mas um desafio é celebrar e não há muito o que


comemorar neste dia. A'tam é um homem de alto astral, no
entanto. Ele se abaixa e tira o pequeno Z'hren dos braços da minha
companheira e joga o kit alto, fazendo-o rir. — Eezgnnabrf ― diz
L'ren em tom de aviso.

— O que ela diz? ― A'tam pergunta, jogando o kit novamente.


Z'hren uiva de tanto rir, encantado. Uma mãozinha vai para a boca
e, na seguinte, ele cospe o jantar no rosto sorridente de A'tam.

Caio na gargalhada. — Acho que ela estava te avisando disso.

— Tarde demais ― diz A'tam, rindo e devolvendo o kit antes


de limpar o rosto. — Tomarei banho nas águas rasas, aprendi
minha lição. Ele nos dá um sorriso triste e corre para a beira da
água.

— Aqui, eu o levo ― diz N'dek, pegando Z'hren e puxando o kit


no colo. N'dek enxuga o rosto com uma folha e depois dá ao
pequenino uma concha brilhante para brincar.

L'ren toca meu braço e, quando olho para ela, parece


pensativa. — O que é isso? — Pergunto.

— Conversar? ― Ela pergunta, e depois gesticula para a boca,


caso eu não entenda. — L'ren fala com K'thar.
— Continue ― diz J'shel. — Vamos nos instalar.

Quando N'dek concorda também, deixo que minha


companheira me arraste pela mão até a beira da água. Ela me
senta e depois gesticula para que eu deva esperar aqui. Enquanto
tento descobrir o que quer, ela corre em direção às cabanas e volta
um momento depois com algo na mão. Fico ainda mais surpreso
quando ela gesticula que R'jaal se junte a nós, embora ele pareça
igualmente confuso.

Ela se senta na minha frente, com o item embrulhado em


folhas no colo e aperta as mãos, claramente tentando pensar.
Depois de um momento, ela respira fundo e sorri para mim, uma
pergunta não dita em seus olhos. Com o dedo, começa a traçar
padrões na areia.

— O que ela está fazendo? ― R'jaal pergunta, agachando-se


ao meu lado na areia.

— Eu não sei ― admito, tentando descobrir as figuras que ela


faz. Mais uma vez, estou frustrado com a nossa incapacidade de
nos comunicar adequadamente. Não quero nada além de ter uma
conversa com minha doce companheira, mas ainda não
compartilhamos palavras suficientes.

Ela desenhou algo que parece ... uma asa? Um meio círculo
de algum tipo? Uma fatia? L'ren desenha um pequeno círculo na
fatia e aponta para ela. — K'thar. N'dek. J'shel. Z'hren. ― Ela
desenha outro pequeno círculo na ponta e depois aponta para ela.

— T'chai. M'tok. S'bren. R'jaal.


Então, gesticula para a fatia inteira e gesticula na selva
próxima. — Salldis.

Eu estudo a imagem, querendo desesperadamente entender.


O olhar no rosto de minha companheira é intencional e é claro que
isso é importante para ela. Ela está tentando me dizer uma coisa.
Mas o quê?

Frustrada, ela aponta novamente para o primeiro círculo da


fatia. — K'thar. ― Segundo círculo. — R'jaal. Ela pensa por um
momento e depois aponta para o final da fatia. — Estou bem?

Ela fala dos nossos clãs. Estudo as figuras que ela desenha e,
quando ela gesticula para a selva novamente, me ocorre. Bato na
fatia na areia. — Esta é a ilha? Nossa casa? Aponto para dentro. —
Água? Mar? E isso aqui é o interior? A selva? Ilha?

Os olhos dela brilham de excitação. — Sim! Ilha! ― As palavras


dela são repetidas na minha língua muito mas é claro que estamos
progredindo. Ela parece tão satisfeita comigo que meu khui começa
a tocar uma música.

R'jaal faz um barulho de impaciência na garganta, claramente


irritado.

Suas mãos tremem e ela começa a gesticular novamente. Em


vez de apenas o pedaço de terra que é a ilha, ela arrasta o dedo na
areia, completando o círculo. — Como ela sabe? ― R'jaal pergunta,
seu tom baixo e preocupado. — Ela fala da terra que desapareceu
quando a Grande Montanha fumegante morreu.
Eu não sei. Se minha L'ren estivesse aqui de alguma forma...
mas não. Todos os clãs conhecem todas as folhas desta ilha. Se
outra pessoa estivesse aqui, nós saberíamos.

Ela dá um tapinha no centro do círculo. — Quente ― diz no


meu idioma. Talvez ela tenha esquecido a palavra mar. Bato no
centro. — Água.

L'ren balança a cabeça e parece frustrada. Ela faz um barulho


estranho com a boca e depois bate a mão. — Quente.

Quando continuamos a observá-la com curiosidade, ela faz


um som de sopro com a boca e agita os dedos para fora. Realização
vem a mim. — Acho que ela fala da Grande Montanha Fumegante.

R'jaal faz uma careta. — Mas se foi.

Esfrego o queixo, pensando no vapor que derrama


constantemente nas águas do outro lado da ilha. — Não tenho
tanta certeza. ― Bato no círculo. — Grande Montanha Fumegante?
Muito fogo?

— Fogo! Sim! ― Ela parece animada. — Grande fogo. ― Ela


gesticula para o chão. — Movendo.

— Ela está dizendo que os incêndios causam os terremotos?


― R'jaal dá uma risada de descrença.

Eu quero acabar com isso. O chão treme porque é isso que o


chão sempre fez, assim como o vento sacode as folhas. Mas estou
curioso, no entanto. Minha companheira sabe coisas estranhas.
Aponto para o final da ilha— em seu desenho, onde a fumaça
queima contra o mar. — Fogo aqui.

Ela balança a cabeça e circula a coisa toda. — Todo fogo. Tudo


aqui. Vol-kay-noh. ― Eu não entendo sua última palavra.

— A Grande Montanha Fumegante se foi. ― Tento suavizar o


resto do círculo que ela desenhou. — Se foi.

Ela balança a cabeça novamente, enfática. — Fogo. Muito


fogo. Amanhã? ― Ela encolhe os ombros.

— Amanhã?

— Muito fogo.

Concordo com a cabeça lentamente e me viro para R'jaal, que


ainda parece confuso. — Ela diz que haverá fogo novamente. Ela
não acha que a Grande Montanha Fumegante está morta.

— Tudo vol-kay-noh ― repete, e circula sua figura inteira


novamente. — Tudo o fogo.

Franzo a testa. — A Grande Montanha Fumegante que estava


aqui ― digo a ela, apontando para o outro lado da figura. — Se foi.

Ela balança a cabeça. — Não se foi. ― Ela circula a imagem


inteira novamente. — Vol-kay-noh. Aqui. Aqui. Aqui. — Aponta
para diferentes partes de seu desenho. — Tudo aqui. ― Ela coloca
as mãos em concha. — Fogo no vol-kay-noh. ― Ela faz um gesto do
copo transbordando.
Sinto um calafrio sobre mim e me lembro daqueles dias
horríveis de fumaça, carvão e morte, tantas luas atrás. — Ela sabe
do que fala ― digo a R'jaal. — E se estiver certa, não estamos
seguros. ― Minha companheira continua gesticulando, indicando
com suas mãos em concha que estamos dentro do círculo, e
percebo o que ela está dizendo. — Toda a ilha faz parte da Grande
Montanha Fumegante ― digo a ele, minha mente agitada com a
realização.

— Estamos do lado disso.

— Mas. Se for esse o caso, onde está o resto? ― R'jaal não


parece convencido.

―Está escondido. Ou é embaixo da água, onde o fogo flui ao


encontrar a costa.

Esfrego meu queixo. ― Se ela estiver certa, não estamos


seguros. Nenhum lugar do nosso mundo está seguro.

— Seguro ― L'ren repete, pegando uma palavra que ela


conhece. Excitação brilha em seu rosto. — Sim! L'ren está em casa.

— Onde é sua casa? ― pergunto, fascinado.

Ela pensa por um momento e depois desenha uma longa e


longa linha na areia. — Água ― diz ela, e repete a palavra enquanto
arrasta o dedo. Então ela aponta para um ponto a uma curta
distância. — Aqui.

— Do outro lado das águas? ― pergunto.


Ela assente e depois estremece, fazendo um grande gesto. —
Lugar frio do outro lado da água?

L'ren parece satisfeita e acena com a cabeça novamente, seu


sorriso crescendo. Adoro poder entendê-la, mesmo que R'jaal esteja
dando a nós dois olhares céticos.

— Se existe um lugar assim ― R'jaal pergunta— então, como


chegamos lá?

Minha companheira puxa um item do colo. Ela segura para


mim. — Rft.

Eu o examino, mas estou intrigado. Parece alguns paus com


grama, tecendo as pontas. Não tenho certeza do que ela quer com
isso. Depois de um momento, devolvo.

L'ren faz um barulho frustrado e depois tira da minha mão.


— Rft. ― Ela coloca na água e, enquanto assisto, ela flutua e
balança na maré que rola suavemente. — Rftouttsee. Ela pega uma
concha pequena e a segura. — L'ren. Coloca na madeira
empacotada. Pega outra concha. — K'thar. ― Coloca na madeira.
— Todos vão.

— Você quer que a gente flutue lá? ― pergunto, surpreso.


Nosso povo nunca atravessou a água. É muito perigoso. — Há
muitas criaturas que nos atacariam. Faço uma demonstração de
presas e imito garras. — Muitas serpentes.

— Grande rft ― ela concorda. — Grande, muito grande. Nós


vamos.
— Perigoso ― afirma R'jaal balançando a cabeça.

— Estaríamos arriscando nossas vidas para quê? ― Tentar


atravessar as grandes águas do mar em cima de madeira flutuante
e torcer para que não nos comam?

L'ren aperta as mãos sob o queixo, me dando um olhar


esperançoso. Vou segui-la para qualquer lugar, mas não sei se
consigo convencer os outros. A menos que... estudo a expressão
suplicante da minha companheira. Ela quer desesperadamente
que eu a ouça. — Seu clã, pergunto a minha companheira. —
Muitas mulheres?

R'jaal fica quieto, com toda atenção.

Seus olhos brilham com compreensão e um sorriso curva sua


boca. Ela assente. — Fêmea. Mulher ... – ela levanta as mãos,
contando. — Fêmea. Depois de um momento, ela levanta quatro
dedos. — Macho.

— Dezesseis mulheres e quatro homens? ― R'jaal faz um som


de espanto na garganta. — O clã delas é maior que o nosso e têm
tão poucos homens. Como podem sobreviver?

— Talvez elas estejam com problemas também ― digo a ele,


pensando. Antes da morte da Grande Montanha Fumegante, todas
as nossas tribos somavam mais de cem e havia comida e caça para
todos. Agora somos fragmentos do que já fomos. Talvez seja o
mesmo para o clã dela. — Talvez ela tenha vindo à nossa terra
procurando ajuda.
— Comida ― enfatizou L'ren. — Mulheres. Nós vamos.

—Suas fêmeas podem precisar de companheiros,― diz R'jaal


lentamente, como se ele quisesse me convencer. — Devemos
considerar isso.

Eu apenas sorrio para minha mulher inteligente. Ela sabe


exatamente o que dizer para convencer R'jaal, ao que parece.

Eu mesmo ... a seguirei em qualquer lugar.

R'jaal se levanta. — Eu preciso conversar com os outros. Ver


como eles se sentem sobre a ideia de ir para uma terra estranha e
perigosa. Eles podem sentir que as fêmeas não valem a pena.

Eu seguro meu bufo de escárnio. Ter uma companheira e dar-


lhe kits é a melhor coisa que um caçador pode esperar alcançar.
Para ter uma barriga cheia também? Suportarão o frio e com
alegria. – Você deveria discutir o assunto com o clã do Chifre Alto.
Eu sei que o Braço Forte seguirá a minha L'ren. Eles confiarão nela
porque eu confio.

— Você arriscaria a vida deles para atravessar as águas? ―


R'jaal parece surpreso.

— Não estamos em risco aqui? ― pergunto a ele. — Se o que


ela diz é verdade, todo dia é uma aposta. Se minha L'ren pode vir
aqui, podemos ir até o povo dela. Dois clãs despedaçados podem
formar um grande clã.

— Mmm. ― Ele olha para o rosto esperançoso de L'ren. —


Veremos. Falarei com meu clã e com os Gatos das Sombras.
— Bom ― digo a ele, levantando-me. Meu rabo sacode com
uma ansiedade que não consigo esconder. Estendo a mão para
minha companheira, e ela coloca os dedos nos meus com
confiança.

— Onde você vai? ― Ele pergunta.

Puxo L'ren contra mim, inalando seu perfume, sentindo seu


corpo frágil e macio contra o meu. Nossos khuis cantam mais alto,
a música deles é insistente.

— Eu vou reivindicar minha companheira.

Seus olhos estreitam quando olha para nós, e vejo inveja


cruzar seu rosto. — Muito bem. Leve-a longe o suficiente para não
ouvi-la gemer e confundir sua alegria com dor.

Está claro que ele não deseja ouvir nosso acasalamento. — Eu


sei de um lugar ― digo a ele. — Voltaremos de manhã.

R'jaal grunhe e se afasta, afastando-se da praia e voltando


para o pequeno grupo de cabanas e o fogo ali. Ele está com inveja.
Está bem. Quero que o ciúme estimule sua escolha. Se o que minha
L'ren diz é verdade, não tenho motivos para duvidar de suas
palavras e estamos em perigo aqui, e sua terra de mulheres
solitárias e sem idade estará ansiosa para que cheguemos.

É um pensamento atraente ... para eles, talvez. Minha L'ren é


tudo que eu preciso. Seguro seu rosto e escovo meu polegar sobre
sua boca cheia e macia. Minha companheira doce e inteligente.
Como ansiava por ela nos últimos dias. O gosto de sua boceta
ainda assombra meus sonhos. — Nós acasalamos esta noite, ou
provocamos mais uma vez? ― Murmuro.

Ela se inclina para o meu toque e belisca na ponta do meu


polegar com os dentes, olhos cheios de fome.

É hora de descobrir.
CAPÍTULO 16
Lauren
Estou sentindo muitas emoções correndo pelo meu corpo
agora que K'thar está de volta, mas a maior delas é a emoção. Parte
disso é porque tenho esperança de que prestem atenção à minha
sugestão de levar o inferno para fora, e parte disso é apenas um
alívio simples que todos estejam juntos novamente.

A maior parte é pura alegria que K'thar está de volta ao meu


lado.

Enfio minha mão na dele enquanto caminhamos pela praia.


Os grandes pássaros atacantes não voltaram nos últimos dias e me
sinto segura ao seu lado. Ele me protegerá. Vamos para a linha das
árvores e ele me puxa para mais perto, afastando uma longa folha
de samambaia para que não me toque. Meu piolho está cantando
sem parar e todo o meu corpo parece que está prestes a se juntar
ao refrão.

Estou tão ... feliz que ele voltou.


Ele se foi por três dias e parece uma eternidade. Há muito o
que fazer em torno do novo acampamento, mas isso não significa
que não sofro por ele a cada segundo de cada hora. Agora ele está
aqui e me dá um olhar que faz meus dedos doerem. Meu
companheiro está ficando selvagem e tudo em que consigo pensar
é no beijo fumegante que me deu logo antes de sair. Parecia uma
promessa.

Agora que ele voltou, é hora de tornar essa promessa uma


realidade? Deus, espero que sim. Sem ele, e vendo a situação em
que Mari está com T'chai, me faz perceber que não há razão para
esperar. O que estou esperando de qualquer maneira? Algum tipo
de sim, vá em frente do universo? Não é para isso que serve o
piolho?

E com todo terremoto, por menor que seja, me faz perceber


ainda mais que pode ser isso. Nós podemos nunca sair desta ilha.

Por que não pegar a vida pelos chifres? Ou os quatro braços,


conforme o caso nesta situação.

K'thar persegue Kki antes que ele possa pousar em seu


ombro, e a coisa pássaro solta um grito indignado e vibra seu
caminho de volta para o acampamento. Meu alienígena me leva
cada vez mais fundo na selva, mesmo que esteja ficando escuro.
Nas últimas noites, dormi dentro das cabanas de pedra na praia,
olhando as esculturas antigas na pedra. Os símbolos ali sugerem
ancestrais de quatro braços que estabeleceram este lugar, e
encará-los me fez sentir ainda mais a falta de K'thar.
Os outros podem dizer o que quiserem dos seus piolhos, mas
o meu é um bom casamenteiro. — Senti sua falta ― falo, mesmo
sabendo que ele não pode me entender.

Ele olha para mim, olhos azuis brilhando, e há um sorriso em


seu rosto que me faz sentir quente e doce ... e um pouco contorcida
também. Ele continua andando, e a selva fica cada vez mais
profunda e mais escura. Até onde estamos indo, eu me pergunto?

Para onde vamos?

Não estou totalmente surpresa quando paramos na base de


uma das grandes árvores. K'thar aponta para cima e vejo outra das
grandes plataformas trançadas entre os galhos. Claro que há outra
plataforma aqui. Esta é alta nas árvores, porém, e há apenas uma.
Limpo minhas mãos no meu biquíni de folha, olhando para ele.
Será uma escalada difícil.

Antes que eu possa colocar a mão no tronco da árvore, K'thar


coloca a mão na minha cintura e me puxa contra ele. Faço um som
assustado ao ser pressionada contra seu peito, minhas palmas nos
peitorais. Nossa pele nua está pressionando junto, e está me
fazendo perder o controle do mundo ao meu redor. — Hum.

Ele pega meu braço e coloca minha mão atrás do pescoço dele,
depois me puxa para mais perto. uma das mãos aperta contra a
minha bunda e então ele está me segurando apertado enquanto
sobe. Mordo de volta meu grito de surpresa e o agarro, meus olhos
fechados. Acho que hoje à noite não preciso subir. Estou, no
entanto, incrivelmente consciente das minhas coxas apertando
firmemente em volta da cintura dele. Como posso não estar? Estou
me transformando em uma bola furiosa de hormônios em torno
deste homem.

Nós chegamos ao topo e ele gentilmente me coloca no chão, e


olho em volta. Não é como a outra árvore, onde as plataformas são
espaçosas e grandes, com a intenção de se mover. Essa é estreita
e abraça a árvore em si, um pouco mais como uma borda do que
uma varanda de verdade. Talvez seja algum tipo de posto de vigia.
Seja o que for, não há espaço para deitar ou arrumar uma cama.
Talvez eu tenha me enganado por que K'thar me levou para as
árvores.

No momento seguinte, ele empurra minhas costas para a


enorme árvore e então estou presa entre ele e o tronco dela. Suspiro
assim que sua boca cobre a minha e depois me derreto contra ele.

O beijo dele é exatamente como me lembrava. Quente e


urgente e tão bom que faz meu corpo inteiro reviver. Sua língua
desliza contra a minha enquanto ele a acaricia na minha boca, e
seus braços me prendem contra ele.

Não precisamos de muito espaço, percebo. Tudo o que


precisamos é de privacidade e segurança, e esse pequeno ninho de
copas das árvores fará isso.

Encontro seus beijos com igual fervor, mostrando o quanto


senti sua falta enquanto estava fora. Meu piolho canta e ronrona
no meu peito, e sei exatamente como me sinto – estou ficando louca
por esse delicioso homem alienígena, tanto quanto é. Arrasto meus
dedos por seus cabelos grossos enquanto nos beijamos, nossas
línguas empurrando e chupando como se nossas bocas estivessem
fodendo, e Deus, isso me deixa tão molhada entre minhas coxas.

— L'ren ― ele murmura contra a minha boca entre beijos. —


Llo.

Eu não esqueci. — Sou sua ― sussurro de volta. — Lo K'thar.

Ele rosna baixo na garganta e depois enterra a cabeça no meu


pescoço, beijando-o enquanto seus dedos rasgam minha saia de
folha. Isso se manteve surpreendentemente bem nos últimos dias,
mas ao seu puxão, isso rasga e vibra no chão. Não posso dizer que
estou triste. Não ligo. Tudo o que sei é que, no momento seguinte,
sua mão está entre minhas coxas, segurando minha boceta, e
estou ofegando com a intensidade de seu toque.

Suas mãos estão sobre mim, apalpando e acariciando, e ele


puxa minha blusa, jogando-a no chão abaixo. Estou nua contra ele
na selva fumegante e, com uma única puxada rápida de sua
própria tanga, ele também está nu. Ultimamente tenho visto muita
nudez nessa ilha, porque os alienígenas aqui não parecem usar
muita roupa. Está quente e úmido o tempo todo, o ar espesso e
abafado, e por isso não os culpo por deixar a brisa esfriar sua pele
nua. Mas ver estranhos nus é diferente de ter K'thar nu e
pressionado contra mim, seu corpo tão urgente quanto o meu.
Posso sentir o comprimento duro do seu pau pressionado contra a
minha barriga, e lembro como se sentiu na minha boca.
Não consigo parar o gemido que sai da minha garganta e o
alcanço automaticamente.

Ele captura minha mão antes que eu possa tocá-lo, rindo,


subindo e pressionando outro beijo na minha garganta.

— Oh, claro, ria de uma garota em necessidade ― digo a ele,


depois choramingo quando morde levemente a lateral do meu
pescoço. Isso não deve parecer tão bom quanto parece. Envolvo
meus braços em volta de seu pescoço, segurando-o perto enquanto
ele passa a língua sobre a minha pele. Mãos quentes acariciam os
lados dos meus seios, e então ele empurra um entre nossos corpos
pressionados, para que possa provocar meu mamilo.

E oh Deus, isso é incrível. Jogo minha cabeça para trás e


gemo, arqueando contra sua mão enquanto acaricia a ponta do
meu peito. Nunca pensei que um simples toque pudesse ser tão
bom. Então ele abaixa a cabeça e beija minha frente até que esteja
sobre o meu peito e dá uma lambida suave no meu mamilo.

Eu quase caio da árvore. — K'thar! Isso é tão injusto! Também


quero tocar em você. ― Estou ofegando com a necessidade, e ele
tem as mãos por todo o meu corpo, me acariciando e me tocando
como um homem faminto. uma das mãos se move entre as minhas
coxas novamente, segurando minha boceta. Ele empurra um dedo
grande pelas minhas dobras, buscando minha umidade... e sua
respiração sussurra quando descobre o quão molhada eu
realmente estou. Estou tão quente e carente que posso sentir meus
sucos escorregando na parte interna das minhas coxas, e ele geme
contra o meu peito, esfregando o rosto contra ele antes de se
ajoelhar e descer.

Ah sim. — Rapaz, você é direto ao ponto, não é? ― Pressiono


minhas mãos contra seus ombros largos enquanto ele abaixa a
cabeça até a junção das minhas coxas e, em seguida, empurra sua
boca contra minha boceta. Tenho que me agarrar a um pequeno
galho próximo quando ele empurra minhas coxas e depois coloca
uma por cima do ombro. É uma coisa boa que esteja me apoiando,
porque não acho que seria capaz de ficar sozinha.

A boca dele é incrível. Não há palavras para descrever como é


quando arrasta a língua pelas minhas dobras, lambendo minha
umidade e me explorando com seus lábios. Seus dedos acariciam
o que sua boca não pode alcançar, e suspiro de surpresa quando
o sinto empurrar para dentro de mim. O dedo de K'thar parece
incrivelmente enorme dentro de mim, mas também é tão, tão bom.

Tremo contra ele enquanto brinca contra meu clitóris, indo


direto para isso e lambendo, lento, completo e terno. Nenhuma
mulher teve tanta sorte, decido, quando uma das mãos se levanta
para provocar meu mamilo. Ele está trabalhando em mim de
maneiras impossíveis para os homens humanos – tocando meu
peito, enfiando um dedo dentro de mim e segurando minha coxa
de uma só vez, enquanto ainda nos mantém ancorados na árvore.

Fico feliz que ele esteja se segurando, porque não posso. Cada
músculo que tenho está focado em montar seu rosto, empurrando
minha boceta contra aquela língua louca e gloriosa dele. Ele sabe
exatamente como movê-la para me deixar louca, e enquanto a
arrasta pelo lado do meu clitóris, posso sentir meu corpo se
apertando como um arco. Estou perdendo o controle, e quanto
mais eu choramingo e gemo, mais determinado ele fica. Ele geme
baixo contra minhas dobras e juro que posso sentir esse barulho
contra a minha pele. Seu dedo bombeia dentro de mim,
empurrando com força e rapidez, e então estou montando sua mão
enquanto estou arqueando meus quadris para empurrar meu
clitóris contra sua boca, e quando ele aperta meu mamilo...

Isso!

Grito, ofegando com a força intensa do meu orgasmo. Meu


corpo inteiro parece que está envolvido em um músculo tenso e
depois explode. É completamente sem glamour pensar e posso
sentir como minha liberação estava molhada – e posso ouvir os
sons escorregadios que meu corpo faz quando ele me toca. K'thar
não se importa, no entanto. Ele continua lambendo minhas dobras
e me provando, determinado a torcer cada pedaço desse orgasmo
do meu corpo. Eventualmente, recupero o fôlego e estremeço,
afastando a cabeça dele entre as minhas coxas. Se continuar
lambendo lá, posso cair dessa árvore. — Por favor ― ofego. —
Preciso de um tempo, K'thar. Deixe-me descansar.

— Llo K'thar ― ele murmura densamente, e se levanta com


graça fluida, como se não estivéssemos empoleirados em uma
plataforma no alto das árvores. Claro, tem alguns metros de
largura, mas não parece grande o suficiente para duas pessoas que
pretendem fazer o que estamos prestes a fazer. Ele se move contra
mim, seu grande corpo se arrastando contra o meu, e sinto cada
centímetro de sua pele macia de camurça contra a minha. Meus
mamilos parecem diamantes, são tão duros, e quando ele começa
a brincar com eles novamente, mesmo enquanto lambe os dedos
da minha liberação, eu choramingo.

Um homem com quatro mãos. Deus me ajude. Não tenho


corpo suficiente para mantê-lo ocupado. É o melhor tipo de
problema para uma garota ter, penso, enquanto ele apalpa um dos
meus seios e o provoca, fascinado pela maneira como meu mamilo
responde.

— L'ren ― ele sussurra, segurando meu rosto e me beijando


suavemente. Posso me provar na boca dele, e é fascinante. Estou
perdida em seu beijo, entrelaçando meus braços em volta do
pescoço dele mais uma vez. Nunca me senti tão bem, tão sexy.

Ele amarra uma das minhas pernas ao redor de seus quadris


e a mantém no lugar. Minhas coxas estão abertas para ele, e me
sinto exposta quando ele pressiona seu pau contra minhas dobras.
Esfrega seu comprimento para cima e para baixo contra mim, e
não consigo parar o barulho frustrado que se forma na minha
garganta. É incrível ... e ainda me sinto vazia e dolorida em lugares
que nunca doeram antes. Eu o quero dentro de mim, mas ele
continua me provocando com cada arrasto de seu pau contra a
minha boceta, entre as minhas dobras.

A pele de K'thar parece incrivelmente macia contra a minha,


o que é estranho, dado o quão duro e musculoso ele é. Quero
acariciá-lo, mas ele pega minha mão e a prende no peito. Seu olhar
intenso captura o meu e estou sem fôlego enquanto ele me observa.
Meus olhos estão presos aos dele quando ele alcança entre
nós e no momento seguinte, sinto a cabeça de seu membro
pressionando contra a minha entrada. Respiro fundo, esperando.
Ele me levará rápido? Ou irá dolorosamente lento? Doerá? Ou
parará completamente e me deixará querendo de novo, como fez na
outra noite?

No momento seguinte, tenho a minha resposta quando ele


segura meu queixo com uma das mãos e depois empurra muito
lentamente para dentro de mim. Minha respiração fica presa na
garganta quando sinto seu comprimento pressionar, polegada por
polegada, no meu núcleo. Ele se sente impossivelmente grande e,
ao mesmo tempo, posso sentir meu corpo cedendo ao dele. É um
ajuste apertado, e tenho medo de respirar com medo de que algo
em algum lugar esteja se esticando demais. Estou impressionada
com a intensidade da sensação, porém, e um pequeno gemido me
escapa.

— Shhh ― ele respira e pressiona um dedo nos meus lábios.


Gesticula abaixo da plataforma e antes que eu possa perguntar o
que é, ouço. Algo grande e pesado colidindo com as samambaias
abaixo. — Kaari,― ele murmura.

Lembro do kaari. Eles são os grandes lagartos parecidos com


crocodilos que são quatro vezes maiores que qualquer crocodilo
normal. A consciência e o medo percorrem meu corpo, e lhe dou
um olhar de olhos arregalados. Devemos parar? Mover mais alto?

K'thar apenas esfrega o dedo nos meus lábios e empurra mais


fundo dentro de mim.
Mordo o gemido que se forma na minha garganta. Devo ficar
quieta. Não devo fazer barulho. Mas isso é mais difícil do que
parece. Eu me sinto presa à árvore pelo seu peso – e seu pênis
profundamente dentro de mim – e nada em mim quer se mover
nem um pouco. Ainda estou me ajustando à sensação do seu corpo
perfurando.

E então ele move seus quadris, empurrando contra mim.

Tudo no meu corpo se ilumina. Inspiro bruscamente,


atordoada com as sensações que ondulam sobre mim. Posso senti-
lo profundamente dentro de mim, mais do que isso, posso sentir a
maçaneta acima de seu pênis, movendo-se contra o meu clitóris
quando ele empurra. Ai Jesus. É para isso que serve?

Injusto ... e mágico.

Seu rabo gira em torno do meu tornozelo, mantendo minha


perna presa em seus quadris. Não é como se eu pudesse movê-la
de qualquer maneira. Estou entre o grande corpo de K'thar e a
árvore, e toda vez que movo um músculo, sinto-o profundamente
na minha boceta.

Isso está me deixando louca.

Seus olhos parecem brilhar como faróis enquanto ele me


observa, o dedo ainda pressionado nos meus lábios. Posso ouvir o
grande kaari abaixo caindo, mas isso não importa. Nada importa
fora de K'thar e a maneira como ele me toca. Meu piolho está
cantando tão forte que parece que meu corpo inteiro está
tremendo, e quando meu alienígena empurra novamente, mordo
com a intensidade das sensações.

Tão bom.

Um gemido constrói novamente, e ele bombeia em mim mais


uma vez. Não posso dizer o que está me matando mais, seu pau ou
a maçaneta que empurra contra o meu clitóris, provocando quando
ele empurra. Ele começa um ritmo lento, seus quadris balançando
contra os meus, empurrando em mim em pequenos empurrões
rasos e enlouquecedores que parecem mais uma provocação do que
satisfação. Preciso de algo. Algo mais. Não sei o quê, mas cada vez
que ele entra em mim, sinto-me um pouco mais inquieta, a boca
da minha barriga enrolando com uma sensação de construção
lenta. É enlouquecedor e frustrante e levanto meus quadris para
encontrar os dele, para tornar cada impulso um pouco mais forte,
um pouco mais áspero.

Os olhos dele brilham. Sua mão muda e então é o polegar que


esfrega contra a minha boca. Separo meus lábios, pego a ponta e
depois chupo, como se fosse seu pau.

Ele mostra os próprios dentes e posso dizer que esse pequeno


movimento o excita. O pênis de K'thar bate em mim, mais forte. O
próximo impulso parece que está me esvaziando, é tão profundo e
bom. Eu choramingo contra o polegar dele e o chupo, nossos olhos
presos enquanto ele bate em mim.

Parece que o pau dele é a única coisa que me ancora no meu


corpo. Meu mundo parou de existir além do incansável bater de
seu pau em mim, o impulso das minhas costas contra a casca da
árvore, a sensação de seu rabo enrolado em torno do meu tornozelo
... e os braços me segurando em todos os lugares. Há um na minha
bunda, um pressionado contra a árvore, um ancorado na minha
cintura e uma das mãos na minha mandíbula. Sinto-me fechada
em seu calor, como se tivesse me tornado parte dele.

É incrível. Nunca me senti tão... amada. Amada. Mesmo no


meio de uma foda suada e áspera contra uma árvore, nunca fui tão
amada.

Eu nunca estive tão louca de luxúria.

Mordo seu dedo, empurrando meus quadris contra os dele


enquanto seus movimentos se tornam mais ferozes. Nossos corpos
estão batendo juntos e a árvore está tremendo. Não sei se o kaari
ainda está embaixo. Não ligo. Tudo o que sei é que seu pênis está
profundamente dentro de mim e sua maçaneta continua
deslizando contra meu clitóris e se eu não gozar nos próximos
momentos, perderei a cabeça.

Ele rosna baixo na garganta, e acho que é o meu nome. Porra,


isso é tão sexy. Deslizo minha língua sobre a ponta de seu dedo e
depois chupo com mais força, mostrando-lhe minha necessidade.
Quero isso mais duro, e mais rápido, e – E oh Deus, estou gozando.

Fecho meus olhos, a respiração me escapando enquanto meu


corpo inteiro trava com a força do meu orgasmo. Meus calcanhares
afundam em sua parte inferior das costas e sinto minha coluna
arquear, meus mamilos formigando enquanto tudo parece
desmoronar. Ele rosna meu nome novamente, e então está
bombeando em mim com mais força, seus movimentos bruscos e
descontrolados. Em vez de me deixar descer do meu orgasmo, ele
me leva para o próximo, e então grito quando me atinge.

Através da neblina de prazer, percebo vagamente que ele


gozou também, que seus movimentos estão diminuindo a
velocidade e que quando ele bombeia entre minhas coxas, nossos
corpos ficam escorregadios com a liberação. Oh. Oh garoto. Ele
gozou dentro de mim, e não há um único preservativo neste
planeta.

Gostaria de saber se isso significa que estou grávida agora.

Estou cansada demais para seguir essa linha de pensamento.


Ele se inclina e dá um beijo na minha testa, e estou muito
atordoada para fazer mais do que me agarrar a ele. — Meus
músculos estão mortos ― protesto com um sussurro. — Não
conseguirei sair dessa árvore.

— K'thar Llo ― murmura, esfregando o nariz no meu.

Ok, bom. Estou feliz por termos coberto isso – digo, dando um
tapinha em seu peito. — Apenas continue me segurando. ― Tranco
meus braços em volta do pescoço e descanso a bochecha contra
seu peito. O piolho ainda está vibrando uma milha por minuto.
Pensando sobre isso, o meu também está. A ressonância não
deveria terminar depois que fizemos sexo? Talvez tenhamos que
fazer isso algumas vezes. Deveria ter perguntado mais sobre minha
nova biologia alienígena.
K'thar afasta o cabelo do meu rosto e mantém um braço
apertado em volta da minha cintura enquanto puxa nossos corpos
entrelaçados para longe da cavidade da árvore contra a qual
estamos esfregando nos últimos minutos. Ele murmura alguma
coisa e caminha pela plataforma, nossos corpos ainda unidos, e
cada passo que ele faz apenas me lembra que ainda está dentro de
mim, ainda é grande e um tanto duro, e ainda estou muito, muito
sensível.

Eu me contorço contra ele, meus mamilos esfregando contra


seu peito. — Talvez nós precisamos ir novamente ― sussurro.
Pensei que estava destruída, mas a ideia tem muito apelo, e minha
boceta parece dar uma palpitação de acordo.

Seu rabo se fecha com força no meu tornozelo novamente e


ele me segura contra ele, e então pula – oh Deus – para a próxima
árvore. Quase gozo novamente, graças a essa maçaneta que ainda
está me esfregando nos lugares certos. Se ele não tivesse me
segurado contra ele, provavelmente teria jogado no chão em uma
poça grande, flácida e feliz.

Em vez disso, apenas me inclino e pressiono minha boca em


seu pescoço, lambendo e beliscando sua pele.

K'thar tropeça, caindo de joelhos na nova plataforma, e esta é


um pouco mais larga que a anterior. Ele consegue se segurar e me
coloca gentilmente embaixo dele, sem fôlego.

— Opa ― digo, em um tom que indica que não sinto muito. —


Acho que não devo fazer isso enquanto está subindo.
— Má Lllo ― diz rouco. Acho que esse é o jeito dele de me dizer
que sou travessa, porque ele não parece tão zangado.

Eu me mexo contra ele, e isso faz tudo na minha metade


inferior apertar e apertar da melhor maneira. — Acho que preciso
de uma surra.

Sei que ele não me entende, mas amo o seu pequeno rosnado
carente, da mesma forma.

K'thar
Minha companheira ... não há palavras.

Não consigo descrever como ela é perfeita. Como foi incrível o


acasalamento com ela. Não há nada que seja suficiente. Estou
humilhado por seu corpo doce e frágil e seu toque, seus sorrisos e
o aperto de sua boceta em volta do meu pau.

Nenhuma palavra pode ser suficiente para falar dela.

Enquanto a luz do sol flui através das folhas acima, afasto seu
cabelo suado de sua pele pálida. Qualquer outra mulher mudaria
de cor automaticamente, camuflando para combinar com as
sombras e se protegendo. Minha Llo está tão estranhamente
colorida como sempre, sua pele corou com o esforço quando ela
cochila, seu corpo enrolado contra o meu.
Não mudaria nada sobre ela, decido. Ela é diferente, mas isso
não importa. Onde é fraca, eu a protegerei. Sou forte o suficiente
para nós dois, e meu corpo é grande o suficiente para esconder o
dela com a minha camuflagem. Tudo que preciso é que ela esteja
ao meu lado, sorria para mim como fez ontem à noite. Sentir seus
pequenos dentes morderem meu pescoço com meu pau
profundamente dentro dela...

Serei o caçador mais feliz desta ilha.

Sabia que a ressonância seria boa. Não imaginava que seria


assim ... Também não há palavras para isso.

Repetidamente, acasalamos esta noite passada, e minha Llo


foi tão insaciável quanto eu. Toda vez que eu a tocava, ela me
encontrava ansiosamente. Toda vez que empurrava meu pau entre
suas coxas, ela estava lá para me abraçar com emoção. O corpo
dela me recebeu mais vezes do que pensava ser possível ... e ainda
assim ressoamos com a música.

Nossos corpos não tiveram o suficiente. Ao meu lado, ela


cochila, mas sei que quando acordar, ela me olhará com aquele
brilho faminto nos olhos e as mãos se moverão sobre a minha pele.
Acho que ela me quer tanto quanto a quero.

É um presente que nunca pensei que experimentaria.

Eu a seguro apertado contra mim e ela murmura algo


sonolenta e se aconchega no meu braço. Pressiono minha boca em
seus cabelos úmidos e deslizo minha mão entre suas coxas,
segurando sua boceta enquanto ela dorme.
Lembrarei desta noite para sempre, penso. E farei qualquer
coisa, vou a qualquer lugar e desafiarei quem pensar em ameaçá-
la.

Minha Llo é a coisa mais importante do meu mundo. Ela é


minha, e farei o que for preciso para fazê-la feliz.
CAPÍTULO 17
K'thar
Uma volta completa das luas depois

— NÃO ― diz minha companheira, enquanto A'tam e O'jek


sentam-se no topo da balsa. Ela se senta entre eles, tentando
ensiná-los a usar a balsa. — Veja. Olhe.― Tão corajosa quanto
qualquer caçador, ela pega um remo das mãos com garras de A'tam
e ignora o seu assobio irritado. — Olha ― ela diz novamente, e
mostra-lhe como segura a raquete. Ela cava na água e a pequena
jangada gira. Ela imediatamente vira a raquete e a enfia no outro
lado, depois a jangada se endireita e empurra para frente.

O'jek me lança um olhar de pura irritação, mas eu apenas


sorrio. Minha companheira sabe do que fala. Se ela não é de fala
mansa e gentil com eles como M'rsl, eles podem se acertar comigo.
Eu gosto que ela seja mandona, tão mandona quanto qualquer
chefe de clã.

Mas ela deveria ser, esse plano é dela. É quem tem a visão de
onde iremos e, como deixaremos este lugar, então é claro que deve
liderar. Os outros não gostam tanto. Eles não confiam nela como
eu, mas estão dispostos a arriscar suas vidas na esperança de
companheiras.

Afinal, sem companheiras, pelo que temos que viver? Já


existimos há muitas voltas longas das luas, mas nada mais. Desde
que os clãs foram destruídos na morte da Grande Montanha
Fumegante.

Observo, cortando fatias de um pedaço murcho de frutas


moídas. A ilha não tem sido tão abundante nos últimos tempos, e
toda a comida é importante. Corto as partes ruins e guardo o resto
para a minha L'ren. Olho para cima enquanto O'jek e A'tam tentam
novamente com os remos. Desta vez, a pequena balsa se inclina
para a frente e posso ouvir minha L'ren fazer um som feliz com o
progresso deles.

A terra treme debaixo das minhas pernas, fazendo tremer a


rocha sobre a qual me sento. Eu imediatamente me levanto e corro
para frente, jogando de lado a faca e a fruta. A pequena enseada
em que praticam é protegida por corais espessos das grandes
serpentes que rastejam pelos mares, mas não serão protegidas das
ondas que um tremor de terra traz.

Os outros homens sabem o quão preciosa minha mulher é, no


entanto. Eles a puxam para fora da balsa e a carregam para a
praia. As ondas batem e a balsa cai e vira à distância, um lembrete
assustador de quão arriscada será a nossa próxima jornada. Mas,
por enquanto, isso não importa, porque minha L'ren está em meus
braços, seu cabelo molhado grudado em sua pele adorável e seus
olhos brilhantes arregalados.

— Agitado? ― Ela pergunta. — De novo? ― Ela faz uma pausa


quando o chão rolante para de uma vez e um suspiro de alívio a
escapa. — Não mais.

— Chega ― concordo. Sua compreensão da nossa linguagem


cresce mais a cada dia. Eu a puxo para perto e abraço seu corpo
contra o meu. Ela parece menos assustada com todos os dias que
passam, mas toda vez que a terra estremece, fico cada vez mais
preocupado com a segurança dela. Lembro-me de quando o céu se
encheu de cinzas e fumaça e o chão se partiu. Lembro dos gritos
distantes.

Lembro das mortes.

Nunca quero que isso aconteça novamente. Enquanto seguro


minha companheira trêmula em meus braços, juro que a devolverei
à sua terra fria e cheia de fêmeas e caça. Teremos nosso kit em
segurança lá e passaremos nossos dias felizes e sem medo do
retorno da Grande Montanha Fumegante.

Mas devemos chegar lá primeiro.

— Você está segura? ― pergunto a minha companheira,


segurando sua cabeça e pressionando um beijo em sua testa.

Ela assente, suspirando enquanto toca no meu peito. Não


acho que ela esteja mais assustada. Acho que simplesmente gosta
de tocar. Meu pau responde ao seu corpo pressionado contra o
meu, e meus pensamentos vão para as árvores distantes, onde
roubamos nossos momentos juntos.

A'tam vai até a balsa, enquanto O'jek apenas esfrega a


mandíbula peluda e balança a cabeça para mim. — Eu não entendo
a prática. Tudo o que estamos fazendo é flutuante. Certamente isso
não é difícil.

L'ren olha para mim, as sobrancelhas franzidas, um sinal de


que ela não entendeu as palavras de O'jek.

— É necessário ― eu o lembro. O'jek é impulsivo, por ser mais


velho que muitos de nós. — O mar aberto será perigoso. Não é o
momento de aprender a dirigir a balsa. Esse será o momento em
que precisaremos ter confiança em nossas habilidades.

Ele bufa. — Parece um trabalho manter as mãos ociosas


ocupadas, se você me perguntar. É um atraso sem fim, e não faz
sentido.

Eu faço uma careta para ele. Suas palavras são impensadas.


— Você sabe muito bem que é perigoso nas águas. Jangadas e
remos suficientes para todos nós viajarmos com segurança levam
tempo. Não cortamos árvores todos os dias? Tecendo cordas?
Nossas mãos não estão empoladas por empunhar nossos
machados? As cabanas não cheiram mal a couro curado
rapidamente? Tudo é necessário. É frio onde ela está nos levando.
Precisaremos de camadas para proteger nossa pele. E de remos
para nossas grandes balsas e cordas para amarrá-las. Além de
lanças se uma das serpentes da água nos atacar. Necessitaremos
de todas essas coisas.

Mas O'jek apenas cruza os braços sobre o peito.

— O que você diz pode ser verdade, mas falarei outra verdade.
Teríamos esperado tanto tempo se T'chai estivesse saudável? Ou
ele nos custou tempo enquanto esperamos que ele se levantasse
da cama?

Eu rosno baixo na garganta para ele quando L'ren me dá um


olhar preocupado. Nossas palavras vão rápido demais para ela
entender, mas ela não precisa ouvir essas coisas. T'chai não é do
meu clã, mas eu não o deixaria para trás, por mais fraco que ele
esteja. É verdade que T'chai não se recupera de suas feridas e que
todos estão preocupados com ele. Seu corpo está com febre alguns
dias, e outros ele parece melhor. Ele se cansa rápido demais para
sair da cama por muito tempo. Sua pele tem uma cor doentia e
seus olhos são meros buracos com uma luz azul opaca nos olhos.
Está claro para todos que ele vive dia após dia. Seu khui não é forte
o suficiente para combater qualquer dano que o garras do céu
tenha causado ao seu corpo, embora esteja se esforçando bastante.
Mesmo a tentação de uma companheira de ressonância não pode
trazer ao khui a força necessária para ajudá-lo a se recuperar.

Ele não sobreviverá até a estação das chuvas, isso é óbvio.

Mas porque não há muito o que fazer além de trabalhar e


esperar, é isso que fazemos. O'jek acha claramente que nos
atrasamos na esperança de que T'chai seja forte o suficiente para
remar, mas é claro para todos que ele não estará bem o suficiente
para fazê-lo.

Tudo o que digo a O'jek é: — As fêmeas no lugar frio não vão


a lugar algum, O'jek. Podemos levar mais alguns dias para
estarmos prontos.

Ele mostra suas presas para mim e volta para o lado de A'tam,
descontente com a minha resposta.

L'ren olha para mim com curiosidade. — Está bem?

Não tenho resposta para isso, então dou de ombros. Não estou
interessado em falar sobre O'jek no momento. Pego a mão dela e a
conduzo para a selva.

— Aha. Hora do acasalamento ―ela diz, uma risada em sua


voz enquanto eu a guio para frente.

Ela não está errada. Eu lhe lanço um sorriso enquanto nos


dirigimos para as árvores. Minha L'ren me conhece bem. Viver com
três clãs agrupados na praia do Cifre Alto faz com que os ânimos
sejam curtos. Acrescente a barreira da língua entre os machos
sakh e as duas fêmeas, e a lesão de T'chai, minha ressonância com
L'ren, a lista interminável de tarefas para nossa próxima jornada,
o kit exigente, a falta de comida e a preocupação com os tremores
de terra?

Todo mundo está no limite. Até J'shel, que é calmo e fácil de


se conviver, bateu o rabo com raiva mais de uma vez. Às vezes,
tudo o que você pode fazer é deixar o acampamento para sair do
caminho um do outro.

E porque eu tenho uma companheira, é muito fácil encontrar


razões para carregá-la para as árvores. A praia está cheia de
ouvidos curiosos e homens curiosos que ouvem todos os sons que
minha L'ren faz, e não quero que eles ouçam seus gritos de prazer.

Esses são apenas para meus ouvidos.

Então, como fizemos tantas vezes desde nosso primeiro


acasalamento, eu a carrego em meus braços. Ela enrosca o dela
em volta do meu pescoço e começa a beijar minha garganta e
mandíbula, suas pernas passando pelos meus quadris. Eu a
carrego para as árvores, porque a escalada é lenta e cansativa para
ela. Quero a força dela para outras coisas.

Camuflo automaticamente meu corpo para combinar com a


árvore que subo, deixando minha pele escurecer com sombra para
imitar o jogo da luz do sol nas folhas. Ela geme de apreciação e
desliza a mão pelo meu peito. — Cor ― ela murmura. — Eu gosto.

Sou um homem vaidoso o suficiente para escurecer minhas


cores, um pouco mais, para agradá-la. Foi uma reviravolta
completa desde que L'ren e eu nos acasalamos pela primeira vez, e
não me cansei do toque dela. Nossos khuis diminuíram sua música
louca para uma mais agradável. Agora, quando a vejo, meu khui
não ronca com intensa necessidade, mas canta de alegria ao vê-la.

Assim como meu coração.


Como fiz todas as vezes que nos escondemos nas árvores,
levo-a aos galhos mais altos e encontro um ponto sólido para
ancorar meu corpo contra o tronco. Apoio meus pés e mantenho
um braço em um galho acima, e depois concentro meu foco nela.

Mesmo que M'rsl opte por desnudar sua pele como o clã Cifre
Alto, minha L'ren insiste em usar sua blusa arborizada, bem como
a tanga que eu prefiro. Eu não me importo com isso – me dá um
grande prazer arrancá-las dela toda vez que nos acasalamos. Faço
isso agora, sorrindo quando ela faz um pequeno som de protesto,
mesmo quando belisca meu queixo com seus dentinhos.

— K'thar faz uma saia nova, sim? ― Ela exige, mesmo quando
agarra a cintura trançada da minha tanga e a rasga do meu corpo.

— O que você quiser, minha companheira. Você sabe que sou


seu para comandar ― digo e deslizo a mão entre as coxas. Não
posso evitar o gemido que me escapa quando a encontro com a
boceta molhada de convite. Ela já está com fome de mim e nem
comecei a tocá-la. Acaricio suas dobras doces até que ela geme e
monta minha mão, e então ajusto nossos corpos para que meu pau
possa afundar em seu calor. Um empurrão dos meus quadris, e
então estou profundamente dentro dela.

Não há sentimento melhor do que o aperto de sua boceta. Ela


grita suavemente contra mim, esfregando os seios no meu peito.
Ela gosta das pontas deles acariciadas, mas mais do que isso, gosta
da pequena protuberância entre as dobras esfregada enquanto eu
estou dentro dela. Isso a faz enlouquecer de necessidade. Inclino-
me e capturo sua boca com a minha para sufocar seus gritos
enquanto faço exatamente isso. Ela bate contra mim, e então bato
nela, cada impulso empurrando meu esporão contra meus dedos e
o nó entre suas coxas. Ela está tão molhada que nossos corpos
unidos emitem os sons mais doces, e não demora muito para que
eu possa sentir a tensão a ultrapassar, sentir sua boceta apertar
meu pau com força e apertar como se estivesse tentando me
drenar.

Não demorou muito para eu gozar depois disso, e esvazio


minha semente em seu corpo com uma alegria que não se tornou
cansativa, apesar das muitas vezes que fizemos isso.

Acho que nunca me cansarei do corpo dela. Não importa se


eu a tenho uma dúzia de vezes por dia pelo resto de nossas vidas.
Quando estou dentro dela, tudo parece ... certo. Como se fosse o
lugar que deveria estar.

Depois, nós dois estamos respirando pesado e sua pele está


úmida de suor. Eu acaricio sua bochecha enquanto ela coloca seu
corpo contra o meu. — Mais agitos, ela me diz. — Nada de bom.

— Eu sei ― digo baixinho. Os agitos em andamento me


preocupam também. Eles não parecem estar diminuindo a
velocidade. Se alguma coisa, são mais abundantes agora do que
nunca. Ontem houve um que pareceu durar várias respirações,
mais longa do que nunca. — Ficará tudo bem.

Ela se vira nos meus braços e olha para mim.

— Deixar sim? Amanhã?


Fico em silêncio, porque não sei se estaremos prontos
amanhã. T'chai estava febril esta manhã, seu corpo fraco. R'jaal
tem medo de empurrá-lo. Não sabemos quanto tempo as jangadas
levarão para atravessar a grande água para o local frio, mas se
demorar muito, podemos perder T'chai.

Temo que se o perdermos, também perderemos a M'rsl. Ela


sofre ao ver a dor dele. Perdeu peso e há um embotamento nos
olhos que preocupa todos nós. Existem apenas duas mulheres.
Perder uma antes que ela possa ter um kit com o companheiro
escolhido parece impensável.

— Falarei com R'jaal ― respondo eventualmente.

— Amanhã ― ela repete, sua voz suplicante. Sei o que ela está
pedindo. Ela não quer mais ficar.

Estamos prontos para partir? Não tenho essa resposta. Eu me


pergunto se algum dia estaremos verdadeiramente, completamente
prontos para abandonar nossa casa.
CAPÍTULO 18
Lauren
— Como ele está esta manhã?

Pergunto ao entrar na cabana de pedra de Marisol e T'chai. É


cedo e enquanto os outros estão começando o dia, não tenho
permissão para sair do acampamento porque não tenho a
camuflagem protetora que os outros têm. Passo a maior parte do
dia perto da cabana para poder ficar com Mari, se ela precisar de
alguma coisa, e ajudar T'chai ou N'dek e o bebê. Não me importo
porque estou por perto para supervisionar a construção da balsa
ou para as pessoas fazerem perguntas, mas alguns dias é difícil.

Como hoje. Mari tem um olhar tedioso em seus olhos e a mão


de T'chai está entrelaçada. Ele dorme, sua pele corada de febre. Se
for possível, ele parece pior agora do que quando foi ferido. Pelo
menos então, ele era forte. Agora parece que está desaparecendo,
e nem tem forças para lutar mais. A mão agarrada a Mari é óssea
e fina. Alguns dias ele está melhor, rindo e sorrindo para a
companheira de sua cama. Mas então, no dia seguinte, ele ficará
apático e doente mais uma vez, toda a sua energia se esgotou, e
fica mais claro do que nunca que não está melhorando. Nestes
dias, é difícil ser alegre e fingir que tudo ficará bem.

Eu não sei o que será. Não sei como confortar quando não há
uma boa resposta. Mas tento de qualquer maneira, porque é
melhor ficar sentada e torcer as mãos. Inclino-me ao lado de Mari,
mantendo o olhar autoritário no meu rosto como se isso ajudasse
as coisas.

Ela encolhe os ombros, seu movimento tão flácido quanto o


homem em sua cama. — Dia ruim. ― Sua voz é maçante.

— Amanhã será bom, então.

— Ou não será ― diz ela suavemente, acariciando a mão dele.


— E então ele continuará se afastando de mim. ― Sua boca treme
quando ela olha para ele. — Você sabe, o piolho dele parou de
ressoar.

Eu sinto um nó no estômago. — Talvez tenha ficado quieto no


momento. Preservando sua força e tudo isso.

— Ou desistiu. ― Ela olha para a mão dele, traçando as veias


proeminentes que se estendem entre os nós dos dedos. — Ele sabe
que não tem forças para acasalar e agora é apenas um lado. A
música no meu também mudou. É como ... lembra daquela notícia
sobre a baleia azul que canta com uma frequência diferente de
todas as outras baleias? É solitário porque nunca encontrará
ninguém. Talvez meu piolho seja assim. É como a baleia azul,
cantando sozinha, porque sabe que seu companheiro não está
mais lá fora.
— Você passou muito tempo na internet em casa ― digo a ela
brilhantemente e aperto-lhe o ombro. — Você não pode desistir.

Seus ombros caídos e falta de resposta me dizem que ela já


tem.

Já que sou eu quem tenta melhorar tudo, dou outro aperto no


ombro dela. — Voltaremos para os outros em breve, Mari. Muito
em breve.

— E então o quê? ― Ela pergunta, com uma nota amarga em


sua voz. — Ele pode morrer na costa congelada em vez da quente?

Quero protestar a isso. Quero dizer a ela que tudo ficará bem.
Que talvez os outros tenham alguma tecnologia médica da nave e
possam juntar algo que possa consertar o que está errado com
T'chai. Mas nem tenho certeza se acredito nisso. Se o piolho dele,
que deveria acelerar a cura, não pode consertá-lo, o que me faz
pensar que algumas partes de uma nave espacial agora destruída
farão o trabalho?

— Logo ― prometo a ela novamente. E como sei que não estou


sendo útil, saio para que possa pelo menos ser útil em outro lugar.
Talvez possa falar com K'thar. Estar ao lado dele sempre me faz
sentir melhor, mesmo que seja apenas para vê-lo sorrir e sentir a
mão no meu cabelo.

Sou superficial, eu sei. Às vezes só gosto de ser acariciada pelo


meu cara favorito.
No momento em que saio, vejo que K'thar fica no fundo da
praia, dirigindo M'tok e J'shel enquanto amarram um pontão ao
lado de uma das jangadas. Sem carinho para mim, eu acho. Faço
uma pausa para admirar o traseiro dele, coberto pela coisa de kilt
frondoso que ele está trabalhando. Não consigo ver a bunda dele o
que é uma pena, porque é uma ótima bunda, mas reconheço a
contração de seu rabo enquanto ele fica ali, instruindo os outros.
Suspiro sonhadoramente quando ele flexiona os ombros. Talvez
consiga que ele roube por algumas horas esta tarde sob o disfarce
de caça de frutas ou ovos.

O cara me deixa positivamente insaciável. Sempre pensei que


estava um pouco empolgada para ser uma daqueles tipos de
ninfomaníaca para o seu homem, porém acho que estava errada
sobre isso. Só de pensar em correr para as árvores com ele por um
tempo faz meu pulso bater um pouco mais forte entre minhas
coxas da maneira mais intoxicante. Estou obcecada por ele. Ele é
a primeira coisa que penso quando acordo, e é a última coisa em
que penso antes de dormir. Nunca me senti assim por ninguém.
Até a barreira da língua entre nós parece cair um pouco mais a
cada dia. Estou aprendendo com seus sorrisos e com o jeito que
ele se mantém, o suspiro que faz quando está frustrado ... e o
rosnado baixo em sua garganta quando está excitado.

Tremo só de pensar naquele rosnado.

Os caras na praia parecem ocupados demais para eu arrastá-


lo para longe, no entanto. Esta jangada é a última que precisa ser
concluída. Existem três grandes, uma para cada tribo e o plano é
uni-las todas, para que não importa se a corrente nos desviar do
curso, onde quer que aterremos, estaremos juntos. Demorou
algum tempo para descobrir como fazer jangadas tão grandes
flutuarem adequadamente. Pensei que tudo o que precisávamos
fazer era amarrar um pouco de madeira e estaríamos prontos, mas
nossas primeiras tentativas se agitaram bastante e estava
aterrorizada com o pensamento daquela água fria e aberta cheia de
coisas escorregadias e tendo uma balsa de jangada. N'dek não será
capaz de nadar, nem T'chai, nem o bebê. Temos que estar o mais
seguros possível, por isso foram necessárias mais algumas
tentativas para descobrir as coisas. Agora, as jangadas têm toras
extras cruzando por baixo para adicionar mais flutuabilidade, e
adicionamos pontões de cada lado para ajudar na estabilidade. O
N'dek cortou remos suficientes para cada pessoa ter o seu, e nós
curtimos o couro há dias, para que tenhamos roupas quentes. As
cestas de ovos estão quase cheias. Peixes extras foram secos e
defumados, então teremos algo para comer enquanto viajamos.
Estamos quase prontos.

O pensamento é aterrorizante.

Por semanas, eu estou tocando o tambor, insistindo que


partamos para a margem oposta que eu assegurei que está lá. Que
há mais pessoas esperando, mais mulheres, mais caça, mais tudo.
Eu deveria guiá-los para a praia, porque é de onde eu vim. O
problema é que agora que a hora de ir embora está quase aqui,
receio. E se as formas distantes que vejo não forem terra afinal? E
se Mari e eu nos afastamos do caminho e não pudermos levar o
pessoal de K'thar de volta a Harlow, Liz e os outros? E se eu
estragar tudo e levar todos à morte?
— Sem pressão, Lo ― sussurro para mim mesma. — É quando
você faz o seu melhor, quando todo mundo precisa de você. Então,
que se foda, e comece a trabalhar.

Estranhamente, me intimidar parece fazer o trabalho. Um


lembrete de que as pessoas estão contando comigo é tudo o que
meu cérebro precisa para acelerar. Como em tantas manhãs, olho
os céus, procurando os gigantescos pássaros predadores. Quando
não vejo nenhum, mudo para os penhascos e começo a subir, rumo
ao ponto mais alto. Os penhascos aqui são feitos de um tipo macio
de rocha que se desintegra facilmente, o que significa que degraus
ranhurados foram esculpidos na lateral do penhasco pelo uso
constante, e isso faz com que seja possível que até uma humana
sem graça como eu possa subir ao topo.

Chego ao pico, examino o céu novamente em busca de perigo


e depois me endireito. Aqui em cima, a brisa é dura, o topo das
árvores balançando abaixo. Acho que este é um dos lugares mais
altos da ilha, e é um bom local para observar nossa jornada. Movo
uma pedra que está segurando um pedaço de casca de papel
enrolada que deixei aqui ontem. Sem lente, não sei se meu
telescópio é apenas mais que um tubo para olhar, mas sinto que
isso ajuda minha visão independentemente. Sento-me na rocha e
uso minha luneta para estudar as águas.

É muito distante, mas tenho certeza de que vejo montanhas


de algum tipo. Talvez não montanhas específicas que reconheço,
mas me lembro de haver montanhas. Isso é bom o suficiente para
mim. Isso significa que há terra, e não posso imaginar que Mari e
eu tenhamos saído tão longe do curso. Imagino que eu teria
acordado, não é? A última coisa que me lembro é de Marisol me
arrastando para fora da água para a cápsula flutuante e depois
nada. Não acho que teria dormido por dias, então deve ser menos
de um dia de volta ao outro lado.

Que deve ser essas montanhas.

Eu espero.

Deus, por favor, não deixe estar enganada. Sei que meus olhos
estão melhores agora com o piolho. Consigo ver longas distâncias,
mas nem tenho certeza de quão longe essa terra é daqui. É uma
mera lasca de cor, uma mancha no pano de fundo da interminável
água verde do oceano. Mas a terra tem que estar em algum lugar
próximo. Não faz sentido o contrário. Suspiro e largo meu
telescópio de casca, um pouco frustrada. Se eu pudesse ver um
pouco mais longe…

Uma sombra entra na meu campo de visão.

Vejo vários garras do céu suficientes nas últimas semanas


para saber o perigo que são. Com o coração batendo forte, caio de
joelhos e me arrasto rapidamente sob a samambaia mais próxima,
respirando com dificuldade. Minhas mãos e joelhos estão
raspados, mas isso não importa. Se essa coisa me vir...

Mas a sombra flutua no céu e continua. Isso não para. Eu


espero, completamente silenciosa, e vejo a coisa voar nos céus
distantes. Vai para aquelas montanhas. Isso apenas confirma
minha suspeita de que haja algo pelo menos. Lidarei com o
problema dos garras do céu mais tarde. Um problema de cada vez.
Enquanto o assisto deslizar para longe, para minha surpresa,
vejo uma segunda forma. Outro garras do céu. Um terceiro se junta
a ele.

Isso é estranho.

Além do primeiro dia na praia, nunca vimos mais de um de


cada vez. Os dois na praia ao mesmo tempo eram um par
acasalado, mas na maioria das vezes, me disseram, eles caçam
sozinhos. Três juntos parecem muito, muito estranhos. Minha pele
se arrepia de consciência quando outro garras do céu se junta aos
outros.

É como se o céu inteiro estivesse cheio deles. O que está


acontecendo?

— L'ren! ― K'thar berra por perto. ― L'ren? RESPONDA!

Eu posso ouvir o terror em sua voz. Ele também os viu.

— Estou aqui em cima ― chamo de volta. — No topo do


penhasco! ― Ainda não conheço todas essas palavras em seu
idioma, mas ele pode acompanhar o som da minha voz. Não sairei
de sob os arbustos até saber que é seguro.

Tiro espinhos das palmas das mãos e assisto a frota de garras


do céu no céu de lama. Só estou aqui há um mês, é claro, talvez
isso seja normal, mas me parece assustador. O que poderia fazer
com que muitos dos grandes predadores se levantassem e
deixassem seus locais de caça?
É claro que, no momento em que o pensamento passa pela
minha cabeça, a terra começa a tremer.

Mordo de volta o grito crescendo na minha garganta. De novo


não!

Fecho os olhos e abraço os joelhos no peito, esperando a terra


parar de tremer. Cada terremoto é terrível para mim. Não posso
ignorá-los como os outros, apesar de tentar fingir que não estou
pirando toda vez que acontece. Eles acontecem com mais
frequência do que falamos, e ainda assim não posso me sentar e
fingir que não está acontecendo, que a terra não está tremendo.
Que não estamos empoleirados no topo dos restos de um vulcão
ativo e é por isso que estamos vivendo em uma ilha paradisíaca no
meio do país dos icebergs. Porém, cada terremoto nunca dura
muito. Sempre me preparo, esperando que esse seja o único, mas
nunca é. O mundo treme por um momento ou dois e depois fica
parado.

Até hoje. Estremece e eu conto os segundos. Um. Dois. Cinco.


Dez. Onze antes que pare. Então começa de novo, quase
imediatamente. Este dura cinco segundos. Um terceiro tremor fica
logo atrás, e então o mundo fica mais uma vez. Está tão quieto que
posso ouvir meu coração batendo dolorosamente alto no meu peito.
São terremotos demais em um período muito curto. Algo está
errado. — L'ren ― chama K'thar, e saio de debaixo dos arbustos e
me jogo em seus braços. Abraço seu pescoço com força, e quando
finalmente consigo respirar fundo, aponto para o céu, onde a garra
do céu está se retirando. — Veja!
Ele assente, um olhar sombrio em seu rosto.

— Eles vão.

Meu alienígena parece calmo demais, e balanço minha cabeça


para ele. — Você não entende. Eles estão fugindo. Todos estão
fugindo deste lugar! Nós precisamos ir também! ― Como se
quisesse pontuar minhas palavras, a terra treme novamente em
outro tremor rápido.

Com isso, K'thar me dá um olhar sombrio e assente. — Nós


vamos.

Graças a Deus. Finalmente, estamos saindo deste lugar!


CAPÍTULO 19
K'thar
Não perco tempo perguntando a minha companheira se ela
pode descer dos penhascos. Não há tempo. O chão sob nossos pés
estremece e treme, e no alto, os garras do céu se afastam da selva
em grandes números. Eles sabem de algo que não sabemos e, como
minha L'ren tem tentado nos alertar, a Grande Montanha
Fumegante não está morta.

Penso nas temporadas atrás, no modo como o mundo ardia e


os céus se enchiam de fumaça e o ar estava entupido de cinzas.
Lembro que era tão espessa que cuspimos e choramos cinza por
várias voltas das luas, e nos cobrindo como uma segunda pele.
Lembro que minha camuflagem era da cor das cinzas por tanto
tempo que, quando fiquei azul mais uma vez, me surpreendeu.
Lembro-me das árvores murchas e moribundas e de uma estação
de fome.

Mas principalmente me lembro das mortes. Tantos morreram.


Meus pais. O irmão do meu pai e seus kits. Nosso clã passou de
sete mãos de pessoas para apenas uma em um mero batimento
cardíaco. O mesmo aconteceu com os Gato das Sombras e os Chifre
Alto. Lembro-me do clã da Cauda Longa, que optou por não enviar
ninguém para o desafio do caçador naquele dia. Ninguém
sobreviveu.

Devemos sair daqui antes que isso aconteça novamente.

Jogo minha L'ren por cima do ombro e desço a encosta do


penhasco com toda a velocidade que tenho nos braços. Pela
primeira vez, ela não faz nenhum protesto e não exige ir por conta
própria. Abro e então corremos para a frente, encontrando os
outros na praia.

— Não devemos esperar mais ― diz R'jaal, correndo para me


encontrar. Ele segura um maço nas mãos e acena M'tok para
frente. Vejo o clã Gato das Sombras arrastando as jangadas em
direção à água, e J'shel passa correndo, com pacotes de
suprimentos em seus braços. Em algum lugar de uma das
cabanas, Z'hren geme, chateado. É tudo caos.

Aceno para R'jaal, que parece ser o único calmo além de mim.
— Ajudarei os incapazes a chegar às balsas por conta própria.
Certifique-se de que os suprimentos sejam distribuídos igualmente
entre as três tribos.

Parece que protestará contra a minha ordem – R'jaal não gosta


de receber ordens, mas devolve o protesto e assente.

Minha companheira desliza para fora dos meus braços. —


Z'hren ― ela me diz. — Bb ndzsus.
Aceno para ela. — Você pega Z'hren, minha companheira.
Pegarei T'chai.

— Sim, T'chai ― ela me diz, então pega minha mão e beija


meus dedos. Ela me dá um aceno de cabeça e sorri, depois corre
em direção à cabana que N'dek e Z'hren fizeram temporariamente.
Mesmo nessa loucura, ela pensa em mim. Aquece meu coração e
meu khui canta uma canção suave de felicidade. Porém, haverá
mais tempo para isso mais tarde.

Por enquanto, todos devemos escapar.

Vou para a cabana e vejo M'rsl lá. Ela pula de pé, as


bochechas molhadas de lágrimas e balança algo em sua língua
estranha. Ao contrário da minha companheira, ela não fez
nenhuma tentativa de aprender nossas palavras. Não posso julgá-
la, no entanto. Ela esperou incansavelmente T'chai dia e noite. Terá
tempo para falar nossas palavras quando ele estiver melhor. —
Venha ― digo a ela, passando para o lado de T'chai. — Nós iremos
agora.

— Quê! Cntmvim! ― Ela agarra meu braço.

— Você viverá!

— Devemos ir, digo a ela de novo e bem calmamente e puxo a


mão no meu antebraço.

Antes que a Grande Montanha Fumegante morra mais uma


vez. Vou para o lado de T'chai e me ajoelho ao lado dele. O abdômen
do homem está inchado e parece descolorido sob o cruzamento de
feridas raivosas. Seu rosto está pálido, mas coberto de suor, e sua
camuflagem parece ter sangrado completamente dele. Ele não está
muito longe para este mundo, e hesito em movê-lo. Por outro lado,
nenhum de nós deseja este mundo se ficarmos.

Eu ignoro M'rsl e seus protestos infelizes enquanto o pego


gentilmente em meus braços e o levo para as balsas. Ela para de
gritar comigo quando vê os outros e corre para o lado dele,
apertando a sua mão enquanto eu o lanço em direção à jangada
mais próxima. Talvez ela tenha percebido o que está acontecendo.

R'jaal me encontra na beira das balsas. — Braço Forte


assumirá a balsa de chumbo ― ele me diz.

— Desde que esta é a sua jornada. ― Seu sorriso é fino. — E


você tem mais braços do que nós para remar.

Ele acha que nós os levaremos à morte? — Minha L'ren sabe


o caminho ― tranquilizo-o, e coloco T'chai gentilmente na segunda
balsa no pequeno grupo de três. Nas proximidades, S'bren testa as
cordas e A'tam ataca os pacotes de suprimentos para que não
caiam ao mar.

Ouço um grito zangado e, quando me viro, vejo minha


companheira com Fat One empoleirado em um ombro, Z'hren nos
braços. Ela mantém uma das mãos protetora sobre a cabeça do kit
e examina o céu, como se estivesse com medo de que algo o
prejudique de cima. Atrás dela, N'dek sai mancando, apoiando-se
pesadamente em O'jek, dos Gato das Sombras.
Se fosse outro dia, haveria muita provocação dos três clãs
rivais trabalhando juntos. Mas hoje, ninguém está rindo.

M'rsl aponta para o céu atrás de nós e diz alguma coisa.


Minha companheira suspira.

Eu me viro e olho. No extremo da ilha, onde a fumaça flui


infinitamente para o mar, nuvens negras de cinzas fervem e
ondulam nos céus como se alguém acendesse um grande incêndio.
Eu lembro disso. É perigoso!

Vidas serão perdidas se ficarmos. Está decidido então.

— Vamos ― digo ao grupo bruscamente, apontando M'rsl para


a balsa com seu companheiro e, em seguida, gentilmente
facilitando minha companheira em direção ao primeiro. — Não
percamos mais tempo aqui.

Nós remamos em silêncio. Pela primeira vez, não há brigas


entre nossos clãs. Todo mundo fica em silêncio e começa a
trabalhar. Como estamos na frente da cadeia de jangadas, temos o
trabalho mais difícil pela frente. Nossos remos cavam na água e
nos afastamos da costa o mais rápido possível. Até N'dek, que não
se esforça em nada desde a lesão, rema com uma determinação
sombria. Minha companheira segura Z'hren em seus braços e o
cala quando ele chora, fazendo com que Fat One grite com raiva.
Eu não sabia que estaria vindo conosco, mas quando o animal
pousa no meu ombro com um bater de suas asas, não resisto a
dar-lhe um arranhão carinhoso. Fico feliz por sua presença. Isso
me lembrará de casa, mesmo quando a deixamos para trás.

A corrente luta contra nós por um tempo, mas, uma vez que
nos afastamos, diminui um pouco e depois somos levados como se
estivéssemos em uma brisa. Descansamos por um momento e
examino a água. Nunca estive tão longe. As coisas que habitam na
água são ferozes e famintas, mas hoje elas parecem silenciosas.
Talvez tenhamos sorte ou talvez eles não saibam o que fazer com
nossos grandes artesanatos de madeira. De qualquer forma, terei
todo o prazer em ter sorte. O tempo passa. Ninguém fala. O kit
adormece no colo de L'ren e ela protege seu rosto com um cobertor
de couro. O ar fica mais frio à medida que avançamos cada vez
mais na água.

— Olha ― diz J'shel depois de um tempo. Sua voz é baixa,


assustada. — Atrás de nós. Eu me viro, meu remo descansando na
minha coxa e olho para trás. Eu imediatamente examino as
jangadas dos outros, mas nada parece errado. Então vejo. Nuvens
de fumaça maciças, duas vezes maiores do que eram antes, saindo
da ilha. Não apenas em um ponto, também. O cinza se estende em
uma longa fila, e percebo que as árvores estão queimando.

Nosso lar. Está sendo destruído. As árvores que esculpimos


em nossa nova casa do clã desaparecerão, juntamente com os kaari
e todos os voadores noturnos que vivem em seus galhos. As
cabanas de nossos ancestrais que compõem a casa do Braço Forte
desaparecerão em seguida. As cavernas dos Gato das Sombras
provavelmente também serão destruídas. Nada será deixado.

Não há para onde ir além de avançar. De maneira sombria,


me viro mais uma vez e cavo minha raquete nas águas. Minha
companheira e meu kit precisam de segurança. Se isso significa o
lugar frio do outro lado da água, é para onde iremos.
CAPÍTULO 20
Lauren
Está perto do amanhecer, quando acordo com Z'hren,
aconchegando-se por cima, tentando se alimentar.

— Whoa, amiguinho ― digo a ele com uma voz gentil enquanto


separo meus membros de um K'thar dormindo. Em algum
momento no meio da noite, ele migrou para o meu lado da jangada
e me segurou longe da borda. Acabei no meio da coisa com o bebê,
e Kki pousa em uma cesta perto, sacudindo as asas e parecendo
indignado com o ambiente. Sento-me e ajusto o bebê, entregando-
lhe um pedaço de raiz comestível para ele roer. Deveríamos ter nos
preparado melhor para viajar, acho. Existem ovos e peixe seco, é
claro, mas sinto-me relutante em quebrar um ovo quando nossa
jornada está apenas começando. E se isso demorar mais do que
pensávamos?

Já faz um dia.

Olho para o céu. É o amanhecer, ou aquela cor pálida e


sonhadora, pouco antes do nascer do sol. O céu em si é um cinza
bravo e nublado e a temperatura caiu da noite para o dia. Está
ficando mais frio quanto mais longe chegamos da ilha. Olho para
trás para ver até onde chegamos, mas não consigo ver. Em algum
momento enquanto eu dormia, a ilha ficou completamente fora de
vista. Eu me viro para olhar para as montanhas distantes que
estamos seguindo. Não sei dizer se estão mais próximas, e isso é
preocupante. A corrente está nos levando embora? Ou irá para o
lado quando deveríamos seguir em frente? Não sei se podemos
remar tão longe contra a corrente, se for o caso. Só espero que algo
pareça encorajador em breve.

Eu me preocupo por ter levado os outros a uma armadilha.


Certamente... certamente não pode ser tão difícil levar as pessoas
para o outro lado da água, quando podemos ver os picos roxos à
distância? Eu tenho que acreditar que isso acabará bem. Tem que
acabar.

Z'hren joga o pedaço de raiz no chão e solta um grito agitado.


Sei como ele se sente. Quero me levantar e esticar as pernas, mas
estamos todos empilhados sobre esta balsa, um em cima do outro,
e isso torna tudo complicado. Você perde a modéstia rapidamente,
mas também perde a paciência. Faço um som de cacarejo para ele
e o puxo para mais perto, mesmo quando seus punhos pequenos
agarram meus cabelos. Eu estremeço, quatro punhos significam
muito puxão de cabelo. — Agora, Z'hren...

Um estrondo devastador preenche os céus.

Atiro-me em cima do bebê aterrorizada e, um momento


depois, sinto a grande forma de K'thar cobrindo a minha. A balsa
balança quando todos acordam. Percebo um momento depois que
estou gritando. Minha boca está aberta, mas não consigo ouvir
nada. Meus ouvidos zumbem e percebo que não consigo ouvir
K'thar, ou o bebê chorando debaixo de mim. Não consigo ouvir as
ondas. Não há som algum além de silêncio e o interminável som de
zumbido nos meus ouvidos.

O vulcão está explodindo.

K'thar me toca, e quando olho para ele, vejo que ele está
camuflado para combinar com a balsa. Observo sua boca se
movendo, mas também não consigo ouvi-lo. Ouvi falar de pessoas
ficando surdas com uma arma que dispara muito perto do ouvido,
e espero que isso não dure para sempre. — Eu estou bem ― digo a
ele, ou pelo menos, espero que sim. Não consigo me ouvir falar.

Sento-me em pé, tentando consolar Z'hren. O bebê está


agitado, com o rosto cheio de raiva, mas não há som. Assisto K'thar
enquanto ele toca cada membro de sua pequena tribo, certificando-
se de que eles estão bem. Kki se joga no ombro de K'thar e meu
companheiro, meu doce e maravilhoso companheiro, agarra o
pássaro aterrorizado e o aperta com força contra seu peito,
acariciando as asas para acalmá-lo. Sinto uma pontada de ciúmes
dele segurando o pássaro, porque também quero ser segurada
assim. Mas tenho o bebê nos braços e ele está ocupado checando
os outros.

Olho pela linha da balsa e as outras tribos parecem estar


acordadas, todos esfregando os ouvidos e parecendo confusos.
Alguém aponta para trás e vejo que não há nada além de uma
cortina negra de cinzas atrás de nós onde a ilha costumava estar.
Graças a Deus nós fugimos.

Uma mão pousa na parte de trás do meu pescoço,


acariciando-a, e olho para K'thar, grata por esse pequeno toque.
Mesmo que não possa ouvir meu piolho, posso senti-lo vibrando no
meu peito. Estou tão feliz que ele esteja aqui.

Estou tão feliz que ele é meu.

Sorrio para ele, me sentindo fraca e trêmula. Estamos seguros


por enquanto. Temos isso, desde que estejamos juntos. Olho onde
Marisol está e ela tem a mão de T'chai na dela, o grande guerreiro
ainda deitado no centro da balsa. É enquanto estou olhando para
eles que vejo a onda de água vindo em nossa direção.

Oh ... oh merda.

Outra pessoa percebe na terceira balsa e gesticula


descontroladamente. Mal tenho tempo de agarrar as cordas das
videiras e me ancorar e o bebê em meus braços antes de sentir o
grande corpo de K'thar me proteger novamente. Fecho meus olhos
com força, prendendo a respiração e me preparando para o pior.

A balsa sobe e posso sentir todos nós levantando, como um


elevador se movendo entre os andares. Um momento depois,
recuamos novamente e, quando levanto a cabeça, vejo a onda
passando. Oh.

Eu gostaria que houvesse uma maneira de alertar as pessoas


em terra que uma onda ia em sua direção. Só posso esperar que
não seja tão ruim quando chegar lá. Por enquanto, porém,
precisamos nos preocupar conosco. Uma rápida verificação na
cabeça mostra que apenas uma pessoa foi levada ao mar A'tam,
mas conseguiu nadar rapidamente de volta à balsa e subir a bordo.
Ele estremece de frio e alguém lhe oferece um cobertor de pele.
Todo mundo parece atordoado e assustado.

Sei exatamente como eles se sentem.

A onda da maré, mesmo a mínima onda que conseguimos,


parece ter nos levado um pouco mais perto da costa. À medida que
o dia passa, não preciso me preocupar em remar na direção certa.
Os picos roxos das montanhas, uma vez tão distantes, agora estão
à vista. Eles ainda estão muito longe, mas agora sabemos que
vamos para algum lugar e que não está na minha cabeça, o que é
um alívio.

Meus ouvidos continuam tocando por algumas horas e posso


começar a ouvir as vozes dos outros novamente em direção ao pôr
do sol. Somos cuidadosos com a água e a comida, racionando-a
para o caso de termos problemas. K'thar rema sem parar, como se
nunca se cansasse, e estou impressionada com sua resistência. Eu
me enrolo ao lado dele enquanto o bebê dorme, e ele mantém uma
das mãos em nós, segurando-nos protetoramente perto. Sinto-me
cansada e suja de sal marinho, e não está mais temperado. O ar
está muito frio e vejo minha respiração inchar nas nuvens. Os
outros passaram a usar as camadas de peles que riram de mim por
insistir, e posso ver a surpresa chocada no rosto de J'shel enquanto
ele sopra as mãos para aquecê-las. Não posso culpá-lo por não
acreditar em mim quando disse como era frio. A ilha é tão quente
e abafada.

Era, eu me lembro. Era tão quente e abafada. Agora se foi, e


nada resta a não ser zumbido nos meus ouvidos, a cortina preta
sufocante no extremo do céu que age como uma lápide e as cinzas
que começam a cair do céu. No começo pensei que era neve, mas
um gosto nos meus lábios me fez cuspir. Definitivamente cinzas.

Tudo isso me preocupa, e tento manter a boca de Z'hren


coberta enquanto ele dorme, mesmo que ele brigue comigo. Não
podemos deixar de respirar parte das cinzas, mas é perigoso sugar
grandes bocados. Claro, tudo é perigoso agora. Olho ansiosamente
para a costa, ainda não mais perto do que há algumas horas atrás,
apesar de todo o remo.

Do meu lado, K'thar se mexe, e então vejo suas facas saindo.


Ele as descansa nas pernas, examinando as águas.

Um formigamento sobe pela minha espinha e eu me sento de


pé. — O que é isso? ― Toco seu braço no caso de sua audição ainda
ser limpa. — K'thar?

Ele aponta para o centro da balsa, indicando que eu deveria


me mudar para lá. Eu me aproximo e ele me entrega Kki. Tenho
meus braços cheios de pássaros e bebês, e estou prestes a
protestar quando ele fica completamente parado perto de mim.
— O quê? ― pergunto novamente, preocupada. — É a
montanha? Alguma outra coisa? — Quando ele olha de volta para
a água, sempre vigilante, os arrepios na minha pele sobem. — É
algo na água? ― Olho para as outras jangadas, os alienígenas
esparramados em cima delas. R'jaal tem sua lança na mão e O'jek
também observa a água. Olho para o lado o quanto ouso, mas não
vejo nada.

Um momento longo e tenso passa. Observo K'thar em busca


de pistas e relaxo quando seus ombros se afastam da posição
apertada. O que quer que fosse, se foi uma serpente prata alcança
e agarra o braço de K'thar, rápido como um raio, e o arrasta para
o lado da balsa.

Ele se foi antes que eu pudesse gritar. Meu coração para de


bater. Não consigo ouvir nada além do som da água batendo nas
bordas da balsa. — K'thar! ― R'jaal chama, movendo-se
protetoramente para a frente de sua balsa. Mari grita enquanto a
coisa toda balança para frente e para trás, e posso sentir a balsa
balançando na corda que segura a nossa para eles.

Nada disso importa. Meu K'thar meu companheiro se foi! Não


há nem uma dica dele acima da água, nem uma ondulação. Eu
respiro, e parece que meu coração está sendo arrancado do meu
peito. Não, não! Isso não é real... Isso não está acontecendo.
Coloquei Z'hren no centro da balsa e o pássaro com ele, correndo
para o lado. Eu vou atrás dele. Talvez...

— Não, L'ren ― diz J'shel, agarrando meu tornozelo. Quero


gritar na cara dele, mas então ele se joga no mar, faca nos dentes,
e desaparece na água também. Ele não foi puxado – ele foi atrás do
meu cara.

Z'hren começa a chorar, e eu o pego, embalando-o perto. Oh


Deus. Oh Deus. O que posso fazer? O desejo de ir atrás dele luta
dentro de mim, mas N'dek e Z'hren não podem ficar nessa balsa
sozinhos. Mas se ele morrer...

Eu não quero viver se ele morrer. Um soluço sai da minha


garganta e Z'hren chora ainda mais. Kki grita seu próprio protesto
no meu ouvido, e parece que o mundo inteiro está chorando
comigo. A água está tão quieta, tão quieta que eu não aguento
mais. Por favor, digo ao mundo ao meu redor. Por favor, não o leve.

— K'thar! ― R'jaal grita, agachado na beira da balsa, com a


lança na mão. ― J'shel! K'thar!

— Olha ― diz N'dek, e percebo vagamente que ele está ao meu


lado, com duas facas nas mãos. Ele balança outra coisa que não
entendo e depois aponta para a água.

Não vejo nada, e então uma cabeça explode na superfície.


K'thar tira o cabelo do rosto e percebo que ele está camuflado no
mesmo verde escuro que o oceano. J'shel surge um momento
depois, arranhões no rosto ensanguentado e os dois começam a
nadar em direção à balsa.

Eu começo a rir. Ou chorar. Provavelmente chorar. Eles


sentem o mesmo agora.
K'thar sobe na balsa, balançando a coisa toda. Eu não ligo.
Dou-lhe meu braço e o ajudo a subir a bordo, sem me importar que
ele esteja gelado e seu corpo inteiro estremece. Tudo o que vejo é
que, quando sua camuflagem volta lentamente à sua cor normal,
ele está coberto de arranhões e contusões circulares que parecem
vir de tentáculos. J'shel está igualmente espancado, com um
chicote colorido na garganta que fala da luta que aconteceu sob a
água, profunda demais para que um respingo o faça chegar à
superfície. Passaram tantos minutos então? Ou a luta foi rápida e
brutal?

Não importa. Tudo o que importa é que meu K'thar está de


volta. Agarro e o abraço, ainda chorando de alívio. Estou toda
emocional, parece. Longe está a mentalidade de Lo-vai-assumir-o-
comando. Quase o perdi, em um piscar de olhos. Só foi preciso um
momento e então não haveria mais um K'thar neste mundo. Minha
calma se foi e apenas choro e choro e choro enquanto ele me
balança contra seu peito molhado e tenta acalmar minhas
lágrimas.

— Llo ― ele murmura depois de um tempo, acariciando minha


bochecha. — Está bem. Tudo bem.

— Eu sei ― falo, e então começo a chorar ainda mais quando


N'dek pega o bebê chorando dos meus braços e enfia um cobertor
nas mãos de K'thar. Eu percebo que ele está congelando, com gelo
no cabelo molhado e eu não tenho tomado conta dele. Deveria ter
lidado com isso.
K'thar entrega o cobertor a J'shel com uma palavra calma. Oh,
J'shel. Ele salvou meu companheiro. Passo para o lado do outro
homem e o faço se abaixar para que eu possa beijar sua bochecha,
chorando. — Você é o melhor cara de todos os tempos, eu juro.

— Llo K'thar ― meu companheiro rosna, me puxando de volta


para o lado dele. J'shel apenas me dá um olhar confuso.

Eu nem me importo que meu cara seja possessivo. Quando


ele puxa um cobertor em volta dos ombros e depois me puxa para
baixo, me aperto contra ele de bom grado. E choro um pouco mais,
porque terei esse pequeno colapso mental, caramba, e então ficarei
calma.

Amanhã voltarei a mim. Hoje, ficarei um pouco confusa e tudo


bem.
CAPÍTULO 21
Lauren
Os guerreiros estão em alerta máximo pelo resto da tarde.
Agora que sabemos que as coisas na água estão cientes de nós e
que estão com fome, vejo lanças e facas em vez de remos. K'thar e
os outros insistem que Z'hren e eu nos movemos para o centro da
balsa o tempo todo, e sei que eles estão sendo protetores. Eu quero
ajudar, mas não vale a pena discutir, então vou para o meio ... e o
rabo de K'thar fica enrolado no meu tornozelo o tempo todo, como
se ele não estivesse disposto a me deixa r ir. Não me importo nem
um pouco.

Nunca o quero fora da minha vista novamente. Não me


importo se isso é pegajoso. Felizmente, me agarrarei à perna desse
alienígena pelo resto da minha vida, desde que isso signifique que
estaremos juntos, sempre. Estou louca de amor por ele, e digo
repetidas vezes a cada vez que ele me toca. Não sei se ele entende
a palavra amor, mas isso não importa. Meus toques dizem tudo a
ele.
Está perto do pôr do sol no segundo dia, quando vejo uma
pequena nuvem de fumaça flutuando contra o céu dourado rosado.
As montanhas se aproximavam cada vez mais, e essa fumaça no
horizonte me excita. Não há fumaça suficiente para ser outro
vulcão. É pequena e fina, mas acho que é do tamanho certo para o
fogo de um acampamento.

Eles ainda estão lá na praia. Graças a Deus.

Aponto e começamos a remar nessa direção. É contra a


corrente, mas com quatro braços fortes para cada homem na
jangada, somos capazes de avançar até chegarmos suficientemente
perto da costa para que as ondas comecem a nos levar adiante. Eu
posso ver o fogo nas falésias contra o crepúsculo e sinto um pouco
de emoção – e preocupação – na boca do estômago.

Os outros Harlow e seu companheiro, Liz e o dela, Vektal e


Rokan e todos os outros alienígenas azuis, acham que Marisol e eu
estamos mortas? Ninguém nunca veio atrás de nós, mas
afundaram a única nave. É verdade que era uma nave espacial,
mas a canoagem da ilha e a quase morte de K'thar, me diz que a
água é perigosa de mais para muitos cruzamentos. Mesmo agora,
olho para as águas escuras ao nosso redor com terror e pavor. Mal
posso esperar para sair desta balsa e voltar para a praia.

Eu me pergunto, tarde demais, é claro, se mais bocas para


alimentar serão bem-vindas. Nunca parei para pensar se havia
comida suficiente para todos. Certamente haverá. E me pergunto
o que aconteceu no mês em que saímos. Alguém mais ressoou?
Eles construíram abrigos?
Willa foi encontrada? Ou ela está ... morta? Não gosto de
pensar nisso.

Tiro as cinzas dos meus braços enquanto me inclino para a


frente na jangada. Não é assim que ajudará as coisas a progredir,
mas sinto a necessidade de me apoiar da mesma maneira. Estou
ansiosa para voltar para os outros, para levar K'thar e seu povo
para a costa. Para encher a barriga de comida quente e mostrar a
eles que sim, restam outras pessoas, que são mocinhos e todos
podemos viver felizes juntos na praia.

Eu espero. Deus espero. Vi como os três grupos se dão bem,


lutam e brigam, mas as três balsas juntas me dizem que estão
dispostos a trabalhar juntos por uma causa comum. Espero que
meus caras azuis sintam o mesmo sobre os caras azuis de Harlow
e Liz. Estou tão nervosa.

Goste ou não, porém, não há como voltar atrás. Não há ilha


para onde voltar. As cinzas caindo em meus braços e cabelos são
prova disso. Se eles não nos querem com eles... iremos apenas para
outro lugar. Podemos descobrir como pegar comida por conta
própria, e me lembro um pouco de como fazer uma fogueira. Nós
conseguiremos. Um passo de cada vez, é tudo o que é preciso.

Mas então nossas jangadas estão deslizando em direção à


costa, carregadas pela maré. Ninguém na fogueira distante nos
notou ainda, pois estamos bem longe da praia rochosa. Está muito
frio, no entanto, e Z'hren faz barulhos estridentes de angústia até
eu envolvê-lo mais contra o meu peito, aconchegado sob as
camadas de peles que uso.
Ignorando o frio, R'jaal e K'thar saem e nadam para a praia,
depois guiam a corrente da balsa, puxando-nos para frente. Um
por um, pisamos em terra e minhas pernas balançam de alívio
quando passo na areia esmagadora. Obrigada areia. Obrigada,
montanhas. Obrigada, fogo distante. Obrigada por estar aqui,
porque estou muito cansada do oceano.

Demora alguns minutos para que todos se amontoem na


praia. Alguns pensam em pegar suprimentos, e M'tok e S'bren
ajudam a levar T'chai para frente, com Marisol ao seu lado. Todo
mundo se aconchega no frio, esperando.

Então A'tam limpa a garganta. — Está frio ― ele aponta, seu


sorriso brilhante na escuridão. — Fogo?

Todos eles me observam, esperando. Ah, claro. Eu me sinto


boba por fazê-los esperar. Fui a única exigente, agitada e insistente
esse tempo todo. Eu preciso ver as coisas até o fim e não apenas
entregar as rédeas na praia. Aceno para o fogo. — Direi olá e
lembrar que Mari e eu estamos vivas. Você vem Mari?

Ela hesita, depois aperta a mão de seu companheiro. — Eu


quero ficar com T'chai. ― Sua voz é vacilante, como se estivesse
lutando contra as lágrimas. — Apenas no caso.

Apenas no caso de…. Ele está tão ruim que ela se preocupa
que ele morra a qualquer momento? Meu coração dói por ela e
aceno. — Tudo bem, vou sozinha. ― Faço um gesto para os outros
e entrego Z'hren a K'thar. — Espere aqui.
Meu grande alienígena faz uma careta para mim e entrega o
bebê a N'dek. Kki pousa no ombro de K'thar e ele tenta se livrar
dele, mas a coisa só bate suas asas, irritado e fica. — K'thar vai ―
meu companheiro me diz. — K'thar Llo.

Posso adivinhar o que isso significa – somos uma equipe e


fazemos isso juntos. Mesmo que eu esteja um pouco preocupada
com a maneira como eles verão um cara novo – especialmente um
que muda de cor e tem quatro braços, fico feliz que ele esteja ao
meu lado. Parece certo. Estendo minha mão para ele. — Lo K'thar
― concordo. Ele é meu e eu sou dele.

K'thar fala em voz baixa com os outros, e vejo U'dron deixando


suas mochilas na praia, ficando à vontade para esperar. Espero
que não demore muito, mas não sei como os outros reagirão. Não
deveria estar preocupada, eles aceitaram todos nós humanos de
braços abertos. Contudo muita coisa aconteceu no último mês do
meu lado, e não posso nem pensar no que aconteceu nesta praia
enquanto estivemos fora.

Então meu companheiro entrega Kki a J'shel e se vira para


mim. Ele pega minha mão e me puxa para baixo de suas peles, me
mantendo quente, e então estamos caminhando pela praia em
direção ao fogo e em direção a nossa nova casa. É uma curta
caminhada, talvez cinco ou dez minutos, e a única coisa que posso
ouvir por mais tempo é o zumbido de seu khui no peito e a batida
das ondas contra a costa. À medida que avançamos, porém, eu
posso ouvir ... música vindo da fogueira à frente.

Canto muito, muito ruim.


— Eu juro, vocês realmente são os piores ― diz Liz, sua voz se
elevando acima dos outros. — Você não podia segurar uma música
em um balde, Zolaya.

Uma onda de risadas encontra seu insulto, e a chamada


Zolaya começa a cantar mais alto e ela está certa. Ele é terrível. Há
mais risadas e depois um suspiro. Várias pessoas se levantam,
encarando as sombras.

Olhando para nós.

Engulo em seco e depois dou um passo à frente, empurrando


K'thar atrás de mim. — Oi queridos, estamos em casa.
CAPÍTULO 22
K'thar
O desejo de camuflar na frente de todos esses estranhos é
avassalador. Cresci cercado por mais pessoas do que isso, mas elas
não eram desconhecidas. Eles não me olhavam com olhos
arregalados e assustados ou olhavam para mim como se
estivessem avaliando se eu era ou não um perigo. Mas se eu
camuflar aqui, não é simples arrancar uma tanga de folha e
misturar-me às árvores. Não há árvores aqui, e se eu arremessar
os couros pesados do meu corpo, correrei grande risco de congelar
minha cauda.

Mas minha companheira dá um grito feliz enquanto outra


mulher, pesada de kit, avança para abraçá-la. E depois outra, e
então todas estão fazendo barulhos empolgados e chorando, e acho
que isso deve ser bom. Um dos machos se aproxima, me olhando e
diz algo a minha companheira.

Ela se move para o meu lado, a felicidade nos olhos, enquanto


chora, e coloca a mão no meu peito. — Esseé K'thar. Meu
companheiro.
Os olhos do grande macho se estreitam. Ele pergunta algo na
estranha língua da mulher e L'ren balança a cabeça, parecendo
infeliz com a pergunta. Ela menciona M'rsl e gesticula na praia e
indica que há mais de nós esperando.

O homem assente e se vira para um dos outros que estão ao


seu lado, uma grande criatura feia com dois braços e chifres
torcidos. — Vá com eles quando trouxerem os outros.

Faço uma pausa, assustado. Seu sotaque era estranho, e o


jeito que ele falava nossas palavras era estranho, mas ... eu o
entendi. Dou um passo à frente. — Você fala a língua do sakh?

O homem olha para mim surpreso. — Eu sou Vektal ― diz ele,


movendo-se para agarrar meu braço enquanto estuda meu rosto.
— E eu não tinha certeza se você era um de nós até agora.

Aperto seu braço em saudação também e percebo que estou


camuflando. Ah. Deixei minha pele voltar à sua sombra normal e
percebo que, mesmo no escuro, posso dizer que ele é um azul muito
mais profundo do que eu. Há outras diferenças também. Sua testa
e sua pele têm placas grossas e estriadas. Ele não tem quatro
braços, mas temos uma altura semelhante, embora eu seja muito
mais amplo, muito maior com músculos. Seus chifres são tão
grandes quanto os de R'jaal e eu me pergunto se era assim que os
ancestrais eram antes de se encontrarem com os outros e se
tornarem quatro clãs em vez de um. Há muito a aprender aqui,
percebo.
— Meu clã espera na praia ― explico. — Nossa casa está
destruída.

Ele me lança um olhar curioso. — Onde estava sua casa?


Sabíamos que Lo-ren e Mar-ee-sol estavam desaparecidas, mas
nossos rastreadores não as encontraram. Estávamos esperando
que elas retornassem à praia, mas nunca pensamos ... que trariam
outros.

Aquele chamado Vektal fala seus nomes de maneira estranha,


ainda mais estranha do que como minha companheira diz suas
palavras. Percebo que ela nos observa falar, a testa franzida. Ela
não consegue entender nossas palavras e sinto outra bolha de
frustração, mesmo que haja alívio por poder falar com os outros
aqui. Ainda assim, não podemos compartilhar nossos
pensamentos como desejo. Em breve, resolvo. Quando todos
estiverem seguros, aprenderemos o idioma uns dos outros. Por
enquanto, existem assuntos mais urgentes. — Vivíamos na selva
verde, do outro lado da água.

Outro vizinho parece divertido. Seus chifres estão curvados e


orgulhosos, mas noto que há uma pequena torção quebrada na
cauda que se move para frente e para trás enquanto ele cruza os
braços sobre o peito. — Uma ilha? Jo-see ainda fala disso. Ela jura
que havia uma através das águas.

Eu concordo. — Foi destruída com a segunda morte da


Grande Montanha Fumegante. Mesmo agora, chove suas lágrimas
sobre nós. ― Limpo uma mancha de cinza dos meus braços.
Vektal resmunga acordo. — Você é bem-vindo aqui, desde que
não represente perigo para nós ou nossas fêmeas.

— Nunca. ― Olho para minha L'ren. — Eu nunca machucaria


uma fêmea.

Ela sorri para mim. — Eleéumbomhomem ― diz a Vektal. Ele


pergunta uma coisa para ela.

— Oh! ― Diz L'ren. — Foiumacidenteapenas. Wsnchoo.


WsMrsl, ficamospresas. Foiissu. ― Vektal parece aliviado. —
Thotwsmee ― diz ele em sua linguagem estranha. — Esse eyemist
smthn.

— Agoraestatudobem. ― Ela sorri para ele e olha para mim.


— Obrigada.

Minha L'ren deve falar agradavelmente de mim, a julgar pela


maneira como os outros estão olhando. Isso me faz sentir
possessivo e a alcanço. Ela pressiona sua bochecha na minha mão,
acariciando-a.

Vektal parece surpreso quando pego minha companheira e


percebo o porquê. Meus couros caíram e revelaram que tenho
quatro braços, não dois insignificantes como ele. Eu posso ouvir
um murmúrio assustado ao redor do fogo.

— Vejo que há muito a discutir sobre nossas tribos ― diz


Vektal. — Mais do que apenas como você manteve os humanos
escondidos por tanto tempo. ― Seu olhar cai nos meus braços. —
Muitas, muitas coisas para discutir.
Lauren
Parece que a praia está ridiculamente cheia. À medida que as
pessoas avançam, abrindo espaço para os recém-chegados perto
do fogo, há uma tonelada de conversas ao meu redor e isso parece
avassalador. Sou abraçada e dou um tapinha nas costas, recebo
peles e alimentos frescos e um lugar perto da lareira. Z'hren está
nos meus braços e ele fala e oferece guloseimas, e várias mulheres
estendem os braços para segurá-lo. Depois de dias na balsa em
relativo silêncio, parece esmagador. Só quero estar na cama com
meu K'thar, mas sei que levará um tempo até que todos se
acalmem o suficiente para dormir.

Sobre o barulho da multidão, ouço Marisol chorando. — Ele


está doente ― eu a ouço dizer, e sei que ela está falando sobre
T'chai. Os outros da sua tribo estão agrupados ao seu redor,
relutantes em sair do lado dele, embora eu pegue M'tok olhando
curiosamente para as mulheres perto do fogo.

— Ficará tudo bem ― diz uma voz suave, e então vejo Farli
passando um braço em volta dos ombros de Mari. — Vamos levá-
lo para Vuh-ron-ca. Ela será capaz de ajudar.

— Ela vai? ― Mari funga, surpresa. — Como?

Eu tenho que repetir esse sentimento – minhas lembranças


de Veronica eram de uma mulher lisa, de cabelos castanhos, pés
desajeitados e não muito mais para chamar a atenção. Ah, e o cara
de pele dourada com quem ela se identificava. — Vuh-ron-ca é uma
curandeira ― diz Farli com autoridade. — Levaremos seu
companheiro para ela e o fará melhor.

Uma curandeira? Estou surpresa. Veronica parecia tão ...


normal. — Uau ― murmuro, observando o grupo de homens de
R'jaal levar T'chai para uma das tendas distantes.

— Eu sei. É impressionante — diz Hannah, movendo-se para


ficar ao meu lado. — Eu vi o que ela pode fazer. ― Um olhar
engraçado cruza seu rosto e ela se afasta quase tão rapidamente
quanto chegou. — Eu, uh, preciso verificar uma coisa.

Enquanto ela se afasta, vejo J'shel se levantar do outro lado


do fogo. Ele tem a mão sobre o coração, um olhar chocado no rosto.
Oh garoto! Eu reconheço essa expressão... Um momento depois,
um sorriso vincou sua boca e então ele corre atrás dela. Há um
brilho intenso nos olhos dele e ele vai atrás de Hannah.

— Uh, oh ― diz Nadine, movendo-se para o local que Hannah


desocupou. Samantha está do outro lado dela, e as duas
compartilham um sorriso de conhecimento. — Parece que alguém
foi atingido com o bastão de ressonância.

— Você acha? ― Olho para meu companheiro, e ele está


assistindo J'shel recuar, um olhar satisfeito em seu rosto.

— Oh, sim ― Samantha concorda. — Olhe para Cashol


correndo atrás dele. Toda vez que alguém ressoa, recebe um
acompanhante para garantir que ninguém nos pressiona a fazer
sexo antes de estarmos prontas. O pobre Ashtar mataria Zolaya
por protegê-la o tempo todo. E os gêmeos são fascinados por Angie,
então alguém sempre está ao seu lado.

— Uau. Sinto como se tivesse perdido muita coisa. ― Minha


cabeça está girando.

— Sim, mas eu sinto o mesmo por você ― diz Nadine. Ela faz
um aperto de mão em Z'hren. — Me dê o bebê.

Eu o entrego, cansada. Ele pesa mais a cada minuto, ao que


parece.

— Olha como ele é fofo! ― Nadine grita, rindo quando ele se


camufla para combinar com sua pele mais escura. — E quatro
punhos pequenos e gordinhos. — Ó meu Deus. Eu poderia comer
você com uma colher.

— É melhor esculpir uma primeiro ― diz Samantha, e dá ao


bebê uma carinhosa careta sob o queixo.

Eu ouço Kki fazer um som indignado quando J'shel


desaparece e Sam suspira. — Que porra foi essa?

— Pássaro de estimação ― explico, estendendo o braço


quando vejo Kki fazendo seu voo oscilante no céu. Ele está
assustado, mas claramente quer pousar. Sei do meu tempo com os
outros que Kki tem uma asa ruim e não pode voar para longe, e é
por isso que ele é um animal de estimação tão pegajoso. Ele
imediatamente pousa no meu braço, rasteja minha manga até o
meu ombro e depois enterra o rosto no meu cabelo. Pobre coisinha.
Acaricio seu rostinho feio. Sei exatamente como ele se sente.
Também quero K'thar, mas ele ainda está falando em voz baixa
com Vektal, o chefe, e os dois estão observando os outros.
Provavelmente esperando para ver se mais alguém ressoa.

— Você tem certeza de que é um pássaro? ― Sam pergunta,


franzindo o nariz.

— Ou um morcego. Como você quiser chamá-lo. ― Esfrego o


nariz de Kki. — Ele está com fome, no entanto. Todos nós estamos.

— Venha se sentar ― Harlow me diz, uma nota de aço em sua


voz doce.

As mãos me empurram para a frente e então eu estou no


centro do grupo aglomerado perto do fogo, e ainda mais longe do
meu companheiro. Dou-lhe um olhar desamparado enquanto ele
fala com o chefe. Ele começa a empurrar para o meu lado, através
da multidão, e as pessoas ofegam quando ele se move para ficar
atrás de mim, com as mãos nos meus ombros, apostando sua
reivindicação. Posso estar um pouco orgulhosa desse pequeno
movimento. Só um pouco. Gosto de ser reivindicada por ele.
Coloquei minha mão sobre a dele e Kki bica meus dedos. Harlow
aparece ao meu lado com uma tigela de carne cozida e nozes, e dou
a Kki um pedaço antes de oferecer um pouco ao meu companheiro.
A pequena criatura é onívora e come qualquer coisa colocada na
frente dele.

Meu K'thar empurra a tigela de volta para minhas mãos. —


Coma ― ele diz rispidamente.
— Você foi quem estava remando ― protesto, tentando
devolver a ele. — Eu posso esperar.

Ele rosna baixo na garganta e reviro os olhos.

— Uh, vocês percebem que há comida suficiente para todos,


certo? ― Liz aparece com uma segunda tigela, e então todo mundo
está sentado e se sentindo confortável ao lado do fogo com comida
nas mãos. Não como até K'thar receber uma tigela e depois
mordisco minha comida, certificando-me de que meu companheiro
esteja comendo o suficiente. Sei que é seu hábito dar comida para
mim e para o bebê, em vez de comer, mas quando o vejo devorar
sua comida, fico aliviada. Ele precisa de sua força tanto quanto eu.

Absorvo fofocas quando as pessoas falam ao nosso redor, e


parece que todos podem falar a língua dos alienígenas, menos eu.
Tento não me sentir excluída com essa percepção, mas quando
Ereven diz alguma coisa e meu companheiro ri, quero saber o que
era. Eu pego minha comida, sem saber como me sentir. — Então
você ouviu falar de Willa? ― Nadine pergunta, alimentando um
pouco de caldo de carne com Z'hren.

— Não ― respiro. — Ela está bem? Eles a encontraram?

— Ah, sim ― diz Nadine, com uma expressão irônica no rosto.


— Ela e Gren ressoaram. Esse emparelhamento é um pouco
confuso, porque ele não volta ao acampamento. Está tudo fodido.

Parece que sim. — Pobre Willa. ― Pensar que minha doce


amiga está ligada a esse monstro.
— Mmm, eu não me sentiria tão mal por ela ― diz Nadine, e
Sam ri ao seu lado. — Eles fazem muito barulho na colina, se sabe
o que estou dizendo...

Eu posso me sentir corando. Imagino.

— Entendo.

— Desde que estamos chegando ao verdadeiro ponto das


coisas aqui, quero saber sobre as quatro mãos ... ― Sam começa
antes que Nadine comece a rir.

— Sim, eu gostaria de saber sobre as quatro mãos também ―


diz Vektal, caminhando em direção ao fogo.

As duas ao meu lado riem ainda mais loucamente, e posso


ouvir Liz rindo por perto. Meu rosto parece que pegará fogo, estou
corando tão forte. — Uh ... ― é tudo o que digo.

— Meus ancestrais não tinham quatro braços ― continua


Vektal, olhando de relance para meu companheiro. — Gostaria de
saber como aconteceu.

Oh. Agora sinto vontade de corar ainda mais porque estava


tentando pensar em uma maneira diplomática de dizer a Vektal
que não era da sua conta como K'thar põe as mãos em mim. Claro
que ele está perguntando algo inocente. É apenas a minha mente
indo para lugares imundos. Mente imunda, imunda. — Não
podemos realmente conversar um com o outro. Aprendi algumas
das palavras dele, mas não o suficiente. ― Também não consigo
esconder o ciúme da minha voz. Quão injusto é que Vektal possa
conversar com meu homem cinco minutos depois de conhecê-lo e
eu estou com K'thar há um mês e ainda não posso perguntar a ele
coisas básicas sobre si mesmo?

Vektal faz uma careta. — Você não recebeu o idioma do


Mardok antes de sair, não é?

— Não. Havia planos para conseguir de alguma forma, mas


agora a nave está no fundo do oceano. As coisas aconteciam rápido
demais e não havia tempo.

— Venha ― diz Vektal. — Ele pode consertar isso para você.


Ele olha para meu companheiro e diz alguma coisa, e então K'thar
tira Kki do meu ombro, entregando-o a N'dek, que está sentado
perto e enfia comida na boca. O mais rápido que pude.

Ele pode consertar isso? Agora mesmo? — Sério? ―Pergunto,


pulando de pé. Quando K'thar toca meu braço, automaticamente
agarro sua mão na minha e o arrasto atrás de mim.

— Sim ― diz Vektal, e gesticula para o conjunto de barracas à


distância, onde o acampamento está montado.

Sigo ansiosamente, sem me importar que esteja frio além do


calor do fogo. Quem se importa com um pouco de frio quando em
breve terei a capacidade de conversar com K'thar? Falar mesmo
com ele? Estou tão animada que estou praticamente dançando
enquanto subimos a colina da praia.

Vektal conversa com K'thar enquanto subimos a colina e


depois gesticula para uma das tendas. Ao longe, vejo um toque de
luz de velas e várias pessoas em pé na porta de outra tenda,
enquanto Veronica pressiona as mãos no abdômen de T'chai, um
olhar atento em seu rosto. Passamos pela barraca e entramos em
uma das mais próximas, onde as patas de pônei peludo de Farli
aparecem na neve e mordiscam algo debaixo dela. Vektal coça a
porta e depois espera.

Alguém limpa a garganta e depois fala, e Vektal puxa a aba


para trás.

Está escuro lá dentro, mas um momento depois, uma chama


é acesa e vejo Farli acender uma vela. O cabelo dela está
despenteado e a boca inchada, e Mardok ajusta a frente da calça e
vira as costas para nós enquanto se move em direção a uma das
cestas no fundo da barraca. — Fichas de linguagem, certo?―, Ele
diz em inglês. — Eu posso fazer isso.

Farli apenas olha atentamente para o fogo, cutucando-o com


um graveto.

— Nós interrompemos? ―Pergunto, me sentindo um pouco


envergonhada. Aperto a mão de K'thar. ― Acho que não será o fim
do mundo se tivermos que esperar até de manhã para conversar.

— Se esperássemos que esses dois se separassem,


esperaríamos muito tempo ― diz Vektal, a voz divertida.

Farli apenas ri e gesticula para as peles perto da fogueira. —


Venha se sentar.
— Isso não demorará muito, acrescenta Mardok, puxando
algo embrulhado em couro. — Você pode puxar seu cabelo da
orelha para mim?

Eu faço, um pouco preocupada. Vektal fala em voz baixa com


K'thar, que agarra meu ombro com força, como se não confiasse
inteiramente no que estava acontecendo. Ele rosna baixo quando
Mardok dá um passo à frente, e os dois trocam algumas palavras
rápidas. Aperto a mão de K'thar para que ele saiba que estou bem,
que não estou preocupada em me machucar. Verdade seja dita, eu
não me importo com o quão doloroso isso seja – se isso significa
que posso falar com meu companheiro, ficar com dor de cabeça ou
o que isso trará.

Fico um pouco nervosa quando Mardok puxa uma agulha


longa e assustadora, bate em alguma coisa e a move em direção à
minha orelha. Fecho meus olhos com força enquanto ele instrui
Farli a trazer uma vela e segurá-la perto.

— Fique muito quieta ― diz Mardok. É o único aviso que


recebo antes que haja uma pitada quente atrás da orelha e, em
seguida, uma dor penetrante no meu crânio. Não consigo parar a
rápida respiração e o aperto firme que tenho na mão de K'thar.

— Você a está machucando? ― Ouço meu companheiro


perguntar, claro como o dia. O idioma não é meu, mas eu o
entendo, tão facilmente quanto o inglês.

É incrível. E começo a chorar de novo, porque estou muito


emocionada.
K'thar se ajoelha ao meu lado, empurrando Mardok para
longe. Ele segura meu rosto em suas mãos e me olha com olhos
preocupados. — Llo? ― Ele sussurra, acariciando minha bochecha
com o polegar.

— Olá ― sussurro de volta para ele, e então porque eu queria


dizer isso por tanto tempo ― eu te amo.

Meu alienígena abre um sorriso enorme.


CAPÍTULO 23
K'thar
Não sei como aquele chamado Mardok fez minha companheira
falar minha língua. Talvez seja uma mágica que eles possam nos
ensinar. Não me importo. Tudo o que sei é que minha L'ren está
radiante para mim com olhos brilhantes e felizes enquanto chora.

— Isso é tão maravilho ― diz ela entre fungadas. Estou


querendo falar com você há tanto tempo, K'thar. Você não tem
ideia.

— Sim, eu faço ― digo a ela gentilmente. — Eu queria a mesma


coisa.

Oh. Certo. Ela dá uma risadinha chorosa e depois se joga no


meu abraço, passando os braços pequenos em volta do meu
pescoço.

— Vejo que foi um sucesso ― diz Mardok com uma voz


satisfeita, afastando sua ferramenta de falar mágica. — Pegaremos
M'rsl pela manhã. Eu não acho que ela sairá do lado de seu
companheiro agora.
— Você tem meus agradecimentos ― digo a eles.

— Todos vocês tem. Estou impressionado com esta noite.


Tanta coisa aconteceu no curto espaço de tempo desde que
chegamos que minha cabeça parece que gira em cima do meu
pescoço. Não imaginava que os outros aqui seriam sakh, ou que
seriam capazes de curar T'chai. Ou que fariam minha companheira
falar minhas palavras. Ou que J'shel ressoaria assim que
chegássemos, e N'dek e Z'hren estão seguros com boa comida na
barriga e ...

É muito. Meus joelhos ficam fracos e eu cambaleio, um joelho


indo para o chão.

— Sente-se ― diz Vektal com uma das mãos firme no meu


braço. — Você e seu pessoal passaram por muita coisa hoje.

— Vou conseguir mais comida ― diz a fêmea sakh, sua voz


agradável. Ela se levanta em um movimento fluido e foge da tenda,
de volta ao frio. Estou surpreso que as pessoas aqui sakh, por tudo
o que não sei dizer qual deveria ser o clã, usem muito pouca roupa.
As mulheres se vestem em várias camadas, como nós. Está muito
frio, como minha companheira disse que seria, mas não parece
incomodar essas pessoas.

Bem, a maioria dessas pessoas. Vektal usa botas de couro e


uma tanga, mas o chamado Mardok usa quase tantas camadas
quanto eu.
— Sente-se, bb — Llo me diz, misturando algumas de suas
palavras com as minhas. Ela tira o cabelo do meu rosto. — Nós
podemos relaxar agora. Prometo. Estamos a salvo.

Aceno e me sento cansado no chão. É como se toda a minha


força tivesse me deixado. Estamos aqui. Nós estamos seguros. Nós
podemos descansar. Puxo minha Llo em meus braços, colocando-
a no meu colo. Recuso-me a deixá-la afastar um braço de mim.
Ainda não.

Ela não parece se importar, no entanto. Desliza os braços em


volta da minha cintura e encosta a bochecha no meu ombro, e eu
a envolvo.

— A maioria das histórias terá que esperar até de manhã ―


diz Vektal. — Mas antes que eu vá, gostaria de saber sobre o seu
povo. Há mais na ilha?

Balanço a cabeça. — Tudo se foi. Nós somos os únicos clãs


que restam. Meu povo é o clã do Braço Forte. Os de R'jaal são o clã
do Chifre Alto, e o clã de O'jek são os Gatos das Sombras. Somos
os únicos a sobreviver à morte da Grande Montanha Fumegante.

— A primeira morte ― minha companheira corrige, e eu aceno.

— Mas como você chegou à ilha? ― Vektal quer saber. — E


como seu povo é tão diferente? O que você chama de R'jaal parece
muito diferente de você, e alguns ― ele faz uma pausa, gesticulando
para o queixo ― eles usam peles aqui.
— Muitas características diferentes ― eu concordo. ― É assim
que os clãs são determinados. Se um kit nasceu com quatro
braços, ele iria para o clã Braço Forte. Mantendo o sangue forte.
Às vezes, havia um kit em nosso clã nascido com apenas dois
braços, e era dado a um casal do Chifre Alto ou Gatos das Sombras
para se criar com as pessoas a quem ele pertencia.

— Genes recessivos ― Mardok murmura. — De um ancestral


comum.

Eu não entendo essas palavras, mas minha companheira faz


um som de concordância.

— Provavelmente é isso ― diz ela. — Está claro que vocês têm


um ancestral em comum.

Não consigo superar o quão doce é a voz dela enquanto fala


minhas palavras. Adoro o som, e meu khui começa a cantarolar de
acordo com o meu prazer. — Talvez ― digo, já que não tenho certeza
do que eles concordam.

— Porém, de acordo com nossos registros, continua Mardok


― Vektal, seu povo se estabeleceu aqui quando a nave espacial caiu
mais de mil anos atrás. Ele está falando do velho Sakh, como nós,
então o pessoal dele também deve ter vindo do acidente, mas isso
não explica a pele do rosto ou o ... ―ele tosse na mão e parece um
pouco estranho com membros extras.

Minha companheira levanta a cabeça, olhando para mim com


olhos brilhantes. — Como os pais de seu pai chegaram à terra?
— Há histórias antigas ― digo a ela com um encolher de
ombros. — Os ancestrais vieram procurar boas áreas de caça e
conheceram o povo.

— O povo? ― Llo pergunta, curiosa.

Concordo. — O povo original. Eles eram poucos quando meus


ancestrais os conheceram, mas formaram clãs fortes juntos. Com
o tempo, tornaram-se quatro clãs. Fico triste, pensando em
quantos de nós já existia antes da morte da Grande Montanha
Fumegante. — Então ... três.

— As características recessivas podem ser o motivo pelo qual


ele não tem dentes afiados, mas O'jek tem ― continua Llo, excitada.
— Ou por que R'jaal e T'chai têm chifres tão grandes quanto vocês.
― Ela gesticula para Vektal e Mardok. — Mas todos eles podem
mudar de cor.

Mardok faz uma careta. — Mudar de cor?

Minha Llo me dá um olhar orgulhoso, como se estivesse


satisfeita por eu ter essas habilidades.

— Mostre para eles, querido.

Agora é a minha vez de me sentir desconfortável. Camuflar é


tão natural quanto respirar, mas fazê-lo sob comando parece
estranho. Olho para o fogo próximo e seguro minha mão, deixando
as chamas tremerem perto da minha pele. Enquanto mudam,
minhas cores mudam, combinando o brilho avermelhado do fogo
em si e as sombras com ele. Quando recuo, minha cor volta ao seu
azul inquieto normal.

— Impressionante ― murmura Vektal, os braços cruzados


sobre o peito. — Não é uma característica que nosso pessoal
compartilha.

Mardok faz um som de surpresa. — Talvez seja por isso que


nosso rastreamento o tenha captado algumas vezes e não vi mais
ninguém neste mundo. Eu me pergunto se a própria camuflagem
interrompe de alguma forma os sinais que a nave pode captar ...
ou se os campos eletromagnéticos na ilha eram demais para o
nosso equipamento. Terei que estudar isso. ― Ele parece animado
com o pensamento.

— Eu não sei o que você acabou de dizer ― admito.

— Explicarei mais tarde, bb, minha companheira ―diz com


uma voz carinhosa. Desta vez, quando ouço, devo perguntar.

— O que é isso, bb?

Mardok ri. Vektal bufa com igual diversão. — Eu ouvi esse 'bb'
muitas vezes. É um termo humano para um kit. Dizem isso quando
estão satisfeitas com seus machos. Minha companheira me chama
dessa palavra quando ela quer alguma coisa. ― Sua expressão dura
suaviza. — E já que falamos de companheiros, devo dizer que sinto
falta da minha, muito para ficar longe dela por muito mais tempo.
― Ele troca um olhar com Mardok e depois olha para mim. — É por
isso que estou muito curioso sobre o seu povo.
— Oh? ― Eu sou cauteloso. Ele exigirá que partamos? Meu
aperto aperta meu Llo. Não sairei do lado dela, aconteça o que
acontecer.

— Sua chegada é um novo problema... ou a resposta que eu


precisava. ― Seu olhar é sério quando se move para se sentar perto
de nós.

A sakh fêmea entra novamente na tenda com duas tigelas


fumegantes de comida e as entrega para nós. Mesmo que nós
comemos há pouco tempo, acho que posso comer mais. Não
largarei minha companheira, no entanto. Ela pega a tigela
educadamente, mas não come, me observando.

— Você sente falta da sua companheira, eu acho ― e ele


assente. ― Eu entendo isso. Quando tive que deixar Llo para trás,
senti como se estivesse em agonia. Não consigo imaginar me
separar dela por muito tempo.

— A minha mora na vila de pedra longe daqui, com nossos


kits e as companheiras dos meus caçadores. Estão sem nós há
mais de uma volta completa das luas, e a estação brutal está
chegando. Sinto falta da minha Georgie. ―A mão dele aperta e
passa por cima do coração. — Mais do que tudo, quero olhar para
o rosto dela. Quero segurar minhas filhas nos braços e ouvir suas
vozes. Mas ... não posso sair deste lugar se isso significar que será
a morte do seu povo e dos humanos daqui.

Mardok fala, então. — Minha companheira Farli e eu


ficaremos por um tempo, assim como Taushen e sua companheira.
Os recém-chegados ainda estão aprendendo muito, mas a caça é
abundante aqui em terra e o clima é mais ameno do que no interior.
A temporada brutal não nos incomodará tanto quanto aos de volta
à vila croatoan.

Minha companheira se anima. — Você acabou de dizer


croatoan?

— Sim. É uma palavra que os humanos escolheram — diz


Farli com um encolher de ombros gentil. — Esse é o nome da nossa
vila. Os humanos deste lugar decidiram chamá-lo de Icehome.

— Bonito ― diz minha Llo. — Gosto disso.

É um nome simples, mas adequado. — Os dois clãs desejam


se separar?

— Por enquanto ― Vektal assente. — Voltaremos à nossa vila,


mas outros virão para ensinar como sobreviver e ajudar. Mas nem
todos nós podemos ficar. Temos famílias e kits que precisam de
nós tanto quanto somos necessários aqui. ― Ele parece dividido.

— Mas não sairemos se os humanos aqui estiverem em perigo


por seus clãs.

Em perigo? Seguro minha companheira mais perto. — Por que


elas estariam em perigo?

— Ninguém conhece vocês ― a voz de Vektal é brusca. — Não


conhecemos seus costumes e nosso povo foi atacado no passado.

— E recentemente,― Mardok concorda. — Olhe para Willa.


A expressão de Vektal é sombria. — Sim. Isso não saiu como
eu esperava, mas não foi uma coisa ruim. Ela o acalmará, se ele
puder se acalmar. ― Ele balança a cabeça levemente. — Há muito
em que pensar.

— K'thar e seu povo são bons e gentis ― diz minha


companheira, sentando-se contra mim. Sua mandíbula se firma
em uma expressão teimosa. — Ele poderia ter sido cruel comigo,
mas K'thar me manteve segura o tempo todo, mesmo às suas
próprias custas.

— Llo ― murmuro, satisfeito com sua defesa para mim.

Ela acha que estou tentando acalmá-la, no entanto, e dá um


tapinha no meu joelho para me silenciar. — É verdade ― continua.
— Ele me alimentou mesmo quando não havia nada para ele
comer. Eu queria roupas e ele se certificou de que estivesse
encoberta. Eles cuidaram de um bebê órfão, embora não saibam
nada sobre bebês. E Mari foi tratada maravilhosamente por R'jaal
e T'chai e sua tribo. Todo mundo trabalhou muito duro para chegar
aqui e não quero que ninguém pense que é um problema. — Ela
parece chateada com o próprio pensamento. — Estes são bons
homens e confio neles com a minha vida. ― Vektal a ouve
solenemente e depois olha para mim.

— E você? O que você acha de tudo isso? Temos um novo clã,


como você chama, de quatro homens e dezesseis mulheres. Pode
parecer maravilhoso se mora há muito tempo sem mulheres, mas
isso é muita boca para alimentar. Haverá ressonâncias e haverá
ainda mais para alimentar ao longo do tempo. O que seus
caçadores pensam disso?

— Meus caçadores sabiam que isso seria uma mudança ―


digo a ele. — R'jaal e seu clã, O'jek e seu clã, meu clã – somos
fragmentos do que já fomos. Quando havia perigo para as fêmeas,
nos uníamos para protegê-las. Quando chegou a hora de construir
balsas para que pudéssemos escapar da ilha e da Grande
Montanha Fumegante, todos trabalhamos juntos. Vejo agora que é
algo que deveríamos ter feito muitas vezes atrás, quando nossos
clãs foram destruídos pela primeira vez. Em vez disso, mantivemos
os costumes antigos... e isso estava errado. ― Seguro minha
companheira mais perto, acaricio sua bochecha macia. — Estou
cansado de muitos clãs quebrados. Nós somos mais fortes como
um. Se houver um chefe de seu clã, darei meu manto de liderança
e o seguirei, porque é melhor para todos que trabalhemos juntos.
Sei que R'jaal e O'jek sentirão o mesmo.

Vektal assente. — Esta é uma boa resposta.

E minha companheira sorri orgulhosamente, totalmente


satisfeita. — É porque ele é tão inteligente.

Em seu olhar de aprovação, me sinto o caçador mais sortudo


de todos os tempos.
CAPÍTULO 24
Lauren
Os outros falam por horas e me inclino contra o peito de
K'thar, ouvindo a conversa, mas sem realmente contribuir. Estou
muito cansada e prefiro ouvir Vektal, Farli e Mardok contar
histórias a K'thar e ouvir suas histórias do que compartilhar
minhas próprias histórias. A história humana não importa aqui. É
tudo sobre sa-khui, ou sakh, como as pessoas de K'thar se
chamam. Estou feliz em ouvir a conversa e ouvir meu companheiro
falar.

Amo poder entendê-lo. Amo a cadência de seu discurso, tão


diferente dos outros. Adoro ouvir a diversão quando ele fala. Não
que não estivesse lá antes, mas agora entendo por que ele está tão
divertido e isso apenas aumenta o meu prazer. Adoro me
aconchegar contra ele e apenas ouvir as histórias de seus
ancestrais e a formação dos três (bem, quatro) clãs.

Mas tem sido um longo dia e estou cheia de boa comida e


quente nos braços de K'thar, e por isso não me surpreende quando
acordo e percebo que cochilei. Meu companheiro apenas acaricia
minha bochecha e acaricia meu cabelo, e em seu abraço, adormeço
novamente, embalada pela segurança de seu corpo e pela conversa
baixa.

Acordo novamente em algum momento quando percebo que


estou sendo levantada. Eu me mexo, uma pergunta sem palavras
na minha garganta.

K'thar apenas acaricia minha testa. — Durma, minha


companheira. Estou te levando para a cama. Vektal diz que
podemos dormir em sua barraca esta noite. Amanhã,
trabalharemos em nosso próprio abrigo.

Parece bom para mim. Tremo e viro meu rosto contra seu peito
quando saímos no vento frio. Passou um breve momento depois, e
então sinto K'thar me colocando em uma confusão de peles. Parece
estranhamente familiar, embora não seja tão quente assim, e
lembro-me de dormir em maços de peles antes de ir para a ilha
dele.

Um momento depois, meu companheiro se deita ao meu lado


e me puxa contra ele debaixo dos cobertores. Seus pés e mãos estão
frios, e eu me contorço, acordando um pouco mais. — Isso não é
exatamente o que eu chamaria de quente. ― Ele ri e vejo sua
respiração nublar o ar. — Não há fogo. Vamos nos aquecer, minha
companheira.

— Isso funciona também ― comento, colocando minhas mãos


em seu estômago. Pela primeira vez, sinto que sou a única que pode
fornecer, mesmo que seja apenas o calor do corpo.
Ele murmura aprovação e me segura mais perto dele. — Disse
a eles como a encontrei na praia, mas Vektal e Mardok têm mais
perguntas para você de manhã.

— Tudo bem ― respiro, seu calor intoxicante. As peles estão


esquentando de nossos corpos, e estou acordada agora. Este é o
primeiro momento que tivemos sozinhos em dias, e a primeira vez
que sinto que posso realmente relaxar desde que descobri que a
ilha era um vulcão.

Estamos a salvo. Todo mundo está seguro e não há nada a


temer.

Eu me sinto bem. Minha mão desliza por seu ombro e estou


tão... feliz. Satisfeita. Não me importo se temos que viver em tendas
ou se está frio. Estamos aqui juntos e temos pessoas por perto para
nos apoiar e ajudar um ao outro. Descobriremos a melhor maneira
de sobreviver e prosperaremos aqui. Podemos prosperar em
qualquer lugar, desde que estejamos juntos.

Como se ele pudesse sentir meus pensamentos cada vez mais


excitados, K'thar se inclina e esfrega os lábios no meu lóbulo da
orelha. — Vektal diz que conhece uma fêmea humana em sua tribo
que acolhe Z'hren. Ele diz que ela é velha demais para ressonar,
mas adoraria a chance de ser mãe novamente. Ele a trará de volta
aqui, junto com seu companheiro.

Deslizo minha mão ao longo de seu pescoço, enroscando meus


dedos em seus cabelos. Estou tendo dificuldade em pensar com a
boca quente na minha pele. — Mmm. Você está bem com isso?
— Ele merece uma mãe que fará dele as estrelas no céu dela.
Não me importo com isso, a menos que você deseje levá-lo para
nossa família permanentemente? ― Ele lambe meu lóbulo da
orelha.

— Eu estou bem com isso também. Ele é um bom kit. ― Penso


no pequeno Z'hren, com as bochechas gordinhas e os punhos
agitados. Eu o amo e, claro, parece fácil dizer que o faremos nosso.
Mas então penso no bebê crescendo dentro de mim e nos outros
que ressoavam também. Como é a sensação de querer um bebê e
nunca poder ter um, enquanto todas ao seu redor estão
engravidando? O pequeno e doce Z'hren seria mesmo as estrelas
em seu céu. — Acho que ele pertence à tribo – o clã, como você diz
– mas se ela deseja se juntar a nós e ser sua mãe, acho que seria
maravilhoso. Ele ficaria tão feliz e a mulher humana também.

— Você tem um coração generoso, minha doce companheira.


― Sua mão desliza por baixo da minha roupa e quando eu separo
minhas coxas para seu toque, seu piolho começa a ronronar alto.
— E um corpo que dá.

— Estou apenas tentando fazer a coisa certa ― explico, e então


as preocupações fluem. Mordo o lábio e sento, olhando para ele. —
K'thar, o que você acha de tudo isso?

Ele franze a testa para mim, sentando-se também. — O que


há para pensar?

Faço um som frustrado na garganta. — Quero saber como


você se sente. É muito para absorver e tudo no seu mundo mudou
nos últimos tempos. Isso aconteceu comigo também. Sei como isso
pode ser esmagador. Não o enterre tentando consertar todo mundo.

— Como você? ― K'thar pergunta, divertido.

Estou surpresa e um pouco envergonhada, com seu


comentário astuto. — Eu tento consertar tudo para todos, é
verdade. Mas quando realmente quero algo, vou atrás dele. E
queria você. E queria que tivéssemos segurança juntos, onde
podemos criar nosso bebê. ― Pego uma das mãos dele e coloco no
meu estômago liso. — Mas isso não significa nada se você não
estiver feliz. Acha que pode ser feliz aqui em um mundo de gelo? ―
Ele fica em silêncio e começo a entrar em pânico. — Eu não quero
que você pense que cometeu um erro.

— Shhh ― ele murmura, estendendo a mão e traçando um


dedo ao longo da minha mandíbula.

— Minha L'ren, acalme-se. É muito para absorver, isso é


verdade, mas não é um erro. Como isso pode ser um erro? Posso
falar com minha companheira e entender as palavras dela. ― Na
escuridão da tenda, vejo seus dentes brilharem em um sorriso. —
Eu tenho uma barriga cheia e um abrigo quente.

— Meio quente ― corrijo. — Apenas meio.

—Será quente o suficiente quando minha companheira voltar


aos meus braços ― diz ele, a voz sensual.

Oh, isso é uma sugestão se uma garota já teve uma. Avanço e


subo em seu colo, amando a sensação de todos os quatro de seus
braços em volta de mim. Eu me aconchego contra ele com um
suspiro feliz, apesar de estarmos vestindo roupas demais no
momento. Podemos consertar isso em breve.

Ele me abraça e continua. — Em breve, Z'hren terá uma mãe


que o estimará. J'shel ressoou. Acho que M'tok também. T'chai está
sob as mãos da curandeira agora. Existem muitas fêmeas para
nossos clãs solitários, e há caçadores gentis que nos mostrarão
como caçar essas estranhas criaturas amantes do gelo e como criar
lugares quentes para criar nossas famílias. Isso é uma mudança,
mas não é ruim. Assumirei isso vivendo na sombra da Grande
Montanha Fumante. E escolheria mil vezes. A vida mudou, mas
isso não significa que seja ruim. ― Ele acaricia meu queixo, minha
bochecha, meu cabelo.

— Nós nos tornaremos um clã forte em vez de muitos


fraturados. Visitaremos o clã de Vektal e compartilharemos
histórias e talvez até tenhamos desafios novamente. Tudo isso é
bom.

— Enquanto você estiver feliz ― digo baixinho.

— Nós arriscamos muito para vir aqui. ― Penso nas feridas


em seu peito e nos arranhões que cobrem seu corpo e estremeço.

— Eu sempre voltarei para você, minha Llo. Nunca sairei do


seu lado.

Aperto contra ele com mais força, segurando-o mais perto. —


Eu te amo. Eu te amo muito.
— Obrigado, minha companheira.

Não é a resposta que espero de uma declaração de amor e olho


para ele surpreso. — Er, obrigado?

— Por dar nova vida à minha tribo. Aqui nesta costa ― e ele
toca minha barriga. — Aqui, L'ren.

Ok, agora chorarei novamente. Malditos hormônios da


gravidez. Eu o agarro e puxo sua boca para a minha, beijando-o
com tanta intensidade quanto possível. Ele responde com fome,
seu rabo envolvendo minha coxa e separando meus joelhos até que
eu esteja montada em sua perna, nossos corpos entrelaçados,
nossas bocas juntas, línguas emaranhadas.

Acaricio aquela sombra fraca em sua mandíbula, a que


escurece sua pele, mas nunca se transforma em barba, não como
as do clã de O'jek. Uma característica recessiva, assim como as
presas e os grandes chifres.

Está tudo bem, no entanto. Eu não mudaria nada no meu


K'thar.

Ele rasga os couros que cobrem meu corpo, e sei que ele quer
minha pele nua contra a dele. Nossas roupas de couro são
grosseiras e feitas às pressas, e nem sinto muito quando ele rasga
as costuras e rasga o vestido de couro do meu corpo. Um momento
depois, sua mão se move para acariciar minha boceta. — Sua
boceta está molhada para mim, minha companheira?
— Muito ― respiro, chocada e mais do que um pouco excitada
com suas palavras rudes. Meu companheiro apenas falou sujo
comigo. Deus, isso é fantástico. Pressiono contra a mão dele para
mostrar o quão molhada estou.

Ele rosna baixo de prazer com a realização e duas de suas


mãos se movem para os meus quadris. K'thar me puxa contra seu
peito, e sei o que acontecerá a seguir – há muita urgência entre nós
para sexo prolongado. Desta vez, sem preliminares, apenas uma
junção de corpos. Chego entre nós para ajudar a guiá-lo para
dentro de mim, e um segundo depois, ele está empurrando para
dentro de mim.

Suspiro, minhas unhas cravando em sua pele quando ele


desliza profundamente, e então está até no punho dentro de mim,
o nó acima de seu pau deslizando através das minhas dobras
molhadas para pousar no lugar ao lado do meu clitóris.

E é perfeito. Ele me abraça e empurra para dentro de mim, e


nos movemos como um só, nossos olhos presos. — Minha
companheira ― murmura enquanto me possui. — Minha Llo.

— Sua ― digo a ele com uma voz suave, cheia de amor e


luxúria e pura alegria, quando lentamente chegamos ao clímax
juntos. Atravessei galáxias enquanto dormia, atravessei um oceano
e voltei novamente, mas nada disso importa. Sei onde fica minha
casa – bem aqui nos braços dele.

É onde sempre quero estar!


FIM!
AVISO 1
Por favor, não publicar o arquivo do livro em redes sociais ou
qualquer outro meio!

Quer baixar livros do PL ou do Só Aliens? Entre nos nossos grupos


ou em grupos parceiros do Telegram, lá você encontrará todos os
livros que disponibilizamos e acompanhará nossos lançamentos!

Postagens dos livros em outros meios podem acarretar problemas ao


PL e ao Só Aliens!

Ajude-nos a preservar o grupo!

AVISO 2
Cuidado com comunidades/fóruns que solicitam dinheiro para ler
romances que são feitos e distribuídos gratuitamente!

Nós do PL e do Só Aliens somos contra e distribuímos livros de


forma gratuita, sem nenhum ganho financeiro, de modo a incentivar a
cultura e a divulgar romances que possivelmente nunca serão
publicados no Brasil.

Solicitar dinheiro por romance é crime, pirataria!

Seja esperta (o).

Você também pode gostar